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Sobre a escrita: A arte em memórias
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1. Estou falando dos neg cios Como que anda isso Sei que voc se deu bem com O jogo do le o um filme incr vel incr vel mesmo E sabe do que mais Era muito bom Mas a continua o qual era o nome mesmo O outro jogo do le o Isso O neg cio que saiu de cartaz de uma hora para outra nem deu tempo de ver ele faturou pouco de cara ent o o est dio deu no p Eu nem queria fazer a continua o mas a o cara da produ o na Tower disse que iam fazer o filme de qualquer jeito fosse ou n o fosse comigo A eu pensei bom se eu conseguir bolar uma hist ria boa S o dois caras almo ando em Beverly Hills e de cara n s sabemos que s o figur es Eles podem ser impostores ou n o mas se encaixam instantaneamente no contexto da hist ria de Leonard Verdade seja dita n s os recebemos de bra os abertos A fala dos dois t o real que logo sentimos aquele prazer culpado de algu m que acaba de pegar no ar uma conversa interessante e come a a prestar aten o Tamb m come amos a conhecer o car ter embora em pequenas doses O trecho fica logo no in cio do livro na segunda p gina e Leonard um profissional mais do que tarimbado Ele sabe que n o precisa fazer tudo de uma vez Ainda assim n s n o aprendemos alguma coisa sobre o car ter de Tommy quando ele garante a Chili que O jogo do le o n o s incr vel mas muito bom tamb m Podemos nos perguntar se esse di logo fiel v
2. em vista disso tudo eu diria que Bryan Smith foi um pouquinho conservador 4 O comportamento do sr Smith ao volante nesse caso acabou sendo levado a j ri por duas acusa es condu o perigosa grave e les o corporal com agravante muito grave do tipo que leva pris o Depois de devida reflex o o promotor respons vel pela acusa o em casos assim em meu pequeno canto de mundo concedeu a Smith o direito de responder apenas pela acusa o mais branda condu o perigosa Ele foi condenado a seis meses de pris o senten a suspensa e suspens o da carteira de motorista durante um ano Tamb m ficou em condicional por um ano com restri es ao uso de outros ve culos automotores como ve culos para neve e quadriciclos Imagino que Bryan Smith estar de volta s ruas como motorista em meados de 2001 2 5 David Brown reconstruiu minha perna em uma maratona de cinco longos procedimentos cir rgicos que me deixaram magro fraco e quase no fim de minhas for as Tamb m me deixaram com pelo menos uma chance de lutar para voltar a andar Um grande aparelho de a o e fibra de carbono chamado fixador externo foi atarraxado minha perna Acima e abaixo do meu joelho oito grandes tarraxas de a o chamadas pinos Schanz sa am do fixador e chegavam at os ossos Cinco hastes menores de a o se irradiavam para fora do joelho Pareciam os raios de sol que vemos em desenhos infantis O joelho em si estava preso no lugar Tr s
3. por que funciona quando bom por que n o funciona quando ruim Imaginei que quanto mais curto o livro menos baboseira teria Uma not vel exce o regra da baboseira The Elements of Style Os elementos do estilo de William Strunk Jr e E B White Quase n o h baboseira nesse livro Claro que um livro curto tem umas 100 p ginas bem menor que este aqui Digo sem medo de errar que todo aspirante a escritor deveria ler The Elements of Style A regra 17 do cap tulo intitulado Principles 2 f of Composition Princ pios da composi o Omita as palavras desnecess rias E o que vou tentar fazer aqui Terceiro pref cio Uma regra pr tica que s ser dita objetivamente aqui O editor sempre tem raz o Diz o corol rio que nenhum escritor aceita todos os conselhos dos editores pois s o todos pecadores aqu m da perfei o editorial Dito de outra forma escrever humano editar divino Chuck Verrill editou este livro como fez com in meros romances meus E como de costume Chuck voc foi divino CURRICULO Fiquei impressionado com o livro de mem rias de Mary Karr The Liars Club Clube dos mentirosos E n o foram s a ferocidade a beleza e o encantador dominio das palavras foi o livro como um todo ela se lembra de tudo que lhe aconteceu nos primeiros anos de vida Eu n o sou assim Tive uma inf ncia bizarra e imprevis vel criado por uma m e solteira que vi
4. preciso falar Mais importante ainda preciso se calar e ouvir os outros falando 8 Tudo o que eu disse sobre di logos tamb m vale para a constru o de personagens ficcionais O trabalho se resume a duas coisas prestar aten o ao comportamento das pessoas reais sua volta e dizer a verdade sobre o que v Talvez voc perceba que seu vizinho tira meleca quando pensa que ningu m est olhando Este um grande detalhe mas n o ter utilidade nenhuma para voc como escritor a menos que v aparecer em uma hist ria em determinado momento Personagens fict cios s o copiados diretamente da vida bvio que n o pelo menos n o em todos os detalhes melhor n o fazer isso a menos que voc queira ser processado ou levar um tiro ao sair para pegar a correspond ncia em uma bela manh Em muitos casos como em romances no estilo roman clef como O vale das bonecas os personagens s o em grande medida inspirados em pessoas reais mas depois que os leitores se cansam do inevit vel jogo de adivinha es sobre quem quem essas hist rias acabam sendo pouco satisfat rias cheias de subcelebridades que se pegam e depois desaparecem em um instante da mente do leitor Li O vale das bonecas logo ap s o lan amento eu era ajudante de cozinha em um resort no Maine naquele ver o e o devorei com tanta vontade quanto qualquer um que o tenha comprado imagino Nao me lembro por m de quase nada sobre a hist ria No geral ach
5. Northern Cumberland em Bridgeton porque meu filho mais novo que acabei de levar para o aeroporto nasceu l 22 anos antes Pergunto de novo a Fillebrown se vou morrer e ele responde de novo que n o Depois pergunta se consigo mexer os dedos do p direito o que fa o pensando em uma velha quadrinha que minha m e costumava recitar Este porquinho foi ao mercado este porquinho ficou em casa Eu devia ter ficado em casa penso foi uma p ssima ideia sair para caminhar hoje Depois lembro que s vezes pessoas com paralisia acham que est o se mexendo mas na verdade n o est o Meus dedos se mexeram pergunto a Paul Fillebrown Ele diz que sim uma mexida saud vel Jura por Deus pergunto e acho que ele jura Come o a desfalecer mais uma vez Fillebrown me pergunta bem devagar e em voz alta inclinando se em dire o ao meu rosto se minha mulher est em casa N o consigo lembrar N o consigo lembrar onde est o meus familiares mas consigo dar a ele os telefones da casa e do chal do outro lado do lago onde minha filha costuma ficar Saco eu conseguiria dizer meu n mero da previd ncia social se ele perguntasse Eu me lembro de todos os n meros Foi o resto que se perdeu Mais pessoas v o chegando Em algum lugar um r dio faz v rios chamados para a pol cia Sou colocado em uma maca D i e eu grito Sou colocado na traseira da ambul ncia e as chamadas para a pol cia ficam mais pr xima
6. o tr pega e bem divertida ao que parece As meninas est o de camisola robe bobes e cremes no cabelo Est o rindo de mim mas n o parece ser de um jeito cruel O som est mudo como se eu tivesse algod o nos ouvidos Tento dizer a Carole Lemke que acho o cabelo dela maravilhoso e que ela tem os olhos azuis mais lindos do mundo O que sai algo como uga buga olhos azuis munga unga mundo inteiro Carole ri e balan a a cabe a como se tivesse entendido tudo Estou muito feliz Diante de todos est um completo idiota com certeza mas um idiota feliz que todo mundo adora Fico v rios minutos tentando dizer a Gloria Moore que descobri o segredo de Dean Martin o comediante que tomava bons goles de bebida durante suas famosas apresenta es Em algum momento depois disso j estou na cama A cama est parada mas o quarto parece girar em torno dela cada vez mais r pido E me ocorre que o quarto gira como minha vitrola Webcor onde antes eu botava Fats Domino para tocar e agora escuto Dylan e Dave Clark Five A sala o prato eu sou o eixo e em pouco tempo o eixo vai come ar a jogar os discos longe Apago por um momento Quando volto a mim estou de joelhos no banheiro do quarto duplo que divido com meu amigo Louis Purington N o fa o ideia de como cheguei ali mas que bom que cheguei porque o banheiro est cheio de v mito amarelo Parece milho enlatado penso e basta isso para vomitar de novo N o sai nada al m de saliva
7. respondeu Harry Para certos dias do m s Tamb m notei que os chuveiros diferentemente daqueles no vesti rio masculino tinham trilhos em U com cortinas de pl stico cor de rosa Realmente dava para ter privacidade da hora do banho Comentei isso com Harry e ele respondeu dando de ombros Acho que as meninas t m mais vergonha de tirar a roupa Essa lembran a me voltou enquanto eu trabalhava na lavanderia e comecei a imaginar a cena de abertura de uma hist ria meninas tomando banho em um vesti rio em que n o havia trilhos em U nem cortinas de pl stico cor de rosa nem privacidade E uma delas come a a menstruar O problema que a menina n o sabe o que est acontecendo e as outras enojadas aterrorizadas entretidas come am a jogar absorventes nela Ou absorventes internos que Harry chamou de rolhas de xoxota A menina come a a gritar Tanto sangue Ela acha que est morrendo e que as outras est o rindo de sua cara enquanto ela se esvai em sangue ela reage luta mas como Eu tinha lido alguns anos antes um artigo na revista Life que dizia que pelo menos alguns fen menos poltergeist podiam ser na verdade atividades telecin ticas Telecinesia a capacidade de mover objetos com o pensamento Segundo o artigo alguns ind cios sugeriam que jovens tinham esse poder especialmente meninas no in cio da adolesc ncia por volta da poca da primeira Pou Dois fatos sem qualquer rela o crueldad
8. A Mike s right ear parked theg on a jaunty jut the way an oldtime wisecracking New York reporter might have parked his next smoke just below his of his fedora fecdtora with the press tag stuck in the ban e cig arette had become so much a part of him that for a Olin meyer was looking at Then he semembeced o laughed took it oo looked at it himself then in looked back at Ostertreyer Haven t had a Cigarette in nine years he said moment Mike honestly didn t know what 3 had an older brother who died of lung cancer I quit shore after he died The cigarette behind the ear Uk He shru see glands Sige sap pe rapa stition I guess ah aea you me times see on people s desks or walls mounted in a little box with a sign saying BREAK GLASS IN CASE OF EMERGENCY serretteses tell_peopletlil light up ine Is 1408 a smoking room Mr Olin Ostermeyer Just in case nuclear war breaks out As a matter of fact it is Well Mike said heartily that s one less worry in the watches of the night Mr eevee sighed again unemnseds but st this ere didn t have the disconsolate quality of his fe lobby sigh Yes it was the rees Mike reckoned office sie His regm Even this afternoon when Mike had come accompanied by Robertson the lawyer in Ostrermeyer had seemed less flustered once they were in here At the time Mike had thoughr it wase fromrthe passi
9. Eu conseguia me ver trinta anos frente vestindo os mesmos ternos tweed com refor o nos cotovelos e a barriga de chope caindo sobre as mesmas cal as c qui da Gap Eu teria uma tosse cr nica causada pelos ma os sem fim de Pall Malls culos mais grossos mais caspa e em minha escrivaninha seis ou sete manuscritos inacabados que eu abriria e revisaria de tempos em tempos geralmente quando estivesse b bado Se me perguntassem o que eu fazia nas horas vagas a resposta seria estou escrevendo um livro o que mais um professor respeit vel de escrita criativa faria no tempo livre E claro eu mentiria para mim mesmo dizendo que ainda havia tempo que n o era tarde demais que havia romancistas que s come aram aos 50 anos ou at mesmo aos 60 Devia haver muitos deles Minha mulher fez toda a diferen a nesses dois anos que passei dando aulas em Hampden e lavando len is na lavanderia New Franklin durante as f rias de ver o Se na poca ela tivesse insinuado que o tempo que eu gastava escrevendo hist rias na varanda de nossa casa na rua Pond ou na lavanderia de nossa casa alugada na rua Klatt em Hermon era um desperd cio acho que grande parte do meu entusiasmo teria ido por gua abaixo Tabby no entanto jamais demonstrou qualquer d vida O apoio dela era constante uma das poucas coisas com que eu podia contar E sempre que vejo um primeiro romance dedicado mulher ou ao marido sorrio e penso A est algu
10. O EPHEN SF N e q F aM R Q f N y o f N C w D A gt XY y fiu E gt py AA N a as y L E a I Au q a q A ARTE EM MEM RIAS Um cl ssico incompar vel The Wall Street Journal DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros com o objetivo de oferecer conte do para uso parcial em pesquisas e estudos acad micos bem como o simples teste da qualidade da obra com o fim exclusivo de compra futura expressamente proibida e totalmente repudi vel a venda aluguel ou quaisquer uso comercial do presente conte do Sobre n s O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conte do de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita por acreditar que o conhecimento e a educa o devem ser acess veis e livres a toda e qualquer pessoa Voc pode encontrar mais obras em nosso site LeLivros link ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento e n o mais lutando por dinheiro e poder ent o nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo n vel STEPHEN KING SOBRE A ESCRITA Michel Teixeira Copyright 2000 by Stephen King Todos os direitos reservados Publicado mediante acordo com o autor e a The Lotts Agent Ltd Grafia atualizada segundo o Acordo Ortogr fico da L ngua Portuguesa de 1990 que entrou
11. firmemente precisava de fato estar ali Voc pode argumentar que a palavra expressa um grau de diferen a entre ele fechou a porta e ele bateu a porta e eu n o vou contra argumentar mas e o contexto E toda a prosa esclarecedora para n o dizer comovente que veio antes de Ele fechou a porta firmemente Ela n o deveria nos dizer como ele fechou a porta E se tal prosa nos disse como foi firmemente n o estaria sobrando N o redundante Algu m por a agora est me acusando de ser chato e detalhista Eu nego Acredito que a estrada para o inferno esteja pavimentada com adv rbios e vou continuar bradando isso aos quatro ventos Dizendo de outra forma adv rbios s o como dentes de le o Se voc tem um no seu gramado ele bonito e singular Se no entanto voc n o arranc lo vai encontrar cinco deles no dia seguinte cinquenta no outro e depois irm os e irm s seu gramado estar total completa e extravagantemente coberto com dentes de le o Ent o voc vai enxerg los como as pragas que realmente s o mas a cLur ser tarde demais Eu consigo conviver bem com adv rbios no entanto Consigo sim Com uma exce o verbos dicendi Insisto que voc s use adv rbios com verbos dicendi na ocasi o mais rara e especial de todas e nem mesmo nessa hora se puder evitar S para ter certeza de que todos sabemos do que estamos falando examine as tr s frases a seguir Larg
12. medida que avan armos voc far bem se n o esquecer que tamb m estamos falando de m gica 2 Lovecraft H P A casa das bruxas Trad Donaldson M Garschagem Rio de Janeiro Francisco Alves 1983 Cole o Mestres do Horror e da Fantasia 19 McCarthy Cormac Meridiano de sangue ou O rubor crepuscular no oeste Trad Cassio de Arantes Leite Rio de Janeiro Alfaguara 2009 L Termo pejorativo para judeu N T 12 Em ingl s as palavras com mais de tr s s labas tendem a ser eruditas N E 13 Trocadilho com a palavra prick que como substantivo virou g ria para p nis N E 14 Em portugu s usamos o infinitivo com essa finalidade N E SOBRE A ESCRITA N o existem cachorros malvados de acordo com o titulo de um popular manual de treinamento canino mas n o diga isso aos pais de uma crian a atacada por um pit bull ou rottweiler bem capaz que eles tor am o nariz para voc E apesar de toda a minha vontade de encorajar quem est tentando escrever a s rio pela primeira vez n o d para mentir e dizer que n o existem escritores ruins Lamento mas existem muitos escritores ruins Alguns trabalham no jornal de sua cidade geralmente fazendo a cr tica de pequenas pe as de teatro ou opinando sobre as equipes esportivas da regi o Alguns tiveram sucesso e compraram casas no Caribe deixando para tr s um rastro de adv rbios pulsantes personagens canhestros e constru es vis em voz passiva Outr
13. morrer celebridades quase irreconhec veis subiam at o teto O ar recendia a carne e cebola frita Estava tudo igual a sempre O maitre se aproximou Posso ajud lo senhor N s s abrimos para o jantar s seis mas o bar Estou procurando por Richie Martin disse Billy A chegada de Billy no t xi narra o a o se voc preferir esse termo O que acontece a partir do momento em que ele passa pela porta do restaurante em grande medida descri o direta Inclu quase todos os detalhes que me vieram cabe a quando acessei as mem rias do verdadeiro Palm Too e inseri algumas coisas tamb m o ma tre entre um turno e outro muito bom eu acho adoro a gravata desfeita e as mangas dobradas para exibir os pulsos peludos como uma fotografia O cheiro de peixe a nica coisa que falta e isso porque o cheiro de cebola era mais forte Voltamos hist ria com um pouco de narrativa o maitre d um passo a frente para o centro da cena e depois o di logo Nesse ponto j enxergamos o cen rio claramente Eu poderia ter inclu do muitos detalhes mais o sal o estreito Tony Bennett no aparelho de som o adesivo dos Yankees na caixa registradora mas para qu No que diz respeito defini o do cen rio e todos os tipos de descri o um jantar t o bom quanto um banquete Queremos saber se Billy encontrou Richie Martin essa a hist ria que pagamos para ler Falar mais do r
14. morto h 15 anos mas esse n o o caso da maioria dos escritores E se a opini o fizer sentido fa a as mudan as Voc n o pode deixar o mundo inteiro meter a m o na sua hist ria mas pode abrir espa o para quem realmente interessa E deveria Chame a pessoa para quem voc escreve de Leitor Ideal Ele vai estar em seu escrit rio o tempo todo em carne e osso quando voc abrir a porta e deixar o mundo entrar para brilhar na bolha do seu sonho em esp rito nos dias problem ticos e por vezes empolgantes de sua primeira vers o quando a porta estiver fechada E quer saber Voc vai se ver moldando a hist ria mesmo antes que o Leitor Ideal veja a primeira frase O LI vai ajud lo a sair um pouco de si mesmo a realmente ler sua obra inacabada como o p blico leria enquanto ainda estiver trabalhando nela Essa talvez seja a melhor maneira de se prender hist ria uma forma de se mostrar ao p blico mesmo quando ainda n o h p blico e voc est totalmente no comando Quando escrevo uma cena que me parece engra ada como o concurso de comer tortas em Aluno inteligente ou o ensaio da execu o em espera de um milagre tamb m imagino que minha LI v achar gra a Adoro quando Tabby gargalha sem parar ela joga as m os para cima como se dissesse eu me rendo e l grimas escorrem por seu rosto Eu adoro adoro mesmo e quando tenho alguma ideia com potencial para esse efeito tento espremer dela o m ximo poss
15. nada de mais Se voc escrever um romance passando semanas e depois meses trabalhando nele palavra por palavra voc deve ao livro e a si mesmo um descanso ou uma longa caminhada depois de acabar e deve se perguntar por que se deu o trabalho por que dedicou tanto tempo por que aquela hist ria pareceu t o importante Em outras palavras do que se trata afinal Quando escreve um livro o autor passa dias e dias procurando e identificando as rvores Quando acaba preciso dar um passo para tr s e contemplar a floresta Nem todo livro precisa estar carregado de simbolismo ironia ou musicalidade afinal a prosa tem esse nome por uma boa raz o mas me parece que todos os livros todos os que valem a leitura pelo menos tratam de alguma coisa Seu trabalho durante ou depois da primeira vers o decidir de que coisa ou coisas trata o livro Seu trabalho na segunda vers o um deles pelo menos tornar essa coisa ainda mais clara E isso pode demandar grandes mudan as e reavalia es Os benef cios para voc e para o leitor ser o um foco mais apurado e uma hist ria mais coesa Quase nunca falha O livro que levei mais tempo para escrever foi A dan a da morte Tamb m parece ser o favorito de meus leitores mais fi is um pouco deprimente quando a opini o comum diz que seu melhor trabalho foi escrito h vinte anos mas n o vamos entrar nesse m rito agora grato Terminei a primeira vers o cerca de
16. nica imagem era uma foto da Miss Maio pendurada torta com uma tachinha Um p de sapato preto brilhante sa a de debaixo da cama Num sei por que oc fica me perguntando do O Leary disse Big Tony Oc acha que a minha hist ria vai mudar E vai perguntou Dale Quando a tua hist ria verdade ela num muda A verdade sempre a mesma merda entra dia sai dia Big Tony se sentou acendeu um cigarro passou a m o pelo cabelo Num vejo aquele irland s safado desde o ver o Deixei ele sair comigo porque o safado era engra ado Uma vez ele me mostrou uma coisa que ele escreveu sobre como ia ser se Jesus jogasse no time de futebol da escola Ele tinha at um desenho de Cristo com um capacete joelheiras e tudo mais mas que encrenqueiro de merda ele virou no fim das contas Queria nunca ter conhecido ele Podemos ter uma aula de escrita de cinquenta minutos usando s esse pequeno trecho Ela englobaria uso de verbos dicendi desnecess rio se voc souber quem est falando Regra 17 omitir palavras desnecess rias em a o linguagem fon tica num sei e oc uso de v rgulas n o existe nenhuma na frase Quando a tua hist ria verdade ela n o muda porque quero que voc a ou a saindo em um s f lego sem pausa e todo tipo de coisa que pertence primeira bandeja da caixa de ferramentas Vamos continuar com os par grafos no entanto Perceba como eles fluem facilmente com as
17. o que come a com a necessidade de definir certos tipos de escrita como bons e outros como ruins um reflexo do medo A boa escrita tamb m vem de fazer boas escolhas na hora de separar as ferramentas com que voc planeja trabalhar Nenhum escritor est livre de pecados nesse departamento Embora William Strunk tenha exercido enorme influ ncia sobre E B White quando o autor de A teia de Charlotte que inspirou o filme 4 menina e o porquinho era apenas um universit rio ing nuo em Cornell entregue os a mim enquanto ainda s o jovens e eles ser o para sempre meus he he he e embora White tenha entendido e compartilhado a oposi o de Strunk em rela o escrita fraca e ao pensamento fraco que a gera ele admite Acho que escrevi o fato de que mil vezes no calor do momento eliminando talvez quinhentos na revis o com a cabe a fria Ter conseguido rebater apenas metade a esta altura do campeonato e n o ter conseguido acertar os outros arremessos me entristece E B White no entanto continuou a escrever durante muitos anos ap s a revis o inicial do livrinho de Strunk em 1957 Eu vou continuar escrevendo apesar de lapsos est pidos como Voc n o pode estar falando s rio disse Bill incredulamente Espero que voc fa a o mesmo Existe uma simplicidade inata na l ngua inglesa e em sua variante americana mas uma simplicidade enganadora Tudo o que pe o que voc fa a o melhor qu
18. preciso fazer todo o trabalho bra al e tudo isso enquanto a musa fuma charuto admira os trof us que conquistou no boliche e finge ignorar voc Voc acha isso justo Eu acho Mesmo que o tal sujeito musa n o pare a nada de mais e n o seja de conversar muito o que costumo receber do meu s o grunhidos mal humorados a menos que ele esteja trabalhando dele que vem a inspira o justo que voc fa a todo o trabalho e queime a cachola at altas horas da noite porque o cara com charuto e as asinhas tem o saco de magias Tem coisas ali que podem mudar sua vida Acredite em mim eu sei Se voc quer ser escritor existem duas coisas a fazer acima de todas as outras ler muito e escrever muito Que eu saiba n o h como fugir dessas duas coisas n o h atalho Leio devagar mas costumo ler de setenta a oitenta livros por ano a maioria de fic o N o leio com o objetivo de estudar o of cio e sim porque gosto de ler o que fa o noite recostado em minha cadeira azul Da mesma forma n o leio fic o para estudar a arte da fic o mas porque gosto de hist rias Ainda assim h um processo de aprendizado em curso Cada livro que se pega para ler tem uma ou v rias li es e geralmente os livros ruins t m mais a ensinar do que os bons Quando estava no oitavo ano topei com um romance de Murray Leinster um escritor de fic o cient fica que trabalhou principalmente durante as d cadas de 1940 e 1950 quando re
19. solid o significam a mesma coisa para todos n s qual o problema cara pare com essa bobagem datada e mergulhe no que profundo Eu n o compartilhava dessa atitude embora n o ousasse dizer isso em voz alta pelo menos n o em tantas palavras e fiquei euf rico quando descobri que a mo a bonita de vestido preto e meias de seda tinha a mesma opini o Ela n o assumiu isso de cara mas nem era preciso O trabalho falava por ela O grupo do workshop se encontrava uma ou duas vezes por semana na sala de estar da casa de nosso orientador Jim Bishop ramos cerca de 12 estudantes e tr s ou quatro docentes trabalhando em uma maravilhosa atmosfera de igualdade Os poemas eram batidos m quina e mimeografados na secretaria do Departamento de Letras no dia dos encontros Os poetas liam enquanto os outros acompanhavam em seus exemplares Eis um dos poemas que Tabby escreveu naquele outono A GRADUAL CANTICLE FOR AUGUSTINE The thinnest bear is awakened in the winter by the sleep laughter of locusts by the dream blustering of bees by the honeyed scent of desert sands that the wind carries in her womb into the distant hills into the houses of Cedar The bear has heard a sure promise Certain words are edible they nourish more than snow heaped upon silver plates or ice overflowing golden bowls Chips of ice from the mouth of a lover are not always better Nor a desert dreaming always a mirage The rising bear sings a g
20. Isso deixaria as coisas um pouco mais animadas pelo amor de Deus Pensava que um mero vislumbre do canivete autom tico e do olhar penetrante de Vic fariam Hayley perceber que seus problemas dom sticos eram triviais E quando eu estava na cama noite ouvindo o vento nas rvores e os ratos no s t o n o era com Debbie Reynolds no papel de Tammy ou com Sandra Dee no papel de Gidget que eu sonhava era com Yvette Vickers em O ataque das sanguessugas gigantes ou Luana Anders em Dem ncia 13 Nada de coisas bonitinhas nada de coisas edificantes nada de Branca de Neve e os sete an es idiotas Aos 13 anos eu queria monstros que devoravam cidades inteiras cad veres radioativos que sa am do mar e comiam surfistas e mo as de suti preto de apar ncia vulgar Filmes de terror filmes de fic o cient fica filmes de gangues adolescentes ca a de mulheres filmes sobre idiotas em motocicletas era esse tipo de coisa que mexia comigo de verdade O lugar para assistir a esse tipo de filme n o era o Empire que ficava na parte alta da rua Lisbon mas o Ritz bem na parte baixa entre as casas de penhor e perto da loja Louies Clothing onde comprei meu primeiro par de botas estilo beatle em 1964 Minha casa ficava a 22 quil metros do Ritz e eu peguei carona para l praticamente todos os fins de semana de 1958 a 1966 quando finalmente tirei carteira s vezes eu ia com meu amigo Chris Chesley s vezes sozinho mas a menos que estivesse
21. direito a uma troca de len is O homem tinha chegado Lua e eu lista dos melhores alunos Milagres e maravilhas abundavam Em um dia daquele ver o no fim de junho um bando de ratos de biblioteca almo ava no gramado que ficava atr s da livraria da universidade Sentada entre Paolo Silva e Eddie Marsh estava uma garota linda com uma risada rouca cabelos tingidos de vermelho e as pernas mais bonitas que eu j tinha visto na vida sob uma minissaia amarela Ela estava com um exemplar de Alma no ex lio de Eldridge Cleaver Eu nunca tinha esbarrado com ela na biblioteca e n o acreditava que uma estudante universit ria pudesse ter uma risada t o maravilhosa e destemida Al m disso leitora voraz ou n o ela praguejava como um oper rio n o como uma universit ria Por ter sido oper rio em uma tecelagem eu tinha conhecimento de causa O nome dela era Tabitha Spruce N s nos casamos um ano e meio depois Ainda estamos juntos e ela nunca me deixou esquecer que quando a conheci pensei que fosse a namoradinha de Eddie Marsh na faculdade Talvez fosse uma gar onete literata de alguma pizzaria aproveitando a tarde de folga 23 Funcionou Nosso casamento durou mais que todos os l deres mundiais com exce o de Fidel Castro e enquanto continuarmos conversando discutindo fazendo amor e dan ando ao som dos Ramones gabba gabba hey bem prov vel que continue funcionando Temos religi es diferentes mas como feminis
22. eu estou pronto para abrir a porta e encarar o mundo Their yon T By Stephen King Mike Enslin was still in the revolving door when he Olin saw Osterrrrepespthe manager of the Hotel Dolphin sitting in one of the overstuffed lobby chairs Mike s heart sank a letf Maybe should have brought the damned lawyer along again after all he thought Well too late now And even if a had A decided to throw up another roadblock or two between Mike and room 1408 that wasn t all bad iss rie nr pa ar Ld Te TT O lin A Ostermesos sau hisa got mpmred was crossing o the room with one pudgy hand held out as Mike left the revolving door The Dolphin was on Sixty first sA Street around the corner from Fifth Avenuegsmall but smart A man and woman dressed in evening clothes passed Mike as he reached out and took Olin s ee Ostesmeyers hand switching his small overnight A case to his left hand in order to do it The woman was blonde dressed in black of course and the light flowery smell of her perfume seemed to sum marize New York On the mezzanine level someone was playing Night and Day in the bar as if to underline the summary Mr Enslin Good evening Mr Osectemeren Is there a problem Pci A looked pained For a moment he dna td the small smart lobby as if for help At the concierge s stand a man was discussing theater tickets with his wife while the concierge himself
23. gua forte de uma famosa pintura de Homer acredito que seja Ressaca Alguns anos depois tio Oren confirmou a autenticidade com um especialista em Homer de Nova York e acredito que mais tarde ele a vendeu por um bom pre o Como ou por que Fazza tinha aquela gravura permanece um mist rio mas n o h segredo algum sobre a origem da caixa de ferramentas ele mesmo a fez Em um dia de ver o ajudei tio Oren a substituir uma tela quebrada nos fundos da casa Eu devia ter 8 ou 9 anos na poca Eu me lembro de andar atr s dele equilibrando a tela nova na cabe a como um carregador nativo de um filme do Tarzan Ele carregava a caixa pelas al as segurando a na altura das coxas Como sempre tio Oren estava usando cal as c qui e camiseta branca O suor brilhava nos cabelos que come avam a ficar grisalhos cortados rentes ao estilo militar Um Camel lhe pendia dos l bios Quando o visitei anos depois com um ma o de Chesterfields no bolso da camisa tio Oren sorriu debochado e disse que eram cigarros de palicada Quando finalmente chegamos 4 janela com a tela quebrada ele colocou a caixa de ferramentas no chao com um grande suspiro de alivio Ao tentar tirar a caixa do lugar na garagem cada um segurando uma das al as Dave e eu mal conseguimos mov la claro que ramos crian as pequenas na poca mas mesmo assim imagino que a caixa de ferramentas de Fazza quando cheia pesava entre 35 e 55 quilos Tio Oren me mando
24. mas por ser muit ssimo persuasivo Eu queria que o leitor estivesse sempre pensando Esse cara est fora de controle como que ningu m percebe isso Para mim o fato de Johnny perceber faria o leitor ficar ainda mais do lado do protagonista Quando somos apresentados ao potencial assassino ele est com a namorada em uma feira agropecu ria andando nos brinquedos e participando dos jogos O que poderia ser mais normal ou simp tico O fato de ele estar a ponto de pedir Sarah em casamento s faz com que a gente goste ainda mais dele Mais tarde quando Sarah sugere que eles deem um fim perfeito a um encontro perfeito dormindo juntos pela primeira vez Johnny diz a ela que quer esperar pelo casamento Achei que estivesse andando na corda bamba com esta situa o eu queria que os leitores vissem Johnny como um cara sincero e verdadeiramente apaixonado um homem correto mas n o um conservador ou falso moralista Consegui anular um pouco da postura cheia de princ pios de Johnny ao dar a ele um senso de humor infantil Ele recebe Sarah usando uma m scara de dia das bruxas que brilha no escuro minha esperan a era de que a m scara funcionasse de maneira simb lica tamb m pois Johnny com certeza visto como um monstro quando aponta a arma para o candidato Stillson T pico do Johnny diz Sarah rindo Acho que quando os dois est o voltando da feira no Fusca velho dele Johnny Smith j se tornou nosso amigo um americano
25. o ou a teria levado ele mesmo Permita me Pode deixar comigo disse Mike S tem uma muda de roupa e uma escova de dentes Tem certeza Tenho respondeu Mike olhos nos olhos Absoluta Por um instante Mike pensou que Ostermeyer fosse desistir Ele suspirou um homem baixo e gorducho metido em uma casaca escura com uma gravata amarrada perfei o e depois se aprumou novamente Muito bem sr Enslin Venha comigo No lobby o gerente do hotel parecera hesitante deprimido quase derrotado No escrit rio decorado com pain is de carvalho e fotos do hotel o Dolphin fora inaugurado em outubro de 1910 Mike podia ter publicado o livro sem conseguir cr ticas em revistas ou grandes jornais da cidade mas fizem suas pesquisas Ostermeyer pareceu recuperar a confian a No ch o havia um tapete persa Duas lumin rias de p lan avam uma luz levemente amarelada Na mesa perto de um abajur com c pula verde em formato de losango estava uma caixa umidificadora para charutos Ao lado dela os tr s ltimos livros de Mike Enslin Edi es econ micas claro nenhum deles fora lan ado em capa dura Ainda assim todos venderam bem Meu anfitri o tamb m andou fazendo suas pesquisas pensou Mike Mike sentou se em uma das cadeiras em frente mesa Ele esperava que Ostermeyer ocupasse o lugar atr s da mesa onde poderia se investir de autoridade mas Ostermeyer o surpreendeu Ele sentou se na outra cad
26. o consegue ver o que vem do outro lado Eu j tinha subido tr s quartos da colina quando Bryan Smith dono e motorista do furg o chegou ao topo Ele n o estava na estrada estava no acostamento No meu acostamento Eu devo ter tido tr s quartos de segundo para perceber o furg o S deu tempo de pensar Meu Deus serei atropelado por um nibus escolar Comecei a virar para a esquerda e depois h apenas uma lacuna em minha mem ria Na lembran a seguinte eu estou no ch o olhando para a traseira do furg o que est estacionado fora da estrada e inclinado para um dos lados Esta lembran a muito clara e precisa parece mais uma fotografia que uma mem ria As lanternas traseiras do furg o est o sujas A placa e as janelas traseiras tamb m Registro essas imagens sem pensar que sofri um acidente ou em qualquer outra coisa um instant neo nada mais que isso N o estou pensando tudo que estava em minha mente foi varrido Aqui vem outra lacuna na mem ria e ent o estou cuidadosamente limpando borbot es de sangue dos olhos com a m o esquerda Quando os olhos est o razoavelmente limpos eu olho em volta e vejo um homem sentado em uma pedra Ele tem uma bengala apoiada no colo Bryan Smith 42 anos de idade o motorista do furg o que me atropelou Smith tem uma ficha corrida consider vel em termos de tr nsito quase uma d zia de delitos Smith n o estava olhando para a estrada na tarde em que nossa vida se cruza porq
27. o do terror tranquilo sem saber que estava violando todas as leis de pl gio e direito autoral da hist ria do mundo meus pensamentos estavam focados em quanto dinheiro eu conseguiria ganhar se minha hist ria fosse um sucesso na escola Os est nceis tinham me custado US 1 17 usar um est ncil inteiro para a folha de rosto parecia um ultrajante desperd cio de dinheiro mas precisava sair bem na foto decidi relutante era preciso dar a cara a tapa com estilo o papel custara mais uns 25 centavos os grampos foram de gra a afanados de meu irm o hist rias enviadas para revistas eram presas com clipes mas minha obra era um livro era importante Depois de pensar um pouco mais decidi que o VIB n 1 4 mans o do terror de Steve King custaria 25 centavos Achei que conseguiria vender dez minha m e compraria um para me apoiar eu sempre podia contar com ela e isso daria US 2 50 Eu lucraria cerca de 40 centavos o suficiente para financiar outra jornada educativa at o Ritz Se vendesse mais dois poderia comprar um sac o de pipoca e uma Coca Cola A mans o do terror acabou se tornando meu primeiro sucesso de vendas Levei toda a tiragem para o col gio na pasta em 1961 eu era um aluno do oitavo ano da rec m constru da escola de ensino fundamental de Durham que tinha ent o quatro salas e ao meio dia j tinha vendido duas d zias No fim do almo o quando a hist ria da mulher enterrada na parede j havia corrido a escola t
28. o na vigil ncia noturna O sr Ostermeyer suspirou novamente contrariado embora esse n o tenha soado t o desconsolado quanto o no lobby Sim era o quarto reconheceu Mike O quarto dele Mesmo tarde quando Mike chegara acompanhado por Robertson o advogado Ostermeyer parecera menos bamtinado do que quando estavam ali Na hora Mike pensou que em em parte porque n o estavam mais atraindo olhares de quem passava em parte porque Ostermeyer tinha desistido Agora estava claro para ele Em o quarto E por que n o Ele em um c modo com boas fotos nas paredes um bom tapete no ch o e bons charutos apesar de n o serem cubanos na caixa Sem d vida muitos gerentes haviam feito muitos neg cios ali desde outubro de 1910 de certa forma era algo t o nova iorquino quanto a mulher loura usando o vestido preto tomara que caia o cheiro do perfume dela e a promessa t cita de sexo tranquilo nas primeiras horas da manh sexo de Nova York O pr prio Mike era de Omaha embom n o fosse l havia muitos e muitos anos Eu n o vou mesmo demover o senhor da ideia n o perguntou Ostermeyer Voc sabe que n o respondeu Mike colocando o cigarro de novo atr s da orelha O que segue agora um fac s mile da vers o em ingl s revisada do mesmo trecho de abertura a hist ria vestindo as roupas penteando o cabelo talvez at colocando um pouco de col nia Assim que as mudan as s o incorporadas ao documento
29. o sabia dizer se tinha sido porque ela gostava de mim e queria que eu me sentisse bem ou porque era bom de verdade Voc n o copiou esta perguntou ela ao terminar Respondi que n o tinha copiado n o Ela disse que era t o bom que deveria estar em um livro Nada que ouvi desde ent o conseguiu me fazer mais feliz Escrevi mais quatro hist rias sobre o sr Rabbit Trick e seus amigos Ela me deu 25 centavos por cada uma e as enviou para as irm s que sentiam um pouco de pena dela eu acho Elas continuavam casadas afinal de contas tinham segurado os respectivos maridos Era verdade que tio Fred n o tinha muito senso de humor e teimava em manter a capota do convers vel levantada e tamb m era verdade que tio Oren bebia demais e tinha teorias sombrias sobre os judeus comandarem o mundo mas ambos estavam l Ruth por outro lado fora deixada para tr s com o beb no colo quando Don fugira Ela queria que as irm s vissem que pelo menos o beb tinha talento Quatro hist rias Vinte e cinco centavos por cada Foi o primeiro tost o que ganhei neste neg cio Nos nos mudamos para Stratford em Connecticut Naquela poca eu estava no segundo ano e era completamente apaixonado pela minha linda vizinha adolescente Ela nunca me notou durante o dia mas noite quando eu deitava na cama e come ava a pegar no sono n s fugimos do cruel mundo real in meras vezes Minha nova professora era a sra Taylor uma mulher gentil com olh
30. o sangue em Carrie parecia ir al m dos respingos Ele parecia ter algum significado Um significado que n o foi criado conscientemente no entanto Enquanto escrevia o livro nunca parei para pensar Ah todo esse simbolismo com sangue vai me render muitos pontos com os cr ticos ou Uau isso com certeza vai me colocar em uma ou duas livrarias universit rias No m nimo um escritor tem que ser muito mais maluco do que eu para pensar que Carrie o tratado intelectual de algu m Tratado intelectual ou n o foi f cil perceber o significado de todo aquele sangue quando comecei a ler a primeira vers o do meu manuscrito manchado de ch e cerveja Ent o comecei a brincar com a ideia a imagem e as conota es emocionais do sangue tentando pensar em tantas associa es quanto conseguisse Havia muitas a maioria muito pesada O sangue est muito ligado ideia de sacrif cio Para jovens mulheres ele est associado maturidade f sica e capacidade de gerar filhos Na religi o crist e em muitas outras tamb m s mbolo de pecado e salva o Por fim est associado a passar adiante caracter sticas e talentos familiares Dizem que somos assim ou agimos assado porque est no nosso sangue Sabemos que isso n o muito cient fico que tais coisas est o na realidade nos genes e no DNA mas usamos o sangue para resumir o conceito essa capacidade de resumir e encapsular que torna o simbolismo t o interess
31. pelo menos eu acho que n o s as fazia desaparecer Eu encontrava minha camiseta favorita ou meus melhores t nis Nike embaixo da cama meses depois parecendo tristes e abandonados em meio s bolas de poeira Quando Megan estava em meu quarto as caixas de som estouravam as cortinas esvoa avam fazendo barulho e a l mpada do abajur em minha mesa queimava As vezes ela era cruel de prop sito tamb m Em uma ocasi o ela despejou suco de laranja no meu cereal Em outra colocou pasta de dente dentro de minhas meias enquanto eu tomava banho E embora nunca tenha admitido tenho certeza de que sempre que eu cochilava no sof durante o intervalo do jogo de futebol na TV aos domingos ela passava meleca no meu cabelo Cr nicas s o em sua maioria textos simples e prosaicos a menos que voc vire colunista de jornal escrever coisas leves uma habilidade que nunca vai usar no mundo editorial Os professores passam esse tipo de trabalho quando n o conseguem pensar em outra maneira de fazer o aluno perder tempo O assunto mais not rio obviamente Como foram minhas f rias Lecionei escrita durante um ano na Universidade do Maine em Orono e a turma era lotada de atletas e l deres de torcida Eles gostavam de cr nicas saudando as como se fossem velhos amigos do col gio Passei um semestre inteiro resistindo tenta o de pedir a eles que escrevessem duas p ginas de prosa bem constru da com o tema Se Jesus fosse meu cole
32. sempre aberta Substantivos e verbos s o as duas classes indispens veis na escrita Sem uma delas nenhum grupo de palavras pode ser uma ora o pois uma ora o por defini o um grupo de palavras contendo um sujeito substantivo e um predicado verbo esses grupos de palavras come am com uma letra mai scula acabam com um ponto e se combinam para fazer um pensamento completo que tem origem na cabe a do escritor e saltar para a do leitor Voc precisa escrever ora es completas o tempo todo todas as vezes Nem pense nisso Se seu trabalho for feito apenas de fragmentos e ora es flutuantes a Pol cia Gramatical n o vai prender voc Mesmo William Strunk o Mussolini da ret rica reconhece a deliciosa adaptabilidade da l ngua uma velha observa o escreveu ele que os melhores escritores por vezes desprezam as regras da ret rica Ele complementa o racioc nio no entanto e eu insisto que voc leve o adendo em considera o A menos que tenha certeza de estar fazendo direito prov vel que o escritor se saia melhor quando segue as regras Aqui a parte importante A menos que tenha certeza de estar fazendo direito Se n o tiver um entendimento rudimentar de como as classes gramaticais se traduzem em frases coerentes como ter certeza de que voc est fazendo direito E sendo assim como saber se voc est fazendo errado A resposta obviamente que voc n o sabe e nunca
33. Como que vou me limpar D um jeito respondeu Dave Limpe com uma folha Era assim que os caub is e os ndios faziam Aquela altura j devia ser tarde demais para voltar para casa de qualquer jeito Eu me lembro vagamente de n o ter outra op o Al m disso estava encantado com a ideia de cagar como um caub i Fingi que era Hopalong Cassidy agachado em meio aos arbustos de arma em punho para n o ser pego de surpresa mesmo naquele momento t o ntimo Fiz o que tinha de fazer e me limpei do jeito que meu irm o havia sugerido passando cuidadosamente v rios punhados de folhas verdes e brilhantes na bunda O problema que as folhas eram de urtiga Dois dias depois eu estava vermelho da parte de tr s do joelho at os ombros Meu p nis foi poupado mas os test culos viraram dois far is Parecia que a coceira ia da bunda at as costelas O que estava pior no entanto era a m o que tinha usado para me limpar estava inchada do tamanho da m o do Mickey depois de levar uma martelada do Pato Donald e havia bolhas gigantescas entre os dedos Quando estouraram abriram enormes buracos de carne rosada Durante seis semanas fui obrigado a tomar banho morno com amido me sentindo arrasado humilhado e est pido ouvindo com a porta do banheiro aberta minha m e e meu irm o rirem e acompanharem a contagem regressiva do radialista Peter Tripp que ficou 201 horas sem dormir ou jogarem Oito Maluco 10 Dave era um ti
34. Foi o que ela fez naquela hora eu me lembro e depois disse Al m do mais eu gosto de ursos Talvez o c ntico seja gradual porque o despertar do urso gradual O urso poderoso e sensual embora esteja fraco e magro por acordar fora da hora De certa forma disse Tabby durante a explica o o urso pode ser visto como um s mbolo do h bito humano ao mesmo tempo problem tico e maravilhoso de sonhar os sonhos certos na hora errada Esses sonhos s o dif ceis por serem inadequados mas s o tamb m maravilhosos em suas premissas O poema tamb m sugere que sonhos s o poderosos o urso forte o suficiente para seduzir o vento e convenc lo a levar sua m sica a um peixe preso na rede Nem vou tentar argumentar sobre a qualidade de A Gradual Canticle embora eu o ache muito bom Toda a quest o reside no fato de que era um poema sensato em uma poca de histeria composto a partir de uma tica de trabalho que ecoou por todo o meu cora o e por toda a minha alma Tabby estava em uma das cadeiras de balan o de Jim Bishop naquela noite Eu estava sentado no ch o ao lado dela Enquanto ela falava toquei sua panturrilha sentindo a curva da pele quente atrav s da meia cal a Ela sorriu para mim Sorri em resposta s vezes essas coisas n o acontecem por acaso Tenho quase certeza disso 24 N s j t nhamos dois filhos quando fizemos tr s anos de casados Eles n o foram planejados nem nasceram por acidente viera
35. Niffenegger Audrey Uma estranha simetria O Brian Patrick The Aubrey Maturin O Nan Stewart The Good Wife Oates Joyce Carol We Were the Mulvaneys Pelecanos George Revolu o dificil Pelecanos George The Turnaround Perrotta Tom A professora de abstin ncia Picoult Jodi Dezenove minutos Pierre DBC Vernon God Little uma com dia na presen a da morte Proulx Annie Fine Just the Way It Is Robotham Michael Shatter Roth Philip Pastoral Americana Roth Philip Compl contra a Am rica Rushdie Salman Os filhos da meia noite Russo Richard Empire Falls Russo Richard A ponte dos suspiros Simmons Dan Drood Simmons Dan The Terror Sittenfeld Curtis A esposa americana Smith Tom Rob Crian a 44 Snyder Scott Voodoo Heart Stephenson Neal Quicksilver Tartt Donna The Little Friend Tolst i Liev Guerra e paz Wambaugh Joseph Divis o Hollywood Warren Robert Penn Todos os homens do rei Waters Sarah Estranha presen a Winegardner Mark Crooked River Burning Winegardner Mark A volta do poderoso chef o Wroblewski David A hist ria de Edgar Sawtelle Yates Richard Foi apenas um sonho
36. Talvez talvez A chamada principal do Jornal das Tr s um choque naquela manh tr s homens fugiram da cadeia matando um guarda durante a fuga Dois dos tr s bandidos foram recapturados quase imediatamente mas o terceiro ainda n o foi encontrado Nenhum dos prisioneiros identificado pelo nome n o nesse jornal pelo menos mas Jane sentada na casa vazia algo que voc j ter explicado de maneira plaus vel sabe sem sombra de d vida que um deles era Dick Ela sabe porque finalmente identificou a pontada inc moda que sentiu ao abrir a porta Foi o cheiro fraco e cada vez menos percept vel do t nico capilar Vitalis O t nico capilar de Dick Jane fica na cadeira com os m sculos frouxos de medo incapaz de se levantar Ao ouvir os passos de Dick descendo as escadas ela pensa S Dick continuaria usando t nico capilar mesmo na pris o Ela precisa se levantar precisa correr mas n o consegue se mexer uma hist ria bem boa n o acha Eu acho apesar de n o ser exatamente original Como j falei a manchete EX MARIDO ESPANCA OU MATA EX MULHER aparece nos jornais quase toda semana triste mas verdade O que eu quero que voc fa a neste exerc cio mudar o sexo do antagonista e da protagonista antes de come ar a trabalhar a situa o na sua narrativa fa a da ex mulher a perseguidora em outras palavras talvez ela tenha escapado de um hosp cio e n o da cadeia e do marido a v tima Narre o
37. Voc deve ter girado um pouco para a esquerda no ltimo segundo disse me depois o dr David Brown Se n o fosse isso n o estar amos conversando agora O helic ptero pousa no estacionamento do Hospital Northern Cumberland e sou levado at ele de maca O c u est muito claro muito azul O barulho dos rotores do helic ptero muito alto Algu m grita em meu ouvido J esteve em um helic ptero antes Stephen A voz soa feliz e empolgada por mim Tento responder que sim j estive em um helic ptero duas vezes na verdade mas n o consigo De repente fica muito dif cil respirar Eles me colocam no helic ptero Consigo ver uma nesga de c u brilhante e azul quando levantamos voo n o se v uma nica nuvem Lindo Ou o mais vozes no r dio Parece que vou ouvir vozes a tarde inteira Enquanto isso fica cada vez mais dif cil respirar Gesticulo para algu m ou pelo menos tento e um rosto se inclina para entrar em meu campo de vis o Parece que estou me afogando sussurro Algu m checa alguma coisa e outro algu m diz O pulm o est entrando em colapso Ou o barulho de papel como se algo estivesse sendo desembalado e ent o o outro algu m fala em meu ouvido em voz alta para ser ouvido acima do som dos rotores Vamos colocar um dreno em seu pulm o Stephen Voc vai sentir dor um leve belisc o Aguente firme Por experi ncia pr pria aprendida quando eu ainda era um menininho
38. a vereador para ajudar a tirar mendigos alco latras das ruas mas ele est com bloqueio criativo respondi Quando algu m questiona algo de que um romancista gosta um de seus queridinhos as duas primeiras palavras que lhe saem da boca costumam ser mas O bloqueio dura pelo menos um ano talvez mais Ele tem que fazer alguma coisa nesse tempo n o Acho que tem mas voc n o precisa encher meu saco com isso precisa Ai Preparar apontar fogo Como a maioria dos bons LI Tabby sabe ser implac vel quando est certa Reduzi as contribui es de Mike para a caridade e suas fun es comunit rias de duas p ginas para dois par grafos Tabby tinha toda a raz o isso ficou bvio assim que vi o livro impresso Tr s milh es de pessoas leram Saco de ossos e recebi pelo menos 4 mil cartas sobre o livro e at agora nenhuma delas disse Ei seu imbecil Que tipo de servi o comunit rio Mike fez naquele ano em que n o conseguia escrever As coisas mais importantes a lembrar sobre o pano de fundo s o a todo mundo tem uma hist ria e b a maior parte dela n o muito interessante Concentre se nas partes que s o e n o se deixe levar pelo resto Longas hist rias de vida s o mais bem recebidas em um balc o de bar e s quando falta uma hora ou menos para fechar e s quando voc est pagando 13 Precisamos conversar um pouco sobre pesquisa que um tipo de pano de fundo especializa
39. ao longo da carreira at mesmo morro de vergonha de admitir isso acompanhando verbos dicendi Mas nunca cometi absurdos como vociferou ele ou metralhou Bill Quando fiz em geral foi pela mesma raz o que outros escritores porque tinha medo de que o leitor n o me entendesse Estou convencido de que o medo a raiz de toda m escrita Se voc escreve por prazer o medo pode ser moderado timidez a palavra que usei aqui Se no entanto estiver trabalhando sob press o com um prazo apertado um trabalho escolar um artigo de jornal uma reda o do vestibular o medo pode ser grande Dumbo aprendeu a voar com a ajuda da pena m gica voc pode precisar usar a voz passiva ou algum desses lament veis adv rbios pela mesma raz o Lembre se por m antes de recorrer a esses artif cios de que Dumbo n o precisava da pena a m gica estava nele Voc provavelmente sabe do que est falando e pode fortalecer sua prosa com seguran a ao usar a voz ativa E voc provavelmente contou sua hist ria bem o suficiente para acreditar que quando usa disse ele o leitor vai saber como ele disse r pido ou devagar com alegria ou tristeza Seu leitor pode estar atolado em um p ntano e em hip tese alguma deixe de lhe jogar uma corda mas n o preciso deix lo inconsciente atirando 30 metros de um cabo de a o em sua cabe a A boa escrita costuma vir ao deixarmos o medo e a afeta o de lado A pr pria afeta
40. ardendo em febre A caminhada arrastada do carro ao pr dio foi um momento particularmente dif cil Eu carregava Naomi e uma sacola com um kit de sobreviv ncia para beb s mamadeiras lo es fraldas macac es roupas de baixo meias enquanto Tabby carregava Joe que tinha golfado nela e arrastava um saco de fraldas sujas atr s de si N s dois sab amos que Naomi precisava da COISA ROSA que era como nos referfamos amoxicilina l quida A coisa rosa era cara e n s est vamos duros Completamente falidos Consegui abrir a porta sem deixar minha filha cair e estava entrando com todo o cuidado Naomi estava t o febril que transmitia uma onda de calor para meu peito como um carv o em brasa quando vi um envelope pulando para fora de nossa caixa de correio uma rara entrega dominical Casais jovens n o costumam receber correspond ncia todo mundo com exce o das companhias de g s e luz parece esquecer que eles existem Peguei o envelope rezando para que n o fosse outra conta N o era Meus amigos da Dugent Publishing Corporation mantenedores da Cavalier e de muitas outras publica es adultas de qualidade tinham me enviado um cheque por As vezes eles voltam uma hist ria longa que achava eu jamais seria vendida O cheque era de 500 d lares de longe o maior pagamento que eu j tinha recebido na vida De repente pod amos n o s pagar a consulta do m dico e um frasco da coisa rosa mas tamb m um bom jantar de do
41. as contas Subs dios governamentais para escritores criativos Melhor nem pensar nisso Subs dios para a ind stria tabagista Com certeza Financiamento para pesquisas sobre a mobilidade do esperma de touro n o preservado sem a menor sombra de d vida Subs dios para escritores criativos Jamais A maioria dos votantes concorda com essa situa o acho eu Com exce o de Norman Rockwell e Robert Frost os Estados Unidos nunca foram de reverenciar as mentes criativas do pa s como um todo estamos mais interessados em placas comemorativas produzidas pela empresa Franklin Mint e em cart es virtuais de felicita es E se voc n o gostar disso n o h muito que fazer pois assim Os americanos est o muito mais interessados em programas de perguntas e respostas na TV do que nos contos de Raymond Carver A solu o para muitos escritores criativos que ganham pouco ensinar o que sabem a outros Isso pode ser til e bom quando escritores iniciantes t m a chance de encontrar e ouvir escritores veteranos que h tempos admiram Tamb m timo quando os cursos de escrita trazem contatos do meio editorial Meu primeiro agente Maurice Crain foi contratado gra as ao meu professor de reda o liter ria no ltimo ano de escola um contista muito conhecido em minha regi o chamado Edwin M Holmes Depois de ler algumas hist rias que escrevi na Eh 77 uma aula de reda o com nfase em fic o o prof Holmes pediu a Crain que ava
42. as preocupa es tem ticas receita certa para m fic o A boa fic o sempre come a com a hist ria e progride at chegar ao tema ela quase nunca come a com o tema e progride at chegar hist ria As nicas exce es que consigo pensar para esta regra s o alegorias como 4 revolu o dos bichos de George Orwell e suspeito que a ideia de hist ria do livro possa ter vindo antes se algum dia encontrar Orwell no outro mundo pretendo perguntar a ele Uma vez que sua hist ria esteja no papel por m preciso pensar no que ela significa e enriquecer as vers es posteriores com suas conclus es Fazer menos que isso privar seu trabalho e por consequ ncia seus leitores da vis o que faz de cada hist ria que voc escreve nica 11 At aqui tudo bem Agora chegou o momento de falar sobre a revis o do trabalho quantas vers es Para mim a resposta sempre foi duas vers es e um polimento final com o advento dos softwares de texto meus polimentos se aproximaram de uma terceira vers o N o se esque a de que estou falando da minha maneira particular de escrever na pr tica a reescrita varia muito de escritor para escritor Kurt Vonnegut por exemplo reescrevia cada p gina de seus romances at que conseguisse deix los exatamente como queria Como consequ ncia havia dias em que ele s trabalhava em uma ou duas p ginas do texto final e a cesta de lixo ficava cheia de p ginas 71 e 72 rejeitadas mas qua
43. baby Se voc conseguir levar essa atitude para sua fic o n o vai achar mais f cil criar personagens brilhantes mas ser mais dif cil criar os cretinos unidimensionais que existem aos montes fic o popular Annie Wilkes a enfermeira que aprisionou Paul Sheldon em Misery pode nos parecer uma psicopata mas importante lembrar que ela aparenta ser perfeitamente s e razo vel para si mesma heroica na verdade Uma mulher sitiada tentando sobreviver em um mundo hostil cheio de velhos trapaceiros N s a vemos passar por perigosas mudan as de humor mas tentei n o ser direto e dizer que Annie estava deprimida e talvez at com tend ncias suicidas naquele dia ou que Annie parecia particularmente feliz naquele dia Se eu tiver que dizer ao leitor eu perco Se por outro lado eu conseguir mostrar uma mulher calada de cabelos sujos que come bolos e doces compulsivamente e voc chegar conclus o de que Annie est no momento de depress o do ciclo man aco depressivo eu ganho E se eu conseguir mesmo que apenas por um momento fazer voc enxergar o mundo pelos olhos dela entender sua loucura talvez tamb m consiga fazer de Annie algu m com quem voc simpatize ou mesmo se identifique O resultado Ela se torna mais assustadora do que nunca porque parece mais real Se por outro lado eu a transformar em uma velhota enrugada e escandalosa ela se tornar mais uma das mulheres malvadas que se veem por a nos
