Home

cortina_a_ld_arafcl

1. Os livros das categorias de mem ria e didatismo hist rico filos fico Olga Esta o Carandiru O mundo de Sofia e A viagem do descobrimento discutem respectivamente a persegui o aos judeus pelo regime nazista alem o durante a Segunda Grande Guerra a condi o de vida dos presidi rios do Carandiru em S o Paulo a recomposi o did tica da hist ria da filosofia do mundo Ocidental e uma vers o do descobrimento do Brasil que contradiz a que considerou a descoberta um acaso Portanto o que se conclui que o leitor brasileiro volta se para esse tipo de leitura modalizado pelo querer saber Por outro lado o que os leitores buscam nos livros das categorias de a o e intriga humor e fantasia refere se a um saber que n o da ordem da aquisi o de conhecimento mas sim ao de uma realidade distinta daquela em que vivem portanto um deslocamento do tempo real para o da imagina o Dentre os livros da categoria de auto ajuda o que se identifica uma subdivis o das 17 obras em subcategorias assim denominadas autoconhecimento misticismo e esoterismo individualidade e sexualidade mundo dos neg cios e cren as que em termos percentuais podem ser assim representadas 44 Subcategoriza o dos livros de auto ajuda 8 1 be ii 15 O 23 Autoconhecimento m Misticismo e esoterismo o Individualidade e sexualidade O Mundo dos neg cios m Cren as Autoconhecimento
2. 195 sabiam mais ou menos do que se tratava leitura sobre o poder do pensamento positivo e autoconhecimento o que assistimos hoje a uma profus o de temas que se desenvolvem sob o amplo arcabou o da auto ajuda e invade todas as esferas da vida Por isso falo em fen meno maior p 184 Essa proposta da autora ap ia se principalmente num princ pio sociol gico para abordar a quest o da auto ajuda mas se transpusermos sua constata o para o campo da an lise de discurso identificaremos que o que ela chama de fen meno da auto ajuda na verdade a constru o de um estilo textual pois o que se verifica nos livros mais vendidos atualmente que esse estilo manifesta se nas mais diferentes formas textuais abordando sempre tem ticas voltadas para os interesses individuais Brunelli 2004 desenvolve um estudo sobre a auto ajuda com o objetivo de identificar por meio da abordagem te rica da An lise do Discurso francesa os tra os sem nticos que definem o discurso de auto ajuda Alegando eleger apenas autores que escrevem em l ngua portuguesa para n o ter que discutir problemas de tradu o o que n o seu prop sito cita oito obras de autores de auto ajuda em sua bibliografia sem explicitar um crit rio de sele o dessas obras No corpo do trabalho por m examina mais detidamente duas delas O sucesso n o ocorre por acaso de Lair Ribeiro e Parab ns pela decis o de ser feliz a busca do ser de Luiz Ricardino
3. dessa forma por exemplo que Toffler a que nos referimos anteriormente ir pensar a pol tica econ mica da terceira onda A forma de inscri o na l gica da produ o e do consumo realiza se pelas a es de sujeitos individuais e o sistema capitalista n o visto como uma opera o econ mica a que est o agregadas id ias e valores Essa mesma vis o da realidade pode ser percebida ainda em outros textos que aparecem no corpus desta pesquisa com destaque para Iacocca e Novak 1985 Semler 1988 e Kiyosaki e Lechter 2000 que abordam diretamente a quest o do mundo dos neg cios O livro de Kiyosaki e Lechter 2000 como mostrei nos cap tulos anteriores funciona como um manual cuja fun o ensinar o jovem a fazer dinheiro por si mesmo sendo criativo e competente na maneira como interage com as regras do mercado Ao criticar a postura das universidades que deixam de refletir sobre os problemas prementes da sociedade contempor nea Chau 2001 em seu ensaio USP 94 a terceira funda o ir afirmar a perspectiva irracionalista da vis o p s moderna 185 A ideologia p s moderna declara o fim da modernidade ou da raz o moderna posta agora como mito iluminista etnoc ntrico repressivo e totalit rio Ao faz lo instaura a c lebre crise dos paradigmas cient ficos Fala se numa crise da raz o resum vel em alguns aspectos principais 1 nega o da exist ncia de uma esfera da objetividad
4. mas a Insustent vel leveza do ser em alguns passos parece obra de um Bukovski recheado de metaf sica alem Religi o a metaf sica das massas metaf sica a religi o dos pensadores dixit Spinoza L se at Kundera com sofr vel e relativo agrado mormente se tivermos ingerido algumas providenciais garrafas de cerveja mas ele n o chega a ro ar a sola dos p s de um Robert Walser inexplicavelmente intraduzido entre n s de um Arno Schimdt agudo demais para nosso paladar cr nico de um Gunter Grass j digerido cinematograficamente mas de p ginas osso duro de roer ou do citado Elias Canetti prosador soberbo A discuss o sobre o que um best seller e a influ ncia das editoras no mercado de livros parece contaminar todo o jornal Al m de reportagens que analisam as vendas das principais editoras do pa s na maioria instaladas no eixo Rio S o Paulo do sucesso de alguns livros e da pr pria pol mica em torno do tcheco Milan Kundera acima mostrada reflete essa preocupa o do jornal Na verdade poder se ia at pensar que o caso dos leitores que falam de Kundera seria at uma estrat gia do pr prio jornal para fomentar o debate entre leitores mas essa uma quest o que n o acredito ter grande import ncia O fato que o Leia estava imbu do desse esp rito cr tico sobre a literatura produzida no Brasil sobre seus leitores e sobre o trabalho das editoras Por essas raz es que no n 103 do Le
5. As explica es apresentadas pelo jornal para a mudan a do crit rio parecem assentadas na discuss o sobre a dificuldade de se estabelecer uma fronteira entre o que se deve classificar como livro de fic o e o que se deve chamar de n o fic o mas na pr tica ela conserva e divis o anterior pois o n mero de livros elencados passa a ser vinte e n o dez Na verdade essa divis o entre fic o e n o fic o mais problem tica como o pr prio texto do jornal aponta quando o livro considerado mem ria ou depoimento pessoal Por esse motivo Feliz ano velho de Marcelo Rubens Paiva e Ba de ossos de Pedro Nava por exemplo apareceram sempre na coluna II a dos livros de n o fic o A refer ncia expl cita ent o revista Lire francesa a que me reportei no in cio um ndice inequ voco das fontes de inspira o do Leia Isso se confirma tamb m pelo fato de que seis n meros mais tarde a partir do 124 o Leia assume o formato de revista e n o mais de jornal tabl ide S n o posso confirmar que a revista francesa publicava uma lista de vinte livros mais vendidos porque n o tenho esse dado relativo ao ano de 1988 mas os 16 n meros de 2001 e 2002 que adquiri na Fran a n o apresentam nenhuma lista de livros mais vendidos Uma ltima altera o ocorre no n mero 133 da ent o revista Leia de novembro de 1989 A partir desse n mero depois de apresentados os vinte livros mais vendidos no m s apa
6. O livro defende a moderniza o e o incremento tecnol gico da sociedade francesa Russell em Crimes de guerra do Vietn apresenta um relato da viol ncia da guerra do Vietn 1964 1975 Fazendo uma recupera o do contexto s cio hist rico da sociedade vietnamita inicialmente colonizada pelos franceses que a exploram e reprimem todas suas tentativas de liberta o o autor vai mostrar como o ex rcito norte americano foi respons vel pela barb rie e pela destrui o em massa de seu povo e de sua hist ria No pref cio de seu livro Russell afirma o seguinte O fato fundamental que eu desejo demonstrar aqui que os Estados Unidos s o respons veis pela guerra do Vietn Esta verdade elementar essencial a uma m nima compreens o desta guerra cruel Para entender a guerra temos de entender a Am rica embora isto n o signifique que ignoremos a hist ria do povo 106 vietnamita A cultura vietnamita rica e vem de tempos antigos Lendas orais perpetuam tradi es her icas sobretudo as que mostram a repulsa anterior China feudal Mas o movimento da Hist ria cada vez mais r pido tal que o Vietn atual est menos preso a sua heran a primitiva que a sua situa o no momento Os ltimos cem anos da vida nacional do Vietn trouxeram no ao cen rio internacional Para compreendermos o Vietn e a agonia de sua luta temos de v lo dentro da constela o de for as anticolonialistas que est o transforman
7. o apropriada e arbitr ria Segundo Greimas amp Cout s s d o procedimento de denomina o que consiste na convers o de uma formula o verbal e sint xica em uma express o nominal e taxion mica tem por efeito transformar por condensa o os dois predicados em um s valor modal p 1177 Na modaliza o do dever sobre o fazer os quatro enunciados modais que comp em a configura o quadrangular s o dever fazer prescri o dever n o fazer interdi o n o dever n o fazer permissividade e n o dever fazer facultatividade Na modaliza o do querer sobre o fazer os enunciados modais s o querer fazer voli o querer n o fazer abulia n o querer fazer noli o e n o querer n o fazer decis o Na modaliza o do poder sobre o fazer identificam se os seguintes enunciados modais poder fazer liberdade poder n o fazer independ ncia n o poder fazer impot ncia e n o poder n o fazer obedi ncia Na modaliza o do saber sobre o fazer aparecem os seguintes enunciados modais saber fazer compet ncia saber n o fazer habilidade n o saber fazer incompet ncia e n o saber n o fazer inabilidade Quanto s modalidades existenciais que correspondem a enunciados modais que incidem sobre o ser e que s o respons veis pela rela o apaixonada entre sujeito e objeto h diferentes possibilidades de realiza o Cabe dizer antes de mais nada que algumas das den
8. o do sexo como express o maior do sentimento de amor entre duas pessoas Pode se ainda estabelecer diferen a entre Sexus de Henry Miller nos anos 60 e os outros quatro livros acima referidos que abordam a quest o da sexualidade Fruto dos anos 150 de libera o sexual o livro de Miller tem sua import ncia destacada pelo fato de ser o livro que ir falar de forma aberta sobre algo que at ent o era um tabu sobre o qual havia um silenciamento J O homem sensual da d cada de 70 e 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama da d cada de 90 ir o propor f rmulas de conquista do parceiro e diferentes posi es para se atingir a satisfa o sexual Enquanto no livro de Miller fala se sobre sexo nos livros de M e de Ol via St Claire pratica se sexo Quanto ao livro de Kundera percebe se tamb m uma refer ncia ao sexo como forma de liberta o do indiv duo numa interface entre sexualidade e envolvimento amoroso Tr s d cadas depois Paulo Coelho dar nova roupagem a esse entrela amento da sexualidade com o enlevo amoroso ao discutir a prostitui o em oposi o ao sexo afetivo em Onze minutos Outro interesse do homem contempor neo a quest o financeira isto a forma de administrar seu trabalho seus bens e suas finan as Assim tr s livros ganham destaque entre os mais consumidos pelo p blico brasileiro Iacocca Virando a pr pria mesa e Pai rico pai pobre Cada um deles ir tratar de forma diferente
9. o e afirma o do pensamento da Igreja Cat lica como forma de atingir o equil brio espiritual Percebe se portanto por essa apresenta o das listas dos livros mais vendidos ao p blico brasileiro no per odo de 1966 a 2004 que o ethos desse ator chamado leitor 45 constr i se a partir da afirma o do individual da preocupa o com as quest es que tocam mais especificamente o bem estar f sico econ mico e espiritual do ser humano Pode se dizer ainda que esse leitor aquele que procura no que l uma resposta a problemas de ordem mais pr tica e particular do que aqueles que dizem respeito s grandes tem ticas coletivas Se a felicidade ou o bem estar chega a ser proposto para uma coletividade isso entendido como uma soma particular de estados de diferentes sujeitos e n o como um estado coletivo O exame do ethos desse leitor brasileiro contempor neo parece captar um reflexo de nossa sociedade capitalista em que o consumo e em decorr ncia disso a estabilidade econ mica s o elementos decisivos em seu comportamento Se se observa sua preocupa o com o lado humano e espiritual isso pensado em decorr ncia de uma adequa o ao sistema s cio econ mico em que o leitor est inserido e n o especificamente por causa de uma pr determina o Quero dizer com isso que o leitor brasileiro dos ltimos anos menos modalizado pelo dever ser e mais pelo poder ser Para concluir esse exame dos constituintes subjeti
10. o financeira p 21 Nesse sentido o que essa institucionaliza o do mercado desencadeia por meio da ideologia p s moderna a instaura o da inseguran a da dispers o do medo e do sentimento de efemeridade do real Substituindo os valores da vis o da modernidade que a precede pautados pelas oposi es entre racionalidade e universalidade necessidade e conting ncia subjetividade e objetividade natureza e cultura e sentido imanente da hist ria a era p s moderna ap ia se na fragmenta o na apar ncia na aus ncia de sentido da linguagem na subjetividade como forma de narcisismo Para a autora o p s modernismo produz tr s invers es ideol gicas substitui a l gica da produ o pela da circula o substitui a l gica do trabalho pela da comunica o e substitui a luta de classes pela l gica da satisfa o insatisfa o imediata dos indiv duos no consumo p 23 A partir do momento que a sociedade de mercado entendida como uma entidade operat ria dependente das a es que diferentes indiv duos exercem no seu interior firma se a id ia de que ela o lugar de cria o e express o da liberdade individual o que a forma de se pensar a igualdade entre os muitos indiv duos que dela fazem parte como igualdade de oportunidade isto que a justi a social se define como merecimento nos ganhos ou perdas segundo se opera mais ou menos eficazmente com as regras mercantis Chau 2001 p 32
11. de ambientalistas de naturalistas de adeptos de esportes radicais de rapers de g ticos etc etc nesse contexto que se d a explos o do consumo de livros de auto ajuda Por ora por m n o explorarei mais profundamente essa quest o pois ela ser tema do pr ximo cap tulo Quando se examina o gr fico 5 que reproduz as prefer ncia dos leitores brasileiros da d cada de 90 percebe se a presen a maci a dos textos de auto ajuda Dos treze livros mais vendidos onze est o distribu dos entre os cinco temas dessa categoria O primeiro tema o esoterismo em que aparecem tr s livros de Paulo Coelho O alquimista o primeiro na prefer ncia do p blico leitor brasileiro dos anos 90 Brida em terceiro lugar no ranking e As Valk rias O quarto livro dessa mesma tem tica A profecia celestina do escritor norte americano James Radfield No cap tulo anterior fiz uma apresenta o dos dois primeiros textos de Paulo Coelho e tamb m do de James Radfield uma vez que eles aparecem no gr fico 1 dos livros mais vendidos durante o per odo de 1966 a 2004 Resta por m dar uma olhada no terceiro livro de Paulo Coelho que consta da lista que ora examino As Valk rias consiste numa hist ria narrada em terceira pessoa sendo que a personagem central o pr prio Paulo Coelho Na verdade trata se de um relato de mem rias que diz respeito aos eventos acontecidos com o autor entre cinco de setembro e dezessete de outubro de
12. ltima categoria dos livros mais vendidos a que chamei de didatismo filos fico e se refere ao romance de Jostein Gaarder O mundo de Sofia segundo lugar na prefer ncia do p blico leitor dos anos 90 Conforme comentei no cap tulo anterior esse livro cujo destinat rio constru do segundo a tica do jovem adolescente para quem um adulto conta a hist ria da filosofia tornou se literatura cult durante os anos 90 tendo sido 128 indicado por muitos professores da escola m dia como op o de leitura ou como suporte para o ensino da disciplina Filosofia O gr fico da d cada de 90 representa ent o o predom nio absoluto da literatura de auto ajuda como op o de leitura do p blico brasileiro contempor neo interessante observar tamb m que a grande maioria dos livros que constam neste gr fico onze de um total de treze livros est presente na lista geral do per odo 1966 2004 Isso se deve ao fato conforme j expliquei no final do cap tulo anterior de que esses livros apareceram muitas vezes nas listas dos dez mais vendidos durante toda a d cada de 90 Se constatarmos que uma d cada tem 120 meses O alquimista de Paulo Coelho por exemplo apareceu entre os mais vendidos durante 55 meses Brida durante 34 Voc pode curar sua vida durante 31 O sucesso n o ocorre por acaso 30 A profecia celestina 29 e assim por diante O que o gr fico da d cada de 90 revela que o leitor brasileiro desse per odo realiza
13. p 182 A terceira perspectiva sobre a cultura contempor nea defende uma revolu o cultural Apontam para a destrutividade da pr pria raz o e alinham se ao ideal do ego em sua luta para recapturar um sentido de uni o com o mundo p 226 Nesse sentido ela defende o dualismo na medida em que prop e a reconcilia o entre o superego herdeiro do complexo de dipo com o ideal do ego herdeiro do estado de narcisismo prim rio enquanto o primeiro d nfase realidade e separa o da crian a em rela o m e o segundo recupera a promessa da imagina o do desejo e da fantasia da reuni o Na exposi o das tr s correntes que buscam interpretar a cultura contempor nea Lasch 1990 ir afirmar que a terceira aquela que a entende como uma cultura do narcisismo pois ao inv s de considerar o individualismo uma tend ncia negativa da 167 sociedade interpreta o como algo positivo exatamente porque fortalece o ego e o mant m em rela o de for as com o superego Em sua caracteriza o do narcisismo o autor afirma o seguinte O desejo de completa auto sufici ncia um legado do narcisismo prim rio na mesma medida que o desejo por reciprocidade e liga o porque o narcisismo n o conhece nenhuma distin o entre o eu e os outros que ele se expressa na vida posterior tanto no desejo de uni o ext tica com os outros como no amor rom ntico quanto no desejo de independ ncia absoluta perante o
14. que envolve cinco diferentes livros e misticismo e esoterismo com tr s livros correspondem a 62 das prefer ncias dos leitores na categoria de auto ajuda Individualidade e sexualidade e mundo dos neg cios cada uma com dois livros correspondem juntas a 30 das buscas dos leitores sobrando 8 com apenas uma obra para cren a A diferen a entre autoconhecimento e misticismo e esoterismo al m do fato de o primeiro ser constitu do por livros de n o fic o e o segundo de livros de fic o configuram se a partir de subtemas da individualidade Os livros de autoconhecimento oferecem saberes a partir dos quais os leitores poder o chegar cura de suas doen as conquistar sucesso pessoal e profissional adquirir maior capacidade comunicativa e atingir um estado pleno de felicidade consigo mesmos e com os as pessoas que os cercam Os livros de misticismo e esoterismo discutem a cren a em elementos n o naturais como forma de adquirir maior espiritualidade e consegiientemente maior felicidade Os dois livros do subtema de individualidade e sexualidade procuram discutir a partir de duas posturas diferentes uma mais passional outra mais pr tica a busca do prazer sexual As obras relativas a mundo dos neg cios dirigem se a um p blico que gerencia empresas procurando mostrar formas de melhor administrar os neg cios O nico livro de cren as diz respeito reprodu
15. que nesse caso esse saber se constr i enquanto cren a isto para atingir a harmonia interior preciso que o sujeito do fazer creia na exist ncia de um ser divino O car ter injuntivo desse subgrupo bastante evidente Seja humilde N o sinta medo para n o atrair cr ticas Quando voc encontrar trevas diante de si n o esbraveje contra elas ao contr rio procure acender uma luz s o tipos de enunciados injuntivos recorrentes em 19 Do ponto de vista modal diria que nesse subgrupo a modalidade al tica determina a epist mica de forma que o que se pretende ressaltar nesse texto prescri o dever fazer sobre a certeza crer ser 94 Os diferentes livros de auto ajuda por sua vez consistem numa categoria de textos que questiona uma vez mais a distin o entre os chamados livros de fic o e os de n o fic o Quer se valham da t cnica da narra o de um acontecimento quer construam um texto de cunho dissertativo expositivo em que apelam para um determinado conceito de comprova o cient fica os livros de auto ajuda aproximam se da proposta do manual de instru o na medida em que pretendem ser a fonte a partir da qual o leitor realiza um fazer Do ponto de vista semi tico a literatura de auto ajuda constr i se a partir de um contrato entre o enunciador e o enunciat rio baseado na cren a O enunciador autor detentor de um saber que prop e doar a seu enunciat rio leitor Como essa tra
16. 52 4 Mudan as nas leituras do p blico brasileiro ao longo das ltimas d cadas segunda abordagem onenian tin Eere iaaa des das Eaa sa RNP e angel na TRA Rea das Spa 105 5 Escolhas de leitura como reflexos da cultura contempor nea iii 152 5 1 Civiliza o em crise e o sentimento de mal estar ll 153 5 2 Cultura narcisista do ego m nimo c eee ceerecereena cerne 159 5 3 As pol ticas das ondas iresi ner eeii iiaeaae i aiik 169 5 4 O vazio na sociedade contempor nea eseeeseeeeeeeserrerereirsessessresreseessessessresresees 176 5 5 O narcisismo na vis o brasileira eeseeeeseeeeesesseesreereseessesrrsrrerresessssstesresreesessessee 183 6 Encontro do thos do leitor de auto ajuda eeseeseeeeeeeeeseseeseerreressesssrsresresreesesssssresee 187 6 1 Alguns estudos sobre a auto ajuda ecran 188 6 2 O g nero e o estilo da auto ajuda rr ereereeerererracaranda 198 Considera es fiNais suas isa rss a E e E nl nela E E E e e nd pon TM a antas 223 Bibliografia sis pera sr nto ade al oa A is a O ES AU ROTA SA Ao Da E A Ria UA US a 229 Refer ncias bibliogr ficas do corpus rrrerererereeeeerenerenereneeenaceranaranoa 236 ANEXOS isso sapo is a RAE aU SCE ARS nda SO SS aa SUSTO DESUSO a A A ADA da dd ARER 241 RESUMO Este trabalho procura examinar o que o leitor brasileiro contempor neo l com o p
17. Claire por m 84 Anais escrevia contos er ticos ressaltando uma atmosfera de envolvimento entre o homem e a mulher ao mesmo tempo em que fazia descri es expl citas de rela es sexuais sem no entanto realizar descri es fisiol gicas Seu objetivo n o era o de ensinar t cnicas sexuais para a mulher conseguir excitar o homem na cama e consegiientemente sentir prazer na rela o como o da escritora norte americana O discurso que constitui a obra de St Claire marcadamente conativo pois o apelo ao leitor constante E o maior apelo consiste em dizer que para despertar o desejo do homem a mulher n o precisa ser linda e sensual pois mesmo a mulher mais desprovida do atrativo da beleza pode ser muito desejada pelos homens bastando para isso que ela se sinta bela e atraente O livro de St Claire portanto inicia se com um primeiro cap tulo que segundo o enunciador de leitura obrigat ria mesmo que suas leitoras fa am uma leitura que n o obede a ordem cronol gica em que aparecem suas 203 dicas de como tornar a rela o sexual mais excitante Nesse primeiro cap tulo na forma de enunciados conativos explica cada um dos chamados cinco segredos fundamentais para o xito na cama sinta se sexy e voc ser sexy irradie confian a sexual concentre se nele fa a com ele o que ele faz com voc veja a sua sexualidade como uma d diva sagrada Seu tom altamente apelativo tem
18. Magia p 15 No decorrer da hist ria instaura se uma oposi o entre o her i Paulo e sua esposa Chris Enquanto o primeiro um m stico a segunda n o acredita em magia Resolveu acompanhar o marido naquela aventura apenas por companheirismo e n o por cren a uma vez que nunca discutira com ele esse assunto desde que estavam juntos h mais de um ano Chris queria conversar Sentia se angustiada presa num quarto de motel decidida a n o dar um sentido a tudo como fazia seu marido Era um ser humano n o estava ali aspirando a um lugar na comunidade dos eleitos p 49 Ao longo da narrativa Chris vai sendo iniciada nos conhecimentos da magia e consegiientemente vai distanciando se de sua descren a Essa rela o entre os dois representa na narrativa a ades o do sujeito descrente ao novo conhecimento que lhe apresentado porque esse sujeito presencia a revela o do chamado amor dos Anjos Embora fale em magia em for a misteriosas em presen a do Anjo as a es e palavras do her i s o marcadas pelo discurso cat lico como se pode observar ao longo do texto por meio de cita es por exemplo de ora es pr prias da Igreja Cat lica como o pai nosso e a ave maria ou de trechos da b blia O que acontece uma fus o m tica na medida em que o discurso cat lico convive com a cren a nos elementos naturais ar terra fogo gua ou na das guerreiras amazonas que correspondem s Valk
19. O segundo livro da categoria tem tica de mem ria aparece em terceiro entre os mais vendidos dos anos 60 Trata se de Meu p de laranja lima de Jos Mauro de Vasconcelos Autor de grande sucesso nessa d cada com v rios livros bastante consumidos pelo p blico brasileiro em Meu p de laranja lima conta a hist ria de Zez um menino de seis anos que vive suas perip cias com amigos e descobre a vida A narrativa em primeira pessoa e o narrador o pr prio menino O tom da narrativa de um romantismo lirismo em que se destaca a pureza de Zez No ltimo cap tulo esse narrador em primeira pessoa j um adulto e n o mais o Zez da hist ria tem 48 anos e se dirige ao amigo de inf ncia Portuga para dizer que as experi ncias por que passou na vida fizeram no aprender a verdade muito cedo Ele termina despedindo se do amigo dizendo adeus Conforme diz a apresenta o na contra capa do livro 108 O leitor vai se encontrar com a hist ria comovente do menino Zez de seis anos garoto pobre inteligente sens vel e carente Carente de um afeto que n o encontra na fam lia o endiabrado garoto sai pelas ruas fazendo mil travessuras Aprende tudo sozinho o descobridor das coisas Descobre a ternura e o carinho no amigo Portuga Inventa para si um mundo de fantasia em que o grande confidente o Xururuca o p de Laranja Lima Mas a vida lhe ensina tudo cedo demais e Zez descobre a d
20. aparecem todos os outros volumes da s rie Muitos leitores mergulharam na viagem atrav s do tempo realizada pelos oficiais norte americanos da NASA em busca da verdadeira hist ria da crucifica o de Jesus Cristo O enfoque de problemas mais particulares come a a se esbo ar na escolha que os leitores fazem das narrativas memorialistas de Rubens Paiva e Herman e Rieck De certa forma os dois livros discutem um problema presente na sociedade contempor nea as drogas Marcelo mergulha de cabe a num espelho d gua como quem pulava numa piscina profunda depois de ter fumado um baseado com os amigos e fratura uma v rtebra da coluna cervical Christiane F como j apontei anteriormente retrata o po o profundo em que pode cair o jovem que se deixa sucumbir ao mundo das drogas Mas ambos os textos mostram como seus her is se refazem e conseguem lidar com as consegii ncias de suas escolhas No seu n vel mais abstrato pode se dizer que seus discursos s o euforizantes pois apresentam uma sa da positiva para o drama vivido pelos her is da hist ria O mundo do misticismo relacionado tamb m quest o da feminilidade reflete se no grande interesse desses leitores dos anos 80 pelos livros de Marion Zimmer Brandley Os velhos dogmas do catolicismo j n o t m mais a for a que tinham mesmo num pa s que tem sua hist ria t o marcada por eles Nas sociedades urbanas modernas a p lula anticoncepcional o uso da camisinha se pensarmo
21. citos tal teoria nada tem de comum com a tipologia dos discursos que procura constituir se a partir do reconhecimento de suas propriedades formais espec ficas O estudo da teoria dos g neros caracter sticos de uma cultura ou de uma rea cultural dada n o tem interesse sen o na medida em que pode evidenciar a axiologia subjacente classifica o ele pode ser comparado descri o de outras etno ou sociotaxionomias p 202 202 Embora esse termo n o apare a no segundo dicion rio de semi tica lan ado na Fran a em 1986 a import ncia que o termo g nero vai adquirindo com o desenvolvimento dos estudos sobre discurso justifica sua retomada A preocupa o de Greimas e Court s no primeiro dicion rio com uma tipologia do discurso na medida em que se destaquem os componentes que descrevam sua organiza o por isso n o se voltaram para a quest o do g nero Sobre ela Fiorin 1990 apresenta o seguinte coment rio A constela o tipol gica que constitui o g nero social Varia portanto de poca para poca O que numa poca era considerado discurso cient fico pode n o ser mais classificado assim Os crit rios de classifica o pertencem natureza da linguagem Os g neros s o arranjos que dependem de fatores sociais ou seja dos efeitos de sentido valorizados num certo dom nio por uma dada forma o social Uma tipologia calcada nas teorias do discurso n o pretende constituir uma norma
22. como nas listas dos livros mais vendidos esse leitor manifesta se como enunciador Para tanto prop s se a contraposi o entre o ethos do enunciador leitor das listas e o pathos do enunciat rio dos discursos de leitura Uma vez que o corpus da pesquisa revelou um crescimento na op o pelos textos de auto ajuda foi examinada a quest o espec fica da auto ajuda em dois cap tulos do trabalho No primeiro observaram se as caracter sticas das sociedades contempor neas que refor am a op o pelos textos de auto ajuda e em seguida trataram se mais detidamente as caracter sticas desse tipo espec fico de texto ABSTRACT This work intends to examine what the Brazilian contemporary reader reads with the intention to explain the reasons that lead this reader to make their choices For that the central goal of this research will be to examine the Brazilian reader profile The researched data compiled to establish the corpus of this work was made through the usage of best selling books lists published by Brazilian journals The first journal s consulted source was Leia a monthly journal that circulated through the national territory from April 1978 through September 1991 The second reference was Jornal do Brasil a carioca journal that published best selling books list in Brazil from 1966 to December 2004 when they stopped the sequence of this special issue compilation Since the last consulted source was interrupted from Febr
23. como uma exclusividade das mulheres mas dos homens tamb m Outra fonte de press o sobre os indiv duos da sociedade contempor nea identificada por Lasch o sentimento de marginalidade Para o autor embora o narcisista submeta se s normas sociais por medo da repres lia externa que possa sofrer v a si mesmo e aos outros indiv duos por consegii ncia como foras da lei O que isso acarreta que o narcisista sempre desconfia do outro porque o considera muitas vezes desonesto Para o autor os sistemas de valores das personalidades narcisistas s o geralmente corrupt veis contrastando com a r gida moralidade da personalidade obsessiva p 77 Estabelecendo um paralelo com a situa o do meio cinematogr fico hollywoodiano o autor compara o ideal de sucesso do homem contempor neo com o princ pio da fama e da visibilidade Quando compara essa atitude da sociedade contempor nea com a do s culo XIX Lasch 1983 ir considerar que diferentemente dos tempos atuais o culto ao sucesso daquela poca n o se voltava para a competi o entre os indiv duos mais sim a um ideal abstrato de disciplina e abnega o A mudan a de atitude se d quando no in cio do s culo XX a burocratiza o da carreira nas empresas fez com que os jovens ambiciosos fossem substituindo a disciplina e a abnega o da gera o passada por uma forma de rivalidade fraternal na qual homens com capacidades aproximadamente iguais colidem uns con
24. da categoria de mem ria e O mundo de Sofia e A viagem do descobrimento da categoria do didatismo hist rico filos fico N o discutirei por enquanto o car ter individualizante das duas obras de mem ria que aparecem no gr fico que estou analisando Deixarei isso para a discuss o que aparecer nos cap tulos seguintes Pode se ent o observar em termos de porcentagens que 60 dos livros mais lidos pelo leitor brasileiro contempor neo pertence categoria de auto ajuda enquanto os restantes 40 est o distribu dos entre as outras cinco categorias levantadas o que pode ser verificado por meio do seguinte quadro Categorias dos livros mais lidos pelo leitor brasileiro entre 1966 e 2004 5 5 10 10 10 60 m Auto ajuda m Didatismo hist rico filos fico o Fantasia o Mem ria E A o e intriga m Humor 43 Se levar em considera o o que apontei acima verifico que 17 dentre os livros distribu dos entre as categorias de auto ajuda a o e intriga fantasia e humor tratam de temas mais voltados para quest es individuais enquanto os 4 outros distribu dos entre as categorias de didatismo hist rico filos fico e mem ria abordam temas mais coletivos A partir dessa constata o portanto o quadro acima assume a seguinte configura o Tem ticas dos livros mais lidos pelos leitores brasileiros entre 1966 e 2004 19 m Tem tica individual m Tem tica coletiva
25. enfermaria a relatos de vidas dos mais diversos internos do Carandiru Dessa forma o leitor passa a conhecer os dramas particulares de Miguel Claudiomiro Deusdete Edelso Lula e muitos outros da imensa galeria de marginais encarcerados em Carandiru Ao observar a lista dos vinte e um livros mais vendidos no Brasil durante o per odo de 1966 a 2004 de acordo com o corpus levantado indicia se como j foi anteriormente apontado que o leitor brasileiro grande consumidor de textos de auto ajuda Entre os textos classificados nessa categoria podem ser estabelecidas algumas distin es de vi s tem tico O primeiro subgrupo que denomino autoconhecimento pode ser estabelecido quando aproximo 8 9 13 16 e 20 Os dois livros de Lair Ribeiro 9 e 16 que seguem o formato de manual de instru o querem mostrar s 10 is o Naa As obras que aparecem no gr fico 1 em anexo est o distribu das em categorias obedecendo a ordem em que apareceram nesse gr fico no quadro 1 tamb m em anexo 90 pessoas como a resposta a todos os seus problemas depende da for a de seu pensamento e de sua vontade O de Goleman 13 por sua vez assumindo uma perspectiva t cnico mentalista quer destacar a import ncia do QE coeficiente emocional para mostrar como as pessoas capazes de trabalhar com as emo es t m sempre mais sucesso na vida que aquelas que se preocupam apenas com o racional O livro 8 de Hay t
26. es anteriores a busca do prazer sexual como um fim em si mesmo a sobrecarga emocional das rela es pessoais e mais importante de tudo a resposta masculina irracional emerg ncia da mulher liberada p 231 O intuito de Lasch 1990 quando escreve O m nimo eu consiste como declara na abertura de seu livro em tornar mais clara a proposta de uma cultura do narcisismo apresentada em sua obra anterior Na verdade o par grafo que inicia o pref cio desse segundo texto de Lasch sintetiza a tese em torno da qual se organiza todo o livro Em uma poca carregada de problemas a vida cotidiana passa a ser um exerc cio de sobreviv ncia Vive se um dia de cada vez Raramente se olha para tr s por medo de sucumbir a uma debilitante nostalgia e quando se olha para a frente para ver como se garantir contra os desastres que todos aguardam Em tais condi es a individualidade transforma se numa esp cie de bem de luxo fora de lugar em uma era de iminente austeridade A individualidade sup e uma hist ria pessoal amigos fam lia um sentido de situa o Sob ass dio o eu se contrai num 164 n cleo defensivo em guarda diante da adversidade O equil brio emocional exige um eu m nimo n o o eu soberano do passado p 11 O que parece acentuar se na perspectiva de Lasch 1990 uma vis o psicol gica com que tratar a quest o do individualismo na sociedade contempor nea Na introdu o de seu novo trabalho faz uma
27. fico dessas duas obras a sexualidade ligada auto estima O enunciador manifestado nos dois textos possui um saber que pode ser doado ao enunciat rio para suplantar essa falta sentida por ele O enunciat rio do texto de M um homem a quem o enunciador prop e passar todo o conhecimento que adquiriu em sua vida para sentir prazer no relacionamento com uma mulher e ao mesmo tempo fazer com que ela tamb m sinta prazer O enunciat rio do texto de St Claire uma mulher que antes de mais nada precisa sentir se atraente e desejada para conseguir despertar no homem o m ximo do prazer e consequentemente desfrutar com ele desse momento Segundo a classifica o de g nero bakhtiniana os dois textos inserem se entre os g neros prim rios porque se constroem a partir da forma do di logo entre interlocutores A linguagem utilizada bastante simples simulando uma conversa ntima entre dois sujeitos que se mant m em posi es contr rias um o doador de um saber outro o receptor desse saber o destinat rio espera tornar se competente ao adquirir esse saber para transformar seu estado de disjun o com o prazer em um estado de conjun o A maneira de apresenta o do t tulo do livro de um autor que n o tem nome um M a de uma defini o O homem sensual o livro que explica o que ser sensual e o que um homem deve fazer para se tornar sensual Uma vez mais o que dito fruto de uma experi ncia vivida como
28. ncia do homem diante de uma for a superior maligna que sobrevive mesmo que se contraponha a ela uma f num Deus benigno e justo como o representado pela Igreja Cat lica Numa reconstru o do mundo dos mafiosos que imortalizou o personagem Don Corleone O chef o de Mario Puzzo leva o leitor ao pr prio cora o da M fia revelando toda a viol ncia chantagem terror e degrada o que a caracterizam Don Corleone um dos cabe as da M fia nova iorquina pessoa benevolente que obedece a um crit rio de justi a muito pessoal Ele pode ser um amigo pr digo mas se torna implac vel na elimina o de obst culos que contrariem seus objetivos Movimentando personagens num mundo de viol ncia neg cios dio e sexo Mario Puzzo consagrou se com este livro que foi levado ao cinema com o mesmo sucesso O cen rio do romance Autom vel de Arthur Halley narrativa em terceira pessoa a cidade de Detroit considerada a cidade dos autom veis nos EUA Todo o mundo secreto da ind stria automobil stica revelado os segredos das grandes f bricas os segredos das pistas de provas o que acontece nos est dios onde s o criados sob impressionante sigilo os modelos que as pessoas dirigir o Na realidade ele se parece com um roteiro de cinema pois a trama contada por meio da introdu o constante de falas das mais diversas personagens H portanto um predom nio do discurso direto para a reprodu o dos intermin veis di logos a
29. o sabia sempre ou julgava saber que n o era realmente um homem e sim um lobo das estepes As pessoas argutas poder o discutir a prop sito de ser ele realmente um lobo de ter sido transformado talvez antes de seu nascimento de lobo em ser humano ou de ter nascido homem por m dotado de alma de lobo ou por ela dominado ou finalmente indagar se essa cren a de que ele era um lobo n o passava de um produto de sua imagina o ou de um estado patol gico admiss vel por exemplo que em sua inf ncia fosse rebelde desobediente e an rquico o que teria levado seus educadores a tentar combater a fera que havia nele dando ensejo assim a que se formasse em sua imagina o a id ia e a cren a de que era realmente um animal selvagem coberto apenas com um t nue verniz de civiliza o A esse prop sito poder se iam tecer longas considera es e at mesmo escrever livros mas isso de nada valeria ao Lobo da Estepe pois para ele era indiferente saber se o lobo se havia introduzido nele por encantamento for a de pancada ou se era apenas uma fantasia de seu esp rito O que os outros pudessem pensar a este respeito ou at mesmo o que ele pr prio pudesse pensar em nada afetaria nem conseguiria afetar o lobo que morava em seu interior p 46 7 109 A quarta e ltima categoria tem tica em que dividi os livros mais vendidos dos anos 60 a que intitulei a o e intriga Nela aparecem dois cl ssicos best sellers de autores
30. o do enunciador com o autor e a do enunciat rio com o leitor pode induzir a um engodo que consiste em pensar que esse autor e esse leitor devam identificar seres reais Mesmo que algumas vertentes da teoria da literatura critiquem a n s semioticistas pelo que chamam nosso excesso de formalismo que v jogo de imagens e abstracionismo em tudo deixando de lado o ser do mundo o Autor aquele que o respons vel pelo dito insistimos em afirmar que para uma teoria do discurso o que importa identificar um sujeito que se constr i discursivamente a partir de um dizer Embora j tenha avan ado seu trabalho com vistas caracteriza o da inst ncia do enunciador a semi tica n o conseguiu at o momento sistematizar de forma mais precisa a inst ncia do enunciat rio Do ponto de vista do exame das manifesta es da enuncia o no discurso Fiorin 1996 desenvolveu um trabalho que foi capaz de descrever as formas de proje o actorial temporal e espacial de maneira bastante aprofundada o que resultou numa grande contribui o para os estudos da semi tica sobre essa quest o Em seus trabalhos mais recentes Fiorin 2004a tem explorado o conceito de ethos do discurso e em Fiorin 2004b a quest o do pathos enquanto a imagem que o enunciador tem do 225 estado de esp rito do enunciat rio Discini 2003 seguindo sua proposta trabalhou a no o de estilo a partir dessa reincorpora o dos princ pios da ret rica para a
31. o dos t xicos entre os adolescentes O livro tem in cio com o texto do processo Berlim 1978 em que Christiane colegial menor de idade acusada de consumir de maneira cont nua subst ncias e misturas qu micas proibidas por lei Foi acusada tamb m de ter se entregado prostitui o com o prop sito de juntar dinheiro para a compra de drogas Ap s tudo isso sua fam lia se desestruturou o pai ficou desempregado a m e pediu o div rcio e o inferno instalou se no seio da fam lia Christiane era surrada constantemente e por seu lar ter se transformado num ambiente hostil abandonou sua casa e passou a viver nas ruas O livro intercala o depoimento de Christiane com o de sua m e de policiais que tiveram contato com a menina e de psic logos O segundo livro a aparecer na categoria de mem ria Feliz ano velho de Marcelo Rubens Paiva A partir do acidente que o deixou tetrapl gico ao mergulhar de cabe a em um espelho d gua Marcelo v sua vida mudar radicalmente Seus dias no hospital as visitas que recebeu as hist rias que viveu s o relatadas sob uma nova perspectiva a de um jovem que sempre fez tudo o que queria e que a partir daquele acidente sentado em uma cadeira de rodas via se impotente diante dos acontecimentos dependendo da ajuda de amigos e familiares para reaprender a viver A quest o da repress o aos dissidentes do regime de governo instaurado pelo golpe militar de 1964 no Brasil tendo em vista a partic
32. particular de um determinado indiv duo ao destacar seu car ter normativo estou reafirmando a sociabilidade do gosto Portanto aquilo que um sujeito julga ser seu gosto particular na verdade reflete a norma de um determinado grupo s cio cultural em que est inserido a afirma o dessa id ia de que o gosto n o individual mas social que me leva a considerar a quest o da prefer ncia do p blico leitor brasileiro contempor neo de 1966 a 9 Segundo Tatit 2001 a foria vem gradativamente ocupando o lugar te rico da no o de timia disposi o afetiva fundamental embora nem sempre com muita facilidade De todo modo al m da motiva o morfol gica ineg vel quando aparece subsumindo os termos euforia e disforia foria cont m o semema conduzir que apresenta melhor rendimento sint xico que o termo timia p 17 em nota de rodap 53 2004 por certos livros como sendo determinada por padr es pr prios da sociedade capitalista industrial ocidental em que esse leitor est inserido Para examinar essa quest o por m no mbito da sociedade moderna valer me ei de alguns conceitos propostos por Morin 1969 O que se deve considerar inicialmente o car ter de mercadoria que o livro adquire quando incorporado s listas dos mais vendidos Como aponta Morin 1969 no in cio do s culo XX desenvolveu se um segundo processo de industrializa o cujo impulso tecnol gico n o estava apenas
33. quando o texto publicado j representava uma amea a 159 econ mica Para examinar como o autor interpreta as mudan as da sociedade contempor nea valer me ei de duas de suas obras A cultura do narcisismo publicada em 1979 em que observa a sociedade estadunidense do final da d cada de 1960 e boa parte da d cada de 1970 e O m nimo eu publicado inicialmente em 1984 no qual rediscute e amplia seu conceito de cultura narcisista Quando me referir aos livros de Lasch aqui citados utilizarei as datas das edi es brasileiras a que tive acesso 1983 para o primeiro e 1990 para o segundo Lasch 1983 caracteriza o que chama de sociedade do final do s culo XX como dominada pelo ideal do carpe diem pois o que importa o momento e n o a posterioridade Segundo ele o homem contempor neo abandona o conceito de hist ria e est procura do bem estar pessoal da manuten o de sua sa de f sica e de sua seguran a ps quica Com a crise da fam lia que perde al m da fun o produtiva a reprodutora os pais j n o conseguem mais criar seus filhos sem o aux lio de especialistas o que torna o indiv duo segundo ele dependente do Estado da corpora o e de outras burocracias Para o autor o narcisismo representa a dimens o psicol gica dessa depend ncia N o obstante suas ocasionais ilus es de onipot ncia o narcisista depende de outros para validar sua auto estima Ele n o consegue viver sem uma audi ncia que o
34. reconhe a isso pela vis o da sociedade capitalista norte americana o que o leva a reconsiderar a no o de individualismo como individualidade Ao se referir ao trabalho no per odo da terceira onda Toffler 1999 insere essa distin o As economias da Terceira Onda em contraste requerem e costumam recompensar um tipo de trabalhador radicalmente diferente que raciocina pergunta inova e assume riscos Trabalhadores que n o s o facilmente intercambi veis Em outras palavras ela favorece a individualidade que n o necessariamente o mesmo que individualismo p 107 Ao reafirmar que h uma crise na representa o pol tica na poca contempor nea pelo fato de se ter criado uma dist ncia intranspon vel entre os dirigentes e a popula o destaca a import ncia dos ve culos de informa o da terceira onda quais sejam o computador o sat lite a TV a cabo a internet e outras redes de comunica o como formas de eliminar essa dist ncia estabelecida entre a popula o e seus representantes num processo de participa o interativa muito mais estreita entre ambos Os textos de Toffler adquirem caracter sticas da pr pria literatura de auto ajuda quando prega um futuro otimista em que reinar uma liberdade maior entre as pessoas uma vez que os valores concentrados no sistema social pr prio da segunda onda estar o transformados pelos da terceira A linguagem que emprega em seus ltimos textos que acabam send
35. respeito revolta de sete mortos da cidade que em fun o de uma greve dos coveiros do cemit rio durante uma campanha de reivindica o salarial ficam insepultos e revoltados por causa dessa condi o invadem a cidade e come am a reclamar o direito de serem dignamente enterrados O movimento desencadeado pela defunta D Quit ria Campolargo matriarca de uma fam lia influente da cidade Na condi o de mortos eles n o t m mais por que guardar as conven es sociais e durante esse processo de reivindica o passam a revelar a verdade nua e crua de todas as pessoas vivas Nesse sentido a cr tica social instalada em raz o do desmascaramento das atitudes dos seres humanos vivos e dos donos do poder pol tico da cidade Em oitavo lugar na prefer ncia do p blico leitor est o romance Vidas secas de Graciliano Ramos o segundo livro da categoria de tem tica social A presen a desse livro entre os mais vendidos da d cada de 70 n o se deve a uma raz o muito clara O que um romance da d cada de 30 sua primeira edi o de 1939 considerado um dos c nones da literatura brasileira estaria fazendo entre os mais vendidos da d cada de 70 Para tentar obter uma resposta a essa pergunta voltei a examinar o material do corpus da pesquisa O que pude constar que Vidas secas aparece pela primeira vez em nono lugar entre os mais vendidos na lista de 30 de janeiro de 1971 do Jornal do Brasil Essa a data em que o jornal mu
36. rios enunciados que reafirmam o que acima ficou dito 8 9 O livro que mais interessou ao rapaz contava a hist ria dos alquimistas famosos Eram homens que tinham dedicado sua vida inteira a purificar metais nos laborat rios acreditavam que se um metal fosse cozinhado durante muitos e muitos anos terminaria se libertando de todas as suas propriedades individuais e em seu lugar sobrava apenas a Alma do Mundo Esta Coisa nica permitia que os alquimistas entendessem qualquer coisa sobre a face da Terra porque ela era a linguagem pela qual as coisas se comunicavam Eles chamavam esta descoberta de Grande obra que era composta de uma parte l quida e uma parte s lida O alquimista de Paulo Coelho p 126 7 Wica sabe organizar um Sabbat pensou o Mago medida que se aproximava Ele podia ver e sentir a energia das pessoas circulando livremente Nesta fase do ritual o Sabbat parecia com qualquer outra festa era preciso fazer com que todos os convidados comungassem de uma nica vibra o No primeiro Sabbat de sua vida ficou muito chocado com tudo aquilo lembrou se de haver chamado seu Mestre para um canto para saber o que estava acontecendo Brida de Paulo Coelho p 245 10 Olhei a rvore e tentei recordar a emo o na crista Aos poucos comecei a admirar sua forma e presen a Minha aprecia o aumentou at eu sentir na verdade uma emo o de amor A sensa o era exatamente a mesma que recordo te
37. ritos da mata e uma s rie de outras entidades m sticas povoam o imagin rio daqueles que n o mais se adaptam aos preceitos da Igreja Cat lica ou da Protestante no mundo Ocidental Essas religi es valorizam o grupo familiar caracter stico do que por exemplo Tofler 1993 considera como n cleo 149 central das sociedades da primeira e da segunda onda mas a sociedade contempor nea p s industrial n o est voltada para os grupos familiares mas sim para os indiv duos exatamente nesse contexto que O profeta O alquimista Brida A profecia celestina As Valk rias constituem o conjunto de livros mais consumidos pelo p blico leitor brasileiro do ano de 1966 at o ano de 2004 Diferentemente dos que classifiquei como autoconhecimento os livros esot ricos e m sticos n o oferecem t cnicas ou exerc cios para vencer dificuldades particulares oferecem a seus leitores uma nova forma de cren a que para muitos funciona como um protesto aos padr es convencionais tal como propunham os hippies dos anos 60 E o imagin rio m stico e esot rico nas camadas mais privilegiadas da sociedade atingem os padr es de consumo como por exemplo os modismos na vestimenta e no pr prio corpo As roupas indianas para as mulheres as roupas desleixadas para os homens as pulseiras e colares tanto para mulheres como para homens os brincos os piercings os cabelos multiformes e multicoloridos a onda das tatuagens pelas
38. saber por ele veiculado refere se ao poder mental ou ao magnetismo da personalidade 191 humana como se pode constatar observando os t tulos das listas dos mais editados por ele apresentadas que j fiz refer ncia anteriormente Em Martelli 2006 a auto ajuda tamb m compreendida como um g nero da mesma forma que para Riidiger 1996 O car ter programador desse texto evidenciado nas pr prias palavras da autora quando diz que o objetivo desse tipo de texto tornar os indiv duos competentes p 17 grifo da autora Mais frente ainda em sua introdu o reafirma esse princ pio ao fazer refer ncia aos t tulos dos livros Nos t tulos de auto ajuda juntamente com refer ncias a autoridades consagradas no mundo da ci ncia e a paradigmas e conceitos legitimados pela racionalidade cient fica encontram se receitas e verdades reveladas por gurus e curandeiros com base em outras fontes de legitimidade que n o a cient fica O sucesso editorial dos t tulos e auto ajuda pode ser expressivo da emerg ncia e consolida o de novas formas de saber e de poder Martelli 2006 p 18 O que ir diferenciar por outro lado a posi o de Martelli da de R diger em rela o auto ajuda o fato de que sua pesquisa est voltada para os livros de auto ajuda que abordam o tema do gerenciamento de neg cios Nesse sentido portanto embora reconhe a nessas obras o mesmo tipo de estrutura apontada pelo au
39. significantes de um lado as l nguas naturais e de outro os contextos extralingii sticos que consideramos como sendo semi ticas do mundo natural Greimas e Court s 19859 p 409 10 posso realizar tamb m uma an lise semi tica do conjunto de dados que o corpus da pesquisa me apresenta uma vez que entendo esse mesmo corpus como um conjunto significante que representa o leitor brasileiro contempor neo Sobre essa quest o vale a pena observar como Discini 2003 trata a no o da totalidade e da unidade a partir da retomada da proposta de Brondal 1986 para discutir a quest o do estilo em diferentes totalidades de corpora de an lise Segundo a autora deve se pensar o princ pio de unidade e o de totalidade enquanto universais quantitativos e ao 24 tratar a quest o do estilo este ser tomado enquanto unidade e enquanto totalidade unidade porque h um sentido nico ou um efeito de individua o totalidade porque h um conjunto de discursos pressuposto unidade p 31 Assim quando Discini 2003 prop e analisar o estilo pensado como ethos como corpo de uma totalidade examinando para tanto textos da imprensa dita s rie vs imprensa dita sensacionalista no Brasil seu objetivo consistir em mostrar o jogo de vozes que constitui essa totalidade e sob que princ pios essas diferentes vozes est o articuladas s unidades isto s manifesta es particulares de textos que comp em o
40. uma vez que elas est o sempre interligadas porque n o se pode falar em significa o se ela n o decorrente de uma interlocu o Mesmo que examine um texto escrito cuja apar ncia a de ser oriundo apenas do sujeito produtor seu dizer s adquire sentido na medida em que dirigido a um outro sujeito que pelo fato de ser o destinat rio da mensagem nele interfere Ao analisar um conjunto de dados dos livros mais lidos ao longo do per odo da pesquisa destacarei a segunda dimens o em rela o primeira O sentido de um texto segundo a semi tica constitui se por meio de uma sucess o de n veis concebidos a partir de seu plano do conte do que compreende o discursivo n vel mais superficial mais pr ximo da manifesta o textual o narrativo n vel intermedi rio que compreende a busca do sujeito pelo objeto e o n vel fundamental que abarca as oposi es sem nticas m nimas a partir das quais o discurso se manifesta A essa maneira de descrever a produ o do sentido no texto a semi tica d o nome de percurso gerativo de sentido Ao longo desses quase quarenta anos de investiga es sobre a perspectiva semi tica o percurso gerativo foi encarado ora como um modelo capaz de dar conta de todo processo de apreens o do sentido do texto o que deu margem repeti o quase exaustiva de suas diferentes etapas e particularidades quando se produzia uma an lise de discurso ora como um modelo superado por se prender mui
41. 14 de setembro de 1985 Na edi o seguinte de 4 de outubro de 1986 passa a se chamar Id ias nome que recebe at hoje Dentro do caderno Id ias h uma se o destinada aos livros Al m de continuar apresentando resenhas e cr ticas dos livros lan ados no mercado editorial esse novo caderno do JB dedica uma de suas folhas para a apresenta o dos livros mais vendidos juntamente com uma coluna intitulada O que eles l em O que eles recomendam Nessa coluna aparecem fotos de personalidades da m dia ou de diferentes atividades profissionais que dizem o que est o lendo e que leitura recomendam para o p blico brasileiro No caderno Id ias de 4 de outubro de 1986 para citar um exemplo aparecem as seguinte pessoas nessa coluna Agnaldo Silva roteirista de novela da Globo que declarou estar lendo O terceiro homem de Graham Greene M rcio Tavares do Amaral professor da UFRJ lendo A brincadeira de Milan Kundera e Feliz ano velho de Marcelo Rubens Paiva Antonio C cero poeta e letrista lendo Le visible et invisible de Merleau Ponty Fausto Fawcett performer lendo livros sobre a hist ria da Turquia Eva Todor atriz lendo Um estranho no espelho de Sidney Sheldon Eduardo Mascarenhas psicanalista lendo Vern nia de William Kennedy Junito Brand o professor de mitologia Greco latina lendo A mulher madura de Afonso Romano Sant Anna e Arthur Moreira Lima pianista aconselhando a leitura de Mem rias de u
42. 1988 No in cio da narrativa Paulo conta seu encontro com seu mestre J para quem deseja entregar os originais de seu livro O alquimista porque queria sua opini o sobre o livro desejava que J lhe dissesse se merecia ser publicado Segundo o relato seu mestre ficou muito impressionado com o trabalho ali apresentado mas sem revelar que o livro tinha um grande valor disse a Paulo que ele precisava realizar uma tarefa A hist ria de As Valk rias consiste no relato da viagem de Paulo e de sua mulher 124 atrav s do deserto de Mojave situado entre os EUA e o M xico com o intuito de entrarem em contato seu Anjo da Guarda Para chegar a ver seu anjo o her i conhece um grupo de oito mulheres que vagavam pelas regi es do deserto no territ rio norte americano espalhando os ensinamentos dos anjos as chamadas Valk rias e com a ajuda delas mais especificamente com a ajuda da l der do grupo Vahalla que obt m o conhecimento necess rio para conseguir a vis o Tr s provas deveriam ser cumpridas pelo her i para atingir seus objetivos romper um acordo aceitar um perd o e fazer uma aposta Somente ap s vencidas essas provas ele seria capaz de enxergar seu anjo A narrativa inicia se com um di logo em curso O primeiro par grafo corresponde a uma resposta de J mestre da Magia de Paulo a Paulo entremeada pela voz de um c narrador Uma coisa que seja importante para mim J pensou um pouco antes de responder
43. A refer ncia ao pastor e suas ovelhas um primeiro ndice de remiss o ao contexto dos discursos fabulares Al m disso h uma express o manifestada no enunciado que recupera implicitamente uma passagem b blica ovelha desgarrada A refer ncia a essa express o retoma indiretamente a par bola b blica da volta do filho pr digo Portanto infere se disso que o sujeito a quem o narrador se dirige algu m que espera se possa reconhecer esse interdiscurso portanto um destinat rio com quem compartilha um conhecimento sobre o texto b blico O ambiente em 47 que se d a cena narrada o interior de uma velha igreja abandonada o que tamb m remete ao universo do vocabul rio crist o Outro elemento presente nessa cena de in cio da narrativa o sic moro Essa escolha vocabular do sujeito da narrativa pode ter como prop sito chamar a aten o do narrat rio para esse objeto cujo nome incomum ou ent o impressionar pela erudi o isto pela constru o da imagem de um sujeito narrador s bio pois ao inv s de usar o termo mais popular figueira faz uso da forma mais cient fica pois remete a nome de classifica o da planta ficus sycomorus Acredito que essa segunda hip tese esteja de antem o descartada pois um narrador que pretende mostrar erudi o n o cometeria um erro de concord ncia no par grafo logo abaixo ao construir uma frase com o verbo haver Parece ent o que o uso d
44. Dalton Geraldo Guaglianoni que me ensinou a usar o programa Excel para produzir as listas dos livros mais vendidos bibliotec ria chefe do setor de arquivos do Jornal do Brasil Floripes Marinho Falc o e sua secret ria que me auxiliaram no levantamento do corpus da pesquisa CAPES Coordena o de Aperfei oamento de Pessoal do Ensino Superior pela bolsa de est gio p s doutoral concedida durante o per odo de setembro de 2001 a agosto de 2002 na Universidade de Limoges na Fran a FAPESP Funda o de Amparo Pesquisa do Estado de S o Paulo pelo apoio pesquisa concedido durante o per odo de junho de 2004 a maio de 2005 ao CNPq Conselho Nacional de Pesquisa pela concess o da bolsa de Produtividade de Pesquisa SUM RIO RESUMO or mania Ran aaa Pe aa E Rad a Ra DR ORE doc A O ga RO p s i PADSTPAC Ls res srstissomr asas riso teca sunt E E EET li Introdu o s sas ssesssiorrres ama da escada Dose dede ERR E EE 1 1 Em busca do corpus perdido rece cereneeacenacenaeeeeeancarana 7 2 Leitor apaixonado e leitor representado constru es do discurso 23 2 1 Paix o e apaixonados nos discursos mais lidos pelo p blico brasileiro 30 2 2 O pathos do enunciat rio nos discursos mais lidos pelo p blico brasileiro 39 3 O que l o leitor brasileiro contempor neo Primeira abordagem
45. E a de Queir s s o sujeitos anacr nicos pois os valores morais da sociedade n o suplantam mais a busca da felicidade individual o indiv duo pertence primeiramente a si mesmo n o h mais nenhum princ pio acima de seu direito de dispor de sua pr pria vida Segundo Lipovetsky 2005b a fidelidade nos relacionamentos amorosos deixa de ser vista como um valor moral e passa a corresponder aspira o individualista do amor aut ntico n o eivado de mentira ou de mediocridade p 47 A fidelidade ainda um princ pio mas atenuada agora pela possibilidade do rompimento No dizer do autor cristaliza se o princ pio do tudo mas n o sempre Como o ideal do consumo cresce na poca contempor nea os indiv duos contrariamente ao princ pio da liberdade afirmada pela era p s moralista acaba sofrendo as coer es do mercado que lhe oferece diferentes objetos de satisfa o e ao mesmo tempo cria padr es de comportamento Por um lado a preocupa o com a forma f sica leva o homem contempor neo ao controle das calorias ao consumo dos alimentos lights e diets e contraditoriamente por outro lado de forma quase esquizofr nica a intensa propaganda de snaks lanches chocolates e alimentos com alta taxa de gordura dirige o obesidade que passa a ganhar dimens es de problema social Outros s o os modelos de comportamento que assolam diariamente o homem contempor neo e o levam ao estresse a higieniza o refor ad
46. Maria Helena Kiihner 2 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1967 SEMLER Ricardo Virando a pr pria mesa 35 ed S o Paulo Best Seller 1988 SENISE N lson Pare de engordar Obesidade um problema psicol gico 5 ed Rio de Janeiro Record 1982 SERVAN SCHREIBER Jean Jacques O desafio americano Tradu o lvaro Cabral 2 ed Rio de Janeiro Express o e Cultura s d SHELDON Sidney Se houver amanh Tradu o A B Pinheiro de Lemos Rio de Janeiro Record s d SOARES J O Xang de Baker Street S o Paulo Companhia das Letras 1995 ST CLAIRE Ol via 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama Tradu o Raquel Mendes 18 ed Rio de Janeiro Ediouro 1999 UCH A JR Jo o S gordo quem quer 9 ed Rio de Janeiro Guanabara 1986 VARELLA Drauzio Esta o Carandiru S o Paulo Companhia das Letras 1999 VASCONCELOS Jos Mauro de Meu p de laranja lima S o Paulo Melhoramentos 1968 VER SSIMO rico Incidente em Antares 45 ed S o Paulo Globo 1995 Solo de clarineta Porto Alegre Globo 1976 O prisioneiro 6 ed Porto Alegre Globo 1976 239 VER S SIMO Luis Fernando As mentiras que os homens contam Rio de Janeiro Objetiva 2000 Com dias para se ler na escola Rio de Janeiro Objetiva 2001 240 Anexos 59 313030 29 29 og 26 24 24 24 23 23 22 99 E O alquimista Paulo Coelho Eco E Virando a pr pria mesa Ricard
47. Meu p de laranja lima Jos Mauro de Vasconcelos 1960 70 Solo de clarineta rico Ver ssimo 1970 Olga Fernando Moraes 1980 Eu Cristiane F 13 anos drogada e prostitu da K Herman e H Rieck 1980 Feliz ano velho Marcelo Rubens Paiva 1980 Esta o Carandiru Dr uzio Varella 2000 As vidas de Chico Xavier Marcel Souto Maior 2000 3 Tem tica social 7 Nome do livro Nome do autor D cada Quarup Ant nio Calado 1960 251 O prisioneiro O desafio americano Crimes de guerra no Vietn Incidente em Antares Vidas secas As veias abertas da Am rica Latina rico Ver ssimo Jean Jacques Servan Schreiber Bertand Russell rico Ver ssimo Graciliano Ramos Eduardo Galeano 1960 1960 1960 1970 1970 1970 Nome do livro Nome do autor D cada Aeroporto Arthur Halley 1960 O primeiro ministro Arthur Halley 1960 O exorcista William Peter Blatty Bertand 1970 O chef o M rio Puzzo 1970 Autom vel Arthur Halley 1970 Se houver amanh Sidney Sheldon 1980 Opera o cavalo de tr ia J J Ben tez 1980 Nome do livro Nome do autor D cada Festival de besteiras que assola o pa s Stanislaw Ponte Preta 1960 O homem ao zero Leon Eliachar 1960 As mentiras que os homens contam Lu s Fernando Ver ssimo 2000 Com dias para se ler na escola Lu s Fernando Ver ssimo 2000 Nome do livro Nome do autor D cada As brumas de Avalon Marion Zimmer Bradley 1980 Harry Pot
48. Narrado em terceira pessoa O prisioneiro de rico Ver ssimo encara os problemas da guerra Segundo o autor na apresenta o do livro O Prisioneiro uma esp cie de par bola moderna sobre v rios aspectos da estupidez humana como por exemplo a guerra e o racismo bem como um coment rio margem das muitas pris es do homem como pe a da Engrenagem Ter amos o direito de torturar e at matar uma pessoa para salvar hipoteticamente a vida de muitas outras Esta a quest o b sica tratada no romance de Ver ssimo Num tempo e num pa s indefinidos um oficial tortura um terrorista a fim de que ele confesse onde colocou uma bomba que explodir dali a algumas horas destruindo v rias vidas O livro de Servan Schreiber O desafio americano parte de uma an lise da situa o industrial francesa e por extens o da Europa em rela o dos EUA Segundo o autor a economia privada europ ia precisa modernizar se para se comparar norte americana se n o quiser sucumbir ao poder de Tio Sam Para tanto deve haver incremento da competitividade e investimento em educa o multiplicando a e ampliando a para poder lutar contra os gigantes da empresa privada norte americana que invadem a Europa Na introdu o da edi o brasileira Jos Sette C mara afirma que a conclus o de Servan Screiber n o de desalento tempo para reagir e para enfrentar o desafio que muito mais o desafio dos tempos do que o desafio americano
49. T o insignificante no contexto da hist ria humana Precisamos superar a id ia de que estamos meramente correndo para o nosso fim num processo de deteriora o e apagamento Esse o nosso fantasma mais destrutivo pois se alimenta com nosso terror da morte e cresce desmesuradamente porque nosso vazio interior lhe concede um espa o extraordin rio p 87 8 grifo do autor As passagens em it lico processo de heterogeneidade mostrada segundo Authier Revuz 1998 aparecem durante todo o livro e servem para ressaltar ao leitor aquilo que est sendo dito isto para frisar determinada passagem sobre a qual segundo o enunciador o enunciat rio deve refletir No livro de Bradley Greive as diferentes fotos de animais acompanhadas de textos t m por objetivo levantar o moral de qualquer um que esteja desanimado A estrutura do livro a da defini o Partindo da frase inicial Todo mundo tem um dia daqueles segue uma s rie de fotos de animais com closes que remetem a um certo ar de des nimo em quase todos eles ao mesmo tempo que apresenta as frases que definir o o que um dia daqueles Numa primeira segii ncia de quatro fotos uma em cada p gina aparece a seguinte frase c o deitado S o dias miser veis quando voc se sente um lixo hipop tamo sem nimo para nada foca branca na imensid o do rtico sozinho no mundo le o deitado num tronco de rvore e literal
50. a consci ncia do homem atual numa perspectiva hist rica para que ele compreenda todo o processo evolutivo do homem na Terra A Terceira Vis o descreve uma nova compreens o do mundo f sico revelando a exist ncia de uma energia invis vel proveniente de todos os seres vivos De acordo com a Quarta Vis o os humanos compreender o que desnecess rio dominar seus semelhantes pelo processo de retirada e energia do outro e que h outros meios de acumular a energia c smica Para atingir a Quinta Vis o o homem dever perceber qual exatamente seu papel na rela o entre seus semelhantes e estabelecer um controle pr prio da situa o a das trocas de energia No momento em que o homem atingir o controle de si mesmo chegar Sexta Vis o que corresponde aquisi o de sua identidade evolucion ria Na S tima Vis o ampliado o espectro da consci ncia c smica o homem ser capaz de identificar o sentido de todas as coincid ncias que as for as do Universo lhe apresentarem quer na forma de pensamentos de devaneios ou de sonhos A Oitava Vis o explica como podemos ajudar os outros enquanto eles nos trazem as respostas que buscamos A Nona Vis o por sua vez ajudaria a compreender o sentido das diferentes religi es existentes na Terra uma vez que toda a humanidade descobriria uma liga o com uma fonte superior que Deus E ao chegarem a essa nona vis o os m sticos descobrem que h ainda uma d cima vis o que deve ser encontra
51. a contraposi o entre a civiliza o e o homem O prop sito deste item do cap tulo 5 n o ser discutir a teoria psicanal tica de Freud nem dialogar com outros trabalhos que advogam as limita es e ou avan os quer dos estudos psicanal ticos quer dos antropol gicos em rela o a esse texto espec fico de Freud que aqui examinarei Meu prop sito ser apenas registrar como no in cio do s culo XX o autor interpretava a crise por que passava a sociedade moderna discutindo exatamente a contradi o entre o coletivo e o individual que o interesse espec fico deste trabalho Quando Freud indaga o que o ser humano deseja da vida sua resposta a felicidade a mesma que procura o leitor de Dalai Lama Esse desejo n o f cil de ser satisfeito pois as diferentes situa es que acaba tendo que enfrentar em sua vida levam o homem a viver muitos momentos de infelicidade Segundo o autor tr s s o as dire es a 153 partir das quais o sofrimento amea a o homem de nosso pr prio corpo condenado decad ncia e dissolu o do mundo externo que pode voltar se contra n s com for as de destrui o esmagadoras e impiedosas e finalmente de nossos relacionamentos com os outros homens p 25 A primeira causa de infelicidade inevit vel pois o definhamento do corpo a lei natural da vida a segunda epis dica pois pode ser consegii ncia do acaso ou do destino A terceira delas segundo F
52. a sensa o de conforto da fam lia dos executivos e dos empregados seja adequada Para cada empresa este ponto outro na escala Correndo o risco de ser pretensioso e did tico sobre um assunto que n o tem respostas corretas proponho abaixo para estudo e pensamento um roteiro de profissionaliza o de empresa familiar que tenha como objetivo a sobreviv ncia e prosperidade da empresa a longo prazo Os passos parecem ser mais ou menos os seguintes segue uma lista de 9 conselhos Virando a pr pria mesa de Ricardo Semler p 103 7 Tive uma carreira magn fica e foi este pa s os EUA que me deu a chance de fazer essa carreira Aproveitei a oportunidade mas n o fiquei de bra os cruzados Foram necess rios quase quarenta anos de trabalho duro As pessoas me dizem Voc um grande sucesso Como voc conseguiu E eu me volto para aquilo que meus pais me ensinaram Seja esfor ado Obtenha toda a instru o poss vel mas depois pelo amor de Deus fa a alguma coisa N o fique parado fa a alguma coisa acontecer N o f cil mas se voc se mantiver num 2 caminho determinado e trabalhar para chegar ao seu final impressionante como numa sociedade livre voc pode se tornar t o grande quanto desejar E preciso n o esquecer seja sempre grato por todas as b n os que Deus lhe der Iacocca Uma autobiografia de Lee Iacocca e William Novak p 399 grifos dos autores O alquimista e Brida de Paulo C
53. a ver com isso Siga frente ainda que o mundo inteiro esteja contra voc Voc h de vencer mesmo que fique sozinho Continue sem des nimo porque voc o nico respons vel por seus atos p 8 iii Modifique seu modo de pensar para que sua sa de se firme e estabele a Pare de queixar se de doen as A doen a aumentada pela nossa emiss o mental negativa Expulse a enfermidade confiando em sua cura Voc pode curar se Voc est melhorando cada dia mais sob todos os pontos de vista 10 Em i pode se perceber a vincula o do discurso enunciado aos princ pios religiosos na medida em que apela para a cren a em Deus como uma forma de al vio aos sofrimentos Em ii a mensagem centra se na concep o de individualidade isto que cada ser humano o centro de si mesmo e que deve acreditar na sua capacidade pessoal sem se preocupar com os outros Em ii ainda prevalece a mesma concep o do 86 individualismo expresso em ii o enunciador fala da capacidade que cada pessoa tem de dominar seu pr prio corpo isto de curar suas doen as de forma semelhante a que faz Louise Hay em seu livro Voc pode curar sua vida 20 A arte da felicidade Um manual para a vida de Dalai Lama e Howard C Cutler Em seu livro o psiquiatra norte americano Howard C Cutler faz um relato do contato que estabeleceu com a filosofia budista quando conheceu o l der espiritual e temporal do povo tibetano o monge
54. abordada a tem tica da sexualidade e da busca do verdadeiro amor uma vez que ela acredita ser poss vel haver um encontro perfeito entre corpo e alma num relacionamento Maria uma nordestina que teve uma adolesc ncia marcada pela frustra o amorosa Em decorr ncia disso depois que come a a perceber como pode manipular os homens com sua beleza e sensualidade decide economizar o sal rio que ganhava trabalhando num mercado e realizar seu sonho de conhecer o Rio de Janeiro Na praia de Copacabana conhece um empres rio su o que faz promessas de lev la para a Europa e torn la uma estrela Maria acredita nessas promessas e se muda para a desconhecida Genebra tendo em m os um contrato assinado que na verdade aprisionava a a um trabalho semi escravo de dan arina numa casa noturna Com a ajuda de um amigo consegue safar se desse lugar mas com o passar do tempo como n o consegue encontrar um trabalho com o qual possa se manter na cidade acaba caindo na prostitui o A partir desse cen rio que n o incomum para uma parcela das mulheres pobres brasileiras a narrativa de Onze minutos pretende falar sobre o amor com o objetivo de descrev lo como uma intensa rela o entre corpo e alma de mostrar como poss vel atingir a perfeita uni o e o sentimento duradouro e al m disso discutir sonhos e prostitui o 132 Uma vez mais Paulo Coelho constr i uma narrativa que diz ser real pois na nota final do liv
55. abulia querer n o fazer 6 2 6 Cren as O pen ltimo subtipo dos livros mais lidos pelo p blico brasileiro que denominei como cren as diz respeito especificamente a Minutos de sabedoria de Carlos Torres Pastorino Segundo a tipologia de g nero de Bakhtin ele se encaixa entre os textos dos chamados g neros prim rios pois segue a estrutura de um serm o de pregador n o critique lembre se de que n o deixe que resolva seu problema modifique seu modo de pensar aprenda a repousar sua mente etc Totalmente formado por enunciados injuntivos o texto ir dialogar com seu leitor para ensin lo a atingir a felicidade que consiste basicamente no reconhecimento da palavra de Deus Os minutos que levam sabedoria s o aqueles que correspondem ao tempo de reflex o que cada uma das partes desse pequeno livro deve oferecer a seu leitor Em seu discurso h a manuten o cont nua do tra o de subjetividade em que um eu se dirige a um tu para confort lo com a f A rela o entre os interlocutores parte de uma modaliza o epist mica pela certeza crer ser para incidir sobre a de ntica na forma de uma prescri o dever fazer Os minutos de sabedoria que o livro apresenta s o 218 o resultado desse saber constru do pela cren a num Deus que a todos salva e que deve ser aceita pelo enunciat rio do discurso Com sabedoria ele conseguir tudo na vida se ac
56. admire p 30 O incremento das rela es burocr ticas na sociedade norte americana para Lasch 1983 al m de impulsionar o crescimento do ego smo do Ad o americano promove a destrui o das diferentes formas de autoridade patriarcal o que um modo de enfraquecer o superego social embora n o aconte a a mesma coisa com o ego individual O decl nio da autoridade institucionalizada em uma sociedade ostensivamente permissiva no entanto n o leva a um decl nio do superego nos indiv duos Pelo contr rio encoraja o desenvolvimento de um superego severo punitivo que extrai a maior parte de sua energia ps quica na aus ncia de proibi es sociais autorit rias dos impulsos destrutivos e agressivos do id Elementos inconscientes e irracionais do superego passam a dominar sua opera o medida que as figuras de autoridade na sociedade moderna perdem sua credibilidade o superego nos indiv duos cada vez mais tem origem nas primitivas fantasias infantis sobre seus pais fantasias carregadas de dio s dico e n o de ideais do ego interiorizados formados pela experi ncia posterior com modelos amados e respeitados de conduta social p 32 3 Com o objetivo de mostrar como historicamente essa postura narc sica do homem contempor neo foi se construindo ao longo do tempo Lasch retoma a cr tica ao privatismo exposta por outro autor Richard Sennett Segundo essa perspectiva o descr dito das co
