Home

diálogo ciência e literatura renata coelho sartori

1. RENATA COELHO SARTORI A ETNOPO TICA DE IRACEMA DI LOGO CI NCIA E LITERATURA Tese apresentada ao Programa de P s Gradua o em Ci ncias Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obten o do t tulo de Doutor em Ci ncias Sociais rea de Concentra o Din micas Sociais Pr ticas Culturais e Representa es Aprovada em BANCA EXAMINADORA Profa Dra Maria da Concei o Xavier de Almeida Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof Dr Iran Abreu Mendes Avaliador externo Universidade Federal do Rio Grande do Norte Profa Dra Josineide Silveira de Oliveira Avaliador externo Universidade Estadual do Rio Grande do Norte Prof Dr Jos Willington Germano Avaliador interno Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof Dr Luiz Carvalho de Assun o Avaliador interno Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof Dr Joao Bosco Filho Suplente externo Universidade Estadual do Rio Grande do Norte Prof Dr Edmilson Lopes J nior Suplente interno Universidade Federal do Rio Grande do Norte x A Renato Bernadette e Renan luzes que iluminam a minha vida e apoio incondicional em todos os momentos A Cei a Almeida Mestra em cultivar o jardim lan ando modestas sementes de sabedoria nos campos das mentes Dedico Mhes com amor este trabalho AGRADECIMENTOS Deus e sua presen a co
2. idem Segundo Tragtenberg 2001 a literatura pertence a um dos campos assistem ticos do conhecimento tendo esse poder pode auscultar as mudan as que se operam no mundo e pela imagina o de seus grandes nomes definir ao homem comum novos caminhos Assim como nas narrativas curtas que o escritor irland s James Joyce concluiu em 1097 o livro Dublinenses descrevendo Dublin sua cidade natal como cen rio e tamb m a definindo como o centro da paralisia desta hist ria moral da Irlanda bem como os passeios de Jorge Luis Borges pelas ruas da Irlanda ruas que percorreram e continuam percorrendo todos os habitantes de Ulisses BORGES KODAMA 2010 Alguns desses caminhos conforme exemplos citados acima tamb m s o ilustrados pelo professor e cr tico liter rio franc s George Steiner ao afirmar que em Skakespeare Dostoi vski ou Homero h mais entendimento da quest o do homem do que em toda neurologia ou a estat stica assim como nenhuma descoberta da gen tica reduz ou supera o que Marcel Proust sabia sobre linhagem 15 TRAGTENBERG Maur cio A import ncia da literatura para o homem de cultura universit ria qualquer que seja sua especializa o Dispon vel em lt http www espacoacademico com br 007 07trag literatura htm gt Acesso em 13 jun 2011 Da sua afirma o que durante longos per odos o romance se constitui como um g nero com bases evidentes e concretas na hist ria e na s
3. s culo XVIII Niter i 2010 409 p Tese Doutorado em Hist ria Faculdade de Hist ria Universidade Federal Fluminense Niter i RJ 2010 MANUAL T CNICO DE VEGETA O BRASILEIRA Dispon vel em lt http biblioteca ibge gov br visualizacao monografias GEBIS 20 20RJ ManuaisdeGeociencias Manual 20Tecnico 20da 20Vegetacao 20Brasileira 20n 1 pdf gt Acesso em 13 jun 2010 MAPA CACHOEIRA DO BOI MANSO TRILHA TRANSUMANCIA Dispon vel em lt http www folhaubajarense com br page_id 164 gt Acesso em 30 jan 2010 MAPA DO CEAR Dispon vel em lt http www guianet com br ce mapace htm gt Acesso em 30 jan 2010 MARTIRANI Maria C lia Novos territ rios Geografia do romance busca respostas s apocal pticas elucubra es acerca da poss vel morte do romance Rascunho o jornal de literatura do Brasil Curitiba p 19 ano 9 jan 2009 MARROU Henri Ir n e Hist ria da educa o na antig idade S o Paulo E P U EDUSP 1975 MATENCIO Maria de Lourdes Meirelles Estudo do letramento e forma o dos professores retomadas deslocamento e impactos Revista Caleidosc pio Caxias do Sul vol 7 n 1 p 5 10 jan abr 2009 MAZZONI Cristina As mulheres na cozinha de Deus escritos culin rios gastron micos e espirituais S o Paulo Loyola 2009 METZGER Jean Paul O que ecologia de paisagens Revista Biota Neotr pica Campinas v 1 n 1 2 p 1 9 dez 2001 MIRANDA Giuliana C us dos nd
4. De um lado o lugar da bestialidade da perdi o das feiti arias de outro o lugar da aventura do cavaleiro em busca das provas de valentia a regi o das loucuras nascidas dos desgostos amorosos Depois a floresta se inscreve progressivamente em um leque de significados mais cultos ou mais liter rios BALANDIER 1999 p 123 Para Balandier 1999 no Romantismo que volta a habita o da floresta o habitar a natureza a ser menos preocupado em conhec la para possu la e dela retirar o poder De fato a partir de alguns fragmentos de Iracema notamos que h as duas florestas tanto da Idade M dia Renascen a como a do Romantismo ambas habitadas por duas tribos pitiguaras e tabajaras das quais Alencar relata seus costumes rituais a import ncia da jurema Mimosa tenuiflora e outra relacionada s aventuras das guerras entre tribos e entre franceses e portugueses 78 A floresta do Romantismo tamb m representada num outro fragmento da obra no momento em que em uma noite Martim pede Iracema o vinho de Tup j que n o est conseguindo resistir aos encantos da virgem o vinho que provoca alucina es permitiria que ele em sua imagina o possu sse a jovem ndia como se fosse realidade Iracema lhe d a bebida e enquanto ele imagina estar sonhando Iracema se torna sua esposa ALENCAR 1956 p 54 muito importante notar o valor aleg rico dessa passagem a bebida
5. Zwang o cientista brit nico respondeu que sim que a palavra significava restri o obriga o compuls o coer o O motivo da indaga o se deu porque o jovem Einstein manteve uma postura contra todos os tipos de autoritarismos praticados por algum dos seus professores de gin sio na Escola de Munique tornando se conflituosa sua vida escolar O esfor o de Einstein contra a Zwang ajudou o a defini lo desde ent o Sem isso ele n o teria sido capaz de desenvolver a independ ncia mental formid vel que lhe deu coragem para desafiar as cren as cient ficas estabelecidas e assim revolucionar a f sica ISAACSON 2007 p 41 O linguista e poeta Carlos Vogt cita o escritor e naturalista americano John Burroughs para quem o verdadeiro poeta e o verdadeiro cientista n o se estranham bem como a imagem que o f sico prussiano Max Planck tinha a respeito do trabalho do cientista o cientista tem de ter uma imagina o v vida e intuitiva porque as novas ideias n o s o geradas por dedu o mas por uma imagina o art stica e criativa 2 vocr Carlos A espiral da cultura cient fica Dispon vel em lt http www comciencia br reportagens cultura cultura01 shtml gt Acesso em 20 mai 2010 52 O racional intuitivo pode ser relacionado com os modos complementares de funcionamento da mente humana descritos por Capra 1982 como o racional linear concentrado e anal tico cuja fung o medir discriminar
6. fora da sua contextualidade espa o temporal 76 Moreira categ rico ao afirmar que quando se diz que preciso contextualizar um romance no seu espa o tempo est se querendo dizer que preciso que ele seja visto no mbito da estrutura de sociedade concreta em que se desenrola a trama de vida de seus personagens Alencar narra um romance ambientado cujo tempo o s culo XVII retrata seus personagens e tramas indissoci veis do cen rio composto pelas matas serras do sert o e litoral cearense logo o espa o o estado do Cear local de guerras entre os soldados portugueses e franceses bem como pelos ndios tabajaras e potiguaras pela disputa de terras Tup deu grande na o tabajara toda esta terra N s guardamos as serras donde manam os c rregos Agora os pescadores da praia deixam vir pelo mar a ra a branca dos guerreiros de fogo inimigos de Tup J os emboabas estiveram no Jaguaribe logo estar o em nossos campos e com eles os pitiguaras ALENCAR 1956 p 21 Bosi 2006 p 11 atesta que tanto nos romances nativistas O Guarani Iracema e Ubirajara como naqueles em que o bom selvagem se desdobra em her is regionais O Ga cho e O Sertanejo a nobreza retratada pelas for as do sangue que Alencar reconhece e respeita igualmente na estirpe dos colonizadores brancos A Col nia de in cio o objeto de uma cultura o outro em rela o metr pole em nosso caso foi a terra a
7. 2 Cf Coelho Nelly N Dispon vel em lt http www edgarmorin org br textos_down php gt Acesso em 13 jan 2012 Waizbort 2007 p 6 em artigo publicado no jornal Folha de S Paulo intitulado Os desafios da sociologia enfatiza que a sociologia precisa atentar s variedades dos vetores e dimens es para observar e descrever mais e melhor a sociedade precisa estar atenta ao novo papel que o corpo humano desempenha 75 Privilegiando a linguagem do espa o simb lico na sua leitura do mundo a literatura normalmente se funde e se separa da ci ncia existente conjuga se com ela na intencionalidade de compreens o do mundo mas rejeita a tend ncia desta ao discurso rido Pois a ci ncia opta pela linguagem do espa o real menospreza o espa o simb lico acusando a de subjetivismo ponto em que se dissolvem e dissociam como falas sobre o mesmo mundo a geografia a hist ria e a literatura que conhecemos se antep em diante de uma especialidade contraditoriamente a um s tempo objetiva subjetiva desmanchando a unidade de vida ao separar a objetividade tomada abusivamente como objeto da ci ncia e a subjetividade como da literatura O viver humano a unidade do simb lico e do real unidade de um mundo impregnado de imagens e significados Logo interpretando o mundo pelo simb lico a literatura apenas se aproveita do que a ci ncia muitas vezes menospreza Entretanto ironicamente a literatura ao tomar de empr
8. es una voz que nos muestras partes desconocidas de nuestra existencia la verdad jam s puede ser absoluta CIURANA 2003 p 2 Ainda no mundo antigo h duas passagens famosas da Po tica de Arist teles uma delas se acha no Cap tulo I quando o fil sofo se refere diferen a entre Homero e Emp docles esclarecendo que apesar da circunst ncia de ambos terem escrito em versos mais acertado chamar poeta ao primeiro e ao segundo fisi logo mais do que poeta A outra no Cap tulo IX quando menciona a peculiaridade que distingue o poeta do historiador mais uma vez descredenciando o verso como crit rio distintivo a poesia mais filos fica e de car ter mais elevado que a hist ria porque a poesia permanece universal e a hist ria estuda apenas o particular o universal o que tal categoria de homens diz ou faz em tais circunst ncias ARIST TELES 1964 p 278 Para o autor essas circunst ncias podem ser veross meis ou necess rias j o poeta tem por m xima necess ria n o seguir nunca passo a passo a verdade mas a verossimilhan a e o poss vel deixando a verdadeira narra o aos historiadores A Idade M dia por sua vez detalhando a distin o antiga entre artes mechanicae e artes liberales isto entre of cios manuais e servis de um lado e atividades do intelecto pr prias aos homens livres do outro produz uma classifica o que pode ser relacionada com as muralhas estabeleci
9. h a hist ria seu fluir CALVINO 2006 p 29 Em Alencar Iracema tamb m tem consci ncia da sua finitude principalmente nas ltimas p ginas do romance quando est s e distante de Martim este se ausenta para ca ar e lutar nas batalhas contra os inimigos dos pitiguaras durante oito luas Enquanto este guerreia nasce seu filho Moacir solit ria e fr gil Iracema tem dificuldade em amament lo e ela sem se alimentar desfalece de tristeza Como a estrela que s brilha de noite vive Iracema em tristeza S os olhos do esposo podem apagar a sombra em seu rosto ALENCAR 1956 p 102 62 Quando Martim regressa das batalhas ele acolhe seu filho e Iracema morre em seus bra os mais uma vez notamos a fus o homem natureza quando ele enterra seu corpo num p de coqueiro na margem do rio e a jandaia repetia seu nome tristemente Iracema foi assim que um dia veio a chamar se Cear o rio onde crescia o coqueiro e os campos onde serpeja o rio ALENCAR 1956 p 103 ou seja a continuidade os rizomas da ndia tabajara A partir desses fragmentos n o seria exagero afirmar que a maior luta tanto de Iracema como Martim parece ser travada n o contra for as reais entre tabajaras x pitiguaras ou entre portugueses x franceses mas contra as for as internas imaginadas os sentimentos de saudade ang stia solid o abandono Nota se que a multiplicidade prolifera nas m ltiplas vis es de um mes
10. laranjeira Turdus rufiventris considerado s mbolo da ave nacional brasileira e como o canto caracter stico da cidade de S o Paulo uma vez que ele anuncia todos os anos a chegada da primavera e o tempo de se reproduzir O termo sabi deriva da l ngua tupi e significa aquele que rege muito em alus o ao rico repert rio vocal SIGRIST 2009 113 Os naturalistas tiveram grandes contribui es dos ndios excelentes observadores da natureza suas complexas rela es com seu habitat foi e continuando sendo rica fonte sobre assuntos da fauna e flora Os nomes dos bichos e plantas na l ngua tupi usados pelos atuais ndios s o os mesmos conhecidos desde o tempo da descoberta do Brasil constando em diversas publica es dos naturalistas jesu tas mission rios cronistas da poca O ornit logo aproveita dos conhecimentos ind genas para procurar certas aves dif ceis de serem encontradas SICK 1997 As aves tamb m se fundem num recurso imag tico com os personagens em alguns gestos de Iracema retratados pelo autor como aos da andorinha e colibri o olhar de Caubi ao de oitib ave noturna esp cie de coruja a gaivota est associada aos potiguaras e o gavi o aos tabajaras o gavi o branco Martim a narceja Poti o japim virgem branca europeia as penas douradas compara Iracema ao cabelo daquela que a ndia nota ser o amor de Martim Alencar 1956 p 121 atesta o japim como p ssaro cor de ouro com enco
11. 163 Lagoa da Sapiranga Fortaleza CE Outras v zes a levava sua vontade do oposto lado a Sapiranga cujas guas inflamavam os olhos como diziam os paj s C rca da havia um bosque frondoso de muritis que formavam no meio do tabuleiro uma grande ilha das formosas palmeiras al espolpava ela o vermelho c co o buriti para fabricar a bebida refrigerante ado ada com mel da abelha e enchia dela a iga aba destinada a estancar a sede dos guerreiros ALENCAR 1956 p 77 A Lagoa da Sapiranga fica no Bairro Sapiranga Coit em Fortaleza considerada um ecossistema lacustre urbano Uma parte da lagoa est dentro dos limites da Reserva Ecol gica de Sapiranga com 60 hectares A lagoa possui 218 722 m2 notamos a presenga de macr fitas aqu ticas flutuantes e fixas e aguap s conforme figura abaixo lagoa no s tio Alagadi o Novo a cerca de duas l guas da capital O nome ind gena significa olhos vermelhos de ceca olhos e piranga vermelhos ibidem p 120 O acesso se deu por uma rua onde h ac mulo de lixo e esgoto provenientes das habita es que ficam s margens da lagoa 109 FIGURAS 108 e 109 Acesso Lagoa da Sapiranga Fortaleza CE Fotos RCSartori Fonte Dispon vel em lt http inventarioambientalfortaleza blogspot com br 2007 09 reserva ecolgica do sapiranga html gt Acesso em 15 jan 2010 164 Lagoa de Messejana Fortaleza CE Desde ent o hora do banho em vez de b
12. 2012 Cotidiano p 6 PRIGOGINE Ilya O fim das certezas S o Paulo Ed Unesp 1996 Ci ncia raz o e paix o In CARVALHO Edgard de Assis ALMEIDA Maria da Concei o de Orgs 2 ed S o Paulo Editora da F sica 2009 PROEN A Manuel Cavalcante Jos de Alencar na literatura brasileira Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1972 RAMOS Fern o Hist ria do cinema brasileiro S o Paulo Art Editora 1987 RANGEL Diuc nio O di logo entre ci ncia e arte Revista Ci ncia e Cultura S o Paulo vol 57 n 4 p 36 37 oct dez 2005 R GIS S nia Literatura como ci ncia S o Paulo 1996 64 p Tese Doutorado em Comunica o e Semi tica Programa de Comunica o e Semi tica Pontif cia Universidade Cat lica de S o Paulo S o Paulo 1996 178 REIGOTA Marcos Meio ambiente e representa es sociais 4 ed S o Paulo Cortez 1994 REIGOTA Marcos Antonio dos Santos et al Ecoando resson ncias da educa o ambiental descobertas conflitos di logos por uma ecologia sonora sens vel European Review of Artistic Studies Alto Douro vol 2 n 1 pp 64 83 2011 REIS Carlos LOPES Ana Cristina Dicion rio de teoria narrativa S o Paulo tica 1988 REISS Timothy The meaning of literature New York Cornell University Press 1992 RIS RIO Antonio Textos e tribos Rio de Janeiro Imago 1993 ROGER Emilo Uma antropologia complexa para entrar no s culo XXI chaves de co
13. Figura 56 Figuras 57e 58 Figuras 59 e 60 Figura 61 Figuras 62 e 63 Figuras 64 e 65 Figuras 66 68 Figura 69 Figura 70 Figura 71 Figuras 72 e 73 Figuras 74 e 75 Figura 76 Figura 77 Figuras 78 e 79 Placa na beira da estrada As montanhas seculares da Chapada de Ibiabapa CE Entrada do Parque Nacional de Ubajara CE Mata fechada evidenciando a Bica de Ipu CE Tamandu mirim Tamandua tetradactyla L Localiza o da Cachoeira do Boi Morto Trilha Transum ncia CBee raai airaa AAAI Travessia de bicicletas ii saivi iorisieiiersenr Cachoeira do Boi Morto CEJ isisisi inirrisisvini siniseen Escarpas rochosas da trilha Transum ncia Jatob Hymenaea courbaril L sete Vi osa do Cear CE vista do Mirante da Igreja do C u Matriz N Sa da Assun o e escadaria de acesso s torres antigo t nel com paredes de pedras Pinturas do teto da Matriz N Sa da Assun o e as semelhan as com as esp cies da regi o Placa indicativa para Montroi essiri noiiire igsi Maracuj Passiflora edulis Sims Fruta do conde Annona squamosa L see Trechos da rodovia BR 222 buraco pau de arara caminh o com carga evidenciando pessoa sentada sobre a carga Rodovia CE 137 e estrada de terra rumo Serra de Uruburetama CE ai oseyi anaan
14. Paulo de 10 08 2012 foi divulgado o Censo de 2010 do IBGE nstituto Brasileiro de Geografia e Estat stica ao investigar pela primeira vez as etnias e l nguas faladas pelos ndios do Brasil revelou um cen rio mais diversificado no total foram encontradas 305 etnias e 274 l nguas diferentes Segundo o IBGE no total 75 dos 817 9 mil ind genas do pa s declararam pertencer a alguma etnia sendo a mais populosa Tik na seguida pela Guarani Kaiow e pela Kaingang 27 De fato o romance parece continuar a roubar a cena junto ao palco das aten es dos estudos liter rios tanto que diversos intelectuais da atualidade Carlos Fuentes Geografia do Romance Franco Moretti A cultura do romance entre outros se debru a sobre a complexidade de temas suscitados a partir da necessidade de redimension lo nestes tempos p s modernos H uma evid ncia bem simples que podemos constatar as obras liter rias nos oferecem uma hist ria na qual se admite que o elemento hist ria um aspecto b sico da literatura Mas uma hist ria pode ser oferecida ao leitor de diversas maneiras e destas pode se delinear um m todo para religa o dos saberes Moretti 2008 prop e tr s modelos de explica o para compor a hist ria e a teoria liter ria e seus g neros os gr ficos da hist ria quantitativa os mapas geogr ficos e as rvores da evolu o biol gica privilegiando o di logo da literatura com outras ci ncias Para ele o estudo de um
15. atrav s de um processo de compreens o interpreta o de um horizonte compartilhado e estimulado por um modo de pensar marcado pela articula o de saberes Embora concebidas separadamente a complexidade e a transdisciplinaridade articulam se se vistas separadamente uma torna se princ pio da outra A necessidade de reagrupamento dos saberes para buscar a compreens o do Universo como Morin resume parte da sua teoria sobre o pensamento complexo conforme mencionado anteriormente O pensamento complexo reconhece a import ncia de outros conhecimentos Para Almeida 2009b p 107 o pensamento complexo como m todo vivo est em permanente reconstru o capaz de articular objetividade e subjetividade Princ pios gerais que apelam e exigem criatividade sensibilidade e inventividade do pesquisador ao mesmo tempo em que permite distinguir rigidez de rigor cient fico A transdisciplinaridade por Basarab Nicolescu f sico romeno tamb m prop e uma fun o articuladora de saberes que contribuam para a compreens o da realidade sem no entanto abandonar o respeito e o rigor pelas reas do conhecimento uma educa o aut ntica n o pode privilegiar a abstra o do conhecimento Ela deve ensinar a contextualizar concretizar e globalizar NICOLESCU 1999 p 150 As reflex es de Prigogine 2009 p 13 e 41 revelam que as recentes ci ncias da complexidade negam o determinismo insistem na criatividade em todos o
16. das no roteiro por estarem relacionadas com a hist ria dos tabajaras bem como suas respectivas localiza es geogr ficas interligando uma cidade outra ambas situadas na Chapada de Ibiapaba cen rio do romance A integra o do ndio na natureza torna a chamada cor local do romantismo indispens vel na obra de Alencar o maior chefe da na o tabajara Irapu descera do alto da serra Ibiapaba para levar as tribos no sert o contra o inimigo pitiguara ALENCAR 1956 p 18 19 O autor esclarece nas Notas que o personagem Irapu o verdadeiro c lebre chefe tabajara Mel Redondo tamb m destaca que s o de cunho original a etimologias dos nomes de diversas localidades e certos modos de dizer ibidem p 129 A cidade de Vi osa do Cear tamb m n o est evidente no transcorrer do romance por m nas Notas o autor menciona o jatob como lugar da cena o s tio da hoje Vila Vi osa ibidem p 117 Segundo relatou no v deo um morador de Vi osa do Cear esta era conhecida como aldeia de Ibiapaba posteriormente os colonizadores portugueses a denominaram de Vila Vi osa Real devido ao clima e montanhas dos arredores serem semelhantes a uma cidade de Portugal que possui esse nome A Chapada da Ibiapaba tamb m conhecida como Serra Grande desde 1996 considerada rea de prote o ambiental mantida pelo IBAMA No meio da sua vegeta o A virgem de Tup guarda os sonhos da jurema que s o doces e s
17. o das ideias com dura o de no m nimo 7 minutos e no m ximo 10 de livre escolha podendo nortear a apresenta o com m sica encena o cartaz v deo slides relacionada com seus respectivos cap tulos entre outros instigando os a vivenciarem uma experi ncia a partir da criatividade na tentativa de demonstrarem suas capacidades de compreens o articula o de ideias de trat las criticamente habilidades prop cias para futuros pedagogos Para finaliza o das atividades foi retomada a pr xima aula com as apresenta es alguns se mostraram bem empolgados outros menos Sabe se que um dos mais importantes princ pios a ser observado por quem ensina e trabalha com crian as e jovens o da toler ncia sem o qual tudo perde o sentido da a necessidade de respeitar as diferen as humanas o jeito de ser de cada um em particular 122 Neste contexto os grupos apresentaram diferentes olhares sobre o romance alguns grupos se mostraram bem mais motivados e criativos do que outros O v deo foi usado como recurso pelos grupos 1 e 6 O grupo 1 cap tulos 1 ao IV elaborou e apresentou um v deo de 2 minutos e 45 segundos com imagens de acordo com a narrativa dos referidos cap tulos ao final entregaram uma c pia em cd do v deo Um dos membros desse grupo ressaltou que Iracema representa a cultura human stica e Martim representa a cultura cient fica j que ele est mais tecnologicamente desenvolvido O grupo 6 c
18. sob a ben o do paj a ndia tabajara se casa com o guerreiro branco Este parte para guerrear e ela fica em Ipu aguardando seu retorno Depois do nascimento do filho Moacir Iracema vai para Fortaleza ao encontro de Martim seguindo os caminhos da serra dos rios e mar estando com a sa de debilitada Ao encontr lo entrega o filho e morre O senhor Paulo tamb m relatou sobre seus av s a av ndia parteira na regi o a presen a dos jesu tas na Serra os conflitos entre esses e as etnias ind genas os causos 142 Entre uma palavra e outra ao olhar para a Chapada reverenciei um para so constitu do por montanhas seculares suas rotas sagradas permeadas de hist rias minha mem ria me remeteu s reflex es feitas por Borges 2010 p 11 nunca ouviremos as s plicas de seus adoradores nunca saberemos os ritos FIGURA 51 As montanhas seculares da Chapada de Ibiabapa CE Foto RCSartori Ubajara Iracema e o crist o perdidos nas entranhas da terra descem a gruta profunda ALENCAR 1956 p 49 De Ibiapina seguimos para Ubajara munic pio habitado pelos tabajaras cuja jurisdi o pertenceu durante anos Ibiapina Ubajara significa em tupi senhor das canoas H uma lenda que conta que um cacique veio do litoral e por muitos anos habitou uma gruta est se encontra no Parque Nacional de Ubajara considerado o menor parque nacional do pa s com 563 hectares um o sis verde com clima fresco ond
19. stimo ao espa o circundante as armas de sua leitura simb lica acaba por ser uma leitura espa o temporal do mundo mais eficaz que a da geografia e da hist ria teoricamente ci ncias do espa o e do tempo tome se como exemplo as obras de Dostoievsky Proust Voltaire Cassiano Ricardo rico Ver ssimo Graciliano Ramos Gilberto Freyre Jos de Alencar Jos Lins do Rego entre outros Uma leitura do cl ssico Casa grande e senzala bem como os v rios livros sobre a saga do a car escritos por Jos Lins do Rego relatam o mesmo Nordeste sofrido de A terra e o homem no Nordeste de Manuel Correia de Andrade s o reflex es sobre o mesmo espa o tempo ou seja o Brasil da elite dominante dos s culos XVIII ao XX Ryngaert 1996 p 75 ao afirmar que as marcas espa o temporais de um texto s o o signo de sua est tica situa a import ncia destas duas categorias ficcionais como p los fundamentais para a constitui o dessem microcosmo que o texto dram tico Para o autor tanto o tempo como espa o s o refer ncias indispens veis para propor modos de percep o de mundo n o apenas indicando lugares e cronologia mas tamb m todo o campo metaf rico aberto por eles Segundo Moreira 2007 p 143 144 n o existe tempo fora do espa o e vice versa n o h romance que possa falar da problem tica humana e at prova em contr rio a problem tica humana o tema tanto da literatura como da hist ria e da geografia
20. todo 3 o conhecimento do conhecimento 4 ed Porto Alegre Sulinas 2011 MOTA FILHO Candido Alc ntara Machado e a cultura Rev Academia Paulista de Letras Ano XXXII n 85 p 19 42 dez 1975 MOTTA Ra l Domingo CIURANA Em lio Roger A cultura da complexidade e a complexidade da cultura Revista Margem S o Paulo n 18 p 171 173 dez 2002 MUNDURUKU Daniel Mundurukando S o Paulo Ed do autor 2010 177 NAVARRO Eduardo Almeida A M todo moderno de tupi antigo 3 ed S o Paulo Global 2005 NEPOMUCENO Rosa Viagem ao fabuloso mundo das especiarias 3 ed Rio de Janeiro Jos Olympio 2004 NICOLESCU Basarab O manifesto da transdisciplinaridade S o Paulo Trion 1999 NUNES Osmir J Cinco mil anos de divulga o cient fica In KREINZ Gl ria PAVAN Crodowaldo Orgs Os donos da paisagem estudo sobre divulga o cient fica S o Paulo NJR ECA USP 2000 p 169 175 PINTO Oliv rio M O Cat logo das aves do Brasil e lista dos exemplares que as representam no Museu Paulista Revista Museu Paulista S o Paulo 22 p 1 566 1938 Cat logo das aves do Brasil Pt 2 Passeiformes Publ Dept Zool Sec Agricultura Ind stria e Com rcio S o Paulo 1944 PISA Programme for International Student Assessment Dispon vel em lt http www pisa oecd org dataoecd 48 24 39817007 pdf gt Acesso em 10 out 2010 PRATA Antonio Skaspeare atarantado Folha de S Paulo S o Paulo 07 jul
21. 43 e 56 O guerreiro pitiguara a ema que voa sobre a terra ibidem p 60 Iracema a virgem dos l bios de mel que tinha os cabelos mais negros que a asa da gra na A filha de Araqu m escondeu no cora o a sua ventura Ficou t mida e inquieta como a ave que pressente a borrasca no horizonte A filha dos sert es era feliz como a andorinha que abandona o ninho de seus pais e peregrina para fabricar novo ninho no pa s onde come a a esta o das flores Como o colibri borboleteando entre as flores da ac cia ela discorria as amenas campinas Caminhou com o passo altivo da gar a que passeia a beira d gua ibidem p 13 54 e 76 77 O gavi o a coruja o corvo o abutre a pomba o rouxinol a perdiz e outras esp cies t m destaque em diferentes culturas representam em geral o que belo transcendente e duradouro Baturit veio pelo caminho das gar as at aquela serra que tu v s longe e onde primeiro habitou L no p ncaro o velho guerreiro fez seu ninho alto como o gavi o para encher o resto de seus dias conversando com Tup ibidem p 74 Em rela o ema no s culo XVII consta que Maur cio de Nassau j apresentava preocupa o com o destino das exuberantes matas costeiras do Nordeste ordenou a capitania do Rio Grande do Norte incluir em suas armas a imagem da ema a qual se encontrava em abund ncia nas margens do rio Grande atualmente a esp cie se encontra em extin o
22. A primeira delas o olhar a segunda a escuta a terceira a leitura essa ltima restrita a um n mero cada vez menor de pessoas at mesmo de intelectuais e profissionais da cultura CARVALHO ALMEIDA N BREGA 2008 p 443 70 A Col mbia em 2010 alcan ou a meta ainda n o atingida no Brasil em Bogot tem ao menos uma biblioteca funcionando em cada um de seus 1 104 munic pios enquanto o censo brasileiro de 2009 registrou a aus ncia de bibliotecas em funcionamento em mais de 400 dos 5 565 munic pios Entretanto os ndices de leitura da Col mbia s o mais baixos que do Brasil colombianos leem 2 2 livros por ano incluindo escolares enquanto brasileiros leem 4 1 uma das raz es o pre o dos livros com tiragens menores em torno de mil c pias frente 3 mil c pias no Brasil COZER 2012 p 6 Candido 1995 enf tico ao afirmar que nos bancos escolares muito pouco oferecido e quando o se faz em fases erradas ou de forma a desestimular a leitura por obriga o e n o por gosto As pessoas em sua grande parte passa pela vida sem nunca terem tido contato com o mundo da literatura Chartier tamb m atribui importante papel para leitura Podemos experimentar a vida ler a vida atrav s de uma rica diversidade que est ao nosso redor uma imagem uma pintura um s mbolo um ru do uma vibra o um gesto uma voz uma express o uma lembran a um cheiro o cheiro da nossa casa da nossa inf
