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A Filha do Papa

1. Eu sei quais s o as ordens mas partem de pressupostos errados D me a tua arma ordenou Davide A tens o entre os tr s homens e Rafael era evidente Todos se mediam calculando as probabilidades da vida e da morte A vantagem de Davide era evidente mas um gesto mal entendido podia causar um acidente desnecess rio Rafael levantou a parte de tr s do casaco lentamente para revelar a Beretta enterrada entre o c s das cal as e as costas Davide aproximou se p ante p N o queria aproximar se demasiado Rafael podia ser muito perigoso num confronto f sico Quando sentiu que bastava esticar o bra o f lo e removeu a arma com um gesto brusco Entregou a a Arturo que a guardou Davide recuou imediatamente dois passos para uma dist ncia mais segura Rafael sorriu Tenho muita pena Rafael confessou o colega E de facto uma pena Desejo vos boa sorte a tentar encontr la Davide sorriu cinicamente J deste a morada da mulher ao tonto do Tomasini Rafael abriu ainda mais o sorriso sard nico Dei ripostou o padre Ser que dei mesmo Tu sabes onde est a Anna perguntou Duv lio incr dulo Davide ficou a pensar nas palavras de Rafael Pegou no telem vel e reparou que tinha tr s chamadas n o atendidas Colocara o em sil ncio para n o interferir com a opera o Fora Girolamo Comte quem ligara Ligar lhe ia mais tarde E tinha tamb m uma chamada do chefe da Santa Alian
2. Conta me E Rafael contou as suas desconfian as sem revelar a identidade de quem suspeitava N o podia contar tudo Havia coisas que era melhor guardar Algumas porque ainda careciam de confirma o outras porque n o queria que Cavalcanti as soubesse pelo menos enquanto n o fosse necess rio E o embaixador j sabe perguntou o inspector Rafael fez que n o com a cabe a E a mulher Chama se Sarah N o A outra Chama se Anna corrigiu Rafael que n o conseguia expulsar Sarah do pensamento Esperava que ela estivesse bem dadas as circunst ncias E tu sabes onde ela est Cavalcanti n o estava a perguntar Temos de calcular muito bem o nosso pr ximo passo Cavalcanti tirou os olhos da estrada e focou os em Rafael Por que raz o me avisaste do homic dio em Sant Andrea e na Tuscolana N o te avisei Engana me que eu gosto proferiu o inspector com um sorriso matreiro De qualquer maneira h uma coisa que n o percebo Rafael esperou que o pol cia conclu sse Se te puseram a dormir no pal cio como que conseguiste avisar a central do que tinha acontecido Rafael olhou para Cavalcanti intrigado N o consegui Eu n o avisei ningu m N o te avisei do que aconteceu em Sant Andrea na Tuscolana e muito menos no pal cio das congrega es Se tivesse sido eu dizia te Quando recuperei os sentidos levei logo contigo Cavalcanti pegou n
3. Interior da Bas lica de Sant Andrea della Valle em Roma O Shutterstock com retomar a leitura Canal Grande em Veneza O Shutterstock com retomar a leitura Vista panor mica da Pra a de S o Pedro Estado da Cidade do Vaticano O Shutterstock com retomar a leitura Pra a de S o Pedro Estado da Cidade do Vaticano O Shutterstock com retomar a leitura
4. N o digas nada disse o outro arreliado Para teu bem espero que tenha come ado o Apocalipse segundo S o Jo o Lan ou lhe um olhar amea ador que n o era dif cil concretizar quela hora Espera aqui Venho j E fechou a porta na cara do rapaz Vinte minutos depois que fizeram o rapaz pensar v rias vezes se havia de arriscar tocar campainha novamente ou n o sa ram os dois para o ar frio da Via Britannia e entraram numa viatura Fiat com matr cula SCV indicadora de perten a do Estado Cidade do Vaticano J nem se respeitam as segundas feiras resmungou Jacopo antes de o carro arrancar O jovem ia corrigi lo e dizer lhe que tecnicamente j era ter a mas achou melhor permanecer calado Roma era uma cidade que dormia de noite como Jacopo sem grandes alaridos Os locais de divers o nocturna estavam muito bem definidos e ganhavam vida por norma s sextas como Jacopo e Norma aos s bados e nas v speras de feriado Aquela hora s se via aqueles que n o podiam fugir ao trabalho e a libertinagem que vagabundeava pela noite Noutros tempos passaria o resto da curta viagem a perguntar se sobre as raz es de t o inesperada requisi o mas desta vez limitou se a puxar o chap u para a frente dos olhos e ignorou o rapaz e o motorista Via Cesare Balbo direita para a Via Panisperna novamente direita pela Via Milano e depois esquerda para a Via Nazionale Nem precisava de ver C
5. Porque eu lhe confidenciei esse facto Porque o senhor lhe confidenciou esse facto repetiu JC satisfeito por azer valer o seu ponto de vista V como foi um interveniente Mas o meu caro n o fez tudo mal O sistema de seguran a que montou em Torano funcionou Da que tivessem de engendrar o plano de rapto para a irarem de l O intendente queria apenas que ela fosse livre Tamb m ele oi usado Mas ele estava apenas a cumprir uma promessa a um familiar que tinha morrido h muito E o Rafael estava a cumprir o qu quando lhe acilitou ainda mais a vida Libertou a J percebi que fui manipulado disse o padre irritado Foi para se regozijar com isso que veio aqui Tamb m respondeu JC que nunca deixava de dizer as coisas por simpatia Falta a cereja em cima do bolo O Matteo Bonfiglioli Rafael fechou os olhos Ainda faltava esse pormenor Um plano engendrado ao mais nfimo detalhe que o fez pensar o tempo todo que estava frente dos seus advers rios quando afinal nem sabia quem eles eram Fomos rapt lo porque surgiu no horizonte uma amea a de que o intendente estava a planear um atentado contra altos interesses do Vaticano Agimos bem prosseguiu JC Permita me que lhe pergunte quem o informou dessa amea a O secret rio pontif cio O Giorgio Exactamente E quem o informou a ele Fonte segura respondeu Rafael o que era o mesmo que dizer que n o fazia i
6. D me um minuto Olhou para os presentes Tenho o embaixador em linha Que desastre deixou escapar o porta voz pensando nas consequ ncias que aquele acto teria na opini o p blica Ter amos de lidar com essa situa o mais cedo ou mais tarde avan ou Girolamo como se n o fosse t o mau como isso O Tomasini tem de colocar uma r dea aos seus homens admoestou Tarcisio Vou para l disse o homem da informa o E n o regresso sem ele Guillermo saiu do gabinete sem sequer se despedir como mandava o protocolo mas ningu m se importou com isso Era tempo de agir Tarcisio voltou a suspirar e levou o telefone ao ouvido Vou enfrentar o pai irado e ver o que posso fazer para suster esta trapalhada Diga lhe que importante manter este assunto em segredo interp s o porta voz remando a favor de uma posi o mais favor vel para si Antes de carregar no bot o o Cardeal desviou a aten o para Girolamo Comte N o esquecera o assunto anterior O que que descobriste Girolamo tinha as m os atr s das costas apreensivo Quem passou a informa o ao jornalista Os outros dois homens arregalaram os olhos Quem foi Girolamo olhou para um e para outro incisivamente Foi o secret rio do Papa O monsenhor Giorgio 50 O embaixador tardou a regressar ao sal o Cavalcanti suspirava ao olhar para Rafael que se mantinha sereno Disseste q
7. Matteo Bonfiglioli limitou se a dizer o homem muito calmamente O desconhecido exibiu uma Beretta de 9mm com cabo de madeira meu Deus tartamudeou a mulher Ponha se a andar ordenou lhe o homem Ela pegou na roupa atabalhoadamente e dirigiu se sa da Sugiro que se esque a da minha cara Mary Theresa Goldwin O seu marido espera a no quarto n mero 204 do hotel Due Torri Pensa que saiu com a sua amiga Jill Sabemos onde a Jill anda n o sabemos querida N o se preocupem A minha boca um t mulo disse esbo ando um ar c nico Sentou se na beira da cama de costas para Matteo Se por acaso n o se esquecer de mim eu fa o uma visita ao Luke e ao Perry no Adams Hall 63 South Green Dr 45701 Athens Ohio amea ou levantando a arma E n o ser para lhes dizer que a m e se comporta muito muito mal Deixou a informa o percorrer todo o corpo da mulher como um calafrio cortante Ela estava de costas ainda nua e ele sabia que as l grimas jorravam silenciosas pelo bonito rosto Era suposto ser apenas uma aventura sexual Nada mais Adeus Mary Theresa Goldwin Ela saiu mas o desconhecido j tinha colado o olhar em Matteo com a Beretta amea adoramente apontada na sua direc o Chegou a sua hora Matteo Bonfiglioli Na segunda feira a irm Bernarda testemunhou uma altera o rotina at ali imut vel do monsenhor Lucarelli Como fizera nos tr s dias
8. Que mulher A moeda de troca N o sei de quem est a falar Emin ncia respondeu o padre com uma express o s ria Mas ainda h pouco falou dela Est a sentir se bem N o altura para brincadeiras Rafael confrontou Guillermo N o te livras de n s sem nos entregares a Anna Pacelli ou a Anna Lehnert como lhe preferires chamar Como que se pode entregar algu m que n o existe perguntou a voz de Giorgio o belo que acabara de entrar no quarto e ouvira a ltima parte do di logo Os outros desviaram o olhar para a porta e viram o monsenhor entrar com um sorriso nos l bios Est o a brincar connosco perguntou Tarcisio indignado Claro que n o Emin ncia garantiu Giorgio Nunca existiu ningu m com o nome Anna Lehnert ou Anna Pacelli Consequentemente n o podemos entregar algu m que n o existe Tarcisio levantou se agastado Era demasiada petul ncia do secret rio pessoal do Papa N o ia permanecer ali mais tempo para ser humilhado nem zombado por um garoto Meus senhores quero que se dirijam ao meu gabinete mal o Rafael enha alta com um relat rio completo da situa o sem evas es nem artimanhas As suas melhoras desejou a Rafael Muito boa tarde Giorgio deixou se ficar no quarto a olhar a rua pela janela enquanto o Cardeal Secret rio de Estado se arrastava para fora do quarto seguido pelos outros dois A Policl nica Gemelli er
9. Perderam se pelo caminho Matteo levantou se de rompante e agarrou nas golas da camisa do idoso de tal forma que a ch vena e o pires ca ram ao ch o e se quebraram derramando o l quido quente sobre os p s descal os sem que ele se desse conta disso No momento em que o ia levantar pelos colarinhos sentiu algo colar se nuca e um estalido Comporte se ordenou lhe uma voz masculina vigorosa Sente se imediatamente N o vou repetir A jovem mulher levou as suas m os s de Matteo com uma serenidade contagiante e afastou as do idoso que o fitava imp vido e sem qualquer apontamento de medo Fez lhe uma car cia na face e tornou a sent lo na cadeira ao lado do velho Parecia hipnotizado Matteo olhou para o homem que guardava a arma no interior do casaco N o era o mesmo que tinha entrado no seu quarto em Verona mas tinha o mesmo vigor f sico Vestia um fato de fino corte Armani e viu que mancava de uma perna quando ele se dirigiu cozinha a resmungar entre dentes Mia importas te de me trazer outro pediu o idoso enquanto se sentava novamente como se se tivesse tratado de um infort nio acidental Com certeza senhor Matteo voltou a focar o olhar no fr gil homem de idade que tinha ao seu lado Quem o senhor O que que eu estou aqui a fazer Onde que eu estou perguntou Matteo desnorteado com as m os na cabe a Queria tanto que aquilo n o passasse de um sonho mau Calma
10. Sim Ele disse me o que tenho de fazer Lev la a Frankfurt disse Jacopo 3 Exactamente Entregue lhe o dinheiro e depois pode regressar E uma quantia mais que suficiente para duas vidas Mas ela j n o livre h tanto tempo Saber o que fazer Certamente saber Esta tamb m a vontade do Santo Padre Fique com os di rios da Pasqualina Quando os tiver estudado diga me para eu os recolher Jacopo resignou se Fosse feita a vontade do sucessor de Pedro Lavaria as suas m os como P ncio Pilatos Giorgio abriu a porta de tr s do carro do lado onde estava Anna Foi um prazer incomensur vel conhec la Anna disse em tom de despedida A minha viagem termina aqui A vossa vai continuar por mais uns largos quil metros O doutor Sebastiani tem todas as instru es Obrigada meu querido agradeceu Anna com uma l grima a soltar se do olho Espero come ou a dizer mas depois n o continuou Em meu nome pessoal do Santo Padre e do padre Rafael desejo lhe as maiores felicidades Anna estava comovida e n o disse mais nada Giorgio fez um meneio com a cabe a para cumprimentar Norma e fechou a porta Tenho uma pergunta para lhe fazer disse Jacopo baixando a voz antes de entrar no carro e empreender a longa viagem Se est em contacto t o directo com o Rafael porque que ele n o me disse nada E para que me chamou ao seu gabinete a meio da noite Poupava m
11. Foi o caso dos irm os Finaly Mais ou menos Verdade seja dita que Roma mandou devolv los aos amiliares E o que aconteceu As crian as foram enviadas para um convento em Grenoble mas eram muito novas para l permanecerem Acabaram por ser entregues a uma creche A tutora dos mi dos de quem n o me lembro do nome se que alguma vez o soube afei oou se a eles e antes de cumprir a ordem baptizou os em 1948 Giorgio escutava com muita aten o completamente envolvido pelas palavras de Jacopo Percebera o problema Pela lei can nica uma crian a baptizada n o podia ser entregue a tutores que professassem outra religi o Isto acabou por envolver as autoridades civis O tribunal de Grenoble deu raz o aos familiares como era justo e ordenou a entrega imediata aos amiliares depois de infind veis recursos Isto j em 1952 O n ncio de Paris na altura o monsenhor Roncalli O Bom Papa Jo o interrompeu Giorgio em jeito de correc o Exactamente Na altura n o era Papa nem cardeal O futuro Jo o XXIII enfatizou a contra gosto ordenou a entrega dos dois irm os mas algu m teve a infeliz ideia de os recambiar para Marselha e depois para o Pa s Basco Foi ainda mais dif cil encontr los e devolv los fam lia em Israel Foi um esc ndalo internacional apareceu em todos os jornais Prenderam a madre superiora as freiras a tutora foi um descalabro diplom tico monumenta
12. O intendente anuiu com a cabe a Deve estar a chegar O que fazemos com os corpos Emin ncia Tarcisio observou os sacos em cima das macas como se os estivesse a ver pela primeira vez A sua express o manteve se introspectiva como se estivesse a procurar mentalmente uma solu o ou qui a aguardar pela ajuda divina do Criador meu dever lembrar a sua Emin ncia que nestes casos de crime violento a aut psia imperativa notificou Girolamo Tarcisio saiu momentaneamente da sua letargia para fitar o intendente Eu que decido o que imperativo ou n o Um outro caso invadiu lhe a mem ria ocorrido meses antes no pr prio Pal cio Apost lico poucos pisos abaixo dos apartamentos papais na Sala das Rel quias Ursino o padre que chefiava o departamento mais sui generis do mundo fora assassinado Dessa vez conseguira debelar a situa o Nada se soubera na comunica o social Este caso era diferente N o havia como fugir da exposi o p blica Requeria uma pol tica de comunica o muito bem feita com informa o e desinforma o Os abutres j se acotovelavam espera do exclusivo Vamos enterrar os cinco corpos no cemit rio de Montesanto sem aut psia Girolamo assentiu O Cardeal Secret rio de Estado havia decidido e a ordem seria cumprida Um dos homens de Comte acercou se dele e entregou lhe um dossi castanho Era isto que procurava senhor intendente A PS ainda n o a tin
13. de ambos os lados Muito com rcio com ofertas variadas para saciar o corpo o est mago e os olhos V rias lojas de artigos religiosos como n o podia deixar de ser com as montras pejadas de santos porta chaves postais bandeiras len os pratos ch venas n o esquecendo as r plicas em v rios tamanhos e materiais dos principais monumentos romanos e vaticanos entre outras bugigangas carimbadas na sua maioria com o rosto de Bento XVI e tamb m de Jo o Paulo II As esplanadas importunavam os passeios ora estreitos ora largos sem regra boa maneira romana No primeiro dia milagrosamente para os padr es romanos encontrou ugar para estacionar a poucos metros do edif cio Se o Franc s fosse um homem de f poderia pensar que seria um bom aug rio mas nem ele o era nem se passou nada de especial al m da habitual espera No segundo dia optou por n o levar o Mazda Andou a p vigiou as imedia es fingindo outra vez ser mais um dos muitos turistas que por ali passavam Tirou otografias atentou na porta de entrada mas n o entrou e depois foi efectivamente passear Neste terceiro dia jogara pelo seguro Substitu ra o Mazda por um Alfa Romeo e deixou o hotel a meio da tarde As seis e meia j estava estacionado a cerca de cem metros do edif cio A cidade fervilhava com o movimento tur stico caracter stico In meras carrinhas e alguns cami es enchiam as art rias romanas para os provimentos vespertinos Nada podia alt
14. tarde Os encontros levavam entre duas a quatro horas Maria Teresa voltou aos poucos a sorrir a falar os olhos resplendeciam e ansiavam pelas tardes de er a feira Aqueles encontros duraram cerca de cinco anos Foi o pai de Maria Teresa Ernesto que terminou com as visitas que havia come ado pois suspeitava que ambos mantinham uma rela o em segredo Era certo que se amavam ainda que Maria Teresa tenha garantido perante os postuladores da beatifica o que nunca nada tinha acontecido nem sequer um beijo Eram duas almas unidas por Deus Fosse como fosse a interrup o abrupta das visitas semanais a Maria Teresa foram vexat rias para Eugenio e deixaram no desalentado O seu est mago j de si muito delicado n o aguentava comida nem l quidos e vomitava tudo Foi a m e quem o ajudou a passar por essa fase complicada A m e e o trabalho N o precisas de contar a Positio toda tornou a interromper Rafael batendo com um dedo no mostrador do rel gio de pulso a pedir que se despachasse P ra de interromper interp s se Sarah irritada Ele ainda est em 1901 S vai chegar a 1939 s oito da manh argumentou Rafael Tudo bem Eu abrevio No mesmo ano em que se publicou o C digo de Direito Can nico em 1917 ele foi nomeado n ncio da Baviera Come ou a sua jornada alem que durou at 1929 Em 1925 mudou se de Munique para Berlim Diziam os diplomatas dos outros pa ses e mesmo os al
15. tivesse chegado naquele intervalo O cora o palpitava de preocupa o Que coisa Porque se sentiria assim Dali a poucos dias ele partiria certamente para sempre e nunca mais o veria Nosso Senhor Jesus Cristo na Sua eterna bondade cuidai do reverendo monsenhor e fazei com que nada de mal lhe aconte a pediu mentalmente E alivie me destes pensamentos acrescentou N o se atrevia a faz lo em voz alta Seria tornar real aquilo que nunca o poderia ser Seria confirmar que desde que ele chegara n o conseguia focar o seu pensamento em mais ningu m nem no seu querido Jesus Pousou a bandeja na mesinha e deixou se ficar escuta O cora o continuava a apertar se no peito de consumi o Obrigou se a acalmar se Nada acontecera N o havia raz o para estar t o alterada N o se preocupava quando os outros h spedes regressavam tarde ou n o o faziam de todo O monsenhor Lucarelli n o era diferente dos outros Como continuava a n o sentir vida dentro do quarto s lhe restava esperar O jantar arrefeceu Teria de pedir para lhe prepararem outro quando ele chegasse Entrou na capela privada ajoelhou se junto ao altar e pediu est tua de Cristo que mantivesse o prelado debaixo da Sua luz s bia e acolhedora Rezou durante horas At se esqueceu de jantar mas n o se importou N o tinha qualquer necessidade de comida naquele momento Bernarda deixou a capela depois das duas da manh quando todo o retiro dormia o sono d
16. Est tudo bem Norma Est tudo bem Mas h outras pessoas que n o t m tanta sorte Quem O Rafael est bem Foi a primeira preocupa o dela Est bem n o te preocupes respondeu ele sem ter a certeza do que dizia E que senhora essa por quem perguntaste ao rapaz N o sei Norma S sei que o Rafael quer que a ajudemos Tu n o me mintas Jacopo Sebastiani O historiador soltou o abra o e levantou se Vais come ar Nem numa casa desconhecida me respeitas Norma lan ou lhe outro olhar col rico Era h bito faz lo ao longo do dia Muitas vezes mais do que se conseguia lembrar Este dia tinha come ado mais cedo Vi va Jacopo Sebastiani E com uma pens o choruda Era como eu podia estar agora Jacopo saiu do quarto e fechou a porta Queria bat la com a maior for a que pudesse mas achou por bem n o o fazer para n o acordar as outras pessoas que dormiam naquela casa quem quer que elas fossem Encostou se parede e fechou os olhos As vezes provocava a esposa propositadamente para que pudesse ter estas explos es aparentemente irracionais que mais n o eram do que uma farsa N o lhe queria contar n o podia A senhora contaria se assim o entendesse N o tinha o direito de faz lo Quanto menos pessoas soubessem melhor Um favor Um raio de um favor s seis e meia da manh quando a senhora acordasse Deixou se deslizar pela parede abaixo at ficar sentado no ch o d
17. Guillermo sentia se encostado parede completamente imerso em terreno hostil sem expectativas de fuga Gennaro Cavalcanti inspector da Polizia di Stato era um grande sacana Tinha de lhe dar qualquer coisa para o distrair Muito bem assentiu finalmente o homem do Vaticano Cavalcanti levantou a m o para o agente Diz Raffaella que n o h coment rios Pela porta do cavalo que fa a chegar a esses lacraus um boato sobre um pretenso ataque terrorista ou um crime passional Mais nada entendido O agente anuiu com a cabe a e antes de atender ao ordenado segredou algo ao ouvido do inspector Cavalcanti fitou os dois homens O tempo urgia N o estava para levar com mais l rias criadas pela imagina o f rtil dos representantes da Igreja Eram todos uns aldrab es ou quase todos Talvez apenas um escapasse Voc s s o uns mentirosos de merda O senhor o nico suspeito padre Rafael o nico sobrevivente n o restou mais ningu m at prova em contr rio Olha o respeito Cavalcanti protestou Guillermo A situa o estava a precipitar se novamente a olhos vistos Tens raz o acatou o inspector Olhou em volta e chamou at si um agente Leva o ordenou referindo se a Rafael Cavalcanti insurgiu se Guillermo Tens toda a raz o Tomasini melhor seguir as vias legais disse o outro Mas O agente algemou Rafael e encaminhou o para o exterior O
18. Lembra se quando lhe disse que os seus dias estavam contados Tisserant aprovou o inovador m todo de embalsamento que seria executado assim que fossem cumpridos os prazos de espera legais Este calor n o nada bom reclamou o m dico Tisserant mandou fechar as janelas e ordenou s irm s alem s que juntamente com Pasqualina cuidavam do Papa que mantivessem o aposento o mais arejado poss vel Em seguida j com os primeiros raios do sol matutino a iluminarem a villa o cardeal franc s instruiu o Col gio para que se elegesse um camerlengo o chefe de estado interino da Igreja Cat lica Apost lica Romana em per odo de sede vacante pois o Papa n o o fizera desde que o cardeal Lorenzo Lauri falecera nos idos de 1941 Pio certificara se de que seria o ltimo Pontifex Maximus absoluto imperial J quando o Secret rio de Estado Luigi Maglione se finara em 1944 o Papa encarregara se pessoalmente da Secretaria de Estado nomeando dois pr secret rios os monsenhores Domenico Tardini e Giovanni Montini Este ltimo fora depois degredado para o arcebispado de Mil o em 1953 Nunca tal se havia visto antes Foi ideia daquela mulher rugiu Tisserant numa reuni o do inepto Col gio Ela ainda vai ser a nossa perdi o Escutem o que vos digo E como se n o bastasse Pio terminou com a hegemonia italiana no Col gio Pela primeira vez na hist ria da Igreja havia mais cardeais estrangeiros que italianos Os consis
19. lhe dois dedos no pesco o procura da pulsa o Esperou uns segundos Estava morto Disparara a arma antes do ltimo suspiro Se Deus existisse era bom que lhe batesse a porta do c u na cara e o recambiasse para o caldeir o do inferno Sarah abra ava Rafael que tinha a cabe a em cima do colo dela Ela chorava e gritava inconsol vel Nem um momento de paz O tiro acertara no abd men A camisa estava empapada de sangue Pe am ajuda gritou a jornalista para todos e ningu m desesperada Pe am ajuda Niklas aninhou se junto dela com as l grimas a escorrerem lhe pelo rosto N o esperava ter uma reac o dessas por quem o rejeitara N o merecia um instante de m goa nem de dor s desprezo mas Niklas n o conseguia Havia qualquer coisa nele que o fazia admir lo A tal aura misteriosa um instinto protector invis vel Mas nada o preparara para o ver assim jazido inanimado quase morto Os agentes da Bundespolizei agarraram em Niklas e arrastaram no em direc o ao carro Ordens do embaixador Ele o meu pai berrou para eles como se verbaliz lo o tornasse mais verdadeiro Deixem me Ele o meu pai Mia assistia com Matteo a tudo aquilo da grade que separava It lia da Santa S Podiam ter sido eles as v timas Aquela mulher desesperada com a cabe a do monsenhor Lucarelli no rega o podia ser ela a chorar o corpo do veron s Agentes da pol cia come aram a afastar as pessoas da grade Tin
20. o O Rafael o mais indicado para falar disso Tudo o que envolva militares com ele Cansado de estar sentado Rafael levantou se Essas duas opera es foram lan adas por Hitler a Pont fice em 1940 e a Rabat em 1943 e ambas tinham o mesmo objectivo eliminar o Papa A primeira caiu por terra por ordem do pr prio Hitler que vira mais contras do que pr s em eliminar Pio XII naquela altura Ali s foi sempre um tema muito sens vel para todos os seus generais e assessores Nunca nenhum considerou que a elimina o f sica do Papa trouxesse algum benef cio causa nazi A segunda foi bem diferente O ditador deu ordens ao General Karl Wolff comandante supremo das SS em It lia para raptar e matar o Papa Pio XII Mussolini ca ra em desgra a os alem es tinham invadido a pen nsula e estavam instalados na capital O general Wolff e o embaixador alem o para a Santa S Ernst von Weizs cker n o viam a opera o com bons olhos Com a desculpa da progress o dos aliados e dos ataques a reos o general conseguiu enganar Hitler e desculpar o atraso na conclus o da opera o Os tanques e um cord o com cerca de setecentos homens rodearam o pequeno estado mas nunca nenhum soldado se atreveu a passar a linha de fronteira sem autoriza o pontif cia Os olhares dos tr s seguiam Rafael enquanto ele andava de um lado para o outro dentro da sala do col gio O general Wolff um militar muito experimentado explicara
21. repetiu Rafael Mas foi divertido Sarah mostrou um melindre artificioso Divertido A verdade que apesar do cancro que a destru a por dentro ela nunca se sentira t o feliz Uma felicidade estranha Sentia se t o bem na companhia dele S noite se deixava chorar no quarto para ele n o ouvir N o chorava porque tinha medo de o perder Chorava porque n o o queria perder Sabia que mais cedo ou mais tarde quer a doen a a vencesse ou n o perd lo ia A rela o deles era complexa Uma jornalista influente de um grande jornal brit nico e um padre ao servi o da Igreja Cat lica Apost lica Romana N o era um padre qualquer Pelo contr rio Era ele quem resolvia os problemas que a Igreja enfrentava Era tamb m o padre que Sarah amava O que por si s n o era pouca coisa N o era f cil quando o seu rival aquele com quem tinha de competir era Deus Um dia poucos anos antes salvara a da morte certa em Londres e o cora o dela ficara agarrado quele homem que em nenhum momento revelou qualquer inten o de trair o Alt ssimo N o podia deixar de sorrir com a ironia O seu homem de sonho qui de qualquer mulher tinha uma rela o com algo t o abstracto em que nem ela sabia se cria De qualquer maneira absorvia o mais que podia daqueles momentos preciosos que passava com ele ciente de que podiam acabar a qualquer instante Ao fim de algumas semanas Rafael come ou a sair para despachar assun
22. A j muito maculada imagem de Pio XII nunca recuperaria deste esc ndalo mas continuava a n o conseguir perceber o que que ele tinha a ver com isso Foi a vez de Sarah se sentar ao lado de Mandi afogueada com as bochechas coradas pelo calor que sentira de repente Por que raz o usou a express o m e biol gica Mandi encolheu os ombros E uma hist ria muito complicada Posso presumir que n o foi a Anna quem a criou E a sina das mulheres da minha fam lia confidenciou Mandi resignada Nunca puderam criar as filhas Foram sempre obrigadas a v las dist ncia sem lhes poder tocar sem as poder abra ar e beijar Os olhos marejaram se lhe Sem uma car cia ou um sorriso Foi por isso que n o tive filhos Revelava uma amargura colada s palavras uma revolta interior uma frustra o velada Uma resigna o for ada Mandi n o era uma mulher era um escombro uma r stia de vida que nunca chegara a ser As mulheres da minha fam lia sempre viveram vidas de servid o e penit ncia Cumpriram penas perp tuas sem acusa o nem julgamento condenadas pelo simples facto de existirem Custaria menos matar nos nascen a digo eu proferiu Mandi com uma express o ausente como se estivesse a contar uma hist ria que n o era a dela a buscar mem rias que n o lhe pertenciam Como se essa puni o n o bastasse Deus aben oou as com vidas longas A minha av viveu 89 anos A minh
23. Claro que conhe o Ele estava comigo quando visit mos o padre Duv lio De onde que o conheces Niklas engasgou se mal ouviu a resposta e teve que se debater por ar Sarah afligiu se ao v lo daquela maneira mas n o sabia o que fazer para ajud lo Aos poucos Niklas recomp s se e recuperou o f lego Est s bem Es estou respondeu o rapaz ainda com alguma dificuldade em falar Aquela mulher n o s conhecia o pai dele como estivera com ele Niklas n o o conhecia pessoalmente Nunca o vira Tentara v rias vezes mas ele acabara sempre por escapar como se o estivesse a evitar Os des gnios de Deus eram insond veis O chav o servia para se convencer a si mesmo dos destinos desencontrados entre filho e pai Chegou a ir par quia onde ele era titular numa aldeia a pouco mais de uma hora de Roma N o o encontrou Foi recebido pelo padre substituto e informado que raramente o padre Rafael se deslocava par quia Afazeres inadi veis ocupavam no em Roma quase exclusivamente h cerca de cinco anos o que tornava na pr tica o substituto em titular O padre muito simp tico e dispon vel n o sabia que trabalhos fazia Rafael Era muito recatado e falava pouco sobre a sua vida ou pensando bem sobre o que quer que fosse A ltima vez que l fora tinha sido h mais de um ano e demorara se poucos dias Havia quem dissesse confidenciou ele que o padre Rafael era ntimo do Santo Padre mas perguntado sobre isso
24. Deixaram uma pilha de mortos espalhados pela cidade contestou o intendente Isto um ataque Igreja O Secret rio matutava nas posi es opostas dos seus homens a tentar decidir se sobre quem estaria correcto O carro meteu pela Viale del Castro Pretorio e a seguir guinou direita e parou alguns metros mais frente Tinham chegado ao destino As portas abriram se mas ningu m saiu O Girolamo tem raz o Estamos a ser atacados Guillermo saiu do carro e olhou para o rel gio Eram sete horas Daqui a uma hora veremos murmurou O intendente pegou no telem vel premiu algumas teclas e afastou se do grupo enquanto levou o aparelho ao ouvido Poucos segundos depois a chamada completou se Preciso que encontrem o secret rio do Papa murmurou em voz baixa Sim o Giorgio Uma pausa para o interlocutor responder ordem Quando o apanharem tragam no at mim 57 J chegaram senhor embaixador comunicou em alem o um dos homens do BND encostados parede ao lado da lareira e do Fi ger numa voz maquinal Encaminhem nos aqui para o sal o imediatamente ordenou Klaus acercando se de Rafael O homem da secreta levou a m o boca e disse qualquer coisa em voz baixa inaud vel para o microfone que tinha debaixo da manga do casaco Agora n s senhor padre disse o embaixador N o vou perder tempo a discutir o telefonema que recebeu S me importa o meu filho
25. Explica te ordenou o piemont s com um modo altivo A mulher A Sarah Monteiro estava com o americano no hotel respondeu com a cabe a baixa Tarcisio cruzou os bra os atr s das costas e caminhou de um lado para o outro a cogitar nas informa es que Guillermo trouxera Mais uma raz o para resolvermos isso rapidamente Vamos tratar disso Emin ncia Precisamos de resolver esse assunto com urg ncia prosseguiu o Secret rio N o pode ficar pendurado por pontas E uma bomba rel gio Tomasini Compreendo Emin ncia N o deixaremos que isso aconte a E bom que n o Tarcisio respondeu mecanicamente A sua mente vagueava por entre teses e teorias concep es e estrat gias Contemplou novamente o esgar dolorido de Jesus o Seu sofrimento penetrava lhe profundamente na alma Era aquela dor que o fazia suster o fardo pesado Precisamos desse dossi sentenciou J t m a mulher Guillermo continuava de cabe a baixa perto da porta como um menino a ser repreendido pelo mestre escola Est o a caminho da casa dela neste preciso momento Mas Guillermo n o continuou Era outro assunto que o apoquentava Tarcisio desviou o olhar para ele Desembucha homem A Sarah Monteiro estava com o americano N o creio que o Rafael seja o homem indicado para Tarcisio parecia escandalizado Conhecia muito bem Rafael Era um grande servo do Servo de Deus Ali ningu m
26. Lamentava profundamente que ela n o pudesse ter desfrutado da vida Ele optara por servir o Criador a vida encarregara se de o conduzir a um cardeal alem o que se tornou Papa Aceitara o e cumpria com esses requisitos por m estava ciente que era a sua vontade que prevalecia Ningu m o impediria se ele quisesse desistir naquele momento largar a vida eclesi stica e fazer outra coisa diferente com ela Anna nunca teve essa possibilidade Tudo lhe foi imposto ignorando as suas vontades Tenho muita pena desculpou se novamente o monsenhor pegando em seguida nas m os dela Lamento que tenha tido de sacrificar todos os seus sonhos em nome da Igreja N o lamente filho Eu n o sacrifiquei todos os meus sonhos Consegui conquistar o mais importante de todos confessou Anna ainda que as palavras lhe fizessem doer o cora o Tive uma filha linda Os dois homens entreolharam se pasmados e voltaram a fitar Anna O qu 54 Comecem a explicar se pediu Cavalcanti em jeito de ordem R pido Ent o o filho do ent o que raio tartamudeou ainda confuso Eu disse te que ias perceber atestou Rafael com ironia Os tr s continuavam no sal o Nicole sentada na cadeira que Cavalcanti providenciara Rafael de p e o inspector ora erecto ora com as m os nos joelhos incr dulo com o que acabara de descobrir Sentia se aturdido como se tivesse levado uma pancada na nuca Ainda n o havia
27. Mas quem eram elas Os dois homens olharam para ela Rafael cogitou durante alguns segundos J percebi quem a Anna Mas quem a M AM N o ningu m que os senhores jornalistas devam conhecer ouviu se uma voz masculina dizer Voc s tendem a querer informar o mundo acrescentou cinicamente Davide pronunciou Rafael num tom frio O colega da Gendarmaria Vaticana estava acompanhado de outros dois homens mais novos do que eles todos com armas empunhadas Um era Arturo Eu sabia que te amos encontrar aqui disse o jovem agente da Santa Alian a Agora d s te com gendarmes provocou Rafael Foram os nicos dispostos a dar me boleia depois do que fizeste na Tuscolana respondeu ressabiado N o vais fazer nada parvo pois n o Rafael advertiu Davide avan ando na sua direc o lentamente com a Beretta bem apontada cabe a Os outros dois tamb m concentravam as suas aten es no padre espi o como se ele fosse a nica fonte de amea a no gabinete A sua fama precedia o Arturo sabia o por experi ncia emp rica John Scott estava encostado parede Se pudesse ter se ia fundido com ela para desaparecer Sarah assistia cena com o cora o aos pulos Nunca vira aqueles homens excep o de Arturo Conv m que tu n o fa as nada parvo declarou Rafael secamente E o que seria parvo neste caso As ordens s o claras e para cumprir
28. O Franc s gostava de poder ter longas conversas com algu m cujo conhecimento admirasse infelizmente sofria de uma limita o f sica que impedia a realiza o desse desejo O cliente talvez se revelasse um excelente conversador mas infelizmente n o teria como comprov lo As nicas conversas decentes a que se podia dar ao luxo aconteciam consigo mesmo Por vezes embarcava em grandes debates filos ficos mentais com mais do que um interveniente nos quais usava os argumentos de Di genes ou de Ant stenes sobre a virtude ser melhor revelada pela atitude e n o pela teoria e mergulhava na introspec o durante horas Somente os fil sofos poetas e escritores tinham capacidade para realmente desafiar o mundo os sentidos e as sociedades Os demais eram ovelhinhas que seguiam em rebanho quem mais habilmente as soubesse levar O cliente ficara incomodado com o que fizera no Pal cio das Congrega es Devia t lo informado da presen a dos tr s agentes da Gendarmaria Vaticana e n o elimin los pura e simplesmente Ele tinha meios para os afastar do pal cio Por vezes o Franc s tinha de improvisar e cabia ao cliente ser claro para evitar mal entendidos Enfim um mal menor e tr s mortes extra que n o teriam um custo adicional O Franc s n o seguia ningu m a n o ser os livros em lazer e os censurados em trabalho Os livros eram a sua perdi o Consultou o emporizador e bufou de impaci ncia Faltava pouco para o final do praz
29. O sil ncio espraiava se pelo p tio com os turistas a olhar para ele M quinas fotogr ficas telem veis e outras traquitanas digitais registavam o momento O solit rio estava encostado parede ao lado do t nel O sol come ava a fraquejar adornando o espa o com um tom alaranjado misterioso Renuncia a esse nome Romeu E em vez dele que n o faz parte da tua exist ncia Apodera te de mim que sou tua Um coro de aplausos seguia se interpreta o do guia Era daqui que Julieta pronunciava estas palavras e Romeu escutava as da debaixo exactamente onde est o agora Dava o tempo suficiente para se beliscarem todos e abrandarem os sorrisos apaixonados plenos de imagens rom nticas Omitia claro que apesar de a casa ser muito antiga a varanda fora constru da apenas em 1936 e n o parecia haver qualquer rela o entre os Capuleti Julieta e aquela resid ncia Ali vendia se magia e n o a verdade Nesta ningu m estava interessado E agora anunciava ainda na varanda vamos ltima paragem J com o sol a dar os ltimos suspiros levava os ao mosteiro de San Francesco al Corso A maioria persignava se ao entrar no secular lugar sagrado Uns por cren a outros por cont gio os japoneses porque sim Matteo encaminhava os por um corredor e desciam a uma cripta abobadada por debaixo da igreja A humidade dos s culos agarrava se a eles e s l pides dos monges que por ali jaziam Ao fundo junto a um
30. Rabiscou alguma coisa aproveitando os dois lados do papel Enfiou um carapu o preto para encobrir o rosto e saiu do carro A sorte protege os audazes 34 Aquela revela o de Rafael deixou os jornalistas ainda mais perplexos N o era novidade que um Papa fosse eliminado Sarah sabia o muito bem talvez melhor que ningu m mas n o conseguia evitar um sentimento de assombro E e o Mu Musso Mussolini ti nha tinha acesso ao Papa perguntou John Scott Rafael fez que sim com a cabe a O m dico de Pio XI Francesco Petacci era pai da amante de Mussolini Isto por si s n o significa que ele o tenha assassinado mas da fama nunca se livrou De que que Pio XI morreu Insufici ncia card aca Teve tr s ataques card acos Morreu um dia antes do d cimo anivers rio da assinatura do Tratado de Latr o Isso tamb m contribuiu para atribuir as culpas ao doutor Petacci acrescentou Rafael S o apenas conjecturas arguiu Duv lio Aqui lidamos apenas com factos Est vamos a falar da enc clica Mit Brennender Sorge de 1937 que s por si digna de um filme de aventuras Porqu Como dissemos a enc clica foi escrita directamente em alem o porque era endere ada ao povo germ nico Foi enviada por correio diplom tico em segredo e nem sequer houve qualquer an ncio sobre a sua elabora o para n o ser sujeita a inspec o pelos agentes da Gestapo Algu
31. Se n o a fizermos aqui f la o nos Estados Unidos Temos de evit lo Fazemo la n s e depois enviamos o corpo para a fam lia num caix o de chumbo selado para evitar surpresas Assim n o corremos riscos O Cardeal Secret rio de Estado assentiu com a cabe a Estava de acordo O porta voz tinha toda a raz o Era deste pragmatismo jesu ta que necessitava E quanto ao relator brasileiro padre perguntou Girolamo Enviamos uma carta fam lia onde manifestamos a vontade dele em ser sepultado na Santa S Eu mesmo trato disso Pagamos a viagem fam lia para assistir cerim nia f nebre Seria Federico deixou a frase suspensa no ar o que deixou os outros tr s intrigados e baixou o tom de voz para um sussurro Seria importante se o pr prio Santo Padre realizasse os ritos f nebres Tarcisio baixou o olhar As rela es entre o Secretariado e o Papa estavam a passar por uma fase turbulenta de mais para que se oferecesse para lhe pedir fosse o que fosse Se me permitem falarei com o secret rio de sua Santidade para apresentar o pedido sugeriu Girolamo O piemont s respirou de al vio Excelente congratulou se o porta voz esfregando as m os Alguns instantes de sil ncio rodearam os quatro homens que evitaram entreolhar se Como est o outro assunto quis saber Federico O prazo termina s oito da manh informou Guillermo intimidado Aquele assunto j lhe diz
32. Uma mente educada era capaz de entreter um pensamento sem o aceitar Os poetas e os fil sofos tinham a resposta para todas as d vidas da alma humana Quem precisava da ci ncia quando os fantasmas que amaldi oavam os grandes pensadores podiam responder das profundezas do pensamento deles Alguns at se tinham matado na procura das respostas ou simplesmente porque n o aguentaram mais Eles aventuraram se pelas v sceras do ser mais que quaisquer outros O Franc s n o se ligava aos vivos S aos mortos Aos poetas e aos fil sofos Tinha trocado o Alfa Romeo por um Fiat Misturou se no tr nsito nocturno e deixou se andar Olhou para o temporizador do rel gio de pulso que recuava implacavelmente insens vel como um censor Estacionou na Via dell Erba e saiu para a fria noite romana Seguiu para norte e virou esquerda na Via dei Corridori depois seguiu em frente e encontrou o na pra a como o cliente dissera Se se despachar vai encontr lo na Piazza Papa Pio XII junto a S o Pedro N o precisarei de lhe dizer para esperar pela ocasi o certa como foi contratado Para o caso de n o chegar a tempo enviei lhe uma mensagem com a morada onde o poder encontrar 22 Viemos tomar caf Ou proibido Isto um local p blico atirou Rafael Arturo sorriu timidamente perante a tirada do seu superior E foste logo escolher este bar neste hotel Est aqui hospedada perguntou o padre com desapego
33. a que pensava Rafael pousou os relat rios periciais e levantou se Dois tiros na testa repetiu Rafael um facto long nquo de um assunto que j ficara para tr s pelo menos para o chefe Foi projectado para a capela de Nossa Senhora do Sagrado Cora o Guillermo fitava o em sil ncio Rafael parecia ter encontrado uma explica o plaus vel O outro ficou com a cabe a desfeita com dois tiros na t mpora direita Quem disparou sobre eles estava do lado direito Exacto Einstein Ao lado deles n o frente Captaste a minha aten o Era algu m em quem eles confiavam ou pelo menos n o consideravam uma amea a Mas eles tinham ambos as armas na m o contrap s Guillermo Rafael tentou imaginar a cena Conhecia bem Sant Andrea e mesmo que n o conhecesse quem j viu uma igreja viu todas era apenas uma quest o de tamanho No caso da Bas lica de Sant Andrea della Valle ela era bastante grande com a segunda maior c pula de Roma a seguir de S o Pedro Talvez tivessem sacado a arma por outro motivo Que motivo Rafael questionou Guillermo sem paci ncia N o estar s a ver coisas onde elas n o existem Eu tamb m desejava que ele n o tivesse falhado mas se calhar baixou simplesmente a guarda Rafael negou com a cabe a N o levas dois tiros na testa se descorfiares que o gajo ao teu lado te vai matar Eu j saquei muitas vezes a minha arma sem raz
34. am sua frente Tenha um bom dia padre Gumpel disse JC antes de sair 60 Nada era mais poderoso que o medo Com certeza haveria quem discordasse Uns diriam que nada era mais poderoso que a esperan a outros ainda defenderiam que nada superava o perd o Ignoravam essas pessoas que estariam todas mortas mais cedo ou mais tarde Censuradas pela vida que n o poupava ningu m muito menos os fracos e os bondosos O Franc s rodou a chave na fechadura da porta muito lentamente Sabia perfeitamente que efeito provocava aquele gesto tortuoso nas mentes de quem estava no interior da cela Uma volta duas voltas tr s voltas Depois deixou se ficar quieto uns segundos sem fazer nada N o era sua pretens o tortur los apenas mant los submissos e amedrontados Al m disso um deles estava nitidamente a recuperar de uma doen a e ele n o era monstro nenhum Esperou mais uns segundos e empurrou a porta Entrou na cela e encontrou os todos juntos sentados na cama com o medo espelhado no rosto O efeito pretendido fora alcan ado Atirou lhes os r s capuzes que trazia na m o e esperou que os colocassem na cabe a N o foi necess rio usar o rapaz como exemplo para ilustrar o que queria A jornalista foi a primeira a cobrir a cabe a com o tecido negro Seguiu se a outra mulher e o rapaz por ltimo o p nico a comprimir lhe o rosto antes de o tapar O breu era a nica vis o partilhada pelos tr s ref ns O Franc s aproximou s
35. ao passado Os meus pais conheceram se em 1917 na Su a Como do conhecimento p blico a minha m e depois foi servi lo na nunciatura de Munique Foi em Dezembro e a outrora mais bela cidade do mundo estava arruinada pela guerra Milhares dos seus jovens jamais regressariam dos campos de batalha A espera da minha m e estava um pal cio decr pito de dois andares com dezassete divis es Pasqualina aos 23 anos foi colocada a chefiar um assessor um cozinheiro um mordomo um motorista duas freiras mais velhas encarregues da limpeza e um faz tudo Achou logo desde o in cio que era pessoal a mais tanta gente desajudava mais do que trabalhava A sua postura era muito firme e severa Queria tudo limpo a brilhar e mostrava como se fazia Era t o exigente que tr s meses depois da sua chegada os outros servi ais apresentaram uma exig ncia ao n ncio Ou ela vai embora ou vamos n s Pacelli tentou conciliar as duas partes e Pasqualina em vez de ceder sugeriu ser ela a cozinhar e a limpar Se n o queriam fazer como ela dizia ela pr pria o faria e Pacelli aceitou Em pleno p s guerra e com muitos assuntos para tratar entre os povos beligerantes Pacelli passou alguns meses fora da nunciatura Quando regressou n o queria crer no que encontrara Um pal cio digno de seu nome limpo faustoso imaculado A sa de de Pacelli era fr gil e era Pasqualina quem tratava dele Ministrava lhe os medicamentos preparava lhe os c
36. contrariou o intendente Perdoe me Eu disse filho Queria obviamente dizer sobrinho corrigiu a voz com um cinismo perturbador Ando t o distra do ultimamente Girolamo sentiu um arrepio perpassar lhe a coluna Parece recorrente que padres bispos at Papas tenham filhos prosseguiu a voz com sarcasmo Escutem o que eu prego e n o olhem para o que eu fa o deve ser o vosso lema O seu irm o seguiu o risca N o insulte a mem ria do meu irm o recriminou Girolamo irado com as veias a sobressa rem lhe no pesco o enrubescido ainda que falasse num tom baixo para que mais ningu m o ouvisse Ele n o est entre n s para se defender C entre n s ele andava em muito m s companhias O que que quer dizer com isso Era muito amigo daquela madre que era muito pr xima de Pio XII Mas a pior companhia era mesmo o Papa Luciani o Piccolo Foi isso que o matou Girolamo estava prestes a perder as estribeiras Ele morreu atropelado explicou o intendente como se aquele argumento bastasse para encerrar a quest o Eu sei Atropelamento e fuga em Verona em 1983 Quem que acha que ia a conduzir o carro Girolamo ficou transtornado com aquela revela o Ou a seu filho da puta quem que voc pensa que Quando eu o encontrar Deixe se estar onde est intendente Mesmo refugiado atr s do padre Rafael posso mat lo quando bem entender como fi
37. dias outros n o conseguiam separar se deles da que fosse surrealista observar cardeais bispos frades ou freiras com eles vestidos a deslizar pela colina abaixo com os esquis debaixo dos p s Havia entre eles insignes esquiadores propensos se tivesse sido essa a Sua vontade a participar numa qualquer prova digna das olimp adas de Inverno Outros representavam um verdadeiro perigo p blico com aquelas pranchas deslizantes descontroladas Para os mais interessados num turismo preferencialmente hist rico a cidade de Trento ficava a cerca de vinte quil metros Havia um autocarro que levava os eclesi sticos diariamente ao in cio da manh e da tarde para a cidade Podiam visitar a Piazza Duomo onde ficava a catedral de San Vigilio o santo padroeiro da cidade N o deixavam de a entrar e no corredor direito visitar a capela do Crucifixo e ajoelharem se perante a cruz de madeira que continha os itens promulgados pelo c lebre Conc lio No presbit rio da catedral ocorreram algumas sess es dessa magna reuni o do s culo XVI que durou dezoito anos Mas havia muito mais para ver Toda a cidade era um museu ao ar livre que deleitava os olhares dos amantes da hist ria e se perdia nos confins dos tempos No fim do telefonema o secret rio pessoal mencionou em nome do Santo Padre e de Deus que estavam certos que a prioresa corresponderia com o habitual n vel de excel ncia com que sempre presenteara os dignit rios da Santa S E a
38. do pupilo com metade da idade arrepiarem se de rever ncia e temor Lembra te Niklas avisou Luka com uma sedutora voz tonitruante n o lhe dirijas a palavra a n o ser que ele ta dirija a ti Certamente professor respondeu sumido o jovem As vielas ao entardecer perdiam as pessoas Restavam turistas a maioria de mochila s costas roupas descomprometidas com casacos por cima m quina fotogr fica pronta a disparar e olhos de estupefac o A luz alaranjada do sol moribundo que se dignara aparecer naquele dia sem aquecer os corpos tingia as fachadas dos edif cios de um tom encantador carregado de impress es que hipnotizava os estrangeiros que passavam Apesar de estrangeiros Luka e Niklas n o eram turistas e passavam indiferentes Prosseguiam a caminhada tenaz com passos gigantes mais o primeiro que obrigava o mais novo a esticar bem as pernas para o acompanhar Viraram esquerda na Via dei Santi Apostoli e percorreram os poucos metros da rua para depois virarem direita na Via Cesare Battisti Seguiram em frente passando a Piazza Venezia entraram na Via del Plebiscito ignorando o col gio da Companhia de Jesus que ficava do lado esquerdo e a Igreja de Jesus na piazza com o mesmo nome que se erguia ao fundo e desembocaram no concorrido Corso Vittorio Emanuele II onde ainda havia bastante tr nsito Faltavam vinte minutos para as sete da arde Seriam precisas mais algumas horas para esvaziar as princ
39. es dep sitos cr ditos autoriza es de transfer ncia de levantamentos um sem n mero de c pias de faxes enviados e recebidos de institui es banc rias europeias norte americanas Nada que mencionasse quem forneceu ao norte americano aquela informa o sens vel at que N o pode ser balbuciou o intendente O que foi quis saber Tarcisio Que grande cabr o praguejou Girolamo esquecido do local onde estava Mil perd es Emin ncia pediu quando se apercebeu da falta cometida com o rosto enrubescido pela vergonha Que se passa Comte Desembucha Guillermo regressou ao gabinete guardando o telem vel no bolso e com uma express o austera N o trago boas not cias Emin ncia Tarcisio desviou o olhar para o homem da espionagem e respirou fundo Guillermo encostou se porta e baixou a cabe a envergonhado O Cavalcanti n o levou o Rafael para San Vitale Para onde o levou ent o perguntou o porta voz curioso Est o os dois na Via San Martino della Bataglia Na Embaixada da Alemanha O qu O que que eles foram l fazer Ningu m respondeu Aquele desenvolvimento era imprevisto Que ideia passara pela cabe a de Rafael O sil ncio fora subitamente interrompido pelo toque estridente do telefone em cima da secret ria Sim proferiu Tarcisio quando atendeu O seu rosto fechou se intensificando as rugas que lhe cobriam a face
40. m O piemont s encaminhou se para o exterior da sala dos relatores acompanhado pelos invis veis assistentes e voltou se antes de sair Resolva me o problema Custe o que custar disse para Guillermo antes de sair O porta voz pretendia saber mais sobre o assunto Anna P O que falta para resolver o problema da mulher Pergunte ao homem dos servi os de informa o porque que ainda n o sabemos dela disse Girolamo em jeito de admoesta o O porta voz encarou Guillermo espera de explica es e este por sua vez olhava com desd m para o intendente O homem encarregado de a encontrar come ou Guillermo ocorrendo lhe depois o teatro que Cavalcanti armara O que tem Guillermo saiu a correr Foi detido disse antes de desaparecer pela porta A pol cia italiana montara um per metro de seguran a com cerca de quinhentos metros Na verdade o termo mais correcto seria barreira jornal stica pois era efectivamente essa a fun o Gennaro Cavalcanti desceu at ao exterior com passos lestos e perscrutou a pra a como um falc o em busca da presa Tinha de estar por ali S faltava localiz la Encontrou o agente que procurava junto a uma viatura descaracterizada a falar com outro colega Despediram se e o agente entrou para o lugar do condutor Em segundos Cavalcanti alcan ou a viatura abriu a porta e olhou para o interior Al m do condutor havia outro agente no banco de pa
41. o N o queria falar com ningu m n o estava para aturar ningu m mas o toque estridente incomodava a Tirou o aparelho da bolsa e leu o nome no ecr Era John Scott Atendeu e preparou se para repreend lo devido ao adiantado da hora mas o americano n o lhe deu tempo Des des culpa es tar a li li ligar te come ou ele com alguma agita o na voz Re re re mexeram me o quar to e e a acho que es estou a ser ser se seguido 19 Os homens n o s o todos iguais Essa ilus o vai se desfazendo com o tempo de desilus o em desilus o at que cada um assuma a sua real posi o na escala hier rquica da vida Os poderosos mandar o sempre naqueles que det m menos poder os quais por sua vez impor o a ordem a outros menos poderosos ainda e assim sucessivamente at se chegar aos que n o t m poder nenhum no fundo da cadeia alimentar da sociedade Rafael n o respondia apenas a Deus e ao Santo Padre pelas suas ac es Tinha um superior algu m que lhe dizia o que fazer que lhe transmitia as directrizes enviadas pelo topo da cadeia onde residia o chefe do chefe de Rafael Jacopo j lhe havia transmitido a perempt ria ordem que clamava a sua presen a no edif cio administrativo apenso ao Pal cio Apost lico com a m xima urg ncia Levantou se da cama que fora a de Sarah nos ltimos meses mal humorado dobrou o len o que ainda segurava na m o e guardou o no bolso F
42. o destino em vez de o salvar Olhou ao redor e viu dezenas de pessoas entre meros turistas e profissionais e membros do clero de sorriso aberto a tirar fotografias A pra a estava interdita a todos a partir das seis da tarde e tornava a abrir se s sete da manh As fotografias nocturnas eram tiradas do lado de fora da grade John viu um homem com uma m quina fotogr fica apontada para ele e sentiu os pelos do corpo eri arem se Depois viu o mesmo homem abrir se num sorriso para uma mulher que passou pelo jornalista com a m o esticada como se quisesse tapar a lente da c mara e um sorriso envergonhado a dizer Basta Basta Dali seguiu pela Via della Conciliazione em direc o ao Castelo Sant Angelo e passou a outrora chamada ponte de Adriano que actualmente tem o mesmo nome do castelo As est tuas dos anjos que repousavam em cima das balaustradas de m rmore travertino mais se pareciam com figuras demon acas a lan arem lhe olhares suspeitos At as est tuas de Pedro e Paulo pareciam estar contra ele Havia muita gente na rua nas zonas tur sticas era sempre assim o ano inteiro todos os dias fizesse chuva frio ou sol Ao fundo a c pula da Bas lica de S o Pedro ainda dominava os c us no meio dos pr dios do Corso Vittorio Emanuele II o pai da p tria a avenida mais movimentada de Roma Chegou ao hotel depois da meia noite Pediu a chave na recep o e subiu ao quarto Assim que abriu a porta recuou amedrontado Depois
43. o tinha mais de duas dezenas de linhas e era ainda servida por duas linhas de metro uma central de autocarros de longo curso e outra para os que serviam a cidade Aquela pra a era o cora o da mobilidade romana e Cavalcanti seguindo as instru es monoc rdicas de Rafael contornou a para seguir pela Viale Enrico de Nicola um pouco mais frente Onde perguntou o inspector atento aos n meros das entradas dos edif cios Segue em frente disse Rafael Contorna a Piazza dellIndipendenza e continua Cavalcanti seguiu as instru es e entrou um pouco mais frente na Via San Martino della Battaglia E agora Rafael apontou para um pal cio do lado de Cavalcanti E ali no n mero 4 Cavalcanti parou o carro em segunda fila e olhou para o padre com uma express o irritada Est s a gozar com a minha cara e com a do povo italiano Rafael n o respondeu Limitou se a abrir a porta do carro e a sair deixando o outro sem resposta O inspector tamb m n o perdeu tempo Saiu do carro e seguiu na esteira do padre que j tinha atravessado a rua para o outro lado O que que vais fazer quis saber o pol cia O inspector ultrapassou o e colocou se frente dele para o impedir de continuar em direc o ao edif cio P ra e explica me Sou de compreens o lenta mas estamos nisto juntos Ou fazes isto comigo ou posso dificultar te muito a vida A escolha tua abriu o casaco para
44. ou os chinelos e dirigiu se lentamente para l Olhou para a porta do quarto do irm o Estava entreaberta como de costume Acercou se e olhou para o interior onde viu Pedro a dormir profundamente Ele n o escutara as batidas Pelo menos um deles fora aben oado com um sono pesado Voltaram a bater com mais for a Um dois tr s quatro Dirigiu se para a porta e espreitou pelo culo N o conseguiu ver ningu m Apenas a parede oposta iluminada por uma luz alvacenta Abriu a porta e viu o Magro com um olhar frio e um sorriso nos l bios Os seguran as tamb m ali estavam Um ca do no ch o de barriga para cima inanimado o outro sentado encostado parede com o olhar v treo e um buraco na testa de onde escorria um fio de sangue Ela fitou o homem em p nico uma sensa o que desconhecera at quele momento Observou lhe as m os Numa delas segurava uma arma na outra um bloco de post its verde 48 O sol ainda n o tinha nascido mas j havia algum tr nsito na Piazza dei Cinquecento Roma preparava se para um novo dia igual aos anteriores tendo aquela pra a como pe a central ou n o se localizasse ali a maior esta o da capital Termini que ligava a cidade ao pa s inteiro e ao resto do continente europeu Muitos usavam na para se deslocarem para o seu local de trabalho outros para viagens de lazer Termini era uma das principais portas de entrada e sa da terrestres da capital italiana A gigantesca esta
45. parede oposta e fixaram os olhos na tenebrosa abertura que os separava da liberdade Abriu se durante o tempo necess rio para deixar entrar outra pessoa e logo se voltou a fechar com um estrondo seco Sentiram a fechadura a trancar como uma senten a N o conseguiram sequer ver o rosto da sentinela O novo elemento aninhou se junto porta tremia e solu ava timidamente como se n o quisesse importunar Sarah e Niklas n o sabiam muito bem o que fazer nem o que dizer Aos poucos conseguiram perceber que se tratava de uma mulher Sarah aproximou se dela agachou se e colocou lhe uma m o terna nas costas Tenha calma Isto vai passar Niklas mais desconfiado acabou por se aproximar tamb m Os solu os da mulher intensificaram se e fizeram no agachar se N o chore Deus d o fardo mas tamb m d a for a para o suportar Sarah lan ou lhe um olhar reprovador Ser que aquilo resultava com as outras pessoas Deus abandonou me h muito tempo disse a mulher com veem ncia Sarah usou os seus dedos para lhe limpar as l grimas do rosto Ningu m nos vai fazer mal mentiu para a tranquilizar N o fazia ideia se lhes iam fazer mal ou n o Como que se chama A mulher acalmou e fitou os aos dois com aten o pela primeira vez O meu nome balbuciou O meu nome Mandi 3 a PARTE TEMPUS FUGIT Fechei os olhos a demasiadas coisas durante demasiado tempo Sinto que uma for a lenta e
46. s suas responsabilidades N o fora destacado para Roma para fugir s suas obriga es Era importante fazer as pazes consigo S o conseguiria na presen a do Bom Deus Subiu novamente para a cadeira e passou o cinto pelo pesco o Respirou fundo olhou para o tecto e desequilibrou a cadeira Levou as m os ao pesco o em desespero A falta de ar a sufoca o o curso da morte inexor vel A fivela estava bem presa Sentiu o couro esticar com o seu peso O lustre tilintava medida que ele se contorcia violentamente amea ando ceder a qualquer momento embora ele soubesse que tal n o aconteceria Estava bem fixado ao tecto Sentiu se desfalecer medida que asfixiava Deus estava quase a acolh lo nos seus bra os e a fazer com ele o que entendesse Pedir lhe ia clem ncia Pensou em Bertram o bom Bertram e tamb m se Domenico estaria l espera dele Uma imagem da m e dona Santinha inundou lhe a mente s frega por ar Desculpa m e ainda conseguiu balbuciar mentalmente A porta do gabinete abriu se naquele momento com viol ncia Viu um homem talvez fossem dois ou tr s ou mais ou s um truque da sua mente moribunda que j n o conseguia discernir a realidade Sentiu se cair com viol ncia no ch o desamparado as costas castigaram no com uma dor lancinante o cinto desapertou se e o oxig nio voltou a alimentar os pulm es s fregos Onde pensavas que ias Duv lio perguntou o homem que o arrancara da morte
47. surpreso Duv lio anuiu Trocame isto por mi dos pediu Rafael embora soubesse perfeitamente do que se tratava O que a indica que o G P pai de Anna P que por sua vez m e de M explicou Duv lio Com certeza est s mais dentro deste assunto que eu Validaram esta informa o Est tudo explicado no cat logo do arquivo Est s a brincar certo duvidou Rafael O que que est explicado Quem mandou fazer a an lise e por que raz o Foi um tal Ivan Nunca o encontr mos E ent o foram investigar Duv lio anuiu Relemos tudo novamente para ver se nos tinha escapado alguma coisa Mais de cem anos de informa o recolhida para a Positio de Pio XII uma quantidade monumental de informa o Caixas e caixas Revimos as entrevistas s centenas de testemunhas as not cias de jornais os di rios os livros os documentos tudo tudo tudo Procur mos elementos novos que nos permitissem chegar a alguma conclus o Pass mos a pente fino todo o trabalho do padre Gumpel e dos que o precederam Sempre no maior secretismo obviamente E n o encontraram nada interrompeu Rafael certo do que estava a dizer N o Pareces muito seguro disso atirou Duv lio S o muitos anos rapaz pensou Rafael E depois Acab mos por descartar o teste de ADN Tudo apontava para charlatanice ou um mau trabalho arquiv stico O padre Gumpel ordenou que
48. um grupo de ingleses sentado em tr s mesas encostadas a um canto cheias de garrafas de cerveja discutia em grande algazarra Todos lhe pareciam suspeitos mas antes preferia estar ali do que subir novamente ao quarto no segundo andar Talvez fossem todos espi es mas n o soubessem que a miss o de cada um deles era a mesma apag lo do mapa para todo o sempre e limpar o rasto da sua exist ncia Arrepiou se ao pensar nisso Quando se despediu de Sarah no Don Chisciotte cerca das onze da noite n o lhe apeteceu vir logo para o hotel Preferiu deambular pela cidade admirar as luzes o movimento sempre agarrado ao dossi castanho como se a vida dependesse disso Demorou se muito tempo na Piazza Papa Pio XII em frente outra pra a a de S o Pedro na fronteira que separava a Rep blica Italiana do Estado Cidade do Vaticano encostado s grades cinzentas a contemplar o poder silencioso que a bas lica emanava Ao lado direito por cima da Colunata de Bernini dominava o Pal cio Apost lico Sentiu um calafrio As luzes ainda estavam acesas nas janelas do terceiro andar na esquina do lado direito do edif cio dos apartamentos papais John perguntou se se seria ele o motivo da falta de sono do Papa se estariam a falar dele dentro daquelas paredes onde estivera na manh do dia anterior Contemplou as duas colunatas o Obelisco Eg pcio as fontes e temeu pela sua vida Pensou pela primeira vez que talvez aquele dossi lhe abreviasse
49. Bom dia meus senhores cumprimentou com uma voz spera num italiano bastante arranhado pelo alem o A que se deve esta visita t o inusitada Bom dia senhor embaixador respondeu Rafael em alem o Lamento a hora t o inoportuna mas a mensagem que trazemos n o podia esperar Que mensagem que o Santo Padre poder ter para mim Tenho um colega no corpo diplom tico que trata de todos os assuntos ligados Santa S Estou certo que ele n o ver com bons olhos esta inger ncia nos seus assuntos Notava se alguma exaspera o na voz do diplomata alem o N o vais falar em alem o pois n o E que Baldei me s aulas todas na escola intrometeu se Cavalcanti a olhar para Rafael O embaixador alem o para a Santa S ser contactado no momento oportuno e se tal for necess rio prosseguiu Rafael em italiano Duvido que o seja E n o se trata de uma inger ncia E um assunto que lhe diz respeito pessoalmente Estava atento a todos os pormenores do embaixador Os trejeitos as palavras os olhares a respira o Os gorilas continuavam encostados parede junto lareira inexpressivos O embaixador aguardava que Rafael prosseguisse Sejamos breves ent o Transmita me a mensagem padre Rafael A assistente abriu o bloco de notas e preparou se para iniciar a transcri o da mensagem ipsis verbis Rafael olhou para ela com um ligeiro sorriso mal volo Cavalcanti tamb m sorriu
50. Como que me encontraste John n o respondeu imediatamente Levou o copo de cerveja boca e bebeu o l quido dourado at meio Limpou a espuma que se alojara no l bio superior com as costas da m o Te temos um um a migo em em comum Sarah n o se deu sequer ao trabalho de pensar em quem seria A verdade que a sua estada n o era segredo para ningu m O seu alojamento n o era secreto Claro que haveria sempre coisas que n o poderia contar mas Pre preciso da da tua ajuda acabou por despejar o americano de rompante Sarah focou o olhar nele pela primeira vez naquela noite Estivera a desfiar as suas desgra as mas ainda n o o fitara como devia ser O mesmo ar franzino que lhe conhecia como um boneco de trapos a desfazer se cal as de ganga ro adas e uma camisa do mesmo tecido com bot es de mola Tudo nele respirava pragmatismo Tinha a mente demasiado ocupada com assuntos importantes para se dar ao luxo de se preocupar minimamente com o seu aspecto f sico ou mesmo com a forma como se vestia A Sarah bastava lhe saber que ele tinha 50 anos e era de confian a Conhecera o em Londres no primeiro ano do primeiro mandato de George W Bush Ela fora contratada como estagi ria para assisti lo numa investiga o que ele liderava sobre dinheiros da lotaria usados de forma fraudulenta Ele gostara do profissionalismo dela e ela aprendera os truques e v cios da profiss o com ele Zelou por ela al
51. Eu tamb m j estava a preparar me para ir dormir Vai acord lo ordenou o secret rio pontif cio O novi o nem sabia como reagir quela ordem que seguramente seria mais certo tratar se de um pedido veemente Jamais se vira um simples secret rio mesmo este que tinha como fun es auxiliar o Santo Padre irromper no Secretariado com ordens N o posso Excel ncia Ele deu me instru es muito expl citas Giorgio contornou o jovem padre administrativo e em passos r pidos alcan ou a porta do sagrado gabinete centro pol tico do Estado Pontif cio nacional e internacionalmente O que est a fazer Excel ncia N o pode entrar a Giorgio abriu a porta e entrou sem dar ouvidos ao jovem que j suava de arrelia o e medo Este viu o secret rio do Santo Padre sentar se no grande sof de couro do gabinete e cruzar uma perna Ou vais cham lo ou vou eu declarou Giorgio peremptoriamente Escolhe O rapaz ponderou por alguns instantes fitando a express o fria do alem o e virou lhe as costas Era mau de mais acordar o Secret rio mas inconceb vel seria o alem o faz lo Um esc ndalo inadmiss vel N o saio daqui sem falar com ele Certificate que avisas sua Emin ncia disso advertiu Giorgio elevando a voz para se fazer ouvir pelo rapaz que j tinha deixado o aposento O secret rio papal teve pena do rapaz Com as devidas dist ncias o jovem ocupava um cargo similar ao seu E
52. Igreja Cat lica era melhor ter partido nestas circunst ncias funestas enviado por outrem do que por motu proprio o maior dos pecados que se podia cometer E havia o outro corpo o do jornalista norte americano John Scott Coitado A vida interrompida num pice assim Deus o permitisse e algum homem quisesse que assim fosse Olhou em redor procura N o encontrou mais ningu m Sarah Onde est a Sarah Abriu a porta do gabinete e saiu deixando a luz dispersar pelo corredor escuro Nada Ningu m Por um lado sentia al vio por n o a ter visto entre as v timas por outro a apreens o adensava se dentro de si Aquilo era um rabalho impec vel de um atirador profissional implac vel Cinco tiros Cinco corpos Nem mais um N o havia vest gios de disparos falhados nem inv lucros perdidos Precisava de pensar e agir rapidamente N o tinha muito tempo Havia uma pergunta que o afrontava como uma l mina afiada cravada no peito Cinco mortos espalhados pela sala dos relatores do Pal cio das Congrega es Cinco Mas porque n o seis ou sete Porque que ele e Sarah teriam sido poupados Sentiu um arrepio na espinha No caso de Sarah ter tido o mesmo fim noutro local porque n o ele A resposta estava mesmo frente dos seus olhos num post it cor de rosa colado num pequeno espelho ao lado de um crucifixo com Cristo resignado ao sofrimento a cabe a tombada para o lado direito espera do Pai ou da morte ou dos dois Des
53. Lia se Eug ne Cardinal Tisserant O cardeal franc s queria que ela soubesse exactamente quem era o autor do texto Os nervos assomaram lhe aos olhos mas controlou se Ali n o N o lhes daria esse prazer Era hora de enfrentar os problemas e Pasqualina nunca foi mulher de procrastinar n o come aria agora Dirigiuse ao Pal cio Apost lico Tantas vezes percorreu aqueles corredores como se fossem seus N o conheceu todas as mais de oito mil divis es do Pal cio nem utilizou as mais de trezentas escadarias embora tivesse subido e descido vezes sem conta por muitas delas ao longo dos quase trinta anos que ali habitara Sabia muito bem onde queria ir Entrou no gabinete do cardeal franc s Um assistente estava porta Boa tarde Pode anunciar me ao cardeal Tisserant O assistente que revia um texto nem se dignou levantar o olhar Pode entrar Sua Emin ncia est sua espera A freira fechou os olhos respirou fundo para se acalmar e entrou no faustoso gabinete A secret ria era maior que a de Pio havia um cheiro a charuto no ar Tisserant estava recostado num cadeir o que fazia lembrar um trono tinha os p s em cima da mesa Madre Pasqualina Que bom v la cumprimentou com um sorriso aberto Ela sabia que a hipocrisia n o era um dos defeitos do franc s Estava apenas a zombar dela Emin ncia recebi a nota do Col gio para que eu libere os meus aposentos ainda hoje disse controlando se para
54. N o parava de pronunciar a express o Miserere Mei Dizia que n o era digno de assumir o lugar Mas Pasqualina deu lhe a m o e disse lhe que Deus lhe daria a for a para suportar o fardo N o podia dizer que n o a um pedido do Alt ssimo Cristo escolhera o e n o lhe cabia a ele decidir o contr rio Entraram de m os dadas na Capela Sistina A segunda vota o j tinha come ado conforme o seu pedido O resultado foi diferente de 1922 O Col gio voltou a eleger Pacelli por unanimidade no dia do seu sexag simo terceiro anivers rio OK Validaram o di rio O que aconteceu a seguir perguntou Rafael continuando um interrogat rio que parecia n o ter fim O col gio reuniu se para deliberar o que faria em rela o Positio Como assim perguntou Sarah A Positio que d ao Santo Padre todos os elementos para uma recomenda o positiva ou negativa beatifica o Essa reuni o foi quando quis saber Rafael H duas semanas respondeu Duv lio com a respira o a alterar se novamente Est vamos todos visivelmente transtornados O Domenico esfregava as m os o Bertram pouco falava o padre Gumpel O peso da decis o era evidente A recomenda o foi negativa A exist ncia delas colocava tudo a perder Mas quem s o elas Podem explicar interrompeu Sarah de repente Pelo desenrolar da conversa percebera ou julgara ter percebido que se tratava da tal Anna e da M
55. O Rafael onde est perguntou o Cardeal Secret rio de Estado Deixou o hotel com eles e com Arturo O piemont s reflectiu durante alguns segundos levando o indicador ao l bio numa pose pensativa N o havia manual de instru es para aqueles casos A decis o tinha de partir dele Por isso Guillermo estava ali para procurar novas instru es Consultou Comte com um olhar Quando o saudoso Papa Paulo VI publicou a enc clica Humanae Vitae o futuro Papa Jo o Paulo I o bispo Luciani que n o a viu com bons olhos disse Roma pronunciou se cabe nos cumprir relatou Tarcisio Aqui cumpre se n o se questiona Repete lhes a ordem ordenou o intendente com rispidez Eliminar o americano e quem quer que esteja com ele Desviou o olhar para o Secret rio Se Sua Emin ncia permitir eu posso tomar conta da situa o Precisamos da moeda de troca em Roma o mais depressa poss vel E escusado ser lembrar que temos de recuperar o dossi do americano o quanto antes Guillermo escutou as palavras do intendente com aten o um certo rubor a invadir lhe o rosto Quem que ele julgava que era N o lhe cabia dar lhe ordens Ficou a olhar para o Secret rio espera de instru es O Tomasini j tem os homens no local Basta que cumpram Lan ou um olhar frio ao homem da espionagem Faz o que o Comte disse E se o Rafael n o acatar Arranja quem o fa a alvitrou Girolamo j
56. O empregado do bar chegou nesse preciso momento para satisfazer o pedido daqueles clientes tardios Com os ingleses a pedir mais cerveja e os rec m chegados a noite ia ser longa Dois caf s pediu Rafael sem sequer consultar Arturo Com certeza disse o empregado retirando se para ir cumprir o pedido Sarah fez um gesto a John Scott para que se juntasse a eles Sabes muito bem onde estou hospedada Rafael contra atacou Sarah Ou achas que eu n o vi o Arturo a seguir me Por acaso n o tinha visto Atirou para o ar em jeito de adivinha o Soube que acertara em cheio quando viu o ar de comprometido de Arturo Fora apanhado John chegou at eles timidamente p ante p com o dossi castanho encostado ao peito com ambas as m os e ficou de p sem saber o que fazer Sarah puxou uma cadeira e indicou lhe que se sentasse O americano n o conseguia compreender o que se estava a passar Nem como Sarah podia estar t o vontade Senta te John Este o padre Rafael Santini enviado especial de Sua Santidade Posso dizer assim n o posso Rafael A sua voz expressava um cinismo dolorido enquanto fazia as apresenta es E este o Arturo respons vel pela minha seguran a at h poucas horas Meus senhores este o meu amigo John Scott um reputado jornalista do The New York Times Um homem famoso Ol John cumprimentou Rafael ao mesmo tempo que estendia a m o num cumprimento p
57. Ou seriam os seus passos Maldito breu amante dos segredos e das conjura es c mplice do pavor e da suspic cia Queria ouvir melhor mas o barulho da cidade intrometia se O frio a lassid o e o medo principalmente o medo tamb m n o ajudavam Tentou olhar novamente pelo ombro quando subitamente foi empurrado e quase caiu no ch o n o fosse uma m o possante agarr lo Perd o ouviu uma voz jovem desculpar se O velho fitou o depois de recuperar do susto Um grupo de jovens irrompera da rua principal numa vozearia desembestada trazendo garrafas de cerveja na m o Vinham de algum bar e provavelmente dirigiam se a outro O rapaz alto que o segurava derrubou o sem querer Sente se bem perguntou o rapaz Sim respondeu o velho recompondo se O rapaz repetiu as desculpas e seguiu os amigos que haviam continuado O velho olhou para a ruela de onde sa ra N o estava l ningu m O cora o acalmou se medida que os metros se interpunham entre si e a viela e era envolvido pela algazarra da rua Estava repleta de bares apinhados de gente sequiosa da dose de lcool que lhes haveria de dar a coragem o est mulo galhofeiro o desprendimento do feitio ou o afogamento das m goas ou do v cio conforme o objectivo ou o grau de depend ncia Reconheceu o local onde estava o Campo dei Fiori Serenou por fim focando o olhar em algumas pessoas a gargalhada contagiante de uma mulher um jovem a atirar uma l
58. Por favor O senhor n o tem culpa nenhuma Perdoe me a minha sinceridade Estou habituada solid o A ter longos mon logos comigo Os telefonemas do Rafa s o a melhor parte dos meus dias Sinto me no c u quando ele arranja tempo para me visitar N o consigo desfazer o sorriso quando sei que ele vem visitar me Voltou a sorrir imaginando o que sentia quando isso acontecia Sou um bicho do mato Jacopo Foi isso que fizeram de mim N o todos os dias que recebo visitas Perdoe me Jacopo acercou se de Anna N o causarei qualquer altera o sua rotina Prometo que eu e a minha esposa seremos invis veis garantiu com um sorriso infantil apesar de saber que era mentira N o me estou a queixar Jacopo Baixou a cabe a A minha vida foi sempre obedecer sem contestar Jacopo queria abra la mas conteve o gesto N o sabia como ela responderia ao toque Por fim decidiu avan ar Primeiro pousou lhe uma m o terna no ombro e depois abra ou a quando ela se virou para ele com l grimas a escorrer lhe pelo rosto N o foi s o sono que lhe estragaram pensou o historiador Naquele momento apercebeu se de uma luz vermelha que piscava intermitente junto ombreira da porta O sinal de chamada na porta de entrada Chegou mais algu m perguntou Jacopo ainda que soubesse a resposta Depois de alguns segundos a luz apagou se Anna olhou para o sinal e depois para o historiador Mais
59. Rafael Primeiro foi trabalhar s ordens do monsenhor Francis Spellman de quem Pacelli era grande amigo e que depois se tornou num dos melhores amigos de Pasqualina no Vaticano H cartas entre Pasqualina e Pacelli no in cio do ano de 1930 em que ela lhe pede para ir servi lo em Roma H perguntou Duv lio admirado Rafael fez que sim com a cabe a N o as encontraste no arquivo questionou o espi o com uma express o c nica N o tivemos acesso a esses documentos Nem tinham que ter limitou se a dizer Rafael secamente As respostas de Pacelli foram sempre secas As de Pasqualina come aram a ornar se amargas at que deixou de o pedir Houve um longo sil ncio de Pasqualina que continuava na nunciatura em Berlim Depois em Fevereiro de 1930 ausentou se para parte incerta Era a vez de Duv lio escutar Rafael boquiaberto Desconhecia tudo o que ele confidenciava Pacelli e Spellman foram para os Alpes em Julho de 1930 exactamente para o retiro onde Eugenio conhecera Pasqualina treze anos antes continuou Rafael As f rias no retiro de Rorschach eram um h bito que ele e Pasqualina mantiveram desde que se conheceram Mas desta vez ela n o estava l N o foi por falta de convite Pacelli escreveu lhe imensas vezes a convid la Nunca obteve resposta Ele ficou t o preocupado que pediu ao amigo norte americano Spellman que a procurasse N o teve qualquer sucesso Pasquali
60. Rafael Santini Anna envergou uma express o incomodada e esbo ou um meio sorriso Padre n o por favor Para mim ele o Rafa Rafa cogitou Jacopo Nunca imaginaria que algu m trataria o frio Rafael daquela forma t o reducente Rafa era nome de um mi do rebelde que n o bebia o leite e fazia birra para comer Anna serviu se de gua tamb m Pegou num copo e encheu o at meio Depois tirou uma pequena caixa de pl stico do bolso do roup o Eram medicamentos Tirou tr s e levou os boca A gua encarregou se de os fazer chegar ao destino Sorriu novamente Jacopo lan ou lhe um olhar condescendente Eu tomo seis por dia Isto j n o funciona sem artif cios um para diluir o sangue outro para o engrossar mais um para o fazer circular e outros para reparar o mal que os primeiros fazem disse o historiador com um sorriso Ficaram sem assunto e um sil ncio sepulcral tomou conta do espa o e do tempo sem temor do embara o que o historiador sentia muito mais que Anna H algum problema com o Rafa A senhora estava angustiada Ele costumava ligar lhe todos os dias religiosamente e nesse dia n o o fizera N o devia estar muito enganada Os sentidos premonit rios n o a enganavam quase como uma m e que conhecia telepaticamente o estado do seu filho ainda que n o fosse esse o caso A liga o que os unia era muito forte Temia pelo seu Rafa N o desejava que algo de mal lhe acontecesse apesar de tud
61. Se bem te lembras a ideia foi do Cardeal Secret rio de Estado Quando ele assumiu o cargo disse me que n o queria saber onde ela estava e que n o devia mencionar o paradeiro dela a ningu m Nem a ele O nico a quem o posso revelar ao pr prio Santo Padre Eu sei Rafael E o pr prio Santo padre quem o solicita A situa o alterou se e saiu do nosso controlo Amea am matar uma pessoa por causa disto N o podemos deixar que isso aconte a interrompeu Rafael Pois n o N o se trata de um jovem padre qualquer Mas n o est nas nossas m os e o destino do Niklas j foi tra ado Rafael sabia bem porqu e n o precisava que Guillermo lhe refrescasse a mem ria Niklas era filho de um diplomata alem o e isso devia ser levado em conta Algu m mais sabe do rapto Al m de n s Sabem os raptores O embaixador ainda n o sabe por enquanto respondeu Guillermo enquanto se levantava Trinta e seis horas lembras te Perdemos mais de dois ter os desse tempo a tentar contactar te Temos menos de oito horas para resolver isto N o percebo como que eles tiveram conhecimento da exist ncia dela Estamos a ser atacados por todos os flancos O que queres que fa a J te disse Que escrevas a morada dela declarou Guillermo perempt rio ao mesmo tempo que apontava com o indicador para o bloco de notas que atirara para a frente de Rafael Era uma ordem E porque n o me deixas si
62. Via Brittania O que vais fazer Rafael quis saber antes de sair do carro Rafael esticou o bra o para o man pulo que abria a porta do passageiro invadindo o espa o de Jacopo e abriu a Vou precisar que me fa as um favor Jacopo E contou lhe o que necessitava que o historiador fizesse Tens a certeza perguntou o historiador Tenho Eu telefono quando chegar o momento Jacopo fitou o conformado N o queria nada fazer lhe aquele favor mas n o estava em condi es de lhe recusar nada Aquela prometia ser uma noite longa E depois como que vou saber o que fazer inquiriu Jacopo Vais saber n o te preocupes Jacopo resignou se s vontades do padre Vais contar Nicole D cumprimentos meus Norma respondeu Rafael ignorando completamente a pergunta Jacopo saiu vagarosamente Uma perna depois a outra e olhou para Rafael antes de se levantar Era estranha a sensa o que o invadia Por um lado desejara chegar a casa o dia todo por outro parecia que estava a abandonar um amigo Conta comigo o meu telem vel est sempre ligado Rafael n o disse nada Limitou se a olhar para a frente mantendo as duas m os pousadas no volante Se tivesse acelerado uma ou duas vezes pareceria um piloto espera do sinal verde para iniciar uma corrida Jacopo queria dizer mais qualquer coisa mas as palavras n o lhe sa am Eu balbuciou o historiador Eu sei J
63. X Le o XIII e o pr prio Pio IX A diferen a que ele foi bem sucedido nesse prop sito E foi o nico Papa a conseguir um aumento do n mero de fi is na ordem dos 150 milh es coisa que j n o acontecia desde o Renascimento Salvou mais judeus que as organiza es n o governamentais e particulares todas juntas ao contr rio do que se pensa Renunciou ao papado na primeira vota o Renunciou Jacopo desconhecia este facto Rafael anuiu com a cabe a Sim Ganhou a elei o e quando o cardeal Caccia Dominioni lhe perguntou se aceitava a sua elei o can nica ele recusou e pediu que n o o inclu ssem na vota o seguinte E o que aconteceu para ele ter mudado de ideias Rafael considerou durante uns instantes a melhor forma de o dizer Por detr s de um grande homem h sempre uma n o completou Uma qu Rafael insistiu Jacopo completamente transtornado Rafael n o respondeu Uma grande mulher E isso que ias dizer Eu n o disse nada Ent o diz raios A mesma resposta Sempre verdade Ela tinha esse poder conjecturou o historiador ciente que era praticamente imposs vel arrancar uma informa o a Rafael se ele n o a quisesse dar O padre era inflex vel Pacelli abandonou a Capela Sistina continuou o padre e quando regressou algum tempo depois a vota o seguinte j tinha come ado Ele n o exerceu o seu voto E depois