57. aparece no t tulo desse livro sua vida conduz a leitura do verbo numa acep o distinta daquela que indica restabelecimento por exemplo Curar sua vida antes de mais nada corrigir sua vida Embora o livro v mostrar como poss vel curar uma doen a de seu pr prio corpo restabelecer se de um mal seu objetivo primeiro mostrar como as pessoas devem agir para que suas vidas sejam boas em todos os sentidos isto como se pode ser feliz pela for a do pensamento e pela auto sugest o O t tulo do livro de Lair Ribeiro corresponde tamb m a uma senten a completa mas nele n o aparece um verbo modalizador Apesar disso poss vel verificar que a rela o entre o enunciador e o enunciat rio desse discurso modalizada tamb m por uma certeza crer ser Essa certeza decorr ncia do car ter verdadeiro da proposi o do enunciador e al m disso a nega o do verbo n o ocorre soa como uma advert ncia a seu interlocutor Se voc pensa que o sucesso acontece por acaso est enganado A partir do estabelecimento dessa verdade o enunciat rio afetado pelo desejo de querer saber o que precisa fazer para atingir o sucesso em sua vida Instaura se assim o percurso da leitura como busca do saber como aquisi o de compet ncia para a realiza o do fazer Dos cinco t tulos do subgrupo de autoconhecimento que correspondem a express es nominais tr s deles o de Daniel Goleman o de L
58. as quest es financeiras sempre mostrando sa das para aqueles que procuram respostas para seus problemas Quatro outros livros entre os mais vendidos no per odo em quest o representam tamb m preocupa es pr prias do homem contempor neo Assim Pare de engordar e S gordo quem quer tocam em quest es centrais para a est tica do corpo oferecendo receitas para seus leitores adequarem suas medidas aos padr es de beleza e de sa de esperados dos homens dos s culos XX e XXI Minutos de sabedoria retoma a quest o da cren a num Deus que reconforta e que torna o homem mais feliz enquanto Complexo de Cinderela pretende fazer com que a mulher mude seus padr es de comportamento 151 5 Escolhas de leitura como reflexo da cultura contempor nea Assim como um planeta gira em torno de um corpo central enquanto roda em torno de seu pr prio eixo assim tamb m o indiv duo humano participa do curso do desenvolvimento da humanidade ao mesmo tempo que persegue seu pr prio caminho na vida Sigmund Freud O mal estar na civiliza o At o cap tulo anterior procurei mostrar como se configura o copus da pesquisa evidenciando a distribui o dos livros mais consumidos pelo p blico leitor brasileiro em diferentes tem ticas explorei os procedimentos textuais pr prios dos textos mais lidos e levantei a quest o de que as prefer ncias dos leitores brasileiros s o determinadas pelo crescimento da perspectiva do individualismo e at
59. ator enquanto manifesta o da subjetividade no discurso consiste na inst ncia respons vel por um modo de ser que corresponde ao estilo do dizer Entendida a enuncia o como um desdobramento em n veis de manifesta o em que um enunciador e um enunciat rio pressupostos delegam voz a um narrador e a um narrat rio constru dos discursivamente e estes por sua vez reproduzem o dizer de um locutor e de um locut rio chega se reconstitui o dos sujeitos de linguagem Apreender o estilo em 201 uma totalidade corresponde ent o a reconstituir o modo de ser do ator enunciado Isso significa dizer que os valores euf ricos e disf ricos do discurso s o consegientes do fazer do sujeito da enuncia o e que mais do que isso s o decorrentes de um estado passional No momento ent o em que se reconstitui a maneira como se configura o enunciado chega se segundo a proposta de Discini 2003 ao ethos que o sustent culo do estilo respons vel pela configura o do car ter do ator da enuncia o em que est pressuposto um corpo e uma voz Nos termos da autora Para entender o estilo h tamb m muito o que buscar na considera o do ator de uma totalidade enquanto sujeito competente para fazer e sancionado por fazer bem como na considera o do sujeito relacionado compet ncia para simplesmente ser de um modo determinado o que sup e compet ncia n o apenas para transforma es ou advinhas de transforma es o
60. cada parte em atividade Imagine cada pedacinho do ponto de vista de um homem p 33 85 A partir do momento em que a mulher ent o est convencida de que capaz de atrair um homem e satisfaz lo sexualmente atingindo tamb m o prazer que v o sendo introduzidas as 203 dicas de jogos ou situa es er ticas para quebrar a monotonia dos relacionamentos 19 Minutos de sabedoria de Carlos Torres Pastorino considerado um cl ssico de auto ajuda O livro apresenta reflex es pensamentos conselhos com o intuito de auxiliar nas horas dif ceis e alegrar e enlevar a alma Portanto o enunciador dirige se diretamente ao enunciat rio como um conselheiro que o ajuda nas horas dif ceis O discurso que se manifesta no texto vincula se ao discurso religioso uma vez que o enunciador filia se ao espiritismo Suas mensagens portanto tocam em pontos individuais e religiosos Alguns exemplos de mensagens que aparecem em seu livro 1 Coloque Deus conscientemente em tudo o que faz em todos os seus problemas E verificar que seus sofrimentos se transformar o em experi ncia e aprendizado Coloque Deus em todos os seus pensamentos e sua vida se transformar num hino de alegria e louvor porque as dores se esvair o como as trevas que desaparecem aos primeiros clar es das luzes da aurora p 77 ii Cada um de n s respons vel por seus atos Por que vai desanimar pelo que os outros fizeram a voc Que tem voc
61. caracter stica do industrialismo Para que o processo de produ o dos objetos em s rie tenha xito necess rio que o funcionamento das m quinas a cargo dos oper rios obede a a um determinado ritmo sincronizado e em 171 consegii ncia o pr prio ato do trabalho tamb m esteja sincronizado Outra caracter stica da a o da segunda onda a quarta a concentra o O princ pio da concentra o que pode ser observado na conflu ncia de um n mero grande de pessoas no mesmo espa o o que desencadeia o crescimento urbano pode ser observado ainda em outras reas como na energia na educa o e na organiza o econ mica A quinta caracter stica levantada por Toffler 1993 em rela o era do industrialismo a maximiza o Ela explicada pelo autor por meio do comportamento das organiza es pr prias dessa era que est voltado para o ideal da grandeza do superdimensionamento dos espa os as grandes ind strias ocupam instala es gigantescas e empregam uma quantidade muito grande de trabalhadores A sexta e ltima caracter stica da chamada segunda onda consiste no processo de centraliza o em v rias atividades inclusive na economia o que ir gerar uma diferencia o entre as diversas sociedades do mundo contempor neo dependendo do grau de industrializa o que atingiu cada uma delas Essas seis caracter sticas da era industrial portanto s o fruto de uma nova vis o sobre o mundo criada pela nova ond
62. classificatoriamente organizados em cada lista mensal e com as ferramentas desse mesmo programa inserido no Microsoft do Office do Windows cheguei aos diferentes gr ficos em anexo que indicam os livros mais vendidos durante os 38 anos de pesquisa de 1966 a 2004 e os mais vendidos por d cada O crit rio utilizado para a classifica o dos livros mais vendidos foi o n mero de vezes que eles apareceram nas listas dos dez mais independentemente da posi o que nelas ocupavam Assim por exemplo no gr fico 1 o livro mais vendido O alguimista de Paulo Coelho pois apareceu 59 vezes nas listas dos dez mais vendidos no per odo de 1966 a 2004 em segundo lugar est Virando a pr pria mesa de Ricardo Semler que aparece nas listas 40 vezes e assim sucessivamente at chegar no vig simo primeiro classificado Esta o Carandiru de Dr uzio Varella que aparece 22 vezes nas listas dos mais vendidos Como possu a registro de livros mais vendidos em dois diferentes ve culos impressos o jornal Leia e o Jornal do Brasil optei por uma forma de agrupamento desses dois ve culos Para tanto mantive integralmente o registro do jornal Leia de maio 1978 a out 1991 e acrescentarei a ele o levantamento do per odo anterior e o do posterior n o coincidente com o do jornal Leia do Jornal do Brasil de set 1966 a fev 1976 e de nov 1991 a dez 2004 A partir desse agrupamento de dados estabeleci ainda cinco diferentes gr ficos com o levantamen
63. com insuficiente aten o e respeito mas n o t m espa o para falar o que pensam e acham que o empres rio vive numa ilha da fantasia sabendo pouco sobre o que acontece na empresa Como que se conciliam estas duas posi es S o inconcili veis Se voc um dos que acreditam que na sua empresa as coisas s o diferentes fa a um question rio franco e an nimo e distribua para os funcion rios preencherem Depois de tabular o resultado refreie o impulso de perguntar ao Departamento Pessoal se as respostas podem ser enquadradas no artigo de insubordina o da CLT que trata de justa causa O nico que merece justa causa por insubordinar se lei da natureza humana que diz que as coisas s t m futuro se todas as partes se sentem satisfeitas voc mesmo A verdade que o funcion rio da empresa moderna tem pouco para se sentir satisfeito muito menos realizado A empresa de hoje n o tem tempo nem interesse em ouvi lo e n o tem recursos suficientes para trein lo para coisas melhores Exige um elenco de coisas e retribui com um sal rio insuficiente e implac vel na dispensa se ele come ar a ficar velho ou tiver queda de desempenho tempor ria Al m disso manda o para a aposentadoria com amargas recorda es 59 de injusti as ou com a sensa o de que poderia ter ajudado muito mais se algu m tivesse pedido sua opini o p 73 No trecho acima percebe se claramente o discurso humano do novo empres
64. consome uma divers o ou um saber A leitura como passatempo est refletida nas categorias de humor de fantasia e de a o e intriga que correspondem a quatro dentre os livros mais vendidos A leitura como busca do saber distingue se entre autoconhecimento misticismo e esoterismo individualidade e sexualidade mundo dos neg cios e cren as os textos de auto ajuda perfazendo um total de treze livros e conhecimento sobre algo ou algu m que compreende as categorias de mem rias e didatismo filos fico hist rico em que est o classificados quatro livros O que merece uma vez mais aten o o fato do predom nio dos livros de auto ajuda nas listas dos mais vendidos durante o per odo de 1966 a 2004 Poder se ia pensar inicialmente que a tend ncia de consumo desse tipo de livro tem uma explica o mercadol gica na medida em que as editoras investem maci amente nesse tipo de leitura porque utilizada uma linguagem mais simples no contato entre o enunciador e seu leitor o que na terminologia de Jakobson 1975 significa o predom nio da fun o referencial e n o da fun o po tica pr pria da chamada alta literatura e porque antes de pensar no prazer est tico que uma obra possa oferecer para um p blico mais espec fico leva se em considera o o valor utilit rio do livro 100 Mas poss vel pensar e acredito que essa seja uma explica o mais pr
65. consumidos pelo leitor brasileiro 7 de um total de 23 O sucesso n o ocorre por acaso Intelig ncia emocional Comunica o global Voc pode curar sua vida A arte da felicidade Perdas e ganhos Um dia daqueles Trata se portanto de discursos que visam transfer ncia de um saber para o sujeito leitor um discurso que fala individualmente para sujeitos individuais 148 Como fa o para alcan ar o sucesso profissional e pessoal Lair Ribeiro poder ensinar lhe Como conseguir valer me de minha intelig ncia emocional para ser uma pessoa bem sucedida no trabalho Daniel Goleman tem todas as respostas Como conseguir flu ncia para me comunicar com os outros Novamente Lair Ribeiro pode ajud lo a se transformar num ex mio comunic logo Como posso vencer a doen a que me leva morte Louise Hay pode trein lo a enfrentar o c ncer com o poder da mente O que preciso fazer para ser feliz Dalai Lama e Howard Cutler t m todas as t cnicas necess rias para derrotar a ansiedade e a inseguran a a contrariedade e o des nimo do dia a dia Como enfrentar o envelhecimento e a degrada o do corpo Os conselhos de Lya Luft ir o confort lo O que preciso fazer para vencer o des nimo da vida cotidiana Basta folhear o livro de Bradley Greive e absorver seus ensinamentos Com o objetivo de auxiliar seus leitores no enfrentamento das situa es de vida de cada um a vertente do autoconhecimento da categoria de auto ajuda funciona c
66. corpus que forne a as informa es necess rias para se chegar a uma caracteriza o do p blico leitor Esta pesquisa partiu portanto da hip tese de que o levantamento dos livros mais lidos pelo p blico brasileiro levar me ia um perfil desse leitor isto poderia chegar a conhec lo por meio do levantamento dos temas que mais lhe despertavam interesse quando propunha realizar o ato de leitura A partir da detec o desse universo de leituras que poderia ent o observar quais s o os textos mais lidos pelo p blico brasileiro e por meio do aparato te rico metodol gico da semi tica perspectiva a partir da qual tenho desenvolvido minhas pesquisas desde o mestrado at o p s doutorado examinar os mais representativos para chegar a um poss vel perfil desse leitor Como imposs vel caracterizar os leitores propriamente ditos parto da hip tese de que a escolha que ele faz do que l reflexo de seus interesses valores e desejos Embora n o levasse em considera o a perspectiva te rico metodol gica da semi tica para a an lise das obras mais vendidas no final do s culo XIX e come o do XX foi com mesmo esp rito que El Far 2004 produziu seu trabalho Tendo em vista que o livro al m do seu conte do intr nseco carrega consigo mecanismos de fabrica o distribui o e publicidade ingredientes fundamentais na atividade criativa da leitura julguei necess rio analisar essa literatura dita popular em compa
67. da Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes na capital paulista de propriedade do editor Cl udio Giordano mas nela havia apenas registro dos livros editados no Brasil pelas diferentes editoras existentes mas nenhuma refer ncia venda de livros e menos ainda a livros mais vendidos Durante minha primeira consulta ao acervo da Biblioteca Nacional al m de completar os registros de Leia obtive a informa o de que o Jornal do Brasil veiculava uma lista de livros mais vendidos no Brasil num caderno publicado aos s bados que se intitula Id ias Em consulta ao banco de dados da biblioteca constatei que esse jornal embora tivesse sido fundado em 1890 come ou a publicar uma coluna dos livros mais vendidos no Brasil apenas no n mero 2 de seu caderno intitulado Suplemento do Livro que come ou a ser editado em agosto de 1966 17 Os exemplares mais antigos do Jornal do Brasil estavam todos microfilmados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro mas era imposs vel registrar os dados porque os microfilmes estavam em p ssimo estado de conserva o muito riscados o que impedia a leitura do que neles estava registrado vista dessas condi es entrei em contato com o setor de biblioteca do Jornal do Brasil e solicitei um registro das listas de livros mais vendidos publicados pelo jornal para dar continuidade a minha pesquisa Mantive contato com a bibliotec ria chefe do acervo do Jornal do Brasil e com ela consegui por
68. da fase anterior as pessoas se dispersam e se voltam para suas quest es pessoais desinteressando se pelas institui es pol ticas e n o mais vendo sentido em fazer uso da viol ncia para se contrapor a uma poss vel a o de controle A grande fase do individualismo revolucion rio termina diante de nossos olhos depois de ter sido um agente de guerra social o individualismo passa a contribuir para aboli o da ideologia da luta de classes Nos pa ses ocidentais desenvolvidos a era revolucion ria est encerrada a luta de classes se institucionalizou n o mais portadora de uma descontinuidade hist rica os partidos revolucion rios s o totalmente deligiescentes por toda a parte a negocia o se imp e sobre os enfrentamentos violentos A segunda revolu o individualista causada pelo processo de personaliza o tem como consequ ncia uma desafei o de massa pela res publica e em particular pelas ideologias pol ticas depois da hipertrofia ideol gica a desenvoltura em rela o aos sistemas de sentido Com a emerg ncia do narcisismo a ordem ideol gica e seu manique smo caem na indiferen a tudo o que tem um teor de universalidade e de oposi es exclusivas n o age mais sobre uma forma de individualismo muito tolerante e m vel A ordem r gida e disciplinar da ideologia se tornou incompat vel com a desestabiliza o e a humaniza o cool O processo de pacifica o ganhou o todo coletivo a civiliza o do c
69. das no enunciado a partir da escolha realizada O texto por sua vez compreende duas ordens de manifesta o a enuncia o enunciada que corresponde aos componentes ling sticos indicadores de pessoa de tempo de espa o e dos elementos que materializam o ponto de vista do eu que enuncia e o enunciado enunciado que o produto da enuncia o desprovido das marcas da subjetividade Na medida por m que os actantes s o posi es enunciativas ao se constituir o texto o actante passa a ser investido de um componente tem tico figurativo que o torna um ator Ele corresponde portanto ao enunciador e ao enunciat rio do discurso O enunciador do texto seu autor e o enunciat rio seu leitor Cabe dizer por m que autor e leitor s o entendidos aqui como simulacros e n o como seres do mundo real Isso significa dizer que o enunciador a imagem de autor constru da pelo discurso da mesma forma que o enunciat rio a imagem de leitor constru da pelo enunciador com o objetivo de determinar o sujeito para quem ele dirige o seu dizer nesse sentido portanto que se diz que o enunciat rio a outra face do sujeito da enuncia o uma vez que dois enunciadores est o manifestos o Enunciador o enunciador propriamente dito e o Enunciador o enunciat rio A semi tica no entanto al m de reconhecer no texto o enunciador e o enunciat rio enquanto formas de manifesta o do autor e do leitor identifica nesse mesmo objet
70. de Jean Jacques Servan Schreiber e Crimes de guerra no Vietn de Bertand Russell Desses quatro livros de tem tica social dois s o romances Quarup e O prisioneiro e dois s o ensaios O desafio americano e Crimes de guerra do Vietn sendo que do ponto de vista ideol gico o primeiro est mais direita e o segundo mais esquerda Publicado em 1967 Quarup o mais famoso romance de Ant nio Callado Guarda o clima de sua poca e reconstr i a hist ria de Nando padre pernambucano que nutre o sonho de reconstituir as miss es jesu ticas Conhece Francisca e o noivo Levindo dois jovens revolucion rios que participam das Ligas Camponesas e interessa se pela causa social De passagem pelo Rio conhece pessoas ligadas ao Servi o de Prote o aos ndios Parte para o Xingu em poca de conturba o pol tica causada pelo atentado a Lacerda e marcada pelos ltimos momentos do governo de Get lio Vargas chefe pol tico que naquela ocasi o era esperado para a inaugura o do Parque do Xingu Enquanto os ndios 105 preparavam a grande festa dos mortos o quarup recebem a not cia do suic dio de Vargas Passam se os anos Nando renuncia ao sacerd cio e passa a trabalhar com a alfabetiza o de camponeses cujo movimento ganha for a no governo de Miguel Arraes Os principais momentos da pol tica est o presentes desde a queda de Goulart at a instaura o da ditadura militar e a repress o aos militantes de esquerda
71. elemento qu mico que age no organismo humano de maneira a alterar sua sensa o a segunda um estado patol gico que tem o mesmo princ pio da intoxica o s que n o se d pela administra o de nenhuma droga ao corpo a terceira corresponde a uma sublima o dos instintos quando se consegue intensificar suficientemente a produ o de prazer a partir das fontes do trabalho ps quico e intelectual p 28 a quarta manifesta se por meio da nega o absoluta do conv vio com os outros que o princ pio de isolamento do eremita ou pela recria o da realidade em que o sujeito elimina a fonte de sua frustra o e a substitui por elementos mais adequados ao seu desejo o que pode gerar a loucura ou o fanatismo religioso 154 A despeito por m da op o que o indiv duo fa a para atingir seu estado de contentamento ou seja seu estado de felicidade uma vez que n o existe uma regra absoluta para atingi la pois segundo Freud todo homem tem de descobrir por si mesmo de que modo espec fico ele pode ser salvo p 33 uma condi o imprescind vel sua constitui o ps quica Em fun o dessa afirma o o autor considera tr s possibilidades de constitui o do ser humano o homem er tico o narcisista e o de a o O primeiro d prefer ncia aos seus relacionamentos emocionais com outras pessoas o segundo busca a auto sufici ncia na medida em que privilegia satisfazer seus processos mentais internos o ter
72. enquanto g nero de discurso estarei privilegiando seu aspecto cultural como j afirmaram Greimas e Cout s 19857 no trecho acima citado Esse um dado importante quando se pensa a auto ajuda exatamente porque ela deve ser entendida como um fen meno s cio hist rico que vai se difundindo cada vez mais em nossa sociedade contempor nea quer a chamemos moderna p s moderna ou p s moralista para usar a terminologia de Lipovetski Se acrescentar por m as caracter sticas tipol gicas ao exame do discurso de auto ajuda acredito que ser poss vel chegar a uma classifica o mais precisa e a partir da poderei comprovar a id ia de que al m de ser marcada por um estilo particular a auto ajuda expande seu horizonte de proje o para uma forma de ser que acaba constituindo um estilo da literatura de mercado do mundo contempor neo Com o objetivo de comprovar essa id ia examinarei para concluir este cap tulo os textos que classifiquei como de auto ajuda na tabela 2 que aparece em anexo ao final deste trabalho Pretendo portanto observar quais s o as caracter sticas espec ficas dos textos que se distribuem pelos sete subtipos classificados como de auto ajuda no referido quadro 6 2 1 Autoconhecimento No primeiro subtipo que chamei autoconhecimento encontram se os seguintes t tulos O sucesso n o ocorre por acaso de Lair Ribeiro Intelig ncia emocional de Daniel Goleman Comunica o global de Lair Ribe
73. es discordantes p 17 Ao propor uma epistemologia das paix es Greimas e Fontanille 1993 associam na sensa o olfativa raz o pela qual s o detectadas pelo sentir como o perfume as paix es n o s o propriedades exclusivas dos sujeitos ou do sujeito mas propriedades do discurso inteiro e elas emanam das estruturas discursivas pelo efeito de um estilo semi tico que pode projetar se seja sobre os sujeitos seja sobre os objetos seja sobre sua jun o Poder falar de paix o portanto tentar reduzir esse hiato entre o conhecer e o sentir Se a semi tica dedicou se num primeiro momento a evidenciar o papel das articula es modais moleculares bom que ela procure dar conta agora dos perfumes passionais que suas ordena es produzem p 21 2 Segundo os autores as paix es portanto consistem em efeitos de sentido de qualifica es modais que incidem sobre o sujeito de estado Para compreender essa afirma o torna se necess ria uma recupera o da configura o modal do sujeito de estado e por conseguinte do sujeito do fazer O sujeito de estado corresponde a um actante da narrativa que busca estabelecer com o objeto do desejo uma rela o de conjun o ou de disjun o Trata se portanto de uma configura o terminativa na medida em que corresponde a uma posi o sint tica do sujeito num enunciado narrativo m nimo Num contexto em que algu m por exemplo
74. es e sua confian a outorgar ao que vai encontrar nas pr ximas p ginas Ou retir las Seja como for e com isto concluo se a grande viagem do Major foi n o mais do que um sonho desse homem estranho e atormentado que Deus aben oe os sonhadores p 57 Esse um recurso utilizado pelo enunciador para discutir com seu enunciat rio a veracidade do fato narrado Assumindo o lugar de rep rter que n o se nega a divulgar os fatos que lhe caem s m os argumento de autoridade o enunciador ir levantar d vida sobre o que ir contar estabelecendo com seu enunciat rio um jogo de cren a e certeza De certa forma como se deixasse nas m os de seu enunciat rio a decis o de reconhecer no discurso uma verdade ou uma falsidade destacando apenas o aspecto humanizador da hist ria relatada 11 4 profecia celestina James Redfield Trata se de um romance de autor norte americano que narra uma saga em busca da verdade espiritual Um antigo manuscrito encontrado nas florestas peruanas contendo nove vis es que a ra a humana precisa conhecer para alcan ar a sabedoria no pr ximo mil nio A cada cap tulo o leitor se informa sobre cada uma dessas vis es ou insights acompanhando a aventura de um homem que sobe at o alto das montanhas dos Andes e transita pelas ru nas de velhas florestas O pref cio desse livro de Redfield escrito por Paulo Coelho na edi o por mim consultada Em seu texto o autor brasileiro v
75. esse livro deve ser considerado um tratado que 189 consistia em sua origem na sistematiza o de um s rie de palestras que o autor proferiu para um grupo de trabalhadores que por conta pr pria havia se reunido para aprender a ler e a escrever e ensinar se mutuamente qu mica geografia e matem tica em Leeds Com o livro ele pretendia mostrar aos leitores como havia procurado mostrar para aquela gente o bem que cada um de n s pode em maior ou menor escala fazer para si pr prio e provar porque a felicidade e o bem estar individuais no decurso da vida dependem principalmente e necessariamente de n s da cultura diligente e da disciplina de si mesmo mas sobretudo do cumprimento exato do dever individual em que consiste a gl ria de um car ter p 33 grifos do autor O que Riidiger procura mostrar portanto que a auto ajuda origin ria do s culo XIX apontava sim para o car ter individualizante da sociedade industrial em processo tal como foi discutido no cap tulo anterior mas seu objetivo n o era discutir com as pessoas seus leitores uma forma de atingir o prazer a satisfa o individual O principal interesse desse texto que inaugura a auto ajuda contribuir para a forma o do car ter do leitor Assim a auto ajuda surge num per odo em que predominava a concep o do dever o que caracteriza a sociedade moralista nos termos de Lipovetsky Ao dar conselhos ao leitor pensando em refor
76. exposi o das quest es filos ficas discutidas em cada um dos cap tulos assume em fun o dessa imagem do leitor infantil um tom pedag gico na medida em que pretende explicar cada um dos princ pios em que as diferentes correntes de pensamento da filosofia Ocidental est o assentadas No in cio da narrativa h muitos trechos que reproduzem o tom da carta em que um sujeito est se dirigindo garota para discutir determinadas quest es do mundo pr tico que levar o a uma discuss o filos fica 60 Querida Sofia Muitas pessoas t m hobbies diferentes Algumas colecionam moedas e selos antigos outras gostam de trabalhos manuais outras ainda dedicam quase todo o seu tempo livre a uma determinada modalidade de esporte Tamb m h os que gostam de ler Mas os tipos de leitura tamb m s o muito diferentes Alguns l em apenas jornais ou gibis outros gostam de romances outros ainda preferem livros sobre temas diversos como astronomia a vida dos animais ou as novas descobertas da tecnologia Mas ser que existe alguma coisa que interessa a todos Ser que existe alguma coisa que concerne a todos n o importando quem s o ou onde se encontram Sim querida Sofia existem quest es que deveriam interessar a todas as pessoas E sobre tais quest es que trata este curso p 24 O que se pode perceber no trecho da carta acima reproduzido a maneira como o interlocutor tratado Em todo o livro h um tom professor
77. fazer do enunciador age sobre o enunciat rio para que ele fa a Ao aceitar a certeza expressa no discurso do enunciador quer esteja mobilizado pelo desejo quer pela voli o o enunciat rio reconhece no discurso um dizer verdadeiro sobre como evitar o estresse do dia a dia 6 2 2 Misticismo e esoterismo O segundo subtipo em que dividi a categoria dos livros de auto ajuda das listas dos mais vendidos dos jornais Leia e Jornal do Brasil que chamei misticismo e esoterismo compreende cinco t tulos O profeta de Khalil Gibran O alquimista Brida e As Valgu rias de Paulo Coelho e A profecia celestina de James Redfield Embora n o tenham o formato cl ssico do que se convencionou chamar auto ajuda pois n o s o livros com discurso dissertativo injuntivo que proponha instruir o leitor na resolu o de seus problemas de vida pode se verificar que seu prop sito exatamente o mesmo Os cinco t tulos aqui apontados correspondem a cinco diferentes narrativas que apresentam a seus leitores uma op o para atingir um estado de satisfa o de felicidade pessoal por meio da ades o a um ponto de vista sobre o mundo que envolve uma cren a em entidades e elementos sobrenaturais Todos os livros inclu dos nesse subtipo consistem em narrativas predominantemente constru das em terceira pessoa com exce o apenas do 207 livro de Redfield cuja hist ria contada segundo a perspectiva de uma primeira pessoa que uma personag
78. fica que a dos textos parab licos Seguindo essa mesma estrutura aparece o campe o absoluto de vendagens O alquimista de Paulo Coelho A pr pria compara o entre os t tulos O profeta e O alquimista aponta para uma identifica o tipol gica entre eles O texto de Paulo Coelho uma narrativa em terceira pessoa cujo prop sito central consiste em mostrar o princ pio da chamada Lenda Pessoal Como j apontei em outra parte deste trabalho a hist ria do pastor que sai em busca de um tesouro uma par bola que visa divulga o de um ensinamento Acima de qualquer cren a religiosa o que a hist ria procura mostrar que todas as pessoas que acreditam em seus sonhos chamados de linguagem de Deus sempre obter o sucesso Os elementos m sticos entendidos como relativos a cren as em coisas sobrenaturais sem base racional ao conhecimento revelado manifestados ao longo do texto misturam se assim ao discurso religioso entendido como referente a uma religi o ou conjunto de dogmas e pr ticas pr prias de uma confiss o religiosa Cabe ressaltar por m que enquanto no texto de Khalil Gibran a sobreposi o do discurso em primeira pessoa da personagem central marca a subjetividade em O Alquimista predomina o efeito de objetividade porque mantida sempre a voz de um enunciador que est ausente espacial e temporalmente dos fatos que s o contados Os outros dois livros de Paulo Coelho Brida e As Valgu rias const
79. j aconteceu com livros dos subtipos anteriores por um sujeito que n o quer se identificar por isso n o tem nome Depois de muitos anos de insatisfa o M descobre o que ser um homem sensual e deseja passar seu conhecimento para que outros homens tamb m tenham uma vida feliz e prazerosa Seu relato portanto a afirma o de uma verdade porque a hist ria da vida real de um sujeito e responde a um desejo um querer ser do enunciat rio em falta Para alterar seu estado de insatisfa o o sujeito enunciat rio parte de uma necessidade dever ser para atingir a ess ncia o ser revelada pelo relato do enunciador 211 O t tulo do livro de St Claire 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama instaura as mesmas modaliza es da necessidade e da prescri o acima apontadas Diferentemente do livro anterior por m o enunciado que corresponde a seu t tulo n o se caracteriza como uma defini o ser mas como uma receita como fazer que parte da instaura o de uma prescri o dever fazer A falta do enunciador ser suplantada na medida em que ele siga as instru es que lhe s o apresentadas por um discurso do saber As escolhas lexicais do t tulo do livro de St Claire apontam para o excesso pois o enunciador n o prop e ensinar duas cinco ou dez maneiras de se atingir o prazer sexual mas 203 m todos diferentes E o enunciador n o deve apenas satisfazer o parceiro mais do que isso deve enlouquec lo O
80. leitores parecem vivenciar um momento de lazer O que chamei especula o cient fica como leitura de passatempo diz respeito no caso espec fico do levantamento realizado para esta pesquisa ao livro de Erich von 18 O uso desses aparelhos inclusive um sintoma do individualismo que j apontei aqui como uma das grandes caracter sticas de nossas sociedades ocidentais contempor neas Mesmo em meio a uma multid o poss vel estar isolado escutando suas m sicas preferidas 146 D niken Muito da propaganda criada em torno dessa obra tinha a ver com o inusitado do que ali era apontado O enunciado assume um tom cient fico aos moldes de uma pesquisa cient fica com provas apresentadas para justificar as posi es tomadas pela enuncia o e com isso cria um fato mercadol gico que a discuss o em torno de seu conte do Na poca em que Eram os deuses astronautas atinge grande sucesso foi motivo de discuss es nas imprensa sobre as posi es pol micas por ele apresentadas quando pretendia apresentar uma explica o para os fatos narrados na b blia Em uma dire o contr ria dos livros anteriormente referidos aparecem nas listas dos mais vendidos alguns outros que refletem uma busca por um saber que muitas vezes referem se a um aspecto da realidade social brasileira ou estrangeira e aos fundamentos da ci ncia como o caso da narrativa O mundo de Sofia que classifico como didatismo filos fico Nesse grupo d
81. livreiro ao livro leitor N o ser pois um suplemento liter rio ou um ve culo de literatura na completa acep o do termo mas um veiculador de id ias postas em livro um orientador permanente do leitor sobre tudo o que publica o mercado editorial ao estilo e fei o dos melhores e mais conceituados suplementos dos grandes jornais e revistas europeus e norte americanos Embora afirme seu prop sito exclusivo de informar ao leitor a respeito de tudo o que o mercado editorial brasileiro lan a nas livrarias com uma distin o curiosa entre 19 livro id ia livro autor livro editor livro livreiro livro leitor e de se dizer um suplemento n o liter rio ao final desse texto de apresenta o no ltimo par grafo aparece o seguinte O leitor contar ainda mais com a colabora o de alguns dos mais considerados cr ticos de letras de escritores professores e jornalistas para a apresenta o de reviews dos livros que obtiveram n o s a prefer ncia popular mas os aplausos da cr tica Entre os que chamamos a colaborar de forma permanente est o os Srs Otto Lara Resende Carlos Lacerda H lio P lvora Ant nio Callado Paulo R nai Willy Levin R Souza Dantas Luiz Orlando Carneiro Walmir Ayala e outros Tal como o Leia portanto o esp rito do suplemento do JB divulgar os lan amentos do mercado editorial o que de grande interesse para as editoras e por outro lado influenciar o leitor na de
82. m os pernas bra os peito costas pesco o s o reflexos dessas novas cren as O homem contempor neo n o acredita mais naquele Deus centralizador das velhas religi es mas cr numa energia numa entidade numa for a numa luz nos astros Mas o homem contempor neo mergulha mais ainda em si mesmo Al m de buscar o autoconhecimento e de procurar explica es diferentes para o desconhecido preocupa se tamb m com sua sexualidade Depois da libera o sexual dos anos 60 o homem mergulha na explora o daquilo que lhe mais ntimo o prazer do sexo Embora tenha sido classificado como mem ria o livro de Henry Miller Sexus um representante bastante caracter stico desse homem dos anos 60 que est a busca do prazer do corpo Mas o sexo ser a preocupa o de outros livros da rela o dos mais vendidos no Brasil entre 60 e 2000 Eles s o O homem sensual A insustent vel leveza do ser 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama e Onze minutos De formas diferentes a quest o sexual tratada pelos livros mais vendidos Enquanto O homem sensual e 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama funcionam como textos programadores isto aqueles que como os de autoconhecimento que oferecem t cnicas para se chegar a determinado objetivo A insustent vel leveza do ser associa o sexo como uma forma de extravasar a insatisfa o do indiv duo que se v aprisionado por um sistema pol tico totalit rio e Onze minutos a reden
83. mais vendidos s o apresentados ainda com a divis o em cinco capitais com o registro em cada uma delas dos nomes de cinco livros nacionais e de cinco estrangeiros O Suplemento do Livro existiu de agosto de 1966 a dezembro de 1969 quando foi editado o suplemento de n mero 41 Meu levantamento apresenta algumas lacunas entre esses quarenta e um primeiros n meros ou porque a biblioteca do JB n o tivesse um exemplar do jornal ou porque as listas dos mais vendidos n o sa am em todos eles A partir do dia 30 de janeiro de 1971 o Jornal do Brasil volta a publicar um suplemento dedicado ao livro Seu nome agora Livro Suplemento do Jornal do Brasil e sua numera o volta para o primeiro algarismo de tal forma que o suplemento desse s bado corresponde ao ano 1 n mero 1 Mantendo ainda a coluna dos livros nacionais mais vendidos e a dos livros estrangeiros o suplemento veicula mensalmente ent o dez nomes para cada categoria Nesse n mero de janeiro o suplemento Livro apresentado da seguinte maneira por sua equipe editorial Volta a circular o Suplemento que o JORNAL DO BRASIL dedica especialmente ao livro Neste ltimo s bado de janeiro e mensalmente estaremos n o s nas bancas de jornais mas nas livrarias O Suplemento do Livro pretende ser o ve culo mais acess vel ao livro e mais diretamente voltado para o leitor de livros em todo o pa s Acess vel ao livro id ia ao livro autor ao livro editor ao livro
84. marketing genial ou por qualidades intr nsecas da obra Esse leitor que agora escreve n o s se contrap e leitora anterior mas tamb m aponta para duas quest es que na verdade se complementam Em que medida pode se pensar o estatuto de mercadoria a um livro O que um best seller Um livro que vende bem porque est amparado por um marketing genial ou porque bom mesmo 2 interessante apontar um fato de minhas pesquisas nas bibliotecas em que fiz o levantamento do Leia Nos exemplares do jornal a que tive acesso na biblioteca M rio de Andrade de Araraquara foi curioso notar a presen a do leitor do jornal em algumas marcas por ele ali deixadas Como o acervo da biblioteca de doa es pude perceber que existia um leitor que se guiava pelas listas dos mais vendidos fazendo marcas em determinados livros ou para dizer que j havia lido ou para selecionar uma compra futura 13 Para incrementar essa pol mica em torno do autor de best seller da boa e da m literatura dois cariocas escrevem para a se o de cartas do leitor de Leia Subliteratura Quero cumpriment los pela publica o da excelente entrevista com Saul Bellow LEIA n 91 um dos melhores escritores contempor neos Desafortunadamente este autor americano n o tem recebido a acolhida que mereceria do p blico brasileiro Tamb m aproveito a ocasi o para falar com uma leitora desavisada que na se o de cartas deste jornal coloc
85. muito na revista Lire que eu havia encontrado nas bancas de revista na Fran a Diferentemente dela por m embora apresentasse formatos de textos bastante semelhantes entrevistas cr ticas sobre obras lan amentos etc publicava sempre uma rela o dos livros mais vendidos no territ rio nacional Minha pesquisa iniciou se na biblioteca M rio de Andrade do munic pio de S o Paulo quando para ali fui para obter uma resposta a minha pergunta inicial que consistia em saber como chegar aos livros mais vendidos no Brasil O bibliotec rio encaminhou me para a sala de peri dicos e me indicou a revista Veja e o jornal Leia Livros Embora a rela o dos livros mais vendidos apresentada pelo Leia Livros iniciasse em maio de 1978 e a da Veja em setembro de 1968 optei pelos dados do Leia Livros porque verifiquei por meio de um exame dos diferentes exemplares do jornal que eles refletiam um trabalho de pesquisa realizado em diferentes livrarias do pa s inteiro A cada lista publicada apareciam as livrarias que haviam fornecido os dados para o levantamento J as listas da Veja revista publicada pela editora Abril eram mais inconstantes e variava muito o n mero de livros elencados Na primeira lista publicada no n 1 de 11 de setembro de 1968 aparecem os nomes de cinco livros mais vendidos sem indica o da fonte de informa o para sua obten o No n 2 de 18 de setembro de 1968 a lista cont m doze livros no n 3 de 25 d
86. na 12 EE Todas as refer ncias ao livro O homem sensual apresentam seu autor simplesmente denominado como M Em nenhum registro por m pude identificar o que significa essa letra 115 prefer ncia do p blico leitor e que corresponde a Eram os deuses astronautas de Erich von D niken Em seu livro o autor procura provar a exist ncia de outros seres inteligentes no universo e atrav s de achados arqueol gicos monumentos antigos mapas e marcas intrigantes em solos rochosos prop e que extraterrestres tenham trazidos grandes conhecimentos aos povos que existiram desde h anos no planeta Entre os livros mais lidos na quinta e ltima categoria dos mais vendidos na d cada de 1970 a de a o e intriga est o elencados novamente tr s cl ssicos dos best sellers norte americanos O exorcista de William Peter Blatty o terceiro livro na prefer ncia do leitor brasileiro dessa d cada Sua narrativa aborda fatos estranhos que acontecem nos Estados Unidos da Am rica Atingida por uma doen a que os melhores especialistas n o conseguem descobrir uma crian a possu da por um esp rito maligno caminha para a morte semeando a destrui o sua volta ao mesmo tempo que se vai apagando numa agonia atroz imagem do mal que toma posse da menina identifica se com a id ia do dem nio que tem uma grande for a e sobrevive mesmo depois que abandona o corpo da garota O final do romance disf rico uma vez que mostra a impot
87. na reconstitui o da vida de uma personagem que fez parte da hist ria do movimento comunista no Brasil o que acaba redundando na constru o de um panorama sociopol tico brasileiro da poca e na den ncia das a es nazistas durante a segunda grande guerra Nesse livro n o reconstitu da a hist ria do pr prio enunciador como em 2 e 17 pois uma terceira pessoa que valendo se de pesquisa de dados escritos e de depoimentos reconta maneira dos relatos jornal sticos os fatos vividos pela personagem central N o inclu esse livro por outro lado na categoria intitulada tem tica social que aparece por exemplo no levantamento da d cada de 1960 porque o grande foco do livro como j apontei anteriormente o drama pessoal da hero na Olga e seu relacionamento amoroso com Prestes o que torna a quest o social o pano de fundo da narrativa e n o exatamente seu tema Embora assuma tamb m um tom jornal stico 21 constr i se como o relato do enunciador a partir de uma experi ncia vivida Esse enunciador por sua vez n o a personagem central dos enredos apresentados pois funciona como testemunha de fatos vividos no pres dio do Carandiru ou como destinat rio de hist rias contadas por diferentes pessoas que viveram ou trabalharam naquele pres dio O registro dos fatos mostrados no livro organiza se a partir de uma tica realista na medida em que o enunciador afirma sempre para o enunciat rio que tudo o q
88. nomes de autores ou pesquisadores n o diz onde obteve as informa es que veicula Somente no exemplo iii h uma indica o mais precisa do texto que cita A primeira e segunda forma de refer ncia a uma autoridade cient fica s o caracter sticas de muitos textos de auto ajuda pois esse recurso funciona como uma maneira de desfazer a imagem do senso comum do discurso desse tipo de literatura O livro de Cutler organizado em cinco partes A primeira intitulada O prop sito da vida trata da quest o da felicidade como aquilo que almejado por todo ser humano A segunda O calor humano e a compaix o aborda a necessidade que as pessoas sentem de construir relacionamentos ntimos em suas vidas A terceira parte A transforma o do sofrimento discute a quest o da dor como algo inevit vel na vida das pessoas e as formas de super la A quarta Supera o de obst culos aborda as formas de lidar com quest es interiores da vida humana raiva dio ansiedade e amor pr prio e as formas de superar os problemas a elas relacionados A quinta e ltima parte do livro Reflex es sobre como levar uma vida espiritual apresenta ensinamentos de como atingir a verdadeira espiritualidade ao mesmo tempo que mostra que ela n o precisa necessariamente estar ligada a uma religi o espec fica A quest o central por m a partir da qual se estrutura o discurso que sustenta o livro de Cutler busca da felic
89. o constitu das de livros pr ticos e manuais de auto educa o fic o de boa qualidade tanto cl ssica como moderna obras cl ssicas de hist ria filosofia e literatura e uma cole o de cl ssicos para a inf ncia e juventude Todos os t tulos s o reimpress es visando se a expandir o mercado para bons livros j dispon veis em edi es normais p 563 140 diferentemente daquela autora Lipovetski entende o homem p s moderno como o centro de converg ncia de for as antag nicas A era do consumismo dessocializa os indiv duos e correlativamente os socializa pela l gica das necessidades e da informa o trata se entretanto de uma socializa o sem conte do pesado de uma socializa o com mobilidade O processo de personaliza o faz aparecer um indiv duo informado e responsabilizado despachante constante de si mesmo p 88 Apesar de considerar essa discuss o acima apontada pois as explica es apresentadas pelos diferentes autores d o conta de um aspecto do crescimento de produ o e consumo do livro que se enquadra na categoria do best seller preciso ainda observar a que ordem de necessidade esses livros obedecem O que j constatei por meio do exame do levantamento dos livros mais vendidos ao longo das d cadas de 1960 a 2000 foi um crescimento muito acentuado do consumo dos livros da categoria de auto ajuda ao mesmo tempo em que houve uma diminui o ou verdadeiramente o de
90. o dos enunciados pr prios a determinados sujeitos Na realidade o que o autor est afirmando que como os textos n o liter rios obedecem a uma forma mais padronizada de estrutura o s o menos prop cios varia o de estilo Mais do que isso para o autor a maioria dos g neros do discurso com exce o para o que chama de art stico liter rios constr i se por meio de enunciados que n o precisam refletir 200 um modo pr prio de um sujeito enunciador Portanto para saber o que na manifesta o da l ngua da ordem do uso corrente ou do indiv duo torna se necess rio um estudo do enunciado E ao chegar a essa conclus o Bakhtin 1997 acabar por fazer refer ncia ao que se pode chamar estilo individual em particular e estilo em geral quando prop e uma investiga o sobre a natureza do enunciado e sobre a diversidade dos g neros do discurso As rela es portanto entre o estilo e o g nero s o segundo a proposta do autor dependentes de um v nculo indissol vel e org nico As diferentes esferas da comunica o humana correspondem a diferentes g neros que lhe s o apropriados Por isso Bakhtin 1997 far a seguinte considera o Uma dada fun o cient fica t cnica ideol gica oficial cotidiana e dadas condi es espec ficas para cada uma das esferas da comunica o verbal geram um dado g nero ou seja um dado tipo de enunciado relativamente est vel do ponto de vista tem tico comp
91. o leitor quando se pretende estudar literatura A literatura pois um sistema vivo de obras agindo umas sobre as outras e sobre os leitores e s vive na medida em que estes a vivem decifrando a aceitando a deformando a A obra n o produto fixo un voco ante qualquer p blico nem este passivo homog neo registrando uniformemente o seu efeito S o dois termos que atuam um sobre o outro e aos quais se junta o autor termo inicial desse processo de circula o liter ria para configurar a realidade da literatura atuando no tempo p 74 Embora n o negue a import ncia e a necessidade do exame dos fatores internos para o tratamento do texto liter rio Candido 1975 ressalta tamb m o valor dos fatores externos que classifica como mais sociol gicos e indispens veis sen o sondagem profunda das obras e dos criadores pelo menos compreens o das correntes per odos constantes est ticas p 73 O leitor nesse sentido elemento fundamental pois ele que justifica a exist ncia da obra Eco 2000 e 2001 por sua vez numa dire o muito pr xima por m n o absolutamente igual de Candido porque n o trata apenas do texto liter rio ir defender que para o processo de interpreta o do texto preciso levar em considera o tr s fatores nele instaurados a intentio auctoris a intentio operis e a intentio lectoris Embora afirme que a identifica o da intentio operis seja decorrente do reco
92. o risco de ser um tanto repetitivo e a leitura do trabalho mais cansativa opto por essa tarefa para tentar chegar a uma descri o mais detalhada do perfil do leitor brasileiros durante o per odo da pesquisa 11 A tabela 2 corresponde exatamente ao levantamento de todos os livros que apareceram nos gr ficos de 2 a 6 distribu dos em categorias e subgrupos de classifica o 104 4 Mudan as nas leituras do p blico brasileiro ao longo das ltimas d cadas segunda abordagem Alguns livros devem ser provados outros engolidos e muito poucos devem ser mastigados e digeridos Francis Bacon Os livros j levaram mais de um sabedoria e mais de um loucura Plutarco Para observar como se altera ou como se mant m o perfil do leitor brasileiro dos ltimos 38 anos necess rio inicialmente examinar os dados apontados nos gr ficos de 2 a 6 em anexo que registram as prefer ncias desse leitor ao longo das cinco ltimas d cadas O primeiro resultado desse exame est expresso na tabela 2 que tamb m aparece em anexo a este trabalho Na d cada de 1960 os livros mais vendidos distribuem se em cinco diferentes categorias tem ticas Na primeira delas a tem tica social est o agrupados quatro livros preferidos pelo leitor brasileiro O primeiro Quarup de Antonio Calado o livro mais lido pelo p blico brasileiro dos anos 60 Nessa mesma categoria aparecem ainda O prisioneiro de rico Ver ssimo O desafio americano
93. orais enraizados numa fase ainda mais anterior do desenvolvimento emocional quando a crian a era completamente dependente do seio materno O consumidor percebe o mundo circundante como uma esp cie de extens o do seio alternadamente gratificadora ou frustrante reluta em conceber o mundo a n o ser em conex o com suas fantasias Em parte porque a propaganda que cerca as mercadorias apresenta as t o sedutoramente como a satisfa o dos desejos em parte tamb m porque a produ o de mercadorias por sua pr pria natureza substitui o mundo dos objetos dur veis com produtos destinados imediata obsolesc ncia o consumidor enfrenta o mundo como um reflexo de seus anseios e temores Lasch 1990 p 25 Na medida portanto em que o homem da poca atual sente se emocionalmente fragilizado pelo contraste das press es que sobre eles est o incidindo qual seja a produ o e o consumo cria se a mentalidade da sobreviv ncia como uma forma de preserva o da individualidade Segundo Lasch 1990 desde os anos 60 a sociedade norte americana vive obcecada pela id ia do desastre de uma guerra nuclear e do esgotamento dos recursos do planeta que s o respons veis pela vida dos seres humanos Ao mesmo tempo que a ci ncia e a tecnologia produzem avan os nas mais diversas reas do conhecimento humano garantido confortos materiais que n o podiam ser usufru dos pelas gera es passadas o crescimento da sensa o de seguran a inversamen
94. ordens de preocupa o a perda da virgindade quando se tratava das meninas o temor ao desvio de comportamento sexual isto homossexualidade principalmente em rela o aos meninos A forma que os pais encontravam para tentar resolver esses tr s problemas principalmente no caso dos usu rios de drogas e dos homossexuais eram os tratamentos psiqui tricos chegando ao ponto muitas vezes de internarem seus filhos em cl nicas para recupera o Velho 2004 afirma que em todos os casos de interna o os jovens eram tratados com rem dios al m de serem submetidos a terapias de base anal tica p 72 O que se pode perceber por meio das pesquisas realizadas pelo autor que nessas fam lias de alto poder aquisitivo n o havia espa o para preocupa es mais gerais ou sociais mas sim para o cotidiano das rela es entre pais e filhos confinados num espa o isolado O final dos anos 60 e in cio dos anos 70 ficou conhecido inclusive como per odo do choque de gera es A no o de indiv duo a partir de ent o est intimamente associada desagrega o da fam lia extensa das redes de sociabilidade mais amplas e diversificadas e ao desenvolvimento da fam lia nuclear que com todas as suas ambigiiidades seria individualizante por excel ncia p 99 O que as pesquisas de Velho 2001 tanto com as camadas m dias altas como com as m dias baixas confirmam que nas chamadas sociedades complexas do Brasil
95. organiza o do enunciado mas sim presen a ou aus ncia de marca ling stica de subjetividade por um lado e apagamento dessas marcas por outro Portanto os dois textos organizam a maneira de expor a informa o esquem tica e didaticamente mas para que a autoridade do enunciador tenha efeito sobre a car ncia do enunciat rio necess rio que ele construa seu discurso a partir da afirma o de um eu que ocupa o lugar de um expert de um m dico que tem a compet ncia de instruir o paciente leitor a curar se de um mal Os dois t tulos dos livros desse subtipo da auto ajuda correspondem a duas frases que destacam dois processos modalizadores distintos entre o enunciador e o enunciat rio Na primeira Pare de engordar a modaliza o pelo dever Trata se de uma ordem que emitida ao sujeito que n o sabe que seu peso ou na verdade seu excesso de peso algo que o prejudica Se ele j sabe que o fato de estar gordo prejudicial para a sa de procurar o livro para aprender como fazer para parar de engordar Na segunda S gordo quem quer a modaliza o pelo querer pois afirma que o fato de algu m ser gordo porque escolheu quis ser assim Em verdade trata se de um enunciado que constr i um querer disf rico porque representa a op o pela gordura e um n o querer euf rico porque representa a op o pela magreza Assim o primeiro t tulo instaura a prescri o dever fazer enquanto o segundo a
96. paix o Os partid rios enfim daquela senhora cegada e amea adora ou aqueles que desejam que a humanidade se limite a exercer a santa virtude da discri o s vendo falando e ouvindo aquelas coisas que podem ser vistas faladas e ouvidas sem qualquer consegii ncia maior que n o a de simples passatempo Com conseqgii ncia com parcialidade est o autorizados a falar ver e ouvir somente aqueles que s o para isso investidos e claro a favor da manuten o das regras do clube Tenho consci ncia de minha parcialidade e a exer o permanentemente no sentido que me pare a mais interessante Este jornal ser portanto o reflexo da parcialidade consciente de todos n s O vice editor do jornal Cl udio Abramo na mesma p gina 2 do n O ir contar como surgiu o projeto do jornal marcando claramente seu ponto de vista passional O t tulo dado ao editorial Bilhete Ei lo N o que jamais tivesse existido um jornal de livros e seria injusti a deixar no esquecimento as tentativas feitas at agora no Brasil Tenho uma vaga lembran a de um Jornal de Letras cujos animadores n o me recordo quais fossem e ultimamente alguns grandes jornais entraram nessa onda mantendo p ginas ou cadernos destinados ind stria editorial Por alguma raz o a id ia apelava agora com muita insist ncia ao cora o e s mentes de muitos brasileiros Alberto Dines sonhava com uma revista do tipo de New York Review B
97. planet ria por extens o Ela nos coloca os problemas da primeira cultura universal da hist ria da humanidade Esse car ter universalizante da mercadoria cultural portanto carrega no seu bojo um problema que consiste na dilui o das diferen as Nesse sentido que dizia acima que a discuss o do gosto quando se trata de observ lo em rela o a um bem cultural da sociedade industrial n o pode estar desligada da contextualiza o do problema da cultura de massa O gosto portanto n o pode representar um valor individual porque nossa sociedade tecnol gica capitalista moderna ir determinar os valores que est o em jogo na indica o do que se considera bom ou mau desej vel ou indesej vel Mas ao mesmo tempo esse car ter uniformizador da mercadoria cultural n o resiste a uma rea o do p blico consumidor que por estar inserido em uma determinada esfera ideol gica cultural e social procura a identifica o com aquilo que particular ou seja original em meio ao geral da massifica o Por esse caminho que muitas vezes retomando uma vez mais o fen meno Paulo Coelho alguns de seus leitores mesmo que com um grau superior de escolariza o ir o afirmar que o que os identifica com as obras do autor n o seu grau de literariedade ou a maneira como o autor trabalha a l ngua quando escreve seus romances mas sim a simbologia n o no sentido semi tico ou ling stico do termo de que seus textos est o im
98. por objetivo fazer as mulheres acreditarem que pelo simples poder de auto sugest o conseguir o a felicidade plena na cama junto a um homem O enunciador alia ao exerc cio de auto convencimento um s rie de regras pr tica para qualquer mulher que queira alcan ar seu objetivo como se pode observar no seguinte trecho Um dos grandes estimulantes para um homem ver o quanto ele est excitando voc ele gosta de saber que o que faz com voc na cama a deixa louca A nica forma de fazer com que ele a estimule e portanto a si mesmo ao m ximo que tarefa deliciosa voc saber de antem o onde est o todos os seus interruptores sexuais e como eles podem ser ligados A antiga sabedoria aplica se aqui Conhece te a ti mesmo Se voc ainda n o est familiarizada com seu pr prio corpo comece sem pressa a conhec lo agora mesmo Tire todas as suas roupas e fique de p diante de um espelho Examine cada cent metro quadrado de seu corpo N o seja cr tica seu objetivo o autoconhecimento e n o a autocr tica Observe a curva sensual de seus seios Note a diferen a entre os dois Deleite se com o tom r seo ou moreno de seus mamilos Olhe com aten o a curva da cintura e dos quadris a eleva o do ventre a firmeza de suas pernas Arranje outro espelho a fim de ter uma boa vis o de suas costas l nguidas e de seu bumbum encantador Inspecione tudo como se fosse fazer de mem ria um desenho detalhado de seu corpo nu Imagine
99. predisposi o para uma tica do trabalho estar refletida na grande incid ncia de textos de auto ajuda voltados para as empresas como se pode observar na pesquisa realizada por Martelli 2006 a que farei refer ncia em outra parte deste trabalho Ao retomar os princ pios da sociedade p s moralista Lipovetsky 2005a partir da constata o de que a sociedade contempor nea constr i se a partir de uma valoriza o dos aspectos relativos quilo que exclusivamente pessoal O processo de personaliza o impulsionado pela acelera o das t cnicas pela administra o pelo consumismo de massa pela m dia pelo desenvolvimento da ideologia individualista e pelo psicologismo leva ao ponto culminante o reinado do indiv duo explode as ltimas barreiras A sociedade p s moderna ou em outras palavras a sociedade que generaliza o processo de personaliza o em ruptura com a organiza o moderna disciplinar coercitiva realiza de certa maneira no pr prio cotidiano e por meio de novas estrat gias o ideal moderno da autonomia individual mesmo sendo ela evid ncia de um teor in dito p 8 grifo do autor Essa nfase no individual acaba culminando no entender do autor em um sentimento de apatia e indiferen a Enquanto consegii ncia da aliena o segundo Karl Marx resultante do processo de mecaniza o do trabalho a indiferen a do homem contempor neo reflete um investimento na esfera privada em detrim
100. predominante se pertence s classes A B C D ou E e mais algumas outras caracter sticas que dependeriam das inten es do pesquisador ao organizar os formul rios de pesquisa Al m disso um levantamento como esse jamais poderia recuperar o per odo compreendido entre a d cada de 60 at a de 2000 pois a coleta de dados por question rios ou entrevistas n o uma forma de registro vi vel para a caracteriza o de um conceito t o vasto como o de leitor brasileiro contempor neo Para fazer uma recupera o hist rica da leitura seria necess rio se insistisse na t cnica da entrevista ou dos formul rios estabelecer um determinado p blico a ser examinado para chegar assim reconstitui o da mem ria de leitura desse p blico Outra estrat gia poderia ser por exemplo a utilizada por Lacerda 2003 que examinou em seu 23 trabalho as autobiografias ou os di rios da mulher leitora brasileira de meados do s culo XIX e in cio do s culo XX Em meu trabalho de doutorado Cortina 2000 tamb m propus um exame hist rico da leitura na medida em que investiguei distintas interpreta es realizadas por diferentes leitores do livro O pr ncipe de Nicolau Maquiavel desde o s culo XV quando foi publicado pela primeira vez at o s culo XX Para tanto foi necess ria uma pesquisa para resgatar os registros escritos de leitura dos diferentes leitores do autor florentino Os objetivos com que pretendi realizar essa tar
101. proposto Nesse cap tulo destacarei os principais conceitos da teoria semi tica para o tratamento da quest o da leitura e n o ser minha preocupa o reconstituir todos os aspectos da proposta te rica da semi tica da escola de Paris tarefa j realizada por outros autores em diferentes obras Centrar me ei nos aspectos espec ficos para o desenvolvimento dos objetivos deste trabalho O interesse do cap tulo 3 O que l o leitor brasileiro contempor neo Primeira abordagem consiste exatamente em apresentar uma primeira resposta pergunta que aparece em seu t tulo Tomando por base o gr fico 1 em anexo procurarei descrever e produzir uma an lise geral das obras mais lidas pelo p blico brasileiro referente ao per odo da pesquisa Nesse cap tulo procurarei dar voz ao corpus para que o leitor deste trabalho possa ter uma no o do que falam os textos mais lidos pelo leitor brasileiro contempor neo A proposta do cap tulo 4 Mudan as nas leituras do p blico brasileiro ao longo das ltimas d cadas segunda abordagem a de ampliar e corrigir uma poss vel distor o considerada relativamente constru o do gr fico 1 Partindo portanto de um levantamento d cada por d cada gr ficos 2 a 6 cheguei a uma compila o de dados que deu origem tabela 2 em que est o agrupados todos os livros que estiveram entre os primeiros lugares na prefer ncia do leitor brasileiro desde os anos 60 at o ano de 2004 Ne
102. propostos pela terapeuta professora Ao final do cap tulo 2 quando prop e o exerc cio do espelho para citar um exemplo o sujeito da enuncia o afirma Pe o ao cliente para pegar um espelho pequeno olhar bem nos olhos dizer seu nome e depois Eu amo e aceito exatamente como voc p 39 Em outro cap tulo o de n mero 15 h a apresenta o de uma lista de doen as em tr s colunas organizada da seguinte forma na primeira aparece o nome da doen a na segunda a causa prov vel e na terceira o novo padr o de pensamento para suplantar a doen a Numa poca em que a AIDS era uma doen a rec m descoberta com um n mero muito crescente de mortes por ela causada o enunciador coloca como causa prov vel da doen a o seguinte Negando a si mesmo Culpa sexual Forte cren a em n o ser bom o bastante p 182 O novo padr o de pensamento aconselhado para super la Eu sou uma divina magn fica express o da vida Rejubilo me com minha sexualidade Rejubilo me com tudo o que sou Eu me amo p 182 No ltimo cap tulo do livro o de n mero 16 o enunciador afirma que sempre solicita a seus clientes que contem algo sobre sua vida sem se estender muito para poder conhecer melhor seu paciente Por esse motivo escreve esse cap tulo para contar a seu enunciat rio leitor quem Louise Hay Sua hist ria a de uma mulher que viveu em condi es extremamente prec rias sofreu as mai
103. que cr em que a hist ria humana longe de terminar est apenas come ando p 15 A vis o de que a sociedade contempor nea vive uma situa o de descontrole total refletida como alguns consideram no colapso da fam lia nuclear na crise de energia no 169 enfraquecimento dos valores religiosos pregados pela Igreja no questionamento do poder do Estado tendo em vista o descr dito das classes pol ticas decorrente no entender do autor de uma falta de perspectiva hist rica das altera es por que passaram e est o passando as sociedades humanas Segundo Toffler 1993 por m para compreender a hist ria da humanidade n o basta descrever os fatos acontecidos numa linearidade temporal pois n o assim que ela se desenvolve Para o autor a primeira onda corresponde ao aparecimento da agricultura h uns dez milh es de anos que significou um marco decisivo no desenvolvimento social humano A implanta o do sistema de trabalho agr cola representou o fim do comportamento n made de pequenos grupos humanos cuja a o consistia em se deslocar continuamente em busca do alimento A atividade agr cola como forma de subsist ncia sedimentou os agrupamentos em espa os maiores que foram dando origem mais tarde s aldeias cidades e consequentemente a diferentes na es No final do s culo XVII inicia se a segunda onda que representa uma nova transforma o social no planeta Trata se da revolu o industrial
104. que diz respeito ao aumento 139 das tiragens dos livros das ltimas d cadas em rela o s anteriores porque h um crescimento no n mero de leitores tendo em vista o pr prio aumento populacional Tomando por base as considera es de Habermas sobre a industrializa o dos produtos culturais Reim o 1996 ir justificar o incremento dos best sellers brasileiros com base em dois conceitos do autor alem o quais sejam a facilita o econ mica e a facilita o psicol gica Isso significa segundo a autora que o car ter positivo do conceito de facilita o econ mica do bem cultural tendo em vista o desenvolvimento de novas t cnicas de impress o e produ o do livro oferece ao p blico consumidor melhores condi es para adquirir o livro O segundo conceito ao contr rio tem um car ter negativo pois na medida em que quer atingir um n mero cada vez maior de consumidores o livro sofre um processo de banaliza o e de simplifica o Para Lipovetski 2005a por sua vez o aumento da oferta dos bens culturais incluindo se a os best sellers uma decorr ncia do incremento do consumo na era p s moderna em fun o da acelera o da circula o do capital imposta pelo sistema econ mico capitalista O isolamento em que est colocado o homem contempor neo leva o a buscar preencher o vazio que o cerca por meio do consumo de bens de diferentes ordens Consumimos em altas doses e de modo pa
105. que lhe s o revelados A magia e os anjos lhe oferecem uma possibilidade n o dever n o ser e a aceita o desses princ pios com a conseq ente pr tica das normas prescritas dever fazer reverter na satisfa o pessoal O que se pode constatar portanto pelo que aqui se considerou em rela o aos livros que classifiquei no subtipo de misticismo e esoterismo que eles correspondem exatamente ao g nero da auto ajuda porque prop em uma alternativa para um estado de falta de car ncia enfim uma resposta para problemas que dizem respeito aos indiv duos em particular Embora n o se construam por meio de enunciados injuntivos os textos m stico esot ricos sustentam a vis o de mundo por eles apresentadas por meio de narrativas que instauram implicitamente processos de modaliza o pela necessidade pela prescri o e pela certeza 210 6 2 3 Individualidade e sexualidade Nesse terceiro subtipo da auto ajuda est o inclu dos quatro t tulos da rela o dos mais vendidos O homem sensual de M 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama de Ol via St Claire A insustent vel leveza do ser de Milan Kundera e Onze minutos de Paulo Coelho Os dois primeiros O homem sensual e 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama obedecem ao padr o tipol gico dos cl ssicos textos de auto ajuda S o textos injuntivos que estabelecem padr es de comportamento a serem seguidos por um sujeito que vive uma car ncia O tema espec
106. que vai do c rebro s gl ndulas supra renais situadas acima dos rins provoca uma secre o dos horm nios epinefrina e norepinefrina que invadem o corpo preparando o para uma emerg ncia Esses horm nios ativam receptores no nervo vago embora este transmita mensagens do c rebro para regular o cora o tamb m retransmite sinais para o c rebro disparados pela epinefrina e norepinefrina A am gdala o principal ponto do c rebro para onde v o esses sinais eles ativam neur nios dentro dela que enviam sinais a outras regi es cerebrais a fim de dar um refor o mem ria sobre o que est acontecendo 78 Esse est mulo da am gdala parece gravar na mem ria a maioria dos momentos mais intensos de est mulo emocional por isso muito prov vel por exemplo que lembremos do lugar onde ocorreu nosso primeiro encontro amoroso ou o que faz amos quando ouvimos a not cia de que o nibus espacial Challenger explodira p 34 Seu objetivo consiste em discutir basicamente quatro quest es A primeira a afirma o de que um alto QI Coeficiente de Intelig ncia n o a garantia de sucesso na vida A segunda que a emo o pode dar a verdadeira medida da intelig ncia humana Em terceiro lugar que a aus ncia de habilidade emocional pode ser o verdadeiro motivo de tantos casamentos desfeito E em quarto lugar que no mundo empresarial aquele que tem QI alto consegue um bom emprego enquanto aquele que tem um QE Coeficie
107. quer comprar um carro para poder locomover se com maior liberdade no lugar onde mora 30 diria que nessa etapa da segii ncia narrativa esse sujeito um sujeito de estado porque est em disjun o com seu objeto valor o carro Na medida por m em que realiza o ato da compra torna se um sujeito do fazer porque tinha compet ncia para executar a a o de comprar O sujeito passou do estado de disjun o para um estado de conjun o com seu objeto valor Essa passagem d se pelo fazer Por esse motivo a semi tica reconhece duas classes de modaliza es a das modalidades intencionais que incidem sobre o fazer e a das modalidades existenciais que incidem sobre o ser Essas duas classes por sua vez ser o determinadas por duas outras diferentes configura es modais as virtualizantes dever e querer e as atualizantes poder e saber Assim o sujeito modalizado pelo dever fazer e pelo querer fazer um sujeito virtual enquanto o sujeito modalizado pelo poder fazer e pelo saber fazer um sujeito atualizado ou qualificado para o fazer J o sujeito modalizado pelo dever ser pelo querer ser pelo poder ser e pelo saber ser um sujeito pat mico pois respons vel pela modifica o do estatuto dos objetos que com ele est o em rela o Para a descri o das diferentes estruturas em que o actante sujeito modalizado ser necess rio valer me do quadrado semi tico entendido no n vel fundamental como a represe
108. regras de comportamento com o objetivo de preservar a integridade do grupo Esse processo adaptativo regido por um c digo penal n o escrito como na tradi o anglo sax nica cujas leis s o aplicadas com extremo rigor p 10 A preocupa o em registrar o modo de vida dos presos sua linguagem e o sistema social do pres dio o objetivo central do relato sem a preocupa o conforme diz o pr prio narrador do texto de construir um discurso de den ncia social N o objetivo deste livro denunciar um sistema penal antiquado apontar solu es para a criminalidade brasileira ou defender direitos humanos de quem quer que seja Como nos velhos filmes procuro abrir uma trilha entre os personagens da cadeia ladr es estelionat rios traficantes estupradores assassinos e o pequeno grupo de funcion rios desarmados que toma conta deles A narrativa ser interrompida pelos interlocutores para que o leitor possa apreciar lhes a flu ncia da linguagem as figuras de estilo e as g rias que mais tarde ganham as ruas p 10 11 Nesse sentido Esta o Carandiru constr i se como um grande mosaico de casos particulares Num movimento meton mico a narrativa parte da descri o f sica do pres dio de suas normas internas das formas de lazer dos presidi rios da caracteriza o da linguagem criada no pres dio da a o m dica do narrador Drauzio Varella para chegar a partir do contato com os diferentes presos que v o
109. rias Por sua vez a identifica o entre o autor e o her i mantida ao longo da narrativa inclusive com refer ncias a fatos p blicos da vida de Paulo Coelho como por exemplo sua parceria com Raul Seixas ou ent o a acontecimentos da hist ria brasileira 125 Ele e seu parceiro Raul Seixas bem era completamente diferente Raul cantava o pa s inteiro ouvia Eram jovens e estavam ganhando dinheiro Sim verdade que o Brasil vivia debaixo de uma ditadura militar mas o governo estava preocupado com guerrilheiros N o perdia seu tempo com um cantor de rock muito pelo contr rio as autoridades achavam que aquilo mantinha os jovens longe do comunismo p 124 trecho em it lico no original Essa conflu ncia entre as vozes presentes no texto serve para marcar um pacto com o leitor Nesse sentido a narrativa funciona como a revela o de um conhecimento que passado ao pr prio leitor Por esse motivo o leitor manifesta se na narrativa quando no ep logo h refer ncia a Rita de Freitas uma leitora brasileira que escreve para o autor um ano e meio depois da apari o do anjo para Paulo Coelho cumprimentando o pelo livro O alquimista que ela havia lido Como a leitora estava em Los Angeles ele escreve de volta para ela e pede para que v at o Glorieta Canyon perto de Borrego Spring para ver se ainda existia a imagem de Nossa Senhora de Aparecida que ele havia colocado l A carta resposta da leitor
110. rio pregado pelo enunciador Prevalece a concep o do empres rio que respeita o empregado e que o torna seu parceiro para o bem da empresa e n o seu inimigo que deve ser explorado Essa a t nica em todo o livro de uma nova concep o da empresa brasileira como se percebe na ironia com a qual o enunciador brinca com seu interlocutor outros empres rios Al m disso o texto funciona como um discurso preceitual que apresenta f rmulas de procedimento para garantir a melhor efici ncia da empresa ao mesmo tempo que mais respeito ao trabalhador 3 O mundo de Sofia de Jostein Gaarder O mundo de Sofia de Jostein Gaarder um romance narrado em terceira pessoa cuja personagem central uma garota chamada Sofia Amundsen A narrativa tem in cio no dia em que Sofia completa seus quinze anos Nesse dia come a a receber bilhetes e cart es postais muito estranhos vindos do L bano de uma pessoa desconhecida Esses postais perguntam a Sofia de onde vem o mundo em que os homens vivem O mist rio que envolve esses postais e as consegiientes aventuras por que passa a personagem central s o o mote para a narrativa apresentar cap tulo a cap tulo uma hist ria da filosofia ocidental desde os pr socr ticos at os fil sofos modernos Uma vez que a personagem central uma menina a narrativa bastante marcada pela perspectiva do adolescente Nesse sentido o leitor com quem o texto dialoga tamb m uma crian a forma de
111. se na forma de uma terceira pessoa mas se dirige a um narrat rio que est manifestado nos moldes dos contos infantis logo no in cio da 80 trama Imediatamente ap s os tr s primeiros par grafos que abrem o cap tulo um no qual s o apresentados os Dursley seu filho e Harry o quarto par grafo diz o seguinte Quando o Sr e a Sra Dursley acordaram na ter a feira mon tona e cinzenta em que a nossa hist ria come a n o havia nada no c u nublado l fora sugerindo as coisas estranhas e misteriosas que n o tardariam a acontecer por todo o pa s O Sr Dursley cantarolava ao escolher a gravata mais sem gra a do mundo para ir trabalhar e a Sra Dursley fofocava alegremente enquanto lutava para encaixar um Duda aos berros na cadeirinha alta p 7 8 grifo meu O uso do pronome de primeira pessoa do plural identifica as posi es do enunciador e do enunciat rio do texto Al m disso esse par grafo acima reproduzido configura se como pr prio das hist rias infantis e anuncia para o leitor por meio de constru es do tipo coisas estranhas e misteriosas que n o tardariam a acontecer o mundo de aventuras em que est mergulhando 15 A viagem do descobrimento de Eduardo Bueno Embora em nenhum momento da apresenta o ou da introdu o do livro haja refer ncia a um leitor espec fico as frequentes ilustra es e o tipo de linguagem usada na narrativa parecem dirigir se aos estudantes brasileiros principalm
112. se observar no corpus levantado que outros cinco volumes da s rie tamb m apareceram nas listas cada um a seu tempo Nas edi es atuais cada volume tem um nome que identifica a tem tica espec fica de cada um deles O primeiro chamado Jerusal m ir como j foi apontado reconstituir o per odo da crucifica o de Jesus Cristo o segundo Massada faz revela es da pol tica internacional da poca e um relato da ltima ceia o terceiro Saidan procura apresentar a reconstitui o da inf ncia de Cristo ao mesmo tempo que faz uma an lise do corpo glorioso o quarto Nazar aborda os anos ocultos da vida de Jesus dos 14 aos 26 sobre os quais nada tratado no Novo Testamento o quinto Cesar ia aborda a ressurrei o de Jesus o sexto Hermon identifica as dezenove vezes que Jesus apareceu entre os homens depois da ressurrei o e faz uma volta no tempo de Jas o e Eliseu ano 25 de nossa era na Palestina onde tem in cio a prega o Esses best sellers surgem tamb m na d cada de 80 sendo que a primeira apari o do volume 1 nas listas acontece no ano de 1988 Atualmente em 2006 surge a tradu o para o portugu s do s timo volume da s rie Nahum em que s o narrados os preparativos da vida p blica de Jesus desmistificando personagens como Virgem Maria e Judas que segundo o relato n o entendiam a miss o de Jesus e esperavam dele um homem revolucion rio o Messias que i