23. Alencar perfeitamente plaus vel para nomenclaturas bot nicas ind genas As oito esp cies 26 6 restantes e seus nomes populares s o coqueiro imbu ou umbu rvore considerada sagrada em Os sert es de Euclides da Cunha jacarand jatob juazeiro palmeira oiticica e ubaia ou uvaia No decorrer do m s de abril de 2011 foi realizada uma viagem de campo e podemos observar algumas esp cies vegetais descritas na paisagem da obra liter ria Iracema Essa observa o foi realizada em fragmentos de matas e em reas de cachoeira da Chapada de Ibiapaba nos munic pios de Ipu e Ibiapina Os nomes Ipu Ibiapina e Ibiapaba provem do tupi Ipu significa ig gua e pu queda Ibiapina terra pelada atrav s da jun o dos termos yby terra e apin rapado pelado Ibiapaba lugar de terras altas NAVARRO 2005 26 Cf SARTORI Renata C Literatura e plantas medicinais Anais do VII Workshop de Plantas Medicinais UNESP Botucatu SP 06 e 07 jun 2008 p 15 87 A Chapada de Ibiapaba est inserida numa ecologia de paisagens aonde as paisagens s o descritas no romance como frutos da intera o homem natureza uma vez que a Chapada legada pelos ndios tabajaras denominados por Alencar como os senhores do caminho em tupi os senhores da aldeia A respectiva Chapada est localizada a 320 km de Fortaleza capital do estado do Cear se estendendo aos limites ocidentais do estado na fronteira que separa os
24. Cear tale of Jos de Alencar from a meticulous incursion through new ways and natural spaces interwoven by Alencar It tries to hear the echoes of this indianist novel in the university students today In a broader context it creates arguments that question the multiple threadsthat join science and literature so that a science of complexity arises distinguishing but not separating the innumerous narratives about the world For this purpose this thesis has as interlocutors Antonio Candido Charles P Snow Edgar Morin Emilio Ciurana Fritjof Capra George Steiner Ilya Prigogine Isabelle Stengers Roger Chartier Roland Barthes The plot presented here does not limit the novel to science but makes it a rereading of the word of life once this is the raw material of books As a methodological strategy we rebuilt Iracema s character trips in a way to update the novel resulting in the video documentary Iracema ways the arid and remote interior the plateau the sea Iracema novel and character enhancing dialogs that allow the dichotomy rupture between two cultures Charles P Snow recognizing they are not incommunicable and revealing the core argument of the thesis Iracema belongs to a complex category It is a hybrid novel that is far far away from that bluish plateau in the horizon Key words Literature Iracema Complexity RESUMEN Las obras literarias son mecanismos del pensamiento que permiten diversos ngulos de ver el
25. FIGURAS 86 e 87 Pra a principal e transporte escolar Fotos RCSartori 154 Barra do Munda J descia o sol nas alturas do c u Chegam os viajantes foz do rio onde se criam em grande abund ncia as saborosas tra ras suas praias s o povoadas pela tribo de pescadores da grande na o dos pitiguaras Esses receberam os estrangeiros com a hospitalidade generosa que era uma lei de sua religi o e Poti com o respeito que merecia t o grande guerreiro ALENCAR 1956 p 69 De Uruburetama para Barra do Rio Munda foram 87 km por Itapipoca passamos por Trairi no norte centro do estado lugar que nasceu como aldeia em 1 608 com a chegada dos pitiguaras s margens do rio Trairi A Vila de Munda fica 150 km de Fortaleza e 17 km de Trairi o acesso se d por estrada asfaltada seguindo por Trairi at a praia ou pelas areias com ve culos de tra o 4x4 Alencar explica nas Notas a origem do nome Munda rio muito tortuoso que nasce na Serra de Uruburetama Mund cilada e hu rio Ibidem p 117 O rio Munda percorre 160 km at desembocar ao encontro do mar na Barra de Munda CE Foto RCSartori e a A e 189 FIGURA 89 Praia da Vila de Munda CE Foto RCSartori A praia de Munda foi habitada pelos tapuais considerada uma das praias mais bonitas do litoral cearense pen nsula abrigada por rochedos formando piscinas naturais com gua doce que abastece a vila pr pria p
26. Natal pela amizade cumplicidade apoio Ao Vandir Villar no decorrer desta trajet ria demonstrando que h fatos modestos que s o uma d diva sempre me encorajando com suas palavras otimistas postulando uma mem ria compartilhada Aos colegas do Grupo de Estudos da Complexidade Natal RN e do Programa Master em Antropologia do Programa de Ci ncias Sociais da Universidade de Salamanca pelo apoio e carinho com que me receberam Aos colegas da resid ncia de p s gradua o especialmente em mem ria de Hugo Romero Dona Concei o por dividirmos momentos de alegrias de ang stias e d vidas Ao meu irm o Fernando pelo companheirismo constante apoio e est mulo em mais esta fase da minha vida A tia Elza Coelho e irm Luzia das Dores agrade o o apoio e carinho das suas preciosas ora es luzes no meu caminhar Ao Daniel Munduruku as etnias ind genas Tapeba CE e as aldeias Ararib EReru SP breves informa es compartilhadas me mostraram o saber olhar e ouvir ser e estar sem querer ser e estar demais A Coordena o de Aperfei oamento de Pessoal de N vel Superior CAPES o apoio financeiro da pesquisa na UFRN Brasil e na Universidade de Salamanca Espanha Enfim a todos aqueles que fizeram parte deste processo e que de alguma forma contribu ram para a realiza o deste trabalho meu sincero agradecimento O senhor Mire e veja que o mais importante e bonito do mundo isto que as pesso
27. Nicotiana glauca Graham A ramo com flor e bot o B folha C ramo com folha e flor Fotos A C RACosta Design RACosta 15 FIGURA 15 Urtiga Urtica urens L A folha B ramo com folhas Fotos A B RACosta Design RACosta 107 Ecologia sonora em Iracema a harmonia da prosa Eu nasci naquela serra Num ranchinho beira ch o Todo cheio de buracos Onde a lua faz clar o Quando chega a madrugada L no mato a passarada Principia um barulh o Angelino de Oliveira Em rela o m sica h uma interpenetra o t o estreita com poesia a qual se pode afirmar que a origem de ambas indivis vel quer pelas cad ncias quer pelas tonalidades quer pela modula o musical tornando o poeta um fazedor de can es um cantor de palavras e a poesia como parte da vida e n o apenas da hist ria da literatura Os testemunhos disto podem ser encontrados nas peras do compositor alem o Richard Wagner a influ ncia deste foi profunda na est tica liter ria desde Baudelaire Proust bem como na filosofia da linguagem desde Nietzche at os primeiros escritos de Val ry outro exemplo a obra de L vi Strauss O cru e o cozido que pode ser considerado como um livro rfico Steiner 1988 acrescentamos a pera O Guarani de Carlos Gomes inspirada no livro de Alencar e a riqueza r tmica verificada por Souza 1999 que reescreve os primeiros trechos de Iracema em versos apresentando sua qualidade r tmica
28. R 30 00 01 DIA VALOR INDIVIDUAL TURISTAS E POPULA O EM GERAL MICRO NIBUS e VIABILIZA O M nimo 20 pessoas R 40 00 01 DIA Opcionais EXTRA PASSEIO e Alimenta o e Cajuina Refrigerante Caju bolo biscoitos gua mineral R 5 00 Almo o Restaurante Casa Jos de Alencar ou Rest Lagoa Messejana Self Servige 500 gr Refrigerante R 20 00 por pessoa e Almo o Churrascaria R 15 00 por pessoa Material gr fico promocional Lan amentos Fotos Cole o Iracema Tam 15x21 texto hist rico R 5 00 und Mini Porta Retratos R 3 00 und CD Caminhos de Iracema Fotos e Textos R 10 00 Cartilha Cultural Iracema R 10 00 Livro Iracema R 20 00 lbum de Figurinhas Fortaleza Iracema com 40 figurinhas autocolantes 50 00 Jogo da Mem ria R 5 00 Guia Tur stico Mapas Fortaleza Cear Portugu s e Ingl s R 25 00 Camisa R 15 00 e Bon R 10 00 Tema Caminhos de Iracema INFORMA ES E RESERVAS Ea PA Ca R j CEAR TURISMO Especializadas em Turismo Cultural TEL 85 3237 2687 88359915 85049318 e mail caminhosdeiracemaQ yahoo com br EMPRESA CADASTRADA NO MINIST RIO DO TURISMO N 06 000097 10 0001 5
29. SICK 1997 115 Os ndios brasileiros olham o c u em busca das representa es das constela es uma delas a ema que significa o an ncio da chegada do solst cio do inverno uma esta o de frio para os ndios do sul e de muita seca para os ndios do norte MIRANDA 2012 p 15 Para Morin 2003 p 77 a m sica ao mesmo tempo meio e fim que exprime e encarna o estado po tico a partir dessa considera o podemos admitir que a m sica apresenta se como uma constante no romance Quer na abertura com ritmo acentuado dos primeiros versos conforme mencionado quer pela presen a de outros sons como da jandaia presente em tr s momentos distintos do romance no primeiro par grafo da abertura ao desenrolar e no final onde canta a jandaia nas frondes da carna ba A jandaia fugia ao romper dalva e para n o retornar mais cabana A jandaia pousada no olho da palmeira repetia tristemente Iracema ALENCAR 1956 p 11 e 53 103 O romancista americano Jonathan Franzen no seu extenso romance Liberdade descreve algumas esp cies observadas numa rea urbana de Nova York entre elas a Jandaia de testa vermelha como os mais humanos entre as aves com vida longa soci veis e inteligentes Em Iracema a jandaia apresenta este perfil humano conforme mencionado ave amiga e companheira da ndia tabajara escreve Alencar sob alguns aspectos das ave A linda ave n o deixou sua senhora
30. a transpor o imediato ensinar a escolher entre sentidos vis veis e invis veis ensinar a pensar no sentido original da palavra pensar que significa curar ou tratar um ferimento Estes cuidados se referem ao repensar o mundo no sentido terap utico de o salvar de doen as de que padece As palavras percorrem o mundo po tico e se tornam constela es de significados com milhares de novos significados de possibilidades de inven es de descobertas Os textos liter rios est o repletos delas e de seus encantamentos 69 A literatura sendo uma express o do esp rito natural que um dos fatores que mais influem no seu desenvolvimento sejam os instrumentos de aquisig o e propaga o da cultura e os sistemas de educa o COUTINHO 1988 p 69 H uma reflex o feita pelo poeta franc s Yves Bonnefoy para o qual fundamental o ensino de poesia nas escolas A poesia disse ele propicia a pr tica da liberdade para com as palavras e a viv ncia da responsabilidade em prol de um mundo melhor CARVALHO 2009 p 66 Edgar Morin durante sua confer ncia O destino da humanidade realizada em 2010 Natal RN enfatizou a import ncia da poesia Ressaltou que a poesia um instrumento por excel ncia para busca das nossas verdades mais profundas por ter a capacidade de re ligar o que a cultura moderna separou ou seja o pensamento mitol gico e o emp rico l gico racional Logo a
31. as terras onde o sol se deita A esposa e o amigo seguem sua marcha Passou al m da f rtil montanha onde a abund ncia dos frutos criava grande quantidade de mosca de que lhe veio o nome de Meruoca ALENCAR 1956 p 67 Antes de anoitecer seguimos para Meruoca significa em tupi caminho das abelhas cidade que fica a 143 km de Vi osa do Cear com 13 693 habitantes IBGE 2010 se situa numa rea de abalos s smicos como alguns ocorridos em 2005 69 FIGURA 69 Placa indicativa para Meuroca Foto ACPOliveira 149 A principal eleva o a Serra da Meruoca nesta atentamos para a diversificada vegeta o algumas com flores outras com frutos FIGURA 70 Maracuj Passiflora edulis Sims Foto ACPOliveira FIGURA 71 Fruta do conde Annona squamosa L Foto ACPOliveira A Serra de Ibiapaba a Bica de Ipu foram se distanciando na minha mente ficou guardada como um espa o sagrado onde se depositam suas hist rias e mitos Foi anoitecendo e n o conseguimos chegar em Uruburetama devido s condi es prec rias da rodovia BR 222 chuva torrencial trechos perigosos intenso tr fego de caminh es muitos buracos na pista e nos acostamentos paus de arara carros improvisados para transportar pessoas No meio da escurid o avistamos algumas luzes uma pequena cidade na beira da estrada chamada Irau aba aonde pernoitamos 73 FIGURAS 72 e 73 Trechos da rodovia BR 222 buraco pau de
32. assim como Proen a 1972 p 51 Verdes mares bravios De minha terra natal Serenai verdes mares Onde canta a jandaia E alisai docemente Nas frondes da carna ba A vaga impetuosa ne Para que o barco aventureiro manso Verdes mares que brilhais Resvale flor das guas Como l quida esmeralda Aos raios do sol nascente Perlongando as alvas praias Ensombradas de coqueiros 32 A distin o entre prosa e poesia se baseia no fator ritmo entende se este como a repeti o de certos elementos a intervalos mais ou menos regulares SOUZA 1999 p 16 Embora Iracema seja um romance considerado com narrativa em prosa alguns fragmentos apresentam rimas que transgridem as fronteiras entre prosa e poesia tornando o um g nero liter rio h brido A rima um elemento que contribui para a caracteriza o do ritmo nesta relativiza o de fronteiras limitamos a argumentar com base em fragmentos extra dos do referido romance admitindo uma aproxima o deste com a poesia 108 Da por diante o romance apresentar um ritmo variado numeroso e inconstante mas sempre com uma a o de presen a que s vezes chega a superar a da palavra como elemento significante e que valeu e ainda vale cada vez mais a express o j tornada lugar comum liter rio a m sica de Alencar PROEN A 1972 p 51 O som por sua vez se manifesta como tradu o de um movimento seja ele um movimento ac stico externo o
33. bem como com a matem tica a neuroci ncia e a biologia 36 Al m da apresenta o do projeto de pesquisa e dos resultados preliminares para a equipe de pesquisadores do Departamento de Sociologia e Comunica o houve a participa o integral em atividades propostas pelo respectivo professor tutor tais como presenciar aulas da p s gradua o do programa MAI Master en Antropolog a Iberomamericana USAL cujo diretor o professor Barrio realiza o de viagens etnogr ficas assistir defesas de tese apresenta o de trabalhos em eventos na Espanha e M xico elabora o de artigos cient ficos leituras de livros textos artigos levantamento de material bibliogr fico nos acervos das bibliotecas Miguel Unamuno Campus central Facultad de Filolog a Santa Maria dos Anjos e demais centros de investiga o como o citado Centro de Estudios Brasilefios e o Instituto de Iberoam rica Vale destacar as valiosas trocas de informa o e id ias com o referido Grupo de Pesquisa ILICIA Inscripciones literarias de la ci ncia mbitos interdiscursivos transferencias conceptuales y procesos semi ticos coordenado pela Profa Dra Am lia Gamoneda Lanza bem como a indica o da leitura de textos pelo Prof Dr Emilio Ciurana da Universidade de Valladolid gA A ci ncia grosseira a vida sutil e para corrigir essa dist ncia quea literatura nos importa Roland Barthes 38 AS DUAS CULTUR
34. da careca dos urubus relacionada com uma briga do gavi o inaj ave esta de destaque em Iracema SIGRIST 2009 O romance Iracema abriga uma avifauna extremamente diversificada com muitas esp cies A heterogeneidade de ambientes da Chapada de Ibiapaba ao litoral e regi o metropolitana cearense com gradiente de arboriza o nos diferentes bairros ambientes aqu ticos florestas nativas proporciona uma grande diversidade de aves Diz a tradi o que Cear significa na l ngua ind gena canto da jandaia Em Iracema esta esp cie se destaca com sua voz preenchendo o ar como companheira de Iracema sem d vida uma voz e imagem representativa na paisagem sonora do romance Os p ssaros sob a mira do escritor Alencar s o muitos presentes e sonorizam a paisagem de modo permanente no romance Al m do canto alguns p ssaros apresentam nomes de rios Jerera rio das marrecas e Acaracu rio do ninho das gar as Das penas os ndios as usam com diversas utilidades pintar os corpos emplumar as flechas como as penas vermelhas do guar e das penas do tucano s o descritas as franjas da rede Assim como observam Deleuze e Guattari o conceito de um p ssaro n o est em seu g nero ou em sua esp cie mas na composi o de suas posturas de suas cores e de seus cantos ALMEIDA 2003 p 133 procurarmos entretanto contemplar esses aspectos Neste contexto Alencar 1956 p 114 116 descreve com precis o nas Notas as etimol
35. de Humanidades M dicas contribuindo assim para aumentar a compreens o da rela o de aproxima o entre m dico paciente al m de alargar os horizontes intelectuais desses futuros profissionais A literatura um exemplo do contato humano sob a forma de um texto Acho que o ato de ler e escrever afina a sensibilidade do m dico e faz com que ele sem desprezar a tecnologia valorize essa rela o m dico paciente SCLIAR 2004 p 9 Neste cen rio importante que parte das ideias de Snow como as que remetem cr tica entre a barreira existente entre as duas culturas permane am na agenda dos educadores pesquisadores cientistas no sentido de uma barreira n o intranspon vel estanque Snow argumenta que uma aproxima o entre as duas culturas essencial para possibilitar um eficaz di logo inteligente com o mundo S h um meio de sair de tudo isso naturalmente repensar a educa o Fechar o fosso entre nossas duas culturas uma necessidade tanto no sentido intelectual mais abstrato quanto mais pr tico Quando esses dois sentidos desenvolvem separados nenhuma sociedade capaz de pensar com sabedoria SNOW 1982 p 37 e 72 Em termo de repensar a educa o somente explicar n o basta para compreender porque a explica o utiliza se de todos os meios objetivos de conhecimento e estes nem sempre s o suficientes para compreender o ser subjetivo Para enfrentar a dificuldade da compreens o human
36. de encontro de personagens fict cios a lanchonete Philippe s em Chinatown nos livros de Michael Connelly Cidade dos Ossos e Echo Park Na segunda viagem fizemos as travessias de Iracema percorrendo os lugares encontramos pessoas que contaram fatos narraram conhecimentos reais e fict cios exprimiram ideias e opini es transbordando emo es sentimentos e reflex es em palavras pessoas que se n o sabem ler livros apresentam leituras ricas do mundo Como dona Sebastiana senhor Paulo o menino Jos as generosas informa es colhidas pela etnia ind gena os tapebas o que nos fez recordar uma frase de Borges toda palavra sup e uma experi ncia compartilhada BORGES KODAMA 2010 p 39 37 Essas informa es e outras como para saber aonde v o ou o que fazem alguns personagens liter rios podem ser obtidas no site SmallDemons com ainda em fase de testes mas com mais de 7 mil livros catalogados Iracema n o se encontra nesta lista O site foi criado para mapear refer ncias culturais encontradas nos livros 132 De acordo com Alencar 1956 p 107 a tradi o oral um fonte importante da hist ria e s vezes a mais pura e verdadeira Como a express o m ltipla e rica junto com as palavras aonde cada frase s vezes parece conter um mundo surgem as ilustra es atrav s das imagens fotos v deo compondo uma linguagem visual e simb lica pela tica ficcionista tudo norteando aquilo que as p
37. dispon veis na internet Missouri Botanical Garden 2008 al m da obra de Souza e Lorenzi 2005 Bot nica Sistem tica e do site Lista de Esp cies da Flora Brasil composta por mais de 40 mil esp cies Os homens sempre buscaram na natureza e na reflex o de si mesmos compreender melhor o mundo em que vivem Alencar descreve uma floresta mais rarefeita no Nordeste brasileiro limitando se a reas dentro do sert o e mais no interior se estendendo aos leitos e cabeceiras de rios olheiros de gua encostas e vales Neste cen rio compreende se na obra uma dimens o da vis o do autor relacionada preserva o da natureza que se d atrav s dos personagens da na o tabajara seus conhecimentos sobre a rica fauna e flora bem como o abrigo e esconderijo diante das persegui es dos colonizadores al m de ser seus campos de ca a enfim o respeito floresta para a qual dependia sua sobreviv ncia toda esta terra n s guardamos as serras donde manam os c rregos ALENCAR 1956 p 21 A jurema Mimosa tenuiflora conforme mencionada ocupa lugar de destaque na obra a partir dela que Iracema a semeadora de sonhos fabrica o licor considerado uma bebida sagrada para os ndios guaranis A interpreta o simb lica e filos fica da planta sagrada riqu ssima e lembra a parte espiritual o culto jurema como uma emana o de Tup 3 Fonte Dispon vel em lt http www floradobrasiljbrj gov br gt Acesso e
38. estados do Cear do Piau e possui uma extens o de 110 km com altitudes que variam de 800 a 1 100 m A vegeta o predominante a Savana Est pica Caatinga mas outros tr s tipos vegetacionais s o encontrados na regi o a Floresta Ombr fila Densa Floresta Pluvial Tropical Mata mida e Serrana a Floresta Estacional Semidecidual Mata Seca e a Savana Caatinga e Cerrado Neste gradiente observamos quatorze esp cies vegetais conforme o cen rio paisag stico do romance a saber oiticica Licania rigida Benth Chrysobalanaceae cra ta ou gravat Bromelia karatas L Bromeliaceae anan s Ananas sp L Merril Bromeliaceae caju Anacardium occidentale L Anacardiaceae juazeiro Ziziphus joazeiro Mart Rhamnaceae carna ba Copernicia prunifera Mill H E Moore Arecaceae jurema preta Mimosa tenuiflora Willd Poir Fabaceae ubaia Eugenia pyriformis Cambess Myrtaceae jatob Hymenaea martiana Hayne Fabaceae genipapo Genipa americana L Rubiaceae taioba xanthosoma taioba E G Gon Araceae urtiga Urtica urens L Urticaceae milho Zea mays L Poaceae e palmeira ju ara Euterpe edulis Mart Arecaceae No in cio do s culo XIX Alexander F Von Humboldt aluno de Kant foi o primeiro a introduzir o termo paisagem no mbito cient fico significando caracter stica total de uma regi o terrestre Tamb m publicou Kosmus ensaio sobre uma descri o f sica do mundo pos
39. filos fico de Balzac a investiga o laboriosa das belezas nativas bem como as notas sobre os argumentos hist ricos Tem pois muita raz o Lu s C mara Cascudo ao afirmar com sua autoridade de especialista que Alencar um dos informadores m ximos do Folclore Registrou nos romances a normalidade da vida brasileira de norte a sul mitos lendas cantigas lutas festas religiosas e pol ticas tradi es costumes locais PROEN A 1972 p 63 Nesse ponto a imagina o de Alencar pode ser exemplificada como a bot nica a seiva do sonho ao fazer brotar uma planta a jurema esta funde as cores do bem e do mal do ref gio e do perigo como a arvore do para so descrita no livro do Genesis porque transgride as leis dos valores humanos Colhe se o bem quando a ndia tabajara extrai a bebida sagrada de Tup e distribui aos demais guerreiros da tribo durante os rituais da aldeia Colhe se o mal quando ela e Martim fogem da aldeia tabajara para n o serem mortos pelos ndios uma vez que o ato de ofertar a bebida sagrada ao estrangeiro Martim considerado como um ato de trai o da jovem ndia filha do Paj sacerdotisa nica pessoa da aldeia que continha conhecimentos sobre a jurema para elabora o da bebida A despeito da imagem da rvore Bachelard 1990a p 237 cita que para o fil sofo e escritor Paul Val ry a rvore a imagem do ser de mil origens e possui a unidade de uma obra Em outro
40. fixada na casa de Jos de Alencar Casa aonde nasceu Jos de Alencar Fortaleza CE Fog o lenha e engenho de moer cana Placa indicativa e fachada do Teatro Jos de Alencar inaugurado em 17 06 1910 ss Criador e criatura Alencar e Iracema com Moacir nos bra os Monumento da Pra a Jos de Alencar em frente ao teatro Jos de Alencar Fortaleza CE Praia de Iracema e est tua de Iracema Fortaleza CB Mapa da cartografia liter ria de Iracema Chapada de Ibiapaba CE e Bicade Ipu CE se sereias ect iii Pra a principal de Ipu CE niniin Farm cia Iracema Ipu CER osiris aysi Rio Acara CE no munic pio de Ipu Placa alusiva ao monumento S o Benedito CE Est tuas do monumento da pra a em S o Benedito CE Trecho estrada CE 253 Ibiapina Mucambo Trilha de acesso Bica do Paj CE Bica da Paj CE asi losa dect Rubiaceae Psychotria colorata Willd ex Schult Mull Arg Cavaleiro da Chapada de Ibiapina CE Trecho em desmoronamento no detalhe o sabi da mata 124 125 128 128 129 129 129 130 130 135 136 136 137 137 138 138 139 140 140 140 140 141 141 Figura 50 Figura 51 Figura 52 Figura 53 Figura 54 Figura 55
41. humana apresenta se simultaneamente como prosaica e po tica A cultura ilustrada sempre foi ao mesmo tempo segunda secund ria e essencial na Hist ria da nossa sociedade Segunda no sentido em que a hierarquia cultural a situa depois da religiosa ou nacional secund ria no sentido em que uma cultura vivida no plano est tico e n o portadora de verdades imperiosas como as da f ou da ci ncia Conhecer bem suas humanidades n o apenas conhecer o que dizem sobre a natureza humana Montaigne Pascal tamb m apreciar sua arte de dizer e de poder exprimir se os estatutos de uma l ngua liter ria sutilmente id ntica l ngua normal e diferente dela MORIN 1998 p 80 83 45 O Romantismo como ponte No s culo XIX a distin o entre arte e ci ncia traz como consequ ncia a ideia de que para a arte o fundamental seria a preocupa o com a realidade enquanto que para a ci ncia seria exercitar os sentidos principalmente a observa o empirismo Em virtude dessa ideia o fazer art stico era visto e considerado pelo que o artista enfatizava ou seja o distanciamento dele com a sociedade Ressaltando nesta poca o artista rom ntico oriundo deste distanciamento Assim revestiu se esse fazer art stico do s culo XIX como uma arte refugiada desconsiderando se o fazer art stico a partir do desejo do artista de interpretar e comunicar sua compreens o da realidade ao seu redor e do mundo sobre seus diversos pont
42. lio de Mesquita Filho Universidade Estadual de Campinas Universidade de Salamanca SUM RIO A FLECHA EMBEBIDA NO ARCO PARTIU seme AS DUAS CULTURAS CAMINHOS PERCORRIDOS ENTRE MURALHAS E PONTES O Romantismo como ponte O abalo das certezas o futuro n o dado Ci ncia e Literatura compartimentos de uma mesma cultura QUANDO A LITERATURA NARRA O MUNDO As leituras de um mundo cheio de sinais A ETNOPO TICA DE IRACEMA LER CONTAR RECONTAR O herb rio po tico de Iracema di logo da Etnobot nica com a Literatura OR Ecologia sonora em Iracema a harmonia da prosa Quando a imagina o voa como um p ssaro Iracema na Antropologia e Educa o outras tribo Na trilha de Iracema cartografia liter ria TUDO PASSA SOBRE A TERRA u hirat iiobis saik BIBLIOGRAFIA i iiie oii ianiai ovini reirinta i priii sasanak AP NDICE A Fotos das atividades desenvolvidas junto turma do 1 per odo do curso de gradua o em pedagogia UFRN 2 semestre 2010 AP NDICE B Banner apresentado na Confer ncia Internacional Os setes saberes para a educa o do presente Fortaleza 2010 e durante as atividades do est gio doc ncia assistida UFRN 2010 ANEXO A Roteiros dos passeios tem ticos promovidos pela ONG Caminhos de IracemalFortaleza CE st iii reeeeereereeeeereeeeno 19 37 45 47 50 55 65 72 82 1
43. livro num cap tulo intitulado A rvore a rea Bachelard 1990b p 207 209 destaca que o mundo vegetal se liga ao mundo de devaneios a vida imagin ria vivida em simpatia com o vegetal demanda todo um livro a rvore re ne e ordena os elementos mais diversos Com isso acrescentamos que o Brasil rico em fatos marcados pela sabedoria ancestral saberes tradicionais relacionados aos vegetais como a jurema e outras lendas do milho da mandioca do guaran al m do ciclo do caf do pau brasil entre outros A cosmologia conforme mencionada o mundo celestial a gua o fogo a terra o ar a noite as plantas os minerais os animais est o presentes na cultura de todos os povos atrav s da mitologia contos lendas prov rbios crendices supersti es e outros g neros 82 O herb rio po tico de Iracema di logo da Etnobot nica com a Literatura e reviveremos as nossas primeiras venturas Gaston Bachelard h A D em nos o jardim e o prado a ribanceira e a floresta A 4 gt w Ma Desde que o homem surgiu na Terra ele se relaciona com as plantas H 400 mil a c na sia h resqu cios que mostram que o homem j comia vegetais 500 mil a c no Oriente M dio o homem j utilizava esp cies de plantas medicinais para a sua sa de A domesticag o de plantas para alimenta o come ou no Ir e na frica cuja fun o se relacionava com a produtividade e seleg o de plantas por tipo de vitam
44. mais flex vel e melhor adaptada s imprecis es e aos limites humanos al m de mais pr xima ao arcabou o das artes Morin 2002b ao relatar sobre as duas revolu es cient ficas ocorridas no s culo XX destaca a primeira uma vez que a segunda n o desencadeou um movimento epistemol gico t o importante e profundo quanto primeira A primeira originou se da irrup o da desordem especialmente com a f sica qu ntica e levou necessidade de tratar a desordem e de negociar com a incerteza A segunda se manifesta na segunda metade do s culo XX com a emerg ncia das ci ncias que operam recomposi es polidisciplinares como a cosmologia as ci ncias da Terra a ecologia a nova pr hist ria MORIN 2002b p 564 No M todo 3 Morin argumenta sobre as limita es do conhecimento e as rela es de incertezas decorrentes das teorias bem como de determina es culturais que nos fazem detectar uma realidade que excede as nossas possibilidades de conhecimento ressalta que h m ltiplos n veis de realidade e sugere que devamos relativizar a nossa no o de realidade admitindo uma irrealidade interna a ela esse realismo reconhece os limites do cognosc vel e sabe que o mist rio do real n o se esgota de forma alguma no conhecimento MORIN 2011 p 245 11 CARVALHO Jo o C F Ret rica po tica e simb lica nas fronteiras entre a arte e a ci ncia Dispon vel em lt http ler letras up pt uploads ficheir
