Home

Começar Pelos Fins – A nova questão comunista LUCIEN SÈVE

1. Se todavia o estalinismo organizacional parece estar na directa continua o do leninismo porque o pr prio Estaline p s nisso um grande cuidado apresentando se desde logo como o mais fiel continuador de Lenine Assim foi sob a designa o falaciosamente mantida de centralismo democr tico burla ainda hoje vivaz que se elaborou sorrateiramente o seu aut ntico contr rio no mesmo g nero um centralismo autocr tico De um para o outro as coisas invertem se E antes do mais como deve ser o Congresso Com Lenine era o Congresso que fazia a Direc o do Partido com Estaline j nos anos trinta a Direc o que faz o Congresso Escolha dos delegados conte do pol tico composi o dos organismos centrais tudo se decide antecipadamente ao n vel do incontrol vel n cleo dirigente O congresso leniniano aparentava se com uma improvisa o viva o congresso estalinista representa uma pe a j escrita esfor ando se de modo artificioso por imitar a espontaneidade Algo apodreceu E tudo se transforma do mesmo modo na apar ncia mantida o Comit Central designa os membros da Comiss o Pol tica e do Secretariado na nova realidade o Secret rio Geral fixa soberanamente a lista dos membros do futuro Comit Central na apar ncia a teoria marxista leninista a b ssola da pol tica do partido na realidade a pol tica escolhida pela Direc o do Partido dita teoria o que esta deve estabelecer e assim por diante A confian a
2. es pol ticas cuja pertin ncia como muito bem sente a opini o p blica se esgota nestes dom nios come a a suceder inseparavelmente universal e pessoal a escolha tica entre des gnios de humanidade A quest o dos fins torna se aqui para todos a grande quest o inclusive nas suas dimens es filos ficas Haver algo mais filos fico por exemplo do que o problema do universal E ele p e se doravante por todo o lado do dom stico ao mundial Estava no centro do veement ssimo debate franc s de 1999 sobre a paridade pol tica entre mulheres e homens O homem dos direitos do homem ser um universal abstractamente assexuado Se o for negligencia ent o a mulher enquanto tal Ser pelo contr rio um ser concreto de sexo determinado Se assim for que acontece ent o com a sua universalidade tico juridicamente t o essencial para todos Poder se sugerir com um pouco dessa t o mal conhecida dial ctica que o ser humano em geral na sua universalidade concreta n o nem sem sexo nem deste ou daquele sexo mas sim sexuado tanto de um modo como doutro o que d desde logo sentido exig ncia de paridade sem de modo algum ferir a exig ncia de universalidade Por todo o lado surgem interroga es deste tipo e isto s um come o Interroga es antropol gicas significativas daquilo que ser o estofo de que se far a hist ria humana depois do fim da nossa pr hist ria Hoje fundamentalmente sobredeterminados pelo
3. um s culo e meio poder este adiamento ser v lido no est dio a que chega o desenvolvimento da individualidade humana Est aqui em jogo o modo de pensar e p r em ac o hoje o materialismo hist rico Por tenaz que seja este contra senso nunca ele significou que a base material da hist ria residia somente nas coisas os homens s o primeir ssimos pressupostos de base de uma qualquer poca O facto contudo que realidades objectais e rela es objectivas modalidades pesadas do ser social desempenham um papel fundamental no movimento hist rico e que qualquer transforma o profunda passa pela sua necess ria reformula o A n o ser num conto de fadas idealista n o se muda a vida deixando as coisas como est o Mas quem as vai transformar sen o os indiv duos que uma consci ncia partilhada e a organiza o pol tica devem constituir em for as historicamente eficazes H pois uma dial ctica em que o revolucionar das rela es fundamentais passa pela interven o decisiva dos actores interven o que tendo por fundo as intoler veis contradi es objectivas do mundo existente lhes acrescenta o seu irredut vel fermento subjectivo Ao n vel a que agora chegou a impaci ncia dos indiv duos isto reclama que se desloque resolutamente o acento de um determinismo hist rico expectante para uma determina o pol tica audaciosa Assim para a cultura comunista de outrora s o socialismo libertaria a mulher A hist ria
4. vez a partir de cima gra as conquista revolucion ria do poder de Estado pela classe oper ria e s assim ali s pois que a burguesia capitalista tem neste caso demasiados meios para que se possa sonhar em venc la de outra maneira que n o seja de um s golpe numa dessas conjunturas temporariamente favor veis como propiciam por exemplo as guerras O socialismo a n o ser que se atascasse no oportunismo e na colabora o de classe apresentava se pois necessariamente solid rio com a revolu o violenta e a ditadura do proletariado Nos pa ses capitalistas de democracia burguesa esta estrat gia perdeu progressivamente no s culo XX principalmente na sua segunda metade qualquer credibilidade ao ponto de fazer papel de espantalho para uma larga franja da pr pria classe oper ria Um partido comunista que n o a repudiasse expressamente autocondenava se a n o passar de uma for a subalterna Acabando lentamente por compreender este facto n o fizemos mais do que reconhecer em 1976 a obsolesc ncia da ditadura do proletariado Mas renunciar a um aspecto t o essencial da antiga coer ncia estrat gica exigia como bvio reconceb la e remodel la na sua totalidade Se a chave de uma estrat gia revolucion ria alternativa que a maioria do povo assuma como coisa sua transforma es sociais democr ticas a cada momento limitadas mas mexendo com o fundo e formando desde j processo ent o deixa de haver qualquer raz
5. levar mais longe a democracia mas empreender o definhamento do Estado atrav s da reapropria o pelos cidad os dos poderes de decidir um comunismo que op e a qualquer perspectiva de uniformiza o humana imposta por um qualquer terceiro dominador a da universaliza o concreta pela qual se participa plenamente no g nero humano sendo se si pr prio livremente povo ou pessoa A ideia comunista dissocia se aqui profundamente do que durante demasiado tempo passou por lhe ser consubstancial estreiteza de classe viol ncia desp tica futuro por encomenda reconciliando bem pelo contr rio intransig ncia anticapitalista e abertura a todos os valores civilizados ousadia transformadora e paci ncia democr tica necessidade do combate e livre delibera o dos seus objectivos 2 11 Para al m de uma sociedade de classes Teremos esgotado a lista dos maiores problemas com que se deve confrontar um renovado conceito do comunismo bvio que n o Ainda sobram e cada vez s o mais quest es por vezes cl ssicas mas o mais das vezes in ditas que n o entram no quadro a que nos ativemos aqui o que se passa primeiro que tudo com a quest o demogr fica mat ria de tradicionais fantasmas mas tamb m de graves e reais preocupa es quando o crescimento num rico da humanidade desacelera mas de modo t o desigual aqui uma expans o que continua explosiva acol uma queda extrema da taxa de fecundidade em ambos os casos com tem vei
6. ou pelo menos encostando o parede A minha interven o no Comit Central em Junho de 1984 cf Anexo 1ID exprimia a minha nascente convic o de que havia que repensar tudo em rela o ao modo de organiza o e de vida do partido Vem ver me disse me Georges Marchais no fim da sess o Fi lo no in cio de Setembro Quando lhe explicava calmamente a necessidade na minha opini o de democraticamente confiar muito mais nos comunistas ele atalhou s h demasiado tempo um respons vel para acreditares que alguma vez uma boa ideia possa vir da base Podes dizer me quando que a espontaneidade nos levou a fazer um progresso Todos os passos em frente que demos foi preciso decidi los de cima A ditadura do proletariado se n s n o tiv ssemos posto o problema quem teria dito preciso abandon la A interrup o siderou me Vim depois a verificar que era a mais banal das evid ncias para outros membros da Direc o n o para todos mas para mim marcou me Foi por isso que desde logo anotei com exactid o os termos Tinha entrado no gabinete do Secret rio Geral como contestat rio hesitante sa de l nesse 3 de Setembro de 1984 como inimigo irredut vel daquilo que ainda n o conseguia identificar pela sua designa o correcta centralismo autocr tico Precisaria de p ginas e p ginas para explicitar tudo o que aquela frase cont m em si a come ar pela utiliza o sem problemas de uma linguagem d plice porque
7. p 242 An loga cruzada em Fran ois Lyotard em La Condition postmoderne d De Minuit 1979 A Condi o P s Moderna opunha ao marxismo pensamento do modelo totalizante e dos seus efeitos totalit rios p 27 a constata o a seu ver irrevog vel do que ele denominava a decomposi o das Grandes Narrativas p 31 estas vastas narra es mitol gico hist ricas como por exemplo a emancipa o da humanidade p 84 cuja fun o era a de legitimar autoridades Hoje quando a ci ncia p s moderna teoriza a sua pr pria evolu o como descont nua catastr fica n o rectific vel e paradoxal p 97 e quando as sociedades revelam ser na sua verdade imensas nuvens de mat ria do linguajar p 104 um discurso como o da luta de classes j n o mais do que um protesto para salvar a honra p 28 Muito diferentemente Michel Serres contribui ainda para uma desqualifica o de Marx com as suas sugestivas an lises sobre o tempo hist rico cf nomeadamente clairissements Fran ois Bourin 1992 Todos os saberes contempor neos o mostram o tempo n o corre de modo linear mas de maneira turbulenta e ca tica flui como num percolado p 90 como um l quido que ao mesmo tempo passa e n o passa num filtro Ou para falar em termos topol gicos o tempo amarfanhado estampado e multiplamente dobrado p 92 de modo que qualquer acontecimento multitemporal misturando ao actual o qu
8. a luta secular e as conquistas probat rias embora fr geis desta Rep blica laica que j inflamava Spinoza a longa marcha inacabada rumo a esta descoloniza o exterior e interior de que Nelson Mandela ser para sempre uma figura emblem tica a irreprim vel embora t o dificultosa emerg ncia de uma individualidade humana aut noma hoje dinamizada pelo combate por uma aut ntica igualdade das mulheres Tenham coragem de nos dizer na cara que os frutos destas batalhas e de tantas outras n o passam de Grandes Narrativas efabuladoras e s existem na imagina o porque evidente a Rep blica a soberania a igualdade n o existem 1 10 Uma nova janela hist rica E no entanto mantenho que todos estes questionamentos t o largamente contest veis nos remetem mesmo assim para uma ltima quest o que n o se pode iludir o fim da Uni o Sovi tica este aborto de s culo e meio de hist ria revolucion ria n o nos proibir para sempre de nos situarmos na continuidade dessa hist ria Pode um acontecimento de tamanha envergadura cesura singular onde submerge toda uma postura geral ser tido por outra coisa que n o seja o fim do jogo Mas poder haver nele verdadeiramente ao mesmo tempo continuidade profunda das contradi es do capitalismo e descontinuidade profunda no seu modo de supera o Chegou a altura de ser dial ctico Teremos o direito de dizer como v rias vezes fiz por meu lado que uma contradi o
9. fundamentada no dirigente converte se em culto incondicional do chefe a coragem militante em proveitoso seguidismo Nos anos vinte o partido que dirige o Estado e por isso que ele ainda um lugar cimeiro de confrontos pol ticos depois a raz o de Estado submete o partido que cada vez mais degenera numa burocracia s ordens Lenine est bem morto O estalinismo em mat ria de organiza o fez mais do que abafar a alma viva do partido leniniano acabou por o substituir por uma forma part do completamente diferente adaptada a um conte do tamb m completamente diferente A inova o fundamental de Estaline a de ter metamorfoseado a c pula do partido em poder absoluto de um grupo dirigente e do seu chefe sobre o partido e para al m dele sobre o povo inteiro esse poder ilimitado do Secret rio Geral que embora ent o somente em germe j inquietava tanto Lenine nos ltimos meses da sua vida Os que deviam transformar o mundo reduzidos menoridade pol tica no interior do seu pr prio partido sem ser necess rio invocar o terror exercido mais tarde contra tantos militantes e quadros comunistas n o estar j feita a prova de que o estalinismo organizacional efectivamente a ant tese do centralismo democr tico leniniano Por que preciso n o escrever a hist ria ao contr rio o que desnaturou a tal ponto o PC b n o foi esse inimagin vel desencadear de viol ncia de meados dos anos trinta que aqueles que nada co
10. mais completa utopia do g nero a cada um segundo as suas necessidades ou definhamento do Estado Quando em 1990 tentei restituir ideia comunista marxiana a sua impressionante coer ncia e pertin ncia creio que n o estou em erro se disser que em v rias dezenas de anos nenhum livro ou sequer artigo na literatura do PCF a fortiori nenhum documento tinha tratado a quest o com um m nimo de seriedade O que incansavelmente repetiram aos comunistas foi o socialismo de vulgata e s ele De onde este fabuloso resultado mas em suma t o compreens vel no XXIX Congresso alguns militantes puderam suspeitar no declarado retorno ao comunismo de um inquietante abandono do socialismo Como se indiferente s exig ncias precisas de uma real sa da do capitalismo o comunismo n o fosse mais que vaga proclama o de um humanismo mole e em nome da firmeza relativamente s posi es do marxismo leninismo que nunca foi mais do que desnatura o estalinista do pensamento marxiano e leniniano assistiu se mesmo a este excepcional espect culo a intransigente defesa que alguns fizeram da socializa o dos meios de produ o e de troca gra as conquista oper ria do poder pol tico contra a plena revaloriza o do comunismo sem minimamente tomarem consci ncia de assim estarem a refazer a um s culo de dist ncia a opera o historicamente constitutiva da social democracia aqu m de Marx Ao que n s cheg mos Isto diz muito
11. o inusitada suscitar formas renovadas de implica o na sua vida interna e ao mesmo tempo de interven o na vida social N o poderia despertar na jovem gera o novas vontades de agir de modo organizado Desencadear talvez esquerda da esquerda o processo de uma sa da da crise da pol tica de imprevis veis consequ ncias Temos o direito de o sonhar Mas n o seria mau contribuir um pouco mais para o sonho entrando em certos detalhes Mas aqui como em todo o livro aparece uma dupla dificuldade j que fazemos depender o futuro do partido comunista da sua colectiva refunda o n o poder amos a n o ser por absurdo querer prefigurar por uma conjectura pessoal o seu imprevis vel resultado ali s quando se adopta como fio condutor a mais geral das atitudes te ricas tamb m se n o pode sem inconsegu ncia querer tirar conclus es quanto a aspectos concretos evidentemente indetermin veis fazendo abstrac o de m ltiplas considera es particulares N o nos proporemos pois aqui como natural a absurda tarefa de esbo ar antecipadamente os estatutos por que decidir optar uma futura organiza o comunista Outra coisa tentar ver melhor e dar a ver o que podem significar orienta es de princ pio por meio de algumas hip teses ilustrativas e de car cter claramente explorat rio E t o s neste sentido que antes de terminar avan o um pouco relativamente a tr s quest es nevr lgicas 3 08 Por c lulas de novo
12. o da domina o burguesa Entrar nas batalhas pol ticas e eleitorais nelas ganhar posi es e geri las fazer alian as circunstanciais dar se por palavras e actos uma imagem cred vel de eventual partido de governo tudo isto lhe permite exprimir de forma indirecta a sua identidade mas com a necessidade de passar por muitas das formas e das l gicas dominantes as de uma pol tica organizada no modo burgu s sob alta vigil ncia e numa esfera separada com as suas manipula es estatais e o seu campo falseado os seus actores profissionais e os seus discursos de conveni ncia as suas pr ticas sem escr pulos e os seus cidad os sem poder em resumo todas as j provadas modalidades da aliena o pol tica Ora a partir do momento em que se aceita uma decisiva clivagem entre o adiar para as calendas os objectivos socialistas e a inser o imediata nas estruturas existentes a actividade do partido revolucion rio come a irresistivelmente a interiorizar as formas da pol tica alienada como outras tantas exig ncias antin micas de um combate emancipador mas que a c pula assumindo a sua escolha estrat gica se sente obrigada a impor sua pr pria base E o centralismo autocr tico n o mais do que esta interioriza o Monopoliza o por uma direc o sem controlo do poder de decidir desapossar generalizado dos aderentes desavergonhadamente manipulados peso de uma burocracia permanente infla o de falsas apar ncias e de dis
13. os nossos futur logos permitiram sobretudo entrever aquilo que amarra o seu saber ideologia Mais uma raz o para n o lhes responder ideologicamente Sobretudo convenhamos que ficando nos por aqui escamotear amos o pr prio fundo da quest o j que existe um diagn stico hist rico por debaixo do progn stico pol tico Movendo se rapidamente do primeiro para o segundo evidente que quer Furet quer Courtois tomaram depressa demais os seus desejos por realidades Mas ser que algu m acredita que este erro retira algo de essencial s impressionantes s mulas hist rico cr ticas que produziram anos mais tarde isto ontem como provas do seu veredicto O Passado de uma Ilus o O Livro Negro do Comunismo Tais trabalhos n o se refutam com recortes de imprensa O seu objecto muito simplesmente a gesta do s culo XX que mais acusat ria para qualquer quimera dos entusiasmos nascidos da Revolu o de Outubro de 1917 passando pelos horrores do estalinismo at glauca bancarrota final daquilo que podia ter sido vivido como a aurora de um mundo melhor Deste modo a quest o muito diferente de se saber se ainda veros mil esta ou aquela forma o que conserva a etiqueta comunista o problema est em questionarmo nos com profundidade se aquilo a que se chama o comunismo pode ter a aud cia de se propor de novo para pensar a hist ria e mudar o mundo Antes de responder admitam avaliar plenamente o que o desqualificou eis
14. permitindo nesse dom nio aos membros da c lula a aquisi o de um grau muito superior de compet ncia intelectual de dom nio pol tico de ambi o pr tica A autoridade assim ganha pelas c lulas equipa emigra das ex c pulas do partido para a organiza o de base numa nova acep o do termo n o mais elementar mas fundamental Com o decl nio encetado da verticalidade desencadeia se a descompartimenta o horizontal cada c lula equipa tem agora um rico material para estabelecer rela es escolhidas com as suas hom logas de outras sec es de outras federa es tecem se redes regionais e nacionais trocam se experi ncias consultam se especialistas aprofundam se teoricamente trabalha se com militantes de outras organiza es pol ticas ou associativas instala se toda uma malha que pode atingir o tamanho cr tico para poder pesar em grande escala no confronto ideol gico pol tico e construir hegemonia a favor de grandes objectivos N o ter amos aqui realmente uma organiza o irrigada pela espontaneidade uma centralidade defendida contra a verticalidade uma autonomia concertada em que tornar se comunista a mais motivadora das assun es da sua pr pria sorte atrav s da assun o do seu partido N o mais do que uma pista de reflex o mas que faz sonhar Agora mais sucintamente algumas observa es a prop sito do Congresso Dissemos atr s o seu papel crucial na democracia leniniana de partido e a extraordi
15. que n o mere a esta salutar desmontagem o assunto das reformas exemplar deste ponto de vista Num tom que n o admite r plica martelam nos que tudo depende de um facto t o brutal como teimoso o choque demogr fico irrevogavelmente inscrito na nossa pir mide et ria Em 2040 dado o envelhecimento da popula o francesa o peso das reformas que os 20 59 anos ter o de suportar duplicar Para esta flagrante impossibilidade s tr s rem dios existem de que se poder apenas discutir a dosagem atrasar a idade da reforma diminuir as pens es recorrer aos fundos de pens es Com esta representa o na cabe a cortam se partida as asas a qualquer luta Com a desconstru o empreendida esquerda da esquerda por exemplo na brochura da Fondation Copernic Retraites l autre diagnostic Reformas o Outro Diagn stico Junho de 1999 cf tamb m o dossier Reformas e fundos de pens es na revista La pens e n 319 Julho Setembro 1999 tudo muda O pretenso facto do choque demogr fico Encena o baseada num duplo arb trio que consiste em esconder o peso decrescente dos menores de 20 anos e em extrapolar at 2040 a proibitiva taxa de desemprego actual feitas estas duas correc es a anunciada cat strofe resume se a uma evolu o que h que preparar Aumentar a idade do acesso reforma e reduzir o montante das pens es Seria precisamente agravar o desemprego e diminuir o poder de compra e assim deteriorar a situ
16. ria repetem Marx e Engels embora n o nas condi es por eles escolhidas Sendo ela pr pria produto hist rico a sua liberdade n o vem suspender a necessidade mas orientar o sentido no qual esta se cumpre O avi o n o contraria a lei da gravidade mas joga com ela de maneira in dita O futuro nunca fechado Portanto existe uma racionalidade da hist ria at certo ponto intelig vel e domin vel embora nela seja grande a parte do acontecimento imprevis vel da reviravolta poss vel da interven o livre Assim o fracasso do comunismo n o era fatal e contudo tendo em conta o que se disse mais atr s ao mesmo tempo l gico precisamente a partir da experi ncia desta necessidade aberta igualmente afastada do determinismo cientista e do contigencialismo obscurantista que os actores da hist ria para que todos temos voca o podem tirar li es te ricas e pr ticas 1 08 Desconstru es do tempo hist rico Eis uma maneira arejada de pensar a hist ria Se ela no entanto sem equ vocos a de Marx como compreender que n o s o antimarxismo em geral mas em grande medida o marxismo vulgar at o do pr prio g meo de Marx Paul Laffargue e a cultura elementar do movimento comunista s tenham retido dela esta caricatura determinista em que o socialismo de certo modo est j presente no futuro em que o caminho que a ele nos conduz s uma linha recta e a tarefa que dele nos separa apenas a luta
17. tica condi o primeira para dominar a classe dominante aqui est a primeira remodela o essencial de uma fecundidade ainda pouco explorada que no que teve de mais criativo o pensamento marxista do s culo XX trouxe j nesta mat ria ao conceito de comunismo Em que que isto torna cred vel que o Estado deva e possa definhar Normalmente ele nos apresentado como t o pouco super vel como o mercado e mais vale ent o dizer que o comunismo seria por inteiro um mito Mas antes de se pronunciar sobre a verosimilhan a ou n o deste definhamento n o ser necess rio questionar se sobre o que que ele incide precisamente na perspectiva marxiana Ora h duas coisas basicamente distintas sob a unidade da palavra Estado embora de facto sempre entrela adas Neste poder parte e acima da sociedade civil o poder dos homens sobre a sua vida social objectiva se em administra o p blica ao mesmo tempo que se aliena em domina o pol tica A ideologia vulgar escamoteia por detr s do primeiro este segundo lado das coisas suscitando assim a fic o de um Estado neutro Ao desmascarar este engano a cr tica marxiana n o implica nenhuma redu o sim trica Pelo contr rio visa emancipar o primeiro do segundo a partir do momento que o car cter de classe do Estado se apaga pode ser ultrapassada a cis o entre a sociedade civil e o seu poder de organiza o de que os cidad os se reapropriam o fim da aliena o pol tica A
18. universo social e mental completamente diferente do do PCUS os partidos comunistas ocidentais continuando a atacar e n o sem raz o o humanismo burgu s interiorizaram bastante cedo sua maneira a cultura dos direitos do homem Mas da a compreender realmente que se n o pode transformar o mundo sem mudar a vida o caminho foi longo No PCF dos anos noventa a destrui o da ind stria ainda dava muito mais azo a den ncias do que por exemplo a destrui o da adolesc ncia Ora hoje dif cil deixar de o ver uma sociedade inseparavelmente rela es sociais e vidas individuais uma crise de sociedade n o menos existencial que estrutural e uma perspectiva pol tica s se torna plaus vel na propor o do sentido interioriz vel que oferece a cada um a Como deixar de ver no contempor neo aumento da aspira o a sermos livre e plenamente n s mesmos homens e mulheres um dos principais ndices do amadurecimento hist rico objectivo do comunismo Mas isto obriga a colocar se duas quest es n o convencionais A primeira uma quest o de princ pio Quando se l Marx se a passagem ao indiv duo integral exigida pelo car cter universal que o pr prio capital come a a imprimir s for as produtivas s a sociedade comunista ser capaz de a levar a cabo Bem mais efeito resultante do que causa eficiente o completo desenvolvimento de todos os indiv duos pois em larga medida remetido para o futuro Compreens vel h
19. 640 44 667 724 859 etc Sin nimo de acumula o sem fim em ambos os sentidos desta palavra faz do frenesim de enriquecimento privado tendo como contrapartida um imenso sacrif cio de indiv duos o mais absurdo dos fins em si aqui est em ltima an lise e por muito definitivo que pare a o seu triunfo a raz o antropol gica ultraprofunda que interdita qualquer perenidade hist rica a este modo de organiza o social ou mesmo at pr pria humanidade caso esta devesse n o conseguir desembara ar se dele Bem pouco familiar cultura comunista tradicional a vasta quest o dos fins n o estar hoje em dia a tornar se cada vez mais crucial Voltaremos quest o 2 02 Pensar em termos de aliena o Esta atitude filos fica no sentido menos especulativo da palavra encontra em Marx a sua express o exaustiva no vocabul rio da aliena o muito mais diversificado em alem o do que em franc s cujo centro o conceito de Entfremdung processo do tornar se estranho Mas mal se pronuncia a palavra logo se espera despertar as mais ferozes objec es termo t pico de quem ainda acredita na filosofia de quem volta a cair nas ilus es feuerbachianas do jovem Marx e escamoteia qualquer an lise em termos de classes Assim disse o Althusser em O Capital a aliena o desaparece O facto que Althusser o disse em Pour Marx e que esse um dos seus erros mais patentes como ele pr prio teve de o admitir mais ta
20. Estado a necess ria mundialidade do comunismo Muito mais do que normalmente se sabe a quest o do indiv duo era essencial para Marx O capitalismo a mais incr vel delapida o de vidas humanas para o aumento do lucro inscrevendo se a contracorrente desta tend ncia hist rica a ideia marxiana do comunismo apresenta se pelo contr rio como a de uma forma social em que o desenvolvimento original e livre dos indiv duos n o uma frase oca A Ideologia Alem E isso n o uma frase oca em Marx abundam na sua obra as percep es pioneiras da mais fecunda profundidade pense se no partido cient fico que delas pode tirar um Vygotsky para a psicologia sobre o que significa e implica a passagem hist rica ao indiv duo integral na express o de O Capital quer dizer o ser humano desenvolvido em todos os sentidos e recomposto porque emancipado de todas as alienantes divis es sociais Mas estas percep es pouco vis veis na imensid o da obra econ mica foram soberanamente ignoradas pela cultura pol tica do movimento comunista obnubilado que estava pelas massas a ponto de a simples men o positiva do indiv duo facilmente passar nele por suspeita A sociedade sem classes escrevia Ernst Bloch pode ser mais individual do que nenhuma outra antes dela Experimentum mundi Payot 1981 p 187 mas o estalinismo ficar para sempre como sin nimo de uma das piores maneiras de maltratar a pessoa verdade que vivendo num
21. Pois bem n o o creio n o exagero se falo aqui de fraude intelectual e se d vidas houver reforcemos a demonstra o N o contesto naturalmente que directa ou indirectamente o estalinismo marcou profundamente todos os aspectos do facto comunista que regeu a revisita o cr tica desta marca est mesmo como se ver na base deste livro No entanto esta palavra amalgamante o comunismo para a qual tudo se remete embora se evite cuidadosamente defini la n o tem aqui outra fun o a n o ser a de organizar a am lgama entre as muito diferentes ordens de realidade que ela conota e a de permitir passar as graves conclus es que com justeza se tiram sobre certas realidades para outras realidades que assim se evita estudar quer seja a obra t o diversa dos partidos comunistas no poder ou o contributo t o marcante de for as comunistas na oposi o quando o seu estudo poderia muito bem levar a contradizer radicalmente estas conclus es Focando o olhar sobre a trag dia sovi tica cf o livro de Martin Malia La Trag die sovi tique Le Seuil 1995 A Trag dia Sovi tica e atribuindo em tom de evid ncia a autoria desta ao comunismo quer Furet quer Courtois reduzem sem dificuldades este ltimo a uma realidade intrinsecamente tr gica atrav s da qual sairia desqualificado quem pretendesse consider lo de outro modo A reside a brutal simplifica o do problema sobre o qual Claude Lefort nada diz em La Complication A C
22. acep o consagrada e advogo mais uma vez uma resoluta revaloriza o do des gnio comunista em toda a sua amplitude nele sublinhava para ser muito claro que defender esta atitude n o de qualquer modo declarar prescrita a quest o do modo de propriedade dos grandes meios de produ o e de troca nem subestimar os vastos m ritos potenciais de uma apropria o p blica digna desse nome Mas acrescentava eu uma mudan a como esta n o poder alcan ar os efeitos pretendidos a n o ser por meio de transforma es de uma outra ordem e se virmos bem de um outro alcance transforma es entre as quais eu apontava em especial a apropria o de capacidades de gest o pelos assalariados e a desestatiza o do Estado Ao analisar depois as consequ ncias devastadoras da apropria o das actividades de servi o pelo capital via nela por excel ncia um processo hist rico com o qual se n o poderia acabar socializando simplesmente os meios de produ o mas t o s pela constru o de um primado sobre os meios de fins universalmente humanos Coisa nova e que se me afigura inscrever se num ainda modesto mas bem vindo p r em comum do debate sobre a perspectiva este ltimo texto suscitou muitas reac es Entre elas as de Catherine Samary e Jacques Texier ambas publicadas na revista La pens e n o 317 Janeiro Mar o 1999 e dar conta destas reac es neste ponto da minha explana o corresponde exactamente ao qu
23. algumas altera es a lista das caracteriza es essenciais a que cheguei no primeiro cap tulo de Communisme quel second souffle digamos que simultaneamente o florescimento universal das for as produtivas a apropria o real pelos produtores associados dos seus poderes sociais objectivos meios de produ o mas tamb m saberes de gest o poder de controlo a supera o das regula es pelo dinheiro capital e das pr prias rela es de mercado a passagem emancipadora do trabalho para um al m do trabalho assalariado capitalista a livre satisfa o das necessidades materiais e culturais o desenvolvimento integral de todos os indiv duos o definhamento do Estado de classe a desaliena o da consci ncia social o apagar da hostilidade entre as na es a universaliza o das trocas e da pr pria humanidade e em consequ ncia o ponto final na explora o do homem pelo homem a elimina o das desigualdades e opress es de classe de sexo de ra a e outras a passagem da conting ncia liberdade real o fim da pr hist ria humana imposs vel encarar tal explicita o sem se ficar transido pela aud cia vision ria da ideia comunista marxiana e para logo ser assaltado pela d vida quanto sua credibilidade hist rica ou pelo menos pedir explica es sobre quase cada palavra destes enunciados definit rios Os cap tulos seguintes dar o largamente lugar a esta preocupa o Mas no ponto em que estamos em prime
24. alma nome secular de todas as ilus es idealistas para nomear a ci ncia t o nova que a seus olhos era necess rio edificar No fim de La Signification historique de la crise en psichologie Oelachaux et Niestl 1999 O Significado Hist rico da Crise em Psicologia ele argumenta de maneira admir vel em favor da ousadia em a conservar N o queremos diz ele uma denomina o artificial uma s ntese trivial e arranjadinha para a nossa disciplina queremos um nome coberto pela poeira dos s culos e aceitamo lo com o conjunto dos tra os dos seus erros seculares como um signo vivo da vit ria havida sobre eles como a cicatriz das feridas recebidas em combate como um testemunho vivo da verdade surgida da luta incrivelmente dif cil contra a mentira pp 299 300 Sim comunismo precisamente Dito isto principalmente n o instauremos um fetichismo terminol gico O que conta o comunismo de facto mesmo que sem a palavra Adeptos de todo o comunismo de facto uni vos 2 Que comunismo depois do comunismo Firmemente mantida a refer ncia ao comunismo marxiano presta nos logo um primeiro servi o sugere nos um modo profundamente reflexivo de enfrentar a tarefa de outro modo incontrol vel que consiste em tra ar nas suas linhas mais gerais a perspectiva de uma transforma o social digna do nosso tempo Desenvolver o seu conte do concreto um trabalho bem diferente que requer n o s o ntimo conhecimento de
25. aqui no fim de contas a interpela o dirigida n o s a quem se diz e sempre se quis comunista mas tamb m grande multid o daquelas e daqueles que no despojamento te rico de hoje se interrogam sobre o nosso futuro como humanidade Este o ponto de partida da quest o que aqui me ocupa Ela demasiado grave para que n o se procure verificar com cuidado antes de a discutir os termos em que a colocam Fran ois Furet em Le Pass d une illusion Essai sur id e communiste au vingtieme siecle Laffont 1995 O Passado de uma Ilus o Ensaio sobre a ideia comunista no s culo vinte ou St phane Courtois e seus pares em Le Livre noir du communisme Crimes terreur r pression Laffont 1997 O Livro Negro do Comunismo Crimes terror repress o Considero aqui estes livros n o no seu conte do hist rico pormenorizado sobre o que j muito foi escrito mas no seu processo argumentativo de conjunto E relevo a prop sito uma caracter stica comum de que os seus autores parecem n o ter consci ncia enquanto que para um leitor como eu ela se torna surpreendente e de tais consequ ncias que n o deixa d vidas sobre a totalidade da empreitada Esta caracter stica consiste na utiliza o abertamente sincr tica e infraconceptual que fazem do pr prio termo que pretende dar um sentido a toda a sua argumenta o o comunismo Tomemos como exemplo o livro de Furet O seu objecto declarado o que ele chama a ilus o com
26. como tal n o existe o que n o o impede de existir no singular Assim a cavalidade est materialmente presente em cada cavalo no seu genoma original em cada um e no entanto comum a todos A l gica de classe do capital existe concretamente tanto em cada plano de despedimento como em cada especula o bolsista onde se pode ver ao pormenor o primado universal do interesse privado Do mesmo modo a racionalidade hist rica existe em cada acontecimento na causalidade e na legalidade gerais que o subtendem de maneira particular A ideia de um singular exclusivamente singular t o cred vel quanto a de um acaso que escape s leis do acaso ou de um indiv duo biol gico estranho a toda e qualquer esp cie patetice elementar que nada melhorou ao passar pelo individualismo metodol gico da cultura hist rica e sociol gica anglo americana N o realmente a Marx que preciso ensinar que qualquer entidade abstracta em certo sentido uma vis o do esp rito ele que passou o tempo todo a repetir mais de um s culo antes de Veyne e Foucault que o trabalho por exemplo sempre um trabalho determinado Mis re de la philosophie Ed Sociales 1972 p 68 Mas num certo est dio de desenvolvimento econ mico como o demonstra soberbamente a Introdu o aos Manuscritos de 1857 58 Grundrisse o pr prio trabalho em geral torna se verdade pr tica S a dial ctica materialista capta este devir singular do universal processo cap
27. conflit social dir Michel Vakaloulis Actuel Marx PUF 1999 Trabalho Assalariado e Conflito Social Para outros como Bernard Friot Et la cotisation sociale cr era l emploi antes a generaliza o do sal rio socializado n o j pre o de mercado mas tabela classificativa de alcance anticapitalista sobre o qual assenta todo o edif cio das garantias sociais e que pode evitar a catastr fica desconex o em curso entre trabalho e rendimento pp 138 44 Desacordo de monta tal como muitos outros no rduo caminho das refunda es a fazer Mas o que est claro em qualquer dos casos n o ser que o devir do trabalho humano est decididamente para al m da sua redu o mercantil Que temos n s como conclus o do que atr s fica dito Para come ar repitamo lo o facto de que as extraordin rias mudan as das coisas e dos homens desde os tempos de Marx longe de tornarem caduca a ideia do comunismo quer dizer da supera o de todas as grandes aliena es hist ricas lhe conferem uma actualidade maior do que nunca Mas sem aqui falar n o o prop sito deste livro das t o numerosas quest es concretas a reexaminar o conceito global do comunismo reclama no ponto em que estamos da sua reconsidera o uma dupla modifica o em que se precisar o que atr s foi j esbo ado Marx quanto a ele pensou at ao fim a sa da do capitalismo como supondo uma revolu o brusca que permitisse operar em pouco tempo as mais im
28. contudo o radical requestionamento do pensamento marxiano numa pura preocupa o de fil sofo Cada um de n s suficientemente fil sofo para ter j revolvido mais do que uma vez no fundo de si mesmo ap s a emblem tica queda do Muro de Berlim esta spera quest o ser que no fundo ser comunista n o significou muito simplesmente ter se colocado numa categoria especial de crentes os crentes no sentido da hist ria nos amanh s que cantam na Internacional em que o g nero humano se tornar E se assim for que resta hoje de tal cren a Compreenda se que de modo algum cabe neste simples ensaio pol tico fazer um vasto reexame do pensamento te rico marxiano pela minha parte tentarei num outro livro que se intitular Marx et nous Marx e N s mostrar onde me levaram cinquenta anos de trabalhos sobre o assunto Mas imp e se aqui pelo menos a discuss o mesmo com limita es de uma quest o fundamental de pr via e directa import ncia que a da racionalidade da hist ria Com efeito a perspectiva do comunismo s faz sentido sob condi es de uma certa l gica hist rica dado que implica em todo o caso at certo ponto inteligibilidade do presente previsibilidade do futuro e portanto plausibilidade dos objectivos a que a nossa ac o se prop e Conceder cr dito ao des gnio comunista considerar que a hist ria ainda est na sociedade de classes portanto pode se enunciar o presente que as violentas contr
29. convidado para uma grande emiss o pol tica televisiva o que que impede que a se levante nos seus fundamentos e sem gritaria desnecess ria o gritante problema pol tico da televis o Um partido que trabalhe sistematicamente para superar a sua forma partido do mesmo modo que um Estado que contribua ele pr prio para o definhar do Estado n o ser esta concep o dial ctica apropriada para a implementa o de uma generalizada subvers o da sociedade e da sua pol tica n o j agora sob as cores da revolu o violenta mas sob as de uma hegemonia de convencimento Admitamos a validade deste primeiro esbo o trata se n o s de fazer pol tica diferentemente mas tamb m de a fazer para uma coisa diferente a nica capaz de a tornar de novo apaixonante Surgem ent o as dif ceis quest es da organiza o como servir este novo para qu E para come ar ser realmente necess ria uma for a comunista organizada para este fim Porqu em suma n o se limitar a confiar nos movimentos sociais que crescem por si pr prios no terreno do que n o pode continuar assim a quest o primordial que continua incontorn vel e que Lenine tratou outrora espontaneidade e organiza o sua resposta dial ctica quanto baste o estalinismo n o tardou a substituir uma brutal unilateralidade a Direc o do Partido que decide as ac es que devem ser empreendidas ou combatidas Concep o autorit ria do movimento de massas que l
30. da quest o comunista cobre na verdade dois temas de reflex o intimamente conexos mas muito diferentes a quest o retrospectiva do que foi nas suas m ltiplas dimens es aquilo a que confusamente se costumou chamar no s culo XX o comunismo conjunto de onde s o muito selectivamente retirados os objectos de que O Passado de uma ilus o ou O Livro Negro do Comunismo se ocupam e a quest o prospectiva do que pode ser nas suas diferen as profundas um comunismo do s culo XXI exactamente aquela de que nos vamos ocupar Quest es intimamente conexas e nos dois sentidos uma vez que uma muito bem informada e meditada avalia o cr tica do comunismo de ontem proped utica indispens vel para qualquer esbo o plaus vel de um comunismo de hoje com este esp rito que insiro no Anexo I deste volume observa es cr ticas sobre o L nine de H lene Carrere d Encausse Fayard 1998 e que se estendem de seguida a certas teses de Nicolas Werth sobre o mesmo Lenine esbo o de um novo des gnio comunista de que as dificuldades encontradas apontam por sua vez o que deve ser de novo questionado com mais acuidade na experi ncia anterior Todavia s o simultaneamente quest es muito diferentes at pelo estado em que se encontram dado que a primeira nos remete para uma mat ria hist rica imensa de que trata uma literatura n o menos imensa embora tamb m muito insuficiente sob v rios aspectos na segunda pelo contr rio impressionant
31. de 1981 Superar o capitalismo exige pois muito mais do que o socialismo na sua asser o ordin ria em que a socializa o dos meios de produ o passa por ser o acto fundamental que vai em si mesmo p r termo explora o do homem pelo homem Na realidade para tal necess ria nada menos do que uma transforma o comunista em que entram em revolu o muitas outras rela es essenciais e tend ncias hist ricas da sociedade de classes e n o s simplesmente nas suas formas mas nos seus conte dos e que podemos no limite resumir nesta modifica o cardeal atribuir enfim ao desenvolvimento dos homens predom nio sobre a produ o dos bens Ser que uma frase como esta suscept vel de fazer a an lise econ mica rigorosa regredir para as brumas de um humanismo filosofante Aten o este ponto muito mais decisivo do que o que se poderia supor Bem mal leram O Capital os que nele n o notaram a persist ncia deliberada de formula es filos ficas pelas quais Marx situa a pr pria ess ncia do capitalismo na incoerc vel propens o para inverter as rela es mais universais as da pessoa coisa e do fim ao meio O capitalismo escreve ele em m ltiplas ocasi es aquela forma social que personifica as coisas e coisifica as pessoas que promove a fim o meio e despromove a meio o fim cf entre outros Grundisse tomo I pp 23 86 93 101 211 424 25 etc O Capital Livro I p 83 84 88 89 97 129 147 154 171 72 209 474 75
32. de coordena o ao servi o quer da interven o no terreno quer do seu desenvolvimento meditado inaugurar assim uma nova alian a entre uma renovada exig ncia de aprofundamento te rico e a inventividade juvenil na iniciativa pr tica eis em poucas palavras como se me afigura luz da an lise aqui feita a configura o geral de uma supera o da actual forma part do do PCF suscept vel de abrir um novo futuro para o comunismo em Fran a e talvez noutros lugares 3 10 Revolucionar calmamente a forma partido comunista Supondo que se concede algum cr dito ao resultado program tico desta longa an lise resta ainda claro est uma quest o de primeira import ncia de que modo transitar da actual forma partido para uma outra de estrutura e cultura t o diferentes Se de uma ponta outra o objecto leg timo deste livro desenvolver abordagens de puro princ pio sem nos pensarmos capazes por esse facto de determinar as modalidades concretas esta reserva imp e se por maioria de raz o quando se trata de encarar concretiza es pr ticas Mas tamb m aqui as considera es de princ pio que expusemos podem sem d vida pelo menos desembocar em indica es metodol gicas gerais particularmente duas A primeira que esta passagem ter certamente a ver com um processo extenso e n o com um acto breve Porque o que est em jogo muit ssimo mais e certamente de uma natureza muito diferente do que uma en sima modifica o
33. de luta e o ainda demasiado pequeno n mero de combatentes efectivos O contr rio que seria milagroso Da a grande import ncia daquilo a que chamaria a batalha das representa es em todos os momentos e em todos os dom nios desmontar a impostura tornando manifestos na simplicidade da forma a que s a penetra o te rica conduz os processos em que s o engendradas as falsas apar ncias factuais e nocionais e por esse meio e simultaneamente formar a consci ncia vigilante p r de novo direita a imagem do real e voltar a abrir as vias da passagem ac o Trabalho decisivo e que pode come ar pela cr tica da linguagem quando por exemplo como o nota Robert Hue em Communisme un nouveau projet Comunismo um Novo Projecto quem pede um emprego se v viciosamente transformar em quem procura um emprego quando o jovem franc s filho de pais imigrados se v transformado em imigrado de segunda gera o Desenvolvida a contesta o do discurso do dia a dia toca no fundo das coisas como em Banlieue banlieue banlieue Sub rbios Sub rbios Sub rbios La Dispute 1997 em que Alain Bertho p e a nu os truques de magia feitos com palavras como sub rbio ou exclu do como em Qui est le juge Quem o Juiz Fayard 1999 em que Daniel Bensald revela o que esconde o entusiasmo pelo tribunal da hist ria N o h grande assunto da actualidade anunciador de uma grande manobra do patronato ou do governo
34. decidiu o movimento feminista n o esteve felizmente espera para fazer avan ar as coisas mesmo que haja que constatar que efectivamente elas n o podem avan ar para al m de um certo ponto sem que sejam transformadas rela es inteiramente primordiais Li o crucial para um novo comunismo o desenvolvimento integral de cada um deve come ar hoje E come a por interven es inovadoras e com um objectivo de desaliena o sobre o conjunto das formas hist rico sociais de individualidade imenso complexo evolutivo de estruturas rela es e representa es societais de toda a esp cie dicotomia tempo de trabalho tempo livre e sequ ncias institu das das idades de vida distribui es hier rquicas e mobilidade dos pap is imagens normalizadas do masculino e do feminino ou do franc s e do estrangeiro de que a depend ncia ltima relativamente s rela es sociais de base n o apaga a mais ou menos forte autonomia relativa N o pode haver pr tica comunista de nova gera o fora deste alargamento crucial do seu campo de iniciativa isto que refor a o exame de uma outra quest o nova O florescimento da individualidade era para Marx um exaltante fim em si mesmo da hist ria e claro que o continua a ser num certo sentido Mas tendo se o processo mais do que iniciado sob o dom nio do capital tomou imprevistamente um aspecto violentamente contradit rio Sin nimo de liberdades parcialmente conquistadas contra tantas velha
35. deixa de ser simultaneamente a mais profunda das l gicas biogr ficas qualquer forma de sociedade implicando tamb m as suas formas de individualidade esta dupla categoria permite nos assim como sublinha Yvon Quiniou nas suas Figures de la d raison politique Quin 1995 cap tulo 6 Figuras da Irracionalidade Pol tica pensar antagonismo social e infelicidade social conjuntamente fazer a conjuga o pr tica das motiva es para a transforma o do mundo e para o retomar do dom nio de si voltar a dar assim pol tica a sua plena dimens o antropol gica e tica alargamento decisivo No fim de contas ao implicar o homem na sua totalidade a cultura da desaliena o diz no limite respeito a todos os homens n o naquele sentido rid culo que Engels assinala no seu pref cio de 1892 Situa o da Classe Laboriosa em Inglaterra e em que se deveria pois esperar dos membros da classe possidente que para se desalienarem humanamente cooperassem de m o no peito para seu pr prio desapossar mas sim naquele outro sentido de cada vez mais crescente actualidade em que as for as suscept veis de contribuir para a supera o do capitalismo podem encontrar se muito para al m das fileiras oper rias em todos os sectores do campo social Se h um per odo que acabou mesmo escreve Alain Bertho cf Le travail l preuve du saliarat dir P Bouffartique e H Sckert L Harmattan 1997 p 230 O Trabalho Posto Prova pelo Trabalh
