O Santinho
Contents
1. Chama o cachorro Chama voc Tupi O cachorro entra da rua e senta entre os dois pregui osos E ent o O cachorro t seco Sementinhas poe sabe sexo expl cito Pronto pensou a professora Chegou a hora A turma ainda n o estava na idade para educa o sexual mas quem sabe qual a idade hoje em dia Professora sabe sexo explicito Eu j ouvi Maur cio sobre isso que n s vamos conversar hoje Mas professora Senta Maur cio O menino estava impaciente Ela entendia Todos deviam estar impacientes O sexo estava por toda parte Era natural a curiosidade deles Mesmo naquela idade Todos sabem o que uma planta n o sabem Agora eu quero o nome de uma planta Judite Flor disse a Judite Muito bem E que tipo de flor Rosa apressou se a dizer a Rosa Muito bem Eu vou desenhar uma rosa E a professora desenhou uma semente Isto parece uma rosa N o senhora Claro que n o Isto uma semente o come o da rosa Toda plantinha come a com uma semente Algu m bota uma semente na terra e a plantinha vai crescendo vai crescendo Professora O que Maur cio Sabe sexo expl cito Espera um pouquinho Maur cio N s j chegamos l Mas professora Senta Maur cio Mas Senta T bem E o menino sentou com cara de m rtir Primeiro tem a semente Depois a plantinha vai nascendo da semente Voc s2. Helena o nome que deram para voc Como que voc se cnama Helena ficou pensativa Gostava do nome Helena Mas no fundo no fundo sempre se achara com cara de Rejane Devia ser o seu nome de verdade Rejane disse A m e de Helena entrou no quarto e disse que era para ela interromper aquele papo com os bonecos porque estava na hora de escovar os dentes tomar caf e ir para a escola Antes de sair do quarto Helena ou Rejane ainda fez uma pergunta para os bonecos Era uma coisa que a estava intrigando Eu botei nomes em voc s porque voc s n o falavam e n o podiam dizer seus nomes de verdade certo Certo Quer dizer que todas as outras coisas neste quarto tamb m t m nomes que a gente n o sabe Se pudessem falar elas nos diriam qual Exatamente Eu por exemplo disse Saralara sei que cama n o se chama cama E como que ela se cnama quis saber Helena Frunfra disse Saralara E arm rio Boz rio revelou Geraldo Tapete se cnama Abajur disse Eunice E abajur como se chama perguntou Helena Carlos Henrique Helena contou tudo isto para os seus pais que acharam engra ado mas n o acreditaram muito Os adultos n o t m nenhuma imagina o Senta direito na cadeira disse a m e de Helena Cadeira n o corrigiu Helena Sploct Talvez voc conhe a um outro conto muito famoso sobre esse mesmo tema Marcel
3. diferente do da mulher O papai colocou uma sementinha na barriga da mam e a sementinha cresceu e voc nasceu Para que o amiguinho n o se sentisse desprezado o pai acrescentou Com seu pai e sua m e tamb m foi assim Os dois meninos estavam interessad issimos Foi uma caminhada longa durante a qual o pai n o parou de falar Como o pai sabia de coisas Para tudo que os meninos perguntavam sobre sexo o pai tinha uma resposta Eta pai E os buracos negros pai Que buracos negros Os buracos negros do Universo Isso n o tem nada a ver com sexo Eu sei mas como que eles s o Ah bom Olha sobre isso eu n o sei muita coisa n o E pai como essa hist ria de supercondutores N o sei bem Mas o menino continuava entusiasmado Era o dia de saber de coisas Pai por que as ondas de r dio acompanham a curvatura da Terra e as ondas de TV n o porque sei l Devem ser ondas diferentes O menino j estava desanimado Como que funciona rel gio digital N o sei meu filho Chegaram em casa e o pai perguntou Mais alguma pergunta sobre sexo Eles n o tinham mais nenhuma pergunta sobre sexo e o pai foi embora Os dois meninos ficaram em sil ncio Ent o um disse Que cr nio o meu pai hein Sabe tudo O amigo fez cara de pouco caso lembrando todas as perguntas sem resposta Mas o outro tinha a explica o que ele se especializou s nisso 9 Este
4. fa a rir um mist rio e n o muito frequente que isso aconte a Mas quando ocorre um momento precioso do esp rito humano Uma esp cie de deslumbramento cultural Eram assim os filmes de Charles Chaplin No tempo do cinema mudo ele criou o Carlitos um vagabundo engra adissimo e comovedor que vivia em situa es de extrema pen ria mas n o perdia o senso de humor nem a capacidade de criar beleza a partir de elementos muito pobres um sapato velho uma corda que prendia a cal a na cintura um vira lata dois garfos espetados em p ezinhos O espectador via aqueles filmes sentia solidariedade e compaix o ficava com um n na garganta e de repente ca a numa gargalhada irresist vel a partir de uma mescla de humor e ternura Chaplin nem precisava de palavras para despertar o riso e o carinho da plat ia Humor e ternura Pois justamente com esses dois ingredientes que Luis Fernando Verissimo trabalha neste livro S que seu meio de express o s o justamente as palavras e ele as emprega com sabedoria de mestre Todos os contos aqui reunidos fazem parte da edi o e sele o original de Maria da Gl ria Bordini S o evoca es da inf ncia sobretudo do ambiente escolar N o se deixe enganar pelo t tulo O Santinho aqui n o de c u nem de altar quase um apelido gozador Tem a ver com uma express o popular brasileira que fala em santinho do pau oco Para explicar este termo preciso contar su
