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Baixa - Recanto das Letras

1. Querido di rio hoje abri os olhos algumas vezes e sempre aquelas pernas dos passantes indo e vindo vindo e indo umas indecisas umas atrapalhadas umas bem determinadas n o passavam de passos mais eram pessoas passando Diversas cores de pernas de diversas espessuras umas feias outras com alguma formosura todos os tipos de panos indo e vindo vindo e indo cada uma com seus cada quais sapatos botas chinelos sand lias t nis cal ados muito apertados cal ados grandes demais barra de cal a bem feita bem passada outras j corro das arrega adas Tinha uns sem perna e uns com pern o de d gosto Mais logo n o gostava muito da paisagem fechava os olhos novamente Tem horas que todo mundo sombra e a a gente n o v mais nada Dai sonhei que o mundo era todo de sombra e gua fresca o mais engra ado que as rvores tinham pernas e iam e vinham Tamb m tinha sol no sonho o sol batia em mim e me amornava e a gua do sonho era gua mesmo como na realidade fria e molhadeira Na vez seguinte que acordei percebi que o sol tinha passado e tinha ca do uma chuva Meu sonho era realidade ou a realidade que era sonho isso n o importa o sol e a chuva e o sonho s o coisa do passado da j estava anoitecendo hora de faturar no congestionamento que quando todo mundo j t cansado demais pra manda voc praquele lugar Tamb m tem a coisa do dever cumprido se a pessoa j cumpriu o dever dela n o vai quere
2. Acabou por n o ir por causa da depress o seguida de um AVC ataque vocacional para o celibato A outra tinha medo de perder por isso continuou com o marido violento Medo de perder a casa velha e a mob lia corro da Por medo de perder ficou e acabou perdendo a vida A velha da Curva no tempo parada trouxe broa com mel e me contou que se sente amargurada Por causa do filho que era guarda do col gio e foi assassinado a pauladas Os ladr es nem levaram nada Mas ela apenas mais uma m e desesperada A cabe a rolou barranco abaixo Not cia ruim cobrindo not cia de morte e estava coberta por um jornal O rapaz n o teve sorte o capacete embaixo do nibus incomodava quem via a cena Se ele amava se ele gostava ou n o da vida que vivia n o sei s sei que ele n o sabia que aquele seria seu ltimo dia E acabou bem cedo Sete horas da manh ele j tinha morrido Sexta feira as sete da manh ele morreu e tudo o que ele sabia se perdeu Entre os passageiros do nibus que causou o acidente ningu m se mexeu mas acho que por dentro todo mundo se contorceu Um nibus coletivo um acidente coletivo Puxar cano traficar arma dizem que o trabalho afasta o v cio a preocupa o e a necessidade mas para mim o trabalho afasta o descanso e a tranquilidade Aqui n o feio ser desgra ado Aqui n o feio ser desempregado Aqui n o feio engravidar pela terceira vez sem ter marido Aqui n o feio sofrer ou t
3. Dos deuses irados tempestades na era de agora os temporais s o Chuva e vento contra casas de papel o Agora os temporais s o desequil brio desabamento e destrui o O fim da bonan a que ainda n o come ou Agora antes durante e depois da tempestade tem inunda o Muitos habitantes pela primeira vez tiveram a experi ncia de andar de barco ali mesmo por entre suas casas nas ruas da Curva at uma cachoeira tinha aparecido e se transformado em ponto tur stico Depois da inunda o come a a reconstru o da Curva e aumentam os furtos de itens indispens veis como caixa d gua e lona Roubo preventivo contra as secas e as chuvas seguintes Foi um desfile de desabrigados e desobrigados e embriagados e fodidos de todos os tipos idades e estados mentais A velharada saiu para renovar o estoque de fofocas Os mendigos midos sa ram para tomar sol e mendigar uma cacha inha para celebrar o fato de n o terem morrido no temporal nem todos alguns tiveram que sair pedindo coisas b sicas como caixas de papel o Eu que gostava de descobrir em cada ser humano um drama agora tudo o que via n o precisava ser descoberto era tudo a c u aberto o palco sem cortina as fantasias os esgotos os gostos e desgostos e o drama de cada um se oferecia como introdu o do que seria o tempo todo todo dia fraturas e futuros expostos destro os carca as lisonjeados em serem ouvidos pois que n o sabendo o
4. N o se mostra alegre nem triste N o fala em morrer e nem diz se tem medo da morte apenas existe e enquanto isso trabalha e agradece a Deus pela vida que tem Quer dinheiro Quer ter mais o que compartilhar Uma outra vi va como tantas veio vender a roupa do marido As roupas eram dele mas tamb m nem eram pois ele nem chegou a us las Esperava uma ocasi o importante Que ocasi o pode ser mais importante que a nossa pr pria vida Quem que precisa de roupa depois que vai para o outro lado Se a roupas fossem dele ele as teria levado A velha tentando conseguir um bom pre o dizia que as roupas eram novas Ela n o as tinha nem lavado A velha n o queria dinheiro queria algo que ela pudesse usar Aprendera a li o as coisas tem que ser usadas pois a gente morre e n o levada nada Estava se sentindo mal agarrou se a mim com as m os geladas Tr mula dizia Foi muito r pido um ataque do cora o nem deu tempo de pedir ajuda pra ver um padre pra pedir perd o A gente acha que pode tanta coisa mas quando chamado n o nos d o tempo nem pra gente se despedir Penso ruim morrer de repente nem d pra se acostumar com a ideia de ser um cad ver em decomposi o Uma morte sofrida um per odo de transi o que nos oferecido para nos desapegarmos da vida Vida qual somos apegados mesmo sem motivos No final da dolorosa negocia o a vi va levou uma colcha uma cortina e uma toalha de mesa bordada
5. Por isso est livre Refletiu se um pouco no espelho emba ado enquanto provava uma mini saia e disse Eles que tem que ter medo da gente porque nada mais profundo e destruidor do que a paix o por um c alugado por minuto um v cio menina Bateu palmas ap s ter conclu do ser o portador de um objeto de desejo dos mais valiosos Na Curva qualquer coisa de valor pode ser roubada mas ele desfila tranquilo pois sua preciosidade n o pode ser tirada dele Passa mais um mendigo Os sujos perebentos b bados drogados vagabundos indigentes dormindo nas cal adas n o correm perigo algum nem precisam mais da prote o divina s o protegidos pela pr pria condi o Como se tivessem repelente repelidor de gente Os outros t m tanto medo que a desgra a seja contagiosa que procuram manter dist ncia e at tomam cuidado para n o perturb los Quem que vai querer se meter com uma criatura que passa por tudo isso e continua sem morrer E a mulher gorda tentando entrar numa cal a de tr s reais cantava eu sou a barbie girl nanananana Saiu do provador dizendo eu sou uma baleia Provou um monte de roupa e nada lhe serviu depois de umas duas horas desperdi ando meu tempo e paci ncia disse que voltaria com mais tempo num outro dia e saiu flutuando nas nuvens de poeira A pobreza a mais poderosa arma de destrui o em massa ela mata mais que a pr pria morte Tem muito pobre vivo que j nasceu morto J morreu at fe
6. e sem a prote o de um carro que ocultaria um pouco da condi o de pessoas que estavam l para fazer sexo Durante esse tempo v rias vezes foram iluminados por far is de carros que entravam ou saiam do motel At que a mo a da recep o avisou que eles poderiam esperar dentro da garagem da su te em arruma o foram para l sentaram se na escada Ele resmungando ela disse eles dificultam para os pobres desistirem para quem pobre se sentir ainda mais miser vel Entraram na su te Ma ra vi lho sa Teto decorado com fibra tica banheiro de vidro com tijolos tamb m de vidro televis o com dois canais de filme porn tudo arrumado n o demorou pra que a situa o humilhante fosse esquecida e substitu da pelo tes o Quase n o dormiram queriam aproveitar a televis o o som s luzes do teto ducha banheira o sexo em todas as posi es sem ter que controlar os gemidos para n o incomodar os vizinhos Dormiram mas logo j era hora dele sair para trabalhar Nem puderam esperar o caf da manh ele ia acabar se atrasando Novamente o vexame Para pegar os documentos que estavam na portaria e pagar a cerveja que tinham consumido precisaram esperar em p na fila entre dois carros Ficaram de p ssimo humor Ela ainda estava com sono cara amassada n o foi espirituosa o suficiente para contornar a situa o Disse que n o ia mais querer saber de pobre Contou o dinheiro que tinha sobrado para ele passar a semana
7. nibus e de segurar o nariz pra n o deixar o ranho cair Demagogia e preven o n o podem faltar E o discurso pr carnavalesco Povo n o deixe a peteca cair Vamos revolucionar Vamos reagir Vamos dan ar Vamos sorrir Vamos curtir esse carnaval como se fosse o ltimo e tem grande chance de ser pra muitos de n s mas isso ele n o disse Ainda mais que agora a terra seguindo o exemplo da popula o passou a dan ar a dan a do cr u e a dan a da bundinha entre outras Segura pe o Que do ch o ningu m passa Mas tamb m n o sai Na rua o povo dan ante provoca a forma o de nuvens Nuvem de poeira Na igreja o pastor expulsa o satan s Sai coisa ruim Coisa ruim voc O satan s aliviado por finalmente ter sido expulso daquele corpo desnutrido corre pra multid o mascarado dan a tr s dias e tr s noites sem parar Entra e sai de um monte de corpos suados e ningu m acha que h algo de errado em ser possu do Mas tem muita gente que prefere ir praia durante o carnaval Sempre chove l tamb m mas pelo menos a pessoa pode voltar dizendo que viajou S fica pro Carnaval de rua quem n o tem dinheiro pra comprar uma passagem de nibus rumo ao litoral Alguns ficam pra ganhar camisinha gratuita importante carregar pelo menos duas na carteira sempre d um status Tocava a m sica chove chuva do Jorge Ben Jor no com cio que agora passou a se chamar showm cio e que os desbocados chamam de c om cio J
8. o Ele teve que aprender que ficar gastando gua era prova de insanidade O surto feito de arame pr cozido temperado com duas medidas de quase tudo e uma colher de n o eu a mais apaziguado com benzodiazep nicos estratosf ricos pra ins nia surte efeito e o efeito do surto normal para quem levou golpe certeiro de um faixa preta ops tarja preta e foi abduzido por arm rios de s controlados O minist rio n o adverte mas a doen a faz muito mal a sa de e muito bem aos laborat rios farm cias e outras institui es psicotropicais Nas Col nias a pessoa ficava por abusar ou por ter sido abusada mas tinha outros excessos que tamb m habilitavam a pessoa a passar l uns tempos recebendo visita e tendo a press o monitorada Muito verde muitos passarinhos muitas flores Col nia s pra mulheres e outras s pra homens Col nia s pra gente que se rebelou e caiu fora da fam lia ou em caso contr rio em que a fam lia se encheu que caiu fora deles Passar os dias de chinelo e moletom assistindo v deos sobre os malef cios das drogas e de outras inven es malevolentes parecia bem relaxante para quem tinha passado a semana inteira trabalhando e viajando em nibus t o cheios que o termo superlotado j nem serve mais para defini los Esses humanos normais iam ao encontro dominical na Col nia e ficavam com vontade de tamb m viver l S de saber que o lugar tinha mil leitos dava at pr
9. pula s pensa em si mesma e em alguns descendentes e protegidos Culpa do povo por ter lhes dado uma procura o s para poder se isentar da dif cil tarefa de pensar A culpa do governo a culpa do desgoverno da na o A despesa j come a no pr natal Chegada prematura Sede e fome Partida prematura Aumento e queda de press o Problemas de pele de espa o de cabe a de peito e de falta de jeito com crian as que est o incomodando mas as m es v o aturando em troca das bolsinhas que o governo d As chamadas bolsas paliativas preciso comer mais pra ficar forte preciso criar mais animais Causar mais mortes para alimentar mais vidas E os adolescentes achando se desenvolvidos tecnologicamente assaltam ouvindo m sica com ipods roubados Com o fone de ouvido ficou ainda mais f cil n o precisam ficar ouvindo desculpa desses vitimados Cale a boca ot rio Abafam com a m sica dos manos o alarido dos idiotas sendo assaltado Meu o cara ainda ficava argumentando E a mulher ent o fez aquele drama Mo o por favor n o leve a minha bolsa N o tem nada de valor Eles os ladr es ouvindo seus djeis e mecis no mptr s n o t o nem ai com voc s O assaltado o que se fode Grita o mais alto que pode Mas ningu m ouve Todo mundo usando fones de ouvido e ningu m ouve nada que n o seja do interesse das gravadoras a evolu o para a audi o seletiva Ouvir pra quem quer Ouvir pra quem i
10. sou bem capaz de passar a manh nesse processo de curiosidade e adivinha o M rbido Com certeza s rdida a vida que sou obrigada a viver No tempo das cavernas eram os le es e a precariedade das armas Hoje em dia pra quem pobre s o a fome a decad ncia o enlouquecimento e a precariedade do corpo e da alma Por causa de tanto armamento pesado o morro est para desmoronar a qualquer momento Todos est o em perigo Sabe como arma fora de si atira pra todos os lados n o importa quem inocente ou culpado se trabalhador ou desempregado se fugitivo ou prisioneiro liberado em virtude da alta densidade demogr fica A express o renda per capita me causa uma rea o al rgica m ltipla Armas e almas vagam por ai atravessam paredes e ningu m nem v quem foi Invisibilidade Dif cil ver transpar ncia no escuro Mas hoje estou particularmente azeda N o minha boca ainda n o um t mulo mas um t nel e t nel um vazio preciso preencher o vazio Mas no fundo todo mundo mesmo inocente at os maus porque a eles falta criatividade pra ser outra coisa e nem sabem querer mais do que a pr pria maldade aliada maldade de alguns outros da mesma esp cie Querem essas fantasiosas coisas de marcas E as roupas de marca s o costuradas pelas velhinhas analfabetas de um interior qualquer e pelos bolivianos ilegais que vivem enjaulados nos cub culos em S o Paulo Inocentes acham que est o sendo bo
11. Coisas que podem ser engavetadas Espero que mais tarde a filha dela n o venha aqui trocar por algo que se possa realmente usar No telefone p blico Oi pai t aqui no orelh o vou falar r pido se n o acaba o cart o Trabalho n o consegui ainda n o aquele pra limpa a lanchonete eles t o pedindo dois anos de experi ncia na carteira mas continuo tentando amanh vou num outro Oi porque voc n o me ligou Voc acha que eu sou ot ria me fazendo esperar o dia inteiro voc sabe que eu n o tenho cr dito no meu celular Al al al desgra ado desligou na minha cara Minutos depois Oi por que diz pra eu te ligar se pra desligar na minha cara Qual tava com a dign ssima esposa ou j era outra no peda o T avisando qualquer dia eu canso disso e da j era J n o te falei mil vezes que eu at aceito voc ser casado mas me fazer de idiota como voc faz j demais Meu amor uma ova seu desgra ado falso canalha vai toma no seu c que me ama que nada Voc n o ama Eu que sou uma burra de te aceitar apesar de tudo N o desligue n o desligue n o que eu quero uma explica o T mentindo Eu sou mesmo uma idiota Te ligo na quarta ent o e v se n o desliga na minha cara de novo T na quinta a gente sai mas a de voc se n o cumprir com a sua palavra seja homem viu voc quem est prometendo eu n o t pedindo nada Minutos depois sobre
12. adiante Ocorre que pessoa cansa de ser agredida e resolve continuar sendo espancada de uma forma por ela j conhecida s vezes paga com a vida Mas era uma vidinha ruim mesmo Lei Maria da Penha protege e o resto do mundo ataca O que a lei A lei uma coisa dif cil de se ler e mais dif cil ainda de se entender Na hora de ser aplicada como aplicar gelo em ferimento Lei e gelo se dissolvem no processo assim desde os prim rdios O pr prio Deus j escreveu as leis dele por linhas tortas Mas segundo dizem porque ele era canhoto e naquele tempo n o tinham inventado o caderno de caligrafia Representa o uma conversa numa salinha com uma estagi ria da Delegada No balc o de atendimento senhora tenho um hor rio marcado aqui nesse papel acho que pra eu falar com a delegada E a atendente de nariz e bunda empinada diz N o n o A delegada n o atende qualquer um assim de qualquer jeito por qualquer raz o Pois seja quem for tenho um hor rio agendado e estou aqui Ela olha o papel e diz triunfante com a estagi ria pode subir Essa provavelmente nunca levou porrada na cara mas nunca tarde No hospital com o estagi rio na delegacia com a estagi ria no IML com o estagi rio Imposto pago por ot rio Muitas coisas estavam em extin o por isso s Col nias para preserva o da doen a mental foram desativadas e extintas Belo dia coisa imposs vel na Curva Ent o num dia nada belo
13. consequ ncias de tal feriado Nem pros feridos nesses eventos O pesadelo j passou vejam um ano novo j come ou Ano novo vida nova para os que nascem e para os que morrem Tempo de recome ar O que eu vejo todo mundo continuando no ponto onde estava De novo mesmo s as novas contas para pagar e as d vidas velhas renegociadas A igreja se faz de santa apoiando a procria o ilimitada O clero descansa em paz com a vida garantida sem filhos nem fam lia pra sustentar e pode se dar ao luxo de viver na base do venha a n s o vosso reino enquanto incentiva a popula o a continuar se reproduzindo vontade O clero n o procria mas cria caso cada vez que algu m tenta de alguma forma conter o ritmo desembestado com que a esp cie humana est se proliferando Haver c u e inferno suficiente para tanta gente Claro que o clero acha a procria o divina quanto mais rebanho mais ganho Os do Clero n o sabem o que ser desempregado n o sabem o que viver em filas n o sabem o que viver em barracos em Curvas sujeitos a secas e chuvas N o sabem o que ter um filho perdido para as drogas ou assassinado Esperto o Clero Pro be a si mesmo de ter filhos para assim poder desfrutar do para so na terra sem ter que se preocupar com a vida nem com o futuro dos seus descendentes Queria ver se cada padre tivesse seis filhos ou mais pra alimentar pra mandar para a escola pra levar ao dentista pra encaminhar na vida Pai enviai
14. d lucro todos incentivam a fam lia a assumir o crime de ter fabricado um sujeito desajustado E os loucos n o t o nem ai querem comer querem dormir querem quebrar pessoas e coisas e querem cuspir Como os antigos trabalhadores nas Col nias ficaram sem ter o que fazer passaram a fazer encontros para defini o de termos visando a redu o do preconceito e da hostilidade contra os loucos Palavras como loucos insanos dependentes qu micos esquizofr nicos psic ticos man acos foram banidas dos dicion rios e substitu das por outros de menor impacto tais como pacientes em tratamento em hospital Dia pacientes ambulatoriais pacientes com diagn stico provis rio de irritabilidade incontrol vel pacientes em fase de reinser o social e familiar S que de paciente os pacientes n o tinham nada Olha aqui o que eu fa o com a fichinha de responsabiliza o que voc s querem que eu assine disse a irm de um louco enquanto fazia picadinho e comia a tal ficha Sem temor nenhum de ser internada como louca j que as Col nias foram extintas A extin o dos hospitais col nia precipitou uma onda de todos os tipos de sandices todas prontamente ignoradas pelo pronto socorro da Curva Com tanta mulher parindo com tanta faca entrando com tanto sangue saindo os pronto socorro est o prontos pra deixar de socorrer casos menos urgentes At porque loucura n o doen a terminal Termina com o sossego e com a vontade de viver de que
15. de avi o moravam em casas amplas e ventiladas protegidas por grades e muros Nos lugares mais bem localizados Como eu os invejava Eram eles os padres os que tinham acesso aos livros Dispunham de bons eletrodom sticos Usavam roupas confort veis Recebiam os melhores tratamentos quando adoeciam Tinham servi ais para realizar a manuten o das igrejas e para cuidar das atividades dom sticas Alimentavam se muito bem e na hora certa A isso davam o nome de disciplina Os do clero tinham computador m quina fotogr fica digital telefone e internet bem antes dessas coisas terem se tornado acess veis ao pov o Mudavam se de vez em quando sem o transtorno de ter que carregar a mudan a Em outra cidade haveria uma outra linda casa esperando por eles Participavam de reuni es culturais Celebravam todas as festas religiosas Muitos viviam romances clandestinos com mocinhas ing nuas que achavam que ao se relacionarem com padres estavam sendo tocadas por Deus atrav s de seus emiss rios Pergunto porque que eles que fizeram voto de pobreza vivem na riqueza e eu que fiz voto de riqueza vivo na pobreza Mas como eu ia dizendo meninos e meninas pobres de barriga vazia assistindo toda aquela alegria na televis o festa badala o belas paisagens carro potente big party bebida a vontade big brother os sonhos dos outros se tornando realidade piscina luxo roupas da moda academia romance e xtase Envergonham se de suas m es pobres d
16. dos melhores mas era algo surpreendente Muita gente comprava roupas usadas pra levar para os permanentes na Col nia Tinha m e que chegava no brech e dizia eu podia comprar nova mas ele n o merece Tinha esposa que dizia o mesmo Namorada que dizia o mesmo Irm que dizia o mesmo Quer dizer j era conforto demais morar na Col nia ter direito a leito cinco refei es ao dia banho de sol e ainda ganhar roupa nova de quem estava condenado a viver na Curva se arrebentando de trabalhar E no pomar derrubavam caquis com a mesma vara que usavam para fazer buracos no azul onde semeavam nuvens e colhiam carneirinhos pra contar nas 1001 noites em que Sherazade n o apareceu no Hospital Col nia N o importa o que esteja acontecendo se voc ligar pra pol cia v o dizer que n o podem fazer nada Mais ou menos assim Mo o meu irm o est querendo matar meu pai Ele est amea ando a todos n s e n o deixa ningu m dormir Ele paciente psiqui trico ser que voc s poderiam vir aqui prend lo pelo menos por essa noite at eu ver se consigo um internamento A pol cia diz n o podemos prender loucos chame a ambul ncia e leve pra um hospital Ligo para o hospital senhora meu irm o que paciente psiqui trico est muito agressivo j bateu na minha m e e n o deixa ningu m dormir d pra voc s mandarem uma ambul ncia A atendente diz olha isso n o podemos resolver quem tem que por limite nele a fam
17. furto virou regra e honestidade exce o Se roubam at s pr prias m es porque que iriam me poupar Antigamente os ladr es eram chamados gatunos Agora que os conhe o bem s pe o uma coisa deixem os gatos em paz As pessoas apaixonadamente abra am a profiss o de ladr o E tantos se reproduzem e s o produzidos Pilhagem palavra antiga das mais atuais A velha da Curva no tempo parada contou que passou um dia limpando a casa depois da visita dos netos fizeram muita bagun a toda aquela crian ada era lindo de se v Dizia a velha encurvada de olhar emba ado bem perto de morrer Ela esfregava uma m o na outra perdida em algum lugar ut pico inocente dizia muita crian ada muita crian ada t o lindo de se v vale a pena viver Enquanto eu pensava como que tanta crian ada vai sobreviver nesse mundo onde nascem tantas e a vida n o vale nada e teve brinquedos e teve muita comida e teve dan a T o bom ser crian a dizia a velha aparvalhada Sei que a velha encurvada na curva parada de olhar emba ado n o pode prever o futuro dessa crian ada Ser o assaltantes ou ser o assaltados Quatro meninos de n o mais que dez anos foram vistos no domingo usando seus uniformes escolares fumando e bebendo pinga num canto da Curva Como conseguiram a bebida Dissemos que era pro nosso pai e eles acreditaram agora a gente t fazendo o maior fest o Enganar f cil Enganar um dono de bar q
18. impaciente Respondo Irm era eu mas acabei de ter esmagamento do cr nio e veja os meus dentes quebrados Ela como se fosse a dona do hospital p blico me olha como se eu fosse uma incompetente Eu que tive o cr nio esmagado e perdi os dentes numa tentativa de impor limites dentro da minha pr pria casa Ela voc pode provar que foi ele que te agrediu Tem familiares que se mutilam s pra acusar o paciente e conseguir intern lo mais uma vez Ent o isso que preciso ser feito Apanhando e aprendendo Tive que obter provas ou nada de internamento Lamento Fui parar na delegacia da mulher Eu e todas aquelas mulheres com ferimentos graves por motivos v rios por falta de sorte Perguntam perguntam perguntam Respondemos silenciamos respondemos mostramos nossos ferimentos A representa o num outro dia todo aquele desabafo de nada servia S para saciar a curiosidade s dica dos agentes de plant o Depois tem que ir no IML e toda a aquela gente lesionada Reconhecimento de corpos no andar de baixo exames de les o corporal no andar de cima sobe quem pode ainda Fila Voc apanha na cara no corpo e na alma e depois o n mero nove se tiver sorte ou o vinte e seis e cada um espera a sua vez A vez demora da fome d d dio d d vontade de ir embora d D vontade de chorar d D vontade de fazer justi a usando veneno pra rato d S dois por cento dos casos de agress o tem os processos levados
