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Voz ainda humana? Do corpo ao corpo sem sombra: o

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2. o do aparelho em Fran a que motivou a Cocteau a escrita da pe a IL 5 ENTRE O IMEDIATO E O MEDIATO Antes da inven o do telefone os meios mais correntes de comunica o dist ncia eram as cartas via postal e o tel grafo No caso das cartas tornava se necess rio o seu transporte f sico entre o local do emissor e o local do destinat rio O tel grafo veio alterar a necessidade do transporte f sico da mensagem No entanto implicava a desloca o a um posto do qual fosse poss vel realizar a transmiss o da comunica o Esta transmiss o acarretava custos consider veis e uma consequente modera o quanto extens o dos conte dos a transmitir O telefone veio mudar este panorama possibilitando o estabelecimento de comunica es imediatas sem necessidade de desloca o a postos de transmiss o uma vez que as mesmas podiam ser feitas directamente entre a resid ncia dos interlocutores O seu custo mais reduzido se comparado com o do tel grafo permitia tamb m conversa es mais extensas e uma sensa o de proximidade e intimidade n o poss vel atrav s da palavra escrita I 6 ORALIDADE ESCRITA E SEGUNDA ORALIDADE A primeira forma de comunica o humana consubstancia se na oralidade A informa o e o conhecimento eram assim passados entre indiv duos sem a fixa o em qualquer suporte Com a escrita e a inven o da impress o perde se o sentido de imediatismo que a oralidade proporciona A se
3. O DO CAMPO DE AN LISE O trabalho centra se na problematiza o das quest es suscitadas pela media o da voz por via do telefone quer no contexto artistico da realiza o do espect culo quer no contexto mais abrangente da produ o de novas formas de subjectiva o Neste contexto o telefone a ter em conta o telefone com fios originalmente proposto por Cocteau e o telefone sem fios m vel Kit m os livres proposto no mbito do espect culo N o objectivo do trabalho focar se com particularidade nos actuais dispositivos m veis em que se verifica uma converg ncia de v rios media smartphones etc A op o pela n o inclus o das possibilidades destes dispositivos grava o de som e imagem acesso internet transfer ncia de dados etc prende se com o objectivo de n o expandir demasiado os conceitos evocados por Cocteau quanto introdu o do telefone na cena Desta forma estamos em crer que a refer ncia aos pressupostos originais do texto continua salvaguardada pela defini o de um contexto de contiguidade no mbito de uma reflex o contempor nea CAPITULO I A VOZ HUMANA L1 VOZ HUMANA CORPO SOM FALA Uma voz significa isto h uma pessoa viva garganta peito sentimentos que lan a para o ar a sua voz diferente de todas as outras vozes Calvino 1995 Denota se nesta observa o de Italo Calvino uma insepar vel e singular rela o org nica entre voz e corpo A voz ass
4. desta forma questionar as altera es espaciais e emocionais que o telefone sem fios introduzia no contexto original da pe a Neste trabalho de projecto contextualizam se os pressupostos que levaram em termos artisticos realiza o do espect culo com o objectivo de produzir um discurso reflexivo sobre a quest o do corpo da voz e da sua media o atrav s do telefone Recupere se a este prop sito o texto escrito em 2011 por Carlos Pimenta e Raquel Castro para o programa de A Voz Humana Em A Voz Humana procura se um corpo ausente e tanto a actriz como o espectador s o for ados a constitu lo nos sil ncios que percorrem uma linha de telefone De um corpo real que vemos ali no palco s podemos constituir um outro numa esp cie de n o lugar que nos obriga a aceitar novas formas de percep o que exigem algo mais da nossa condi o de espectadores pelo menos no que respeita identifica o e estabelecimento de um compromisso com novos c digos Todavia e apesar de tudo ainda estamos no terreno confort vel da fic o Mas mais de 80 anos passados sobre a escrita da pe a e com os corpos perdidos na aus ncia de um fio que os ligue em que lugar se materializam e fazem ouvir a sua voz Esta tornou se cada vez mais presen a electroac stica que nos obriga ao entendimento de novas esferas do simb lico A sua fixa o ou transforma o parecem nos hoje mais verdadeiras e mais eficazes do
5. viabiliza n o permite assim um res duo ao contr rio do que acontece com a comunica o escrita Ele torna se de certa forma transparente no que respeita comunica o uma vez enquanto meio nela n o deixa vest gio d Um instrumento prop cio propaga o da mentira p 5 OC INAS 190 oes Motta e S at A O de E tu el As tuas luvas forradas as luvas que usavas para CODI eec iiie N o sei N o vi nada E poss vel Vou ji PORC ESE PRINTER Espera Nao deixes que te desliguem 40 Ela pega nas luvas de punho forradas que estao em cima da mesa por detras do candeeiro e beija as apaixonadamente Fala mantendo as luvas encostadas a face ESTA sete oes ESTA eden TAG seque procurei em cima da c moda no sof no hall por todo o lado N o est o AQUI ais ct ssa tt OUVE ied eita vou ver outra vez mas tenho a OCLC ZA eas eee nS Se por acaso aparecerem amanha de manh deixo as l em baixo com o saco Na aus ncia dos corpos num mesmo espa o torna se mais f cil veicular o engano e a mentira A mulher joga aqui com a sua invisibilidade e mente ao amante Este sem sinais sonoros que lhe permitam identificar as ac es e o espa o deixa se levar no jogo da protagonista O telefone torna se assim um instrumento que possibilita a manipula o pela voz Esta voz desligada do corpo que a produz pode ser tal como o telefone uma arma terr vel Talvez em nenhum outro excerto da pe a se verifique tanto
6. William On not answering the telephone http www bt com bn opinion 2010 03 22 among civilised Acedido em 7 1 2014 SOLA POL Ithiel Forecasting the telephone 70 http thorngren nu wp content uploads 2011 10 Sola_Pool Ch1 pdf Acedido em 15 1 2014 SOUTHERN BELL TELEPHONE 1899 https archive org details southernbelltele1899sout Acedido em 20 1 2014 THE ALEXANDER GRAHAM BELL FAMILY PAPERS http memory loc gov ammem bellhtml agbcap html Acedido em 7 10 2013 71 ANEXOS ANEXO 1 Texto do espect culo 4 Voz Humana Tradu o Alexandra Moreira da Silva ANEXO II DVD do espect culo 4 Voz Humana Realiza o de Alexandre Azinheira ANEXO III Programa do espect culo 4 Voz Humana Teatro Nacional de S Jo o 72
7. circunscreveu aos Estados Unidos da Am rica pois em 1789 tr s anos ap s a sua inven o o aparelho j tinha chegado a Inglaterra iniciando neste pa s a sua penetra o no continente europeu 1876 P P Se B BELL TELEPHONE e D LLBES EMO QE sc RISE FIRST BELL TELEPHONES PHOTOGRAPHED FROM THE ORIGINAL INSTRUMENTS IN THE PATENT OFFICE AT WASHINGTON Fig 4 Fotografia dos telefones originais de Bell tal como apresentados ao servi o de Patentes em Washington IL2 DO CEPTICISMO A VULGARIZA O V esta surpresa que tenho para ti Mary E um telefone Um telefone Aquela coisa para falar atrav s de um fio Mas isso n o somente um brinquedo Far Speaking 1935 Na cena inicial do filme Far Speaking the History of telephone development from 1877 to 1935 o telefone acabado de instalar na casa de fam lia orgulhosamente apresentado pelo marido como um facilitador da comunica o dist ncia Contudo tal novidade percebida pela mulher como sendo um brinquedo A cren a nas vantagens da comunica o dist ncia e na utilidade da mesma assim relegada para o dom nio do l dico O interesse por um aparelho que substitu sse a comunica o verbal e epistolar e o pr prio tel grafo n o foi logo evidente como o demonstram o di logo inicial de Far Speaking e tamb m as palavras de Rutherford dirigidas a Bell Em 1877 o Engenheiro Ch
8. de comunica o que n o a verbal Mais de oitenta anos passados sobre a escrita da pe a o espect culo A Voz Humana prop e na cena um telefone sem fios Que realidades espaciais determina esta nova abordagem Em que medida no confronto com o telefone original de Cocteau se estabelecem ainda outras subjectividades PALAVRAS CHAVE voz corpo media o telefone tempo espa o proximidade dist ncia subjectividade ABSTRACT Is this still a human voice From the body to the body without shadow the telephone as producer of new subjectivities On The Human Voice by Jean Cocteau CARLOS MANUEL PIMENTA When Jean Cocteau writes in 1927 the play The Human Voice the phone began to assert itself in the habits of Parisians However its presence causes in the everyday lives of its users paradoxical effects Both pervasive and discreet the telephone radically transforms human communication eradicating distance and creating an illusion of proximity In Cocteau s monodrama a woman speaks on the phone with her lover who has just abandoned her Without the physical presence of the other they are dependent on the technical possibilities of the device and communication system lying in real and metaphorical terms connected by a wire The voice is in this play an essential element as is the phone that enables the communication between the lovers but can also suspend It or turn it less effective by hiding the bodies eliminating in t
9. de produzir resson ncia como a zona da nuca ou da cabe a Trata se neste dois casos de especificidades de ordem mais t cnica associadas a uma voz trabalhada enquanto instrumento do qual se procuram extrair as potencialidades m ximas Os sons modificados no palato boca dentes mand bula e l bios produzem a fala Assim a fala implica uma conjuga o deliberada de diversos rg os na zona bucal para que se produzam palavras C u da boca Palato mole Cavidade nasal Nariz Trato vocal L bios Faringe Laringe L ngua Dentes Es fago Cordas vocais Cavidade oral Traqueia Pulm o Diafragma Fig 1 Sistema de produ o de som e fala Subsistema Ressonatorio Subsistema Fonatorio Subsistema Respirat rio Fig 2 Subsistemas que interv m na produ o de som e fala As palavras num texto s o s mbolos gr ficos que correspondem aplica o de diversas articula es e for as musculares Tal como numa partitura musical o falante interpreta estes s mbolos visuais produzindo sonoridades determinadas Importa desde j separar claramente o acto de respirar do acto de falar se no primeiro caso ele prov m de um automatismo no segundo caso ele prov m de uma ac o deliberada de uma vontade de um desejo Sendo manifesta o de uma vontade do locutor a voz instrumento essencial da linguagem do discurso o in cio do acto comunicativo nas palavras
10. do amante intoler vel Por causa da mentira do seu amante ela que a partir de agora tem tamb m de entrar no mesmo jogo Mente ao mordomo e mente ao amante n o lhe relatando de imediato o que tinha sucedido Mente pela voz Neste aspecto o telefone adequa se constru o da sua mentira Impossibilitado de ler no corpo os sinais da inquietante estranheza em que a mulher agora se encontra o homem mais n o pode do que detectar na voz as pequenas inflex es que o motivam a duvidar E certo que consegue faz lo Seremos incapazes de mentir pela voz 1 Desejo e expectativa p 7 8 H anstantes sas AD DES acetone ao telefone h um quarto de hora que estou a mentir Sei muito bem que nada tenho a esperar mas mentir tamb m n o traz a esperan a e depois n o gosto de te mentir n o posso n o quero mentir te mesmo que seja para teu lo cj RARAS RR RSS RR ACE Oh Nada de grave meu querido n o fiques assustado Mentia te apenas ao descrever o meu vestido e ao dizer te que tinha jantado com a Marta N o jantei n o estou com o vestido cor de rosa Tenho um casaco por cima da camisa porque de tanto esperar pelo teu telefonema de tanto olhar para o telefone me sentar levantar andar de um lado para o outro estava a ficar louca louca Existe potencialmente sempre algu m do outro lado da linha Essa expectativa de um encontro que nos pode transformar uma das
11. do fim de um certo tipo de rela es humanas Se o telefone n o substitui o face a face em termos de comunica o ele mitiga o acesso visual do outro um facto que o aparelho que melhor permite um tipo de comportamento em que a aus ncia f sica do outro se revela mais atenuada A prova disso a forma como utilizado em 4 Voz Humana Se o telefone geralmente usado com parcim nia frases curtas e breves per odos de conversa o na pe a de Cocteau ele a pr pria 37 conversa o Ao longo de uma hora o aparelho oscila entre o desaparecimento e a manifesta o como se tivesse consci ncia da sua import ncia como se soubesse que ele que exerce o controlo e em o poder de escolher e determinar um fim a O telefone depend ncia e submiss o p 2 N o minha senhora somos v rios a utilizar a mesma linha des Heec cec tas ESIOU dio E ate rei bres i sans tations Est a falar com uma assinante ampara srta OB cuentas estoul ssa nas Mas desligue a senhora Est menina estado HEIN EON Deixe nos em paz N o n o doutor Schmit Zero oito n o zero Sete ce estou FRICULO esa e Est o a tentar ligar me n o sei Desliga a m o no telefone Voltam a ligar Estou Mas minha senhora o que que quer que eu Taal usadas Est a ser muito desagrad vel u esie A culpa minha como nem pensar nem p
12. fazei com que ele volte a ligar Meu Deus fazei com que ele volte a ligar Meu Deus fazei com que ele 50 volte a ligar Meu Deus fazei Toca o telefone Ela atende Cortaram a liga o Estava a dizer te que se tu me mentisses por caridade e se eu me apercebesse sentiria ainda mais ternura por Nesta cena a mulher que desliga o telefone Pretende por prova o seu amante e ver se ele toma a iniciativa de continuar a conversa entre ambos Os Jogos de mentira em que ambos se encontram j n o permitem contudo que o telefone assuma a sua transpar ncia Ele utilizado como instrumento do jogo dos amantes q A arma do crime pg 13 14 Meu AO SS fa es PRE NAN GERARD RE PRN ben des meu querido AOT Joins sheesh DE NPR RP A RP RD ecadnansiah Ela enrola o fio volta do DESCOCO da codi onis o ER Dei eb doi ta etam Eu sei que preciso mas horr vel Nunca vou ter essa coragem Sim Temos a ilus o de estarmos abra ados um ao outro e bruscamente temos caves esgotos uma cidade inteira entre TOS c adi o Lembras te da Ivone que n o percebia como que a voz podia passar atrav s de um fio torcido Tenho o fio volta do pesco o Tenho a tua VOZ volta do Jasmin Seria bom que a operadora cortasse a chamada casualmente 42k see iste Shwe Nesta cena vemos como o telefone cria a ilus o de proximidade f sica entre os interlocutores O pr prio fio do aparelho torna se prolongamen