45. mais po tica do que a civiliza o ocidental COLI 2010 p 2 Sabe se que Alencar leu os cl ssicos estudou os cronistas coloniais bem como a l ngua ind gena conforme mencionado N o hesitou em usar as palavras ind genas tentando ser o mais fiel poss vel ao esp rito da l ngua tupi articulando as palavras com valores sonoros a partir de seu conte do metaf rico e simb lico O idioma tupi foi o maior divulgador da literatura oral at meados do s culo XVIII o tupi era um idioma legitimamente nacional sem sua express o brasileira falada do norte ao sul CASCUDO 1978 p 83 Ler Alencar bem como Gil Vicente Machado de Assis Graciliano Ramos Guimar es Rosa e Jorge Amado serve de est mulo aos leitores para conhecer tamb m os cl ssicos e as novas cria es nacionais Por meio desses autores o estudante tem um panorama da trajet ria da l ngua portuguesa atrav s dos s culos cada um a seu modo desenvolveram as potencialidades da l ngua de maneira mpar CAMARGO 2010 p 4 Segundo Munduruku 2010 p 67 atualmente no Brasil h uma diversidade cultural e lingu stica que surpreende o mundo somos cerca de 250 diferentes povos e falamos 180 idiomas divididos em troncos lingu sticos que por sua vez subdividem se em fam lias lingu sticas que d o origem s l nguas ind genas e seus t o distintos dialetos sendo quase imposs vel reconhecer todos Entretanto no jornal Folha de S
46. maniva fazem adornos usados na cintura da ndia como s mbolo da fecundidade Confec o de colar Fabrica o de refrigerante ado ado com mel servido na iga aba para estancar a sede dos guerreiros Da palha tecem o uru para guardar perfumes Com as ra zes fazem a bebida alucin gena do Paj Tamb m apreciada pelos ndios em rituais como na festa de Jaci Folhas usadas no cachimbo do Paj para medita o e cujas fuma as significam prote o contra os maus esp ritos da floresta A felpa usada para forrar o uru para proteger a jandaia A flor considerada o s mbolo da lembran a e se coloca na haste da seta antes do guerreiro partir para a luta A rama usada para ber o e embrulhar as frutas Da casca se extrai a cor preta para pintura dos corpos e flechas Resina para perfumar a rede com intuito de guardar sono calmo e doce Plantada na porta da oca abandonada para defend la contra os animais Uso das folhas para carregar favos de mel Para alimenta o papa de milho 95 FIGURA 4 Abacaxi Ananas ssp L Merril A fruto B corte longitudinal do fruto evidenciado a polpa C aspecto da planta com fruto Fotos A B RACosta C RCSartori Design RACosta 96 FIGURA 5 Angico Piptadenia macrocarpa Benth A tronco B casca C folha D fruto Fotos A D RACosta Design RACosta 97 6 FIGURA 6 Cajueiro Anacardium occidentale L A ramo c
47. ncia os cheiros da nossa hist ria a leitura de mundo anterior a leitura da escrita e a escolariza o da leitura Com que habilidade liamos e lemos fuma a toques de tambor pegadas desenhos nas paredes mudan as do tempo na colora o do c u e do mar o amadurecimento dos frutos os len is nos varais o amor E aprendemos a ler lendo e sentindo observando e criticando indagando e comungando com as entrelinhas o que transcende primeira vista das linhas Mas somente desenvolver as habilidades de leitura e escrita n o suficiente preciso como afirma Morin que a educa o reconhe a e torne evidentes nestas habilidades os princ pios do conhecimento pertinente o contexto o global o multidimensional e o complexo Neste contexto importante ressaltar que todo professor independente da disciplina que ensina professor de leitura e esta pode ser transformada numa atividade transdisciplinar envolvendo os professores de f sica portugu s hist ria entre outros 2 Op cit p 67 n Trata se do incentivo que a escola deve dar entre as diversas reas do saber e a busca das rela es entre os campos do conhecimento minando as fronteiras que inibem e reprimem a aprendizagem A transdisciplinaridade a pr tica do que une e n o separa o m ltiplo e o diverso no processo de constru o do conhecimento pressupondo o uso de diversas linguagens O amor faz parte da poesia e da vida A poesia faz parte do
48. o romantismo ingl s e era um cr tico apaixonado em sua oposi o a Newton ele resumiu sua cr tica nestas c lebres linhas Possa Deus nos proteger da vis o nica e do sono de Newton CAPRA 1996 p 35 2 Como exemplo o empirista escoc s David Hume considerado o autor mais influente sobre Einstein era c tico acerca de qualquer conhecimento cient fico diferente daquele que poderia ser percebido diretamente pelos sentidos ISAACSON 2007 46 Os artistas da poca estavam preocupados principalmente com o entendimento qualitativo de padr es portanto colocavam grande nfase na explica o das propriedades b sicas da vida em termos de formas visualizadas Goethe escritor e cientista natural em particular sentia que a percep o visual era a porta para o entendimento da forma org nica e a literatura desde o s culo XIX passa a fazer parte da sociedade n o como um organismo a construir mas cristalizada numa institui o de passos criados A vis o rom ntica da natureza como um grande todo harmonioso na express o de Goethe levou alguns cientistas daquele per odo a estender sua busca de totalidade a todo o planeta e a ver a Terra como um todo integrado um ser vivo Essa vis o da Terra como ser vivo tinha naturalmente uma longa tradi o desde o neol tico e passando pela Idade de Bronze CAPRA 1996 No final do s culo XVIII e princ pio do XIX a influ ncia do movimento rom ntico era t o for
49. ou porque depois da longa aus ncia n o se fartasse de a ver ou porque adivinhasse que ela tinha necessidade de quem a acompanhasse em sua triste solid o e quando a ndia morre A jandaia n o quis deixar a terra onde repousava sua amiga e senhora ibidem p 86 e 104 A floresta de Iracema se configura como um caminho tecido de fios de variadas naturezas assim como os fios das redes que s o trabalhados com espinhos da palmeira tucum uma narrativa h brida ao despertar da imagina o e a riqueza da diversidade de elementos a serem observados 36 Miranda Giuliana C us dos Indios Folha de S Paulo 19 fev 2012 Ci ncia p 15 A respectiva mat ria menciona Germano Afonso descendente de ndio e astr nomo do Museu da Amaz nia l der de um projeto que visa resgatar a astronomia tradicional ind gena desenvolveu uma cartilha em portugu s e guarani para escolas ind genas de Dourados e ressalta H 20 anos as pessoas n o entendiam a import ncia dessas tradig es Hoje o projeto reconhecido entre astr nomos E os ndios gostam t m interesse em n o deixar sua cultura morrer 116 Com isso temos um exemplo que podemos considerar como uma grande narrativa na qual podemos descrev la parafraseando Carvalho uma grande narrativa de todos os sistemas vivos acrescentamos humanos e n o humanos fauna e flora Aonde importante que ci ncia e imagina o ci ncia e arte nunca se excluem s
50. que a diversidade de conhecimentos tivesse pouco ou nenhum espa o em seus curr culos diferentes de Leonardo da Vinci Michelangelo Galileu Galilei e Cop rnico que buscavam m todos mais precisos de apreens o da realidade do mundo da natureza e do cosmos Os historiadores chamaram os s culos XVI e XVII de a Idade de Revolu o Cient fica que teve in cio com Nicolau Cop rnico e posteriormente Galileu Galilei quem estabeleceu a hip tese da teoria cient fica v lida de Cop rnico Galileu foi o primeiro a combinar a experimenta o cient fica com o uso da linguagem matem tica para formular as leis da natureza por ele descobertas sendo considerado o pai da ci ncia moderna As ci ncias modernas nascem na cultura da Europa n o como uma vis o negativa ao contr rio destacam se pelo desenvolvido de muitas tecnologias favor veis humanidade Enquanto Galileu realizava seus experimentos na It lia Francis Bacon descrevia na Inglaterra o m todo emp rico da ci ncia sendo o primeiro a formular uma teoria clara sobre o procedimento indutivo mudando profundamente a natureza e o objetivo da investiga o cient fica Pois desde a Antiguidade os objetos da ci ncia tinham sido a sabedoria a compreens o da ordem natural e a vida em harmonia com ela A partir de Bacon o objetivo da ci ncia passou a ser aquele conhecimento que pode ser usado para dominar e controlar a natureza 41 Nos s culos XVI e XVII as ci ncias m
51. raz o limitada na medida em que ela n o vai ao fundo das coisas Bachelard assume contribuir de forma resoluta para uma metaf sica da imagina o e para uma filosofia do imagin rio Apresenta o imagin rio como um apelo e uma evas o como a pr pria experi ncia da abertura e da novidade Uma poss vel experi ncia da abertura e novidade foi a obra sobre Frankenstein de Mary Shelley segundo Rangel 2005 considerada como o primeiro livro de fic o cient fica V rios autores acreditam que o romance Frankenstein de Mary Shelley foi fundamental no estabelecimento de uma vis o negativa da ci ncia mostrando pela primeira vez a imagem do cientista tomado pela paix o e pela loucura criando um monstro que foge ao seu controle e amea a a sociedade Surgia o cientista louco e a ci ncia como um instrumento perigoso e incontrol vel Segundo Wolpert foi Mary Shelley quem criou o monstro de Frankenstein n o foi a ci ncia mas sua imagem t o poderosa que alimentou medos sobre a engenharia gen tica que dificilmente ser o removidos RANGEL 2005 p 36 53 A autora estabelece uma rela o entre ci ncia e literatura o personagem Frankenstein representa esse elo do n o humano ao homem e ao monstro em permanente constru o que existe em todos n s sujeitos inacabados Escrita h quase duzentos anos a obra n o se tornou velha no curso do tempo Ao contr rio ganhou corpo medida qu
52. realizar a pesquisa utilizamos algumas vias como observador participante a partir de interven es educacionais voltadas obra e ao di logo ci ncia e literatura aulas e apresenta es dos alunos viagens de campo anota es entrevistas observa es produ o de material audiovisual leituras diversificadas Ressaltamos a interpreta o dessas vias de investiga o pelo olhar macrosc pico conforme proposto pelo bi logo franc s Joel de Rosnay na forma de operar o pensamento da complexidade a fim de fornecer dados significativos para o alcance dos objetivos propostos Rosnay cunha o termo macroscop macro grande e skopein observar com o intuito de expressar uma nova vis o sobre o mundo tamb m podemos entender como uma nova maneira de ver entender e agir Uma vis o qualitativamente e quantitativamente diferente da obtida com o uso do telesc pio para focalizar o infinitamente grande de um lado e do microsc pio para olhar o infinitamente pequeno de outro O macrosc pio pelo contr rio rompe com esta dicotomia ou ditadura do olhar e proporciona uma vis o orientada para captar as interconex es da rela o natureza sociedade uma vis o voltada para o todo para o infinitamente complexo permitindo escalas de aproxima o e afastamento percep es micro macro particular universal de dentro microcosmo do romance e do que a partir dos olhares desta micro incurs o em Iracema ocorre fora no macr
53. se insere a Etnobot nica que pode ser definida como o estudo das sociedades humanas passadas e presentes e todos os tipos de inter rela es ecol gicas evolucion rias e simb licas reconhecendo a din mica natural das rela es entre o ser humano e as plantas ALEXIADES 1996 Tamb m considerada como uma sub rea da Etnobiologia ci ncia esta que estuda a rela o de utilidade dos seres vivos para usufruto do homem por conseguinte tem como objetivo perceber a rela o que existe entre as plantas e os povos ou seja estuda as plantas que de alguma maneira s o utilizadas pelas popula es humanas Na pr tica um etnobot nico tem geralmente como objeto de estudo os povos ind genas ou as popula es rurais onde ainda subsiste um vasto saber de experi ncia feita ou uma forte tradi o sobre os v rios usos das plantas 84 Segundo Balick e Cox 1996 o termo etnobot nica surge pela primeira vez em 1895 com o bot nico norte americano John W Harshberger para descrever estudos sobre plantas utilizadas pelos povos primitivos e abor genes Desde ent o a etnobot nica como ci ncia tem se desenvolvido e v rias definig es foram surgindo se bem que sempre em redor da rela o entre o conhecimento tradicional dos povos e as plantas A Etnob tanica uma rea da ci ncia multidisciplinar quer no que se refere s bases em que se ap ia quer nos contributos que oferece humanidade Assim abarca as Ci ncias Na
54. ser ocupada o pau brasil a ser explorado a cana de a car a ser cultivada O Brasil ideal de Alencar seria uma esp cie de cen rio selvagem onde expulsos os portugueses reinariam capit es ativos senhores da bara o e cutelo rodeados de sertanejos e pe es livres sim mas fi is at a morte Alguma coisa como a Europa pr industrial mas regenerada pela seiva da natureza americana Esses tra os ideol gicos insistentes nos pain is col nias e nativos afinam se na prosa l rica de Iracema obra prima onde se decantam os dons de um Alencar paisagista e pintor ibidem p 138 139 Para Moraes Pinto 1995 a cronologia do tempo associada natureza um dos tr s aspectos das obras ind genas de Alencar os demais s o cen rio e compara o Sabe se que a natureza como cen rio a caracter stica n o s de Alencar como de outros autores rom nticos O cen rio em qualquer romance um elemento importante de todo o livro essa identifica o portanto t o importante em Iracema que consta como subt tulo lenda do Cear O lugar onde os personagens representam suas a es aonde os leitores podem entrar voluntariamente no mundo deles juntado sua imagina o com a do escritor 7 Segundo Balandier 1999 p 122 desde o in cio as bordas das florestas demarcaram o mundo dos homens impuseram os limites de um universo tenebroso onde eles se perdem e onde d o livre curso sua imagina o Neste
55. sociais estavam se formando com a obra de Balzac Com die humaine este se autodesigna de doutor em ci ncias sociais n o havendo soci logo que se comparasse com suas concep es anal ticas de sua ci ncia natural A sociologia enfrenta n o apenas a autonomia das outras disciplinas j estabelecidas como as ci ncias naturais mas tamb m a concorr ncia da literatura Lepenies nos cap tulos 2 e 4 tamb m assinala outros pontos cr ticos entre o debate sobre as duas culturas como a pol mica entre Mathew Arnold e Thomas Henry Huxley bem como de mile Durkheim e Gabriel Tarde 43 A literatura em especial o romance mostram possibilidades de ser diferentes vertentes que se entrela am se cruzam na vida humana atrav s dos personagens que apesar de serem fict cios se expressam falam de si mesmos e muitas vezes essa fic o essa anima o de personagens liter rios nos dice m s que la rigurosa observaci n del soci logo la rigurosa racionalidad del fil sofo Ni uno ni otro son capaces de dar cuenta del mundo en toda su complejidad CIURANA 2003 p 4 Diante destas reflex es sobre o dualismo reside tamb m a origem das duas culturas em Cambridge Inglaterra em 1959 Charles Percy Snow f sico e escritor brit nico proferiu uma confer ncia intitulada As duas culturas Essa confer ncia resultou numa obra cl ssica As duas culturas e uma segunda leitura na qual o autor enfatiza a separa o entre duas cultura
56. ticos promovidos pela ONG Caminhos de Iracema Fortaleza CE ROTEIRO CAMINHOS DE IRACEMA FORTALEZA Uvas e IRAMA ROTEIRO OFICIAL DO PROJETO DURA O DIA das 8h s 12h ou das 13h s 17h Local de Sa da A DEFINIR In cio do Passeio Centro da Cidade Pra a Jos de Alencar T rmino Casa de Jos de Alencar e ou Lagoa Messejana Morro e Cruzeiro de S o Thiago Opcional Opcional ROTEIRO 01 Barra do Cear Refer ncias Hist ricas Constru o dos primeiros fortes Rio Cear Centro da Cidade Pra a e Monumento de Jos de Alencar 1929 Teatro Jos de Alencar 1910 Visita Guiada 3 Est tua de Iracema Descartes Gadelha 2002 Forte N S Assun o Est tua Martim Soares Moreno Entrada Opcional Praia de Iracema Bairro de Iracema Ruas com nomes ind genas 23 Est tua de Iracema Zenon Barreto 1996 Livro Urbano de Iracema Espig o Rui Barbosa Meireles Mucuripe 4 Est tua de Iracema Corbiniano Lins 1965 Edson Queiroz 5 Est tua de Iracema Francisco Zananzanan 2005 Pal cio Iracema Jos de Alencar Messejana Casa Jos de Alencar 1826 Visita Guiada Visita a Pinacoteca Floriano Teixeira e a Sala Iracema exposi o de gravuras de Iracema do artista pl stico Descartes Gadelha Lagoa de Messejana 4 Est tua de Iracema Alexandre Rodrigues 2004 Parangaba Igreja Matriz Pra a dos Caboclos Memorial da Porongaba e L
57. 0 na l ngua tupi significa ig gua e pu queda Um morador da regi o narrou um fato interessante sobre o nome da bica disse que o nome est relacionado ao som produzido pelas quedas d gua ao ca rem ecoam i e ao baterem nas pedras pu O territ rio do munic pio de Ipu se estende em 25 sobre a serra da Ibiapaba e 75 ao longo do rico vale do riacho Ipu aba no sop da serra prolongando se pelo sert o Neste local ficam os campos do Ipu aonde nascera Iracema cuja Bica de Ipu imortalizada por Alencar formada por quedas d agua com mais de 100 metros de altura vindas do rio Ipu aba do centro da cidade se avistam as quedas FIGURAS 35 e 36 Bica de Ipu CE Fotos RCSartori Fonte Dispon vel em lt http ipu ce gov br paginas historial htm gt Acesso em 13 jan 2010 137 Na pra a principal h duas est tuas Iracema segurando o arco flecha e Martim munido de uma lan a al m de uma farm cia Iracema fundada em 1896 conserva mob lias antigas o funcion rio diz que foi uma homenagem do dono ndia tabajara Ao lado da Casa da Cultura mora Dona Sebastiana com a filha genro e neto com 85 anos conta que sempre residiu em Ipu nos convidou para conhecer sua casa mostrou a colcha de retalhos que estava tecendo disse que n o conhecia o romance mas que as est tuas da pra a representam a mem ria dos antepassados a raiz de ndio a terra dos ndios a mata FIGURA
58. 007 Ci ncia e Literatura compartimentos de uma mesma cultura H cientistas que se identificam com outras reas de conhecimento desse flerte podem surgir narrativas h bridas a ci ncia express o da cultura dif cil definir suas fronteiras No s culo 19 Faraday preferia ser mais conhecido como um fil sofo natural do que como um cientista PRIGOGINE 2009 p 85 Niels Bohr pioneiro dinamarqu s da teoria qu ntica foi um dos cientistas quem procurou compreender o significado da arte e da ci ncia nesta ltima lidamos com esfor os conjuntos e sistem ticos para aumentar a experi ncia e desenvolvermos conceitos apropriados para a sua compreens o Todavia na arte s o nos apresentados esfor os individuais mais intuitivos para evocar sentimentos que lembrem a globalidade de nossa situa o BOHR 1995 p 102 Em 2012 morreram Carlos Fuentes Gore Vidal Nora Ephron Mill r Fernandes Ivan Lessa D cio Pignatari eram poetas romancistas cronistas ensa stas cr ticos assim como Jos de Alencar que foi romancista dramaturgo jornalista advogado e pol tico brasileiro nenhum se limitou ao livro todos escreveram em jornais alguns para teatro cinema ou TV e v rios eram bons de briga CASTRO 2012 p 2 No contexto da rela o biologia literatura o bi logo e escritor mo ambicano Mia Couto considera a poesia n o apenas como um g nero liter rio mas como detentora de uma sabedor
59. 07 109 120 128 166 168 181 184 185 A FLECHA EMBEBIDA NO ARCO PARTIU o O sentido da vida pia vossa porta do amor cristaliza Cal nia f ria derrota A liberdade das almas ai Com letras se elabora e dos venenos humanos sois a mais fina retorta fr gil fr gil como o vidro e mais que o a o poderosa Reis imp rios povos tempos pelo vosso impulso rodam Cec lia Meireles A FLECHA EMBEBIDA NO ARCO PARTIU Do s culo XVII at a atualidade se consolidou uma concep o de que a arte e a ci ncia s o campos antag nicos e irreconcili veis Nesta tese ser apresentada uma reflex o que problematiza essa dualidade considerando se que a defini o de arte norteia uma multiplicidade de sentidos e compreens o tornando se invi vel uma nica defini o assim neste texto quando se fala de arte est se dando uma aten o especial para uma das modalidades de arte que a obra liter ria Segundo o soci logo franc s Edgar Morin 1986 p 70 71 a literatura enquanto conceito tamb m n o possui defini o precisa muito dif cil saber em que momento um autor um texto n o faz mais parte da literatura A id ia de literatura extraordinariamente complexa e rica Assim como a ci ncia que na vis o do autor tamb m complexa e insepar vel de seu contexto hist rico e social Para Bernardo 1999 o conceito de literatura c clico O conc
60. 37 Pra a principal de Ipu CE Foto RCSartori FIGURAS 38 e 39 Farm cia Iracema Ipu CE Fotos RCSartori 138 Durante o trajeto uma parada na ponte do rio Acara que nasce na Serra das Matas Monsenhor Tabosa percorre mais de quinze munic pios sendo sua foz no Oceano Atl ntico descrito no romance como rio das gar as Tup j n o tinha sua virgem na terra dos tabajaras Martim e Iracema estavam nas terras dos pitiguaras senhores das margens do Camucim e Acaracu Atravessam os campos que banha o rio das gar as ALENCAR 1956 p 54 e 66 67 FIGURA 40 Rio Acara CE no munic pio de Ipu Foto RCSartori S o Benedito Ao final do dia nossa inten o era de prosseguir de Ipu para Ibiapina entretanto devido intensa chuva pernoitamos na cidade de S o Benedito situada num dos pontos mais elevados da serra 903 metros possui 44 128 habitantes IBGE 2010 considerada como a capital das rosas do Cear devido ao alto cultivo de rosas e ber o dos ndios tabajaras Na pra a principal um monumento presta homenagem aos tabajaras notamos nas est tuas ind genas em seus pesco os sustentam um cord o portando uma cruz simbolismo da f crist e sinal da presen a dos jesu tas durante o per odo da coloniza o FIGURA 41 Placa alusiva ao monumento S o Benedito CE Foto ACPOliveira 139 FIGURAS 42 e 43 Est tuas do monumento da pra a em S o Be
61. 4 parafraseando a poeta polonesa pr mio Nobel da Literatura 1996 Wislawa Szymborska 2012 p 10 grifo nosso como se as fronteiras dos pa ses do escritor personagem mal s o vis veis como se hesitassem entre ser e n o ser 150 mi 100 200 km OCEANO 13ATL NTICO Fortaleza PARA BA PERNAMBUCO 3 FIGURA 33 Mapa da cartografia liter ria de Iracema Fonte Adaptado de http www guianet com br ce mapace htm LEGENDAS 1 FORTALEZA CE 10 PONTA DO MUNDA CE 2 IPU CE 11 SIUP CE 3 S BENEDITO Chapada da Ibiapaba CE 12 TA BA CE 4 IBIAPINA Chapada da Ibiapaba CE 13 BARRA DO CA UPE CE 5 UBAJARA Chapada da Ibiapaba CE 14 MUCURIPE Fortaleza CE 6 TIANGU Chapada da Ibiapaba CE 7 VI OSA DO CEAR Chapada da Tbiapaba CE 8 MERUOCA CE 9 URUBURETAMA CE 15 MARANGUAPE Serra Rio Pirapora CE 16 LAGOA PARANGABA Fortaleza CE 17 LAGOA DA SAPIRANGA Fortaleza CE 18 LAGOA MESSEJANA Fortaleza CE 135 136 Tpu Al m muito al m daquela serra que ainda azula no horizonte nasceu Iracema a morena virgem corria o sert o e as matas do Ipu onde campeava sua guerreira tribo Banhava lhe o corpo sombra da oiticica ALENCAR 1956 p 11 FIGURA 34 Chapada de Ibiapaba CE Foto RCSartori De Fortaleza capital do estado do Cear seguimos para a cidade de Ipu fundada em 1840 possui 40 296 habitantes segundo dados do censo do IBGE 201
62. 7 Mais p 6 WERNECK Mariza Martins Furquim Claude L vi Strauss e a experi ncia sens vel da Antropologia Revista Cronos Natal v 9 n 2 p 321 331 2008 181 AP NDICE A Fotos das atividades desenvolvidas com os jovens do 1 per odo do Curso de Gradua o em Pedagogia UFRN 2 semestre 2010 Fonte Fotos A TLucena B C RCSartori 182 Fonte Fotos D G RCSartori Fonte Fotos H M RCSartori 183 184 AP NDICE B Banner apresentado na Confer ncia Internacional Os setes saberes para a educa o do presente Fortaleza 2010 e durante as atividades do est gio doc ncia assistida UFRN 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE E Programa de P s Gradua o em Ci ncias Sociais DA ETNOBOT NICA AO HERB RIO PO TICO DE IRACEMA lee o Dada e e PR E a A E td Jia oe o ri ram Ba re Ltd a e o CUCA Pora LT Td A Etnobot nica pode ser definida como o estudo das sociedades humanas passadas e presentes e todos os tipos de inter rela es ecol gicas evolucion rias e simb licas reconhecendo a din mica natural das rela es entre o ser humano e as plantas A Literaiura considerada como um campo propicia e f rtil para ilustra esta din mica Dotada desta complexidade se encontra a obra liter ria Iracema 1885 do periodo Ram ntico Indianista da Literatura Brasileira escrita por Jos de Alencar Esta pesquisa apresenta uma possivel interface Etnobot nica
63. A 2003 p 4 28 Sabe se que n o de hoje que estudos liter rios tem fomentado um debate sobre suas fronteiras em diversas intera es com outros campos do conhecimento As ci ncias tem se pautado por um conhecimento disperso e compartimentado a releitura de Iracema utilizando se de uma abordagem abrangente e contextualizada pode lan ar luzes para reflex es importantes a respeito de um poss vel di logo ci ncia e literatura No interior dessa din mica de constru o da ci ncia residem ninhos de reservas po ticas for as ps quicas de cria o n o racionaliz veis imagens mais arquet picas e n o traduz veis mimeticamente pelas objetiva es da realidade ALMEIDA 2009 p 60 A realidade n o sen o uma conven o produzida pela conflu ncia da natureza e da cultura sendo as verdades cria es nossas e sempre parciais Procurando entender melhor esta fun o articuladora de saberes atrav s da legitima o da literatura esta n o alheia realidade humana admitir que apenas a ci ncia tenha tal poder de ser aliada realidade conduz a uma ladeira escorregadia No campo da pesquisa os valores decisivos tamb m s o cognitivos mais prudente dizer que a literatura se fala da realidade a o faz com linguagem subjetiva do signo e nem por isso dela fala menos como realidade que a ci ncia Se a ci ncia se limita a indicar regularidades e diferen as cabe a n s aprender a conviver com elas S o fala
64. AS CAMINHOS PERCORRIDOS ENTRE MURALHAS E PONTES Alguns autores como Vierne 1994 afirmam que foi a partir do s culo XVII que come ou a instaurar o div rcio da ci ncia com a literatura Reconhecemos que embora n o haja nenhuma originalidade em apontar tais dicotomias que envolvem realismo fantasia como extremamente limitadoras da potencialidade mesma do romance h a necessidade mais que premente de recordar o estado de in rcia e estagna o antiliter rias a que conduziram propiciando uma vis o reducionista na organiza o do conhecimento da a necessidade de reorganiza o do conhecimento Dixon 1971 exemplifica que neste mesmo s culo a Royal Society of London prop s que os relatos cient ficos fossem pautados por um novo padr o de estilo no sentido de erigir a clareza vista como supress o de ornamentos sup rfluos da ret rica o reconhecimento da origem desta concep o n o impede que se vislumbrem suas ra zes remotas no mundo antigo Idade Antiga e no medieval Idade M dia Neste contexto sua configura o inicial remonta controv rsia entre Plat o e Is crates este contempor neo de Plat o no contexto da pedagogia o primeiro advoga um ideal de educa o como dom nio da raz o vendo na ret rica apenas um simples artif cio destinado persuas o sendo portanto oposta ao verdadeiro conhecimento Sabe se que Plat o criticava violentamente os poetas Is crates em contrapartida entende
65. Centre d Estudis de Granollers Granollers 1998 p 133 158 BORGES Jorge Luis KODAMA Maria Atlas S o Paulo Companhia das Letras 2010 BOSI Alfredo Hist ria concisa da literatura brasileira 43 ed S o Paulo Cultrix 2006 BOYD Brian O russo e o bruxo Nabokov e Machado t m muito em comum Folha de S Paulo S o Paulo 24 jun 2012 Ilustr ssima p 3 171 BRAND O Maria do Carmo Tin co Las m rgenes visibles de la hichicer a ib rica El Catimb Jurema del Nordeste de Brasil In BARRIO Angel Espina Ed Las ra ces culturas tradicionales de Espa a e Iberoam rica Salamanca Centro de Cultura Tradicional ngel Barril 2004 p 53 76 CALVINO talo Assunto encerrado discurso sobre literatura e sociedade S o Paulo Companhia das Letras 2006 CAMARGO Tha s Nicoleti de Lista de livros deve estimular h bito de ler Folha de S Paulo S o Paulo 19 jan 2010 Fovest p 4 CAMPOS Haroldo de Iracema uma arqueografia de vanguarda Revista USP S o Paulo p 67 74 mar abr mai 1990 CANDIDO Antonio Os parceiros do Rio Bonito 5 ed S o Paulo Livraria Duas Cidades 1979 Cr tica radical Venezuela Biblioteca Ayacucho 1991 O direito literatura V rios escritos 3 ed S o Paulo Duas Cidades 1995 Forma o da literatura brasileira momentos decisivos 9 ed Belo Horizonte Itatiaia Ltda vol 2 2000 CAPRA Fritjof O ponto de muta o a ci ncia a sociedade e
66. Chaplin era que a c mera expressasse o que j existia dentro dele no seu cen rio interior havia tanto ambi es como raiva guardada pela mis ria de sua inf ncia e pelo amor vida O te rico espanhol Adolfo Sanchez V sques descreve o fazer liter rio n o muito diferente do proposto por Franco Moretti em A literatura vista de longe e por Ant nio C ndido em Literatura e Sociedade para ambos a literatura um sistema coletivo que engloba autores e p blico Literatura e sociedade n o podem se ignorar j que a pr pria literatura um fen meno social Em primeiro lugar porque o artista por mais origin ria que seja sua experi ncia vital um ser social em segundo porque sua obra por mais profunda que seja a marca nela deixada pela experi ncia origin ria de seu criador por singular e irrepet vel que seja sua plasma o sua objetiva o nela sempre um trago de uni o uma ponte entre o criador e outros membros da sociedade terceiro dado que a obra afeta aos demais contribui para elevar ou desvalorizar neles certas finalidades ideias ou valores ou seja uma for a social que com sua carga emocional ou ideol gica sacode ou comove aos demais Ningu m continua a ser exatamente como era depois de ter sido abalado por uma verdadeira obra liter ria V SQUES 2010 p 5 Nota se tamb m que nas opini es citadas de Morin e V sques h pontos comuns de modo org nico e vital se apresenta a li
