o forno microondas
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1. o para a filosofia da tecnologia Num certo sentido a filosofia tradicional da tecnologia abordou o seu objecto de um ngulo transcendental A filosofia transcendental que atingiu o seu ponto mais alto na obra de Immanuel Kant come ou pela defini o das condi es de possibilidade A sua teoria filos fico transcendental do conhecimento por exemplo consistia na elucida o das condi es de possibilidade do conhe cimento procurando explicitar todos os pressupostos que se t m de verificar para que possa haver conhecimento As pressuposi es que s o desta forma trazidas luz n o s o verific veis empiricamente mas transcendentais no sentido de que ultrapassam ou transcendem a realidade emp rica devendo no entanto ser pressupostas para se poder compreender a realidade A filosofia cl ssica da tecnologia operava ao estilo da filosofia transcen dental Tentava apreender a tecnologia pelas suas condi es de possibilidade pelos pressupostos que se t m de verificar para ela ser poss vel Pensava por assim dizer retrospectivamente partindo da pr pria presen a de objectos tecnol gicos concretos na nossa sociedade para aquilo que os tornou pos s veis Esta abordagem foi respons vel por muitos esclarecimentos relevan tes mas a imagem da tecnologia distorcida se for abordada exclusivamente em termos das suas condi es de possibilidade Dessa forma estaremos a falar das condi es de possibilidade da tecnologia2. filosofia da tecnologia de Jaspers estava pr estruturada de tal forma que n o podia sen o descobrir aliena o N o soube ver que o diagn stico de que a tecnologia pressup e uma orienta o funcional e burocr tica da vida social n o implica necessariamente que lidar com tecnologias concretas s possa produzir essa burocracia e esse funcionalismo A filosofia cl ssica da tecnologia teve o mesmo destino de Orfeu na mi tologia grega que tentou resgatar de Hades a sua amada Eur dice estando lhe proibido olhar para tr s enquanto a levava No ltimo momento j no limiar do mundo real e apesar de todos os avisos ao espreitar para tr s para a ver de relance s a p de ver desaparecer para sempre A filosofia da tecnologia tem de resistir a essa tenta o rfica de olhar para tr s A tecnologia n o pode ser reduzida aos seus pressupostos como se nada mais houvesse Afinal quando algu m envia um e mail n o trata o destinat rio em termos funcionais da mesma maneira que o passageiro de um comboio n o encara a paisagem dessa forma A quest o da forma como o destinat rio de um e mail est presente para o remetente e a paisagem para o viajante de comboio precisamente o tipo de quest o que a nova filosofia da tecnologia aborda um pensamento que avan a em vez de retroceder partindo das pr prias tecnologias e questionando o seu papel na nossa cultura e na nossa vida quotidiana em vez de as reduzir s condi
3. a ouvir No contexto da sua utiliza o foram todavia interpretados de forma bastante diferente Ihde chama a este fen meno multiestabilidade a mesma tecnologia pode ter v rias estabilidades de Tecnop lis a vida publica dos artefactos tecnol gicos pendendo da forma como se encaixa num contexto de utiliza o As intencionalidades tecnol gicas est o sempre dependentes das estabilidades espec ficas que v o surgindo A an lise que Ihde faz da transforma o da percep o tem implica es hermen uticas importantes os artefactos mediadores co determinam o modo como a realidade se apresenta e interpretada pelas pessoas As tecnologias ajudam a definir o que considerado real Isto torna se claro sobretudo ao investigar o papel dos instrumentos na produ o de conhecimento cient fico Sem eles nao existiriam muitos dos factos e teorias cient ficos Os instrumentos possibilitam aos cientistas a percep o de aspectos da reali dade que n o s o percept veis sem eles como por exemplo a actividade cerebral os microorganismos ou formas invis veis de radia o emitidas pelas estrelas A realidade estudada nestes casos tem de ser traduzida pelas tecnologias para fen menos percept veis A realidade nessas situa es co definida pelos instrumentos com que apreendida Embora esta an lise da media o tecnol gica da percep o e da interpre ta o n o seja directamente relevante no context
4. como se estiv ssemos a falar das pr prias tecnologias concretas e a perspectiva transcendental assim absolutizada transformando se num transcendentalismo precisamente isso que acontece na filosofia da tecnologia de Jaspers A tese de Jaspers que a tecnologia n o poderia funcionar sem uma estru tura social funcionalista e burocr tica E do facto de a tecnologia requerer burocracia e funcionalidade conclui que a sociedade contempor nea apenas Tecnop lis a vida publica dos artefactos tecnol gicos admite aquilo que estiver funcional e burocraticamente organizado Mas um erro de l gica Por muito que a tecnologia incontestavelmente pressu ponha burocracia e funcionalismo isso n o implica que lidar com artefactos tecnol gicos apenas reforce a burocracia e determine uma atitude funcionalista perante a realidade A imagem da tecnologia fica distorcida se for abordada como uma for a monol tica tecnologia redut vel s suas condi es de possibilidade O problema no diagn stico de Jaspers que ele se refere s condi es de possibilidade da tecnologia como se estivesse a falar das pr prias tecnologias em concreto Sempre que a tecnologia definida exclusivamente em termos dos seus pressupostos h aspectos da imagem que s o exclu dos e que s se revelam numa abordagem de orienta o mais emp rica que investigue o papel desem penhado por tecnologias espec ficas em contextos espec ficos A an lise da
5. es da sua possibilidade e referir essas condi es como se estivesse a falar da pr pria tecnologia Para alcan armos uma compreens o correcta do papel da tecnologia na nossa cultura n o devemos portanto conceptualizar a tecnologia como uma for a monol tica mas antes apreend la nos termos dos artefactos tecnol gicos concretos que contribuem para moldar a forma como vivemos as nossas vidas A tecnologia n o deve ser analisada para tr s em termos das suas condi es de possibilidade mas para a frente em termos do papel que desempenha na vida di ria dos seres humanos 1111 1112 Peter Paul Verbeek MEDIACAO TECNOLOGICA A abordagem que gostaria de propor para a compreens o do papel dos artefactos tecnol gicos no dia a dia das pessoas de natureza fenomenol gica uma abordagem que talvez precise de alguma explica o Definirei a tecnologia genericamente como a an lise filos fica das rela es homem mundo cf Verbeek 2000 pp 119 136 A ideia central na abordagem fenomenol gica a de que sujeito e objecto ou homem e realidade se constituem mutuamente Os seres humanos e a realidade est o permanente mente interligados As pessoas n o podem deixar de estar voltadas para o mundo que as rodeia est o sempre a experiment lo e o nico s tio onde poss vel a realiza o da sua exist ncia Inversamente o seu mundo s pode ser o que quando os sujeitos lidam com ele e o inte