13. gusty entitled le a Talent andei the Late Now Chenier thes LETTERS PATENT ate de giant unte the seed Morondo val as Pol hu x Keits ot zm the etn yours ww the wth hl 4 enr rene WA yan y ga od Minty a the cartunve nghi to mahr nse and vend the saul imventeon yam 7 Mantel Jitas anl the s Peter thers 3n testimeny whetrol Lire tenor sol my hand and anisd the woul of he Parent Ime V e Coly of Wastinglon tha rrr day s Puk ch A the Smelaprenedontor f lhe hars ul fiadas f Syietiast the Contr Lic 7 Fig 3 Patente original de Bell na qual reconhecido o contributo da inven o para o desenvolvimento da telegrafia A inven o do telefone n o granjeou inicialmente muitos adeptos O pr prio Presidente Rutherford mostrou se muito c ptico quando afirmou em 1876 uma inven o espantosa mas quem que querer alguma vez fazer uso dela Contudo a sua efic cia na comunica o dist ncia e as novas potencialidades que suscitava tornam a sua dissemina o bastante r pida O primeiro telefone instalado em Hartford EUA em 1877 e a primeira liga o entre duas cidades foi estabelecida em 1883 entre Nova Iorque e Boston No final de 1887 j existiam 3000 telefones a operar nos Estados Unidos da Am rica Em meados de 1878 o n mero sobe para 10 000 No in cio do s culo XX existiam nos Estados Unidos da Am rica 1 400 000 telefones A dissemina o do telefone n o se
14. n o estava em casa 32 Desliga O telefone toca novamente o amante que lhe liga Ela atende Chora Diz lhe que nunca lhe mentiu Entra em ainda maior desespero ao confirmar que ele lhe mentiu o tempo todo porque acaba de saber que ele n o estava em casa Ela agora j n o consegue disfar ar Diz lhe que est num estado de abandono e desespero e que n o consegue comer nem sair de casa Confessa lhe uma tentativa de suic dio com comprimidos na noite anterior Diz lhe que n o tinha coragem para morrer sozinha e que telefonou a uma amiga que mandou chamar o m dico No entanto confessa se arrependida pois tinha jurado que n o iria magoar o seu amado Conversam ao telefone Ela agora um pouco mais calma Falam mais friamente de detalhes da sua vida de amantes Ela diz lhe que pressentiu tudo mas n o quis estragar os ltimos momentos do amor entre ambos Diz ao homem para n o se preocupar com ela pois est mais serena e com coragem para fazer face situa o Conta lhe que o que os liga o telefone Na noite anterior deitou se com ele J n o consegue dormir sozinha Descontrola se Diz ao amante que n o consegue passar sem ele que vive s para ele que nunca teve outra coisa que n o fosse ele Acalma se Pede ao homem para vir buscar o c o Confessa lhe que nas ltimas horas tem tido um comportamento horr vel e feito coisas assustadoras Novo ru do na linha Interrup o da comunica o Nova discuss o com a opera
15. o ao pared o de um rio O bip obsessivo de um telefone acompanha o desaparecimento da imagem no ecr Durante o bip o pano desce isolando a mulher do espa o que era o seu quarto Est agora de costas para o p blico a olhar para o pano fechado Fica assim por alguns segundos Escuro V 7 O TELEFONE SEM FIOS E A SUA RELA O COM O JOGO C NICO DA ACTRIZ O telefone sem fios utilizado no espect culo alterava sobretudo as rela es de espa o Com efeito a n o exist ncia do fio telef nico permitia actriz uma maior liberdade de circula o pela cena Essa circula o era todavia condicionada pela delimita o da sua zona de acting que era demarcada pelo rect ngulo desenhado no ch o do palco Tanto no cinema como em espect culos que utilizavam o telefone com fios a movimenta o da actriz era claramente confinada a duas zonas em termos espaciais a cama ou o ch o do quarto Embora nesta vers o a actriz dispusesse de uma mais ampla liberdade de movimentos a sua interpreta o continuava a depender quase totalmente da sua rela o com o aparelho Kit m os livres Na aus ncia f sica do seu interlocutor era para o aparelho telef nico que a actriz dirigia a voz Neste sentido o aparelho utilizado continuava a assumir a fun o de mediador da comunica o e a actriz continuava a ter consci ncia da presen a do mesmo Nalguns momentos do espect culo era precisamente para o microfone do aparelho que falava
16. pela contrata o de operadoras confiando na maior diplomacia e serenidade do sexo feminino 39 Se a mulher se encontra ref m da vontade do seu amante em ligar lhe ela nao est menos ref m da operadora pois s atrav s dela a funcionalidade do telefone enquanto medium para o estabelecimento da comunica o se pode efectivar Na sua ansiedade a mulher culpa terceiros est o a cortar aproximando se assim do amante por via de uma vitimiza o face prepot ncia e inger ncia do sistema t cnico Al m da fun o estritamente t cnica da operadora com responsabilidade na viabiliza o da comunica o entre os dois amantes ela torna se tamb m personagem e parte da intriga pois para ela que s o transferidas as culpas das falhas da comunica o e n o para o telefone enquanto objecto inanimado c Um sistema de comunica o que n o deixa res duo p 4 INGO PR ets D O eritema D O sexo as agora est s a ser injusto sess TUI CU aeui ittis fui eu quem telefonou primeiro n o na ter a feira uma ter a feiras Maen Tenho a certeza N o proporcionando o telefone um registo a prova relativa a qual deles ter tomado a iniciativa no ltimo contacto s poder ser oral O homem ter que acreditar na palavra da mulher se n o dispuser de argumentos factuais e convincentes para a contradizer O telefone considerando as caracter sticas orais da comunica o que
17. plano de fundo as imagens criadas para o espect culo acentuavam graficamente o ru do que se estabelecia na comunica o ru do esse que Cocteau evidencia como um ru do t cnico que perturba o di logo e o entendimento entre os amantes 58 Fig 17 Dispositivo c nico de 4 Voz Humana com representa o gr fica do ru do no plano de projec o Ao optar por um dispositivo bastante minimalista com recurso tecnologia contempor nea procurava se um afastamento da mem ria cenogr fica original tanto em termos da leitura do espa o como em termos da defini o e lugar de perten a temporal das personagens com o objectivo de trazer o texto para a os nossos dias deslocando o assim do risco de uma certa arqueologia que o remetesse exclusivamente para o tempo determinado pela sua escrita V 5 A VOZ AMPLIFICADA Em 4 Voz Humana opt mos por amplificar a voz da actriz Esta op o nem sempre aceite no espect culo teatral foi aqui objecto de um prop sito determinado 16 Com efeito por vezes a op o de amplifica o vista como destruidora da ess ncia do teatro e das capacidades t cnicas dos actores Contudo um facto que dada a evolu o do acting requerendo cada vez mais tons intimistas talvez por influ ncia do acting para cinema e a sua n o adequa o ac stica das salas recorde se que os teatros italiana estavam planeados acusticamente para a declama o que nos dias de hoje di
18. pt PT amp sa X amp ei zzoPU_TpG8rl0wxXr90 CACO amp ved 0CHkQ6AEwBwiv onepage amp q pierre 20bern amp f false Acedido em 10 10 2013 68 DOLAR Mladen O objecto voz http seer ufs br index php prometeus article view 800 Acedido em 20 1 2014 DU MONCEL Le t l phone le microphone et le phonographe http www gutenberg org files 27574 27574 h 27574 h htm Acedido em 22 9 013 DYSON Francis Circuits of the voice From cosmology to telephony http www soundculture org texts dyson_circuits html Acedido em 20 1 2014 EHRLICH Melinda Updating La Voix Humaine http gradworks umi com 15 21 1521581 html Acedido em 22 9 013 FERRARIS Maurizio Uma filosofia do celular entrevista em pdf http revistacmc espm br index php revistacmc article view 122 0 Acedido em 2 3 2014 69 FIDALGO Ant nio O celular de Heidegger comunica o ubiqua e dist ncia existencial http www matrizes usp br index php matrizes article view 121 Acedido em 15 10 2013 HIST RIA DO TELEFONE http www antiquetelephonehistory com history php Acedido em 22 9 2013 JEAN COCTEAU Site Officiel http www jeancocteau net index php Acedido em 7 10 2013 MILLER GOTTLIEB Lynet Phone crossed lovers dehumanizing technology in Cocteau s and Poulenc s La Voix Humaine http www erudit org revue cumr 2001 v22 n1 1014500ar pdf Acedido em 15 12 2013 PLOMER
19. telefone torna se assim imagem f sica dessa ilus o uma m quina capaz de provisoriamente nos enganar quanto nossa ainda impossibilidade de teletransporte Por isso a ele que confiamos o nosso desejo de ubiquidade IH 8 DA PRESEN A SOCIAL TRANSPAR NCIA A presen a social uma qualidade dos diversos media A sua maior ou menor evid ncia torna nos conscientes da exist ncia ou transpar ncia do medium e do seu grau de interfer ncia no acto de comunica o Enquanto medium o telefone afirma se socialmente pelo seu toque invasivo e obstinado Esta caracter stica de afirma o do telefone faz com que a sua presen a social seja efectiva quer pela expectativa no estabelecimento de uma comunica o quer pela sua interrup o no caso de uma comunica o face a face que interrompida pelo seu toque Todavia a rela o com o telefone do decurso da comunica o conduz no o de transpar ncia do pr prio aparelho pois no contexto da comunica o que por via dele se estabelece perdemos a refer ncia do telefone enquanto mediador no processo comunicativo O que nos interessa a comunica o com quem est do outro lado da linha e n o o meio pela qual esta se torna poss vel Ao levantar o auscultador temos a no o de que a chamada o Outro vem ao nosso encontro e n o a no o do processo t cnico pelo qual o Outro chega at n s No entanto certo que a exist ncia de um aparelho receptor da
20. 1870 Alexander Graham Bell e outros inventores entre os quais Elisha Gray e Ant nio Meuci trabalhavam tamb m num aparelho que pudesse transmitir electricamente a voz humana Procuravam dar desenvolvimento ao tel grafo transformando o num tel grafo falante Come here Watson I want you Em 1876 entre Bell e Watson s o transmitidas as primeiras palavras consumando se assim o objectivo de v rios anos de investiga o Se neste aspecto Bell tomou a dianteira na corrida patente sai tamb m vencedor Bell regista a patente em 14 de Fevereiro de 1876 antecipando se em duas horas pretens o de Gray Embora a inven o do telefone tenha sido durante muitos anos atribu da a Bell o Congresso Americano veio declarar em 2002 Resolu o 269 de 11 de Junho o italiano Ant nio Meuci como inventor do aparelho n o revogando todavia a patente de Bell Com efeito Meuci tinha registado uma patente provis ria caveat em 1871 mas deixou a expirar em 1874 por n o ter dinheiro para a sua renova o abii Nicer ER Fh am UL ea 4 T ucsemtenl te the KUMI p SHEN a politica praying fcr the gant of LBTTERSTATENT Jot m allegal new ant aspal Inverno v bile qualhus desctgplien of ukih mienten wcentaned in lhe Gpeeyeeution of which npe py strani dins pui tt perry vtr y Mnt with Me ta repusteomento of Lam on suk cosas made and resale and Wher AM yor dae rrnmination madi the said Claimant adjudged de be
21. OGIA APESAR DE TUDO O PRINC PIO B SICO DE FUNCIONAMENTO DE UM TELEFONE Um telefone composto por tr s partes um transmissor bucal um receptor auricular e um interruptor para ligar ou desligar o aparelho Quando se fala ao telefone as vibra es sonoras emitidas pela voz entram no bucal O bucal funciona como uma esp cie de ouvido sens vel Nos telefones mais antigos o transmissor bucal era feito de gr nulos de carv o comprimidos entre duas placas finas de metal diafragma A vibra o do ar emitida pela voz atinge o diafragma fazendo com que este comprima ou descomprima os gr nulos alterando a sua resist ncia el ctrica Com efeito estando aplicada uma tens o el ctrica de baixa voltagem aos seus terminais a varia o da resist ncia el ctrica do diafragma provoca a altera o da corrente el ctrica de acordo com a varia o da press o do ar emitido pela voz O padr o dessas varia es ent o transportado pela corrente el ctrica para o receptor A corrente el ctrica modulada pela voz do emissor transportada por um par de fios de cobre at ao equipamento receptor O receptor auricular funciona como uma boca el ctrica com cordas vocais utilizando um diafragma que accionado por electromagnetes fazendo o vibrar em fun o da varia o da corrente el ctrica S o estes conjuntos diafragma e electromagnete que funcionando como transdutores transformam a varia o da corrente el ctric
22. Voice and Nothing More Cambridge MIT Press 2006 HAVELOCK E A The muse learns to write New Haven Yale University Press 1986 KATZ James ed Machines That Become Us The Social Context of Personal Communication Technology New Brunswick NJ and London Transaction Publishers 2003 KATZ James amp AAKHUS Mark ed Perpetual Contact Mobile Communication Private Talk Public Performance New York Cambridge University Press 2002 LE BRETON David Eclats de voix Une anthropologie des voix Paris M taili 2011 66 LEVINSON Paul Cellphone The Story of the World s Most Mobile Medium and How It Has Transformed Everything New York Palgrave Macmillan 2004 LING Rich The mobile connections the cell phone s impact on society San Francisco Morgan Kaufmann Publishers 2004 MAILLARD Robert Picasso a study of his work and a biographical study NYC Thames and Hudson 1956 MARQUES Luicilia CASCAIS Ant nio Fernando Org Revista de Comunica o e Linguagens n 33 corpo t cnica subjectividades Lisboa Rel gio d gua 2004 MCLUHAN Marshal Understanding media the extensions of man Cambridge MIT Press 1964 MENDES Margarida Vieira A orat ria barroca de Vieira Lisboa Caminho 1989 MYERSON George Heidegger Habermas and the Mobile Phone Cambridge Icon Books 2001 NYIRI Krist f The mobile telephone as a return to unalienated communication In GLOTZ Peter BERTSCHI Stefan