5. Verissimo n o escreve apenas para adultos Neste livro o ga cho se revela um mestre tamb m para jovens e crian as Os contos reunidos aqui falam da inf ncia e do ambiente escolar tra ando um panorama carinhoso da escola brasileira Com muito talento e bom humor Verissimo ao mesmo tempo faz rir e emociona ao contar hist rias de alunos e professores pais e filhos santinhos e pestinhas tamb m 85 7302 413 NA E qua 85731024 teratura em Minha casa DIGITAL Com Source 4 http groups beta google com group Viciados em Livros em livros googlegroups com http groups beta google com group digitalsource
6. elei o preciso Saco Pare Andr preciso candidatos Quem quer ser candidato Muito bem Voc voc n o Andr e voc Cada candidato diz o que pensa e o que pretende fazer se for eleito Quem conseguir convencer o maior n mero de pessoas a votar nele ganha Vamos come ar por voc Carlos Eduardo Se voc fosse eleito qual a primeira coisa que faria Acabava com o col gio N o assopre Andr Fale Carlos Eduardo Dava dinheiro pr s pobres Muito bem Carlos Eduardo S que a coisa n o t o f cil assim N o se pode simplesmente imprimir dinheiro e eu sei que o candidato ele e n o eu Andr S estou tentando ajudar Que mais voc faria Carlos Eduardo Ahn constru a mais hospitais mais escolas e uma sorveteria l perto de casa Carlos Eduardo um candidato n o pode pensar nos seus interesses Tem de pensar nos interesses de todos Mas est muito bom o seu programa de governo Melhor distribui o de renda mais aten o sa de e educa o timo E voc Rita Meus amigos N o precisa subir na mesa Fale do ch o mesmo Meus amigos Se eleita resolverei todos os problemas do Brasil Como Rita Confiem em mim N o pode ser assim Rita Voc tem de ser mais espec fica Eu ainda n o tenho um plano mas na hora me d um estalo Eu sei que d Muito bem A Rita o tipo do candidato que n o tem um programa e em quem vo
7. lugar com bastante grama e perto da gua e decidimos deixar para armar a barraca no dia seguinte e dormir dentro do carro mesmo s que n o conseguimos dormir porque o meu cachorro Dogman passou a noite inteira querendo sair do carro mas a minha m e n o deixava abrirem a porta com medo de cobra e no dia seguinte tinha a cara feia de um homem nos espiando pela janela porque n s tinhamos estacionado o carro no quintal da casa dele e a gua que o meu pai viu era a piscina dele e tivemos que sair correndo No fim conseguimos um bom lugar para armar a barraca perto de um rio Levamos dois dias para armar a barraca porque a minha m e tinha usado o manual de instru es para limpar umas porcarias que o meu cachorro Dogman fez dentro do carro mas ficou bem legal mesmo que o z per da porta n o funcionasse e para entrar ou sair da barraca a gente tivesse que desmanchar tudo e depois armar de novo O rio tinha um cheiro ruim e o primeiro peixe que n s pescamos j saiu da gua cozinhado mas n o deu para comer e o melhor de tudo que choveu muito e a gua do rio subiu e n s voltamos pra casa flutuando o que foi muito melhor que voltar pela estrada esburacada quer dizer que no fim tudo deu certo VCS UIT Dee 1 EA fas SEFASI V A E DRDS TESE NO TA E H Ee E y YJO SEA ado EF j o le faz parte da nossa fam lia de escritores pre feridos e logo far parte da sua Porque o genial Luis Fernando
8. pestinhas Santinho Loo com clareza de todas as minhas professoras mas me lembro de uma em particular Ela se chamava Dona Ilka Curioso porque escrevi Dona Ilka e n o Ilka Talvez por medo de que ela se materializasse aqui do meu lado e exigisse o Dona onde se viu tratar professora pelo primeiro nome menino No meu tempo ainda n o se usava o tia Elas podiam ser boas e at maternais mas decididamente n o eram nossas tias A Dona Ilka n o era maternal Era uma mulher pequena com um perfil de passarinho Um pequeno passarinho loiro E uma fera Eu era um aluno bem comportado Era um vagabundo n o aprendia nada vivia distra do Mas comportamento 10 Por isto at hoje fa o verdadeiras faxinas na mem ria procurando embaixo de tudo e em todos os nichos a raz o de ter sido um dia castigado pela Dona Ilka Alguma eu devo ter feito mas n o consigo lembrar o qu O fato que fui posto de castigo Que consistia em ficar de p num canto da sala de aula com a cara virada para a parede Isto tudo j d para ver foi mais ou menos l pela Idade M dia Mas o que eu nunca esqueci foi a Dona llka ter me chamado de santinho do pau oco Ser bem comportado em aula n o era uma decis o minha nem era nada de que me orgulhasse Era s o meu temperamento Mas a frase terr vel da Dona Ilka sugeria que a minha boa conduta era uma simula o Eu era um falso Um santo falsificado N o vou dizer que toda
9. s trilh es Naquela noite a m e de Maria passou perto do quarto dela e ouviu Maria falando com o Snoopy Sabe um diamante Dois mais dois O Rodrigo n o entendia por que precisava aprender matem tica j que a sua minicalculadora faria todas as contas por ele pelo resto da vida e ent o a professora resolveu contar uma hist ria Contou a hist ria do Super Computador Um dia disse a professora todos os computadores do mundo ser o unificados num nico sistema e o centro do sistema ser em alguma cidade do Jap o Todas as casas do mundo todos os lugares do mundo ter o terminais do Super Computador As pessoas usar o o Super Computador para compras para recados para reservas de avi o para consultas sentimentais Para tudo Ningu m mais precisar de rel gios individuais de livros ou de calculadoras port teis N o precisar mais nem estudar Tudo que algu m quiser saber sobre qualquer coisa estar na mem ria do Super Computador ao alcance de qualquer um Em mil simos de segundo a resposta consulta estar na tela mais pr xima E haver bilh es de telas espalhadas por onde o homem estiver desde lavat rios p blicos at esta es espaciais Bastar ao homem apertar um bot o para ter a informa o que quiser Um dia um garoto perguntar ao pai Pai quanto dois mais dois N o pergunte a mim dir o pai pergunte a Ele E o garoto digitar os bot es apropriados e num mil simo de
