UMA APARENTE ENCENAÇÃO HISTÉRICA / AN
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1. IF LOGOS Uma Aparente Encena o Hist rica Tania Roquette Resumo A autora prop e uma reflex o sobre um caso cl ni co de uma paciente de 61 anos luz dos dados que retirou da avalia o psicol gica Da entrevista cl nica e da interpreta o dos testes projectivos p de aceder a uma caracteriza o do funciona mento ps quico Revelou dessa forma que determi nadas demonstra es tidas como histri nicas at sua morte por suic dio eram na verdade express es de um funcionamento inscrito numa patologia limite grave Palavras chave Avalia o Psicol gica Patologia Limite ABSTRACT The author suggests a reflection on a clinical case of a 61 years old female patient taking in to consideration the elements collected from the psychological evaluation through the interpretation of the projective tests the author gathered essencial matter from the cli nical observation in which concerns the patient s psychological functioning Thus cer tain evidence apparently of an bhisterical nature even her death by suicide was in fact evidence of serious borderline functioning Key words Psychological evaluation Borderline Disorder No mbito de um processo de reforma a paciente E inscreveu se na consulta de psiquiatria com o intuito de juntar um relat rio desta especialidade ao seu processo cl nico J a avalia o psicol gica tinha sido conclu da quando fui informada que E se tinha suici2. bem expl cita neste gesto dram tico tantas vezes con fundido com um agir l bil Mas este era um gesto que revelava tamb m a tentativa desesperada de interpelar o outro No entanto face extens o do seu dano o outro era mesmo insuficiente n o se deixava tocar e contagiar pelas coisas dela o mari do as filhas o filho a m e e at a psic loga a 46 e Revista do Servi o de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca Ta E quem nem a psor ase se pegava a quem s interes sava o psicol gico Ningu m tinha resposta para o seu apelo N o existia qualquer benef cio na rela o com o objecto porque o outro era insuficiente para acolher e compreender Ela n o estava em condi es de usufruir e o outro era diminuto para corresponder Encontrava se enclausurada na per man ncia da n o cura A avalia o projectiva veio sublinhar os mecanis mos observados na entrevista cl nica Apesar de no TAT surgirem alguns momentos de hiper adapta o onde se assiste a uma colagem ao conte do mani festo atrav s de respostas de afecto t tulo e ela bora o em quadro em ambos os protocolos se assiste a uma grave derrapagem na qualidade das respostas com uma progressiva degrada o dos processos do pensar pela invas o fantasm tica A presen a dominante de mecanismos como a cli vagem e a identifica o projectiva em que o primeiro opera no plano da representa o enquanto o segundo revela um car cter perse cut
3. dado Psic loga Cl nica Servi o de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca O relato de como tudo sucedeu revela a forma dram tica de como na sua morte e ao longo dos seus 61 anos foi v tima de uma aparente encena o hist rica Antes de se encerrar em casa depositou as suas chaves no tapete da porta do seu vizinho subiu a um escadote colocado na varanda e segundo quem relatou fez se ouvir para ser acudida O vi zinho estava de f rias e do jeito que sempre viveu foi num apelo sem socorro que morreu Recuo dois meses Ao contr rio do que mais usual aplicar nestes processos escalas psicom tricas e por terem surgido d vidas de diagn stico optei por uma avalia o projectiva No dia em que veio primeira consulta apresen tou se por detr s de uns culos onde mal se viam os olhos uma senhora baixa e forte num corpo lentificado que se fazia ouvir pelo arrastar dos p s Iniciou o seu discurso que era mais um mon logo de forma espont nea revelando uma dificuldade em articular as palavras como se a voz sa sse de forma intermitente Esta primeira entrevista seguiu o rumo de quem fala sem se saber para quem deixando a estranha sensa o de que n o se existe suficientemente para a escutar Come ou por revelar que nunca se sentira t o mal e descreveu de forma crua um rol de queixas som ticas Sou diab tica hipertensa e tenho psor ase n o vejo do olho esquerdo porque tenho o cristalino desfei
4. ndeu ao seu apelo foi levado a percorrer o seu ltimo percurso Um pequeno trajecto que repro duzia a parca exist ncia at absoluta perda Bibliografia 1 Chabert C et tal Neurosis Y funcionamientos limite Madrid Editorial Sintesis 2001 2 Chabert C A psicopatologia prova no Rorschach Lisboa Climepsi 2000 3 Coimbra de Matos A O desespero Lisboa Climepsi 2002 4 Marques M E A psicologia cl nica e o Rorschach Lisboa Climepsi 1999 5 Shentoub V e tal Manual de utiliza o do TAT Lisboa Climepsi 1990 1999 Revista do Servi o de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 47 DOS
5. rio numa confus o entre o eu e o objecto interpretado mostram de forma bem clara a impos sibilidade de integra o t pica da patologia limite O que mais marcante aqui o car cter clivado das representa es e a presen a dominante do tema da agressividade onde o agressor se confunde com o objecto de agress o Uns dias depois quando F faltou consulta com o seu m dico tom mos conhecimento da sua morte N o pude deixar de associar a sequ ncia dos acon tecimentos a uma ltima ilustra o do seu modo de vida Um funcionamento que era considerado como estando inscrito nas demonstra es aparentemente Uma Aparente Encena o Hist rica histri nicas na verdade dissimulava um quase vazio ps quico apenas povoado por Ossos e outros fra gmentos resposta ao cart o 19 no TAT O seu sofrimento s ficou extinto quando terminou a sua ltima encena o a da sua morte As chaves que deixou ao outro como foram sempre os seus ape los e que iriam permitir a entrada para uma casa j sem ningu m Esta casa era o seu espa o ntimo despojado de qualquer sinal de exist ncia e da pos sibilidade de mudar ou transformar um espa o re velador do seu mundo ps quico luz dos mecanismos revelados pela avalia o pro jectiva ocorre me a imagem de que aquela chave permitiu a passagem por um limite que nunca foi claro para F aquele que define o que era seu e o que era do outro foi nessa confus o que quem respo
6. to e estou a cegar da outra vista Mas Dra s interessa o psicol gi co sic Eis o seu cart o de visita que anuncia Revista do Servi o de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 45 DOS Tania Roquette por um lado o corpo danificado e por outro a for mula o de um apelo ao outro embora este se expresse com a convic o de n o poder ser ajuda da porque o outro n o tem como pois s lhe interessa o psicol gico E prosseguiu Separei me h muitos anos do meu marido porque ele maltratava as minhas filhas Elas j vivem com os seus maridos e n o querem saber de mim No outro dia preocupa da com a minha m e que tem 85 anos enervei me e ca na cozinha com um prato de sopa na m o Entornou se mais a fruteira que de vidro e cristal Liguei minha mais nova e s tive tempo de gritar por socorro Ela respondeu ligue para o 115 Mas tu que s sangue do meu sangue carne da minha carne Isto n o foi ao telem vel porque s o uso para emerg ncias tenho poucochinho dinheiro Tenho tamb m um filho que me d muitas pre ocupa es toxicodependente perdeu tudo e s ficou com a SIDA era um rapaz perfeito despedida estendi lhe a m o que segurou com firmeza e num movimento que me surpreendeu pela rapidez aproximou as costas da sua m o da minha cara exibindo as les es deixadas pela psor ase dizendo Isto n o se pega Era a sua agressividade que encontrava express o
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