113. semi tica Minha proposta ao desenvolver este trabalho procurou somar se s desses autores Para definir portanto um perfil do leitor brasileiro contempor neo parti do exame dos ind cios de manifesta o desse leitor num texto as listas dos mais vendidos Se tomo como princ pio o conceito de ethos enquanto imagem que o enunciador constr i de si mesmo no discurso e o de pathos enquanto a imagem que ele constr i de seu enunciat rio o que este trabalho identificou que se n o se tratava de estudar discursos espec ficos um romance um discurso pol tico ou um jornal como faz Discini era imposs vel pensar apenas em descrever o pathos era preciso partir do ethos para chegar ao pathos O que estou querendo dizer que se parti do pressuposto de que as listas dos mais vendidos representam uma escolha do leitor o exame que realizo desse corpus tem necessariamente que examinar o ethos desse discurso pois se assim fizer chego ao dizer desse leitor Na realidade o que estou aqui afirmando que quando se pensa em identificar o gosto ou o interesse do leitor segundo uma perspectiva de analista de discurso imposs vel descrever ou reconstituir esse leitor verdadeiro O nico ato poss vel observar o leitor de discurso e foi isso que procurei aqui fazer ou seja examinar o que o leitor brasileiro contempor neo l porque isso me levaria a constituir o pathos desse leitor Pelo fato de a enuncia o conter em si mesma o enunc
114. televis o porque em nossa opini o a telenovela brasileira adquiriu por sua qualidade e sua quantidade uma d na outra crian as um lugar entre as artes e uma forma de cultura popular forte e vigorosa se muitas vezes errada e falsa LEIA n o tem preconceitos s em rela o falta de car ter De in cio devo dizer portanto que muita gente jamais escrever aqui Mas LEIA tem tamb m horror s panelas com sua culin ria de sabor duvidoso Enfim LEIA O texto de Cl udio Abramo por sua vez delimita j nos primeiros sons produzidos por esse rec m nascido jornal em forma de tabl ide muito semelhante a um outro que existiu na poca e que tinha uma postura pol tica marcadamente de esquerda o jornal Movimento o perfil de seu leitor O leitor de Leia Livros pertence a uma elite a uma elite intelectual universit ria que compra e l livros no Brasil Essa imagem do leitor t o concreta para o Leia Livros que numa propaganda de si mesmo veiculada na p gina 19 do n 136 do jornal de janeiro de 1990 em que justifica por que os interessados devem anunciar em suas p ginas aparece uma descri o desse leitor atribu da a uma pesquisa realizada por uma empresa chamada Marplan Essa pesquisa configura o seguinte perfil do leitor Quanto ao sexo 41 59 E Feminino E Masculino 10 Quanto ao grau de instru o 13 1 86 E Superior com
115. tica de fantasia As brumas de Avalon Harry Potter e a pedra filosofal e Harry Potter e a c mara secreta Al m de explorarem a quest o dos desdobramentos narrativos que justificam inclusive as publica es em v rios volumes como a s rie de Ben tez h um outro componente que tamb m j apontei aqui que o fato de aproxim los da vis o esot rica destacada na categoria de auto ajuda As fadas e os bruxos nas narrativas de Marion Zimmer Bradley e J K Rowling recuperam essa tend ncia do irracionalismo presente na sociedade contempor nea que como j apontamos neste trabalho dilui os princ pios da raz o em conceitos como for as magn ticas sensa es instinto etc De acordo ainda com a no o de leitura como passatempo o destaque do humor como objeto valor buscado pelo sujeito leitor em seu programa narrativo da leitura reflete a perspectiva de tratamento do ato de leitura como algo associado ao prazer individual que a piada a par dia o chiste etc relativos a quest es cotidianas desencadeiam Enquanto o humor com uma certa cr tica social aparece na d cada de 1960 com o livro Festival de besteiras que assola o pa s de Stanislaw Ponte Preta ao longo do tempo quando volta a aparecer nas listas dos mais vendidos com Lu s Fernando Ver ssimo essa caracter stica da cr tica social est mais dilu da Como j comentei em outro momento deste trabalho trata se de hist rias curtas que s o lidas em situa es em que os
116. tico segundo o autor nada tem a oferecer ao homem exceto a satisfa o narc sica de se poder pensar que se melhor do que os outros p 109 Frente a essas observa es poss vel indagar se em algum momento da hist ria uma civiliza o ou parte dela n o se tornou neur tica uma vez que o ego n o mais suportou a press o do superego cultural A conclus o do texto de Freud disf rica por 158 considerar que o homem de sua poca j havia adquirido tamanho controle sobre as for as da natureza que isso facilitava o exterm nio de uns sobre outros Ao invocar as for as de Eros contra seu eterno rival T natos julga incerto o futuro da humanidade A despeito por m da vis o negativa com que Freud conclui seu texto o que pode ser inferido do exame do corpus desta pesquisa que o leitor brasileiro contempor neo parece estar procurando escapar ao controle absoluto de seu superego A partir do momento que certos dogmas religiosos do mundo Ocidental passam a perder a for a coercitiva que antes possu am o controle sobre o ego parece arrefecer um pouco A partir do momento em que a sociedade contempor nea refor a o comportamento narcisista afrouxando um pouco a press o sobre os padr es conservadores da fam lia do casamento da identidade sexual da submiss o da mulher ao homem etc o indiv duo pode voltar se para si mesmo e consegiientemente aliviar se um pouco de suas culpas Por outro lado se do p
117. tipo seria muito mais voltada para a quest o mercadol gica pois al m de pensar o perfil do leitor brasileiro entrariam em discuss o os interesses de empresas que trabalham com a mercadoria livro Cabe ainda em ltimo lugar considerar que neste trabalho deixei de examinar de maneira mais detida as outras modalidades de textos mais lidos al m da auto ajuda A Justificativa para isso o fato de que para concluir este trabalho precisei fazer um recorte Dada a grande incid ncia de livros de auto ajuda nos dados da pesquisa centrei me mais nesse tipo de livros para fechar o trabalho Isso n o significa por m que com esses mesmos dados n o possa realizar novos estudos que focalizem de forma mais ampla o espectro de leituras do leitor brasileiro contempor neo Mas essa ser uma tarefa para o futuro 228 Bibliografia ABREU M rcia org Leitura hist ria e hist ria da leitura Campinas SP Mercado de Letras Associa o de Leitura do Brasil S o Paulo Fapesp 1999 Cole o Hist rias de Leitura AMORIM S nia Maria de Em busca de um tempo perdido Edi o de literatura traduzida pela Editora Globo 1930 1950 S o Paulo Edusp Com Arte Porto Alegre EUFRGS 1999 Mem ria Editorial 2 ARIST TELES Arte ret rica e arte po tica 16 ed Tradu o Ant nio Pinto de Carvalho Rio de Janeiro Tecnoprint 19 AUTHIER REVUZ Jacqueline Palavras incertas As n o coincid ncias do dizer Tradu o C
118. todo do jornal Para melhor compreender sua proposta observemos o seguinte trecho de sua obra Podemos exemplificar um pouco mais a homologa o das articula es da categoria da totalidade totalidade do estilo lembrando um estilo de poca o neocl ssico um estilo de poca num pa s o neocl ssico no Brasil um estilo de um autor Tom s Ant nio Gonzaga um estilo de uma obra as Liras de Dirceu a Mar lia um estilo e partes de uma obra o da primeira e o da segunda parte das Lira e assim por diante Analisar um estilo sup e recortar partes da totalidade Em cada uma est pressuposta a totalidade englobante e integral j que se trata de um conjunto ou bloco de discursos Essa totalidade integral o totus sup e um enunciat rio sancionador que imp e os limites e determina a unidade a ser recortada Partimos ent o do princ pio de que estilo efeito de sentido e portanto uma constru o do discurso Acreditamos que esse efeito emerge de uma norma determinada por recorr ncias de procedimentos na constru o do sentido desde os n veis mais profundos at os mais superficiais do percurso gerativo do sentido Para poder falar em recorr ncia estabelecemos ent o como objeto de an lise em princ pio sempre o mais de um Como exemplo temos um conjunto de primeiras p ginas do jornal que constr i o efeito de individua o Um sistema deve portanto estar subjacente totalidade p 36 7 grifos da
119. todos na mesa 62 dizendo que a havia perdido num motel onde se encontrara com uma amante e perdoado por ela por ter sido sincero em Ex quias o corpo de um homem que era velado apenas por dois amigos pois n o era algu m importante na sociedade carioca acaba tendo um enterro com muita pompa quando seus dois amigos mentem para as pessoas que estavam no vel rio de um grande empres rio dizendo que ele era o Cardoso um ex senador em A mentira uma mentira contada para um casal de amigos apenas para justificar que o marido n o queria ir a uma festa desencadeia situa es absurdas em O verdadeiro Jos a dupla vida de um homem que mant m uma fam lia em S o Paulo e outra no Rio de Janeiro descoberta apenas ap s sua morte discute sua pr pria identidade na medida em que cada uma das vi vas revela um Jos com caracter sticas totalmente opostas em Homem que homem colocada em discuss o a quest o da masculinidade num jogo entre verdade e mentira em Farsa novamente a quest o da fidelidade entre um casal colocada em quest o mas a manuten o do casamento justifica a mentira em Lar desfeito por outro lado um casal que vive feliz e em perfeita harmonia simula um desentendimento e se separa s para que os filhos n o fiquem traumatizados porque n o se pode conceber hoje em dia um casal que viva em tamanha harmonia uma vez que todos os colegas de seus filhos ti
120. tornando se o maior m dium psic grafo do pa s respons vel pela publica o de mais 400 livros de poemas cr nica 131 narrativas e mensagens ditadas por ilustres autores e por an nimos j mortos Seus escritos psicografados consolaram os vivos pregaram a paz e estimularam a caridade o que levou muitos de seus admiradores a consider lo um santo O autor da biografia de Chico Xavier assume um tom investigativo para tentar explicar o mito criado em torno dessa figura que acabou sendo alvo de tanta pol mica e opini es t o distintas ao longo da segunda metade do s culo XX Ao mesmo tempo que Chico Xavier provocou desmaios entre seus adoradores foi processado esbofeteado e insultado com adjetivos como demagogo e exibicionista Marcelo Souto conta que embora tenha sido indicado para o Pr mio Nobel da Paz Chico Xavier foi alvo de veneno faca rev lver menosprezo da elite intelectual nacional e adulado pelos poderosos mas apesar de tudo isso conseguiu sobreviver O tom de sua biografia de admira o pelo biografado ao mesmo tempo que reafirma seu car ter m tico Na categoria de auto ajuda os mais vendidos distribuem se em quatro diferentes tem ticas Na primeira delas intitulada individualismo e sexualidade registra se o livro Onze minutos de Paulo Coelho A narrativa do livro de Paulo Coelho tem como protagonista Maria uma prostituta brasileira que vive na Su a personagem a partir da qual
121. tulo quando realizarei uma outra leitura das listas dos livros mais vendidos aparecer uma obra como Sexus de Henry Miller que nos anos 60 torna se um cone da libera o sexual da busca pelo prazer sexual O quarto subgrupo da auto ajuda que chamei mundo dos neg cios compreende os textos 2 e 17 que s o narrativas de mem rias dos autores e tratam de um mesmo tema qual seja a administra o de uma grande empresa e sua posi o no mercado dos neg cios O que justifica sua inclus o na modalidade de auto ajuda parte da observa o de que ambos procuram apontar cada um a sua maneira quais s o as melhores formas de atua o no sistema empresarial brasileiro no caso de Ricardo Semler e norte americano no caso de Lee Iacocca Num misto de texto narrativo e dissertativo informativo 2 e 17 discutem diversas quest es do mundo empresarial a partir de pontos de vista distintos O texto de Semler quer construir a imagem do empres rio progressista preocupado com o bem estar dos oper rios e funcion rios de suas empresas identificando sempre o papel social que segundo ele caracter stico de toda e qualquer ind stria J o de Iacocca vai falar da compet ncia e da capacidade administrativa motivado por um outro sentimento o da vingan a em rela o a seu ex patr o o maior acionista das ind strias Ford que o demitiu de um alto cargo administrativo Segundo a perspectiva da semi tica o texto 2 constr i se
122. tulo anterior eram produzidas por Leia e pelo Jornal do Brasil a partir das informa es que as livrarias de diversas capitais do pa s lhes passavam a quantidade de livros vendidos era importante para coloc lo na lista dos dez mais mas mesmo que essa quantidade tenha aumentado de uma d cada para outra n o interferiu no levantamento de dados finais Na verdade o fator decisivo para a constru o dos gr ficos o n mero de vezes que uma obra aparece nas listas dos livros mais vendidos e n o a quantidade de livros vendidos Por esse motivo pode se perceber uma diferen a entre as d cadas no que se refere ao n mero de livros indicados nas listas Logo que inicia a publica o das listas dos mais vendidos em 17 09 1966 at o final da d cada de 60 o Jornal do Brasil apresenta uma rela o de cinco livros nacionais e cinco estrangeiros mais vendidos A partir de 30 01 1971 passa a publicar uma lista com dez livros nacionais cinco de fic o e cinco de n o fic o e dez estrangeiros mais vendidos cinco de fic o e cinco de n o fic o o que mantido pelo jornal Leia apenas com a diferen a de que se desfaz a distin o entre fic o e n o fic o Em 06 03 1993 ap s o desaparecimento do Leia al m dos dez livros de fic o e de n o fic o o Jornal do Brasil come a a elencar os dez mais vendidos na categoria de esoterismo e auto ajuda Em fun o dessas flutua es o n mero de registros dos mais vendido
123. valoriza o do elemento f sico 161 ao mesmo tempo que carrega a id ia esot rica do magnetismo Beleza agilidade agressividade s o as caracter sticas esperadas dos homens de neg cios Para o autor por m a valoriza o dessas qualidades tem um pre o A fragilidade do corpo respons vel pelo crescimento da ansiedade e da inseguran a do homem contempor neo O avan o da idade a perda do vigor e at da emo o de vencer tem como resultado a depress o o questionamento do sentido da vida o que leva o homem contempor neo ao estado de solid o de isolamento N o surpreendente dada a predomin ncia deste padr o de carreira que a psicologia popular recorra com tanta frequ ncia crise da meia idade e aos meios de combat la Lasch 1983 p 71 Nesse contexto novamente a busca para uma sa da desse estado negativo leva o indiv duo a procurar outras alternativas Assim surgem os livros que incentivam o pensamento positivo a espiritualidade por um lado a alimenta o natural a dieta e a est tica corporal por outro lado Nunca o mercado de medicamentos de tratamentos psicol gicos e de cosm ticos teve um incremento t o acelerado como no mundo contempor neo Alguns tabus como a id ia de que o psic logo e o psiquiatra cuidavam apenas de pessoas com perturba es mentais caem por terra e os indiv duos acabam recorrendo a esse tipo de profissionais pelas mais d
124. voltado para a organiza o exterior mas tamb m se reportava para o dom nio interior do homem o que justificou segundo ele a produ o da mercadoria cultural N o h d vida de que j o livro o jornal eram mercadorias mas a cultura e a vida privada nunca haviam entrado a tal ponto no circuito comercial e industrial nunca os murm rios do mundo antigamente suspiros de fantasmas cochichos de fadas an es e duendes palavras de g nios e de deuses hoje em dia m sicas palavras filmes levados atrav s de ondas n o haviam sido ao mesmo tempo fabricados industrialmente e vendidos comercialmente Essas novas mercadorias s o as mais humanas de todas pois vendem a varejo os ectoplasmas da humanidade os amores e os medos romanceados os fatos variados do cora o e da alma p 15 6 Dessa forma investigar o best seller significa adentrar no dom nio da cultura de massa compreendida como um determinado bem cultural que produzido segundo as normas de produ o industrial maci as e que ao mesmo tempo propagandeado por diferentes t cnicas de difus o tamb m maci a Isso significa dizer que os produtos culturais da sociedade industrial do s culo XX s o destinados a uma massa social a um vasto grupo de indiv duos independentemente das distin es estruturais internas da sociedade tais como classe fam lia profiss o etc A mercadoria cultural ideologicamente marcada porque reflete os valo
125. xima da realidade que o grande sucesso da literatura de auto ajuda deve se mais a uma quest o social que verdadeiramente mercadol gica Na realidade diria que esta determinada por aquela pois exatamente porque o p blico leitor interessa se por esse tipo de texto que o mercado editorial investe tanto nele Essa uma lei de mercado quanto maior a procura maior o valor do objeto o que justifica portanto maiores investimentos A quest o social a que me referi acima para explicar o sucesso dos livros de auto ajuda diz respeito ao tipo de sociedade urbana pr pria do sistema capitalista do final do s culo XX e in cio do XXI Num mundo em que os valores coletivos parecem cada vez mais suplantados pelos individuais passam a existir diferentes rela es e necessidades O leitor de auto ajuda portanto consome esse tipo de literatura em busca de respostas para seus problemas individuais Em verdade ela n o determinada pela ordem do desejo querer ser mas sim pela ordem da necessidade dever ser ou n o poder n o ser O isolamento em que est o colocados os sujeitos do mundo capitalista moderno faz com que ele se volte para si mesmo e para compreender se busque em algum lugar as respostas para suas d vidas Essa a meu ver a grande explica o para o crescimento da literatura de auto ajuda atualmente Segundo Lipovetsky 2005a o individualismo uma caracter stica de nossa sociedade p s moderna pois a nova vers o do
126. 3 S o Paulo Cortez 2004 p 393 438 DARNTON Robert Sexo d o que pensar In NOVAES A Libertinos e libert rios S o Paulo Companhia das Letras 1996 Best sellers proibidos da Fran a pr revolucion ria Tradu o Hildegard Feist S o Paulo Companhia das Letras 1998 DISCINI Norma O estilo nos textos Hist ria em quadrinhos m dia literatura S o Paulo Contexto 2003 ECO Umberto Os limites da interpreta o Tradu o de P rola de Carvalho S o Paulo Perspectiva 2000 Interpreta o e superinterpreta o Tradu o MF S o Paulo Martins Fontes 2001 EL FAR Alessandra P ginas de sensa o Literatura popular e pornogr fica no Rio de Janeiro 1870 1924 S o Paulo Companhia das Letras 2004 FIORIN Jos Luiz O ethos do enuncidador In CORTINA Arnaldo amp MARCHEZAN Renata Coelho Org Raz es e sensibilidades A semi tica em foco S o Paulo Laborat rio Editorial Cultura Acad mica 2004a S rie Trilhas Ling sticas v 6 p 117 138 _ _ O pathos do enunciat rio In Alfa Revista de Ling stica V 48 n 2 S o Paulo Funda o Editora da UNESP 2004b p 69 78 De gustibus non est disputandum Para uma defini o semi tica do gosto In LANDOWSKI Eric amp FIORIN Jos Luiz Org O gosto da gente o gosto das coisas abordagem semi tica S o Paulo EDUC 1997 p 13 28 231 As ast cias da enuncia o As categoria
127. 34 18 18 47 15 15 15 15 E As mentiras que os homens contam Lu s Fernando Ver ssimo Objetiva E Harry Potter e a pedra filosofal J K Rowling Rocco OA arte da felicidade Dalai Lama e Howard Cutler Martins O Harry Potter e a c mara secreta J K Rowling Rocco E Com dias para se ler na escola Lu s Fernando Ver ssimo Objetiva E Onze minutos Paulo Coelho Rocco E Perdas e ganhos Lya Luft Record Esta o Carandiru Dr uzio Varella Companhia das Letras E As vidas de Chico Xavier Marcel Souto Maior Planeta m Budapeste Chico Buarque de Holanda Companhia das Letras O Pai rico pai pobre Robert T Kiyosaki e Sharon L Lechter Campus E Um dia daqueles Bradley Greive Sextante Gr fico 6 Levantamento d cada 2000 248 237 94 93 P89 83 81 80 78 75 74 70 69 68 68 m Paulo Coelho E Sidney Sheldon O Lair Ribeiro O Luis Fernando Ver ssimo E J K Rowling m Rubem Fonseca E Lu s Fernando Ver ssimo Gabriel Garcia M rquez E John Grisham E Milan Kundera O Morris West E Danielle Steel E Eduardo Bueno E Frederick Forsyth E Jorge Amado Gr fico 7 Levantamento dos autores mais vendidos 1966 a 2004 249 1275 316 184 171 454 154 m Record E Nova Fronteira E Companhia das Letras O Rocco E Objetiva B Civiliza o Brasileira m Best Seller O Brasiliense E Globo E Melhoramentos Gr fico 8 Levantamento das e
128. 984 Com sua adapta o para o cinema em 1986 sob dire o de Jean Jacques Annaud ele voltou aos postos da lista dos mais vendidos em 1987 quando foi lan ado no Brasil Os leitores do Leia al m de serem influenciados por suas reportagens tamb m falam no jornal Muitas vezes as falas dos leitores encontram discord ncias ou apoios e a Coluna do leitor acaba reproduzindo um di logo entre eles Um exemplo bastante peculiar dessa conversa entre leitores do jornal o debate que se instaura a prop sito do livro A insustent vel leveza do ser de Milan Kundera No n 91 do Leia de maio de 1986 uma leitora de S o Paulo chamada B rbara Schultz escreve a seguinte carta para o jornal intitulada A insustent vel leveza do sucesso Venho por meio desta implorar que algo muito surpreendente aconte a no mercado editorial que o bom gosto volte aos leitores e que afinal nos tornemos um povo culto Posso n o ser uma leitura ass dua do jornal LEIA ou de qualquer outro meio de comunica o impresso mas n o consigo entender como o leitor brasileiro se at m tanto e por tanto tempo a apenas alguns t tulos que as editoras acabam por nos for ar a ler Come o a analisar estas listas dos mais vendidos que as livrarias fornecem semanalmente mensalmente e por que n o anualmente sim porque elas me parecem sempre iguais Veja se por exemplo Ris veis amores e A insustent vel leveza do ser que j alcan aram um ano na lista
129. ARNALDO CORTINA LEITOR CONTEMPOR NEO Os livros mais vendidos no Brasil de 1966 a 2004 Araraquara 2006 ARNALDO CORTINA LEITOR CONTEMPOR NEO Os livros mais vendidos no Brasil de 1966 a 2004 Tese apresentada ao Departamento de Ling stica da Faculdade de Ci ncias e Letras da Universidade Estadual Paulista c mpus de Araraquara para obten o do t tulo de Livre Docente Araraquara 2006 Ao Bruno com quem convivi durante momentos m tuos de escrita e reflex o Ao Lucas que se lan ou para o futuro depois de um longo tempo de espera Ao Murilo para quem o tempo presente o das descobertas Ao lan sempre companheiro tanto nos bons quanto nos maus momentos AGRADECIMENTOS Este trabalho chegou a termo porque durante momentos diversos v rias pessoas e institui es me auxiliaram das mais diferentes formas A todos manifesto meus agradecimentos e de forma particular s amigas Renata Gladis e Rosane que muito me ajudaram durante o per odo de escrita da pesquisa dividindo comigo os extenuantes trabalhos da organiza o do 54 Semin rio do GEL ao Fiorin amigo e exemplo de pesquisador que me recebeu quando precisei dividir as incertezas do trabalho ao professor Jacques Fontanille que me recebeu e com quem pude discutir minhas inten es iniciais de pesquisa a meus alunos das turmas de 2006 e a todos os meus orientandos que souberam entender meus momentos de aus ncia ao professor
130. Apresentado como um m dico da Cl nica Pio XII acostumado a tratar de v rios casos de obesidade Nelson Senise prop e discutir o tema Come a por mostrar uma vis o panor mica da quest o partindo do conceito de beleza que em alguns momentos da civiliza o consagrou a gordura como ideal est tico at a era contempor nea em que a preocupa o da medicina deixa de se concentrar apenas nos gordos para estender se paradoxalmente aos que cometem a temeridade de fazer regimes de emagrecimento por conta pr pria Seu saber referendado pelo conhecimento cient fico e pr tico do problema O livro inicia se da seguinte forma Este livro n o se destina classe m dia fruto de observa es que talvez possam servir de subs dios para um estudo mais profundo por parte de psiquiatras e analistas O interesse em divulg las para o p blico leigo coloc las ao alcance daqueles que necessitam de melhor orienta o m dica p 13 Os diferentes cap tulos do livro cada um dos quais com tr s ou quatro p ginas apenas dois com sete p ginas t m os seguintes t tulos O ideal da beleza e o equil brio do peso O valor m gico e simb lico do alimento Todo gordo um mentiroso Ningu m obeso porque tem pai gordo H gordos fabricados na inf ncia Beb orgulho problema no futuro Comer demais tamb m contesta o A concorr ncia pouco leal dos leigos Frigidez e impot ncia entre obesos A fuga do sexo A obesid
131. Budapeste a hist ria de um homem exaurido por seu pr prio talento que se v emparedado entre duas cidades duas mulheres dois livros duas l nguas e uma s rie de outros pares sim tricos que conferem ao texto o car ter de espelhamento 130 que permeia todo o romance o que est representado na pr pria capa da edi o brasileira da Companhia das Letras H momentos no romance de Buarque 2003 inclusive que fazem refer ncia ao pr prio ato de leitura como no seguinte trecho abaixo reproduzido Ent o coloquei meus culos abri o livro e comecei Devia ser proibido debochar de quem se aventura Devagar K sta mais devagar e as primeiras p ginas foram duras de vencer Eu me atrapalhava com a pontua o perdia o f lego no meio das frases era como ler um texto que eu tivesse mesmo escrito por m com as palavras deslocadas Era como ler uma vida paralela minha e ao falar na primeira pessoa por um personagem paralelo a mim eu gaguejava Mas depois que aprendi a tomar dist ncia do eu do livro minha leitura fluiu Por ser preciso o relato e l mpido o estilo eu n o hesitava em narrar passo a passo a exist ncia tortuosa daquele eu p 172 3 O que se pode verificar no trecho acima novamente o car ter de espelhamento que se cria na narrativa pois o que o her i est lendo o pr prio romance de Buarque 2003 que se inicia exatamente com as mesmas palavras que K sta identifica no romance h ngaro q
132. Disserta o Mestrado Faculdade de Filosofia Letras e Ci ncias Humanas Universidade de S o Paulo Constituintes do g nero policial natureza percursos e m todos de investiga o In LOPES Iv Carlos e HERNANDES Nilton Org Semi tica Objetos e pr ticas S o Paulo Contexto 2005 p 169 189 MERLEAU PONTY Maurice A prosa do mundo Tradu o Paulo Neves S o Paulo Cosac amp Naify 2002 233 MOLLIER Jean Yves La lecture et ses publics l poque contemporaine Essais d histoire culturelle Paris Presses Universitaire de France 2001 MORIN Edgar Cultura de massa no s culo XX O esp rito do tempo Tradu o Maura Ribeiro Sardinha Rio de Janeiro S o Paulo Forense 1969 OLIVEIRA Sheila Fernandes Pimenta e Discurso g nero e argumenta o na auto ajuda de Shinyashiki Araraquara 2006 196p Tese de doutorado defendida no Programa de P s gradua o em Ling stica e L ngua Portuguesa da Faculdade de Ci ncias e Letras da Universidade Estadual Paulista PINTO J lio Pimentel A leitura e seus lugares S o Paulo Esta o Liberdade 2004 REIM O Sandra Mercado editorial brasileiro 1960 1990 S o Paulo Com Arte FAPESP 1996 R DIGER Francisco Literatura de auto ajuda e individualismo Contribui o ao estudo da subjetividade na cultura de massa contempor nea Porto Alegre Ed UFRGS 1996 SILVA Fernando Moreno da Vou me embora pra livraria pois l t
133. Ilumina o por mais fraca miser vel ou carente que possa ser nossa situa o atual A arte da felicidade de Dalai Lama e Howard Cutler P 325 6 4 Todos n s temos a necessidade de ser olhados Podemos ser classificados em quatro categorias segundo o tipo de olhar sob o qual queremos viver A primeira procura o olhar de um n mero infinito de pessoas an nimas em outras palavras o olhar do p blico Na segunda categoria est o aqueles que n o podem viver sem ser o foco de numerosos olhares familiares S o os incans veis organizadores de coquet is e jantares Vem em seguida a terceira categoria aqueles que t m necessidade de viver sob o olhar do ser amando Por fim existe a quarta categoria a mais rara a daqueles que vivem sob o olhar imagin rio dos ausentes S o os sonhadores A insustent vel leveza do ser de Milan Kundera p 271 2 5 Levante sua cabe a N o fique triste Por que vai aborrecer se pelo que disseram de voc Por quanto tempo continuar queixando se reclamando Vamos levante sua cabe a e siga frente Voc filho de Deus Caminhe seguro porque aqueles que falam de voc v o ficar parados atr s sem progredir E quando eles perceberem voc j progrediu tanto que eles o perderam de vista Minutos de sabedoria de Torres Pastoriano p 63 A sele o de Virando a pr pria mesa de Ricardo Semler ou a de Iacocca Uma autobiografia de Lee Iacocca e William Nov
134. Para desenvolver sua pesquisa seleciona cinco obras dentre as onze publicadas por esse autor Os crit rios para a sele o desses cinco livros foram o fato de serem textos expositivo argumentativos e o de focalizarem o sujeito em sua rela o com diferentes situa es cotidianas como as familiares as profissionais as religiosas e as m dicas Do ponto de vista ret rico o trabalho de Oliveira 2006 ir afirmar que o texto de auto ajuda de Shinyashiki a partir da mobiliza o dos campos sem nticos do trabalho expresso em voc bulos como transformar construir mudar etc e da guerra manifestado em lutar vencer derrotar inimigo etc constr i uma argumenta o que se vale do clich apelativa e prop e apresentar orienta es dicas e receitas com vistas a levar seu leitor a atingir o estado de felicidade Quanto quest o do g nero afirma que seria poss vel classificar a auto ajuda como um novo g nero na medida em que incorpora e transforma outros g neros j existentes por esse motivo portanto que ir dizer que a auto ajuda procura assimilar tra os dos g neros cient fico religioso e filos fico Na realidade no seu entender o texto de auto ajuda apresenta se a seu audit rio como uma nova forma de tratar as quest es em que est o envolvidas as pessoas do mundo contempor neo forma essa que consiste na reorganiza o desses tr s g neros anteriores Com rela
135. Pelo fato de se restringir principalmente a esses dois autores que apresentam caracter sticas formais muito semelhantes em seus textos seu trabalho acaba focalizando o tipo cl ssico de livro de auto ajuda ou que nos termos de Martelli 2006 corresponderia auto ajuda manifesta Assim afirma que as constru es ling sticas predominantes nesse tipo de texto s o marcadas pela modaliza o epist mica raz o pela qual seu discurso apresenta como tra o positivo a manifesta o da certeza e como tra o negativo a manifesta o da d vida Em decorr ncia dessa constata o conclui que devido a seu car ter de manual de instru o essas obras de auto ajuda revelam um enunciador em conjun o com o saber cuja imagem a de um sujeito seguro autoconfiante determinado e autocentrado que se dirige a um enunciat rio em disjun o com o saber e que por se considerar infeliz ou insatisfeito com a vida procura uma orienta o para seu fazer no discurso do outro A perspectiva de Oliveira 2006 tamb m examinar o discurso de auto ajuda destacando por m dois diferentes aspectos quais sejam sua constitui o argumentativa e sua inser o num g nero discursivo Ao constatar que a maioria dos alunos do curso de 196 Administra o da faculdade particular do munic pio de Franca em que trabalha l muitos livros de auto ajuda decide investigar um dos autores mais lidos por esse p blico o m dico Roberto Shinyashiki
136. a da qual reproduz alguns trechos no ep logo confirma a exist ncia do local mencionado por Paulo e traz ainda outras revela es m sticas portanto a partir disso que o enunciador explica ao leitor os motivos pelos quais escreveu seu livro Escrevi este livro em janeiro fevereiro de 1992 pouco depois do final da Terceira Guerra Mundial onde os combates foram muito mais sofisticados que os travados com armas convencionais Segundo a Tradi o esta guerra come ou nos anos 50 com o bloqueio de Berlim e acabou quando o Muro de Berlim caiu por terra Agora segundo a Tradi o uma nova guerra vai come ar Uma guerra mais sofisticada ainda da qual ningu m pode escapar porque atrav s de suas batalhas que o crescimento do homem se completar Veremos os dois ex rcitos de um lado aqueles que ainda acreditam na ra a humana que acreditam nos poderes ocultos do homem e sabem que nosso pr ximo passo est no crescimento dos dons individuais Do outro lado estar o os que negam o futuro os que acham que a vida termina na mat ria e infelizmente aqueles que embora tenham f acreditam que descobriram o caminho da ilumina o e querem obrigar os outros a seguir por ali Por isso os anjos est o de volta e precisam ser ouvidos porque s eles podem nos mostrar o caminho e ningu m mais Podemos dividir nossas experi ncias como procurei dividir a minha neste livro mas n o existem f rmu
137. a E As brumas de Avalon Marion Zimmer Bradley Imago O Olga Fernando de Moraes Alfa mega O lacocca Uma autobiografia Lee lacocca e William Novak Cultura E Se houver amanh Sidney Sheldon Record E S gordo quem quer Jo o Uchoa J nior Guanabara E O amor nos tempos do c lera Gabriel Garcia M rquez Record o Opera o cavalo de Tr ia J J Benitez Mercuryo E Complexo de Cinderela Colette Dowling Melhoramentos m Eu Christiane F K Herman e H Rieck Difel O Feliz ano velho Marcelo Rubens Paiva Brasiliense E Virando a pr pria mesa Ricardo Semler Best Seller Gr fico 4 Levantamento d cada 1980 246 34 3 P g E O alquimista Paulo Coelho Rocco E O mundo de Sofia Jostein Gaarder Companhia das Letras O Brida Paulo Coelho Rocco O Voc pode curar sua vida Louise Hay Best Seller E O sucesso n o ocorre por acaso Lair Ribeiro Rosa dos Tempos E A profecia celestina James Redfield Objetiva E Intelig ncia emocional Daniel Goleman Objetiva Comunica o global Lair Ribeiro Rosa dos Tempos E Minutos de sabedoria Torres Pastoriano Vozes E 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama Ol via Clare Ediouro O Virando a pr pria mesa Ricardo Semler Best Seller E O Xang de Baker Street J Soares Companhia das Letras E As valqu rias Paulo Coelho Rocco 30 29 28 24 92 3 22 22 921 20 Gr fico 5 Levantamento D cada 1990 247
138. a Opera o cavalo de tr ia de J J Ben tez que chamei de a o e intriga tamb m modaliza o leitor atrav s da afirma o da verdade e mais do que isso de uma revela o que prop e transformar o leitor de um estado de ignor ncia n o saber ser para um estado de verdade saber ser Enquanto narrativa de fatos ver dicos o relato memorialista do her i consiste na constru o de uma probabilidade n o crer n o ser dessa verdade que incide ainda sobre a cren a do leitor sua certeza na exist ncia do m rtir do Novo Testamento As mentiras que os homens contam de Lu s Fernando Ver ssimo apresenta diferentes narrativas cujo prop sito consiste em discutir a verdade saber ser e a falsidade saber n o ser em contraposi o oculta o n o saber ser e ilus o n o saber n o ser O humor ser o elemento mediador dessas modaliza es na medida em que a revela o de cada um dos estados dos sujeitos da narrativa denuncia uma ambigiiidade entre a verdade e a mentira ou para dizer de outra maneira quando a mentira produzida em um contexto que transforma seu valor pois deixa de ser negativa e passa a ser positiva Os textos de narrativa de fantasia s o dois As brumas de Avalon de Marion Zimmer Bradley e Harry Potter e a pedra filosofal de J K Rowling Basicamente o procedimentos modalizador desses textos o da possibilidade poder ser ou da probabilidade n o crer n o ser As situa es const
139. a narrativa do romance numa passagem em que Brida combina com seu namorado Lorens de visitar os rochedos da Irlanda onde o poeta vivera H inclusive uma cita o de versos atribu dos a Yeats na p 172 embora n o haja refer ncia bibliogr fica eu semeei meus sonhos onde voc est pisando agora pise suavemente porque voc est pisando nos meus sonhos Segundo Brida o poeta irland s tinha sido grande conhecedor da Tradi o da Lua e deixara em seus livros mensagens ocultas para aqueles que buscam o caminho espiritual William Blake poeta ingl s que viveu na segunda metade do s culo XIX e primeira do s culo XX o segundo poeta citado na narrativa pela mesma personagem Brida Num momento em que se prepara para realizar um ritual de bruxaria lembra se de um verso do poeta sem dar tamb m refer ncias bibliogr ficas Toda pergunta que pode ser concebida tem uma resposta p 188 A terceira e ltima refer ncia a um autor da literatura acontece num trecho da narrativa em que a m e de Brida conta para sua filha o encontro que tivera com um homem desconhecido na cidade em que vivia logo que se casara Ao falar para esse desconhecido sobre o orgulho que ela sentia por sua pequena cidade ele respondeu com uma frase atribu da a Leon Tolstoy a sua aldeia que lhe d o poder universal p 221 Essas refer ncias a escritores da literatura ocidental s o uma forma de atribuir um valor de autoridade ao discurso en
140. a Onda p 36 Algumas d cadas ap s a Segunda Guerra Mundial quando a segunda onda atinge seu pice de evolu o na Europa e na Am rica do Norte uma terceira onda se inicia Trata 170 se da revolu o tecnol gica que ser chamada por muitos de idade espacial era eletr nica aldeia global idade tecnetr nica sociedade p s industrial etc Seu avan o continua ainda nos dias atuais e essa terceira onda est ainda em processo de evolu o Diferentemente do caso anterior por m a segunda onda ainda n o se extinguiu continua a ser a principal atividade de muitos pa ses do planeta embora os efeitos da terceira onda j possam ser sentidos nas sociedades em que mais ela se desenvolveu Para entender como se d esse processo de transforma o entre as tr s ondas e principalmente para chegar a uma descri o das caracter sticas da terceira e do que ela desencadear o autor faz uma an lise dos fatores econ micos e sociais envolvidos O primeiro aspecto que se destaca que do ponto de vista das rela es econ micas a segunda onda significou uma invers o completa do sistema do per odo agr cola Enquanto para este ltimo produtor e consumidor estavam unidos no mesmo processo na medida em que o que se plantava era inicialmente para o consumo da pr pria comunidade que exercia aquela atividade para aquela h uma separa o entre a atividade de produ o e a de consumo Como afirma To
141. a ao deslocamento do poder de decis o para outras esferas da sociedade O irracionalismo adquire for a enquanto maneira de interpretar a realidade pois o homem deixa de acreditar nos valores que ainda permaneceram nas sociedades da primeira fase do industrialismo Nesse sentido ent o surge uma nova racionalidade voltada agora para uma valoriza o do individual na medida em que se reconhece a descontinuidade temporal e a fragmenta o como caracter sticas intr nsecas da sociedade 186 6 Encontro do ethos do leitor de auto ajuda Meu pai chorou e minha m e gemeu No mundo perigoso vejo me eu A esgani ar me nu desamparado Qual dem nio por nuvem ocultado Nas m os do pai brigando prisioneiro Batendo me co as faixas do cueiro Atado e exausto achei que o menor mal Era amuar no peito maternal William Blake Tristeza infantil Para que n o naufrague a civiliza o No grande fragor da derrota Acalme o c o amarre o cavalinho Numa estaca remota C sar nosso senhor est na tenda Onde os mapas se espalham pelo ch o O olhar fixando o nada E a cabe a na m o Tal qual mosca pernalta em cima da gua Sua mente se move em cima do sil ncio William Batler Yeats Mosca de pernas longas O prop sito deste ltimo cap tulo ser inicialmente observar a abordagem de quatro diferentes trabalhos sobre a tem tica da auto ajuda e em segundo lugar examinar como se configuram no corpus desta pesquisa
142. a com seis volumes editados cada um deles com o nome Harry Potter frente seguido de uma indica o tem tica da aventura que a personagem central ir viver na hist ria contada no livro A pedra filosofal volume 1 A c mara secreta volume 2 O prisioneiro de Azkaban volume 3 O c lice de fogo volume 4 A ordem de f nix volume 5 e O enigma do pr ncipe volume 6 Do ponto de vista semi tico os romances dessa quinta categoria dos mais vendidos s o narrativas cujos fins ltimos s o a busca de objetos valores mediados por objetos modais aproximando se assim da estrutura dos contos maravilhosos O nome fantasia com que designei essa categoria de livros uma tradu o do termo fantasy que a cr tica liter ria tem atribu do ao g nero de narrativas inglesas que se reportam ao mundo encantado em interface com o mundo real Existe nessas hist rias um componente m stico as fadas em As brumas de Avalon e os bruxos em Harry Potter e a pedra filosofal que manifestam comportamentos e valores diferentes dos seres humanos com os quais interagem nas hist rias Embora n o tenha aparecido no levantamento dos livros mais vendidos por mim realizado outro grande representante dessa categoria O senhor dos an is de John Ronald Reuel Tolkien A sexta e ltima categoria dos livros mais vendidos no per odo de 1966 a 2004 chamarei didatismo hist rico filos fico O car ter did tico desses liv
143. a da 223 linguagem deu origem a diferentes perspectivas te ricas para o tratamento do sentido e a semi tica da escola de Paris uma delas Segundo essa perspectiva herdeira da tradi o hjelmsleviana o sentido sin nimo de mat ria e assume uma significa o ao decorrer de sua articula o em duas formas distintas que correspondem aos dois planos da linguagem o plano da express o comporta assim uma forma e uma subst ncia da express o e o plano do conte do uma forma e uma subst ncia do conte do Greimas e Court s 19859 Assim o prop sito deste trabalho consistiu em examinar uma forma semi tica as listas dos livros mais vendidos para articulada sua subst ncia reconstituir a significa o pr pria dessa mat ria Mas apreender a significa o das listas dos livros mais vendidos no Brasil durante o per odo de 38 anos que corresponde ao intervalo de tempo entre 1966 e 2004 n o pode ser um fim em si mesmo Na verdade o desdobramento dessa investiga o partiu da hip tese de que essas listas refletem um perfil do leitor brasileiro contempor neo Ou melhor dizendo essas listas acabam configurando se como um discurso cujo enunciador o leitor pois ao registrar suas prefer ncias de leitura registro o seu dizer e analisando esse dizer posso chegar a caracterizar esse leitor Uma das inst ncias constitutivas do discurso mais dif ceis de apreender a do enunciat rio Ao se debru ar sobre um texto
144. a dois livros preferidos pelos leitores brasileiros da d cada de 80 O primeiro Iacocca Uma autobiografia de Lee Iacocca e William Novak e o segundo Virando a pr pria mesa de Ricardo Semler sobre os quais j fiz refer ncia em cap tulo anterior O que l por fim o leitor brasileiro dos anos 80 Sua preocupa o com quest es sociais desaparece reduzindo se apenas como j afirmei em outro momento a um livro que classifiquei como mem ria Olga de Fernando Moraes em que a quest o social pano de fundo para a narra o de uma grande hist ria de amor Nesse sentido portanto o que se destaca o individual e n o verdadeiramente o social Talvez se pudesse dizer ainda que o romance de Garcia M rquez O amor nos tempos do c lera guarda ainda alguns tra os desse enfoque social quando aborda a realidade latino americana embora isso se d 122 sob um ngulo mais pendente para o sobrenatural a literatura fant stica uma mistura entre o real e o inexplic vel O leitor que se interessa por narrativas intrincadas em segii ncia de fatos que o transportam para uma realidade fict cia ou seja os adeptos da leitura descompromissada das aventuras est o contemplados pelo previs vel melodrama de Sidney Sheldon ou pela extensa narrativa de Ben tez Embora s haja refer ncia ao volume um de Opera o cavalo de Tr ia entre os mais vendidos da d cada de 80 no corpus de pesquisa conforme j apontei no cap tulo anterior
145. a pelas in meras propagandas de sabonetes detergentes produtos de limpeza o anti tabagismo que passa a ser incentivado por decretos e leis a pr tica de esporte ou exerc cio f sico para modela o corporal respons veis pela prolifera o de academias para atividades f sicas etc Nesse sentido o princ pio do culto ao indiv duo que ir desencadear o narcisismo contempor neo tamb m uma forma de controle e n o de total liberdade 178 Quanto religiosidade Lipovetsky 2005b ir afirmar ainda que o homem contempor neo est cada vez mais distante dos cultos religiosos tradicionais muito menos dirigem suas vidas pelos mandamentos da Igreja Cat lica Simultaneamente as cren as passam a gravitar mais propriamente em torno de uma busca pessoal e subjetiva incorporando c e l promiscuamente ingredientes de tradi o do Oriente e do Ocidente espiritualidade e esoterismo vis o de absoluto e bem estar hol stico medita o e relaxamento mist rios e terapias corporais A busca intensiva de uma verdade subjetiva e sincr tica ocupou o vazio dos dogmas livremente aceitos a nova dimens o da consci ncia ficou no lugar do dirigismo disciplinador da alma a autenticidade espont nea ocupou a posi o das antigas regulamenta es A est a nova era das religi es agora em kit direcionadas para o pr prio eu eqjiiidistantes tanto de um modelo global de intoler ncia religiosa como de uma vis o
146. a pesquisa pode ser detectado em alguns dos livros que aparecem entre os mais lidos tais como Aeroporto e O primeiro ministro de Sidney Sheldon O chef o de M rio Puzzo Crimes de guerra no Vietn de Bertrand Russell As veias abertas da Am rica Latina de Eduardo Galeano entre outros Al m disso as manifesta es de diferentes formas de agressividade s o cada vez mais crescentes nas sociedades modernas quer enquanto manifesta es individuais quer enquanto manifesta es coletivas O que imprescind vel recuperar das reflex es de Freud que a agressividade um reflexo da conten o do instinto que se manifesta na forma do instinto do ego aquele que visa a preservar o indiv duo tal como a fome e a sede por exemplo e na forma do instinto do objeto que corresponde ao amor cuja fun o a preserva o da esp cie O primeiro continua chamando instinto do ego o segundo por m passa a chamar de instinto libidinal Com o desenvolvimento de suas investiga es Freud 1997 come a a observar o fen meno da agressividade a partir do lugar das for as opressoras e n o mais das reprimidas a partir ent o dessa perspectiva que aborda a quest o do narcisismo como se pode identificar no seguinte trecho O decisivo passo frente consistiu na introdu o do conceito de narcisismo isto a descoberta de que o pr prio ego se acha catexizado pela libido de que o ego na verdade constitui o reduto original
147. a qual n o aparece nas listas do corpus desta pesquisa apresentadas em anexo Dois livros seus em especial foram muito lidos pelo p blico leitor brasileiro e principalmente norte americano Choque do futuro e A terceira onda A perspectiva com que trata a individualidade decorrente de sua vis o de que no sistema da terceira onda todas as atividades concentram se sobre diferentes sujeitos que procuram desempenhar a es trabalho num sistema de rede de rela es Sua cren a a de que assim organizado o sistema se auto alimenta e p e tudo em movimento Isso significa dizer aquilo que muitos textos de auto ajuda dizem isto que a decis o sobre o que pretende para sua vida depende nica e exclusivamente de cada um dos indiv duos e n o de algo externo a eles 5 4 O vazio na sociedade contempor nea J me referi anteriormente perspectiva a partir da qual Gilles Lipovetsky discute quest es da sociedade contempor nea quando fiz algumas observa es acerca dos valores do individualismo manifestados nas diferentes obras que constam nas listas dos livros mais vendidos que correspondem ao corpus desta pesquisa Para aprofundar a vis o desse autor franc s apoiar me ei basicamente em dois de seus trabalhos 4 era do vazio cuja primeira edi o francesa de 1983 e A sociedade p s moralista publicado na Fran a em 1992 com o t tulo Le cr puscule du devoir L tique indolore des nouveaux temps d mocratiques Como esses d
148. a que se propaga em todas as dire es Basicamente elas reorganizam as no es de tempo e espa o na medida em que percebem a natureza como um objeto a ser explorado e o ser humano como o mais evolu do de todo o planeta que tem a capacidade de agir sobre a natureza a percep o dessas duas dimens es que leva Toffler 1993 a afirmar que a segunda onda constr i uma indust realidade cujo princ pio b sico o progresso ou seja uni o da natureza enquanto objeto a ser explorado com a evolu o caracter stica do ser humano Nesse contexto o autor ir afirmar que est o dadas as condi es para a cria o do princ pio do individualismo Havia raz es pol ticas e sociais tamb m para a aceita o do modelo at mico da realidade Quando a Segunda Onda se chocou contra as velhas institui es da preexistente Primeira Onda ela precisou libertar pessoas da fam lia extensa da poderosa igreja da monarquia O capitalismo industrial precisava de um fundamento l gico para o individualismo Quando a velha civiliza o agr cola decaiu quando o com rcio se expandiu e as cidades se multiplicaram um s culo ou dois antes do advento do industrialismo a nascente classe mercantil exigindo a liberdade para negociar emprestar e expandir seus mercados gerou uma nova concep o do indiv duo a pessoa como tomo Em suma a indust realidade deu nascimento concep o de um indiv duo que era notavelmente como um to
149. a quem pretende apresentar li es para seu melhor desempenho na comunica o O discurso do enunciador estrutura se a partir de argumenta o dirigida a um p blico bastante gen rico ao qual pretende mostrar numa linguagem bastante simples estudos de car ter cient fico que podem ajud lo a melhor se comunicar Sua forma argumentativa baseada sempre em explica es de cunho narrativo com vistas a evidenciar uma certeza um senso comum Veja se por exemplo a forma como apresenta sua proposta de tratamento da quest o central da comunica o a express o do conhecimento 82 Imagine uma caravela atravessando o Atl ntico rumo Europa com um valios ssimo carregamento de ouro De repente o tempo vira as ondas crescem os ventos se agitam num tuf o incontrol vel e o tesouro afunda N o h registros do naufr gio n o se sabe onde ocorreu Quanto vale este tesouro agora inacess vel Extra do das minas com esfor o e sacrif cio seu valor seria enorme se estivesse em uso Mas l repousando no fundo abissal n o vale nada Assim o conhecimento Anos e anos de estudo milhares de livros lidos erudi o enciclop dica de nada adianta se estiverem sem uso S o como livros empoeirados sendo comidos pelas tra as trancados nos por es de uma biblioteca Nada vale o nosso conhecimento se n o soubermos express lo no mundo p 9 A base cient fica a partir da qual o enunciador prop e ensinar ao enunciat ri
150. ade pela frustra o sexual Cada um tem a dieta que merece A felicidade em r pidas li es Com licen a do dr Sigmund Freud A consci ncia do problema em todas as classes Psicocibern tica a ci ncia do autoconhecimento A auto imagem um roteiro de vida O drama do gordo que consegue ser magro As barreiras que impedem o di logo Uma gota de ado ante num banquete As p lulas produtoras de faquires Os gordos morrem cada vez mais cedo O 114 temor da balan a que n o mente No auge do orgasmo alimentar Antagonismo entre fumo e obesidade Emagrecimento como forma de suic dio Um hiato de ternura para as gordinhas O orgulho de ser gordo M quinas de emagrecimento As solu es nicas para os obesos O cap tulo Antagonismo entre fumo e obesidade por exemplo ap s uma argumenta o sobre a falsa id ia de que a pessoa que p ra de fumar necessariamente engorda termina com o seguinte par grafo Deixar de fumar para sufocar se na obesidade n o seria jamais a solu o recomend vel como igualmente n o se recomendaria a troca de gordura excessiva pelo cigarro Numa ou noutra situa o o indiv duo deve compreender que em ltima inst ncia toda e qualquer decis o depender de si pr prio Seu comportamento ser condicionado ao seu equil brio ps quico p 105 A terceira tem tica da auto ajuda de certa maneira j come a a aparecer na d cada de 60 com o livro Sexo de Henry Miller que est class
151. ades vitais Assim algumas quest es que pareciam distantes do mundo do trabalho emo o intui o espiritualidade afeto passam a fregiientar com bastante assiduidade o imagin rio organizacional E mais do que isso alguns temas que at ent o n o pareciam apresentar qualquer interesse para a gest o de neg cios aparecem com uma certa fregii ncia em manuais de recursos humanos em revistas especializadas em livros de neg cios por exemplo espiritualidade no trabalho m sica em recursos humanos astrologia como ferramenta para o RH a contribui o dos florais no desenvolvimento de pessoas e equipes numerologia aromaterapia Feng Shui no trabalho etc Martelli 2006 p 228 O que se pode constatar portanto pelo trabalho realizado pela autora que a auto ajuda na gest o de neg cios al m de focalizar o individual que corresponde ao mbito da pessoalidade volta se tamb m para uma outra concep o da individualidade que n o diz respeito a pessoas mas a empresas em particular Acredito entretanto que uma das propostas mais pertinentes em rela o auto ajuda apresentada pelo estudo de Martelli 2006 a o conceito de auto ajuda enquanto fen meno cultural o que a leva a estabelecer uma distin o entre auto ajuda manifesta e auto ajuda latente Em seu relato de consultas a livrarias aponta inicialmente essa 193 quest o pois o que chamou sua aten o e o que certamente despertaria
152. age sobre o fazer do sujeito modalizado uma vez que ele aceita a verdade proposta pelo texto de auto ajuda Essa ades o do enunciat rio leitor de auto ajuda parte de um querer A instaura o do desejo querer ser alia se voli o querer fazer porque o enunciat rio constru do por esse discurso um sujeito da falta Nesse sentido portanto que se pode caracterizar o leitor da auto ajuda como aquele que se identifica com essa car ncia projetada para o enunciat rio Esse sujeito vive em uma sociedade urbana capitalista cujo princ pio motor de regula o o consumo est isolado dos la os da fam lia extensa do in cio do industrialismo ou do trabalho artesanal n o acredita mais nos princ pios reguladores da religi o e precisa encontrar uma resposta para suas indaga es individuais Ele vai encontr la ent o na literatura de auto ajuda que cresce e se multiplica assumindo diferentes matizes e diferentes formas 222 Considera es finais Mas deixemos o mito de uma linguagem das coisas ou melhor tomemo lo em sua forma sublimada a de uma l ngua universal que portanto envolve de antem o tudo o que ela pode ter a dizer porque suas palavras e sua sintaxe refletem os poss veis fundamentais e suas articula es a consegii ncia a mesma N o h virtude na fala nenhum poder oculto nela Ela puro signo para uma pura significa o Aquele que fala cifra seu pensamento Ele o substitui por um arranjo
153. agens realmente existiram N o nasceram de um corpo materno mas de algumas palavras evocadoras ou de uma situa o fundamental Tomas nasceu de um ditado Einmal ist keinmal Tereza do ru do de seu ventre p 37 O romance de Milan Kundera uma hist ria de amor e erotismo Segundo ele a vida um imenso absurdo totalmente destitu da de qualquer significado e tanto pode ser um sonho como um pesadelo nesse clima de imprecis o em um cen rio pol tico opressivo da antiga Tcheco Eslov quia que se torna por vezes sombrio que vivem as personagens do romance Dois casais constituem o ponto central dos acontecimentos Tomas Tereza e Sabina Franz Narrando ora como observador ora como comentarista o enunciador faz digress es sobre os problemas do relacionamento humano principalmente sobre a atra o entre os sexos tema central do romance 7 As brumas de Avalon de Marion Zimmer Bradley O livro abre com um pr logo que se inicia com a seguinte express o Morgana fala Durante todo ele a fada Morgana fala sobre a hist ria que ir narrar Como uma fada que de uma outra tradi o daquele lugar coloca se contra o cristianismo dizendo que n o critica o deus crist o mas os sacerdotes da Igreja Cat lica que negam a exist ncia da Grande Deusa senhora das fadas considerando a coisa do dem nio Esse pr logo escrito inteiramente na primeira pessoa como se pode constatar na seguinte pas
154. ai dizer que o livro de Redfield oferece ensinamentos ao leitor Estas li es est o relacionadas a algumas quest es que intrigam os homens h muitos s culos Quem somos n s O que espiritualidade O que significa estar vivo H alguns anos vem se ampliando o interesse das pessoas por uma vida mais espiritualizada N o estamos falando de religi o ou de teologia no seu sentido estrito mas de uma consci ncia uma conex o com a realidade divina Essa 13 uma das nossas pot ncias Com esta convic o somos mais capazes de nos integrar ao mundo e crescermos com alegria A narra o de A profecia celestina consiste na proje o de um eu que fala Ele inicia sua hist ria referindo se a um encontro com uma velha amiga chamada Charlene Subi at o restaurante estacionei e me recostei no banco para pensar um pouco Sabia que Chalene j estaria l dentro me esperando para conversar Mas por qu Eu n o ouvira uma palavra dela em seis anos Por que teria aparecido agora logo agora que eu me isolara na mata por uma semana p 1 Nesse encontro com sua amiga Charlene o narrador fica sabendo de um manuscrito que havia sido descoberto no Peru que remontava a cerca de 600 anos a C e que previa uma enorme transforma o na sociedade humana a partir das ltimas d cadas do s culo XX Curioso pelo relato feito por Charlene o narrador vai atr s desse manuscrito e come a a refletir sobre as vis es nele relatad
155. ai mais longe chama a aten o de seu leitor para que n o tente reproduzir os rituais se n o um iniciado pois isso perigoso e quando realizados por leigos podem prejudicar seriamente a Busca Espiritual p 9 O discurso da Advert ncia j prepara o tom fabular da narrativa que vir em seguida No Pr logo o enunciador tamb m uma primeira pessoa que avisa seu enunciat rio de que os fatos narrados na f bula s o a reprodu o de acontecimentos verdadeiros Sent vamos toda noite num caf em Lourdes Eu um peregrino do sagrado Caminho de Roma que precisava andar muitos dias em busca de meu Dom Ela Brida O Fern controlava determinada parte deste caminho p 11 A hist ria contada ao sujeito produtor da voz enunciativa revela que apenas mudou o nome das pessoas envolvidas a pedido da pr pria Brida para que elas n o pudessem ser identificadas A interlocu o entre o autor e Brida reproduzida no pr logo quando ela lhe indaga sobre o tipo de pessoas que leriam sua hist ria alegando que aquilo havia sido uma experi ncia muito particular e que n o sabia se os leitores tirariam algum proveito dela A resposta do sujeito autor manifesta se na seguinte frase Este um risco que agora corremos juntos Brida p 12 a partir desses dois textos iniciais que firmam o contrato de veracidade com o leitor segue se a narrativa que localizada no espa o Dublin na Irlanda e no tempo de agos
156. air Ribeiro e o de Dalai Lama 206 e Howard Cutler parecem funcionar como defini es O primeiro prop e explicar a seu enunciat rio em que consiste a intelig ncia emocional e como ela importante para se obter sucesso em todas as esferas da vida pessoal o segundo faz a mesma coisa em rela o ao conceito de comunica o o terceiro prop em ensinar doar a seu destinador um saber que uma arte qual seja a arte da felicidade Os enunciat rios a quem esses enunciados se dirigem est o modalizados pelo querer e esse desejo pode ser satisfeito na medida em que eles creiam na verdade que lhes apresentada pelo discurso do enunciador Os dois ltimos t tulos desse primeiro subgrupo da auto ajuda que correspondem a express es nominais embora n o assumam a forma da defini o tamb m exprimem o processo de modaliza o epist mica da rela o entre enunciador e enunciat rio por meio da certeza crer ser Em Perdas e ganhos o enunciador enfatiza a necessidade dever ser da aceita o de que no processo de envelhecimento h mais ganhos do que perdas A express o perdas e ganhos poderia ser interpretada no dizer do enunciador pelo seguinte enunciado se por um lado durante o envelhecimento h perdas por outro tamb m h muitos ganhos A express o dessa verdade decorr ncia de um saber que o sujeito produtor do discurso passa para seu destinat rio Em Um dia daqueles uma prescri o dever
157. ak subordinada a um dever saber pois o desejo querer ser tem no saber seu objeto valor Os leitores desse tipo de auto ajuda para o mundo dos neg cios est o procura de um conhecimento o saber manifestado na experi ncia do enunciador para modificar o seu fazer enquanto sujeitos mobilizados pela possibilidade n o dever n o ser ou poder ser O enunciador por seu lado instaura um fazer crer em seu enunciat rio por meio da demonstra o da verdade o saber ser ancorado ainda pela compet ncia saber fazer que se torna exatamente o objeto valor a busca do qual est o leitor O efeito de sentido de verdade e de realidade mantido nesses dois textos na medida em que eles se constroem na forma da autobiografia N o os 35 coloquei no grupo das narrativas memorialistas a que me referirei mais adiante porque seu prop sito central n o consiste em destacar a vida da personagem em si mas mostrar como deve ser a administra o de uma empresa moderna brasileira no caso de Ricardo Semler ou como a competitividade dos altos cargos nas empresas norte americanas de autom veis no caso de Lee Iacocca Novamente poss vel identificar esses procedimentos de modaliza o nos seguintes enunciados 6 Como a tal profissionaliza o da empresa familiar Dif cil Penosa Dois passos para frente e um para tr s De qualquer forma cada caso um caso e n o tem certo ou errado Cada empresa tem de achar o ponto onde
158. al na exposi o das quest es sobre a evolu o do pensamento filos fico da humanidade Tal como o pr prio t tulo do livro apresenta a inten o do enunciador instrutor fazer com que seu disc pulo no caso Sofia amplie seus horizontes deixando de enxergar a realidade apenas segundo a perspectiva fechada de seu mundo Esse tom pedag gico faz parte da proposta do pr prio livro que consiste em fazer um panorama da evolu o da filosofia no mundo Ocidental Do ponto de vista da organiza o textual h uma hist ria sendo contada em que um narrador relata o relacionamento entre um sujeito do saber o autor das cartas para Sofia e a garota Esse sujeito muitas vezes confunde se com o pr prio narrador da hist ria de tal forma que parece ser esse sujeito do saber que fala sempre Portanto o que pode justificar o fato de esse livro ter sido muito lido n o s pelo p blico juvenil que embora o narrat rio constru do no interior da narrativa identifique se com a imagem do adolescente seu enunciat rio n o est reduzido a ele O que pretendo dizer que o tom did tico e explicativo com que as no es de filosofia v o sendo expostas no texto uma forma de tornar acess veis as principais no es das teorias filos ficas a um p blico n o especializado portanto um leitor que n o apenas o adolescente mas o adulto tamb m 4 As mentiras que os homens contam de Lu s Fernando Ver ssimo As mentiras que os ho
159. ande bruxo do mal resta lhe uma cicatriz no lado direito da testa em forma de um raio A partir da morte de seus pais Harry passa a viver com seus tios os Dursley que eram trouxas nome por meio do qual os bruxos designam aqueles que n o s o bruxos os chamados mortais comuns Rejeitado pelos tios que preferem seu filho Dudley o Duda que na opini o dos pais era o garoto melhor do mundo mas que por ser muito mimado era o respons vel por muitos dos castigos que o her i da narrativa sofria Harry permanece em constante solid o Na casa de seus tios condenado a viver no arm rio embaixo da escada e sofre todo tipo de humilha o A partir do momento em que Harry come a a freqiientar a escola de Hogwarts passa a se sentir melhor porque n o mais rejeitado por ningu m porque convive com pessoas como ele isto outros bruxos Al m disso reconhecido por todos como algu m muito importante pois fora o nico a sobreviver a um ataque de Valdemort a quem todos os bruxos temiam Faz amizade especialmente com Rony e Herminone e com eles forma um trio de her is infantis das in meras aventuras que vivem na escola A escola de Hogwarts era constitu da por quatro diferentes classes Grifin ria Lufa lufa Corvinal e Sonserina Harry Rony e Herminone ficam na Grifin ria e mant m uma rela o de hostilidade com Sonserina a classe que tem como caracter stica um passado voltado para o mal O narrador da hist ria manifesta
160. ar de emprego de c njuges de pap is e responsabilidades p 131 No que se refere ao objeto dessa pesquisa o que Toffler 1993 est dizendo que o crescimento da chamada literatura de auto ajuda portanto decorr ncia de uma crise instaurada nos indiv duos que vivem nas sociedades que sofrem o impacto da onda industrialista O mundo massificado pelo sistema reprodutivo da segunda onda faz com que as pessoas percam a no o de suas individualidades na medida em que n o t m espa o para criar em seu trabalho e porque perderam os la os da fam lia nuclear caracter stica do sistema da primeira onda O movimento de concentra o pr prio desse sistema faz com que os indiv duos estejam direcionados sempre para uma uniformidade da realidade Sua vis o positiva na defesa da terceira onda que considera como um per odo de descentraliza o apaga a id ia da despersonaliza o decorrente da imposi o do processo de massifica o e aponta euforicamente para o crescimento da individualidade na medida em que entende o homem desse per odo como mais livre para criar e ajustar se realidade que o cerca H no seu entender uma mudan a total na perspectiva dos modos de vida e de trabalho das pessoas que passa a ser mais interativo e menos repetitivo o que significa uma mudan a nas pr prias institui es a Terceira Onda traz consigo uma crescente demanda de uma esp cie inteiramente nova de institui o uma companh
161. ar e de uma determinada poca que estabelecem um padr o positivo e outro negativo do gosto O modelo de beleza pode ser um exemplo para discutir a variabilidade do gosto Assim os padr es que definem quando uma pessoa deve ser considerada bela ou feia diferenciam se de poca para poca de regi o para regi o de cultura para cultura Portanto para cada poca regi o ou cultura existe uma norma que estabelece as condi es de aprecia o positiva da beleza e tudo que n o est a ela adequada considerado marginal fora da regra Se fizermos uma leitura semi tica dos sentidos do gosto podemos dizer do ponto de vista da foria que aquilo que estabelecido como bom tem uma valoriza o positiva portanto euf rica enquanto o que visto como mal tem uma valoriza o negativa portanto disf rica Do ponto de vista da extens o que estabelece o grau de maior ou menor intensidade de um valor f rico percebe se que a determina o do gosto pode ainda ser estabelecida por uma grada o Isso significa dizer que o gosto est ora mais pr ximo do grau m ximo de positividade ora mais distante estabelecendo se dessa forma uma maior ou menor capacidade de apreens o ou julgamento do gosto Nesse sentido devo considerar que diferentemente do que se pode imaginar o gosto n o tem uma caracter stica individualizante Ao contr rio do que diz a express o gosto n o se discute quando se quer refor ar a id ia de que o gosto
162. ar nele os princ pios do bom car ter Smiles pensava numa moral individual que se voltava para o fazer coletivo isto o trabalho De self help pode se dizer portanto que foi uma no o criada em ltima inst ncia com motivo conservador constitui express o de uma concep o moral do mundo submetida desagrega o pelo processo de mudan a social deflagrado pelas novas for as produtivas e representa positivamente uma tentativa de conciliar esse ponto de vista com o crescente individualismo A comprova o disso se encontra no horror com que seu criador assistiu destrui o do sistema de produ o mercantil simples baseado na manufatura mec nica e no trabalho artesanal que na pr tica fundamentava socialmente a antiga moralidade R diger 1996 p 46 J no final do s culo XIX e in cio do XX essa concep o moral da auto ajuda come a a ter contornos diferentes em fun o da corrente do chamado Novo Pensamento Oriunda da classe m dia essa nova corrente tinha por objetivo explorar a id ia do potencial humano baseando se para tanto em id ias e conceitos dos mentalistas que passaram a circular no final do s culo XIX Por meio de supostos estudos sobre o poder da mente os adeptos dessa corrente propunham difundir para toda a popula o os segredos do sucesso da sa de mental e da realiza o pessoal Assim come a a surgir nesse per odo uma s rie de livros que se voltavam para as diferentes formas de
163. ar o sentido enquanto algo que assumido por uma semi tica o que permite distinguir ent o a subst ncia do conte do da subst ncia da express o Quando digo que a semi tica ao investigar o sentido prop e ir al m da frase significa dizer que privilegia inicialmente uma outra dimens o ling stica qual seja o texto Assim posso dizer que ao tomar o texto como seu objeto a atitude da semi tica ser a de descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz Barros 1990 p 7 O texto por sua vez deve ser compreendido segundo a perspectiva semi tica como um objeto de significa o ou como um objeto de comunica o Esses conceitos s o assim caracterizados por Barros 1990 p 7 26 A primeira concep o de texto entendido como objeto de significa o faz que seu estudo se confunda com o exame dos procedimentos e mecanismos que o estruturam que o tecem como um todo de sentido A segunda caracteriza o de texto n o mais o toma como objeto de significa o mas como objeto de comunica o entre dois sujeitos Assim concebido o texto encontra seu lugar entre os objetos culturais inserido numa sociedade de classes e determinado por forma es ideol gicas espec ficas Ao trabalhar aqui com o conceito de texto segundo a perspectiva dos estudos semi ticos estarei sempre levando em considera o tanto sua dimens o significativa quanto a comunicativa
164. as um comerciante sobre as compras e as vendas um juiz sobre o crime e o castigo um advogado sobre as leis um tribuno sobre a liberdade uma sacerdotisa sobre a raz o e a paix o uma mulher sobre a dor um homem sobre o conhecimento de si pr prio um professor sobre o ensino um adolescente sobre a amizade um literato sobre a conversa o um astr nomo sobre o tempo um anci o sobre o bem e o mal uma sacerdotisa sobre a prece um ermit o sobre o prazer um poeta sobre a beleza um velho sacerdote sobre a religi o Altamira novamente sobre a morte Reproduzo abaixo para que se possa ter uma id ia de como seu discurso se organiza um trecho do livro que trata sobre o amor Ent o Almitra disse Fala nos do Amor E ele ergueu a fronte e olhou para a multid o e um sil ncio caiu sobre todos e com uma voz forte ele disse Quando o amor vos chamar segui o Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados E quando ele vos envolver com suas asas cedei lhe Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir vos E quando ele vos falar acreditai nele Embora sua voz possa despeda ar vossos sonhos como o vento devasta o jardim Pois da mesma forma que o amor vos coroa assim ele vos crucifica E da mesma forma que ele contribui para vosso crescimento trabalha para vossa poda E da mesma forma que ele sobe vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol Assim tamb m des
165. as em busca da verdadeira cultura espiritual na Terra O narrador da hist ria em nenhum momento recebe um nome Durante todos os di logos que estabelece ao longo da narrativa as diferentes personagens chamam no de voc sem atribuir lhe um nome pr prio Esse recurso torna a voz do narrador mais pr xima ainda da voz do autor fazendo parecer ao leitor que o que est lendo como disse acima um relato de algo que aconteceu com ele mesmo A profecia celestina conta o envolvimento do narrador com a procura da nona vis o do manuscrito numa situa o de mist rio e persegui o policial de todos os que se interessavam por divulgar o conte do desse manuscrito A estrutura narrativa do romance constr i se a partir da oposi o entre o her i e seu grupo contra o anti her i Instigado por uma amiga Charlene que lhe conta sobre o manuscrito e a primeira vis o por ele revelada o her i acaba indo para o Peru onde encontra v rias pessoas que defendem a divulga o desse manuscrito para a humanidade e que v o lhe revelando as oito vis es at ent o conhecidas Eles sabiam que existia uma nona vis o mas ningu m que estudava esse manuscrito tinha tido acesso a ela e o nico a possuir uma tradu o de ltima vis o era o cardeal de Lima o padre Sebastian que n o queria ver o manuscrito divulgado entre as pessoas por acreditar que isso enfraqueceria o poder da Igreja Cat lica Por esse motivo com a ajuda militar do governo d
166. as leituras desse tipo de texto com o intuito de captar o ethos do leitor de auto ajuda Antes por m acredito ser necess rio destacar em que sentido utilizo aqui o termo auto ajuda e como normalmente ele tratado em outros trabalhos Certamente essa quest o ser a base para o desenvolvimento de todo este cap tulo mas poss vel j apontar o que ser mais demoradamente observado frente Normalmente entende se por auto ajuda um tipo de texto espec fico que escrito para orientar os leitores a resolverem determinados problemas pessoais sejam eles mais gerais ou mais particulares tais como ser feliz estar satisfeito consigo pr prio ou conseguir sucesso no emprego curar uma doen a ganhar dinheiro Isso implica afirmar que a auto ajuda manifesta se em um tipo espec fico de texto que tem determinadas caracter sticas pr prias que o diferencia de outros 187 Pode se considerar por m e isso o que procurarei mostrar neste cap tulo que a auto ajuda n o se restringe a um tipo espec fico de texto pois se em algum momento no tempo manifestou se por meio de uma forma singular o que se pode perceber nas listas dos livros mais vendidos que constituem o corpus desta pesquisa que ela foi se disseminando em tipos de textos diferentes Em resumo a proposta que aqui apresento que a auto ajuda contemporaneamente n o uma quest o apenas de g nero de discurso mas de estilo de discurso O que se cristaliza na
167. autora Embora minha proposta n o seja id ntica de Discini 2003 porque n o procuro observar o estilo de jornais da imprensa brasileira pensar que por meio do exame daquilo que o leitor brasileiro escolhe para ler os casos particulares isto o unus brondaliano para chegar a constituir um perfil desse leitor portanto uma totalidade ou seja o totus segundo proposta de Brondal construir um caminho metodol gico paralelo Assim as listas dos livros mais lidos pelo leitor brasileiro desde 1966 at 2004 constituem o texto objeto de minha an lise A partir dessa totalidade elegerei uma unidade que em si outra totalidade quando me detiver no ltimo cap tulo deste trabalho no exame de um tipo de literatura bastante identificada com o leitor brasileiro contempor neo que a chamada auto ajuda Embora possa pensar por m na constitui o do ethos do leitor brasileiro contempor neo se levar em considera o a proposta de Discini 2003 poss vel tratar a 25 quest o de forma diferente qual seja que para constituir o leitor brasileiro partiremos da configura o do pathos tal como prop e Fiorin 2004b Mas deixaremos essa discuss o para mais tarde Tentarei por enquanto mostrar em que medida a semi tica de orienta o greimasiana ser importante para dar suporte investiga o aqui proposta Nascida no bojo de uma tradi o ling stica a semi tica greimasiana fortemente influenciada pelos
168. az o por exemplo muitos autores de livros se neguem a assumir que escrevem literatura de auto ajuda o que pode ser verificado por exemplo na entrevista realizada pela revista Veja com Lya Luft que acusa de invejosos de seu sucesso os que a consideram uma autora de auto ajuda fato que nega veementemente Da mesma forma em muitas das entrevistas realizadas por Martelli 2006 com gerentes e administradores de Recursos Humanos de empresas brasileiras muitos deles referiram se com desprezo a esse tipo de literatura Mesmo assim o que a autora constata que esse fen meno a auto ajuda est presente tanto na teoria como na pr tica organizacional p 185 portanto a partir dessas considera es que propor a diferen a entre manifesta e latente para a auto ajuda A primeira aquela que assume a classifica o e reproduz o esquema textual dessa categoria s o textos epositivos injuntivos organizados na forma de manuais valem se de recursos esquem ticos e visuais para expor suas id ias prop em question rios de avalia o utilizam uma linguagem bastante simples para atingir um p blico mais vasto fazem refer ncias a autoridades professores pesquisadores fil sofos escritores etc sem seguir um crit rio cient fico com o intuito de atribu rem um car ter de cientificidade a seus textos A auto ajuda latente por sua vez diz respeito quele texto que n o se assume como auto ajuda chegando a neg la i