10. se eu n o parar perguntou o sr Cordeiro Ent o respondeu o sr Lobo mastigando um salgadinho com seus caninos reluzentes eu serei obrigado a devor lo meu caro Ao que o sr Cordeiro retrucou que havia uma solu o Por que o senhor n o entra de s cio na f brica Cordeiro e Filho timo disse o sr Lobo E desse dia em diante n o houve mais polui o no rio que passava pelas terras do sr Lobo Ou pelo menos o sr Lobo nunca mais se queixou 10 1 Este conto uma nova vers o da hist ria O Lobo e o Cordeiro escrita por Esopo um escravo grego que viveu antes de Cristo e criou muitas f bulas que contamos at hoje Como essas f bulas ficaram muito conhecidas muitos outros autores aproveitaram para brincar com elas adaptando as ou contando as de novo com pequenas diferen as porque sabem que os leitores podem entrar nesse jogo e achar gra a Um timo exemplo o que Monteiro Lobato faz em Reina es de Narizinho quando os personagens do S tio do Pica pau Amarelo visitam o Pa s das F bulas Mas a vers o de Ver ssimo tem um aspecto bem diferente Todas as outras criticam a viol ncia e a injusti a porque o Lobo forte e n o tem raz o o Cordeiro inocente e est certo Nesta o autor critica a corrup o da sociedade contempor nea nenhum tem raz o mas os dois se entendem Minhas f rias E u minha m e meu pai minha irm Su e meu cachorro Dogman fomos fazer camping Meu pai decidiu fazer
11. tamb m come aram de uma sementinha como esta Dentro da barriga da mam e E quem foi que botou a sementinha na barriga da mam e Algu m sabe Foi o meu pai disse o Maur cio Mas professora Foi o papai certo Vejo que essa parte voc s j sabem E como que o papai p e a sementinha na barriga da mam e Quem sabe Sil ncio Professora O que Maur cio N s sabemos tudo isso Tudo Tudo confirmou a Rosa Sabe sexo explicito insistiu o Maur cio Sei disse a professora desconfiada Que que tem sexo expl cito Passarinho faz sexo exp ucito Como Expiucito Passarinho faz sexo exp ucito Por um longo tempo enquanto as crian as riam a professora ficou paralisada Depois apagou a semente do quadro negro e disse para todo mundo pegar l pis colorido e desenhar uma paisagem bem bonita Nomes m dia todos os bonecos e bonecas da Helena come aram a falar O primeiro foi o urso Pompeu Helena estava dormindo e acordou de manh com a voz do Pompeu que dizia Olha a hora pregui osa Helena abriu os olhos em volta Quem a chamara Fui eu disse Pompeu Urso n o fala disse Helena Mas eu n o sou um urso de verdade respondeu Pompeu como se isto explicasse tudo Helena levantou da cama e levou um susto Todos os seus bonecos e bonecas a cumprimentaram Bom dia disse a Suzi Oi disse o Moleng o Hello disse o cachorro que era amer
12. O Santi nho BEITET IEAA DRT DES ECA RAE RA IRIA a e o PA f aiy I A E 1 2 x CONTOS DE Zap ais e a Cei Fa Lu 4 Le NAN do Ver ISSIMO Apresenta o de Ana Maria Machado x em minha casa O Santinho http groups beta google com group digitalsource DIGITAL Com TR Lu s Fernando Verissimo O Santinho Literatura em minha caga O Luis Fernando Verissimo Todos os direitos desta edi o reservados EDITORA OBJETIVA LTDA rua Cosme Velho 103 Rio de Janeiro RJ CEP 26247 090 Tel 21 2566 7583 Fax 21 2567 3977 Apresenta o e Notas Ana Maria Machado Sele o Original Maria da Gl ria Bordini Capa e Ilustra es Glenda Rubinstein Revis o Tereza da Rocha Coordena o Editorial Isa Pessoa V517s Ver ssimo Luis Fernando O santinho Luis Fernando Verissimo Rio de Janeiro Objetiva 2001 63 p Literatura em minha casa v 2 ISBN 85 7302 413 5 1 Literatura brasileira Contos I T tulo II S rie CDD B869 3 Sum rio Apresenta o 7 Santinho 13 V tor e seu irm o 17 O diamante 21 Dois mais dois 25 A descoberta 29 Os pregui osos 31 Sementinhas 33 Nomes 37 Experi ncia 41 A hist ria mais ou menos 43 O flete 47 O pleito 51 Conversa 55 Rel gio Digital 57 A solu o 59 Minhas f rias 61 Luis Fernando Verissimo humor e ternura Ana Maria Machado em poss vel que uma coisa ao mesmo tempo nos emocione e
13. a fazer Ali s acho que a minha gera o deu no que deu de tanto respirar flite quando crian a Est explicada a crise brasileira N o deve ser isso disse o filho N o existe nada chamado flete A m e entrou na conversa Deve ser flerte Isso Flerte O que era M e e pai se entreolharam O que era mesmo flerte Flerte era namoro tentou o pai N o era bem namoro disse a m e Era uma esp cie de pr namoro Podia dar em namoro ou n o Eu por exemplo mesmo antes de conhecer seu pai j flertava com ele Eu n o sabia disso Cachorro Mas como era flerte quis saber o filho Flertar era olhar S olhar N o Olhar de uma certa maneira Demonstrando interesse Voc porexemplo disse o pai quando est interessado numa garota o que faz Eu chego pra ela e digo cume Pois o flerte era o cume da nossa poca S que levava mais tempo Quanto tempo mais ou menos Bom seu pai e eu flertamos quase um ano Depois namoramos quatro noivamos um e casamos Putz Eu n o entendo essa sua irrita o meu filho que se n o fosse esse ano de flerte hoje eu j estava livre do servi o militar O pleito C omo era poca de elei o a professora decidiu fazer um pleito simulado na aula N o Andr pleito n o o que o pleru tem na frente Aten o aula Para uma