6. fora os princ pios democr ticos da nossa sociedade porque se considerava que o seu apelo ao desenvolvimento de tecnologias de controlo comportamental propagava implicitamente a tecnocracia Segundo esses cr ticos quando as quest es morais s o resolvidas pelas obras tecnol gicas dos designers em vez de pelas ac es democr ticas dos pol ticos ser a tecnologia e n o os seres humanos a controlar Estes argumentos podem no entanto ser rebatidos Antecipar o papel mediador das tecnologias durante o processo de concep o seja para ponderar poss veis formas indesej veis de media o ou para explicitamente moralizar as tecnologias n o necessariamente t o imoral como possa parecer Em primeiro lugar a dignidade humana n o necessariamente lesada quando se imp em limita es liberdade O nosso sistema constitu cional estabelece afinal de contas uma significativa limita o liberdade sem que isso a torne uma amea a nossa dignidade O comportamento humano determinado de muitas maneiras e a liberdade humana tamb m limitada de muitas maneiras Poucas pessoas contestar o a proibi o legal do Tecnop lis a vida publica dos artefactos tecnol gicos assass nio Ent o porqu contestar a inibi o material imposta por uma lom ba na estrada velocidade excessiva em locais onde haja habitualmente crian as a brincar Em segundo lugar a an lise da media o tecnol gica descrita h po
7. g nero num contexto diferente Os dois tipos de microondas eram funcionalmente iguais destina dos a acelerar a prepara o de refei es mas enquanto aquele definia os seus utilizadores como tecnologicamente competentes este definia os como incompetentes O microondas desempenha ainda outro papel nas nossas vidas di rias que n o discern vel se o considerarmos apenas o resultado da funciona liza o e burocratiza o da sociedade A sua capacidade de aquecer comida muito depressa permite lhe aparentemente alterar os h bitos alimentares dos seres humanos O microondas facilita um tipo de refei o em particular as refei es congeladas e pr cozinhadas que podem ser preparadas num curto espa o de tempo e em doses individuais Incentiva este tipo de refei o entre os seus utilizadores criando as condi es para uma mudan a nos h bitos alimentares fazendo com que as refei es sejam cada vez menos tomadas em conjunto e mais feitas a s s Num epis dio do programa da Oprah Winfrey vemos isto claramente ilustrado A produ o pediu a um certo n mero de fam lias para jantar em conjunto todos os dias durante um per odo de tempo determinado fam lias em que at ent o cada membro fazia as suas refei es separadamente de acordo com os hor rios de cada um e a quem se pedia agora para quebrar esse h bito V rias dessas fam lias demonstraram dificuldades em completarem a experi ncia embora tamb m t
8. lomba na estrada por exemplo convida os automobilistas a conduzirem devagar pela sua 1115 1116 Peter Paul Verbeek capacidade de danificar as suspens es um autom vel pode obrigar um condutor a p r o cinto de seguranga recusando se a arrancar enquanto o cinto n o for posto um copo de pl stico cont m o gui o deite me fora depois de usar enquanto uma ch vena de porcelana pede para ser limpa e reutilizada Os artefactos tecnol gicos podem influenciar o comportamento humano Quando os guides actuam os objectos medeiam a ac o enquanto coisas materiais n o enquanto signos imateriais Um sinal de tr nsito obriga as pessoas a abrandarem de forma bastante diferente se que alguma vez o faz N o descartamos um copo de pl stico porque tal esteja escrito no seu manual de instru es mas porque fisicamente n o suporta ser lavado v rias vezes A influ ncia da tecnologia sobre a ac o de natureza n o lingu stica Os objectos conseguem exercer influ ncia enquanto coisas materiais e n o apenas enquanto portadoras de sentido Como acontece no caso da percep o tamb m na media o da ac o ocorrem transforma es De acordo com Latour no dom nio da ac o estas transforma es podem ser identificadas como tradu es Nas palavras de Latour os artefactos geram tradu es de programas de ac o Para Latour todas as entidades humanas e n o humanas cont m programas de ac o
9. s lhes concede um lugar dentro do aparelho que pode igualmente ser preen chido por outros O espa o que as pessoas t m para a sua realiza o pessoal torna se ainda menor A singularidade pessoal progressivamente substitu da pela permutabilidade impessoal Os seres humanos est o alienados de si pr prios e do seu mundo Em The Origin and Goal of History 1949 Jaspers faz um esbo o amargo e elitista das massas A massa n o subdivis vel n o tem consci ncia pr pria uniforme e quantitativa destitu da de car cter espec fico e patrim nio 1107 1108 Peter Paul Verbeek r cultural n o tem alicerces e vazia E um objecto da propaganda irrespons vel e vive no n vel mais baixo da consci ncia As massas surgem quando os homens perdem um mundo aut ntico sem origem nem ra zes descart vel e intercambi vel Devido tecnologia este estado de coisas est cada vez mais generalizado o estreitamento dos horizontes uma vida sem perspectiva e sem verdadeira mem ria a compuls o pelo trabalho sem sentido o gosto no desperd cio do cio a excita o nervosa a mascarar se de vida Jaspers 1953 128 A an lise que Jaspers faz da exist ncia de massas est directamente relacionada com a discuss o sobre a crise da cidade A sua an lise da anonimiza o e dispers o da exist ncia quotidiana das pessoas como resul tado do desenvolvimento tecnol gico preludia as preocupa es so
10. sentimento de inseguran a que contribui para a crise da cidade Um exemplo ilustrativo disso Bijlmer um bairro degradado de Amsterd o Foi constru do na d cada de 1960 concebido como um parque de constru es altas Destinava se a dar resposta crescente falta de habita o e esperava se que se tornasse um sub rbio atractivo de Amsterd o prop cio ao florescimento da vida familiar O resultado contudo foi o oposto actual mente uma das zonas de Amsterd o com maiores ndices de criminalidade Normalmente apontam se factores sociais para explicar o estado deplor vel em que Bijlmer se encontra Mas numa perspectiva de media o tecnol gi ca poder se argumentar que a pr pria arquitectura de Bijlmer tamb m um factor importante O facto que Bijlmer foi de tal forma desenhado que quase n o tem espa os p blicos Praticamente n o existem espa os de con v vio social nas ruas as estradas s servem para aceder aos blocos de apar tamentos No interior dos pr dios os apartamentos s o bastante agrad veis mas h muito pouco espa o para as pessoas se encontrarem O resultado que em Bijlmer quase n o existe vida p blica Os parques de estacionamento desertos e as entradas para os pr dios tornaram se rapidamente espa os de delinqu ncia Estes dois exemplos r pidos mostram que uma abordagem em termos de media o pode ser mais frut fera do que encarar a tecnologia de forma monol tica como uma tecnol