23. Voz ainda humana Do corpo ao corpo sem sombra o telefone como produtor de novas subjectividades a partir de A Voz Humana de Jean Cocteau CARLOS MANUEL PIMENTA PROJECTO DE MESTRADO EM CI NCIAS DA COMUNICA O CULTURA CONTEMPOR NEA E NOVAS TECNOLOGIAS Mar o de 2014 Trabalho de Projecto apresentado para cumprimento dos requisitos necessarios obten o do grau de Mestre em CIENCIAS DA COMUNICA O realizado sob a orienta o cient fica do Professor Doutor Jos A Bragan a de Miranda AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Professor Doutor Jos A Bragan a de Miranda pelos seus sempre oportunos conselhos pelo seu est mulo nos momentos mais dif ceis pela sua sabedoria que constitui um exemplo para uma continuada procura pelo conhecimento e pela amizade que se solidifica a cada dia e a cada novo projecto Aos Professores Doutores Francisco Lu s Parreira Jos Gomes Pinto e Lu s Cl udio Ribeiro por se terem interessado pelo tema e por terem partilhado comigo os seus conhecimentos Raquel Castro por ter sido uma exemplar parceira no projecto 4 Voz Humana Ao ENSEMBLE Sociedade de Actores ao S o Lu z Teatro Municipal ao Temps d Images e ao Teatro Nacional de S Jo o por terem tornado vi vel a realiza o do espect culo Professora Doutora Alexandra Moreira da Silva por ter realizado uma tradu o exemplar e por me ter cedido a sua utiliza o Em lia Silvestre por ter coloca
24. a e uma voz ausente disembodied mas tamb m existente na descri o do corpo a que pertence e nos sil ncios e gestos do corpo que a descreve A esta outra voz de um corpo que n o vemos mas do qual imaginamos uma exist ncia corresponde inevitavelmente um corpo pois o mesmo reflecte se na express o daquele que vemos Podemos caracteriz la como perten a de um corpo sem sombra Esse corpo materializa se ganha visibilidade nos elementos que os ligam viv ncia de um quotidiano que partilham a caneta o mata borr o o len o vermelho e sobretudo no objecto que atrav s do fio os p e materialmente em liga o o telefone O corpo do amante adivinh vel num espa o que se conhece O fio do telefone permite a liga o a esse espa o e o som ou o sil ncio que os movimentos desse corpo determinam permitem que dele se reconstitua uma identidade O som torna se capaz de construir imagens diz a protagonista tenho dois olhos no lugar das orelhas A mulher representa assim dois pap is um enquanto fala e outro enquanto escuta permitindo delinear nos sil ncios o car cter da personagem ausente g Matar pelas palavras pg 6 Ainda bem que s desastrado e que me amas Se nao me amasses e se fosses h bil o telefone transformar se ia numa arma assustadora Uma arma que n o deixa vest gios que n o faz barulho sssssssss O telefone assume se aqui como arma capaz de
25. a em varia o da press o ac stica no auscultador Estas vibra es do ar ondas sonoras reproduzem com absoluto rigor a frequ ncia do sinal produzido pelo emissor reeditando se assim o padr o de voz 21 TELEPHONE LINE RECEIVER TRANSNITTER Fig 6 Esquema de funcionamento de um telefone tal como descrito 22 CAP TULO III O TELEFONE DE COCTEAU IIL 1 O ADERE O BANAL DAS PE AS MODERNAS Oriundo de uma familia burguesa parisiense desde cedo Cocteau toma contacto com os diversos movimentos art sticos da capital francesa Publica o seu primeiro poema aos 19 anos O seu interesse particular pelas artes do espect culo dan a e teatro manifesta se no encontro com os Balllets Russes dirigidos por Serge Diaghilev Desafiado pelo core grafo Cocteau escreve obras para os Ballets Russes com m sica composta por Eric Satie e Darius Milhaud O ballet Parade 1917 com m sica de Satie cen rios e figurinos de Picasso e coreografia de Massine torna se uma obra emblem tica do cubo futurismo ali s segundo Maillard Elgar ter sido mesmo a primeira tomada de consci ncia colectiva desse fen meno novo que era o cubismo Maillard Elgar 1956 Na bo mia parisiense Cocteau conhece Apollinaire Picasso Max Jacob e Modigliani inserindo se no mundo da arte moderna do in cio do s culo XX Artista multifacetado Uma obra de arte deve satisfazer todas as musas Cocteau 1918 Jean Coctea
26. a no o de dist ncia que o telefone imp e e que paradoxalmente seu atributo diminuir e Perder a voz p 5 6 N o deves trabalhar at t o tarde deves deitar te se te levantas cedo amanh de manha EStdl si ttre a ain pais Esta essas aed RD ais e assim sees contudo estou a falar bastante ALO ocius ved dea a Das tebeboq uk E agora conseguis ouvir me Digo e agora consegues ouvir me sesssss tem gra a eu ou o te como se estivesses aqui no QUarto ssa en soares aspas EStdl kno oL ues ie ESTA DENM E TUE ESL osos oett tides Olha agora quem deixou de te ouvir fui GU utes ottenere he ees Sim mas muito longe muito longe Est s a ouvirme VS Zi n as Serine Na sons UM PE Meer Mare els eat 2 cen fae Ses Nao nao 41 desLieuest cea oua o ao Est l ess na asas Estou a falar menina estou a falar Ah Estou a ouvir te Estou a ouvir te muito bem Sim desagrad vel Parece que estamos mortos Ouvimos e n o conseguimos fazer NOS OUVI N o muito muito bem Acho mesmo espantoso que nos deixem falar tanto tempo Normalmente cortam ao fim de tr s minutos e depois d o nos um n mero errado Sim SIT etie at ouco melhor do que h pouco mas o teu telefone faz eco Dir se ia que n o o teu telefone Rees A instabilidade da liga o telef nica met fora da instabilidade da rela o dos amantes Atrav s da fragilidade da li
27. algo de arrebatador e sedutor ficava sem apelo nem agravo entregue voz que falava do outro lado Nada podia atenuar o poder com que ela actuava sobre mim Impotente 28 deixava que ela me anulasse a no o do tempo dos meus prop sitos e deveres E tal como o medium obedece voz que do lado de l o domina eu rendia me primeira proposta que me chegava atrav s do telefone Benjamin 2004 p 80 Tal como Cocteau e Proust tamb m o fil sofo de Berlim assinala o ainda deficiente funcionamento do sistema e as invectivas contra a operadora Em regra seguiam se diverg ncias de opini o com a companhia para j n o falar das amea as e impreca es que o meu pai soltava contra os servi os de reclama es O meu cora o palpitava tinha a certeza de que nesses casos a funcion ria corria s rios riscos de apanhar uma bofetada pelo seu desleixo Benjamin 2004 29 CAPITULO IV A VOZ HUMANA IV 1 JEAN COCTEAU E A VOZ HUMANA Jean Cocteau 1889 1963 escreve A Voz Humana com um duplo prop sito por um lado procura responder ao desafio das actrizes da poca que o acusavam de uma escrita demasiado conceptual n o privilegiando a explora o do talento dos int rpretes por outro procura realizar uma experi ncia centrada na presen a do telefone aparelho que poca se impunha enquanto intruso na cena dram tica Atrav s da presenga do telefone Cocteau faz o seu co
28. bo de escafandro e suplicava te que n o o cortasses enfim sonhos est pidos quando os contamos mas durante o sono eram a pr pria vida e era terr vel sse Neste outro excerto podemos ver claramente a nfase que Cocteau coloca no telefone enquanto elemento de liga o dos corpos Podemos considerar o fio do telefone como extens o dos mesmos Essa liga o essencial vida de ambos metaforizada por Cocteau na passagem em que a compara a um tubo de escafandro Mas se por um lado o telefone se revela como elemento de sobreviv ncia dos corpos com maior certeza no caso do corpo da protagonista ele assume se tamb m como manifesta o de uma vontade do amante ausente O toque do telefone transformava se 47 num toque fisicamente violento com que me atingias e me fazias cair ou ent o num simples toque no pesco o um simples toque que me estrangulava A presen a do amante manifesta se no telefone Embora este n o lhe perten a ao inv s de outros objectos seus que encontramos no quarto da protagonista pelo telefone que ele se torna presente sobretudo no lugar mais pr prio intimidade do casal a cama Ao deitar se com o telefone a mulher deita se tamb m com o amante que acaba de a abandonar Mais do que objecto de fetiche ou de representa o o telefone torna se prolongamento do corpo do homem Na presen a do objecto est a promessa de um contact
29. burguesia e da nobreza da poca o telefone surge na sequ ncia em que descrita a vida em Donci res Nesta sequ ncia que ocupa no terceiro volume mais de 60 p ginas o telefone destaca se semelhan a da fotografia numa esp cie de pano de fundo tecno hist rico no contexto da trama da obra 9A viragem do s culo efectivamente no mundo ocidental um dos per odos hist ricos mais vibrantes no que respeita ao desenvolvimento tecnol gico A electricidade a fabrica o do a o a expans o do autom vel que se consubstancia em 1908 com a comercializa o massiva do Ford T a populariza o da r dio as migra es para as grandes cidades e a expans o dos meios de transporte e comunica o proporcionam um crescimento econ mico bastante acentuado por via da industrializa o e do consumo generalizado 25 Dada a beleza das palavras de Proust transcrevem se algumas das passagens mais significativas no que respeita presen a do telefone em O Lado de 10 Guermantes como Uma manh Sain Loup confessou me que escrevera minha av para lhe dar not cias minhas e lhe sugerir a ideia j que funcionava um servi o telef nico entre Donci res e Paris de conversar comigo p 132 Nesta primeira passagem que se apresenta o telefone introduzido por Proust substituto da carta possibilitando a instantaneidade da comunica o e a consequente convoca o imediata do outro a um tempo
30. chamada pressup e tamb m a exist ncia de um aparelho emissor Contudo directamente com quem nos interpela que nos referenciamos e n o com o meio que possibilita essa interpela o O que significa ent o atender uma chamada Disponibilidade para receber o Outro sobretudo se for o caso de uma chamada que esperamos Ao atender uma chamada damos ao Outro prioridade sobre o Eu e o telefone desaparece na press o do recebimento Atender uma chamada deixar que se seja encontrado A consciencializa o da natureza do meio s se torna evidente quando a comunica o n o estabelecida quando a chamada fica em espera ou quando h ru do t cnico na comunica o Na generalidade dos casos a tecnologia moderna j 20 n o uma ferramenta Ao perdermos a sua consci ncia enquanto meio t cnico deix mos de consider la uma ferramenta S na anormalidade a sua presen a se afirma A apropria o social do telefone conduz sua domestica o enquanto tecnologia e nessa circunst ncia sua transpar ncia enquanto meio de interac o Como diz Rich Ling em The mobile connections the cell phone s impact on society a domestica o n o apenas um simples processo mental levado a cabo por um indiv duo mas uma interac o social entre indiv duos de tal modo que o consumo que fazemos de um aparelho se torna parte integrante da nossa identidade social Ling 2004 II 9 UMA TECNOL
31. como mediador transmissor das ideias contidas no texto O discurso argumentativo por conseguinte expresso fisionomicamente no orador atrav s da gestualidade e da voz A orat ria mais do que simplesmente palavra um corpo em ac o Mestre da orat ria Ant nio Vieira recomendava um nico tom de voz o forte Para o pregador era fundamental que este tom de voz se suportasse num bom peito Antonin Artaud contempor neo e amigo de Cocteau em O Teatro e O seu Duplo caracterizou o actor como um atleta Diz Artaud tem de se reconhecer no actor uma esp cie de musculatura afectiva que corresponde s localiza es f sicas dos sentimentos Assim existe no actor uma analogia com o movimento do atleta S que a base org nica inteiramente interior por exemplo ao respirar o corpo do actor sustentado pela respira o enquanto a respira o do atleta sustentada pelo corpo Artaud 1989 O orador tal como o actor e o atleta devem contudo conjugar ambas as musculaturas Tornar a voz vis vel implica a sua exercita o e o seu dom nio t cnico todavia ela est sempre subordinada exist ncia de um corpo O corpo n o s fundamental produ o da voz como transporta consigo um conjunto de sinais e express es essenciais ao pleno estabelecimento da comunica o aquilo que poderemos designar como comunica o n o verbal ou linguagem corporal Assim no contexto deste tip
32. comum Adivinha se nesta passagem a novidade do sistema telef nico e a sua ainda pouca presen a no que respeita comunica o Nessa poca o telefone n o era ainda de uso t o corrente como hoje E no entanto o h bito leva t o pouco tempo a despojar do seu mist rio as for as sagradas com que estamos em contacto que n o tendo recebido a minha comunica o imediatamente o nico pensamento que me ocorreu foi que aquilo era muito longo muito inc modo e quase tive a inten o de apresentar uma queixa p 133 Tal como Cocteau tamb m Proust assinala as defici ncias t cnicas do servi o no entanto reconhece a sedu o e magia do aparelho bem espelhadas na passagem que se segue Como todos n s n o achava suficientemente r pido para meu gosto nas suas bruscas altera es o admir vel conto de fadas em que bastam alguns minutos para que surja ao p de n s invis vel mas presente a pessoa a quem queriamos falar e que permanecendo sentada sua secretaria na cidade onde habita no caso da minha av era Paris sob um c u diferente do nosso com um tempo que n o for osamente o mesmo no meio de circunst ncias e de preocupa es que ignoramos e que essa pessoa nos vai contar se acha de repente transportada a centenas de l guas ela e todo o ambiente em que est mergulhada para junto do nosso ouvido no momento em que o quis o nosso capricho p 133 10 Os excertos ap
33. da a voz do amante e perdido o seu corpo simb lico nada mais h a fazer do que morrer no sil ncio e na solid o 53 CAPITULO V O ESPECT CULO 4 VOZ HUMANA LAR CONCEITO GERAL Quando em Outubro de 2011 realiz mos o espect culo 4 Voz Humana no Teatro Municipal de S Lu z posteriormente tamb m apresentado em Novembro e Dezembro no Teatro Nacional de S Jo o no Porto partimos de uma quest o que se constitu a como prop sito essencial do trabalho a desenvolver o que que tinha mudado em termos tecnol gicos desde a escrita da pe a e como que essa mudan a condicionava n o s as rela es entre as personagens do texto de Cocteau como tamb m o pr prio acting da actriz Foi esta quest o que se revelou determinante em todo o processo criativo assumindo se assim uma abordagem contempor nea de um texto que tem sido recorrentemente levado cena A partir do princ pio enunciado para a realiza o do espect culo todos os elementos que o integravam a ele se subordinaram Al m do espect culo foram ainda apresentadas tanto em Lisboa como no Porto duas outras iniciativas que constitu am parte integrante do projecto o filme Soundwalkers da autoria de Raquel Castro e a confer ncia Corpo Voz Escrita Voz proferida por Jos Bragan a de Miranda Exclusivamente no Teatro Nacional de S Jo o foi ainda apresentada a exposi o de fotografia Insomnia da autoria de Carlos Medeiros Soudwal