64. a Devolveu a chamada Rafael continuava a sorrir como se o estivesse a gozar e isso estava a irrit lo Ningu m atendeu do outro lado N o acredito no que est s a dizer acabou por dizer Claro que acreditas Porque achas que ainda n o disparaste Nesse preciso momento a luz do mostrador do telem vel de Davide igou se Era Guillermo O agente atendeu Davide apresentou se Sim Est aqui minha frente Uma curta pausa Sim Est o os tr s Escutou as instru es e depois desligou o aparelho s mesmo um imbecil Tomasini Espera at o Comte saber disto Davide fitou Rafael com desd m e acercou se dele amea adoramente Um descampado Deste a morada de um descampado S mesmo um palerma como o Tomasini que podia cair nessa O Comte vai tratar te da sa de Deu mais um passo em frente e bateu lhe com a coronha da arma na nuca com tanta viol ncia que o fez cair pesadamente no ch o inanimado Sempre foste um sacana Rafael praguejou Davide 37 S podes estar a brincar com a minha cara vociferou Gennaro Cavalcanti Porque dizes isso escusou se Guillermo envergando uma express o ing nua Larga isso p disse apontando para o telem vel Est s preocupado se o marido j chegou a casa Olha para esta merda Gennaro apontou para o corpo de Bertram que j estava em cima de uma maca dentro de um saco para cad veres fechad
65. a boa viagem e divirtam se Espere Como se chama o meu contacto Ah E verdade Esqueci me desse detalhe disse JC com um sorriso sarc stico O nome do seu contacto Lucarelli Stephano Lucarelli Breve nota do autor sobre Pio XII inevit vel deixar uma men o sobre Pio XII um dos grandes papas do s culo XX Nunca foi nazi muito menos anti semita O seu melhor amigo de inf ncia era judeu e frequentou os Sabat da fam lia dele A enc clica assinada por Pio XI em 1937 Mit Brennender Sorge foi elaborada na sua totalidade por Eugenio Pacelli na altura Secret rio de Estado do Vaticano O historiador ingl s Sir Martin Gilbert declara no seu livro sobre a 2 a Guerra Mundial que de 1933 a 1939 Pacelli enviou para a Alemanha cinquenta e cinco protestos denunciando os actos grotescos das for as nazis as viola es constantes Concordata de 1933 e persegui es com base na ra a Em Nuremberga durante os julgamentos soube se que Hitler empilhava os protestos na sua secret ria e fazia anedotas sobre eles Mais ao contr rio do que se pensa enquanto Legado Papal Pacelli denunciou o nazismo em Lourdes Lisieux Paris e Budapeste J durante a Guerra h relatos de padres polacos que instavam o Papa a manter a imparcialidade caso contr rio sofreriam todos O Doutor Peter Gumpel um dos maiores estudiosos de Pio XII A sua investiga o baseada em entrevistas e na leitura de mais de 100 mil p ginas de do
66. a perceber a liga o Ent o autenticaram o di rio e verificaram que pertencia mesmo a Pasqualina E depois inquiriu Rafael sem dar ouvidos ao jornalista Mas quem essa Pasqualina Porque tinha tanta influ ncia em Pio XII perguntou Sarah intrigada Os dois homens do Vaticano entreolharam se com ar suspeito Rafael n o queria contar a hist ria Preferia ouvir a vers o de Duv lio Seguramente tinham um dossi bastante completo sobre ela Conta lhes tu sugeriu Gostas mais de contar hist rias Duv lio bebeu o que restava da gua Pasqualina nasceu em Agosto de 1894 na pequena vila de Ebersberg na Baviera a pouco mais de quarenta quil metros de Munique O seu nome de baptismo era Josefina As suas origens eram muito pobres e cedo teve de trabalhar na pequena quinta dos pais juntamente com os seus seis irm os e cinco irm s Com 7 anos era t o madura e autorit ria para os irm os que eles come aram a chamar lhe madre superiora E interessante como a vida se encarrega de brincar com as pequenas ironias Foi com essa idade que sugeriu aos pais ajudar no campo uma ideia irreverente para o seu tempo O campo era para os homens a casa para as mulheres O certo que com embirra es alterca es e interlocu es acabou por levar a sua vontade adiante e foi rabalhar com o pai e os irm os para o campo Levantava se s cinco da manh sem que ningu m a acordasse e n o se recusava a faze
67. a perdoara por esse infeliz acto ego sta Havia muito para conversar Anna tirou o embrulho da bolsa e entregou o ao Franc s Depois seguiu com Mandi para o exterior da esta o sem olhar para tr s sem um agradecimento N o havia necessidade Afinal tratava se apenas de uma rela o comercial Um rapto e seis mortes o resto fora oferta da casa A vida come ava aos 82 anos O Franc s entrou no caf e sentou se numa mesa de canto que estava vazia O desfecho fora ligeiramente diferente daquele que estava planeado O cliente acabou por libertar se do seu cativeiro de outra maneira Seria mais f cil se ele tivesse simplesmente ido a Torano libert lo apesar da seguran a apertada mas tal sugest o foi liminarmente recusada Aquele contrato era mais do que uma liberta o acima de tudo era preciso repor a imagem hist rica de uma pessoa querida e muito importante para o cliente Miss o cumprida Abriu o embrulho com muito cuidado para n o estragar o conte do e olhou para o interior sem retirar o inv lucro completamente Cheirou e deixou se entrar naquele mundo A felicidade n o residia na posse nem na fortuna mas na alma L lo ia com cuidado e recuperaria as partes danificadas se fosse caso disso mas havia mais livros para perseguir Come aria ali mesmo em Berlim a visitar alfarrabistas coleccionadores a alivi los do esp lio e do cat logo Afinal estava tr s milh es de euros mais rico Todos os homens tinham a sua
68. ambas as mesas pousaram os talheres A irm Bernarda voltou para o seu lugar e tal como as outras aguardou que a madre regressasse Nesta ordem e em todas o topo da hierarquia era respeitado como se de Deus se tratasse ou de Roma O interlocutor era nada mais nada menos do que o secret rio pessoal de Sua Santidade Giorgio ou Bel Giorgio como os italianos lhe chamavam o que fez a prioresa ficar em sentido por ele ser quem era e ter a import ncia que tinha e por uma chamada daquelas raramente ou nunca acontecer As instru es que o secret rio pessoal lhe dera no seu sotaque de Baden em nome do Santo Padre eram simples um certo monsenhor Stephano Lucarelli apresentar se ia no retiro das irm s da Santa Cruz em Trento nos pr ximos dias Era de esperar que fosse instalado num dos aposentos do andar superior alocado madre superiora c nega e alta hierarquia de Roma quando ali vinha repousar e rezava o c none n o devia privar com os simples curas que tamb m escolhiam aquele local alpino e que ficavam alojados nos andares inferiores Essa alta hierarquia romana raramente aparecera por ali nas ltimas d cadas Durante a estada do supracitado monsenhor o acesso interior ao terceiro piso o ltimo pela escadaria geral estaria interditado Seguramente que o requerente ou algu m por ele conhecia muito bem o antigo e imponente retiro pois sabia que o acesso ao terceiro andar se fazia por duas escadarias a geral que
69. ao detectar lhe o aro dourado no dedo anelar N o creio que queira isto registado senhor embaixador avisou o padre O homem levantou o olhar e os calcanhares para ganhar ainda mais altura Isso compete me a mim decidir Rafael j sabia que seria aquela a resposta Bastante expl cita para que n o restassem d vidas sobre quem mandava Podia n o parecer mas ali n o estavam em Roma mas em Berlim O seu filho Niklas foi raptado h cerca de trinta e cinco horas atirou o padre a seco como um tiro queima roupa pleno de inten o A assistente ficou a olhar para Rafael sem que a caneta registasse uma s palavra N o queria acreditar no que acabara de ouvir O embaixador olhou para ela e para os seguran as encostados parede Deixem nos A assistente fechou o bloco de notas rodou sobre si mesma e saiu dali para fora sob o olhar atento de Cavalcanti N o queria ouvir mais nada Cabe as rolariam seguramente Os dois gorilas tamb m sa ram sem rodeios nem hesita es O embaixador caminhou para a entrada mais direita e fechou as portas depois fez o mesmo com a outra Coitado disse Rafael a si pr prio Acharia ele mesmo que estava a coibir outros de ouvirem o que se diria dentro daquele sal o Que crente O BND devia ter todas as divis es do edif cio minadas com microfones como era sua obriga o O acesso informa o come ava por ouvir os que estavam dentro de casa li o n mero um de
70. ao fim de alguns segundos mostrando outra rea da enorme casa interior ou exterior segundo uma ordem pr estabelecida pelo computador central Ao fim de alguns instantes apareceu a imagem que desejavam ver do trio da entrada onde o guarda que recebera Jacopo e Norma falava com um homem alto Isto n o tem som perguntou o historiador procura de algum man pulo que lhe permitisse ouvir o que estavam a dizer na recep o N o sei Jacopo n o conseguiu encontrar nada que desse som ao que viam nos monitores Continuaram a olhar para o ecr at a imagem mudar para a sala da piscina coberta A imagem do trio tornou a aparecer segundos mais tarde noutro monitor Jacopo viu o seguran a encaminhar o homem para o interior Estremeceu quando o reconheceu Estava todo vestido de negro e a qualidade da imagem n o deixava entrever o cabe o branco que certamente envergava na gola da camisa O que que ele estava ali a azer Quem ser perguntou Anna intrigada Jacopo n o respondeu de imediato Continuou a magicar nas inten es do rec m chegado e como ele conseguira obter a morada Rafael n o mencionara nada sobre aquilo Alguma coisa n o estava bem Ser que o Rafael perdera o controlo da situa o Jacopo viu os passar as portas de seguran a da entrada e dirigirem se para uma sala ampla com tr s sof s grandes em couro um enorme ecr de televis o uma mesa de bilhar prop cia para momentos
71. ao mundo que aquele cerco era para proteger o Papa e n o para atac lo continuou Rafael A verdade era que o cerco serviria para capturar o Papa caso n o pudesse enganar Hitler durante mais tempo A opera o Rabat n o previa que o Papa fosse eliminado no Vaticano Seria raptado e depois transferido para o Liechtenstein local onde seria assassinado Por essa raz o Pio XII emitiu uma ordem verbal Ele n o queria que caso Hitler invadisse o Vaticano encontrasse provas documentais do que quer que fosse sobre as suas decis es durante a guerra Essa ordem previa que caso o Sumo Pont fice fosse raptado renunciaria automaticamente ao cargo Os soldados alem es ficariam ent o na posse do cardeal Pacelli e n o do Papa Pio XII que deixaria de existir Os cardeais deviam procurar ref gio em Portugal um pa s neutro instalar a Igreja neste territ rio e eleger um novo Papa Alguns cardeais partiram mesmo para Portugal por preven o Como que ele sabia que podia ser raptado ou morto quis saber Sarah totalmente embrenhada no relato Primeiro porque suspeitava que esse pudesse ser o seu destino continuou Rafael Segundo porque o embaixador Weizs cker e o pr prio general Wolff o tinham informado dos objectivos de Hitler e da opera o Rabat e das suas inten es em n o seguir as ordens alem s Mas Pio XII n o lhes facilitou o trabalho Por essa altura finais de 1943 mandara falsificar certificados de
72. as cartas e pior que tudo ele tinha no o disso Rafael foi r pido a premir nos bot es que fariam a chamada chegar ao destino Faltavam quarenta e cinco minutos para o final do prazo Mesmo em cima da hora N o tardou a que a liga o se completasse e o destinat rio a atendesse do outro lado Bom dia S um momento Voltou a premir duas teclas e levou o telem vel novamente ao ouvido Aguardou uns instantes sem dizer nada Bom dia Aten o A moeda de troca tem de estar na Pra a de S o Pedro junto ao Obelisco do Vaticano s oito da manh Entendido Rafael escutou a resposta do outro lado e satisfeito desligou Vamos para S o Pedro informou o padre por fim Podes seguir disse Girolamo com um gesto de m o a pedir a Rafael que fosse frente Nicole atravessou se no caminho do padre e levou lhe a m o ao rosto Traz me o Niklas Rafael implorou j sem chorar e numa voz sussurrante N o depende de mim Nicole explicou o padre Mas tudo farei para o trazer para os teus bra os com vida Os tr s homens sa ram com Cavalcanti ainda ao telefone atr s deles e os agentes da Bundespolizei a fechar o grupo O sal o ficou mergulhado num sil ncio profundo quebrado apenas pelo Cardeal Secret rio de Estado que se ajoelhou a custo e juntou as m os com um ter o que pendia dos dedos Vamos rezar pelo vosso filho Na escadaria Cavalcanti recuperou o atraso e alcan ou
73. assassin la aniquil la tir la do mapa escolha qualquer uma E o que ganham com isso Rafael respirou fundo Para prosseguir aquela conversa teria de enveredar por caminhos que n o podia seguir estando na presen a de Cavalcanti que apenas sabia da missa a metade Eliminando a moeda de troca deixa de existir o que trocar explicou o padre evasivo Deixa de haver o que negociar Compreendi mas por que raz o fariam isso quis saber o embaixador nitidamente descrente naquela vers o que o padre lhe apresentava Rafael optou por ser mais contundente medindo contudo o que podia dizer para bem de todos Se algu m desconhecido se d ao trabalho de raptar um padre n o importa qual e em troca da liberta o n o exige dinheiro mas antes uma outra pessoa porque ela importante certo E quem essa pessoa perguntou Nicole cada vez mais nervosa e com o cora o apertado Chama se Anna indicou o inspector romano E o que torna essa Anna t o especial ao ponto de raptarem o meu filho para a poderem ter em seu poder perguntou o embaixador N o precisam de saber por que raz o mas importante garanto vos Mais directo n o podia ser ainda que pouco expl cito O embaixador consultou o rel gio e suspirou O tempo urgia e o seu tiquetaque sentenciava a vida de Niklas o seu filho Falta pouco mais de uma hora para o fim do prazo que os raptores
74. aten o Pela primeira vez desde que fora internado sentia se melhor mais forte sem tantas dores S lhe vou fazer esta oferta uma vez explicou JC para que n o houvesse d vidas Deseja que lhes fa a uma visita Rafael fez que n o com a cabe a Deixe as viver o que lhes resta O manco ajudou JC a levantar se Muito bem N o foi um prazer trabalhar consigo padre despediu se Ainda falta terminar o trabalho disse Rafael JC sorriu Eu sei N o se preocupe com isso agora O velho saiu amparado pela bengala e pelo manco Rafael cogitou durante uns instantes em tudo aquilo que Anna fizera e pensou em Sarah e onde estaria Sentia sentia N o sabia muito bem descrever a sensa o Queria v la Precisava de a ver Agarrou o len o com for a e levou o ao nariz Fechou os olhos e inspirou Quando que teriam paz JC enfiou a cabe a de novo no quarto e Rafael afastou o len o do nariz Pergunto me se ela o enganou mesmo ou se o Rafael simplesmente se deixou enganar Depois saiu de vez 72 Sarah dormiu dois dias seguidos depois de esgotar as l grimas N o viu nem falou com ningu m desligou o telem vel e proibiu que lhe transferissem chamadas informou que n o queria receber visitas Limitou se a dormir dormir dormir Quando acordou pediu que lhe servissem o jantar no quarto Vincenzo fez quest o de lho levar pessoalmente e de lho servir N o trocaram nenhuma palavra
75. baptismo para os judeus romanos uma das comunidades mais antigas do mundo que estavam a ser perseguidos pelas for as nazis No Vaticano refugiaram se cerca de quatro mil Nas igrejas e mosteiros de todo o pa s foram v rios milhares Isto chegou aos ouvidos de Hitler Weizs cker e Wolff estavam a ficar sem desculpas A opera o Rabat tinha de avan ar E porque n o avan ou Porque os aliados tomaram Roma Foi por pouco Mas mas porque que que Pio XII nun nunca se se insur insurgiu abertamente con contra o nazis nazismo Porque o pressionaram a n o faz lo respondeu Duv lio Podem consultar as correspond ncias do Vaticano entre 1939 e 1945 Est o acess veis a qualquer pessoa Foram os pr prios padres em toda a Europa que apelaram ao Papa para que n o denunciasse o nazismo pois seriam eles a pagar Ele teve o documento de den ncia escrito e pronto para ser lido na r dio Vaticano Por essa altura um bispo holand s denunciou o nazismo As tropas de Hitler mataram o bispo e mais quarenta mil cat licos na Holanda No seguimento do sucedido queimou o papel onde escrevera a den ncia N o queria caso fosse raptado ou morto que nenhum documento que comprometesse os cat licos e judeus fosse encontrado pois as repres lias seriam a exemplo da Holanda terr veis Montini o futuro Papa Paulo VI seu assessor ouviu o dizer enquanto queimava o papel Se um bispo denunci
76. competente e acima de qualquer suspeita apesar de ser muito chato Havia sempre uma rivalidade latente entre os homens de Guillermo e os de Girolamo alimentada pelos dois chefes mas Rafael tentava ignor la O profissionalismo era tudo O relat rio n o apresentava diferen as em rela o ao da pol cia italiana Quem recebeu o pedido de resgate Ningu m Foram os italianos que descobriram o bilhete colado num confession rio Est limpo Por isso no lo deram Rafael tirou o post it azul do bolso e atirou o para cima da secret ria mais um papel n o faria diferen a Guillermo j sabia o que dizia mas leu o em voz alta Os relatores do Gumpel andam a fazer um mau trabalho A puni o n o tardar Anna P e padre Rafael S 36 horas Aguardem instru es Se as seguirem o rapaz vive se n o o rapaz morre O que que os relatores do Gumpel andam a fazer perguntou Rafael Guillermo encolheu os ombros desinteressado N o fa o ideia O Comte que est a tratar disso e o sacana retirou me acesso investiga o N o percebo o interesse deles em ti Nem eu O Comte n o pode fazer isso Teoricamente n o Na pr tica tem o apoio do Cardeal Secret rio de Estado como sempre teve e N o podemos ir contra as ordens do Cardeal Secret rio de Estado completou Rafael Teremos de contornar essas ordens e agir nas costas do Comte Os dois homens deixaram as palavras elevar se no
77. da Congrega o para a Causa dos Santos confidenciou Sarah Continuam com a ideia de canonizar Pio XII n o perguntou Mandi Isto tudo por causa disso Porque que n o desistem dessa ideia de uma vez por todas Porqu quis saber Niklas Mandi n o respondeu logo Manteve se com uma postura pensativa como se estivesse a ponderar os pr s e os contras de dizer o que o cora o queria gritar ao mundo deitar para fora todos os segredos que fora obrigada a guardar durante quase trinta anos prescindindo dos sonhos dos amores da vida A Anna a minha m e biol gica explicou Mandi O Eugenio e a Josefina que voc s conhecem como Pio XII e como Pasqualina eram os meus av s maternos Sarah e Niklas ficaram pasmados a olhar para Mandi incr dulos As suas mentes balbuciavam perguntas que n o conseguiram verbalizar tal o espanto que a revela o lhes provocou Era algo que nunca lhes tinha passado pela cabe a Um Papa e uma freira que viveram na primeira metade do s culo XX tiveram um filho Sarah s se conseguia lembrar de Alexandre VI o Papa B rgia pai de tr s rapazes e uma rapariga com a diferen a que os tivera antes do papado ainda que isso n o o desculpasse Niklas conseguia acrescentar um J lio II um Paulo III entre outros que n o importava nomear mas Pio XII Nunca imaginara tal cen rio Entendia que se esta hist ria ca sse nas m os erradas seria um descalabro
78. da Via Tuscolana Quem fez isso Tarcisio abriu bem os olhos e respirou fundo transtornado Os mesmos que mataram o Luka e o Domenico Duas balas na cabe a explicou Guillermo Vou para l antes que avisem o Cavalcanti disse o intendente Fazes bem concordou Tarcisio N o te canses O Cavalcanti j foi avisado O qu Como que isso aconteceu Do mesmo modo que em Sant Andrea Algu m ligou para o servi o de emerg ncia Manda para l o Davide sugeriu o Cardeal Secret rio de Estado O Davide est noutro servi o respondeu Girolamo pensativo a segunda vez que avisam a Polizia di Stato N o pode ser coincid ncia Seguramente n o atalhou Guillermo Algu m est interessado em que n s fiquemos para tr s Acham melhor convocar o Federico perguntou o Cardeal Fa a isso Emin ncia respondeu o intendente Com o Cavalcanti ao barulho vamos precisar de minorar os danos perante a opini o p blica Eu vou falar com o secret rio do Papa Olhou para Guillermo melhor ires tu Via Tuscolana Eu Tu que s o intendente da Gendarmaria Eu n o existo lembras te Precisamos l de algu m Se o Comte n o pode e tem os homens ocupados vais tu Tomasini Est atento a tudo e n o contes nada ao inspector ordenou o Cardeal Guillermo suspirou de impaci ncia e depois lembrou se onde estava e quem
79. de cinco balas sem o tirar do bolso N o era nenhum pistoleiro Nunca tinha disparado um tiro na vida Na verdade abominava aqueles objectos Esperava n o dar um tiro em si pr prio Com a outra m o agarrava o dossi contra o peito como um escudo protector Eu trato deles disse Rafael peremptoriamente No acaso das coincid ncias que Deus controla a seu bel prazer alimentando o drama os telem veis de Rafael e Arturo tocaram ao mesmo tempo anunciando a recep o de uma mensagem Ambos leram o texto espelhado nos aparelhos respectivos e entreolharam se Rafael imaginava que tipo de mensagem Arturo recebera Os dois homens mediram se em sil ncio durante alguns momentos As circunst ncias haviam mudado Eu trato deles Arturo reiterou Rafael Ent o trata disse o outro com um olhar desafiador espera Rafael estava numa situa o dif cil Recebera uma ordem que n o tencionava cumprir e tinha a seu lado uma sentinela que como miss o tinha de se certificar que o servi o era cumprido e pior bem cumprido O padre sentia que devia uma justifica o a Arturo devido aos seus fi is servi os dos ltimos meses S por isso Arturo n o conhecia a hist ria toda nada daquilo lhe dizia respeito Guillermo jogara mal e colocara o numa posi o de ter de matar um colega que estimava Se mais algu m tivesse de morrer naquele apartamento seria Arturo e n o ele E nesta altura que me sinto obrigado a dize
80. de voz haviam retornado normalidade Acercaram se da porta da entrada Era uma casa t rrea estranha Norma nunca tinha visto uma constru o daquele g nero Parecia uma casa de bet o com ngulos rectos O sensor de movimento fez acender uma luz sobre eles Uma c mara na ombreira da porta estava apontada na direc o do casal Que raio de s tio este quis saber Norma entre a curiosidade e a apreens o Jacopo n o respondeu Uma voz met lica saindo de um intercomunicador que estava ao lado da porta irrompeu o ar frio Que desejam Chamo me Jacopo Sebastiani Venho por ordem do padre Rafael Santini explicou Jacopo para a m quina Um momento por favor Instantes depois a porta abriu se com um estalido el ctrico e recuou para o interior alguns cent metros O casal entrou Jacopo frente Norma a segui lo colada a ele o mais que conseguia Sentia um frio na barriga que s podia ser nervos Entraram para um trio muito s brio de m rmore branco com um cub culo preto do lado esquerdo onde estava um homem de uniforme na casa dos 30 anos com cinco monitores sua frente cada um a projectar quatro imagens diferentes Boa noite doutor Sebastiani cumprimentou o homem com um sorriso quando saiu do cub culo Boa noite minha senhora Pegou na mala que eles traziam e conduziu os ao interior da casa Entraram para um corredor estreito com cerca de tr s metros Ao fundo outra por
81. desfecho igual ao seu O problema que ela n o acreditava Nele Talvez essa descren a fosse pecado e Ele a castigasse mas ela n o conseguia crer num Deus castigador De qualquer maneira deu por si na capela da policl nica ajoelhada no genuflex rio perante a figura de Cristo as m os juntas numa prece pela salva o daquele que amava Nem sabia o que dizer Lhe Como se falava com Deus Era preciso argumentar sobre as virtudes e os escassos defeitos as boas ac es e qualidades em detrimento do menor n mero de pecados E depois ele pesaria os pr s e os contras e tomaria a decis o favor vel ou n o segundo esses crit rios Desistiu de rezar N o sabia n o acreditava No quinto dia viu chegar uma mulher loira ao piso dos cuidados intensivos com Niklas Quando o jovem padre a viu acercou se dela Esta a Sarah m e A mulher cumprimentou a com um sorriso amarelo e apresentou se Muito prazer Nicole Sabe alguma coisa do Rafael Est estacion rio Nicole lan ou um olhar preocupado ao filho Tens a certeza que isso que queres Niklas respondeu afirmativamente com um meneio com a cabe a Depois de Nicole falar com os m dicos o filho entrou na rea de cuidados intensivos onde tamb m ele iria vestir uma bata e colocar uma m scara para n o contaminar a zona esterilizada Nicole sentou se ao lado de Sarah Ficaram em sil ncio durante alguns minutos que mais pareceram horas A senhora f
82. desorientado bebeu um pouco de gua e ficou a olhar para eles sem dizer nada JC olhou para o manco Deixa nos Mant m te atento ao per metro O manco fez um meneio de submiss o ao velho e encaminhou se para a porta do quarto N o havia d vidas de quem mandava ali A idade era um posto JC virou se para Gumpel e sentou se numa cadeira ao seu lado A freira e o rapaz est o aqui no corredor avisou o manco a mir los com uma express o amea adora Deixa os estar disse o velho com um sorriso Eu tomo conta deles O padre mexeu se na cama Quem s o os senhores O que querem de mim perguntou incomodado N o vamos a lado nenhum com essas perguntas padre Gumpel Isto n o uma conversa um interrogat rio Quem faz as perguntas aqui sou eu O padre n o sabia o que dizer As palavras daquele idoso que estava sentado ao seu lado eram c usticas embora tamb m estivessem carregadas de muito sarcasmo Era como se n o levasse nada a s rio Tinham entrado em sua casa h alguns dias n o sabia dizer quantos Dois talvez tr s ou mais N o sabia como entraram apenas que j estavam no interior quando ele chegou vindo de Roma na esperan a de ter alguns dias de descanso N o tinha como defender se Os relatores eram meros servidores da c ria pastores da hist ria da humanidade das pessoas e da Igreja Faziam os santos se se quisesse explicar de um modo simples descomplexado da rea
83. e temos de estar sempre prontos para O seguir para onde Ele desejar Sarah n o disse nada Aquelas palavras soaram lhe vazias de conte do como as que se proferiam para se parecer inteligente ou para se patentear uma verdade maior inating vel por alguns como ela Niklas era demasiado novo para criar aquelas patranhas mas tinha a idade certa para crer nelas Ou ent o era ela que estava amarga e revoltada Tinha raz es para isso e aquele dia estava a ser longo de mais Queria adormecer para o fazer chegar ao fim de vez e nada a impedia de o fazer a n o ser a ansiedade os nervos a dor Eram duas v timas naquela masmorra de paredes imundas Perguntou se como estaria John e sentiu n useas Conheces alguma Anna P perguntou Sarah do nada Niklas olhou para ela surpreso A que prop sito surgira aquela pergunta Anna P Sim Anna P J ouviste falar E Mandi conheces acrescentou Niklas desconhecia aqueles nomes Ser que ela estava a fazer uma investiga o jornal stica e fora apanhada a mexer onde n o devia Antes de Sarah chegar pensara nas raz es por que aquilo lhe estava a acontecer Desbravou mentalmente todos aqueles que conhecia e n o conseguiu encontrar outro motivo para o rapto a n o ser o facto de ser filho do embaixador da Alemanha Fez que n o com a cabe a para responder pergunta dela A Sarah conhece as questionou decidido a tentar perceber o que ela sabia N o
84. em portugu s Eu eu balbuciou ao mesmo tempo que recuperava o f lego e a consci ncia tentando entender o que se passava Morrera ou n o Eles v o matar me Abriu os olhos e contou tr s pessoas Um homem franzino uma mulher e um outro homem o que o agarrara que reconheceu Eu trato de te recambiar para junto de Deus disse Rafael levantando o sem modos Mas antes temos de conversar 31 Um homem os problemas que cria e fomenta H uma necessidade inata de andar enredado numa teia problem tica que apimenta o ambiente e tempera o protesto Qual seria o interesse de viver num mundo sem trai es apunhalamentos enganos e roubos Quem no seu perfeito ju zo gostaria de viver numa casa em que pudesse dormir tranquilo de porta aberta A alcatifa silenciava os passos vigorosos de Giorgio o belo enquanto caminhava em direc o ao Secretariado Mais uma noite em branco em nome de Deus a tentar desensarilhar o novelo de problemas que teimava em enrolar se mais e mais enredando se em si pr prio Consultou o rel gio Passavam poucos minutos das tr s da manh Utilizou a Scala Nobile e continuou o caminho afoito determinado Abriu as duas portas que davam acesso antec mara do gabinete do Secret rio no segundo andar Que se passa Excel ncia perguntou um novi o estremunhado O Secret rio de Estado Retirou se para os seus aposentos Pediu para n o ser incomodado
85. entrou a medo passo a passo p ante p Estava tudo remexido Uma cadeira tombada em cima da cama a mala de viagem no ch o a roupa espalhada pela cama e em cima das mesas de cabeceira Quem ali entrara quis obviamente que ele soubesse que ali tinha estado Era uma mensagem clara Deu por si com o rev lver Amtec de cinco balas a tremer lhe na m o como se soubesse us lo Sentiu se um idiota e um cobarde Era melhor lev lo cabe a e premir o gatilho Pegou no telem vel e ligou a Sarah em p nico a apreens o e a paran ia ganhando o lugar cimeiro nos batimentos card acos Mesmo n o sendo crente rezou a Deus e a todos os santos para que ela atendesse e n o o deixasse pendurado Ela atendeu tranquilizando o imediatamente Disse lhe que fosse para o bar e que iria ter com ele dentro de dez minutos Ele ainda procurou por alguma mensagem que lhe tivessem deixado mas n o encontrou nada e desceu para o bar a correr descendo pelas escadas de dois em dois degraus Levou o copo de u sque boca mas teve de o segurar com as duas m os tais eram os nervos Acalma te gritou mentalmente Mas o cora o continuava a latejar como um louco dentro do peito O empregado lan ou lhe olhares impertinentes e perguntou lhe se estava bem por duas vezes S s sim Es tou bem bem respondeu em ambos os momentos Decerto o empregado era um espi o e esperava que o veneno que pusera no u sque fizesse efeito Decerto ele
86. es Faremos tudo com muita calma para n o colocarmos a vida do seu filho em risco Pode ficar tranquila Tem a minha palavra Quero que os meus agentes vos acompanhem N o h necessidade arguiu Girolamo Insisto declarou o embaixador irredut vel Quero algu m da embaixada sempre convosco Uma parceria assim que funciona Girolamo fitou o Cardeal Secret rio de Estado que fez um meneio quase impercept vel com a cabe a em jeito de aceita o Perfeitamente senhor embaixador acedeu Girolamo O Federico o porta voz do Vaticano As comunica es se as houver v o passar todas por ele e s por ele O embaixador concordou Para ele tamb m era importante que nada daquilo vertesse para a opini o p blica ou no caso de ser inevit vel que o fosse por algu m perfeitamente habituado e o fizesse sem causar grandes danos Estamos prontos meus senhores perguntou Girolamo Eu tamb m vou convosco informou Cavalcanti Chamemos lhe uma parceria entre as pol cias alem italiana e da Santa S Impens vel Cavalcanti recusou o intendente Voc s que sabem disse o inspector com um ar inocente Assim que puserem o p na rua os vossos coiros ser o todos meus e acreditem que posso fazer com eles o que eu quiser Posso ligar ao Amadeo amea ou Girolamo impaciente Aquele inspector irritava o sobremaneira De certeza que ele te acaba com as ma
87. es para verificar o seu estado N o fora usada A revista prosseguiu A s rio Cavalcanti protestou Guillermo com veem ncia Isto indecente e rid culo N o podes fazer isto O Comte vai te crucificar Gennaro Cavalcanti olhou em redor para as dezenas de t cnicos forenses e param dicos que se apressavam num caos ordenado a analisar a cena do crime a mesma que o inspector chamara de massacre Achas rid culo Olha tua volta Fez um gesto com a m o a mostrar os cinco cad veres com um tiro certeiro na testa J viste quanto dinheiro est o os cidad os italianos a gastar hoje convosco Cinco mortos nesta sala e um l em baixo na portaria N o me lixes Cavalcanti Morre gente todos os dias Ah para ti isso n o importante Sabes quantas horas de trabalho isto vai custar a cada contribuinte italiano E nada disto nosso Ent o porque n o se v o embora sugeriu Guillermo Cavalcanti fitou o com uma express o fulminante Cospes para o ar porque n o pagas impostos meu sacana Apontou para Rafael Ele a nica pessoa que sobreviveu a isto Logo o principal suspeito O agente estendeu a Beretta j dentro de um saco de provas a Cavalcanti N o parece ter sido usada recentemente inspector indicou o subalterno depois de uma an lise superficial Mas teremos a certeza depois de analisada Cavalcanti ficou na posse da prova e fitou Guillermo com uma
88. estabeleceram E tempo de agir e n o de conversar Concordo assentiu Rafael Klaus fez um gesto com a cabe a aos dois elementos da Bundespolizei que se acercaram de Rafael um pela frente outro por tr s Por favor n o resista padre Rafael pediu o embaixador ainda que parecesse uma ordem Rafael n o resistiu Em poucos segundos estava manietado com as m os atr s das costas O que que os senhores pensam que est o a fazer inquiriu Cavalcanti que n o podia permitir aquilo Estamos em territ rio alem o inspector explicou o embaixador As suas leis n o se aplicam aqui Virou se para Rafael Est a chegar a qualquer momento um representante da Santa S e depois o senhor padre ir connosco buscar o resgate a bem ou a mal O som do toque de um telem vel come ou a soar abafado por algum bolso onde estava enfiado Parecia destoar da solenidade do sal o como se um Sohn um F ger dois Nauen e dois Quaglio n o tivessem de testemunhar tal alarvidade sonora e tamb m da tens o que toldava o ambiente Depressa perceberam que o som estridente provinha do bolso do casaco do padre que era o nico que n o tinha as m os livres para atender Foi o embaixador quem sem cerim nias tirou o aparelho do bolso de Rafael e atendeu como se a chamada fosse para ele Quem fala perguntou em italiano e fez uma pausa para escutar O padre Rafael n o pode atender neste mo
89. estava acima Dele o nico a quem eles serviam N o controlas os teus homens Tomasini proferiu o intendente Girolamo Comte que acabara de entrar na capela com passos largos e um modo intimidat rio Beijou o anel do Secret rio O dossi n o estava no quarto Os meus homens procuraram em todo o lado Deve estar com ele Foram ao hotel dele perguntou Guillermo desiludido N o gostava que agissem nas suas costas Algu m tem de fazer alguma coisa contrap s o intendente com maus modos A mulher n o fazia parte da equa o Emin ncia argumentou o chefe da espionagem ignorando a cr tica do intendente Ela tem um historial connosco Tarcisio tornou a ajoelhar se aos p s da est tua Sempre ela a imagem da dor do peso da m goa do sofrimento a lembrar lhe que havia uma for a muito superior a eles para preservar acima de qualquer ser humano Fechou os olhos e balbuciou uma ora o inintelig vel Um ciciar entre ele e Deus que pedia sabedoria pondera o ilumina o Outros antes dele foram confrontados com situa es semelhantes colocados perante graves dilemas morais e pessoais Ningu m ocupava aquele of cio sem ter a no o exacta do que ele comportava Ningu m imaginava que um simples administrador de duas sec es a nacional e internacional tivesse de dispor da vida e da morte dos outros Tornou a levantar se com os ossos a esbo arem novo protesto pelo esfor o
90. horas e os sinos da bas lica confirmaram com o badalo a anunciar a hora Terminara o prazo que os raptores haviam dado Olharam em redor procura de algu m suspeito Podia ser qualquer um Quem v caras n o v inten es nem suspei es As mentes perversas t m rostos exactamente iguais a todos os outros Girolamo pegou no bra o de Rafael e afastou o dos outros dois antes de se aproximar do ouvido do padre Espero que esta n o seja mais uma das tuas patranhas Rafael amea ou o intendente Onde que ela est Deve estar a chegar respondeu o padre lan ando lhe um sorriso c nico Relaxa Isto est quase a acabar Rafael sentiu um cano duro colar lhe o casaco ao fundo das costas Era a arma de Girolamo Espero que n o inventes nada sen o isto n o vai acabar bem para ti amea ou o intendente com um sussurro nervoso Quando ela chegar deixa tudo comigo E agora voltou a perguntar Guillermo alerta Os tr s homens olharam para Rafael espera de uma resposta Agora esperamos 62 Pater Noster qui es in caelis sanctificetur nomem tuum Adveniat regnum tuum Fiat voluntas tua sicut in caelo et in terra orou Tarcisio O embaixador a embaixatriz e o porta voz continuaram a ora o em alem o com afinco a tentarem alhear se das horas e com os pensamentos apenas na salva o de Niklas que esperavam ver entrar na embaixada s o e salvo O Cardeal Secret ri
91. impens vel retorquiu Ser uma nova Opera o Assento 12 JC lan ou uma gargalhada O KGB j n o existe e a Guerra Fria tem outro nome O manco voltou a entrar no quarto com o telem vel na m o guardou o e dirigiu se a JC para lhe cochichar algo ao ouvido J Ajuda me a levantar O manco amparou JC que se levantou com esfor o Hora de ir embora meu caro padre Gumpel O relator engoliu em seco Que lhe aconteceria Matteo Mia chamou JC Os dois entraram no quarto intimidados como dois mi dos traquinas que se tinham portado mal Vamos sair O guia e a freira sentiram a apreens o avolumar se O sol j brilhava para l da janela anunciando o novo dia e de s bito as regras mudavam Que cena t o bonita disse JC com um sorriso ao observ los Nenhum deles se tinha apercebido mas estavam de m os dadas como se quisessem enfrentar o medo juntos JC acercou se do relator e fitou o com ar s rio Deixo lhe um recado N o meu mas como se fosse N o quero saber o que descobriu v verificar novamente Depois de rever tudo fa a a recomenda o ao Santo Padre Um homem muito mais do que as suas falhas Se alguma vez mencionar este encontro a algu m o meu querido amigo far lhe uma visita disse apontando para o manco Mas dessa vez n o ser para lhe desejar bom dia O homem encaminhou se para a sa da do quarto enquanto o manco e os outros dois sa
92. janelas reivindicando vida humana no meio do escuro L em baixo invis veis ao olhar deles ouviam se os motores dos carros e das lambretas das vozes e dos passos que se misturavam num ronco desconexo gutural que chegava varanda como um latido Vai para casa N o precisavas de ter subido N o sejas tonta Sarah As tuas dores s o as minhas Sarah sorriu com os olhos marejados Os teus filhos j est o criados querido Foi a vez de Vincenzo sorrir com uma express o de pobrezita n o sabe o que diz Nunca est o Sarah Quando fores m e saber s O italiano arrependeu se do que disse mal se ouviu a proferir aquelas palavras Desculpa N o disseste nenhuma mentira Suponho que deves ter raz o Vincenzo deu lhe um beijo no rosto e outro na testa Vou embora Tenho de ir ter com a minha outra mulher disse a sorrir Qualquer coisa de que necessites manda me chamar O Riccardo est de servi o na recep o esta noite Eu sei Obrigada por tudo Obrigada s o cinco euros j sabes brincou Vincenzo a tentar aliviar o ambiente E desculpa s o dez acrescentou Sarah Exactamente Desculpa s o dez Deu lhe outro beijo na testa Descansa Tenta dormir Amanh venho ver como est s e tomamos o pequeno almo o juntos Vincenzo bateu a porta ao sair mas deixou o sil ncio entrar Sarah apagou todas as luzes do quarto e saiu para a
93. lareira Se alguma vez encontrasse algu m a faz lo seguramente lhe daria um tiro nos miolos com um sorriso nos l bios Sabia que um v cio era uma fraqueza e que uma paix o era a morte A falha o fracasso n o estava nas paix es mas na falta de controlo sobre elas O Franc s n o se importava de sofrer uma morte simples a ler Sofria dessa maldi o de querer saber tudo uma avidez de conhecimento capaz de o levar loucura Se pudesse leria tudo o que j fora escrito pelos homens Lia para poder viver Era louco sabia o Mas quando nos lembramos que somos todos loucos os mist rios desaparecem e a vida torna se simples O cliente conhecia o seu v cio Poucos o conheciam Naquele momento necessitava de descer terra esquecer a Inventio Fortunata desprender se desse cheiro a papel velho e a p que j conseguia sentir A descri o do Polo Norte por um monge franciscano do s culo XIV que se julgava perdida para sempre Uma coisa de cada vez Concentrou se nas palavras do cliente Deve seguir o plano como estipulado no contrato Informe me de qualquer imponderabilidade e eu dar lhe ei as instru es para lidar com ela Um cliente que lidava com o imponder vel O Franc s nunca dizia nada Nem podia As palavras n o lhe sa am da boca desde que nascera Apenas escutava Era um censor Servia para punir aqueles que j n o podiam viver O manuscrito da Inventio Fortunata O pensamento voltou a debandar para o v cio
94. lhe um excelente abrigo Olhou para o rel gio Um trejeito de frustra o inundou lhe o rosto molhado Subiu ainda mais as golas do casaco se tal era poss vel e seguiu para a direita N o havia tempo para se abrigar Virou as costas bas lica e ao Semin rio Patriarcal de Veneza e atravessou uma ponte em direc o ao Campiello Barbaro Avan ou pelo Campo de San Greg rio e pela Via Bastion debaixo de uma chuva que lhe atingia os olhos e o resto do corpo como dardos inteligentes e perversos Cinco minutos depois e encharcado at aos ossos abriu a porta gradeada do n mero 352 de Dorsoduro o Palazzo Dario uma p rola em m rmore branco do g tico veneziano com restaura es renascentistas Uma das fachadas estava plantada no Canal Grande com vista para o Sestiere de San Marco e outra lateral para o rio delle Torreselle As janelas com arcadas redondas no r s do ch o e nos dois piani nobili n o deixavam indiferentes os turistas que navegavam no Canal Grande que tamb m n o deixavam de reparar na ligeira inclina o do edif cio para o lado esquerdo O piso inferior era um espa o amplo repleto de colunas Apesar de o pal cio ser propriedade privada a fam lia que o detinha acordara com o munic pio albergar exposi es tempor rias de pintura escultura artes pl sticas tudo em nome da cultura Para Jacopo era apenas um abrigo acolhedor da intemp rie que ca a na rua Algumas pessoas poucas deambulavam naquele piso a
95. mas certificou se que Sarah comia tudo Depois pegou no tabuleiro e saiu fazendo lhe apenas um afago no cabelo Foi assim nas refei es seguintes A decis o de regressar a Londres surgiu naturalmente Nada mais a prendia a Roma Apenas uma despedida O passado n o se devia renegar Faz lo acabava por magoar outras gera es porque ele sempre esperava espreita para atacar o presente numa qualquer esquina do futuro A Igreja sofria porque o renegava e depois acabava por ser apanhada nas malhas que ela pr pria criara para olvidar Chegou policl nica a meio da tarde Seria uma visita r pida mesmo a tempo de apanhar o avi o de regresso a terras de sua majestade no in cio da noite Os guardas j n o estavam l para a impedirem de entrar no quarto mas encontrou a cama vazia e Jacopo janela a mirar o exterior O que est aqui a fazer doutor Sebastiani Onde est o Rafael O historiador virou se para Sarah consternado com l grimas a escorrerem lhe pela cara Sarah proferiu Jacopo avan ando para ela e abra ando a Ele deixou nos Sarah sentiu um aperto no peito e os olhos marejaram se O que quer dizer com isso Ontem vim v lo Parecia em franca recupera o Hoje quando cheguei deram me a not cia Sarah j chorava copiosamente Que not cia Jacopo perguntou a jornalista que necessitava de ouvir a confirma o da boca do historiador O Rafael morreu Sarah Mo
96. meu nome Achas que perceberam alguma coisa Rafael fez que n o com a cabe a Est o mais preocupados com outros assuntos O padre estendeu a m o Quero o meu len o O que que se passou ali perguntou Cavalcanti enquanto o tirava do bolso e o devolvia ao seu dono Rafael guardou no bolso o len o e come ou a contar sumariamente o que presenciara sem mentir nem omitir Cavalcanti era um velho conhecido N o se podiam considerar amigos sabiam at muito pouco da vida pessoal de cada um mas confiavam um no outro Ivan o nome de Rafael quando se conheceram fora o seu contacto privilegiado dentro do territ rio inimigo do Vaticano h alguns anos Desde 1998 e do c lebre caso dos guardas su os assassinados Rafael n o escondera nada ao poca por castigo chefe interino do Inspectorado de Seguran a P blica para a Cidade do Vaticano Cavalcanti tamb m se dispunha a ajud lo sempre que era necess rio se tal n o conferisse uma ilegalidade obviamente Embora Rafael n o se prendesse a essas minud ncias o inspector gostava do pragmatismo e da sinceridade do padre e admirava o por procurar a sua pr pria posi o dentro daquele ninho de v boras Rafael servia a Igreja n o tinha d vidas sobre isso mas acima de tudo prezava a verdade custasse o que custasse a quem custasse Sabes quem est por detr s disto tudo quis saber Cavalcanti Rafael encolheu os ombros Descorfio
97. milh es de euros mais alto Ele n o lidava com urg ncias O cliente sabia o e por isso para a conclus o da segunda fase al m do dinheiro acenou com um pagamento especial para lhe sustentar o v cio por uns tempos Era algo precioso que fez o Franc s aceitar o contrato sem reservas Se n o estivesse interessado a conversa n o se teria alongado O cliente sabia o Se continuava a ouvir era porque aceitara as condi es Como pagamento pelo seu trabalho arranjo lhe uma verdadeira p rola prop s lhe o cliente E que p rola seria essa que o cliente podia idiotamente ousar sugerir A revela o surpreendeu o Uma obra do s culo XIV O Inventio Fortunata j ouviu falar Depois daquela revela o n o podia permitir se n o fazer o trabalho Muito poucas pessoas conheciam a sua paix o o seu v cio por livros raros Eram a sua perdi o Ler a edi o mais pr xima temporalmente do autor ou autores era imperativo Gostava de partir descoberta de um manuscrito que nem sabia se existia s porque se falava dele no mundo subterr neo dos coleccionistas e alfarrabistas Seguir as vontades dos homens a imponderabilidade incomplacente da vida que fazia com que objectos valios ssimos andassem de casa em casa ou de s t o em s t o ou de cave em cave esquecidos perdidos sem que tantas vezes os seus detentores se dessem conta do real valor do que tinham em m os Eram at capazes de os usar como papel para acender a
98. moeda de troca deixaria de existir pura e simplesmente Claro que o Cardeal Secret rio de Estado ocultou essa parte ao embaixador O que que o meu marido est a insinuar perguntou Nicole a Rafael com uma atitude amea adora Sim o que que o senhor embaixador quer dizer Foi a vez de Cavalcanti perguntar completamente confuso com tudo o que estava a acontecer naquele sal o Quer dizer que n o fez as perguntas certas e obteve as informa es que lhe entenderam dar completamente fora de contexto respondeu Rafael enigmaticamente E verdade que eu tenho acesso ao resgate Trata se de uma pessoa caso estejam interessados em saber e o Secret rio de Estado n o tenha providenciado esse pormenor ao senhor embaixador continuou enfatizando a fun o de Klaus verdade que tenho acesso exclusivo moeda de troca mais ningu m tem e assim se ir manter At quando Rafael perguntou Nicole desesperada o olhar marejado a clamar por piedade At quando vais brincar com a vida do meu filho O padre fez um trejeito negativo com a cabe a como se os presentes n o soubessem o que estavam a dizer E n o sabiam O que Sua Emin ncia porventura se ter esquecido de mencionar que nem ele nem o Secretariado que chefia pretendem negociar Eles querem saber a localiza o da moeda de troca para a eliminarem Defina eliminarem pediu o embaixador intrigado Mat la
99. mostrar a arma que trazia dentro do coldre de ombro Rafael parou e olhou para tr s Tinha pressa N o queria perder tempo a dar satisfa es mas Cavalcanti tinha raz o Era um aliado N o podia torn lo num oponente J tinha bastantes Temos de equilibrar a balan a Eles t m algu m muito importante para mim Custou lhe admiti lo em voz alta E qual a vantagem em meter estes gajos ao barulho perguntou Cavalcanti apontando para o edif cio N o estava a perceber Eles v o acabar por saber mais cedo ou mais tarde Eu prefiro que seja j e por mim Que raio de ideia N o fazia sentido nenhum Rafael contornou o inspector e colocou lhe uma m o no ombro ao passar por ele Anda J vais perceber Confia em mim O inspector ficou a olhar para o padre Confio em ti Eu nem em mim confio E o Gumpel quis saber o pol cia Est descansado O Gumpel est controlado Cavalcanti resignou se e seguiu at porta de entrada Isto o que d meter me com gente da Igreja Acercaram se da grande porta castanha a guia cravada por cima na achada do pal cio vigilante N o havia c maras vista A nica que havia estava no intercomunicador em que Rafael pressionou para chamar a aten o de quem quer que estivesse de servi o quela hora Espero mesmo que saibas o que est s a fazer Santini advertiu o inspector uma ltima vez Caso contr rio tomo conta do caso d
100. motivos renascentistas mandada fazer pelo Papa J lio II que se dizia ter os originais do Pentateuco no seu interior mas que nunca ningu m se dignara verificar Ser que estavam a ser escutados Girolamo sorriu Descanse Excel ncia Reverend ssima Eu j verifiquei os apartamentos papais Est o limpos Giorgio sentiu se um idiota mas disfar ou com altivez Tens a certeza Absoluta Podemos falar vontade Giorgio j tinha delineado uma lista de suspeitos onde Tarcisio o Cardeal Secret rio de Estado figurava no topo seguido por Giovanni Angelo e Dominique Fran ois todos com agenda pr pria e muito interessados no mal estar do Papa quer fisicamente quer aos olhos dos fi is o Tomasini e a fechar o pr prio Comte O Papa Bento sabia se j n o era uma figura benquista pelos fi is por natureza n o porque fosse pior que Jo o Paulo II mas porque n o era Jo o Paulo II Nunca teria o carisma do Papa polaco t o pouco reinaria tantos anos e n o fossem as primeiras raz es suficientes n o tinha a personalidade de Wojtyla Era diferente em tudo talvez fosse isso a imagem intranspon vel que deu a esta Igreja Cat lica Apost lica Romana a sua longevidade Giorgio conhecia bem os meandros daquele pal cio Conhecia as motiva es e em parte as agendas escondidas Eram tr s s naquele pal cio sem contar com os outros edif cios em territ rio Vaticano os que ambicionavam ocupar o trono de Bento E pa
101. n o levantar suspeitas infundadas Aparentava ser mais velha do que ela talvez na casa dos 40 anos rugas de sofrimento marcadas no rosto Arrepiou se com o olhar amargurado da mulher Parecia o de quem h muito perdera a vontade de viver e apenas se limitava a aguardar a sua hora que podia ser naquela noite ou noutra qualquer Sabe porque est aqui perguntou o padre Mandi voltou a responder com um aceno de cabe a Voc s sabem Niklas respondeu da mesma forma que ela com um meneio ausente de um lado para outro um n o Acho que por sua causa contrap s Sarah N o era hora para rodeios nem hipocrisias Mandi olhou a com espanto estampado no rosto Por minha causa n o podia crer Que queria aquela mulher dizer com aquilo Sim Por sua causa J ouviu falar em Pio XII em Pasqualina em Anna P Niklas estranhou que Sarah estivesse sempre a repetir aqueles nomes Anna Mandi e agora Pasqualina e Pio XII Que teria o Santo Padre a ver com esta hist ria e porque que a jornalista insistia tanto N o sabemos o que v o fazer connosco mas o mais prov vel que nos matem Eu n o quero morrer sem saber porqu disse Sarah Quem que vos contou da Anna perguntou Mandi com uma voz sumida A mulher tinha raz o Quanto mais soubessem melhor Tamb m queria compreender o que se estava a passar e calados n o iriam a lado nenhum Um padre no Col gio dos Relatores
102. n o se manter preso s cal as t o certa como a morte Pareciam escolhidos a dedo e todos sem excep o usavam cinto rsula a sua quinta assistente social designada pelo estado mudou tudo A rechonchuda funcion ria p blica tornou se ela pr pria a sua nona fam lia de acolhimento quando ele tinha 10 anos s ela e ele sem cintos nem m s palavras nem cal as desapertadas nem vergastas Isto uma rela o para a vida inteira Matteo avisou o no primeiro dia N o te vou devolver ao estado aconte a o que acontecer fa as o que izeres Isto pode correr muito bem ou muito mal Portanto o melhor que nos d mos bem desde o in cio Pela primeira vez algu m lhe ditava regras com algum sentido Havia horas para estudar para brincar para ver televis o para comer para dormir Esperava se dele que tivesse aproveitamento escolar que evitasse alterca es patetas e in teis dentro e fora da escola que cumprisse as eis civis em vigor sempre Podia ser crian a mas n o piegas tinha 10 anos n o era um beb mimado e n o podia em situa o alguma trat la por m e Desde que fossem cumpridos estes preceitos n o haveria problemas e Matteo n o era rapaz para procur los deliberadamente especialmente se n o houvesse raz o para isso Nunca se apercebera que rsula tivesse qualquer rela o com algu m Viu um homem de meia idade dar lhe um envelope uma vez que chegou mais cedo da escola e acab
103. na face que aliviou o ar austero que ela envergava Os olhos marejaram se lhe Conheciam se h d cadas desde umas f rias memor veis que os tr s passaram nos Alpes su os em 1931 Oh Meu bom amigo disse comovida N o devia andar por aqui advertiu o americano com uma voz suave O Col gio proibiu a sua entrada no pal cio O Col gio ou Tisserant Tanto faz Venha comigo pediu lhe o americano Onde vamos Para os meus aposentos L ningu m nos vai incomodar Pasqualina parou e fitou o cardeal americano que tamb m ficou a olhar para ela Eu gostava de ver o Santo Padre Francis rogou com as l grimas a desprenderem se dos olhos Pode levar me at ele Spellman suspirou resignado O meu poder tamb m acabou com a morte do nosso querido amigo Pasqualina explicou desapontado Quem dita as regras agora o Tisserant e o Masella que foi eleito camerlengo ontem Lamento mas s poder v lo no dia 14 Abra ou a Venha Vamos capela rezar pela alma dele Pasqualina estava muito abalada Sabia que Tisserant se havia de vingar mas nunca pensou que nem sequer respeitasse um intervalo m nimo de uto Queria ficar com o seu Santo Padre at ao ltimo instante Por ela s alguns familiares que teriam direito a prestar lhe a ltima homenagem Ali s apenas a irm Elizabetta Proteg lo ia do mundo na morte como o izera a vida toda Seria um mome
104. nada Sentiu um calafrio A imagem da arma que o homem lhe apontou n o lhe sa a da cabe a Deitou se novamente e fechou os olhos Precisava de se acalmar Quantas horas dormira Onde estaria As perguntas bombardeavam lhe a cabe a como o cora o que lhe latejava nas t mporas Deixou se ficar assim durante alguns minutos e depois voltou a abrir os olhos e a levantar se lentamente Sentia uma moedeira na cabe a um zumbido nos ouvidos e uma dor no pesco o Procurou os sapatos mas n o os encontrou Caminhou devagar pelo quarto os passos faziam ranger as t buas do soalho Um candeeiro em cima de uma c moda ao lado de uma porta fechada era a nica fonte de luz da divis o A janela estava fechada N o sabia se era dia ou noite Para al m da c moda havia uma grande cruz de Cristo por cima da cabeceira da cama e pouco mais Uma secret ria com alguns livros com encaderna o de capa dura antiga em cima e uma cadeira e era tudo Nem molduras com retratos nem quadros nem quaisquer outros objectos decorativos Uma divis o despida dos bens materiais mais usuais sem vida Ao fim de uns minutos Matteo come ou a sentir se melhor A dor de cabe a passara restava apenas a dor do pesco o talvez devido ao excesso de horas na cama Tentou encontrar um rel gio mas n o havia nenhum no quarto N o havia sinal dos seus sapatos Dirigiu se porta fechada e rodou a ma aneta que n o tinha d vidas lhe diria que estava trancado no qua
105. numa mesa de centro em frente poltrona do idoso Pegou na ch vena e na colher e abriu a tampa do a ucareiro Tr s disse o homem com um sorriso maroto Sou um guloso Matteo viu a jovem colocar tr s colheres de a car e entregar o pires e a ch vena ao idoso Obrigado minha querida Mia Seria um anjo do c u se eu acreditasse nisso agradeceu o idoso desviando o olhar corrosivo para Matteo Sente se por favor Matteo continuava sem reac o at nito Nunca tinha visto aquelas pessoas que agiam como se o conhecessem Sentia se uma carta fora do baralho Tinha tantas perguntas para fazer e nenhuma lhe assomava boca Mia colocou uma cadeira ao lado da poltrona e Matteo deu por si a seguir a indica o e a sentar se ao lado do velho que sorvia lentamente o ch quente Onde onde que estamos acabou por perguntar ainda que tal lhe tivesse soado como uma pergunta idiota Havia outra bem mais importante pelo menos O que se est a passar N o importa respondeu o homem de idade sem acrescentar mais nada O que pretende de mim acabou por ganhar coragem para perguntar Afinal tratava se de um idoso e de uma rapariga seguramente dava conta dos dois Nada Ent o porque me trouxeram para aqui O homem de idade n o respondeu e continuou atido ao seu ch Os meus sapatos perguntou j sem paci ncia colocando uma nota de irrita o na voz e no rosto
106. o quis certificar se Giorgio anuiu Prezava o doutor pela sua frontalidade e honestidade intelectual Queria ouvir a sua vers o da hist ria O que eu sei e isto tudo baseado em fontes sem qualquer cr dito portanto boatos N o se preocupe Continue Eram dois irm os judios crian as que foram escondidos dos familiares depois da guerra em Fran a Robert o mais velho e G rald o mais novo Fazem parte dos milhares de crian as judias que sup e se n o foram devolvidos s fam lias Giorgio suspirou Parecia incomodado Mas porque que estavam nossa guarda Jacopo fitou o perplexo N o sabe O alem o voltou a suspirar e levou uma m o ao rosto Acredite ou n o at hoje nunca tinha ouvido falar deles Posso ser completamente honesto consigo N o espero outra coisa respondeu Jacopo com evidente franqueza Estou completamente a leste disto tudo Foi a vez de o historiador respirar fundo Olhou para o rel gio que trazia no pulso e perdeu a ltima esperan a que tinha de voltar ao aconchego da cama J passava das cinco Tenha em aten o que a informa o de que disponho carece de verifica o Se pretender posso mais tarde fazer uma pequena pesquisa e dar lhe dados mais fundamentados repetiu a advert ncia Comunicada a qualidade da informa o Jacopo recome ou o seu relato A partir de 1942 ou 1943 o Papa Pio XII deu ordens a todas as i
107. o apenas por me sentir amea ado Isso tudo muito relativo Aposto que o relat rio forense vai dizer que os tiros foram dados a curta dist ncia Caramba um ficou com a cabe a desfeita Depois parou como se estivesse a pensar O que foi O Domenico Que tem Dois tiros na t mpora direita Dois tiros na tromba Pum Pum zombou Guillermo com o indicador apontado a simular uma arma Cabe a desfeita Esse foi o primeiro a morrer A amea a veio seguramente da direita mas ele nem sequer se deu conta do que lhe aconteceu O relat rio menciona o corpo do zelador na varanda da tribuna Se eles o viram sacaram imediatamente as armas Portanto eles sabiam que havia perigo mas n o se aperceberam que estava t o perto Talvez dentro do confession rio Guillermo levantou uns pap is da secret ria Estava novamente procura de qualquer coisa Acabou por encontrar um bloco de notas e uma caneta que atirou para a frente de Rafael Para que isto Para escreveres a morada Rafael olhou para o chefe com perplexidade Para qu Para irmos tratar da mulher S o ordens do Santo Padre Evidentemente J fal mos sobre o que decidiu o terceiro andar advertiu Guillermo N o ter amos importunado o doutor Sebastiani se a tiv ssemos Rafael torceu o nariz Por alguma raz o s eu que sei onde est a Anna refutou o prelado inferior
108. o carregador cheio de muni es e voltou a fix lo no cabo Destravou a e apontou a a um e a outro que fitavam o cano com os olhos arregalados Garanto vos que ele mesmo muito bom com aquele instrumento Desviem se um mil metro do que vos irei ordenar e ter o oportunidade de o comprovar Nenhum deles estava interessado em levar um tiro e apesar de a vontade de fugir ser muita tentando vencer os nervos caminharam ordeiramente em direc o colunata do lado direito e entraram na pra a passando por turistas que deambulavam entregues s suas vidas sem perigo Vamos morrer na mesma proferiu Matteo N o sabes isso Claro que sei Confia em mim Matteo disse lhe ela mirando o nos olhos enquanto os passos maquinais os levavam contra a vontade Confia em Deus Os pombinhos deixem a conversa para depois disse JC ao ouvido de Mia atrav s do auricular Est o a ver a fonte do lado do Pal cio Apost lico Dirijam se at l E depois perguntou Mia Calma N o tenhas pressa filha respondeu JC recuperando o tom doce e melodioso Mia a nica que ouvia as instru es de JC guiou Matteo at ao local especificado As palpita es aumentavam e come avam a latejar nos ouvidos como tambores que rufavam cada vez mais r pido e mais alto a anunciar o que estava para vir o que quer fosse seguramente mau Parem ordenou a voz de JC Mia puxou o bra o de Mat
109. o Pedro se seria nesse dia que um tiro disparado por algum irm o menos iluminado o levaria para junto do Senhor Por muito que encobrisse o medo continuava dentro de si Poucos o conseguiam ver mas estava l E preciso dar tempo ao tempo Diziam lhe os mais chegados Stanistaw Casaroli K nig preciso deixar passar algum tempo Mas o seu of cio n o esperava pelo tempo que era preciso dar n o se importava com os seus temores Exigia que desse tudo de si ao mundo sempre S o os des gnios de Deus proferiu Stanistaw quando Wojty a saiu do banho Ningu m o conhecia melhor Vamos trabalhar S o esses os des gnios de Deus para hoje observou o Sumo Pont fice bem disposto seguindo depois para o gabinete ao lado do quarto O sol forte que inundava Roma antecedia o Ver o que se aproximava Em breve assentaria o quartel general em Castelo Gandolfo at Outubro Essa mudan a de ares far lhe ia bem ainda que Castelo Gandolfo distasse apenas cerca de vinte quil metros de Roma O polaco gostava de dar uma vista de olhos na agenda antes da missa na capela privada Dia cheio constatou sem esbo ar qualquer reac o Na verdade come ou Stanis aw timidamente foi tudo adiado para data a definir Lolek Wojtyla gostava quando o fiel amigo o tratava pelo diminutivo afectuoso mas neste caso antevia problemas O que se passa perguntou com uma express o de preocupa o O Car
110. osos com casa de banho quarto de vestir e at um pequeno escrit rio privado Pousou a mala em cima de um estrado pr prio para esse efeito e desejou lhes boa noite A que horas acorda a senhora perguntou Jacopo s seis e meia informou o jovem Tenham uma boa noite repetiu O jovem seguran a saiu e fechou a porta atr s de si Norma sentiu um calafrio pela espinha abaixo que a fez arrepiar se Talvez fosse impress o sua mas sentia se observada por todos os ngulos Que senhora essa quis saber Norma com a curiosidade agu ada ao m ximo Raios mulher Que coscuvilheira resmungou Jacopo visivelmente irritado Mas afinal para onde raio me trouxeste insistiu Norma Pelo menos queria saber isso Onde estamos Jacopo sentou se na beira da cama e fitou a depois de respirar fundo Estava a raciocinar Norma conhecia o muito bem Reflectia na quantidade de informa o que lhe daria Numa casa segura Norma lan ou lhe um olhar inquisitivo Era suposto que ela soubesse o que significava a express o uma casa segura N o o eram todas uma casa oculta que ningu m conhece para onde s vem quem necessita de estar protegido em seguran a Norma ficou realmente preocupada pela primeira vez e sentou se ao lado do marido Estamos em perigo por alguma raz o Diz me a verdade Jacopo O historiador colocou lhe uma m o t mida no ombro e depois abra ou a
111. outro por baixo Pareciam estrelas mas Jacopo lera no jornal aquando da viagem de comboio para Veneza nessa manh que eram V nus e J piter Fora uma daquelas que os chamados reis magos seguiram quando Jesus nasceu N o deixava de ser interessante notar e Jacopo fazia sempre quest o disso quando o debatia com algu m que a chamada estrela guia dos reis magos era na realidade um planeta e que os supostos reis magos eram na realidade astr nomos Os Apeninos dominaram a paisagem durante grande parte do caminho at se transformarem em negrume juntamente com a noite Pararam apenas uma vez para abastecer Rafael nem perguntou a Jacopo se desejava comer ou beber alguma coisa ou simplesmente ir aos lavabos Por tr s ou quatro vezes deixaram a auto estrada para que Rafael visse se estavam a ser seguidos Contornaram rotundas entraram em estradas secund rias e quando a an lise era dada como conclu da regressavam auto estrada Em Bolonha seguiram pela A1 que os levaria directos a Roma e entraram na Toscana Cruzaram Floren a Arezzo entraram na Umbria e sa ram em Orvieto para verificar novamente se estavam a ser seguidos Seguiu se a prov ncia de L cio e ao fim de cinco horas e um quarto de viagem entraram no tr nsito que se aglomerava para entrar em Roma Jacopo j dormia e s se apercebeu que tinham chegado porque acordou quando uma travagem mais brusca o sacolejou dos bra os de Orfeu Estavam porta de sua casa na
112. par ssemos com o trabalho e obrigou nos ao dever de Totalis Secretum um procedimento normal nestes casos Duv lio entregou a Rafael uma encaderna o pequena bastante velha e usada At que encontrei isto Rafael pegou nela Parecia um caderno de apontamentos de capa dura bastante robusto e de boa qualidade O que isto Um di rio Rafael folheou o Estava escrito em alem o e tinha entradas desde 1960 A letra era bonita segura ligeiramente inclinada para a direita Reconheceu a imediatamente S n o percebia como que aquele caderno tinha ido ali parar Isto era da Pasqualina Correcto confirmou Duv lio com um aceno de cabe a N o havia nada sobre isso nos di rios do Santo Padre At encontrar esse livro nem sequer faz amos ideia que a madre Pasqualina escrevera um E claro que era perfeitamente natural que ela o tivesse feito e que n s n o t nhamos obrigatoriamente que saber da sua exist ncia J o tinhas visto Rafael fez um gesto negativo Continuava a folhe lo ao acaso Algu m fizera marca es no livro Peda os de cart o pequenos marcavam v rias p ginas Sempre que apanhava um passava os olhos r pidos pelo texto na busca de algo que chamasse a aten o Nunca sentira a necessidade de escrever um di rio Pensava que era uma perda de tempo De que servia deixar as perspectivas uns dos outros impressas no papel merc da posteridade Era um perigo E este exemp
113. pe a por pe a para poder ser usado em todas as situa es Entreabriu a porta Uma menina de 10 anos atravessou a nave a correr fazendo dela o seu imenso parque infantil Da sua posi o tinha um ngulo de vis o de quinze metros para cada lado Era mais que suficiente A m e veio busc la e deu lhe a m o para se irem embora A crian a fez birra tentando uma chantagem emocional que n o resultou O Franc s agradeceu Era melhor ela n o andar por ali A inoc ncia uma vez perdida n o podia ser recuperada e pelo contr rio as trevas uma vez contempladas nunca seriam esquecidas O Franc s era um censor n o um monstro A birra continuava enquanto a m e a puxava pelo bra o em direc o porta O Franc s assistiu a tudo isto pela mira telesc pica Ajustou o anel da objectiva e focou os alvos a m e e a filha ensaiando o destino de uma e de outra de dentro do confession rio Os ngulos estavam ajustados O resto j n o dependia dele Agora s lhe restava esperar O pior de tudo era a espera Alguns filamentos brancos emprestavam ao cabelo um ar grisalho que lhe assentava bem Era o encanto dos 45 anos que para ele lhe era indiferente mas fazia as mulheres olharem uma segunda vez para se desiludirem com aquele friso branco no colarinho o cabe o sinal de rela o pretensamente exclusiva com Deus Pai Todo poderoso Criador do C u e da Terra Caminhava a passos firmes senhores de si que faziam os cabelos loiros
114. pelo substituto o titular disse lhe que nunca tivera o privil gio de o conhecer De qualquer forma a sua vida era um mist rio Mais um ingrediente a acrescentar pensou Niklas na altura Rafael era um homem misterioso E a jornalista dizia que o conhecia Como que conhece o padre Rafael Sarah suspirou E complicado Sabe onde posso encontr lo perguntou a tentar esconder a sofreguid o da pergunta A jornalista encolheu os ombros O Rafael n o um padre como os outros como tu O que quereria a mulher dizer com aquilo Para al m da perfeitamente escalonada hierarquia cat lica onde figuravam o Papa os cardeais os arcebispos os bispos e os padres um padre era um padre Uns poderiam ter mais responsabilidades administrativas outros pastorais mas n o deixavam de ser padres aos servi o do Pai do Filho e da comunidade O que que quer dizer com isso Sarah n o sabia como responder Talvez tivesse falado de mais N o era suposto que meros padres tivessem conhecimento de outros que agiam na sombra para que eles pudessem cumprir os seus deveres com tranquilidade S espero que esteja tudo bem com ele pensou depois Digamos que ele um padre mais vocacionado para o servi o administrativo do que para o pastoral explicou evasiva Nesse preciso momento interrompendo a conversa a porta emitiu uns estalidos e ambos sentiram o cora o disparar Encostaram se o mais que puderam
115. perdi o Depois rumaria a casa aos seus livros sua colec o At ao pr ximo cliente O desaparecido Inventio Fortunata era finalmente seu 71 Anna vencera O nome do seu pai estava limpo e ela nunca existira Rafael fora um dos intervenientes principais nesse desfecho O cansa o levara o para mon logos beira mar e deambula es pela casa grande de Torano procura de Anna Ele bem gritava o nome dela mas apenas ouvia uma gargalhada long nqua de menina traquina Corria atr s da gargalhada desesperado irritado mas ela esvanecia se cada vez mais Depois ouviu aquela pergunta atr s dele Quando que teremos paz Desta vez encontrou a sentada numa cadeira Era o trono pontif cio da Bas lica de S o Pedro que ela ocupava trajada com as vestes pontif cias as m os pousadas nos bra os da majestosa c tedra em pose imperial Estendeu lhe a m o para que ele beijasse o annulus piscatoris Era Sarah e sorriu para ele Quando que teremos paz Sarah gritou ele quando acordou novamente no quarto Lamento desiludi lo ouviu uma voz responder Mas n o sou a Sarah Rafael tentou orientar se Quantas horas dormira Quanto tempo havia passado O quarto estava escuro Apenas a luz de um candeeiro de p que estava num dos cantos Conseguiu ver JC e o manco o mais velho sentado o mais novo de p como um seguran a de prontid o O que que est aqui a fazer perguntou Rafael suado e dorid
116. perfume dela e fechou os olhos Adeus Sarah N o queria que fosse assim 18 Os dias sucedem se uns aos outros numa cad ncia repetitiva que transforma o segundo em minuto hora dia semana m s ano depois tudo se repete os invernos os natais os ver es uma renova o permanente numa sucess o incess vel Sarah j vira este filme Lembrou se do Walker s Wine and Ale Bar em Londres h mais de um ano e das palavras dela e do sil ncio dele Um interl dio na forma de um Ad nis escultural chamado Francesco que n o aguentou a press o que era a vida dela Coitado Depois veio a doen a e toda a aten o de Rafael os Caffellatte fatias de panino ciabatta tartes de ma suco de laranja e p ssego ch croissants manteiga queijos e fruta os filmes as conversas os passeios os temperos dele No dia da vit ria sobre o tumor acontecia isto isto que nem sabia descrever o que tinha sido Esse tipo ainda n o percebeu que Deus n o est tua altura reclamou Vincenzo Sarah sorriu enquanto subiam no elevador ao oitavo andar N o devias estar em casa Vincenzo era o director do Grand Hotel Palatino onde normalmente Sarah ficava hospedada quando estava em Roma excepto nos ltimos meses Deu um pouco de folga gravata como se de repente tivesse sentido que o n n o deixava passar o ar O hotel est cheio Tr s grupos grandes H jogo da Liga dos Campe es Sabes como eu gosto de hooligan
117. perguntou Jacopo decidido a ignorar momentaneamente aquilo que faltava dizer Um pequeno recuo estrat gico E depois os cardeais votaram e ignoraram o pedido dele Teve ainda mais votos que na vota o anterior Foi eleito por unanimidade N o se repetiu o cen rio de 1922 Que cen rio Tu s fraco historiador n o s atirou Rafael em tom de provoca o T o bom como tu s padre Na elei o de Achille Ratti que adoptou o nome de Pio XI o primeiro eleito o cardeal Camillo Laurenti renunciou e pediu que o exclu ssem da vota o Nessa altura respeitaram a vontade dele E em 1939 n o Em 1939 n o Foi o in cio do ltimo pontificado ao estilo imperial Ainda n o disseste nada verdadeiramente interessante contestou o historiador J somos dois Voltaram a acercar se de uma das janelas grandes com vista sobre o Canal J n o chovia mas o vento recuperara a intensidade A mesquinhez do clima n o importunava o tr fego mar timo que mais parecia uma selva de barcos e barcas bat is e botes para um lado e para o outro segundo regras que s eles conheciam talvez torturando a gua acastanhada Como que ela est perguntou Jacopo depois de engolir em seco A recuperar Vai ficar bem respondeu ao mesmo tempo que lhe colocava uma m o em cima do ombro Sabia como a vida real era dif cil para o historiador Vai ficar bem Jacopo Rafael atentou nas
118. pessoas que estavam na sala Os dois casais n rdicos a recepcionista idosa de cabelo apanhado mais outro casal Todos pareciam tal como eles admirar os quadros expostos Um dos casais contemplava os com auscultadores nos ouvidos que explicavam cada uma das obras expostas na l ngua desejada Rafael encaminhou se para a porta Anda vamos sair daqui disse perempt rio O ar estava empestado com um odor nauseabundo e o pavimento molhado tornara se escorregadi o em algumas partes O Palazzo Dario amaldi oado e tombado para o lado esquerdo como numa penit ncia ficou para tr s Deambularam sem destino e taciturnos nos primeiros instantes Rafael saberia o que dizer e quando ou assim pensava Jacopo ansioso por atrasar o mais poss vel o que tinha para lhe contar O historiador n o era um operacional nem sequer o mo o de recados que estava a ser naquele momento O seu trabalho consistia em estudar examinar certificar validar no conforto do seu gabinete ou de um laborat rio junto s estantes dos livros dos velinos com a lupa sempre por perto A vida real era demasiado perigosa para homens como ele Lidara com muitas trag dias com cataclismos pestes guerras milhares e milhares de mortos mas todos impressos no conforto de um papel nos caracteres inanimados da hist ria Os ossos deixava os para os seus colegas arque logos e para homens como Rafael Temos um problema acabou por dizer J n o podia voltar
119. por toda a cidade Luka n o perdeu tempo a tentar cair nas gra as dele Enfiou Niklas pela abertura desviando o homem de idade e seguiu o sem pronunciar uma nica palavra Fa am de conta que est o em vossa casa resmungou o porteiro Atropelem me vontade que eu n o sou filho de Deus A idade n o lhe retirara o sarcasmo Luka e Niklas n o prestaram grande aten o ao local escolhido por Puccini para protagonizar o primeiro acto da pera Tosca embora nunca ali tivesse sido apresentada ou pelos Piccolomini para albergar dois antepassados Pio II e III para a eternidade Nem sequer admiraram a segunda maior c pula do mundo projectada por Carlos Maderno o mesmo que fora nomeado arquitecto principal da Bas lica de S o Pedro a pouco mais de dois quil metros dali Tinham outras prioridades Encontraram no na parte direita do transepto joelhos dobrados m os sobre o rosto l bios a sibilar uma ladainha silenciosa ou um pedido pessoal a San Andrea Avellino o protector das causas imprevistas a quem era dedicada a capela lateral Se sentiu os passos deles n o o demonstrou Prosseguiu a ora o mais alguns minutos Luka tornou a pousar a m o protectora sobre o ombro de Niklas e levou o dedo indicador aos l bios a pedir sil ncio Do homem de idade que lhes abriu a porta n o havia sinal Talvez estivesse a ver na televis o a sua amada AS Roma a jogar contra o Inter J tivera a sua dose di ria de crentes e
120. postura provocat ria Assistiu conclus o da revista Um len o feminino Gostaria de ficar com ele pediu Rafael Logo se ver respondeu Cavalcanti O post it foi encontrado a seguir Um papel cor de rosa quadrangular com rabiscos em italiano O agente entregou o pequeno bilhete a Gennaro Cavalcanti depois de o ter colocado dentro de outro saco de provas para posterior an lise laboratorial como fizera com o len o de Sarah O inspector leu o curioso Enquanto juntava as palavras fazia pausas para fitar Rafael e Guillermo At quando vamos andar ao jogo do gato e do rato Levamos a mulher para o estimularmos a proceder da forma mais correcta no caso de o rapaz n o ser suficiente o que duvidamos padre Rafael Temos mais uma surpresa esta noite Isto n o o procedimento normal Cavalcanti atacou Guillermo numa ltima tentativa de protesto que seguramente sairia gorada Devias deixar os meus homens processar a cena do crime primeiro Cavalcanti sorriu sarcasticamente Estes que est o aqui mortos N o me parecem em condi es de investigar o que quer que seja Denotava se algum prazer na voz do inspector italiano Depois empregou um tom s rio Quem s o eles Guillermo mostrou se apreensivo A s rio Tomasini N o sabes quem s o Raios te partam Vens falar me de indec ncia Tem vergonha meu facinora O homem do Vaticano engoliu em seco e baixou a cabe a S o t
121. pouco fizera h muito tempo Desejava sinceramente n o voltar a ser apanhada num turbilh o como aquele em que se encontrava Infelizmente os cord is com que a Igreja embrulhava os seus problemas rebentavam sempre do lado mais fraco Queria culpar algu m Pensou em Rafael mas por ele ela estaria a caminho de Londres qui j na cama em Chelsea Quando que teria um momento de paz Todos estavam entregues aos seus pensamentos e s suas dores quando um estalido na porta lhes chamou a aten o O medo tomou conta deles e a cada estalido da fechadura a ansiedade aumentava provocando lhes calafrios e suores frios De repente o ru do cessou e nada aconteceu Ficaram em suspenso sem fazer retomar o torvelinho ruidoso dos pensamentos em que se tinham afundado antes do primeiro estalido Passaram uns instantes Uma eternidade A afli o manteve os alerta preparados para o pior At que a porta se abriu 56 Ele n o est no Vaticano avisou Girolamo agastado Solicitou um carro garagem h cerca de uma hora e meia logo depois de ter reunido comigo Quem foi o motorista designado perguntou o Cardeal Secret rio de Estado com uma express o esperan osa O monsenhor dispensou motorista Saiu pela porta da Sant Anna s cinco e meia Raios o piemont s bateu com o punho na sua pr pria coxa Onde que ele ter ido Dei a matr cula da viatura aos colegas da Polizia Stradale Se al
122. qualquer ag ncia de servi os secretos do mundo Quem foi perguntou depois de se certificar que n o havia mais nada aberto N o sabemos O alem o come ou a andar de um lado para o outro exasperado arrastou uma cadeira sentou se e respirou fundo Instantes depois levantou se e recome ou a deambular pelo sal o Como que isso aconteceu perguntou finalmente Ainda n o sabemos E o resgate N s n o somos ricos Levou uma m o cabe a e depois olhou para Rafael como se de repente tivesse come ado a raciocinar O senhor disse trinta e cinco horas Rafael anuiu com a cabe a Cavalcanti deu um passo vigoroso em frente Devo informar que a Polizia di Stato foi informada sobre este rapto h pouco menos de uma hora e n o recebeu qualquer pedido de ajuda por parte da Santa S O embaixador ouviu as palavras do inspector e desviou a cabe a para Rafael com uma express o circunspecta Levaram trinta e cinco horas a chegar aqui Rafael nem tempo teve de censurar Cavalcanti N o fora embaixada alem para tratar de minud ncias nem discutir culpas a raz o era outra N o era suposto que os senhores fossem informados Nem antes nem agora respondeu Rafael O embaixador engoliu em seco N o disse que vinha em nome do Santo Padre Era a nica forma de me receber Pe o desculpa O Santo Padre nem sonha que estou aqui O tempo para o resgate termina s oi
123. que estavam a escassos minutos da hora H Jogara as cartas que tinha em seu poder o melhor que sabia e naquele momento n o podia fazer mais nada a n o ser esperar que tudo tivesse o melhor desfecho O Cardeal Secret rio de Estado diria que estava nas m os de Deus Pois que assim fosse Cavalcanti olhou para o intendente e sorriu maliciosamente N o fa as planos para a vida para n o estragares os planos que a vida fez para ti Girolamo desviou o olhar do inspector e concentrou se na estrada Deixaram a Via del Plebiscito e entraram no Corso Vittorio Emanuele II Faltavam poucos quil metros para o destino Espero que a tua gente n o falhe Rafael amea ou Girolamo ainda que parecesse mais um desabafo devido tens o que reinava no carro Est muita coisa em jogo Os segundos tiquetaqueavam mentalmente nas cabe as de todos uns a seguir aos outros Um dois tr s quatro cinco numa cad ncia infinita impar vel insens vel aos desejos humanos O motorista abrandou ao atravessar a ponte Vittorio Emanuele II por causa do sem foro vermelho entrada da Via Pio X e ligou o pisca esquerdo Os estalidos sonoros matraqueavam o ar refor ando os tiquetaques do rel gio Rafael manteve se em sil ncio ignorando o olhar perscrutador de Girolamo N o tinha nada para dizer Ningu m falharia do seu lado mas isso n o augurava um desfecho agrad vel para nenhuma das partes O intendente queria Anna e Niklas mortos Ver s
124. rias dessas noites de ins nia que eram iguais a todas as outras h quase tr s d cadas Arrependia se mal passavam da garganta e iniciavam a inexor vel descida pelo es fago com a senten a gravada pela primeira vontade Quando o arrependimento chegava um pouco mais tarde corria a puxar O v mito tenaz recuperador salvador E quando isso n o resultava acordava o irm o Pedro que partilhava com ela a triste sina das impostas vontades Atarantado levava a ao hospital aflito a rogar lhe que lhe prometesse que n o voltaria a faz lo Ela n o se lembrava se dizia alguma coisa nessas alturas que acalmasse o esp rito angustiado do irm o No hospital aconteceu em todas as vezes era levada para uma rea privada longe de olhares maledicentes e intriguistas onde lhe lavavam o est mago dos comprimidos letais O homem com cabe o branco a sobressair da gola da camisa aparecia sempre no fim da limpeza e ajoelhava se durante longos minutos aos p s da cama m os coladas uma outra cabe a baixa olhos cerrados l bios a sibilar em sil ncio as palavras da salva o Por vezes via o irm o a trocar palavras breves com ele O padre colocava lhe uma m o no ombro para o aquietar e sa a do quarto sem nunca lhe dirigir um cumprimento nem qualquer outra sauda o Ele j tinha falado tudo com ela Estava habituada s sentinelas que lhe velavam a porta de entrada do apartamento sempre do lado de fora sem pretens o de importunare
125. sabia a resposta Agora estavas a mudar fraldas e a dar lhe de comer na boca Rica vida o teu pai desejava para ti acrescentou em tom de provoca o Norma demorou algum tempo a responder N o que n o tivesse a resposta j preparada era dif cil apanh la desprevenida talvez mesmo imposs vel mas porque sabia que a espera irritava o marido N o costumavam estar acordados quela hora mas pelos vistos nem de madrugada se poupavam a discuss es Era assim h mais de trinta anos J era vi va meu menino E estaria a receber uma pens o choruda do estado O que que tu recebes por trabalhar para a Santa Madre Igreja Telefonemas a meio da noite Persignou se no fim N o se importava de brincar com a Igreja mas o temor a Deus era mais forte e n o queria ser castigada por Ele por n o saber calar as provoca es A viagem continuou nesse tom quase at ao seu destino sendo interrompida por duas vezes A primeira porque Jacopo sentiu uma s bita e improtel vel vontade de ir casa de banho e a segunda porque entendeu que Norma o afrontara na sua honra de uma forma t o gravosa que se recusara a continuar a viagem enquanto ela n o emitisse um sonoro e sincero pedido de desculpas Norma n o era mulher de pedir desculpa a vivalma muito menos a Jacopo Sebastiani e manteve se muda e calada parados na berma da autoestrada no escuro da madrugada campesina junto sa da de Valle del Salto onde n o se via uma n