19. inc ndios Continuam exercitando o corpo para quando precisarem entrar em a o No campeonato anual da liga Nem ligam e nem atendem ao telefone Incendi rio qualquer um pode ser j bombeiro s quem for selecionado Ladr o Ladr o Lugar de ladr o na cadeia mas eles preferem ficar por ai surrupiando coisas que n o se esfor aram para obter com o esfor o do pr prio trabalho Preferem casa carros m veis e dinheiro alheio Eles n o se fazem de bonzinho exceto uns mais inteligentes que ficam no planalto e em outros pal cios se fazendo de gente do povo Mas n o s o do povo n o Porque povo aquilo que se v todo dia nos tumultos das esta es Ladr o com cara de bonzinho s participa da guerra pela divis o dos lucros Mas esse tipo de batalha feita de maneira civilizada Debaixo de amea as veladas Portas muito bem fechadas charutos caros e bons vinhos Depois eles v m a p blico com as caras lavadas chamando o povo de caros amigos S pra comprar votos baratinhos Tem os ladr es por tabela Tabela de honor rios tabelas das cores primariamente impressas em notas de dinheiro Tem os ladr es de cores secund rias que dependem da cor da bandeira do partido As misturas que v o sendo obtidas a partir das fus es v o gerando subcategorias tamb m muito bem remuneradas Todo esse pessoal curte hist rias infantis Especialmente aquelas cujos her is s o an es e porquinhos espertos construtores de castelos equip
20. m s tem na Cidade Bela teatro de gra a pode ir quem quiser inclusive a ral Chama se projeto de forma o de plat ia O projeto de deforma o das ideias existe aqui mesmo na Curva nem preciso viajar O projeto de forma o de plat ia uma boa ideia no meio da podrid o Mas pobre t o desgra ado que pra pagar a passagem do nibus tem que vender o cal ado Acaba n o indo ao teatro por ter vergonha de andar descal o Mas eu acho que vale qualquer sacrif cio pra aproveitar um benef cio que visa inclus o Pobre n o faz nada na vida se n o tiver determina o Ningu m devia se envergonhar de andar de p no ch o O problema de se andar descal o a polui o Todo o v mito todo o lixo toda a urina que cobre o cal ad o O esp rito humano enche o palco e a plat ia A arte a ltima prova da exist ncia de um esp rito humano Acaba se o ato Baixa se o pano Encobrem se os erros com panos quentes Faz se o bem e o mal em nome da cultura e da civiliza o Educado ser discreto e fazer tudo por debaixo dos panos Os corpos dilapidados caem na sarjeta e a alma escorre pelo cano Cano de revolver comum todo mundo de vez em quando v um Se n o v sente aquele c rculo frio nas costas Est mulo t til pra deixar a v tima mais propensa a contribuir Sorria voc est sendo assaltado Fa a de conta que gosta Nunca leu o Segredo N o mas tenho tanto azar que d at medo Mesmo s
21. manfaco depressivo e que aos vinte e cinco anos j tomam medicamento para o mal de Parkinson Se existe drogado que n o incomode eu n o sei Sei dos que poluem as cal adas as pra as os bancos das pra as os terminais de nibus Sei dos que infestam as ruas os pres dios os hospitais Sei de drogados rejeitados que nem os pais querem mais Sei de alguns covardes que tiveram coragem de matar a pr pria fam lia Sei dos compulsivos depressivos suicidas abjetos repulsivos agressivos nocivos inocentes Sei de toda essa gente que n o tem nenhum desejo de viver Sei dos que n o fedem mas cheiram que gastam tanto dinheiro que acabam vendendo a si mesmos Sei dos que fedem e cheiram e fedem mais que esgoto Sei dos que s deram desgosto Sei dos que viraram bandido e dos que mataram feriram e est o feridos E sei de um drogado cujo pai que n o tinha nada ver com assunto acabou virando defunto na cobran a de uma d vida A drogadi o assim como a droga e os drogados s o parte do mal a ser erradicado Mas de que droga estava mesmo a falar De qualquer uma que cause perda do poder de discernimento De qualquer uma que cause perda do autocontrole e da vontade de acreditar que com trabalho e esfor o a vida pode melhorar Por que mesmo que estou t o revoltada Por que s o 11 00 da manh e ainda n o vendi nada As contas est o vencendo e minha vida est passando e ainda tenho que ficar assistindo esse mont
22. na brasa Falemos da manuten o do fogo ou melhor da vida virando cinzas mas esperneando para manter o fogo aceso Na correria no vai e vem malabarismo dentro do nibus dentro dos carros dentro do trem O trem passa em todas aquelas esta es a maioria se chama jardim ou outra coisa parecida com o lugar onde crescem flores Jardim mesmo s no nome Os Jardineiros saem cedo em vag es lotados de padeiros torneiros encanadores cozinheiras cozinheiros vendedores zeladores e tanta gente que j n o considerada ser humano e sim recursos humanos ou apenas m os humanas m os de obra m os a obra nos canteiros de obra Se deixam levar pelo trem at a destina o pois que ao destino mesmo j chegaram ao nascerem em uma das cidades Jardins dormit rios pres dios vel rios cemit rios hipermercados escolas esmolas Todo esse contingente de gente que trabalha duro Vive dura e dura uma eternidade dif cil de manter alimentada limpa e remediada Flores nascidas em jardins clandestinos flores de ningu m s nove da manha o trem vai vazio destino centro Quem ia sair j saiu Ficam as velhas os velhos os vadios as crian as a nova safra futuros usu rios do trem a serem usados para manter o sistema de transporte e limpeza da cidade funcionando bem Os mais ou menos inteiros j viajaram e est o a horas em busca de dinheiro e comida em Jardins mais condizentes com o que pode ser chamado de vida V o l e passam o dia vend
23. nas garras e dentes de um pitbull vizinho Ser que n o seria melhor ele ter continuado na rua Foi assim que o Pelego teve fim pelo menos ele teve uns dias felizes antes de morrer Isso custa um real tamb m Se ainda tiver aqui eu pego na semana que vem Quanto custa essa cal a tr s reais e a de um reais n o tem mais lindo mais n o gostei da cor diz a mo a de cor e vida indefinida Vim aqui pra ver as novidades Penso novidade ou velharia rec m chegada Outra faz a pergunta cinza combina com qu Penso com o dia de hoje e com voc Respondo com qualquer coisa s voc querer Na Curva o tempo n o vale nada nem o meu nem o de ningu m Aqui tempo n o dinheiro especialmente pra quem sofre o tempo inteiro Passei a manh inteira pra vender uma cal a e a velha passou a manh para decidir se levava ou n o depois de algumas horas veio devolv la dizendo que tinha ficado grande demais Mo a me desculpe mas eu quero de volta os meus tr s reais E os livros s o pra vende Sim Voc gosta de ler N o mas tenho um menino na escola e pra ele l bom n Penso e seguem todos achando que ler bom mas n o para si mesmos Eu leio porque meu pai n o sabia Cada p gina lida eu dedico a ele que muito cedo me alertou para as possibilidades de uma vida diferente mas at agora mesmo sabendo ler tem sido igual mas quem sabe no futuro Eu queria viver flutuando mas gravidade me at
24. nos as vossas b n os S que eles egoisticamente desfrutam das b n os recebidas e n o precisam dividi las com filhos rebeldes esposas paran icas e outros dependentes Levam a vida na boa Paz paz o que eles t m N s n o temos paz Temos desapontamentos contas a pagar filas a enfrentar e dores a superar Dores pela perda de parceiros filhos irm os e amigos mortos em guerras de todos os tipos Eu era ainda crian a quando percebi a enorme diferen a entre ser filho de Deus e padre e ser filho de Deus e reles mortal Todos eram iguais diante de Deus S que eu e minha fam lia formada de pai m e e oito irm os amos para a missa a p debaixo do sol quente e poeira Ou debaixo de chuva Quando estava muito frio A conga molhada deixava as pegadas no ch o branco da geada O padre ia de Toyota Era dele o nico carro em frente igreja Na hora do vinho e p o ele ficava com os dois e os fi is s com o p o que nem p o de verdade Mas o vinho Descobri que os membros da igreja estudavam nas melhores e maiores escolas Alguns meninos pobres da comunidade tentavam em v o convencer o padre de que tinham voca o e ouviam um desanimador falta a voc o dom do sacerd cio meu filho Quando cresci e tive a oportunidade de saber como realmente viviam os filhos de Deus mais favorecidos fiquei impressionada O que mais me chamou a aten o era que praticamente todos passavam uma temporada morando na Europa viajavam
25. o da preserva o Mas n o adianta porque enquanto uma camiseta revendida tr s vezes aqui na Curva e usada at rasgar os pol ticos artistas famosos e outras autoridades v o pra Miami e trazem quinhentos e tr s quilos e vinte sete gramas de excesso de bagagem e ao chegarem ao Brasil declaram nada a declarar e passam tranquilos com suas malas de rodinhas pelos inspetores da receita federal que n o inspecionam nada A culpa n o dos funcion rios dos sonegadores que se escondem atr s das malas imensas maiores que as casas de muita gente que eu conhe o S o tantos rel gios sapatos ternos conjuntos bolsas vestidos camisas roupas ecologicamente corretas com desenhos de jacarezinhos e nomes de grifes famosas quase em extin o por causa da pirataria que tanta Mas com certeza gra as ao apoio desses cidad os brasileiros que investem muito dinheiro p blico na aquisi o de seus produtos essas marcas n o ser o extintas Depois aparecem na televis o aquelas pessoas bem engomadas acompanhados de seus parceiros todos usando roupas da ltima moda e desencadeiam na Curva um desejo irrefre vel de consumo Consumo de drogas de comida de bebidas baratas de cds piratas e outras piratarias de rem dio pra ansiedade coisinhas chinesas e outras porcarias Quem diria que aquela mala de rodinhas cheia de personalidade andando pelo aeroporto iria desencadear todos esses impulsos consumistas Outro dia uma curvense querendo parecer
26. o futuro dessas crian as duvidoso O Pelego voltou olhando atentamente percebi uma coleira escondida entre os p los embolados Quem ser que o prendeu e depois o soltou Agora que ele est sujo e sarnento quem que se atreveria a por as m os nele para libert lo da coleira prova de que um dia o Pelego pertenceu a algu m Quem ser que deu ao Pelego o peso de uma coleira apertada para carregar sujo e sozinho De cachorro de ra a a c o imundo Isso a coisa mais f cil de acontecer Dif cil o contr rio de c o imundo a milion rio Mas vida do Pelego estava para mudar minha amiga se comoveu e cortou lhe os p los Ele parecia aliviado e nem se mexeu Tem horas que na Curva preciso se fazer de morto e isso at o Pelego aprendeu Tanto tempo sem ter sido tocado que ficou extasiado A a o chamou aten o e o Pelego agora pelado acabou sendo adotado Prova de que na Curva tamb m existe boa inten o mas como j sabemos o c u est cheio de boas inten es engavetadas Quando finalmente o Pelego tinha uma dona generosa um quintal pra cuidar e at gatos para perseguir o pitbull do vizinho trucidou o em pedacinhos Mesmo assim o Pelego continuava se arrastando querendo viver um pouco mais Um bondoso rapaz teve que sacrific lo para por fim ao seu sofrimento e ao de todos que assistiam a vida e a morte Pelego Lamento mas a sorte Sorte de Pelego ser adotado por uma boa fam lia e acabar morrendo
27. o j cansada de ser chamada de baleia e de canh o Calorias vazias vidas vazias est magos pedindo mais Vazios que engordam Vazios que se ampliam Mas n o s comida que engorda porque uma senhora obesa m rbida me contou que s tinha cem reais de renda mensal e com esse dinheiro vivia o casal de gordos O que eles menos faziam era ter o que comer e mesmo assim estavam frequentando as reuni es de prepara o psicol gica no hospital p blico para serem submetidos a uma cirurgia de redu o do est mago Isso uma tima estrat gia governamental Est magos ajustados s condi es or ament rias individuais Nada de est mago enorme e dinheiro nenhum pra comprar comida Nada de portar um mini est mago quando se tem uma carteira estufada de dinheiro Saco vazio n o para em p e nem enche por conta pr pria s vezes me pergunto se poder ouvir mesmo melhor do que ser surdo Nada posso fazer al m de ouvir Lamento mas n o lamento Quem mandou ser pobre J sei j sei ningu m mandou tudo aconteceu quando algu m deu vida sem ter condi es m nimas de viver A mo a revoltada porqu o m dico tinha escrito no bra o dela o endere o do hospital para onde ela deveria ir dar a luz teve que ir andando at o hospital e como a estrada era ngreme ela perdeu o filho pelo caminho e deu trevas Da queria processar o m dico coitado que s estava economizando rvores por ser um ambientalista super correto que foi muit
28. outro quando menos se espera algu m conta pro um que foi quem tinha come ado a contar a hist ria O caos circula de boca em boca Propaganda nos hor rios mais nobres da vida dos pobres O caos se propaga e emo o gratuita garantida Essa a vida comadre que vida Tem gente que tem tanto medo de n o fazer nada da vida que por via do medo das perguntas sobre o futuro faz mais um filho e com isso se ocupa por mais alguns anos e garante uma mesadinha Presente do governo paternalista tentando se isentar da culpa por gastar tanto em festas viagens e direitos l quidos e certos de toda a sua comitiva Os membros do governo n o viajam em p s em poltronas reclin veis e outros mimos reservados aos escolhidos digo eleitos democraticamente para uma vida de luxo e conforto No nibus assim como no trem tem lugares reservados para os velhos para as gr vidas para os deficientes e para as crian as Mas tanta gente nessas condi es que tem velho cedendo lugar pra mais velho ainda Gr vida dando o banco pra outra gr vida mais grave Aleijado cedendo o lugar para um ainda mais comprometido Sobram em p Os cansados Os estudantes Os trabalhadores Os desempregados Os carregados vindo dos supermercados E tantos outros que a muito perderam o direito de andar sentado Mas o povo n o se toca De parir n o param uma sequ ncia do processo iniciado com a c pula A c pula do governo paga para pensar pelo povo Mas a c
29. potencial utilizado para gerar filhos Procedentes de diferentes rvores geneal gicas eles s o diferentes uns dos outros em cores e tamanhos mas o destino quase sempre o mesmo de sempre Respiramos poeira e aspiramos perpetua o da esp cie Um sonho bastante ambicioso se considerarmos que a esp cie uma amea a a si mesma Acabo de ver um homem deitado na cal ada Algu m me disse que dormir na rua n o t o ruim quanto parece o mesmo que dormir num quarto s que sem paredes Depois que a pessoa est l estendida o corpo relaxa a mente se adapta situa o e os olhos se acostumam com o ngulo de vis o D at para analisar tudo por um outro prisma e sentir pena das pernas que v o passando t nis apertado sacolas pesadas sapatos de saltos de saltos desgastados gente correndo pra atravessar a rua gente voltando pra casa gente come ando o dia medo de ser atropelado medo de ser assaltado medo de chegar atrasado banho tomado mas n o todo mundo os velhos saem cedo eles que podiam dormir at mais tarde gente ansiosa esperando nibus olhando no rel gio falando no celular gente estressada dirigindo gente perdida pedindo informa o gente dizendo que tamb m n o sabe gente caminhando e comendo gente fingindo n o olhar gente trombando um no outro gente desviando um do outro quase uma colis o uma colis o buzina freada porta batend
30. que fazer faziam se dizer sombrios tristes doentes desanimados sem dinheiro tra dos desajeitados e como geravam herdeiros de suas necessidades de suas incoer ncias fei ras e bondades herdeiros de nada ter a n o ser uma triste est ria para viver o que j muito diante da morte iminente de muitos ainda em semente nunca havia visto tantas cadeiras de rodas tantas muletas tantas esmolas e eu que n o sei ser generosa nem sei compartilhar envergonhei me tendo mais do que preciso e o que ter mais do que preciso e ter algo novo sem o qual tinha vivido muito bem at antes mas eu n o estou falando disso estou falando de gente com sarna piolho e pano branco gente fedendo urina gente com ferida e j por demais ferida pra se curar da dita sina t falando de gente endividada fraca viciada t falando de pobreza mis ria e carnificina de gente que n o tem o que comer e vende comida pra sobreviver de gente que tenta vender os restos de si mesmo na esquina e descobri que o drama humano que eu tanto queria n o era aquele que se oferecia mas aquele que por mim metodicamente teria que ser escavado drama secreto bem disfar ado n o o drama escancarado louco desejando ser contado n o esse saltando aos olhos feito tumor latejando n o aquele arrependido de ter nascido identificado confesso punido n o aquele agonizando pra ser perdoado queria o drama reprimido
31. que ta pra acabar em fogo mas n o acaba O show de hoje do louco que sabe deus por que f ria come ou queimando suas caixas de papel o suas garrafas de pl stico o saco e o colch o n o satisfeito tirou as roupas e atirou na fogueira Os passantes a princ pio tentaram cobrir as vergonhas do louco que n o estava nem ai com aquela coisinha dependurada nem com a bunda j bem amassada Tinha uma forma disforme n o se sabe se era magro de louco ou de fome Uma tentou enrol lo com a toalha de mesa do restaurante ao lado outro atirou uma manta mais coisas para alimentar o fogo do louco de repente a fuma a tinha se espalhado e a tentativa de boa a o do povo se converteu em vontade de censurar Come aram a se sentir muito normais e muito melhores do que o louco Antes era tempo de descobrir o fogo cultivar o fogo adorar o fogo desde ent o os humanos tem tido como miss o manter o fogo aceso e ao mesmo tempo se desvencilhar do fogo das armas de fogo do fogo que queima tudo destr i casas e coisas Cuspir fogo Buscar fogo fogo Virar cinzas Ser consumido pelo fogo Temer o fogo do inferno Manter a chama O caldeir o as labaredas os lenhadores Tanta coisa mantida e inventada a partir do fogo Contando com o poder do fogo Poder de fogo Queimar dinheiro Virar fuma a O fogo e seus derivados os queimados e as queimaduras E as cinzas do tempo Brincar com fogo Foguetes fogos de artif cio Artif cios andar
32. um louco E o pior quando ele se vira contra voc te agride n o para de cuspir improp rios na sua cara e ainda quebra a sua casa quebrando ainda mais a sua vida j bastante destru da Parece ofensa falar de louco pelas costas mas eles n o me dariam aten o e j que ningu m assume que louco n o estou fazendo mal pois estou me referindo a uma categoria hipot tica Presente nos DSMs da vida E os que quiserem sair em defesa Surpresa Voc acabou de ganhar um louco num sorteio Isso mesmo leve o pra casa e depois me diga como foi a experi ncia N o o discurso n o os conceitos n o a religi o n o as teorias de desospicializa o da loucura N o s revistas politicamente corretas A o conviv ncia dormir e acordar junto comer junto pagar s contas sozinho limpar a bagun a sozinho sentir medo e desesperan a sozinho Espere viver com um estranho no ninho pra depois pronunciar seu santo manifesto em v o Em fam lia ainda pior uma desarmonia um acusando o outro muita sensa o culpa muito constrangimento muito medo muito lamento Lamentamos mas n o podemos fazer nada disse a psic loga cheia de certeza de que estava fazendo a coisa certa ao n o fazer nada Ent o era para dizer aquilo que ela estava l sendo remunerada Abaixo a romantiza o da loucura E quem nada pode fazer n o deve receber sal rio Os loucos eram t o indesejados que os hospitais para loucos ficavam loucos de raiva quando d
33. vieram as ambul ncias estornando os mentalmente transtornados s suas casas Isso depois de muito aviso e de muita coa o Eles tentaram fazer com que as fam lias fossem buscar os loucos por livre e espont nea press o Queriam que algu m da fam lia assinasse uma ficha dizendo que se responsabilizava pelo doente N o que eles estivessem preocupados com o futuro dos ex internados Eles queriam ter a certeza de que n o poderiam ser processados As fam lias que estavam doentes de tanto sofrer com seus loucos se recusavam a ir busc los Mas rebeli o de pobre dura pouco Mais ou menos como naquela historinha da montanha que n o ia a Maom Maom s aos montes foram despejados nas portas da Curva S n o teve o milagre da multiplica o dos p es Aumentaram foram as bocas famintas Os ex internados estavam acostumados a cinco refei es por dia Fim da mordomia para os loucos e seus parentes Por quest o de prioridade o governo resolveu investir na decora o e conforto do executivo do legislativo e do judici rio Todos loucos de espertos A maioria dos loucos tinham enlouquecido por causa do uso de drogas ou por acharem a vida uma droga Todos chegaram mais ou menos bem dopados Mas isso passou Logo eles voltaram ao normal Na Curva ningu m mais estava dormindo de tanto louco gritando e cachorro latindo Mas Lei Lei e deve ser aplicada em seus ultrajantes rigores Senhor eles n o sabem o que fazem dizia a velha da
34. Curva parada no tempo perto de uma maca estacionada Rezar tamb m n o adiantava Promessas d o resultado mas s a dos pol ticos e o resultado bom para eles claro Claro n o escuro por causa do apag o Nos s culos seguintes ningu m mais conseguia ir trabalhar Uns porque estavam cansados outros porque tinham medo de deixar os loucos sozinhos e terem suas casas queimadas Outros n o iam pra n o deixar a m e ou o pai desprotegidos na companhia do louco Isso trouxe s rios problemas pra economia da Curva e bastante economia para os cofres p blicos que a muito se comportam como se privados fossem Privados foram os moradores da Curva do nico luxo que tinham O direito de dormir O lema era Limite a fam lia tinha que impor limite Mas em suas casinhas de paredes de papel o e cobertura de eternit n o conseguiam conter os loucos A de quem os amarrasse Era punido por priva o do direito de ir e vir e acusado de manter o doente em c rcere privado Muita gente se matou Outros sumiram mudaram de nome e de endere o e deixaram os seus loucos vagando pela Curva Os deputados que tinham aprovado tal lei ganharam aplausos e muito dinheiro Os que tinham votado em tais deputados ganharam muitos problemas a mais j que por n o conseguirem ir trabalhar para ficarem fazendo companhia para os loucos perderam seus empregos Mas isso era s o recome o Todos incentivam a cria o mas ai quando a criatura n o funciona direito e nem
35. T tulo Curva Autora Anna Otto Paz Paz o que n o se tem desde que a gangue das peruanas se formou Assaltam amea am depredam estupram e fazem arrua as A gangue das peruanas orgulha se por ser a mais violenta gangue j criada aqui na Curva O nome gangue das peruanas tem origem no tipo de uniforme que eles vestem Todos os membros usam blusas importadas do Equador Nessas blusas t m estampas com um desenho t pico da cultura Incaica que o Deus Tumi por isso que eles chamam essas blusas de peruanas H diverg ncias sobre o que o Tumi significava para os Incas Alguns dizem que ele era o Deus do Sol e outros dizem que ele era o Deus do sacrif cio humano O rapazinho n o tinha nada ver com a hist ria Inca e nem sabia da forma o da gangue mesmo assim levou um tiro Foi apagado para aprender a n o usar a blusa sagrada com figurinha pag indevidamente Sendo o inverno aqui bem frio nada mais inteligente que criar uma gangue cujo uniforme seja uma blusa de l Embalagem confort vel a servi o do terror De longe eles s o identificados E temidos Sendo uma organiza o com fins lucrativos e estando bem agasalhada a gangue das peruanas n o tem pressa de encerrar o expediente Trabalha at de madrugada Mesmo quando esquenta os membros da gangue n o tiram a blusa Temem a perda da identidade Pregui a talvez Maior trabalho vestir essas blusas com capuz Juizes policiais executivos e padres tamb m n o se despem de s