67. E Foto RCSartori Maranguape Martim chamou Iracema e partiram ambos guiados pelo pitiguara para a serra do Maranguape que se levanta no horizonte Foram seguindo o curso do rio at onde ele entrava o ribeiro de Pirapora ALENCAR 1956 p 74 Poti aponta para serra de Maranguape e fala para Martim que ir para a serra visitar seu av o chefe pitiguara Baturit cuja fama era de valente nadador al m de que nenhum outro guerreiro potiguara soube combater como ele da seu apelido Maranguab palavra ind gena que segundo Alencar significa maran guerra e couab sabedor ibidem p 188 189 o 5 lo za FIGURA 100 Serra de Maranguape CE Foto RCSartori 100 160 A viagem prossegue subindo a serra uma extens o do maci o de Baturit est localizada no norte cearense regi o metropolitana de Fortaleza precisamente nos munic pios de Maranguape e Caucaia nesta ltima habita a etnia Tapeba a qual tive a oportunidade de conhecer alguns dos seus integrantes em outra viagem atravessamos a ponte do rio Pirapora O ponto culminante da serra o Pico da Rajada notamos a diversidade da vegeta o floresta tropical e mata seca e nas maiores altitudes mata mida serrana FIGURA 102 Queda do Rio Pirapora CE Foto RCSartori 102 FIGURA 103 Flertando com o habitante verde de olhos pretos da Serra de Maranguape CE Foto RCSartori 103 161 O que se preza na natureza
68. EM O SEU AMADO LOGO O BEIJOU MAS N O DEIXOU QUE ELE FOSSE AO ENCONTRO DO POTIGUARA LOGO IRACEMA FOI E TROUXE SUA FALA O ESTRANGEIRO N O TEM MEDO DOS GUERREIROS DE IRAPU E SIM DOS OLHOS DA VIRGEM DE TUP A VIRGEM E O GUERREIRO SUMIRAM SE NA TERRA E OS TABAJARAS LOGO SE ALTERARAM IPU IPU IPU IRACEMA IRACEMA IRACEMA PERDIDOS NAS ENTRANHAS IRACEMA E O GUERREIRO LOGO ESCUTARAM UMA VOZ DE UM GUERREIRO TENTANDO PARTIR IRACEMA O FALOU QUANDO AS FLORES NASCEREM TEMPO DE SONHOS ALEGRES E TODOS V O ADORMECER HORA DE DEIXAR OS CAMPOS E SE ESCONDER A LTIMA NOITE DESCANSO DO GUERREIRO O SONHO E A ALEGRIA DO ESTRANGEIRO TOMOU IRACEMA SEUS BRA OS A NOITE PERFEITA DE UM AMASSO LOGO AMANHECEU E IRACEMA ESPOSA VIVEU AS AGUAS DO RIO BANHARAM SEU CORPO LINDO E CASTO DE UM RECENTE AMASSO Letra Ata ze Mota da Silva 124 FIGURA 20 Partitura musical A filha de Tup 125 Os integrantes do grupo 4 argumentaram que extra ram da leitura a percep o de Iracema como uma virgem sedutora e enfatizaram a destrui o da natureza pelos colonizadores aonde a cultura cient fica estaria relacionada com a tecnologia citando os armamentos e os navios feitos pelos europeus como ferramentas de sobreviv ncia que eram caracter sticas da cultura cientifica O grupo 7 fez alguns esquemas na lousa desenhando cenas enterro do chefe Batuirit av de Poti e a
69. Litaratura a narrativa da rela o existente entre es plantas e os povos Ind genas partindo de alguns pressupostos do pensamento da complexidade descrita por Edgar Morin O romance Iracema ambientado no s culo XVII apresenta um cen rio composto por praias e matos do Cear nordeste do Brasi apresenta uma diversidade de 34 esp cies de plantas destas destacamos 15 44 as quais s o utilizadas pelos indios A Jurema Mimosa hostis ocupa lugar de destaque na obra pois a partir dela que Iracema fabrica o licor considerado uma bebida sagrada pelos Indios guaranis Quadro 1 Rela o das esp cies e seus respectivos usos pela tribo tupi guarani segundo a romance Iracema 1979 Ta A rela o homem planta n o nova pelo contr rio t o antiga quanto a pr pria exist ncia humana na Terra O que se pretendo mostrar a partir deste quadro a ocorr ncia de uma proposta de interpreta o de leitura pelo prisma de uma vis o contexiualizada uma vez que a natureza n o est dissoclada da hist ria da humanidade nem tampouco das manifesta es culturais que a cerca natureza e homem s o mesma coisa Conforme explica Morin in 2002 p 36 no pensamento do contexto devemos considerar que O conhecimento des informa es ou dos dados isolados insuficiente preciso situar as informa es e os dados em seu contexto para que adquiram sentido 185 ANEXO A Roteiros dos passeios tem
70. Maria da Silva pr reitora da p s gradua o da UFRN Sra Maria Lassalete Cruz funcion ria da pr reitoria de p s gradua o da UFRN a disponibilidade compet ncia e aux lio para concretiza o do est gio no exterior A Prof Dr Arlete Assump o Monteiro amizade que de longos tempos vem contribuindo com o aprimoramento dos meus conhecimentos Ao Prof Dr Luiz Roberto Angelocci amizade a efetiva pelas suas s bias palavras me auxiliando em v rios momentos A Profa Dra Maria de Lourdes Spazziane a disposi o e ajuda imprescind vel possibilitando minha participa o na sele o do doutorado A Profa Dra Maria Iracema B Loyola a amizade e gentileza em nos acolher em sua casa cearense Ao Prof Dr Emilio Ciurana Profa Dra Am lia Gamoneda Lanza Profa Dra Sonia Bartol Sanchez a aten o e gentileza dispensada durante minha estadia na Espanha A todos os professores do Programa de P s Gradua o em Ci ncias Sociais os ensinamentos transmitidos A Coordena o do Curso de P s Gradua o em Ci ncias Sociais em especial Prof Dr Orivaldo Lopes J nior e Prof Dr Alesxandro GA Dantas que nunca mediram esfor os para ajudar me incentivando o aprimoramento no est gio na Espanha Aos funcion rios da secretaria do PPGCS Ot nio e Jefferson a presteza e solicitude com que sempre me atenderam Aos funcion rios do DEAE em especial Vera Cavalcanti a amizade e prontid o sempre em me atender
71. N 1998 p 42 Esses questionamentos de Morin nos remetem ao t tulo de uma das mais importantes obras do pintor Paul Gauguin 1897 De Onde Viemos Quem Somos Para Onde Vamos bem como permeiam as tem ticas exemplificas nas obras citadas Eis ent o obras essas portadoras de narrativas h bridas tecidas pelos fios entrela ados entre ci ncia e literatura 65 As leituras de um mundo cheio de sinais A leitura pode ativar nossa imagina o nossa mem ria criando e guardando passagens e paisagens de in meros personagens tempos e lugares re significando experi ncias imergindo dos nossos sentidos as mais diversas emo es as tantas mem rias que ultrapassam o que do ac mulo est longe de ser o relic rio ou a lata de lixo do passado CERTEAU 2000 p 163 A mem ria do leitor est a servi o do devir e do advir se desloca no tempo num tr nsito de m o dupla de idas e vindas vindas e idas Literatura poesia e cinema como escolas de vida de compreens o humana em v rios sentidos nos leva dimens o po tica da exist ncia humana A magia do livro ou de um filme faz nos compreender o que n o compreendemos na vida comum nessa vida comum percebemos os outros apenas de forma exterior ao passo que na tela e nas p ginas do livro eles nos surgem em todas as suas dimens es subjetivas e objetivas MORIN 2002a p 50 O melhor cr tico dizia Guimar es Rosa aquele que ajuda o autor a ler sua
72. Prigogine Isabelle Stengers Roger Chartier Roland Barthes A tecitura das ideias aqui apresentadas n o reduz o romance ci ncia mas situa o como uma releitura do mundo da vida j que esta mat ria prima do livro Como estrat gia de m todo reconstru mos as viagens da protagonista Iracema como forma de atualizar o romance resultando no v deo document rio Caminhos de Iracema sert o serra e mar Iracema romance e personagem instigam di logos que possibilitam romper a dicotomia entre as duas culturas Charles P Snow reconhecendo que elas n o s o incomunic veis e revelando o argumento central da tese Iracema pertence ordem do complexo um romance h brido que est al m muito al m daquela serra que ainda azula no horizonte Palavras Chave Literatura Iracema Complexidade ABSTRACT Literary works are thought provokers that make it possible to access several forms to view the world and reality They provide diversified points of view and infinite connections In a particular way among all the other forms of art expression literature is considered to be the closest to life once it is able to reconnect all human dimensions emotional rational mystic personal universal corporal historic mythical This thesis aims at offering some reflections about the frontiers and bridges between science and literature aiming at understanding the complexity that guides them It presents a new reading of Iracema novel
73. S o Paulo Unesp 2005 ECO Humberto Interpreta o e superinterpreta o 2 ed S o Paulo Martins Fontes 1997 ELIADE Mircea El chamanismo y las t cnicas arcaicas del xtasis 2 ed M xico Fondo de Cultura Economica 1976 EZABELLA Fernanda Livro lembra g nio irasc vel de John Fante Folha de S Paulo S o Paulo 29 abr 2012 Ilustrada p 5 FIGUEIREDO Renato Pereira de Frankenstein o Prometeu moderno Ci ncia literatura e educa o Natal 2009 137p Tese Doutorado em Educa o Faculdade de Educa o Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal RN 2009 FLORA DO BRASIL Dispon vel em lt http www floradobrasil jbrj gov br gt Acesso em 24 jun 2010 FRANCHETTI Paulo Apresenta o In ALENCAR Jos de Iracema 3a ed S o Paulo Ateli Editorial 2010 p 9 83 FRISCH Johan Dalgas FRISCH Christian Dalgas Aves brasileiras 3 ed S o Paulo Dalgas Ecoltec 2005 FUNAI Popula o ind gena do Cear Dispon vel em lt http www funai gov br gt Acesso em 06 dez 2011 GULLAR Ferreira Toda arte atual Folha de S Paulo S o Paulo 29 jul 2012 Ilustrada p 14 IBGE Sensos demogr ficos Dispon vel em lt http www ibge gov br cidadesat topwindow htm gt Acesso em 18 out 2011 174 IBIAPINA Dispon vel em lt http www brasilgigante com ceara ce 869 ibiapina ce html gt Acesso em 13 jan 2010 IPU Dispon vel em lt http ipu ce gov br
74. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES UA O EM CI NCIAS SOCIAIS RENATA COELHO SARTORI A ETNOPO TICA DE IRACEMA DI LOGO CI NCIA E LITERATURA Tese apresentada ao Programa de P s Gradua o em Ci ncias Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obten o do t tulo de Doutor em Ci ncias Sociais Orientadora Profa Dra Maria da Concei o Xavier de Almeida NATAL RN 2013 Autorizo a reprodu o total ou parcial deste trabalho por qualquer meio convencional ou eletr nico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte Cataloga o da Publica o na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte Biblioteca Setorial do Centro de Ci ncias Humanas Letras e Artes CCHLA Sartori Renata Coelho A etnopo tica de Iracema di logo ci ncia e literatura Renata Coelho Sartori 2013 186 f il Tese doutorado Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ci ncias Humanas Letras e Artes Programa de P s Gradua o em Ci ncias Sociais 2013 Orientadora Prof Dr Maria da Concei o Xavier de Almeida 1 Literatura e ci ncia 2 Poesia Aspectos sociais 3 Alencar Jos de 1829 1877 Iracema a lenda do Cear I Almeida Maria da Concei o Xavier de II Universidade Federal do Rio Grande do Norte III T tulo RN BSE CCHLA CDU 316 821 134 3 81
75. a o aos objetos que pretende conhecer dos quais fala aos quais imputa sentido e dedicam interpreta es ALMEIDA 2007 p 14 86 Podemos afirmar que sim procurando entender melhor esta fun o articuladora de saberes a partir dos tr s n veis de opera o descritos por Almeida 2007 constam a seguir dois quadros contendo algumas informa es a respeito da rela o entre ndios flora avifauna identificadas pelos nomes cient ficos populares usos e ilustra es Nessa conson ncia durante a leitura de Iracema notamos que as pr ticas do uso dos recursos naturais dependem do sistema de valores das comunidades da significa o cultural de seus recursos entre outros A partir do levantamento da flora do romance Iracema ambientado no s culo XVII constatamos que a paisagem do livro composta por praias e matas do Cear apresenta uma diversidade de 30 esp cies de plantas destas destacamos 22 73 3 as quais s o utilizadas pelos ndios conforme Quadro1 Ainda dessas 22 esp cies doze est o ilustradas em pranchas bot nicas evidenciando a morfologia O agr nomo e professor universit rio Lin Chau Ming durante o VIII Workshop de Plantas Medicinais do popular ao cient fico promovido em 2008 pelo Instituto de Bioci ncias da Universidade Estadual Paulista J lio de Mesquita Filho UNESP Campus de Botucatu SP ao observar algumas esp cies descritas no respectivo Quadro 1 ressaltou que a coleta po tica de
76. a nica obra ou um n mero limitado delas n o o suficiente para ter ideia da vis o do todo da hist ria liter ria Dessa perspectiva hist ria liter ria ou antes ci ncia da literatura como a tend ncia a designar se esse conjunto de estudos abre se destarte uma perspectiva ampla e inesgot vel campo de trabalho COUTINHO 1988 p 13 importante sublinhar tamb m que esta pesquisa se restringe a uma nica obra uma vez que n o se pretende realizar um estudo hist rico anal tico focando longa hist ria liter ria do romance e seus g neros liter rios Conforme afirma Borges apud CHARTIER 2010 p 23 a literatura coisa inesgot vel pela suficiente e simples raz o que um s livro j o O livro n o uma entidade enclausurada uma rela o o centro de in meras rela es Todavia a partir de uma obra apresentar que entendemos hist ria como um conjunto de a es inter relacionadas apresentadas em uma determinada sequ ncia Como em Iracema sublinhada por um universo no qual surgem e atuam personagens situados no tempo e no espa o Aonde h algo de hist rico geogr fico antropol gico biol gico musical entre outros Neste contexto a literatura nos mostra de forma mais radical a complexidade humana sem impor nenhuma verdade mas procurando n o cair num relativismo em que tudo vale mas lo que no pretende el novela es una verdad dogm tica racionalizante CIURAN
77. a Morin alega a necessidade de ensinamento articulado e n o fragmentado uma pedagogia conjunta que engloba psic logos soci logos fil sofos historiadores escritores entre outros 55 56 QUANDO A LITERATURA NARRA O MUNDO Tanto a sensibilidade como a afetividade s o despertadas pelas artes e essa subjetividade al m de aprimorar o desempenho cr tico e reflexivo tamb m atua na amplia o de capacidade criativa e l gica da pessoa As artes levam nos dimens o est tica da exist ncia e conforme o ad gio que diz que a natureza imita a obra de arte elas nos ensinam a ver o mundo esteticamente Trata se enfim de demonstrar que em toda grande obra de literatura de cinema de poesia de m sica de pintura de escultura h um pensamento profundo sobre a condi o humana MORIN 2002a p 45 Segundo Almeida 2002 p 41 e 45 a condi o humana emerge a partir de uma rela o paradoxal entre vivo e n o vivo natureza e cultura inato e adquirido Certamente poss vel acionar outros p los cognitivos para conhecer e viver para projetar e fazer acontecer formas de pensar e viver a condi o humana Logo para este despertar pode se considerar como um p lo cognitivo a literatura H v rias linhas de trabalho com literatura entre elas destaca se a an lise de como em certas pocas a literatura se encarrega de discursos que depois v o se constituir em outros tantos registros de di
78. a ret rica como n cleo essencial de forma o a educa o deve justamente sensibilizar para o exerc cio da opini o elemento concreto da experi ncia donde uma concep o de linguagem n o como transpar ncia verdade mas como habilidosa constru o de verossimilhan as A ci ncia nasce de um impulso cr tico que contraria as potencialidades afetivas Neste sentido Rosenfield 2010 p 367 368 ressalta que desde a poca cl ssica a arte tira vantagem tanto do procedimento m tico quanto do racional e cient fico e Plat o a suspeita de mentira e sedu o precisamente porque ela veicula afetos Entretanto a autora destaca a contrariedade de Plat o exemplificando o reconhecimento que teve L vi Strauss ao congregar em suas obras o valor da aura afetiva para o conhecimento pois o olhar afetivo o mais atento s particularidades concretas das coisas 39 Segundo Ciurana 2003 durante muito tempo o mundo dos fil sofos era diferente do mundo dos literatos sendo esta separa o lamentosa e cara A filosofia ao depreciar a literatura por sua debilidade na arte de raz o se esquece de filosofar sobre a vida la vida que todos vivimos e imaginamos Por outro lado ocorreu que a literatura jam s ha sido puesta en pr ctica de la raz n disciplinada Cuando Plat n dec a en su Rep blica los poetas no ten an cabida quiz s intu a que si la poes a como dicia Octavio Paz es la otra voz
79. a cultura emergente S o Paulo Cultrix 1982 A teia da vida S o Paulo Cultrix 1996 CARVALHO Edgard de Assis ALMEIDA Maria da Concei o X de N BREGA Terezinha Petrucia Quadri logo sobre Claude L vi Strauss e Maurice Merleau Ponty Revista Cronos Natal RN v 9 n 2 p 441 454 jul dez 2008 CARVALHO Edgard de Assis A natureza recuperada In ALMEIDA Maria da Concei o de CARVALHO Edgard de Assis Orgs Cultura e pensamento complexo Natal EDURFN 2009 p 61 80 CARVALHO Jo o C F Ret rica po tica e simb lica nas fronteiras entre a arte e a ci ncia Dispon vel em lt http ler letras up pt uploads ficheiros 7770 pdf gt Acesso em 24 jun 2012 172 CASCUDO Luis da C mara Literatura oral no Brasil 2 ed Rio de Janeiro Jos Olympio 1978 CASTRO Ruy Antonio Carlos Jobim Rio de Janeiro MEDIAfashion v 1 2008 Cole o Folha 50 anos de bossa nova Mundos perdidos Folha de S Paulo S o Paulo 26 dez 2012 Opini o p 2 CHARTIER Roger Cultura escrita literatura e hist ria Porto Alegre Arimed 2001 Escutar os mortos com os olhos Revista Estudos Avan ados S o Paulo v 24 n 69 p 7 30 2010 Leitura uma cole o indefinida de experi ncias irredut veis umas s outras Dispon vel em lt http www apagina pt aba 7 amp cat 136 amp doc 10225 amp mid 2 gt Acesso em 21 abr 2011 CERTEAU Michel de A inven o do cotidiano Rio de Janeiro Voz
80. a e como um dos bioindicadores que refletem as condi es ambientais dos ecossistemas No Brasil as aves s o t o abundantes que se estima cerca de 1800 esp cies em diversos biomas da Amaz nia do Cerrado Mata Atl ntica da Caatinga do Pantanal aos Pampas FRISCH J FRISCH C 2005 Entretanto a caatinga as savanas campo e pampas sofrem devasta o constante acarretando um processo de extin o de algumas esp cies Iracema apresenta muitas esp cies conforme constam no Quadro 2 Algumas possuem centenas de esp cies o caso do colibri assim vislumbramos uma poss vel aproxima o do universo liter rio e cient fico recorrendo literatura especializada em avifauna para verifica o dos habitats e das esp cies mais comuns no Brasil bem como consulta com bi logos e ornit logos por exemplo nas escarpas rochosas do Nordeste nidifica o urubu rei e as aves de rapina como o acau logo as paisagens e sua avifauna englobam a avifauna terrestre que podem ser classificadas como pertencente a mata ou ao campo categoria parte s o as aves aqu ticas ambas presentes em Iracema SICK 1997 p 23 Os sabi s possuem esp cies da fam lia Turdiae que entoam seus cantos ao abrigo das forma es florestais do cerrado como da fam lia Mimidae exemplos sabi do campo Mimus saturninus origin rios do Hemisf rio Setentrional percorrem em grupos familiares as reas abertas com arboriza o esparsa e o sabi
81. a em 1587 trata tanto das particularidades morfol gicas das aves como dos pormenores biol gicos Spix e Martius s o os mais citados no campo das ci ncias naturais do Brasil ambos viajaram juntos atravessaram grande parte do Brasil nos anos de 1817 a 1820 Martius tornou se um dos cientistas mais conhecidos do mundo O naturalista su o Agassiz citado num dos volumes da Brasiliana Biblioteca Nacional como um dos primeiros que demarcaram os novos limites entre textos cient ficos e relatos de viagem seu texto de viagem ao Brasil foi redigido em 1867 114 Como Martim adotou as duas na es ind genas como sua p tria no cap tulo XXIV Iracema e Poti desenham com uma pena no corpo do soldado portugu s os riscos vermelhos e pretos que ornavam a grande na o pitiguara no bra o pintou um gavi o No p esquerdo pintou a raiz de um coqueiro No p direito pintou uma asa Assim como a asa do majo ALENCAR 1956 p 79 O nome de Irapu voa mais longe que o goanh do lago quando sente a chuva al m das serras Irapu manhoso e trai oeiro como a acau ibidem p 27 e 50 O canto da gaivota o grito de guerra do valente Poti amigo de teu h spede O grito da gaivota terceira vez ressoa a seu ouvido vai direto ao lugar donde partiu chega borda de um tanque seu olhar investiga a escurid o e nada v do que busca Soltou Martim o grito da gaivota ibidem p
82. a o bor pela amplid o do vale Rugia o marac ao quebro lento do canto selvagem batia a dan a em torno a rude cad ncia O chefe pitiguara entoou o canto da morte Rugia a in bia o b zio dos pescadores do Trairi e a trombeta dos ca adores do Soip respondiam Iracema cantava docemente ALENCAR 1956 p 18 20 77 78 e 98 Os pescadores em suas jangadas seguiam o chefe e atroavam os ares com o canto da saudade ibidem p 68 Poti cantava como a cobra que tem duas cabe as em um s corpo assim a amizade do Cotiabo e Poti O ronco bravio do tigre ibidem p 61 e 80 A floresta exala arpejos harmoniosos Ressoa um murm rio da aragem nas frondes da palmeira Um rumor como o eco das ondas quebrando nas praias ruidava ali Os suspiros do cora o se difundiram nos murm rios do deserto ibidem p 40 e 60 109 Quando a imagina o voa como um p ssaro Tu que anda pelo mundo Sabi y Tu que tanto j voou Sabi A Tu que fala aos passarinhos Sabi yA v Alivia minha dor Sabi y Luiz Gonzaga As aves desde tempos imemoriais ocupam um lugar privilegiado nas artes na literatura nas lendas uma rela o de inspira o dos poetas das suas asas emprestaram os poetas para descrever anjos e deuses o p ssaro um embaixador do mundo celeste comunicando c u e terra N o por acaso que todos os anjos t m asas projetadas como s mbolos sagrados pa
83. a ra Er AASEN A iiaii Serra de Uruburetama CE seessesssesesesseesessersesseseese Paisagens vistas da estrada de pedra rumo Uruburetama CE ni erreerenas 141 142 142 143 143 144 144 145 145 146 146 147 148 148 149 149 149 150 150 150 151 Figuras 80 e 81 Figura 82 Figura 83 Figuras 84 e 85 Figuras 86 e 87 Figura 88 Figura 89 Figura 90 Figura 91 Figuras 92 e 93 Figuras 94 e 95 Figura 96 Figura 97 Figura 98 Figura 99 Figura 100 Figura 101 Figura 102 Figura 103 Figuras 104 e 105 Figuras 106 e 107 Figuras 108 e 109 Figura 110 Figuras 111 e 112 Casa de taipa na beira da estrada e horta suspensa Rio Munda CE errar Uruburetama no p da seriaj Matriz S o Jo o Batista e pintura no teto da matriz Pra a principal e transporte escolar Barra do Munda CE anaa Praia da Vila de Munda CE Praia do Munda CE osiers Monumento N Sa Soledade Siup CE Monumento hist rico de Siup CB Praia e lua cheia em Taiba CB cooccncicicicicocicinnnononnconanon Porto de Pec m CE aeii a Lagoa do Cau pe MER doc insiso rikio Praia de Mucuripe Fortaleza CE Monumento na praia de Mucuripe Fortale
84. aborosos ibidem p 52 38A popula o ind gena do Cear de 19 336 IBGE 2010 distribu da em nove grupos ind genas Jenipapo Kalabassa Kanind Kariri Pitiguari Potiguara Tabajara Tapeba e Trememb Dispon vel em lt http www funai gov br gt Acesso em 06 dez 2011 134 Como parte integrante de todo o romance cabe indagar o cen rio percebido apenas segundo descri o do autor ou pode ser tamb m percebido pelas mentes dos personagens de maneira que personagem e lugar se interajam Diz o Paj Tup deu grande na o tabajara toda esta terra N s guardamos as serras donde manam os c rregos ALENCAR 1956 p 21 Em outro fragmento Poti leva Martim aonde crescia um frondoso jatob Neste lugar nasceu ter irm o disse o pitiguara Martim estreitou ao peito o tronco amigo Jatob que viste nascer meu irm o Poti o estrangeiro te abra a ibidem p 64 65 Esses s o apenas alguns fragmentos h outros tantos ilustrando as intera es de personagens cen rios Al m disso o cen rio enfatiza o clima do romance estabelecido j no primeiro cap tulo quando Iracema se banha nas guas da Bica do Ipu e Martim a observa numa vis o contemplativa o primeiro encontro marcado pelo voo da flecha ligeira e certeira da filha do Paj Neste momento autor e personagem se fundem narra Alencar esse belo trecho o sentimento que ele p s nos olhos e no rosto n o o sei eu ibidem p 1
85. agoa Opcional PACOTE TUR STICO CULTURAL nibus com Ar Guia de Turismo Entrada no Teatro e Casa Jos de Alencar Sorteios de Brindes Livros e Souvenirs De Iracema VIABILIZA O DO PASSEIO CULTURAL VIABILIZA O M nimo 40 estudantes R 25 00 1 2 DIA R 30 00 01 DIA PERSONAL INFANTIL INFORMACOES E RESERVAS ninos DE A iPACEMA Especializadas em Educa o Patrimonial e Turismo Cultural o TEL 85 3237 2687 88359915 85049318 E mails caminhosdelracema Dyahoo com br e caminhosd Face Book Caminhos de Iracema Tribos Turismo e mail tribosturismoGO yahoo com br Tel 85 3272 5354 Empresa Cadastrada no Minist rio do Turismo N 06 000097 10 0001 5 icema bol com br 186 ROTEIRO 02 Incluir DURA O 01 DIA das 8h s 17h Barra do Cear Refer ncias Antigo Forte de S o Sebasti o Cabana de Martim Centro Academia Cearense de Letras Museu do Cear Pra a da Liberdade Pal cio Iracema Parangaba Lagoa da Beleza Com a Apresenta o Filme Iracema Definir local PACOTE TUR STICO CULTURAL MICRO OU NIBUS COM AR GUIA DE TURISMO ENTRADA NO TEATRO E CASA JOS DE ALENCAR LANCHE SIMPLES BISCOITO CLASS CLUB SUCO CAIXINHA 200 ML E GUA MINERAL SORTEIOS DE BRINDES livros e souvenirs de Iracema VIABILIZA O DO PASSEIO CULTURAL N VALOR PARA GRUPOS DE ESTUDANTES OU DA TERCEIRA IDADE ONIBUS e VIABILIZA O M nimo 40 estudantes
86. alavras contam como a necessidade inevit vel de revelar se aos outros fato esse que impulsiona a humanidade desde os prim rdios da civiliza o Com isso a qualidade humana mais uma vez se materializa num v deo na tentativa de documentar diversas express es de sentimentos de sentidos express es que fazem parte da din mica das complexas rela es humanas uma geografia afetiva O v deo intitulado Caminhos de Iracema sert o serra e mar apresenta um pouco de n s e dos outros em cada imagem falas falhas um quase tudo de n s posto que representa o nosso poss vel E esse poss vel representa para quem participa dele partidas chegadas perdidos achados buscando respostas percorrendo estradas reais e imagin rias estradas dos sonhos que Iracema jurou n o deixar pr tr s o cora o ao contr rio de Martim que expressa sua maneira a saudade pelo desejo de regressar sua p tria Cada passo mais que afastasse dos campos nativos a filha dos tabajaras n o tinha o ninho do seu cora o para abrigar se era uma por o da vida que lhe roubava ibidem p 88 Os trabalhos dispendiosos investidos foi um caminho rduo mas prazeroso debru ando dias a fio durante todo o processo desde a elabora o dos mapas que mais que meros objetos mesmo os cartogr ficos s o tamb m constru es mentais do roteiro da viagem at sua produ o final mergulhando aqui ou ali em passagens dos livros e no extenso
87. am na imagina o na mem ria nas lembran as no cotidiano la entrevista nos llevaba al ltimo continente inexplorado del mundo moderno al outro ibidem p 197 Como t cnica de registro foi feito um v deo de aproximadamente 52 minutos como meio de registrar as viagens de campo viagens pela simplicidade e grandeza da obra procurando expressar o di logo entre ci ncia e literatura FIGURA 3 DVD e encarte do v deo document rio Caminhos de Iracema sert o serra e mar Foto RCSartori 35 Para Baro 2006 a linguagem audiovisual mais que uma forma de construir escrituras a partir de imagens resulta tamb m em um meio prodigioso de an lise do movimento e do registro do tempo Actualmente en la investigaci n social la c mara es poco utilizada Aplicar la tecnolog a audiovisual en la investigaci n social aporta una visi n nueva de la realidad y en consecuencia del trabajo sociol gico y antropol gico El medio juega un papel important en el mensaje porque lo que se muestra no son acontecimientos en s sino una presentaci n con su propia din mica y nfasis La creatividad entra a formar parte de la lectura visual BARO 2006 p 82 83 Assim outra estrat gia utilizada surgiu dessa ideia de otimizar os meios audiovisuais tais como c mera fotogr fica e filmadora visando registrar as atividades desenvolvidas em sala de aula bem como nas viagens de campo resultando num material trabalhado em
88. amor da vida Amor e poesia engendram se mutuamente e podem identificar se um com o outro A sabedoria pode problematizar o amor e a poesia mas o amor e a poesia podem reciprocamente problematizar sabedoria O sentido do amor e da poesia o sentido da qualidade suprema da vida Poesia prosa constituem portanto o tecido de nossa vida H lderlin afirmava o homem habita a terra poeticamente MORIN 1998 p 9 e 36 Essas estrat gias de ensino permitem o uso da literatura como diversas possibilidades criativas de re leituras dos livros parafraseando Rubem Alves seria a rumina o das ideias contidas nos livros pois nossa leitura uma forma de reconstru o do pensamento que deve incluir outros horizontes por exemplo a maneira como se leu Skakespeare no s culo XIX n o igual a como se l hoje assim como outros autores de obras teatrais ou liter rias Neste sentido os livros propiciam uma leitura que requer o est mulo da curiosidade e da aten o do leitor exercendo seus fasc nios 72 nuvens noites tenebrosas e astros rom nticos sem destinos Malba Tahan 73 A ETNOPO TICA DE IRACEMA LER CONTAR RECONTAR O pensamento ocidental h muito considera os povos primitivos como representantes menores da cultura liter ria pelo fato de dependerem mais das representa es orais que das escritas Muitos poetas procuraram e outros continuam procurando mudar essa vis o