36. desmoraliza o mas antes no de uma motiva o n o deve ser o vivo que t o terrivelmente tarda a nascer Vamos pois ao trabalho e com confian a Confian a em que sendo o que a rela o de for as ao n vel local e mundial se poder realmente superar o capitalismo Ser s rio dizer se que se pode fazer desaparecer as grandes aliena es hist ricas e que isso come a hoje com seriedade que o digo poss vel e pode come ar hoje claro que sendo a rela o de for as efectivamente o que ningu m escapa penso eu a momentos de grande d vida nunca conseguiremos especialmente na hora desta ou daquela grave decep o e estamos ainda num ponto terr vel da decep o dominante uma tareia hist rica como a da URSS n o se apaga em dez anos uma janela hist rica fica mais dif cil de abrir do que um postigo perro Mas atente se nisto uma transforma o da paisagem pol tica da mesma ordem de grandeza que a supera o do capitalismo era ainda h pouco tida como o pr prio exemplo da impossibilidade de tal modo que ningu m a conjecturava era o desaparecimento do socialismo tal como reinava de Berlim a Vladivostok Ora esta impossibilidade aconteceu de modo r pido e pac fico Como p de acontecer Como p de desmoronar se o Muro de Berlim sem a m nima efus o de sangue muito simples em suma tinha se lentamente desmoronado antes na alma das pessoas em particular dos jovens A aspira o a acabar co
37. discurso mas na realidade Poder talvez o facto de ainda aceitar a filosofia ser de molde a ajudar A sorte de qualquer contradi o antag nica uma quest o de domina o qual dos contr rios impor a sua l gica ao outro No estalinismo vulgar a verticalidade do poder que domina sem partilha ao ponto de tratar qualquer horizontalidade como delinqu ncia fraccionista Pelo contr rio avan ar para uma forma partido feita essencialmente na sua pr pria auto supera o para produzir emancipa o radical sem tardar e sem reservas isso exige que se consiga uma total invers o da domina o a auto organiza o respons vel deve ir fazendo desaparecer o poder discricion rio Coisa que passa sem d vida por uma atenta separa o das fun es que o centralismo autocr tico tem por regra confundir responsabilidade interna na actividade do partido responsabilidade externa no campo da pol tica institucional devendo a segunda ser garantida por respons veis com delega o por comiss es especializadas que trabalhem com toda a representatividade e autonomia desej veis sob a autoridade do Comit Nacional O objectivo acabar com a delet ria acumula o de poderes que se concretiza na exist ncia de comiss es secretariados e altos dirigentes mas sem contudo prejudicar a efic cia do trabalho e at talvez incitando a inventar um novo estilo comunista de interven o na pr pria pol tica institucional Assim porta vozes
38. disso superar o capitalismo continua a ser no mais l dimo e forte sentido da palavra uma revolu o Quer dizer uma radical mudan a da ordem vigente Mas a ideia de revolu o n o tem no seu conte do nenhuma liga o necess ria com a de conquista violenta do poder de Estado nem com a de brusca transforma o social imposta de cima coisa que n o passa de uma forma hist rica entre outras Revolucion ria a reapropria o efectiva pela massa dos indiv duos dos seus poderes sociais de toda a esp cie rejeita mesmo duplamente por ess ncia esta forma ela n o poderia ser instant nea j que constitui um processo longo que nada tem a ver com viol ncia embora exija em perman ncia uma rela o de for as favor vel ela n o tem em compensa o nenhuma necessidade de esperar um hipot tico momento enfim favor vel mas pelo contr rio aspira a atacar sem tardan a as coisas realmente s rias O que aqui aparece nada menos do que um novo conceito de revolu o um revolucionar sem revolu o uma evolu o revolucion ria como dizia Jaures ou se se preferir revolu o evolucion ria Conceito que representa uma ineg vel mudan a de era em rela o ao marxismo e ao leninismo tradicionais e que contudo mais n o faz do que levar at ao fim a l gica dessa poss vel revolu o pac fica j encarada por Marx e depois por Engels cf Jacques Texier R volution et d mocratie chez Marx et Engels Actuel Marx PUF 1998 Re
39. do nosso mundo quer com a janela hist rica da nossa poca esbo ar a transformada contempor nea do des gnio comunista na sua fisionomia geral este o prop sito a um tempo extremamente limitado e extremamente ambicioso deste cap tulo Extremamente limitado trata se nas p ginas que seguem de um simples esbo o pessoal de que o mais certo pois ser em m ltiplos aspectos contest vel Extremamente ambicioso o que est em jogo ter sucesso naquilo em que o movimento revolucion rio do s culo XX fracassou nada menos J atr s lembr mos como procedia Marx para tra ar a perspectiva an lise aprofundada das contradi es do real detec o dos pressupostos objectivos da sua supera o e a partir da determina o de um objectivo revolucion rio plaus vel A quest o comunista pois e primeiramente para ele uma quest o de facto como que o pr prio movimento do capital prepara a sua nega o contrariamente a qualquer utopia quando o sentido da palavra remete n o para essas grandes esperan as que Henri Maler quis reabilitar em Desejar o Imposs vel mas para essa grande ilus o na qual Aragon na sua Hist ria da URSS denunciava um terr vel fura greves No entanto fazer ver o conjunto das contradi es principais de que Marx fez no seu tempo o levantamento n o nada simples por causa de uma caracter stica essencial da sua obra tendo partido de uma das mais englobantes concep es do comunismo
40. do socialismo cient fico o mais brutal dos seus desmentidos Aqui est algo que exige um reexame muito mais vigilante das rela es entre o socialismo e o comunismo do que nos diz o velho socialismo cient fico de manual Ora medida que assim se procede fica se estupefacto com tudo o que este nos oculta O que o comunismo o socialismo quando substitui a pen ria pela abund ncia material possibilitando o a cada um segundo as suas necessidades E o socialismo Essencialmente o regime de propriedade social dos grandes meios de produ o e troca que torna poss vel a prazo a passagem ao comunismo Encerrada neste jogo de espelhos a ideia do comunismo encontra se reduzida a um estado de indig ncia em que se tornam altamente problem ticos tanto a extens o das suas promessas futuras quanto o sentido do seu des gnio presente Restituamos agora alguns par grafos muito preciosos mas muito limitados que Marx consagra quest o na sua Cr tica do Programa de Gotha no seio do enorme conjunto que representa a sua reflex o sobre a perspectiva comunista digamos desde A Ideologia Alem e do Manifesto at ao Capital A Guerra Civil em Fran a acrescentemos lhe os trabalhos ulteriores de Engels sobre o socialismo e o Estado e baseando nos nesta incompar vel riqueza pelo menos para quem fa a o esfor o de a procurar indica es a maioria das vezes esparsas coloquemos de novo a quest o o que o comunismo Retomando aqui com
41. dos estatutos da qual podemos eventualmente admitir que se toma verdade pr tica logo que decidida A tarefa aqui a de fazer nascer nada menos do que uma nova forma hist rica de for a pol tica e s pode ser comparada sendo ali s as coisas fundamentalmente opostas pr pria g nese do PCF depois da ades o III Internacional e atrav s de anos de bolcheviza o Uma cria o desta amplitude ademais inteiramente in dita pressup e tanto a longa elabora o do seu projecto por meio de muitos debates como a longa concretiza o dos seus princ pios por meio de muitos esfor os Mas isto n o tudo j que se n o trata e este ponto capital de uma pura transforma o organizacional mas sim de uma muta o fundamental de conte do pol tico a nova forma n o pode corporalizar se na realidade nem mesmo certamente idear se no pensamento a n o ser em resson ncia com o progressivo desenvolvimento das novas actividades que ela tem por nico objectivo servir e na aus ncia das quais continuaria sem vida pois todo um complexo gui o que deve ser constru do e em parte improvisado em caminho para organizar a vasta fase de constru o experimental que um congresso pode decidir empreender e um outro de concep o ela pr pria in dita pode transformar em acto fundador da nova organiza o comunista O segundo ponto que deveria tratar se de um processo simultaneamente lan ado pelo PCF e desenvolvido com par
42. dos pacientes submetidos a transfus es Inversamente h abundantes provas de que caso se criem as condi es se pode impor s empresas privadas de sa de como s outras muitas condicionantes de ordem p blica e muitas obriga es de ordem tica N o a socializa o das infra estruturas materiais n o em si mesma decisiva o que de todo me n o leva a trat la como quantidade negligenci vel gt gt No texto aqui em discuss o voltei a afirmar pelo contr rio a import ncia crescente sob mais de um aspecto de uma aut ntica apropria o social ou at de modo muito mais limitado de uma propriedade p blica dos meios de produ o de troca e de servi o os esfor os sem igual do capital em sentido inverso n o permitem ali s qualquer d vida cf Anicet Le Pors La Citoyennet PUF 1999 A Cidadania Mas insisto ela s pode produzir os efeitos esperados se em sinergia com muitas outras transforma es de todo o tipo sem as quais se tornar rapidamente numa miragem Esta pequena pol mica n o obsta a que Jacques Texier e eu estejamos expressamente de acordo sobre muitos pontos dos nossos respectivos artigos o que importante modestamente na perspectiva de um desej vel largo entendimento sobre as vias actuais de supera o do capitalismo Entender se n o excluindo ali s que continuemos a diferir Assim Jacques Texier objecta minha insist ncia sobre a quest o comunista dos fins que impos
43. e de h muito posto em rbita pela direc o Mas como poss vel n o o ver O problema estrutural na sua f rmula consagrada as c lulas n o conseguem dar vida sua escala estrat gia de grande estilo hist rico que exige a formid vel tarefa de encetar a transforma o comunista Ali s quantas delas disp em sequer dos meios t cnicos actuais para uma real autonomia Exaltar nestas condi es a sua soberania da ordem na minha opini o de uma culposa ret rica com a qual nos impedimos de modo desastroso de compreender a grav ssima perda de vitalidade da c lula perda em que reside em larga medida a crise em evolu o do partido Suponhamos agora que se aborda o problema de um modo inteiramente diferente Suponhamos que a subdivis o da sec o em c lulas deixa de ser predeterminada na sua rigidez topogr fica para ser escolhida no presente da actividade comunista por todos os membros da sec o e sempre modific vel suponhamos que o princ pio dessa subdivis o deixe de ser puramente geogr fico e passe a ser antes do mais pol tico por outras palavras que a c lula n o seja simplesmente a de um territ rio empresa ou servi o localidade ou bairro mas antes do mais a de um projecto sendo o conjunto dos projectos de uma sec o discutidos para um dado per odo e aprovados em assembleia geral dos aderentes isto no termo provis rio de uma an lise das tarefas pol ticas nas quais possam suficientemente en
44. e isto por uma dupla raz o por um lado um punhado de aderentes n o pode evidentemente dominar toda uma pol tica tratada na c pula por numerosos sectores de actividade que trabalham a um n vel profissional por outro a exiguidade do campo em que uma c lula opera s permite seja como for iniciativas de uma mod stia sem comum medida com aquilo que requer uma efectiva supera o do capitalismo Outrora meio sem igual de enraizamento social do PCF e fulcro de uma vida pol tica sem exemplo noutros partidos pol ticos as c lulas nem por isso deixam menos de ser no essencial e nos seus pr prios fundamentos adaptadas a tarefas parcelares de execu o Ser que nos coloc mos quanto baste a quest o de saber por que que a c lula p de tornar se uma pe a t o org nica do centralismo autocr tico E que pela sua enorme despropor o com a dimens o dos problemas e os poderes de uma c pula ela convinha perfeitamente para servir de simples correia de transmiss o desmultiplicada quer dos pontos de vista da direc o quer das suas instru es para a ac o conservando a imprescrit vel latitude de distribuir os seus esfor os entre estas mais ou menos segundo a sua escolha verdade que nestas ltimas d cadas n o faltaram esfor os para lhe conferir um pouco mais de possibilidades democr ticas ali s tantas vezes s para ingl s ver como o contribuir para a escolha de um candidato presidencial tacitamente predeterminado
45. em si mesmo acabada sendo o comunismo no seu conte do de uma amplitude e exig ncia completamente diferentes enviado para as calendas a t tulo de simples ideal ret rico ou mesmo metido na gaveta de um marxismo radicalmente expurgado Se setenta anos n o bastaram Uni o Sovi tica para dar pelo menos in cio passagem para a forma superior da sociedade sem classes n o foi essencialmente por causa dessas dificuldades extr nsecas embora reais que foram o atraso inicial do desenvolvimento o cerco capitalista dur vel ou a corrida aos armamentos para a qual a poca brejneviana considerou n o haver alternativa foi antes em virtude desta raz o eminentemente interna que constitui o facto de o socialismo depois de Lenine ter repudiado a sua ess ncia revolucion ria ao ponto de se desenvolver numa parte essencial a contrario do comunismo e das suas exig ncias mais fundamentais Mas como a qualquer sociedade em movimento e a fortiori a uma que funcionava tanto na base da ideologia necess ria uma perspectiva hist rica o esbatimento do comunismo para al m da linha do horizonte deu lugar de facto a esta espantosa palavra de ordem dos herdeiros de 1917 alcan ar o capitalismo o que n o podia tamb m deixar de significar e a mais do que um t tulo voltar a ser subjugado por ele Era assim encetada a involu o concreta e multiforme do socialismo de tipo sovi tico em direc o ao capitalismo naturalmente um capitalis
46. enfeitava o com todas as virtudes emancipadoras do comunismo em si era j o fim da pr hist ria Mas um olhar mais atento apercebia se de que estas supostas virtudes estavam directamente relacionadas apenas com a socializa o dos meios de produ o bastava acabar com a sua posse privada para que desabassem de uma assentada o peso do Estado com a lei do mercado as opress es sexistas e racistas simultaneamente com as atitudes ego stas ou belicosas e assim sucessivamente De modo que dirigir todos os esfor os para a conquista do poder que esta socializa o determinante supostamente permitiria era considerado como a nica batalha que verdadeiramente valia a pena E o que transparecia para al m desta inquietante redu o primordial era que de facto na maneira de os pensar os objectivos emancipadores do socialismo estavam decisivamente ratados em rela o ao des gnio comunista Assim o princ pio socialista a cada um segundo o seu trabalho n o s remetia condi o de utopia a satisfa o socialmente ilimitada das necessidades de cada um como consagrava de maneira t cita a aceita o das eventualmente maiores desigualdades sociais Desigualdades de que ali s n o se via o fim uma vez que era tamb m abandonada a exig ncia comunista de um desenvolvimento integral de todos os indiv duos Por exemplo pensava se que se fazia o suficiente pela justi a social ao pronunciar se por uma escola de igualdade de oportunidad
47. estar a emergir algo t o prometedor quanto in dito Mas a forma o de um novo movimento pol tico exige algo muito diferente da multiplica o mesmo que coordenada de movimentos sociais nem que estes sejam portadores de insubstitu veis contributos para a renova o da pol tica P r eficazmente em causa orienta es fundamentais do capital ou do poder A est uma coisa que implica saber responder a perguntas bem dif ceis tais como que mudan as econ micas que inova es democr ticas que novos rumos para a constru o europeia O pr prio esbo o de um projecto pol tico desta ordem remete para um outro grupo de problemas essenciais que for a organizada para dar vida a este projecto cumprindo que primordial fun o estruturada segundo que princ pios E por debaixo destas perguntas todas t o diferentes um mesmo ponto central de interroga o tudo isto em que perspectiva no mais amplo sentido hist rico e antropol gico da palavra Aqui reside a chave de toda a refunda o pol tica e para al m dela de toda a supera o do capitalismo Prometedor mas incerto o novo movimento social n o pode contentar se com a pr tica pol tica actual nem produzir s por si aquela de que necessita Para dar a esta um pouco emperrada dial ctica do social e do pol tico uma capacidade mo triz parece me indispens vel o contributo de um terceiro termo chamemos lhe movimento te rico trabalho de pensa mento debate de ideias recri
48. final Coisifica o do objectivo simplismo do sentido da hist ria uma f rmula que n o vale a pena procurar em Marx portanto certeza de estar incessantemente na posse da verdade no meio de todas as curvas da vida pol tica ser necess rio ir procurar mais longe onde est a raiz da arrog ncia do car cter sentencioso que variavelmente misturado com tra os mais simp ticos sempre alimentou uma das mais pesadas censuras aos comunistas e esta tem vel impermeabilidade experi ncia que em grande medida a causa das suas mais graves contrariedades Invocar se a inevit vel altera o de uma s bia teoria logo que ela se transforma em cultura de massas e a sua n o menos inevit vel contamina o por aquelas ideologias populares pr marxistas exemplarmente traduzida pelas palavras da Internacional Sem d vida Mas n o estar presente no pr prio Marx este perigoso esquematismo suscept vel de dar cr dito a uma interpreta o mecanicamente necessitarista E n o s nos atalhos pedag gicos do Pref cio de 1859 Contribui o ou nos da Mis ria da Filosofia o moinho manual dar vos uma sociedade com suseranos o moinho a vapor trar uma sociedade de capitalismo industrial quantos mal entendidos n o deve ter provocado esta brilhante f rmula igualmente no fim do pr prio Livro I de O Capital onde numa passagem conclusiva particularmente forte ele n o hesita em escrever que o capitalismo engendra a sua pr pria n
49. gra as ltima vigil ncia de uma alta direc o desta vez efectivamente cessante Quanto mais reflicto nesta vasta quest o da forma partido comunista mais me custa compreender a tend ncia t o espalhada para ver nos princ pios e nas realidades da organiza o leniniana a matriz daquilo que designo por centralismo autocr tico todo o problema posto aqui sendo o de identificar bem o que o engendra para conceber um tipo de for a comunista que n o corra o risco de o reproduzir verdade que o partido leniniano todo ele concebido em fun o de uma estrat gia revolucion ria antiga se caracterizava por uma verticalidade centralista perfeitamente obsoleta para uma organiza o comunista dos nossos dias Mas era ao mesmo tempo um partido de democracia aut ntica porquanto tudo nele estava suspenso de congressos n o falsificados que debatiam sem constrangimentos de um Comit Central n o monol tico que se n o dava como tarefa instrumentalizar em todos os aspectos e maneira de um poder absoluto a vida do partido Podem sem d vida argumentar que o POSDR era um pequeno partido algumas dezenas de milhares de membros antes de 1917 que vivia nas mais prec rias condi es quase sem aparelho central sem funcion rios sem eleitos e que foi por isso sugerem que o seu centralismo se manteve com efeito em grande medida democr tico Mas logo que tornando se o PC b se instala no poder e se transforma numa vasta m quina de um
50. igualmente transformar se em lugar ben fico de universaliza o concreta onde ganham consist ncia novas l gicas de voca o mundial Assim uma Europa que se libertasse da ditadura da finan a poderia arrancar em grande com o continente africano coopera es enfim n o predadoras e portadoras em todo o lado de progresso democr tico e de rela es mais civilizadas objec o de que uma taxa sobre as transac es financeiras de curto prazo s poderia ser universal o que parece irrealiz vel James Tobin respondia com vivacidade Le Monde 17 de Novembro 1998 Bastava que uma vintena de pa ses come assem para que a taxa pudesse ganhar corpo N o teremos aqui um belo exemplo das iniciativas que querer amos ver a Europa assumir E n o se passar o mesmo com muitas outras iniciativas iconoclastas N o ser o que mostra j a luta incipiente contra a dopagem no desporto que Marie George Buffet soube impulsionar at ao pr prio n vel dos Estados Contribuir para todos os nascentes movimentos de universaliza o n o poderia levar as for as comunistas ou de orienta o pr xima a reconstituir uma qualquer Internacional forma tipicamente caduca de unifica o alienante mas antes certamente a construir uma democracia directa da coopera o entre todos cf L S ve Les chemins de Iuniversalisation Os Caminhos da Universaliza o em Le Manifeste comuniste ajourd hui L Atelier 1998 cf tamb m ibid Mic
51. iniciativa um ecologismo de que se poder dizer sem qualquer inten o insultuosa que est um pouco para o comunismo como a Canada Dry est para o lcool A zona ca tica de bifurca es onde manifestamente entrou o nosso mundo de um lado vertiginosos limiares de desintegra o do outro uma verdadeira possibilidade de transi o de fase faz pensar irresistivelmente na famosa palavra de ordem de Maio de 1968 Sejam realistas pe am o imposs vel Ser arriscado concluir que o revolucionar social do s culo XXI ser comunista ou n o ser Logo que para mim estes temas come aram a ganhar consist ncia o que faliu a Leste e sela o nosso pr prio decl nio foi o socialismo o futuro a revaloriza o sem reservas do comunismo aprendendo por fim a fazer pol tica concreta com ele pareceu me muito natural abrir me aos organismos pr prios do PCF A ocasi o foi me propiciada nomeadamente no Conselho Nacional de Mar o de 1987 consagrado reflex o sobre a evolu o da sociedade francesa e nossa maneira de nela intervir a que se acrescentara por proposta minha o socialismo cient fico Na abertura dos trabalhos coisa bastante espantosa quando se pensa que era exactamente sobre o socialismo cient fico de acordo com o pre mbulo dos estatutos de ent o que se apoiava o PCF no seu esfor o constante de an lise e de ac o o relator explicou que n o havia condi es para tratar este ltimo pont
52. mesmo e de modo convincente fazer pol tica com a ideia comunista repensada 2 12 Movimento social movimento pol tico movimento te rico Segundo o posicionamento que o de todo este livro responder se aqui por simples sugest es de princ pio teoricamente coerentes com o que precede E antes do mais e sobretudo coerentes nisto na amplitude renovada que aqui lhe reconhecida a perspectiva comunista deve ser tratada n o como um ideal para dias de festa mas e muito resolutamente como refer ncia do quotidiano quase o contr rio do que exigia a tradi o do realismo pol tico tradi o que levou a Direc o do Partido Comunista a nem sequer falar do comunismo durante d cadas e abandonando assim a outros uma radicalidade cr tica e uma aud cia vision ria que contudo em lado algum se aprende melhor do que em Marx Contas feitas aquilo que passou por ser o comunismo n o ter morrido porque esquecendo Lenine h que sonhar escrevia ele pensando n o no sonho que desorienta mas no que prepara n o p s suficiente sonho no real nem suficiente real no sonho acabando at por deixar de verificar se cada passo real ia efectivamente no sentido sonhado Fazer ver o a fim nalidade dos seus actos em cada um dos seus actos mantendo precisamente por isso o rumo n o ser esse o nico realismo que vale a pena Ele exige que se d vida a esse entusiasmo da vontade que no aparentemente imposs vel faz ver o realment
53. milh o e tal de aderentes de imediato se v desenvolverem se nele os tra os do que ir ser o estalinismo Em suma se o leninismo original n o desenvolveu antes dos anos vinte as suas supostas virtualidades autocr ticas isso dever se ia s s circunst ncias que lhe n o proporcionaram os meios Mas como que se explica raciocinando deste modo estritamente organizacional que pequen ssimos partidos comunistas a lutar na oposi o e sem nenhum poder nem por isso tenham deixado de ser depois dos mais estalinistas N o ser claro que este tipo de an lise deixa escapar algo de essencial E h ainda uma outra prova muito mais decisiva da necessidade de abordar a quest o de modo completamente diferente Lenine n o tinha ainda escrito o Que fazer nem sequer tinha ainda entrado na vida pol tica e j a maior parte dos tra os caracter sticos do centralismo autocr tico marcavam o mais poderoso e invejado partido oper rio o Partido Social Democrata alem o 3 05 Nas fontes sociais democratas do autocratismo Para ter uma ideia concreta da coisa leia se por exemplo a compila o de cartas feita por Victor Fay em torno do incr vel caso a que deu lugar em 1909 a publica o de um dos livros mais importantes de Kautsky Le chemin du pouvoir Anthropos 1969 O Caminho do Poder Nele a an lise do imperialismo desemboca no an ncio de uma poca de intensas lutas de classes em que vai ser posta na ordem do dia a conquista revol
54. n o dedicam o m nimo espa o Ora existe para esta quest o uma resposta largamente dominante e agora sem d vida tamb m na pr pria opini o dos comunistas instaurador na organiza o toda ela vertical e monol tica por outras palavras sem verdadeira democracia o leninismo seria em mat ria de organiza o a irrefut vel matriz do estalinismo Em apoio deste veredicto s o citadas c lebres tomadas de posi o a come ar por aquela frequentemente considerada prof tica de L on Blum no Congresso de Tours em 1920 Voc s querem dizia Blum aos maiorit rios que iam fundar o Partido Comunista Franc s um partido em que deixe de haver liberdade de pensamento em que deixe de haver divis o de tend ncia um partido que far reinar a subordina o a todos os n veis e em que o poder central pertencer ao fim e ao cabo a um Comit oculto designado longe da vossa vista pelo executivo da Internacional E porqu esta denega o de democracia Para dispor de pequenas vanguardas disciplinadas homog neas submetidas a um comando rigoroso bem controladas para ac es decisivas de destrui o do capitalismo Aqui est o que com efeito corresponde exactamente concep o revolucion ria que se encontra no pr prio cerne do comunismo a seus olhos parente chegado do blanquismo ou at do anarquismo quem recusa uma tal maneira de representar o objectivo pol tico n o pode deixar de rejeitar o seu meio organi
55. n o v em organiza es que se tenham mostrado capazes de reexaminar com inteira franqueza a parte que lhes cabe na t o profunda crise actual da pol tica em que est o enredadas sem o que no entanto as anunciadas refunda es est o votadas a permanecer declarativas Isto verdade claro direita onde n o faz nada parte da cultura dos estados maiores pol ticos a no o democr tica do prestar contas perante uma base militante e de modo mais alargado perante uma opini o p blica Mas tamb m verdade esquerda onde a coisa passa por ser regra quer se trate das grandes forma es Partido Socialista Partido Comunista quer das mais pequenas e isto tamb m diz respeito aos Verdes adeptos declarados de uma nova tica onde todavia se n o v menos do que noutros recorrer a costumes politiqueiros quando est em causa um poder Assim o estado alarmante da pol tica enorme descr dito dos partidos aumento do abstencionismo eleitoral entusiasmo pelos piores dos recursos por vezes apresenta se nos sob o aspecto fant stico de um cataclismo natural de que estranha coisa nenhum comportamento colectivo deveria ser considerado respons vel nenhuma contri o deveria ser considerada necess ria para travar o curso das coisas pois de saudar a atitude in dita de Robert Hue quando admite sem subterf gios que com o seu longo perseverar nos erros estalinistas o PCF foi em boa medida respons vel pelos seus dissabores tal c
56. nem as realidades pr ticas constitutivas desse modo de organiza o que se dizia superar Para aquilatar dos inveros meis equ vocos que seria necess rio come ar por dissipar h que saber por exemplo que em muitas obras de dirigentes e textos do Partido o centralismo democr tico que carreava em Lenine toda uma filosofia da organiza o ficava reduzido a um simples procedimento de decis o em tr s momentos discuss o livre decis o maiorit ria aplica o obrigat ria para todos bastando assim em suma o elementar reconhecimento do direito ao desacordo para mudar tudo Se o centralismo democr tico n o fosse na sua base mais do que diz esta pretensa defini o ent o o Parlamento republicano aplicaria o leninismo j que a lei tamb m a objecto de discuss o livre e de uma adop o maiorit ria que a toma obrigat ria para todos O Partido Comunista viveu assim na total denega o oficial do princ pio de organiza o real a que se sujeitava e do qual mostraremos mais adiante o quanto ali s diferia do centralismo democr tico leniniano Por incr vel que pare a a pr pria adop o de novos estatutos no XXVIII Congresso teve como se v comparando indica es pr vias dadas pelo Secret rio Geral a partir de Nova Iorque trabalhos preparat rios e documentos do congresso duas vers es concomitantes e no limite contr rias segundo uma a f rmula centralismo democr tico j n o correspondia quilo em qu
57. no XXVIII Congresso do PCF gratificam nas j o lembr mos com um papel fundamental indispens vel decisivo consistindo nomeadamente em mobilizar a combatividade encorajar a interven o dos comunistas e em geral impulsionar o trabalho Atrav s desta representa o motriz das direc es revela se quer se queira quer n o a ideia de uma certa passividade espont nea dos aderentes que seria constantemente necess rio estimular levar iniciativa motivar para intervirem Estranha ideia que me leva irresistivelmente a pensar nessa t o tenaz vis o da rela o pedag gica segundo a qual o professor tentaria penosamente dinamizar um aluno por ess ncia demasiado inerte Ora de quem a culpa se o ensinado n o suficientemente animado pela alegria de aprender e fazer Sou daqueles que desde sempre consideraram para o dizer de um modo algo simplificador mas violentamente verdadeiro no essencial que o fracasso escolar n o do aluno mas da escola E se a necessidade de direc es que impulsionem o trabalho comunista traduzisse um certo fracasso n o do militante mas do partido N o conhe o decis o existencial mais din mica por natureza do que a da mulher ou do homem que contra tudo e contra todos se toma comunista para participar em nada menos que a transforma o de um mundo E esta comunista e este comunista uma vez no partido precisariam que a sua combatividade a fosse mobilizada a sua inte
58. o comunismo algo de diferente de uma cantiga de embalar para adormecer a mis ria humana Desta argumenta o aqui resumida em extremo poder vislumbrar se um m nimo de refuta o t pica em L vi Strauss Veyne Lyotard Serres N o me parece Quando Marx escreve no Pref cio da Contribui o enunciado que nenhum dos nossos cr ticos tem coragem de enfrentar a humanidade s imp e a si pr pria tarefas que pode resolver sigo letra o texto original Paul Veyne tem a aud cia de lhe imputar uma est pida vers o a humanidade resolve todos os problemas que a si coloca para melhor gratificar Nietzsche com uma variante inteligente eis o que ainda hoje alguns se permitem fazer a Marx Todavia estas desqualificadas maneiras de agir s o precios ssimas confiss es a racionalidade hist rica tal como Marx tentou pens la um osso muito duro de roer para os dentes dos nossos Michel Fran ois Paul e os outros Desde que a partir dos anos setenta foi anunciado o fracasso definitivo do marxismo tudo mas absolutamente tudo o que Marx considerava como leis de desenvolvimento do capitalismo se desenvolveu continuamente diante de n s com um potencial expansivo sem igual revolucionar compulsivo dos modos de produzir e de viver mundializa o concorrencial do mercado acumula o do dinheiro capital num p lo da sociedade prolifera o da mis ria social noutro p lo esfor os devastadores da finan a para contrariar a
59. o num funcionamento num modo de vida do Partido manifestamente retardat rios Sendo em 1981 o redactor do pequeno colectivo que tinha a seu cargo a redac o do projecto de resolu o do XXIV Congresso senti com vivacidade uma exig ncia de inovar com ousadia na quest o do partido e ao mesmo tempo uma imprepara o profunda para o fazer A maneira como a Direc o ao mais alto n vel se acomodava com este estado de coisas surgiu me pouco a pouco como uma confiss o E o seu t cito n o a qualquer verdadeiro questionamento neste dom nio teve para mim sem barulho um efeito decisivo N o fechava s o c rculo de uma indiferen a te rica que abrangia constatava eu todo o campo das quest es fundamentais do famoso socialismo cient fico incluindo a concep o do partido coisa que j me parecia extravagante Fazia me sobretudo tomar consci ncia de que o meu lit gio com a direc o ia bem mais longe do que eu supunha J que aquela recusa n o visava s a minha preocupa o te rica em clarificar a situa o em que nos encontr vamos do ponto de vista de princ pios relativamente ao leninismo em mat ria de organiza o nessa recusa jogava se a mais pr tica e pol tica de todas as paradas o pr prio Partido Aquele n o queria dizer que se n o queria mudar nele nada de importante Encontrava me deste modo em rela o a uma quest o t o nevr lgica em oposi o pol tica Direc o do Partido Para mim era um mar
60. o que permitisse prolongar o debate sobre princ pios mesmo para al m do Congresso Ser que aqueles que querem ver no centralismo leniniano o esquisso j identific vel dos m todos estalinistas t m em considera o o que dele dizia uma testemunha t o capital como Boukharine quando na sua mensagem p stuma A futura gera o dos dirigentes do partido cf Oeuvres choisies Librairie du Globe Paris Moscou 1990 p 518 nas v speras da sua execu o fala da poca leniniana nos seguintes termos Eram outros tempos em que reinavam outros costumes O Pravda publicava uma tribuna de discuss o todos debatiam todos procuravam caminhos desentendiam se e reconciliavam se e juntos avan avam 3 02 A forma partido estalinista Que se n o presuma apressadamente onde levar esta an lise N o n o se vai concluir que o centralismo democr tico original seria ao fim e ao cabo um princ pio de organiza o muito conveniente para uma for a comunista do s culo XXI imposs vel deixar de ver o quanto contrariam tanto a tarefa pol tica como a janela hist rica actuais os seus dois axiomas o papel de vanguarda do partido a subordina o da sua base c pula E isto porque foram pensados em fun o de uma estrat gia que se nos tornou estranha Para Lenine o objectivo era a conquista sem d vida insurreccional do poder que desembocaria na ditadura do proletariado Era pois necess rio para isso um partido capaz de agir ef
61. o que ajuda a fazer compreender que nada de essencial mudar sem a sua supera o gradual mas resoluta Verdade mas ser que temos tempo de esperar Ao ver o ritmo a que se acumulam os mortais preju zos do tornado neoliberal poder fugir se evid ncia de que entr mos numa corrida contra o tempo Terceira invers o l gica a aguda prem ncia das amea as n o ter por voca o transformar se em crescimento acelerado das r plicas Ningu m conseguir impedir que para cada vez mais gente cada vez mais coisas n o possam realmente continuar como est o drama dos desempregados ou aquecimento do planeta asselvajamento das rela es humanas ou cat strofe sanit ria em marcha no continente africano dava para encher p ginas com exemplos destes Assim a nova janela hist rica comporta em si algumas pr condi es da sua abertura N o faltam pois as for as potenciais para arrancar em grande com a supera o do capitalismo o capital encarrega se de I as multiplicar Mas para que muitas delas se transformem em actuais muitas vezes necess rio fazer com que os motivos jorrem de t o fundo como a agua no deserto muito para al m da sua desactiva o pelo sentimento de impot ncia e abstencionismo pol tico da sua deriva para a viol ncia est ril ou da sua focaliza o em causas demasiado curtas E aqui est o que nos leva crucial quest o pr tica que p e o retrabalhar conceptual que se acaba de esbo ar como a partir de hoje
62. o s culo do estalinismo n o devesse recomendar nos abstin ncia quanto ao uso da palavra comunismo Como se ali s uma vis o do s culo XIX embora genial pudesse ser de grande pertin ncia para o s culo XXI Como se para al m disso o estado presente das quest es mundiais permitisse atribuir alguma verosimilhan a a semelhante utopia Tr s verdadeiras e cruciais interroga es se se quiser hoje abrir uma via plaus vel para uma transforma o maior da sociedade Interroga es que devemos enfrentar sem lhes fugir Na sua tripla dimens o de drama hist rico de heran a te rica e de potencial pol tico n o ser o comunismo o inevit vel ponto de cruzamento de todas as reflex es cr ticas e antecipadoras reflex es a fazer para que uma humanidade que se liberta do capitalismo seja de novo um objectivo pr tico Contudo teremos poucas hip teses de levar a bom termo um reexame s rio da quest o se n o passarmos por uma quest o pr via t o decisiva qu o pouco conhecida a desmontagem da armadilha que nos montaram com esta express o global de apar ncia t o inocente e na realidade t o mistificadora a v rios n veis o comunismo Para bem apreender este extraordin rio imbr glio na sua g nese nada melhor que velhos recortes de jornais Recomendo uma pilha do Le Monde dos ltimos dez anos ou mais ainda coisa que vai dar corpo ao nosso vinho pol tico Ocupando me h pouco das colheitas de 1988 a 1993 de diversos quoti
63. pens e n 319 Julho Setembro 1999 Mas quando Catherine Samary conclui que o objectivo emancipador do comunismo n o ser nunca atingido amanh se os meios empregues hoje n o forem j portadores desse des gnio estamos outra vez inteiramente de acordo sobre esse ponto a meu ver crucial Num artigo intitulado Propriedade Social e Comunismo Jacques Texier abre amigavelmente comigo aquilo a que chama uma pequena pol mica Com efeito espanta o muito a maneira como afirmei no meu artigo de Regards que a apropria o social dos meios de produ o a minha f rmula seria em si mesma largamente inoperante para subtrair os servi os aliena o capitalista e espanta o por uma dupla raz o para come ar poder se defender que aquilo que nos servi os desempenha um papel hom logo ao dos meios de produ o quer dizer as infra estruturas materiais seja quantidade negligenci vel Realmente escreve Jacques Texier n o me parece nada depois e ainda mais na minha formula o s a socializa o dos meios de produ o mencionada os meios de troca sublinha ele quer dizer a moeda e o dinheiro que podem tornar se capital desapareceram pura e simplesmente Nisto v ele um escamotear que permitiria minimizar com demasiada facilidade para ser convincente os efeitos da propriedade social Por minha vez esta objec o espanta me como se pode incluir nos meios de troca destinados numa
64. perspectiva socialista apropria o social a moeda e o dinheiro que podem tornar se capital A moeda certo que um meio de troca mas seria por acaso um bem privado a socializar O dinheiro que pode tomar se capital Marx consagrou numerosas p ginas a refutar a ideia de que o dinheiro constitu a um bem aut nomo muito simplesmente uma das tr s formas do capital a sua forma dinheiro A partir do momento em que deixa de poder converter se em capital produtivo porque se socializaram os meios de produ o e de troca querendo se ser completo o dinheiro perde a sua capacidade de poder tornar se capital assim tamb m n o pertence categoria dos meios de troca a socializar enquanto tais Penso nada ter omitido que altere no que quer que seja os termos do problema por s ter falado e para encurtar dos meios de produ o na passagem incriminada do meu artigo Opor me o apesar disso que como o diz Jacques Texier a quest o dos meios de produ o decisiva tamb m para os servi os Avan a ele o exemplo da sa de penso que duplamente probat rio no meu sentido Assim as actividades de transfus o sangu nea dependem em Fran a de um monop lio de Estado coisa que as n o impediu minimamente de adoptar num recent ssimo passado a mesma filosofia de gest o rent vel das suas cong neres privadas da Europa ou dos Estados Unidos desembocando na mesma dram tica contamina o dos hemof licos e
65. por outro lado na mesma poca nunca se perdia uma oportunidade de lisonjear a base centralismo democr tico a quanto obrigas Contudo mais do que quaisquer outras duas coisas me chocaram desde logo A primeira o car cter performativo como dizem os linguistas de uma afirma o deste g nero Pela simples raz o de ser considerada verdadeira em teoria tende a tornar se lo na pr tica pelo que tem algo de irrefut vel Com efeito na medida em que se toma como princ pio a incompet ncia do comunista de base seria uma evidente perda de tempo fornecer lhe uma informa o de alto n vel permitir lhe adquirir uma experi ncia de direc o consult lo seriamente sobre quest es estrat gicas esfor os permanentes que s eles poderiam fazer dele um aut ntico dono do seu partido Ningu m se preocupa pois com isso subinformado subexperiente subvalorizado o militante de base deixa como bvio o privil gio do pensamento estrat gico para a alta direc o e esta de consci ncia tranquila conclui que nunca uma boa ideia vem da base Sobranceria de dirigente como Lenine n o hesitava em dizer E contudo n o ter o muitas vezes esses simples militantes t o desprovidos de meios visto mais cedo e mais correctamente do que os altos respons veis em quest es essenciais Quem salvou a honra do Partido no Outono de 1940 desencadeando a luta contra o ocupante hitleriano enquanto a Direc o seguia ainda as ab
66. que toda a pol tica de baixo teor te rico inclusive filos fico acaba por se desmoronar por falta de travejamento conceptual Mas isto n o tudo Sem uma teoria forte n o h verdadeira cr tica desmistificadora nem depois pol tica revolucion ria suficientemente motivadora ponto capital quando como hoje h que incentivar o levantamento em massa dos opositores virtuais ao capitalismo Tocamos aqui no principal aspecto do comunismo que ainda n o comentei a desaliena o das consci ncias ela pr pria frequentemente considerada m tica em apoio de uma conhecida tese de Althusser a ideologia existir sempre mesmo na sociedade comunista e nunca mudar de fun es Sur la philosophie Sobre a Filosofia Gallimard 1994 p 70 cf tamb m Pour Marx N o podemos como bvio discutir aqui a concep o de ideologia de Althusser digamos t o s que na forma h instantes citada ela nos faz correr o risco de uma perigosa confus o Isto porque a complexa no o de ideologia tem pelo menos dois sentidos inteiramente diferentes representa o imaginada da viv ncia e representa o mistificada do real Como o diz Hegel na Ci ncia da L gica Science de la Logique tomo 3 Aubier 1981 p 213 a vida ordin ria n o conceito mas sim representa es E nas representa es atrav s d s quais eu vivo as minhas rela es com o mundo com os outros comigo mesmo entram necessariamente afectivo avaliativo o
67. que a nossa poca reclama Florescimento multiforme do movimento social constru o plural do movimento pol tico elabora o dialogada do movimento te rico defendo que deste trin mio o elemento actualmente decisivo o terceiro pela dupla raz o que a mais terr vel crise aberta pelo desaparecimento do comunismo a crise de futuro e que a import ncia do fundamental trabalho de pensamento que deve ser feito para a superar ainda estou convicto politicamente muito subestimada O Manifesto soube dizer a muitas gera es de revolucion rios para que combatiam Nada hoje mais importante do que sabermos diz lo de um modo inteiramente novo mas com igual for a 2 13 A decisiva batalha da representa o Porque cinquenta anos de vida militante me convenceram do que considero ser a pouca import ncia que os pol ticos contempor neos d o ao te rico tirando raras excep es pensei um pouco nos motivos disto Um deles cultural em grego theoria quer dizer contempla o Da at identificar o te rico com o especulativo ao mesmo tempo um est ril construir de castelos na areia e prejudiciais e complicativos esmiu ares vai um pequeno passo que se n o esmiu a a teoria t o finamente como seria necess rio A mesma palavra grega theoria quer dizer primeiro prociss o e na ordem intelectual exame continuado concep o sistem tica ac o de tornar coerente a pr pria ess ncia da pol tica Aqui est por que
68. recomposi o superior do indiv duo hoje fragmentado e ent o apto a reapropriar se do conjunto dos seus poderes sociais N o ser esta irresist vel muta o do trabalho que est por detr s da crise do trabalho assalariado capitalista em que o produtor com m ltiplas compet ncias se v drasticamente reduzido unidimensionalidade de um valor de mercado abstracto E eis que o movimento do capital exigindo permanentemente mais do trabalhador e dando lhe cada vez menos precipita a obsolesc ncia do sistema de trabalho assalariado com que faz corpo pelo desemprego cr nico de massas pela precariza o sem limites pela infind vel denega o dos direitos e por tantas inova es destrutivas Podemos dizer segundo a express o t o justamente dial ctica de Yves Clot na mesma obra que o capital acaba com o assalariado mas por baixo Haver um ndice mais eloquente da matura o objectiva das exig ncias do comunismo E que esp cie de socialismo seria o que deixaria perdurar sine die um mercado de trabalho verdade que nada hoje mais controverso do que as vias para uma sa da por cima desta crise Segundo alguns como Paul Bouffartigues e Henri Eckert n o ser poss vel um qualquer pleno emprego das capacidades humanas que implique o reconhecimento daquilo com que cada um contribui para a produ o das riquezas sociais sem sair do trabalho assalariado op cit pp 239 40 cf tamb m Travail salari et
69. revela mesmo quando de modo enviesado aspectos da realidade em rela o aos quais a tomada de consci ncia cr tica capital para uma verdadeira refunda o da for a comunista Assim imp e se para al m de uma retoma de contactos circunscrita e superficial a organiza o com eles e elas de um aut ntico trabalho continuado de mem ria de an lise e de prospectiva que poderia suscitar por exemplo a cria o tempor ria de c lulas equipa para esse efeito e durante o qual poderia come ar a desenhar se algo como uma auto organiza o desses n o organizados que permitisse uma parceria mais larga Entre todos esses parceiros deveria ser encetada uma troca de pontos de vista aprofundada e depois tanto quanto poss vel uma efectiva concerta o sobre os conte dos e as formas que requer uma for a pol tica de novo tipo e com um objectivo que se pode resumir assim come ar a superar de modo concreto o capitalismo mais desenvolvido e com ele todas as grandes aliena es hist ricas nas suas formas actuais trabalho de que n o h exemplo e doravante de vital necessidade e para que aponta a pr pria palavra comunismo A elabora o de uma for a deste tipo sendo inseparavelmente reflex o te rica e experimenta o pr tica obriga a uma extrema ousadia tanto na cr tica como na inven o do mesmo modo que obriga a uma inteira publicita o tal como conv m a um empreendimento que diz ao mais alto ponto respeito colectivid
70. s o interessa enquanto procura solvente por isso que tem uma constante tend ncia para sacrificar a qualidade efectiva do produto taxa de lucro Mas aqui a qualidade do produto tendencialmente sacrificada na sua transforma o em simples meio t o s o pr prio fim humano da actividade de servi os Est assim em marcha uma l gica de desumaniza o cujos efeitos s o j assustadores e que tender para a maior monstruosidade se n o se conseguir desfazer esta invers o o que se passa com a revolu o biom dica em curso e sob tantos aspectos t o prometedora na medida por sorte ainda pouco efectiva em que constitui um ramo de neg cios a finan a deixa de ser um meio para a investiga o e a investiga o que se toma um meio para a finan a Os resultados est o vista em todo o lado e antes do mais nos Estados Unidos onde est por exemplo muito desenvolvida a venda por cat logo de crian as a nascer a partir de embri es congelados e com caracter sticas repertoriadas ou os testes de doen as gen ticas hoje sem cura poss vel mas que d o aos servi os de pessoal e s companhias de seguros a inquietante possibilidade de se ingerirem na vida pessoal para n o falar de eventualidades como a clonagem reprodutiva de multimilion rios suficientemente est pidos para acreditarem que podem reviver nos seus clones Isto quando falta tragicamente o dinheiro para a luta n o rent vel contra dramas t o ime