14. a hist ria Na poca colonial quando o Brasil ainda estava sob o dom nio de Portugal houve um momento em que minas de ouro diamantes e outras pedras preciosas tinham sido descobertas em Minas Gerais Muita riqueza Mas a Coroa portuguesa cobrava impostos alt ssimos e controlava todo o transporte de mercadorias para n o haver contrabando A fim de enganar os fiscais as pessoas tentavam todo tipo de esperteza Uma delas era fazer imagens ocas de madeira representando santos e anjos Dentro dessas esculturas era poss vel esconder ouro e j ias da que vem a express o santinho do pau oco para se referir a um falso santo algu m que pode parecer muito bonzinho e angelical mas no fundo uma peste Santinhos e brincalh es alunos e professores pais e filhos povoam as p ginas destes contos que v o aos poucos se juntando e fazendo um panorama da escola de alguns anos atr s quando o autor estudava Uma poca que ele recorda com evidente saudade mas tamb m com seu caracter stico e ineg vel esp rito cr tico Todo um universo recriado em pequenos detalhes a partir do extraordin rio sentido de observa o que um tra o marcante do escritor S o contos pequenos s vezes pr ximos de cr nicas narrativas compondo um mosaico que at faz lembrar outra experi ncia interessante da Literatura Brasileira a de Graciliano Ramos um autor alagoano que em 1943 publicou Vidas secas uma reuni o de v rios epis dios passado
15. acostumado que a m e dele est preocupada Eu n o me preocuparia Todas as crian as s o hipe rativas nessa fase O Buscap O Ot vio s um pouco mais do que as outras A sua senhora n o deve Mas ela est preocupada com outra coisa O qu O Busca n o p ra de ler N o p ra de ler Mas isso timo Desde que come ou a ler anda sempre com um livro debaixo do bra o Quando a gente estranha o sil ncio dentro de casa vai ver ele n o fazendo barulho Est atirado no ch o soletrando um livro muito compenetrado Mas eu n o vejo qual o problema a m e dele que Bom ela sente falta Do qu Da agita o do Busca Ela n o est acostumada entende Ater um intelectual em casa Outro dia at brigou com ele Por qu Ele estava quieto demais Ela gritou Eu n o ag ento mais Quebra alguma coisa Mas eu n o entendo o que eu posso Bom se a senhora pudesse sei l N o digo desencorajar o Busca S dizer que ele n o precisa exagerar Mas ele est descobrindo o mundo maravilhoso dos livros Isso formid vel s que a gente fica n o com um certo ci me Os pregui osos D ois pregui osos est o sentados cada um na sua cadeira de balan o sem vontade nem de balan ar Um deles diz Ser que est chovendo O outro Acho que est Ser N o sei Vai l fora ver Eu n o Vai voc Eu n o
16. alquer esfor o extra J em Minhas f rias o autor escolhe outro caminho Escreve exatamente como se fosse mesmo a reda o escolar de um menino que n o soubesse redigir direito e ficasse pondo as palavras no papel do jeito que elas v m cabe a meio como quem fala E justamente esse truque da escrita que d gra a ao texto Enfim em todos os contos o leitor pode se divertir Em muitos deles pode tamb m se enternecer com as lembran as do Ver ssimo ou com suas observa es sutis e t o humanas como o ci me que os pais sentem em A descoberta ao perceberem que o pestinha do filho est crescendo e entrando num mundo novo e independente onde eles n o v o mais conseguir acompanh lo Por tudo isso fica f cil compreender por que Luis Fernando Ver ssimo um dos mais bem sucedidos autores brasileiros contempor neos t o amado por seus leitores fi is sempre com alguns livros nas listas dos mais vendidos da semana poss vel que voc j tenha lido outras coisas dele na escola Talvez conhe a seus quadrinhos em As Cobras ou de vez em quando leia uma cr nica dele num jornal Pode ser que tenha visto na televis o algumas de suas hist rias que foram adaptadas para Com dias da vida privada Mas agora vai ter a oportunidade de conhecer um Ver ssimo um pouco diferente especial para voc inteiramente vontade numa conversa entre amigos de escola Mesmo que uns sejam santinhos e outros sejam
17. c confia ou n o confia Voc s que v o decidir E voc Ot vio Fa a o seu discurso Brasileiras e brasileiros O Ot vio Andr Voc fique quieto Bom eu eu representarei voc s no governo O que voc s quiserem eu farei O Ot vio outro estilo de candidato Ent o vamos ver O Carlos Eduardo tem um programa de governo a Rita diz que ela na hora resolve tudo e o Ot vio diz que far o que pedirem Vamos votar Cada um escreve neste papelzinho o nome do candidato depois coloca nesta caixa Andr distribua os papeizinhos por favor Se isto fosse uma elei o de verdade estas seriam c dulas e isto uma urna Cada um vota de acordo com as convic es Muito bem todos prontos Andr voc ficou com o seu Ent o vamos l Escrevam o nome do seu preferido Como que se escreve McDonald s Isto s rio Andr Vamos ver quem ganha Primeiro o Ot vio segundo a Rita terceiro o Carlos Eduardo Como que voc sabe Andr Fiz uma pesquisa enquanto distribuia os papeizinhos Podem parar de votar Por que professora N o tem mais gra a Todos concordaram que as pesquisas estragam tudo e ningu m falou com o Andr pelo resto do dia Apesar de ele acusar todo mundo de ser contra a ci ncia Conversa N meu tempo de estudante l pela Idade M dia uma das artes que t nhamos que dominar era a X y arte de conversar porteiro de baile Os bailes eram nos c