44. busca uma bala encantada um ingrediente secreto ou possivelmente a pena m gica de Dumbo mas nada disso pode ser encontrado em salas de aula ou retiros para escrita por mais que os folhetos de propaganda pare am convincentes Eu tenho d vidas sobre o valor dos cursos de escrita mas n o sou totalmente contra eles No maravilhoso romance tragic mico Oriente Oriente T Coraghessan Boyle descreve uma col nia de escritores em uma floresta de maneira que me soa perfeita como que sa da de um conto de fadas Cada participante tem seu pr prio chal onde supostamente passa o dia escrevendo Ao meio dia um gar om vindo do alojamento principal traz o almo o dos futuros Hemingways e Cathers deixando as marmitas na escada que leva entrada do chal Ali s deixa as marmitas com todo o cuidado para n o fazer barulho e perturbar o transe criativo do h spede Um dos c modos do chal a sala de escrita No outro h um catre para aquela soneca essencial da tarde ou talvez para um revigorante vai e vem com outro participante noite todos os membros da col nia se re nem no alojamento para jantar e travar longas e inebriantes conversas com os escritores residentes Mais tarde diante de uma grande lareira no sal o marshmallows s o assados pipocas s o estouradas vinho bebido e as hist rias dos participantes da col nia s o lidas em voz alta e criticadas Para mim parecia um ambiente de escrita absolutamente encantador Go
45. chegou relativamente tarde casa dos King e fico feliz por isso Parando para pensar fa o parte de um grupo seleto um dos poucos e derradeiros romancistas americanos que aprenderam a ler e escrever antes de aprenderem a comer uma por o di ria de porcarias televisivas Isso pode n o ter import ncia Por outro lado se voc estiver come ando a carreira de escritor sugiro desencapar o fio da sua televis o enrol lo em um prego bem grande e enfiar o prego na tomada Repare em como e quanto vai explodir s uma ideia 12 No fim da d cada de 1950 Forrest J Ackerman agente liter rio e colecionador compulsivo de memorabilia de fic o cient fica mudou a vida de milhares de crian as entre elas eu ao lan ar uma revista chamada Famous Monsters of Filmland Monstros famosos do mundo dos filmes Pergunte a qualquer pessoa que tenha se envolvido com os g neros de fic o cient fica terror ou fantasia nos ltimos trinta anos se ela conhece essa revista e voc conseguir um sorriso um brilho no olhar e uma torrente de lembran as v vidas eu garanto Por volta de 1960 Forry que s vezes se autodenominava Ackermonstro lan ou uma revista de vida curta mas muito interessante chamada Spacemen Homens do espa o sobre filmes de fic o cient fica Em 1960 enviei uma hist ria para eles Foi at onde recordo a primeira hist ria que enviei para publica o N o me lembro do t tulo mas eu ainda e
46. com gosto de u sque mas parece que minha cabe a vai explodir N o consigo andar Volto para a cama engatinhando com o cabelo molhado de suor caindo nos olhos Vou me sentir melhor amanh penso e apago de novo De manh meu est mago est um pouco melhor mas a garganta est irritada de tanto vomitar e a cabe a lateja como uma boca cheia de dentes podres Meus olhos viraram lentes de aumento a terr vel luz brilhante da manh ainda mais forte entrando pelas janelas do hotel Luz que em breve vai incendiar meu c rebro Participar das atividades programadas para aquele dia uma caminhada at a Times Square um passeio de barco at a Est tua da Liberdade uma subida at o topo do Empire State est fora de quest o Andar Eca Barcos Duas vezes eca Elevadores Eca quarta pot ncia Meu Deus eu mal consigo me mexer Dou alguma desculpa esfarrapada e passo a maior parte do dia na cama No fim da tarde me sinto um pouco melhor Coloco uma roupa me arrasto pelo corredor at chegar ao elevador e des o at o primeiro andar Comer imposs vel mas acho que consigo beber um refrigerante fumar um cigarro e ler uma revista E ent o quem vejo no sagu o sentado em uma cadeira lendo jornal se n o o sr Earl Higgins codinome Bola Branca Passo por ele tentando n o fazer barulho mas n o adianta Quando volto da loja ele est l sentado com o jornal no colo olhando para mim Meu est mago embrulha Ele vai me arrumar
47. conseguir n o seria ruim muitos deles podem lhe mostrar novas maneiras de fazer seu trabalho Mesmo que n o fa am isso no entanto ainda assim estes livros ser o uma boa fonte de divertimento Eu me diverti muito Abrahams Peter A Perfect Crime Abrahams Peter Lights Out Abrahams Peter Mergulho na tens o Abrahams Peter Revolution 9 Agee James Uma morte em familia Bakis Kirsten Lives of the Monster Dogs Barker Pat Regeneration Barker Pat The Eye in the Door Barker Pat The Ghost Road Bausch Richard Jn the Night Season Blauner Peter O intruso Bowles Paul O c u que nos protege Boyle T Coraghessan Am rica Bryson Bill Walk in the Woods Buckley Christopher Obrigado por fumar Carver Raymond Where Im Calling From Chabon Michael Werewolves in Their Youth Chorlton Windsor Latitude zero Connelly Michael O poeta Conrad Joseph O cora o das trevas Constantine K C Family Values DeLillo Don Submundo DeMille Nelson Cathedral DeMille Nelson A costa dourada Dickens Charles Oliver Twist Dobyns Stephen Common Carnage Dobyns Stephen The Church of Dead Girls Doyle Roddy The Woman Who Walked into Doors Elkin Stanley The Dick Gibson Show Faulkner William Enquanto agonizo Garland Alex A praia George Elizabeth Deception on His Mind Gerritsen Tess Gravidade Golding William Senhor das moscas Gray Muriel Furnace Greene Graham A Gun for Sale Greene Graham N
48. de presente de Natal Tanto as publica es especializadas quanto o Writers Market um calhama o mas o pre o razo vel listam editores de livros e revistas e trazem pequenas descri es do tipo de hist ria que cada mercado consome Voc tamb m vai encontrar os tamanhos de texto mais vend veis e os nomes de funcion rios de editoras Se voc for um contista iniciante seu maior interesse devem ser as pequenas revistas Se estiver escrevendo ou j tiver escrito um romance anote as listas de agentes liter rios das revistas sobre o mercado editorial e do Writers Market Tamb m vale a pena incluir um exemplar do Literary Market Place em sua estante de refer ncias preciso ser astuto cuidadoso e ass duo na busca por um agente ou editor mas vale a pena repetir a coisa mais importante que voc pode fazer por si mesmo ler o mercado Olhar as descri es curtas da Writers Digest ajuda publica fic o comercial 2 mil a 4 mil palavras evite personagens estereotipados e situa es rom nticas batidas mas um resumo vamos encarar a verdade n o passa de um resumo Enviar hist rias sem ler o mercado antes como jogar dardos em uma sala escura voc pode at atingir o alvo vez ou outra mas n o merecido Veja a hist ria de um aspirante a escritor que vou chamar de Frank Ele uma mescla de tr s jovens escritores que conhe o dois homens e uma mulher Todos come aram a fazer algum sucesso na cas
49. de superf cie em cerejeira para come ar Tomando uma x cara de ch atr s da outra bebo ch aos baldes quando escrevo quando n o estava bebendo cerveja claro preenchi 16 p ginas de um caderno Gosto de escrever m o na verdade o nico problema que quando fico acelerado n o consigo mais acompanhar o texto que vai se formando em minha cabe a e fico exausto Quando decidi que n o dava mais parei no sagu o para agradecer de novo ao recepcionista por me deixar usar a bela mesa do sr Kipling Fico feliz que o senhor tenha gostado respondeu ele O homem tinha um sorrisinho nost lgico como se tivesse conhecido o escritor pessoalmente Kipling morreu nela na verdade Ataque do cora o Enquanto escrevia Subi para o quarto para dormir umas poucas horas pensando na frequ ncia com que nos dizem coisas que n o precis vamos saber O t tulo de trabalho da minha hist ria que imaginei que seria um romance de cerca de 30 mil palavras era The Annie Wilkes Edition Quando me sentei bela mesa de Kipling eu j tinha a situa o b sica escritor aleijado f psic tica firmemente fixada na cabe a A hist ria de fato ainda n o existia bem existia mas era uma rel quia enterrada com exce o de 16 p ginas manuscritas claro mas eu n o precisava saber a hist ria para come ar a trabalhar O f ssil tinha sido localizado o resto eu bem sabia exigiria cuidadosa escava o Eu diria que
50. e a fogueira agonizante rugia sob o a oite do vento como uma coisa viva aqueles quatro ainda se agachavam na orla da luz entre seus estranhos pertences e observavam o modo como as chamas desiguais vergavam ao sabor do vento como que sugadas por algum maelstrom ali no meio do nada algum v rtice naquela vastid o desolada para o qual tanto a passagem do homem como seus ju zos houvessem sido abolidos Cormac McCarthy Meridiano de sangue Outros escritores usam um vocabul rio menor e mais simples Exemplos dessa escrita quase n o s o necess rios mas vou oferecer alguns de meus favoritos mesmo assim Ele foi ao rio O rio estava l Ernest Hemingway Big Two Hearted River O grande rio de dois cora es tradu o livre Pegaram o menino fazendo algo sujo debaixo das arquibancadas Theodore Sturgeon Some of Your Blood Parte de seu sangue tradu o livre Foi o que aconteceu Douglas Fairbairn Shoot Tiro tradu o livre Alguns dos senhorios eram bons porque detestavam o que tinham que fazer outros ficavam irritados porque detestavam ser cru is e ainda outros eram frios porque havia muito tinham descoberto que n o se podia ser senhorio de terras sem se ser frio John Steinbeck As vinhas da ira tradu o livre A frase original de Steinbeck especialmente interessante Em ingl s s o cinquenta palavras Dessas 39 t m apenas uma s laba Sobram 11 mas mesmo este n mero enganador Steinbeck usa b
51. em p blico talvez Richard o Imbecil preso Tudo isso pano de fundo Como voc vai trabalhar com isso e o quanto vai ser trabalhado escolha sua De qualquer forma essa n o a situa o situa o a seguinte Certo dia logo ap s a condena o de Dick e seu encarceramento Jane pega a pequena Nell na creche e a leva para a festa de anivers rio de uma amiguinha Jane volta sozinha para casa ansiando por duas ou tr s horas de paz e quietude que n o tem h muito tempo Talvez pensa ela eu tire um cochilo Ela mora em uma casa mesmo sendo uma jovem da classe trabalhadora a situa o meio que exige isso Como Jane encontrou a casa e por que ela tem a tarde livre s o coisas que a hist ria vai dizer e v o parecer competentemente tramadas se voc encontrar raz es plaus veis talvez a casa perten a aos pais dela talvez ela esteja tomando conta do lugar talvez algo completamente diferente Ela sente uma pontada logo abaixo do n vel da consci ncia na hora em que entra na casa Algo que a deixa incomodada Jane n o consegue distinguir o que e diz a si mesma que est apenas nervosa consequ ncia dos cinco anos de inferno com o Mister Simpatia O que mais poderia ser Dick est atr s das grades afinal Antes de tirar o cochilo Jane decide tomar uma x cara de ch de ervas e assistir ao notici rio Ser que d para usar a chaleira com gua fervente que est no fog o depois
52. em vigor no Brasil em 2009 As vezes eles voltam e ltimo turno foram publicados em Sombras da noite Suma de Letras 2013 O corpo e Aluno inteligente foram publicadas em Quatro esta es Suma de Letras 2013 Todos os direitos desta edi o reservados EDITORA OBJETIVA LTDA Rua Cosme Velho 103 Rio de Janeiro RJ CEP 22241 090 Tel 21 2199 7824 Fax 21 2199 7825 www objetiva com br T tulo original On Writing Capa Adapta o de Julio Moreira sobre layout de Larry Rosant Revis o Rachel Rimas Lu sa Ulhoa Flora Pinheiro Coordena o de e book Marcelo Xavier Convers o para e book Abreu s System Ltda NOTA DO AUTOR A menos que haja indica o em contr rio todos os exemplos em prosa bons e ruins foram escritos pelo autor PERMISS ES There Is a Mountain letra e m sica de Donovan Leitch Copyright O 1967 de Donovan Music Ltd Administrada por Peer International Corporation Copyright renovado Copyright internacional assegurado Usado com permiss o Todos os direitos reservados Grandpa Was a Carpenter de John Prine O Walden Music Inc ASCAP Todos os direitos administrados por WB Music Corp Todos os direitos reservados Usado com permiss o Warner Bros Publications U S Inc Miami FL 33014 CIP BRASIL CATALOGA O NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS RJ K64s King Stephen Sobre a escrita recurso eletr nico S
53. ensinava datilografia e taquigrafia para as meninas nas aulas profissionalizantes Ela impunha respeito e medo Seguindo a tradi o de professores de outras eras a srta Margitan n o queria ser amiga ou psic loga dos alunos tampouco lhes servir de inspira o Ela estava l para ensinar habilidades que seriam usadas em escrit rios e queria que todo o aprendizado seguisse as regras As regras dela As meninas que frequentavam as aulas da srta Margitan s vezes eram obrigadas a se ajoelhar no ch o e se a bainha da saia n o encostasse no piso de lin leo a aluna era mandada de volta para casa para trocar de roupa N o adiantava chorar implorar pois nada disso a comovia N o havia argumento que a fizesse mudar de ideia As listas de deten o da srta Margitan eram mais longas que as de qualquer outro professor mas as meninas que estudavam com ela costumavam ser aprovadas com louvor e geralmente conseguiam bons empregos Muitas passaram a ador la Outras a odiavam e bem prov vel que ainda a odeiem hoje tantos anos depois Costumavam cham la de Maggot Margitan como sem d vida suas m es fizeram antes delas No The Village Vomit tinha um texto que come ava assim A srta Margitan afetuosamente chamada de Verme pelos moradores de Lisbon Falls O sr Higgins nosso diretor careca zombeteiramente chamado de Bola Branca no Vomit me contou que a srta Margitan ficara muito magoada e transtornada com o que eu tinha escr
54. eu era crian a vov disse minha m e Por que voc n o faz essa crian a calar a boca Ruth Quando Stephen abre a boca bota tudo para fora Era verdade ent o e continuou sendo verdade por toda a minha vida mas naquele Dia das M es em maio de 1973 eu fiquei absolutamente sem palavras Fiquei ali na soleira como fazia sempre mas n o consegui falar Bill perguntou meio rindo se eu ainda estava ali Ele sabia que sim Eu n o tinha ouvido direito N o era poss vel Essa ideia conseguiu trazer minha voz de volta Voc quer dizer que foi comprada por 40 mil d lares Quatrocentos mil d lares Tudo preto no branco respondeu ele confirmando que tudo estava de acordo com o contrato que eu assinara Duzentos mil s o seus Parab ns Steve Eu continuava de p na soleira olhando para a sala em dire o ao nosso quarto e ao ber o de Joe A gente pagava um aluguel de 90 d lares por m s na casa da rua Sanford e vinha aquele homem que eu s vira uma vez na vida me dizer que eu tinha acabado de ganhar na loteria Minhas pernas bambearam N o cheguei a levar um tombo mas me deixei cair at sentar Tem certeza perguntei a Bill Ele disse que sim Pedi para que falasse o valor de novo lenta e claramente para que eu tivesse certeza de que tinha entendido certo Ele disse que o n mero era um quatro seguido de cinco zeros Al m de uma v rgula e mais dois zeros acrescentou Conversamos p
55. eu n o quero soar como um nerd workaholic s como workaholic acho A verdade que quando estou escrevendo escrevo todos os dias seja eu um nerd workaholic ou n o Isso inclui o Natal a Independ ncia e meu anivers rio na minha idade de qualquer forma a gente tenta ignorar a porcaria do anivers rio E quando n o estou trabalhando n o escrevo nada embora durante esses per odos de parada completa eu me sinta meio apartado de mim e tenha problemas para dormir Para mim o trabalho ficar sem trabalhar Quando escrevo estou no parque de divers es e mesmo as tr s piores horas que passo escrevendo ainda s o muito boas Eu era mais r pido Um de meus livros O concorrente foi escrito em uma semana um feito que John Creasey talvez apreciasse embora eu tenha lido que Creasey escreveu v rios livros de mist rio em dois dias Acho que parar de fumar me deixou mais lento a nicotina um timo estimulante de sinapses O problema obviamente que o cigarro mata ao mesmo tempo em que ajuda a escrever Ainda assim acredito que a primeira vers o de um livro mesmo longo n o deva demorar mais que tr s meses a dura o de uma esta o Se demorar mais para mim pelo menos a hist ria come a a parecer meio estranha nada familiar como um despacho do Departamento de Rela es P blicas da Rom nia ou algo transmitido em ondas curtas de alta frequ ncia durante um per odo de intensa atividade solar Gosto de es
56. eu pingava suor e estava exausto demais at para me sentar direito na cadeira de rodas A dor no quadril era quase apocal ptica E as primeiras quinhentas palavras foram singularmente aterrorizantes era como se eu nunca tivesse escrito nada na vida Todos os velhos truques pareciam ter me abandonado Fui de uma palavra outra como um homem muito velho que procura o caminho por uma linha de pedras midas em zigue zague N o houve inspira o naquela tarde s uma teimosa determina o e a esperan a de que as coisas melhorariam se eu perseverasse Tabby me trouxe uma Pepsi gelada doce e gostosa e enquanto eu bebia olhei em volta e tive que rir apesar da dor Eu tinha escrito Carrie a estranha e Salem na lavanderia de um trailer alugado O quartinho nos fundos de nossa casa em Bangor lembrava tanto o velho lugar que me fez sentir quase como se eu tivesse dado uma volta completa N o houve nenhuma grande mudan a naquela tarde a n o ser o pequeno milagre que adv m de qualquer tentativa de se criar algo Tudo o que sei que as palavras come aram a sair mais r pido depois de algum tempo e depois ainda mais r pido Meu quadril ainda do a minhas costas ainda dofam mas as dores come aram a ficar um pouco mais distantes Eu comecei a ficar acima delas N o havia qualquer sentimento de euforia nenhuma agita o n o naquele dia mas uma sensa o de dever cumprido que era quase t o boa quanto Eu perseverei e iss
57. falaremos em breve A primeira tentativa de Eletro m Superlegal n o foi muito superlegal na verdade pode nem ter funcionado n o lembro muito bem A ideia no entanto tinha sa do de um livro n o da cabe a do Dave O plano era o seguinte esfregar um prego em um ima para magnetiz lo A carga magn tica passada para o prego seria fraca dizia o livro mas suficiente para atrair um pouco de limalha de ferro Depois de fazer isso era preciso enrolar um fio de cobre no prego e ligar as duas pontas aos terminais de uma pilha comum De acordo com o livro a eletricidade aumentaria o magnetismo e assim seria poss vel atrair muito mais limalha de ferro Dave por m n o queria apenas atrair um montinho bobo de raspas de metal ele queria prender um Buick um vag o de trem talvez at um avi o de transporte do ex rcito Dave queria ligar uma tomada e tirar a Terra de rbita Pou Legal Cada um de n s tinha uma fun o na cria o do Eletroima Superlegal A parte de Dave era construir A minha testar O pequeno Stevie King a vers o de Stratford do piloto Chuck Yeager o primeiro a romper a barreira do som nova vers o do experimento de Dave deixou de lado aquela pilha in til que j devia estar gasta quando a gente comprou na loja de ferragens argumentou ele em favor da eletricidade que vinha das tomadas de casa Dave cortou o fio de um abajur velho que algu m tinha jogado fora tirou todo o revestimento at o plugue
58. ferimentos causados pelo impacto n o achei que voc fosse chegar vivo ao hospital Voc um sujeito de sorte por ainda estar aqui A extens o dos ferimentos causados pelo impacto tanta que os m dicos do Hospital Northern Cumberland chegam conclus o de que n o podem me atender ali Algu m chama um helic ptero para me levar ao Centro M dico Central do Maine em Lewiston Nesse momento chegam minha mulher meu filho mais velho e minha filha As crian as s podem fazer uma breve visita mas minha mulher pode ficar por mais tempo Os m dicos garantem que estou muito ferido mas vou sobreviver A parte inferior de meu corpo est coberta Tabby n o consegue ver a maneira interessante como meu quadril esta virado para a direita mas pelo menos deixam que ela limpe o sangue do meu rosto e pegue alguns cacos de vidro presos em meu cabelo Tenho um corte profundo no couro cabeludo resultado da batida contra o para brisa de Bryan Smith O ponto de impacto foi a menos de 5 cent metros da estrutura de metal da carroceria do lado do motorista Se eu tivesse batido ali bem prov vel que tivesse morrido ou ficasse em coma permanente em estado vegetativo Se eu tivesse ca do em uma das pedras que saem do ch o ao lado do acostamento da Rota 5 prov vel que estivesse morto ou permanentemente paralisado N o ca em nenhuma delas Fui lan ado por sobre o furg o a mais de 4 metros de altura mas aterrissei logo antes das pedras
59. fic o da Cosmo leia seus contos Quando jovem eu ainda n o tinha percebido que havia pessoas no mercado editorial e n o s o poucas na verdade que roubariam dinheiro da pr pria m e Para mim isso n o queria dizer muita coisa porque antes que meus dois primeiros romances conseguissem conquistar um bom p blico pouco se poderia roubar de mim bom ter um agente e se seu trabalho for vend vel voc n o vai ter muito problema para encontrar um poss vel que voc encontre um agente mesmo que seu trabalho n o seja vend vel mas mostre potencial Agentes esportivos representam atletas que jogam em times pequenos e recebem basicamente o dinheiro da comida esperando que um dia seus jovens clientes consigam um lugar entre os grandes pela mesma raz o agentes liter rios costumam gerenciar escritores com poucos textos publicados bem prov vel que voc encontre algu m para gerenciar seu trabalho mesmo que suas publica es se limitem a pequenas revistas que s pagam em exemplares e costumam ser consideradas por agentes e editores um terreno f rtil para novos talentos No come o preciso ser o pr prio advogado ou seja ler as revistas que publicam o tipo de texto que voc escreve Procure tamb m por publica es voltadas para escritores e compre um exemplar do Writers Market um guia do mercado editorial que a mais valiosa ferramenta para escritores novatos Se voc for muito pobre pe a a algu m
60. flor da primavera que passou o po o brilhava de noite tudo que vivia sugou a vida de tudo naquela pedra deve ter chegado naquela pedra envenenou aqui tudo num sei o que ela quer aquela coisa redonda que os homem da universidade tiraram da pedra era da mesma cor a cor das flor e das planta das semente Vi agorinha esta semana toma com a cabe a da gente e depois frita tudo Vem dum lugar onde as coisa num s o como c um dos professores falou isso E por a vai em erup es el pticas de informa o cuidadosamente constru das dif cil dizer exatamente o que h de errado com o di logo de Lovecraft al m do bvio artificial e sem vida afundado em linguajar caipira dum lugar onde as coisa num s o como ca Quando o di logo bom reconhecemos na hora Quando ruim tamb m sabemos machuca os ouvidos como um instrumento musical desafinado Lovecraft era segundo todos os relatos esnobe e terrivelmente t mido e tamb m um grandess ssimo racista com suas hist rias cheias de africanos sinistros e do tipo de judeu calculista que meu tio Oren sempre temia depois de quatro ou cinco cervejas o tipo de escritor que mant m uma prol fica correspond ncia mas tem muita dificuldade em lidar com as pessoas Se estivesse vivo ele com certeza teria experi ncias brilhantes em v rias salas de bate papo na internet O di logo uma habilidade que aprendem melhor aqueles que gostam d
61. h mais alternativas Eu j tinha enfrentado muitas situa es terr veis antes e a escrita me ajudara a super las me ajudara a esquecer de mim por pelo menos alguns momentos Talvez ela me ajudasse outra vez Parecia rid culo pensar que funcionaria dado o n vel de dor e a incapacidade f sica que eu sentia mas uma voz no fundo de minha cabe a ao mesmo tempo paciente e implac vel me dizia como na letra de Time Has Come Today O tempo chegou hoje dos Chambers Brothers que a hora era aquela Eu poderia desobedecer voz mas era muito dif cil desdenhar dela Por fim foi Tabby quem deu o voto de Minerva como tantas vezes fez em momentos cruciais de minha vida Gosto de pensar que fiz o mesmo por ela de tempos em tempos porque para mim uma dos pilares do casamento dar o voto de Minerva quando o outro n o consegue decidir o que fazer Minha mulher a pessoa mais propensa a dizer que estou trabalhando demais que hora de diminuir o ritmo desgrudar desse maldito PowerBook por um minuto Steve dar um tempo Quando disse a ela naquela manh de julho que achava melhor voltar ao trabalho eu esperava um serm o Em vez disso ela me perguntou onde eu queria escrever Respondi que n o sabia que nem havia pensado no assunto Ela havia pensado ent o disse Posso colocar uma mesa para voc no quartinho dos fundos fora da copa Tomadas n o faltam d para colocar seu Mac a impressora e um ventilador O ve
62. imagem de um dos exclu dos da poca de escola se eu descrever a minha vou congelar a sua e assim perco um pouco da identifica o m tua que quero forjar A descri o come a na imagina o do escritor mas deve terminar na do leitor Na hora de fazer uma descri o o escritor tem muito mais sorte do que o diretor de cinema que quase sempre estar condenado a mostrar demais Por exemplo mostrar em noventa por cento dos casos o z per que corre pelas costas do monstro Acho que o cen rio e a textura s o muito mais importantes para que o leitor se sinta dentro da hist ria do que qualquer descri o f sica dos personagens Tamb m n o acho que a descri o f sica deva ser um atalho para o car ter Ent o me poupem por favor dos astutos olhos azuis e do resoluto queixo proeminente do her i e tamb m das arrogantes ma s do rosto da hero na Esse tipo de coisa t cnica ruim e escrita pregui osa o equivalente a todos aqueles adv rbios cansativos Para mim a boa descri o consiste em apenas alguns detalhes bem escolhidos que v o falar por todo o resto Na maioria dos casos esses detalhes ser o os primeiros a lhe ocorrer E certamente v o ser o bastante para come ar Se depois voc decidir mudar acrescentar ou excluir alguma coisa fa a o que tiver que fazer para isso que serve a reescrita Eu por m acho que voc vai perceber que na maioria dos casos os primeiros detalhes visualizado
63. lera a hist ria em voz alta cerca de um m s antes da morte de mam e Os olhos dela iam de Dave para mim de Dave para mim de Dave para mim O peso normal de minha m e era 72 quilos ela estava com 40 A pele estava amarelada e t o esticada que ela parecia uma daquelas m mias que os mexicanos levam pelas ruas no Dia dos Mortos N s nos revezamos para segurar o cigarro e quando s restou o filtro eu joguei fora Meus meninos disse ela depois fechou os olhos e adormeceu ou perdeu os sentidos Minha cabe a do a Tomei duas aspirinas tiradas de um dos muitos frascos de rem dio que estavam no criado mudo Dave segurou uma das m os de nossa m e eu segurei a outra Sob os len is n o estava o corpo dela mas o de uma crian a faminta e deformada Dave e eu fumamos e conversamos um pouco N o lembro o que dissemos Tinha chovido na noite anterior depois a temperatura ca ra e de manh as ruas estavam cobertas de gelo Ouvimos as pausas ap s cada respira o dif cil aumentarem mais e mais Por fim a respira o cessou e s sobrou a pausa 34 Minha m e foi enterrada no cemit rio da Igreja Congregacional de Southwest Bend A igreja que ela frequentava em Methodist Corners onde eu e meu irm o crescemos estava fechada por causa do frio Fiz o discurso f nebre Acho que realizei um timo trabalho considerando meu n vel de embriaguez 35 Alco latras constroem defesas como holandeses constroem diques Passei
64. m que sabe Escrever um trabalho solit rio Ter algu m que acredita em voc faz muita diferen a Eles n o precisam fazer discursos motivacionais Basta acreditar 28 Nos tempos de faculdade meu irm o trabalhava durante o ver o como zelador na Brunswick High sua velha alma mater Durante parte de um ver o tamb m trabalhei l N o lembro quando s sei que foi antes de conhecer Tabby mas depois de come ar a fumar Eu devia ter 19 ou 20 anos imagino Fiz dupla com um sujeito chamado Harry que usava fardas verdes tinha um chaveiro enorme e mancava Ele tinha m os em vez de ganchos no entanto Uma vez na hora do almo o Harry me contou como foi encarar um ataque banzai na ilha de Tarawa com todos os oficiais japoneses brandindo espadas feitas de latas de caf Maxwell House e todos os soldados na retaguarda completamente chapados e fedendo a papoula queimada Meu colega Harry era um belo contador de hist rias Certo dia ele e eu t nhamos que limpar as marcas de ferrugem das paredes do chuveiro feminino Analisei o vesti rio com o interesse de um jovem mu ulmano que por alguma raz o se v no meio do alojamento feminino Era igual ao masculino mas ainda assim completamente diferente N o havia mict rios claro e nas paredes de azulejo havia duas caixas de metal a mais sem nenhuma identifica o e em um tamanho que n o condizia com as toalhas de papel Perguntei o que havia nelas Rolhas de xoxota
65. mais problema com o diretor e talvez seja ainda pior do que na poca do Village Vomit Ele me chama e ent o descubro algo interessante o sr Higgins na verdade gente boa Ele me deu um esporro hom rico por causa da brincadeira no jornal mas talvez tenha sido por insist ncia da srta Margitan E eu s tinha 16 anos afinal de contas No dia da minha primeira ressaca eu estava prestes a completar 19 tinha sido aceito na universidade estadual e quando a viagem acabasse um trabalho me esperava na tecelagem Soube que voc estava mal demais para passear por Nova York com os outros alunos diz o Bola Branca me olhando de cima a baixo Respondo que sim que estava doente uma pena voc ter perdido a divers o Est se sentindo melhor agora Estava sim Provavelmente uma gastroenterite um desses virus de 24 horas N o v pegar este virus de novo adverte ele Pelo menos n o nesta viagem Ele me encara por mais um momento os olhos perguntando se est vamos entendidos Com certeza n o respondo sinceramente Agora sei como estar b bado uma vaga sensa o de fren tica boa vontade uma sensa o mais n tida de que sua consci ncia est quase toda fora do corpo pairando como a c mera de um filme de fic o cient fica e filmando tudo e depois enjoo v mitos e dor de cabe a Digo a mim mesmo que n o vou pegar aquele v rus de novo nem nesta viagem nem nunca mais Basta uma vez
66. mente que mocinhos e bandidos come avam a ficar perigosamente parecidos e o que me fez voltar a escrever foi a percep o de que os mocinhos estavam venerando uma vaca dourada eletr nica e precisavam de uma sacudida que os trouxesse de volta realidade Uma bomba no arm rio cumpriria essa fun o muito bem Tudo isso me fez pensar que o uso da viol ncia como solu o est entrela ado natureza humana como uma linha vermelha amaldi oada Essa no o se tornou o tema de 4 dan a da morte e escrevi a segunda vers o com a ideia firmemente fixada na cabe a Repetidas vezes os personagens tanto os bandidos como Lloyd Henreid quanto os mocinhos como Stu Redman e Larry Underwood mencionam o fato de que tudo aquilo armas de destrui o em massa est largado por a esperando que algu m pegue Quando o povo de Boulder prop e de maneira inocente com as melhores inten es reconstruir a velha Torre de Babel de neon eles s o varridos por mais viol ncia Os caras que plantam a bomba fazem o que Randall Flagg lhes ordenou mas M e Abagail contraparte deste repete in meras vezes que todas as coisas servem a Deus Se isso verdade e dentro do contexto de 4 dan a da morte certamente ent o a bomba uma dura mensagem do cara l de cima uma forma de dizer Eu n o os coloquei nesta situa o para que voc s fizessem a mesma merda de novo Perto do fim do romance era mesmo o fim da primei
67. n s Foi s depois do segundo ou terceiro reencontro de ex alunos que come amos a perceber como a coisa toda era absurda Dois ou tr s dias depois fui convocado ao escrit rio do sr Higgins e fiquei de p diante dela A srta Margitan estava empertigada na cadeira as m os artr ticas cruzadas no colo e os olhos cinzentos me encarando fixamente sem piscar Foi ent o que percebi que ela tinha algo diferente de todos os outros adultos que eu conhecia N o identifiquei a diferen a em um primeiro momento mas eu sabia que n o seria poss vel encantar aquela senhora que seria imposs vel conquist la Mais tarde enquanto eu jogava avidezinhos de papel junto com outros meninos maus e meninas m s na sala de deten o que n o era t o ruim assim me dei conta de que era algo bem simples A srta Margitan n o gostava de meninos Ela foi a primeira mulher que conheci na vida que n o gostava de meninos nem um pouquinho que fosse Se faz alguma diferen a minhas desculpas foram sinceras A srta Margitan ficou magoada com o que eu havia escrito e pelo menos isso eu conseguia entender Duvido que me odiasse ela provavelmente tinha mais o que fazer mas era conselheira da Sociedade Nacional de Men o Honrosa na Lisbon High e quando o meu nome apareceu na lista de candidatos dois anos depois ela me vetou A Sociedade Nacional de Men o Honrosa n o precisava de meninos do meu tipo argumentou Eu concordei com ela Um menino
68. o Bola Branca e passamos a primeira noite em Nova York onde j se podia beber aos 18 anos Gra as aos meus ouvidos ruins e minhas am gdalas de merda eu j tinha quase 19 Dava e sobrava Eu e os outros meninos mais aventureiros encontramos uma loja de bebidas no quarteir o do hotel Olhei para as prateleiras sabendo que o dinheiro que eu tinha estava longe de ser uma fortuna Era demais para mim garrafas demais marcas demais pre os demais acima de 10 d lares Por fim desisti e perguntei ao cara atr s do balc o o mesmo sujeito careca com ar entediado em roupas cinzentas que sem sombra de d vida vendeu a primeira garrafa a virgens de lcool desde a aurora do com rcio o que tinha de mais barato ali Sem dizer palavra ele botou uma garrafinha de meio litro de u sque Old Log Cabin ao lado da caixa registradora A etiqueta no r tulo dizia US 1 95 O pre o estava certo Eu me lembro de ter sido levado para dentro do elevador naquela noite ou talvez tenha sido na manh seguinte por Peter Higgins filho do Bola Branca Butch Michaud Lenny Partridge e John Chizmar A imagem que tenho na cabe a mais parece uma cena de programa de TV do que uma lembran a de fato Parece que estou assistindo a tudo de fora do meu corpo Sobrou apenas consci ncia o bastante para eu saber que me fodi incrivelmente A c mera nos filma enquanto subimos at o andar das meninas e sou jogado de um lado para outro do corredor em uma exibi
69. o creio que todo mundo queira saber como ele fez isso Se eu pretendia ser presun oso a ponto de dizer s pessoas como escrever era melhor encontrar um motivo al m da minha popularidade Dito de outra forma eu n o queria escrever um livro nem mesmo um t o curto quanto este que me deixasse com a sensa o de charlatanismo liter rio ou babaquice transcendental Desse tipo de livro e de escritor o mercado j est cheio obrigado Mas Amy estava certa ningu m jamais pergunta sobre a linguagem Este tipo de pergunta feito a um DeLillo um Updike um Styron mas n o a romancistas populares Ainda assim muitos de n s prolet rios humildemente nos preocupamos com a linguagem e temos extremo cuidado e paix o pela arte e pelo of cio de contar hist rias no papel O que se segue uma tentativa de escrever de maneira breve e simples como me iniciei no of cio o que sei sobre isso e como se faz Trata se do trabalho di rio trata se da linguagem Este livro dedicado a Amy Tan por ter me dito de forma simples e direta que seria uma boa ideia escrev lo 1 Raymond Burr ator canadense cuja perna direita era discretamente voltada para dentro devido a uma picada de cobra sofrida na adolesc ncia N E Segundo prefacio Este livro curto porque a maioria das obras sobre a escrita esta cheia de baboseiras Os escritores de fic o incluindo este que vos fala n o t m um entendimento muito claro sobre o que fazem
70. o elenco totalmente feminino Eu tinha acabado de aterrissar no Planeta F mea e minha nica incurs o no vesti rio feminino da Brunswick High School anos antes n o era uma b ssola muito til Para mim a escrita sempre melhor quando ntima t o sexy quanto pele na pele Com Carrie a estranha era como se eu estivesse metido em uma roupa de mergulho que n o conseguia tirar O quarto problema e o mais importante de todos foi perceber que a hist ria n o valeria a pena a menos que fosse bastante longa mais at que As vezes eles voltam que estava no limite m ximo do que o mercado de revistas masculinas aceitaria em termos de contagem de palavras Era preciso espa o para fotos de cheerleaders que por alguma raz o tinham se esquecido de vestir a calcinha era por causa delas que os homens compravam as revistas Eu n o conseguia me ver perdendo duas semanas talvez um m s em um romance de que eu n o gostava nem conseguiria vender Ent o joguei tudo fora Na noite seguinte quando voltei da escola Tabby estava com as p ginas nas m os Ela tinha visto o texto enquanto esvaziava a lata de lixo espanara as cinzas de cigarro das bolas de papel amassado alisara as p ginas e come ara a ler Tabby queria que eu continuasse a hist ria Queria saber o resto Eu disse que n o sabia nada de nada sobre meninas adolescentes Ela disse que me ajudaria com essa parte Tabby estava com o queixo inclinado e abriu aquele sorriso
71. o que funciona para mim tamb m pode funcionar para voc Se voc escravizado ou intimidado pela cansativa tirania do esbo o e do caderno cheio de notas sobre os personagens isso pode libertar voc No m nimo vai desviar sua mente para algo mais interessante que o Desenvolvimento do Enredo Uma digress o divertida o maior defensor do Desenvolvimento do Enredo no s culo XX foi Edgar Wallace um escritor da d cada de 1920 cujo objetivo era fazer best sellers e ganhar dinheiro Wallace inventou e patenteou um aparelho chamado de Roda do Enredo de Edgar Wallace Quando algu m ficasse empacado no Desenvolvimento do Enredo ou precisasse rapidamente de uma Incr vel Virada nos Acontecimentos bastava girar a Roda do Enredo e ler o que aparecesse na janela uma chegada fortuita talvez ou a hero na declara seu amor Aparentemente as engenhocas venderam feito p o quente Quando terminei a primeira sess o no Hotel Brown em que Paul Sheldon acorda e se v prisioneiro de Annie Wilkes pensei que sabia o que iria acontecer Annie exigiria que Paul escrevesse s para ela outro romance com a corajosa personagem de sua s rie Misery Chastain Paul primeiro se negaria mas depois claro concordaria uma enfermeira psic tica imaginei poderia ser bem persuasiva Annie diria a ele que pretendia sacrificar sua porca amada Misery em nome do projeto O retorno de Misery teria segundo ela uma nica c pia um
72. o se preocupa mais a que sua saia esteja curta ou longa demais e todas as outras crian as riam de voc b com o fato de n o conseguir vaga para a equipe de nata o da universidade c em ainda ser virgem e ainda ter o rosto coberto de espinhas quando se formar ou at morrer d que o professor de f sica n o d uma ajuda na nota final ou e com o fato de que ningu m gosta mesmo de voc E NUNCA GOSTARAM agora que todas as babaquices irrelevantes est o fora do caminho voc pode estudar certos assuntos acad micos com um grau de concentra o que jamais teria quando frequentava aquele hosp cio cheio de apostilas Al m disso depois que come ar voc vai descobrir que sabe quase tudo do assunto pois essa como eu disse muito mais uma quest o de tirar a ferrugem das brocas e afiar a l mina da serra Al m do mais ah dane se Se voc consegue se lembrar de todos os acess rios que combinam com sua roupa do que est em sua bolsa do time titular do New York Yankees ou do Houston Oilers ou por qual gravadora saiu a m sica Hang On Sloopy Segure se Sloopy do grupo The McCoys ent o capaz de lembrar a diferen a entre ger ndio forma verbal usada como substantivo 4 e partic pio forma verbal usada como adjetivo Pensei longa e profundamente na possibilidade de incluir uma se o detalhada sobre gram tica neste livro Parte de mim gostaria de ter feito isso dei aulas de gram tica no ensino m dio di
73. o tema da hist ria atual A mensagem deve terminar com um agradecimento ao editor pela chance que lhe est oferecendo Isso extremamente importante O texto deve ser enviado em papel branco de boa qualidade nada de folhas de rascunho A c pia deve estar em espa o duplo e o endere o do escritor deve vir na primeira p gina no canto superior esquerdo n o h problema em incluir o n mero de telefone tamb m No canto superior direito coloque o n mero aproximado de palavras Frank faz uma pausa ri e depois diz E n o trapaceie A maioria dos editores de revistas sabe dizer qual o tamanho da hist ria apenas de olhar o impresso e folhear as p ginas Ainda estou um pouco surpreso com a resposta de Frank eu esperava algo menos preto no branco Que nada Voc aprende rapidinho a ser pr tico quando termina a faculdade e ainda est tentando encontrar um lugar ao sol no mercado primeir ssima coisa que aprendi foi que um novato jamais vai receber qualquer aten o a menos que pare a profissional Algo no tom de voz de Frank me diz que ele acha que esqueci como as coisas podem ser dif ceis para quem est come ando e talvez ele esteja certo Afinal de contas j se v o quase quarenta anos desde que eu tinha uma pilha de cartas de rejei o presas em um prego no quarto N o d para obrig los a gostar da hist ria conclui ele mas pelo menos d para facilitar que eles gostem Enquanto
74. o uma lista de clientes nem sei se seria tico um agente informar os nomes de clientes mas de editoras para as quais o agente vendera livros e de revistas para as quais vendera contos f cil convencer um escritor desesperado por representa o Os iniciantes n o podem esquecer que qualquer um com algumas dezenas de d lares para investir pode anunciar na Writers Digest e se autodenominar agente liter rio n o existe prova ou credenciamento para esse tipo de profissional Desconfie principalmente de agentes que cobram uma taxa para ler seu trabalho Alguns deles s o respeit veis a ag ncia Scott Meredith costumava fazer isso n o sei se ainda faz mas a maioria composta de vigaristas Se voc estiver ansioso demais para ser publicado sugiro que deixe de lado a busca por agentes ou o envio de cartas de apresenta o e banque a edi o do pr prio bolso Pelo menos voc vai ter uma ideia do dinheiro que gastar 16 Estamos quase acabando Duvido que eu tenha coberto tudo o que voc precisa saber para escrever melhor e tenho certeza de que n o respondi a todas as suas perguntas mas tratei de todos os aspectos da vida de escritor de que posso falar com pelo menos alguma confian a Devo confessar no entanto que durante a escrita deste livro a confian a foi um artigo de reservas muit ssimo baixas O que n o faltou foi dor f sica e inseguran a Quando apresentei a ideia de um livro sobre a escrita para meu editor na Sc
75. os 12 primeiros anos do meu casamento garantindo a mim mesmo que eu gostava de beber s isso Tamb m me valia da mundialmente famosa Defesa Hemingway Embora nunca claramente articulada n o seria m sculo fazer isso a Defesa Hemingway diz mais ou menos o seguinte como escritor sou um sujeito muito sens vel mas tamb m sou um homem e homens de verdade n o sucumbem pr pria sensibilidade S os fracos fazem isso Por isso eu bebo De que outra forma eu conseguiria encarar o horror existencial disso tudo e continuar trabalhando Al m do mais vamos l eu consigo lidar com isso Um homem de verdade sempre consegue Ent o no in cio da d cada de 1980 a Assembleia Legislativa do Maine aprovou uma lei sobre latas e garrafas retorn veis Em vez de irem para o lixo minhas latas de 470 ml de Miller Lite come aram a ficar em um cont iner de pl stico na garagem Ent o em uma quinta feira noite fui l jogar mais alguns soldados mortos em combate e vi que o cont iner que tinha sido esvaziado na noite de segunda estava quase cheio E como s eu bebia Miller Lite em casa Puta merda sou um alco latra pensei e n o houve opini o contr ria em minha cabe a eu era no fim das contas o cara que tinha escrito O iluminado sem nem mesmo perceber pelo menos at aquela noite que estava escrevendo sobre si mesmo Minha rea o ideia n o foi de nega o nem discord ncia mas o que chamo de determina o ater
76. os animais Respondi a essas pessoas explicando o de sempre a Greg Stillson n o era real b o cachorro n o era real c nunca em minha vida eu tinha chutado meus bichinhos de estima o nem os de ningu m Tamb m destaquei um fato que pode ter ficado um pouco menos bvio era importante estabelecer de cara que Gregory Ammas Stillson era um homem extremamente perigoso e muito bom em camuflagem Continuei a construir o car ter de Johnny e Greg em cenas alternadas at o confronto no final do livro quando as coisas se resolvem de uma maneira espero eu inesperada As personalidades do protagonista e do antagonista foram determinadas pela hist ria que eu tinha que contar em outras palavras pelo f ssil pelo objeto encontrado Meu trabalho e o seu se voc decidir que essa uma abordagem vi vel para contar uma hist ria fazer com que esses sujeitos fict cios se comportem de maneira que ajude a hist ria e ao mesmo tempo pare a razo vel dado o que sabemos sobre eles e o que sabemos sobre a vida real claro s vezes os vil es se sentem inseguros como Greg Stillson s vezes sentem pena como Annie Wilkes E s vezes o mocinho tenta n o fazer a coisa certa como Johnny Smith como Jesus Cristo se voc pensar naquela ora o afasta de mim este c lice no Jardim de Gets mani E se voc fizer seu trabalho seus personagens v o ganhar vida e come ar a agir por conta pr pria Sei que isso soa um
77. ou o de qualquer um com coisas t o manjadas Isso faz com que voc pare a pregui oso ou ignorante Nenhuma dessas descri es vai fazer bem sua reputa o como escritor Minhas met foras favoritas ali s v m das sombrias hist rias policiais das d cadas de 1940 e 1950 e dos descendentes liter rios desses escritores Eis algumas de minhas prediletas Estava mais escuro do que um carregamento de cus George V Higgins e Acendi um cigarro que tinha gosto de len o de encanador Raymond Chandler A chave para a boa descri o come a com uma vis o clara e termina com uma escrita clara do tipo que usa imagens novas e vocabul rio simples Comecei a aprender minhas li es sobre este assunto lendo Chandler Hammett e Ross MacDonald Passei a ter ainda mais respeito pelo poder da linguagem compacta e descritiva ao ler T S Eliot aquelas garras speras se arrastando pelo fundo do oceano aquelas colheres de caf e William Carlos Williams galinhas brancas carrinho de m o vermelho as ameixas que estavam no isopor t o doces e t o frias Como em todos os outros aspectos da arte narrativa voc vai melhorar com a pr tica mas ela nunca vai levar perfei o E por que deveria Qual seria a gra a disso E quanto mais se esfor ar para ser claro e simples mais voc vai aprender sobre a complexidade do seu idioma Ele pode ser escorregadio precioso sim ele pode ser muito escorregadio Pratique a arte sem se e
78. para a coisa ou melhor que fosse um prod gio Demos um sax tenor de Natal para ele e o colocamos para ter aula com Gordon Bowie um m sico de nossa cidade Ent o cruzamos os dedos e torcemos para que desse tudo certo Sete meses depois eu disse minha mulher que era melhor acabar com as aulas de saxofone se Owen concordasse Ele concordou claramente aliviado Owen n o queria admitir ainda mais depois de ter pedido o sax de presente mas sete meses foram mais do que suficientes para perceber que embora adorasse o som de Clarence Clemons o instrumento n o era para ele Deus n o lhe tinha concedido talento para aquilo Eu j sabia n o porque Owen tivesse parado de praticar mas porque s praticava durante os per odos que Bowie estipulara meia hora depois da escola quatro dias por semana mais uma hora nos fins de semana Owen dominava as escalas e as notas n o havia problema de mem ria pulm es ou coordena o motora mas nunca o ouv amos decolar surpreendendo se com algo novo florescendo Assim que ele acabava de praticar o saxofone voltava para o estojo e ficava l at a pr xima aula ou pr tica Percebi que ele nunca tocaria o instrumento de verdade nunca se divertiria tudo seria ensaio Isso n o bom Se n o h alegria em tocar n o bom melhor tentar outra coisa onde os mananciais de talento sejam mais ricos e o quociente de divers o seja mais alto O talento faz a pr pria ideia de ensaio par
79. para descobrir como S um idiota faria uma segunda tentativa e s um lun tico um lun tico masoquista passaria a beber regularmente No dia seguinte seguimos para a capital e no caminho paramos em uma comunidade Amish H uma loja de bebidas perto de onde o nibus estaciona Vou dar uma olhada Embora a idade legal para beber na Pensilv nia seja 21 anos eu devo facilmente aparentar ser mais velho que isso usando meu nico terno bom e envergando o velho sobretudo preto de Fazza na verdade devo parecer um jovem prisioneiro rec m libertado alto faminto e com certeza desajeitado O atendente me vende uma dose de Bourbon Four Roses sem pedir qualquer documento e assim na hora em que paramos para dormir j estou b bado de novo Mais ou menos dez anos depois estou em um bar irland s com Bill Thompson Temos v rios motivos para comemorar e um deles a conclus o do meu terceiro livro O iluminado aquele que por acaso fala de um escritor e ex professor alco latra julho noite de um jogo importante de beisebol Nosso plano comer comida boa e tradicional servida em travessas aquecidas a vapor e depois encher a cara Tomamos duas no bar e come o a ler os cartazes TOME UM MANHATTAN EM MANHATTAN diz UM TER A DIA DE DOSE DUPLA diz outro O TRABALHO A MALDI O DA CLASSE BEBEDORA diz o terceiro E ent o logo minha frente h um que diz ESPECIAL PARA MADRUGADORES SCREWDRIVERS POR UM D LA
80. pouco assustador se voc nunca tiver vivenciado algo parecido mas incrivelmente divertido quando acontece E vai resolver v rios de seus problemas pode acreditar 9 Abordamos alguns aspectos b sicos sobre como contar bem uma hist ria e todos nos trazem de volta s mesmas ideias centrais a pr tica inestim vel e deve ser divertida como se voc n o estivesse praticando e a honestidade indispens vel As habilidades em descri o di logos e desenvolvimento de personagem se resumem a ver e ouvir claramente e depois transcrever com a mesma clareza o que foi visto e ouvido e sem usar uma montanha de adv rbios cansativos e desnecess rios Existem muitos outros recursos interessantes onomatopeia poliss ndeto fluxo de consci ncia di logo interior mudan as de tempo verbal virou moda contar hist rias especialmente se forem curtas no tempo presente a quest o complicada do panorama como inseri lo na hist ria e quanto ele pertinente tema e ritmo vamos tratar desses dois al m de uma dezena de outros t picos todos cobertos s vezes exaustivamente nos cursos de escrita e em textos sobre o assunto Minha abordagem em rela o a tudo isso bem simples As cartas est o todas na mesa e voc deve usar tudo o que melhore a qualidade de sua escrita e n o atrapalhe sua hist ria Se voc gosta de alitera o os cavaleiros das cavernas combatendo os nababos da nulidade lance m o dela
81. quando voc se sentar para escrever a segunda vers o e ainda podem ser danosas Nenhum dos coment rios acima trata da linguagem usada em seu trabalho ou do sentido narrativo do texto s o apenas ret rica vazia e n o trazem qualquer informa o factual Al m disso as cr ticas di rias obrigam voc a escrever com a porta sempre aberta e isso para mim tira todo o sentido da coisa Que bem pode fazer o fato de o gar om chegar na ponta dos p s deixar o almo o na frente do chal e depois ir embora com a mesma solicitude silenciosa se seu trabalho lido em voz alta todas as noites ou xerocado e distribu do para um grupo de aspirantes a escritores que dizem gostar da maneira como voc lida com o tom e o humor mas querem saber se o chap u de Dolly o nico que tem uma tira em volta simb lico A press o para explicar est sempre presente e para mim grande parte da energia criativa investida na dire o errada Voc vai ficar questionando sua prosa e seu prop sito repetidas vezes quando na verdade devia estar escrevendo t o r pido quanto o Flash para colocar a primeira vers o da hist ria no papel enquanto a forma do f ssil ainda est clara e brilhante em sua mente Muitos cursos de escrita transformam a pergunta Espere a o que voc quis dizer com isso em um tipo de regulamento Para ser justo preciso admitir certo preconceito aqui uma das poucas vezes em que sofri um s rio bloqueio criativo foi duran
82. quanto a isso quero que voc entenda que minha cren a b sica sobre a cria o de hist rias que elas praticamente se fazem sozinhas O trabalho do escritor dar lhes um lugar para crescer e transcrev las claro Se voc enxerga as coisas desta maneira ou pelo menos tenta podemos trabalhar juntos confortavelmente Se por outro lado voc achar que eu sou maluco tudo bem Voc n o ser o primeiro Quando durante uma entrevista New Yorker eu disse ao entrevistador Mark Singer que acreditava que hist rias eram coisas encontradas como f sseis na terra ele n o acreditou em mim Falei que por mim tudo bem se ele pelo menos acreditasse que eu acreditava E acredito mesmo Hist rias n o s o camisetas promocionais ou joguinhos de videogame Hist rias s o rel quias parte de um mundo pr existente ainda n o descoberto O trabalho do escritor usar as ferramentas que tem na caixa para desenterrar o m ximo de hist rias que conseguir t o intactas quanto poss vel s vezes o f ssil encontrado pequeno uma concha s vezes enorme como um Tyrannosaurus Rex com aquelas costelas enormes e aqueles dentes sorridentes Seja o que for uma hist ria curta ou um romance colossal de mil p ginas as t cnicas de escava o continuam sendo basicamente as mesmas N o importa o quanto voc seja bom n o importa sua experi ncia quase imposs vel retirar o f ssil inteiro do ch o sem quebrar ou perder algum
83. que ganhei por memorizar vers culos na Juventude Metodista e uma vitrola Webcor com sistema de troca autom tica de discos e prato coberto de veludo verde Era nela que eu ouvia meus discos a maioria em 45 rota es de Elvis Chuck Berry Freddy Cannon e Fats Domino Eu gostava do Fats ele sabia como agitar o p blico e dava para ver que se divertia tocando Quando recebi a carta de recusa da Alfred Hitchcocks Mystery Magazine bati um prego na parede sobre a Webcor escrevi Selos Felizes na carta e a espetei l Depois me sentei na cama e fiquei ouvindo Fats cantar I m Ready Estou pronto Eu me senti muito bem na verdade Quando ainda se jovem demais para fazer a barba o otimismo uma rea o mais do que leg tima ao fracasso Quando eu tinha 14 anos e me barbeava duas vezes por semana precisando ou n o o prego na parede mal conseguia sustentar o peso dos bilhetes de recusa empalados nele Troquei o prego por outro maior e continuei a escrever Aos 16 anos comecei a receber bilhetes de recusa acompanhados de cartas manuscritas um pouco mais encorajadoras que o conselho para parar de grampear os originais e come ar a usar clipes de papel A primeira dessas cartas animadoras veio de Algis Budrys o ent o editor da revista Fantasy and Science Fiction que leu uma hist ria minha chamada A noite do tigre acho que a inspira o foi um epis dio da s rie de televis o O fugitivo em que o dr Richard Kimble trab
84. que me alistar e ir para l talvez fosse bom para mim com certeza daria para escrever um livro sobre o assunto N o seja idiota Stephen retrucou ela Do jeito que voc enxerga seria o primeiro a levar um tiro E morto n o escreve livro Ela falou s rio a decis o estava tomada racional e emocionalmente Sendo assim me candidatei a bolsas e empr stimos e fui trabalhar na tecelagem N o daria mesmo para ir muito longe com os 5 ou 6 d lares que o Enterprise me pagava por semana para escrever sobre torneios de boliche ou campeonato de rolima Durante minhas ltimas semanas na Lisbon High minha rotina di ria era mais ou menos assim acordar s sete ir para a escola s sete e meia sair s duas da tarde bater cart o no terceiro andar da Worumbo s 14h58 empacotar tecidos durante oito horas bater cart o de sa da s 23h02 chegar em casa por volta de quinze para a meia noite comer uma tigela de cereal cair na cama acordar no dia seguinte fazer tudo de novo Nas poucas vezes em que dobrava no trabalho eu dormia em meu Ford Galaxie 1960 o antigo carro de Dave por mais ou menos uma hora antes de ir para a escola depois dormia durante o quinto e o sexto tempos logo ap s o almo o na enfermaria Nas f rias de ver o as coisas ficaram mais f ceis Fui mandado para a sala de tingimento no por o que era pelo menos um pouco mais fria Meu trabalho era tingir de roxo ou azul marinho os retalhos de um pesado
85. que qualquer uma delas Gostaria que o original ainda estivesse comigo ele merecia ser emoldurado com todas as corre es editoriais mas ainda me lembro bem de como era e de como ficou depois que Gould passou um pente fino no texto com aquela caneta preta Eis um exemplo Last night in the wetstered gymnasium of Lisbon High School partisans and Jay Hills fans alike were stunned by an athletic performance unequalled in school history Bob Ransom rey aiii iii palio Pore tS SILT Tere scored thirty seven points Yes you heard me right pads e did it with grace speed and with an odd courtesy as well committing only two personal fouls in his quest for a asa ae has eluded Lisbon RAF rs since A A Noite passada no ederede gin sio da Lisbon High School torcedores e fas de Jay Hill ficaram igual mente admirados por uma performance atl tica ja mais vista na hist ria do col gio Bob Ransom e presis amp e marcou 37 pontos Sim voc leu correta mente Meis que isse ele marcou cada ponto com gra a velocidade e uma estranha delicadeza j que cometeu apenas duas faltas em sua busca Hasipeses pelo recorde que escapava aos oat de Lisbon desde tee minina Gould parou em Coreia e me olhou O recorde anterior era de que ano perguntou ele Felizmente eu estava com minhas anota es De 1953 respondi Gould grunhiu e voltou ao trabalho Quando acabou de fazer as altera