71. sem chamar vivamente a aten o do leitor para os perigos incorridos de interpreta o contest vel ou mesmo de erros de diagn stico 2 05 A hominiza o ao servi o da finan a De entre estas muta es mais impressivas do real poder amos claro est considerar em primeiro lugar a extraordin ria metamorfose em curso daquilo a que a tradi o marxista chama for as produtivas ou de um modo muito mais amplo a do conjunto com doravante t o vastos efeitos que constituem todos os meios objectivos das actividades humanas Ter amos ent o parece me que opor ao comunismo da era industrial marcado pela disciplina oper ria de f brica e a massifica o social que parecia impor se ao esp rito no tempo de Marx um comunismo da era da informa o medida do novo s culo caracterizado pela iniciativa instru da em din micas de rede e pela individua o solid ria o que j uma mudan a em rela o aos estere tipos ran osos carreados pelo velho anticomunismo Mas para nos levar ao cora o do problema ainda h melhor do que as muta es cronol gicas que operam na ordem antropol gica Ora em rela o a isso o novo acto fundamental sem d vida alguma a irrup o ainda muito desigual mas cada vez mais maci a do capital privado especialmente na sua forma financeira na imensa esfera dos servi os mercantis e n o mercantis esfera que nos pa ses muito desenvolvidos se tornou largamente a parte principal da actividade
72. sobre a urgente necessidade de empreender finalmente a tarefa mesmo que elementar de clarifica o te rica fundamental No entanto como poderemos n s explicarmo nos melhor sobre o comunismo sem come ar a aplic lo Porque a grande quest o est aqui se o Partido Comunista nunca se explicou verdadeiramente sobre o comunismo porque nunca experimentou fazer pol tica com ele Era este o fundamento que a sua relega o para o reino do ideal reconhecia terminologia muito significativamente retomada por Arlette Laguiller cf Le Monde 7 8 de Fev 99 a mais completa imprepara o para dele tirar alguma coisa de real Ora insistamos n o num futuro m tico que se vai tratar n o se sabe muito bem como de acabar com o trabalho assalariado capitalista e o Estado de classe com a fragmenta o do indiv duo e com a consci ncia social alienada n o havendo entretanto mais nada a fazer mesmo que seja a coberto de inconsequentes incanta es revolucion rias do que defender se contra os golpes baixos da finan a como se a melhor defesa n o fosse uma ofensiva bem pensada e acumular for as para mais tarde como se as for as existissem independentemente das transforma es que elas demonstram ser capazes de impor Reactivar o des gnio comunista significa romper enfim com o perp tuo adiamento dos combates essenciais de que a perspectiva do socialismo se tinha tornado sin nimo para empreender sem mais delongas e em todas as fre
73. teoriza o hist rico pol tica ali s ainda num sentido muito mais qualitativo do que quantitativo e n o estreitamente conjuntural a conjuntura fala da singularidade imprevista de um momento a janela hist rica essa com mais forte teor racional fala de todo um per odo A bem dizer a janela aqui evocada estava j em vias de se fechar com as grandes muta es cuja emerg ncia o Maio de 1968 traduziu de maneira confusa de onde a incoerc vel obsolesc ncia progressiva do comunismo tradicional para n o falar do brejnevismo apesar de todos os esfor os de actualiza o ali s demasiado limitados Hoje em todo o caso esta janela hist rica que o Manifesto tinha identificado a janela dita da revolu o prolet ria e mais tarde do socialismo fechou se irremediavelmente classe oper ria j n o a grande figura identit ria das for as potenciais da transforma o social nem o socialismo j o seu suficiente des gnio nem a revolu o o seu modo adequado nem o partido de vanguarda o seu agente apropriado A causa mant m se entenda se na sua acep o mais essencial mas tudo difere nas suas determina es concretas Aqui opera se a clivagem entre um comunismo doravante arcaico que ao recusar admitir o fecho da janela fecha por isso mesmo todo o futuro e um comunismo em refunda o atribuindo se a tarefa de explora o te rica e pr tica da nova janela hist rica ainda t o mal conhecida e que o ca
74. um correspondente que lhe perguntava como traduzir a f rmula supress o do Estado Marx responde sem ambiguidade Carta a W Bloss de 10 de Novembro de 1877 que se trata do Estado de classe Klassenstaat E na sua Cr tica do Programa de Gotha aparece explicitamente que para ele na sociedade comunista certas fun es sociais do Estado continuar o an logas s fun es actuais Assim n o faz sentido opor a Marx que nem tudo do que hoje o Estado poderia desaparecer esta a sua pr pria tese Mas esta falsa objec o esconde o verdadeiro problema pode se sim ou n o superar o capitalismo e todas as grandes aliena es hist ricas deixando subsistir este instrumento de domina o sobre os homens que por excel ncia o Estado de classe Esta a quest o crucial a que tendem a fugir as actuais apologias da Rep blica Que este sistema pol tico possa sob muitos aspectos ser o mais favor vel aos esfor os de emancipa o essa tamb m a posi o de Marx e de Engels Resta como se v bastante bem na Fran a contempor nea que um Estado de aut ntica democracia mesmo que dirigido por socialistas n o deixa por isso de ter uma vincada marca de classe em todos os dom nios da sua ac o da economia ao ensino da Seguran a Social televis o p blica da ordem interior pol tica estrangeira Querendo se trabalhar j numa real desaliena o pol tica pois necess rio encetar o definhamento deste Estado
75. uma aprecia o global da personalidade intelectual e do contributo pol tico de Jean Kanapa O facto do seu papel de primeiro plano junto de Georges Marchais na renova o estrat gica do PCF O Desafio Democr tico em 1973 o Relat rio ao XXII Congresso tr s anos mais tarde etc relevar como qualquer outro acontecimento hist rico da avalia o cr tica remete nos para o exame de um conjunto de dados que est o muito para al m de epis dios como este Assim n o evoquei aqui este dito de Jean Kanapa para lhe fazer o retrato nem a minha maneira de reagir para esbo ar o meu o que n o teria qualquer interesse para o livro mas para ir sugerindo atrav s de um ex rdio que como veremos nos conduz ao mago do tema em que estado de esp rito me proponho e proponho abordar a nova quest o comunista em que sentido radical aqui se entende a palavra quest o a que n vel de exig ncia se situa o que poder ser tomado como contributo plaus vel para a sua resolu o amputada de qualquer uma das suas dimens es te ricas incluindo a sua dimens o filos fica no sentido marxiano do termo a quest o comunista s poder na minha opini o ser tratada de modo amesquinhante o que partida compromete a meu ver toda a credibilidade das respostas que lhe quiserem dar nestas condi es E n o se queira ver aqui as manias de um intelectual atra do por conceitos que pouco dizem comum reflex o pol tica quotidiana a n o ser que s
76. 1917 at morte de Lenine em Janeiro de 1924 um congresso por ano sete congressos em sete anos mesmo nas piores conjunturas E n o essas grandes missas cantadas escritas antecipadamente em que se tornar o as assembleias rituais de um PCUS estalinizado antes congressos vivos em que delegados em n mero razo vel frequentemente uma centena fazem as mais francas discuss es sobre projectos de teses precisos e com implica es claras Eis o que era para Lenine a c pula num partido que fez a revolu o ser necess rio lembr lo sem Comiss o Pol tica nem Secret rio Geral unicamente com um Comit Central onde me a se bem isto Lenine se viu mais do que uma vez em minoria e isto precisamente quando se tinha tornado Presidente do Conselho dos Comiss rios do Povo Ser esta a imagem de um partido vertical e monol tico O confronto p blico entre orienta es estruturadas ia mesmo t o longe pondo em perigo a coer ncia de direc o num momento muito dif cil que em 1921 s em 1921 o X Congresso decidiu proibir a organiza o em tend ncias Uma medida muitas vezes apresentada como pr estalinista Mas ser que se tem em conta que mesmo nessa altura e nomeadamente por impulso de Lenine foi conservado o direito de em caso de discord ncia grave numa quest o importante submeter ao Congresso v rios textos concorrentes ao mesmo tempo que era tomada a decis o de publicar com regularidade uma folha de discuss
77. Come ar Pelos Fins A nova quest o comunista Lucien Seve 1999 Escrito entre Abril e Setembro de 1999 Fonte The Marxists Internet Archive Considera es pr vias Uma f rmula armadilha o comunismo Este livro n o foi escrito para os que encaram os planos de despedimento ditados pela taxa de lucro como uma evid ncia terr vel mas perfeitamente necess ria nem para os que chamam anti americanismo recusa da hegemonia universal do d lar do Pent gono e da CIA que n o compreendem o que se pode censurar aos fundos de pens es que preferem sempre a segunda esquerda primeira a terceira segunda e assim por diante at direita se necess rio for ou seja os que v em no capitalismo o fim da hist ria e se resignam Este livro foi escrito para quem sente estas coisas e muitas outras semelhantes de modo bem diferente e que al m do mais fartos das mezinhas pol ticas amargas e do desalento das noites eleitorais para a esquerda da esquerda consideram demasiado longa a opera o de reabertura em pensamento e em acto das perspectivas do revolucionar social e a isso n o se resignam Na indispens vel reconstru o conceptual de um futuro e de um presente de emancipa o n o ser tempo de come ar a fazer com ousadia esbo os mais acabados do conjunto Este livro assume o risco de propor um Mas j que o que est em jogo n o poderia ser mais amplo porqu focalizar o nosso exame na quest o comunista Como se
78. Princ pio Responsabilidade um livro sobre o qual se n o deve esquecer que pretendia ser uma resposta ao Principe Esp rance Princ pio Esperan a do marxista Ernst Bloch este m ximo imperativo que nos conjura a n o comprometer com as nossas ac es a perman ncia de uma vida autenticamente humana sobre a terra p 30 Mas o que uma vida autenticamente humana A concordar se com Jonas a boa resposta estaria j para tr s desde sempre dada pela natureza viva de que somos membros e provavelmente de ess ncia transcendente logo sagrada j que o homem n o seria a fonte aut noma dos seus fins e ainda menos deveria propor se a inquietante tarefa de progredir em humanidade A este projecto que considera totalit rio op e ele o dever de transmitir o im vel patrim nio que desde sempre nos constitui Assim o homem tal como na natureza tal como serve em ltima inst ncia de fim em si neste pensamento deliberadamente conservador Isto n o impede que tamb m haja Verdes de esquerda mas d vontade em qualquer caso de levar muito mais a fundo com eles a discuss o amig vel sobre os fins humanos que sejam dignos de estar na base de um projecto pol tico emancipador para o nosso tempo Tanto mais que a quest o n o diz menos respeito ao pensamento comunista todo ele virado pelo contr rio para o desenvolvimento das for as humanas na sua constante apropria o por todos os indiv duos Mas porqu em suma ver nisto o que po
79. a dial ctica isto dram tica porque age num mundo incoerente empreende desprezando a dura o procura uma verdade que se escapa sem outra garantia que n o seja a de uma ci ncia fragment ria e de uma reflex o formal J n o est vamos longe dos aforismos de Fran ois Furet Estava dado a um tema fundamental que muitos a seu modo modularam no p s guerra Assim Maurice Merleau Ponty em Sens et non sens Nagel 1948 retomava sua conta opini es de Thierry Maulnier segundo as quais pode perfeitamente acontecer que a l gica e a hist ria se divorciem de modo que n o sabemos se ao longo de toda a nossa vida ou mesmo durante s culos a hist ria efectiva n o ir consistir numa s rie de divers es p 244 E acreditando dar um suporte s suas afirma es acrescentava que assim a primeira revolu o socialista se tinha produzido na R ssia contra todas as expectativas coisa que os marxistas s teriam racionalizado a posteriori p 246 quando na realidade Marx t o bem viu o que estava para acontecer desde os anos setenta que at se p s a aprender russo para melhor seguir os acontecimentos Mas sem d vida Claude L vi Strauss o primeiro no mundo franc fono a atribuir larga audi ncia a uma desconstru o bem mais radical do conceito de hist ria O cap tulo final de Pens e sauvage Plon 1961 desenvolve abertamente contra Sartre e por tabela contra Marx uma penetrante argumenta o ao serv
80. a Assim o socialismo n o parece nada mais que o comunismo o pr prio comunismo mas num estado inicial de forma o e por conseguinte onerado por limita es provis rias Consequentemente n o faria qualquer sentido a n o ser por mistifica o ideol gico pol tica pronunciar se pelo socialismo mas n o pelo comunismo Esta efectivamente a conclus o pr tica a partir da qual Lenine lutou a fim de mudar a denomina o do Partido Oper rio Social Democrata da R ssia para a de Partido Comunista No pr prio momento em que iniciamos a via das transforma es socialistas explica em Mar o de 1918 perante o VII Congresso do POSDR temos de definir claramente o objectivo para o qual elas tendem a saber a cria o de uma sociedade comunista Por isso s a denomina o de Partido Comunista cientificamente justa Oeuvres tomo 27 p 216 E por isso tamb m que os partidos comunistas assim se chamam Para os comunistas da minha gera o e ainda sem qualquer d vida para os de muitas gera es seguintes na Fran a e no mundo esta identidade diferen a do socialismo e do comunismo era o b b Foi nestes termos que foi durante muito tempo vivida a hist ria da URSS inclusive na pr pria URSS Assim no in cio dos anos sessenta Nikita Krutchev anunciava para breve a passagem do pa s ao comunismo bastar apenas uma vintena de anos proclamava perante o XXII Congresso do PCUS e ent o a Uni o So
81. a o de base que se pretende melhorar Ir para os fundos de pens es Sem falar das devasta es que faz onde quer que operem a sua gest o obsessivamente submetida preocupa o com a rentabilidade de curto prazo ser que se mede o perigo que haveria em desestabilizar o fi vel sistema por reparti o para fazer depender o pagamento das reformas de todos os imponder veis do mercado financeiro S uma vez feita esta desmistifica o pr via o muit ssimo complexo problema das reformas pode ser utilmente debatido Exemplo eloquente das campanhas cr ticas que se trata de encetar em grande estilo e em todos os terrenos a partir do trabalho te rico fundamental atrav s de iniciativas iconoclastas relativamente comunica o social de inventivos esfor os da imprensa contestat ria de um relan ar das batalhas a favor do livro cr tico bem precisa delas de tudo o que pode tornar a vida imposs vel aos vendedores da banha da cobra das falsas apar ncias Para transformar o mundo urge transformar a representa o do mundo Mas trata se de um combate que necess rio ser capaz de vencer tamb m contra si pr prio desmistifica se mal o que quando nos iludimos demais sobre o que somos Foi assim que o PCF exibiu durante muito tempo um auto retrato dos mais lisonjeiros vanguarda da classe oper ria partido dos fuzilados campe o das grandes causas humanas Descansado sobre esta imagem onde nem tudo era falso claro est julgo
82. a o do capital funcionou tanto na base da mistifica o ideol gica Primeiramente porque a aliena o chega a cumes nunca vistos em todos os dom nios medida que por exemplo cresce a bolha financeira mais se afirma a fant stica apar ncia objectiva segundo a qual ao contr rio do que j Arist teles tinha apreendido o dinheiro seria capaz de se multiplicar sozinho cren a que impede de compreender o que quer que seja das grandes quest es econ micas Depois e sobretudo porque a grande m quina de enganar consci ncias por conta das for as dominantes se aperfei oou a um ponto sem precedentes O discurso pol tico medi tico dominante ganha pontos publicidade de topo de gama quanto ao refinamento na maneira capciosa de dizer as coisas Na utiliza o que hoje dela quase constantemente feita a televis o apaga o conceito sob a imagem e alimenta em perman ncia uma credulidade fenom nica e hist rica sem fundo Contra muitos professores a escola que temos n o desenvolve as capacidades cr ticas altamente cultivadas que uma real soberania do povo exigiria E assim sucessivamente O cidad o vulgar vive pois uma actualidade incrivelmente enganadora sob as apar ncias exteriores da evid ncia imediata seja durante a mais banal das informa es di rias seja nas grandes encena es excepcionais como as guerras do Golfo ou do Kosovo Como admirar se sendo assim do formid vel hiato que persiste entre a multiplica o dos motivos
83. a aplica o das ideias marxistas em particular as abordagens estatistas presentes em Marx a respons vel por ter feito da URSS a ant tese do comunismo Como vimos atr s o meu pensamento est nos ant podas o socialismo estalinizado ia a contrario das perspectivas comunistas de Marx que era na minha opini o anti estatista de raiz O equ voco n o menos importante noutros pontos como o accionariado assalariado que est hoje em grande desenvolvimento e sobre o qual n o desconhe o ali s o facto de encerrar grandes armadilhas Resta saber parece me se o feiti o destas armadilhas n o pode ser virado contra o feiticeiro em novos contextos pol ticos em que se tivesse dado vigor a esta explosiva verdade t o mal conhecida e que que mesmo admitindo se que o capital avan ado partida seja uma propriedade adquirida pelo trabalho pessoal do capitalista ao fim de uns quantos anos deixa de existir o m nimo tomo de valor deste primitivo capital todo ele renovado pela materializa o de trabalho n o pago de outrem O Capital Livro I Como admitir ent o esta situa o em que a sua constante actividade reprodutora do capital n o cria para os assalariados nenhum poder de accionista sobre as decis es de gest o N o ser esta uma interpela o comunista que se deveria fazer crescer cf as reflex es de Jean Claude Delaunay sobre o poss vel novo sentido do accionariado salarial na revista La
84. a o que se pode considerar como a mais importante li o do s culo XX 1 05 Reaprender O comunismo Revalorizar com convic o o comunismo no seu pleno sentido revaloriz lo tanto como des gnio pr tico como vis o te rica eis ao fim e ao cabo o que se me revelou no decorrer dos anos oitenta como chave do problema na sua dupla dimens o retrospectiva como compreender o ontem e prospectiva que fazer hoje Ali s a liga o entre estas duas interroga es mais directa do que parece primeira vista j que o formid vel fracasso de que necess rio tirar li es n o s o dos outros a Leste Menos estridente certamente mas n o menos fundamental do que a implos o do socialismo real a completa incapacidade do movimento comunista a Oeste nos pa ses capitalistas desenvolvidos a despeito de tantas lutas marcantes para dar in cio nem que fosse apenas num deles transforma o revolucion ria Como explicar semelhante car ncia a nossa medida que ia chegando s ideias que acabei de resumir achava cada vez mais sufocante que a direc o do PCF nunca considerasse a quest o nestes termos irrecus veis Ora na minha opini o as considera es precedentes t m a ver com aquela impot ncia cr nica e isto pelo menos por duas raz es maiores A primeira de estrat gia reduzida no essencial estatiza o dos meios de produ o e de troca a transforma o social aparece como realiz vel de uma s
85. a Direc o do Partido o que durante todo um per odo significou ser um estalinista convicto e membro do Comit Central a partir de 1961 tomei me o propagandista incansavelmente combativo desta pol tica oficial Mas ao mesmo tempo nunca deixei de reclamar em geral com grande insucesso que se fosse muito mais longe na sua elabora o te rica tentando progressivamente eu pr prio empreend la em dom nios que achava estarem ao meu alcance insurgindo me sem medo das retalia es contra o que eu considerava n o ser v lido nestes dom nios Por exemplo no in cio dos anos sessenta contra o humanismo de Roger Garaudy na altura membro bastante influente da Comiss o Pol tica em que eu via pelo menos uma maneira perigosamente inconsistente de ele se emancipar do estalinismo ou um pouco depois contra a cren a nos dons esse materialismo do pobre em mat ria psico pedag gica t o difundida at entre os comunistas da poca a todos os n veis de responsabilidade e que sustentava teoricamente no Partido a pol tica escolar do a cada um segundo as suas aptid es intimamente reformista sob a etiqueta revolucion ria ou ainda a partir do in cio dos anos setenta quando me tornei director das ditions Sociales contra a filosofia da Direc o do Partido neste dom nio que se recusava de um modo ou de outro a admitir a autonomia da pol tica editorial quando o que esta pretendia era colocar as suas rela es com os intel
86. a compreender A sua raz o pelo contr rio a mais elevada poss vel o superior interesse do partido que o obriga a continuar sendo a sua ang stia que depois dele se ponha ao servi o da defesa desse interesse menos firmeza e menos experi ncia 3 04 A oportunidade perdida do XXVIII Congresso Este o insuport vel arca smo organizacional e mais profundamente pol tico cultural com que se deve acabar se realmente se quer avan ar para um Partido Comunista de novo tipo Superar o centralismo democr tico Se alguma vez o PCF o conheceu por pouco tempo na poca her ica da bolcheviza o h muito que ele foi superado precisamente pelo alinhamento estalinista com o centralismo autocr tico esta velha cultura mort fera de aliena o pol tica e o esp rito das estruturas correspondentes que imperioso erradicar o que se n o far por decreto nem num s congresso A fortiori um Congresso como o XXVII ltimo avatar de um sistema organizacional que se afunda e procura transformar se radicalmente dentro dos seus pr prios limites Esta contradi o fundamental reflecte se de um modo ou de outro em todas as disposi es dos estatutos adoptados em 1994 Assim logo no seu pre mbulo o relat rio que abriu as discuss es do Congresso sobre esse ponto da ordem de trabalhos justificava a op o de neles n o fazer figurar concep es doutrin rias nem reafirma es de princ pios que devessem balizar o fut
87. a dado juventude de ambos os sexos pensar se quanto baste no facto por exemplo de Marx mal ter trinta anos e Engels vinte e oito quando escrevem o Manifesto Que Maurice Thorez tem tamb m trinta anos quando se torna primeiro respons vel do PCF Que Lenine amigavelmente chamado O Velho no seu partido tem quarenta e sete anos em 1917 e Trotsky trinta e oito e Boukharine vinte e nove O comunismo s ser feito pela juventude do mundo Mas se patente a enorme utilidade de comit s assim concebidos a legitimidade das comiss es e dos secretariados com o t o pesado sentido que Estaline deu a este ltimo termo n o por um ser ssimo problema Mas n o ser uma pesada forma de aliena o pol tica obviamente inaceit vel numa perspectiva autenticamente comunista que rg os de autoridade se elevem de facto acima dos comit s que devem em principio servir e acabem por estar t o acima que se tornam em todos os aspectos os seus senhores sob a designa o oficialmente negada mas irrecus vel na pr tica de direc o ainda no in cio dos anos noventa um membro da Comiss o Pol tica de que n o interessa agora o nome descuidadamente se desculpava numa sess o do Comit Central de comunicar uma informa o importante antes de a dar a conhecer direc o Que por exemplo o Comit Nacional para desenvolver num esp rito inteiramente novo tarefas de coordena o de grande amplitude deva dispor de rg os
88. a formula o claro totalmente metaf rica quer se significar que a despeito das suas conting ncias e turbul ncias descontinuidades e falsos semblantes a hist ria encerra na sua teimosa objectividade suficiente l gica continuada para oferecer a uma subjectividade combativa razo veis hip teses de levar a cabo uma grande causa Ora haver algo de mais grandioso e necess rio tanto objectiva como subjectivamente do que acabar com uma inumana sociedade de classes desde sempre e hoje cada vez mais em vias de desencadear uma proliferante e irrevers vel desumaniza o do g nero humano Consintamos em chamar ao futuro sociedade sem classes mas porqu comunista a qualquer pre o Que a primeira denomina o provoque tanta indiferen a enquanto que a segunda todavia seu sin nimo ainda t o disputada n o bastar para mostrar quanto a quest o comunista est decididamente longe de estar encerrada por isso que n o de modo algum sup rfluo continuar a argumentar num debate em que a aposta demasiado alta para poder j n o estar em jogo Objectaram se ainda se objectam duas coisas em rela o manuten o da palavra comunismo como designa o te rica e pol tica do movimento universal de emancipa o que o nosso tempo reclama o seu conte do sem ntico e a sua resson ncia hist rica Sobre o primeiro ponto sem negar que o termo queira dizer p r em comum e por isso diga solidariedade e queira dizer p r em c
89. a hip tese muito diferente e a meu ver bastante consistente que aqui evoco a conclus o estrat gica a tirar tamb m ela muito diferente em lugar de nos instalarmos na t o inquietante perspectiva de um socialismo de mercado mas tamb m nos ant podas de uma brusca e de todos os pontos de vista quim rica aboli o do mercado trata se de encetar uma fase hist rica de supera o do capitalismo trabalhando tanto no sector mercantil dos bens e servi os como no da finan a para deslocar cada vez mais os crit rios dominantes da rentabilidade segmentar privada para a efic cia social total de que o capital se desinteressa t o gravemente porqu por exemplo n o fazer suportar s grandes empresas de modo muito mais dissuasivo os custos directos e indirectos que sem o confessarem imp em colectividade p blica com os planos de despedimentos decididos em nome do lucro privado ao mesmo tempo que se trabalha para desenvolver constru es n o mercantis atentas sua pr pria efic cia global O conjunto destas inova es estruturais e das lutas pol tico sociais que lhes servem de motor constituiria assim o mais democraticamente e o mais internacionalmente poss vel uma ampla experimenta o hist rica constantemente rectific vel de progressiva sa da do mercado por cima Embora esta perspectiva admita de facto tamb m ela a dur vel presen a de um mercado nem por isso ela deixa de se diferenciar essencialmente da precedent
90. a humana compreendem no eles ent o nada mais do que o evolutivo conjunto das rela es sociais Mas desaparece para se transmutar num outro fundamentalmente repensado nos termos clar ssimos do materialismo hist rico Neste a aliena o o conjunto dos processos pelos quais os poderes sociais dos homens as suas capacidades colectivas de produzir trocar organizar conhecer deles se destacam para se tornarem estranhamente sen o mesmo monstruosamente for as aut nomas que os subjugam e esmagam como por exemplo o capital e as leis do mercado o Estado e as l gicas do poder a arena internacional e a fatalidade da guerra as ideias dominantes e a evid ncia ilus ria Mas por que ser que estes poderes se alienam Isto tem a ver n o com uma qualquer fatalidade natural mas sim com uma situa o hist rica As actividades especificamente humanas baseiam se no ciclo incessantemente reiniciado e alargado da sua objectiva o social em produ es de complexidade cumulativa dos primeiros instrumentos e signos s tecnologias e teoriza o de hoje em dia e da sua constante apropria o subjectiva pelos indiv duos que por isso mesmo se desenvolvem Mas esta complexifica o teve como corol rio ao longo dos s culos um triplo processo de clivagem social a divis o do trabalho que como o diz Engels tamb m divide o homem Anti Duhring ditions Sociales 1971 p 329 parcelarizando ao mesmo tempo a sua
91. a num partido pol tico a contracorrente do presente entusiasmo pela rede sem centro que sem d vida excelente para fazer interc mbios desprovida de virtualidades para chegar a conclus es em mat ria de organiza o n o esque amos em proveito de modelos inform ticos a l gica do vivo em que o exemplo por excel ncia do organismo privado de centro o animal descerebrado Por aqui se mede at que ponto foi falaciosa a pretexto de superar o centralismo democr tico a decis o do XXVIII Congresso do PCF de banir a utiliza o do adjectivo central o que ali s foi insuficiente para mudar certas realidades profundas em vez de concentrar a cr tica no vertical n o expresso em que reside contudo inteiramente o esp rito autocr tico o exacto inverso do que me parece indicado revalorizar uma centralidade viva enfim liberta da pesada verticalidade a que durante tanto tempo esteve t o submetida instaurando deste modo a descompartimenta o horizontal e a autonomia concertada de uma forma o pol tica de nova gera o Uma organiza o irrigada pela espontaneidade numa centralidade protegida contra a verticalidade este em suma caso se siga o fio te rico que nos pareceu termos bons motivos para aqui preferir a outros o esbo o program tico de uma for a pol tica capaz sem d vida de dar vida no quotidiano a um objectivo comunista Em flagrante ruptura com uma forma partido esgotada n o poderia a sua complei
92. a pelo Relat rio era de uma outra esp cie e de valor completamente diferente a ditadura do proletariado s necess ria em ltima an lise na medida em que as for as revolucion rias n o podem antes da data da tomada do poder ter consigo a grande maioria do povo neste sentido seria poss vel citar textos muito significativos de Lenine deixou de o ser num contexto hist rico em que se pode encarar efectuar cada transforma o social profunda com o apoio da vontade popular maiorit ria que se exprime democraticamente pela luta e atrav s do sufr gio universal Hip tese acad mica formalmente plaus vel Mas toda a quest o residia ent o e o Relat rio sublinhava o bem em se saber como criar este indispens vel movimento maiorit rio solidamente unido em torno de objectivos transformadores Ora a esta quest o pol tica literalmente crucial s se dava de facto uma resposta sociol gica doravante em Fran a os assalariados constituem pelo menos tr s quartos da popula o activa Se fizermos o que preciso eles n o v o de certeza deixar de se pronunciar pelo socialismo francesa proposto pelos comunistas Hoje mais f cil sem d vida ver as fraquezas fundamentais de tal maneira de argumentar No entanto partida havia ali mat ria interrogativa a v rios n veis Por exemplo sobre a perturbadora dualidade de atitude face ao que o Relat rio denominava sem o questionar no entanto o soc
93. a prova como sendo sem limites quando sem limites nesta mat ria antes a sede de lucros que leva a finan a internacional para muito mals s extens es do dom nio em quest o N o ser este o momento de um modo mais geral de p r uma vez por todas a quest o dos fins Aonde se quer que leve o possante movimento hist rico de afirma o da individualidade humana omnipresen a de uma particulariza o arrogante ou ao aprofundamento de uma personaliza o civilizada E o que que isto implica concretamente Quest o aberta porque a humanitas dos homens n o algo de acabado ela continua sempre a ser um al m que se visa ali s sem d vida precisamente nisso que ela reside Uma igual preocupa o pr tica porque o mal hoje causado s pessoas pelo capital indescrit vel Nada mais urgente do que atacar este imperdo vel malef cio Ora o homem o mundo do homem A finalidade humana do combate comunista deve pois levar a p r com enorme amplitude e ambi o as fundamentais quest es de conte do das actividades em que se forma e malforma o indiv duo as do trabalho do n o trabalho e do fora do trabalho as da escola e da cidade as da cultura em todas as suas dimens es personalizantes tanto do mais elevado Jazer como do quotidiano as da pol tica Parafraseando Ernst Bloch gostar amos de dizer que uma pol tica comunista deve ser mais individual do que qualquer outra antes dela 2 09 Uma urg nc
94. a supera o A tradu o cl ssica de Marx e que continua a praticar se em que Aufhebung restritivamente dada por aboli o constitui pois uma clara deforma o do seu pensamento cujas consequ ncias s o dificilmente avaliadas Ali s quando Marx fala por exemplo do Aufhebung do pr prio modo de produ o numa forma superior Grundrisse tomo 2 p 200 o sublinhado do autor somos mesmo obrigados a traduzir por supera o Prova pelo contr rio quando Marx quer dizer aboli o pura e simples por exemplo no Manifesto aboli o da heran a emprega palavras muito diferentes como Abschaffung ou Beseitigung Por n o ter explicado estas coisas que embora t cnicas s o acess veis para quem quer que seja chegou se a este resultado extravagante milhares de comunistas imaginaram e ainda pensam que a passagem terminol gica de aboli o a supera o do capitalismo nos textos dos refundadores comunistas e depois nos documentos recentes do Partido escondia um recuo reformista Quando se trata pelo contr rio de restabelecer a exacta compreens o do que Marx tinha em mente e do que ali s reclama o simples bom senso sendo o capitalismo uma forma antag nica e transit ria do desenvolvimento das for as humanas a tarefa revolucion ria inseparavelmente a de suprimir esta forma para manter e promover sob novas formas os conte dos anteriormente alcan ados ir se ia por exemplo abolir o capital fixo quer dizer o tra
95. ade c vica e que responde ao desafio n o menos p blico dos gatos pingados do comunismo Sim est em gesta o um comunismo novo e contra o qual o velho anticomunismo vai descobrir a sua impot ncia A ousadia n o exclui bem pelo contr rio recomenda a pr tica associada do princ pio de precau o baseado nesta rude experi ncia da hist ria comunista recente nesta mat ria bem mais f cil destruir do que reconstruir Este princ pio tanto mais oportuno quanto n o h qualquer possibilidade de que a forma o deste comunismo de nova gera o seja bem vista e certamente ainda menos em Fran a do que noutras paragens tendo em conta a sua peculiar situa o pol tica por aqueles que se arrogam o cuidar da boa ordem dos assuntos nacionais e mundiais seria imperdo vel ingenuidade n o ter consci ncia disto Quanto mais s lidas garantias se possui contra os riscos de um erro fatal tanto mais se livremente ousado E que melhores garantias se pode ter contra o erro do que o pluralismo reflectido e a transpar ncia democr tica da postura A grande aventura da refunda o comunista uma parada demasiado alta para que possa ser conduzida de maneira aventureira tal como demasiado necess ria para se acomodar com uma atitude timorata Mas por muito cuidadosa que seja a aud cia n o sem uma certa vertigem que se enfrenta um cometimento destes Ele faz parte daqueles cujo caminho n o est escrito em livro algum em
96. adi es da sociedade de classes na hora da universal financiariza o capitalista engendram elas pr prias de cabe a para baixo como diz Marx muitas pressuposi es da passagem a uma humanidade sem classes portanto n o absurdo enunciar o futuro e que consequentemente h tamb m pelo menos quanto escolha de princ pio e da sua orienta o de conjunto uma racionalidade hist rica do agir comunista Tudo isto ter sido desqualificado em bloco e sem remiss o pelo fim da Uni o Sovi tica e do movimento comunista internacional a capital conclus o a que Fran ois Furet acreditou poder chegar A hist ria volta a ser aquele t nel em cuja obscuridade o homem se embrenha sem saber onde conduzem as suas ac es na incerteza do seu destino desapossado da ilus ria seguran a de uma ci ncia da sua ac o Para o indiv duo democr tico privado de Deus o comunismo claro n o s perdeu todas as probabilidades como j n o faz qualquer sentido Tornou se quase imposs vel pensar a ideia de uma outra sociedade e de resto j ningu m no mundo de hoje avan a sequer sobre este assunto o esbo o de um conceito novo Expressa neste tom douto e sem r plica a que se ap e a assinatura de grande costureiro do pronto a vestir da ideologia dominante esta demonstra o axiom tica do definitivo sil ncio comunista fez escola ao ponto de autores por vezes bem inspirados como R gis Debray Anicet Le Pors e outr
97. ado a um mundo incrivelmente diferente outro em que mesmo os aspectos mais democr ticos do partido leniniano correm doravante o risco de o n o serem tanto como isso Do mesmo modo o Congresso forma por excel ncia de delibera o aberta e decis o colectiva no tempo do POSDR mas que mesmo numa vers o inteiramente desestalinizada n o pode nos nossos dias representar sen o uma modalidade de democracia sem d vida ainda necess ria mas demasiado ocasional e delegat ria quando os actores exigem e as t cnicas permitem que ela tenda a tornar se permanente e directa Do mesmo modo ainda o princ pio maiorit rio mal menor que se mant m inevit vel para certas escolhas mas que depressa cai no princ pio autorit rio se n o houver uma elabora o suficientemente rica dos direitos da minoria em cujas posi es raramente deixa de haver uma qualquer verdade a aproveitar isto quando n o leva sobre a maioria uma an lise correcta de avan o e que sobretudo corre o risco de servir de capa desastrosa resigna o ao simplismo tantas vezes mistificador do ou isto ou aquilo pol tico Se a meu ver de enorme import ncia reavaliar com justeza o que foi no seu tempo o centralismo democr tico leniniano n o o pois certamente para ir procurar um s culo atr s o modo de organiza o de que necessitamos hoje O bolchevismo est completamente caduco N o sequer essencialmente para cumprir um dever de equidade hist rica be
98. ado implicitamente afastava quer o adiar para as calendas gregas quer a divis o do caminho em etapas desde j que este des gnio deve tornar se operativo ao inscrever no limite dos poss veis actuais mudan as reais que transcendem j esse limite Caracterizando esta nova concep o do processo revolucion rio como supera o do capitalismo palavra exposta aos piores mal entendidos falta de suficiente esclarecimento te rico inclusive filos fico recusava muito justamente a utopia devastadora das aboli es por decreto e das inova es sem bagagem para remeter a transforma o social para a fecunda complexidade dial ctica do processo em que verdadeiramente mudam as coisas Aqui est o que sem chegar para constituir uma verdadeira reviravolta assinalava alguns not veis avan os Mas passar de um discurso de tonalidade temporariamente nova sobre o comunismo a uma pol tica duravelmente inovadora que d sentido mobilizador a este voc bulo exige o mais inventivo trabalho de pensamento e de ac o E antes do mais para fazer compreender claramente o que neste caso est em jogo Porque n o esque amos que coisa inacredit vel e todavia flagrante nunca o Partido Comunista se tinha explicado at aqui sobre o comunismo Porque Marx n o deixou qualquer tratado global para al m de cem profundas indica es sobre o tema apenas escaparam ao esquecimento dos partidos que dele se reclamam raras f rmulas disjuntas todas a cheirar
99. ados Sim a milit ncia comunista como muitos comprometimentos hist ricos funcionou base de cren a gratificante e quem se recusar a ir buscar nela mais lucidez demasiado ocupado a debitar velhas arengas revolucion rias est efectivamente perdido para um comunismo do s culo XXI S que h tamb m outra coisa em rela o qual estes teis desanimadores fazem um ruidoso sil ncio a cal ada das realidades sob a areia das ilus es Conhece se a frase de Fran ois Miterrand em 1981 que o pr prio depressa esqueceu com resultados probat rios N o sei se o muro de dinheiro existe mas sei de quem partiu o nariz contra ele Interessante variante do famoso pudim que preciso comer para provar Para Lu s XVI para os sans culottes e para os herdeiros da Declara o dos Direitos do Homem que n s somos a Revolu o Francesa n o foi s ilus o embora seja bem verdade que s podemos reviv la reconstruindo a atrav s de batalhas ideol gico pol ticas sobre as quais o seu bicenten rio foi bastante instrutivo Hoje mesmo a desumaniza o cada vez mais universal atrav s da finan a capitalista tamb m se n o deixa reduzir a um artefacto de metodologia hist rica a uma grande narrativa legitimadora a uma cren a compulsiva Mais e aqui as coisas invertem se o escamotear desta casmurra realidade que por sua vez aparece como a mais flagrante das elabora es mistificadoras das ideologias de justifica o e do wishfull thinki
100. ainda muito presente no Manifesto e que nos fala n o s do capital e do trabalho mas tamb m do indiv duo e da fam lia do Estado e da na o do direito e da moral ele empenhou se depois numa tarefa colossal de cr tica econ mica com um campo muito mais restrito e ainda do plano de trabalho que a si mesmo se fixava em 1857 59 O Capital s trata uma parte deixando de fora com o Estado o mercado mundial e as crises com o que se devia concluir a longa marcha das mais simples abstrac es da produ o mercantil s realidades complexas da economia capitalista da adv m ali s terr veis mal entendidos Acresce a isto que a leitura dominante de O Capital desde os militantes oper rios dos finais do s culo XIX a Althusser se restringiu no essencial ao Livro I com enormes consequ ncias te ricas e pol ticas Por fim se se sublinhar que continua em aberto a quest o de se saber em que medida o materialismo marxiano n o teria padecido de uma subestima o intr nseca do superestrutural relativamente base e mais amplamente do simb lico relativamente coisa aderir se sem d vida a esta importante conclus o de metodologia ao projectar de modo cr tico o conceito de comunismo sobre as realidades do mundo contempor neo devemos ter permanentemente em mente tudo aquilo que pode faltar a este conceito especialmente tendo em conta uma janela hist rica para a abertura da qual nenhuma contradi o ser demais 2 01 Movime
101. alidade Projecto de desaliena o universal o comunismo foi partida pensado por Marx e Engels como necessariamente mundial se ficasse local toda a extens o das trocas lhe seria fatal A Ideologia Alem Assim come am por considerar que a passagem ao comunismo se far for osamente de um s golpe auf einmal e ao mesmo tempo para os povos dominantes Mas uma d cada depois Marx tinha chegado a uma vis o mais complexa em que a passagem se desmultiplica em fases parciais sucessivas O que coloca um tem vel problema supondo vitoriosa a revolu o nesse pequeno canto que a Europa Ocidental n o ir ela ser esmagada sendo dado que num sector muito mais vasto o movimento da sociedade burguesa ainda est em ascens o Carta a Engels de 8 de Outubro de 1858 Lenine devia mais tarde concluir da desigualdade do desenvolvimento capitalista a poss vel vit ria inicial do socialismo num s pa s cf Anexo I mas continuando a considerar que este sucesso n o poderia ser dur vel sem a extens o mundial do processo De facto a passagem ao socialismo seguiu um curso muito diferente limitada a um conjunto de pa ses de contornos cada vez mais r gidos esta passagem tomou a forma de uma luta cerrada mesmo que nos limites da guerra fria para consolidar um campo socialista que as pot ncias capitalistas tudo faziam para destruir Este fechamento cr nico de uma causa de voca o universal na defesa de intere
102. ancesa pode orientar a nossa estrat gia Em suma neste n o di logo de surdos respondiam me tranquilamente ao lado da quest o persistindo em entender como comunismo apenas uma long nqua sociedade futura mas de modo algum ao mesmo tempo como fazia Marx um processo actual que o visava partida e sem o depreciar Numa representa o da hist ria inteiramente periodizada moda antiga haveria hoje lugar apenas para uma luta defensiva contra o capital amanh s para a constru o do socialismo e quanto ao comunismo este n o seria ainda situ vel no calend rio Como se s para dar um exemplo a proposta avan ada por Paul Boccara bater se sem demora a fim de inventar e impor um vasto sistema de seguran a de emprego e de forma o dando in cio supera o parcial do mercado de trabalho e do trabalho assalariado capitalista n o ilustrasse a possibilidade e at a urg ncia em dar in cio sem qualquer ingenuidade a batalhas imediatas de des gnio autenticamente comunista Que fosse evidente poder faz lo e que nada fosse sem d vida mais indicado a uma for a pol tica que se pretende revolucionariamente em sintonia com os dramas colossais e as possibilidades n o menos imensas do nosso tempo eis o que inferia se da leitura de D mocratie parecia ainda n o suspeitar em 1990 o quinto andar da Place du Colonel Fabien Acusar me o de ser severo e em todo o caso muito seguro de mim partida n o era nem uma coisa n
103. ao Congresso e com o pr prio m todo de uma Direc o que preferia reservar para si o efeito de an ncio dessa decis o em vez de a dar atempadamente aos pr prios comunistas para debate pr vio nico processo compat vel com o cuidado se realmente o tiveram de elevar a reflex o colectiva ao n vel exigido Mas teria esta Direc o avaliado bem a centralidade da ditadura do proletariado na teoriza o marxiana e depois leniniana da revolu o e portanto a amplitude das reconsidera es te ricas em cadeia que exigia a passagem para uma vis o estrat gica onde ela n o tivesse lugar Era caso para perguntar O primeiro argumento alegado pelo Relat rio era que hoje a palavra ditadura evoca automaticamente os regimes fascistas Hitler Mussolini Franco argumento j utilizado da primeira vez em que foi proposto o abandono da refer ncia ditadura do proletariado por Jeannette Vermeersch no dia 9 de Janeiro de 1964 em que se discutiu o pre mbulo dos novos estatutos que iriam ser adoptados no XVII Congresso Nada h a fazer a palavra ditadura caiu historicamente falando em desonra disse ela apanhando desprevenido o pr prio Maurice Thorez que no dia seguinte teve de explicar por que que era apesar de tudo importante conservar a f rmula argumento intrinsecamente desapropriado em 1976 dado que s levava a retirar a palavra para melhor conservar a coisa A bem dizer a justifica o fundamental desenvolvid
104. ao estatuto de Ideia ali s por demais conhecida para ser minimamente definida Procuro menos analisar conceitos do que fazer reviver uma sensibilidade e opini es anuncia n o sem ousadia Furet p 28 ed fr tendo em considera o a amplitude das conclus es conceptuais que pretende estabelecer Ideia qual seriam imediatamente imput veis como atributos universalmente necess rios os piores avatares da hist ria singular em que se entrincheira Postulando por exemplo como evidente que os crimes estalinistas s o crimes de um regime comunista conclui se atrav s de uma simples substantifica o do adjectivo que o comunismo portanto o que Khrutchev ou Ho Chi Min Pablo Neruda ou Waldeck Rochet podem tamb m representar em si mesmo criminoso Hitler o irm o tardio de Lenine ousa escrever Furet p 339 ed fr o comunismo ainda fan tico totalit rio apocal ptico de modo que uma obra de que o autor faz quest o de sublinhar no in cio que n o de maneira alguma uma hist ria do comunismo p 13 ed fr nem do movimento comunista nem do pensamento comunista e muito menos ainda acrescentaria eu das suas formas actuais mas a de um objecto passado muito mais circunscrito acaba no entanto por concluir em tom que n o admite qualquer objec o que o que morreu sob os nossos olhos com a Uni o Sovi tica de Gorbatchev engloba todas as vers es do comunismo que o co
105. apar ncia vanguardista esta s bita refer ncia ao comunismo n o traduz a vontade de contornar a necessidade de lutar pelo socialismo em Fran a Ou seja eu era um capitulacionista 1 06 Da crispa o muta o Foram assim perdidos anos para o debate sincero e investiga o plural sobre esta quest o de import ncia capital Devo dizer que a minha defesa do comunismo come ou por n o ter tamb m grande repercuss o no que iria tornar se a rea dos refundadores onde ali s depois nem todos aceitaram a f rmula arvorada pelo seman rio Futurs Comunista de outro modo Tamb m verdade que a minha compreens o da quest o comunista dava certamente o flanco a muita cr tica por volta de 1986 1987 Era j menos o caso parece me em 1990 no primeiro cap tulo de Communisme quel second souffle em que o meu pensamento beneficiava da rica elabora o colectiva que o manifesto refundador Urgence de futur iria condensar A publica o desse livro de cuja redac o n o fiz segredo n o deixou de preocupar um pouco a Direc o do Partido que tinha na manga a melhor das defesas um livro do pr prio Secret rio Geral Tendo enviado o meu manuscrito em 1 Fevereiro Editora do partido que entretanto se transformara na Messidor tive de esperar imenso tempo pelas primeiras provas e depois pelas segundas Ora acontece que D mocratie de Georges Marchais p de ser redigido durante o m s de Mar o com pleno conhecimento do meu te