169. budista Tenzin Gyatso sua Santidade o d cimo quarto Dalai Lama Seu relato constru do em primeira pessoa e reproduz em diversos momentos as conversas que manteve com o monge durante sua visita ao Arizona nos EUA ou quando foi por ele recebido em sua casa na cidade de Dharamsala na ndia A partir de seus conhecimentos como psiquiatra Cutler mostra como a filosofia budista ou mais especificamente como o conhecimento acumulado de Dalai Lama podem auxiliar o homem Ocidental a entender o sentido da vida e a resolver seus conflitos Na introdu o do livro o enunciador autor reflete sobre a constitui o tipol gica de seu pr prio texto Quando comecei a conceber este livro imaginei um formato convencional de auto ajuda no qual o Dalai Lama apresentaria solu es claras e simples para todos os x problemas da vida Minha impress o era que eu poderia recorrendo minha forma o em psiquiatria classificar suas opini es num conjunto de instru es f ceis sobre como conduzir a vida no dia a dia Antes do final da nossa s rie de encontros eu j havia desistido da id ia Descobri que seu enfoque abrangia um paradigma muito mais amplo e multifacetado que englobava todas as sutilezas a riqueza e a complexidade que a vida tem a oferecer p 8 9 Ao dizer que seu prop sito inicial era fazer um livro de auto ajuda mas que depois percebe que os conhecimentos de Dalai Lama d o uma dimens o superior ao que inicialmente pr
170. cap tulo anterior quando foi apresentado todos os tra os de uma narrativa de auto ajuda de forma semelhante s de Paulo Coelho na d cada de 90 O segundo tema presente na categoria dos livros de auto ajuda o da est tica corporal S gordo quem quer do doutor Jo o Uch a Jr e preciso que se diga que ele um m dico pois isso faz parte do processo de convencimento do leitor como n o podia deixar de ser um livro de receitas de como algu m que gordo deve proceder para atingir um peso compat vel com sua idade e porte f sico Seu discurso de abertura o mesmo que ainda hoje perdura em nossa sociedade contempor nea qual seja que o maior ndice de mortalidade atualmente devido obesidade Na verdade o autor ressalta em sua introdu o que a obesidade em si n o uma doen a mas a causa de muitas uma vez que o desgaste de um corpo sobrecarregado com um peso superior ao que lhe seria pr prio muito maior e esse fato o causador das v rias doen as Seu interlocutor portanto qualquer pessoa magra ou gorda que pretenda corrigir seus h bitos alimentares aprendendo com ele como se deve comer Uma de suas primeiras coloca es que seu livro n o ir se valer de termos t cnicos que o leitor deve esquecer todos os nomes complicados de alimentos como por exemplo carboidratos porque tudo aqui est bastante simplificado de modo a permitir a qualquer pessoa combinar os alimentos com liber
171. ce at vossas ra zes e as sacode no seu apego terra Como feixes de trigo ele vos aperta junto ao seu cora o Ele vos debulha para expor a vossa nudez Ele vos peneira para libertar vos das palhas Ele vos m i at a extrema brancura Ent o ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no p o m stico do banquete divino Todas essas coisas o amor operar em v s para que conhe ais os segredos de vossos cora es e com esse conhecimento vos convertais no p o m stico do banquete divino p 9 10 O que se pode perceber no discurso de Gibran uma forte presen a do tra o religioso De origem libanesa aos 11 anos emigra para os EUA e mais tarde torna se um 113 dos escritores que mais lutou pela difus o da cultura rabe na Am rica do Norte Portanto a religiosidade de seu discurso parece conservar os tra os de sua cultura Ao mesmo tempo pode se pensar que Gibran um precursor do Paulo Coelho brasileiro que aparecer anos mais tarde O livro de N lson Senise Pare de engordar o representante da segunda tem tica presente entre os livros da categoria de auto ajuda Esse livro inaugura um tema recorrente ao longo das d cadas seguintes uma vez que a preocupa o com os h bitos alimentares como forma de preserva o da sa de f sica e a quest o da est tica corporal ser o caracter sticas do crescimento do individualismo na sociedade capitalista contempor nea conforme aponta Lipovetsky 2005a
172. ceiro testar suas for as no mundo externo Embora para se adaptar s diferentes situa es o homem seja obrigado a transitar por essas tr s possibilidades o que parece acontecer que uma seja privilegiada em rela o s outras O que se observa portanto nas manifesta es do comportamento social contempor neo o predom nio do padr o narcisista Em verdade portanto qual a raz o considerada pelo autor para sustentar que existe um mal estar na civiliza o A resposta apresentada por ele a de que esse mal estar se d exatamente porque a civiliza o entendida como a soma integral das realiza es e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais e que servem a dois intuitos a saber o de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar os seus relacionamentos m tuos p 42 uma fonte de conflito para o homem Seu valor positivo conforme foi dito consiste em oferecer prote o e desenvolvimento aos homens seu valor negativo em reprimir seus desejos individuais E essa repress o decorrente do conceito de justi a uma vez que para o conv vio social necess rio estabelecer normas de comportamento que regulem as a es individuais de forma a que a vontade de um n o prevale a sobre a dos demais Embora isso seja uma obviedade porque todo conv vio social pressup e uma regula o do comportamento coletivo conforme o pr prio Freud aponta n o deixa de ser uma fonte
173. cigana Por causa dos sonhos do fara com vacas magras e gordas este homem livrou o Egito da fome Seu nome era Jos Era tamb m um estrangeiro numa terra estrangeira como voc e devia ter mais ou menos a sua idade p 169 Junto a esse discurso b blico subsiste uma interpreta o m stica sobre o amor e as for as que o movem ou que movem as a es dos homens E essa por exemplo a concep o de Alma do Mundo presente na narrativa e que pode ser observada no seguinte trecho Ent o foi como se o tempo parasse e a Alma do Mundo surgisse com toda a for a diante do rapaz Quando ele olhou seus olhos negros de uma mo a que chegou ao po o onde estava Santiago seus l bios indecisos entre um sorriso e o sil ncio ele entendeu a parte mais importante e mais s bia da Linguagem que o mundo falava e que todas as pessoas da terra eram capazes de entender em seus cora es E isto era chamado de Amor uma coisa mais antiga que os homens e que o pr prio deserto e que no entanto ressurgia sempre com a mesma for a onde quer que dois pares de olhos se cruzassem como se cruzaram aqueles dois pares de olhos diante de um po o Os l bios finalmente resolveram dar um sorriso e aquilo era um sinal o sinal que ele esperou sem saber durante tanto tempo em sua vida que tinha buscado nas ovelhas e nos livros nos cristais e nos sil ncio do deserto p 153 58 O que se percebe na narrativa de Paulo Coelho de certa forma
174. cis o de sele o de suas leituras As listas dos mais vendidos refletem sempre esse prop sito No suplemento de n mero 5 do JB de 29 de maio de 1971 ocorre outra altera o na forma de registro dos livros mais vendidos Al m de serem divididos em duas colunas a dos nacionais e a dos estrangeiros cada uma delas passa a ser sub dividida em fic o e n o fic o Inicialmente h uma certa varia o entre os n meros de livros catalogados em cada uma das sub divis es mas a partir do suplemento de n mero 9 de 25 de setembro de 1971 em cada uma delas s o registrados cinco nomes de livros totalizando ao final vinte livros mais lidos no m s Em 28 de outubro de 1972 ano 2 n mero 2 o suplemento do JB muda sua forma de apresenta o Ao inv s de ser chamado Livro Suplemento do Jornal do Brasil passa a se intitular Livro Guia mensal de id ias e publica es A partir do ano 3 n mero 3 de 14 de julho de 1973 o suplemento muda novamente seu t tulo e passa a sair duas vezes por m s por essa raz o passa a ser chamado Leia Guia quinzenal de id ias e publica es Esse suplemento do JB circula nesse ltimo formato at o ano 4 n mero 94 de 21 de fevereiro de 1976 quando sua edi o interrompida A volta publica o de listas dos mais vendidos somente vai acontecer em 7 de abril de 1984 Inicialmente elas se apresentam na forma de pequenos quadrinhos em algum canto de uma das folha
175. cobrindo a presen a de uma terr vel serpente o Basilisco que vivia escondida em uma c mara secreta na escola de bruxarias e que tinha sido libertada pelo grande bruxo do mal Lord Valdemor O romance de Chico Buarque nico representante da categoria do realismo ficcional que recebeu o pr mio Jabuti de livro de fic o do ano de 2004 conta a hist ria do gost writer Jos Costa Ao concluir a autobiografia romanceada O gin grafo a pedido de um bizarro executivo alem o que fez carreira no Rio de Janeiro o her i da hist ria v se diante de um impasse criativo e existencial De mero escritor de encomendas trabalho que produz num escrit rio em Copacabana que mant m com um s cio passa a praticar alta literatura Seu drama interior uma esp cie de met fora da enuncia o embora goste de escrever pelo outro pois produz romances em nome de outras pessoas tendo inclusive a capacidade de produzir uma escrita que seria pr pria daquele para quem escreve entra em crise de identidade Em fun o dessa crise vai parar em Budapeste onde buscar a reden o no idioma h ngaro segundo as m s l nguas a nica l ngua que o diabo respeita Por uma ironia do destino um gost writer h ngaro escreve um romance em seu nome que adquire uma grafia que imita a l ngua h ngara Zsoze K sta e o livro torna se um best seller Narrado em primeira pessoa combinando densidade narrativa com um senso de humor muito particular
176. como eles tamb m eram fracos a armada de Cabral seguiu as instru es de Vasco da Gama e abriu seu rumo para sudoeste empreendendo a volta do mar Empurrada pelas for as mar timas hoje chamadas de Corrente Brasileira a esquadra logo retomou a velocidade de 5 n s O domingo de P scoa foi celebrado quando os navios se encontravam a uns 250 quil metros da costa na altura de Salvador Dois dias depois pr xima dos recifes depois chamados Abrolhos aglutina o de Abra os olhos a frota deparou com sarga os flutuantes eram as algas botelhos e rabos de asno No entardecer do dia seguinte 22 de abril de 1400 a armada de Cabral ancorou em frente ao Monte Pascoal 44 dias ap s ter partido de Lisboa p 45 Assumindo o tom dos relatos de hist ria o texto de Eduardo Bueno projeta um narrador em terceira pessoa que conta os fatos a partir de uma perspectiva did tica 16 Comunica o global de Lair Ribeiro Partindo de uma distin o entre os seis tipos diferentes de intelig ncia do ser humano verbal matem tica musical corporal espacial intrapessoal e interpessoal atribu das a Howard Gardner pesquisador da Universidade de Harvarnd o enunciador declara que ir discutir a intelig ncia interpessoal pois nela que se manifesta a habilidade da comunica o seu principal objetivo Construindo se enquanto um discurso de auto ajuda o enunciado est voltado totalmente para seu interlocutor o leitor
177. conceitos brondalianos de unidade e totalidade destacados pela autora poss vel apreender um estilo particular e um estilo geral tal como tamb m afirmara o autor russo A proposta que aqui defendo portanto a de que a auto ajuda um g nero de discurso segundo a perspectiva da sociedade latino americana contempor nea Digo latino 203 2 americana porque o termo auto ajuda utilizado de forma comum pelos pa ses da Am rica falantes de l ngua espanhola e pelo Brasil falante de l ngua portuguesa conforme pude observar durante minha participa o no VI Congresso Latino americano de Semi tica em Maracaibo na Venezuela J na Europa mais especificamente na Fran a embora se leia muita auto ajuda n o h equival ncia desse termo para denominar esse g nero de discurso Caberia portanto uma pesquisa para saber como os pa ses da Europa classificam esse g nero de discurso mas isso seria um outro trabalho Em ingl s por exemplo o livro de auto ajuda chamado livro de aconselhamento e ele diz respeito exclusivamente a textos que t m a forma cl ssica do discurso dissertativo Dessa maneira muitas pessoas tamb m entendem a auto ajuda aqui no Brasil mas o que estou procurando afirmar neste trabalho que um estilo de auto ajuda tem se difundido na poca contempor nea ultrapassando as dimens es do formato tradicional do g nero auto ajuda Se levar em considera o a classifica o da auto ajuda
178. corresponde a 10 anos de publica o dos mais vendidos enquanto o de 2000 corresponde a apenas 5 anos Por outro lado no que se refere categoria da tem tica social o levantamento da d cada de 1960 apresenta 4 t tulos mas corresponde a um per odo de apenas 4 anos de 1966 a 1969 enquanto o da d cada de 1970 corresponde a um per odo de 10 anos 141 Uma vez mais Lipovetski 2005a parece apresentar uma resposta indaga o sobre a raz o pela qual ocorrem essas mudan as na prefer ncia de leitura dos leitores brasileiros da nossa poca contempor nea Segundo o autor na sociedade p s moderna o homem est fragmentado vive sentimentos antag nicos e passa por situa es paradoxais simultaneamente durante seu dia a dia o consumo acelerado coloca o diante de muitos objetos ao qual pode ter acesso e os quais deseja mas n o pode alcan ar Esse contexto segundo Lipovetski ser respons vel pela sensa o de vazio do homem p s moderno Sua descren a nas institui es na religi o na educa o faz com que sinta necessidade de preencher esse vazio com alguma coisa e essa pode ser por exemplo uma das raz es pelas quais se estabelece um interesse maior pelas quest es que envolvem o individual em detrimento das preocupa es coletivas que perdem for a e se diluem Sobre essa quest o Lipovetski 2005a diz o seguinte A sensibilidade pol tica da d cada de 1960 d lugar a uma sensibilidade terap utica at
179. cr tica vis o de algumas pessoas que entendem a tend ncia narcisista ou individualista das sociedades contempor neas como algo negativo que reflete o ego smo e a insensibilidade dos seres humanos que se tornaram consumistas e alienados chegando a considerar esse comportamento um mal nacional ou a consegii ncia de uma crise de confian a Segundo ele essa uma interpreta o do senso comum que n o leva em considera o determinados fatores s cio econ micos que agem sobre o comportamento psico social dos indiv duos Para defender seu ponto de vista Lasch considera a posi o de alguns analistas e cientistas sociais que v em na sociedade contempor nea um processo de transforma o do est gio industrialista para um forma de organiza o que denominam p s industrialista o que significa dizer que o comportamento dos indiv duos nas sociedades contempor neas decorrente de uma transforma o das rela es de trabalho e do sistema econ mico a que est o ligadas A esse respeito mostrarei a vis o de Toffler 1993 e 1999 no item seguinte deste cap tulo Para o autor o consumo n o deve ser entendido como uma ant tese do trabalho mas sim como dois aspectos do mesmo processo Os arranjos sociais que sustentam um sistema de produ o em massa e consumo de massa tendem a desencorajar a iniciativa e a autoconfian a e a incentivar a depend ncia a passividade e o estado de esp rito do espectador tanto
180. ctura que se le pasaban las noches leyendo de claro en claro y los d as de turbio en turbio y as del poco dormir y del mucho leer se le sec el celebro de manera que vino a perder el ju cio Llen sele la fantas a de todo aquello que le a en los libros as de encantamentos como de pendencias batallas desaf os heridas requiebros amores tormentas y disparates imposibles y asent sele de tal modo en la imaginaci n que era verdad toda aquella m quina de aquellas sonadas sofiadas invenciones que le a que era l no hab a otra historia m s cierta en el mundo Miguel de Cervantes Don Quijote de la Mancha Para discutir a quest o do gosto proporia inicialmente um levantamento dos sentidos que esse termo adquire no l xico da l ngua portuguesa Segundo o dicion rio eletr nico Houaiss esse substantivo tem os seguintes significados 1 sentido pelo qual se distinguem sabores paladar 2 propriedade que t m certas subst ncias de impressionar o paladar 3 sensa o gustativa caracter stica de determinadas subst ncias sabor 4 desejo de comer apetite vontade 5 opini o ou aprecia o cr tica sobre alguma coisa baseadas em crit rios subjetivos prefer ncia entendimento discernimento 6 modo de agir ou qualidade est tica indicativa de tal aprecia o ou julgamento Ftimologicamente esse termo vem de gustus do latim cujo sentido gosto sabor pequena por o para provar degusta o Do ponto de
181. da a configura o de seu suplemento destinado ao livro Em dezembro de 1969 sai o n mero 41 do Suplemento do Livro o ltimo publicado pelo JB Somente um ano depois exatamente no dia 30 de janeiro de 1971 reaparece esse caderno no jornal com um novo nome Livro cuja numera o inicia se com 1 Vidas secas permanece entre os mais vendidos dessa d cada durante todo o ano de 1971 Do nono lugar em 30 de janeiro passa para o terceiro lugar em 24 de abril depois sobe para o segundo e nos meses de setembro e outubro aparece em primeiro lugar na prefer ncia dos leitores brasileiros na categoria de fic o nacional Nos tr s meses seguintes cai para segundo terceiro e quarto lugares desaparecendo completamente da lista No jornal paulista Leia n o h nenhum registro do livro de Graciliano entre suas listas dos mais vendidos Examinei ainda os cadernos do JB desse per odo em busca de alguma pista que me apresentasse uma resposta para a presen a de Vidas secas nas listas dos mais vendidos 111 Nenhuma refer ncia a um fato espec fico que pudesse induzir o p blico brasileiro a de repente demonstrar interesse pelo livro foi encontrado como por exemplo aconteceu com Grande sert o veredas quando a Rede Globo passou a miniss rie baseada no romance de Guimar es Rosa o que colocou o livro na lista dos mais vendidos por alguns meses Os nicos ind cios que poderiam ser supostamente uma explica o para esse fato s
182. da porque ela que ser respons vel pela harmoniza o de todas as outras Isso fica em suspenso na hist ria apontando para uma continuidade um novo livro sobre a busca dessa D cima Vis o que deve ser decifrada 75 Durante o decorrer da narrativa o narrador vai discutindo os princ pios de consci ncia e luminosidade do homem ao longo de sua hist ria apresentando informa es ditas cient ficas das leis da f sica e de conceitos da psicologia para justificar a exist ncia dessa energia c smica que move nossas vidas Ao final chega a afirmar que ela a pr pria no o do amor Ao mesmo tempo portanto que narra uma aventura o texto de Redfield associa a essa denominada cientificidade a vis o religiosa ecol gica e individual Na verdade a conscientiza o individual que fortalecer o coletivo Ao tratar por exemplo na denominada quinta vis o do manuscrito o conhecimento de si pr prio o enunciador fala de um processo de an lise do papel do indiv duo na fam lia da forma o de sua personalidade E quando fala do controle na sexta vis o aponta para o equil brio emocional capaz de desfazer os chamados dramas que consistem no jogo de poder entre duas pessoas que se relacionam O nome do livro A profecia Celestina diz respeito diretamente nona vis o que todos os esot ricos querem encontrar desde o come o da hist ria pois se refere ao nome do lugar onde foi achada Esse lugar chamava se Templo
183. dade e individualidade 4 portanto tamb m pela oposi o entre os tra os racionalidade e irracionalidade O crescimento da categoria de auto ajuda um reflexo dessa perspectiva de que o mundo n o pode ser explicado segundo a tica racional que existem respostas s quest es humanas em outras esferas que n o podem ser apreendidas pela racionalidade Mas examinemos as listas dos mais vendidos das pr ximas d cadas para perceber em que medida esse perfil do leitor mais individualista e irracionalista vai se configurando Durante a d cada de 1980 os livros mais lidos pelo leitor brasileiro distribuem se tendo em vista as diferentes categorias de forma semelhante aos da d cada anterior A categoria da tem tica social desaparece da lista pois nenhum dentre os principais livros mais vendidos dessa poca nela se encaixa Tr s livros aparecem na categoria de mem ria O primeiro deles que est em terceiro lugar na prefer ncia do leitor dos anos 80 Olga de Fernando Moraes cuja tem tica e perspectiva discursiva j foi apresentada no cap tulo anterior Conforme tamb m J foi dito esse o romance que mais se aproxima da tem tica social 118 O segundo livro de mem ria Eu Cristiane F 13 anos drogada e prostitu da escrito por K Herman e H Rieck a partir dos depoimentos de Cristiane A obra em quest o originou se do pr prio interesse de Christiane F em romper o sil ncio sobre a quest
184. dade para utiliz los corretamente aprendendo a emagrecer p 20 Inicialmente o autor apresenta as tabelas com as porcentagens de calorias prote nas lip dios e glic dios de diversas categorias de alimentos como a cares p es biscoitos cereais leguminosas farinhas e derivados verduras legumes ra zes tub rculos etc A partir da rela o salgado vs doce estabelece quatro diferentes f rmulas a dona redonda sal alto doce alto b legal sal alto doce baixo c legal sal baixo doce alto d dona fininha sal baixo doce baixo Ao leitor caber contrabalan ar todas elas para atingir seu equil brio As formas de contrabalan ar os alimentos s o explicadas por ele e uma s rie de sugest es de combina o estabelecida Ao final o livro apresenta v rias s rie de receitas de pratos que propiciam principalmente a f rmula d dona fininha mas 66199 tamb m algumas das f rmulas b e c o emagrecimento Nenhuma receita de prato 121 incentiva a f rmula a A pr pria capa do livro sugere a valoriza o positiva do magro e a negativa do gordo pois aparece o desenho da cl ssica s rie norte americana O gordo e o magro A express o do magro de felicidade e eleg ncia a do gordo de mau humor e deseleg ncia Outro tema presente nos livros de auto ajuda o terceiro refere se individualidade e feminilidade Em Complexo de Cinderela de Colette Dowling a auto
185. das chamadas obras cult A primeira delas muito lida na d cada de 1980 um romance de Gabriel Garcia M rquez O amor nos tempos do c lera que uma transforma o do 143 realismo maravilhoso estilo narrativo que tanto caracterizou o autor latino americano E exatamente nessa mesma d cada mais especificamente no ano de 1982 que Garcia M rquez recebe o pr mio Nobel de literatura uma das premia es mais cobi adas pelos autores contempor neos porque al m de impulsionar a venda das obras do ganhador sanciona o positivamente frente ao p blico leitor resgatando o da acusada superficialidade dos best sellers A segunda obra que classifiquei nessa mesma categoria Budapeste de Chico Buarque que al m de se voltar para quest es do homem contempor neo conforme j apontei em outra parte deste trabalho tem na notoriedade j adquirida por seu autor um dos mais reconhecidos e renomados compositores da m sica popular brasileira um elemento motivador para seu consumo al m evidentemente do fato de ter recebido no ano de 2004 o Pr mio Jabuti concedido pela C mara Brasileira do Livro na categoria de livro de fic o Tal como acontece com Gabriel Garcia M rquez esse pr mio liter rio brasileiro tamb m um forte impulsionador da venda do livro Outro foco de interesse do leitor comum s o as narrativas curtas t picas das cr nicas de humor que no levantamento desta pesquisa est o representadas por Fest
186. de mem ria conforme apontei anteriormente Tanto a hist ria de Hesse como a de Miller tocam em quest es para as quais os leitores parecem buscar respostas na primeira a solid o o isolamento na segunda a contraposi o repress o sexual A quest o da sexualidade explorada por Henry Miller conforme j fiz refer ncia anteriormente uma constante nas prefer ncias de leitura do leitor brasileiro ao longo de todo o per odo em que se baseia este trabalho O tom da narrativa do romance de Miller parece refletir o esp rito dos anos 60 que o da libera o sexual motivo pelo qual sua narrativa explora o erotismo com descri es de cenas de ato sexual como se p de ter uma id ia por meio do trecho do romance reproduzido mais acima V rios outros livros at 2004 tamb m abordar o a quest o da sexualidade sob diferentes perspectivas chegando at como se ver mais adiante ao didatismo do sexo Na d cada de 1970 destaco tamb m cinco grandes tem ticas para classificar as prefer ncias do leitor brasileiro embora n o sejam exatamente as mesmas da d cada de 1960 110 Na primeira delas a tem tica social tr s s o os livros mais lidos O primeiro deles Incidente em Antares est no topo da lista Narrado em terceira pessoa o romance de rico Ver ssimo conta as lutas pol ticas travadas entre os trabalhadores e a oligarquia em uma cidade do sul brasileiro chamada Antares O incidente a que se refere o t tulo diz
187. de observar ainda em 2 que o narrat rio est manifestado no enunciado por meio do sintagma oracional quem compra um livro Ao construir essa express o o discurso materializa uma figura de leitor e no caso do texto em quest o chega a fazer refer ncia pr pria cren a desse sujeito acha que tem o direito de ouvir detalhes picantes lados obscuros e impropriedades variadas Numa forma dial gica o narrador responde cren a do narrat rio com o enunciado Farei o poss vel para agradar que se refere a sua pr pria perf rmance enquanto ator respons vel por determinados acontecimentos que configuram a hist ria narrada no livro Ao se referir a outros dois textos de mem rias que se identificam com a subcategoria de mundo dos neg cios em que esse texto foi por mim classificado o narrador remete a um universo de conhecimento de seu narrat rio o que pela intertextualidade estabelecida deve ser a de um homem de neg cios tamb m Ao se reportar ao livro de Iacocca em co autoria com William Novak Jacocca Uma autobiografia que juntamente com ele aparece na lista dos mais vendidos da d cada de 1980 o narrador instaura uma identidade tem tica mas aponta uma diferen a de enfoque ao afirmar que o dizer de Iacocca est carregado de rancor e b lis em cima do mundo malvado As escolhas lexicais para caracterizar seu concorrente a de uma pessoa que usa uma linguagem mais jovem menos formal tra
188. de tens o Duas s o as principais frustra es individuais decorrentes do processo civilizador segundo o autor a sexual e o comportamento agressivo Na realidade essas duas fontes de frustra o se inter relacionam mas como n o ser meu prop sito discutir aqui a teoria psicanal tica proposta por Freud ao centrar o exame do comportamento do ser humano na sexualidade n o retomarei os pressupostos a partir dos quais ele examina a cultura tot mica nem os preceitos do tabu na constitui o das sociedades primitivas Um aspecto para o qual chamarei a aten o que o interesse pela quest o da sexualidade est manifestado conforme j abordei nos cap tulos precedentes nas escolhas 155 que o leitor brasileiro contempor neo faz em rela o aos livros que l Desde Sexus de Henry Miller que aparece na d cada de 1960 nas listas dos mais vendidos at Onze minutos de Paulo Coelho nos anos 2000 identifico a tem tica da sexualidade que vai do poder dizer ao fazer Embora a perspectiva de Freud ao abordar a sexualidade v muito mais al m do que tom la como objeto de interesse das pessoas pois um componente intr nseco psique humana n o podia deixar de observar esse fen meno em refer ncia aos livros mais lidos pelo p blico brasileiro Outro aspecto a ser observado a quest o da agressividade como uma das formas de tens o do espa o da civiliza o Embora n o tenha sido tema diretamente levantado pelo corpus d
189. dela e continua a ser at certo ponto seu quartel general Essa libido narc sica se volta para os objetos tornando se assim libido objetal e podendo transformar se novamente em libido narc sica O conceito do narcisismo possibilitou a obten o de uma compreens o anal tica das neuroses traum ticas de v rias das afec es fronteiri as s psicoses bem como destas ltimas p 76 Embora a ele pare a que o conceito de narcisismo venha explicar uma s rie de problemas voltados para o aspecto interior da constitui o psicol gica do indiv duo parece tamb m reduzir a quest o do instinto a apenas uma nica fonte qual seja a da libido O 156 desenvolvimento de suas investiga es fazendo inclusive um paralelo com os princ pios biol gicos leva o a identificar que ao lado do instinto de preserva o do elemento vivo h um outro que se volta para sua dissolu o ao estado inorg nico Dessa forma o autor prop e que o fen meno da vida pode ser explicado pela a o concorrente de dois instintos b sicos Eros e T natos o instinto da vida e o instinto da morte A civiliza o portanto constitui um processo a servi o de Eros O fator agregador da civiliza o que consiste no estabelecimento de elos entre os indiv duos isolados n o pode dever se apenas s vantagens dos trabalhos em comum propiciadas pelo movimento de unidade por isso ir dizer que ele depende do instinto libidinal Ocorre por m que o instin
190. deseja atingir o sucesso Trata se portanto de sujeitos que est o de posse de um saber e que podem transmitir esse saber a seu enunciat rio De certa forma e como j mostrei acima quando destaquei a representa o figurativa das duas capas os dois livros se contrap em Enquanto no de Iacocca h a afirma o da import ncia e do poder dos EUA no de Semler destaca se a capacidade das empresas brasileiras e como elas podem se igualar s estrangeiras principalmente as norte americanas O discurso de ambos os livros marcadamente nacionalista O livro de Kiyosaki e Lechter cujo t tulo Pai rico pai pobre aponta para uma contraposi o Ao termo pai duas qualidades s o atribu das rico ou pobre o que remete escolha Esse livro tem como subt tulo na tradu o para o portugu s o enunciado O que os ricos ensinam a seus filhos sobre dinheiro A principal modaliza o instaurada por ele a da prescri o dever fazer A rela o entre o enunciador e o enunciat rio consiste na passagem de um saber para que se realize esse fazer O car ter did tico do conte do do livro marcado inclusive pela forma como ele se constitui No primeiro cap tulo h uma apresenta o do contexto de vida das personagens envolvidas na hist ria em seguida do cap tulo dois ao sete a sequ ncia narrativa dos fatos apresentada na forma de seis li es que devem ser aprendidas por aqueles que desejam ser bem sucedidos nos ne
191. dessas diferen as embora em parte biol gicas podem ser identificadas na inf ncia no mundo emocional onde vive o menino e no mundo emocional onde vive a menina Muitas s o as pesquisas que tratam desses diferentes mundos cujas muralhas s o refor adas n o s pelo tipo de brincadeira que meninos e meninas preferem mas pelo temor que t m as crian as pequenas de serem alvo de goza o por terem uma amiga ou um amigo p 144 Sempre que o autor vai introduzir novo t pico em seu livro ou discutir algum conceito ou t cnica para exame de um sintoma come a com um exemplo extra do de 19 situa es cotidianas como no trecho acima o do casal em briga que sai de um restaurante Outra caracter stica que se pode observar na cita o acima e que pr pria tamb m dos textos de auto ajuda a refer ncia a estudos ou pesquisas de autoridades que referendam o ponto de vista do enunciador 14 Harry Potter e a pedra filosofal de J K Rowling Rocco Primeiro livro da s rie de Harry Potter conta a hist ria do garoto a partir de seus onze anos quando fica sabendo que um bruxo ao receber uma carta da escola de bruxaria de Hogwarts convocando o para os estudos de magia Quando ainda beb sua casa foi invadida por um terr vel bruxo Valdemort respons vel pelo assassinato de seus pais S ele sobreviveu por um motivo misterioso revelado no decorrer da hist ria Como s mbolo dessa luta com o gr
192. di es que cada um deles conquistou e tamb m nas pessoas em geral com quem voc tem algum contato Pense em algumas personalidades bem sucedidas e famosas que voc admira e percorra com a mente a imagem dessas pessoas e de seu padr o de vida nos m nimos detalhes Procure ver os motivos de sua admira o por essas pessoas Agora olhe bem dentro de voc Tente perceber como est se sentindo neste exato momento Como est o indo aqueles sonhos acalentados h tantos anos Foram realizados plenamente Parcialmente Foram arquivados Deram lugar a op es mais reais Foram adiados para alguma ocasi o mais prop cia Ou continuam piscando em certos momentos no painel dos seus pensamentos mais ntimos Voc se sente satisfeito com o que j conquistou na vida Almeja mais Acredita nas suas chances O que est faltando afinal para que voc consiga ser realmente bem sucedido p 9 O discurso do livro reproduz uma intera o entre o enunciador e o enunciat rio de forma a aproximar esse enunciat rio o m ximo poss vel do leitor real que toma o livro nas m os e come a a l lo As express es utilizadas pelo enunciador tais como olhe voc este livro pense percorra procure ver sua admira o agora voc 71 39 se sente satisfeito almeja acredita revelam essa proximidade entre a voz de um autor que se dirige ao leito
193. diferentes perspectivas refletem sobre as transforma es sociais do mundo contempor neo Em primeiro lugar examinarei um trabalho de Sigmund Freud O mal estar na civiliza o para observar quais as explica es apresentadas pelo fundador da psican lise para a constru o dessa postura narc sica do homem contempor neo Em segundo lugar observarei como Christopher Lasch especificamente em A cultura do narcisismo j referida nos cap tulos precedentes e O m nimo eu sua obra posterior que pretende reavaliar os postulados da anteriormente citada caracteriza o comportamento narcisista da sociedade norte americana dos anos 80 A terceira perspectiva ser tra ada ao enfocar a proposta s cio econ mica a partir da qual Alvin Toffler constr i sua interpreta o do mundo civilizado particularmente em duas obras A terceira onda e Criando uma nova civiliza o Por ltimo mostrarei como Gilles Lipovetsky introduz os conceitos de vazio de p s modernismo e de p s moralismo anteriormente j apontados ao caracterizar a sociedade contempor nea especificamente em A era do vazio e A sociedade p s moralista 5 1 Civiliza o em crise e o sentimento de mal estar As palavras de Freud registradas na ep grafe que abre este cap tulo chamam nos a aten o para os conceitos de coletividade e individualidade oposi o que marca o perfil das escolhas de leitura dos leitores brasileiros refletido no corpus desta pesquisa e apontam para
194. ditoras que mais venderam 1966 a 2004 250 1 Auto ajuda 23 Nome do livro Nome do autor D cada 1 1 Autoconhecimento 7 O sucesso n o ocorre por acaso Lair Ribeiro 1990 Intelig ncia emocional Daniel Goleman 1990 Comunica o global Lair Ribeiro 1990 Voc pode curar sua vida Louise Hay 1990 A arte da felicidade Dalai Lama Howard Cutler 2000 Perdas e ganhos Lya Luft 2000 Um dia daqueles Bradley Greive 2000 1 2 Misticismo e esoterismo 5 O profeta Khalil Gibran 1970 O alquimista Paulo Coelho 1990 Brida Paulo Coelho 1990 A profecia celestina James Redfield 1990 As Valqu rias Paulo Coelho 1990 1 3 Individualidade e sexualidade 4 O homem sensual M 1970 A insustent vel leveza do ser Milan Kundera 1980 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama Ol via St Claire 1990 Onze minutos Paulo Coelho 2000 1 4 Mundo dos neg cios 3 Iacocca Uma autobiografia Lee Iacocca William Novak 1980 Virando a pr pria mesa Ricardo Semler 1980 90 Pai rico pai pobre Robert Kiyosaki Sharon L Lechter 2000 1 5 Est tica corporal 2 Pare de engordar N lson Senise 1970 S gordo quem quer Jo o Uch a Jr 1980 1 6 Cren as 1 Minutos de sabedoria Carlos Torres Pastorino 1990 1 7 Individualidade e feminilidade 1 Complexo de Cinderela Colette Dowling 1980 Nome do livro Nome do autor D cada Sexus Henry Miller 1960 O lobo da estepe Herman Hesse 1960
195. do de inicia o nos mist rios uma tend ncia que se identifica com a literatura de auto ajuda que aparecer nas d cadas seguintes A quarta categoria dos livros mais procurados pelo leitor brasileiro dos anos 80 a que intitulo de realismo ficcional Embora soe um tanto contradit ria a aproxima o entre os termos realismo e fic o a caracter stica que parece marcar os livros inclu dos nessa categoria a constru o de uma realidade paralela ao mundo real com tra os do estilo do realismo maravilhoso Nessa categoria aparece O amor nos tempos do c lera de Gabriel Garcia M rquez O romance de Garcia M rquez narra em terceira pessoa a hist ria de amor de Florentino Ariza por Fermina Daza em conseqgii ncia de um breve encontro entre os dois Pouco tempo depois desse encontro Fermina casou se com Juvenal Urbino o m dico colombiano que conseguiu estancar a epidemia de c lera que assolou a cidade de Cartagena de las ndias no final do s culo XIX e nunca mais os dois se encontraram Juvenal viveu s com seu amor obstinado por Fermina esperando a por mais de 50 anos quando durante o vel rio do marido de Fermina declarou seu amor por ela Ele viveu meio s culo sozinho sem deixar de pensar na amada um s dia A hist ria desse caso de amor ambientada no final do s culo XIX e come o do XX mais precisamente entre os anos de 1880 e 1930 na Col mbia Al m de se referir epidemia de c lera que acon
196. do irracionalismo na sociedade contempor nea Essa caracteriza o s cio hist rica do leitor foi sendo constru da a partir da observa o das escolhas de leitura Meu interesse neste cap tulo portanto ser examinar e aprofundar alguns pontos de vista espec ficos sobre as sociedades contempor neas j apontados em cap tulos anteriores para chegar mais cientificamente a caracterizar as escolhas que os leitores fazem dos livros que desejam ler Para tanto este cap tulo ter uma divis o em duas partes Na primeira apresentarei uma discuss o te rica sobre a contemporaneidade e na segunda discutirei a concep o de literatura de auto ajuda uma vez que foi o tipo de texto por que o leitor comum brasileiro dos anos 1966 at 2004 mais se interessou O exame das caracter sticas da sociedade ocidental ser aqui realizado a partir da apresenta o de diferentes pontos de vista de alguns autores que examinam o mundo contempor neo levando em considera o aquilo que fui mostrando nos cap tulos anteriores qual seja o descr dito dos valores coletivos em fun o da afirma o dos valores individuais Nesse sentido portanto procurarei reconstruir as explica es propostas por diferentes autores para a intensifica o da postura individualista ou narcisista como querem alguns nas sociedades capitalista industriais da atualidade 152 O panorama que aqui pretendo apresentar partir da sele o de quatro autores que por meio de
197. do o Terceiro Mundo e menos dramaticamente o pr prio ocidente N o se compreender o Vietn por mais profundamente que se investigue seu passado se seu significado continuar a ser isolado Foi a Am rica que deu ao Vietn um significado internacional p 2 Os quatro livros presentes na categoria da tem tica social abordam quest es contempor neas d cada de 60 Os dois romances remetem hist ria recente do Brasil ao enfocarem a viol ncia do golpe militar de 64 e a situa o social do pa s que precede ao golpe Os dois ensaios tratam de problemas internacionais que se referem diretamente aos EUA a longa guerra do Vietn que terminaria apenas na metade da d cada de 70 e a invas o do capital industrial norte americano na Europa com consegiiente amea a s economias dos pa ses daquele continente cuja resposta na d cada de 90 seria a cria o do Mercado Comum Europeu A segunda categoria tem tica dos livros mais vendidos na d cada de 60 o humor Festival de besteira que assola o pa s de Stanislaw Ponte Preta e O homem ao zero de Leon Eliachar s o livros que por meio da s tira e do deboche fazem cr ticas a quest es do cotidiano brasileiro incluindo o cen rio pol tico da poca O livro de Stanislaw Ponte Preta uma cole o de cr nicas em que o narrador das hist rias comenta o que chama de besteiras que acontecem em diferentes setores da sociedade brasileira O volume dividido em duas partes Na p
198. dor Obt m se a persuas o nos ouvintes quando o discurso os leva a sentir uma paix o porque os ju zos que proferimos variam consoante experimentamos afli o ou alegria amizade ou dio Enfim pelo discurso que persuadimos sempre que demonstramos a verdade ou o que parece ser a verdade de acordo com o que sobre cada assunto suscet vel de persuadir p 33 4 Na passagem acima reproduzida Arist teles 19 fala das tr s provas fornecidas pelo discurso para se produzir o efeito persuasivo pr prio da arte ret rica A primeira diz respeito ao enunciador a segunda ao enunciat rio e a terceira ao pr prio discurso na medida em que produto de um processo constitutivo de verossimilhan a O que o autor grego j disse em sua Arte ret rica o que a semi tica procura demonstrar segundo sua concep o de enunciador e enunciat rio enquanto constru es de imagens do autor e do leitor no pr prio texto com o objetivo de tornar o discurso veross mil Essa afirma o de Arist teles de que a persuas o do ouvinte obtida pela capacidade que o discurso tem de nele instaurar a paix o a base de minha proposta para o estudos sobre os livros mais consumidos pelo leitor brasileiro de 1966 a 2004 A paix o segundo a semi tica um efeito produzido em um primeiro momento por meio do processo de modaliza o Assim a ades o de um leitor ao discurso veiculado por um texto resultado da instaura o de um que
199. dos mais vendidos Milan Kundera est fazendo seu p de meia no Brasil tudo o que posso concluir e me pergunto Que fen meno este O que acontece com o mercado editorial Seria falta de op es por melhores t tulos ou ser que o brasileiro gosta mesmo de best sellers Ou um problema de educa o e cultura Realmente n o sei o que pensar e se algu m tiver id ia do que est acontecendo por favor me d um al E neste n o saber o que pensar me 12 pergunto quem somos n s Disc pulos de Milan Kundera Irwing Wallace Sidney Sheldons da vida Me recuso a pensar que sim e por isso me dirijo aos senhores editores pedindo lhe que prestem maior aten o nas bombas que nos fazem quase ingenuamente ler e avaliem o perigo que elas significam Que tal nos dar uma chance A leitora do jornal atinge diretamente o ponto desta pesquisa Ela critica as listas dos livros mais vendidos porque entende que s o uma forma de induzir a leitura de quem consome o jornal mas al m disso indaga sobre a identidade do leitor brasileiro que gosta dos best sellers ao inv s de uma literatura que embora n o diga explicitamente qual seja considerada por ela de melhor qualidade Dois meses depois no n 93 do Leia de julho de 1986 um leitor do Rio Grande do Sul chamado Victor Biasoli escreve na coluna do leitor criticando a carta da leitora que falou mal de Milan Kundera Sua carta intitulada Dos best sellers ao f
200. dos pelos leitores brasileiros de acordo com a distribui o da tabela 1 Antes procurei mostrar como essa proposta semi tica pode desenvolver um procedimento de leitura poss vel para o levantamento realizado para a pesquisa O que intento fazer no pr ximo t pico observar em que medida poss vel pensar no processo de escolha dos leitores por meio da focaliza o do enunciat rio 2 2 O pathos do enunciat rio nos discursos mais lidos pelo p blico brasileiro Para retomar a quest o dos procedimentos discursivos segundo a perspectiva da semi tica preciso voltar ao que inicialmente ficou aqui colocado e dizer que enquanto o eu e o tu correspondem a uma proje o actancial do enunciado o aqui e o agora s o respectivamente respons veis pela instaura o do espa o e do tempo orientados pela perspectiva do sujeito da enuncia o Assim como diz Fiorin 2004a Aqui o espa o do eu a partir do qual todos os espa os s o ordenados a l etc agora o momento em que o eu toma a palavra e a partir dele toda a temporalidade ling stica organizada A enuncia o a inst ncia que povoa o enunciado de pessoas de tempos e de espa os p 117 Segundo a proposta de Benveniste 1976 que ir refletir sobre os procedimentos ling sticos inerentes ao ato enunciativo que influenciou fortemente a perspectiva da semi tica em rela o ao componente discursivo do percurso gerativo de sentido o eu
201. e substitu da pela subjetividade narc sica desejante 2 nega o de que a raz o possa conhecer uma continuidade temporal e captar o sentido imanente do tempo e da hist ria substitu da por temporalidades descont nuas locais e fragmentadas 3 nega o de que a raz o possa captar n cleos de universalidade no real posto agora como dispers o de diferen as e alteridades reino das particularidades sem conex o 4 nega o da diferen a entre Natureza e Cultura tanto porque os movimentos ecol gicos m sticos tendem a antropomorfizar a Natureza quanto porque a biogen tica a bioqu mica e a engenharia gen tica determinam o cultural como mero efeito dos c digos gen ticos naturais 5 nega o de que o poder se realiza a dist ncia do social por meio de institui es que lhe s o pr prias fundadas tanto na l gica da luta de classes e da domina o quanto nas a es emancipat rias Em seu lugar surgem as id ias de micropoderes capilares que disciplinam a sociedade e pol ticas que se realizam sem as medi es institucionais resultando no primeiro caso em a es fragmentadas que terminam em meras demandas e segundo em refor o dos populismos e dos fascismos p 154 grifos da autora O que se depreende dos diferentes pontos de vista aqui apresentados sobre a sociedade contempor nea a dilui o dos valores coletivos enquanto resultado de uma luta de classes O descr dito das institui es pol ticas lev
202. e leituras em busca de um saber h ainda aqueles que se preocupam com as quest es sociais como o caso dos seguintes livros Quarup O prisioneiro O desafio americano Crimes de guerra no Vietn Incidente em Antares Vidas secas e As veias abertas da Am rica Latina Quer se manifestem na forma narrativa quer na dissertativa todos discutem diferentes aspectos da realidade social Os leitores que consomem esse tipo de literatura s o aqueles que realizam um fazer voltado para a aquisi o de um saber Esse saber adquirido torna o leitor mais integrado ao mundo que o circunda o que corresponde portanto a sua integra o no corpo social do actante coletivo A terceira configura o do leitor brasileiro nesta pesquisa corresponde a do leitor narcisista segundo a perspectiva de Lasch 1983 e Lipovetsky 2005a isto a daquele sujeito cujo fazer consiste na busca de um saber que o torne competente para resolver um problema individual tal como j apontei anteriormente O imagin rio desse leitor concretiza se em duas diferentes categorias textuais a dos livros de auto ajuda e a das biografias A literatura biogr fica faz parte da configura o desse leitor narcisista na medida em que o foco o indiv duo No levantamento dos livros mais lidos por d cadas s o as seguintes obras que correspondem literatura biogr fica Sexus O lobo da estepe Meu p de laranja lima Solo de clarineta Olga Eu Cristiane F 13 anos drogada e pro
203. e na universidade lutando pelas causas sociais mas era incapaz de acumular riquezas bens m veis im veis e capital Ao conhecer o pai de seu amigo Mike um investidor experiente mais preocupado com a aprendizagem das coisas que verdadeiramente interessam do que com o conhecimento escolar passa a receber li es de como ganhar dinheiro fazendo o jogo do mercado O pai de Mike n o era instru do por m tinha uma vida mais feliz porque n o era escravo de um emprego trabalhava para si mesmo ganhando dinheiro com o que investia Com rela o s diferen as de seus dois pais o enunciador chega a afirmar o seguinte Tendo dois pais a me ensinar um socialista e o outro capitalista rapidamente percebi que a filosofia do capitalismo tinha mais sentido financeiro para mim p 95 6 O discurso predominante do livro o do fazer se por si mesmo ser esperto nas escolhas ao mesmo tempo que repete certas afirma es do senso comum contra os impostos o governo e a inutilidade da escola etc como pode ser observado nos seguintes trechos O dinheiro n o ensinado nas escolas As escolas se concentram nas habilidades acad micas e profissionais mas n o nas habilidades financeiras Isso explica por que m dicos gerentes de banco e contadores inteligentes que tiveram timas notas quando estudantes ter o problemas financeiros durante toda a sua vida p 22 Os impostos punem os que produzem e recompensa
204. e o dom nio das rela es impessoais ao mesmo tempo que uma diminui o de intensidade nas rela es pessoais ntimas medida que o homem da organiza o cede lugar ao manipulador burocr tico a era da lealdade do com rcio americano era do jogo executivo do sucesso o narcisista encontra seu lugar p 69 Essa vis o do narcisismo apresentada por Lasch pode ser identificada nos livros de literatura de auto ajuda que classifiquei na categoria de auto conhecimento como o caso por exemplo das obras de Lair Ribeiro e Daniel Goleman ou na categoria de mundo dos neg cios especificamente com o livro de Iacocca e Robert Kiyosaki A id ia de sucesso na carreira profissional de m xima produtividade de agressividade nos investimentos constr i se a partir do centramento no indiv duo que deve sempre mostrar se como o mais apto para desempenhar as melhores fun es o que significa na l gica dos administradores n o apenas subir de posto mas passar frente de outros Juventude ousadia capacidade de lideran a versatilidade agressividade disponibilidade s o os valores esperados dos indiv duos que realizam neg cios H casos de setores de recursos humanos de empresas que segundo declara es em revistas como Veja Isto e Exame procuram na pessoa que se candidata a uma vaga em determinada empresa o que chamam brilho nos olhos Esse termo corresponde express o de
205. e o tu s o os actantes da enuncia o na medida em que a a o enunciativa produzida por um sujeito o sujeito da enuncia o que duplo A duplicidade do sujeito da enuncia o decorrente do fato de ele conter ao mesmo tempo o produtor do enunciado aquele que diz eu e a imagem que projeta de seu destinat rio aquele a quem o eu se dirige o tu 39 incorporado tamb m ao enunciado O princ pio da enuncia o portanto dial gico uma vez que todo ato enunciativo um coro de duas vozes a que fala e a que ressoa Segundo a semi tica o mecanismo b sico respons vel pelas proje es actanciais espaciais e temporais no texto denominado debreagem que por sua vez pode ser de dois tipos diferentes enunciativa e enunciva A debreagem enunciativa corresponde proje o do eu aqui agora a debreagem enunciva proje o do ele l ent o Porque projeta o actante de primeira pessoa a debreagem enunciativa produz um efeito de sentido de subjetividade j a debreagem enunciva porque projeta o actante de terceira pessoa um efeito de sentido de objetividade A semi tica vale se da express o efeito de sentido exatamente porque por meio de uma escolha lingii stico discursiva que o discurso parece mais ou menos parcial subjetivo ou imparcial objetivo O que se observa portanto que instaurado o modo de manifesta o do sujeito da enuncia o as refer ncias temporais e espaciais ser o constru
206. e passatempo passa a delinear suas escolhas Ao final a preocupa o com o individual um interesse coletivo e por esse motivo configura a norma Sobre o gr fico 1 apresentado em anexo preciso ainda fazer algumas considera es Se observarmos os livros que aparecem nesse gr fico e na tabela 1 que o segue verificamos que a maioria s o livros das d cadas de 1980 e 1990 principalmente embora ainda apare am alguns da d cada de 2000 N o est o classificados por m livros das d cadas de 1960 e 1970 entre os mais vendidos durante o per odo de 1966 a 2004 Essa ocorr ncia tem duas explica es A primeira deve se ao fato de que para chegar ao gr fico 1 n o fiz uma classifica o pela posi o que os livros ocupavam na lista dos mais vendidos N o tomei em conta quantas vezes um livro apareceu em primeiro lugar na lista em segundo em terceiro e assim sucessivamente Registrei apenas quantas vezes cada livro apareceu nas listas independentemente da posi o que nelas ocupou A segunda 102 explica o diz respeito rotatividade maior dos livros mais vendidos durante as d cadas de 60 e 70 e a menor rotatividade deles nas d cadas de 80 90 e 2000 N o seria pertinente pensar a quest o do crescimento do p blico leitor ao longo dessas d cadas porque embora seja real esse dado n o se reflete no gr fico 1 e em nenhum dos outros gr ficos Se digo que as listas dos mais vendidos conforme procurei mostrar no cap
207. e pessoal eu diferentemente h um sujeito que narra e que se refere aos fatos narrados segundo a forma da terceira pessoa o ele Assim o sujeito que realiza determinadas a es expressas pela narrativa a personagem Santiago um sujeito que n o corresponde ao narrador que conta a hist ria ele o sujeito de refer ncia do actante enunciador Ao mesmo tempo o espa o em que ocorrem os fatos narrados um espa o do l distinto do aqui do enunciador o tempo da narrativa o do ent o manifestado lingiisticamente pelo pret rito imperfeito e pelo perfeito 2 segundo proposta de Fiorin 1996 distinto do agora do enunciador O narrador manifestado no enunciado dirige se a um narrat rio proje o discursiva da imagem que o enunciador constr i de seu enunciat rio que no caso de 1 n o materializado por meio de um pronome ou substantivo O narrat rio para quem o enunciador se dirige corresponde tamb m a uma terceira pessoa o ele Por meio desses procedimentos discursivos pode se perceber o efeito de objetividade presente nessa narrativa que pretende reconstruir um espa o m tico pr prio das lendas e das f bulas Essa a forma mais adequada para a constru o de uma verdade que n o pode ser atribu da a um sujeito individual mas sim a fatos que parecem ser contados por si pr prios Quais s o os ndices apresentados pelo enunciado que remetem maneira como a narrativa constr i a imagem de seu narrat rio
208. e setembro de 1968 10 nomes e assim sucessivamente apresentando ora 11 ora 9 ora 12 ora 6 ora 5 etc Esse quadro me levava conclus o de que a Veja dava pouca import ncia para a rela o dos livros mais vendidos aumentando e diminuindo o n mero de t tulos dependendo da sobra de espa o na ltima das tr s colunas que apareciam at o n 19 de 15 de janeiro de 1969 examinado por mim entre as p ginas de 60 a 70 da revista Optei ent o por fazer um registro completo das listas dos livros mais vendidos publicados pelo Leia Livros e mais tarde procurar outra fonte que me permitisse o registro dos livros mais vendidos desde 1960 at 2000 Os dados da revista Veja n o foram por m inteiramente desprezados pois continuaram a ser levantados por um orientando de Inicia o Cient fica com bolsa do CNPq Levi Henrique Merenciano e serviram de corpus para sua pesquisa com os livros mais vendidos no Brasil durante as d cadas de 1970 e 1980 Nascido em abril de 1978 o Leia Livros tinha como objetivo examinar a quest o do livro no Brasil e consegiientemente o que o leitor brasileiro lia Assumindo que n o existe projeto editorial que n o reflita um ponto de vista pessoal o editor do jornal Caio Graco Prado escreveu seu editorial p gina 2 do n 0 o primeiro do jornal falando exatamente da parcialidade A imparcialidade um mito de que se alimentam aqueles que temem ter seus atos e decis es contestados ao n vel da
209. efa foram os de verificar os mecanismos ling sticos por um lado e os do contexto s cio hist rico por outro respons veis por tantas leituras distintas p 17 A presente pesquisa por sua vez aproxima se mais da perspectiva a partir da qual El Far 2004 examinou os livros mais consumidos pelo leitor carioca do final do s culo XIX e in cio do XX Por meio de um levantamento realizado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro em jornais da poca a autora p de identificar os nomes dos livros mais consumidos nas diferentes livrarias da ent o capital brasileira Da mesma maneira que procurou chegar ao leitor carioca da poca analisando os livros mais lidos por eles como pretendo realizar esta investiga o A diferen a por m entre o trabalho de Al Far 2004 e o meu consiste na perspectiva te rica a partir da qual ser examinado o perfil desse leitor brasileiro contempor neo que desejo identificar Enquanto a autora se valeu de um modelo interpretativo que poderia ser chamado s cio cultural pretendo aqui utilizar para tal tarefa as propostas te ricas da semi tica da escola de Paris Al m disso se entendo a semi tica como um conjunto significante que se suspeita a t tulo de hip tese possua uma organiza o uma articula o interna aut noma Greimas e Cout s 19857 p 409 o qual se pretende conhecer e que pode ser caracterizada como natural na medida em que compreende dois diferentes conjuntos
210. ei mostrar anteriormente tem por base uma concep o irracionalista tenha crescido de forma bastante acentuada As bases da concep o do irracionalismo podem estar portanto assentadas no princ pio do individual na medida em que o que mais importa a sensa o e n o a raz o Em decorr ncia desse mesmo aspecto que aponto uma segunda considera o relativa id ia da cultura narcisista de Lasch Na medida em que os indiv duos na sociedade contempor nea tendem a uma busca de identifica o ou de uni o com a natureza princ pio do narcisismo essa uma outra explica o para a presen a t o acentuada da literatura de auto ajuda em nossa sociedade O que se privilegia nessa cultura narc sica exatamente o fortalecimento do ego para que o indiv duo supere a crise em que 168 est colocado porque se sente inseguro diante da dissolu o do valores de ac mulo da sociedade p s industrial que v a produ o e o consumo como as duas faces de um mesmo objeto e porque teme a possibilidade de uma cat strofe iminente que desfaz a esperan a de um futuro seguro A literatura de auto ajuda portanto surge como uma resposta a todas essas ang stias do homem contempor neo Por esse motivo que Lasch na apresenta o de seu O m nimo eu que reproduzi mais acima afirma que a vida cotidiana no mundo contempor neo um exerc cio de sobreviv ncia E o ideal de sobreviv ncia n o carrega nenhum valor coletivo pois di
211. em que participa do enredo Segundo a proposta de classifica o dos g neros de Bakhtin esses textos pertencem categoria dos g neros secund rios uma vez que n o correspondem reprodu o de interlocutores em di logo Ao contr rio trata se de um tipo de comunica o escrita uma narrativa em que um espa o um tempo e os sujeitos que nela se manifestam s o proje es de linguagem Dentre os textos desse subgrupo tr s deles O alquimista Brida e As Valgu rias de Paulo Coelho por serem escritos em terceira pessoa criam um efeito de objetividade O outros dois por sua vez criam o efeito de subjetividade na constru o de seu processo discursivo O de Redfield conforme j apontei anteriormente escrito em primeira pessoa o de Khalil Gibran vale se de um recurso interno sua narra o que consiste no destaque constante da voz da personagem central Nesse sentido portanto o segundo subgrupo dos textos de auto ajuda que aparecem entre os mais vendidos no Brasil entre 1966 e 2004 caracteriza se por particularidades tipol gicas ainda mais espec ficas A escolha lexical para a elei o do t tulo do livro profeta aponta para a a o central da personagem Al Mustafa em torno da qual se constr i o texto qual seja a de predizer o futuro O livro centraliza seu foco na partida desse profeta que assume a voz no texto em substitui o do narrador pois passa a ser indagado por diferentes atores para falar
212. en meno Kundera diz o seguinte Sou leitor espor dico do LEIA h muitos anos Muito livro fui ler por influ ncia do LEIA Muito autor fui descobrir nestas p ginas O Milan Kundera por exemplo numa entrevista de novembro de 84 se n o me engano E agora esta poetisa paranaense Helena Kolody fiquei fascinado pelos poemas publicados no n mero 91 E me espantei com a carta da leitora B rbara Schultz colocando o Kundera ao lado de Irving Wallace e Sidney Sheldon Um exagero me parece S o autores de qualidades diferentes Se A insustent vel leveza do ser entra no rol dos best sellers ent o estou muito perdido nas literaturas O livro n o me pareceu de f cil digest o o que n o quer dizer que seja complicad ssimo Tamb m n o estou querendo dizer que uma obra prima um livro bom e instigante Boas id ias e timos personagens para dar corpo s id ias Agora que um fen meno de vendas isto E n o compreendo o porqu disto Acho que ainda n o assimilei a id ia do livro sendo uma mercadoria como outra qualquer Mas escrevi estas linhas com outro objetivo gostaria de polemizar sobre o caso Kundera mas n o dou pro ramo Escrevi para sugerir um artigo a respeito de best sellers Que bicho este Que r tulo este que de vez em quando algu m lasca em cima de livros que vendem muito A Marguerite Duras n o sai h nove meses da lista dos dez mais virou best seller porque vende bem artes de algum
213. enho alegria uma leitura das cr nicas mais vendidas de Lu s Fernando Ver ssimo Araraquara 2005 131p Disserta o de mestrado defendida no Programa de P s gradua o em Ling stica e L ngua Portuguesa da Faculdade de Ci ncias e Letras da Universidade Estadual Paulista TATIT Luiz An lise semi tica atrav s das letras S o Paulo Ateli Editorial 2001 TOFFLER Alvin A terceira onda Tradu o Jo o T vora 19 ed Rio de Janeiro Record 1993 TOFFLER Alvin amp TOFFLER Heidi Criando uma nova civiliza o A pol tica da terceira onda Tradu o Alberto Lopes Rio de Janeiro Record 1999 TORRESINI Elisabeth Rochadel Editora Globo Uma aventura editorial nos anos 30 e 40 S o Paulo EDUSP Com Arte Porto Alegre EUFRGS 1999 Mem ria Editorial 1 234 TAVANCAS Isabel O livro no jornal Os suplementos liter rios dos jornais franceses e brasileiros nos anos 90 S o Paulo Ateli Editorial 2001 VELHO Gilberto Individualismo e cultura Notas para uma antropologia da sociedade contempor nea Rio de Janeiro Zahar 2004 235 Refer ncias bibliogr ficas do corpus BEN TEZ J J Opera o cavalo de tr ia Tradu o Herm nio Tricca S o Paulo Mercuryo 1987 BRADLEY Marion Zimmer As brumas de Avalon a saga das mulheres por tr s dos bastidores do Rei Arthur Vol 1 Tradu o Waltensir Dutra Rio de Janeiro Imago 1989 BUARQUE Chico Budapeste S o Paulo Companhia da
214. enta mostrar a for a da mente como forma de cura do pr prio corpo f sico Por fim o do Dalai Lama e Howard C Cutler procura extrair ensinamentos da sabedoria budista misturando o com alguns conceitos da psicologia ocidental cujo resultado s o conselhos que pretendem ajudar o leitor a atingir o verdadeiro estado de felicidade No segundo subgrupo os dois livros de Paulo Coelho 1 e 5 s o narrativas cujas personagens centrais respectivamente Santiago e Brida est o s voltas com seus destinos Em 1 a id ia de uma lenda pessoal em 5 a identifica o com os princ pios da seita da tradi o da Lua O de Redfield 11 que consiste em uma narrativa cujo mote um manuscrito antigo trata da busca da verdade espiritual Esses tr s livros portanto est o classificados no subgrupo da auto ajuda que chamarei hist rias de misticismo e esoterismo Do ponto de vista semi tico pode se dizer que esses tr s livros funcionam como doadores de um saber os ensinamentos m sticos e esot ricos para que o sujeito do fazer os leitores entre em conjun o com seu objeto valor que a plenitude a felicidade Embora essa seja a estrutura de todos os livros de auto ajuda o que os dessa subcategoria apresentam de particular o fato de o objeto do saber ser apresentado por meio de uma narrativa 1 e 11 s o apresentados como narrativas de fic o j 5 anuncia se como relato real hist ria vivida por Brida O Fern a quem
215. ente de segundo grau Ao final do texto de orelha do livro pode se encontrar essa refer ncia a uma proposta pedag gica do livro H quase 500 anos Portugal descobriu o Brasil J tempo de n s tamb m atracarmos nestas terras f rteis e descobrirmos tudo aquilo que os livros de Hist ria n o quiseram ou n o puderam contar Escrito por um jornalista a narrativa das aventuras mar timas dos portugueses s o recontadas por uma tica diferente da empregada pelos manuais de Hist ria at ent o utilizados nas escolas O relato come a referindo se ao Infante D Henrique um herdeiro dos cavaleiros templ rios como o desencadeador das incurs es mar timas das esquadras de Portugal Em seguida conta a tomada de Ceuta em Marrocos a travessia do Cabo das Tormentas por Bartolomeu Dias a conturbada chegada de Vasco da Gama s ndias em busca da seda e de especiarias e ao final a aventura da descoberta do Brasil O relato da viagem da frota de Pedro lvares Cabral mostra a como um empreendimento financiado pela coroa portuguesa e pela iniciativa privada e revela se que 81 a armada cabralina tinha conhecimento das novas terras de que pretendiam tomar posse O trecho da chegada ao Brasil assim relatado No dia 9 de abril ao completar um m s em alto mar a esquadra de Cabral cruzou o Equador e o que durante s culos fora motivo de terror agora era pretexto para festa Ap s o Equador os ventos sopravam de sueste Mas
216. ento da p blica Por outro lado a apatia n o um defeito de socializa o mas sim uma nova socializa o suave e econ mica uma descontra o necess ria ao funcionamento do capitalismo 180 moderno enquanto sistema experimental acelerado e sistem tico Lipovetsky 2005a p 25 grifo do autor Outra quest o que se pode observar no processo de engendramento da sociedade individualista a da viol ncia Segundo o autor enquanto na sociedade tradicional o outro era visto como amigo ou como inimigo na sociedade contempor nea o outro um estranho com o qual se instaura a indiferen a A aus ncia de contato com o outro estabelece uma dist ncia segura que coloca o indiv duo em resguardo contra uma poss vel agress o O indiv duo da era p s moralista autocontrolado n o se exp e viol ncia porque ela deixa de ter um sentido social porque n o mais o meio de afirma o e reconhecimento do indiv duo num tempo em que a longevidade a poupan a o trabalho a prud ncia e a modera o se encontram sacramentados p 164 No per odo chamado pelo autor de primeira fase do individualismo o sentimento revolucion rio era o propulsor da viol ncia contra um Estado totalit rio que se mantinha pelo poder de coer o e refreamento das massas A luta pelo ideal socialista era um elemento aglutinador pois unia pessoas em torno de um valor a ser conquistado Na segunda fase com o esfacelamento do ideal
217. enunciado que d t tulo ao livro portanto aponta para a quantidade o excesso e o lugar a cama o que uma maneira de representar o desejo er tico Afirmar que o t tulo do livro de M aponta para a defini o e o de St Claire para a prescri o n o significa por m negar o car ter subjetivo de seus discursos Em ambos o sujeito que diz uma primeira pessoa que viveu uma experi ncia particular a partir da qual adquiriu um saber que doado ao enunciat rio Portanto tanto a defini o quanto a prescri o t m como fonte um sujeito singular diferentemente do discurso cient fico ou legislativo por exemplo que embora tamb m produzam a defini o e a prescri o n o o fazem a partir da afirma o de uma subjetividade mas sim da objetividade Os outros dois livros que aparecem nesse subtipo da auto ajuda s o textos narrativos e pertencem ao g nero secund rio segundo a classifica o de Bakhtin O tema abordado por eles a sexualidade tal como nos dois anteriores mas o tratamento dessa quest o n o apresentado na forma do manual de instru es que deve ser seguido pelo sujeito enunciat rio Ao contr rio as narrativas reconstroem sujeitos espa os e tempos distintos dos da enuncia o para colocar em cena o tema dos relacionamentos humanos em espec fico o relacionamento sexual entre o homem e a mulher Essa caracter stica enunciativa dos dois textos aponta para um efeito de sentido de objetividade pois aqu
218. er ncia ao leitor configura o por meio do estere tipo de leitor de romances do qual o dizer do narrador quer se distanciar Curiosamente preciso apontar o livro de Ricardo Semler n o pretende ser uma narrativa ficcional como o de Paulo Coelho A proposta de Virando a pr pria mesa de produzir uma an lise da rela o empregado patr o em empresas brasileiras para defender a id ia de que a postura de um relacionamento mais din mico e mais aberto por parte do empres rio economicamente mais eficiente que a do empres rio que se distancia de seu oper rio porque dele desconfia sempre Talvez o sucesso desse livro venha exatamente dessa caracter stica qual seja de abordar subjetivamente um tema que aparentemente merece um tratamento mais objetivo Seu tom de mem ria cr tica acaba criando uma empatia com seu enunciat rio que passa a acreditar no que l pois interpreta o que ali colocado segundo os padr es da experi ncia porque o narrador fala do lugar de um sujeito que viveu as situa es de rela o patr o empregado em empresas e da sinceridade porque o narrador atribui a seu relato um tom de descontra o e de espontaneidade Embora n o tenha esgotado a discuss o sobre a quest o te rica da semi tica em foco neste trabalho pude mostrar as bases a partir das quais pretendo levar a cabo esse exame do perfil do leitor brasileiro entre a d cada de sessenta e a de 2000 Meu trabalho constr i se e
219. ero de vezes que um livro aparece nas listas dos mais vendidos isso faz com que seja muito dif cil chegarem s primeiras posi es os autores que vendem diferentes t tulos Essa a explica o por exemplo para o fato de Agatha Christie n o aparecer entre os mais vendidos nas d cadas de 1960 e 1970 principalmente Como s o muitos os livros escritos por essa autora seu nome somente apareceria nos gr ficos se se fizesse um levantamento por autor e n o por obra Al m disso h uma quantidade muito grande de autores de romances policiais que lan am seus livros no mercado editorial brasileiro e internacional 145 as de perip cias narrativas quer as policiais s o muito comumente consumidas pelos leitores que como j apontei anteriormente querem preencher um espa o de cio como por exemplo um percurso de viagem de nibus de metr de trem ou de avi o embora deva se considerar que principalmente os jovens substituam a leitura pelo diskman ou pelo iPod Quanto aos livros de Ben tez mais especificamente o primeiro volume da s rie Opera o cavalo de tr ia que aparece nos levantamentos da pesquisa deste trabalho a caracter stica de a o soma se de fic o cient fica e tamb m tem tica religiosa conforme j mostrei no coment rio apresentado anteriormente sobre esse livro Restam ainda dentro dessa perspectiva de perip cia narrativa tomada como objeto valor dos leitores os livros que classifiquei na tem
220. ervarmos portanto as prefer ncias do leitor brasileiro na d cada de 70 perceberemos que delas fazem parte obras que abordam as quest es sociais o que se constata em tr s dos doze livros mais lidos Por outro lado se pensarmos na leitura n o comprometida com a realidade social qual seja aquela que aborda quest es mais leves menos engajadas seis s o as obras do ranking das mais vendidas que se encaixam nesse perfil as de mem rias de especula o cient fica e de a o e intriga Dentre elas destacaria apenas Solo de clarineta de rico Ver ssimo e Eram os deuses astronautas de Erich von D niken que adquiriram na poca um status mais cult que as demais das categorias elencadas por m a segunda categoria dos livros mais lidos os de auto ajuda j presente nessa d cada que ir registrar uma prefer ncia acentuada entre os leitores brasileiros As escolhas desse tipo de literatura marcam uma quebra dos valores coletivos que impulsionaram os movimentos de resist ncia ditadura militar no Brasil Diante de um mercado que lhe oferece uma crescente possibilidade de consumo o leitor brasileiro ir escolher os livros mercadoria que tenham um valor mais utilit rio Ora tratando de problemas mais pessoais como a pr pria sexualidade humana ora em busca de uma vis o 117 mais esot rica para os fatos do cotidiano ora preocupando se com a est tica e a sa de de seu pr prio corpo o leitor entra em contato com os liv
221. esenta a seguinte explica o para o fato Fic o n o fic o No Brasil todas as publica es que divulgam a lista dos dez livros mais vendidos adotam essas distin es Assim o que o leitor tem para exame sempre uma rela o de vinte t tulos divididos em dois g neros que em princ pio n o se confundiriam Mas pouca gente se det m para pensar que n o existem dois p blicos diferentes Tampouco existem dois tipos de livrarias O leitor de As brumas de Avalon fic o de Marion Zimmer Bradley pode ser o mesmo de A vida um palco n o fic o de Shireley MacLaine E prov vel que esse leitor adquira os livros no mesmo local At do ponto de vista dos g neros liter rios a distin o fr gil O que significa n o fic o E quantos livros n o se encaixam num g nero intermedi rio Grandes obras de fic o como a caudalosa procura do tempo perdido de Marcel Proust baseiam se em viv ncias muito pessoais S o simultaneamente fic es e depoimentos Recria es do vivido Por todos esses motivos a partir deste m s o LEIA publica a lista dos mais vendidos sem dividi la em duas categorias a exemplo da revista francesa Lire uma das mais respeitadas em todo o mundo Com isso nossa inten o fornecer ao leitor uma informa o mais clara e objetiva sobre os livros de sucesso sem partidarismos De g nero n mero ou grau Com a palavra a prefer ncia popular
222. esente em v rios casos mas n o um tra o que define a caracteriza o desse g nero textual tal como foi afirmado por Riidiger 1996 Martelli 2006 Brunelli 2004 e Oliveira 2006 Entre os t tulos aqui levantados 13 constroem se discursivamente com o tra o da injun o e 10 n o Entre os 13 textos injuntivos h um deles Pai rico pai pobre de Robert Kiyosaki e Sharon L Lechter que se constr i de forma narrativa mas que ensina as normas a serem seguidas por aqueles que pretendem lucrar com a aplica o financeira no mercado 221 O que se identifica entre os textos de auto ajuda que quer assumam o modo injuntivo da exposi o quer n o assumam sua proposta consiste sempre em aconselhar ou mostrar uma op o a ser seguida para aqueles que pretendem atingir um grau de felicidade ou de realiza o em suas vidas Quer isso seja mostrado na forma de li es ou de preceitos quer por meio de uma narrativa o objetivo desses textos sempre influenciar o comportamento de seus destinat rios As id ias esot ricas funcionam como uma esp cie de conforto para aqueles que precisam ou desejam acreditar em algo para justificar sua pr pria maneira de ser Com rela o ao procedimento da modaliza o os textos de auto ajuda partem sempre da afirma o da certeza crer ser como base do discurso que veiculam o que significa dizer portanto que a modaliza o principal desse tipo de texto a epist mica Essa certeza
223. este trabalho com rela o aos textos de auto ajuda que aparecem no corpus de minha pesquisa que o fato de serem predominantemente injuntivos e se constru rem enquanto manuais que pretender oferecer algum suporte para as car ncias de seus leitores Por outro lado por m como fui detectando nas diversas listas uma varia o bastante grande dessa categoria de texto e como fui observando que em outras categorias que n o chamei de auto ajuda o princ pio da orienta o da simplifica o do vocabul rio do enfoque para o individual da afirma o dos valores do consumo capitalista contempor neo tamb m est o presentes proponho fazer uma ltima reflex o neste trabalho para tentar compreender o imagin rio do leitor brasileiro contempor neo que nosso prop sito inicial No item seguinte portanto tentarei distinguir em que consiste pensar a auto ajuda enquanto g nero e enquanto estilo de discurso 6 2 O g nero e o estilo da auto ajuda No cap tulo dois j havia anunciado quando examinei a proposta de Discini 2003 sobre o tema que em outro momento deste trabalho retomaria a quest o do estilo voltando me ent o especificamente para o g nero de auto ajuda Pois bem o que proponho discutir aqui Antes por m de retomar as considera es da autora recuperarei o ponto de vista de Bakhtin sobre esse tema porque me interessa verificar tamb m como o autor russo abordou o g nero do discurso para posteriormente tra
224. exerc cios que libertariam poderes latentes no ser humano mas que por ele ainda estavam inexplorados todos concernentes ao c rebro isto capacidade mental do homem 190 Diante das transforma es do capitalismo nessa passagem de s culo j discutidas no cap tulo anterior a chamada literatura de auto ajuda que em seu nascedouro tinha uma conforma o mais moralista vai dela se distanciando e assumindo um outro vi s do individualismo qual seja a explora o dos poderes mentais Portanto os textos continuam a ter o car ter programador pr prio daqueles que pretendem ensinar algo a seu leitor mas agora est o ancorados num suporte mais supostamente cient fico os estudos sobre o poder mental o que ser respons vel pela difus o da id ia do magnetismo A conjuntura n o podia ser mais prop cia levando se em conta que o sucesso passara a ser verdadeiro motivo de culto social com o progresso verificado na economia capitalista durante o s culo XIX A figura do self made man por conseguinte n o somente passara a viver seu auge como tornara se desde alguns anos fen meno de propaganda desenvolvida atrav s de confer ncias livros e revistas por diversos fil sofos populares e especialistas no sucesso que rapidamente haviam chegado conclus o de que a cren a no poder da mente n o x 2 podia ficar restrita pr tica do mind cure tamb m podendo ser usada para desenvolver o poder pessoal v