36. a Curva como antigamente A velha de sessenta e oito anos orgulha se de ter oito filhos vinte sete netos e sete bisnetos sendo que a bisneta mais velha j est com 13 anos Fazem filhos igual biscoito E de lhe coito n o interrompido nas casinhas apertadas cheias de gente dormindo em pequenas multid es nos quartos salas de estar e permanecer at que as coisas caiam do c u Interrompido mesmo foi o tr nsito na BR que atravessa a Curva depois de carros terem atravessado pessoas que estavam atravessando a BR de um lado para o outro O nariz ardeu por causa do cheiro de combust vel e pneu Queimaram na hora da volta pra casa Hora do retorno um transtorno Ningu m sa a nem entrava nos nibus da Curva A fumaceira em frente ao supermercado Na esperan a de que as autoridades resolvessem o problema para que o homem mais rico da Curva n o tivesse preju zo N o tem sem foro nem passarela como se quem estivesse em tr nsito n o tivesse que se dar ao trabalho de parar para que os Curvenses possam chegar ao outro lado da estrada com vida Tanto empurra empurra pra voltar pra casa ser que mesmo t o bom voltar para frente da televis o Mas a pressa de chegar em casa se d porque a pessoa sabe que em poucas horas ter que sair Todos os dias os nibus v m vazio da Cidade Bela enchem de gente e levam pra construir limpar as casas cozinhar e cuidar de crian as Levam tamb m atendentes ajudantes gar onetes balconista
37. a acarea o furto simplificado did tica da forma o de grupos gangues e quadrilhas desmontagem de um carro passo a passo sobrevivendo na cadeia e ainda lucrando com isso lei de tali o aplicada aos tempos atuais o segredo do sucesso para lideres do tr fico poesias para marginais Enquanto s vezes um cigarro apenas um charuto na teoria freudiana Na pr tica aqui da Curva um cigarro quase nunca apenas um cigarro Uma pipa no c u pode ser um pombo correio e um rel gio pode ser um detonador O potencial humano para a degrada o e a criminalidade infinito E nem preciso usar a criatividade basta seguir os exemplos Dizem que a criatividade pode ser empregada na cura de psicopatologias Aqui na Curva tem uns programinhas arteterap uticos direcionados a quem conseguiu chegar vivo terceira idade J a galera jovem usa a criatividade de forma bem patol gica e sem um pingo de bloqueio Num desses surtos criativos houve o estupro da ovelha Eles sa ram de madrugada j bem drogados roubaram a ovelha e trouxeram para frente da casa de um deles Revezaram se nas pr ticas sexuais cada um metia um pouco enquanto os outros seguravam Depois mataram a ovelha e comeram a carne dela assada ao amanhecer O cheiro de carne de ovelha se espalhou pela vizinhan a que acordou faminta Em uma madrugada de domingo uma ovelha foi roubada estuprada assassinada assada e comida Ningu m fez nada Nem vigil n
38. a de culpado desculpa Eu que pensava que para trabalhar bastava querer Mas o buraco de entrada no mercado de trabalho s para quem mora na borda ou para quem encara trabalhar de porteiro ou em puteiro noite Para ambos preciso ter boa apar ncia e experi ncia Duas coisas quase imposs veis de acontecerem simultaneamente Ou sobra uns quilos ou falta uns dentes Meu amigo Renato disse que se o Shakespeare quisesse dar aula de ingl s num bairro hiper nobre e morasse no bairro hiper pobre era bem capaz de ser rejeitado O Renato disse que n o gosta de ficar na m o de selecionador de pessoal De repente o selecionador olha pra ele acha que ele tem cara de rabe e pensa esses turcos s o uma ra a dif cil Assim ele Renato de Sousa um orgulhoso descendente dos Mouros que habitaram a Espanha por volta do s culo IX agora um mero brasileiro nato e desempregado descartado tudo por causa da cara de turco que ele nem queria ter se tivesse tido a chance de escolher Mas o trabalho do qual eu quero falar n o esse de convencer selecionador de pessoal sobre o quanto podemos ser lucrativos para a empresa O trabalho que me causa espanto o trabalho de parto Trabalho de parto emprego f cil de conseguir na Curva Na vida das curvenses come a cedo a pari o A apari o de mais uma crian a n o gera grandes preocupa es s vezes gera renda e fraldas e fraudes no DNA para provar uma paternidade incerta e n o sabida tanta
39. a galera de roedores a gente tende a eliminar imediatamente Nosso instinto de autoprote o n o nos deixar sossegados enquanto n o escorra armos todos Eles nos irritam quando mexem no lixo A gente coloca tudo na sacola joga na lixeira e no dia seguinte l est tudo espalhado em frente a nossa casa Camisinhas absorventes filtro de caf misturado com papel higi nico fio dental casca de abacaxi pontas de cigarro horr vel reencontrar aspectos da vida que preferimos ignorar logo pela manh Meu Deus ser que os vizinhos viram Nesse momento de culpa e vergonha nos esquecemos que os vizinhos s o produtores de lixo tanto quanto n s N o resta alternativa N o se pode protelar o recolhimento do lixo da porta de casa a a o tem que ser r pida antes que algu m veja Juro pegar aqueles malditos ratos filhos da puta Junto o lixo preparo as minhas sacolas jogo na lixeira e fico espreita N o demora para que surjam um dois tr s meia d zia de ratinhos Saem de seus esconderijos desconfiados correm um pouco e se escondem atr s do telefone p blico certificam se de que ningu m os observa e avan am at o canto da casa Numa arrancada correm at a lixeira Um atr s do outro pegam as sacolas e saem em disparada Esperava que eles parassem para abrir as sacolas ent o eu poderia conversar com eles e exigir que juntassem tudo e prometessem n o repetir o que haviam feito Em vez disso observo horrorizada que eles correm a
40. a i cum n is l Assim que eu passo um dia inteiro ouvindo dramas e programas de gente que eu nem preciso saber quem puta corno bruxa gorda gatinha peituda safada tarado vadia Ou o os gritos da crian ada do col gio Coronel Clem ncio das s ries iniciais No intervalo eles carregam cadeiras at o muro da escola sobem e observam quem est passando Gritam e se abaixam Assim que a pessoa vira a esquina eles voltam ao observat rio Quando mais algu m passa gritam e se escondem novamente assim se preparam para o futuro bela met fora escondidos atr s do muro Insultar quem passa na rua a divers o do futuro da na o O sino toca eles voltam para as salas de aula Ou o os gritos das professoras Burro Sente a que eu j mandei Fica quieto que se voc soubesse alguma coisa voc era o professor Mais que falta de educa o Juracindo eu vou contar tudo pra sua m e No dia seguinte criatividade e inova o Jogam pedras cascas de laranja sapatos e caixas de papel o em quem passa pelo cal ad o esburacado Ignorados pelos professores pais e dire o os alunos continuam insultando os outros como forma de recrea o Para os professores at que bom sobra mais tempo para bater papo e fazer planejamento Ningu m merece passar o final de semana planejando ainda mais porque o plano nunca concretizado T o certo quanto o t rmino de mais um ano letivo que
41. a pens o do Jo o t ligando pra dizer pra senhora que o seu filho n o presta Eu n o tenho culpa se ele n o pode nem sustentar um filho e j tem mais dois e est desempregado A senhora defende por que a m e dele se fosse a senhora no meu lugar eu queria ver A senhora deixaria que um homem fizesse isso com uma filha sua N o tem conversa n o fala pra ele pagar a pens o porque se n o amanh eu levo o Jo o pra morar ai e a senhora que se vire pra cuidar do seu neto Quem mandou por filho cafajeste no mundo A senhora j n o cuida dos seus outros netos ent o cuida do Jo o tamb m Segundos depois Voc ainda me pergunta como que isso aconteceu Voc queria sem camisinha e foi Acha que se fosse brincadeira eu ia t te ligando Voc vai ter que me ajudar tenho que ir num m dico aquele neg cio do Paraguai n o funciona e depois a crian a nasce aleijada e eu n o quero essa coisa na minha barriga tem que por pra fora enquanto tempo Claro que seu se acha que eu fico dando pra todo mundo Voc quem sabe se n o gastar um pouco agora vai gastar bem mais quando eu for no Juiz pedir pens o aliment cia Voc sabe onde eu moro na hora de me come foi l que nem um cachorro magro com fome eu te servi agora a sua vez de retribuir Vou desligar que eu t com nojo at de ouvir a sua voz Minutos depois Oi Meu eu descobri um galo pra gente curti hoje noite Chama l o Tisora e o Ladainha pr
42. a se pelo bvio que a sobreviv ncia luta se por um assento na condu o luta se por rem dios nos postos luta se contra a inunda o e a poeira luta se contra o calor no ver o e contra o frio no inverno ou em qualquer esta o luta se contra a sujeira luta se contra a maledic ncia pr pria ou alheia luta se pra parecer bonito porque em lugar nenhum bonito ser feio luta se contra a gordura esse inimigo ntimo e efeito colateral luta se contra o desanimo e a canseira Quando n o tem luta tem luto Na Curva tem gente boa Tem gente limpa Tem gente que limpa as casas alheias Tem gente que n o fede nem cheira Tem gente que s fede e gente que s cheira Tem gente que se escafede ou colocado pra correr Tem gente que sai da Curva por medo de morrer Tem gente quem vem pra Curva tentando escapar Tem gente que cria tem gente que serve de criado Tem gente mal criada mal remunerada maltrapilha e maltratada Tem gente que trabalha duro e gente que n o vale nada Na boa n o estou julgando s constatando Mas acima de tudo tem gente abaixo da linha da pobreza andando de cabe a baixa com um beb nos bra os um na barriga e um atr s do outro Quando vejo a superlota o na maternidade me pergunto como que essa gente se d ao luxo de transar sem usar preservativo nem contraceptivo Talvez porque gostem Talvez por recrea o Talvez por acharem que bom Talvez pra se sentirem ma
43. adi o Gente sa da das bocetas pelo ladr o Mas n o s o todas n o s a maioria E ainda chamam os procedimentos humanos de civiliza o A crise que come ou a mil anos atr s n o acaba mais E se ruim pra gente imagina pros animais Coitados cada vez mais abandonados Com tanta gente indo pro lixo Quem vai se interessar em proteger os bichos Eu acho que bicho devia ser protegido Por que eles n o t m sonhos nem conseguem lutar por uma vida melhor e nem sabem como evitar a procria o Gente se alivia roubando usando droga sonhando e trabalhando Se alimenta de ilus o Bichos n o Eles vivem o dia com a barriga cheia ou vazia N o sabem que futuro existe N o sabem como deixar de ser tristes N o sabem fingir que n o est o sofrendo N o sabem se suicidar N o sabem fazer planejamento familiar Deixa nascer disse a mulher A filosofia dela era eu que n o vou me privar de crian as por causa desse mundo ai fora Ela pensa em crian as em termos de agora quero ver daqui a 10 ou 15 anos muitos preju zos e muitos desenganos e as crian as viram f bricas de necessidade e de outros seres humanos Tem uns que por sorte se salvam estudam arranjam empregos d o orgulho aos pais e se ajeitam na vida Mas at quando At serem sequestrados Serem pegos de surpresa na sa da ou na chegada Adeus papai adeus mam e fui bom mas o fim da jornada Desgra ado desgra ada Filho da puta m
44. ado de vermelho P tria vermelha Sendero luminoso Nada se salvar Nem me salvar Nem adianta fazer uma arca que os rios naveg veis est o por um fio Todos tentam j que tentar n o crime ou depende da tentativa se ela for bem sucedida Tentativa bem sucedida suic dio consumado E da n o pun vel O resto Mas n o Depende de quem tenta e de quem assiste televis o Os fatos falam por si mesmos e ultimamente os fatos t m sido bastante eloquentes Precisamente porque eles todos frequentam aqueles cursos de oralidade exacerbada digo de orat ria ou ret rica eu que fico quieta Escrevo pra n o fala leio pra n o perguntar e mordo a l ngua se der vontade de criticar Essa minha boca um t mulo dizia a mulher com um h lito t o ruim que parecia mesmo ser um t mulo No livro em busca do sentido da vida o Victor Frankl dizia que o que move o ser humano a curiosidade uma das coisas claro porque comida e noites bem dormidas continuam sendo fundamentais para a compreens o do sentido da vida Beleza tamb m mas como rara custa caro e o poder aquisitivo n o faz sentido nenhum Curiosidade nem que seja para saber se chegarei em casa antes de ser assaltada se descerei do nibus antes que ele acelere v embora e me deixe ca do na cal ada S o curiosidades pequenas mas que movem e comovem Por exemplo hoje estou curiosa pra saber quem dos vizinhos vai chegar aqui contando uma desgra a
45. ados com v rias saunas e outros luxos da modernidade muito apreciados nas cortes de hoje em dia Pol mica aquela hist ria do rato que roeu a roupa do rei da rua Ningu m quer ser o rei que teve as roupas ro das mas todo mundo quer ser rei Por outro lado ningu m quer ser rato mas quem resiste ao impulso de roer a roupa do rei da rua nem que seja s uma beiradinha Ningu m quer ser rato todos querem ter a esperteza do rato bem sucedido que conseguiu a fa anha de roer a roupa do rei da rua A esse sentimento d se o nome de ambival ncia Ambival ncia deve ser evitada para n o criar impacto negativo no imagin rio pouco seletivo da multid o e com isso causar indecis o no processo eletivo Ou seria transtorno no inconsciente coletivo Votamos em quem No rei Ou no rato Espertos ambos s o Cada um sua maneira S um estrategista muito diab lico para conseguir desfazer o mal entendido Ele precisa garantir ao povo que ratos e reis n o existem e que j vivemos numa sociedade democr tica de cidad os livres Ningu m mais s dito todos s o sujeitos S n o nos diz sujeitos a qu Sujeitos coisa boa que n o Segundo o estrategista diab lico a sociedade atual p s dedetizada pela vigil ncia ultra sanit ria formada por um batalh o de funcion rios aptos a defender a igualdade de higiene para ricos e tamb m para pessoas em situa o de pr enriquecimento Para as teorias recentes n o existe pobreza Exi
46. al criado Marginal esc ria Monstro nojento Pestilento Mas ai j tarde O filho lindo e motivo de orgulho j se foi lamento Eu lamento Tu lamentas Eles lamentam Elas lamentam Nos lamentamos Tu lamentas V s lamenteis N s lamentaremos O verbo mais conjugado no momento Eu lamento E o bolo agredido cujo pedido de desculpa eu apresentei no ltimo momento cresceu e ficou muito bom Prova de que o amor pode dar certo Provisoriamente n o cantaremos o amor vomitaremos o horror antes que ele contamine o nosso sistema linf tico Acordei bem cedo e fiz bolo tentando negar a amargura das not cias ruins que outras fam lias receberam Coisas inesperadas Hoje t o cedo eu j t o desesperada As mulheres diziam n o sei o que fazer eu s sei que n o sou nada Mas ser nada bom Ilus o ilus o At um nada como eu assaltada no cal ad o Toda essa desgraceira acontecendo e me sinto culpada por me dar ao luxo de ficar observando em vez de fazer alguma coisa Mas o qu eu posso fazer Nada O destino o mesmo O destino o medo O destino doen a oportunista O destino a doen a higienizadora O destino a morte Pra quem tiver sorte De tanto que j aconteceu a morte j devia ser uma fun o incorporada Uma goiaba caindo um b bado cuspindo uma galinha cagando uma crian a dormindo ou um cara vendendo rede Mas gente tem sede de gua e de sentido A gente d muito sentid
47. al mas ele n o fez nenhum mal nem nenhum bem Volto para o balc o de mau humor e o saco cheio de roupas a serem vendidas o quanto antes pra eu ganhar uns trocados e me livrar do cheiro de bolor mo a guarda essa pe a de um real pra mim que na semana que vem eu vou pegar um dinheiro e venho comprar ela Bolor denomina o comum a fungos que vivem de mat rias org nicas por eles decompostas mofo bafio n o vou citar a fonte por que esse dicion rio usado veio sem capa Vou tentar vend lo assim mesmo Vendo uma pe a inteira de roupa por um real passo na quitanda e d para comprar uma manga Minha filha de deus eu t muito velha pra trabalhar e muito nova pra me aposentar Essa vida acabou comigo dizia outra velha encurvada pelo peso do tempo O tempo na Curva pesa muito mais Por quest es aerodin micas O pai ganha um sal rio pra sustentar tr s ou mais Quem quer pra empregada uma mulher desdentada Quem vai querer para namorada uma mulher desdentada Dente um problema recorrente na Curva Raramente se tem a quantia certa de dentes Ou se tem muitos e encavalados ou se tem v rias faltas s vezes n o se tem nenhum Na Curva flores de pl sticos enfeitam casas bonitas de mentira e vidas tristes de verdade Tanta coisa perdida em meio ao caos social E j que ningu m tem dinheiro como explicar a fila quilom trica em frente lot rica Dinheiro que era pra at o final do m s n o passa do dia seis a matem ti
48. anda de nibus nem precisa trocar de roupa tomar banho ou escovar os dentes mesmo de baixa manuten o Est sempre limpa e cheirosa N o cheira droga e dorme sossegada Vive come e dorme Nunca precisou fingir orgasmos nunca precisou se despir vagarosamente meia luz na frente de um bab o Nunca nem mesmo em apuros pronunciou o nome de Jesus Mesmo que a tempestade varra a Curva eu n o quero que a Bianca morra Ela a ltima coisa macia e boa que existe no mundo Eu sei que aqui nunca far amos uma arca de No Num lugar cheio de casas de papel o quem que teria dinheiro pra investir num luxuoso transatl ntico pra encher de bichos mancos e pulguentos Cada bicho ia ter muito mais que um casal de pulgas e isso seria motivo de muita disc rdia sem falar na disputa que haveria pelo lugar do casal fogoso destinado a repovoar a terra Ia ser tanta competi o que em vez de acabar em gua a terra ia acabar em guerra E dou lhe uma E dou lhe duas E dou lhe tr s Quem d mais Quem d mais cobrando menos a mais fodida Regras b sicas da vida A filharada catarrenta e descal a vai toda vestida de pobre na festa a fantasia da Curva Uns se vestem de aleijados Uns se vestem de casal de namorado Uma se veste de emprenhada de novo Outra se veste de empregada de madame Um se veste de pol tico tupiniquim amigo do povo no bolso carrega gel desinfetante Sai apertando centenas de m os sebentas Sebentas de andar de
49. ar para onde os consumistas despacham o que compraram por impulso para abrir espa o para as pr ximas aquisi es tamb m feitas por impulso ou quem sabe por compuls o Um timo lugar para satisfazer o desejo de comprar sem gastar um absurdo Neg cio do futuro ambientalmente correto vende o que j foi vendido antes isso se chama reciclagem e preserva o das reservas internacionais das quais n o fazemos parte e nem tomamos partido Existem as pessoas viciadas em brech as quais chamamos de brechozeiras Existem as pessoas que comprando ou n o comprando em brech usam coisas extravagantes a estas chamamos de embrechozadas O termo Brech deveria ser usado s para designar o lugar onde se compra coisas que j n o est o na moda artigos para pessoas exc ntricas e roupas de marca j bastante usada Deveriam se chamar loja de roupas usadas os lugares onde as pessoas compram de tudo calcinha suti biqu ni camisetas enxovais para beb s forro de cama etc e onde se troca roupas que a pessoa n o gosta n o usa ou que n o servem mais por outras mais adequadas Desse ponto de vista brech s s o raros lojas de roupas usadas s o muito comuns Nas lojas de roupas usadas os pobres compram n o por gostar de marcas e excentricidades mas porque precisam economizar ou porque n o podem comprar novas No caso dos pobres que compram roupas usadas eles compram como se estivessem comprando novas com todo o cuidado atendendo a seus gosto
50. as nascidas com paralisia cerebral Muita gente na Curva sobrevive de trocar roupa velha por roupa usada Trocam roupas que ganham dos parentes por outras mais largas ou mais apertadas Muita gente sobrevive de comprar roupa usada de um real no brech e ir vender no s tio por um pouco mais Outros de roubar roupa no varal e vender por um real ou mais isso n o se deveria fazer mas se faz a economia da Curva Tem gente que compra uma pe a de roupa usada na promo o veste pra sair no final de semana e na segunda feira vem devolv la e pedir o dinheiro de volta tica pra qu era roupa usada mesmo Assim as criancinhas que aprendem mais com o exemplo do que com serm o aprendem cedo que preciso obter vantagens em qualquer situa o Atividade f sica mais praticada pelas mulheres da Curva carrinho de beb race A menina linda m e de outra menina linda tinha um cabelo muito bonito longo at a cintura Mas um dia numa esquina foi abordada por uns que s o considerados os marginais da Curva Eles disseram passa o cabelo mo a Ela n o acreditou e passou a bolsa Eles levaram a bolsa e o cabelo a matem tica da Curva Quatro gera es padecendo de falta de dentes A velha encurvada teve muitos filhos Os que n o morreram moram na Curva e sobrevivem S o pessoas dignas e honestas Ocupad ssimas na manuten o da mais uma gera o de dignos e honestos por m nem tanto Os tempos s o outros e n o se fazem mais velhas d
51. as receitas de fenobarbital medicamento anticonvulsivante hipn tico e sedativo que atendem pelos singelos nomes de luminal edhanol gardenal entre outros Duas receitas dois meses de paz Quem d mais Quem toma mais chora menos S que ele escreveu errado no receitu rio errado e o medicamento n o pode ser comprado mesmo deprimente De drogado e louco todo mundo tem um pouco Redundam as crateras uma na borda da outra e todas cheias de abismos e lixo Abismada com o custo de vida a velha de olhar nublado n o consegue ver os pre os dos pacotes no mercado Voc vizinha aposentada por validez ou por viuvez A outra responde por validez vi va eu fiquei depois e a aposentadoria foi pra mulher que ele arrumou aquela que tinha separado n is dois Pois ele casou com ela vizinha Dou gra as a deus por ter essa aposentadoria sen o n o sei como que eu vivia Mas eu s me aposentei por causa dessa paralisia nas pernas A vida uma parada diz a velha da Curva encolhida de frio esfregando e assoprando as m os calejadas Mais isso n o nada que Deus sabe mais conclui a velha da Curva em seu brando filosofar Quem mandou vender o casaco achando que o inverno j tinha acabado Se nada de ruim aconteceu de ontem pra hoje o assunto das velhas j estar encerrado Passam a contemplar o horizonte interrompido por barracos bananeiras fios el tricos e varais mo o sou aleijado n o posso fazer servi o pesado aleijad
52. avam alta pra eles e a fam lia n o ia busc los imediatamente Estava de alta e bem que podiam ter dado baixa nele e enviado pro arquivo morto Eu disse Cansei de ecoar sozinha no universo enquanto tantos evacuavam nas cal adas e n o ligavam pra nada Mais uma vida em v o e sem volta Enquanto isso a popula o assaltada e a pol cia se concentra sentada nas cadeiras estofadas protegendo aquele belo espa o com ar condicionado a eles reservado Enquanto ocorr ncias de assassinato n o forem registradas eles n o podem fazer nada Como os corvos eles existem somente para remover cad veres Flagrante o conforto a que s o submetidos enquanto podiam estar ca ando bandidos Ca am mesmo um jeito de economizar energia para o jogo de futebol no final do dia e pra outras aventuras a bordo de viaturas que podem rodar a vontade sem economia de combust vel nem perigo de ir parar na cadeia nem multa por excesso de velocidade Exce o existe mas s conhe o os excessivamente perigosos O sistema todo coloca gente pra trabalhar de gra a ou quase para economizar com sal rio E os estagi rios v o trabalhar de qu quando se formarem Sei que tem uma f brica de estagi rios novos e eles s o testados no mercado semestralmente Aprovados ou n o eles t m seis meses de sobreviv ncia simbolicamente remunerada e depois s o substitu dos por novos Isso para evitar que eles ganhem muita experi ncia e comecem a lidar com os pacientes c
53. bingo mais um desmaio por queda de press o Mais um problema de diagn stico precocemente complicado Tem que mostrar bem a doen a ampliar bem o espectro para que o m dico possa ver Mostre se dez vezes mais doente do que voc est assim s o maiores as chances dele acertar na mosca diagn stica Cada vez que a porta se abria o m dico se encolhia Tem gente que j entrava babando Tem uns que saem chorando Tem uns que j entram se arrastando Tem uns que saem praguejando E tem os que sofrem de d vida neurol gica cr nica e n o entram e nem saem Obstruem a passagem Tem os que entram e n o querem mais sair por que acham que ficar perto do doutor saud vel ir proporcionar uma cura por osmose Osmoze uma marca de roupa muito cobi ada na Curva Tanto que s vezes preciso descobrir um corpo pra cobrir outro Me passe essa Osmoze ai ou eu te dou um tiro O Jaleco do doutor super encardido tamb m podia ser utilizado em comercial de sab o em p Quem sabe seja por isso que ele estava deixando sujar bastante Pra fazer um comercial de sab o em p para complementar o sal rio Mas a camiseta por baixo do jaleco tamb m estava suja e manchada sabe se l quantas pe as de roupa de m dico bem sujas preciso para um bom comercial de sab o em p Mo a tenho dois n dulos no meu seio e preciso de uma consulta com um cirurgi o pl stico T deformada a regi o dos seios Ainda n o Ent o voc n o pode ser atendida ele s aten