86. regi o Portland Press Herald Lewiston Sun Lisbon Weekly Enterprise fazia uma mat ria sobre todas as coisas estranhas que os pais de Dodie tinham ganhado em rifas bingos e loterias Geralmente aparecia uma foto do Maxwell ou de Jack Benny com seu violino ou de ambos Apesar de tudo o que os Franklin ganhavam um suprimento de roupas para adolescentes n o fazia parte do pacote Dodie e o irm o Bill vestiram o mesmo traje todos os dias durante o primeiro ano e meio do ensino m dio cal a preta e camisa xadrez de mangas curtas para ele saia preta longa meias soquete cinzentas e blusa branca sem mangas para ela Alguns de meus leitores podem n o acreditar que estou sendo literal quando digo todos os dias mas quem cresceu em cidadezinhas americanas durante os anos 1950 e 1960 vai saber que sim Na Durham da minha inf ncia a vida nunca ou quase nunca usava maquiagem Fui para a escola com crian as que passavam meses com a mesma marca de sujeira no pesco o crian as cuja pele estava infestada de erup es e feridas crian as com o rosto parecendo ma s secas resultado de queimaduras n o tratadas crian as que eram mandadas para a escola com pedras na merendeira e nada al m de ar na garrafa t rmica N o era a Arc dia para a maioria era a 4 fam lia Buscap sem senso de humor Dodie e Bill Franklin se viraram bem no ensino fundamental chegar ao ensino m dio por m significava ir para uma cidade bem maior e para cr
87. rmula tudo mudou At hoje eu tento chegar a uma segunda vers o de 3 600 palavras se a primeira tiver 4 mil E se a primeira vers o de um romance tiver 350 mil palavras vou fazer de tudo para que a segunda vers o n o passe de 315 mil ou 300 mil se for poss vel Geralmente O que a F rmula me ensinou que todas as hist rias e todos os romances s o at certo ponto reduz veis Se n o conseguir tirar dez por cento do texto sem perder a hist ria e o sabor voc n o se esfor ou o bastante O efeito de cortes bem fundamentados imediato e costuma ser impressionante Viagra liter rio Voc vai sentir e seu LI tamb m O pano de fundo tudo o que aconteceu antes de sua hist ria come ar mas tem algum impacto no enredo principal Ele ajuda a definir os personagens e a estabelecer suas motiva es Acho que importante inserir o pano de fundo o mais r pido poss vel mas tamb m importante fazer isso com gra a Como um exemplo sem finesse alguma veja esta fala Ol ex mulher disse Tom assim que Doris entrou na sala A informa o de que Tom e Doris s o divorciados pode ser relevante para a hist ria mas tem que haver uma forma melhor de mostrar isso do que o trecho acima t o sutil quanto um assassinato a machadadas Eis uma sugest o Oi Doris disse Tom O cumprimento soou natural pelo menos aos seus ouvidos mas os dedos da m o direita insistiam em pousar no lugar onde a alian a de ca
88. sair para o trabalho O cronograma era seguido risca Se estivesse no meio de uma frase quando as duas horas e meia terminassem ele a deixava inacabada at a manh seguinte E se acabasse um de seus calhama os de seiscentas p ginas faltando ainda 15 minutos ele escrevia Fim punha o manuscrito para o lado e come ava a trabalhar no livro seguinte John Creasey romancista brit nico de livros de mist rio escreveu quinhentos sim voc leu direito romances sob dez pseud nimos Escrevi cerca de 35 alguns trollopianos no n mero de p ginas e sou considerado prol fico mas diante de Creasey eu praticamente sofro de bloqueio criativo Muitos outros romancistas contempor neos tais como Ruth Rendell Barbara Vine Evan Hunter Ed McBain Dean Koontz e Joyce Carol Oates escreveram tanto quanto eu alguns at mais Por outro lado o de James Joyce existem autores como Harper Lee que escreveram apenas um livro o brilhante O sol para todos E muitos como James Agee Malcolm Lowry e Thomas Harris at agora escreveram menos de cinco N o vejo problema nisso mas sempre me v m duas perguntas quando penso nesses caras quanto tempo levaram para escrever os livros que publicaram e o que fizeram com o resto do tempo Tricotaram tapetes Organizaram bazares beneficentes Deificaram ameixas Sei que provavelmente estou sendo arrogante aqui mas tamb m estou pode acreditar honestamente curioso Se Deus lhe deu algo que
89. sen o imposs vel fechar a caixa de Pandora da tecnologia A dan a da morte Os estranhos A incendidria o porqu de se existe Deus tantas coisas terr veis acontecerem A dan a da morte Desespero A espera de um milagre a linha t nue entre fantasia e realidade A metade negra Saco de ossos A Torre Negra a escolha dos tr s e acima de tudo a terr vel atra o que a viol ncia por vezes exerce sobre pessoas essencialmente boas O iluminado A metade negra Tamb m escrevi in meras vezes sobre as diferen as fundamentais entre crian as e adultos e sobre o poder curador da imagina o humana E repito nada de mais S o apenas interesses provenientes de minha vida e pensamentos de minhas experi ncias como menino e como adulto de meus pap is de marido pai escritor e amante S o quest es que ocupam minha mente quando apago as luzes e fico sozinho comigo mesmo olhando para o escuro com uma das m os enfiada embaixo do travesseiro Voc com certeza tem os pr prios pensamentos interesses e preocupa es e eles surgiram como os meus de suas experi ncias e aventuras como ser humano Alguns devem ser semelhantes aos que mencionei e outros devem ser muito diferentes mas eles fazem parte de voc e deve us los em seu trabalho N o o nico uso poss vel para essas ideias mas com certeza uma das coisas a que elas se prestam muito bem Quero encerrar este pequeno serm o com um aviso come ar com as quest es e
90. ser dito Quando entrar em seu novo espa o de escrita e fechar a porta voc j deve ter estabelecido uma meta di ria Como acontece com os exerc cios f sicos melhor estabelecer uma meta baixa de in cio para n o ficar desencorajado Sugiro mil palavras por dia e como estou me sentindo magn nimo tamb m sugiro que voc tire um dia de folga por semana pelo menos no in cio Nada mais que isso voc vai perder o senso de urg ncia e imediatismo de sua hist ria se produzir menos Estabelecida a meta tome como lei que a porta permanecer fechada at que o n mero de palavras seja atingido Ao trabalho Coloque essas mil palavras no papel ou no computador Em uma entrevista antiga para promover Carrie a estranha se n o me engano o apresentador de um programa de r dio me perguntou como eu escrevia Minha resposta uma palavra de cada vez pareceu deix lo desconcertado Acho que ele ficou tentando adivinhar se eu estava brincando ou n o N o era brincadeira No fim das contas sempre simples assim Seja uma vinheta de p gina nica ou uma trilogia pica como O Senhor dos An is o trabalho sempre feito com uma palavra de cada vez A porta deixa o restante do mundo do lado de fora Tamb m serve para fechar voc do lado de dentro e mant lo focado no trabalho Se poss vel n o tenha telefone em sua sala E n o coloque televis o ou video games que possam distra lo Se tiver janela feche as cortinas ou ba
91. ssemos de novo Eula Beulah era dada a peidos daqueles barulhentos e fedidos s vezes quando estava atacada ela me jogava no sof colava a bunda coberta por uma saia de l na minha cara e mandava ver Pou gritava ela se divertindo Era como ser soterrado por fogos de artif cio de metano Eu me lembro da escurid o da sensa o de estar sufocando e me lembro de gargalhar Porque embora aquilo fosse de certa forma horr vel tamb m era de alguma forma engra ado De v rias maneiras Eula Beulah estava me preparando para a cr tica liter ria Depois que uma bab de 90 quilos peida na sua cara e grita Pou o jornal The Village Voice fica bem menos aterrorizante N o sei o que aconteceu com as outras bab s mas Eula Beulah foi demitida Por causa dos ovos Certa manh Eula Beulah fez ovo frito para o caf Comi um e pedi outro Eula Beulah fritou o segundo ovo depois perguntou se eu queria mais um Os olhos dela me diziam Voc n o tem coragem de comer mais um Stevie Ent o eu pedi outro E mais um E assim foi Parei depois de sete acho sete o n mero que me vem cabe a e com bastante clareza Talvez os ovos tivessem acabado Talvez eu tivesse chorado Ou talvez Eula Beulah tivesse ficado com medo N o sei mas provavelmente foi bom o jogo acabar nos sete Sete ovos muita coisa para um menino de 4 anos Fiquei bem por um tempo depois vomitei o ch o todo Eula Beulah se acabou de ri
92. toda se s precisava de uma chave de fenda Ele poderia ter levado a chave de fenda no bolso de tr s da cal a Podia Stevie respondeu ele inclinando se para pegar as al as mas eu n o sabia se teria mais alguma coisa para fazer quando chegasse l n o melhor ter sempre as ferramentas consigo Se n o tiver pode ser que voc encontre alguma coisa inesperada e desanime Gostaria de sugerir que para escrever com o m ximo de suas habilidades conv m construir sua pr pria caixa de ferramentas e depois trabalhar a musculatura para carreg la com voc Assim em vez de topar com um trabalho dif cil e desanimar talvez voc saiba pegar a ferramenta certa e partir para o trabalho imediatamente A caixa de ferramentas de Fazza tinha tr s bandejas Acho que a sua deve ter pelo menos quatro Podem ser cinco ou seis imagino mas existe um ponto em que a caixa de ferramentas fica grande demais para carregar e a perde sua principal virtude bom ter tamb m gavetinhas para parafusos porcas e pregos mas o lugar onde elas ficam e o que voc p e nelas bem o seu trenzinho vermelho n o Voc vai descobrir que tem a maioria das ferramentas de que precisa mas bom examinar cada uma delas enquanto as guarda na caixa Tente olhar para todas como se fossem novas lembre se da fun o de cada uma e se algumas estiverem enferrujadas devem estar se voc n o tem levado a escrita a s rio limpe as As ferramenta
93. torno do quadril Acima do pano ficava a barriga funda e as costelas aparentes de prisioneiro de campo de concentra o Ent o me ocorreu que Sondra crescera sob o olhar agonizante daquele deus moribundo e que isso com certeza tivera um papel preponderante em transform la na menina que conheci uma exclu da t mida e desajeitada que passava correndo pelos corredores da Lisbon High como um ratinho assustado Este Jesus Cristo meu Senhor e Salvador disse a m e de Sondra ao perceber que eu olhava para a est tua Voc j foi salvo Steve Rapidamente respondi que tinha sido salvo sem sombra de d vida embora achasse que ningu m jamais seria bom o suficiente para conseguir que aquela vers o de Jesus intercedesse em seu nome dor o deixara fora de si Dava para ver na express o dele Se aquele cara um dia voltasse duvido que ainda estivesse a fim de salvar a humanidade Vou chamar a outra menina de Dodie Franklin apenas as outras garotas a chamavam de Dodo ou Doodoo Os pais de Dodie s tinham um interesse participar de concursos E eles eram bons nisso Ganharam todo tipo de coisas estranhas tais como um suprimento de um ano de atum da marca Three Diamonds e um autom vel Maxwell igualzinho ao que Jack Benny usava em seu programa de TV Estacionado do lado esquerdo da casa da fam lia na parte de Durham conhecida como Southwest Bend o Maxwell gradualmente se misturou paisagem Ano sim ano n o um dos jornais da
94. um dos agentes que contatou n o era Richard Chams acabou ligando para conversar Tr s responderam por escrito e pediram para ver a premiada hist ria sobre o ca ador perdido na floresta Meia d zia de agentes pediu para ler as oitenta primeiras p ginas do romance Ou seja a resposta foi excelente s um agente n o demonstrou qualquer interesse no trabalho de Frank dizendo j ter a carteira de clientes cheia Embora tenha alguns conhecidos no mundo das pequenas revistas Frank n o conhece absolutamente ningu m no mercado editorial nem um m sero contato pessoal Foi impressionante confessou ele muito impressionante Eu esperava contratar qualquer um que quisesse me agenciar se houvesse algu m e me considerar um sujeito de sorte Em vez disso pude escolher Frank acredita que v rios elementos contribu ram para sua generosa lista de poss veis agentes Em primeiro lugar a carta enviada era culta e elegante Foi preciso quatro rascunhos e duas discuss es com minha mulher para chegar ao tom casual perfeito disse ele Em segundo lugar Frank tinha uma lista de contos publicados bastante substancial Nada que pagasse muito mas as revistas tinham boa reputa o Por fim o conto premiado Frank acredita que isso foi determinante N o sei se foi mas com certeza mal n o fez Frank tamb m foi inteligente pois pediu a Richard Chams e aos outros agentes que contatou uma lista das credenciais deles n
95. ura demais Existe a quest o do compromisso seja um livro bom ou ruim um fracasso ou um sucesso As palavras t m peso Pergunte a qualquer um que trabalhe no departamento de expedi o de uma editora ou no dep sito de uma grande livraria Palavras criam frases frases criam par grafos s vezes par grafos d o sinal de vida e come am a respirar Imagine se quiser o monstro de Frankenstein sobre a maca Vem o rel mpago n o do c u mas de um humilde par grafo Talvez seja o primeiro par grafo realmente bom que voc tenha escrito algo t o fr gil e ainda assim t o cheio de possibilidades que chega a ser assustador Voc se sente como Victor Frankenstein deve ter se sentido quando o conglomerado de partes mortas costuradas juntas abre os olhos midos e amarelados Ah meu Deus est respirando percebe voc Talvez at esteja pensando O que em nome de Deus eu fa o agora V para a terceira bandeja claro e comece a escrever fic o de verdade Por que nao O que voc tem a temer Carpinteiros n o constroem monstros no fim das contas Constroem casas lojas e bancos Constroem com uma t bua de cada vez com um tijolo de cada vez Voc vai construir um par grafo de cada vez feitos do seu vocabul rio e do seu conhecimento de gram tica e estilo b sicos Se mantiver tudo nivelado e continuar aplainando todas as portas pode construir o que quiser mans es inteiras se tiver disposi o para isso
96. vel Quando escrevo uma cena assim porta fechada a ideia de fazer Tabby rir ou chorar fica no fundo de minha mente Durante a reescrita porta aberta a pergunta engra ada mesmo ou assustadora de verdade vem para o primeiro plano Tento observar Tabby lendo determinada cena esperando por um sorriso no m nimo ou bingo por aquela grande gargalhada com os bra os para o alto sacudindo no ar Nem sempre f cil conseguir essa rea o Dei a Tabby o manuscrito de meu conto Hearts in Atlantis quando est vamos na Carolina do Norte aonde t nhamos ido assistir a um jogo da NBA feminina entre Cleveland Rockers e Charlotte Sting Fomos de carro para a Virg nia no dia seguinte e Tabby leu a hist ria durante a viagem O conto tem algumas partes engra adas pelo menos para mim por isso eu olhava toda hora para ver se ela estava rindo ou pelo menos sorrindo Achei que ela n o tivesse percebido mas claro que percebeu Na oitava ou nona virada de cabe a acho que pode ter sido a d cima quinta ela olhou para mim e explodiu Quer fazer o favor de prestar aten o na estrada antes que a gente bata Deixe de ser carente Passei a prestar aten o ao volante e parei de espi la bem um pouco Cinco minutos depois ouvi um riso fraco minha direita Foi curto mas foi o bastante para mim A verdade que quase todos os escritores s o carentes Especialmente entre a primei
97. vezes por dia enfermeiras retiravam os pinos menores e os pinos Schanz muito maiores e limpavam os buracos com gua oxigenada Nunca mergulharam minha perna em querosene e botaram fogo mas se algum dia isso acontecer tenho certeza de que a sensa o ser parecida com a limpeza di ria dos pinos Dei entrada no hospital em 19 de junho Por volta do dia 25 eu me levantei pela primeira vez tr s passos vacilantes at uma cadeira de banho onde me sentei com a camisola de hospital no colo e a cabe a baixa tentando n o chorar e fraquejar Voc tenta dizer a si mesmo que teve sorte muita sorte mesmo e isso costuma funcionar porque verdade s vezes por m n o funciona Acontece E a voc chora Um ou dois dias depois desses primeiros passos comecei a fazer fisioterapia Durante a primeira sess o consegui dar dez passos em um corredor do hospital cambaleando com a ajuda de um andador Outra paciente estava reaprendendo a andar tamb m uma mulher de 84 anos de apar ncia fr gil chamada Alice que se recuperava de um derrame N s nos incentiv vamos quando t nhamos f lego suficiente para isso No terceiro dia no corredor eu disse a Alice que a calcinha dela estava aparecendo Sua bunda est aparecendo espertinho respondeu ela arfante e seguiu em frente Em 4 de julho eu consegui ficar sentado em uma cadeira de rodas por tempo suficiente para ir at a rea de carga e descarga atr s do hospital e assistir
98. voc divide a cama ou porque est orgulhoso do que est fazendo ou porque tem d vidas A melhor coisa a fazer resistir a esse impulso Mantenha a press o n o a diminua exibindo o que voc escreveu s d vidas aos elogios ou at mesmo s perguntas bem intencionadas de algu m do Mundo Exterior Deixe a esperan a de sucesso e o medo do fracasso impulsionarem voc por mais dif cil que seja A hora de mostrar sua cria o vai chegar quando voc termin la mas mesmo depois disso acho melhor ser cauteloso e se dar uma chance de pensar enquanto a hist ria ainda um campo cheio de neve rec m ca da do c u sem qualquer pegada al m da sua A melhor coisa de escrever com a porta fechada ser for ado a se concentrar na hist ria a despeito de praticamente todo o resto Ningu m vai perguntar O que voc estava tentando dizer com aquelas ltimas palavras de Garfield ou Qual o significado do vestido verde Talvez voc n o quisesse dizer nada com as ltimas palavras de Garfield e Maura podia estar de verde s porque foi a roupa que ela estava usando quando surgiu em sua cabe a Por outro lado talvez essas coisas signifiquem algo ou venham a significar quando voc tiver chance de olhar para a floresta em vez de para as rvores Seja como for a primeira vers o o lugar errado para pensar sobre isso Outra coisa se ningu m lhe disser Sam ou Amy isso maravilhoso voc fica muito me
99. voc sabe fazer por que em nome de Deus n o faz lo Meu cronograma bem definido As manh s pertencem ao que for novo obra atual As tardes s o para cochilos e cartas As noites s o para leitura fam lia jogos do Red Sox na TV e revis es que n o podem mais esperar Basicamente as manh s s o meu principal per odo de escrita Quando come o a trabalhar em um projeto n o paro e n o diminuo o ritmo a menos que seja absolutamente necess rio Quando n o escrevo todos os dias os personagens come am a apodrecer em minha cabe a come am a parecer personagens em vez de gente de verdade O frescor narrativo come a a desvanecer e perco o controle sobre o enredo e o ritmo da hist ria Pior de tudo a excita o de criar algo novo come a a perder for a O trabalho come a a parecer trabalho e para muitos escritores isso o beijo da morte escrita est em seu melhor momento sempre sempre sempre quando parece um tipo de jogo inspirado para o escritor Consigo escrever a sangue frio se precisar mas gosto mais quando a ideia est fresca e emana tanto calor que fica quase dif cil de manipular Costumo dizer a entrevistadores que escrevo todos os dias com exce o do Natal do Dia da Independ ncia Americana e do meu anivers rio mentira Digo isso porque quando voc concorda em dar entrevista preciso dizer alguma coisa e fica melhor se for alguma coisa pelo menos meio inteligente Al m disso
100. 16 meses depois de come ar o trabalho 4 dan a da morte demorou tanto porque quase morreu ao chegar pen ltima curva e se aproximar linha de chegada Eu queria escrever um romance prolixo com muitos personagens um pico de fantasia se eu tivesse capacidade para tal empreitada e para isso usei uma narrativa que mudava de perspectiva inserindo um personagem importante a cada cap tulo da longa primeira parte Assim o Cap tulo 1 tratava de Stuart Redman oper rio de uma f brica no Texas o Cap tulo 2 come ava com Fran Goldsmith uma universit ria gr vida do Maine e depois voltava para Stu o Cap tulo 3 come ava com Larry Underwood um cantor de rock de Nova York depois voltava para Fran e por fim para Stuart Redman Meu plano era ligar todos esses personagens o bom o mau e o feio em dois lugares Boulder e Las Vegas Pensei que acabariam entrando em guerra uns contra os outros A primeira metade do livro tamb m contava a hist ria de um v rus criado em laborat rio que varria os Estados Unidos e o mundo dizimando 99 da ra a humana e destruindo completamente nossa cultura tecnol gica Escrevi a hist ria na poca da chamada Crise do Petr leo na d cada de 1970 e passei um tempo absolutamente maravilhoso vislumbrando um mundo estra alhado em um ver o tenebroso e infectado na verdade n o mais do que um m s vis o era panor mica detalhada global e para mim pelo menos de tirar o f lego Poucas veze
101. 4 dan a da morte Acho que eu pensava que essas coisas eram para Mentes Superiores e Grandes Pensadores N o sei se teria chegado solu o t o r pido se n o estivesse desesperado para salvar a hist ria Fiquei estupefato ao perceber como o pensamento tem tico foi til N o era apenas uma ideia insubstancial sobre a qual professores mandam escrever no trabalho do fim do semestre Discuta as preocupa es tem ticas de Sangue selvagem em tr s par grafos argumentativos 30 pontos mas outra ferramenta valiosa para se guardar na caixa semelhante a uma lupa Desde que tive naquela caminhada a revela o sobre a bomba no arm rio nunca hesitei em me perguntar antes de come ar a segunda vers o de um livro ou quando estou travado em busca de uma ideia na primeira vers o sobre o que estou escrevendo por que estou investindo naquilo o tempo em que poderia estar tocando guitarra ou andando de moto o que me levou a trabalhar com tanto afinco para come ar e me manteve trabalhando depois A resposta nem sempre me ocorre na hora mas geralmente existe uma e n o t o dif cil encontr la Eu n o acredito que um romancista mesmo que tenha escrito mais de quarenta livros tenha preocupa es tem ticas demais tenho muitos interesses mas apenas alguns s o profundos o suficiente para abastecer romances Entre esses interesses profundos eu n o chego a chamar de obsess es est o o porqu de ser t o dif cil
102. 9 a melhor express o da ars poetica deve ter sido a m sica de Donovan Leitch que dizia First there is a mountain Then there is no mountain Then there is Primeiro existe uma montanha Depois n o existe montanha Depois existe Pretensos poetas viviam em um mundo nebuloso de ar tolkieniano apanhando poemas no ter Era quase un nime a arte de verdade vinha de algum lugar al m Os escritores eram taqu grafos aben oados colocando no papel ditados divinos N o quero constranger nenhum dos meus colegas da poca ent o aqui vai uma vers o ficcional do que estou falando criada a partir de trechos de poemas reais i close my eyes eu fecho meus olhos in th dark i see n escuro eu vejo Rodan Rimbaud Rodan Rimbaud in th dark n escuro iswallow th coth eu engulo o tecido of lonelines da solid o crow i am here corvo estou aqui raven i am here gralha estou aqui Se algu m perguntasse ao poeta o que significava o poema era bem poss vel que recebesse um olhar de desd m Um sil ncio desconfort vel provavelmente emanaria dos presentes Com certeza o fato de o poeta ser incapaz de dizer algo sobre a mec nica da cria o n o era considerado importante Se pressionado ele ou ela poderia dizer que n o havia mec nica apenas aquele jorro seminal de sentimento primeiro existe uma montanha depois n o existe montanha depois existe E se o poema resultante fosse desleixado baseado na suposi o de que palavras gerais como
103. Annie Chegadas e partidas Quindlen Anna Um amor verdadeiro Rendell Ruth A Sight for Sore Eyes Robinson Frank M Waiting Rowling J K Harry Potter e a c mara secreta Rowling J K Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban Rowling J K Harry Potter e a pedra filosofal Russo Richard Na sombra do pai Schwartz John Burnham A estrada da reserva Seth Vikram Um rapaz adequado Shaw Irwin Os deuses vencidos Slotkin Richard The Crater Smith Dinitia The Illusionist Spencer Scott Men in Black Stegner Wallace Joe Hill Tartt Donna A hist ria secreta Tyler Anne A Patchwork Planet Vonnegut Kurt H cus P cus Waugh Evelyn Mem rias de Brideshead Westlake Donald E O corte 28 Buick 8 foi publicado em 2002 nos Estados Unidos e em 2013 pela Suma de Letras N E Mais do por fim Parte III Ao fim da edi o original de Sobre a escrita fiz uma lista de cerca de cem livros com os quais me diverti e aprendi Os editores sugeriram que eu atualizasse a lista para a nova edi o ent o aqui v o mais oitenta t tulos os melhores que li entre 2001 e 2009 Abrahams Peter End of Story Abrahams Peter The Tutor Adiga Aravind The White Tiger Atkinson Kate One Good Turn Atwood Margaret Oryx and Crake Berlinski Mischa Fieldwork Black Benjamin pseudo Christine Falls Blauner Peter The Last Good Day Bola o Roberto 2666 Carr David A noite da arma Casey John Spartina Chab
104. Ele me garantiu de novo que n o doeria e acreditei nele mais uma vez N o piamente mas o suficiente para ficar quieto enquanto a agulha entrava no ouvido Doeu Quase tanto quanto da primeira vez na verdade O som de beijo estava mais alto em minha cabe a tamb m desta vez pareciam gigantes se beijando chupando o rosto e girando as l nguas como costum vamos dizer Pronto disse a enfermeira do m dico de ouvido quando tudo terminou e eu fiquei l chorando em uma po a de pus aguado Vai doer s um pouquinho Voc n o quer ficar surdo quer E j acabou Acreditei naquilo por cerca de cinco dias e ent o veio outro t xi Voltamos ao m dico de ouvido Lembro me do taxista dizendo minha m e que iria parar o carro e mandar a gente sair se ela n o calasse a boca do menino L estava eu de novo na maca com a fralda embaixo da cabe a e minha m e do lado de fora com uma revista que provavelmente n o leria ou pelo menos no que gosto de acreditar Mais uma vez o cheiro pungente de lcool e o m dico se virando para mim com uma agulha que parecia t o longa quanto minha r gua escolar Mais uma vez o sorriso a abordagem e a garantia de que daquela vez n o doeria Desde que fui repetidamente lancetado no t mpano aos 6 anos um dos mais firmes princ pios que adotei para a vida este se voc me enganar uma vez a vergonha sua se me enganar duas vezes a vergonha minha se me enganar tr s ve
105. Existe alguma raz o l gica para se construir mans es de palavras Acho que sim e acho que os leitores de E o vento levou de Margaret Mitchell e Casa soturna de Charles Dickens a entendem s vezes at mesmo um monstro n o um monstro s vezes belo e faz com que nos apaixonemos por toda aquela hist ria que nos move muito mais do que qualquer filme ou programa de TV Mesmo depois de mil p ginas n o queremos deixar o mundo que o autor criou para n s ou as pessoas veross meis que vivem l N o queremos deixar mesmo depois de duas mil p ginas se houver tantas A trilogia de O Senhor dos An is de J R R Tolkien um exemplo perfeito Mil p ginas de hobbits n o foram suficientes para tr s gera es p s Segunda Guerra Mundial de f s de fantasia mesmo quando inclu mos aquele ep logo tosco e lerdo chamado O Silmarillion ainda n o suficiente Da vem Terry Brooks Piers Anthony Robert Jordan os coelhos aventureiros de 4 longa jornada e centenas de outros Os escritores desses livros criam hobbits porque ainda os amam e querem mais est o tentando trazer Frodo e Sam de volta dos Portos Cinzentos porque Tolkien j n o est aqui para fazer isso por eles No n vel mais b sico estamos apenas discutindo uma habilidade aprendida mas acho que concordamos que mesmo as habilidades mais b sicas podem criar coisas muito al m de nossas expectativas Estamos falando de ferramentas e carpintaria palavras e estilo mas
106. Jogue fora mesmo que voc adore Sir Arthur Quiller Couch disse uma vez Matem seus queridinhos E ele estava certo Vejo muitas oportunidades para incluir detalhes interessantes e toques ornamentais depois que termino de contar a hist ria b sica Uma vez ou outra os adornos v m mais cedo Logo depois de come ar A espera de um milagre e perceber que o protagonista era um homem inocente que seria executado por um crime cometido por outra pessoa decidi dar lhe as iniciais J C em homenagem ao homem inocente mais famoso de todos os tempos A primeira vez que vi algo assim foi em Luz em agosto meu romance favorito de Faulkner em que o bode expiat rio se chama Joe Christmas Assim sendo o preso no corredor da morte antes chamado John Bowes virou John Coffey At o final do livro eu n o tinha certeza se meu J C morreria ou sobreviveria Eu queria que ele vivesse porque gostava dele tinha pena dele mas pensei que as iniciais n o fariam mal algum de uma forma ou de outra Na maioria das vezes n o enxergo esse tipo de coisa at que a hist ria fique pronta Quando a termino consigo voltar ao in cio ler o que escrevi e procurar por padr es subjacentes Se vejo alguns e quase sempre vejo trabalho para traz los luz em uma segunda vers o da hist ria mais bem acabada A segunda vers o serve por exemplo para trabalhar o simbolismo e o tema Se voc estudou na escola o simbolismo da cor branca em Moby Dick ou o uso s
107. Mesmo ao contar sua hist ria de maneira direta voc vai perceber que n o d para escapar de pelo menos algum pano de fundo Em um sentido muito real toda vida est in medias res Se voc apresentar um homem de 40 anos como personagem principal na primeira p gina de seu romance e se a a o come ar como resultado de alguma pessoa ou situa o novinha em folha que aparece de repente na vida desse cara como um acidente automobil stico ou um favor prestado a uma bela mulher que olha sensualmente para tr s percebeu o maldito adv rbio nessa frase que eu n o consegui matar ainda assim voc vai ter que lidar com os primeiros quarenta anos de vida dele em algum momento Como e qu o bem voc vai lidar com esses anos ter rela o direta com o sucesso de sua hist ria que os leitores v o considerar uma boa leitura ou uma chatice s J K Rowling a campe no que diz respeito a pano de fundo Fa a um favor a si mesmo e leia a s rie Harry Potter percebendo sempre como cada livro retoma sem esfor o o que aconteceu antes Al m disso os livros s o muito divertidos hist ria pura do in cio ao fim Seu Leitor Ideal pode ser de enorme ajuda na hora de avaliar se o pano de fundo esta bom e quanto ser preciso incluir ou excluir na pr xima vers o Preste muita aten o aos trechos que o LI n o conseguiu entender e depois pergunte a si mesmo se voc os entende Se voc compreende e apenas n o conseguiu passa
108. R SEG SEX DAS 8 S 10 Chamo o gar om Ele se aproxima E careca est usando uma jaqueta cinza e pode muito bem ser o cara que me vendeu a primeira bebida em 1966 Talvez seja mesmo Aponto para o cartaz e pergunto Quem chega aqui s 8h15 da manh e pede um screwdriver Sorrio mas ele n o sorri em resposta Universit rios responde ele Como voc 33 Em 1971 ou 1972 Carolyn Weimer minha tia morreu de c ncer de mama Minha m e e tia Ethelyn g mea da tia Cal foram ao funeral em Minnesota Foi a primeira vez que minha m e entrou em um avi o em vinte anos Na viagem de volta ela come ou a sangrar profusamente pelas partes ntimas como ela mesma diria Embora j tivesse passado havia muito pela menopausa ela disse a si mesma que era simplesmente um ltimo ciclo menstrual Trancada no min sculo banheiro de um avi o da TWA durante um momento de turbul ncia ela estancou o sangramento com absorventes enfia enfia teriam dito Sue Snell e amigas depois voltou para seu lugar Minha m e n o disse nada a Ethelyn nem a David nem a mim Ela n o foi se consultar com o dr Joe Mendes em Lisbon Falls seu m dico desde tempos imemoriais Em vez disso fez o que sempre fazia em per odos dif ceis guardou o problema para si mesma Por um tempo as coisas pareceram ficar bem Ela gostava do trabalho gostava dos amigos e gostava dos quatro netos dois da fam lia de Dave dois da minha Mas ent o a
109. RAB NS dizia a correspond ncia CARRIE OFICIALMENTE UM LIVRO DA DOUBLEDAY ADIANTAMENTO PODE SER US 2 500 O FUTURO EST DIANTE DE VOC ABRA OS BILL Um adiantamento de 2 500 d lares para a edi o de capa dura era bem pequeno mesmo para o in cio da d cada de 1970 mas eu n o sabia disso e n o tinha agente liter rio para me dizer Antes de pensar que eu poderia precisar de um agente gerei bem mais de 3 milh es de d lares em lucro um timo neg cio para a editora O contrato padrao da Doubleday naquela poca era melhor que trabalho escravo mas n o muito Meu pequeno romance de terror colegial marchou para a publica o com exasperante lentid o Embora a hist ria tivesse sido aprovada no fim de mar o ou no in cio de abril de 1973 a publica o s foi programada para o segundo trimestre de 1974 O que n o era incomum Naqueles tempos a Doubleday era uma enorme usina de fic o produzindo mais de cinquenta livros de mist rio romances s ries de fic o cient fica e faroestes Double D por m s al m de uma enorme linha de frente composta por obras de pesos pesados como Leon Uris e Allen Drury Eu era apenas um peixe pequeno em um rio bem caudaloso Tabby perguntou se eu poderia parar de dar aulas Respondi que n o pelo menos n o com base no adiantamento e em algumas possibilidades nebulosas Se eu estivesse sozinho talvez que se dane provavelmente Mas com mulher e dois filhos De jeito nenhum E
110. a o logo degringolou Tive um acesso ap s outro de algo que eu erroneamente pensava se chamar garganta listrada Fiquei na cama bebendo gua gelada e imaginando minha garganta com listras brancas e vermelhas o que n o devia estar muito longe da verdade Em determinado momento meus ouvidos entraram na dan a foi quando minha m e chamou um t xi ela n o dirigia e me levou a um m dico importante demais para atender em casa um especialista em ouvidos Por alguma raz o ficou na minha cabe a a ideia de que esse tipo de m dico era chamado otiologista Eu n o estava nem a se ele era especialista em ouvido ou em cu Eu estava com 40 de febre e toda vez que engolia a dor acendia as laterais do meu rosto como se fossem um jukebox O m dico examinou meus ouvidos dedicando mais tempo eu acho ao esquerdo Depois me fez deitar na maca Levante um minuto Stevie pediu a enfermeira e colocou um grande pano absorvente talvez uma fralda debaixo da minha cabe a de forma que apoiei um dos lados do rosto nele quando voltei a deitar Eu devia saber que havia algo de podre no Reino da Dinamarca Talvez soubesse Havia um cheiro penetrante de lcool Um tinido ressoou quando o m dico de ouvido abriu o esterilizador Vi a agulha na m o dele parecia t o longa quanto a r gua em meu estojo escolar e gelei Ele me deu um sorriso tranquilizador e contou a mentira que deveria mandar todos os m dicos para a cadeia imed
111. a a vers o editada A hist ria do hotel Mike Enslin ainda estava na porta girat ria quando viu Ostermeyer gerente do Hotel Dolphin sentado em uma das poltronas estofadas do lobby Mike ficou um pouco preocupado Acho que eu devia ter trazido a porra do advogado de novo pensou ele Bem agora era tarde E mesmo que Ostermeyer decidisse colocar mais uma barreira ou duas entre Mike e o quarto 1408 n o seria t o mau assim simplesmente seria mais um elemento da hist ria quando ele finalmente a contasse Ostermeyer o viu ergueu se e estava cruzando o lobby com a m o pequena e gorducha estendida quando Mike surgiu pela porta girat ria O Dolphin ficava na rua 61 perto da esquina com a Quinta Avenida era pequeno mas estiloso Um homem e uma mulher em trajes de noite passaram por Mike enquanto ele se aproximava de Ostermeyer trocando a pequena maleta de viagem para a m o esquerda pam cumprimentar o gerente A mulher em loura e estava de preto claro e o aroma leve e floral do perfume dela parecia resumir Nova York No bar do mezanino algu m tocava Night and Day como se enfatizasse o resumo Boa noite sr Enslin Sr Ostermeyer Algum problema Ostermeyer parecia estar sentindo dor Por um instante ele olhou em torno do pequeno mas estiloso lobby como se procurasse ajuda No balc o do concierge um homem discutia com a esposa sobre ingressos para o teatro enquanto o pr prio concierge observava os dois com um sorrisi
112. a coisa Para conseguir tirar pelo menos a maior parte a p tem que dar lugar a ferramentas mais delicadas borrifadores pin as talvez at uma escova de dente O enredo uma ferramenta muito maior a perfuratriz do escritor E poss vel extrair f sseis do ch o usando uma perfuratriz sem d vidas mas voc sabe t o bem quanto eu que ela vai quebrar tanta coisa quanto vai extrair O enredo tosco mec nico anticriativo O enredo penso eu o ltimo recurso do bom escritor e a primeira escolha do idiota A hist ria advinda do enredo est propensa a ser artificial e dura Eu me apoio mais na intui o e consigo fazer isso porque meus livros se baseiam em situa es mais do que em hist rias Algumas das ideias que produziram os livros s o mais complexas que outras mas a maioria come a com uma simples vitrine de uma loja de departamentos ou uma est tua de cera Gosto de colocar um grupo de personagens talvez um par talvez s um em algum tipo de situa o desagrad vel e v los tentando se libertar Meu trabalho n o ajud los a encontrar uma sa da ou manipul los para que fiquem a salvo esses s o trabalhos que exigem a barulhenta perfuratriz do enredo mas sim acompanhar o que acontece e depois colocar no papel A situa o vem primeiro Os personagens sempre rasos e sem caracter sticas no inicio v m depois Quando essas coisas se fixam em minha mente come o a narrar Geralmente tenho uma i
113. a dos vinte anos e nenhum deles at a escrita deste livro dirigia um Rolls Royce bem prov vel que os tr s consigam se estabelecer no mercado o que significa que quando chegarem aos quarenta anos estar o publicando regularmente prov vel tamb m que um deles tenha problemas com bebida As tr s faces de Frank t m interesses distintos e escrevem com estilos e vozes diferentes mas o jeito como abordam os obst culos at a publica o bastante parecido por isso me sinto confort vel em junt los em uma pessoa s Tamb m sinto que para outros escritores iniciantes voc por exemplo caro Leitor seguir os passos de Frank n o seria t o ruim Frank estudou letras voc n o precisa ser bacharel em letras para se tornar escritor mas com certeza n o vai fazer mal e come ou a enviar hist rias para revistas enquanto ainda estava na faculdade Ele fez v rios cursos de escrita criativa e muitas das revistas para que enviou manuscritos lhe foram recomendadas por professores Recomendadas ou n o Frank leu cuidadosamente os textos de cada revista e enviou os textos para as publica es que em seu ponto de vista eram as mais adequadas Durante tr s anos li todas os textos que a revista Story publicou conta ele rindo Devo ser o nico nos Estados Unidos que pode dizer isso Com ou sem leitura cuidadosa Frank n o conseguiu publicar texto algum enquanto ainda estava na faculdade embora tenha publica
114. a escrever uma hist ria chamada ltimo turno Eu estava apenas passando o tempo em uma tarde qualquer de fim de primavera mas dois meses depois a revista Cavalier comprou a hist ria por 200 d lares Eu j tinha vendido duas outras hist rias antes mas ambas somadas tinham rendido apenas 65 d lares Agora o valor era o triplo e de uma tacada s Fiquei sem f lego fiquei mesmo Eu estava rico 22 Durante o ver o de 1969 consegui um trabalho de meio per odo na biblioteca da Universidade do Maine Foi uma temporada de gl rias e trag dias No Vietn Nixon punha em pr tica seu plano para dar fim guerra que parecia consistir em bombardear o sudeste da sia at que tudo ficasse em peda os Conhe a o novo chefe cantava o The Who igual ao antigo chefe Eugene McCarthy estava concentrado em sua poesia e hippies felizes vestiam cal as boca de sino e camisetas que diziam coisas como MATAR PELA PAZ COMO FODER PELA CASTIDADE Eu tinha um belo par de costeletas O Creedence Clearwater Revival cantava Green River Rio verde mo as descal as dan ando ao luar e Kenny Rogers ainda fazia parte do grupo The First Edition Martin Luther King e Robert Kennedy estavam mortos mas Janis Joplin Jim Morrison Bob The Bear Hite Jimi Hendrix Cass Elliot John Lennon e Elvis Presley ainda estavam vivos e fazendo m sica Eu morava fora do campus na pens o de Ed Price 7 d lares por semana com
115. a nenhum desaforo da minha parte tornou poss vel continuar minha vida profissional E acredito que o oposto tamb m seja verdade minha escrita e o prazer que extraio dela contribu ram para a estabilidade de minha sa de e da minha vida familiar 3 Voc pode ler em quase qualquer lugar mas na hora de escrever s recorra a bibliotecas bancos de pra a e em ltimo caso flats alugados Truman Capote dizia que trabalhava melhor em quartos de hotel mas ele uma exce o a maioria de n s funciona melhor em um lugar s nosso At conseguir um voc vai descobrir que ser dif cil de levar a s rio sua nova resolu o de escrever Sua sala de escrita n o precisa ser luxuosa como a Mans o da Playboy voc tamb m n o precisa de uma escrivaninha r stica para abrigar suas ferramentas de trabalho Escrevi os dois primeiros romances que publiquei Carrie a estranha e Salem na lavanderia de nosso trailer usando a m quina de escrever Olivetti port til de minha mulher e equilibrando uma mesa infantil nas pernas Dizem que John Cheever escrevia no por o de seu apartamento na Park Avenue perto da caldeira O espa o pode ser humilde provavelmente deve ser como acho que j sugeri e s precisa realmente de uma coisa uma porta que voc possa fechar A porta fechada a maneira de dizer ao mundo e a voc mesmo que o assunto s rio Voc assumiu o compromisso de escrever e pretende dan ar a dan a bem como dizer o que precisa
116. a voz sussurrando que o livro era realmente bom e que se eu n o terminasse me arrependeria para sempre Assim em vez de partir para outro projeto comecei a fazer longas caminhadas um h bito que duas d cadas depois ia me trazer problemas s rios Eu costumava levar um livro ou revista nesses passeios mas raramente os abria n o importava o quanto ficasse entediado olhando para as mesmas rvores e ouvindo a mesma algazarra das malditas gralhas e esquilos O t dio pode ser uma coisa muito boa para quem est com bloqueio criativo Eu passava as caminhadas me entediando e pensando sobre meu gigantesco e in til manuscrito Por semanas a fio n o cheguei a lugar algum com meus pensamentos tudo parecia muito dif cil complexo pra cacete Eu j tinha desperdi ado enredos demais e eles corriam risco de se misturar uns aos outros Eu circundava o problema repetidas vezes o esmurrava batia a cabe a contra ele e ent o um dia quando n o estava pensando em nada demais a resposta me veio pronta e acabada embrulhada para presente pode se dizer em um nico flash Corri para casa e despejei tudo no papel a nica vez em que fiz isso porque estava morrendo de medo de esquecer Vi que embora a popula o dos Estados Unidos em 4 dan a da morte tivesse sido dizimada pela peste minha hist ria estava perigosamente superpopulosa uma verdadeira Calcut A solu o para o bloqueio percebi seria a mesma situa o que me
117. abe se l por qu mas adoram Se voc um encanador que adora fic o cient fica pense em escrever um romance sobre um encanador a bordo de uma nave ou de um planeta alien gena Parece rid culo O finado Clifford D Simak escreveu um romance chamado Cosmic Engineers Engenheiros c smicos que praticamente isso E uma leitura excelente Voc s n o pode esquecer que existe uma grande diferen a entre discorrer sobre o que sabe e usar este conhecimento para enriquecer a hist ria O ltimo bom O primeiro n o Pense no romance com que John Grisham estourou 4 firma Na hist ria um jovem advogado descobre que seu primeiro emprego que parecia bom demais para ser verdade era de fato uma miragem ele est trabalhando para a m fia Cheio de suspense envolvente e com um ritmo de tirar o f lego 4 firma vendeu uns nove zilh es de exemplares O que parecia fascinar o p blico era o dilema moral em que o jovem advogado se encontrava trabalhar para a m fia ruim n o h o que discutir mas o sal rio estupendo D para comprar uma BMW e isso s o in cio O p blico tamb m gostou dos engenhosos esfor os que o advogado fez para se desembara ar desse dilema Pode n o ser a maneira como a maioria das pessoas agiria e o deus ex machina bastante utilizado nas ltimas cinquenta p ginas mas a maneira como a grande maioria de n s gostaria de agir E quem n o gostaria de ter um deus ex machina na vida Embo
118. aber o que usar se conhecer bem seu personagem e n s vamos aprender alguma coisa sobre o falante que o tornar mais v vido e interessante O objetivo deixar cada personagem falar livremente sem preocupa o com o que a Legi o da Dec ncia do C rculo de Leitura das Senhoras Crist s aprovaria Agir de outra forma seria covarde e desonesto e acredite em mim escrever fic o nos Estados Unidos s portas do s culo XXI n o trabalho para covardes intelectuais O que n o falta s o pretensos censores e embora possam ter diferentes interesses todos querem basicamente a mesma coisa que voc veja o mundo que eles veem ou pelos menos que se cale sobre o que v de diferente S o todos agentes do status quo N o s o necessariamente gente ruim mas s o perigosos para quem acredita em liberdade intelectual Na verdade partilho da opini o de minha m e palavr es e obscenidades s o o idioma dos ignorantes e dos verbalmente deficientes Em grande medida claro H exce es como aforismos obscenos de grande cor e vitalidade O drive thru sempre te fode Mais desesperado que homem sem bra o com coceira no cu Passarinho que come pedra sabe o cu que tem esses ditos e outros semelhantes n o devem ser falados na mesa de jantar mas s o pungentes e impactantes Veja este trecho de V timas do sil ncio de Richard Dooling onde a vulgaridade vira poesia Prova A Um p nis rude e cabe udo um b rbaro bocet voro sem um pingo d
119. acho e a correnteza me levaria embora Ent o me peguei imaginando se eu tivesse realmente ca do na gua quanto tempo o frentista levaria para chamar a pol cia estadual depois de perceber que meu carro um Lincoln Navigator novinho continuava ali parado em frente bomba de gasolina Quando voltei estrada eu tinha duas coisas a bunda molhada por causa da queda e uma grande ideia para uma hist ria Nela um homem misterioso usando uma capa preta ele n o era humano mas sim alguma criatura maldisfar ada de gente abandona o carro diante de um pequeno posto de gasolina em uma rea rural da Pensilv nia O ve culo parece um velho Buick Especial constru do no fim da d cada de 1950 mas t o Buick quanto o cara de capa preta um ser humano O carro vai parar nas m os de policiais estaduais que trabalham em um quartel fict cio no oeste da Pensilv nia Vinte anos depois os policiais contam a hist ria do Buick ao filho inconsol vel de um policial estadual morto em a o Era uma grande ideia e se desenvolveu at gerar um bom romance sobre como passamos adiante nossos conhecimentos e segredos tamb m uma hist ria macabra e assustadora sobre uma m quina alien gena que s vezes aparece e engole pessoas inteiras claro que havia alguns pequenos problemas o fato de eu n o saber absolutamente nada sobre a pol cia estadual da Pensilv nia por exemplo mas n o deixei que isso me impedisse de ir em frente S
120. ade Como eu era engra ado Eu era um H L Mencken de uma cidadezinha industrial Eu tinha que levar o Vomit para a escola e mostrar para todos os meus amigos Seria uma explos o coletiva de riso Houve de fato uma explos o coletiva de riso Eu tinha algumas boas ideias para atingir em cheio o senso de humor de alunos do ensino m dio e a maioria delas apareceu no The Village Vomit Em um artigo uma vaca premiada do Homem Vaca ganhava um concurso de peidos bovinos na Feira de Topsham Em outro o Velho Diehl era demitido por pegar do laborat rio olhos de fetos de porco e colocar nas narinas Humor grande moda de Jonathan Swift como se pode ver Muito sofisticado n o Durante o quarto tempo tr s amigos estavam rindo tanto nos fundos da sala de estudos que a srta Raypach Rat Pack para voc parceiro foi discretamente at l para descobrir o que era t o engra ado Ela confiscou o The Village Vomit no qual eu por orgulho arrogante ou por ingenuidade quase inacredit vel tinha posto meu nome como Editor chefe amp Grande L der No fim do dia fui pela segunda vez em minha vida acad mica chamado sala da dire o por conta de algo que tinha escrito Dessa vez o problema era bem mais grave Os professores em sua maioria estavam inclinados a levar minha zombaria na esportiva at o Velho Diehl estava disposto a botar uma pedra no assunto dos olhos de porco mas uma n o queria deixar pra l Era a srta Margitan que
121. ais velho que morreu de c n cer de pulm o Parei logs depois que ele morreu O cigarro atr s da orelha Ele deu de ombros ba Como 2 camisa parte afeta o parte supersti o eu acho Um pouco havaiana Ov os ci que a gente v na mesa ou na parede dos outros em uma caixinha com um aviso QUEBRE O VI DRO EM CASO DE EMERG NCIA EteostiHne dizegie aeeaiei ieee E S quarto para fumantes sr Ostermeyor Para o caso de come ar uma guerra nuclear Na verdade Otimo disse Mike ironicamente menos uma preocupa o na vigil ncia noturna O sr Ostermeyer suspirou novamente eemtraria ees embord Sg8 i i0 tenha soado tao desconsolado lee quanto o no lobby Sim era o gg reconheceu Mike OSCE ele Mesmo tarde quando Mike chegara acompanhado por Robertson o advogado Ostepmeyer parecera menos baratinado do que quan CS Stein lia A Je idos ca ip jm Haehae aa mais VOC s Sentivis no comento se n o no sev Waar especial O escrit rio por que n o fee era um c modo com boas fotos de Olin nas paredes um bom tapete no ch o e bons charutos a N a A apesar de n o serem cubanos na caixa Sem d e AA vida muitos gerentes haviam feito muitos neg cios ali desde owttbre dd1910 de certa forma era algo t o nova iorquino quanto a siter loura usando o vestido preto tomara que caia o cheiro do perfume dela e a NOVe iov gui promessa
122. al de instru es O par grafo tamb m n o diz de que material feita a gaiola Telas soldadas Vigas de ferro Vidro Mas isso realmente importa Todos entendemos que d para ver do outro lado da gaiola nada al m disso nos importa A coisa mais interessante aqui n o nem o coelho que r i a cenoura mas o n mero que ele traz nas costas N o um seis nem um quatro nem 19 5 um oito para isso que estamos olhando e todos sabemos Eu n o disse a voc Voc n o me perguntou Eu jamais abri minha boca e voc jamais abriu a sua N s n o estamos nem no mesmo ano quanto mais na mesma sala mas estamos juntos Estamos pr ximos Estamos tendo um encontro de mentes Mandei uma mesa com um pano vermelho uma gaiola um coelho e um n mero oito escrito em tinta azul Voc recebeu tudo principalmente o oito azul Estamos participando de um ato de telepatia E n o enrola o m stica telepatia de verdade N o vou entrar em detalhes sobre o que quero demonstrar mas antes que a gente prossiga voc precisa entender que n o estou tentando ser engra adinho existe sim algo que pretendo demonstrar Voc pode encarar o ato de escrever com nervosismo anima o esperan a ou at desespero aquele sentimento de que nunca ser poss vel p r na p gina tudo o que est em seu cora o e em sua mente Voc pode ficar com os punhos cerrados e os olhos apertados pronto para quebrar tudo e dar nome aos bois Pode ser
123. alhou limpando jaulas de um zool gico ou circo e escreveu Isso bom N o para n s mas bom Voc tem talento Mande mais Essas quatro frases curtas escritas com uma caneta tinteiro que deixou grandes manchas irregulares pelas letras iluminou o triste inverno dos meus 16 anos Cerca de dez anos depois quando j tinha vendido alguns romances encontrei A noite do tigre em uma caixa de manuscritos velhos e continuei achando que era uma hist ria bastante respeit vel embora obviamente escrita por um cara que mal tinha come ado a desenvolver sua t cnica Reescrevi o conto e por capricho o enviei novamente Fantasy and Science Fiction Dessa vez eles publicaram Uma coisa que percebi que quando algu m j fez certo sucesso as revistas ficam muito menos propensas a usar a frase n o para n s 17 Embora fosse um ano mais novo que seus colegas de classe meu irm o mais velho estava de saco cheio da escola Era um pouco por causa do intelecto de Dave em uma avalia o seu QI ficou em 150 ou 160 mas acho que a maior parte da culpa residia em sua natureza inquieta Para ele o ensino m dio n o era superlegal o bastante n o tinha pou nem tcharam nem divers o Ele resolveu o problema pelo menos temporariamente ao criar um jornal que batizou de Regras de Dave A reda o do Regras era uma mesa nos confins do nosso por o de ch o sujo paredes de pedra e superlotado de aranhas em algum l
124. almo o no carro dele pelo menos ele n o precisa lavar as m os Certas vezes em especial no ver o depois de engolir o comprimido de sal tarde me ocorria que eu estava simplesmente repetindo a vida da minha m e Geralmente eu achava esse um pensamento engra ado Se no entanto eu estivesse cansado ou tivesse que pagar uma conta extra e n o tivesse dinheiro para isso a ideia era desoladora A vida n o devia ser assim pensava eu Depois completava o racioc nio Meio mundo pensa a mesma coisa As hist rias que vendi para revistas entre agosto de 1970 quando recebi o cheque de 200 d lares por ltimo turno e o in cio de 1974 s foram suficientes para criar uma margem m nima entre n s e o servi o de assist ncia social do governo minha m e republicana a vida toda expressara seu profundo horror de ir at o condado por mim Tabby compartilhava desse horror Minha mem ria mais clara daqueles dias a volta ao apartamento da rua Grove em uma tarde de domingo depois de passar o fim de semana na casa da minha m e em Durham exatamente na poca em que os sintomas do c ncer que a matou come aram a aparecer Tenho uma foto daquele dia minha m e cansada e sorridente est sentada em uma cadeira na varanda segurando Joe no colo enquanto Naomi est de p firme ao lado dela Naomi por m n o estava t o firme naquela tarde de domingo Ela teve uma infec o de ouvido e estava
125. am presos ao tambor do mimedgrafo coberto com a tinta mais fedida e gosmenta do mundo e ent o est vamos prontos para come ar o trabalho girando a manivela at os bra os ca rem N s consegu amos finalizar em duas noites o que antes levaria uma semana com o hect grafo e embora a impress o a tambor fizesse bagun a ela n o parecia estar infectada com uma doen a potencialmente fatal E assim o Regras do Dave entrou em sua curta era de ouro 18 Eu n o estava muito interessado no processo de impress o tampouco nos mist rios da revela o e da reprodu o de fotografias Eu n o estava nem um pouco interessado em instalar caixas de marcha mais modernas em carros em fazer sidra ou em ver se determinada f rmula conseguiria mandar um foguete de pl stico para a estratosfera poucas vezes eles subiam mais alto do que a nossa casa O que mais me interessava entre 1958 e 1966 era o cinema Na passagem da d cada de 1950 para a de 1960 s havia dois cinemas na minha regi o ambos em Lewiston O Empire exibia os lan amentos como filmes da Disney picos b blicos e musicais com grupos de pessoas bem arrumadinhas cantando e dan ando em widescreen Eu assistia a esses filmes quando algu m me levava cinema cinema afinal mas n o gostava muito Eram t o certinhos que ficavam chatos Eram previs veis Durante Opera o cupido torci para que Hayley Mills esbarrasse com o personagem de Vic Morrow em Sementes da viol ncia
126. amando enquanto eu estivesse na cama at eu me levantar para pegar outra E outra E mais uma 36 Em 1985 al m do problema com o lcool tamb m me viciei em drogas mas ainda assim continuava a levar uma vida funcional em um nivel minimamente competente como muitos outros que usam subst ncias Eu morria de medo de n o conseguir naquela poca n o fazia ideia de como levar outra vida Escondia da melhor maneira poss vel as drogas que estava usando tanto por medo o que seria de mim sem elas Eu tinha esquecido como ficar s brio limpo quanto por vergonha Eu estava limpando a bunda com urtiga de novo desta vez diariamente mas n o conseguia pedir ajuda As coisas n o funcionavam assim na minha fam lia Na minha fam lia a gente fumava cigarros dan ava sobre a gelatina no ch o e guardava os problemas para si Ainda assim a parte de mim que escreve hist rias a parte profunda que sabia do meu alcoolismo desde 1975 quando escrevi O iluminado n o aceitava isso Esta parte definitivamente n o gosta de sil ncio Comecei a gritar por socorro da nica forma que sabia atrav s de minha fic o de meus monstros Entre o fim de 1985 e o in cio de 1986 escrevi Misery louca obsess o o t tulo que significa ang stia descreve com bastante precis o meu estado de esp rito em que um escritor mantido prisioneiro e torturado por uma enfermeira psic tica Em meados de 1986 escrevi Os estranhos geralmente trabalh
127. amarrado a um dos p s No dia 19 de junho levei nosso filho mais novo ao aeroporto de Portland onde ele pegou um voo de volta para Nova York Voltei para casa tirei um cochilo r pido e depois sa para a caminhada costumeira Est vamos planejando ver 4 filha do general no cinema de North Conway uma cidade pr xima naquela noite e imaginei que teria tempo de caminhar antes de juntar a fam lia toda para a viagem Se bem me lembro sa por volta de quatro da tarde Antes de chegar estrada principal no oeste do Maine qualquer estrada com uma linha branca no meio uma estrada principal entrei no bosque e fiz xixi Pelos dois meses seguintes eu n o seria capaz de mijar em p Quando voltei estrada segui para o norte andando pelo acostamento de cascalho na dire o contr ria ao tr fego Um carro passou por mim tamb m indo para o norte Mais ou menos 1 quil metro adiante a mulher que dirigia o carro percebeu um furg o Dodge azul claro seguindo para o sul O furg o ia de um lado para outro da estrada praticamente fora do controle do motorista Depois de passar em seguran a pelo furg o descontrolado a mulher do carro se virou para o passageiro e disse Era o Stephen King l atr s Espero que o maluco do furg o n o o atropele poss vel ter uma boa vista da estrada na maior parte do trecho em que caminho pela Rota 5 mas existe uma pequena colina pouco ngreme onde o pedestre caminhando rumo ao norte quase n