106. ar de uma forte cultura da transforma o social como a Fran a conheceu com tantos benef cios durante os anos trinta ou sessenta Este movi mento te rico para o qual as forma es pol ticas podem dar um enorme contributo mas que n o pode ser monop lio de nenhuma delas tem como tarefa central responder pergunta chave qual a perspectiva depois do desastre O que equivale a tratar aquilo a que aqui se chama a nova quest o comunista J que importa saber que coisa est por debaixo da palavra comunismo queiramo la ou n o E essa coisa a completa supera o de todas as nossas aliena es hist ricas antigas e novas de classe ou sem ser de classe Parafraseando uma famosa f rmula de Sartre digamos que esta quest o comunista inultrapass vel j que este tempo continua a ser o da hist ria alienada Tendo como conte do a desaliena o universal a ideia comunista n o mais um des gnio emancipador o conceito de todas as radicalidades efectivas Muito longe de trair uma qualquer irris ria compuls o de dom nio esta caracteriza o exprime pelo contr rio a sua necess ria abertura a todos os projectos realmente desalienantes reclamem se ou n o eles de Marx intitulem se ou n o eles comunistas Por outras palavras exprime no plano te rico que todos os defensores de uma radicalidade efectiva est o vocacionados para formar em conjunto a nova for a do revolucionar pr tico que vise a sociedade sem classes
107. ar pelas lantejoulas de um espont neo que dificilmente escapar por si s ao perigo de permanecer inessencial parcelar marginaliz vel imp e se a necessidade de uma forma institu da em que possa sem cessar aprofundar se o imediato e sintetizar se o diverso at tornar cada vez mais irresist vel um processo geral de desaliena o hist rica No sentido amplo em que para al m das suas especifica es a palavra partido designa simplesmente qualquer dispositivo organizador permanente de tomadas de consci ncia e de iniciativas pol ticas n o precisamos de menos partido comunista mas de muito mais partido e mais comunista bem verdade que quando se mede o que foi e ainda o monumental desfasamento entre as aspira es pol ticas dos indiv duos e o que lhes oferecem as formas de partido desde t o longa data dominantes e agora t o combalidas se compreende que lhe corresponda em muitos deles sobretudo os jovens acessos de espontane smo de basismo anarquismo que proclama como o movimento brit nico claim the Street N s somos a desorganiza o Mas por muito simp tica compreens o que se possa ter de reac es deste tipo h que reiterar com for a que nunca e em parte nenhuma esta velha compuls o mudou o que quer que fosse de modo profundo e dur vel tamb m aqui se imporia a mais atenta das autocr ticas hist ricas Sim h uma absoluta necessidade de uma for a comunista organizada mas de um modo muito novo em q
108. as de entrar em fase terminal A partir de agora uma aut ntica for a comunista s tem futuro numa poderos ssima revaloriza o do espont neo da iniciativa n o encomendada da mais aberta aten o a tudo o que mexe na sociedade sem que o Partido tenha nada a ver com isso E isto sobre a base desta radical convic o de que hoje h comunismo que come a a aflorar espontaneamente mesmo se do avesso e irreconhec vel em tudo o que trabalha a sociedade em profundidade E por isso que o mais importante de tudo voltar grande ideia que numa carta a Ruge o jovem Marx exprimia j n s n o dizemos ao mundo escrevia ele abandona os teus combates que s o tolas insignific ncias vamos dar te a verdadeira palavra de ordem do combate N s s lhe mostramos precisamente o porqu do seu combate Dar ao movimento real todo o seu sentido e por esse meio todo o seu vigor este modo de conceber a ac o comunista agora mais pertinente do que no tempo do jovem Marx agora que os motivos de agir para superar o capitalismo se tornaram t o mais vastos o n vel cultural dos poss veis actores t o mais elevado e a estrat gia conceb vel para o empreender se tornou t o menos arcaica 3 07 Uma organiza o liberta da verticalidade Mas se mais do que tempo de virar a p gina do partido de vanguarda que distribui as suas instru es nem tudo longe disso est caduco na cr tica leniniana do espontane smo Nascem por si
109. as dificuldades internas do pensamento marxiano ainda s o pouca coisa face s objec es que a formid vel desconstru o do conceito de hist ria empreendida nas ltimas d cadas fez surgir de fora N o h d vida de que a racionalidade objectiva do processo hist rico de conjunto tinha sido j rudemente posta em causa na viragem do s culo XIX para o s culo XX com as considera es de Max Weber sobre o inacabamento intr nseco da hist ria e consequentemente com a arbitrariedade de qualquer interpreta o do seu decurso com a oposi o entre explica o dos factos de natureza e compreens o dos factos de cultura erguida por Dilthey e Jaspers ou ainda com as an lises de Freud sobre o que o sentido atribu do por n s ao vivido comporta de ilus rio na sua ess ncia Foi em larga medida referindo se a estes autores que Raymond Aron na sua Introduction la philosophie de l histoire Gallimard 1938 Introdu o Filosofia da Hist ria cuja influ ncia foi consider vel deu por adquirida a dissolu o do objecto hist ria o car cter fundamentalmente retrospectivo e ideol gico das suas racionaliza es o res duo de m stica providencia p 244 que elas ocultariam o que diria cabe a respeito ao marxismo cuja pretens o a uma inteligibilidade cient fica do movimento hist rico remeteria de facto para uma vontade pol tica e a uma atitude vital p 414 O livro termina com estas palavras A exist ncia human
110. autskismo ou mesmo pelo guesdismo a come ar pela compuls o estatizante sublimada em democratismo No entanto havia ainda que arrumar esta palavra comunismo perenizada pelos escritos de Marx e de Engels e que alguns usavam de vez em quando como equivalente de socialismo ou mais como express o do seu objectivo final E aqui est a miraculosa solu o encontrada para o problema atrav s de um discreto mas decisivo piparote no texto da Cr tica do Programa de Gotha chamar doravante socialismo ao que a denominado fase inferior da sociedade comunista reduzida assim s propor es sociais democratas remetendo para as brumas do horizonte o comunismo sub repticiamente metamorfoseado em fase superior do socialismo e com a apar ncia de citar o pr prio Marx em primeiro lugar o socialismo real e nada mais mais tarde o comunismo ideal talvez Este o segredo do socialismo cient fico segredo que a neglig ncia te rica n o tinha evidentemente qualquer hip tese de desvendar um grosseiro malabarismo te rico textual que em proveito do primeiro mascara como fases sucessivas dois des gnios que s o antes alternativos fazendo por esse meio caucionar por Marx o sacrif cio de facto do comunismo a uma vers o ao fim e ao cabo n o marxiana da transforma o social que n o s j n o corre o risco de conduzir ao comunismo mas at lhe volta mesmo as costas em quest es t o cruciais como a do Estado Com esta impenitente manip
111. axa de lucro do capital adiantado No mesmo movimento ganham corpo imensas contradi es motoras de todo o movimento hist rico de que um exemplo cardeal o cr nico antagonismo entre a acumula o de riquezas no lado do capital e a acumula o de mis ria do lado dos assalariados Esta pauperiza o tendencialmente crescente de que era moda falar com deris o nos anos cinquenta entra hoje pelos olhos dentro de quem quer que seja tanto escala nacional como planet ria sob uma multiplicidade de formas relativas e absolutas desde o desemprego maci o aos sal rios de mis ria da precariedade regress o dos direitos do trabalho e recusa generalizada de dignidade enquanto os ndices bolsistas disparam O terceiro ponto o mais decisivo o menos conhecido que o desenvolvimento n o linear destas vastas contradi es tende a produzir pressupostos negativos e positivos da sua pr pria supera o mesmo que seja apenas em virtude destas dial cticas simples e fortes que exigem por exemplo que quando se puxa uma corda se acaba por parti la ou que quando se escava uma mina se levanta ao lado um monte de esc rias Assim prosseguindo na sua l gica cega o capital privado engendra inexoravelmente atrav s das piores contradi es as devasta es que suscitam o seu controlo p blico os indiv duos que poderiam vir a imp lo a produtividade que permitir no futuro dar a cada um segundo as suas necessidades E aqui est porque
112. baixa tendencial da taxa de lucro incessante e cada vez mais profunda invers o das rela es entre pessoas e coisas fins e meios ao ponto de sob v rios aspectos p r em perigo directo o nosso futuro como humanidade E quando isto salta aos olhos da maioria ainda nos v m dizer renunciem de vez aos vossos mitos consciencializem se de que a hist ria um jogo de apar ncias onde n o poss vel observar qualquer continuidade identificar qualquer sentido e onde por consequ ncia n o poss vel uma qualquer iniciativa reflectida Neste recalcamento caracterizado do que nos manda e comanda um t o sangrento presente n o vejo s quanto a mim aberra o intelectual mas tamb m defec o c vica demasiadas vezes acarinhada pela lisonja medi tica Portadora inconsciente de racionalidade atrav s das suas deambula es singulares a hist ria nem sequer aquele puro processo sem sujeito nem fim a que a reduzia Althusser n o sem grande limita es e regress es at ao presente tamb m nela se produz como se pode sujeito e finalidade Prop sitos axiol gicos de longo alcance formulados mais ou menos judiciosamente inseridos em tend ncias hist ricas mais ou menos bem identificadas n o deixaram de dar nascimento a grandes causas pol ticas e humanas cujas virtudes mobilizadoras transcendendo as fronteiras de gera es e de na es permitiram construir contra ventos e mar s a parte civilizada do nosso mundo por exemplo
113. balho passado acumulado que uma parte essencial da riqueza nacional e assim essa tarefa efectivamente a de superar o capitalismo A falsa ideia n o marxiana de aboli o aqui e ali defendida na cren a de assim salvaguardar a identidade comunista terr vel pre o a pagar por uma enfezada pr tica da pol tica em que a teoria passou por s interessar alguns intelectuais Isto quando se torna ainda mais verdadeira do que na sua poca a express o de Gramsci Todo o homem fil sofo Um campo muito alargado um conte do muito dialectizado n o se esgotou ainda o que de mais essencial nos traz o objectivo de desaliena o se n o se acrescentar uma atitude estrat gica de uma esp cie muito nova Querer mudar de um s golpe o modo de propriedade dos meios de produ o visa com efeito um acto pol tico jur dico de grande amplitude e que pressup e a conquista do poder de Estado burguesia numa cl ssica perspectiva de recurso viol ncia Concep o de fei o muito revolucion ria cuja caracter stica foi o mais das vezes paradoxalmente em pa ses como o nosso e espera da hora que nunca mais chegava o conduzir a urna pol tica muito pouco revolucion ria fechada em lutas defensivas que tinham de ser animadas por est mulos de ordem verbal e reivindica es de tipo sindical todo este conjunto que uma ptica reapropriativa vem radicalmente transformar O des gnio revolucion rio estaria pois caduco Nada
114. capacidade de reapropria o a divis o de classe que coloca a maioria das riquezas materiais e culturais fora do alcance da grande massa dos indiv duos e no presente est dio da hist ria aquilo que poder amos designar por divis o de fase objectivadas em for as gigantescas as capacidades humanas come am a entrar numa era em que deixam em absoluto de ser control veis no arcaico quadro social que persiste j que nele se n o podem desenvolver nem a coopera o universal nem a individualidade integral Vivemos assim o paroxismo da aliena o esta forma antag nica que a poca da humanidade retalhada imprime inevitavelmente objectiva o das for as humanas A aliena o n o pois um conceito sectorial de ci ncia social como a explora o uma categoria global de antropologia hist rica menos explicativa do que interpretativa mas por isso mesmo largamente cr tica e prospectiva filos fica sem um m nimo de divaga o e rigorosamente indispens vel para conceber na sua l gica geral a traject ria da humanidade Explora o permite pensar o socialismo aliena o termo que sem a dissolver engloba a explora o econ mica como uma das suas dimens es maiores entre outras n o menos essenciais retalhamento biogr fico coisifica o social sujei o pol tica ilus o ideol gica constitui a categoria por excel ncia do comunismo de que at fornece uma defini o de base o comunismo ao mesmo tem
115. capital e no entanto ainda s incipiente de uma cultura de negativismo e exterioridade pela qual uma for a pol tica infalivelmente se marginaliza para uma outra de perten a contestat ria e de ambiciosa reapropria o pela qual seja qual for o seu grau de influ ncia num dado momento essa for a pol tica p e o futuro do seu lado Imp e se aqui um esclarecimento de vocabul rio Quando se l Marx nas tradu es francesas existentes encontra se nele com frequ ncia a palavra aboli o exemplo tipo o Manifesto evoca v rias vezes a aboli o das rela es sociais existentes tendo se esta palavra tornado desde h muito um importante identificador do discurso comunista necess rio abolir a propriedade dos meios de produ o abolir o capitalismo Ora na maior parte dos casos a palavra de que Marx se serve a famosa Aufhebung que em alem o corrente quer com efeito dizer aboli o supress o revoga o mas que na linguagem te rica de Hegel e de Marx na sua esteira tem expressamente tal como a sua etimologia o exige e sobre isto Hegel muito claro um sentido muito mais dial ctico ao mesmo tempo supress o conserva o e eleva o por outras palavras passagem a uma forma superior o que as actuais tradu es francesas de Hegel d o por meio do neologismo sobressump o em franc s sursomption de que o franc s corrente d uma ideia bastante correcta utilizando d passement onde o portugu s utiliz
116. ceiros exteriores Lan ado pelo PCF pela simples raz o que continua vivo apesar dos progn sticos de um pr ximo fim tantas vezes feitos a seu prop sito e que os pesos que continuam a conden lo a um decl nio em grande parte j consumado encontram agora dentro dele em torno de uma renova o que a c pula quer encorajar contra tend ncias ainda hesitantes situa o que foi erradamente tantas vezes considerada exclu da no in cio dos anos noventa e pela qual ficar necessariamente marcada a passagem a uma nova for a comunista N o menos necessariamente essa passagem n o poder atingir o seu objectivo erguer a casa comum dos comunistas do s culo XXI ultrapassando as ruinosas clivagens do s culo XX sen o tornando se a obra colectiva de uma pluralidade de parceiros al m do PCF e tamb m dos comunistas com ou sem cart o que trabalham como pioneiros nas muta es necess rias nomeadamente com Futurs ainda todos aqueles cujas experi ncias por muito diversas que possam ser os levam a explorar as possibilidades desta constru o colectiva Porque a ideia comunista e voluntariamente que emprego aqui esta f rmula de espectro largo reconhecida ou reconhec vel como pertencendo lhes por muitos outros para al m dos aderentes do PCF por aquelas e aqueles que tendo dele sido expulsos ou dele se tendo afastado em nada abandonaram contudo tanto os valores como as esperan as que nele os tinham feito entrar pelos membro
117. cisos dos termos de um problema importante em que se prop e resolv lo por um documento torrencial em que tanta coisa pode ser escondida tal como a formula o n tida de quest es espinhosas pode ser escondida sob a abund ncia do discurso geral com textos invertebrados cairemos em grandes erros escrevia Lenine a Zinoviev em 1921 precisamente a prop sito desta quest o cf Oeuvres tomo 42 p 332 ou debate claro dos congressistas sob o trabalho kafkiano das emendas a uma resolu o destinada a tomar se rapidamente em velha papelada at o que se passa com a infla o do n mero de delegados um milhar e meio e at mais nos Congressos do PCF que evidentemente pouco prop cio a uma verdadeira discuss o Mas existe tamb m uma esp cie de desvio muito insidiosa e muito praticada pelo PCF nestas ltimas d cadas a tendencial convers o do congresso estatutariamente o momento chave da vida interna do partido numa grande opera o de rela es p blicas em que o debate pol tico os textos e os discursos est o cada vez mais intimamente subordinados a uma preocupa o com a imagem medi tica preocupa o defens vel em si mas muito perversa na ocorr ncia j que no limite o delegado em princ pio actor por defini o se v transformado em espectador de uma grande encena o organizada sua revelia pela direc o e destinada aos fazedores de opini o nacionais e estrangeiros Congresso estatut rio ou show p
118. co At ali estava t o certo da minha raz o no meu contencioso te rico com ela como continuava interiormente aberto sua contracr tica Sendo cada qual contra si pr prio o mais bem informado e o mais penetrante dos acusadores encontrava dez motivos para me dizer eles que t m raz o est s a ser picuinhas com os conceitos n o fazes suficientemente pool tica Porque na linguagem oral das altas esferas do Partido h duas palavras pol tica s com um o para dizer pol tica no sentido corrente e com dois oo para puxar as orelhas a quem se mostrar ingenuamente pol tico a mais preciso fazer pool tica camarada Demasiada teoria filosofante pouca pool tica a s rio n o seria esse exactamente o meu retrato Durante muito tempo batalhei no partido albergando no meu ntimo aquela parte de cr tico que me impedia de ajuizar negativamente de modo global a direc o Mas com aquela recusa em minha opini o indefens vel de mexer na quest o crucial do Partido como se se pudesse implementar uma estrat gia verdadeiramente nova com um partido moda antiga chegava a minha vez de dar um pux o de orelhas j n o simplesmente por car ncia nas ideias mas por imobilismo pool tico precisamente e devastador de que maneira Assim sendo aquele n o precipitou em mim uma verdadeira reconvers o do meu olhar sobre a direc o esta fazia pior do que pensar pouquinho dirigia mal Portanto como consider la inoc
119. converge a an lise a baixa tendencial da taxa de lucro rela o de grandeza entre o lucro obtido e capital avan ado que constitui a verdadeira for a motriz da produ o capitalista O Capital Livro III tomo I ditions Sociales 1957 p 271 A tend ncia forte para a baixa dessa taxa diz respeito mais essencial das l gicas do capital este valoriza se acumulando numa escala cada vez mais larga o trabalho passado na forma de meios de produ o trabalho morto maci amente objectivado em capital fixo e em rela o ao qual o lucro realizado sobre o trabalho vivo tende a ser em propor o continuamente decrescente de qualquer ponto de vista a mais importante lei da economia pol tica moderna e a mais essencial para a compreens o das rela es mais complexas Manuscrits de 1857 58 ditos Grundisse ditions Sociales 1980 tomo 2 p 236 Nesta lei o capitalismo confessa a sua fun o hist rica profunda e por ess ncia transit ria garantir o aumento ilimitado da produtividade sob uma forma em que o morto esmaga o vivo o que contraditoriamente imp e a este aumento severos e absurdos limites Simultaneamente esclarecem se os seus violentos esfor os para combater em todos os sentidos a baixa da taxa de lucro antes do mais pela insaci vel explora o dos assalariados mas tamb m entre outros pela desvaloriza o maci a dos capitais fonte de gigantescos desperd cios pela agressiva expans o internac
120. cursos de circunst ncia tudo isto em nome do superior interesse do partido como o dizia Clara Zetkin todo um sistema onde est marcado o estatuto de aparelho de Estado e que o partido de oposi o nem que seja em princ pio revolucion rio acaba por partilhar de um modo ou de outro com as forma es dominantes Althusser foi penetrantemente o primeiro a enunci lo O centralismo autocr tico traduz claramente a impossibilidade de fazer adoptar democraticamente pelo conjunto do partido um realismo de direc o em que o ideal do militante se sente tra do Este em definitivo o fundo pol tico que a explica o aceite do estalinismo organizacional esconde A fonte do centralismo autocr tico n o reside no apego ao leninismo mas bem pelo contr rio na flagrante ren ncia ao comunismo enquanto movimento j actual em que a pol tica deve come ar a desalienar se precisamente por isso que o modo de funcionamento do POSDR de Lenine que n o adiava sine die os seus objectivos revolucion rios n o era o centralismo autocr tico que se tornou o modo de funcionamento por excel ncia do PC b estalinista quando este renunciou simultaneamente s grandes desaliena es comunistas como o definhar do Estado e ainda por cima se integrou no sistema interestatal mundial adoptando sem reservas os seus costumes como o ilustra o pacto germano sovi tico de 1939 3 06 A chave das formas organizacionais o conte do pol tico A forma parti
121. de modo algum de um caso mais ou menos excepcional O caso Kautsky de 1909 repete tra o por tra o o caso da Cr tica do Programa de Gotha em 1891 cf ditions Sociales 1981 pp 76 e ss que Engels conduziu com um vigor bem diferente Tendo ficado in dito em 1875 este texto pol tico capital de Marx ainda deve em in cios de 1891 fazer frente censura da Neue Zeit censura que Engels v sarcasticamente como uma inesperada variante da lei anti socialista de Bismarck concebida e aplicada pelos pr prios funcion rios do Partido Social Democrata Denunciando com veem ncia a constante tend ncia dos pont fices socialistas para tudo quererem regular pela for a e nomeadamente a atitude de Liebknecht que tudo fez para impedir a impress o Engels exige que os chefes do partido sejam enfim devidamente chamados a prestar contas no interior do seu partido Escreve ele a Kautsky a 11 de Fevereiro de 1891 bem preciso que as pessoas deixem por fim de usar eternamente luvas com os funcion rios do partido os seus pr prios servidores e de continuar submetidas a eles como a burocratas infal veis em vez de adoptar uma atitude cr tica tradu o do autor Um conselho que Kautsky n o teve a coragem de seguir at ao fim em 1909 Isto obriga nos a procurar a origem desta vers o primitiva alem do centralismo autocr tico muito a montante do leninismo e numa direc o bem diferente na tradi o do autoritarismo buroc
122. de troca destruidor n o s em teoria mas tamb m na pr tica Porque este o facto capital esta redu o t o descaracterizante n o se operou apenas no registo das ideias onde ela n o pouco contribui para uma degeneresc ncia conceptual de efeitos j consider veis mas tamb m na pr pria edifica o concreta do socialismo na poca estalinista ao caucionar escolhas estrat gicas com as mais graves consequ ncias Falando rapidamente pode se dizer que a revolu o foi dada como acabada a partir do momento em que nos meados dos anos trinta est implementada tanto no campo como na cidade a pretensa propriedade social dos meios de produ o e de troca de modo que s o retiradas oficialmente ou sub repticiamente de perspectiva transforma es t o fundamentais como o definhamento do Estado j no XVIII Congresso do Partido em 1939 Estaline teoriza mesmo o seu adiamento sine die argumentando com o cerco capitalista ao pa s como o desenvolvimento integral de todos os indiv duos nem pensar por exemplo caminhar na pr tica para a supera o da divis o social entre fun es de direc o e de execu o ou ainda como a desaliena o das consci ncias nunca como at ali sem d vida alguma o Estado tinha posto como na Uni o Sovi tica a ideologia ao servi o da sua pesada domina o Vemos aqui claramente o sentido tragicamente concreto que h em reduzir a concep o do socialismo apenas propriedade social dos m
123. determinador de rumos Contudo como andava a pensar nisto h mais de uma d cada chegava a uma concep o de conjunto que me parecia valer a pena ser submetida cr tica p blica Ali s vendo acentuar se o decl nio do PCF em todos os dom nios era se mesmo tomado por um sentimento de urg ncia Quando nos in cios de 1990 levei enfim ao que restava das ditions Sociales o manuscrito de Communisme quel second souffle Comunismo que Segundo F lego pareceu me ter chegado n o ao fim de um processo de reflex o por ess ncia infind vel mas agora como uma hip tese global de real plausibilidade e fecundidade para dar corpo para al m do processo de desmoronamento do socialismo real a um comunismo potencial de nova gera o 1 03 O segredo do socialismo cient fico Para dar in cio ao exame da nova quest o comunista creio n o poder fazer melhor do que expor em resumo aquela hip tese global tal como me parece t la aprofundado e completado desde ent o Voltemos a partir das teses do socialismo cient fico na sua tradicional apresenta o sendo que nada mais contr rio inova o efectiva do que querer ignorar a sua rela o cr tica com o que ela pretende superar Chamava se a socialismo forma de sociedade fundada sobre a propriedade dita social dos grandes meios de produ o e de troca tendo o adjectivo grandes como fun o afastar a concep o colectivista de uma socializa o integral o que pre
124. dianos e revistas encontrei precisamente por todo o lado sob a poeira os an ncios necrol gicos debruados a negro do comunismo Agora a coisa est clara o comunismo morreu decretava Robert Maggiori no Lib ration 19 de Janeiro de 1990 o que abria a agrad vel possibilidade segundo ele de tratar Marx como um grande fil sofo qualquer N o que a esperan a comunista no sentido filos fico vivaz desde Plat o seja de natureza a esgotar se mas acrescentava St phane Courtois no Panorama Janeiro de 1993 j n o h qualquer hip tese de ela passar por estas organiza es comunistas que chegar o dentro em pouco ao t rmino da sua agonia Por seu lado Jacques Julliard j em Maio de 1988 anunciava no Le Nouvel Observateur este progn stico sem apelo o PCF entrou na sua fase terminab S o previdente Fran ois Furet no Le Figaro 8 de Setembro de 1990 matizava certos pontos deste an ncio jubilat rio nomeadamente porque a ideia comunista morre com efeito diante dos nossos olhos escrevia ele mas essencialmente sob a forma em que a Uni o Sovi tica a encamnou desde 1917 Prud ncia suscept vel de nos levar bem longe mas que no fim de contas n o impedia o pr prio Fran ois Furet de falar do comunismo no passado dando se mesmo o prazer de acrescentar que toda a gente sentiria um pouco a falta do comunismo Ser que passados dez anos vou procurar o efeito pol mico f cil exibindo algumas not rias mani
125. do de classe do todos unidos Voltaremos a estas quest es da mais alta import ncia Mas ao mesmo tempo n o ser de dialectizar um pouco mais a distin o marxiana entre fases inferior e superior da nova sociedade Claro que a perspectiva de uma supera o do capitalismo implica se ocupar toda uma fase hist rica a coexist ncia dur vel e conflitual de elementos capitalistas e p s capitalistas numa mesma forma o social os primeiros limitando mais ou menos o alcance dos segundos Pese embora isso trata se de visar logo partida de maneira expl cita e concreta avan os propriamente comunistas por exemplo em mat ria de apropria es sociais efectivas de supera o das l gicas de mercado de conquista de poderes directos de perseverante desmistifica o ideol gica etc De objectivo long nquo que ainda em grande parte at em Marx n o poder o comunismo come ar a declinar se em objectivos parcialmente situ veis em prazos pr ximos o que apelaria a ambiciosas inven es em mat ria de contesta o concreta de uma ordem capitalista que j est certamente mais fragilizada em profundidade do que aquilo que parece 2 08 O livre desenvolvimento de cada um a Por limitado que possa ser o invent rio cr tico que aqui empreendemos tr s outros aspectos fundamentais do conceito de comunismo exigem ser confrontados com as realidades de hoje o desenvolvimento integral de todos os indiv duos o definhamento do
126. do maior a simples soldados falta toda a preocupa o quer com a liberdade do debate quer com os direitos da minoria Pior ainda ao valorizar o princ pio da direc o do trabalho do Partido por um organismo central nem uma s vez Estaline menciona o papel fundamental do Congresso nem uma vez tamb m o perigo burocr tico que foi uma obsess o para Lenine at aos seus ltimos dias Resumo t o grosseiramente selectivo que se torna j n o leniniano E o discurso teorizante de 1924 fica muito aqu m da pr tica sem discurso da d cada seguinte Compare se entre outros o modo exemplar como Lenine conduz em 1920 1921 o vivo debate sobre o papel dos sindicatos e o modo revoltante como Estaline oito anos mais tarde procede execu o civil de Boukharine acusado de desvios de direita cf Communisme quel second souffle pp 228 41 assistimos aqui verdadeira invers o dum modo de fazer no seu contr rio Mas nada mais eloquente do que a atitude em rela o quilo que para Lenine a pedra angular de toda a democracia de partido os congressos que eram anuais at 1924 Uma vez morto Lenine Estaline n o vai parar de os espa ar cada vez mais dois anos e meio entre o XV e o XVI em 1930 cinco anos entre o XVII e o XVII em 1939 o XIX treze anos depois Cada vez menos congresso democr tico cada vez mais poder burocr tico muito mais do que uma caricatura do leninismo n o se tratar aqui da sua ant tese
127. do n o uma entidade organizacional isol vel antes do mais ditada pela fun o estrat gica que a si mesma se fixa no campo pol tico estruturado em que quer intervir Esta a nica ptica em que se pode quer pensar a crise hist rica do PCF quer imaginar um tipo de organiza o que permita levar muito mais longe o combate comunista dos nossos dias Que o modo de funcionamento do PCF formado outrora no molde da III Internacional ainda tenha a marca espec fica do estalinismo vulgar evidente Mas acredita se que por exemplo o Partido Socialista herdeiro de uma hist ria muito diferente n o saiba o que o poder absoluto da c pula sobre a base Aquilo que nele se chama cultura de governo o melhor dos exemplos da atitude pol tica que subtende o centralismo autocr tico capital v lo claramente o segredo da forma partido agora exangue n o pertence s ao passado se pertencesse o problema seria ali s f cil de resolver mas reside num modo actual de entender e praticar a pol tica coisa que a ritual incrimina o de Lenine e do t o long nquo leninismo esconde completamente Seja por exemplo a omnipot ncia do Primeiro Secret rio que um important ssimo tra o da forma em causa Vamos no caso do PCF entronc la em Lenine ao arrepio de qualquer verdade para declarar a sua obsolesc ncia e decretar o seu abandono Seria uma decis o totalmente inoperante se n o identific ssemos nem combat ssemos a
128. do se destinada ao mesmo repert rio de atribula es de conjunto pensemos por exemplo hoje no caso da Coreia do Sul o que n o impede o caso russo de ser muito diferente do alem o ou o franc s do dos Estados Unidos E mais a hist ria est saturada de acasos sem o que de resto escreveu Marx a Kugelman em 1871 ela seria de natureza bastante m stica e nesta medida imprevis vel o que tamb m n o impede de nela se reconhecer uma direc o global tal como os incessantes estados do tempo n o fazem abolir a sequ ncia regular das esta es ou a lenta evolu o do clima Depois a necessidade que reina na hist ria como na natureza nunca foi un voca mas dial ctica ela inclui contradi es e assim abre sem cessar leques de poss veis tal como o ou ou das crises agudas As leis de evolu o exprimem portanto essencialmente tend ncias que suscitam contratend ncias em din micas em que pode sempre surgir uma inesperada bifurca o Portanto nenhuma evolu o linear nenhum processo mec nico nenhum desenvolvimento igual a si pr prio e aos outros nenhuma hist ria est escrita partida Se poss vel entrever grosso modo a rota a longo prazo s o charlat o se pode vangloriar de predizer as for mas os epis dios e os prazos Ao que se acrescenta ainda e n o menos essencial que diferentemente do processo natural o acontecimento hist rico n o se produz sem n s Os homens fazem a sua hist
129. doria e do dinheiro da invers o generalizada das rela es entre a pessoa e a coisa a finalidade e o meio um muito eficaz regulador econ mico mas pelo pre o de uma dr stica redu o dos crit rios avaliativos de uma pilotagem cega para o custo quer dos seus efeitos sociais quer das finalidades humanas de longo prazo Nestas condi es n o nos orientaria o conceito de socialismo de mercado mesmo que fosse complexizado por associa o e plano numa direc o altamente preocupante Resta ent o claro um argumento a derrocada do socialismo sem mercado que foi a sociedade de tipo sovi tico Mas onde est a demonstra o de que este desmoronamento seria o fim l gico a que se chegaria com a oficial supress o do mercado Supress o que n o exclu a ali s uma prolifera o dos mercados negros Ser de afastar sem exame esta pista explicativa totalmente diferente segundo a qual a flagrante inefic cia de conjunto desse modelo teria muito mais a ver com o extremo primitivismo complementado com o pior burocratismo das regula es econ mico financeiras que brutalmente substitu ram os mecanismos de mercado E ainda por cima num contexto de fraca produtividade do trabalho e de aliena o generalizada das rela es sociais Que teria a ver por exemplo com a incapacidade de manter e tornar operativa uma contabilidade em tempo total de trabalho social de que j Marx real ava a import ncia para uma economia p s capitalista Ora n
130. e respons vel Por outras palavras sendo o contexto pol tico o que era na Alemanha de Guilherme II a escolha interna de uma estrat gia reformadora partida apoiada pela base acarretava press es externas para a ren ncia de si que a c pula devia gerir nem que fosse contra os pr prios militantes Neste conflito estrutural que surge entre motiva es fundamentais tal como s o vividas em baixo e o interesse superior do partido tal como concebido em cima Kautsky n o tem nenhum sentido destas quest es t cticas escreve Bebel a Adler no tom em que se fala de um irrespons vel a direc o tem realmente o papel de um poder sobre os aderentes que n o compreendem o que a alta pol tica recomenda que se fa a Da a prolifera o da linguagem d plice do segredo do arb trio da c pula em rela o a uma base que ela encara com desconfian a Est aqui em marcha uma l gica que sem preocupa es com a teoria se encaminha a direito para a autocracia A quest o que nos ocupa est toda nesta conex o interna entre formas organizacionais e conte dos pol ticos Um partido revolucion rio que concebe inteiramente no futuro a sua raz o de ser o socialismo j que a sua condi o t o problem tica como absoluta a conquista do poder n o tem outra op o que n o seja enquanto espera voltar se para as actividades potencialmente preparat rias dessa conquista no quadro do dispositivo pol tico estatal vigente
131. e aceitar a ideia mesmo que s parcialmente de um socialismo de mercado n o ser correr o risco de considerar por muito tempo como inultrapass veis v rios dos aspectos terr veis do estado de coisas actual N o ser fechar se numa vis o periodizada do futuro em que s estariam na ordem do dia limitadas tarefas do socialismo N o seria remeter para a margem um comunismo atento aos problemas da p s modernidade largamente desconectados daquilo que de crucial se joga no presente Rumo a um socialismo de mercado ou rumo a um comunismo p s mercantil Agud ssima quest o quando se toca no drama contempor neo e do poss vel futuro do trabalho social Estaremos n s a viver uma crise hist rica do trabalho como no lo repetem simultaneamente medir bem e analisar mal a amplitude das contradi es em ac o O trabalho como mostra Yves Schwartz tende a ser hoje simultaneamente menos o centro porque a vida pessoal faz dele uma parte de um todo que o ultrapassa em muito e mais no centro porque mais do que nunca aquilo que deve dar a cada um o poder fazer algo da sua vida de ser sujeito da sua hist ria Le Travail l preuve du salariat p 188 Marx via bem longe quando anunciava que com a objectiva o crescente da ci ncia no aparelho produtivo o tempo de trabalho imediato n o podia continuar na sua oposi o abstracta ao tempo livre Grundrisse tomo 2 pp 199 200 torna se vital a exig ncia de uma
132. e ao que parece se tinha j tornado a pr tica do Partido segundo a outra era esta pr pria pr tica que ainda n o correspondia s exig ncias do nosso tempo Os novos estatutos podiam portanto ser tomados e foram no consoante os casos e os lugares como simples actualiza o que confirmava algo j alcan ado ou coisa muito diferente como o p r na ordem do dia algo que havia ainda que alcan ar Uma tal falta de rigor para n o dizer mais ajuda a compreender por que que o XXVIII Congresso n o tinha nenhuma hip tese de fazer nascer um Partido Comunista de novo tipo e assim o trabalho fundador est ainda por fazer 3 01 O que era realmente o centralismo democr tico leniniano Mas para o encetar parece me metodologicamente essencial como se ver aclarar primeiro o que realmente foi a forma partido comunista no tempo de Lenine e depois aquilo em que se tomou na poca de Estaline e na nossa a fim de bem identificar as rudes realidades com que se trata de acabar de uma vez por todas Resumindo uma an lise desenvolvida em Communisme quel second souffle pp 190 98 digamos que o ponto de partida de Lenine logo no Que fazer 1902 era a seus olhos a radical incompatibilidade entre a revolu o prolet ria como meta estrat gica e o espontane smo como atitude organizativa Espontaneamente o proletariado n o pode elevar se nem consci ncia revolucion ria que sup e um estudo te rico de conjunto do movim
133. e abordar as implica es pr ticas deste retrabalhar conceptual Aquilo a que chamei nova janela hist rica s foi at aqui encarado nas suas dimens es estruturais explora o e aliena o rela es econ micas e pol ticas quest es de classe e p s classistas Ora esta janela igualmente uma realidade temporal muito mais vasta do que a conjuntura mas como esta definida por uma singularidade de circunst ncias E mesmo s indicando aqui os seus tra os mais destacados qual hoje esta singularidade N o risonha em primeiro lugar o vazio vertiginoso que deixou o desmoronamento do campo socialista e do movimento comunista vazio em que se engolfaram negociatas de malfeitores nacionalismos sanguin rios charlatanismos pol ticos de todo o jaez isto e a cada vez mais impudente propens o para uma hegemonia universal que anima a classe dirigente dos Estados Unidos Bruscamente desembara ado de contrapeso o capital desencadeou uma nunca vista orgia financeira devastando o planeta inteiro e pondo a saque um s culo de conquistas sociais a ponto de nos fazer recuar para extremos j esquecidos de priva o e escravid o mas isto atrav s dos meios sofisticados das domina es de hoje Mas contudo um doente em estado avan ado quem preside aos nossos destinos neur tico por causa das suas contradi es gangrenado por m fias minado pela aus ncia de um qualquer projecto humano A aliena o triunfa os poderosos dec
134. e com ela pretendo Propondo se esbo ar um debate Catherine Samary desenvolve no seu artigo Propriedade Estado Democracia e no sentido que o seu uma reflex o tamb m ela muito preocupada com a desestatiza o do Estado sem a qual como o mostrou a experi ncia jugoslava a pr pria autogest o n o permite gerir eficazmente a economia Considera que poss vel convergirmos em rela o a esta orienta o fundamental O meu texto de Regards parece lhe contudo frustrante porque ignora as an lises exteriores ao PCF e que desde h d cadas contestavam radicalmente a burocracia e a aus ncia de democracia na URSS isto d lhe o pretexto para exprimir de passagem o voto de que com outros eu contribua no PCF para uma reedi o de 4 Revolu o Tra da de Trotski cr tica justificada de uma longa cegueira volunt ria dos membros do PCF e a que eu n o fiquei imune mas na qual se revela contudo um pequeno desconhecimento seu j que em 1984 por minha iniciativa e depois pela de Claude Mazauric as ditions Sociales rompendo com um ostracismo de sempre publicaram um substancial volume antol gico de Trotski organizado pelo historiador Jean Paul Scot Ali s que esta intercompreens o sem a qual o debate n o pode ser produtivo ainda esteja longe de ser um dado adquirido algo de que v rios dos principais desacordos que ela apresenta me parecem ser exemplo Assim a l la eu seria de opini o que foi
135. e fa a uma imagem singularmente simplista de uma pol tica comunista O n vel de exig ncia que aqui estabele o n o o meu s pelo facto de ser fil sofo mas porque acontece que como muitos da minha gera o aprendi a pol tica primeiro com Lenine depois com Marx e que fiquei indelevelmente marcado por uma constante presen a do te rico nos seus mais fortes requisitos incluindo os filos ficos na sua maneira de pensar e de praticar a pol tica Poder se afirmar que este n vel de exig ncia o de Marx e de Lenine e ainda muito mais tarde o de um Luck cs ou de um Gramsci se ter mantido no fundamental sob formas mut veis claro desde o movimento comunista estalinizado do p s guerra e depois no seu per odo p s estalinista at aos nossos dias Eu penso exactamente o contr rio Uma regress o te rica cada vez mais espectacular acompanhou exprimiu e certamente contribuiu em boa parte para induzir uma decad ncia pol tica sobre a qual imposs vel n o nos perguntarmos se hoje ainda realmente revers vel O que entretanto nos d alguma esperan a o facto de no campo marxiano florescerem um pouco por todo o lado as mais variadas investiga es te ricas at as de maior novidade Investiga es que importa p r em confronto ao mais alto n vel e fazer cruzar em grande n mero de modo a com elas recompor pouco a pouco se poss vel for um tecido cultural de grande fecundidade pol tica E penso ser um facto q
136. e o contraste entre tantos problemas da mais alta import ncia e a ainda raridade das elabora es prospectivas de grande alcance nas quais se possa confiar para enfrentar esses problemas Porque h que ter consci ncia da tarefa que corresponde quilo a que chamo a nova quest o comunista quase tudo o que nasceu de 1917 desapareceu dissolveu se um grande n mero de for as comunistas a pr pria confian a dos comunistas no comunismo est corro da pelas d vidas O estalinismo ser para sempre um selo de inf mia o leni nismo est para julgamento o pr prio Marx foi em parte encerrado para invent rio ali s j nem estamos literalmente no mesmo mundo as classes j n o s o as mesmas os homens n o s o os mesmos os conceitos j nada t m a ver com os nossos conceitos Sendo assim v se l pensar com amplitude e firmeza de vistas o conte do global de um Manifesto Comunista para o pr ximo s culo Limitem a ambi o deixem de lado o pormenor Expliquem nos s em que p estamos com a hist ria em que que o comunismo um processo mais do que nunca na ordem do dia de que modo ele ser radicalmente diferente do que vimos no s culo XX de que maneira se pode avan ar desde j nesta direc o e o que preciso fazer urgentemente para arrancar em grande com a coisa Ser que estou mesmo metido na escrita de uma obra que se prop e um tal programa Custa me a acreditar Para ser franco mais do que me p r a escr
137. e passou e o que n o aconteceu Parecendo lhe sup rfluo provar o que diz Michel Serres estatui que isto tira raz o a Marx a dial ctica recita uma l gica t o pobre que dela se pode extrair tudo n o tem qualquer interesse p 225 E necess rio superar enfim as convencionadas representa es do fluxo temporal todas as nossas dificuldades sobre a teoria da hist ria adv m de pensarmos o tempo deste modo insuficiente e ing nuo p 91 Depois disto que ningu m ouse tratar a hist ria num modo marxiano 1 09 O que permite ver os actos at ao seu fim H neste vasto conjunto de intimida es digamo lo francamente tanto p de perlimpimpim hist rico lan ado aos olhos e em v rios casos tanta inconsci ncia filos fica que o dif cil n o reagir de modo puramente pol mico O que seria um grave erro j que por muito arrogante que seja muitas vezes o tom h aqui alguns problemas muito reais a montante de conclus es muito discut veis Por exemplo desde logo a prop sito da ilus o hist rica Sim o curso da hist ria tal como o representamos uma constru o e seria uma grande ingenuidade e alto risco tom lo como um dado por pouco que fosse Sim a gloriosa gesta do movimento prolet rio que vai das primeiras greves do Antigo Regime a 1848 1871 1917 1936 1945 e mais longe em direc o aos amanh s que cantam teve algo a ver com uma narrativa de autolegitima o ao servi o de partidos e de Est
138. e poss vel seja ele o mais ambicioso e at precisamente porque o mais ambicioso A grandeza da esperan a altamente mobilizadora A humanidade n o ir longe sem a formid vel aud cia de se levantar contra o que ainda a condena pr hist ria O sucesso de um movimento como a ATTAC n o derivar do facto de tornar plaus veis objectivos anticapitalistas bastante ousados como o de criar uma taxa sobre os movimentos especulativos de capitais como o de contestar a exist ncia de para sos fiscais ou como a anula o da d vida do Sul e do Leste Por maioria de raz o o des gnio comunista reclama uma ousadia ainda superior Porque o comunismo n o um futuro adiado ele ainda mais hoje do que no tempo de Marx esse movimento real que supera o actual estado de coisas quer em negativo quer em positivo na crise do trabalho assalariado ou na afirma o da individualidade nos dramas da mundializa o ou no ascenso do tico Ligar em cada quest o uma perspectiva ampla e iniciativa concreta a segunda garantindo a efic cia cred vel da primeira que lhe confere em compensa o a amplitude da motiva o aqui est sem d vida definido no seu fundamento o estilo geral de uma nova pr tica pol tica Trabalhar neste sentido por exemplo tornar claro que na actual batalha pelo emprego come a realmente a estar a dever estar em jogo a supera o do mercado do trabalho na reforma da escola o desenvolvimento integral dos i
139. e preserva o futuro do comunismo quando por um erro de fidelidade se defende contra tudo e contra todos a sua falsifica o passada que precisamente o levou ao desastre Por pat tico que seja um certo conservadorismo comunista pode tomar se no pior inimigo daquilo que apaixonadamente quer salvaguardar A outra maneira declarar nulo este antigo comunismo reclamando vigorosamente um novo mas sem lhe dar com a rapidez e a for a necess rias consist ncia te rica e operatividade pr tica Neste sentido pode tamb m haver uma ret rica da muta o um eclectismo da abertura que sirvam mal a causa que muito sinceramente se quer fazer avan ar esta toda a quest o do XXX Congresso do PCF ainda promessa de mudan a em vez de mudan a prometedora como no XXIX Congresso ou in cio desta vez decisivo das transforma es necess rias N o se pode imaginar nada pior do que a entrada em resson ncia destas duas atitudes cada uma acusando a outra Mas pode se trabalhar para algo muito melhor superando o que cont m uma de est ril crispa o e a outra de busca hesitante pouco produtiva E pode se faz lo com avan os agora decisivos debatidos contraditoriamente e realizados colectivamente quer na elabora o imaginativa de uma pol tica comunista quer na reconstru o de raiz de uma organiza o que lhe corresponda Muito mais do que esse morto que nunca mais acaba de desaparecer o que a todos deve obcecar n o no sentido de uma
140. econ mica nomeadamente nos servi os em que est o em jogo as mais vitais e altas capacidades humanas sa de forma o investiga o informa o actividades f sicas e desportivas lazeres e f rias sem esquecer sectores dos quais a pr pria denomina o a mais de um t tulo perversa sob o seu aspecto an dino n o estranha a essa tomada de controlo a cultura a comunica o Estes servi os podem em v rios sentidos ser diferenciados das actividades t o ambiguamente ditas produtivas ou ainda materiais como se os primeiros n o produzissem nenhum efeito de ordem material o que j uma vis o muito ideol gica da quest o vis o em que a materialidade se reduz sorrateiramente coisalidade A distin o que aqui nos importa a seguinte as actividades de servi os de que se tratar aqui s o aquelas cujo efeito til se n o concretiza pelo menos no essencial em coisas mas que afectam directamente o ser humano S o pois e por excel ncia actividades com um alcance antropol gico E a sua passagem mais ou menos avan ada para o dom nio do capital produz mudan as de primeira grandeza que exigem uma primeira remodela o da maior import ncia do conceito de comunismo O mais imediato destes efeitos consiste muito simplesmente sem d vida em criar novas categorias de assalariados explorados do t cnico de laborat rio de an lises ao trabalhador eventual da Comunica o Nisto o processo n o traz em suma qualque