89. ansforma o do c digo da l ngua recusando se a ver na gram tica um c non imut vel padr o inalter vel a que o escritor se h de submeter rigorosamente CAMPOS 1990 p 68 M rio de Andrade exalta Alencar no livro Aspectos da literatura brasileira 1972 um homem animado do mesmo ideal terminando por invoc lo na antevis o de um outro futuro movimento modernista como amigo Jos de Alencar meu irm o ANDRADE apud FRANCHETTI 2010 p 80 Sabe se que tanto autor como obra e p blico formam um conjunto imprescind vel para que a obra se configure enquanto produto social tornando se por vezes capaz de interferir na realidade como ocorreu na pol mica citada Compete afirmar que nesta pesquisa n o cabe indagar e n o h perspectiva para questionamentos quanto ao m rito da cr tica ou defesa a respeito tamb m das descri es sobre o car ter dos ndios de Alencar Ressalta se tamb m que a literatura t cnica e as pesquisas acad micas que despontaram em torno desta tem tica nas obras de Alencar s o vastas Para al m desta quest o no caso da obra Iracema tamb m j se pesquisou sobre o nome anagrama Iracema Am rica no contexto hist rico e geogr fico as rela es natureza ndio e recentemente divulgou se na m dia uma mat ria associando o filme Avatar do cineasta canadense James Cameron tradi o indianista de Iracema atualiza a mas mant m a ideia de uma cultura selvagem melhor e muito
90. ao chegar na floresta vive em uma poca com varias tecnologias conhecedor das tecnologias da poca Iracema representa a cultura human stica pois conhece a ci ncia da natureza e guarda o segredo da jurema O grupo 10 cap XXXI ao XXXIII exp s suas ideias lendo uma s ntese feita a partir da leitura dos referidos cap tulos o romance apresenta uma associa o entre cultura cientifica e human stica a troca de saberes ci ncias naturais medicina ci ncias sociais e humanas Ainda caracterizaram o amor de Iracema como um amor de perdi o Martim como um p lido guerreiro o nascimento de Moacir como um desertor de suas origens o primeiro brasileiro custou a vida de sua m e nasceu de costas para sua origem os europeus falavam que eram amigos aqueles que davam ais ndios quinquilharias e em troca levavam tudo o que possu am os nativos com seus costumes e com Tup desapareceram deram lugar outra etnia que durante tempo foi submissa subordinada s ordens e cultura imposta pelos brancos E at os dias de hoje os Americanos ainda representam grande parte da alegria existente neste mundo Notamos que nenhum dos grupos apresentou algum estranhamento ou questionamento quanto s met foras bem como algumas palavras do romance tais como os nomes ind genas de p ssaros de instrumentos de plantas entre outros ao perguntarmos sobre algumas palavras e seu
91. ap XIX ao XXI exibiu um v deo pronto disponibilizado na internet sobre a vers o de Iracema feita pelos est dios Disney ao final acrescentaram Os elementos que permitem a associa o entre a cultura cient fica e a human stica a troca de sabedoria de ensinamentos culturais A medicina plantas os modos de ca ar as artes engenharias constru o A pesquisa do autor que foi realizada para se chegar em uma hist ria que tem o nome de um estado de nosso pa s Os grupos 2 5 e 8 apresentaram a leitura dos cap tulos como um jogral cada um narrando determinado trecho alguns leram com mais flu ncia que outros notamos algumas dificuldades na leitura pelo fato do romance conter palavras da linguagem da poca al m das palavras ind genas O grupo 02 cap V ao VII se limitou leitura dos cap tulos O grupo 5 cap XVI ao XVIII ao concluir a leitura dos cap tulos numa linguagem jovial concluiu que ela Iracema n o quer nem saber de largar a tribo e ressaltou que no romance h um conjunto amplo e diversificado de saberes e de reas de conhecimento incluindo s ci ncias da natureza da sa de as ci ncias sociais e humanas as engenharias e artes O grupo 8 cap XXV ao XXVII ao iniciar destacou no inicio da apresenta o que seria feito uma leitura voltada para o p blico infantil atrav s de gestos corporais foram narrando a leitura dos cap tulos em alta voz Era uma vez enfatiza
92. ar para a vida que por cumplicidade ou omiss o est vamos permitindo que fosse destru da CASTRO 2008 p 12 13 Se atrav s da m sica de Tom Jobim h uma tentativa de despertar outros sentidos e atitudes nas pessoas a poesia de Federico Garc a Lorca como de outros tamb m confere esse argumento segundo o coment rio do colunista Fabr cio Corsaletti n o sei se a arte pode mudar o mundo Sei que diante da poesia de Lorca preciso mudar de vida Os poemas do livro Sonetos do amor obscuro e div do Tamarit de Lorca exaltam tanto as flores em particular as rosas quanto s aves como no poema Das pombas escuras bem como Da mo a dourada fazendo alus o gar a branca aonde a gua que nadava a dourava Al m do sabi outras aves tamb m foram exaltadas na m sica brasileira como a andorinha Lamartine Babo o assum preto de Luiz Gonzaga Zequinha de Abreu o tico tico Afonso Arinos a anhuma Alcides Bezerra a juriti Toquinho a acau Milton Nascimento cuitelo Cazuza beija flor entre outros in meros exemplos LORCA Federico G Sonetos do amor obscuro e Div do Tamarit S o Paulo MEDIAfashion Cole o Folha Literatura ibero americana v 2 2012 111 Em viagem pelo Araguaia Jos V CoutoMagalh es escrito e folclorista brasileiro relata em seu livro de 1902 Viagem ao Araguaya a lenda contada pelos ndios caraj s do Vale do Araguaia A moca Caraj que vai procurar marido sobre a origem
93. ara mergulho livre e banho de mar 155 Alencar ressalta a abund ncia pesqueira e a beleza dessa pequena pen nsula aonde Iracema e Martim se deleitaram banhando se em suas guas e saboreando o camurupim Martim arrojou se nas ondas e pensou banhar seu corpo nas guas da p tria como banhara sua alma nas saudades dela Iracema sentiu que lhe chorava o cora o mas n o tardou que o sorriso de seu guerreiro o acalentasse Entretanto Poti do alto da rocha fisgava o saboroso camoropim que brincava na pequena ba a do Munda e preparava o moqu m para refei o ALENCAR 1956 p 68 E e 90 FIGURA 90 Praia do Munda CE Foto ACPOliveira Si pe A viagem prossegue cerca de 128 km de Munda para Siup distrito de S o Gon alo do Amarante Siup uma das mais antigas povoa es do estado cearense foi habitada por ndios de v rias etnias principalmente os Anac s Alencar descreve Soip como pa s da ca a aonde a tribo de ca adores ocupava as margens do Soip cobertas de matas onde os veados as gordas pacas e os macios jacus abundavam ibidem p 69 A estrada para Suip possui trechos de pedra e outros de terra no meio do caminho uma enorme imagem da padroeira Nossa Senhora da Soledade 91 FIGURA 91 Monumento N Sa Soledade Siup CE Foto RCSartori 156 FIGURAS 92 e 93 Monumento hist rico de Siup CE Fotos RCSartori Ta ba Depois que partiram de Soip
94. arara caminh o com carga evidenciando pessoa sentada sobre a carga Fotos RCSartori 150 Uuruburetama Expira o dia nuvem negra voa das bandas do mar s o os urubus que pastaram na praia a carni a e com a noite tornam ao ninho Os viajantes dormem a em Uruburetama ALENCAR 1956 p 67 Irau aba fica a 38 km de Uruburetama pela manh de volta a BR 222 passamos ao leste para Itapaj significa curandeiro de pedra seguimos para a Serra de Uruburetama pela rodovia CE137 aonde h v rios monumentos geol gicos como a Pedra do Frade De Itapaj para Uruburetama foram 12 km de pedra terra lama pontes serra e muitas planta es de bananas FIGURAS 74 e 75 Rodovia CE 137 e estrada de terra rumo Serra de Uruburetama CE Fotos RCSartori No meio do caminho a 6 km uma r pida parada num povoado chamado Santa Luzia distrito de Uruburetama aonde a maioria dos habitantes s o agricultores um morador comenta que antigamente os moradores chamavam o povoado de Forquilha por causa das nicas duas ruas que se cruzam em forma de forquilha neste local h uma imagem de Santa Luzia conforme Figura 76 FIGURA 76 Sta Luzia Foto RCSartori FIGURA 77 Serra de Uruburetama CE Foto RCSartori 151 Um pouco mais adiante entre subidas e descidas em cada curva da estrada de pedra surgia uma bonita paisagem uma garoa caindo porcos passeando tranquilamente pela estrada plantas que parece
95. aria Angela P DI STAST Luis Claudio Folclore conceitos e metodologias In DI STAST Luis Claudio Org Plantas Medicinais Arte e Ci ncia Um guia de estudo interdisciplinar S o Paulo UNESP 2006 p 37 45 SEREZA Haroldo Ceravolo A alternativa de Morin cat strofe prov vel O Estado de S Paulo S o Paulo 25 ago 2002 Caderno 2 Cultura p 6 SERRES Michel Not cias do mundo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1998 SICK Helmut Ornitologia brasileira Rio de Janeiro Fronteiras 1997 SIGRIST Tomas Iconografia das aves do Brasil v i Bioma Cerrado Vinhedo Avis Brasilis 2009 SOUZA Roberto Ac zelo G neros liter rios In JOBIM Jos Lu s Org Introduc o aos termos liter rios Rio de Janeiro UERJ 1999 9 67 SOUZA Vinicius C de LORENZI Harri L Bot nica sistem tica guia ilustrado para identifica o das fam lias de Angiospermas da flora brasileira Nova Odessa Instituto Plantarum 2005 SCLIAR Moacyr Entrevista concedida ao Jornal da Unicamp Para Scliar ci ncia e literatura s o compartimentos da mesma cultura Campinas p 9 24 a 30 mai 2004 SNOW Charles Percy As duas culturas e uma segunda leitura S o Paulo EDUSP 1995 STEINER George Linguagem e sil ncio Ensaios sobre a crise da palavra S o Paulo Companhia das Letras 1988 STENGERS Isabelle A invenc o das ci ncias modernas S o Paulo Editora 34 2002 SZYMBORSKA Wislawa Mapa e outros tr s poemas Fol
96. as n o est o sempre iguais n o foram terminadas mas que elas v o sempre mudando Afinam ou desafinam verdade maior o que a vida me ensinou Isso me alegra mont o Guimar es Rosa RESUMO As obras liter rias s o operadores do pensamento que permitem acessar formas m ltiplas de ver o mundo e a realidade Propicia diversos pontos de vista e infinitas conex es De forma particular entre todas as formas de express o da arte a literatura considerada a mais pr xima da vida capaz de religar todas as dimens es humanas emotiva racional m stica particular universal corporal hist rica m tica O objetivo da tese oferecer algumas reflex es sobre as fronteiras e pontes entre ci ncia e literatura visando compreens o da complexidade que as norteiam Apresenta uma releitura do romance Iracema lenda do Cear de Jos de Alencar a partir de uma incurs o minuciosa reconstruindo caminhos atuais e os espa os naturais trabalhados por Alencar Procura escutar os ecos desse romance indianista nos jovens estudantes universit rios atuais Em um contexto mais amplo tece argumentos que problematizam os m ltiplos fios que hibridam ci ncia e literatura de modo a por em a o uma ci ncia da complexidade que distingue mas n o separa as diversas narrativas sobre o mundo Para tal a tese tem como interlocutores Antonio Candido Charles P Snow Edgar Morin Emilio Ciurana Fritjof Capra George Steiner Ilya
97. as rochosas da trilha Transum ncia Fotos ACPOliveira 146 Vi osa do Cear Poti levou Martim aonde crescia um frondoso jatob Neste lugar nasceu teu irm o disse o pitiguara ALENCAR 1956 p 64 65 FIGURA 61 Jatob Hymenaea courbaril L Foto RCSartori Neste local conforme mencionado Alencar descreve a cena como sendo em Vila Vi osa antigo nome de Vi osa do Cear aonde os potiguaras levantaram a taba como estrat gia de guerra para combater os tabajaras A pequena cidade encravada no p da montanha considerada a mais antiga da Chapada com 54 961 habitantes IBGE 2010 antiga aldeia dos tabajaras sendo posteriormente edificada pelos jesu tas guarda muitas hist rias relacionadas ao descobrimento do estado do Cear FIGURAS 62 e 63 Vi osa do Cear CE vista do Mirante da Igreja do C u Fotos ACPOliveira 147 Os portugueses chegaram em 1603 em Vi osa numa expedi o chefiada por Pero Coelho acompanhado por Martim Soares Moreno Em 15 de agosto de 1700 foi fundada a Aldeia Ibiapaba futura cidade Vi osa pois havia quatro tribos Tabajaras Camocins Anac s e Ararius conforme observamos nos registros das placas tem ticas instaladas neste ponto tur stico da cidade denominado de Mirante um lugar de vista privilegiada que abriga a pequena Igreja do C u e lojas de artesanatos em Vi osa que tamb m ocorre anualmente desde 2007 o Festival do Mel Chorinho e Cacha a O se
98. aturais ci ncias da Terra Cosmologia e a Ecologia O autor enfatiza que na literatura que o ensino sobre a condi o humana pode adquirir forma vivida e ativa para esclarecer cada um sobre sua pr pria vida e ainda que na complexidade se d sempre uma bipolariza o entre dois princ pios que s o antag nicos e complementares exemplifica designando a vida como feita de prosa e poesia A prosa s o as atividades pr ticas t cnicas que t m por finalidade coisas utilit rias sobreviver Mas a poesia tudo o que concerne ao jogo ao amor dan a festa m sica a admira o a adora o o xtase A poesia n o apenas um conceito de literatura um conceito de antropologia MORIN apud VEGA STROH 1999 p 185 Para o poeta mexicano Octavio Paz a atividade po tica capaz de transformar o mundo O livro O Arco e a Lira considerado um livro chave para a compreens o da experi ncia po tica e da poesia de todas as pocas e matizes 30 A partir dessas indaga es os objetivos da nossa tese procuram compreender o universo complexo do romance Iracema partindo de uma leitura n o isolada mas procurando tecer os m ltiplos fios entre a ci ncia e literatura n o reduzindo o romance ci ncia mas situ lo como uma leitura do mundo da vida j que esta mat ria prima dos livros ou seja mostrar que Iracema pertence ordem do complexo um romance h brido Essa tecitura de ideias sobr
99. berg em rela o etnopo tica consultar Symposium of the whole a range of discourse toward an ethnopoetics Berkeley California University Press 1983 Total translation an experiment in the presentation of american indian poetry In QUASHA George Ed Stony brook 1969 p 3 4 31 A etnopo tica pode de fato permitir representa es art sticas de pr ticas xamanicas para refletir de forma mais completa a vis o de mundo de culturas a palavra etnopo tica apareceu espontaneamente com base em termos usados anteriormente como etno hist ria etnomusicologia etnofarmacologia e outros Ela se refere a uma redefinig o da poesia em termos das especificidades culturais com nfase naquelas tradi es alternativas que o Ocidente chamou de pag s tribais o compromisso com geografia e viagens imagin rias que conduzem ao interior de nossas vidas e mentes ROTHENBERG apud SANTOS 2007 p 79 e 84 Todavia reconhece se que imposs vel fazer uma breve e ao mesmo tempo adequada descri o de todos os campos de saberes os quais podem ser contemplados em Iracema devido ao t o amplo mbito de temas avan ando para argumentos de extrema complexidade Assim como assegura Derrida a leitura como suplemento cria uma l gica de compreens o que desfaz qualquer ilus o de sentido nico REGIS 1996 Como sabemos a aspira o ao pensamento da complexidade n o vislumbra dar conta de todas as informa e
100. bsist ncia E assim foi que tendo partido da teoria liter ria e do folclore o trabalho lan ou uma derivante para o lado da sociologia dos meios de vida e quando esta chegou ao fim terminou pelo desejo de assumir uma posi o em face das condi es descritas CANDIDO 1979 p 10 Candido descreve in meros relatos sobre os costumes vestu rios situa es s cio culturais religiosas os elementos diretamente ligados manuten o da vida a sobreviv ncia em grupos a explora o dos recursos naturais e antes da bibliografia encontram se os interessantes Casos conhecidos na linguagem caipira como causos narrados pelos moradores de Bofete Neste sentido tendo como ponto de partida a literatura retrata as condi es de vida do homem do campo n o apenas baseada em enunciados pol ticos ou em investiga es especializadamente econ micas e agron micas mas tamb m no estudo da sua cultura e da sua sociabilidade ibidem p 11 A riqueza da hist ria oral tamb m se insere nestes contextos Para Cascudo 1978 p 51 a hist ria oral abrange canto dan a f bula tradi o conto a tradi o re ne elementos de est ria e de hist ria popular anedotas reais ou sucessos imagin rios cr ticas sociais vest gios de lendas Com isso interessante notar que o m dico naturalista alem o Karl Friedrich Philipp Von Martius autor do primeiro tratado composto por cinco volumes sobre a flora do Brasil elab
101. chimbos com plantas alucin genas para que o paj contemple Tup a fim de buscar o segredo de cura do doente A fuma a ou fumiga o foram provavelmente um dos usos mais antigos das plantas como parte de oferendas rituais aos deuses Era provavelmente notado que a fuma a de v rias plantas arom ticas tinha entre outros efeitos alucin genos estimulantes e calmantes Em uma das narrativas da obra o Paj atrav s da fuma a pede prote o para a partida de Martim pela floresta uma vez que Jurupari simboliza o dem nio de juru b ca e apara torto aleijado O boca torta ALENCAR 1956 p 114 O Paj levantou se de p no meio da cabana e acendeu o cachimbo le e o mancebo trocaram a fuma a da despedida O velho andou at a porta para soltar ao vento uma spessa baforada de tabaco quando o fumo se dissipou no ar le murmurou Jurupari se esconda para deixar passar o h spede do Paj ibidem p 33 O Paj enchia o cachimbo da erva de Tup o Paj traga as baforadas do fumo que prepara o mist rio do rito sagrado ibidem p 42 Da lenda simples de uma jovem ndia que pelo amor a um homem branco sofre e morre teceria Alencar uma hist ria imortal permeada de v rios elementos com in meras possibilidades de interpreta es como se em cada frase cont m um mundo assim consta no Quadro 1 e nas doze pranchas a fus o de uma bot nica sonhada ra zes imagin rias homem planta ci ncia l
102. com base em uma nova po tica que representaria de forma mais plena as culturas humanas ao redor do mundo O educador ind gena Daniel Munduruku um desses pensadores que tenta valorizar a literatura com raiz na oralidade Esse movimento preocupou se com uma complexa redefini o de valores culturais e intelectuais que envolvem a ideia de uma etnopo tica Essa nova po tica que pode ser encontrada desde a Era Paleol tica trata de obras experimentais que v o desde o per odo rom ntico at a poesia moderna SANTOS 2007 p 79 Entretanto o campo de pesquisa ainda pouco explorado no Brasil pouco aconteceu As reivindica es e metaforiza es das culturas ind genas realizadas por M rio de Andrade Raul Bopp Oswaldo de Andrade por mais relevante que sejam n o esgotam o potencial e a diversidade das est ticas alheias Desde ent o poucos al m dos etn logos se lan aram sobre a floresta CESARINO 2009 p 6 7 N o s os poetas precisam abrir os olhos e o cora o para a poesia ind gena e africana como os etn logos precisam nos mostrar mais sistematicamente a colheita po tica de suas expedi es RIS RIO 1993 p 23 A literatura se transporta para outros campos e pode ser denominada como o grafo complexo das pegadas de uma pr tica como a pr tica de escrever Disso resulta a import ncia de se ressaltar que nesse ato de escrever o essencial visar o texto como um tecido de signif
103. conjunto com uma equipe formada por profissionais de diversas reas designer cinegrafista desenhista zootecnista bi logo Em face aos nossos objetivos a presente tese realizou uma pesquisa documental em bibliotecas como a Biblioteca Central Zil Mamede da UFRN Biblioteca setorial do Centro de Ci ncias Humanas Letras e Artes CCHLA UFRN acervo do Grupo de Estudos da Complexidade GRECOM Bibliotecas da Universidade de Salamanca USAL Biblioteca da Faculdade de Ci ncias Agron micas FCA UNESP bem como documentos de bibliotecas digitais e virtuais importante ressaltar que a oportunidade de realizar um est gio na Universidade de Salamanca Espanha no per odo de 01 de agosto de 2011 a 31 de janeiro de 2012 sob a orienta o do antrop logo Angel B Espina Barrio proporcionou um enriquecimento n o apenas t cnico cient fico mas tamb m humano e cultural A universidade possui grupos e centros de pesquisa reconhecidos a n vel nacional e internacional com uma elevada capacidade para colaborar no seu entorno produtivo e social Neste contexto destaca se a excelente infra estrutura no campus que viabilizou a pesquisa ressaltando que a universidade abriga no centro da cidade o Centro de Estudios Brasile os e a Facultad de Filolog a que possui um Grupo de Pesquisa denominado de ILICIA o qual estuda as rela es entre a ci ncia e literatura a converg ncia desta com as Ci ncias Sociais Sociologia e Antropologia
104. cupa em ser uma c pia fiel das figuras tornando se menos fascinante quando troca a imagina o criativa e po tica pelo projeto de fidelidade ao real Nas palavras do poeta e cr tico de arte Ferreira Gullar o mesmo ocorre na literatura n o se faz arte para imitar a vida mas sim para invent la GULLAR 2012 p 14 O f sico alem o Albert Einstein por exemplo chegou a afirmar que a imagina o mais importante que o conhecimento Em sua vida escolar ele nunca se deu bem com o aprendizado mec nico e seu sucesso como cientistas n o decorreu da imensa for a de sua capacidade de pensamento mas de sua imagina o e criatividade ISAACSON 2007 Pode se entender a arte como uma express o maior das origens e da hist ria de um povo pois atrav s das obras de arte de grandes mestres de diferentes pocas tomamos conhecimento da evolu o de cada povo de sua cultura costumes religi es e pol tica constantemente retratadas em obras como um legado deixado para as gera es futuras 21 Na pintura h in meros exemplos como a obra Espanha de Salvador Dali que retrata a guerra civil espanhola o estilo cubista de Pablo Picasso que disse ser toda a arte atual retrata a cidade de Guernica bombardeada pelos alem es e que se encontra no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia em Madri Candido Portinari na obra Fam lia de Retirantes retrata os problemas sociais do Brasil entre tantos outros mestres que souberam demonst
105. das posteriormente entre ci ncia e literatura Assim no referido per odo constavam de sete artes liberais configuradas como essenciais aos estudos cient ficos tr s artes liter rias o Trivium dos carol ngios gram tica ret rica e dial tica as quatro disciplinas matem ticas do Quadrivium geometria aritm tica astronomia e a Teoria Musical MARROU 1975 p 277 7 Segundo Reis apud NUNES 2000 p 171 o fil sofo grego Arist teles considerado o primeiro escritor cient fico com os estudos sobre as partes dos animais Disso resulta que o Trivium pode ser relacionado ao esprit de finesse isocr tico Literatura e o Quadrivium correspondente ao esprit g om trique plat nico Ci ncia Essa compara o entre esprit g om trique e esprit de finesse descritas por Marrou como duas colunas do templo da educa o cl ssica se aproxima da atual dicotomia Ci ncia Literatura Todavia na Idade Antiga e na Idade M dia ainda que se tenha estabelecido as oposi es referidas este problema n o atingiu extremas consequ ncias ao contr rio dos s culos posteriores O per odo do Renascimento nos remete a lembrar um tempo na hist ria em que o cientista possu a diversos conhecimentos conhecedor de literatura filosofia m sica artes l nguas estrangeiras diferente da grande maioria dos cientistas do s culo XX cujo surgimento da categoria de especialistas fez com
106. dezessete edi es num total de cento e vinte mil exemplares e durante esse per odo outras editoras tamb m publicaram o livro DOYLE apud FRANCHETTI ibidem p 12 FIGURAS 1 e 2 P ginas de rosto das edi es de Iracema editadas na Argentina e Paris Fonte Biblioteca da Faculdad de Filolog a Universidad de Salamanca 2011 Fotos RCSartori 23 O escritor e folclorista Lu s da C mara Cascudo conta de pessoas do Nordeste que sabiam as p ginas iniciais do referido romance sem engano de uma s palavra Tamb m Raquel de Queir s afirma que no Cear Porangaba ainda hoje a lagoa onde Iracema se banhava a praia aonde a ndia morreu descreve como a praia de Iracema Ningu m fala nas praias do Cear sem citar os verdes mares bravios ningu m pensa na jandaia sem ser nas frondes da carna ba frase feita que est na boca de todos CASCUDO QUEIR S apud PROEN A 1972 p 109 O xito do romance foi completo A cr tica de Machado de Assis foi tra ada para vencer o tempo publicada em janeiro de 1866 Ela se tornaria quase insepar vel de Iracema O livro do Sr Jos de Alencar que um poema em prosa n o destinado a contar lutas her icas nem cabos de guerra se h a algum epis dio nesse sentido se alguma vez troa nos valles do Cear a pocema da guerra nem por isso o livro deixa de ser exclusivamente votado hist ria tocante de uma virgem indiana dos seus amores o do
107. do Romantismo s o seus aspectos agrestes e inacess veis montanha cascata abismo floresta que irrompem de sob colinhas prados e jardins CANDIDO 2000 p 27 Pela trilha da serra entre um passo e outro uma foto e outra encontramos uma cabana deserta ao lado um limoeiro e um p de taioba e urtiga 105 FIGURAS 104 e 105 Trilha da Serra de Maranguape e cabana de palha CE Fotos RCSartori Poti chegado cabana do grande Maranguab pai de Jatob e trouxe seu irm o branco para ver o maior guerreiro das na es Iracema que se banhava na pr xima cachoeira veio lhes ao encontro trazendo na folha da taioba favos de mel pur ssimo ALENCAR 1956 p 74 75 Morre o velho guerreiro Poti p s a m o no cr nio do anci o e conheceu que era finado o guerreiro morreu de velhice Depois que plantou urtiga porta para defender os animais a oca abandonada Poti despediu se triste daqueles s tios e tornou com seus companheiros borda do mar A serra onde estava outrora a cabana tomou o nome de Maranguape assim chamada porque a repousa o sabedor da guerra ibidem p 75 Ap s o banho na lagoa de Parangaba Iracema andava at as proximidades da serra de Maranguape aonde segundo Alencar cresciam na frescura e na sombra as frutas mais saborosas de todo o pa s delas fazia a virgem copiosa provis o e esperava que Martim tornasse da ca a ibidem p 77 162 Lagoa da Parangaba Fortal
108. e a hibridez do romance abrange a complexidade da cultura como elemento frutificador que por sua vez n o produz somente ideias mitos conhecimentos mas modos de a o MOTTA CIURANA 2002 p 171 A presente pesquisa lan a m o de algumas atividades desenvolvidas com estudantes universit rios a partir da articula o de fragmentos liter rios do romance com elementos cient ficos do campo da Antropologia Biologia Ecologia ecologia de paisagens ecologia sonora Hist ria Geografia M sica Em uma tentativa de agregar reas do conhecimento que geralmente n o costumam conversar entre si para tentar entender que resignificados estas articula es podem trazer a partir de uma leitura minuciosa da obra Nesse sentido que se insere a sugest o de Morin na qual a literatura seja escolhida como um dos poss veis eixos transdiciplinares nos futuros curr culos sendo urgente a re humanizag o e a rearticula o interativa do ensino Diante do exposto a express o da complexidade do romance engloba um universo de representa es que interagem com o seu meio transportar esse agir sobre o meio para o texto liter rio implica em compreender a rela o dos personagens com alguns seres vivos e suas respectivas representa es conforme consta no cap tulo que denominamos como A emopo tica de Iracema O termo emop etica foi cunhado em 1968 por Jerome Rothenberg professor poeta e ensa sta americano Sobre a obra de Rothen
109. e classificar e como o intuitivo que se baseia numa experi ncia n o intelectual da realidade decorrente de um estado de percepg o consciente Roland Barthes soci logo e cr tico liter rio franc s tamb m ressalta a proximidade o flerte da ci ncia com a literatura ao afirmar que a literatura trabalha nos interst cios da ci ncia est sempre atrasada ou adiantada com rela o a esta BARTHES 1978 p 18 19 Barthes exp e a ideia de um paradigma contra a separa o entre cientistas e escritores ele o paradigma sugere que a escritura se encontra em toda parte onde as palavras t m sabor esse gosto das palavras que faz o saber profundo fecundo ibidem p 21 grifo nosso Bachelard foi outro cientista que soube ousar com maestria o sabor das palavras atrav s de varia es de imagens mostrou que a imagina o liter ria possui uma fun o profundamente humana Sabe se que Bachelard foi um cientista que tardiamente se dirigiu ao campo da filosofia mas jamais perdeu de vista que a imagina o valorizada pelo Romantismo possui papel fundamental na cria o cient fica Para o autor as duas grandes fun es ps quicas s o a imagina o e a vontade J ouve quem visse na obra de Bachelard uma dupla pedagogia pedagogia da raz o pedagogia da imagina o LACROIX apud BACHELARD 1994 p ix De sua parte Balandier 1999 p 144 ressalta a ideia de Bachelard usar a imagina o uma vez que a
110. e e Goethe e se emocionavam ouvindo Chopin Wagner entre outros compositores Tanto a literatura como a m sica n o foram empecilhos para tais brutalidades e requintes de violenta desumanidade pois foram atos praticados por indiv duos educados na cultura do humanismo tradicional H quem afirmou como Adorno que ap s Auschwitz a poesia se acabara ou seja a poesia foi tentada ao sil ncio e o fil sofo e dramaturgo Jean Paul Sartre que a literatura uma arma disparada pelo autor na qual a concep o humana diante do po tico se transforma Grandes cientistas como Heinsenberg Einstein Bohr foram grandes leitores e apreciadores da literatura vislumbraram no fazer liter rio a perspectivar o seu pr prio conhecimento aprendendo sem parar de aprender a olharem o mundo os fen menos e a si mesmos sob perspectivas inusitadas superando por instantes os limites da percep o e da hist ria humana Entretanto Bernardo 1999 p 154 enfatiza que isso n o significa de modo algum que a literatura seja o apan gio dos bem pensantes ficando todo o resto para os n o pensantes pois outros grandes cientistas e pensadores n o gostavam de literatura como Sartre para o qual o mundo pode viver muito bem sem literatura praticamente ignora o Romantismo quando refaz criticamente o itiner rio hist rico das diversas concep es psicol gicas e filos ficas da imagina o Esta para ele um desdobramento do puro ver as imagens s o en