128. ana sim semana n o Um mulher vamos cham la de Jane se casa com um homem inteligente divertido e muito atraente Vamos cham lo de Dick o nome mais freudiano do mundo Infelizmente Dick tem um lado sombrio Ele irasc vel controlador talvez at isso voc vai descobrir a partir das a es e palavras dele paranoico Jane faz um enorme esfor o para ignorar os problemas de Dick e manter o casamento por que ela se esfor a tanto algo que voc tamb m vai descobrir ela vai entrar em cena e contar a voc O casal tem uma filha e durante algum tempo as coisas parecem melhores Ent o quando a menina tem cerca de tr s anos os epis dios de maus tratos e ci me voltam a acontecer As agress es come am de forma verbal depois viram f sicas Dick est convencido de que Jane est dormindo com algu m talvez um colega de trabalho algu m espec fico N o sei e n o me importo Uma hora Dick vai acabar dizendo a voc de quem ele suspeita Se realmente disser n s dois vamos saber n o Por fim a pobre Jane n o aguenta mais Ela se divorcia do imbecil e consegue a guarda da filha a pequena Nell Dick come a a persegui la Jane consegue uma ordem de restri o um documento t o til quanto um guarda sol durante um furac o como qualquer mulher que tenha sofrido viol ncia dom stica poder lhe dizer Por fim ap s um incidente que voc vai escrever em detalhes v vidos e aterrorizantes um espancamento
129. ando identifica fortes ecos de sua vida e de suas cren as o leitor fica propenso a se deixar envolver pela hist ria Eu argumentaria que imposs vel fazer este tipo de conex o de forma premeditada aferindo o mercado como um especialista em corridas de cavalo que tem uma dica quente A imita o estil stica uma coisa uma forma perfeitamente honrada de come ar como escritor e algo imposs vel de evitar na verdade algum tipo de imita o marca cada novo est gio de desenvolvimento de um escritor mas n o poss vel imitar a abordagem de um autor a determinado g nero n o importa qu o simples o que ele faz possa parecer Em outras palavras voc n o pode mirar em um livro como um m ssil Gente que decide fazer fortuna escrevendo como John Grisham ou Tom Clancy produz na maioria das vezes nada al m de p lidas imita es porque vocabul rio n o o mesmo que sentimento e a trama est a anos luz da verdade entendida pela mente e pelo cora o Quando voc vir um romance com a frase Ao estilo de John Grisham Patricia Cornwell Mary Higgins Clark Dean Koontz na capa pode saber que est olhando para uma dessas imita es friamente calculadas e provavelmente chatas Escreva o que quiser depois encharque a hist ria de vida e a torne nica acrescentando seu conhecimento pessoal e intransfer vel do mundo da amizade do amor do sexo e do trabalho Especialmente do trabalho As pessoas adoram ler sobre trabalho S
130. ando at meia noite com o cora o a 130 batimentos por minuto e cotonetes enfiados no nariz para estancar o sangramento causado pela coca na Os estranhos uma hist ria de fic o cient fica estilo anos 1940 em que a escritora hero na descobre uma nave alien gena enterrada no ch o tripula o ainda est a bordo e n o est morta apenas hibernando As criaturas alien genas entram na cabe a das pessoas e come am a bem a deixar tudo l dentro estranho O que o humano ganha mais energia e um tipo de intelig ncia superficial a escritora Bobbi Anderson cria uma m quina de escrever telep tica e um aquecedor de gua at mico entre outras coisas O que o humano d em troca a pr pria alma Foi a melhor met fora para drogas e lcool que minha cabe a cansada e superestressada conseguiu arranjar N o muito tempo depois minha mulher finalmente convencida de que eu n o sairia daquela horr vel espiral descendente por conta pr pria tomou uma atitude Com certeza n o foi facil poca eu j estava muito longe de minha mente s para ouvir chamados mas ela fez mesmo assim Tabby organizou um grupo de interven o formado por familiares e amigos e eu me senti participando de uma vers o infernal do programa This Is Your Life Esta a sua vida A primeira coisa que minha mulher fez foi virar em cima do tapete um saco de lixo cheio de coisas que estavam em meu escrit rio latas de cerveja guimbas de cig
131. ando de buracos t o grandes que daria para passar uma carreta por eles incr vel como algumas dessas coisas se escondem do escritor quando ele est ocupado com o trabalho di rio de composi o E preste aten o se encontrar alguns desses buracos gigantes voc est proibido de ficar deprimido ou se autoflagelar por causa disso Esses vacilos acontecem com os melhores escritores Contam que o arquiteto do Edif cio Flatiron cometeu suic dio quando percebeu logo antes da cerim nia de inaugura o que se esquecera de colocar banheiros masculinos em seu protot pico arranha c u prov vel que a hist ria n o seja ver dica mas n o esque a que algu m realmente projetou o Titanic e afirmou que era inaufrag vel No meu caso os maiores erros que encontro na releitura t m a ver com a motiva o dos personagens algo relacionado ao desenvolvimento de personagem mas n o a mesma coisa Quando isso acontece eu me dou um tapa na testa pego o bloco de anota es e escrevo alguma coisa como p 58 Sandy Hunter rouba um d lar do esconderijo de Shirley no escrit rio de expedi o Por qu Pelo amor de Deus Sandy nunca faria algo assim Eu tamb m marco a p gina do manuscrito com um grande 2 que indica a necessidade de cortes e ou mudan as naquele ponto al m de ser um lembrete de que ser preciso conferir as notas para obter os detalhes exatos caso eu n o me lembre deles Eu adoro essa parte do processo bem adoro t
132. ando for escrever algo 2 Se leia muito escreva muito o Grande Mandamento e posso garantir que o que significa escrever muito Isso varia claro de escritor para escritor Uma das minhas hist rias favoritas sobre o assunto provavelmente um mito envolve James Joyce Dizem que um amigo foi visit lo certo dia e encontrou o grande homem tombado sobre a escrivaninha em uma postura de profundo desespero James o que aconteceu perguntou o amigo o trabalho Joyce assentiu sem ao menos levantar a cabe a para olhar o outro claro que era o trabalho n o era sempre Quantas palavras voc escreveu hoje insistiu o homem Joyce ainda desesperado ainda com a cabe a apoiada na mesa Sete Sete Mas James isso bom Pelo menos para voc respondeu Joyce finalmente olhando para cima Acho que sim mas eu ainda n o sei em que ordem elas ficam Do outro lado do espectro existem escritores como Anthony Trollope Ele escreveu romances caudalosos Can You Forgive Her Voc consegue perdo la um timo exemplo para o p blico moderno o livro poderia se chamar Voc consegue terminar e os produzia com impressionante regularidade Trollope trabalhava como escriv o no Departamento Postal Brit nico as caixas de correio vermelhas que existem em toda a Gr Bretanha foram inven o dele e escrevia durante duas horas e meia toda manh antes de
133. ante til e quando bem usado fascinante Pode se argumentar que o simbolismo n o passa de mais um tipo de figura de linguagem O simbolismo necess rio para o sucesso de sua hist ria ou do seu romance Na verdade n o e pode at ser prejudicial principalmente se voc perder a m o O simbolismo existe para adornar e enriquecer n o para criar uma sensa o de profundidade artificial Nenhum dos adornos estil sticos tem a ver com a hist ria est bem Apenas a hist ria tem a ver com a hist ria J est cansado de ouvir isso Espero que n o porque n o estou nem perto de me cansar de repetir O simbolismo e os outros adornos tamb m no entanto tem sua utilidade e mais do que apenas enfeitar Serve como um aparelho que melhora o foco tanto o seu quanto o do leitor ajudando a criar um trabalho mais coeso e prazeroso Acho que quando reler seu manuscrito e quanto falar dele tamb m voc vai perceber se o simbolismo ou o potencial para tanto est l Se n o n o h por que mexer nisso Se estiver no entanto se for claramente uma parte do f ssil que voc est trabalhando para desenterrar v em frente Aprimore o que puder aprimorar Seria est pido n o fazer isso 10 O mesmo se aplica ao tema As aulas de escrita e literatura costumam se preocupar demais e serem pretensiosas demais com o tema abordando o como a mais sagrada de todas as vacas sagradas mas n o se choque ele n o
134. ar e tamb m pela companhia N s gostamos uns dos outros e bom ter a chance de conversar sobre nosso trabalho de verdade aquele emprego fixo que sempre pedem que a gente n o abandone Somos escritores e nunca perguntamos um ao outro de onde tiramos nossas ideias n s sabemos que n o sabemos Certa noite enquanto com amos comida chinesa antes de uma apresenta o em Miami Beach perguntei a Amy se existia alguma quest o que nunca fora abordada durante as sess es de perguntas que se seguem a praticamente todas as palestras de escritores aquela pergunta que nunca chegamos a responder diante de um grupo de f s ardorosos enquanto fazemos de conta que n o vestimos as cal as uma perna de cada vez como todo mundo Amy parou e pensou no assunto por um bom tempo depois disse Ningu m nunca perguntou sobre a linguagem Tenho com ela uma imensa d vida de gratid o por essa resposta Naquela poca j fazia mais de um ano que eu vinha acalentando a ideia de escrever um livrinho sobre a escrita mas nunca ia adiante porque n o confiava em minhas pr prias motiva es por que eu queria escrever sobre a escrita O que me levava a acreditar que eu tinha algo de til a dizer A resposta f cil que algu m que vendeu tantos livros de fic o como eu deve ter algo de interessante a dizer sobre a escrita mas a resposta f cil nem sempre a verdadeira O Coronel Sanders vendeu toneladas e mais toneladas de frango frito mas n
135. ara a voz passiva Fa a de conta por exemplo que um sujeito morreu na cozinha mas foi parar em outro lugar O corpo foi tirado da cozinha e colocado no sof da sala um jeito aceit vel de se dizer o que aconteceu embora foi tirado e foi colocado ainda me desagradem profundamente Eu aceito a constru o mas n o a usaria Prefiro Freddie e Myra carregaram o corpo para fora da cozinha e o deitaram no sof da sala Por que o corpo tem que ser o sujeito da frase Est morto pelo amor de Deus Xapral Duas p ginas de voz passiva praticamente todos os documentos de neg cios escritos at hoje em outras palavras para n o mencionar resmas e resmas de m fic o me d o vontade de gritar fraco indireto e muitas vezes tortuoso tamb m Que tal isso Meu primeiro beijo sempre ser lembrado por mim como a maneira como meu romance com a Shayna come ou Cara quem peidou Uma maneira mais simples de expressar a ideia mais doce e mais forte tamb m pode ser esta Meu romance com Shayna come ou com nosso primeiro beijo Nunca vou me esquecer N o amo de paix o essa constru o porque ela usa com duas vezes em meia d zia palavras mas pelo menos nos livramos da maldita voz passiva Voc tamb m deve ter percebido que fica muito mais simples entender o pensamento quando dividido em dois Assim fica mais f cil para o leitor e ele deve ser sua maior preocupa o sempre Sem o Le
136. argalhou tanto que l grimas escorreram pelo rosto barbado Como a hist ria em quest o Salem n o tinha a menor inten o de ser engra ada perguntei o que ele tinha achado Eu tinha escrito uma frase parecida com esta Embora a esta o de ca a a cervos s come asse em novembro no Maine os campos de outubro costumam ouvir muitos tiros os moradores atiram em tantos camponeses quanto suas fam lias conseguem comer O editor teria visto o erro sem d vida mas Mac me poupou da vergonha Avalia es subjetivas s o como eu disse mais dif ceis de se lidar mas preste aten o se todos que lerem seu livro apontarem algum problema Connie volta f cil demais para o marido Hal colando naquela prova importante inveross mil pelo que sabemos sobre ele a conclus o do romance parece abrupta e arbitr ria voc tem mesmo um problema e melhor fazer algo para resolv lo Muitos escritores resistem a essa ideia pois acham que revisar uma hist ria com base nos gostos e desgostos de determinado p blico de certa forma como se prostituir Se voc realmente se sente assim n o vou tentar mudar sua opini o Voc vai economizar o dinheiro das c pias tamb m porque n o precisar mostrar sua hist ria a ningu m Na verdade disse ele impertinentemente se voc realmente se sente assim para que se dar o trabalho de publicar Basta terminar os livros e depois guard los em um cofre como dizem que J D Salinger fez E s
137. arrasadoramente lindo Voc tem coisa boa a disse ela Tenho certeza disso 29 Nunca consegui gostar de Carrie White e nunca confiei nos motivos que levaram Sue Snell a mandar o namorado ir ao baile com Carrie mas eu realmente tinha algo bom ali Como uma carreira inteira pela frente De alguma forma Tabby sabia disso e quando cheguei a uma pilha de cinquenta p ginas em espa o simples eu tamb m soube No m nimo eu sabia que os personagens que foram ao baile com Carrie White jamais esqueceriam o que aconteceu Os poucos que sobreviveram ocasi o claro Antes de Carrie a estranha eu tinha escrito tr s romances F ria A longa marcha e O concorrente foram publicados depois F ria o mais perturbador de todos A longa marcha deve ser o melhor Nenhum deles por m me ensinou as li es que aprendi com Carrie White A mais importante delas que a percep o original do escritor sobre um personagem ou personagens pode ser t o equivocada quanto a do leitor A segunda li o quase tao importante quanto a primeira foi perceber que parar uma hist ria s porque ela emocional ou criativamente custosa uma p ssima ideia s vezes preciso perseverar mesmo quando n o se tem vontade e s vezes voc est fazendo um bom trabalho mesmo quando parece estar sentado escavando merda Tabby me ajudou em v rios pontos a come ar pela informa o de que absorventes nas escolas americanas geralmente s o gra
138. arro coca na em ampolas coca na em sacos pl sticos colheres de coca na sujas de catarro e sangue Valium Frontal frascos de xarope Robitussine latinhas de descongestionante Vick e at mesmo frascos de enxaguat rio bucal Cerca de um ano antes notando a rapidez com que enormes garrafas de Listerine desapareciam do banheiro Tabby me perguntou se eu estava bebendo aquilo Respondi cheio de arrog ncia e superioridade moral que era claro que n o E n o estava mesmo Eu bebia o enxaguat rio Scope Era mais saboroso tinha gostinho de hortel raz o da interven o que certamente foi t o desagrad vel para minha mulher e meus filhos quanto para mim era que eu estava morrendo diante deles Tabby disse que eu tinha que fazer uma escolha ir para a reabilita o e receber ajuda ou dar o fora de casa Minha mulher disse que ela e meus filhos me amavam e por isso mesmo nenhum deles queria testemunhar meu suicidio Barganhei porque isso que os viciados fazem Eu era encantador porque assim que viciados s o No fim das contas consegui duas semanas para pensar sobre o assunto Em retrospecto isso parece resumir toda a insanidade daqueles tempos O sujeito est de p no alto de um edif cio em chamas Um helic ptero chega paira no ar e joga uma escada de cordas Suba grita o homem de dentro do helic ptero O sujeito no alto do edif cio em chamas responde Me d duas semanas para pensar no assunto Eu realm
139. as e n o estou aqui para fazer propaganda Tamb m importante lembrar que afinal n o se trata do cen rio mas da hist ria sempre se trata da hist ria N o cabe a mim ou a voc ficar perdido em min cias de descri o s porque seria mais f cil Temos coisas mais importantes a fazer Com isso em mente aqui vai um exemplo de narrativa que leva o personagem ao Palm Too O t xi parou em frente ao Palm Too s quinze para as quatro em uma clam tarde de ver o Billy pagou ao motorista pisou na cal ada e olhou em volta procurando Martin Nem sinal dele Satisfeito Billy entrou Ap s a claridade e o calor da Segunda Avenida o Palm Too parecia escuro como uma caverna O espelho ao fundo do bar capturava o brilho da rua e o refletia na penumbra como uma miragem Por um instante foi tudo o que Billy conseguiu ver mas depois os olhos come aram a se acostumar Havia alguns poucos bebedores solit rios no balc o do bar Atr s deles o maitre com a gravata desfeita e as mangas da camisa dobradas para exibir os pulsos peludos conversava com o barman Havia serragem espalhada pelo ch o observou Billy como se aquilo ali fosse um bar ilegal da poca da lei seca nos anos 1920 e n o um restaurante contempor neo onde n o se pode nem fumar quanto mais cuspir uma massa de tabaco entre os p s E os desenhos dan ando pelas paredes caricaturas de pol ticos corruptos jornalistas que j se aposentaram havia tempos ou que beberam at
140. atar o leitor como crian a nem abrir m o de minhas prerrogativas como escritor em prol de uma trama que transmita alguma mensagem Pegue todas essas mensagens e morais da hist ria e enfie as onde o sol n o bate est bem Eu quero resson ncia Acima de tudo estou em busca do que eu quis dizer porque na segunda vers o vou querer incluir cenas e incidentes que reforcem esse sentido Tamb m vou excluir coisas que apontem para outras dire es Provavelmente existir o muitos desses desvios em especial no in cio da hist ria quando tendo a ficar me debatendo Toda essa agita o tem que passar se eu quiser obter algo pr ximo de um efeito unificado Quando acabo de ler e fazer todas as revis es detalhistas hora de abrir a porta e mostrar o que escrevi para quatro ou cinco amigos pr ximos que se mostrarem dispostos a ler Algu m n o lembro quem juro pela minha vida escreveu certa vez que todos os romances s o na verdade cartas endere adas a uma pessoa Acontece que eu acredito nisso Acho que todo romancista tem um leitor ideal e que em v rios pontos da composi o da hist ria o escritor est pensando O que ser que ele vai pensar quando ler esta parte Para mim a primeira leitora minha mulher Tabitha Ela sempre foi uma primeira leitora extremamente receptiva e solid ria A rea o positiva de Tabitha a livros dif ceis como Saco de ossos meu primeiro romance com uma nova editora ap s vinte bons anos c
141. bem em n o imitar o g nero advogados enrolados que Grisham parece ter criado mas sair ganhando se emular a abertura e a incapacidade do autor de fazer qualquer outra coisa al m de ir direto ao ponto John Grisham claro conhece advogados O que voc sabe o torna nico de alguma outra forma Seja corajoso Mapeie as posi es dos inimigos volte e conte para a gente tudo o que voc sabe E lembre se de que encanadores no espa o n o um cen rio t o ruim para uma hist ria 5 De meu ponto de vista hist rias e romances se dividem em tr s partes narra o que leva a hist ria do ponto A para o ponto B e por fim at o ponto Z descri o que cria uma realidade sensorial para o leitor e di logo que d vida aos personagens atrav s do discurso Voc pode estar se perguntando onde est o enredo nisso tudo resposta a minha pelo menos em lugar nenhum N o vou tentar convencer voc de que nunca constru um enredo como n o vou tentar lhe convencer de que nunca contei uma mentira mas fa o ambas as coisas t o raramente quanto poss vel N o confio no enredo por duas raz es em primeiro lugar porque nossa vida em enorme medida n o tem enredo mesmo que voc tome todas as precau es necess rias e fa a um planejamento cuidadoso em segundo lugar porque acredito que a constru o da trama e a espontaneidade da cria o verdadeira n o sejam compat veis melhor ser o mais claro poss vel
142. bra o livro e observe duas p ginas quaisquer Observe o padr o as linhas as margens e mais particularmente os blocos de espa o branco onde come am e terminam os par grafos Voc consegue dizer sem nem mesmo ler se o livro escolhido propenso a ser f cil ou dif cil certo Livros f ceis cont m muitos par grafos curtos inclusive par grafos de di logos que podem ter apenas uma ou duas palavras e muitos espa os em branco S o t o arejados quanto um desses chocolates aerados Livros dif ceis aqueles cheios de ideias narra es ou descri es t m uma apar ncia mais robusta Uma apar ncia abarrotada Os par grafos s o quase t o importantes em apar ncia quanto em conte do s o mapas de inten o Em prosa expositiva os par grafos podem e devem ser organizados e utilit rios O par grafo expositivo ideal cont m uma frase s ntese seguida por outras frases que explicam ou ampliam a primeira Aqui est o dois par grafos de uma cr nica que ilustram esse g nero de escrita simples por m poderoso e sempre popular Quando eu tinha 11 anos morria de medo de Megan minha irm Sempre que ela entrava em meu quarto quebrava pelo menos um dos meus brinquedos favoritos geralmente aquele de que eu mais gostava O olhar dela tinha uma esp cie de m gica destruidora qualquer poster que ela visse parecia cair da parede poucos segundos depois As roupas que eu adorava desapareciam do guarda roupas Ela n o as pegava
143. c tem que escrever pelo amor de Deus no m nimo para que seus colegas tenham algo para criticar enquanto assam maravilhosos marshmallows no alojamento principal Quando por outro lado a obra em curso t o importante quanto levar seu filho para participar do campeonato de futebol no clube a press o por produ o muito menor E afinal para que servem as cr ticas Elas t m algum valor Pela minha experi ncia n o muito lamento dizer Muitas s o enlouquecedoramente vagas Eu adoro o sentimento da hist ria de Peter diria algu m Ela tem algo um sentido de n o sei um tipo de n o sei bem como descrever Veja outros exemplos de p rolas dos semin rios de escrita Senti que o tom da coisa era tipo sabe como A personagem Polly parece muito estereotipada Eu adorei a imag tica porque consegui perceber quase claramente sobre o que ele falava E em vez de jogar marshmallows rec m assados nesses idiotas tagarelas todos que est o sentados em volta do fogo costumam sorrir e assentir parecendo solenemente pensativos Na maioria das vezes professores e escritores residentes tamb m est o sorrindo assentindo e parecendo solenemente pensativos junto com os alunos S poucos participantes parecem perceber que se algu m n o consegue descrever um sentimento poss vel que n o sei sei l sinto que talvez ele esteja na porra do curso errado Cr ticas inespec ficas n o v o ajudar
144. com infec o de ouvido eu sei que se algu m da rea m dica diz que voc vai sentir um belisc o leve a dor ser muito forte Dessa vez n o t o ruim quanto o esperado talvez porque eu esteja cheio de analg sicos talvez porque esteja beira de desmaiar de novo como receber uma pancada bem no alto do lado direito do peito de algu m que segura um pequeno objeto pontiagudo Ent o ou o um silvo preocupante no peito como se eu estivesse vazando Na verdade acho que estou Um instante depois o suave entra e sai da respira o normal que ouvi a vida toda na maior parte do tempo sem me dar conta gra as a Deus substitu do por um som desagrad vel chlup chlup chlup O ar que inalo muito frio mas ar afinal ar e continuo respirando N o quero morrer Amo minha mulher meus filhos minhas caminhadas vespertinas beira do lago Tamb m amo escrever tenho um livro sobre a escrita descansando na mesa inacabado N o quero morrer e enquanto estou deitado no helic ptero olhando para o c u azul e claro percebo que estou deitado beira da morte Algu m vai me puxar para um lado ou para outro em breve n o tenho muito o que fazer S posso ficar ali deitado ouvindo minha respira o fraca e vazante chlup chlup chlup Dez minutos depois n s pousamos no heliporto de concreto do hospital Para mim ele parece ficar no fundo de um po o de concreto O c u azul fica desfocado e o flap flap flap dos rotores do he
145. companharem verbos dicendi ao construir di logos eu sugiro que voc se pergunte se quer mesmo escrever o tipo de prosa que pode acabar virando piada durante uma festa Alguns escritores de l ngua inglesa tentam escapar da regra contra o uso de adv rbios vitaminando os verbos dicendi O resultado bastante familiar para leitores de literatura barata e edi es de banca Largue a arma Utterson vociferou Jekyll Jamais pare de me beijar arquejou Shayna Seu provocador maldito metralhou Bill N o fa a isso tamb m Fa a me o favor O melhor verbo dicendi dizer como em disse ele disse ela disse Bill disse Monica Se quiser ver isso em funcionamento n o deixe de ler ou reler um romance de Larry McMurtry o melhor no uso dos verbos dicendi Isso pode parecer sarc stico no papel mas falo com absoluta sinceridade McMurtry permitiu que poucos dentes de le o adverbiais crescessem em seu gramado Ele acredita no disse ele disse ela mesmo em momentos de crise emocional e existem muitos nos romances de Larry McMurtry V e fa a o mesmo Este um exemplo de fa a o que eu digo n o fa a o que eu fa o O leitor tem todo o direito de perguntar e tenho a obriga o de dar uma resposta honesta Mesmo Basta olhar alguns exemplos de livros meus para saber que tamb m sou culpado disso Eu sou muito bom em evitar a voz passiva mas j derramei minha cota de adv rbios
146. crevendo e de dezenas de milhares de horas que passou lendo textos alheios Eu poderia argumentar que o par grafo e n o a frase a unidade b sica da escrita o lugar onde come a a coer ncia e onde as palavras t m a chance de se tornar algo mais que meras palavras Se a inspira o vier ser no n vel do par grafo um instrumento maravilhoso e flex vel que pode ter apenas uma palavra ou se alongar por v rias p ginas um par grafo do romance hist rico Paradise Falls de Don Robertson tem 16 p ginas alguns par grafos de Raintree County de Ross Lockridge t m quase isso Voc precisa aprender a us lo se quiser escrever bem aprender o que isso significa em termos de pr tica Voc precisa pegar o ritmo 5 Pegue de novo aquele livro que voc estava olhando por favor O peso dele em suas m os diz outra coisa que voc pode apreender sem ler uma nica palavra O n mero de p ginas do livro naturalmente mas tem outra coisa o compromisso do escritor para conseguir criar o trabalho o compromisso que o Leitor Constante deve ter para l lo claro que o peso e o n mero de p ginas por si s n o indicam excel ncia muitas hist rias picas s o uma porcaria perguntem aos meus cr ticos que v o lamentar o massacre de florestas canadenses inteiras para imprimir meus disparates Da mesma forma livros curtos nem sempre s o doces Em alguns casos As pontes de Madison por exemplo a concis o significa do
147. crever dez p ginas por dia o que d cerca de 2 mil palavras S o 180 mil palavras ao longo de tr s meses um livro de bom tamanho algo em que o leitor possa se perder alegremente se a hist ria for bem contada e mantiver o frescor Em certos dias as dez p ginas v m com facilidade e s onze e meia da manh j estou de p e zanzando por a feliz como pinto no lixo Agora que estou mais velho cada vez mais me vejo almo ando em minha escrivaninha e acabando o trabalho por volta de uma e meia da tarde s vezes as palavras custam a sair e ainda estou me debatendo com elas na hora do ch De um jeito ou de outro n o vejo problema No entanto s em circunst ncias muito terr veis eu me permito fechar o dia antes de chegar a 2 mil palavras A maior ajuda para uma produ o trollopiana regular trabalhar em uma atmosfera serena At mesmo para o escritor mais produtivo dif cil trabalhar em um ambiente onde sustos e intromiss es s o a regra n o a exce o Quando me perguntam o segredo do meu sucesso essa uma ideia absurda da qual imposs vel escapar costumo dizer que s o dois mantive a sa de f sica pela menos at o dia em que um furg o me jogou para fora da estrada no ver o de 1999 e mantive o casamento uma boa resposta porque faz a pergunta desaparecer e porque tem um fundo de verdade A combina o de corpo saud vel e relacionamento est vel com uma mulher autossuficiente que n o aceit
148. de beber umas e outras respondeu Ah ele A verdade que me esqueci completamente dele Essas perguntas n o devem sair de sua cabe a mesmo enquanto a porta estiver fechada E quando ela se abrir quando seu Leitor Ideal tiver lido o manuscrito d voz s perguntas Al m disso carente ou n o seria bom voc tentar saber em que ponto seu LI larga o manuscrito e vai fazer outra coisa Que cena ele estava lendo Por que foi t o f cil largar o livro naquele ponto Quando penso em ritmo costumo recorrer a Elmore Leonard que o explicou perfeitamente ao dizer que apenas tirava as partes chatas Isso quer dizer que voc deve cortar alguns trechos se quiser aumentar o ritmo e o que a maioria acaba tendo que fazer mate seus queridinhos mate seus queridinhos mesmo que isso arrase seu cora ozinho egoc ntrico de escriba mate seus queridinhos Quando era adolescente e enviava hist rias para revistas como Fantasy and Science Fiction e Ellery Queens Mystery Magazine eu me acostumei a receber aquele tipo de carta de rejei o que come a com Prezado colaborador que poderia muito bem ser Prezado idiota e assim aprendi a saborear qualquer palavra minimamente pessoal que viesse naquelas respostas impressas Eram poucas e espa adas mas quando vinham sempre iluminavam meu dia e me faziam sorrir No final do meu ltimo ano na Lisbon High ou seja 1966 recebi um coment rio manuscrito que mudou para semp
149. deia do poss vel final mas nunca pedi a um grupo de personagens que fizessem as coisas do meu jeito Pelo contr rio quero que fa am as coisas do jeito deles Algumas vezes o final o que visualizei Na maioria dos casos por m algo que eu jamais esperava Para um autor de suspense isso algo fant stico N o sou no fim das contas apenas o criador do romance sou tamb m o primeiro leitor E se eu n o sou capaz de adivinhar com exatid o como a situa o vai se desenrolar mesmo com meu conhecimento antecipado dos eventos tenho certeza de que consigo manter o leitor em um estado de leitura ansiosa E por que se preocupar com o final Para que ser t o controlador Mais cedo ou mais tarde todas as hist rias chegam a algum lugar No in cio da d cada de 1980 minha mulher e eu fomos a Londres em uma viagem de lazer e de neg cios Dormi no avi o e tive um sonho sobre um escritor popular podia ou n o ser eu mas Deus sabe que n o era James Caan que caiu nas garras de uma f psic tica que morava em uma fazenda l nos confins do fim do mundo A f era uma mulher isolada pela crescente paranoia Ela criava alguns bichos no est bulo inclusive uma porca de estima o chamada Misery A porca tinha o nome da protagonista dos populares romances hist rico er ticos do escritor Ao acordar a lembran a mais n tida do sonho foi algo que a mulher disse ao escritor que estava com a perna quebrada e era mantido prisioneiro no quarto dos
150. del rios e alucina es causadas pelo soro com morfina e hidromorfona lembro me de vozes ecoando e m os que se aproximam para umedecer meus l bios com cotonetes com sabor de hortel A maior parte do tempo por m s escurid o 3 A estimativa que Bryan Smith fez de meus ferimentos acabou se mostrando conservadora A parte inferior da minha perna estava quebrada em nove lugares o cirurgi o ortop dico que a reconstituiu o formid vel David Brown disse que a regi o abaixo do meu joelho direito foi reduzida a v rios fragmentos dentro de uma meia A extens o dos ferimentos na parte inferior da perna exigiu duas incis es profundas chamadas de fasciatomias medial e lateral para liberar a press o causada pela t bia esfacelada e tamb m para liberar o fluxo sangu neo na rea Sem as fasciatomias ou se elas demorassem a acontecer provavelmente teria sido necess rio amputar a perna O pr prio joelho direito estava partido quase ao meio o termo t cnico para a les o fratura intra articular cominutiva da t bia Tamb m sofri uma fratura acetabular no quadril direito um deslocamento grave em outras palavras e uma fratura exposta da regi o intertrocant rica do f mur direito Minha coluna sofreu fissuras em oito lugares Quatro costelas se quebraram Minha clavicula ficou inteira mas a carne que a recobria foi toda rasgada A lacera o em meu couro cabeludo precisou de vinte a trinta pontos Pois
151. desconhecidos Ao comparar duas coisas que aparentemente n o t m qualquer rela o entre si um bar e uma caverna um espelho e uma miragem s vezes conseguimos ver algo velho de forma nova e v vida Mesmo que o resultado seja clareza em vez de beleza acho que o escritor e o leitor est o participando juntos de uma esp cie de milagre Bom talvez eu esteja for ando um pouco a barra mas sim nisso que acredito Quando uma met fora ou s mile n o funciona o resultado pode ser tanto engra ado quanto embara oso N o faz muito tempo li a frase abaixo em um romance que prefiro n o nomear Ele se sentou impass vel ao lado do cad ver esperando pelo m dico t o pacientemente quanto um homem que espera por um sandu che de peru Se existe alguma conex o esclarecedora aqui eu n o consegui fazer Como resultado fechei o livro sem ler mais nada Se um escritor sabe o que est fazendo eu sigo com ele Se n o souber Bem estou na casa dos cinquenta agora e ainda h muitos livros por a N o tenho tempo a perder com os mal escritos A met fora zen apenas uma das arapucas das figuras de linguagem A mais comum e de novo cair nesta armadilha geralmente significa falta de leitura o uso de met foras s miles e imagens clich s Ele correu como um louco ela era linda como um dia de ver o o cara era um bilhete premiado Bob lutou como um tigre n o me fa a perder meu tempo
152. do consequ ncia sempre escrevi por paix o Pela alegria sincera que a escrita me d E se voc consegue escrever porque sente alegria vai escrever para sempre Houve per odos em que escrever foi um pouco como um ato de f como uma cusparada no olho do desespero A segunda metade deste livro foi escrita com esse esp rito Eu a vomitei como costumava dizer quando crian a escrita n o a vida mas acho que algumas vezes pode ser um caminho de volta a ela Foi isso que descobri no ver o de 1999 quando um homem dirigindo um furg o azul quase me matou 15 Tradicionalmente as musas s o mulheres mas a minha um cara Tenho que conviver com isso infelizmente 16 Existem muitas hist rias deliciosas sobre Joyce A minha preferida esta quando a vis o come ou a falhar ele come ou a usar um uniforme de leiteiro enquanto escrevia Segundo se diz Joyce acreditava que a roupa recebia a luz do sol e a refletia na p gina AZ Kirby McCauley meu primeiro agente de verdade costumava citar uma frase do escritor de fic o cient fica Alfred Bester Tiger Tiger O homem demolido sobre o assunto O livro quem manda costumava dizer Alfie em um tom de assunto encerrado 18 Dick em ingl s g ria para p nis N E 12 Embora escuro como uma caverna n o seja t o instigante sem d vida algo que j ouvimos imagem na verdade meio pregui osa n o chega a ser um clich mas chega pe
153. do E se voc precisa fazer pesquisa porque algumas partes de sua hist ria tratam de coisas sobre as quais voc sabe muito pouco ou nada lembre se sempre de que o pano de fundo dos acontecimentos l que a pesquisa deve ficar t o no fundo quanto poss vel misturada ao m ximo no contexto Voc pode adorar o que aprendeu sobre bact rias comedoras de carne o sistema de esgotos de Nova York ou o potencial de QI de filhotes de Collie mas seus leitores com certeza estar o mais interessados nos personagens e na hist ria Exce es regra Claro elas sempre existem n o mesmo H muitos escritores bem sucedidos Arthur Hailey e James Michener s o os primeiros que me v m mente cujos romances s o profundamente embasados em fatos e pesquisas Os livros de Hailey s o manuais maldisfar ados sobre como as coisas funcionam bancos aeroportos hot is e os de Michener s o uma combina o de registros de viagens aulas de geografia e textos de hist ria Outros escritores populares como Tom Clancy e Patricia Cornwell s o mais voltados para a hist ria mas ainda assim apresentam grandes blocos de informa es factuais por vezes dif ceis de digerir junto com o dramalh o s vezes penso que esses escritores se comunicam bem com um grande segmento da popula o leitora que enxerga a fic o como algo imoral como um mau gosto que s pode ser justificado com a frase Bem sim eu leio insira o nome do autor aq
154. do Se gente ferrenhamente s bria pode transar como se estivesse fora de si e pode estar de fato fora de si no momento de xtase por que os escritores n o podem ficar ensandecidos e ainda assim continuar s os Havia tamb m uma tica de trabalho no poema que me agradava pois sugeria que escrever poesia ou hist rias ou ensaios tinha tanto em comum com varrer o ch o quanto com momentos m sticos de revela o Existe um trecho na pe a 4 Raisin in the Sun Uma uva passa ao sol de Lorraine Hansberry em que um personagem grita Eu quero voar Eu quero tocar o sol e sua esposa responde Termine de comer o ovo primeiro Na discuss o ap s a leitura de Tabby ficou claro para mim que ela entendia o pr prio poema Ela sabia exatamente o que queria dizer e dissera quase tudo Ela conhecia Santo Agostinho tanto por ser cat lica quanto por ser estudante de hist ria A m e de Agostinho tamb m santa era crist o pai era pag o Antes de se converter Agostinho vivia atr s de dinheiro e mulheres Depois da convers o continuou a lutar contra os impulsos sexuais e conhecido pela prece do libertino que diz Deus dai me castidade mas n o agora Em seus escritos ele trata da luta do homem para abrir m o da cren a em si pela cren a em Deus E por vezes Agostinho se comparava a um urso Tabby tem um jeito de inclinar o queixo quando sorri que a faz parecer s bia e ao mesmo tempo arrasadoramente linda
155. do a menos flex vel Os puristas odeiam ouvir esta afirma o e a negar o at a morte mas verdade A l ngua nem sempre usa gravata e sapato social O objetivo da fic o n o a corre o gramatical mas fazer o leitor se sentir vontade e depois contar uma hist ria Fazer com que ele esque a sempre que poss vel que est lendo uma hist ria O par grafo de uma nica frase lembra mais a fala que a escrita e isso bom Escrever seduzir Falar bem parte da sedu o Se n o fosse por que tantos casais come ariam a noite jantando e a terminariam na cama Os outros usos desse tipo de par grafo incluem dire o de palco pequenos por m teis aprimoramentos de car ter e de cen rio e um momento vital de transi o Depois de reafirmar que sua hist ria verdadeira Big Tony passa s lembran as que tem de O Leary Como a fonte do di logo n o muda seria poss vel que a descri o de Tony sentando e acendendo o cigarro acontecesse no mesmo par grafo com o di logo sendo retomado em seguida mas o autor preferiu fazer diferente Como Big Tony toma um novo rumo o autor quebra o di logo em dois par grafos uma decis o tomada instantaneamente durante a escrita baseada inteiramente no ritmo que o autor ouve na pr pria cabe a O ritmo parte do arcabou o gen tico Kellerman escreve muitos fragmentos porque ouve muitos fragmentos mas tamb m o resultado de milhares de horas que o escritor passou es
156. do bairro de Methodist Corners e sobre quais parentes chegariam cidade no ver o O Regras de Dave tamb m trazia esportes cruzadinhas previs o do tempo O tempo tem andado bem seco mas Harold Davis fazendeiro da regi o disse que se n o tivermos pelo menos uma chuva boa em agosto ele vai sorrir e beijar um porco receitas um folhetim que eu escrevia e a se o Humor e Piadas do Dave que apresentava p rolas como esta Stan O que o castor disse para o carvalho F b AP3 Jan Foi bom roer voc 1 Beatnik Como fa o para chegar ao Carnegie Hall 2 Beatnik Ensaie cara ensaie muito Durante o primeiro ano do Regras a impress o era em roxo as edi es foram feitas em uma placa lisa de gelatina chamada hect grafo N o tardou para que meu irm o conclu sse que o hect grafo era uma chatice Muito lento para ele Mesmo quando era apenas um menino em bermudas Dave odiava quando algo o detia Sempre que Milt o namorado de nossa m e Mais fofo do que inteligente disse ela poucos meses depois de dispens lo ficava preso no tr nsito ou parava no sinal vermelho Dave se inclinava no banco traseiro do Buick do homem e gritava Passa por cima tio Milt Passa por cima J adolescente o fato de ter que esperar que o hect grafo esfriasse entre uma impress o de p gina e outra ao esfriar a impress o virava uma membrana roxa e opaca que se agarrava gelatina
157. do cerca de meia d zia deles na revista liter ria do campus vamos cham la de A pretens o trimestral Ele recebeu cartas de rejei o de v rias revistas tais como a Story a vers o feminina de Frank disse Eles me deviam uma carta e a The Georgia Review Durante esse per odo Frank assinou e leu cuidadosamente as revistas Writers Digest e The Writer concentrando se nos artigos sobre agentes e nas listas de ag ncias Ele marcou o nome de v rios profissionais que mencionaram interesses liter rios semelhantes aos seus Frank destacou os nomes de agentes que diziam gostar de hist rias com grandes conflitos uma maneira rebuscada de descrever hist rias de suspense Frank gosta de suspense e tamb m de hist rias policiais e sobrenaturais Um ano ap s sair da faculdade Frank recebe sua primeira carta de aceita o que dia feliz de uma revista de pequena circula o dispon vel em poucas bancas de jornais e principalmente para assinantes vamos cham la de Kingsnake O editor ofereceu 25 d lares e uma d zia de CCs c pias de contribuinte por A dama do caminh o um conto de Frank com 12 mil palavras Ele claro est exultante muito al m do Para so Frank liga para todos os parentes mesmo para os que detesta especialmente para os que detesta acho eu Vinte e cinco paus n o v o pagar o aluguel nem mesmo as compras da semana para Frank e a mulher mas legitimam a ambi o dele e i
158. do em ingl s E n o se esque a para alcan ar seus objetivos aqui n o preciso terminar a hist ria Estamos tratando de manuten o de motores n o de um passeio de carro 2 Cosell foi um dos mais conhecidos narradores e jornalistas esportivos dos Estados Unidos cuja carreira se estendeu de 1953 a 1993 N T E por fim Parte Il Uma lista de livros Quando dou palestras sobre escrita geralmente ofere o ao p blico uma vers o abreviada da se o Sobre a escrita que faz parte da segunda metade deste livro Isso inclui a Primeira Regra claro ler muito e escrever muito Na hora das perguntas e respostas sempre tem algu m que quer saber O que voc l Nunca dou uma resposta satisfat ria a essa pergunta porque ela causa uma sobrecarga nos circuitos do meu c rebro A vers o f cil tudo que vejo pela frente bastante verdadeira mas n o ajuda muito A lista a seguir apresenta uma resposta mais espec fica pergunta S o os melhores livros que li nos ltimos tr s ou quatro anos o per odo em que escrevi The Girl Who Loved Tom Gordon Hearts in Atlantis Sobre a escrita e textos ainda n o publicados como Buick 8 28 De uma forma ou de outra suspeito que todos os livros da lista influenciaram os que eu escrevi Enquanto examina a lista n o se esque a de que n o sou a Oprah e esse n o meu clube do livro Estes s o os que funcionaram para mim s isso Mas ler os que voc
159. doente ou algo assim sempre ia Eu estava no Ritz quando assisti a Married a Monster from Outer Space Eu me casei com um monstro do espa o com Tom Tryon Desafio do al m com Claire Bloom e Julie Harris Os anjos selvagens com Peter Fonda e Nancy Sinatra Vi Olivia de Havilland arrancar os olhos de James Caan com facas improvisadas em 4 dama enjaulada vi Joseph Cotten voltar da terra dos mortos em Com a maldade na alma e fiquei esperando com a respira o suspensa e cheio de tes o para ver se Allison Hayes cresceria a ponto de ficar sem roupa em O ataque da mulher de 15 metros No Ritz as melhores coisas da vida estavam m o ou poderiam estar para quem se sentasse na terceira fila prestasse muita aten o e n o piscasse na hora errada Chris e eu gost vamos de praticamente todos os filmes de terror mas nossos favoritos eram os da American International Films a maioria dirigida por Roger Corman com t tulos copiados de Edgar Allan Poe Eu n o diria baseados na obra de Edgar Allan Poe porque havia muito pouco das verdadeiras hist rias e poesias de Poe naqueles filmes O corvo foi filmado como com dia s rio E ainda assim os melhores de todos O castelo assombrado O verme vencedor e orgia da morte eram alucinantemente sinistros o que os tornava especiais Chris e eu criamos um nome para esse tipo de filme que os colocava em um g nero s deles Havia faroestes havia filmes rom nticos e filmes de gu
160. dois filhos era demais para dois universit rios que trabalhavam um em uma lavanderia e outro no turno da noite da cafeteria Dunkin Donuts A nica vantagem que t nhamos era o livre acesso a revistas como Dude Cavalier Adam e Swank que meu tio Oren chamava de livros de peitos Em 1972 as revistas mostravam bem mais que seios desnudos e a fic o tinha cada vez menos espa o mesmo assim tive sorte e consegui pegar a ltima onda Eu escrevia depois do trabalho e s vezes no per odo em que moramos na rua Grove que ficava perto da New Franklin um pouco durante a hora do almo o tamb m Imagino que isso pare a quase imposs vel de fazer mas para mim n o era eu estava me divertindo Aquelas hist rias por mais macabras que fossem serviam como breves fugas do sr Brooks o chefe e de Harry o gerente Harry tinha ganchos no lugar das m os por causa de uma queda em uma calandra durante a Segunda Guerra Mundial ele estava limpando as vigas que ficavam acima da m quina quando se desequilibrou e caiu Comediante nato ele costumava entrar escondido no banheiro para jogar gua fria em um dos ganchos e gua quente no outro Depois se aproximava sorrateiramente de quem estivesse carregando a m quina com roupas e colava os ganchos na nuca do desavisado Eu e Rocky pass vamos bastante tempo especulando como Harry cumpria certos rituais de limpeza no banheiro Bom disse Rocky certo dia enquanto beb amos na hora do
161. e Pouco a pouco consegui reencontrar o ritmo e depois reencontrei a alegria Voltei para minha fam lia com gratid o e para meu trabalho com al vio como quem volta a um chal de ver o depois de um longo inverno conferindo primeiro para saber se nada foi sido roubado ou quebrado durante a esta o fria Nada se perdeu Estava tudo l tudo intacto Quando a tubula o descongelou e a eletricidade foi religada tudo funcionou perfeitamente 38 A ltima coisa sobre a qual quero falar nesta parte minha mesa Por anos sonhei com uma pe a de carvalho maci o que dominasse uma sala nada de mesa pequena na lavanderia closet de um trailer nada de espa os apertados em uma casa alugada Em 1981 consegui a mesa que eu queria e a coloquei no meio de um escrit rio espa oso com claraboia um est bulo convertido em loft nos fundos da casa Durante seis anos eu me sentei quela mesa b bado ou fora de mim como o capit o de um navio comandando uma viagem para lugar algum Depois de um ano ou dois s brio eu me livrei daquela monstruosidade e montei uma sala de estar onde a mesa ficava antes escolhendo os m veis e um belo tapete turco com a ajuda de minha mulher No in cio da d cada de 1990 antes de sa rem para o mundo meus filhos costumavam aparecer noite para assistir a um jogo de basquete um filme ou comer pizza Eles geralmente deixavam uma montanha de migalhas quando iam embora mas eu n o me importava Eles vinham pa
162. e puder e n o esque a que usar adv rbios humano mas escrever disse ele ou disse ela divino 4 Retire a parte de cima de sua caixa de ferramentas seu vocabul rio e tudo que envolva gram tica Logo abaixo est o os elementos de estilo que j mencionamos Strunk e White oferecem as melhores t cnicas e as melhores regras que voc poderia desejar descrevendo as de maneira simples e clara Elas s o expostas com um rigor revigorante come ando pela regra de forma o de possessivos no ingl s sempre se deve adicionar o s mesmo quando a palavra que est sendo modificada acaba em s escreva sempre Thomas s bike a bicicleta de Thomas e nunca Thomas bike Eles falam tamb m sobre o melhor lugar para se colocarem as partes mais importantes de uma frase Eles dizem que o mais importante deve vir no fim e todos t m direito a concordar ou n o mas eu duvido que Com um martelo ele matou Frank possa algum dia substituir Ele matou Frank com um martelo Antes de deixar para tr s os elementos b sicos de forma e estilo precisamos refletir por um instante sobre o par grafo a forma de organiza o que vem em seguida frase Para essa finalidade pegue um romance de prefer ncia um que voc n o tenha lido de sua estante as coisas que estou dizendo se aplicam maioria das prosas mas como sou um escritor de fic o nela que costumo pensar quando reflito sobre a escrita A
163. e Deus Eu nunca tinha visto aquele olhar antes n o direcionado a mim pelo menos e adorei Ela perguntou se eu tinha criado a hist ria sozinho e fui obrigado a admitir que tinha copiado a maior parte de uma revista em quadrinhos Minha m e pareceu desapontada e aquilo drenou grande parte da minha alegria Por fim ela me devolveu o caderno Escreva uma hist ria sua Stevie disse ela Essas revistas do Combat Casey s o um lixo ele est sempre quebrando os dentes de algu m Aposto que voc consegue fazer melhor Escreva uma hist ria sua 8 Eu me lembro do imenso sentimento de possibilidades ao pensar na ideia como se eu tivesse sido levado a um enorme pr dio cheio de portas fechadas e tivesse autoriza o para abrir as que eu quisesse Havia mais portas do que algu m jamais conseguiria abrir ao longo da vida pensei e ainda penso Acabei escrevendo uma hist ria sobre quatro animais m gicos que andavam por a em um carro velho ajudando crian as O l der era um grande coelho branco chamado sr Rabbit Trick que tamb m era o motorista A hist ria tinha quatro p ginas laboriosamente preenchidas a l pis At onde me lembro ningu m naquelas p ginas pulou do teto do Hotel Graymore Quando terminei entreguei as folhas para minha m e que se sentou na sala de estar botou a bolsa no ch o e leu tudo de uma s vez Dava para ver que ela gostara os risos surgiram em todos os momentos certos mas eu n
164. e adolescente e telecinesia se uniram e eu tive uma ideia N o deixei meu posto na Washex n 2 nem sa correndo pela lavanderia agitando os bra os e gritando Eureca J tivera muitas ideias t o boas quanto essa e outras ainda melhores Ainda assim achei que tinha o in cio de uma boa hist ria para a Cavalier e em algum lugar de minha cabe a a esperan a de chegar Playboy acenava discretamente A Playboy pagava at 2 mil d lares por contos de fic o Duas mil pratas dariam para comprar uma nova transmiss o para o Buick e ainda ter amos dinheiro de sobra para fazer compras A hist ria ainda ficou cozinhando por um tempo ganhando corpo naquele lugar que ainda n o consciente mas tamb m n o exatamente inconsciente Comecei minha carreira de professor antes de ter chance de me sentar e burilar a ideia Escrevi tr s p ginas em espa o simples com a primeira vers o e depois desgostoso as amassei e joguei fora Eu via quatro problemas no que tinha escrito O primeiro e menos importante era o fato de que a hist ria n o mexia comigo emocionalmente falando O segundo ligeiramente mais importante era que eu n o gostava muito da personagem principal Carrie White parecia obtusa e passiva uma v tima pronta As outras meninas jogavam absorventes nela gritando Enfia Enfia e eu n o dava a m nima O terceiro problema ainda mais importante era que eu n o estava me sentindo confort vel com o cen rio nem com
165. e conversar e de ouvir os outros principalmente de ouvir percebendo os sotaques o ritmo os dialetos e as g rias de v rios grupos Solit rios como Lovecraft costumam escrever di logos mal ou com o cuidado de algu m que est escrevendo o texto em um idioma em que n o nativo N o sei se o romancista contempor neo John Katzenbach solit rio ou n o mas seu romance Harts War A guerra de Hart cont m di logos inesquec veis de t o ruins Katzenbach o tipo de romancista que deixa os professores de escrita criativa malucos um maravilhoso contador de hist rias cuja arte desfigurada pela autorrepeti o um problema cur vel e um ouvido desastroso para a fala provavelmente um problema incur vel Harts War uma hist ria de mist rio e assassinato que se passa em um campo de concentra o durante a Segunda Guerra Mundial uma boa ideia mas problem tica nas m os de Katzenbach assim que a hist ria come a a pegar fogo Aqui temos o tenente coronel Phillip Pryce conversando com os amigos logo antes de os alem es respons veis pelo campo Stalag Luft 13 o levarem embora n o para ser repatriado como afirmam mas provavelmente para ser assassinado na floresta Pryce segurou Tommy mais uma vez e sussurrou Tommy isso n o coincid ncia Nada o que parece Procure saber mais Salve o rapaz Salve o Pois agora mais do que nunca eu acredito que Scott inocente Voc s est o por conta pr pria agora garoto
166. e dec ncia O mais patife de todos os patifes Um velhaco vermiforme e vil com um brilho serpentino no olho solit rio Um turco orgulhoso que penetra nos v os escuros da carne como um mio peniano Um covarde guloso em busca de sombras fendas escorregadias cheiro de bacalhau e sono Embora n o seja um di logo eu gostaria de reproduzir outro trecho de Dooling aqui porque exatamente o oposto do anterior e mostra que se pode ser admiravelmente expl cito sem recorrer a palavr es ou vulgaridades Ela se sentou no colo dele e se preparou para fazer as conex es de porta necess rias adaptadores macho e f mea preparados entrada e sa da habilitadas servidor cliente mestrelescravo Apenas um casal de m quinas biol gicas de ltima gera o se preparando pam encaixar o cabo do modem e acessar os processadores frontais um do outro Se eu fosse um sujeito com o estilo de Henry James ou Jane Austen e escrevesse sobre janotas ou caras espertos em faculdades eu quase nunca escreveria palavr es ou frases de baixo cal o prov vel que eu nunca tivesse um livro banido das bibliotecas escolares dos Estados Unidos ou recebesse a carta de um sujeito prestativo e fundamentalista que se deu ao trabalho de me informar que eu iria queimar no inferno onde todos os milh es de d lares que ganhei n o dariam para comprar nem um m sero copo d gua Eu no entanto n o cresci em meio a gente assim Cresci na classe m dia baixa americana e sobr
167. e depois embalou o prego magnetizado em espirais de fio desencapado Depois sentado no ch o da cozinha de nosso apartamento ele me entregou o Eletroima Superlegal e me mandou fazer minha parte plugando o invento na tomada Hesitei mere o pelo menos esse pequeno cr dito mas por fim n o pude resistir ao entusiasmo man aco de Dave Liguei o m N o deu para notar qualquer magnetismo mas a engenhoca explodiu todas as l mpadas e todos os aparelhos el tricos do apartamento todas as l mpadas e todos os aparelhos el tricos do pr dio e todas as l mpadas e todos os aparelhos el tricos do pr dio vizinho em cujo apartamento t rreo morava a garota dos meus sonhos O transformador el trico que ficava em frente ao pr dio pipocou e alguns policiais apareceram Dave e eu passamos uma hora de ang stia observando os acontecimentos da janela do quarto de minha m e a nica que dava para a rua todas as outras tinham uma tima vista do jardim sem grama atr s do pr dio todo coberto de coc em que o nico ser vivo era um cachorro sarnento chamado Roop Roop Quando os policiais foram embora chegou o caminh o da companhia el trica Um homem que usava sapatos com sola de pregos escalou o poste localizado entre os dois pr dios para examinar o transformador Em outras ocasi es aquilo teria prendido totalmente nossa aten o mas n o naquele dia Naquele dia n s s consegu amos pensar se nossa m e iria ao reformat rio pa
168. e essas pessoas que consigo escrever com honestidade e propriedade Isso significa que elas falam muito mais shit merda do que sugar droga quando martelam o dedo mas estou tranquilo em rela o a isso Na verdade isso nunca foi um problema para mim Quando recebo uma Daquelas Cartas ou leio outra cr tica que me acusa de ser um sujeito vulgar e pouco culto o que em certa medida sou mesmo me consolo com as palavras de Frank Norris autor de obras de realismo social do in cio do s culo XX como The Octupus O polvo The Pit O preg o e McTeague uma trilogia excelente de fato Norris escreveu sobre homens da classe trabalhadora em ranchos f bricas ou em trabalhos bra ais na cidade McTeague o personagem principal da obra prima de Norris um dentista sem educa o formal Os livros de Norris provocaram muita indigna o p blica ao que ele reagiu com tranquilidade e desd m O que me interessa a opini o deles Eu nunca baixei a cabe a Falo a verdade Algumas pessoas n o querem ouvir a verdade mas isso n o problema seu O problema seria querer ser escritor sem querer ser sincero fala seja feia ou bonita um ndice de car ter tamb m pode ser uma lufada de ar puro em um c modo que algumas pessoas preferem manter fechado No fim das contas n o importa se os di logos de sua hist ria s o sagrados ou profanos o que importa saber como eles soam na p gina e no ouvido Se quiser que soem verdadeiros
169. e existem muitas luzes brilhantes e imagens claras Um lugar que constru para mim ao longo dos anos Daqui se v ao longe Sei que meio estranho e contradit rio que um lugar de onde se v ao longe seja um por o mas assim que funciona comigo Se voc quiser construir seu pr prio lugar de onde se v ao longe pode coloc lo no alto de uma rvore no telhado do Empire State ou beira do Grand Canyon O trenzinho vermelho seu para puxar como diz Robert McCammon em um de seus romances Este livro est programado para ser publicado nos Estados Unidos no segundo semestre de 2000 8 Se as coisas funcionarem como previsto voc est em algum ponto mais distante na linha do tempo Muito provavelmente em seu pr prio lugar de onde se v ao longe aquele para onde voc vai quando quer receber mensagens telep ticas N o que voc tenha que estar l livros s o uma m gica singularmente port til Costumo ouvir um livro quando estou no carro sempre a vers o completa considero audiolivros resumidos o fim da picada e levo outro comigo aonde quer que v A gente nunca sabe quando vai precisar de uma v lvula de escape filas quilom tricas em cabines de ped gio os 15 minutos que tem que perder no corredor de alguma faculdade enquanto espera o orientador que est atendendo a algum maluco que amea ou cometer suic dio porque est reprovando em Pataf sica Transcendental B sica sair para enfim conseguir a assinatura dele em um ped