11. tecnologias concretas em vez da tecnologia com a produ o de massas e a burocracia como suas condi es fazem a media o do espa o p blico e contribuem para a crise urbana sentida com a sua decad ncia moral e o desmoronamento da vida p blica Em segundo lugar mostra a possibilidade de redesenhar as tecno logias para lhes permitir mediar a vida p blica de outra maneira A MEDIA O TECNOL GICA E A CRISE NA CIDADE O conceito de media o tecnol gica pode contribuir para uma melhor compreens o da crise da cidade quando usado para analisar a forma como os artefactos tecnol gicos concretos medeiam o espa o p blico e contri buem para os problemas sentidos Para o demonstrar tratarei resumidamente dois pequenos exemplos de media o tecnol gica da vida p blica Estes exemplos tornar o evidente que as tecnologias presentes na cidade n o s o artefactos puramente funcionais nem for as determinantes que sufocam completamente a vida p blica As tecnologias t m um papel mediador nas duas vertentes da crise urbana normalmente referidas o estado de deca d ncia moral e o colapso da vida p blica resultante da crescente concen tra o sobre a intimidade Irei buscar os exemplos a dois dom nios tecno l gicos importantes na vida p blica urbana infra estrutura e arquitectura No dom nio da infra estrutura a tecnologia desempenha evidentemente uma fun o importante Durante as ltimas d cadas muit
12. Ao estabelecer uma rela o com outra entidade o programa de ac o original traduzido para um novo Quando o programa de ac o de algu m consiste em preparar refei es rapidamente e esse programa combinado com o do microondas o programa de ac o do actor compos to resultante poder ser comer refei es instant neas individuais regular mente Na tradu o da ac o conseguimos discernir uma estrutura semelhante que se verifica na transforma o da percep o Tal como na media o da percep o em que alguns aspectos da realidade s o ampliados e outros reduzidos na media o da ac o podemos dizer que determinadas ac es s o incitadas enquanto outras s o inibidas Os gui es dos artefactos sugerem determinadas ac es e desencorajam outras A natureza desta es trutura de incita o inibi o est t o dependente do contexto quanto a estru tura de amplia o redu o na percep o O conceito de multiestabilidade de Ihde tamb m aplic vel ao contexto de media o da ac o O telefone teve uma influ ncia determinante na separa o entre os contextos geogr fico e social das pessoas Mas s pode ter essa influ ncia porque foi aplicado como tecnologia de comunica o e n o s como aparelho de audi o que origi nalmente pretende ser Uma diferen a importante no que se refere media o da percep o por m o modo como o artefacto mediador est presente Os arte
13. Peter Paul Verbeek An lise Social vol xui 181 2006 1105 1125 Tecnop lis a vida p blica dos artefactos tecnol gicos INTRODU O TECNOLOGIA E VIDA PUBLICA Como conceptualizar o papel da tecnologia na vida p blica No debate em torno da crise da cidade prevalecem duas abordagens tecnologia A tec nologia praticamente ignorada em quase toda a discuss o actual As preo cupa es sobre o crescente sentimento de inseguran a e o colapso da vida p blica s o por norma equacionadas exclusivamente em termos sociais Esses fen menos s o vistos como o resultado da decad ncia moral e da tirania da intimidade Sennett e n o do papel desempenhado pelas tecno logias na vida p blica urbana Impl cita nesta abordagem est uma concep o instrumentalista ou funcionalista da tecnologia A tecnologia vista como um conjunto de dispositivos funcionais de recursos que tornam poss vel a vida p blica estradas redes de telecomunica es sistemas p blicos de transportes ilumina o p blica etc Deste ponto de vista a tecnologia desempenha apenas um papel facilitador enquanto a infra estrutura tecnol gica funcionar correc tamente a tecnologia n o estar a contribuir activamente para a crise da vida p blica O passado recente por m tem assistido afirma o de posi es que d o relev ncia contribui o activa do papel da tecnologia na reformula o da vida p blica Dentro da rea da filosofia
14. a verdade convida os condutores a conduzirem demasiado depressa Este aspecto de infra estrutura tecnol gica podia contudo ser modifi cado As pr prias estradas podiam ser concebidas tendo em conta as formas como medeiam o comportamento dos condutores podiam ser estreitadas desenhadas com mais curvas e equipadas com lombas de controlo de velo cidade Este tipo de medidas convida a uma condu o diferente Mas existem tamb m outras formas de tecnologias moralizadas de car cter mais coercivo e que poder o por isso suscitar maior resist ncia Na Holanda muitas estradas foram equipadas com postes fotogr ficos que automatica mente fotografam os carros que excedem o limite de velocidade para que a policia possa multar o condutor Estes dispositivos vieram ocupar o papel que o controlo social desempenhava no espa o p blico Os postes n o est o todos sempre activados mas s a possibilidade de o estarem suficiente para dissuadir a maior parte dos condutores de conduzirem demasiado depressa Outra tecnologia que actua como mediadora dos h bitos de con du o o controlo autom tico da velocidade Na Holanda j se fizeram algumas experi ncias com este m todo Ao entrarem numa rea residencial os carros que t m este dispositivo instalado n o ultrapassam os 30 km h dentro da cidade n o ultrapassam os 50 km h e na auto estrada est o automaticamente programados para n o ultrapassarem o limite de velocidade de 100 ou 120 km
15. as cidades foram reconfiguradas em fun o do carro As estradas foram alargadas e foram constru das outras novas assim como parques de estacionamento O pr prio carro e a infra estrutura que o rodeia s o profundamente mediadores da vida p blica O carro pode ser visto como a encarna o da tirania da inti midade de Sennett Medeia de forma radical as rela es sociais entre as pessoas que se deslocam pela cidade as pessoas d o por si no seu pr prio ambiente ntimo e n o conseguem interagir com as pessoas com quem se cruzam O nico tipo de interac o que chega a acontecer entre condutores de autom vel normalmente na forma de agressividade Al m disso a infra estrutura rodovi ria nas cidades tamb m mediadora das rela es sociais de quem n o se desloca na intimidade do seu carro mas escolhe andar a p A enorme quantidade de estradas com carros a circularem a grandes velocidades torna o espa o p blico nas cidades de acesso ainda mais dif cil para essas pessoas Em muitos s tios torna se mais dif cil para as Tecnop lis a vida publica dos artefactos tecnol gicos crian as brincarem l fora e as conversas na rua fazem se contra um fundo de barulho de carros e polui o O carro domina o espa o p blico de tal maneira que a interac o social se torna cada vez menos poss vel Resumin do o carro reduz o espa o p blico poss vel estabelecer uma rela o entre o dom nio da arquitectura e o crescente