18. camping este ano porque disse que estava na hora de a gente conhecer a natureza de perto j que eu a minha irm Su e o meu cachorro Dogman nascemos em apartamento e at os 5 anos de idade sempre que via um passarinho numa rvore eu gritava aquele fugiu e corria para avisar um guarda mas eu acho que meu pai decidiu fazer camping depois que viu o pre o dos hot is apesar de a minha m e avisar que na primeira vez que aparecesse uma cobra ela voltaria para casa correndo e a minha irm Su insistir em levar o toca discos e toda a cole o de discos dela mesmo o meu pai dizendo que aonde n s amos n o teria corrente el trica o que deixou minha irm Su muito irritada porque se n o tinha corrente el trica como ela ia usar o secador de cabelo Mas eu e o meu cachorro Dogman gostamos porque o meu pai disse que n s amos pescar e cozinhar n s mesmos o peixe pescado no fogo e comer o peixe com as m os e se h uma coisa que eu gosto confus o Foi muito engra ado o dia em que minha m e abriu a porta do carro bem devagar espiando embaixo do banco com cuidado e perguntando ser que n o tem cobra e o meu pai perdeu a paci ncia e disse entra no carro e vamos embora porque n s ainda nem tinhamos sa do da garagem do edif cio Na estrada tinha tanto buraco que o carro quase quebrou e n s atrasamos e quando chegamos ao local do camping j era noite e o meu pai disse este parece ser um bom
19. ho e a Alicinha ainda acabaria louca O diamante m dia Maria chegou em casa da escola muito triste O que foi perguntou a m e de Maria Mas Maria nem quis conversa Foi direto para o seu quarto pegou o seu Snoopys e se atirou na cama onde ficou deitada emburrada A m e de Maria foi ver se Maria estava com febre N o estava Perguntou se Maria estava sentindo alguma coisa N o estava Perguntou se estava com fome N o estava Perguntou o que era ent o Nada disse Maria A m e resolveu n o insistir Deixou Maria deitada na cama abra ada com o seu Snoopy emburrada Quando o pai de Maria chegou em casa do trabalho a m e de Maria avisou Melhor nem falar com ela Maria estava com cara de poucos amigos Pior Estava com cara de amigo nenhum Na mesa do jantar Maria de repente falou Eu n o valo nada O pai de Maria disse 3 Snoopy o nome de um personagem de hist ria em quadrinhos criado pelo americano Charles Schulz um cachorro muito inteligente que gosta de ficar deitado no telhado de sua casinha mas acompanha as crian as em tudo como se fosse gente Faz parte da turma do Charlie Brown Em primeiro lugar n o se diz eu n o valo nada eu n o valho nada Em segundo lugar n o verdade Voc valhe muito Quer dizer vale muito N o valho Mas o que isso disse a m e de Maria Voc a nossa filha querida Todos gostam de voc A mam e o pa
20. icano Helena ficou de boca aberta Eu n o sabia que voc s falavam disse Nem n s disse a Suzi o maior barato disse a boneca de pano que a Helena chamava de Matilde e era muito espevitada Eu sei at cantar disse o Pompeu E come ou a cantar at que os outros fizeram sssh e mandaram parar Mas isto timo disse Helena Agora eu vou poder conversar com voc s de verdade Antes s eu falava e ningu m respondia Tem uma coisa disse o Moleng o O que Voc nos chama pelos nomes errados Mas fui eu que botei os nomes em voc s A n o ser pela Suzi que j veio da loja com esse nome Pois nem eu me chamo Suzi disse a Suzi Meu nome mesmo Eunice O meu Geraldo disse Pompeu O meu Felipe disse o Moleng o Mas voc pode me chamar de Felip o E o seu como perguntou Helena apontando para o cachorro What disse o cachorro em ingl s Como o s eu no me repetiu Helena Quando a gente fala com estrangeiro s falar bem devagar que eles entendem Meu nome Sam disse o cachorro Sam Smith E o meu nome voc s nem desconfiam qual disse a boneca de pano Saralara Que nome esquisito disse o Moleng o Quer dizer o Felip o Esquisita a sua cara disse a boneca N o briguem pediu Helena E o seu verdadeiro nome como Helena quis saber Geraldo o ex Pompeu Helena u
21. livro foi digitalizado e distribu do GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source com a inten o de facilitar o acesso ao conhecimento a quem n o pode pagar e tamb m proporcionar aos Deficientes Visuais a oportunidade de conhecerem novas obras Se quiser outros t tulos nos procure http groups google com group Viciados_em_Livros ser um prazer receb lo em nosso grupo A solu o O sr Lobo encontrou o sr Cordeiro numa reuni o do Rotary e se queixou de que a f brica do sr Cordeiro estava poluindo o rio que passava pelas terras do sr Lobo matando os peixes espantando os p ssaros e ainda por cima cheirando mal O sr Cordeiro argumentou que em primeiro lugar a f brica n o era sua era do seu pai e em segundo lugar n o poderia fech la pois isto agravaria o problema do desemprego na regi o e o sr Lobo certamente n o ia querer bandos de desempregados nas suas terras pescando seu peixe matando seus p ssaros para assar e comer e ainda por cima cheirando mal Instale equipamento antipoluente insistiu o sr Lobo Ora meu caro retrucou o sr Cordeiro isso custa dinheiro e para onde iria o meu lucro Voc certamente n o contra o lucro sr Lobo disse o sr Cordeiro preocupado examinando o sr Lobo atr s de algum sinal de socialismo latente N o n o disse o sr Lobo mas isto n o pode continuar uma agress o Natureza e o que mais grave minha Natureza Se ainda fosse Natureza do vizinho E