126. se manter cordial Ser que o Col gio podia dar me mais algum tempo para me organizar e tomar algumas provid ncias O cardeal tirou os p s de cima da secret ria e inclinou se para a frente Entran ou as m os em cima do tampo de mogno Perfeitamente madre Pasqualina Tem at s oito da noite para abandonar a Santa S N o havia nada a fazer Tisserant n o cederia Muito bem aquiesceu a madre resignada Folgo em saber que o estalo que lhe dei em 1943 ainda Ihe d i Relembrou a altura quinze anos antes em que Tisserant irrompeu pelo gabinete do Papa e disse O cabr o do Mussolini foi preso Pasqualina acercou se dele e esbofeteou o com toda a for a de que foi capaz N o eram modos nem palavras admiss veis na presen a do Santo Padre mesmo vindos de um cardeal t o intempestivo como Tisserant Ningu m disse mais nada e o franc s retirou se quando se apercebeu que Pio estava do lado da freira Agora n o havia Pio para defend la Restava apenas uma mem ria e essa n o defendia ningu m Virou as costas ao franc s e avan ou para a sa da Tisserant fitou a frustrado A alem nunca se rebaixava Aproveite e leve tamb m o p ssaro J n o precisamos de si nem dele O conte do dos ltimos vinte anos de uma vida dedicada a um homem cabia em duas pequenas malas N o se censurava Fez sempre o que quis Nunca ningu m a obrigou Nem mesmo o pai George quando a proibiu de ingressar no c
127. sequer mentalmente Lembrou se de Rafael e de como ele tentou o mesmo quando se conheceram A diferen a que o seu Rafa n o insistiu quando viu que era demasiado doloroso recordar Naquela noite seria diferente O presente nunca deixava o passado afastar se traziaco sempre na peugada denunciado pelas mem rias Era imposs vel esquec lo ou apag lo por muito que se tentasse e acabava sempre por apanh lo e tornar se nele mais cedo ou mais tarde vingativo cat rtico implac vel Antes de conhecer o Rafael vivia noutra casa respondeu Onde Aqui perto Giorgio sorriu Era t pico de Rafael manter o statu quo manteve a assim mesmo nas barbas dos inimigos t o perto que n o a conseguiam ver por estar mesmo debaixo dos olhos Ele apercebeu se do desconforto dela mas aquela mulher guardava tanta coisa que ele desejava saber Focou intensamente o seu olhar e deu lhe a m o novamente Pode falar me sobre os seus pais Os olhos de Anna marejaram se A hist ria dos pais era intensa e tr gica ignorada pelos olhares reprovadores do mundo que perscrutavam os corredores e os gabinetes espiavam por detr s dos quadros e se escondiam nos nichos das est tuas em busca de sangue para saciarem a sede de maledic ncia O passado sempre ele no encal o dos que queriam simplesmente esquecer Giorgio acariciou lhe o cabelo loiro alvacento que herdara seguramente da m e alem O senhor conhece os melho
128. simpatia do que por verdadeira vontade de rir O senhor n o crente perguntou a irm Bernarda nascida Mia O velho fez que n o com a cabe a Quando se vive o que eu vivi e se testemunha o que eu testemunhei s se pode concluir que Deus n o existe ou est de f rias respondeu com veem ncia J tinha ouvido algu m dizer algo do g nero Pois O que n o falta no mundo s o idiotas e esses tanto faz que sejam crentes ou n o JC encostou a bengala ao bra o do sof e recostou se Parecia cansado A respira o era aud vel um apelo por ar que lhe alimentasse os pulm es N o acredito em algu m que tem gosto em ver nos envolvidos em lutas a matar nos uns aos outros a competir ferozmente para sobreviver e no fim disso tudo como se n o bastasse d o pr mio depois da morte no al m um absurdo sem p s nem cabe a E n o pense que perco o sono a pensar nas criancinhas que passam fome em Africa ou no trabalho infantil na Asia N o obra de nenhum deus mas sim do Homem Todos sofrem sua maneira s que uns fazem no em cima de uma cama aconchegados por cobertores enquanto outros est o chuva e ao frio N o se iludam a nica coisa que verdadeiramente impera neste mundo como Darwin bem disse a lei do mais forte Os outros ou cumprem ou morrem O mundo na realidade muito simples Matteo e Mia escutavam a fria disserta o do velho sem saberem o que pensar Por um lad
129. sinal do embaixador Nicole fitava Rafael com uma express o que misturava o dio o desespero e outra coisa qualquer N o se importava com mais nada a n o ser o seu filho Niklas Nem Klaus era importante esse tornara se num mero conhecido com quem partilhava a cama h muito tempo Nunca pensou rever aquele padre abjecto e ainda por cima mensageiro de m s not cias O passado ficara para tr s Tentara esquec lo usando o simples artif cio da n o recorda o como se n o lembrar apagasse o que acontecera E agora Quais s o as nossas op es perguntou com a voz chorosa Alto l interrompeu Cavalcanti N o me v o deixar no escuro Olhou para o padre Explicas te por favor J percebeste tudo O Niklas meu filho Aconteceu disse sem desviar o olhar da embaixatriz Eu tinha acabado de ser colocado em Munique a Nicole estava a terminar o curso na Ludwig Maximilians e aconteceu Aconteceu repetiu Cavalcanti com cinismo E como que o senhor padre acabou na cama com a senhora embaixatriz Ou foi uma imaculada concep o Nicole baixou o olhar e mais l grimas escorreram pelo rosto Acabou por fechar os olhos como se tal aplacasse a m goa que lhe enchia o peito Es suficientemente adulto para saber como se fazem essas coisas N o vou entrar em pormenores A Nicole foi uma v tima da minha inexperi ncia A palavra que procuras pulhice penso eu co
130. tempos em que ia levar o dinheiro a rsula todos os meses e o via brincar na sala ou no quarto Agora que o conseguia ver bem ali a algumas dezenas de metros conseguia aperceber se das semelhan as fision micas com o irm o que falecera h trinta anos Vinte segundos Matteo n o podia continuar a pagar pelos erros dos outros J o fizera demasiadas vezes Pagara um pre o muito alto por ser ilho de quem era Dez segundos Mirou mais uma vez o rapaz j homem que vencera pelos pr prios meios na bela Verona de Romeu e Julieta Cinco segundos Tirou o telem vel do bolso e fez a chamada Rafael disfar ou o sorriso e o al vio que sentiu por ver Girolamo ligar para quem devia para acabar com aquela situa o Pensou em Sarah e em como ansiava v la novamente s e salva Girolamo desligou e voltou a guardar o aparelho no bolso E agora perguntou o intendente para o outro telefone Queremos ver o jovem padre obviamente Rafael e Girolamo olhavam para todos os lados Os agentes alem es tamb m Os turistas enchiam a pra a mas os olhos deles estavam treinados para descortinar alvos no meio das multid es Onde que eles est o Comte perguntou Rafael impaciente O intendente nada disse Sabia o que estava em jogo Voltou a mirar Matteo que mal imaginava o que estava a acontecer ainda que o medo estivesse bem estampado no seu rosto Est o ali disse Rafael assim que os viu passar a abertura das g
131. tr s andares em tonalidades de branco e cinzento O homem de Deus sentiu um aperto no cora o medida que se aproximavam do destino O su o parou junto porta principal e saiu do carro abrindo desajeitadamente um chap u de chuva para proteger o prelado da chuva forte O cl rigo olhava fixamente para a porta principal da mans o O que estou aqui a fazer meu Deus O motorista abriu lhe a porta e o vento inundou o interior do carro sem permiss o O homem respirou fundo antes de sair da viatura Chegara o momento de se livrar das d vidas que o corro iam A chuva intensa n o deixou ouvir o carro chegar N o fez diferen a Ela sabia Ele ausentara se de Roma h alguns dias e ningu m tinha conhecimento do seu paradeiro N o precisava que lhe dissessem mais nada Ningu m o conhecia melhor A forma como ele pensava como geria os sentimentos as d vidas Receava que a perspic cia dele o levasse ao retiro mais cedo ou mais tarde N o podia vir em pior altura Um dia depois e ele nunca saberia O suor pespegava a roupa ao corpo da freira e a respira o ofegante denotava esfor o Estava deitada de barriga para cima de pernas abertas uma posi o nada confort vel para quem estava habituada a ocultar se debaixo das roupas A parteira estava ajoelhada entre as pernas dela com uma m o apoiada no ventre Sonja de h bito azul escuro entrou afoita nos aposentos segurando toalhas dobradas nas m os e olhou timidamente a fr
132. varanda O frio entrava pelas frinchas da roupa provocando lhe arrepios na pele mas ela gostava da sensa o Pareciam agulhas a sacudi la da letargia e a acord la para a vida Sentou se numa das pesadas cadeiras de ferro e fitou a impon ncia do c u silente majestoso estrelado Do a Recriminava se por n o poder controlar a dor que a fazia sofrer tanto O dia come ara t o bem com uma not cia de vida um prazo de exist ncia prorrogado uma carta de alforria que a libertava do peso da morte que havia pairado constantemente nos ltimos meses e nem essa grandiosidade a fazia feliz Queria ouvir os grilos as cigarras os zumbidos dos insectos mas s lhe chegava o rufar artificial e cruel da natureza humana Sarah fechou os olhos e deixou se ficar a ouvir Um carro uma motoreta uma gargalhada conivente duas uma voz masculina uma donzela indefesa com vontade de acreditar no amor e entregar o cora o um coro de rapazes a discutir a virilidade conversas e mais conversas numa verborreia ininterrupta em crescendo Roma adormecia tarde quase sempre muito depois da meia noite mas acabava sempre por adormecer Pensou nele outra vez os passeios c mplices nas vielas os jantares o cuidado os livros do Nicholas Sparks Sabia que inevitavelmente a vida de casal id lico terminaria e que ia doer mais que uma faca entranhada no ventre mas n o tinha de ser assim Ouviu o seu telem vel soar no quarto e levantou se com esfor
133. 007 A Virgem 2009 e A Mentira Sagrada 2011 As suas obras est o publicadas em mais de 30 pa ses e foi o primeiro autor portugu s a entrar para o top do New rk Times O ltimo Papa bestseller internacional vendeu mais de meio milh o de exemplares em todo o mundo LU S MIGUEL ROCHA A FILHA DO PAPA Pe Ecion A Filha do Papa Lu s Miguel Rocha Publicado em Portugal por Porto Editora Lda Divis o Editorial Liter ria Porto E mail delportoOportoeditora pt O 2013 Lu s Miguel Rocha e Porto Editora Lda Design da capa XPTO Design Imagens da capa Shutterstock e iStockphoto 1 3 edi o em papel Mar o de 2013 Reservados todos os direitos Esta publica o n o pode ser reproduzida nem transmitida no todo ou em parte por qualquer processo eletr nico mec nico fotoc pia grava o sistema de armazenamento e disponibiliza o de informa o ou outros sem pr via autoriza o escrita da Editora Por decis o do autor o presente livro n o segue o novo Acordo Ortogr fico GINAL DIGA N O C PIA E Porto Editora 365 Rua da Restaura 023 ortoeditora pi A c pia ilegal viola os direitos dos autores ISBN 978 572 Os prejudicados somos todos n s Este livro dedicado a Pius PP XII Eugenio Pacelli 2 111 1876 9 X 1958 Que salvou milhares e Madre Pasqualina Lehnert Que salvou um 1 2 PARTE MISERERE M principalmente at
134. 9 Tornou se no bra o direito de Pio Nono e devido s rela es privilegiadas com a aristocracia romana e italiana foi confundido com eles Os Pacelli transformaram se nos melhores advogados can nicos do Vaticano Rafael chegou nesse momento com o copo de gua e entregou o a Duv lio contrariado Arrastou outra cadeira e sentou se desinteressado do relato Provavelmente Duv lio n o diria nada que ele j n o soubesse O relator bebeu um gole de gua para humedecer os l bios antes de continuar Os Pacelli eram brilhantes advogados can nicos O jovem Eugenio vivia com os pais o av e os irm os num apartamento na rua Degli Orsini Cedo se mostrou aberto ao mundo da Igreja Com 8 anos come ou a ajudar na Chiesa Nuova como ac lito nas celebra es eucar sticas de um primo E como muitos rapazes destinados vida eclesi stica a sua brincadeira avorita era justamente a celebra o eucar stica que fazia no seu quarto imaginando as vestes do cl rigo que ainda lhe estavam vedadas em t o enra idade Quando tinha 10 anos chegou a celebrar uma missa completa na casa de uma tia que estava doente e n o podia ir igreja E inclu a tudo Os quatro ritos os iniciais da palavra sacramentais e finais E no rito da palavra incluiu a Primeira Leitura o Salmo Responsorial a Segunda Leitura a Aclama o ao Evangelho a Proclama o do Evangelho a Homilia a Profiss o de F e a Ora o da Comunidade N o faltou nada A
135. Amadeo vai saber disto Cavalcanti advertiu Guillermo E o Santo Padre tamb m Gennaro Cavalcanti levantou se da cadeira e sorriu Espero bem que sim Tomasini Espero bem que sim 41 Lucarelli Monsenhor Stephano Lucarelli E quem Esperava que vossa Excel ncia Reverend ssima me explicasse Afinal a ordem partiu deste gabinete e est assinada por si Giorgio o belo levantou se da cadeira e fitou o homem que estava sentado sua frente De que raio estava Comte a acus lo O sujeito parecia cansado N o era de todo normal que um encontro destes ocorresse de madrugada mas aquela noite estava a ser muito diferente das outras Explica te Girolamo pediu Giorgio Chegou uma ordem ao retiro das irm s da Santa Cruz em Trento Foi por telefone e a prioresa garantiu que quem falou se apresentou com o nome de vossa Excel ncia Reverend ssima Reservou todo o terceiro andar para esse tal Stephano Lucarelli Giorgio virou lhe as costas e deambulou pelo seu gabinete Na verdade era o do Papa pois ele tinha apenas uma pequena sala ali perto que dividia com mais tr s colegas O seu trabalho era feito ao lado do Santo Padre a odas as horas que ele necessitasse o resto era feito em sil ncio como neste caso sem o conhecimento do herdeiro de Pedro Poup lo ia a tudo o que pudesse O Papa Bento j tinha muito com que se preocupar todos os dias a todas as horas a vida inteira
136. Anna com o cora o aos pulos Guardou a garrafa de gua no frigor fico colocou os dois copos na banca para depois a empregada lavar durante o dia e saiu da cozinha Venha disse para Jacopo que a seguiu sem saber muito bem porqu Sa ram para o corredor coberto por uma luz minguada parca mas mais que suficiente para verem onde estavam Anna seguia frente devagar os passos controlados pela idade e Jacopo atr s atento com os nervos em ranja a quererem saltar do corpo para se refugiarem do perigo Percorreram o corredor sem que o historiador conseguisse detectar em que direc o seguiam estava completamente perdido no meio daquele labirinto de cimento armado Alguns metros mais frente Anna virou esquerda e parou junto a uma porta met lica e muito pesada que parecia estar a guardar um cofre Ao lado na parede havia um teclado alfanum rico Ela pressionou algumas teclas e a porta abriu se para tr s com um bafo mec nico L dentro estava escuro viam se apenas cinco monitores que mostravam as reas comuns do edif cio bem como imagens do exterior Estamos numa das salas de seguran a Temos tr s Se alguma coisa acontecer poderemos refugiar nos aqui esclareceu com tristeza na voz Ensinaram me isto h muito tempo Jacopo decidiu amenizar um pouco o ambiente soltando um sorriso ainda que por dentro estivesse nervoso A sala estava vazia Concentraram se nos cinco monitores As imagens mudavam
137. As identidades ser o tornadas p blicas assim que as respectivas fam lias forem informadas Isso deve ser respeitado A descri o do que aconteceu n o f cil de comunicar mas ordem do Santo Padre que nada se omita para que se evitem mal entendidos e teses antasiosas Os motivos do crime foram passionais O jornalista inconscientemente impulsionou este tr gico final ignorando que tamb m o vitimaria Estando a efectuar uma investiga o livre em Roma sobre o trabalho do Col gio de Relatores com as devidas autoriza es do Vaticano imiscuiu se em assuntos privados de um dos relatores e desvendou uma rela o il cita que este mantinha com a esposa de um dos gendarmes N o ser o fornecidos mais dados sobre a senhora em quest o que est neste momento em estado de choque e a receber acompanhamento psicol gico Compreender o que n o ser f cil lidar com tal realidade e a perda do marido nestas circunst ncias Num acto tresloucado o gendarme atirou sobre o relator e o jornalista e os colegas que o acompanharam tentaram domin lo mas sem sucesso Fora de si atirou sobre eles tamb m e no fim acabou por colocar um ponto final sua pr pria vida Seguindo a pol tica de transpar ncia preconizada pelo Santo Padre coloco vos tamb m ao corrente de outras tr s v timas mortais dos actos resloucados deste gendarme noutros locais da cidade na sua busca pela verdade que o jornalista sem querer desenterrou Foram dois r
138. Continua Tudo foi cumprido conforme o pedido de vossa Excel ncia Reverend ssima continuou o inspector enfatizando o substantivo O monsenhor ficou quatro noites deixou o retiro entre a madrugada e a alvorada do quinto dia ou seja ontem de manh ter a feira N o h testemunhos Gostou tanto do trabalho da freira que o serviu que pediu a Vossa Excel ncia para a trazer com ele Pedido que Vossa Excel ncia Reverend ssima concedeu obviamente Notava se alguma ironia na voz A ordem seguiu do seu email Do meu Girolamo anuiu com a cabe a Giorgio contornou a secret ria e regressou ao seu lugar ou melhor dizendo ao lugar do Santo Padre que ele apenas ocupava por conveni ncia Ligou o monitor do computador usou o rato e dedilhou um conjunto de comandos no teclado para obter acesso conta de email Procurou entre as mensagens enviadas e encontrou na manh do dia anterior s nove e vinte e sete o pedido em benef cio do monsenhor Stephano Lucarelli dos servi os da irm Bernarda de 23 anos Assinava o documento electr nico a Excel ncia Reverend ssima Giorgio em nome da vontade do Santo Padre Como que isto poss vel Como que acederam minha conta de email e enviaram esta mensagem E de onde Quem a irm Bernarda perguntou Giorgio perplexo Girolamo pegou num bloco de notas pequeno e folheou o procura da resposta Uma freira da ordem de Santa Cruz Fez os voto
139. Excel ncia Aconteceu uma trag dia 42 Tarcisio persignou se e enquanto se ajoelhava beijou a cruz de ouro que lhe pendia altura do peito Uniu as palmas das m os apoiou gentilmente a cabe a nelas e fechou os olhos Todos os filhos de Deus mereciam uma prece para que fossem acolhidos pelo Pai o supremo juiz dos actos que haveria de decidir sobre o destino de todos Os param dicos que transportavam os corpos aguardavam com as macas alinhadas umas ao lado das outras observando o cardeal genuflectido em sinal de respeito Tr s dos corpos j tinham sido encaminhados para as ambul ncias mas o Secret rio pediu que os fossem buscar trazendo tamb m o agente que tinha perecido na portaria O ritual dizia respeito a todos Deus n o virava as costas a nenhum dos Seus filhos Ningu m se atrevia a fazer o mais pequeno barulho O segundo homem mais importante do Ocidente cujo minist rio influenciava a vida de mil e duzentos milh es de fi is o primeiro atrever se iam a dizer alguns mais temer rios estava mesmo ali na frente dos agentes da pol cia italiana a beneficiar da sua liga o privilegiada com o Alt ssimo Gennaro Cavalcanti observava a cena com desd m um cigarro na boca com mais cinza que tabaco a pender periclitantemente Guillermo tamb m imitara o cardeal ajoelhando se assim como meia d zia de prelados e alguns agentes sob a al ada de Cavalcanti mais sens veis ao mundo do al m Davide Arturo um outr
140. John Scott era um idiota J passara por situa es semelhantes evidentemente Ningu m fazia o que ele fazia sem criar alguns inimigos Alguns telefonemas a meio da noite com uma voz s ria a amea lo de morte ou da quebra de alguns ossos do corpo ou do corte de algumas partes sens veis Mas nunca passou disso Sabia que o seu nome impunha algum respeito Fazer lhe mal era perder Preferiam caminhos mais subtis como um carro uma viagem uma oferta em dinheiro ou uma mulher deslumbrante que de repente se apaixonava perdidamente por ele e queria despir se na sua cama ou em qualquer quarto desde que ele estivesse presente Os criminosos americanos e ingleses tinham estilo atentavam ao car cter aos v cios s fraquezas humanas Ali na Cidade Eterna nada disso se aplicava Era um estrangeiro no meio de uma investiga o muito estranha N o tinha ningu m a quem recorrer a n o ser Sarah Sem ela teria de pedir ajuda Embaixada do seu pa s ou meter se num avi o e fugir dali a sete p s Conhecia bem os m todos italianos muito diferentes dos americanos e ingleses N o perdiam tempo com subtilezas nem com as convenientes explora es do g nero humano Em Roma os inconvenientes eram eliminados e atirados ao Tibre sem apelo nem agravo sem justi a Olhou para a entrada do bar pela milion sima vez desde que ali entrara Qualquer ru do ou movimento brusco real ou imagin rio fazia o desviar os olhos para a nica entrada que ha
141. LU S MIGUEL ROCHA O 1 ESCRITOR PORTUGU S NO TOP DO NEW YORK TIMES A FILHA DION YN BAN DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra A presente obra disponibilizada pela equipe Le com o objetivo de oferecer conte do para uso parcial em pesquisas e estudos acad micos bem como o simples teste da qualidade da obra com o fim exclusivo de compra futura ivros e seus diversos parceiros expressamente proibida e totalmente repud avel a venda aluguel ou quaisquer uso comercial do presente conte do Sobre n s O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conte do de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita por acreditar que o conhecimento e a educa o devem ser acess veis e livres a toda e qualquer pessoa Voc pode encontrar mais obras em nosso site LeLivros Info ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento e n o mais lutando por dinheiro e poder ent o nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nivel BUIVTOS LU S MIGUEL ROCHA fala sobre A Filha do Papa exclusivo e book LU S MIGUEL ROCHA nasceu na cidade do Porto em 1976 onde mora actualmente depois de ter residido dois anos em Londres Foi rep rter de imagem tradutor e guionista actualmente dedica se em exclusivo escrita 4 Filha do Papa o seu sexto livro depois de Um Pa s Encantado 2005 O ltimo Papa 2006 Bala Santa 2
142. Levantou se e dirigiu se a outras divis es do apartamento Estava indignado Girolamo o intendente da Gendarmaria Vaticana devia ter providenciado seguran a para Bertram e para os outros relatores Era o mais l gico a fazer Entrou num quarto e saiu de l com um len ol azul claro que usou para tapar o corpo Fez uma reza interior s para si e para Ele e persignou se Descansa em paz Bertram Virou se para Arturo O Comte n o mandou para aqui ningu m Ele disse que tratava disso N o est c mais ningu m protestou Rafael apontando para o len ol que tapava o corpo de Bertram Cabr o Sarah apercebeu se do transtorno que Rafael tentava disfar ar Provavelmente era um amigo mais um a deix lo sozinho no mundo cada vez mais sozinho Os padres deram uma vista de olhos ao apartamento Era espa oso sobriamente decorado confort vel Devia ser um local acolhedor para se viver antes disto Olha ali Rafael apontou Arturo para um espelho Nele estava colado um post it amarelo Rafael arrancou o e leu o Os dois jornalistas ficaram parados a olhar para ele espera que desvendasse o mist rio do papel amarelo e acabasse com a curiosidade deles mas o padre limitou se a mostr lo a Arturo e depois guardou o no bolso do casaco O que fazemos com eles perguntou Arturo referindo se a Sarah e John O jornalista americano ficou com a boca seca de repente e agarrou no rev lver Amtec
143. Matteo O mundo feito de vil es e her is Eu n o sou uma coisa nem outra Divirto me em ambos os lados conforme me d jeito Desta vez e ao contr rio do que possas pensar estamos aqui para defender os her is dos vil es que lhes querem fazer mal Depois o idoso fez um sorriso c ustico E podes tratar me por JC 28 Que conversa essa interveio Sarah a medo Matar nos aos dois Est o doidos Rafael e Arturo continuavam a medir se como num duelo do velho Oeste espera de saberem quem era mais r pido a disparar A bola estava do lado de Rafael e n o lhe restava muito tempo para reagir Os jornalistas estavam incr dulos Sarah n o conseguia crer que Rafael lhes fizesse mal Seria o desfecho mais triste de sempre Cuidar dela durante tantos meses para no dia da esperan a terminar tudo assim Seria uma trag dia grega de fraca qualidade Os dois padres Rafael e Arturo Tudo dependia deles agora Pa pa parem ouviu se a voz tr mula de John dizer com o rev lver Amtec de cinco balas apontado aos padres N o queria morrer naquela noite naquele dia A imagem da doutora Pratt M D veio lhe cabe a As pernas cruzadas com meias acetinadas o sorriso pl cido Sarah ficou boquiaberta com a atitude do colega O que est s a fazer John Guarda isso O que se passou depois aconteceu muito rapidamente Arturo recuou um passo atento ao rev lver de John e Rafael investiu na direc o do c
144. N o vou voltar a colaborar e espero n o tornar a ouvi lo O JC acabou com o Rafael Oh Sinto me t o ofendido Sarah Depois de tudo o que fiz por si respondeu com uma express o de falsa ofensa A Sarah vai fazer mais uma viagem e livra se de mim de vez Vou fazer uma viagem verdade mas para casa disse a jornalista ignorando JC Est um carro sua espera porta do hotel informou JC num tom muito s rio Sarah olhou para a porta girat ria e viu um Mercedes negro de vidros fumados estacionado no exterior com o motor ligado N o estou a brincar continuou JC A Sarah vai entrar no carro e ele vai lev la ao aeroporto de Fiumicino Procure o voo da Alitalia com destino ao Rio de Janeiro E s fazer o check in Sarah sentiu se perdida As l grimas regressaram Ele n o ia deix la em paz Promete me que depois posso voltar para casa Depois far o que bem entender Sarah Tem a minha palavra Poder passar f rias na praia ou regressar a Londres A Sarah merece ter alguma paz A jornalista reflectiu uns segundos N o teria hip tese Iria ao Rio de Janeiro E depois Dirija se ao hotel Copacabana Palace quarto 509 O seu contacto estar l e tratar do resto OK acedeu Sarah agarrando o len o que trouxera do hospital com mais for a Vou ao Rio e depois regresso a Londres Vai ao Rio e depois regressar a Londres repetiu JC Fa
145. Nem os Saboia o fizeram Pio XI necessitava da indemniza o para manter o Estado solvente E Mussolini caiu como um patinho At pagou a constru o do caminho de ferro do Vaticano Com a Quest o Romana ultrapassada o Estado solvente e rodeado das pessoas certas para que a insolv ncia n o voltasse a acontecer Pio XI p s fim ao interl dio em 1931 com a enc clica Non Abbiamo Bisogno que um ataque brutal ao fascismo mas especialmente a Benito Mussolini Rafael fez uma pausa ciente do que iria revelar a seguir Os dois homens odiavam se ao ponto de dentro dos corredores do Vaticano se acreditar que Mussolini mandou matar Pio XI 33 O tempo estava a seu favor Era o que dizia o temporizador que recuava implacavelmente O pior de tudo era a espera uma vez que n o era homem de procrastinar o que podia fazer no imediato O tempo era muito relativo Lento para aqueles que esperavam r pido para aqueles que tinham medo ongo para aqueles que sofriam curto para aqueles que celebravam Passara ao pr ximo da lista O cliente fora expl cito Seguir a ordem de elimina o aconte a o que acontecer Aquele era o seguinte Depois do alem o na Via Tuscolana dera um salto morada que lhe conhecia mas sem sucesso O pior de tudo era a espera e decidiu n o esperar muito Dirigiu se ao Pal cio das Congrega es Se n o estava em casa s havia outro local em toda a Roma onde ele podia estar Era ali no pal cio A rotina del
146. Nesse exacto momento foi empurrado para dentro do apartamento com tanta viol ncia que bateu com o queixo na pequena mesa do hall de entrada e caiu no ch o Virou se a tempo de ver um homem entrar nos seus dom nios e fechar calmamente a porta O homem endireitou o casaco e virou se para o velho que o mirava desorientado no ch o de m rmore agarrado ao queixo Que quem o senhor titubeou Bertram a custo O homem debru ou se sobre ele e colocou lhe uma m o no ombro Depois esbo ou o sorriso O que que quer de mim O intruso tirou um retrato do bolso de dentro do casaco e mostrou lho Bertram corou e desviou o olhar assim que reconheceu a figura de Pio XII Eu n o tive culpa Juro Foi uma decis o do col gio disse cheio de medo O homem tirou uma arma de dentro do casaco Pegou num post it amarelo que tinha no bolso e come ou a escrever algo nele em cima da mesa de canto Depois olhou para o temporizador do rel gio de pulso que recuava implacavelmente insens vel como um censor 24 John estava sentado no banco traseiro do carro encostado com a cabe a para tr s imerso nas palavras sentenciosas do padre O Vaticano mandara mat lo N o havia d vidas O padre que seguia no banco do pendura fora bem claro Aquela visita Secretaria de Estado selara o seu destino A toca do lobo Foram estas as palavras de Sarah Ela sabia o que dizia Conhecia bem os meandros daquele mundo e ainda estava vi
147. Niklas Vou explicar lhe sem rodeios o que vai acontecer Vamos escolt lo pessoalmente ao endere o onde est essa pessoa que os raptores exigiram e vamos lev la Pra a de S o Pedro sem manobras de divers o nem conspira es Vamos cumprir risca o pedido de resgate Klaus esperava uma resposta mas Rafael n o a deu Era uma forma de retribuir as algemas que t o gentilmente lhe prendiam as m os atr s das costas como se fosse um criminoso recluso espera de julgamento pelos seus crimes N o te vingar s diria Deus como um mandamento mas Rafael n o pertencia classe divina Espalhava a Sua palavra era certo mas n o preconizava a perfei o Antes pelo contr rio Entendeu tudo o que eu disse perguntou o embaixador com a sua voz tonitruante que disfar ava o receio da resposta Perfeitamente Vais fazer isso Rafael perguntou Nicole com os olhos inchados do choro Vais fazer isso pelo Niklas Rafael esbo ou um curto sorriso cordial N o respondeu o padre sem desfazer o sorriso nos l bios A voz de Rafael confundiu se com a de Girolamo que acabava de entrar no sal o ao lado do Cardeal Secret rio de Estado do porta voz do Vaticano e de Guillermo e dissera exactamente a mesma coisa O embaixador encaminhou se para receber o n mero dois da Igreja Cat lica Apost lica Romana n mero um segundo mentes mais ousadas e inclinou se para beijar o anel na m o que Tarcisio est
148. O cora o latejava menos e aos poucos a respira o retomava os n veis normais Sarah fitava o com preocupa o Ele devolveu lhe o olhar e esbo ou um t nue sorriso t mido O Bertram perguntou instantes depois praticamente certo de qual seria a resposta Rafael fez um trejeito negativo com a cabe a que sentenciou o nome proferido pelo brasileiro N o adianta nada ter me arrancado da morte Eu sou o pr ximo n o v Quem s o eles perguntou Rafael N o sei Quando percebi que alguma coisa n o estava bem n o conseguiu continuar Sarah e John assistiam quela conversa de surdos sem perceber nada A nica coisa que conseguiram entender no fundo era que alguma coisa n o estava bem Mas o que seria que o relator sabia de t o grave que o fizesse ter tanto medo ao ponto de se tentar matar Quem que estavam a investigar intrometeu se a jornalista Duv lio baixou o olhar N o se sentia confort vel a falar sobre aqueles assuntos na presen a de desconhecidos Podes falar vontade incitou Rafael Quem o candidato que os colaboradores do padre Gumpel andam a investigar O brasileiro respirou fundo e olhou para Sarah Era prefer vel falar para ela do que para o intrat vel padre Rafael Est vamos j h longos anos a elaborar a Positio do Papa Pio XII Isso o qu A Positio Super Virtutibus o documento que os relatores elaboram sobre o S
149. Quem s o elas N o importa Niklas fitou a com ar inquisitivo J ouviste falar do padre Duv lio do Col gio de Relatores Nova pergunta de Sarah Padre Duv lio Nunca ouvi falar Niklas levantou se muito depressa com os olhos a brilhar Sabe se ele est bem quis saber o rapaz vido de not cias Ser que tamb m fora v tima como os outros padres E porque n o haveria de estar tornou a mentir relembrando o cinto no lustre e o corpo a debater se pela vida At para ela foi aflitivo ver Quando fui raptado mataram dois padres explicou tentanto n o rever mentalmente a cena Um era o meu tutor o padre Luka N o cheguei a saber o nome do outro Mas se esse padre que refere est bem A ltima vez que o vi estava ptimo E isso foi h muito tempo N o Vi o h poucas horas respondeu Sarah sem revelar como tinham sido interrompidos no Pal cio das Congrega es pelo homem encapuzado que a trouxera para aquele lugar O rapaz ficou calado a olhar para ela como se estivesse a avali la Gravou na mem ria os tr s nomes que a jornalista perguntara Anna Mandi e padre Duv lio N o sabia quem eram mas na condi o em que estava todas as informa es eram importantes Conhece muitos padres quis saber Niklas apalpando terreno Alguns Porqu O rapaz engoliu em seco mas decidiu arriscar Conhece o padre Rafael Santini atirou
150. Rafael afogueado J temos informa es sobre a liga o para a central N o sabemos quem ligou mas sabemos de onde foi feita a chamada disse o inspector em voz baixa com um sorriso de triunfo N o vais acreditar Rafael n o olhou para ele N o havia tempo a perder e n o podia haver falhas Eu tamb m sei de onde ligaram limitou se a responder E quem fez a chamada 58 Os dois homens n o sabiam o que dizer Eram revela es a mais se tal pressuposto existia Como se n o bastasse estarem na presen a da filha de um Papa e de uma freira situa o j por si desconcertante Anna tamb m tinha descend ncia Se me permite como que isso aconteceu perguntou Giorgio o belo que logo que acabou de proferir as palavras se apercebeu da estranha quest o Bem o senhor um homem da Igreja mas decerto saber como acontecem estas coisas A pergunta n o foi feliz N o se sinta obrigada a responder me Pe o desculpa pela intromiss o desculpou se o monsenhor Anna n o respondeu logo Procurava as palavras certas para explicar o que acontecera Havia muitas formas de o dizer mas s uma era verdadeira N o se tratou apenas do cumprimento de um sonho Foi tamb m um grito de revolta e um acto de puro ego smo come ou por dizer como se estivesse a falar para ela mesma sem plateia a confessar os pecados e os arrependimentos O que quer dizer com isso Anna
151. Secret rio de Estado pediu para aguardar Giorgio baixou a cabe a numa v nia ligeira e conivente O Secret rio levou algum tempo a chegar e n o apareceu sozinho O intendente Comte acompanhava o arrastar das pernas cansadas do piemont s que n o estava nada contente com aquela intromiss o inconveniente Contornou a secret ria e sentou se no cadeir o Comte ficou de p junto porta que devo a honra inquiriu Tarcisio com menosprezo Tarcisio n o morria de amores pelo alem o Os olhares os sorrisos podiam enganar toda gente excepto a ele Era um oportunista Conseguira cair nas boas gra as do Santo Padre muito antes de ele o ser quando era o De o do Col gio o Prefeito da Congrega o para a Doutrina da F o Panzerkardinal como os outros chamavam ao Papa Bento O monsenhorado chegou pouco depois e n o se admiraria se Bento o fizesse cardeal antes de partir para os bra os do Pai Seria uma profanidade Se dependesse dele isso jamais aconteceria Infelizmente n o dependia Chegaram aos ouvidos do Santo Padre zumbidos de rumores deveras perturbantes O piemont s mirou o com um olhar apreensivo Uma estranha escolha de palavras aquela do secret rio papal Zumbidos Foi isso que disse Zumbidos de rumores Por favor aclare o que quer dizer com zumbidos de rumores solicitou com uma cortesia fora do normal uma express o a ro ar a tro a e que n o podia deixar de se notar quando
152. Somente para lhe preservar a imagem asc tica Mais tarde entendi que o fizera pelos dois A forma como aquela senhora vestida de freira olhava para mim quando me via fazia sentir me especial Coitada Ela pensava que eu n o sabia E quem lhe contou quis saber Giorgio Um grande amigo da minha fam lia adoptiva O cardeal Spellman O cardeal Spellman O arcebispo de Nova Iorque Esse mesmo Visitou me muitas vezes e escrevia me Dizia me sempre que eu era uma mulher muito especial Sinceramente eu n o percebia porqu Quando o meu pai morreu eu chorei muito sem raz o aparente Uns dias depois do funeral ele contou me No in cio foi um choque muito grande Senti me enganada atrai oada Na altura lembrei me que quando eu tinha 16 anos a minha fam lia adoptiva foi recebida em audi ncia pelo Papa o meu pai Fiquei muito alegre e ao mesmo tempo muito nervosa Quando o vi senti me como se estivesse a olhar para um santo Muito magro e alto uma voz cristalina e doce t o bondoso Nunca tinha ouvido ningu m falar assim t o bem Tocou nos a todos E a minha m e estava alguns metros ao lado dele a observar me com um enorme sorriso Vi lhe os olhos marejados Ele acariciou me o cabelo e perguntou me se cumpria as minhas ora es di rias com um sorriso ao mesmo tempo franco e melanc lico Ele carregava a Humanidade nos ombros Se eu soubesse que ele era meu pai Ningu m tinha o direito de me esconder isso durante tant
153. Vaticana apresentou se num tom grave Com quem estou a falar Bom dia meu caro intendente Escusava de se apresentar Sei muito bem quem o senhor disse a voz num tom animado e cordial Mas eu n o sei quem o senhor devolveu Girolamo com maus modos N o imagina o desgosto que acabou de me dar N o se diz uma coisa dessas a um velho conhecido Magoa declarou a voz com descaramento Mas enfim adiante Estou a olhar para um papel Sabe o que est escrito nele Como que posso saber respingou o intendente com impaci ncia O que que isto tem a ver com a moeda de troca Moeda de troca Que nome t o po tico J l vamos intendente Seja paciente respondeu a voz O papel para onde estou a olhar tem muito a ver consigo Duvido contrap s o homem do Vaticano com indelicadeza E um extracto banc rio do Istituto per le Opere di Religione Se tivermos em conta que voc s dizem que aquilo n o um banco n o percebo porque que se parece tanto com um Girolamo engoliu em seco Este extracto refere se ao nobre Fondo Giulietta per i bambini non protetti Fundo Julieta para as crian as desprotegidas Os movimentos s o pequenos mensais sempre no mesmo dia E depois temos um de tr s milh es na semana passada Onde que pretende chegar com tudo isso interrompeu Girolamo incomodado ainda que fizesse uma ideia das reais inten es daqu
154. a parede agrupavam se em redor de um sarc fago de m rmore vermelho veron s vazio Aguardava que o grupo se apertasse no ex guo espa o e depois falava em surdina muito devagar novamente como se estivesse a contar um segredo que n o podia ser revelado Este o t mulo de Julieta Havia quem fizesse o sinal da cruz e se ajoelhasse a rezar e quem atacasse o t mulo com flashes fotogr ficos prontamente reprimidos por Matteo No photos alertava em tom repreensivo Foi aqui que Julieta ficou quando tomou o veneno Do solit rio que repetia a visita pela quarta vez n o havia sinal noite Matteo continuou como era habitual a visita guiada de forma mais ntima no seu quarto em cima da cama com a presa escolhida de manh Raramente falhava Mostrou lhe os cantos obscuros do prazer os miradouros m gicos das percep es sensoriais o fulgor dos corpos sequiosos 3 meu Deus meu Deus meu Deus Se o Alt ssimo estava a ser invocado com tanto vigor era porque Matteo mais uma vez cumpria bem o seu papel de amante italiano Enquanto o suor se misturava com a respira o ofegante da fome corp rea a porta do quarto arrombada com estrondo deixou entrar o turista solit rio O meu Deus disse a mulher em p nico saindo de cima de Matteo e procurando ref gio debaixo do len ol Quem voc conseguiu perguntar Matteo ainda desorientado O importante quem voc
155. a Hudson da confort vel ilha de Manhattan mas no quarto n mero 221 do hotel Napoleon Era um velho edif cio decadente na Piazza Vittorio Emanuele II a necessitar de um restauro h muito adiado John sentia olhos invis veis atr s de si ainda que estivesse dentro de um quarto ex guo sem mais ningu m vista desarmada John Scott era um reputado jornalista do The New York Times h mais de vinte e dois anos O seu aspecto franzino e desmazelado escondia um rep rter de investiga o s rio e escrupuloso que j pusera muitos pol ticos e empres rios em sentido ou mesmo atr s das grades A sua imagem f sica desdizia a for a do seu nome John Scott era sin nimo de seriedade honestidade zelo primeira vista e ao primeiro aperto de m o mole parecia que se podia partir a qualquer momento e quando come ava a falar manifestava uma gaguez perturbante O jornalista arrastou se pelo quarto ainda em roup o e foi janela Uma neblina c mplice com a sua apreens o descera sobre a Cidade Eterna e n o deixava ver sequer as rvores que se perfilavam no meio da pra a em frente Pegou no telem vel e voltou a marcar o mesmo n mero que o registo indicava ter sido utilizado por cinco vezes naquela manh sem sucesso Come ou a tocar no outro lado da linha invis vel Um dois tr s quatro cinco Ligou para Sarah Monteiro ouviu dizer a voz feminina em ingl s J deixara mensagem de voz enviara um sms e tr s emails escrevera l
156. a Jacopo Sebastiani as noites serviam para dormir excepto ao in cio da noite de sexta feira que serviam para cumprir as prerrogativas conjugais com Norma com quem era casado h mais tempo do que aquele que conseguia lembrar Era por isso uma imbecil anormalidade segundo palavras dele ter de se levantar da cama por estarem a tocar campainha e a bater porta incansavelmente Olhou o rel gio da mesa de cabeceira e esfregou os olhos para ver se eram mesmo quatro e vinte da madrugada Raios Seguramente fora a sonol ncia que lhe refreara a irrita o Norma ressonava virada para o outro lado Era o bom que ela tinha Se um dia um cataclismo varresse o pr dio Deus o livrasse ou quem quer que fosse a entidade que geria essas preces n o teria de se preocupar em salv la Morreria tranquilamente na paz do sono revigorante da eternidade A imbecil anormalidade apresentou se na forma de um jovem aparentemente adolescente que continuou a carregar na campainha mesmo depois de Jacopo ter aberto a porta Foi ele quem sacudiu a m o do rapaz do bot o O mi do transpirava e parecia que subira ao quarto andar pelas escadas por causa da forma como arfava Jacopo reconheceu o Era um dos lacaios da c mara pontif cia um criado do Papa Que queres perguntou com maus modos N o devias estar a dormir ou a rezar ou L o que fazes noite O rapaz n o conseguiu articular uma palavra Estava ainda a recuperar o f lego
157. a a soldo deles A paran ia era pior que a apreens o Che gou chegou hoje disse pegando numa caixa embrulhada em papel dourado OK A aguar do resposta du rante o dia O interlocutor disse lhe mais alguma coisa Espere Deixe me tomar nota Pegou no bloco de apontamentos que o hotel fornecia e escreveu o que he ditaram Eu sei eu sei que que ela essen cial pa para o caso At O go Pousou o auscultador e acendeu um cigarro Precisava de um para acalmar os nervos a apreens o e a paran ia Nestas ocasi es at a pensar gaguejava um descalabro mental que o impedia de funcionar Aspirou a nicotina sofregamente e obrigou se a n o pensar em nada Mais f cil de dizer do que de fazer no caso dele nem uma coisa nem outra Abriu o dossi castanho que estava em cima da cama ainda por fazer e tentou concentrar se nos n meros Era nisso que John era tremendamente bom Analisar n meros Perceber se se interligavam coerentemente ou n o Bastava um olhar um c lculo e entrevia logo se estava tudo correcto ou n o Tirou a primeira folha uma mapa de movimentos com dep sitos e d bitos e leu os um por um linha por linha coluna por coluna data por data Ao fim de alguns minutos come ou a acalmar Deixou de ouvir o protesto do cora o dentro do peito e a respira o tamb m retomou a normalidade Uma ponta de cinza do cigarro caiu ao ch o mas ele nem deu por isso Sentiu u
158. a conhecera verdadeiramente Rafael Tinha apenas a imagem de um homem que a magoara h mais de vinte anos Sarah conhecera o homem que n o a queria magoar Por isso nunca lhe deu uma raz o uma ilus o foi sempre bastante claro e correcto ela que nunca o quis entender Vivia uma ilus o e uma frustra o criada por si Ele fizera tudo para n o contribuir para isso A aus ncia dele ia faz la sofrer mas seria essa a recorda o que guardaria O homem que a amou ao ponto de n o a querer magoar Amou a ao ponto de a proteger de si mesmo O deambular levou a ao hotel para ir buscar a mala que deixara na recep o e pediu um t xi para a levar ao aeroporto Riccardo o recepcionista entregou lhe tamb m um envelope Chegou isto para si Sarah A jornalista ficou intrigada e afastou se um pouco do balc o para abrir o envelope longe de olhares alheios Tirou um pequeno objecto preto e um cart o Isto um auricular Por favor coloque o no ouvido Sarah sentiu um novo calafrio J passara por aquilo anteriormente e sinceramente n o estava com paci ncia para jogos mas cumpriu a ordem que acabara de ler Boa tarde Sarah cumprimentou a voz de JC Boa tarde O que que deseja perguntou ainda com a voz embargada Queria dar lhe as minhas condol ncias pela sua perda Mas a vida continua e temos muito que fazer Eu n o vou fazer mais nada afian ou Sarah Hoje encerrou se um ciclo
159. a de cabeceira e esticou o bra o para pegar nele N o atendas por favor pediu Marcella com um sorriso t mido e o corpo suado A esposa de Amadeo tinha genica Gennaro era testemunha disso Gostavas de ligar para a pol cia e que ningu m te atendesse argumentou Gennaro premindo o bot o para atender a chamada e levando um dedo boca a pedir sil ncio Depois sorriu Boa noite chefe A senhora ficou enrubescida e parou imediatamente o que estava a fazer Sentia se como uma mi da atrevida apanhada numa qualquer malfeitoria Deu uma risada em surdina quando Gennaro lhe piscou o olho S o tr s e meia da manh protestou o inspector Estou neste momento com a tua mulher em cima de mim Marcella n o acreditava no que acabara de ouvir Ele seria louco Deixou se ficar quieta e muda atenta ao resto da conversa visivelmente preocupada A nica coisa de jeito que esses gajos sabem fazer ossobuco Como a tua mulher est fora e est s sozinho na cama achaste que era uma boa ideia chatear me a cabe a a esta hora Gennaro continuava deitado de barriga para cima e ao escutar as palavras de Amadeo puxou se para cima arrastando a senhora consigo de forma a ficar com as costas encostadas cabeceira da cama A esposa ficou quase colada ao rosto de Gennaro Tentou n o respirar precisava de encobrir a sua presen a A investiga o minha disse o inspector com irrita o Liber
160. a de lugar Onde estamos perguntou Sarah olhando em redor John tamb m tentava perceber onde estavam procurando refer ncias visuais N o reconheceu nada Era uma rua com pr dios residenciais de um ado e do outro N o costumava andar por ali Estava cada vez mais apreensivo Rafael n o respondeu pergunta de Sarah Percorreram mais alguns metros devagar e o padre apontou para um carro que estava a arrancar Estaciona ali Aquele Fiat al m vai sair Arturo seguiu a sugest o do superior e em poucos segundos estacionou o carro Rafael foi o primeiro a sair o mesmo olhar de falc o a inspeccionar a rea com aten o Abriu a porta de tr s para deixar sair os dois jornalistas para o frio da rua De imediato o bafo da respira o come ou a fazer nuvens de vapor no ar anunciando a temperatura baixa Sarah estava irritada com o comportamento de Rafael e tentou encontrar uma placa que lhe dissesse onde estava j que ningu m lhe dava essa informa o Encontrou a mesmo em frente pregada na parede de um pr dio Via Tuscolana disse ela em voz alta O que estamos aqui a fazer Andaram alguns metros at chegarem a uma porta Rafael tocou campainha Viemos tratar de um assunto limitou se a dizer o padre Ningu m respondeu ao toque da campainha Rafael debru ou se sobre a fechadura e enfiou uma gazua no canh o e instantes depois ouviu se um clique que permitiu a entrada deles
161. a ficar mais perto dela Nada para j E vamos fazer com que nada de mal lhe aconte a O desespero tomava conta da embaixatriz Alguns cabelos colavam se ao rosto molhado pelas l grimas de dor O seu filho n o O seu bem mais precioso aquilo que mais amava tratado como saco de trapos como objecto de neg cio Quanto que eles querem Pagamos o que for preciso N o querem dinheiro retorquiu Cavalcanti A embaixatriz lavada em l grimas arregalou os olhos admirada O que querem ent o Cavalcanti olhou para Rafael com ar inquisitivo Podia dizer ou n o O inspector acercou se dela pronto para lan ar o isco da sedu o Levante se minha senhora Venha sentar se por favor N o esperou que ela acedesse ao pedido Pegou nela magra e leve como uma pluma e sentou a Aquela alian a no dedo anelar exercia sobre ele um feiti o mortal N o era obviamente o momento certo para qualquer tipo de investida no entanto nada impedia que a sedu o come asse branda como uma m sica de fundo presente mas invis vel Fez lhe uma car cia ligeira na palma da m o com os dedos Ele era um traste e sabia o O seu marido vai demorar quis saber o inspector enquanto apartava do rosto dela os cabelos que se haviam colado Ela voltou a olhar para Rafael com a mesma express o de dio A culpa disto toda tua n o atirou a embaixatriz Desta vez Rafael n o desviou o olhar pro
162. a m e vai fazer 82 Eu nunca estive doente At aos 15 anos tive pai e m e perfeitamente normais at que a minha vida acabou disse com muito pesar O que que isso quer dizer perguntou Sarah Que descobriu a verdade explicou Niklas com um olhar condescendente Niklas entendia muito bem o que Mandi passara Talvez por isso lhe tivesse dado a m o num gesto fraternal Viver uma realidade que n o passava de uma encena o para depois descobrir que a fam lia que tinha como valor assegurado n o era aquilo em que sempre acreditara O pai n o era o verdadeiro pai Para Mandi fora ainda pior Nem o pai nem a m e que conhecera lhe pertenciam Eram apenas boas pessoas a desempenhar um papel que lhes tinha sido pedido E quem eram eles perguntou Sarah Mandi respirou fundo Por incr vel que possa parecer a minha av foi engenhosa e conseguiu esconder do meu av a filha que tiveram mesmo debaixo das barbas dele Apesar de todo o amor que sentia por ele sabia que ningu m no seio da Igreja aceitaria Por isso entregou a a um casal de funcion rios do Vaticano Assim t la ia sempre debaixo de olho Foi criada com os filhos deles como se fosse mais uma O meu av chegou a v la e a falar com ela Sorriu ao imaginar a cena Ambos desconhecendo quem realmente eram Quando a minha m e engravidou quis manter o segredo mas o irm o adoptivo dela o Ercole soube e n o ficou calado Mandi fi
163. a m scara de prata Tinha uma nave e oito corredores com quarenta e nove colunas A atmosfera respirava vida e hist ria e mais qualquer coisa inidentific vel Uma sensa o de mist rio pairava no ar Havia bancos de madeira em dois corredores exteriores pequena nave central onde Matteo pedia que se sentassem A seguir caminhava para o altar lentamente alongando o suspense e colocava se em frente a ele de costas para o sarc fago Foi aqui limitava se a dizer com um timbre misterioso como se estivesse a contar um segredo Os turistas olhavam para ele pasmados Foi aqui o qu O turista repetente j sabia o que tinha acontecido naquele espa o mas n o ousava perturbar o sil ncio sagrado dos mist rios e estragar o ambiente Era engra ado preservar aquela sensa o de desconhecimento por mais alguns segundos Matteo aproximava se da primeira fila de bancos e olhava para o tecto a pouco mais de meio metro Foi aqui Exactamente neste local onde me encontro E deixava o sil ncio espraiar se mais uns segundos inofensivos Depois pedia a um casal da fila da frente para se levantar e se colocar frente dele como dois noivos Ele do lado esquerdo ela do direito Foi assim est o a ver H sete s culos neste preciso local nestas posi es Foi aqui que casaram Romeu e Julieta Matteo sabia que n o precisava de dizer mais nada O resto deixava ao cora o de cada um Suspiros l grimas beijos trocad
164. a o hospital de elei o para membros da Igreja onde os pr prios Papas eram tratados quando a gravidade impunha uma desloca o a uma unidade hospitalar O monsenhor n o se virou assim que ficaram a s s Continuou a fitar a vida da cidade ainda que os seus pensamentos o distra ssem do que se passava l fora O Tarcisio fez a pergunta certa acabou por confessar Giorgio derrotando o sil ncio Qual Porque que o Comte queria a Anna 69 Giorgio n o repetiu a pergunta mas Rafael levou algum tempo a responder O que que o Comte pretendia afinal Sentia se cada vez mais fraco e as palavras sa am lhe com mais dificuldade N o tive oportunidade de lhe perguntar respondeu por fim Talvez a quisesse matar A Mandi apareceu Giorgio fez que n o com a cabe a Talvez quisesse eliminar todos os vest gios que pudessem prejudicar a imagem de Pacelli Mas porqu questionou Giorgio Rafael n o sabia responder Giorgio respirou fundo na tentativa de desanuviar um semblante carregado Se eu soubesse que ia ser t o tr gico n o te tinha arrastado para isto N o me arrastou Talvez tenha sido o contr rio Como que o padre Duv lio encontrou o teste de ADN e o di rio perguntou o secret rio do Papa mais para si mesmo do que para Rafael Algu m lhos deu Aquilo n o estava no arquivo como ele disse Como podes ter tanta certeza Porque eu que m
165. a o nazismo e matam quarenta mil pessoas quantas n o matar o se for um Papa a diz lo Vendo as coisas dessa perspectiva talvez ele tenha agido bem disse Sarah Claro que agiu bem afirmou Rafael Sem esquecer que salvou centenas de milhares de judeus e refugiados Mais que qualquer outra organiza o n o governamental ou particular Mais do que o Schindler e o Aristides Sousa Mendes perguntou Sarah Quem foi o Aristides Sousa Mendes devolveu Rafael Um diplomata portugu s explicou Duv lio C nsul de Bord us Emitiu mais de trinta mil vistos a judeus contra as ordens recebidas do governo de Lisboa Acabou exonerado Morreu na mis ria Justificou os seus actos com uma express o que ficou famosa Se milhares de judeus sofrem por um crist o certamente um crist o pode sofrer por muitos judeus um dos Justos entre as na es do Yad Vashem Virou se para Sarah Provavelmente o Aristides Sousa Mendes est nos lugares cimeiros mas estima se que o Papa tenha salvado cerca de oitocentos mil judeus Oitocentos mil disse John Scott espantado Estas hist rias nunca eram reveladas referiu o relator Parecia que algu m havia orquestrado um plano para que Pio XII fosse visto como um dem nio adorador de nazis Ent o qual foi o problema prosseguiu Sarah Qual a d vida em beatificar o Papa Pacelli Duv lio trocou um olhar comprometido co
166. a pegar no telem vel e atender mas Davide j tinha desligado Carregou no bot o para devolver a chamada Levou o aparelho ao ouvido e deu dois passos para se afastar de Cavalcanti mas este aproximou se simulando estar a ver uma agenda que pertencia ao defunto Bertram Sacana Davide atendeu assim que ouviu o primeiro toque Ele est contigo Pausa E os jornalistas Nova pausa Esperem por mim N o o deixes sair da N o lhe fa as nada A morada que ele deu era de um descampado Faz o que for preciso para o reteres Ignorou o insulto de Davide e desligou Trataria disso mais tarde Os homens de Comte precisavam de um correctivo Preferiu concentrar se nas boas not cias Rafael estava sob controlo pelo menos por agora Problemas perguntou Cavalcanti por tr s dele Nada de especial Se precisares de falar podes contar comigo ironizou o outro colocando uma m o em cima do ombro de Guillermo Um agente chamou por Cavalcanti que virou as costas ao homem do Vaticano mas n o deixou de ouvir um murm rio insultuoso repleto de raiva O inspector sorriu de satisfa o Que temos perguntou ao agente J temos a identifica o de quem fez as chamadas de emerg ncia Cochicharam durante uns minutos at Cavalcanti ter sido interrompido pelo seu pr prio telem vel Escutou durante breves segundos e depois atirou o cheio de raiva contra uma das paredes do hall desmontando se em v ri
167. a traumatizante n o Ihe foi retirado at ao t rmino do percurso Se lhe pedissem para descrever a cena n o saberia Estava a olhar para Rafael ca do no ch o desmaiado da pancada que o tal Davide lhe dera na cabe a e a deixara t o aflita quando viu o homem mais velho tombar sua frente Levantou os olhos para tentar perceber o que se estava a passar mas j os outros dois que acompanhavam Davide tamb m tinham ca do com um buraco na testa cada um Nem sequer ouvira os disparos da arma Depois parou tudo Era um homem de cabe a coberta Duv lio e John Scott fitavam no em choque e Ele acercou se dela olhos compassivos como se estivesse a dizer lhe que tinha muita pena que ela tivesse assistido quilo N o pronunciou uma palavra apenas lhe tapou a cabe a com o capuz e n o viu mais nada S escurid o Indicou lhe o caminho agarrando a com uma m o terna e sa ram do gabinete Ouviu ru dos antes de sair do gabinete mas n o conseguiu entender Estava em p nico mas depois passou lhe ou n o N o sabia N o compreendia o que se estava a passar Temeu por Rafael por John pelo relator Ouviu quando ele desligou o interruptor do gabinete e fechou a porta N o se ouviu mais nada a n o ser os passos deles a fazer ranger o soalho A m o terna guiou a at ao carro onde seguiam e depois dera por si a pensar quando tinham come ado os problemas e quem os criara O primeiro culpado foi o padrinho Valdemar Firenzi que h seis
168. a vers o violenta golpeado no ventre nas m os e nos p s num vis vel esgar de sofrimento inconceb vel Ao lado outro santo S o Judas Tadeu de tamanho inferior pois nada nem ningu m podia cobi ar as alturas de Jesus O santo bem a prop sito era aquele a que se devia recorrer em caso de desespero e nas causas perdidas predi o ou coincid ncia num mundo onde nada acontecia por acaso John segurava um dossi castanho encostado ao peito como se nele guardasse um segredo muito valioso A sua mais recente investiga o evara o ali a uma audi ncia com o n mero dois do Vaticano Tarcisio um Salesiano de Piemonte conhecido pela sua frontalidade se bem que muitas vezes confundida com arrog ncia Quarenta e sete minutos depois de ter chegado e trinta e dois depois da hora marcada John foi convidado a entrar no gabinete por um jovem de batina preta Um homem alto e imponente veio receb lo com um meio sorriso e indicou lhe uma cadeira em frente a uma enorme secret ria onde se sentar Tarcisio foi cordato o suficiente n o demasiado e sentou se no cadeir o que estava de costas para uma parede onde dominava uma imagem do Papa Bento XVI a fitar austeramente a ampla sala John n o se lembrava de alguma vez ter entrado num gabinete com tanto fausto e era um homem que se podia dar ao luxo de dizer embora nunca o fizesse que j entrara duas vezes na sala oval da Casa Branca e uma no Primeiro Edif cio mais conhecido como Sena
169. acopo limitou se a dizer Rafael Jacopo saiu finalmente e ficou a ver o carro arrancar a grande velocidade assim que ele bateu com a porta 17 Rafael n o tinha tempo a perder Eram quase onze da noite Pensou em Luka o bom amigo alem o e em como fora poss vel levar dois tiros na cabe a sem qualquer reac o Luka era t o experiente como ele Ou foi manietado ou confiava na pessoa que o matou E Niklas N o passava de um mi do e era melhor n o pensar nisso Atravessou a ponte Vittorio Emanuele II e desembocou na Via della Conciliazione poucos metros frente Percorreu a at S o Pedro verificando sempre se estava a ser seguido Estava sozinho ningu m o seguia Procurou estacionamento numa das vielas perpendiculares Conciliazione e foi a p at ao apartamento Subiu ao terceiro andar e encontrou o vazio Nem Sarah nem Arturo Pegou no telem vel e esperou que Arturo atendesse enquanto isso dirigiu se ao quarto de Sarah e colocou a mala de viagem dela em cima da cama Pousou o telem vel por falta de resposta e abriu o enorme roupeiro Come ou com cuidado a colocar as roupas dela dentro da mala O que que est s a fazer Rafael ouviu ent o Sarah perguntar Onde que voc s andaram O que que est s a fazer disparou Sarah enrubescida de raiva Que raio est s tu a fazer Rafael n o respondeu continuou a encher a mala com cal as blusas camisolas tudo excepto as pe as ma
170. adre desconhecido olhou para ele muito calma e cautelosamente e avan ou pela frente do confession rio Nesse preciso momento tombou com a cabe a desfeita para o lado esquerdo derrubando algumas cadeiras Segundos depois foi Luka que caiu para tr s e embateu numa coluna da capela de Nossa Senhora do Sagrado Cora o Os olhos abertos a mirar o vazio esva dos de vida a cara salpicada de sangue Dois tiros na testa O jovem padre n o conseguia acreditar no que estava a acontecer A porta do confession rio abriu se com viol ncia o que fez Niklas dar um salto de pavor N o saberia dizer se gritou ou n o Do interior da estrutura de madeira saiu um homem que segurava uma arma estranha com mira telesc pica Sorriu para Niklas e pegou no telem vel para enviar uma mensagem A primeira fase estava conclu da Depois tirou um post it azul do bolso e colou o na porta do confession rio Tirou a luva de uma das m os para cumprimentar o jovem padre que estava em estado de choque sem conseguir desviar o olhar dos corpos Niklas nem se apercebeu da m o forte do homem que estava sua frente O Franc s sentia se curioso em rela o ao jovem padre alem o Uma curiosidade que era insubordina o no seu estado mais puro O Franc s era um insubordinado de si pr prio j que n o respondia perante mais ningu m E se tivesse sido aben oado com o dom da fala perguntaria ao jovem padre alem o por que raz o entregara a sua vida a Deus Par
171. ael Imprevistos Estudaram todos pela mesma cartilha praguejou Sabes a hist ria deste s tio perguntou o historiador apontando para o edif cio N o Mas tu vais contar ma n o vais Jacopo n o percebeu se ele estava a ser ir nico ou n o Era dif cil perceb lo O problema do Palazzo Dario que deixava Jacopo um pouco indisposto era que quando algu m o adquiria e isto desde a sua constru o no s culo XV ou se arruinava financeiramente ou sofria uma morte violenta A lista era extensa O pr prio Woody Allen esteve interessado em comprar o pal cio mas desistiu quando lhe contaram a maldi o que o atravessava desde que existia ali no Canal Grande ligeiramente tombado para a esquerda Jacopo tinha raz es para se sentir apreensivo Naquele edif cio ningu m estava seguro Descansa tranquilizou o Rafael N o est s a pensar comprar o pal cio pois n o Deambularam pelo piso t rreo adoptando um interesse fingido pelos quadros que estavam dispostos nas paredes e em mostru rios pr prios para esse efeito Como foi em Trento perguntou o historiador Deu para descansar respondeu Rafael desinteressado N o estamos aqui para a visita guiada pois n o Jacopo engoliu em seco A hist ria do pal cio inquietava o de tal maneira que se esquecera da raz o que os levara at li Chegara a hora de revelar o motivo daquele encontro Inspirou fundo para ganhar f lego e es
172. afael O padre ficou especado mudo quedo a v la sair com a mala O len o que lhe cobria a cabe a caiu ao ch o e ela ainda fez men o de apanh lo mas depois lan ou um olhar enfurecido a Rafael os olhos raiados de vermelho e saiu com a cabe a descoberta Adeus Rafael Segundos depois ele ouviu a porta da rua abrir se e bater para a deixar sair Adeus Sarah Arturo apareceu entrada do quarto Rafael mirou o Segue a ordenou lhe N o deixes que ela te veja mas n o a largues nem um segundo Liga me de hora em hora Arturo desapareceu para cumprir o que lhe foi ordenado e Rafael sentou se na beira da cama a fitar as paredes N o queria que nada daquilo tivesse acontecido N o assim Levantou se e apanhou o len o ca do no ch o Levou o ao nariz e inspirou Sarah Fechou os olhos e tentou n o sentir nada Precisava de n o sentir nada Chamou o Rafael insens vel frio o operacional que mentia matava feria em nome do Santo Padre e por consequ ncia directa de Deus Todo Poderoso mas ele n o veio S o cobarde que ficara a v la fazer a mala sem dizer nada Lembrou se de Londres e da pergunta dela O que h entre n s h mais de um ano h uma eternidade e da sua resposta o mesmo incompreens vel sil ncio de agora Deitou se de lado na parte esquerda da cama pois Sarah preferia a direita as pernas encolhidas e abra ou se ao len o como se estivesse a abra ar se a ela Sentiu o
173. ais a mem ria do Santo Padre pois sabemos qu o grandioso ele foi durante a Segunda Guerra Mundial fic mos de p s e m os atados JC soltou um assobio para o ar como se tivesse ficado impressionado com o que ouvira Quer dizer que iam tornar p blico o resultado da investiga o N o podiam guardar segredo Gumpel lan ou lhe um olhar ofendido A Congrega o para a Causa dos Santos um organismo ser ssimo Lida com relatos testemunhos documentos informa es das mais variadas fontes N o sua fun o limpar a hist ria para beneficiar os seus intentos por mais importante que o candidato possa ser JC soltou um novo assobio Quase que estou tentado a acreditar em si a verdade afian ou Gumpel com as veias a sobressa rem no pesco o da veem ncia com que proferia as palavras Claro que senhor padre Claro que disse o outro com desfa atez O Papa afinal n o era santo nenhum N o se pode dizer que seja uma novidade A quem n o interessar essa revela o Gumpel voltou a tossir JC deu lhe um len o de papel e esperou que ele recuperasse Obrigado agradeceu o relator N o fa o ideia N o suspeita de ningu m Quem tem a ganhar com a n o divulga o dessa nova informa o Gumpel n o queria pensar nisso Manteve se em sil ncio O seu trabalho n o consistia em ver as consequ ncias ou os ganhos do que quer que fosse Estava ciente do bem que um beato
174. al Pior que esse decl nio pr prio da idade e do fardo do cargo era a aliena o consentida do Santo Padre uma conforma o consciente que custava a Giorgio assistir Como assim E se os dois acontecimentos n o tiverem nada a ver um com o outro Se forem dois assuntos separados Se o caso da irm Bernarda e do tal Lucarelli n o tiver nada que ver com o rapto do Niklas e da moeda de troca Giorgio cogitou sobre as palavras de Girolamo Claro que ele podia ter raz o e nada ligar um e outro caso N o o verbalizou mas sabia que os dois estavam relacionados Eu vou ter de ir ver o que se passa com o meu pessoal T m sido dias loucos E o Tomasini n o me tem deixado em paz informou Girolamo Compreendo N o tem sido f cil de facto Eu tamb m tenho de fazer uma visita Bateram levemente na porta uma pancada t nue medrosa que parecia n o querer incomodar Giorgio levantou se Sim Entre A porta entreabriu se para deixar entrar a medo o franzino assistente do Secret rio de Estado a quem Giorgio fizera passar um mau bocado algum tempo antes Que se passa Theo quis saber o secret rio do Santo Padre O Cardeal Secret rio de Estado solicita a presen a do intendente com urg ncia no Secretariado Excel ncia informou o jovem de cabe a baixa e m os unidas Porqu Algum desenvolvimento no caso do Niklas perguntou Girolamo Theo fez que n o com a cabe a N o
175. aldos e por vezes dava hos na boca A freira controlava tudo o que se passava nos bastidores do pal cio e cuidava do bem estar do n ncio Nenhum problema lhe chegava a n o ser que fosse pol tico ou diplom tico ou a intermin vel burocracia de Roma Em Fevereiro de 1919 Munique assistia turba comunista que se alastrava Europa depois do sucesso no derrube do regime czarista da R ssia Um mar de mortos espalhava se pelas ruas Os diplomatas h muito que haviam regressado aos seus pa ses excepto Pacelli que apesar de se recusar a sair pediu ao seu pessoal que abandonasse as instala es e procurasse seguran a Pasqualina recusou se a abandonar o n ncio assim como o motorista o assessor e o faz tudo Pacelli andava perigosamente pelas ruas arriscando se tentando ajudar os desesperados e os refugiados coordenando a ajuda humanit ria Nem sequer escondia a cruz que trazia ao peito Os bolcheviques instigaram uma campanha de dio contra ele e em Abril invadiram a nunciatura Entraram no edif cio a disparar para o ar com rancor estampado nos rostos Pacelli desceu do seu gabinete que ficava no primeiro andar e enfrentou a turba bolchevique T m de sair daqui imediatamente ordenou sem elevar a voz Esta casa n o pertence ao governo da Baviera mas Santa S O seu estatuto inviol vel pelas leis internacionais Os bolcheviques riram na cara de Pacelli Leis internacionais Quais leis Saimos quando nos mostr
176. am vozes nem televis es nem frigor ficos nem quaisquer outros gemidos el ctricos Sarah ia frente seguida de John Arturo fechava o grupo atento retaguarda Encontraram uma porta aberta ao fundo do corredor e luz no interior do apartamento Rafael estava l dentro debru ado sobre um cad ver Sarah levou uma m o boca chocada com a cena que estava a testemunhar O o que que que o se senhor fez fez deixou sair John visivelmente nervoso e desorientado N o era todos os dias que se via um cad ver No seu caso era a primeira vez N o fui eu respondeu Rafael enquanto fazia uma inspec o visual ao corpo J estava assim quando entrei Mi minha No No Nossa Senhora balbuciou o jornalista numa invoca o divindade da qual nem era crente Entraram todos no apartamento e Arturo fechou a porta o que provocou um calafrio aos jornalistas E ele perguntou Arturo O Bertram Sarah fitou o cad ver com dificuldade Manteve o olhar por dois segundos antes de o desviar N o queria estar ali na presen a daquilo Era um velho pele enrugada pelos anos um olhar v treo de horror no rosto sem vida Tinha dois orif cios na testa da qual sa am dois fios de sangue que conflu am no queixo N o morreu h muito tempo disse Rafael Quem quem era Um homem bom limitou se a dizer Rafael O ltimo homem bom que ainda existia
177. amento Gennaro estava a envelhecer bem Algumas rugas conferiam lhe um ar maduro o cabelo grisalho ajudava mas era sobretudo a voz de bar tono que provocava nelas um segundo olhar aquela curiosidade fugaz tantas vezes comprometedora Nessa noite Gennaro indemnizara se de dez anos de promo es prometidas que nunca se realizaram A cama onde estava deitado de barriga para cima era a de um hotel e a senhora que o usava para umas horas de prazer sexual chamava se Marcella e era a dilecta esposa do seu chefe Amadeo De cada vez que ela cavalgava em cima dele Gennaro lembrava se do chefe anafado transpirado com a respira o arquejante a confidenciar lhe nessa tarde que a sua senhora estava num congresso em Mil o Gennaro sorriu enquanto lhe apertava os seios desca dos e a ouvia gemer Est a gostar do congresso senhora doutora provocou Gennaro com um olhar corrosivo Marcella balbuciou um sim entrecortado pelos gemidos da dor e do prazer simult neos e um sorriso que ela julgava c mplice do dele Estava longe de imaginar que o Gennaro por quem ela ca ra em tenta o n o existia O colega do marido em estatuto inferior era certo que pela primeira vez em dez ou quinze anos nem sabia contabilizar reparou nela viu mais que o bibelot em que se transformara para o esposo e para os filhos Escutou a sem julgamentos e ela desejou senti lo dentro de si Mais do que uma vontade tornou se uma necessidade Enquanto M
178. amiliar do Rafael perguntou a embaixatriz Apenas amiga Ele sempre foi t o frio e seco que nunca imaginei que fosse capaz de fazer amigos Sarah soltou uma gargalhada que contagiou Nicole Era verdade A excep o do f sico n o tinha nada que supostamente cativasse Ou talvez isso em si fosse cativante Tinha uma aura misteriosa nunca se sabia o que ele pensava tinha uma agenda s dele e como se n o bastasse era padre O Niklas disse me que filho do Rafael lan ou Sarah Durante os primeiros dias Sarah n o pensou nisso guardou o no ba mental onde se coleccionam as informa es in cuas ou n o priorit rias Depois lembrou se e a primeira coisa que fez foi pensar que sonhara N o podia ser verdade Esta visita trouxera lhe a confirma o Nicole ficou calada e n o respondeu logo verdade ramos novos acredit vamos que pod amos mudar o mundo Ningu m pode mudar nada Acabamos sempre por nos vergar s vontades do que j foi determinado disse resignada N o bastava o Niklas querer conhec lo Ainda quis ser padre Foi a vez de Nicole dar uma gargalhada gutural que Sarah acompanhou apenas por simpatia A embaixatriz n o ria porque tinha gra a ria para n o chorar Todos os homens da sua vida a feriam de uma maneira ou de outra Niklas saiu da rea de cuidados intensivos poucos instantes depois visivelmente consternado Os olhos vermelhos mostravam as marcas do choro com
179. an Agayants o director do servi o de desinforma o do KGB e o Nikita Khrushchev que a autorizou O lema da opera o era Os mortos n o se podem defender O seu Papa Pio era um fervoroso anticomunista e como tal essa opera o foi criada para denegri lo em todo o Ocidente Usaram espi es romenos disfar ados de padres para penetrar no Vaticano e fotocopiarem os arquivos mas n o encontraram nada de relevante Mesmo assim prosseguiram com a opera o para retrat lo como Papa nazi Miss o cumprida parece me Quem o senhor perguntou novamente Gumpel espantado O sil ncio manteve a resposta inicial JC voltou a ajeitar se na cadeira e Gumpel tossiu quase ficando sem ar Alguns instantes depois acalmou e os dois homens fitaram se outra vez JC espera Gumpel visivelmente intrigado Ent o porque que n o podem recomendar o Papa Pio XII para a beatifica o relembrou o velho que nada esquecia O relator sentiu se incomodado com a pergunta Baixou o olhar Aquela posi o podia ter motivado os homic dios dos seus colaboradores Magna heresia Porque depar mo nos com problemas que impediam essa recomenda o Algo que os fi is jamais aceitariam e que acrescentado sua j d bil imagem devido Opera o Assento 12 seria o fim de Pio XII Depois calou se como se tivesse deixado a frase a meio e o interlocutor aguardou Dito isto embora n o fosse nosso desejo conspurcar ainda m
180. ande Ela conhecera o alguns anos antes da morte do irm o dele quando Girolamo era apenas um agente novato e ing nuo ainda a dar os primeiros passos na Gendarmaria Quando o irm o Giovami teve o filho ela e Girolamo ajudaram no a resolver a quest o Um padre como ele pr ximo do Santo Padre e em plena ascens o n o podia ter a mancha da paternidade no curr culo Quando Giovanni morreu daquela maneira tr gica e imprevista foi ela quem ajudou Girolamo e lhe sugeriu que arranjasse algu m que tomasse conta do Matteo Deixaram de se ver quando o Rafa apareceu e a mudou de morada Quando leu no Corriere della Sera que o Col gio de Relatores estava a tratar do caso do seu pai viu uma oportunidade Enviou o teste de ADN e mais tarde o di rio para convencer o relator de que falava verdade sobre a sua identidade O relator o jovem Duv lio n o queria crer Infelizmente ao contr rio da sua inten o aqueles documentos tiveram um efeito nocivo O Col gio ia emitir um parecer negativo beatifica o do pai N o foi dif cil convencer o jovem padre Duv lio a intermediar entre ela e o intendente A mem ria do Papa Pio XII estava em perigo Era preciso fazer alguma coisa em nome daquilo que muitos antes de Girolamo como o seu pr prio irm o o sempre fiel Giovanni Comte haviam feito para deter as conspira es contra o Santo Padre Atrav s de Duv lio tudo se tornou poss vel Infelizmente nenhum deles poderia sobreviver pois ambo
181. andei fazer o teste h muitos anos e sei onde ele estava e tamb m j tinha visto o di rio explicou Rafael sem acrescentar as d vidas que o atormentavam Giorgio colocou as m os atr s das costas como um pol cia a conjecturar pistas e provas e a montar um puzzle mental Eu n o devia ter arrastado o jornalista americano para isto desabafou Giorgio N o devia ter dito nada ao Timothy Uma morte gratuita Culpa minha N o se culpe Quem que podia imaginar o plano louco do Comte Sab amos que ele pretendia raptar a Anna mas nunca imagin mos que ele ia eliminar um col gio de relatores Eu sei mas O nosso objectivo com o jornalista era dissuadir o Comte interrompeu Rafael analisando os factos com frieza Infelizmente n o resultou Ele perseguiu nos a todos S parou quando amea mos matar o sobrinho e mesmo assim tentou matar me N o pare de ir buscar o dinheiro a Veneza Esse dinheiro est a ser bem utilizado Giorgio virou se para Rafael e aproximou se da cama O Gumpel vai fazer uma recomenda o positiva para a beatifica o confidenciou o assistente pontif cio intrigado Soube que essa recente mudan a de decis o tem dedo teu Porqu Rafael tentou ajeitar se na cama Tinha dores e estava muito cansado Optaria pela resposta mais simples a verdade Algu m me disse um dia que um homem n o apenas as suas falhas O amor n o escolhe lugar nem posto N
182. anos a arrastara para onde ela nunca sonhara ir e a envolveu numa teia de problemas com a CIA a Santa S e uma loja ma nica proscrita que a levara ao segundo culpado talvez primeiro tamb m JC o espi o que tudo via e sabia como um ser omnipotente ou talvez n o caso contr rio j a teria tirado daquele carro Rafael tamb m era culpado de uma maneira ou de outra H pouco mais de seis meses tivera uma arma apontada nuca e nesta noite tudo voltava a acontecer Ningu m falou durante toda a viagem nem mesmo durante a transfer ncia para outra viatura que lhe pareceu ser uma carrinha O assento era mais duro e andava aos solavancos fazendo com que tudo se tornasse desconfort vel Estava com medo mas aprendera a controlar se Antes de Firenzi e JC e Rafael nunca constatara como uma pessoa pode sujeitar outra a prova es t o odiosas muitas vezes letais Sabia que existiam mas era sempre algo que aparecia nas not cias ou que ela pr pria escreveria para informar o p blico algo long nquo quase um universo paralelo que n o a afectava minimamente Estava apenas no papel ou numa imagem N o feria As coisas mudaram e ela percebeu que a maioria das pessoas n o passa de pe es nas m os de alguns poderosos apenas preocupados com o seu bem estar e com a conquista de mais poder O homem que conduzia era um profissional Ceifara tr s vidas humanas a sangue frio antes que elas pudessem reagir Provavelmente matara tamb m o ta
183. anta Cruz davam gra as ao Senhor pelo jantar ao redor das duas grandes mesas de carvalho do sal o de refei es do retiro depois das V speras Deixaram tocar at se finar e prosseguiram a ora o pois nada era mais priorit rio que o v nculo sagrado com Deus Que o Rei da eterna gl ria nos fa a participantes da mesa celestial agradeceu a irm Bernarda nascida Mia a quem se juntou o coro de irm s de cabe a abaixada e olhos fechados men A refei o era frugal e comeu se em sil ncio como tudo o que se fazia no retiro O lema Nunca dizer nada Observar tudo era seguido em todas as ocasi es Existiam para servir em sil ncio sem olhar a quem embora ali no sop sul das Dolomitas n o se abrisse a porta a qualquer um A lareira aquentava o sal o do retiro com o crepitar indolente da lenha que se consumia enquanto l fora os flocos de neve se amontoavam pelo quarto dia consecutivo Era o primeiro grande nev o do ano e iria cobrir oda a regi o com um manto branco Os talheres tamb m colaboravam com as sagradas premissas silenciosas da ordem e n o se manifestavam em tilintares acima de um parco decibel semelhante a um cicio Ningu m mais se lembrara do elefone que tocara durante a ora o de gra as pelo jantar at ele tornar a soar estridente perturbando a degusta o do prato de carne salada regado com um fio de azeite e vinagre de vinho e acompanhado com p o integral Foi a irm Bernarda nascida Mia
184. anteriores Stephano saiu logo depois do pequeno almo o vestido com um fato de esqui lavado que a freira havia providenciado e levando os esquis e a mochila Pela janela do terceiro andar viu o carro desaparecer ao fundo da rua Como esperado passou o resto da manh e a tarde fora do retiro Bernarda aproveitava as horas em que o monsenhor se ausentava para ajudar as irm s nos outros pisos ainda que a prioresa a tivesse libertado de outros afazeres que n o os de cuidar do enviado de Roma Como n o fora autorizada a entrar no quarto e n o havia mais o que fazer a freira obrigava se a rezar por bons pensamentos e pelo perd o dos mais impuros durante sessenta minutos na capela privada do terceiro andar e depois descia para ajudar a fazer camas de lavado aspirar e mais o que fosse necess rio Estava ali para trabalhar servir a Jesus Cristo prioresa c nega s irm s e aos religiosos e religiosas que escolhiam aquele peda o de para so para se hospedar A altera o normalidade ocorreu s cinco e meia quando o prelado n o apareceu como de costume para tomar o seu banho revigorante antes do jantar O carro n o surgiu ao fundo da rua A irm Bernarda deu por si a pensar no que lhe teria acontecido e n o conseguiu evitar um sentimento de inquieta o Quinze minutos depois das seis desceu cozinha no r s do ch o para recolher o jantar do seu h spede e subiu de imediato Tinha a esperan a que ele entretanto j
185. anteve a em Munique at aos 2 anos e depois entregou a a uma fam lia de funcion rios do Vaticano que a tratou como se fosse dela Gustav chegou nesse momento com uma caixa em couro preto Ah Obrigada Gustav agradeceu Anna Podes deix la aqui apontou para a mesa de centro Gustav pousou a e saiu da sala Anna abriu a caixa que revelou um conjunto de cadernos todos iguais e retirou um O que isso perguntou Jacopo Os di rios da minha m e Giorgio debru ou se sobre a caixa e foi retirando alguns Tinham uma etiqueta que mencionava as datas da primeira e da ltima entradas Os dois homens mantiveram se em sil ncio absortos hipnotizados pelo relato de Anna que tanto passara em nome dos homens que se diziam ao servi o de Deus e que acabava de lhes mostrar aquela colec o de documentos preciosos Como que a sua m e conseguiu ocult la dele quis saber Jacopo N o entendia como tinha sido poss vel N o faria essa pergunta se tivesse conhecido a minha m e Era uma for a da Natureza Ela n o estava no Secretariado por ser amiga nem corfidente do Papa nem governanta dos apartamentos papais Estava l porque era uma mulher com muito valor altura de qualquer dos homens com quem trabalhou Tenho muita pena que n o tenha podido viver com a sua m e disse Giorgio continuando a remexer nos cadernos da caixa Nunca me deixaram passar fome nem frio disse a fi
186. apal e n o no edif cio da Secretaria de Estado Subiram pelo elevador de servi o e sa ram para o imenso corredor do segundo andar Um homem de fato preto aguardava os Era Guillermo Tomasini A culpa disto tua lamuriou se Jacopo Boa noite tamb m para ti Jacopo Boa noite o raio que te parta Aposto que isto culpa tua N o tenho nada a ver com isto Tu Olha quem atirou Jacopo com um olhar furioso Est s metido em tudo e fazes de conta que n o nada contigo Guillermo sorriu Conhecia Jacopo h muitos anos Sabia como ele era capaz de explodir extemporaneamente Tamb m sabia que passava depressa O homem desviou o olhar para o jovem Obrigado Filippo Podes ir descansar O imenso corredor estava repleto de tape arias gigantes nas paredes Estavam nos apartamentos papais n o significando isso que iam ver o Papa Os apartamentos ocupavam o segundo e o terceiro andares O terceiro era o da resid ncia do Santo Padre onde ele devia estar a dormir o sono dos anjos e dos ap stolos Aquele onde estavam era onde o Papa e os seus colaboradores trabalhavam a horas pr prias e n o quela em que Jacopo ali estava V rias est tuas enfileiravam se de ambos os lados Pont fices do passado que os observavam com express es austeras Os ladrilhos respiravam debaixo dos p s deles testemunhas silentes de s culos de passadas que transportavam a hist ria dos actos e dos livros dos sussur