16. bi o a transforma o da percep o tem uma estrutura de amplia o e redu o O quadro n 2 re ne todos os conceitos relevantes num vocabul rio da media o tecnol gica Um vocabul rio para a media o tecnol gica GUADRO N 2 Percep o Praxis Media o da percep o lille Media o da ac o Intencionalidade tecnologica Gui o Transforma o da percepgio Tradu o da ac o Amplia o e redu o llle Incita o e inibi o Delega o inscri o intencional de guides e intencionalidades Multiestabilidade depend ncia contextual de guides e intencionalidades A MEDIA O TECNOL GICA DA VIDA P BLICA Que implica es tem esta conceptualiza o alternativa da tecnologia para a discuss o sobre o papel da tecnologia na vida p blica A primeira resposta e a mais evidente que as tecnologias mais do que simplesmente facilitarem ou sufocarem a vida p blica medeiam na No processo de interac o entre 1717 1118 Peter Paul Verbeek as tecnologias e os seres humanos no contexto da cidade moldam se novas formas de vida publica em que determinados aspectos s o ampliados ou incitados enquanto outros s o reduzidos ou inibidos A vida p blica n o um fen meno somente humano as tecnologias tamb m desempenham um papel importante Esta conclus o permite dois tipos de desenvolvimento Primeiro possibilita analisar a forma como as
17. bre o co lapso da vida p blica na cidade A tecnologia cria uma sociedade governada pela burocracia e pela produ o em massa A perda de envolvimento social que lhe est associada abre o caminho para a crise da vida p blica sentida actualmente Todavia tenciono argumentar que a an lise que Jaspers faz do papel nefasto da tecnologia na vida p blica n o inteiramente correcta A sua aten o sobre o papel da tecnologia na nossa cultura e no quotidiano das pessoas valiosa mas a forma como analisa a tecnologia n o faz justi a complexidade e multiplicidade de pap is que a tecnologia desempenha O diagn stico de Jaspers est muito distanciado dos instrumentos tecnol gicos concretos Isto torna se evidente quando tentamos aplicar a sua vis o a tecnologias concretas UM EXEMPLO O FORNO MICROONDAS Que significado ter dizer de uma tecnologia como o microondas por exemplo que pertence tecnologia e que portanto deve ser entendido como um reflexo da organiza o funcionalista e burocr tica da vida social Considere se por exemplo a an lise pormenorizada que Cynthia Cockburn e Susan Ormrod nos deram sobre esta tecnologia no seu estudo Gender and Technology in the Making Como acontece com muitas novas tecnologias o microondas era inicialmente visto como uma engenhoca um brinquedo tecnol gico cujo p blico alvo inicial era o sexo masculino Era vendido nas lojas de electr nica ao lado dos gravadores de
18. da cidade Os espa os p blicos deviam ser desenhados de modo a permitirem aos seres humanos vivenciar uma comu nidade e sentir apego ao espa o onde vivem Tamb m neste exemplo existem formas convidativas de media o tec nol gica e outras mais fortes Uma delas j aplicada em muitas cidades holandesas embora com alguma controv rsia Em muitas zonas considera das perigosas determinadas ruas esta es de comboio paragens de au tocarro etc foram instaladas c maras que registam tudo o que acontece nesses locais Este tipo de videovigil ncia com a ajuda dos circuitos fecha dos de televis o podia ser encarado como uma alternativa tecnol gica ao controlo social O crescente sentimento de inseguran a vivido em cada vez mais zonas das cidades pode estar relacionado com o decl nio do sentido de comunidade que faz com que os mecanismos de controlo social que eram parte da vida comunit ria tradicional tenham deixado de funcionar O resul tante anonimato dos espa os p blicos torna os espa os prop cios crimina lidade Nesses espa os a fun o moralizante do controlo social substitu da por c maras que impreterivelmente registar o qualquer actividade criminosa ajudando as autoridades a encontrar os delinquentes A videovigil ncia um assunto controverso por causa da amea a pri vacidade que lhe est associada H boas raz es para que a presen a de c maras nos espa os p blicos seja frequentement
19. da tecnologia t m sido feitas an lises sobre o impacto da tecnologia no dia a dia das pessoas que se aproximam do actual diagn stico da crise da cidade O fil sofo alem o Karl Jaspers 1883 1969 por exemplo formulou uma vis o sombria do impacto da tecnologia na socie dade Na sua perspectiva a tecnologia deveria ser vista como um dem nio que representa uma amea a para os seres humanos A tecnologia cria um governo de massas na sociedade n o deixando espa o aos seres humanos Universidade de Twente Holanda 1105 1106 Peter Paul Verbeek para a plena realiza o da sua exist ncia enquanto indiv duos nicos Jaspers interpreta a tecnologia em termos de aliena o a tecnologia aliena os homens de si pr prios e do mundo em que vivem Esta aliena o repercute se seria mente sobre a vida p blica A exist ncia dos seres humanos enquanto massas reduz o seu envolvimento com o trabalho com os outros e com o mundo em que vivem O aparelho societ rio criado pela tecnologia torna a vida an nima e dispersa A pr pria vida p blica transforma se numa mera infra estrutura destinada a manter em funcionamento o aparelho da sociedade tecnol gica A posi o de Jaspers exactamente o oposto do instrumentalismo Em vez de negar que a tecnologia desempenha qualquer papel na natureza da vida p blica para ele a tecnologia determinante Neste ensaio procurarei mos trar que ambas as posi es s o inadequadas e que
20. decad ncia moral dos condutores que n o est o preparados para se manterem dentro dos limites de velocidade e o correspondente car cter de inseguran a dos espa os p blicos na cidade s o em parte produzidos pelo papel mediador do ambiente material Assim procurar meios novos e mais desej veis de media o n o a priori uma forma de totalitarismo ou tecnocracia Para criar mais espaco para a vida publica necess rio rede senhar a infra estrutura da cidade O segundo exemplo relaciona se com a arquitectura e o planeamento publico nas cidades O exemplo de Bijlmer mostrou que o colapso da vida p blica verificado pode ser visto em alguns casos como consequ ncia do desenho da cidade Bijlmer simplesmente tem um d fice de espa os onde a vida p blica possa acontecer Noutros casos a vida p blica dificultada porque os espa os p blicos s o sentidos como inseguros Ambas as amea as vida p blica podiam ser resolvidas por tecnologias moralizadas Bairros como Bijlmer podiam ser redesenhados de maneira a criar novos espa os p blicos atractivos que convidem as pessoas a conviver Os pr dios podiam ser usados para diversas actividades evitando que as pessoas entrassem neles apenas para acederem s suas casas fazendo com que fossem procu rados tamb m para fazer as compras ou para ir jantar No seu artigo The depth of design o fil sofo da tecnologia americano Albert Borgman 1995 apelava a esse tipo de redesenho