141. ectuais enquanto tais sob o signo de uma plena democracia Assim durante mais de um quarto de s culo de vida militante representei a figura comp sita de um seguidista activo quanto ao essencial contudo em constantes lutas discordantes em terrenos circunscritos mas n o subalternos um misto de fidelidade sem falhas e de exig ncia recalcitrante raramente compreendida de fora e sem d vida mesmo de dentro Mas a este respeito tudo come ou a mudar para mim em 1976 e a um ponto que eu estava ent o longe de suspeitar 1976 foi o ano do XXII Congresso o do abandono da ditadura do proletariado Do discurso dentro das regras e cada vez mais fict cio na Fran a contempor nea sobre a conquista insurreccional do poder pol tico e a instaura o violenta do socialismo que a no o de ditadura do proletariado comportava passava se por fim procura inovadora e muito mais pertinente de uma estrat gia de transforma o democr tica progressiva que acabasse por subverter pacificamente n o se entenda sem lutas os pr prios fundamentos do modo de produ o capitalista dizer que estava de acordo pouco como tantos outros eu estava mesmo espera daquilo e neste verbo esperar insere se o drama de uma cultura de partido qual os comunistas ainda n o se conseguiram arrancar completamente Mas e sem esperar estava tamb m insatisfeito com os considerandos pouco avan ados para meu gosto do Relat rio de Georges Marchais
142. ega o com a inelutabilidade de um processo natural frase que se ouve como eco da f rmula do Manifesto a queda da burguesia e a vit ria do proletariado s o igualmente inevit veis N o fujamos quest o n o haver aqui na euforia da descoberta relativa a l gicas essenciais da hist ria pelo menos bastante infelizes cartas de cr dito poss veis para a leitura determinista das f rmulas de Marx E n o ser esta esp cie de fatalismo em que muitos rapidamente denunciaram um fanatismo que difundiram palavras gratificantes como as que Engels escrevia de passagem numa carta de 1871 a Bebel um partido como o nosso cujo sucesso final absolutamente garantido ou as de Lenine no fim de 4 Doen a Infantil Os comunistas devem saber que seja como for o futuro lhes pertence ler isto hoje provoca um choque Como se pode ent o afastar a t o profunda quest o em cujo exame n o posso aqui entrar de se saber se em Marx e seus continuadores n o ter persistido qualquer hesita o mal dominada entre uma ruptura radical com toda a vis o especulativamente hiper racionalizante da hist ria e no oposto uma esquematiza o sobrevalorativa das fortes necessidades reveladas pelo materialismo hist rico Por aqui se mede o quanto pode ser enorme o valor pr tico do que est em jogo em diferen as te ricas aparentemente m nimas e o quanto pode ser mort fera a indiferen a pol tica perante essas diferen as E est
143. eios de produ o tendo se lhe retirado todos os outros conte dos da ideia comunista Pior ainda chegando a este ponto de empobrecimento as coisas convertem se no seu contr rio J que esta propriedade dita social nunca mais poder ser evidentemente em tais condi es persist ncia de um Estado omnipotente de uma individualidade repartida de uma consci ncia p blica mistificada o que Marx tinha em vista quando falava de apropria o pelos produtores associados dos seus meios de produ o e muito mais abrangentemente dos seus poderes sociais por outras palavras quando falava da tomada em m os e dom nio efectivo da sociedade trabalhadora por si mesma de todas as condi es objectivas da sua actividade No socialismo pretensamente real aquele tipo de propriedade chegou pelo contr rio de forma in dita a abranger um desapossamento dos produtores por um Estado partido pela sua burocracia pelas suas camadas privilegiadas Amputado do comunismo aquele socialismo estava destinado a derivar para uma modalidade refor ada de aliena o social como viram e disseram cedo ou tarde tantos militantes anti estalinistas ou mesmo simples cr ticos l cidos Claro que na cultura tradicional de um partido como o PCF o socialismo n o se limitava a esta famosa apropria o social dos meios de produ o e de troca considerada contudo essencial entre tudo o resto para o definir Pelo contr rio o discurso dentro das regras
144. el de uma humanidade melhor humanizada Nem sequer vejo outro a que se possa atribuir uma pertin ncia Mas por um movimento rec proco o seu confronto com as realidades cada vez mais ins litas de hoje produz muitos motivos de o transformar no seu pr prio sentido para o p r mais em fase com a janela hist rica de que fal vamos atr s Come aremos por analisar as modifica es menos alterantes para irmos depois s mais radicais E para o fazer deveremos evidentemente apoiar nos nas mais impressivas muta es da sociedade e do mundo contempor neos o que p e um problema de princ pio Como vimos este livro s visa expor de maneira hipot tica mas tanto quanto poss vel rigorosa a teoria de uma pol tica coisa pouco vulgar nos tempos que correm Numa abordagem cuja dimens o filos fica foi assumida desde o come o tomei como fio condutor a ideia comunista e pretendo segui lo at ao fim Assim n o poderia de modo algum sem compet ncia nem verosimilhan a querer meter a minha colherada em quest es concretas sobre as quais os especialistas de ci ncias econ mica social pol tica jur dica e outras tal como os que t m conhecimento pr tico das realidades correspondentes se encontram notoriamente divididos por isso que no confronto cr tico do conceito de comunismo com os factos actuais me limitarei a reter desse real as novidades mais manifestas fontes de necess rias remodela es do conceito E mesmo assim n o o farei
145. em em que tinha sido publicado o artigo de Rosa Luxemburgo recusou publicar Ali s ser que se sabe que pouco depois Rosa Luxemburgo cuja resenha na realidade retomava as acusa es dos Mencheviques contra Lenine descobriu por ocasi o da Revolu o Russa de 1905 aquilo que acabou por chamar a pesporr ncia desses cretinos ao mesmo tempo que a sua ren ncia ao combate revolucion rio Ap s o que ela deixa de lhe fazer as cr ticas de 1904 que bem pelo contr rio vira contra o burocratismo caracterizado da social democracia alem N o no entanto menos verdade que ela n o deixa de p r em relevo nomeadamente nas suas notas de pris o sobre a Revolu o Russa a cardeal import ncia da democracia na rela o do partido com as massas de um modo que se pretende uma advert ncia dirigida aos bolcheviques Mas como o mostrou Gilbert Badia tendo se ela depois de sair da pris o informado melhor sobre a situa o real na R ssia fica quase totalmente de acordo com a atitude concreta de Lenine Que sobeja finalmente de todo este processo de acusa o Para um julgamento v lido exige se que pelo menos nos abstenhamos previamente do antileninismo militante quando n o atrevido que hoje t o frequentemente se imp e Neste esp rito sem preconceitos coloquemos de novo a quest o no duplo terreno dos princ pios e dos factos n o sofreria o centralismo leniniano de um d fice constitutivo de democracia N o seria este o inev
146. em outra Ainda em 1981 defendia publicamente Georges Marchais al m do que seria razo vel contra as cr ticas em que o via submerso cf Anexo Il Quanto pista de reflex o que comecei a expor perante o Comit Central em 1984 prezava a demais para n o estar plenamente receptivo a qualquer cr tica que fosse capaz de me obrigar a tra la melhor Em vez disso tive direito s mais infamantes interpreta es da minha postura a que se sucedeu a fuga a qualquer verdadeiro debate a lengalenga de objec es desarmantes acompanhadas do recurso a pr ticas de direc o sobre as quais considero que fui bastante discreto Por ter levantado grandes quest es incomodativas fui tratado sem escr pulos como advers rio e por mais de uma vez e contra toda a evid ncia como inimigo coisa pela qual nenhum dos dirigentes de ent o me dirigiu uma nica palavra de arrependimento Seguro de mim Como n o s lo vendo o que me opunham embora tentasse manter me atento eventualidade de cr ticas pertinentes Severo Levei tempo demais a compreender que era absolutamente necess rio s lo muito menos com os indiv duos desejaria faz lo sentir mesmo nas passagens mais asperamente cr ticas deste livro qualquer comunista para mim antes de mais um camarada do que para com um sistema que privava o militante de qualquer possibilidade efectiva de intervir nos assuntos que lhe dizem mais directamente respeito Esta uma inveros mil contraprodu
147. em por isso dispensar se de conquistar antes aquilo a que Gramsci chamava a hegemonia atrav s de uma guerra de posi es t m de ganhar democraticamente pela pertin ncia das suas ideias pela efic cia das suas iniciativas e pelo sucesso das lutas assim desenvolvidas uma influ ncia dirigente na medida do poss vel tanto em todos os campos da sociedade civil como no interior do pr prio dispositivo estatal criando de facto com isso uma dualidade de poderes Nunca a tomada insurreccional do poder de Estado confere por si mesma a hegemonia E precisamente por isso que n o p e fim ao recurso viol ncia que ela pressup e Pelo contr rio a forma o progressiva de uma hegemonia leva mais cedo ou mais tarde ao poder nas condi es de uma anu ncia maiorit ria Esta a nica alternativa plaus vel ditadura do proletariado Repousa numa decisiva renova o da pol tica n o mais concorr ncia tacanha entre aparelhos partid rios pelo controlo do Estado transformada num fim em si numa aliena o em que acaba por n o suscitar sen o desprezo e desinteresse mas a mais ampla participa o dos cidad os em tudo o que decide da sua exist ncia social seja em que dom nio for Por este meio ao reganhar sentido ela pode voltar a ser o centro de toda a vida p blica cf Alain Bertho Contre l tat la politique La Dispute 1999 Contra o Estado a Pol tica Da conquista do poder de Estado constru o de uma hegemonia pol
148. ente no processo do come o de afundamento hist rico do comunismo franc s Foi este abrir de olhos que com alguma pugnacidade a minha interven o mostrou no Comit Central em Junho de 1984 cf Anexo III e foi a vez da direc o ficar siderada A minha passagem a uma atitude contestat ria de um tipo in dito em que a dissid ncia de pensamento de modo algum caminhava para uma conspira o oportunista a nica l gica em que a direc o entretanto quis acreditar para a diabolizar mas bem pelo contr rio dirigindo se para a ambi o afirmada de tornar inevit vel a prazo uma grande mudan a do partido para melhor libertava de uma s vez todo o espa o necess rio para as necess rias reconsidera es Era toda a perspectiva do combate comunista que se tornava necess rio repensar ousadamente Neste sentido dei in cio prepara o e depois redac o de um livro que tive de abandonar em 1986 n o s por falta de tempo mas tamb m por excesso de dificuldades A abund ncia de temas n o perdoa e a incompet ncia era de molde a desmoralizar o mais resoluto O crescimento da contesta o comunista em sentidos partida diferentes multiplicava as op es decisivas de orienta o O desenvolvimento espectacular do gorbatchevismo avivava a vontade refundadora mas agudizava todos os problemas ao mais alto n vel N o seria necess ria uma completa inconsci ncia para se auto instituir mesmo que a t tulo explorat rio como
149. ento da sociedade que exige um contributo intelectual exterior nem organiza o revolucion ria da qual o combate de tipo sindical s ainda a escola prim ria O que de modo espont neo domina a classe oper ria e por maioria de raz o as massas camponesas a ilus o ideol gica e a inorganiza o pr tica O proletariado s pode portanto conquistar o poder e constituir se em classe dominante arrastando a totalidade das for as populares se uma parte dos trabalhadores mais l cidos e combativos assumir com intelectuais inteiramente ganhos para a causa a tarefa de edificar um partido revolucion rio apto a desempenhar um papel de vanguarda introduzindo no movimento as necess rias clareza de vistas e firmeza de organiza o Um tal partido n o pode construir se de baixo para cima por uma simples federa o de c rculos preexistentes com as suas ilus es burguesas e o seu anarquismo de seita s o pode ser de cima para baixo a partir de um s lido n cleo organizador Da a batalha de Lenine sobre o artigo um dos estatutos para fazer aceitar que ningu m se torna membro do partido por o dizer mas s aderindo a uma das suas organiza es de base e ao mesmo tempo por se comprometer a respeitar os seus princ pios e a sua disciplina como as suas decis es adoptadas por maioria depois de livre discuss o H assim estrita subordina o da base c pula mas subordina o pr tica j que para Lenine o topo mais n o do q
150. entralismo autocr tico Um outro ponto capital os refundadores comunistas puseram em causa desde o XXVI Congresso em 1988 o dogma estalinista segundo o qual em quaisquer circunst ncias e seja qual for a sua gravidade s a maioria do Comit Central tem o direito de submeter discuss o do Congresso um texto de orienta o pol tica disposi o altamente reveladora do facto de o centralismo autocr tico n o ser de modo algum um sistema sem tend ncias mas sim um sistema monotendencial sendo nele proscrita qualquer outra tend ncia que n o seja a da direc o Sobre esta quest o t o emblem tica como nevr lgica a Direc o do Partido ao fazer adoptar pelo XXVII Congresso a no o de base comum de discuss o artigo 17 0 b escolheu sem equ voco embora numa formula o h bil prorrogar a obrigatoriedade do texto nico era manter tamb m aqui a tradi o autocr tica contra a de Lenine que no mesmo momento em que o X Congresso do PC b proibia a organiza o em tend ncias defendeu com xito o direito de submeter ao Congresso v rias plataformas em caso de diverg ncias profundas A uma an lise n o convencionada os estatutos que regem o PCF em v speras do ano 2000 revelam sob uma infla o formal de democraticismo p s centralista um recurso a abordagens leninianas tradicionais e por debaixo desse pr prio recurso a manuten o negada mas flagrante das mais decisivas disposi es da tradi o estalinista
151. entre todas as mercadorias produz mais valor do que aquele que o seu custo representa Esta explora o por sua vez fonte de m ltiplas outras contradi es que periodicamente explodem em crises nomeadamente entre o incessante crescimento da produ o dos bens e a cr nica insufici ncia do poder de compra da classe trabalhadora Mas a mais fundamental das contradi es que o capitalismo que conserva teimosamente propriedade dos meios de produ o a sua forma privada sobre a qual assenta toda a extors o da mais valia imprime ele pr prio produ o um car cter cada vez mais social condi o de qualquer desenvolvimento da produtividade mas que toma obsoleta essa mesma forma privada Assim o pr prio movimento do capital que prepara involuntariamente a socializa o desses meios socializa o pela qual se poder p r um fim quer insuport vel explora o de classe quer incoerc vel anarquia do mercado dando lugar racionalidade control vel de um plano Aqui se enra za a cultura revolucion ria orientada para o socialismo no sentido cl ssico do termo E numerosos s o ainda os que v em nisto a quinta ess ncia do marxismo a que nada de essencial haveria a acrescentar nem a retirar Mas se prosseguirmos agora o estudo de O Capital at ao Livro III vamos descobrir a um panorama bem mais amplo em que se abrem horizontes revolucion rios ainda bem pouco explorados A contradi o fundamental para que aqui
152. eocupa o de eliminar a desvantagem de imagem do PCF na sua spera competi o pol tico eleitoral com o Partido Socialista do que produzir as laboriosas justifica es conceptuais de uma decis o que tinha mais que fazer do que contentar puristas do marxismo Em suma o que esta palavra abandono me sussurrava era que ao tempo de Maurice Thorez e de Waldeck Rochet com a sua maneira antiquada de citar no momento preciso um texto de Marx ou Lenine sucedia o tempo de um realismo pol tico resolutamente moderno de mais para ainda acreditar na teoria no sentido forte da palavra por isso que quando Louis Althusser encetando publicamente a acusa o ao XXI Congresso tomou a defesa da ditadura do proletariado proclamando que um conceito n o se abandona como um c o eu tanto estava em completo desacordo de fundo com ele sobre muitos aspectos como partilhava a sua cr tica metodol gica assim como a sua reivindica o de um debate fundamental pelo que decidi tomar por mim mesmo nesse sentido as iniciativas que estivessem ao meu alcance Em fins de Abril de 1976 aquando da Venda do livro marxista programei um debate p blico com ele por ocasi o da sa da do seu livro Positions nas ditions Sociales debate posto em causa no ltimo instante por membros da Direc o do Partido presentes na venda e salvo in extremis pela luz verde que obtive de Georges Marchais quando este chegou Pouco depois numa confer ncia feita
153. er J que seria inconceb vel travar o combate de um novo s culo deixando entorpecer a consci ncia dos erros e dos crimes que esta imensa causa de clarivid ncia e de humanidade carreou no decurso do anterior e quando a conserva o questionante desta mem ria a primeira das sentinelas contra qualquer reca da em erros da mesma ordem Desembara ar se da palavra comunismo que belo libi se estaria a dar amn sia Desde sempre militante em todas as batalhas unit rias da esquerda n o quereria entretanto pela minha parte por nada deste mundo pertencer a uma forma o pol tica como o Partido Socialista que ap s a sua transforma o de pinay em 1971 imaginou porque tinha mudado de nome poder n o ter contas a prestar em rela o anterior SFIO nem em rela o sua alian a com a pior direita em rela o repress o antioper ria e aos crimes das guerras coloniais alegre branqueamento que nos valeu depois a gest o neo liberal o rigor anti social a pol tica africana de Miterrand uma vez mais e sem mais uma vez um balan o suficientemente cr tico deste per odo poderemos consider lo fundamentalmente acabado Deixemos a pedra do passado no sapato se n o quisermos ser no pr prio sentido da express o sem escr pulos O grande refundador da psicologia Lev Vygotski foi confrontado nos anos vinte com um problema an logo de vocabul rio podia se conservar a velha palavra psicologia por outras palavras ci ncia da
154. erne da forma partido imp e com tanta for a a exist ncia das Comiss es e dos Secretariados do mesmo modo que a dos Dirigentes a come ar pelo primeiro dentre eles Tomar rapidamente posi o sobre uma grande quest o de actualidade decidir a estrat gia de uma grande batalha eleitoral realizar uma negocia o cimeira a n vel nacional ou internacional Sendo as coisas o que s o assumir tarefas deste tipo n o nos confronta com categ ricos imperativos organizacionais em que se exprime a pr pria ess ncia da pol tica profissionalizada que h necessidade de poder decidir s ou com um pequeno colectivo de ter os meios de comprometer o partido de estar seguro de uma certa perman ncia no cargo e assim sucessivamente em resumo ser dos que det m o poder Aqui est o fundo da quest o as direc es n o s o de modo algum necess rias na actividade que tem como finalidade directa a supera o de uma qualquer aliena o incluindo a aliena o pol tica mas sim naquela que visa conquistar poder e mesmo o poder onde t m precisamente a sua fonte esta aliena o pol tica e a forma partido que lhe corresponde Salta vista a liga o fundamental entre formas da organiza o e conte do da pol tica Assim quando um partido comunista limita de facto o essencial da sua actividade a intervir no campo pol tico institucional porque cr dever fazer depender qualquer transforma o social realmente s ria de uma pr via conquista d
155. errantes orienta es da Internacional Quem se ergueu no momento certo contra o desastroso balan o globalmente positivo do socialismo real ou os elogios hiperb licos feitos ao Governo Mauroy Quando a Direc o teria feito muito bem em ouvir um pouco melhor a base e em 1984 precisamente mais ainda do que nunca Por n o o fazer acontece esta coisa incr vel a vanguarda acaba por se atrasar em rela o ao movimento da sociedade e a c pula em rela o sua pr pria base Ao mesmo tempo impressionava me o tom de total convic o com que Georges Marchais me tinha falado Era evidente que aquilo que abruptamente ele me tinha dito decorria de uma cultura de direc o t o segura de si mesma que a acusa o de linguagem d plice nem sequer podia incomodar Esta cultura dizia boca pequena a responsabilidade de dirigir o combate de classe coisa demasiado s ria para ser posta em quaisquer m os Deixe se que a assumam o pequen ssimo n mero dos que o podem fazer Esta a nica democracia que valha a pena o resto s o palermices Esta indefect vel convic o do alto dirigente de ver claro e de tomar conta das coisas pelos outros um tra o fulcral do centralismo autocr tico levado ao extremo patol gico em Estaline como bem o notava o Relat rio Khruchtchev em 1956 Da decorrem ali s muitas das suas formas a come ar pela t o frequente inamovibilidade do Secret rio Geral Atribuir lhe baixos motivos seria nad
156. es quando esta palavra de ordem de pura democracia burguesa o mesmo que contentar se com um sistema educativo que regista como dado natural a desigualdade intrinsecamente sociocultural do desenvolvimento precoce dos indiv duos Ali s o sil ncio crucial sobre o definhamento do Estado confirmava bem que se estava a fechar se numa concep o implicitamente burguesa da democracia em que o cidad o devia acomodar se sine die com a delega o de poderes com a autoridade dos dirigentes com as prerrogativas do partido em resumo com tudo o que lhe atribui o estatuto de menoridade pol tica Assim a ideologia na qual o socialismo se apresentava de alguma maneira como um equivalente mais plaus vel do comunismo dissimulava uma discord ncia t o fundamental dos seus conte dos respectivos que o seu pr prio parentesco se tomava altamente problem tico 1 04 Uma manipula o crucial do pensamento de Marx Eis o que j esclarece bastante a quest o atr s mencionada como compreender o facto inconceb vel de o socialismo transitivo na sua ess ncia se recusar obstinadamente a transitar para o comunismo A resposta que aflora que precisamente o socialismo na sua teoria e pr tica estalinizadas deixou de se reconhecer em profundidade como per odo de transi o e fase inferior A partir do momento em que foi abolida num sentido estatizante a propriedade privada dos meios de produ o e de troca ele assume se como uma forma social
157. esmesurados quanto o mercado e a propriedade o trabalho e o indiv duo o Estado e a pol tica Mas previno o leitor estas realidades n o ficar o com contornos muito mais precisos ser o at talvez mais discutivelmente tratadas do que as pessoas e as rvores dos desenhos de arquitecto que n o esse o objecto do livro sem o que nem sequer teria certamente come ado a redigi lo O seu nico prop sito insistamos a hipot tica consist ncia geral de um projecto comunista renovado tal como a ele nos conduzem ao mesmo tempo as experi ncias terr veis do s culo XX e as exig ncias fabulosas do s culo XXI vistas na ptica revolucion ria de Marx em todo o seu vigor e o seu rigor Por isso n o se trata de fazer avan ar dossiers mas de fazer com que os que n o desistem da transforma o social profunda reencontrem pontos de refer ncia esta a sua finalidade E como a essencial liberdade cr tica que se oferece ao leitor face aos pontos de refer ncia que se lhe prop em depende tamb m dos pontos de que disp e para situar a demarche pr pria do autor n o receio aqui e ali referir algumas experi ncias pol ticas pessoais por vezes speras mas que pouco contam na concep o renovada de comunismo para a qual me orientei por isso que ao ler este livro se sentir certamente n o o nego mais o calor de uma exorta o do que a frieza de uma tese Abril Setembro de 1999 1 O futuro tem um nome Na reuni
158. estruturas e superstruturas Cada forma o social assim uma totalidade org nica n o evoluindo mais ao acaso do que um ser biol gico Estudando bem as suas l gicas de funcionamento pode se mesmo prever com seguran a o aparecimento de uma muta o no seu desenvolvimento e nos grandes tra os do seu conte do Assim o pr prio modo de produ o capitalista onde se acham levadas ao extremo as contradi es caracter sticas das anteriores sociedades de classes produz de modo n o fortuito muitas das condi es da passagem a uma forma o sem classes onde se apagar o os antagonismos milenares do que se pode considerar como sendo a pr hist ria da humanidade social A hist ria para Marx n o aquela noite negra em que os humanos n o poderiam saber o que quer que seja sobre o que fazem nem por conseguinte empreender o que quer que seja do que pretendem Por isso entre esta vis o das coisas e do que se chama determinismo propriamente falando existem diferen as t o fundamentais que se desacredita quem as confundir Antes do mais esta teoriza o materialista inclui a viva consci ncia de que em rela o ao modelo gen rico que ela nos prop e as forma es sociais concretas apresentam inesgot veis singularidades acentuadas pela infinita variedade das suas traject rias hist ricas sobre um fundo de l gicas gerais de desenvolvimento Cada forma o capitalista apresenta um certo ar familiar com todas as outras encontran
159. eus congressos perigosa para a democracia Pelo contr rio n o seria a viola o dos compromissos solenes de lutar contra qualquer guerra imperialista abandonados em favor da participa o nos dois campos na Uni o Sagrada que constitu a a mais monstruosa infrac o democracia democracia que precisamente naquelas circunst ncias s o partido de Lenine tinha respeitado Nem uma palavra na interven o de Blum sobre aquela que era ent o a quest o nevr lgica em mat ria de organiza o dos partidos oper rios A hist ria que se seguiu nem que seja s a da SFIO e das suas atitudes t o antidemocraticamente adoptadas da n o interven o em Espanha ao envolvimento nas guerras coloniais e depois capitula o perante o golpe de for a gaullista de 1958 n o nos autorizar hoje a reler as palavras de L on Blum em 1920 com uma enorme reserva cr tica E esta mesma hist ria n o nos ensinou o que realmente vale a especiosa ret rica que op e a democracia ao centralismo sem nada compreender pergunta simples de Lenine h algu m que ache mais democr tico que prevale am nos actos e nas direc es do Partido posi es minorit rias no Congresso Vamos considerar a cr tica de Rosa Luxemburgo mais bem fundada De qualquer modo n o poder amos faz lo sem conhecer primeiro a resposta de Lenine muito pol mica mas com argumentos bem concretos Oeuvres tomo 7 pp 494 506 que a Neue Zeit rg o da social democracia al
160. ever leria com enorme interesse um livro que fosse escrito por algu m muito mais versado do que eu em hist ria sociologia economia ci ncia pol tica e ainda v rios outros dom nios Mas estando todos aparentemente neste tipo de atitude que possibilidades haveria de serem escritos os esbo os do livro com que sonho e de que estou seguro que temos uma gritante necessidade at mais do que aquela que sentimos Ao dizer isto n o perco de vista o contributo para quem quer reflectir sobre a nova quest o comunista de livros t o diversos como Une certaine id e du communisme de Denis Berger e Henri Maler ditions du F lin 1999 Uma Certa ideia do Comunismo cujo primeiro objecto consistia em dar uma r plica de fundo e de maneira aperitiva a Fran ois Furet ou ainda Communisme un nouveau project de Robert Hue Stock 1999 Comunismo um Novo Projecto que diz com calor o que s o a seu ver as reas de trabalho essenciais para uma supera o do capitalismo ou ainda Le Communisme autrement de Roger Martelli Syllepse 1998 Comu nismo de Outro Modo cujo conte do cr tico e prospectivo est t o pr ximo do que eu pr prio penso sobre o tema anunciado pelo t tulo A que acrescento tudo o que as nossas reflex es devem s elabora es colectivas que come am a multiplicar se em diversos locais dos congressos e semin rios da Actuel Marx at aos dossiers da Fondation Copernic passando pelas an lises plurais de Fut
161. evou durante demasiado tempo e pagando um enorme pre o o PCF a ignorar tantas grandes causas emergentes do feminismo ecologia tantas novas aspira es da autogest o liberta o sexual tantas refrescantes formas de ac o do sit in contraperitagem N o pois de espantar a inexor vel desafei o militante pela qual se exprime a senesc ncia do partido tradicional desafei o que claro n o deixa de ter uma rela o com evolu es socioculturais externas mas ruja raz o determinante deve contudo ser procurada nesta l gica interna de que j Rosa Luxemburgo t o bem se apercebeu em 1913 em Problemas de T ctica cf Rosa Luxemburg Textes ditions Sociales 1982 Seria um erro fatal explicava ela imaginar que doravante a organiza o social democrata se tornou a nica deposit ria da capacidade de ac o hist rica do povo como se este n o passasse de um lastro inerte A pensar se assim a iniciativa intelectual e pol tica que incumbia s organiza es de base totalmente transferida para o pequeno cen culo que dirige o partido e a massa dos aderentes fica reduzida ao pagamento das cotas distribui o de panfletos s elei es e organiza o da campanha eleitoral ao porta a porta para obter assinaturas para a imprensa do partido p 151 Ser que n o temos a impress o de ler neste texto escrito h cerca de um s culo a descri o actual de muitas c lulas do PCF em v sper
162. executivos eficazes inteiramente compreens vel mas isto o exacto contr rio do seu desapossamento por uma direc o omnipotente e incontrol vel Da ren ncia ou n o a esses instrumentos de poder que s o por ess ncia no seu sentido forte as Comiss es e Secretariados depende de modo directo a meu ver a supera o ou n o da forma partido cuja crise actual amea a a pr pria sobreviv ncia do comunismo enquanto corrente pol tica de futuro em Fran a Reconhe amo lo contudo basta encarar um s instante a ideia de um partido sem Comiss o nem Secretariado Nacional ou mesmo Federal para que se sinta uma vertigem principalmente tendo se alguma experi ncia daquilo a que se chama os problemas de Direc o Reac o cuja an lise das mais instrutivas de onde vem esta ang stia que suscita a simples eventualidade desta supress o N o ser contudo muito claro que isso n o seria nenhum obst culo para o desenvolvimento respons vel e coordenado de iniciativas visando a supera o do capitalismo em todos os terrenos do movimento social politizado quer dizer para aquilo que deve constituir a fun o primordial de uma for a comunista Sem d vida mas acontece que em compensa o este desaparecimento surge primeira vista como impeditivo radical para o cumprimento da fun o secund ria que consiste em intervir nos locais cl ssicos da pol tica dominante e nada poderia ser mais revelador em rela o ao que no c
163. fada logo que publicada e com ela a concep o propriamente comunista verdade que h uma certa complexidade na atitude de Marx e Engels relativamente a este assunto Numa evidente preocupa o em fazer se ouvir Engels intitula Socialismo a parte final do Anti Duhring consagrada a estas quest es soando ali s comunismo em certa medida como um voc bulo anarquista No pr prio Marx socialismo desempenha por vezes um papel de sin nimo aproximativo de comunismo sobretudo quando se trata de indicar a socializa o dos meios de produ o a que o Estado oper rio ir proceder Mas a partir do momento em que est o em jogo rigor te rico e demarca o pol tica s o termo comunismo se torna aceit vel a seus olhos Ainda em 1894 pouco antes da sua morte o pr prio Engels faz quest o de se dizer comunista e n o social democrata palavra que diz ele continua a n o convir a um partido cujo programa n o simplesmente socialista de modo geral mas directamente comunista e que tem como objectivo pol tico final acabar completamente com o Estado Marx Engels Werke Dietz tomo 22 p 418 a tradu o minha Eloquente clarifica o em oposi o a comunismo socialismo revela simultaneamente imprecis o program tica e estatismo pol tico Mas n o h nada a fazer socialismo torna se a universal refer ncia identit ria dos partidos oper rios lastrada de ascendentes lassallianos recolhidos pelo k
164. festa es da vitalidade do morto o t mulo do PCF que continua vazio resultados eleitorais estabilizados e at em ascens o em mais do que um dos partidos que persistem em querer ser ou mesmo intitular se comunistas da Europa meridional Escandin via passando por Berlim e pela Alemanha Oriental da frica do Sul ndia e ao Jap o Ou ainda a prop sito do 150 anivers rio do Manifesto Comunista exibindo as m ltiplas retomas da investiga o cr tica e prospectiva sobre o que pode ser no nosso tempo uma supera o do capitalismo Seria leg timo sem d vida bom m todo que n o seria Seria antes opor um tratamento n o menos superficial da conjuntura de hoje aos prematuros progn sticos baseados na conjuntura de ontem Tudo o que se pode dizer a partir da constata o actual das coisas que os gatos pingados do comunismo se precipitaram outrora um pouco nos seus bomb sticos an ncios coisa sobre a qual n o parece que tenham reflectido muito at agora Dito isto em que p estar o Partido Comunista Franc s daqui a dez anos Ter fracassado em travar um decl nio que o conduzia a n o ser mais que um grup sculo ou pelo contr rio ter se metamorfoseado numa for a pol tica que relan a de uma maneira nova a sua traject ria Sobre isto s sei que nada sei embora tenha claro est as minhas conjecturas e as minhas esperan as e tamb m sei que ningu m sabe Actuando como se o soubessem de ci ncia certa
165. futura sociedade sem classes 2 06 Sobre alguns equ vocos Sabendo por experi ncia pr pria o quanto esta esp cie de considera es exp e aos equ vocos veremos alguns exemplos poderei eu tratar de os evitar O que precede n o tende de modo algum a declarar caducas as lutas de classe no sentido habitual do termo A explora o continua at mais feroz do que desde h muito combat la com as suas v timas de classe continua plenamente na ordem do dia Mas seria necess rio ser muito cego para n o ver a enorme extens o de formas de aliena o n o menos graves pelas quais se v em esvaziadas de sentido actividades das mais importantes sendo assim qualitativamente atacados na sua pr pria vida todos os seus parceiros para al m das diferen as de classe Daqui salvo erro decorre um tra o fundamental da nova janela hist rica que se abre para uma poss vel supera o do actual estado de coisas o combate de classe contra o capital pode muito mais hoje tornar se um combate geral por uma humanidade melhor civilizada em todos os planos Desenvolvi este tema em muitos artigos e contributos em particular nas minhas interven es no Congresso Marx internacional de 1995 cf Congress Marx International Actuel Marx PUF 1996 e depois no Col quio de Nanterre sobre a quest o do socialismo hoje em Outubro de 1997 Cf Regards Janeiro 1998 Neste ltimo texto exponho de novo por que considero que o que morreu foi o socialismo na sua
166. gn stico hist rico invocado Embora o presente livro n o tenha por objecto um debate sobre esse diagn stico direi apenas se que necess rio que n o lhe contesto o grau de gravidade nem por conseguinte a obriga o dura e dur vel que tem de se confrontar com ele quem persevera em situar se numa perspectiva comunista Mas agora claro que o progn stico avan ado pelos nossos autores n o um erro independente do seu diagn stico pelo contr rio o seu corol rio directo dado que este diagn stico consiste precisamente em pronunciar doravante a irrevog vel caducidade de qualquer forma de comunismo E como enorme o hiato entre a amplitude desta asser o inicial e os limites dos seus considerandos reais v se bem que a conclus o pol tica precede na realidade a sua suposta demonstra o hist rica Aos autores destes estudos hist rico cr ticos diremos que podem sem d vida alguma tirar conclus es mais ou menos esmagadoras sobre o que foi o mundo comunista isto para aceitar muito provisoriamente esta formula o j em si mesma mistificadora como se ver mas da a crerem se autorizados a julgar e condenar implicitamente em bloco realidades t o diversas como o papel do PCF na Frente Popular ou o conte do de pensamento dos Cadernos da Pris o de Gramsci o combate anti apartheid dos comunistas sul africanos ou a figura do Che a Primavera de Praga ou o actual esfor o de refunda o comunista iniciado em tant
167. hael Lowy L internationalisme du XXIe si cle em que a figura do comunismo se torne de novo para todos a da solidariedade livre Recapitulemos tomado durante muito tempo como a ess ncia do comunismo o projecto de conquista prolet ria do poder de Estado para socializar os meios de produ o acreditando assim abolir a explora o dos trabalhadores correspondia muito mais a um empobrecimento que desnaturava o pensamento marxista O fracasso desse socialismo em todos os seus aspectos as muta es da nossa poca em todas as suas dimens es exigem nos que voltemos a dar vida ao projecto comunista de superar todas as grandes aliena es hist ricas da humanidade muito mais amplo e radical repensando o seu conte do nas condi es actuais O comunismo torna se ent o sin nimo de evolu o revolucion ria a impulsionar em todos os campos cl ssicos ou n o da realidade social com todas as for as de classe ou sem ser de classe que a humanidade dos homens mobiliza e n o s para abolir os insuport veis arca smos mas para superar de modo construtivo o actual estado de coisas trazendo para o primeiro plano a quest o dos fins humanos do desenvolvimento hist rico Um comunismo que vise n o s simplesmente regular de outro modo o mercado mas avan ar em direc o a uma economia p s mercantil que vise n o s preparar um futuro melhor para os indiv duos mas fazer do seu m ltiplo desenvolvimento um objectivo imediato n o s
168. i o de algumas provocadoras enormidades consideradas a partir da como evid ncias Segundo ele toda a hist ria seria uma ilus o e seria em primeiro lugar artefacto de uma disciplina que acreditava poder fazer dela objecto Ora aquilo a que se chama acontecimento hist rico inscreve se em muitas s ries de datas de esp cies heterog neas entre as quais perde qualquer apar ncia de unidade Assim 5 de Maio 20 de Junho 14 de Julho 4 de Agosto constituem uma s rie completamente diferente de 1643 1715 1774 1793 que por sua vez n o tem qualquer rela o com a s rie I mil nio II mil nio A hist ria supostamente global decompor se ia portanto em sequ ncias aut nomas remetendo ao fim e ao cabo para causalidades infra hist ricas e inconscientes de ordem biol gica geol gica e finalmente cosmol gica p 347 que L vi Strauss semeando a confus o nos d como sendo as verdadeiras infra estruturas do materialismo hist rico a pretensa continuidade linear a que chamamos hist ria n o estaria ligada ao homem De onde esta memor vel conclus o A Revolu o Francesa tal como dela falamos n o existiu p 342 N o que a nossa experi ncia hist rica seja vazia de sentido mas esse sentido nunca o bom p 336 Isto observa se bem se considerarmos acontecimentos long nquos como a Fronda ao mesmo tempo que se apagou a interioridade provis ria a partir da qual os homens da poca imaginavam
169. ia empreender o definhamento do Estado Explicarmo nos agora sobre o definhamento do Estado leva nos ao pr prio cerne da quest o comunista N o h outro dom nio em que o pensamento de Marx tenha sido t o denegrido Ele teria compreendido mal o Estado teria subestimado tanto o pol tico como o jur dico quando n o passado ao lado do essencial o poder N o seria Lenine a dar sem o querer a estocada final quimera de uma sociedade sem Estado pretensamente legitimada pela ef mera Comuna de Paris Apesar de que acabava de a colocar em posi o central no seu O Estado e a Revolu o n o lhe bastaram alguns meses de governo para constatar o seu total irrealismo na sequ ncia do que a Uni o Sovi tica passou a ser um dos mais desp ticos Estados modernos Impratic vel esse definhamento seria ademais desastroso j que com ele desapareceriam os pr ncipes da Rep blica as conquistas da democracia parlamentar as benfeitorias do Estado Provid ncia as garantias do Estado de direito O seu mais entusi stico apoiante o que diz tudo n o hoje o neoliberalismo Haveria pois que render se evid ncia subjacente ao Estado a vontade de poder a do pr prio homem e contra ela n o ter amos outro recurso sen o o de uma luta sem fim Pode se discutir muito sobre o valor destas teses inclusive sobre a cren a obstinada numa natureza humana vida de domina o como se os modos de ser hist ricos da humanidade desenvolvida estives
170. ialismo por um lado era n tido o desacordo com o socialismo existente o dos pa ses socialistas nomeadamente quanto ao penoso cap tulo das liberdades pondo se a t nica pelo contr rio nas promessas democr ticas de um futuro socialismo francesa que assim se reclamava de uma diferen a essencial mas por outro o objectivo a atingir n o deixava de ser menos explicitamente o socialismo a sociedade socialista esp cie de forma social gen rica com vantagens universais tornando se necess rio por isso admitir que a grave aus ncia de liberdades na URSS e noutros pa ses apenas constitu a altera es n o essenciais e fortuitas a essa forma gen rica ainda que estranhamente cr nica Supor que tal duplicidade de discurso pudesse congregar a grande maioria do povo requeria j um belo optimismo Mas como n o suspeitar tamb m da car ncia te rica subjacente a esta inverosimilhan a pol tica Tal como Marx sempre a concebera a sociedade sem classes n o era o projecto arbitr rio de uma consci ncia filantr pica mas o produto necess rio do movimento real incessantemente fomentado pelas contradi es do capital e as lutas dos trabalhadores Essa sociedade relevava por isso inteiramente da objectividade hist rica e deste ponto de vista a diferen a entre o socialismo j existente e o socialismo a prazo ou para ser mais expl cito entre a realidade do real j existente e a do real poss vel prometido com alguma necess
171. icar dramas sem sa da e dios sem resultado o capitalismo ao mesmo tempo que mais do que nunca produz virtualmente os seus pr prios coveiros segundo a profecia do Manifesto produz tamb m de modo muito actual a cumplicidade de quem aproveita e a desist ncia de quem se resigna Aqui est algo que deve ser uma grande preocupa o quando nos propomos abrir de novo a perspectiva comunista Uma preocupa o te rica porque a cultura marxista ordin ria prepara infelizmente muito menos para compreender a individualidade do que a sociedade Aos que dela se reclamam n o ser indispens vel apropriar se por fim dos conceitos de pessoa e de ordem da pessoa t o decisivos para tratar a dimens o tica que tantos problemas tomam agora N o ser necess rio fazer luz sobre o que pode efectivamente querer dizer a famosa f rmula a cada um segundo as suas necessidades F rmula que tantas vezes foi tomada por quimera consumista por excel ncia por se n o compreender que como contudo Marx traduziu de forma luminosa Grundrisse tomo I pp 160 61 precisamente a forma abstracta do dinheiro que confere s nossas necessidades em si mesmas limitadas a louca insaciabilidade pr pria do frenesim de enriquecimento em que se resume toda a aliena o Por aqui se mede como o nota Daniel Le Scornet La pens e n 317 o que vale por exemplo a pretensa necessidade de limitar pelo dinheiro as necessidades de sa de apresentadas sem sombra de um
172. icazmente pela viol ncia para n s o objectivo o de construir pacificamente uma ampla hegemonia que permita a supera o progressiva do capitalismo por iniciativa do maior n mero O que requer pois uma for a pol tica totalmente concebida para funcionar pela convic o Eis o que torna caduco o tra o mais caracter stico da organiza o leniniana a sua constru o vertical c pula base autoridade das direc es disciplina inspiradora de um vocabul rio de ascend ncia militar vanguarda estrat gia militantes tendo este ltimo termo perdido desde h muito a sua resson ncia guerreira Caracter stica que aos olhos de Lenine decorria ali s n o s de uma vis o geral dos objectivos mas tamb m de um estado espec fico das for as que havia que p r em movimento numa R ssia ao mais alto ponto marcada pelo subdesenvolvimento da instru o p blica da experi ncia democr tica da pr pria autonomia individual uma R ssia marcada por essa incultura de massas que ele n o hesitava em qualificar de semi asi tica Da tantas incompreens es alem s e francesas por exemplo em rela o ao bolchevismo Da tamb m o grave erro cedo reconhecido por Lenine mas bem pouco corrigido de ter querido submeter todos os partidos da II Internacional a condi es demasiado russas de que o pr prio PCF s come ou a libertar se na poca da Frente Popular Aquilo que hoje devemos inventar um modo de organiza o adapt
173. idade no futuro apenas distinguia o que Arist teles chamava ser em acto e ser em pot ncia assim como a crian a que sendo um ser humano em acto um adulto em pot ncia O Relat rio ao XXII Congresso relevava sem se dar conta de uma outra filosofia pensando colocar o socialismo francesa fora do alcance das cr ticas acerbas s quais o socialismo real n o podia escapar falava empoladamente dele como sendo o nosso ideal passando assim sem medir as consequ ncias da dial ctica materialista do real e do poss vel dial ctica banalmente idealista do real e do ideal Ora se o socialismo real era nada menos que ideal como acreditar que o socialismo ideal pudesse algum dia tornar se real N o pr prio do ideal ser irrealiz vel A est o risco que corre quem j n o acredita na filosofia Em 1976 estava longe muito longe de ver claro no conjunto desta gigantesca quest o de hist ria cr tica e prospectiva abrangida ent o pelo termo gen rico de socialismo N o estou aqui a reinventar o meu passado se disser que em todo o caso fiquei siderado desde o in cio com esta ressurg ncia do vocabul rio do ideal uma das palavras chave do Desafio Democr tico que iria de forma t o duradoura marcar todo o discurso da direc o na poca de Georges Marchais inclusive sob a forma indefensavelmente paternalista na minha opini o do socialismo que queremos para a Fran a Como se podia voltar a
174. idem sem dirigir o que quer que seja e as cat strofes abatem se sobre os indiv duos e os povos esmagados e enganados para al m de qualquer capacidade seja de cr tica seja de luta H muito que o curso das coisas humanas se n o assemelhava tanto a um processo selvagem de hist ria natural H que temer o pior Estarei eu a enegrecer em demasia o quadro verdade que h algumas zonas claras N o h continente em que oprimidos se n o batam N o h dom nio em que o liberalismo n o encontre agora uma resist ncia qualquer Desde meados dos anos noventa particularmente em Fran a erguem se prometedores movimentos sociais Digam o que disserem a pr pria ideia comunista est pujante Aqui est algo que d demasiada alegria para que se tenha a tenta o de o esquecer Mas como n o chocar se contudo com o tragic mico contraste de ordem de grandeza entre as colossais aliena es em ac o e o raquitismo das reac es actuais entre os gigantescos problemas que avassalam o mundo e a pequenez das respostas dispon veis E isto num momento em que se chega a perguntar se a humanidade sobreviver ainda como esp cie n o bestial em 2084 Talvez por isso o leitor tenha ficado estupefacto com a aparente tranquilidade com que ao longo de todo este cap tulo se trata do comunismo como de uma perspectiva hist rica n o s cred vel mas mais do que isso actual Ter o autor verdadeira consci ncia do mundo real em que estamos Tem consci
175. ignifica que haja que se lhe render h aliena o em tudo o que ele produz por exemplo no car cter catacl smico que imprime mundializa o do mesmo modo que pode haver hoje ainda algo de positivo na sua constante propens o para destruir as barreiras vetustas Pensar em termos de aliena o rep e finalmente uma vis o dial ctica das coisas por oposi o a um discurso de pura den ncia sem real alternativa e por conseguinte sem uma vasta audi ncia Isto conduz a rejeitar a ideia sem d vida justa para a R ssia quando Lenine a formula em 1918 Oeuvres tomo 27 p 87 mas absurdamente erigida em lei geral por Staline segundo a qual o socialismo n o encontra na sociedade burguesa rela es j prontas com a poss vel excep o do capitalismo de Estado ideia terr vel de uma sociedade nova que deveria de certo modo ser imposta de fora a uma realidade recalcitrante nos ant podas da concep o marxiana em que o pr prio movimento do capitalismo e das reac es que suscita produz de dentro muitos pressupostos do comunismo Leiam se os sugestivos ensaios de Jean louis Sagot Duvauroux Pour La grautit Descl e de Brouwer 1995 Pela Gratuitidade Les H ritiers de Cain La Dispute 1997 Os Herdeiros de Caim para descobrir a insuspeita extens o desse comunismo j presente comunismo de que se trata de fazer advir o imenso ainda n o Temos aqui em jogo uma muta o do pensamento e pr tica comunistas que