22. lubes geralmente com convites que de convites n o tinham nada j que eram pagos e quem tinha dinheiro O jeito era enrolar o porteiro A esta cena eu assisti Tenho que entrar para avisar a minha irm Nossa m e est passando mal Eu mando chamar S uma entrada r pida Se n o voltar em dois minutos o senhor pode mandar me buscar S entra com convite Eu deixo este chaveiro com o senhor de estima o Se eu n o voltar em cinco minutos Sem convite n o entra Eu perdi o meu Juro Sem convite n o en Est bem est bem Tome o convite Ele tinha o convite o tempo todo no bolso do casaco Depois reunido com a turma explicaria N o insisti porque tinha muita gente atr s e eu estava bloqueando o caminho Mais um pouco e ele cedia Porteiro comigo n o tem moleza N o era uma quest o de ter ou n o ter convite Era uma quest o de princ pios Onde estava a gra a de entrar com convite como todo mundo Rel gio Digital O pai achou que o filho j estava na idade para terem a tal conversa Encontrou o menino brincando com um amiguinho e convidou os dois para uma caminhada Come ou com a agricultura O agricultor meu filho coloca uma semente na terra a semente cresce e se transforma em planta Com os animais a mesma coisa O macho coloca uma semente na f mea a semente cresce etc Com as pessoas tamb m assim por isso que n s temos rg os sexuais e o do homem
23. o Marmelo Martelo de Ruth Rocha muito interessante ver como os dois autores trabalham exatamente com o mesmo material de forma t o diferente Se voc encontrar numa biblioteca o livro da Ruth fa a uma compara o Encontrando ou n o pode brincar de imaginar outros nomes para as coisas muito divertido Experi ncia ma vez fizeram uma experi ncia Criaram um macaco dentro de uma jaula com dois bonecos que substitu am a m e dele Um era um boneco duro e frio mas que lhe dava leite O outro n o dava leite mas era quente e acolchoado como costumam ser as m es Ent o assustavam o macaquinho para ver se ele corria para a m e que o alimentava ou para a m e que dava colo E ele invariavelmente corria para a m e aconchegante Acho que uma experi ncia parecida poderia ser feita n o com macacos mas com crian as e n o com m es mec nicas mas com um livro e uma televis o Uma experi ncia hipot tica claro longe de mim sugerir que se coloquem crian as em jaulas para assust las e testar suas rea es O que equivaleria m e que alimenta mas n o d calor o livro ou a televis o Como ainda sou partid rio de Gutenberg gosto de pensar que uma crian a pode receber tudo o que precisa da televis o mas que nada substitui o prazer t til o calor de um livro e que sua rela o com a informa o impressa sempre ser mais humana e atraente Mas tenho a 9 Gutenberg foi o alem o que inventou a imprensa e po
24. o velho Herodes 8 em Jerusal m Pra qu Chegaram l de boca aberta e entregaram toda a trama Perguntaram Onde est o rei que acaba de nascer Vimos a sua estrela no Oriente e viemos ador lo Quer dizer pegou mal Muito mal O velho Herodes que era um olig o ficou grilado Que rei era aquele Ele que era o dono da pra a Mas comeu em boca e disse J ia Onde que esse guri vai se apresentar Em que canal Quem o empres rio Tem baixo el trico Quero saber tudo Os magrinhos disseram que iam flagrar o Guri e na volta dicavam tudo para o coroa Bom Seguiram o cometa chegaram numa estrebaria e l estava o Guri com a M e e o Pai Sensacional Parecia at pres pio vivo Os magrinhos encheram o Guri de presente Era Natal p Mirra incenso ouro autorama Tava na hora de darem no p quando chega um telex do c u Um anjo avisando aos magrinhos que n o repito n o voltem presen a de Herodes porque o coroa t a fim de apagar o Guri E depois que os magrinhos se mandaram chega outro telex desta vez para o velho do Guri Te manda e leva a fam lia O Herodes vem atr s de voc s e n o para dar presente O velho pegou a mulher e o Guri e voou para o Egito Na estrebaria as vacas ficaram se entreolhando meio acanhadas mas depois esqueceram tudo Ali s um dos carneiros mais tarde quis vender a hist ria toda para um jornal de Jerusal m mas n o acertaram o tutu s por essa palavra j dava para ver q
25. pai a vov os tios as tias Para n s voc uma preciosidade Mas Maria n o se convenceu Disse que era igual a mil outras pessoas A milh es de outras pessoas S na minha aula tem sete Marias Querida come ou a dizer a m e Mas o pai interrompeu Maria disse o pai voc sabe por que um diamante vale tanto dinheiro Porque bonito Porque raro Um peda o de vidro tamb m bonito Mas o vidro se encontra em toda parte Um diamante dif cil de encontrar Quanto mais rara uma coisa mais ela vale Voc sabe por que o ouro vale tanto Por qu Porque tem pouqu ssimo ouro no mundo Se o ouro fosse como areia a gente ia caminhar no ouro ia rolar no ouro depois ia chegar em casa e lavar o ouro do corpo para n o ficar suja Agora imagina se em todo o mundo s existisse uma pepita de ouro Ia ser a coisa mais valiosa do mundo Pois E em todo o mundo s existe uma Maria S na minha aula s o sete Mas s o outras Marias S o iguais a mim Dois olhos um nariz Mas esta pintinha aqui nenhuma delas tem Voc j se deu conta de que em todo o mundo s existe uma voc Mas pai S uma Voc uma raridade Podem existir outras parecidas Mas voc voc mesma s existe uma Se algum dia aparecer outra voc na sua frente voc pode dizer falsa Ent o eu sou a coisa mais valiosa do mundo Olha voc deve estar valendo a uns tr