34. de Mladen Dolar precisamente a voz que mant m em conjunto corpos e linguagens A linguagem est colada ao corpo pela voz como se ela existisse para preencher a fun o da gl ndula pineal no conceito cartesiano Se a materialidade irrelevante para o significante n o o para a voz aparte o facto de a voz produzir som e os fen menos n o d se o caso de o significante puramente l gico e diferencial 2 Nota Ren Descartes considerava a gl ndula pineal um rg o com fun es transcendentes Ela era o ponto de uni o substancial entre corpo e alma necessitar de ter um ponto de emiss o e origem no corpo E necess rio um corpo que 3 o suporte e o assuma a sua rede sem corpo tem que estar agarrada a um corpo Na linha do pensamento de Dolar podemos afirmar que a linguagem se define na rela o entre som e sentido Ela deriva do objectivo de querer dizer alguma coisa a apari o de uma interioridade que se expressa Em 4 Voz Humana de Cocteau a interioridade que se expressa nos dada pela palavra pelo som e tamb m pelo sil ncio No corpo em cena da actriz observamos uma outra linguagem esta silenciosa uma comunica o n o verbal que se constitui como indissoci vel da fala Segundo Philippe Breton em Precisa a Palavra do Corpo A fala com efeito um gesto realizado com o corpo na sua totalidade Sublinhar que a fala um gesto colocar em primeiro plano a s
35. de classifica o as previs es aqui indicadas correspondem a cerca de 20 das previs es totais que o estudo comporta Dado o seu de interesse e nalguns casos a estranheza que hoje nos provocam optou se por referenciar as mais significativas 13 O telefone aumentar a mobilidade dos trabalhadores O telefone ser usado para fazer compras O telefone reduzir o n mero de viagens dos vendedores O telefone ser usado para publicidade O telefone aumentar a produtividade d O telefone e a pol tica O sistema telef nico promover a integra o nacional as chamadas distancia reduzir o as diferen as nos dialectos o uso do telefone centralizar o exerc cio da autoridade o uso do telefone reduzir a burocracia O telefone ser importante para angariar votantes O telefone ser n o ser um meio de comunica o de massas e O telefone utiliza o de recursos e ambiente OS fios telef nicos suspensos s o perigosos e constituem polui o visual o desenvolvimento do sistema telef nico conduz a um abate muito significativo de rvores o desenvolvimento do sistema telef nico conduz a maiores necessidades no fornecimento de cobre f O telefone e os servi os complementares o uso do telefone reduz a necessidade de viajar O telefone aumenta as rela es das pessoas distantes conduzindo assim a um aumento nas viagens O telefone permite uma interac o em tempo real g Desenvolv
36. deste meio t cnico naquilo que a esfera do humano Se o telefone tem como prop sito converter o som especificamente a voz humana em impulsos el ctricos de diversas frequ ncias e depois devolver um tom que soe como a voz original em 4 Voz Humana a introdu o do telefone vem precisamente levantar a quest o da presen a do corpo da voz original e da desumaniza o das rela es emocionais O telefone problematiza sobretudo a possibilidade das rela es entre humanos num mundo cada vez mais encantado com a tecnologia Para Cocteau o telefone representa o aspecto negativo do avan o tecnol gico afirmado nas primeiras d cadas do S culo XX Com efeito Cocteau dividia se entre o gosto pela inova o e a nostalgia do poeta mantendo se alerta sobre os limites da t cnica e do progresso Esta dicotomia not ria numa sua afirma o proferida quinze anos depois da estreia da pe a se o telefone tivesse existido o que saberiamos n s de uma Madame de S vign de uma Madame de Sta l Cocteau 1945 HI 2 PRESEN AS DO TELEFONE NA LITERATURA DA POCA N o foi s Cocteau a interessar se no in cio do s culo XX pelo telefone O escritor seu contempor neo e amigo apesar de algumas fortes diverg ncias art sticas entre ambos Marcel Proust 1871 1922 faz v rias refer ncias ao aparelho em O lado de Germantes 1920 21 Parte III de Em Busca do Tempo Perdido Nesta obra que se assume como um retrato da
37. do o seu talento ao servi o do texto de Cocteau e inspirado muitas das reflex es que aqui s o produzidas A minha mulher pela paci ncia que demonstrou durante as minhas aus ncias debru ado nos livros ou em frente ao computador s minhas filhas Joana e Carolina porque s o duas fontes de inspira o A minha m e e ao meu pai cuja voz ainda continua presente RESUMO Voz ainda humana Do corpo ao corpo sem sombra o telefone como produtor de novas subjectividades a partir de A Voz Humana de Jean Cocteau CARLOS MANUEL PIMENTA Quando Jean Cocteau escreve em 1927 a pe a 4 Voz Humana o telefone come ava a afirmar se nos h bitos dos parisienses No entanto a sua presen a provoca no quotidiano dos seus utilizadores efeitosparadoxais Simultaneamente pervasivo e discreto o telefone transforma radicalmente a comunica o humana ao erradicar a dist ncia criando uma ilus o de proximidade No monodrama de Cocteau uma mulher fala ao telefone com o seu amante que acaba de a abandonar Sem a presen a f sica do outro est o dependentes das possibilidades t cnicas do aparelho e do sistema de comunica es encontrando se em termos reais e metaf ricos ligados por um fio A voz nesta pe a um elemento essencial tal como o o telefone que possibilita a comunica o entre os amantes mas tamb m a pode suspender ou tornar menos efectiva pela oculta o dos corpos eliminando desta forma outro tipo
38. dora a quem acusa de estar a escutar a conversa o A comunica o regressa A mulher acalma se Conta ao homem como soube da not cia do seu casamento Diz lhe que n o gostou de ter sido abandonada Mas reconhece que n o deveria ter criado ilus es e que est mais calma Diz lhe que n o pretende fazer qualquer nova tentativa de suic dio Ru do na linha Mais uma vez a chamada cai Ela reza para que o homem volte a ligar O telefone toca Ela diz ao homem que est agarrada ao telefone e que isso lhe d a sensa o de estarem abra ados apesar da dist ncia Ela coloca o fio do telefone volta do pesco o Diz que o ama Avan a para a cama e pede ao homem que desligue Deita se na cama e aperta o telefone nos bra os Repete insistentemente que o ama O telefone cai no ch o 33 IV 3 BREVE HISTORIAL DAS REPRESENTA ES DO TEXTO NO TEATRO PERA E CINEMA O tema de 4 Voz Humana teve grande impacto junto do p blico apesar das muitas cr ticas relativas introdu o do telefone no dom nio da cena e mereceu uma vers o oper tica por parte do compositor Francis Poulenc Poulenc conhecia Cocteau dada a sua proximidade com o grupo Les Six e comp s em 1958 uma pera a partir do original de 1927 Considerando a estrutura de 4 Voz Humana que se assume claramente como uma partitura para uma voz a sua transposi o para o universo do canto l rico surge como uma quase inevitabilidade O monodrama 4 Voz Humana est
39. e 1959 Em A Voz Humana ao inv s de discorrer sobre o telefone Cocteau coloca o na cena como uma verdadeira personagem e observa o jogo de interac o que ele determina no contexto da ac o dram tica Pode dizer se que o telefone tem em 4 Voz Humana tr s n veis de representa o representa a intimidade dos amantes enquanto s mbolo de natureza falica representa a nica forma de liga o entre os amantes representa tamb m uma ideia de morte ou melhor assume se como arma capaz de terminar com o sofrimento da mulher Talvez seja por esta ltima raz o que Cocteau diz que o espa o em que a mulher se encontra deve assemelhar se cena de um crime Cocteau 1928 Em 4 Voz Humana o telefone claramente o motor da ac o Logo no in cio da pe a verificamos que ele que comanda a ac o e que nos demonstra que a mulher ainda n o se separou completamente do seu amante Se o telefone contribui decisivamente para manter os amantes em liga o contribui tamb m para que entre eles se estabele am rupturas atrav s das interrup es de natureza t cnica que sistematicamente se verificam ao longo da pe a e da dist ncia que lhes imp e a qual apesar da ilus o de proximidade separa efectivamente os dois corpos O telefone convoca para a pe a o sexo e a viol ncia a intimidade e a dist ncia o equivoco e o caos a fragilidade e a mentira e talvez mais importante do que tudo o princ pio
40. e chegava assim s e sem o acompanhamento das fei es do rosto p 134 No entanto essa voz outra uma voz separada de um corpo uma voz sozinha em que o outro se torna fantasma evocado pela voz Tamb m Walter Benjamin 1892 1940 que foi curiosamente o tradutor de 4 la recherche du temps perdue para alem o faz algumas refer ncias ao telefone em Inf ncia Berlinense 1900 No in cio do s culo a presen a do telefone insinuava se no dia a dia da fam lia Benjamin Nesse tempo o telefone estava l desfigurado e enjeitado entre o cesto da roupa suja e o gas metro num canto do corredor das traseiras a partir do qual o seu toque ampliava os sobressaltos da casa de Berlim Benjamin 2004 p 80 Desde cedo as m quinas s mbolo da era moderna fascinaram a inf ncia do fil sofo que tinha com o telefone uma rela o paradoxal Benjamin compara o ru do das primeiras conversas a ru dos nocturnos A intromiss o do aparelho no quotidiano do lar assumia se como invas o Muito poucos dos que usam o aparelho conhecem a devasta o que o seu aparecimento causou no seio das fam lias O toque que soava entre as duas e as quatro sempre que um colega meu desejava falar comigo era um sinal de alarme que punha em perigo n o apenas a sesta dos meus pais mas tamb m a poca em pleno centro da qual eles se lhe entregavam Benjamin 2004 p 79 Todavia essa invas o trazia consigo
41. e o nosso apelo retiniu na noite plena de apari es para a qual s os nossos ouvidos se abrem um leve ru do um ru do abstracto o da dist ncia suprimida e eis que se nos dirige a voz do ente querido ele a sua voz que nos fala que est l Mas como est longe Quantas vezes n o pude deixar de a escutar sem ang stia como se perante aquela impossibilidade de ver sem passar por longas horas de viagem aquela cuja voz estava t o perto do meu ouvido sentisse melhor o que h de decepcionante na apar ncia da mais doce aproxima o e a que dist ncia podemos ser pessoas amadas justamente quando parece que nos bastar estender a m o para as agarrar Presen a real a dessa voz t o pr xima na separa o afectiva p 134 Esta voz ao telefone esp cie de aura de um corpo long nquo simultaneamente proximidade e dist ncia permitindo neste paradoxo afirmar se em renovadas caracter sticas assumindo se como entidade 27 depois falei e passados alguns segundos de sil ncio ouvi de repente aquela voz que erradamente julgava conhecer t o bem porque at ent o de cada vez que a minha av falara comigo o que ela me dizia sempre acompanhara o que ela me dizia com a partitura aberta do seu rosto onde os olhos eram muito importantes mas a sua voz em si mesma estava hoje a ouvi la pela primeira vez E como aquela voz me surgia alterada nas suas propor es uma vez que era um todo e m
42. efe do British Post Office afirmava que o seu departamento tinha detalhes muito apurados das caracter sticas do telefone o que lhe permitia atestar que o seu poss vel uso seria limitado Tal como diz Fernand Braudel em Capitalism and Material Life A tecnologia s um instrumento e por vezes o homem n o sabe muito bem como us lo Braudel 1973 Contudo o telefone rapidamente se popularizou pela sua capacidade de juntar numa rede comunicativa pessoas afastadas em termos geogr ficos Esta particularidade do telefone em mitigar as no es de dist ncia n o somente til para a transmiss o de mensagens e informa es circunstanciais Ela revelou se sobretudo eficaz na partilha de emo es modificando comportamentos e atingindo enquanto meio de comunica o uma express o impar e uma implanta o determinante que veio alterar radicalmente as rela es de sociabilidade e a din mica da comunica o pela velocidade impelida ao processo comunicativo Assim velocidade instantaneidade e erradica o da dist ncia tornam se atributos de um aparelho que induz novas percep es da rela o espa o tempo e que contribui decisivamente para uma acelera o do movimento e da din mica social Na lista telef nica tamb m manual de instru es da Southern Bell Telegraph and Telephone Company publicada em 1899 o elogio do telefone feito nos seguintes termos O telefone a maneira ideal de desloca o A fo
43. ensar EStal usse est TUG nba f GERARAM RR PPA Est o a ligar me e eu n o consigo falar H imensa gente em linha Diga a essa senhora que se v embora Desliga Voltam a ligar Estou s tu ES fa cents SIT eus usce Estou a ouvir muito IMAL isses est s muito longe muito longe Est horr vel h v rias pessoas em linha Volta a pedir a chamada Est Volta a pedir a chamada Disse Volta a pedir ME resistindo Mas minha senhora v se embora J lhe disse que n o sou o doutor Schmit Estal Ela desliga Voltam a ligar Ah finalmente S Mundo SITE seien muito DOT uocis ESTA agua d edis SUM iin estava a ser um verdadeiro supl cio ouvir te com esta gente toda pelo meio 38 Nas frases iniciais da pe a Cocteau al m de fazer uma cr tica a operacionalidade do sistema telef nico franc s coloca a protagonista numa situa o de depend ncia Depend ncia da efic cia do sistema de comunica o depend ncia da efici ncia da operadora e da sua boa vontade e depend ncia do telefone enquanto meio imprescind vel ao estabelecimento da comunica o com o seu amante Perante a confus o de pessoas na linha e os enganos na realiza o da chamada a mulher demonstra perante a operadora toda a sua impaci ncia desespero e eha 14 agressividade A mulher ao pedir operadora para o
44. ero de registos dispon veis para os historiadores 15 OS escritores de fic o e teatro utilizar o o telefone como motor da ac o dram tica O telefone aumentar a impessoalidade O telefone transformar nas pessoas a no o de dist ncia para al m da telefonia revelam se poderes ps quicos e de telepatia A apresenta o destas previs es sublinhadas no estudo de Ithiel de Sola Pool pretende mostrar at com alguma ironia que hoje a dist ncia temporal permite as expectativas e receios que a inven o do telefone suscitou cuja utilidade e impacto se revelaram logo desde o inicio bastante paradoxais 1 4 O TELEFONE EM FRANCA O primeiro telefone chega a Franca em 1789 no seguimento das novidades tecnol gicas apresentadas na Exposi o Universal de 1878 Conta com 80 subscritores iniciais Inicialmente a fun o primordial das telecomunica es em Fran a prendia se com des gnios relativos defesa nacional A sua utiliza o por parte dos cidad os era relegada para segundo plano Para as autoridades francesas o telefone apresentava desvantagens em termos de seguran a quando comparado com o tel grafo Curiosamente o franc s Antoine Bernay que viria a desenvolver em 1923 o primeiro telefone com sistema de discagem que ficou comummente conhecido como o telefone de modelo franc s O telefone de 4 Voz Humana n o ainda um telefone de discagem contudo foi o in cio da populariza