21. doras do comportamento e experi ncia humanos N o por isso a moraliza o da tecnologia mas a decis o de entregar toda a responsabilidade pela concep o da tecnologia aos engenheiros que equivale a incapacitar a democracia O maior perigo para a qualidade de vida p blica a recusa a organizar uma forma democr tica de responsabilidade pelo papel mediador dos artefactos tecnol gicos na nossa cultura e vida quotidiana Tornou se demasiado simplista pensar que o homem a medida de todas as coisas Os respons veis pelas decis es pol ticas e os designers t m de perceber que em grande parte os objectos tamb m passaram a ser a medida dos seres humanos BIBLIOGRAFIA ACHTERHUIS H 1995 De moralisering van de apparaten in Socialisme en democratie 52 n 1 pp 3 12 ACHTERHUIS H 1998 De erfenis van de utopie Amsterd o Ambo AKRICH M 1992 The de scription of technological objects in W E Bijker e J Law eds Shaping Technology Building Society Cambridge MIT Press pp 205 224 BORGMANN A 1995 The depth of design in R Buchanan e V Margolin Discovering Design Explorations in Design Studies Chicago University of Chicago Press COCKBURN C e ORMROD S 1993 Gender and Technology in the Making Londres Sage Publications HEIDEGGER M 1986 1927 Sein und Zeit T bingen Max Niemeyer Verlag Inne D 1990 Technology and the Lifeworld Bloomington Minneapolis Indiana Univers
22. e associada ideia orwelliana 1123 1124 Peter Paul Verbeek de um Big Brother totalit rio e tecnocr tico Se for mal aplicada a video vigilancia poder levar a uma forma de totalitarismo em que todas as acti vidades dos cidad os ser o constantemente monitorizadas e controladas N o minha inten o defender aqui a introdu o generalizada do circuito fechado de televis o para tornar o espa o p blico mais seguro Mas tamb m n o devemos rejeit la liminarmente Seria melhor tentar primeiro encontrar solu es para lidar com as amea as privacidade e sujeitar as imagens gravadas ao escrut nio democr tico Uma vez mais assim que se torna evidente que o ambiente material medeia inevitavelmente a vida p blica somos incumbidos da responsabilidade de re desenharmos esse meio am biente de uma forma moralmente mais desej vel As tecnologias moraliza das podem constituir uma resposta perda de espa o p blico desde que n o se tornem uma amea a para o car cter democr tico do pr prio espa o p blico Parece existir um equil brio delicado entre as tecnologias moralizadas que influenciam a vida p blica por um lado e a qualidade de vida p blica por outro Mas n o estaremos a prestar um servi o democracia se nos recusassemos a pensar sobre as possibilidades de uma moraliza o da tec nologia e rejeitando as partida como uma forma de tecnocracia As tecnologias actuam inevitavelmente como media
23. enha havido algumas cenas enternecedoras O pai de um dos participantes por exemplo agradeceu efusivamente Oprah dizendo que se n o fosse esta experi ncia nunca teria sabido que o filho queria alistar se na marinha Pelo menos nesse lar o microondas fizera evidentemente mais do que aquecer a comida Estes aspectos de objectos do tipo do microondas s podem tornar se vis veis quando a tecnologia abordada do ponto de vista dos seus artefac 1109 1110 Peter Paul Verbeek tos concretos permanecendo invisiveis quando a tecnologia concebida apenas como um produto de determinado modelo de organiza o da vida social moderna O microondas seria apenas uma das muitas tecnologias que requerem esse funcionalismo particular mas o seu papel nas nossas vidas di rias parece comportar muito mais do que isso O quadro diferenciado que os estudos empiricos da tecnologia fornece sobre o papel da tecnologia na exist ncia humana e sobre as experi ncias humanas exige uma reavalia o da forma como abordamos filosoficamente esse papel O desafio que os estu dos emp ricos sobre a tecnologia colocam disciplina da filosofia da tecnologia o de desenvolver um quadro conceptual que permita compreen der a tecnologia n o apenas em termos das suas condi es de possibilidade mas em termos de artefactos concretos TRANSCENDENTALISMO Neste trabalho tentarei responder a este desafio esbocando outra forma de pensamento uma nova direc
24. factos n o medeiam a ac o somente na sua condi o de prontos a usar a rela o de incorpora o de Ihde mas tamb m na sua condi o de presen a Tecnop lis a vida publica dos artefactos tecnol gicos a relac o de alteridade de Ihde Uma pistola para usar um exemplo desagrad vel medeia a ac o na sua condi o de pronta a usar transferindo exprimir a raiva ou procurar vingan a para matar aquela pessoa Uma lomba na estrada contudo n o pode ser incorporada Nunca estar pronta a usar exerce a sua influ ncia sobre as ac es das pessoas na sua condi o de presen a VOCABUL RIO Em conclus o no seio da filosofia fenomenol gica da tecnologia t m sido desenvolvidos v rios conceitos para analisar a influ ncia das tecnologias nas ac es e percep es das pessoas Esta influ ncia pode ser descrita em termos da media o Os artefactos medeiam a percep o atrav s de intencionalidades tecnol gicas a influ ncia activa e intencional das tecnolo gias Elas medeiam a ac o atrav s de gui es que indicam o modo de agir ao utilizar um artefacto Esta ltima forma de media o a mais rele vante para a tica do design industrial j que se refere s ac es humanas A media o tecnol gica parece estar dependente do contexto e implica sem pre uma tradu o da ac o e uma transforma o da percep o A tradu o da ac o tem uma estrutura de incita o e ini
25. h certo que h muita resist ncia na Holanda ideia do controlo autom tico da velocidade e os postes fotogr ficos s o alvo frequente de vanda lismo Estas duas formas de tecnologia moralizada s o sentidas como limita es indesej veis da liberdade Os postes s o incendiados ou at alve jados por condutores furiosos e existe um forte obby contra os limitadores de velocidade e o controlo autom tico de velocidade Estas formas de pro testo mostram que a introdu o de tecnologias que medeiam o comporta mento humano de uma forma desej vel n o automaticamente sentida como um melhoramento da qualidade de vida p blica Mas o argumento de que nestes casos h uma excessiva limita o da liberdade humana n o suficiente para justificar a contesta o Do ponto de vista da media o tec nol gica pode argumentar se que a liberdade humana tamb m est compro metida em estradas onde n o existem postes fotogr ficos e nos carros que n o t m um controlo autom tico de velocidade Em ltima an lise a velo cidade a que as pessoas conduzem em grande medida determinada pelo desenho das estradas e pela pot ncia dos motores Se levarmos a s rio a ideia de que as ac es e experi ncias humanas s o em parte moldadas pelo ambiente material devemos tamb m assumir a Tecnop lis a vida publica dos artefactos tecnol gicos responsabilidade pelo papel mediador desse ambiente que n s pr prios cria mos A