26. r isso seu nome ficou quase como sin nimo de palavra impressa Quando se fala em gal xia de Gutenberg isso quer dizer o universo dos livros Ao dizer que partid rio dele o autor afirma que est tomando partido a favor dos livros impress o de que a experi ncia me decepcionaria Provocada a procurar a informa o pelo meio que mais lhe d prazer ou seguran a uma crian a moderna a princ pio me encheria de esperan a dirigindo se para um livro Mas em seguida me desiludiria Carregaria o livro at a frente da televis o e o usaria como um degrau para alcan ar o bot o da TV j Este livro foi digitalizado e distribu do GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source com a inten o de facilitar o acesso ao conhecimento a quem n o pode pagar e tamb m proporcionar aos Deficientes Visuais a oportunidade de conhecerem novas obras Se quiser outros t tulos nos procure http groups google com group Viciados_em_Livros ser um prazer receb lo em nosso grupo A hist ria mais ou menos N eg cio seguinte Tr s reis magrinhos ouviram um pl de que tinha nascido um Guri 7 Viram o cometa meta no Oriente e tal e se flagraram que o Guri tinha pintado por l Os profetas que n o eram de dar cascata j tinham dicado o tro o em Bel m da Jud ia vai nascer o Salvador e t falado Os tr s magrinhos se mandaram Mas deram o maior fora Em vez de irem direto para Bel m como mandava o cat logo resolveram dar uma incerta n
27. rteza pode se deixar de estudar e por isto estava ganhando um zero exemplar S faltou me chamar de original do pau oco Enfim sobrevivi No gin sio todos os professores eram homens mas n o lembro de nenhuma marca que algum deles tenha deixado As rela es com as nossas pseudo m es no prim rio eram muito mais profundas As duas hist rias que eu contei n o t m nenhuma import ncia Mas olha as cicatrizes Vitor e seu irm o N era preven o A professora tinha o cuidado de tratar todos os seus alunos da mesma maneira Pelo menos se esfor ava para isto Mas com o Vitor ela sempre estava com um p atr s O Vitinho era um caso parte Qual a popula o do Brasil Um aluno levantou a m o e leu a resposta que estava no livro Cento e vinte milh es 2 O Vitor levantou a m o A professora sentiu um vazio na barriga L vinha ele 2 4 y y a m z E claro que este livro foi escrito h alguns anos Hoje s o mais de cento e sessenta milh es O que Vitinho Cento e vinte e um milh es Por que Vitinho Minha m e teve um filho esta semana Uma risadinha correu pela sala mas o Vitor ficou s rio Estava sempre s rio Quantos filhos a sua m e teve Vitor At agora N o desta vez Um Mas dos grandes Outra risadinha como marola na superficie de um lago Ent o n o s o cento e vinte e um milh es S o cento e vinte milh es e um E a professora escre
28. s as minhas d vidas existenciais datem do ep teto da Dona Ilka mas depois disso pelo resto da vida n o foram poucas as vezes em que um passarinho imagin rio D para ver que o autor est exagerando e brincando com o leitor A Idade M dia acabou em 1453 quando a cidade de Constantinopla hoje Istambul foi tomada pelos turcos que impediram a sua utiliza o pelos europeus como escala das caravanas comerciais para o Oriente Com isso eles tiveram que procurar outro caminho para ir s ndias os portugueses desenvolveram as navega es acabaram chegando l por mar em 1498 e descobrindo o Brasil em 1500 com perfil de professora pousou no meu ombro e me chamou de fingido Os santinhos do pau oco passam a vida se questionando J outra professora quase destruiu para sempre qualquer pretens o minha originalidade liter ria Era para fazer uma reda o em aula sobre a ociosidade e eu n o tinha a menor id ia do que era ociosidade Se a palavra fora mencionada em aula tinha certamente sido num dos meus per odos de devaneio em que o corpo ficava ali mas a mente ia passear E ent o me achando formid vel fiz uma reda o inteira sobre um aluno que precisa fazer uma reda o sobre a ociosidade sem saber o que isso sua agonia e finalmente sua decis o de fazer uma reda o sobre a ociosidade etc A professora chamou a aten o de toda a classe para a minha reda o Eu era um exemplo de quem acha que com espe
29. s no sert o nordestino que ele chamou de contos formando o que classificou como um romance desmont vel Quer dizer cada hist ria vale por si mesma mas todas juntas formam um panorama geral S que os contos de Luis Fernando Verissimo s o bem curtinhos e gostosos de ler numa linguagem bem atual Diferentes dos de Graciliano Ramos mais longos de outra regi o e de outro tempo Do tempo do pai de Luis Fernando o grande autor ga cho Erico Verissimo Vai ver que foi com ele que o filho aprendeu a escrever t o bem Mas ser filho de um grande escritor pode tamb m ter suas desvantagens para quem pensa em seguir a mesma carreira Todo mundo fica comparando Ent o se o garoto tem vontade de escrever at fica sem gra a e com medo de tentar Como se tivesse a obriga o de n o ficar para tr s Talvez tenha sido por isso que Luis Fernando Ver ssimo queria ser m sico e n o escritor Toca saxofone at hoje e tem at fama de tocar direitinho Mas como sempre teve um talento danado para as palavras acabou chegando uma hora em que n o deu mais para fugir delas Bem que ele tentou At se meteu a ser desenhista de hist ria em quadrinhos mas com uma esperteza seus personagens eram cobras que era para ele n o precisar desenhar cara com orelha e nariz nem corpo com pernas bra os m os e uma por o de movimentos diferentes Porque o neg cio dele mesmo escrever como voc vai comprovar neste livro Se voc quiser fa