45. es e regenera a para uma vida nova 63 CAPITULO VI CONCLUSOES Ao introduzir na cena o telefone sem fios observamos que a principal diferen a se verificou na rela o da actriz com o espa o Com efeito liberta do fio do telefone a actriz podia circular livremente dentro das limita es espaciais que a cenografia lhe impunha Contudo no que respeita presen a do interlocutor as altera es n o foram significativas pois a sua voz e o seu corpo continuavam a ser somente vis veis no corpo e atitudes da actriz Neste texto o grande desafio para a actriz consiste precisamente em preencher os sil ncios determinados por Cocteau fazendo existir na cena o corpo e voz do interlocutor Nessa medida necess rio que a actriz seja capaz de construir um subtexto que corresponda imagem deste Recorde se que no filme projectado em fundo a imagem do homem nunca aparecia era dado a ver somente os lugares onde eventualmente se encontraria O filme tinha tamb m um outro prop sito al m do enunciado mostrava as constru es mentais que a mulher em cena fazia relativamente aos espa os habitados pelo ex amante Neste contexto as imagens apresentadas sublinhavam ou contradiziam os estados de esp rito da personagem em cena O p blico tinha no espect culo uma participa o importante Al m de tentar adivinhar a que corpo pertencia o interlocutor para o qual a actriz dirigia o discurso era tamb m sol
46. eter ao seu amante Assim foram constru dos dois finais que decorriam em simult neo gra as s possibilidade t cnicas do v deo Enquanto que no palco a mulher se libertava do homem e da sua voz regenerando se para uma nova vida no filme em fundo ela caminhava eventualmente para o suic dio Ao n o afirmar claramente um desfecho solicitava se mais uma vez a implica o do p blico no espect culo Esta dist ncia que o espect culo assumia no que respeita a uma excessiva emotividade que o texto possa suscitar surgiu na decorr ncia das conting ncias de natureza espacial que o telefone impunha relativamente comunica o entre os amantes e constitu a uma caracter stica diferenciadora do espect culo apresentado 65 BIBLIOGRAFIA AGAMBEN Giorgio Qu est ce qu un dispositif Paris Rivages Poche 2007 ARTAUD Antonin O teatro e o seu duplo Fenda Lisboa 1989 AUSLANDER Philip Liveness performance in a mediatized culture NYC Routledge 2008 BENJAMIN Walter Infancia Berlinense in magens de Pensamento Lisboa Assirio amp Alvim 2004 BRAUDEL Fernand Capitalism and material life Univ Michigan Weidenfeld and Nicolson 1973 BRETON Phillippe O elogio da palavra S o Paulo Estudos contempor neos 2006 CAVARERO Adriana For more than one voice toward a philosophy of vocal expression Stanford STU Press 2005 COCTEAU Jean A Voz Humana Lisboa Assirio amp Alvim 1989 DOLLAR Mladen A
47. exaspera Entretanto a comunica o refaz se por um breve momento o suficiente para a mulher solicitar ao amante que volte a pedir a chamada A comunica o restabelece se com o amante A mulher acalma se um pouco Fala com o homem do outro lado da linha Pergunta lhe se ele j tinha ligado uma vez que 11 La Voix humaine Pr face In Th tre Complet Paris Gallimard cop 2003 p 447 448 Trad Alexandra Moreira da Silva 31 tinha estado fora de casa Mente pois vemo la em desespero deitada na sua cama desfeita como ela Conta ao homem que tinha ido jantar com uma amiga Conta lhe tamb m que na noite anterior a noite da separa o n o tinha conseguido adormecer e tinha tomado um comprimido O homem pergunta lhe as horas Ela procurava adivinha las Pede lhe para que ele as confirme no rel gio que tem em casa Percebemos que o homem se interessa pelo seu estado Ela diz lhe que forte e que est bem Mente Mente tamb m ao descrever lhe a forma como est vestida Diz lhe que s fumou tr s cigarros O ru do na linha intensifica se A mulher pede ao homem para voltar a ligar se a chamada cair Falam de coisas da sua vida em comum das cartas que ele lhe escreveu e que ela guarda em sua casa Ela faz se forte e procura transmitir ao homem um estado de racionalidade Diz que n o tem qualquer censura a fazer lhe e que encara a situa o com coragem em nome dos cinco anos que ambos viveram em felicidade Ele sen
48. ficilmente aceitamos se tem cada vez mais tornado observ vel a amplifica o das vozes dos actores Os recursos t cnicos cada vez mais sofisticados tornam esta amplifica o equilibrada e mais aceite pelo p blico uma vez que a presen a da t cnica se dilui nas suas capacidades cada vez mais avan adas Recorde se que a presen a da t cnica sempre existiu no teatro com o objectivo de aumentar as capacidades dos actores e mitigar os problemas ac sticos e de visibilidade dos audit rios Exemplo disso a utiliza o da m scara na trag dia grega que para al m de criar uma outra persona tinha 59 que constituiria a charneira de todo o processo de trabalho sobre a voz e o som que o espect culo procurava equacionar Com efeito a media o da voz da actriz sempre presente no decorrer do espect culo excep o das tr s palavras finais pronunciadas j ap s ter terminado a comunica o telef nica constituiu se como um eixo conceptual determinante no espect culo Esta media o da voz al m de permitir actriz um registo vocal confort vel para o intimismo necess rio ao di logo amoroso que a pe a imp e sugeria sobretudo ao p blico a presen a do amante uma vez que este recebia a voz da actriz que estava em palco tal como era por ele ouvida no auscultador do telefone Para o p blico a evid ncia de uma voz mediada assumia se tamb m como elemento de estranheza dado que n o se procurava disfar ar a sua
49. ga o adivinhamos a fragilidade em que caiu a sua rela o amorosa Os sucessivos cortes de liga o que se verificam durante a pe a anunciam um desfecho a definitiva separa o dos amantes f Quem ocupa os sil ncios p 6 Eu estou a verte sabes Ele pede lhe para ela GIVI OT aos me RD ue ce arces Os IGN CO od dos eme to tee Veer O len o VETOR OO aa ue AI o bd ce ore desca do para o lado esquerdo sussse Tens as mangas APTS ACAD AS oe ee un na m o esquerda o telefone Na m o direita a caneta Desenhas perfis cora es estrelas no mata borr o Est s a rir te Tenho dois olhos no lugar das orelhas esses Esconde o rosto num gesto maquinal Oh n o meu querido sobretudo n o olhes para mim ssssssssss Em 4 Voz Humana a liga o da voz ao corpo claramente sublinhada por Cocteau Recorde se que no corpo presente da actriz que se produz a fala o amante que n o vemos n o tem voz s poss vel adivinhar lhe uma voz e um corpo atrav s das palavras e gestos da actriz 42 Neste excerto s o dados a ver dois corpos o da protagonista e o do seu amante Contudo o corpo do amante n o existe a n o ser na voz de quem o descreve J o corpo da protagonista vis vel nos seus gestos e paradoxalmente na descri o que faz de si pr pria Contudo temos nesta cena duas vozes Uma voz presente no corpo da protagonist
50. his way other communication forms than verbal More than eighty years after the writing of the play the show The Human Voice proposes on stage a wireless phone Which new spatial realities determines this new approach In what extent in comparison with the original phone of Cocteau new subjectivities are established KEYWORDS voice body mediation telephone time space proximity distance subjectivity INDICE INTRODUCAO CAPITULO I A VOZ HUMANA I 1 VOZ HUMANA CORPO SOM FALA CAPITULO II O TELEFONE II 1 I 2 I 3 I 4 II 5 II 6 II 7 II 8 II 9 BREVE HIST RIA DE UMA INVENC O PARTILHADA DO CEPTICISMO A VULGARIZACAO PREVIS ES SOBRE O IMPACTO E UTILIDADE DO TELEFONE O TELEFONE EM FRANCA ENTRE O IMEDIATO E O MEDIATO ORALIDADE ESCRITA E SEGUNDA ORALIDADE O TELEFONE CHAMAMENTO E OBEDI NCIA DA PRESENCA SOCIAL A TRANSPARENCIA UMA TECNOLOGIA APESAR DE TUDO O PRINC PIO B SICO DE FUNCIONAMENTO DE UM TELEFONE CAP TULO III O TELEFONE DE COCTEAU II 1 III 2 O ADERE O BANAL DAS PE AS MODERNAS PRESEN AS DO TELEFONE NA LITERATURA DA POCA CAP TULO IV A VOZ HUMANA IV 1 IV 2 IV 3 IV 4 JEAN COCTEAU E A VOZ HUMANA A VOZ HUMANA SINOPSE ALARGADA BREVE HISTORIAL DAS REPRESENTA ES DO TEXTO NO TEATRO PERA E CINEMA A PRESEN A DO TELEFONE EM 4 VOZ HUMANA a O telefone depend ncia e submiss o b Ansiedade e expia o c Um sis
51. homem ao telefone aparece nos como r plica da sua voz original remetendo para o seu corpo ausente k Ouvir o espa o p 9 46 musica a estas horas Como nunca estavas em casa est o mal habituados coetus t eb ts Mais do que ouvir a m sica em fundo a mulher procura identificar o espaco em que o seu amante se encontra Ela presume o em casa da mulher pela qual foi preterida e abandonada Uma vez que sabe que o homem lhe mentiu e que nao se encontra em casa ela procura agora todos os sinais sonoros que lhe permitam identificar os espa os em que o homem se encontra A tentativa de determina o geogr fica do local em que o homem se encontrar e que o telefone n o permite estabelecer s acentua a consolida o de um universo de mentira entre ambos I O fio que os liga p 10 Anteontem noite dormi Deitei me com o telefone N o n o Na cama Sim Eu sei Estou a ser completamente rid cula mas tinha o telefone na cama porque apesar de tudo estamos ligados pelo telefone Vai daqui at tua casa e depois tinha a promessa do teu telefonema Sabes que tive uma infinidade de pequenos sonhos O toque do telefone transformava se num toque fisicamente violento com que me atingias e me fazias cair ou ent o num simples toque no pesco o um simples toque que me estrangulava ou ent o estava no fundo de um mar que fazia lembrar o apartamento d Auteuil e estava ligada a ti por um tu
52. ia a possibilidade de desempenhar dois pap is um quando a actriz fala outro quando ouve e circunscreve o car cter da PEN r J 11 personagem invis vel que se exprime atrav s de sil ncios O adere o banal das pe as modernas torna se em 4 Voz Humana o instrumento essencial da liga o entre a mulher e o seu amante Quando a comunica o entre ambos se revela cada vez mais improv vel fruto de uma ruptura que se consolida medida que o discurso se imp e no telefone que delegam a intermedia o necess ria repara o dos equ vocos que interromperam um di logo que agora mais n o do que uma tentativa de explica o de mal entendidos que ambos sabem n o se basearem em equ vocos mas sim em intencionalidades O telefone assim elevado por ambos categoria de terceiro elemento na conversa o como se para os dois amantes fosse necess ria uma media o que reconstru sse o entendimento entre as partes desavindas IV 2 A VOZ HUMANA SINOPSE ALARGADA No seu quarto em desordem uma mulher fala num tom irritado com uma operadora telef nica Desesperada com a interrup o da comunica o que o seu amante tinha acabado de estabelecer fuma obsessivamente A mulher apresenta um aspecto martirizado O quarto e as suas roupas est o em desalinho A perturba o t cnica na comunica o continua e entre a agressividade dirigida operadora e a ansiedade em ouvir a voz do amante a mulher
53. iador de acontecimentos assumindo se como voz capaz de iniciar qualquer coisa talvez se nos apresente como mais sedutora do que a nossa vontade de o a silenciar Sendo um objecto tecnol gico o telefone tamb m parte de um sistema de ideias e faz j parte integrante da vida quotidiana Neste contexto o telefone tem produzido mudan as antropol gicas significativas no nosso modo de ser no mudo Se o homem se revela na fala ent o o telefone ao tornar as possibilidades da conversa o independentes da dist ncia constitui se como elemento essencial universaliza o da comunica o Com efeito entendemos hoje a nossa vida sobre a base de uma conex o total Neste contexto tudo nos infinitamente mais pr ximo Quando ligamos a algu m a resposta imediata produzindo se certo num tempo assincrono Esta caracter stica revela aquilo que Maurizio Ferraris designa como uma extrema individualiza o do espa o e do tempo Ferraris 2008 Com o telefone h uma mudan a radical da nossa no o de espa o tempo Atrav s da individualiza o nos poss vel criar um espa o e um tempo imagin rios o espa o tempo da rela o que estabelecida com o interlocutor Contudo n o podemos dizer efectivamente que a dist ncia deixou de existir pois n o estamos cara a cara com o 19 outro A erradica o da dist ncia uma ilus o s poss vel pela individualiza o do espa o tempo que criada O
54. icitado a completar a imagem formada pelo conjunto daquilo que se passava na cena jogo da actriz filme e banda sonora e que lhe era dada em m ltiplas contradi es Assim competia ao p blico organizar um metatexto que lhe permitisse absorver todos os sinais presentes no espect culo Partindo se do princ pio que o p blico n o conheceria o texto dram tico mas teria eventual conhecimento da trama da pe a e da presen a do telefone com fios era solicitada a sua capacidade de distanciamento cr tico relativamente natureza do aparelho que lhe era apresentado e s premissas que o mesmo enunciava No que respeita utiliza o do telefone no jogo emocional da actriz verificou se que a dist ncia que este impunha relativamente ao seu interlocutor contribuia para uma maior racionalidade na comunica o e uma maior frieza emocional Ao constatar durante o per odo de ensaios que a dist ncia marcava notoriamente uma 64 separa o entre os amantes procurou se explorar este dado em termos da sua rela o sentimental A actriz teve assim oportunidade de explorar alguns registos que a afastassem de um certo tom melodram tico observado noutras vers es do texto quer nas suas adapta es teatrais quer nas suas vers es cinematogr ficas Este afastamento impunha alguma determina o e recupera o da dignidade da mulher abandonada alguns cr ticos v em na pe a uma certa misoginia dando lhe a possibilidade de n o se subm