26. ity Press Tecnop lis a vida publica dos artefactos tecnol gicos JASPERS K 1953 1949 The Origin and Goal of History Londres Routledge JASPERS K 1957 1931 Man in the Modern Age Garden City Nova Iorque Doubleday JasPERS K 1971 Philosophy Chicago University of Chicago Press Latour B 1992 Where are the missing masses the sociology of a few mundane artifacts in W E Bijker e J Law eds Shaping Technology Building Society Cam bridge MIT Press pp 205 224 Latour B 1994 On technical mediation philosophy sociology genealogy in Common Knowledge 3 pp 29 64 VERBEEK P P 2000 De daadkracht der dingen over techniek filosofie en vormgeving Amsterd o Boom trad como The Acts of Artifacts Philosophy Technology Design Tradu o de Diogo Costa 1125
27. m o Karl Jaspers pode ser considerada representativa da vis o pessimista da tecnologia caracter stica da filosofia cl ssica da tec nologia cf Verbeek 2000 Segundo Jaspers a tecnologia amea a a singu laridade da exist ncia do indiv duo ao dissolver os seres humanos numa Nesta sec o utilizei passagens dos dois primeiros cap tulos do meu livro De daadkracht der dingen Amsterd o Boom 2000 Tecnop lis a vida publica dos artefactos tecnol gicos cultura de massas Jaspers considera que esta cultura de massas o produto da interac o entre o desenvolvimento tecnol gico e o crescimento popula cional que tem evidenciado uma expans o exponencial nos s culos recentes Esta explos o demogr fica teria sido imposs vel sem desenvolvimentos tecnol gicos tais como modelos de produ o e de organiza o do trabalho mais eficientes a medicina cl nica e redes de transportes mais vastas e r pidas Uma das consequ ncias contudo que o grande n mero de pes soas cuja exist ncia a tecnologia torna poss vel agora profundamente de pendente dela As grandes massas populacionais s conseguem existir hoje gra as tit nica engrenagem de que cada trabalhador apenas uma das pe as Jaspers 1957 p 39 A crescente capacidade de produ o implica o desenvolvimento de uma organiza o operativa eficiente que leva cria o da burocracia Satisfazer as necessidades de uma popula o em acentuado cresci
28. mento implica uma inter rela o complicada entre a mecaniza o e a organiza o social Tudo tem de ser planeado e coordenado com tudo o resto A sociedade rigorosamente organizada que da resulta segundo Jaspers tem ela pr pria as caracter sticas de uma m quina Por isso ele refere se sociedade tecnol gica como o aparelho O aparelho determina cada vez mais a forma como as pessoas vivem o seu dia a dia Disto resulta o que Jaspers chama o poder de massas ou ordem de massas que trata os seres humanos n o como indiv duos nicos mas como executantes de fun es que s o em princ pio intercambi veis Na vida social totalmente organizada e talhada pelo aparelho n o interessa quem somos mas qual a nossa fun o As pessoas s o despojadas da sua singularidade pessoal Dentro do aparelho todos s o em princ pio substitu veis Diferen as de idade ou personalidade tornam se irrelevantes O indiv duo n o mais do que uma unidade entre milh es por que h de ent o ele dar uma import ncia especial s suas ac es Jaspers 1957 p 50 f rmula assumida pela exist ncia humana resultante destes desenvol vimentos Jaspers chama vida de massas Na vida de massas os seres humanos j n o podem ser autenticamente eles pr prios A tecnologia amea a a humanidade na sua ess ncia pela sua tend ncia para reduzir os seres humanos sua fun o na engrenagem O seu envolvimento social
29. necessitamos de uma nova conceptualiza o do papel da tecnologia na cidade e na vida p blica Por muito diferentes que estas duas posi es pare am primeira vista elas assentam no mesmo pressuposto a tecnologia e a sociedade podem ser analisadas separadamente Contra esta separa o entre tecnologia e socieda de argumentarei a sua profunda indissociabilidade A vida em Tecnop lis nao moldada apenas pelos seres humanos que nela habitam com a ajuda de instrumentos tecnol gicos neutros mas tamb m n o totalmente condi cionada pelas tecnologias que alberga Como alternativa s conceptualiza es da tecnologia em termos de fun cionalidade ou aliena o irei desenvolver o conceito de media o tecnol gi ca Este conceito que tem um antecedente fenomenol gico aborda os ar tefactos tecnol gicos em termos do seu papel activo na rela o entre os homens e o seu meio ambiente ajudando a moldar as suas ac es e expe ri ncias Ap s analisar e criticar a posi o de Jaspers segunda sec o irei estabelecer um vocabul rio que permitir analisar esta media o tecnol gi ca terceira sec o e us lo para ilustrar alguns exemplos de tecnologias que fazem a media o da vida p blica na cidade e para desenvolver a ideia de como a remodela o do espa o p blico poderia melhorar a vida p blica quarta sec o PARA UMA FILOSOFIA DOS ARTEFACTOS TECNOL GICOS CULTURA DE MASSAS A obra do fil sofo ale
30. ntinuamente a reflectir sobre as suas ac es o que tornaria o peso da responsabiliza o paralisante algumas decis es seriam delegadas nos aparelhos tecnol gicos Achterhuis 1995 Em vez de moralizarem apenas as outras pessoas n o tomem duches excessivamente longos paguem o bilhete antes de entrarem no metro os sujeitos deveriam tamb m mo ralizar o seu ambiente material Delegariam num chuveiro econ mico a tarefa de poupar gua nos duches e numa cancela a responsabilidade de assegurar que s as pessoas com bilhete que teriam acesso plataforma O apelo que Achterhuis fez moraliza o da tecnologia foi severamente criticado cf Achterhuis 1998 pp 28 31 No debate que se gerou na Holanda em torno deste assunto foram invocados dois tipos de argumento contra as suas ideias Por um lado considerou se que usar a tecnologia para dirigir expl cita e conscientemente as ac es humanas era um ataque liberdade do homem A direc o dos comportamentos humanos era vista at como uma amea a dignidade Se as ac es humanas n o resultarem de decis es volunt rias mas de tecnologias controladoras estar se a privar as pessoas do que as torna humanas De resto as ac es que n o s o prati cadas livremente n o podem ser consideradas morais As pessoas exibi riam comportamentos que seriam apenas o reflexo dos desejos dos desenhadores das tecnologias Por outro lado Achterhuis foi acusado de deitar borda