187. aquele momento Isto implicava deixar uma palavra a meio se estivessem a escrever ou uma s laba por dizer se estivessem a falar ou mesmo engolir a comida sem a mastigar se estivessem a comer No convento a palavra de ordem era obedi ncia E Josefina tornou se mestre a obedecer Observar tudo n o dizer nada Quando fez os votos perp tuos adoptou o nome de Pasqualina por se referir a P scoa a ressurrei o de Cristo a quem ela desejava dedicar a vida Foi colocada na casa retiro Stella Maris em Rorschach nos Alpes Su os Foi a que num dia de neve de 1917 quando ainda n o tinha completado 23 anos a colocaram ao servi o de um prelado rec m chegado com enorme poder em Roma Estava com problemas de sa de Era frio e taciturno Tinha 41 anos e j era arcebispo Chamava se Eugenio Pacelli O diplomata andava havia tr s anos em negocia es de paz como enviado de Bento XV para buscar uma solu o alternativa para a guerra que tinha eclodido na Europa O insucesso as m s refei es o excesso de rabalho a frustra o haviam no atirado para a enfermidade Foi uma ordem expl cita de Bento XV que o levou ao retiro de Stella Maris Durante dois meses Pasqualina dedicou se de corpo e alma recupera o de Eugenio apesar do seu mau feitio e frieza Ela f lo pensar que ele era o seu nico paciente Mas n o era verdade Continuava a tratar de todos os outros que chegavam Vivia para trabalhar Dormia muito pouco A todas
188. ar de um esc ndalo com propor es inimagin veis A moeda de troca apenas uma parte do problema Emin ncia acrescentou Girolamo N o podemos esquecer o padre Niklas e tudo o que ele representa O padre Niklas n o problema nosso acabou por dizer Tarcisio perempt rio Poder muito bem ser mais uma v tima deste inimigo s rdido que n o olha a meios para nos derrotar Mas convinha tratarmos do problema da mulher Ela n o pode ser usada como moeda de troca Tem de desaparecer do mapa definitivamente O Rafael foi detido pelo Cavalcanti Precisamos de localiz lo sugeriu Guillermo Mas o sacana do Cavalcanti n o nos deixar chegar perto dele contrap s o homem da Gendarmaria O Cavalcanti n o vai dormir porta da cela Eu sei quem contactar afian ou Guillermo Trata disso o mais depressa poss vel ordenou Tarcisio Guillermo pegou no telem vel e saiu do gabinete por uns momentos Porque que encomendei esta tarefa ao Rafael recriminou se o Cardeal Secret rio de Estado passando as m os pelo rosto cansado Porque sabia que ele cumpriria alvitrou o porta voz com um sorriso incentivador Tarcisio reflectiu nas palavras do porta voz Talvez tivesse raz o Rafael era leal sobretudo s suas convic es Ningu m podia acus lo de incoer ncia Rememorou as palavras que proferira quando lhe encomendou a miss o de resguardar a filha daquele
189. ar s lojas que se esvaziavam a todas as horas do dia Roma era uma cidade buli osa e queria estar sempre composta para agradar a todos os seus visitantes Alheio a tudo isto o Franc s observou a entrada do edif cio como nos dias anteriores Os turistas ainda eram muitos Deambulavam a espa os admirando as fachadas e evitando os condutores mais impacientes que polu am o ar da cidade indiferentes aos afazeres dos outros muito menos importantes que os seus Os minutos foram lentos a tornar se em horas O Franc s comeu uma sandu che que comprara na noite anterior e bebeu gua A alimenta o era otalmente descurada quando estava a cumprir um contrato Ossos do of cio Em breve poderia tornar a dar largas sua paix o At l tinha de olerar o frio e a fome O combinado era entrar na igreja ao fim da tarde e assim fez O cliente corrigi lo ia se o ouvisse ou perscrutasse os seus pensamentos N o era uma igreja mas uma bas lica E discorreria sobre as diferen as entre uma e outra mais as de permeio como uma igreja ser um emplo com mais de um altar ao contr rio de uma capela que s tem um e muito diferente de uma bas lica que um edif cio grande como este com uma nave larga com naves laterais fileiras de colunas uma abside semicircular N o esqueceria de mencionar as catedrais abadias e santu rios Repetiria as vezes que fossem necess rias at que a informa o lhe assentasse no cocuruto at que a soubes
190. ar a sala secreta onde guarda o dinheiro e a comida disse um deles Eu n o tenho nem dinheiro nem comida Sabem muito bem que dei tudo o que tinha aos refugiados que os senhores provocaram O l der acercou se de Pacelli e apontou lhe a arma bem em cima da cruz que trazia ao peito O n ncio protegeu a cruz com a m o em jeito de desafio Saiam todos daqui Rua daqui para fora J gritou Pasqualina com um olhar enfurecido Um sil ncio pesado surgiu entre o grupo durante uns longos momentos e depois o l der bolchevique virou costas Vamos embora Impressionante comentou Jacopo que assim como Giorgio ouvia com muita aten o o relato de Anna Era uma poca muito sens vel disse Anna Ainda voltaram a incomod los antes de o movimento se extinguir Uma vez tentaram apreender o carro oficial mas sem sucesso e noutra tentaram barric los na rua O meu pai saiu do carro e come ou a rezar e a turba escutou o em sil ncio Isso aconteceu mesmo perguntou Giorgio Anna fez que sim com a cabe a Aquilo uniu os muito continuou Anna Ele come ou a cham la todas as noites ao gabinete para discutir assuntos sens veis do Vaticano Claro que Pacelli n o devia faz lo mas tinham uma rela o bastante c mplice Ele confiava nela t o cegamente que confessava lhe os seus medos os dilemas as discord ncias silenciosas Um dia chamou a garagem para ela ver a encomenda que tinha chegado E
191. ar e a raz o nunca lhe fugisse Os teus superiores v o ter conhecimento disto Vamos apresentar uma queixa formal Depois virou lhe as costas Boa noite Cavalcanti O inspector italiano caminhou para o exterior da sala do col gio dos relatores e cuspiu para o ch o atitude vista com repulsa por quem testemunhou Fico espera da devolu o das macas disse antes de sair V o se lixar pensou para si mesmo abandonando o local Girolamo Comte foi muito r pido a tomar conta da situa o Indicou aos seus homens que recolhessem todas as provas que os agentes italianos haviam embalado Seguramente o falc o matreiro havia levado algumas com ele para n o falar das provas fotogr ficas que nunca veria pois Cavalcanti certificar se ia disso Importar se ia com isso mais tarde Acercou se de Guillermo Como que permitiste que isto acontecesse perguntou com ar reprovador Tu e os teus homens que n o estavam no s tio certo hora certa como sempre Tenho tr s mortos que comprovam que est vamos no s tio certo hora certa Ele n o tinha jurisdi o Nem eu argumentou Guillermo N o existo lembras te Nota se O Cardeal Secret rio de Estado aproximou se dos dois homens Emin ncia Comte que trag dia balbuciou o piemont s com os olhos marejados e a voz embargada J chamaste o Federico perguntou referindo se ao porta voz do Vaticano
192. ar e impregnar o ambiente e adoptaram uma pose pensativa Precisavam de respostas mas neste momento s tinham d vidas entraves e perguntas perguntas e mais perguntas Como que eles tiveram conhecimento dela E de ti E como que souberam do rapaz Por onde que andaste perguntou Guillermo do nada A tratar de assuntos pessoais E correu bem Sim exceptuando alguns imprevistos O homem planeia Deus sorri atirou Guillermo com um sorriso J mo tinham dito afirmou Rafael endireitando se na cadeira Voltando ao assunto Como procedemos ent o Por mim dev amos ignorar N o podemos negociar com terroristas ponto final O Federico que contenha os estragos Esse o trabalho dele Claro que uma pena isso do rapaz jovem tem a vida pela frente bl bl bl mas muitos nem sequer chegam idade dele e E o que dizem os do terceiro andar interrompeu Rafael Esperava que n o pensassem como Guillermo A mesma coisa Que devemos ignorar as instru es e eliminar a mulher o mais rapidamente poss vel e de uma vez por todas E uma pedra no sapato diga se Sempre o foi Por mim eliminamos as duas Pesaram os pr s e os contras cada um para si ainda que a decis o j tivesse sido tomada por inst ncias superiores vontade deles insond veis e sobretudo inquestion veis Nunca podiam esquecer que eles eram o bra o que executava e n o a cabe
193. ara confirmar fisicamente a palavra Muito prazer O americano estava visivelmente constrangido mas concedeu o cumprimento como preconizava a boa educa o Mu mu ito pra zer Arturo tamb m cumprimentou o jornalista Tomam alguma coisa perguntou Rafael numa voz bem disposta N o n o O obrigado respondeu John de imediato Aceita John N o todos os dias que bebes uma cerveja paga com dinheiro do Papa atirou a inglesa sem desviar o olhar de Rafael John n o estava a perceber nada No seu entender essa era uma raz o mais que suficiente para n o aceitar bebida alguma Nunca a vira t o arisca e ofensiva N o n o que quero O obrigado repetiu Os olhares mantiveram se est ticos como se de uma fotografia se tratasse Sarah e Rafael como se n o existisse mais ningu m s eles Arturo atento ao grupo galhofeiro de ingleses e John o nico que destoava daquele cen rio olhando ora para uns ora para outros ora para a entrada sem perceber quem era quem ou o qu Parecia que estavam ali h imenso tempo naquelas posi es a medirem se uns aos outros mas os caf s ainda n o tinham sido servidos e n o levava assim tanto tempo prepar los Porque que foram ao quarto do John acabou por perguntar Sarah de supet o quebrando o sil ncio e aumentando a tens o Cheg mos agora respondeu Rafael Era ele o nico interlocutor do d
194. arcella sentia Gennaro a sua mente falou falou falou muito J n o eram lamentos nem protestos nem constata es de quem se viu relegada para um papel secund rio mas interjei es gemidos de lux ria bem vindos Disse o nome de Deus em v o por quatro ou cinco vezes Jesus tamb m foi mencionado at Sua m e Nossa Senhora foi evocada uma vez Gemeu muitas outras coisas e outros tantos vitup rios que decerto n o combinavam com as evoca es divinas Gennaro n o falou muito N o por alguma raz o especial ou mesmo por estar com quem estava N o costumava falar durante o acto fosse com quem fosse Achava que n o havia necessidade que n o era a ocasi o prop cia Ou ent o era mesmo verdade que um homem s conseguia fazer uma coisa de cada vez Por outro lado para ele a ca a tinha terminado no momento em que a esposa do Amadeo o cabr o do seu chefe se tinha despido e metido na cama com ele Para ele o importante era a conquista a sedu o E enquanto Marcella o usava ele pensava no caso que tinha entre m os Afinal sempre conseguia fazer mais que uma coisa ao mesmo tempo O duplo assassinato na Bas lica de Sant Andrea Aquilo fora obra de profissionais e era uma hist ria muito mal contada Tanto que no que tocava Igreja a express o que sempre utilizava era culpados at prova em contr rio Estivera na bas lica ao in cio da noite e tinha d vidas muitas d vidas Ouviu o telem vel vibrar em cima da mes
195. arte das vezes O prelado permanecia im vel a olhar pelo vidro pintalgado de chuva Um rel mpago iluminou o caminho por breves segundos e deixou o ver o recorte das rvores que se vergavam merc do tempo Havia uma profunda inquieta o naquele passageiro de meia idade e olhar sorumb tico O barulho do vento e da chuva a atacar o tejadilho abafava a respira o alterada pela ansiedade O troar do trov o mesmo por cima dos dois homens f lo saltar do assento Isto est mau murmurou para si mesmo N o se preocupe Excel ncia disse o motorista que dera pela inquieta o do prelado Ladra mas n o morde acrescentou com um sorriso t mido Os homens de Deus n o gostavam muito de sorrisos Pensou em corrigir o motorista j n o era Excel ncia era Emin ncia o solid u vermelho que trazia assim o definia mas ele n o era obrigado a saber o protocolo das hierarquias da Madre Igreja A viatura continuou a abrir caminho atrav s da intemp rie com a condu o segura e escrupulosa do su o Depois de uma curva mais pronunciada esquerda atravessaram a entrada da propriedade Os enormes port es abertos resistiam ao vento Ao fundo avistaram o destino O cl rigo estremeceu e as suas palpita es aumentaram Estava a chegar a hora O vidro embaciado deixava discernir um edif cio escuro algumas janelas iluminadas pela luz interior a denotar vida humana Um rel mpago iluminou a fachada de
196. as horas ia ver como estava Pacelli e dar lhe os medicamentos Tamb m o censurava assim que o apanhava a tentar voltar ao trabalho Nunca ningu m o afrontara pois era dif cil esquecer o poder que ele detinha S Pasqualina o fizera E se no in cio ficou pasmado depois achou gra a Aos poucos Pacelli recuperou completamente e acabou por se ir embora sem um adeus nem um obrigado Pasqualina soube que ele tinha partido quando foi ao quarto dele e n o o encontrou N o restava nenhum sinal dos dois meses que o prelado l passara Ficou sentida Pasqualina estava longe de imaginar o efeito que tinha tido nele Tr s meses mais tarde ele regressou ao retiro e disse madre superiora que fora colocado na nunciatura de Munique e necessitava de uma governanta para tratar da casa Gostara muito do trabalho daquela irm que cuidara dele Em Dezembro de 1917 Pasqualina partiu para se juntar ao s quito de Pacelli em Munique Nunca mais se separaram Sabes que isso n o bem verdade interrompeu Rafael Sei Quando o Pacelli regressou a Roma em Dezembro de 1929 ela n o foi com ele Pois Isso verdade concordou Duv lio H quem diga que ela foi contra a vontade dele tr s semanas depois e que ficou na casa da irm de Pacelli j que n o tinha outro s tio onde ficar mas isso completamente falso Ent o quando que ela foi quis saber Sarah curiosa Um ano depois redarguiu
197. as motocicletas autocarros cami es a percorrerem a congestionada rua nos dois sentidos Roma podia parecer ca tica mas n o era Apenas sofria do mal latino cujo feitio extrapolava a pen nsula e se espalhava pelo Sul do continente de querer levar o carro at porta do destino e n o conceber sequer outra solu o Falei com o Secret rio de Estado revelou o embaixador com um ar austero Confirmou o que lhe transmiti Corfirmou e confidenciou ainda que o senhor padre uma pe a chave neste caso e tem colocado entraves sua resolu o acrescentou o embaixador fitando o irado Nicole levantou se e fitou Rafael enfurecida O que que queres dizer com isso Que s o senhor padre pode fornecer o resgate e n o manifestou vontade em faz lo Rafael sorriu Aquela resposta por parte do Cardeal Secret rio de Estado n o era de admirar N o ocuparia o lugar se n o tivesse aquela capacidade inata de tornar verdade inteira apenas o parcial Era certo que Rafael n o colaborara pelo menos na parte que era do conhecimento do piemont s mas sabia muito bem que tamb m n o era inten o deles colaborar com os raptores Sim o Secretariado queria a Anna mas n o para negociar Acabariam com ela Os inescrupulosos terroristas que cativaram Niklas podiam barafustar e tornar p blico o seu objectivo mas a Santa S nunca poderia entregar aquilo que n o existia Anna Lehnert na m o deles nunca seria
198. as a m o meiga que a guiava pelos ombros e o latir do cora o nos ouvidos e no peito Foi conduzida s cegas desceu alguns degraus desajeitadamente sempre com uma m o a gui la sem nunca pronunciar uma palavra Cheirava a humidade Estava a descer para o subsolo e sentiu se ainda mais nervosa Para onde estaria a ser levada Pouco depois parou e sentiu as m os soltarem se Sil ncio total Hesitou durante uns instantes a tentar escutar alguma coisa um ru do um sussurro De in cio n o conseguiu escutar nada mas depois sentiu o muito fraco fr gil depois mais forte a respira o de algu m Seria do raptor Levou as m os cabe a e arrancou o capuz Levou algum tempo a habituar se luz diminuta Devia ser uma cave mas mais parecia uma cela Era estreita e tinha uma cama encostada a uma das paredes No lado oposto uma sanita A porta fechou se nesse momento Olhou em redor e viu o pela primeira vez sentado na beira da cama a fit la timidamente o medo exasperado impresso na face e os bra os a envolv lo num abra o apudorado Tinha a roupa preta dobrada em cima de uma cadeira aos p s da cama e vestia apenas roupa interior Quem quem a senhora perguntou a medo mal conseguindo olh la nos olhos Sarah tamb m tinha o cora o acelerado e os nervos flor da pele Nem uma pista uma palavra uma satisfa o N o fazia ideia onde estava aquele lugar encerrava fora de si todas as respostas e n o
199. as in meras virtudes e escassos defeitos Era um executante um cumpridor e n o um inquiridor A sua lealdade conhecia somente um dos lados e desprezava totalmente o contexto e por consequ ncia a verdade Aquele reparo final melhor para ti era a prova viva dessa atitude Rafael conhecia os a todos bem de mais esse era o problema N o me venhas dizer o que melhor para mim desafiou Estamos na presen a de um homem que est morto para a opini o p blica esclareceu Federico com uma amea a velada Apenas queremos saber o m ximo de informa es poss vel para tentarmos estancar esta desgra a O que que levou o Comte a rebelar se Tantas mortes em nome de qu Rafael fez um aceno negativo com a cabe a Eles n o tinham percebido nada ou n o queriam perceber N o foi em nome de qu mas de quem Qual o denominador comum de todos os crimes Os homens levaram algum tempo a pensar trocando olhares comprometidos entre si A resposta n o era dif cil mas ningu m a queria dizer em voz alta O ltimo Papa de cunho imperial tornara se num arqu tipo insofism vel de inconveni ncia No Vaticano sempre tinham sido prof cuos a varrer para debaixo do tapete as inconveni ncias O que distava do olhar n o lembrava mente nem ao cora o Era como se nunca tivesse existido O problema que a hist ria nunca deixava esquecer nada O Santo Padre Pio XII respondeu o Cardeal Secret rio de E
200. as pe as Pararam todos uns segundos e logo voltaram aos seus afazeres Eram normais estes repentes no inspector Apanha me isso se faz favor pediu ao agente em voz contida Tentava acalmar se rapidamente Ser que ainda funciona Funciona E de guerra Deixou o agente e aproximou se novamente do homem do Vaticano M s not cias perguntou o outro Recebemos um novo alerta na central Guillermo engoliu em seco O que aconteceu Anda Hoje passas a noite comigo comunicou o homem da pol cia italiana E prepara te que vai ser longa Mas o que aconteceu insistiu Guillermo Um massacre Um raio de um massacre 38 Abriu os olhos e n o viu nada Escuro Breu Tornou a fech los e a abri os novamente Nada Trevas Depois apercebeu se de uma nesga de luz muito t nue um fio fino que provinha daquilo que parecia uma janela Levantou se a custo com as pernas a baquearem e dirigiu se para a fonte de luz escassa p ante p lentamente Mesmo assim o p direito embateu em algo mole e trope ou Praguejou mentalmente e levou a m o nuca Do a Massajou a por uns instantes N o sabia dizer se simplesmente come ara a doer ou se j do a antes e s se dera conta naquele momento Sentia tamb m uma ligeira tontura e n useas Levantou se com esfor o novamente e caminhou para a janela com passadas prudentes e cautelosas Abriu a e afastou as portadas com um toque brus
201. ata de cerveja para o ch o depois de ter despejado o l quido alarvemente um casal a beijar se como se o mundo fosse acabar no minuto seguinte uma garrafa a estilha ar se em mil peda os que o assustou Seguiu se um coro de risos pela exulta o ritualista do macho que mostrava s f meas ou aos outros machos a sua habilidade na arte de partir garrafas Bertram virou esquerda deixando para tr s a alegria bria do local e deu por si noutra rua Sucediam se os carros e as lambretas e os grupos de pe es Desembocou numa rua mais larga Havia menos pessoas ali Pequenos grupos e alguns casais que seguiam em sentido contr rio ao dele Aos poucos a rua esvaziou se e ele come ou a olhar para tr s incomodado N o viu ningu m Decidiu apanhar um t xi Seria mais seguro e r pido Fez sinal a um que ia a passar e quinze minutos depois estava em casa na Via Tuscolana Chamou o elevador mas este n o acudiu ao seu pedido Carregou mais um par de vezes no bot o de chamada como se isso fizesse alguma diferen a Nada Subiu pelas escadas at ao quarto andar J n o tinha f lego para ascens es sem ajuda da tecnologia Chegou sua porta a arfar e a suar Carregou no interruptor da luz do corredor mas nada aconteceu Apenas uma pequena luz de emerg ncia aspergia um t nue fio de claridade Que raios praguejou para si Recuperou o f lego e procurou a chave da porta no bolso Inseriu a na ranhura e abriu a porta Por fim o descanso
202. atr s Temos sempre O secret rio do Papa abordou me com uma conversa muito estranha sobre os irm os Finaly prosseguiu ciente de que pisava terreno perigoso Rafael torceu o nariz O Tomasini e o Comte querem te em Roma o mais rapidamente poss vel O Comte que v dar ordens aos homens dele insurgiu se Rafael Contaste lhes Se lhes tivesse contado n o estava aqui Ainda n o posso voltar confidenciou o padre contemplando o Canal Tens de voltar O Niklas foi raptado atirou quase lhe apetecendo fechar os olhos para n o assistir reac o de Rafael O padre respirou fundo J n o estava ali a mente fugira para outras paragens s um mensageiro de merda Jacopo O Luka O historiador abanou a cabe a em jeito de nega o N o teve hip tese nenhuma E os homens do Gumpel Como que sabes deles perguntou o historiador N o tinha mencionado nada sobre os relatores Est o em seguran a insistiu Rafael N o sei Rafael mirava o Canal que se arrastava indiferente aos sentimentos de quem o olhava Jacopo tentou perscrutar alguma sensa o de como o de abalo no padre mas n o conseguiu detectar nada Rafael era um homem de ac o J informaram a Nicole Jacopo fez que n o com a cabe a Ainda bem disse o padre Ela tem de saber Ela e o embaixador mas prefiro ser eu a contar lhes H um pedido de resgat
203. avia uma pinga de sangue em lado nenhum N o havia qualquer vest gio dos tiros nem dos inv lucros Um trabalho limpo O que que te parece perguntou Guillermo Se n o estiveres a gozar com a minha cara parece me que estamos perante o trabalho de um profissional Mas isso tu percebeste assim que aqui entraste No entanto h uma coisa que me intriga O qu perguntou Guillermo fingindo se interessado O corpo estava coberto com um len ol Um profissional n o espeta dois tiros queima roupa para depois o tapar com um len ol demasiado crist o E o que que sugeres Diz me tu Guillermo ignorou o e deu uma vista de olhos ao apartamento N o convinha mencionar a visita que os seus homens e os jornalistas haviam feito naquela noite Gennaro vigiava o com um olhar perscrutador Estava cada dia mais insuport vel Odiava ter de lidar com ele Quantas vezes iria pensar nisso nessa noite Precisava de falar com Davide com urg ncia Ligara lhe h pouco tempo sem sucesso O seu telem vel soou nesse preciso momento Era Davide Raios Que timing Decidiu n o atender n o era o momento prop cio Carregou no bot o que silenciava o aparelho e tornou a guard lo N o atendes perguntou Gennaro descaradamente sem pinta de vergonha Queres privacidade Guillermo ficou encavacado Cavalcanti n o o ia largar t o cedo A sugest o de privacidade era obviamente tro a Decidiu voltar
204. balhar Numa positio sobre sobre Gumpel estava hesitante n o sabia se deveria continuar JC suspirou de impaci ncia impressionante como o mundo pode estar a ruir vossa volta que mant m sempre a guarda levantada repreendeu JC Eu sei muito bem em que que os seus homens estavam a trabalhar N o estava onde estou se n o soubesse o que se passa ao meu redor Formulei mal a pergunta Esse trabalho era motivo suficiente para que eles fossem assassinados Eu n o sei respondeu Gumpel baixando a cabe a N o me esconda nada meu caro Aquilo que eu n o sei acabo sempre por descobrir de uma forma ou de outra Quem me garante que n o foi o senhor quem os matou perguntou o relator a medo mas em tom desafiador N o tenho que lhe dar garantias de nada O juiz aqui sou eu Por outro lado se tivesse sido eu a fazer o que diz provavelmente teria as minhas raz es e n o lhe estaria a perguntar que raz es eram essas Seria estranho Al m disso porque que eu os mataria Gumpel deixou se ficar calado por uns instantes a magicar nas palavras do velho Domenico Bertram e Duv lio mortos Misteriosos eram os des gnios do Senhor mas s vezes n o perceb los era frustrante Vai matar me Essa decis o ainda n o foi tomada Quando eu tiver novidades sobre isso prometo que ser o primeiro a saber respingou com um sorriso c nico E quanto aos seus cola
205. bateu A gua escorria lhe pelo cabelo para o rosto e erfiava se pelo pesco o abaixo A gabardina tamb m j n o conseguia conter a torrente que ca a do c u sem desarmar N o se apercebeu de nenhuma movimenta o no interior a borrasca n o deixava perceber nada N o saberia dizer quantos minutos passaram at a porta se abrir e reconhecer a irm que se revelou por tr s dela Sonja hesitou Entre por favor Emin ncia Est a chover muito Olhou o apreensiva enquanto fechava a porta Est todo molhado Estou bem O prelado olhou em redor pesaroso Muita coisa lhe passava pela cabe a naquela hora A ilumina o era fraca m rbida espalhando mais sombras que luz e resumia se a uma lamparina de fraca intensidade em cima de uma pequena mesa Para al m da irm n o se via mais ningu m t o pouco se ouvia alguma coisa a n o ser a chuva l fora e um trov o beligerante que fez Sonja benzer se Valha nos Santa B rbara evocou a irm soltando um pequeno grito O prelado nem se apercebeu Continuava a olhar em redor para o vest bulo at onde a parca luz alcan ava e para a escadaria que dava acesso aos andares superiores A ventania fazia se ouvir l fora com mais for a como se a tempestade interior que o assolava fosse o motor para a que se abatia sobre os Alpes Deseja tomar um ch Emin ncia ofereceu Sonja N o est vamos a contar com a sua presen a mas vamos provide
206. boradores O relator respirou fundo Estava mo do das horas e horas que havia passado na cama nos ltimos dias Depois de cinquenta anos a investigar a vida de Eugenio Pacelli o Papa Pio XII de boa mem ria cheg mos conclus o que n o pod amos elaborar uma recomenda o ao Santo Padre para que o processo de canoniza o avan asse para o est dio seguinte O padre Duv lio persignou se ao pronunciar o nome do relator fez descobertas importantes que o impediam N o me diga que o anti semitismo dele vos convenceu finalmente Gumpel lan ou lhe um olhar enfurecido Pio XII foi o mais semita dos Papas depois de Pedro JC enfrentou o fito do relator para deixar bem claro que naquele quarto s ele tinha direito indigna o N o comigo que tem de se preocupar Vai ter muito trabalho a convencer o mundo disso Gumpel sabia que JC dizia a verdade O problema era mesmo esse convencer a opini o p blica de que tudo em que acreditava at ali n o correspondia verdade Tarefa descomunal e ingrata dif cil de concretizar O mundo podia ser muito pequeno tecnologicamente mas era imenso na mesquinhez Estou perfeitamente ao corrente da Opera o do Assento 12 lan ou JC Ouviu falar dela Existiu mesmo perguntou Gumpel com os olhos arregalados Nunca nenhum leigo mencionara aquela alegada opera o do KGB A maioria n o acreditava sequer que ela tivesse existido Conheci o Iv
207. capaz de constranger o pr prio constrangimento e quebrar o sil ncio g lido Qual o plano perguntou Cavalcanti com mal cia Deixas nos tratar de tudo e observas proferiu Girolamo N o te metas Cavalcanti Entendido acatou o inspector com um falso tom conciliador E se der para o torto N o vai dar para o torto Seguimos as instru es dos raptores fazemos a troca e levamos imediatamente o padre Niklas para a embaixada E isso que vamos fazer perguntou Guillermo disfar ando a surpresa Pensava que a ideia era eliminar a moeda de troca mas compreendia que n o se pudesse diz lo na frente do pol cia Girolamo lan ou um olhar letal ao homem da espionagem Quaisquer que fossem os planos reais Cavalcanti n o seria envolvido Para al m disso e dada a corrente situa o gra as s contra investidas do padre Rafael com certeza teriam de recorrer improvisa o Dito assim parece f cil disse o inspector cuja experi ncia lhe dizia que n o devia acreditar numa s palavra dita pelo intendente Se seguirem o plano exactamente como eu disser vai ser garantiu Girolamo Cavalcanti virou se para tr s e focou se em Rafael sentado no meio calado absorto como se nada daquilo fosse com ele Que achas Rafael Vai ser como ele diz O padre encolheu os ombros N o estava interessado no que nenhum deles tinha para dizer O painel do tabli do carro mostrava
208. car assim As m os a tocarem se olhos nos olhos Mia n o podia contar lhe a verdade N o podia Seria demasiado duro para ele Roma necessitava de uma obla o de vez em quando assim lho tinham dito e Roma nunca errou nem errava e jamais erraria Matteo seria essa oferenda para o bem da Igreja Cat lica Apost lica Romana e por consequ ncia l gica de Deus Pai Todo poderoso O veron s levantou se Estava saturado do am lhe a cabe a e os ossos Precisava de respirar ar puro fresco andar um pouco pela rua sem rumo nem destino N o aguentava mais estar preso Quem mais que est c N o sei N o vi mais ningu m Matteo caminhou em direc o ao corredor por onde o velho e o manco tinham ido e observou Nada Estava escuro excepto uma luz t nue ao fundo Vou ver E melhor n o arguiu Mia Venha tamb m disse ele antes de desaparecer no corredor Mia sentiu a pulsa o a acelerar Levantou se e seguiu o belo guia tur stico veron s N o pretendia imiscuir se em assuntos que n o lhe diziam respeito e tinha medo Alcan ou o em poucos passos Tentaram n o fazer barulho Avan aram devagar at chegarem nica porta aberta de onde provinha a luz que vertia para o corredor Espreitaram para o interior do quarto mesmo a tempo de ver o manco dar uma bofetada no rosto adormecido de um homem idoso que estava deitado na cama Acorda disse o gorila de forma bruta O velho deitad
209. cara o a dirigir a Sua Igreja Competia lhe faz lo o melhor que sabia e podia Pai e Senhor do Universo Sois o Rei dos Reis V s que fizestes o paral tico andar o morto voltar a viver o leproso sarar V s que vedes as minhas ang stias as minhas l grimas bem sabeis como preciso alcan ar sabedoria e pondera o Iluminai os meus passos assim como o Sol ilumina todos os nossos dias Jesus tenho confian a em V s Estava cansado A noite ia a meio e j h alguns dias que n o conseguia dormir Ins nias provocadas pelo peso do mundo A indesejada interrup o chegou antes do final da ora o Guillermo entrara na benta capela timidamente mas a porta rangera anunciando a sua presen a Tarcisio elevou uma m o a pedir sil ncio Ao fim de alguns instantes elevou se com esfor o Os 78 anos pesavam lhe nos ossos implacavelmente O tempo comandava sempre contra tudo e contra todos O que queres perguntou Tarcisio com maus modos O chefe da espionagem fez uma v nia e deu mais alguns passos t midos para o interior da capela privada Fez uma segunda v nia e ajoelhou se para beijar a m o do Secret rio Est resolvido perguntou o Secret rio N o Emin ncia respondeu Guillermo com apreens o N o era normal as ordens que Tarcisio dava n o serem cumpridas Tarcisio fixou o com uma nota de afronta no rosto Parecia que n o tinha entendido N o estava cumprido O que queria dizer com isso
210. chefe dos relatores N o atendeu nenhuma das nossas chamadas informou Girolamo E n o est em nenhum dos endere os que lhe conhecemos S se estiver em algum n o registado Tarcisio e Federico respiraram fundo Os danos ainda estavam a acontecer Faltava pouco tempo para o final do prazo e ningu m era capaz de saber o que aconteceria quando este chegasse Se Rafael tivesse colaborado um pouco n o tinham com o que se preocupar Lidariam apenas com o tr gico desaparecimento de um jovem padre alem o filho de um diplomata Talvez at conseguissem inculpar o embaixador Mas para isso era premente que a moeda de troca deixasse de o ser e desparecesse de uma vez por todas Acham que o Gumpel tamb m Tarcisio deixou a pergunta em suspenso espera que algu m respondesse Acho que se alguma coisa aconteceu com o padre Gumpel sab lo emos muito em breve Eles t m sido expeditos a informar toda a gente das suas ac es referiu o intendente da Gendarmaria E depois do nada temos o rapto do padre Niklas continuou Guillermo como se n o tivesse sido interrompido Filho do embaixador alem o mas que liga o tem ele com os outros Parecia estar a falar mais para si do que para os restantes passageiros do carro como se estivesse a analisar os acontecimentos em voz alta Era ac lito do padre Luka explicou Girolamo Provavelmente tinha acesso a informa o privilegiada P
211. co debru ado sobre a balaustrada inanimado Por aqui gritou o da frente empurrando Niklas com tanta for a que este foi embater num confession rio que estava encostado a uma coluna Luka atirou se para os bancos do lado oposto O jovem padre completamente em p nico tentou levantar se desorientado O estranho puxou o para baixo e colou o parede Escudavam se na parede lateral do confession rio Queres morrer recriminou o num alem o polido N o respondeu Niklas ignorando a obviedade da resposta J nem na casa de Deus se est seguro ironizou Luka com um sorriso Tudo ficou em suspenso durante alguns minutos Niklas arquejava com os nervos e n o reparava na calma dos dois padres que o acompanhavam mas tamb m quem o faria perante tal situa o Consegues ver alguma coisa perguntou o desconhecido Luka fez que n o com a cabe a O desconhecido que estava ao lado de Niklas enfiou a m o dentro da batina e retirou uma Beretta Cougar 8000 de 9 mm Niklas sentiu os cabelos loiros eri arem se de medo O cora o ia rebentar tal era a for a com que pulsava O pior foi quando viu o padre Luka professor de teologia e seu mentor no Collegium Germanicum fazer o mesmo Se percebesse alguma coisa de armas saberia que era uma 85FS Cheetah Niklas estava a ponto de n o segurar a bexiga Quem s o voc s conseguiu perguntar numa voz simultaneamente de pavor e ultraje O p
212. co para deixar passar a uz dos candeeiros que iluminavam a pra a l fora O ar frio inundou a divis o e a luz artificial conquistou algum espa o escasso s sombras Trope ara num corpo que estava estendido no ch o e a sensa o foi estranha N o era a primeira vez que via um cad ver N o seria a ltima J n o sentia nada mas desta vez Sarah pensou Onde est a Sarah Procurou um interruptor e encontrou o do outro lado do corpo na parede oposta colado parede a meia altura Passou por cima dele era um homem de barriga para baixo n o respirava Estava morto Acendeu a luz e analisou a cena Cinco corpos estavam espalhados no gabinete Sentiu os nervos invadirem lhe o corpo Nada conveniente Tentou identificar as v timas Aquele em quem trope ara fora Davide o colega da Gendarmaria Vaticana Virou o de barriga para cima e viu o buraco na testa quase sem sangramento Morte instant nea Nem se apercebera do que lhe acontecera Identificou os outros dois colegas mais jovens que acompanhavam Davide Um era Arturo n o se lembrava do nome do outro se que alguma vez o soubera Faltavam dois e engoliu em seco com a respira o a acelerar Calma Calma Chamou a si toda a frieza que conseguiu e identificou os Um era o malogrado Duv lio o relator que se manteve preso cadeira inclinado para tr s mas fora como era sua vontade ao encontro do Criador Por estranho que pudesse parecer aos olhos de Deus segundo a
213. co que estava a sentir pela insol ncia daquele imberbe alem o mas permaneceu mudo Giorgio desviou o olhar para Guillermo A moeda de troca j est connosco Guillermo fez um gesto negativo com a cabe a Devo ter mais informa es dentro de minutos J devia estar c advertiu Girolamo que depois se virou para o secret rio do Papa Preciso de falar consigo Excel ncia Avise me assim que a moeda de troca esteja com os nossos homens pediu o alem o a Guillermo e depois fitou o intendente Procure me no gabinete do Santo Padre Girolamo anuiu Assim faria Mais alguma coisa quis saber o Secret rio de Estado com uma nota de sobranceria na voz Giorgio tirou as m os da secret ria e dirigiu se porta do gabinete Boa noite meus senhores Guillermo fechou a porta assim que o alem o saiu e avan ou para o centro do gabinete Vais encost lo parede perguntou Tarcisio para Girolamo com um ar c mplice O intendente n o respondeu Esse monsenhor n o o que parece Esconde se muito bem por tr s do Santo Padre mas n o me engana Ele anda a tramar alguma disse para o homem da espionagem E o nosso assunto Tomasini Est resolvido N o limitou se a dizer Guillermo Mataram o Bertram e querem a mulher e o Rafael na Pra a de S o Pedro s oito da manh Como que soubeste disso quis saber o intendente O Arturo ligou me
214. colou o do vidro e gelou ao l lo Estava ciente que havia dois lados dois reversos da mesma moeda mas imaginava que estivesse uns passos frente Estava enganado Quem escreve estas vidas s pode querer o mal de todos cogitou para si mesmo revoltado Guardou o post it no bolso da camisa pegou na sua Beretta que Arturo guardara e saiu para o corredor Havia ainda muita hist ria para contar muitas palavras para escrever para bem ou mal de todos Percorrera aquele corredor muitas vezes e conhecia bem o local o que lhe permitiu seguir s apalpadelas Cegou com o clar o forte de duas lanternas que se acenderam naquele momento e tentou escudar a luz com as m os Pare imediatamente ouviu se uma voz forte ordenar Deite se no ch o Rafael resistiu Deu dois passos atr s para avaliar as op es de fuga A janela aberta do gabinete era uma hip tese mas n o estava em condi es f sicas para tal De momento n o tinha como fugir Deite se no ch o de barriga para baixo ou vai deitar se a mal com um tiro no bucho insistiu a voz Rafael obedeceu Um recuo estrat gico Logo se veria o que fazer a seguir Um homem de cabelo grisalho apareceu lhe frente e exibiu lhe um distintivo dourado Inspector Gennaro Cavalcanti Polizia di Stato 39 Sarah n o sabia dizer h quanto tempo tinha sido levada O capuz que lhe fora enfiado na cabe a ainda dentro do gabinete depois de ter assistido a uma cen
215. com as m os apoiadas na bengala Isso n o faz nada bem sua lcera Matteo desistira de tentar perceber como que aquele avozinho tinha conhecimento da sua lcera Era bvio que ele estava muito bem informado talvez de mais e n o havia nada que ele pudesse fazer quanto a isso A mulher voltou a entrar na sala para ir buscar o tabuleiro com o bule e as ch venas de ch que haviam sido servidas h algumas horas H pouco tinha passado um pouco de pomada no p de Matteo que havia sido queimado pelo ch As m os gentis afagaram lhe a pele Deixe ficar isso Mia ordenou o velho com alguma rouquid o na voz Sente se um pouco connosco Desfrute da nossa companhia Mia ficou encabulada sem saber como reagir Era demasiado desajeitada para confraternizar J n o o fazia h tanto tempo que tinha quase a certeza que esquecera o protocolo a aplicar nestas ocasi es V Largue o tabuleiro Ele n o vai a lado nenhum Al m disso a Mia n o est connosco para nos servir O nosso anfitri o tem empregados para esse efeito Sente se insistiu A freira acedeu ao pedido do idoso porque lhe pareceu uma ordem Nem lhe passava pela cabe a contrari lo Dois passos t midos at poltrona ao lado dele esticou bem a saia cinzenta para baixo e sentou se quase se afundando no assento Limitou se a observar a sala sem nada dizer n o ignorando o facto de que Matteo n o tirava os olhos dela Ele estava agastado pr
216. corpo do Santo Padre O dia 14 chegou por fim e madre Pasqualina governanta de Pio XII ficou reservado um lugar atr s de todos os servi ais ocultos por uma das colunas grandes que suportavam a c pula Podia ouvir mais do que ver mas ela n o se importou Conseguiu v lo quando entrou magn nimo pl cido O seu Eugenio alvo de todas as honras amado pelos fi is como merecia Aguentou se sem chorar at o corpo ter sido colocado no triplo ata de e levado para a cripta Acabou Eugenio tornara se hist ria Limpou as l grimas e dirigiu se para o exterior da bas lica seguindo a multid o Um bra o apoiou se no seu ombro Madre por favor Ouviu atr s de si Era um jovem guarda que lhe entregou um bilhete e sem proferir mais nenhuma palavra lhe virou as costas Em breve haveria de jurar fidelidade a outro Papa Afastou se a custo da turba de Emin ncias Excel ncias Rever ncias e outros convidados que a empurravam para a sa da e encostou se a uma das colunas da entrada junto Piet de Miguel ngelo Abriu o pequeno bilhete que trazia as armas do Col gio dos Cardeais na parte superior Estava escrito m o e em letra cursiva Madre Pasqualina Serve esta nota para inform la que ter de recolher os seus pertences at ao final do dia Est dispon vel uma gratifica o de 170 000 liras no Tesouro da C ria que deve ser levantada sa da A assinatura era a parte mais leg vel do bilhete
217. cou em sil ncio durante alguns momentos O Cardeal Secret rio de Estado da altura decidiu afastar a minha m e de Roma e manteve me sob a tutela de Ercole que foi o meu pai at aos 15 anos N o desejo a ningu m o que os meus tios adoptivos passaram tamb m O que que aconteceu aos 15 anos quis saber Sarah Mandi n o respondeu logo Reviu primeiro a cena na sua pr pria cabe a que h vinte e nove anos mudara a sua vida para sempre a chegada extempor nea a casa da escola de m sica a perspectiva de um part time a vender produtos de beleza de uma marca conceituada o sil ncio das divis es vazias de gente e depois os gritos abafados Buscou os lentamente p ante p cada vez mais aud veis Provinham do corredor e eram do pai que berrava para o telefone Faremos como ordenou o Cardeal Secret rio de Estado Viu o pai levantar uma m o e bater com ela na parede encolerizado N o voltes a proferir isso em voz alta A Mandi nunca poder saber quem s o os pais dela ouviste Nunca O cora o apertou se lhe no peito com a afli o quando ouviu o pai pronunciar aquelas palavras O resto ruiu quando se viu a dar um passo em frente e revelar a sua presen a O pai fitou a incr dulo sem conseguir esconder a inquieta o que sentia A curiosidade levou a melhor e acabei por exigir respostas para as quais n o estava preparada confessou Mandi Aquela que conhecia como a tia Anna uma mulher azeda que raramente a
218. cumentos atesta os dilemas e as d vidas de Pio XII assim como a gest o inteligente dos acontecimentos e uma preocupa o genu na pelas pessoas Estou totalmente convencido de que ele era um santo afirmou E n o foi o nico In meras individualidades desde diplomatas a chefes de Estado artistas e simples fi is declararam que quando privavam com o Papa sentiam que estavam na presen a de uma for a divina de um santo tal era a energia que sentiam emanar de Pio Descreveram a sua voz cristalina o toque meigo a constante aten o ao bem estar de quem o rodeava A Opera o Assento 12 que JC menciona no livro existiu realmente e ao que parece cinquenta e cinco anos depois da morte de Pio XII continua a cumprir o seu objectivo Tenho um apre o profundo pela Anna e pela Mandi a quem pude libertar na fic o mas que fazem parte dos sacrif cios que Roma exige de tempos a tempos para expiar os pecados do mundo Testemunharam os meus dilemas enquanto escrevia e n o escrevia esta hist ria as d vidas e os corflitos interiores Tiveram sempre uma palavra de incentivo e at os sil ncios calculados me ajudaram a percorrer este caminho dif cil entre a cria o liter ria e a hist ria Sinto uma enorme admira o e devo o por Piccolo o Papa Luciani que ainda hoje influencia o mundo com as suas obras em defesa das crian as desprotegidas e que tamb m devia ser canonizado Agradecimentos H sempre muitas pessoas a
219. cupava O nev o dos ltimos dias que prendera os h spedes junto s lareiras das salas de conv vio e de jogos ou na agrad vel biblioteca acalmara na noite anterior da que quase todos se tivessem ausentado pela manh para apreciar os prazeres da neve e da novamente adquirida liberdade Sa ram com esquis tren s bolas sorrisos e express es infantis nos rostos Os poucos que decidiram permanecer no aconchego do retiro n o viram o rec m chegado prelado italiano Foi imediatamente conduzido pela irm Bernarda aos seus aposentos pela entrada privada nas traseiras do edif cio longe de todos os olhares A prioresa encarregara Bernarda de prover todas as necessidades do reverendo monsenhor a qualquer hora do dia ou da noite durante a sua estada A jovem observou o desconhecido prelado T o novo e j com um cargo t o importante Um competente servidor da Igreja seguramente Carregava uma pequena mala de quatro rodas pela pega N o parecia trazer muita roupa Provavelmente o repouso ordenado pelo Santo Padre seria breve Como solicitado o acesso aos aposentos s se poder fazer por esta via informou a freira em italiano quando subiam as escadas at ao erceiro piso Obrigado agradeceu o prelado em alem o A sua voz era firme segura de si varonil e no entanto conservava amb m uma certa do ura pensou a jovem quando abriu as portas dos aposentos Espero que o quarto seja do seu agrado Lucar
220. de Outubro de 1958 Tudo como tem de ser segundo a vontade de Deus Pai Todo Poderoso Criador de todas as coisas vis veis e invis veis omnipresente omnipotente escrevinhador de vidas certas por linhas tortas amo de todos os destinos men Quis o Senhor do Universo chamar Sua companhia eterna a alma do Seu servo Eugenio ao fim de oitenta e dois anos de vida quase todos dedicados a Ele na sua plenitude O chamamento ocorreu s tr s horas e cinquenta e dois minutos da madrugada do dia 9 do d cimo m s de 1958 na villa papal de Castelo Gandolfo onde o Vig rio de Cristo estava a passar f rias desde 24 de Julho Na realidade f rias era um termo desacertado em toda a latitude para algu m que trabalhava dezoito horas por dia mesmo doente O seu ltimo acto consciente antes de entrar num estado comatoso irrevers vel no final da tarde do dia 6 do mesmo m s foi dar um beijo raterno na testa da madre Pasqualina amiga confidente m e protectora sem a qual Eug nio n o podia nem conseguia viver provavam no os mais de quarenta anos que passaram juntos depois de esta o ter admoestado por ele querer ir alimentar a Gretel o seu bem querido pintassilgo Eu vou aliment la Santidade comunicou a madre com autoridade Os m dicos ordenaram lhe repouso absoluto Ainda ontem caiu na cama esgotado de cansa o O corpo castiga aqueles que n o t m ju zo Em Roma Eug nio ordenara que a gaiola de Gretel se
221. de agitava se sua frente enquanto esperava pelo autocarro aqu tico Ao lado da esta o viam se t xis de gua que aguardavam pelos clientes que pretendiam um servi o mais exclusivo A ponte degli Scalzi ligava o Sestiere de Cannaregio ao de Santa Croce e muitos dos passageiros atravessaram na A cidade sem carros era mais agrad vel no inverno apesar de tudo quando o n mero de turistas era drasticamente inferior ao dos meses de calor Por outro lado a inclemente Lagoa de Veneza auxiliada pelo incomplacente Adri tico n o dava tr guas cidade nesta poca As sirenes que anunciavam a acqua alta soavam frequentemente Fosse como fosse Veneza n o era um roteiro tur stico que agradasse a Jacopo e dificilmente a escolheria se o motivo da sua viagem fosse o lazer Depois da reuni o com o secret rio do Papa Guillermo e o intrat vel intendente se assim se podia chamar ao encontro que tiveram Jacopo teve apenas tempo de ir a casa vestir algo mais adequado devidamente acompanhado por um motorista que mais tarde o deixou na esta o de Termini Roma come ara a acordar lentamente mas quando chegou esta o j milhares de pessoas se deslocavam como aut matos para onde a agenda os mandasse mirando os pain is informativos espalhados pela gigantesca gare procura do destino e da linha certos N o foi a tempo de apanhar o primeiro comboio para a Seren ssima mas conseguiu apanhar o segundo quando faltavam quinze minutos para as
222. de ajudar o pr ximo e servir o seu senhor como diz Dentro de um convento ou de um retiro onde se segue uma regra segura e estabelecida h muitos s culos n o uma delas A Mia e as suas irm s n o est o a servir ningu m Est o apenas a salvo do mundo dos perigos e das tenta es Aquele velho era demasiado seguro de si e c ustico para ela encetar uma discuss o com ele Em suma h quem mande e quem obede a A Mia obedece o Matteo manda acrescentou JC divertido com a situa o No fundo n o acreditava em nada do que dizia J vivera tempo suficiente para saber que tudo se resumia a tr s pontos essenciais nascer viver e morrer O que unia esses pontos eram os intervalos onde se tentava sobreviver a todo o custo Porque que estamos aqui perguntou Matteo farto de estar cativo sem saber porqu Porque os mais fortes assim decidiram respondeu o velho piscando um olho e esbo ando um meio sorriso c nico O que me vai acontecer n o tinha a certeza de querer ouvir a resposta O que tiver de acontecer N o se preocupe Matteo Eu n o lhe vou fazer nenhum mal desde que cumpra as minhas ordens Matteo sentiu um calafrio percorrer lhe a espinha Que raio quereria o velho dizer com aquilo Respostas Precisava de respostas O gorila entrou na sala nesse momento a mancar de uma perna J acordou limitou se a dizer numa voz seca e pouco amistosa JC levantou se co
223. de ficava o parque ao Sestiere de Cannaregio Tomou o pequeno almo o na esta o de Santa L cia caf preto e p o com manteiga e esperou Faltava ainda algum tempo Mirou os indicadores informativos O comboio chegaria dentro do hor rio previsto Posicionou se perto de um quiosque quando a composi o chegou ao erminal de forma a v lo sem ser visto N o foi dif cil Estava enfiado num casaco grosso com as golas subidas e cara de poucos amigos Viu o sair da gare a caminho da esta o da Ferrovia no Canal Grande Atentou na retaguarda para ver se algu m o seguia O caminho estava livre Assim que o vaporetto aportou na esta o Lucarelli requisitou um t xi aqu tico uma embarca o de cor branca que fazia o mesmo na gua que os seus cong neres em terra Viu o entrar no autocarro de gua e inspeccionou os outros passageiros antes de indicar ao barqueiro que seguisse o vaporetto O taxista ainda sugeriu alguns locais tur sticos que n o podiam deixar de ser vistos por quem visitava a cidade sob pena de ficar amaldi oado mas desistiu ap s alguns minutos sem resposta do passageiro Saiu na esta o de Salute em frente bas lica que dava nome paragem Comprou um chap u de chuva para aplacar os pingos que ca am com mais intensidade a um vendedor de Mumbai no largo e seguiu o percurso do outro O passeio terminou no Palazzo Dario para onde o viu entrar completamente encharcado Deu uma volta pelas vielas vizi
224. de lazer que provavelmente nunca aconteceram Jacopo e Anna continuaram a assistir a todos os passos dele pelos monitores satisfazendo alguma da curiosidade O seguran a deixou o homem na sala e saiu As c maras mostrariam para onde ele se dirigia mas a mulher e o historiador preferiram manter se atentos ao rec m chegado que permaneceu de p sem saber o que fazer s m os Parecia nervoso desconfort vel O que acha que ele veio aqui fazer perguntou Anna sem tirar os olhos das imagens dos monitores que continuavam a saltitar pelas divis es da casa N o sei mas n o deve ser para falar comigo respondeu Jacopo apontando para o monitor onde se via o seguran a a bater a uma porta Quem que dorme ali Anna olhou para o local que Jacopo apontava e sorriu com um ligeiro tremor nas m os A casa pode ser muito grande senhor Jacopo Sebastiani mas tem poucas pessoas Aquele o meu quarto Para bom entendedor meia palavra basta Anna olhou durante uns segundos para o historiador respirou fundo recomp s o roup o e saiu para o corredor N o havia necessidade de deixar o seguran a espera em v o Encaminhou se para o quarto no seu passo tr pego e sentiu a presen a reconfortante do Jacopo atr s de si Ao fundo do corredor viraram esquerda e avistaram o seguran a quase de imediato Que se passa Gustav Andas minha procura O seguran a olhou para os dois com alguma surpresa N o se ti
225. deal Secret rio de Estado Casaroli deve estar a chegar para o informar declarou Stanistaw Wojtyla ficou ainda mais alerta Por norma reunia com o Cardeal Secret rio de Estado semanalmente e nessa semana j tinham reunido Qual o assunto insistiu Stanislaw estava visivelmente incomodado N o queria contar ou n o podia Lolek come ou o seu fiel secret rio O assunto a Anna ouviu se uma voz dizer da porta Era o vigoroso Agostino Casaroli que acabava de entrar Wojty a afundou se no seu cadeir o e deixou o seu pensamento vaguear para bem longe enquanto olhava fixamente para o tampo escuro da secret ria Anna Outra vez pensou Muitas mulheres detiveram imenso poder no Vaticano ao longo dos s culos Se a maioria foi ofuscada pelo poder papal masculino poucas houve que conseguiram quebrar essa aparente barreira intranspon vel e oram capazes de decidir os destinos da Santa S mesmo n o ocupando o cargo oficialmente por impedimento de g nero Mulheres como a Mar zia a Donna Olimpia e a Virgo Potens O sexo fr gil sempre foi muito mais forte do que aparentava e o sexo sempre teve um poder descomunal Est bem Santidade quis saber Stanistaw preocupado Ficarei melhor quando desembucharem O que tem Anna Casaroli saiu do gabinete e voltou a entrar acompanhado por um outro homem Fechou a porta do gabinete e acercou se de Wojty a O desconhecido estava visivelmente a
226. deia de quem fora Fonte segura Claro O meu caro n o sabe quem foi mas eu digo lhe Aguardou uns instantes para promover o mist rio JC adorava manter uma plateia agarrada Foi o coitado do relator brasileiro E com quem que ele falava ao telefone J percebi respondeu rispidamente Rafael dando a entender que era suficiente A fonte de tudo foi a Anna Confidenciou a Duv lio o segredo de Rafael sobre um filho que andava sua procura falou lhe da sua dedica o a Sarah e contou lhe sobre Mandi E ele forneceu todos esses ingredientes a Girolamo mais a implora o de liberdade dela talvez entre l grimas O intendente sabia onde morava Mandi a filha de Anna visto que a seguran a dela estava a cargo da Gendarmaria O brasileiro tinha acesso privilegiado ao arquivo biblioteca ao IOR por ser investigador da congrega o Depois lan ou a informa o sobre Matteo sobrinho secreto de Girolamo e os planos de se livrar dos relatores Tudo fazia sentido O facto de Rafael ter intercedido para libert la com a ajuda de Giorgio e Jacopo foi um b nus para ela Deve t los julgado a todos uns idiotas JC fez uma pausa ap s a explica o saboreando a mestria de todo aquele plano Sou um homem de in meros recursos padre Rafael como muito bem sabe Esse factor permitiu me localizar a nossa amiga Anna que anda agora a passear com a filha pela Europa Rafael escutou aquelas palavras com toda a
227. deixava entender nada por dentro Do cora o de Roma para uma cela em nenhures Naquele momento ouviu se um raspar na parte de baixo da porta Foi uma portinhola que se abriu e deixou entrar um tabuleiro com comida quente gua e bolachas Havia uma boa not cia aparentemente quem quer que estivesse por detr s daquilo pelo menos para j n o pretendia que passassem fome Pensou novamente em Rafael e onde estaria e s depois reflectiu na pergunta do jovem que permanecia sentado na beira da cama a fit la com um esgar de p nico e curiosidade Que raio estava a acontecer O meu nome Sarah acabou por responder Ainda esteve para inventar um nome mas acabou por decidir que seria disparatado E o que est aqui a fazer Sarah A jornalista aproximou se do jovem e sentou se ao lado dele exibindo um sorriso t mido N o fa o ideia confessou E tu como te chamas O jovem n o sabia se haveria de dizer ou n o Por outro lado dificilmente estaria ali sem que fosse conhecida a sua identifica o H mais de vinte e quatro horas que n o falava com ningu m N o havia qualquer resposta para as suas perguntas Tamb m era certo que nunca se atrevera a faz las A portinhola abaixo da porta abrira se quatro vezes desde que ali entrara para deixar comida e gua De todas as vezes n o perguntara nada Tinha vontade de faz lo mas o p nico travava lhe todos os movimentos do corpo O o meu nome Ni
228. depois de se sentar Rafael tentou puxar se para cima para encostar a cabe a na cabeceira da cama e n o parecer t o combalido nem vulner vel mas perante tanta dor desistiu O Tomasini poder esclarec lo melhor que eu Testemunhou tudo e n o levou um tiro respondeu Rafael com azedume a voz a sair lhe muito rouca Tarcisio olhou para o chefe da espionagem N o estou a falar do que aconteceu na pra a Esse lament vel epis dio j foi visto e revisto de todos os ngulos disse o piemont s que tamb m falava com alguma acidez Refiro me a tudo Ao que parece o Rafael estava muito mais bem informado que todos n s e presumo que se esqueceu de reportar alguns factos ao seu superior Quando que tomaste conhecimento que o Comte planeava raptar o filho do embaixador e eliminar os relatores refor ou Guillermo apesar de saber que Rafael entendera muito bem primeira Rafael levou uma m o aos olhos e esfregou os como se o esfor o para recordar fosse muito grande Mais ou menos na mesma altura em que soube que o irm o dele deixara um filho em Verona e um fundo no IOR tutelado por Comte para acautelar o futuro do rapaz E isso foi quando H cerca de tr s semanas Tarcisio inclinou se para a frente e pousou as m os sobre a cama E quem lhe contou Rafael hesitou antes de responder ou pelo menos assim pareceu ao Cardeal Secret rio de Estado Podia estar apenas a organizar a
229. desde que ele ivera o primeiro ataque ali mesmo naquela sala onde lhe beijara a testa e para onde fugiam dos incessantes problemas de Roma que embora t o perto parecia t o distante Era um b lsamo para os dois ainda que Eugenio n o abrandasse o ritmo O excesso de trabalho haveria de mat lo Foi por insist ncia dela que permaneceram na villa mais tempo do que o previsto Eugenio n o estava em condi es de enfrentar as intrigas do pal cio os desmandos as celeumas as ininterruptas solicita es Actores pol ticos diplomatas todos queriam beijar o annulus piscatoris e tocar nem que fosse ao de leve a m o do santo homem que geria os destinos da Igreja h quase vinte anos E depois as birras insuport veis das Emin ncias das Excel ncias das Rever ncias que se alimentavam da sua mente e do seu corpo como abutres esfaimados a rondarem o moribundo Apenas o esp rito se mantinha imune rala o esse pertencia Lhe Pasqualina ouviu o matracar persistente da m quina de escrever durante alguns minutos depois tudo cessou inesperadamente Aflita a madre entrou no gabinete de Eugenio e encontrou o ca do no ch o inanimado O branco impoluto sobre o tapete carmesim A idosa madre conseguiu reunir for as para i ar o corpo sumido do Santo Padre at ao sof encostado a uma das paredes Santidade chamou aflita Meu meu amor ouviu se a si mesma dizer As l grimas escorriam lhe pelo rosto abaixo enquanto r
230. deu O sil ncio era em si uma resposta Est tudo bem com o Rafael Excel ncia quis saber Jacopo Giorgio franziu o sobrolho N o lhe queria contar O nosso amigo liga lhe logo que poss vel caso contr rio eu mesmo lhe telefono Jacopo entrou no carro para o lugar do condutor e esperou que Norma passasse para o banco da frente A viagem seria longa cansativa exasperante um ltimo sacrif cio em nome Dele E bastava Ele que se governasse sem mais oferendas Giorgio ficou a ver o carro partir at o perder de vista Anna Lehnert desaparecera Anna Pacelli nunca existira Queria sorrir mas n o conseguia O telefonema que recebera deixara o aflito Enfiou se no banco de tr s do t xi e deu a morada ao taxista Espero que te safes Rafael 66 Onde est a moeda de troca voltou a perguntar Girolamo para o em vel visivelmente transtornado Traga ma j ou mando matar o lho do embaixador Com certeza meu caro intendente concordou a voz num jeito submisso Vire se na direc o da fonte sua esquerda Girolamo estava de costas para o obelisco e para a bas lica junto barreira circular que o protegia dos transeuntes e virou se na direc o indicada pela voz A fonte a poucos metros dali estava seca mas rodeada por peregrinos e turistas que vagueavam ou simplesmente se deixavam estar a admirar o espect culo visual que a pra a oferecia daquele ngulo Ao fundo numa das extremidad
231. devia ter vindo N o Obrigado irm Parto agora mesmo Tem a certeza Est a chover muito Estava a ir longe de mais O prelado lan ou lhe um ltimo olhar e dirigiu se porta da rua Sonja prontificou se a abri la e uma baforada de vento e chuva impeliu se para o interior O cl rigo saiu e olhou para tr s enquanto as b tegas lhe ca am em cima Disse que a irm partiu esta manh Correcto Emin ncia mentiu Sonja Tive oportunidade de dizer ao padre Spellman quando ele passou c na segunda feira que a irm ia para Ebersberg no dia de hoje Um rel mpago atravessou o c u carregado e seguiu se um trov o N o ser melhor ficar Emin ncia A freira estava a ser franca Causava lhe alguma apreens o saber que o Secret rio ia enfrentar aquela borrasca Boa noite Sonja despediu se o prelado virando lhe as costas e descendo os degraus em direc o ao carro Sonja fechou a porta e encostou se a ela esbaforida Respirou fundo e entou acalmar se O que me obrigou a fazer irm Pasqualina murmurou para si Apressou se a subir as escadas para saber dela L fora a tempestade continuava a n o dar tr guas Teve pena do cardeal Pela tempestade e por udo o resto Quando chegou ao corredor do primeiro andar ouviu o choro compulsivo de um rec m nascido Ajoelhou se e persignou se O telefone soou ao fim da tarde de ter a feira no preciso momento em que as irm s da S
232. dmirando quadros pertencentes a uma colec o da Tate Gallery Na recep o uma senhora com alguma idade lia uma revista espera de visitantes mais interessados Olhou para o rel gio e para a porta Depois tentou ver se reconhecia alguma das pessoas N o Ningu m lhe era familiar Rafael estava atrasado Que raio de s tio para marcar um encontro pensou para si Que estaria ele a fazer em Veneza Apetecia lhe um ch quente para aquecer o corpo despachar o assunto e enfiar se no comboio de regresso a Roma A conversa n o ia ser r pida mas n o tinha qualquer inten o em pernoitar ali Rafael tinha de regressar capital com urg ncia relembrou as palavras do secret rio e de Guillermo e o rosnado de Comte Por que raio n o marcaste num caf ou num restaurante Tinha de ser logo neste pal cio maldito A porta abriu se para deixar entrar um casal encharcado e o uivo do vento N o havia sinal dele Tornou a olhar para o rel gio e aproximou se de uma das janelas para mirar o Canal Onde est s Rafael 12 Monsenhor Stephano Lucarelli deixou o retiro das irm s da Santa Cruz no Monte Bondone em Trento pouco depois das seis da manh de ter a feira Antes de se meter no carro e acelerar para Sul limpou o escrit rio de todas as fotografias recortes de jornais e mapas do painel apagou as impress es digitais de tudo aquilo em que tocara e deixou uma carta dentro de um envelope dirigida prioresa Nela agradecia lhe a es
233. do no Kremlin A maioria das paredes estava coberta por estantes que iam do ch o ao tecto repletas de livros pastas incun bulos visivelmente inventariados para que ningu m se perdesse nos meandros de s culos de informa o Havia ainda um sof de pele castanho de tr s lugares e uma janela que dava para o p tio de S o D maso a entrada oficial do pal cio medieval parte integrante do Pal cio Apost lico Uma porta na parede oposta da secret ria dava para outra divis o que John n o conseguiu identificar por estar fechada No tampo da secret ria de Tarcisio amontoava se uma pilha de pap is espera de delibera o ou despacho que justificavam a famosa burocracia vaticana Permaneceram em sil ncio durante uns momentos segundos constrangedores que pareceram minutos O americano pigarreou por fim para aclarar a garganta Era de esperar que fosse ele a iniciar a conversa O o Obrigado por me con con con ceder es es esta audi ncia Emin ncia Quando o cardeal arcebispo de Nova Iorque faz uma recomenda o por escrito minha obriga o dar lhe ouvidos N o tem de agradecer proferiu Tarcisio numa voz baixa e desinteressada a ro ar o g lido A que devo a sua visita John Scott obrigou se a parar de bater freneticamente com o p no ch o e abriu o dossi Tr s folhas ca ram no ch o alcatifado como se quisessem fugir dali Ele pr prio seguir lhes ia o intento se pudesse Prec
234. do outros lhe falhavam Faltavam alguns minutos para Arturo fazer novo ponto da situa o Ah J c est s ouviu Guillermo dizer atr s de si Parecia que tinha vindo a correr tal era a forma como arfava Guillermo Tomasini o quinquagen rio chefe dos agentes secretos papais de quem nunca ningu m ouvira falar nem era prov vel que viesse a ouvir entrou no gabinete e cumprimentou Rafael com um forte aperto de m o Rafael nem se levantou Ui Est s um caco homem Dormiste alguma coisa perguntou Guillermo sentando se no tampo da secret ria N o deixaste protestou o subordinado Pois Desculpa mas por aqui tem sido um pandem nio E sempre A Polizia di Stato n o nos larga a m o J libertaram o corpo do Luka Sentiu um aperto no cora o quando disse o nome do colega mais um que transitara para a j longa lista dos m rtires Guillermo fez que n o com a cabe a Est o a fazer finca p para ver se lhes damos alguma coisa Sabes muito bem como quando o Comte e o Cavalvanti est o ao barulho explicou ao mesmo tempo que com a m o direita pegava numas moedas que estavam espalhadas em cima da ca tica secret ria Queres um caf Quero Esses dois nunca se deram bem Nem se dar o Guillermo saiu do escrit rio e Rafael levantou se para segui lo O caminho n o era longo pararam junto a uma m quina autom tica de bebidas quentes mesmo ao lado d
235. do passeio N o escolhera o melhor trajecto Deixara a Piazza Papa Pio XII e entrara numa encruzilhada de ruas estreitas e escuras ptimas para passar despercebido mas n o para fugir N o se atrevia a olhar para tr s Oh meu Deus Ajuda me implorou As sombras espraiavam se amea adoras pelas paredes encardidas das traseiras de um pr dio qualquer esquecidas pela desfortuna de pertencer a um lugar secund rio arredado dos olhares Ouviu um ru do atr s de si ou seria apenas o cora o a esmurrar o peito aflito por sair dali Olhou por cima do ombro mas n o viu nada Um candeeiro iluminava pobremente o fundo da caleja de onde ele viera e o resto estava imerso nas sombras Bertram arquejava e o ar frio que sofregamente inalava arranhava lhe a garganta Sentia se encharcado de suor mas n o tinha calor O sobretudo cinzento antracite pesava lhe nos ombros e dificultava lhe o andamento Estava cansado no limiar do esgotamento f sico Lidara com demasiadas emo es nas ltimas horas O pior de tudo foram as amea as Senhor dai me for as voltou a suplicar mentalmente Escutou movimento mais frente Autom veis autocarros pessoas havia vida para al m das vielas Acelerou o passo ainda mais Faltava pouco para deixar aquele lugar esconso e entrar na luz da cidade Trinta metros Uns m seros trinta metros que pareciam trezentos Ouviu novo ru do Um restolhar Soava lhe a passos Como se algu m n o quisesse ser ouvido
236. e Quanto Jacopo entregou lhe o pequeno post it azul N o quanto Rafael quem 14 O mundo parara h mais de seis meses ou pelo menos era o que Sarah sentia desde que soubera da not cia Aquilo que apenas acontecia aos outros bateu sua porta quando menos esperava se que algu m espera uma coisa destas Num dia estava ao servi o do Vaticano na tentativa de recuperar documentos valiosos sobre Jesus Cristo e no outro internada na policl nica Gemelli em Roma onde lhe largaram o bomb stico diagn stico de coriocarcinoma Afinal n o s eterna Sarah Es como os outros e podes morrer H muito que sabia que n o era imortal Encarregaram se de lho explicar quando anos antes atentaram contra a sua vida E muitas outras vezes depois disso Um pouco antes do internamento na cl nica teve uma arma apontada nuca Talvez por isso estivesse convencida que mais depressa morreria por causa de um tiro ou qualquer outro factor externo do que atrai oada pelo seu pr prio corpo O Papa Bento fora preponderante nestes ltimos meses N o deixou que Sarah regressasse a Londres e ordenou que n o se olhasse a despesas no ratamento Se fosse necess rio podiam at convocar especialistas estrangeiros que estivessem na vanguarda no tratamento dos coriocarcinomas Os oncologistas da policl nica n o viram necessidade de chamar ningu m Os tratamentos estavam a par dos que se faziam por oda a Europa Come ariam im
237. e Sim Depois de falar com a Anna ligava sempre para ele Aquelas informa es deixaram Rafael intrigado A Anna comunicava com o mundo exterior A casa tinha seguran as a cobrir todo o per metro e as comunica es eram controladas Rafael era supostamente o nico que lhe ligava Como que descobriste isso Est s a subestimar me Tenho as minhas fontes N o s s tu que guardas os teus trunfos Fui a Torano claro A dor voltara em for a mas Rafael esfor ou se por aguentar Precisava de ouvir aquele relato do inspector italiano Fazer o qu perguntou com esfor o Inspeccionar o tal endere o oculto que est s a fazer de conta que n o conheces e que o Comte n o conseguiu descobrir Interroguei os seguran as Um deles disse que um relator da Congrega o para a Causa dos Santos os contactou e exigiu falar com a Anna e afirmou que estava a ligar em nome do Papa Para a pr xima que for ao banco pedir um cr dito vou faz lo em nome do Papa para ver se mo d o Mas como que ele soube o endere o dela N o fa o ideia Talvez da mesma maneira como eu o descobri Encaminhou se para a porta At pr xima padre Rafael ou Ivan ou l qual o teu nome Espero que n o haja pr xima Cavalcanti saiu mas voltou a entrar Ah J me esquecia Aqui tens o teu amuleto A ltima vez que te vi ainda n o estavas consciente e s falavas dele Entregou lhe o len o de Sara
238. e N o tenho inten o nenhuma de me meter em assuntos sens veis e discri o n o qualidade que me tenha calhado Giorgio n o aceitou o pequeno papel Pigarreou para aclarar a voz como se as palavras estivessem enferrujadas um pedido de resgate O padre Niklas filho do embaixador da Alemanha foi raptado h algumas horas em Sant Andrea Jacopo engoliu em seco ao ler o bilhete O que que os irm os Finaly n o quis continuar J informaram a fam lia Giorgio fez um meneio negativo com a cabe a N o A fam lia ainda n o sabe E temos esperan a de conseguir resolver este assunto sem que chegue ao conhecimento deles ouviu se uma voz spera dizer da porta Jacopo desviou a cabe a nessa direc o e viu o intendente da Gendarmaria Vaticana Girolamo Comte Vestia um fato preto por baixo de um sobretudo cinzento escuro Entre por favor Comte pediu o secret rio Estava mesmo a colocar o doutor ao corrente da situa o Os relatores j foram alertados quis saber o historiador O intendente enviou um destacamento de seguran a respondeu Giorgio acenando com a cabe a na direc o de Girolamo Como correram as coisas com a Polizia di Stato Girolamo esbo ou uma express o mal humorada N o tinha corrido bem O Cavalcanti n o perde uma oportunidade de nos dificultar a vida respondeu o intendente Mas falei com o Amadeo o superior dele e o
239. e percorriam por todo o mundo sombra da brilhante carreira diplom tica do pai Manila Cairo Berna Roma Ouviu lhe outras coisas muito antes Uma embaixatriz passava muito tempo sozinha a remoer os dias N o sabia se inha sido uma crise de solid o ou se fora planeado mas numa tarde de chuva no apartamento de Munique numa das longas aus ncias paternas em nome da p tria ela contou lhe As palavras ficaram lhe gravadas na mente jactantes imut veis inapag veis transcri es fi is do que ela lhe ransmitira com uma voz ciciante poucos dias depois de ele ter feito 14 anos O seu nome era Rafael Ele era padre Eram novos Aconteceu N o se arrependia de maneira nenhuma Niklas fora o melhor que lhe tinha acontecido na vida Era uma rela o imposs vel Klaus assumiu o como se osse dele Nunca quis saber quem era o pai e ela nunca quis dizer lhe Era melhor assim Aconteceu Para todos os efeitos s tinha um pai O Klaus O nico que sempre tivera e continuaria a ter Queres vingar te de mim foi o que ela perguntou com as l grimas a escorrerem em catadupa inundando o rosto anos mais tarde quando foi a vez de Niklas lhe contar a op o eclesi stica Talvez Pensava agora para si mesmo ali rodeado pelas quatro paredes sem janelas uma l mpada fraca que iluminava a divis o que partilhava com aquela mulher doente Se calhar fora mesmo por vingan a Gosto acabou por dizer Deus coloca nos prova a todos
240. e Roma que estava a elaborar mentalmente Observar tudo Sim disse sem olhar para ela nem parar o que estava fazer Pode por favor providenciar me um fato imperme vel e esquis Matteo Bonfiglioli nunca conhecera os pais N o que isso importasse muito ao fim de quase trinta anos Habituara se ideia desde muito cedo quando se apercebeu que s podia depender de si mesmo e de mais ningu m As v rias fam lias de acolhimento haviam no demonstrado empiricamente Os in meros pais extremosos que tivera n o se coibiram de manifestar o seu afecto com o cinto e at um padre se dignou exibir o seu amor por ele com uma vergasta numa m o enquanto segurava as cal as desapertadas com a outra Aos dez anos j tinha passado por oito funcionais est veis e afectuosas fam lias de acolhimento e conhecido quatro assistentes sociais S podia ser do feitio irreverente do rapaz que n o se acobardava ao cinto nem vergasta nem a nenhum outro acess rio educador E depois aquela mania de meter se feito her i de palmo e meio onde n o era chamado e de estar sempre pronto para defender os irm os que iam e vinham como os turistas de passagem e que a maior parte das vezes nem aqueciam a cama Os olhares amedrontados condo dos na esperan a que os novos tutores gostassem deles tentando retardar ao m ximo o primeiro berro do pai a primeira surra da m e Matteo sabia que era tempo perdido e a inevitabilidade de o cinto
241. e aos ombros denunciavam os suores frios que sentia misturados com os calafrios nervosos a ansiedade e o medo Mandi Esse era um dos nomes de que a jornalista lhe falara Anna e Mandi E tamb m dissera que conhecia o pai que ele procurava h anos e nunca conseguira encontrar Mandi continuava sentada no ch o abatida com medo de tudo e de odos Sarah confortava a o melhor que podia Venha sentar se na cama sugeriu a jornalista com uma voz terna e ao mesmo tempo decidida N o estava ali para lhe fazer mal e era bom que ela o soubesse E mais confort vel que o ch o frio apesar de tudo Mandi observou a cama e a pequena cela durante alguns instantes A luz raca da l mpada imunda que pendia do tecto provia ilumina o suficiente para que nada ficasse imerso pela penumbra Quem seriam aqueles dois Seriam v timas da mesma maldade que lhe tinham feito Por que raz o partilhavam o cativeiro com ela Se bem que na sua realidade aquela osse apenas mais uma forma de pris o ligeiramente diferente daquela a que estava habituada h vinte e nove anos s por ter escutado um elefonema Decidiu aceitar a sugest o de Sarah e sentar se na cama ao ado do rapaz nervoso e de olhar desconfiado que partilhava a cela com elas O seu nome mesmo Mandi perguntou o rapaz como se a pergunta queimasse e tivesse de se livrar dela rapidamente A rec m chegada fez que sim com a cabe a Sarah observou a com discri o para
242. e deles com passos silenciosos Puxou um por um para que se levantassem e prendeu lhes as m os atr s das costas com uma abra adeira de pl stico Nenhum deles era uma amea a para si mas o seguro morrera de velho por precaver se sempre e n o s de vez em quando Conduziu os para o exterior com passos cuidadosos e enfiou os na parte de tr s da carrinha Para os tr s ref ns era uma viagem s profundezas do desconhecido S o condutor a quem nunca tinham ouvido a voz que saberia o destino deles O Franc s gostava desta sensa o de poder A vida de outrem nas suas m os enquanto ignoravam que havia quem pudesse mais do que ele Quem pagava mandava Olhou para o rel gio e viu o temporizador recuar implacavelmente para o zero Faltavam pouco mais de quinze minutos para o fim do prazo Os cami es ouviam se a espa os pequenos uns atr s dos outros a chegarem para descarregar ou a partirem para levar produtos para outro destino Nenhum parava naquele armaz m aparentemente abandonado mas com uma carrinha velha porta O Franc s j tinha desmontado um dos mecanismos e dispersado as v rias pe as pelos v rios contentores de lixo nas redondezas Fora do conjunto n o significavam nada a n o ser lixo Apenas uma m o cheia de pessoas em todo o mundo se tanto saberiam a que pertencia uma sem ver as outras e o que se podia fazer com elas Entrou para o lugar do condutor e sentou se Verificou se os bilhetes estavam no bol
243. e fuga matam padre em Verona na Via Carlo Cattaneo O artigo trazia um retrato do malogrado padre a fitar a objectiva como se estivesse a posar para um documento oficial Bernarda n o reconheceu nenhum dos homens e aproximou se do painel para o observar com mais aten o De repente sentiu um objecto met lico encostar se sua cabe a e escutou um ru do mec nico que ouvira tantas vezes na casa de campo da am lia quando o pai carregava as armas para a ca a e fechou os olhos apavorada Nunca ouviu dizer sussurrou lhe o monsenhor Lucarelli ao ouvido que a curiosidade matou o gato irm Mia Gustaffsen a John Scott preferiria estar na sala de espera do consult rio da doutora Pratt M D em Nova Iorque do que ali onde estava A apreens o e paran ia juntara se o p nico ingrediente essencial para os arrepios e suores frios que tentava esconder a todo o custo A audi ncia com o Secret rio de Estado da Santa S na Cidade do Vaticano em pleno cora o romano estava marcada para aquela segunda feira s dez e meia da manh N o deixava de registar de forma sinceramente inesperada que o ramalhete de sensa es e sentimentos que o preenchiam segundo o m todo da doutora Pratt M D a sua psiquiatra era muito mais negativo que positivo facto estranho j que se encontrava em terras de Nosso Senhor Jesus Cristo pretensamente um lugar de paz e amor Estava sentado em frente a uma est tua do Nazareno num
244. e ia se entretanto n o mudaria de ideias O Mercedes entrou na Via della Conciliazione o Obelisco do Vaticano ao fundo dominado pela fachada da Bas lica de S o Pedro Estacionaram junto pra a de t xis da Piazza Papa Pio XII em frente a S o Pedro O carro da embaixada alem com os dois agentes da Bundespolizei fez uma travagem brusca mesmo por tr s do Mercedes Um agente da pol cia de meia idade usou um apito para chamar a aten o do motorista e com maus modos mandou o sair dali imediatamente Cavalcanti abriu a porta do condutor logo de seguida e o pol cia de tr nsito aproximou se deles N o podem estacionar nesta zona acenou com um bloco preto Ponham se a andar antes que eu vos multe Cavalcanti mostrou o distintivo e um olhar feroz Os carros v o ficar aqui e voc vai tomar conta deles ordenou com impaci ncia Com certeza inspector acatou o pol cia com inquieta o E fa a o favor de ser mais simp tico para os cidad os S o eles que nos pagam Nunca se esque a disso Com certeza inspector voltou a acatar o pol cia baixando a cabe a envergonhado Os outros ocupantes do ve culo excep o do motorista sa ram para a rua e atravessaram a estrada a correr entrando na pra a do lado da colunata direita com os agentes alem es a fechar o grupo E agora perguntou Guillermo a olhar em redor Vamos para o obelisco como instru do disse Gi
245. e idiota Reconhecia um sorriso nervoso quando o via Ali havia marosca da grossa e ningu m lhe queria contar o que se estava a passar Nem o marido nem o padre bonit o nem a senhora de idade Estavam todos comprometidos uns com os outros e deixavam na de fora de prop sito como se n o fosse pessoa digna de guardar segredos O marido haver lhe ia de contar quando chegassem a casa a bem ou a mal O toque de um telem vel soou quando passavam na Piazza di Porta Maggiore O monsenhor atendeu e escutou durante uns segundos o que lhe foi transmitido e depois desligou Jacopo apercebeu se da mudan a de velocidade e da condu o mais agressiva como se de repente houvesse um sentido de urg ncia ainda mais premente Est tudo bem Excel ncia Giorgio respondeu afirmativamente com um aceno de cabe a sem tirar os olhos da estrada Minutos depois entraram na cidade e o assistente encostou junto a uma pra a de t xis Parecia alvoro ado Aqui j apanho um t xi avisou o monsenhor abrindo a porta e saindo do carro Como assim perguntou Jacopo saindo tamb m Giorgio abriu a mala do carro e retirou uma pasta que abriu para mostrar ao historiador Aqui dentro tem um passaporte diplom tico e um cart o de cr dito de empresa Puxou de uns cart es com as m os a tremer Isto s o c digos de acesso a uma conta numerada de um banco em Frankfurt Levante o dinheiro todo O Rafael explicou lhe o resto
246. e m rmore frio e suspirou Ia fazer um favor a um amigo Mais nada Espero que corra tudo como planeaste Rafael 36 Sarah e John Scott estavam completamente a leste do que se estava a passar no gabinete do terceiro piso do Pal cio das Congrega es Desconheciam os nomes que Rafael mencionara Anna e Mandi Mais d vidas mais quest es Como que tiveste conhecimento repetiu Rafael inclinando se ainda mais para a frente na cadeira com uma postura intimidat ria Ao contr rio do que se possa pensar o trabalho que este col gio faz muito s rio Ningu m pensa o contr rio asseverou Rafael Duv lio levantou se de repente e dirigiu se a um dos arm rios Sentiu uma ligeira dor de cabe a e cambaleou Sarah fez men o de ajud lo mas o brasileiro acabou por reequilibrar se Pegou numa chave que estava em cima da mesa grande e abriu uma das gavetas de madeira escura Procurou no interior passando alguns dossi s castanhos e retirou um deles Regressou tr pego cadeira e entregou o a Rafael O que isto Um teste de ADN Rafael analisou as folhas que estavam no interior do dossi Tr s sujeitos que segundo os dados recolhidos eram parentes Os nomes dos sujeitos eram G P Anna P e M A an lise tinha a data de 2002 Quem que vos enviou isto perguntou Rafael Estava nos arquivos respondeu Duv lio comprometido Isto estava nos arquivos repetiu Rafael
247. e me a dormir no carro alguma vez N o sabes porque s te interessas pelos teus assuntos Que te importa se estou bem ou n o Nem sabes que quando estou nervosa come o a falar muito pois n o Presumo que estejas nervosa todos os malditos segundos da tua vida atirou Jacopo atento estrada Norma lan ou lhe um olhar furioso com a testa franzida O senhor meu pai que tinha raz o Jacopo Sebastiani A men o ao defunto pai de Norma era uma carta que tinha sempre um efeito nocivo em Jacopo Nunca se tinham dado bem e mesmo morto h mais de vinte anos o historiador continuava a odi lo de morte se tal era poss vel Deixa me conduzir sossegado Norma Por favor Ningu m disse mais nada durante uns minutos poucos os suficientes para apanharem a autoestrada que os afastava para longe de Roma Vais ter um p ssimo casamento murmurou ela imitando a voz do defunto pai enquanto se dirigiam pela A24 para oriente a 80 km por hora j que Jacopo n o era dado a grandes velocidades O filho do almirante Cassutto est no ex rcito h de ir longe e gosta de ti O que que esse tal Jacopo te pode dar aulas de hist ria O historiador respirou fundo Ouvira aquela gesta vezes sem conta Antes de ser proferida pela boca de Norma fora o pelo velho sogro esse pac vio de Frascati que se julgava acima dos outros O filho do almirante Cassuto n o ficou tetrapl gico perguntou Jacopo que j
248. e o historiador sabia muito bem o que acontecia queles que enfrentavam a Igreja Apanharam um pouco de chuva na auto estrada e um acidente entre dois pesados de mercadorias que atrasou a viagem em cerca de vinte minutos criando algum constrangimento durante o p ra e arranca Muito se tinha dito durante a noite Revela es segredos confirma es Hist rias de vidas presentes e passadas mem rias funestas que torturavam quem as vivia Tr s gera es sofridas av m e e filha fam lias posti as que acobertavam os frutos do pecado se que o eram aos olhos do bom Deus Depois de passarem o local do acidente onde um dos cami es tinha galgado o separador central e cortava as vias centrais nos dois sentidos misturaram se no fluxo que levava a Roma j bastante denso ainda que tal n o impedisse uma circula o r pida Norma estava a leste de tudo Jacopo acordara a a meio da noite no apartamento deles na Via Britannia para lev la para aquela casa enorme no meio do nada pedido expresso e urgente de Rafael e depois voltara a acord la quando j dormia o seu profundo segundo sono para mais uma viagem n o se sabia com que destino Como se n o bastasse deixaram o carro da fam lia em Torano para acompanhar aquele belo esp cime do g nero masculino por m comprometido com o Criador e a velhota airosa sentada ao seu lado que sorria com condescend ncia sempre que Norma olhava para ela A esposa do historiador tinha pouco d