55. im caracter stica intr nseca de um corpo projec o primeira da sua identidade num espa o Podemos considerar a voz como do dom nio do instinto A fala por outro lado um h bito adquirido Neste sentido a fala est subordinada a influ ncias de ordem social e cultural Tanto no teatro como na vida em geral a voz associada a determinado timbre que identifica quem a produz Este timbre resultado de algumas caracter sticas fisiol gicas do produtor Para que a voz se produza s o necess rios tr s condi es determinantes a exist ncia de um excitador a exist ncia de um ou mais elementos produtores de vibra o a exist ncia de possibilidades de resson ncia O excitador a for a necess ria para produzir ou iniciar o som Esta for a determinada pela ac o conjugada entre o ar armazenado nos pulm es e a capacidade muscular do diafragma enquanto agente capaz de aplicar uma for a neste caso um impulso que projecta o ar existente nos pulm es Quando este ar atinge as cordas 1 Italo Calvino Um Rei escuta 1995 vocais provoca a sua vibra o Essa vibra o produz um som que encontra espa o na garganta e na cavidade bucal as quais funcionam como zona de amplifica o tornando assim o som produzido aud vel N o nos vamos deter noutras zonas do corpo humano com possibilidades de armazenar ar como a zona lombar ou a zona abdominal nem noutras zonas tamb m elas capazes
56. imento do sistema o desenvolvimento de um sistema telef nico estimula a pesquisa e o desenvolvimento 14 as limita es do sistema telef nico tornam no alvo de chacota e de agressividade despropositada h O telefone e a estrutura social O telefone liga as comunidades o operador telef nico torna se um agente comunit rio O telefone promove a interac o social O telefone produz comunidades sem contiguidade O telefone liga a vida em fam lia O telefone um canal para a sexualidade em seguran a 1 Costumes e pr ticas sociais telefonar para marcar encontros ser comum c digos de etiqueta telef nica ser o desenvolvidos a etiqueta telef nica tender para a informalidade a qualidade da correspond ncia epistolar ir decrescer O telefone aumenta e diminui a privacidade as chamadas realizadas pelo operador podem ser ouvidas por este O telefone ser altamente intrusivo na paz dom stica O telefone permitir a comunica o sobre assuntos sens veis sem o recurso escrita Os n meros de telefone ser o utilizados para identifica o e confirma o de cr ditos banc rios j O telefone na rela o com a cultura e o ensino O telefone favorecer a dissemina o do conhecimento O telefone reduzir a nfase na escrita e aumentar a comunica o oral O telefone reduzir as capacidades de escrita nos jovens O menor n mero de comunica o epistolar reduzir o n m
57. instintivamente at Vata a cia atlas DOIDO casia EC SR Nunca se Sa D stas Feels Oh melhor Muito melhor ssssss Deita se na cama e aperta o telefone nos bra os Meu querido meu querido Dro So ca as Sou valente Despacha te Va l Desliga Desliga depressa Desliga Amo te amo te amo te amo te amo Ir MM T MT Rm O telefone cai no ch o 52 A cena final da pe a porventura aquela em que o telefone mais se assume como prolongamento do corpo do amante Pouco antes do seu eventual suic dio a mulher pede ao amante que desligue Pede lhe que seja ele a cortar a liga o Com o fio volta do pesco o e apertando o telefone nos bra os como se do corpo do homem se tratasse ela pretende sobretudo libertar se da sua voz que afinal marca verdadeiramente a presen a do amante Depois do homem desligar as suas ltimas palavras s o ditas na cama agarrada ao telefone o qual se transforma agora em mem ria do homem pois ele deixou de estar presente ao calar se a sua voz A ltima decis o da protagonista assim tomada em estado de abandono situa o que a acompanhou desde o in cio da pe a e que s era mitigada pela presen a da voz do amante A derradeira didasc lia da pe a conduz nos certeza do fim da rela o Com a queda do telefone o processo de comunica o definitivamente interrompido pois era o aparelho que mantinha uma ponte entre os amantes Perdi
58. itava uma grande liberdade de movimentos actriz como nos afastava tamb m da ideia demasiado prosaica de telem vel Pretendia se sobretudo acentuar perante o p blico a n o exist ncia de um fio que contrariando o disposto por Cocteau ainda ligasse os dois amantes V 4 ACENA Tamb m a cenografia seguiu este prop sito de actualiza o contempor nea Com efeito o espa o c nico bastante minimalista era constitu do por uma tela de projec o em fundo um espa o de representa o demarcado a fita cola no ch o e um plano inclinado que recebia uma projec o de roupa de cama Neste plano inclinado cama n o era poss vel actriz nele permanecer em qualquer posi o dado o acentuado ngulo de inclina o que a obrigava for osamente a escorregar excep o do in cio do espect culo em que dois rasgos criados na estrutura permitiam o apoio por alguns instantes 56 Fig 14 Dispositivo c nico de A Voz Humana Fig 15 Pormenor do plano inclinado cama Uma cadeira esquerda compunha o espa o c nico Em termos de adere os optamos pelos estritamente necess rios um ma o de cigarros um isqueiro e um cinzeiro 57 Na tela de fundo imagens em movimento video em projec o constante criavam outros lugares que nos remetiam para fora do quarto o qual constitu a o espa o primordial de representa o Fig 16 Still do v deo de 4 Voz Humana realizado por Raquel Castro No
59. kers constituia se como uma inquiri o sobre as nossas paisagens sonoras uma busca de sentido para os sons do nosso quotidiano O filme estava dispon vel para visionamento em Joop no foyer dos dois teatros A confer ncia Corpo Voz Escrita Voz afirmava se como uma reflex o ensa stica sobre a presen a do telefone no contexto hist rico da comunica o humana 15 Soundwalkers no vimeo http vimeo com 1737899 54 V 2 FICHA ARTISTICA DO ESPECTACULO Estreia no Teatro Municipal de S Luiz em 28 de Outubro de 2011 Reposi o no Teatro Nacional de S Jo o 18 de Novembro a 4 de Dezembro de 2011 Tradu o Alexandra Moreira da Silva Concep o e Encena o Carlos Pimenta Concep o Som e Imagem Raquel Castro M sica original Dead Combo Figurinos Bernardo Monteiro Desenho de som Francisco Leal Desenho de luz Jos lvaro Correia Assist ncia de encena o V nia Mendes Interpreta o Em lia Silvestre Co produ o Ensemble Sociedade de Actores Festival Temps d Images Teatro Nacional de S o Jo o e SLTM Dura o do espect culo 1h00 V 3 OTELEFONE NO CONTEXTO DO ESPECT CULO O telefone original de Cocteau era um telefone com fios No trabalho que apresentamos optamos por um telefone sem fios 55 Fig 13 Pormenor do dispositivo telef nico utilizado pela actriz O dispositivo utilizado foi inspirado no kit m os livres sem a exist ncia de fios o que n o s possibil
60. media o t cnica Esta estranheza concorria para alguma distancia o cr tica procurando se na sua observ ncia que o espectador tivesse consci ncia do meio e tamb m do dispositivo montado permitindo lhe desta forma uma an lise das condi es hist ricas em que o texto de Cocteau foi escrito por compara o com a estrutura c nica e dramat rgica que lhe era apresentada Al m da media o da voz da actriz havia ainda um trabalho sonoro que sublinhava algumas passagens mais significativas como no caso dos gritos de sofrimento e desespero Atrav s de efeitos sonoros claramente assumidos como n o correspondentes voz natural pretendia se uma dimens o simb lica que evitasse qualquer associa o com o naturalismo dado o risco de um eventual tom melodram tico em que muitas vers es da pe a acabam por cair Era objectivo do espect culo trabalhar tamb m o lugar das emo es no contexto tecnologizante que o projecto assumia sobretudo no confronto das mesmas com as media es assumidas Neste prop sito a consci ncia da t cnica ocupava tanto para a actriz como para os espectadores um lugar evidente e um territ rio a explorar Ao evidenciar a presen a da t cnica negando o naturalismo entr vamos assim num contexto em que um outro corpo ocupava o lugar do corpo org nico ao qual as palavras naturalmente pertenciam tamb m como objectivo tornar mais aud vel a voz do actor funci
61. ment rio cultural sobre as incid ncias desta tecnologia no campo das rela es humanas considerando que o aparelho contribui para a desumaniza o das mesmas pe a Importa neste contexto citar alguns excertos do seu Pref cio 1 Edi o da O autor gosta de fazer experi ncias Tendo o h bito de perguntar a si mesmo o que que pretendia fazer depois de ter visto o que fez talvez seja mais simples dar algumas informa es em primeira m o V rios motivos o incentivaram a escrever este acto 1 O motivo misterioso que leva o poeta a escrever mesmo quando todas as suas mais profundas pregui as se recusam a faz lo e sem d vida a recorda o de uma conversa surpreendente ao telefone a singularidade dos timbres a eternidade dos sil ncios 2 Criticam no dizendo que age de acordo com estruturas maquinais que instrumentaliza demasiado as suas pe as que conta demasiado com a encena o Importava por isso partir do mais simples um acto um quarto uma personagem o amor e o adere o banal das pe as modernas o telefone fy 4 Finalmente e porque muitas vezes criticado por exigir aos int rpretes uma obedi ncia prejudicial ao seu talento reclamando 30 sempre prioridade o autor quis escrever uma pe a ileg vel que tal como o seu Romeo se intitula pretexto para uma encena o seria um pretexto para uma actriz Por detr s da interpreta o a obra apagar se ia o drama oferecer
62. nal da pe a sintetize todas as quest es que Cocteau pretendeu suscitar com a escrita da pe a Se numa comunica o face a face observamos e a exist ncia dos corpos num mesmo espa o e a preval ncia da vis o a possibilidade de um contacto f sico entre os corpos a possibilidade da linguagem corporal enquanto factor de comunica o temos com o telefone a impossibilidade da verifica o de cada um destes factores no contexto da comunica o dist ncia Com o telefone tudo tem que ser palavra ou sil ncio Aquilo que fica fora dos tempos da verbaliza o exclu do da mesma A aus ncia do corpo do outro impede que dele me aproprie impede que os corpos se entendam na sua sensualidade O desaparecimento do corpo racionaliza as rela es formaliza as na sua estrita vincula o palavra Esta oculta o dos corpos elimina ainda o impulso er tico da carne certo que a quest o da verbaliza o n o enunciada por Cocteau no excerto apresentado contudo ela est impl cita no acto comunicativo que se estabelece entre os dois amantes Quando a mulher profere a argumenta o correspondente ao excerto do final da pe a a frase imediatamente antes SO E E EAE A EAE OTE EA EREE Nada Falo falo penso que estamos a falar como sempre p Jogos de poder e submiss o pg 13 EIA ess ra uS teens Ela desliga dizendo baixo e muito depressa Meu Deus fazei com que ele volte a ligar Meu Deus
63. ndo do palco surgem imagens de lugares e alguns rostos n o identific veis Uma m sica discreta acompanha a projec o destes rostos e destes lugares Esta projec o constitui um espa o com a qual a mulher n o se relaciona Cabe ao espectador fazer a jun o dos diversos acontecimentos que se produzem na cena imagem video m sica acting da actriz No decorrer do espect culo enquanto a mulher fala ao telefone com o ex amante v rias vezes a chamada volta a cair o que a leva a atirar o aparelho ao ch o em desespero Percebemos quer pela natureza da conversa o quer pelas imagens em v deo que os amantes caminham para a separa o No final da pe a a mulher que pede ao homem para cortar a chamada Consumada a ruptura a mulher avan a para a boca de cena tira o aparelho telef nico e pela primeira vez ouvimos a sua voz 17 Numa nica cena aquela em que a mulher ouve m sica atrav s do auscultador p 9 tanto a actriz como o p blico ouvem exactamente o mesmo som Este o nico momento no espect culo em que a actriz o seu interlocutor e o p blico se encontram num mesmo tempo e esse encontro se realiza num espa o comum 61 natural enquanto repete a palavra amo te Uma brisa repentina faz esvoa ar o robe que tem vestido A mulher vira se para o fundo e toma pela primeira vez consci ncia da projec o no ecr ao reconhecer nela a sua imagem Fixa se nela mas esta desaparece na escurid o em direc
64. o de um telefonema que fa a ouvir a voz do homem e desperte a emo o de um reencontro feliz Esta espera pelo toque do telefone aquilo que mant m apesar de tudo a mulher num estado de vigil ncia esfor ando se por manter o discernimento com o intuito de n o defraudar as expectativas do seu amante porque ele est ali dist ncia de um fio pela sua voz pode interferir em qualquer momento e apanh la fora de si Se o fio do telefone que os liga por outro lado o sil ncio na linha que os separa Sem fala n o estabelecem comunica o O encontro n o assim poss vel O que fazer ent o para atenuar a ang stia da espera Nesta passagem a mulher refugia se no sonho que surge como met fora da terr vel situa o em que se encontra espera e abandono O fio de escafandro que a mulher suplica que n o seja cortado n o s aquilo que a liga vida mas tamb m outurga o ao homem de uma decis o que ela quereria que ele tomasse o regresso a uma vida que s tem significado no reencontro dos amantes Porque esta a vida que ela est a viver terr vel e o sonho s acentua o pavor da separa o m A intimidade como espa o da voz pg 12 Est Est V se embora minha senhora Est com assinantes Est n o minha senhora sssee eene mas minha senhora n o estamos a tentar ser interessantes O que tem a fazer n o continuar em 48 px Se nos acha
65. o de comunica o revela se importante a interpreta o de sinais n o verbais contidos nas express es faciais gestos posturas e movimentos corporais contacto visual toque disposi o dos corpos no espa o 6 ARTAUD Antonin O teatro e o seu duplo Fenda Lisboa 1989 CAPITULO II O TELEFONE ILI BREVE HIST RIA DE UMA INVEN O PARTILHADA Antes da inven o da electricidade a comunica o dist ncia assentava essencialmente na palavra escrita transportada por diversos meios A inven o da electricidade e das suas possibilidades de armazenamento no S culo XVIII abre espa o inven o do tel grafo O tel grafo el ctrico de Morse que substituiu o tel grafo ptico de Chappe permitia a transmiss o distancia de mensagens atrav s de impulsos el ctricos que podiam ser convertidos em dados O ingl s Michael Faraday 1791 1867 tinha provado em 1831 que as vibra es produzidas no metal poderiam ser transformadas em impulsos el ctricos O trabalho de Faraday viria a ser determinante e constituiu o dispositivo tecnol gico base para o desenvolvimento do telefone Em 1861 o germ nico Johann Philip Reis 1834 1874 dizia ter constru do um aparelho capaz de transformar transportar o som atrav s de electricidade Contudo a transmiss o da voz humana n o era muito eficiente e o aparelho n o se imp s apesar de alguns cientistas europeu terem considerado Reis como o inventor do telefone Em