111. e n o se enquadra entre as verdades astron micas ao denominar V nus como uma estrela ao inv s de planeta ibidem p 37 o mesmo ocorre no poema de M rio de Andrade intitulado Poema da Negra n o pretendemos focalizar aqui a originalidade dessa poesia O nosso intuito foi alertar a aten o do leitor para a eterna diverg ncia que existe entre os poetas e astr nomos ibidem p 38 Entretanto Malba Tahan afirma que os equ vocos liter rios nos dom nios da Astronomia s o perdo veis e descreve essa bela reflex o O astr nomo sempre bondoso e tolerante em suas andan as pelo espa o ao esbarrar com o poeta aponta para o c u e diz risonho Entre por favor A casa sua ibidem p 38 Neste contexto se insere o ato da leitura O ato de ler e os conceitos de leitura entendidos como Ler sempre um encontro enigm tico e labir ntico com o s outro s Goethe dizia que ler a arte de desatar n s cegos Podemos pensar a frase de Goethe num contexto poliss mico em que n s cegos podem ser os n s dif ceis da vida os n s da garganta os n s pelo corpo ou ainda podemos pensar em n s cegos a partir de algumas cegueiras que desenvolvemos em rela o ao mundo que vivemos Ler n o apenas decodificar os c digos da l ngua tamb m desfazer os n s cegos de uma n o compreens o sobre isto ou aquilo poder enxergar no fora o que vai por dentro ou vice versa 18 O referido cap tulo inicia para
112. e o trabalho foi reinventado em outros meios principalmente pelo cinema com a simplifica o da hist ria original o que analisado s o as rela es entre os diversos atores humanos e n o humanos percebemos que somos combinados justapostos associados e principalmente indissoci veis FIGUEIREDO 2009 p 116 Para ilustrar a imagem do cientista Rangel 2005 p 36 relata um estudo que solicita s crian as adolescentes e adultos a defini o de cientista a partir da linguagem n o verbal do desenho resultando com maior frequ ncia numa imagem negativa ou seja o cientista com olhos esbugalhados cara de louco cabelos despenteados raios e trov es em seus tubos de ensaio Tamb m de maneira semelhante cita outro estudo com consider vel n mero de estudantes universit rios que se manifestaram negativamente com rela o ci ncia e aos cientistas Essa vis o estereotipada do cientista difundida em diversos meios de comunica o muito poderosos cinema quadrinhos desenhos animados televis o e contribui para dificultar o entendimento do que seja ci ncia e qual a sua import ncia na vida da sociedade Sob o ponto de vista da pol tica torna se dif cil esperar um suporte ci ncia por parte da sociedade se esta tem uma vis o distorcida da profiss o A id ia ent o foi trazer o artista para perto do fazer cient fico para dentro do laborat rio fazendo desse espa o t o distante do fazer ar
113. e se pode avistar ao longe a Bica do Ipu FIGURA 52 Entrada do Parque Nacional de Ubajara CE Foto ACPOliveira 143 Segundo informa es do guia o parque criado em 1956 visa preservar a gruta bem como os ecossistemas da caatinga e floresta tropical formando um ambiente de transi o na Serra de Ibiapaba a quem afirme que a Chapada abriga todos os biomas 53 FIGURA 53 Mata fechada evidenciando a Bica de Ipu CE Foto RCSartori O trajeto da visita ao parque foi feito a p atrav s das trilhas naturais poss vel percorr lo por telef rico entretanto o mesmo estava interditado para manuten o Conforme mencionado Ubajara n o est expl cito no romance apesar do autor no cap tulo XIV fazer refer ncia a uma gruta mas n o se sabe ao certo se essa a Gruta de Ubajara por m caminhando pelo parque encontramos um tamandu Durante todo o trajeto da viagem alguns encontros casuais como este nos surpreenderam pois a mem ria e a vis o quando n o falhavam remetiam para fragmentos do romance Diz Iracema valente e forte o tamandu que mordem os gatos selvagens por serem muitos e acabam ALENCAR 1956 p 44 em outro trecho o chefe pitiguara prudente como o tamandu ibidem p 50 FIGURA 54 Tamandu mirim Tamandua tetradactyla L Foto ACPOliveira 144 A viagem prosseguiu no meio da tarde por uma regi o de carrasco divisa do Estado d
114. edag gico coletivo para a disciplina Antropologia e Educac o junto Profa Dra Maria da Conceig o de Almeida Xavier respons vel pela referida disciplina atividade essa tamb m contemplada durante o est gio doc ncia assistida desenvolvido pela pesquisadora Durante as aulas expositivas fizemos uma reflex o coletiva sobre a tem tica Literatura e Cultura Iracema de Jos de Alencar abordando as interfaces entre ci ncia e literatura a import ncia da escrita e da leitura e repensando a pr tica pedag gica Para nortear as apresenta es dos alunos um resumo e os cap tulos da obra foram distribu dos aleatoriamente entre os grupos os quais utilizaram a criatividade para expor a partir das suas leituras suas ideias reflex es percep es As viagens de campo foram realizadas com roteiros e mapas previamente preparados contudo sem utiliz los rigidamente parafraseando um trecho de Alencar o caminho faz se na ocasi o da marcha atrav s da floresta ou do campo e em certa dire o aquele que o tem e o d realmente senhor do caminho ALENCAR 1956 p 127 Com destino a cidade de Fortaleza setembro de 2010 percorremos museus bibliotecas centros culturais a casa de Jos de Alencar e para outras regi es do estado do Cear abril de 2011 com a finalidade de percorrer as trilhas da personagem Iracema a partir da elabora o do roteiro guiado por um mapa geogr fico imagin rio da obra liter ria Durante as
115. eito qualquer conceito uma fic o N o existe enquanto coisa mas existe enquanto condi o sine qua non para se lidar com as coisas Logo uma fic o necess ria o que nos remete pr pria literatura que produz fic es absolutamente necess rias para n s em particular e para a sociedade como um todo A literatura como conjunto assumido de fic es pode ser reconhecida como fic o dela mesma BERNARDO 1999 p 140 Essa concep o do conceito como operadores cognitivos do pensamento por excel ncia da cultura cientifica foi exposta por Gilles Deleuze de maneira exemplar irretoc vel O fil sofo franc s um fil sofo da rela o sendo o conhecimento a rela o entre o pensamento e a intui o H dois tipos de no es cientificas H no es exatas por natureza quantitativas equacionais e que n o tem sentido sen o por sua exatid o estas um fil sofo ou um escritor s pode utiliz las por met fora o que muito ruim porque elas pertencem ci ncia exata Mas h tamb m no es fundamentalmente inexatas e no entanto absolutamente rigorosas das quais os cientistas n o podem prescindir e que pertencem ao mesmo tempo aos cientistas aos fil sofos e aos artistas Trata se de dar lhes um rigor que n o diretamente cientifico e quando um cientista chega a esse rigor ele tamb m filosofo ou artista DELEUZE 1992 p 42 Timothy Reiss em The meaning of literature New York Corne
116. ela es do homem com a natureza permeadas de mitos rituais e magia pois se trata de rela es divinas A constante da lenda o tra o religioso Exige igualmente uma a o um desenrolar um plano l gico no utilitarismo tribal N o h quase lendas in teis e desinteressadas Todas deram alguma cousa material ou abstrata CASCUDO 1978 p 99 Para cada fen meno natural h nas lendas um deus uma entidade respons vel e organizadora da vida no planeta o deus do sol do mar da Terra dos ventos das chuvas dos rios das pedras das planta es dos raios e trov es etc Iracema ela que guarda o segredo da jurema e o mist rio do sonho Sua m o fabrica para o Paj a bebida de Tup A virgem de Tup guarda os sonhos da jurema que s o doces e saborosos Vem Iracema com a iga aba cheia do verde licor Araqu m decreta os sonhos a cada guerreiro e distribui o vinho da jurema que transporta ao c u o valente tabajara ALENCAR 1956 p 16 e 56 Como descreve a poetisa Cec lia Meireles relacionando Iracema como a Dona dos Sonhos assim tamb m como as mulheres esp ritos descritas por Eliade 1976 p 81 de esposas celestes dos xam s no son ellas las que consagran propriamente hablando al chaman pero le ayudan bien en su instrucci n bien durante su experi ncia ext tica Bachelard 1990b p 207 reflete o vegetal guarda fielmente as lembran as dos devaneios ditosos assi
117. em como a biografia de Jos de Alencar para os alunos conhecerem um pouco da sua hist ria de vida Tamb m foi exposto um banner sobre Iracema bot nica literatura Ap ndice B Esses dados permitiram situar o livro no contexto que foi produzido e consequentemente ampliar a compreens o deste contexto com reflex es durante a aula sobre alguns questionamentos Por que se discute isso Que implica es a discuss o tem A que outra discuss o ela pode nos remeter poss vel relacionar esse assunto com outros A seguir foram desenvolvidas algumas estrat gias foi solicitado aos alunos que formassem grupos as escolhas foram livres formaram um total de 10 grupos com tr s a cinco componentes de acordo com suas afinidades posteriormente distribuimos aleatoriamente para cada grupo tr s a quatro cap tulos distintos do referido livro Com isso al m dos cap tulos distribuimos tamb m um resumo do livro a fim de explorarem as caracter sticas das narrativas familiarizando com as ideias a hist ria os personagens para tanto estimulamos os alunos a pensarem as particularidades a es falas elementos personagens orientamos a sublinharem as palavras desconhecidas enfim explorarem a leitura de forma interpretativa informativa contextualizada expondo e interagindo suas ideias diante dos colegas Com esse exerc cio propomos para cada grupo que desenvolvesse para a pr xima aula uma apresenta o coletiva um espa o para amplia
118. empre se complementam N o mais poss vel que o s culo XXI mantenha a separa o entre a cultura cient fica e a cultura das humanidades CARVALHO 2009 p 68 Neste contexto o escritor portugu s Eduardo Prado Coelho tamb m questiona se seria poss vel manter no discurso cient fico a abertura para o indiz vel e para o indec divel sem passar pela literatura Reconhecer a necessidade de pontes entre as duas culturas propagadas por Snow implica em quebrar a flecha a maneira simb lica de estabelece a paz entre as diversas tribos ou mesmo entre dois guerreiros inimigos ALENCAR 1956 p 110 117 QUADRO 2 Composi o da Avifauna segundo o romance Iracema 1956 Nome Cient fico Nome Popular Herpetotheres cachinmans Linnaeus 1758 Falconidae Eupetomena macroura Gmelin 1788 Trochilidae Paroaria dominicana Linnaeus 1758 Thraupidae Eudocimus ruber Linnaeus 1758 Threskiornithidae Ardea Alba Linnaeus 1758 Ardeidae Larus dominicanus Rafinesque 1815 Laridae Buteo magnirostris Gmelin 1788 Accipitridae Anhima cornuta Linnaeus 1766 Anhimidae Jacana jacana Linnaeus 1766 Jacanidae Penelope ochrogaster Merrem 1786 Cracidae Aratinga jandaya Gmelin 1788 Psittacidae Leptotila verreauxi Bonaparte 1855 Columbidae Crypturellus parvirostris Wagler 1827 Tinamidae Carina moschata Linnaeus 1758 Anatidae Streptopelia turtur Linnaeus 1758 Co
119. enzala 16 Joaquim Manuel de Macedo inaugurou o g nero no Brasil estudante de medicina aos 24 anos publicou o romance A Moreninha No artigo O primeiro cronista do Rio publicado na Folha de S Paulo 05 fev 2011 Marco Rodrigo Almeida relata que a hist ria de amor de Carolina e Augusto considerada o primeiro best seller brasileiro 63 Boyd 2012 descreve algumas aproxima es entre as obras de Machado de Assis e o escritor russo Vladimir Nabokov Ressalta que ambos s o capazes de retratar vividamente as defici ncias humanas a transitoriedade da vida humana e a pequenez do nosso mundo em uma perspectiva al m da que nossa imagina o humana pode prontamente adotar BOYD 2012 p 3 Neste contexto conv m mencionar Os parceiros do Rio Bonito um livro do escritor soci logo e cr tico liter rio Antonio Candido fruto da sua tese de doutorado em Ci ncias Sociais pela Universidade de S o Paulo cujo intuito principal foi analisar as rela es entre a literatura e a sociedade uma vez que a ideia surgiu de uma pesquisa sobre a poesia popular manifestada pelo Caruru dan a cantada do caipira paulista A pesquisa foi realizada em 1948 e 1954 na cidade de Bofete interior de S o Paulo denominada de antiga Samambaia e Rio Bonito limite com a cidade de Botucatu SP Querendo conhecer os aspectos b sicos necess rios para compreend lo cheguei aos problemas econ micos e tomei como ponto de apoio o problema elementar da su
120. er associa es de ideias uma tima estrat gia para construir um racioc nio portando como caracter sticas apreci veis originalidade e criatividade Como o pensamento n o surge pronto e organizado as atividades foram planejadas como parte integrante do est gio doc ncia assistida da pesquisadora junto respons vel pela disciplina Profa Dra Maria da Concei o X de Almeida para serem desenvolvidas em dois dias durante o 2 semestre de 2010 com aula expositiva intitulada Literatura e Cultura Brasileira Jos de Alencar Iracema com dura o de 4 horas junto turma composta por 39 alunos da disciplina de Antropologia e Educa o do 1 ano do Curso de Gradua o em Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte ingressantes do 2 semestre de 2010 n o poder amos deixar de registrar a colabora o do estudante de p s gradua o Thiago N brega de Lucena durante todas as atividades da referida disciplina bem como dos pr stimos da colega Louize G Silva de Souza A aula expositiva preparada previamente abordou sobre a escrita e a leitura as duas culturas cient fica e liter ria o despertar para o gosto da leitura bem como a import ncia da leitura contextualizada n o reduzindo textos liter rios mera condi o documental mas articulando outros saberes 121 Foi apresentado o livro Iracema os objetivos do livro a data da obra as poss veis articula es com alguns campos cient ficos b
121. es 2000 CESARINO Pedro Niemeyer Os poetas Folha de S Paulo S o Paulo 18 jan 2009 Mais p 6 7 CIURANA Em lio Roger Sobre filosof a literatura y transdiciplinariedad Conferencia dictada en el marco del ciclo Recursos y procedimientos did cticos en la clase de filosof a Nuevos retos educativos Curso Provincial CFIE Valladolid Facultad de Filosofia y Letras UVa Sal n de Grados 13 nov 2003 Dispon vel em lt http www edgarmorin org br textos_down php ag agenda cp 25 gt Acesso em 15 out 2012 COELHO Nelly Novaes tica da complexidade a articula o dos saberes Dispon vel em lt http www edgarmorin org br textos down php gt Acesso em 13 jan 2012 COLI Jorge O bom selvagem 2 Folha de S Paulo S o Paulo 03 jan 2010 Mais p 2 COUTINHO Afr nio Introdu o literatura no Brasil 14 ed Rio de Janeiro Bertrand 1988 COUTO Mia E se Obama fosse africano E outras interinven es S o Paulo Companhia das Letras 2011 COZER Raquel Bibliotecas l e aqui Folha de S Paulo S o Paulo 07 abr 2012 Ilustrada p 6 173 DELEUZE Gilles Conversa es Rio de Janeiro Ed 34 1992 DELLA MONICA Laura Manual do folclore 3 ed S o Paulo Ed Global 1989 DI STASI Luis Claudio Plantas Medicinais Arte e Ci ncia Um guia de estudo interdisciplinar S o Paulo UNESP 2006 DIXON Peter Rhetoric London Methuen 1971 EAGLETON Terry A ideia de cultura
122. es Tr picos surgiu quinze anos depois ap s o abandono do romance entretanto o referido livro recebeu o nome at ent o considerado como um dos poss veis nomes do romance caso o tivesse conclu do assim como as palavras das p ginas iniciais do romance que se encontram em Tristes Tr picos ou seja as palavras que descrevem o p r do sol que o autor tinha observado a bordo do navio Mendoza que o levou pela primeira vez ao Brasil Sabe se que Tristes Tr picos n o um livro de ficg o mas apresenta no conjunto das obras do autor uma abertura para redefini o das fronteiras e as fun es intelectuais da fic o da etnologia da antropologia A prosa do mundo de L vi Strauss se densa de musicalidade como ele prop e nas Mitol gicas igualmente pl stica imag tica A intimidade com a pintura vivida desde a inf ncia vai contaminar seu olhar com a natureza e sobre a realidade em geral passa em revista diversas formas de manifesta es art sticas Afinal para ele as faculdades intelectuais necess rias para a produ o da ci ncia est o presentes tanto na fabrica o da arte quanto na da magia WERNEK 2008 p 324 325 O escritor mexicano ganhador do Pr mio Cervantes em 1987 Carlos Fuentes que deixou uma produ o inesgot vel e contundente como o volume de contos Los D as Enmascarados 1954 e o romance La Regi n M s Transparente 1958 al m de obras de teatro ou ensaios apontado pela cr tica com
123. es entre ci ncia e literatura com outras perspectivas de olhares voltados compreens o dos homens que elas encerram ou seja ofertando outras possibilidades de compreens o de si do outro e da natureza por poss veis vias de aproxima o da realidade uma vez que as artes assim como a literatura n o tem obriga o de explicar nada n o um discurso l gico e nesse sentido n o explica nada por conceitos ela nos traz questionamentos e a compreens o de certos aspectos do mundo Na brecha dessa limita o da ci ncia como linguagem universal outras formas de narrativas de di logo com o mundo desempenham o papel de reordenadores dos sentidos das coisas do mundo dos homens Raz o e imagina o mito e ci ncia come am agora a conversar por meio de narrativas h bridas e de pensadores err ticos ALMEIDA 2009 p 61 62 Essa pesquisa est inscrita na rea de Din micas Sociais Pr ticas Culturais e Representa es Programa de P s Gradua o da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN e tem como finalidade discutir as poss veis aproxima es entre ci ncia e literatura Segundo Batuman 2011 p 5 h coisas sobre a condi o humana que s podemos aprender por meio de um estudo sistem tico da literatura Com pondera o Morin salienta que o estudo da condi o humana n o depende apenas do ponto de vista das ci ncias humanas mas tamb m das descri es liter rias bem como das ci ncias n
124. esultante da forte influ ncia cultural dos ind genas das tradi es africanas e da cultura europ ia trazida pelos colonizadores ALMEIDA apud AZEVEDO KRUEL 2007 Neste aspecto outra contribui o importante conforme visto anteriormente s o os estudos de L vi Strauss este considerado como um dos iniciadores da rea da Etnobiologia L vi Strauss 1976 p 29 defende a ideia de que as esp cies animais e vegetais s o classificadas teis e interessantes porque s o primeiramente conhecidas Al m disso acredita que os conhecimentos t o detalhados de tantas culturas n o se devem s a utilidade pr tica mas tamb m para quest es de sobreviv ncia Strauss faz a conex o entre a arte e o primitivo dando lhe uma caracter stica de rea reservada que continua presente nos dias atuais conhecem se ainda zonas em que o pensamento selvagem como algumas esp cies selvagens encontra se relativamente protegido o caso da arte qual nossa civiliza o concede status de um parque nacional com todas as vantagens e inconvenientes que se vinculam a uma f rmula t o artificial ibidem p 252 Em suma os estudos sobre plantas est o inseridos em contextos complexos engloba v rios campos de saberes tais como biol gicos medicina farm cia etc que v o de muitas formas mold los de modo que muitas peculiaridades n o podem ser entendidas se n o levar em considera o fatores sociais e culturais Neste contexto
125. eto das mais variadas significa es fundindo texto e contexto interrogando suas fronteiras Pois por mais que o romance se fundamente em alguns fatos hist ricos personagens reais fauna e flora da regi o conferindo certa autenticidade obra seu discurso regido pela po tica se remodelando como uma narrativa de di logo f rtil que sabe algo das coisas da hist ria da geografia da m sica da biologia da astronomia das cores dos aromas da condi o da vida em que os limites da imagina o s o mais amplos que permitidos a um nico campo de conhecimento vai al m muito al m daquela serra que ainda azula no horizonte parafraseando Alencar Dessa forma a obra imaginada por Alencar a lenda do Cear a senhora dos sonhos a virgem dos l bios de mel o bosque sagrado a jandaia amiga passa sobre a terra instigando di logos que ora se aproximam e ora se distanciam dos saberes cient ficos fundem se e refundem se elementos antigos e introduzem se novos para perpetuar revestindo se de um g nero narrativo h brido 168 BIBLIOGRAFIA ABREU M rcia Diferentes formas de ler In XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE CI NCIAS DA COMUNICA O A m dia impressa o livro e o desafio das novas tecnologias 2001 Campo Grande Anais Campo Grande 2001 p 33 ADORNO Theodor W Notas de literatura I 34 ed S o Paulo Cole o Esp rito Cr tico Duas Cidades 2003 ALENCAR Jos de Iracema a lenda do Cea
126. eza CE Havia uma formosa lagoa no meio de verde campina Para l volvia a selvagem o ligeiro passo Era a hora do banho da manh atirava se na gua e nadava com as gar as brancas e as vermelhas ja an s Os guerreiros pitiguaras chamavam essa lagoa de Porangaba ou lagoa da beleza porque nela se banhava Iracema a mais bela filha da ra a Tup E desde esse tempo as m es vinham de longe mergulhar suas filhas nas guas de Porangaba que tinha a virtude de dar formosura s virgens e faze las amadas pelos guerreiros ALENCAR 1956 p 77 Descemos a Serra de Maranguape a viagem segue para a Lagoa da Parangaba situada no sudoeste de Fortaleza antigamente havia abrigava uma aldeia ind gena A lagoa uma das maiores em volume de gua da capital cearense estimado em 1 190 milh es de m3 de gua No romance est descrita como Porangaba significa beleza uma lagoa distante da cidade uma l gua em s tio apraz vel Hoje a chamam Arronches em suas margens est a decantes povoa o do mesmo nome ibidem p 119 No entorno da lagoa observamos a presen a de palmeiras bananeiras e manivas macaxeras mandiocas Iracema usava as flores da maniva para fazer colar e enfeitar a cintura como s mbolo de fecundidade FIGURAS 106 e 107 Lagoa da Parangaba e vegeta o do entorno Fortaleza CE Fotos ACPOliveira 4 Fonte Dispon vel em lt http www oktiva net oktiva net 1364 nota 61873 gt Acesso em 12 mar 2011
127. fraseando Jos de Alencar Aqu le que atravessar os verdes mares bravios do Nordeste encontrar singrando entre as ondas um barco muito curioso ibidem p 172 1 Maria de Lourdes M Matencio discute e reflete sobre princ pios gerais de trabalhos recentes acerca do letramento e suas abordagens em cursos de forma o de professores Estudo do letramento e forma o dos professores retomadas deslocamento e impactos Rev Caleidosc pio Caxias do Sul Unisinos Vol 7 n 1 p 5 10 jan abr 2009 2 Cf ROGER Chartier Leitura uma cole o indefinida de experi ncias irredut veis umas s outras Dispon vel em lt http www apagina pt aba 7 amp cat 136 amp doc 10225 amp mid 2 gt Acesso em 21 abr 2011 68 Operag o pela qual se faz surgir um sentido num texto no decurso de um certo tipo de abordagem com a ajuda de um certo n mero de conceitos toda leitura da narrativa reveste se de alguma particularidade Designadamente quando opera sobre textos ficcionais Essa particularidade deve se tamb m s circunst ncias psicol gicas e socioculturais que usualmente envolvem a leitura da fic o narrativa esta solicita a suspens o volunt ria da descren a REIS LOPES 1988 p 54 55 Por m segundo os autores esta suspens o da descren a n o significa que um texto liter rio seja lido na esfera da pura alienag o mas se tal leitura da ficg o existe tamb m porque o leitor ca
128. ga o entre literatura e realidade social a dimens o po tica da exist ncia humana uma vez que o escritor enquanto ser hist rico n o se desvincula de seu tempo e de seus semelhantes escrevendo sobre a realidade da qual faz parte nesse plano que enfatiza o fil sofo franc s Gaston Bachelard A imagina o n o um estado a pr pria exist ncia humana Evidentemente quando um poeta nos confia uma realidade positiva a lembran as das horas passadas nas folhagens mister l lo no imagin rio BACHELARD 1990b p 218 Alencar ao escrever Iracema quis torn la tamb m a express o do seu nacionalismo liter rio pois a Academia em S o Paulo alimentava certa vontade de contribuir cria o de uma literatura nacional al m disso o cen rio de Iracema assim como no cen rio de Chaplin estava vinculado ao seu mundo interior o tempo da sua inf ncia cearense e de suas andan as experi ncias observa es e imagina es A contribui o de Alencar para a liberdade da literatura brasileira se daria por meio da cria o uma nova express o a autoexpress o nacional que at ent o estava atrelada l ngua portuguesa cujo reconhecimento julgava indispens vel para a nacionalidade da literatura Afirmava que somente a l ngua ind gena poderia transmitir n o s o verdadeiro estilo como as imagens po ticas do selvagem os modos de pensamento as tend ncias de seu esp rito e at as menores
129. geiro poder partir com o sol que vem nascendo ibidem p 29 A lua das flores vai nascer tempo da festa em que os guerreiros tabajaras passam a noite no bosque sagrado e recebem do Paj os sonhos alegres ibidem p 50 A lua cresceu Tr s s is havia que Martim e Iracema estavam nas terras dos pitiguaras Os viajantes tiveram em Mocoripe tr s s is ibidem p 66 e 70 Quando suas estrelas eram muitas e tantas que seu camucim j n o cabia as castanhas que marcavam o n mero o corpo vergou para a terra ibidem p 73 Quatro luas tinham alumiado o c u depois que Iracema deixar os campos do Ipu e tr s depois que ela habitava nas praias do mar a cabana de seu esposo Oito luas havia que ele deixara as praias de Jacarecanga ibidem p 76 e 101 A alegria ainda morou na cabana todo o tempo que as espigas de milho levaram a amarelecer Teu irm o parte para te fazer a vontade mas ela voltar todas as vezes que o cajueiro florescer O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Cear levando no fr gil barco o filho e o c o fiel ibidem p 81 99 e 104 Fazer dialogar os fragmentos de astronomia geograficidade e historicidade do romancista e a astronomia dos astrof sicos geograficidade do ge grafo a historicidade do historiador Pode ser assim um exerc cio dos mais estimulantes para a reflex o em geografia e hist ria Uma troca de experi ncia de espa o tempo da
130. gem e linguagem dos gestos usos e costumes supersti es e crendices literatura em prosa e literatura em verso trabalhos e atividades extrativistas ca a e pesca agricultura pecu ria e avicultura transporte religi o festas e jogos teatro dan as arte e artesanato m quinas e ferramentas e medicina SAVASTANO DI STASI 2006 p 40 Segundo Abreu 2001 p 33 quer consideremos as maneiras de ler praticadas ao longo do tempo quer tornemos as rela es com o escrito mantidas por distintos grupos culturais a leitura presidida pelo signo da diversidade Como sugest o pode se vislumbrar essa diversidade a partir dos tr s n veis de leitura do mundo conforme descreve Almeida 2007 existem tr s n veis de leitura do mundo a o primeiro n vel operado por sistemas vivos com plantas microorganismos e insetos Em Iracema estes sistemas vivos operam atrav s da flora fauna por exemplos mam feros cachorro aves galo jandaia gar a insetos abelhas b o segundo n vel operado pelas popula es tradicionais dos saberes tradicionais No romance o segundo n vel opera atrav s das comunidades ind genas tabajaras e potiguaras c o terceiro n vel o do conhecimento cient fico Este se vislumbra atrav s do autor a partir das pesquisas e fontes que nortearam a escrita do romance poss vel perguntar h uma articula o entre os tr s n veis por meio de uma escala de afastamento maior em rel
131. geralmente que possa existir um conhecimento ou consci ncia intuitivo o qual t o v lido e seguro quanto o outro CAPRA 1982 p 36 37 Neste contexto Morin 1998 p 35 afirma que em qualquer que seja a cultura o ser humano produz duas linguagens a partir da sua l ngua uma racional emp rica pr tica t cnica outra simb lica m tica m gica Entretanto pensar de outro modo como de forma complexa implica reconhecer que essas duas linguagens n o s o incomunic veis Motta e Ciurana 2002 p 171 tamb m ressaltam que a cultura complexa e produz n o somente objetos ideias institui es conhecimentos mitos mas modos de a o Por tr s das a es e posicionamentos no mundo operam um ou v rios paradigmas que exigem que se pense atuar de um modo ou de outro O poeta Alc ntara Machado dizia que a cultura a alian a com o passado para dar sentido ao presente Por isso ela transforma o sonho em realidade e a decep o num est mulo Machado relembrava a exist ncia de mais de trezentas defini es de cultura mas todas espelhando a express o vital de uma coletividade MOTA FILHO 1975 p 27 De fato a palavra cultura possui muitas acep es Morin 1998 utiliza o termo cultura ilustrada relacionando literatura como um campo da cultura ilustrada assegurando sua criatividade Al m de ressaltar os tr s tipos de cultura humanista cient fica e de massa na qual a realidade
132. ha de S Paulo S o Paulo 27 jan 2012 Ilustr ssima p 10 180 TAHAN Malba Matem tica divertida e delirante 3 ed S o Paulo Saraiva 1967 TRAGTENBERG Maur cio A import ncia da literatura para o homem de cultura universit ria qualquer que seja sua especializa o Dispon vel em lt http www espacoacademico com br 007 07trag literatura htm gt Acesso em 13 jun 2011 V SQUES Adolfo Sanchez O que literatura In Apostila de Literatura Brasileira Curitiba Universidade Tecnol gica Federal do Paran Minist rio da Educa o 2010 p 5 VEGA Alfredo Pena STROH Paula Viver compreender amar di logo com Edgar Morin In VEGA Alfredo Pena NASCIMENTO Elimar Pinheiro de Orgs O pensar complexo Edgar Morin e a crise da modernidade Rio de Janeiro Garamond 1999 p 179 198 VIANA FILHO Lu s A vida de Jos de Alencar 2 ed S o Paulo Jos Olympio 1979 VIERNE Simone Liga es tempestuosas a ci ncia e a literatura In BESSIS Henriette et al A ci ncia e o imagin rio Bras lia Editora Universidade de Bras lia 1994 p 79 95 VOGT Carlos A espiral da cultura cient fica Dispon vel em lt http www comciencia br reportagens cultura cultura01 shtml gt Acesso em 20 mai 2010 VON MARTIUS Karl F P Doen as medicina e rem dios dos ndios brasileiros 2 ed S o Paulo Nacional 1979 WAIZBORT Leopoldo Os desafios da sociologia Folha S Paulo S o Paulo 11 mar 200