31. o da tica s o no os con ceitos utilizados para compreender essa media o Termos como media o amplia o redu o intencionalidade e multiestabilidade podem ser transpos tos para o contexto da media o da ac o como se mostrar a seguir MEDIA O DA AC O Na perspectiva da praxis a quest o central a de saber como os arte factos medeiam as ac es das pessoas e a forma como estas vivem as suas vidas Enquanto a percep o do ponto de vista fenomenol gico consiste no modo como o mundo se torna presente aos seres humanos a praxis pode ser vista como a forma como estes est o presentes no seu mundo A obra de Bruno Latour prop e muitos conceitos interessantes para analisar o modo como os artefactos medeiam a ac o cf Latour 1992 1994 Latour salienta que os artefactos influenciam as ac es o que as pessoas fazem condicionado pelos objectos que utilizam As ac es n o s o apenas resul tado de inten es individuais e de estruturas sociais em que estes indiv duos se encontram a dicotomia cl ssica agente estrutura mas tamb m do seu contexto material Latour recorre ao conceito de gui es para descrever a forma como os artefactos medeiam a ac o O autor sustenta que semelhan a de uma pe a de teatro ou de um filme as tecnologias possuem um gui o no sentido de que determinam as ac es dos actores envolvidos As tecnologias conseguem suscitar um certo tipo de comportamento uma
32. ogia que imp e a burocracia e a domina o tecnol gica sociedade Se desejamos averiguar o papel da tecnologia na crise da cidade devemos analisar os artefactos tecnol gicos concretos e investigar a forma como estes fazem a media o das ac es e experi ncias dos seres humanos que vivem na cidade Abordar a tecnologia em termos de media o contudo n o apenas um m todo para mostrar a forma com as tecnologias tais como a infra estrutura rodovi ria e a arquitectura actuam como mediadoras da vida p blica Pre cisamente porque o conceito de media o permite analisar o papel da tecno logia na configura o da vida p blica pode tamb m ser um instrumento para descobrir e conceber tecnologias que promovam a vida p blica As tecno logias que favorecem a vida p blica poderiam ser vistas como uma resposta material aos problemas sentidos de decad ncia moral e tirania da intimidade que se faz sentir Estes problemas podiam ser resolvidos n o s tentando mudar as pessoas que vivem nas cidades mas tamb m pela transforma o do seu ambiente material 1119 1120 Peter Paul Verbeek A MORALIZA O DA TECNOLOGIA H algum tempo o fil sofo holand s Hans Achterhuis apelava ao que chamava uma moralizag o da tecnologia Uma vez admitindo que as tec nologias influenciam as ac es humanas torna se poss vel delegar nelas responsabilidades morais espec ficas Para impedir que as pessoas tivessem de estar co
33. ortante encontrar formas democr ticas de moralizar a tecnologia Se descobrirmos essas formas a decad ncia moral que se verifica nas cidades poder ser con trariada por uma via inesperada a moralidade tamb m se poderia inscrever nas tecnologias da cidade MORALIZA O DO ESPA O P BLICO Para mostrar o que poderia significar uma tal moraliza o da tecnologia no contexto de uma cidade discutirei brevemente dois exemplos O primeiro exemplo uma vez mais encontra se no mbito da infra estrutura Como resposta ao dom nio do autom vel na cidade e inacessibilidade e insegu ran a dos espa os p blicos que lhe est o associados poder amos introduzir algumas tecnologias moralizadas Um dos maiores problemas das cidades a velocidade excessiva dos autom veis Para muitos condutores parece ser extremamente dif cil manterem se dentro dos limites de velocidade Encarar isto apenas como o resultado da decad ncia moral dos automobilistas seria demasiado f cil Para tornar as nossas estradas mais seguras poder amos tentar mudar a mentalidade dos condutores mas com tantas estradas pre 1121 1122 Peter Paul Verbeek paradas para altas velocidades e tanta disponibilidade de autom veis que atingem com facilidade velocidades superiores aos limites legais pergunto me se ser legitimo esperar grandes mudangas Muita da nossa infra estru tura combinada com as caracter sticas de grande parte dos carros n
34. os entre os sujeitos e a realidade Heidegger chama prontos a usar forma como os utens lios est o presentes quando est o a ser usados t pico dos utens lios passarem desapercebidos s pessoas quando s o usados para fazer algo Uma pessoa que esteja a pregar um prego na parede n o est concentrada no martelo mas no prego O envolvimento das pessoas com a realidade tem lugar atrav s de um artefacto pronto a usar S quando se avaria que volta a chamar a aten o para si O artefacto torna se ent o presente e j n o consegue facilitar a rela o entre um utilizador e o seu mundo Este conceito de pronto a usar da maior import ncia para uma fenomenologia das coisas Os artefactos prontos a usar passam desaper cebidos e n o obstante desempenham realmente um papel constitutivo da rela o homem mundo que surge em torno deles Ao facilitarem o envolvimento das pessoas com a realidade os artefactos ajudam a moldar a forma como os seres humanos podem estar presentes no seu mundo e como o mundo est presente para eles Os objectos em funcionamento podem ser entendi dos como mediadores da rela o entre homem e mundo A media o deve ser entendida aqui num sentido activo Os artefactos n o s o intermedi rios neutros mas participam activamente na defini o da presen a das pessoas no mundo as suas percep es e ac es experi ncia e exist ncia As posi es de Don Ihde e do fil sofo e antrop logo franc s B
35. rpretam Tanto a subjectividade humana como a objectividade do seu mundo ganham forma nessa inter rela o O que as pessoas s o e o que o seu mundo co deter minado pelas rela es e interac es que t m entre si A perspectiva fenomenol gica estabelece um enquadramento para a an lise da influ ncia da tecnologia no comportamento humano Nesta mesma rela o entre homens e mundo os artefactos tecnol gicos podem desempe nhar um papel mediador Um bom ponto de partida para compreender a media o tecnol gica a an lise das rela es entre pessoas e artefactos feita pelo fil sofo da tecnologia americano Don Ihde 1990 RELA ES HOMEM TECNOLOGIA Ihde distingue v rios tipos de rela es que os seres humanos podem ter com os artefactos tecnol gicos Em primeiro lugar as tecnologias podem ser incorporadas pelos seus utilizadores possibilitando a ocorr ncia de uma rela o entre os seres humanos e o seu mundo Esta rela o de incorpora o ocorre por exemplo quando olhamos atrav s das lentes de um par de culos o artefacto n o explicitamente percept vel e contudo co respons vel por dar forma nossa rela o com o meio ambiente Nestes casos artefactos tecnol gicos s o por assim dizer incorporados tornando se extens es do corpo humano Em segundo lugar as tecnologias podem ser o terminus da nossa experi ncia Esta rela o de alteridade acontece quando interagimos com um dispositi