66. o excessiva do aparelho nas tarefas do quotidiano e consequente invas o da privacidade a sua import ncia na dissemina o dos neg cios a sua transforma o das rela es sociais e h bitos de etiqueta Estas s o somente algumas das mudan as que o telefone veio trazer Contudo dado o interesse do estudo de Sola Pool parece nos pertinente enunciar algumas das previs es em v rias reas tal como foram classificadas pelo investigador a Progn sticos sobre o desenvolvimento do telefone O telefone tornar se pervasivo O telefone tornar se universal as chamadas a longa dist ncia ser o poss veis O telefone ser usado pelos pobres as conversas telef nicas ser o gravadas a transmiss o ser sem fios b Efeitos do telefone nos padr es de comportamento humano O telefone levar ao crescimento dos sub rbios O telefone dar seguran a apesar do isolamento O telefone abolir a solid o particularmente a da mulher do agricultor O telefone reduzir a diferen a entre as reas rurais e urbanas O telefone trar informa es r pidas sobre o estado do tempo O telefone facilita a coordena o do sistema urbano O telefone favorece o crescimento de arranha c us c O telefone e a economia O telefone facilitar a gest o dist ncia O telefone favorecer o crescimento das grandes empresas O telefone democratizar as hierarquias sociais 7 Nota embora sejam mantidas as reas
67. onando como caixa de resson ncia alem de tornar vis vel os tra os expressivos da personagem a uma maior dist ncia 60 V 6 DESCRI O DO ESPECT CULO A VOZ HUMANA Quando o pano abre vemos uma mulher deitada im vel num plano inclinado Esta imagem fica est tica durante um minuto Ouve se o som de uma campainha de telefone que nos remete para um telefone antigo Com o som estridente da campainha a mulher cai do plano inclinado para o c o do palco Percebemos agora que estava deitada numa cama A roupa da cama nos dada atrav s de uma projec o v deo Os len is projectados ganham movimento medida que a mulher escorrega pela cama Um outro toque de telefone agora um bip soa numa zona afastada da mulher dentro da rea determinada pelo rect ngulo marcado no ch o a fita cola branca A mulher dirige se para o local de onde vem o bip apanha o aparelho e coloca o Inicia se a comunica o Por entre as primeiras palavras claramente aud vel o ru do na linha Ao fundo do palco numa outra projec o em v deo surgem linhas na tela que provocam por sua vez um ru do visual A mulher insurge se contra a fraca qualidade da comunica o e contra a operadora Faz v rias tentativas para que a comunica o se estabele a A chamada cai A mulher fuma nervosamente Finalmente o ru do desaparece e a comunica o estabiliza A mulher fala agora com um homem o seu amante que a acaba de abandonar Na projec o de v deo ao fu
68. para o entre o escritor e o leitor aumenta porque o segundo se torna sujeito passivo Ao contr rio da comunica o dist ncia pela palavra escrita aquilo que o telefone possibilitou de verdadeiramente inovador foi o regresso a uma nova forma de oralidade aquilo que Walter Ong designou em Orality and Literacy the technologizing of the world por segunda oralidade Ong 1982 A segunda oralidade deve neste contexto ser encarada na sua rela o com a literacia e a oralidade Se na oralidade temos um tipo de comunica o verbal e presencial sem possibilidade de fixa o material sem exist ncia de sistemas de escrita poderemos classific la como um tipo de comunica o que n o produz um res duo ao contr rio da comunica o impressa em que as palavras ficam inscritas em textos ou livros Ong 1982 Na oralidade a fixa o era somente poss vel pelo armazenamento na mem ria Este princ pio determinava todo um conjunto de rela es entre os indiv duos assentes numa l gica de presen a partilha e comunidade Tal como Havelock enunciou em The muse learns to write A mem ria de uma cultura oral 17 baseada numa rotina social num ritual num discurso p blico As mem rias s o pessoais no entanto o seu conte do a linguagem preservada comunal algo partilhado pela comunidade como expressando a sua tradi o e a sua identidade hist rica Havelock 1986 J S c
69. peita s representa es teatrais da obra em termos internacionais destacam se as actrizes Simone Signoret que realizou um hist rico registo udio e Liv Ullmann A adapta o da obra ao cinema ficou marcada por 3 filmes determinantes Logo em 1948 Roberto Rosselini realiza um filme em duas partes intitulado L Amore e que teve como int rprete Ana Magnani A primeira parte do filme tem o t tulo Una voce umana Fig 10 Anna Magnani em L Amore 1948 Em 1966 Ted Kotcheff realiza o telefilme The human voice com interpreta o a cargo de Ingrid Bergman Mais recentemente em 1987 Pedro 35 Almodovar realiza La ley del deseo uma obra cinematogr fica com evidente inspira o na pe a de Cocteau Fig 11 Ingrid Bergman em The Human Voice 1966 Fig 12 Carmen Maura em La Ley del Deseo 1987 IV 4 A PRESEN A DO TELEFONE EM 4 VOZ HUMANA Porque que eu n o tenho um telefone H duas raz es principais porque eu realmente n o gosto do telefone e porque ainda consigo trabalhar divertir me comer respirar e dormir sem dele ter 36 necessidade Porque que eu n o gosto do telefone Porque penso que uma praga e nos faz perder tempo Pode criar suspense e ansiedade desnecess rios como quando se espera uma chamada que n o chega ou provocar irrita o como quando se tenta ligar para um n mero que est sempre ocupado William Plomer On not answering the telephon
70. primeira oralidade sociabilidade comunidade e corpos em rela o presencial IL7 O TELEFONE CHAMAMENTO E OBEDI NCIA Ao escutar o toque de um telefone mesmo n o sendo o nosso somos impelidos a atender pois sabemos estar a o inicio de uma potencial ac o de comunica o Pelo toque do telefone tornamo nos expectantes no que respeita 8 in Introdu o de Understanding Media 18 presenga encontro com o outro Esperamos tamb m um reconhecimento por parte do outro uma legitima o da nossa exist ncia Em Understandig Media Mcluhan conta que uma mulher lhe disse que estava t o s que tomava banho tr s vezes por dia na expectativa de que o telefone tocasse Mcluhan 1964 Nesta pequena hist ria narrada por Mcluhan o telefone afirma se enquanto presen a pois ele que poder dar in cio a um acontecimento O telefone surge assim como interface entre o eu e o desejo de comunica o entre o ensimesmamento e a rela o Sendo expectativa concedemos ao telefone uma certa liberdade para nos determinar o quotidiano Talvez por causa disto mesmo Mcluhan a ele se refira como um intruso irresist vel no tempo e no espa o Mcluhan 1964 O n vel de intrus o do telefone na vida quotidiana hoje em dia algo que nos ordena o tempo e cujos efeitos procuramos regular salvaguardando a nossa disponibilidade para atender ou desligar No entanto a omnipresen a do telefone como cr
71. que a pr pria voz humana Tanto no que respeita s imagens como aos sons a media o adquire crescentemente um espa o de significa o no qual nos movemos com relativo vontade sem necessidade de remiss o para uma natureza primordial A caracter stica original da voz surge assim diminu da face ao potencial que a sua media o atrav s dos mais diversos apparatus acrescenta A erradica o da dist ncia caracter stica essencial do telefone tentativa de compensar ou em certos casos de instalar um v cuo um lugar de n o dist ncia onde os corpos n o se encontram mas onde as vozes e o pensamento podem viajar O corpo parece ter se desprendido do real Ocupa agora um n o lugar Em A Voz Humana nesse n o lugar que a rela o da mulher com o seu ex amante se r movimenta E certo que a express o do amor abandono m goa e sofrimento s pode ser dita por um corpo Mas dita para onde e para quem Recorrendo aos materiais existentes Texto e DVD do espect culo textos produzidos programa etc realiza se um trabalho complementar no qual se aliar a componente art stica pr pria do espect culo investiga o acad mica sobre as tem ticas assinaladas tendo como pano de fundo as quest es relativas media o sobretudo no que respeita s suscitadas pelo telefone enquanto aparelho t cnico capaz de transmitir dist ncia sons produzidos pela voz humana DELIMITA
72. rates via a escrita como corruptora do relacionamento do indiv duo para com a sociedade o verdadeiro discurso no entender do fil sofo era aquele que estava inscrito na alma do homem e era comunicado atrav s da fala No que respeita segunda oralidade e reportando nos ao caso do telefone dado que o conceito 4 ainda mais acutilante no contexto dos media electr nicos mais recentes aquilo que verificamos sobretudo um retorno s formas iniciais de comunica o e sociabilidade permitindo uma maior proximidade e um maior sentido de comunidade dado que os seus efeitos podem ser semelhantes aos de uma comunica o presencial primeira oralidade A grande diferen a reside no entanto na express o bastante mais significativa do n mero de presentes interlocutores Revela se neste contexto pertinente fazer apelo ao conceito de aldeia global de Mcluhan pois se h claras semelhan as entre a primeira oralidade e a segunda oralidade no que respeita ao sentido de grupo e forma o de uma verdadeira audi ncia no caso da segunda oralidade os grupos gerados adquirem uma dimens o significativamente maior Esta dimens o excessiva faz com que tal como observou Mcluhan as fronteiras sociais e culturais destes grupos se tornem difusas com perdas de identidade assinal veis e eventual domina o de uma s voz o que poder suscitar em reverso um desejo de regresso ao indiv duo e s condi es inscritas na
73. raz es para a ansiedade que o telefone suscita Espera se ansiosamente uma chamada pois existe a expectativa que 45 ela introduza algo de novo no quotidiano Mas essa espera pode ser longa e enquanto se espera deixa se ficar a vida em suspens o Nesta cena no telefone que se delega a fun o de vencer a in rcia e constituir se como motor da ac o O seu eventual toque ser como que uma voz que a chamar de regresso ao mundo No desespero em que a mulher est e que a leva a mentir s atrav s da linha pode vir o consolo que a far regressar calma e raz o j Dar se na voz pg 8 9 Est Pensei que tinham cortado ass ace ceret Es ador vel meu querido Meu pobre querido a quem eu fiz tanto mal Sim fala fala diz o que quiseres ssus Torcia me de dor de tanto sofrer tu falas e suficiente para me sentir bem para fechar os olhos Sabes s vezes quando est vamos deitados e eu tinha a cabe a pousada no seu lugarzinho a orelha contra o teu peito enquanto falavas ficava a ouvir a tua voz exactamente a mesma que ou o esta noite ao telefone A voz apaziguadora do amante um lenitivo para a o estado de perturba o em que a mulher se encontra Sem a presen a f sica do homem a sua voz apesar da distancia consegue produzir um efeito apaziguador no esp rito da mulher A voz do
74. reou em 1959 na Opera Comique em Paris com a soprano Denise Duval como protagonista e foi curiosamente a ltima obra composta por Poulenc Esta pera recorrentemente apresentada tendo tido como int rpretes nomes destacados como J lia Migenes Felicity Lott Carole Farley ou Renata Scotto Desde a publica o e estreia da obra teatral em Paris t m sido in meras as apresenta es da mesma por todo o mundo quer no teatro quer no cinema S em Portugal foram realizados 18 espect culos de teatro desde 1955 a partir do texto original de Cocteau De entre as actrizes mais not veis que interpretaram o texto encontramos nomes como os de Isabel de Castro Eunice Munhoz Maria Barroso Dalila Rocha ou Ana Moreira No caso das adapta es nacionais para cinema registe se a realizada em 2012 por Jo o Rui Guerra da Mata com o t tulo O que arde cura e que foi protagonizada pelo tamb m cineasta Jo o Pedro Rodrigues 2 O compositor ter sido tamb m uma das v timas do telefone pois segundo escreve Pierre Bernac Em Paris ele n o conseguia encontrar o seu ritmo de trabalho que era demasiado perturbado pelo telefone havia demasiada distrac o ele conhecia demasiada gente Bernac 1977 Segundo informa o recolhida na Cetbase Teatro em Portugal Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 34 Fig 9 Still do filme O que arde cura realizado por Jo o Rui Guerra da Mata 2012 No que res
75. resentados foram traduzidos por Pedro Tamen para a edi o de 2003 do C rculo de Leitores 26 Este conto de fadas de que fala o Narrador na obra de Proust todavia algo bem real e concreto e assente em pressupostos de natureza t cnica Para que este milagre se realize basta nos aproximar a nossa boca da placazinha magica e chamar as vezes admito durante muito tempo as Virgens Vigilantes cuja voz ouviremos todos os dias sem nunca lhes conhecermos o rosto que s o os nossos Anjos da Guarda nas trevas vertiginosas cujas portas vigiam ciosamente as Todo Poderosas por cuja intercess o os ausentes surgem ao nosso lado sem que nos seja permitido v los as Danaides do invis vel que incessantemente esvaziam enchem transmitem as urnas dos sons p 133 Como se v a consci ncia do processo t cnico n o invalida apesar de tudo aquilo que designado por milagre mesmo que para que esse milagre se realize a ajuda n o seja propriamente divina mas esteja a cargo das operadoras telef nicas com vincada presen a na pe a de Cocteau No entanto a dimens o m tica que estas operadoras assumem no estabelecimento da comunica o leva Proust a apelid las de Danaides ou Sacerdotisas do Invis vel A convoca o num mesmo tempo de uma voz e do seu corpo exemplarmente ilustrada pelo Narrador no momento em que este descreve o instante em que se estabelece a comunica o E logo qu