54. bolsa do governo que o estourar de mais uma bolsa d gua at motivo de aplausos e fogos de artif cio Haja artif cios Mesmo assim todos se convencem de que mais um evento feliz As palavras parab ns ben o alegria e sa de s o as mais empregadas em tais ocasi es Ningu m menciona que a criatura rec m chegada vai ter que superar muitas desgra as muita rejei o encarar o desemprego e entrar na lista dos que recebem esmola governamental em troca de um comportamento passivo Nasce ent o mais uma pessoa que ir viver poluir depredar depredar se reproduzir reproduzir se e quem sabe sobreviver por uns 70 anos ou mais Ou menos porque na Curva como no resto dos mundos de baixo cal o pode se morrer de fome de acidente e de doen as j h muitos anos erradicadas dos anais da imprensa oficial Nada contra an es dev amos ser todos pra ocupar menos espa o Com menos uso do espa o vertical nibus trens e metr s poderiam ser de dois andares e andariam bem menos lotados bolsa fam lia bolsa escola luz solid ria aux lio g s programa do leite e tantos outros programas para a popula o de baixa renda e alta capacidade reprodutiva Acontece de a bolsa estourar antes mesmo do anivers rio da bolsa estourada no ano anterior Quem d mais Quem d mais No bols o da pobreza tanto faz No port o de sa da do estacionamento do supermercado o noiado pedia e quando n o ganhava dizia sai logo n o t paga
55. c ncia As vezes tudo se mistura numa qu mica explosiva D nada n o D casa de ch o bruto D brutalidade D desist ncia D procura de emprego sem nenhuma vontade D esgoto a c u aberto D contas pagas com juro D amn sia e esquecimento das d vidas D congestionamento nasal D frio e reumatismo D consulta ao pai de santo D desespero e desencanto D boca desdentada D malandragem Vagabundagem Falsifica o Gente mal agasalhada Sapato com furo D medo e revolta D falta de compaix o D vontade de sair correndo D vontade de ir embora pras cavernas Mas em tempos de globaliza o at em caverna tem superlota o E o aluguel n o barato H lit gios territoriais Gan ncia preconceito e degrada o E os trogloditas est o em toda parte Sobra verbo onde falta verba Uma nova ra a surgiu da mistura de nada com a sobra de falta Fisicamente em muito se assemelham aos ratos embora sejam meninos Acinzentados de tanto rolarem pelo ch o coberto de imund cies Os dentes quase sempre ralos e salientes Um jeito roedor de ser T m mais barriga do que corpo Camundongamente v o se aproximando meio desconfiados Usam qualquer obst culo para ocultarem nem que seja s uma parte de si mesmos Os olhos r pidos e medrosos varrem o ambiente e detectam seus objetos de desejo O objeto de desejo de um menino rato pode ser qualquer coisa tampinhas embalagens jornais velhos r
56. ca da curva Mo a quanto esse bermud o Respondo tr s reais A pessoa pergunta e a de um reais n o tem mais Mo a quanto essa blusa Respondo um real E a pessoa s que hoje t sem dinheiro Se for algu m que eu sei que paga digo n o faz mal pode levar que eu anoto e voc me paga no final do m s As crian as foram pra escola s que d mais pedir esmola diz a m e se referindo aos filhos que v o para escola pra n o perderem o aux lio que recebem do governo Mo a pelo amor de deus me arruma uma roupinha pras minhas crian as Digo a senhora n o est me entendendo eu n o dou roupa eu vendo E que a gente tem muita crian a pra vestir voc n o tem filho n o N o filho eu n o tenho n o mas eu pago aluguel tenho pai pobre m e pobre e um bando de irm os que n o deram em nada A mulher insiste nem que sejam s algumas pecinhas dessas bem baratinhas senhora n o est entendendo eu n o ganho roupa eu compro pra revenda Outra mulher chega oferecendo roupa precisa de dinheiro pra comprar rem dio e comida Quanto senhora acha que eu pago pra poder vender por um real a pe a gente que n o acaba mais morando no quintal dos pais S o tantos os desocupados vivendo as custas de velhinhos aposentados Na outra casa uma ironia todos vivendo da aposentadoria das irm zinhas que nasceram com paralisia A fam lia inteira tem como nica renda mensal aposentadoria das g me
57. ce e salgado compre no shopping trem ceis ai no trem uma ajudinha pelo amor de deus voc ajuda meus filhos e deus cuida bem dos seus E tem o cansa o no trem e em outros lugares tamb m Aos berros a grava o repete saiam das portas saiam das portas se voc n o for descer na pr xima esta o n o fique nas portas Ningu m se move ou porque n o d ou por medo de perder o lugar de apoio dos p s no ch o Respirar n o d Mover n o d N o por maldade nem por pregui a por medo de estar muito longe das portas e n o conseguir desembarcar na esta o destinada Se tivessem escolha ficariam por perto do jardim onde trabalham N o tem nenhum realismo social tudo surrealismo normal Todo dia cotidiano m s a m s ano Todo dia Tem problema todo dia Na vizinha na fam lia Todo dia todo dia Tem desemprego Tem economia Todo dia Todo dia Tem car ncia Tem doen a Tem viol ncia Todo dia Todo dia Falta coragem Falta moradia Todo dia Todo dia Tem cobran a Tem lota o Tem casamento Tem separa o Tem nascimento Todo dia Todo dia Tem culto Tem novela Tem rem dio Todo dia Tem trem Todo dia tem favela nova Nova invas o Nos velhos sub rbios T na moda fazer favela perto de reas nobres Para que haja trocas entre ricos e pobres troca se tiros mas j um come o Todo dia Todo dia Tem briga Tem morte Tem fila tem nibus Tem surgimento de
58. cha de alta Mesmo quando me rebelei e falei n o quero louco nenhum na minha vida de nada adiantou o homem do jaleco branco bem encardido e outros tamb m trajando o mesmo tipo de uniforme vieram de ambul ncia e o l der me disse s queremos a sua assinatura o que voc vai fazer com ele n o nos interessa n s n o somos asilo a fam lia tem que se responsabilizar muito me admira que uma pessoa como voc n o tenha compaix o E eu disse mo o voc n o sabe do que voc est falando compaix o eu tenho eu n o tenho motiva o para continuar lutando com ele por ele e at mesmo contra ele j que ele me espanca todas as vezes que sente impulsos agressivos e isso ocorre com frequ ncia Se nem Deus tem piedade aquele homem de jaleco encardido que n o ia ter Ele foi embora com certeza do dever cumprido Eu fiquei com um louco em minhas m os com a certeza de que tudo est errado louco mas n o se mata louco mas n o enfia o cigarro aceso no pr prio cu louco mas sabe dizer que rem dio gera efeito colateral e se recusa a tomar louco mas sabe pedir dinheiro e gastar louco mas sabe acertar soco nos lugares que machuca mais louco mas sabe viver confortavelmente na casa dos pais louco mas n o fica louco pra trabalhar Parece pouco Experimente sobreviver nesse mundo cheio de atribula es e ainda ter que aturar um louco Parece pouco mas numa casa onde falta comida custa caro ter que sustentar
59. cia nem puni o Os autores da fa anha passaram o dia dormindo satisfeitos e noite sa ram em busca outra ca a Ontem foi a ovelha hoje pode ser qualquer um Sinto me cansada por ter que defender a minha humanidade ultrajada Minha humanidade quer me abandonar em meio a tanta humanidade perdida em meio a essa sociedade falida Em meio a essa burguesia s rdida Em meio a essa gentarada que nunca devia ter nascido Em meio a essa gentarada que j devia ter morrido Direito vida Ningu m tem direito de fazer da vida o que dela foi feito A vida se tornou irrelevante Mentira N o houve nenhuma evolu o Aos deuses e aos cultos ainda hoje s o oferecidos crian as e animais em sacrif cio Deus da viol ncia Deus do v cio Deus da pervers o Deus da inconseqi ncia Deus do cont gio Deus da multid o perdida que n o pode n o quer e nem espera ser libertada A paz mercadoria das mais caras s quem tem muito dinheiro pode compr la mesmo assim n o por muito tempo Ontem tive que pagar mais um d zimo para a gangue das peruanas Parte da gangue acabou de ser dizimada numa chacina eu achei foi bom Eles acharam ruim e est o precisando de mais dinheiro para investir em armamento Os padres com voz macia e sotaque italianado continuam cantando vinde a mim s criancinhas Cordeiro de Deus A inoc ncia acabou faz tempo e ningu m tem piedade de n s N o vem que n o tem Eu os conhe o muito bem Nos nib
60. cuja tinha se apossado do dinheiro A mulher n o para de repetir ela sabia tudo sobre a minha vida ela sabia sobre os filhos os ex maridos as minhas tristezas e at sobre os meus segredos confiei nela porque ela sabia de tudo o que me aconteceu Se ela sabia de tudo e ainda te roubou porque era mesmo uma bandida Penso Digo aconteceu na sua vida o que acontece na vida de todo mundo e isso tudo o que aquelas senhoras usando saias longas e sujas podem saber Ou voc acha que elas estavam interessadas em fazer o bem l na rua Sabe se do passado pouqu ssimo Menos ainda do presente e nada sobre o futuro ou a humanidade n o mais cairia em contos de ciganos que nem ciganos s o Pura autoengana o Enganam se as ciganas se acham que v o ler a minha m o Quem quiser ler que compre livro ou jornal as letrinhas na palma da minha m o est o apagadas de tanto mexer com gua e sab o Tento em v o limpar pelo menos um pouco da sujeira do mundo Chegando para trabalhar vi um pelego no corredor um pelego sujo Pensei brincadeira de mau gosto Mas em seguida o pelego se mexeu Tinha cara de cachorro e estava vivo Pensei meu Deus ele est quase morto A morte nos causa horror A nica certeza que temos nessa vida mais uma vez esfregada na nossa cara quando nos deparamos com a morte do outro Estaria ele faminto ferido ou doente Pesteado como diria minha m e Pesteado um xingamento pra um animal Mas o que teria acontecid
61. de problema de deforma o Tem que ser bem vis vel Mais ou menos deformada n o serve nem tem vez Senhora t com esse problema de acne de terceiro grau ser que rola meu nome ai na lista pra uma consulta com um especialista N o porque acne doen a que n o leva ao bito e pode at sarar por si s com o tempo quando voc ficar mais velho isso passa Da come am outras doen as e ai sim voc vai precisar de muitos especialistas Ent o d pra voc por meu nome ai nessa lista pra quando eu chegar l Aguarde Duzentas pessoas horas e horas a fio fazendo terapia de grupo na fila Um contava pro outro as suas desgra as Um cuspia na cara do outros com a fala o Maus h litos e maus h bitos Aquele povo todo desabafando naquele lugar abafado Toda aquela gente com problema de doen a Nenhum panfleto nenhuma revista nenhum livro sobre sa de circulando Os assuntos das conversas s o os mesmos Mesmo que tenham vindo de Curvas diferentes As crian as v m com as m es e pegam doen as de todos os tipos pra tratar depois Trata se de um sistema preventivo que garante que nos hospitais e postos nunca faltem pacientes Falta paci ncia mas pacientes est o garantidos at as pr ximas gera es A crian ada sentada no mesmo ch o em que acabou de babar o homem em convuls o Outra cata papel de bala no mesmo canto da sala em que cuspia a mulher com pneumonia A viagem para o posto de especialidades foi um pesadelo e o m dico deu du
62. deia um corpo uma sa da Qualquer coisa que tivesse valor e que pudesse ser vendida N o essas coisas velhas e usadas que tanto tento vender Passa o dia e mal fa o para comer roupa de morto roupa velha desbotada encardida cerzida mofada mal cheirosa rejeitada Roupa que as patroas deram para as empregadas e que elas venderam pra comprar leite pra crian ada Na Curva vende mais quem vende o mais de gra a poss vel E tem dias amenos em que h menos esperan a ainda A velha encurvada no tempo parada diz que vantagem comprar a presta o Est perto de quitar uma geladeira e um fog o a gente nem sente um ano passa logo um ano j passou e o carn quase acabou Dif cil tomar uma decis o concreta gruda no fundo do copo ou n o passa pela garganta D uma pinga a Diziam dinheiro n o d em rvore mas isso foi antes de inventarem o dinheiro de papel e a maconha e outras plantinhas que d o lucro e celulose Crian as animais e ervas daninhas nascem todo o dia Do dia que nascemos at o dia em que morreremos nossa miss o comprar e pagar a vida presta o Para isso precisamos fazer de tudo para que uma institui o das mais s rdidas denominada mercado de trabalho abra as portas para que possamos entrar N o basta ter persist ncia e ficar dias batendo de porta em porta preciso que haja prepara o O ritual inclui passar por um processo de educa o que pode durar a vida inteira In
63. deu s que o corpo ainda n o foi sepultado estou enjoada de ser humano estou cheia de ser humano estou cansada de ser humano do ser humano ser desumano cansei me do ser humano estou enojada de gente estou cansada de gente ser indigente Gorda envelhecida cheia de filhos pobre desempregada fodida e abandonada o que esperar da vida Mais alguns filhos e mais nada A Curva a Pas rgada ao contr rio Na Curva mais frio no inverno mais calor no ver o Quando d chuva inunda Quando d sol faz poeir o Falta comida Falta dinheiro Falta projeto Falta decis o Falta saber o que fazer com o excedente de crian as nas escolas ruas e creches Falta coragem pra sair da frente da televis o Falta iniciativa O mar t longe O rei a barriga O rio t cheio de lixo As prostitutas bonitas foram trabalhar nos puteiros da Cidade Bela A gravidez n o evitada O telefone p blico foi vandalizado A bicicleta foi roubada Sobreviver uma miss o quase imposs vel e os meninos s o personagens principais de hist rias impr prias para todas as idades A velha da Curva no tempo parada enquanto espera a morte contabiliza seus mortos por doen a acidente assassinato e tantas outras condena es Tendo gerado tantas vidas estava claro que teria que sepultar muitos mortos pois que ambos v m no mesmo pacote quest o de l gica n o de sorte A publicidade um importante ingrediente no merca
64. dia Quer moda surf n o quer roupas da moda de dez anos atr s A realidade n o serve pra nada o que vale o sonho que empresta ao mundo um colorido mais psicod lico Renuncio a toda a fantasia faz tempo que estou em guerra e quem est em guerra tem que se manter a salvo das miragens das ilus es dos truques das tenta es Minha guerra e contra a pobreza contra o mau gosto contra os pedintes contra a costureira incompetente contra a inunda o contra a poeira que vem depois da inunda o Contra os fornecedores que cobram antes de fornecerem Contra os compradores que n o compram Contra os ladr es que insistem em levar de gra a Contra as crian as que s aparecem pra fazer bagun a Contra os b bados que v m conversar fedendo cacha a e outras coisas fedorentas E o b bado tentando se equilibrar Gritava para Deus Deus pare de me empurrar S mesmo um b bado s para acreditar que as pernas bambas indo a qualquer lugar eram guiadas por Deus at o pr ximo bar As pessoas acham que dizendo que algo ou est um caos resolve o problema Sempre nomeiam os acontecimentos e a pr pria Curva de caos nibus lotado caos Viol ncia caos Delinqu ncia caos Fome caos Inunda o caos Falta de gua caos Desorganiza o geral caos Endividamento caos Despejo caos Invas o caos O caos n o faz nada Fica assim mesmo ca tico At que um dia o caos vira causo Um conta pro
65. diferente tomar banho de banheira transar embaixo de um espelho numa cama redonda tendo ao alcance das m os os bot es que acionam a TV o r dio as luzes e o ar condicionado Nada disso um pernoite no motel bem pr ximo custava trinta e sete reais eles tinham visto a placa e ainda serviam caf da manh Eram umas nove horas da noite quando finalmente decidiram ir Mas antes ele precisava ir at a casa dele avisar a m e que ia dormir fora pegar roupa para no outro dia ir trabalhar e para pegar mais uma coisa n o quis dizer o que era Ela pensou que ele ia acabar desistindo mesmo assim se produziu Saia longa preta blusa preta tomara que caia sand lia de salto alto e como estava frio vestiu um sobretudo preto Em uma hora ele estava de volta meio nervoso com uma mochila cal a jeans camiseta um bon Reclamando de ter que se expor entrando num motel a p Ela o estimulou a ir assim mesmo e foram N o compensava pegar t xi para andar s dois quarteir es Novamente assegurou a ele que isso de ter que ir de carro para o motel coisa de burgu s J n o tinham dinheiro imagina se iam gastar com t xi s para satisfazer os ideais da burguesia Chegaram ao motel meio que disfar ando a inadequa o demonstrando muita naturalidade Como formam um par mais ou menos estranho devido ao contraste tiveram que pagar antes de entrar Ele se estressou ela o acalmou O quarto mais em conta estava em arruma o dez minutos de espera em p
66. do da Curva Supermercados Boas Novas Jesus disse ide e anunciais Batata Feij o Arroz Macarr o a 1 49 o quilo Detergente Creme dental Papel higi nico e sab o Necessariamente nessa ordem Comeu tem que caga tem que limpa a cadeia produtora dominando a cadeia reprodutora e o ciclo se realiza preciso comprar n o tem jeito Ciclo de consumo previsto e anunciado em dias pr determinados Final de semana e final de m s tem que atrair o fregu s com seu rico dinheirinho Nem que cada um compre pouco De pouco em pouco as prateleiras se esvaziam depressa Antigamente tinha que se dar o nome aos bois hoje a vida dos bois curta e os bois s o an nimos O que importa que sejam bem pesados para encher a barriga dos clientes e o bolso do criador dos bois e do propriet rio do supermercado Vendemos no varejo a pre o de atacado Com certeza qualidade e economia no seu dia a dia t o f cil ser publicit rio na Curva basta ter um fusca velho ou mesmo uma bicicleta com caixa de som e sair rodando uma fita com uma grava o que pode ser a mesma de sempre as mesmas coisas s o vendidas as mesmas coisas s o compradas as mesmas coisas s o comidas Ambulante publicidade aqui s anunciamos a verdade Nossa miss o agradar nossos anunciantes e continuar recebendo nosso dinheirinho Cole o de desgra as cotidianas A mulher tr mula chega pedindo gua Tinha dado cinquenta reais para uma cigana benzer e a dita
67. do filho e da irm zinha Amamenta os dois no peito e a m e dela trabalha pra sustentar a casa Meu irm o de dezessete anos morreu e tanta gente sofreu e vai continuar sofrendo e os vagabundos que mataram ele continuam vivendo Pra eles nada aconteceu Na Curva essa a situa o tem irm amamentando irm o Oi mo a Lembra de mim Eu cuidava da minha m e doente Pois ela morreu j faz dois meses e ainda n o sei o que fazer da minha vida Ela tinha derrame e a gente se comunicava por gestos naquele dia ela tava falando pensei que ela tava melhorando mas n o ela estava tentando sentar na cama e dizia hoje saio daqui de qualquer jeito E saiu mesmo mas n o com vida Ningu m percebeu De repente ela morreu S ela sabia Mo a Hoje n o fui trabalhar porque estou de atestado m dico A porta do nibus fechou e meu dedo ficou imprensado E a irm tinha tirado o dia pra fazer o teste da curva de glicemia Na Curva d muito problema de curva glic mica e de fal ncia m ltipla de pontos comerciais Ainda ontem fiquei sabendo que o homem do 1 99 teve um AVC Parece que vai morrer N o fala n o escuta n o se move Outra mulher derramou se e perdeu todos os movimentos e a no o e tem vegetado aos cuidados do marido que reclamou que tem sofrido desde que isso aconteceu H seis anos que ele compra mortalhas para vestido Dizendo tem que ser bem f cil de por e de tirar N o importa a cor o tamanho nem o mod
68. e de gente dormindo espalhada na cal ada Como que posso acreditar que a vida vai melhorar se olho pra frente e tudo que vejo um monte de viciado vagabundo Enrolados em cobertores imundos 11 00 da manh ainda dormindo Me d um desgosto Um nojo Um medo Um des nimo Minhas for as diminuem e quase desmaio Problemas emocionais sociais e familiares parte cada um devia tentar resolver os seus conflitos de um jeito mais construtivo e mais bonito N o acredito que o uso de drogas e toda essa degrada o seja uma boa sa da e nem que o problema das drogas seja falta de conscientiza o Trata se de op o claro que os cientistas e todos os outros profissionais v o encontrar muitas justificativas eles est o ganhando o dinheiro deles Mantendo o status pr prio e precisam mostrar servi o nem que seja apontando milhares de poss veis causas para o v cio Prestam um desservi o isentando os drogados da responsabilidade pelas suas pr prias vidas Sonho com o dia que o governo vai encerrar a batalha contra as drogas e vai destinar uma rea do territ rio nacional s pra quem deseja ser drogado Tipo assim ah voc quer se drogar ent o se muda pra l L eles poderiam se drogar e se contaminar e destruir uns aos outro vontade Pois bem um territ rio pr prio para os drogados essa a minha sugest o Chega desse ditado simplista os incomodados que se mudem Por que eu posso at me mudar pra um lugar bem distante mes
69. e responsabilidade e que agora era responsabilidade da fam lia traz lo de volta pro hospital Se pelo contr rio ele tivesse escapado ai sim o hospital ia tentar encontr lo e intern lo novamente Nessas horas ningu m pode Institui es como essas nem deveriam existir s d o despesas Os servidores usam as institui es de acordo com o que lhes conveniente Decidem o que fazer ou n o e as decis es s o sempre em favor de quem ocupa os postos de trabalho no servi o p blico que de p blico s tem o nome tratado como se fosse privado J que reconduzir loucos que amea am matar os pais a facada n o servi o da pol cia nem do hospital nem da sa de p blica nem da a o social nem do minist rio p blico Alternativas ao processo Fui at uma esquina da Curva contratei um t xi e dois tipos fortes e em quest o de minutos meu irm o estava sendo entregue no hospital A n o n o foi bem assim fui ao farmac utico da Curva e pedi um sossega le o expliquei a situa o e o rem dio foi dilu do numa refei o a fam lia mesmo resolveu a quest o Mas n o foi bem assim resolvemos em fam lia que se n o era da al ada de ningu m ent o pod amos dar o cabo do insano e acabar com tanta perturba o Mas na hora H H de hospital ningu m teve coragem Paci ncia E preciso enlouquecer com sabedoria A sa da sonegar impostos fazer com rcio ilegal e usar o dinheiro obtido pra fazer justi a com as pr prias m o
70. egui a de voltar pra casa pra escola ou para o trabalho Os leitos eram disputad ssimos pessoas de muitas outras Curvas entravam na batalha pelo leito dispon vel A decis o sobre quem ia ocupar o leito era tomada com base naquela m sica cl ssica do elefante que incomoda muita gente Quanto mais elefante a pessoa fosse mais chance tinha passar uns tempos l Quem julgava se o elefante incomodava mais ou menos que o outro usava um crit rio bem particular por exemplo tinha o que vendeu a caixa d gua para comprar drogas e que aos vinte anos j matou tr s indigentes e tinha o que aos vinte anos j fez tr s filhos indigentes e vendeu a caixa d gua para comprar drogas Ent o quem julgava tinha que decidir qual deles era o pior Tinha gente que se assustava diante de um julgamento em que eram decididos casos t o semelhantes quanto o do exemplo acima Tinha Juiz que achava aquele tipo de Julgamento improcedente e acolhia ambos os meliantes ou ent o despachava ambos pro setor de repatria o Ai a pessoa ganhava um ticket ambul ncia pra voltar pra casa Chegava em casa e surpreendia a fam lia que n o estava esperando por mais aquela m not cia Mais viagem que viajar de ambul ncia era percorrer o corredor de mil leitos Era quando a pessoa descobria que existia luz no fim do t nel mas a luz estava apagada pra n o atrapalhar o sono do pessoal pra eles poderem sonhar com os anjos e assim passarem a usar moletom em vez daquele macac o mul
71. elo Qualquer coisa serve pra quem n o serve pra mais nada E serve qualquer marido pra quem J perdeu o sentido Quando sinto vontade de chorar enxugo a l grima ainda no meu olho N o deixo ela escorrer e molhar o meu ch o N o quero passar a vida patinando numa po a de lama O dinheiro n o entra e quando entra j saiu Meu pai me ensinou que tempo dinheiro e j perdi tanto e por isso acho que quando temos um n o temos outro Mas ainda temos liberdade esse lindo conceito Que para mim pode ser sintetizado no seguinte liberdade para olhar para o infinito que termina logo ali liberdade para me esconder ou ficar na chuva liberdade para colar do lado de fora da caixa figuras de todas as coisas que sonho ter liberdade para guardar dentro da caixa as poucas coisas que tenho liberdade para renunciar ao que de fato era mesmo imposs vel liberdade para mentir o quanto eu quiser pra mim e pros outros liberdade para catar coisas no lixo da Cidade Bela liberdade para fugir e para vender coisas usadas liberdade de precip cio de falta de sentido de grito liberdade para ter um sonho e um poeta favorito O meu poeta favorito a quem interessar o Jos Ribamar ou Ferreira Gullar E o meu sonho escrever um poema milhares de vezes mais sujo que o dele Pois esse mundo piorou muito desde 1976 e o poema sujo dele limpo ing nuo mel dico e permanente Quero fazer um poema sujo t o sujo que n