170. e murr ssimo depois de ficarem b bados com vinho barato e amanhecerem com ressaca de vinho barato ele e a mulher ainda sentem MUIT SSIMO MAIS mas a decep o n o o impede de colocar a hist ria quase publicada em circula o novamente Neste momento s o cerca de meia d zia rodando pelas revistas Ele mant m um registro cuidadoso de onde est o e de que tipo de resposta obteve de cada uma Tamb m monitora as revistas onde estabeleceu algum tipo de contato pessoal mesmo que tal contato n o passe de duas frases manuscritas e uma mancha de caf Um m s depois da m not cia vinda da Lodgepine Review Frank recebe outra muito boa na forma da carta de um homem de quem nunca ouviu falar O sujeito editor de uma pequena revista rec m lan ada chamada Jackdaw Ele est solicitando hist rias para a primeira edi o e um velho amigo de escola ali s editor da rec m falecida Lodgepine Review mencionou o conto cancelado de Frank Se ele ainda n o tiver conseguido quem a publique o editor da Jackdaw gostaria de dar uma olhada N o pode prometer nada mas Frank n o precisa de promessas como quase todos os escritores iniciantes ele s precisa de um pouco de encorajamento e um suprimento inesgot vel de pizza Ele envia a hist ria com uma carta de agradecimento e outra para o ex editor da Lodgepine claro Seis meses depois Dois tipos de homem aparece na primeira edi o da Jackdaw A Rede dos Parceiros que c
171. e veja como fica no papel Se funcionar deixe ali Se n o e para mim essa a parece muito ruim como Spiro Agnew cruzado com Robert Jordan bem a tecla DELETE est no seu teclado para isso mesmo Voc n o precisa ser tacanho e conservador e tamb m n o obrigado a escrever prosa experimental e n o linear porque o Village Voice ou o New York Review of Books diz que o romance est morto O tradicional e o moderno est o a para voc usar Cara escreva de cabe a para baixo se quiser ou fa a desenhos pictogr ficos com giz de cera A forma n o importa chega uma hora em que voc precisa julgar seu texto e avaliar se escreveu bem Acho que uma hist ria ou romance s deve cruzar a porta de seu escrit rio se voc estiver convicto de que ela tem um m nimo de apelo para o leitor N o d para agradar a todos os leitores o tempo todo ali s n o d para agradar nem a alguns leitores o tempo todo mas preciso se esfor ar para agradar pelo menos alguns dos leitores por algum tempo Acho que foi William Shakespeare quem disse isso E agora que eu j agitei a bandeira da cautela satisfazendo todas as diretrizes da OSHA MENSAZ NASA e do Sindicato dos Escritores quero reiterar que as cartas est o todas na mesa para que voc pegue as que quiser N o uma sensa o inebriante Para mim Experimente qualquer coisa que quiser n o importa se parece normal demais ou ultrajante demais Se funcionar timo Se n o jogue fora
172. ecause porque tr s vezes owner senhorio duas e hated detestavam duas N o existe palavra de mais de duas s labas na frase A estrutura complexa o vocabul rio n o est muito distante daquele usado em antigas hist rias infantis As vinhas da ira obviamente um grande romance Acredito que Meridiano de sangue seja outro embora haja grandes trechos do livro que n o entendo completamente E qual o problema disso Tamb m n o consigo decifrar as letras de muitas m sicas que adoro Tamb m t m palavras que voc nunca vai encontrar no dicion rio mas que fazem parte do vocabul rio Veja s Egggh whaddaya Whaddaya want from me Iiiih quequi Quequi que c quer que eu fa a Here come Hymie La vem o Hymiellp Unnh Unnnh Unnnhh Chew my willie Yo Honor Chupa minha caceta otoridade Yeggghhh fuck you too man Iiiih vai se fud c tamb m man Tom Wolfe A fogueim das vaidades tradu o livre Esse ltimo uma transcri o fon tica do vocabul rio de rua Poucos escritores t m a capacidade de Wolfe para traduzir este tipo de fala para a p gina Elmore Leonard outro que consegue fazer isso Algumas palavras do rap de rua acabam chegando ao dicion rio mas por seguran a s depois de ca rem em desuso E duvido que voc algum dia v encontrar palavras como Yegsehhhh em um dicion rio tradicional Coloque seu vocabul r
173. ecer sem sentido quando algu m encontra algo em que seja talentoso a pessoa faz aquilo seja o que for at os dedos sangrarem ou os olhos quase ca rem das rbitas Mesmo quando n o h ningu m ouvindo ou lendo ou assistindo todo esfor o digno de aplausos porque a pessoa como criadora est feliz Quem sabe at em xtase Isso vale para a leitura e a escrita como vale para tocar um instrumento musical marcar um gol ou correr o revezamento 4x400 O programa exigente de leitura e escrita que defendo quatro a seis horas por dia todos os dias n o vai parecer exaustivo se voc realmente gostar de fazer e tiver aptid o para as duas coisas na verdade pode ser que voc j o siga Se voc acha que precisa de permiss o para se dedicar a toda leitura e toda escrita que seu cora ozinho deseja considere se autorizado por este que vos fala A verdadeira import ncia da leitura criar intimidade e facilidade com o processo de escrita ou seja chegar ao pa s dos escritores com os documentos e as identifica es em ordem A leitura constante vai colocar voc em um lugar ou estado mental se preferir em que poss vel escrever com paix o e sem inibi o Ela tamb m oferece um conhecimento crescente sobre o que j foi feito e ainda est por fazer o que velho e o que novo o que funciona e o que est morrendo ou j morreu sobre a p gina Quanto mais voc ler menos estar propenso a fazer papel de bobo qu
174. eem seu trabalho e tamb m para enriquecer sua vida A escrita serve para despertar melhorar e superar Para ficar feliz ok Ficar feliz Parte deste livro talvez grande demais trata de como aprendi a escrever Outra parte consider vel trata de como escrever melhor O restante talvez a melhor parte uma carta de autoriza o voc pode voc deve e se tomar coragem para come ar voc vai Escrever m gico a gua da vida como qualquer outra arte criativa A gua de gra a Ent o beba Beba at ficar saciado 20 Pouco antes da primeira publica o deste livro a possibilidade de Bryan Smith dirigir qualquer ve culo se acabou Em setembro de 2000 ele foi encontrado morto no pequeno trailer em que morava no oeste do Maine Smith tinha 43 anos Enquanto escrevo este texto a causa da morte permanece indeterminada E por fim Parte Porta fechada porta aberta Anteriormente neste livro ao escrever sobre minha breve carreira como rep rter esportivo do Lisbon Weekly Enterprise eu era na verdade toda a se o de esportes um Howard Cosell dos pobres dei um exemplo de como funciona o processo de edi o O exemplo foi breve como tinha que ser e tratava de n o fic o O trecho a seguir de fic o Est completamente cru o tipo de coisa que escrevo livremente com a porta fechada a hist ria nua usando nada al m de cueca e meias Sugiro que voc a leia detidamente antes de seguir par
175. eira provavelmente pensando que aquele era o lado dos empregados cruzou as pernas e depois se inclinou por sobre sua proeminente e bem vestida barriga pam alcan ar a caixa umidificadora Quer um charuto sr Enslin N o s o cubanos mas s o muito bons N o obrigado Eu n o fumo Os olhos de Ostermeyer se voltaram para o cigarro atr s da orelha direita de Mike apoiado ali em um estilo elegante da mesma maneira como um mordaz rep rter de Nova York dos velhos tempos teria apoiado o pr ximo fumo logo abaixo do Fedora com a etiqueta IMPRENSA presa na fita O cigarro se tornara uma parte t o indissoci vel de Mike que ele por um momento n o conseguiu entender para o que Ostermeyer estava olhando Depois percebeu riu tirou o cigarro da orelha olhou para ele e em seguida se voltou para Ostermeyer N o fumo um cigarro h nove anos disse ele Eu tive um irm o mais velho que morreu de c ncer de pulm o Parei logo depois que ele morreu O cigarro atr s da orelha Ele deu de ombros parte afeta o parte supersti o eu acho Um pouco como aqueles que a gente v na mesa ou na parede dos outros em uma caixinha com um aviso QUEBRE O VIDRO EM CASO DE EMERG NCIA Ex costumo dizer que vou acender um em caso de guerra nuclear O 1408 um quarto para fumantes sr Ostermeyer Para o caso de come ar uma guerra nuclear Na verdade Otimo disse Mike ironicamente menos uma preocupa
176. elementos de estilo e depois colocar os instrumentos certos na terceira bandeja de sua caixa de ferramentas A segunda que embora seja imposs vel transformar um escritor ruim em competente e embora seja igualmente imposs vel transformar um escritor bom em um incr vel sim poss vel com muito trabalho duro dedica o e conselhos oportunos transformar um escritor meramente competente em um bom escritor Temo que essa ideia seja rejeitada por in meros cr ticos e tamb m por v rios professores de escrita criativa Muitos deles s o liberais na pol tica mas verdadeiras ostras nos campos que escolheram Os homens e mulheres que saem s ruas para protestar contra a exclus o de afroamericanos ou americanos nativos posso imaginar o que o sr Strunk faria com estes termos politicamente corretos por m canhestros costumam ser os mesmos que dizem nas aulas que a habilidade para escrever fixa e imut vel Uma vez trabalhador bra al sempre trabalhador bra al Mesmo que um escritor caia nas gra as de um ou dois cr ticos influentes ele sempre carrega a reputa o inicial consigo como uma respeit vel mulher casada que teve uma adolesc ncia rebelde Algumas pessoas nunca esquecem simples assim e boa parte da cr tica liter ria serve apenas para refor ar um sistema de castas t o antigo quanto o esnobismo intelectual que o alimenta Raymond Chandler at pode ser reconhecido agora como uma figura importante da literatura americana do
177. ente de bab s durante o per odo em que estivemos em Wisconsin N o sei se elas largavam o emprego porque David e eu d vamos muito trabalho porque encontravam lugares que pagavam melhor ou porque o n vel de cobran a de minha m e era alto demais s sei que foram v rias nica que me lembro vagamente de Eula ou talvez Beulah Era adolescente enorme e ria muito Eula Beulah tinha um senso de humor maravilhoso percept vel at para um garoto de 4 anos como eu mas tamb m perigoso parecia haver uma explos o de viol ncia escondida atr s de cada manifesta o de alegria traduzida em tapinhas nas costas batidas de quadril e meneios de cabe a Quando vejo imagens de c meras escondidas mostrando bab s da vida real que de repente come am a molestar e bater em crian as sempre me lembro dos dias com Eula Beulah Ser que ela maltratava David tanto quanto a mim N o sei Ele n o aparece em nenhuma das cenas da minha mem ria Al m disso meu irm o estava menos exposto do que eu aos ventos perigosos do furac o Eula Beulah Aos 6 anos ele devia estar no primeiro ano da escola longe do alcance da artilharia durante a maior parte do tempo Era comum Eula Beulah estar ao telefone rindo com algu m e gesticular para que eu me aproximasse Ela me abra ava me fazia c cegas at que eu risse e depois ainda rindo me dava um cascudo t o forte que eu desabava Depois me fazia c cegas com os p s descal os at que n s dois r
178. ente pensei no assunto t o bem quanto pude entorpecido como estava e o que finalmente me fez tomar a decis o foi Annie Wilkes a enfermeira psicopata de Misery Annie era a coca na Annie era a bebida por isso decidi que estava cansado de ser o escritor de estima o dela Eu temia n o ser mais capaz de trabalhar se parasse de beber e de me drogar mas decidi de novo tanto quanto eu era capaz de decidir alguma coisa em meu estado mental atormentado e deprimido que trocaria a escrita pelo casamento e pela chance de ver meus filhos crescerem Se chegasse a esse ponto N o chegou claro A ideia de que criatividade e subst ncias que alteram a mente est o ligados um dos grandes mitos pop intelectuais do nosso tempo Os quatro escritores do s culo XX cujo trabalho em grande parte respons vel pelo mito s o provavelmente Hemingway Fitzgerald Sherwood Anderson e o poeta Dylan Thomas Eles formaram nossa vis o de um deserto existencial de l ngua inglesa onde as pessoas est o isoladas umas das outras e vivem em uma atmosfera de estrangulamento emocional e desespero Esses conceitos s o muito familiares para a maioria dos alco latras a rea o mais comum a eles o divertimento Escritores viciados n o passam de pessoas viciadas b bados e drogados comuns em outras palavras Qualquer defesa de drogas e lcool como necessidade para embotar sensibilidades mais refinadas n o passa de conversa autopiedosa para boi dor
179. er justo devo dizer que gosto muit ssimo dele Um livro que parece ter uma trama por base Saco de ossos na verdade outra situa o escritor vi vo em casa assombrada O pano de fundo de Saco de ossos satisfatoriamente g tico pelo menos eu acho que sim e muito complexo mas nenhum dos detalhes foi premeditado A hist ria do TR 90 e a hist ria sobre as verdadeiras inten es da falecida mulher de Mike Noonan no ltimo ver o da vida dela surgiram espontaneamente em outras palavras todos os detalhes eram partes do f ssil Uma situa o suficientemente robusta torna toda a quest o do enredo irrelevante o que acho timo Geralmente as situa es mais interessantes podem ser expressas como uma pergunta do tipo e se E se vampiros invadissem uma pequena cidade da Nova Inglaterra Salem E se um policial em uma cidade remota de Nevada fosse possu do e come asse a matar quem aparecesse pela frente Desespero E se uma faxineira inocentada de um assassinato que cometeu o do marido se tornasse suspeita de outro que n o cometeu o da patroa Eclipse total E se uma jovem m e e seu filho ficassem encurralados em um carro pifado por causa de um cachorro raivoso C o raivoso Todas essas situa es me ocorreram em algum momento no banho dirigindo durante minha caminhada di ria e acabaram transformadas em livros Nenhuma delas foi tramada n o houve sequer uma anota o feita em um peda
180. er o de 1997 US 15 mais exemplares Fuma a natalina Mystery Quarterly outono de 1997 US 35 Sem preparo Charlie paga caro Cemetery Dance janeiro fevereiro de 1998 US 50 mais exemplares Sessenta bisbilhoteiros Puckerbrush Review abril maio de 1998 exemplares Longa caminhada nesses bosques daqui Minnesota Review inverno de 1998 1999 US 70 mais exemplares Seria um prazer enviar lhe as hist rias bem como cerca de meia d zia de contos que est o em circula o para avalia o se houver interesse Estou particularmente orgulhoso de Longa caminhada nesses bosques daqui que conquistou o Pr mio Jovens Escritores de Minnesota A placa caiu bem na parede da sala de estar e o pr mio em dinheiro US 500 caiu muit ssimo bem em nossa conta durante a semana em que permaneceu nela sou casado h quatro anos Marjorie minha mulher e eu e somos professores em uma escola A raz o de estar procurando um agente agora o romance em que estou trabalhando uma hist ria de suspense sobre um homem preso por uma s rie de assassinatos ocorridos vinte anos antes na pequena cidade onde mora As primeiras oitenta p ginas est o muito bem encaminhadas e eu ficaria muito feliz em envi las ao senhor Se houver interesse em ver meu trabalho entre em contato por favor Enquanto isso obrigado pelo tempo dedicado a esta carta Atenciosamente Frank incluiu n mero de telefone e endere o e
181. erra e havia Filmes do Poe Vamos ao Ritz s bado tarde convidava Chris O que est passando perguntava eu Um filme de motocicletas e um Filme do Poe Eu claro estava dentro como mosca no mel Bruce Dern fora de si em uma Harley Davidson e Vincent Price fora de si em um castelo assombrado em frente ao mar bravio tinha algo melhor Com sorte ainda conseguir amos ver Hazel Court andando pra l e pra c em uma camisola decotada de renda De todos os Filmes do Poe o que mais mexia comigo e com Chris era 4 mans o do terror Escrito por Richard Matheson e filmado em widescreen e tecnicolor filmes de terror coloridos ainda eram raridade em 1961 quando esse foi lan ado A mans o do terror juntou um punhado de ingredientes g ticos comuns e os transformou em algo especial Deve ter sido o ltimo grande filme de terror filmado em est dio antes que George Romero fizesse de maneira independente o feroz A noite dos mortos vivos e mudasse tudo para sempre em alguns poucos casos para melhor na maioria deles para pior A melhor cena uma que nos deixou congelados na poltrona mostra John Kerr cavando uma parede do castelo e descobrindo o corpo da irm que obviamente tinha sido enterrada viva Nunca esqueci o close no cad ver filmado com filtro vermelho e lente distorcida que alongava o rosto em um profundo grito silencioso Na longa volta para casa naquela noite se as caronas demorassem a aparecer era prec
182. es escolhendo aquelas mais propensas a dar um bom retorno Se a coisa pudesse ser feita desta forma todos os romances publicados seriam best sellers e os enormes adiantamentos pagos a cerca de uma dezena de escritores renomados n o existiriam os editores gostariam disso Grisham Clancy Crichton e eu entre outros recebemos estas grandes quantias em dinheiro porque vendemos quantidades incomuns de livros para um p blico incomumente grande cr tica costuma inferir que n s temos acesso a algum tipo de vocabul rio m stico que outros e muitas vezes melhores escritores n o conseguem encontrar ou n o se dignam a usar Duvido que isso seja verdade Tamb m n o acredito quando alguns romancistas populares embora n o seja a nica estou pensando na finada Jacqueline Susann afirmam que seu sucesso se baseia em m rito liter rio ou seja que o p blico entende a verdadeira grandeza de uma maneira que a velha guarda liter ria envolta em conservadorismo e consumida pela inveja n o consegue uma ideia rid cula gerada pela vaidade e pela inseguran a Na maioria das vezes os leitores n o s o atra dos pelos m ritos liter rios de um romance eles querem uma boa hist ria para levar consigo no avi o algo que primeiro os fascine depois os impulsione e os mantenha virando as p ginas Isso acontece acredito quando eles reconhecem as pessoas que est o no livro seus comportamentos seu ambiente seu jeito de falar Qu
183. es levantou os olhos e viu algo em meu rosto Acho que pensou que eu estivesse aterrorizado Pelo contr rio eu estava tendo uma revela o Por que perguntei a mim mesmo os professores de ingl s n o faziam o mesmo Era como estar diante do boneco transparente que o Velho Diehl mantinha na mesa da sala de biologia aquele boneco em que se veem as partes internas do corpo humano Eu s tirei as partes ruins sabe explicou Gould No geral est muito bom Eu sei respondi querendo dizer as duas coisas que no geral estava bom ok pass vel e que ele s tinha tirado as partes ruins N o vou errar de novo Ele riu Se for assim voc nunca vai precisar trabalhar para ganhar a vida Basta fazer isso Preciso explicar alguma das marca es N o Quando voc escreve est contando uma hist ria para si mesmo disse ele Quando reescreve o mais importante cortar tudo o que n o faz parte da hist ria Gould disse outra coisa interessante no dia em que entreguei meus dois primeiros artigos escreva com a porta fechada reescreva com a porta aberta Em outras palavras voc come a escrevendo algo s seu mas depois o texto precisa ir para a rua Assim que voc descobre qual a hist ria e consegue cont la direito tanto quanto voc for capaz ela passa a pertencer a quem quiser ler Ou criticar Se voc tiver muita sorte a ideia minha n o de John Gould mas acredito que e
184. escrevo este livro a hist ria de Frank ainda est em desenvolvimento mas seu futuro parece brilhante At agora ele j publicou seis contos e um deles ganhou um pr mio de razo vel prest gio vamos chamar de Pr mio Jovens Escritores de Minnesota embora nenhuma das tr s partes que comp em Frank more em Minnesota O pr mio em dinheiro foi de 500 d lares at agora o maior pagamento que ele j recebeu por uma hist ria Frank come ou a trabalhar no romance e quando terminar um jovem agente de boa reputa o chamado Richard Chams tamb m um pseud nimo vai cuidar do livro Frank come ou a procurar a s rio por um agente no momento em que come ou a trabalhar a s rio no romance Eu n o queria dar o sangue na hora de escrever e depois n o ter a menor ideia de como fazer para vender o livro pronto contou Com base nas pesquisas que fez no Literary Market Place e nas listas de agentes da Writers Market Frank escreveu exatamente uma d zia de cartas uma igual outra com exce o da sauda o Eis o modelo 19 de junho de 1999 Caro Sou um jovem escritor de 28 anos em busca de um agente Encontrei seu nome em um artigo da Writer s Digest intitulado Agentes da nova onda e acho que nossos trabalhos podem se encaixar Publiquei seis hist rias desde que decidi me dedicar ao of cio S o elas A dama do caminh o Kingsnake inverno de 1996 US 25 mais exemplares Dois tipos de homem Jackdaw v
185. est o em busca do pr ximo escritor que venda muitos livros e gere muito dinheiro e isso n o significa apenas escritores jovens Helen Santmyer estava em um asilo quando publicou And Ladies of the Club E as damas do clube Frank McCourt era bem mais jovem quando publicou As cinzas de Angela mas estava longe de ser um garoto Quando ainda jovem comecei a publicar meus contos em revistas masculinas eu era bastante otimista sobre a possibilidade de ser publicado Sabia que tinha game como dizem os jogadores de basquete hoje em dia e tamb m sentia que o tempo estava do meu lado mais cedo ou mais tarde os autores de best sellers das d cadas de 1960 e 1970 ficariam senis ou morreriam abrindo caminho para iniciantes como eu Eu sabia que tinha mundos a conquistar al m das p ginas de revistas como Cavalier Gent e Juggs Eu queria que minhas hist rias encontrassem o nicho de mercado certo e isso significava contornar o fato de que as melhores revistas para publicar em termos de remunera o a Cosmopolitan por exemplo que publicava muitos contos poca n o liam trabalhos enviados sem solicita o A resposta me parecia era ter um agente Se meu trabalho fosse bom pensava eu de maneira um pouco ing nua mas n o totalmente il gica um agente resolveria meus problemas S fui descobrir muito mais tarde que nem todos os agentes s o bons mas os que s o t m muito mais a oferecer do que apenas conseguir que o editor de
186. estaurante diminuiria o ritmo da hist ria e talvez nos incomodasse tanto que rompesse o fio m gico que a boa fic o desenrola Em muitos casos quando um leitor deixa a hist ria de lado porque ela ficou chata o t dio se instaurou porque o escritor ficou encantado demais com seus poderes descritivos e perdeu de vista a prioridade que manter a bola rolando Se o leitor quiser saber mais sobre o Palm Too ele pode ir ao restaurante na pr xima vez em que estiver em Nova York ou pedir um folheto J gastei tinta o suficiente para indicar que o Palm Too ser um dos principais cen rios de minha hist ria Se n o for eu faria bem em tirar algumas linhas da descri o na pr xima revis o Eu n o poderia manter a descri o s por achar que est boa ela tem que estar boa se estou sendo pago para isso O que n o est o me pagando para fazer ser autoindulgente H trechos de descri o direta alguns poucos bebedores solit rios no balc o do bar e outros em que ela mais po tica O espelho ao fundo do bar capturava o brilho da rua e o refletia na penumbra como uma miragem no par grafo descritivo central sobre o restaurante Ambas s o boas mas eu gosto da coisa figurativa O uso da met fora e de outras figuras de linguagem uma das grandes del cias da fic o na escrita e na leitura tamb m Quando acerta o alvo uma met fora nos agrada tanto quanto encontrar um velho amigo em meio a uma multid o de
187. eyes I m sivas dae 6 6 my lucky Hawaiian Shirt We smiled Ts the one with the ghost repellent Q Olin es A He sighed a little round man in a dark cutaway coat and a neatly knotted tigy anda io Very good Mr Enslin Follow me The hotel manager had seemed tentative in the lobby depressed almost beaten In his oak pan eled office with the pictures of the hotel on the walls the Dolphin had opened in October of 1910 Mike might publish without the benefit of reviews in the pa pri the big city papers but he did his research Ostermreyer seemed to gain assur ance again There was a Persian carpet on the floor Two standing lamps cast a mild yellow light A desk lamp with a green lozenge shaped shade stood on the desk next to a humidor And next to the humi dor were Mike Enslin s last three books Paperback editions of course there had been no hardbacks Mine host has been doing a lit tle research of his own Mike thought e Mike sat down in eneofthe chairs in front of the Olin desk He expected Ostermeyes to sit behind the dak where he comd deam_ authority from but Le Ostermeyer surprised him He feeb chet a A beside Mite l pi SA q his legs then leaned for ward over his tidy little belly to touch the humidor Cigar Mr Bolia NEN ee hey Te quite gooeda No thank you I don t smoke Olin s stermeyer s eyes shifted to the cigarette behind
188. fizera seguir em frente uma explos o em vez de uma peste mas ainda assim um corte r pido e seco naquele n cego Eu mandaria os sobreviventes para o oeste de Boulder rumo a Las Vegas em busca de reden o iriam todos juntos de uma vez s sem suprimentos nem planos como personagens b blicos seguindo uma vis o ou os des gnios de Deus Em Las Vegas eles encontrariam Randall Flagg e tanto mocinhos quanto bandidos seriam for ados a escolher um lado Em um momento eu n o tinha nada no instante seguinte tinha tudo Se tem uma coisa que eu adoro na escrita este instante s bito de percep o quando voc enxerga como tudo se conecta Eu j ouvi chamarem isso de pensar al m da curva e verdade ouvi chamarem de sobrel gica e isso tamb m N o importa o nome o fato que escrevi uma ou duas p ginas de anota es em frenesi de excita o e passei os dois ou tr s dias seguintes dissecando a solu o na cabe a procurando por falhas e furos e tamb m trabalhando no fluxo narrativo que trazia dois personagens secund rios plantando uma bomba no arm rio de um personagem importante mais por achar que era bom demais para ser verdade Bom demais ou n o eu sabia que era verdade no momento da revela o a bomba no arm rio de Nick Andros resolveria todos os meus problemas narrativos E assim foi O restante do livro seguiu seu curso em nove semanas Mais tarde quando a primeira vers o de A dan a da mor
189. fundos Para n o esquecer escrevi a frase em um guardanapo e o coloquei no bolso Acabei perdendo o guardanapo mas consigo me lembrar de quase tudo que anotei Ela fala com seriedade mas quase nunca faz contato visual Uma mulher grande e s lida em todos os sentidos ela a aus ncia de hiatos Seja l o que isso signifique n o se esque a eu tinha acabado de acordar Eu n o estava fazendo uma piadinha cruel quando dei o nome de Misery minha porca n o senhor N o pense isso por favor N o eu dei o nome por amor de fa que o mais puro que existe Voc devia estar lisonjeado Tabby e eu ficamos no Hotel Brown em Londres e n o consegui dormir em nossa primeira noite l Em parte por causa do que parecia ser um trio de menininhas ginastas no quarto logo acima do nosso em parte por causa do jet lag mas principalmente por causa daquele guardanapo Anotada l estava a semente do que para mim poderia ser uma hist ria excelente que seria engracada satirica mas tamb m assustadora Achei que era algo rico demais para nao ser escrito Levantei desci at o sagu o e perguntei ao recepcionista se havia algum lugar tranquilo onde eu pudesse escrever por algum tempo Ele me levou a uma bel ssima mesa no patamar do segundo andar Era a mesa de Rudyard Kipling contou ele com orgulho talvez justificado Eu fiquei um pouco intimidado mas o lugar era silencioso e a mesa parecia bem hospitaleira tinha quase um acre
190. ga de time O que me segurou foi a terr vel certeza de que a maioria abra aria o trabalho com entusiasmo Alguns chegariam a chorar durante a labuta da composi o Mesmo na cr nica no entanto poss vel ver a for a da forma b sica do par grafo A estrutura frase sintese seguida de frases descritivas e complementares exige que o escritor organize os pensamentos e tamb m evita que fuja do tema Fugir do tema n o um grande problema na cr nica quase obrigat rio ali s mas um h bito muito ruim quando se est trabalhando em assuntos mais s rios e com maior formalidade Escrita pensamento refinado Se sua tese de mestrado n o mais organizada que uma reda o de escola intitulada Por que Shania Twain mexe comigo voc est com s rios problemas Na fic o o par grafo menos estruturado a batida n o a melodia Quanto mais fic o voc l e escreve mais ver seus par grafos se formando por conta pr pria E isso que voc quer Ao escrever um texto melhor n o pensar demais sobre o in cio e o fim dos par grafos o truque deixar a natureza seguir seu curso Se depois voc n o gostar s corrigir isso que significa reescrever Agora veja s isso O quarto de Big Tony n o era o que Dale esperava A luz tinha um aspecto amarelado e estranho que o fazia lembrar os hot is baratos em que se hospedara e nos quais sempre acabava com uma vista panor mica do estacionamento A
191. gonhado Eu continuava a ouvir a srta Hisler perguntando por que eu queria desperdi ar meu talento e perder meu tempo escrevendo lixo 19 Escrever uma hist ria em cap tulos para o Regras de Dave foi divertido mas eu achava as outras obriga es jornal sticas muito chatas Ainda assim a not cia se espalhou e como eu j havia trabalhado em um jornal antes no meu segundo ano na Lisbon High virei editor do jornal do col gio The Drum N o me lembro de ter tido escolha acho que simplesmente me deram o cargo Meu imediato Danny Emond tinha ainda menos interesse no jornal do que eu Ele apenas gostou da ideia de ficar perto do banheiro feminino que era ao lado da Sala 4 onde a gente trabalhava Um dia vou dar uma de maluco e invadir aquele banheiro Steve disse ele mais de uma vez Invadir invadir invadir Certa vez ele acrescentou como em um esfor o para se justificar As meninas mais lindas da escola levantam a saia l A frase me pareceu t o profundamente est pida que poderia ser na verdade uma p rola de sabedoria como um koan budista ou uma das primeiras hist rias de John Updike O The Drum n o prosperou sob meu comando editorial J naquela poca como at hoje eu tendia a passar por per odos de in rcia seguidos por outros de trabalho fren tico No ano escolar de 1963 64 o The Drum publicou uma nica edi o mas ela foi monstruosa mais grossa do que a lista telef nica da cidade Ce
192. ha surrada revista Writers Digest enviei Selos felizes para a revista Alfred Hitchcocks Mystery Magazine O texto voltou para mim tr s semanas depois com um bilhete de recusa anexado O bilhete trazia o inconfund vel perfil de Hitchcock em tinta vermelha e me desejava boa sorte com a hist ria Ao fim havia uma mensagem curta e rabiscada a nica resposta pessoal que recebi da revista em oito anos de envios peri dicos N o grampeie manuscritos dizia o PS P ginas soltas com clipe s o a forma correta de envio Era um conselho bem seco pensei mas til de qualquer maneira Nunca mais grampeei manuscritos 16 Meu quarto na casa de Durham ficava no segundo andar e o teto era inclinado noite eu ficava deitado na cama se me levantasse subitamente podia bater a cabe a de jeito e lia sob a luz de um abajur que projetava sombras de jiboias no teto s vezes os nicos sons da casa eram o sibilar da calefa o e os ratos andando no s t o s vezes por volta de meia noite minha av passava uma hora gritando para que algu m fosse dar uma olhada em Dick ela temia que ele n o tivesse sido alimentado Dick o cavalo de minha av na poca em que era professora estava morto havia pelo menos quarenta anos Havia uma escrivaninha do outro lado do quarto uma velha m quina de escrever Royal e uns cem livros a maioria de fic o cient fica enfileirados ao longo do rodap Na escrivaninha havia uma B blia
193. hora de comer Se voc n o tiver doente E o povo diz que eu que sou ignorante Ah apetite disse o menino placidamente e come ou a desenhar de novo agora com o dedo Di logos bem constru dos v o indicar se o personagem esperto ou burro Senor Bundis n o necessariamente um idiota porque n o consegue dizer apetite preciso ouvi lo por mais algum tempo antes de decidir honesto ou desonesto divertido ou reservado Bons di logos como os escritos por George V Higgins Peter Straub ou Graham Greene s o uma del cia de ler Di logos ruins s o de matar Escritores t m diferentes n veis de habilidade quando se trata de di logo Suas habilidades nessa rea podem ser melhoradas mas como um grande homem disse certa vez na verdade foi Clint Eastwood Um homem precisa saber quais s o suas limita es H P Lovecraft era um g nio quando se tratava de hist rias macabras mas era terr vel como escritor de di logos Ele parecia saber disso tamb m pois das milh es de palavras que escreveu menos de cinco mil eram di logos A seguinte passagem do livro A cor que caiu do c u em que um fazendeiro moribundo descreve o alien gena que invadiu o po o de sua fazenda mostra os problemas dos di logos de Lovecraft Pessoal ningu m fala assim nem mesmo no leito de morte Nada nada a cor queima fria e molhada mas queima ela vivia no po o Eu vi era que nem fuma a que nem as
194. ian as como Dodie e Bill Lisbon Falls tamb m significava cair no rid culo e depois em desgra a N s vimos com um misto de divers o e horror a camisa de Bill come ar a desbotar e descosturar nas mangas Ele trocou um bot o perdido por um clipe Uma fita cuidadosamente pintada de preto com giz de cera para ficar da cor da cal a apareceu sobre o rasgo que ficava atr s de um dos joelhos A blusa branca sem mangas de Dodie come ou a ficar amarelada com o uso o tempo e o ac mulo de manchas de suor medida que o tecido ficava mais fino as al as do suti come aram a aparecer cada vez mais As outras meninas riam dela Primeiro pelas costas depois na cara O que era bullying virou terrorismo Os meninos n o participavam daquilo n s t nhamos Bill para nos ocupar sim eu participei n o perdi a linha mas estava l Dodie sofreu mais eu acho As meninas n o apenas riam dela elas a odiavam tamb m Dodie era tudo o que elas mais temiam Em nosso ltimo ano de escola logo depois das f rias de Natal Dodie voltou s aulas resplandecente A velha saia preta d mod fora trocada por uma vermelha que ia at os joelhos em vez de parar na metade das canelas As velhas meias soquete foram trocadas por uma meia cal a de nylon que caiu muito bem porque ela finalmente tinha decidido raspar o exuberante tapete de pelos negros das pernas A velha blusa sem mangas deu lugar a um confort vel su ter de l Ela tinha at feito pe
195. iatamente pena dobrada quando fosse contada a uma crian a Fique calmo Stevie n o vai doer Acreditei nele O m dico de ouvido enfiou a agulha e puncionou o timpano A dor foi maior do que todas as que senti desde ent o a que chega mais perto a do primeiro m s de recupera o depois de ter sido atropelado por um furg o no ver o de 1999 Essa durou mais tempo mas n o foi t o intensa A pun o do timpano provocou uma dor maior que o mundo Gritei Havia um som em minha cabe a o som alto de beijo Um fluido quente escorreu do ouvido como se eu tivesse come ado a chorar pelo buraco errado Deus bem sabe que quela altura eu tamb m chorava muito pelos buracos certos Levantei o rosto que parecia uma cascata e olhei incr dulo para o m dico de ouvido e para a enfermeira Depois olhei para o pano que a enfermeira tinha colocado no alto da maca Tinha uma enorme trilha molhada nele E tamb m finos tent culos de pus amarelado Pronto disse o m dico dando um tapinha no meu ombro Voc foi muito corajoso Stevie Agora j passou Na semana seguinte minha m e chamou outro t xi e voltamos ao m dico de ouvido e ent o mais uma vez me vi deitado de lado com o quadrado de pano absorvente sob a cabe a O m dico de ouvido produziu de novo o cheiro de lcool um cheiro que ainda associo como imagino que aconte a a muitas outras pessoas a dor doen a e terror e com ele a longa agulha
196. icam timos mas se passarem por um lambedor mec nico os Selos Felizes cor de rosa ficam azuis No fim da hist ria Roger est no por o diante do espelho Atr s dele na mesa est o cerca de noventa lbuns de Selos Felizes todos preenchidos com folhas de selos lambidos individualmente Os l bios do nosso her i est o cor de rosa Ele p e a l ngua para fora est mais rosa ainda At os dentes est o ficando rosados A m e o chama alegremente do alto da escada dizendo que estava ao telefone com o Centro Nacional de Troca de Selos Felizes em Terre Haute e que a mo a disse que provavelmente conseguiriam uma bela casa em estilo Tudor em Weston por apenas onze milh es e seiscentos mil lbuns de Selos Felizes Que timo m e responde Roger Ele olha para si mesmo no espelho por mais um momento com os l bios cor de rosa e os olhos sombrios depois volta lentamente para a mesa Atr s dele bilh es de Selos Felizes est o em caixas no por o Devagar nosso her i abre um novo lbum e come a a lamber e colar os selos S faltam onze milh es quinhentos e noventa mil lbuns pensa ele no fim da hist ria para a mam e conseguir a casa Tudor A hist ria tinha alguns erros o maior furo deve ser o fato de Roger n o ter tentado simplesmente recome ar com uma cola diferente mas ela era bonitinha bastante original e eu sabia que estava bem escrita Depois de perder muito tempo estudando o mercado em min
197. ida real ou apenas a certa ideia de vida uma imagem estereotipada dos empres rios de Hollywood dos almo os de Hollywood dos neg cios de Hollywood Esta uma pergunta justa e a resposta talvez n o Ainda assim o di logo realmente soa verdadeiro a nossos ouvidos em seus melhores momentos e apesar de ser bastante divertido Be Cool est longe de ser a melhor obra do escritor Leonard cria algo como uma poesia de rua A habilidade necess ria para escrever um di logo como esse vem de anos de pr tica a arte vem de uma imagina o criativa que est trabalhando duro e se divertindo Como acontece com outros aspectos da fic o a chave para escrever bons di logos a honestidade E se voc honesto com as palavras que saem da boca de seus personagens vai descobrir que virou alvo de uma grande quantidade de cr ticas N o se passa uma semana sem que eu receba pelo menos uma carta irritada na maioria das semanas mais do que isso me acusando de usar linguagem chula de ser intolerante homof bico m rbido fr volo ou simplesmente um psicopata Na maioria dos casos o que enerva os remetentes algo nos di logos Vamos sair logo dessa porra de Dogde ou N s n o gostamos muito de pretos por aqui ou O que voc pensa que est fazendo seu veado de merda Minha m e que Deus a tenha n o gostava de palavr es nem de di logos desse tipo que 1 chamava de l ngua dos ignorantes Isso por m n o i
198. idi tirar os charutos cubanos N o apenas algo banal o tipo de coisa que os vil es sempre dizem nos filmes ruins Pegue um charuto S o cubanos Xapral 7 As ideias da primeira e da segunda vers es e as informa es b sicas s o as mesmas mas na segunda os cortes foram feitos at o osso E veja s Sabe aquele adv rbio infeliz aquele logo Acabei com ele n o foi Sem d 8 E aqui est um que n o cortei n o s um adv rbio mas um swiftie timo disse Mike ironicamente Eu defendo minha escolha de manter o adv rbio nesse caso dizendo que a exce o que confirma a regra Ironicamente ficou no texto porque eu queria que o leitor entendesse que Mike est tirando sarro do pobre sr Olin S um pouco verdade mas est 9 Essa passagem n o s elabora o bvio mas tamb m o repete Fora O conceito de uma pessoa se sentindo confort vel em seu lugarzinho especial no entanto parece lan ar luz sobre o car ter de Olin ent o acrescentei o trecho Brinquei com a ideia de incluir o texto completo de 1408 neste livro mas isso ia contra minha determina o em ser breve pelo menos uma vez na vida Se voc quiser ouvir a hist ria toda ela est dispon vel como parte de uma cole o de tr s hist rias em udio chamada Blood and Smoke Sangue e fuma a Voc pode acessar uma amostra na p gina da Simon and Schuster http pages simonandschuster com simonsays conte
199. ido de dispensa de mat ria sagu es de embarque em aeroportos lavanderias em tardes chuvosas e o pior de tudo consult rios m dicos quando o sujeito est atrasado e voc tem que esperar meia hora para sentir dor em alguma parte sens vel Nessas horas para mim um livro vital Se eu tiver que passar um tempo no purgat rio antes de ir para um lugar ou outro acho que n o sofrerei muito se houver uma biblioteca que empreste livros se tiver provavelmente s ter romances da Danielle Steel e livros de autoajuda r r se ferrou Steve Leio onde posso mas tenho um lugar favorito como voc tamb m deve ter um lugar com boa luz e vibra es positivas Para mim a cadeira azul que fica no escrit rio Para outros pode ser o sof na varanda a cadeira de balan o na cozinha ou talvez a cama ler deitado pode ser uma maravilha desde que a ilumina o seja boa e a pessoa n o seja dada a derrubar caf ou conhaque nos len is Ent o vamos considerar que voc esteja em seu lugar favorito de recep o como eu estou em meu lugar favorito de transmiss o Precisamos desempenhar nossa rotina mentalista n o s a dist ncia no espa o mas tamb m no tempo embora isso n o seja um problema Se ainda conseguimos ler Dickens Shakespeare e com a ajuda de uma nota de p de p gina ou duas Her doto acho que podemos lidar bem com a dist ncia entre 1997 e 2000 E aqui vamos n s telepatia de verdade em curso Voc
200. ient fica e quanto mais voc ler menor a possibilidade de simplesmente revisitar as conven es mais comuns do g nero tais como o romance planet rio e a s tira dist pica Se voc fa de hist rias de mist rio vai querer escrever livros de mist rio e se gostar de romances natural que queira escrever os pr prios N o h nada de errado em escrever qualquer um desses g neros Muito errado eu acho seria dar as costas para o que voc conhece e gosta ou ama como eu amava as velhas hist rias de horror em preto e branco da EC a favor de outras que em sua opini o possam impressionar amigos parentes e colegas do c rculo de escritores Igualmente errado deliberadamente se voltar para algum g nero ou tipo de fic o para ganhar dinheiro Para come ar moralmente tortuoso o trabalho de escrever fic o encontrar a verdade dentro da rede de mentiras da hist ria e n o se comprometer com a desonestidade intelectual em busca de grana Al m disso irm os e irm s n o funciona Quando me perguntam por que decidi escrever as coisas que escrevo sempre penso que a pergunta mais reveladora do que qualquer resposta que eu possa dar Escondida na pergunta como a parte mastig vel no meio do pirulito que vira chiclete est a presun o de que o escritor controla o material e n o o contr rio Um escritor s rio e comprometido incapaz de avaliar o material da hist ria como um investidor avalia ofertas de a
201. im eu entendo pelo menos em parte esse tipo de ressentimento Na industria cinematogr fica onde tenho uma vida semiprofissional a exibi o do primeiro corte chamada de sess o teste Essa pr tica se tornou um padr o da ind stria e deixa os diretores absolutamente malucos como talvez eles devam mesmo ficar O est dio investe algo entre 15 e 100 milh es de d lares para fazer um filme depois pede ao diretor que o remonte com base na opini o da plateia de um cinema multiplex em Santa B rbara composta por cabeleireiros guardas municipais vendedores de lojas de sapatos e entregadores de pizza E sabe o que o pior e o mais enlouquecedor de tudo Se as pessoas reunidas forem representativas do p blico as sess es teste costumam funcionar Eu detestaria ver romances modificados com base em testes de p blico muitos livros bons nunca veriam a luz do dia se fossem feitos desta forma mas caramba estamos falando aqui de meia d zia de pessoas que voc conhece e respeita Se pedir s pessoas certas e elas concordarem em ler o livro elas podem lhe dizer muito Todas as opini es t m o mesmo peso Para mim n o No fim das contas eu ou o mais a de Tabby porque para ela que escrevo a ela que quero surpreender Se voc est escrevendo especialmente para algu m al m de si pr prio melhor prestar muita aten o opini o dessa pessoa conhe o um sujeito que diz escrever principalmente para algu m que est
202. imb lico que Hawthorne fazia da floresta em hist rias como Young Goodman Brown O jovem Goodman Brown e saiu dessas aulas se sentindo uma besta quadrada talvez esteja agora se afastando deste livro com os bra os esticados sacudindo a cabe a e dizendo n o obrigado passe amanh Mas espere um pouco O simbolismo n o precisa ser dif cil e intelectualmente profundo Nem precisa ser cuidadosamente elaborado como um tapete persa em que os m veis da hist ria v o se apoiar Se voc aceita o conceito da hist ria como algo preexistente um f ssil no ch o ent o o simbolismo tamb m tem que ser preexistente certo s mais um osso ou conjunto de ossos em sua nova descoberta Quer dizer se estiver l Se n o estiver e da Voc ainda tem a hist ria em si n o tem Se estiver l e voc perceber seria bom desenterr lo da melhor maneira poss vel poli lo at brilhar para depois cortar como um joalheiro cortaria uma pedra preciosa ou semipreciosa Carrie a estranha como j comentei um romance curto sobre uma garota perseguida na escola que descobre ter habilidades telecin ticas ela consegue mover objetos com a mente Para se redimir de uma brincadeira de muito mau gosto feita no banheiro feminino Susan Snell colega de classe de Carrie convence o namorado a convidar a menina para o baile de formatura da escola Os dois s o eleitos Rei e Rainha Durante a celebra o outra colega de Carrie a desagrad vel Christ
203. implesmente inventei tudo que n o conhecia Eu podia fazer isso porque estava escrevendo com a porta fechada s para mim e para o Leitor Ideal em minha cabe a e minha vers o mental de Tabby raramente t o pavio curto quanto a mulher de verdade em meus devaneios ela me aplaude e me estimula a seguir adiante com olhos brilhando Uma de minhas sess es de escrita mais inesquec veis aconteceu quando eu estava hospedado no quarto andar do Hotel Eliot em Boston Sentado mesa diante da janela eu escrevia sobre a aut psia de uma criatura alien gena parecida com um morcego enquanto a maratona de Boston seguia seu fluxo exuberante logo abaixo e enormes caixas de som instaladas no telhado tocavam Dirty Water gua suja dos Standells a todo volume Milhares de pessoas enchiam as ruas l embaixo mas n o havia um nico desmancha prazeres em meu quarto para me dizer que aquele detalhe estava errado ou que os policiais n o faziam as coisas assim no oeste da Pensilv nia ent o O romance chamado Buick 8 ficou abandonado em uma gaveta da escrivaninha desde o fim de maio de 1999 quando a primeira vers o ficou pronta Meu trabalho nesse livro foi atrasado por circunst ncias fora de meu controle mas espero um dia passar algumas semanas no oeste da Pensilv nia e conseguir permiss o para sair com policiais estaduais a condi o que me parece bastante razo vel n o fazer com que pare am cru is man acos ou idi
204. important ssimo Se voc duvida pense em todas as vezes em que ouviu algu m dizer n o consigo descrever ou n o foi isso que eu quis dizer Pense nas vezes em que voc mesmo disse coisas assim geralmente com um tom de leve ou grande frustra o A palavra apenas uma representa o do sentido Mesmo nos seus melhores momentos a escrita quase sempre fica aqu m do sentido como um todo Dito isso por qu em nome de Deus tornar as coisas ainda piores escolhendo uma palavra que seja parente distante daquela que voc quer usar E fique realmente vontade para levar em conta a adequa o como George Carlin observou certa vez na companhia de certas pessoas perfeitamente aceit vel prick your finger furar o dedo mas pega muito mal finger your prick pegar seu p nis A gramatica tamb m tem que ficar na bandeja de cima da caixa de ferramentas e nao me chateie com suspiros exasperados ou argumentos de que voc nao entende gramatica nunca entendeu gram tica que levou bomba nessa mat ria no ltimo ano que escrever divertido mas a gram tica um saco Relaxe Fique tranquilo N o vamos perder muito tempo aqui porque n o preciso Ou voc absorve os princ pios gramaticais de sua l ngua nativa por meio de conversa o e leitura ou n o absorve O que as aulas no col gio fazem ou tentam fazer pouco mais do que dar nome aos bois E isto aqui n o o ensino m dio Agora que voc j n
205. ine Hargensen faz outra brincadeira de mau gosto esta de consequ ncias terr veis Carrie se vinga usando seus poderes telecin ticos para matar a maioria dos colegas de turma e a m e que cometia atrocidades contra ela e morre A hist ria essa basicamente t o simples quanto um conto de fadas N o foi preciso lan ar m o de nenhum recurso estil stico embora eu tenha inserido alguns interl dios epistolares passagens de livros fict cios um trecho de di rio cartas boletins preenchidos m quina entre segmentos narrativos Em parte para injetar mais realismo eu estava pensando na adapta o para o r dio de A guerra dos mundos feita por Orson Welles mas principalmente porque a primeira vers o do livro era t o curtinha que mal parecia um romance Quando li Carrie a estranha antes de come ar a segunda vers o percebi que havia sangue nos tr s pontos cruciais da hist ria No in cio os poderes paranormais de Carrie aparentemente vieram junto com a primeira menstrua o no cl max a brincadeira que fazem com ela no baile envolve um balde de sangue de porco Sangue de porco para uma porca diz Chris Hargensen ao namorado e no fim Sue Snell a garota que tenta ajudar Carrie descobre que n o est gr vida como desconfiava meio esperan osa meio assustada ao perceber que a menstrua o chegou Tem muito sangue na maioria das hist rias de terror claro o nosso repert rio poderia se dizer Ainda assim
206. io tire o manuscrito da gaveta Se ele parecer uma rel quia alien gena comprada em uma loja de quinquilharias ou em uma venda de garagem na qual voc mal se lembra de ter ido voc est pronto Sente se a portas fechadas voc vai abri las para o mundo em breve com uma caneta na m o e um bloco de anota es do lado E ent o leia o manuscrito de novo Fa a tudo em uma sentada s se for poss vel n o ser claro se o livro for um calhama o de quatrocentas ou quinhentas p ginas Fa a todas as anota es que quiser mas concentre se nas tarefas triviais da arruma o da casa como corrigir erros ortogr ficos e marcar inconsist ncias Vai encontrar v rios s Deus acerta tudo de primeira e s um porcalh o diria Ah quer saber para isso que servem os revisores Se voc nunca tiver feito isso antes vai descobrir que ler seu livro depois de um intervalo de seis semanas uma experi ncia estranha s vezes arrebatadora seu voc reconhecer como seu talvez seja at capaz de lembrar qual m sica estava tocando quando escreveu certos trechos e ainda assim vai parecer o trabalho de outra pessoa talvez uma alma g mea assim que deve ser por isso que voc esperou sempre mais f cil matar os queridinhos de outra pessoa do que os seus Depois das seis semanas de recupera o voc tamb m ser capaz de enxergar os furos gritantes que houver na trama e no desenvolvimento dos personagens Estou fal
207. io na primeira bandeja de sua caixa de ferramentas e n o fa a qualquer esfor o consciente para melhor lo Voc vai fazer isso enquanto l claro mas vamos deixar esse assunto para depois Uma das piores coisas que se pode fazer tentar enfeitar o vocabul rio procurando por palavras longas porque tem vergonha de usar as curtas de sempre 2 Fazer isso como enfeitar seu animal de estima o com roupas sociais O bichinho fica morrendo de vergonha e a pessoa que cometeu esse ato de fofurice premeditada deveria ficar ainda mais Fa a agora mesmo uma promessa solene de nunca usar gratifica o quando quiser dizer gorjeta e jamais usar John parou tempo suficiente para realizar um ato de excre o quando quiser dizer John parou tempo suficiente para cagar Se voc acha que cagar seria ofensivo ou inadequado para seu p blico fique vontade para dizer John parou tempo suficiente para se aliviar ou talvez John parou tempo suficiente para empurrar N o estou tentando fazer com que voc use palavr es mas que seja objetivo e direto Lembre que a regra b sica do vocabul rio use a primeira palavra que lhe vier cabe a se for adequada e interessante Se hesitar e ponderar voc vai encontrar outra palavra claro que vai sempre existe outra palavra mas bem prov vel que ela n o seja t o boa quanto a primeira ou t o pr xima do que voc realmente quer dizer O sentido
208. is Era muito dinheiro Parecia bom demais para ser verdade mas aquela era uma noite para sonhar 31 Carrie a estranha caminhava a passos lentos para a publica o Usamos o adiantamento para comprar um carro novo um carro com c mbio manual que Tabby odiou e xingou com os palavr es mais cabeludos que existiam em seu repert rio de trabalhadora bra al e eu assinei um contrato para dar aulas durante o ano letivo de 1973 74 Eu estava escrevendo um novo romance uma mistura peculiar de 4 caldeira do diabo e Dr cula que chamei de Second Coming O segundo advento N s nos mudamos para um apartamento t rreo em Bangor um verdadeiro buraco mas est vamos de volta cidade t nhamos um carro com seguro e um telefone em casa Para dizer a verdade Carrie saiu quase que completamente de minha cabe a As crian as davam muito trabalho tanto as da escola quanto as de casa e comecei a me preocupar com minha m e Ela j tinha 61 anos ainda trabalhava no Centro de Treinamento Pineland e continuava engra ada como sempre mas Dave disse que ela se sentia mal a maior parte do tempo O criado mudo estava apinhado de analg sicos e meu irm o temia que algo estivesse errado Voc sabe que ela sempre fumou como uma chamin disse Dave Meu irm o n o tinha moral nenhuma para falar pois tamb m fumava como uma chamin assim como eu e minha mulher odiava as despesas com cigarro e as cinzas constantes mas entendi o que ele quis d
209. is reabilita o e fisioterapia todos que j passaram por isso sabem que a terapia f sica irm da dor e da tortura E em meio a tudo isso algo mais aconteceu Em 24 de julho cinco semanas depois de Bryan Smith me atropelar com um furg o Dodge eu voltei a escrever 6 Comecei a escrever Sobre a escrita em novembro ou dezembro de 1997 e embora eu s costume levar cerca de tr s meses para acabar a primeira vers o de um livro este ainda estava incompleto 18 meses depois Isso aconteceu porque deixei o livro de lado em fevereiro ou mar o de 1998 sem saber como ou at mesmo se deveria continuar Escrever fic o continuava sendo divertido como sempre mas cada palavra deste livro de n o fic o foi uma esp cie de tortura Desde A dan a da morte Sobre a escrita foi o primeiro livro que deixei de lado antes de terminar e ele ficou ainda mais tempo na gaveta da escrivaninha Em junho de 1999 decidi passar o ver o terminando o maldito livro e deixar Susan Moldow e Nan Graham da Scribner decidirem se era bom ou ruim Li o manuscrito novamente preparado para o pior e descobri que na verdade eu gostava do que tinha em m os A estrada para o fim tamb m pareceu muito clara Eu j tinha acabado a parte das mem rias Curr culo que tentava mostrar como alguns incidentes e situa es de vida me transformaram no escritor que sou agora e j tinha coberto a parte da mec nica da escrita pelo menos no que me parecia mai
210. isas que eu sentia havia muito tempo sobre o poder redentor da escrita mas nunca tinha articulado Annie tamb m se mostrou muito mais complexa do que eu havia imaginado e era muito divertido escrever sobre ela ali estava uma mulher que n o conseguia dizer nada al m de velho trapaceiro na hora de praguejar mas n o tinha qualquer receio de cortar fora o p de seu escritor favorito quando ele tentava fugir No fim senti que Annie era quase t o digna de pena quanto de medo Nenhum dos detalhes e incidentes da hist ria derivaram de um enredo eram org nicos cada um surgiu naturalmente da situa o inicial e cada um deles era uma parte desencavada do f ssil Escrevo isso com um sorriso no rosto Mesmo doente de drogas e lcool como eu estava na maior parte do tempo me diverti muito com esse livro Jogo perigoso e The Girl Who Loved Tom Gordon A garota que adorava Tom Gordon s o outros dois romances puramente inspirados por uma situa o Se Misery dois personagens em uma casa Jogo perigoso uma mulher em um quarto e The Girl Who Loved Tom Gordon uma menina perdida na floresta Como disse eu j escrevi romances me baseando em enredo mas os resultados em livros como Ins nia e Rose Madder n o foram particularmente inspiradores Esses s o por mais que eu odeie admitir romances muito inflex veis esfor ados demais O nico romance baseado em enredo de que realmente gosto A zona morta e para s
211. iso caminhar de 8 a 10 quil metros e cheg vamos em casa bem depois de anoitecer eu tive uma ideia maravilhosa Transformar 4 mans o do terror em livro Eu romancearia o filme como a Monarch Books tinha romanceado cl ssicos imortais do cinema como Jack o estripador Gorgo e Konga Eu n o me limitaria a apenas escrever essa obra prima no entanto tamb m iria imprimir o livro usando o mime grafo que ficava no por o e vender as c pias na escola Zap Cabum Assim concebido assim feito Trabalhando com o cuidado e a dedica o que me garantiriam o reconhecimento da cr tica no futuro produzi minha vers o em romance de A mans o do terror em dois dias trabalhando diretamente nos est nceis que serviriam de base para a impress o Embora nenhuma c pia dessa obra prima tenha sobrevivido n o que eu saiba pelo menos acho que tinha oito p ginas em espa o simples e o m nimo absoluto de quebras de par grafo n o se esque am de que cada est ncil custava 19 centavos Imprimi a folha em frente e verso como em um livro normal e inclu uma capa com um desenho meu de um p ndulo rudimentar pingando pequenas manchas pretas que esperava eu parecessem sangue No ltimo minuto percebi que tinha me esquecido de identificar a editora Depois de mais ou menos meia hora de agrad veis pondera es datilografei as palavras um Livro DA ve no canto direito da capa VIB de Very Important Book Fiz cerca de quarenta exemplares de 4 mans