36. runo Latour fornecem conceitos para a constru o de um vocabul rio que permita compreender esse papel de media o das tecnologias Em rela o constru o desse vocabul rio podemos distinguir duas direc es da fenomenologia 1113 1114 Peter Paul Verbeek uma que assenta na percep o e outra na praxis Cada uma destas direc es aborda a rela o homem mundo de um ngulo diferente A fenomenologia existencial ou de orienta o pr tica parte do lado humano A quest o central a de saber como os seres humanos actuam no mundo e realizam a sua exist ncia A categoria principal neste caso a ac o A fenomenologia hermen utica ou de orienta o perceptual parte do lado do mundo e est direccionada para as formas como a realidade pode ser interpretada e se apresenta s pessoas Neste caso a categoria principal a percep o Na perspectiva fenomenol gica da tecnologia a media o tecnol gica pode ser estudada em termos do papel que os artefactos tecnol gicos desempenham na inter rela o entre os sujeitos e o seu mundo ao contribuirem para moldar as ac es e percep es humanas MEDIA O DA PERCEP O A quest o hermen utica central para uma filosofia do ponto de vista dos objectos a de saber como os artefactos medeiam a forma como a rea lidade se pode tornar presente para as pessoas Os artefactos contribuem para condicionar as experi ncias e interpreta es humana
37. s A filosofia da tecnologia de Don Ihde proporciona um bom ponto de partida para esta an lise Ihde centra a sua aten o na media o tecnol gica da percep o Os artefactos s o capazes de mediar a nossa rela o sensorial com a realidade e ao faz lo transformar o que percepcionamos Segundo Ihde esta transforma o obedece sempre a uma estrutura de amplia o e redu o Determinados aspectos da realidade s o ampliados enquanto outros s o reduzidos Ao olharmos para uma rvore com uma c mara de infravermelhos por exemplo a maior parte dos aspectos da rvore que s o vis veis a olho nu perdem se mas ao mesmo tempo torna se vis vel um outro aspecto da rvore consegue se agora ver se a rvore saud vel ou n o Ihde chama a esta capacidade transformadora da tecnologia intencionalidade tecnol gica as tecnologias t m inten es n o s o instrumentos neutros desempenhando pelo contr rio um papel activo na rela o entre as pessoas e o seu mundo Estas intencionalidades n o s o contudo propriedades fixas dos artefac tos Ganham forma na rela o que os seres humanos estabelecem com eles No contexto de rela es diferentes as tecnologias podem ter identidades distintas O telefone e a m quina de escrever por exemplo n o foram concebidos originalmente como tecnologias de comunica o e de escrita mas como equipamentos para ajudar os cegos e as pessoas com problemas de audi o a escrever e
38. uco mostra que as tecnologias ajudam sempre a moldar as ac es humanas Nesta perspectiva atender explicitamente ao papel mediador das tecnologias deveria ser visto como assumir a responsabilidade que a an lise da media o tecnol gica implica Numa situa o em que as tecnologias est o sempre a influenciar as ac es humanas melhor tentarmos dar a essa influ ncia uma forma desejada Al m disso o papel moralizador das tecnologias n o tem obrigatoriamente de assumir a forma de uma for a exercida sobre os seres humanos para agirem de determinada maneira As tecnologias tamb m po dem seduzir as pessoas a fazerem certas coisas podem convidar a determi nado tipo de ac es sem terem de as impor coercivamente Estes contra argumentos n o afastam contudo o medo de que uma moraliza o expl cita das tecnologias leve a uma tecnocracia Talvez seja verdade que as tecnologias n o s o diferentes das leis quando limitam as liberdades humanas mas as leis nascem de forma democr tica e a morali za o da tecnologia n o Mesmo assim isso n o justifica a conclus o de que melhor abster se de prestar aten o expl cita media o tecnol gica du rante o processo de concep o Se as tecnologias n o forem moralizadas explicitamente a responsabilidade pela media o tecnol gica ser deixada apenas aos designers e isso sim que ser precisamente uma forma de tecnocracia Uma conclus o mais acertada a de que imp
39. v deo e sistemas estereof nicos Quando o mercado da sofistica o tecnol gica ficou saturado o A filosofia da tecnologia de Jaspers muito mais rica do que a descri o que podia fazer dela aqui Para uma descri o e an lise mais pormenorizada v Peter Paul Verbeek De daadkracht der dingen cap tulo 2 Tecnop lis a vida publica dos artefactos tecnol gicos microondas deu uma reviravolta e come ou a ser vendido cada vez mais como um electrodom stico comum ja nao era vendido nas lojas de electr nica entre outros brinquedos para eles mas como outro qualquer aparelho dom stico A venda de microondas mudou se ent o para as lojas de electrodom sticos onde aparecia ao lado dos frigor ficos e dos fog es Esta transi o parecia implicar tamb m que os microondas tinham de ser vendidos s mulheres o que provocou uma not vel mudan a do seu design de repente o seu manejo foi vastamente simplificado Cockburn e Ormrod 1993 pp 80 91 Como se considerava que as mulheres n o eram tecno logicamente muito sofisticadas as campainhas e alarmes de comando foram substitu das por simples bot es com desenhos Para aquecer uma ta a de sopa j n o era preciso seguir uma s rie de instru es complicadas sobre o modo de regular a pot ncia e dura o da radia o electromagn tica bastava premir o bot ozinho com a figura da ta a de sopa Assim a mesma tecno logia adquiria uma nova identidade determinada pelo
40. vo como se fosse tamb m um ser vivo como acontece quando compramos um bilhete de comboio numa bilheteira autom tica Em terceiro lugar as tecnologias podem desempenhar um papel de fundo na nossa experi ncia criando o contexto onde ela ocorre Um exemplo desta 3 Por uma quest o de clareza deixei de fora um quarto tipo de rela o homem tecnologia que Don Ihde distingue a rela o hermen utica Para uma an lise desta rela o v Ihde 1990 Tecnop lis a vida publica dos artefactos tecnol gicos relac o de fundo o ligar e desligar autom tico de um frigor fico No quadro n 1 podemos ver uma esquematiza o destes tr s tipos de rela o homem tecnologia Relac es homem tecnologia segundo Ihde 1990 QUADRO N 1 Homem tecnologia mundo Homem tecnologia mundo Homem tecnologia mundo Rela o de incorpora o Rela o de alteridade Rela o de fundo Destas rela es homem tecnologia a rela o de incorpora o a mais importante para a compreens o da influ ncia que os artefactos tecnol gicos podem ter no comportamento humano A an lise que Ihde faz desta rela o baseia se na an lise que o fil sofo alem o Martin Heidegger fez do papel dos utens lios na rela o di ria entre as pessoas e o seu mundo Segundo Heidegger 1927 os utens lios n o devem ser simplesmente entendidos como instrumentos funcionais mas como conex es ou el
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