72. endo assaltado voc tem que sorrir porque pelo que diz no Segredo foi a sua negatividade que acabou de atrair tal evento E tem mais ladr o detesta drama Para ele trata se de uma simples equa o Voc me passa o seu dinheiro e eu retribuo o favor deixando pra te matar num outro dia Vire se meu irm o n o t fazendo nada de mau s t lutando pelo meu p o A pessoa pra n o morrer de revolta usa frases t picas perdi o dinheiro mas continuo vivo O importante a vida o resto a gente corre atr s Vivo para continuar pagando as contas mas n o livre de mais um assalto Pode acontecer de na pr xima esquina voc ouvir mais uma vez m os pro alto Pode acontecer em qualquer ruazinha clara ou escura num canto num muro num poste Goste ou n o goste Tem uns que nem avisam que voc est sendo assaltado Quando voc cai na real eles j foram com os seus reais Voc pode gritar at a garganta ficar rasgada mas ningu m ouvir As janelas estar o fechadas E as televis es ligadas Todos assistem viol ncia show na televis o e perdem o espet culo ao vivo e gratuito bem em frente ao port o Socorro socorro errado tem que gritar fogo fogo Como que n o lembrei disso antes Mas teve uma que gritou fogo fogo quando estava sendo assaltada e quase foi crucificada Como ousa mentir com essa cara deslavada Mas eu estava sendo assaltada e se gritasse por socorro n o ia ser ajudada Problema seu mentiu a
73. endo m o de obra que n o vale muito por que tem de sobra Mais tarde l est de volta esta o a manada tarde est o impacientes Est o fedorentos Est o cansados Muitas mulheres carregam na barriga futuros trabalhadores e por isso tem prefer ncia pra viajar sentadas Os filhos responder o pelo nome coletivo de Povo e ser o carregados de esta o em esta o Pra estudar Pra trabalhar Pra batalhar e quem sabe se derem sorte poderem comprar uma vida semidescart vel presta o N o h gente o n o Lugar mais cheio que o vag o Que de vag o s tem o nome no aumentativo Nome todo mundo tem s que no trem ningu m tem nome tudo excesso de gente tudo popula o Que passa a vida passando de esta o em esta o E esse vai e vem s se acaba se deus e nosso condutor disser que acabou am m De s culos em s culos o trem velho substitu do por um novo trem Bom pro povo N o sei sei que vem com menos bancos e aumento da passagem de trem esse vag o tem capacidade para 20 pessoas sentadas e 540 em p e uns dez deitados j que ningu m exceto o trem de ferro Tem a can o no trem e em outros lugares tamb m o patr o t um doce isso e s o que se fala por apenas um real tr s pacotes de bala desculpe t aqui pedindo se eu incomodo voc no trem eu n o tenho casa eu n o tenho fam lia eu n o tenho ningu m compre sossegado mais barato n o tem compre do
74. entrar no conceito de clandestinidade adotado aqui na Curva Muitas vezes mudan a de destino significa mudar de uma Curva para outra Tem gente que chama as Curvas de cidades dormit rio mas isso apenas um dos aspectos evidenciados e tem por finalidade minimizar a no o do que seja desperd cio de vida Uma Curva um lugar dos mais complexos Tamb m tem uns complexos penitenci rios por perto Por serem geralmente grandes os complexos penitenci rios precisam de espa o a c u aberto para contrastar com encarceramento e superlota o Tem gente que acha que cadeia a solu o mas n o em mat ria de progress o Leva se bem menos tempo pra se fabricar bandido que pra construir alojamento para eles Ou seja a produ o de bandido acelerada a constru o de cadeia n o Cadeia uma institui o com fins paliativos A obra sempre superfaturada Acontece que est sempre faltando espa o e nunca falta quem por no espa o caso ele exista S o tantos os prisioneiros Todos produtores de herdeiros Filhos que ser o pais de filhos de vidas curtas ou longas e sem futuro desde muitas gera es Muita gente ao dar a luz j est eletrocutando E no hospital e maternidade Santa Cruz tinha umas m es que tinham dado umas luzes que j nasceram se apagando Tudo determinado pelo saber vigente na Curva que nada sabe se n o j tinha se endireitado Clan destino destino do Clan na Curva Clandestina a sua av meu pai s ileg
75. er sofrido Aqui tudo isso normal Pai nosso que estais no c u nos dai hoje a trag dia nossa de cada dia para preenchermos a nossa vida vazia A mo a que fazia ponto na esquina e era irm do rapazinho morto na chacina Ent o ela ficou muito b bada e esperou que um carro viesse em grande velocidade e se atirou na pista Assustou o motorista que tentou frear mas n o deu e tamb m morreu Uma trag dia exemplar Faz o povo da Curva acreditar que o fato de n o ter morrido raz o suficiente para apostar na vida e por algum tempo ningu m se suicida E essas palmeiras ai na frente d o alguma coisa que se aproveite ou s d o beleza Na curva tem cada corpo estranho assim o corpo o argumento da pessoa e todo mundo tem que usar o que tem corpo n o d pra roubar dos outros s partes O trafico de rg os est nos jornais E todo mundo com medo de ficar sem cora o Troca se roupa de morto por roupa pra vivo Enquanto eu estava trocando um enxoval completo de uma morta inclusive meias e fraldas geri tricas que ela n o teve tempo de usar minha amiga chegou chorando disse que a m e dela sofreu um A V C eu meio transtornada disse pelo menos j temos fraldas geri tricas pra ela Adoro superf cies lisas meus olhos passeiam sem focar em nada como se eu fosse brisa E vinha uma tempestade e eu n o sabia se rezava pra ventania varrer a Curva e n o deixar nada ou se rezava pra Deus suspender o dil vio O mundo faz tempo
76. esdentadas que trabalham muito quando trabalham de empregada Encerra se o espet culo desliga se a tv Baixa se cortina encardida Quando eu crescer ficarei rico Aqui nessa Curva eu n o fico pura nitroglicerina Eu sou pobre me esfor o trabalho e n o tenho culpa de nada acabo sendo assaltada Cortesia Assaltam tamb m a minha freguesia o dinheiro mudando de m o entrando para outras rotas de com rcio Promovendo outros tipos de satisfa o Nem sei de que lado eu fico do pobre vagabundo do vagabundo pobre do coitado do pobre ou do podre de rico O pobre do rico que vai precisar refor ar a seguran a do seu para so particular e mesmo assim ser amorda ado Pobre ou rico e eu nem sei de que lado eu fico Acabo ficando com medo e s Hoje n o Respondo ao pedinte e ele abusado quando ent o E me olha dentro dos olhos como se eu tivesse a obriga o Hoje n o uma resposta pouco definitiva eu sei Mas se eu digo nunca talvez outro dia dane se tamb m t pedindo v pedir pra sua m e foda se ele n o ficar satisfeito Nas ruas hoje em dia pedir direito Dar leg tima defesa Art 23 N o h crime quando o agente pratica o fato I em estado de necessidade II em leg tima defesa II em estrito cumprimento de dever legal ou no exerc cio regular de direito Recorro s minhas ltimas moedas e me salvo pelo menos dessa vez Uma vez por
77. esto de comida Parecem ter uma queda especial pelo lixo pelo que sujo Cruzamento de gente com mur deos resulta em seres cujo principal objetivo encontrar o que roer Se querem nos distrair ou chamar a nossa aten o fazem uso de qualquer subterf gio desse modo demonstram possuir alguma intelig ncia Mostram suas cabe as feridentas ou cheias de piolhos as sarnas espalhadas pelo corpo inteiro a unha arrega ada numa topada Demonstram curiosidade pela vida dos outros entregam recados parecem prestativos ao juntarem algo que deixamos cair Mas n o devemos nos enganar eles est o com um olho na gente e outro no p o esturricado em cima da mesa ou naquela banana na fruteira j meio passada do ponto um grande equ voco pensarmos que um ratinho de estima o n o nos far mal algum Se num surto de generosidade os alimentamos com farelos e migalhas logo nos arrependemos pois eles atrair o uma multid o de outros ratinhos pestilentos esfomeados e doentes O estilo rato de ser n o permite que um menino mur deo roa sozinho o que recebe ele precisa espalhar a novidade mostrar que est roendo Existe vaidade e tamb m solidariedade no mundo mur deo V timas de sua pr pria natureza eles acabam perdendo as migalhas que haviam conquistado por n o conseguirem roer discretamente Um rato em nossa despensa traz mal estar e desconforto mas suport vel Sentimo nos piedosos por n o elimin lo com um chute ou uma cabada de vassoura Um
78. eus e de nossos inconsequentes pais Com todo o respeito o que que eles querem mais O que dizer ao meu amigo artista Sei l se reinvente quem se acomoda consente preciso muita desobedi ncia cotidiana na vida de um sobrevivente Para sobrevivermos preciso que desobede amos s leis humanas escritas ou n o s leis biol gicas expressas ou n o E as leis farmacol gicas prescritas ou n o Por que seu eu fosse bem obediente estaria tomando sibutramina e amitriptilina Posso n o ser feliz mas n o vou dar alegria para a industria farmac utica N o escapa um pra rem dio gente sempre m not cia com suas dores cr nicas ou agudas com suas necessidades reais ou imagin rias com suas ansiedades persistentes ou bruscas com suas vontades e incertezas imprescind veis ao bom funcionamento do mercado Entende se que n o basta que fa amos algo preciso que esse algo seja capaz de gerar renda Na d vida as pessoas fazem algo que gera crian as e gasto com roupas rem dios e fraldas para enriquecer o dono do mercado e da farm cia Neg cio abrir f brica de mamadeira As mamadeiras s o chinesas e as crian as brasileiras Uma dist ncia enorme entre dois terceiros mundos Sobra mamadeira para a china mandar para o Brasil porque l eles est o fazendo racionamento de crian a Se n o fizessem nunca chegaria nada chin s at aqui Gastariam tudo l mesmo Isso se chama produ o de excedentes Enquanto eles produzem e
79. eus uniformes mesmo quando faz muito calor O que o calor num pa s onde os mesmos c digos r gidos sobre apar ncia e figurino s o observados e mantidos desde o per odo colonial Quem que vai querer abrir m o de um h bito capaz de encobrir diversas camadas de aus ncia de pudores Tudo pela manuten o do status Essa ganguezinha promotora do desassossego n o nada comparada s grandes gangues muito mais antigas bem estruturadas e com muito mais capacidade de a o O mundo est cheio de gangues de todos os tipos Gangues muito mais poderosas que roubam matam e aterrorizam muito mais Uma gangue contra todos os que n o fazem parte dela As gangues garantem j no ato de sua cria o recompensas para si mesmas e tamb m um territ rio pr prio Para se sentirem mais seguros os humanos abrem m o de seus direitos individuais e se associam em gangues maioria das gangues s o pessoas jur dicas muito bem estruturadas n o s o como as pessoas f sicas que nascem peladas e com destino incerto Quanto mais especializada e nociva for gangue mais discreto ser o nome por ela adotado O nome algo muito importante tanto pode servir de camuflagem como de meio de propaganda Voc jura que aquele grupo de pessoas do bem n o uma gangue Mas sim Cada grupo tem seus pr prios estatutos normas de conduta e manual de instru es que podem ser alterados de acordo com as conveni ncias dos seus lideres Tradicionalmen
80. f sica de m o em m o os corpos passam depressa De passagem mesmo est o os m dicos residentes na Maternidade Santa Cruz Os ju zes os promotores os assistentes sociais os psic logos e os fiscais aparecem de vez em quando para dar expediente e v o embora pras suas casas na Cidade Bela Passagens curtas ou curt ssimas com direito a atraso na chegada e um chamado de urg ncia premeditado para findar o expediente o mais breve poss vel Esse pessoal deve se sentir agoniado em meio a tanto pobre por metro quadrado Agonia era uma palavra que eu n o conhecia at chegar aqui Conhecia a sensa o n o a palavra Aqui a palavra agonia usada para exprimir falta de dinheiro falta de condi o falta de informa o Tamb m para descrever sensa es de tristeza desconforto e precariedade calor roupa apertada sapato fazendo calo fome inc modo causado pela cachorrada da vizinhan a latindo marido que em vez de estar trabalhando est dormindo desemprego dor cr nica e aguda pregui a des nimo cansa o desespero e desesperan a alergia coceira dor de dentes e muitas outras precariedades Para todos os efeitos e defeitos a pessoa se diz agoniada Ent o a defini o dos termos fica assim agonia agoniante agoniado e agoniando servem pra expressar tudo o que demais ou est faltando Apagam se as luzes Abaixa se a cortina encardida e mal cheirosa Ponto final Sem aplausos ne
81. gem que nada est acontecendo Se est fedendo eles sabem que hora de fazer limpeza Criaturinhas teis os urubus essencialmente faxineiros Eu que nada sei Mas penso que ningu m vai obter dinheiro sa de felicidade e paz sacrificando a natureza as pessoas e os animais A nica coisa errada que eu estou fazendo participar do comit de angaria o de fundos para o exterm nio da gangue das peruanas Mais isso segredo Sagrado o meu direito de me defender Jogo duplo custa caro preciso dar dinheiro para a gangue das peruanas para eles acreditarem que sou uma patrocinadora e tamb m investir no comit de exterm nio para que todos possamos nos livrar da gangue A gangue das peruanas pode at ser extinta mas o comit de exterm nio nunca j que novas gangues podem surgir a qualquer momento Mais isso segredo vivemos sob a tirania do medo E s o tantos os rituais e sacrif cios em v o Fica dif cil distinguir os algozes dos vitimados O mundo o pior lugar para se por filhos no mundo preciso arcar com muitas despesas A vida que nos deram de gra a custa caro Arca do tesouro um brech zinho situado bem no centro da Curva Pode se dizer que bem localizado Vende coisas usadas que n o servem mais para alguns mas que podem ser teis pros outros e completamente fora do alcance para a maioria Usamos um discurso ecologicamente correto O da reciclagem do aproveitamento de recursos da economia e
82. gora vai ser processada pra aprender a n o criar p nico na vizinhan a Sua mentira tirou os corpos dos bombeiros de seus postos eles poderiam estar se dedicando a causas mais importantes como fogo verdadeiro O fogo que os consome por favor me ajude eu estou ferida Foda se gente mentirosa tem que ser punida Era uma vez um restaurante chin s que pegou fogo Sebastiana a empregada virou torrada A nica arte de que tinha no o era a arte da rala o Ralava legumes o dia inteiro Ningu m podia dizer que a vida dela n o tinha tempero Era tanta cebola gengibre leo de gergelim e shoyu Ningu m podia dizer que ela n o fedia nem cheirava Quando aparecia o cheiro recendia Morreu na explos o e pela primeira vez foi fotografada e nem p de posar numa boa posi o Saiu na foto carbonizada cinza no ch o N o tinha import ncia n o tinha quase nada a n o ser o t tulo de empregada Import ncia n o importa no contexto da hist ria da humanidade todos e at os ricos e poderosos n o significam nada S o apenas alvos ambulantes Sebastiana econ mica at na morte nem precisou ser cremada fogo Ela nem brincou com fogo e se queimou Ela que levava o fog o a s rio Mesmo na Cidade Bela tem gente dormindo na rua e foi ai que me ocorreu uma pergunta como ser que se chama a polu o noturna do homem que dorme na cal ada o dia inteiro com a m o por dentro da cal a Acho que se chama polui o di ria
83. higi nica resolveu lavar a cal ada em frente ao barraco dela e tantas vezes foi advertida por estar desperdi ando gua que acabou desistindo No mesmo dia todo mundo assistiu na TV que os ricos mandam lavar seis carros trocar a gua da piscina e lavar seis quarteir es de cal ada diariamente e que isso faz parte da rotina deles Ningu m ficou chocado rico promover desperd cio normal quem n o pode ficar gastando recursos do planeta s o os miser veis das Curvas Se economizar n o vai faltar esse o slogan Como que os ricos n o economizam e pra eles n o falta Recolho me a insignific ncia das minhas perguntas e a ignor ncia que a todos protege Cada um que fique no seu galho o meu est sempre em frangalhos mas o que eu tenho que fazer comprar e vender roupa velha imbu da de preocupa es ambientalistas e sociais Mesmo achando que isso moda que inventaram pra pobre dormir com a consci ncia tranquila por ter se contentado em comprar uma bolsa ou jaqueta usada e com isso ter mantido o dinheiro pra comida preservado Isso s o coisas que n o quero mais e que estou vendendo bem baratinho s para n o dar pros outros que s o uns mal agradecidos disse a velha com cara de bruxa Shopping de pobre aqui na Curva tem um em cada esquina s vezes at mais Compra e venda de coisas usadas e nem interessa se s o de morto ou de vivo Lugar para se vender coisas novas ou usadas quando preciso de um trocado r pido Lug
84. icial ele n o est em condi es de fazer escolhas nesse momento Temos v rios laudos que atestam a insanidade mental dele meu irm o perigoso ele j esteve preso v rias vezes usu rio de drogas h quinze anos um rapaz forte tem 28 anos eu n o tenho como for ar ele meu pai velho e fraco n o vai conseguir enfrent lo Policial mas isso um problema de fam lia n o com a policia Eu ainda mais desesperada mas se ele mata o meu pai da o assunto com a pol cia Policial de acordo dai agiremos Preciso que a senhora desligue agora essa linha de emerg ncia e pode ser que algum fato relevante esteja acontecendo e temos que estar dispon vel Eu mas ele esta amea ando o meu pai est armado com uma faca est se recusando a voltar para o hospital isso n o suficiente para que a pol cia possa interferir Policia olha dona como voc disse seu irm o tem 28 anos e j usu rio de drogas bastante tempo seu pai est passando por isso porque no tempo em que ele devia ter feito a parte dele ele n o fez agora quer que a policia ajude a resolver um assunto que ele deveria ter resolvido Boa noite a pol cia agradece o chamado mas tem muitas outras prioridades Desligou o telefone na minha cara Liguei para a central de atendimento psiqui trico e solicitei uma ambul ncia n o puderam me ajudar o hospital psiqui trico alegou que meu irm o tinha sa do por que minha m e tinha assinado o termo d
85. icos usam jalecos velhos e amarelados j est o desenganados Um passeio muito popular na Curva ir de ambul ncia pra uma das Col nias criadas para recrea o dos que n o s o chegados a trabalho e toleram mal as frustra es do dia a dia Tamb m para os j cansados de tudo e j n o querem mais nada a n o ser sossego e aus ncia de contas no final de m s As Col nias s o patrocinadas pela classe m dia trabalhadora que paga os impostos Os ricos usam o imposto pra criar ONGS casas de cultura e outras iniciativas art sticas com o objetivo de fazer um marketing socialmente correto e com isso expandir ainda mais seus nomes marcas e empresas Mas deixa isso pra l o bom mesmo era o barato que d na viagem de ambul ncia Na ambul ncia aquela viagem de liquidificador quando voc chega ao destino t todo mo do Muita gente gosta da sensa o de viajar sem saber onde est indo Na c psula escura pela fresta entra um vento e tudo que se sabe sobre o lado de fora quando eu via j estava na Col nia Os visitantes ganhavam crach de visitante Os permanentes ganhavam a companhia do seguran a atento que tamb m mora na Curva mas tinha sorte de estar na Col nia a trabalho naquele momento Tinha estado l como visitante e tamb m como permanente sendo vigiado por outro seguran a que tamb m tinha o curr culo muito parecido mas que acabou sendo transferido por motivo de estresse As Col nias ficavam bem pra l da Cur
86. ifama o processo da prefeitura querendo contribui o briga entre s cios falta de uma boa administra o SEBRAE nosso que estais no c u Mas tem brech que sobrevive a todos os dramas especialmente os que recebem bastante doa o Tem os que adoram caridade na hora de receber doa es mas n o fazem caridade porque s o empresas com fins lucrativos Muitas lojas de roupas usadas morrem novinhas em folha tanta inova o na hora de vender coisas velhas que os empreendedores deveriam concorrer ao Oscar Publicit rio As donas de brech s com aquelas caras de empres rias da maior relev ncia por preconceito pr prio e dos outros posando de grandes executivas avaliando os trapos do outros como d mod e out of fashion e superfaturando os trapos rec m adquiridos como sendo de ltima moda pe a de alta qualidade ou preciosidade Vende se roupas usadas e velharias coisas seminovas ou n o Compra se e vende se baratinho porque dinheiro que raridade O que n o raro a necessidade de se desfazer das cal as pra comprar cigarro leite rem dio comida e vale transporte pra ir atr s de emprego Surreal seria um sonho em que um emprego corresse atr s da gente A coisa mais assustadora E a pessoa gritaria Oh E agora quem poder me defender E apareceria o Chapolin protetor dos desempregados dizendo eu E passa a bater com sua marreta bi nica no emprego perseguidor dos pobres e oprimidos S em sonho mesmo De
87. inha barriga v rias vezes ao dia desde que nasci e n o adiantou nada est vazia de novo Em ingl s curr culo r sum Baby preciso aprender ingl s pra arranjar um subemprego na Am rica do Sul Baby I hate you Em s ntese preciso comer menos e estudar mais para ter alguma chance na vida Ser que existe vida pra quem estuda muito e come pouco As teorias de aprendizagem s o un nimes Pessoa desnutrida tem problema de aprendizagem entre outros Muitas mesmo estando bem nutridas n o aprendem por falta de motiva o ou por sobra de alunos na sala Alunos barulhentos n o aprendem e ainda impedem concentra o dos outros E tem a maior atra o digo distra o digo televis o A maioria das vezes a televis o que assiste a pessoa cansada Chego em casa e n o sirvo pra mais nada Durmo em frente televis o ligada Acordo e j outro dia Mais um cap tulo da mesma jornada Comer estudar viver na Curva tudo bobagem bom mesmo viver de passagem Estamos no tempo da portabilidade cada um pode pegar a sua maletinha e mudar de galho Aqui essa moda pegou meio diferente Faz se portabilidade de drogas e outras mercadorias legais que chegam de outros paises elas s o tidas como ilegais s porque n o dizem oi pros fiscais quando atravessam as fronteiras Em vez disso ficam bem amoitadas para se protegerem da portabilidade muito pior que os fiscais fariam caso colocassem as m os nelas Tem tamb m a portabilidade
88. is gente teria sofrido E todas essas mulheres n o merecem puni o merecem medalha de honra ao m rito por n o deixarem seus filhos nascerem em tal situa o A sociedade o governo ou seja quem for n o tem condi es de conter a viol ncia entre os que j est o aqui imagina o que fariam com os outros milhares que teriam nascido E toda essa gente nascendo E toda essa gente metendo E toda essa gente gemendo De dor de gozo e arrependimento E toda essa mulherada parindo E toda essa crian ada saindo E toda essa mendigaiada pedindo E toda essa mulherada parindo de novo E toda essa gente chamada povo Sem casa sem emprego sem motivo pra viver Tentando se justificar metendo com qualquer um em qualquer lugar Para ter a sensa o de que est o vivos E desse acasalamento de falta de plano com tormento nasce mais uma pessoa indesejada n o planejada mais uma pra ser desempregada Quer comida conforto e direito mas acaba em nada Essas mulheres s vezes meninas tem 13 14 15 anos n o criaram nem a si mesmas e j est o fazendo outros humanos Insanos s o os outros ela era s meio louquinha Essas mulheres de 13 14 15 anos e ainda nem tinham planos e agora est o em situa o de calamidade emerg ncia ignor ncia e persist ncia no erro Quem diria que metidinhas inconsequentes encheriam o mundo de barrigas vazias e de bocas sem dentes Sacos sem fundo Cheios de car ncia Pobreza carceragem drog
89. is vivos se arriscando a produzir mais vida A pergunta ser que bom para as crian as nascerem e viverem todas as pen rias de uma vida de pobre por causa de um sexo que outros fizeram duro ter nascido duro fruto de uma trepada r pida de uma gravidez n o planejada de um casalzinho que s queria dar uma metida e no processo gerou uma vida Vida essa que teremos que chamar de nossa e viv la podendo ou n o Filho feito problema pro resto da vida Mesmo os que d o alegria dar o tristeza Na Curva quem n o v tima vitimado Filho pode vender droga ou ser drogado Filho pode dar tiro ou morrer assassinado Filho pode ter emprego mal remunerado Filho pode passar a vida toda desempregado Filho pode gerar outros filhos para os av s cuidarem Filho pode desaparecer e nunca mais ser encontrado Filho pode desprezar pai e m e e se juntar a uma gangue Filho pode nascer com dist rbios f sicos ou mentais Filho pode ser o gosto e o desgosto dos pais Filho pode at ter sorte e ter um destino n o convencional para a grande maioria que nasce cresce e morre na Curva As coisas se invertem se deslocam se convertem e as exce es s o t o raras que nem apareceriam em amostras significativas de dados estat sticos Aqui ningu m faz pesquisa um pouco por causa do acesso dif cil e tamb m por medo de sair fazendo perguntas pelas ruas da Curva e acabar no cemit rio clandestino que todos sabem onde fica Nem vou