212. ito Aparentemente n o t o transtornada assim pois conseguiu se lembrar da velha advert ncia contida nas Escrituras Minha a vingan a diz a professora de taquigrafia O sr Higgins disse que ela queria que eu fosse suspenso Em meu car ter certa selvageria e um profundo conservadorismo est o t o entrela ados quanto fios de cabelo em uma tran a Foi a parte louca de minha personalidade que escreveu o The Village Vomit e o distribuiu na escola Depois que o encrenqueiro sr Hyde foi enquadrado e saiu de fininho pela porta dos fundos sobrou para o dr Jekyll imaginar como minha m e olharia para mim se descobrisse que eu fora suspenso aqueles olhos tristes Eu tinha que parar de pensar em minha m e e logo Eu estava no segundo ano e era um ano mais velho que a maioria dos outros alunos Al m disso com 1 88 metro eu era um dos meninos mais altos da escola Fiz um esfor o desesperado para n o chorar na sala do sr Higgins n o com os corredores inundados de garotos e garotas que olhavam curiosamente para n s pela janela O sr Higgins atr s da mesa eu na Cadeira dos Meninos Maus Por fim a srta Margitan aceitou as desculpas formais e as duas semanas de deten o para o menino mau que ousara cham la de verme em papel impresso Foi ruim mas o que no col gio n o era Na poca em que est vamos presos l como ref ns em um banho turco o ensino m dio parecia o neg cio mais s rio do mundo para praticamente todos
213. itor Constante voc apenas uma voz grasnando no v cuo E n o simples ser o cara do lado receptor Will Strunk sentia que o leitor estava em grandes apuros a maior parte do tempo escreveu E B White na introdu o de The Elements of Style um homem atolado em um p ntano e o dever de qualquer um que tente escrever drenar esse p ntano rapidamente para levar o leitor a algum lugar seco ou ao menos lhe jogar uma corda E lembre se o escritor jogou a corda n o a corda foi jogada pelo escritor Fa a me o favor Outro conselho que dou a voc antes de seguirmos para a pr xima bandeja da caixa de ferramentas o adv rbio n o seu amigo Os adv rbios como voc deve se lembrar das aulas de Ingl s Empresarial ou coisa que o valha s o palavras que modificam verbos adjetivos ou outros adv rbios Eles geralmente terminam em mente Os adv rbios como a voz passiva parecem ter sido criados para o escritor t mido Com a voz passiva o autor em geral demonstra medo de n o ser levado a s rio a voz de menininhos usando bigodes de canetinha e de menininhas andando para l e para c com os saltos altos da mam e Com os adv rbios o escritor nos diz que tem medo de n o se expressar com clareza de n o conseguir passar a mensagem Considere a frase Ele fechou a porta firmemente N o de forma alguma uma frase horr vel pelo menos tem um verbo ativo mas pergunte a si mesmo se
214. ixe as persianas desde que elas n o deem para uma parede nua Para qualquer escritor e em particular para o iniciante aconselh vel eliminar todas as distra es poss veis Se voc continuar a escrever come ar a filtrar as distra es naturalmente No in cio por m melhor tomar provid ncias para afast las antes de come ar Eu trabalho ouvindo m sica alta adoro bandas de hard rock como AC DC Guns n Roses e Metallica pois para mim mais uma maneira de fechar a porta A m sica me envolve e mant m o mundo l fora Quando escreve voc quer se afastar do mundo n o Claro que quer Quando voc escreve est criando seus pr prios mundos Acho que na verdade estamos falando de sono criativo Como seu quarto sua sala de escrita deve ser privativa um lugar aonde voc vai sonhar O cronograma entrar mais ou menos na mesma hora todos os dias sair quando as mil palavras estiverem no papel ou no computador existe para que voc se habitue e se prepare para sonhar exatamente como se prepara para dormir ao ir para cama mais ou menos no mesmo hor rio todas as noites e seguir sempre o mesmo ritual Na escrita e no sono aprendemos a estar fisicamente im veis ao mesmo tempo que encorajamos nossas mentes a se libertarem da monotonia do pensamento racional di rio E assim como sua mente e seu corpo se acostumam com determinada quantidade de horas de sono por dia seis sete talvez as oito recomend vei
215. izer E embora n o morasse t o perto de minha m e quanto Dave e n o a visse t o frequentemente eu tinha percebido na ltima visita que ela perdera peso O que a gente pode fazer perguntei Por tr s da pergunta estava tudo o que sab amos sobre nossa m e que guardava suas coisas para si como costumava dizer O resultado dessa filosofia era uma enorme lacuna em branco onde outras fam lias tinham hist rias Dave e eu sab amos quase nada sobre nosso pai ou a fam lia dele e muito pouco sobre o passado de nossa m e que inclu a incr veis para mim pelo menos oito irm os mortos e a ambi o jamais realizada de se tornar pianista de concerto ela dizia ter tocado rg o em algumas novelas de r dio da NBC e em shows dominicais da igreja durante a guerra N o podemos fazer nada respondeu Dave a menos que ela pe a Em um domingo n o muito depois dessa liga o recebi outra de Bill Thompson da Doubleday Eu estava sozinho no apartamento Tabby tinha ido com nossos filhos visitar a m e e fiquei trabalhando no novo livro que pensava em chamar de Vampires in Our Town Vampiros em nossa cidade Voc est sentado perguntou Bill Nao O telefone ficava na parede da cozinha e eu estava de p na soleira da porta entre a cozinha e a sala Preciso me sentar melhor Os direitos da edi o brochura de Carrie foram vendidos para a Signet Books por 400 mil d lares Quando
216. las mentais e viajam pensam na morte da bezerra voc poderia dizer Ent o acho que serei acusado de promover uma filosofia feliz e descerebrada de Horatio Alger e de no caminho defender a pr pria reputa o que est longe de ser un nime encorajando pessoas que simplesmente n o s o como n s velho camarada a se candidatarem ao clubinho exclusivo dos bons escritores Acho que posso viver com isso Por m antes de prosseguirmos quero repetir minha premissa b sica se voc um escritor ruim ningu m vai conseguir transform lo em um bom nem mesmo em um competente Se voc bom e quer ser incr vel deixe pra l O que segue tudo que sei sobre como escrever boa fic o Serei o mais breve poss vel porque seu tempo valioso e o meu tamb m e ambos entendemos que as horas gastas falando sobre a escrita s o um tempo em que n o estamos escrevendo Serei t o encorajador quanto poss vel porque da minha natureza e porque amo esse trabalho Quero que voc o ame tamb m Se no entanto voc n o quiser sentar o rabo e trabalhar n o h raz o em tentar escrever bem acomode se na compet ncia e seja grato por poder se apoiar nisso pelo menos Existe uma musal mas ele n o vai cair do c u e espalhar p de pirlimpimpim criativo por sua m quina de escrever ou seu computador Ele mora no ch o um cara que fica no por o Voc tem que descer at l e precisar mobiliar o apartamento para ele morar
217. le assinaria embaixo mais gente vai querer ler a ltima vers o do que a primeira 21 Logo depois da viagem dos alunos veteranos a Washington DC eu consegui um emprego na Fia o e Tecelagem Worumbo em Lisbon Falls N o que eu quisesse o trabalho era rduo e ma ante e a tecelagem n o passava de um buraco f tido s margens do polu do rio Androscoggin um lugar que mais parecia um reformat rio sa do de um romance de Charles Dickens mas era preciso ganhar dinheiro Minha m e ganhava um sal rio rid culo como faxineira de um manic mio em New Gloucester mas estava determinada a me mandar para a faculdade como fizera com meu irm o David Universidade do Maine turma de 1966 cum laude Na cabe a dela a educa o universit ria tinha se tornado algo quase elementar Durham Lisbon Falls e a Universidade do Maine em Orono eram parte de um mundo pequeno onde as pessoas moravam pr ximas e ainda se metiam na vida umas das outras atrav s de linhas telef nicas compartilhadas entre quatro ou seis pessoas algo comum nas cidadezinhas da regi o de Sticksville naquela poca No mundo adulto jovens que n o fossem para a faculdade iam para o exterior lutar na guerra n o declarada do presidente Johnson e muitos voltavam para casa em caix es Minha m e gostava da Guerra contra a Pobreza de Lyndon o tipo de guerra que eu apoio dizia mas n o aprovava os planos presidenciais no sudeste da sia Certa vez eu disse
218. lento Por que desperdi lo Ela segurava uma c pia do VIB n 1 e a brandia como algu m ergue um jornal enrolado para um cachorro que mijou no tapete A professora esperou minha resposta preciso lhe dar cr dito a pergunta n o fora totalmente ret rica mas eu n o tinha nada para dizer Estava envergonhado Muitos anos se passaram anos demais eu acho at que eu perdesse a vergonha do que escrevia Acho que s depois dos 40 anos me dei conta de que praticamente todos os escritores de fic o e poesia que j publicaram uma linha que seja foram acusados de desperdi ar o talento que Deus lhes deu Se voc escreve pinta dan a esculpe ou canta imagino eu algu m vai tentar fazer com que voc se sinta mal com isso pode ter certeza N o estou me lamentando aqui apenas tentando mostrar os fatos como os vejo A srta Hisler disse que eu teria que devolver o dinheiro de todo mundo Fiz isso sem discutir mesmo no caso dos colegas e n o foram poucos tenho orgulho em dizer que insistiram em ficar com um exemplar do VIB n 1 Acabei perdendo dinheiro no fim das contas mas nas f rias de ver o eu imprimi quatro d zias de exemplares de uma nova hist ria uma original chamada The Invasion of the Star Creatures A invas o das criaturas estelares e s sobraram uns quatro ou cinco exemplares Acho que isso significa que no fim venci pelo menos financeiramente L no fundo do cora o no entanto continuei enver
219. liasse uma sele o de trabalhos meus Crain concordou mas n s nunca chegamos a nos associar de fato ele j tinha mais de oitenta anos sa de fr gil e morreu pouco tempo depois de nossa primeira troca de correspond ncias Espero que a causa da morte n o tenha sido minha primeira colet nea de hist rias Voc n o precisa de cursos ou semin rios de escrita mais do que precisa deste livro ou de qualquer outro sobre o assunto Faulkner aprendeu seu of cio enquanto trabalhava na ag ncia de correio de Oxford Mississippi Outros escritores aprenderam o b sico enquanto serviam na Marinha trabalhavam em sider rgicas ou passavam uma temporada nos melhores hot is com janelas de grade dos Estados Unidos Eu aprendi a parte mais valiosa e comercial de meu trabalho enquanto lavava len is de motel e toalhas de mesa na lavanderia New Franklin em Bangor Aprendemos mais lendo muito e escrevendo muito e as li es mais valiosas s o aquelas que ensinamos a n s mesmos S o li es que quase sempre nos ocorrem quando a porta do escrit rio est fechada As discuss es levantadas em cursos de escrita podem ser muito divertidas e intelectualmente estimulantes mas costumam ficar bem distantes do laborioso of cio de escrever Ainda assim poss vel que voc acabe indo parar em uma vers o daquela col nia silvestre de escritores em Oriente Oriente um pequeno chal no bosque equipado com computador disquetes novinhos existe algo mai
220. lic ptero mais alto come ando a ecoar como se m os gigantes batessem palmas Ainda respirando em grandes golfadas vazantes sou retirado do helic ptero Algu m bate a maca e eu grito Desculpe desculpe est tudo bem Stephen dizem Quando voc est muito machucado todo mundo o chama pelo primeiro nome todo mundo vira amigo Diga Tabby que eu a amo muito pe o logo que sou tirado do helic ptero e levado apressadamente por um caminho descendente de concreto De repente sinto vontade de chorar Voc mesmo vai poder dizer respondem Passamos por uma porta sinto o ar condicionado e vejo as luzes correndo acima da minha cabe a Os alto falantes chamam v rias pessoas Eu me dou conta de modo confuso de que uma hora antes estava caminhando e planejava colher algumas frutas no campo que fica em frente ao lago Kezar Eu n o me demoraria muito no entanto pois precisava estar em casa s 17h30 para irmos todos ao cinema A filha do general com John Travolta Travolta estava no filme inspirado em Carrie a estranha meu primeiro romance Ele fazia o vil o Muito tempo atr s Quando pergunto Quando posso falar com ela Em breve responde a voz e depois desmaio de novo Dessa vez n o um pequeno corte um enorme trecho foi tirado do filme da mem ria Tenho alguns flashes vislumbres confusos de rostos e salas de opera o e m quinas de raios X sobre minha cabe a Lembro me de
221. livros Nesse caso eu perco feio e o leitor tamb m Quem gostaria de acompanhar uma megera t o d mod Esta vers o de Annie j era velha quando O m gico de Oz foi lan ado Acho que seria justo perguntar se o Paul Sheldon de Misery sou eu Certas partes dele s o mas acho que voc vai descobrir se continuar a escrever fic o que todos os personagens t m um pouco do autor Ao se perguntar o que determinado personagem vai fazer em vista de certas circunst ncias a decis o ser tomada com base no que voc faria ou n o faria no caso de um vil o Al m das vers es de voc entram as caracter sticas boas e ruins do personagem observadas em outras pessoas um cara que tira meleca quando acha que n o tem ningu m olhando por exemplo Tamb m h um maravilhoso terceiro elemento pura imagina o sem limites Esta a parte que me permitiu ser uma enfermeira psic tica por algum tempo enquanto escrevia Misery E na maior parte do tempo ser Annie n o foi nada dif cil Na verdade foi at divertido Ser Paul foi mais complicado Ele era normal eu sou normal aqui n o teve nada de quatro dias na Disney Meu romance A zona morta nasceu de duas perguntas um assassino pol tico pode estar certo em alguma situa o E se estiver poss vel fazer dele o protagonista de um romance O mocinho mim parecia que essas ideias pediam por um pol tico perigosamente inst vel um sujeito que subisse na carreira mostrando ao
222. lo das Dixie Cups que normalmente era composto por Kathi Tad Bartimus e Amy Tan A inten o era nos reunirmos para um nico evento far amos dois shows em uma conven o de livreiros a American Booksellers Convention dar amos muita risada recuperar amos nossa juventude desperdi ada ao longo de tr s ou quatro horas e depois cada um seguiria seu caminho N o foi o que aconteceu j que nunca chegamos a nos separar Gostamos tanto de tocar juntos que n o conseguimos deixar a banda morrer e com a ajuda de alguns m sicos de apoio no sax e na bateria al m da lideran a de nosso guru musical Al Kooper no in cio nosso som era bastante bom Do tipo que as pessoas pagariam para assistir a um show N o tanto quanto pagariam para ver o U2 ou a E Street Band mas sim o que os mais antigos chamariam de uns paus Sa mos em turn escrevemos um livro sobre a banda minha mulher tirava as fotos e quando algum esp rito baixava nela dan ava tamb m o que acontecia quase sempre e continuamos a tocar vez ou outra s vezes como The Remainders s vezes como Raymond Burr s Legs Os integrantes foram e vieram Barbara foi substitu da nos teclados pelo colunista Mitch Albom e Al deixou de tocar com a banda porque ele e Kathi n o se davam bem mas o n cleo permaneceu com Kathi Amy Ridley Dave Mitch Albom e eu al m de Josh Kelly na bateria e Erasmo Paolo no saxofone Continuamos com a banda pelo prazer de toc
223. longos como A zona morta e A metade negra Cabe a voc decidir por quanto tempo o livro vai ficar descansando como uma massa de p o entre uma sova e outra mas acho que o prazo m nimo de seis semanas Durante esse tempo seu manuscrito deve ficar escondido na seguran a de uma gaveta da escrivaninha envelhecendo e espera se maturando Seus pensamentos v o se voltar para ele com frequ ncia e bem prov vel que dezenas de vezes voc se sinta tentado a tir lo dali s para reler algum trecho que pare a particularmente bom em sua mem ria ao qual voc quer voltar s para sentir de novo que voc um timo escritor Resista tenta o Se n o resistir muito prov vel que voc chegue conclus o de que determinado trecho n o est muito bem escrito que precisa ser retrabalhado imediatamente Isso ruim nica coisa pior seria concluir que a passagem ainda melhor do que em sua lembran a por que n o largar tudo e reler logo o livro todo Volte logo a trabalhar nele Voc est pronto Voc um Shakespeare S que n o E voc n o estar pronto para voltar ao velho projeto at que esteja t o envolvido em um novo ou em sua rotina di ria que tenha quase esquecido o empreendimento irreal que consumiu tr s horas de todas as suas manh s ou tardes durante um per odo de tr s cinco ou sete meses Quando chegar o momento certo que pode muito bem estar marcada no calend rio do seu escrit r
224. ltamente subjetivas sobre o que est bom e o que est ruim Se todos os seus amigos acham que voc fez um timo trabalho prov vel que tenha feito mesmo Esse tipo de unanimidade acontece mas rara mesmo entre amigos mais prov vel que algumas partes sejam boas e outras nem tanto Alguns achar o que o Personagem A funciona mas que o Personagem B pouco cr vel Se outros acharem que o Personagem B cr vel mas o Personagem A exagerado ficamos na mesma Voc pode relaxar e deixar as coisas como est o no beisebol o empate do visitante entre romancistas do escritor Se algumas pessoas adoram o final e outras o detestam ficamos na mesma tamb m um empate e o empate do escritor Alguns primeiros leitores se especializam em apontar erros factuais que s o os mais f ceis de lidar Um dos meus primeiros leitores o falecido Mac McCutcheon maravilhoso professor de ingl s no ensino m dio sabia um bocado sobre armas Se um personagem estivesse empunhando uma Winchester 330 Mac anotaria na margem que a Winchester n o fabricava aquele calibre mas a Remington sim Nesse caso eu ganhava dois pelo pre o de um o erro e o conserto um bom neg cio porque voc vai parecer um especialista e o seu primeiro leitor vai ficar feliz por ter ajudado E a maior ajuda que Mac me deu n o tinha qualquer rela o com armas Um dia enquanto lia um manuscrito na sala dos professores ele come ou a gargalhar g
225. m perder a m o quando se trata de ritmo Se voc for r pido demais corre o risco de deixar o leitor para tr s seja por confundi lo ou por cans lo Eu particularmente gosto de um ritmo mais lento e de uma constru o de contexto mais ampla Romances longos e cativantes como O ltimo ref gio e Um rapaz adequado s o como viajar em um cruzeiro de luxo e essa sensa o um dos principais atrativos desse formato desde as primeiras ocorr ncias intermin veis hist rias epistolares divididas em v rias partes como Clarissa de 1748 Acredito que todas as hist rias devem se desenvolver em seu pr prio ritmo que nem sempre precisa ser acelerado preciso no entanto estar atento se voc se demorar demais em alguns pontos mesmo o leitor mais paciente pode ficar irritado E qual a melhor maneira de encontrar um meio termo O Leitor Ideal claro Tente imaginar se ele vai achar determinada cena chata se voc conhecer o gosto de seu LI metade do que conhe o o da minha isso n o vai ser uma tarefa muito dif cil O LI vai achar que tem muito bl bl bl aqui ou ali Que voc explicou certa situa o de menos ou demais um de meus erros cr nicos Ou que voc se esqueceu de resolver alguma parte importante da trama Quem sabe voc tenha se esquecido completamente de um personagem como Raymond Chandler fez certa vez Quando lhe perguntaram sobre o motorista assassinado em O sono eterno Chandler que gostava
226. m quando tinham que vir e est vamos felizes por t los Naomi tinha tend ncia a infec es de ouvido Joe era saud vel mas parecia nunca dormir Quando Tabby entrou em trabalho de parto para traz lo ao mundo eu estava em um cinema drive in em Brewer com um amigo era um programa triplo do Memorial Day tr s filmes de terror seguidos Est vamos no terceiro filme The Corpse Grinders Os moedores de cadaveres e quase na d cima cerveja quando o cara da administra o do cinema fez um an ncio Ainda havia alto falantes port teis naquela poca era s estacionar o carro pegar um deles e pendurar na janela O an ncio da dire o ecoou ent o por todo o estacionamento STEVE KING POR FAVOR VOLTE PARA CASA SUA MULHER EST EM TRABALHO DE PARTO STEVE KING POR FAVOR VOLTE PARA CASA SUA MULHER VAI TER O BEBE Enquanto eu levava nosso velho Plymouth em dire o sa da um coro de duzentas buzinas fez sua bem humorada sauda o Muita gente piscou os far is me dando um banho de luz intermitente Meu amigo Jimmy Smith ria tanto que escorregou do banco e foi parar no ch o do carro E ali ficou durante a maior parte da viagem de volta a Bangor gargalhando entre latas de cerveja Quando cheguei em casa Tabby estava calma e de malas prontas Ela deu Joe luz menos de tr s horas depois Meu filho chegou ao mundo tranquilamente Durante os cinco anos seguintes nada mais houve de tranquilo com Joe Mesmo assim ele era u
227. ma gostosura Os dois eram na verdade Mesmo quando Naomi arrancava o papel de parede que ficava sobre o ber o talvez achasse que estava ajudando na limpeza da casa e Joe fazia coc na cadeira de balan o de vime que ficava na varanda do apartamento na rua Sanford eles eram uma gostosura 25 Minha m e sabia que eu queria ser escritor com todas aquelas cartas de recusa penduradas na parede do meu quarto como n o saber mas me encorajou a estudar para ser professor e assim ter algum lugar para onde correr Pode ser que voc queira se casar Stephen e morar em um s t o beira do Sena s rom ntico para solteiros disse ela certa vez N o lugar para se constituir fam lia Fiz como ela sugeriu Entrei na Faculdade de Educa o da Universidade do Maine em Orono e sa quatro anos depois com um diploma de licenciatura Como um labrador sai de um lago com um pato morto na boca Estava morto e este o ponto N o consegui arrumar emprego como professor e ent o comecei a trabalhar na lavanderia New Franklin por um sal rio pouco maior do que o que ganhava na Fia o e Tecelagem Worumbo quatro anos antes Eu vivia de s t o em s t o com minha fam lia e nenhum deles dava para o Sena mas sim para algumas das ruas menos agrad veis de Bangor onde os carros de pol cia costumavam fazer rondas s duas da madrugada de s bado Eu quase nunca via roupas de uso pessoal na lavanderia New Franklin a menos
228. manuscrito hologr fico gravado em couro de porco Aqui haveria um corte pensei e voltar amos ao remoto ref gio de Annie no Colorado seis ou oito meses depois para o final surpreendente Paul se foi seu quarto de doente tendo sido transformado em um altar para Misery Chastain mas Misery a porca continua em evid ncia grunhindo serenamente em seu chiqueiro ao lado do celeiro Nas paredes do Quarto de Misery est o capas de livros fotos dos filmes de Misery fotos de Paul Sheldon talvez uma manchete de jornal com o texto ROMANCISTA FAMOSO CONTINUA DESAPARECIDO No centro do quarto cuidadosamente iluminado est um nico livro sobre uma mesinha de cerejeira claro em homenagem ao sr Kipling a Edi o de Annie Wilkes de O retorno de Misery A capa linda e deveria ser a pele de Paul Sheldon E onde est Paul Seus ossos podem estar enterrados atr s do celeiro mas pensei que era bem prov vel que a porca tivesse comido as partes saborosas N o era ruim e teria dado uma hist ria muito boa n o seria um livro t o bom no entanto ningu m gostaria de torcer por um sujeito ao longo de trezentas p ginas e depois descobrir que entre os cap tulos 16 e 17 a porca o tinha devorado mas as coisas se desenrolaram de outra maneira Paul Sheldon acabou se mostrando muito mais astuto do que eu pensava e seus esfor os para assumir o papel de Sherazade e salvar a pr pria vida me deram a oportunidade de dizer algumas co
229. mingo E lembro que depois que as crian as dormiram eu e Tabby pudemos namorar Acho que tivemos muitos momentos felizes naqueles dias mas tamb m muitos assustadores ramos pouco mais que crian as como diz a sabedoria popular e namorar ajudava a n o sucumbir ao desespero N s cuid vamos um do outro e das crian as da melhor maneira poss vel Tabby vestia o uniforme cor de rosa da Dunkin Donuts e chamava a pol cia quando os b bados que entravam na loja para tomar caf faziam esc ndalo Eu lavava len is de hot is de beira de estrada e continuava a escrever curtas de terror 27 Quando comecei a escrever Carrie a estranha consegui um emprego como professor de ingl s em Hampden uma cidade vizinha Eu receberia 6 400 d lares por ano o que parecia uma soma incr vel depois de ganhar 1 60 de d lar por hora na lavanderia Se tivesse feito as contas com mais cuidado e inclu do o tempo gasto em reuni es ap s o hor rio escolar e na corre o de provas eu talvez tivesse percebido que o valor era bem cr vel e que nossa situa o ficara ainda pior No fim do inverno em mar o de 1973 est vamos morando em Hermon uma cidadezinha a oeste de Bangor Muitos anos depois em uma entrevista para a Playboy chamei Hermon de cu do mundo Os moradores da cidade ficaram furiosos e por isso pe o desculpas aqui Hermon apenas o sovaco do mundo Eu dirigia um Buick com problemas de transmiss o que n o t nhamos dinheiro pa
230. mir Ouvi motoristas de caminh es limpa neves alco latras dizerem a mesma coisa que bebem para acalmar seus dem nios N o importa se voc James Jones John Cheever ou um mendigo b bado que dorme na esta o de trem para um viciado o direito bebida ou droga deve ser preservado a todo custo Hemingway e Fitzgerald n o bebiam porque eram criativos alienados ou moralmente fracos Bebiam porque isso que b bados est o programados para fazer bem prov vel que gente criativa de fato esteja mais propensa ao alcoolismo do que gente de outras reas mas e da Somos todos iguais quando estamos vomitando na sarjeta 37 No fim de minhas aventuras eu estava bebendo uma caixa com 6 latas de cerveja de 470 ml por noite e tem um romance C o raivoso que mal me lembro de ter escrito N o digo isso com orgulho ou vergonha mas com um vago sentimento de tristeza e perda Eu gosto do livro E queria muito me lembrar de ter curtido as partes boas quando as coloquei no papel No per odo mais dif cil eu n o queria mais beber mas tamb m n o queria ficar s brio Eu me sentia exclu do da vida No in cio da jornada de recupera o apenas tentei acreditar em quem dizia que as coisas melhorariam com o tempo E nunca parei de escrever Algumas das coisas que surgiram eram hesitantes e insossas mas pelo menos estavam saindo Eu enterrava essas paginas tristes e sem brilho na gaveta de baixo de minha mesa e partia para o projeto seguint
231. mo irm o embora fosse esperto demais para um menino de 10 anos Sua intelig ncia sempre lhe arrumava confus o e ele acabou aprendendo provavelmente depois que limpei a bunda com urtiga que quase sempre era poss vel colocar o irm ozinho no epicentro da hist ria quando a encrenca era inevit vel Dave nunca me pediu para assumir toda a culpa por suas cagadas geralmente brilhantes ele n o era nem dedo duro nem covarde mas muitas vezes me pediu para dividir o fardo Acho que foi por isso que ficamos encrencados quando Dave represou o riacho que passava pela cidade e inundou boa parte da rua West Broad Tamb m foi por dividirmos a culpa que corremos risco de vida ao p r em pr tica um projeto de ci ncias quase letal de meu irm o Est vamos em 1958 provavelmente Eu estudava na Center Grammar School Dave na Stratford Junior High Minha m e trabalhava na lavanderia Stratford onde era a nica mulher branca na equipe que passava roupas Era isso que ela estava fazendo passando len is enquanto Dave constru a o projeto da Feira de Ci ncias Meu irm o n o era o tipo de menino que se contentava em desenhar a anatomia de um sapo em cartolina ou em fazer a Casa do Futuro com blocos de montar e rolos de papel toalha pintados Dave era ambicioso O projeto daquele ano era o Eletroima Superlegal do Dave Meu irm o adorava coisas superlegais e coisas que tinham Dave no nome este ltimo h bito culminou no Regras de Dave de que
232. mpedia que ela gritasse Merda se deixasse queimar o assado ou acertasse o ded o ao martelar um prego na parede Tamb m n o impede a maioria das pessoas crist os ou pag os de dizer algo semelhante ou at mais pesado quando o cachorro vomita no tapete ou o carro escorrega do macaco importante dizer a verdade muitas coisas dependem dela como William Carlos Williams quase disse quando estava escrevendo sobre o trenzinho vermelho A Legi o da Dec ncia pode n o gostar da palavra merda e talvez voc tamb m n o goste muito mas algumas vezes n o d para fugir dela nunca uma crian a correu para a m e para dizer que a irm zinha defecou na banheira Talvez ela dissesse fez coc mas cagou lamento dizer a fala mais prov vel crian as pequenas escutam tudo mesmo Voc tem que dizer a verdade se quiser que seu di logo tenha a resson ncia e o realismo que Harts War por melhor que seja a hist ria n o tem inclusive sobre o que as pessoas dizem quando martelam o dedo Se voc trocar merda por droga por se preocupar com a Legi o da Dec ncia estar rompendo o contrato t cito que existe entre o escritor e o leitor a promessa de dizer a verdade sobre as a es e falas das pessoas por meio de uma hist ria ficcional Por outro lado um de seus personagens a tia velha e solteirona do protagonista por exemplo talvez diga mesmo droga em vez de merda depois de martelar o dedo Voc vai s
233. mundo uma pessoa temente a Deus e com um sorriso no rosto encantando os eleitores por se recusar a jogar o jogo da forma convencional As t ticas de campanha de Greg Stillson como eu as imaginei vinte anos atr s s o bastante semelhantes s que Jesse Ventura usou em sua vitoriosa campanha para governador em Minnesota Ainda bem que Ventura n o parece ter nenhuma outra semelhan a com Stillson O protagonista de 4 zona morta Johnny Smith tamb m um sujeito comum do tipo temente a Deus s que com ele isso n o s fachada A nica coisa que o diferencia dos outros a capacidade limitada de ver o futuro desenvolvida ap s um acidente na inf ncia Quando Johnny aperta a m o de Stillson em um com cio ele tem uma vis o do pol tico se tornando presidente dos Estados Unidos e dando in cio Terceira Guerra Mundial Johnny chega conclus o de que a nica forma de impedir isso a nica maneira de salvar o mundo metendo uma bala na cabe a de Stillson Johnny s diferente de outros m sticos violentos e paranoicos em um aspecto ele de fato enxerga o futuro S que todos n o dizem o mesmo situa o tinha um sabor tenso e criminoso que me atraiu Achei que a hist ria funcionaria se eu conseguisse fazer de Johnny um homem decente sem transform lo em um santo A mesma coisa com Stillson s que ao contr rio eu queria que ele fosse cruel e realmente assustasse o leitor n o s por causa do potencial de viol ncia
234. ndo o manuscrito estava pronto o livro estava pronto Era s mandar imprimir Ainda assim acho que certas coisas s o v lidas para a maioria dos escritores e sobre essas que quero falar agora Se voc j escreve h algum tempo n o vai precisar muito de minha ajuda nessa parte pois deve ter a pr pria rotina Se no entanto voc iniciante siga meu conselho e fa a sua hist ria passar por pelo menos duas vers es a que voc faz com a porta do escrit rio fechada e a que voc faz com a porta aberta Com a porta fechada baixando o que estiver na cabe a direto para a p gina escrevo o mais r pido poss vel e continuo me sentindo confort vel Escrever fic o especialmente livros longos pode ser um trabalho dif cil e solit rio algo como cruzar o oceano Atl ntico em uma banheira N o faltam ocasi es em que as d vidas aparecem Se escrevo r pido colocando a hist ria no papel exatamente como ela aparece em minha cabe a voltando atr s apenas para conferir os nomes dos personagens e as partes relevantes do passado de cada um sinto que consigo manter o entusiasmo original e ao mesmo tempo deixar para tr s as d vidas que est o sempre esperando para aparecer A primeira ver o a Vers o com Toda a Hist ria deve ser escrita sem ajuda ou interfer ncia de ningu m Pode ser que em determinado momento voc queira mostrar o que est fazendo para algu m muito comum que esse algu m seja a pessoa com quem
235. ng pobtic partiy beesuse Oster a Where eise you in cherge if not in Oln s r And why not was a room wi pictures on the walls a good rug on the floor and good cigars atrhough nes Cuban gt in the humi _ i dor A lot of managers had no doubt conducted a lot of business in here since Orrotero 1910 in its own way it was as New York as the blonde wamans in her black off the shoulder dress her Tha York perfume and her unarticulated promise of sleek sex in the small hours of the morning z New York sex Mike himself was from Omaha although he hadn t been back there in lowe years You still don t think I can talk you out of this l a idea of yours do you Ostermeyer asked As I know you can t Mike said replacing the cig arette behind his ear AHist riado Hort you OD Mike Enslin ainda estava na porta girat ria quando viu PENA DO gerente do Hotel Dolphin sentado em uma das poltronas estofadas do lobby Mike ficou pouce preocupado Acho que eu devia ter trazido a porra do advogado de novo pensou ele Bem agora era tarde E mesmo que Ones decidisse colocar mais uma barreira ou duas entre Mike e o quarto 1408 n o seria t o mau assim sirptesmente seria havia compensa es mei urmetenmento dabist rra quando ete finalmemte cea Ostermeyer o viu ergueuse estava cruzando o lobby com a m o pequena e gorducha estendida quando Mike surgiu pela porta girat ria O D
236. nhe o na hora e agrade o a Deus por ter algu m por perto para me avisar que a braguilha est aberta antes de sair em p blico Al m da primeira leitura de Tabby eu geralmente envio manuscritos para quatro a oito pessoas que v m avaliando minhas hist rias ao longo dos anos Muitos textos sobre escrita s o contra pedir a amigos para ler seu material sugerindo que voc n o estar disposto a receber uma opini o muito sincera de pessoas que jantam em sua casa e levam os filhos para brincar com os seus no parque injusto segundo essa vis o colocar algu m nessa posi o O que acontece se ele achar que precisa dizer Sinto muito meu camarada voc escreveu muita coisa boa no passado mas isso est uma merda A ideia tem alguma validade mas acho que uma opini o isenta n o bem o que estou procurando E acredito que a maioria das pessoas que s o inteligentes o suficiente para ler um romance tamb m tem tato o bastante para encontrar uma maneira mais gentil de dizer est uma merda embora todo mundo saiba que acho que pode melhorar na verdade significa est uma merda n o Al m disso se voc realmente escreveu algo p ssimo acontece como autor de Caminh es eu tenho autoridade para falar n o melhor ouvir a not cia da boca de um amigo enquanto a edi o ainda consiste em meia d zia de c pias Quando voc distribui seis ou oito manuscritos de um livro recebe seis ou oito opini es a
237. nho paciente Na recep o um homem com o aspecto amarrotado de quem viajou muitas horas na classe executiva discutia a reserva com uma mulher usando um vestido preto chique que tamb m serviria como roupa de festa Era um dia t pico no Hotel Dolphin Todos mereciam aten o menos o pobre sr Ostermeyer que tinha ca do nas garras do escritor Sr Ostermeyer repetiu Mike sentindo um pouco de pena do homem N o disse Ostermeyer por fim Nenhum problema mas sr Enslin posso falar com o senhor por um instante em meu escrit rio Ent o pensou Mike ele quer tentar mais uma vez Em outras circunst ncias o escritor talvez ficasse impaciente Naquele momento n o A situa o ajudaria no cap tulo sobre o quarto 1408 garantindo o apropriado tom nefasto que os leitores de seus livros pareciam esperar seria Um ltimo Aviso mas n o era s isso At ent o mesmo depois de tanto postergar Mike Enslin ainda n o tinha certeza agora n o restava d vida Ostermeyer n o estava fingindo Ostermeyer realmente tinha medo do quarto 1408 e do que poderia acontecer a Mike naquela noite Claro sr Ostermeyer Deixo minha maleta na recep o ou melhor levar comigo Eu levo para o senhor Vamos Ostermeyer como um bom anfitri o estendeu a m o para pegar a maleta Sim ele ainda tinha alguma esperan a de convencer Mike a n o ficar no quarto Caso contr rio teria encaminhado o escritor recep
238. nos propenso a diminuir o ritmo ou a se concentrar na coisa errada em ser maravilhoso por exemplo em vez de contar a droga da hist ria Agora vamos dizer que voc tenha terminado a primeira vers o Parab ns Bom trabalho Abra um champanhe pe a uma pizza fa a o que voc costuma fazer quando quer comemorar Se existe algu m que mal pode esperar para ler seu romance digamos que seu marido ou mulher algu m que talvez esteja trabalhando de nove s seis e ajudando a pagar as contas enquanto voc corre atr s do seu sonho esta a hora de entregar o ouro desde que seu primeiro leitor ou leitores prometa n o fazer coment rios sobre o livro at que voc esteja preparado para conversar com ele ou eles sobre o assunto Isso pode parecer um pouco arbitr rio mas n o Voc trabalhou muito e precisa de um tempo muito ou pouco depende de cada escritor para descansar Sua mente e sua imagina o duas coisas relacionadas mas n o iguais precisam se reciclar pelo menos com rela o a esse trabalho espec fico Meu conselho tirar uns dias de folga sair para pescar fazer remo ou montar um quebra cabe a e depois come ar a trabalhar em outra coisa Algo mais curto de prefer ncia algo que mude completamente a dire o e o ritmo do livro rec m finalizado Escrevi contos muito bons como O corpo e Aluno inteligente publicados no livro Quatro esta es entre vers es de trabalhos mais
239. ntilador seria necess rio com certeza o ver o estava muito quente e no dia em que voltei a trabalhar a temperatura na rua era de 35 graus O quartinho dos fundos n o estava muito mais fresco Tabby levou algumas horas para organizar as coisas e naquela tarde s quatro ela me empurrou cozinha afora at chegar rec m constru da rampa para cadeira de rodas que dava no quartinho Ela me fizera um maravilhoso ninho ali laptop e impressora conectados lado a lado abajur de mesa manuscrito com as notas do m s anterior cuidadosamente colocadas em cima canetas materiais de refer ncia No canto da mesa estava um porta retratos com a foto do nosso filho ca ula que ela tirara no in cio do ver o Est tudo certo Maravilhoso respondi e a abracei Estava mesmo maravilhoso Maravilhoso como ela A Tabitha Spruce de Oldtown Maine que eu conhecia sabia quando eu estava trabalhando demais mas tamb m sabia que s vezes era o trabalho que me libertava Ela me posicionou na mesa me deu um beijo na testa e depois me deixou ali para descobrir se eu ainda tinha alguma coisa a dizer No fim das contas eu tinha um pouco mas sem a compreens o intuitiva de minha mulher de que sim era hora n o sei se algum de n s jamais teria comprovado A primeira sess o de escrita durou uma hora e quarenta minutos de longe o maior per odo que eu passei sentado desde o dia em que fora atropelado pelo furg o de Smith Quando acabei
240. o Se eu n o acreditasse nisso escrever um livro como este seria perda de tempo Foi assim que aconteceu comigo e nada mais um processo desconjuntado de crescimento em que ambi o desejo sorte e um pouco de talento tiveram seu quinh o N o se d ao trabalho de tentar ler as entrelinhas nem procure por uma linha mestra N o existem linhas s vislumbres a maioria fora de foco Em minha lembran a mais antiga eu imaginava que era outra pessoa imaginava que era na verdade o menino fort o do circo Ringling Brothers Foi na casa dos meus tios Ethelyn e Oren em Durham no estado do Maine Minha tia se lembra bem da hist ria e diz que eu tinha uns 2 anos e meio de idade talvez 3 Encontrei um tijolo de cimento no canto da garagem e consegui levant lo Depois o carreguei bem devagar ao longo do ch o liso enquanto em minha cabe a carregava o bloco por todo o picadeiro usando um collant com estampa de pele de animal provavelmente de leopardo A multid o estava muda A luz brilhante e branco azulada do refletor iluminava meu incr vel progresso Os rostos maravilhados contavam a hist ria eles nunca tinham visto uma crian a t o forte E ele s tem 2 anos murmurou algu m incr dulo Eu n o sabia mas havia um ninho de vespas debaixo do tijolo Uma delas provavelmente irritada com a mudan a saiu do ninho e me picou na orelha A dor era brilhante como uma inspira o venenosa Foi a pior dor que eu havia sen
241. o de papel qualquer embora algumas das hist rias Eclipse total por exemplo sejam t o complexas quanto as que voc encontra em romances policiais N o se esque a no entanto de que existe uma enorme diferen a entre hist ria e trama hist ria honrada e confi vel a trama enganadora e funciona melhor quando mantida em c rcere privado Cada um dos romances resumidos acima foi refinado e detalhado pelo processo de edi o claro mas a maioria dos elementos j existia de in cio O filme j deve aparecer na primeira montagem disse me o montador Paul Hirsch certa vez O mesmo acontece com livros Acho dif cil algu m consertar incoer ncias ou uma hist ria mal estruturada com apenas uma segunda vers o Este livro n o uma apostila por isso n o h muitos exerc cios mas gostaria de lhe propor um agora caso voc sinta que todo esse papo sobre situa o substituindo enredo n o passe de conversa para boi dormir Vou mostrar a voc a localiza o de um f ssil Sua tarefa escrever cinco ou seis p ginas de narrativa sem enredo relacionadas a esse f ssil Dito de outra forma quero que voc escave em busca dos ossos e veja como eles s o Acho que voc pode ficar bastante surpreso e deliciado com os resultados Pronto Aqui vamos n s Todo mundo est familiarizado com os detalhes b sicos da hist ria a seguir Com pequenas varia es ela costuma aparecer nas p ginas policiais de jornais importantes sem
242. o deu certo com os prisioneiros mais uma vez reunidos a vida p de voltar ao normal Sondra e Dodie j tinham morrido na poca em que comecei a escrever Carrie a estranha Sondra saiu do trailer de Durham para longe do olhar agonizante do salvador moribundo e se mudou para um apartamento em Lisbon Falls Ela deve ter trabalhado em algum lugar nas redondezas talvez em uma tecelagem ou f brica de cal ados Era epil tica e morreu durante uma convuls o Morava sozinha ent o n o havia algu m para ajudar quando ela caiu com a cabe a inclinada para o lado errado Dodie se casou com um homem do tempo da T V que ganhou certa reputa o na Nova Inglaterra pela dic o arrastada caracter stica do Maine Ap s o nascimento de um filho acho que o segundo Dodie foi at o por o e colocou uma bala de calibre 22 na barriga Foi um tiro certeiro ou equivocado dependendo do ponto de vista que atingiu a veia porta e a matou Disseram na cidade que foi depress o p s parto muito triste Eu por minha vez suspeito que a ressaca p s col gio possa ter contribu do para a trag dia Nunca gostei de Carrie a vers o feminina de Eric Harris e Dylan Klebold os adolescentes respons veis pelo massacre de Columbine mas atrav s de Sondra e Dodie consegui pelo menos entend la um pouco Tenho pena dela e tamb m de seus colegas porque muito tempo atr s tamb m fui um deles 30 Enviei o manuscrito de Carrie a estranha para a edi
243. o foi tudo O momento mais tenebroso vem sempre antes do come o Depois as coisas s podem melhorar 7 Para mim as coisas melhoraram Passei por mais duas opera es na perna desde aquela primeira tarde abafada no quartinho dos fundos tive uma onda de infec es bastante grave e continuo a tomar uns cem comprimidos por dia mas o fixador externo j se foi e eu continuo a escrever Em alguns dias a escrita um caminho longo e muito sombrio Em outros cada vez mais medida que minha perna come a a se recuperar e minha mente se reacostuma velha rotina eu sinto aquela alegre agita o aquele sentimento de ter encontrado e colocado no papel as palavras certas como decolar com um avi o voc est no ch o no ch o no ch o e de repente est subindo andando em um tapete m gico de ar senhor de tudo o que v Escrever me faz feliz porque nasci para isso Ainda n o recobrei toda a energia consigo fazer menos da metade do que costumava fazer em um dia mas tenho o suficiente para me levar at o fim deste livro e sou grato por isso A escrita n o salvou minha vida fui salvo pela compet ncia do dr David Brown e pelo amor e o cuidado de minha mulher mas continua a fazer o que sempre fez transformar minha vida em um lugar mais luminoso e agrad vel escrita n o para fazer dinheiro ficar famoso transar ou fazer amigos No fim das contas a escrita para enriquecer a vida daqueles que l
244. o que prefiro as bobagens semanais servidas em jornais e revistas onde consigo tanto receitas culin rias e fotos de cheesecakes quanto esc ndalos Para mim o que acontece aos personagens enquanto a hist ria se desenrola depende apenas do que vou descobrindo sobre eles no caminho em outras palavras como eles crescem s vezes eles crescem pouco Se crescem demais come am a influenciar o curso da hist ria e n o o contr rio Eu quase sempre come o com algo circunstancial N o digo que o certo mas como sempre trabalhei Se a hist ria termina da mesma maneira no entanto eu a considero um tanto fracassada n o importa o quanto pare a interessante para mim ou para os outros Acho que as melhores hist rias sempre s o sobre pessoas e n o sobre acontecimentos ou seja s o guiadas pelos personagens Quando por m a barreira do conto ultrapassada de 2 mil a 4 mil palavras digamos eu j n o acredito tanto no chamado estudo de personagem acho que no fim sempre a hist ria que comanda Ei se voc quiser um estudo de personagem compre uma biografia ou ingressos para as produ es de teatro universit rio Voc vai ter todos os personagens que quiser ou aguentar Tamb m importante lembrar que ningu m o vil o o melhor amigo ou a puta com cora o de ouro na vida real Fora da fic o cada um de n s se v como o personagem principal o protagonista o chef o a c mera est em n s
245. oda Eles olharam horrorizados para os ossos aparecendo pela ponta dos dedos percebendo que ela morrera arranhando a parede enlouquecidamente tentando escapar eu tinha vendido tr s d zias Eu tinha 9 d lares em moedas pesando no fundo de minha pasta que trazia a rea o de Durham a Daddy Cool cuidadosamente ilustrada na forma de grande parte da letra de The Lion Sleeps Tonight O le o dorme hoje noite e andava pela escola como se estivesse em um sonho mal acreditando em minha s bita ascens o ao inesperado reino da riqueza Tudo parecia bom demais para ser verdade E era Quando as aulas do dia terminaram s duas da tarde fui chamado sala da diretora onde me disseram que eu n o podia transformar a escola em um mercado principalmente disse a srta Hisler para vender lixos como A mans o do terror A atitude dela n o me surpreendeu A srta Hisler fora professora em minha antiga escola de uma sala s em Methodist Corners onde eu tinha feito o quinto e o sexto anos L ela me pegara lendo um romance sensacional de revolta adolescente The Amboy Dukes Os brig es da Amboy de Irving Shulman e o tomara de mim A hist ria se repetia e fiquei chateado por n o ter previsto aquele desfecho Naquela poca algu m que fazia algo idiota era chamado de dubber E eu tinha sido um baita dubber O que n o entendo Stevie disse ela por que voc decidiu escrever um livro como este Voc tem ta
246. odas as partes do processo mas essa especialmente agrad vel porque redescubro meu pr prio livro e geralmente gosto dele Isso muda ao longo do processo Quando o livro est no prelo j passei por ele uma d zia de vezes ou mais consigo citar passagens inteiras e s quero que aquela coisa bolorenta v logo embora Isso acontece s mais tarde no entanto a primeira leitura costuma ser muito boa Durante essa leitura a parte superior de minha mente est concentrada na hist ria e em problemas relacionados caixa de ferramentas eliminar pronomes amb guos eu odeio pronomes n o confio neles s o todos escorregadios como um advogado de porta de cadeia incluir frases esclarecedoras onde forem necess rias e claro eliminar todos os adv rbios que eu puder nunca consigo eliminar todos nunca o suficiente No fundo por m estou me fazendo as Grandes Perguntas As principais s o A hist ria coerente Se for o que vai transformar coer ncia em m sica Quais s o os elementos recorrentes Eles se entrela am e formam um tema Em outras palavras eu me pergunto Do que se trata Stevie Tamb m me pergunto O que posso fazer para tornar estas quest es fundamentais ainda mais claras O que quero acima de tudo resson ncia algo que vai permanecer por mais algum tempo na mente e no cora o do Leitor Constante depois que ele fechar o livro e coloc lo de volta na estante Busco maneiras de fazer isso sem tr
247. ois troc lo por recompensas Para hist rias mais interessantes sobre os Selos Verdes leia The Liars Club Nossa troika familiar tinha voltado para o Maine para que minha m e pudesse cuidar dos pais em seus anos de velhice Vov tinha quase 80 anos na poca e estava obesa hipertensa e praticamente cega vov tinha 82 e era esquel tico mal humorado e dado a ataques verborr gicos la Pato Donald que s minha m e entendia Mam e o chamava de Fazza Foram minhas tias que arranjaram aquele trabalho para minha m e talvez pensando que assim matariam dois coelhos com uma cajadada s os velhinhos seriam cuidados em casa por uma filha amorosa e o Inc modo Problema da Ruth estaria resolvido Ela n o estaria mais deriva tentando criar dois meninos flutuando sem destino de Indiana para Wisconsin e depois Connecticut fazendo biscoitos s cinco da manh ou passando len is em uma lavanderia onde a temperatura chegava a 43 C no ver o e o supervisor distribu a comprimidos de sal uma e s tr s da tarde de julho at o fim de setembro Ela odiava o novo trabalho acho na tentativa de tomar conta da irma minhas tias transformaram nossa m e autossuficiente divertida e um pouco maluca em uma meeira que vivia praticamente sem dinheiro A grana que as irm s mandavam para ela todo m s mal dava para a comida Elas enviavam caixas de roupas para n s Todos os anos perto do fim do ver o tio Clayt e tia Ella que n o e
248. olphin ficava na rua 61 perto da esquina com a Quinta Ave nida ira pequeno mas estiloso Um homem e uma mulher em trajes de noite passaram por Mike en quanto ele se aproximava de stermreyes trocando a pequena maleta de viagem para a ai esquerda para cumprimentar o gerente A mulher era loura e estava de preto claro e o aroma leve e floral do perfume dela parecia resumir Nova York No bar do mezanino algu m tocava Night and Day como se enfatizasse o resumo Boa noite sr Enslin Sr sia ri Algum problema Om Ostermeyer parecia estar sentindo dor Por um ins tante ele olhou em torno do pequeno mas estiloso lobby como se procurasse ajuda No balc o do con cierge um homem discutia com a esposa sobre in gressos para o teatro enquanto o pr prio concierge observava os d6 com um sorrisinho paciente Na recep o um homem com aspecto amarrotado de quem viajou muitas horas na classe executiva discutia a reserva com uma mulher usando um vestido preto chique que tamb m serviria como roupa de festa Era um dia t pico no Hotel Dolphin Todos mereciam aten o menos o pobre sr Ostemeyes que tinha ca A do nas garras do escritor Olin St Ostermeyes repetiu Mikagsestindo un Gt problemar masisr Enslin posso falar com o senhor por um instante em meu escrit rio contribui no cap tulo sobre o quarto 1408 garantiado Pepto p iade tom nefasto que os leitores de seus li
249. om a Viking que terminaram com uma discuss o est pida sobre dinheiro e relativamente controversos como Jogo perigoso significou muito para mim Entretanto ela tamb m n o hesita quando encontra algo que julga errado Quando isso acontece ela me diz em alto e bom som Em seu papel de cr tica e primeira leitora Tabby geralmente me lembra de uma hist ria que li sobre a esposa de Alfred Hitchcock Alma Reville A sra Reville era o equivalente primeira leitora para o diretor brit nico uma cr tica com olhos de lince que n o tinha medo da crescente reputa o de diretor autoral do mestre do suspense Sorte dele Hitch dizia que queria voar e Alma respondia Termine o caf da manh primeiro Pouco depois de terminar Psicose Hitchcock passou o filme para alguns amigos Eles vibraram com a hist ria que consideraram uma obra prima do suspense Alma esperou em sil ncio que todos acabassem de falar depois disse de maneira firme Voc n o pode lan ar como est Houve um sil ncio estarrecedor com exce o do pr prio Hitchcock que perguntou apenas por que n o Porque respondeu ela Janet Leigh engoliu em seco quando deveria estar morta Era verdade Hitchcock n o argumentou mais do que eu argumento quando Tabby aponta uma de minhas falhas Eu e ela discutimos sobre v rios aspectos de um livro e houve vezes em que fui contra a opini o dela em assuntos subjetivos mas quando ela pega uma bobagem minha eu reco
250. ome longo e pesado Ao troc lo por Olin usando a op o substituir tudo consegui cortar quinze linhas da hist ria em uma tacada s Al m disso quando terminei 1408 percebi que a hist ria provavelmente se tornaria parte de uma cole o em udio Eu mesmo leria as hist rias e n o queria ficar na pequena cabine de grava o repetindo Ostermeyer Ostermeyer Ostermeyer o dia todo Por isso resolvi mudar 3 Nesse trecho eu estava pensando demais pelo leitor Como a maioria das pessoas prefere pensar sozinha eu me senti vontade para transformar as cinco linhas em apenas duas 4 Muita dire o de palco muita elabora o do bvio e muito pano de fundo canhestro Tudo fora 5 Ah aqui est a camisa havaiana da sorte Ela aparece na primeira vers o mas s por volta da p gina trinta E isso muito tarde para mostrar um elemento importante ent o eu a coloco no in cio Existe uma velha m xima do teatro que diz Se existe uma arma no console da lareira no Primeiro Ato ela deve ser usada no Terceiro O contr rio tamb m verdade se a camisa havaiana da sorte do protagonista tem um papel importante no final da hist ria ela deve ser apresentada no in cio Caso contr rio ficar parecendo um deus ex machina o que de fato 6 A primeira vers o diz O escritor se sentou em uma das cadeiras em frente mesa Da onde mais ele se sentaria No ch o Com certeza n o ent o o trecho sai Tamb m dec
251. on Michael Associa o Judaica de Pol cia Child Lee a cole o Jack Reacher come ando por Dinheiro sujo Connelly Michael Correntezas da maldade Costello Mark Big If Cunningham Michael As horas Danielewski Mark Z House of Leaves Diaz Junot A fantdstica vida breve de Oscar Wao Dooling Richard White Mans Grave Downing David Zoo Station Dubus Andre O jardim dos ltimos dias Enger Leif Peace Like a River Exley Frederick A Fans Notes Ferris Joshua E n s chegamos ao fim Franzen Jonathan Tremor Franzen Jonathan As corre es Gaiman Neil Deuses americanos Gardiner Meg Crosscut Gardiner Meg The Dirty Secrets Club Gay William The Long Home Goddard Robert Painting the Darkeness Gruen Sara Agua para elefantes Hall Steven Cabe a tubar o Helprin Mark Um soldado da Grande Guerra Huston Charlie trilogia Hank Thompson Johnson Denis rvore de fuma a Keillor Garrisson ed Good Poems Kidd Sue Monk 4 vida secreta das abelhas Klosterman Chuck Fargo Rock City Larsson Stieg The Girl with the Dragon Tattoo Le Carr John Absolute Friends Lehane Dennis Naquele dia Leonard Elmore Up in Honeys Room Lethem Jonathan A fortaleza da solid o Lippman Laura O que os mortos sabem Little Bentley Dispatch Malamud Bernard O faz tudo Martel Yann A Vida de Pi McCarthy Cormac Onde os velhos n o t m vez McEwan lan Repara o Meek James O ato de amor do povo
252. or mais meia hora mas n o me lembro de uma nica palavra do que dissemos Depois de desligar tentei falar com Tabby na casa da m e dela Marcella irm ca ula de Tab disse que ela j tinha sa do Fiquei andando de meias de um lado a outro do apartamento explodindo de vontade de dar as boas not cias e sem ter ningu m para ouvir Eu tremia feito vara verde Por fim calcei os sapatos e andei at o centro da cidade A nica loja aberta na rua principal de Bangor era a drogaria LaVerdiere De repente senti que precisava dar um presente de Dias das M es a Tabby algo louco e extravagante Tentei mas eis uma das verdades da vida n o existem coisas realmente loucas e extravagantes venda na LaVerdiere Fiz o melhor que pude Comprei um secador de cabelo Quando voltei para casa ela estava na cozinha desfazendo as bolsas das crian as e cantando junto com o r dio Dei lhe o secador de presente Ela olhou para o aparelho como se nunca tivesse visto um na vida Pra que isso perguntou ela Coloquei minhas m os em seus ombros E contei sobre a venda da edi o em brochura Ela pareceu n o entender Contei de novo Por sobre meus ombros Tabby olhou para nosso apartamento nojento de quatro c modos como eu tinha feito e come ou a chorar 32 Fiquei b bado pela primeira vez em 1966 Foi na viagem dos veteranos do col gio a Washington DC Fomos de nibus cerca de quarenta jovens e tr s respons veis um deles ali s era
253. orando outros planetas ou sobre um homem que mata a mulher e depois tenta se livrar do corpo dela com um triturador de madeira Como o escritor faz para encaixar essas ideias ou mil outras igualmente fantasiosas na diretriz escreva sobre o que voc sabe Acho que voc deve come ar interpretando escreva sobre o que voc sabe da maneira mais abrangente e inclusiva poss vel Se voc encanador voc conhece encanamentos mas isso est muito longe de ser toda a dimens o de seu conhecimento o cora o tamb m sabe coisas bem como a imagina o Gra as a Deus Se n o fosse pelo cora o e pela imagina o o mundo da fic o seria terra de ningu m Talvez nem existisse na verdade Em termos de g nero acho justo considerar que voc vai come ar escrevendo o que mais gosta de ler eu com certeza ja falei do meu caso de amor juvenil com a EC Comics at que as hist rias de terror em quadrinhos da editora fossem para o brejo Mas eu realmente adorava as HQs bem como filmes de terror como J Married a Monster from Outer Space e o resultado foram hist rias como Eu era um profanador de t mulos juvenil At hoje n o fa o muito mais do que vers es ligeiramente mais sofisticadas daquele conto nasci com uma paix o pela noite e pelo caix o inquieto basicamente Se voc n o gosta eu s posso lamentar o que tenho Se por acaso voc for f de fic o cient fica natural que queira escrever fic o c
254. os Estados Unidos uma edi o de capa dura hardcover normalmente lan ada antes da edi o brochura paperback N E Z Essa obra mais tarde por influ ncia de Tabitha e dos editores de King foi intitulada Salemi Lot Salem no Brasil N E O que a escrita Telepatia claro muito interessante quando se para e pensa sobre o assunto por anos muita gente discutiu se a tal da telepatia existe ou n o sujeitos como J B Rhine queimaram as pestanas tentando criar um processo v lido para isol la e o tempo todo ela estava aqui bem debaixo de nosso nariz como 4 carta roubada do sr Poe Todas as artes dependem de certo grau de telepatia mas acredito que a escrita ofere a a destila o mais pura Posso estar sendo parcial mas mesmo que esteja podemos escolher a escrita porque afinal estamos pensando e falando sobre ela Meu nome Stephen King Estou escrevendo a primeira vers o desta parte em minha mesa aquela sob o telhado inclinado em uma manh nevada de dezembro de 1997 Tenho algumas coisas na cabe a Umas s o ruins problemas de vis o compras de Natal que ainda nem comecei a fazer minha esposa resfriada na rua neste frio outras boas nosso filho ca ula veio fazer uma visita surpresa vou tocar Brand New Cadillac Cadilac novinho em folha do Vince Taylor com os Wallflowers em um show mas neste momento tudo isso est aqui em minha mente Eu por m estou em outro lugar em um por o ond