225. experi ncia como m dico no pres dio e da descoberta que faz da condi o de vida e da maneira de pensar e agir dos pr prios presos Como j foi aqui abordado h no livro de Varella um processo de individualiza o dos presos na medida em que s o focalizados seus dramas pessoais Al m disso os livros de mem ria s o muito comuns na contemporaneidade Embora s apare am os dois acima citados na rela o dos mais vendidos dos anos 2000 in meros outros aparecem no corpus da pesquisa tais como Ascens o e queda de Get lio Vargas de Afonso Henrique Carlota Joaquina a rainha devassa de Jo o Fel cio dos Santos nos anos 60 A vida de Dom Pedro I de Ot vio Tarqu nio de Sousa e Marilyn de Norman Miler nos anos 70 Furac o Elis de Regina Echeverria e Minhas vidas de Shirley Maclaine nos anos 80 Ana de Assis de Judith de Assis e J ferson Andrade Z lia uma paix o de Fernando Sabino e O anjo pornogr fico A vida de Nelson Rodrigues de Ruy Castro nos anos 90 A vida sexual de Catherine M de Catherine Millet e Eny e o grande bordel brasileiro de Lucius de Mello tamb m nos anos 2000 Os livros mais vendidos nas categorias de humor e fantasia refletem a op o de leitura de entretenimento Nos livros de Lu s Fernando Ver ssimo o elemento de atra o s o os relatos de situa es c micas em textos curtos as cr nicas que oferecem uma op o de leitura f cil que pode acontecer nos mais diversos luga
226. ffler 1993 a economia fundida da Primeira Onda foi transformada na economia separada da Segunda Onda p 52 A raz o dessa transforma o est na nova concep o de mercado que com o advento do industrialismo instaura um novo valor at ent o desconhecido o lucro E o autor pretende mostrar ainda que a era industrial n o deve ser confundida com o sistema capitalista pois ela tamb m se desenvolveu nos pa ses que adotaram o sistema pol tico do socialismo Embora n o v reproduzir aqui toda a discuss o que estabelece Toffler sobre a constitui o do processo industrial nos pa ses capitalistas e nos socialistas o que procuro mostrar que na perspectiva do autor a industrializa o significou uma nova forma de organiza o das rela es sociais Nesse sentido vale a pena registrar as seis caracter sticas principais que ele atribui ao sistema industrialista A primeira delas a padroniza o uma vez que nessa nova era h a produ o massiva de objetos id nticos O princ pio a partir do qual gerada essa produ o em massa dos objetos de consumo o da racionaliza o do trabalho A segunda caracter stica da era industrial a especializa o a partir da qual cada trabalhador passa a desempenhar uma fun o espec fica conforme a proposta taylorista diferentemente do trabalhador da primeira onda que desempenhava as diversas fun es nas v rias etapas da produ o agr cola A sincroniza o a terceira
227. fluenciar pessoas de D Carnegie com 42 ed O poder do pensamento positivo de J Murphy com 36 ed TNT nossa mente interior de C Bristol com 28 ed Seus pontos fracos de W Dyer com 17 ed A for a do poder c smico de J Murphy com 15 ed A for a do pensamento positivo de W Atkinson com 14 ed Curso de magnetismo pessoal de V Turnbull com 14 ed etc interessante registrar no entanto que embora suas listas sejam feitas a partir do n mero de edi es dos livros aparecem nelas apenas dois dos livros registrados no corpus desta pesquisa quais sejam O sucesso n o ocorre por acaso de Lair Ribeiro e Voc pode curar sua vida de Louise Hay Como se explica por exemplo que o livro de Trevisan 1 ed de 1980 que segundo seu levantamento teve duzentos e cinqiienta edi es n o apare a entre os mais vendidos nas listas do jornal Leia e Jornal do Brasil Acredito que a explica o esteja no fato de que o livro de Trevisan e de muitos outros autores das listas de Riidiger 1996 fossem considerados o modelo cl ssico da auto ajuda uma vez que tratam da quest o do mentalismo ou da for a do pensamento No trabalho de Riidiger por m eles constituem como veremos mais frente o tipo predominante de auto ajuda at a d cada de 1950 O termo auto ajuda aparece pela primeira vez como t tulo de um livro Self help escrito por um m dico escoc s chamado Samuel Smiles em 1859 Segundo Riidiger 1996
228. g cios A esses sete primeiros cap tulos seguem se outros tr s e uma conclus o cujos t tulos apontam para o cl ssico estilo de auto ajuda Como superar obst culos cap tulo 8 Em 216 a o 9 Ainda quer mais 10 Como pagar a faculdade dos filhos com apenas US 7 000 conclus o Ap s a conclus o segue uma exorta o assinada pelo autor e pela co autora Aja A instaura o do dever marca a perora o do discurso e essa a o invocada remete ao princ pio de toda a literatura de auto ajuda que consiste em afirmar que cabe a cada sujeito individualmente determinar o que quer ser desejo Nesse momento o leitor interpelado a agir segundo o que pretende fazer com cada notar d lar que lhe chegar s m os gast la imediatamente e ser pobre gast la com passivos e se tornar rico A modaliza o do enunciat rio pelo desejo segue a da voli o querer fazer 6 2 5 Est tica corporal Preocupar se consigo mesmo uma das exig ncias do mundo atual Muitas s o as sugest es de como algu m pode e deve cuidar de si na literatura de auto ajuda mas h uma vertente que se ocupa especialmente dos cuidados com a alimenta o e consegiientemente com a sa de f sica Pare de engordar de N lson Senise e S gordo quem quer de Jo o Uch a Jr s o duas obras que se encaixam nessa modalidade Uma vez mais nesse caso o discurso desse tipo de texto manifesta um enunciador que p
229. gua voltou se para seu pai e lhe disse que a gua estava fria Diante dessa atitude da filha pegou a no colo jogou a na gua e novamente lhe perguntou 66 se a gua estava fria Ela levou um susto de in cio mas depois ficou contente com a brincadeira e lhe respondeu que a gua estava gostosa A partir dessa situa o que a frase 3 produzida por seu pai para significar que a filha deveria mergulhar nas coisas que desejava para poder experiment las O contexto em que a frase 4 enunciada diz respeito a um ensinamento de Wicca para Brida quando pretende convenc la da import ncia de usar todas as roupas que tinha em seu arm rio porque segundo ela as roupas que as pessoas compram s o um reflexo daquilo que s o interiormente No momento em que Brida considera um absurdo que Wicca queira obrig la a usar todas as roupas de seu arm rio e a se livrar daquelas com as quais se sente mal ouve uma voz interior a voz da sabedoria que enuncia exatamente a frase 4 Em muitos momentos de Brida essas frases de efeito assumem um valor de verdades que s o enunciadas para que o leitor creia nelas e reproduza as quando enuncia seu pr prio discurso Da mesma maneira que O alquimista essa nova narrativa de Paulo Coelho realiza a mesma intersec o entre o discurso religioso cat lico e o do senso comum o que d origem a um misticismo palat vel s diferentes camadas da sociedade brasileira 6 A insustent vel leveza d
230. he ler suas obras Em termos de uma narrativiza o do discurso diria que o enunciat rio aceita o contrato proposto pelo enunciador na medida em que assume como seus os valores manifestados na narrativa o que constitui uma san o positiva de seu fazer O trecho 2 que corresponde aos primeiros par grafos do primeiro cap tulo intitulado Mem rias de um velhinho de 28 anos do livro Virando a pr pria mesa de Ricardo Semler apresenta por sua vez um enunciador que se projeta no enunciado na 48 forma de um narrador em primeira pessoa O enunciado fruto da manifesta o de um eu que conta determinados fatos em que est envolvido O espa o do enunciado o espa o do aqui aquele em que se coloca presentemente o enunciador e o tempo por sua vez o do agora A partir de seu presente ele pode referir se a fatos anteriores concomitantes ou posteriores Em 2 podemos constatar o uso do presente e do futuro do presente para indicar respectivamente a concomit ncia e a posterioridade relativas ao tempo da enuncia o Ao reconstituir suas experi ncias em empresas brasileiras o enunciador utilizar se tamb m da forma do pret rito perfeito 1 segundo proposta de Fiorin 1996 para indicar a anterioridade em rela o ao tempo da enuncia o Al m de ser a abertura da narrativa momento em que o narrador apresenta se para o narrat rio momento em que se instaura portanto o contrato entre os dois sujeitos o que se po
231. i o das obras do levantamento apresentado por esse gr fico ser realizada no cap tulo 3 Observando a distribui o dos livros mais vendidos organizados na tabela 1 concluo que as escolhas dos leitores brasileiros contempor neos s o determinadas por um desejo o que significa perceber que o fazer desses leitores modalizado pelo querer Na medida em que a referida tabela anexada ao final deste trabalho reflete prefer ncias dos leitores isto os livros mais consumidos vendidos durante um per odo de 38 anos devo entender leitor como um actante coletivo desse texto constru do pelas listas cuja representa o consiste no gr fico 1 33 De um total geral de 21 registros dos livros mais vendidos 13 correspondem literatura de auto ajuda Essa escolha instaura se por uma falta isto o actante est em disjun o com um objeto valor a sa de o sucesso a felicidade a paz espiritual a satisfa o e com ele quer entrar em conjun o E esse estado do desejo acompanhado pelo estado de espera Um leitor por exemplo de Voc pode curar sua vida de Louise Hay de O sucesso n o ocorre por acaso de Lair Ribeiro de Intelig ncia emocional de Daniel Goleman de Comunica o global de Lair Ribeiro de A arte da felicidade de Dalai Lama e Howard Cutler de A insustent vel leveza do ser de Milan Kundera de 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama de Ol via Clare de Minutos de sabedoria de Torres Pastorian
232. i o do enunciado a escolha que o locutor faz de um g nero de discurso Essa escolha determinada em fun o da especificidade de uma dada esfera da comunica o verbal das necessidades de uma tem tica do objeto do sentido do conjunto constitu do dos parceiros etc p 301 Quanto ao segundo aspecto do enunciado o que diz respeito a sua rela o com o estilo Bakhtin 1997 afirma o seguinte O estilo est indissoluvelmente ligado ao enunciado e a formas t picas de enunciados isto aos g neros do discurso O enunciado oral e escrito prim rio e secund rio em qualquer esfera da comunica o verbal individual e por isso pode refletir a individualidade de quem fala ou escreve Em outras palavras possui um estilo individual Mas nem todos os g neros s o igualmente aptos para refletir a individualidade na l ngua do enunciado ou seja nem todos s o prop cios ao estilo individual Os g neros mais prop cios s o os liter rios p 283 Segundo a concep o de Bakhtin 1997 somente no g nero liter rio h possibilidade de que o enunciado guarde marcas da individualidade do estilo de quem o produz pois nos g neros de discurso que se apresentam de uma forma mais padronizada tais como a formula o do documento oficial da ordem militar da nota de servi o etc p 283 a nica possibilidade de marcas individuais referir se ia a aspectos superficiais tais como maneiras de organiza
233. ia de maio de 1987 s p ginas 36 e 37 numa mat ria intitulada Os mais vendidos o jornal apresenta um depoimento de nio Silveira editor da Civiliza o Brasileira e ex presidente na poca do Sindicato Nacional dos Editores de Livros a respeito do sucesso alcan ado pelos livros da ent o rec m criada editora de Lu s Schwarcz a Companhia das Letras Ao longo de seus n meros sempre mensais o jornal Leia divulga as listas dos mais vendidos e nas diversas reportagens ou coment rios sobre elas dialoga diretamente com seus leitores As listas por sua vez desde o n O do jornal publicado em abril de 1978 at o n 117 de julho de 1988 subdividem se em I e II A lista I apresenta os dez livros mais vendidos da categoria fic o e a lista II os dez mais vendidos da categoria n o fic o De forma mais irregular existiu ao longo desse per odo e do per odo subsegiente at o desaparecimento do jornal uma lista II em que eram arrolados os livros mais vendidos da categoria infanto juvenil 15 No n 118 do Leia de agosto de 1988 por m desaparecem as listas I e Il e ao inv s de apresentar os dez livros mais vendidos das categorias fic o e n o fic o o jornal opta por apresentar uma lista nica sem qualquer distin o tipol gica com os nomes dos vinte livros mais vendidos durante o m s Nesse n mero em que ocorre a mudan a de crit rio classificat rio o jornal apr
234. ia n o mais respons vel apenas por fazer lucro ou produzir mercadorias mas por simultaneamente contribuir para 173 a solu o de problemas extremamente complexos ecol gicos morais pol ticos raciais sexuais e sociais p 237 Para concretizar essa vis o da mudan a que causa o movimento da onda p s industrial Toffler 1993 prop e uma nova figura na constitui o do mercado qual seja o prossumidor palavra que consiste na fus o de produtor e consumidor Em sua concep o a terceira onda refaz o elo quebrado entre o trabalho e o consumo caracter stico da segunda onda Enquanto no modelo social agr cola predominava o trabalho para consumo pr prio e no industrialista o trabalho para produ o de mercadorias e servi os para o mercado no modelo p s industrial haver um equil brio entre esses dois tipos de trabalho o que significar a inser o do sujeito no processo econ mico de forma mais aut noma e n o mais massificada O valor de maior destaque nessa nova onda defendida pelo autor o conhecimento e o instrumento propiciador da divulga o e integra o desse conhecimento o computador A terceira onda imaginada por Toffler 1993 constr i se a partir de uma transforma o completa das dimens es de espa o e de tempo Enquanto na segunda onda o poder econ mico de uma empresa era medido pelo espa o f sico que ela ocupava com instala es de grandes dimens es na terceira esse espa o se v redu
235. iador e o enunciat rio nela tamb m se manifesta o pathos e o ethos Ou dependendo da forma como se analisa esse enunciat rio os termos pathos e ethos s o intercabi veis A tomada de posi o do analista ir determinar portanto se esse enunciat rio ser apreendido a partir de seu ethos ou de seu pathos Quando se elege observar o discurso do ponto de vista de sua efic cia contrapondo as categorias do enunciador e do enunciat rio interligados a do ethos e do pathos pode se dizer que dois processos podem ser desencadeados o da identifica o e o da complementaridade O primeiro processo se d toda vez que existe uma coincid ncia entre a imagem que o enunciador constr i de si em seu discurso o ethos e o ponto de vista do leitor sobre aquilo que dito ou seja a imagem do enunciat rio constru da no discurso o pathos coincide com o modo de sentir e pensar do sujeito leitor Esse processo de identifica o talvez possa ser exemplificado por meio dos livros de a o e intriga ou de fantasia que identifiquei no corpus desta pesquisa Se entendo que essas duas modalidades de leitura s o caracter sticas das situa es de lazer ou de entretenimento diria que o leitor que procura ler esse texto se n o se identifica sempre 226 com o conte do expresso nas narrativas identifica se com o tipo de discurso pr prio dessas modalidades de leitura Essa portanto a identifica o entre o ethos e o pathos O processo de com
236. ica em dire o ao Egito Durante sua busca defronta se com os grandes mist rios que acompanham a humanidade desde o come o dos tempos os sinais de Deus a Lenda Pessoal que cada um dos seres humanos precisa viver e a misteriosa Alma do 57 Mundo onde qualquer pessoa pode penetrar se ouvir seu pr prio cora o Ao final de sua busca Santiago descobre que o tesouro que tanto procurava estava enterrado exatamente no lugar onde sempre vivera A narrativa de O alquimista constru da por uma mistura entre o discurso b blico e esot rico Um exemplo da interlocu o com o texto b blico al m do que j apontei no cap tulo anterior pode ser observado na passagem em que Santiago vai tenda dos chefes rabes no o sis em que estava para contar um sonho que havia tido sobre o ataque de um ex rcito de guerreiros H nesse trecho refer ncia ao cap tulo 41 do G nesis em que Jos interpreta o sonho do Fara que previa sete anos de abund ncia e sete anos de priva o que se seguiriam a eles O trecho abaixo reproduzido inicia se com a fala do chefe maior da tribo H dois mil anos numa terra distante jogaram num po o e venderam como escravo um homem que acreditava em sonhos disse o velho Nossos mercadores o compraram e o trouxeram para o Egito E todos n s sabemos que quem acredita em sonhos tamb m sabe interpret los Embora nem sempre consiga realiz los pensou o rapaz lembrando se da velha
237. ica frente a um regime de governo como faz Kundera o texto de Paulo Coelho ir reafirmar a id ia rom ntica e porque n o religiosa do prazer sexual enquanto express o do envolvimento de paix o entre um homem e uma mulher O sujeito para quem a narrativa contada tamb m vive uma falta e quer super la A narra o da vida de Maria uma jovem simples do interior do nordeste brasileiro que acaba se tornando prostituta na Su a serve para mostrar como o sexo enquanto atividade 213 unicamente fisiol gica n o pode trazer realiza o ao sujeito pois o que o conduz ao estado de satisfa o e plenitude o amor e o sexo deve ser compreendido como uma express o desse amor Esse discurso lugar comum veiculado pelo romance de Paulo Coelho que acrescenta a essa id ia de amor um tom m stico embora esse componente n o seja a principal quest o do livro raz o pela qual n o foi inclu do entre as obras de auto ajuda do subtipo de misticismo e esoterismo Dirigido principalmente a um p blico feminino esse texto o mote para repetir a id ia da Cinderela a garota pobre que vive um estado de priva o e que resgatada dessa condi o por um pr ncipe rico e bom que por ela se apaixona Na contraposi o entre o desejo querer ser e o desprendimento querer n o ser o discurso sobre a mulher nesse texto ir afirmar a ren ncia pois esse o caminho para atingir a felicidade 6 2 4 Mundo dos neg cios A au
238. icas da enuncia o O eu consequ ncia do ato de dizer ou seja sempre que o discurso se manifesta porque ele o resultado de um ato enunciativo Mesmo que se fa a uma asser o gen rica como A gua formada por dois tomos de hidrog nio e um de oxig nio existe um sujeito da enuncia o nela pressuposto que no caso do exemplo apresentado corresponderia a Eu digo que a gua formada por dois tomos de hidrog nio e um de oxig nio N o existe enunciado que n o seja o resultado de uma enuncia o Por outro lado deve se observar que ao projetar um eu que enuncia automaticamente fica estabelecido um tu para quem o eu se dirige Nesse sentido a enuncia o dupla pois instaura dois actantes respons veis pelo ato comunicativo ent o presente o enunciador aquele que diz eu e o enunciat rio o tu a quem o enunciador se dirige Enunciador e enunciat rio correspondem respectivamente ao autor e ao leitor mas n o a seres existentes no mundo real Entendido o discurso enquanto manifesta o de linguagem o sujeito que enuncia uma imagem de sujeito por ele constru da ao mesmo tempo em que o enunciat rio tamb m o No caso espec fico deste trabalho por exemplo o sujeito que aqui diz eu a imagem de um autor que n o corresponde exatamente ao Arnaldo em carne e osso que escreve Ao mesmo tempo este texto constr i uma imagem de leitor que primeiramente reflete o lugar do discurso da academia
239. idade como objetivo maior de todo ser humano O primeiro cap tulo abre se com o registro da seguinte fala de Dalai Lama Para mim o pr prio objetivo da vida perseguir a felicidade Isso est claro Se acreditamos em religi o ou n o se acreditamos nesta religi o ou 88 naquela todos estamos procurando algo melhor na vida Por isso para mim o pr prio movimento da nossa vida no sentido da felicidade p 13 Ao ser questionado sobre como chegar a essa felicidade o Dalai Lama afirma que ela pode ser alcan ada atrav s do treinamento da mente p 14 Em seguida explica em que consiste esse treinamento Quando falo em treinar a mente neste contexto n o estou me referindo mente apenas como a capacidade cognitiva da pessoa ou seu intelecto Estou sim usando o termo no sentido da palavra Sem em tibetano que tem um significado muito mais amplo mais pr ximo de psique ou esp rito um significado que inclui o intelecto e o sentimento o cora o e a mente Por meio de uma certa disciplina interior podemos sofrer uma transforma o da nossa atitude de todo o nosso modo de encarar e abordar a vida p 15 Toda a constru o do texto de Cutler consiste em mostrar como chegar a essa felicidade que o desejo maior do ser humano necess rio conhecer em que consiste a verdadeira felicidade Para tanto o Dalai Lama procura mostrar como a cultura Ocidental constr i muitas vezes um
240. iferentes raz es A id ia de que a sa de mental t o importante quanto f sica reflete se inclusive nos movimentos para que os planos de sa de particulares cubram tratamentos psicol gicos como sess es de an lise reivindica o que tamb m pode ser constatada nos postos de atendimento de sa de p blica A medicina e a psiquiatria mais geralmente o ponto de vista e a sensibilidade terap uticos que invadem a sociedade moderna refor am o padr o criado por outras influ ncias culturais nas quais o indiv duo examina se interminavelmente procura de sinais de velhice e doen a de sintomas indicadores de tens o ps quica por manchas e imperfei es que possam diminuir sua atra o ou por outro lado para confirmar as indica es de que sua vida est seguindo de acordo com o esquema Lasch 1983 p 75 Com rela o aos produtos de beleza por exemplo cujas empresas sempre se voltaram para o mercado feminino na medida em que subsiste um valor cultural que reafirma a vaidade feminina volta se tamb m para o mercado masculino criando uma variedade de cosm ticos destinados ao novo tipo de p blico quebrando assim um novo tabu qual seja o de que os homens n o usam produtos de beleza para manter a apar ncia f sica como os cremes para rugas m scaras faciais leo de banho etc A preserva o do 162 corpo respons vel por outra caracter stica do narcisista qual seja a vaidade n o mais
241. ificado na categoria de mem ria porque sua configura o n o pr pria do texto de auto ajuda e porque a quest o do relato do passado do sujeito enunciador central no livro Essa terceira tem tica a que me refiro portanto a da sexualidade Diferentemente por m do livro de Miller O homem sensual de M n o tem um autor nomeado e n o faz uma apologia da libera o sexual antes um manual de instru es com o objetivo de tornar seu leitor um homem um amante ardente elegante sensual que deseja aprimorar se nas artes e nas t cnicas do amor As considera es que o livro apresenta sobre o relacionamento entre um homem e uma mulher por m s o marcadas muitas vezes por preconceitos e pontos de vista estereotipados H um cap tulo por exemplo em que o narrador prop e ensinar a seu narrat rio como dar uma cantada numa mulher para seduzi la com o objetivo de lev la para a cama A terceira categoria dos livros mais lidos em 70 a de mem ria tal como foi apontado na d cada anterior Reaparece a o romance de Jos Mauro de Vasconcelos Meu p de laranja lima desta vez em ltimo lugar na prefer ncia dos leitores brasileiros e Solo de clarineta de rico Ver ssimo que apresenta uma retrospectiva da vida e das obras do escritor ga cho Especula o cient fica o nome que me pareceu mais adequado para designar a quarta categoria dos livros mais lidos dessa d cada aparecendo em segundo lugar
242. ilo que dito n o tem como fonte um sujeito singular A hist ria narrada por um n o sujeito o que importa o dito e n o a fonte do dizer No caso de Onze minutos especificamente no par grafo que introduz a narrativa o enunciador se mostra uma nica vez como um eu a quem atribu da a autoria do dito O t tulo do livro de Kundera remete pr pria quest o da ess ncia ao falar do ser Entrar no mundo em que se passa a hist ria significa ser interpelado por um enunciador que quer discutir a condi o do homem no mundo moderno ou na Tcheco Eslov quia dos 212 anos 80 cuja maior caracter stica de ser um pa s que vive sob um regime pol tico o comunismo que suprime a liberdade individual Viver o igual a vida cotidiana sob as regras de um comportamento moral o que deve ser evitado pois se submeter a esse sempre igual n o viver a vida o importante o estado de liberdade que permite ao homem a experi ncia de sentir a plenitude Assumindo um tom filos fico a narrativa funciona como uma encena o da busca da satisfa o do homem moderno Na primeira linha do romance aparece uma refer ncia Nietzche a quem atribu da a id ia do eterno retorno isto da imagem c clica da vida em que tudo igual e se repete continuamente A constru o dos conceitos de leveza em oposi o a peso remete ao que a satisfa o e a opress o respectivamente O padr o de compo
243. interesse em todo investigador da auto ajuda que dependendo da livraria que se visita ora certos livros aparecem nas estantes da categoria de auto ajuda ora n o No que se refere tem tica de seu trabalho a auto ajuda na gest o de neg cios o que a autora acha curioso que muitas vezes certos livros de auto ajuda s o colocados por algumas livrarias nas estantes dos livros de administra o de empresas enquanto certos livros de teoria da administra o est o colocados na estante de auto ajuda Isso a leva a indagar qual o crit rio que define o que ou o que n o auto ajuda Da mesma forma que fiz em cap tulos anteriores deste trabalho Martelli 2006 identifica que a auto ajuda manifesta se em sete diferentes reas tem ticas educa o sa de neg cios rela es interpessoais vida conjugal autoconhecimento e felicidade Sua classifica o difere daquela que adotei para o registro dos t tulos dos livros mais vendidos durante o per odo de 38 anos registrado pelas listas dos mais vendidos de dois jornais brasileiros Al m de a classifica o tem tica ser diferente alguns livros que inclu em determinada categoria foram por ela inclu dos em outra Pai rico pai pobre de Robert Kiyosaki e Sharon L Lechter por exemplo foi inclu do por mim na tem tica de livros que tratam de quest es de neg cios enquanto na classifica o de Martelli 2006 vem inserido na categoria de educa o J outro li
244. ipa o de seus pais divide espa o na trama da hist ria com o drama individual vivido por Marcelo Embora n o se enquadrem exatamente na categoria de auto ajuda esses dois ltimos livros classificados como mem rias tratam da reaprendizagem de duas pessoas que passaram por uma situa o limite Christiane quase morre em decorr ncia de seu envolvimento com as drogas e Marcelo parece condenado vida vegetativa Suas hist rias por m podem ser identificadas como exemplos de pessoas que pela for a da autodetermina o para a supera o das dificuldades conseguem se recuperar e voltar normalidade Acredito que esses dois livros sejam uma esp cie de passagem entre a cr nica memorialista e as obras de auto ajuda Em verdade o pr prio termo mem ria j remete ao tra o da individualidade aqui apontado como determinante para o crescimento da literatura de auto ajuda A terceira categoria em que classifico os livros mais vendidos na d cada de 80 a que chamei fantasia Trata se do segundo livro mais lido ao longo dos anos 80 As brumas 119 de Avalon da autora norte americana Marion Zimmer Bradley a que j me referi no cap tulo anterior Uma vez mais embora n o se trate de livro de auto ajuda a saga de Avalon representante do estilo fantasy das narrativas m sticas que nos anos 2000 ser fortemente reanimada pela s rie Harry Potter da inglesa J K Rowling O misticismo de sua raiz mist do grego tem o senti
245. iro Voc pode curar sua vida de Louise Hay 4 arte da felicidade de Dalai Lama e Howard Cutler Perdas e ganhos de 204 Lya Luft e Um dia daqueles de Bradley Greive Essa denomina o conforme j foi apontada anteriormente deve se ao fato de que todos esses textos procuram de alguma forma levar seus leitores a identificarem em si mesmos certas qualidades ou caracter sticas que lhe permitir o viver melhor Dentre os sete t tulos do subtipo autoconhecimento seis deles se valem do c digo da l ngua escrita e em um deles Um dia daqueles o c digo visual reinterpreta conforme j apontei no cap tulo 4 o que aparece escrito Nesse sentido o sujeito enunciador aquele que possui um saber que se destina a seu enunciat rio De posse desse saber estar apto a realizar o fazer que consiste num estado de satisfa o sucesso profissional e pessoal canaliza o de seu lado emocional para projetar a si mesmo facilidade de comunica o sa de felicidade aceita o da velhice e supera o do estresse e da fadiga Ao observar esses sete textos do ponto de vista da classifica o de g nero apresentada por Bakhtin verifico que todos apresentam as caracter sticas dos textos do g nero prim rio na medida em que transp em para o enunciado os mecanismos pr prios do di logo O enunciador se projeta no enunciado na forma de um interlocutor que se dirige a um enunciat rio o interlocut rio com quem simula uma conversa E
246. iva subjetividade da enuncia o autoral Em O alquimista Brida As Valqu rias e Onze minutos de Paulo Coelho o texto narrativo sempre precedido por um pref cio ou por uma apresenta o que diluem esse efeito de sentido de objetividade Em todos esses livros a voz da autoria Paulo Coelho sempre intermedeia a interlocu o pois suas narrativas s o sempre atribu das a fatos realmente acontecidos com exce o de O alquimista que denominado por esse mesmo sujeito autor como texto simb lico mas que na verdade constr i se como uma fic o simb lica para transmitir um ensinamento os segredos alqu micos da lenda pessoal Al m desse recurso discursivo que consiste em produzir os efeitos de objetividade e subjetividade importante salientar que h um outro conceito que tem tico de subjetividade ou poderia chamar segundo a terminologia junguiana de subjetiva o presente em todos os textos que aqui classifico como de auto ajuda qual seja a centralidade naquilo que pr prio do indiv duo e n o no coletivo As obras aqui apontadas reafirmam a tend ncia discutida no cap tulo anterior de que na sociedade contempor nea identifica se um crescente movimento para a focaliza o dos aspectos particulares individuais em detrimento dos gerais ou sociais como mostraram Freud Lasch Toffler e Lipovetski Se observo ainda a presen a do tra o injuntivo entre os textos de auto ajuda percebo que ele est pr
247. ival de besteiras que assola o pa s O homem ao zero As mentiras que os homens contam e Com dias para se ler na escola No caso dessas obras o que mant m o leitor interessado n o s o as perip cias narrativas mas a explora o do humor nelas presente como mostra Silva 2005 em seu trabalho sobre Lu s Fernando Ver ssimo Resta ainda um livro Eram os deuses astronautas que entrou na listas dos mais vendidos na d cada de 70 porque se tornou alvo da curiosidade de muitos leitores Num misto entre aparente cientificidade e livre imagina o esse livro cujo t tulo uma frase interrogativa centra se na explora o da episteme da cren a Partindo de uma indaga o central do ser humano isto Deus existe promete apresentar evid ncias que segundo a argumenta o do enunciador confirmam a presen a de seres de outros planetas na Terra em pocas passadas Como esses seres extraterrestres tinham conhecimentos e t cnicas muito superiores aos habitantes da Terra nos per odos em que supostamente aqui estiveram eram considerados pelos terr queos primitivos manifesta es da divindade o que o livro procura mostrar quando cita diferentes narrativas das cren as religiosas Para 16 Mais recentemente o mercado editorial latino americano investe em mais uma obra de Garcia M quez ao mesmo tempo que circulam rumores de que o autor j com 78 anos passa por s rios problemas de sa de Mem ria de minhas putas tristes q
248. iver melhor e obter sucesso R diger 1996 p 77 Esse processo de transi o da forma anterior de concep o da auto ajuda voltada para a forma o do car ter para a auto ajuda como busca das potencialidades mentais deu se segundo Riidiger 1996 por meio de profundas mudan as na concep o do princ pio de subjetiva o Primeiramente a preocupa o com a forma o do car ter deu lugar busca do sucesso em segundo lugar o compromisso com o dever foi suplantado pelo princ pio da auto sugest o como forma de satisfa o dos desejos em terceiro lugar as formas de conduta foram substitu das pela dimens o do poder da mente e em quarto lugar o car ter enquanto valor dilui se pela afirma o da harmoniza o e do poder da personalidade O trabalho desenvolvido por R diger 1996 com o prop sito de mostrar como a literatura de auto ajuda um reflexo do comportamento da sociedade contempor nea tem o m rito de reconstituir sua origem e mostrar como na passagem do s culo XIX para o XX ela sofre uma transforma o que redefine sua proposta Nesse sentido portanto posso dizer que o autor concebe a auto ajuda como um g nero textual que tem como caracter stica central explorar um saber referendado por um princ pio de cientificidade para levar o leitor a adquirir uma compet ncia para obter sucesso e satisfa o em sua vida Do ponto de vista ling stico esses textos s o constitu dos por enunciados injuntivos e o
249. l da argumenta o 2 O sentido em que empregado o termo dial tica na Arte ret rica a de que a constitui o dos argumentos do discurso se d por meio do di logo uma vez que a coer ncia do racioc nio l gico est fundamentado em id ias prov veis que por essa raz o s o pass veis de sofrer uma refuta o 41 presente em todo texto Uma vez que para ele a defesa do ponto de vista do orador e sua rela o com o audit rio baseiam se na constru o de provas afirma que essas provas s o de tr s tipos residindo cada uma delas ora no car ter moral do orador ora nas disposi es criadas nos ouvintes e ora no pr prio discurso O car ter passional est presente portanto no terceiro tipo de prova de que se vale o orador enunciador Obt m se a persuas o nos ouvintes quando o discurso os leva a sentir uma paix o porque os ju zos que proferimos variam consoante experimentamos afli o ou alegria amizade ou dio p 33 Partindo dessa mesma considera o de Arist teles Fiorin 2004b ir afirmar que no ato de comunica o est o envolvidos portanto tr s elementos o ethos o pathos e o logos p 71 O primeiro diz respeito ao enunciador do discurso ou como j apontei anteriormente imagem de autor que o texto constr i ao estabelecer o ato enunciativo O pathos por sua vez diz respeito ao enunciat rio entendido como o estado de esp rito do audit rio e a disposi o do sujei
250. las para este crescimento Deus colocou generosamente Sua sabedoria e Seu amor ao nosso alcance e f cil muito f cil encontr los p 235 6 O sentido da narrativa dado ent o no final do livro que assume o papel de texto revelador que prop e ao leitor uma a o isto a ades o cren a m stica de evolu o da 13 Ali s na nota introdut ria do livro texto assinado pelo pr prio autor h uma refer ncia a essa carta com o objetivo de confirmar sua veracidade A carta citada no ep logo do livro est registrada no Cart rio de T tulos e Documentos do Rio de Janeiro sob o n mero 478038 p 12 126 humanidade de f na for a superior de Deus e de seus anjos para que as for as do bem possam vencer as for as do mal e a paz instaurar se na Terra Relativamente ao tema do autoconhecimento tr s livros est o classificados na rela o do gr fico 5 aos quais j fiz refer ncia tamb m no cap tulo anterior O sucesso n o ocorre por acaso de Lair Ribeiro Intelig ncia emocional de Daniel Goleman e Comunica o global de Lair Ribeiro respectivamente em quinto s timo e oitavo lugar entre os mais vendidos de 1990 O terceiro tema cren as compreende os livros Voc pode curar sua vida de Louise Hay e Minutos de sabedoria de Carlos Torres Pastorino tamb m anteriormente apresentados O tema individualismo e sexualidade corresponde ao livro 203 maneiras de enlouquecer um homem
251. laudia R Castellanos Pfeiffer et al Campinas SP Editora da UNICAMP 1998 BAKHTIN Mikhail Problemas da po tica de Dostoievski Tradu o Paulo Bezerra Rio de Janeiro Forense 198la Est tica da cria o verbal Tradu o Maria Ermantina Galv o G Pereira S o Paulo Martins Fontes 1997 BAKHTIN Mikhail V N Voloch nov Marxismo e filosofia da linguagem Problemas fundamentais do m todo sociol gico na Ci ncia da Linguagem Tradu o Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira S o Paulo Hucitec 1981b BARROS Diana L Pessoa de Teoria do discurso S o Paulo Atual 1988 Teoria semi tica do texto S o Paulo tica 1990 229 BENJAMIM Walter Magia e t cnica arte e pol tica Ensaios sobre literatura e hist ria da cultura Tradu o S rgio Paulo Rouanet 7 ed S o Paulo Brasiliense 1994 Obras escolhidas v 1 BENVENISTE mile Problemas de ling stica geral Tradu o Maria da Gl ria Novak e Luiza N ri S o Paulo Nacional EDUSP 1976 BERTRAND Denis Pr cis de s miotique litt raire Paris Nathan 2000 BR NDAL Viggo Ominis et totus In Actes S miotiques Documents VIII 72 Paris Groupe de Recherches s mio linguistiques cole des Hautes tudes em Sciences Sociales 1986 p 11 18 BRUNELLI Anna Flora O sucesso est em suas m os an lise do discurso de auto ajuda Campinas 2004 149p Tese de doutorado defendida no Programa de P s gradua o em Li
252. ler em 1967 A mulher sensual de Joan Garrity em 1971 Sexo no confession rio de Clara di Meglio e N Valentini em 1974 Prazeres do sexo de Alex Comfort em 1980 Sexo para adolescente de Martha Suplicy em 1988 Manual do orgasmo Sexo e prazer para dois de Marilene Cristina Vargas em 1993 al m de v rios outros que podem ser observados na lista geral do corpus da pesquisa A preocupa o com a quest o da sexualidade n o nova e sempre esteve presente no imagin rio do leitor em diversas pocas e lugares como se pode constatar nos trabalhos de Darnton 1996 e 1998 de Goulemot 2000 e no Brasil no de El Far 2004 que abordam a pornografia Ocorre por m que os livros das listas dos mais vendidos n o se enquadram nessa categoria de pornogr ficos pois a perspectiva que assumem a de discutir a sexualidade do homem moderno quer seja do ponto de vista social antropol gico psicol gico ou psicanal tico Herdeiros da chamada revolu o sexual dos 92 anos 60 no mundo Ocidental eles procuram explorar diferentes aspectos da sexualidade no mundo moderno muitas vezes com um intuito terap utico A felicidade do sujeito do fazer assegurada na medida em que toma consci ncia de sua sexualidade O que parece ser uma caracter stica que se acentua a partir dos anos 60 o fato de se poder falar sobre sexo pois at ent o essa era uma quest o sobre a qual n o se discutia abertamente Nesse sentido no pr ximo cap
253. letras maiores que a do subt tulo a express o por Lee Iacocca mais abaixo em letras menores o nome do co autor adjungido ao do autor e William Novak Essa disposi o expressa uma vez mais o 215 destaque ao individual porque o t tulo do livro o pr prio nome do autor O subt tulo a confirma o da verdade pois representa tratar se de uma hist ria de vida ver dica contada pelo pr prio protagonista J no livro de Semler o t tulo aponta para o processo durativo expresso na forma verbal do ger ndio do verbo virar Virando a pr pria mesa al m da afirma o de uma a o em processo constr i se a partir de uma express o coloquial do portugu s virar a mesa que remete transforma o de um estado Esse t tulo sintetiza a a o central da narrativa que consiste em mostrar como um jovem empres rio foi capaz de mudar os rumos dos neg cios herdados do pai que pareciam estagnados Ao t tulo acrescenta se um subt tulo que remete ao pr prio ato enunciativo uma hist ria de sucesso empresarial made in Brazil Trata se portanto de um livro que conta uma hist ria de algu m que foi bem sucedido em seu fazer e que essa a o destaca a import ncia do Brasil A centraliza o na individualidade aponta inclusive para o sentimento nacionalista Tanto no caso do livro de Iacocca quanto no de Semler o fazer dos sujeitos em destaque consiste num modelo a ser seguido por aquele que tamb m
254. lho Ao tratar das quest es de espiritualidade m stica o texto entrela a se constantemente como as palavras e com o pensamento da ideologia cat lico crist numa forma de enfatizar o conte do religioso de seu pr prio discurso A terceira e ltima caracter stica dessa narrativa cria o de frases de efeito ou melhor de clich s que adquirem o status de m ximas ou seja de grandes verdades que est o sendo ensinadas aos leitores Alguns exemplos dessas m ximas s o os seguintes 1 Sabedoria conhecer e transformar p 70 2 As emo es s o cavalos selvagens p 101 3 daqui para frente quando voc quiser saber alguma coisa mergulhe nela p 106 4 O que est fora mais dif cil de mudar do que aquilo que est dentro p 149 A frase 1 produzida pela personagem Wicca quando est explicando para Brida que a diferen a entre o homem e a mulher consiste em que a caracter stica fundamental do primeiro o conhecimento e da segunda a transforma o A frase 2 por sua vez sempre repetida ao longo da narrativa quando o narrador ou a personagem querem mostrar o car ter indom vel das emo es A frase 3 produzida num contexto em que o pai de Brida quer lhe passar um ensinamento de vida Um dia quando estava na praia com sua filha perguntou lhe se a gua do mar estava fria para mergulhar Brida que na poca era uma garota entrou no mar colocou os p s na
255. li reproduzidos 116 O narrador prop e contar ao leitor a verdade sobre a competi o entre as marcas cujo mercado consumidor dividido pelos fabricantes Pretende revelar tamb m o que acontece nos escrit rios dos altos funcion rios nas salas de jogo maiores que as de Las Vegas e onde as apostas s o muito mais altas a conquista da imprensa a luta pela melhor e maior campanha publicit ria o p nico causado pelos jornalistas que desafiam os gigantes da sociedade de consumo denunciando a inseguran a dos autom veis A hist ria narra a corrup o os golpes inescrupulosos para a conquista de maior influ ncia e poder dentro das f bricas Os acordos desonestos que podem matar os futuros motoristas comuns como s o as corridas e quem s o os grandes corredores dos Grand Prix qual a influ ncia da M fia a Cosa Nostra na ind stria automobil stica o conflito racial e a luta dos sindicatos Sua trama mostra ainda quem s o os homens e as mulheres do mundo automobil stico e com o que est o envolvidos a hist ria de um diretor ambicioso cuja amante o pr ximo carro a sair das pranchetas de desenho a hist ria de uma esposa desprezada cuja vingan a vai al m do adult rio a dos gerentes industriais a dos revendedores de autom veis a dos altos funcion rios e tamb m dos oper rios que passam as suas vidas esmagados pelo barulho ensurdecedor das linhas de montagem as selvas da viol ncia e do desespero Se obs
256. lia religiosidade e fomentam o isolamento o individualismo nos termos de Lasch e Lipvetsky O her i de Miller busca o prazer sexual sem barreiras sem limites o de Hesse vive afastado do conv vio social numa luta interna entre seu lado animal o lobo e seu lado humano o de Vasconcelos vive a supera o da dor do crescimento da passagem para a fase adulta o de Ver ssimo as dificuldades de sua trajet ria na literatura brasileira o de Moraes a destrui o dos ideais socialistas pela for a nazista o de Herman e Rieck a luta contra as drogas para a qual fogem os jovens sem perspectiva de vida o de Paiva o sentido da vida depois de um tr gico acidente o de Varella as diferentes formas de viol ncia a que est o submetidos os exclu dos da sociedade brasileira confinados em um pres dio o de Souto Maior a constitui o do mito humanista de um m dium esp rita brasileiro como uma resposta para a descren a do homem contempor neo Se as biografias s o exemplos individuais de hist rias de vida os livros de auto ajuda parecem oferecer ao leitor narcisista do final do s culo XX e in cio do XXI formas para enfrentar suas ang stias pessoais Os insatisfeitos consigo pr prios podem aprender como superar suas dificuldades e adquirir a compet ncia necess ria para enfrentar objetivamente seus problemas Assim a vertente do autoconhecimento corresponde durante o per odo estudado ao maior n mero de livros de auto ajuda
257. lidos Para tanto indicou me um anu rio chamado Quid que consiste na forma latina da express o Quoi com que os falantes da l ngua francesa exprimem o ato de curiosidade Segundo os pr prios editores o Quid une encyclop die annuelle en un volume bourr de faits de dates de chiffres sur tous les sujets Du s rieux au moins s rieux Um dos 1 y Bo uma enciclop dia anual em um volume repleto de fatos de datas e de cifras sobre todos os assuntos Dos s rios ao menos s rios dados apresentados pelo Quid desde sua cria o uma rela o das obras mais vendidas em territ rio franc s E foi com os dados compilados desse anu rio franc s que produzi minha pesquisa de est gio p s doutoral Nessa mesma poca descobri uma revista mensal que era vendida em bancas de revista chamada Lire Nessa revista aparecem diferentes textos que tratam de livros e de autores tais como entrevistas cr ticas sobre obras lan amentos etc mas n o h rela o das obras mais vendidas no territ rio franc s Ao iniciar no Brasil o trabalho para o levantamento de um corpus para a pesquisa com o objetivo de saber o que o leitor brasileiro l a partir dos anos 60 deparei me com alguns exemplares do jornal Leia Livros Curiosamente esse jornal que a partir do n mero 70 de agosto de 1984 passou a se chamar apenas Leia e que a partir do n mero 124 de fevereiro de 1989 assumiu o formato de uma revista inspirou se
258. literatura de massa uma preocupa o crescente com a abordagem dos problemas individuais o que um reflexo do comportamento dominante nas sociedades capitalistas contempor neas 6 1 Alguns estudos sobre a auto ajuda Para observar como a quest o da auto ajuda tem sido focalizada atualmente destacarei quatro trabalhos de doutorado realizados nos ltimos dez anos Dois deles R diger 1996 e Martelli 2006 j foram publicados e ser o sempre aqui citados na vers o em livro j Brunelli 2004 e Oliveira 2006 ser o citados enquanto teses uma vez que s o trabalhos que n o foram publicados ainda A distin o inicial que se pode fazer entre eles que Riidiger 1996 e Martelli 2006 discutem a auto ajuda de um ponto de vista sociol gico enquanto Brunelli 2004 e Oliveira 2006 tratam da quest o por um vi s lingii stico discursivo A grande contribui o do trabalho de Riidiger 1996 reside na reconstitui o hist rica que apresenta em rela o auto ajuda quando se refere ao primeiro texto dessa categoria que surgiu na Europa e quando focaliza a manifesta o desse tipo de literatura no Brasil at principalmente a d cada de 1950 A partir de um levantamento realizado na Biblioteca M rio de Andrade em S o Paulo na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro e na Biblioteca P blica do Estado em Porto Alegre sobre as obras de auto ajuda dispon veis em l ngua portuguesa Riidiger 1996 chegou a duas listas do
259. livro de Chico Buarque como um indiv duo que incorpora esse valor a ponto de homogeneizar espa os ou seja sua vida no Rio de Janeiro e em Budapeste Esse grau de mobilidade de Jos Costa aproxima se da caracter stica de ubiquidade apontada por Lipovetski 2005a Assim pode se ser simultaneamente cosmopolita e regionalista racionalista no trabalho e disc pulo intermitente de determinado guru oriental pode se viver o momento permissivo e respeitar de acordo com as necessidades as prescri es religiosas O indiv duo p s moderno est desestabilizado e de certa maneira ubiguista p 24 Observadas as listas dos mais vendidos por d cadas poss vel agora tra ar um panorama mais extenso do per odo da pesquisa para interpretar como se constr i o imagin rio do leitor brasileiro ao longo do final do s culo passado e o in cio do atual Para tanto agruparei todos os dados fornecidos pelos gr ficos 2 3 4 5 e 6 N o me preocuparei em construir um novo gr fico mas sim em fazer uma leitura interpretativa dos cinco anteriormente mencionados numa proposta de corre o do que apontei no cap tulo anterior como dado viciado do gr fico 1 qual seja que ele se concentra muito mais nas d cadas de 1990 e de 2000 porque o n mero de vezes que os livros mais vendidos aparecem nesse per odo maior que nos anteriores Embora j tenha levantado alguns motivos para explicar a raz o desse fato acrescentaria outro
260. lmente ela era produzida com a inten o de chamar a aten o do p blico para um determinado produto e para suas vantagens Atualmente sua fun o criar o pr prio consumidor na medida em que promove a id ia de consumo como modo de vida Ela educa as massas para ter um apetite inesgot vel n o s por bens mas por experi ncias e satisfa o pessoal p 102 Nesse sentido como o consumidor bombardeado por diferentes propagandas de produtos torna se um indiv duo em constante insatisfa o intrangiiilidade ansiedade e t dio pois n o capaz de responder a todos os impulsos que lhe s o dirigidos A propaganda defende o consumo como resposta aos antigos dissabores da solid o da doen a da fadiga da insatisfa o sexual ao mesmo tempo cria novas formas de descontentamento peculiares era moderna p 102 Nesse sentido portanto embora seu efeito seja coletivo a a o da publicidade est voltada para o indiv duo raz o pela qual um dos grandes suportes do narcisismo Quanto competi o entre o homem e a mulher o que se observa que ela decorrente das transforma es do capitalismo que abandona sua forma paternalista e familiar e a substitui por um sistema administrativo empresarial e burocr tico que exerce controle sobre todas as rela es As raz es da luta entre sexos na sociedade contempor nea portanto segundo Lasch 1983 s o a libera o do sexo de muitas de suas restri
261. m soldado de Nelson Werneck Sodr Logo abaixo aparece o espa o dedicado aos livros mais vendidos dividido em duas colunas uma para fic o com a indica o do nome de dez livros em ordem de classifica o e outra coluna para a n o fic o com mais dez nomes classificados 21 Esse formato de apresenta o dos livros mais vendidos que deixou de ser quinzenal e passou a ser semanal desde a cria o do Id ias s ser modificado na edi o de 4 de abril de 1992 quando desaparece a coluna O que eles l em O que eles recomendam Para efeito de registro dos livros mais vendidos para esta pesquisa como todo o levantamento inicial com o jornal Leia e com os primeiros suplementos do JB eram sempre mensais continuei a registrar apenas uma lista para cada m s Para tanto estabeleci como norma considerar sempre a primeira lista do m s que correspondia edi o do Caderno B e posteriormente do Id ias que sa a no primeiro s bado de cada m s Seria completamente invi vel fazer uma planilha de registro dos livros mais lidos nas quatro semanas s vezes cinco para calcular os mais vendidos do m s desde abril de 1992 at dezembro de 2004 Como as altera es entre as listas semanais n o s o muito grandes a escolha aleat ria de uma semana para representar o m s foi uma decis o pr pria dos levantamentos de dados estat sticos O programa Excel foi utilizado para o registro dos diferentes livros
262. m muitos casos na verdade s o palestras ou cursos proferidos por seus autores que se transformam no livro O dizer do enunciador ocultado na forma do aconselhamento o de quem diz o que deve e o que n o deve ser feito para se atingir o estado pretendido Trata se portanto de textos injuntivos O efeito de sentido que as proje es da enuncia o produzem no enunciado o de subjetividade porque um enunciador que diz eu dirige se a um tu leitor Essa subjetividade instaurada uma forma de estabelecer a ambienta o do aconselhamento Uma rela o de intimidade de troca de conhecimentos entre dois sujeitos particularizados fica estabelecida pelo texto que perde o car ter de impessoalidade que um p blico n o afeito literatura possa identificar no texto liter rio A escolha de uma linguagem mais simples despojada de investimentos na pr pria arquitetura da mensagem o que Jakobson chamou de fun o po tica respons vel tamb m por essa aproxima o entre o leitor e o texto de auto ajuda entre o enunciat rio e o enunciador importante ainda observar para a caracteriza o desse subtipo de auto ajuda como se d o processo de modaliza o do fazer do enunciador em rela o a seu enunciat rio Parto inicialmente da observa o de que entre os sete t tulos do grupo chamado autoconhecimento cinco deles correspondem a express es nominais ora 205 determinadas ora n o determinadas por a
263. m os que n o produzem p 23 Evitar o dinheiro t o neur tico quanto ser apegado ao dinheiro p 49 O americano comum de hoje trabalha de cinco a seis meses para o governo antes de ter conseguido o suficiente para pagar seus impostos p 97 A melhor li o que me deu o pai rico e que apliquei a maior parte de minha vida Seja esperto e voc n o ser oprimido p 98 136 As pessoas ricas fregientemente s o criativas e assumem riscos calculados p 107 Se voc tem algum desejo de ser rico voc deve focar P r uma por o de ovos em umas poucas cestas N o fazer o que fazem os pobres e a classe m dia p em poucos ovos em muitas cestas p 141 Um dos procedimentos mais recorrentes do discurso para atrair o leitor e fazer com que ele acredite no que est sendo dito consiste em estabelecer uma identidade entre a inst ncia do enunciador e a do narrador Em v rios momentos por meio do uso muito marcado da forma de primeira pessoa isso ressaltado no livro como nos trechos abaixo N o estou falando ao leitor para ser irrespons vel N o dou muito valor aos cart es de cr dito e s facilidades de empr stimo porque quero pagar a mim primeiro A raz o pela qual minimizo minha renda porque n o quero entreg la ao governo por isso como sabem os que assistiram a meu v deo The secrets of the rich que minha renda se origina em minha coluna de ativos por mei
264. mais de cunho negativo n o fa a isso do que positivo voc obrigado a fazer tal coisa Por detr s de toda revitaliza o tica v se o triunfo de uma moral indolor ltima fase da cultura individualista democr tica desvinculada em sua l gica mais profunda tanto das conota es de moralidade como de imoralidade Lipovetsky 2005b p 27 O conceito de p s moralismo para a sociedade contempor nea por m n o significa a mesma coisa que amoralismo pois a dissolu o do sistema moralista nas sociedades contempor neas n o conduz a uma devassid o sem limites Os sujeitos que vivem nessa sociedade s o ao mesmo tempo hedonistas e regulamentados desejosos de autonomia e contr rios aos excessos hostis s regras absolutas e ao caos da libertinagem pura e simples Por esse motivo Lipovetsky 2005b ir dizer que o neo individualismo uma desordem organizada p 29 A raz o pela qual se difunde o comportamento do homem neo individualista o princ pio do consumo associado ao bem estar A partir da segunda metade do s culo XX o ideal de felicidade passa a suplantar a ordem moral os prazeres sobrep em se s proibi es e a fascina o ao dever o que significa afirmar a vis o do psicol gico sobre a do social A era p s moralista alimentada pela propaganda e pela informa o A primeira a base do consumo a segunda faz com que todos os indiv duos saibam tudo aquilo que acontece a sua
265. mas ao contr rio quer mostrar quais os mecanismos que geram os diferentes tipos de discurso sociais o cient fico o did tico o religioso o pol tico etc p 97 Ao retomar neste trabalho o conceito de g nero a partir da contribui o de Bakhtin sobre o tema pretendo observar em que medida na sociedade contempor nea o que chamamos auto ajuda pode constituir se enquanto um g nero de discurso uma vez que obedece a certas determina es discursivas e linguageiras que lhe s o pr prias e uma vez que tamb m assume e veicula valores caracter sticos da poca em que est inserida conforme procurei mostrar no cap tulo anterior ao tratar do conceito de individualidade segundo alguns autores que estudam a sociedade moderna ou p s moderna J do ponto de vista da discuss o sobre o estilo poss vel observar que h uma proximidade entre a proposta bakhtiniana e a de Discini 2003 embora os pressupostos te ricos a partir dos quais cada uma apresentada sejam diferentes O que as torna pr ximas a afirma o de que o estilo pertence ao mbito do individual Para Bakhtin 1997 como o estilo est ligado ao enunciado e este por sua vez a produ o de linguagem de um sujeito o estilo consequentemente individual Para Discini o estilo est ligado inst ncia da enuncia o que se manifesta no enunciado na representa o do ator que uma forma de manifesta o da subjetividade A partir da distin o entre os
266. mecei minha vida como filho de imigrantes e fui construindo meu caminho at chegar presid ncia da Ford Motor Company Quando finalmente consegui eu me senti nas alturas Mas ent o o destino me disse Espere Ainda n o acabou Agora voc vai descobrir o que algu m sente quando chutado Monte Everest abaixo No dia 13 de julho de 1978 fui demitido Eu tinha sido presidente da Ford durante oito anos e era funcion rio da Ford h trinta e dois anos Nunca tinha trabalhado em nenhum outro lugar E agora de repente estava sem emprego Era como um soco no est mago p 15 A partir dessa esp cie de depoimento o narrador procura demonstrar em seu texto todas as artimanhas e armadilhas que fazem parte do mundo dos neg cios das ind strias automobil sticas no mercado norte americano O tom de sua narrativa o de quem relata seu sucesso pessoal como forma de vingan a ao que havia acontecido na Ford por esse motivo que ressalta sua compet ncia na luta pelo mercado de autom veis estabelecido entre a Chrysler e a Ford 18 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama de Ol via St Claire O livro de St Claire um manual destinado a incitar a auto estima da mulher que queira realizar se sexualmente A autora abre o e termina sua apresenta o com duas ep grafes de Anais Nin consagrada autora da literatura er tica dos anos 70 principalmente por seu livro mais vendido Delta V nus er tica Diferentemente de St
267. meio do sistema de fotoc pias as listas dos livros mais vendidos publicadas pelo JB desde 1966 at 2004 Minha proposta inicial era recuperar as listas dos livros mais vendidos a partir do ano de 1960 at 2000 mas como foi imposs vel obter esse dado anteriormente ao ano de 1966 e como o Jornal do Brasil podia fornecer me os dados at 2004 estabeleci que a pesquisa levaria em considera o os dados obtidos entre 1966 e 2004 Esse mesmo jornal j havia se tornado fonte para uma outra pesquisa sobre leitura desenvolvida por Travancas 2001 No n 195 ano LXXVI do Jornal do Brasil num s bado dia 20 de agosto de 1966 na parte de baixo da primeira p gina aparece em destaque uma chamada do Suplemento do Livro em que se l o seguinte Hoje o terceiro s bado do m s dia em que o JB lan a o SUPLEMENTO DO LIVRO noticiando o movimento editorial nacional e estrangeiro para divulgar e debater os temas lan ados em livro N o um suplemento liter rio seu objetivo promover maior intimidade entre autores e leitores Todo terceiro s bado de cada m s no JORNAL DO BRASIL Nesse n mero n o aparece nenhuma lista de livros mais vendidos isso s acontecer como disse acima a partir do segundo n mero do suplemento Curiosamente nessa edi o de 20 08 66 do JB a manchete central a seguinte Castelo promete zelar pela futura Constitui o Logo abaixo dessa manchete h uma foto que registra o momento em q
268. mens contam uma colet nea de cr nicas que abordam a quest o da mentira em diferentes situa es Na maioria delas o car ter negativo da mentira desfeito e o que o texto procura mostrar seu lado ben fico Essa a id ia j anunciada 61 na pr pria introdu o do livro que maneira de uma cr nica tamb m assume a forma de um di logo entre um n s os homens e um voc s as mulheres Nessa introdu o o enunciador procura justificar ao enunciat rio as raz es pelas quais a mentira extremamente importante porque mais verdadeira que a pr pria verdade como na seguinte passagem Namorar pelo menos no meu tempo a Renascen a era uma lenta conquista de territ rios hostis como a dos desbravadores do Novo Mundo Avan vamos no desconhecido cent metro a cent metro mentira a mentira Pode mas s at aqui Est bem N o passo da Jura Juro Voc passou Voc mentiu Me distra D vamos a voc s todos os libis todas as oportunidades para dizer depois que tudo acontecera devido nossa calhordice e n o vontade que voc s tamb m sentiam N o ment amos para voc s ment amos por voc s Os verdadeiros cavalheiros eram os que enganavam as mulheres Os calhordas diziam abjetamente a verdade N o faziam o que juravam que n o iam fazer transferindo toda a iniciativa a voc s ou n o p 10 Valendo se do recurso da ironia que pode ser ide
269. mente acabado Na segunda segii ncia h duas fotos uma em cada p gina filhote de tartaruga que acabou de nascer e caminha na areia para o mar focalizado do alto S o dias em que voc se sente min sculo insignificante camundongo que tenta alcan ar uma superf cie acima dele e tudo parece fora de alcance Ao final depois de algumas p ginas definindo o dia daqueles aparece um chipanz pensativo com a seguinte frase abaixo A o que fazer O que fazeeeer Em seguida h uma s rie de suposi es sempre ilustradas com fotos de animais coelho na neve Bom se voc como todo mundo pode se agarrar cren a idiota de que tudo h de dar certo no fim foca olhando para cima Da voc vai passar o resto da vida olhando por cima do ombro espera da pr xima cilada que o destino est reservando para voc 134 camelo mostrando os dentes Vai se tornar c nico e rabugento c ozinho em p ou uma v tima chorona e pat tica Com o objetivo de despertar o leitor para as coisas boas do mundo h uma s rie de fotos dedicadas ao relacionamento humano carinho beijos sexo Por fim aparecem os seguintes conselhos camale o Em primeiro lugar pare de se esconder pelos cantos hora de ir luta urso sentado na relva Relaxe Inspire e solte o ar lentamente pela boca Tente meditar hipop tamo de corpo inteiro Orgulhe se de ser como v
270. mente segundo o autor nos romances de san o cognitiva que se constroem pelo processo de similaridade h predom nio do aspecto l gico da descoberta do crime realizada pelo detetive j nos romances de san o cognitiva em que h o processo de contigiiidade h predom nio do aspecto intuitivo e perceptivo do detetive De uma forma geral embora isso dependa de um maior aprofundamento da quest o o que se percebe que os romances policiais bastante procurados pelos leitores contempor neos s o os de san o cognitiva por contigiiidade o que corrobora a tend ncia valoriza o de aspectos individuais dos sujeitos como o caso da capacidade de percep o e de intui o Em d cimo segundo lugar na prefer ncia dos leitores brasileiros da d cada de 90 est ent o o romance policial O Xang de Baker Street que corresponde ao tipo de narrativa com san o cognitiva por similaridade Narrado em terceira pessoa o texto de J Soares conta a hist ria da vinda de Sherlock Homes e seu companheiro Watson para o Brasil durante o per odo do segundo imp rio para desvendar o desaparecimento de um violino Stradivarius e as circunst ncias de alguns assassinatos cometidos pelo que se chamou de primeiro serial killer da hist ria Fazendo uma par dia dos romances de Arthur Conan Doyle a narrativa inicia se no ano de 1886 e descreve as modas e os costumes da capital do imp rio brasileiro numa mistura de mist rio e humor A terceira e
271. mento nas quest es do mundo financeiro frequentemente as pessoas acomodam se a certos padr es de comportamento tais como trabalhar com afinco em um emprego que consideram seguro poupar fazer empr stimos e pagar impostos demais Segundo o autor cada indiv duo tem o poder de determinar o destino do dinheiro que chega s m os A escolha de cada um A cada dia a cada nota decidimos ser rico pobre ou de classe m dia Dividir esse conhecimento com os filhos a melhor maneira de prepar los para o mundo que os aguarda Ningu m mais o far Assumindo um discurso em primeira pessoa Pai rico pai pobre fica entre a biografia e o livro de receitas O enunciador que assume a identidade do pr prio autor 135 Robert Kiyosaki parte de questionamentos para chegar aos ensinamentos de como tornar um jovem produtivo isto interessado em se inserir no mundo do dinheiro Para tanto sua argumenta o do seguinte tipo Uma das raz es pelas quais os ricos ficam mais ricos os pobres mais pobre e a classe m dia luta com as d vidas que o assunto dinheiro n o ensinado nem em casa nem na escola p 22 A oposi o entre o pai rico e o pai pobre estabelecida pelo enunciador ao contar para o enunciat rio que sua inf ncia foi marcada pelo contraste entre esses dois pais Robert era filho de um professor universit rio americano que se colocava contra os princ pios materialistas do capitalismo Trabalhava arduament
272. mesmo os mais duros ali s principalmente eles entre os ex l deres contestat rios sucumbem ao encanto do self examination enquanto Rennie Davis abandona o combate radical para seguir o guru Maharaj Ji Jerry Rubin relata que entre 1971 e 1975 praticou com prazer a gestalt therapie a bioenergia o rolfing as massagens o jogging o tai chi o Esalen o hipnotismo a dan a moderna a medita o o Silva Mind Controll a Arica a acupuntura a terapia reichiana No momento em que o crescimento econ mico perde f lego o desenvolvimento ps quico toma impulso no momento em que a produ o substitu da pela informa o o consumo de consci ncia se torna uma nova bulimia ioga psican lise express o corporal zen terapia primal din mica de grupo medita o transcendental infla o econ mica respondem a infla o psi e o formid vel impulso narc sico que ela produz p 35 Sobre o interesse pelos livros de mem ria Lipovetski 2005a faz uma observa o que retoma uma vez mais a quest o do individualismo e responde indaga o que fa o em rela o aos dados de prefer ncia do leitor brasileiro contempor neo de meu copus o narcisismo n o designa apenas a paix o do conhecimento de si mesmo mas tamb m a paix o da revela o ntima do Eu como ali s testemunham a atual avalanche de biografias de autobiografias e a psciologiza o da linguagem pol tica p 45 Retomando portanto os dados dos cinc
273. mo irredut vel indestrut vel a part cula b sica da sociedade p 119 A consegii ncia dessa perspectiva do sistema da segunda onda foi o processo de automatiza o do homem uma vez que ele cumpria a es pr estabelecidas numa 172 repeti o constante sem que tivesse nenhuma interfer ncia no processo No dizer de Toffler 1993 essa indust realidade da segunda onda cria sua pr pria pris o quando despreza o que n o pode quantificar cerceando desse modo a criatividade das pessoas Al m disso sua preocupa o excessiva com a expans o teve v rias consegii ncias tais como devasta o do meio ambiente precariedade do sistema de bem estar social devido ao aumento desgovernado da concentra o urbana colapso do sistema educacional etc A jun o de todos esses problemas no dizer do autor culminou no que ele chama de crise da personalidade Hoje vemos milh es procurando desesperadamente suas pr prias sombras devorando filmes pe as romances e livros instrutivos por mais obscuros que sejam que prometem ajud los a localizar suas identidades perdidas Nos Estados Unidos como veremos as manifesta es da personalidade s o extravagantes Suas v timas lan am se em terapia de grupo misticismo ou jogos sexuais Anseiam por mudan a mas a mudan a os aterroriza Desejam urgentemente deixar sua exist ncia atual e saltar de algum modo para uma nova vida para se tornarem o que n o s o Querem mud
274. mpo de conciliar o sono me despertava queria deixar o livro que julgava ainda ter nas m os e assoprar a vela dormindo n o havia deixado de refletir sobre o que acabara de ler por m tais reflex es haviam tomado um aspecto um tanto singular parecia me que era de mim mesmo que o livro falava uma igreja um quarteto a rivalidade de Francisco I e Carlos V Essa cren a sobrevivia por alguns segundos ao meu despertar n o ofendia a raz o mas pesava como escamas sobre os olhos impedindo os de perceber que a vela j n o estava acesa Marcel Proust No caminho de Swann Durante est gio p s doutoral realizado na Fran a cujo resultado foi publicado no livro Raz es e sensibilidades A semi tica em foco Cortina 2004 para o qual j havia o prop sito de discutir a quest o das obras mais consumidas pelo p blico leitor contempor neo ao me dirigir biblioteca Saint Genevi ve que se localiza na Place du Panth on e perguntar ao bibliotec rio como poderia fazer um levantamento dos livros mais lidos na Fran a durante o ano de 2000 a resposta que me foi dada chamou me aten o para um dado inicial que n o havia sido sequer pensado quando propus a pesquisa Na verdade o que me disse o bibliotec rio foi que n o existiam listas dos livros mais lidos pelo p blico franc s que a nica possibilidade era ter acesso a listas de livros mais vendidos e a partir desse dado entender que os mais vendidos eram exatamente os mais
275. mudar a atitude de seus filhos os pais precisam mudar primeiro a linguagem que usam p 89 O que mais evidente por m no subgrupo que classifiquei como de autoconhecimento que os poss veis conselhos ou relatos ditos cient ficos pretendem agir sobre o ser do sujeito N o h um fator externo que leve o indiv duo a se tornar realizado feliz satisfeito mas sim o reconhecimento de que a compet ncia para atingir esses estados interior a ele pr prio Compete descobrir essa for a interior que o far atingir seus objetivos O que esses textos prometem ajudar o leitor a descobrir seu pr prio caminho Se ele n o conseguir n o ser por culpa do sujeito doador mas sim do donat rio que n o foi capaz de enxergar dentro de si mesmo a resposta para todos os seus problemas Ainda na categoria da linha auto ajuda os livros 6 e 18 constituem um terceiro subgrupo que denominei individualidade e sexualidade No livro de Milan Kundera o discurso anticomunista que ir conduzir o enfoque sobre os sentimentos de opress o e de isolamento o que propicia a discuss o da quest o da sexualidade pelas personagens centrais da narrativa O texto de St Claire por outro lado trata de maneira mais direta essa quest o da sexualidade Ao verificar o corpus da pesquisa constato que esse tema um assunto recorrente e que levou v rias outras obras a diferentes posi es nas listas dos mais vendidos Sexus de Henry Mil
276. munica o global Lair Ribeiro 1990 20 A arte da felicidade Dalai Lama Howard Cutler 2000 1 2 Misticismo e esoterismo 1 O alquimista Paulo Coelho 1990 5 Brida Paulo Coelho 1990 11 A profecia celestina James Redfield 1990 1 3 Individualidade e sexualidade 6 A insustent vel leveza do ser Milan Kundera 1980 18 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama Ol via St Claire 1990 1 4 Mundo dos neg cios 2 Virando a pr pria mesa Ricardo Semler 1980 90 17 Iacocca Uma autobiografia Lee Iacocca William Novak 1980 1 5 Cren as 19 Minutos de sabedoria Carlos Torres Pastorino 1990 2 Mem ria o o O Nome do livro Nome do autor D cada 12 Olga Fernando Moraes 1980 21 Esta o Carandiru Dr uzio Varella 2000 3 A o e intriga o OSOS Nome do livro Nome do autor D cada 10 Opera o cavalo de Tr ia J J Ben tez 1980 Nome do livro Nome do autor D cada 4 As mentiras que os homens contam Lu s Fernando Ver ssimo 2000 Nome do livro Nome do autor D cada 7 As brumas de Avalon Marion Zimmer Bradley 1980 14 Harry Potter e a pedra filosofal J K Rowling 2000 Nome do livro Nome do autor D cada 3 O mundo de Sofia Jostein Gaarder 1990 15 A viagem do descobrimento Eduardo Bueno 1990 Tabela 1 Distribui o dos livros mais vendidos em diferentes categorias segundo a ordem em que aparecem no gr fico 1 243 E Quar
277. na cama de Ol via St Claire e o quinto e ltimo tema da categoria de auto ajuda mundo empresarial ao livro Virando a pr pria mesa de Ricardo Semler a respeito dos quais tamb m j fiz refer ncia no cap tulo anterior A segunda categoria dos livros mais vendidos nos anos 90 a do romance policial muito consumido pelo p blico leitor n o s do Brasil como tamb m de outros pa ses Esse tipo de romance centra se na fase da san o pr pria do esquema narrativo can nico pois ao relatar uma hist ria em que um crime cometido um her i ou grupo de her is detetives entra em a o para solucion lo tendo como objetivo encontrar o criminoso e fazer com que seja punido pelo ato cometido A partir da perf rmance do sujeito detetive nas narrativas policiais Martins 2000 e 2005 estabelece uma distin o entre os textos desse g nero Segundo o autor a san o final pr pria desse tipo de texto e que decorre do fazer do detetive pode ser pragm tica ou cognitiva primeira acontece sempre que esse sujeito sancionador desloca se at o local em que ocorreu o crime para verificar e reunir provas fazer sua pr pria investiga o e tirar suas pr prias conclus es do que percebe interrogar os sujeitos envolvidos etc para depois organizar esse saber adquirido segundo os princ pios gerais que s o caracter sticos de cada detetive Martins 2005 p 185 A segunda diferentemente da primeira ocorre quando o de
278. nclusive e que apresentam diferentes formas de organiza o textual podem ser expositivos ou narrativos empregam um vocabul rio simples entremeado por termos mais incomuns n o fazem uso de question rios avaliativos nem abusam de esquemas ou de recursos visuais prop em se como autenticamente cient ficos ensa sticos ou liter rios Com rela o gest o de neg cios tema do trabalho de Martelli 2006 muito comum observar em cursos universit rios tanto p blicos como privados alunos e professores lendo e discutindo por exemplo Pai rico pai pobre de Kiyosaki e Lechter traduzido para o portugu s por Maria Jos Cyhlar Monteiro cujo nome acrescido da seguinte informa o na pr pria p gina de rosto do livro Economista e Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Nesse sentido portanto o p blico leitor de auto ajuda muito mais vasto do que se declara o que leva Martelli 2006 a classific lo como um fen meno da cultura contempor nea Defendo a tese de que os sistemas de auto ajuda se transformaram em fen menos que t m a dizer sobre um tipo de homem um modo de ver a natureza a sociedade um modo de pensar as rela es entre os homens Nesse sentido a auto ajuda n o se resume aos livros e manuais um fen meno maior que exatamente por sua amplitude abarca temas diversos e faz confundir as fronteiras e as abordagens tem ticas Se antes quando se falava em auto ajuda as pessoas j
279. nd stria automobil stica Ford Filho de imigrantes italianos Lee ap s trinta e dois anos como funcion rio da Ford dos quais oito na presid ncia abruptamente demitido de seu cargo Nessa poca tinha 54 anos de idade Inconformado com essa situa o resolve reagir e reparar a injusti a que havia sofrido Algumas semanas depois de sua demiss o da Ford Iacocca assume a presid ncia das ind strias 83 automobil sticas Chrysler que estavam passando por uma situa o de extrema dificuldade e com sua experi ncia administrativa de homem de neg cios consegue reverter a situa o e levantar a Chrysler no mercado de autom veis Embora j tivesse uma situa o financeira bastante est vel naquela altura da sua vida impulsionado a reagir diante da situa o em que se encontrava pelo que ele chama humilha o ao ser desalojado de seu rico escrit rio da presid ncia e colocado num novo lugar que era pouco mais que um cub culo com uma escrivaninha e um telefone p 16 Em seu pr logo refere se a essa situa o quando conta o motivo pelo qual resolve contar sua vida Voc s v o ler a hist ria de um homem que teve muito sucesso na vida mas que ao longo do caminho tamb m passou por per odos muito ruins Na verdade quando volto os olhos para os meus trinta e oito anos na ind stria automobil stica o dia que aparece mais vivo na lembran a n o tem nada a ver com carros novos promo es ou lucros Co
280. nero secund rio O fato de um texto recorrer forma narrativa para realizar uma prescri o por exemplo implica uma complexifica o das rela es interlocutivas na medida em que elas deixam de ser diretas e passam a ser representadas o que significa considerar que esse texto pertence ao g nero secund rio mas se a linguagem utilizada por ele para sustentar essa representa o valer se do registro coloquial para produzir um efeito de identifica o entre o texto e seu p blico leitor alvo isso significa que esses textos s o uma forma de realiza o do g nero prim rio O que quero dizer portanto que embora formalmente haja um equil brio entre o g nero prim rio e o secund rio entre os textos do corpus da pesquisa do ponto de vista do registro ling stico a quase 220 totalidades deles aproxima se do g nero prim rio Todos os t tulos classificados como de auto ajuda neste trabalho procuram na simplicidade no coloquialismo linguageiro empregado entrar em conjun o com um p blico leitor bastante amplo sem preocupa o intelectual Quanto ao efeito de subjetividade essa caracter stica est presente na maioria dos textos classificados como de auto ajuda 18 Embora os outros cinco apresentem um enunciador em terceira pessoa cuja presen a signifique um apagamento da subjetividade e a afirma o da objetividade h um recurso utilizado por quatro desses livros que subordina a objetividade da enuncia o narrat