90. izer coisas que fazem muito sentido carreguem suas mochilas nas m os junto ao corpo uma mochila nas costas atrapalha Voc est usando um espa o no qual caberiam duas pessoas Pessoal do com rcio ambulante parem de praticar esses atos nada legais com os passageiros as porcarias baratas que voc s vendem s o cheias de calorias vazias e provocam caries Voc s passageiros parem de dar esmolas e de comprar coisas pra ajudar os vendedores N o contribua com o com rcio ilegal seja legal consigo mesmo aqueles 25 centavos que voc economiza de manh para voc guardar para investir na educa o dos seus 11 filhos n o gaste comprando pa oquinha chiclete ou bala de goma Tais guloseimas f cies de transportar bem debaixo dos narizes dos fiscais da companhia de trens metropolitanos fazem muito mal sua sa de que j n o anda nada boa Os seguran as do trem de coturnos bem lustrados e olhos bem abertos vigiam as mo as maquiadas carregando frasqueiras imaginam o destino delas e a cor das pe as ntimas que est o usando encontram nesses corpos ainda n o deteriorados pelo tempo um pouco de estimulo para continuar nesse servi o de assistir pobres nada interessantes entrando e saindo dos trens com as mesmas caras de sempre tudo verdade eu vi Vi disfar ada de cega usando uns culos escuros que depois deixei cair no v o entre o trem e a plataforma no empurra empurra que nada mais do que um embate entre os que precisam sair e os q
91. lia Tento novamente com a pol cia oi eu estou ligando por que preciso da ajuda da pol cia meu irm o estava internado no Hospital Col nia e veio passar o final de semana com a fam lia e teria que retornar para o leito reservado mas est se recusando Inacredit vel n o E ele pegou uma faca e se trancou no quarto isso ap s ter amea ado matar meu pai Ele disse que s sai daquele quarto morto Estou desesperada por isso estou ligando preciso da ajuda de voc s Policial c nico escondido atr s de uma farda de uma mesa e de uma linha telef nica Mas o que a senhora quer que a gente fa a Eu uma irm desesperada exclu da sem direito a nada Preciso que voc s venham at aqui e o levem para o Hospital Col nia J liguei avisando o ocorrido e eles me disseram pra pedir a ajuda da pol cia para reconduzi lo ao internamento Policial conversa com outro ou o a conversa Essa dona quer que a gente busque o irm o dela e leve pro hospital psiqui trico falou que o hospital disse que a gente tem que fazer isso Outro policial o hosp cio que fa a o servi o deles n s fazemos o nosso S por que o 190 o nico n mero que o povo sabe de cabe a ligam aqui pra tudo quanto coisa O Policial fala pra mim N o d esse n o nosso servi o Se ele n o quer ir n o ha nada a se fazer Ningu m pode coagir o elemento ainda mais se ele portador de dist rbio mental s rio e incapacitante Eu mas senhor pol
92. m an ncio no jornal Agonia a com dia da vida Do fam lico personagem cotidiano Entra ano sai ano Passa a faca corta a carne e fura o pano Camisa furada n o vale nada mas o bot o pode ser reaproveitado Usar o ltimo real para ter a vida poupada s vezes o que resta Menino pobre olhar sombrio sonhos de consumo e desejo de aparecer O dia inteiro em frente televis o vendo gente bem vestida vendo gente feliz da vida Vendo corpo sarado vendo malandro respeitado Vendo a vida milion ria perde o respeito pela m e aquela ignorante oper ria O pai desaparecido Cedo j aprende a matem tica a pedra de crack custa dois reais mais cigarro mais pinga mais um p o e o total Dinheiro custa caro Quem d mais O resultado sai na coluna policial Caso a pessoa assaltada tenha alguma relev ncia social Se for um curvense ningu m d aten o Quem s o esses insignificantes para entupirem os canais de informa o O povo em geral torce para que os moradores da Curva se matem se violentem e roubem uns aos outros por aqui mesmo Pensam que enquanto a bandidagem estiver circunscrita s Curvas s pessoas de bem estar o a salvo Medo e engano Sempre existem os aventureiros que gostam de navegar por outras guas Outras praias Outras piscinas De outros lagos nunca antes navegados por gente da Curva preciso explorar outras margens e invadir terras ainda n o muito batidas para pegar os habitantes desprevenidos
93. m vive na mesma casa com os loucos mas quem se importa O importante que n o haja espa os de segrega o de doentes como eles Mas depois da loucura de algu m na fam lia a fam lia inteira vive segregada ningu m quer visitar uma casa de louco Ningu m quer dar emprego pra m e de louco Ningu m quer convidar fam lia de louco pra uma festa de anivers rio Ou seja para um louco n o ser isolado sozinho isola se a fam lia inteira Pobre louco ou louco de pobre E a gente se descobre descoberto e sem planos de sa de s temos certeza de doen as A essa altura devem estar me condenando por chamar todos os que n o conseguem se comportar trabalhar e viver de acordo com o sistema de loucos Mas se a loucura t o normal Se a loucura n o faz mal se n o precisa nem de hospital Se loucura n o doen a problema social A palavra louco n o deveria chocar ningu m Ofender ningu m Prejudicar ningu m Louco apenas um individuo que est fora de si e dentro do universo que o rejeita por que ele incomoda e muito S isso nada mais o resto falta de dopamina coca na e outras subst ncias que terminam em ina Onde se luta pela sobreviv ncia sobra cansa o e falta paci ncia Onde se luta para n o ficar abaixo da linha da pobreza falta de tudo exceto tristeza Nesse sentido muito bom que estejam construindo viadutos que desabam em S o Paulo O que vai ter de louco dormindo por l Se as fam lias n o podem os rg os
94. mais que os outros Era o ego dizendo n o sou assim nem assada sou complexa rebelde criativa inquieta dotada de grande capacidade de ver a vida como ela Era o ego fazendo distor es da realidade e se enganando N o era nada n o logo me deram uns safan es e me destro aram Passei a ser Menina sozinha assustada Menina com medo de ser diferente Menina de perna fina e orelhas de abano Menina com dor de garganta e dor de dente Menina com sonho de ter piscina Menina descontente Menina magra feia e carente Tudo isso persiste ainda hoje Habito a Curva e essa n o a primeira vez N o sou igual somente em um detalhe enquanto os outros vivem e se proliferam Eu sou pela extin o da morte Derrubo minha rvore geneal gica Queimo sinais at vicos Arranco minhas ra zes a vida cont nua o que dizem Continua at onde At a morte N o posso impedir a morte mas posso n o gerar vida O que n o nasce n o morre Interrompo uma cadeia secular N o fornecerei novos prisioneiros Ai um dia tudo acaba Acaba sim Quando menos se espera Fim
95. mo assim quem me garante que os drogados n o estar o espalhados por l Na Curva o vento nunca vem sozinho Vem sempre acompanhado de poeira de peda os de papel de folhas pl stico e muita sujeira Quando existe alguma beleza na curva a crueldade n o suporta Havia cinco gatos persas lindos am veis e amados O vizinho desconsolado se sentiu incomodado N o sossegou enquanto n o os envenenou Cinco corpos amanheceram rijos no quintal Agora est o guardados e a salvo no corpo da terra mesmo dif cil brotar ternura e prosperar a humanidade Mas a culpa dos pr prios humanos que s o cheios de maldade S n o eliminam o sol que nos ilumina porque esse em vez de ser abatido Abate Toda aquela constela o de vida linda Que se espalhava tranquila dormindo e brincando pelo ch o J n o existe mais Tantas vezes ao inv s de comprar uma revista alugar um filme ou comprar uma pe a de roupa eu usei meu dinheiro para dar lhes um pacote de ra o Sinto falta de v los e toc los e por um momento acreditar que o mundo macio cheiroso e arredondado Que a vida pode ser confort vel Que o meu tempo estava sendo bem investido enquanto eu me entregava a doce tarefa de amar e cuidar incondicionalmente C ncer nele meu Deus e cancele nele o poder de matar filhos seus Pois nada posso para combat lo Meu cora o est definitivamente partido a mulher que limpava quintais por dez reais partiu o p com o en
96. ndo n o fica trancando Aqui a Brecholandia Existe uma diferen a entre brech e loja de coisas usadas Mas cuidaremos das distin es quando estivermos elaborando o dicion rio ilustrado da Curva J s o tantas as distin es entre sexo ra a religi o tamanho peso idade Morar no centro ou na periferia da Curva Pegar o nibus ou n o Ter emprego ou n o Trabalhar no servi o pesado da cidade ou ser da pesada na cidade Acima do peso xingamento aqui tamb m Bonito dizer gordo em ingl s overweight Overweight quem t chamando Trapo de luxo e todos os thrift shoppings em ingl s Alguns t m nome de novela e se os estudiosos de antropologia fossem fazer um estudo etnogr fico descobririam que foram abertos quando a novela estava sendo exibida Muitos nem sobrevivem o tempo de uma novela Pequenos neg cios grandes fal ncias Conjuga se o verbo falir No presente pret rito perfeito e pret rito imperfeito Presente Pret rito perfeito pret rito imperfeito Eu falo eu fali eu falia Tu fales tu faliste tu falias Ele ela fale ele ela faliu ele ela falia N s falimos n s falimos n s fal amos V s faleis v s falistes v s fal eis Eles elas falem Ele ela faliram eles elas faliam Pois E n o que existe pret rito perfeito na fal ncia e s vezes parece com o verbo falar L ngua estranha mas o verbo conhecido aluguel roubo inveja competi o praga de cliente insatisfeito d
97. ns e costuram e costuram at que a LER e a artrite os separe das m quinas de costura industrial Pe as descart veis da engrenagem fazem roupas descart veis para todas as esta es do ano Eles nem sabem o que LER tamb m n o sabem LER Tenossinovite tendinite bursite Bursite todo mundo sabe por que at o presidente j teve Ite um sufixo do latin cl ssico que significa inflama o Mas em grafite estalactite dinamite n o O m dico residente residente n o de passagem pela Curva diagnosticava com muita empolga o Senhor o seu problema de LER E o velho respondeu mas claro doutor faz anos que uso esses culos caindo aos peda os E o doutor lindo jovem e usando um uniforme novinho meu senhor LER n o tem nada a ver com culos velhos E o velho Sei sim doutor que meu pai nunca me mandou pra escola E o doutor no seu caso ela foi acarretada por problemas ergon micos E o velho meio surdo econ micos Eu fa o tanta economia doutor O doutor j exasperado desiste de tentar dialogar com esse ignorante e escreve fluoxetina duas vezes ao dia com uma letrinha ileg vel Que se dane esse povo iletrado O velho sai e o m dico lindo fica meditando e chega conclus o de que n o culpado de nada Afinal o velho teria ficado mais confuso ainda se ele tivesse dito DORT em vez de L E R D pra distinguir entre um estagi rio e um m dico pela cor do uniforme Estagi rios usam Jalecos novos e brancos m d
98. o arrancada chinelo arrastando pensam que est o na casa deles sirenes n o respeitam o sono de ningu m tilintar de moedinhas que bom nada O povo tem pavor de ser abordado por um pedinte logo pela manh Nem compensa acordar cedo maioria t de mau humor A cama tava muito boa ou quem sabe ruim demais um vai e vem um vem e vai vrom vrom vrom pernas s o sempre continuadas por bundas tem bunda que privil gio pra quem tem e pra quem v e a barriga das gr vidas bela bolsa perfumada cheiro e barulho s o coisas que entram na gente papo cabe a pessoas querem estar certas gente gritando no orelh o t surdo t surdo t te ouvindo t certo tem certeza claro que sim claro que n o crian a sendo arrastada pela m o as perninhas curtas os p s quase nem tocam o ch o crian as de todo o tipo e condi o com suas mochilas escolares ainda ir o aprender que vida dura Muito mais dura que a cal ada onde o cara que dorme na rua est deitado Pensando bem morar na rua significa morar na cal ada Mas o que eu queria mesmo era ter a esperteza pra dar um basta nessa minha pobreza Digo minha porque como uma batata quente grudada por mais que eu tente n o consigo jog la pra longe de mim Se bem que nem minha j que eu n o comprei pobreza de ningu m Pobreza coisa que deixam de heran a pra gente Eu queria uma i
99. o Aos poucos a f ria passa e ele cansado e esfomeado tem que humildemente pedir comida met fora perfeita para quem vive essa vida As coisas tamb m progridem aqui na Curva Uma galerinha virou uma gangue e est enfrentando a gangue das peruanas Um casalzinho virou uma fam lia numerosa Outro casal mais um filho e uma filha viraram quadrilha O dono do mercado abriu uma filial Quem n o se sentia muito bem agora passa muito mal As garotinhas que iam pra escola com mochila cor de rosa e eram conhecidas como as fedelhas acabaram de se mudar para a casa das luzes calcinhas e bolsas vermelhas O rapazote t mido que vendia amendoim e cocada n o vendia quase nada agora esta vendendo muito mais coisas muito menos legalizadas A senhorinha da banca de verduras cansou de ver fruta apodrecer achou a vida de comerciante de coisas perec veis uma porcaria e agora vende coisinhas chinesas e pirataria A casa abandonada onde a galera se juntava pra fazer suruba agora uma igreja com pombinha da paz e tudo o mais Assim se desencaminha a humanidade Um artista amigo meu muito talentoso que sabe fazer tudo quanto tipo de arte disse que n o sabe mais o que fazer de si mesmo O problema segundo ele que nos ensinam que preciso que fa amos alguma coisa e como se isso n o fosse o bastante ainda querem que fa amos algo de n s mesmos mesmo que os que nos fizeram tenham nos feito de qualquer Jeito Por acaso j n o somos obras de D
100. o Que pergunta aconteceu a ele o que acontece aos animais da Curva J nascem desgra ados Se a vida das pessoas j imposs vel na Curva imagine a vida dos animais de estima o Abandonados pelas ruas Infestado de pulgas Sarnentos Esfomeados Procriando sem nenhum controle Alimentando se de lixo Perdidos sujos magros dormem em lugares onde as pessoas urinaram s n o s o pisoteados porque os humanos ficam com medo de pegar sarna e de ser mordido por um cachorro louco Assim como os mendigos os animais tamb m s o protegidos pela condi o Os c es s o tomados e protegidos pela sarna que os infesta Estimados que n o s o certo que na Curva tem bicho que amado mas o que fazer com o excedente de cachorros gatos e outros seres famintos Vendo tanta pobreza sofrimento e dor como acreditar num criador Ofereci biscoito pro Pelego que j deve ter sido atingido por muitas pedradas A receber comida ele n o estava acostumado Ficou assustado mas por fim comeu os biscoitos Depois coloquei gua no balde Bebeu Fiquei aliviada por n o ter que remover um cachorro morto da cal ada N o deveria existir animais abandonados mas j que existem e s o milhares deveria haver vasilhas com gua limpa e fresca para eles beberem gua limpa algo raro tanto para os moradores de cal ada como para os animais abandonados gua limpa para beber est fora do alcance deles e mais fora ainda da pauta de preocupa es
101. o a pessoas morrendo e a beb s nascendo A busca de uma esposa ou de um marido Ao simples fato de algu m da fam lia ter enlouquecido Anormal n o enlouquecer Anormal ver tudo acontecer e ficar sofrendo pelas perdas Pelos n o ganhos Pela dor dos estranhos na televis o e n o dar uma de louco que podia ser eu Meu pai Meu irm o Meu tio Minha m e E eram todos eles Nada seu n o Desapegue se de tudo at da sua adorada televis o Perdoai os pai eles sabem muito bem por que choram e tamb m sabem que j deveriam estar acostumados O serm o na montanha ia ser muito perigoso hoje em dia Todos aqueles pastores protegendo os cordeiros dos lobos nem existem mais A moda aqui na Curva estuprar ovelha pastorear coisa que n o se faz Hoje em dia habitar as montanhas e prote o ganharam outros significados Rola muito mais sangue montanha abaixo do que chuva para esverdear os pastos E as cruzes que todos carregam geram congestionamento Aten o aten o negado acesso ao monte Sinai at mesmo aos moradores Tem um ex rcito de bandidos destruindo tudo e tem o ex rcito da salva o tentando reconstruir mas ainda falta muito para os bons vencerem e os maus perderem Recome o bom e fresco S preciso de um frasco com algo de beber ou de cheirar pra poder comemorar E nada jamais descolorir cruz vermelha linha vermelha Falange vermelha Comando vermelho Sud rio manch
102. o mal compreendido Onde j se viu mandar mulher parindo pegar nibus e ir pra outro hospital A revolta foi geral Contra o m dico mas deveria ter sido contra a mulher Se ela n o tinha condi es de pagar um t xi para ir para o hospital n o deveria estar colocando filho no mundo Se ela n o tem como pagar um t xi como que ela vai criar um filho Ela vivia com o cara h anos e s agora iam ter um filho Porque que eles n o se prepararam Resposta o pessoal acha necess rio ter filho e n o v necessidade nenhuma de ter condi es financeiras e emocionais para criar um filho Se ab bora e milho precisam de preparo e cultivo para que possa haver produ o imagina filho Deus pai o governo pai a sociedade pagadora de impostos pai at que falta ambul ncia num dia pouco auspicioso e a casa do doutor que escreve em bra os de gr vidas ca Caso o conselho decida queimar o Diploma dele haver ainda mais desperd cio de papel De um dia pra outro tudo pode acontecer Mas n o acontece nada de bom ou de melhor O que ruim acontece repentinamente N o gosto de palavras terminadas em mente Mas gosto da palavra Mente por si s n o enquanto mente de mentir Mas a pura e simples Mente essa coisa estranha que usamos a nosso favor ou ent o somos usados por ela Mente esse equipamento que transforma o mam fero em gente Que ajuda a gente a diferenciar um promissor de uma promiss ria Na Curva todo dia tem luta lut
103. o ou n o ningu m pode vender produto sem registro de proced ncia e data de fabrica o E o povo revoltado olha aquele encrachazado detonando o pobre do aleijado Mas com a barriga de quem come o queijo sem proced ncia ningu m fica preocupado Proced ncia de fato um conceito vago Vejo tudo muito claro Vejo tudo muito caro Vejo com muita nitidez gente em cadeira de rodas Gente de muletas Gente com pernas e bra os quebrados Gente torta obesa desgastada Gente muito fraca Loucos B bados Gente sem casa e sem vis o N o sei com exatid o mas grande o n mero de desgra ado por metro quadrado Ser que o senso sabe desse contra senso Se eu quisesse ter um filho eu pensaria quantos animais teriam que ser carneados pra que ele fosse alimentado Mesmo em condi es prec rias as pessoas podem viver at os setenta anos a n o ser em caso de epidemia Que pena sinto dos animais O melhor n o me reproduzir Pra ajudar a ecologia Os animais seriam muito felizes sem a exist ncia humana j os humanos n o banqueteariam tanto se n o fosse a custa da vida dos animais Aqui temos um SAC cy servi o de atendimento aos consumidores consumidos pela vida Pela falta de comida Pela falta de dinheiro Pela vida privada exposta Pela privada entupida A mulher passou 14 anos pensando em ir viver com um ex namorado mas n o foi com medo que ele a achasse muito gorda muito feia muito velha muito sofrida
104. o possa ser reciclado Fazer livros na maioria das vezes matar rvores parir filhos que o mundo vai ignorar parir filhos que o mofo vai engolir parir filhos destinados insignific ncia O Rei Midas transformava tudo o que tocava em ouro mas o Rei Merdas Bem n o faz mal dizer que tudo o que eles tocam fede e apodrece e o que mais se tem Rei Merdas governando Mas o que mesmo a liberdade n o estou falando do enredo da escola de samba Estou pensando em liberdade cotidiana n o da carnavalesca com asas feitas com penas dos p ssaros amaz nicos que j n o voam mais Tem quem se atreva a se rebelar contra a pobreza na Curva mas desses o sistema se vinga Obrigando os a comer um prato frio e azedo Um jovem casal estava namorando a seis meses ela branca olhos azuis cabelo loiro clar ssima com pouco mais de um metro e meio e cinquenta quilos Ele negro quase dois metros mais de cem quilos Ambos pobres At aquela noite tinham feito sexo no apartamento dela de um nico c modo quando a amiga saia para dormir com o namorado Ele recebeu o pagamento era dia primeiro de dezembro Resolveu lev la a um motel Tinham conversado sobre a necessidade de apimentar o relacionamento Estavam meio sem gra a por terem que ir ao motel a p Mas ela estava em um de seus dias desencanados e incentivou o a n o se deixar envolver pelas ciladas do capitalismo Ent o s quem tem carro tem direito a fazer sexo em um lugar
105. om falta de paci ncia como fazem os raros m dicos que se v Mas isso n o importa o importante que o SUS tem um posto de sa de onde s o atendidas todas as especialidades Mas para ver um especialista preciso ir no posto demonstrar necessidade e por o nome na lista Depois de v rias esta es do ano se passarem pessoa encaminhada s vezes carregada j que a necessidade tem que ser evidente para justificar atendimento na cl nica de especialidades do SUSto Chega o dia de ir Cidade Bela Muita emo o n o todo dia que se v um especialista N o todo dia que o seu nome sai da lista e vira agendamento Mas chegar l um tormento No agendamento j dizia tudo hora prevista Mas tem gente que confunde com hora marcada E fica l irritada e causando irrita o Pode se preparar para duas horas na fila no meio de um monte de gente doente A maior das especialidades que eu vi a especialidade em atendimentos de cinco minutos O m dico tem o dever de atender em cinco minutos e o paciente de ser atendido nesse mesmo per odo Quem o pr ximo Tem uns que demoram mais principalmente o m dico que chega atrasado algumas horas Mas outros n o acreditam que depois de tanta espera v o ter que se contentar com t o pouco tempo e por isso passam mal Caem babam perdem a no o isso acaba atrasando todo o sistema e causando indigna o T vendo ele passou seis minutos e meio com o doutor Na minha vez eu me vingo E
106. ou pra qualquer outra pris o J os que se esfor arem ter o que compartilhar os frutos do trabalho com um monte de ladr o Querendo ou n o N o existe livre arb trio nem livre arbitragem T tudo corrompido As meninas buscando sentido para a vida Buscam marido Acabam sozinhas e com filho Somos mesmo um monte de necessidade Todos os dias as chances diminuem e as multid es aumentam A necessidade de mais dinheiro mais comida mais fralda descart vel Meninos craquentos entre 10 e 12 anos j s o conhecidos como elementos de alta periculosidade Inocentemente queimam craque na cal ada Bem a vista parece que eles gostam de se mostrar Ou querem provar que n o tem nada a esconder Vai saber o que passa em cabecinhas como a deles Daqui a dois ou tr s anos os que estiverem vivos estar o fazendo muitos mortos M e querida Eu n o te pedi essa vida Furtam usam drogas matam e as m es n o podem fazer nada Elas tamb m est o em perigo Na Curva as m es s o meninas j envelhecidas pela sina V tima e co autora Mas ela n o sabia Que o beb que lhe dava alegria ia se tornar um mo o um po o de vadiagem e crueldade N o estou inventando n o deu na televis o que mais de um milh o e meio de mulheres est o sendo condenadas por aborto no Mato Grosso Mo o n o fa a isso n o elas s evitaram que seus filhos nascessem e morressem depois de crescidos na m o da policia ou na m o do bandido Muito ma
107. p blicos n o querem e os pr prios indiv duos n o est o em condi es de querer ou n o a pr pria vida qual ser a sa da Viaduto desabando neles O problema quando os viadutos desabam em lugar errado gerando um enorme desperd cio Inventaram at um ditado popular sobre matar v rios loucos com uma viadutada s Quem sofre mais Os loucos As m es Os pais Os irm os Os vizinhos A maioria da popula o n o se importou com o fato de os hosp cios terem sido fechados com os loucos pra fora N o demorou muito para que os pr dios onde funcionavam os hospitais fossem transformados em dep sito de arquivo morto de governo vivo A fun o continuou a mesma Exceto pelo fato de que arquivo morto n o caga n o come e n o morre Aumenta como tudo o mais na natureza Um hospital que virou arquivo morto se acalmou muito Nunca mais se ouviram gritos nem houve tentativa de fuga por l S tinha funcion rio fantasma mas eram todos camaradas Processos engavetados projetos de seres humanos n o concretizados precedentes gerados as pressas e que a loucura n o seja um entrave para o acesso aos cofres Eu s queria que os libertadores dos loucos fossem presos junto com uma meia d zia deles Mas nem isso acontece Sim eu podia ser uma louca e ai n o ia querer que deixassem de me proteger De falar pacientemente comigo me acalmar bem com p lulas e gotinhas mente s corpo s o Mas fui condenada a testemunhar e a assinar fi