133. himbo o marac e a jurema A jurema pertence ao imagin rio ind gena sendo uma rvore sagrada considerada como guardi das for as m gicas El Catimb hasta la d cada de los cincuenta se puede considerar el heredero m s leg timo de la brujer a ib rica en Brasil En su uso popular fundamentalmente en los estados brasileiros de Pernambuco Para ba Rio Grande do Norte y Alagoas BRAND O 2004 p 62 Brand o ibidem p 64 ressalta que o escritor M rio de Andrade durante suas viagens pelo nordeste nos anos de 1928 e 1929 escreveu M sica de Feiti aria no Brasil aonde caminham juntas a m sica dos rituais e as cerim nias do Catimb a m sica e a feiti aria ilustrando tamb m a import ncia da jurema no Catimb Eu sou caboclinho Eu s visto pena Eu s vim em terra Para beber jurema O Catimb uma mescla de religi o e medicina popular conhecedora dos usos curativos pelas plantas sendo evidente a presen a da sabedoria ind gena baseada no amplo conhecimento das propriedades da flora Para maiores informa es configuram se as ricas pesquisas realizadas pelo professor e antrop logo Luiz Carvalho de Assun o sobre a cartografia da jurema nordestina tais como O reino dos mestres A tradi o da jurema na umbanda nordestina Rio de Janeiro Pallas 2006 91 No romance o preparo por Iracema e a distribui o do licor de jurema pelo Paj aos guerreiros da tribo revela como na antiguidade as r
134. i re as quais apresentam uma narrativa sobre a sociedade podendo tamb m ser identificadas como um discurso pr sociol gico da mesma maneira que cita Dom Quixote como um poss vel discurso pr etn logo pr antropol gico 13 O livro La ci ncia y el Quixote Barcelona Cr tica 2005 organizado por Jos Manuel Sanchez Ron apresenta em 16 cap tulos a geografia cosmologia cartografia dos caminhos tra ados por Don Quixote e Sancho as t cnicas espanholas da poca a respeito dos moinhos de vento a medicina entre outros 58 Conv m lembrar uma frase extra da do pensamento de Miguel de Cervantes O poeta pode contar ou cantar as coisas n o como foram mas como deviam ser e o historiador h de escrev las n o como deviam ser e sim como foram sem acrescentar ou tirar nada verdade O livro de L vi Strauss Tristes Tr picos um exemplo de que n o em sentido estrito um di rio de campo por m anuncia que d cadas mais tarde publicariam com fluidez os autores p s modernos n o um livro de viagens mas sim um livro sobre as viagens o que confirma o interesse de L vi Strauss sobre este tipo de produ o liter ria que depois teria para a p s modernidade um grande valor antropol gico BARRIO 2010 p 357 Ainda neste pensamento em entrevista L vi Strauss afirmou que come ou a escrever um romance ao voltar do Brasil e acabou abandonando o O livro Trist
135. ia capaz de resgatar a nossa profunda humanidade atrav s do modo de ler o mundo e escrever nele um outro mundo 51 O que me move a voca o divina da palavra que n o apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento Mas quem escreve quer dizer coisas que est o para al m da vida quotidiana a verdade que para mim n o existe conflito Pelo contr rio hoje n o sei como poderia ser escritor caso eu n o fosse bi logo E vice versa Nenhuma das atividades me basta O que me alimenta o di logo a intersec o entre os dois saberes O que me d prazer percorrer como um equilibrista essa linha de fronteira entre pensamento e sensibilidade entre intelig ncia e intui o entre poesia e saber cient fico COUTO 2011 p 16 e 58 H um relato de Boris Kuznetsov a respeito da influ ncia de Dostoi vski sobre Einstein que merece destaque aqui Repetidas vezes Einstein afirmou que devia mais a Dostoi vski do que a qualquer outro pensador PRIGOGINE 2009 p 92 Al m de Dostoi vski durante seus estudos acad micos tamb m apreciava temas relacionados aos desafios s autoridades como a pe a de S focles Ant gona o pico de Cervantes Dom Quixote a luta teimosa contra os moinhos de vento bem como interse o entre a ci ncia e filosofia Tratado da Natureza Humana David Hume tica Espinosa Ci ncia e hip tese Poincar Certa vez Einstein indagou se Snow conhecia o significado da palavra alem
136. icantes que constitui a obra BARTHES 1978 p 17 Esse tecido atrav s da imaginac o expressa certas dimens es privilegiadas novas formas de olhar interpretar cenas objetos sobre sentimentos cren as elementos estes que esbanjam nas p ginas de Iracema tecidos pelo artes o Alencar para aprimorar a obra a imagina o e suas matizes a lenda n o se reduz a um tema simb lico simples mas possui uma estrutura din mica que combina epis dios s o 33 cap tulos personagens ndios e estrangeiros fauna e flora 2 Maiores informa es sobre hist rias das culturas ind genas podem ser obtidas no blog de Daniel Munduruku http danielmunduruku blogspot com br p daniel munduruku html 74 Essas afirma es nos remetem ao pensamento do fil sofo franc s Paul Ricouer que diz que um texto sem leitor um n o texto quer dizer s pegadas negras em uma folha em branco Ricouer valoriza esse encontro que d exist ncia ao texto por meio de uma leitura isso implica n o uma leitura apressada mas minuciosa principalmente quando o texto repleto de simbologias No romance de Alencar notam se as simbologias representadas por animais como por plantas exemplos jurema urtiga flor do maracuj canto da jandaia da gaivota juripari entre outros criados num mundo complexo repleto de nuan as e significados conforme constam sobre a flora no Quadrol Morin exalta que a literatura tem certa superioridade sobre a hist ria e a
137. ication for the orders and families of flowering plants APG HI Botanical Journal of the Linnean Society London 161 2 p 105 121 2009 ARAUJO laperi A medicina popular 2 ed Natal Nossa editora 1985 ARIST TELES Arte ret rica e arte po tica S o Paulo Difus o europ ia do livro 1964 ASSIS Joaquim Maria Machado de Semana liter ria Di rio do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 3 jan 1866 p 2 3 ASSUN O Luiz Carvalho de O reino dos mestres A tradi o da jurema na umbanda nordestina Rio de Janeiro Pallas 2006 AVELINE Carlos Cardoso A vida secreta da natureza uma inicia o ecologia profunda Blumenau Ed da FURB 1999 AZEVEDO Veronica Maioli KRUEL Viviane Stern da Fonseca Plantas medicinais e ritual sticas vendidas em feiras livres no Munic pio do Rio de Janeiro RJ Brasil estudo de caso nas zonas Norte e Sul Acta Bot nica Brasilica S o Paulo v 21 n 2 abr jun p 263 275 2007 BACHELARD Gaston A terra e os devaneios do repouso ensaio sobre as imagens da intimidade S o Paulo Martins Fontes 1990a O ar e os sonhos ensaio sobre a imagina o do movimento S o Paulo Martins Fontes 1990b O direito de sonhar 4 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1994 BAKHTIN Mikhail Quest es de literatura e de est tica a teoria do romance S o Paulo Hucitec Annablume 2002 BALANDIER Georges O D dalo Rio de Janeiro Brutland 1999 BALICK Michael J COX Paul Ala
138. ido de defender seu amor quando amea ado por Irapu chefe dos guerreiros da sua tribo este sente ci mes e indigna o com o acolhimento dado ao estrangeiro a ndia ao defend lo se proclama ser mais forte que o chefe dos guerreiros e travado um combate esse amor custa lhe a vida A vis o de natureza apresentada atrav s da fus o Tracema Jurema Jandaia a terra n o colonizada a ndia virgem mata virgem al m do que a protagonista retrata o esp rito harmonioso da floresta expl cito em alguns fragmentos l bios de mel sorriso mais doce que o favo de jati cabelos mais longos que o talhe de palmeira e mais negros que a asa da gra na se banhava na sombra da oiticica os ramos da ac cia silvestre aspergiam flores sobre seus cabelos midos entre outros descritos no pr ximo cap tulo Em rela o ao elemento hist ria este se apresenta com foco na miscigena o brasileira fruto da coloniza o o filho que nasce da rela o entre Martim e Iracema nas batalhas entre as na es tabajaras e pitiguaras bem como entre franceses e portugueses resultando em lutas pela conquista de territ rios o in cio da catequiza o entre outros Al m desses tr s elementos ressaltamos tamb m o qu chama a aten o e fascina Calvino ao ler as p ginas de Guerra e Paz o homem com sua consci ncia de si da finitude de sua vida h a natureza como um s mbolo de vida ultraindividual que houve e haver depois de n s
139. im a forma o de especialistas torna mais dif cil explicar e resolver os problemas complexos porque a especializa o se fecha sobre si mesma sem permitir sua integra o na problem tica global ou na concep o do objeto do qual ela s considera um aspecto ou parte dela MORIN 2002c p 41 Nessa l gica Capra 1982 p 22 afirma Um sinal impressionante do nosso tempo o fato de as pessoas que se presumem serem especialistas em v rios campos j n o estarem capacitadas a lidar com os problemas urgentes que surgem em suas respectivas reas de especializa o A maior parte dos intelectuais e especialistas analisa os problemas de forma restrita e portanto inadequada uma vez que os problemas que atingem a humanidade s o sist micos estando assim ligados intimamente sendo portanto interdependentes Logo n o podem ser entendidos no mbito da metodologia fragmentada que est presente na maioria das institui es de ensino e pesquisa 49 Em decorr ncia do avan o do conhecimento e do desafio que a globalidade colocou para o s culo XX e XXI surgiu a teoria da complexidade e a transdisciplinaridade Seus conceitos contrap em se aos princ pios cartesianos de fragmenta o do conhecimento e dicotomia das dualidades sujeito objeto parte todo raz o objeto proveniente da vis o disseminada por Descartes que tudo resolvia na linguagem da ci ncia e prop e outra forma de pensar os problemas contempor neos
140. inas al m de outras in meras utilidades como a utiliza o de alguns vegetais para a mumifica o feita pelos eg pcios as guirlandas europeias as coroas de louros dos atletas nas pinturas as folhas de parreira no para so de Ad o e Eva bem como nas ilustra es de Baco deus do vinho entre outros Segundo Nepomuceno 2004 p 50 o chamado continente africano o fant stico ber o de muitas plantas e animais e dos primeiros homens onde deuses vivem nas folhagens pedras rvores guas e disfar ados de bichos Foram dos mestres de feiticeiros e xam s conhecedores dos segredos da mais humilde erva s mais frondosa rvore que surgiram as especiarias e as surpreendentes formas de uso Di Stasi 2006 e Reigota 1994 afirmam que no Brasil os estudos sobre plantas medicinais e sobre representa es socioambientais s o recentes em Iracema esses dois elementos est o presentes Os autores afirmam que foi a partir da d cada de 80 que estudantes e pesquisadores brasileiros passaram a se interessar por tais tem ticas O uso de plantas medicinais na terap utica muito antigo e est intimamente relacionado com a pr pria evolu o do homem Dados hist ricos revelam a sua utiliza o j pelo homem de Neanderthal que usava de suas propriedades m gico simb licas quando se deparava com algum tipo de malef cio 83 A utiliza o de plantas medicinais como alternativa terap utica no Brasil uma pr tica r
141. ios Folha de S Paulo S o Paulo 19 fev 2012 Ci ncia p 15 MISSOURI BOTANCIAL GARDEN Dispon vel em lt http www missouribotanicalgarden org gt Acesso em 14 jan 2012 MORAES PINTO Maria Cec lia A vida selvagem paralelo entre Chateaubriand e Alencar S o Paulo Annablume 1995 176 MOREIRA Ruy Pensar e ser em geografia S o Paulo Contexto 2007 MORETTI Franco A literatura vista de longe Porto Alegre Arquip lago 2008 MORI Scott Alan et al Manual de manejo do herb rio fanerog mico 2 ed Ilh us Centro de Pesquisa do Cacau 1989 MORIN Edgar Cultura de massas no s culo XX o esp rito do tempo 2 necrose Rio de Janeiro Forense Universit ria 1986 Sociolog a Madrid Tecnos 1995 Amor poesia e sabedoria Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1998 Notas para um Em lio contempor neo In VEGA Alfredo Pena ALMEIDA Cleide R S PETRAGLIA Izabel Orgs Edgar Morin tica cultura e educa o S o Paulo Cortez 2001 p 149 155 A cabe a bem feita repensar a reforma reformar o pensamento 7 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2002a Os desafios da complexidade In MORIN Edgar A religa o dos saberes o desafio do s culo XXI 2 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2002b Os setes saberes necess rios educa o do futuro 5 ed Bras lia Cortez 2002c X da quest o o sujeito flor da pele Edgar Morin Porto Alegre Artmed 2003 O m
142. iteratura As pranchas bot nicas consideradas ilustra es cient ficas foram baseadas em observa es in vivo evidenciando as partes das plantas conforme utilizadas pelas tribos ind genas do romance 93 QUADRO 1 Rela o das esp cies flor sticas e seus respectivos usos pelas tribos ind genas segundo o romance Iracema 1956 Nome Cient fico Nome Popular Uso Acacia sp Sm Willd Ac cia Fabaceae p 13 78 Anacardium occidentale L Cajueiro Anacardiaceae p 16 47 48 69 70 77 93 99 Ananas sp L Merril Abacaxi Anan s Bromeliaceae p 16 Bromelia karatas L Craut Croat Bromeliaceae Gravat p 13 Carapa guianensis Aubl Andiroba Meliceae p 75 Copernicia prunifera Mill Carna ba H E Moore Arecaceae Eugenia insipida St Hil Murta Myrtaceae p 103 Euterpe edulis Mart Palmeira ju ara Arecaceae p 13 Fridericia chica Bonpl Crajiru L G Lohmann p 78 79 Bignoceaceae Genipa americana L Jenipapo Rubiaceae p 80 Gossypium herbaceum L Algod o Malvaceae p 15 42 47 72 p 13 53 77 95 Tracema usa para enfeitar os cabelos e extrair perfume para o corpo e para rede Os frutos servem como alimentos Fabrica o de vinho para fortalecer guerreiros caium A rvore serve de esconderijo dos guerreiros potiguaras para n o espantar os inimigos Da sua flora o se situam no tempo calend rio ind gena As castanhas si
143. ium occidentale L ioniininninnininn Genipapo Genipa americana L Tucum Astrocaryum vulgare Mart Palmeira ju ara Euterpe edulis Mart Jurema Mimosa tenuiflora Willd Poir Mandioca Manihot acuminatissima M ll Arg Maracuj Passiflora edulis Sims Passiflora cincinnata Mast Munguba Pachira aquatica Aubl cooncicininninnnnininns Taioba Xanthosoma taioba E G Gonc Tabaco Nicotiana glauca Graham Urtiza Urtica ure s Lita cados Jandaia Aratinga jandaya Gmelin Sabi da mata Mimus saturninus Lichtenstein Gaivota Larus dominicanus Lichtenstein Gavi o anag Buteo magnirostris Gmelin 93 117 2 34 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 118 118 119 119 Figura 20 Figura 21 Figura 22 Figura 23 Figuras 24 e 25 Figuras 26 e 27 Figuras 28 e 29 Figura 30 Figuras 31 e 32 Figura 33 Figura 34 Figuras 35 e 36 Figura 37 Figuras 38 e 39 Figura 40 Figura 41 Figuras 42 e 43 Figura 44 Figura 45 Figura 46 Figura 47 Figura 48 Figura 49 Partitura musical A filha de Tup Rimas feitas a partir dos fragmentos dos cap tulos XXVII e XXXI do romance Iracema Entrada da casa de Jos de Alencar Fortaleza CB Placa
144. l e toda sua obra usa imagens preciosas para falar do pesquisador e das pesquisas ou seja para ele devemos atuar por vezes como Balzac descri o enciclop dia da realidade por vezes como Stendhal observar o detalhe significativo Conforme mencionado a literatura oferece alimento ci ncia para estudar a alma humana talvez a literatura tenha fundada a humanidade no sentido de fundar toda a inquieta o a loucura que permeia a mente mapeando o imagin rio promovendo uma grande compreens o do outro e de n s mesmos Essa inquieta o observamos no Pr logo de Iracema o autor descreve as lembran as das paisagens que nortearam o cen rio da sua inf ncia cearense A inspira o da p tria que volve a ela agora e sempre como volve de cont nuo o olhar do infante para o materno semblante que lhe sorri Receio sim que o livro seja recebido como estrangeiro e h spede na terra dos meus ALENCAR 1956 p 7 8 2 Entretanto Alencar se declara contra Pr logos em meu conceito eles fazem obra o mesmo que o p ssaro fruta antes de colhida roubam as prim cias do sabor liter rio Por isso me reservo para depois Na ltima p gina e encontrar de novo ent o conversaremos a gosto ALENCAR 1956 p 8 9 81 Para al m das vastas investiga es que o autor realizou podemos dizer que ele tamb m se utilizou de dois processos com sutileza o dram tico de Shakespeare o amor entre Iracema e Martim e o
145. ll University Press 1992 estabelece precisamente o ano de 1635 como o ano da inven o da literatura H portanto arte na ci ncia e ci ncia na arte Talvez por essa raz o Ilya Prigogine Pr mio Nobel da Qu mica de 1977 era chamado por seus pares de poeta da Termodin mica Prigogine questiona o conceito de ci ncia portadora de certezas salientando o rompimento do conceito de um discurso cientifico acabado primeiro e nico na sua evidencia absoluta Para o antrop logo franc s Claude L vi Strauss a arte se introduz a meio caminho entre o conhecimento cient fico e o pensamento m tico ou m gico pois todos sabem que o artista tem por sua vez algo do cientista e do bricoleur L VI STRAUSS 1976 p 43 A literatura vista enquanto conhecimento sobre o humano demonstra esse conhecimento por meio de obras liter rias medida que representa no plano da fic o o homem estabelecendo rela es com o outro em v rias dimens es social hist rica pol tica afetiva Por tanto uma obra liter ria pode ser vista como um produto socioest tico na medida em que se articula como um ser social o escritor que escreve sobre determinada realidade a partir de uma tica e uma escrita pessoal H uma c lebre frase de Victor Hugo que diz Escritores meditem muito e corrijam pouco Fazei as vossas rasuras no vosso pr prio c rebro O car ter realista das obras torna se um defeito quando por exemplo uma pintura se preo
146. lumbidae Mimus saturninus Lichtenstein 1823 Mimidae Ramphastos toco Statius Muller 1776 Ramphastidae Coragyps atratus Bechstein 1793 Cathartidae Acau p 17 Colibri Beija flor Beija flor tesoura p 81 Galo de Campina p 21 Guar p 13 Gar a branca p 43 64 67 74 76 77 Gaivota Atiati p 42 43 45 Gavi o anag Gavi o carij p 22 44 48 79 Inhuma Anhuma p 35 36 44 Ja ana vermelho p 76 Jacu p 69 Ar Jandaia verdadeira p 11 13 35 53 86 95 99 102 103 105 Juriti p 29 53 Nambu Inhambu choror p 22 46 Pato selvagem Pato do mato p 78 Rola Rola comum p 15 65 Sabi da mata Sabi do campo p 13 24 34 82 Tucamu u Tucano p 59 Urubu Urubu da cabe a preta p 67 118 FIGURA 16 Jandaia Aratinga jandaya A graciosa ar sua companheira e amiga brinca junto dela pousada no jirau fronteiro alonga para sua formosa senhora os verdes tristes olhos a gente tupi a chamava jandaia porque sempre alegre estrugia os campos com seu canto fremente A jandaia cantava ainda no olho do coqueiro mas n o repetia j o mavioso nome de Iracema ALENCAR 1956 p 13 35 e 105 ne FIGURA 17 Sabi da mata Mimus saturninus O sabi do sert o mavioso cantor da tarde escondido nas moitas espessas da ubaia soltava j os prel dios da suave endecha Quando a sabi canta o tem
147. lva livre e imensa profundamente abstrato como subst ncia do pensamento a dona maravilhosa do sonho MEIRELES apud VIANA FILHO 1979 p 135 136 Em rela o ao calend rio do tempo sabe se que algumas aldeias ind genas do Brasil possuem sua pr pria astronomia com diversas finalidades tais como prever mudan as no clima que interferem na ca a pesca e lavoura evocar esp ritos inscritos nas estrelas medir a passagem do tempo e contar as horas noite Um conhecimento que embora seja tradicional retratado j nas pinturas rupestres est amea ado de extin o devido forte assimila o cultural 79 A cronologia do tempo um artif cio bem engenhoso por parte de Alencar os ndios n o se valendo das conven es como horas minutos segundos dias esta es do ano indicam o tempo pelo dia e noite atrav s da lua sol estrelas ao canto de um p ssaro s esta es do ano relacionadas ao florescer de algumas esp cies entre outros elementos H tr s s is partimos para a ca a ALENCAR 1956 p 17 A estrela morta que ent o brilhava sobre a c pula da floresta guiou seus passos firmes para as frescas margens do rio das gar as Estrela morta A estrela polar por causa da sua imobilidade orientavam se por ela os selvagens durante a noite ibidem p 9 e 112 O galo da campina ergue a poupa escarlate fora do ninho Seu l mpido trinado anuncia a aproxima o do dia ibidem p 21 O estran
148. m 24 jun 2010 90 No per odo de 1959 a 1961 ocorreu uma expedi o cient fica pelo Cear chefiada pelo bot nico Freire Alem o a seu pedido um antigo morador senhor Ant nio Marques Assun o escreve um manuscrito in dito Termo de Vi osa a partir das suas observa es feitas durante os rituais ind genas bem como a dedica o destes na fabrica o de uma bebida utilizada nos rituais e conhecida como o vinho da mandioca cauim Estes rituais ocorreram em Vila Vi osa Real Cear local que inspirou Alencar em descrev lo como um dos locais percorridos pelos personagens da obra Iracema Para melhor elabora o do manuscrito o senhor Assun o utilizou como referencial te rico a Se o Etnogr fica e narrativa de viagem documento resultante da Comiss o Cient fica de Explora o do norte do pa s cujo dirigente era Gon alves Dias considerado um dos mais importantes romancistas da literatura brasileira exercendo a fun o dentre os ndios inclusive de etn logo relatando em suas obras fatos hist ricos e a vida dos ndios apresentado os como o bom selvagem MAIA 2010 No universo m gico do Catimb do nordeste do Brasil h mestres caboclos e pretos velhos caboclas denominadas de Iracema Tupi Jurema Jussara entre outras Durante o ritual como ocorre atualmente em Alhandra Para ba conhecida como a cidade m e da Jurema alguns dos seus elementos est o presentes em Iracema tais como o cac
149. m algumas cenas o erotismo H tamb m alguns elementos que destoam do romance como as franjas da rede feitas de linhas tran adas as grandes flores nos cabelos da ndia Em 1981 foi lan ado o filme Iracema uma transa amaz nica drama documental dirigido por Jorge Bodanzky e Orlando Senna ganhador de v rios pr mios tais como Prix George Sadoul Paris Adolf Grimme Preis Alemanha e Encomio Taormina It lia O filme foi produzido em 1976 mas foi censurado devido a tem tica que trata do impacto nas popula es da floresta Amaz nica causado pela constru o da rodovia Transamaz nica obra essa que se iniciou na poca do regime militar A atriz que representa Iracema Edna de C ssia exibe os cabelos pretos lisos longos como a ndia de Alencar alguns aspectos do filme podem ser interpretados com sutis semelhan as ao romance quando Iracema foge com Martim depois abandonada quando ele parte para guerrear e h momentos que Martim tamb m se entristece por ter saudades da sua p tria ao retornar a encontra sem sa de e desprovida de beleza Ainda no filme Iracema uma transa amaz nica o caminhoneiro que transporta madeira apelidado de Ti o Brasil Grande leva a bela Iracema que trabalha num prost bulo para suas viagens mas depois se cansa dela e a abandona ao se reencontrarem posteriormente ele est aparentemente melhor de vida e ela entregue mis ria Chartier 2001 p 94 exemplifica as com dias de Mol
150. m brotar das pedras a casa de barro e a curiosidade do pequeno morador e tamb m a nossa o menino Jos nos mostra a horta suspensa cultivada na frente da sua casa Um cen rio mesclado de vegeta o gua e maci os escarpados como o rio Munda beleza que nasce da serra Esse E 78 FIGURAS 78 e 79 Paisagens vistas da estrada de pedra rumo Uruburetama CE Fotos RCSartori FIGURAS 80 e 81 Casa de taipa na beira da estrada e horta suspensa Fotos RCSartori 152 Com o segundo sol chegaram s margens do rio que nasce na quebrada da serra e desce a plan cie enroscando se como uma cobra Suas voltas cont nuas enganam a cada passo o peregrino que vai seguindo o tortuoso curso por isso foi chamado de Munda ALENCAR 1956 p 67 68 82 FIGURA 82 Rio Munda CE Foto RCSartori Na outra margem do rio avistamos Uruburetama 19 765 habitantes IBGE 2010 regi o serrana a estrada circunda as montanhas conforme Figura 83 FIGURA 83 Uruburetama no p da serra Foto RCSartori 153 Na pra a da igreja matriz S o Jo o Batista as pessoas proseavam tranquilamente h uma lenda que conta que no passado uma praga assolou a cidade causando muitas mortes o cemit rio n o foi suficiente para abrigar os corpos os quais acabaram sendo enterrados em valas espalhadas pela cidade Ao redor da pra a estava estacionado o caminh o identificado como transporte escolar 86
151. m ocorre quando o Paj os demais ndios degustam o vinho feito de um vegetal espinhento e s o transportados para o mundo dos sonhos As belas mat rias o mel vinho etc acumulam devaneios que se coordenam t o naturalmente que poss vel descobrir se neles leis de sonho princ pios da vida on rica BACHELARD 1990a p 249 Sabe se que o vinho h s culos se configura pela hist ria da humanidade com m ltiplas representa es simb licas da mitologia religi o e outros campos Para al m da mitologia romana na figura de Baco h um mito asteca sobre a origem do vinho aonde os deuses conversam entre si sobre uma maneira de encontrar algo que fizesse os homens alegres do contr rio esses seriam sempre tristes o deus do vento chamado Quetzalc atl refletiu e encontrou a solu o no vinho o qual resolveu dar de presente aos homens no intuito de alegr los KRICKEBERG apud CANDIDO 1991 92 Em sua obra Tereza de vila considerada uma das maiores poetisas da Espanha tece no s culo XVI coment rios sobre o livro C ntico dos C nticos retoma as rela es metaf ricas entre vinho mel e corpo bebida justificando essas rela es como a inebria o divina da alma a embriaguez com e por Deus MAZZONI 2009 Tamb m outro fato interessante de se notar sobre a fuma a Para Araujo 1985 foram os ndios que nos transmitiram os preceitos religiosos e m gicos da cura pela defuma o utilizando se de ca
152. material fotogr fico e de filmagem como um mosaico envolvendo um trabalho em equipe O roteiro da viagem os tra ados das estradas trilhas serras rios baseado no enredo e cen rio do romance seguiu a trajet ria espec fica da protagonista Iracema uma vez que h outras trajet rias como a de Martim Caubi entre outros personagens O cen rio onde ela ora s ora com Martim Caubi Moacir o c o Japi a Jandaia se movem procuramos olhar s vezes com seus olhos caminhar pelos caminhos que ela trilha e habita transportando nos aos lugares conforme o escritor preparou para ela 133 A Figura 33 apresenta uma vis o panor mica do trajeto da viagem tamb m abrange as localidades indicadas no romance exceto S o Benedito Tiangu e Ubajara procurando articular pelo prisma do micro ao macro e vice versa breves relatos sobre as hist rias dos lugares dos seres vivos unindo fatos curiosos geogr ficos hist ricos ecol gicos re descobertas que se foram fazendo suscitando outras reflex es e significados ao longo das viagens C nion de imagem invertida encarrapitado alto sobre a montanha aguarda que novos homens atravessem hoje em dia usando outras l nguas e vestidos diferentemente da eremita de antigamente mas t o atentos quanto ela ao ru do de fundo do mundo que emana do sil ncio da grande sierra SERRES 1998 p 234 235 As cidades citadas acima n o s o mencionadas no romance entretanto foram inclu
153. mbolizam os anos de vida das pessoas e o n mero de estrelas do c u Fruto para alimento Fibras usadas para confec o de redes e tapetes Ungir o corpo dos mortos Das folhas tecem as esteiras e da madeira fabricam as portas tetos e paredes das cabanas As folhas representam a tristeza sendo usada sobre o jazido Os espinhos s o utilizados como agulhas para tecer as redes Extra o das sementes para obter a cor vermelha usada na pintura dos corpos e das flechas Fabrica o de vinho Das fibras se faz tecido carioba para cobrir o cauim e faixa para carregar junto ao corpo as crian as pequenas Cont QUADRO 1 94 Nome Cient fico Nome Popular Uso Manihot acuminatissima M ll Arg Euphorbiaceae Mauritia flexuosa L f Arecaceae Mimosa tenuiflora Willd Poir Fabaceae Nicotiana glauca Graham Solanaceae Pachira aquatica Aubl Bombacaceae Passiflora acuminata DC Passifloraceae Piptadenia macrocarpa Benth Fabaceae Styrax paralleloneurus Perkins Styracaceae Urtica urens L Urticaceae Xanthosoma taioba E G Gon Araceae Zea mays L Poaceae Aipim Mandioca p 77 80 Buriti Muriti p 13 33 77 86 Jurema p 18 24 53 Tabaco p 15 33 Munguba p 86 Maracuj p 77 85 99 Angico p 78 79 Benjoim Urtiga p 75 Taioba p 75 Milho Abati p 33 Fabricag o de vinho caium e farinha Das flores
154. mento novo embebido de inspira es locais procurando o nico em lugar do perene CANDIDO 2000 p 22 10 Leonardo Boff em Saber cuidar tica do humano compaix o pela terra 5 ed Petr polis Vozes 2000 descreve v rias representa es sobre a Terra cultivada como ser vivo 47 O abalo das certezas o futuro n o dado A experi ncia humana ensina os que as gera es antigas convivem com as novas que est o a surgir Assim se d com os paradigmas com as vis es de mundo A hist ria dos estudos liter rios do s culo XIX at os anos 70 mostraram como tais estudos assim como as ci ncias humanas passaram por uma euforia da cientificidade por influ ncia das ci ncias naturais biologia das ci ncias matem ticas quantitativas da l gica entre outros Ter sido esta necessidade uma prova de maturidade ou de imaturidade das ci ncias humanas Talvez de ambas pois todo o conhecimento precisa de rigor de objectividade mas talvez se tenha percebido que h rigores diferenciados O que importa sublinhar aqui que neste processo a pr pria no o de cientificidade cresceu amadureceu No s culo XX come a a surgir os abalos em algumas teorias principalmente no campo da F sica o risco de falibilidade dos enunciados cient ficos a interfer ncia do sujeito no ato da percep o do fen meno s o apenas alguns exemplos do quanto a ci ncia se viu for ada a rever sua estrutura l gico cient fica tornando a