281. ng stica rea de concentra o An lise do Discurso do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas CANDIDO Antonio 4 ed revista Literatura e sociedade Estudos de teoria e hist ria liter ria S o Paulo Nacional 1975 CHARTIER R Org Pr ticas da leitura Tradu o Cristiane Nascimento S o Paulo Esta o Liberdade 1996 A ordem dos livros leitores autores e bibliotecas na Europa entre os s culos XIV e XVIII Tradu o Mary Del Priore Bras lia Editora UNB 1998 _ Cultura escrita literatura e hist ria Conversas de Roger Chartier com Carlos Aguirre Anaya Jes s Anaya Rosique Daniel Goldin e Antonio Saborit Tradu o Ernani Rosa Porto Alegre ARTMED 2001 CHAU Marilena Escritos sobre a universidade S o Paulo Editora UNESP 2001 CORTINA Arnaldo Semi tica e Leitura os leitores de Harry Potter In CORTINA Arnaldo amp MARCHEZAN Renata Coelho Org Raz es e sensibilidades A semi tica em foco S o Paulo Laborat rio Editorial Cultura Acad mica 2004 p 153 189 S rie Trilhas Ling sticas v 6 230 O pr ncipe de Maquiavel e seus leitores Uma investiga o sobre o processo de leitura S o Paulo Editora UNESP 2000 CORTINA Arnaldo amp MARCHEZAN Renata Coelho Teoria semi tica A quest o do sentido In MUSSALIN Fernanda amp BENTES Anna Christina Introdu o ling stica Fundamentos epistemol gicos v
282. nham pais separados Dessa forma o leitor interpelado pelos diferentes textos do livro sobre diversos temas da vida cotidiana Seu tratamento por meio do humor e da ironia acaba questionando determinados valores caracter sticos da vida do homem contempor neo 5 Brida de Paulo Coelho Segundo livro de Paulo Coelho na prefer ncia dos leitores brasileiros Brida constitu do por um discurso enunciado por uma voz ausente dos acontecimentos narrados ou seja um narrador em terceira pessoa Se o discurso da narrativa for comparado ao da Advert ncia que abre o livro e o Pr logo revela se como uma estrat gia de outra voz que se identifica com a inst ncia autoral Segundo o enunciador desses dois textos o que o leitor ler corresponde a fatos que verdadeiramente aconteceram com uma amiga de Paulo Coelho que buscava encontrar seu Dom Em Advert ncia o enunciador uma primeira pessoa que informa a seu enunciat rio que contrariamente ao que fizera em seu primeiro livro Di rio de um mago n o substitu ria nenhuma das pr ticas de magia por fatos fict cios pois isso lhe custara 63 severa reprimenda de meu Mestre p 9 Portanto o leitor avisado de que os poucos rituais descritos em BRIDA s o os mesmos praticados durante s culos pela Tradi o da Lua uma Tradi o espec fica que requer experi ncia e pr tica na sua execu o p 9 E esse mesmo enunciador v
283. nhecimento de uma estrat gia semi tica pr pria do processo de produ o de sentido defende uma rela o dial tica entre esses tr s elementos Na medida em que reconhece que a intentio operis n o pode ser revelada pela superf cie textual defende que poss vel falar da inten o do texto apenas em decorr ncia de uma leitura por parte do leitor A iniciativa do leitor consiste basicamente em fazer uma conjetura sobre a interpreta o do texto Eco 2001 p 75 Ao invocar as observa es de Candido e Eco sobre a perspectiva da leitura posso constatar ainda que poss vel caminhar em duas dire es quando se quer explorar esse aspecto Uma a que focaliza o leitor enquanto categoria do pr prio texto isto como constituinte de sua organiza o interna Outra aquela que estuda o leitor enquanto um sujeito do processo comunicativo que determinado hist rica e sociologicamente Para a semi tica greimasiana por exemplo o leitor corresponde proje o do enunciat rio do discurso que juntamente com o enunciador constitui a inst ncia da enuncia o Isso significa afirmar que em todo discurso h um sujeito que diz algo para um outro a quem esse dizer dirigido e que al m disso o leitor co autor do enunciado porque na medida em que o discurso direcionado para ele ele que controla o dizer do enunciador Dessa forma uma maneira de tratar a quest o da leitura pode ser o exame das imagens de lei
284. no a carta pessoal etc Da mesma forma pode se falar de g neros secund rios uma vez que a ele correspondem o romance o teatro o discurso cient fico o discurso ideol gico etc como afirma o pr prio autor russo Ao se constitu rem os g neros secund rios apropriam se das formas dos g neros prim rios Dessa maneira eles passam a adquirir um novo sentido pr prio do contexto em que est o inseridos de tal forma que o di logo cotidiano representado por duas personagens em um romance por exemplo estar subordinado s caracter sticas pr prias desse g nero A mesma considera o vale para o caso da carta pessoal poss vel dizer portanto que quando Bakhtin 1997 discute a no o de g nero de discurso entende o como um conceito geral que engloba todas as propriedades comuns que caracterizam um dado discurso o que a mesma coisa que dizer que um g nero corresponde a um conjunto de discursos que se acham ligados pela similitude de uma ou mais particularidades Para Bakhtin 1997 a distin o entre os dois g neros essenciais do discurso os prim rios e os secund rios importante teoricamente porque d subs dios a um estudo da natureza do enunciado ling stico Segundo o autor dois s o os aspectos principais dos enunciados que est o interligados no o do g nero O primeiro a seu car ter dial gico no sentido de que o enunciado o suporte do processo de intera o entre os interlocutores quest o
285. no trabalho como no lazer p 19 Nesse sentido o consumismo corresponde a um outro aspecto da degrada o do trabalho que consiste na elimina o da divers o e da habilidade artesanal do processo de produ o constituindo se como uma outra fase da rotina do trabalho industrial Isso significa dizer que o industrialismo desencoraja a produ o dom stica levando as pessoas a se tornarem dependentes do mercado a partir dessa vis o que Lasch 1990 ir falar dos efeitos psicol gicos causados pelo consumismo A partir dessa rela o entre trabalho e consumo o autor ir afirmar que toda cultura que se organiza em torno do consumo de massa acaba estimulando o comportamento narcisista Assim define o narcisismo como a disposi o de ver o mundo como um espelho mais particularmente como uma proje o dos pr prios medos e desejos n o porque torna as pessoas gananciosas e agressivas mas porque as torna fr geis e 165 dependentes p 24 Ao considerar os padr es psicol gicos no comportamento das pessoas que vivem nas culturas atuais o autor ir propor uma explica o para o sentimento de desprote o consegiiente submiss o do sujeito aos padr es do consumo Se a cultura burguesa do s culo XIX refor ava os padr es anais de comportamento estocagem de dinheiro e mantimentos controle das fun es fisiol gicas controle do afeto a cultura do consumo de massa do s culo XX recria os padr es
286. norte americanos O primeiro Aeroporto de Arthur Halley uma narrativa em terceira pessoa sobre os terr veis acontecimentos que envolvem o transporte a reo de um aeroporto fict cio dos EUA Sob uma intensa tempestade de neve o Aeroporto Internacional Lincoln enfrenta as situa es mais desesperadoras dentre elas um v o que deve partir para Roma carregando a bordo um passageiro com um mecanismo explosivo na bagagem de m o O segundo do mesmo autor o romance O primeiro ministro que conta a hist ria violenta e arrebatadora de uma crise internacional que tem como personagem central a figura de James McCallum Howden o Primeiro Ministro do Canad Se se observam portanto os livros mais lidos na d cada de 60 percebe se que o leitor brasileiro tem interesse pela quest o social o que pode ser constatado nas escolhas de livros que tratam de problemas pol tico econ micos da realidade brasileira e internacional da poca Por outro lado l uma literatura mais descompromissada o que pode ser constatado nas escolhas dos livros das tem ticas de a o intriga e humor embora no caso deste ltimo um dos livros n o deixe de abordar satiricamente fatos da situa o socio pol tica brasileira como acontece com Festival de besteiras que assola o pa s A tend ncia ao tra o de individualidade que crescer nas d cadas seguintes e que desembocar nos livros de auto ajuda j pode ser apontado na escolha de dois dos livros da tem tica
287. nsfer ncia de saber se d pelo discurso sua efic cia positiva na medida em que seja capaz de levar o leitor a acreditar naquilo que ela prop e como verdade O fato de essa modalidade de texto ser bastante consumida pelo p blico leitor brasileiro uma constata o de que o livro de auto ajuda tem atingido seus prop sitos Por outro lado por m posso constatar que a grande presen a de textos de auto ajuda nas listas dos livros mais vendidos uma consegii ncia tamb m de um anseio do leitor O que pretendo dizer com isso que o leitor brasileiro da segunda metade do s culo XX est mais preocupado com aquilo que o toca de forma mais direta qual seja seus problemas e ang stias existenciais do que com a frui o de um objeto est tico Obviamente isso n o uma constata o original pois caracter stica desse leitor comum estabelecer uma rela o direta entre seu desejo imediato e aquilo que ele consome A preocupa o com o componente est tico da leitura s ser de interesse para um p blico espec fico que se preocupa com essa quest o Nesse sentido um p blico extremamente reduzido um grupo fechado que corresponde ao da academia ou ao que se poderia genericamente chamar intelectuais O que procuro afirmar aqui que o que o leitor das obras de auto ajuda busca satisfazer um desejo imediato de bem estar que esse tipo de livro pode lhe proporcionar A crescente venda de literatura de auto ajuda al m de seu car te
288. nt o a partir do exame das formas de configura o do pathos do enunciat rio em rela o a seu outro o ethos do enunciador Compreendida a constitui o do ethos como uma imagem do autor isto um autor discursivo um autor impl cito Fiorin 2004b p 120 e a do pathos como a 50 imagem que o enunciador tem do seu audit rio Fiorin 2004a p 71 a proposta deste trabalho ser exatamente verificar que conforma o de leitor brasileiro contempor neo est manifestada nas listas dos livros mais vendidos no Brasil durante o per odo de 1966 a 2004 Nesse sentido por m ao longo do trabalho os conceitos de ethos e pathos ser o intercambi veis Quando examinar como os textos das listas constituem seus leitores estarei focalizando o pathos quando por outro lado observar o perfil que as listas entendidas como um discurso constroem do leitor brasileiro contempor neo estarei refletindo o ethos Caberia ainda nesta parte da metodologia do trabalho discutir a concep o de gosto para a semi tica uma vez que parto da constata o de que os livros mais vendidos refletem uma prefer ncia portanto um gosto do leitor brasileiro Mas deixarei essa quest o para o cap tulo seguinte quando procurarei esbo ar uma an lise semi tica dos dados gerais levantados pelo corpus da pesquisa 51 3 O que l o leitor brasileiro contempor neo Primeira abordagem En resoluci n l Don Quijote se enfrasc en su le
289. nta o l gica o mais simples poss vel da estrutura elementar O quadrado semi tico concebido como uma oposi o bin ria positiva superior em rela o a outra oposi o bin ria negativa inferior Em raz o da exist ncia dessas quatro posi es que estabelecem entre si rela es de contrariedade entre dois eixos s vs s2 fis vs fis de contradi o entre dois esquemas s vs fis s2 vs fisz e de complementaridade entre duas deixis s vs fis e s2 vs s1 que se caracteriza a figura do quadrado assim representada N o repetirei aqui todos os quadrados que descrevem cada uma das estruturas modais por julgar desnecess rio redesenh los Eles ser o referidos na forma linear discursiva O que necess rio dizer por m que as rela es entre os quatro elementos do 31 quadrado d o se por meio de percursos marcados pela foria isto um dos termos valorizado euforicamente e seu contr rio disforicamente Para recuperar as diferentes possibilidades de modaliza o no discurso procurarei descrever cada uma delas Iniciarei o levantamento pelas modalidades intencionais isto aquelas constitu das por enunciados modais que incidem sobre o fazer Cabe antes dizer que tanto no caso das modalidades intencionais que descreverei inicialmente quanto nas existenciais que descreverei posteriormente cada um dos elementos do quadrado representado por um enunciado modal que pode receber uma denomina
290. nte Emocional alto garante promo es em sua carreira O discurso manifestado no livro basicamente defende a superioridade da intelig ncia emocional sobre a intelig ncia racional embora considere que importante existir um equil brio entre as duas Por essa raz o assume um tom de auto ajuda na medida em que vai refletir sobre os comportamentos humanos na sociedade contempor nea ao discutir assuntos relacionados aos indiv duos particulares a seu conv vio familiar e a suas rela es no trabalho Para citar um exemplo de an lise do comportamento entre casais reproduzo o trecho abaixo Numa noite dessas quando entrava num restaurante um jovem sa a furioso pela porta com uma express o terr vel Logo atr s vinha uma jovem correndo batendo desesperada com os punhos nas costas dele e gritando Seu porra Volte aqui e seja legal comigo Esse pedido pungente incrivelmente contradit rio dirigido s costas que se afastavam epitoma o padr o mais comumente visto em casais cujo relacionamento n o vai bem Ela procura atrair ele se retrai Os terapeutas conjugais h muito observaram que quando os casais procuram terapia est o nesse padr o de atra o retraimento ele reclamando das exig ncias e explos es irracionais dela e ela se queixando da indiferen a dele ao que ela diz Esse final de jogo marital demonstra que na verdade h realidades emocionais paralelas na vida de um casal a dele e a dela As ra zes
291. ntificada no trecho acima reproduzido as diversas cr nicas da colet nea exploram o humor seu objetivo central A linguagem bastante coloquial e em muitas cr nicas reproduz situa es de fala pois as personagens mant m um di logo constante do in cio ao final do texto sem a interven o de um narrador Al m disso o conjunto de cr nicas constr i se por meio de um discurso em que o narrador dirige se diretamente a seu narrat rio como nos seguintes trechos N o preciso dizer que estavam todos na mesa de um bar e que ningu m conseguiria se levantar mesmo que quisesse p 62 e Se voc n o sabe se tem um HQEH Homem que homem dentro de voc fa a este teste p 90 Os diferentes enfoques sobre a mentira podem ser observados nas diversas tramas que desfazem seu sentido negativo primeiro Assim na cr nica Trapezista que reproduz a fala de um marido que conversa com sua mulher ao telefone a mentira serve para manter seu casamento amea ado pelo fato de a mulher ter encontrado no jornal a foto do marido pulando carnaval com duas outras mulheres em A alian a para justificar a perda acidental de sua alian a que poderia soar inveross mil um marido mente para sua mulher 8 Observa se nessa frase o uso informal da l ngua tal como empregada na fala cotidiana ao ser utilizada a preposi o em no lugar da preposi o a na seguinte constru o preciso dizer que estavam
292. nven es sociais t o presentes por exemplo nas sociedades cosmopolitas do s culo 160 XVIII quando havia uma dist ncia bastante marcada entre o comportamento p blico e o privado acaba expondo os tra os individuais dos diferentes sujeitos em intera o Isso decorr ncia da ascens o do ideal de sinceridade e autenticidade da sociedade rom ntico burguesa do s culo XIX que valoriza a exposi o do sujeito sem m scaras medida que o mundo p blico passou a ser visto como um espelho do eu as pessoas perderam a capacidade de distanciamento e consequentemente do encontro l dico que pressup e um certo distanciamento do eu p 51 A maneira como compreende o movimento narcisista do homem contempor neo distancia se de uma vis o moralista como algumas pessoas o interpretam ao entenderem o narcisismo como sin nimo de ego smo como comportamento respons vel pela dissolu o das bases de uma conviv ncia social civilizada Para Lasch 1983 o narcisista reflete as condi es estabelecidas pelo padr o de conduta competitiva da sociedade industrial contempor nea raz o pela qual representa o modelo de indiv duo apto a chegar a posi es de proemin ncia n o s em movimentos de conscientiza o e outros cultos como tamb m em corpora es comerciais organiza es pol cias e burocracias governamentais p 69 Sua caracter stica principal deve ser o controle de suas impress es pessoais o que lhe favorec
293. o aquele que espera encontrar no texto que escolhe ler uma resposta para sua falta O desejo querer ser pode estar acompanhado pela necessidade dever ser ou n o poder n o ser pela oculta o n o saber ser ou pela impossibilidade dever n o ser ou n o poder ser pela ilus o n o saber n o ser ou ainda pela improbabilidade crer n o ser modaliza o epist mica Por essa raz o que afirmei nas ltimas linhas do item anterior que o leitor procura no texto que escolhe ler uma confirma o daquilo que sua verdade O saber impl cito nas li es da literatura de auto ajuda por exemplo s o formas de sedimentar e confirmar essas verdades j anteriormente admitidas pelo leitor Por outro lado o efeito persuasivo que se instaura na rela o dial gica estabelecida entre enunciador e enunciat rio desse tipo de textos est centrado na prescri o dever fazer na liberdade poder fazer na voli o querer fazer na compet ncia saber fazer ora na interdi o dever n o fazer na independ ncia poder n o fazer na abulia querer n o fazer na habilidade saber n o fazer A quase totalidade dos textos de auto ajuda especificamente os acima apontados do tipo injuntivo pois ir apresentar a seus leitores uma s rie de normas e regras que devem ser cumpridas para que o actante leitor aproprie se de seu objeto valor Esses processos de modaliza o podem ser encontrados em enunciados como os seguinte
294. o nessa dire o que caminham os autores citados pela maioria dos articulistas Chartier Ginzburg Le Goff Darnton e de Certeau entre outros Est o reunidos entre os enunciadores desse livro em nome de uma an lise do discurso estudiosos da literatura e da linguagem histori grafos pedagogos cientistas sociais etc Esses s o trabalhos que t m muito a contribuir quando se pensa num sentido mais de registro hist rico da leitura no Brasil A concep o de discurso adotado por esses pesquisadores que se congregam em torno da Associa o de Leitura do Brasil a de que ele atravessado por in meros pontos de vista indispens veis para sua an lise com a determinante da vis o s cio hist rico cultural Numa outra perspectiva ainda caminham trabalhos que recuperam a hist ria da leitura no Brasil observando a a partir da ind stria editorial brasileira A obra de maior f lego sobre esse tema a de Hallewell 1985 Nela o autor relata a hist ria de obras autores e editoras acompanhada de dados sobre os v rios aspectos da ind stria editorial brasileira desde os tempos em que aqui chegou o prelo que inaugurou oficialmente a impress o de livros no Brasil at meados da d cada de 1980 O tema do leitor aparece medida que Hallewell mostra como a produ o dos livros ao longo da hist ria brasileira era determinada pelo p blico consumidor desse mercado editorial Tamb m nessa mesma linha de pesquisa inscrevem se os trabalho
295. o Entendo por g nero as diferentes idades crian as homem velho o sexo mulher ou homem a na o lac nio ou tess lio As disposi es s o as maneiras de ser que d o vida tal ou tal car ter pois a vida dos indiv duos n o ostenta sempre tal ou tal qualidade devido a uma disposi o qualquer Portanto se o orador emprega as palavras que s o pr prias da disposi o exprimir o car ter Pois um r stico e uma pessoa culta n o podem empregar as mesmas palavras nem da mesma maneira p 187 Al m de levar em considera o o tipo de p blico a quem se dirige Arist teles vai mais longe e afirma que ao construir sua argumenta o o orador deve prever as censuras de outrem pois assim fazendo garantir ainda o efeito de verossimilhan a que decisivo para o estabelecimento da persuas o na medida em que o ouvinte passa a acreditar na verdade do que dito Nas palavras de Arist teles o que ele o orador diz parece ent o ser verdade visto que tem consci ncia do que faz p 187 O que se percebe ent o j nas proposi es do estagirita na Antigiiidade Cl ssica o car ter constitutivo do enunciat rio como elemento presente no ato enunciativo maneira como venho defendendo aqui a proposta semi tica Al m disso ao argumentar o car ter dial gico do discurso raz o pela qual Arist teles afirma que a ret rica mant m uma rela o com a dial tica o autor afirma o princ pio passiona
296. o de cerca de 600 a C no Peru s o perseguidos e amea ados por um ex rcito a servi o dos interesses da Igreja Cat lica que n o queria ver divulgados os preceitos da profecia celestina Do ponto de vista dos mecanismos de modaliza o a rela o entre enunciador e enunciat rio marcada principalmente pela cren a Ao mesmo tempo que O profeta O alquimista e A profecia celestina mant m o tra o de ficcionalidade como procurei mostrar acima prop em ao leitor um contrato que consiste em interpretar o texto ficcional como a revela o de uma verdade Assim o enunciat rio modalizado epistemicamente pelo dizer do enunciador Em O profeta e O alquimista revelam se ensinamentos de vida que se forem seguidos conduzem felicidade e satisfa o espiritual J A profecia celestina apresenta previs es sobre o futuro da humanidade e os ensinamentos necess rios para que se atinja um estado de equil brio espiritual o que significaria uma evolu o da esp cie humana No caso de Brida e As Valgu rias a modaliza o epist mica ocorre por meio do discurso da revela o Os temas apresentados por esses livros a magia e o poder dos anjos transportam o leitor para o universo do sobrenatural como forma de compreender as coisas que acontecem em suas vidas Esses discursos afirmam que todo homem que pretende atingir um est gio evolutivo superior com o alcance da paz e da serenidade deve iniciar se nos conhecimentos esot ricos
297. o semi tico ainda a realiza o do narrador do narrat rio do interlocutor e do interlocut rio Qual por m a diferen a entre eles Se recuperar a distin o entre totalidade e unidade apresentada no in cio deste cap tulo diria que enunciador e enunciat rio dizem respeito a 40 totalidades isto remetem ao autor inst ncia englobante de uma obra e seu leitor o sujeito com quem dialoga J a distin o entre narrador e narrat rio centra se na unidade pois o narrador a forma espec fica como o enunciador pode manifestar se em um discurso particular e o narrat rio o sujeito particular a quem ele se dirige Quando no interior do texto o enunciador projeta outros atores as personagens por exemplo a quem d a voz em discurso direto ou indireto materializam se as figuras do interlocutor e do interlocut rio Retomando uma vez mais a perspectiva ret rica de Arist teles 19 anteriormente referida identifica se na proposta do autor que o efeito persuasivo do discurso assenta se na inter rela o entre o orador e seu audit rio Isso significa admitir que a for a persuasiva do discurso reside na capacidade que o orador deve ter para moldar seu discurso de acordo com o p blico a quem ele se dirige Ao abordar o estilo como o recurso utilizado pelo orador para exprimir o conte do que deseja transmitir a seu audit rio Arist teles 19 afirma h um estilo apropriado a cada g nero e a cada disposi
298. o Brasil e entregue pelo governo brasileiro a Hitler Foi para a pris o gr vida de Prestes sua filha Anita foi dada av e pelo grande n mero de acusa es que pesavam em sua ficha policial principalmente trai o p tria foi condenada c mara de g s O narrador do romance manifesta se na forma de terceira pessoa para contar maneira de um relato biogr fico o envolvimento de Olga com a causa comunista no mundo Na apresenta o do livro um enunciador em primeira pessoa que assina como Fernando Morais dirige se a um enunciat rio leitor para explicar o que o levou a escrever o livro e para reafirmar que o que vai nele contado n o fic o mas sim um relato de fatos realmente acontecidos T1 A reportagem que voc vai ler agora relata fatos que aconteceram exatamente como est o descritos neste livro a vida de Olga Benario Prestes uma hist ria que me fascina e atormenta desde a adolesc ncia quando ouvia meu pai referir se a Filinto Muller como o homem que tinha dado a Hitler de presente a mulher de Lu s Carlos Prestes uma judia comunista que estava gr vida de sete meses Perseguido por essa imagem decidi que algum dia escreveria sobre Olga projeto que guardei com avareza durante os anos negros do terrorismo de estado no Brasil quando seria inimagin vel que uma hist ria como esta passasse inc lume pela censura p XIII Nesse jogo ret rico o enunciador pretende afirmar a veracidade daquilo que
299. o Peru desencadeia a persegui o e pris o de todos os padres ou leigos envolvidos com grupos de estudos sobre os manuscritos A trama da hist ria marcada por momentos de tens o e medo entre os adeptos das revela es do manuscrito com persegui es e tiros dos soldados que tentam det los pelos 14 diversos lugares da selva amaz nica no Peru chegando at a Machu Picchu onde o narrador com a ajuda do padre Sanchez esconde se na casa do padre Carl Esse lugar segundo o padre um dos centros de energia mais fortes do mundo p 154 Todas as a es acontecem por causa do velho Manuscrito sempre escrito ao longo da narrativa com letras mai sculas Esse antigo documento encontrado no Peru previa uma grande transforma o na sociedade humana Essa previs o era apresentada na forma de vis es No in cio os pesquisadores tinham consci ncia de que elas eram em n mero de oito mas ao chegarem interpreta o final da oitava vis o perceberam refer ncias a uma nona vis o ainda n o encontrada O objetivo de toda a comunidade de pesquisadores e de padres da Igreja Cat lica era ent o encontrar a parte do manuscrito relativa a essa nova vis o e interpret la tamb m Segundo a Primeira Vis o a humanidade atingir um est gio de desenvolvimento em que as pessoas ir o perceber que a vida em nosso planeta constitu da por uma s rie de fatos coincidentes que unem determinadas pessoas A Segunda Vis o conduzir
300. o Semler Best Seller O mundo de Sofia Jostein Gaarder Companhia das Letras As mentiras que os homens contam Lu s Fernando Ver ssimo Objetiva E Brida Paulo Coelho Rocco E A insustent vel leveza do ser Milan Kundera Companhia das Letras E As brumas de Avalon Marion Zimmer Bradley Imago O Voc pode curar sua vida Louise Hay Best Seller E O sucesso n o ocorre por acaso Lair Ribeiro Rosa dos Tempos E Opera o cavalo de tr ia J J Benitez Mercuryo D A profecia celestina James Redfied Objetiva E Olga Fernando de Moraes Alfa Omega E Intelig ncia emocional Daniel Goleman Objetiva E Harry Potter e a pedra filosofal J K Rowling Rocco E A viagem do descobrimento Eduardo Bueno Objetiva E Comunica o global Lair Ribeiro Rosa dos Tempos EB Uma autobiografia Lee lacocca Cultura 203 maneiras de enlouquecer um homem na cama Ol via Clare Ediouro Minutos de sabedoria Torres Pastoriano Vozes JA arte da felicidade Dalai Lama e Howard Cutler Martins O Esta o Carandiru Dr uzio Varella Companhia das Letras Gr fico 1 Levantamento geral 1966 a 2004 242 Nome do livro Nome do autor D cada 1 1 Autoconhecimento 8 Voc pode curar sua vida Louise Hay 1990 9 O sucesso n o ocorre por acaso Lair Ribeiro 1990 13 Intelig ncia emocional Daniel Goleman 1990 16 Co
301. o aos trabalhos sobre auto ajuda aqui referidos poss vel identificar que nos dois primeiros o de R diger 1996 e o de Martelli 2006 h uma preocupa o em compreender o surgimento desse tipo de texto como algo dependente das transforma es da sociedade capitalista contempor nea O estudo de R diger tra a um hist rico da auto ajuda desde seu surgimento enquanto texto que visava forma o do car ter de seu leitor at a forma mentalista que passa a assumir no in cio do s culo XX tipo de texto de auto ajuda que existe at nossos dias O livro de Martelli traz uma contribui o muito importante para a compreens o da auto ajuda nos termos da autora enquanto um fen meno cultural mas talvez pelo fato de n o ter uma preocupa o ling stico discursiva n o consegue desenvolver essa no o completamente porque fica presa an lise dos livros de auto ajuda que se referem gest o de neg cios que um dos tipos de texto de auto ajuda J as teses de Brunelli e Oliveira embora tenham uma preocupa o em realizar um estudo que valoriza o discurso ficam restritas tamb m a uma modalidade de texto de auto 197 ajuda e no caso de Oliveira a um nico autor N o cabe aqui nenhuma cr tica negativa aos dois trabalhos pois n o tinham como prop sito estudar os diferentes textos de auto ajuda como fica claro na proposta inicial de cada um deles Eles confirmam por um lado o que tamb m j ficou dito aqui n
302. o autor enunciador diz ter sido apresentado durante sua peregrina o pelo Caminho de Roma Tal como os livros do primeiro subgrupo os desse segundo tamb m procuram doar ao sujeito do fazer os leitores um saber para adquirir seu objeto valor A diferen a entre eles por m est no fato de que os livros do primeiro subgrupo n o se estruturam na forma de narrativas e ainda porque afirmam que a plenitude n o est no conhecimento m stico ou esot rico mas na for a interior e no autoconhecimento pr prio de cada sujeito poss vel observar ainda que alguns dos livros do primeiro subgrupo da auto ajuda assumem um car ter injuntivo que bastante comum na categoria de auto ajuda Dos cinco livros inclu dos nesse subgrupo essa caracter stica da injun o mais evidente em 8 9 e 16 Em praticamente cada uma das p ginas h sempre um dever que est sendo ressaltado Abra os bra os Regozije se com os pequenos novos come os Aceite elogios s o alguns exemplos de subt tulos de cap tulos que aparecem em 8 Em 9 por 91 exemplo existe um cap tulo cujo t tulo Pense Grande Nesse cap tulo o enunciador em muitos momentos constr i enunciados que denotam um dever ser ou um dever fazer que segundo ele s o formas de resolver problemas Fa a esse exerc cio escreva as suas metas para os pr ximos seis meses p 86 Voc tem que ter um plano para sua vida p 87 Para
303. o como se expressar melhor para conseguir tudo o que deseja em sua vida ou seja como ser bem sucedido segundo ele a neurolingii stica As descobertas da neurolingii stica fornecem nos hoje uma tecnologia que pode fazer de qualquer pessoa um bom comunicador Al m de aumentar o seu poder de influ ncia sobre as outras pessoas essa tecnologia aumenta a intelig ncia p 14 A inter rela o do enunciador com o enunciat rio baseada no acordo da doa o completa de um conhecimento capaz de transformar o ser do leitor N o vou ensinar receitas mas sim a receita das receitas Com essa chave mestra voc poder abrir todas as portas na comunica o interpessoal p 16 grifos do autor Na realidade n o h nenhuma refer ncia a qualquer estudo neurol gico no livro o termo s serve para dar suporte cient fico a seu discurso Ao definir por exemplo o que comunica o o enunciador vai reportar se sempre responsabilidade do pr prio enunciat rio Comunicar se com efic cia fazer com que o outro acredite em voc Para que isso aconte a sabe quem a primeira pessoa que precisa acreditar no que voc diz E voc mesmo p 67 17 Iacocca Uma autobiografia de Lee Iacocca e William Novak Num discurso em primeira pessoa o enunciador que narrador e personagem de sua pr pria hist ria conta sua vida ap s ter sofrido segundo ele um rev s pessoal ao ser demitido da presid ncia da i
304. o de respeitar a velha religi o de Avalon Morgana a advers ria de Guinevere Como sacerdotisa de Avalon tem o poder da vis o uma mulher atormentada dividida entre o amor n o correspondido por Lancelot e seu fracasso como m e irm e esposa Consagrada como a Donzela do Grande Casamento que une o rei ao seu reino tem o destino tr gico e her ico de provocar a queda do irm o amante e inimigo Arthur que trai Avalon e seu passado em favor do futuro crist o 8 Voc pode curar sua vida de Louise Hay A autora uma norte americada de Santa M nica Calif rnia considerada uma estudiosa dos padr es mentais que geram doen as ap s haver se curado de um c ncer e vive de fazer palestras confer ncias e semin rios onde divulga seus programas de treinamento que consistem em m todos pr ticos para combater os medos e as causas das doen as Devido ao enorme sucesso do livro Voc pode curar sua vida Hay funda uma editora a Hay House dedicada a livros de auto ajuda e medita o Z A id ia central de seu discurso a de que cada ser humano respons vel integralmente por tudo o que acontece consigo pr prio Assim antes de iniciar o cap tulo 1 do livro o enunciador apresenta as 13 frases que resumem sua filosofia 1 Somos todos 100 por cento respons veis por nossas experi ncias 2 Cada pensamento que temos est criando nosso futuro 3 O ponto do poder est sempre no momento presen
305. o de tempo entre 1966 e 2004 seria poss vel construir outro perfil dos leitores na medida em que identificaria o ethos dos autores que aparecem entre os mais vendidos A diferen a entre o que aparece nesse gr fico e os dados com que aqui trabalhei deve se ao fato de que para o levantamento do gr fico 7 a vari vel o autor e n o mais as obras especificamente Assim quando um autor tem v rias obras citadas nas listas dos mais vendidos seu nome ser considerado mais vezes para o levantamento estat stico Tra ar um perfil do leitor brasileiro contempor neo por meio desse gr fico ou da composi o de diferentes gr ficos por d cadas seria uma possibilidade de trabalho mas n o me parece que a modifica o do perfil do leitor tra ado por este trabalho seria muito diferente Veja se por exemplo que o autor Paulo Coelho aparece em primeir ssimo lugar tanto no gr fico 7 quanto no gr fico 1 ou na jun o dos gr ficos de 2 a 6 que correspondem s diferentes d cadas da pesquisa Se quisesse por m realizar um trabalho que focalizasse o mercado editorial brasileiro poderia discutir os dados demonstrados pelo gr fico 8 que apresenta um levantamento das editoras que mais venderam livros no per odo de 1966 a 2004 A editora Record det m o primeiro lugar da lista com um n mero de apari es nas listas dos livros mais vendidos que chega a ser quase o dobro do segundo lugar que pertence editora Nova Fronteira Uma pesquisa desse
306. o de uma sociedade an nima em Nevada Se eu trabalhar pelo dinheiro o governo o pega p 163 4 Estas s o apenas algumas das coisas que fiz e continuo fazendo os dez passos para ser bem sucedido que ensina no cap tulo Em a o para reconhecer as oportunidades As palavras importantes s o fiz e fa o Conforme repeti in meras vezes ao longo do livro voc o leitor precisa agir antes de poder receber recompensas financeiras Aja agora p 177 Pai rico pai pobre ao querer discutir uma quest o t o presente no mundo contempor neo uma f rmula para acumula o de capital com o objetivo de atingir uma boa situa o econ mica dirige se ao indiv duo e n o a uma coletividade Seu discurso chega ao preconceito quando insiste na diferen a entre o pobre e o rico Por esse motivo no ano de 2005 para marcar uma cr tica ao livro circulou na internet um correio eletr nico em que uma pessoa mandava uma mensagem a um amigo dizendo que estava terminando ali a amizade porque ao ler o livro de Kiyosaki havia resolvido adot lo como seu guru para finan as pessoais Para seguir seus conselhos risca inicialmente estava terminando todas as rela es de amizade com pessoas com pouco poder aquisitivo assim seguiria o principal conselho de seu guru para obter sucesso na vida pare de andar com pobre Nos anos 2000 portanto o que o leitor busca naquilo que l ora algo voltado para suas quest es individuais o
307. o duas reportagens do suplemento Livro do Jornal do Brasil A primeira exatamente do dia 30 de janeiro de 1971 intitulada Nunca se editou tanto no pa s e jamais se leu como agora com o subt tulo Pesquisa revela que todo m s 20 novas editoras s o criadas Nessa reportagem o jornal discute o crescimento do mercado editorial brasileiro com o lan amento de diversas obras e reedi o de obras da literatura nacional e estrangeira No n mero 4 do suplemento Livro de 25 de abril de 1971 aparece uma mat ria assinada por Remy Gorga Filho intitulada Tema brasileiro o aparecimento de um novo leitor de realidades que discute a prefer ncia do p blico leitor brasileiro pelos livros que tratam de quest es da realidade do Brasil O articulista chega a dizer que esse era um tema da moda ao relatar que grande parte do que era lan ado no mercado brasileiro do livro eram obras de n o fic o que abordavam problemas nacionais ao mesmo tempo que reconhece a presen a de obras de fic o em torno da mesma quest o Embora esses possam ser supostamente alguns ind cios do interesse do leitor brasileiro por Vidas secas n o s o uma reposta muito evidente para o fato Resta portanto aceitar o que a lista dos mais vendidos apresenta O terceiro livro dessa categoria de prefer ncias do leitor dos anos 70 n o um romance como os dois anteriores mas o ensaio cr tico hist rico de Eduardo Galeano As veias abertas da Am
308. o exame da constitui o discursiva do texto n o se resumem a uma simples quest o terminol gica como querem fazer entender aqueles que a acusam de hermetismo te rico 42 Observando portanto a tabela 1 percebe se que as obras ali elencadas est o distribu das nas seguintes categorias auto ajuda mem ria a o intriga humor fantasia e didatismo hist rico filos fico Enquanto na categoria de auto ajuda aparecem treze livros mais vendidos nas demais a varia o do n mero de obras classificadas bastante pequena duas para mem ria para fantasia e para didatismo hist rico filos fico e uma para a o e intriga e para humor O que esse texto nos diz que o conjunto de h bitos portanto o ethos do enunciat rio brasileiro voltado para os livros que abordem quest es ligadas mais por exemplo a temas individuais que a temas sociais Utilizo aqui o termo ethos do enunciat rio porque na medida em que a tabela 1 registra a prefer ncia dos leitores contempor neos brasileiros o que est nele realizado o discurso desse actante coletivo isto ele torna se um enunciador Mas o exame dos dados dessa lista certamente conduzir ao pathos do enunciat rio na medida em que poderei perceber quais os sentimentos que impulsionam o leitor a realizar suas escolhas de leitura Em verdade dos vinte e um livros que aparecem na lista apenas quatro deles pertencem ao universo da tem tica social que s o Olga e Esta o Carandiru
309. o final concluir que o tempo passa mas as emo es humanas n o mudam e que preciso reaprender o que ser feliz Essa rela o entre autor e leitor pode ser observada no cap tulo introdut rio do livro O fluxo de dias e anos d cadas serve para crescer e acumular n o s perder e limitar Dessa perspectiva nos tornaremos senhores n o servos Pessoa n o pequenos animais atordoados que correm sem saber ao certo por qu Se meu leitor e eu acertarmos nosso tom rec proco este mon logo inicial ser um di logo ainda que eu jamais venha a contemplar o rosto do outro que afinal se torna parte de mim Ent o a minha arte ter atingido algum tipo de objetivo p 17 grifo meu Seu discurso de aconselhamento para o leitor pode ser refletido em diferentes passagens do livro Para ilustrar como isso acontece selecionei o trecho abaixo no qual o tema em discuss o o envelhecimento e a morte Tenho dito ou insinuado aqui que amadurecer deveria ser visto como algo positivo e que envelhecimento n o revoga o da individualidade 133 Um dos motivos de nossas frustra es homens e mulheres vivermos numa cultura que idolatra a juventude e endeusa a forma f sica al m de qualquer sensatez Se maturidade fruto de mocidade e velhice resultado da maturidade viver ir tecendo naturalmente a trama da exist ncia Processo t o enganosamente trivial para aquele que o vive t o singular para quem o observa
310. o gr ficos mencionados ao procurar organizar o imagin rio do leitor brasileiro do per odo estudado reagrupei os em diferentes categorias como fiz at o presente momento propondo em certos casos algumas modifica es De um total portanto de 58 livros indicados como os mais vendidos por d cadas durante os 38 anos da pesquisa 23 encaixam se na categoria de auto ajuda 9 na 142 categoria de mem ria 7 em tem tica social 7 de a o e intriga 4 de humor 3 de fantasia 2 de realismo ficcional e um em cada uma das tr s categorias seguintes especula o cient fica policial e didatismo filos fico conforme pode ser observado na tabela 2 que aparece nos anexos Sem entrar nas especificidades das discuss es sociol gicas de Lasch 1983 que v na sociedade capitalista americana da d cada de 60 a forma o de uma cultura do narcisismo ou na proposta de Toffler 1993 que defende a conflu ncia de uma terceira onda p s industrial que valoriza o individual a qual substituir a agonizante segunda onda massificante do industrialismo ou ainda na sugest o de Lipovetsky 2005a que caracteriza a sociedade p s moderna como constitu da pelo vazio individualista o que se percebe no levantamento dos livros mais lidos no per odo desta pesquisa um movimento de converg ncia para as perspectivas dos tr s autores citados As narrativas que ressaltam os conflitos psico sociais tal como acontecia no per odo do Realismo por e
311. o que tamb m remete identifica o do narrador com seu narrat rio durante o desenrolar de toda a hist ria Sua refer ncia obra de Akio Morita Made in Japan Akio Morita e a Sony tamb m bastante vendida na d cada de 1980 embora n o apare a nos gr ficos do corpus deste trabalho tamb m uma forma de identifica o tem tica e de distin o de enfoque quando se refere ao comportamento de play boy do autor japon s em uma constru o como andar a 180 49 quil metros por hora com cara de quem est participando de uma cerim nia de ch Akio Morita foi um dos criadores da Sony respons vel pelo lan amento mundial de produtos de alta tecnologia que se tornou um s mbolo do Jap o moderno Sua autobiografia considerada um cl ssico da literatura mundial de business que ao mesmo tempo veicula a id ia de que a for a de vontade a base de uma carreira bem sucedida Por meio dessas refer ncias o narrador constr i sua identidade que consiste em se afirmar como um jovem e um empres rio brasileiro caracter sticas que podem ser identificadas em seu pr prio discurso No ltimo par grafo do trecho de Semle acima reproduzido o narrat rio novamente materializado no enunciado agora por meio do substantivo leitor Vou ter que me ater a fatos bem menos cinematogr ficos e dificilmente o leitor far uso do lencinho que preparou para as passagens emotivas grifo meu E essa ir nica ref
312. o ser de Milan Kundera Nas duas primeiras partes do romance o narrador introduz em primeira pessoa a quest o do eterno retorno isto que um dia tudo vai se repetir como foi vivido e que essa repeti o ainda vai se repetir indefinidamente p 7 Partindo dessa id ia do eterno retorno o narrador considera que os seres humanos est o condenados eternidade e que no mundo do eterno retorno cada gesto carrega o peso de uma insustent vel leveza p 8 Esse narrador usa a forma n s para se referir a si mesmo e aos leitores e a forma eu para referir se a si pr prio Logo ap s a cita o acima ele diz Se o eterno retorno o mais pesado dos fardos nossas vidas sobre esse pano de fundo podem aparecer em toda a sua espl ndida leveza p 8 Mais adiante ao abrir o cap tulo 3 da primeira parte intitulada A leveza e o peso em que se inicia propriamente a narrativa da hist ria usa a primeira pessoa H muitos anos penso em Tomas Mas foi sob a luz dessas reflex es que o vi claramente pela primeira vez Eu o vejo de p a uma das janelas de seu apartamento 67 com os olhos fixos na parede do pr dio defronte do outro lado do p tio sem saber o que fazer p 9 No cap tulo 1 da segunda parte intitulada A alma e o corpo o narrador refere se a si mesmo na forma de uma terceira pessoa com uma embreagem De nada serviria o autor afirmar que suas person
313. o termo desconhecido serve para apontar algo para o narrat rio porque o final da narrativa ir retomar exatamente essa mesma igreja abandonada e essa mesma figueira que aparecem na cena de abertura pois o tesouro que o pastor queria encontrar em um lugar t o distante estava escondido ali naquele mesmo lugar debaixo daquela figueira Outra caracter stica da f bula ou da par bola sua circularidade narrativa Um elemento que poderia chamar metalingii stico a refer ncia que a narrativa faz ao pr prio livro enquanto objeto material quando no contexto da hist ria o her i um leitor que usa o livro como travesseiro para dormir uma imagem um tanto esdr xula mas est manifestada no texto Por fim mais um ndice da imagem que o narrador faz de seu narrat rio pode ser detectado no ltimo per odo do ltimo par grafo acima reproduzido Tivera o mesmo sonho da semana passada e outra vez acordara antes do final medida que a hist ria vai sendo narrada percebe se que o sonho um elemento m tico pois o que Santiago sonhava repetidamente era exatamente um aviso de uma for a oculta que o chamava para sua Lenda Pessoal grafada em mai sculas no pr prio texto O narrat rio constru do portanto pelo texto de Paulo Coelho o sujeito de discurso que manifesta um pathos de enunciat rio com quem o ethos do enunciador dialoga O leitor da obra de Paulo Coelho identifica se com esse ethos e por esse motivo escol
314. o uma reescrita do que j havia sido publicado anteriormente torna se marcada pela subjetividade e pelo impressionismo como pode ser verificado na seguinte passagem de sua obra de 1999 Toler ncia ao erro ambigiiidade e sobretudo diversidade apoiadas por senso de humor e de propor o s o requisitos indispens veis sobreviv ncia ao arrumarmos a nossa mala para a maravilhosa viagem ao pr ximo mil nio Prepare se para o que poder ser o mais emocionante passeio da hist ria p 113 Al m desse tom marcadamente de auto ajuda porque parece apresentar uma receita a ser seguida sua defesa dos princ pios capitalistas e da privatiza o da economia vai se tornando cada vez mais expl cita na medida em que continua a defender euforicamente o ideal da terceira onda Isso pode ser observado em trechos como os seguintes Foi o capitalismo baseado no computador n o o socialismo de chamin s que deu o que os marxistas chamam de salto qualitativo para a frente 1999 p 79 175 existem fan ticos que a despeito de todas as evid ncias hist ricas em contr rio ainda consideram a propriedade p blica como progressista e resistem a todas as tentativas de desnacionaliza o ou privatiza o da economia 1999 p 84 Talvez seja exatamente por esses motivos que Toffler esteve presente nas listas dos mais vendidos durante as d cadas de 1980 e 1990 embora n o entre os primeiros lugares raz o pel
315. oc porco de corpo inteiro de boca aberta no chiqueiro parecendo rir mas nunca perca a capacidade de rir de si mesmo camundongo na cabe a de um gato Assuma riscos golfinho dando um pulo no ar Afinal de contas a vida n o uma loucura A ltima frase vem depois da foto em close da cabe a de uma perereca Bom pelo menos isso que eu acho A t cnica de aliar foto a uma frase ou parte de frase em cada p gina uma forma de atingir aquele leitor que n o gosta de ler poss vel inclusive ler o livro na pr pria livraria O livro de Bradley Greive est entre as hist rias em quadrinho e a revista que na terminologia semi tica s o meios de comunica o sincr ticos uma vez que constroem seu discurso atrav s da uni o de dois tipos diferentes planos de express o no caso do livro a fotografia e a l ngua escrita A terceira tem tica entre os livros de auto ajuda mais vendidos nos anos 2000 a que denomino mundo de neg cios e nela insere se o livro Pai rico pai pobre de Robert Kiyosaki e Sharon L Lechter Assumindo a forma de um guia para o sucesso pessoal esse livro prop e dar receitas com o intuito de ensinar o jovem dos dias atuais a se inserir no mundo dos neg cios para fazer dinheiro Seu objetivo consiste em partilhar percep es quanto maneira como uma maior intelig ncia financeira pode ser empregada para resolver muitos dos problemas comuns da vida Sem treina
316. oelho e A profecia celestina de James Redfied s o escolhas que refletem tamb m um desejo querer ser mas esse desejo ancora se na id ia de falsidade saber n o ser relativa raz o Em outras palavras o leitor desse tipo de texto procura uma explica o para a realidade que o cerca portanto deseja alcan ar a verdade saber ser que se afasta das explica es ditas cient ficas Trata se portanto de uma perspectiva epist mica crer em rela o a fatos ou seres que n o fazem parte do mundo natural e que consegiientemente n o t m uma explica o l gica O misticismo entendido como inclina o para acreditar em for as e entes sobrenaturais e preocupar se com eles em detrimento das explica es racionais e cient ficas Houaiss eletr nico a postura que se pode encontrar nessas narrativas e o valor em busca do qual est o leitor Nesse sentido tamb m essas narrativas adquirem um 36 valor esot rico na medida em que refletem uma atitude doutrin ria ou sect ria segundo a qual certos conhecimentos relacionados com a ci ncia a filosofia e a religi o devem ser comunicados a um grupo de iniciados E exatamente esse o processo persuasivo fazer crer que se instaura entre o enunciador e o enunciat rio Este quer ser um iniciado em uma filosofia m stica aquele se apresenta como o iniciador que lhe revelar uma verdade saber ser Os textos do corpus da pesquisa constroem se por meio de v
317. ois livros foram traduzidos para o portugu s e publicados no Brasil em 2005 identificarei o primeiro aqui citado como 2005a e o segundo 2005b porque foi nessa ordem que os li O conceito do vazio ganha contornos na an lise que Lipovetsky faz da sociedade contempor nea ao caracterizar essa mesma sociedade como p s moralista E por que p s moralista Porque segundo ele o que se pode observar nas sociedades capitalistas ocidentais um apagamento do dever e uma afirma o do princ pio do prazer Negam se 176 os padr es r gidos de comportamento moral religioso sexual tico etc e em seu lugar surgem novos valores mais difusos mais individualizados Em suma o capitalismo autorit rio d lugar a um capitalismo hedonista e permissivo Sociedade p s moralista a designa o de uma poca em que o sentido do dever edulcorado e debilitado em que a no o de sacrif cio pessoal perdeu sua Justifica o social em que a moral j n o exige o devotamento a um fim superior em que os direitos subjetivos preponderam sobre os mandamentos imperativos em que as li es de moral s o encobertas pelo fulgor de uma vida melhor do irradiante sol das f rias de ver o do banal passatempo das m dias Na sociedade do p s dever o mal transformado em espet culo atraente e o ideal subestimado bem verdade que os v cios ainda inspiram censura contudo o hero smo do bem perdeu vigor Os valores que hoje admitimos s o
318. ol gico coercitivos das sociedades modernas do final do s culo XIX e in cio do XX dando origem a um processo de personaliza o Do ponto de vista semi tico portanto se entender a poca contempor nea segundo a tica de Lipovetsky 2005a estarei afirmando que as listas dos livros mais lidos no Brasil de 1966 a 2000 refletem exatamente essa caracter stica individualizante que ele afirma reconhecer em nossa sociedade atual Se observo essas listas durante as diferentes d cadas percebo que enquanto nos anos de 1960 h uma valoriza o do coletivo nos anos 2000 o que se privilegia o individual Coletividade e individualidade s o os dois tra os s micos a partir dos quais interpreto as listas dos livros mais vendidos A tens o pr pria desses dois tra os na constitui o das rela es de sentido que posso enxergar nas listas marcada por uma dura o em que a intensidade do car ter euf rico da coletividade nos anos 60 vai sendo desacelerado ao longo dos anos seguintes e passa a ser disf rico para que a euforia manifeste se no outro sema a individualidade que ganha ent o o contorno euforizante A partir do reconhecimento dessas quest es retomo a discuss o sobre o gosto com que introduzi este cap tulo para observar uma vez mais seu valor normativo Porque as quest es individuais constituem o horizonte de expectativa do homem urbano da sociedade contempor nea que o interesse pela literatura de auto ajuda e d
319. ometam gafes como estas pois nunca se deve chamar de bomba no sentido pejorativo aquilo que n o se conhece a fundo pois isto retrata apenas radicalismo desenfreado preconceito puro Preconceito bobo Alberto Sobrinho O carioca Jos Fausto confessa ter sido induzido ao consumo de subliteratura quando tomou conhecimento dos livros de Sidney Sheldon e Irwing Wallace O outro carioca Alberto Sobrinho chama a leitora paulista B rbara Schultz de preconceituosa e radical por causa da cr tica que faz a Milan Kundera Por seu lado ressalta a qualidade dos textos do autor tcheco dizendo que leu A insustent vel leveza do ser tr s vezes e que n o acredita que a propaganda intensa de uma editora em rela o a um livro seja capaz de incentivar sua leitura se ele n o tiver qualidades Para finalizar essa pol mica um alagoano envia uma carta se o dos leitores do Leia n 99 de janeiro de 1987 e defende a paulista que iniciou toda a celeuma perguntando por que Milan Kundera estoura nas listas dos mais vendidos enquanto Elias Canetti fica esquecido Para responder a sua pr pria pergunta diz que Kundera ganha 14 tantos leitores porque um escritor anticomunista enquanto Canetti n o assume tal postura Diz o leitor Canetti mais profundo mais fino mais filos fico mas n o sustenta dia e noite nenhuma bandeira anticomunista Milan Kundera n o exatamente um mau escritor n o se identifica com subliteraturismo
320. omina es aqui apresentadas para alguns predicados modais s o propostas por mim uma vez que os diferentes estudos em semi tica n o chegaram ainda a uma nomea o est vel para todas elas Assim na modaliza o do dever sobre o ser os quatro enunciados modais que comp em a configura o quadrangular s o dever ser necessidade dever n o ser impossibilidade n o dever n o ser possibilidade e n o dever ser conting ncia Na modaliza o do querer sobre o ser os enunciados modais s o querer ser desejo querer n o ser desprendimento n o querer ser ren ncia e n o querer n o ser apego Na modaliza o do poder sobre o ser identificamos os seguintes enunciados modais poder ser possibilidade poder n o ser conting ncia n o poder ser impossibilidade e n o 32 poder n o ser necessidade Na modaliza o do saber sobre o ser aparecem os seguintes enunciados modais saber ser verdade saber n o ser falsidade n o saber ser oculta o e n o saber n o ser ilus o Al m das modalidades intencionais e existenciais existem ainda as epist micas que consistem na incid ncia do crer sobre ser Elas podem se configurar por meio dos seguintes enunciados modais crer ser certeza crer n o ser improbabilidade n o crer ser incerteza n o crer n o ser probabilidade A modaliza o do crer por sua vez op e se ao fazer crer ou persuas o e essa oposi o caracterizada p
321. omo se pode constatar por meio dos registros do corpus Na realidade os primeiros livros de uma s rie s o sempre o term metro que identifica a potencialidade de mercado de cada uma delas 98 A primeira s rie de narrativas que aparece nessa categoria As brumas de Avalon consiste numa saga tanto no seu sentido primitivo de antiga narrativa e lenda escandinava como em seu sentido secund rio de narrativa fecunda em incidentes organizada em quatro livros O primeiro chama se A senhora da magia o segundo A grande rainha o terceiro O gamo rei e o quarto O prisioneiro da rvore O povo druida de Avalon dominado e o povo romano dominador invasor das ilhas da Gr Bretanha mant m um embate religioso cultural e a narrativa d destaque para os conhecimentos m sticos da linhagem de sacerdotisas druidas o feminismo e o esoterismo na reconstitui o da antiga lenda do rei Arthur da Inglaterra O primeiro livro da saga come a a aparecer nas listas dos mais vendidos na d cada de 80 especificamente no ano de 1986 As hist rias de Harry Potter segunda s rie dessa categoria come am a aparecer nas rela es dos mais vendidos durante o ano de 2000 As aventuras do her i bruxo s o ambientadas na Inglaterra no in cio do s culo XX e reproduzem a cl ssica luta entre o bem e o mal A cada ano uma nova hist ria do her i bruxo lan ada no mercado editorial de forma que at 2005 a cole o cont
322. omo um texto programador Todos eles oferecer o t cnicas ou formas de pensamento que assumem um papel terap utico Embora atinjam a um vasto p blico de leitores esses livros constroem seu discurso numa forma de di logo ntimo entre o sujeito enunciador o autor e seu leitor cada um deles particularmente Em nenhum momento as raz es da infelicidade dos leitores s o atribu das a fatores de ordem sociopol tica Todos eles enfatizam que cada um respons vel por si mesmo e que a resposta para a mudan a de estado a conjun o com a felicidade depende da capacidade que cada leitor ter de absorver e aplicar os ensinamentos que os livros lhe apresentam Trata se portanto da express o mais clara da leitura como produto de consumo e como reflexo do narcisismo social reinante cujo valor mais caracter stico o utilit rio isto l se o livro para adquirir o bem estar As narrativas m sticas e esot ricas ganham ades o do p blico leitor exatamente em fun o de uma crise por que passam as camadas m dias e altas das sociedades contempor neas Enquanto as camadas sociais menos privilegiadas lotam os templos evang licos que prometem a salva o por meio da palavra de Cristo e a expuls o dos dem nios dos corpos possu dos o esoterismo ou misticismo oferecem uma alternativa light para aqueles que n o frequentam os templos evang licos Bruxos anjos for a magn tica dos astros energia da pedra for a das guas esp
323. omo uma guarni o numa cidade conquistada Freud 1997 p 84 Uma vez mais n o reproduzirei aqui as explica es que o autor apresenta quando distingue no processo de instaura o do sentimento de culpa os conceitos que adquirem em sua teoria os termos superego consci ncia necessidade de culpa e remorso Destacarei apenas que toda sua reflex o sobre o mal estar da civiliza o que toma o sentimento de culpa como a grande arma de controle do processo civilizador dirige se s 157 religi es Seu texto inicia se com a refer ncia a uma carta escrita por um amigo Romain Rolland que lhe dizia haver lido um livro escrito por ele que procurava mostrar como a religi o era uma ilus o Esse amigo afirmava concordar com os argumentos apresentados por Freud mas lamentava o fato de o autor austr aco n o poder apreciar a verdadeira fonte da religiosidade designada por ele por um sentimento de eternidade Para Freud 1997 as religi es sempre reafirmaram o papel do sentimento de culpa que faz parte da civiliza o Como afirma em seu texto elas alegam redimir a humanidade desse sentimento de culpa a que chamam de pecado Da maneira pela qual no cristianismo essa reden o conseguida pela morte sacrificial de uma pessoa isolada que desse modo toma sobre si mesma a culpa comum a todos conseguimos inferir qual pode ter sido a primeira ocasi o em que essa culpa prim ria que constit
324. onalidade atomiza o sorrateira engendrada pelos sistemas personalizados Para que o deserto social seja vi vel o Eu deve se tornar a preocupa o central a rela o est destru da mas pouco importa j que o indiv duo est apto a se absorver em si mesmo Assim o narcisismo realiza uma estranha humaniza o escavando a fragmenta o social solu o econ mica para a dispers o generalizada o narcisismo em uma circularidade perfeita adapta o Eu ao mundo que o gerou O adestramento social n o se efetua mais pelo constrangimento disciplinar e nem pela sublima o mas sim pela auto sedu o O narcisismo nova tecnologia de controle suave e auto gerado socializa dessocializando e coloca os indiv duos de acordo com um social pulverizado glorificando o reino da expans o do Ego puro Lipovetsky 2005a p 37 grifo meu A afirma o em destaque na cita o acima coloca em evid ncia um fato que da ordem das injun es Na realidade como j ficou dito anteriormente o homem contempor neo pode n o viver mais sob a press o do dever disciplinador da moral conservadora do in cio da era industrial mas ao voltar se para si mesmo ao eleger se como centro de suas pr prias aten es submete se a um novo dever A liberdade que parece gozar quando se desvencilha dos antigos padr es morais completamente irreal pois o novo agente controlador decorrente do comportamento narcisista o cuidado consigo pr p
325. onflito social agora prolonga a civiliza o dos relacionamentos interpessoais Lipovetsky 2005a p 185 6 Essa indiferen a do homem contempor neo pelas quest es coletivas resulta em outro sentimento caracter stico de seu auto centramento qual seja a solid o Mergulhado 181 nas multid es das grandes cidades impulsionado pela m dia do consumo em contato com todos os fatos que acontecem ao seu redor interligado a muitas pessoas pelos mais diferentes meios de comunica o telefone celular televis o internet etc o homem contempor neo est s mesmo quando busca sua felicidade encontra se sozinho E afirmar o isolamento dos indiv duos na sociedade p s moralista n o significa atribuir a esse estado um valor disf rico o isolamento muitas vezes uma aspira o das pr prias pessoas Essa a melhor forma para cuidar de si livre de obriga es com o outro Por essa raz o tornam se cada vez mais comuns na atualidade os relacionamentos entre pessoas que vivem em espa os distintos mesmo mantendo la os afetivos cada um tem um lugar que s seu Outra concep o de fam lia que se difunde nas sociedades contempor neas a do casal que embora viva no mesmo espa o n o tem filhos nem pretende t los pois essa seria uma forma de instaurar obriga es e de roubar o tempo que o indiv duo pode dedicar a si mesmo Tornando o Eu o alvo de todos os investimentos o narcisismo se dedica a ajustar a pers
326. onto de vista dos valores a sociedade capitalista contempor nea mais permissiva do ponto de vista econ mico sua a o continua a ser coercitiva Na medida em que valoriza o consumo h um incremento da ang stia e do estresse toda vez que o indiv duo n o consegue responder positivamente a essa ordem Ao mesmo tempo que tem a liberdade de isolar se de seus semelhantes n o constituindo um n cleo familiar padr o essa solid o exerce sobre a maioria deles uma outra press o qual seja a inseguran a decorrente da aus ncia de prote o pr pria do conv vio grupal Embora o homem contempor neo possa eventualmente estar reanimando seu ego tornando o mais forte para enfrentar o superego coletivo de que fala Freud parece perder aquilo que uma das for as da civiliza o qual seja sua a o protetora sobre o indiv duo Por essas raz es que o homem contempor neo parece procurar outras formas de se relacionar consigo mesmo e com os outros quando consome a literatura de auto ajuda quer em busca de auto conhecimento quer a procura dos valores esot ricos 5 2 Cultura narcisista do ego m nimo Christopher Lasch faz uma an lise da sociedade norte americana a partir de um ponto de vista psicol gico que leva em considera o as perspectivas sociol gica e 19 Alguns comentadores costumam atribuir essa vis o negativa do futuro da humanidade com que Freud conclui O mal estar na civiliza o figura de Hitler que em 1931
327. ooks Na ltima semana de dezembro de 77 Mario Pedrosa pelo telefone de Paris me estimulara a produzir uma revista e Mino Carta me encorajava a fazer uma revista de cultura N o fiz nenhuma das tr s Eu alimentava projeto parecido noutras linhas Caio Graco j estava decidido a faz lo De uma conversa numa noite de domingo 2 Refer ncia est tua da justi a de que fala o autor em par grafos anteriores ao trecho aqui citado recente resolvemos ele e eu juntar o que t nhamos pronto e o que imagin vamos e o resultado LEIA LIVROS Haveria muito que falar sobre os livros no Brasil ou de sua aus ncia Acho os caros acho tamb m que algumas editoras muitas vezes n o tomam o devido cuidado com suas edi es E observo de passagem que editar p ex Anarquistas e Comunistas no Brasil sem ndice remissivo quase in til para os interessados estudiosos e estudantes Eu sei que encarece a edi o mas preciso faz lo que diabo Quanto maioria das tradu es tremo em pensar Os leitores informados e portanto da chamada elite que comprarem este jornal sofrer o alguns choques Imagino a comunidade universit ria perplexa ante a escolha do bravo Rubem Braga para resenhar um livro sobre nazistas que ele os viu de perto foi correspondente de guerra na It lia com a FEB Antecipo o horror de alguns ante a inclus o num jornal de livros e portanto de cultura de uma p gina regular sobre novelas de
328. opunha uma forma de atribuir um valor distinto a seu trabalho distanciando o do conceito negativo de auto ajuda Com o intuito de revestir o texto com certo padr o de cientificidade o enunciador usa outro recurso discursivo muito comum por m em diferentes textos de auto ajuda que consiste em convocar os conhecimentos cient ficos para assegurar o valor de verdade Isso pode ser verificado nos seguintes exemplos 87 1 Pesquisadores que estudavam os ganhadores de loteria estadual de Illinois e da loteria brit nica descobriram por exemplo que a empolga o inicial ia passando com o tempo e os ganhadores voltavam sua faixa habitual de felicidade de cada momento p 22 Gi Estudiosos como C Daniel Batson ou Nancy Eisenberg da Arizona State Universtity realizaram numerosas pesquisas ao longo dos ltimos anos que demonstram que os seres humanos t m uma tend ncia ao comportamento altru sta p 66 Gii Em seu livro Intimate Behavior Desmond Morris descreve as mudan as normais que ocorrem na necessidade de intimidade de um ser humano Ele sugere que cada um de n s passa repetidamente por tr s est gios do me abrace do me solte e do me deixe em paz p 190 destaques do autor No exemplo i o mais comum de todo o livro o enunciador refere se a estudiosos e suas pesquisas sem determinar especificamente quem s o eles e como suas pesquisas foram divulgadas Em ii embora cite
329. or m sobre a representa o da autoria que Iacocca Uma autobiografia e Pai rico pai pobre t m dois autores declarados o primeiro Lee Iacocca e William Novak e o segundo Robert Kiyosaki e Sharon L Lechter Em ambos os casos 214 essa autoria dupla refere se a um sujeito que a fonte do dizer e seu pr prio referente o criador da hist ria e a outro que organiza esse dizer o redator No livro de Iacocca o nome de William Novak aparece nos agradecimentos quando o sujeito autor Iacocca chama o de inestim vel colaborador J no livro de Kiyosaki al m do nome de Sharon L Lechter aparecer nos agradecimentos a co autora assina a introdu o do livro momento em que narra tamb m em primeira pessoa como conheceu Kiyosaki e porque interessou se por realizar o trabalho de revis o e composi o do livro Do ponto de vista bakhtiniano os tr s textos pertencem ao g nero secund rio pois se organizam a partir da reconstitui o de uma cena enunciativa em que o c digo ling stico n o utilizado para reproduzir uma situa o de di logo entre interlocutores Por outro lado por m embora obede am a essa ordem de constitui o as narrativas constru das por esses dois textos veiculam ensinamentos que se dirigem ao enunciat rio cujo saber relativo gest o e organiza o dos neg cios modificado pelo dizer do enunciador Nesse sentido portanto o car ter dial gico b sico para a constitui o desses te
330. or Greimas e Court s s d da seguinte maneira No eixo da comunica o real ou imagin ria quando depende de um discurso interiorizado o crer op e se ao fazer crer ou persuas o e corresponde por conseguinte inst ncia do enunciat rio que exerce seu fazer interpretativo ao passo que o fazer crer obra do enunciador encarregado do fazer persuasivo numa vis o mais ampla o fazer crer o qual enquanto fazer persuasivo n o pode ser tratado independentemente do crer constitui uma das formas principais da manipula o Sendo assim a quest o do crer aparece como um dos temas da pesquisa semi tica dos anos a virem p 91 2 A descri o das predica es modais aqui apresentadas teve como intuito reconstituir os crit rios de organiza o modal propostos pela semi tica para poder observ los embora n o todos necessariamente no corpus desta pesquisa Assim se comparar os t tulos de obras que aparecem na lista dos livros mais vendidos no Brasil entre 1966 e 2004 apresentados no gr fico 1 e distribu dos na tabela 1 ambos em anexo posso identificar por meio das configura es modais um perfil do leitor brasileiro ao longo desse per odo Cabe ressaltar por m que n o pretendo aqui descrever a organiza o discursiva de cada um dos livros que aparecem no levantamento registrado pelo gr fico 1 Meu intento ser por ora observar a quest o espec fica da modaliza o pois a descr
331. or e a saudade Por que contam coisas s crian as Enquanto o enfoque da narrativa memorialista de Henry Miller a sexualidade no livro de Jos Mauro as lembran as relatadas enfatizam as descobertas pessoais do narrador O terceiro livro dessa mesma categoria O lobo da estepe de Herman Hesse que se organiza em tr s partes Pref cio do editor Anota es de Harry Haller e Tratado do lobo da estepe Na primeira um eu conta como conheceu na casa de sua tia um homem de meia idade que se considerava um lobo da estepe e diz que vai reproduzir um livreto de feira deixado por Harry antes de partir definitivamente da casa de sua tia intitulado Tratado do Lobo da Estepe Somente para os raros Essa narrativa em terceira pessoa um retrato da pr pria vida de Harry motivo pelo qual a inclui na categoria de mem ria e conta suas ang stias e o sentido de sua vida Seu tom intimista e inicia se da seguinte maneira Era uma vez um certo Harry chamado o Lobo da Estepe Andava sobre duas pernas usava roupas e era um homem mas n o obstante era tamb m um lobo das estepes Havia aprendido uma boa parte de tudo quanto as pessoas de bom entendimento podem aprender e era bastante ponderado O que n o havia aprendido entretanto era o seguinte estar contente consigo e com sua pr pria vida Era incapaz disso da ser um homem descontente Isso provinha decerto do fato de que no fundo de seu cora
332. ores prova es da vida foi estuprada aos Voc pode curar sua vida de Louise Hay foi escrito no ano de 1984 70 5 anos de idade mas mesmo com todas essas adversidades por sua for a de pensamento e vontade venceu na vida e conseguiu o sucesso profissional e pessoal 9 O sucesso n o ocorre por acaso de Lair Ribeiro O livro de Lair Ribeiro constitu do por um discurso centrado na fun o conativa O tu constante com quem o enunciador sempre conversa proje o de um interlocutor produzida pelo pr prio narrador seu principal alvo O objetivo do enunciador mostrar para o leitor como ele capaz de mudar sua pr pria vida se observar uma s rie de conselhos que lhe s o dados O principal deles no dizer do enunciador consiste em o enunciat rio acreditar mais em sua capacidade e ter uma meta um objetivo a alcan ar Com sua for a de vontade e com a for a de seu pensamento conseguir alcan ar tudo o que quiser Somente quando essas caracter sticas n o fazem parte da maneira de ser do leitor que ele n o atingir o sucesso e viver na derrota Um exemplo da maneira como o enunciador se dirige ao enunciat rio pode ser observado no seguinte trecho do livro que corresponde aos dois primeiro par grafos do cap tulo 1 Olhe em torno de voc O lugar onde sentou se para ler este livro o ambiente as pessoas os objetos suas condi es atuais de vida trabalho sa de lazer Pense em seus amigos nas con
333. os trabalhos de Lipovestsky a que me refiro aqui Por outro lado n o a camada m dia baixa e a camada baixa da popula o que se v refletida nas listas dos livros mais vendidos que constituem o corpus desta pesquisa Essas listas refletem muito mais os valores das camadas m dias m dias altas e altas pois s o elas que t m poder aquisitivo para consumir livros 179 No que se refere s rela es de trabalho Lipovetsky 2005b ir afirmar que o que predomina na sociedade p s moralista o princ pio da consci ncia profissional expurgado de todo ideal transcendente ou coletivo O que refor ado nesse ambiente a tica da responsabilidade individual refletida no ideal de organiza o e o que se nega o comportamento individualista chamado irrespons vel reflexo da desorganiza o As administra es empresariais preocupam se agora com o bem estar de seus empregados para preservar esses princ pios ticos de comportamento e para torn los mais eficientes A id ia de que um empregado que se sente feliz em seu ambiente de trabalho e que se identifica com o que faz est ligada ao princ pio da efic cia Antes de modificar o organograma da empresa preciso melhorar as aptid es e as consci ncias educar as vontades incrementar o desejo de perfei o dos empregados inculcar o gosto pela qualidade cooperar no sentido de alargar os horizontes Em resumo o xito depende da transforma o de si p 229 Essa
334. osicional e estil stico O estilo indissociavelmente vinculado a unidades tem ticas determinadas e o que particularmente importante a unidades composicionais tipo de estrutura o e de conclus o de um todo tipo de rela o entre o locutor e os outros parceiros da comunica o verbal rela o com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com o discurso do outro etc O estilo entra como elemento na unidade de g nero de um enunciado p 284 A partir dessa coloca o que o autor afirmar que quando h estilo h g nero p 286 pois o que procura mostrar que quando se transp e o estilo de um g nero para outro n o ocorre apenas uma modifica o no estilo mas tamb m no pr prio g nero que ao incorpor lo transforma se Em outro trabalho Bahktin 1981a ao caracterizar o g nero da obra de Dostoi vski dir que ao longo do tempo os g neros se transformam o que o leva a estabelecer uma distin o entre g nero velho e g nero novo para a literatura O g nero sempre e n o o mesmo sempre novo e velho ao mesmo tempo O g nero renasce e se renova em cada nova etapa do desenvolvimento da literatura e em cada obra individual de um dado g nero Nisto consiste a vida do g nero p 91 Segundo a perspectiva de Discini 2003 o estilo deve ser observado pela tica do acontecimento o que pressup e as inst ncias de tempo espa o e pessoa A partir dessa perspectiva a categoria do
335. ossui um saber sempre um m dico que vive com seus pacientes os problemas do excesso de peso que ser transmitido ao enunciat rio para que ele saiba como educar seus h bitos alimentares Segundo a perspectiva bakhtiniana os dois textos identificam se com as caracter sticas dos chamados g neros prim rios pois se constroem como a forma mais comum da auto ajuda maneira de um di logo entre dois interlocutores Partindo do princ pio da praticidade e do didatismo na exposi o os dois textos representam o sujeito enunciador investido de um saber um m dico que tem seus enunciat rios constru dos como os pr prios pacientes que o procuram porque t m problemas alimentares ou como o p blico para o qual ele ir fazer uma palestra a respeito da obesidade e do mau conhecimento que as pessoas t m sobre o tipo de alimento que devem ingerir para n o engordar al m do necess rio O princ pio da subjetividade marca os dois textos como j mostrei em outros cap tulos ao coment los separadamente exatamente porque a forma de a o de um sujeito enunciador identificado uma vez mais com o autor que se dirige a um enunciat rio em estado de falta O fato de o texto ser expositivo argumentativo com esquemas e at recursos do desenho para explicar suas teses n o significa que do ponto de vista enunciativo seja um texto objetivo O conceito de objetividade subjetividade em semi tica 217 n o diz respeito maneira formal de
336. ou o escritor Milan Kundera ao lado de Sidney Sheldon e Irving Wallace N o d para comparar Ao contr rio do que ela diz apenas os dois ltimos que s o membros da boca do lixo que as multinacionais nos imp em uma s rdida subliteratura que nada acrescenta al m do sensacionalismo barato Tamb m eu fui nos idos de 1976 77 quando comecei a ler v tima desse descalabro Jos Fausto Toloy Subliteratura II Como leitor ass duo do jornal LEIA sinto me no dever de lan ar o meu protesto contra uma leitora paulista que nesta se o mostrou se incomodada com a presen a de A insustent vel Leveza do Ser por mais de um ano na lista dos mais vendidos saiu no LEIA n 91 Usando termos bem deselegantes coisa que n o comum entre pessoas de bom gosto enquadrou o escritor tcheco Milan Kundera entre os oper rios da subliteratura contempor nea sem ao menos ter afirmado se leu ou n o a sua obra que na minha opini o uma das mais ricas do momento Penso que A insustent vel Leveza do Ser n o sucesso apenas pelo fato da Editora Nova Fronteira ter dado uma aten o especial sua divulga o pois conhe o livros que apesar do sucesso de divulga o mofaram nas prateleiras Friso que nada tenho com o mercado editorial Sou apenas um leitor que leu tr s vezes o pol mico romance e que aproveitou o intervalo entre um livro e outro para responder ao apelo feito pela leitora paulista Aproveito para implorar que n o se c