176. imento m ltiplo dos indiv duos para o enfraquecimento do Estado de classe Socialismo autogestion rio a t pica proposta comunista que n o consegue dizer o seu verdadeiro nome porque n o ousa pensar o seu verdadeiro conte do Assim o Partido Comunista Franc s mesmo querendo distanciar se dos regimes de Leste nunca chegou a pronunciar se claramente pelo comunismo antes do estrondoso desmoronamento de um socialismo de que numa completa ambiguidade te rica e pol tica se reclamou at ao fim Pagou o caro E aqui vemos aflorar uma segunda raz o mais forte ainda pela qual progressivamente se desvaneceram num pa s capitalista desenvolvido as hip teses de um projecto revolucion rio de objectivos infracomunistas a crise de pertin ncia hist rica que depreciou a pr pria ideia de socialismo Se esta ideia tinha irresistivelmente vencido no movimento oper rio revolucion rio do fim do s culo XIX deve se sem d vida muito ao facto de a perspectiva comunista de Marx ter aparecido infinitamente como demasiado ambiciosa para ser realista pode se conceber for as produtivas universais indiv duos integralmente desenvolvidos uma satisfa o das necessidades sem limites uma sociedade sem Estado uma humanidade sem conflitos Ideia demasiado bela para poder um dia tomar se verdade foi sempre este o veredicto do bom senso mesquinho sobre a grande ideia comunista Mais vale um p ssaro na m o visemos somente o socialismo ora
177. ional criadora de um mercado mundial pela apropria o tecnol gica dos formid veis poderes da ci ncia que eleva a produtividade a cumes sem precedentes mas desencadeando contradi es tamb m elas sem precedentes A lei geral de acumula o capitalista faz nos apreender o funcionamento recorrente do sistema a da baixa tendencial da taxa de lucro permite nos compreender o desenvolvimento das suas estrat gias e ao fim e ao cabo o da sua presente crise estrutural Mas por este meio acumulam se novos pressupostos para a sua supera o em particular os da poss vel e necess ria passagem a um modo de aumento da produtividade baseado ao contr rio do precedente sobre as economias maci as em capital fixo permitidas pela incorpora o da ci ncia no aparelho produtivo economias que permitem por sua vez financiar o mais ambicioso desenvolvimento das capacidades de todos os indiv duos invers o da tend ncia hist rica que nos far desembocar ao mesmo tempo numa efic cia econ mica e numa promo o humana sem iguais E isto imp e uma conclus o primordial atacar a forma de propriedade dos meios de produ o s toca no essencial na medida em que isso pode criar uma situa o muito mais favor vel para transformar de alto a baixo e este o fundo do problema o conte do de gest o das actividades econ micas e financeiras sem o que nada de importante muda como t o cruamente o fez lembrar a experi ncia francesa das nacionaliza es
178. ipei em quinze dos cerca de trinta Congressos que o PCF realizou desde 1920 e em toda a esp cie de comiss es desde a da tribuna de discuss o at das candidaturas sei do que falo Para nestas condi es ousar falar de Congresso soberano realmente necess rio ser feito de outra massa na imortal express o de Estaline Os aderentes senhores do seu partido esta outra f rmula muito utilizada na poca em que a direc o fazia a guerra aos contestat rios de 1984 n o menos audaciosa Senhores do partido nem mesmo para o Congresso podiam conhecer os seus efectivos reais sobre os quais foram alegremente enganados segredo de direc o aqui que tudo se decide ouvi v rias vezes o Secret rio Geral fazer em tom compenetrado esta afirma o solene aos novos membros na primeira sess o do Comit Central depois do Congresso Tema de grande efeito ouvia se voar uma mosca mas esse Comit que na poca se chamava ainda central nem sequer tinha o direito de discutir a organiza o daquilo a que no entanto se ousava chamar o seu trabalho de direc o nem mais nem menos do que a decisiva divis o da actividade em sectores e a designa o dos respons veis destes Mais do que uma vez me levantei contra este fabuloso erro sem o menor sucesso Ouvi tamb m o primeiro dirigente repetir perante o Comit Central num sil ncio sui generis que em qualquer das suas sess es este podia sem problemas decidir muda
179. iro lugar uma outra considera o que se imp e a da estrita interdepend ncia de todas estas dimens es do comunismo de modo algum como soma mais ou menos contingente de tra os disjuntos mas conjunto org nico de caracteres obrigat rios Assim retiremos lhe em pensamento o desenvolvimento universal das for as produtivas que n o apenas o intenso surto por todo o lado de todas as for as produtivas mas mais essencialmente ainda a universaliza o da for a produtiva que incorpora a ci ncia de que a melhor ilustra o a actual informatiza o generalizada e todos os outros aspectos do comunismo deixar o de poder ser abordados aqui tocamos j no drama da Uni o Sovi tica e do socialismo real em geral Assim ainda e aqui est um ponto decisivo no meu presente prop sito a apropria o dos grandes meios sociais de produ o e troca pelo menos se tomarmos tal medida no seu pleno alcance emancipador absolutamente imposs vel sem a supera o do mercado e do trabalho assalariado capitalista sem o desenvolvimento integral dos indiv duos sem o definhamento do Estado com esta impossibilidade come a a surgir o que tem de deris ria a redu o do comunismo f rmula simplista propriedade social dos meios de produ o a cada um segundo as suas necessidades e ainda mais destruidor reduzir o socialismo em princ pio fase inicial do comunismo s sacramental propriedade social dos meios de produ o e
180. it vel pre o dessa original desconfian a da espontaneidade de que decorre Esse risco existe como o mostram v rias derrapagens na pr pria poca de Lenine indica o que tem para n s a maior das import ncias Mas n o se acredite que o desprezo do espont neo est necessariamente contido na recusa do espontane smo o espont neo antes do mais o dinamismo do povo o motor de qualquer combate revolucion rio Lenine sabe o t o bem que para ele a vanguarda deve permanentemente instruir se no interior do movimento espont neo tanto quanto deve esfor ar se por nele introduzir de fora a consci ncia e a organiza o de que ali s nele se encontram formas embrion rias o partido mais n o do que o int rprete consciente de um processo inconsciente Pelo que o centralismo democr tico n o implicava nos seus princ pios nenhuma rela o de sentido nico entre organiza o e espontaneidade ponto n o menos importante Em segundo lugar quando Lenine advoga uma rigorosa subordina o da base c pula n o se poderia fazer pior contracenso do que identificar o segundo termo com um qualquer aparelho autocr tico para ele a c pula antes de mais o Congresso emana o fiel da base e haver algo de mais democr tico que os debates e as decis es de uma tal inst ncia Esta a teoria mas o que se passa com a pr tica Os factos falam por si uma vez libertado do czarismo e dos seus entraves o POSDR depois PC b realizou de
181. ital de racionalidade hist rica que em contrapartida escapou inteiramente a esse nominalismo j n o metodol gico mas doutrinal que Althusser t o imprudentemente apresentou como sendo o cume do materialismo quando de facto encerra um caracterizado idealismo do universal isto das rela es e l gicas essenciais Prova de que a dial ctica esta l gica do pobre segundo Michel Serres nos permite compreender uma topologia do tempo hist rico que parece ter lhe escapado Resta a objec o para muitos certamente a mais impressionante de todas j n o se pode sobretudo depois do grande naufr gio do comunismo acreditar por um segundo que seja na bela lenda de uma hist ria que progride continuamente em direc o a um futuro melhor objec o que seria tanto mais forte se admitisse tomar como ela a tese que contesta evitando assim dela s refutar uma med ocre falsifica o Qualquer entendido em Marx sabe como ele recusava a tolice antidial ctica ao m ximo do desenvolvimento linear e do progresso regular O que ele defende uma coisa completamente diferente Em primeiro lugar que na hist ria humana como na evolu o natural h processos demogr ficos tecnol gicos econ micos cognitivos duravelmente cumulativos seguindo uma mesma direc o o caso t pico do crescimento da for a produtiva no capitalismo que leva a isso com uma permanente rudeza a fim de diminuir o tempo directo de produ o e maximizar a t
182. m ele a voltar a p gina do socialismo real tinha se tornado hegem nica e por isso irresist vel Esta cada vez mais a arma absoluta no s culo pol tico em que entramos ela em ltima an lise que venceu um outro imposs vel a supera o do apartheid na frica do Sul Foram tomadas de consci ncia e tomadas de iniciativa no entanto ainda bem longe de ser hegem nicas que permitiram marcar alguns not veis primeiros pontos em assuntos do maior alcance por exemplo contra o poder sem controlo da Comiss o de Bruxelas ou contra o liberalismo sem limites no com rcio mundial ou como o esbo ar de uma era de mais alta responsabilidade humana em mat ria de ecologia ou de bio tica N o haver aqui uma decisiva indica o sobre o caminho a seguir Cessar de subestimarmos n s pr prios a amplitude das desaliena es que h que empreender sem demora Cessar de restringir a diversidade das for as que nisso podem tomar parte Cessar de afastar do combate emancipador ao querer faz lo passar pelo alistamento num partido moda antiga Cessar de empobrecer a mensagem n o esgotada e em grande parte n o ouvida que pode ainda vir nos de Marx E necess rio dar finalmente uma oportunidade ideia comunista
183. m for a da iniciativa dos cidad os em que se torna pens vel um real definhar da aliena o estatal o reverso da crise ultraprofunda da pol tica N o ser a pr pria mundializa o imperialista uma forma monstruosa do movimento quase tect nico que conduz incessantemente a uma maior regula o planet ria e universalidade humana Deixemos por agora o que ir ser objecto do pr ximo cap tulo Constatemos todavia at que ponto os problemas meios os nicos colocados no centro por um pensamento socialista focalizado sobre a produ o dos bens surgem cada vez mais n o de modo algum como subalternos mas como subordinados a problemas de fins que em primeiro lugar dizem respeito promo o dos homens problemas doravante t o gritantes que desqualificam qualquer prospectiva que se apresente como demasiado curta para os assumir que humanidade queremos ser que viver conjunto social desejamos e quais s o os nossos horizontes hist ricos Haver respostas de grandeza suficiente para t o gigantescas quest es fora da imensa perspectiva do comunismo Sentindo bem a excepcional novidade quer das quest es a enfrentar quer das solu es a inventar a grande maioria das opini es afastou se irremediavelmente de partidos comunistas persuadidos de que continuavam na vanguarda porque modernizavam mais ou menos na sua apresenta o um socialismo que permanecia antigo sob muitos dos aspectos da sua pr pria complei o Enquanto isso tomava a
184. m rara nesta mat ria embora o lugar de Lenine na hist ria geral do comunismo sendo o que a aprecia o de que objecto nada tenha perdido da sua import ncia pol tico cultural N o a raz o muito mais fundamental trata se de saber se no mbito da organiza o o leninismo realmente como muitos o pensam a matriz do estalinismo Porque se porventura n o fosse esse inteiramente o caso estar amos enganados ao pensar que basta romper com os princ pios leninianos para escaparmos de vez aos erros estalinistas Quest o crucial portanto O estalinismo organizacional ser na sua base um avatar caricatural do leninismo Que tenha come ado por o ser acentuando os seus tra os centralistas em preju zo das suas dimens es democr ticas n o h d vida Mas uma caricatura mais n o faz do que exagerar nem que seja ao extremo os tra os reais do original sem o que n o seria uma caricatura Ora pelo menos em mat ria de organiza o a rela o entre estalinismo e leninismo afigura se me completamente diferente quer na ordem te rica quer na ordem pr tica verdade que no cap tulo 8 dos Princ pios do Leninismo os princ pios que Estaline enuncia prov m efectivamente de Lenine Mas o que h primeiro que notar a enormidade do que l falta Falta toda a dial ctica leniniana das rela es de duplo sentido tanto entre a vanguarda e as massas como entre a c pula e a base em proveito de uma rela o unilateral de esta
185. me sob o qual o partido vivia h lustres n o era o centralismo democr tico leniniano era antes o seu contr rio no mesmo g nero o centralismo autocr tico estalinista em que o centro uma Direc o que exerce o poder sobre o Partido direc o cuja configura o real n o coincide ali s com as inst ncias formais pode se por exemplo ser membro da Comiss o Pol tica sem pertencer Direc o efectiva e inversamente Este um exemplo entre cem outros da mentira das apar ncias oficiais N o deixar o alguns de protestar como se pode amalgamar assim o modo de funcionamento do PCF nas ltimas d cadas com o estalinismo de triste mem ria E se se precisar que arrumar o primeiro na rubrica do centralismo autocr tico n o claro est a mesma coisa que imputar lhe os enormes crimes do segundo mas t o s constatar o seu essencial parentesco com o estalinismo ordin rio at ao seu ltimo avatar o brejnevismo protestar o sem d vida ainda ser poss vel silenciar assim os progressos sem par da democracia do partido desde os anos sessenta Ser estalinismo ordin rio o facto por exemplo de n o excluir por motivos pol ticos de reeleger contestat rios para o Comit Central e at de fixar o princ pio de que se pode trabalhar em conjunto apesar de desacordos duradouros Para aqueles e aquelas que se sintam inclinados a estes protestos permitir nos emos elevar um pouco o tom Ser realmente necess rio lembrar quan
186. mo de aplica o de um princ pio de precau o e faz com que antecedam com demasiada frequ ncia qualquer delibera o tica a montante ou qualquer apropria o democr tica a jusante cavando assim os mais graves fossos culturais quer entre gera es quer entre na es Ora diferentemente dos que at aqui evoc mos n o s o j de maneira nenhuma em si mesmos problemas de classe Como natural pondo se num mundo dominado pelo capital todos trazem a sua marca Assim o saque irrespons vel da natureza ou o aventureiro abalar da condi o humana t m muito a ver com a ditadura da rentabilidade financeira e o ritmo insustent vel de muitas inova es reflecte directamente o seu ofegante car cter de curto prazo Mas embora todos reflictam a aliena o geral do mundo actual a sua t o necess ria desaliena o n o resolver contudo as quest es postas Quest es que s o as da escolha a fazer relativamente ao pr prio sentido em que se quer que prossiga o desenvolvimento da hominiza o Novidade assaz solene a humanidade come a a poder decidir o que vai ser Que sentido dar a este ser Viver para enriquecer ou enriquecer a vida Aceitar o limite ou fazer tudo para ir al m dele Ter uma abordagem utilitarista ou militante da sociedade Inscrever se na natureza como ecologista ou como fazedor de OGM Considerar a condi o humana como um brevi rio ou como um rascunho secular clivagem entre os compromissos de classe ou as op
187. mo muito ex tico muito antes do seu espectacular desabamento e Mikahil Gorbatchev neste drama final que t o inventivamente tentou conjurar ter desempenhado o papel mais ingrato o do m dico que chamado demasiado tarde a salvar um doente j perdido mas a quem alguns familiares n o deixar o de atribuir as culpas pela sua morte Quanto mais se medita sobre o enigm tico destino da URSS e do seu campo mais se levado a interrogar de novo a estranha ambiguidade deste duplo vocabul rio do socialismo e do comunismo Se se tivesse efectivamente em vista duas fases sucessivas da mesma forma o social porqu portanto dois nomes diferentes encarregues de as designar com o risco evidente de tornar pelo menos semanticamente poss vel a sua ruinosa desconex o Ao procurar obstinadamente uma resposta descobre se ent o um destes pequeninos factos n o notados que nos p em na pista da mais ampla remodela o de perspectiva Foi Marx quem na sua Cr tica do Programa de Gotha introduziu a distin o desde logo cl ssica entre fases inferior e superior da sociedade de classes S que de modo algum chama socialismo primeira mas fase inferior da sociedade comunista sendo assim para ele o futuro de modo geral s tem um nome comunismo Portanto se quisermos continuar fi is ao esp rito e letra da concep o marxiana nem por um momento se pode pensar esta primeira fase sob qualquer denomina o que n o seja a de comunism
188. mpreendem querem explicar invocando a pretensa fatalidade segundo a qual a revolu o deveria sempre devorar os seus filhos ou ainda a suposta compuls o sanguin ria de Iossif Djougachvili Quando os processos de Moscovo come am o centralismo autocr tico est j bem instalado eles n o poderiam ter sido organizados sem ele e precisamente porque vai para os ant podas de tudo aquilo a que os bolcheviques de origem davam import ncia que a sorte destes iria ser selada Para comunistas do estilo leniniano tomava se imposs vel coexistir com tal sistema A rec proca foi tragicamente verdadeira 3 03 Centralismo autocr tico O exemplo do PCF Ser que se tem agora no o da espessura de falsidades em que estava enredado o XXVIII Congresso do PCF em 1994 com o seu projecto de dar vida a um Partido Comunista de novo tipo a partir do momento em que sem um pr vio aprofundamento te rico nem uma pr via investiga o hist rica pretendia para tal superar o centralismo democr tico Ali s onde que se ia buscar que esse era efectivamente o modo de organiza o do PCF Muito simplesmente mistifica o ideol gica mantida pelo partido sobre si pr prio sempre o dissemos Ora n o somente n o de crer que se possa acabar com o estalinismo desfazendo se simplesmente dos princ pios organizacionais do leninismo o que ali s como veremos o XXVIII Congresso ficou muito longe de fazer mas al m disso o regi
189. munismo est condenado pela hist ria a desaparecer a pique e de maneira ainda muito mais alargada que a ideia de uma outra sociedade se tornou quase imposs vel de pensar A hist ria volta a ser aquele t nel em cuja obscuridade o homem se embrenha sem saber onde conduzem as suas ac es na incerteza do seu destino desapossado da ilus ria seguran a de uma ci ncia da sua ac o pp 807 808 ed fr Esta maneira quase m gica de sem mais p r conta da entidade geral comunismo as conclus es de an lises hist ricas espec ficas encontra se de modo id ntico na introdu o e conclus o do Livro Negro de St phane Courtois crimes escreveu por exemplo logo no in cio o comunismo cometeu imensos p 13 ed fr sublinhado meu Esta atitude hoje tranquilamente dominante na ideologia pol tica em vigor Do mesmo modo Claude Lefort apesar de criticar a atitude de Furet a ponto de evocar os seus aspectos especulativos n o deixa no entanto de subintitular Retour sur le comunisme o seu livro La Complication Fayard 1999 cujo campo igualmente muito limitado e tira logo na primeira frase a conclus o que deveria em princ pio ser demonstrada O comunismo pertence ao passado p 5 ed fr sublinhado meu Depois disto n o veremos n s as coisas a uma outra luz certo que o car cter controverso do progn stico pol tico da morte do comunismo nada retira ao formid vel peso do dia
190. n o resolvida nem por isso se encontra em suspenso e que pelo contr rio prossegue o seu trabalho em profundidade Certamente mas se fracassar radicalmente aquilo que a devia resolver ela muda inevitavelmente de fase sendo que a hist ria como se sabe n o se repete Transi o de fase hist rica de contradi es n o ultrapassadas aqui est sem d vida uma no o de import ncia in dita que necess rio juntar a uma conceptualiza o viva do materialismo hist rico H s culo e meio nasceu uma grande causa a da revolu o socialista que o proletariado dirigido por um partido de vanguarda conquistando em seu nome o poder de Estado para socializar os meios de produ o devia levar a cabo O irrecus vel fracasso da causa assim definida faz nos entrar j por si numa outra poca Mas h mais todos os dados essenciais que tinham tomado duravelmente plaus vel tal empreendimento metamorfosearam se com o tempo modo de produzir estruturas de classe l gicas pol ticas realidades sociais motiva es pessoais esp rito do tempo estado do mundo Assim se encerrou uma janela hist rica entendo esta janela como um quadro temporal limitado em que as condi es provisoriamente existentes tornam poss vel um dado tipo de estrat gia transformadora e imposs veis outras estrat gias Este termo retirado da astron utica janela de tiro para lan amento de um sat lite parece me estar fadado para se tornar um conceito chave da
191. n ria reviravolta pela qual o estalinismo vulgar o fez servir sujei o dos aderentes Como o congresso provavelmente n o esgotou o seu papel de primeiro plano na vida comunista dar se a maior das aten es sua desestaliniza o radical que quanto a mim de modo algum considerarei como feita desde j por muito interessantes que tenham sido algumas das inova es do XXIX Congresso do PCF Voltar a fazer dessa institui o um acto de aut ntica democracia pressup e que se fa a luz com um m ximo de vigil ncia sobre tudo aquilo em que consistiu a sua forma centralista autocr tica Porque embora numerosos desses aspectos sejam not rios digam eles respeito escolha dos delegados ao desenrolar das discuss es aprova o dos documentos composi o dos organismos dirigentes o autocratismo engendrou no caminho muitos outros bem pouco analisados mas contudo eficazes para impedirem que o congresso seja esse momento soberano em que cada qual contando realmente por um nada escapa cr tica nem condiciona as decis es do povo comunista E o que se passa com o desuso em que caiu o relat rio de actividades da direc o cessante e com ele esse t o necess rio debru ar se sobre os erros cometidos por essa direc o em que Lenine via uma das grandes tarefas de um congresso cf Oeuvres tomo 32 pp 176 e 201 igualmente o que se passa com a progressiva substitui o das teses em princ pio enunciados breves e pre
192. nacionais podem como conv m fazer ouvir a voz dos comunistas e isto com toda a necess ria latitude de improvisa o e sem que a sua audi ncia medi tica v de par com um poder estatut rio sobre o partido num esp rito an logo que seria necess rio resolver o mais crucial e mais emblem tico dos problemas de direc o o do Primeiro Secret rio Fun o cuja pesada conota o hist rica certamente n o ajuda nem a deixar definitivamente o passado para tr s nem a apreender de modo congruente o presente J que a fun o deixaria de condensar numa personaliza o extrema todos os poderes de um aparelho e seria de modo bem diferente a de primeiro ou primeira inter pares a presidir com outros e por um prazo razo vel ao trabalho do Comit Nacional na sua fun o de coordena o geral das actividades do partido n o resumiria esta metamorfose o advento de uma for a 2 comunista da qual se pudesse realmente dizer que de nova gera o Modificar completamente a din mica das actividades comunistas de maneira a que nelas esteja sempre em primeiro plano a iniciativa de supera o directa de todas as grandes aliena es hist ricas em directa conex o com esta decisiva muta o de conte do fazer da c lula ousadamente redesenhada o actor respons vel competente e inventivo dessa pol tica primeiro elo de grandes redes de revolucionamento social reconverter sem tibieza todos os poderes de direc o em meios
193. nada dos homens com a sua riqueza social Vemos aqui desenharem se tal como em certas lutas em que a parada das maiores por exemplo a luta pela paz mas tendo aqui por objecto directo a supera o do capitalismo possibilidades muito originais de uni o entre parceiros que conservam ali s grandes diferen as N o certamente uni es universais a aliena o afecta todos mas cada um enquanto indiv duo na sua singularidade pessoal e por conseguinte na sua imprevis vel reac o n o somos cada um de n s for osamente contr rios escolha do sexo do filho a nascer ou publicidade televisiva mas pelo menos uni es muito plurais Com at aqui e ali supera o emergente de clivagens ancestrais como as de gente de esquerda e de direita que consegue entendimentos por exemplo em mat rias sanit rias ou escolares ecol gicas ou bio ticas sobre valores fortes como a alta exig ncia de respeito pela pessoa humana sob todos os seus aspectos e que por isso mesmo oferecem oportunidades realmente sem precedentes de criar rela es de for a maiorit rias ou at irrevers veis para impor mudan as que d em in cio a desaliena es essenciais Humanidade civilizada contra economia de lucro desumanizante nesta posi o tico pol tica da quest o simultaneamente de classe e fora de classe n o se entrever j no horizonte o fim das lutas para nos fazer sair da nossa pr hist ria num come o de visibilidade de uma
194. ncia tem N s os que insistimos em querer mudar o mundo voltamos a partir de muito baixo E embora a hist ria tenha sempre na manga o imprevis vel devemos contudo contar com que o caminho seja longo O que nem por isso faz com que haja menos fortes raz es para pensar que mais uma vez a humanidade se fixa uma tarefa que pode resolver A primeira dessas raz es precisamente o desaparecimento do socialismo real m rito dos refundadores comunistas ter visto logo que como o dizia o seu manifesto de 1991 Urg ncia de futuro sendo essa morte num certo sentido um terr vel rev s que modificava a rela o mundial de for as em favor do capital era ainda mais necess rio ver nela um formid vel levantar de uma hipoteca hist rica a dissocia o finalmente poss vel entre o des gnio comunista e a sociedade do gulag Para as novas gera es a Uni o Sovi tica j n o passa de um cap tulo do programa de hist ria A sociedade sem classes pode voltar a ser uma ideia nova Com o desvanecer do campo socialista o capitalismo tornou se o senhor do mundo Mas tamb m aqui a coisa se inverte dominando quase sem partilha perdeu por isso qualquer libi quanto s infindas desgra as do tempo presente Este o segundo trunfo capital para um relan ar da transforma o radical Quem sen o ele respons vel pelo horror econ mico e pelo estrago ecol gico pela degeneresc ncia mafiosa e o desnaturar venal da cultura Aqui est
195. ndiv duos na paridade pol tica dos sexos o definhar do Estado numa nova figura do audiovisual p blico a desaliena o das consci ncias e tornar claro que estes largos horizontes de sentido s o simultaneamente os mais luminosos dos crit rios quanto justeza ou n o das medidas que mais imediatamente est o em debate Se as for as continuam dramaticamente insuficientes para superar o capitalismo quando por todo o lado se sonha em mudar finalmente a vida n o ser porque n o aparece suficientemente aberta de novo uma perspectiva no sentido mais forte da palavra Este parece me ser o princ pio da resposta ao nosso que fazer Resposta que o novo desenvolvimento do movimento social vem p r em relevo porque foi na fort ssima liga o que estabeleceram os ferrovi rios os desempregados os professores dionis acos ou os imigrantes entre exig ncias muito t picas e aspira es muito globais que foram marcados pontos contra o Plano Jupp de reforma da seguran a social contra as gritantes car ncias de uma pol tica escolar contra o tratamento indigno dado quer aos sem pap is quer aos sem trabalho Mas ir mais longe neste sentido exige que se resolva a quest o fundamental da renova o da pol tica Numa primeira abordagem cada movimento social embora produza mudan a efectiva fica inevitavelmente restrito em rela o ao seu objectivo de ac o sua capacidade de xito sua dura o se n o tiver um prolongamento pol
196. ng H uma ilus o perniciosa da hist ria grande verdade cr tica a reter h tamb m e muito mais para os tempos que correm e percolem uma denega o intimidat ria da hist ria qual s se dobrar o os esp ritos fracos Em segundo lugar ser justo afirmar s existe o singular N o h d vida que aquela velha recusa dos seres de raz o o cavalo vejo o bem dizia um famoso nominalista a cavalidade que n o conserva as suas virtudes profil cticas contra as entidades especulativas que tamb m atravancaram a hist ria e v lida por exemplo contra aquele marxismo vulgar que substantifica a burguesia e mitifica a classe oper ria sem analisar com a aten o requerida as bem mais complexas realidades e atitudes concretas abrangidas por estas abstrac es Pensar em termos de generalidades fixas pode se imaginar algo de mais antit tico a uma dial ctica materialista A li o continua v lida e vai muito longe exigindo por exemplo que numa concep o da hist ria que se queira marxiana seja reavaliado face s necessidades de ordem geral o papel do acontecimento singular com o que o seu car cter aleat rio tem contudo de determinante quanto ao curso ulterior das coisas Vasta quest o com um aspecto crucial a que havemos de voltar Mas como n o dizer tamb m qu o d bil a redu o do singular unicamente sua singularidade Cada homem nico mas sendo homem tamb m universal o universal
197. no CERM sobre Lenine e a passagem pac fica para o socialismo depois convertida em artigo publicado pelos Cahiers du communisme num contexto de novo bastante electrizado procurei demostrar como era infundado a despeito dos clich s invocar Lenine contra a busca de uma via revolucion ria que poupasse a viol ncia ditatorial Quis ir ainda mais longe nesse sentido trabalhando numa publica o mais vasta mas um secret rio do Comit Central travou claramente os meus esfor os aplicando lhes o mais redibit rio dos qualificativos que o l xico da direc o possui eu estava a ser defensivo Quem se preocupa em produzir as justifica es te ricas de uma postura pol tica n o estar j com efeito a admitir a possibilidade de d vida quanto sua justeza Aquele defensivo soou me um pouco como o ainda acreditas na filosofia mas em vers o agravada decididamente esta direc o ciosa de fazer verdadeira pol tica viva libertando se e com raz o do velho doutrinarismo marxista leninista nada enxergava do n cleo racional arqui precioso que distraidamente lan ava fora juntamente com este N o a minha preocupa o nada tinha de defensiva embora a sua realiza o fosse ainda muito deficiente uma vez que pela for a das coisas era produzida numa grande solid o de pensamento E iria ter ainda mais consci ncia desta imaturidade quando no ano seguinte escrevi com Fran ois Hincker e Jean Fabre Les Communistes e
198. ns o evolutiva Onde se foi buscar que as rela es do mercantil e do n o mercantil teriam a ver com a complementaridade e n o com a contradi o No pr prio capitalismo actual o frenesim do tudo mercado n o ser abertamente antag nico com a bela vitalidade que manifesta o seu oposto do servi o p blico no entanto t o atacado ao interc mbio na Internet passando pela entreajuda de vizinhan a e pela tica do dom de rg os Ainda mais n o ser hoje uma poderosa tend ncia do capital o minar muito contraditoriamente as bases da ordem mercantil em que assenta Isto quando empurra com toda a for a para primeiro plano esse refract rio ao mercado que em princ pio o trabalho dito improdutivo essa n o mercadoria que em si a informa o essas actividades em si mesmas n o mercantis que garantem o multiforme desenvolvimento dos homens e ser que esta promo o conta pouco na sua profunda crise estrutural Dir se que ele se esfor a precisamente por fazer entrar tudo isto na forma mercado Claro mas e sem d vida a objec o mais contundente tese proposta os extraordin rios estragos que da decorrem n o tornar o mais bvia a aliena o inerente a esta forma de que se quer fazer uma inultrapass vel realidade meta estrutural Marx mostrou o saciedade mesmo aqu m da sua apropria o pelo capital o mercado um universalizador por excel ncia mas pelo pre o da toda poderosa fetichiza o da merca
199. nsit ria fase inferior do comunismo Mas por um novo efeito de desagrega o te rica em cadeia o socialismo remetido doravante em substitui o do comunismo para o horizonte do ideal tinha por sua vez necessidade de uma fase inferior E ent o que entra em cena a etapa de democracia avan ada que O Desafio Democr tico qualifica de forma de transi o para o socialismo p 174 uma transi o para a transi o No fim de contas toda a perspectiva hist rica marxiana no que ela tem de mais essencial que se encontra aqui desnaturada sem a menor justifica o cr tica sem mesmo uma palavra de explica o fundamental Nunca como agora um avan o pol tico de poss vel grande alcance tinha sido acompanhado por um t o tem vel recuo te rico 1 02 Como tornar se contestat rio Aqui est tamb m o que explica o mal estar sentido por mim e por tantos outros ao ouvir apresentar uma inova o em princ pio de tal modo criadora como se se resumisse ao abandono da ditadura do proletariado Temia percepcionar na escolha deste termo totalmente negativo uma pesada confiss o involunt ria como se no fundo nos quis ssemos desembara ar de uma velha refer ncia doutrin ria desagradavelmente embara osa mais do que elaborar com o cuidado requerido uma perspectiva estrat gica nova que seria no entanto a nica capaz de a suprimir ao substitui la como se at talvez se considerasse muito mais importante a pr
200. nsos como a sida em frica O capitalismo dos servi os iniciou assim nas actividades mais altamente humanas uma hemorragia de sentido que j tornou exangues numerosos aspectos da exist ncia culta no verdadeiro e amplo sentido da palavra cultura Isto por exemplo o que se passa com esse extraordin rio novelo de poss veis que a televis o representa e da qual tantos e tantos programas bem contra a vontade de muitos realizadores j n o s o mais do que meios de vender um p blico a anunciantes enquanto que o ecr publicit rio mostra o eterno rosto exaltante da banca privada e do papel higi nico Imagem perfeita de uma total pervers o o sentido morre for a de servir de meio ao n o senso A esta canceriza o liberal que hoje amea a directamente todos os servi os e a pr pria escola cf Samuel Joshua L cole entre crise et refondation La Dispute 1999 A Escola Entre Crise e Refunda o s esfor os desmesurados conseguiram at agora p r algumas barreiras campo reservado da bio tica excep o cultural excep o desportiva O que simultaneamente sublinha que poss vel ganhar batalhas e a urg ncia de as travar a um n vel superior O devir civilizado do mundo tendo como piloto autom tico a possibilidade de lucro da finan a que tenhamos aqui um novo e importante cap tulo do livro do capital coisa que n o deixa d vidas mas em que que ele exige um conceito reconfigurado do comunismo mais do que out
201. ntes as tarefas cruciais da supera o das regula es capitalistas e do trabalho mercadoria das domina es estatistas e da consci ncia mistificada das mil e uma rela es humanas em que se produz e reproduz a aliena o hist rica Est quase tudo por inventar para construir deste modo uma aut ntica estrat gia comunista t o realista nos objectivos imediatos que se imp e qu o sugestiva nos imensos fins que lhe conferem o seu sentido Fora desta inven o te rico pr tica comunismo continuar a ser uma palavra oca Pelo contr rio encetemos tacteando esta via seguramente dif cil em que os actores do quotidiano come am a ver o objectivo comunista dos seu actos e tudo pode come ar a modificar se no que ter sido de maneira t o infrutuosa apesar de tantos m ritos o combate revoucion rio do s culo xx 1 07 Marx hiper racionalizou a hist ria Todavia ao encarar concretamente a tarefa descobrem se exig ncias muito para al m do que podia parecer de in cio claro que h que inventariar o conte do te rico do des gnio comunista que inventar a pr tica pol tica correspondente e isto nas condi es do nosso mundo de que partida nada nos diz em que medida ainda o de Marx ou em que medida se tornou outro talvez mesmo muito diferente Por conseguinte tamb m n o basta produzir de novo e em rela o a uma realidade in dita um trabalho de pensamento an logo ao que o Manifesto Comunista condensava no seu temp
202. nto do capital e fontes do comunismo Tendo tomado boa nota disto ocupemo nos para come ar correndo o risco de voltar a dizer coisas muito conhecidas que t o frequentemente se revelam hoje pouco conhecidas particularmente na gera o mais jovem das contradi es mais de terminantes detectadas por Marx ao analisar o movimento do capital O seu desvendar resulta de dois conjuntos de considera es sobre o processo de produ o Livro I de O Capital e depois sobre o processo do conjunto da economia capitalista em desenvolvimento Livro II A contradi o central do processo de produ o por ele formulada nos termos daquilo que designa por lei geral de acumula o capitalista onde o capital domina a acumula o de riqueza num dos p los da sociedade tem como reverso da medalha a inexor vel acumula o no outro p lo de sofrimento material e moral tanto no trabalho como fora dele indo at mis ria escravid o ao atirar para o ferro velho at pior das degrada es humanas do trabalhador cf Livro ditions Sociales 1983 ou PUF 1993 pp 724 25 O enunciar desta contradi o coroa o esfor o do Livro I para desvendar o segredo da explora o capitalista a extors o de mais valia n o sendo o sal rio de modo algum para al m das suas apar ncias o pre o do trabalho fornecido mas bem pelo contr rio o pre o de compra da for a de trabalho no mercado com o mesmo nome for a de trabalho que s ela
203. nvestigador e desnaturando assim a patente em princ pio institu da para conciliar protec o e transpar ncia das novas ideias transformam nas em produtos vend veis sacrificando verdade um pequeno detalhe o saber mesmo o saber fundamental deixa de ser um bem p blico Segundo imperativo conexo a confisca o Uma vigorosa rentabiliza o dos servi os passa como bvio pela sua completa submiss o aos crit rios da efici ncia capitalista Mas como verg los e com eles os utentes s desastrosas exig ncias do lucro m ximo a curto prazo e ao dram tico sacrif cio da sua finalidade operando numa transparente abertura das delibera es O dom nio capitalista sobre os servi os significa pois o funeral de qualquer verdadeira democracia em mat ria de escolhas e sobretudo de escolhas de grande alcance sanit rias cognitivas informativas culturais aquelas em que se decide nada menos do que a nossa humanidade N o estar aqui em germe algo como o totalitarismo do s culo XXI E isto n o tudo h ainda o pior sob esta mercantiliza o e esta confisca o est a implac vel invers o das rela es entre os fins e os meios N o que alguma vez tenha sido diferente com o capital Como Marx sem cessar o sublinha preciso ser muito ing nuo para acreditar que ele possa prosseguir outros fins para al m da sua pr pria valoriza o o seu objectivo n o satisfazer necessidades obter lucros A necessidade
204. o No entanto quanto a mim eu fi lo no sentido que acabo de explanar A hostilidade da direc o ultrapassou tudo quanto eu podia imaginar Houve camaradas que imediatamente acrescentaram par grafos s suas interven es pouco depois outros iriam escrever artigos onde era fustigada como convinha esta insuport vel vis o do esp rito que consiste em fazer do comunismo um objectivo imediato como se o encetar hoje mesmo o processo comunista que retomando as palavras de Marx supera atifhebt o actual estado de coisas equivalesse a acreditar de maneira imbecil no comunismo para amanh Semanas mais tarde o pr prio Secret rio Geral do Partido no seu Relat rio ao Comit Central de 18 de Maio empenhava se em acabar com esta perigosa situa o a de um comunista que se propunha reclamar se sem reservas do comunismo No entanto a dificuldade estava j como em 1984 em que a minha reflex o para qualquer esp rito sem reservas mentais constitu a uma cr tica de esquerda linha seguida pela direc o embora de modo algum esquerdista Era pois importante que fosse de direita como convinha para a boa ordem de uma batalha interna que estava ent o no auge e na qual qualquer contestat rio devia ser por princ pio adepto de uma vergonhosa social democratiza o do partido O Relat rio colocando direita o que de esquerda o que o b b destas coisas apontou que no fundo podemos perguntar nos se sob a sua
205. o e inferior pelo n vel das suas exig ncias por exemplo para Marx est imediatamente na ordem do dia a necessidade de quebrar a m quina estatal burguesa e dar in cio ao definhamento do Estado enquanto instrumento de opress o de classe Inferior esta fase o exclusivamente pelo n vel de satisfa o inicialmente poss vel daquelas exig ncias o que em nada faz adiar a sua necessidade O ponto fundamental t o raramente posto em relevo que eu tenha conhecimento portanto este Marx no que lhe diz respeito nunca encarou o caminho para a sociedade sem classes contentando se com dar in cio numa primeira fase socialista apenas transforma o por mais crucial que seja aos seus olhos do modo de propriedade dos meios de produ o e de troca como se o arranque das outras transforma es pudesse ser diferido Assim claramente estranho a Marx o discurso do socialismo cient fico que se tornou ritual no movimento comunista do s culo XX e no qual o termo socialismo se substitui ao de comunismo para designar uma sua suposta primeira fase de conte do t o empobrecido que muda completamente de sentido ou at o suplanta completamente remetendo o para o ideal O que nos obriga a perguntar de onde prov m Responder de forma v lida a esta quest o requer estudar em pormenor a complexa hist ria das palavras socialismo e comunismo estudo realizado com grande riqueza at meados do s culo XIX mas menos vigilante na minha
206. o em todas as suas dimens es de poderio alienado e alienante os homens come am juntos a tomar se senhores das suas pr prias escolhas Reter apenas o primeiro momento deste triplo programa como o fizeram cada qual sua respectiva maneira o socialismo estalinista e a social democracia vota a muta o revolucion ria a reduzir se a um revezar pol tico no quadro perpetuado de um estatismo de classe Mas se restabelecermos este programa na sua integralidade que pode por seu lado encontrar nele de ainda v lido uma cultura comunista de hoje Antes do mais ser de considerar operar as transforma es radicais a que visa o comunismo sem conquistar para come ar o poder de Estado burguesia capitalista E algo que pode parecer absurdo Mas o que o Estado sen o um conjunto de formas institu das em que se concentra uma domina o de classe muito mais ampla que tem a suas ra zes muito para tr s dele e estende os seus efeitos muito para al m dele Qualquer mudan a social profunda exige pois dos que se batem por ela a capacidade de contestar reduzir e ao fim e ao cabo inverter esta domina o em toda a sua amplitude De qualquer maneira uma suposta conquista revolucion ria do poder de Estado sem sequer falar da sua completa inverosimilhan a nos pa ses mais avan ados da actualidade n o poderia bastar para tanto apoderar se do aparelho de Estado n o ainda e de longe deter o poder As for as revolucion rias n o pod
207. o o que ser objecto do pr ximo cap tulo mais necess rio que nos interroguemos provisoriamente at que ponto continua hoje v lida para n s a pr pria concep o subentendida naquele trabalho de pensamento Condi o pr via tanto mais obrigat ria quanto o colossal abortar do suposto comunismo como regime social no campo socialista e igualmente ao fim e ao cabo tamb m como movimento pol tico no resto do mundo impede que nos esquivemos interroga o radical sobre a validade da pr pria teoriza o marxiana J que com efeito como sabemos n s que o futuro se chamar comunismo N s acredit mos sab lo em virtude do que o Manifesto nos fornece como intelec o te rica do conjunto do movimento hist rico mas de onde vem a conclus o de que o conjunto do movimento hist rico seria intelig vel e que a sua boa intelec o aquela que nos fornecida Quando as filhas lhe perguntavam qual era a sua divisa preferida Marx respondia pegando na velha f rmula c ptica Duvida de tudo Imperativo muito actual para quem persiste em reclamar se do comunismo ap s o desastre Mas duvida de tudo pode implicar para n s duvida de Marx De todo o Marx n o s das teses econ micas e vis es pol ticas mas tamb m do materialismo dial ctico do m todo dial ctico portanto desse filos fico que por muito que custe aos seus detractores desempenha nele em todas as reas um papel primordial Isto n o transforma
208. o Assalariado aquele em que a liberta o de todos os homens podia encarnar se num grupo social espec fico O que hoje necess rio n o procurar uma nova classe oper ria mas sim a cultura pol mica capaz de unir em torno de apostas comuns a multid o de experi ncias de confronto com a ordem social 2 03 Para uma estrat gia de desaliena o A esta amplifica o que j tantas coisas muda vem acrescentar se uma transmuta o que vai mudar ainda mais Se ao fim e ao cabo o capitalismo se resume explora o do homem pelo homem o seu papel hist rico s negativo e s se trata pela aboli o isto define uma maneira de o combater Colocar se do ponto de vista da aliena o abre uma perspectiva inteiramente diferente N o porque a espolia o dos trabalhadores se revele menos inaceit vel acabar com ela continua a ser o nico des gnio v lido Mas a aliena o n o s desapossess o impiedosa dos indiv duos tamb m e ao mesmo tempo desenvolvimento sem precedente de capacidades humanas embora sob uma forma que as afecta no seu pr prio fundo isto o que Marx n o hesitava em chamar a miss o hist rica do capitalismo e recusar se a v lo impede totalmente de compreender a sua formid vel vitalidade e tamb m a sua tenaz audi ncia O capitalismo n o s destrui o como em meados dos anos 80 Philippe Hergoy o repetia quase no meio do deserto perante o Comit Central do PCF O que n o s
209. o do Comit Central do PCF em Argenteuil em 1966 cujo vasto objecto os problemas ideol gicos e culturais abrangia implicitamente um ainda mais vasto debate estrat gico Jean Kanapa disse me na pausa seguinte minha interven o naquele tom c ustico que ainda tenho nos ouvidos e para mim o caracteriza como o sorriso do gato ausente em Alice no Pa s das Maravilhas Ainda acreditas na filosofia Frase na qual senti de repente a profundidade de uma diverg ncia cultural entretanto surgida entre n s Pensando nessa frase tantos anos depois quase entrava outra vez em combate Eu acreditar ainda na filosofia Ora essa Quando alguns anos antes tinha publicado um livro atacado por alguns como sendo demasiado feroz para com toda a filosofia francesa contempor nea Quando ainda por cima sustentava nesse livro expressamente a tese marxiana do fim da filosofia Acreditava seguramente s que eu acrescentava que este fim da filosofia no sentido tradicional era o pontap de sa da para uma nova etapa do trabalho filos fico trabalho de consist ncia cient fica e j n o especulativa mas cient fica num sentido completamente irredut vel sua acep o positivista na qual filos fico soa mais ou menos como inconsequente Era precisamente o que acabava de dizer na minha interven o em Argenteuil contestando nos seus fundamentos as perspectivas de orienta o positivista sobre uma pretensa reabso
210. o para limitar o objectivo central destas transforma es progressivas ao modo de propriedade dos meios de produ o e de troca tornando se vital pelo contr rio incluir partida na sua formid vel diversidade e extens o todas as aboli es e metamorfoses todas as inova es e conquistas suscept veis de fazer sonhar e agir as mais amplas for as sociais que aspiram a uma outra vida e a um outro mundo portanto o pr prio conte do de um comunismo do nosso tempo que na sua plenitude n o ser certamente para amanh mas cujo des gnio pr tico deve ainda mais por isso mesmo come ar hoje Abandonar a ditadura do proletariado e ficar se pelo objectivo estreito do socialismo mesmo que francesa que inconsequ ncia E ao mesmo tempo que prenda dada pelo partido comunista ao seu concorrente socialista Por isso mesmo o XXIII Congresso do PCF iria acrescentar em 1979 uma novidade potencialmente importante esse socialismo seria autogestion rio demarcando se assim do estatismo burocr tico com o qual se identificava nos pa ses do campo socialista como de resto em pa ses de social democracia Mas como n o ver ent o at onde nos deve conduzir a ideia de auto gest o sob pena de ficar letra morta Poder haver autogest o n o a retalho e subsidi ria mas de conjunto e plena sem se encetar uma multid o de transforma es conexas orientadas para a supera o do trabalho assalariado capitalista para o desenvolv
211. o pode de modo algum ser definida quanto ao essencial como a conquista do poder pelo partido como requisito para o socialismo nem mesmo de modo conexo como o cumprir entretanto de tarefas inscritas no campo pol tico institucional a come ar pelas elei es Concep o esta que nos mant m inexoravelmente no quadro da pol tica alienada em crise estrutural o que n o quer dizer que n o tenha ainda muitos anos diante de si e por isso no quadro da forma partido De um modo fundamentalmente diferente esbo ado no cap tulo anterior esta fun o reside no encetar imediato de todas as desaliena es poss veis em que os pr prios indiv duos come am a reapropriar se dos seus m ltiplos poderes sociais construindo nos mais diferentes terrenos uma hegemonia favor vel a supera es concretas do capitalismo e da sua l gica Isto postula partida o p r em causa aspectos fundamentais da forma partido come ando por revolucionar conte dos habituais da actividade comunista deixa de se tratar de ir executando tarefas pr condicionadas pelo sistema pol tico vigente para subvertendo o pr prio sistema encetar sem demoras as transforma es sociais de fundo com tanto de ambi o nos fins visados como de realismo nos projectos encetados mas tamb m com inventividade para aumentar os projectos poss veis Daqui decorre uma decisiva desloca o do centro de gravidade da ac o pol tica o essencial nesta perspectiva j se n o sit