108. po tico inconsistente drama rec ndito inconsciente mas o drama que eu queria estava num outro lugar e eu jamais teria como encontrar Detesto quando esses outros pobres v m pedir ajuda se eu pudesse e meu dinheiro desse eu n o estaria nem aqui Tinha gente que achava que democracia o capitalismo e a industrializa o resolveria Que nada a gente se engana Eu mesma achava que uma fala rebuscada era suficiente pra eu ser respeitada Que nada Eu achava que saber rima era suficiente pra escrever minha obra prima Que nada Eu que sou capaz de rimar eu mesma com ar acabei desempregada vindo morar no bols o da pobreza Por falta de sorte e pra ganhar o p o Mas ganhar p o n o adianta preciso ganhar tamb m o almo o Mas isso tamb m n o adianta preciso ganhar a janta A gente come enche a barriga engorda e passa Voc pensa que n o tem mais nada a perder mas tem Tem que perder peso O velho do saco injuriado grita xinga ofende quem passa a boca parece um moedor de carne moendo tudo com dio S ndrome de Tourette pensam os experts Antes ele do que eu pensam os passantes menos instru dos Cospe Escarra Protesta Se sacode Se descabela Mas ningu m se ofende um louco ele n o tem inten o e ningu m leva as palavras do louco a s rio At acham divertido Com tanto dio me espanta que ele ainda n o tenha morrido envenenado pelo pr prio veneno Mas gritar e brigar feito louco pouc
109. pod Roubado ou n o Segura ladr o Pega ladr o N o adianta gritar meu irm o Te peguei E o outro implorando pelo amor de Deus tudo o que eu tenho aqui comprei com o suor do meu trabalho E o ladr o de material comprado com suor que eu gosto Deixo voc vivo ai voc trabalha e compra tudo de novo Tamb m t trabalhando meu T achando que roubar pobre d lucro S sobreviv ncia mesmo meu irm o E roubam computadores E roubam maquina digital E roubam mp3 E roubam o que os outros compram fiado e v o continuar pagando e continuar comprando Assim a economia aquecida e as vendas s o garantidas Os compradores s o sempre os mesmos compram os aparelhinhos de ltima gera o d o um upgrade pra cambada de ladr o Roubar equipamentos a a o mais eficiente de autoinclus o digital At quem n o tem nada tem alguma coisa pra ser roubada Eu Quem sou A mesma que eu era Quimera Todos mudam com o tempo Menina recolha se a sua insignific ncia E voc j percebeu sua arrog ncia Sempre bati boca e tamb m bati os dentes de frio Quando os de leite tinham ca do e os do ju zo ainda n o tinham nascido N o me intimidei Era o ego se afirmando e rebatendo cr ticas e acusa es Era o ego se manifestando e combatendo intrusos Era o ego protestando contra a injusti a e jurando vingan a Era o ego se diferenciando eu n o sou como voc s Era o ego se sobressaindo e insistindo que sabia
110. pol ticas Preocupam se naturalmente em garantir seus banhos de banheira de hidromassagem De praia De piscina De chuveiro Deveriam existir pias com gua e sab o em todos os terminais de nibus e trens para quem quisesse lavar as m os O Pelego foi embora fiquei limpando o ch o e pensando na vida Na minha na dele na vida dos outros e no quanto somos impotentes e insignificantes N o consigo entender que motivo tem o Pelego e todos os outros pra continuarem a viver An ncios semana dos anticoncepcionais na drogaria VIVA MAIS at 40 de desconto para voc que ama cuida e faz Dona Maria dos produtos passou aqui reclamando J rodou a Curva inteira e n o conseguiu receber e se ela n o receber n o ter como comprar e n o ter o que vender Em poucas palavras ela me d uma no o de macroeconomia a partir de seu micro neg cio Dona Maria est cansada de trabalhar na Curva pra tentar sobreviver Ouviu as desculpas de sempre O cart o que n o passou O cheque que n o caiu A crian a que ficou doente O pagamento do marido que n o saiu Cada dia uma mentira uma verdade uma desculpa ou tudo ao mesmo tempo Mas se continuar assim Dona Maria desiste e ser mais uma A comprar fiado A n o ter com o que pagar A n o ter com o que sonhar E a n o ter com o que esquentar a cabe a De quem ser a culpa se a dona Maria cansada se tornar mais uma desocupada Sobra car ncia Sobra delinqu ncia Falta de
111. pra lixeira com sorte ser o reciclados e utilizados na confec o de mais curr culos Os curr culos virtuais passar o por um processo de desintegra o cibern tica assim que Enquanto uns tiram notas altas outros s o notificados Classificados passam os dias lendo e sendo os desempregados Alguns donos de curr culos engavetados passeiam de nibus e passam dias enfileirados Voltam pra casa cansados mesmo sem ter trabalhado D muito trabalho ser desempregado Encher uma p gina de experi ncias e diferenciais custa caro mas proporciona imensa alegria paras as franquias e outras escolas de cursos livres de percursos cronogramas e rendimentos incertos Suponhamos que a pessoa use os instrumentos adequados e consiga fazer com que as portas do mercado de trabalho se abram pra ela Coisa quase imposs vel para quem vive na Curva Mas vamos supor que isso aconte a As portas se abrem e o glorioso momento chamado admiss o Uma vez admitida pessoa tem que se agarrar bem firme para n o ser arremessada do posto arduamente conquistado no primeiro corte Muta es ocorrem todos os dias e preciso refazer a vida e o curr culo o tempo inteiro Isso gera gastos desgastes e empr stimos e se n o bastasse tudo o que se deve e se tem que fazer ainda temos a barriga Prisioneiros da cadeia alimentar somos todos Alguns s o prisioneiros de outras cadeias ao mesmo tempo embora isso n o seja relevante para o curr culo deles Enchi m
112. quando ocorrem ind cios de que outras gangues est o se formando com o objetivo de tomar lhes o poder Demagogos pol ticos mitoman acos e psicopatas s o os tipos comumente encontrados nessa categoria Baseadas no tipo de poder que exercem denominam se tribunais poder executivo poder legislativo comandos de cores diversas ex rcitos mil cias grupos terroristas Violam enganam destroem punem e intimidam utilizando se de instrumentos de domina o sob promessas de prote o distribui o de justi a e renda Algumas dessas gangues querem poder outras querem dinheiro sendo que algumas querem ambos Baseadas na camisa que vestem gangue das peruanas times torcidas e outros que se uniformizam para transmitir a ideia de coes o marcar territ rio e dar demonstra o de for a Distinguem se pelas roupas de marca e pelos acess rios que usam bon s capuzes armas e distintivos Querem poder dinheiro divers o benef cios e mordomias Estas gangues se caracterizam tamb m pela baixa toler ncia frustra o e pela intensa necessidade de obten o imediata de prazer Fazem apologia curti o e frui o do momento presente Baseadas na manuten o do sistema Vis o a servid o humana Empenhadas na manuten o da estrutura funcionam como mecanismos de gera o de h bitos atuam na restri o da liberdade e no processo de inibi o de manifesta es de inconformismo Visam manterem para si pr prios ca
113. r que eu n o cumpra o meu Isso o que eu acho mais cada um tem a sua metodologia Mas ai eu continuava cansado e quando abri os olhos muitas outras pernas j tinham se passado Achei melhor me concentrar em ficar acordado ningu m d dinheiro pra quem t dormindo Tem que ficar acordado mostrando necessidade e interesse Agradecer faz parte mas opcional E nem adianta lamentar pernas passadas pernas passadas n o atiram moedinhas Pra encerrar posso dizer que o dia de hoje foi meio fraco em termos financeiros Todo mundo passa o tempo inteiro pensando em ganhar dinheiro O mo o que vende coxinha enquanto espera pelo troco d uma co adinha Vigil ncia sanit ria nele Que nada que mal h em uma simples co ada Homens que n o vendem coxinha tamb m fazem isso e ningu m diz nada A velha da Curva no tempo parada anunciou a chegada de mais uma esta o vim vender o meu casaco o frio j passou J era tempo de iniciar uma nova era No come o do ver o tirei umas f rias e fui praia pegar insola o N o que essa fosse a inten o Isso acontece por causa da obriga o de ficar bronzeada em poucos dias Voltei das f rias ainda mais estressada nisso que d visitar a parentada Em mat ria de Curva todas s o muito parecidas embora tenha umas menos piores que custam mais caro As melhores curvas do mundo s o aquelas com vista para o mar Costumam ser as mais violentas por causa da disputa territorial Mulet
114. ra trabalhando na terra seca m os calejadas do meu pai queria permanecer jovem a velhice surge escancarada nos olhos e corpos velhos nas vozes e caras enrugadas queria n o sentir medo mas a realidade me induz mostra me bocas sem dentes febre ferida sangue e pus E o velho do saco veio pedir ajuda Entrou dizendo mo a eu n o tenho pai nem m e nem esposa pegou fogo na minha casa t at querendo me matar Falei eu tamb m Ele perguntou porqu Respondi n o posso ajudar ningu m essa lojinha n o minha e t cheia de conta pra pagar Fiquei com pena dele e resolvi ir no fundo da loja buscar um agasalho Enquanto fiz isso ele pegou uns culos de sol e enfiou no bolso Gritei devolva os culos agora Ele devolveu Mesmo tr mula e tra da eu disse o senhor est vendo porque que eu quero me matar Estou cansada de viver num mundo cheio de pessoas como o senhor Para sobreviver na Curva tenho que enfrentar todo o tipo de ladr o O que vende roupa roubada O que troca etiqueta de uma roupa mais cara por uma bem baratinha O que joga uma pe a mais cara na banca da promo o de um real e nada que eu fa a ou diga ira faz lo mudar de id ia quanto ao real pre o da mercadoria que est comprando O que compra a roupa usa e dias depois vem devolver e pedir o dinheiro de volta o que rouba pe as que coloco em exposi o do lado de fora o que leva muitas pe as para o provador ve
115. rgos vantagens direitos etc Denominam se funda es congrega es hospitais casas de cultura col nias penais institui es fiscalizadoras entre outras Baseadas na lideran a que exercem usam nomes inspirados em divindades mitos e entidades metaf sicas O objetivo induzir os membros devo o e f inabal vel Essas gangues s o respons veis pela dissemina o de discursos e pr ticas por elas elaboradas e tidas como relevantes cujos pressupostos s o as pesquisas cient ficas teorias filos ficas textos sagrados e rituais diversos Se nada disso funcionar partem para amea as veladas expuls o excomunh o e chantagem Fazem qualquer coisa para obter credibilidade e ades o com vista a manter privil gios para seus lideres N o muito vantajoso pertencer a esse tipo de gangue visto que as a es s o convertidas em participa o nos lucros provenientes de bens imateriais e sempre acabam por se revelarem promessas Nada mais E n s que somos vulgarmente conhecidos como povo temos que nos submeter a todas elas Vivemos como o rabo entre as pernas como dizia a minha m e Eu n o gostava que ela usasse a express o rabo entre as pernas J na inf ncia eu compreendia que os algozes estavam em toda parte e os pobres dos cachorros tinham raz o de sobra para terem medo A velha encurvada no tempo parada com as m os na cintura reclama que o tempo n o d pra mais nada Aqui fica na Curva e grande parte do nosso
116. s Sem atravessadores e sem ter que ficar passando por humilha o enquanto a pol cia recebe sal rio pra passear de carro pela cidade dando uma de autoridade Dias depois N o fume dentro de casa Fumo sim J falei que n o pode V fumar no quintal Ele se virou e espremeu o meu c rebro contra a parede C rebro esse que n o dos melhores mas o nico que eu tenho Cuspi meus dentes fora e chorei Resolvi obrig los a me ajudar sobre amea a de omiss o de socorro Mostrei minha cabe a estourada e minha boca desdentada pra todos que encontrei faxineira seguran a enfermeira assistente social m dico psiquiatra Voc s s o testemunhas Vejam o que ele fez e n o foi a primeira vez Uns tentaram me acalmar voc tem que ver que ele teve uma crise n o culpa dele tem que dar um desconto ele portador de dist rbio psiqui trico E eu com a cabe a cheia de pontos cir rgicos e de interroga o Por acaso voc s querem que eu tamb m fique portando dist rbio psiqui trico pelo resto da vida E que inferno de vida Eu quero me matar Amea a de suic dio funciona Na sala de internamento a pergunta ele est tomando medicamento E a resposta n o Ele se recusa Mas como se recusa a fam lia tem que se responsabilizar Ele bate no meu pai na minha m e faz voar copo com gua e p lula das nossas m os M e com press o alta pai desmaiando pai rec m operado de lcera Irm algu m Diz a psic loga
117. s varredores e todo o tipo de m o de obra noite trazem o pessoal de volta pra dormirem em suas camas pagas presta o Os trazem exaustos pra umas horas de sono profundo e os levar o de volta no dia seguinte A Curva e a Cidade Bela s t m uma coisa em comum As flores amarelas Os ip s est o florindo em toda parte Na Cidade Bela o Ip amarelo colore a cal ada d mais servi o pra empregada Na Curva o ip amarelo causa a sensa o de aus ncia de fronteira Ali logo ali na Cidade Bela tem uma rvore igual quela Mo a hoje eu tenho muita roupa mas j tive a oportunidade de n o ter Eu s tinha duas cal as usava as mesmas tanto pra ficar em casa como pra sair Para o ver o eu s tinha uma saia Naquela poca se n o fosse pra trabalhar eu nem sa a Dinheiro na m o trai o mas dinheiro n o m o muito bom Mo a eu engordo emagre o compro roupa perco roupa z per que n o fecha al a arrebentada Acho que pra resolver esse problema eu deveria por um z per na minha boca O travesti que de dia dono de brech e sal o de beleza e noite se apronta e vai pro ponto apareceu Mostrou o rosto e o bumbum siliconado Disse que ap s ter investido na beleza sua clientela aumentou e narrou outras proezas Falou que n o tem medo de andar noite nas ruas da Curva usando salto alto e mini saia Segundo ele levar pau no c o maior medo que as pessoas comuns t m Ele al m de n o ter medo at gosta
118. s Devido ao comportamento de rato deles eles acabam minando qualquer boa inten o de quem poderiam ajud los Exemplo disso aquele barraco podre caindo aos peda os em que a m e ratazana mora com os filhotes Foi cedido por um senhor que ficou com pena dela S que n o demorou muito e em torno dela se juntaram a irm com outras crian as as amigas ratas sem toca tamb m vieram ratos machos drogados violentos fazem algazarra no bairro a noite inteira O que seria motivo de orgulho para o senhor benfeitor tornou se um problema para ele e para os vizinhos A mis ria faz dos humanos criaturas mais devastadoras que ratos Pelo menos podemos combater os ratos com veneno ratoeira e higiene adequada O que fazer com essa gente que j em tudo rato devido ao processo de muta o pelo qual vem passando devido s priva es que sofreram de gera o em gera o Dia desses abalada com a situa o dos meninos ratos tive um pesadelo o planeta estava povoado pela esp cie homo murino Viviam nos esgotos tinham dentes enormes e eram carn voros Embora roessem de tudo preferiam roer pessoas A ra a humana a essa altura era considerada uma esp cie em extin o A velha encurvada no tempo parada disse que desde que ficou vi va que se dedica generosidade Aos filhos empresta o dinheiro da pens o e para os netos compra roupa usada Para mim traz caf e bolinho de chuva A velha encurvada no tempo parada n o diz ter saudade
119. s explosivos demoli o e abertura de passagens atrav s de corpos portas muros cadeados sistemas de alarme entre outros obst culos ocupa o de reas baldias negocia o baseada no poder de persuas o dos tiros estrat gias de fuga manuten o e limpeza de armas m todos de tortura informal e extraoficial velocidade aplicada ao furto e a dire o ofensiva e superdefensiva luta armada tiro ao alvo e elimina o de pistas luta armada tiro ao alvo e produ o de pistas com o objetivo de despistar a pol cia e outros desafetos luta corporal direcionada ao esfacelamento do c rebro e destrui o de rg os do opositor uso de disfarces e estratagemas oculta o de cad veres envio de mensagens cifradas incluindo picha es tiros acenos com bandeirolas e batida de tambor em caso de necessidade de um sistema de comunica o mais rudimentar misturar e embalar subst ncias t xicas corrida em terrenos acidentados instala es n o autorizadas de eletricidade gua tv a cabo espionagem nos quintas e neg cios alheios viola o de fechaduras cofres sistemas de alarme travas falsifica o de documentos placas e resultados de testes t cnicas de mistura de drogas para potencializar os efeitos comunica o aplicada ao uso do jarg o exclusivo da gangue E a leitura dos seguintes livros educativos manual do sequestrador como se sair bem num
120. s no que se refere cor estampa tamanho praticidade n o por ser barato que eles compram qualquer coisa tudo analisado Pre os s o comparados as roupas s o experimentadas Precisam combinar aquela pe a com v rias outras Querem cores que n o chamem aten o Querem coisas que n o pare a que foi comprada em lojas de roupas usadas Querem roupas sem manchas nem ind cios de que foi usada Querem roupas de marca Na banca de um real tem que ter coisa boa De onde vou tirar roupa boa para vender por um real meu pai No telefone p blico Meu Deus do c u O que isso Aristeu Agora tenho que criar esses filhos Se pelo menos eles fosse meu Meu Deus do c u Aristeu do c u Ningu m vem aqui em casa A Rosa n o vem nem o Elizeu A Jussara veio agora mas passou um ano at que ela plantou e colheu depois que vendeu as coisas ela veio Ningu m vem e dizem que porque n o podem pagar passagem Meu Deus do c u Aristeu o que que eu fiz pra os meus parentes n o gostar d eu O Elizeu tem vintiano vintiano Ele nem passa aqui passa direto pela rua de l Liga pros amigos pra n is ele nem liga Nem parece que fui eu que criei ele T certo t certo voc precisa das mesma coisas que eu Eu n o t te contrariando T te contando Pra voc n o dizer que n o sabia Acontece que j faz dia Sabe bem quanto a presta o por m s T d mais duas semana Fico aguardando por enquanto seg
121. se que trazia os filhos pra escola para que eles recebessem um pouco de carinho e educa o porque se for para serem agredidas ela mesma j faz isso em casa Dois de comprido e um de cada lado formam uma cruz Donos do calv rio pr prio Incomodam meu olhar Mas tem gente que passa e nem se d o trabalho de notar os mendigos cruzes dormindo na cal ada N o quero mais ver esses filhos da desgra a humana e social Que culpa tenho eu que nem conhe o a puta que os pariu Tenho pena dos cachorros e gatos de rua mas s deles Ser que isso faz de mim uma m pessoa O que diriam de mim se soubessem que eu acredito que eles j morreram Se estivessem vivos n o estariam fedendo tanto Sigo calada n o estou nem a queria n o estar nem aqui os mendigos est o em toda parte Mesmo quando eu canto nenhum mal eu espanto N o tem coitadinho e nem pobrezinho N o fazem muito esfor o pra se ajustar Querem lazer dinheiro e viagem Querem e n o podem ent o caem na vadiagem No in cio tudo festa desobedi ncia rebeldia Depois trocam a noite pelo dia Dormem o dia inteiro e noite saem pelo mundo buscando droga e dinheiro pra comprar mais droga Depois de um tempo tanta faz N o ouvem m es n o ouvem pais abandonam a escola e ainda fazem cara de coitados quando est o pedindo esmola Por n o se ajustarem a uma rotina e as regras de conviv ncia passam a viver e a dormir na cal ada Dormem quando e o quanto der von
122. sem avisar O v rus que se fazia de morto faz sua apari o mostra a que veio e o que levar Compram len is usados nas lojas de roupas usadas e nunca exigem um certificado atestando que n o era len ol de cobrir morto Gente pensa que por ser humano diferente Ningu m tem medo de vaca morta ou de ser contagiado pela morte quando coloca uma garfada de bife pra dentro Mas o fato que um homem morreu Morte banal ningu m se interessou em guardar o len ol que cobriu seu corpo pra sud rio Morreu pelo desenvolvimento Morreu porque sua hora chegou Morreu por seu sal rio Tem pobre que pra ganhar um dinheirinho cria passarinho proibido mas d se um jeitinho E a pobre ararinha Chegou no pet shop e foi rejeitada Tinha as asas cortadas N o basta ser uma ararinha tem que estar inteira pra ter algum valor A mulher que teve a perna amputada passou pedindo t nis caso tenha algum que veio sem o par Sabe como tudo pode ser aproveitado ela disse sem gra a e sem uma das pernas A professora descontrolada na festa do dia das crian as gritava Merda isso o que voc s s o merda e mais nada Nem dia das crian as voc s merecem A m e ouviu e foi tirar satisfa o E a professora na defensiva voc sabe que eu tenho raz o Nem as m es aguentam mais essa crian ada sem educa o e sem pai Sou ser humano e cometo erros n o aguento mais tanta press o e a m e raivosa foi embora arrastando os filhos Dis
123. ste falta de criatividade e falta de capacidade para o desempenho de atividades mais espiritualizadas Para resolver essa quest o j est o sendo gerados gurus de ultima gera o todos ensinando o segredo Demagogia uma velha arte conquistando novos adeptos Eu queria ser como o Eduardo Galeano Mas ele ele eu sou eu e tenho que viver com o pouco potencial que me coube na loteria gen tica do mundo O que temos em comum que nascemos abaixo da linha do equador No trem no nibus e na vala comum sempre cabe mais um viva a sociedade reprodutiva Cuidado com o espa o entre o trem e a plataforma sendo este o nico espa o existente na esta o ele deve ser preservado E aquele calor E aquele odor E aquele horror E aquele medo de desmaio Meu Deus caio ou n o caio Me ajude Ningu m D aquele medo de soltar a m o D aquele medo de cair no ch o Mas esse n o o perigo o perigo ser pisoteado Medo em v o j que no ch o do vag o n o h espa o pra se cair deitado Tem dias que na esta o o trem n o para Passa por j estar muito lotado Passa bem r pido com medo que o povo mais aflito se agarre nas janelas e viaje dependurado Dependurado contra a lei Esmagado n o Cuidado com o espa o entre o trem e a plataforma No v o entre o trem e a plataforma a resid ncia de muitos ratos Eles precisam ser poupados Eu tenho a Bianca uma gatinha preta e gosto muito dela porque ela n o pensa em nada Nunca
124. ste umas por baixo das outras e s depois percebo que a roupa desapareceu O que gosta de uma pe a diz que s tem metade do valor e acaba levando porque estou precisando do dinheiro pra pagar aluguel e outras contas vizinhos que muitas vezes compram fiado e n o pagam ou acabam trazendo sacolas cheias de trapos em vez de dinheiro e se eu n o aceitar fico sem receber e ainda sem os trapos os que v m com sacolas cheias de trapos pra trocar por pe as melhores e mesmo sem querer acabo trocando porque n o quero me indispor com a vizinhan a m es que chegam olham tudo n o compram nada mas enfiam um monte de pe as dentro do carrinho do beb Furtar faz parte do trabalho delas j que t m que cuidar dos filhos e n o podem nem querem trabalhar E tem os que roubam meu tempo minha energia minha paci ncia e al m de n o comprarem nada me esgotam e me deixam enojada Os que compram pagam n o roubam nem devolvem depois de usarem s o quase inexistentes No fim mal pago as contas e n o me sobra nada Mudar de vida como se n o h dinheiro nem pra pagar o carro da mudan a Outra senhora me vendeu um monte de velharia e ficou de passar para receber dentro de alguns dias O filho dela veio entreguei lhe o dinheiro um dia depois a tal senhora apareceu Falei que o filho dela j tinha vindo buscar o dinheiro ela come ou a chorar e disse que o filho com certeza tinha usado o dinheiro pra se drogar Como viver sossegado onde