337. para apreender seu sentido a teoria semi tica parte do pressuposto de que esse sentido constru do a partir de tr s princ pios centrais que sustentam sua proposta de um percurso gerativo O primeiro princ pio consiste na identifica o de uma oposi o sem ntica a partir da qual se constroem as oposi es m nimas em que se baseiam os procedimentos de tematiza o e figurativiza o no enunciado o segundo de que o discurso organiza se a partir de um princ pio de narratividade entendida ela como resultante de um fazer que implica uma mudan a de estado o terceiro procedimento o que examina as formas de manifesta o da enuncia o entendida enquanto uma inst ncia dial gica em que enunciador e enunciat rio se constroem para que os sentidos adquiram express o e signifiquem Dizer isso a partir de uma descri o pura e simples do que a semi tica chama percurso gerativo de sentido n o muita coisa quando se pensa cada um desses princ pios como patamares isolados que t m que ser descritos cada um com todos os seus componentes mas se se conserva a perspectiva da gera o do sentido a partir dessa proposta de percurso muitas s o as consegii ncias que podem da ser retiradas 2 Restrinjo me ci ncia da linguagem porque ela o foco de interesse para este trabalho posso identificar por m que a preocupa o com o sentido faz parte das ci ncias em geral ou mais fortemente das ci ncias humanas 224 Num primei
338. pequenas cidades que tende a uma maior homogeneidade Na sociedade moderna complexa e heterog nea atrav s da diversifica o de experi ncias e informa es h sempre a tend ncia de uma prolifera o maior de pontos de vista perspectivas avalia es do que em sociedades simples ou at em sociedades complexas tradicionais onde mesmo havendo o dissenso os desvios as diverg ncias etc a negocia o da realidade tenderia a ser realizada tendo como base maior homogeneidade de experi ncia Velho 2004 p 62 Ao analisar o comportamento de algumas fam lias da camada m dia alta que residiam em bairros da zona Sul carioca Copacabana Ipanema e Leblon durante o per odo de 1972 a 1975 constata que a partir do final da d cada de 60 elas passam por um radical processo de nucleariza o com um n tido enfraquecimento de seus la os com o universo mais amplo de parentes p 70 Al m disso ao observar os relacionamentos entre os membros dessas fam lias constata que tr s s o os principais problemas levantados pelos pais O primeiro deles o desinteresse de seus filhos em rela o escola chegando ao descr dito total de que ela pudesse significar a manuten o ou a eleva o do padr o econ mico da fam lia no futuro O segundo problema eram as drogas em especial a 183 maconha que na poca era a droga mais consumida pelos jovens Em terceiro lugar o comportamento sexual que se manifestava em duas
339. peradas um sujeito definido por exemplo pela natureza da jun o com o objeto p 334 A perspectiva da autora para o tratamento do estilo revela a potencialidade da teoria semi tica para explicar os fatos do discurso Sua preocupa o em mostrar as formas de explora o da iman ncia do discurso como um trabalho que n o descarta o hist rico aponta para a produtividade dos conceitos da teoria Na medida em que o discurso se constr i por um jogo de simulacros n o se descartam os valores consequentemente n o se deixa de identificar o ideol gico Por essa raz o que partir da iman ncia um caminho produtivo para apreender a forma de inser o hist rica Em seu trabalho embora trate constantemente do discurso jornal stico ou de tipos de textos que aparecem no jornal e do liter rio a autora n o se preocupa em discutir uma concep o de g nero Segundo Greimas e Cout s 19857 o g nero compreende uma classe de discurso que pode ser identificada a partir de crit rios de natureza socioletal Estes os crit rios de natureza socioletal podem provir quer de uma classifica o impl cita que repousa nas sociedades de tradi o oral sobre a categoriza o particular do mundo quer de uma teoria dos g neros que para muitas sociedades se apresenta sob a forma de uma taxionomia expl cita de car ter n o cient fico Dependente de um relativismo cultural evidente e fundada em postulados ideol gicos impl
340. plementaridade ocorre toda vez que o ethos do enunciador revelado em um discurso responde a uma car ncia do pathos Essa exatamente a situa o em que se encaixam os livros da auto ajuda sobre os quais tratei nos dois ltimos cap tulos deste trabalho O leitor de auto ajuda portanto um leitor em falta e o que ele busca nos livros que l uma resposta para essa falta Por meio do exame de dois diferentes recortes do corpus da pesquisa expressos nos cap tulos 3 e 4 procurei observar as caracter sticas discursivas dos diferentes textos escolhidos pelos leitores e distribu los em classes tem ticas para poder tra ar o perfil do leitor brasileiro contempor neo Uma vez que identifiquei que os livros de auto ajuda aumentam d cada a d cada nas listas dos mais vendidos procurei examinar mais atentamente o significado dessas escolhas O que afirmei acima sobre o processo de complementaridade entre o ethos do enunciador e o pathos do enunciat rio em fun o do estado de falta pode ser explicado por meio dos diferentes enfoques a respeito do comportamento dos indiv duos nas sociedades contempor neas apresentados no cap tulo 5 As principais causas apontadas para a instaura o desse estado de falta s o o crescimento do individualismo a descren a nas institui es na religi o e a vis o conspirat ria da hist ria Como p de ser observado pela refer ncia aos estudos de diferentes autores que trataram das quest es das sociedade
341. pleto E Ensino m dio E Ensino b sico Quanto classe social 9 24 38 BADBOCRDeE Perfil econ mico Faixa et ria m dia 35 anos Leitores que possuem 13 21 22 24 20 EB Casa apartamento pr prio E Conta banc ria m Cheque especial o Caderneta de poupan a m Cart o de cr dito 11 Constitu do como um jornal marcadamente de editores o Leia Livros n o s reflete as prefer ncias de leitura do leitor brasileiro como tamb m a influencia pois n o s o poucas as vezes em que uma reportagem sobre determinado livro n o o leve no m s seguinte a um dos dez postos da lista dos mais vendidos Outro fator que influencia muito o aparecimento de um t tulo na lista dos mais vendidos s o as adapta es feitas para o cinema ou principalmente para as mini s ries da Rede Globo Esse o caso por exemplo do livro de Guimar es Rosa Grande sert o veredas que aparece em oitavo lugar na lista dos mais vendidos do n 87 do Leia Livros de janeiro de 1986 Nessa poca a Rede Globo passou a mini s rie dirigida por Walter George Durst que fazia adapta o da obra de Guimar es Rosa Um exemplo de adapta o de obra ao cinema que coloca o livro adaptado na lista dos mais vendidos o caso de O nome da rosa de Umberto Eco Traduzido para o portugu s em 1983 pela Nova Fronteira esse livro permaneceu na lista dos dez mais vendidos durante todo o ano de 1
342. pode ser verificada a tend ncia ao comportamento cultural do individualismo Da mesma forma que os outros autores Velho 2001 apresenta como explica o para essa inclina o a acelera o do processo de consumo da economia capitalista No volume Escritos sobre a universidade Chau publica uma s rie de textos mais exatamente oito ensaios escritos durante os ltimos vinte anos do s culo passado incluindo entre eles um do final da d cada de 70 e outro da de 80 Em seu livro a prop sito da discuss o sobre os problemas do ensino universit rio brasileiro procura mostrar como o principal subproduto do imagin rio social do neoliberalismo a ideologia p s moderna se v refletido na situa o do ensino de terceiro grau da sociedade contempor nea Segundo Chau 2001 a acumula o do capital da era p s moderna caracteriza se pela desintegra o vertical da produ o tecnologias eletr nicas diminui o dos estoques velocidade na qualifica o e desqualifica o da m o de obra acelera o do turnover da produ o do com rcio e do consumo pelo desenvolvimento das t cnicas de informa o e distribui o prolifera o do setor de servi os 184 crescimento da economia informal e paralela como resposta ao desemprego estrutural e novos meios para prover os servi os financeiros desregula o econ mica e forma o de grandes conglomerados financeiros que formam um nico mercado mundial com poder de coordena
343. por meio de um programa narrativo cujo sujeito deve entrar em conjun o com um objeto valor tematizado na compet ncia e din mica administrativa Esse objeto valor por sua vez deve mostrar se desvinculado dos estados passionais pr prios a uma administra o empresarial que valoriza apenas os interesses particulares de seus propriet rios qual seja a gan ncia e a cobi a pelo lucro Ao mesmo tempo h no texto uma oposi o entre modernidade vs tradi o figurativizado na contraposi o entre o novo modelo de empres rio Ricardo Semler e o velho modelo de empres rio pai de Ricardo A conjun o com o objeto valor manifestado no programa narrativo representa tamb m a manifesta o do sujeito que se constr i na narrativa 93 Em 17 por sua vez o programa narrativo b sico consiste na busca de conjun o com um objeto valor que representado pelo sucesso Enquanto resultado de uma disjun o com o emprego que possu a na Ford que foi o programa narrativo anterior o sujeito investe na busca do sucesso administrativo uma repara o da falta isto sua dignidade perdida Em verdade o fazer de Iacocca redunda num programa de san o ao fazer de seu ex patr o caracterizado anteriormente como percurso da vingan a Identificado como um sujeito oriundo de um estrato social marginalizado filho de imigrantes italianos Iacocca quer construir a imagem daquele que tem a for a e a capacidade de realizar tudo o que pretende n
344. posta por executivos consultores e profissionais que trabalham com o tema da gest o de pessoas cujo discurso ajusta se ao de auto ajuda de forma extremamente pr xima Outra fonte do trabalho de Martelli s o entrevistas gravadas com diretores ou gerentes do setor de Recursos Humanos de diferentes empresas multinacionais instaladas no estado de S o Paulo Segundo sua pesquisa a focaliza o dos aspectos individuais no gerenciamento empresarial parte da concep o de humaniza o que vai tomar conta dos neg cios tal como j p de ser observado por exemplo nos cap tulos anteriores quando abordei o livro de Semler Virando a pr pria mesa segundo lugar na lista dos mais vendidos no Brasil conforme o gr fico 1 em anexo Enquanto a administra o tradicional at meados dos anos 60 estava mais preocupada com a otimiza o das m quinas dos equipamentos dos materiais e dos recursos financeiros come a a se difundir a partir de ent o a concep o de que todos esses elementos ser o mais bem aproveitados se houver investimento no setor de pessoal isto nos empregados das empresas O que passa a dominar ent o a vis o hol stica de que indiv duos e empresa s o elementos interdependentes e que os neg cios ir o bem na medida em que as pessoas que trabalham sintam se bem ou se identifiquem com aquilo que fazem A fun o que cada indiv duo ocupa no mundo do trabalho passa a ser entendida como associada a outras necessid
345. pregnados O caso de O alquimista que comentarei mais adiante bastante caracter stico dessa vis o do leitor de Paulo Coelho que procurei aqui esbo ar Evidentemente pode haver outras raz es que levem o leitor a identificar se com o autor mas essa aqui mostrada muito comum quando se discute prefer ncia com alguns de seus leitores Para aprofundar um pouco mais essa contradi o entre o universal e o particular pr pria da mercadoria cultural retomarei uma vez mais Morin 1969 quando discute o que chama paradoxo entre as estruturas burocatizadas padronizadas e a originalidade 55 Esse paradoxo de tal ordem que se pode perguntar de que modo poss vel uma organiza o burocr tico industrial da cultura Essa possibilidade reside sem d vida na estrutura mesma do imagin rio O imagin rio se estrutura segundo arqu tipos existem figurinos modelo do esp rito humano que ordenam os sonhos e particularmente os sonhos racionalizados que s o os temas m ticos ou romanescos Regras conven es g neros art sticos imp em estruturas exteriores s obras enquanto situa es tipo e personagens tipo lhes fornecem as estruturas internas A an lise estrutural nos mostra que se podem reduzir os mitos a estruturas matem ticas Ora toda estrutura constante pode se conciliar com a norma industrial A ind stria cultural persegue a demonstra o sua maneira padronizando os grandes temas romanescos fazendo dos arqu tipos em e
346. que discutida tanto em Bakhtin 1997 quanto em Bakhtin 1981b O segundo a liga o indissol vel que se estabelece entre o enunciado e o estilo Procurarei a seguir mostrar como essas quest es s o por ele colocadas No que se refere ao primeiro aspecto deve se considerar que tanto os enunciados produzidos nos g neros prim rios quanto nos secund rios visam a uma resposta do outro isto a uma compreens o responsiva ativa 1997 p 298 Por essa raz o todo 199 enunciado de um desses dois g neros procura influenciar convencer o outro que corresponde a seu leitor A partir dessa constata o o autor afirma que todo enunciado ent o determinado por tr s fatores indissoci veis entre si O primeiro deles corresponde ao tratamento dado ao tema do enunciado Enquanto nos g neros prim rios o tema exaustivamente tratado nos g neros secund rios por ser da ordem das esferas criativas a exaust o do tema relativa e se d em condi es determinadas em fun o de uma dada abordagem do problema do material dos objetivos por atingir ou seja desde o in cio ele estar dentro dos limites de um intuito definido pelo autor 1997 p 300 grifos do autor O segundo fator decorre da capta o do intuito discursivo ou querer dizer do locutor que determina todo o enunciado p 300 por meio do qual o interlocutor direciona seu fazer compreensivo O terceiro e ltimo fator que determina a constitu
347. que diferentes personagens interagem em diferentes espa os S o narrativas cujos enredos se aproximam muito da din mica das telenovelas com desdobramentos de diferentes a es de personagens simultaneamente Acredito inclusive que por esse motivo que muitas dessas obras s o rapidamente adaptadas para o cinema e acabam em muitos casos tornando se grandes sucessos de bilheteria como o caso de Aeroporto O exorcista O chef o Autom vel Quanto ao romance policial brasileiro O Xang de Baker Street de J Soares que tamb m foi adaptado para o cinema embora n o o hollywoodiano as raz es que o colocam na categoria de leitura de passatempo sua estrat gia narrativa que se aproxima de um jogo de intera o com seu leitor Na busca da identifica o do criminoso das hist rias policiais o leitor atra do por falsas pistas e deve mover se durante sua leitura na tentativa de buscar os verdadeiros ind cios que o levem a identificar n o s o criminoso como tamb m o s motivo s que o levou aram a cometer o crime Essas narrativas aqui referidas quer 17 interessante observar que embora n o apare am muitos livros do g nero de romance policial nos gr ficos dos mais vendidos que apresento neste trabalho isso n o significa que n o sejam muito procurados pelos leitores brasileiros A raz o pela qual ent o n o aparecem nas listas que conforme j apontei anteriormente como o levantamento feito pelo n m
348. que surge na Europa e que se expande para os outros continentes Por muito tempo esses dois processos de mudan a ocorreram concomitantemente por m separados e distintos Embora afirme o autor que existem ainda algumas poucas popula es tribais na Am rica do Sul e na Nova Guin que se organizam segundo o sistema da primeira onda sua for a est praticamente extinta e ela foi substitu da pela segunda que avan a de maneira diferente em v rios pa ses enquanto em outros j est sendo suplantada pela for a da terceira onda ou com ela convive Ao caracterizar a onda industrialista Toffler 1993 diz o seguinte O industrialismo foi mais do que chamin s e linhas de montagem Foi um sistema social rico multiforme que tocou todos os aspectos da vida humana e atacou todas as fei es do passado da Primeira Onda Produziu a grande f brica de Willow Run fora de Detroit mas tamb m colocou o trator na fazenda a m quina de escrever no escrit rio a geladeira na cozinha Produziu o jornal e o cinema o trem suburbano e o DC 3 Deu nos cubismo e m sica de 12 tons Deu nos edif cios Bauhaus e cadeiras de Barcelona as greves brancas as p lulas de vitaminas e o prolongamento da dura o da vida Universalizou o rel gio de pulso e a urna eleitoral Mais importante interligou todas estas coisas montou as como uma m quina e formou o sistema social mais poderoso coeso e expansivo que o mundo j conheceu a civiliza o da Segund
349. r de mercadoria um reflexo do mecanismo semi tico nele envolvido O sujeito movido por um querer e busca no objeto que consome o contato com um saber capaz de dar uma resposta que satisfa a seu desejo Uma ltima considera o que posso fazer a respeito desse tipo de texto o fato de que o que se considera como bom livro de auto ajuda determinado por aquilo que certo grupo estabelece como modelo O que levou os leitores brasileiros a selecionarem esses treze livros como os de maior interesse para eles resultado n o s de uma poss vel campanha publicit ria de editoras para seus livros mas tamb m do imagin rio desse 95 p blico leitor que pode se dar quer pela comunica o individual entre eles quer pela pr pria exist ncia dessas listas de livros mais vendidos publicadas em diferentes peri dicos O que estou querendo dizer que o fato de um livro aparecer nessa lista j um ind cio para que aquele sujeito que queira adquirir um livro para ler valha se dela para hipoteticamente fazer uma boa escolha uma vez que o livro recomendado isto est entre os dez mais A segunda categoria em que distribuo os livros mais vendidos no per odo da pesquisa intitula se mem ria Diferentemente por m do subgrupo mundo empresarial da categoria da auto ajuda que tamb m s o mem rias os livros nela inclu dos n o t m como objetivo agir sobre o fazer do leitor O livro 12 consiste
350. r para doar lhe um saber qual seja a f rmula certa para obter sucesso pessoal e econ mico na vida 10 Opera o cavalo de Tr ia J J Ben tez O livro de Ben tez uma narrativa contada por um major aposentado da For a A rea Norte americana USAF em ingl s Esse major participou de um projeto secreto realizado por um setor de investiga es da NASA em colabora o com a CIA Em 30 de mar o de 1973 o major e outro colega chamado Eliseu fizeram uma viagem de recuo no tempo de quase dois mil anos e foram para Jerusal m onde puderam testemunhar os ltimos dias de Jesus Cristo na Terra desde sua entrada na cidade at sua pris o julgamento crucifica o e ressurrei o Essa sigilosa experi ncia realizada pela NASA em pleno centro de Israel foi batizada como Opera o Cavalo de Tr ia J perto de sua morte o major norte americano assiste na TV a uma reportagem sobre a vida de Cristo feita por Ben tez um rep rter espanhol Por essa raz o resolve entrar em contato com ele e sugerir secretamente um encontro entre os dois Eles se encontram e o major assegura a Ben tez que tem uma hist ria surpreendente para lhe revelar mas que isso s poder acontecer depois de sua morte Pouco tempo depois o major falece e o rep rter espanhol recebe uma carta com instru es em forma de charada por meio das quais poderia chegar ao di rio do major em que toda a aventura por ele vivida na Jerusal m dos tempos de Cri
351. r sentido quando crian a por minha m e e a de quando jovem pela menina especial que era objeto de meu amor de crian a Contudo embora estivesse contemplando a rvore esse amor em particular existia como uma sensa o de fundo Sentia amor por tudo O padre afastou se em sil ncio v rios passos e voltou a me olhar intensamente Muito bom disse Voc est aceitando a energia Notei que tinha os olhos ligeiramente fora de foco Como voc sabe perguntei Porque vejo seu campo de energia aumentando A profecia celestina de James Redfied p 130 1 Os outros livros da lista dos mais vendidos relacionados na mesma tabela 1 que n o se encaixam na categoria de auto ajuda s o na maior parte deles narrativas De um total de oito textos sete s o narrativas que classificaria como memorialista de a o e 37 intriga humor stica de fantasia e filos fica Apenas um n o de fic o e eu o chamo de texto hist rico Do ponto de vista do processo de modaliza o os dois livros de mem ria Olga de Fernando de Moraes e Esta o Carandiru de Dr uzio Varella pelo fato de afirmarem que est o contando fatos da realidade seu maior investimento modal recai sobre a proposi o da verdade saber ser Os procedimentos de modaliza o da narrativa em si s o bastante complexos uma vez que se sucedem em diferentes momentos das v rias etapas de transposi o entre sujeitos e objetos Da mesma form
352. ra afirma que a exemplo de muitas mulheres foi levada a acreditar que sempre haveria algu m mais forte para proteg la Com o fim de seu casamento por m deparou se com uma nova realidade precisava assumir suas responsabilidades sozinha e cuidar de si mesma Durante quatro anos torna se uma mulher independente que ganha seu pr prio sustento e que tem condi es de educar e criar seus tr s filhos mas quando se casa novamente acaba regredindo em seu comportamento e assume o papel padr o de uma dona de casa que vive para o lar e para o marido A atitude de seu novo marido de chamar lhe aten o para a invers o de seu comportamento leva a a produzir uma an lise dos padr es de cria o das mulheres na d cada de 1950 poca de sua inf ncia e adolesc ncia nos EUA educadas para serem sempre dependentes Recorrendo a estudos de psican lise sobre as fobias femininas o texto procura fazer um estudo antropol gico e psicol gico da condi o da mulher adulta na d cada de 1970 Esse estudo da psicologia feminina escrito por Dowling causa ainda hoje impacto entre suas leitoras Muitas se reconhecem cinderelas ao rejeitar inconscientemente suas responsabilidades e ao pensar que a solu o de todos os problemas depende de encontrar o seu pr ncipe encantado que ser seu eterno provedor e quem lhe oferecer a completa seguran a O quarto tema presente entre os livros de auto ajuda intitulei mundo empresarial e se refere
353. ra o texto leve de humor e a o enfim o entretenimento Os cinco livros de auto ajuda que fizeram sucesso nos primeiros anos do s culo XXI conforme foi acima mostrado pretendem oferecer algum tipo de resposta para problemas 137 enfrentados por diferentes pessoas do mundo real Se meu problema compreender melhor a rela o entre o amor e o sexo querer atingir a felicidade plena por meio do equil brio entre meu corpo e minha mente aceitar meus limites e o envelhecimento de meu pr prio corpo encontrar uma maneira de combater o des nimo que o dia a dia traz ou descobrir uma forma melhor de ganhar dinheiro sem ter que trabalhar tanto talvez as respostas possam estar nesses livros que escolho ler O livro de auto ajuda funciona como um doador de saber para que o sujeito possa realizar uma a o ou seja fazer portanto um discurso que delega uma compet ncia Os livros de mem ria s o tamb m outra maneira de abordar a individualidade pois trazem a p blico aspectos da vida privada de determinadas pessoas Na biografia de Chico Xavier desvendam se as diferentes particularidades da vida do mito do espiritismo brasileiro desde os castigos corporais que recebia da tia que passou a cuidar dele ap s a morte de sua m e at sua ang stia ao ser agredido publicamente Em Esta o Carandiru embora haja o retrato de um problema social que o dos pres dios brasileiros superlotados o relato de Dr uzio Varella parte de sua
354. racional que recusa o sentido do transcendente p 131 2 No Brasil e em v rios outros pa ses do Ocidente ao inv s de recorrer ao esoterismo filosofia budista aos relaxamentos s terapias corporais etc a popula o das camadas sociais mais baixas substitui o culto tradicional da igreja cat lica pelas reuni es nas diferentes igrejas evang licas que surgem nas mais diversas cidades de cada pa s Embora funcionem como um controlador da moral muito mais opressivo que as op es feitas pelas camadas m dias e altas da sociedade duas caracter sticas principais marcam essa escolha religiosa Em primeiro lugar o refor o do princ pio do bem e do mal incorporados respectivamente no seguidor dos ensinamentos difundidos pela igreja e naquele que deles se afasta Os problemas sociais s o apagados e a diferen a entre felicidade e infelicidade resume se a um pacto com deus ou com o dem nio Em segundo lugar nessas igrejas a contribui o monet ria devida por seus seguidores tem uma import ncia determinante pois n o se pode fregiientar esse tipo de culto sem doar alguma quantia de dinheiro por mais baixa que ela seja Os princ pios capitalistas aliam se ao religioso Essa quest o mereceria uma discuss o mais aprofundada porque h diferentes fatores envolvidos no crescimento e difus o dessas seitas evang licas e de igrejas universais N o me adensarei nessa discuss o por um lado porque essa quest o n o levantada pel
355. re sua loja no Rio de Janeiro sendo seguido mais tarde por outros editores franceses ou de forma o francesa como Baptiste Louis Garnier e Eduard Laemmert O mercado editorial brasileiro cresce lentamente e somente na primeira metade do s culo XX que atinge um impulso maior podendo se destacar nessa poca a figura de Monteiro Lobato com sua iniciante Revista do Brasil Posteriormente outras editoras v o aparecendo e principalmente a partir da d cada de 60 o mercado editorial brasileiro vai se diversificando e modernizando com a incorpora o de diferentes tipos de livro a cole o o livro de bolso o livro did tico a literatura infantil etc 56 As listas dos livros mais vendidos no Brasil durante o per odo de 1966 a 2004 revelam portanto uma dimens o hist rica da produ o e consumo dessa mercadoria cultural que o livro Por meio de um levantamento estat stico das obras que aparecem entre as mais vendidas posso realizar um primeiro exame interpretativo que consiste em verificar quais s o os livros mais lidos pelo p blico leitor brasileiro no per odo de tempo acima referido e qual a tem tica explorada por eles No cap tulo 1 mostrei como e em que per odo as listas dos mais vendidos foram publicadas nos dois jornais de que me vali para estabelecer o corpus Resta dizer ainda que esses dois ve culos informativos sempre declararam que o levantamento dos livros mais vendidos era feito por meio de uma consul
356. rece uma nova lista com os dez livros nacionais mais vendidos sendo que muitos deles j apareceram na lista anterior Abaixo dessa segunda lista aparece uma terceira em que constam os dez livros de literatura infantil mais vendidos no m s Nenhum desses livros infantis por m havia aparecido na primeira lista a dos vinte mais vendidos A Leia sobrevive por mais dois anos chegando ao seu ltimo e derradeiro n mero o 155 de setembro de 1991 Como tinha o prop sito de abarcar um per odo de tempo mais extenso que o das publica es de Leia precisei procurar outro ve culo impresso que apresentasse listas de livros mais vendidos no Brasil antes do per odo inicial de Leia e depois de seu desaparecimento Cabe dizer ainda que s foi poss vel levantar todos os n meros de Leia quando pude visitar a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro A coleta que havia feito previamente antes de obter o aux lio da FAPESP compreendia boa parte de todos os volumes de Leia mas muitas lacunas existiam porque certos n meros do jornal n o podiam ser encontrados nas cole es das duas bibliotecas M rio de Andrade tanto a de Araraquara quanto a de S o Paulo N o foi poss vel encontrar um ve culo impresso que apresentasse listas dos livros mais vendidos no Brasil a partir de 1960 como era minha inten o inicial Tive acesso cole o da Revista do Livro que existiu no Brasil desde os anos 30 em visita biblioteca de livros antigos
357. reditar na for a divina atingir a felicidade e o equil brio constante 6 2 7 Individualidade e feminilidade O ltimo subtipo dos textos de auto ajuda corresponde a Complexo de Cinderela de Colette Dowling Na verdade poderia perfeitamente encaixar se no subtipo que denominei autoconhecimento pois essa ltima obra trata exatamente dessa quest o Mas o que a difere das sete outras que classifiquei como autoconhecimento a estrat gia textual de que se vale Enquanto os outros textos apelam para um conhecimento que levar o leitor a dirigir seu comportamento suas atitudes de modo a acreditar na for a de pensamento a obra de Dowling assume o lugar de um discurso de investiga o Num misto entre o depoimento autobiogr fico a pesquisa com mulheres que viveram a mesma situa o do sujeito enunciador e as explica es psicanal ticas o discurso constr i a verdade de seu dizer O princ pio de constru o do sentido desse texto uma vez mais o da defini o Ao afirmar o nome o t tulo remete explica o do que significa o complexo de Cinderela A voz enunciadora n o a de um m dico nem a de um psicanalista que est investido de um saber a ser revelado para seu interlocutor O princ pio de autoridade desse sujeito n o o da compet ncia pela forma o mas o da compet ncia pela experi ncia pois a abordagem da problem tica da depend ncia feminina mostrada por algu m que a viveu e que sofreu
358. rence O livro no Brasil Sua hist ria Tradu o Maria da Penha Villalobos e L lio Louren o de Oliveira S o Paulo T A Queiroz e EDUSP 1985 232 JAKOBSON Roman Lingii stica e comunica o Tradu o Izidoro Blikstein e Jos Paulo Paes S o Paulo Cultrix 1975 LACERDA L lian de lbum de leitura Mem ria de vida hist rias de leitoras S o Paulo Editora UNESP 2003 LAJOLO Marisa amp ZILBERMAN Regina A forma o da leitura no Brasil S o Paulo tica 1999 S rie Temas 38 LASCH Christoper A cultura do narcisismo A vida americana numa era de esperan as em decl nio Tradu o Ernani Pavaneli Rio de Janeiro Imago 1983 O m nimo eu Sobreviv ncia ps quica em tempos dif ceis Tradu o Jo o Roberto Martins Filho S o Paulo Brasiliense 1990 LIPOVETSKY Gilles A era do vazio Ensaios sobre o individualismo contempor neo Tradu o Therezinha Monteiro Deutsch Barueri SP Manole 2005a A sociedade p s moralista O crep sculo do dever e a tica indolor dos novos tempos democr ticos Tradu o Armando Braio Ara Barueri SP Manole 2005b MANGUEL Alberto Uma hist ria da leitura Tradu o Pedro Maia Soares S o Paulo Companhia das Letras 1997 MARTELLI Carla Giani Auto ajuda e gest o de neg cios Uma parceria de sucesso Rio de Janeiro Azougue editorial 2006 MARTINS Marcelo Machado Narrativa policial uma abordagem semi tica S o Paulo 2000
359. rer sobre o ser do enunciat rio De certa forma o p blico que consome determinada obra impulsionado por esse querer que aqui j posso arriscar dizer tem por objetivo preencher duas fun es por um lado o leitor quer estar informado sobre alguma coisa o que no caso dos livros mais vendidos corresponderia a estar inserido no universo de conhecimento dos leitores que l em o que o mercado editorial publica por outro lado esse movimento de leitura pode se dar por identifica o ou seja o 29 leitor l aquilo que julga ser sua pr pria verdade ou arriscando mais ainda aquilo que ele deseja ouvir ler para reafirmar sua verdade 2 1 Paix o e apaixonados nos discursos mais lidos pelo p blico brasileiro A quest o da paix o para a semi tica n o diz respeito especificamente como algumas vezes acaba sendo interpretada a um estado amoroso Ela deve ser entendida como uma caracter stica pr pria do discurso que pode como j diziam Greimas e Fontanille 1993 tanto manifestar se no dizer do sujeito do discurso como naquilo que dito 2 n o apenas o sujeito do discurso suscet vel de transformar se em sujeito apaixonado perturbando seu dizer cognitiva e pragmaticamente programado mas Z tamb m o sujeito do dito discursivo capaz de interromper e de desviar sua pr pria racionalidade narrativa para emprestar um percurso passional ou mesmo acompanhar o precedente perturbando o por suas puls
360. res em que o componente er tico fortemente marcado Para se ter uma id ia do car ter er tico da narrativa na primeira parte da hist ria o narrador encontra Mara uma mulher de programas por quem sente uma arrebatadora paix o cujo ponto culminante a descri o da rela o sexual entre os dois num t xi Embarcamos num t xi e enquanto ele circulava Mara impulsivamente trepou por cima de mim e me abriu as pernas Entregamo nos a uma foda cega com o t xi guinando e descaindo nossos dentes batendo as l nguas mordidas e o suco fluindo dela como sopa quente Quando pass vamos por uma pra a aberta no outro lado do rio precisamente ao romper do dia capturei o olhar espantado de um policial enquanto trafeg vamos velozmente Agarrou se a mim como uma sanguessuga sacudindo sua bunda escorregadia num frenesi de abandono Senti o sumo quente escorrendo me atrav s dos dedos Tinha todos os quatro dedos enfiados em sua xoxota agitando o musgo l quido que vibrava com espasmos el tricos Teve dois ou tr s orgasmos e ent o caiu para tr s exausta sorrindo fracamente para mim como um cor a acuada p 13 4 A narrativa fala de um eu que quer escrever que quer ser escritor para construir a autobiografia de Henry Miller Suas experi ncia s o del rios sexuais mistura de prazer marginalidade sujeira e loucuras seu lema carpe diem Durante a d cada de 60 esse o segundo livro na lista dos mais vendidos
361. res de um determinado grupo social mas na medida em que adquire o estatuto de bem industrial que deve circular no mercado pode expandir se ideologicamente para outros contextos Esse o fen meno que pode ser constatado quando observo por exemplo que um autor como Paulo Coelho o que mais vende no Brasil no per odo de trinta e oito anos 1966 a 2000 a que se refere o corpus levantado para esta pesquisa Al m disso segundo informa es 2 divulgadas recentemente pela imprensa escrita e televisiva Paulo Coelho o segundo 7 Quest o j apontada pelo leitor ga cho de Leia citado no item 1 Descri o do corpus da pesquisa 54 autor mais vendido no planeta e n o apenas no Brasil Nesse sentido valem ainda as seguintes considera es de Morin 1969 p 18 A cultura de massa integra e se integra ao mesmo tempo numa realidade policultural faz se conter controlar censurar pelo Estado pela Igreja e simultaneamente tende a corroer a desagregar as outras culturas A esse t tulo ela n o absolutamente aut noma ela pode embeber se de cultura nacional religiosa ou humanista e por sua vez ela embebe as culturas nacional religiosa ou humanista Embora n o sendo a nica cultura do s culo XX a corrente verdadeiramente maci a e nova deste s culo Nascida nos Estados Unidos j se aclimatou Europa Ocidental Alguns de seus elementos se espalharam por todo o Globo Ela cosmopolita por voca o e
362. res e n o s numa biblioteca ou escrit rio por exemplo Os livros de Rowling oferecem aventuras e perip cias de um her i em seu mundo m gico e ao mesmo tempo t m suas vendas incrementadas pelo jogo 138 editorial criado com as obras da autora na medida em que ela estabelece uma rela o de expectativa com seus leitores pois eles devem aguardar uma nova hist ria a cada ano a t cnica mercadol gica da cole o que se instaura com o p blico infantil A garotada sente se impelida a colecionar todos os livros como quem coleciona figurinhas O livro de Chico Buarque inclu do na categoria do realismo ficcional al m de criar um jogo constante com o duplo travestido nas duas vidas do mesmo sujeito que poderia ser considerado uma dupla personagem aborda as quest es do mundo moderno como a crise do casamento a dist ncia entre pais e filhos a preponder ncia das quest es do trabalho respons veis pelo estresse e pela ansiedade do homem contempor neo a agita o das grandes cidades como o Rio de Janeiro Nesse sentido portanto ele um texto fruto da quest o central do individualismo que se foi aqui observando Al m disso se incorporar o conceito de indiferen a proposto por Lipovetski 2005a quando afirma que a sociedade p s moderna marcada pela descren a relativa ao saber ao poder ao trabalho ao ex rcito fam lia Igreja aos partidos etc p 18 poss vel entender a personagem central do
363. res piadas do planeta e da Casseta de Casseta e Planeta em 1998 Mil piadas do Brasil de Laert Sarrumor em 1998 O clube dos anjos de Lu s Fernando Ver ssimo em 1999 A mesa voadora de Lu s Fernando Ver ssimo em 2001 etc A categoria de humor constitu da por livros que se apresentam como uma sele o de cr nicas de piadas de levantamento l xico Schifaizfavoire e Mas ser o Benedito de M rio Prata e de frases O melhor do mau humor de Ruy Castro Esse o tipo de leitura caracter stica do passatempo da descontra o do leitor que quer se distrair com assuntos engra ados e leves Al m disso esse tipo de livro permite uma leitura mais fragmentada e at coletiva uma vez que pode ser compartilhada mais facilmente entre as diversas pessoas de um mesmo grupo como no ambiente de trabalho por exemplo Uma quinta categoria que chamarei fantasia ainda pode ser identificada nas listas dos mais vendidos Trata se de dois romances de fic o 7 e 14 que d o in cio a uma segii ncia de outras hist rias dentro do mesmo contexto devido ao grande sucesso de vendas que o primeiro volume atingiu Os leitores desse tipo de literatura envolvem se com uma trama que se desdobra em diferentes epis dios cujo n cleo narrativo instaura novas situa es Embora o levantamento dos mais vendidos registre o primeiro livro de cada uma das s ries como os mais vendidos sabe se que muitos leitores acabaram lendo a s rie toda c
364. respons vel pelo delineamento do estilo Na medida portanto em que o estilo um reflexo como prop s Discini 2003 da manifesta o do ator da enuncia o a apreens o do estilo dos textos de auto ajuda pode ser detectada por meio do exame das regularidades e irregularidades ou das vari ncias e invari ncias da inst ncia da enuncia o nos diferentes textos de auto ajuda Assim o que constato por meio das observa es aqui apresentadas que se tomo o conceito de g nero proposto por Bakhtin enquanto distin o entre a manuten o de um tra o de interlocu o direta simples entre sujeitos por um lado e de interlocu o indireta complexa por outro percebo que h um equil brio entre os textos de auto ajuda que podem ser classificados como de g nero prim rio 12 e os que pertencem ao g nero secund rio 11 Por outro lado se retomo as coloca es de Bahktin 1981a sobre a mobilidade e a transforma o dos g neros posso reafirmar a proposta de Oliveira 2006 de que a auto ajuda um novo g nero que consiste na transforma o e na reapropria o de g neros antigos O que poss vel identificar por m que o emprego de linguagem simples caracter stica do registro coloquial est presente tanto nos textos que classifiquei como pertencentes ao g nero prim rio proposto por Bakhtin uma vez que essa uma caracter stica desse g nero quanto na maioria dos textos que classifiquei como pertencentes ao g
365. reud a que nos causa os sofrimentos mais penosos pois uma condi o de nosso estado civilizador a conviv ncia com outros homens O que as escolhas de leitura dos leitores brasileiros das ltimas d cadas revelam por m que a primeira causa da infelicidade passa a adquirir uma dimens o maior do que a que apresentava na poca em que Freud a observou A preocupa o com a est tica corporal com o culto ao corpo com as dietas com a cirurgia est tica revela que a frustra o em rela o s altera es do pr prio corpo tem aumentando nos homens das sociedades contempor neas O aperfei oamento tecnol gico consegiiente do processo civilizador passa a ser uma esperan a para retardar a a o da decad ncia f sica causada pela velhice ou para corrigir a anatomia dos corpos que porventura venham a se afastar do padr o est tico valorizado Com rela o infelicidade que decorr ncia da conviv ncia com os outros o autor levanta algumas formas de escape que apontam para diferentes manifesta es do comportamento narc sico do homem contempor neo Segundo ele uma maneira de evitar o sofrimento pelo contato com os outros o isolamento mas como o homem depende do conv vio com seus semelhantes para atingir outros objetivos cria diferentes maneiras de afastamento Freud fala em quatro formas de isolamento a intoxica o a mania o deslocamento da libido e a aliena o da realidade A primeira consiste na utiliza o de um
366. ria libertar o povo judeu dos romanos O fato de essa s rie ainda continuar sendo editada mostra o interesse que ainda desperta no p blico leitor contempor neo No exame das obras mais consumidas pelo p blico leitor brasileiro destaca se um livro que corresponde isoladamente a uma quarta categoria qual seja a do livro de humor 97 Esse o caso de 4 que trata a quest o da mentira em diversas situa es cotidianas conforme foi mostrado na caracteriza o do livro Embora apare a isolado na rela o dos mais vendidos apresentada pelo gr fico 1 esse tipo de leitura bastante comum durante o per odo correspondente ao corpus da pesquisa em que s o encontrados por exemplo livros como Festival de besteira que assola o pa s de Stanislaw Ponte Preta em 1968 O batizado da vaca de Chico An sio em 1972 O enterro do an o de Chico An sio em 1973 mentira Terta de Chico An sio em 1973 Tocador de tuba de Chico An sio em 1978 O analista de Baj de Lu s Fernando Ver ssimo em 1982 O gigol das palavras de Lu s Fernando Ver ssimo em 1982 A mulher do Silva de Lu s Fernando Ver ssimo em 1985 O melhor do mau humor de Ruy Castro em 1990 Mem rias de um amante desastrado de Groucho Marx em 1991 Schifaizfavoire de M rio Prata em 1993 Com dia da vida privada de Lu s Fernando Ver ssimo em 1995 Mas ser o Benedito de M rio Prata em 1996 Uma pulga na camisola de Max Nunes em 1996 As melho
367. rica Latina Em seu livro o autor quebra a cronologia linear da historiografia oficial para desnudar o saque ao continente que persiste desde o descobrimento Analisando os mecanismos de poder os modos de produ o e os sistemas de expropria o Eduardo Galeano reescreve a hist ria da Am rica Latina e exp e os quinhentos anos de explora o econ mica e de mis ria social A segunda categoria dos livros mais lidos em 70 inaugura a rubrica de auto ajuda e nela aparecem tr s nomes Como a auto ajuda compreende diferentes tem ticas nomeei cada uma delas seguindo as mesmas denomina es anteriormente utilizadas sempre que poss vel ao me referir aos livros indicados nas listas A primeira tem tica denominei esoterismo e o livro que nela aparece O profeta de Khalil Gibran Esse livro considerado por seus admiradores uma prosa po tica que 112 trata de temas esot ricos Um profeta despede se do povo de Orphalese ap s doze anos de conviv ncia e antes da partida compartilha sua sabedoria tratando de temas como o amor a liberdade e a morte S o diferentes atores que questionam o profeta sobre diferentes quest es Altamira a vidente pede para que fale sobre o amor e o matrim nio uma m e sobre os filhos um homem rico sobre a d diva um velho estalajadeiro sobre a comida e a bebida um lavrador sobre o trabalho uma mulher sobre a alegria e a tristeza um pedreiro sobre as habita es um tecel o sobre as roup
368. rimeira s aparecem hist rias ou coment rios a respeito de situa es absurdas envolvendo a pol tica ou os pol ticos do regime militar que havia ent o sido instaurado no pa s Na segunda parte h cr ticas a diferentes situa es como por exemplo na cr nica O antol gico Lalau p 53 5 em que o narrador assume a condi o actorial de autor e conta o que um livro did tico fez com um texto que ele havia publicado O livro de Eliachar faz um humor mais leve por meio de cr nicas frases charges e desenhos Como exemplo de frase chamadas de verdades inadi veis destacam se as seguintes O cigarro n o provoca c ncer O c ncer que vive provocando o cigarro p 73 De an ncios modernos TROCA SE um r dio de pilha por uma pilha de livros sobre como consertar um r dio de pilha p 93 Na terceira categoria tem tica que chamei mem ria aparecem tr s livros Distintamente dos livros das duas categorias anteriores eles se distanciam totalmente da 107 quest o social e passam a focalizar problem ticas mais particulares o que pr prio do g nero mem ria aproximando se muito da quest o da individualidade anteriormente referida O primeiro deles Sexus de Henry Miller o primeiro volume de uma trilogia do autor intitulada A crucifica o encarnada que compreende tr s livros Sexus Plexus e Nexus Trata se de uma autobiografia em que o narrador conta suas experi ncias com as mulhe
369. rio Como no mito grego de Narciso a auto sedu o embora impulsionada por Eros leva ao encontro de T natos 182 5 5 O narcisismo na vis o brasileira Para concluir esse levantamento sobre as concep es de narcisismo e de individualismo nas sociedades contempor neas farei refer ncia ainda a dois autores brasileiros que tamb m tratam dessa quest o em seus trabalhos Trarei para essa discuss o as vozes de Velho 2004 e de Chau 2001 Ao observar a sociedade brasileira atual segundo uma perspectiva antropol gica Velho 2004 ir cham la sociedade complexa industrial Segundo ele sua organiza o uma consegii ncia da revolu o industrial e est ligada a um espantoso aumento da produ o e do consumo articula o de um mercado mundial e a um r pido e violento processo de crescimento urbano p 17 Por esse motivo seu trabalho consiste em examinar os centros urbanos contempor neos principalmente a cidade do Rio de Janeiro porque em sua perspectiva o locus por excel ncia desse tipo de sociedade s o exatamente as grandes metr poles Para ele uma das caracter sticas que marca esse tipo de sociedade a conviv ncia em um mesmo espa o de id ias e comportamentos antag nicos que ao inv s de se chocarem entre si acabam tendo uma conviv ncia relativamente equilibrada A grande urbe moderna heter clita e heterog nea um espa o conservador e progressista ao mesmo tempo diferente das
370. ro fala que o que o leitor acabou de ler a verdadeira hist ria de uma brasileira que conheceu durante uma viagem Europa N o o classifiquei como um livro de esoterismo que a marca registrada de seu autor porque nesse livro esse n o o tra o mais forte embora n o deixe de aparecer Em verdade ele parece ser um livro escrito para a mulher para defender a id ia de que o amor existe e que ele pode ser atingido O final da hist ria o eterno clich da mo a pobre que conhece um homem riqu ssimo com quem descobre o verdadeiro amor A segunda tem tica presente nos livros de auto ajuda mais vendidos nos anos 2000 a do autoconhecimento Os tr s livros que nela est o classificados s o A arte da felicidade de Dalai Lama e Howard Cutler Perdas e ganhos de Lya Luft e Um dia daqueles de Bradley Greive Sobre o primeiro deles A arte da felicidade j fiz coment rios de sua organiza o tem tico discursiva no cap tulo anterior O livro de Lya Luft por sua vez alia mem rias a uma vis o sobre o processo de amadurecimento e envelhecimento da mulher Partindo de suas pr prias experi ncias de vida o enunciador que projeta sua imagem a partir do conceito de autor real dirige se para um enunciat rio imagem criada como reflexo dos leitores reais aos quais chama inclusive de amigos para com eles refletir sobre velhice amor inf ncia educa o fam lia liberdade homens e mulheres gente de verdade e a
371. ro momento a identifica o do princ pio de narratividade do discurso p de dar conta da descri o de diferentes formas de sujeito no texto Essa explora o foi bastante prof cua quando se estudaram os textos liter rios em que a concep o da transforma o a narratividade fica muito mais vis vel devido ao car ter narrativo desse tipo de texto Puderam se ent o descrever as diferentes posi es desse sujeito nos enunciados e apreender o jogo modal que desses enunciados de estado em associa o com os enunciados de fazer se depreendia A primeira proposta da semi tica das paix es de Greimas e Fontanille 1993 estava presa ainda inst ncia narrativa porque entendia o jogo de constru o passional a partir das manifesta es dos sujeitos narrativos As an lises da avareza e do ci me s o interpreta es centradas nas paix es narrativas e n o nas discursivas O grande problema para a teoria semi tica no que se refere ao exame dessas paix es veio a se constituir no momento em que ela retomou os antigos postulados da ret rica e deslocou seu foco do exame da inst ncia narrativa para o da discursiva Se os estados passionais podem ser narrativamente constru dos no texto o que os torna figuras da narrativa tamb m podem manifestar se na forma de dizer constituindo se ent o em figuras do discurso Isso quer dizer que a paix o no discurso corresponde a uma forma de a o do enunciador sobre o enunciat rio A identifica
372. roem se a partir de outra configura o tipol gica O primeiro tem por t tulo o nome da personagem central da narrativa e o segundo refere se denomina o de um grupo de mulheres respons veis por salvaguardar o conhecimento sobre as leis dos anjos Esses dois livros s o apresentados como relatos de fatos verdadeiramente acontecidos na vida do sujeito enunciador Embora no pr logo de Brida o autor fale que tudo que est relatado no livro lhe foi contado pela pr pria Brida conforme j ficou demonstrado no cap tulo tr s deste trabalho seu discurso enunciado sob a forma da terceira pessoa o que lhe assegura o princ pio de objetividade do relato Em As Valgu rias o recurso da objetividade se mant m chegando ao artif cio discursivo de um enunciador em terceira pessoa referir se a uma personagem que uma representa o do pr prio autor Paulo Coelho O ltimo livro dessa categoria de misticismo e esoterismo A profecia celestina de James Redfield Trata se de uma narrativa em primeira pessoa que prop e apresentar uma vis o c smica da felicidade plena e do equil brio nos relacionamentos humanos 209 Diferentemente dos quatro anteriormente referidos sua constru o aproxima se do romance de a o e intriga H um mist rio que envolve o desaparecimento de certas pessoas e o assassinato de outras Todos aqueles que est o envolvidos na descoberta e na propaga o dos ensinamentos do velho documento escrito em aramaic
373. rop sito de explicar as raz es que levam esse leitor a realizar suas escolhas Nesse sentido portanto o objetivo central do trabalho ser examinar o perfil desse leitor brasileiro O levantamento dos dados para estabelecer o corpus da pesquisa foi realizado por meio do registro das listas de livros mais vendidos publicadas em dois jornais brasileiros O primeiro jornal fonte da pesquisa foi o Leia peri dico mensal que circulou no territ rio nacional durante o per odo de abril de 1978 a setembro de 1991 O segundo foi o Jornal do Brasil di rio carioca que publicou listas dos livros mais vendidos no Brasil a partir de 1966 at o m s de dezembro de 2004 data de encerramento da pesquisa em caderno destinado leitura Como o segundo jornal interrompeu a publica o das listas dos mais vendidos durante o per odo de fevereiro de 1976 a abril de 1984 propusemos uma fus o dos dados dos dois jornais de forma a cobrir um per odo que compreende os anos de 1966 at 2004 A base te rica a partir da qual se estabeleceu o exame do perfil do leitor brasileiro foi a semi tica da escola de Paris Para o tratamento da quest o da leitura elegeu se o exame das manifesta es da enuncia o no discurso as proje es do enunciador e do enunciat rio e o tratamento das paix es Foram observados em cada um dos textos do corpus como essas categorias enunciativas projetam se em cada um dos textos mais lidos pelos leitores brasileiros e posteriormente
374. ros pode ser percebido pela maneira como constru do e pelo p blico ao qual se dirige Diferentemente 99 de todos os outros elencados nas categorias anteriores com exce o da s rie de Harry Potter esses dois livros configuram um narrat rio mais infanto juvenil que adulto embora conforme j apontei anteriormente isso n o se d da mesma forma em rela o a seu enunciat rio que inclui os adultos Os romances de Jostein Gaarder 3 e Eduardo Bueno 15 s o apreendidos pelo p blico leitor como textos de aquisi o de saber A estrutura did tico expositiva de O mundo de Sofia parece tornar claros intricados pressupostos filos ficos do mundo Ocidental O efeito de sentido que causa no leitor o de apreens o de conhecimento embora muitas vezes banalize certos pontos de determinadas correntes de pensamento para garantir essa didaticidade J em A viagem do descobrimento o efeito pretendido o de questionar uma vers o dos fatos da hist ria brasileira para mostrar por meio de documentos da poca os verdadeiros interesses e conhecimentos de Portugal para a descoberta do Brasil Tornados livros obrigat rios em cursos de segundo grau de diferentes escolas esses livros adquiriram status de literatura cult Tomando em considera o o levantamento geral dos livros mais vendidos no Brasil durante o per odo de 1966 a 2004 expresso na tabela 1 posso identificar que o leitor brasileiro contempor neo busca nos livros que
375. ros que lhe apontam conforme nos trechos acima destacados de Khalil Gibran e N lson Senise um centramento no eu na medida em que essas obras refor am a id ia de que cada sujeito respons vel por tudo o que lhe acontece que tudo uma decorr ncia de sua escolha Esse crescimento dos valores individualistas mant m rela o ainda com uma valoriza o cada vez maior na poca contempor nea do irracionalismo que defende a perspectiva de que a capacidade humana para apreender a realidade maior quando supera os limites do racional A nega o da racionalidade exclui em geral o campo das ci ncias naturais e matem ticas bem como o da ind stria e da t cnica para concentrar se no das realidades propriamente humanas sociais e hist ricas O termo irracionalismo designa uma corrente de pensamento muito difundida no final do s culo XIX e in cio do s culo XX principalmente entre os fil sofos europeus Com ra zes na metaf sica o irracionalismo enfatiza o papel do instinto do sentimento e da vontade em oposi o raz o Para a ontologia implica que o mundo n o tem estrutura racional sentido ou prop sito para a epistemologia que a raz o incapaz de apreender o universo sem distor es para a antropologia que o componente irracional dominante na natureza humana Segundo a leitura que fa o do perfil do leitor brasileiro contempor neo de que ele se constitui al m da oposi o entre os tra os coletivi
376. rtamento moral do sexo voltado para a procria o e a perpetua o da institui o familiar base das rela es sociais deve ser quebrado e o que se deve procurar assegurar o prazer verdadeiro princ pio da sexualidade humana Entre os sujeitos em rela o no jogo enunciativo da narrativa de Kundera o que se instaura luta entre a necessidade dever ser que individual e a impossibilidade dever n o ser que social Ao mesmo tempo que o comportamento social imp e a ren ncia n o querer ser o homem vive o desejo querer ser Essa luta entre o impulso e a conten o dramatizada na hist ria narrada pela opress o do regime comunista a partir da focaliza o da quest o da sexualidade que seria a forma m xima de opress o pois interfere na identidade do sujeito O car ter de auto ajuda que se identifica nesse livro manifesta se em sua inten o de mostrar a seu leitor que ele pode e deve se preocupar com sua individualidade respondendo positivamente a seu desejo de n o querer viver sob uma ditadura do comportamento coletivo De forma semelhante mas num outro contexto aparece o livro de Paulo Coelho Onze minutos Uma vez mais o que est sendo afirmado nesse texto narrativo a legitima o da individualidade A express o que d nome ao livro onze minutos refere se ao tempo de dura o do prazer numa rela o sexual segundo a tica da personagem central Maria Distante de qualquer posi o ideol g
377. rtigos A arte da felicidade Um dia daqueles Intelig ncia emocional Perdas e ganhos e Comunica o global e outros dois a frases completas O sucesso n o ocorre por acaso e Voc pode curar sua vida sendo que apenas no t tulo do livro de Louise Hay aparece um modalizador O enunciado modal do poder sobredetermina o enunciado do fazer curar e essa rela o que se estabelece entre eles tomada do ponto de vista da proje o no quadrado semi tico recebe a denomina o de liberdade Segundo Greimas e Cout s 19857 a estrutura modal do poder fazer paralela do dever fazer e ao serem projetadas no quadrado semi tico a denomina o liberdade poder fazer corresponde permissividade n o dever n o fazer Assim no enunciado que d t tulo ao livro de Louise Hay um enunciador afirma a seu enunciat rio que ele tem a escolha de realizar um fazer que consiste em curar sua vida Nessa rela o entre os dois sujeitos projetados pela enuncia o instaura se uma modaliza o pelo querer volitiva pois para que o destinat rio do enunciado fa a preciso que ele queira E para instaurar o querer necess rio inicialmente que se construa a certeza isto que o que diz o enunciador e pare a verdade a partir do reconhecimento da verdade o enunciat rio adquire a certeza crer ser do fazer do enunciador Cumpre observar ainda que o sintagma que completa o verbo curar que
378. ru das no ambiente da fantasia saber n o ser relacionam se com o mundo real saber ser na medida em que reconstituem os fatos deste na situa o daquele No caso de As brumas de Avalon os poderes da sensibilidade feminina pr pria das fadas resgatam a import ncia da mulher no mundo contempor neo e no caso das perip cias de Harry Potter embora os bruxos possuam poderes m gicos que lhes permitem realizar a es sobrenaturais suas atitudes seus comportamentos e suas formas de organiza o social reproduzem os do mundo humano 4 Na tabela 1 h apenas uma categoria que classifico como didatismo hist rico filos fico O mundo de Sofia de car ter filos fico e A viagem do descobrimento corresponde tem tica hist rica 38 Os dois textos da modalidade hist rico filos fica est o centrados na modaliza o pelo saber A narrativa de Jostein Gaarder O mundo de Sofia apresenta se como doadora de um saber a hist ria da filosofia do mundo Ocidental que buscado pelo leitor o texto de Eduardo Bueno tamb m doa um saber s que em seu caso esse saber contrap e se a uma ignor ncia n o saber porque pretende revelar uma verdade qual seja a verdadeira vers o do descobrimento do Brasil que se contrap e falsa id ia da descoberta ao acaso afirmada por diferentes livros de hist ria N o pretendi aqui esgotar todas as possibilidades de modaliza o pr prias dos recursos passionais manifestos nos textos mais li
379. s 1 Quando algu m vem a mim com um problema n o importa qual seja m sa de falta de dinheiro relacionamentos insatisfat rios criatividade sufocada trabalho unicamente numa s coisa ou seja em amar o eu Aprendi que quando realmente amamos aceitamos e aprovamos a n s mesmos exatamente como somos tudo na vida funciona Voc pode curar sua vida de Louise Hay p 26 grifos da autora 2 A auto estima fundamental na conquista do sucesso Se voc n o gosta de voc mesmo como vai convencer os outros a gostarem N o adiante se cobrir de ouro usar 34 roupas lindas se a auto estima estiver baixa O problema que o modo como fomos criados nos leva a n o gostarmos de n s mesmos Nossa estrutura nos torna autocr ticos demais O sucesso n o ocorre por acaso de Lair Ribeiro p 31 grifo do autor 3 Do ponto de vista do budismo estar em estado de depress o em estado de des nimo considerado uma esp cie de caso extremo que pode obviamente ser um obst culo para que demos os passos necess rios para atingir nossos objetivos Um estado de dio a si mesmo ainda mais extremo do que um simples des nimo e pode ser muit ssimo perigoso Para aqueles que se dedicam pr tica budista o ant doto para o dio a si mesmo consistiria em refletir sobre o fato de que todos os seres humanos n s mesmos inclu dos t m a natureza do Buda a semente ou o potencial para a Perfei o para a plena
380. s principalmente no crescimento da AIDS nos anos 80 as uni es informais sem o protocolo do casamento entre os casais heterossexuais e a maior abertura para as uni es entre homossexuais s o alguns reflexos do enfraquecimento da moral crist Mas para explicar o inexplic vel preciso substituir essa cren a na hist ria da humanidade apresentada pelo catolicismo por outra vers o Surgem assim na burguesa classe m dia o apelo aos cristais os grupos m sticos os cultuadores de elixires e assim por diante A forma mais comum da contesta o do ultrapassado procurar uma nova resposta para as velhas coisas de onde viemos e para onde vamos ap s a morte 123 O crescimento da literatura de auto ajuda um reflexo dos anseios do homem contempor neo em rela o s quest es individuais a sexualidade a est tica do corpo o problema das mulheres separadas a compet ncia pessoal para conseguir melhor emprego ou para gerenciar uma ind stria Como os movimentos revolucion rios do in cio do s culo XX j perderam sua for a como a terceira onda na concep o de Toffler 1993 vem coexistir e superar a segunda a onda do industrialismo necess rio tratar as quest es dos indiv duos reunidos agora n o mais nos sindicatos nas reuni es dos partidos mas em pequenos grupos como os de bairros das diferentes associa es de negros de homossexuais de mulheres descasadas de solteiros convictos de consumidores de drogas
381. s Celestinos ou Templos Celestiais 12 Olga de Fernando Moraes Olga Ben rio judia e aos quinze anos se tornou integrante do grupo comunista de Munique cidade onde nasceu na Alemanha Filha de social democratas burgueses seu pai era advogado e foi dessa forma que ela come ou a se identificar com o operariado e as classes menos favorecidas Apesar de seu pai defender em julgamentos pessoas de alto poder aquisitivo sempre ajudou oper rios que precisavam entrar com demandas judiciais contra os patr es Cada dia mais Olga se interessava pela vida daqueles que a seu pai recorriam Em 1923 ela se integrou ao scwabing onde s havia filhos de oper rios cujos integrantes jamais aceitaram at aquele dia uma burguesa Olga se destacou pela ousadia e por n o temer a repress o da pol cia ou do governo alem o Ao conhecer Otto Braun professor alem o que trabalhava como uma esp cie de espi o a servi o dos sovi ticos encontrou incentivo maior para embarcar de vez no sonho de promover uma revolu o comunista na Alemanha Em um dado momento o professor foi preso sob a acusa o de trai o p tria o que fez com 76 que Olga se reunisse com seus companheiros do grupo comunista para libert lo no dia do Julgamento Foi ela quem apontou uma pistola contra a cabe a do juiz enquanto seus companheiros rendiam o restante da seguran a do tribunal e por tal fato tiveram que se esconder na antiga URSS Olga e Otto passaram a vi
382. s Letras 2003 BUENO Eduardo A viagem do descobrimento A verdadeira hist ria da expedi o de Cabral Rio de Janeiro Objetiva 1998 Cole o Terra Brasilis 1 CALLADO Antonio Quarup 12 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 COELHO Paulo O di rio de um mago 30 ed Rio de Janeiro Rocco 1990 Brida Rio de Janeiro Rocco 1990 __ As Valk rias 59 ed Rio de Janeiro Rocco 1992 O alquimista 162 ed Rio de Janeiro Rocco 2001 Onze minutos Rio de Janeiro Rocco 2003 D NIKEN Eric von Eram os deuses astronautas 50 ed Tradu o E G Kalmus S o Paulo Melhoramentos 1995 DOWLING Collet Complexo de Cinderela Tradu o Amarylis Eug nia F Miazzi S o Paulo Melhoramentos 1987 ELIACHAR Leon O homem ao zero S o Paulo C rculo do Livro s d 236 GAARDER Jostein O mundo de Sofia Romance da hist ria da filosofia Tradu o Jo o Azenha Jr Jostein Gaarder S o Paulo Companhia das Letras 1995 GALEANO Eduardo As veias abertas da Am rica Latina 25 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 GIBRAN Gibran Khalil O profeta Tradu o Mansour Challita Rio de Janeiro EXPED Expans o Editorial 1972 GOLEMAN Daniel Intelig ncia emocional A teoria que redefine o que ser inteligente Tradu o Marcos Santarrita Rio de Janeiro Objetiva 1995 GRAVE Bradley Um dia daqueles Tradu o Pedro Bandeira Rio de Janeiro Sextante 2001 HAILEY Ar
383. s ao longo do per odo da pesquisa n o sempre id ntico apresentando se da seguinte forma D cada N mero de registros 1960 261 1970 1694 1980 2298 1990 2579 2000 1199 103 Para corrigir portanto poss veis distor es que as flutua es de registros possam apresentar no corpus da pesquisa proponho examinar no pr ximo cap tulo as prefer ncias do leitor brasileiro ao longo dos 38 anos da pesquisa por d cadas Assim ser poss vel verificar semelhan as e ou diverg ncias na prefer ncia do leitor brasileiro bem como observar se h confirma o da intensifica o da leitura de auto ajuda e em sendo confirmado esse dado examinar se as subcategorias tipol gicas desses textos se mant m inalteradas ou n o Ao mesmo tempo em que me valerei da teoria semi tica para realizar esse movimento interpretativo farei refer ncia s perspectivas sociol gicas de Lipovetsky 2005a incluindo as de outros autores como Lasch 1983 e Toffler 1993 para chegar a uma descri o mais aprofundada do perfil do leitor brasileiro no per odo de tempo em exame Isso n o significa por m n o reconhecer que do ponto de vista da manifesta o estarei realizando duas an lises diferentes porque examinarei textos diferentes O gr fico 1 cujos dados est o reconstitu dos pela tabela 1 um objeto de an lise e a fus o dos dados apresentados pelos gr ficos 2 a 6 consistir um novo objeto para an lise Mesmo correndo
384. s best sellers dessa categoria de textos por n mero de edi es p 31 2 A primeira lista apresenta 31 t tulos e diz respeito aos livros de auto ajuda editados no Brasil durante o per odo de 1910 a 1992 a segunda a 6 t tulos dos mais editados durante o per odo de 1910 a 1950 Ao caracterizar o que considera como auto ajuda R diger 1996 afirma o seguinte 188 Esquematicamente os t tulos que subsumem no g nero auto ajuda podem ser divididos em duas categorias primeiro os livros que ensinam a desenvolver capacidades objetivas como conseguir sucesso nos neg cios comunicar se com as pessoas conservar o marido etc segundo os livros que ensinam a desenvolver capacidades subjetivas como estimar a si mesmo saber envelhecer vencer a depress o ou viver em plenitude p 18 Nesse sentido para o autor o texto de auto ajuda sempre program tico ensina algo e tem uma caracter stica tipol gica marcada pois sempre expositivo na medida em que o enunciador discute com seu enunciat rio determinado problema e a melhor forma de super lo Para se ter uma id ia do conceito de auto ajuda com que trabalha Riidiger 1996 apresento os nomes de alguns dos livros que aparecem em suas listas dos mais editados no Brasil entre 1910 e 1992 O poder infinito de sua mente de L Trevisan com 250 ed considerado por ele hors concours porque atingiu disparadamente o maior n mero de edi es no per odo Como fazer amigos e in
385. s de Chico Xavier 2 ed ver e ampl S o Paulo Planeta 2003 M RQUEZ Gabriel Garcia O amor nos tempos do c lera 17 ed Tradu o Antonio Callado Rio de Janeiro Record 1997 MILLER Henry Sexus A crucifica o encarnada I Rio de Janeiro C rculo do Livro 1967 MORAES Fernando Olga 13 ed revisada S o Paulo Alfa Omega 1987 PAIVA Marcelo Rubens Feliz ano velho 32 ed S o Paulo Brasiliense 1984 Cantadas Liter rias PASTORINO Carlos Torres Minutos de sabedoria 40 ed S o Paulo Vozes 2003 PRETA Stanilslaw Ponte Febeap 1 Festival de besteira que assola o pa s S o Paulo C rculo do Livro s d PUZZO Mario O chef o Tradu o Carlos Nayfeld S o Paulo Abril Cultural 1981 RAMOS Graciliano Vidas secas 32 ed S o Paulo Martins 1974 REDFIELD James A profecia celestina Uma aventura da nova era Tradu o Marcos Santarrita Rio de Janeiro Objetiva s d RIBEIRO Lair Comunica o global A m gica da influ ncia Rio de Janeiro Objetiva 1993 Cole o Sintonia v 2 238 O sucesso n o ocorre por acaso E simples mas n o f cil Ed Revista e ampliada Rio de Janeiro Objetiva 1993 ROWLING Joanne Kathleen Harry Potter e a pedra filosofal Tradu o Lia Wyler Rio de Janeiro Rocco 2000 Harry Potter e a c mara secreta Tradu o Lia Wyler Rio de Janeiro Rocco 2001 RUSSELL Bertrand Crimes de guerra no Vietn Tradu o
386. s de Reim o 1996 que analisa o mercado editorial brasileiro entre as d cadas de 1960 e 1980 de Torresini 1999 e Amorim 1999 que examinam a hist ria da editora Globo do Rio Grande do Sul e suas diversas tradu es organizadas por ela em diferentes cole es durante o per odo de 1930 a 1950 Na mesma perspectiva h ainda os seis volumes da cole o Editando o Editor publicada pela Com Arte e EDUSP que registram relatos hist ricos dos mais influentes editores da regi o sudeste do estado de S o Paulo Mas se quiser considerar todos os fatores apontados pelas perspectivas cultural editorial e a s cio hist rica subordinando os a uma base do estudo da linguagem ser necess rio redefinir um percurso de trabalho Na medida em que se caminha para uma interdiscursividade n o poss vel mais falar em leitura da busca do significado necess rio ir busca do sentido Uma vez que o tratamento da hist ria da leitura no Brasil que pretendo empregar neste trabalho marcado pela busca do sentido torna se necess rio um determinado aporte semi tico para esse estudo A semi tica da Escola de Paris tamb m chamada aqui no Brasil de semi tica greimasiana parece apresentar uma perspectiva te rico metodol gica importante que pode somar se s perspectivas dos estudos sobre leitura produzidos no Brasil e propiciar um outro olhar sobre a quest o O primeiro problema que se coloca ent o o do estabelecimento de um
387. s de pessoa espa o e tempo S o Paulo tica 1996 Ensaios 144 Sobre a tipologia dos discursos Significa o Revista brasileira de semi tica S o Paulo n 8 9 p 91 8 out 1990 Elementos de an lise do discurso S o Paulo Contexto Edusp 1989 Repensando a L ngua Portuguesa FREUD Sigmund 1931 O mal estar na civiliza o Tradu o Jos Oct vio de Aguiar Abreu Rio de Janeiro Imago 1997 GOULEMOT Jean Marie Esses livros que se l em com uma s m o Leitura e leitures de livros pornogr ficos no s culo XVIII Tradu o Maria Aparecida Corr a S o Paulo Discurso Editorial 2000 GREIMAS Algirdas Julien Sobre o sentido Ensaios semi ticos Tradu o Ana Cristina C Cezar et al Petr polis Vozes 1975 Sem ntica estrutural Tradu o Haquira Osakabe S o Paulo Cultrix EDUSP 1976 Du Sens II essais s miotiques Paris Du Seuil 1983 De Pimperfection P rigueux Pierre Fanlac 1987 GREIMAS Algirdas Julien amp COURT S Joseph Dicion rio de semi tica Tradu o Alceu Dias Lima at al S o Paulo Cultrix 19857 S miotique Dictionnaire raisonn de la th orie du language II Compl ments d bats propositions Paris Hachette 1986 GREIMAS Algirdas Julien amp FONTANILLE Jacques Semi tica das paix es Dos estados de coisas aos estados de alma Tradu o Maria Jos Rodrigues Coracini S o Paulo tica 1993 HALLEWELL Lau
388. s do jornal ao lado de propagandas de shows bailes de carnaval pe as de teatro exposi es de arte e programas de lazer no Rio de Janeiro A partir de 6 de abril de 1985 as listas come am a ganhar um contorno gr fico uma borda em forma de livro ou de estantes de uma biblioteca que a coloca em certo destaque na p gina do jornal 20 Uma s rie de outras modifica es acontece no JB durante o retorno publica o das listas dos livros mais vendidos em abril de 1984 Em primeiro lugar n o existe mais um suplemento dedicado ao livro O jornal lan a agora quinzenalmente o Caderno B e nesse caderno existe uma se o chamada Livro dedicada a apresenta es divulga es resenhas e coment rios sobre livros e escritores Nessa se o aparecem ent o as listas dos mais vendidos que elencam em ordem de classifica o cinco livros de fic o e cinco de n o fic o sem a distin o mantida at ent o pelo suplemento Leia entre livros nacionais e estrangeiros Al m disso sempre ao final das duas listas com cinco nomes aparece a indica o do que o jornal chama de outros livros bem vendidos apenas com a indica o do nome do livro e de seu autor mas sem o nome da editora ou o pre o Durante o registro desconsiderei essas refer ncias a outros livros bem vendidos porque ela n o obedecia a nenhum crit rio de classifica o O Caderno B do Jornal do Brasil publicado com esse nome at a edi o de
389. s modernas ou p s modernas o crescimento do individualismo leva os sujeitos a um sentimento de falta Como os princ pios das institui es e da tradi o religiosa s o cada vez mais questionados e colocados em xeque os indiv duos buscam uma alternativa para o que se poderia chamar seu estado de cren a Como n o se pode mais apoiar nas certezas da tradi o o homem contempor neo passa a apreender a realidade que o cerca em fun o do segredo do engodo do mist rio do incompreens vel etc Esse destronamento dos valores ser ent o respons vel pela perda de sentido das grandes narrativas e consequentemente o impulsionador das narrativas m sticas esot ricas e das diferentes situa es propiciadoras da auto ajuda que n o se limitam aos livros pois a auto ajuda passa a ser difundida por diferentes meios de comunica o como o r dio e a televis o Em fun o dessas quest es que defendemos neste trabalho que a auto ajuda no mundo contempor neo deixa de ser apenas um g nero textual e passa a corresponder a um estilo que se difunde em diferentes textos Essa uma quest o que mereceria uma 221 investiga o mais aprofundada pois o que procurei aqui apontar foram as caracter sticas desse processo Poderiam ser observados ainda por meio do corpus da pesquisa outros aspectos que envolvem a quest o da leitura Observando o gr fico 7 que corresponde ao levantamento dos autores que mais venderam durante o interval
390. s outros por meio do qual procuramos reviver a ilus o original de onipot ncia e negar a nossa depend ncia das fontes externas de alimenta o e gratifica o O projeto tecnol gico que visa x adquirir independ ncia frente natureza corporifica a face solipsista do narcisismo tal como o desejo de uni o m stica com a natureza corporifica a sua face simbi tica e auto obscurecedora p 227 Ao final o que identifico na proposta de Lasch de acordo com as suas duas obras aqui referidas que sua interpreta o psicanal tica da cultura contempor nea ao defender a id ia da forma narcisista de sua constitui o pode em alguns momentos apontar alguns aspectos identificados na an lise que fiz do corpus deste trabalho Partindo da constata o de que o narcisismo um movimento de uni o na medida em que se origina da fus o simb lica entre o beb e sua m e como dito pelo pr prio autor ele muito mais da ordem do desejo do impulso do instinto do que propriamente de uma inten o de um projeto do sujeito Nesse sentido o primeiro aspecto que posso observar na proposta de Lasch que o comportamento narc sico n o oriundo de uma racionalidade mas sim de uma irracionalidade Essa constata o que exponho de minha leitura das obras de Lasch pode ser uma explica o por exemplo para o fato de que dentre os livros mais lidos pelo p blico brasileiro dos ltimos 38 anos a vertente da auto ajuda que como procur
391. sagem Ao contar esta hist ria falarei por vezes de coisas que ocorreram quando eu ainda era demasiado jovem para compreend la ou quando n o estava presente Meu leitor far uma pausa e dir talvez Esta a sua magia Mas eu tive sempre o dom da Vis o de ver o interior da mente dos homens e mulheres e durante todo esse tempo estive perto de todos Assim por vezes tudo o que pensavam era do meu conhecimento de uma forma ou de outra Por isso contarei esta hist ria Mas esta a minha verdade eu que sou Morgana conto vos estas coisas Morgana que em tempos mais recentes foi chamada Morgana a Fada p 10 11 Em seguida a hist ria narrada em terceira pessoa Nesse romance a hist ria do rei Arthur contada por meio das vidas vis es e percep o das mulheres que nela tiveram um 68 papel central Trata se acima de tudo da hist ria de um profundo conflito entre o cristianismo e a velha religi o de Avalon Guinevere que representa o cristianismo vista inicialmente como uma estranha crian a toda branca e loira chorando perdida nas brumas de Avalon Casada com Arthur por determina o do pai apaixona se profundamente por Lancelot e n o consegue dar um filho herdeiro ao marido fato que tem s rias consequ ncias pol ticas para o reino sua religiosidade intransigente que acaba colocando Arthur e com ele toda Bretanha sob influ ncias poderosas dos padres crist os apesar de seu jurament
392. saparecimento do interesse do leitor brasileiro contempor neo pelos livros da categoria da tem tica social Ao verificar os dados que aparecem na tabela 2 em anexo constato que os livros da categoria da tem tica social concentram se nas d cadas de 1960 4 t tulos e 1970 3 t tulos J os da categoria de auto ajuda come am a aparecer na d cada de 1970 3 t tulos e aumentam nas d cadas seguintes 1980 4 t tulos 1990 11 t tulos e 2000 4 t tulos Quanto s demais categorias em que distribu os livros mais vendidos ao longo do per odo da pesquisa percebo que a de mem ria pelo fato de focalizar a vida de um sujeito determinado apresenta um dos tra os presentes na auto ajuda que o destaque do aspecto individual Essa categoria est presente entre os livros mais vendidos de praticamente todas as d cadas 1960 com 3 t tulos 1970 com 2 t tulos 1980 com 3 t tulos e 2000 com 2 t tulos com exce o da d cada de 1990 que a que cont m o maior n mero de obras da categoria de auto ajuda Os leitores dos anos 60 a 80 interessam se pelos livros da categoria de a o e intriga 1960 2 t tulos 1970 3 t tulos e 1980 2 t tulos que parecem ter como sucessores mais recentemente os da categoria de fantasia 1980 1 t tulo e 2000 2 t tulos 15 Em rela o categoria de auto ajuda a diminui o de 11 t tulos na d cada de 1990 para 4 na de 2000 explica se pelo fato de que o levantamento de 1990