212. o poder ou porque tendo o conquistado come a a geri lo como um capital em vez de se esfor ar por faz lo definhar vemos operar se nele a irresist vel ascens o do centralismo autocr tico que o mesmo dizer se vemos o seu modo de vida render se s exig ncias de uma pol tica de ess ncia burguesa N o ser necess rio ter a coragem intelectual de reconhecer que por entre tantas lutas anticapitalistas merit rias foi efectivamente o que sem grandes alardes aconteceu ao PCF E que s isto permite compreender que a sua imagem se tenha desastrosamente transformado na de um partido como os outros Desde h anos quantas c lulas t m ainda fora das campanhas eleitorais verdadeiras actividades p blicas Quando assim ocorre o inevit vel dom nio da pol tica delegat ria e da organiza o vertical Para escapar a esta l gica implac vel ser necess rio abjurar toda e qualquer pretens o a aceder a qualquer poder Ser mesmo necess rio recusar se a participar em quaisquer elei es e como Alceste refugiar se no deserto O comunismo n o uma escola de deser o H pois que ousar fazer frente ao antagonismo inultrapass vel no actual estado da coisa pol tica entre essas duas l gicas organizacionais a verticalidade de poder e a horizontalidade de auto organiza o solid rias de dois modos profundamente diferentes de fazer pol tica Aqui reside toda a dificuldade em superar a actual forma partido n o no simples
213. oder designar pela palavra comunismo Mas seria ilus rio pensar que se pode saltar por cima das tarefas do socialismo e por isso que devemos voltar a levantar a bandeira do socialismo p 312 Tomando conhecimento de uma reflex o como esta mede se a tola pesporr ncia daqueles para quem nada sobretudo nada com um alcance pol tico se pensa de novo para os lados de Marx Tamb m chama a aten o o t o manifesto ar de fam lia das preocupa es de todos aqueles que se empenham em reconstruir teoricamente uma perspectiva de esquerda para a esquerda sobre esta tela de fundo que se n o deve perder nunca de vista que se devem situar as indubitavelmente muito grandes diferen as de an lise e de orienta o Numa discuss o de fundo da tese de Jacques Bidet se que ela se pode resumir ao extremo como atr s se fez poder amos perguntar nos em que que se dialectiza a dial ctica quando se apaga a dimens o hist rica que as rela es estruturais sempre cont m e se com isso o que se faz n o antes desdialectiz la Mas para me ater aqui aos conceitos prospectivos adiantados ser que n o s o pass veis de algumas fortes objec es Como justificar antes do mais que n o seja explicitamente nomeado sob a no o de associa o o n o mercantil que historicamente sempre acompanhou o mercado de modo algum numa simples coabita o meta estrutural mas numa dial ctica dos contr rios de patente dime
214. omo pelos das for as sociais de que pretendeu ser a express o neste esp rito que dando um alcance pr tico a esta autocr tica ele anunciava para o ano 2000 Communisme un nouveau projet p 397 um congresso fundador da organiza o dos comunistas franceses do s culo XXI sem esconder que bem poderia ser para o seu partido o encontro da ltima oportunidade p 386 Atitude corajosa que n o deixa no entanto de p r um problema embara oso como se compreende que esta funda o esteja por fazer quando era em princ pio coisa feita desde 1994 no XXVIII Congresso que se gabava de ter dado o tiro de partida para nada menos do que um Partido Comunista de novo tipo de crer que a realidade n o estava altura da proclama o at porque desde ent o a crise do PCF n o parou de se agravar em quase todos os planos efectivos em queda c lulas desertadas meios de express o em perigo sobre um fundo de influ ncia eleitoral e de capacidade de ac o que n o ultrapassam um n vel baixo A quest o do Partido n o tinha pois sido de modo algum resolvida E como poderia t lo ela sido se nem sequer estava seriamente posta O XXVIII Congresso devia em princ pio superar o centralismo democr tico herdado da III Internacional Mas como alguns de n s o dissemos nada se pode superar sem fazer o esfor o de o pensar Em vez disso os respons veis pelo congresso acharam por bem n o explicitar nem as premissas te ricas
215. omplica o E assim o veredicto pol tico adquire miraculosamente a consist ncia de uma constata o hist rica Basta proceder como se o comunismo tivesse por conte do exclusivo na sua ess ncia o que n o s deixou nele de viver mas ainda mereceu de certo modo morrer E aqui est a defini o escamoteada que quer Furet quer Courtois tacitamente pressup em o comunismo essa utopia de um futuro que pertence irrevogavelmente ao passado Por isso n o tem futuro Quod erat demonstrandum Como escreve Furet no seu pref cio o comunismo acaba numa esp cie de nada p 9 ed fr e n o admira eliminaram lhe por constru o o ser vivaz Mas com isso eliminaram lhe tamb m os problemas mais verdadeiros por debaixo do exagero pol mico irrompe a indig ncia cr tica que fazendo depender toda a an lise desta entidade indefinida que o comunismo fica se cego para as quest es nascidas precisamente da sua defini o real Assim a Uni o Sovi tica nunca se apresentou a si pr pria ali s como nenhum outro pa s do campo comunista como uma forma o social comunista mas t o s socialista distin o terminol gica que abrange enormes diferen as sociopol ticas E como compreender precisamente que ap s mais de meio s culo de edifica o do socialismo a URSS de Krutchev e depois de Brejnev n o tenha por fim passado ao comunismo Uma simples quest o como esta totalmente oculta pelo recu
216. omuna munic pio e por isso diga autonomia fez se valer que o comum tamb m o greg rio e que o termo continua assim mudo sobre o que o pr prio Marx considerava como o nico fim em si da hist ria o completo e livre desenvolvimento de todos os indiv duos ineg vel Se hoje fosse necess rio procurar ou formar uma palavra in dita para dar um nome ao futuro seria indicado levar isto em considera o Mas a decisiva novidade da janela hist rica em nada anula a fundamental continuidade da causa antropol gica que consiste em sair enfim da nossa pr hist ria de classe Marx depois de outros chamou a esta causa secular comunismo tornando a universalmente eloquente sob este nome manifesto que continua at hoje a ser o nico que diz de onde as paix es contr rias que ainda suscita a radical idade n o negoci vel da transforma o social a efectuar Porqu recus lo A menos que se o queira combater Digamos como Jean Luc Nancy e Jean Christophe Bailly cf La Comparution Ch Bourgois 1992 p 62 de maneira um pouco diferente que o nome provis rio de qualquer coisa que no futuro ter talvez outro nome mas daqui at l vamos mant lo Ainda se objectou que a palavra comunismo transporta a indel vel marca negra do que em seu nome se fez de pior no s culo XX a marca do gulag e dos processos de Moscovo a Paris ineg vel tamb m Ora eu vejo a precisamente a mais convincente raz o para a mant
217. opini o justamente no per odo crucial em que se fixam os enunciados cl ssicos do socialismo cient fico tal como acabo de o analisar Restringindo me aqui a alguns pontos lembro em primeiro lugar que Marx e Engels optaram a t tulo definitivo logo nos finais dos anos quarenta entre os dois termos que abrangiam duas maneiras simultaneamente aparentadas e hostis de pensar a emancipa o social como explica Engels no seu pref cio de 1888 a uma reedi o inglesa do Manifesto eles n o lhe podiam dar outro t tulo que n o fosse comunista sendo dada ao mesmo tempo a inconsist ncia te rica do socialismo era a palavra chave dos charlat es sociais de todo jaez e a sua tend ncia pr tica se era considerado como aceit vel que diferentemente do comunismo remetia para vis es burguesas muito mais do que para as lutas prolet rias V se que aqui n o se trata de modo algum de oposi o entre dois momentos da futura transforma o social trata se antes da oposi o entre duas correntes quanto maneira de conceber essa transforma o e de trabalhar para ela Ora foi socialismo que contudo ganhou na forma o dos partidos oper rios nomeadamente na Alemanha com o lassallismo Escrita por Marx em 1875 justamente contra o socialismo de Lassalle com a sua fraqueza te rica e o seu estatismo sem limites a Cr tica do Programa de Gotha foi posta na gaveta pelo Partido Social Democrata alem o at 1891 depois aba
218. or detr s desse como esqueceu o porqu Ser excessivo pensar que at a fabulosa aliena o estalinista a residia em germe Come ar pelos fins este o bom ponto de partida de um comunismo para o nosso tempo Porqu quer dizer para qu trabalhar ir escola ir votar Qualquer desaliena o da pol tica come a por uma real escuta dessas lancinantes quest es de sentido e pelo sentido das respostas que se mostrar capaz de tecer com os que questionam O que que de humanamente defens vel se quer produzir pelo trabalho formar pela escola mudar pelas elei es Nenhuma actividade social escapar certamente asfixia se n o renovar a fundo o oxig nio do seu para qu O capital quanto a ele j se n o d ao trabalho de dissimular quando se n o permite o cinismo de ostentar que o que o faz correr muito mais do que os prazeres pessoais o dinheiro pelo dinheiro e o poder deste que o seu fim ltimo pois ele pr prio esta car ncia de uma finalidade humana a sua condena o Mas a um n vel tico completamente diferente ser poss vel encontrar um para qu final que valha por si O pensamento ecol gico deve sem d vida uma boa parte da sua audi ncia ao facto de no seu melhor p r esta crucial quest o dos fins coisa em que se confirma um certo parentesco entre ele e o comunismo O seu fil sofo de maior notoriedade Hans Jonas formula em Le Principe Responsabilit ditions du Cerf 1990 O
219. os acreditarem poder escrever num artigo comum como se fosse a mais trivial evid ncia no momento em que o comunismo j n o oferece alternativa Le Monde 20 de Dezembro de 1998 Quem tenta pensar o contr rio margem do Le Monde sente se pequenino Mas j que a colocada sem seriedade uma quest o muito s ria examinemo la seriamente embora rapidamente Ter Marx hiper racionalizado a hist ria n o certamente maneira idealista de Hegel para quem no seu decurso universal ela n o mais do que a manifesta o da raz o segundo as suas pr prias palavras mas como pensador materialista da necessidade e que portanto para retomar uma f rmula requentada a concep o que dela ele tem do dom nio do determinismo Cem vezes agitada cem vezes tratada esta quest o j n o oferece d vidas para quem pelo menos se queira informar de boa fonte Como escreveu por exemplo Michel Vad e Marx penseur du possible Klincksieck 1992 p 494 falar de um determinismo estrito e rigoroso a prop sito das concep es de Marx um contra senso Claro que Marx sustenta com firmeza que existe uma causalidade e mesmo uma legalidade do movimento hist rico Em particular a se manifesta segundo ele uma conex o imbu da de necessidade entre o car cter geral das for as produtivas em cada poca homens inclu dos e a estrutura global das rela es de classe destes como de modo mais alargado e menos estrito com as outras
220. os pa ses e centenas de outras coisas da mesma ordem que tamb m constituem o comunismo digo vos tranquilamente que isso n o n o o podem fazer E mais esfor arem se por criminalizar de maneira gen rica uma implica o militante na hist ria que em alguns pa ses capitalistas como o nosso consistiu na sua maior parte ao longo de todo o s culo e ainda hoje consiste em combater com abnega o pol ticas humanamente escandalosas e por mais do que uma vez criminosas eis o que a meus olhos n o motivo de orgulho Sem negar s vossas obras um certo valor cient fico constato que est o profundamente penetradas de ideologia partindo sem o dizer de uma pr no o eminentemente contest vel do que quereis chamar o comunismo e que esta pr no o n o criticada e muito critic vel surge para quem l com aten o como a chave dos vossos trabalhos desde a divis o do objecto at s vossas liberdades de linguagem passando pelo vosso modo de tratamento da mat ria hist rica Logo que acabei de escrever isto uma d vida me assaltou n o seria excessiva esta querela de vocabul rio sobre o comunismo Qualquer que seja a nossa vis o da hist ria o modelo sovi tico de regime o totalitarismo estalinista n o ter o estado no pr prio cerne do fen meno comunista E n o ter o imprimido a sua marca em todos os seus aspectos a tal ponto que assiste o direito de dizer na realidade dos factos isto o comunismo
221. pio leniniano segundo o qual o partido se constr i de cima para baixo Mas aten o Este princ pio n o subentende apenas a caduca verticalidade tamb m cobre um inevit vel primado da organiza o objectiva estruturas institu das decis es anteriores etc sobre a subjectividade dos organizados Qualquer organiza o exige esta objectiva o e o seu respeito por todos sem o que logo se volta a cair na inorganiza o espont nea O problema pois velar para que podendo os aderentes modificar a qualquer momento o institu do esta objectiva o n o degenere nunca em aliena o quest o chave que nos esfor aremos por melhor analisar Mas para n s o princ pio leniniano tem a ver ainda com algo mais uma prolifera o de experi ncias transformadoras originais em terrenos t o variados quanto poss vel necessita em absoluto de uma for a organizada de informa es rec procas avalia es cruzadas aprofundamentos comuns conclus es transversais toda uma centraliza o elaborativa que remete ela pr pria para a descentraliza o dos seus resultados provis rios e inversamente num incessante vaiv m Neste sentido se a fun o pol tica primordial de uma nova for a comunista exclui a verticalidade a sua fun o subordinada de interven o nas formas pol tico estatais institucionais n o parece poder ser tratada do mesmo modo voltaremos a isto Ela reclama efectivamente uma centralidade livre de uma esp cie muito nov
222. pitalismo e o anticapitalismo de hoje come am a desenhar de maneira conflitual e de inven o da nova cultura da nova pol tica e da nova organiza o autenticamente comunistas que podem permitir tirar partido desse conflito Os pr ximos cap tulos esperam dar algum contributo para esta tarefa t o rdua qu o altamente motivadora Mas para concluir aqui a quest o da hist ria direi que ela s um t nel para quem n o sabe nem quer abrir a sua janela Com todas as reservas n o puramente formais cuja justeza j admitimos afirmamos que existe alguma poss vel e pertinente intelec o da hist ria em vias de acontecer e alguma esclarecida e poss vel pr tica do revolucionar social a encetar N o na melhor parte da sua obra Marx n o hiper racionalizou a hist ria Pode se considerar no entanto que ele ainda a n o dialectizou suficientemente de maneira materialista Subestimando constantemente os atrasos de consuma o das l gicas hist ricas que discernia por outras palavras vendo mal at que ponto as suas vis es prospectivas estavam em avan o em rela o ao movimento real Marx n o perspectivou que a era de sa da da pr hist ria humana pudesse ser n o uma relativamente curta poca homog nea mas uma muito longa hist ria com janelas hist ricas profundamente mut veis esta mudan a qualitativa das mais inesperadas que nos vai ser necess rio tirar a limpo Resta que o futuro tinha um nome e que o conserva Com est
223. po o processo e o resultado da supera o de todas as grandes aliena es hist ricas atrav s das quais se desenvolveu contraditoriamente at agora o g nero humano Muito bem dir se talvez o leitor mas ao seguir estas t o te ricas considera es que ganhamos n s na pr tica para melhor fazer frente aos terr veis desafios de hoje o que poderemos julgar se admitirmos come ar por avaliar a extraordin ria altera o que constituiu a redu o hist rica da cultura comunista no pleno sentido do termo sua vers o socialista em que a tarefa se pode resumir por muito essencial que isto seja em acabar com a explora o dos trabalhadores digamo lo pela forma inversa se avaliarmos como nas actuais condi es pode ser enriquecedora a original reprodu o da concep o marxiana A cultura tradicional do socialismo focaliza se sobre a produ o dos bens materiais os seus meios e a forma de propriedade destes sobre os seus actores e por conseguinte sobre a classe oper ria estes s o os termos chave de mais de um s culo de hist ria revolucion ria Passar daqui para uma cultura comunista da desaliena o geral em nada leva a perder de vista tudo isto e muito pelo contr rio a explora o do trabalho oper rio ela pr pria tipicamente uma grande aliena o hist rica j que se baseia e Marx sublinha o incessantemente na separa o dos produtores directos dos seus meios de produ o Ela continua pois a ser
224. poder modular as suas ac es salta vista para n s hoje que a sua suposta inteligibilidade era apenas um mito p 338 O homem dito de esquerda que cr ainda prolongar uma hist ria orientada pela Revolu o Francesa tem de se apressar esta idade de ouro est em vias de passar p 337 Nesta vaga foi um ver quem enfiava as mais definitivas orelhas de burro aos defensores de certa racionalidade hist rica Que racionalidade quando Paul Veyne decreta em Comment on crit l histoire Como se Escreve a Hist ria e em Foucault r volutionne l histoire Foucault Revoluciona a Hist ria Le Seuil 1971 1978 que a Hist ria de que se fala h dois s culos n o existe p 10 Em geral s existem constela es singulares o resto s uma palavra p 213 como t o bem o tinham visto os nominalistas na Idade M dia Estabelecendo que a loucura n o existe mas apenas pr ticas movedi as que constituem ou dissolvem esta apar ncia de objecto Foucault abriu magistralmente a via a uma verdadeira liquida o da hist ria p 204 que dinamitagem da filosofia pol tica racionalizadora p 210 Compreendeu se tudo quando se d conta de que a ideologia a pol tica o Estado o pr prio objecto natural n o existem p 224 preciso ser se marxista para conservar esta ing nua cren a no objecto p 239 e a import ncia de Foucault que justamente ele n o faz Marx
225. portantes transforma es econ micas e pol ticas e encetar assim a evolu o muito mais lenta da fase inferior para a fase superior da sociedade comunista significativa a este respeito a met fora do parto que emprega mais uma vez em 1875 na sua Cr tica do Programa de Gotha Ora temos hoje raz es para encarar a supera o do capitalismo como um vasto conjunto de transforma es qualitativas j n o inicialmente s bitas mas constantemente graduais a sua imut vel ess ncia revolucion ria n o implicando em si patamares brutais o que n o exclui priori claro que haja eventualmente que conter num ou noutro momento reac es violentas Aos que ainda acreditem na lei estalinista segundo a qual toda a mudan a qualitativa seria necessariamente brusca faremos observar que a f sica contempor nea p e em evid ncia aquilo a que chama transi es de fase de segunda ordem em que a n veis muito elevados de press o se apaga qualquer limite n tido entre diferentes estados da mat ria cf L S ve e outr Sciences et dialectique de la nature La Dispute 1998 pp 197 203 Permita se nos esta outra met fora a n veis muito elevados de press o social pol tica e ideal n o se tornar o inevit veis mudan as qualitativas parciais das pr prias estruturas da sociedade sem cataclismo revolucion rio Da a extraordin ria import ncia do que torna doravante poss veis unidades anticapitalistas que v o muito al m do tradicional senti
226. povo pelo Estado bem pelo contr rio o Estado que precisa de ser educado de maneira rude pelo povo Sendo ali s as coisas pouco compar veis eu n o estaria longe de considerar que o avan o para uma for a comunista digna desse nome se medir pelo grau de definhamento das direc es Porque em resumo de que necessita para se organizar eficazmente a multiplicidade de iniciativas que em todos os estaleiros da transforma o social uma for a comunista revivescente tem por voca o libertar Para isso s o necess rias n o decis es verticais de direc es que digam o que deve ser feito mas sim interven es horizontais de coordena es que ajudem a faz lo Reunir a informa o sobre a actividade comunista centralizar as experi ncias e as quest es que delas decorrem proceder ao aprofundamento cr tico que estas reclamam transmitir a todos os resultados provis rios deste ltimo tomar as iniciativas de segundo grau e as medidas de organiza o espec ficas que essas pr prias tarefas exigem este o papel que a todos os n veis do local ao nacional legitima a exist ncia daquilo a que no PCF hoje se chama comit s papel que podemos com raz o afirmar como fumdamental Mas ser ainda necess rio fazer prevalecer em todas essas inst ncias contra certas tenazes atitudes de poder as exig ncias de uma completa transpar ncia de funcionamento de uma rota o razo vel dos indiv duos de um lugar de grande import nci
227. pr prios movimentos sociais no terreno do que n o pode continuar assim verdade e tanto melhor embora n o sejam tantos como seria necess rio e talvez n o exactamente por si pr prios se os analisarmos sem ingenuidade Mas uma coisa insurgir se contra uma viv ncia inaceit vel e uma outra bem diferente empreender a supera o real de uma aliena o compreendida De uma coisa outra vai a imensa dist ncia que pode separar a revolta impotente do revolucionar vitorioso E cobrir essa dist ncia implica organizar tarefas espec ficas S a organiza o do trabalho de an lise e de prospectiva te ricas longe do imediatismo espont neo das suas palas e das suas armadilhas e n o ser necess rio diz lo aos animadores de movimentos sociais n o ef meros leia se por exemplo Richard Dethyre sobre a revolta dos desempregados permite dominar em pensamento o real a transformar este insuport vel prov m de onde depende do qu como se suprime Organizar tamb m a coerentiza o pr tica de todos os movimentos sociais entre si n o h nenhuma hip tese de superar a retalho o dom nio global do capitalismo necess ria a complexa converg ncia de uma multid o de iniciativas transformadoras de toda a esp cie A isto acrescenta se subordinada mas de modo algum subalterna a express o eficaz de todos esses movimentos nas formas pol tico estatais existentes tais como elas pr prias s o organizadas Assim a menos de fic
228. ptativo numa palavra subjectivo inclusive inconsciente Nesse sentido vivemos efectivamente sempre n o na conceptualidade mas sim na ideologia com a sua parte vari vel de imagin rio talvez at de ilus rio o que contudo n o equivale de modo algum a um inevit vel engano em rela o ao real Uma coisa muito diferente o que Marx tem em vista na sua constante cr tica da ideologia no sentido hist rico social o processo objectivo pelo qual particularmente na sociedade burguesa a realidade se apresenta a todos sob uma forma invertida apar ncia fenom nica que sem nossa consci ncia desnatura nas suas bases as rela es essenciais assim que o sal rio se apresenta como o evidente pre o do trabalho fornecido o mercado como reino da liberdade a desigualdade social como um facto da natureza Ligada nas suas formas e conte dos a estruturas sociais determinadas esta representa o mistificada n o de maneira alguma uma invariante hist rica No pr prio mundo actual est fartamente provado que se pode por pensamento e por actos desfazer essa invers o das rela es reais e assim dissipar at certo ponto as falsas apar ncias da economia e da pol tica do racismo e do sexismo Por maioria de raz o esse ser o caso quando os homens se tiverem reapropriado dos seus poderes sociais A desaliena o das consci ncias n o um mito hist rico Ora esta tarefa mais urgente do que qualquer outra E isto porque nunca a domin
229. qu dos nossos instrumentos e das nossas palavras das nossas institui es e dos nossos costumes Mas o div rcio impiedosamente alienante entre os teres poderes e saberes humanos e os seus produtores corta nos dois sentidos a estrada do sentido Meios sem fins por um lado e o gigantesco crescimento dos poderes humanos tende a metamorfosear se em cega e demasiadas vezes esmagadora for a natural fins sem meios por outro e os indiv duos v em se condenados a vaguear no absurdo entre quimera e impot ncia Vivemos a mais hist rica das crises de sentido claro sinal de que de um modo ou de outro a nossa pr hist ria social n o poder durar muito mais comunismo nascente ou desumaniza o final O que de mais acusador h a dizer contra esse velho ainda lou o por fora mas morto por dentro que ainda o capitalismo e diz se lo t o pouco a sua total incapacidade em dizer nos para qu dever amos n s sofrer as mil mortes que nos inflige A humanidade est em vias de se destruir material e moralmente para nada para uma fren tica acumula o de riqueza abstracta destitu da de qualquer sentido antropol gico o que a t o terr vel desmoraliza o da camada dirigente ilustra at ao insustent vel N o h pois quest o mais central a p r se hoje do que a dos fins das nossas actividades humanas Era ali s certamente a mais redibit ria das insufici ncias dessa cultura do socialismo deslumbrada pelos meios de produ o p
230. que n o h rede para tranquilizar o fun mbulo por isso que se ouve distintamente exprimirem se inquieta es de comunistas e inquieta es a que ningu m pode ficar insens vel perda da identidade revolucion ria esquecimento da luta de classes ren ncia ao esp rito de partido muitos s o os que parecem traumatizados por uma morte do pai Por aqui se mede a pesada responsabilidade de um pensamento de direc o que durante vinte anos consubstanciou as necess rias actualiza es do comunismo franc s em sucessivos abandonos muito mais do que em inven es coerentes ser de admirar que tenha produzido tantos rf os Aquelas e queles que t m estas inquieta es dir amos n o que se inquietam em demasia mas antes que o perigo grave se nos inquietarmos num s sentido Porque em suma qual o problema dos problemas que o s culo XX nos deixa em heran a Ele reside na unidade dial ctica de uma evid ncia e de uma exig ncia Algo a que ilusoriamente cham vamos o comunismo morreu de modo tr gico e irremedi vel esta a evid ncia E contudo a humanidade civilizada s pode escapar gangrena provocada pela finan a capitalista reinventando a via para essa desaliena o radical cujo nome hist rico comunismo esta a exig ncia Daqui decorre que h duas maneiras com atitudes opostas mas com efeitos possivelmente complementares de ficar impotente face ao drama dos nossos dias Uma imaginar que s
231. quilo que faz a actual vitalidade da institui o ainda mais acusada do que no tempo em que o partido de Maurice Thorez tamb m era o partido de Marcel Cachin de Jacques Duclos ou de Benoit Frachon Ora como poderemos deixar de ver que a personaliza o da Direc o do Partido foi exacerbada como nunca pelo presidencialismo da V Rep blica e de modo conexo pelo vedetismo medi tico que quando muito concedido no caso do PCF a um nico dirigente L para o fim do seu livro D mocratie Georges Marchais revelava que quando ao PCF era proposta uma grande emiss o pol tica era com a condi o de ser Georges Marchais Sen o adeus emiss o E o autor ao mesmo tempo que exprime a sua oposi o a isto pergunta poderemos n s recusar as raras ocasi es de dar a conhecer a nossa opini o na televis o confessando que n o via francamente como escapar a essa imposi o Todo o problema est aqui obvio e n o vamos voltar a isso tanto mais que a quest o tem um alcance absolutamente geral Tomadas de posi o mais importantes condu o das conjunturas de maior relevo escolha das candidaturas essenciais negocia es de c pula toda essa actividade que a direc o tende a realizar e como fugir a isso nas costas dos militantes embora tente fingir o contr rio em fun o de dados que estes ignoram de condicionalismos que lhes escapam ou at de crit rios n o expressos e que eram capazes de os siderar t
232. r eleitoral Em resumo na quest o do congresso como em muitas outras quem poder desconhecer a necessidade de radicais correc es de rumo Dito isto um congresso ser sempre um congresso ou seja em per odos espa ados um debate por delega o num tempo muito restrito Ora se o funcionamento do partido deve sofrer uma muta o t o grande como aquela que foi esbo ada nos par grafos anteriores o que na minha opini o n o s imperativo mas tamb m inevit vel n o ser claro que o futuro est num gigantesco aumento da exig ncia de determina o colectiva Por debaixo da quest o do congresso aparece pois a das multiplicadas modalidades segundo as quais as resolu es poder o ser democraticamente elaboradas e tomadas sobre um fundo de frequentes consultas dos aderentes n o s mais numerosos encontros e jornadas de estudo regionais ou nacionais mas talvez tamb m universidades peri dicas v deo confer ncias tem ticas referendos volantes todo um arsenal de formas em parte por inventar ao servi o de um objectivo quanto a ele j encontrado para l do papel espec fico de uma inst ncia epis dica e de delega o como o congresso fazer decidir ou de modo mais flex vel orientar permanentemente o trabalho relativo a todas as grandes quest es pelo maior n mero dos pr prios comunistas 3 09 Uma condu o sem direc es Voltemos ainda vasta e crucial quest o das direc es Os estatutos aprovados
233. r o da filosofia na ci ncia sobre a inexist ncia de um n vel propriamente filos fico da teoria Da o lit gio Kanapa por seu lado falava da teoria marxista de uma ponta outra da sua interven o exclusivamente em termos de ci ncia de atitude rigorosamente cient fica parecendo deste modo decretar como obsoleto o n vel propriamente filos fico A est o que me fazia ferver por dentro Como se se pudesse aprofundar e enriquecer a posi o materialista o tratamento dial ctico na teoria e na pr tica poupando uma cr tica e uma elabora o especificamente filos ficas hoje diria com mais precis o categoriais Como se poupar este trabalho filos fico pudesse conduzir a algo mais do que uma teoria em saldo e neste saldo haver ainda teoria Lit gio grande demais para ser dirimido nas poucas conversas do intervalo de uma sess o Mas esta frase daquelas contra as quais muito pensei e durante muito tempo de maneira que de caminho ela foi se carregando de um sentido muito para al m da sua letra Ainda acreditas na filosofia tinha me dito Jean Kanapa E sob esta senten a com a qual de modo algum podia pactuar acabava por perceber polemicamente a inconsciente confiss o de uma ren ncia de efeitos seguramente terr veis qualquer coisa do g nero Eu c j n o acredito na teoria Ser necess rio afirmar que poucas vezes este lit gio me vem mem ria e ainda menos se fosse caso de esbo ar
234. r tico da Associa o Geral dos Trabalhadores Alem es cabe a da qual Lassale e depois Schweitzer dispunham de poderes ditatoriais ser por acaso que isto ia de par com a supersti o do Estado e que foi a verdadeira matriz da forma partido desenvolvida pelo SPD e depois exportada para todo o movimento socialista internacional E aqui est algo que p e em causa uma ideia particularmente bem aceite a de que o centralismo autocr tico seria por elei o o corol rio organizacional da op o revolucion ria sendo a democracia pluralista apan gio do reformismo Ora o que salta aos olhos no caso exemplar da social democracia dos anos noventa do s culo XIX e para al m deles pelo contr rio que a tend ncia autocr tica em mat ria organizacional se encontra a intimamente ligada ren ncia estrat gica op o revolucion ria Com efeito por que que a direc o do SPD tripudia qualquer democracia para impedir a publica o n o expurgada do livro de Kautsky Porque est aterrorizada com o perigo de Bebel di lo quase claramente numa carta a Adler dar ao advers rio no poder uma oportunidade de destruir a imagem legalista que essa direc o tudo tinha feito para dar ao partido Apostando tudo numa estrat gia de acesso parlamentar ao poder aquela direc o interiorizara ao mesmo tempo as condi es dr sticas que isso implica antes do mais tornar inatac vel tanto nas suas palavras como nos seus actos a sua atitud
235. r de Secret rio Geral asser o estatutariamente incontest vel Conservou a fun o durante quase um quarto de s culo e sendo as circunst ncias o que eram deixou a quando ele pr prio o decidiu designando ao mesmo tempo in petto o seu sucessor como o explicou Robert Hue Centralismo democr tico a s rio Sempre o dissemos Fa o parte dos que demoraram muit ssimo tempo a compreender e sei porqu O centralismo autocr tico tem por ess ncia uma dupla face funciona tanto quanto poss vel na base da convic o comunista esp cie particularmente robusta de convic o e colhe assim o benef cio de uma confian a quase ilimitada e dada de olhos fechados representa ent o bastante bem para os distra dos a pe a do centralismo democr tico Mas para quem ataca a Direc o no seu poder tudo muda ele funciona ent o na base da repress o que tem muitas formas ocultas e pouco espalhafatosas aqu m do caso pol tico de grande espect culo Como as numerosas batalhas que travei at 1984 n o incomodavam realmente o poder supremo tive mais do que uma derrota antes dessa data mas sem nunca chegar a ser catalogado como suspeito e ainda menos como traidor causa continuando farisaicamente a pensar que tinha que o ser um pouco para merecer os rigores do alto cf Anexo ID S se descobre o que realmente o centralismo autocr tico quando o enfrentamos n s pr prios s se conhece o tigre entrando no seu covil dizia Mao
236. r excel ncia vale Responde Marx come ando por ser engendrada pela natureza a humanidade desenvolvida auto reproduziu se atrav s da sua pr pria hist ria e o pr prio desenvolvimento hist rico que faz um fim em si desse desenvolvimento de todas as for as humanas enquanto tais Grundrisse tomo I p 424 Tamb m aqui o ltimo para qu desemboca num fim em si mas de uma esp cie muito diferente n o antecipadamente decidido antes de n s pela natureza mas aberto diante de n s pela hist ria como uma verdadeira finalidade pr tica aquela que consiste em assumir a imensa responsabilidade de prolongar a hominiza o biol gica e depois social de ontem e de hoje numa humaniza o futura cada vez mais civilizada e portadora de sentido plenamente interioriz vel por todos os humanos Quantas coisas dif ceis e cativantes a debater em tudo isto coisas que est o no cerne de uma pol tica verdadeira ultrapassando as suas consternantes caricaturas Isto chegar certamente para autorizar esta nova conclus o um conceito autenticamente marxiano do comunismo renovado por uma reflex o exigente sobre o que nos ensinaram as rudes li es quer do comunismo a Leste quer da sua impot ncia a Ocidente continua a revelar se dos mais produtivos queiram ou n o os medi ticos augures para reconceber de modo plaus vel uma supera o do capitalismo nas condi es do nosso tempo e para tra ar as vias de desenvolvimento sustent v
237. r novidade excepto no facto de que alargar a estas categorias o conceito de explora o requer alguns esclarecimentos te ricos Assim num terreno muito diferente que a passagem destes servi os para o dom nio do capital tem consequ ncias de verdadeiro terramoto o terreno dos conte dos de actividade e dos seus fins Para os submeter sua lei de rentabilidade o capital deve recondicion los mais ou menos por inteiro nem que seja alterando lhes o pr prio sentido Primeiro imperativo a mercantiliza o j que para produzir um lucro nada mais necess rio do que a pr via objectiva o do valor num produto Ora no geral tamb m nada mais contr rio do que isso pr pria ess ncia das actividades de servi o cujo parceiro directo o ser humano O seu dom nio capitalista passa por cima disto tudo tem por voca o transformar se em produto mesmo que com isso se mate a sua raz o de ser a invas o da venalidade coisificante Por exemplo como se sabe no desporto de alto n vel financeirizado tudo se compra e se vende desportista patrocinado resultado dopado vit ria mediatizada at ao momento em que tendo o produto perdido parte do seu interesse e logo a sua capacidade de dar lucro a finan a vai matar para outro lado Ainda informa o cientifica outro exemplo n o pode ser uma mercadoria j que tendo a cedido continua se a t la N o seja por isso organizando o segredo impondo o at por contrato ao i
238. ralismo democr tico leniniano embora nos garantam o contr rio E isto n o ainda o essencial O essencial que em muitos pontos decisivos os estatutos adoptados no XXVIII Congresso ao mesmo tempo que pretendem superar o centralismo democr tico num sentido mais democr tico mant m impavidamente o esp rito quando n o a letra do centralismo autocr tico o caso da maior import ncia no que respeita s direc es N o estar o pr prio conceito de direc o irremediavelmente infectado pelo v rus estalinista do poder sobre o partido Objec o rapidamente arrumada pelo relat rio que neste caso denuncia qualquer demagogia basista O artigo 20 dos estatutos exp e detalhadamente que a todos os n veis o papel das direc es fundamental indispens vel decisivo por toda uma s rie de raz es onde facilmente podem ir buscar um libi as mais tradicionais pr ticas delegat rias paternalistas ou mesmo confiscat rias da democracia de partido O Comit Nacional claro est disp e por seu turno de plena capacidade de iniciativa pol tica na base das decis es do Congresso artigo 26 mas deve eleger a sua Mesa o seu Secretariado e o Secret rio ou Secret ria Nacional do Partido Assim os estatutos que pretendem superar o centralismo democr tico perenizam sem o m nimo debate a institui o Primeiro Secret rio de que todos conhecemos o papel determinante na auto reprodu o do c
239. rde em R ponse John Lewis mas sem realmente da tirar as devidas consequ ncias Porque a ideia e o vocabul rio da aliena o desaliena o se encontram presentes na totalidade da obra adulta de Marx e Engels do Manifesto aos Grundisse e ao Anti Duhring Em O Capital o termo figura por exemplo no pr prio cora o das apresenta es quer da lei geral da acumula o capitalista Livro I p 724 quer de baixa tendencial da taxa de lucro Livro III tomo I p 276 se mais n o chegasse S que o leitor franc s n o v nada disso pela simples e boa raz o que o mais das vezes tamb m os tradutores o captaram mal j que como qualquer um de n s estavam cegos relativamente ao que a an lise te rica n o tornou vis vel E por que n o o ter ela feito Porque n o se deu conta de que existem em Marx dois conceitos sucessivos e muito diferentes de aliena o Nas suas obras de juventude existe um conceito especulativo o que os homens s o num dado contexto social por n o ser compreendido como produ o hist rica metamorfoseado como em Feuerbach numa abstracta natureza ou ess ncia do homem inerente aos indiv duos e da qual estes se desapossam em favor da aliena o religiosa pol tica econ mica sem que se saiba l muito bem porqu nem como poder o reapropriar se dela este conceito imaturo de aliena o que com efeito desaparece para n o mais voltar em Marx e Engels a partir de 1845 46 a ess nci
240. reaproprie Deve se opor o mais resoluto dos internacionalismos mundializa o capitalista mas que seja um internacionalismo de nova gera o Porque pag mos caro a aprendizagem das armadilhas dessa universalidade imatura guiada supostamente por um particular seja uma c pula de Estado ou de partido uma superpot ncia uma grande finan a que assim se torna o grande obst culo a uma maior universaliza o A universalidade humana para a qual se trata de avan ar n o pode ser aquela em que a unidade abstracta de uma forma dominante pretende impor se s identidades singulares sejam elas das na es ou das pessoas das culturas ou das organiza es intimadas a normalizar se sua imagem Ela deve antes ser essa universalidade concreta em que cada singular se torna enquanto tal um pleno associado do g nero humano interiorizando sua maneira os valores comuns deste coer ncia sem domina o nem uniformiza o a inscrever no novo conceito de comunismo Mas do t o alienado singular de hoje ao universal emancipado de amanh s o necess rias media es Na ordem internacional aquela que melhor se esbo a neste momento n o ser a comunidade regional de Estados Um dos piores erros do comunismo franc s foi ter durante tanto tempo virado costas Europa em gesta o abandonando a outros a sua constru o Porque uma comunidade como esta desastrosa caso se arvore em contramestre particular de uma domina o geral pode
241. ros com as sua universais pretens es reguladoras na das supranacionalidades e das suas decis es sem recurso na das redes ocultas em que proliferam os piores cinismos Mas a crise de efic cia e de credibilidade que da adv m para os poderes institu dos com a frequente excep o do n vel municipal t o grande que transforma es estruturais profundas se tornam cada vez mais inadi veis escala internacional por exemplo a crescente aspira o a um reconceber da ONU ou a for ada demiss o da Comiss o de Bruxelas em Mar o de 1999 d o uma ideia das possibilidades escala nacional enquanto soa para os partidos pol ticos a hora de uma aut ntica refunda o admitam no eles ou n o vai se precisando a consci ncia da necessidade de uma nova Constitui o que inaugure uma Rep blica com um outro e bem maior conte do democr tico O definhamento do Estado pode passar tamb m sem paradoxo pela sua reforma que o fa a contribuir para o seu pr prio definhar em benef cio de uma nova idade da pol tica de uma muito diferente articula o dos poderes de uma democratiza o fundamental da fun o p blica de um fervilhar inovador de toda a vida c vica Em suma na quest o do Estado como na do mercado tudo muda conforme nos resignamos partida sua perenidade o que limita estreitamente qualquer ambi o transformadora ou se aponta desde logo para a sua progressiva supera o hist rica 2 10 Comunismo e mundi
242. ros tamb m importantes e que eu nem sequer evoco Exige o na medida em que diferentemente de qualquer forma de explora o e segundo a an lise desta quest o que em outro local propus a aliena o que opera aqui n o faz das suas v timas uma classe transbordando assim espectacularmente do quadro marxista tradicional Tratar se ia pois na minha opini o de um processo de alguma maneira fora das classes De modo algum num sentido a irrup o do capital nesses servi os a mais clara das apropria es de classe e lutar contra ela entronca sem equ vocos na luta anticapitalista Mas se h efectivamente uma classe num dos p los da contradi o o facto desconcertante que n o h classe no outro p lo o que a aliena o fere aqui muito mais do que os interesses de uma categoria social determinada a finalidade humana de actividades para todos Dissimetria de um profundo alcance trata se de travar uma batalha de classe j n o em nome de uma classe mas pela pr pria humanidade dos homens e isto sem deslizar minimamente para um qualquer humanismo mole muito pelo contr rio no mais spero p r em causa da desumaniza o pelo capital N o teremos aqui algo como uma nova etapa desse processo hist rico de que Marx via j uma express o no desenvolvimento da classe oper ria que tudo produz sem nada possuir a dissolu o de todas as classes A Ideologia Alem prefigura o em negativo de uma futura rela o desalie
243. rso sem rigor a esta no o onde tudo cabe que o comunismo pode conduzir a uma interroga o infinitamente mais fecunda do que toda a conversa anticomunista convencional N o ser tamb m algo de muito enigm tico que se tenha podido tirar do Manifesto Comunista a doutrina classicamente denominada socialismo cient fico Pura quest o de palavras Expliquem me ent o se me permitido aqui invocar uma experi ncia pessoal por que que quando nos finais dos anos oitenta lutei no Comit Central do PCF para contestar nos seus fundamentos o objectivo oficial do socialismo francesa valorizando vigorosamente aquilo a que chamei o des gnio comunista fui objecto de tantas recusas veementemente acompanhadas das mais ofensivas acusa es Quando vejo um homem como Fran ois Furet outrora membro ef mero do PCF e agora historiador de talento com uma enorme erudi o na sua rea passar sem sequer os notar por cima dos problemas cruciais implicados neste tandem sem ntico socialismo comunismo como poderia eu deixar de concluir que ele ter apesar de tudo permanecido terrivelmente exterior aos problemas vivos do comunismo sem aspas Em suma toda a fun o desta indefens vel maneira de tratar o estalinismo chamando lhe o comunismo sem pestanejar consiste em esconder onde se situa aquilo a que chamarei a nova quest o comunista exactamente aquela a que consagrada a obra que se ir ler Isto porque a unidade nominal
244. rson de Tony Andr ani ou de Jacques Bidet A vasta Th orie g n rale PUF 1999 em que este ltimo exp e o conjunto da abordagem meta estrutural a que se referiam por antecipa o os seus trabalhos anteriores n o tinha ainda sido publicada quando eu redigi este cap tulo Contudo uma explica o mesmo que sucinta com a sua maneira pessoal de recolocar a quest o do socialismo num texto anterior muito mais breve ser certamente esclarecedora quanto reconfigura o do conceito actual de comunismo a que aqui nos dedicamos 2 07 Socialismo de mercado ou comunismo p s mercantil Para Jacques Bidet cf Congres Marx international Actuel Marx PUF 1996 Marx teria cometido o erro de conceber a rela o entre mercado e plano como uma sucess o hist rica vindo o plano socialista tomar o lugar do mercado capitalista Pensando dialectizar a dial ctica p 297 sustenta ele que pelo contr rio as duas coisas s o necessariamente concomitantes e n o alternativas elas constituiriam at com a coopera o associativa imediata que se diferencia quer do mercado quer do plano aquilo a que chama o trin mio meta estrutural do mundo moderno de certa maneira o seu espa o constitutivo a tr s dimens es Jacques Bidet n o esconde que se trata aqui de uma subvers o do marxismo p 296 sendo a ideia de um socialismo de mercado totalmente estranha a Marx e Engels Mas segundo ele toda a experi ncia do mundo
245. rven o encorajada o seu trabalho pol tico impulsionado por direc es especialmente encarregadas disso Quem poder n o ver a profunda enormidade disto N o h aqui uma invers o onde se revela toda a ess ncia do centralismo autocr tico que aspira o recalcada da base op e demasiadas vezes a directiva compulsiva do topo n o sem deparar em mais de um caso claro est com uma certa surda resist ncia Olhando melhor quem activo quem passivo Assim quando se acabou por sentir toda a necessidade de subverter e erradicar o centralismo autocr tico quer dizer o estalinismo vulgar incessantemente revigorado pela aliena o pol tica dominante e que simplesmente aquilo de que o PCF estava a morrer n o vimos n s as coisas inverterem se mais uma vez de maneira bem edificante Toda a minha pequena experi ncia desde 1984 e comigo a de muitos outros comunistas e a de quantos antes de mim 2 a de que foi necess rio travar uma terr vel batalha para mobilizar a fraca aptid o autocr tica da direc o para encorajar a sua dif cil tomada de consci ncia sobre o que j n o podia continuar assim para impulsionar cada uma das mudan as que ela sempre acabou por s consentir mesmo no fim Esta hist ria real dever ser contada sem cosm tica a sua rudeza muito pouco conhecida Na sua Cr tica do Programa de Gotha Marx tem esta magn fica frase que destr i com um s golpe a ideia de Lassalle de uma educa o do
246. s domina es privadas e p blicas a autonomia do indiv duo transforma se tamb m cada vez mais neste tempo do neoliberalismo na completa redu o a si mesmo at redu o dos sem sem trabalho sem casa sem direitos sem documentos mas n o seremos todos n s nesta sociedade de aliena o a um ponto nunca visto de certo modo uns sem sem um real controlo sobre as nossas vidas e sem uma clara perspectiva para a nossa hist ria De onde adv m para muitos por reac o a fren tica busca de uma identidade t o dolorosamente inalcan vel o apego invejoso a supostos marcos s lidos como as filia es biol gicas os territ rios urbanos as perten as comunit rias processos regressivos e frequentemente agressivos em que pode surgir em vez do indiv duo integral o seu oposto o indiv duo integrista Ao mesmo tempo os m todos do capital penetraram nas estrat gias de vida l gica duramente concorrencial do ganhador seja a que pre o for contra os outros considerados como instrumentaliz veis sem limites l gica insidiosamente mercantil do realista motivado para se vender propriet rio de si como se de um pequeno capital se tratasse que n o hesitaria todavia em arriscar num esp rito de competi o levado por vezes ao absurdo Com esta mercantiliza o que invade o humano tanto por dentro como por fora est em curso um real movimento de desciviliza o tanto mais inquietante que for a de multipl