249. e tornara num servi o de contra espionagem efectivo A achas que me me v o ma tar Sarah deu lhe a m o para tentar acalm lo N o John Acho que n o Pelo menos n o na frente desta gente toda pensou sem coragem para verbalizar San Santa Ali Ali Ainda n o conseguia acreditar Santa Alian a completou Sarah A Santa Alian a n o existe ouviu se Rafael dizer O padre regressara do quarto no segundo piso e n o ficou na mesa com eles Dirigiu se ao balc o Viram no entregar uma nota de cinquenta euros ao empregado que a guardou subtilmente olhando em redor e sorriu enquanto Rafael falava com ele e apontava para a mesa deles Depois regressou mesa Vamos embora querida disse lhe pegando na m o dela Desviou o olhar para o americano Venha John Sa ram pela porta de servi o que dava para a cozinha industrial que servia o restaurante do hotel naquele momento vazia de gente Atravessaram na de uma ponta outra por entre bancadas e arm rios metaliformes fornos e fog es tudo impecavelmente asseado O empregado ia frente a indicar o caminho seguido de Sarah e John com Rafael a fechar o grupo De onde veio esta gentileza repentina perguntou Sarah em portugu s para que s ela e o padre entendessem Disse lhe que a Sarah era uma grande amiga do peito e que a minha mulher me tinha seguido at ao hotel e que eu estava a ver o caso
250. e uma viagem a Veneza O secret rio pontif cio sorriu O padre Rafael disse me para jamais revelar o seu paradeiro a quem quer que fosse S o doutor Sebastiani que devia alert lo se alguma coisa corresse mal como correu Seria essa a senha dele digamos assim Acercou se do ouvido do historiador e envergou um tom c mplice O monsenhor Lucarelli n o foi ao norte apenas por raz es profissionais Jacopo manteve se pensativo a processar as palavras do belo Giorgio Aquela men o ao monsenhor Lucarelli era mais que suficiente Tanto secretismo Tantas intrigas escondidas em fundos falsos com objectivos pr prios e motivos insond veis Tanta maldade em nome de Deus Estava farto Fomos todos pe es nas m os do Rafael doutor explicou o secret rio Havia ainda muita coisa que n o compreendia mas n o competia a Giorgio elucid lo Levaria a filha do Papa para fora do pa s como solicitado Fora esse o favor que Rafael lhe pedira Ela adoptaria a nova identidade que o passaporte lhe concedia e teria dinheiro suficiente para viver bem o resto da vida Anna merecia esse gesto A liberdade era inerente ao ser humano e ela fora privada desse direito fundamental Fora um sacrif cio de Deus durante demasiado tempo E o que fa o ao carro Deixe o em Frankfurt Eu trato de o recuperar N o conte a ningu m o que ouviu esta noite nem o que o Rafael lhe pediu para fazer proferiu Giorgio Jacopo n o respon
251. e uma hora e tanta coisa fora do controlo Porque que o Rafael fez isto perguntou Tarcisio consumido N o havia necessidade Provavelmente criou la os de afecto com a mulher sugeriu Federico que tamb m seguia no banco de tr s Tem de haver uma explica o O Cardeal Secret rio inclinou se para a frente para Guillermo que ocupava o banco da frente ao lado do motorista Isso poss vel Tomasini Poss vel Emin ncia Prov vel N o Os meus homens cumprem ordens Se o Rafael n o o fez alguma raz o o levou a isso Os teus homens cumprem ordens repetiu Girolamo com sarcasmo Se n o fosse por esse cumprimento dos teus homens n o est vamos aqui Falhou duas ordens directas Trazer nos a moeda de troca e tratar do jornalista Guillermo virou se para tr s procura dos olhos do Secret rio N o sei o que aconteceu Mas ele tem muitas raz es para n o confiar em n s Al m disso acho que n o conhecemos a hist ria toda H muita coisa que nos est a escapar O que queres dizer com isso perguntou Federico E uma quest o de an lise Nos ltimos dois dias sofremos ataques incisivos possivelmente planeados at ao m nimo detalhe Eliminaram tr s relatores que por coincid ncia se desejarmos acreditar nisso estavam a trabalhar no mesmo assunto Algu m sabe alguma coisa do Gumpel interrompeu o Secret rio que de s bito se lembrara do
252. e vez amea ou Uma voz sonolenta e impaciente fez se ouvir pelo aparelho colado parede Que desejam perguntou em alem o Boa noite cumprimentou Rafael na mesma l ngua debru ado sobre o intercomunicador Pe o desculpa pela hora inconveniente mas tenho uma mensagem urgente para o embaixador Da parte de quem Padre Rafael Santini O aparelho ficou em sil ncio durante uns instantes e pouco depois emitiu nova mensagem Para qualquer assunto deve dirigir se Embaixada da Alemanha para a Santa S em hor rio de expediente que fica na Via di Villa Sacchetti indicou a voz maquinalmente A primeira abordagem n o funcionara Teria de experimentar uma segunda N o est a perceber Eu trago uma mensagem urgente para o embaixador da Alemanha para a Rep blica Italiana uma mensagem do Santo Padre N o levou muitos segundos at que um agente da Bundespolizei abrisse a porta e os deixasse entrar Como era natural nestas situa es quiseram que eles deixassem entrada todos os aparelhos de comunica o e instrumentos letais como a arma do inspector Cavalcanti Podiam entrar sim mas de bolsos vazios A hora era impr pria as inten es desconhecidas ainda que o mesmo lhes fosse solicitado se a hora fosse conveniente e as raz es da visita conhecidas A arma pode ficar mas o telem vel n o Somos muito amigos zombou Cavalcanti para o agente alem o que lhe ped
253. ediatamente com a quimioterapia base de metotrexato Quando deixou a policl nica alguns dias depois ficou alojada num apartamento com tr s quartos propriedade da Santa S no Borgo Pio em Roma Era um terceiro andar mobilado a cerca de 500 metros da Porta de Sant Anna que dava acesso ao Estado Pontif cio Rafael cuidou dela Preparou lhe as refei es viram filmes trouxe lhe alguns livros Hist rias de amor maioritariamente Ela torceu o nariz Por que raio que achas que gosto de hist rias de amor Rafael perguntou quando ele trouxe tr s livros do Nicholas Sparks Tenho cara de rom ntica Ele ficou atrapalhado Pensei que todas as mulheres gostassem de hist rias de amor que fa am sonhar com o pr ncipe encantado Ela olhou o de modo reprovador O Nicholas Sparks faz chorar n o faz sonhar O m ximo que vais conseguir que eu me desfa a em baba e ranho isso que queres Nunca mais lhe trouxe hist rias de amor Durante os primeiros dias n o sa ram a n o ser para ir policl nica fazer os tratamentos Sarah n o se desligou do jornal onde era editora de pol tica internacional Estava em contacto via correio electr nico e fazia uma reuni o telef nica todas as manh s O resto ficava ao cuidado do subeditor em Londres N o se queria sentir in til Precisava de trabalhar Era uma forma de ocupar a mente com algo que a distanciasse da enfermidade Rafael dormia no quarto ao lado d
254. egressariam m e p tria no Brasil e prosseguiriam com a miss o de ajudar o pr ximo e servir a Deus Mia contornou as a custo pois era um grupo grande e desorganizado pouco experimentado nestas peregrina es intercontinentais Deu mais alguns passos em frente e viu os junto ao obelisco como JC dissera Eram seis homens Reconheceu imediatamente um deles e sentiu um calafrio na espinha Era o monsenhor Lucarelli o mesmo que servira em Trento no retiro das irm s da Santa Cruz e que lhe apontou uma arma nuca e a obrigou a seguir com ele para Verona onde a deixou com aquelas pessoas que agora a obrigavam a fazer o que n o queria a sentir o que n o desejava Reconheceu outro dos homens de uma das fotografias que estavam pregadas no placar no escrit rio do quarto onde o monsenhor se hospedou no retiro Observar tudo n o dizer nada era o lema da ordem Hesitou por uns instantes e depois avan ou comprimindo os nervos e o medo e esfor ou se para conseguir desenhar nos l bios um sorriso corfiante Quando chegou junto deles excep o de Lucarelli que lhe sorriu nenhum dos outros lhe prestou aten o Pigarreou para aclarar a voz n o queria que ela falhasse naquele momento Quem o padre Rafael perguntou timidamente Tr s homens rodearam na de imediato Lucarelli deixou se ficar onde estava e os outros dois mantiveram se atentos mas sem reac o Quem a senhora perguntou Girolamo com uma expr
255. eguramente dispon vel A chamada completou se rapidamente O m dico estaria na villa dentro de quinze minutos e levaria consigo dois especialistas os doutores Gasbarrini e Mingazzini para melhor auscultarem o pont fice Pasqualina sabia que o que o doutor dos olhos queria era n o ser acusado de ineptid o agora que o fim estava pr ximo Precisava de chamar Robert e Augustin e o Francis e a marquesa e os pr ncipes as pessoas mais chegadas N o tardaria a villa estaria repleta de almas maledicentes vulturinas prontas para rapinar os despojos Tisserant o di cono do Col gio seria o primeiro sem d vida Antes de o fazer acercou se de Eugenio Estava tudo a acabar se Conseguia sentir a alma dele a deixar o corpo Nada voltaria a ser igual Tinha a certeza disso Juntou os seus l bios aos dele por uns instantes como naquela long nqua noite em Berlim Estavam g lidos Admirou aquele rosto nobre e sacrossanto enquanto lhe tocava delicadamente nos l bios Vai meu amor Que Deus te aconchegue nos Seus bra os disse em voz baixa N s as duas vamos ficar bem Roma 14 de Outubro de 1958 Cinco dias depois o corpo de Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli o d cimo segundo Papa a usar o nome Pio foi a sepultar na cripta da Bas lica de S o Pedro enterrando para a posteridade um pontificado que havia come ado no dia do seu sexag simo terceiro anivers rio a 2 de Mar o de 1939 Nunca um ltimo suspiro m
256. eira que estava deitada Ele chegou irm avisou Sonja pousando as toalhas em cima de uma c moda e tentando evitar olhar para a parteira Um gemido entrecortado foi a resposta que ela tratou imediatamente de conter a custo Est quase observou a parteira Levantou se e pegou nas toalhas que Sonja trazia Depois acercou se da parturiente que sofria e colocou lhe uma m o terna na testa N o deu a volta completa Vai custar um pouco mas vai passar depressa disse com pena e afoiteza ao mesmo tempo Aguenta te Estou aqui contigo A parturiente agarrou a no bra o e puxou a para mais perto de si D me algo para morder e n o me deixes fazer barulho Era uma ordem A parteira mirou a contrafeita e depois anuiu Seja feita a tua vontade Sonja chamou a parturiente Faz o que te disse Mas irm contestou Sonja reticente Faz o que te disse repetiu com um gemido quando a dor regressou Vai tartamudeou Sonja saiu do quarto contrariada e fechou a porta atr s de si A parteira trancou a chave e enrolou um len o lavado que colocou na boca da parturiente Est s preparada Chegou a hora O prelado recusou o chap u de chuva que o motorista lhe ofereceu Espere aqui ordenou Est a chover Excel ncia protestou o motorista O prelado j o n o ouviu Subiu os dez degraus da escadaria p ante p aproximou se da porta grande e
257. ela lengalenga toda Eu acho que o meu caro intendente sabe onde quero chegar N o sabe Girolamo n o respondeu mas a sua respira o estava alterada O mundo ru a aos seus p s O plano era t o simples Trocar a Anna pelo filho do embaixador nada mais Ele trataria do resto Os relatores tinham sido eliminados n o havia mais nenhum entrave beatifica o do Santo Padre Pio XII A sua imagem sairia mais fortalecida e imaculada do que nunca e nada impediria que se restaurasse a mem ria de Pasqualina a servidora mais fiel que passara pelos corredores do Vaticano Ela fora mais um dos sacrif cios que Roma exigia de vez em quando para expiar os pecados do mundo Ela como Cristo fizera o de boa vontade e sem lamentos Intendente est a perguntou a voz interrompendo a cad ncia de pensamentos dispersos de Girolamo A sua estimada esposa nunca lhe perguntou o que vai fazer todos os meses religiosamente a Verona h mais de trinta anos Girolamo sentiu se como se estivesse a ser esfaqueado lentamente com a l mina a perfurar a carne e a rodar sobre si mesma para tornar a dor mais lancinante A quem pertenceria aquela voz e como poderia saber aquelas coisas Presumo que n o continuou a voz O emprego no Vaticano cobre toda e qualquer viagem e vamos ser claros um filho com outra mulher n o o primeiro pensamento que vem cabe a nestas ocasi es Eu nunca tive nenhum filho com outra mulher
258. elatores e um padre um dos crimes ocorreu na Via Tuscolana e o outro na Bas lica de Sant Andrea della Vale Como disse anteriormente os investigadores est o ainda a processar os ocais do crime N o um trabalho f cil pois envolve irm os nossos mas n o duvidem ser feito com todo o profissionalismo Haver lugar a outro comunicado de imprensa ao meio dia De qualquer maneira estou dispon vel para responder a qualquer d vida que possam ter Federico leu o conte do da sua comunica o ao Cardeal Secret rio de Estado ao chefe da espionagem Guillermo Tomasini e ao intendente da Gendarmaria Vaticana Girolamo Comte Escutaram no atentamente A partir do momento em que aquele texto fora lido aos jornalistas alguns minutos antes n o se podia voltar atr s Todos tinham de estar sincronizados com a vers o oficial do Vaticano N o havia necessidade de procurar outras O jesu ta fora h bil na hist ria que engendrara para a opini o p blica Sabia que n o podiam evitar o esc ndalo Estava fora de controlo Mas a sua pol tica de informa o e desinforma o era t o h bil que apesar da d vida era sempre a hist ria mais consistente Os jornalistas iriam apontar incoer ncias escritores haveriam de publicar ivros nos dois casos com boas inten es mas todos esbarrariam na mesma parede de pedra alta espessa dura que n o deixava ver a verdade Essa ficaria para sempre do lado de dentro escondida Um
259. elli entrou na divis o e pousou a mala em cima de uma arca que estava encostada a uma parede Olhou em redor Abriu a porta do quarto de banho depois a do escrit rio A inspec o levou apenas alguns instantes Perfeito sentenciou Est ent o ao meu servi o correcto A irm anuiu baixando a cabe a duas vezes Sim reverendo monsenhor Tomo o pequeno almo o s seis e meia da manh recitou sempre num alem o polido Caf e p o Nada mais N o almo arei durante a minha estada O jantar deve ser servido s seis e meia Deixe ambas as refei es porta do quarto A irm entregou lhe uma sineta que deveria ser utilizada caso o prelado necessitasse dos seus servi os F la tinir antes de lha passar para a m o Como se chama perguntou ele com um olhar penetrante Bernarda reverendo Lucarelli pousou a sineta em cima da c moda Se precisar de si chamarei pelo seu nome Bernarda declarou o prelado virando lhe as costas em jeito de resolu o sancionada e ratificada sem direito a apelo Ningu m deve entrar nos aposentos a n o ser que eu o solicite entendido Sim reverendo monsenhor Necessita de mais alguma coisa perguntou a irm antes de deixar os aposentos Ele j tinha aberto a mala e retirado algumas vestimentas que ia pousando na beira da cama Corfiante organizado e met dico acrescentou a irm lista de caracter sticas do enviado d
260. em es que a nunciatura de Berlim era a mais bem informada de toda a Alemanha Nos finais de 1929 foi chamado a Roma e assumiu a Secretaria de Estado em 1930 Essa hist ria est muito bonita mas n o est s a esquecer te de ningu m confrontou Rafael John Scott e Sarah curiosos desviaram o olhar para Rafael que continuava fixo em Duv lio O relator mirou o de soslaio e ignorou o Em 1933 assinou se a c lebre Reichkonkordat o tratado que vinculava o Estado Cidade do Vaticano e a Alemanha de Hitler prosseguiu Duv lio Havia quem criticasse Pio XI o Papa da altura e o seu Secret rio de Estado Eugenio Pacelli pelo documento Todo ele foi arquitectado por Pacelli Talvez tivessem alguma raz o A concordata obrigava ao desmantelamento do partido do centro que era uma organiza o cat lica A concordata previa que a Igreja e os seus padres n o podiam intervir nem interferir na vida pol tica Hitler nunca recuou naquele ponto S o desmantelamento daquele partido permitiria ao partido nazi obter a maioria necess ria que veio a acontecer Mas necess rio compreender que estamos a falar do pai do c digo de direito can nico cujos membros da fam lia tinham alcan ado prest gio como homens de direito Era um homem da lei um advogado Obviamente que cria nela mas tamb m estava ciente que Hitler n o a ia cumprir Se sabia porque assinou perguntou Sarah Porque ele precisava de um documento lega
261. em voz baixa Mia colocou um dedo frente dos l bios a pedir sil ncio e chegou se ao ouvido dele N o ouviste o que o JC disse perguntou num cicio tentando n o ser ouvida Matteo relembrou as palavras fr gidas do velho quando ainda estavam no carro JC seguia com eles no banco de tr s quando rumavam sem saber para onde Matteo estava apreensivo Sempre estivera O p onde lhe ca ra o ch quente protestava com um latejo constante e incomodativo A medida que o carro rolava em direc o ao desconhecido sentia um n avolumar se na garganta e sufoc lo lentamente como se estivesse a ser torturado pelo seu pr prio corpo JC transmitira lhes o que tinham de fazer Simples dirigir se a um local espec fico na Pra a de S o Pedro O resto seria transmitido electronicamente O manco que seguia no banco de passageiro da frente virou se para tr s e passou uma esp cie de bot o preto e um telem vel a Mia Depois veio a advert ncia Coloque o auricular no ouvido ordenou JC Mia observou o pequeno objecto antes de o enfiar no ouvido e segurou o elem vel que o manco lhe entregou Est a ouvir me bem perguntou JC para testar o aparelho Mia escutou o dentro do ouvido ao mesmo tempo que o ouvia sua rente de viva voz Sim Se por acaso estiverem a pensar em fugir sugeriu JC com uma postura s ria Pensem duas vezes O manco tirou uma arma do coldre de ombro e mostrou a Retirou lhe
262. endeu Emin ncia N o o esperava confidenciou Klaus completamente surpreendido pela presen a do Cardeal N o imaginara que o representante fosse t o alta figura N o podemos deixar os nossos filhos nas horas m s Isso n o crist o e muito menos cat lico Nicole levantou se da cadeira onde estava e prostrou se aos p s do piemont s numa atitude de total abnega o Salve o meu filho por favor Emin ncia Salve o meu filho repetiu a embaixatriz desesperada O Cardeal abaixou se o m ximo que os ossos permitiram e afagou lhe os cabelos loiros E para isso que aqui estamos minha filha proferiu numa voz baixa e apaziguadora muito segura do que dizia Nicole levantou se e come ou a beijar lhe incessantemente a m o onde tinha o anel at que ele a afastou o mais gentilmente poss vel O Cardeal consultou o seu rel gio e olhou em redor para os presentes naquele sal o faustoso e ao mesmo tempo aconchegante Temos menos de uma hora para o fim do prazo H vidas humanas em risco Virou se para Girolamo Este o intendente da Gendarmaria Vaticana Girolamo Comte A partir daqui ele que lidera as opera es Muito bem Emin ncia Meus senhores temos um prazo apertado para cumprir Acercou se amea adoramente de Rafael e fitou o nos olhos Mas vamos cumpri lo Alto l interrompeu Cavalcanti que n o conseguiu conter mais o sil ncio especialmente na fr
263. ente dos rec m chegados Estamos em territ rio alem o Se o embaixador entregar essa soberania ter de o fazer a mim Rafael meu detido Girolamo ficou especado a olhar para o inspector italiano e depois para o embaixador N o v o agora prender se com burocracias nem jurisdi es pois n o o meu filho disse Nicole irritada Calma querida pediu Klaus abra ando a Eu n o entreguei a soberania alem a ningu m Nem o podia fazer ela intransmiss vel Simplesmente pedi colabora o s autoridades da Santa S E assim ser Cavalcanti sentiu se encurralado Estavam todos feitos uns com os outros Mais uma vez fora entalado pelos papa h stias como ele lhes chamava V rios vitup rios se seguiram na catadupa de adjectivos e predicados mentais que passaram pela cabe a do inspector indignado mas n o disse nenhum em voz alta Para Girolamo aquelas palavras eram mais que suficientes Compreendido senhor embaixador Virou se para Cavalcanti com um ar sobranceiro Para al m disso a deten o do padre Rafael resultou de uma ilegalidade portanto Para bom entendedor n o havia necessidade de dar mais instru es O que que v o fazer perguntou Nicole com o cora o nas m os N s tratamos de tudo O padre Rafael vai levar nos ao endere o da moeda de troca e depois seguimos para o local indicado pelos raptores A partir da esperaremos por novas instru
264. eocupado com receio o que era perfeitamente natural mas aquele olhar com que a brindava e que ela fazia por ignorar significava mais do que primeira vista parecia N o estava mais ningu m na sala O seguran a do velho devia estar noutra divis o Passou pela cabe a do veron s atirar se novamente ao velho N o levaria um minuto a maniet lo mas seguramente o gorila apareceria antes disso como um espectro do al m pronto para repor a normalidade No fim do processo Matteo teria provavelmente mais algumas n doas negras Era melhor n o arriscar Como que foi a adapta o vida no convento perguntou o velho o nico impulsor de conversa o presente na sala Mia n o estava espera daquela pergunta Continuava a olhar para a sala Estantes repletas de livros alguns visivelmente muito antigos quadros de artistas que desconhecia pendurados nas paredes envoltos em molduras douradas ou cinza e passe partouts com fotografias de pessoas que n o viviam naquela casa N o vivo propriamente num convento respondeu com simpatia Sirvo o Senhor num retiro para religiosos um pouco diferente E esse senhor a quem serve paga lhe bem Por momentos ningu m disse nada Mia n o queria crer no que acabara de ouvir e Matteo arrepiou se com a falta de sensibilidade do velho Estou a brincar esclareceu JC com uma gargalhada que o fez tossir e perder o f lego Os outros dois sorriram mais por
265. epetia o chamamento dando palmadinhas no rosto p lido do Papa apelando ao Senhor que adiasse esta ltima viagem Santidade por favor n o me deixe suplicou desesperada batendo com mais for a no rosto dele Que ser de mim Eugenio Que ser de n s Eugenio j estava na anteporta do c u preparado para encontrar o Criador de todas as coisas e ser julgado pelos pecados e pelas virtuosidades A suprema das justi as a quem ningu m poupado nem mesmo o Servo dos Servos de Deus Pasqualina sentiu lhe a pulsa o um murmurejo distante abafado d bil a vida esva a se rapidamente do corpo do Santo Padre Oh Meu Deus evocou Pasqualina Na Tua infinita sabedoria ilumina me Os olhos estavam marejados de l grimas de dor Agarrou as m os de Eugenio e levou as ao peito Quis tanto contar te mas Eugenio n o esbo ava qualquer reac o Pasqualina levantou se e dirigiu se ao telefone que estava em cima da imponente secret ria onde o Santo Padre trabalhava No meio dos pap is encontrou o Discou o n mero do m dico um pateta no seu entender que n o passava de um simples oftalmologista mas em quem Eugenio depositava uma confian a cega na resolu o de todas as enfermidades O seu nome estava no topo dos dezoito profissionais de sa de de preven o para acudir ao Papa onde ele estivesse Seria uma falsidade da sua parte passar ao segundo sabendo que o doutor Galeazzi Lisi estava s
266. epois avan aria O caminho devia ser sempre para a frente sem olhar para tr s com uma nica excep o Dali tinha vis o privilegiada para a plataforma onde chegaria o comboio Os altifalantes come aram a anunciar a chegada da composi o e o cora o de Anna acelerou com a ansiedade Viu o comboio entrar na plataforma e abrandar at imobiliza o total As portas abriram se mal as carruagens pararam e uma multid o de pessoas saiu para a plataforma cada uma agarrada aos seus bens e compenetrada nos afazeres que a trazia a Berlim alheia ao que se passava ao seu redor Anna fincou as m os na mesa quando a viu e comprimiu a respira o que teimava em querer alterar se por causa do nervosismo Ela caminhava desorientada no meio da turba perdida nos seus pensamentos o olhar ferido pelos anos sem sonhos Mesmo que ela ainda n o o soubesse tudo isso ia terminar ali mesmo naquela estac o naquele momento Os olhos de Anna marejaram se com l grimas de emo o e felicidade Deu por si a levantar se e a caminhar com passos tr mulos para a sa da do caf em direc o a Mandi O Franc s vinha ao lado dela com culos de sol e uma mochila J tinha visto Anna Estava no local combinado Ningu m proferiu uma nica palavra N o era poss vel Apenas l grimas e um longo abra o entre as mulheres a mais nova ainda desorientada e confusa completamente at nita mas feliz por ver aquela que a trouxera ao mundo H muito que
267. er sair daquela casa enorme tirar as grilhetas invis veis e sonhar Um dia fugiu Fugiu repetiu Giorgio em jeito de pergunta incr dulo Sim Quando fez 30 anos Claro que foi apanhada ao fim de poucos dias Foi o Rafa que a encontrou Levou a para Roma mas n o me disse para onde e depois transferiu me para aqui A fuga dela foi vista no Vaticano como potencialmente perigosa e encarregaram o Rafa de fazer com que a fuga n o se repetisse E continua sem saber onde que ela est O Rafa nunca me disse respondeu entre l grimas O pranto de Anna encheu a sala e emocionou Jacopo que sentia um n sufocante na garganta Naquela noite escutara um nfimo testemunho das mis rias que arrasavam o mundo A culpa toda minha Um filho n o um direito Manteve se em sil ncio durante uns segundos O meu sentimento em rela o ao que fiz muito amb guo Por um lado n o tenho d vida que foi a melhor coisa que me aconteceu em oitenta e dois anos de vida Por outro nunca o devia ter feito Calou se novamente pensativa Odiou me durante muito tempo N o a censuro E porque as separaram perguntou Giorgio a medo n o querendo perturb la ainda mais Anna encolheu os ombros O Rafa deve ter achado que era o melhor Ela nunca foi feliz aqui e ele sempre foi um bom cora o Explicou lhe as condi es Ela aceitou as Nunca mais a vi Perdi a disse resignada pelas a
268. ernos que estavam no interior do ba e tirou um deles Folheou o e quando encontrou o que procurava entregou o ao secret rio pontif cio Giorgio leu a passagem que ela lhe indicou Falava do funeral de Pio XII e de como n o pudera velar o corpo dele Foi autorizada apenas a assistir s ex quias f nebres conjuntamente com todos os servi ais por detr s de uma coluna atr s do baldaquino da Bas lica de S o Pedro Nesse mesmo dia foi ordenada a sua sa da com todos os seus haveres a Gretel o pintassilgo do defunto Papa e uma pequena gratifica o Quando acabou de ler o secret rio do Papa percebeu que Anna tinha raz o O cardeal Spellman colocou um padre a tomar conta de mim dia e noite O Edoardo Acab mos por envolver nos N o foi nada previsto Apaixon mo nos H coisas na vida que acontecem pura e simplesmente Ocult mos a nossa rela o do cardeal Spellman e quando engravidei vivemos momentos muito dif ceis Edoardo n o aguentou e contou ao cardeal o que acontecera e foi transferido Nunca mais o vi e ainda hoje n o sei para onde ele foi Baixou a cabe a com uma express o amargurada Tamb m nunca me voltou a contactar O ir nico da situa o que o cardeal Spellman acabou por morrer em Nova Iorque no final de 1967 A minha querida Mandi nasceu em 1968 Ele nunca saberia se o Edoardo n o lhe tivesse contado Talvez ele pr prio n o conseguisse lidar com a culpa Tiraram me a minha filha ao fim de seis m
269. ertou a guiou a sempre com a mesma atitude paternalista que lhe caracter stica apesar de John n o ter filhos Dez anos depois Sarah era a editora de pol tica internacional do Times e ele um jornalista de prest gio num jornal de refer ncia N o n o quero sa saber quem quem s o as as tuas fontes come ou o americano mas mas n o dif cil ver ver que tu tu s de longe a jor jornalista mais mais bem co tada dentro da Igreja Bah N o precisas de me dar graxa John Se eu puder ajudar te sabes que n o te direi que n o John sorriu Era a Sarah de sempre mais fr gil mais assustada mas frontal e sempre com a resposta pronta na ponta da l ngua Es tou a fa zer outra in in investiga o Tu nunca consegues parar pois n o N o me digas que andas a investigar o Banco do Vaticano gracejou John n o respondeu Neste ramo quem cala consente Sarah baixou a voz e aproximou se mais do americano Andas a investigar o IOR John assentiu com a cabe a Como John explicou lhe em voz baixa s laba a s laba que um alto funcion rio da Igreja o contactou sigilosamente e lhe fornecera um n mero consider vel de c pias de documentos relacionados com o IOR Esse alto funcion rio n o ser bispo em Washington lan ou Sarah em jeito de adivinha o e provoca o com um sorriso nos l bios Ou arcebispo em Nova Iorque E
270. ervus Dei o Servo de Deus o candidato canoniza o elaborado com base em testemunhos documentos muitas consultas um trabalho que pode levar muitas d cadas como o caso do Santo Padre Pio XII A Positio depois apresentada Congrega o da Causa do Santos que por sua vez recomendar ou n o ao Santo Padre que o candidato seja declarado Vener vel Esse apenas o segundo est dio da canoniza o Se o Papa declarar o Servus Dei como Venerabile teremos de aguardar por um milagre para a postula o avan ar para Beatus que o terceiro est dio do processo Sarah puxou uma cadeira e sentou se Uma n usea perpassou lhe pela garganta Talvez fosse cansa o J n o estava habituada a ficar acordada at t o tarde e o corpo ainda fraco ressentia se disso As emo es e as sensa es tinham na enfraquecido nas ltimas horas Uma ligeira tontura amb m a incomodava O processo do Papa Pacelli nunca foi pac fico prosseguiu o brasileiro Pudera interrompeu John A a po po posi o dele dele na Se Segunda Guerra Mun Mun Mundial foi foi mais que que de de deplo r vel Tolice refutou Rafael com maus modos Estava farto de ouvir aquelas balelas proferidas por pessoas ignorantes As pessoas tendem a repetir o que ouvem as outras dizer e tanto repetem que se torna verdade Nunca ningu m se d ao trabalho de ir investigar e verificar se mesmo ve
271. es procura de uma bebida Fossem quem fossem o certo era que um deles n o desviava os olhos de si e de Sarah descaradamente A acho que que temos com compa companhia disse John a medo Sarah olhou para os desconhecidos e depois novamente para John Em seguida dirigiu se mesa junto sa da do bar onde os dois homens estavam e sentou se Vieste pedir me desculpa Rafael 21 Para o cliente as ltimas oito horas eram as mais importantes Fora muito espec fico quando dissera que n o toleraria qualquer falha Para o Franc s a falha significava a morte Um contrato fechado era um contrato executado e depois passava ao pr ximo se houvesse ou entraria no seu t o benquisto modo let rgico No fundo ele matava para alimentar o seu pr prio v cio que na maior parte das vezes se revelava caro N o tinha por h bito aceitar adendas ao contrato nem t o pouco modifica es Um contrato era um contrato cumpria se e terminava A dupla liquida o foi feita na Bas lica de Sant Andrea della Valle e o mi do levado para o local combinado Primeira fase encerrada Olhou para o temporizador do rel gio que recuava inexoravelmente Um objectivo sem um plano n o passava de um desejo O cliente revelara se cumpridor N o estaria ali se n o o fosse O dinheiro referente primeira fase j tinha sido transferido Todos os homens tinham um pre o n o havia ilus es sobre isso e o dele era muito alto Tr s
272. es da colunata a fila de visitantes que inham de passar pelo escrut nio do raio X para poderem ter acesso ao interior da bas lica era cada vez maior Todo o cuidado era pouco e a bas lica o templo mais importante do mundo cat lico tinha de ser mantida ora do alcance das mentes indiferentes ao valor sagrado da vida humana e do seu patrim nio Siga o tra o no ch o que liga a fonte ao obelisco continuou a voz Vai encontrar alguns discos Um deles o do centro da colunata Girolamo sabia a que discos a voz masculina se referia A pra a el ptica n o consistia somente numa obra arquitect nica e de engenharia Era tamb m uma obra matem tica Poucos turistas o sabiam mas se se fixassem naquele disco e olhassem daquele ponto para a colunata o gigantesco bra o composto por fileiras de quatro colunas d ricas umas atr s das outras escondia magicamente as tr s colunas traseiras e dava a ilus o de ptica de existir apenas uma fileira frontal Bastava dar um passo ao lado para desfazer essa ilus o que Bernini criara A moeda de troca est em cima desse disco anunciou a voz Girolamo seguiu a linha com o olhar e encontrou o disco e a moeda O cora o partiu se lhe ao ver o sobrinho Matteo com os olhos medrosos centrados nele O olhar era igual ao do pai Desde que Rafael pronunciara o nome Piccolo que sentira o solo desfazer se por debaixo de si Est a ver a testa do seu sobrinho perguntou a voz Gir
273. es era muito previs vel e ele conhecia as bem N o o contrataram pelos seus belos olhos A sua compet ncia precedia o nestes meios obscuros O Franc s estava dentro do carro a cal ar as luvas quando os viu Eram r s Sorriu Os caminhos entrela avam se misteriosamente como que ecidos por um tear invis vel Era uma oportunidade que n o podia perder Audaces fortuna iuvat N o podia levar a arma grande Teria de se servir da pequena Era uma Glock modificada por ele mesmo Enroscou lhe o duplo silenciador e verificou as muni es Eram dezasseis Mais do que suficiente S precisava de seis e n o era homem para gastar mais do que necessitava Enviou uma mensagem com a nova informa o para o cliente Ele haveria de gostar da boa nova Havia c maras na entrada e um seguran a da Gendarmaria Vaticana Tr s c maras at ao elevador e depois nada mais Para o Vaticano o importante era quem entrava e quem sa a Isso era meticulosamente registado O que se fazia no sil ncio dos gabinetes n o devia nunca ser testemunhado Naquele edif cio lidava se com assuntos sens veis Era necess rio muito cuidado O Franc s n o queria saber de nada disso Sabia muito bem onde tinha de ir e em quanto tempo Exactamente cento e oitenta segundos nem mais um O telem vel informou o da chegada de uma mensagem Seguramente era o cliente a responder Sorriu ao ler a resposta com instru es Olhou para o temporizador e pegou num post it cor de rosa
274. esentante comunicou Girolamo Estava manifestamente a mostrar trabalho ao contr rio dos outros como sugeria a sua express o sard nica para Guillermo a quem essa n o passou indiferente Irei eu em nome do Santo Padre declarou Tarcisio com firmeza Finalmente alguma coisa se compunha As mentes l cidas de Federico e de Comte aliviavam um pouco o ambiente por m ainda havia problemas Isso perfeito elogiou o porta voz Estamos em perfeita sincronia Isso importante Era altura de passar ao ponto seguinte da ordem de trabalhos O mais dif cil contra um inimigo invis vel com demasiado poder Antes de passarmos ao ponto crucial desta reuni o come ou o Secret rio voltando se para Girolamo quero todas as entradas do Estado os pal cios da cidade as resid ncias cobertas pelo estatuto de extraterritorialidade com seguran a refor ada N o podemos facilitar O que aconteceu hoje n o pode voltar a acontecer Nunca mais Girolamo assentiu com a cabe a Ser feito Emin ncia Tarcisio entrela ou as m os em cima da secret ria e suspirou pesadamente E agora o problema Anna P Temos de fazer alguma coisa rapidamente Olhou para Guillermo N o preciso de vos lembrar o efeito devastador que se abater sobre n s se vier a p blico qualquer men o a essa senhora Concentrou o olhar no porta voz Nem a melhor vers o oficial que possas engendrar nos livr
275. eses Veio outro padre substituir o Edoardo Chamava se Giovanni Giovanni Comte Coitado Preocupava se muito comigo E eu gostava muito dele Esse padre n o foi o que morreu atropelado em Verona perguntou o secret rio papal Foi Em 1983 A morte dele deixou me devastada T o inesperada e fortuita Fez me muita falta Nesse mesmo ano liguei para o meu irm o adoptivo a exigir lhe que queria ver a minha Mandi Que ela merecia saber a verdade Ele exaltou se e ela escutou a hist ria toda Poucos dias depois trouxeram na para viver comigo Mais um dano colateral E como foi essa conviv ncia Muito dif cil no in cio ramos duas estranhas que partilhavam consanguinidade Quase duas companheiras de quarto Nos primeiros 15 anos da vida dela eu n o passava da tia que visitava o irm o na v spera de Natal e nem sequer ficava para o almo o do dia seguinte Ela odiava me Eu representava o fim de todos os sonhos O meu irm o falara com o Papa e ele entendeu que era necess rio que a Mandi fosse colocada num local seguro para seu pr prio bem O Giovanni foi uma grande ajuda na nossa conviv ncia porque era a nica pessoa com quem ela falava Mas ele foi se poucas semanas depois e fic mos apenas eu e ela Vieram mais padres mas nunca ficavam muito tempo Acab mos por nos conhecer e cri mos la os de cumplicidade Acho que durante alguns anos fomos mesmo m e e filha S nos tinhamos a n s Mas a Mandi queria muito viv
276. ess o amea adora ainda atr s do monsenhor Lucarelli Quem o padre Rafael perguntou novamente como se n o tivesse ouvido o intendente da Gendarmaria Sou eu respondeu aquele que ela conhecia como Lucarelli Mia entregou lhe o telem vel e ele levou o ao ouvido Escutou o interlocutor durante uns segundos e depois estendeu o para Girolamo E para ti 64 O intendente olhou para Rafael surpreso Quem seria aquela mulher E por que raio que a chamada era para ele Pegou no telem vel num gesto reflexo mas a verdade que n o queria levar o aparelho ao ouvido n o queria saber quem estava do outro lado da linha invis vel ainda que a curiosidade fosse muito grande Sentia se fora do contexto exclu do da hist ria principal e essa falta de controlo causava lhe uma inseguran a a que n o estava habituado Para mim Porqu Quem perguntou a pressionar ainda mais a Beretta contra as costas de Rafael S o eles O padre fez que n o com a cabe a Atende o Piccolo Girolamo esbugalhou os olhos ao ouvir o nome que Rafael proferira Quem Que raio se est a passar aqui intrometeu se Guillermo que n o estava a perceber nada He devia atender disse Rafael num falso tom de preocupa o H vidas em perigo Girolamo levou o telem vel ao ouvido contrafeito e engrossou a voz para conferir mais autoridade Girolamo Comte Intendente da Gendarmaria
277. est s a investigar John bebeu mais um pouco de u sque e olhou para Sarah fixamente A achas que eles me po podem ma mat mat Sarah n o o deixou terminar a frase N o John Que ideia Esbo ou um sorriso tranquilizador enquanto dizia a mentira Sarah sabia muito bem do que as pessoas eram capazes naquele mundo mas n o o queria alarmar enquanto n o tivesse uma no o mais precisa do que se estava a passar Apesar de estar eternamente grata por tudo aquilo que lhe haviam proporcionado as condi es de tratamento a cl nica a casa Rafael sabia perfeitamente que tudo era uma quest o de gest o de equil brios Os aliados do presente podiam ser os inimigos do futuro A verdade era que desde que os conhecera pela primeira vez em 2006 aquando de um caso relacionado com a morte do Papa Jo o Paulo I sempre a haviam tratado bem Talvez at lhes devesse o facto de ainda estar viva Mas a pergunta que John queria ver respondida embora n o a tivesse verbalizado era se a Igreja era capaz de matar para zelar pelos seus bens E a resposta era sim claro que sim Rafael e um ex rcito de outros homens como ele encarregavam se disso Se seriam eles por detr s desta amea a a John Scott N o sabia Mas tinha forma de descobrir John olhou para a entrada e viu dois homens entrarem e sentarem se numa mesa perto da sa da e longe dos ingleses Estremeceu Seriam aqueles os carrascos dele Ou apenas dois h sped
278. estiga o ao m ximo ou melhor explicado n o facilitou em nada o trabalho de Cavalcanti At o expulsaram do apartamento do comandante da Guarda Su a onde o crime ocorrera O resultado das investiga es tornado p blico pelo assessor de imprensa do Vaticano Navarro Valls na mesma noite do crime foi que o cabo C dric Tornay perdeu a cabe a por lhe ter sido recusada uma medalha de m rito e decidiu ir ao apartamento do novo comandante da Guarda Alois Estermann nomeado nesse mesmo dia e matou o a ele e esposa suicidando se em seguida A verdade sobre o que acontecera naquele apartamento fora muito diferente Quem o gajo perguntou Cavalcanti intempestivamente enquanto a maca era levada por dois param dicos com o corpo dentro do saco j completamente fechado a caminho de uma mesa de aut psias para que os preceitos cient ficos confirmassem o que se via a olho nu Adolf Bertram Um padre alem o informou Guillermo Amanh fa o chegar te tudo sobre ele e o trabalho que fazia para o Santo Padre Desta vez n o cortes as partes picantes atirou o inspector que n o perdia uma oportunidade para provocar Em que que ele estava a trabalhar Nada de mais adiantou Guillermo A fazer pesquisa para a Positio de um candidato qualquer canoniza o Ele trabalhava na Congrega o para a Causa dos Santos Gennaro observou a divis o Estavam no hall de entrada do apartamento N o h
279. estrela quando o c lebre caso Mani Polite o catapultou para as parangonas dos peri dicos Nesse tempo as deten es eram quase di rias e n o olhavam a credo profiss o ou ber o ou assim se pensava Gennaro n o tinha receio de nada nem de ningu m A obstina o de quem pensava que n o tinha nada a perder Gennaro ignorava na poca que n o era s Deus quem escrevia os tortuosos destinos dos humanos os poderosos tamb m A primeira mulher deixou o nessa altura e levou os filhos com ela Dois mi dos que ainda n o tinham 5 anos poca e mal o viam se que alguma vez souberam quem era aquele homem que chegava a casa de madrugada quando chegava e sa a antes da aurora Os telefonemas an nimos que os amea avam a todas as horas do dia e da noite contribu ram para o fim do primeiro casamento O inspector n o se deixou abater n o recuou um mil metro na sua forma de agir nem censurou a esposa por querer o melhor para ela e para os filhos Gennaro tinha um descomunal esp rito de sacrif cio Manteve se alguns anos solteiro depois disso Esse descomprometimento relacional proporcionava lhe alguma independ ncia Os telefonemas an nimos nunca pararam especialmente noite mas Gennaro tinha uma miss o e n o seriam minud ncias que o fariam recuar O inspector Gennaro era respons vel pelo departamento de crimes violentos o que fazia com que a patente de inspector fosse um pouco desacertada e o termo respons vel er
280. eu Tomasini apresentou se Escutou o que lhe diziam e sentiu a crispa o invadir lhe o rosto acompanhada pelo enrubescimento Acabou por desligar depois de ouvir a informa o deu um murro na porta antes de entrar no edif cio e acabou por sorrir cinicamente N o sabia se havia de ficar irritado ou aliviado s um grande sacana Rafael O maior de todos 32 Senta te aqui ordenou Rafael arrastando com uma m o a pesada cadeira que estava ca da e servira de certa forma de c mplice ao acto hediondo que Duv lio desejava perpetrar contra si mesmo enquanto segurava o inerte padre brasileiro com a outra Pegou na camisa negra que estava no ch o e deu lha para que se vestisse A falta de reac o do brasileiro irritou o tanto que o sentou de forma bruta e deu lhe um estalo na cara Reage p Ent o Rafael balbuciou Sarah incomodada com aquela atitude grosseira Duv lio transpirava por todos os poros e mantinha os olhos fechados N o queria pensar n o queria ver nada nem ningu m Rafael n o tinha o direito de impedir a sua vontade de morrer N o tinha John Scott ficou porta e olhava para aquele cen rio sem saber como o classificar Quem era aquela gente E por que raz o pareciam t o disfuncionais Devias ter me deixado morrer acabou por dizer Duv lio E perder a hist ria t o bonita que tens para nos contar continuou Rafael num tom irritado atirando lhe as ca
281. eu evasivo N o lhe tinha mencionado nada sobre o que se estava a passar nem da viagem a Veneza muito menos do rapto de Niklas Norma envolveu duas sandes numa pel cula transparente pegou numa garrafa de gua de litro que estava no frigor fico e saiu da cozinha Estou pronta Norma conhecia Rafael muito bem ou melhor t o bem quanto ele deixava Ultimamente n o se viam com tanta regularidade mas gostava muito dele De certa forma imaginava o como o filho que n o haviam tido Insistira v rias vezes com o casmurro do marido para que o fossem visitar ou pelo menos que o trouxesse a casa para jantar mas o evasivo Jacopo respondera sempre com um d bio um dia destes express o que entre os povos latinos significa nunca Se Rafael ligara a meio da noite e lhes pedira que sa ssem de Roma por uns dias a sua vontade seria cumprida Espero que n o seja nada de grave proferiu Norma para si pr pria j sentada dentro do carro Para onde vamos Torano Torano O que vamos fazer a Torano Logo ver s Descansa um pouco N o tarda estaremos l Sem tr nsito num instante J sabes que n o consigo dormir nas viagens de carro n o sei porque insistes disse Norma elevando o tom de voz Pronto Vai come ar Santa paci ncia Paci ncia preciso eu para te aturar prosseguiu Norma irritada enquanto Jacopo percorria as ruas que os levavam para fora de Roma Tantos anos e vist
282. f cil pois n o ironizou Rafael aproximando se do intendente Voc s t m muita coisa para explicar disse Cavalcanti com maus modos verdade disse Guillermo espantado por concordar com o inspector Que raio se passou aqui Onde est a moeda de troca Longe repetiu Rafael sem desviar o olhar de Girolamo O intendente fez um sorriso hip crita Ainda n o percebeste nada pois n o Eu sou apenas um pe o Pe o ou n o o ref m foi libertado O resto aconteceu muito rapidamente N o se ouviu o silvo do disparo apenas os gritos de turistas ingleses que viram Girolamo cair de costas desamparado As pessoas juntaram se imediatamente em redor do homem que desconheciam ser o intendente da Gendarmaria Rafael debru ou se sobre ele Tinha sido alvejado no peito Afastem estas pessoas ordenou Chamem uma ambul ncia gritou Calma Comte A ajuda vem a caminho Os agentes que estavam na pra a acorreram ao local do crime junto ao obelisco e afastaram a pessoas Fechem a pra a proferiu Guillermo com autoridade Mais agentes aproximaram se vindos de todos os lados para ajudar a lidar com a situa o Come aram a esvaziar a pra a rapidamente afastando peregrinos turistas e curiosos que entretanto se acercavam do local As pessoas que estavam dentro da bas lica foram impedidas de sair at ordem em contr rio Manda fechar o tr nsito na Piazza Papa Pio XII V
283. farto daquela conversa Tu mesmo disseste que o Arturo est com ele S o estas as tuas ordens Guillermo sentiu se humilhado recuou para o exterior da capela sem virar as costas ao Secret rio pois era considerado ofensa O intendente exercia demasiada influ ncia junto do Cardeal Secret rio de Estado Ele tinha de estar atento a isso Tomasini chamou Tarcisio de novo virado para ele Se ele n o cumprir certifica te de que isso n o volta a acontecer Perfeitamente Emin ncia Tarcisio ajoelhou se de novo aos p s de Cristo Havia novos pecados pelos quais queria pedir penit ncia Girolamo acompanhou o no gesto e partilhou com ele a ora o N o queria pedir penit ncia pelos pecados Um homem como ele n o perdia tempo com isso A sua ora o contemplava o irm o Giovanni que o deixara h mais de trinta anos N o nos podemos dar ao luxo de ter ovelhas tresmalhadas no rebanho sentenciou o Secret rio 26 Subiram as escadas a p porque o elevador n o respondeu Tamb m n o havia luz nas reas comuns do edif cio facto que os dois padres estranharam Subiram at ao primeiro patamar e Rafael mandou os parar Pegou numa pequena lanterna que difundia uma luz forte e sacou a Beretta Fica aqui com eles ordenou a Arturo Eu j venho Arturo tirou tamb m a sua arma por precau o O que que se est a passar perguntou Sarah alarmada Que lugar este Rafael olh
284. gigantesca de raiva e f ria Passou os primeiros dias porta dos cuidados intensivos no hospital Os agentes da Gendarmaria tinham ordens para n o deixar entrar ningu m e ela n o foi autorizada a v lo Perguntou aos m dicos sobre o seu estado e eles tentaram tranquiliz la mas forneceram lhe informa es escassas Dormiu em cima dos bancos e comeu pouco Sarah n o queria deixar Rafael ainda que n o pudesse v lo Ao terceiro dia chegou um cl rigo muito bonito e os agentes da Gendarmaria concederam lhe acesso ao interior da rea de cuidados intensivos onde teve de vestir uma bata e uma m scara Quando ele saiu Sarah dirigiu se a ele Desculpe Viu o Rafael O padre Rafael Sim vi Quem a senhora perguntou cordialmente Chamo me Sarah Sou amiga de Sei quem Eu sou o Giorgio secret rio do Santo Padre Ele est sedado Os m dicos fizeram tudo o que podiam Agora com ele Vou inclu lo nas minhas ora es Colocou lhe uma m o terna no ombro Ele forte Vai recuperar As l grimas escorriam pelo rosto da jornalista Era bom ouvir aquelas palavras ao fim de tr s dias sem not cias Giorgio deu lhe um abra o antes de sair comprometendo se a dar lhe not cias todos os dias V para casa Descanse Coma alguma coisa Eu mantenho a informada Sarah n o saiu da policl nica que tantas vezes visitara para ser tratada do seu mal Tamb m Rafael se Deus existisse haveria de ter
285. gu m a encontrar saberemos O carro seguia o tr nsito matinal ordeiramente Os vidros fumados n o deixavam entrever os quatro passageiros que o ocupavam mais o motorista que vestia um uniforme cinzento escuro e seguia em direc o morada indicada O calculismo era apan gio da Santa S desde h s culos Se a ocasi o fosse outra o Cardeal Secret rio de Estado teria solicitado s autoridades italianas um grupo de escolta para abrir caminho pelas congestionadas vias romanas mas o tempo escasseava e era necess rio anonimato da que a escolta se resumisse a apenas uma viatura que seguia atr s com quatro guardas su os atentos a qualquer movimento Poder se ia pensar que tal protec o era desnecess ria mas o Secret rio de Estado n o podia nunca sair sem ela por raz es de seguran a e ass dio jornal stico Curiosamente o Vaticano era v tima permanente de um grupo de fot grafos estrategicamente colocados em todas as portas de acesso ao Estado e que fotografavam quem entrava e sa a Quando o alvo da objectiva era relevante seguiam no em motos para conhecer o destino O nome desses fot grafos habilidosos que pairavam sobre as presas segundo a Santa S era Vaticano Papparazzi Talvez por terem deixado o pequeno estado muito cedo ningu m testemunhou a sa da do Mercedes e do Volvo que seguia logo atr s Tarcisio consultou o rel gio de ouro que trazia no pulso O tempo urgia O prazo estava a terminar Pouco mais d
286. h N o quero que te falte nada Ainda dizes que n o sou teu amigo Rafael ficou a pensar em tudo aquilo Os pormenores Sempre eles a fazerem a diferen a A t nue fronteira entre a certeza e o mal entendido A figura d bil de uma velhinha inofensiva simp tica que aliciava com doces e comidas que cozinhava para os seguran as Quantas vezes Anna lhe dissera que fora ela quem cozinhara o jantar ou o almo o expressamente para ele quando Rafael a ia visitar Adocicava as bocas e as mentes dos seguran as com palavras carinhosas e deliciosos preparos gastron micos Anna era uma sedutora e Rafael fora envolvido como os outros na sua teia de ternura Ele pr prio providenciara a liberdade dela porque achara que sofrera demasiado Fui uma esp cie de ovelha negra N o devia ter nascido lamentara se ela mais de uma vez Se eu n o existisse a luta da minha m e pela canoniza o dele j teria terminado h muito tempo Rafael pensava que eram meros desabafos sem fundamento Lamentos de quem tinha muito tempo para dar azo aos pensamentos e s frustra es Nos bastidores manipulava tudo e todos com sorrisos de velha tonta e distra da rendida ao seu destino 70 Passaram se cinco dias e cinco noites e ainda n o conseguia desfazer o sorriso infantil dos l bios Sentia se uma crian a a quem a vida e a fam lia ainda n o tinham destru do os sonhos Apenas lhe faltava o tempo para alcan ar tudo o que ainda queria realizar mas n
287. h de h seis meses Essa morrera assim que entrara na policl nica Gemelli Acalma te Sarah O que for ser disse a si mesma N o vai doer para sempre Isso era certo Mas j do a o suficiente para a fazer chorar Deixou as l grimas escorrerem pelo rosto livremente N o ia evocar a injusti a da vida ou que era uma v tima das circunst ncias As coisas eram como eram e era suficientemente inteligente para sab lo Mas precisava de chorar e de apanhar uma bebedeira se pudesse Nada a impedia mas seria imprudente faz lo N o depois de tantos tratamentos e agress es ao seu corpo Recomp s se vestiu uma camisola desportiva com capuz e foi at sala Arturo o padre de plant o ainda l estava Se quiser pode ir embora Estou bem e j tive alta m dica disse com algum esc rnio O padre Rafael n o deve tardar N o se preocupe proferiu o cl rigo com um sorriso pl cido Padre Rafael Bah zombou mentalmente Vou apanhar um pouco de ar rua avisou a jornalista Acompanho a prontificou se o padre N o necess rio Arturo disse Sarah Preferia estar sozinha S vou apanhar um pouco de ar O padre percebeu que a jornalista precisava de espa o N o estava vestida para ir longe Sarah saiu para a fria noite romana Os dias estavam cada vez mais curtos e o sol escondia se antes das oito horas Andou uns metros em direc o Via di Porta Castello Passou por deba
288. ha processado como prova Girolamo pegou no dossi Era mesmo aquilo que queriam Pelo menos alguma coisa correra bem O dossi j n o seria problema para ningu m O relator era brasileiro O que vamos dizer fam lia Emin ncia perguntou o intendente guardando o dossi para o analisar mais tarde Tarcisio respirou fundo Precisava de Federico de cabe a fria para esbo ar a vers o oficial Ele melhor que ningu m saberia como proceder Estava mais do que habituado a apagar inc ndios Pois Deixe me pensar desculpou se o piemont s aparentando alguma desorienta o E o jornalista acrescentou Guillermo Tarcisio n o respondeu Estava a pensar Era uma situa o dif cil Grave N o se tratava apenas de um padre ou guardas su os cen rios f ceis de conter independentemente dos te ricos da conspira o que em tudo viam crimes hediondos e disputas de poder Tinha de medir bem as op es Emin ncia chamou Girolamo Emin ncia O jornalista tem de ser autopsiado ouviu se a voz de Federico dizer O porta voz acabara de chegar Trazia um sorriso estampado no rosto que foi prontamente substitu do por uma express o pesarosa em sinal de respeito para com os defuntos que haviam partido para a Casa do Pai Benzeu se e beijou a pr pria m o no fim do rito O piemont s despertou do entorpecimento ap tico com a chegada do porta voz Achas mesmo necess rio Tem de ser
289. ham de recuar para l da Piazza Papa Pio XII bem longe daquele cen rio As autoridades n o queriam proporcionar mais espect culo Centenas de pessoas cumpriram a ordem abandonando o local ordeiramente A visita t o desejada ao centro do mundo cat lico teria de ser adiada Aquele homem proferiu Matteo num estado pensativo Qual Aquele que levou o segundo tiro O monsenhor Lucarelli Foi ele que me arrastou de casa Eu sei Tamb m foi ele quem me tirou do retiro explicou Mia N o percebia os estranhos des gnios Dele Por um lado nunca teve tanto medo na vida e viu coisas terr veis que jamais imaginara nos seus piores pesadelos Por outro conhecera aquele rapaz que estava ao seu lado e n o sabia com que novas sensa es lidava Sentia uma sensa o boa borboletas que a arrastavam para um estado Bem como dizer de amor O tossir de JC ao ouvido retirou a do torpor cogitativo em que entrara Mia sentiu um arrepio de medo Porque que o senhor fez isto quis saber a freira quando entrava na Via della Conciliazione com Matteo ao seu lado JC deu uma gargalhada alta que a fez levar a m o orelha O sentido de humor dele era esquisito N o fui eu minha querida Mia Pode desfazer se do auricular e melhor que saiam da rapidamente disse num tom s rio Fomos todos enganados 67 Sentiu dor muita dor apreens o ansiedade medo que se misturou com uma dose
290. he pelo Facebook utilizara todos os meios de comunica o de que dispunha mas n o obtivera ainda qualquer resposta On on onde an andar s mi mi mi da murmurou para si mesmo Sarah Monteiro era a editora de pol tica internacional do jornal londrino Times Apesar de mulher era a pessoa que mais sabia sobre assuntos do Vaticano Pelo menos que ele conhecesse Trabalhara com ela h mais de dez anos ainda estagi ria nervosa mas muito competente O jornal em Londres informara o que Sarah estava em Roma h meses Precisava mesmo de falar com ela O telefone do quarto soou nesse preciso instante deixando o sobressaltado Acercou se da mesa de cabeceira e levantou o auscultador Era da recep o a inform lo de uma chamada externa Era estranho mas John consentiu que lha passassem Bom bom di dia co mo est perguntou em italiano Fi fi iz como instruiu M m m mas estou muito nervoso E quanto mais nervoso mais a l ngua travava e atravancava a comunica o Aproximou se novamente da janela esticando o fio do elefone e olhou para baixo O nevoeiro abria a espa os revelando um movimento intenso Era uma das pra as mais movimentadas de Roma Por ali passavam autom veis autocarros cami es e havia imensas pessoas no jardim central todas suspeitas nenhuma inocente At a menina que girava um hula hoop com a anca que n o teria mais de 10 anos podia ser uma espi
291. i tratar de assuntos pessoais sentenciou O intendente acercou se do historiador fincou as m os nos bra os da cadeira e fitou o nos olhos com uma express o amea adora Podes dizer me onde ele est a bem ou a mal rosnou Calma Comte insurgiu se o secret rio colocando uma m o no ombro do pol cia Jacopo engoliu em seco antes de responder amea a Eu vou busc lo 10 John Scott n o conseguira pregar olho toda a noite Um ligeiro tremor nas m os deixava escapar a apreens o que o angustiava As duas horas de terapia semanal a que John Scott se submetia haviam lhe ensinado a identificar com precis o as sensa es e os sentimentos que o assaltavam Estava apreensivo Imaginou a doutora Pratt a psiquiatra sentada no sof a uma ter a ou a uma quinta feira as pernas cruzadas que ele costumava ver atrav s da despudorada vis o perif rica com meias acetinadas que deixavam entrever uma pele bronzeada um caderno de apontamentos em cima do colo caneta na boca o grande rel gio de pulso a marcar a dura o da rela o entre m dico e paciente a voz c ndida a pedir lhe para definir aquela apreens o e a janela com vista para o Hudson A apreens o dele n o era diferente da dos outros continha doses iguais de inseguran a e medo com picos moment neos de um ou de outro sentimento medida que o tempo passava John Scott n o estava infelizmente no consult rio da doutora Pratt M D na ru
292. ia della Conciliazione Via Paolo VI Largo del Colonnato e Via di Porta Ang lica pediu Guillermo a Cavalcanti O mais r pido poss vel O inspector considerou o pedido do homem da espionagem durante uns instantes e depois contactou a central Rafael n o largou Girolamo que estava muito queixoso mas consciente Bastava cumprires uma ordem acusou o intendente Uma ordem simples Sabes que nunca iria enviar uma inocente para a morte explicou Rafael com condescend ncia A ideia nunca foi mat la N o percebeste nada pois n o Eu estou do lado da Anna s um cabr o Rafael Mereces morrer como eu Sabes demais Um esgar de dor percorreu o peito de Girolamo e f lo dar um estic o A ambul ncia est a chegar confortou o o padre quando j se ouviam as estridentes sirenes ao longe Os segredos morrem connosco retrucou entre espasmos Daquela vez o som foi mais aud vel e a confus o maior Parecia o estalido de um foguete de artif cio O ltimo acto consciente de um moribundo condenado antes de cair no coma Rafael levantou se e deu uns passos incertos em direc o a Sarah antes de cair no seu colo Cavalcanti olhou para Girolamo e viu lhe a Beretta na m o tombada Tirou a sua do coldre e avan ou para o intendente com a arma em riste pronta para disparar m nima amea a Pontapeou a Beretta de Girolamo para longe sem que o intendente reagisse Debru ou se sobre ele e colocou
293. ia do tecto Guillermo reparou nele pela primeira vez Rafael olhou tamb m para a fita de couro preta com espanto Que tem perguntou Porque que est ali Algu m cometeu algum crime S reparei nele agora mentiu Rafael Gennaro sorriu E n o lhe pareceu estranho o relator ter despido as cal as Rafael tentou disfar ar o desconforto Nada lhe escapava Estava a perder o confronto Precisava de reagir r pido mas o agente que o revistou acercou se de Cavalcanti Est um monte de jornalistas l fora inspector A Raffaella que trate disso E qual a nossa vers o pergunta o agente A verdade afirmou Cavalcanti sem tirar os olhos de Rafael Toda a verdade sem omitir nada N o balbuciou Guillermo com uma nota de desespero na voz N o inquiriu Cavalcanti imp vido e sereno e com uma nota de ironia na voz N o podemos dizer que assassinaram dois relatores quatro agentes da Gendarmaria Vaticana um padre h trinta horas e um indiv duo ainda por identificar Ah J me esquecia E um jornalista do The New York Times que estava no local errado hora errada para fazer uma entrevista s quatro da manh que voc s autorizaram N o podemos dizer isso Guillermo arrastou uma cadeira e sentou se de frente para Cavalcanti O que que pretendes Diz de uma vez Que deixes de fazer de mim parvo Quero a verdade Deita tudo c para fora
294. ia e ele vai j enviar algu m para a Via della Traspontina Ao ouvir as palavras de Rafael Cavalcanti pegou imediatamente no seu elem vel Mais duas mortes e desta vez o Vaticano n o podia interferir N o havia extraterritorialidade na morada que Rafael mencionara apesar de icar bem perto da porta de Santa Anna Deixaram um bilhete para si informou Pedro com a voz embargada pelo excesso de preocupa o Rafael olhou ao redor inseguro Tinha de arriscar Podes ler mo J temos a filha s falta a m e padre Rafael Pra a de S o Pedro junto ao Obelisco do Vaticano Oito horas leu Pedro entrecortando palavras com os nervos e os tremores O que quer dizer isto Acalma te pediu o padre Espera pela pol cia Eles saber o o que azer E quanto Mandi quis saber desesperado N o te preocupes Pedro Eu trato do assunto respondeu como se n o estivesse algemado nem detido no sal o da embaixada da Alemanha em Roma 55 Niklas sentou se na cama que estava encostada a uma das paredes da cela S tinha a arma o e o colch o n o tinha len is pois sabiam os mais experimentados profissionais da rea que n o se podia dar aos cativos nenhuma hip tese de evas o nem sequer para o al m O espa o era pequeno para os tr s prisioneiros proporcionando pelo menos no jovem padre uma desconfort vel sensa o claustrof bica As got culas que se colavam testa
295. ia respeito E j temos a moeda de troca perguntou Tarc sio Guillermo sentiu se irrequieto Tivemos um contratempo Girolamo lan ou lhe um olhar reprovador Isto n o nenhum contratempo Isto o descalabro total E onde estavas para evitar o descalabro atirou Guillermo dando um passo em frente Os dois homens tinham um historial antigo de quez lias e disputas Ambos conviviam com a sensa o que estavam acima um do outro e que eram os preferidos do Santo Padre Pareciam dois mi dos mimados procura de aten o Senhores chamou o porta voz jesu ta Acalmem se T m tempo para resolver as vossas diferen as em privado Est o na presen a de sua Emin ncia Respeito por favor Bom tenho de ir dizer qualquer coisa imprensa acrescentou Federico cheio de vigor E qual vai ser a nossa vers o perguntou Girolamo O porta voz sorriu N o existe a nossa vers o indicou com nfase no pronome possessivo Existe apenas a verdade oficial do Vaticano E quando a Santa S se pronuncia n o h necessidade de procurar outra vers o Deixo isso nas tuas m os pronunciou Tarcisio com uma voz fatigada Reuni o no Secretariado s seis e quinze da manh para fazermos um ponto da situa o Muito bem Emin ncia disse Federico O Cardeal Secret rio de Estado levantou um dedo Isto para todos Para o menino de recados do Santo Padre tamb
296. iador de Pio XI para a resolu o da Quest o Romana com Mussolini em 1929 O Tratado de Latr o O Eugenio foi o compilador do primeiro C digo de Direito Can nico da hist ria publicado em 1917 altura em que partiu para Munique onde foi n ncio da Baviera Em 1925 trocou a nunciatura de Munique pela de Berlim ainda que fosse n ncio dos dois locais Deixou a Alemanha em 1929 por ordem de Pio XI tornou se Secret rio de Estado em 1930 e Papa em 1939 Morreu em 1958 Chega Jacopo suspirou Que hist ria t o pobre At ele sabia muito mais do que Rafael dissera E podres Um Papa n o tem podres nem faltas nem falhas Cuidado com a l ngua Jacopo alertou o outro O historiador lan ou lhe um olhar de impaci ncia ainda que n o soubesse se ele estava a falar a s rio ou n o Tu tratas de suprimir essa parte n o V Jacopo Chamaste me para te dar uma li o sobre Pio XII Onde est a m not cia A porta voltou a abrir se para deixar entrar dois casais de turistas Pousaram os chap us de chuva num cesto de verga ao lado da porta e desceram os degraus at recep o Eram loiros provavelmente n rdicos Algum boato alguma hist ria mal contada insistiu o mais velho Nada de mais tirando as partes que j conheces e aquela lengalenga da Segunda Guerra Foi um homem como os outros Um rduo defensor da centraliza o do poder da Igreja como o seu antecessor como Pio
297. ian a tinha raz es para duvidar a quem devia lealdade O jornalista tinha um assunto para falar com o relator acerca de um candidato americano beatifica o e o voo de regresso dele aos Estados Unidos era logo pela manh S podia ser hoje e n o foi poss vel ser a horas mais convenientes mentiu descaradamente o padre Rafael Sabia que Cavalcanti tentaria confirmar todas aquelas informa es mas entretanto ficaria tamb m irritado e era isso que Rafael pretendia Ena t o prest veis que voc s s o Ao ponto de abrirem portas de madrugada s para ajudar um jornalista declarou Cavalcanti mais para si mesmo do que para os dois homens do Vaticano Faz me lembrar a vossa simpatia para comigo em 1998 Apenas cumpro ordens afirmou Rafael com uma voz segura e confiante Fingindo que acredito nisso como se chamava o tal candidato a beato Rafael n o tardou dois segundos a responder O arcebispo Fulton Sheen Cavalcanti rabiscou o nome no seu bloco de notas Continuando a fingir que acredito nessa historieta h uma coisa que me chama a aten o Rafael sabia muito bem que o inspector era um falc o da velha guarda arguto matreiro que dificilmente seria enganado a n o ser que quisesse Guillermo e ele aguardavam que Cavalcanti lhes dissesse o que o inquietava O azorrague e aquele cinto pendurado no lustre disse apontando para o enorme candeeiro pejado de cristais que pend
298. iantes m scaras de beleza e todas as outras po es da eterna juventude O outro voto o de castidade impedia a de estar dentro dos aposentos do prelado sem autoriza o Permitiu se abrir a porta do escrit rio s para se certificar de que n o encontraria o corpo dele no ch o inanimado Deus nos livre murmurou para si mesma For ou a ma aneta mas n o a conseguiu abrir A porta estava trancada Infelizmente sabia onde havia uma chave na gaveta de cima da c moda e nem pensou duas vezes Destrancou a porta acendeu a luz e estacou O contraste com o resto do quarto era evidente Parecia que algu m deixara a janela aberta e a corrente de ar espalhara pap is por todo o lado Em cima da secret ria no ch o na cadeira Por tr s da secret ria estava afixado um painel cheio de recortes de jornais fotografias um pequeno mapa do norte de It lia ao centro com indicadores de v rias cores cujo significado desconhecia outro da Europa no opo superior direito O que significava aquilo tudo Concentrou se nas ografias para ver se conhecia algu m Fita adesiva vermelha ligava duas das fotografias dois homens Um bem mais velho que o outro O mais velho vestia um fato preto e sa a de um carro grande e preto ladeado por dois homens de uniforme que pareciam pol cias o outro tinha um aspecto jovem e moderno Essas duas fotografias estavam encimadas por um recorte do L Arena com uma not cia antiga datada de 1983 Atropelamento
299. iava esses fundos Um cardeal veneziano chamado Albino Luciani mais conhecido pelo nome de Jo o Paulo I Usaram a sua alcunha Piccolo como pseud nimo para um dos fundos do IOR A Funda o Donato e o Fundo Julieta para as crian as desprotegidas continuam a ser financiados pelas obras de caridade que ele criou Ao contr rio do que se diz n o lavagem de dinheiro Nunca foi E dinheiro limpo de pessoas que querem ajudar Por isso que o titular da funda o Donato continua a ser o Piccolo que j morreu h 34 anos e o titular do Fundo Julieta sempre o Papa em fun es Os tr s homens entreolharam se num sil ncio c mplice O padre Comte morreu atropelado em 1983 afirmou o Cardeal Secret rio de Estado como se estivesse a fazer um ponto da situa o Continuamos sem perceber porque que o intendente fez isto O padre Comte morreu assassinado Atropelamento e fuga Tolice atirou Federico Como queiram Morreu porque assistiu ao homic dio de dois Papas e guardava um grande segredo de outro Era um homem de confian a que sabia de mais Que diz irritou se Tarcisio O Papa Paulo VI foi envenenado ao longo do ano de 78 e sabemos muito bem o que aconteceu com o Papa Luciani continuou Rafael O padre Comte serviu os dois e sabia quem tinha acesso a ambos os Papas Isto de doidos reprovou o Cardeal Secret rio de Estado E porque que ele queria a mulher
300. ica luz que indiciasse presen a humana Apenas dois casmurros dentro de um carro parado e o ronco do motor espera de ordem para arrancar Ao fim de dez minutos ou um quarto de hora segundo a vers o de cada um dos membros do casal Jacopo arrancou novamente sem o almejado pedido de desculpas mas decidido a n o pronunciar nem mais uma palavra o resto da viagem e j agora da sua vida em comunh o com aquela mulher intrat vel Seria essa a sua vit ria O desprezo total Ela haveria de ver Norma n o suportava o sil ncio Queres comer alguma coisa perguntou ela quando j tinham percorrido mais um par de quil metros Quero Comeram o pequeno almo o que Norma preparara e beberam a gua Pouco depois deixaram a autoestrada e entraram numa estrada nacional sa ram para outra secund ria cheia de buracos que Jacopo n o conseguia evitar apesar dos protestos de Norma Cala te mulher berrou ele fora de si J n o te posso ouvir O fim do trajecto para mal dos pecados de Jacopo era numa estrada de erra batida cheia de altos e baixos que os fazia andar aos trope es dentro do carro apesar de levarem os cintos apertados Chegaram ao destino ainda Jacopo estava afogueado da f ria que o assaltara Aquela mulher tirava o do s rio Norma estava amuada porque o marido lhe gritara insensivelmente De quem esta casa perguntou Norma antes de abrir a porta do carro J vais saber Os tons
301. io da cor da ferrugem que mais parecia um castelo Esta a prova minhas senhoras declarava com ar enigm tico Aquele bras o que v em ali a prova de que a fic o real O que perguntavam elas quase em un ssono Este o bras o dos Montecchi Esta a casa onde Romeu viveu revelava depois de mais uma pausa propositada Novos suspiros seguiam se a esta revela o de Matteo A hist ria de Shakespeare seria mesmo verdadeira Cochichos e sorrisos inundavam o ar como preg es amorosos A maioria dos visitantes sabia perfeitamente que Verona era a cidade de Romeu e Julieta mas estar ali sentir a atmosfera mesmo com aquele tempo frio reacendia os cora es mais apagados O tour n o inclu a uma visita ao interior do pal cio acastelado nomeadamente aos aposentos de Romeu ainda preservados segundo Matteo por se tratar de uma propriedade privada Algumas express es de desapontamento apareciam em alguns rostos mas o guia tinha mais trunfos na manga Seguia se a cereja em cima do bolo a que se acedia por um pequeno t nel com as paredes repletas de pain is brancos preenchidos com graf ti amorosos na Via Cappello perto da Piazza delle Erbe Matteo pedia a todos que parassem a meio do t nel e distribu a algumas canetas de feltro Estas paredes exibem rabiscos de amor explicava em tom jocoso Declarem o vosso amor ao mundo clamava num incitamento express o amorosa com os b
302. ipais art rias da cidade dos milhares de ve culos que as entupiam durante o dia Niklas desorientou se um pouco mas Luka colocou lhe uma m o possante no ombro e indicou lhe o caminho Por aqui Atravessamos ali frente Referia se a uma passagem para pe es a cerca de cem metros Os homens de Deus seguiam prudentemente as regras dos homens quase sempre ou sempre que podiam assim Deus o permitisse A m o no ombro guiava Niklas como uma orienta o divina mostrando he o trilho do Senhor que muito precisaria assim que soubesse para onde se dirigiam Apesar do temor reverencial sentia se bem com ele ou n o fosse Luka o seu tutor Atravessaram a movimentada rua na passagem para pe es que Luka indicara e prosseguiram no mesmo sentido o do Largo di Torre Argentina Uma vez l meteram pela Via del Sudario junto ao terminal do el ctrico uma viela estreita que findava na Piazza Vidoni Depois voltaram direita retornando ao Corso Vittorio Emanuele II Cravada como se sempre ali tivesse estado erguia se imponente a Bas lica de Sant Andrea della Valle com a fachada barroca a apontar para o c u E a verdade que pernoitava naquele exacto local na Corso Vittorio Emanuelle II defronte para a piazza com o mesmo nome da bas lica h cerca de 350 anos e vira aquela rua ter outros nomes antes deste enquanto a sua estrutura permanecia imut vel apenas consumida pelo tempo como hoje Luka e Niklas subiram os
303. ira o aparelho O agente pegou no auscultador de um telefone que estava pregado parede e disse umas quantas palavras em alem o Devia estar a informar que o inspector n o queria deixar o telem vel Pouco depois voltou a coloc lo no gancho Podem levar os telem veis Subiram as escadas at um sal o imponente no primeiro andar e foram avisados pelo agente de servi o que o embaixador viria em seguida Dois homens vestidos de negro encostaram se a uma das paredes vigilantes certamente com a inten o de intimidar os visitantes Rafael e Cavalcanti n o se sentiam minimamente incomodados com isso Era normal Fariam o mesmo se fossem eles os anfitri es Era preciso n o esquecer que ali naquele edif cio naquele sal o estavam na Alemanha e n o em It lia Os dois italianos sabiam que os outros pertenciam ao BND o servi o de informa o alem o Ambos se mantiveram em sil ncio porque primeiro n o tinham nada para dizer e segundo se o tivessem n o o diriam ali onde as paredes tinham literalmente ouvidos Os dois gorilas tinham auriculares transparentes que desciam pela parte de tr s do pesco o e se enfiavam por dentro do casaco Cavalcanti limitou se a observar o sal o com um olho nos rapazes do BND Havia duas entradas para o sal o na mesma parede uma em cada extremidade seis sof s espalhados pela divis o uma lareira enorme usada simplesmente como decora o ao lado dos matul es da secreta e quadro
304. is ntimas nessas n o se atreveria a tocar N o me est s a ouvir A Sarah vai regressar a Londres comunicou com uma voz seca como se fosse uma decis o consumada e inapel vel Sarah fechou lhe a mala de rompante com viol ncia quase n o lhe dando tempo para tirar as m os Deixa Rafael Eu fa o a minha mala A sua voz apesar de tr mula n o deixava margem para d vidas Era melhor ele n o argumentar e afastar se Muito calmamente Sarah tirou toda a roupa de dentro da mala e come ou a dobr la e a coloc la em montes organizados em cima da cama As cal as as blusas a roupa interior que ela foi buscar a uma gaveta na c moda e as meias tudo obedecendo a uma l gica pr pria seguramente cient fica O Arturo vai consigo e vou destacar uma equipa para zelar pela sua seguran a em Londres Sarah informou Rafael na tentativa de p r fim ao sil ncio pesado que entretanto se instalara N o quero mais padres atr s de mim sentenciou ela enquanto continuava a empilhar a roupa N o quero mais nenhum a n o ser tu Mas isto ela n o disse Al m disso n o vou j para Londres Estou a fazer uma investiga o com um colega para o jornal Que investiga o essa Desconhecia que ela tivesse regressado ao trabalho de campo Fico muito mais descansado se tiver seguran a Sarah Ela come ou a colocar a roupa metodicamente dentro da mala numa organiza o abs
305. isava de alinhavar bem as ideias pois transmiti las ia ser um problema por si s Pe pe o des culpa escusou se o jornalista levantando se para apanhar as folhas foragidas Controlou finalmente a situa o e tornou a sentar se Disse que o motivo da visita se prendia com um pedido requerimento talvez fosse a designa o mais correcta que desejava fazer a sua Emin ncia o Cardeal Secret rio de Estado O piemont s olhava fixamente para um papel que tinha em m os e parecia nem sequer estar a prestar aten o ao que o jornalista lhe dizia A verdade era bem diferente Nada escapava ao falc o salesiano que superintendia os destinos da Igreja John continuou na sua gaguez incorrig vel No mbito de uma investiga o que estava a fazer gostaria que a Secretaria de Estado lhe concedesse autoriza o para visitar um edif cio Hesitou antes de fazer o pedido e f lo de cabe a baixa como se quisesse ser poupado reac o do homem de Deus que tinha sua frente Eu eu desejava vi si si tar o Tor Torre o Ni co lau Nicolau V Tarcisio levantou o olhar do papel pela primeira vez e dirigiu o a um John Scott que se pudesse tornar se ia invis vel a m o direita tremia dominada pela vergonha Est fora de quest o Pedido recusado limitou se a dizer o prelado Infelizmente John Scott j contava com aquela decis o sem sequer um pedido de elucida o sobre as raz es de p
306. it rio Pio XI agastado com os erros que ela encontrara no seu discurso Agradeceu lhe as correc es e perguntou lhe que outros trabalhos que a freira executava no pal cio Pasqualina disse a verdade Pio XI anunciou que ia repreender o cardeal Pacelli por ter uma mente t o brilhante a descascar batatas na cozinha No dia seguinte partilhava uma secret ria no andar inferior do Secretariado Seria uma das assessoras do cardeal Pacelli por ordem do Santo Padre O seu colega de secret ria n o achou gra a nenhuma Era um insonso monoc rdico que se chamava Giovanni Montini Depois de 1932 nunca mais se separaram concluiu Rafael Eram t o unidos que Pasqualina foi a nica mulher em dois mil anos a er presenciado um conclave acrescentou o relator Co como perguntou John Scott admirado Os cardeais podiam levar aios ou ajudantes para os conclaves Foi Paulo VI quem acabou com esse costume O cardeal Pacelli decidiu levar a irm Pasqualina Foi um esc ndalo escusado ser dizer mas ela portou se muito bem explicou Duv lio Pacelli foi eleito na primeira vota o Acabou por fazer como o cardeal Camilo Laurentis fez em 1922 no conclave que elegeu Achile Ratti que escolheu o nome de Pio XI Recusou a elei o e pediu que fizessem outra vota o e n o o inclu ssem Saiu da capela a correr Pasqualina foi atr s dele e alguns guardas su os tamb m Ele remia com grande intensidade Lamentava se
307. italiano Apesar de o parlamento italiano ter aprovado a lei das garantias em 1871 conferindo ao Vaticano liberdade de culto e soberania sobre o seu territ rio as quatro bas licas papais e Castelo Gandolfo Pio Nono n o aceitou qualquer negocia o e nunca mais saiu do Vaticano Isso ficou conhecido por Quest o Romana Durou cinco pontificados e terminou a 11 de Fevereiro de 1929 com o Tratado de Latr o que conferia total soberania ao Estado Cidade do Vaticano e mais alguns territ rios e ainda oferecia uma avultada quantia financeira como indemniza o pela perda dos Estados Pontif cios De um lado estava Benito Mussolini e do outro o Papa Pio XI e o seu Secret rio de Estado Pietro Gasparri Mas h uma coisa que a opini o p blica n o sabia O pr prio Benito Mussolini que se vangloriou por ter posto fim Quest o Romana foi usado e manipulado sem ter dado conta Quem elaborou o texto do Tratado e foi crucial nas negocia es foi um eminente advogado de direito can nico chamado Francesco Pacelli que era irm o de Eugenio A Santa S precisava urgentemente de resolver a Quest o porque estava completamente falida Tinham sido cinquenta e nove anos a gastar dinheiro e a fonte estava a poucos passos de secar completamente N o necess rio contar esses pormenores contestou Duv lio Para o bem e para o mal Duv lio Para o bem e para o mal Rafael prosseguiu Ningu m contestava a soberania do Vaticano
308. ixo de uma das arcadas do Passeto O tr nsito era intenso mas ela nem reparou Parecia um zombie a andar sem destino Demorou se alguns minutos numa montra e depois decidiu regressar Talvez Rafael j tivesse chegado a casa Desejava muito v lo naquela noite Quando chegou ao pr dio viu o padre Arturo porta T la ia seguido Os servidores de Rafael eram sempre muito diligentes Ele sabia escolh los a dedo Tamb m este n o seria um simples padre era certamente um elemento da igreja sempre pronto a acobertar os segredos da Santa S A mesma que lhe pagara todas as despesas dos ltimos seis meses Qu o ir nico Sarah sorriu para o padre que lhe abriu a porta O Rafael j chegou perguntou a jornalista Arturo fez que n o com a cabe a Um t xi parou mesmo junto entrada e apitou Sarah olhou para o interior do ve culo enquanto Arturo sobressaltado levou a m o ao coldre de ombro que tinha debaixo do casaco Ela colocou lhe uma m o no bra o como que a pedir que tivesse calma e sorriu para o passageiro que vinha no banco de tr s O que est s aqui a fazer 15 O que est s aqui a fazer A mesma pergunta na quente atmosfera da Don Chisciotte uma cafetaria elegante na Via della Conciliazione a poucos metros da Pra a de S o Pedro e do Castelo de Sant Angelo e da resid ncia provis ria de Sarah h mais de seis meses Tam tam tamb m gosto de te ver disse John Scott num tom sarc s
309. jeste diria ele Int llige clam rem meum Int nde voci orati nis mea Rex meus et Deus meu Qu niam ad te or bio D mine Cessou os a oites e arrastou uma cadeira para o lado O sangue pingava em fio para a alcatifa que escondia o fluido da vida Pousou o azorrague e pegou no cinto que estava nas cal as largadas toa no ch o Subiu para a cadeira e com esfor o o suor a acumular se na testa e no rosto passou o cinto pelo grande lustre que pendia do tecto Prendeu o e depois sopesou o Aguentaria Desceu da cadeira e voltou a ajoelhar se Persignou se e evocou Deus Pensou novamente na fam lia em Porto Alegre nas Igrejas das Dores e da Concei o onde acordou para Deus no calor no churrasco de boi o samba a m e dona Santinha As l grimas escorriam pelo rosto e misturavam se com o suor Limpou os olhos com a m o Sentiu o desespero a culpa as mortes a responsabilidade N o tinha inten o Quando se apercebeu j era tarde Estava apenas a fazer o seu trabalho como lhe haviam ordenado nunca quis prejudicar ningu m As estranhas linhas tortuosas da vida haviam originado um emaranhado incontrol vel Merecia aquele destino Era um homem morto de qualquer maneira Deus julg lo ia como entendesse Dona Santinha perceberia que ele tinha sido enganado Era o mais importante para ele Ela criara um bom homem A culpa n o fora dela A m e n o o orientara para o semin rio com tanto sacrif cio para que ele fugisse
310. joelhos do tapete Klaus ajudou Tarcisio a i ar os dois metros de corpo com quase 80 anos de idade e recompuseram os trajes Ainda n o h not cias perguntou Nicole com o cora o de m e nas m os Calma querida Eles avisam tentou confortar o marido abra ando a Est nas m os de Deus Vamos confiar tranquilizou Tarcisio que na verdade esperava que estivesse em m os mais terrenas como as de Girolamo Comte Num mundo perfeito salvar se iam o rapaz e a moeda de troca Por m naquelas circunst ncias t o ignominiosas provocadas por um inimigo invis vel e sem escr pulos sem qualquer respeito pela vida humana nem pela santidade da Igreja era melhor que a mulher sa sse de cena Se isso custasse a vida do filho do embaixador pois que assim fosse Deus acolh lo ia nos Seus bra os e nada lhe faltaria pois Ele sabia sempre o que fazia por muito tortuosas que fossem as Suas linhas Pode providenciar me um copo de gua pediu o Cardeal Secret rio de Estado Claro disse o embaixador fazendo um meneio com a cabe a para os homens do BND Um deles levou a m o com o microfone boca e fez o pedido via r dio depois voltou posi o inicial inamov vel como uma sentinela Ainda n o h not cias do meu filho voltou a perguntar Nicole desesperada Tarcisio olhou para Federico o respons vel pelas comunica es com o grupo que sa ra procura da resposta O porta voz