393. sentido equivocado de felicidade confundindo a aquisi o de bens materiais com a realiza o da felicidade Todo o texto portanto constr i se no sentido de fazer o leitor conhecer em que consiste a arte da felicidade conforme diz o pr prio t tulo do livro Al m disso o subt tulo prop e a esse mesmo leitor tomar os ensinamentos do monge budista como um manual para sua pr pria vida 21 Esta o Carandiru de Dr uzio Varella O livro Esta o Carandiru resultado da experi ncia do pr prio autor Dr Dra zio Varella no maior pres dio do pa s A conviv ncia com os detentos e funcion rios do pres dio teve in cio quando foi desenvolvido seu trabalho volunt rio de preven o AIDS Essa conviv ncia proporcionou o conte do do livro onde o autor descreve desde a divis o f sica da Casa de Deten o os pavilh es at a sociedade carcer ria e relatos de detentos e funcion rios Narrado em primeira pessoa o livro mostra a condi o de vida dos internos do Pres dio do Carandiru em S o Paulo onde ocorreu uma sangrenta a o policial em 1989 respons vel pela morte de v rios de presos Em sua introdu o o enunciador afirma o seguinte 89 Neste livro procuro mostrar que a perda da liberdade e a restri o do espa o f sico n o conduzem barb rie ao contr rio do que muitos pensam Em cativeiro os homens como os demais grandes primatas orangotangos gorilas chimpanz s e bonobos criam novas
394. sistema econ mico capitalista baseada na grande quantidade de produtos para o consumo faz com que o consumidor tenha constantemente que fazer escolhas Portanto segundo o autor apenas nessa ampla continuidade democr tica e individualista que se desenha a originalidade do momento p s moderno a saber a predomin ncia do individual sobre o universal do psicol gico sobre o ideol gico da comunica o sobre a politiza o da diversidade sobre a homogeneidade do permissivo sobre o coercitivo Lipovetsky 2005a p 92 Em contraposi o vis o dos intelectuais da chamada Escola de Frankfurt cujos maiores representantes foram Theodor Adorno e Max Horkheimer Gilles Lipovetsky far uma diferente leitura da sociedade contempor nea mais otimista e menos catastr fica que a realizada pelos frankfurteanos que denunciavam a ind stria cultural a manipula o das massas pelo entretenimento a dilui o da arte e o poder devastador da m dia Lipovetsky 2005a p x Para Lipovetsky 2005a o mundo contempor neo vive a era do vazio entendido como era p s moralista na qual o conceito de sacrif cio substitu do pelo prazer a moral 101 de heran a religiosa desacreditada e a tica ganha diferentes contornos Essa vis o mais positiva da poca contempor nea defendida pelo fil sofo franc s afirma que atualmente as sociedades op em se aos modelos democr tico disciplinares universalista rigoristas ide
395. sobre diversos assuntos As falas de Al Mustafa sempre colocadas entre aspas s o discursos prof ticos que pretendem transmitir um ensinamento para quem os ouve Dessa forma na estrutura da narrativa seu interlocutor pode ser substitu do no ato da leitura 6 pelo pr prio leitor O enunciador um eu que se dirige a um v s o que mais o aproxima do discurso das par bolas b blicas conforme se pode observar no trecho desse livro reproduzido no cap tulo quatro quando o profeta fala sobre o amor O enunciador eu que se dirige a um enunciat rio v s de forma cerimoniosa constr i cada um dos discursos internos narrativa e assim a pequena cena de deslocamento que consiste na chegada do barco no embarque e na partida do barco entremeada pelos discursos do profeta aos que lhe fazem perguntas Dessa forma o leitor aprende o ponto de vista a partir do qual esse personagem m stico compreende as coisas do mundo humano Essa sobreposi o da voz da personagem Al Mustafa em rela o do narrador em terceira pessoa que acentua o efeito de subjetividade e enfraquece o de objetividade que normalmente mantido nas narrativas em terceira pessoa 208 A raz o pela qual me reportei ao discurso do livro de Khalil Gibran reproduzido no cap tulo quatro foi para mostrar ao leitor deste trabalho em que medida esse discurso vaticinador apontado pelo t tulo da obra insere se numa categoria tipol gica mais espec
396. sonoro ou vis vel que n o mais que sons no ar ou garatujas num papel O pensamento se sabe e se basta ele se notifica exteriormente por uma mensagem que n o o cont m e que apenas o designa sem equ voco a um outro pensamento que capaz de ler a mensagem porque ele atribui pelo efeito do uso das conven es humanas ou de uma institui o divina a mesma significa o aos mesmos signos Em todo caso jamais encontramos na fala dos outros sen o o que n s mesmos pusemos a comunica o uma apar ncia ela nada nos ensina de verdadeiramente novo Maurice Merleau Ponty A prosa do mundo Em sua defesa da percep o Merleau Ponty 2002 procura mostrar como a comunica o em verdade ilus ria Preso s palavras o discurso n o nada mais que uma representa o de um pensamento que se exterioriza por meio de um c digo convencionado entre sujeitos em intera o Mas esse c digo embora tenha um funcionamento regulado por suas leis internas n o funciona como uma m quina que transmite mensagens pois a significa o n o decorre apenas de uma disposi o do l xico de uma l ngua numa sintagm tica mas sim da express o de um ponto de vista que sempre ideol gico A inter rela o entre sujeitos produto de uma enuncia o que se constr i pelo discurso e o exame de um semioticista ou analista do discurso consiste em observar e interpretar de que maneira o enunciado produz os sentidos que veicula A ci nci
397. ssageiro atualidades programa es de temas m dicos hist ricos ou tecnol gicos m sica cl ssica ou pop conselhos tur sticos culin rios ou psi confiss es intimas filmes a hipertrofia a acelera o das mensagens da cultura da comunica o est o no mesmo patamar que a abund ncia de mercadorias parte integrante da sociedade de consumo Lipovetski 2005a p 88 Com rela o ao conceito de facilita o psicol gica atribu do aos best sellers abordado por Reim o Lipovetski 2005a ir propor a no o de socializa o sem conte do pesado na medida em que o best seller um produto de consumo inserido no processo de socializa o Por outro lado por m n o tem um car ter negativo pois 14 Uma das medidas para baratear o custo do livro al m das edi es em grande tiragem e do tipo de papel utilizado para a impress o o chamado livro de bolso uma op o bastante eficiente para se conseguir tornar o livro mais acess vel s pessoas de menor poder aquisitivo Hallewell 1985 afirma que v rias editoras brasileiras ao longo do tempo tentaram difundir a produ o do livro de bolso respons vel pelo barateamento das edi es e muito comum na Europa especialmente na Fran a livre de poche e na Inglaterra pocketbook mas apenas a Editora Tecnoprint conhecida como Ediouro na d cada de 50 conseguiu firmar no mercado a presen a do livro de bolso Desde muitos anos as Edi es de Ouro s
398. sso com a hist ria do mercado editorial carioca marcada por uma din mica de trocas intera es interc mbios econ micos e culturais para ent o tentar responder a uma quest o central entre tantos livros anunciados por que alguns romances venderam mais que outros Ou ent o por que alguns t tulos especificamente mantiveram se no mercado por anos a fio O tratamento editorial dado a essas obras muito influenciou em sua dissemina o Mas por ouro lado n o explica inteiramente a entrada de certas hist rias nas prefer ncias ou mesmo no imagin rio dos leitores daquele tempo p 310 Para realizar tal intento ent o precisava ainda estabelecer um per odo de tempo na cronologia hist rica para o exame dessas escolhas do leitor brasileiro Por meio do levantamento bibliogr fico poss vel constatar que h mais trabalhos a partir de diferentes enfoques te ricos sobre o leitor brasileiro em diferentes per odos da hist ria Al m do trabalho aqui j citado de Lajolo amp Zilberman 1999 dos diferentes estudos sobre hist ria da leitura no Brasil que fazem parte do volume organizado por Abreu 1999 e o de El Far 2004 que faz um interessante estudo sobre os livros de literatura popular mais vendidos classificados por ela como romances de sensa o e romances para homens no Rio de Janeiro durante o per odo de 1870 a 1924 poderia citar ainda o de Nunes 1994 que observa as escolhas do leitor brasileiro duran
399. ste cap tulo al m de apresentar os novos livros que n o apareceram no primeiro levantamento iniciarei uma interpreta o dos dados com o objetivo de explicar as raz es pelas quais os leitores escolheram o conjunto de obras mais lidas detectado pela pesquisa A preocupa o central do cap tulo 5 Escolhas de leitura como reflexos da cultura contempor nea ser examinar em obras de quatro diferentes autores o conceito de individualismo e suas interpreta es sobre as caracter sticas da sociedade contempor nea uma vez que o exame do corpus realizado durante os cap tulos 3 e 4 apontam para o crescimento da chamada literatura de auto ajuda na prefer ncia do p blico leitor brasileiro No cap tulo 6 Encontro do ethos do leitor de auto ajuda focalizarei especificamente a quest o da auto ajuda partindo de um levantamento de alguns trabalhos j realizados sobre o tema para poder caracterizar de forma mais aprofundada essa prefer ncia do leitor contempor neo Nas considera es finais deste trabalho recuperarei as principais contribui es sobre a quest o da leitura aqui apresentadas e apontarei poss veis desdobramentos e perspectivas de continuidade para o projeto aqui desenvolvido 1 Em busca do corpus perdido Durante muito tempo deitava me cedo s vezes mal apagada a vela meus olhos se fechavam t o depressa que eu nem tinha tempo de pensar Vou dormir E meia hora depois a id ia de que j era te
400. stere tipos Praticamente fabricam se romances sentimentais em cadeia a partir de certos modelos tornados conscientes e racionalizados Tamb m o cora o pode ser posto em conserva p 29 grifos do autor Enquanto mercadoria a produ o do livro vai atingindo uma escala industrial crescente no Brasil Durante o per odo colonial no Brasil n o existia nenhuma casa de impress o respons vel pela publica o de qualquer tipo de obra impressa Segundo Hallewell 1955 h o registro de um alvar expedido em 20 de mar o de 1720 que proibia as letras impressas em todo o territ rio da ent o Col nia Portuguesa na Am rica Tudo que existisse de impresso no Brasil de ent o era trazido do exterior e qualquer publica o em l ngua portuguesa era origin ria da corte em Portugal Mesmo as obras escritas por pessoas que aqui viviam como por exemplo Sebasti o da Rocha Pita Cl udio Manuel da Costa Jos de Santa Rita Dur o Domingos Caldas Barbosa Jos Bas lio da Gama e outros eram impressas e publicadas em Portugal e posteriormente vinham para a col nia Somente ap s a chegada da corte portuguesa ao Brasil ocorrida em 7 de mar o de 1808 que oficialmente uma casa de impress o instalada no Rio de Janeiro Isso ir propiciar o surgimento das livrarias Em 1808 havia duas livrarias no Rio de Janeiro j em 1816 elas eram doze no total Os primeiros editores tamb m come am a aparecer no Brasil Em 1824 Plancher ab
401. stitu da Feliz ano velho Esta o Carandiru As vidas de Chico Xavier A perspectiva a partir da qual o car ter biogr fico atribu do aos livros citados nas diferentes listas dos mais vendidos n o se limita ao modelo cl ssico de constru o desse tipo de texto Nesse sentido apenas Sexus Solo de clarineta Olga Eu Cristiane F 13 anos drogada e prostitu da Feliz ano velho e As vidas de Chico Xavier corresponderiam 147 forma cl ssica da biografia quer como autobiografia Sexus Meu p de laranja lima Solo de clarineta e Feliz ano velho quer como biografia em terceira pessoa Olga Eu Cristiane F 13 anos drogada e prostitu da e As vidas de Chico Xavier No caso de O lobo da estepe e Esta o Carandiru o processo de constitui o biogr fica um pouco diferente dos demais O romance de Hermann Hesse narra a hist ria de uma personagem fict cia o solit rio Harry Haller e Esta o Carandiru por sua vez n o conta propriamente a vida de seu autor Dr uzio Varella mas sim a experi ncia por que passou enquanto trabalhou como m dico num pres dio por outro lado tamb m sua narrativa consiste no relato de diferentes hist rias de vida isto comp e uma rede micro biogr fica de diferentes presos do Carandiru Os dramas que vivem os her is biografados s o pr prios da sociedade capitalista do s culo XX cujas transforma es s cio econ micas afetam diretamente alguns conceitos como casamento fam
402. sto o narrador de Graciliano n o menospreza seu leitor Nos cap tulos seguintes da mesma obra Lajolo amp Zilberman 1999 continuam abordando a perspectiva da leitura sob diferentes ngulos ora a hist ria do livro no Brasil enquanto suporte da leitura produzido por um mercado editorial ora a hist ria do livro did tico no Brasil destacando o car ter pedag gico da leitura ora a hist ria da mulher leitora no Brasil Outra possibilidade para o tratamento da leitura aquele apontado pelos estudos culturais Voltados para a reconstitui o da hist ria do livro enquanto materialidade e para a forma o das bibliotecas esses trabalhos aliam a observa o do suporte a o do leitor sobre ele Um exemplo dessa perspectiva a cole o Hist ria de Leitura da Associa o de Leitura no Brasil cujo primeiro volume Leitura hist ria e hist ria da leitura foi lan ado em 1999 sob a organiza o de M rcia Abreu Essa obra cont m os trabalhos apresentados durante o I Congresso de Hist ria do Livro e da Leitura no Brasil realizado na Universidade de Campinas em 1998 Na segunda parte dessa obra intitulada Leituras em hist ria h uma s rie de artigos de v rios autores em que a quest o da forma o hist rica da leitura no Brasil discutida por v rios pesquisadores reunidos nessa associa o Os textos publicados nesse volume adotam a concep o de leitura como discurso da cultura como discurso hist ric
403. sto era narrada A primeira parte do livro que se divide em seis sub partes apresenta um narrador em primeira pessoa que se identifica como J J Ben tez A segunda parte narrada tamb m em primeira pessoa mas corresponde agora proje o do sujeito major que conta os fatos por ele vividos em sua viagem pelo tempo Essa segunda parte que consiste no relato dos ltimos dias de Jesus Cristo em Jerusal m come a com o t tulo Di rio e depois se divide em outras 11 sub partes cada uma das quais indicando um dia da semana de 30 de mar o uma quinta feira a 9 de abril um domingo O narrador da primeira parte diz que apresentar uma tradu o do di rio do major tal como o encontrou Portanto a narrativa do major sucede a do rep rter que termina da seguinte forma 12 No curso destes dois anos como disse ap s conhecer o testamento do Major fiz numerosas consultas especialmente a cientistas e m dicos na tentativa de esclarecer quando menos a parte ficcional de ambas as viagens Seja dito a bem da verdade que os primeiros se mostraram c ticos quanto possibilidade de materializa o de tal projeto Apesar disso e antes de passar ao di rio propriamente dito quero deixar assente que meu dever como jornalista come a e termina precisamente com a obten o e difus o da not cia Ao leitor e quem sabe se aos homens do futuro tal como ocorreu com J lio Verne caber extrair suas pr prias conclus
404. strelas brilhavam atrav s do teto semidestru do Queria dormir um pouco mais pensou ele Tivera o mesmo sonho da semana passada e outra vez acordara antes do final Coelho 2001 p 21 2 2 A grande desvantagem de ter apenas 28 anos n o ter tido tempo de acumular dezenas de hist rias e causos pra contar Para contar hist rias com essa idade preciso vasculhar os primeiros anos de vida E preencher um cap tulo inteiro com quedas de triciclo e primeiros beijos n o vai ser f cil 46 Por m quem compra um livro acha que tem o direito de ouvir detalhes picantes lados obscuros e impropriedades variadas Farei o poss vel para agradar Lendo o livro do Iacocca fiquei com vontade de ser um pobre imigrante italiano para dar a volta por cima despejando rancor e b lis em cima do mundo malvado J o Akio Morita me fez querer ter nascido no Oriente para poder andar a 180 quil metros por hora com cara de quem est participando de uma cerim nia de ch Enfim n o vai dar para partir de nenhum empurr o ambiental como estes Vou ter que me ater a fatos bem menos cinematogr ficos e dificilmente o leitor far uso do lencinho que preparou para as passagens emotivas Semler 1988 p 15 O trecho 1 corresponde aos primeiros par grafos da primeira parte da narrativa de O alquimista de Paulo Coelho Nesse trecho percebe se que o enunciador manifesta se na forma de um narrador que n o se materializa por meio do pronom
405. suas consegii ncias Do ponto de vista da classifica o de g nero proposta por Bakhtin trata se de um texto que pertence categoria do g nero secund rio pois n o est centrado exclusivamente na forma de contato entre locutores em di logo Na verdade o texto funciona como um ensaio que analisa uma experi ncia de vida do ponto de vista antropol gico e psicol gico do sujeito que diz eu no discurso A modaliza o do discurso organiza se a partir da afirma o da verdade que consiste na afirma o da positividade entre o ser e o parecer Essa verdade constru da pelo pr prio discurso na medida em que o sujeito enunciador n o transfere simplesmente seu saber para o enunciat rio mas simula apresentar a constru o de um saber em parceria como enunciat rio O efeito de sentido de subjetividade que produz esse texto assegura a manuten o desse contrato veridict rio entre enunciador e enunciat rio para a constru o do saber 219 Como afirmei acima o sujeito enunciador n o aquele que transmite simplesmente um saber porque uma autoridade no assunto mas algu m que adquiriu esse saber pela experi ncia e prop e compartilh lo com o enunciat rio O que o exame dos diferentes t tulos classificados como auto ajuda neste trabalho revela que existem certas caracter sticas que podem definir um modo de ser ou o car ter portanto o ethos da auto ajuda E a defini o desse ethos por sua vez ser
406. ta s principais livrarias de diferentes capitais dos estados brasileiros Mensalmente no caso do Leia ou mensalmente no in cio depois quinzenalmente e por fim semanalmente no caso do Jornal do Brasil diferentes livrarias de diversas capitais de estados brasileiros passavam os nomes dos livros que mais vendiam a uma equipe editorial dos jornais e assim alimentavam as listas dos mais vendidos por eles publicadas Com o objetivo de fazer uma interpreta o das listas dos livros mais vendidos durante o per odo de 1966 a 2004 no Brasil conforme gr fico 1 procurarei mostrar num primeiro momento o enfoque que cada um dos livros registrados no referido gr fico d para os temas a partir dos quais s o constru dos Num segundo momento aprofundarei a interpreta o da tabela 1 iniciada no cap tulo anterior por meio de uma leitura semi tica dos dados por ela apresentados 1 O alquimista de Paulo Coelho O primeiro livro mais vendido em destaque no levantamento do gr fico 1 O alquimista de Paulo Coelho Conforme j foi comentado na exemplifica o do cap tulo precedente a constitui o do narrador se d pela proje o de uma terceira pessoa Esse livro narra a hist ria de um jovem guardador de rebanho de ovelhas Santiago que certa noite tem um sonho repetido que lhe fala de um tesouro oculto guardado pr ximo s pir mides do Egito Santiago resolve seguir seu sonho Sai de Andaluzia onde vivia e se dirige fr
407. tar do estilo Bakhtin 1997 afirma na introdu o de seu texto Os g neros do discurso que bastante dif cil chegar a uma classifica o satisfat ria dos diferentes g neros do discurso devido a seu car ter heterog neo Embora essa tarefa seja mais simples quando se trata do texto liter rio as diferentes propostas para a distin o de g nero desse tipo de texto revelam que a tarefa n o t o simples assim Outro problema diz respeito ao fato de que quando se fala em g nero liter rio privilegia se o car ter art stico liter rio do texto e n o tipos particulares de enunciados que se diferenciam de outros tipos de enunciados com os 198 quais contudo t m em comum a natureza verbal lingi stica Bakhtin 1997 p 280 grifo do autor A partir dessa constata o portanto prop e considerar uma diferen a essencial quanto ao g nero do discurso isto o g nero prim rio simples e o secund rio complexo A distin o entre o simples e o complexo na proposta bakhtiniana diz respeito oposi o entre uma forma de comunica o verbal espont nea e uma outra forma mais artificial Ao g nero prim rio correspondem enunciados distintos que apresentam caracter sticas pr prias na medida em que dependendo da situa o em que se realizam assumem uma configura o determinada o que permite a Bakhtin 1997 utilizar a express o no plural isto g neros prim rios tais como o di logo cotidia
408. te 4 Todos sofrem de culpa e dio voltados contra si pr prios 5 A frase chave de todos N o sou bastante bom 6 apenas um pensamento e um pensamento pode ser modificado 7 Ressentimentos cr ticas e culpa s o os padr es mais prejudiciais 69 8 A libera o do ressentimento pode remover at o c ncer 9 Quando realmente amamos a n s mesmos tudo na vida funciona 10 Devemos nos libertar do passado e perdoar a todos 11 Devemos estar dispostos a come ar a aprender a nos amar 12 A auto aprova o e a auto aceita o no agora s o a chave para mudan as positivas 13 Cada uma das chamadas doen as em nosso corpo s o criadas por n s p 15 Em todos os cap tulos o enunciador sempre uma primeira pessoa proje o do eu que conversa constantemente com seu enunciat rio instruindo o na maneira de proceder para tornar sua vida melhor Partindo da id ia de que tudo o que acontece para o indiv duo de sua inteira responsabilidade o enunciador afirma Cada um de n s cria suas experi ncias atrav s dos pensamentos e emo es Os pensamentos que temos e as palavras que falamos criam nossas experi ncias p 17 O livro constr i se segundo o formato de um curso de auto ajuda Na segunda parte intitulada Uma sess o com Louise por exemplo o leitor pode seguir as reflex es da autora e realizar ao final da exposi o de diferentes t picos em cada cap tulo os exerc cios
409. te o per odo colonial mais especificamente durante os primeiros s culos do descobrimento O que se constata portanto que existem poucas pesquisas sobre o leitor brasileiro contempor neo Embora em Reim o 1996 essa perspectiva esteja apontada constata se que n o h uma preocupa o espec fica da autora em trabalhar o imagin rio do leitor brasileiro mas sim em produzir um panorama do mercado editorial brasileiro aos moldes do que havia sido proposto por Hallewell 1985 Partindo do exame desses diferentes estudos sobre leitura que decidi trabalhar com os mais vendidos no Brasil no final do s culo XX uma vez que n o existem estudos atuais sobre o tema A execu o dessa proposta ent o apresenta se por meio de seis cap tulos que fazem parte da organiza o deste trabalho No cap tulo 1 intitulado Em busca do corpus perdido apresentarei um hist rico do processo de elabora o do corpus que deu origem a este trabalho Mesmo correndo o risco de construir um cap tulo um tanto descritivo julgo que importante sua manuten o no trabalho para que o leitor possa ter uma no o mais clara das caracter sticas dos dois jornais a partir dos quais foram extra dos os dados para a an lise do leitor brasileiro O cap tulo 2 cujo t tulo Leitor apaixonado e leitor representado constru es do discurso procurar apresentar a perspectiva te rica a partir da qual ser desenvolvido o trabalho com a leitura aqui
410. te proporcional a todo o desenvolvimento alcan ado Nesse quadro instaura se a crise que vive o homem contempor neo O risco da guerra nuclear a amea a da cat strofe ecol gica a lembran a do genoc dio dos nazistas contra os judeus o poss vel colapso de toda a nossa civiliza o geraram um amplo e extenso sentimento de crise e a ret rica da crise penetra agora as rela es raciais a reforma das pris es a cultura de massa a administra o fiscal e a sobreviv ncia pessoal cotidiana p 54 Essa inseguran a constante a que est submetido o homem hodierno ao mesmo tempo que acalmada com a exposi o de diferentes argumentos em favor da perpetua o da esp cie humana no planeta por outro lado refor ada pelas exposi o das mais diferentes vis es catastr ficas para o futuro Sobre essas quest es o autor discorre em um cap tulo de seu livro dedicado ao tema do holocausto durante a Segunda Grande Guerra 166 recuperando a discuss o gerada em torno desse acontecimento como uma li o a ser aprendida e n o repetida nas gera es futuras Al m disso resgata o discurso contr rio qual seja o de que o futuro das na es poder significar a implanta o de um sistema pol tico totalit rio que promover o controle absoluto dos homens nas situa es mais particulares isto uma perda da privacidade e da individualidade de cada um Ao recuperar portanto a id ia do mal estar da civiliza o seg
411. teceu naquela poca no pa s outro dos fatos pitorescos que aparecem na narrativa diz respeito ao naufr gio do gale o espanhol San Jose carregado de j ias A pen ltima categoria dos livros best sellers dos anos 80 corresponde aos de a o e intriga e nela aparecem duas narrativas A primeira delas em quinto lugar na prefer ncia do p blico leitor brasileiro corresponde ao romance Se houver amanh de Sidney Sheldon Narrado em terceira pessoa conta a hist ria de Tracy Whitney uma mulher que vive beira do perigo jogando as cartadas mais altas usando como armas sua intelig ncia e beleza Depois de ser injustamente condenada e ter cumprido pena de quinze anos numa penitenci ria de seguran a m xima Trace Whitney luta para destruir o mestre do crime que a colocou l A segunda narrativa dessa categoria Opera o cavalo de tr ia de J J Ben tez j apresentada no cap tulo anterior 120 A ltima categoria em que distribuo os livros mais lidos nos anos 80 a de auto ajuda Da mesma forma que mostrei na classifica o dos anos 70 poss vel subdividir a auto ajuda em diferentes temas O primeiro tema dessa categoria intitulado individualidade e sexualidade compreende o campe o na prefer ncia do leitor brasileiro qual seja o romance A insustent vel leveza do ser de Milan Kundera Embora essa n o seja uma classifica o comumente atribu da a esse texto acredito que ele tenha conforme j apontei no
412. ter e a pedra filosofal J K Rowling 2000 Harry Potter e a c mara secreta J K Rowling 2000 Nome do livro Nome do autor D cada O amor nos tempos do c lera Gabriel Garcia M rquez 1980 Budapeste Chico Buarque 2000 Nome do livro Nome do autor D cada Eram os deuses astronautas Erich von D niken 1970 Nome do livro Nome do autor D cada O Xang de Baker Street J Soares 1990 Nome do livro Nome do autor D cada O mundo de Sofia Jostein Gaarder 1990 Tabela 2 Distribui o dos livros mais vendidos em diferentes categorias jun o das cinco d cadas 252
413. tetive nem precisa se dar ao trabalho de verificar o local do crime e se o faz para comprovar a hip tese que j formulara ao organizar os saberes parciais adquiridos sobre tal crime Martins 2005 p 185 Dessa forma portanto segundo a proposta de Martins existem os romances policiais cuja a o consiste na reuni o de uma s rie de provas materiais que conduzem descoberta e conseq ente puni o do criminoso o tipo pragm tico e outros em que h um trabalho de imagina o e dedu o do sujeito detetive 127 que n o se limita ao recolhimento de provas pois ele constr i um processo interpretativo do crime realizado o tipo cognitivo Com rela o a esse segundo tipo o romance policial com san o cognitiva Martins 2005 estabelece ainda uma outra distin o O fazer cognitivo pr prio do sujeito detetive pode realizar se a partir de dois princ pios distintos a similaridade e a contigiidade No primeiro o detetive baseia suas suposi es sobre o crime e o criminoso a partir de outros casos j acontecidos de tal forma que para esse sujeito o mundo funciona sob a forma de paradigma uma vez que percebido sob o regime do j visto do j experimentado do j conhecido etc p 186 No segundo caso o fazer do detetive centra se no processo de inter rela o de todos os ind cios como quem reconstr i num tabuleiro todas as pe as que revelam a cena do crime e o motivo pelo qual ele ocorreu Geral
414. thur Aeroporto Tradu o Milton Persson 16 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira s d O primeiro ministro 9 ed Tradu o Milton Persson Rio de Janeiro Nova Fronteira s d Autom vel Tradu o de Milton Persson Rio de Janeiro Nova Fronteira s d HAY Louise Voc pode curar sua vida Como despertar id ias positivas superar doen as e viver plenamente Tradu o Evelyn Kay Massaro S o Paulo Best Seller s d HESSE Hermann O lobo da estepe Tradu o Ivo Barroso Rio de Janeiro Record s d HERMAN K e RIECK H Eu Cristiane F drogada e prostitu da 35 ed Tradu o Maria Celeste Marcondes Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1996 IACOCCA Lee amp NOVAK William Iacocca Uma autobiografia Tradu o de Adail U Sobral e Maria Stela Gon alves S o Paulo Cultura 1985 KIYOSAKI Robert T e LECHTER Sharon L Pai rico pai pobre O que os ricos ensinam a seus filhos sobre dinheiro Tradu o Maria Jos Cyhlar Monteiro Rio de Janeiro Elsevier 2000 237 KUNDERA Milan A insustent vel leveza do ser Tradu o Teresa B Carvalho S o Paulo Circulo do livro s d LAMA Dalai amp CUTLER Howard C A arte da felicidade Um manual para a vida Tradu o Wald a Barcellos S o Paulo Martins Fontes 2000 LUFT Lya Perdas amp ganho Rio de Janeiro Record 2003 M O homem sensual Tradu o Mario Fabr cio Rio de Janeiro Artenova 1971 MAIOR Marcel Souto As vida
415. to agressivo do homem que o torna hostil aos outros homens contrap e se a esse programa da civiliza o o que o torna o derivado e o principal representante do instinto de morte Agora penso eu o significado da evolu o da civiliza o n o mais nos obscuro Ele deve representar a luta entre Eros e a Morte entre o instinto de vida e o instinto de destrui o tal como ela se elabora na esp cie humana Nessa luta consiste essencialmente toda vida e portanto a evolu o da civiliza o pode ser simplesmente descrita como a luta da esp cie humana pela vida E essa batalha de gigantes que nossas bab s tentam apaziguar com sua cantiga de ninar sobre o C u Freud 1997 p 81 2 P4 Para inibir a agressividade com que o homem se lhe op e qual o recurso empregado pela civiliza o Segundo Freud o mais eficaz de todos os meios fazer com que a agressividade se internalize no pr prio homem isto fazer com que ela se volte para o pr prio ego Essa a exata equa o que sustenta o mais eficaz instrumento do processo civilizador qual seja o sentimento de culpa Est criado portanto um agente respons vel pela puni o do ego o superego de tal forma que o sentimento de culpa se expressa na forma de uma necessidade de puni o A civiliza o portanto consegue dominar o perigoso desejo de agress o do indiv duo enfraquecendo o desarmando o e estabelecendo no seu interior um agente para cuidar dele c
416. to ajuda do mundo dos neg cios mais procurada pelo p blico leitor brasileiro no per odo de trinta e oito anos desta pesquisa corresponde aos seguintes t tulos Iacocca Uma autobiografia de Lee Iacocca e William Novak Virando a pr pria mesa Ricardo Semler e Pai rico pai pobre de Robert Kiyosaki e Sharon L Lechter A organiza o formal desses tr s livros bastante semelhante pois s o um relato da experi ncia de sujeitos particulares sobre a administra o e a organiza o de empresas e neg cios Embora os sujeitos que se projetam em cada um dos enunciados na forma de uma primeira pessoa sejam constru es lingii stico discursivas o efeito de sentido que as narrativas criam no leitor de uma identifica o entre o eu do enunciado e um sujeito do mundo real quais sejam Lee Iacocca Ricardo Semler e Robert Kiyosaki No caso de Pai rico pai pobre especificamente al m de reproduzir o esquema autobiogr fico o livro organiza se na forma de um discurso did tico na medida em que prop e ensinar ao leitor como ele deve educar seus filhos para o mundo capitalista Essa forma de representa o da enuncia o respons vel pela instaura o tamb m do mecanismo de subjetiva o do enunciado O que o enunciado afirma que o dito n o fruto de uma fic o mas sim de uma verdade pois consiste na reconstitui o daquilo que realmente aconteceu e assim que espera ser reconhecido pelo leitor Cabe ressaltar p
417. to de 1983 a mar o de 1984 A hist ria dividida em duas partes A primeira corresponde aos per odos do ver o e do outono e a outra aos do inverno e da primavera A narrativa da primeira parte inicia se com uma frase em discurso direto Quero aprender magia disse a mo a p 17 produzida pelo ator Brida e dirigida a um mago Esse mago era mestre na Tradi o do Sol que ensina os segredos atrav s do espa o das coisas que nos cercam p 24 Depois Brida conhece Wicca uma bruxa que era mestre na Tradi o da Lua que ensina os segredos atrav s do Tempo das coisas que est o presas na mem ria do tempo p 24 Na primeira parte da narrativa Brida inicia se nas t cnicas da tradi o da lua e com a ajuda de Wicca volta para uma encarna o passada descobrindo que havia vivido entre os c taros no sul da Fran a durante o s culo XII Essa experi ncia revela que ela era uma bruxa Na segunda parte aprofunda se nos conhecimentos da tradi o da lua e ao final participa de um ritual de inicia o logo no in cio da primavera 64 Brida vive uma experi ncia m stica com os ensinamentos de Wicca e outra m stico amorosa com o mago de Folk Tr s caracter sticas do discurso por meio do qual constru da a narrativa de Brida por m merecem ser aqui apontadas A primeira delas diz respeito a refer ncias a escritores consagrados da literatura Ocidental William Butler Yeats o primeiro poeta citado n
418. to dos livros mais lidos pelo leitor brasileiro durante as d cadas de 1960 1970 1980 1990 e 2000 22 2 Leitor apaixonado e leitor representado constru es do discurso Para come ar considero que tudo quanto se faz ou acontece de novo geralmente chamado pelos fil sofos uma paix o em rela o ao sujeito a quem acontece e uma a o com respeito quele que faz com que aconte a Assim embora o agente e o paciente sejam com frequ ncia muito diferentes a a o e a paix o n o deixam de ser sempre uma mesma coisa com dois nomes devido aos dois sujeitos diversos aos quais podemos relacion la Ren Descartes As paix es da alma Na medida em que o corpus da pesquisa est constitu do preciso ent o discutir os procedimentos de an lise Assim compete entender neste momento a proposta inicial do projeto que consistiu na descri o de um perfil do leitor brasileiro contempor neo a partir dos anos 60 N o se trata evidentemente de desenvolver um estudo sobre o leitor real aquele em carne e osso para saber como e por que l os livros colocados no mercado editorial brasileiro O m ximo que conseguiria se tentasse tal empreita seria chegar a algo parecido com o perfil econ mico do leitor do Leia apresentado pelo pr prio jornal e aqui reproduzido no cap tulo anterior Chegaria portanto a saber se o p blico leitor brasileiro constitu do mais por homens do que por mulheres qual sua faixa et ria
419. to para ser isto ou aquilo conforme considera Fiorin 2004 p 71 O conceito de pathos tem a ver ent o com a imagem do leitor que se instaura quando o enunciador constr i o seu dizer e n o com o leitor real que se disp e a ler um texto conforme tamb m j foi apontado mais acima Nesse sentido posso dizer que um texto sancionado positivamente pelo leitor na medida em que seja capaz de provocar a ades o passional O logos por fim refere se ao pr prio discurso isto aos recursos de que pode se valer para construir sua argumenta o Com o intuito de recuperar os pressupostos da semi tica acima apresentados para o tratamento das quest es relativas ao processo de produ o do texto valer me ei do corpus desta pesquisa para realizar um exerc cio interpretativo dos dados mostrados pela rela o das obras que aparecem na tabela 1 em anexo Ressalto uma vez mais que n o descreverei o corpus da pesquisa porque isso ser realizado no pr ximo cap tulo Pretendo aqui reconstituir o ethos do leitor brasileiro contempor neo a partir de uma leitura espec fica da referida tabela Al m disso ainda neste item examinarei mais detidamente as manifesta es discursivas em dois dos livros indicados como os mais lidos pelo p blico brasileiro durante o per odo de 1966 a 2004 segundo o mesmo gr fico Al m de tornar mais claro o que foi anteriormente apresentado pretendo mostrar que os conceitos desenvolvidos pela semi tica para
420. to rigidamente a uma vis o dualista do sentido produzido no texto e ao mesmo tempo por ser interpretado de forma muito est tica N o tenho por m a inten o de reconstituir aqui essa pol mica porque esse n o um objetivo deste trabalho A utiliza o do percurso gerativo para o tratamento do sentido do texto proposto pela semi tica de Greimas mais fecunda quando se atribui uma maior mobilidade rela o entre seus diferentes n veis de constitui o Devem se prever durante a an lise a articula o sint tico sem ntica de cada um dos n veis e a inter rela o dos pr prios n veis 27 entre si Assim as isotopias tem tico figurativas articuladas no discurso pela inst ncia da enuncia o no n vel discursivo refletem as rela es de busca do sujeito pelo objeto no n vel narrativo que por sua vez s o determinadas pelas oposi es sem nticas m nimas do n vel fundamental Entender o percurso gerativo de forma din mica e n o est tica uma maneira de tornar as an lises de textos mais produtivas e de assumir a mobilidade dos sentidos No que diz respeito s formas de produ o do efeito de sentido no n vel discursivo a semi tica sob a influ ncia dos estudos de Benveniste 1976 identifica as proje es de pessoa espa o e tempo enquanto forma de manifesta o da enuncia o Nesse sentido todo discurso ao ser acionado projeta um eu um aqui e um agora que correspondem s inst ncias b s
421. tor anterior qual seja a de um texto expositivo injuntivo em que um enunciador pretende ensinar a seu enunciat rio um fazer com vistas a torn lo competente examina livros que abordam uma tem tica diferente do mentalismo ou da forma o do car ter apontadas pelo trabalho de Riidiger 1996 Segundo Martelli 2006 os textos de auto ajuda voltados para a tem tica das rela es interpessoais s o difundidos no Brasil de forma mais intensa a partir da d cada de 1980 O que impulsiona essa tem tica no mbito da literatura de auto ajuda segundo ela a difus o da id ia de que o per odo em que os indiv duos podiam se fazer sozinhos passou e que agora dependemos uns dos outros e ningu m mais possui condi es de triunfar apenas por conta pr pria Assim a administra o das rela es interpessoais veio a ser considerada a ess ncia do autoprogresso p 176 Nesse sentido sua pesquisa ir mostrar como a literatura de auto ajuda voltada para a satisfa o pessoal o trabalho em equipe e a busca do prazer passa a fazer parte das atividades desenvolvidas pelo setor de Recursos Humanos de muitas empresas brasileiras Al m de mostrar como esse tipo de texto d suporte s atividades empresarias no que se refere ao relacionamento entre funcion rios a autora faz refer ncia ao volume 1 do Manual de gest o de pessoas e equipes publicado pela ABRH Associa o Brasileira de 192 Recursos Humanos institui o privada com
422. tor que um determinado discurso projeta no momento em que produzido Pautado por essa perspectiva um estudo sobre a leitura seria aquele que observaria como se configura esse leitor constru do no texto Esse tem sido o caminho de alguns trabalhos quer da semi tica quer da teoria liter ria preocupados em investigar as proje es do leitor no texto o que significa enfocar seu narrat rio dessa forma por exemplo como Lajolo amp Zilberman 1999 ir o olhar embora n o segundo a perspectiva semi tica o processo de constru o do leitor na literatura brasileira O objetivo das autoras no primeiro cap tulo de sua obra consistiu primeiramente em mostrar como o leitor foi se modificando historicamente chegando ao estado de leitor solit rio do mundo moderno A partir das revolu es burguesas a figura do leitor vai deixando de ser coletiva para se tornar mais familiar e posteriormente individual Em um segundo momento focalizando a literatura brasileira a partir do s culo XIX discutem os casos em que o narrador dialoga com o leitor que se manifesta na trama narrativa de seus livros de fic o Sobre essa quest o ir o afirmar que h uma evolu o no tratamento da figura do leitor brasileiro Segundo as autoras Machado de Assis por exemplo dirige se a um leitor que precisa ser ensinado que n o competente para a leitura j para Graciliano Ramos especificamente em S o Bernardo h um tratamento de igual para igual i
423. tra os outros na competi o por um n mero limitado de postos p 85 Para mostrar essa mudan a de comportamento do homem no s culo XX o autor cita uma obra escrita por George Horace Lorimer intitulada Letters from a self made merchant to his son Na verdade Lorimer era o pseud nimo de John Graham um norte americano que viveu de 1868 a 1937 Em seu livro Lorimer simula uma correspond ncia por cartas com seu filho para explicar lhe como proceder nos neg cios e como prosperar na vida Na realidade esse livro vem a ser de um ancestral da auto ajuda que classifiquei sob a tem tica de mundo dos neg cios Inclusive no pr prio t tulo do livro j est evidenciada a id ia de auto sufici ncia de fazer se por si mesmo caracter stica desse tipo de livro Ao comentar a obra de Lorimer John Cawelti Apud Lasch 1983 diz que no final do s culo dezenove os livros de auto sufici ncia eram dominados pelo car ter da habilidade do vencedor e do encorajamento O magnetismo pessoal qualidade que supostamente capacitava um homem a influenciar e dominar outros tornou se uma das maiores chaves do sucesso p 85 163 Dois outros aspectos presentes das sociedades atuais que colaboram para a caracter stica narc sica do homem contempor neo s o destacados por Lasch 1983 a id ia de sucesso veiculada pela publicidade e a competi o entre o homem e a mulher No que se refere publicidade o autor coloca que inicia
424. trabalhos de Ferdinand de Saussure e posteriormente de Louis Hjelmslev que fundou as bases da distin o entre uma perspectiva exclusivamente ling stica ou propriamente semi tica Por essas raz es que a obra inaugural de Greimas 1976 chama se Sem ntica estrutural pois sua preocupa o consistia em discutir as condi es de produ o do significado ling stico foco das pesquisas menos exploradas at ent o que os estudos fonol gicos morfol gicos e sint ticos empreendidos pelos estruturalistas Uma vez que a semi tica desloca suas preocupa es com a quest o do significado pr pria da denominada perspectiva semiol gica com que ela se confunde inicialmente e passa a privilegiar o sentido quando trabalha com uma extens o ling stica superior da frase precisa desenvolver um m todo para o tratamento de seu objeto Para precisar um pouco mais a no o de sentido para a semi tica vale observar uma vez mais como Greimas e Court s 19857 p 417 referiram se a ele L Hjelmslev prop e uma defini o operat ria de sentido identificando o com o material primeiro ou com o suporte gra as ao qual qualquer semi tica enquanto forma se acha manifestada Sentido torna se assim sin nimo de mat ria uma e outra s o empregadas indiferentemente falando se de dois manifestantes o do plano da express o e o do plano do conte do O termo subst ncia em seguida utilizado para design
425. uary 1976 through April 1984 we proposed a data fusion of the two journals aiming to cover a total period between the years of 1966 trough 2004 The theoretical plateau adopted to create an evaluation profile of the Brazilian reader was based from the Paris School of semiotics For the analysis of the reading matter we chose the exam of the manifestations of the discourse enunciation the projection of the enunciator the enunciatee and the analysis of passions We observed in each one of the best selling corpus texts how those enunciations categories are projected in each one of the best seller books read by Brazilian readers and lastly following the published best seller list how this reader manifest itself as enunciator For that point we propose the contraposition between the enunciator reader ethos from the lists and the pathos of the reader enunciatee discourse The corpus of the research revealed an increasing option for self help books thus we examined this topic in two chapters In the first one we analyze the contemporary society characteristics that reinforce the option of this type of self help text following a detailed treatment of this specific kind of text li Introdu o O estudo da perspectiva do leitor h muito j faz parte dos trabalhos sobre literatura e sobre a constitui o do texto Candido 1975 em seu ensaio intitulado O escritor e o p blico j apontava para a indissociabilidade entre o autor a obra e
426. ue no livro apresentado corresponde a fatos que realmente aconteceram que n o se trata de fic o Os dois livros que correspondem segunda categoria dos mais vendidos revelam se portanto como reconstrutores de uma verdade s cio hist rica que apresentada ao leitor que deseja entrar em conjun o com um saber Olga e Esta o Carandiru consistem em obras caracter sticas do tipo de leitores que t m interesse pelas quest es sociais 96 pr prias da sociedade brasileira atual na medida em que a narrativa do primeiro livro est ambientada na d cada de 40 e a do segundo na d cada de 80 A terceira categoria denominada a o e intriga corresponde ao romance 10 Uma vez mais trata se de uma narrativa que d origem a v rios desdobramentos o que justifica a publica o de diferentes livros para cada novo epis dio Opera o cavalo de Tr ia uma narrativa que tem por objetivo mostrar para seu enunciat rio a verdade de fatos b blicos por meio de conhecimentos cient ficos acumulados pelo homem contempor neo Trata se uma extensa narrativa de fic o cient fica conforme j foi mostrado anteriormente na apresenta o do livro cuja quest o central o relato dos acontecimentos que envolveram a vida de Jesus Cristos e a prega o de seus ensinamentos partindo de uma perspectiva pretensamente cient fica Embora o gr fico 1 registre o primeiro volume como um dos mais vendidos no per odo de 1966 a 2004 pode
427. ue o ent o Ministro Medeiros Silva ao lado do Presidente Castelo Branco recebe no Pal cio das Laranjeiras o projeto da Constitui o das m os de seus autores os juristas Levi Carneiro Tem stocles Cavalcanti e Orozimbo Nonato Esse projeto tornar se no ano seguinte em 1967 a Constitui o da Rep blica Federativa do Brasil O levantamento de livros mais vendidos publicado na p gina 16 do n 2 do Suplemento do Livro do JB vem encabe ado com o t tulo Jorge Amado quem vende mais nos lugares onde mais se 18 Logo abaixo a p gina inteira divida em tr s colunas 18 em que est o elencados os livros mais vendidos em cinco capitais brasileiras Rio de Janeiro Bras lia S o Paulo Recife e Porto Alegre As listas do Rio de Janeiro Bras lia e S o Paulo apresentam duas colunas distintas uma para livros nacionais outra para livros estrangeiros As listas de Recife e Porto Alegre n o fazem essa divis o Al m disso h disparidade de registros entre elas Enquanto a lista carioca apresenta cinco livros nacionais e cinco estrangeiros como mais vendidos do m s a brasiliense apresenta os nomes de dez livros nacionais e dez estrangeiros e a paulista nove nacionais e dez estrangeiros lista de Recife por sua vez apresenta o nome de dez livros mais vendidos e a de Porto Alegre quinze Essa varia o s se estabiliza a partir do quarto n mero do Suplemento do Livro de 19 de novembro de 1966 em que os
428. ue tem aparecido nas listas dos mais vendidos dos principais jornais e revistas brasileiros N o por acaso o tema central desse ltimo romance de Garcia M rquez ainda o amor e a sexualidade temas t o presentes no imagin rio do homem da sociedade contempor nea 144 sustentar sua argumenta o apresenta inclusive uma s rie de fotos de diferentes lugares do globo terrestre e alguns desenhos interpretativos que servem como provas de evid ncias da presen a dos seres de outros planetas aqui na Terra Ele atrai leitores portanto porque cria uma pol mica em torno da modalidade do crer Todos esses livros encaixam se ent o na categoria de leituras de passatempo Assim numa interpreta o semi tica do acontecimento o sujeito leitor realiza um fazer que o leva a entrar em conjun o com um estado qual seja o de preenchimento de um tempo da aus ncia de trabalho um tempo do cio por uma atividade l dica A leitura ent o parece associar se mais diretamente id ia do prazer Segundo os dados do levantamento realizado com os livros mais vendidos no per odo da pesquisa a leitura de passatempo concretiza se na conjun o com tr s diferentes objetos valor a perip cia narrativa o humor e a curiosidade Resta portanto entender como se configuram cada um desses tr s diferentes objetos valor da leitura As obras que denomino a o e intriga s o aquelas que se constroem por meio de tramas com longos desdobramentos em
429. ue um gost writer escreveu em seu nome Devia ser proibido debochar de quem se aventura em l ngua estrangeira p 5 Os livros que aparecem na categoria de mem ria em oitavo e nono lugar respectivamente na prefer ncia do p blico brasileiro s o Esta o Carandiru de Dr uzio Varella e As vidas de Chico Xavier de Marcel Souto Maior O primeiro deles o nico de toda a lista que se aproxima um pouco mais da tem tica social mais caracter stica dos leitores brasileiros dos anos 60 como pode ser observado nos coment rios realizados durante a exposi o tem tica desse livro realizada no cap tulo anterior H que se levar em considera o uma vez mais a ressalva tamb m feita anteriormente quando abordei o vi s por meio do qual o enunciador do texto focaliza os problemas internos do pres dio do Carandiru Ao inv s de fazer uma an lise social ou pol tica das causas da viol ncia ou da marginaliza o a que est o submetidos os presos que ali vivem o enunciador opta por compor uma esp cie de mosaico de dramas particulares as diferentes hist rias de vida de alguns presidi rios com o objetivo de construir um retrato o mais isento poss vel de den ncias ou acusa es pol tico ideol gicas O livro do jornalista Marcelo Souto Maior faz uma reconstitui o biogr fica da trajet ria de vida do m dium Chico Xavier que viveu seus 92 anos e que teve uma intensa vida de prega o dos princ pios do espiritismo no Brasil
430. ui tamb m o prim rdio da civiliza o foi adquirida p 99 Assim a for a de conten o dos impulsos agressivos exercida pela civiliza o tem uma d vida com o trabalho constante das institui es religiosas pois elas oferecem todas as condi es para que o superego individual mantenha controle absoluto sobre o ego Mas Freud vai mais al m e diz que a civiliza o respons vel pelo estabelecimento de um superego cultural quando trata da rela o dos seres humanos entre si submetendo a ao princ pio da tica O mandamento amar ao pr ximo como a si mesmo para o qual confluem o princ pio tico do respeito e da igualdade entre os membros de uma comunidade e o princ pio religioso da comunh o crist a exig ncia mais implac vel que o superego cultural pode fazer sobre o ego pois imposs vel de ser cumprida O que se conclui ent o que tanto o superego individual como o cultural preocupam se muito pouco com a felicidade do ego pois exigem que ele represe totalmente a for a instintiva do id o que segundo Freud outra tarefa completamente imposs vel para um ser humano normal pois o dom nio sobre o id tem limites e que ao mesmo tempo controle as dificuldades com que se depara no meio ambiente externo real Al m de n o se importar pelo conflito que instaura no indiv duo a civiliza o faz crer que quanto mais dif cil for obedecer a seu mandamento mais merit rio ser assim proceder Esse princ pio
431. ulas com moral n o expl cita A novata H bito nacional e Pode acontecer que resgatam mem rias Adolesc ncia A bola e Hist ria estranha dentre outras Trata se nesse caso da leitura descompromissada em que a nica preocupa o do leitor divertir se com as hist rias engra adas que l Al m 129 disso esse tipo de narrativa a cr nica curta ajusta se muito bem aos momentos passageiros durante os quais os leitores das cidades modernas podem se dedicar a ela muito comum deparar com leitores nos nibus urbanos ou interurbanos no metr ou em diferentes ocasi es em que esteja numa situa o de espera como no consult rio m dico no banco na rodovi ria no aeroporto na esta o de trem etc Na categoria de fantasia est o classificados dois romances de J K Rowling Ocupando o segundo lugar na prefer ncia do p blico leitor brasileiro dos anos 2000 est Harry Potter e a pedra filosofal o primeiro da s rie de hist rias infanto juvenis que conquistaram p blicos de todas as idades e que contam as aventuras do menino bruxo Harry Potter Outro livro da mesma autora que alcan a bastante sucesso nesse per odo Harry Potter e a c mara secreta O segundo da s rie escrita pela autora inglesa narra as aventuras do her i com seus dois grandes amigos Rony e Hermione na escola de Hogwarts para descobrir quem estava atacando alguns alunos do col gio e petrificando os Acabam des
432. um movimento de introspec o que o distancia das preocupa es com a coletividade Movidos pela modaliza o epist mica o leitor procura respostas para aquilo sobre o qual n o tem dom nio Tanto as obras de esoterismo quanto aquelas que chamei de cren as parecem oferecer respostas a problemas de ordem estritamente individual A busca do conhecimento interior uma constante cada vez mais presente nas escolhas que fazem os leitores brasileiros dos ltimos anos do s culo XX Durante os quatro primeiros anos da d cada de 2000 os livros mais consumidos pelo p blico leitor brasileiro agrupam se em cinco diferentes categorias auto ajuda humor fantasia realismo ficcional e mem ria Os dois livros da categoria de humor s o de autoria de Lu s Fernando Ver ssimo O n mero um na prefer ncia entre os leitores brasileiros dos anos 2000 As mentiras que os homens contam j abordado anteriormente O outro aparece em quinto lugar e se intitula Com dias para se ler na escola Trata se de uma sele o de cr nicas de Ver ssimo realizada por Ana Maria Machado com o objetivo de destacar segundo a vis o da organizadora algumas de suas melhores cr nicas Entre elas s o selecionadas aquelas que desenvolvem exerc cios de linguagem ou de estilo como em Palavreado Jarg o O ator e Siglas que produzem o humor pelo erro O homem trocado Sufl de chuchu e Sozinhos que recriam pequenas f b
433. um pa s de mercado competitivo no mundo dos neg cios como o norte americano O fato de as obras 2 e 17 aparecerem nas listas dos livros mais vendidos durante o per odo da pesquisa um reflexo da expectativa do p blico leitor brasileiro em rela o aos comportamentos do mundo de neg cios da atualidade Como n o s o livros t cnicos sobre administra o mas textos que se valem de uma linguagem mais adequada ao leitor gen rico penetram numa camada mais vasta do p blico leitor Al m disso a tend ncia defesa de uma associa o entre modelo de administra o e mbito social insere os textos nas preocupa es do leitor brasileiro No quinto e ltimo subgrupo da categoria dos livros de auto ajuda mais vendidos durante o per odo de investiga o desta pesquisa incluo o livro 19 cujo objetivo central consiste no apelo cren a em um deus que tudo harmoniza no mundo Por esse motivo chamei esse subgrupo de cren as O livro de Pastorino com suas listas de pensamentos e de invoca o f quer enfatizar a capacidade que o homem tem de por meio da f numa for a divina e da positividade do pensamento enfrentar todas as adversidades inclusive de agir sobre seu pr prio corpo Do ponto de vista do jarg o semi tico esse quinto subgrupo tal como o primeiro tamb m constitu do por um texto que pretende doar um saber pois como j apontei anteriormente essa a caracter stica central das obras de auto ajuda s
434. uma reinterpreta o m stica do discurso b blico que faz parte do imagin rio cultural do Ocidente para dilu lo no senso comum 2 Virando a pr pria mesa de Ricardo Semler O segundo livro mais vendido o de Ricardo Semler Virando a pr pria mesa um relato mem ria da trajet ria do autor um jovem de 28 anos no campo de administra o de uma empresa brasileira de produtos industriais a Semco Assumindo um discurso em primeira pessoa o narrador autor faz uma retrospectiva de sua inf ncia para chegar a demonstrar como revolucionou o sistema de gest o da ind stria de seu pai Em um tom de sujeito empreendedor e modernizador aborda quest es como o papel das multinacionais a profissionaliza o da empresa familiar o relacionamento com os sindicatos de trabalhadores e as comiss es de f brica Seu discurso burgu s inovador defende a for a e a efici ncia da ind stria brasileira como forma de resolver os problemas sociais brasileiros Al m do trecho que destaquei no cap tulo anterior quando mostrei a perspectiva a partir da qual se constr i o discurso no livro de Semler reproduzo abaixo outro trecho em que se pode perceber o tom conciliador da rela o entre patr o e empregado que o enunciador pretende construir Quase todos os empres rios acham que seus funcion rios s o part cipes da empresa e que s o o maior ativo do empreendimento Por outro lado quase todos os funcion rios acham que s o tratados
435. unciado ao mesmo tempo em que s o escolhas ligadas ao tom m stico da narrativa de Brida Tanto Yeats quanto Blake s o conhecidos como poetas m sticos ao mesmo tempo em que Tolstoy um escritor cuja obra marcada pelo sentimento de religiosidade A segunda caracter stica da narrativa de Brida s o as refer ncias ao discurso cat lico Al m de v rias passagens em que as personagens se remetem a fatos da vida de Jesus Cristo e da Virgem Maria e em que discutem os dogmas da f cat lica h tr s momentos em que o texto b blico trazido para o interior da hist ria O primeiro momento acontece quando Wicca explica para Brida a divis o das almas e para citar um exemplo remete ao G nesis para afirmar que Eva nasce a partir de uma divis o da alma de Ad o o que dar origem Outra Parte p 44 5 Segundo ela durante nossas reencarna es 65 portanto estamos sempre a busca de parte de alma que nos foi retirada para com ela nos fundirmos A segunda refer ncia b blica ocorre entre as p ginas 134 e 135 quando a mesma Wicca ir se reportar s Ep tolas de S o Paulo ao Cor ntios para pedir a Brida que ali procure os nove dons que possuem os seres com espiritualidade avan ada A terceira refer ncia b blica acontece na p gina 260 em que est o reproduzidas as palavras do mesmo ap stolo Paulo que fala sobre a destrui o do templo de Deus O discurso cat lico um forte componente da narrativa do romance de Paulo Coe
436. undo a perspectiva de Freud que mostrei aqui no item anterior deste cap tulo Lasch 1990 diz que os diferentes debates sobre a cultura contempor nea podem do ponto de vista da terminologia psicanal tica resumir se a tr s diferentes posi es A primeira que chama conservadora aquela que interpreta a crise da cultura contempor nea como uma crise do superego Para os partid rios dessa vertente a estabilidade social e a renova o no plano da cultura podem ser atingidos por meio da restaura o do superego social Segundo os adeptos dessa perspectiva a desordem e a confus o predominantes na cultura contempor nea devem se ao colapso das inibi es morais ao clima de permissividade e decad ncia da autoridade p 183 Os adeptos dessa vis o consideram os indiv duos das sociedades contempor neas hedonistas exclusivistas carentes de uma for a de repress o aos desejos do ego A segunda posi o descrita por Lasch a que intitula liberal Contrariamente vis o anterior os partid rios dessa perspectiva acreditam que a faculdade racional a ser fortalecida o ego De acordo com sua concep o a sociedade necessita de uma ilumina o moral e n o de uma estrutura de proibi es Ela precisa de pessoas com for a interior para estabelecer ju zos morais entre a pluralidade de op es dispon veis e n o de pessoas que como escravos seguem as ordens ou se conformam irrefletidamente aos dogmas morais aceitos
437. universit ria brasileira concretizada na banca que ir avali lo Em segundo lugar como pretende divulgar os resultados da pesquisa para um p blico mais extenso do que os cinco membros de uma banca este trabalho tamb m se organiza a partir da imagem de um p blico da rea de humanidades embora ainda universit rio Se se pensasse em uma publica o dirigida ao leitor m dio brasileiro de quem aqui se fala seria necess rio reorganizar o dito para que esse leitor que n o se identifica com as quest es acad micas da linguagem pudesse se 28 interessar pelo texto e consequentemente compr lo O discurso de um texto em sentido especifico ou lato constr i se sempre a partir da imagem de enunciat rio que lhe inerente Essas quest es podem ser consideradas muito banais mas do ponto de vista te rico t m uma import ncia muito grande J Arist teles 19 em sua Arte ret rica dizia que Obt m se a persuas o por efeito do car ter moral quando o discurso procede de maneira que deixa a impress o de o orador ser digno de confian a As pessoas de bem inspiram confian a mais eficazmente e mais rapidamente em todos os assuntos de um modo geral mas nas quest es em que n o h possibilidade de obter certeza e que se prestam a d vida essa confian a reveste particular import ncia preciso tamb m que este resultado seja obtido pelo discurso sem que intervenha qualquer preconceito favor vel ao car ter do ora
438. up Ant nio Calado Civiliza o Brasileira E Sexus Henry Miller Record nO meu p de laranja lima Jos Mauro de Vasconcelos Gobo O O prisioneiro rico Ver ssimo Globo E Festival de besteira que assola o pa s Stanislaw Ponte Preta Sabi E O desafio americano Jean Jacques Servan Schreiber Express o e Cultura E O lobo da estepe Hermann Hesse Civiliza o Basileira O Aeroporto Arthur Halley Nova Fronteira E Crimes de guerra no Vietname Bertand Russell Paz e Terra m O homem ao zero Leon Eliachar Express o e Cultura OD O primeiro ministro Arthur Halley Nova Fronteira Gr fico 2 Levantamento D cada 1960 244 E Incidente em Antares rico Ver ssimo Globo E Eram os deuses astronautas Erich von Daniken Melhoramentos O O exorcista William Peter Blatty Nova Fronteira O Solo de clarineta rico Ver ssimo Globo E O profeta Gibran Khalil Gibran ACIGVExpress o Cultural E Pare de engordar N lson Senise Recorde BO chef o Mario Puzo Express o e Cultura O Vidas secas Graciliano Ramos Martins E As veias abertas na Am rica Latina Eduardo Galeano Paz e Terra E Autom vel Arthur Halley Nova Fronteira O O homem sensual M Artenova E O meu p de laranja lima Jos Mauro de Vasconcelos Melhoramentos Gr fico 3 Levantamento d cada 1970 245 33 33 19 19 18 E A insustent vel leveza do ser Milan Kundera Nova Fronteir
439. vai ser contado e dessa forma assume um estilo de relato jornal stico para a constru o de uma biografia de personalidade da hist ria O que se percebe por m que a narrativa acaba enfatizando mais o aspectos rom ntico do envolvimento da hero na com Prestes do que propriamente a recupera o do momento hist rico com um enfoque anal tico 13 Intelig ncia emocional de Daniel Goleman Z E com a seguinte ep grafe de O pequeno pr ncipe de Antoine de Saint Exup ry que o livro de Goleman 1995 abre seu primeiro cap tulo Para que servem as emo es com o cora o que se v corretamente o essencial invis vel aos olhos p 17 O psic logo norte americano Daniel Goleman escreve seu livro assumindo enunciativamente a forma de um eu que se dirige a um tu leitor com o qual pretende discutir a quest o da emo o e da intelig ncia Tomando por base as ent o recentes descobertas da rea da neurologia sobre a mente humana o enunciador explica as por meio de uma linguagem bastante acess vel ao p blico leigo O c rebro usa um m todo simples mas astuto para registrar mem rias emocionais com for a especial os mesm ssimos sistemas de alarme neuroqu micos que preparam o corpo para reagir a emerg ncias de risco de vida com a resposta de lutar ou fugir tamb m gravam vividamente o momento na mem ria Sob tens o ou ansiedade ou provavelmente at mesmo intensa excita o de alegria um nervo
440. ver juntos e colocaram seus ideais comunistas em pr tica Pouco tempo depois ele voltou a ser preso por v rios meses e Olga comandou outra miss o para libert lo no tribunal Ela obteve sucesso uma vez mais e fugiu com Otto Foi aclamada e eleita pela juventude comunista para o cargo mais alto do Comit Central da Juventude Comunista Internacional Esse cargo roubou lhe tempo para dedicar se a sua vida pessoal o que a fez decidir romper com Otto pois n o queria perder a possibilidade de progredir cada dia mais no comit Enquanto tudo isso se passava na Europa aqui no Brasil Luiz Carlos Prestes com a Coluna Prestes fazia uma verdadeira viagem pelo pa s a p ou no lombo de um burro levando de boca em boca os ideais comunistas e trazendo com ele um verdadeiro ex rcito para sua cruzada pelo pa s Teve sucesso estrondoso por m n o suficiente para depor o presidente tomar o poder e instaurar um regime comunista no Brasil Foi obrigado a se exilar na Argentina e posteriormente em Moscou lugar onde Olga estava refor ando e aprimorando seus conhecimentos comunistas Ela j havia ouvido algo sobre o fato de um brasileiro percorrer a p vinte cinco mil quil metros tentando uma revolu o Conheceram se por interm dio de um alto comunista do Comintern que os apresentou e os incumbiu da miss o de irem juntos para o Brasil retomar o projeto n o conclu do por Prestes Ao longo do percurso apaixonaram se casaram se mas Olga descoberta n
441. vista de sua origem portanto a palavra gosto est ligada ao paladar sensa o que determinado objeto propicia no sujeito que o experimenta esse tamb m o sentido do verbo degustar experimentar com aten o e deleite o sabor de saborear provar cuja raiz de composi o gost Pode se observar ent o que o termo gosto possui quatro acep es que remetem ao universo da alimenta o portanto ao corpo uma vez que faz refer ncia a uma sensa o pr pria do homem que atrav s do sentido do paladar experimenta algo que lhe parece comest vel Nessa dire o poderia dizer ainda que algo apetece ao sujeito quando tem um 52 gosto bom em oposi o a algo que tem gosto ruim Do ponto de vista do paladar o sujeito procura sempre aquilo que lhe desperta uma sensa o positiva J nas acep es 5 e 6 a palavra gosto refere se a um conceito mais abstrato que expressa uma sensa o pr xima da inclina o do interesse da atra o Especificamente em rela o sexta acep o que diz respeito ao julgamento cr tico de algo pode se falar em bom gosto ou mau gosto gosto apurado ou gosto ex tico Mas para dizer nesse sentido que o gosto bom ou mau refinado ou grosseiro preciso considerar conforme Fiorin 1997 que essas qualifica es partem da perspectiva da norma isto que existem condicionantes sociais de um determinado lug
442. volta por meio dos mais diferentes meios de comunica o incluindo se a a internet O ideal da informa o converge para o princ pio da neutralidade e da objetividade de tal maneira que um mesmo ve culo de informa o deve expressar todos os Lipovetsky usa o termo neo individualista para se referir aos indiv duos das sociedades contempor neas porque considera que o in cio da acelera o industrial no final do s culo XIX e come o do XX j havia sido respons vel pela instaura o do individualismo que depois da d cada de 60 adquire um nova configura o com as transforma es s cio cullturais ocorridas 177 diferentes pontos de vista sobre um mesmo fato para que o p blico possa formar livremente sua opini o A conseqii ncia da afirma o do princ pio da busca por uma felicidade individual a altera o dos costumes e o comportamento sexual um deles A partir do momento que ele deixa de ser dirigido pela repress o trin mica do vigiar coibir sublimar pode manifestar se de forma mais aberta e sem constrangimentos incluindo se ent o n o s os padr es heterossexuais como tamb m os homossexuais n o s as pr ticas sexuais convencionais como tamb m as exc ntricas Mas toda essa liberdade sancionada positivamente no mbito da individualidade n o no da coletividade A vergonha da reprova o social n o tem mais a efic cia na sociedade contempor nea Emma Bovary de Flaubert ou Lu sa de
443. vos dos livros eleitos pelos leitores brasileiros passo agora a observar mais especificamente a configura o discursiva de dois dos textos mais lidos durante o per odo da pesquisa Demonstrarei a t tulo de exemplo como se manifestam os enunciadores nas duas obras escolhidas e em que medida instauram se os efeitos de subjetividade e de objetividade em cada um deles Nesse sentido portanto n o estabelecerei o ethos do enunciador mas a forma como ele se projeta no interior do discurso Para tanto reproduzo os seguintes trechos de textos abaixo 1 O rapaz chamava se Santiago Estava come ando a escurecer quando chegou com seu rebanho diante de uma velha igreja abandonada O teto tinha despencado h muito tempo e um enorme sic moro havia crescido no local que antes abrigava a sacristia Resolveu passar a noite ali Fez com que todas as ovelhas entrassem pela porta em ru nas e ent o colocou algumas t buas de modo que elas n o pudessem fugir durante a noite N o haviam sic lobos naquela regi o mas certa vez um animal havia escapado durante a noite e ele gastara todo o dia seguinte procurando a ovelha desgarrada Forrou o ch o com seu casaco e deitou se usando o livro que acabara de ler como travesseiro Lembrou se antes de dormir que precisava come ar a ler livros mais grossos demoravam mais para acabar e eram travesseiros mais confort veis durante a noite Ainda estava escuro quando acordou Olhou para cima e viu que as e
444. vro O sucesso n o ocorre por acaso de Lair Ribeiro faz parte dos livros de autoconhecimento em minha classifica o enquanto na da autora apare a inclu do entre os t tulos de neg cios Essas diferen as n o se devem m classifica o tanto de um quanto de outro trabalho mas sim ao que tanto Martelli quanto eu afirmamos em nossos trabalhos muitas vezes os textos de auto ajuda abordam diferentes tem ticas o que justificaria inclu lo em mais de uma categoria Para efeito de classifica o cada um optou por coloc lo naquela que julga ser a preponderante no livro embora essa decis o seja dependente do contexto em que se examine o livro de auto ajuda O fato de nossas classifica es tem ticas coincidirem no n mero de categorias sete para Martelli e sete para mim talvez se deva como ela mesma ironiza em seu texto a alguma implica o m stica dada a import ncia que esse n mero adquire em v rios t tulos da pr pria literatura de auto ajuda As sete leis espirituais do sucesso Os sete h bitos das pessoas altamente eficazes etc A distin o apresentada pela autora entre os livros que chama de auto ajuda manifesta e auto ajuda latente deve se ao que j ficou dito acima sobre a fluidez do crit rio para identificar quando um livro deve ou n o ser inclu do nesse g nero e ainda ao fato de que o termo auto ajuda marcado em diferentes lugares sociais por um julgamento 194 negativo Por essa r
445. xemplo deixam de existir fato que observado tamb m por Benjamim 1994 quando afirma que na era da produ o cultural de massa desaparecem as grandes narrativas quais sejam as narrativas picas mais complexas e extensas com explora o do tempo e do espa o psicol gico cujos representantes ltimos na literatura can nica podem ser identificados por exemplo em Marcel Proust ou em James Joyce Permanecem portanto as narrativas que se concentram na explora o das a es aquelas que inter relacionam v rios programas narrativos entremeados a um programa principal que d sustenta o hist ria Assim por exemplo que se justifica o interesse do leitor comum por narrativas como Aeroporto O primeiro ministro O exorcista O chef o Autom vel Se houver amanh Opera o cavalo de tr ia As brumas de Avalon Harry Potter e a pedra filosofal Harry Potter e a c mara secreta e inclusive o romance policial O Xang de Baker Street que aparecem nas listas dos mais vendidos no Brasil durante o per odo de 1966 a 2004 Esses s o livros que prendem os leitores pela din mica da narrativa raz o pela qual muitos deles acabaram dando origem a produ es cinematogr ficas Em rela o ao g nero de narrativas ainda dois livros ganham uma classifica o parte ao serem colocados na categoria que chamei realismo ficcional Trata se de duas obras em que a cr tica reconhece qualidades liter rias o que as enquadra dentro
446. xtos embora n o no sentido que Bakhtin atribui aos g neros prim rios Os t tulos dos livros dessa subtipologia da auto ajuda t m como caracter stica central a afirma o da verdade Entre enunciador e enunciat rio instaura se um contrato de veridic o em que a modaliza o epist mica da certeza crer ser incide sobre o fazer do enunciat rio na forma de uma prescri o dever fazer para atingir o sucesso objeto do querer Observando suas capas imposs vel n o apontar uma identifica o entre os livros de Iaccocca e Semler Em ambas aparece uma foto dos sujeitos autobiografados A postura das duas imagens ali reproduzidas bastante semelhante um largo sorriso de satisfa o que aponta para a conjun o com o sucesso espelha se no rosto dos sujeitos ali representados Ambos se vestem como homens de neg cios com camisas de mangas compridas e uma gravata Um um senhor de sessenta anos idade Iacocca outro um jovem empreendedor de apenas 28 anos Semler Ambos olham para o espectador e em ambos h uma express o de serenidade e satisfa o a afirma o do ser da verdade da individualidade O t tulo de cada um dos livros estampado no alto de suas capas reafirma essa focaliza o da individualidade No do autor norte americano seu nome aparece em destaque com letras maiores Iacocca seguido pelo subt tulo uma autobiografia e logo abaixo ao subt tulo a indica o da autoria Em primeiro lugar em
447. z respeito a cada um dos indiv duos em particular A auto ajuda ent o pode ser interpretada como uma maneira de conforto a esse ego que busca satisfazer seus desejos 5 3 As pol ticas das ondas A apresenta o das propostas de Toffler tomar por base duas obras do autor A terceira onda cuja primeira edi o de 1980 e Criando uma nova civiliza o de 1994 As refer ncias a esses autores aqui realizadas partir o das edi es traduzidas para o portugu s respectivamente em 1993 e 1999 Tal como Lasch Toffler parte da observa o da sociedade norte america para refletir sobre as transforma es de nossa civiliza o em diferentes ciclos chamadas por ele ondas de organiza o econ mico social que se propagam entre os diferentes povos do planeta A partir do exame dessas ondas evolutivas Toffler procurar caracterizar o est gio atual de nossa civiliza o apontar as transforma es em curso e as que ainda vir o no futuro Sua perspectiva euf rica em rela o a esse tempo que vir pois n o considera o capitalismo um sistema econ mico social perverso al m de afirmar que a oposi o entre esse sistema e o socialismo tende a se diluir completamente nesse tempo do porvir Contrariamente ao sentimento de medo decorrente das previs es l gubres sobre o futuro que segundo ele persiste no imagin rio de muitos indiv duos da sociedade contempor nea Toffler 1993 ir afirmar que sua proposta dirige se queles
448. zido porque a administra o do neg cio n o precisa concentrar mais ao seu redor todo o material de que necessita Assim grandes empresas reduzem se a um pequeno espa o em que as atividades de gerenciamento e organiza o est o concentradas enquanto o resto das atividades dilui se em diferentes lugares A mesma situa o se verifica em rela o ao tempo pois o sistema de rede criado pela inform tica capaz de diminuir o tempo gasto com deslocamentos e mesmo estando a grandes dist ncias f sicas os neg cios podem ser estabelecidos em tempo muito mais curto Essa maneira de enxergar as rela es econ micas propostas pelo autor por m desconsidera que existam grandes distin es sociais nas diferentes sociedades do planeta Quando Toffler constata que nas sociedades contempor neas h uma grande quantidade de m o de obra sem trabalho devido ao aumento da popula o e consegiiente automatiza o do trabalho afirma que s o os pr prios indiv duos isoladamente que procurar o encontrar sa das para essa situa o sendo criativos nas escolhas que fazem para se inserirem no mercado de trabalho Essa afirma o por m n o leva em considera o as diferentes formas de organiza o sociais existentes no planeta que muitas vezes estabelecem sistemas de estratifica o social que independem de qualquer vontade ou criatividade de 174 sujeitos isolados para ascender socialmente Suas propostas s o orientadas embora n o

Download Pdf Manuals

Related Search

cortina_a_ld_arafcl

cortina_a_ld_arafcl

Contents

Download Pdf Manuals

Related Search

Related Contents