255. os saltados e cabelos brancos la Elsa Lanchester em A noiva de Frankenstein Quando a gente est conversando sempre tenho vontade de botar as m os embaixo dos olhos da sra Taylor para o caso de eles ca rem dizia minha m e Nosso novo apartamento na rua West Broad ficava no terceiro andar Descendo a rua um quarteir o perto do mercado Teddy s e em frente loja de materiais de constru o Burrets havia um enorme terreno vazio tomado pela vegeta o com um ferro velho ao fundo e um trilho de trem passando no meio Esse um dos lugares aonde costumo voltar em minha imagina o ele reaparece constantemente em meus livros e hist rias sob diversos nomes A turma de Jt a Coisa o chamava de Barrens n s cham vamos de selva Dave e eu exploramos o terreno pela primeira vez pouco depois de nos mudarmos para a casa nova Era ver o Estava quente Estava timo Est vamos embrenhados nos verdes mist rios daquela nova e divertida rea de lazer quando eu senti que precisava me aliviar imediatamente Dave me leve para casa pedi Tenho que empurrar Esse foi o termo que nos ensinaram para essa fun o corporal em particular David n o estava nem a Vai ali no mato mesmo disse ele Levaria pelo menos meia hora para me levar para casa e ele n o tinha a menor inten o de abrir m o daqueles minutos preciosos s porque o irm ozinho queria soltar um barro N o d exclamei chocado
256. os se apresentam em concursos de poesia vestindo camisas de gola rul pretas e cal as c qui amarrotadas e declamando versos burlescos sobre meus furiosos peitos l sbicos e os becos ngremes onde gritei o nome de minha m e Escritores se organizam na mesma pir mide que vemos em todas as reas do talento e da criatividade humanos Na base ficam os ruins Acima deles est um grupo um pouco menor mas ainda grande e acolhedor os escritores competentes Eles tamb m podem ser encontrados no jornal de sua regi o nas prateleiras das livrarias e em leituras de poesia Eles entendem que embora uma l sbica possa estar com raiva seus peitos v o continuar sendo peitos O pr ximo n vel bem menor S o os escritores bons de verdade Acima deles acima de quase todos n s pairam os Shakespeares Faulkners Yeatses Shaws e Eudora Weltys S o g nios acidentes divinos com um talento que est al m de nossa capacidade de compreens o absolutamente fora de alcance A maioria dos g nios sequer compreende a si mesmo Muitos deles levam vidas infelizes percebendo pelo menos em algum n vel que n o passam de aberra es sortudas a vers o intelectual das modelos que por acaso nasceram com as ma s do rosto certas e com seios que se adequam ao padr o de uma era Estou chegando ao cora o deste livro com duas teses ambas simples A primeira que a boa escrita consiste em dominar os fundamentos vocabul rio gram tica
257. osso homem em Havana Halberstam David The Fifties Hamill Pete Why Sinatra Matters Harris Thomas Hannibal Haruf Kent Plainsong Hoeg Peter Senhorita Smilla e o sentido da neve Hunter Stephen Dirty White Boys Ignatius David Justa causa Irving John Vi va por um ano Joyce Graham The Tooth Fairy Judd Alan The Devils Own Work Kahn Roger Good Enough to Dream Karr Mary The Liars Club Ketchum Jack Right to Life King Tabitha Survivor King Tabitha The Sky in the Water n o publicado Kingsolver Barbara A b blia envenenada Krakauer Jon No ar rarefeito Lee Harper O sol para todos Lefkowitz Bernard Our Guys Little Bentley The Ignored Maclean Norman 4 River Runs Through It and Other Stories Maugham W Somerset The Moon and Sixpence McCarthy Cormac Cidades da plan cie McCarthy Cormac travessia McCourt Frank As cinzas de Angela McDermott Alice Charming Billy McDevitt Jack Ancient Shores McEwan Ian Amor sem fim McEwan Ian O jardim de cimento McMurtry Larry Pra l do fim do mundo McMurtry Larry Ossana Diana Zeke and Ned Miller Walter M Um c ntico para Leibowitz Oates Joyce Carol Zombie O Brien Tim No lago dos bosques O Nan Stewart A mil por hora Confiss es de Speed Queen Ondaatje Michael O paciente ingl s Patterson Richard North No Safe Place Price Richard Freedomland Uma hist ria americana Proulx Annie Curto alcance Proulx
258. otas Assim que tiver feito isso devo conseguir corrigir meus piores erros e acrescentar alguns trechos mais detalhados N o muitos no entanto a pesquisa pano de fundo e a palavra chave em pano de fundo fundo A hist ria que preciso contar em Buick 8 tem a ver com monstros e segredos Ela n o sobre os procedimentos policiais no oeste da Pensilv nia O que busco apenas um toque de verossimilhan a como acrescentar um punhado de ervas e dar o toque final a um bom molho de espaguete Esse senso de realidade importante em qualquer trabalho de fic o mas acho ainda mais importante em hist rias que lidem com o anormal ou paranormal Al m disso os detalhes sempre considerando que sejam os corretos podem restringir a mar de leitores chatos e obsessivos cujo nico interesse na vida ao que parece apontar o que os escritores fizeram de errado invariavelmente o tom dessas cartas de puro deleite Quando voc se afasta da regra escreva sobre o que voc sabe a pesquisa se torna inevit vel e pode contribuir muito para a hist ria S n o deixe que o rabo acabe abanando o cachorro lembre se voc est escrevendo um romance n o um artigo acad mico hist ria sempre vem em primeiro lugar Acho que at mesmo James Michener e Arthur Hailey concordariam com isso 14 Sempre me perguntam se acredito que cursos e semin rios de escrita podem ajudar o escritor iniciante Quem pergunta quase sempre
259. parecendo a sombra de um peixe boi deixava Dave maluco de impaci ncia Al m disso ele queria muito publicar fotografias no jornal Dave tirava boas fotos e aos 16 anos as revelava tamb m Ele montou uma sala escura em um closet e naquele c modo m nimo que fedia a produtos qu micos produziu imagens que eram muitas vezes surpreendentes na clareza e na composi o a foto na contracapa da edi o norte americana de Os justiceiros que me mostra com uma edi o da revista que trazia minha primeira hist ria publicada foi feita por Dave com uma velha Kodak e revelada na sala escura do closet Al m dessas frustra es as placas de gelatina do hect grafo tendiam a incubar e sustentar col nias estranhas de seres parecidos com esporos que cresciam na atmosfera insalubre do por o n o importava qu o meticulosos f ssemos ao cobrir aquela maldita m quina lerda logo que as tarefas de impress o do dia terminavam O que parecia bastante normal na segunda feira podia se transformar em algo sa do de uma hist ria de terror de H P Lovecraft no fim de semana Em Brunswick onde Dave estudava ele encontrou uma loja com um pequeno mime grafo venda Funcionava mal A matriz era batida m quina em est nceis que podiam ser comprados na papelaria por 19 centavos a unidade meu irm o chamava essa tarefa de cortar est ncil e o trabalho geralmente era feito por mim porque eu cometia menos erros de datilografia Os est nceis er
260. pouquinho em pouquinho como de uma sentada s Salas de espera s o perfeitas para livros claro Tamb m s o perfeitos os sagu es de teatro antes da pe a as longas e cansativas filas de supermercado e o meu favorito de todos o banheiro Voc pode at ler enquanto dirige gra as revolu o do audiolivro Dos livros que leio a cada ano de seis a doze s o em udio E quanto s maravilhosas transmiss es radiof nicas perdidas deixa disso quantas vezes voc aguenta ouvir o Deep Purple tocando Highway Star Estrela da estrada Ler durante as refei es considerado algo rude pela sociedade mas se voc pretende ser um escritor bem sucedido a rudeza deve ser a pen ltima de suas preocupa es A ltima deve ser a sociedade e o que ela espera de voc De qualquer forma se voc pretende escrever com a maior sinceridade poss vel seus dias como membro da sociedade est o contados Onde mais voc pode ler Tem sempre a esteira ou qualquer outro aparelho aer bico que voc use na academia Eu tento fazer exerc cios aer bicos pelo menos uma hora por dia e acho que ficaria louco sem a companhia de um bom romance Hoje a maioria dos aparelhos para exerc cios dentro ou fora de casa est equipada com monitores de TV mas a televis o seja na academia ou em qualquer outro lugar uma das ltimas coisas de que um escritor precisa Se voc n o consegue ficar sem os apresentadores exagerados dos notici rio
261. quase engra ado O socorro est a caminho penso eu e isso deve ser bom porque sofri um acidente muito grave Estou deitado na vala com sangue por todo o rosto A perna direita d i Olho para baixo e vejo algo de que n o gosto meu quadril parece estar de lado como se a parte inferior do meu corpo tivesse sido torcida meia volta para a direita Olho de novo para o homem com a bengala e pe o Por favor me diga que est s deslocado Ah n o responde ele Como o rosto a voz animada mas demonstra pouco interesse Como se ele estivesse assistindo ao acidente pela TV enquanto come uma barra de chocolate Marze Est quebrado em cinco ou seis lugares eu acho Desculpa respondo sabe se Deus por qu e depois apago por mais algum tempo N o um desmaio mais como se o filme da mem ria tivesse sido colado aqui e ali Quando volto de novo um furg o laranja e branco est parado ao lado da estrada com o pisca alerta ligado Um param dico da unidade de emerg ncia Paul Fillebrown seu nome est agachado a meu lado Ele est fazendo alguma coisa Cortando minha cal a jeans eu acho embora isso possa ter acontecido depois Pergunto se ele tem um cigarro Ele ri e diz que melhor n o Pergunto se vou morrer Ele responde que n o eu n o vou morrer mas que preciso me levar ao hospital e r pido Qual eu prefiro o de Norway South Paris ou o de Bridgeton Digo que prefiro ir para o Hospital
262. que fosse uma lavagem de rescaldos de inc ndio paga pela seguradora roupas de rescaldos de inc ndio costumavam estar em boas condi es mas tinham cheiro de carne de macaco grelhada A maior parte do que eu colocava e tirava das m quinas eram len is de hot is das cidades costeiras do Maine e toalhas de mesa dos restaurantes costeiros do Maine A imund cie das toalhas era desesperadora Os turistas que saem para jantar no Maine costumam comer mariscos e lagosta Lagosta principalmente Quando chegavam a mim as toalhas em que essas iguarias haviam sido servidas empesteavam todo o ambiente e n o raro estavam fervilhando de vermes As criaturas tentavam escalar meus bra os enquanto eu enchia as m quinas de lavar era como se aqueles bichinhos horrendos soubessem que eu ia cozinh los Pensei que me acostumaria a eles com o tempo mas nunca fui capaz Os vermes eram terr veis mas o cheiro de marisco e carne de lagosta em decomposi o era ainda pior Por que as pessoas s o t o porcas era a pergunta que eu me fazia enquanto enchia as m quinas com toalhas manchadas de vermelho vindas do restaurante Testa s de Bar Harbor Por que as pessoas s o t o porcas porra As roupas de cama e banho vindas de hospitais eram ainda piores Tamb m ficavam tomadas por vermes no ver o mas estes se alimentavam de sangue em vez de carne de lagosta ou caldo de marisco Roupas fronhas e len is infectados eram enfiados no que cham
263. que limpou a bunda com urtiga n o tem direito de pertencer a um clube de pessoas espertas Nunca mais me aventurei muito na s tira 20 Pouco mais de uma semana ap s ser liberado da sala de deten o fui mais uma vez convidado a descer sala do diretor J fui para l sem esperan as me perguntando que tipo de merda eu tinha feito Pelo menos n o era o sr Higgins quem queria me ver fora o conselheiro escolar quem fizera a convoca o Ele me disse que tinham conversado sobre mim sobre como canalizar minha caneta incans vel para usos mais construtivos O conselheiro tinha falado com John Gould editor do jornal semanal de Lisbon e descobriu que havia uma vaga para rep rter esportivo Embora a escola n o pudesse me obrigar a aceitar o emprego todos da diretoria achavam que seria uma boa ideia Ou vai ou racha pareciam dizer os olhos do conselheiro Talvez fosse apenas paranoia minha mas at hoje quase quarenta anos depois continuo achando isso Fiquei me remoendo por dentro Eu j tinha sa do do Regras de Dave estava quase saindo do The Drum e agora ali estava o Lisbon Weekly Enterprise Em vez de ser assombrado pelas guas como Norman Maclean em Nada para sempre eu era um adolescente assombrado por jornais O que eu podia fazer afinal Conferi de novo o que diziam os olhos do conselheiro educacional e disse que ficaria muito feliz em me candidatar vaga Gould n o o conhecido humorista da Nova Inglater
264. que voc queira que uma garota se case com voc ou deseje mudar o mundo Encare a escrita como quiser menos levianamente Deixe me repetir n o encare a p gina em branco de maneira leviana N o estou pedindo que voc comece com rever ncia ou sem questionamentos N o estou pedindo que voc seja politicamente correto ou deixe de lado seu senso de humor Deus queira que voc tenha um Isso n o concurso de popularidade nem os Jogos Ol mpicos da moral nem a Igreja Mas a escrita cacete n o lavar o carro ou passar delineador Se voc lev la a s rio podemos conversar Se voc n o puder ou n o quiser hora de fechar o livro e ir fazer outra coisa Lavar o carro talvez 8 Nos Estados Unidos foram lan adas duas edi es de On Writing a primeira em 2000 a segunda da qual foi traduzida a edi o brasileira em 2010 N E CAIXA DE FERRAMENTAS Grandpa was a carpenter he built houses stores and banks Vov era SOT en ele constru a casas lojas e bancos he chain smoked Camel cigarettes ele fumava um cigarro Camel atr s do and hammered nails in planks outro e pregava pregos em tabuas Era um modelo de retid o aplainava todas as portas shaved even every door e votou em Eisenhower porque Lincoln ganhou a guerra He was level on the level and voted for Eisenhower cause Lincoln won the war Essa uma das minhas letras favoritas de John Prine provavelmente porque meu av tamb m era ca
265. queima de fogos do Dia da Independ ncia Era uma noite abrasadora e as ruas estavam cheias de gente comendo salgadinhos bebendo cerveja e refrigerante e olhando o c u Tabby estava a meu lado segurando minha m o enquanto o c u se acendia em explos es vermelhas e verdes amarelas e azuis Minha mulher se hospedou em um apartamento na cal ada em frente ao hospital e todas as manh s ela me levava ovos poch e ch E parecia que eu precisava mesmo que ela me alimentasse Em 1997 depois de voltar de uma viagem de motocicleta pelo deserto australiano eu pesava 98 quilos No dia em que recebi alta do Centro M dico Central do Maine eu pesava 75 Voltei para minha casa em Bangor em 9 de julho depois de tr s semanas no hospital Comecei um programa di rio de reabilita o que inclu a alongamentos flex o e caminhadas com muletas Tentei n o perder a coragem e continuar na luta Em 4 de agosto voltei ao CMCM para outra cirurgia Ao injetar soro intravenoso em meu bra o o anestesista disse Certo Stephen voc vai se sentir como se tivesse acabado de tomar alguns drinques Abri a boca para dizer que aquilo seria interessante j que eu n o bebia um drinque h 11 anos mas apaguei antes de conseguir falar qualquer coisa Quando acordei os pinos Schanz tinham desaparecido da parte de cima de minha coxa Eu poderia dobrar o joelho de novo O dr Brown anunciou que minha recupera o estava em curso e me mandou para casa para ma
266. r depois me deu um cascudo me enfiou no closet e trancou a porta Pou Se tivesse me trancado no banheiro poderia ter mantido o emprego mas n o Quanto a mim eu n o me importava de ficar no closet Estava escuro mas tinha o cheiro do perfume Coty da minha m e e um reconfortante feixe de luz sob a porta Engatinhei at o fundo do closet com os casacos e vestidos da minha m e ro ando minhas costas Comecei a arrotar arrotos longos e barulhentos que queimavam como fogo N o me lembro de estar enjoado mas devia estar pois quando abri a boca para arrotar mais uma vez acabei vomitando de novo Bem nos sapatos da minha m e Foi o fim da linha para Eula Beulah Quando mam e voltou do trabalho a bab dormia profundamente no sof enquanto o pequeno Stevie estava trancado no closet dormindo a sono solto com uma massa de ovos fritos semidigeridos secando no cabelo 3 Nossa estadia em West De Pere n o foi longa nem bem sucedida Fomos despejados de nosso apartamento no terceiro andar quando o vizinho viu meu irm o de 6 anos engatinhando pelo telhado e chamou a pol cia N o sei onde minha m e estava quando isso aconteceu Tamb m n o sei onde estava a bab daquela semana S sei que eu estava no banheiro em cima do aquecedor de p s descal os tentando ver se meu irm o cairia do telhado ou se voltaria inteiro Ele conseguiu voltar Hoje meu irm o tem 55 anos e mora em New Hampshire 4 Quando eu tinha 5 ou 6 anos perg
267. r as ideias direito seu trabalho na segunda vers o deix los mais claros Se n o os compreende se os trechos do pano de fundo que geraram d vidas no Leitor Ideal tamb m n o est o claros para voc ent o preciso repensar com cuidado os eventos passados para tentar explicar melhor o comportamento dos personagens no presente Tamb m preciso dar muita aten o aos trechos do pano de fundo que seu Leitor Ideal achou enfadonhos Em Saco de ossos por exemplo Mike Noonan o personagem principal um escritor quarent o cuja mulher morre de aneurisma cerebral logo na abertura do livro Come amos no dia da morte dela mas ainda havia muita hist ria pregressa para contar muito mais do que geralmente crio em meus livros Informa es como o primeiro trabalho de Mike como rep rter em um jornal a venda do primeiro romance a rela o com a enorme fam lia da falecida mulher a carreira editorial e acima de tudo a quest o da casa de veraneio no oeste do Maine como ela foi comprada e alguns detalhes anteriores a Mike e Johanna Tabitha minha LI leu tudo com aparente satisfa o mas tamb m havia uma se o de duas ou tr s p ginas sobre o trabalho comunit rio de Mike no ano ap s a morte da mulher em que seu luto foi aumentado por um grave bloqueio criativo Tabby n o gostou desse neg cio de servi o comunit rio E da perguntou ela Quero saber mais sobre os pesadelos dele n o sobre a candidatura
268. ra ado que eu nem sei como descrever Se quiser ser um escritor de sucesso voc precisa ser capaz de descrever a cena e de uma maneira que fa a o leitor sentir um comich o de reconhecimento Se conseguir isso ser recompensado pelos seus esfor os e merecidamente Se n o vai receber muitas cartas de rejei o e talvez explorar uma carreira no fascinante mundo do telemarketing A descri o pobre deixa o leitor confuso e m ope A descri o exagerada o enterra em detalhes e imagens O truque encontrar um bom meio termo Tamb m importante saber o que descrever e o que deixar de lado enquanto voc se concentra no trabalho principal que contar uma hist ria N o sou particularmente f de textos que descrevem nos m nimos detalhes as caracter sticas f sicas das pessoas e o que est o vestindo acho o invent rio de roupas algo particularmente irritante se quisesse ler descri es de roupas eu recorreria a um cat logo de lojas de departamento N o consigo me lembrar de muitos casos em que tenha sentido necessidade de descrever a apar ncia das pessoas em minhas hist rias prefiro deixar o leitor fornecer o rosto a complei o f sica e tamb m as roupas Se eu disser a voc que Carrie White uma adolescente sem amigos com a pele ruim e um guarda roupa cafona acho que voc consegue fazer o resto n o consegue N o preciso fazer um resumo espinha por espinha saia por saia Todos n s temos na lembran a a
269. ra nem o romancista que escreveu The Greenleaf Fires Os inc ndios de Greenleaf mas uma mistura de ambos acho eu me cumprimentou com desconfian a mas tamb m com certo interesse N s testar amos um ao outro disse ele se eu concordasse Longe da diretoria do col gio consegui ser um pouco mais honesto Confessei ao sr Gould que n o entendia muito de esporte S o jogos que at b bados em bares entendem Voc vai aprender se tentar respondeu ele Gould me deu um rolo enorme de papel amarelo para datilografar minha c pia acho que ainda a tenho em algum lugar e me prometeu meio centavo por palavra Foi a primeira vez que algu m prometeu me pagar para escrever Os dois primeiros trabalhos que entreguei foram sobre o jogo de basquete em que um jogador da Lisbon High bateu o recorde de pontos da escola O primeiro era uma reportagem simples O outro era uma mat ria suplementar sobre o desempenho do recordista Robert Ransom na partida Apresentei os textos a Gould depois do jogo para que ele pudesse public los na sexta quando o jornal sa a Ele leu o texto sobre o jogo fez duas pequenas corre es e deu por terminado Depois come ou a trabalhar no artigo especial com uma grande caneta preta Assisti a muitas aulas de literatura inglesa nos meus dois ltimos anos na Lisbon e tamb m tive muitas mat rias sobre reda o fic o e poesia na faculdade mas John Gould em menos de dez minutos me ensinou mais do
270. ra consertar Tabby continuava trabalhando na Dunkin Donuts e n o t nhamos telefone Simplesmente n o t nhamos dinheiro para pagar a tarifa mensal Tabby tentou escrever hist rias femininas em tom confessional durante aquela poca Too Pretty to Be a Virgin Bonita demais para ser virgem coisas assim e imediatamente recebeu respostas do tipo isso n o para n s mas tente novamente Ela teria conseguido se tivesse mais uma ou duas horas por dia mas estava presa s 24 de sempre Al m disso a divers o m nima que ela tirava da f rmula de hist rias femininas confessionais para revistas chamada de tr s R rebeli o ru na e reden o no in cio se esvaiu rapidamente Eu tamb m n o estava tendo muito sucesso com o que escrevia As hist rias de terror fic o cient fica e crime em revistas masculinas estavam sendo substitu das por contos de sexo cada vez mais expl citos Esse era um dos problemas mas n o era o nico O maior de todos era que pela primeira vez na vida estava dif cil escrever O problema eram as aulas Eu gostava de meus colegas e adorava as crian as mesmo os jovens de estilo Beavis and Butt Head da mat ria Vivendo o Ingl s podiam ser interessantes mas na maioria das tardes de sexta eu tinha a sensa o de que passara a semana com cabos de bateria presos ao c rebro Se em algum momento cheguei perto de entrar em desespero com meu futuro como escritor foi nessa poca
271. ra e a segunda vers o quando a porta se abre e a luz do mundo recai sobre o escrit rio 12 O Leitor Ideal tamb m a melhor maneira para avaliar se o ritmo da hist ria est correto ou n o e se voc conseguiu construir um pano de fundo satisfat rio O ritmo a velocidade com que a narrativa se desenrola Existe nos c rculos editoriais uma cren a t cita logo n o defendida e n o confirmada de que as hist rias mais bem sucedidas comercialmente t m ritmo vertiginoso Acho que o racioc nio que o leitor tem muitas coisas a fazer hoje em dia e sua aten o se desvia t o facilmente que o escritor a menos que fa a como um fast food e sirva hamb rgueres batatas fritas e refrigerantes da maneira mais f cil e r pida poss vel ir perd lo Como v rias cren as n o confirmadas no mercado editorial essa ideia uma enorme bobagem e por isso que os editores ficam boquiabertos quando livros como O nome da rosa de Umberto Eco e Montanha Gelada de Charles Frazier conseguem se desgarrar do rebanho e escalar as listas de best sellers Suspeito que a maioria dos editores atribua o inesperado sucesso de livros como esses a imprevis veis e deplor veis lapsos de bom gosto por parte do p blico N o que haja alguma coisa de errado com romances de ritmo acelerado Escritores muito bons como Nelson DeMille Wilbur Smith e Sue Grafton para citar apenas tr s ganharam milh es escrevendo hist rias assim f cil por
272. ra n o tenha certeza eu apostaria que John Grisham nunca trabalhou para a m fia Tudo aquilo pura inven o e pura inven o o maior deleite do escritor de fic o Ele j foi um jovem advogado no entanto e claramente n o esqueceu como era a rotina de trabalho Nem esqueceu as v rias arapucas financeiras e armadilhas sexuais que fazem o campo do direito societ rio t o dif cil Usando humor coloquial como um brilhante contraponto e nunca substituindo a hist ria por hipocrisia ele construiu um mundo de lutas darwinianas onde todos os selvagens usam ternos caros e bem alinhados E a vem a parte boa este um mundo imposs vel de n o se acreditar Grisham esteve l espionou o terreno e as posi es inimigas e trouxe de volta um relat rio completo Ele contou a verdade do que conhecia e s por isso j merece cada centavo que ganhou com 4 firma Cr ticos que avaliaram A firma e os livros posteriores de Grisham como mal escritos e que se dizem surpresos com o sucesso dele n o entenderam nada ou porque a raz o bvia e evidente demais ou porque est o sendo deliberadamente obtusos A hist ria fict cia de Grisham est solidamente sustentada por uma realidade que ele conhece e viveu e sobre a qual escreveu com total e quase ing nua honestidade O resultado um livro sejam os personagens rasos ou n o podemos discutir isso corajoso e singularmente satisfat rio Voc como escritor iniciante far
273. ra nos visitar Por fim as luzes voltaram e o caminh o foi embora N o fomos pegos e sobrevivemos para mais dias de luta Dave decidiu construir um Planador Superlegal em vez do Eletroima Superlegal para o projeto de ci ncias Ele me disse que eu faria o primeiro voo N o seria timo 11 Nasci em 1947 e nossa familia s foi ter televis o em 1958 Pelo que me lembro o primeiro programa a que assisti nela foi Robot Monster Monstro rob um filme em que um cara vestindo uma fantasia de macaco e com um aqu rio redondo enfiado na cabe a Ro Man esse era o nome dele corria por a tentando matar os ltimos sobreviventes de uma guerra nuclear Achei que aquilo era arte da mais alta estirpe Eu tamb m assistia ao seriado Highway Patrol Patrulha rodovi ria com o ator Broderick Crawford no papel do destemido Dan Matthews e ao programa One Step Beyond Um passo al m apresentado por John Newland o homem dos olhos mais assustadores do universo T nhamos Cheyenne e Sea Hunt Ca a mar tima Your Hit Parade Sua parada de sucessos e Annie Oakley t nhamos Tommy Rettig como o primeiro dos muitos amigos de Lassie Jock Mahoney como Tim Rel mpago e Andy Devine berrando Ei Wild Bill espere por mim naquela voz aguda e esquisita Havia todo um mundo de aventuras imagin rias embaladas em 14 polegadas de preto e branco e patrocinadas por marcas cujos nomes at hoje soam como poesia para mim Eu adorava todas Mas a televis o
274. ra um g nio Se voc quiser dar um trato na sua gram tica em ingl s v at um sebo e procure pelo livro Warriner s English Grammar and Composition o mesmo que muitos de n s levamos para casa e encapamos com papel marrom de sacos de compras quando est vamos no ensino m dio Voc sentir um misto de al vio e alegria acho ao descobrir que praticamente tudo de que precisa est resumido nas guardas do livro Apesar da brevidade de seu manual de estilo William Strunk encontrou espa o para discutir as pr prias antipatias em termos de gram tica e uso da l ngua Ele odiava a express o corpo estudantil por exemplo insistindo que estudantado era mais claro e n o tinha a conota o repugnante existente no primeiro termo Tamb m considerava personalizar uma palavra pretensiosa Strunk sugere substituir personalize seu material de escrit rio por mande fazer papel timbrado Ele odiava frases como o fato de que e ao longo destas linhas Eu tenho minhas pr prias antipatias para mim qualquer um que use a frase isso t o legal deveria ficar de castigo e quem usa frases ainda mais odiosas como neste momento do tempo e no fim das contas deveria ir para cama sem jantar ou sem papel para escrever no caso Duas outras idiossincrasias minhas t m a ver com o n vel mais b sico de escrita e quero desabafar antes de seguirmos adiante Existem dois tipos de verbos ativo
275. ra vers o da hist ria mais curta Fran pergunta a Stuart Redman se existe alguma esperan a se as pessoas algum dia v o aprender com os pr prios erros Stu responde Eu n o sei e depois faz uma pausa No tempo da hist ria essa pausa dura somente o necess rio para que o leitor mova os olhos at a ltima linha No escrit rio do escritor demorou muito mais Procurei na mente e no cora o algo que Stu pudesse acrescentar algo esclarecedor Eu queria achar algo porque naquele momento ele estava falando por mim No fim por m Stu apenas repete o que j tinha dito Eu n o sei Foi o melhor que consegui s vezes o livro lhe d respostas mas nem sempre isso acontece e eu n o queria deixar os leitores que me seguiram por centenas de p ginas com um clich vazio que n o convencia nem a mim N o existe moral em A dan a da morte nenhum melhor aprendermos ou da pr xima vez provavelmente destruiremos a droga do planeta inteiro mas se o tema aparece claramente aqueles que o discutem podem chegar pr pria moral e s pr prias conclus es N o h nada de errado nisso essas discuss es s o um dos grandes prazeres de uma vida de leituras Embora eu tenha usado simbolismo imag stica e prestado tributos liter rios antes de chegar ao meu romance sobre a grande peste sem Dr cula por exemplo acho que n o haveria Salem tenho quase certeza de que nunca pensei muito sobre o tema antes do bloqueio criativo em
276. radual canticle woven of sand that conquers cities by a slow cycle His praise seduces a passing wind traveling to the sea wherein a fish caught in a careful net hears a bear song in the cool scented snow C NTICO GRADUAL PARA AGOSTINHO O mais magro dos ursos acordado no inverno pelo riso sono dos gafanhotos pela vangl ria sonhada das abelhas pelo perfume mel fluo das areias des rticas que o vento carrega no tero at as colinas distantes at as casas de Cedro O urso ouviu uma promessa sincera Certas palavras s o comest veis elas alimentam mais que a neve servida em bandejas de prata ou o gelo que transborda de tigelas douradas Lascas de gelo vindas da boca de um amante nem sempre s o o melhor Nem um sonho no deserto sempre miragem O urso que acorda canta um c ntico gradual tecido com a areia que conquista cidades em um ciclo lento Seu louvor seduz o vento que passa viajando para o mar onde um peixe pescado em pressurosa rede ouve o canto de um urso na neve de aroma sereno Fez se sil ncio quando Tabby terminou a leitura Ningu m sabia muito bem como reagir O poema parecia perpassado de cabos que apertavam os versos at que quase zumbissem Achei a combina o entre a dic o envolvente e a imag tica delirante algo empolgante e inspirador O poema tamb m me fez sentir que eu n o estava sozinho na cren a de que escrever bem podia ser algo ao mesmo tempo inebriante e planeja
277. ram acho eu nossos parentes de verdade traziam caixas de legumes enlatados e conservas A casa em que mor vamos pertencia tia Ethelyn e ao tio Oren E assim que chegou l minha m e ficou presa Ela conseguiu outro trabalho de verdade depois que os pais morreram mas continuou morando na casa at ser pega pelo c ncer Acredito que ao sair de Durham pela ltima vez David e a mulher Linda cuidaram dela nas ltimas semanas da doen a que a levou minha m e estava mais do que pronta para ir 15 Vamos deixar uma coisa bem clara agora pode ser N o existe um Dep sito de Ideias uma Central de Hist rias nem uma Ilha de Best Sellers Enterrados as ideias para boas hist rias parecem vir quase literalmente de lugar nenhum navegando at voc direto do vazio do c u duas ideias que at ent o n o tinham qualquer rela o se juntam e viram algo novo sob o sol Seu trabalho n o encontrar essas ideias mas reconhec las quando aparecem No dia em que esta ideia em particular a primeira realmente boa navegou at mim minha m e comentou que precisava de mais seis lbuns de selos para conseguir o abajur que queria dar de Natal tia Molly mas achava que n o iria conseguir a tempo Pelo jeito vai ficar para o anivers rio dela lamentou A gente acha que tem um monte desses malditos quadradinhos mas eles n o rendem nada na hora de colar no lbum Depois ela envesgou os olhos e me mostrou a l ng
278. re a maneira como eu reescrevia meus textos de fic o Abaixo da assinatura impressa do editor estava o conselho pessoal N o est ruim mas est INCHADO Reveja o tamanho F rmula 2 vers o 1 vers o 10 Boa sorte Bem que eu queria me lembrar de quem escreveu o bilhete acho que foi Algis Budrys Seja quem for me fez um enorme favor Copiei a f rmula em um papel o que embalava uma camisa e o colei na parede ao lado da m quina de escrever Coisas boas come aram a me acontecer pouco depois N o houve um s bito fluxo de vendas para revistas mas a quantidade de cartas de rejei o com conte do pessoal aumentou rapidamente Cheguei a receber uma de Durant Imboden editor de fic o da Playboy O conte do quase fez meu cora o parar A Playboy pagava 2 mil d lares ou mais por contos curtos e esse dinheiro era um quarto do que a minha m e ganhava por ano trabalhando como faxineira no Centro de Treinamento Pineland A F rmula da Reescrita provavelmente n o foi o nico motivo de eu ter come ado a colher alguns frutos acho que o outro foi o fato de minha hora finalmente ter chegado como a besta bruta do poema de Yeats Ainda assim a F rmula com certeza foi importante Antes da F rmula se eu produzisse uma hist ria de cerca de 4 mil palavras na primeira vers o estava propenso a aumentar para 5 mil na segunda alguns escritores s o cortadores acho que sempre fui um incluidor natural Depois da F
279. reciam gostar de estar comigo e eu sei que gostava de estar com eles Comprei outra mesa artesanal linda e com metade do tamanho da T Rex Coloquei no lado esquerdo do escrit rio em uma quina sob o telhado inclinado que parece muito com aquele sob o qual eu dormia em Durham Mas n o h ratos nas paredes nem uma av senil no andar de baixo gritando para que algu m alimente Dick o cavalo Estou sentado aqui agora um homem coxo de 53 anos com vis o ruim e nenhuma ressaca Estou fazendo o que sei fazer t o bem quanto sou capaz Passei por todas as coisas que contei aqui e muitas outras que n o contei e agora vou contar a voc tanto quanto puder sobre a profiss o Como prometido n o vai ser longo Come a assim coloque sua mesa em um canto e todas as vezes em que se sentar para escrever lembre se da raz o de ela n o estar no meio da sala A vida n o um suporte arte exatamente o contr rio 2 No original Daves Rag A palavra rag significa tabloide e tamb m g ria para per odo menstrual N T 3 conhecer de sonoridade bastante pr xima N E What did the beaver say to the oak tree It was nice gnawing you Trocadilho com os verbos to gnaw e to know 4 Maggot que larva em ingl s corresponde ao insulto verme em portugu s N E 2 Trocadilho com six seis e slitz puta em sueco e em ingl s g ria para chapado de maconha N E 6 N
280. ribner senti que sabia bastante sobre o assunto minha cabe a estava fervendo de coisas que eu queria dizer E talvez eu realmente saiba muito mas v rios assuntos em que pensei se mostraram banais e o restante como acabei descobrindo tinha mais a ver com instinto do que com algo que parecesse um pensamento superior Articular essas verdades instintivas me foi dolorosamente dif cil Al m disso aconteceu algo no meio do caminho de Sobre a escrita algo que mudou minha vida para sempre Vou falar disso em seguida Por ora saiba que fiz o melhor que pude H um ltimo assunto que precisa ser discutido um assunto relacionado quilo que mudou minha vida e do qual j falei aqui embora indiretamente Agora eu gostaria de encarar o assunto com mais firmeza uma pergunta que me fazem de diversas formas s vezes educadamente s vezes de forma grosseira mas a indaga o sempre a mesma Voc faz isso pelo dinheiro querido A resposta n o N o agora e nunca foi Eu ganhei muita grana com meu trabalho verdade mas jamais coloquei uma misera palavra no papel com o objetivo de ser pago por ele J fiz alguns trabalhos como favor para amigos a express o seria uma m o lava a outra mas na pior das hip teses poder amos chamar de uma forma crua de escambo Escrevo porque algo que me completa O trabalho pode ter pagado a hipoteca da casa e garantido a universidade para meus filhos mas isso tu
281. rmanente Dodie tinha passado por uma transforma o e dava para ver em seu rosto que a garota tinha consci ncia disso N o fa o ideia se ela economizou para comprar as roupas novas se foram presente de Natal dos pais ou se ela implorou tanto que finalmente conseguiu o que queria N o importa porque meras roupas n o conseguiram mudar a situa o Naquele dia a zombaria foi pior do que nunca As colegas de Dodie n o tinham a menor inten o de deix la sair da geladeira em que a haviam colocado ela foi punida pela ousadia de tentar escapar Eu tinha v rias aulas com ela e pude ver em primeira m o sua descida aos infernos Vi seu sorriso se desfazer vi a luz em seus olhos se apagar at desaparecer No fim do dia ela j tinha voltado a ser a menina que era antes das f rias um espectro sardento e sem express o se esgueirando pelos corredores com os olhos no ch o e os livros colados ao peito Ela vestiu a saia e o su ter novos no dia seguinte E no outro E no outro Quando o ano escolar terminou Dodie ainda usava as mesmas roupas embora estivesse quente demais para se usar l e houvesse sempre suor em suas t mporas e no l bio superior O permanente feito em casa n o foi repetido e as roupas novas adquiriram uma apar ncia fosca sem gra a mas o bullying recuou aos n veis pr natalinos e o terrorismo cessou completamente Algu m tinha tentado escapar da pris o e teve que ser abatido s isso Como a tentativa de fuga n
282. rorizada Eu me lembro claramente de pensar Voc precisa ter cuidado Porque se fizer merda Se eu fizesse merda capotasse de carro noite em alguma estradinha ou estragasse uma entrevista ao vivo na TV algu m me diria que eu precisava maneirar na bebida e dizer a um alco latra para maneirar na bebida o mesmo que dizer ao sujeito com a diarreia mais catastr fica da hist ria para maneirar no coc Um amigo meu que passou por isso conta uma historinha interessante sobre a primeira tentativa que fez de assumir o controle de sua vida cada vez mais fora dos trilhos Ele foi a um terapeuta e disse que a mulher estava preocupada com seu v cio em bebida E quanto voc bebe perguntou o terapeuta Meu amigo olhou incr dulo para o homem Tudo respondeu como se aquilo fosse a coisa mais bvia do mundo Eu sei como ele se sentiu J faz quase 12 anos que n o bebo e ainda fico espantado ao ver algu m em um restaurante com uma ta a de vinho pela metade ao alcance da m o Tenho vontade de levantar ir at l e gritar na cara da pessoa Beba logo isso Por que voc ainda n o bebeu tudo Eu acho absurda a ideia de beber socialmente se voc n o quer ficar b bado por que n o toma uma Coca Cola Minhas noites durante os ltimos cinco anos em que bebi sempre terminavam com o mesmo ritual eu pegava todas as cervejas que restavam na geladeira e virava na pia Se n o fizesse isso elas ficariam me ch
283. rpinteiro N o sei nada sobre lojas e bancos mas Guy Pillsbury construiu muitas casas e passou muitos anos trabalhando para que o oceano Atl ntico e os rigorosos ventos marinhos n o levassem embora a propriedade de Winslow Homer em Prout s Neck Fazza por m fumava charutos em vez de cigarros Camel Era meu tio Oren tamb m carpinteiro quem fumava Camel Quando Fazza se aposentou foi tio Oren quem herdou a caixa de ferramentas do velho N o me lembro de ter visto a caixa na garagem no dia em que deixei o bloco de cimento cair no p mas ela devia estar no lugar de sempre perto do canto onde meu primo Donald guardava os tacos de h quei os patins e a luva de beisebol A caixa de ferramenta era das grandes Tinha tr s bandejas As duas de cima eram remov veis e todas as tr s continham gavetinhas t o pr ticas quanto caixas chinesas Foi feita m o claro T buas escuras eram conectadas por pregos bem pequenos e fios de lat o A tampa era fechada com cadeados grandes Aos meus olhos de crian a pareciam os cadeados da lancheira de um gigante Na parte interna da tampa havia um forro de seda bastante estranho naquele contexto ainda mais por causa da estampa de rosas em tom avermelhado misturadas a marcas de graxa e sujeira Nas laterais havia al as enormes Pode acreditar em mim voc nunca vai encontrar uma caixa de ferramentas como aquela venda em lojas de departamento Quando meu tio a recebeu encontrou no fundo uma gravura a
284. rta noite de saco cheio de colunas como Relat rios de Classe Not cias das L deres de Torcida e de idiotas tentando escrever poemas em vez de redigir legendas para as fotos da edi o seguinte resolvi criar um jornal escolar sat rico O resultado foi uma publica o de quatro p ginas que chamei de The Village Vomit O v mito da cidade O lema que coloquei em um box no canto superior esquerdo n o era Todas as not cias que merecem ser publicadas como o do New York Times mas Todas as merdas que v o ficar grudadas Essa hist ria de humor imbecil me causou o nico problema s rio que enfrentei durante o ensino m dio Tamb m me ensinou a li o sobre escrita mais til de todas Usando o estilo t pico da revista Mad como diria Alfred E Neuman Preocupado eu enchi o Vomit de notinhas ficcionais sobre o corpo docente da escola chamando os professores por apelidos que os alunos reconheceriam imediatamente Assim a srta Raypach monitora da sala de estudos se tornou a srta Rat Pack o sr Ricker professor de ingl s e o mais elegante e sofisticado membro do corpo docente que lembrava Craig Stevens na s rie Peter Gunn virou o Homem Vaca porque a fam lia dele era dona da Latic nios Ricker e o sr Diehl professor de geografia se transformou no Velho Diehl Como provavelmente acontece com todos os humoristas do segundo ano do ensino m dio eu estava fascinado por minha pr pria sagacid
285. rto 20 Em portugu s romance com chave Narrativa em que o autor fala de pessoas reais por meio de nomes fict cios N T al Ag ncia do governo americano respons vel pela regulamenta o de sa de e seguran a ocupacional N T 22 Associa o internacional de pessoas com alto Q I N T 23 Alguns cr ticos me acusaram de ser simbolicamente simplista no caso das iniciais de John Coffey Eu s consegui pensar Como assim precisa ser complicado Qual gente 24 conto foi adaptado para o cinema com o t tulo Lembran as de um ver o N E 25 O livro mencionado nesse trecho Buick 8 foi publicado pela Suma de Letras em 2013 N E Quando estamos em nossa casa de veraneio no oeste do Maine bem parecida com aquela qual Mike Noonan regressa em Saco de ossos costumo caminhar 6 quil metros todos os dias a menos que esteja chovendo canivete Deles 4 quil metros da caminhada passam por estradas de terra que serpenteiam pela floresta e 2 quil metros passam pela Rota 5 uma estrada asfaltada de m o dupla que vai de Bethel a Fryeburg A terceira semana de junho de 1999 tinha sido extraordinariamente feliz para mim e para minha mulher nossos filhos crescidos e espalhados pelo pais estavam todos em casa Foi a primeira vez em quase seis meses em que estivemos todos sob o mesmo teto Como b nus nosso primeiro neto tamb m estava l aos tr s meses de idade sacudindo feliz o bal o de g s que trazia
286. s voc tamb m pode deixar sua mente alerta para dormir criativamente e trabalhar os sonhos vividamente imaginados que s o as obras de fic o bem sucedidas Para isso por m voc precisa do espa o da porta e da determina o para fech la Tamb m precisa de uma meta concreta Quanto mais tempo voc dedicar a esses elementos fundamentais mais f cil o ato de escrever se tornar N o espere pela musa Como eu disse ela um sujeito cabe a dura n o suscet vel a grandes voos criativos N o se trata de brincadeira do copo ou de mensagens enviadas do mundo espiritual apenas um trabalho como consertar canos ou dirigir carretas Seu trabalho fazer com que a musa saiba onde voc vai estar todos os dias das nove da manh ao meio dia ou das sete da manh s tr s da tarde Garanto a voc que se ela souber mais cedo ou mais tarde vai come ar a aparecer mordendo o charuto e fazendo m gica 4 Certo a est voc na sua sala com as persianas abaixadas a porta fechada e o telefone desligado Voc deu adeus televis o e se comprometeu a produzir mil palavras por dia aconte a o que acontecer Agora vem a grande pergunta sobre o que voc vai escrever E a vem a grande resposta sobre o que voc quiser Qualquer coisa desde que voc conte a verdade Em aulas de escrita criativa a regra era Escreva sobre o que voc sabe Parece razo vel mas e se voc quiser escrever sobre naves espaciais expl
287. s As portas s o fechadas e ou o algu m na frente dizer melhor pisar fundo Ent o sa mos Paul Fillebrown est sentado a meu lado Ele est com uma tesoura e diz que vai precisar cortar o anel que est no dedo m dio da minha m o direita uma alian a de casamento que Tabby me deu em 1983 doze anos depois de termos nos casado de fato Tento dizer a Fillebrown que uso a alian a na m o direita porque a alian a de casamento verdadeira est no dedo m dio da esquerda o conjunto original custou US 15 95 na Joalheria Day em Bangor Ou seja a primeira alian a custou oito paus mas parece ter funcionado O que eu digo de fato foi uma vers o confusa dessa hist ria nada que Paul Fillebrown consiga entender provavelmente mas ele continua a balan ar a cabe a e sorrir enquanto corta a segunda alian a mais cara de minha inchada m o direita Cerca de dois meses depois ligo para Fillebrown para agradecer pois ent o j tenho consci ncia de que ele provavelmente salvou minha vida ao adotar os procedimentos m dicos corretos no local do atropelamento e depois me levar ao hospital a mais ou menos 170 quil metros por hora por entre estradas vicinais estreitas e esburacadas Fillebrown me diz que n o foi nada que foi um prazer ajudar depois sugere que talvez algu m l em cima zele por mim Trabalho nisso h vinte anos diz ele pelo telefone e quando vi voc deitado na vala e percebi a extens o dos
288. s E n o se esque am eu confio que voc s v o conseguir sobreviver Sobrevivam aconte a o que acontecer Virou se para os alem es Pois bem Hauptmann disse ele com s bita e transbordante calma e determina o Estou pronto agora Fa am o que quiserem comigo Ou Katzenbach n o percebe que todas as linhas do di logo do tenente coronel s o clich s de filme de guerra do fim da d cada de 1940 ou est deliberadamente tentando usar essa semelhan a para despertar sentimentos de pena tristeza e talvez nostalgia nos leitores Seja como for n o funciona O nico sentimento que o trecho evoca um tipo de incredulidade impaciente Voc se pergunta se algum editor viu isso e se viu o que o impediu de cortar Dado o consider vel talento de Katzenbach em outras reas o fracasso dele aqui tende a refor ar minha ideia de que escrever bons di logos n o s um of cio mas uma arte Muitos dos bons escritores de di logos parecem ter nascido com um ouvido bem afinado assim como alguns m sicos e cantores t m uma percep o quase perfeita do tom Aqui temos um trecho do romance Be Cool Fique tranquilo de Elmore Leonard Compare com os trechos de Lovecraft e Katzenbach acima observando em primeiro lugar que aqui temos uma troca absolutamente honesta e n o um solil quio artificial Chili olhou para cima de novo quando Tommy disse Est se dando bem Voc quer saber se eu estou pegando algu m
289. s culo XX uma das primeiras vozes a descrever a anomia da vida urbana nos anos ap s a Segunda Guerra Mundial mas existem muitos cr ticos que rejeitam essa avalia o de antem o Ele um trabalhador bra al gritam indignados Um trabalhador bra al pretensioso Do pior tipo O tipo que acha que pode se passar por um de n s Os cr ticos que tentam se afastar desse endurecimento das art rias intelectuais n o costumam ter muito sucesso Seus colegas at podem aceitar a presen a de Chandler entre os grandes mas v o coloc lo ao p da mesa E sempre haver cochichos Veio da tradi o de livros populares sabe At que se sai bem para um desses n o Sabia que ele escreveu para a revista de pulp fiction Black Mask nos anos 1930 Pois lament vel At mesmo Charles Dickens o Shakespeare do romance enfrentou ataques constantes da cr tica por s vezes tratar de temas sensacionalistas por sua admir vel fecundidade quando Dickens n o estava criando romances ele e a mulher estavam criando filhos e claro por seu sucesso com leitores das classes populares tanto naquela poca quanto hoje Cr ticos e acad micos sempre desconfiaram do sucesso popular Muitas vezes a desconfian a justificada Em outras ela usada como desculpa para n o pensar Ningu m t o intelectualmente pregui oso quanto uma pessoa realmente inteligente se tiverem qualquer chance pessoas inteligentes fazem ma
290. s acontecimentos sem pensar em enredo deixe a situa o e essa invers o inesperada guiarem voc Prevejo que voc vai se sair muito bem Se claro for honesto sobre como os personagens falam e se comportam A honestidade na hora de contar hist rias compensa muitos erros de estilo como mostra o trabalho de escritores de prosa dura como Theodore Dreiser e Ayn Rand mas mentir um grande e irrepar vel erro Mentirosos prosperam n o h d vida mas s em termos absolutos nunca na selva da composi o verdadeira onde voc precisa buscar seu objetivo uma palavra de cada vez Se voc come ar a mentir sobre o que sabe e sente quando estiver na selva tudo ir por gua abaixo 6 A descri o o que transforma o leitor em um participante sensorial da hist ria A boa descri o uma habilidade que se aprende uma das principais raz es pelas quais voc n o consegue ser bem sucedido a n o ser que leia e escreva muito N o apenas uma quest o de como fazer mas tamb m de quanto fazer A leitura vai ajudar voc a saber quanto e s resmas e resmas de escrita v o ajudar com o como Voc s vai aprender fazendo A descri o come a com a visualiza o do que voc quer que o leitor experimente E termina com a tradu o do que voc v em sua cabe a para as palavras no papel Est longe de ser f cil Como falei antes todos n s j ouvimos algu m dizer Cara foi t o fant stico ou horr vel estranho eng
291. s coisas deixaram de ficar bem Em agosto de 1973 durante o check up ap s uma cirurgia para tirar enormes varizes minha m e foi diagnosticada com c ncer uterino Acho que Nellie Ruth Pillsbury King que uma vez derrubou um pote de gelatina e ficou dan ando em cima dela enquanto os dois filhos riam at cair no ch o acabou literalmente morrendo de vergonha O fim chegou em fevereiro de 1974 Naquela poca uma pequena parte do dinheiro de Carrie a estranha come ou a entrar e eu pude ajudar com algumas despesas m dicas era a nica coisa que me dava alguma alegria Eu estava l no ltimo dia dormindo no quarto dos fundos da casa de Dave e Linda Eu tinha ficado b bado na v spera mas estava com uma ressaca leve o que era bom Ningu m ia querer estar com uma ressaca hom rica ao lado do leito de morte da m e Dave me acordou s 6h15 dizendo baixinho atrav s da porta que achava que ela estava partindo Quando cheguei ao quarto principal ele estava sentado na cama ao lado de nossa m e segurando um cigarro Kool para que ela fumasse Foi o que ela fez entre uma e outra busca desesperada por ar Minha m e estava semiconsciente e seus olhos iam de Dave para mim e de volta para ele Sentei perto de meu irm o peguei o cigarro e levei boca de mam e Os l bios se contra ram para apertar o filtro Ao lado da cama replicada vezes sem fim em um espelho que refletia outro estava uma das primeiras provas de Carrie Tia Ethelyn
292. s da CNN enquanto se exercita ou os analistas de mercado exagerados da NBC ou os rep rteres de esportes exagerados da ESPN melhor questionar a seriedade de seu desejo de se tornar escritor Voc deve estar preparado para fazer uma grande virada em dire o vida da imagina o e isso significa lamento dizer deixar para tr s os apresentadores de programas de variedades os narradores esportivos e os entrevistadores A leitura demanda tempo e a telinha lhe rouba horas preciosas Uma vez livres da ef mera depend ncia da TV muitas pessoas acabam descobrindo que adoram passar o tempo lendo Digo que desligar aquela m quina barulhenta vai melhorar n o s sua escrita mas tamb m sua qualidade de vida E seria muito sacrif cio fazer o que estou sugerindo Quantas reprises de Frasier e ER s o necess rias para fazer uma vida americana completa Quantos comerciais Quantos rep rteres trazendo as not cias da capital Ah melhor nem come ar a falar disso Jornais televisivos musicais s ries de com dia filmes gua com a car Para mim fim de papo Quando tinha uns 7 anos meu filho Owen se apaixonou pela E Street Band de Bruce Springsteen e particularmente por Clarence Clemons o corpulento saxofonista do grupo Owen decidiu que queria aprender a tocar como Clarence Minha mulher e eu ficamos felizes e empolgados com aquela ambi o Tamb m esper vamos como qualquer pai e qualquer m e que nosso filho demonstrasse talento
293. s delicadamente empolgante para a imagina o do que uma caixa cheia de disquetes novinhos ou uma resma de papel e uma cama no outro c modo para aquela soneca da tarde al m da mo a que vai na ponta dos p s at a soleira da porta deixar o almo o e depois sai tamb m na ponta dos p s Isso seria bom acho eu Se voc tiver a chance de participar de algo assim eu diria para aproveitar Pode ser que voc n o aprenda os Segredos M gicos da Escrita que n o existem uma pena n o mas com certeza vai se divertir muito e eu sou sempre a favor de uma boa divers o 15 Al m da cl ssica De onde voc tira suas ideias outras perguntas que qualquer escritor j publicado ouve frequentemente daqueles que querem publicar s o Como conseguir um agente e Como entrar em contato com profissionais do mercado editorial O tom dessas perguntas geralmente de perplexidade s vezes de constrangimento e n o raro de raiva Muita gente desconfia que a maioria dos estreantes que consegue publicar seus livros tem um amigo um contato um padrinho no mercado Os desconfiados partem do pressuposto de que o mercado editorial uma nica grande feliz e incestuosa fam lia N o verdade Tamb m n o verdade que os agentes sejam uma ra a convencida e superior que prefere morrer a tocar um manuscrito n o solicitado sem luvas Bom ok existem alguns que s o assim mesmo O fato que tanto agentes quanto editores
294. s e passivos Com um verbo ativo o sujeito da frase est fazendo alguma coisa Com um verbo passivo algo est sendo feito ao sujeito da frase O sujeito s est deixando acontecer Evite a voz passiva N o sou o nico que diz isso voc encontra o mesmo conselho em The Elements of Style Os senhores Strunk e White n o especulam o porqu da atra o de tantos escritores de l ngua inglesa pela voz passiva mas eu gostaria de dar minha opini o acho que escritores t midos gostam dela pela mesma raz o por que pessoas t midas buscam parceiros passivos voz passiva segura N o existe a o problem tica a enfrentar parafraseando a rainha Vit ria o sujeito s tem que fechar os olhos e pensar na Inglaterra Acho que escritores inseguros tamb m sentem que de algum modo a voz passiva empresta autoridade a seus trabalhos talvez at um qu de majestade Se voc considera manuais de instru o e argumenta es de advogados algo majestoso ent o a voz passiva tem seu valor O sujeito t mido escreve a reuni o ser realizada s sete horas porque de alguma forma a frase diz a ele escreva dessa maneira e todos v o acreditar que voc realmente sabe Livre se desse pensamento traidor N o seja um trouxa Aprume se erga o queixo e assuma o controle da tal reuni o Escreva a reuni o ser s sete isso meu Deus do c u Voc est se sentindo melhor n o est N o estou dizendo que n o existe lugar p
295. s importante O que ainda precisava ser feito era a se o principal Sobre a escrita em que eu tentaria responder a algumas das perguntas que me faziam em semin rios e palestras al m daquelas que eu gostaria que tivessem me feito as perguntas sobre a linguagem Na noite de 17 de junho aben oado por n o saber que estava a menos de 48 horas de meu breve encontro com Bryan Smith para n o falar de Bullet o rottweiler sentei me mesa de jantar e listei todas as perguntas que queria responder todos os pontos que gostaria de abordar No dia 18 escrevi as quatro primeiras p ginas da se o Sobre a escrita Era nesse ponto que estava no fim de julho quando decidi que era melhor voltar ao trabalho ou pelo menos tentar Eu n o queria voltar ao trabalho Estava sentindo muita dor n o conseguia dobrar o joelho direito e era obrigado a usar um andador N o me imaginava sentado atr s de uma mesa por muito tempo nem mesmo de cadeira de rodas Por causa de meu quadril destro ado sentar por mais de quarenta minutos era uma tortura e por mais de uma hora e quinze minutos imposs vel Al m disso o pr prio livro parecia mais intimidador do que nunca como eu escreveria sobre di logos e personagens ou sobre como conseguir um agente quando a coisa mais importante de meu mundo era o intervalo at a pr xima dose de oxicodona Ao mesmo tempo eu sentia que tinha chegado a um daqueles momentos de encruzilhada em que n o
296. s mais comuns ficam em cima A mais comum de todas o p o da escrita o vocabul rio Nesse caso voc pode guardar alegremente o que tem sem qualquer tra o de culpa ou inferioridade como a puta disse ao marinheiro t mido N o o que voc tem amorzinho como voc usa Alguns escritores t m vocabul rios portentosos s o sujeitos que sabem se realmente existem coisas como ditirambos insalubres ou narradores safardanos gente que em trinta anos ou mais jamais errou uma pergunta de m ltipla escolha do livro Jt Pays to Increase Your Word Power Vale a pena aumentar seu poder com as palavras cl ssico da lexicologia americana de autoria de Wilfred Funk Veja um exemplo A qualidade cori cea infung vel e quase indestrut vel era um atributo inerente da organiza o da criatura e pertencia a algum ciclo palco arcaico de evolu o invertebrada inteiramente fora de nossas qualidades especulativas H P Lovecraft Nas montanhas da loucura Gostou Aqui tem outro Em alguns dos vasos n o havia qualquer evid ncia de que alguma coisa havia sido plantada em outros caules marrons esmorecidos davam testemunho de alguma depreda o inescrut vel T Coraghessan Boyle Budding Prospects Chance em desenvolvimento tradu o livre E um terceiro este bom voc vai gostar Algu m arrancou a venda da mulher e ela e o malabarista foram enxotados s bofetadas e quando a companhia se arrumou para dormir