311. jornalista intrometido apanhado pela pr pria hist ria que tentava investigar Parece me muito bem elogiou Girolamo E ir nico adjectivou Guillermo E po tico sugeriu o porta voz E verdadeiro argumentou Tarcisio na tentativa de aliviar o peso da consci ncia A verdade era que os des gnios de Deus pouparam no ao fardo de mais um cad ver em nome Dele para preservar o bom nome da Santa Madre Igreja Sim ele dera uma ordem que n o fora cumprida por diversas raz es mas o desfecho esse fora o que pretendera desde a malfadada reuni o da manh anterior com o jornalista norte americano Informaram as autoridades americanas quis saber o piemont s desviando os pensamentos que lhe atacavam a mente com dardos de culpa velados J est o a par da situa o informou Girolamo o l der m ximo da investiga o para todos os efeitos Tomei a liberdade de convid los para assistir aut psia Ter o tamb m acesso a todo o processo da Gendarmaria no final da investiga o Excelente congratulou o o porta voz que via conformidade entre o comunicado e as palavras de Girolamo Tamb m informei as autoridades brasileiras N o colocaram qualquer entrave ao desejo de o relator ser enterrado no Vaticano Celebrar se uma missa em mem ria do padre Duv lio na Igreja de S o Bernardo alle Terme em data ainda a definir Provavelmente amanh Convinha que envi ssemos um repr
312. klas 40 N o mostrou o post it a ningu m at Gennaro o mandar revistar O falc o romano n o deixava pontas soltas especialmente quando se tratava de agentes do Vaticano mesmo necess rio protestou Guillermo que n o via com bons olhos semelhante humilha o Agora ainda mais asseverou Gennaro guardando o distintivo no bolso Estavam no corredor j de luzes acesas enquanto uma parafern lia de agentes se acotovelava no interior do gabinete a processar a hedionda cena do crime Um agente fez a revista a Rafael que n o resultou em nada de muito implicativo Dinheiro em notas cerca de seiscentos euros um cart o de cr dito preto sem qualquer identifica o apenas os dezasseis algarismos gravados em relevo dourado que permitiam fazer as transac es uma Beretta com cabo de madeira ilegal no estado italiano N o estamos em It lia informou Rafael Este edif cio beneficia do estatuto de extraterritorialidade atestou Guillermo que lan ava um olhar desconfiado a Rafael Tecnicamente est s a cometer uma ilegalidade Cavalcanti A extraterritorialidade significava que aquele edif cio no cora o de It lia era independente de It lia e beneficiava do mesmo estatuto do Estado Cidade do Vaticano De qualquer forma vamos ficar com ela informou Gennaro com uma express o sard nica Para nossa seguran a Tecnicamente O agente recolheu a Tirou o carregador de muni
313. l Manda sair a tua gente Claro Cavalcanti fez um gesto com a m o para que os seus homens dispersassem Os doze t cnicos e param dicos come aram a sair da sala dos relatores Um dos param dicos come ou a empurrar uma das macas para fora da sala mas Girolamo pousou uma m o possante na extremidade oposta travando lhe a marcha Os corpos ficam Era uma ordem sem direito a apela o Gennaro Cavalcanti deixou cair o cigarro em cima da alcatifa e pisou o com o p manchando o tom carmesim com um pouco de fuligem negra Os agentes de Cavalcanti sa ram da sala do col gio dos relatores e percorreram o corredor em direc o aos elevadores e escadaria No lugar deles ficaram os agentes de Girolamo Queres que chame o Inspectorado perguntou Cavalcanti referindo se aos agentes da Polizia di Stato que asseguravam a liga o entre a Rep blica Italiana e o Estado Cidade do Vaticano e tinham mesmo um gabinete no edif cio da Gendarmaria Se considerar que ser o necess rios eu mesmo tratarei disso respondeu o outro com uma nota de desprezo na voz Os dois homens odiavam se N o era sequer necess rio conhec los para se perceber isso Por m ambos o sabiam e conviviam bem com isso N o tinham idade para esconder sentimentos muito menos para dissimula es Muito bem Sinto me como se estivesse novamente em 1998 atirou o inspector Girolamo fitou o como se estivesse em cima de um alt
314. l Em Julho de 1953 finalmente encontraram nos e evaram nos para Israel para sempre Percebo Obrigado por me elucidar um pouco mais sobre o vener vel Pio XII Permaneceram em sil ncio durante algum tempo Jacopo estava espera que ele o dispensasse para poder voltar a casa tomar um banho e ir aturar os alunos na Sapienza Giorgio levantou se e contornou a secret ria Parou na frente de Jacopo fitando o de cima para baixo Guillermo continuava na mesma posi o imp vido e sereno J ouviu falar do padre Niklas Jacopo fez de conta que n o percebeu Mais mi dos Que raio de conversa esta Quem Um jovem padre alem o acrescentou Guillermo Esse n o o n o sabia como continuar N o o filho do Exactamente interrompeu Giorgio E o filho do Embaixador da Alemanha em It lia O Doutor Klaus Gr bbe afirmou Guillermo Exacto disse Jacopo aliviado isso Guillermo e o monsenhor entreolharam se de modo suspeito Algu m me vai dizer o que tem o rapaz perguntou Jacopo impaciente Giorgio entregou lhe um papel Era um post it azul O que isto quis saber o historiador N o estava a perceber o sentido da conversa Um imprevisto Um imprevisto Que raio queria o prelado dizer com aquilo um assunto muito sens vel que pede bastante discri o Jacopo tentou devolver o bilhete a Giorgio Pode ficar com el
315. l as para que as vestisse Quem ele perguntou Sarah na tentativa subliminar de distrair um pouco Rafael e contrabalan ar a acidez que este manifestava para com o homem que estava visivelmente atormentado Rafael dissera que iam procurar respostas Rapidamente os conduziu para os lados de S o Pedro Por momentos o americano pensou que os ia levar para a toca do lobo a express o que Sarah utilizava para se referir ao Vaticano mas depois ele acabou por estacionar numa rua secund ria e levou os para aquele edif cio no n mero 10 da Piazza Papa Pio XII o Pal cio das Congrega es Mesmo a tempo pelos vistos Ele chama se Duv lio brasileiro Faz parte do Col gio dos Relatores anunciou Rafael com uma nota de cinismo na voz aninhado com uma m o a segurar o peito do relator para ele n o cair da cadeira sem nunca desviar o olhar f rreo dele E e o que faz esse col col gio inquiriu John Scott Queres explicar Duv lio questionou Rafael acrescentando rancor ao cinismo N o Envergou um tom professoral O Col gio dos Relatores um rg o que integra a Congrega o para a Causa dos Santos composto por um oficial curial o relator que orienta in meros colaboradores Podem ser historiadores hagi grafos te logos fil sofos que se dedicam a pesquisar a vida e obra dos Servus Dei S o eles que conduzem os longos processos de canoniza o nos seus v rios es
316. l Bertram na Via Tuscolana Como estaria Rafael E John E o pobre relator Que lhes acontecera Porque n o os matara a todos As palmas das m os estavam suadas por causa dos nervos e sentia arrepios frios ou de calor intenso alternada ou simultaneamente n o sabia dizer Tentava acalmar se J n o era a primeira vez que passava por uma situa o semelhante mas o desconhecido era sempre obscuro e carecia de conforto para a alma e para o corpo As vezes sentia tremores e n o conseguia control los por muito que tentasse Isto vai passar tentava convencer se Isto vai passar A certa altura a carrinha abrandou e entrou num caminho com piso em mau estado Andaram aos solavancos durante tempo que n o soubera precisar at que pararam Ouviu o ronco do motor desligar e uma s rie de estalidos de arrefecimento Estava alerta a todos os sons A porta do condutor abriu se e Sarah sentiu um aperto no peito e um calafrio Os remores atacaram com mais vigor e tentou sust los sem sucesso O p nico impregnava se nas veias e alastrava se ao corpo inteiro Deu um salto de susto quando sentiu a porta lateral deslizar Uma m o terna puxou a para fora do carro com a delicadeza poss vel dadas as circunst ncias e encaminhou a sem qualquer imposi o exagerada Apetecia lhe tirar o capuz mas as m os estavam presas atr s das costas com uma abra adeira de pl stico N o conseguia escutar a respira o do seu raptor nem sequer os seus passos Apen
317. l como base para poder protestar esclareceu o relator A maioria das pessoas pode n o compreender isso mas qualquer homem de direito o entende A verdade que at 1938 o Secret rio de Estado do Vaticano Eugenio Pacelli emitira cinquenta e cinco protestos ao governo alem o por viola es flagrantes concordata assinada em 1933 Chegou a mencionar a ideologia da ra a A concordata condenava as persegui es em rela o ao credo e ra a A opini o p blica n o tinha conhecimento destes protestos Nunca teve Pacelli sempre preferiu as vias legais comunica o social Soube se nos julgamentos de Nuremberga que Hitler achava muita gra a aos protestos e at tinha um lugar especial na sua secret ria onde os empilhava medida que chegavam e que fazia piadas sobre eles Mal foi eleito Papa a sua primeira medida foi contactar Hitler Finalmente 1939 gracejou Rafael embora ningu m tivesse achado piada Duv lio bebeu mais um pouco de gua Estava a ficar muito cansado mas ia continuar Se pudesse mudar duas mentes em rela o ao pensamento negativo que se generalizara sobre o Santo Padre Pio XII j se podia considerar um afortunado Estava a esquecer me de um dado importante que aconteceu ainda antes de o cardeal Pacelli ter sido eleito Papa referiu o relator recuando um pouco A Mit Brennender Sorge A qu qu perguntou o americano A enc clica Mit Brennender Sorge
318. la da Igreja depois da morte do tal padre questionou Sarah Foi foi o que eu eu pen pensei John retirou outro documento do dossi e colocou o por cima do primeiro Era a c pia da titularidade da conta Dois titulares um gestor autorizado Um conjunto de informa es t cnicas como o n mero de conta e de clientes d gitos de controlo pr prios da institui o entre outros algarismos inintelig veis para Sarah mas perfeitamente l gicos para John O que este Piccolo inquiriu Sarah intrigada John sorriu As contas do IOR que tinham a peculiaridade de serem designadas por funda es ou fundos de solidariedade pr prias do nome do banco Instituto para as Obras de Religi o para al m de terem um gestor dedicado e s ele saber a identidade dos clientes mantinham o nome oculto sob um pseud nimo Wow Isso a privacidade levada ao extremo censurou Sarah Ou ou um n n vel de se secretismo para evi tar cha cha tices contrap s John Quer dizer que a este Piccolo corresponde um nome real que s este gestor conhece John fez que sim com a cabe a mostrando um sorriso nos l bios de contentamento Parecia uma crian a com um brinquedo novo quando se envolvia nestas investiga es e seguia a frieza harm nica dos n meros Mas Sarah estava ciente do quanto aquelas coisas podiam ser perigosas O IOR ao contr rio do que se pensava n o era um banco nacional com
319. lgu m o trouxera ao mundo e o largara Ironicamente Matteo ganhava a vida a contar a hist ria dos outros embelezada pela prosa e pelos bardos pelos poetas pelos s culos e pelos mil nios Para ele o mundo estava dividido entre os patifes e os simpl rios e os primeiros eram muito mais numerosos que os segundos Como a m e rsula s houvera uma As suas visitas guiadas cidade de Verona tornaram se famosas Das nove da manh at s seis da tarde o autocarro tur stico de Matteo andava apinhado maioritariamente de japoneses alem es ingleses dinamarqueses e alguns compatriotas Os grupos eram na sua maioria femininos o que n o era surpreendente Ins lito era ver o mesmo homem solit rio repetir a visita pelo terceiro dia consecutivo Quando isso acontecia s podia significar uma coisa Era gay O dia come ava com uma entrada a matar Guias panfletos mapas tudo era recolhido e guardado Tinham apenas duas obriga es naquela viagem e apenas duas a de abrir bem os olhos e a de se concentrarem na voz dele O resto era emo o pura era deixarem levar se pela narrativa Come avam por Castelvecchio o velho castelo g tico que defendia a cidade na Idade M dia com as suas sete torres e o fosso que outrora estava cheio com guas do Adige o rio que banhava a cidade mas que agora estava seco Para o voltar a imaginar cheio era necess rio ouvir a voz teatral de Matteo que por vezes se colocava atr s de alguma tu
320. lha do Papa com um sorriso t mido Nem viver a vida em liberdade pensou Mas sei que fui como que uma ovelha negra que n o devia ter nascido Era Sou demasiado inc moda A Anna n o foi a nica a dar a vida dessa forma pela Igreja explicou Jacopo como se esse fardo dividido por v rios custasse menos A irm Bernardette viveu cativa na Congrega o das Irm s da Caridade de Nevers depois das apari es A irm L cia tamb m Viveram sempre controladas em todos os passos a vida inteira N o a mesma coisa refutou Anna sem qualquer ponta de arrog ncia apenas uma simples discord ncia natural A Nossa Senhora n o me apareceu As outras tamb m n o pensou Jacopo Anna estava triste Ainda havia l grimas a cair lhe pelo rosto Sabia muito bem o que o historiador queria dizer N o era a nica a dar a vida pela Igreja Infelizmente Se pudesse voltar atr s faria algumas coisas diferentes Pelo menos uma Falta um caderno constatou o secret rio pontif cio que continuava a mexer na caixa Sempre faltou Nunca considerou a vida religiosa perguntou Giorgio N o meu filho Nem pensar disse para si mesma A Igreja nunca me atraiu Sempre preferi os outros apelos da vida O casamento o trabalho a maternidade Teria seguido esse caminho Suspirou de frustra o Giorgio baixou o olhar como se se sentisse respons vel por tudo o que acontecera a Anna
321. licada Em resumo a Anna teve uma filha um dos nossos cardeais lidou com a situa o e n o deu conhecimento ao Santo Padre Lidou com a situa o interrompeu Wojtyla Arranjou uma fam lia de acolhimento para a crian a esclareceu o Cardeal Secret rio de Estado Quem tratou disso O Amleto O Papa Montini nunca soube disto Wojtyla suspirou A Anna teve um filho Como que ele pode ter feito uma coisa dessas protestou N o o censuro objectou Casaroli Se eu pudesse tamb m te pouparia O Amleto fez o que achou melhor arguiu A Ama um assunto extremamente importante Ele n o devia ter procedido dessa forma censurou o polaco Casaroli fixou as m os na secret ria e encarou Wojty a O que est feito est feito Bem ou mal est feito Ningu m disse nada durante alguns momentos Wojtyta virou as costas aos presentes e acercou se da janela L fora um belo dia de sol destoava do seu estado de esp rito Tentou serenar e organizar as ideias A Anna teve uma filha h quinze anos As autoridades da poca lidaram com isso da maneira que consideraram melhor Qual o problema ent o perguntou o Papa sem se voltar para os outros homens Casaroli virou se para Ercole Tinha de ser ele a explicar O homem continuava a segurar o chap u com ambas as m os O Cardeal Secret rio de Estado arrastou uma cadeira e obrigou o a sentar se Acalma te e co
322. lidade N o necessitavam de seguran a Ou pelo menos assim pensava at que isto aconteceu N o lhe parece que as mulheres deviam ter mais relev ncia na estrutura pol tica da Igreja perguntou o velho Ah Esque a Elas j a t m proferiu JC com cinismo e acidez a olhar para uma parede Antes pelo contr rio Ajeitou se na cadeira e fitou o padre Esta noite foi muito prof cua em acontecimentos sabia Gumpel ficou espera que aquele homem sentado junto cama com as m os em cima da bengala e de quem ele desconhecia o nome continuasse Segundo as minhas fontes e s o muitas vangloriou se o meu caro padre ficou sem auxiliares Gumpel sentiu um n na garganta e engoliu em seco sentiu os p los eri arem e o suor a descer das t mporas O que que quer dizer com isso Os seus relatores Mortos Os tr s esclareceu como se de uma senten a se tratasse Gumpel fechou os olhos Que trag dia Pior Que sacril gio O trabalho daqueles homens era sagrado Eles tinham a tarefa cujo fardo era insond vel de tornar divino o humano de fazer o ef mero intemporal Aqueles homens estavam sua responsabilidade e tinham morrido por culpa sua Levou as m os ao rosto conturbado pelo choque da not cia que fora dada de supet o Porqu acabou por perguntar quando se recomp s Essa era a minha pr xima pergunta Em que que os seus homens estavam a tra
323. lo era a prova disso mesmo Deixar a vida por escrito n o fazia bem a ningu m No quarto ou quinto cart o encontrou o que n o desejava ler Algu m sublinhara o texto para que n o se perdesse a informa o Fui ver a minha menina Sei que n o devia mas n o aguentei Nada mais me resta do tempo que passei com Eugenio At as mem rias estou a perder Preciso de recorrer a retratos para me lembrar do rosto dele outrora t o bem gravado na minha mente O toque o sorriso o olhar divino e asc tico tudo isso se vai perdendo diariamente uma parte um pouco at n o restar nada Esqueci o cheiro dele Precisava de v la A minha Anna a nossa Tem as fei es dele O nariz e os olhos s o c pias perfeitas Que loucura cometemos naquela noite em Berlim Que loucura Nunca ningu m poder saber A minha querida Anna A nossa menina Sorriu me e isso bastou me Est uma mulher mas para mim ser sempre uma menina S Deus Pai saber e a Ele responderei pelos meus actos quando for chamada Sua presen a O Papa Roncalli aceitou receber me O texto continuava mas Rafael preferiu ir ver a data de entrada daquele relato 25 de Setembro de 1960 Trig simo anivers rio de Anna Pasqualina era uma mulher muito pragm tica Nunca a conheceu apesar da sua longevidade Viveu oitenta e nove anos Por ela passaram nove Papas e serviu tr s Todos sem excep o a respeitavam O seu sacrif cio em nome da Santa Madre Igreja foi descom
324. m mas fazendo o apenas pelo facto de estarem presentes Eram sempre dois vestidos de fato preto e camisa branca o traje do of cio gravata a condizer com a cor do fato postura profissional No in cio tentou escut los ouvir o que diziam um ao outro encostando o ouvido do lado de dentro da porta Nada N o conseguia ouvir nada N o acreditava que passassem tantas horas em sil ncio Era inumano Seguramente falavam a porta que devia ser prova de som Revezavam se tr s vezes ao longo de cada dia Dinheiro n o era problema ela sabia o Podiam ser seis ou doze seguran as n o fazia diferen a Deixou de se importar Mesmo quando sa a sabia que algum deles estaria na sua peugada a uma dist ncia segura Deixou de se importar com tudo Os dias eram longos assim como as noites O irm o trabalhava ela n o Vivia os minutos as horas os dias um de cada vez lembrando se de todos os momentos passados Esta noite n o era diferente n o tinha de ser O sono cutucava a a espa os acanhado receoso sem querer tom la completamente e arrast la para os bra os de Orfeu Depois de um primeiro sono muito leve manteve se acordada com as mantas a aquecerem lhe o corpo mas impotentes para lhe aquecerem a alma Pareceu ouvir uma batida leve ao longe mas logo decidiu que seria a mente a irrit la com sons imagin rios Voltou a ouvir a batida com mais vigor na porta de entrada Uma duas tr s quatro vezes Levantou se cal
325. m cula que ele pr prio fizera abater sobre si Como fora imprudente Meu Deus aceita a minha penit ncia suplicava ele entre l grimas enquanto supliciava as costas com viol ncia Estava dentro de um gabinete espa oso repleto de arm rios que ocupavam metade das paredes e uma grande mesa de trabalho rodeada de pesadas cadeiras de madeira no centro Em cima acumulavam se livros e documentos dos mais variados teores Uns mais antigos outros recentes numa aparente organiza o desorganizada Duv lio estava completamente nu a flagelar se em frente a uma imagem da cruz de Cristo Mais do que as palavras Dele a sacra institui o explorava a Sua morte e o sofrimento A cruz sempre a cruz a pesar nas costas dos comuns mortais N o precisava de ver o Cristo gravado nela sabia que Ele estava l omnipresente e omnipotente testemunha das suas falhas dos seus pecados e das suas tenta es O sangue ca a na alcatifa e confundia se com o carmesim do tecido As investidas continuavam a rasgar lhe as costas numa cad ncia veemente e insistente Por Bertram por Domenico por Gumpel pelo Santo Padre Bento XVI pelo Vener vel Santo Padre Pio XII por Pasqualina por Piccolo Uma vergastada violenta por sua m e dona Santinha que n o o tinha criado para aquilo Era um homem ntegro recto nascido em Porto Alegre e palmilhava os verdes anos da sua terceira d cada de exist ncia Era um moleque diria dona Santinha Era um cafa
326. m e apoiava e estimulava este sentido asc tico do filho Era um rapaz obstinado solit rio muito independente Estava sempre no seu mundo Trazia em odos os momentos um livro consigo e era comum v lo a ler mesmo durante as refei es Apesar disso n o era indiferente ao que o rodeava Tinha um grande amigo Chamava se Guido Mendes e era judeu Tornou se mais tarde num m dico reputado Pacelli frequentava a casa dos Mendes Foi o primeiro Papa depois de Pedro a frequentar Sabats judaicos quando era crian a H necessidade de recuar tanto reclamou Rafael farto daquela lengalenga Sarah lan ou lhe um olhar reprovador Ela estava interessada na hist ria Se ele n o quisesse ouvir tinha bom rem dio Continue padre Em 1901 foi integrado na equipa do cardeal Pietro Gasparri como apprendista na Sagrada Congrega o dos Assuntos Eclesi sticos Extraordin rios Na altura Pietro Gasparri ainda n o era cardeal mas juntamente com Pacelli foi um dos arquitectos do C digo de Direito Can nico que come ou a ser compilado em 1904 e levou cerca de treze anos a concluir No entanto tudo podia ter sido diferente Mais ou menos por essa altura um primo de Pacelli Ernesto pediu lhe ajuda com a sua ilha Maria Teresa Ela estava alojada no convento da Assun o desde os 5 anos e quando atingira os 13 entrara numa depress o profunda e num sil ncio sepulcral Pacelli come ou a visit la todas as ter as feiras
327. m o com gentileza como se estivesse a tocar em algo fr gil ou divino que n o quisesse estragar ou conspurcar Antes de lhe beijar a m o de olhos fechados ajoelhou se uma l grima escapou se da p lpebra e desceu timidamente pelo belo rosto Oh Senhor balbuciou Anna sem perceber a raz o para tanto enleio Perdoe me o adiantado da hora escusou se o prelado Mas o padre Rafael pediu me para vir ter consigo O Rafael perguntou Jacopo admirado N o lhe tinha dito nada Que estranho Sim respondeu o homem A visita n o largava a m o de Anna nem desviava o olhar dela ao ponto de a fazer sentir se constrangida N o temos muito tempo advertiu o prelado Mas tenho tantas perguntas para lhe fazer Tantas tantas Nunca pensei conhecer pessoalmente a filha do Papa Anna combateu o constrangimento com um sorriso e tirou a sua m o da do desconhecido Quem o senhor perguntou por fim desconfiada Ele levou uma m o testa Pe o desculpa pela minha falta de educa o Onde que tenho a cabe a Como poss vel n o me ter apresentado O meu nome Giorgio Sou o secret rio de Sua Santidade 52 Nenhum deles disse nada durante muito tempo N o saberiam dizer se seria da como o ou simplesmente da falta de assunto que por norma se instala nestas situa es Apesar de n o ser uma novidade para ela o c rcere fosse por raz es legais ou desconhecida
328. m Rafael Pelos vistos havia d vidas A nossa investiga o levou nos inevitavelmente a um nome que se torna incontorn vel sempre que se fala do Papa Pacelli respondeu Duv lio Quem John Scott e Sarah estavam avidamente espera da resposta O mist rio sem sombra de d vidas o melhor combust vel para despertar o interesse de um jornalista A tal pessoa que ele se esqueceu de inserir no relato censurou Rafael N o se pode falar do Papa Pacelli sem mencionar a madre Pasqualina concluiu Duv lio cabisbaixo Quem foi essa Pasqualina Governanta confidente assistente do Papa durante mais de quarenta anos A influ ncia dela foi t o grande que at afectou o Papa Pio XI Foi ele quem quis que ela fosse ajudar Pacelli na Secretaria de Estado Ali s foi uma ordem A enc clica de den ncia a Mussolini em 1931 a Non Abbiamo Bisogno foi ideia dela foi a vez de Rafael explicar Depois puxou novamente a cadeira e colocou se de frente para Duv lio inclinando se na direc o dele com um ar amea ador E agora cheg mos parte mais importante n o Duv lio Gotas de suor voltaram a formar se na testa do relator a respira o alterada novamente aud vel Pois Eu vou facilitar te a vida prosseguiu o italiano Como tiveste conhecimento da exist ncia delas O brasileiro levantou a cabe a espantado N o estava espera daquilo Elas Elas pergunt
329. m dos locais mais visitados do mundo Todas as mesas estavam ocupadas e havia at v rias pessoas espera de mesa Uma senhora descal ara se e aguardava sentada no ch o junto a uma das portas de entrada Ningu m parecia interessado no que aqueles dois jornalistas estavam a observar ainda que no meio de tanta gente osse dif cil entrever olhares suspeitos Es est s a ver aqui Sarah fez um gesto negativo Para ela eram s n meros aparentemente bem somados e subtra dos Dei deixa me ex plicar As contas do IOR tinham como nas dos outros bancos um ou v rios itulares mas com uma particularidade s os gestores de conta que podiam moviment las devidamente autorizados pelos clientes Mas havia mais apenas os gestores e s eles conheciam a verdadeira identidade dos itulares dentro da carteira de clientes que geriam Um exerc cio de privacidade levado ao extremo Aquela conta explicou John entre ravamentos e destravamentos de l ngua pertencia a uma pessoa que j inha falecido Como assim O ti titular um padre que j j mo morreu E qual o problema John fez notar que a conta continuava a ser movimentada como se nada ivesse acontecido Exemplificou dizendo que era como se ele e ela morressem e algu m que n o eles continuasse a movimentar as suas contas como se eles continuassem vivos OK Isso um pouco estranho Mas a conta n o ter passado para a ute
330. m o padre Niklas Onde est a moeda de troca Tragam na agora ou o filho do embaixador morre Guillermo e Cavalcanti fitaram o intendente surpresos O que que ele queria dizer com aquilo Que raio Girolamo parecia desorientado Tinha o rosto suado e a voz tensa O que que se est a passar aqui perguntou Cavalcanti levando a m o ao coldre de ombro que estava dentro do casaco Rafael levantou a m o e exibiu uma express o s ria para o inspector Era melhor que ningu m se precipitasse Cavalcanti desistiu do gesto Esperava que o padre soubesse o que estava a fazer Eu sabia que n o me tinhas contado a hist ria toda resmungou o inspector desiludido com Rafael Onde est a tal moeda de troca Rafael sorriu Bem longe 65 O carro avan ava rapidamente pela A24 Ningu m falou durante toda a viagem Giorgio o belo carregou no acelerador enquanto deixava a casa grande de Torano para tr s S ele sabia para onde iam e ningu m se atreveu a perguntar lhe Todos tinham muitas quest es que queriam ver esclarecidas especialmente Jacopo mas n o queria faz las frente de Norma Sempre a poupara a todas as quest es profissionais e pretendia continuar a faz lo O monsenhor era secret rio pessoal do Santo Padre a primeira pessoa que ele via quando acordava e a ltima pessoa de quem se despedia noite antes do descanso Certamente as ac es dele n o acarretariam nada de maligno se bem qu
331. m um esfor o tremendo apoiando as duas m os na bengala e firmando a o melhor poss vel no ch o Mia prontificou se a ajud lo i ando o peso pluma do velho pelo bra o com brandura Obrigado minha querida agradeceu recuperando o f lego e depois olhou para o manco Vamos ent o dar uma palavrinha ao nosso arfitri o JC saiu da sala auxiliado pelo gorila que funcionava como um substituto da bengala Um sil ncio constrangedor instalou se entre os dois desconhecidos que restavam o veron s e a su a Mia entrela ava as m os no colo nervosa Matteo levantou se da sua cadeira e sentou se na poltrona que o velho abandonara ao lado da freira Pode contar me o que se est a passar perguntou num tom sussurrante Era um pedido de aux lio de socorro muito mais que uma simples pergunta Os olhos brilhavam marejados como se tudo dependesse da resposta dela Eu n o sei de nada Apenas que est o ao servi o do monsenhor Lucarelli Quem esse N o conhece Matteo fez que n o com a cabe a Ele ficou de vir c ter Relembrou a noite n o sabia dizer se long nqua ou n o em que um desconhecido lhe entrara em casa Sentiu o mesmo p nico que na altura Seria aquele monsenhor Mas o desconhecido n o tinha cara de padre se bem que os rostos n o revelem os of cios N o aguento mais isto Tenha calma sugeriu Mia oferecendo lhe a m o num gesto reflexo Deixaram se fi
332. ma recorda o que jamais o largaria Ansiava pelo dia em que deixasse de reviver aquele momento traum tico O som dos tiros os gritos a dor o atirador Disseram lhe que os disparos ocorreram a metro e meio de dist ncia mas nunca o viu Nem a arma Lembra se de lhe terem dado a ler algumas reportagens jornal sticas sobre o caso semanas depois e de lhe mostrarem fotografias dos servi os secretos Um vulto vestido de negro no meio da multid o bra o erguido acima da turba a apontar para ele Uma foto de frente e outra de perfil nas instala es da pol cia Um rosto fr gido sem vida sem credo sem Deus Livra me disto Maria pediu antes de se levantar da cama Ainda era de noite O primeiro sonho do primeiro sono A M e de Deus n o o desampararia Ajoelhou se junto cama persignou se uniu as m os e come ou a rezar M e do C u d me paz d me for a para aguentar a tarefa que me entregaste Jamais desistirei mas s Te pe o que me alivies um pouco o pesado fardo de tempos a tempos O mon logo durou uma hora mais minuto menos minuto Habituou se a falar com Ela desde que aquilo acontecera h dois anos Tranquilizava o Estava ciente de que o protegeria de qualquer intemp rie Depois da prece entregou se novamente a um sono calmo sem sonhos reparador Acordou s seis e meia refeito pronto para defrontar o dia cheio que certamente o esperava Um Papa n o tinha tempos mortos nunca Al m dos afa
333. ma sede s bita Abriu a porta do minibar mas estava vazio Era apenas um objecto de decora o Como que esta merda tem quatro estrelas Pegou no telem vel e voltou a ligar para a Sarah Monteiro A resposta foi id ntica s seis vezes anteriores Atirou o telefone para cima da cama e abriu o roupeiro Tirou umas cal as e uma camisa de ganga e colocou as em cima da cama Apagou o cigarro no cinzeiro e despiu o roup o Desembrulhou o papel dourado que envolvia um estojo aveludado e abriu o Dentro estava um rev lver Amtec de calibre 38 que ele retirou do encaixe Duas filas com cinco balas alinhavam se por cima do encaixe da arma Foi tirando uma de cada vez at encher o tambor Fechou o e fez pontaria para um alvo imagin rio Em seguida pousou a arma e come ou a vestir se Se Maom n o vai montanha 11 O comboio n mero 9406 procedente de Roma Termini chegou estac o de Santa L cia trinta e oito minutos depois das onze da manh de ter a feira Uma chuva miudinha saudou os passageiros que sa ram da gare Para muitos era o in cio de uma viagem de sonho pela candura veneziana as ruas os canais os pal cios para Jacopo Sebastiani era a conclus o de um trabalho que n o queria fazer Agasalhou se o melhor que p de apertando o casaco e levantando as golas e saiu para o exterior em direc o Ferrovia a esta o dos vaporetti que ficava esquerda mesmo em frente Igreja degli Scalzi O Canal Gran
334. mais tardar amanh de manh teremos acesso aos corpos Quem que os avisou N o sei respondeu o intendente frustrado Provavelmente quem colou o bilhete no confession rio sugeriu Guillermo Precisamos de saber onde ele est interveio Girolamo com acidez fitando Jacopo Como que hei de saber Falem com quem o raptou Jacopo sentia se cada vez mais desconfort vel Precisamos de saber onde est o Rafael precisou Guillermo Ah Esse verbalizou Jacopo Ele pediu uma licen a de alguns dias ao Tomasini para tratar de assuntos pessoais explicou o monsenhor N o fazemos ideia onde ele est E acham que eu sei Os dois homens que estavam em p acenaram que sim O historiador sorriu cinicamente e olhou para Guillermo Que raio de servi o de espionagem geres tu que nem consegues encontrar os teus homens Precisamos dele aqui com a maior urg ncia explicou Guillermo ignorando o coment rio N o era hora para discuss es Jacopo ficou com calor de repente Desapertou o bot o de cima da camisa Sentia um aperto na garganta e as axilas a transpirar Que desconforto Estava tudo a come ar de novo Meu Deus Quando o Rafael souber disto Acho que nem Tu o deter s Precisamos que nos digas onde ele est frisou Girolamo Jacopo fez um n o categ rico com a cabe a antes de se levantar N o posso fazer isso Como bem disseram fo
335. mal parad OK OK J entendi vociferou Sarah furiosa sem olhar para tr s limitando se a seguir o empregado A porta seguinte dava para um corredor estreito e sujo o oposto da cozinha iluminado por l mpadas fracas e t midas atacadas por teias de aranha e onde havia caixotes de um lado e do outro fruta podre pe as de vestu rio espalhadas parecia uma esp cie de dep sito de maus sonhos e roupa suja Mais duas portas um corredor de servi o e por fim a rua Rafael piscou o olho ao empregado e entregou lhe mais cinquenta euros Este tornou a fazer a mesma fita ao guardar a nota como se tal gesto afectasse de algum modo a honradez do sujeito O padre foi o primeiro a sair Perscrutou ambos os sentidos da rua Havia poucos carros a passar Mirou as fachadas com uma express o s ria Onde vamos perguntou Sarah Um carro dobrou a esquina com a Piazza Vittorio Emanuele II e fez lhes sinais de luzes Parou junto deles Rafael abriu as portas com desvelo sempre a olhar ao redor como um falc o procura da presa Depois de Sarah e John terem entrado para o banco de tr s entrou ele para o da frente O caminho est livre afian ou Arturo agarrado ao volante Rafael concordou Ningu m estava a vigiar o hotel E agora Para onde quis saber Arturo N o lhe pagavam para pensar apenas para executar Rafael segredou lhe a morada Arturo olhou o espantado Tens a certeza O padre superio
336. mantivesse aberta para ela poder voar livremente Por vezes de manh Pasqualina encontrava o Papa a fazer a barba e a falar para o p ssaro canoro que habitualmente pousava no seu ombro Quem imaginaria que o Papa se comportava como um petiz brincalh o Muitas l nguas aleivosas pronunciaram se sobre a rela o deles Eugenio e Pasqualina sem entenderem nem se esfor arem por faz lo o que unia o pont fice freira Um descaramento disseram uns nos corredores do Pal cio Apost lico Inadmiss vel criticaram outros sem nunca darem a cara ocultos pelos ciciamentos cobardes lan ados ao ar No fundo tinham medo do poder que o amor puro de um homem dera a uma mulher num mundo mis gino Depois do beijo ela viu o entrar no gabinete trajado na sua imaculada sotaina branca que combinava assustadoramente com o descoramento do rosto H muito trabalho para fazer madre disse ele cheio de genica echando se solitariamente no gabinete Pasqualina sabia que ele estava a mentir lhe H dois dias ele estivera o mal que lhe haviam dado a extrema un o Miserere mei Deus secundum magnam misericordiam tuam era o que Santo Padre dizia a toda a hora O fim estava pr ximo cada vez mais pr ximo e ele queria engan a da mesma maneira que enganava a morte h quatro anos fazendo um esfor o por parecer que estava de perfeita sa de N o queria que ela sofresse mas Pasqualina andava com o cora o nas m os
337. mas continuou na direc o do veron s Rafael viu o rosto de Sarah cansada a poucos metros dele Os olhos encontraram se e comunicaram em sil ncio Estavam bem Sarah n o conteve a vontade de o abra ar e ele correspondeu Niklas juntou se ao grupo ainda muito confuso S faltava Mandi Quando foram libertados da carrinha deram lhes um post it branco que Sarah entregou a Rafael depois de o abra ar Sigam at ao obelisco N o falem com ningu m at chegarem l ou ser o punidos A Mandi fica comigo Tenho outros planos para ela Cumprimentos ao padre Rafael Bravo Muito bem jogado Espero que nos voltemos a encontrar O segundo gesto de Sarah foi dar lhe um estalo Quando que isto termina N o podemos viver em paz Niklas n o tirava os olhos de Rafael como se estivesse petrificado Finalmente chegava presen a daquele que o gerara Imaginara aquela cena in meras vezes na sua cabe a milhares e milhares de repeti es mentais nenhuma igual que acabava de acontecer A vida real surpreendia sempre Rafael concedeu lhe apenas um olhar indiferente Mais nada Os agentes da Bundespolizei rodearam o rapaz um falava lhe em alem o sem que ele prestasse aten o enquanto o outro levou um telem vel ao ouvido para informar o embaixador O padre olhou para o intendente que contemplava Mia e Matteo junto a uma das fontes Beijavam se O pior tinha passado S faltava tratar de Girolamo N o foi assim t o di
338. mas tipografias alem s ofereceram os seus servi os em segredo Foram impressas cerca de trezentas mil c pias e mesmo assim foi insuficiente Distribuiu se por todas as igrejas cat licas germ nicas e foi lida em todas elas no Domingo de Ramos de 1937 altura em que mais pessoas iam missa Os nazis responderam no dia seguinte Invadiram todas as dioceses apreenderam todas as c pias da enc clica mas n o se ficaram por a Perseguiram os cat licos e prenderam mais de mil pessoas Fecharam e selaram as tipografias que colaboraram na impress o da enc clica Encararam na como um ataque directo ao regime nazi Proibiram a circula o dos jornais cat licos e denegriram a imagem dos cl rigos julgando mesmo alguns Foi uma persegui o sem precedentes Igreja Cat lica e a Pio XI Esqueceram se de um pormenor adiu Rafael Quem redigiu a enc clica n o foi Pio XI mas Eugenio Pacelli Foi ele quem escreveu Somos todos semitas Dizem que Pacelli nunca se insurgiu contra Hitler e no entanto refere se a ele como um profeta louco com uma arrog ncia repulsiva E depois temos a Opera o Pont fice e Rabat se d vidas houvesse que para Hitler Pio XII era um inimigo e nunca um aliado argumentou Duv lio Sarah sentia se atacada por duas frentes informativas A do relator e a de Rafael Ambos com informa es pertinentes E que opera es foram essas Duv lio olhou para Rafael como que a conceder lhe a explica
339. mento O meu nome Klaus Posso perguntar o que deseja dele Nova pausa esta mais longa Ja Ja In Ordnung disse em alem o exasperado S um momento Tirou o aparelho do ouvido e pressionou umas teclas procura do alta voz Quando o encontrou aproximou o do padre O padre Rafael pode ouvi lo neste momento Fa a favor de falar Baixou a voz um tal Pedro Padre Padre A voz evidenciava ansiedade e desespero Sim Pedro Estou a ouvir te O que se passa Eles eles levaram na Rafael fechou os olhos N o era aquilo que ele queria ouvir Eles quem Pedro N o n o sei Ouvi a porta a fechar se e levantei me e a Mandi tinha desaparecido Os seguran as perguntou antevendo a resposta Pedro n o respondeu logo como se tivesse medo do que teria de proferir Os seguran as Pedro Mor mortos Quantos s o Ah N o entendera a pergunta Quantos seguran as est o mortos Todos S o dois E agora padre Escuta o que te vou dizer Pedro Acalma te A pol cia italiana estar a daqui a pouco N o chames ningu m da Gendarmaria do Vaticano entendido Sil ncio do outro lado da linha Percebeste o que te acabei de dizer Pedro A voz de Pedro mostrava que ele continuava alarmado e em p nico Sim N o chamar a Gendarmaria do Vaticano e esperar pela pol cia Isso Estou com o inspector da pol c
340. mplesmente ser eu a ir busc la Olha para ti N o podes com uma gata pelo rabo Al m disso preciso de ti aqui em Roma Para qu Guillermo atirou lhe outro molho de folhas para a frente derrubando outras tantas que acabaram por cair no ch o Estavam presas por uma mola e eram encimadas por uma fotografia de um homem em tamanho dez por quinze Ainda hoje Rafael Os de l de cima querem isso resolvido com urg ncia R pido e sem percal os Depois posso ser eu a ir busc la insistiu Rafael Depois quero que fa as uma visita aos relatores O qu Rafael n o queria crer no que acabara de ouvir Isso mesmo O Comte destacou uma equipa de seguran a para as resid ncias deles suponho N o precisam de ama seca N o sejas insolente Escreve a morada Rafael Irra que feitio Rafael fitou Guillermo e resignou se Acabou por rabiscar algo no bloco de notas e atirou o para o chefe que arrancou a folha onde ele escrevera a morada E este quem perguntou Rafael apontando para a fotografia do homem Ningu m limitou se a dizer Guillermo Assim que receber a tua visita n o ser ningu m Rafael levantou se libertou a fotografia da mola e pousou o resto das folhas em cima da ca tica secret ria Trata disso Esteja ele com quem estiver acrescentou o chefe E se ele estiver num caf ou num restaurante ou numa igreja Trato da sa de a tod
341. n o ligas ao tal advogado enquanto eu converso com o teu homem Ou chama o Comte Isto vai ser r pido sugeriu o romano Pode come ar por nos dizer o que veio aqui fazer Guillermo n o arredou p Em todo o caso telefonou para Comte mantendo se atento a tudo o que era dito Toda a situa o era surreal nunca tinha passado por tal descontrolo N o podia deixar que Rafael revelasse a Gennaro mais do que lhe era permitido Pisavam areias movedi as que podiam engoli los a todos a qualquer momento Vim encontrar me com o relator acabou por dizer Rafael As preocupa es dele eram outras precisava de despachar aquilo depressa e s tinha uma hip tese O tal Duv lio correcto perguntou Cavalcanti olhando para o seu bloco de notas preto que tinha na m o Exacto Rafael perdeu algum tempo a explicar o que era um relator o que fazia o col gio sem entrar em pormenores sobre o candidato santidade cat lica que agitava o habitual marasmo daquela congrega o N o faziam nada de importante portanto atirou Cavalcanti em jeito de provoca o E o que que tinha para falar com este relator que n o podia esperar por horas mais apropriadas como por exemplo amanh durante o dia Guillermo tentou chamar a aten o de Rafael Obviamente que os seus homens estavam mais que preparados para lidar com este g nero de situa es por m convinha n o esquecer que este fiel operacional da Santa Al
342. na s lhe respondeu em Novembro e em Dezembro Pacelli nem olhou para tr s Pediu ao amigo que a fosse buscar Marcaram encontro no retiro Stella Maris em Rorschach na Su a O jovem monsenhor americano conduziu toda a noite e chegaram ao Vaticano pela manh Spellman levou a imediatamente para os aposentos dos servi ais nas traseiras do r s do ch o do Pal cio Apost lico Iria cozinhar limpar azer todos os trabalhos que fossem necess rios Ela n o se importava Queria era estar perto de Eugenio Mesmo assim Pacelli e Pasqualina n o se viram logo A primeira vez que se cruzaram nos corredores sagrados aconteceu j em 1931 quatro meses depois de ela l estar Entretanto Spellman reparou na mente brilhante de Pasqualina e sugeriu a Pacelli que ela desse uma ajuda no departamento de comunica o N o deixaria de ajudar na cozinha nem nos afazeres de limpeza Seria uma acumula o de deveres Depois foi o pr prio Pio XI que tratou do assunto Pio XI interrompeu Sarah N o est s a confundir com Pio XII N o Pio XII foi o nome que Eugenio Pacelli adoptou quando foi eleito Papa em 1939 Estamos em 1931 na viragem para 1932 Pasqualina fez uma revis o a um dos discursos do Papa que continha alguns erros de conte do graves Sugeriu a Pacelli que lhe transmitisse esses erros Mas o Secret rio de Estado n o estava no Vaticano e Spellman tamb m n o Pasqualina foi chamada presen a do anafado e autor
343. nar Entraram novamente no escrit rio e Guillermo tentou encontrar algo em cima da secret ria Fez uns trejeitos de impaci ncia com a l ngua Isso estava por aqui Ainda h pouco estive com ele na m o Acabou por encontrar um molho de pap is que entregou a Rafael Este sentou se para os ler Encostado coluna da capela de Nossa Senhora do Sagrado Cora o com dois tiros na testa E o que diz o relat rio E a Beretta na m o Continuou a ler o relat rio preliminar da pol cia italiana com aten o Posi o dos corpos ferimentos vis veis disposi o do terreno condicionantes entre muitos outros itens na maioria ainda espera de resposta laboratorial O outro padre tinha dois tiros na t mpora direita Quem era ele Guillermo expeliu um ui de desapontamento Lament vel Ficou com a cabe a desfeita Os homens do Cavalcanti ainda n o sabem quem Est o a tentar identific lo E n s sabemos Um dos relatores revelou Guillermo apreensivo O Domenico E o nosso relat rio preliminar perguntou Rafael Podes n o acreditar mas desta vez o Cavalcanti chegou primeiro Como que isso aconteceu Algu m o avisou Ainda n o descobrimos quem foi O Comte ficou possesso Acho que ainda n o lhe passou disse o chefe da espionagem a sorrir Em qualquer crime perpetrado em solo cat lico salvo rar ssimas excep es uma equipa de agentes sob a tu
344. nciar os seus aposentos habituais N o obrigado respondeu sem na realidade ter escutado a oferta A irm Era esta a pergunta que lhe queimava a l ngua Sonja baixou a cabe a O prelado n o necessitava de dizer a que irm se referia A irm n o est retorquiu embara ada Afian aram me que estaria c arguiu o prelado sem coragem para fitar a irm N o A madre partiu hoje para Ebersberg esta manh Disse que regressaria em Dezembro Em Dezembro Sonja anuiu em confirma o Ningu m disse nada durante alguns instantes S a tormenta perturbava o sil ncio que se instalou Parecia que o vento invadia os pensamentos e os deturpava assobiando nos ouvidos at exaust o Disse que partiu para Ebersberg hoje perguntou por fim Sim Hoje Sonja estava agitada Para onde quis saber o prelado Para onde Sim Para Ebersberg para onde Para a casa dos pais Emin ncia Em Ebersberg insistiu A d vida sempre a d vida Sonja voltou a fazer que sim com a cabe a O prelado continuava a olhar para o vest bulo at onde a alumia o alcan ava N o parecia convencido Sonja teria de fazer o que a irm ordenara Vossa Emin ncia vai querer pernoitar c Posso preparar lhe os seus aposentos num instante repetiu a freira O prelado reflectiu As d vidas sempre as d vidas O que que eu vim aqui fazer N o
345. nha apercebido de deambula es na casa o que n o abonava muito a favor da sua vigil ncia Sim senhora Tem uma visita para si E n o pode esperar pela manh O hor rio inconveniente n o te parece E urgente senhora Pe o desculpa disse baixando a cabe a como se a culpa fosse sua Anna fitou Jacopo que estava ao seu lado com uma express o inquisitiva e depois voltou a desviar o olhar para Gustav Vamos N o valia a pena colocar entraves ao inevit vel Anna sabia que apenas conseguiria atrasar as coisas Pela manh ou quando decidisse receb lo o homem ainda estaria na sala sua espera Por outro lado agregado apreens o sentia um misto de curiosidade e vontade de perceber o que se estava a passar naquela noite t o diferente de todas as outras fastidiosas que viveu Sabia que assim seria mas n o com tantas imponderabilidades Gustav ficou porta quando chegaram sala e deixou os entrar antes de regressar para retomar o seu posto na cabine do trio O homem estava de costas quando eles entraram e os passos suaves de Anna e Jacopo n o os denunciaram S um ligeiro pigarreio do historiador chamou a aten o da visita que instantaneamente se virou para eles O cabe o branco na gola da camisa acusava a fun o Cravou os olhos em Jacopo e n o disfar ou o espanto Doutor Sebastiani que bom v lo disse com uma voz fatigada O padre acercou se de Anna e pegou lhe na
346. nhas mirou as janelas dos edif cios recuou ao Campo di San Gregorio e satisfeito com a inspec o regressou ao Palazzo Dario N o havia ningu m a segui lo Fechou o chap u de chuva e entrou N o estavam muitas pessoas e foi f cil detect lo junto a uma das janelas com um olhar vazio para o Canal Os dem nios Ningu m era imune aos seus Jacopo Sebastiani disse quando chegou perto dele Jacopo olhou o com uma express o terna e triste e esbo ou um meio sorriso At que enfim Rafael 13 N o podias ter escolhido outro s tio protestou Jacopo E uma quest o de coer ncia Coer ncia Como arauto da desgra a n o h local que te assente melhor que este disse com um sorriso c ustico Pois Tu s o verdadeiro trevo da sorte Lembras te daquele epis dio em que eu tinha uma arma apontada nuca numa bas lica jesu ta Ou ter sido imagina o minha Nem sei porque ainda n o recuperei do trauma atirou Jacopo para contrabalan ar o ataque ret rico As ltimas vezes que te vi estavas a fugir e n o estou a falar daquela vez em que te escapuliste a sete p s dessa mesma bas lica jesu ta Jacopo lembrou se da mente perspicaz de Rafael e que o seu encontro com ele durante a quest o jesu ta de m mem ria tinha come ado com uma m not cia que ele pr prio anunciara A morte de um amigo que se deveu a demora Imprevistos limitou se a dizer Raf
347. nias At que ele chegue ou eu lhe atenda o telefone vai levar bem mais de uma hora respondeu Cavalcanti em desafio Girolamo respirou fundo Eram tantos entraves ao que era f cil N o h tempo a perder Comte Leva o inspector contigo interp s o Cardeal Secret rio de Estado Eu ficarei com o senhor embaixador e a senhora embaixatriz espera Acercou se de Rafael com uma postura conciliadora Ju zo Rafael N o te pedimos que colabores connosco apenas que fa as o que est correcto aos olhos de Deus O toque de um telem vel chamou a aten o dos presentes at Cavalcanti se afastar do grupo levar a m o ao bolso e depois atend lo Para onde vamos Rafael perguntou Girolamo disfar ando o melhor poss vel a ansiedade que sentia Tirem me as algemas pediu o padre com uma voz s ria Durante uns instantes avaliaram o pedido em sil ncio apenas com comprometedoras trocas de olhares O Cardeal para o embaixador o embaixador para intendente o intendente para o Cardeal Tirem lhe as algemas por favor ordenou Girolamo como se tivesse obtido alguma autoriza o telep tica Os agentes da Bundespolizei procuraram a aceita o do embaixador que foi concedida com um simples meneio Segundos depois Rafael esfregava os pulsos libertos O meu telem vel pediu autoritariamente O embaixador hesitou mas acabou por lhe entregar o aparelho Era o padre quem distribu a
348. no edif cio Um cavalheiro escarneceu Sarah V entrem John engoliu em seco Seria aquela a sua ltima morada Um pr dio na tal Via Tuscolana Queria enfiar ambas as m os nos bolsos na tentativa de debelar o frio mas n o podia largar o precioso dossi Enfiou a m o que tinha livre e nessa altura sentiu o Era frio e met lico Sentiu se um idiota enquanto acariciava dentro do bolso o rev lver Amtec de cinco balas 25 Ningu m era mais importante em horas de desespero que Nosso Senhor Jesus Cristo filho unig nito de Deus Pai Todo Poderoso um e outro a mesma pessoa a origem e o fim de todas as coisas o detentor da centelha da divindade Criador e titereiro deste mundo Senhor de mil e duzentos milh es de cat licos mais oitocentos milh es das outras Igrejas crist s o mesmo Cristo de todas A capela no secondo piano era sua e s sua Tinha tr s filas de bancos de madeira e fora adornada com frescos de Giorgio Vasari O piemont s estava ajoelhado aos p s do Cristo cuja autoria era atribu da a Miguel ngelo com aspecto dolorido que perdurava h mais de quatro s culos O m rmore de Carrara fora desbastado at ao nervo e fazia transparecer contagiosamente o sofrimento daquele Cristo a quem quer que o estivesse a contemplar Tarcisio sentia o tormento Dele como seu desde que nascera Vivia para a Sua gl ria e ao Seu servi o Por vezes era um fardo dif cil de suportar como nesta noite mas Ele colo
349. nsioso Segurava o chap u borsalino com ambas m os junto ao ventre O Papa levantou se e o homem abaixou se quase com a cabe a a tocar no ch o Levanta te ordenou Wojty a com aspereza N o suportava aquele g nero de submiss o O homem al ou se atabalhoadamente N o era todos os dias que se apresentava perante o Sumo Pont fice Este o Ercole informou Casaroli Sei quem disse Wojtyla O homem estava ruborizado N o fazia ideia que o Papa o conhecia O irm o da Anna disse o Papa Exactamente confirmou Stanistaw E agora que sabemos muito bem quem podem dizer me o que se passa afinal Casaroli fixou os olhos escuros e agudos em Ercole que baixou o seu olhar envergonhado concentrando se no ch o Conta tudo Ercole Santo Pa Padre come ou Ercole nervoso eu eu Como sabe sou irm o da Amna e e e Casaroli colocou uma m o sobre o ombro de Ercole A Ana teve uma filha disse o Cardeal Secret rio de Estado de rompante O qu O polaco estava chocado Voltou a sentar se abatido Colocou as m os a tapar a cara e respirou fundo A idade dela ainda permite Quando foi isso H quinze anos respondeu Casaroli Wojty a levantou o rosto para os tr s homens Isto alguma esp cie de brincadeira Ercole n o conseguia fitar o Santo Padre nos olhos e n o disse nada E uma hist ria comp
350. nstitui es religiosas que albergassem os refugiados de guerra sem olharem religi o Deviam ser todos vistos como seres humanos Milhares de pessoas foram acolhidas em mosteiros conventos fam lias de acolhimento cat licas e onde quer que houvesse espa o Maioritariamente judeus questionou Giorgio Sim No in cio o Papa especialmente em Roma e por via do na altura monsenhor Montini conseguiu negociar com o General das SS Reiner Stahel que declarou a extraterritorialidade de todas as institui es religiosas Aqui mesmo no Vaticano refugiaram se milhares de judeus e o Papa esperava que todas as institui es atrav s desse acordo com Stahel fossem ratadas de igual forma Aqui os nazis nunca se atreveram a entrar sem serem convidados Por m os alem es que n o eram burros nenhuns lembrou se nesse momento que estava a falar com um come aram a azer inspec es nos mosteiros e nos conventos Foi uma poca muito perigosa Resumindo no final da guerra havia para al m dos rf os muitas crian as por reclamar Algumas foram reclamadas mais tarde outras n o De qualquer forma a Igreja n o devolveu as que acolheu durante mais empo N o Porqu Os mais novos foram entregues s fam lias obviamente os que permaneceram guarda da Igreja durante muito tempo acabaram por ser educados na religi o cat lica e n o sabiam nada de Israel nem hebreu nem nada Esses n o foram devolvidos
351. nta tudo ao Santo Padre Colocou lhe a m o no ombro novamente como que a dar lhe apoio Ercole manteve o sil ncio durante alguns instantes O Papa continuava de costas para eles Assim talvez fosse mais f cil Conhecem a minha irm Sabem como ela impulsiva justificou se Ercole Contrariando todas as directrizes que o cardeal Cicognani imp s h quinze anos ela O Papa virou se atento Ercole estremeceu Ela contou toda a verdade filha O Papa voltou a sentar se no cadeir o Co ou os l bios com o indicador enquanto raciocinava Tens a certeza disso perguntou a Ercole O homem abanou a cabe a afirmativamente Estava envergonhado Casaroli fixou o olhar no Papa com uma express o indagadora Era um homem en rgico caloroso e pragm tico A quest o agora o que fazemos Mandem chamar o padre Comte imediatamente ordenou o Papa Decis es A vida feita de decis es 53 Como que nos descobriu perguntou Jacopo que ainda n o se convencera com a explica o de Giorgio o belo J lhe disse doutor Sebastiani explicou o outro calmamente Foi o nosso amigo Rafael quem me falou deste local e me pediu que c viesse Onde que ele est inquiriu o historiador numa postura que mais parecia um interrogat rio N o sei Sabe como o nosso amigo consegue ser evasivo respondeu o secret rio do Papa piscando um olho a Jacopo O hist
352. nto ntimo Mas n o a deixaram Entraram na capela de Nicolau V no segundo andar pois do Papa nos apartamentos papais que utilizavam sempre j n o podiam aceder Sentia se cansada f sica e psicologicamente Os ltimos meses haviam sido muito dif ceis Dormira pouco pois queria estar sempre dispon vel para Pio caso ele necessitasse de alguma coisa durante a noite Usava uma cadeira de baloi o onde aproveitava para tricotar meias e camisolas e dormitar mas sempre dispon vel caso Eugenio necessitasse dela Estava exausta Soube lhe bem sentar se nos bancos da capela rodeada pelos frescos de Fra Angelico Gostava de poder estar com ele admitiu N o um cen rio digno de um pont fice Pasqualina Porqu Francis perguntou alvoro ada Spellman precipitara se N o queria que Pasqualina ficasse com aquela imagem Falara de mais Alguma coisa correu mal com o embalsamento Teve de contar ela n o o largaria enquanto n o o fizesse O m dico diz que foi do calor intenso mas se quer saber a minha opini o parece me que foi um trabalho mal feito A imagem do corpo do homem que tanto amava a corromper se fez Pasqualina desmanchar se em l grimas Spellman tentou confort la J resolveram a situa o mentiu lhe Decidiu omitir que at alguns guardas su os de vig lia ao catafalco se sentiram mal e que tiveram de suspender o acesso dos fi is bas lica por duas vezes pa
353. ntrap s o inspector Quebraste o voto de celibato antes ou depois de lhe contares que eras casado com Nosso Senhor da Mula Ru a Rafael engoliu em seco mas n o desviou o olhar de Nicole Esta abriu os olhos nesse momento para testemunhar aquela resposta Antes respondeu lac nico s t o cabr o como todos n s Santini Deus isto Deus aquilo li es de moral para aqui e para acol e acabam por ser todos a mesma merda Rafael n o respondeu N o adiantava argumentar com Cavalcanti O inspector estava lan ado e al m disso tinha alguma raz o se n o na orma no conte do Pensou em Sarah e em Niklas e em como estariam N o importa quem que tem a culpa do qu acabou por dizer Nicole com os olhos vermelhos do choro tentando recompor se o melhor poss vel O que que podemos fazer pelo meu filho Exactamente ouviu se a voz do embaixador dizer preciso tomar provid ncias o prazo est a terminar Klaus entrou no sal o seguido por dois agentes fardados da Bundespolizei e os dois homens do BND que se voltaram a encostar parede ao lado da areira Nicole fitou o marido que se dirigiu para ela e a abra ou Calma querida Tudo se resolver Vamos ultrapassar isto disse o embaixador olhando para Rafael L fora despontava uma t nue claridade que em breve revelaria os primeiros lampejos solares O movimento rodovi rio j parecia o do sol alto com carros carrinh
354. o N o Ele est bem Ainda h umas horas falei com ele tranquilizou a Jacopo Na verdade n o dissera nenhuma mentira apesar de n o estar cem por cento seguro do bem estar do amigo Anna virou lhe as costas cism tica Talvez tivesse denotado alguma inseguran a na voz do historiador Sabe estou demasiado habituada rotina Sempre tive hor rios definidos para tudo Hora de comer de descansar de ler de aprender At enquanto crian a os meus passos foram sempre medidos pela minha m e e pelo meu pai de certa forma Os olhos marejaram se lhe Havia muitas limita es para uma crian a que vivia dentro do Vaticano Jacopo engoliu em seco e sentiu se enrubescer Ainda bem que ela estava de costas para ele Porque estaria ela a contar lhe aquilo Sempre fui muito controlada Acabei por me habituar A rotina faz parte de mim tal como as minhas constantes ins nias Deve ser a minha puni o nesta vida Viv la num estado permanente de vig lia O Rafael est bem Anna disse Jacopo com mais confian a Ela continuava de costas para o historiador que n o a viu esbo ar um sorriso fr gil Em breve o saberemos n o hesitou Mas o que eu queria dizer que o senhor uma amea a minha rotina Jacopo manteve se quedo e mudo sem saber como reagir quela confiss o t o franca Depois tentou dizer alguma coisa mas balbuciou Eu Eu N o se justifique Jacopo
355. o o meu seguran a o Rafael o meu namorado disse Sarah sem pensar John lan ou lhe um olhar severo e franziu o cenho N o estava a gostar nada da maneira como Sarah se estava a comportar Que se estava a passar com ela Con con concentra te Es tou a a falar a s rio O o que que que tu tu tens Sarah respirou fundo e tentou acalmar o cora o nervoso e zangado O padre deixava a fora de si para o bem e para o mal Desculpa declarou numa voz muito mais serena Oficialmente s o meros padres John fez lhe uma express o com o rosto espera que ela dissesse o que eles eram oficiosamente A verdade Acercou se dele e baixou a voz para um tom quase inaud vel Santa Alian a Mais especificamente Sodalitium Pianum John abriu bem os olhos a mostrar o seu espanto Sa Sa Santa Pen pensei que era um mi mito Com o Vaticano habitua te sempre a uma coisa recomendou Sarah N o h mitos E se hoje o s o porque foram realidade algum dia John deixou aquela revela o assentar Santa Alian a Sodalitium Pianum As organiza es de espionagem e contra espionagem da Santa S mais conhecidas como A Entidade Como era poss vel Ouvira dizer que a Sodalitium Pianum fundada no papado de Pio X em 1907 acabara com Bento XV em 1922 N o podia crer que a cria o do monsenhor Umberto Benigni na poca para combater o modernismo perdurara e s
356. o Mal sabia Rotta que era uma forma de eles se divertirem Na verdade n o estavam minimamente arreliados N o te preocupes Angelo repetiu Pasqualina Procurarei quem me possa levar E encontrou Uma boleia de um grupo de jardineiros ruidosos da villa trouxe a at entrada da cidade O resto do caminho f lo a p Chegou atulhada Pra a de S o Pedro ao in cio da noite suada estafada Andar mais de tr s quil metros a p era um esfor o consider vel para uma mulher de 64 anos Mas de outra forma nunca conseguiria l chegar Roma estava a rebentar pelas costuras Ela sabia que Tisserant n o lhe arranjara nenhum lugar especial nas ex guias f nebres S a fam lia chegada os cardeais e os dignit rios estrangeiros teriam acesso privilegiado Havia apenas um canto bem atr s longe da vista reservado aos servi ais na cerim nia f nebre marcada para o dia 14 Seria melhor que nada Pela pra a seria muito dif cil chegar ao pal cio Decidiu entrar pela Porta de Sant Anna ali bem perto Passou pelo guarda que lhe fez contin ncia e seguiu em direc o aos seus aposentos nos apartamentos papais Alguns minutos depois Pasqualina percorria um dos longos corredores do r s do ch o a caminho do elevador Pasqualina Ouviu chamar Virou se para tr s Era Spellman Francis saudou a madre O anafado cardeal americano cinco anos mais velho que Pasqualina deu lhe um abra o forte e um beijo
357. o A senhora acercou se dele com nova dose provocadora mas ele fez um sinal com a m o para que parasse Outro O que que estes gajos andam a fazer Escutou o interlocutor Entendo J identificaram o cad ver de Sant Andrea Esperou pela resposta enquanto consultava o rel gio de pulso Investiguem quem deu o alerta de Sant Andrea e deste Uma vez lapso duas deliberado Estarei l dentro de vinte minutos Atirou o telem vel para cima da cama e tornou a abra ar Marcella Pegou nela novamente A sess o de prazer teria de ser abreviada sem no entanto colocar em causa a qualidade que era seu apan gio Os gemidos voltaram com mais vigor as interjei es e as evoca es divinas tamb m Esperava o mais um cad ver e uma noite sem dormir Pensou no idiota do chefe e sorriu J te vou mostrar quem manda disse em voz alta com confian a Marcella sorriu e beijou o N o se apercebeu que ele n o estava a falar para ela 30 Duv lio suava enquanto usava o azorrague para massacrar as costas nuas e rasgar a carne Era merecido Os piores castigos n o eram suficientes Os lanhos dolorosos que o faziam agonizar n o bastavam para atenuar o sofrimento da alma que era mais excruciante que a dor f sica Nenhuma tortura que infligisse a si mesmo seria mais pesada que a culpa que sentia N o havia cura para os males da alma Duv lio sabia o Nem o perd o Dele no alto dos c us era suficiente para limpar a
358. o num confession rio da Bas lica de Sant Andrea Mataram duas pessoas N o era necess rio fazer mais nada Isso foi mais do que suficiente para percebermos que estavam a falar a s rio Independentemente da nossa reac o eles continuaram Bertram Duv lio Como se uma coisa n o dependesse da outra Um o rapto para entregarmos a moeda de troca Dois uma elimina o planeada dos relatores Os tr s homens do banco de tr s escutaram as palavras de Guillermo com aten o Para Federico e o Cardeal Secret rio de Estado a tese do homem da espionagem fazia sentido Precisamos de encontrar o Gumpel disse Tarcisio com firmeza para Girolamo Virou se para Federico Temos de analisar o trabalho dos relatores O que quer que eles tenham feito chateou algu m Ao ponto de os matar acrescentou o porta voz Eles nunca demonstraram qualquer preocupa o em rela o ao resgate declarou Guillermo Como assim Limitaram se a deixar bilhetes nos locais do crime Primeiro na bas lica Depois Arturo ligou me antes de se ter ido juntar a Davide e disse me que tamb m havia um na Via Tuscolana O Rafael tinha um no Pal cio das Congrega es Em nenhum momento se preocuparam em saber se a mensagem tinha chegado ao nosso conhecimento E o que que concluis disso perguntou Girolamo em jeito provocador Posso estar enganado mas acho que as mensagens nunca foram para n s Est s doido
359. o os de outro pa s qualquer O organismo papal reconhecido pelo Fundo Monet rio Internacional como o banco nacional do Vaticano era na realidade um dicast rio que tinha o nome de Administra o do Patrim nio da S Apost lica mais conhecido pela sua sigla APSA O IOR era um banco de investimentos que beneficiava da extraterritorialidade vaticana e na verdade era at muito mais que qualquer banco nacional explicou o americano que ia pensando enquanto falava no seu jeito sofr vel O IOR estava ao n vel de um Banco Central Europeu e ao mesmo tempo de um banco de investimentos e n o era nem podia ser escrutinado por qualquer autoridade independente e os seus funcion rios n o podiam ser detidos nem interrogados A Igreja n o se gere com Av Marias relembrou Sarah uma frase do alecido arcebispo Paul Marcinkus compatriota de John que presidira aos destinos do IOR durante mais de vinte anos Po po pois O jornalista americano continuou a sua explica o S o gestor de conta por norma um cl rigo ou um leigo autorizado tinha acesso identifica o real do titular Cada gestor tinha uma carteira de clientes maior ou menor e nenhum sabia que contas geriam os outros nem quem eram os seus itulares Cada um s conhecia os seus Parece uma organiza o mafiosa John explicou que na verdade o IOR era composto por um conselho de supervis o que geria as opera es mas que respondia a uma comis
360. o parecia um relato suportado por uma experi ncia v vida mas por outro recusavam se a aceitar tanto pessimismo Acredita mesmo nisso Parece me que a maioria contraria essa lei JC sorriu Sabe porque que a maioria tenta contrariar a lei do mais forte Nenhum dos dois respondeu Porque h um pequeno factor que tem um efeito catalisador muito poderoso e que n s os mais fortes providenciamos Deixou a ideia ficar em suspenso sem dizer logo do que se tratava para acicatar a curiosidade Fora bem sucedido a avaliar pelas express es inquiridoras de ambos Esse factor chama se esperan a Matteo e Mia olharam para ele como se n o tivessem compreendido A esperan a o verdadeiro poder do mundo A esperan a em sair da pobreza em subir na vida em sair da aldeia e ter sucesso na cidade em enriquecer no amor Basta dar lhes a ilus o de que n o s o iguais aos outros e podem triunfar e tudo funciona calma e normalmente sem agita es sem se magoarem uns aos outros Apenas e s porque todos querem ser os mais importantes da sua rua Eu n o quero ser a mais importante contrariou a irm Mas a Mia n o conta Virou as costas vida Desistiu Olhe que aqui o Matteo um bom partido Vai bem embalado na sua ascens o enquanto deixarmos claro Matteo engoliu em seco Mais uma achega sua vida privada Mia corou com a ofensa Que quer dizer com desisti H muitas maneiras
361. o que lhe haviam encomendado No que a ele dizia respeito tudo estaria erminado antes da hora estipulada mesmo contando com a imponderabilidade humana O pior de tudo era a espera Os malditos segundos que se tornavam em minutos e que apesar de implac veis eimavam em demorar se O tempo era uma ilus o sabia o mas n o deixava de o torturar O tempo existe apenas por uma nica raz o para que as coisas n o aconte am todas de uma vez O seu m todo se o cliente lhe tivesse perguntado seria diferente N o havia necessidade de andar de um lado para o outro para cima e para baixo largando lastro e gotejando rasto ainda que ele como profissional deixasse marcas m nimas da sua passagem apenas a morte Quando revelou ao cliente que podia fazer o trabalho todo de uma vez num mesmo espa o essa op o foi liminarmente recusada como se o que sugerira osse idiota Devia cumprir o plano Os locais e a ordem seriam indicados por ele sem margem para mal entendidos Niklas era o primeiro pe a crucial do plano Aproveitar se ia a mesma ocasi o para eliminar o primeiro relator o Domenico Era prov vel que tivesse de se livrar do tutor do mi do um alem o ntegro como todos os outros mas que seria um dano colateral perfeitamente aceit vel e cujo nome n o precisava de saber Seguir se ia mais um relator o Bertram onde fosse poss vel depois o brasileiro nas mesmas condi es Era importante que os prazos n o ossem ultrapas
362. o a enxugar se e a vestir se e depois persignava se A porta abria se s seis e meia para revelar o reverendo monsenhor vestido de batina preta com os tons viol ceos a recolher a bandeja com o jantar Os ser es dele eram passados ao telefone Bernarda imaginava o deitado na cama com o aparelho no ouvido Mas sabia que n o devia Deus me perdoe Os telefones do quarto eram sem fios e sentia o vaguear pelo quarto enquanto falava O italiano conferia lhe um tom rude voz que agradava serva de Deus Compreendia o suficiente mas coibia se de ouvir o que ele dizia Era indelicado escutar conversas que n o lhe diziam respeito A ltima chamada era sempre feita noutra l ngua Uma mistura entre o italiano e o espanhol mas que n o era nem uma coisa nem outra Talvez fosse um dialecto da terra do monsenhor fosse ele de onde fosse Era a mais curta de todas n o durava mais de tr s minutos Depois disso o sil ncio instalava se definitivamente at alvorada seguinte Ao quarto dia segunda feira o turista voltou a aparecer no autocarro de Matteo Bonfiglioli Repetiu o percurso dos tr s dias anteriores Castelvecchio depois a Bas lica de San Zeno ao in cio da tarde onde o guia revelava o local de casamento de Romeu e Julieta deixando os turistas boquiabertos e por fim o cl max que acontecia a meio da tarde numa parte do percurso que era feita a p quando Matteo apontava teatralmente para um bras o na fachada de um pal c
363. o abriu os olhos a custo Quem Quem s o os senhores Foi a vez de JC se debru ar sobre ele Quem n s somos n o importa O importante quem o senhor meu caro padre Gumpel 47 N o se lembrava da ltima noite em que dormira em paz tranquilamente feliz consigo e com a vida Talvez isso n o acontecesse desde os seus 15 anos j l iam 29 N o se queixava da inf ncia Fora muito feliz era a lembran a que guardava com mais apego numa esperan a tenaz de voltar a sentir a mesma felicidade que a envolvera em crian a Um apego genu no vida acicatado por uma curiosidade inata de querer saber mais de querer saber tudo At ao dia daquela fat dica revela o que a prostrou com brusquid o A curiosidade cessara abruptamente N o queria saber mais nada Mais nada Tantos planos tantas sensa es tantos amores para sentir Chegou a culpar Deus os santos o Papa os pais Chegou a culpar a m e biol gica pelo simples facto de existir Ningu m merecia Ela n o merecia Sentia que a vida se sobrepusera sua vontade com tamanha frialdade impondo lhe escolhas que n o eram suas decidindo em seu nome minando lhe todos os planos Odiava a Cresceu amargurada dorida farta de si mesma de tudo de ter de cumprir as vontades dos outros e nunca as suas Esteve para acabar com aquilo v rias vezes Pulsos cortados Comprimidos Trinta quarenta sessenta tantos quantos estivessem na caixa Engoliu os em v
364. o agente de quem n o se sabia o nome Duv lio John Scott e o agente da portaria Todos chamados presen a do Senhor A ora o levou cerca de dez minutos silenciosos um sibilo mudo de rogo em favor das almas que haviam desencarnado Cavalcanti consultou o rel gio irritado com a inconveni ncia do ritual e depois o seu olhar foi aliciado pela nova presen a que assomara ao fundo do corredor com passos r pidos e firmes e se acercava da sala dos relatores Era o ltimo homem que Cavalcanti queria ver por muitas raz es ligadas ao passado e tamb m pelo que significaria em termos de investiga o dali para a frente Sabia que ele viria mais cedo ou mais tarde Sentiu irrita o e resigna o mas talvez a segunda n o se tivesse instalado completamente pois acenou para um dos agentes se aproximar J levaram todas as provas sussurrou ao ouvido dele Ainda n o inspector Faltam algumas Cavalcanti matutou rapidamente e ciciou para o agente o mais pr ximo poss vel da orelha Vamos perder a jurisdi o Levem tudo o que puderem sem dar nas vistas O agente acorreu a cumprir a ordem com a maior discri o poss vel Murmurou alguma coisa aos outros agentes que se mantiveram nos seus ugares para n o levantar suspeitas Gennaro Cavalcanti continuou a fitar o rec m chegado descaradamente acto que n o passou despercebido ainda que o visado n o se tenha mostrado minimamente incomodado Tarcisio persign
365. o at ao peito deixando ver apenas o rosto branco acinzentado e as marcas da morte na testa Quando que me d s os outros dois atirou Guillermo prevendo o efeito desta pergunta Gennaro rosnou de impaci ncia Mais um padre morto e depois de pousares a merda do telem vel essa a primeira pergunta que fazes O apartamento de Bertram na Via Tuscolana estava cheio de pessoas certamente muitas mais do que o padre recebera em casa desde que ali morava Param dicos o delegado do Instituto de Medicina Legal agentes do departamento forense da Polizia di Stato que com luvas e m quinas fotogr ficas inspeccionavam o apartamento Pelas janelas entravam os reflexos azuis e vermelhos dos sinais luminosos dos carros da pol cia e da ambul ncia que estavam estacionados em baixo na rua Alguns moradores haviam sa do para o exterior para ver o que se passava outros tentavam descortin lo a uma dist ncia segura das janelas ou varandas dos seus apartamentos Pelo sim pelo n o Gennaro mandara instalar um per metro de seguran a para afastar os olhares curiosos Perguntaram ao jovem agente fardado que assegurava que ningu m n o autorizado invadia o per metro qual o motivo do aparato A resposta espalhou se rapidamente pelas redondezas elevando se s varandas e janelas dos andares cimeiros Omicidio A pergunta seguinte versava sobre a identidade da v tima mas essa n o fora respondida por n o ser do conhecimento do pres
366. o como consegues localizar a proveni ncia Ve Ve Veneza revelou o jornalista O dinheiro vinha de Veneza Algu m reunia o dinheiro proveniente de v rios pontos do globo e levava o para Roma duas ou tr s vezes por m s E a Fondazione Donato n o era o nico fundo que recebia estes dep sitos avultados Como que conseguiste descobrir isso tudo Sarah estava visivelmente fascinada John hesitou em responder mas acabou por decidir faz lo Se confiara nela tinha de ir at ao fim Quem durante muitos anos recolhia o dinheiro do Piccolo em Veneza e o levava para o Torre o Nicolau V era o seu informador Trazia o dinheiro dentro de caixas de sapatos Em caixas de sapatos Como O passaporte diplom tico e a batina evitavam qualquer inspec o alfandeg ria Quer dizer que a tua fonte sabe quem o Piccolo O americano confirmou Sarah reflectiu sobre aquilo tudo durante alguns instantes Mais uma vez quando pensava que a Igreja at nem era t o m como pensava alguma coisa a fazia descorfiar e voltar a ficar de p atr s Pensou em Rafael Sabia que ele n o era nenhum santo mas ser que ele tinha conhecimento disto ou melhor ser que estaria interessado em saber O Vaticano anda a lavar dinheiro em grandes quantidades isso que me est s a dizer John anuiu com uma express o triunfal Mostraste isto a algu m acabou por perguntar John baixou a cabe a de modo compr
367. o de Estado ajoelhado passou conta seguinte e iniciou uma nova ronda de Ave Marias Ave Maria gratia plena Dominus tecum Benedicta tu in mulieribus et benedictus fructus ventris tui Iesus Os outros conclu ram em alem o Os homens do BND mantiveram se encostados parede sem pronunciar uma nica palavra apenas a observar a cena surreal Nunca tinham visto o embaixador a rezar Sabiam no cat lico mas n o com aquele fervor agarrado s palavras rituais de contacto com Deus Pai Todo poderoso Criador do C u e da Terra Talvez situa es extraordin rias pedissem um acr scimo na cren a e na ora o Afinal de contas um filho era um filho Ningu m exigia mais devo o Tarcisio comandava a ora o de olhos fechados com a m o que segurava o ros rio sobre eles mantendo a cad ncia dos versos que proferia na l ngua morta que ele provava bem viva Klaus estava ajoelhado ao lado do Cardeal com as m os unidas em prece Nicole era a nica que n o repetia os versos em voz alta ainda que os gritasse mentalmente na esperan a que Deus a ouvisse e intercedesse por ela Cumpriram o ritual repetindo cada mist rio e se Nicole esperava ficar mais aliviada com a ora o desenganou se quando se aproximaram do final e sentiu um aperto no peito quase a sufoc la a ansiedade de n o saber se o futuro imediato Ihe reservava um filho vivo ou morto Persignaram se em nome do Pai do Filho e do Esp rito Santo e levantaram os
368. o devia seguramente ser ele a causa do entrave de um processo de canoniza o Seria uma total contradi o A dor come ou a ser t o forte que a respira o se alterou e se tornou ofegante Giorgio chamou os enfermeiros Gentilmente pediram ao monsenhor para sair Giorgio apreensivo deu a m o em jeito de despedida a um Rafael tr mulo e arquejante que suava e se contorcia Este agarrou a m o do assistente e puxou o para mais perto Giorgio debru ou se sobre ele O len o Onde est o len o murmurou entredentes com tremores pelo corpo inteiro em plena alucina o De que que est s a falar Rafael Saia por favor Excel ncia voltou a pedir um dos enfermeiros O paciente precisa de descansar A Amna est livre como tu querias sussurrou o secret rio pontificio antes de o deixar Sabia que o padre haveria de gostar de saber O sedativo f lo adormecer em poucos minutos Voltou a sonhar com mortos e cenas de praia A voz sempre ela a perturbar lhe as conversas ao sol O len o a esvoa ar ao vento Quando que teremos paz Quando acordou tinha uma visita do mundo dos vivos s um cabr o praguejou Cavalcanti sentado numa cadeira com as pernas esticadas e pousadas na cama de Rafael Preferiste deixar me de fora levaste um tiro Foi muito bem feito Se me tivesses informado n o estavas nessa cama Rafael sorriu Talvez o inspector tivesse raz o S Deus podia saber De
369. o dos v rios dias acamado Isso l maneira de receber um aliado protestou JC com sarcasmo que depois foi substitu do por uma express o s ria Tem de fazer melhor os trabalhos de casa na pr xima vez Eu sei concordou o padre resignado A velhota levou a melhor Gosto quando um plano bem executado aplaudiu durante uns instantes Se bem entendi ela quis livrar se dos detractores do pai e ao mesmo tempo recuperar a liberdade Contou com um relator e um c mplice para a primeira fase e consigo para a segunda Eu nunca estive envolvido afian ou Rafael Eu acho que esteve Pode nem sequer ter tido conhecimento desse envolvimento mas foi um dos principais intervenientes O que por si abrilhanta ainda mais o plano JC fitou o manco Sou um admirador desta mulher Voltou a olhar para o padre Porque que o intendente raptou o jovem padre alem o Rafael ficou retesado com a pergunta e n o respondeu Passo a explicar lhe aquilo que o senhor sabe perfeitamente mas n o quer revelar Compreendo o N o seria motivo de orgulho para mim amb m se estivesse na sua posi o Permita me que lhe diga que o padre Rafael foi um idiota Duplamente idiota O jovem padre alem o foi raptado porque era seu filho biol gico Isto s por si um ingrediente para uma bela telenovela Mas imp e se uma quest o Como que ela sabia disso Quer responder Rafael baixou o olhar
370. o era hora de se lamentar com minud ncias Teria o tempo que tivesse e aproveitaria cada segundo como se fosse o ltimo Havia muito mundo para conhecer Pediu um cafelatte sem a car e pousou a bolsa na cadeira ao lado da sua Folheou o Berliner Zeitung e levou a ch vena boca para sorver um pouco do l quido quente que lhe aqueceria o corpo O movimento do estabelecimento quela hora da manh era incessante com pessoas constantemente a entrar a sair a pedir bebidas quentes e frias doces e salgados crian as a berrar a sorrir a chorar a correr por entre as mesas a sonora m quina de caf sempre a trabalhar para satisfazer os desejos dos clientes garrafas a saltar para cima do balc o empregados a deambular pelas mesas com tabuleiros carregados de comida e a gritarem para a cozinha os pedidos mais especiais mas nada disso a incomodava A vida acontecia sua frente e n o num mundo imagin rio que se obrigara a criar N o havia nada mais belo Alguns clientes esperavam pela hora do comboio que os levaria para outro destino outros como ela esperavam pelo que lhes traria algu m Atentou numa pequena not cia nas p ginas internacionais que mencionava a morte do intendente da Gendarmaria Vaticana Girolamo Comte Coitado do intendente Era uma pe a fundamental para a conquista da sua liberdade mas simultaneamente um dano colateral Ele queria honrar a mem ria do irm o e tratar dela mas Anna queria apenas sair da casa gr
371. o escrit rio Privil gios da chefia Guillermo enfiou algumas moedas na ranhura da m quina e pressionou um bot o que a fez emitir bipes e ru dos el ctricos para cumprir o pedido O caf aqui ainda n o de gra a reclamou Rafael O que que aqui gratuito A primeira bebida ficou pronta em poucos segundos e a m quina bem comportada remeteu se ao sil ncio Guillermo entregou o copo de pl stico a Rafael e enfiou mais moedas para tirar outro para si Obrigado Fazes ideia do que aconteceu em Sant Andrea perguntou Rafael depois de um gole na bebida quente Guillermo encolheu os ombros A vida e o of cio em medidas iguais encarregavam se de lhe esfriar os sentimentos Nada era verdadeiramente importante ou impressionante Claro que preferia Luka vivo mas a morte dele n o lhe iria tirar o sono O Luka foi direitinho toca do lobo S n o conseguimos perceber porque que o rapaz foi com ele O Luka era muito experiente argumentou Rafael Ser surpreendido n o faz o g nero dele Eu sei Rafael Talvez J n o tenho certeza de nada Ele tinha a arma na m o e levou dois tiros na cabe a comentou Guillermo retirando o seu copo da m quina Que te parece Rafael respirou fundo antes de responder a tentar imaginar a cena na sua cabe a mas Sarah continuava a invadir lhe os pensamentos Sempre ela He tinha a arma na m o E o que diz o relat rio prelimi
372. o r dio do carro que estava preso a um fixador e levou o boca Aten o Central Daqui Cavalcanti 08745 Uma voz roufenha e met lica invadiu o habit culo atrav s do aparelho 08745 daqui central Quero que me fa am chegar a identidade de quem deu o alerta sobre os epis dios de Sant Andrea Via Tuscolana e n mero 10 da Piazza Papa Pio XII Urgente 08745 em processamento Cavalcanti pousou o aparelho no fixador de onde o tinha tirado Rafael respirou fundo Quem ser a toupeira que nos avisa antes de informar o Comte perguntou Cavalcanti mais para ele mesmo do que para Rafael que encolheu os ombros E agora A Gendarmaria Vaticana j tomou conta do caso declarou Rafael em jeito informativo ainda que Cavalcanti conhecesse muito bem o procedimento O cabr o do Comte A vers o oficial deve estar a ser transmitida pelo porta voz o Federico Nunca ser alterada O Comte vai usar a tua brincadeira no Pal cio das Congrega es para te sacar a investiga o da Tuscolana e de Sant Andrea della Valle Cavalcanti mostrou lhe a m o com o dedo do meio al ado num gesto obsceno Depois aumentou o volume do r dio do carro onde j se ouvia a voz de Federico a explicar os terr veis acontecimentos daquela noite Vai ter sorte resmungou o inspector Ah e claro vai tratar te da sa de logo pela manh A tua conduta foi reprov vel proferiu Rafael na tentativa go