76. rid culos por que raz o continua a perder tempo em vez de desligar snesena OI AE ea d Meu querido meu querido N o te ZO UE Sce oda ost s ER o e eet n o n o Agora fui eu Estava a mexer no telefone Ela desligou Desligou logo depois de ter dito aquela coisa 1gn bil Esta ed dovete pets A conversa telef nica determina um espaco de intimidade n o suscept vel intromiss o de terceiros Sendo um espa o pr prio dos amantes a interven o da operadora invasiva na rela o entre ambos Mesmo tendo em conta a dist ncia e a media o o homem e a mulher procuram manter a sua privacidade delimitando um espa o comum n Ver pela voz pg 12 Pareces Chocado cccccccccsccccssssssssssssssceseeseeeees Sim ficaste chocado com o que acabaste de ouvir reconhe o na tua voz Ficaste CHOCAdO sene edes A mulher identifica na voz do amante os seus sinais e express es do corpo Este reconhecimento possivel nos sil ncios que perpassam pela pega e na intimidade que existe entre os amantes Reconhecer na voz tamb m um reconhecimento do corpo 0 A morte do corpo pg 13 Outrora as pessoas viam se Podiam perder a cabe a esquecer as suas promessas arriscar o imposs vel convencer aqueles que adoravam beijando os agarrando se a eles Um simples olhar podia mudar tudo Mas com este aparelho o que acabou acabo eee erre eta ra eter eerta na 49 Talvez este excerto do fi
77. rma mais r pida de se deslocar no solo sentar se ficar im vel e usar o telefone N o se deixe perder ficando fora da lista de subscritores SOUTHERN BELL TELEPHONE AND TELEGRAPH COMPANY md THE TELEPHONE IS e GAINESVILLE FLA Ideal Rapid Transit etre AAA June 1 1899 The quickest way of getting over ms S ground is to sit still and use the m4 telephone SOM D EASTERLIN Superintendent Don t lose yourself by being out of atum Suas the list of telephone subscribers Special Notice Please mote the Instroctions and Important Suggestions in the back of this Directory 4A Fig 5 Capa e contracapa da lista de subscritores da Southern Bell Telephone and Telegraph Company 1899 II 3 PREVIS ES SOBRE O IMPACTO E UTILIDADE DO TELEFONE Em 1983 Ithiel de Sola Pool investigador do Massachusetts Institute of Technology publicou um estudo no qual sistematizava as previs es feitas sobre o telefone entre 1876 e 1940 Este estudo compilava 186 previs es que tinham sido realizadas pelas mais diversas entidades e indiv duos em todo o mundo e que procuravam antecipar os desenvolvimentos e efeitos do telefone De entre os impactos mais comuns apontados pelo investigador relevam se alguns que nos parecem determinantes a contribui o do telefone para o desenvolvimento das zonas suburbanas a maior seguran a na transmiss o de informa es orais por oposi o sua transmiss o escrita a intromiss
78. s deixar em paz a ela e o seu amante e ao constatar a presen a de v rias pessoas na linha torna evidente nesta primeira cena a privacidade ilus ria que o telefone permite pois sabemos que a operadora que realiza a chamada consegue sempre ouvir as conversas estabelecidas e as outras presen as na linha poder o ser delas tamb m testemunhas A impaci ncia demonstrada impele a mulher a desligar o telefone por duas vezes ficando assim ref m da vontade do seu amante pois era ele que tentava estabelecer a comunica o O telefone torna se logo de inicio mais do que um simples adere o Ele revela se um verdadeiro protagonista pois assume se como motor para o desenvolvimento ou interrup o da ac o dos dois amantes marcando o seu lugar enquanto objecto t cnico e simbolicamente despersonalizado Contudo dele que a mulher se torna dependente assumindo o aparelho controlo sobre a mulher b Ansiedade e expia o p 3 Est est n o corte a liga o Est l est querido ii eme nr Sim est o a cortar pede ja liga o outra Vez ores t eges naturalmente iieri Est N O dete erc ea tes potete te edel estou aqui creer ter 14 O facto de se tratar de uma mulher a operar o sistema n o irrelevante para o caso Os primeiros operadores eram homens contudo a necessidade de tornar mais cordial o atendimento face aos diversos conflitos que surgiam levou as empresas telef nicas a optar
79. sasse LG estava com o senhor mas cortaram a lode AO dec C eme N o ESTA cedat Sien EL eae SUID arraste grita ai n o volta para casa esta NOME eee eeseeteetteeees verdade que est pida O senhor estava a telefonar me de um restaurante cortaram e pe o o n mero dele ie Desculpe dose ose Obtipada edet muito obrigada Boa noite Jos Desliga e sente se mal Toca o telefone Estou ah querido s tu Tinham cortado a liga o N o n o Estava espera Tocava eu atendia e ningu m respondia sssssses Esta uma das cenas cruciais da pega A mulher que at aqui vinha mentindo ao homem mentiras piedosas certo descobre que ele que lhe tem estado a mentir Ap s mais uma quebra da liga o a mulher decide tomar a iniciativa e ser ela 44 a ligar Liga lhe para casa onde ele afirmava estar Contudo quem atende a chamada n o o seu amante mas sim o seu mordomo Se no in cio desta cena a mulher se apresenta impaciente e irritada com a operadora por causa da impossibilidade do estabelecimento da comunica o a partir do momento em que descobre que o seu amante n o est em casa e que tem estado a mentir o seu mundo interior desaba por completo A partir desta situa o a mulher transfigura se tornando se simultaneamente mais fria e emocionalmente descontrolada Esta segunda trai o por parte
80. sobretudo quando queria fazer alguma afirma o mais determinada reconhecendo no objecto a sua fun o enquanto transportador da sua voz at ao destinat rio Noutros momentos sobretudo quando se enfurecia ou descontrolava atirava o aparelho ao ch o interrompendo assim bruscamente a conversa o Este tipo de gestos n o sendo vis vel pelo interlocutor transformava o telefone em objecto sacrificial da sua raiva substituto do corpo do ex amante No final do espect culo quando a ruptura definitiva se consuma o seu gesto final o de ignorar e tirar o aparelho ficando indiferente ao bip que anuncia a 62 tentativa de contacto Este gesto coincide tamb m com a sua liberta o do espa o quando franqueia a delimita o imposta no palco e avan a para o prosc nio numa clara rela o com a plateia Vira se de costas para o p blico numa clara cumplicidade com este ao assumir o seu ponto de vis o E agora espectadora de si mesmo Entretanto o bip do telefone cala se e no sil ncio que se instaura come a a desaparecer tamb m a mem ria do amante As suas ltimas palavras em cena s o produzidas sem a voz mediada Sem o telefone ela sabe que o amante n o as poder jamais escutar Ao libertar se do telefone ela liberta se n o s do amante da sua voz mas tamb m do espa o ao qual estava confinada A brisa que lhe faz esvoa ar o cabelo e o robe leva consigo os funestos acontecimentos recent
81. te se culpado por t la abandonado Ela protege o dessa no o de culpa procurando vitimizar se Iniciam uma pequena discuss o sobre as raz es objectivas do motivo da separa o A mulher acalma se Ele pergunta lhe pelo c o que ficou l em casa Ela diz lhe que ele est bem e que pode ir busc lo quando quiser O homem pergunta lhe tamb m pelas luvas de pele que ter l deixado Ela procura as pelo quarto e diz que n o as encontra Mente Pois tem as luvas na m o fortemente apertadas contra o peito O homem diz lhe que pretende queimar as cartas Ela chora procurando esconder esse choro do homem O homem diz que est de roup o no quarto a trabalhar Ela diz lhe que n o deve trabalhar at t o tarde Ru do na comunica o Ela muda de s tio A comunica o fica melhor e ela diz ao homem que imagina que ele est ali com ela no quarto Novo ru do na comunica o Ela diz ao homem que lhe parece que ele est longe Diz que o telefone dele faz eco e n o parece o seu telefone Ela espanta se apesar de tudo por os deixarem falar h tanto tempo A mulher diz que est a v lo e descreve o que ele tem vestido Diz lhe para ele n o olhar para ela pois n o se sente bonita A conversa entre ambos flui e torna se terna Novo ru do na linha A chamada cai A mulher discute impaciente com a operadora Tenta agora ela ligar Do outro lado atende um outro homem O mordomo do seu amante Ela descobre que ele afinal
82. tema de comunica o que n o deixa residuo d Um instrumento prop cio propaga o da mentira e Perder a voz f Quem ocupa os sil ncios g Matar pelas palavras h O telefone como facilitador do jogo de mentiras i Desejo e expectativa j Dar se na voz k Ouvir o espa o I O fio que os liga m A intimidade como espa o da voz re co CO t9 t2 16 16 17 18 20 21 23 23 25 29 30 31 34 36 38 39 40 40 41 42 43 44 45 45 46 47 48 n 0 p q r Ver pela voz A morte do corpo Jogos de poder e submiss o A arma do crime Cortar a liga o CAP TULO V O ESPECT CULO A VOZ HUMANA V l CONCEITO GERAL V 2 FICHA ART STICA DO ESPECT CULO V 3 OTELEFONE NO CONTEXTO DO ESPECT CULO V 4 ACENA V 5 A VOZ AMPLIFICADA V 6 DESCRICAO DO ESPECT CULO 4 VOZ HUMANA V 7 OTELEFONE SEM FIOS E A SUA RELAC O COM O JOGO C NICO DA ACTRIZ CAP TULO VI CONCLUS ES BIBLIOGRAFIA ANEXOS 49 49 50 51 52 54 54 54 55 56 59 61 62 64 66 72 1 INTRODU O Este projecto parte das quest es formuladas por Jean Cocteau em A Voz Humana 1927 relativamente presen a c nica do telefone O texto de Cocteau deu origem a um espect culo apresentado em 2011 no Teatro Municipal de S Luiz em Lisboa e no Teatro Nacional de S Jo o no Porto No espect culo o telefone com fios originalmente proposto por Cocteau foi substitu do por um telefone sem fios Procurou se
83. to do corpo do amante distante e a nica coisa que os liga O contacto do fio do telefone com o corpo da mulher permite que esta sinta a sua voz Voz essa presumivelmente quente e 51 tranquilizadora Mas no estado de contradi o em que a mulher se encontra o fio de telefone tamb m a arma do crime O fio do telefone simbolicamente o prolongamento da for a do homem das suas m os fortes capazes de provocar a asfixia e conduzir morte desejada Contudo esse desejo mais n o que o fruto do desespero da protagonista Entre continuar a falar com o amante que j sabe perdido e o sofrimento em sil ncio a mulher parece optar por esta ltima possibilidade A presen a t cnica do aparelho e a consci ncia do mesmo como mediador do processo comunicativo evidente na cena Os condicionalismos t cnicos da opera o telef nica s o neste caso pretexto para a interrup o da conversa o que nitidamente parece j n o evoluir entre os dois amantes A estranheza quanto possibilidade t cnica da comunica o distancia tamb m bem not ria neste excerto e exemplifica a desconfian a quanto s potencialidades do aparelho Esta desconfian a denota a ainda relativa presen a do telefone no quotidiano dos seus potenciais utilizadores r Cortar a liga o pg 14 Es ador vel Amo te Levanta se e avan a na direc o da cama com o telefone na m o Ent o pronto PRONTO Gioca Ia dizer
84. transmitir palavras cru is Uma arma que atinge a mulher nos seus mais profundos sentimentos e que n o deixa qualquer marca material da sua ac o A comunica o oral neste contexto um espa o privado dos amantes Ela n o deve ser escutada porque ntima vejam se noutras cenas os sucessivos reparos operadora nem se torna prova material que 43 possa constituir uma evid ncia posterior O telefone assim o mensageiro invis vel que transporta a mensagem e se apaga na sua discri o h O telefone como facilitador do jogo de mentiras p 6 7 ESA sandra est X est l est querido onde est s secessit Est est est menina Faz nova liga o Est menina est o a cortar Desliga Sil ncio Faz nova liga o Atende Estou Faz nova liga o Estou Estou s tu N o menina Cortaram me a Ups oso DENN Et e UM N o SEL ood Sete as quer DIZER itte dius Sus oia ESPET stra ct eise ts Auteil 04 virgula d ESA red aseo qiti bat neta te vs ets Ocupado s nado d tis Est menina ele a tentar ligar me Bem Desliga Toca o telefone Estou estou 04 v rgula 7 Nao n o 6 7 Oh Tenta ligar Est cus est menina H um engano Est o a dar me o v rgula 6 Eu estou a pedir o v rgula 7 04 v rgula 7 Auteuil Espera Estou Auteuil 04 v rgula 7 Ah sim E voc JOSQ o Fala a senhoras u
85. u foi romancista realizador actor poeta pintor core grafo argumentista editor e sobretudo um experimentador curioso daquilo que Ihe oferecia a modernidade o que o leva a relacionar se com as inven es t cnicas da poca e a question las na sua relac o com o pensamento e a arte 23 Fig 7 Berthe Bovy na estreia de A voz Humana em 17 de Janeiro de 1930 na Com die Fran aise Foto Manuel Fr res Col A R T N o admira pois que esta sua curiosidade o tenha levado a escrever uma pe a centrada sobre o telefone nela questionando todas as rela es que este novo aparelho proporciona no contexto da comunica o humana Em 4 Voz Humana o telefone elevado categoria de actor permanente A sua inerte presen a c nica determina praticamente todos os movimentos da actriz Quer enquanto fala quer enquanto escuta o telefone que nos conduz em termos visuais e de escuta pela narrativa e nos permite justificar os gestos e as emo es da protagonista Fig 8 Telefone Thomson amp Huston 1925 O tipo de telefone usado na estreia de 4 Voz Humana 24 Embora se tenha ja assinalado a curiosidade de Cocteau pelas inven es t cnicas da sua poca atitude consubstanciada na sua condi o de moderno n o ter sido propriamente o elogio do aparelho que determina a escrita da pe a Parece nos evidente que logo no t tulo se denuncia uma clara problematiza o da introdu o
86. ua encarna o A fala sob a sua forma oral um gesto que mobiliza o conjunto de uma maquinaria complexa e vital O sopro produzido pelos pulm es num gesto interior de expira o caminha atrav s da faringe toma uma forma sonora nas cordas vocais ressoa no c u da boca e na cavidade bucal enchendo finalmente o espa o f sico at que atinge os ouvidos do interlocutor O sopro ter de passagem mobilizado os recursos do c rebro que concedeu ao som a faculdade de se tornar signo Breton 2004 Neste contexto a fala assume se tamb m como indissoci vel do corpo Ela resultado de uma individualidade org nica de uma identidade fisiol gica e mental que se expressa na oralidade Esta fisicalidade da fala a que Margarida Vieira Mendes no seu not vel zx 5 vig 5 NE ensaio sobre a orat ria barroca chamou a voz vis vel mais n o do que o corpo em ac o Mladen D lar Vox in Umbr a Incurable N 1 2006 119 141 4 in Revista de Comunica o e Linguagens Corpo t cnica subjectividades CECL 2004 5 MENDES Margarida Vieira A orat ria barroca de Vieira Lisboa Caminho 1989 A orat ria talvez a mais requintada express o da arte de falar em p blico Atrav s da orat ria transmitido dado a ver e ouvir o discurso argumentativo O receptor do discurso n o est assim em contacto com um texto escrito mas sim com o corpo e palavras do orador que se assume

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