125. t seus esconderijos rasgam as sacolas e come am a inventariar o achado uma latinha para um um copinho para outro Os mur deos t m senso de partilha e o fazem amigavelmente M os sujas levadas boca com pauzinhos tentam retirar o resto da maionese do vidro N o suportei e indignada por ter a minha privacidade invadida Fui at l chamei a m e ratazana de esgoto suja desdentada gr vida e cinzenta Expliquei que ela n o podia permitir que fizessem aquilo que era por aquela raz o que estavam cheios de vermes e feridas Disse que estava decepcionada porque tinha dado a eles as coisas que sobravam e os ajudava a encontrar livros e revistas para usarem na escola Chorei e disse que nunca mais falaria com eles a n o ser que juntassem o lixo e o devolvessem onde haviam pegado Eles imediatamente fizeram o que eu sugeri S que desde ent o eu fiquei t o horrorizada que nem abro mais as portas e janelas da minha casa As poucas vezes que fiz isso eles vieram correndo Podemos falar com a senhora Invariavelmente era para pedir coisas Diziam que s queriam me visitar e n o iriam mexer em nada S que eu n o acredito mais neles A impress o que eu tenho que com seus dentes salientes e irregulares os mur deos s o capazes de roer tudo Inclusive j roeram at o que havia de humano e sens vel em mim N o sei bem porque mas eu j n o os vejo como crian as esfomeadas Para mim eles s o ratos pestilentos transmissores de doen a
126. tade Podem desfrutar de liberdade sem fam lia para perturb los Sem responsabilidade sem contas pra pagar Sem hor rios a cumprir sem h bitos higi nicos a seguir Assim que pelo menos cinquenta por cento dos dependentes qu micos passam a poluir o visual da cidade que por causa da pobreza da sujeira do encardume e da maldade j bastante feia Os outros ficam em casa incomodando ou v o para alguma institui o L gica na droga n o tem nem salva o Dir o que gente rica tamb m usa droga por divers o Esses eu nunca vi nem sei se existem ou n o Sei de drogados roubando e ferindo Sei de drogados dormindo e urinando no cal ad o Sei de drogados que infernizam a fam lia e de tanto perturbar acabam sem ter mais com quem contar Sei dos que para usar drogas viram ladr es Sei de alucinados com dentes podres sujos p lidos sussurrando palavras inintelig veis Sei dos que pedem dinheiro com cara de v tima como se fossem dignos de receber doa o Sei dos que se tornaram insetos os Gregor Sansa de hoje em dia que passam a vida em casa vegetando e incomodando a fam lia Sei dos mortos vivos escravos da droga sem salva o Sei dos que ficam dando preju zo internados em institui es Sei dos que vem no brech vender roupas do pr prio corpo roupas dos vizinhos dos pais dos irm os Sei dos que consumiram tanta droga por tanto tempo que acabaram surtando e que agora ostentam o diagn stico de psic tico
127. te s gangues s o constitu das e denominadas de acordo com certos preceitos e padr es comportamentais a seguir descritos Baseadas na extens o da rea que controlam denominam se multinacionais companhias S A e Grupo seguido de um nome fantasia ou sobrenome importante T m como finalidade o com rcio e a expans o patrimonial Visam o lucro n o importa a que custo Exploram pessoas animais solo subsolo guas camadas atmosf ricas presente passado e futuro das gera es O mundo lhes deve dinheiro e apoio Tais gangues se alastraram e se enraizaram de tal forma que na es inteiras passam a depender da presen a delas em seus territ rios para realizar trocas vantajosas com as gangues locais Isso constitui um paradoxo mas o estudo do paradoxo fun o de uma outra gangue Baseadas na atividade que desempenham ou deveriam desempenhar Estas usam siglas em vez de nomes expl citos Exemplos partidos pol ticos organiza es internacionais alian as e uni es S o criadas e geridas para durar por toda a eternidade A Justificativa que elas tiveram para se organizarem era a preocupa o com o futuro da na o Uma vez no poder seus membros optaram por viagens a lugares ex ticos hist ricos ou simplesmente luxuosos para celebrarem a si pr prios e a seus grandes feitos nunca especificados Desvirtuadas tais gangues desprezam seus estatutos e normas de condutas mas recorrerem a tais documentos com o intuito de se defender
128. ti fun es que deixava a pessoa unilateral Uma pessoa que usava o macac o multi fun es s conseguia caminhar se carregasse cama de a o nas costas O macac o tamb m servia para conter impulsos e para proteger quem o estava usando de si mesmo O ruim que ele n o protegia da f ria nem dos impulsos dos outros teve um que morreu na Col nia por que estava usando o macac o e foi sufocado por dois vingativos que j o conheciam de outras Col nias Voc meu amigo de cela meu irm o camarada amigo de tantas fugas e tantas paradas parece a m sica do Roberto Carlos Tamb m serviam sandu ches de p o com carne mo da pra quem estava esperando na fila enquanto o m rito de quem iria para os leitos e quem n o iria era julgado Alguns desistiam de esperar catavam a bolsa da m e desavisada de outro concorrente e sumia Preferia satisfazer suas necessidades vitais imediatas de lcool e ou drogas e pronto em vez de ser pronto socorrido na Col nia Quem que ia trocar uma cheirada certa por um leito duvidoso Depois n o adiantava chorar o leito cancelado O uniforme do pessoal que trabalhava nas Col nias tamb m poderia figurar em comercial de sab o em p O antes ainda na Col nia e depois no varal d f brica da OMO Tudo muito trash mas o pessoal voltava para a Curva admirado com a organiza o e com o verde das Col nias Outra coisa admir vel era que no banheiro da Col nia tinha papel higi nico para os visitantes N o era
129. trinta reais Ele teria que comprar vale transporte cigarro e comida Censurou o por ter gasto dinheiro indo ao motel sem ter condi es Ele disse que comida n o teria que comprar levava o almo o para o trabalho todos dias Ele foi trabalhar ela passou em casa para se trocar e tamb m foi noite ele passou para v la estava cansado e com fome A comida que ele tinha ido buscar na casa da m e antes de irem ao motel tinha estragado No quarto mais em conta do motel n o havia frigobar e ele tinha esquecido se de pedir para a mo a da portaria guardar a marmita na geladeira O almo o tinha passado a noite na mochila Logo ficaram sabendo que naquela noite sensacional tinham feito um filho Mas tamb m tem hist ria assustadora na Curva e d tanto medo que n o d nem vontade de sair na rua nem de ficar em casa nem de morrer por que os mortos est o tendo o t mulo depredado buscam algo de valor nem que seja o caix o para revender Tem gente que ainda ousa querer que a reencarna o seja um fato ver dico Ver dicos s o os perigos de ser morto ou vivo Mas ai passou a seca veio a chuvarada a chuva lavou a rua e as casas empoeiradas No come o foi bom da veio inunda o e n o veio de brincadeira nem os porquinhos com casa de tijolo conseguiram se safar Como os temporais s o N o como os temporais eram Era se o tempo dos deuses punitivos trov es Dos deuses lutando rel mpagos Dos deuses chorando chuva
130. ue nem para na parada e o povo fica l com as m os para o alto indigna o Vila dos Rem dios Vila Nova Assun o Vila Uni o Vila S o Jo o No fundo tudo Curva com outra denomina o A Curva n o tem fim tem sucess o de desgra as Tem um territ rio que s tende a aumentar Tem uma popula o que por mais que morra nunca para de nascer Para cada dez que consegue sair tem mil se acampando por aqui em car ter definitivo e na maioria das vezes s o seres sem car ter nenhum Bati bati e bati e pela primeira vez na vida coloquei um bolo na forma sem ter certeza de que ele ficaria bom Na verdade antes eu nunca tinha pensado se o bolo ia sair bom ou ruim era um tipo de certeza inconsciente Como essa de que a chuva vai passar e de que o sol vai se por n o vai desaparecer pra sempre Mas ai de repente olho pra massa e ela est meio opaca penso se ainda terei tempo de corrigir o mal e digo bolo eu te amo me desculpa pela agress o por causa da situa o tanta viol ncia que eu vejo na rua e vi na televis o que acabei me descontrolando Por favor cres a e me de uma prova de que algumas coisas terminam bem T o cedo da manh e eu espancando um bolo inocente que fui dormir pensando nos meninos perdidos que eu vi ontem por toda parte L vai o filho da m e Obrigada por nada m e querida Esses meninos de cal as frouxas e armas firmes na m o t o certo que uns v o morrer outros ir o pra cadeia
131. ue nem se sente incomodado pelo fato de estar vendendo bebida alco lica para crian as f cil Dif cil encontrar uma cura para o alcoolismo Quem se importa Desde que n o fiquem ca dos na minha porta Brindam ignor ncia e autodestrui o Agora que ningu m mais tem medo de Deus ningu m se d ao trabalho de pedir perd o sobra muito mais tempo pra se dedicar viol ncia e pilantragem Minha contribui o para a humanidade ser um fim em mim mesma Digo n o procria o E a todos os la os que tendem a virar amarras roubam qualquer coisa bebem qualquer trago pedem dinheiro sem cerim nia com se tivessem nascido pra essa fun o exigem que os donos dos carros paguem para n o terem seus carros arranhados fumam tocos de cigarro achados no ch o geram medo e causam estrago meninos e meninas malcheirosos rolam pelas cal adas exigindo dinheiro para comprar algo que possam cheirar Aqui os sentidos mais desenvolvidos s o o do olfato e o da priva o N o me surpreende se os pr ximos humanos passarem a nascer com narizes enormes Narizes que certamente ser o usados para captar oxig nio em meio s multid es e para cheirar tudo o que n o seja flor e cause algum tipo de torpor Estudar pra que Tem muito mais coisas interessantes e mais teis para se fazer Lista de conhecimentos muito valorizados na Curva cultivo de ervas daninhas danosas e danadas confec o de artefato
132. ue precisam entrar e simultaneamente entre os que querem entrar e est o com medo de n o conseguir e os que est o dentro e t m medo de n o conseguir sair S vendo pra acreditar j caiu at crian a no v o A m e gritava e esperneava em v o Quem manda transportar crian a fora da caixa O povo acha natural Parto cesariana Parto f rceps Parto normal Celebram a entrada das crian as no mundo A o n o muito f cil de realizar j que precisam passar por um v o bem menor do que o que existe entre o trem e a plataforma Passagem muito celebrada tal proeza condena o passageiro a uma vida de constrangimentos na terra O espa o entre o trem e a plataforma pode significar morte Ou o fim da expectativa de ficar vagando de vag o lotado em vag o lotado pelas linhas de trem espalhadas pela terra A outra op o o nibus s que enche ainda mais r pido e sacode ainda mais tudo tortura como se viver fosse uma guerra Salva se quem guerrear mais Salva se quem n o tem que ir todo dia lutar por um espa o no vag o E teve mais um grito ladr o ladr o N o adiantou Uma segunda tentativa fogo fogo Dessa vez todo mundo ficou em alerta Desde a descoberta do fogo que todos t m estado empenhados em manter o fogo aceso mas ao se depararem com fogo se cagam de medo Ao grito de fogo todos correm Uns tentando salvar Outros tentando se manter salvo Menos os bombeiros que eles j est o acostumados com alarme de
133. um novo jardim Pensavam que a periferia tinha chagado ao fim mas n o Ainda tinha muito ch o um tal de pobre empurrando mais pobres ainda pra mais um novo jardim para uma esta o al m A linha do trem t o longa e a linha da vida t o t nue A linha da lida faz pontos e paradas em tantas zonas plataformas esta es e terminais que j nem d pra contar mais Termina mesmo o espa o tudo coberto de multid o vagando sem fim O come o ningu m v nem quem est l de madrugada Os olhos cegos de sono Muitos andam por l dormindo outros l cidos demais pra suportar a vis o de todo aquela multid o de gente sem import ncia Nem sossego Agora tem at incentivo para as pessoas esvaziarem suas casas antes das 5 00 da manh A linha de transporte metropolitano concede 25 centavos de descontos no valor da passagem E n o que funciona Por ser mais barato pessoas vagam feito baratas tontas e se acumulam na plataforma as cinco da manh com o objetivo de economizar 25 centavos a mais por dia Foi ai que surgiu a express o tempo dinheiro Venda duas horas do seu sono favorito e ganhe 25 centavos Seja inteligente dormir faz muito mal carteira e muito bem a quem n o passa sono nem fome nem mal em congestionamentos de linhas filas e catracas do terminal Cinco da manh terminal gelado homens e pombos encorujados Mais tarde um ataque de sinceridade o sistema de autofalantes do trem come a a cuspir escarrar e d
134. uro as ponta Duas semana e eu quero o dinheiro na conta T ok T ok Um abra o pra voc No orelh o a vida continua minha orelha quente Isso o que da ficar na porta da rua Tudo o que acontece aqui ele diz que minha culpa Ningu m tem culpa de nada Mais quando ele me humilha pior por que c sabe que pra cuida de crian a a gente tem que t de bem com a vida voc sabe que ando deprimida Cuida de crian a gasta dinheiro e gasta a gente tamb m E ainda fica a parentada colocando o dedo na ferida Se eu pudesse aluga nem que fosse s uma pe a Eu me mudava sumia daqui Levava as crian a que eles n o tem culpa de nada Mais tanta roupa pra lava Um homem morreu Enquanto trabalhava na duplica o da estrada Morreu pelo desenvolvimento Morreu por um m nimo sal rio Salvou se do constrangimento de viver na mis ria O len ol usado para cobrir o corpo Continua l contrastando com a terra vermelha rec m escavada Morreu escavando Vai pra cova Terra vermelha e mais nada Quem morre de repente n o se sente com o p na cova Ningu m se atreveu a pegar o len ol e levar pra casa Ningu m quis cobrir seu pr prio corpo com o len ol do morto Como se a morte contagiasse e fosse transmitida de um pro outro Mais n o assim n o a morte j foi transmitida no momento da fecunda o como um v rus que fica inoculado e s se manifesta quando surgem as condi es apropriadas Um dia
135. us lotados das periferias mil N o tem povo gentil n o tem nada gigante pela pr pria natureza N o tem beleza varonil Tem agressividade maldade e do nada pisam no teu rabo catam suas coisas e te mandam pra puta que o pariu S existem tr s tipos de gente os assustados os assustadores e os que s o uma combina o de ambos Acho que sei por que a cegueira t o comum nesses dias Hoje sa de casa para o mundo cinza escuro e num canto da Curva v rios corpos enrolados em cobertores de texturas e cores indefinidas habitavam o que chamamos de espa o p blico que nada mais que a privada deles Alguns dormiam um se masturbava as pessoas constrangidas viravam o rosto Fingiam que n o olhavam No ch o da parada de nibus uma enorme bosta obviamente humana fedia Resolvi ir at pr xima parada de nibus e l havia tr s galinhas mortas e tocos de velas Pobres galinhas morrendo por uma causa t o in til Senti dor nos meus olhos Porque que as almas daqui iam querer janelas Melhor n o ver nada nunca mais Mesmo com toda a mis ria da Curva ningu m capaz de comer galinha oferecida em ritual com medo de passar mal quer dizer passar pior exceto alguns funestos ou funestadores e os urubus que j estavam dando voltinhas eles eram as nicas criaturas alegres na manh escura Os urubus s o bem relevantes e sem idiossincrasias S o o que s o comem carni a e pronto vivem a sua condi o e n o andam se drogando Nem fin
136. usando rel gios caros bolsas caras culos caros carros caros fones de ouvido e outras iguarias agrad veis ao paladar dos ladr es mais exigentes e dos receptadores mais discretos e competentes Vamos ali d um rol e roubar um rolex gente ca ando gente e isso n o bonito Eu j n o gostava de hist ria de gente ca ando bicho Mais tive que aceitar que o mundo o que N o depende da minha aprova o para existir nem eu mesma dependo da minha aprova o para existir pobre engolindo pobre ladr o saindo pelo ladr o a igreja dando b n os e cem anos de perd o Tudo de ruim que acontece n o pede autoriza o para acontecer Nas esferas mais esf ricas do poder contrata se estrategistas para elaborar projetos de cat strofes de mbito nacional a serem desencadeadas em momentos precisos e com isso desviar a aten o do povo Estes preciosos momentos s o chamados de trag dias orquestradas Todo in cio de ano tem foguet rio uma arte muito utilizada a servi o do Poder de Fogo Os fogos de artif cio promovem alegria artificial e passageira Enquanto o povo fica olhando as luzes e explos es no c u os ladr es se divertem na escurid o da terra e passam desapercebidos Trata se da evolu o tecnol gica do conceito de p o e circo O mundo da magia Dinheiro vira fuma a bem na frente dos olhos da multid o que aplaude hipnotizada tanta celebra o Todo mundo quer festa e n o t nem ai pras causas e
137. va Col nia penal Col nia psiqui trica S o Col nias de todos os tipos para todos os tipos Na Col nia psiqui trica os permanentes usavam um macac o bem original s tinha a parte da frente nem sei por que tinha bolso pois as m os assim como as pernas a cintura e o pesco o ficavam amarrados pelas v rias tiras que saiam do macac o Amarravam bem apertado t o apertado que a pessoa ficava unidimensional ruim por que j estamos na era 3D e bom por que elimina o conflito entre lados opostos e impulsos bipolares Muita gente da Curva acabava se encontrando nas Col nias por acaso e todos se atualizavam sobre novos m dicos novos seguran as dias de visita visto de perman ncia e assim por diante Haviam alguns que tinham tudo para virarem permanentes mas por n o agirem de acordo com o script eram repatriados no mesmo dia Na Col nia a coisa mais normal era ser anormal Surto era o que se esperava Bater na m e e xingar o pai de velho brocha tamb m fazia parte e ajudava na obten o do visto de perman ncia Mas o esfor o compensava A pessoa podia ficar na Col nia por tempo indeterminado comendo cinco refei es ao dia e colhendo frutas no pomar Para isso era preciso atuar de acordo com o DSM em vig ncia Saber se comportar como a menina do filme o exorcista era um dos requisitos Um que chegou l todo de branco e com mania de tomar banho foi logo rotulado de compulsivo por limpeza e encaminhado ao programa de reeduca
138. ve ser febre preciso comprar mais aspirina na farm cia N o todo dia que se ganha mas todo dia preciso gastar na farm cia no mercado ou no bar Entre os legalmente constitu dos farm cias mercados e bares s o os neg cios mais promissores na Curva Teoricamente para vestir os pobres qualquer coisa serviria desde que servisse mas n o assim que funciona existe muita exig ncia negocia o e sonho de consumo envolvido A roupa tem que ser da moda da esta o de agora ou de algumas atr s Nesse momento n o est o comprando nada cinza vermelho ou bege Mas se estas forem s cores da moda na pr xima esta o as pe as at ent o rejeitadas ser o as mais procuradas Aqui na Curva as curvas tamb m desaparecem e a reclama o diante do espelho emba ado geral Mesmo quem n o tem nada n o quer ter um corpo gordo Papo de vendedora Imagina ningu m aqui vai ser modelo mesmo o bom que podemos comer a vontade Tem gente que prefere ser vendedora de qualquer coisa ganhar comiss o n o conseguir cumprir metas e coisa e tal s pra n o ter que ser empregada dom stica e com isso cair de posi o social Cair na real cair da real queda queda Mas h t o pouco a se fazer para emagrecer Comida de pobre cal rica e na maioria das vezes o nico prazer que se tem Come se por que o dinheiro s d pra comprar comida Come se por frustra o Come se por divers o Come se por car ncia Come se por autopuni
139. vestir no visual Fazer muitos cursos Quanto mais caros mais valem preciso fazer esfor os que possam ser mencionadas como diferenciais numa autobiografia resumida denominada curr culo Nessa autobiografia tudo o que n o for considerado positivo deve ser omitido Fome piolho sarna caspa dentadura despejo carrapato barata espelho quebrado feij o com farinha a semana inteira v o para a pasta das informa es suprimidas pelo inconsciente individual e coletivo O problema que o que positivo um mist rio que surgiu na revolu o industrial e ainda n o foi desvendado As p ginas da sua vida devem ser digitadas e impressas Cartas de pr prio punho escrita em papel de embrulho nem passam pela sele o feita na portaria Curr culo assim cada um tem o seu s o que eu posso dizer sobre esse assunto Nosso curr culo ser levado por n s mesmos ou pelo correio para conhecer o setor corporativo e descobrir que o mundo est cheio de outros curr culos Alguns bem mais atraentes que o nosso Todos participar o de uma festa chamada dan a das cadeiras Se chegar a vez de sentar e a pessoa n o conseguir banco ela est fora Mas isso outra parte dessa mesma hist ria Para onde v o as almas dos curr culos rejeitados e de todas as rvores mortas no processo de imprimir e de causar uma boa impress o Para o purgat rio O purgat rio constitu do de gavetas escuras cheias de caros tra as e fungos Outros ir o
140. vou logo avisando que os dogs n o t m nada a ver com isso Ironicamente tocava chove chuva e choveu mesmo A velha da Curva sem guarda chuva correu e acabou caindo e se machucando toda Mesmo quebrada fazia bolinho de chuva pra encher a barriga dos netos que comem comem e n o dormem porque querem brincar e gastar a energia pra dali uma hora ficar esfomeada de novo e comer mais bolinho de chuva enquanto a chuva n o passa pra voltarem pros barracos com os pais Isso quem tem pai quem n o tem fica no barraco da av Da a chuva passou e continuou a festa na Curva Muitas promo es de ver o na Curva Biqu nis usados pe as avulsas sa das de praia Loja de roupa de surfista d lucro na Curva mesmo sem nunca ter visto o mar Maresia Surfa se outras ondas em outras pistas Pode ser na pista da direita se da esquerda estiver interditada Sempre tem quem interdita alguma coisa pra mostrar pra popula o que a vida n o f cil e que as passagens tanto pro c u quanto pro inferno s o estreitas Largas mesmo s s bermudas de surfista Estreitas s o as ruas por onde os nibus passam e as mentalidades curvenses Acontece que a Bruna Surfistinha o dolo da juventude aqui na Curva Se ao inv s de Bruna Surfistinha idolatr ssemos algu m com o nome de Bruna Brejinho Ter amos a moda Brejista Todo mundo quer imitar as celebridades Acham que com isso ter o mais vantagens nos games da vida A garotada ignora a realidade e a brechol n
141. xad o Quando vi aquele corte imenso a carne exposta pela primeira vez na vida quis ter o poder de fazer milagres e fechar aquele buraco com uma ora o Perguntei voc estava distra da Ela respondeu n o eu estava com raiva e prosseguiu me contando suas mil e uma raz es pra odiar sempre E a dor do corte era tanta Que a voz dela quase sumia O sangue escorria Ela cada vez mais amarela se agarrava em mim Senti medo e fugi Oi mo a vim aqui te propor um neg cio o que voc acha de me dar algumas roupas em troca desse abacaxi Oi mo a a pessoa pode entrar mesmo sem ter dinheiro pra comprar Eu s vou dar uma olhadinha tenho dinheiro aqui mas pra comprar arroz e batatinha T cansada de comer s macarr o Penso o que que eu posso fazer com toda essa informa o nada rent vel para mim Voc n o liga n o de eu olhar Minha m e agora n o d mais conta de pagar as contas quem ajudava ela era meu irm o de dezessete anos que trabalhava mas da mataram ele ali perto do terminal Minha m e quase morreu ainda t muito mal Mataram por bobeira Briga de inf ncia Os caras da gangue das peruanas chegaram cumprimentaram ele e disseram lembra daquele dia que a gente brigou Meu irm o disse cara foi h muito tempo j passou E eles passou nada vamos te mata a paulada E mataram Na frente da namorada A namorada estava gr vida Coitada teve a crian a sozinha agora fica em casa cuida
142. xcedente de material n s produzimos excesso de pessoal O meu primo um favelado do bem foi dispensado do servi o militar por excesso de contingente Gente mais gente mais gente gera sobra de contingente Dai a gente tem que aprender a decidir o que n o fazer e pronto Ou ir fazer ponto Pronto socorro Pronto desatendimento Prontamente lamento Pronto pra desistir Pronto para ser exclu do da cesta b sica do mundo Ningu m precisa de voc Sua insignific ncia toda sua Conheci um Americano que disse que o pinto dele endurecia assim que ele cruzava a linha do equador O planeta inteiro quer participar das orgias tropicais Mais um homem na cal ada mais isso n o nada Tem gente que gosta Acha que pelo fato de n o estar deitado na cal ada est em melhor situa o n o entende que n o preciso estar deitado na rua pra ter chegado ao fim da picada Tem gente que dorme em p em nibus lotados e se acha privilegiado ao ver o mendigo folgado fumando um cigarro deitado e contemplando a imensid o do c u Ningu m vai pisar no p dele e ele nem vai ser esmagado pelo pov o apressado saindo de um nibus e correndo para pegar o outro Os nibus que levam os passageiros at perto de suas casas e pegam outros para trazerem at o terminal s o pomposamente conhecidos como alimentadores da regi o Tem nibus pra todo lugar pombal s tio lotado campo espremido novo mundo expresso curvense O ligeirinho de t o r pido q

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