373. o seu sempre diligente atento afectuoso Preparava lhe o pequeno almo o de manh Caffellatte fatias de panino ciabatta tartes de ma suco de laranja e p ssego ch croissants manteiga queijos e fruta Depois come aram a sair a meio da tarde para dar um passeio N o era bom para a recupera o de Sarah ficar fechada em casa o tempo todo Por vezes jantavam num restaurante num qualquer ponto tur stico Sarah gostava imenso da rea junto ao Pante o e das calejas que o circundavam Era rom ntico Nunca falavam da doen a Ele n o perguntava como ela se sentia ela tamb m n o o dizia Na verdade ele ocupava tanto os dias dela que n o havia tempo para pensar em mais nada Nem mesmo quando o cabelo come ou a cair Foi Rafael quem o cortou com muita delicadeza numa noite de intenso temporal e trovoada N o podia vir mais a prop sito Ouvia se o vento a zumbir e a chuva a bater fortemente nas portadas quando ela o viu rir se pelo espelho da casa de banho Qual a gra a perguntou ofendida Ele esbo ou um sorriso mais amplo Era muito raro ver Rafael sorrir Era lindo Lembrei me que n o a primeira vez que lhe corto o cabelo Ela sorriu tamb m ao relembrar aquela primeira noite em Londres em que Rafael lhe cortou o cabelo contra a sua vontade para que ela n o fosse reconhecida Odiei te da primeira vez que o fizeste confessou Eu sei E acabou por n o servir de nada Eu sei
374. o tempo E o que aconteceu depois quis saber Jacopo Algumas semanas depois da morte do Papa em 1958 o cardeal Spellman foi buscar me Toda a situa o me parecia estranha mas ele disse me que n o podia continuar ali Era demasiado perigoso Providenciara um lugar seguro Nessa altura come ou a minha pena at hoje E onde ficava esse lugar J lhe disse Perto daqui E de onde vinha o perigo indagou Giorgio N o sei Ele disse apenas que a minha m e j n o podia zelar pela minha seguran a Seria ele a faz lo a partir daquele momento Era preciso afastar me dos abutres esfaimados Havia muitos espera Eu disse que s ia se pudesse falar com a minha m e E o cardeal Spellman aceitou Anna fez um meneio afirmativo Encontraram se algumas semanas depois Pasqualina estava muito nervosa Foi Anna quem a tranquilizou e confidenciou lhe que o segredo que o cardeal americano lhe transmitira ficaria a salvo no sil ncio A freira sorriu e abra ou a Conversaram muito durante horas e Pasqualina explicou lhe que n o poderia comentar aquilo com ningu m Queria muito v la regularmente mas Spellman n o autorizou alegando que era demasiado perigoso Sabiam que a minha m e foi expulsa do Pal cio Apost lico no dia do funeral do meu pai Seguramente n o quis ficar alegou Giorgio Anna olhou para ele com bonomia Foi expulsa afian ou Anna procurou entre os cad
375. oalho de m rmore A voz era ang lica suave N o faz mal Eu que lhe devo desculpas N o devia andar a fazer barulho a esta hora A senhora aproximou se dele Nesta casa n o se ouve nada Escute Levou uma m o orelha como se quisesse estar atenta a algum ru do particular Jacopo manteve se atento mas n o conseguia ouvir nada Nada de nada Consegue escutar continuou ela baixando a voz para um sussurro Sil ncio sepulcral Esta casa um t mulo Al m disso tenho o sono estragado h muitos anos senhor Deixou a frase suspensa no ar propositadamente para que o historiador se apresentasse Jacopo Sebastiani completou ele que sem saber muito bem porqu num acto involunt rio beijou a m o enrugada da senhora Anna Anna Lehnert Jacopo estremeceu ao ouvir o apelido ainda que os seus agu ados ouvidos de historiador esperassem outro ainda mais sonante Encantado Anna Lehnert Anna exibiu um sorriso t mido Tem um nome muito musical elogiou a senhora ou pelo menos era essa a sua inten o O que o traz por aqui a esta hora da noite A sede brincou Jacopo N o estava interessado em falar de coisas s rias n o por enquanto Temos um amigo em comum acrescentou Anna baixou o olhar e envergou uma express o pesarosa O brilho pl cido esvaneceu se S tenho um amigo confessou com m goa Estaremos a falar do mesmo Do padre
376. oi ao quarto de banho lavar o rosto e depois saiu do apartamento Poucos minutos depois entrou no Estado Papal pela porta de Sant Anna excep o dos guardas su os de vig lia s portas e dos gendarmes que faziam seguran a ao per metro do pequeno Estado n o se via vivalma Estacionou no parque junto s casernas da Guarda Su a enfiou as m os nos bolsos do casaco e caminhou os escassos metros que o separavam do edif cio administrativo onde entrou j passava da meia noite Guillermo n o estava no seu escrit rio no r s do ch o e n o parecia haver mais ningu m em todo o edif cio Era dali daquele rec ndito espa o desconhecido colado ao pal cio mais influente do mundo que partiam as ordens dos servidores da Igreja e sa am os emiss rios para as cumprir aonde o Vig rio de Cristo entendesse Tinha o simples ep teto de Edif cio Administrativo mas ali n o se administrava nada executava se O seu nome correcto raramente era usado Ali operavam os servi os de espionagem do Vaticano a Santa Alian a mais conhecidos como A Entidade Rafael puxou uma das cadeiras que estava alinhada ao lado de outras duas na parede e sentou se no interior do gabinete do chefe espera Estava cansado e exasperado A imagem revoltada de Sarah colou se lhe ao c rebro e n o despegava Arturo ligara lhe a informar que Sarah se alojara no Grand Hotel Palatino na Via Cavour Imaginara que o fizesse Era o seu porto de abrigo em Roma quan
377. ois concordou Federico Guillermo fez que n o com a cabe a numa postura pensativa e voltou a olhar para a frente Ent o por que motivo n o o mataram tamb m E isso que n o percebo A viatura virou para a Via Maria Adelaide e depois seguiu pela Viale del Muro Torto at chegar ao Corso D Italia O tr nsito aumentava a cada minuto que passava ou n o fosse Roma uma cidade que acordava cedo Qual a complica o Tomasini muito simples Raptaram o rapaz para ter ascend ncia sobre n s Mas em breve v o descobrir que n o negociamos com terroristas argumentou Girolamo O homem da espionagem n o respondeu logo Ordenava as informa es mentalmente como se estivesse a montar um puzzle ao qual faltavam pe as Todos os raptos s o iguais H um alvo que aprisionado para ser trocado por alguma coisa N o precisas de me explicar as regras do H sempre um prazo prosseguiu Guillermo ignorando a intromiss o extempor nea do intendente E at que esse prazo expire os raptores mant m se quietos espera N o o que se est a passar aqui Explica te Tomasini pediu Tarcisio visivelmente intrigado com a observa o de Guillermo Guillermo tornou a virar se para tr s Este caso foi sempre unilateral Eles entraram em contacto connosco mas n s n o temos forma de lhes responder O resgate chegou ao Secretariado h dois dias atrav s de um post it que encontr mos colad
378. oito O objectivo da sua miss o atemorizava o N o queria estar na pele do Rafael e tamb m n o queria ser o mensageiro maldito a que se prop s ainda que contra a sua vontade Jacopo vira Rafael por duas vezes depois da quest o jesu ta e ambas de forma muito fortuita A primeira fora junto Gregoriana quando ele sa a de uma reuni o do conselho pedag gico Rafael estava com Sarah Tinham parado na Piazza della Pilotta porque ela cansara se durante o passeio Uma das consequ ncias do tratamento a que estava a ser sujeita Se n o morrer do cancro morre da cura certamente lembrou se de ter pensado Sarah estava muito diferente de quando a havia conhecido meses antes Magra fraca fr gil esmaecida A vida era mesmo uma folha de papel vulner vel merc de qualquer advento mais ou menos quezilento que a faria esfumar se como se nunca tivesse existido Cumprimentou os e fugiu logo que p de para bem longe V la era tornar real uma hist ria que ouvira e na qual n o quisera acreditar Ficavam bem juntos aqueles dois apesar de ela ser jornalista e ele padre Na segunda vez dias antes viu apenas Rafael quando passou pelo edif cio da Gendarmaria Vaticana O padre estava a entrar mas parou para o cumprimentar Jacopo inventou uma desculpa qualquer para apressar o encontro e desmobilizar antes que a conversa chegasse ao inevit vel ponto sobre o estado de Sarah A pressa Demasiados afazeres Reuni es muito importantes no
379. olamo fez que sim com a cabe a sem responder oralmente Est a ver a testa do seu sobrinho repetiu a voz num tom g lido Sim Estou Fa a o que tiver a fazer para libertar o jovem Niklas ou ver abrir se um buraco na testa do seu sobrinho como aconteceu com os relatores o Tem sessenta segundos Girolamo olhou em redor Afastou se de Rafael e dos outros dois tentando vislumbrar o carrasco de Matteo mas era uma tarefa ingl ria ingrata imposs vel Cavalcanti e Guillermo avan aram para ele mas Rafael barrou lhes a passagem Deixem no em paz Tem uma decis o dif cil para tomar explicou o padre Cavalcanti lan ou um olhar fulminante a Rafael Vais ter muito que explicar senhor padre Girolamo continuava desorientado A respira o estava alterada Levou as m os ao rosto e aos olhos O suor misturava se com as l grimas dos segredos revelados Sentia se um farrapo fracassado Falhara ao irm o falhara a Anna S tens quarenta e cinco segundos Comte informou Rafael Eu eu sou apenas um pe o O intendente queria correr em direc o ao sobrinho salv lo de tudo aquilo que estava a acontecer Alert lo para o perigo que corria Era uma v tima desde que nascera Quarenta segundos O mais certo era que os matassem aos dois se ele entasse socorrer Matteo Estava tudo perdido Trinta segundos Matteo n o o conhecia Girolamo n o o via desde crian a desde os
380. olega Um pontap forte nas partes baixas primeiro e um potente soco na cabe a depois Arturo caiu no ch o de m rmore inconsciente Em seguida Rafael tirou lhe a arma Guardou o carregador no bolso do casaco e desmontou a em segundos deixando as pe as espalharem se no ch o e guardou a culatra e o cano para que ele n o a pudesse voltar a montar John assistiu quilo tudo at nito sem se mexer e continuou est tico quando Rafael se acercou dele com uma express o amea adora e imponente Sem tirar a arma da m o do jornalista abriu o tambor e fez as balas ca rem no ch o sem nunca tirar os olhos de John Na pr xima vez que apontar uma arma a algu m disse com uma voz fria certifique se que tem coragem para disparar Debru ou se sobre Arturo e tirou lhe a chave do carro Desculpa balbuciou N o me deste outra alternativa Abriu a porta do apartamento e saiu Vamos disse para o jornalista Sarah olhou para John a sorrir N o ouviste Vamos Sarah seguiu o Desconhecia grande parte do que se estava a passar mas de uma coisa estava segura ele n o cumprira uma ordem directa John tamb m saiu a correr receoso que o padre que estava ca do no ch o inconsciente acordasse de repente e ainda quisesse cumprir o que lhe tinham ordenado Pelo sim pelo n o fechou a porta do apartamento Sarah e o padre j iam um pouco mais abaixo nas escadas Vais contar me perguntou a jornalis
381. olhou para O rel gio e depois para a embaixatriz S o oito horas informou com a voz tensa Acabou o prazo 63 De vez em quando Roma exigia um sacrif cio em nome de Deus para expiar os pecados do mundo como o Filho consubstancial ao Pai fizera h dois mil anos A diferen a entre esse acto de salva o e os que se lhe seguiram era que Cristo fora quase caso nico na aceita o volunt ria da entrega da vida para acolher a morte A maioria dos outros sacrificados nunca vira com t o bons olhos que os pregos lhe furassem a carne literal ou metaforicamente como o cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo As m os suadas tremiam com a urg ncia do medo da morte Caminhavam devagar com passos tr pegos e nervosos as palavras intimidadoras impressas na mente e repetidas incessantemente ao ouvido atrav s do auricular Entrem na pra a e sigam em direc o colunata mais pr xima do Pal cio Apost lico ordenou a voz met lica que sa a do min sculo aparelho Apetecia lhe dar meia volta e fugir dali para fora refugiar se na entranha escura de uma gruta nas montanhas e nunca mais sair de l O mundo humano era demasiado perigoso para se viver nele Por m sabia que n o o faria por muito que o p nico o gritasse na adrenalina fren tica que lhe percorria o corpo Em vez disso Mia optou por dar a m o a Matteo que olhava para todos os lados em desespero Vamos fugir murmurou o guia tur stico
382. olutamente perfeita A tua miss o acabou Rafael Decerto algu m da cl nica j te informou que estou curada por agora Mais uma vida salva Obrigada por tudo N o conseguiu disfar ar o cinismo nem a amargura que sentia N o imaginara uma despedida assim Imaginara muitos cen rios onde havia l grimas e choro e tristeza era um desfecho inevit vel sabia que iria doer sempre mas nenhum come ava assim N o est a compreender Sarah Eu n o estou a mand la embora Ah Espera Ent o isto uma surpresa Vamos de fim de semana para um local paradis aco Ah N o Hoje ter a feira Rafael calou se Mais valia deixar que ela pensasse o que quisesse Doeria muito mas o tempo encarregar se ia de apagar a m goa Sarah foi ao quarto de banho e arrumou todos os cremes e lo es que usava dentro de um estojo pr prio para essa fun o Meteu os medicamentos que ainda tinha de tomar dentro de um saco e regressou ao quarto para os enfiar num espa o que havia deixado na mala para esse efeito A efic cia feminina sempre admir vel Fechou a mala e a mente a mais de seis meses de recorda es medos rotinas e a Rafael Tudo acabado no fim deitado ao cesto do lixo das mem rias Fora apenas mais uma miss o para ele Piedade D vida Fosse por que raz o fosse preferia que nada daquilo tivesse acontecido Pegou na pesada mala e colocou a no ch o Elevou a pega e transportou a mala para fora do quarto Adeus R
383. ometedor quem Ti ti ve uma au audi n cia com com o o Secret rio de Es Estado ontem de manh Sarah esbugalhou os olhos e fez os poss veis por n o lhe gritar e tanto se esfor ou que a voz acabou por lhe sair um murm rio Tu s doido Foste mostrar isto toca do lobo John admitiu que Sarah tinha raz o Talvez n o o devesse ter feito Mas precisava de saber tinha de pedir autoriza o para entrar no Torre o Nicolau V nem que fosse s para tirar nabos da p cara Contou lhe o pedido que fez para visitar o edif cio e falar com algu m que o pudesse esclarecer Sarah sorriu Ele era completamente louco Achas que te v o autorizar N n o sei Explicou que deviam ter dado a resposta durante o dia e ainda n o tinham dito nada Es completamente doido Sarah olhou para o rel gio e viu que eram quase onze da noite O tempo passara a correr Precisava de ir para casa Ser que o Rafael j chegou Deu mais uma olhada aos documentos que tinha sua frente O do Fondo Giulietta estava por cima dos outros Sorriu ao ver o nome do pseud nimo do titular Que que foi perguntou John preciso ter muito descaramento para escolher um pseud nimo desses respondeu Sarah apontando com o dedo para o nome N o n o um pseu pseud nimo explicou o americano o ver verdadeiro ti tular da conta Sarah ficou l vida Se f
384. onhecia a cidade como as pr prias m os Jacopo Sebastiani j passara os 60 anos era um descrente ao servi o da cren a eminente especialista em religi es comparadas o que quer que isso significasse historiador pale grafo e mais umas quantas qualifica es de menor import ncia Por vezes o Santo Padre requisitava a sua sabedoria para um parecer id neo ou para envi lo para onde Judas perdera as botas em busca de uma autentica o ou aquisi o dif cil Sempre o servira com compet ncia e lealdade mas sem nunca silenciar o que lhe ia na alma fosse o que fosse N o poupava os seus pensamentos a ningu m nem mesmo ao Papa Que raio de documento n o podia esperar pelas nove da manh Ao fim de um quarto de hora passaram a ponte Vittorio Emanuele II sobre o Tibre e minutos depois entraram no Estado do Vaticano pela Porta de Sant Anna O guarda su o que enfrentava o frio com um capote preto por cima do uniforme azul fez lhes a contin ncia e permitiu lhes a passagem Jacopo nem o viu pois s despertou quando o carro estacionou nas imedia es do Pal cio Apost lico mergulhado na penumbra e no sil ncio Jacopo conhecia muito bem aquele caminho Mal humorado seguiu o t mido rapaz e entraram no pal cio pelo P tio de S o D maso Ao contr rio do que as pessoas pensavam o Pal cio Apost lico n o era na realidade um pal cio mas um complexo de pal cios interligados Para seu espanto entraram na resid ncia p
385. ontacto com Roma Gasparri o Secret rio de Estado de Pio XI e o irm o tratavam no maior dos segredos do acordo com Mussolini O dilema era evidente Por um lado n o se pretendia fazer qualquer acordo com o ditador por outro o Vaticano estava completamente falido e necessitava desse Tratado Explanava as suas d vidas todas as noites no seu gabinete quando a chamava e lhe contava os pormenores Tinham contratado um banqueiro muito competente chamado Bernardino Nogara para administrar odo o dinheiro de Deus que o Tratado proviesse e aplic lo sabiamente para que uma situa o de fal ncia n o ocorresse novamente Pasqualina era otalmente contra Desde quando os homens da Igreja se vendiam ao dinheiro No dia 11 de Fevereiro de 1929 a data da assinatura do Tratado de Latr o Pasqualina chorou e disse em alto e bom som a vergonha que sentia Pacelli tivera de ser firme e de afirmar a sua autoridade para que Pasqualina se remetesse ao seu lugar Todas as exig ncias da Igreja tinham sido aceites pelo Duce Mas como em todas as concordatas tamb m tinha havido ced ncias por parte da Igreja Para Pasqualina era inaceit vel o reconhecimento do fascismo que o tratado implicou e a tenta o f cil do dinheiro Fora um contrato de compra e venda e n o um tratado Pacelli chegou a falar de modo ofensivo para Pasqualina Que percebia ela de pol tica Que percebia ela de diplomacia e de acordos bilaterais Nada Era uma simples freira que tra
386. onvento e entregar se a Deus aos quinze anos a conseguiu impedir Arrastou as malas pela Pra a de S o Pedro juntamente com a gaiola de Gretel Requisitou um t xi no largo fronteiro Pra a de S o Pedro Olhou para a imensa bas lica onde tantas vezes estivera e contemplou o terceiro andar do pal cio onde fora t o feliz a servir Eugenio Fica bem querida disse em voz alta Hei de voltar para ver como est s minha querida filha Ningu m prendeu o olhar na freira que atabalhoadamente enfiava as malas e a gaiola dentro do ve culo Ningu m apareceu para se despedir nem um adeus um obrigado um at sempre nada foi dito idosa freira que at h poucos dias fora a mulher mais poderosa que alguma vez residiu no Vaticano Faltavam sete minutos para as oito da noite 29 Gennaro Cavalcanti n o era um pol cia qualquer Se ainda tivesse algum amigo ele diria que o inspector era um homem insuport vel e talvez n o andasse muito longe da verdade Para se conhecer um pouco este homem da Polizia di Stato era preciso saber que Gennaro nunca se esquecia de nada Havia outros factores que faziam com que fosse apenas inspector Cedo se viu que n o havia de progredir na carreira mais do que aquilo Outras for as se levantavam e o impediam de voar mais alto que Gennaro acreditava que a lei era para ser cumprida por todos sem excep o Tolice No seu ramo isso era um pensamento imperdo vel Gennaro tornara se uma
387. oriador calou se embora continuasse desconfiado Esperava que Rafael estivesse bem Est convencido doutor Sebastiani O sil ncio do historiador era em si um consentimento Por agora Aquela gente da Igreja n o era de confiar Anna continuava nervosa inquieta Aquelas visitas nocturnas perturbavam o t dio rotineiro a que se conformara desde h muitos anos Ela aceitara o sem contestar resignada Entregou se a ele frustra o de uma vida sem hist ria sem registo nem ambi o sem sonhos que pudesse acalentar sem prole que pudesse ter por perto Habituara se a ser uma personagem como todas elas com um papel que n o podia despir Anna Lehnert desaparecera Anna Pacelli nunca existira Giorgio virou se para ela com um olhar terno amistoso como se estivesse diante de um parente que acabara de descobrir ou perante uma artista que admirava Parecia um menino ningu m diria que j passara os 50 anos H quanto tempo vive aqui quis saber o secret rio sem desfazer o sorriso idiota Anna podia dizer lhe o tempo que ali passara at ao nfimo mil simo de segundo Nenhum cativo esquece a dura o da pena mesmo que seja perp tua sem hip tese de apelo a uma liberdade condicional Optou no entanto por arredondar H cerca de dez anos E antes de vir para esta bela casa onde vivia O secret rio do Papa n o ia facilitar lhe a vida F la ia recuar a momentos que ela n o queria reviver nem
388. ortas trancadas que n o conseguiu abrir Sentiu sede e procurou a cozinha tarefa rdua numa casa t o grande com corredores em praticamente todas as direc es e portas por todo o lado Jacopo sorriu quando viu pregadas nas paredes placas com indica es Numa delas leu a palavra Cucina justamente o que procurava por baixo de outra que dizia Gallerie 1 2 3 e Bagno indicando as respectivas direc es Seguiu as instru es e subiu dois patamares at encontrar outra placa que indicava que virasse direita ao fundo outra esquerda e desembocou numa enorme cozinha decorada com bom gosto segundo a sua despretensiosa opini o Abriu o frigor fico gigante mais alto e mais largo que Jacopo e tirou uma garrafa de gua grande N o se perdeu a coscuvilhar os itens que se aconchegavam nas v rias prateleiras de vidro Procurou um copo na parte de cima dos arm rios Deitou gua no copo e voltou a guardar a garrafa no frigor fico Bebeu o l quido gelado de uma assentada e depois lembrou se que fora extempor neo guardar a garrafa Repetiu os gestos anteriores e bebeu mais um pouco Isso s o nervos ou ansiedade ouviu uma voz feminina perguntar atr s de si Jacopo quase se engasgou com o susto e acabou por cuspir alguma gua Desculpe se o assustei Jacopo virou se e viu uma mulher baixa loira com as marcas do tempo impressas no rosto formoso Emanava uma calma asc tica quase como um anjo a pairar sobre o s
389. os perguntou Rafael para provocar Guillermo N o o fa as numa igreja por favor pediu o chefe e depois olhou para Rafael com maus modos Tu percebeste muito bem o que eu quis dizer Rabiscou algo apressadamente no mesmo bloco de notas onde Rafael escrevera e arrancou a folha Este o hotel onde ele est Rafael fez um meio sorriso pegou na folha de papel e saiu do gabinete sem um boa noite ou outro qualquer cumprimento As cortesias n o eram apan gio destes homens Deixou o edif cio e caminhou em direc o ao carro estacionado a poucos metros dali Nesse momento o seu telem vel tocou Era Arturo Sim Santini Escutou o relato conciso do colega Onde que ela vai esperou pela resposta Est bem Avisa me assim que saibas para onde ela vai Desligou a chamada e guardou o telem vel no bolso Abriu a porta do carro e antes de entrar olhou uma ltima vez para o rosto impresso na fotografia que o chefe lhe entregara Tirou a Beretta de cabo de madeira do coldre de ombro e verificou o carregador antes de o voltar a enfiar no mesmo s tio Qual ter sido o teu pecado John Scott 20 John Scott aspirou sofregamente o fumo do tabaco at encher os pulm es ao mesmo tempo que o cigarro lhe tremia nos dedos Estava sentado ao balc o do bar do hotel com um copo de u sque sua frente enquanto junto ao lavat rio o empregado limpava copos e ch venas Al m do empregado
390. os m os dadas nada icava na mesma ap s aquela revela o Para o turista que repetia a visita pela terceira vez aquilo j n o era novidade mas Matteo sabia que ele regozijava como se o tivesse ouvido pela primeira vez Vira o descer com o resto do grupo antes de assumir a posi o junto ao pequeno altar de costas para o sarc fago e encostar se a uma das colunas ao fundo O que o guia veron s n o imaginava era que o turista n o estava minimamente interessado na visita A rotina do reverendo monsenhor Stephano Lucarelli nos tr s dias que se seguiram n o conheceu excep es Bernarda via o sair logo depois de tomar o pequeno almo o equipado com fato imperme vel esquis e uma mochila que levava ao ombro N o requisitou instrutor pelo que Bernarda nascida Mia suspeitou que ele soubesse esquiar Claro que sabe tonta convenceu se Aquele homem exalava solidez por todos os poros Via o carro perder se no fim da rua pela janela do terceiro andar Regressava impreterivelmente s cinco e meia da tarde subindo os degraus da escadaria energicamente Cumprimentava a com um sorriso cordial e depois entrava no quarto fechando a porta suavemente Minutos depois Bernarda ouvia a gua correr at hora de ela ter de descer para levar o jantar ao prelado deixando o numa mesinha redonda ao lado da porta dos aposentos precisamente s seis e vinte e oito Nessa altura o quarto estava mergulhado em sil ncio Bernarda imaginava
391. os justos aos olhos de Deus N o havia qualquer sinal do reverendo monsenhor Stephano Lucarelli que sa ra de manh por volta das sete horas e n o voltara a ser visto Cogitou se deveria informar a prioresa da aus ncia dele ou esperar pela manh Uma hora depois considerou com muitas retic ncias entrar no quarto Da janela do terceiro andar n o via nenhuns far is a iluminar o escuro da noite As retic ncias foram ultrapassadas uma hora depois e s quatro da manh entrou nos interditados aposentos do reverendo monsenhor Lucarelli As luzes estavam apagadas Apalpou a parede ao lado da porta procura do interruptor e ligou o assim que o sentiu Os aposentos n o estavam como esperava encontr los ao fim de quatro dias Parecia que nunca tinham sido utilizados A cama estava impecavelmente feita a coberta bem esticada as almofadas na cabeceira Havia exemplares do Corriere delle Alpi do La Repubblica do L Arena e do L Osservatore Romano empilhados simetricamente em cima de uma mesa A curiosidade levou a a abrir a porta do quarto de banho Para al m das lo es fornecidas pelo retiro reparou nas dele perfeitamente alinhadas Creme de barbear aftershave champ gel de banho escova de dentes dentro de um copo pasta dos dentes ao lado e outros cremes que a irm n o quis saber para que serviam O seu voto de pobreza cingia a ao banho di rio obviamente com todos os condimentos comuns mas sem cremes para rugas esfol
392. osse verdade ent o aquilo ia at ao topo O nome era o de Bento XVI 16 Assim que Jacopo deu a not cia a Rafael em Dorsoduro apanharam um t xi aqu tico em Salute em frente bas lica que subiu o Canal at Ferrovia N o falaram mas Jacopo notou um po o de f ria a formar se dentro de Rafael Talvez at o odiasse Mensageiros como ele mereciam ser mortos Atravessaram a ponte pedonal em direc o ao enorme parque de estacionamento onde Rafael deixara o carro Inspeccionou a viatura por dentro por fora por baixo e quando se deu por satisfeito deixaram Veneza o Sol mal se aguentava no horizonte estava prestes a tombar nos lados da pen nsula A viagem foi feita em sil ncio e com o acelerador colado ao fundo Tinham cerca de 550 quil metros pela frente e Rafael queria chegar depressa Rumaram a sul pela A13 com destino a Bolonha Deixaram rapidamente para tr s a regi o do V neto e entraram na Em lia Romanha passando por Ferrara A maior parte do percurso foi feita por auto estrada da que fosse f cil manter uma velocidade elevada Jacopo segurou se como p de no lugar do pendura Esteve tentado algumas vezes a dizer a Rafael que abrandasse mas considerou que dadas as circunst ncias talvez fosse melhor relevar Se morresse disso sempre teria quem inculpar no al m para onde os mortos v o viver eternamente A lua estava em crescendo no c u nocturno e dois pontos brilhantes real avam o seu dom nio um por cima e
393. ou em tom evasivo Queria perceber at que ponto Rafael n o estaria apenas a atirar para o ar Sim A Anna e a Mandi Como que soubeste insistiu Duv lio ficou ainda mais nervoso Ele sabia Como podia saber Mas Mas nada Duv lio Desembucha 35 Para Jacopo Sebastiani a noite servia para dormir e qualquer altera o a este ritual fisiol gico era seguramente uma imbecil anormalidade excepto se se tratasse de um caso de for a maior o que era o caso e fazia com que ironia das ironias fosse ele a imbecil anormalidade desta noite Acordou Norma logo que Rafael desligou N o foi tarefa f cil O sono pesado da sua esposa seria motivo mais que suficiente para tornar H rcules num menino franzino sem for a nenhuma Estava nervoso O tom preocupado de Rafael deixara o alterado e o pedido que lhe fizera no carro era um acrescento para que se despachassem assim Norma o permitisse As coisas tinham se descontrolado quase de certeza e era necess rio reequilibrar a balan a n o fosse o diabo tec las e vencer Deus desta vez mesmo que ele n o acreditasse nem num nem noutro Acordada a senhora ao fim de uns intermin veis quinze minutos prepararam uma pequena mala para os dois e em seguida vestiram se O que que se passa Jacopo perguntou Norma enquanto preparava um pequeno almo o para os dois na apertada cozinha O Rafael ligou melhor despacharmo nos e fazer o que ele disse respond
394. ou para ela Desta vez n o havia qualquer animosidade no seu rosto Ainda n o hora de explica es V o ter de esperar Deixou os ali com Arturo atento como um falc o s poss veis amea as A parca ilumina o provinha apenas da porta envidra ada da entrada que deixava entrar a luz da rua John continuava com o cora o acelerado Sentia se desorientado N o percebia nada do que se estava a passar Ainda que tivesse o racioc nio toldado pela apreens o pela paran ia e pelo p nico dadas as circunst ncias n o lhe parecia que estivessem no local da execu o Embora n o soubesse como seria um local prop cio a esse fim O comportamento dos dois padres era notoriamente defensivo e n o amea ador Rafael n o deu sinais de vida durante alguns minutos Subira pelas escadas com a pequena lanterna a iluminar lhe o caminho at desaparecer da vista deles Os seus passos silenciosos foram engolidos pela penumbra e a espera aumentou ainda mais a ansiedade As luzes da rea comum acenderam se minutos depois expulsando a escurid o Rafael apareceu no patamar de cima e fez um gesto para que subissem Parecia transtornado Subiram ao quarto andar e percorreram um corredor com paredes de cor creme e tecto coberto com traves de madeira Havia portas que suspeitavam davam para apartamentos O edif cio estava imerso num sil ncio constrangedor apenas amea ado pelos passos deles Parecia que n o morava l ningu m N o se ouvi
395. ou por v lo mais tarde mais duas ou tr s vezes mas n o lhe parecia nada s rio dada a rapidez com que ele ia embora a Dez anos depois Ursula arranjou lhe uma bolsa que lhe financiou integralmente o curso de L nguas e Literatura na Universit Degli Studi Um cancro nos intestinos levou a antes da l urea final da licenciatura Foi a primeira vez que Matteo chorou por algu m Por vezes pensava que decerto algum ser algures no universo puxava cordelinhos invis veis que faziam aparecer as pessoas certas s desorientadas e durante o tempo necess rio para fazer a diferen a A Ursula das regras quase militares das leis das exig ncias da falta de instinto maternal aquela a quem n o podia em situa o alguma chamar m e ainda teve um ltimo gesto deixara lhe em testamento a casa em que viviam e uma conta banc ria que a todos os dias trinta de cada m s crescia mil e quinhentos euros Perguntou ao gerente do banco de onde vinha aquele dinheiro todos os meses e ele respondeu lhe que se tratava de uma poupan a que Ursula lhe deixara Gostasse ou n o fora a m e dele e s lo ia sempre Matteo irritava se quando pensava nos pais Quem seriam O que lhes acontecera Por onde andariam Porque o abandonaram As perguntas naturais de um jovem adulto procura da sua hist ria Sentia que eram um insulto mem ria de Ursula que fizera por ele mais do que dezasseis pais funcionais est veis e afectuosos mas n o o conseguia evitar A
396. ou se novamente e foi ajudado a levantar se por dois assistentes um em cada bra o Quase dois metros de corpo a dever muito pouco tempo aos 80 anos Olhou em redor e porta da sala dos relatores encontrou quem procurava Bastou um gesto com a cabe a uma permiss o divina para o rec m chegado avan ar com o distintivo acima da cabe a para que todos vissem O meu nome Girolamo Comte Sou Intendente da Gendarmaria Vaticana Est o em territ rio soberano da Santa S Agrade o que parem imediatamente o vosso trabalho e abandonem o local A voz era firme sem margem para qualquer d vida avessa a desafios e contesta es Parecia um detective dos anos setenta do s culo XX a quem nem faltava a gabardina creme Os t cnicos forenses e os param dicos da Polizia di Stato olharam para Cavalcanti espera de orienta o Girolamo avan ou para o inspector Que ideia foi a tua atirou o homem do Vaticano Agora invades territ rio soberano sem autoriza o Cavalcanti encolheu os ombros Foi uma gentileza do estado italiano Apenas adiant mos trabalho respondeu o inspector carregado de cinismo As normas legais n o foram cumpridas Podia prender vos a todos Cavalcanti juntou as m os e esticou as na direc o do intendente como que num pedido para ser algemado Prende nos Terei todo o gosto em conhecer as catacumbas T m espa o para todos Girolamo respirou fundo Cavalcanti era intrat ve
397. ou um santo podia fazer a uma comunidade Vira o muitas vezes Pequenas aldeias ou vilas que se tinham desenvolvido para al m do inimagin vel apenas porque os investigadores do seu gabinete no Pal cio das Congrega es tinham encontrado a santidade num dos seus membros A f movia montanhas e tamb m as arrasava para construir templos e cidades novas ao seu redor Sim a Congrega o para a Causa dos Santos mudara o Ocidente sempre o fizera desde os tempos mais rec nditos e olvidados Sob os ausp cios da sua validade e sacralidade espalhava a cren a por todos os cantos do mundo cat lico fortalecia a economia de povoados outrora vergados pela pobreza levava lhes a esperan a Os romeiros e os peregrinos tratavam do resto Devido a essa influ ncia que sabiam ter o trabalho do Col gio era continuamente escrutinado inspeccionado revisto moroso lento para que n o houvesse erros Interpretavam os escolhidos de Deus na terra N o tinham qualquer margem para equ vocos Quem mais perdia com a recomenda o negativa era a pr pria Igreja N o tenho qualquer suspeita mentiu Gumpel N o Ihe parece que o assunto Pio XII t o sens vel que a Santa S n o quer piorar ainda mais as coisas sugeriu JC poss vel Ao ponto de preferir sacrificar os seus investigadores para que nada disso venha a ser conhecido Gumpel percebeu para onde o JC o queria levar O homem era muito ardiloso Nunca Isso
398. outras pessoas que foram important ssimas na elabora o deste livro mesmo que n o tenham dado por isso O meu muito obrigado a Ricardo Silveira Pedro Abreu Jo o Paulo Sacadura Diogo Beja Alejandro Pel ez Vargas ao gang da Concei o da Faculdade de Letras da Universidade do Porto a saber Concei o Morais Mendes Ana Freitas Jos Braga S rgio Bastos e Francisco Pereira N o posso deixar tamb m de mencionar Lu sa Louren o Sofia Teixeira Giusva Branca Raffaele Mortelliti Lu s Santos Margarida Mateus M nica Almeida Pedro Assis Cadavez Ricardo Afonso Nuno Miguel Faria Vera Oliveira Quero deixar um abra o fraterno ao Hugo e Sandra Lima e Maria e Ana Rita Bem como Lara Leite e Rosa Queiroz Ao Thomas Lano e Keila e Denise Beltrame que s o os verdadeiros aventureiros deixo um oi e um abra o de gratid o por fazerem parte da minha vida Aos meus pais Jos e Maria minha irm Ana Cristina e ao meu irm o Nuno Tiago ao meu cunhado Jorge Alexandre e aos meus sobrinhos Mariana e Alexandre beijos e abra os muito fortes A fechar um agradecimento p blico Condessa As outras palavras digo lhe todos os dias E finalmente agrade o a todos os meus leitores espalhados pelo mundo Obrigado pelo est mulo que me d o nas cartas nos emails nas conversas nas leituras Isto tudo para voc s Vista panor mica da cidade de Verona O Shutterstock com retomar a leitura
399. ovimentos estavam perfeitamente documentados dep sitos astron micos avultados d bitos desde 1982 e juros bonificados de nove por cento Sim estou a ver interrompeu Tarcisio secamente Pousou o papel em cima da secret ria e entrela ou os dedos uns nos outros num gesto de cogita o Matutava o passo seguinte Essa autoriza o ter de passar obrigatoriamente pelo Santo Padre Com pre endo per feitamente O p de John tornou a bater no ch o num ritmo fren tico que s os seus nervos conheciam A m o percutia no bra o da cadeira Caso seja autorizado prosseguiu o piemont s ter de assinar um acordo de confidencialidade sobre tudo aquilo que vier a ver e a ouvir Tenha em considera o que n o estou de maneira alguma a garantir uma resposta positiva do Santo Padre John recusou aquela condi o O seu trabalho visava a publica o e n o podia pactuar com acordos de confidencialidade Aquela hist ria estava a esgotar lhe a paci ncia Mais valia recusarem o pedido de uma vez em lugar de imporem condi es imposs veis e faz lo perder tempo Tarcisio manteve uma express o pensativa Avan os recuos passos pequenos mas firmes tudo na Igreja requeria muita pondera o Falarei com o Santo Padre Ter a nossa resposta amanh John levantou se da cadeira fez um aceno em jeito de cumprimento com a cabe a e avan ou para a porta Tarcisio manteve se sentado N o e
400. parecia a n o ser em algumas visitas fugazes nas ceias de Natal e com quem mal falara afinal n o era tia nenhuma Era a sua m e Que tumulto aquela revela o causou na sua mente A minha vida nunca mais foi a mesma Niklas n o podia crer naquilo que ouvira Aqueles nomes que Sarah mencionara tinham agora espessura aquele depoimento tornava reais as pessoas que antes n o passavam de meros nomes Sarah colocou o bra o ao redor dos ombros de Mandi num abra o fraterno e sentido Deixou cair uma l grima dos olhos chorosos que denunciavam que o que ouvira n o lhe fora indiferente tocara lhe no mago Estava na presen a de uma das tr s mulheres que se haviam sacrificado em nome de Deus Jesus Homens Nem ela compreendia a quem servia aquela obla o com mais de oitenta anos e que tantas v timas fez pelo caminho Para qu Perguntava se De certa forma e salvas as devidas compara es em nada equipar veis s de Mandi e da m e e da av Sarah tamb m era uma v tima desta Igreja ego sta e oportunista disposta a tudo em nome da sobreviv ncia H seis anos que n o fazia mais nada a n o ser esquivar se s balas Desde Jesus e a liga o Dele Igreja Cat lica com fraca comprova o hist rica e que muitos tentavam desmascarar passando pela morte do Papa Jo o Paulo I e at ao Papa Jo o Paulo II muitas eram as hist rias mal contadas Agora era a vez de sofrer na pele por algo que Pio XII de quem sabia muito
401. parecia hipnotizada distante no seu pr prio mundo a rever a sua hist ria como se estivesse perante o Alt ssimo espera do Julgamento Procriar n o apenas um direito Ter um filho exige uma enorme responsabilidade Deus ou quem quer que tenha criado este mundo deu nos intelig ncia E dev amos servir nos dela para pesar os pr s e os contras de ter um filho Ser que temos os meios financeiros psicol gicos pessoais e familiares necess rios para ter um filho N o importa como estar a nossa situa o daqui a cinco ou dez anos temos apenas em conta a altura em que vamos conceber o nosso filho Ser que teremos como providenciar lhe tudo aquilo de que necessita ou vamos ter de o colocar a trabalhar para n s mal comece a andar Os dois homens escutavam na embasbacados Nunca tinham ouvido aquele g nero de discurso sobre a maternidade O amor muito importante mas n o mata a fome As l grimas escorriam lhe em torrente Esperei muito tempo Quase at ao limite Pensar que depois o meu ventre secaria e seria o fim deixava me angustiada Para mim era como morrer Sorriu por entre l grimas Claro que a nossa mente consegue sempre convencer nos que aquilo que sabemos estar errado afinal est correcto N o adiantava a m e ter sofrido uma vida inteira em sil ncio reprimindo o amor e o desejo de ser m e para que nada de mal sucedesse Durante muito tempo pensei que ela apenas o fizera por ele
402. percorria todo o edif cio e dava acesso a todos os andares e outra que ligava directamente o terceiro andar ao exterior sem desvios de permeio Mais deviam disponibilizar o lugar na garagem exclusiva e as refei es se solicitadas deveriam ser deixadas porta dos aposentos do monsenhor Lucarelli que estaria em descanso absoluto por ordem expl cita do Santo Padre Nenhuma irm ou qualquer outra pessoa deveria arrumar os aposentos a n o ser que tal lhe fosse solicitado A mais importante de todas as recomenda es depois da de manter o monsenhor afastado de todos os outros h spedes era que n o se registasse qualquer men o sua estada entrada ou sa da Nada O retiro estava cheio de h spedes das mais variadas nacionalidades que vinham gozar umas merecidas semanas de descanso Com mais de um s culo de exist ncia o retiro das irm s da Santa Cruz no Monte Bondone era uma est ncia de f rias para padres e religiosos Apesar da sua ocupa o regular os per odos mais preenchidos eram o Inverno e a Primavera Os servidores da Igreja aproveitavam para conversar confraternizar com colegas amigos do of cio meditar orar em grupo combinar peregrina es fazer caminhadas quando o tempo consentia cantar a beleza da Cria o e claro esquiar Podiam faz lo livremente sua inteira responsabilidade ou contratar um monitor que os ensinasse Se alguns n o se importavam de arrumar o h bito e o cabe o durante alguns
403. pronunciou as palavras zumbidos de rumores Ao que parece saiu deste gabinete uma ordem para tratar de um certo jornalista americano atirou o alem o de supet o Tarcisio despiu o tom sarc stico e envergou uma postura s ria N o estou a ver o que isso possa interessar ao Santo Padre Ao Santo Padre interessa tudo o que se faz ou manda fazer no seu pal cio e em seu nome N o seja petulante Giorgio Giorgio levantou se nesse momento e acercou se da secret ria Se n o estivessem na sala dois diplomatas poder se ia arrolar uma certa pose intimidadora por parte do alem o Nesse momento ouviu se uma leve batida na porta que revelou o chefe da Santa Alian a Girolamo afastou se para o deixar passar Tomasini O que que est s aqui a fazer perguntou o intendente com rispidez Tarcisio tamb m estava espantado com a presen a dele Fui eu que tomei a liberdade de o chamar comunicou Giorgio O Santo Padre gostaria que os senhores tivessem conhecimento do seu desagrado no caso de os zumbidos de rumores disse as palavras a fitar o piemont s serem verdadeiros o que ele acredita que n o sejam como bvio Depois fincou as m os no tampo da secret ria numa atitude ainda mais provocat ria O Santo Padre gostaria tamb m que lhe fosse entregue um relat rio bastante detalhado sobre esse jornalista americano at amanh ao meio dia Tarcisio n o respondeu e dissimulou o as
404. pulsivo Est sedado revelou N o sabem ainda quando o acordar o Nicole abra ou o filho Anda Vamos embora Voltas noutro dia A embaixatriz encaminhou se para a sa da mas depois fez um afago no cabelo do filho e voltou para tr s para se dirigir a Sarah Fuja enquanto tempo e n o olhe para tr s Sarah A Igreja impede os de amar proferiu a mulher em jeito de aviso Ele vai mago la Sarah engoliu as palavras de Nicole em sil ncio enquanto a viu sair abra ada ao filho entristecido Pareciam l minas afiadas que lhe perfuravam o cora o e lhe vazavam a esperan a Sentiu se uma idiota espera do amor Chorou como se Rafael tivesse sucumbido aos ferimentos e regressou ao hotel nesse mesmo dia Adeus Rafael 68 A mente levara o para muitos locais conhecidos e desconhecidos mundos novos e antigos mem rias dos que ainda estavam vivos e dos que j haviam partido Imerso no desvario ampliou os devaneios sem parar de deambular pelos cantos e recantos esconsos dos pal cios e jardins nos nichos que envolviam as est tuas conspiradoras que guardavam os segredos e as intrigas de quem passava e se julgava a salvo de ouvidos conjuradores Pelo meio encontrou a m e ou assim lhe pareceu Nunca a conhecera Na inf ncia passara por muitos orfanatos tutores e fam lias de acolhimento muitas m es ou nenhuma conforme a perspectiva mas sentia que aquela era ela aquela que pegava nele ao colo e lhe sor
405. quando Rafael desligou a chamada Rafael n o respondeu logo Estava longe a matutar procura de caminhos alternativos Acabou por tirar o post it amarelo do bolso e d lo a Sarah A jornalista acendeu a luz interior do lado dela e leu o Ficou perplexa O que que Sarah olhou para o rel gio Temos menos de sete horas Eu sei Rafael fez invers o de marcha e acelerou pela rua abaixo o mais que p de L vamos n s outra vez anunciou Sarah segurando se ao banco N o podemos ter um momento de paz O carro deixou para tr s o corpo de Bertram a arrefecer no quarto andar do pr dio da Via Tuscolana Algu m trataria do corpo Havia outros assuntos prementes para tratar e o rel gio inclemente n o parava Para onde vamos perguntou Sarah a um Rafael concentrado na condu o Procurar respostas Sarah voltou a olhar para o papel e releu o A filha da freira pode ter um pai beato Anna P e Rafael S no Obelisco do Vaticano s 8 horas sozinhos ou o rapaz morre 2 2 PARTE VIRGO POTENS Ainda vai necessitar muito de mim Deus tratar de mostrar lhe isso Excel ncia Frase da im Pasqualina numa carta ao monsenhor Eugenio Pacelli da nunciatura de Berlim em Dezembro de 1929 quando este se recusou a lev la para Roma Levante se e mostre o seu arrependimento madre Pasqualina Ordem de Pio XII ao cardeal Tisserant no Pal cio Apost lico em 1955 Castelo Gandolfo 6
406. que dava acesso ao bar tamb m a nica sa da e para o balc o Uma porta lateral de servi o cozinha As janelas estavam tapadas por cortinas pesadas Inspeccionou os ingleses que se continuavam a divertir no outro canto O empregado acercava se da mesa com uma bandeja com os caf s e um brigadeiro de chocolate para cada um Rafael virou se para Arturo Vai l fora e v se algu m est a vigiar o hotel Depois traz o carro pela Via Machiavelli Mas Faz como te digo repetiu Rafael com cara de poucos amigos Os dois padres levantaram se Arturo saiu no momento em que o empregado pousava as ch venas de caf e os brigadeiros D me a chave do quarto pediu Rafael com a m o estendida apesar de mais parecer uma ordem Vais arrumar o quarto zombou Sarah Es es t s im poss vel Sa Sarah disse John entregando a chave ao padre E o 221 Rafael sorriu e debru ou se sobre o americano com uma express o intimista de maneira a que Sarah tamb m o ouvisse Acho que podemos ser amigos John disse com um sorriso sarc stico nos l bios Esperem aqui N o saiam daqui ordenou perempt rio Viram no sair pelo nico caminho poss vel em direc o ao quarto do jornalista Sarah queria ter dito Cuidado mas n o conseguia dizer lhe nada que n o estivesse repleto de rancor amargura e cinismo Que quem sa s o eles quis saber John O Artur
407. que nem se atrevia a nomear Nunca divulgues a localiza o dela a ningu m A n o ser que o Santo Padre ta pe a pessoalmente Guarda a para ti Eu n o quero saber e mais ningu m face da terra tem o direito de o saber Sorriu levemente L isso verdade corroborou por fim Um servidor t o fiel s vezes n o assim t o bom proferiu saindo da sua letargia Bom mas independentemente dos problemas que possamos ter com o embaixador alem o n o podemos trocar a mulher pelo rapaz Isso n o pode acontecer O embaixador alem o n o nos poder responsabilizar Al m disso podemos sempre culpar algu m argumentou Federico Vamos aguardar pelo Tomasini Espero que traga boas not cias Girolamo avan ou para a secret ria de mogno e pousou um dossi castanho E melhor guardar isto no Torre o Nicolau V Emin ncia Tarcisio arregalou os olhos Aquele era o dossi onde John Scott guardava os seus segredos Felizmente tinham conseguido recuper lo Aquele dossi nas m os erradas seria mais um esc ndalo Abriu o vido por alguma informa o nova Ser que conseguimos descobrir a identidade de quem forneceu estas provas ao jornalista Permite me Emin ncia pediu Girolamo estendendo a m o O Cardeal Secret rio de Estado entregou o dossi a Girolamo que come ou imediatamente a analisar os v rios documentos Extractos de movimentos banc rios fundos funda es requisi
408. que o queimassem Dava muito trabalho Imaginou se vendado com o cilindro frio da arma a arrepiar lhe a nuca a cabe a coberta por um capuz a pedir como ltima vontade que o cremassem por favor Depois lembrou se que nestes casos ningu m lhe perguntaria sobre a ltima vontade que n o teria direito a uma Ali n o havia os privil gios do corredor da morte Pensou na doutora Pratt M D nas pernas cruzadas e no sorriso Quem he dera estar em Manhattan no consult rio dela com vista para o Hudson e n o ali Ser que acreditaria na sua hist ria ou simplesmente o mandaria internar numa institui o psiqui trica Apreens o paran ia e p nico Era isto que sentia diria a sua psiquiatra que nunca saberia a raz o por que ele era seu paciente h onze anos Que vivia toda a semana a pensar naquela hora das tr s s quatro s ter as e quintas em que falava pouco no seu jeito travado e t mido e que s l ia por ela pela doutora Pratt M D pelas pernas cruzadas o sorriso a voz melodiosa a pele acetinada morena devido ascend ncia africana Morrer sem lhe dizer que se apaixonara por ela era um desgosto insuport vel Viraram direita para a Viale Tito Labieno passaram a Piazza di Cinecitt As ruas sucediam se umas a seguir s outras as pra as os parques iluminados A noite esfriara ainda mais e os carros estacionados ao ongo do caminho estavam cobertos de geada Entraram numa rua larga e Arturo abrandou procur
409. quem agradecer quando se escreve um livro pelos mais variados motivos Este A Filha do Papa n o excep o e ainda bem Comecemos pelos an nimos quero agradecer aos agentes da Polizia di Stato que me deram a conhecer essa dif cil conviv ncia com os seus colegas da Gendarmaria do Vaticano Muito obrigado Tamb m n o posso deixar de mencionar aqueles que me ajudaram a compreender como funciona esse mundo da cria o de santos N o os posso identificar por raz es bvias mas as informa es que me deram foram preciosas em ambos os casos usei as livremente portanto qualquer erro ser sempre meu e nunca deles Obrigado tamb m a eles As frases Existe apenas a vers o oficial do Vaticano e Quando a Santa S se pronuncia n o h necessidade de procurar outra vers o n o s o da minha autoria mas s o demasiado fortes para as ignorar Uma v nia aos agentes invis veis que s o os meus olhos e ouvidos dentro dos altos muros do Vaticano Estou imensamente agradecido s minhas agentes Maru de Montserrat e Jennifer Hogue e a toda a equipa da International Editors que a partir de Barcelona v o conquistando o mundo O apoio que me d o fundamental e gra as a elas posso dedicar me apenas escrita Os meus sucessos s o delas tamb m Uma nota de gratid o para a gal ctica equipa da Porto Editora Cl udia Gomes por acreditar em mim ao Rui Costa por carregar tudo s costas Alexandra Carreira e ao Fl
410. quem se levantou para o atender Recuou a cadeira o mais placidamente poss vel e avan ou em passinhos de para o aparelho pousado em cima de uma mesa encostada a um canto da parede do sal o que agredia o ar com o seu toque estridente A irm Bernarda fizera os votos perp tuos havia pouco mais de um m s no dia do seu vig simo terceiro anivers rio aceitando servir a Jesus Cristo enquanto houvesse vida no seu corpo Acabara se a vida de luxo de Mia Gustaffsen ilha de um banqueiro su o do cant o de Zurique as viagens as j ias na 5 2 Avenida as compras em lojas caras em Regent Street os vestidos os perfumes na avenue Montaigne ou na George V as malas e os sapatos na Via Monte Napoleone os cruzeiros os safaris os namorados Escolhera o nome Bernarda para honrar a prioresa que fundara a ordem das irm s da Santa Cruz em 1844 o que entre as outras pareceu uma escolha presun osa Havia muitas Anas Marias de Jesus Teod sias mas Bernarda s houvera uma at ent o As outras irm s continuaram a comer os finos peda os de carne de alcatra crua imunes ao telefone que n o se rendia espera que a irm Bernarda o atendesse Murmurou algumas palavras em alem o e acercou se da prioresa no topo da mesa E uma chamada de Roma prioresa sussurrou lhe ao ouvido A prioresa levantou se imediatamente e foi atender Roma vinha logo a seguir a Deus na lista das prioridades Assim que ela se levantou todas as irm s de
411. r s agentes da Gendarmaria Vaticana um relator e um jornalista americano disse Rafael com uma voz arrastada devido moedeira que ainda sentia na nuca A revista terminou e o agente deixou Rafael em paz Trata das identifica es ordenou Gennaro Cavalcanti enquanto colocava uma m o no ombro de Rafael Venha sentar se Encaminharam se para o interior do gabinete de onde j tinham sido retirados tr s corpos Restavam ainda John Scott e Duv lio As malogradas v timas das atitudes dos homens em nome de Deus em breve seriam levadas dali tal como os outros dentro dos sacos fechados Gennaro Cavalcanti arrastou uma cadeira que estava na sala e bateu com a m o no assento Sente se aqui padre Era mais uma ordem que um pedido Rafael viu um dos agentes tirar o dossi castanho das m os do jornalista americano Este apertara o contra o peito at ao fim como uma garantia de vida que nunca foi Um trabalho muito bem feito O terceiro nos ltimos dias sempre pelo mesmo autor sem erros O que que se passou aqui lan ou Cavalcanti de rajada Ei n o h procedimentos legais a ter em conta contrap s Guillermo irritado Vais interrog lo assim Ele tem direito a um advogado sabes Isto apenas uma conversa entre amigos N o padre Relembre me o seu nome Rafael N o padre Rafael completou o inspector Rafael anuiu com a cabe a Porque que
412. r fez que sim com a cabe a A que horas que acha que aconteceu a intrus o questionou Rafael John n o tinha percebido que a pergunta era para ele at o padre que liderava toda aquela situa o repetir a pergunta Ah N n o n o sei Quanto tempo esteve ausente do quarto U um umas tr s ou ou qua quatro horas Arturo desceu a Via Machiavelli e virou esquerda em direc o Piazza Dante seguiu at Via Petrarca e passou a Piazza di Porta San Giovanni entrando na Via Appia Nuova O que que se est a passar Rafael voltou a perguntar Sarah Provavelmente o John chateou algu m ou n o nos est a contar tudo Ainda n o sei John engoliu em seco tenso Porque que n o come as por nos contar o que foste fazer ao hotel Rafael Rafael tirou do coldre de ombro por debaixo do casaco a Beretta de cabo de madeira e exibiu a aos dois passageiros do banco de tr s Fui l para matar o John Scott disse com uma voz seca E quem quer que estivesse com ele 23 A noite acoberta todos os mist rios dem nios e vil es At o frio se torna mais abespinhado e intr pido quando o sol abala e arrepanha os ossos como se a treva concedesse autoriza o a todos os furores e abrisse as portas da obscuridade O inferno anda solta no c u nocturno Bertram corria com passos tr mulos e tr pegos como se a qualquer momento fosse tombar nas lajes g lidas
413. r nenhum dos trabalhos dos rapazes A sua nica distrac o era a Oktoberfest em Munique A dan ava dan ava e esquecia se da vida Aos 15 anos Josefina tomou a decis o que mudou para sempre a sua vida e por consequ ncia a de Eugenio Pacelli Queria servir a Jesus Cristo e entrar para um convento Os pais recusaram liminarmente esta aspira o da mi da e ela n o encontrou maneira de transformar a oposi o veemente em apoio Como eles n o cederam ela deixou a casa a coberto da noite sem um adeus nem uma satisfa o Foi o padre da aldeia quem a ajudou e com o seu patroc nio entrou para a Ordem das Irm s da Santa Cruz em Alt tting nos arredores de Munique A vida no convento era extremamente r gida Muito mais que aquela que Josefina levava no campo Levantava se diariamente s quatro e meia da manh Rezava depois tinha as tarefas de limpeza rezava ajudava na cozinha rezava A sinal tica usada pelas freiras tamb m era severa Um estalar de dedos era para levantar dois para dar meia volta M o erguida com os dedos indicador e m dio levantados significava que a freira necessitava de um garfo Naquele mundo silencioso todos os gestos tinham um significado e ela tinha que os decorar todos Ela gostava das regras O mundo n o podia viver sem elas Contudo havia uma que a perturbava O apito da madre superiora Quando o silvo estridente se fazia ouvir todas tinham de parar imediatamente o que estavam a fazer n
414. r que eu respondeu Anna evasiva Pelo menos o meu pai Deve t lo estudado Giorgio fez um trejeito negativo com a cabe a que recebeu o apoio imprevisto de Jacopo A Igreja sempre foi muito eficaz a varrer os inc modos para onde n o possam ser vistos disse o historiador como se fosse necess rio explicar Anna era a prova viva desse fen meno verdade O seu pai um assunto muito sens vel no Vaticano E a sua m e Giorgio n o sabia muito bem como diz lo E como se nunca ivesse pisado O Pal cio Na verdade como se nunca tivesse existido O mas ela existiu evidenciou Anna com veem ncia A sua passagem pelo Vaticano foi inesquec vel certo que muitas pessoas nunca a conheceram nem nunca a viram Ela fazia por que assim fosse Os meus pais fizeram o maior sacrif cio de todos Amaram se em sil ncio Mas est sepultada l no cemit rio de Montesanto Anna levantou se a custo prontamente amparada por Giorgio assim que se apercebeu das suas inten es Caminhou para uma mesa de canto pequena com um telefone pousado no tampo e pegou no auscultador Poucos segundos depois algu m atendeu do outro lado Bom dia Gustav Traga me por favor a caixa que est no meu quarto debaixo da cama Aguardou que o seguran a dissesse alguma coisa Exactamente Na sala sim Pousou o auscultador e voltou ao lugar que tinha deixado no sof Respirou fundo e viajou at
415. r te que um homem inteligente virava as costas e ia embora A tens o acumulava se Os jornalistas observavam mudos e quedos sem saberem o que pensar muito menos o que fazer Estavam ali dois homens a decidir o destino deles como se fossem simples objectos inanimados sem direito a opini o E o que digo ao Tomasini perguntou Arturo Que virei as costas Que eu te disse que trato deles Aquilo era um teste A resposta quela pergunta confirmaria a Rafael as suas suspeitas N o queria fazer mal a Arturo Deus era sua testemunha E porque n o o fazes j insistiu Arturo visivelmente nervoso e inseguro Aquela fora a confirma o que Rafael necessitava Mata os aqui e agora sentenciou Arturo 27 Matteo Bonfiglioli abriu um olho e depois o outro estremunhado Parecia ter ouvido uma porta a fechar se mas devia ter sonhado Habituou se luz frouxa e mirou o tecto de madeira que fazia lembrar o conv s de um barco virado ao contr rio Estava deitado numa cama de solteiro que n o era a sua num quarto que seguramente n o era o seu Cobria o um cobertor castanho de l grossa Estava transpirado e o cora o palpitava nervoso dentro do peito Levantou se e pisou o soalho frio de madeira A cabe a doia lhe e sentiu uma tontura que lhe provocou n useas Sentou se na beira da cama Lembrou se do homem que lhe apareceu no quarto na casa de Verona e depois o vazio o escuro N o se recordava de mais
416. ra os levantados no ar Declarem o vosso amor As mulheres primeiro come avam a escrever com um brilho nos olhos no espa o dispon vel que j era escasso Quando terminavam entregavam a caneta ao marido ou ao namorado para que tamb m exprimissem o amor em toda a sua ess ncia Outras limitavam se a pass la pr xima amiga ou desconhecida enquanto olhavam para Matteo com um ar pecaminoso Ele estava ciente do efeito que provocava nelas O dia j ia longo e a escolha dele j fora feita Bastava um olhar escrutinador na primeira passagem que fazia pelo corredor do autocarro logo pela manh antes da partida para Castelvecchio para identificar a presa e iniciar um ataque velado que a maior parte das vezes acabava noite na cama dele O solit rio que repetia a visita pela quarta vez n o tirava os olhos dele enquanto ouvia as mesmas explica es dos dias anteriores N o era participativo nunca escreveu nada nas paredes e n o reagia s revela es exuberantes do guia Est s a perder o teu tempo comigo dizia Matteo para si mesmo A cama j est ocupada logo noite Estes pain is s o substitu dos duas vezes por ano explicava o guia desfilando pelo grupo que enchia as paredes de amor Antes do dia 14 de Fevereiro porque Verona enche se de pessoas nessa altura e antes do dia 17 de Setembro data do anivers rio de Julieta Depois fazia uma pausa teatral como um actor prestes a revelar um
417. ra assistente do n mero dois do Vaticano enquanto Giorgio assistia o n mero um com mais alguns privil gios era certo Tarcisio nunca tivera a assessor lo homens maduros Era estranho agora que pensava nisso Preferia os mais jovens porventura por ser mais f cil intimid los Ao contr rio dos mais velhos os jovens ficavam com medo e n o com raiva Levantou se do sof e avan ou para a enorme secret ria de mogno Pegou no auscultador do telefone e levou o orelha enquanto com a outra m o premiu tr s algarismos Passaram alguns segundos at algu m atender do outro lado da linha Tomasini boa noite Venha ter comigo ao gabinete do Secretariado pediu Giorgio passando uma m o pelo rosto afadigado Agora Deixou o homem da espionagem responder e desligou o telefone Voltou a premir alguns n meros e levou o aparelho ao ouvido Como que est o as coisas Aguardou o relato do interlocutor Atingimos o ponto de n o retorno s oito horas ver se o que acontece Escutou o que lhe disse a voz Vou para l daqui a pouco Mant m me ao corrente Pousou o aparelho regressou ao sof e esperou N o lhe restava fazer mais nada O jovem padre chegou instantes depois afogueado N o acreditava que o Secret rio de Estado estivesse a dormir as noites acicatavam toda a alta hierarquia naqueles tempos mas era certo que n o era f cil atentar contra o temperamento hostil de Tarcisio O Cardeal
418. ra dois deles o limite de idade estava quase a chegar Se Bento n o morresse antes de eles completarem os 80 anos de idade nunca seriam Papas Seria isso motivo suficiente para matar O tempo di lo ia Alguma teoria perguntou Giorgio voltando a baixar a cabe a J n o conseguia pensar Porque n o vai descansar um pouco e depois voltamos a falar Excel ncia sugeriu Girolamo com uma ponta de sarcasmo Giorgio recusou com um gesto veemente com a cabe a N o podia Havia muita coisa em jogo Ser que a freira foi levada pelas mesmas pessoas que levaram o padre Niklas inquiriu Giorgio Precisavam de chegar a algum lado E n o fizeram um pedido de resgate N o creio Acima de tudo porque n s n o sabemos quem ela Pois Mas necessitamos de saber Faz um levantamento de tudo o que conseguires sobre ela Alguma coisa deve haver O pol cia levantou se Com certeza Excel ncia Precisamos de algum fio condutor nesta hist ria E se n o existir Giorgio mirou Girolamo Apesar de n o corfiar nele precisava dos seus servi os Tinha um olhar cl nico sobre os acontecimentos e uma mente mordaz justamente o que necessitava O Vaticano era um verdadeiro ninho de v boras onde prevalecia literalmente a vontade do mais forte O Papa andava cansado fr gil a desvanecer se a cada dia que passava restando somente a mem ria do seu vigor daquele que outrora fora chamado de Panzerkardin
419. ra mitigarem a situa o Ela n o aguentaria Permaneceram em sil ncio durante alguns momentos Um coro de ora es desirmanadas erguia se da pra a e entrava pelo pal cio adentro Pasqualina sufocava num pranto descontrolado Spellman tamb m estava visivelmente perturbado N o tinha mais para oferecer a n o ser estender as suas m os e junt las s dela Por muito que se queira ningu m pode sentir as dores dos outros O que vai ser de n s lamentou se Pasqualina Levantou se de rompante e largou as m os do cardeal Preciso de ver a minha menina Spellman levantou se tamb m N o Pasqualina Isso est fora de quest o O que vai ser dela sem mim questionou desnorteada afundando o rosto nas m os Vai correr t o bem como at agora T m tratado muito bem dela Pasqualina Eu vou assegurar me que assim continuar a ser esteja onde estiver afian ou o prelado Pasqualina serenou Ele tinha raz o Ela estava desorientada Os acontecimentos precipitaram se de tal forma que ela capitulava sob eles Aconte a o que acontecer perguntou j mais recomposta Aconte a o que acontecer Os dias seguintes custaram a passar Pasqualina tentou descansar mas os minutos passavam lentos como se cada segundo se recusasse a avan ar de livre vontade e tivesse de ser empurrado for a O calor continuava a agredir impiedoso os h bitos dos servidores de Deus e corrompia mais rapidamente o
420. ra uma mota com sidecar Ambos adoravam a velocidade As vezes pediam ao motorista que acelerasse muito para al m do que devia s para se deliciarem com a velocidade Pacelli pediu lhe que providenciasse um instrutor para ensin lo a conduzir o ve culo Ela olhou para ele ofendida Vim de uma quinta onde trabalhei com os rapazes e n o com as raparigas Posso muito bem ensin lo Excel ncia Pacelli olhou para ela com uma express o desconfort vel mas acedeu freira como sempre e nessa mesma noite sa ram para o c u nocturno com os capacetes enfiados na cabe a prontos para desafiar as estradas Em pouco tempo Pacelli tornou se um s na mota e chegaram a sair durante o dia e a fazer piqueniques beira rio ficando a conversar at ao p r do sol e por vezes at mais tarde Depois chegou 1925 e mudaram se para Berlim e os passeios acabaram Berlim fervilhava de acontecimentos pol ticos e os diplomatas eram uma pe a crucial nesse mundo em que a informa o era centralizada nas embaixadas Pacelli come ou a dar grandes festas e jantares a todos os ministros e corpos diplom ticos dos outros pa ses presentes na capital Celebridades artistas todos marcavam presen a nesses banquetes que ele organizava com Pasqualina a coordenar tudo obviamente Consideravam no o diplomata mais bem informado da Alemanha muito devido a esse rabalho de confraterniza o Em finais de 1928 e in cio de 1929 ele passou muito tempo em c
421. rada de imitar o intendente Com isso posso eu bem Escutaram as palavras de Federico que sa am met licas pelas colunas do carro O Santo Padre foi arredado do seu sono pac fico com uma triste not cia Os seus dilectos irm os haviam se matado uns aos outros A trag dia ocorreu na Sala do Col gio dos Relatores da Congrega o para a Causa dos Santos do Pal cio das Congrega es e nada est a ser deixado ao acaso pelos investigadores que continuam a trabalhar afincadamente para a solu o deste crime hediondo Sanado este caso prosseguiu Rafael v o virar se para n s Cavalcanti passou a l ngua pelos l bios para humedec los Temos de desaparecer por umas horas Fazes ideia de qual deve ser o pr ximo passo O teu devia ser ir para casa Cavalcanti sorriu Querias Est s detido lembras te Rafael ficou em sil ncio durante alguns instantes H quatro relatores Bertram morto Duv lio morto Domenico morto Domenico Quem o Domenico Aquele que voc s n o conseguiram identificar na Bas lica de Sant Andrea Que filhos da puta praguejou Cavalcanti irritado Sempre a sonegarem informa o Disseste quatro Falta um Falta o chefe deles O Gumpel Ainda est vivo Cavalcanti sentiu a adrenalina a percorrer lhe as veias e espalhar se rapidamente pelo corpo De que est s espera para me dares a morada desse tal Gumpel Santini 45
422. rades que separava o Vaticano de It lia pelo lado da Via Paolo VI Girolamo dirigiu o olhar na mesma direc o que Rafael e viu o filho do embaixador e Sarah correrem apressados em direc o a eles Que mais pretende de mim perguntou o intendente para o telem vel Desejo lhe os bons dias cumprimentou com menosprezo Isto n o vai ficar assim advertiu o intendente Vai sim retrucou a voz A n o ser que queira que eu revele ao seu sobrinho quem era o pai e que toda a sua inf ncia e adolesc ncia foram pagas por um fundo criado pelo Piccolo e com o conhecimento de Jo o Paulo II e Bento XVI E que usou tr s milh es de euros desse dinheiro para pagar a um assassino profissional Entretanto passe o telefone a Mia por favor Girolamo fitou Mia com desd m e ela sentiu um calafrio percorrer lhe a espinha Ela segurou o telem vel na m o Ol novamente minha querida Fa a o favor de levar o Matteo para bem longe da disse a voz no auricular Mia engoliu em seco nervosa E levo o para onde Mia ouviu a gargalhada rouca do outro lado da linha Leve o para onde desejar filha Espero que n o seja para um convento Seria um desperd cio para ambos Mia n o queria acreditar no que acabara de ouvir Sentia o peito mais leve e um al vio enorme Sorriu para Matteo e encaminhou se para ele Depois pensou se n o seria JC a iludi la antes do golpe fatal e olhou em redor atemorizada
423. rado de todo Este romano nascido no dia de Ano Novo de 1950 era antes um agente que detestava o trabalho de secret ria relat rios teorias e caf s e bolinhos no conforto dos gabinetes preferia estar no terreno e ir de facto aos locais do crime Gennaro Cavalcanti n o tinha s qualidades se que algumas das suas caracter sticas se podiam definir assim Com a idade e depois de ver partir mais duas senhoras Cavalcanti que juntamente com a primeira lhe levaram quase metade do sal rio apercebeu se de um fetiche que sempre sentira ainda que em estado latente mas que nunca se evidenciara tanto como depois dos 50 anos Tinha um fetiche por mulheres casadas ou no m nimo com algum n vel de compromisso com algu m que n o ele Era como se todos os alarmes disparassem assim que via uma alian a de casamento um anel de compromisso ou um simples gesto um beijo uma car cia no rosto as m os dadas O desejo de conquistar de possuir essas mulheres tocadas pelo amor por outras pessoas tornava se irrefre vel N o era tanto o factor cama que o cativava Se fosse o que mais havia era exemplares do sexo feminino dispon veis procura de amor N o isso n o lhe interessava minimamente Com 62 anos n o procurava assentar bastavam lhe as tr s senhoras Cavalcanti que tivera Ansiava por aventuras com mulheres comprometidas que tivessem muito a perder Essa conquista essa sedu o que o aliciava a devassar o s timo mand
424. rav s dos pecados da impureza que as for as das trevas subjugam as almas Papa Pio XII 23 de Maio de 1948 Espiritualmente somos todos semitas Pio XI Rorschach Su a 25 de Setembro de 1930 Nada mais corrosivo que uma d vida Imiscui se numa palavra num gesto numa aus ncia e invade os pensamentos minando a mente com cismas e confabula es As b tegas batiam no vidro com viol ncia e as escovas limpa vidros n o conseguiam desvi las com efic cia Era um ex rcito de pingos de chuva feroz que ajudado pelo vento se espalhava por todos os recantos do p ra brisas como as d vidas a coberto da noite negra que os far is tentavam em v o desbravar Pode ir mais depressa pediu o prelado agastado no banco de tr s O tempo est perigoso Excel ncia avisou o motorista em alem o J estamos perto Mesmo assim o condutor pegou num pano para limpar a n voa do vidro do Mercedes Benz 770 e acelerou um pouco mais at ao m ximo que a responsabilidade lho permitiu Contorceu se no banco O corpo a pedir clem ncia da longa viagem N o se atreveu a olhar pelo retrovisor interior para aquela figura esquel tica e fr gil que ocupava o lado esquerdo do assento de tr s a mirar o negrume nocturno Desconhecia o motorista os ditames nada ticos que faziam o cl rigo estar ali naquele carro a novecentos quil metros de casa ou n o fosse o nosso corpo h bil a esconder as dores da alma a maior p
425. rdade argumentou Duv lio Aposto que tamb m pensa que o Einstein era t o mau a matem tica que chumbou quando era crian a acrescentou Rafael visivelmente irritado Ent o porque que n o nos explicam a vers o factual pediu Sarah cada vez mais interessada no tema Duv lio ajeitou se na cadeira e pigarreou Talvez fosse melhor ir buscar mais gua e Sarah pegou no copo que o relator segurava nas m os e entregou o a Rafael para que ele tratasse disso F lo sem pronunciar uma nica palavra e provavelmente por isso o padre lan ou lhe um olhar enfurecido Desde quando o haviam contratado como empregado de mesa O nome de baptismo do Santo Padre Pio XII era Eugenio Pacelli come ou Duv lio num discurso pausado mas claro Apesar de conotada com a Nobreza Negra os aristocratas que alinharam ao lado do Papa Pio Nono aquando da reunifica o de It lia em 1870 pela casa de Saboia e em sinal de protesto mantiveram as portas dos seus pal cios fechadas e rajavam de negro a fam lia de Pacelli n o pertencia a essa esfera Sim os Pacelli eram uma fam lia respeit vel e fervorosos apoiantes da causa papal mas as suas origens eram muito modestas Os seus antepassados eram rurais e remontavam a uma aldeia perto de Viterbo O prest gio dos Pacelli n o foi conquistado pelo sangue azul mas com muita dedica o e devo o O av de Eugenio Marcantonio foi estudar lei can nica para Roma em 181
426. reias do tempo Espero n o morrer sem a voltar a ver A senhora est aqui presa perguntou Jacopo Reparou na seguran a da casa mal chegou n o havia como n o reparar Seguran as c maras sinais intermitentes mas pensava que era para defender os moradores de hipot ticos ataques exteriores e n o que se tratava de certa forma de uma pris o luxuosa Anna confirmou com um meneio de cabe a Mas porqu perguntou Giorgio Porque dif cil para a filha de um Papa comportar se em sociedade Por castigo porque mais seguro assim para o Vaticano Sempre fui uma esp cie de ovelha negra nunca devia ter nascido confidenciou enquanto apontava para o ba Quero que fique com os di rios e que atrav s deles conhe a a minha m e monsenhor Giorgio O secret rio do Papa ficou sem resposta Jacopo fitou a caixa incr dulo com a oferta Aquilo era o sonho de qualquer historiador O relato de uma poca na primeira pessoa a voz de uma protagonista da hist ria era espl ndido O seguran a bateu porta timidamente e avan ou devagar Desculpem a interrup o Que se passa Gustav perguntou Anna ansiosa J ligou quis saber Giorgio levantando se J Excel ncia Chegou a hora Quem que ligou questionou Anna olhando desorientada para Giorgio e o seguran a Chegou a hora de qu 59 O relator estava encostado cabeceira da cama com a
427. repetiu Rafael Quer dizer Com Profunda Preocupa o Foi uma cr tica aberta ao nacional socialismo e onde Pio XI chegou a insultar Adolf Hitler Foi escrita em 1937 E interessante notar que um dos dois nicos documentos oficiais do Vaticano n o escritos em latim O primeiro tamb m foi de Pio XI que era de facto um portento acrescentou Duv lio Em que l ngua foi escrito o primeiro quis saber Sarah Italiano respondeu Rafael Chamava se Non Abbiamo Bisogno N o precisamos disso Era uma cr tica muito forte ao fascismo de Mussolini Foi o fim do interl dio pac fico entre o ditador italiano e o Papa que tinha come ado com o Tratado de Latr o em 1929 Mussolini ficou irado e depois disso a rela o deles foi sempre de dio Em 1929 tamb m se odiavam Mas Pio XI precisava de terminar de vez com a Quest o Romana Mais um Pacelli envolvido disse Rafael Esperem um pouco requereu Sarah N o estou a perceber Tratado de Latr o Quest o Romana O que isso Eu explico sen o nunca mais sa mos daqui atalhou Rafael Quando a Casa de Saboia liderada por Vittorio Emanuele II reunificou toda a It lia o que aconteceu em 1870 incluiu os Estados Pontif cios que eram compostos por toda a L cio a Umbria as Marcas e a Romanha praticamente todo o centro da pen nsula O Papa Pio Nono n o aceitou e refugiou se no Vaticano declarando se prisioneiro do governo
428. retens o t o inadequada apenas um n o liminar sujeito a uma nica interpreta o John insistiu na relev ncia de tal consentimento antecipando o mesmo desfecho Mudaria de estrat gia quando esgotasse todas as possibilidades Segundo as minhas informa es o senhor um jornalista versado em investiga es econ micas A folha para onde Tarcisio olhava era um sum rio das habilita es de John Scott provavelmente visto revisto acrescentado riscado at vers o final que estava na m o do Secret rio John confirmou Era verdade N o vejo o que possamos ter de interessante no Torre o Nicolau V que mere a a sua aten o John respirou fundo e mentalmente decidiu que estavam esgotadas todas as possibilidades de uma autoriza o com base na confian a ou mesmo no curr culo Chegara a hora de mudar de estrat gia e passar ao ataque Abriu o dossi e entregou ao secret rio uma folha O piemont s pousou o curr culo do americano e ficou p lido assim que examinou o que John lhe passara Como obteve isto John registou o facto de o secret rio nem sequer ter contraditado a autenticidade do documento apesar de se tratar de uma fotoc pia N o n o es es tou auto ri zado a re re velar a iden identidade da da da minha fonte declarou o jornalista com alguma autoridade ainda que os nervos lhe enri assem a pele por debaixo da roupa Essas fontes s o muito convenien
429. ria no jardim como se n o houvesse mais mundo a n o ser aquele beb s ele o centro de tudo como uma m e consegue fazer a nica a verdadeira Teve conversas com mortos que o visitaram vestidos com o ltimo traje com que os vira em vida Pensou que o vinham buscar e escolt lo em cortejo de honra at cova do inferno mas apenas queriam conversar passar algum do tempo eterno com ele Passou tamb m muitas tardes deitado ao sol na praia embalado pelo som das ondas enquanto algu m passava a correr e o sujava com gr os de areia e depois ria gargalhada Levantava a cabe a para ver quem era mas o sol cegava o e impedia o de descobrir de quem se tratava Quando que teremos paz Ouviu perguntar do nada do vazio pergunta muitas vezes repetida tantas que se sentia bombardeado perseguido por aquela voz que a qualquer altura do dia ou da noite na praia ou quando discutia efusivamente com um dos mortos de visita lhe perturbava o racioc nio Quando que teremos um momento de paz Chegou a gritar para que se calasse correu atr s dela apesar de n o saber de onde vinha procurou at exaust o sem nunca a encontrar Apenas um len o que esvoa ava ao vento Sentia um ardor na parte abdominal que s vezes do a intensamente e chegava a sangrar Tentava estancar a ferida com tudo o que tinha m o mas sem sucesso at que finalmente acordou Quando que teremos paz Rafael Rafael levou algum tempo a habituar se cla
430. ridade do quarto e mais ainda a aperceber se da presen a dele Um agente uniformizado da Gendarmaria Vaticana estava sentado numa cadeira virada para a cama Seguramente havia outro agente do lado de fora da porta O mais certo que tivesse avisado via r dio que ele acordara mal abrira o primeiro olho Rafael sentia se fraco como nunca antes se sentira um ardor incomodativo na zona abdominal que estava tapada com gaze em toda a extens o intensificava se quando se mexia Tinha um cateter vascular numa das m os e um dreno na barriga Os m dicos falaram da sorte que teve e de como uns cent metros ao lado provocariam outro desfecho menos feliz A m o de Deus sempre desviava as balas ainda que infelizmente n o as evitasse As primeiras visitas chegaram ao final da manh e trouxeram os rostos austeros e severos de Tarcisio Federico e Guillermo O piemont s n o perdeu tempo a impor a sua condi o Persignou se beijou a cruz de ouro que trazia ao peito e numa manifesta o de poder estendeu a m o anelada para que Rafael a beijasse Era bom que se esclarecessem os pap is novamente e que n o houvesse d vidas sobre quem devia vassalagem a quem O agente da Gendarmaria que vigiava o recluso foi convidado a sair do quarto assim como o assistente do Cardeal Secret rio de Estado depois de arrastar a cadeira para junto do paciente para Tarcisio se sentar Est em condi es de me explicar o que aconteceu perguntou Tarcisio
431. rista mais absorta numa das rampas ou na ponte que ligava ao castelo e lhe propunha o exerc cio de recuar alguns s culos Depois visitavam a Arena um arfiteatro romano do s culo I que apesar de se estar a desfazer ainda funcionava N o havia muitos exemplares daqueles que tivessem resistido ao tempo e aos homens Matteo n o se limitava a contar as hist rias nem as curiosidades que deixavam os turistas deslumbrados e aprisionados sua voz Dava sugest es para quando ele n o estivesse ali para quando deambulassem pela cidade sozinhos ou com a sua cara metade Dizia lhes que atravessassem a ponte Pietra e subissem ao castelo de San Pietro Dali gratuitamente podiam assistir a um p r do sol m gico mesmo em dias de frio como aquele Deviam tamb m subir a torre Lamberti a maior da cidade para uma vista panor mica invej vel Ainda de manh levava os ao Duomo claro depois a Sant Anastacia e j que ali estavam a uma pequena capela por vezes esquecida que se chamava San Giorgetta Depois da hist ria e da religi o vinha o amor da parte da tarde Primeiro nos arredores da cidade a Bas lica de San Zeno e a sua fachada romanesca em travertino Centro de peregrina es durante s culos era o local onde o santo patrono da cidade Zeno repousava para a eternidade Mas n o era essa a raz o por que os levava l Ningu m queria saber desse San Zeno Baixavam cripta onde estava o sarc fago do santo o rosto coberto com um
432. rolamo J est na hora perguntou o chefe da espionagem Falta um minuto sentenciou Cavalcanti Eh P Dev amos chegar atrasados N o nada latino chegar a horas e parece mal Guillermo e Girolamo fitaram no com uma express o reprovadora Acabara de dizer um enorme disparate O inspector era imune a esse g nero de olhares O of cio e a vida haviam se encarregado de vacin lo contra eles e alcan ara aquela idade em que nada do que os outros pensavam importava minimamente Afugentara de si o bicho pap o da sociedade reprovadora h muitos anos Na verdade dissera aquilo para mexer com os nervos dos homens do Vaticano amostras de pol cias que se julgavam acima do comum dos mortais como ele s porque eram esquizofr nicos o suficiente para se julgarem privilegiados de Deus quando na realidade se Ele existisse n o diferenciaria uns dos outros Aquela hora a pra a j estava cheia de turistas e peregrinos que deambulavam de um lado para o outro admirando as maravilhas arquitect nicas do espa o Outros ciciavam ora es ao bom Deus na esperan a que Ele tivesse tempo para socorr los A fila de visitantes interessados em contemplar os tesouros preciosos da bas lica j se avolumava junto s m quinas de raios X onde tudo tinha de ser escrutinado Os quatro homens chegaram junto da cerca circular que protegia o obelisco do ass dio dos curiosos Guillermo consultou o rel gio Estavam a bater as oito
433. ros das intrigas e dos ideais Vais dizer alguma coisa quis saber Jacopo ainda irritado mas com um tom de voz mais suave Est frio n o est Jacopo virou lhe a cara Aquele sempre fora bom a desconversar S tirou o chap u quando entrou pela porta que Guillermo Ihe indicou Ao fundo junto janela um homem de meia idade estava recostado na cadeira a passar o dedo pelo ecr de um iPad A tecnologia tamb m marcava presen a na casa de Deus Doutor Sebastiani cumprimentou o homem levantando se da cadeira assim que o viu com um sorriso nos l bios Bons olhos o vejam Pousou o tablet em cima do tampo da secret ria mostrando o cabe alho do Il Messagero Reverendo Giorgio N o me importava nada de o ver um pouco mais tarde Estendeu a m o para cumprimentar o prelado Acenou com a cabe a para o tablet Ainda acredita em boas not cias Estou a seleccion las para a leitura matinal do Santo Padre Mas nada de novo de facto A Europa est a ruir connosco dentro respondeu o cl rigo bem disposto apesar da hora O Santo Padre n o se cansa de ler sempre a mesma lengalenga A informa o tudo hoje em dia Mesmo que seja sempre a mesma coisa Apontou para uma cadeira que Jacopo sem cerim nia aproveitou e contornou a secret ria para retornar sua Guillermo ficou em p encostado a uma mesa de reuni es A que se deve a honra de ser chamado a esta hora da madr