247. s vel ter o dom nio dos fins sem dominar os meios Incontest vel no que afirma esta f rmula parece me potencialmente especiosa pelo que omite s a atenta determina o dos fins permite fazer uma aprecia o de quais os meios entre tantos outros que essencial dominar Por exemplo se o fim preciso reordenar para as necessidades humanas efectivas o conte do de uma pol tica de sa de desde h muito regida por crit rios financeiros em si mesmos estranhos preocupa o sanit ria ser o meio mais decisivo nacionalizar as ind strias farmac uticas e as redes de cl nicas privadas Ou antes construir um controlo democr tico dos pr prios segurados sobre a Seguran a Social que desliza rapidamente para a estiliza o apesar do essencial dos seus recursos continuar a ser os pr prios sal rios indirectos dos trabalhadores cf Bernard Friot Et la cotisation sociale cr era l emplol La Dispute 1999 E a Cotiza o Social Criar o Emprego Jacques Texier teme igualmente que um des gnio comunista nos fa a perder de caminho algo de essencial em rela o ao caderno de encargos do socialismo Sustento que pelo contr rio um projecto socialista mesmo muito retrabalhado continua a ter em rela o ambi o comunista um d fice capital de transforma o Mas aqui a diferen a mais significativa desloca se mais do que em rela o perspectiva de Jacques Texier ela ressaltaria de um confronto com as de Perry Ande
248. s de diversas forma es trotskystas como a LCR cujo apego sua heran a antiestalinista e sua pr pria organiza o n o torna insens veis a perspectivas unificadoras pelos que est o pr ximos da causa comunista mas a quem as vers es pol tico culturais e organizacionais at agora nela dominantes mantiveram por mais de uma raz o dist ncia pelos jovens de ambos os sexos ainda mais ou menos indeterminados quanto sua orienta o pol tica exacta mas de quem tantas coisas podem fomentar pela sua natureza o encontro com um comunismo do nosso tempo encontro determinante j que um partido comunista de nova gera o s pode ser o partido das novas gera es comunistas Entre estes parceiros igualmente importantes parece me oportuno que nos expliquemos bem sobre o contributo tantas vezes menosprezado dos antigos membros do PCF que continuam comunistas de cora o e de pensamento Trata se efectivamente de algo muito diferente do pagar de uma d vida moral retomando o contacto com camaradas em muitos casos tratados injustamente ou muito pouco fraternalmente ainda que uma certa facilidade da organiza o em considerar se desculpada das suas faltas me pareceria em si levar a um grave progn stico O que necess rio compreender que o comunista expulso ou radicalmente desiludido tem geralmente uma experi ncia e um conhecimento original da forma partido tradicional que escapa em larga medida ao militante satisfeito e que
249. s efeitos socioecon micos H depois a quest o ecol gica em toda a sua amplitude das mil formas de polui o dos ambientes da nossa vizinhan a at grav ssima desestabiliza o dos grandes equil brios naturais passando pelo esgotar de recursos essenciais e n o renov veis Tamb m e cada vez mais a quest o antropol gica nascida em particular da revolu o biom dica e em que a pr pria condi o humana come a pouco a pouco a ser subvertida do nascimento morte da identidade gen tica actividade f sica com j vis veis consequ ncias quanto imagem de si rela o parental e a muitas representa es e pr ticas sociais De um modo mais lato ainda a quest o do desenvolvimento acelerado dos saberes e saberes fazer cient ficos no momento em que se toma poss vel reproduzir artificialmente quer o universo perceptivo ou o racioc nio inteligente dos humanos quer o caldo primitivo que se seguiu ao big bang ou a identidade gen tica das esp cies vivas isto com o esbo ar de efeitos societais e civilizacionais potencialmente exaltantes mas dos quais mais do que um n o deixam de ser inquietantes no contexto actual das utiliza es perversas do virtual at ao mal comer Todos estes problemas se acumulam e se complicam com a desarmante rapidez que lhes imprime uma corrida desvairada performance ao lucro Rapidez que ultrapassa e de longe o actual ritmo de organiza o de um desenvolvimento sustent vel ou o rit
250. s seus contextos e apostas de classe esses problemas nem por isso deixam de ser nos seus pr prios fundamentos os da futura sociedade sem classes Mas aparente paradoxo a ideia comunista n o j capaz de por si mesma propor uma resposta para eles que ela tem como objecto nico a sa da da sociedade de classes a desaliena o da hist ria humana Numa sociedade desalienada a ideia comunista ter pois deixado de apontar o futuro aos nossos descendentes incumbir inventar o seu novo rumo quer dizer a humanidade melhor humanizada em que querer o tornar se Com estes problemas p s classistas de fins humanos vemos assim aflorar n o s o horizonte do comunismo mas tamb m o da sua pr pria supera o futura enquanto indicador global de sentido no mesmo momento em que ainda chafurdamos nos problemas pr hist ricos do desemprego de massa do racismo ou da guerra limpa Dif cil estado de coisas este extraordin rio novelo de pocas t o diferentes que necess rio gerir juntas arca smo sufocante e futurismo desconcertante A pot ncia do conceito de comunismo n o se revela sem d vida em parte alguma t o bem como na capacidade que nos d de pensar sem demasiada confus o esta prodigiosa discord ncia dos tempos e de evitar as suas armadilhas superpolitiza o anacr nica sem pertin ncia ou despolitiza o prematura sem clarivid ncia Devemos ainda deter nos sobre uma considera o de ordem muito diferente antes d
251. sem inscritos nos genes enquanto supostas invalida es das ideias de Marx d o em todo o caso testemunho de um grande desconhecimento do seu pensamento pol tico Pensamento pol tico que uma elabora o complexa com um vocabul rio geralmente mal transposto pelas tradu es francesas cf a este prop sito o artigo Pouvoir de tienne Balibar em Dictionnaire critique du marxisme dir G Labica e G Bensussan PUF 1982 e 1985 Para Marx e certamente isto que a alguns custa a admitir o Estado pol tico quer dizer segundo uma distin o saint simoniana o Estado considerado n o como administra o das coisas mas como governo dos homens um poderio de domina o multiforme historicamente engendrado pelo antagonismo das classes separado da sociedade e concentrado em aparelho de constrangimento violento ou persuasivo acima dela continuamente desenvolvido pelas sucessivas classes possidentes enquanto instrumento de conjunto da sua domina o disfar ada de interesse gera Ao que responde nele Marx a vis o de um processo revolucion rio articulado num tr ptico conquista do poder pol tico pela classe oper ria condi o decisiva para operar a transforma o da base econ mica da sociedade destrui o do aparelho estatal burgu s de constrangimento gra as ditadura transit ria do proletariado que instaura a primeira verdadeira democracia para o povo in cio ao mesmo tempo do definhamento do Estad
252. sob o ngulo do realismo n o ter tudo tendido desde ent o a inverter se N o s o socialismo dos sociais democratas acabou por ser antes do mais a gest o leal do capitalismo mas tamb m o socialismo nascido em 1917 atrav s de um p riplo completamente diferente que nos valeu o estalinismo acabou no fim de contas por cair na pior das sociedades de classes e mesmo num pa s como a Fran a a conquista do poder pol tico pela classe oper ria permaneceu um mito enquanto que as sucessivas nacionaliza es mesmo as que tiveram xito nada mudaram no essencial Realista a perspectiva dita socialista Ao mesmo tempo como n o ver crescer agora a toda a velocidade tantos dos pressupostos simultaneamente negativos e positivos desse comunismo que passava por utopia N o vemos desenhar se a figura de uma for a produtiva universal com o pior e o melhor amalgamados nos poderes que a ci ncia faz desencadear N o estar a multiforme revolu o biogr fica das idades dos sexos das identidades em vias de dar corpo ao que poder ser em rela es sociais completamente diferentes o desenvolvimento integral de todos os indiv duos N o estar de maneira irreprim vel na ordem do dia a supera o do trabalho assalariado capitalista quando a loucura da finan a p e em causa como nunca o pr prio trabalho assalariado precisamente quando tudo exige que se fa a um muito mais amplo apelo s capacidades humanas N o ser esta ascens o e
253. sovi tico no lo mostra a aboli o do mercado d lugar a uma forma directamente estatal da domina o de classe p 296 A seus olhos a conclus o imp e se uma sociedade razo vel articula necessariamente em propor es vari veis associa o plano e mercado p 292 Isto diz respeito ao pr prio trabalho o trabalho assalariado n o seria uma sua forma transit ria seria tamb m ele meta estrutural o que n o quer dizer claro que nos deva mos resignar a ver o trabalho tratado como pura mercadoria mas sim que tamb m ele se estrutura inevitavelmente segundo o trin mio associa o plano mercado p 299 Em suma a quest o do socialismo deve ser retomada por inteiro p 304 nomeadamente para avaliar as suas variantes poss veis no seio desse trin mio sendo aceite que h mais valor partilhado na associa o do que no plano e mais no plano do que no mercado p 310 mas que se n o pode evacuar este ltimo termo De qualquer modo a quest o do socialismo n o se reduz a este essencial aspecto das coisas Ela tamb m cobre a reflex o sobre o conte do concreto do que se pode produzir ou o que se joga nas lutas culturais feministas ecol gicas urbanas e rurais etc a preocupa o tica com a sorte das gera es futuras e at a interroga o sobre os problemas da p s modernidade como o do trabalho cient fico informacional cultural p 311 Neste sentido leva a encarar um futuro que se p
254. sses geoestrat gicos particulares imp s tragicamente caricaturais aliena es ao combate desalienador do movimento comunista de que a depend ncia perante Moscovo se tomou o s mbolo Ainda vivaz apesar de tudo com o papel da Uni o Sovi tica na guerra antifascista e depois na descoloniza o a chama do universalismo apagou se pouco a pouco e a pr pria unidade do campo socialista se quebrou muito antes da sua decomposi o final Por uma not vel dial ctica foi ent o o capitalismo que se apresentou como destino universal da humanidade num planeta em vias de unifica o comunicacional e mercantil Mas a mundializa o financeira n o contente com contradizer se violentamente ao alargar por todo o lado as piores desigualdades ao alimentar simultaneamente o decl nio da soberania nacional e a recrudesc ncia de nacionalismos fan ticos s traz ao g nero humano um mito oco como o nota Monique Chemillier Gendreau Humanit s et souverainet s La D couverte 1995 p 279 Humanidades e Soberanias o do dinheiro em si j n o como meio mas como finalidade pura de modo que a sociedade internacional deixa de ser orientada por um projecto Esta n o a menor das crises de sentido Tamb m neste plano se n o pode voltar a abrir uma perspectiva sem come ar pelos fins Depois de tantas d cadas em que a ideia comunista perdeu a sua primitiva e intensa capacidade de irradia o universalista tudo milita para que dela se
255. ssim as costas a Marx que literalmente nunca deixou desde A Ideologia Alem at A Guerra Civil em Fran a de acossar a representa o do futuro social em termos de ideal de desejo subjectivo tido por ele como antin mico a qualquer atitude cr tico materialista n o s em ci ncia quando se homem de ci ncia escreveu secamente n o se tem ideal mas tamb m em hist ria e em pol tica a menos que se ca sse de novo nas piores ilus es do utopismo idealista E como uma regress o te rica arrasta necessariamente outras o Relat rio ao XXII Congresso tamb m se notabilizava por um aspecto ainda mais perturbador a promo o do socialismo a estatuto de ideal n o deixava qualquer lugar ao comunismo O total desaparecimento do comunismo em O Desafio Democr tico a sua quase aus ncia em documentos de congresso at 1990 com excep o da resolu o do XXIV Congresso que escrevi daquelas coisas que n o podem deixar de parecer puramente talm dicas a quem disto nada sabe mas que teriam feito sensa o num partido comunista que consagrasse elabora o da sua pol tica discuss es te ricas ainda dignas desse nome Tanto no Relat rio ao XXII Congresso como em O Desafio a palavra comunismo surgia numa s ocorr ncia a express o espantalho comunismo de caserna Assim o socialismo acabou por abranger tudo numa vers o desfigurada do socialismo cient fico onde classicamente ele se situava apenas como tra
256. ssupunha a conquista revolucion ria do poder de Estado pela classe oper ria e seus aliados Marcada ainda pelo capitalismo esta forma de sociedade tinha uma fun o apenas transitiva por outras palavras era a fase inferior do comunismo ordem social futura completamente emancipada sob todos os aspectos da heran a das sociedades de classes Distin o cardeal que aparentemente apenas traduzia as ltimas explica es de Marx a este prop sito na sua Cr tica do Programa de Gotha em 1875 a primeira fase da sociedade comunista escreveu transporta ainda os estigmas da sociedade de onde acaba de sair nomeadamente aquele direito desigual de ess ncia burguesa que d a cada um segundo o seu trabalho pelo contr rio numa fase superior da sociedade comunista onde todos os recursos da riqueza colectiva jorrar o com abund ncia o horizonte estreito de tal direito poder ser superado em proveito deste princ pio completamente diferente a cada um segundo as suas necessidades Mais genericamente a fase inferior aquela em que a nova forma social ainda n o p de transformar em profundidade todas as condi es econ micas e pol ticas intelectuais e morais do antigo mundo encontrando se contraditoriamente afectada por ele na sua fase superior a sociedade comunista criou as bases que lhe s o pr prias e desenvolve se sobre elas de maneira inteiramente in dita o fim da pr hist ria human
257. t l tat um livro que n o foi decretado como defensivo mas que tamb m n o foi recebido l muito ofensivamente O XXIII Congresso em 1979 Congresso de real inven o estrat gica diferentemente dos que se lhe seguiram relan ava duplamente a reflex o de algu m como eu atrav s desse mesmo contraste entre riqueza pol tica e indig ncia te rica por um lado retomando conta do PCF a sugestiva no o de socialismo autogestion rio que entretanto por defeito cr nico de aprofundamento rapidamente iria descambar em f rmula inoperante por outro purgando os novos estatutos com alguma raz o da refer ncia tradicional ao marxismo em geral para apenas p r em relevo o socialismo cient fico mas abstendo se impavidamente de explicitar por pouco que fosse o conte do de pensamento que sob esta denomina o se colocava doravante no entanto em destaque sendo membro da comiss o de redac o destes novos estatutos estava bem colocado para apreciar esta fa anha Alargando ent o o meu campo de reflex o pessoal ao conjunto deste novo objecto comecei a entrever pela minha parte para que rumo se devia orientar sem d vida um comunismo do nosso pa s e do nosso tempo coisa de que h tra os num artigo escrito nos finais de 1982 e publicado na Primavera seguinte por La Pens e Em que ponto estamos relativamente ao socialismo cient fico Mas o obst culo a qualquer avan o parecia me cada vez mais residir numa concep
258. tamb m Mas como encet lo sem estar no poder Se a tarefa rdua a resposta de princ pio f cil o Estado de classe para o dizer numa palavra a aliena o do poder pol tico tudo o que desaliene a pol tica faz regredir ipso facto esse poder A chave do processo come a por n o se encontrar algures no aparelho de Estado mas sim em toda parte na sociedade civil onde se trata de multiplicar essas reapropria es de poder efectivo de que muitos movimentos sociais actuais d o pelo menos uma antevis o at tornar inevit veis mudan as no pr prio aparelho estatal A extin o do Estado pois o exacto contr rio do definhamento da pol tica o futuro n o reside numa administra o sem horizontes das coisas reside antes num autogoverno orientado dos homens Tamb m aqui tudo come a hoje com o que desenvolve a consci ncia cr tica e a iniciativa contestat ria em todos os dom nios com o que aumenta para a tornar hegem nica a exig ncia a todos os n veis de uma democracia n o confiscada com o que constr i para os cidad os poderes directos descentralizados e verdadeiros meios de controlo central Uma desestatiza o do Estado pode hoje tanto mais facilmente come ar quanto a fuga para a frente do capital o p e gravemente em crise Ao mesmo tempo que o pressiona para acentuar a sua orienta o de classe o liberalismo reinante contesta lhe a realidade do poder em m ltiplas direc es nas dos mercados financei
259. tas interpela es sem resposta quantas reivindica es sem efeito quantas iniciativas caluniadas revoltas abafadas quantos desesperos militantes e abandonos desastrosos e tamb m contra tudo e todos quantas corajosas perseveran as e contesta es construtivas criaram pouco a pouco o estado de esp rito e depois o estado de facto em que a direc o j n o tinha outra escolha que n o fosse aplicar a velha sabedoria J que sou o chefe deles l terei que os seguir Ser sobretudo necess rio dizer cruamente quebrando a compostura o quanto esses progressos concedidos mudaram pouco em profundidade as inexpugn veis componentes autocr ticas do sistema sob uma chuva sem precedentes de f rmulas demag gicas O Congresso soberano quantos libis para abusos de poder ter coberto este aforismo de uma exemplar ambiguidade Sendo prescritivo ser ele s por isso descritivo A realidade gritante que mesmo at ao come o dos anos noventa os Congressos do PCF foram de uma ponta outra regulados pela Direc o humoristicamente chamada cessante Sob formas cada vez mais engenhosas para enganar o ing nuo e defender se da cr tica esta fez neles perdurar todos os tra os constitutivos do centralismo autocr tico escolha controlada dos delegados pilotagem vigilante da discuss o arte de escamotear o que incomoda predetermina o das conclus es pol ticas controlo da composi o dos organismos estatut rios Partic
260. tico Decorre da a ideia que os partidos poderiam encontrar a sua raz o de ser e at um segundo f lego no facto de se tomarem o meio de express o e de press o dos movimentos sociais ao n vel dos poderes Esta uma atitude de recupera o condenada partida n o passa da velha dicotomia da base que se movimenta e da c pula que decide uma partilha de pap is que se tornou insuport vel N o ter sido por causa da recusa generalizada destas atitudes j por demais conhecidas que o movimento social tomou desde 1995 as formas n o cl ssicas que vimos Numa ptica oposta contestar se a pr pria designa o do movimento dito social Cham lo assim n o ver o que nele h de essencial precisamente a busca tacteante de uma outra maneira de fazer pol tica um pouco como as coordena es dos anos oitenta podiam ser um testemunho da aspira o a uma maneira diferente de desenvolver as tarefas do sindicalismo Ser o novo movimento social o cadinho de um novo modo de ser pol tico segundo a an lise de Mich le Riot Sarcey l Humanit 28 de Novembro 1998 com efeito o que parece quando se considera por exemplo que por debaixo dessas palavras de ordem circunstanciais ele p e em causa orienta es fundamentais austeridade neoliberal antidemocratismo republicano arrog ncia da classe dirigente e vai luta com o firme prop sito de n o se deixar esbulhar por quem quer que seja N o h d vida de que pode
261. tipo A primeira quest o muito naturalmente a da estrutura de base do partido comunista na sua organiza o tradicional a c lula Como pode a estrutura o de todo o partido em c lulas intoc vel quadro objectivo de milit ncia para qualquer comunista n o ser por isso mesmo uma fonte primordial de aliena o Os estatutos adoptados no XXVIII Congresso passam por cima dessa quest o Postulam como natural que a c lula ponto essencial onde ancora toda a vida democr tica do Partido seria o local por excel ncia onde se exprime a soberania dos aderentes artigo 10 Mas antes do mais o que ser uma soberania que come a por uma inclus o autom tica numa c lula a que se pertence sem discuss o em virtude do local de trabalho ou de resid ncia E sobretudo que soberania permite efectivamente a forma c lula Esta organiza o pol tica de base tem como caracter stica evidente o definir se em termos estranhos a qualquer conte do pol tico especificado por uma divis o puramente formal do territ rio da sec o que designa ao militante o local preciso de aplica o de esfor os que em si mesmos n o s o de modo algum precisados Quer isto dizer que virtualmente toda a pol tica do partido deve ser realizada por cada c lula Se n o quisermos brincar com as palavras resulta daqui que por constru o a c lula inapta a n o ser em casos particulares para fazer pol tica de alto n vel com alguma autonomia
262. tiva forma partido a cuja necess ria e poss vel supera o ser dedicado o ltimo cap tulo e embora se diga muitas vezes o contr rio creio que o PCF apesar das suas muito tem veis especificidades n o sem d vida diga se o que dele se diz muitas vezes o exemplo mais extremo porque nele o pior n o abafou todo o melhor s uma grande parte Seja como for o Partido ainda n o morreu a despeito de tantos progn sticos perempt rios E sobre a quest o maior que aqui me ocupa h que dizer que depois de 1994 o contributo do movimento de pensamento refundador foi finalmente tomado em considera o de modo potencialmente revigorante que chegue para dar um segundo alento ao comunismo franc s potencialmente mas ainda n o necessariamente Intitulando em 1994 o seu primeiro livro Communisme La mutation Comunismo a Muta o Robert Hue o novo Secret rio Nacional ostentava a sua vontade de reabrir a reflex o sobre a perspectiva hist rica Meses depois o debate geral n o teve a amplitude necess ria o XXIX Congresso ratificava uma nova maneira de encarar as coisas Sem considerar obsoletos os objectivos para que remetia a estrat gia anterior o socialismo encontrava se por seu turno inteiramente recoberto por um discurso in dito sobre o comunismo mais para lhe exaltar o valor humanista diga se do que propriamente para lhe precisar o conte do hist rico Falando do des gnio comunista aquele discurso a meu ver demasi
263. troncar se exig ncias gerais apostas locais e motiva es individuais Suponhamos que assim se constituem numa base de implica o pessoal volunt ria n o necessariamente ligada a um local de trabalho ou de resid ncia c lulas equipa uma por exemplo decidida a lutar pela constru o de um sistema de seguran a de emprego forma o com os assalariados de diferentes empresas com desempregados professores trabalhadores sociais etc uma outra com professores alunos do secund rio pais de alunos sindicalistas etc que assuma a tarefa de p r em grande a quest o dos conte dos da escola em estreita liga o com os estabelecimentos de ensino uma outra ainda motivada talvez pelo trabalho pol tico social num bairro com os adolescentes sa dos da imigra o mas seria assim que seria mais correcto desenvolver o projecto Debate e assim por diante em torno dos mais diversos objectivos de uma desaliena o em marcha da pol tica de sa de coopera o com frica da paridade homens mulheres ao conte do dos programas de televis o do problema das reformas bio tica N o tomar tudo isto ent o um outro aspecto Continua a haver um quadro objectivo firme e territorializado para a actividade comunista mas esse quadro passou para o controlo constante dos aderentes modulado segundo as circunst ncias e as experi ncias preenchendo se com um conte do pol tico autodecidido conte do circunscrito e por isso mesmo
264. u se isento da reflex o sobre as caracter sticas menos amenas da ci ncia pol tica sobre as interpela es incomodativas de uma hist ria sincera sobre os testemunhos acusadores de antigos militantes Nos anos oitenta acabou mesmo por cegar para a baixa estrutural dos seus resultados eleitorais por dissimular a queda impressionante dos seus efectivos por atribuir os seus problemas de toda a ordem malevol ncia ali s frequente da comunica o social num contexto hist rico social de que dava e se dava uma representa o unilateralmente sombria at acabar por se encerrar na ideologia no duplo sentido da palavra viv ncia ilus ria e conceito mistificado Desconstruir esta representa o falaciosa para fazer um invent rio cr tico da forma partido real de que at agora dependeu e interrogar se a fundo sobre o tipo muito diferente de for a organizada que exige um comunismo de depois do comunismo este o cap tulo que deve ainda abordar a reflex o sobre a nova quest o comunista e n o um cap tulo menor 3 Superar a forma partido lt lt Quando corremos o risco de nos afundarmos conv m come ar por nos interrogar sobre as nossas pr prias responsabilidades escreve Denis Berger num estimulante artigo A pol tica deve realmente sair do s culo XIX l Humanit 2 7 99 Recomenda o altamente pertinente t o raramente posta em pr tica pelos partidos como pelos indiv duos O facto que at agora se
265. ua de modo algum na c pula que persiste na monopoliza o dos poderes de decis o mas sim no terreno em que os pr prios actores devem decidir todas as iniciativas transformadoras Se realmente levada a s rio esta fun o n o deixa pedra sobre pedra do tradicional edif cio do partido A ac o comunista torna se na pr tica esse movimento real que supera o actual estado de coisas E neste sentido caduca irremediavelmente a forma partido solid ria desse estado de coisas e que mais n o do que uma maquinaria eleitoral com comando de c pula Contudo n o se pode abandonar nem pouco mais ou menos a fun o que consiste em impor os objectivos comunistas tamb m nas formas institucionais da pol tica da tomada de posi o no dia a dia s mais importantes elei es e s responsabilidades de Estado porque a fun o autenticamente comunista n o tolera a dicotomia ruinosa para ambas entre a atitude de oposi o e a atitude de governo Neste sentido n o se pode hoje abandonar tudo o que a forma partido Mas e este um ponto capital a n o ser que se n o mude nada realmente esta segunda fun o n o pode sen o ser drasticamente subordinada primeira que sempre sob todos os aspectos fundamental e reconcebida luz desta num sentido que seja ele pr prio desalienante O que implica inventar novas maneiras de estar ao mesmo tempo dentro e fora e conquistar a opini o p blica para isso Por exemplo quando se
266. ucion ria do poder Amedrontado com o risco de um processo por alta trai o o Comit Director do SPD a conselho dos seus advogados tudo faz para impedir a publica o do livro Tendo Kautsky recorrido para a Comiss o de Controlo esta d contudo luz verde mas o Comit Director faz como se nada fosse Da uma s rie de desonrosas negocia es em que Kautsky claramente percebe a esclerose burocr tica que campeia no partido o n vel de pensamento pol tico de uma debilidade assustadora que reina no Comit Director o mais puro arb trio com que este quer ser obedecido em inteira autocracia a palavra de Kautsky Ainda mais indignada do que ele Clara Zetkin escreve aquilo de que se trata neste caso escandaloso j n o de modo algum da brochura de Kautsky de um sistema que corrompe completamente os homens que o praticam e que pior ainda corromperia todo o partido se n o se desse direc o o correctivo que merece Em vez disso Kautsky acabou por conciliar e aceitou modificar o seu texto para que as edi es do partido acedessem a public lo Clara Zetkin estigmatiza em termos ferozes esta capitula o N o estar j aqui quase tudo o que ir constituir para al m de Lenine o estalinismo vulgar do autoritarismo sem f nem lei da direc o ao desprezo profundo pelos direitos dos militantes passando pelo h bito inveterado de resolver os casos nas costas do partido Ora n o se trata
267. udo isto no quadro soberanamente preestabelecido da pol tica alienada de que o autocratismo n o passa ao fim e ao cabo de um corol rio Ainda ou o esse grito de alma de George Marchais numa sess o do Comit Central em que choviam cr ticas sobre a parca democracia na c pula Tudo o que quiserem excepto que se impe a a Comiss o Pol tica de trabalhar Por Comiss o Pol tica entenda se a Direc o e ter se uma sugestiva formula o do centralismo autocr tico o essencial passa se na c pula e enquanto estivermos em capitalismo teremos que nos conformar Aqui temos uma filosofia organizacional que deve muit ssimo mais a uma abordagem do presente do que a um pretenso peso do passado e na natureza desta abordagem presente que se joga toda a quest o da forma partido Se a orienta o geral das an lises anteriores pode ser considerada correcta ent o a primeira quest o a p r relativamente a uma for a comunista para o futuro n o a de se saber se ela deve ainda e at que ponto ter a ver com a forma partido Antes de qualquer quest o de forma aquilo em que devemos atentar a quest o do conte do quer dizer a fun o pol tica a assumir Tamb m aqui para tratar de maneira v lida dos meios necess rio come ar pelos fins E para ir direito ao que no esp rito de todo este livro pode constituir a reactiva o radical da ideia comunista tamb m em mat ria organizacional diria que esta fun o j n
268. ue a organiza o tenha como papel n o o abolir a espontaneidade mas sim super la em auto organiza o f rmula que pode ter tradu es muito concretas e que iremos abordar H necessidade de uma forma o com uma identidade t o forte quanto n o fechada a do objectivo comunista que se n o deve deixar descaracterizar por nada e que pelo contr rio deve poder enriquecer se com qualquer projecto de desaliena o in dita trata se como t o bem escreve Roger Martelli em Le Communisme autrement Syllepse 1998 de construir o partido j n o de uma classe mas de um projecto o que substitui libertadoramente uma r gida determina o de natureza por uma flex vel motiva o de cultura Uma forma o com uma vida interna espec fica como qualquer organismo vivo mas sem fronteiras vigiadas vem a ela quem com ela quer trabalhar mantendo a sua individualidade uma forma o com um pensamento te rico t o exigente para captar a nossa poca como o foi o de Marx na sua mas estruturalmente desimpregnada de qualquer doutrinarismo uma forma o com regras de vida precisas a inorganiza o o contr rio da democracia como pelos seus aspectos simp ticos o atesta a maioria dos grup sculos mas sem manual de instru es programado Em resumo num adeus sem retorno ao partido dirigente um p lo energ tico e aceite se a met fora um gerador de dinamismo pol tico social e cultural Que tipo de constru o e de f
269. ue o Congresso cuja comum vontade deve ser escrupulosamente aplicada por cada um sob o impulso dos organismos centrais que este institui ao decidir por maioria quer a composi o do Comit Central quer a direc o do rg o central do partido Papel de vanguarda e centralismo democr tico s o indissoci veis o primado da parte sobre o todo escala das massas papel de vanguarda e o primado do todo sobre a parte no seio da vanguarda centralismo democr tico formam em boa verdade um nico e mesmo princ pio aquele que tende em todas as circunst ncias e a qualquer n vel a fazer prevalecer as exig ncias bem fundamentadas do combate sobre a inconsci ncia e a incoer ncia espont neas Entrev se desde logo aquilo que toma basicamente hoje inadaptada esta concep o de conjunto e teremos que voltar a isto com precis o Mas n o por isso que poderemos julgar nos dispensados de fazer previamente uma avalia o da sua pertin ncia nas condi es espec ficas a que respondia no tempo de Lenine e de nos pronunciarmos por essa via sobre um ponto de ainda grande import ncia para n s ser que os considerandos gerais deste pensamento organizativo que s o cr tica do espontane smo e a valoriza o da centralidade definem uma atitude de princ pio que conserva alguma validade Ou ser necess rio consider los de base e em si mesmos contest veis ou mesmo detest veis Quest o fundamental a que os documentos do XXVIII Congresso
270. ue todos os que mostram curiosidade por um novo comunismo qualquer militante actual ou virtual desta causa seja qual for o seu n vel de instru o est hoje mais do que nunca sedento de esclarecimentos te ricos de alto n vel a debater sem in teis obscuridades mas tamb m sem simplismos complacentes por esta simples e evidente raz o depois da derrota hist rica sofrida por aquilo a que a linguagem ideol gica dominante chama o comunismo n o h nesta mat ria salva o a n o ser que se repense as coisas pela raiz 1 01 Um longo caminho rumo quest o comunista Depois deste postulado em geral n o me ser dif cil reconhecer a particularidade do forte acento que coloquei na exig ncia filos fica de uma postura te rica que plenamente se exer a posi o que se poder certamente atacar mas em rela o qual n o encaro transigir tal como o n o fiz em 1966 Constitu da na minha adolesc ncia no decorrer dos meus estudos filos ficos e sobretudo durante a minha forma o leniniana e mesmo antes da minha ades o ao PCF esta minha maneira de considerar as condi es que requer aquilo a que correctamente se pode chamar teoria para mim um alicerce n o negoci vel Da ali s um tra o marcante e pouco corrente parece me da minha traject ria pol tica Desde a minha ades o em 1950 at ao in cio dos anos oitenta estive sempre de acordo quase sem excep es ou reservas com cada orienta o pol tica d
271. ula o ideol gico pol tica fica consideravelmente selado o destino do s culo XX revolucion rio J que depois de Lenine o nico que entreviu a mistifica o apesar da sua muito longa rever ncia face a Kautsky e que teve o inestim vel m rito de revivificar tanto a palavra como a ideia de comunismo mesmo com Estaline este socialismo dito cient fico e na verdade falsificado que vai presidir edifica o da sociedade sovi tica compreende se ent o verdadeiramente como sob sempiterna e fraseol gica invoca o do comunismo p de aquela sociedade desenvolver se a contrario de quase tudo o que a palavra significava para Marx Em frente rumo ao comunismo proclamavam ainda nos anos oitenta nas fachadas de alguns grandes edif cios moscovitas alguns slogans que se tornaram para todos estritamente invis veis De onde uma conclus o capital tanto para o futuro como para o passado e nos pr prios ant podas daquela com que n o pararam de nos matraquear o que a Leste sofreu uma derrota historicamente redibit ria n o foi justamente o comunismo que nunca a esteve nem pouco mais ou menos na efectiva ordem do dia mas antes o socialismo essa desprivatiza o confiscat ria dos meios de produ o e de troca de que a pr pria social democracia durante muito tempo fez bandeira ao seu modo muito diferente O fracasso desta ltima de certa maneira sim trico ao do estalinismo confirmando taxativamente sem sombra de d vid
272. uma fabulosa variedade de coisas mas tamb m a capacidade de reactualizar a sua abordagem em cada conjectura Projecto que est t o fora do alcance de um ou mesmo v rios indiv duos como est fora de quest o para uma for a pol tica realmente curada da tenta o de dirigir as massas moda antiga A atitude program tica que pensava poder determinar antecipadamente e de cima a lista e a agenda das mudan as a operar est morta e enterrada os conceptores da transforma o social efectiva s podem ser os seus pr prios actores Mas o que aqui se ganha em poss vel pertin ncia do movimento com consequ ncias sociais em rela o aposta social corre o risco de se perder em coer ncia de conjunto que o mesmo dizer em efic cia pol tica Ora uma coer ncia de conjunto algo bem diferente da soma emp rica dos conte dos particulares que articula a rela o org nica que os unifica a l gica essencial que os atravessa trata se pois de algo mais do que uma s rie de experi ncias e saberes trata se de um pensamento um pensamento te rico E esta teoriza o que hoje falta t o aberta e cruelmente Daqui decorre a incontorn vel import ncia de um retrabalhado conceito do comunismo fio condutor sem igual para partir em busca da nova coer ncia suscept vel de dar um sentido empresa de um revolucionar radical Voltar a partir da heran a de Marx e atrav s do seu confronto quer com as contradi es org nicas
273. uma preocupa o maior de qualquer advers rio do capital Mas para come ar um pensamento em termos de desaliena o suscita um enorme alargar do campo das contradi es a ter em conta numa verdadeira ptica comunista enquanto que a cultura do PCF permaneceu muito tempo demasiado pouco sens vel por vezes dramaticamente cega para com muitas delas No pr prio O Capital com todos os seus limites do ponto de vista em que aqui me coloco s o breve mas nitidamente indicadas de passagem tend ncias devastadoras do capitalismo tais como o esgotamento da natureza ou a falsifica o dos produtos o esc ndalo do p o adulterado em Londres em 1860 nada ficava j a dever no seu princ pio aos das vacas loucas ou dos frangos com dioxinas tal como s o indicadas poderosas exig ncias emergentes como a de uma radical modifica o de conte do na forma o da jovem gera o ou a de uma rela o entre os sexos que abre o caminho para uma fam lia de novo tipo tudo importantes possibilidades de desmistifica o das consci ncias relativamente ao universo hoje descontrolado da mercadoria e do seu fetichismo ou ao trabalho confusionisticamente designado de improdutivo outras tantas bases poss veis para iniciativas transformadoras que tantas vezes foram deixadas a outros quando n o tratadas como manobras de divers o Depois ponto ainda mais subestimado a aliena o compreendida sem ambiguidades como processo s cio hist rico nem por isso
274. uncionamento reclama esta futura for a E a segunda quest o de principio tamb m ela incontorn vel tratada no seu tempo por Lenine centralismo e democracia Tendo em conta a cr nica sujei o dos aderentes que o estalinismo vulgar reproduziu durante tanto tempo e a decisiva liberta o das iniciativas que uma verdadeira pr tica comunista implica evidente que passa hoje para primeiro plano quer para os comunistas com cart o quer para os sem cart o uma formid vel reivindica o de democracia Renunciar efectivamente s tarefas impostas e aos congressos prefabricados ao escamotear das quest es cruciais nos discursos torrenciais e ao tratamento das posi es divergentes por um rasteiro colar de etiquetas ou at renunciar s manipula es e mentiras r gias duras palavras mas que dizer das realidades que lhe correspondem tudo isto e muito mais ainda se resume num imperativo acabar com o poder exercido pela direc o sobre os aderentes O que n o nada menos do que uma revolu o pol tico cultural em que a grande palavra comunismo ganhe enfim ao mesmo tempo que um sentido p blico um sentido interno Por outras palavras o apodrecido esp rito da verticalidade hier rquica caducou enquanto principio geral de organiza o O menos poss vel de delega o de poder logo o menos poss vel de poder aqui se esboroa o que continua a subsistir de centralismo autocr tico mesmo romper na sua pr pria base com o princ
275. unista isto efectivamente o nascimento o apogeu e a morte do mito da Uni o Sovi tica p 709 ed fr Ora o autor procede como se o tratamento hist rico cr tico deste objecto limitado o autorizasse ipso facto a tirar conclus es sem limites sobre o comunismo no sentido mais abrangente da palavra Atrav s de uma frequente liberdade de linguagem e sucapa de pensamento de que em parte alguma dada uma justifica o o facto por exemplo de pa ses do Leste passarem depois da guerra para o campo sovi tico descrito do seguinte modo A ideia comunista senhora de toda uma parte da Europa p 645 ed fr sublinhado meu do facto de os servi os secretos estalinistas estarem muito activos nos Estados Unidos nos anos cinquenta dir se A conspira o uma das faces do comunismo p 692 ed fr De an lises muito pontuais arroga se o pleno direito de apresentar o comunismo como uma cren a p 198 ed fr um licor particularmente forte em teor ideol gico p 210 ed fr uma aliena o p 200 ed fr e assim sucessivamente Nesta s mula de oitocentas p ginas s uma f rmula da mesma massa rejeitada pelo autor como mistificadora O comunismo ganhou a guerra p 570 ed fr isso que n o isso uma ilus o Em eco long nquo e acrescente se trivial a constru o especulativa hegeliana cujo mist rio Marx elucidou o comunismo v se aqui promovido
276. uro nada est prescrito nem garantido a n o ser o efectivo desenvolvimento das iniciativas humanas Da imprecis o te rica que da resulta emerge contudo neste pre mbulo uma indica o precisa o PCF age para transformar a sociedade construindo um socialismo democr tico e autogestion rio Tudo est pois caduco na velha abordagem teorizante excepto a asser o central do socialismo cient fico vers o XXII e XXIII Congressos quer dizer se aquilo que acima amplamente expusemos tem alguma pertin ncia o mais caduco da antiga vis o das coisas De igual modo em rela o ao princ pio organizador ltimo em palavras um nunca mais acabar de valoriza es da inteira soberania dos aderentes sobre o partido fazem se rapap s a formula es espontane stas o partido seria t o s aquilo que constr em em conjunto os comunistas as inst ncias do partido estruturam se a partir do papel vital da c lula a sec o agrupa as c lulas e a federa o as sec es artigo 7 Por pouco n o se dizia contra Lenine que o partido se constr i de baixo para cima Mas na realidade as estruturas imp em se com inteira autoridade estatut ria aos aderentes a come ar pela c lula quadro vital da organiza o comunista artigo 10 E se acontecesse os comunistas quererem soberanamente p r em causa a c lula Seria necess rio p r em causa os estatutos C estamos no mais cl ssico esquema vertical do cent
277. urs pelas mesas redondas de Regards os contributos da Attac ou as iniciativas de Espaces Marx Todavia parece me que h qualquer coisa de absolutamente essencial que fica em grande parte por pensar se trabalhamos como desde longa data o meu caso para re constituir teoricamente um des gnio comunista do nosso tempo A meu ver essa qualquer coisa para al m de qualquer conte do program tico algo pormenorizado o conjunto coerente de tal des gnio dos conceitos estruturantes que mobiliza e ainda mais a montante dos considerandos primordiais que ele pressup e Investiga o de certo modo erudita mas de que o essencial deve ser dito em linguagem de todos para fazer frente a esta pergunta que todos se p em que pode significar hoje a palavra comunismo na sua dupla acep o de combate pol tico presente e de forma social futura Convenhamos que est ainda por fazer um dif cil trabalho que possa propor uma resposta simples para esta simples e premente quest o Assim lancei me gua para nadar minha maneira de fil sofo Isto significa que a nica coisa de que me vou ocupar aqui de uma ponta outra do sentido claramente pronunciado de que dever preencher se no s culo XXI a palavra comunismo que muitos desejariam tornar completamente impronunci vel claro que n o sendo o universal outra coisa sen o o singular coniderado na sua ess ncia tocaremos for osamente durante o nosso percurso em temas espec ficos t o d
278. vi tica testemunho supremo do seu triunfo poder ultrapassar economicamente os Estados Unidos Porqu esperar vinte anos para decretar o comunismo perguntavam os impacientes que n o se pode passar realiza o do princ pio a cada um segundo as suas necessidades antes do c lice estar cheio at ao bordo respondia com toda a seguran a Mas como se sabe esse enchimento nunca aconteceu Pior ainda com Brejnev medida que o socialismo supostamente se desenvolvia mais a ta a tendia a esvaziar se Por outras palavras quanto mais avan ava o socialismo mais recuava o comunismo at se tornar um mero ideal para n o dizer uma quimera Como compreender este facto inconceb vel de o socialismo transitivo por defini o se recusar obstinadamente a transitar para o comunismo Como compreender que mesmo tendo em larga conta o estado do atraso inicial setenta anos n o tenham bastado Uni o Sovi tica para passar nem que fosse parcialmente fase superior da sociedade sem classes Do ponto de vista te rico em que aqui me coloco os horrores do estalinismo de que em parte se pode incriminar tanto o horr vel atraso russo como os efeitos a prazo da feroz guerra civil ati ada pelas pot ncias capitalistas s o talvez menos perturbadores do que as trevas ulteriores do brejnevismo com a sua constante ren ncia geral ao comunismo Como n o ver ent o nesta hist ria que seria em princ pio a ilustra o cl ssica
279. volu o e Democracia em Marx e Engels e mesmo por Lenine cf meu Anexo D O grande erro dos Alem es escrevia Engels a Bernstein em Agosto de 1883 imaginarem que a revolu o algo que se pode fazer da noite para o dia quando ela implica um processo de desenvolvimento das massas que mesmo em circunst ncias que o acelerem leva anos Marx Engels Werke tomo 36 Dietz 1967 p 54 tradu o do autor Esta intui o ganha hoje um enorme relevo 2 04 Come ar pelos fins Come amos a ver que renovada capacidade de an lise e de transforma o nos d a passagem de uma cultura de socializa o dos meios de produ o para uma outra muito mais vasta e profunda de reapropria o de todas as for as humanas de que s pude dar contudo aqui alguns vislumbres N o valer a pena come ar a pensar nisso activa e colectivamente para restituir ao projecto comunista hoje tantas vezes tratado como se fosse um c o morto beira da estrada a sua incompar vel for a de convic o e mobiliza o Ainda uma coisa sem pretender acabar o invent rio A ideia de aliena o engloba n o s a clivagem de for as mas tamb m a perda de sentido um imenso cap tulo do nosso drama contempor neo o que sob esta f rmula se pode ler Num ciclo n o alienado de objectiva o os poderes humanos socialmente coisificados retomam na sua constante reapropria o pessoal um sentido subjectivo assim que constantemente fazemos viver o por
280. xto sem o meu aval entenda se mas sendo mesmo assim publicado em Abril na pr pria Messidor quase um m s antes do meu pr prio livro para beneficiar ent o de uma longa campanha promocional em todo o partido o que n o deixava evidentemente grande coisa para o seu tardio e modesto competidor A obra de Claude Quin Id es neuves pour soci t s en crise Ideias Novas para Sociedades em Crise confiada ao mesmo tempo Messidor teve igual sorte Variante inesperada da palavra de ordem trabalhar em conjunto v amos assim as nossas ideias utilizadas ou vilipendiadas mesmo antes de publicadas Sem que o autor explicasse porqu D mocratie inaugurava uma mudan a conjuntural do discurso da Direc o em que o comunismo fazia uma entrada em grande j n o subitamente como ideal mas como objectivo ancorado no movimento real perspectiva aberta pelos antagonismos do capital e na qual convinha mesmo dar um segundo alento ao movimento comunista Em suma embora n o tiv ssemos falado disso durante tantos anos continu mos plenamente comunistas Mas aten o Fazer disso objectivo imediato da luta do nosso povo seria saibamo lo pura utopia O pr prio Marx o tinha visto muito bem pelo que afirmava a necessidade de uma fase transit ria o socialismo O comunismo n o para amanh Referirmo nos a ele por palavras n o pois for osamente uma culpa mas evidente que s o socialismo fr
281. zacional e vice versa N o ser de reconhecer alguma perspic cia a esta cr tica Ali s se se pensasse poder desvaloriz la simplesmente porque vem de L on Blum que se poderia opor an lise bastante semelhante que j em 1904 fazia numa resenha de Um passo em frente dois passos atr s de Lenine uma insuspeita revolucion ria como Rosa Luxemburgo Tamb m ela se elevava j contra a tend ncia ultracentralista e denunciava o perigo de dar ao Comit Central um poder por demais absoluto com o perigo segundo ela flagrante de abafar o dinamismo militante com a disciplina do aparelho Antes mesmo de a reconhecer obsoleta n o seria ent o necess rio dizer muito claramente que a concep o leniniana da organiza o tem algo de inadmiss vel no seu princ pio Podemos no entanto opor as maiores objec es ao veredicto estabelecido An lise premonit ria de L on Blum Sem contestar que era em parte certeira particularmente quanto ao poder sem controlo que o executivo da Internacional ia arrogar se em todo o mundo sobre as suas sec es n o seria ela mais convincente se o seu autor se n o tivesse prudentemente abstido de se explicar sobre o que logo ap s a Primeira Guerra era justo considerar como a fal ncia da social democracia internacional E n o poria esta fal ncia directamente em causa ao mesmo tempo que a sua orienta o pol tica a sua pr tica organizativa Ser a estrita submiss o leniniana do partido aos s

Começar Pelos Fins – A nova questão comunista LUCIEN SÈVE

Contents

Download Pdf Manuals

Related Search

Related Contents

Come&ccedil;ar Pelos Fins &ndash; A nova quest&atilde;o comunista LUCIEN S&Egrave;VE

Contents

Download Pdf Manuals

Related Search

Related Contents

Começar Pelos Fins – A nova questão comunista LUCIEN SÈVE