297. s meu olhar mental viu com tanta clareza desde o engarrafamento que paralisou o T nel Lincoln em Nova York at o sinistro renascimento de uma Las Vegas nazista comandada pelo vigilante e muitas vezes alegre olho vermelho de Randall Flagg Tudo isso parece terr vel terr vel mas para mim a vis o era tamb m estranhamente otimista No m nimo n o havia mais crise energ tica fome massacres em Uganda chuva cida ou buracos na camada de oz nio Finito tamb m para as beligerantes superpot ncias nucleares e a superpopula o Em vez disso havia uma chance para os farrapos da humanidade come arem de novo em um mundo teoc ntrico ao qual milagres m gica e profecias eram uma realidade Eu gostava da minha hist ria Gostava dos personagens E ainda assim chegou um ponto em que eu n o conseguia seguir em frente porque n o sabia o que escrever Como o peregrino no pico de John Bunyan eu tinha chegado a um lugar onde o caminho reto estava perdido N o fui o primeiro escritor a descobrir esse lugar horroroso e estou longe de ser o ltimo Eu estava na terra do bloqueio criativo Se eu tivesse duzentas ou at trezentas p ginas de manuscrito em vez de mais de quinhentas acho que teria abandonado A dan a da morte e partido para outra coisa Deus testemunha de que j fiz isso antes Quinhentas p ginas por m eram um investimento grande demais em tempo e em energia criativa Foi imposs vel desistir Al m disso havia aquel
298. s serao os melhores e mais verdadeiros N o se esque a e suas leituras v o comprovar minha afirma o repetidas vezes caso voc comece a duvidar de que t o f cil descrever demais quanto descrever de menos Talvez seja at mais f cil Um de meus restaurantes favoritos em Nova York o steakhouse Palm Too na Segunda Avenida Se eu decidisse criar uma cena naquele lugar com certeza estaria escrevendo sobre o que conhe o pois j estive l em v rias ocasi es Antes de come ar a escrever tiro um momento para buscar uma imagem do lugar desenhando com a mem ria e preenchendo o olhar de minha mente que fica cada vez melhor com o uso Chamo de olhar mental mas o que realmente quero fazer abrir todos os meus sentidos Essa busca na mem ria ser breve por m intensa um tipo de evoca o hipn tica E como acontece com a hipnose de verdade quanto mais vezes voc tentar mais f cil ser conseguir As primeiras quatro coisas que me v m mente quando penso no Palm Too s o a a escurid o do bar e o contraste com o brilho do espelho ao fundo que recebe e reflete a luz da rua b a serragem no ch o c as caricaturas peculiares nas paredes d o cheiro de carne e peixe cozinhando Se eu pensar por mais tempo consigo me lembrar de mais coisas o que n o lembrar eu invento durante o processo de visualiza o fato e fic o se mesclam mas isso n o necess rio N o estamos visitando o Taj Mahal no fim das cont
299. samento estivera seis meses antes Ainda n o digno de um Pulitzer e bem mais longo do que Ol ex mulher mas n o se trata apenas de velocidade como j tentei explicar E se voc pensa que tudo se resume a informa o melhor largar a fic o e arranjar um emprego como escritor de manuais o cub culo de Dilbert o aguarda Voc j deve ter ouvido a express o in medias res que significa no meio das coisas Essa uma t cnica antiga e digna mas eu n o gosto dela A estrat gia in medias res requer flashbacks que considero enfadonhos e um tanto bregas Eles sempre me lembram daqueles filmes das d cadas de 1940 e 1950 em que a imagem fica toda borrada as vozes cheias de eco e repentinamente volta se seis meses no tempo e o condenado todo sujo de lama que acabamos de ver tentando fugir dos cachorros um jovem e promissor advogado que ainda n o foi condenado pelo assassinato do chefe de pol cia corrupto Como leitor estou muito mais interessado no que vai acontecer do que naquilo que j aconteceu claro que alguns romances brilhantes contradizem minha prefer ncia talvez seja um preconceito como Rebecca a mulher inesquec vel de Daphne du Maurier e A Dark Adapted Eye Um olho adaptado ao escuro de Barbara Vine mas gosto de come ar do come o em p de igualdade com o escritor Sou um homem de a Z sirva me a entrada primeiro e s me d a sobremesa se eu tiver comido os legumes
300. sfar ada sob o nome de ingl s empresarial e gostei de estud la quando aluno A gram tica do ingl s americano n o tem a robustez da gram tica brit nica um publicit rio brit nico que tenha cursado boas escolas pode fazer com que propagandas de camisinhas pare am ter sa do diretamente da Magna Carta mas h encanto na deseleg ncia Por fim decidi n o incluir quest es gramaticais provavelmente pela mesma raz o pela qual William Strunk decidiu n o recapitular o b sico quando escreveu a primeira edi o de The Elements of Style se voc n o sabe tarde demais E aqueles que s o realmente incapazes de entender a gram tica como sou incapaz de tocar determinados riffs e progress es na guitarra n o v o encontrar muito uso para este livro afinal Nesse sentido estou ensinando padres a rezar missas De qualquer modo permita me ir um pouquinho mais longe voc me daria o prazer O vocabul rio usado na fala ou na escrita em ingl s se organiza em sete classes gramaticais oito se voc contar interjei es como Ah Meu Deus e Oxal A comunica o composta dessas classes precisa ser organizada por regras gramaticais aceitas por todos Quando essas regras s o quebradas o resultado confus o e desentendimento Um constru o gramatical ruim produz frases ruins Meu exemplo favorito na obra de Strunk e White o seguinte Como m e de cinco com outro a caminho minha t bua de passar est
301. squecer de que seu trabalho dizer o que v e depois seguir em frente com sua hist ria 7 Vamos agora falar um pouco sobre di logo a parte auditiva de nosso programa o di logo que d voz ao elenco e ele crucial para definir o car ter de cada um mas as a es dos personagens nos dizem mais sobre eles e a fala dissimulada o que as pessoas dizem costuma mostrar seu car ter aos outros de maneira que eles os falantes n o conseguem perceber Voc pode me dizer por meio da narra o direta que seu protagonista Senor Bundis nunca foi bem na escola nem mesmo foi muito escola mas poss vel demonstrar a mesma coisa de maneira muito mais v vida pelo discurso dele e uma das principais regras da boa fic o nunca dizer algo que voc pode em vez disso nos mostrar O que voc acha perguntou o menino enquanto riscava a terra com um graveto sem olhar para cima O desenho podia ser uma bola um planeta ou nada al m de um c rculo Voc acredita que a Terra gira em torno do Sol como dizem Eu n o sei o que dizem respondeu o Senor Bundis Eu nunca que aprendi qu que esse ou aquele fala porque um fala uma coisa e outro fala outra diferente e a chega uma hora que a cabe a d i e a gente perde o amenite O que amenite Voc nunca que para de fazer pergunta gritou Senor Bundis agarrando e arrancando o graveto do menino O amenite t na sua barriga quando
302. sso qualquer escritor rec m publicado concordaria imagino n o tem pre o Algu m quer alguma coisa que eu fiz Iupi Mas essa n o a nica vantagem um cr dito uma bolinha de neve que Frank vai come ar a rolar ladeira abaixo na esperan a de transform la em um globo enorme quando chegar ao sop Seis meses depois Frank vende outra hist ria a uma revista chamada Lodgepine Review como a Kingsnake a Lodgepine uma compila o de textos O problema que vender uma palavra boa demais o pagamento proposto a Frank por Dois tipos de homem s o 25 c pias de contribuinte Ainda assim outro cr dito Frank assina o contrato e quase morre de amor ao ler a frase embaixo do espa o em branco para a assinatura PROPRIET RIO DA OBRA uau e manda de volta no dia seguinte A trag dia se abate sobre ele um m s depois Ela vem na forma de uma carta formal cuja sauda o Querido colaborador da Lodgepine Review Frank l a carta com o cora o na m o Um patroc nio n o foi renovado e a Lodgepine Review foi para a grande oficina de escritores no c u A edi o de ver o ser a ltima da revista A hist ria de Frank infelizmente estava programada para a edi o de outono A carta termina desejando a Frank boa sorte para conseguir publicar a hist ria em outro lugar No canto inferior esquerdo algu m escreveu quatro palavras sentimos Murr ssimo O acontecido Frank tamb m sent
303. stava na fase Ro Man do meu desenvolvimento e esse conto em particular certamente devia muito ao macaco assassino com aqu rio na cabe a A hist ria foi recusada mas Forry a guardou Forry guarda tudo e qualquer um que j tenha estado na casa dele a Ackermans o pode confirmar isso Cerca de vinte anos depois durante uma noite de aut grafos em uma livraria de Los Angeles Forry apareceu na fila com minha hist ria escrita em espa o simples com a velha e havia muito desaparecida m quina de escrever Royal que minha m e me dera de Natal quando eu tinha 11 anos Ele queria que eu autografasse a hist ria e acho que autografei embora o encontro tenha sido t o surreal que hoje n o consigo ter certeza E por falar em fantasmas do passado Ai ai ai 13 A primeira hist ria que publiquei saiu em um fanzine de terror editado por Mike Garrett de Birmingham no Alabama ele ainda est por a e continua no mercado Ele publicou o conto sob o t tulo Em um meio mundo de terror mas ainda prefiro o meu que era Eu era um profanador de t mulos juvenil Superlegal Pou 14 Minha primeira hist ria realmente original acho que a gente sempre sabe qual foi a primeira surgiu ao fim dos oito anos do reinado de benevol ncia de Eisenhower Eu estava sentado mesa da cozinha de nossa casa em Durham no Maine assistindo a minha m e colar Selos Verdes da empresa Sperry amp Hutchinson em um lbum para dep
304. stei em especial da parte em que o almo o era deixado na porta da frente sem fazer barulho como acontece quando a fada dos dentes deposita uma moeda sob o travesseiro de uma crian a Acho que gostei da cena por estar a anos luz de minha pr pria experi ncia em que o fluxo criativo podia ser interrompido a qualquer momento por uma mensagem de minha mulher me pedindo para tentar consertar a privada entupida ou por uma liga o do consult rio do dentista avisando que eu corria risco iminente de perder mais uma consulta Nessas horas tenho certeza de que todos os escritores compartilham o mesmo sentimento n o importa a habilidade ou o sucesso obtido Meu Deus se estivesse no ambiente de escrita adequado cercado de pessoas compreensivas eu sei que estaria escrevendo minha obra prima Na verdade descobri que as interrup es e distra es rotineiras n o fazem qualquer mal ao trabalho em desenvolvimento e de certa maneira podem at ajudar Afinal o gr o de areia que entra na concha da ostra que gera a p rola e n o semin rios sobre gerar p rolas com outras ostras E quanto mais o trabalho se assoma durante o dia transformando o eu quero em eu preciso mais problem tico ele se torna Um problema s rio com as oficinas de escrita que o eu preciso vira regra No fim das contas voc n o participa delas para vagar solit rio como uma nuvem curtindo a beleza das rvores ou a grandeza das montanhas Vo
305. stivesse bem de sa de Ent o passei a maior parte daquele ano em casa muitas vezes de cama por causa das doen as q Devorei cerca de 6 toneladas de revistas em quadrinhos depois avancei para Tom Swift e Dave q Dawson um piloto heroico da Segunda Guerra cujos v rios avi es estavam sempre ganhando 8 J g altitude unha ent o passei s aterrorizantes hist rias de animais de Jack London Em algum 8 momento passei a escrever minhas pr prias hist rias A imita o precedeu a cria o eu copiava palavra por palavra os quadrinhos do Combat Casey em meu caderno de desenho Blue Horse e acrescentava minhas pr prias descri es quando achava necess rio Eles estavam acampados em uma casa de fazenda dyatty eu teria escrito levou mais um ou dois anos para eu descobrir que drat palavra usada para expressar raiva e draft vento forte n o eram a mesma palavra Nessa poca eu me lembro de acreditar que a palavra details detalhes era dental e que bitch puta era uma mulher bem alta Muitos jogadores de basquete eram filhos da puta Quando se tem 6 anos a maioria das bolinhas de bingo ainda est girando na gaiola que a cabe a Um dia mostrei uma dessas hist rias meio copiadas meio autorais minha m e e ela ficou encantada Lembro o sorriso levemente impressionado como se ela fosse incapaz de acreditar que um dos filhos pudesse ser t o esperto um maldito prod gio pelo amor d
306. t cita de sexogT ilo nas primeiras horas da manh sexorde Novator O pr prio Mike era de Omaha embora n o fosse l havia muitos e maicos anos Eu n o vou mesmo demover o senhor da ideia n o perguntou Ostermeyes A Voc sabe que n o respondeu Mike colocan do o cigarro de novo atr s da orelha As raz es para a maioria das mudan as s o autoexplicativas se voc ficar indo e voltando nas duas vers es tenho certeza de que vai entender quase todas E espero que quando terminar perceba como crua a primeira vers o do trabalho de um dito escritor profissional A maioria das mudan as s o cortes que t m a inten o de deixar a hist ria mais gil Cortei com Strunk na cabe a Omita as palavras desnecess rias e tamb m para satisfazer a f rmula apresentada antes 2 vers o 1 vers o 10 Tamb m marquei algumas mudan as para uma breve explica o 1 Obviamente A hist ria do hotel jamais substituiria Escavadeira assassina ou Norma Jean rainha do cupinzal como t tulo Eu apenas coloquei esse t tulo na primeira vers o porque sabia que surgiria outro melhor medida que continuasse Se nenhum t tulo lhe ocorrer geralmente o editor apresenta uma ideia que considere melhor mas as op es costumam ser ruins Gosto de 1408 porque uma hist ria de 13 andar que muitos edif cios nos EUA costumam n o usar e os n meros somam treze 2 Ostermeyer um n
307. t pico que sonha em viver feliz para sempre O tipo de cara que devolve sua carteira com todo o dinheiro dentro se a encontrar na rua e que para e ajuda voc a trocar um pneu furado se passar pelo seu carro parado na beira da estrada Desde que John Kennedy foi assassinado em Dallas o grande bicho pap o americano o cara com um rifle em um lugar alto Eu queria fazer desse cara o amigo do leitor Johnny foi dif cil Pegar um sujeito mediano e torn lo v vido e interessante sempre dif cil Greg Stillson como a maioria dos vil es era muito mais f cil e divertido Eu queria determinar seu car ter perigoso e d bio logo na primeira cena do livro Nela muitos anos antes de concorrer C mara dos Deputados por New Hampshire Stillson um jovem caixeiro viajante que vende B blias para moradores de reas rurais do Meio Oeste Quando para em uma fazenda ele amea ado por um cachorro feroz Stillson continua sorrindo com ar amistoso o sr Temente a Deus at ter certeza de que n o h ningu m na fazenda Ent o ele joga g s lacrimog neo nos olhos do cachorro e mata o animal a chutes Se medirmos o sucesso pela rea o dos leitores a cena de abertura de 4 zona morta meu primeiro livro em capa dura a alcan ar o topo da lista de best sellers uma das mais bem sucedidas de minha carreira Sem d vida toquei em um ponto sens vel fui inundado de cartas a maioria protestando contra minha inadmiss vel crueldade contra
308. ta Tabby nunca morreu de amores pelo catolicismo no qual os homens fazem as regras inclusive a diretriz divina de sempre transar sem camisinha e as mulheres lavam a cueca deles E embora eu acredite em Deus n o consigo ver a utilidade das religi es organizadas Viemos de fam lia humilde ambos comemos carne somos democratas e temos as t picas desconfian as ianques com rela o vida fora da Nova Inglaterra Somos sexualmente compat veis e monog micos por natureza Por m o que mais nos une s o as palavras a linguagem e o trabalho de nossa vida N s nos conhecemos enquanto trabalh vamos em uma biblioteca e nos apaixonamos durante um workshop de poesia no outono de 1969 quando eu era veterano e Tabby caloura Uma das raz es que me fizeram ficar caidinho por ela foi saber o que ela queria dizer com seu trabalho Outra foi ela saber o que queria dizer O vestido preto sexy que ela estava usando e a meia cal a de seda do tipo que se usa com cinta liga tamb m contaram N o quero falar mal demais da minha gera o na verdade quero n s tivemos a chance de mudar o mundo e preferimos ficar assistindo ao canal de compras na TV a cabo mas os escritores que eu conhecia naquela poca acreditavam que a boa escrita vinha espontaneamente em uma onda de sentimentos que tinha que ser agarrada de uma vez s enquanto se constru a essa indispens vel escadaria para o para so n o dava para ficar parado com a marreta nas m os Em 196
309. ta forma mais verdadeiro do que todos os meus poemas sobre desejo sexual e ang stia p s adolescente s piorava a situa o O resultado foi um per odo de quatro meses em que n o consegui escrever quase nada O que eu fazia em vez disso era beber cerveja fumar Pall Malls ler livros baratos de John D MacDonald e assistir a novelas da tarde na TV Cursos e semin rios sobre escrita oferecem pelo menos um benef cio ineg vel o desejo de escrever fic o ou poesia levado a s rio Para aspirantes a escritor vistos com condescend ncia e pena por amigos e parentes melhor n o largar seu emprego ainda uma frase muito ouvida em geral dita com um asqueroso sorriso de certeza nos l bios algo maravilhoso Nos cursos de escrita e talvez s nele perfeitamente aceit vel passar grandes per odos de tempo em seu pequeno mundo dos sonhos Ainda assim voc realmente precisa de passagem ou permiss o para ir at l Voc precisa que algu m lhe entregue uma pasta de papel com a palavra ESCRITOR para acreditar que voc tamb m um Honestamente eu espero que n o Outro argumento a favor dos cursos de escrita est relacionado aos professores Existem milhares de escritores talentosos trabalhando nos Estados Unidos e pouqu ssimos acho que o n mero muito baixo n o passa de cinco por cento conseguem sustentar as fam lias e a si pr prios com seu trabalho Pr mios em dinheiro n o faltam mas nunca chegam a pagar
310. te estava pronta consegui resolver melhor o que tinha me travado completamente no meio do caminho ficou muito mais f cil pensar sem aquela voz gritando sem parar em minha cabe a Estou perdendo meu livro Merda quinhentas p ginas e estou perdendo o livro Alerta vermelho aterta vermetHo Tamb m consegui analisar o que me fez retomar o passo e adorei a ironia da situa o salvei meu livro explodindo metade dos personagens principais em pedacinhos no fim das contas houve duas explos es a de Boulder foi equilibrada por um ato de sabotagem semelhante em Las Vegas A verdadeira fonte de meu desconforto conclu era que no p s peste meus personagens de Boulder os mocinhos estavam recome ando a velha viagem tecnol gica mortal As primeiras e hesitantes transmiss es radioamadoras que chamavam as pessoas para Boulder em breve levariam TV Os comerciais e an ncios de produtos vendidos pelo telefone n o tardariam a voltar O mesmo aconteceria com as usinas de energia N o demorou muito at que meus amigos de Boulder chegassem conclus o de que buscar o des gnio do Deus que os poupou era muito menos importante do que botar as geladeiras e os aparelhos de ar condicionado para funcionar novamente Em Las Vegas Randall Flagg e amigos estavam aprendendo a pilotar jatos e ca as al m de como religar a luz mas tudo bem era de se esperar porque eles eram os bandidos O que me travou foi perceber em algum recanto da
311. te meu ltimo ano na Universidade do Maine quando fiz n o um mas dois cursos de escrita criativa o primeiro foi o semin rio em que conheci minha mulher ent o n o d para dizer que foi tempo perdido A maioria de meus colegas daquele semestre escrevia poemas sobre desejo sexual ou hist rias em que rapazes incompreendidos pelos pais se preparavam para ir para o Vietn Uma mo a escreveu muito sobre seu ciclo menstrual e a lua nesses poemas ela sempre escrevia a Pa n o a lua A poetisa n o conseguia explicar por que tinha que ser assim mas n s meio que compartilh vamos o sentimento a l a est certo manda ver mo a Eu apresentei poemas meus mas guardava um segredo inconfess vel no dormit rio o manuscrito semiacabado de um romance sobre uma gangue de adolescentes que pretendia come ar uma revolta racial A revolta serviria de cortina de fuma a enquanto os jovens fizessem duas d zias de opera es de agiotagem e montassem uma rede de tr fico de drogas em Harding minha vers o fict cia de Detroit eu nunca tinha estado a menos de mil quil metros de l mas n o deixei que esse detalhe me fizesse parar ou mesmo diminu sse meu ritmo Esse romance nunca publicado chamado Sword in the Darkness Espada na escurid o me parecia muito ruim quando comparado ao que meus colegas estavam tentando produzir e por isso imagino que nunca o levei para ser criticado nas aulas O fato de ele ser melhor e de cer
312. tecido de l Imagino que ainda exista muita gente na Nova Inglaterra que tenha nos guarda roupas jaquetas tingidas por este que vos escreve N o foi o melhor ver o da minha vida mas consegui n o ser engolido pelo maquin rio e evitar que meus dedos fossem perfurados por umas das grandes m quinas de costura que us vamos para prender os tecidos que seriam tingidos Na Semana da Independ ncia a tecelagem ficou fechada Os empregados com pelo menos cinco anos de casa ganharam a semana de folga e receberam o pagamento Quem estava l havia menos tempo foi chamado para trabalhar na equipe que limparia a tecelagem de cima a baixo inclusive o subsolo que n o passava por uma faxina havia quarenta ou cinquenta anos Eu teria aceitado o trabalho estavam pagando praticamente o dobro pela hora mas todas as vagas foram preenchidas muito antes de o patr o consultar o pessoal da escola que iria embora em setembro Quando voltei na semana seguinte um dos caras da se o de tingimento me disse que eu deveria ter visto o que havia acontecido fora uma loucura Os ratos do por o eram grandes como gatos disse ele Alguns meu Deus eram do tamanho de cachorros Ratos do tamanho de cachorros Uau Certo dia em meu ltimo semestre no col gio provas finais feitas e futuro em aberto me lembrei da hist ria do cara do tingimento sobre os ratos da tecelagem grandes como gatos meu Deus alguns do tamanho de cachorros e comecei
313. tephen King tradu o Michel Teixeira 1 ed Rio de Janeiro Objetiva 2015 recurso digital Tradu o de On Writing Formato epub Requisitos do sistema adobe digital editions Modo de acesso world wide web 217p ISBN 978 85 8105 278 6 recurso eletr nico 1 King Stephen 2 Autores americanos 3 Livros e leitura Estados Unidos 4 Literatura americana 5 Livros eletr nicos I Teixeira Michael II T tulo 15 20443 CDD 928 699 CDU 929 821 134 3 Sumario Capa Folha de Rosto Cr ditos Ep grafe Primeiro Pref cio Segundo Pref cio Terceiro Pref cio CURR CULO O que a escrita CAIXA DE FERRAMENTAS SOBRE A ESCRITA SOBRE A VIDA UM POSTSCRIPTUM E por fim Parte I Porta fechada porta aberta E por fim Parte II Uma lista de livros Mais do por fim Parte II A honestidade a melhor politica Miguel de Cervantes cc gt Mentirosos prosperam An nimo Primeiro pref cio No come o da d cada de 1990 deve ter sido 1992 mas dif cil se lembrar das coisas quando a gente est se divertindo entrei para uma banda de rock composta basicamente por escritores Rock Bottom Remainders foi fruto da imagina o da editora e musicista Kathi Kamen Goldmark de S o Francisco O grupo inclu a Dave Barry na guitarra solo Ridley Pearson no baixo Barbara Kingsolver nos teclados Robert Fulghum no bandolim e eu na guitarra base Tamb m t nhamos um trio de cantoras ao esti
314. tido em minha curta vida mas ela s ficou no primeiro lugar do p dio por alguns segundos Quando deixei o bloco de cimento cair no p descal o esmagando todos os cinco dedos me esqueci imediatamente da vespa Nem eu nem minha tia Ethelyn conseguimos lembrar se fui levado para o hospital tio Oren a quem certamente pertencia o Tijolo Maligno morreu h quase vinte anos mas ela se recorda da picada dos dedos esmagados e da minha rea o Como voc uivava Stephen contou ela Sua voz estava no auge naquele dia 2 Mais ou menos um ano depois minha m e meu irm o e eu est vamos em West De Pere em Wisconsin n o sei por qu Outra tia Cal que foi Miss do Corpo Auxiliar Feminino do Ex rcito dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial morava no Wisconsin com o marido um simp tico bebedor de cerveja e talvez minha m e tenha se mudado para l com a inten o de ficar perto deles embora eu n o me lembre de ter tido muito contato com os Weimer Com nenhum deles na verdade Minha m e trabalhava mas tamb m n o consigo lembrar em qu Tenho o impulso de dizer que era em uma padaria mas acho que isso foi depois quando nos mudamos para Connecticut para morar perto de minha tia Lois e seu marido Fred n o bebia cerveja nem era muito simp tico era um pai de fam lia que usava cabelo cortado bem curto e tinha orgulho de dirigir o convers vel com a capota levantada sabe Deus por qu Houve uma torr
315. tora Doubleday onde trabalhava um amigo chamado William Thompson Deixei o assunto de lado e segui com a vida que naquele per odo consistia em dar aulas cuidar das crian as amar minha mulher ficar b bado nas tardes de sexta e escrever hist rias Naquele semestre eu tinha o quinto per odo livre logo ap s o almo o Costumava ficar na sala dos professores corrigindo trabalhos e desejando me esticar no sof e tirar um cochilo no come o da tarde minha energia era compar vel de uma jiboia que acaba de engolir uma cabra O interfone tocou e Colleen Sites da diretoria perguntou se eu estava ali Respondi que sim e ela me disse para ir at l Era uma liga o Da minha mulher A caminhada da sala dos professores na ala inferior at o escrit rio da diretoria parecia longa mesmo durante o hor rio das aulas quando os corredores ficavam praticamente vazios Andei r pido sem correr com o cora o aos pulos Tabby teria tido que colocar botas e vestir casaco nas crian as para ir usar o telefone na casa do vizinho e s consegui pensar em duas raz es para ela fazer isso Ou umas das crian as ca ra da escada e quebrara a perna ou eu tinha conseguido vender Carrie Minha mulher sem f lego mas delirantemente feliz leu para mim um telegrama Bill Thompson que depois descobriria um escrevinhador do Mississippi chamado John Grisham o enviara depois de tentar me ligar e descobrir que os King n o tinham mais telefone PA
316. tuitos a ideia de ver meninas andando pelos corredores com a saia suja de sangue porque estavam sem dinheiro n o agradava nem um pouco aos docentes e administra o explicou minha mulher Tamb m me ajudei um pouco escavando as mem rias dos tempos de col gio meu trabalho como professor de ingl s n o ajudava eu j tinha 26 anos e estava do lado errado da mesa em busca do que eu sabia sobre as duas meninas mais solit rias e sacaneadas da minha turma como se vestiam como se comportavam como eram tratadas Poucas vezes na carreira explorei territ rios t o desagrad veis Vou chamar uma dessas meninas de Sondra Ela morava com a m e e um cachorro chamado Cheddar Cheese em um trailer n o muito longe de minha casa Sondra tinha uma voz vacilante e irregular como se sempre falasse com as cordas vocais carregadas de catarro N o era gorda mas sua pele tinha uma apar ncia p lida e fl cida como a parte de baixo de alguns cogumelos O cabelo muito cacheado no estilo da personagem de quadrinhos Annie a pequena rf grudava nas bochechas cheias de espinhas Ela n o tinha amigos com exce o de Cheddar Cheese acho Certo dia a m e dela me pagou para trocar alguns m veis de lugar Dominando a sala do trailer havia um Cristo crucificado quase em tamanho natural olhos virados para cima boca pendendo para baixo sangue escorrendo por baixo da coroa de espinhos Ele estava quase nu coberto apenas pelo pano enrolado em
317. u abrir os cadeados As ferramentas mais comuns estavam na primeira bandeja da caixa Tinha um martelo uma serra um alicate duas chaves de boca grandes e uma chave inglesa tamb m tinha uma bandeja com aquela m stica janela amarela no meio uma furadeira as v rias brocas estavam cuidadosamente engavetadas nas profundezas da caixa e duas chaves de fenda Tio Oren me pediu uma chave de fenda Qual delas perguntei Tanto faz A tela quebrada era fixa por parafusos com a cabe a em cruz e n o faria diferen a se ele usasse uma chave de fenda comum ou uma chave Phillips Com parafusos em cruz basta enfiar a ponta da chave na fenda da cabe a do parafuso e depois girar como se gira uma chave de roda depois de afrouxar os parafusos da calota Tio Oren tirou os parafusos eram oito que ele me deu para guardar e depois removeu a tela velha Ele a recostou na parede da casa e ergueu a nova Os buracos da tela casavam perfeitamente com os do batente da janela Tio Oren grunhiu de satisfa o quando viu o encaixe Ele pegou os parafusos comigo um ap s o outro encaixou os depois come ou a apert los da mesma maneira como os afrouxou inserindo a ponta da chave nas fendas e girando Quando a tela estava firme tio Oren me mandou colocar a chave de fenda de volta na caixa de ferramentas e depois passar os cadeados Foi o que fiz mas fiquei intrigado Perguntei por que ele carregara a caixa de ferramentas de Fazza pela casa
318. u me lembro de n s dois deitados na cama naquela noite comendo torradas e conversando at altas horas Tabby perguntou o quanto ganhar amos se a Doubleday conseguisse vender os direitos de publica o em brochura de Carrie a estranha e eu respondi que n o sabia Eu tinha lido que Mario Puzo acabara de receber um enorme adiantamento com a venda dos direitos de publica o para edi o de bolso de O poderoso chef o 400 mil d lares de acordo com o jornal mas eu achava que Carrie n o chegaria nem perto desse valor isso se os direitos para edi o em brochura fossem de fato vendidos Tabby perguntou de maneira at t mida para minha mulher normalmente direta se eu acreditava que o livro teria uma edi o em brochura Respondi que considerava as chances bastante boas talvez sete ou oito em dez Ela perguntou quanto a publica o traria de lucro Respondi que meu palpite era algo entre 10 mil e 60 mil d lares Sessenta mil d lares Ela pareceu quase em choque poss vel chegar a um valor t o alto Respondi que sim n o era prov vel mas era poss vel Tamb m lembrei a ela que meu contrato especificava uma divis o meio a meio no caso de edi o brochura ou seja se a Ballantine ou a Dell pagassem 60 mil n s s levar amos 30 Tabby n o se dignou a dar resposta n o era preciso Trinta mil d lares era o que eu ganharia em quatro anos de magist rio contando com os aumentos de sal rio anua
319. ua Foi quando vi que ela estava com a l ngua verde por causa dos selos Pensei que seria timo conseguir fabricar aqueles malditos selos no por o e naquele momento nasceu uma hist ria chamada Selos felizes O conceito de falsificar Selos Verdes e a vis o da minha m e com a l ngua verde criaram a hist ria em um instante O her i da minha hist ria era o cl ssico pobre diabo um cara chamado Roger preso duas vezes por falsificar dinheiro mais uma vez e ele seria idiota ao cubo Em vez de dinheiro ele come ou a falsificar Selos Felizes por m descobriu ele o desenho dos Selos Felizes era t o estupidamente simples que ele n o estava falsificando Estava criando resmas do selo verdadeiro Em uma cena engra ada provavelmente a primeira cena competente que escrevi Roger est sentado na sala de estar com a m e j velhinha os dois admirando o cat logo de Selos Felizes enquanto a prensa tipogr fica funciona no por o cuspindo mais e mais selos para troca Santo Deus exclama a m e Diz aqui nas letrinhas mi das que voc pode trocar os Selos Felizes por qualquer coisa Roger s dizer o que quer e eles calculam quantos lbuns voc precisa para conseguir Ent o com uns seis ou sete milh es de lbuns d para conseguir uma boa casa com os Selos Felizes Roger descobre no entanto que embora os selos sejam perfeitos a cola ruim Quando algu m lambe os selos e depois cola nos lbuns eles f
320. ue isso gritou ela Devolve pediu ele meu N o seja tolo Jekyll disse Utterson Nessas frases gritou pediu e disse s o verbos dicendi Agora veja estas revis es d bias Largue isso gritou ela amea adoramente Devolve pediu ele abjetamente E meu N o seja tolo Jekyll disse Utterson desdenhosamente As tr s ltimas frases s o mais fracas que as tr s primeiras e a maioria dos leitores logo vai perceber a raz o N o seja tolo Jekyll disse Utterson desdenhosamente a melhor de todas n o passa de um clich enquanto as outras s o absolutamente rid culas O uso de adv rbios junto a verbos dicendi conhecido em ingl s como swifitie por causa de Tom Swift o bravo inventor her i de uma s rie de hist rias de aventura para meninos escrita por Victor Appleton II Appleton gostava de frases como Fa a o seu pior gritou Tom bravamente e Meu pai me ajudou com as equa es disse Tom modestamente Quando eu era adolescente havia uma brincadeira que faz amos em festas que se baseava na capacidade de criar swifties inteligentes ou quase inteligentes Que belos peitos madame disse ele respeitosamente uma de que me lembro Outra Sou encanador disse ele com jeito desencanado Nesse caso o modificador uma locu o adverbial Ao avaliar se vale a pena fazer perniciosos dentes de le o adv rbios a
321. ue o fez ganhar muitos pontos comigo Depois de algum tempo ele me deixou fechar a boca e convocou minha m e O problema s o as am gdalas disse o m dico Parece at que foram arranhadas por um gato Vamos ter que extrair Em algum momento depois disso eu me lembro de estar sendo empurrado em uma maca sob luz intensa Um homem com m scara branca se inclinou em minha dire o Ele estava de p na cabeceira da maca 1953 e 1954 foram os anos de deitar em macas e para mim estava de cabe a para baixo Stephen disse ele est me ouvindo Respondi que sim Quero que voc respire profundamente mandou Quando acordar vai poder tomar sorvete vontade Ele posicionou um instrumento sobre meu rosto Aos olhos da minha mem ria parecia um motor de popa Inspirei fundo e tudo ficou preto Quando acordei realmente podia tomar sorvete vontade o que era uma piada ir nica porque eu n o queria Eu sentia a garganta inchada Ainda assim era bem melhor do que o velho truque da agulha no ouvido Ah sim Qualquer coisa seria melhor que o velho truque da agulha no ouvido Podem tirar minhas amidalas se for preciso podem botar uma gaiola de a o em minha perna mas Deus me livre do otiologista 7 Naquele ano meu irm o pulou para o quarto ano e eu fui tirado da escola Eu havia perdido praticamente todo o ano letivo pensaram minha m e e a escola Poderia come ar de novo no pr ximo semestre se e
322. ue seu rottweiler tinha pulado da traseira do furg o para os bancos de tr s onde estava um cooler da marca Igloo cheio de carne O nome do rottweiler Bullet Bala Smith tem outro rottweiler em casa chamado Pistol Pistola Bullet come ou a farejar a tampa do cooler Smith se virou para tr s e tentou afast lo dali Ele ainda estava olhando para Bullet e empurrando a cabe a do cachorro para longe do cooler quando chegou ao topo da colina e continuava olhando quando me atropelou Mais tarde Smith contaria a amigos que pensou ter atingido um pequeno cervo at perceber meus culos ensanguentados jogados no banco dianteiro do furg o Os culos foram arrancados de meu rosto quando tentei sair do caminho As arma es estavam dobradas e amassadas mas as lentes n o se quebraram S o as mesmas que estou usando agora enquanto escrevo 2 Smith v que estou acordado e me diz que o socorro j est a caminho Ele fala com voz calma quase animado O olhar dele sentado ali naquela pedra com a bengala no colo de agrad vel comisera o E n o que n s dois tivemos um puta azar dizem aqueles olhos Smith disse ao investigador depois que saiu com Bullet do camping onde estavam porque queria comprar aqueles barras de chocolate Marze Quando fiquei sabendo desse detalhe algumas semanas depois me ocorreu que eu quase tinha sido morto por um sujeito que parecia um personagem sa do de meus pr prios romances
323. ugar ao norte da caldeira e a leste da despensa onde moravam as intermin veis caixas de conservas e legumes enlatados de Clayt e Ella O Regras era uma estranha combina o de boletim informativo familiar e quinzen rio de cidade pequena s vezes era mensal se outros interesses capturassem a aten o de Dave fazer a car de bordo produzir sidra construir foguetes e tunar carros para citar apenas alguns e ent o surgiam piadas que eu n o entendia sobre o atraso das Regras de Dave naquele m s e sobre n o incomodar meu irm o naqueles dias em que ele estava no por o por causa das Regras Com ou sem piadas a tiragem passou aos poucos de cinco c pias vendidas para familiares pr ximos para algo na ordem de cinquenta ou sessenta exemplares com nossos parentes e os parentes dos vizinhos de nossa pequena cidade a popula o de Durham em 1962 era de cerca de novecentas pessoas esperando vidos por uma nova edi o Em uma edi o rotineira do jornal por exemplo as pessoas encontrariam informa es sobre a recupera o da perna quebrada de Charley Harrington sobre os oradores de outras cidades que iriam Igreja Metodista de West Durham sobre a quantidade de gua que os meninos da fam lia King estavam puxando da bomba da cidade para evitar que o po o atr s da casa secasse claro que ficava seco todo maldito ver o n o importava o quanto bombe ssemos sobre quem estava visitando os Brown ou os Hall do outro lado
324. ui mas s no avi o e nos quartos de hotel que n o t m CNN al m disso eu aprendi muito sobre insira o assunto aqui Para cada escritor bem sucedido de livros de cultura in til no entanto existem centenas talvez milhares de outros que querem chegar l alguns j publicados a maior parte n o No fim das contas acho que a hist ria tem que vir primeiro ser a prioridade mas pesquisas s o inevit veis se voc fugir delas ser por sua conta e risco Na primavera de 1999 voltei dirigindo da Fl rida at o Maine depois de passar o inverno l com minha mulher No segundo dia na estrada parei para abastecer em um posto perto da rodovia que cruza a Pensilv nia um desses lugares antigos e simp ticos em que h um frentista para colocar gasolina em seu carro que pergunta como voc est e para que time torce no torneio nacional de basquete universit rio Respondi que estava bem e que torcia para Duke Depois fui at os fundos para usar o banheiro Atr s do posto corria um regato bravio encorpado pela neve derretida Quando sa do banheiro desci um pouco a encosta cheia de restos de pneus e pe as de motor para ver a gua mais de perto Ainda havia trechos de neve no ch o Escorreguei em um deles e comecei a descer barranco abaixo Agarrei um antigo bloco de motor que algu m largara ali e consegui parar a queda antes de escorregar mais Quando levantei percebi que se tivesse ca do sem parar teria mergulhado no ri
325. uma no o de tudo o que pode ser feito E tamb m lemos para ter contato com diferentes estilos Voc pode acabar adotando um estilo de que goste muito e n o h nada de errado com isso Quando li Ray Bradbury na juventude comecei a escrever como ele tudo verde e assombroso e visto por uma lente manchada pela gordura da nostalgia Quando li James M Cain passei a escrever de um jeito objetivo e cru com enredos pesados Quando li Lovecraft minha prosa ficou exuberante e intrincada Quando adolescente escrevi hist rias que misturavam todos esses estilos criando uma mistureba hil ria Esse tipo de fus o estil stica necess ria para o desenvolvimento do estilo do escritor mas n o ocorre no v cuo Voc tem que ler de tudo refinando e redefinindo constantemente o pr prio trabalho no caminho Acho dif cil acreditar na exist ncia de pessoas de pouca ou nenhuma leitura que tentam escrever e esperam que os leitores gostem de seus textos mas sei que elas est o por a Se eu ganhasse um centavo por cada um j que me disse que queria ser escritor mas n o tinha tempo para ler daria para pagar um bom jantar em uma churrascaria Posso ser direto Se voc n o tem tempo de ler n o tem tempo nem ferramentas para escrever Simples assim A leitura o centro criativo da vida de um escritor Eu levo um livro comigo aonde quer que v e n o faltam oportunidades para mergulhar na leitura O truque aprender a ler tanto de
326. umpre um importante papel n o s no mercado editorial mas tamb m em outros neg cios intelectuais triunfou novamente Frank recebeu 15 d lares pela hist ria dez c pias de contribuinte e mais um cr dito important ssimo No ano seguinte Frank come a a trabalhar como professor de literatura em um col gio Embora seja extremamente dif cil lecionar e corrigir textos de alunos durante o dia e depois trabalhar em seu pr prio material noite ele persevera escrevendo novos contos e colocando os em circula o colecionando cartas de rejei o e por vezes aposentando hist rias j enviadas para todos os lugares ao seu alcance Elas v o ficar bem na minha cole o quando finalmente sair uma diz ele mulher Nosso her i tamb m conseguiu um segundo emprego escrevendo cr ticas de livros e filmes para um jornal da cidade vizinha Ele muito muito ocupado Ainda assim bem no fundo da cabe a Frank come a a acalentar a ideia de escrever um romance Quando lhe perguntam qual a coisa mais importante para um jovem escritor que est apenas come ando a enviar seus textos de fic o Frank hesita apenas alguns segundos antes de responder Uma boa apresenta o Como Ele balan a a cabe a Uma boa apresenta o com certeza Quando voc envia um texto preciso mandar junto uma breve mensagem de apresenta o que diga ao editor onde voc j publicou antes trazendo tamb m uma linha ou duas sobre
327. untei a minha m e se ela j tinha visto algu m morrer Ela respondeu que sim J tinha visto uma pessoa morrer e ouvido outra morrendo Perguntei como era poss vel ouvir uma pessoa morrendo e ela contou de uma menina que tinha morrido afogada em Prouts Neck na d cada de 1920 A menina nadou para depois da arrebenta o n o conseguiu voltar e come ou a gritar por socorro V rios homens tentaram chegar at ela mas naquele dia a contracorrente estava muito forte e todos foram obrigados a voltar No fim turistas e moradores entre eles a adolescente que se tornou minha m e s puderam esperar por um barco de resgate que nunca veio enquanto ouviam a menina gritar at que suas for as se esva ssem e ela afundasse de vez O corpo apareceu na praia em New Hampshire contou minha m e Perguntei quantos anos tinha a menina Minha m e respondeu que tinha 14 depois leu uma revista em quadrinhos para mim e me colocou na cama Em outro dia ela me contou sobre a morte que presenciara a de um marinheiro que pulou do telhado do Hotel Graymore em Portland no Maine e aterrissou na rua Ele se espatifou disse ela usando seu tom mais casual Fez uma pausa depois acrescentou O neg cio que sa a dele era verde Nunca esqueci Somos dois mam e 5 Fiquei de cama a maior parte dos nove meses que eu deveria ter passado no primeiro ano da escola Meus problemas come aram com o sarampo um caso absolutamente normal e a situ
328. ur com c pula verde em formato de losango estava uma caixa umidificadora para charu tos Ao lado dela os tr s ltimos livros de Mike Ens lin Edi es econ micas claro nenhum deles fora lan ado em capa dura Aada assinatodos venderasa bes Meu anfitri o tamb m andou fazendo suas pes quisas pensou Mike Mike sentou se em weadas cadeims em frente mesa Ele esperava que Ostgemreyer ocupasse o lugar atras da a ps cc On pegou gt A 20 mas Ostermeyes o surpreendeu Ele senteuse neou TA ae lado dp de Mke gt ike ca gt Q ol gt gt lade des empreaades cruzou as pernas e depois se inclinou por sobre sua proeminente e bem vestida barriga para alcan ar a caixa umidificadora Quer um charuto sr Enslin Nae sae cubares N o obrigado Eu n o fumo Ros olhos de Gstesmeyer se voltaram para o cigarro atr s da orelha direita de Mike apoiado ek em um estilo elegante da mesma maneira como um mordaz rep rter de Nova York dos velhos tempos teria apoiado o pr ximo fumo logo hapo ee i o sev Fedora etiqueta IMPRENSA presa Na fitajO cigarro se tornara uma parte t o indissoci vel de Mike que ele por um momento n o conseguiu entender para o que Os eyer estava olhando Depois pereebess riu tirou o cigarro da orelha olhou para ele e em segui da se voltou para Ostermeyer ea N o fumo er eigarro h nove anos disse ele Bu tive um irm o m
329. vai notar que n o tenho nada na manga e que meus l bios nunca se mexem E bem prov vel que os seus tamb m n o Olha aqui temos uma mesa coberta com um pano vermelho Nela est uma gaiola do tamanho de um aqu rio pequeno Na gaiola est um coelho branco de nariz e olhos rosados Nas patas de frente est um toco de cenoura que ele r i alegremente Nas costas escrito em tinta azul est o n mero 8 N s vemos a mesma coisa Precisar amos nos reunir e conversar para ter certeza absoluta mas acho que sim Claro que haveria as varia es necess rias alguns receptores ver o um pano vermelho vivo outros vinho e outros mais ver o tonalidades distintas Para dalt nicos a toalha de mesa vermelha tem a cor de cinzas de cigarro Alguns ver o bordas franzidas outros tudo liso Almas mais decoradoras podem incluir alguns la arotes Fiquem vontade minha toalha de mesa sua toalha de mesa Da mesma maneira o material da gaiola deixa muito espa o para interpreta o No m nimo ela foi descrita com uma compara o tosca que s til se eu e voc vemos o mundo e medimos as coisas nele com um olhar parecido f cil ser desleixado ao fazer compara es toscas mas a alternativa uma excessiva aten o aos detalhes que tira toda a divers o da escrita O que eu deveria dizer na mesa tem uma gaiola com 1 metro de comprimento 60 cent metros de largura e 36 cent metros de altura Isso n o prosa um manu
330. vai saber Algu m que domine os rudimentos gramaticais encontra uma reconfortante simplicidade no cora o da gram tica onde s precisa haver substantivos palavras que nomeiam e verbos palavras que indicam a o Pegue qualquer substantivo junte com qualquer verbo e voc ter uma ora o Nunca falha Rochas explodem Jane transmite Montanhas flutuam Todas s o ora es perfeitas Pensamentos estranhos como esses fazem pouco sentido racionalmente falando mas mesmo os mais estranhos Ameixas deificam t m certo peso po tico interessante A simplicidade da constru o substantivo verbo til na pior das hip teses pode fornecer uma rede de seguran a para sua escrita Strunk e White alertam contra o exagero no uso de ora es simples em sequ ncia mas ora es simples podem servir como um caminho a seguir quando voc teme se perder nos emaranhados da ret rica classes restrititivas e n o restritivas ora es apositivas subordinadas e coordenadas Antes de enlouquecer diante desse territ rio desconhecido desconhecido para voc pelo menos lembre se de que rochas explodem Jane transmite montanhas flutuam e ameixas deificam A gram tica n o apenas chatea o a estrutura em que voc se apoia para construir os pensamentos e coloc los no papel Al m disso todas as ora es simples de Hemingway funcionaram bem para ele n o Mesmo quando estava b bado como um gamb o homem e
331. vamos de bolsas empesteadas que se dissolviam quando imersas em gua quente embora o sangue naqueles tempos n o fosse considerado particularmente perigoso As remessas do hospital para a lavanderia costumavam trazer alguns extras pareciam caixas imundas de salgadinhos que guardavam brindes bizarros Achei uma comadre met lica em um lote e um par de tesouras cir rgicas em outro a comadre n o tinha uso pr tico mas as tesouras viraram um acess rio de cozinha dos bons Um cara com quem eu trabalhava chamado Ernest Rocky Rockwell encontrou 20 d lares em um lote do Centro M dico do Leste do Maine e bateu o cart o ao meio dia e saiu para beber Ele sempre chamava a hora de sair de slitz oclock 2 Certa vez ouvi um tilintar estranho vindo de dentro de uma das lavadoras Interrompi a lavagem na hora pensando que a porcaria da m quina estava batendo pino ou algo assim Abri as portas e puxei para fora uma massa ensopada de t nicas cir rgicas e toucas verdes e me molhei todo no processo Embaixo das roupas espalhada por todo o interior da m quina que lembrava um escorredor estava o que parecia ser uma cole o completa de dentes humanos Primeiro passou por minha cabe a que os dentes dariam um colar interessante mas depois preferi tir los da lavadora e jog los no lixo Minha mulher j suportou muitas bobagens minhas ao longo dos anos mas seu senso de humor tem limite 26 Do ponto de vista financeiro ter
332. vato do que perceber que seu trabalho inquestionavelmente melhor do que o de algu m que ganha para escrever Aprendemos mais sobre o que n o fazer quando lemos uma prosa ruim romances como Asteroid Miners ou O vale das bonecas O jardim dos esquecidos e As pontes de Madison para citar apenas alguns valem tanto quanto um semestre em um bom curso de escrita mesmo com a presen a de autores famosos como professores convidados A boa escrita por sua vez ensina ao escritor aprendiz sobre estilo narra o elegante desenvolvimento de enredo e cria o de personagens cr veis e tamb m sobre como a dizer verdade Um romance como As vinhas da ira pode gerar a boa e velha inveja e levar o novato ao desespero Nunca serei capaz de escrever algo t o bom nem que viva mil anos mas tais sentimentos tamb m podem servir como est mulo motivando o escritor a trabalhar mais e mirar mais alto Ser emocionalmente atingido pela combina o de grande hist ria com grande escrita ser humilhado na verdade faz parte da forma o necess ria a todo escritor Nem sonhe em humilhar algu m com a for a de sua escrita at que voc tenha sofrido isso na pele N s lemos para experimentar a mediocridade e a podrid o indiscut veis essa experi ncia nos ajuda a reconhecer esse tipo de coisa quando ela come a a se infiltrar em nosso pr prio trabalho e a nos livrar dela Tamb m lemos para nos compararmos aos bons e aos grandes para ter
333. via se mudando e que n o tenho certeza absoluta disso talvez tenha mandado meu irm o e eu para a casa de uma tia porque durante um tempo n o tinha capacidade econ mica nem emocional de lidar conosco Talvez ela estivesse correndo atr s do nosso pai que acumulou todo tipo de d vida e depois se mandou Na poca eu tinha 2 anos e David meu irm o 4 Se foi esse o caso ela nunca o encontrou Minha m e Nellie Ruth Pillsbury King foi uma das primeiras mulheres emancipadas dos Estados Unidos mas n o por escolha pr pria Mary Karr apresenta sua inf ncia em um panorama quase ininterrupto A minha um terreno nebuloso em que lembran as ocasionais brotam como rvores solit rias O tipo de mem ria que parece ter a inten o de pegar e devorar algu m O que se segue s o algumas dessas lembran as al m de uns vislumbres dos dias um tanto mais coerentes da minha adolesc ncia e juventude Isto n o uma autobiografia na verdade uma esp cie de curriculum vitae minha tentativa de mostrar como se forma um escritor N o como se faz um escritor eu n o acredito que escritores possam ser feitos nem pelas circunst ncias nem por autodetermina o embora j tenha acreditado nessas coisas O equipamento vem na embalagem original Embora n o seja de forma alguma um equipamento incomum Acredito que muitas pessoas t m pelo menos algum talento para escrever ou contar hist rias e esse talento pode ser fortalecido e afiad
334. viradas e o ritmo da hist ria ditando onde cada um come a e termina O par grafo de abertura do tipo cl ssico come a com uma frase s ntese complementada pelas outras em seguida Outros por m existem apenas para diferenciar as falas de Dale das de Big Tony O par grafo mais interessante o quinto Big Tony se sentou acendeu um cigarro passou a m o pelo cabelo Tem uma nica frase e par grafos expositivos quase nunca t m apenas uma frase Nem uma frase muito boa tecnicamente falando para que ficasse perfeita no sentido de Warriner deveria haver uma conjun o e Ent o qual exatamente a fun o desse par grafo Em primeiro lugar a frase pode ser problem tica tecnicamente falando mas o trecho como um todo bom Seu estilo breve e telegr fico dita o ritmo e mant m o frescor da escrita Jonathan Kellerman autor de obras de suspense usa muito bem essa t cnica Em Os escolhidos ele escreveu O barco era feito de uns 9 metros de fibra de vidro reluzente com detalhes cinza Mastros altos velas amarradas Satori pintado no casco em letras pretas circundadas de dourado poss vel exagerar no uso de fragmentos bem constru dos e Kellerman s vezes faz isso mas eles tamb m podem funcionar maravilhosamente para dar agilidade narra o criar imagens claras e uma atmosfera de tens o bem como variar a linha da prosa Uma s rie de frases gramaticalmente adequadas pode retesar a linha deixan
335. vistas como Amazing Stories pagavam um centavo por palavra Eu j tinha lido outros livros do sr Leinster o suficiente para saber que a qualidade de sua escrita oscilava Essa hist ria em particular que falava de minera o em um cintur o de asteroides era um de seus piores trabalhos Estou sendo bondoso na verdade Era horr vel uma trama cheia de personagens t o densos quanto uma folha de papel e marcada por reviravoltas bizarras O pior de tudo pelo menos para mim poca era que Leinster estava apaixonado pela palavra arrebatador Os personagens acompanhavam a chegada dos asteroides cheios de min rio com sorrisos arrebatados Eles se sentavam para jantar a bordo da nave mineradora com ansiedade arrebatadora Perto do fim do livro o her i envolveu a hero na loura de seios grandes em um abra o arrebatador Para mim foi o equivalente liter rio da vacina o contra var ola at onde sei nunca usei a palavra arrebatador em qualquer hist ria ou romance E se Deus quiser nunca vou usar Asteroid Miners o t tulo n o era esse mas era algo parecido com mineradores de asteroides foi um livro importante na minha vida de leitor Quase todo mundo se lembra de quando perdeu a virgindade e a maioria dos escritores se lembra do primeiro livro que lhe trouxe mente o pensamento Eu consigo fazer melhor que isso Porra eu j estou fazendo melhor do que isso Nada mais encorajador para o escritor no
336. vros parecia n o era s isso esperar serie CeCe Avice mas n o era s isso At ent o mesmo depois de tanto postergar Mike Enslin ainda n o tinha certeza agora n o E i d vi da Ostemeyer n o estava fingindo Ostermeyer real A A mente tinha medo do quarto 1408 e do que poderia acontecer a Mike naquela noite CS A eaticteanio helen niet sinto ironia 4 Lj me 2 bi asineaenaies Tamail A Ostermeyes como um bom anfitri o estendeu a e m o para pegar a maleta Stage Permita me Pode deixar comigo disse Mike S tem uma muda de roupa e uma escova de dentes Tem certeza Tenho respondeu Mike olhos nos olhos JE ma pe a ig Ip see sorriu E vem com vopsinnie de fantasmas p Mil St A se desisti Ele suspirou um homem baixo e gorducho metido em uma casaca escura com uma gravata amar rada perfei or e depois se aprrmo aonamente Muito bem sr Enslin Venha comigo No lobby o gerente do hotel parecera hesitante deprimido quase derrotado No escrit rio decorado com pain is de carvalho e fotos do hotel o Dolphin fora inaugurado em outubro de 1910 Mike podia ter publicado o livro sem conseguir criticas em revis tas ou grandes jornais da cidade mas fizera suas pes quisas eae pareceu recuperar a confian a No ch o havia um tapete persa Duas lumin rias de p lan avam uma luz levemente amarelada Na mesa perto de um abaj
337. watched hem with a small patient smile At the front desk a man with the rumpled look one only got after long hours in Business Class was dis cussing his reservation with a woman in a smart black suit that could itself have doubled for evening wear It was business as usual at the Hotel Dol phin There was help for everyone except poor Mr Sotedeges who had fallen into the writer s clutches 3 Mr Esrerinenas Mike repeated feeling a littl esersyforthe masi O Us R u Mr Enslin could I speak to you for a moment in my office T er ii di well dnd w i not l imparier o It would help the sec add to tion on room 1408 offer the prap ominous tone End that wasn t 2 tl the readers of his books seemed to crave i i Mike Enslin hadn t been sure until now in spite of all the Olin backing and filling now he was Osterrmreges wasn t lin playing a part Ostermreyer was really afraid of room 1408 and what might happen to Mike there tonight Olin Of course Mr Osteemeyen Shoutd Hteave ark A Mike s bea the good host reached for es he still hele OMe ODEO reporte re Mec Q sta room Otherwise he Would trave drecred MikeTo z desk or taken it there himself Allow me I m fine with it Mike said Nothing but a change of clothes and a toothbrush Are you sure Already wea Yes Mike said holding his
338. zes a vergonha nossa Na terceira vez em que estive na maca do m dico de ouvido eu lutei gritei me debati e resisti Todas as vezes em que a agulha chegava perto do meu rosto eu a jogava longe Por fim a enfermeira chamou minha m e e as duas me seguraram por tempo suficiente para que o m dico conseguisse enfiar a agulha Gritei tanto e por tanto tempo que ou o at hoje Na verdade acho que em algum vale profundo da minha cabe a o ltimo grito ainda ecoa 6 Em um m s frio e sem gra a n o muito tempo depois devia ser janeiro ou fevereiro de 1954 se acertei a sequ ncia de acontecimentos o t xi apareceu de novo Desta vez o especialista n o era o m dico de ouvido mas o de garganta Como de h bito minha m e ficou sentada na sala de espera e eu mais uma vez me sentei na maca a enfermeira por perto e novamente havia aquele cheiro forte de lcool um aroma que ainda tem o poder de dobrar meus batimentos cardiacos em cinco segundos Mas tudo o que apareceu daquela vez foi um tipo de cotonete para garganta Do a e tinha um gosto horr vel mas depois do agulh o do m dico de ouvido parecia brincadeira de crian a O m dico de garganta p s um aparelho curioso ao redor da cabe a Tinha um espelho no meio e uma forte luz brilhante que cintilava como se fosse um terceiro olho Ele examinou minha goela por um bom tempo dizendo para abrir a boca cada vez mais at a mand bula estalar mas n o usou agulhas o q
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