434. rredores de Roma onde podia continuar as suas leituras de trabalho Nunca ningu m se lembrou de procur lo nessa morada como Rafael previra Mas o que liga Girolamo a Pio XII quis saber Guillermo O irm o explicou o padre com a voz cada vez mais sumida Qual irm o perguntou Federico Aquele que morreu perguntou Guillermo Sim O padre Giovanni Comte Designado pelo cardeal Cicognani como vigilante da moeda de troca a partir de 1968 Foi o que morreu atropelado n o foi perguntou Federico Mas essa hist ria tem trinta anos Para al m disso o padre Comte n o conheceu o Papa Pacelli apontou o piemont s Mas conheceu a filha dele E teve um filho com uma das empregadas da casa em 1981 O qu Que hist ria t o rocambolesca reprovou Tarcisio De repente os padres desataram todos a ter filhos N o fica por aqui prosseguiu Rafael cada vez mais fraco lembrando se que ele pr prio n o fora um exemplo de castidade Girolamo na altura era agente da Gendarmaria e ajudou o irm o a livrar se do filho De que maneira inquiriu Federico intrigado Providenciando uma fam lia de acolhimento em Verona O rapaz n o assentou arraiais em nenhum lado Anos mais tarde Girolamo contratou uma pessoa a tempo inteiro para ficar com ele Com que dinheiro O sal rio na Gendarmaria n o alto Com dois fundos do IOR E quem financ
435. rreu Jacopo chorava compulsivamente a perda do amigo para quem nem sempre fora bom Ningu m o era em todos os momentos A amizade devia residir mais nos actos do que na lembran a mas nem sempre podia ser assim Que diria Norma quando soubesse da not cia Mas como quis saber Sarah por entre solu os Uma infec o generalizada Sucumbiu aos ferimentos Foi o que os m dicos disseram Sarah olhou para a cama a coberta branca esticada sobre o colch o sem saber o que sentir As l grimas come aram a escorrer lhe pelo rosto e a ca rem no ch o N o podia crer N o N o pode ser N o pode ser Sentou se na beira da cama a chorar e a mesa de cabeceira chamou lhe a aten o O en o O seu len o estava l pousado imaculadamente dobrado Sarah pegou nele e levou o ao rosto Ele guardara o Tentou sentir alguma r stia de perfume do padre que tanto amava e a deixara N o era justo O Rafael n o Sarah saiu do hospital a correr Deus vingara se da sua descren a Era o vil como os homens que geriam a Sua Igreja Percorreu as ruas da cidade que at h alguns dias palmilhara com Rafael ao seu lado Afastara o espectro da doen a que a assombrara e seria essa a sua recorda o dele Os seis meses em que viveram juntos Brincaram passearam como marido e mulher como casal apaixonado que n o podiam ser Compreendia agora dist ncia porque que nunca se tinham perdido num beijo ou numa noite de prazer Nicole nunc
436. rta com um len o Mas n o tenho estado em fun es Niklas rangeu os dentes no que parecia um tique nervoso Vestira as cal as e estava a abotoar a camisa Lamento N o deve ser f cil O pior j passou Obviamente que a jornalista referia se doen a e n o ao resto Ainda bem Tu s padre n o s Niklas fez que sim com a cabe a J vestido encostou se parede e desceu por ela at se sentar no ch o frio de cimento Queria tomar um banho quente e deitar se na cama do dormit rio do Collegium Germanicum e dormir at sarar as feridas do corpo e da alma at esquecer tudo o que viu na bas lica apagar da mente os contornos do rosto e os olhos frios do carrasco de Luka e do outro padre Pensou na m e e se ela teria sido informada do que lhe tinha acontecido Esperava que n o Implorou mentalmente a Deus que a poupasse a tal sofrimento E gostas perguntou Sarah interrompendo a cad ncia de pensamentos que acometera o rapaz De qu De ser padre Niklas encolheu os ombros Ainda n o tinha uma resposta concreta quela pergunta Na verdade era isso que procurava N o disse nada a Sarah mas relembrou o olhar triste da m e quando lhe comunicou a sua decis o de enveredar pela vida eclesi stica Queres vingar te de mim perguntou lhe chorosa Ele ouviu lhe os solu os e as lamenta es quando ela pensava estar sozinha em casa se podiam chamar casa aos diferentes pal cios qu
437. rto Enganara se Estava aberta Olhou para o espa o desconhecido fora do quarto O cora o voltou a acelerar Era um corredor estreito e escuro Conseguiu enxergar um rasto de luz uns metros frente Caminhou devagar descal o os p s j habituados ao soalho frio a tentar n o fazer qualquer ru do Escutou o som de lou a e gua a correr e um tiquetaque tiquetaque tiquetaque Talvez pratos ou ch venas Chegou a uma sala Estava vazia pelo menos na parte que conseguia entrever Em frente havia uma porta encostada de onde partiam os sons da gua a correr e da lou a Devia ser a cozinha Sentiu passos ligeiros do outro lado da porta e viu uma sombra movimentar se Entrou na sala e viu um rel gio de p antigo com um p ndulo prateado que marcava as quatro e meia Tiquetaque tiquetaque tiquetaque Faltava saber se era de tarde ou de noite Deu por si a caminhar em direc o porta encostada Algu m devia estar a fazer alguma coisa do outro lado Boa noite ouviu uma voz masculina e rouca dizer atr s de si A sauda o f lo dar um pulo para tr s Era um homem de idade que estava sentado numa poltrona e o fitava atentamente Ao seu lado apoiada ao bra o da poltrona repousava uma bengala A porta que estava encostada abriu se de repente para deixar sair uma jovem mulher que carregava uma bandeja com uma ch vena de ch fumegante Passou por Matteo que estava completamente desorientado e sem reac o e pousou a
438. s como era o caso n o lhe conseguia evitar uma sensa o claustrof bica A ideia da porta trancada e de a chave que a abria n o estar nas suas m os lan ava a num desconforto vertiginoso ao qual se podia adicionar a fadiga extrema causada pela excita o do momento e pela doen a de que ainda estava a recuperar Sentia se combalida magoada com frio e preocupada A imagem de Rafael n o lhe sa a da cabe a e n o saber se ele estava bem perturbava a para al m do suport vel Tinha os olhos marejados pelas l grimas que a sufocavam silenciosamente e um aperto no peito por temer o pior O rapaz levantou se da cama onde estava sentado e come ou a vestir se N o queria estar em roupa interior na presen a de uma desconhecida apesar das circunst ncias e do calor A senhora est bem perguntou preocupado Sarah sorriu timidamente para disfar ar o mal estar e os maus pensamentos Estou E tu Niklas suspirou N o sei Sarah compreendia o muito bem A indefini o do futuro o desconhecido o descontrolo absoluto sobre a pr pria vida eram sensa es que ela conhecia muito bem e de que tamb m n o gostava O que que a senhora faz perguntou o jovem padre para fazer conversa Chama me Sarah disse a jornalista a quem o termo lhe fazia lembrar uma pessoa mais velha Niklas pigarreou nervoso O que que a Sarah faz Sou jornalista respondeu e depois apontou para a cabe a cobe
439. s o de cardeais que as avalizava Claro que a maioria dos prelados que compunham essa comiss o n o tinha forma o econ mica e era poss vel ludibri los ou manipul los John chamou a aten o para um conjunto de movimentos mensais d bitos de baixo valor na ordem dos poucos milhares de euros que sa am sempre ao dia 30 de cada m s excepto em Fevereiro que sa am ao dia 28 mesmo nos anos bissextos Eram transfer ncias para outro fundo que tinha o nome de Fondo Giulietta per i bambini non protetti Fundo Julieta para as crian as desprotegidas Retirou mais um documento do dossi que na parte superior abaixo do n mero de conta indicava o nome da conta que o extracto de movimentos indicara John estava muito bem documentado Os d bitos da conta Donato batiam religiosamente certo com os cr ditos do tal Fondo Giulietta na data e no valor do primeiro euro ao ltimo c ntimo A esse valor de entrada era feito um levantamento no pr prio dia de credita o de metade do valor supostamente em dinheiro Sarah assobiou quando viu o ltimo movimento tr s milh es de euros que tinham sido levantados h dez dias Para onde foi esse dinheiro quis saber Sarah O novelo enredava se cada vez mais N N o sei respondeu John Mais importante que Para onde ia o dinheiro era de onde vinha alertou John Os dep sitos eram feitos aleatoriamente em lotes de dez a trezentos mil euros sempre em dinheiro Ent
440. s v rios quadros O inspector italiano n o tinha cultura suficiente nem interesse em classific los Apenas os admirava sem saber que se tratava de um Sohn um Figer dois Nauen e dois Quaglio N o saberia dizer t o pouco se eram originais ou n o Tinha outros interesses e preocupa es Conhecia muito bem o exerc cio que estavam a fazer Os quatro homens mediam se o melhor que podiam Enquanto esperavam sob vigil ncia algu m numa outra divis o do edif cio estava a recolher o m ximo de informa es poss vel sobre eles Rafael decerto teria um cadastro impec vel o Vaticano encarregara se disso e o de Cavalcanti falava por si Havia no entanto uma poss vel desvantagem Tanto o seu superior como os de Rafael j sabiam onde eles estavam Um dos gorilas levou a m o boca e disse algumas palavras O embaixador vem a caminho sussurrou Rafael O badameco j lhe deu indica o Um minuto depois entrou no sal o um homem alto e loiro olhos azuis porte imponente a condizer com a posi o que tinha e o fato que usava rosto fechado de quem se levantou contra a vontade o que era perfeitamente compreens vel e nenhum dos dois homens respons veis pelo encurtamento do seu sono censuraria Vinha acompanhado por uma mulher mais nova tamb m loira que vestia um conjunto de saia casaco em tons de azul e collants de seda Cavalcanti captou a beleza dela e olhou lhe para os dedos procura de um anel de compromisso
441. s ideias Afinal tinha acordado h poucas horas de um sono profundo de v rios dias em que passara por diferentes estados de sa de Optou por dizer apenas uma parte da verdade para variar O secret rio pontif cio O Giorgio Os tr s homens entreolharam se surpresos O secret rio do Papa era demasiado obl quo e imiscu a se em assuntos que n o lhe diziam respeito Desde que Bento assumira fun es que ele cuidava de todos os dossi s que diziam respeito ao Santo Padre por vezes invadindo territ rios que legalmente pertenciam esfera do Secretariado ou da C ria e descurando todas as formalidades entre departamentos Tarcisio n o gostava dele e esta revela o s lhe dava mais motivos Algu m tem de travar esse homem disse Federico que tamb m desconfiava dos m todos escusos e d bios do belo secret rio pontif cio Porque que o Comte cometeu este acto hediondo quis saber o Cardeal Secret rio de Estado Rafael sorriu Essa era f cil de responder Ter de lhe perguntar a ele N o sejas impertinente Rafael atalhou Guillermo num tom conciliador Colabora por favor melhor para ti O padre franziu o sobrolho O problema de Guillermo era a sua postura subserviente Claro que isso fazia dele o homem certo para chefiar a Santa Alian a e simultaneamente o mais perigoso Para Guillermo Tomasini a raz o estava sempre com a Igreja Cat lica Apost lica Romana com todas as su
442. s no meu hotel Sa ram no oitavo andar e percorreram o corredor s brio de paredes creme e alcatifa aveludada carmesim a suportar lhes fofamente os passos As portas e os rodap s eram de madeira de cor preta Vincenzo usou o cart o para lhe abrir a porta do quarto e antes de a deixar entrar enfiou o na ranhura que ligava a corrente el ctrica Parecia que estava num quarto em sua casa tal o vontade com que se movimentava Era director do hotel h dezassete anos mas tinha uma experi ncia de mais de trinta naquele ramo Desviou umas cortinas que tapavam uma porta e abriu a Dava para uma varanda com uma mesa e duas pesadas cadeiras de ferro Dali assistia se em lugar privilegiado noite romana ao ru do da cidade viva que mais n o era que um eco da respira o Estava frio mas nada de insuport vel Ali s para Sarah depois do que tinha passado com Rafael tudo era suport vel A jornalista saiu para o ar da noite e abra ou Vincenzo Obrigada querido As l grimas escorriam lhe pelo rosto livremente Ent o menina Vincenzo correspondeu ao abra o paternal e afagou lhe o cabelo Queres que lhe v bater perguntou o italiano Sarah sabia que ele estava a falar a s rio mas ignorava no que se estaria a meter Ela esbo ou um sorriso d bil Eu vou ficar bem Vincenzo Ficaram a olhar para os telhados que se espalhavam at onde o negrume da noite deixava entrever e para os pontos de luz que sa am das
443. s pernas cobertas pelos cobertores o cabelo desgrenhado a testa preenchida com got culas de suor uma express o desorientada procura da no o do que se estava a passar Aquela posi o trazia a JC mem rias que estavam afundadas no seu ba mental Tinham passado mais de tr s d cadas trinta e quatro anos para ser preciso desde que vira um outro homem tamb m da Igreja encostado a uma cabeceira da cama com a cabe a a pender para o lado direito como Cristo A diferen a era que esse que coabitava nas suas mem rias era um Papa e estava morto Os pap is que lhe colocara na m o e os culos no rosto haviam de atazan lo para sempre um grave erro de c lculo que fazia com que aquela noite long nqua nunca o largasse N o existiam crimes perfeitos nem mortes pl cidas Em nenhum cen rio o pont fice largaria o corpo sem deixar cair os pap is que tinha na m o e os culos foram o pior Essas mem rias faziam no sentir se como um principiante que deixava pistas em tudo o que tocava como se quisesse anunciar ao mundo o mal que lhe fizera Ele n o usava culos para ler A l gica n o beneficiava quem trabalhava neste of cio Parecia um grito de culpa como se aquele crime n o pudesse passar inc lume Mas passou Foi o crime perfeito Um homem era muito mais do que as suas falhas O manco pegou no copo de gua que estava na mesa de cabeceira e chegou o aos l bios do padre Gumpel Beba ordenou JC Gumpel ainda
444. s perp tuos h um m s Oriunda de uma fam lia su a O pai trabalha na banca de investimento O nome de baptismo dela Mia Gustaffsen E o que descobriste sobre esse Lucarelli Girolamo fechou o bloco de notas e voltou a guard lo no bolso de dentro do casaco preto Nada Tanto quanto sei n o existe ningu m com esse nome Giorgio franziu o sobrolho N o h nenhum padre com esse nome Nem nenhum padre nem nenhum leigo N o existe ningu m com esse nome Giorgio respirou fundo e levou as m os cabe a Mirou o rel gio Eram quatro e meia da manh As ltimas noites estavam a ser muito dif ceis O que dormia n o era suficiente para recuperar dos dias com tantos afazeres Nesta noite ainda n o fora ao quarto nem para um breve momento de descanso Para que que ele levou a freira O homem da Gendarmaria encolheu os ombros N o sabia Este epis dio tinha contornos muito estranhos Para al m disso o envolvimento do nome do secret rio pessoal do Papa em toda esta hist ria n o era agrad vel nem desej vel Isto n o pode sair desta sala Comte Bem sei A n o ser que j tenha sa do Giorgio levantou a cabe a espantado Que quereria o pol cia dizer com aquilo As paredes t m ouvidos e estas at enviam emails explicou Girolamo O secret rio do Papa olhou em redor para as paredes os arm rios os frescos as tape arias os objectos decorativos uma arca enorme com
445. s tinham instintos protectores demasiado vincados Ela queria ser livre sem que ningu m soubesse onde ela estava Segundo o padre Federico o porta voz do Vaticano o intendente foi assassinado em plena Pra a de S o Pedro juntamente com um padre n o identificado naquilo que foi o culminar de uma s rie de crimes que ragicamente ensombraram a fam lia vaticana O intendente estava envolvido numa conspira o para matar o Papa Bento XVI e foi impedido por esse her i desconhecido que faleceu durante a opera o Anna sentiu um arrepio perpassar lhe o corpo e pensou no seu Rafa e se seria ele esse padre n o identificado Tossiu e deixou escapar uma l grima que limpou com um len o antes de fechar o jornal e pous lo na mesa Rafa Girolamo e Duv lio pertenciam a uma outra vida que j n o era a dela Devia um agradecimento a Rafael Tornara lhe as coisas muito mais ceis do que planeara Ele era uma p rola que entrara na sua vida h dez anos e lhe dera esperan a Aquele seu ltimo acto fora uma b n o Devia he a liberdade ainda que o seu empreendimento com Duv lio e Comte ivesse resultado no mesmo desfecho independentemente do que acabou por acontecer Pensou na m e e no pai com carinho Teria tempo para palmilhar as ruas e visitar os espa os que eles frequentaram enamorados em sil ncio calando os sentimentos e os desejos a maior parte das vezes h muitas vidas no in cio do s culo XX Dar se ia a essa lembran a e d
446. sados mas que o gui o fosse seguido Teve de improvisar ao longo do caminho estava preparado para faz lo ainda que odiasse o imprevisto mas as coisas tiveram um desfecho positivo Todos os planos humanos s o sujeitos a uma revis o implac vel por parte da Natureza ou do Destino conforme preferirem chamar aos poderes que governam o Universo Censurados os tr s relatores o trabalho seguinte era especial Um trabalho de artes o que requeria talento e sangue frio Um servi o po tico para aquecer a noite fria e de muito rabalho Relembrou as palavras do cliente que lhe invadiram a mente enquanto delineava meticulosamente o plano ao Franc s Cuidado com a reac o deles Tendem a disparar em todas as direc es quando s o atacados de uma forma t o incisiva e persistente Era um alerta pertinente n o fosse esse o seu estado natural Estava na morada certa Deixou se ficar dentro do carro em sil ncio e abriu o livro Percorreu algumas linhas com o dedo como se buscasse um trecho espec fico que gostaria de reler Quando os homens j n o cr em em Deus isso n o se deve ao facto de j n o acreditarem em mais nada mas sim ao facto de acreditarem em tudo O pior de tudo era a espera a n o ser quando lia e deixava os maus sentimentos serem consumidos pelo embalar das palavras 46 Matteo Borfiglioli sentia uma dor no est mago e um ardor que lhe causava n useas Acalme se proferiu o velho sentado na poltrona
447. sculpa N o devia ter te deixado de fora Foi um erro de c lculo Isso defeito de fabrico Tudo o que vem dos lados de S o Pedro vem avariado Sorriu com condescend ncia Parece que escapaste por pouco O padre sentia se t o fraco que ainda n o fazia ideia se tinha escapado ou n o mas n o disse nada Porque que fomos embaixada Para veres a tua ex N o Para equilibrar a balan a respondeu Rafael Os alem es refrearam o Cardeal Secret rio de Estado e tiraram espa o ao Comte Cavalcanti levantou se e encaminhou se para a porta V se te p es bom Tenho de ir Os contribuintes n o me pagam para andar a fazer visitas a hospitais de ricos Os contribuintes n o fazem ideia como e onde que voc s gastam o dinheiro deles retorquiu Rafael com parca energia para provocar Pois n o Mas n s fazemos Abriu a porta Ah J me esquecia Aquele relator o brasileiro O Duv lio Que tem Ele conhecia a tal Anna Capt mos v rios telefonemas dele para um endere o oculto Endere o oculto Tu sabes o que eu quero dizer Um endere o registado num nome fict cio Neste caso uma empresa Pertence ao Vaticano Nem sei para que te estou a dizer isto Deves ter sido tu a cri lo Seja como for achei que devias saber Deu um passo teatral e ficou sob a ombreira Ah H ainda outra coisa Esse Duv lio falava tamb m com o intendente O Comt
448. se de Santa Teresa de Bernini que vira algumas vezes na Igreja de Santa Maria della Vittoria em Roma Aqueles breves instantes em que simplesmente desligaram os pensamentos e foram arrebatados pelas sensa es foram nicos e irrepet veis Depois disso n o trocaram uma nica palavra durante dias Ambos acossados pela culpa orando em dobro para colmatar a terr vel falha Os passeios terminaram As reuni es nocturnas no gabinete tamb m Pareciam dois estranhos obrigados a conviver nos mesmos espa os Embrenharam se nos seus trabalhos incessantemente at as pratas ficarem gastas de tanto serem limpas e os pap is co ados de tanto serem lidos Quando as desculpas acabaram foi Pasqualina quem quebrou o sil ncio e entrou no gabinete dele Pediu para que a levasse para Roma Ele respondeu com um rotundo nem pensar Ela haveria de repetir o pedido mais vezes por carta e telefone at que deixou de pedir Os primeiros sintomas apareceram e ela retirou se para Rorschach onde passou os restantes meses da gravidez O desaparecimento dela preocupou o tanto que fez o seu amigo monsenhor Spellman andar procura dela pela Alemanha e pela Su a sem sucesso At que no dia do nascimento ele apareceu em Rorschach Pasqualina sempre foi uma mulher bem preparada e conhecia Pacelli bem de mais Conseguiu ocultar dele a gravidez e o parto O na altura Cardeal Secret rio de Estado nunca soube que fora pai de uma menina chamada Anna Pasqualina m
449. se repetir de cor Errar era morrer literalmente e libertar um homem do erro era dar e n o tirar pois o erro fazia mal e prejudicaria o homem que o abrigasse mais cedo ou mais tarde Entrou na bas lica como combinado Desta vez trazia uma mochila comprida s costas em vez da m quina fotogr fica com as al as enfiadas nos ombros como se fosse um estudante a caminho da escola Os ltimos turistas admiravam a fachada barroca fruto da voluntariedade da duquesa de Amalfi cujo patrono familiar era o mesmo Andrea que dava nome bas lica Caminhou at ao altar e observou a imensa nave central um espa o t o amplo onde caberiam milhares de pessoas O cliente fora claro Do lado direito de quem olha para a nave central a partir do altar Para que n o restassem d vidas relembrou as palavras exactas que lhe havia dito com a habitual voz pausada no ltimo telefonema Na sua profiss o n o havia lugar a mal entendidos eram fatais Os ltimos turistas encaminhavam se lentamente para a sa da N o havia rasto de nenhum teatino os membros da ordem que se encarregava de zelar pelo local Olhou em redor e aproveitou o momento Abriu a pequena porta e entrou Por fora o confession rio parecia muito mais pequeno Dentro havia espa o para se sentar e ficar vontade Fechou a porta com cuidado para n o evantar suspeitas e abriu a mochila em sil ncio Montou o mecanismo em poucos segundos e testou o Fora feito por si manualmente
450. segredo Minhas senhoras e meus senhores dizia num tom sedutor Sejam bem vindos ao Pal cio dos Capuleti a Casa de Julieta O grupo apressava se agora para um pequeno p tio rodeado por fachadas de m rmore vermelho onde se via uma varanda em pedra Na fachada da casa e em todos os locais onde fosse poss vel centenas de cartas dos mais variados g neros Envelopes rosados desenhos pap is simples bilhetes dos mais variados tamanhos e feitios prendiam se s pedras numa corrente de desejos de amor Amuletos chaves aloquetes toda a esp cie de bugigangas at pastilhas el sticas se colavam s paredes em orma de cora o Matteo desaparecia ent o por momentos enquanto os turistas se acotovelavam no estreito p tio admirando imaginando o que se passara ali entre Romeu e Julieta s culos antes Alguns minutos depois davam pela alta dele Onde est o Matteo Onde se meteu o guia O belo italiano N o seria a primeira vez que ele aproveitava o primeiro impacto e a atmosfera m gica e rom ntica da casa para se esconder num qualquer local obscuro aos beijos s fregos com a presa do dia mas o efeito que procurava era outro Quando a simples curiosidade se come ava a transformar em protesto ele reaparecia na varanda de pedra sob uma ova o generalizada Romeu Romeu Porque s tu Romeu Renega o teu pai muda de nome Se n o queres faz lo jura amar me E deixo eu de ser Capuleto
451. seis degraus at porta verde Niklas tentou abri la Estava trancada Est fechada N o para n s murmurou Luka enquanto olhava em redor para o movimento da rua Em seguida cerrou o punho e bateu duas vezes com vigor Uma Duas Luka voltou a desviar a sua aten o para a rua ignorando a porta da bas lica E agora professor perguntou Niklas a medo Agora esperamos respondeu o padre alem o sem fitar o jovem Duas mulheres na casa dos 30 anos passaram e lan aram um sorriso a Luka que lhes retribuiu O fruto proibido sibilou entre dentes em alem o Buon pomerigio senhor padre Niklas evitou olhar para as mulheres Um ressentimento antigo Provavelmente alguma delas n o estas ter sido a respons vel pelo seu apego batina e pela oferta do seu cora o a Deus Nosso Senhor ou ent o n o queria simplesmente cair em tenta o Ainda era muito novo para quebrar o voto de castidade que todos vinculava a esta prova o celibat ria Ter o ouvido professor Niklas referia se porta da bas lica e s pancadas que Luka havia dado na madeira Nesse preciso momento ouviu se a tranca rabujar com a ferrugem Um homem de idade descabelado e mal encarado surgiu do interior J terminou a hora da visita Que desejam perguntou com maus modos A identifica o visual que os rotulava como padres n o influenciou o porteiro Era o que mais via todos os dias ali e
452. so interior do casaco Estavam Os passaportes tamb m Consultou novamente o temporizador Faltavam dez minutos para o fim do prazo e para deixar Roma S faltava mais uma morte O pior de tudo era a espera 61 H horas para tudo Para acordar trabalhar orar divertir descansar Tudo cronometrado at ao mais nfimo mil simo desde a entrada no local de emprego at ao in cio da sess o de cinema da exposi o das refei es ao hor rio dos transportes que n o esperam por quem n o est e partem sempre no hor rio certo nem que estejam vazios O tempo comanda quem dele depende O tempo d o Deus dir o uns por m na realidade Ele n o pode dar aquilo que n o criou O tempo d o o Homem O Mercedes avan ava a grande velocidade pela Via Nazionale Sinais de luzes indicavam aos outros condutores que se afastassem e o motorista accionava uma sirene sempre que algu m mais distra do n o cedia a passagem Ao seu lado ia Cavalcanti que o autorizara a usar o sinal de emerg ncia e atr s Guillermo e Girolamo cercavam Rafael que ia no meio imp vido e sereno Ningu m falou durante grande parte do trajecto atentos ao tiquetaque do rel gio que se aproximava das oito da manh a hora das decis es da resolu o dos impasses Os constrangimentos da incerteza dos acontecimentos e das companhias dominavam o interior do ve culo pesando o ambiente e manipulando os sil ncios a bel prazer Apenas um dos passageiros era
453. sque a doutor Scott relembrou o piemont s Este encontro n o aconteceu Con conseguirei vi viver com isso Emi Emin ncia Bom dia Tarcisio assistiu sa da do jornalista americano e pegou no telefone Acredito que consiga viver com isso doutor Scott Mas tenho muitas d vidas que o deixem murmurou para si mesmo quando algu m atendeu Chamem me o intendente Comte Para o Franc s o segredo era a respira o Encher os pulm es de ar e guard lo durante o tempo necess rio para n o interferir com o mecanismo Havia outros factores a ter em conta claro mas a quantidade de ar que se inalava e a escolha do momento certo para o fazer era o mais importante Outros diriam que o factor crucial era a dist ncia ou as condi es atmosf ricas ou ainda o mecanismo que se usava para o efeito o foco do anel da objectiva ou o ajuste de paralaxe Estavam errados completamente errados e por isso tinham morrido quase todos e os que ainda n o haviam entregado a alma ao Criador f lo iam antes dele No ramo de trabalho do Franc s n o havia margem para erro Era matar ou morrer literalmente Para ele aqueles que n o sabiam viver deviam ter o m rito de morrer e o homic dio era a forma mais extrema de censura O Franc s considerava se isso mesmo um censor O pior de tudo era a espera Eram muitas horas espera J devia estar habituado Afinal passava mais tempo espera do que a contemplar o r
454. ssageiro da frente Saiam Os agentes olharam no incr dulos Cavalcanti tirou um molho de chaves do bolso e deu o ao agente que estava no volante Levem o meu carro Eu levo este Mas Inspector tartamudeou o agente Anda N o penses Faz o que te digo disse Cavalcanti que come ava a ficar irritado Os agentes sa ram do carro e ficaram especados a v lo arrancar a grande velocidade e desaparecer de vista quando dobrou a esquina Um deles segurava um molho de chaves na m o Instantes depois um afogueado Guillermo Tomasini desceu rua A maioria dos agentes j se tinha ido embora excepto os que controlavam o per metro e de Cavalcanti nem sinal Acercou se de alguns agentes que ainda permaneciam ali Onde est o inspector Cavalcanti perguntou ainda a recuperar o f lego libertando fiapos de vapor para o frio da noite Acabou de sair respondeu um dos agentes E o detido Os agentes continuavam a olhar para o local onde tinham deixado de ver o carro que o inspector levara Foi com ele Guillermo esmurrou o ar revoltado enquanto os agentes recuperavam a compostura e procuravam o carro do inspector O homem do Vaticano consultou o rel gio Eram cinco e meia da manh Raios 43 A casa era muito grande Um pal cio mas sem a arquitectura habitual Era composta por patamares que se colavam ao declive da colina Jacopo contou cinco at chegar a um conjunto de p
455. sse al alto fun cio cion rio per permanecer inc inc gnito declarou John com uma express o s ria Assunto encerrado Continua John voltou a recorreu ao seu dossi castanho e entregou um documento a Sarah Ela olhou para ele mas ficou na mesma Era suposto isto dizer me alguma coisa que n o me diz nada O americano sorriu e levantou se para mudar a pesada cadeira para junto dela Pegou no papel e posicionou o de modo a que ambos o pudessem ler Segundo John aquilo era um extracto de movimentos de uma conta sediada no IOR Nada de mais Mostrou lhe o n mero de conta no canto superior esquerdo 001 3 14774 C e o nome As contas no Istituto per le Opere de Religione n o eram iguais s dos bancos dos outros pa ses eram constitu das por funda es ou fundos por uma causa solid ria Nes te ca caso a Fond Fondazione Donato per la lotta dei bambini con leucemia completou Sarah atenta Funda o Donato para a luta das crian as com leucemia E exactamente Havia v rias colunas com movimentos uma com dep sitos outra com d bitos e data valor das transac es Sarah assobiou quando viu o total em activos mais de quarenta milh es de euros John olhou em redor para ver se mais algu m se interessava pela conversa deles A cafetaria era um ponto de passagem e um local apetec vel para lanchar ou mesmo jantar depois de uma tarde de lazer Ficava a escassos metros de u
456. ssim seria Nessa mesma noite tr s irm s entre as quais Bernarda foram dispensadas das Completas para procederem limpeza do aposento principal Os quartos do terceiro andar excep o do da prioresa e da c nega eram limpos semanalmente pois eram ocupados poucas vezes e por isso n o requeriam manuten o di ria como os outros A chegada iminente de um monsenhor com a vener vel avaliza o do Santo Padre e do secret rio mudava os ditames ordin rios Limparam o ch o n o s do quarto mas de todo o corredor do terceiro piso e estenderam len is t rmicos na cama grande Providenciaram toalhas para todas as fun es roup es lo es e todo o g nero de fluidos para o bem estar do corpo Sabiam muito bem que os pregadores do esp rito prezavam os aconchegos terrenos Os aposentos apesar de s brios tinham quarto de banho privativo e escrit rio J acolheram cardeais arcebispos n ncios e at um Papa em tempos idos A meio da madrugada o quarto estava pronto para receber o enviado de Sua Santidade O reverendo monsenhor Stephano Lucarelli chegou dois dias depois do telefonema na quinta feira ao in cio da tarde Estacionou o carro na garagem interior pr pria para h spedes especiais Era mais jovem do que a prioresa e a irm Bernarda imaginavam provavelmente na casa dos 40 anos mas a faixa e os filamentos violetas agarrados batina preta n o deixavam margem para d vidas sobre a posi o que o
457. stado dando voz ao que ningu m mais queria pronunciar Mas Pacelli deixou nos em 1958 Como poderia ele influenciar o que se passou tanto tempo depois da sua morte questionou Federico Sabem qual ia ser a recomenda o da Positio do padre Gumpel contrap s Rafael Nenhum sabia A Positio seria transmitida directamente ao Papa e n o ao Secretariado Seriam informados a posteriori depois de o Santo Padre tomar a decis o Informa o a pedra preciosa do novo mundo Fulcral para saber o estado dos aliados e dos inimigos dos neutrais e dos amb guos quem a tem controla o desenrolar dos acontecimentos A recomenda o era negativa anunciou Rafael Todos imaginavam que o desfecho seria esse mas por outro lado mantinham a esperan a que a Congrega o para a Causa dos Santos no fim sustivesse o superior interesse da Igreja e varresse para debaixo do tapete aspectos menos abonat rios do candidato Eugenio Pacelli Mesmo assim O Comte mandou matar tr s pessoas a sangue frio disse Federico Porque n o tentou matar o Gumpel tamb m Tentou S que n o sabia onde ele estava A l gica era inimiga do of cio e a maior parte das vezes para se esconder algo o melhor coloc lo debaixo das barbas dos acossadores Gumpel tinha apenas um endere o no seu registo pessoal o Vaticano Mas costumava pernoitar numa villa afecta aos membros da congrega o propriedade do Estado cat lico nos a
458. subtil est a tomar conta da minha mente Madre Pasqualina Santa S Junho de 1983 A vida feita de decis es Esquerda direita avan ar recuar aceitar recusar fazer n o fazer Escolhas permanentes a todos os instantes algumas banais insignificantes outras importantes que requerem maior reflex o e aquelas que ningu m controla e v o surgindo pelo caminho como viver ou morrer matar ou ser morto Os tiros que lhe ecoavam nos ouvidos quase o ensurdeciam Primeiro segundo terceiro Ligeira pausa alguns segundos confus o vis o turva Quarto quinto Foi empurrado para tr s com uma for a sobre humana sexto Seguiu se um sil ncio cavado sepulcral quase t trico como se o tempo tivesse parado N o sabe dizer quando que as pessoas come aram a gritar t o pouco quando come ou a dor pungente que lhe percorreu as entranhas do abd men ao cora o Sentiu alguns pares de m os a ampar lo o carro a acelerar pela pra a milhares de pessoas a acotovelarem se e depois nada H dois anos quando isto aconteceu acordara seis horas mais tarde no hospital Gemelli combalido cheio de dores com progn stico reservado Naquele dia acordara a suar na cama do seu quarto nos apartamentos papais Era um sonho recorrente Quase conseguia sentir a dor e o sabor cido na boca uma mistura de sangue e metal De vez em quando sentia uma pontada nas cicatrizes que marcavam os pontos de entrada das balas U
459. supermercado do Vaticano livre de impostos e no posto de abastecimento de combust vel onde ia de quinze em quinze dias abastecer o carro a trinta e tr s c ntimos de euro o litro A pressa Jacopo era um ego sta sabia o preservava o seu bem estar por isso era com esfor o que estava ali e foi a custo que entrou no vaporetto da linha 1 O cheiro a gas leo misturado com a maresia inundou lhe as narinas e f lo tossir Tapou a boca e o nariz com as golas do casaco A gua acastanhada evidenciava ondas criadas pela passagem do barco que se propagavam at embaterem na ondula o criada pelas outras embarca es que enchiam o canal N o ia muita gente no vaporetto Entrou na zona coberta e sentou se Levaria uns bons quarenta minutos at estac o de Salute na Fondamenta della Salute A chuva engrossou na parte final da viagem Um vento frio come ou a soprar de leste transportando um uivo nas suas entranhas Saiu na estac o de Salute no Sestiere de Dorsoduro quarenta minutos depois j os vendedores indianos de chap us de chuva se amontoavam uns em cima dos outros na esperan a de servirem de arautos protec o diluviana Eram melhores que qualquer bal o meteorol gico pois sabiam sempre se era hora de vender chap us de chuva e capas imperme veis ou len os e leques Recusou todas as ofertas e avan ou para o largo Em frente a imponente Bas lica octogonal de Santa Maria della Salute uma p rola em estilo barroco pareceu
460. t dios L em documentos livros consultam outros historiadores ou qualquer outra fonte fidedigna da poca estudada entrevistam familiares amigos e qualquer outra pessoa que por qualquer raz o tenha privado com o candidato N o Duv lio berrou para o brasileiro P ra com isso Rafael disse Sarah numa voz firme e aproximou se do padre que estava sentado N o v s que ele est a sofrer Rafael levantou se e recuou uns metros Quer gua perguntou a jornalista com uma voz terna em portugu s Duv lio estava intimidado e n o respondeu Ela olhou para Rafael Vai buscar um copo de gua Isto n o propriamente um bar reagiu o padre De certeza que deve haver gua insistiu Sarah num tom r spido Desenrasca te Procurou len os dentro da sua mala e encontrou os depois de ter tirado um molho de chaves o telem vel e um cilindro de batom Tirou alguns do inv lucro de pl stico e limpou o suor do rosto de Duv lio O homem continuava sem reagir mas sabiam lhe bem os gestos confortantes da mulher Obrigado agradeceu por fim um pouco mais calmo Rafael regressou ao gabinete pouco depois com um copo de gua e entregou o a Sarah Beba um pouco O brasileiro levou o copo boca com as duas m os que mesmo assim tremiam como se estivessem acometidas por uma doen a ou pelo inclemente frio da rua Bebeu o l quido todo do copo de uma s vez e arfou no fim
461. t rios de 1946 e de 1953 criaram tantos desequil brios na composi o do Col gio que o pr ximo conclave podia pela primeira vez n o eleger um pont fice italiano como era tradi o Tisserant n o se op s muito a isso pois era franc s e n o fossem os inimigos que a sua personalidade frontal cultivara ao longo dos anos poderia muito bem ser o pr ximo Pontifex Maximus devido a essa altera o O cortejo f nebre saiu de Castelo Gandolfo no dia 10 em direc o Bas lica de S o Pedro onde o ata de repousaria Milhares de pessoas aguardavam ao longo da Via pia e por toda a cidade para verem passar aquele que os guiou em per odos t o conturbados Pasqualina pela primeira vez em quarenta anos vira se privada de motorista O Cadillac preto j n o estava ao seu dispor Lamento madre excusou se Angelo Rotta o motorista cabisbaixo As minhas ordens s o para levar os cardeais Tisserant e Roncalli N o te preocupes meu filho tranquilizou o Pasqualina levando uma m o terna ao ombro dele Estava habituada a que Rotta a levasse para todo o lado Era motorista dela e de Pio havia mais de vinte anos Na viagem para Castelo Gandolfo em Julho Pio e ela pediram a Rotta que acelerasse o mais poss vel O motorista sabia que o Papa era amante da velocidade e gostava que ele fizesse aquele percurso em menos de dezoito minutos Quando n o conseguia o Papa e a madre exibiam uma express o de decep o no rost
462. t vel agente N o se sabia precisar muito bem quando chegaram os rep rteres vidos por saber quem tinha sido assassinado barbaramente na tranquilidade do lar na Via Tuscolana Em poucos minutos os gravadores as c maras os microfones os telem veis e no caso dos revivalistas da velha guarda jornal stica os blocos de notas come aram a registar as palavras padre e Vaticano e Santa S e os murm rios depressa passaram a intrigas e a conspira es L em cima Gennaro Cavalcanti fitava o preocupado Guillermo Tomasini com olhos de raiva N o vais ver nenhum dos teus corpos antes de isto estar muito bem resolvido Podes ligar ao Comte e dizer lhe isso N o foi isso que o Amadeo lhe disse O que ele combinou com o vosso amigo Amadeo foi h um cad ver atr s Tr s diferente de dois J identificaram o que ficou com a cabe a desfeita atirou Guillermo na tentativa de mudar de assunto Gennaro fez que n o com a cabe a E voc s n o deram pela falta de nenhum papa h stias Guillermo n o dignou aquela pergunta com uma resposta Gennaro pegou num dos bra os do homem da Igreja e puxou o para um canto menos movimentado do apartamento de Bertram Ficaste irritado por termos chegado primeiro N o costume pois n o perguntou Gennaro com uma express o de sacana estampada no rosto Ainda por cima duas vezes seguidas O que queres dizer com isso Cavalcanti Achas que sou alg
463. ta Aguardem um momento por favor Essa porta s abre depois de esta fechar explicou o seguran a Assim que a primeira porta se fechou sentiu se o estalido da tranca a fechar se automaticamente e depois a outra escancarou se Seguiram os tr s com o seguran a frente Fizeram boa viagem O casal Sebastiani entreolhou se com esgares comprometidos Fizemos A esta hora n o h tr nsito respondeu Jacopo A governanta est a dormir mas se necessitarem dos servi os dela posso cham la Deixe a descansar N o vamos necessitar de nada asseverou Jacopo Seguiram por um corredor comprido que descia para um patamar inferior Afinal n o era uma casa t rrea estava sim constru da sobre um declive ou assim parecia Jacopo reparou numa luz vermelha que piscava a intervalos por cima de algumas portas O que aquilo quis saber o historiador o sinal de chamada na porta de entrada Como a casa muito grande serve para nos avisar se n o estiver ningu m na recep o Foi a chegada dos senhores que o accionou Quando regressar recep o desligo o Norma deu um pux o no casaco do marido e sussurrou lhe ao ouvido Que lugar este Jacopo levou um dedo aos l bios para lhe pedir sil ncio Quando estivessem sozinhos explicaria ou n o O jovem seguran a conduziu os at uma porta esta maior que as que haviam visto Abriua e apresentou lhes os aposentos deles Eram espa
464. ta E uma longa hist ria Porque que eles querem matar o John Porque sabe de mais E agora Sa ram para a rua e percorreram os poucos metros que os distanciavam do carro John apanhou os Rafael sentou se ao volante e Sarah no outro lugar da frente John enfiou se no banco de tr s resignado Quem era aquele homem que mataram perguntou Sarah enquanto o carro arrancava Um relator acabou por dizer Rafael com os olhos postos na estrada vazia Um relator Vais obrigar me a perguntar o que raio um relator um historiador um hagi grafo que investiga detalhadamente a vida dos candidatos a santos Atrav s do relat rio deles que o processo de canoniza o avan a ou n o E que mal que um relator pode fazer Depende da perspectiva e do candidato Sarah n o percebeu o que queria Rafael dizer com aquilo e embora lhe parecesse que ele tinha outros assuntos em mente teria de insistir O padre pegou no telem vel e fez uma chamada O interlocutor atendeu ao fim de alguns instantes Boa noite Jacopo Fez uma pausa para ouvir o resmungo sonolento do historiador Chegou a hora Nova pausa para dar tempo reac o do interlocutor Sim Agora Sarah ficou alarmada ao ouvir as palavras que Rafael disse a Jacopo Sebastiani Ela tivera ocasi o de o conhecer meses antes O que que esse relator fez de mal Rafael insistiu Sarah preocupada
465. ta sem hip tese de discuss o um puxar de gal es de quem podia para quem cumpria A senhora tentava que a sua respira o n o se descontrolasse encadeando movimentos r pidos com outros mais lentos A esposa do chefe era bastante vigorosa gua em ponto de ebuli o O chefe quer o chefe tem respondeu Gennaro secamente Amanh de manh trato disso E desligou sem dizer mais nada A senhora aproveitou esse momento para deixar sair O prazer que tinha contido durante aqueles ltimos minutos com um vagido mais intenso que se deve ter ouvido nos quartos ao lado Gennaro mostrou se mais presente queria mais do que nunca deixar a sua marca Pegou em Marcella com ambas as m os levantou se sustentando o peso dela e encostou a parede enquanto a esposa do Amadeo sorria Tenho de pedir ao meu marido que te ligue mais vezes disse ela num tom provocat rio O teu marido um banana ripostou Gennaro Devia ser padre e n o pol cia O telem vel voltou a dar sinal de vida vibrando e tocando em cima da cama enquanto a luz do mostrador acendia e apagava Marcella sorriu Atende Pode ser ele outra vez atirou ela com uma express o rebelde como se tivesse feito ou dito alguma asneira e esperasse castigo Gennaro pousou a e pegou no aparelho Fez um trejeito de estupefac o quando olhou para a identifica o do chamador Cavalcanti O que que se passa Gennaro escutou com aten
466. tadia muito apraz vel pudera repousar como desejara o Santo Padre e a assist ncia prestada pela irm Bernarda fora de uma qualidade inexcedi vel ao ponto de ter decidido requisit la com efeitos imediatos para o assessorar em Roma Um email com endere o do gabinete papal j estava na caixa de correio electr nico do retiro com a ordem de requisi o da freira e a assinatura de um dos assistentes por baixo da imagem de linhas pretas do bras o pontif cio Deixou a cidade ainda adormecida j com o sol a despontar timidamente deixando um rasto de penumbra atr s de si Rumou a Sul pela auto estrada A22 acompanhando o lago Garda e uma hora depois passou ao largo de Verona Parou numa esta o de servi o Na casa de banho despiu a batina de reverendo monsenhor e vestiu um fato preto com camisa azul escuro e p s uns culos de sol Desfez o telem vel e o cart o SIM em pe as e envolveu os separadamente em papel higi nico Atirou os para dentro da sanita e puxou o autoclismo Enfiou a batina dentro do saco da roupa e retomou a viagem desta vez para leste pela A4 deixando o Lago Garda para tr s Conduziu durante uma hora e meia debaixo de uma chuva mi da e depois estacionou na Piazzale Roma em Veneza N o demorou mais de quinze minutos a encontrar lugar no maior parque de estacionamento da Europa pelo que se podia considerar um homem com sorte Atravessou a ponte pedonal della Constituzione que ligava a ilha artificial on
467. tava da lida da casa Pacelli deixou de a convidar para ir ao seu gabinete todas as noites e ela dedicou se aos seus afazeres dom sticos como lhe competia Limpar o que estava limpo polir o que estava polido cozinhar com o mesmo carinho de sempre para o n ncio Para atenuar as coisas j que Pacelli sabia muito bem quando colocava o p em ramo verde ele mandou vir a mota de Munique e convidou a para passear Recome aram os passeios nocturnos os piqueniques a meio da tarde os sorrisos a velocidade as conversas Uma noite perto do final do ano de 1929 o telefonema chegou Era de Roma Gasparri informara que o Papa ordenara a transfer ncia de Pacelli para junto de si Iria ser ordenado cardeal e substitu lo no Secretariado A viagem de regresso estava marcada para Dezembro e terminaria com mais de uma d cada por terras germ nicas Seria o fim da rela o c mplice entre Pacelli e Pasqualina Continuaram os passeios de mota noite mesmo quando o frio se instalou de vez Estavam cientes que aquele ritual ia terminar para sempre Numa dessas sa das nocturnas aconteceu Talvez ela tenha tomado a iniciativa roubando lhe um beijo e depois outro enquanto ele ainda enfrentava a estupefac o Os sentidos acabaram por vencer a raz o e deixaram se levar pelos desejos do corpo Experimentaram sensa es novas que n o julgavam poss veis e ao ver a express o dela a mente de Pacelli ofereceu lhe a imagem da est tua do Exta
468. tela do intendente da Gendarmaria Vaticana Girolamo Comte avaliava antes de qualquer outra entidade a cena do crime Comte enviava uma mal tinha conhecimento do caso S depois de efectuada esta an lise preliminar que se entregava o caso s autoridades civis Isto era pr tica corrente em todos os edif cios cat licos do mundo Desta vez a equipa de Comte chegou depois dos agentes da Polizia di Stato Guillermo tornou a perder se no meio do caos da sua secret ria at encontrar outro molho de pap is presos por um clipe Era a an lise pericial da equipa pontif cia Rafael tamb m avaliou este documento atentamente Porque que ele levou o rapaz perguntou Rafael mais para si pr prio como se estivesse a falar sozinho com uma nota de incredulidade na voz O Luka ligou me a falar de um encontro com o Domenico Mas nunca me disse que ia levar o rapaz Ali s eu n o sabia quem era o rapaz at ontem Quem fez isto sabia que o Luka era o tutor do mi do e que ia lev lo Mais sabia onde iam estar e a que horas Guillermo contornou a ca tica secret ria retirou o telefone de cima da sua cadeira e sentou se Rafael continuou a ler o que os seus colegas encontraram em Sant Andrea Quem que o Comte enviou para Sant Andrea quis saber Rafael Foi l ele pessoalmente Depois deixou o Davide encarregue das opera es Claro que o Cavalcanti fez lhe a vida negra Rafael conhecia Davide Era extremamente
469. teo e ambos cumpriram o mandado Estavam junto fonte Imensas pessoas caminhavam para todos os lados completamente alheias quele casal que podia muito bem ser de amigos ainda que aparentasse mais do que isso Deixe ficar o Matteo nesse lugar enquanto a Mia vai fazer exactamente o que lhe vou dizer disse JC pausadamente Mia escutou as ordens do velho e olhou para o veron s Vais ficar aqui comunicou aflita Promete me que n o sais daqui Matteo n o respondeu Promete me Matteo pediu quase como uma s plica A mesma resposta Mia acercou se do guia tur stico e encostou os seus l bios aos dele selando um beijo urgente e apaixonado Trocaram um olhar durante uns instantes como se se estivessem a ver pela ltima vez Prometo acabou por dizer Matteo Mia afagou lhe o rosto e o cabelo sem tirar os olhos dele e deu lhe outro beijo antes de se afastar Que bonito zombou JC quando Mia se afastou de Matteo A freira que ainda o era ignorou as palavras do velho e seguiu na direc o que lhe fora ordenada Um grupo de irm s brasileiras filhas da bem aventurada Virgem Maria acotovelava se frente dela impedindo lhe a passagem Tinham vindo a Roma para ver o Papa queriam entrar nas quatro bas licas papais e rejubilar com os momentos de ora o na Capela de S o Sebasti o em S o Pedro onde pensavam que jazia o beato Jo o Paulo II S depois de todo esse programa cumprido r
470. tes Arvoram se fazer o papel de historiadores com fontes n o identificadas N o n o sou historiador Emi Emin n Emin ncia Pois n o longe disso Mas quer fazer hist ria O dever de um jornalista para com a verdade contrap s John Era essa a obriga o dele e dos seus colegas Explicou tamb m que tinha reunido elementos mais que suficientes para publicar a hist ria mas gostaria de conhecer a vers o dos respons veis pelo Torre o Nicolau V levo muito a a a s rio o meu meu trabalho Emi n ncia Tarcisio sabia muito bem quem tinha sua frente por isso o recebera Uma simples recomenda o escrita do cardeal arcebispo de Nova Iorque n o garantia a ningu m qualquer audi ncia com o n mero dois da Igreja Cat lica Apost lica Romana Mas um telefonema a meio da noite desse mesmo prelado a avisar que um jornalista possu a c pias de documentos aut nticos do Istituto per le Opere di Religione o fam gero banco extraterritorial do Vaticano que ficava num edif cio desconhecido do comum dos mortais no Torre o Nicolau V era motivo mais que suficiente para que esse encontro acontecesse O papel que segurava nas m os confirmava o que Timothy lhe dissera John prosseguiu a sua explana o entre s labas repetidas A Fondazione Donato per la lotta dei bambini con leucemia como sua Emin ncia podia ver na c pia que segurava tinha um activo de mais de quarenta milh es de euros Os m
471. tico Sarah ajeitou o len o na cabe a como se tivesse vergonha que ele visse mais do que ela desejava Sorveu um pouco do ch quente que pedira enquanto o copo de cerveja Peroni de John permanecia intocado Quando chegaste H h tr tr s dias suspirou enquanto brincava com um cigarro por acender entre os dedos e exibia um olhar de frustra o Far fartei me de de te Ii gar N o tenho andado com o telem vel Ganhei lhe avers o Per per cebi fitou a com complac ncia Co como te te sentes Sarah tentou impedir em v o que uma l grima se desprendesse do olho e sentiu a descer pela face Como se a casa tivesse aguentado um terramoto mas sem saber se suportar as sequelas John esticou a m o e tocou na dela Tem tem cal calma mi da N o imaginava sequer o que ela tinha passado Nem sabia se teria for as para lidar com uma prova o id ntica Sugeriu lhe com uma express o paternalista que n o pensasse no futuro Que se congratulasse com a batalha ganha Fora a Waterloo ou a Trafalgar ou a Gettysburg dela e nada mais importava N o valia a pena lutar contra inimigos invis veis Sarah sorriu timidamente John tinha raz o embora parte das palavras n o fossem dele mas da doutora Pratt M D facto que omitira sua amiga e colega de of cio N o fazia mal nenhum usar as palavras dos outros quando se aplicavam situa o como era o caso
472. tinha sua frente e recomp s se O Secret rio levantou se e aproximou se da janela Estava escuro no exterior Uma penumbra enigm tica que encobria o desconhecido n o deixava entrever nada e havia apenas um candeeiro que a combatia debilmente com uma luz que se apagava a espa os E quanto ao jornalista O Rafael manietou o Arturo como era previs vel T pico murmurou Girolamo que nunca perdia uma oportunidade para criticar o colega da espionagem O piemont s virou se para Guillermo com uma express o decidida Temos de conseguir aquele dossi Apanha os e resolve o assunto de uma vez J temos problemas que cheguem Levantou um dedo Se falhares entrego o caso ao Comte Girolamo deixou Guillermo sair e envergou uma express o c mplice para com o Cardeal Secret rio de Estado Eu sei para onde o Rafael e o jornalista foram Emin ncia afian ou Girolamo por entre murm rios c mplices O Davide j est a caminho da morada Guillermo saiu para o corredor e desceu para o edif cio administrativo onde funcionava a Santa Alian a junto ao P tio de S o D maso Era uma quest o de tempo Rafael n o tinha como escapar e os problemas daquele dia ficariam resolvidos Nada era para sempre Porcaria de vida Sentiu a camisa apertar lhe a garganta e impedir a respira o Era dos nervos Tirou o cabe o branco e desapertou o bot o de cima da camisa Sentiu o telem vel vibrar no bolso Atend
473. to horas da manh Se depender do Vaticano o Niklas n o ser resgatado O embaixador acelerou a cad ncia dos passos Ficou ainda mais nervoso Como pode ser isso Ent o e onde est o amor ao pr ximo Cavalcanti deu outro passo em frente Sente se por favor senhor embaixador pediu o inspector Na verdade tantos passos de um lado para o outro estavam a irrit lo Como que tudo aconteceu Quero saber tudo exigiu sentando se e levantando se logo em seguida como se a cadeira tivesse uma mola Esperem N o vou conseguir poupar a minha esposa a isto pois n o Rafael e Cavalcanti fizeram que n o com as cabe as O embaixador fechou os olhos e respirou fundo Depois saiu do sal o por uma das portas e deixou os a s s Ficou abalado disse Cavalcanti Tu tamb m ficarias 49 Esta noite pela hora terceira da madrugada o Santo Padre foi arredado do seu sono pac fico com uma triste not cia Os seus dilectos irm os haviam se matado uns aos outros A trag dia ocorreu na Sala do Col gio dos Relatores da Congrega o para a Causa dos Santos do Pal cio das Congrega es e nada est a ser deixado ao acaso pelos investigadores que continuam a trabalhar afincadamente para a solu o deste crime hediondo Foram seis as v timas mortais e o Santo Padre dirigiu se prontamente capela privada para rezar pelas suas almas Quatro gendarmes um relator e um jornalista est o entre as v timas
474. to os corpos quando me apetecer N o s o os papa h stias que me v o dizer o que tenho de fazer Escutou a reac o do chefe e perdeu a cabe a N o me lixes Amadeo A senhora viu Gennaro perder a paci ncia e ficou pasmada Nunca o ouvira falar daquele modo O facto de somenos import ncia de ele estar a falar com o seu marido que a imaginava a dormir o sono dos justos em Mil o excitava a ainda mais N o sabia explicar porqu talvez estivesse a sentir o doce travo da vingan a e finalmente se sentisse vis vel e importante Queria voltar a movimentar se em cima de Gennaro mas o inspector parecia cada vez mais irritado Decidiu arriscar com um sorriso maroto nos l bios devagar de in cio para ver a reac o dele Gennaro segurava o telem vel s com uma m o e come ou a massajar lhe um seio com a outra apesar de continuar irritado com a conversa ao telem vel Talvez esta fosse tamb m a sua forma de se vingar dele Aos poucos retomaram o ritmo limitando o ru do ao m nimo ro agar das peles dos corpos A senhora queria gritar mostrar que estava ali mas achou melhor n o faz lo e manter o marido na ignor ncia por agora Qual a pressa continuou Gennaro a berrar para o aparelho Um deles ainda nem sequer est identificado O cabr o do Comte n o contou a hist ria como deve ser Amadeo Podemos jogar com os Nesse momento foi interrompido pelo chefe que lhe deve ter dado alguma ordem direc
475. tos que n o podiam ser resolvidos por outros Ficava sempre algu m com Sarah embora ela o considerasse um exagero A doen a era silenciosa Havia dias em que se sentia um pouco cansada especialmente depois da quimioterapia mas exceptuando essas alturas n o havia raz o para alarme A maior parte das vezes ele regressava para fazer o jantar o que a confortava S por uma vez se demorou quase uma semana N o fosse a sentinela que ficava com ela e pronunciava um Correu tudo bem a Rafael antes de ir embora e quase pareciam um casal Sarah n o permitiu que ele avisasse os pais dela que moravam em Portugal Falava com eles regularmente por email ou telefone Disse lhes que iria chefiar a delega o italiana do jornal durante alguns meses Rafael discordou N o devia mentir aos pais mas n o a quis contrariar A jornalista acordou em contar lhes se a primeira fase de quimioterapia n o resultasse Por ora preferia ficar sozinha com ele s os dois mas isso n o he disse obviamente Se isto n o amor o que ser perguntava se Sarah Era certo que o sacerd cio preceituava o fazer o bem ao pr ximo mas era melhor n o pensar nisso Mais cedo ou mais tarde ela regressaria a Londres e ele icaria em Roma se n o acontecesse o pior e a doen a levasse a melhor Qualquer que fosse o desfecho seria como se aqueles meses nunca ivessem existido Os filmes as conversas os passeios os temperos dele udo isso seria uma mem ria feliz e p
476. truturou o pensamento Rafael apreciava a organiza o das ideias O que que sabes sobre o Eugenio Pacelli N o tenho ido s aulas de Hist ria da Igreja zombou o mais novo enquanto caminhavam pelo sal o Jacopo manteve o sil ncio espera da resposta L fora a chuva ca a com menos intensidade e o uivo do vento come ou a perder for a Rafael encolheu os ombros N o percebo a pergunta N o sei como posso ser mais claro O que que sabes sobre Eugenio Pacelli repetiu Jacopo O que que queres saber A vers o oficial Para in cio de conversa Rafael respirou fundo O desprop sito daquilo tudo raiava o absurdo Nasceu em 1876 descendente de advogados intimamente ligados Igreja A Nobreza Negra completou Jacopo Eram t o nobres como n s Ou ent o eram nobres tesos Eles alinharam com a Nobreza Negra e por consequ ncia com a Igreja mas n o lhe pertenciam As coisas que tu sabes escarneceu o historiador Quem devia saber isto eras tu O av dele Marcantonio Pacelli foi um fiel seguidor de Pio IX subsecret rio do Minist rio das Finan as Papal e Secret rio do Interior at 1870 e foi o fundador do L Osservatore Romano E interessante toda a fam lia esteve ligada Quest o Romana do in cio ao fim O pai Filippo era de o do tribunal da Rota Romana e o irm o de Eugenio Francesco era advogado can nico no mesmo tribunal e foi o negoc
477. turistas Niklas estava tenso Fitava o homem que rezava Estrutura semelhante de Luka porte atl tico talvez a mesma idade Uma batina de monsenhor com faixa viol cea Gostava de ser assim quando tivesse a idade deles Uma gota de suor formou se num dos lados da testa A m o paternal de Luka funcionava duplamente como um calmante empurrado por uma ch vena de caf forte Por um lado estava ciente de que o cl rigo lhe queria bem Eram conterr neos falavam a mesma l ngua o que era bom ainda que Niklas fosse de Munique e Luka de Nuremberga Niklas nunca fora a Nuremberga e detestava que Luka conhecesse Munique melhor do que ele Por outro lado era um professor demasiado exigente e inflex vel Neste momento preferia esse lado implac vel do B varo Mas n o o estava a encontrar Foste seguido perguntou o homem que acabara de fazer o sinal da cruz e se libertava do peso orat rio para se virar para eles Provavelmente respondeu Luka sabendo que a pergunta s podia ser para si Niklas estranhou a pergunta e ainda mais a resposta O homem levantou se e fitou o jovem durante alguns instantes Olhos frios e sedutores ao mesmo tempo Deus e o Dem nio num s Inspeccionou o da ponta dos sapatos aos fios louros do cabelo Niklas sentia se desconfort vel ele perguntou o homem a Luka Niklas Gr bbe apresentou Luka dando lhe uma palmada nas costas que o fez dar um passo em frente Meu al
478. u dos fundos das funda es dos pseud nimos dos gestores da forma como o IOR funcionava Manifestou uma sabedoria e um profissionalismo acima de todas as suspeitas e referiu mais de uma vez estar na posse de documentos que o comprovavam apesar de n o considerar aquele o lugar mais apropriado para os mostrar Lembrou se de dizer tamb m que tinha mais c pias guardadas em locais seguros esperava que isso funcionasse como argumento que fizesse os padres pensar duas vezes antes de premir o gatilho E qual o problema dessa Fondazione Donato e do Fondo Giulietta Onde est a ilegalidade questionou Rafael sem olhar para tr s e com uma voz seca desconfiada O o pro proble ma O problema que a Fondazione Donato cujo titular um tal Piccolo inanciada com dinheiro ilegal interveio Sarah Rafael olhou para tr s e fitou os dois jornalistas O que que isso quer dizer exactamente Sarah continuou com um olhar fulminante cravado no padre Que o John identificou a proveni ncia do dinheiro Sabe de quem vinha e para quem ia John omitiu apenas a fonte Essa tinha de ser preservada a todo o custo Era um imperativo profissional e tico Levaria o segredo para a cova que he parecia agora mais pr xima que nunca Pensou no que aconteceria ao seu corpo Talvez o atirassem ao Tibre que o tomaria gentilmente no seu eito at se fartar e o expelir para uma margem Era pouco prov vel
479. u o De Profundis Mandou notificar os cardeais da m nova e completamente transpirado pelo imenso calor que fazia nessa noite ajoelhou se aos p s da cama junto de mais alguns prelados dos tr s pr ncipes sobrinhos do Papa e das irm s da Santa Cruz onde se inclu a Pasqualina e rezou um ros rio pela alma do Santo Padre Vinde Esp rito Santo enchei os cora es dos vossos fi is e acendei neles o fogo do vosso amor Enviai o Vosso Esp rito e tudo ser criado renovareis a face da terra suplicou Tisserant Durante a hora que se seguiu o franc s comandou com fervor os mist rios do Ros rio sendo a sua voz a que mais ressaltava do coro que rezava A marquesa perguntou Tisserant com maus modos madre Pasqualina quando terminaram Passou mal quando viu o irm o Est num dos aposentos a repousar respondeu a madre cabisbaixa Tisserant debateu os procedimentos do embalsamento com o doutor Galeazzi Lisi que havia acordado explicitamente com o Papa um novo procedimento inovador que n o s conservava o corpo como tamb m todos os rg os internos Sua Santidade queria manter se como Deus o trouxe ao mundo reiterou o m dico Com este procedimento durar s culos N o verdade intrometeu se Pasqualina Nunca Sua Santidade tomou qualquer resolu o a favor desse novo processo Cale se mulher ordenou Tisserant aproximando a sua boca do ouvido dela
480. udara tanta coisa em t o pouco tempo Pio cultivara mais inimigos do que amigos ao longo dos anos Afastara se da hierarquia romana despira de todo o poder o Col gio dos Cardeais Rodeou se de boches e de estrelas de Hollywood acusavam os cardeais do Sacro Col gio enciumados pela perda de protagonismo junto do Papa Por m o poder daqueles em quem Pio confiava terminou com o seu sepultamento Ainda o corpo n o esfriara e j os cardeais se atropelavam uns aos outros procura daquele que sucederia a Pio como Bispo de Roma Sumo Pont fice da Igreja Universal Servo dos Servos de Deus Eug ne Tisserant de o do Sacro Col gio dos Cardeais um franc s com uma barba farta que descia rebelde pelo queixo tomara as r deas da situa o mal entrara na villa papal em Castelo Gandolfo na noite do dia 6 Fizera se acompanhar do seu s quito mais fiel e como ntegro cumpridor do protocolo iniciou os rituais mal a morte foi confirmada pelos m dicos na madrugada do dia 9 no quarto descorado onde jazia o corpo do Sumo Pont fice Chamou o nome Eug nio tr s vezes N o houve qualquer resposta O Papa est morto proclamou o franc s com a sua voz troante Mandou que os sinos de San Sebastiano tocassem a finados Ao longo da noite os badalos dos sinos de todas as igrejas de Roma juntar se iam ao carpido de San Sebastiano no triste an ncio da morte do Papa Depois Tisserant retirou o annulus piscatoris do dedo do Santo Padre e entoo
481. ue ia perceber tudo mas ainda n o consegui perceber nada proferiu o inspector como se estivesse a falar de outra coisa qualquer Rafael n o comentou Achas que o embaixador n o acreditou em n s alvitrou o inspector Tu acreditavas Eu n o respondeu fazendo um meneio negativo para acentuar a resposta N o se deve recriminar ningu m por querer ter a certeza Cavalcanti fez uma express o de desd m com a boca Achas que foi ligar para o teu chefe ou para o meu Para o meu alvitrou Rafael Gostava de saber o que vai nessa cabe a cuspiu o inspector ao mesmo tempo que consultava o rel gio A esta hora j todos sabem onde estamos O que que aconteceu ao meu filho ouviu se uma voz feminina desesperada perguntar Onde que ele est A embaixatriz entrou no sal o escancarando as portas e correu para eles Ele est bem adiantou Cavalcanti verificando se o embaixador vinha atr s dela As l grimas escorriam lhe pelo rosto belo mas esmaecido Os cabelos loiros estavam ainda emaranhados do descanso nocturno Deixou se cair no ch o em desespero O inspector avan ou para ela e amparou a Tenha calma disse lhe o inspector Vai correr tudo bem A mulher levantou a cabe a e fitou Rafael que acabou por desviar o olhar dela Parecia que emanava dio dos olhos um dio de morte O que que aconteceu ao meu filho Rafael agachou se par
482. ugada atirou Jacopo sem aguardar que o outro se sentasse Pois pe o desculpa por t lo feito levantar se t o cedo doutor Sebastiani Pode chamar me s doutor atalhou o mais velho corrosivo V directo ao assunto por favor Giorgio entrela ou os dedos e exibiu uma express o pensativa como se estivesse a delinear uma estrat gia para come ar a falar J ouviu falar dos irm os Finaly acabou por perguntar Jacopo anuiu com a cabe a e franziu o sobrolho em alerta A que prop sito ele perguntara aquilo O que que sabe deles quis certificar se o secret rio A esta hora da noite escarneceu o historiador Giorgio sorriu com condescend ncia e pousou as m os em cima da secret ria Jacopo n o conseguia perceber se ele tinha dormido alguma coisa ou se n o pregava olho desde a noite anterior Parecia fresco en rgico ainda que os olhos estivessem raiados de vermelho e se notassem as olheiras em volta deles Talvez descansasse pouco o que era apan gio do posto que ocupava Quem servia o Santo Padre oferecia mais do que tempo e dedica o oferecia a vida Jacopo ajeitou se na cadeira e abriu o arquivo de mem rias onde algures entre Pio XII Adolf Hitler Segunda Guerra Mundial Holocausto nazismo e outros itens relacionados encontrou o registo correspondente ao dos irm os Finaly Era um dossi simples com informa o escassa e nunca verificada Quer mesmo a minha vers
483. um idiota Est s habituado a chegar s cenas do crime primeiro quando o corpo ainda est quente o cabr o do Girolamo faz o que bem entende retira o que lhe apetece e depois chama nos quando chama Es doente Cavalcanti Desta vez uma chamada traiu vos Tu e o Comte t m uma toupeira na vossa equipa Guillermo odiava Gennaro Felizmente raros eram os momentos em que tinha de lidar com ele A verdade que seria mau sinal se fossem muitos Muito mau Esse papel era o de Girolamo No in cio antes de Guillermo chefiar o servi o de espionagem que Gennaro ignorava tratavam se com cortesia A maior parte das mortes que ocorriam na Santa S ou em territ rio que beneficiasse do mesmo estatuto de extraterritorialidade eram suic dios O Vaticano estava entre os estados com a taxa mais alta per capita Um suic dio n o requeria grande esfor o apenas formalidades burocr ticas Ainda que nessas alturas Guillermo tivesse detectado em Cavalcanti uma propens o para imaginar um pouco mais do que realmente acontecera com alguma raz o ou toda em alguns casos nunca houve motivos para quez lias nem nada que abalasse a rela o cordata O verniz estalara em Maio de 1998 quando o comandante da Guarda Su a e esposa foram assassinados a tiro e um cabo se suicidara sem pistola como costumava dizer Cavalcanti entre a ironia e a hipocrisia O grande culpado fora o sacana do Girolamo que juntamente com Guillermo dificultou a inv
484. unal Onde o encontraste No arquivo tornou a responder Duv lio N o queres dar outra resposta Foi no arquivo repetiu Duv lio engolindo em seco Corfirmaram a autenticidade do di rio perguntou Rafael que sabia que era verdadeiro Claro Foi mais dif cil do que inicialmente prev amos para algu m que viveu tanto tempo no Pal cio Apost lico Em quase trinta anos pouca gente privou com ela Muitos nunca a viram sequer Por fim encontr mos um conjunto de notas escritas por ela a mando do cardeal Spellman quando estava no departamento de comunica o A an lise paleogr fica n o deixou margem para d vidas Era a letra de Pasqualina Piccolo diz te alguma coisa perguntou Rafael de rompante Duv lio franziu o sobrolho incomodado e ajeitou se na cadeira N o E Fondazione Donato per la lotta dei bambini con leucemia Por Por por que que ra raz o est a a per perguntar i isso perguntou John Scott agarrando se ao dossi castanho Rafael ignorou a pergunta e continuou a fitar Duv lio com uma express o s ria Ele sabia que havia muitas maneiras de responder para al m das palavras E o Fondo Giulietta per i bambini non protetti diz te alguma coisa Duv lio engoliu em seco Estava novamente com sede N o Nunca ouvi falar O 0 que que tem i isso a a a ver insistiu John Scott que n o estava
485. ungente ao mesmo tempo N o Era melhor n o pensar nisso tamb m Naquela tarde de ter a feira tivera consulta na cl nica e pela primeira vez Rafael n o tinha podido acompanh la Ausentara se h cinco dias Um assunto improtel vel que necessitava de resolu o urgente Dissera lhe pelo elefone que regressaria antes do previsto ao final da tarde mas a noite j ca ra e ainda n o havia sinal dele Provavelmente n o se preocuparia tanto se n o soubesse por que teias se movia Rafael Era um mundo perigoso o da Igreja Pregava a f e os bons costumes mas guardava segredos e as pontas soltas que por vezes surgiam necessitavam de ser sanadas rapidamente Assim sobrevivia havia mais de dois mil anos Fora um dia amb guo para ela mas Rafael merecia ter estado na cl nica para ouvir os m dicos dizerem que a doen a estava controlada que a quimioterapia resultara e o tumor regredira que apenas tinha de ser vigiada nos pr ximos tempos mas que o perigo passara Que podia voltar a Londres e fazer a sua vida normal e fazer o acompanhamento a partir de Talvez por isso quisesse tanto v lo Faltava lhe o ar Ele ajudara a a vencer a doen a n o havia d vidas disso mas ia ser tudo t o doloroso Ia doer mais que o cabelo perdido que as sess es de quimioterapia que as d vidas que o medo da morte A mulher que se olhava no espelho com um len o a tapar o cabelo inexistente que cresceria em breve n o era a mesma Sara
486. uno no Col gio Germ nico Filho do O homem ergueu a m o impedindo que o alem o continuasse O vozeir o de Luka tinha menos for a perante aquele homem Era como se o desconhecido fosse superior Talvez fosse Em alguns casos as patentes da igreja n o est o t o vista como no ex rcito Mas era outra coisa que lhe fazia impress o Uma certa vassalagem da parte do seu professor pouco habitual dava lhe voltas barriga Niklas mirava a batina negra do estranho que n o se apresentara Aqueles olhos frios e sedutores continuavam a avali lo como se se tratasse de uma mercadoria Conta lhe pediu Luka a Niklas Aqui n o proferiu o desconhecido Aproximou se dos dois alem es e olhou para a nave Vazia Havia um corredor central livre ladeado por dezenas de bancos de pl stico virados para o altar mor Vamos arriscar Sigam me indicou o estranho de batina N o era um pedido Niklas seguia entre Luka e o outro padre que liderava N o estava a gostar do rumo dos acontecimentos Sentia se nervoso e com medo e aqueles dois padres eram a raz o do desconforto Muito secretismo poucas palavras Que se estava a passar Tomazzo chamou o padre que ia frente N o houve resposta Tomazzo tornou a chamar A mesma resposta Quem o Tomazzo perguntou Luka O velho simp tico que nos abriu a porta Foi ent o que o viu em cima na tribuna junto ao rg o de tubos Est ti
487. uo de cl rigos N o fomos ao quarto de ningu m Seria m educa o E n s n o somos mal educados pois n o Arturo O outro padre visivelmente inferior em estatuto n o respondeu Podiam ao menos ter tido a dec ncia de o arrumar continuou Sarah ignorando deliberadamente a resposta de Rafael Rafael desviou o olhar para Arturo visivelmente incomodado Sabes alguma coisa disto O outro fez um meneio negativo com a cabe a Podes falar livremente Arturo insistiu Rafael Sabes alguma coisa sobre este assunto Sarah come ou a acreditar que nenhum deles tinha conhecimento daquilo que ela os estava a acusar Ou ainda estariam dentro das personagens Arturo voltou a negar N o Rafael Estive o tempo todo com a Sarah respondeu baixando o olhar envergonhado Rafael virou se para o americano Levaram alguma coisa N o n o Tem a certeza John assentiu agarrando bem o dossi castanho contra o peito Na verdade n o tinha a certeza n o inventariara os seus bens mas n o queria dizer que tinha fugido para ali o mais depressa que p de O que que guarda a quis saber o padre sem cerim nias N na nada respondeu o jornalista um pouco intimidado Quem raio seria este homem Ent o Rafael Onde est o os teus bons modos atacou Sarah em defesa do colega Ah Tinha me esquecido N o os tens Rafael olhou para a nica entrada
488. uto do seu trabalho Na verdade o regozijo da miss o cumprida n o durava mais que uns instantes uns simples microssegundos praticamente o cl max de um orgasmo Os dinheiros eram transferidos para a sua conta especial e passava espera seguinte entregue ao seu v cio Mais horas dias semanas vigilante silencioso cauteloso at ao pr ximo trabalho Poder se ia cognominar de profissional da espera mas apesar da imensa experi ncia nunca se habituara Preferia Londres Madrid Roma Sardenha ou qualquer outra ilha mediterr nica Nunca Paris Marselha ou mesmo M naco C te d Azur estava completamente fora de quest o Avaliava muito bem os seus alvos antes de atacar Demorava o tempo que fosse preciso Os seus parcos clientes conheciam o seu modus operandi e n o se queixavam O importante era um trabalho bem feito e esse o Franc s executava o como ningu m Estava em Roma h tr s dias e aproveitara para passear pela cidade O frio era um pormenor de somenos import ncia numa cidade t o civilizacional Alugara um Mazda 3 nada vistoso perfeitamente comum A morada fora facultada pelo cliente e fez quest o de realizar uma ligeira inspec o visual logo no primeiro dia Nada de muito invasivo De m quina fotogr fica encostada ao peito a al a suspensa pelo pesco o visitou o local e ficou maravilhado com os frescos o m rmore as g rgulas A rua era comprida com pr dios residenciais edif cios p blicos e hot is
489. v vel confessou As l grimas escorriam lhe em torrente pelo rosto abaixo V Acalme se pediu o inspector oferecendo lhe um len o de papel O que que fizeste Rafael O que que fizeste ao meu filho N o fiz nada Nicole Cavalcanti ficou surpreso com a proximidade dos dois Voc s conhecem se Quando o Niklas me disse que queria ser padre foi como se me tivesse esfaqueado confidenciou Nicole num desabafo embargado Como era poss vel Padre Estava a brincar comigo Pensei que era Deus a vingar se de mim Eu mere o Rafael N o mere o Deus n o se vinga de ningu m limitou se a dizer o padre O que que se passa aqui perguntou Cavalcanti confuso Deus perverso Gosta de nos espezinhar de nos ver a sofrer N o bastava o Niklas querer seguir o teu o teu caminho N o era suficiente Tinhas de colocar a vida dele em perigo n o Rafael O que fizeste comigo n o bastou Cavalcanti olhava para um e para outro perplexo Que raio de conversa era aquela Parecia um discuss o entre N o era suficiente teres me destru do Tamb m tens de fazer o mesmo com o teu filho acusou a embaixatriz com uma ltima l grima a soltar se dos olhos marejados Cavalcanti largou as car cias e as sedu es invis veis e olhou para Rafael chocado Ah 51 Quem poder ser a esta hora N o fa o ideia Nada disto normal balbuciou
490. va para contar a hist ria ainda E agora Estava dentro do carro dos seus executores os verdugos que tinham como miss o adiantar lhe a hora de sa da do mundo dos vivos Apetecia lhe abrir a porta do carro e atirar se para o exterior ugir para salvar a vida mas ele n o era esse tipo de homem Sarah deu lhe a m o Certamente sabia o que lhe estava a passar pela mente E quem quer que estivesse com ele Foram estas as palavras do carrasco Tamb m lhe dizia respeito mas ao contr rio dele Sarah n o parecia preocupada Alguma coisa a ligava ao padre algoz Disso deu se conta N o eram indiferentes um ao outro Por outro lado se bem conhecia Sarah ela preferia partir que vergar Conte me os seus pecados ordenou Rafael sem olhar para tr s O o qu perguntou John presumindo que a pergunta fosse para ele Quais s o os seus pecados Se a Igreja o quer ver morto algum pecado ter E n o deve ser pequeno O John perito em assuntos econ micos interveio Sarah servindo de intermedi rio E descobriu algumas contas mal feitas no IOR acrescentou de forma sard nica Para onde estamos a ir Desembuche Que contas mal feitas s o essas perguntou Rafael com maus modos ignorando deliberadamente a pergunta dela John contou tudo o que sabia de forma concisa e escorreita para que n o restassem d vidas J bastavam as suas limita es comunicativas para dificultar as coisas Falo
491. via N o havia porta Era apenas uma abertura grande que dava acesso a outras zonas do hotel O empregado parecia estar sempre a limpar o mesmo copo ou seria outro O grupo de ingleses continuava a berrar sobre as suas aventuras e desventuras sempre com muito lcool grandes gargalhadas e movimentos de bra os exagerados Estava prestes a dar em doido quando Sarah chegou Foi como se um anjo protector tivesse aparecido no bar para acabar com todos os seus medos Ent o John John abra ou a com for a quase n o a deixando respirar Menos John menos pediu ela Ele largou a Tinha os olhos marejados Libertara uma enorme press o Des culpa Des des culpa pediu o americano Des culpa por tu tudo por por te ter ter li ligado por ter i ido ter con tigo Ena tanta desculpa zombou Sarah deixando a mente vaguear para outra pessoa de quem queria ouvir aqueles pedidos de desculpa Calma John Senta te e conta me tudo devagar John contou tudo como se de um relato jornal stico se tratasse O passeio nocturno por Roma at Pra a de S o Pedro e o percurso que fez a p de regresso ao hotel Sarah ouviu o com aten o Era uma forma de evitar os seus pr prios fantasmas e imiscuir se nos dos outros nos de John que estava visivelmente alvoro ado Parece que chamaste a aten o de algu m John alvitrou Sarah Que n o est muito satisfeito com o que
492. vio Sobral por me orientarem os dias ao Rui Couceiro cuja lucidez e intelig ncia s o um b lsamo para os autores ao Orlando Almeida que l cada palavra que escrevo e que seguramente deixa o texto mais rico com as suas sugest es perspicazes Quero tamb m deixar uma palavra de apre o a todos os comerciais da Porto Editora que preencheram as horas que passei na estrada com hist rias experi ncias e muito profissionalismo e simpatia Este livro tamb m n o existiria sem a investiga o da Roberta a quem deixo um fraterno obrigado por ter partilhado comigo o fruto de um trabalho de v rios anos Ao escritor Eric Frattini agrade o as longas horas de bom humor e investiga o a que nos entreg mos Aos escritores Lu s Costa Pires e Carlos Almeida pelas longas conversas via Skype que apesar de n o fazerem qualquer sentido para eles faziam todo o sentido para mim o meu muito obrigado amigos A Vincenzo Di Martino outro amigo do peito que sempre me proporciona e aos meus amigos a mais confort vel das estadas em Roma e sua esposa Erina um profundo agradecimento Tomei a liberdade de pedir Sarah que contracenasse contigo como era teu desejo Espero que tenhas gostado A C sar Ribeiro quero agradecer a amizade e a explica o desse misterioso e apaixonante mundo dos livros antigos e desaparecidos Obrigado por partilhares essa paix o comigo Qui n o nascer um novo livro dos escombros desses mist rios H
493. visitas Jacopo engoliu em seco e sentiu os pelos eri arem se com o calafrio de medo que o percorreu Quem acabara de chegar 44 O Alfa Romeo acelerou ao longo da Via della Conciliazione deixando para tr s a Pra a de S o Pedro e o Pal cio das Congrega es os corpos e as mortes tr gicas N o havia tr nsito quela hora o que facilitava em muito a condu o de Gennaro Cavalcanti Desrespeitou todos os sinais vermelhos que encontrou e atravessou a ponte Pr ncipe Amedeo di Savoia Aosta rumando Piazza della Chiesa Nuova Rafael manteve se em sil ncio no banco de tr s as m os algemadas e presas a uma barra de ferro que sa a das costas do banco da frente Olhava para o exterior para as ruas da cidade adormecida polvilhada aqui e ali de mendigos enrolados em cobertores que se encostavam num sono rio aos patamares das portas e de equipas de limpeza que preparavam a cidade para o novo dia que em breve nasceria para milhares de romanos e uristas de todo o mundo Sois peritos no jogo do empata protestou Gennaro Cavalcanti sem irar os olhos da estrada Assim sempre tens uma desculpa para te chateares Agora chamas te Santini perguntou o inspector estendendo a m o para tr s at sentir os dedos de Rafael que recolheu o pequeno objecto E o meu nome Instantes depois ele libertou se do jugo das algemas e saltou para o banco livre da frente Quando te conheci chamavas te Ivan N o era o
494. z com o seu irm o sentenciou a voz Girolamo sentiu se desorientado e olhou em redor sem sair do s tio A pra a estava cheia de peregrinos e turistas simples curiosos que desejavam admirar a amplitude de todo o conjunto O abra o fraterno da pra a o olhar bondoso da bas lica em frente e do lado direito como um guarda o Pal cio Apost lico onde tudo se decidia A voz estava na pra a ou muito perto e estava a v lo Era uma manobra arriscada mas engenhosa Um local amplo repleto de pessoas Podia ser qualquer um Se bem que o homem falava com calma pausadamente sem som ambiente sem a press o de poder ser descoberto Um grupo de polacos come ara a entoar um c ntico junto a uma das fontes e nada disso se ouvia pelo telem vel Claro que havia maneiras de silenciar esses sons electronicamente Outra op o era escolher um local de onde se pudesse observar a pra a em seguran a enquanto outro elemento vigiava mais de perto sem levantar suspeitas Procurou olhares suspeitos vigias disfar ados de turistas tarefa muito dif cil Girolamo sabia que eles eram profissionais A voz falava com ele num local remoto seguro e a restante equipa que podia muito bem ser s apenas mais um elemento controlava os movimentos deles na pra a junto ao obelisco bimilenar N o devia estar muito errado Era o que ele faria se estivesse na mesma posi o Vamos acabar com isto pronunciou Girolamo em tom de amea a Quere
495. zeres espirituais esperavam no os pol ticos os pastorais e os burocr ticos Estes ltimos davam mais trabalho que os outros todos juntos Geria uma institui o bimilenar dispersa por todos os pontos do globo que necessitava da sua aten o diariamente Ele j o aguardava sentado na cadeira ao lado da cama olhar vigilante Bom dia Stan cumprimentou com um sorriso Dormiste bem Muito bem Santidade Obrigado por perguntar respondeu Stanistaw Volt mos a ter sonhos indesejados Era uma constata o e n o uma pergunta Wojty a nada disse O seu secret rio conhecia o melhor que qualquer outra pessoa H o de passar com a gra a de Deus acrescentou Stanistaw men Os dois homens n o disseram mais nada O secret rio j mandara preparar o banho para o Santo Padre e o pequeno almo o estava a ser confeccionado Algumas dezenas de pessoas entre freiras frades padres e leigos empenhavam se todos os dias para que Wojty a tivesse todo o conforto que desejasse N o era um Papa exigente e vivia sempre preocupado com quem o servia Depois do atentado o Santo Padre tornara se mais circunspecto e desconfiado tamb m um pouco receoso Uma reac o natural em quem s n o perdeu a vida por interven o divina Mesmo dois anos volvidos n o conseguia deixar de se perguntar todos os Domingos sempre que se abeirava da janela do seu gabinete para saudar os fi is que se aglomeravam na Pra a de S

A Filha do Papa

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