30. segundo a resposta aparecer na tela E ent o o garoto dir Como que sei que a resposta certa Porque Ele disse que certa responder o pai E se Ele estiver errado Ele nunca erra Mas se estiver Sempre podemos contar nos dedos O qu Contar nos dedos como faziam os antigos Levante dois dedos Agora mais dois Viu Um dois tr s quatro O Computador est certo Mas pai e 362 vezes 17 N o d para contar nos dedos A n o ser reunindo muita gente e usando os dedos das m os e dos p s Como saber se a resposta d Ele est certa Ai o pai suspirou e disse Jamais saberemos O Rodrigo gostou da hist ria mas disse que quando ningu m mais soubesse matem tica e n o pudesse p r o Computador prova ent o n o faria diferen a se o Computador estava certo ou n o j que a sua resposta seria a nica dispon vel e portanto a certa mesmo que estivesse errada e Ai foi a vez de a professora suspirar o A descoberta B om dia Eu sou o pai do Buscap Do Buscap Do Ot vio Ah do Ot vio Pois n o Ele um dem nio Eu sei Quer dizer n o Ele um menino vamos dizer hiperativo Hiper pouco Eu n o acho que Por favor N o precisa se constranger Eu sou o pai e sei Ele um dem nio E sobre isso que eu queria lhe falar Ele contou que eu gritei com ele na aula N o n o Isso ele nem nota Est
31. ue o autor ga cho No Rio Grande do Sul chamam menino de guri Bom o Herodes claro ficou chutando as paredes quando soube da jogada dos magrinhos Mandou que todo bebinski nascido nas bocas fosse cancelado Se tiver fralda apaga Foi chato Muito chato Morreu nenen que n o foi f cil Mas o Guri tava no Egito viv o Pouco depois Deus achou que o Herodes tava se passando e cassou a licen a dele E mandou passar outro telex para o velho do Guri Pode voltar Segue carta Mas o velho foi vivo e em vez de pintar na Jud ia onde o filho de Herodes outro mauca reinava foi para a Galil ia para uma cidadezinha chamada Nazar Ali o Guri cresceu legal Acabou Rei mesmo dando o maior Ibope Ali s os profetas j tinham dito que o Guri seria chamado Nazareno Naquela poca profeta n o dava uma fora Se tivesse a Loteria Esportiva j viu n 8 5 Em Herodes era o rei da Jud ia quando Jesus nasceu O flete Pai perguntou o menino o que flete Flete Tem certeza de que a palavra essa mesmo Tenho Parece que uma coisa antiga Ah disse o pai sorrindo com a lembran a Deve ser flit Se dizia flite Era um sei l Inseticida Contra mosca e mosquito Espalhava se pela casa com uma bomba Um tipo de spray Na poca n o se dizia spray Era bomba mesmo E as pessoas respiravam o ar com flete Flite Bem n o devi
32. veu o n mero no quadro negro Depois apontou para o um no fim do n mero e disse Este aqui o seu irm ozinho Vitor Depois antes mesmo do Vitor falar ela se deu conta de como aquele um parecia solit rio no fim de tantos zeros Coitadinho do meu erm o Irm o Vitor E claro que este n mero n o exato Tem gente nascendo e morrendo a todo momento L no hospital tava cheio de crian as Ser que j contaram N o sei Vitor eu Bota mais uns dois ou tr s pra acompanha meu erm o tia Ela teve que rir junto com os outros Voc hein Vitinho Com voc eu tenho que ficar sempre com um p atr s Cuidado pra n o ca pra frente tia Chega Vitor Outro caso era o da Alicinha que se espantava com tudo Era s a professora dizer por exemplo que a capital do Brasil era Bras lia e a Alicinha arregalava os olhos e exclamava Bras lia Alice Por qu Nada Depois ficava com aquela cara de que s ela era certa no mundo de loucos onde se viu a capital do Brasil ser Bras lia mas era melhor deixar pra l Um dia a professora disse que o Brasil tinha 8 000 km de costa marinha e ficou esperando a rea o da Alicinha Nada O Brasil banhado pelo oceano Atl ntico Atl ntico Alice Desde quando Desde sempre Alice Eu hein Eu hein era mortal Eu hein era de matar mas a professora precisava se controlar Entre o Vitin
33. zer uma experi ncia tente n o se concentrar apenas na hist ria que o Ver ssimo est narrando em cada conto e procure ir mais fundo prestando aten o na linguagem que ele usa Por exemplo em A hist ria mais ou menos ele faz um conto de Natal diferente de tudo o que a gente j leu Relata um epis dio que todo mundo conhece o nascimento de Jesus e a viagem dos reis magos Mas a linguagem que usa completamente diferente da que se l na B blia cheia de g ria como se fosse uma conversa tem at umas palavras erradas como a gente aprende que n o deve escrever numa reda o Por qu O que ele consegue com isso A hist ria fica ao mesmo tempo um pouco engra ada e muito mais pr xima do leitor uma prova de como o autor consegue uma perfeita adequa o entre o que ele est contando e a forma de contar para nos tocar da maneira que quer Quer ver outro exemplo O conto mais curtinho de todos se chama Os pregui osos At mesmo o leitor com mais pregui a ou menos vontade de ler acaba a leitura num instante Mas tem que prestar aten o para entender Porque na verdade mesmo um retrato muito bem feito da pregui a mas n o tem nenhuma descri o nenhuma conversa fiada cheia de palavras abstratas escrito numa linguagem econ mica de quem n o desperdi a nada e n o gasta nada al m do que indispens vel Como se a pr pria maneira de escrever estivesse mostrando que pregui oso n o faz qu
Download Pdf Manuals
Related Search