155. mo fato nos m ltiplos discursos imbricados em um mesmo romance na consci ncia da simultaneidade e da diferen a interessante ressaltar que Morin tamb m observa no romance Guerra e Paz a transforma o dos seres que confrontam com o destino social ou hist rico levado pelas torrentes dos acontecimentos que nos podem nos tornar her is m rtires covardes carrascos no romance que percebemos que o Homo sapiens ao mesmo tempo indissoluvelmente Homo d mens MORIN 2002 p 49 Carvalho em A Natureza Recuperada 2009 apresenta uma percep o da natureza a partir de uma metodologia transdisciplinar Assim como Calvino e Morin no cerne das suas ideias tamb m se encontra a literatura bem como a m sica Com esse feitio Carvalho mostra nos que a literatura tem uma grande capacidade de nos remeter para uma vis o mais po tica da vida para o pensamento bom encarnado transparente n made poesia e literatura constroem imagens amplificadoras criam uma fant stica reserva de emo es abrem janelas para o mundo acionam n veis de realidade n o percebidos pela linguagem monoc rdica dos conceitos CARVALHO 2009 p 6 O romance brasileiro em especial o regionalista t o fundamental para uma an lise cr tico espacial do real quanto o a melhor literatura das ci ncias sociais descreve o espa o brasileiro como forma nacional de nossa hist ria tanto como Vidas secas ou Macuna ma quanto Casa grande e s
156. mpreens o In VEGA Alfredo Pena NASCIMENTO Elimar Pinheiro de Orgs O pensar complexo Edgar Morin e a crise da modernidade Rio de Janeiro Garamond 1999 p 89 106 RON Jos Manuel Sanchez La ci ncia y el Quixote Barcelona Cr tica 2005 ROSENFIELD Kathrin H L vi Strauss e o ardiloso bricolage dos poetas Reflex es sobre a cultura brasileira In BARRIO Angel Espina MOTTA Antonio GOMES M rio H lio Orgs Inova o cultural patrim nio e educa o Recife Funda o Joaquim Nabuco Massangana 2010 p 366 376 ROSNAY Joel de O macrosc pio para uma vis o global Porto Ed Estrat gias Criativas 2006 ROTHENBERRG Jerome Total translation an experiment in the presentation of american indian poetry In QUASHA George Ed Stony Brook 1969 p 3 4 Symposium of the whole a range of discourse toward an ethnopoetics Berkeley California University Press 1983 RYNGAERT Jean Pierre Introdu o an lise do teatro S o Paulo Martins Fontes 1996 SANT ANNA Afonso Romano de Livro primoroso rev trajet ria de Drummond Folha de S Paulo S o Paulo 04 ago 2012 Ilustrada p 6 179 SANTOS Marcel de Lima Xamanismo a palavra que cura S o Paulo Paulinas Belo Horizonte Editora PUCMinas 2007 SARTORI Renata C Literatura e plantas medicinais VII WORKSHOP DE PLANTAS MEDICINAIS DE BOTUCATU VIII 2008 Botucatu Anais Botucatu UNESP 2008 p 15 SAVASTANO M
157. mundo y la realidad Nos ofrecen diversos puntos de vista e infinitas conexiones De forma particular entre todas las formas de expresi n del arte la literatura es considerada la m s pr xima de la vida capaz de enlazar todas las dimensiones humanas emotiva racional m stica particular universal corporal historica m tica El objetivo de esta tesis es ofrecer algunas reflexiones sobre las fronteras y puentes entre ciencia y literatura para poder comprender la complejidad que las nortean Nos presenta una relectura del romance Iracema a lenda do Cear de Jos de Alencar a partir de una incursi n minuciosa reconstruyendo caminos atuales y los espacios naturales trabajados por Alencar Se esfuerza en escuchar los ecos de ese romance indianista en los j venes estudiantes universitarios de hoy en d a En un contexto m s amplio entrelaza argumentos problematizando las m ltiples conexiones que hibridan ciencia y literatura y que ponen en acci n una ciencia de la complejidad que la distingue pero no la separa de las diversas narrativas sobre el mundo Para tal la tesis tiene como interlocutores Antonio Candido Charles P Snow Edgar Morin Emilio Ciurana Fritjof Capra George Steiner Ilya Prigogine Isabelle Stengers Roger Chartier Roland Barthes El an lisis de las ideas aqu planteadas no reduce el romance a ciencia sino que lo sit a como una relectura del mundo de la vida ya que esta es la mat ria prima del libro Como es
158. n Plants people and culture The Science of Ethnobotany New York Scientific American Library 1996 170 BARO Carmelo Pinto Sociolog a visual estrategias audiovisuales en el an lisis cualitativo de la realidad social In BARRIO Angel Espina Ed Conocimiento local comunicaci n e interculturalidad Recife Massangana Instituto de Investigaciones Antropol gicas de Castilla y Le n 2006 p 81 90 BARTHES Roland Novos ensaios cr ticos O grau zero da escritura S o Paulo Cultrix 1978 BARRIO Angel Espina L vi Strauss o ltimo dos modernos e o primeiro dos p s modernos In BARRIO Angel Espina MOTTA Antonio GOMES M rio H lio Orgs Inova o cultural patrim nio e educa o Recife Funda o Joaquim Nabuco Massangana 2010 p 357 365 BATUMAN Elif Patologias cr ticas Proust foi mesmo um neurocientista Folha de S Paulo S o Paulo 30 jan 2011 Ilustr ssima p 5 BAUDRILLARD Jean Simulacros e simula es Lisboa Antropos 1981 BERNARDO Gustavo O conceito de literatura In JOBIM Jos Luis Org Introdu o aos termos liter rios Rio de Janeiro UERJ 1999 p 135 169 BOFF Leonardo Saber cuidar tica do humano compaix o pela terra 5 ed Petr polis Vozes 2000 BOHR Niels F sica at mica e conhecimento humano ensaios 1932 1957 2 ed Rio de Janeiro Contraponto 1995 BONET Mari A Estudi etnobot nic del Montseny Aspectes metodol gics Pon ncies Anuari del
159. na mesa um mundo que n o deste mundo Wislawa Szymborska Em 2010 e 2011 foram feitas duas viagens de campo a partir de roteiros pr prios elaborados A primeira cidade de Fortaleza aonde est o bem associados Iracema e Alencar por meio de diversos pontos tur sticos em homenagens a estes alguns preservados outros nem tanto percorremos lugares referentes vida do autor como a casa em que nasceu pra a teatro museu e outros que remetem imagem de Iracema praias monumentos mercado central entre outros No bairro de Messejana est a casa aonde nasceu Alencar sob os cuidados da Universidade Federal do Cear A casa abriga uma galeria de personagens dos livros Iracema O Guarani O Sertanejo No quintal est o as ru nas do engenho de cana considerado o primeiro engenho da prov ncia UEC FIGURA 22 Entrada da casa de Jos de FIGURA 23 Placa fixada na casa de Alencar Fortaleza CE Foto RCSartori Jos de Alencar Foto RCSartori 129 29 FIGURAS 28 e 29 Placa indicativa e fachada do Teatro Jos de Alencar inaugurado em 17 06 1910 Fortaleza CE Fotos RCSartori 130 FIGURA 30 Criador e criatura Alencar e Iracema com Moacir nos bra os Monumento da Pra a Jos de Alencar em frente ao teatro Jos de Alencar Fortaleza CE Foto RCSartori FIGURAS 31 e 32 Praia de Iracema e est tua de Iracema Fortaleza CE Fotos RCSartori 131 interessante
160. nedito CE Fotos ACPOliveira Ibiapiana Chegaram aonde a serra quebrava para o sert o j tinham passado aquela parte da montanha que por ser despida de arvoredo e tosquiada como a capivara a gente de Tup chamava de Ibiapina ALENCAR 1956 p 64 Pela manh chegamos em Ibiapina localizada no centro da Chapada de Ibiapaba sendo sua denomina o original S o Pedro padroeiro da cidade possu 23 808 habitantes IBGE 2010 a regi o atraente em riquezas naturais como cachoeiras e reas montanhosas Antes da chegada dos colonizadores portugueses o atual territ rio era habitado por na es ind genas tupis como tabajaras e tupinamb s e tapuais carijus existiam mais de 70 aldeias na regi o Ibiapina foi local de muitas guerras no come o da coloniza o do Cear A presen a dos jesu tas que ali se instalaram n o foi o bastante para coibir o confronto dos ind genas locais franceses e portugueses al m de ter sido o reduto dos legend rios caciques Mel Redondo e Gran Deabo Fonte Dispon vel em lt http www brasilgigante com ceara ce 869 ibiapina ce html gt Acesso em 13 jan 2010 140 Pelas ruas da pequena cidade um carro de som chamou nossa aten o sua fun o de percorrer pela cidade anunciando aos moradores sobre a vinda de um m dico na cidade Da cidade seguimos para a Bica do Paj o acesso de carro foi feito pela estrada Ibiapina Mucambo pr ximo de um s tio deixamos o carr
161. nhor Chiquinho dono de uma loja de cacha as artesanais descendente de uma das fam lias mais antigas da cidade nos concedeu relatos interessantes e divertidos Relatou que foi em Vi osa do Cear que surgiu o estado do Cear que a igreja matriz dedicada Nossa Senhora da Assun o a igreja mais antiga do Cear logo considerado um dos monumentos hist ricos mais importantes do estado constru da pelos ndios e jesu tas Tamb m falou sobre os t neis subterr neos da matriz que davam acesso s casas antigas da cidade eram usados pelos jesu tas para escapar dos ataques ind genas FIGURAS 64 e 65 Matriz N Sa da Assun o e escadaria de acesso s torres antigo t nel com paredes de pedras Fotos RCSartori Em Vi osa os descendentes dos tabajaras vivem da venda de artesanato e algumas rocinhas Pelas ruas da cidade notamos que algumas mulheres e crian as herdaram os tra os de seus ancestrais 148 Na matriz observamos as antigas pinturas na madeira do teto algumas parecem semelhantes fauna e flora da regi o brom lia frutos aves andando pelos t neis subterr neos chegamos as duas grandes torres da matriz como uma viagem literalmente feita ao t nel do tempo 67 8 FIGURAS 66 68 Pinturas do teto da Matriz N Sa da Assun o destaque para as semelhan as com as esp cies da regi o Fotos ACPOliveira Meruoca O guerreiro do mar deixa as margens rio das gar as e caminha para
162. nstante em minha vida dando me for a esperan a e paz para enfrentar as dificuldades A Profa Dra Maria da Concei o Xavier de Almeida orientadora deste trabalho seus valiosos ensinamentos acuradas cr ticas que contribu ram para a realiza o e aprimoramento da presente pesquisa Pela oportunidade a confian a depositada em mim e sua paci ncia meu sincero agradecimento Ao Prof Dr Angel Barrio Espina por ter me aceito sob sua orienta o na Universidade de Salamanca a disponibilidade sempre presente sapi ncia e aux lio em compartilhar seu profundo conhecimento Aos Prof Dr Alexsandro G Ara jo Dantas Prof Dr Edgar de Assis Carvalho Profa Dra Margarida M Knobbe a solicitude com que participaram como banca no exame de qualifica o pelas cr ticas atentas e sugest es apresentadas As Profa Dra Josineide S de Oliviera e Profa Dra Wani Fernandes Pereira a oportunidade de desfrutar de seus preciosos conhecimentos e amizade Ao Prof Dr Jos Willington Germano pela dissemina o de seus conhecimentos contribuindo diferencialmente para minha forma o Aos Prof Dr Edmilson Lopes J nior Prof Dr Iran Abreu Mendes Prof Dr Jo o Bosco Filho e Prof Dr Luiz Assun o que t o gentilmente aceitaram participar da banca examinadora A Profa Dra Bet nia F de Mello o carinho e a amizade pautada tamb m pela m sica A Profa Dra Ana Laudelina F Gomes a amizade e ensinamentos A Profa Dra Edna
163. nte pelo vi s do romance a partir da tica da complexidade uma das propostas de Morin O romance mais que um romance Sabemos que o romance a partir do s culo XIX tornou se prenhe de toda a complexidade da vida dos indiv duos at da mais banal das vidas A poesia que faz parte da literatura e ao mesmo tempo mais que a literatura leva nos dimens o po tica da exist ncia humana MORIN 2002 p 44 45 Ao analisar trechos da Batalha de Borodino da obra Guerra e Paz de Tolst i o escritor italino Italo Calvino descreve a rela o de tr s elementos indiv duo natureza e hist ria O indiv duo representado como o her i a natureza concebida como um local virgem e povoado de deuses e a hist ria relacionada com as batalhas dos homens Esses tr s elementos que surgiram na pica antiga continuam presentes na pica moderna Para Calvino 2006 o romance do s culo XIX que inaugura esse discurso bem como d continuidade ao mesmo nas narrativas dos romances do s culo XX 61 Al m de Tolst i esses elementos que caracterizam a narrativa do romance do s culo XIX tamb m est o atenuadamente presentes em Iracema Iracema como Martim s o os indiv duos ele soldado portugu s que se apaixona por ela filha de Araqu m natural da tribo dos tabajaras a nica que possui o conhecimento para fazer a bebida sagrada do paj a guardi do segredo da bebida apaixonada por Martim torna se uma hero na no sent
164. ntros pretos e conhecidos vulgarmente pelo nome de sofr H algumas lendas sobre o japim Os ind genas contam que o japim vivia no c u cantando para Tup quando este queria dormir Uma vez apareceu uma peste terr vel sobre a Terra as mortes eram sucessivas e os ind genas tristes pediram para que Tup os chamasse para o c u mas este n o podendo atender ao pedido enviou o japi para consol los Assim desapareceu a tristeza e a alegria voltou a reinar A ave a pedido dos moradores da Terra ali ficou com a permiss o de Tup mas sua vaidade come ou a domin lo era o dono da floresta e passou a imitar os cantos e h bitos de outras aves Essas desgostosas foram se queixar para Tup e este a repreendeu severamente Como o japi n o obedeceu a Tup recebeu um castigo eterno perdeu seu canto e passou a imitar a voz dos outros que teriam por ele dio e desprezo DELLA MONICA 1989 3 Alencar cita nas Notas como fontes de fauna e flora Gabriel Soares de Souza Fern o Cardin Johannes de Laet Von Martius Jean Louis R Agassiz e Jean de Lery mission rio calvinista franc s Segundo Sick 1997 p 46 53 Lery vivia quase que refugiado com os Tupinamb s terr veis canibais publicou informa es valiosas sobre as aves do Rio de Janeiro O primeiro a comunicar dados seguros sobre as aves do Brasil A 1 edi o do seu livro saiu em 1578 precedendo Cristov o de Lisboa e Marcgrave Soares de Souza cuja obra foi escrit
165. o Estas escalas diversas se situam num espa o de m todo no qual separar e distinguir nunca cortar e unir e conjugar n o totalizar mas sim pensar a globalidade que s o considerados princ pios do pensar complexo Macroconceituar fazer emerger formas globais n o totalidades fechadas n o se pode pensar o macroconceito homem sem relacion lo com os macroconceitos indiv duo esp cie sociedade e cultura ROGER 1999 p 93 Conforme explica Morin 2002c p 36 no pensamento do contexto devemos considerar que o conhecimento das informa es ou dos dados isolados insuficiente preciso situar as informa es e os dados em seu contexto para que adquiram sentido 3 A palavra complexus significa o que est ligado o que est tecido MORIN 2002b p 564 ou o que est tecido junto MORIN 2002c p 38 Cf ROSNAY Joel de O macrosc pio para uma vis o global Porto Ed Estrat gias Criativas 2006 33 Nesse pensar procuramos inserir as aulas as apresenta es dos alunos viagens filmagens observa es e entrevistas consideradas t cnicas de observa o direta e a leitura interpreta o de documentos imagens anota es considerada t cnica de observa o indireta Foram realizadas atividades com os alunos do 1 ano do curso de gradua o em Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN durante o 2 semestre de 2010 atrav s de um pr vio planejamento p
166. o para seguirmos a p por uma trilha de mata fechada regi o de dif cil acesso vigilantes e em sil ncio ouvimos os sons da natureza observamos as paisagens fauna flora quedas d gua galhos que FIGURA 44 Trecho estrada CE 253 se desprenderam o passeio de uma serpente Ibiapina Mucambo Foto RCSartori albina nossos passos intrusos FIGURA 46 Bica do Paj CE Foto RCSartori FIGURA 47 Rubiaceae Psychotria colorata 47 Willd ex Schult Mull Arg Foto ACPOliveira 141 Retornando para a rodovia CE 253 continuamos descendo as curvas da serra boa parte da estrada se encontra deteriorada com trechos com desmoronamentos de terra um risco iminente principalmente para os que necessitam trafegar por ela constantemente como o cavaleiro tocando os animais FIGURA 48 Cavaleiro da Chapada de Ibiapina CE Foto ACPOliveira FIGURA 49 Trecho em desmoronamento FIGURA 50 Placa na beira da estrada no detalhe o sabi da mata Foto RCSartori Foto RCSartori No final da serra uma placa Mercearia O Paulinho Guaran Tabajara fizemos uma pausa para descanso e degusta o do guaran O dono da mercearia senhor Paulo reside com a fam lia na casa ao lado da mercearia um lugar que emana tranquilidade Aos poucos as conversas foram surgindo sobre hist rias de vida do lugar de Iracema nos contou uma outra releitura do romance rica em detalhes tais como
167. o Piau onde fica a Cachoeira do Boi Morto formada pelas guas do rio Jaburu local que deu origem a Trilha Transum ncia usada pelos tabajaras para transportar mercadorias de um estado para o outro FIGURA 55 Localiza o da Cachoeira do Boi Morto Trilha Transum ncia gg Nas guas observamos alguns moradores que se banhavam outros lavavam roupas outro de bicicleta fazia a travessia pelas guas de um povoado para outro Um jovem morador relatou que os moradores mais velhos dizem que o nome da cachoeira se deve ao fato dos tocadores de boiada durante a travessia das guas perdiam alguns bois arrastados pelas fortes correntezas FIGURA 56 Travessia de bicicleta Foto RCSartori Fonte Dispon vel em lt http www folhaubajarense com br page_id 164 gt Acesso em 30 jan 2010 145 FIGURAS 57 e 58 Cachoeira do Boi Morto CE Fotos RCSartori Posteriormente seguimos para Tiangu pela Trilha Transum ncia um caminho secular de pedra com autos declives foi percorrido pelos tabajaras e pelos primeiros colonizadores Esse caminho liga a serra ao sert o No meio dessa trilha a natureza mais uma vez nos presentiou de um lado os altos pared es de pedras onde jorram guas entramos na enorme gruta do outro a serra Uma l grima correu pela face guerreira como as umidades que durante os ardores do estio transudam da escarpa dos rochedos ALENCAR 1956 p 34 FIGURAS 59 e 60 Escarp
168. o escritor denso tem sido objeto de estudos liter rios sociol gicos e antropol gicos No conjunto da sua obra reflete sobre a multiplicidade de culturas imanentes realidade hispano americana Dispon vel em lt http oficinadeetnografia blogspot com 2006 01 uma entrevista com lvi strauss html gt Acesso em 15 de out 2010 59 A leitura da obra de Fuentes transforma se em oportunidade valiosa para um desvendamento n o linear das culturas ib ricas e ibero americanas pois seus retratos ficcionais s o capazes de resgatar os mecanismos de sobreviv ncia e at mesmo de resist ncia cultural O autor refletindo sobre a atuag o do escritor na Am rica Latina reivindica os sentidos da imagina o como um caminho efetivo para o entendimento da realidade O g nero romance passou por muitas metamorfoses no cumprimento da sua trajet ria e estas n o reduziram seu campo de atuac o ao contr rio fizeram com que fosse acrescentando novos territ rios redimensionando seu lugar na cartografia liter ria num novo mapa em que n o cabem estreitas fronteiras MARTIRANI 2009 p 19 Fuentes ao tratar desse percurso num recorte diacr nico que se inicia em meados do s culo 20 at a atualidade reitera a urg ncia de exorcizar as mais que conhecidas bruxas que assombraram os escritores de sua gera o as r gidas exig ncias do c none realista realismo x fantasia nacionalismo x cosmopolitismo compromisso x formalismo
169. o sol viram um lindo rio que surdia no mar cavando uma baia de rocha viva os viajantes estiveram em Mocoripe tr s sois o crist o escolheu um lugar para levantar a cabana ALENCAR 1956 p 70e 72 No in cio da tarde pela BR 222 seguimos para Mucuripe bairro de Fortaleza situado cerca de 4 km ao leste do centro da capital Alencar descreve Mucuripe como um morro de areia da enseada do mesmo nome na l ngua tupi significa Vale dos Moc s Poti conhecedor de toda a terra que tem os pitiguaras exclama O pescador da praia que vai na jangada l onde voa a ati fica triste longe da terra e de sua cabana em que dormem os filhos de seu sangue Quando ele torna a seus filhos primeiro avistam o morro das areias o prazer volta ao seu cora o Por isso ele diz que o morro das areias d alegria ibidem p 70 98 FIGURA 98 Praia de Mucuripe Fortaleza CE Foto ACPOliveira H relatos que em janeiro de 1500 antes da viagem de Pedro Alvares Cabral ao Brasil o navegador espanhol Vicente Pinz n desembarcou na enseada de Mucuripe devido ao tratado de Tordesilhas assinado em 1494 entre Portugal e Espanha n o pode fazer reivindica o da rea descoberta 159 Nesta enseada fica o Porto de Mucuripe al m do primeiro monumento que retrata os personagens do romance esculpido pelo pernambucano Corbiniano Lins e inaugurado em 1965 centen rio do romance FIGURA 99 Monumento na praia de Mucuripe Fortaleza C
170. ociedade por sua pr pria natureza e vis o a arte do romance realista STEINER 1988 p 333 Na opini o de Adorno 2003 o realismo se configura como imanente ao romance liter rio O autor cita que a poss vel psicologia existente nas obras de Dostoi vski de car ter intelig vel da ess ncia e n o do ser emp rico dos homens A obra de Proust sustenta romances realistas e psicol gicos na qual sua pretens o objetividade n o diminu da nem reduzida a uma vaga plausibilidade pois parte dos conhecimentos adquiridos pela experi ncia humana ADORNO 2003 p 23 e 57 Isso faz com que o romance seja qualificado como poucas obras de arte ou seja quando renuncia a um realismo de fachada convertendo se para decifrar o enigma da vida convertendo se no esfor o de captar a ess ncia da vida ADORNO 2003 Nessa sua continuidade em gerar interpretantes leituras cr ticas tradu es ensaios coment rios adapta es entre outros a literatura ao se dirigir ao seu objeto deseja conhec lo R GIS 1996 A literatura tende a se organizar como um sistema pronto para aprender os saberes de todos os campos das ci ncias sem pretens o de tomar lhes seus lugares pois a literatura tende a proteger seu direito de representar o real sem ter o compromisso com os limites de uma verdade conhecida e imposta buscando assim a verdade ao seu modo A busca de novas concep es do mundo pela literatura particularme
171. odernas valorizam a observa o direta e rigorosa o desenvolvimento de uma vis o mecanicista do Universo estabelece se uma muralha entre ci ncia e filosofia coloca se o ser o eu separado da natureza como se n o pertencesse a ela o eu outro o corpo alma a dualidade Ren Descartes considerado como um dos pilares das ci ncias modernas a fundador da filosofia moderna brilhante matem tico postula que toda ci ncia a conhecimento certo e evidente e que se deveria rejeitar todo o conhecimento que meramente prov vel Assim a ci ncia seiscentista era orientada por duas correntes Bacon com seu m todo emp rico indutivo e Descartes com seu m todo racional dedutivo Isaac Newton introduziu a combina o de ambos os m todos desenvolveu a metodologia que a ci ncia natural passou a se basear Segundo a fil sofa belga Isabelle Stengers 2002 p 201 a primeira inven o das ci ncias modernas relacionada s ci ncias experimentais exigiu um estilo de paix o que fez o autor cient fico um h brido singular entre juiz e poeta O cientista poeta cria seu objeto fabrica uma realidade que n o existia tal e qual no mundo mas que pertence antes ordem da fic o J o cientista juiz tem como meta conseguir que a realidade produzida por ele seja aceita Com isso o termo realidade segundo a autora correspondia ao poder de manter junto uma multiplicidade heterog nea de pr ticas que todas e cada
172. ogias alguns h bitos e identifica o das esp cies Inhuma ave noturna palam dea A esp cie de que se fala aqui a palam dea chavaria que canta regularmente a noite Acau ave inimiga das cobras Sa lindo p ssaro do qual h v rias esp cies sendo a mais graciosa a do saix tanto pela plumagem como pelo canto 34 importante ressaltar que foge ao objetivo da pesquisa a inclus o de descri es detalhadas No entanto para maiores informa es h as obras citadas nesta pesquisa e tamb m pode ser consultado o Cat logo de Aves do Brasil 1938 44 de Oliv rio Pinto considerado a base para qualquer trabalho ornitol gico sistem tico do Brasil 112 O autor tamb m relata sobre o voo do colibri a partir de estudo de observa o feito pelo padre jesu ta portugu s Sim o de Vasconcelos Entre algumas cr ticas atribu das 1 edi o do livro Alencar justifica sobre o voo da jandaia pois surtiram d vidas que esta voasse de Ipu lagoa de Messejana Quem n o conhece as emigra es desses p ssaros cujos bandos aparecem e desaparecem com o inverno e o estio Essas emigra es mais sens veis se tornam no Cear por causa das secas frequentes que obrigam os animais a procurar as v rzeas e sobretudo as margens das lagoas e rios ALENCAR 1956 p 155 Sabe se que os p ssaros desempenham importante papel transportando sementes fertilizando plantas no controle de insetos e pragas na agricultur
173. om folha fruto e flor B fruto C ramo com folha e flor Fotos A MReis B C RACosta D MRodrigues Design RACosta 98 FIGURA 7 Genipapo Genipa americana L A fruto B corte longitudinal do fruto evidenciado a polpa e semente C ramo com folha e fruto Fotos A C RACosta Design RACosta 99 FIGURA 8 A Tucum Astrocaryum vulgare Mart A espinho B C Palmito ju ara Euterpe edulis Mart Palmito ju ara B folha C estipe Fotos A C RACosta Design RACosta 100 FIGURA 9 Jurema preta Mimosa tenuiflora Willd Poir A casca B ramo com folha e flor Fotos A B RCSartori Design RACosta 101 FIGURA 10 Mandioca Manihot acuminatissima Miill Arg A raiz B corte longitudinal do tub rculo C ramo D aspecto geral do subarbusto Fotos A D RACosta Design RACosta 102 a AD 11 FIGURA 11 A Maracuj Passiflora edulis Sims fruto B D Passiflora cincinnata Mast B flor evidenciando as fimbrias ov rio antera C caule com folha e gavinha D flor Fotos A D RACosta Design RACosta 103 FIGURA 12 Munguba Pachira aquatica Aubl A ramo evidenciado o fruto B folha C tubo estaminal D aspecto geral da planta Fotos A D RACosta Design RACosta 104 13 FIGURA 13 Taioba Xanthosoma taioba E G Gon A folha evidenciando limbo e nervura B aspecto geral da planta Fotos A B RACosta Design RACosta 105 14 FIGURA 14 Tabaco
174. orado entre 1840 e 1906 Flora Brasiliensis e o portugu s Gabriel Soares de Souza autor de Not cias do Brasil e Tratado Descritivo do Brasil em 1587 s o referencias para o livro Os Parceiros do Rio Bonito como para o romance Iracema Candido utiliza tamb m como referencias as observa es sobre troca e reciprocidade a partir da leitura de L vi Strauss As estruturas elementares do parentesco Segundo Bosi 2006 a cr tica hist rica tem apontado o Tratado de Gabriel Soares como a fonte mais rica de informa es sobre a col nia no s culo XVI percorrendo toda a fauna e flora da Bahia traz tamb m um relat rio etnogr fico n o apenas com informa es b sicas O Tratado consta de duas partes Roteiro Geral com Largas Informa es de Toda a Costa do Brasil de car ter geo hist rico e bastante minucioso e o Memorial e Declara o das Grandezas da Bahia de Todos os Santos de sua Fertilidade e das Outras Parte que Tem BOSI 2006 p 17 18 O poeta n o deve desenvolver um papel condicionado apenas aos jogos de palavras e s mbolos mas demonstrar sua compet ncia total multidimensional que concerne humanidade e pol tica com isso pode se romper as fronteiras entre ci ncia e poesia uma vez que a ci ncia nos revela um universo po tico ao redescobrir problemas filos ficos capitais O que o homem Qual o seu lugar Qual o seu destino O que se pode esperar dele MORI
175. orma o da na o brasileira tratando se o livro de uma met fora sobre a coloniza o Americana pelos europeus Para quem o ndio era apenas o comedor de carne humana que s o Cristianismo salvaria Iracema pode tirar essa m impress o e a corrente indianista foi muito prestigiada pois a perman ncia de Iracema no universo cultural incontest vel Jos de Alencar rompeu algumas dessas formas originais de escrever os livros brasileiros e respeitado at os dias de hoje A turma foi divida em grupos ter amos que contar a hist ria de forma interessante com v rios recursos Foi uma experi ncia muito boa pois pudemos saber da hist ria completa de uma forma diferente bem resumida e de um excelente humor Em se tratando de uma atividade diferenciada no sentido de ser desconhecida para alguns por serem alunos do 1 per odo foi um desafio com resultados significativos pois acreditamos que se pode inovar renovar aprimorar tais atividades na tentativa de despertar o aprender pelo prazer Reconhecemos que as atividades aqui propostas n o s o consideradas nicas por m essa experi ncia foi muito positiva um aprendizado m tuo para todos envolvidos e uma oportunidade mpar na qual tivemos a oportunidade de vivenciar 128 Na trilha de Iracema cartografia liter ria Gosto de mapas porque mentem Porque n o d o acesso dura verdade Porque generosos e bem humorados estendem se
176. os 7770 pdf gt Acesso em 24 jun 2012 48 Neste sentido Couto 2011 p 105 esclarece que a realidade atua como a grande fiscalizadora do nosso pensamento e sendo uma constru o social que n o devemos lev la sempre t o a s rio tendo como maior desafio sermos capazes de n o ficarmos aprisionados ao que muitos chamam de raz o e outros de bom senso Esse diagn stico sobre as limita es da mente racional apontado por Snow relata a incipiente discuss o na academia sobre a oposi o das duas culturas conforme visto resultando num isolamento que n o interessante para ambas s culturas ou seja n o proveitoso para o cientista ignorar as humanidades e por outro lado para o humanista n o bom se distanciar do conhecimento cient fico Essa separa o dificulta a compreens o da complexidade de diversos problemas que afetavam a humanidade sua poca trazendo implica es tica epistemol gica e educacional Em rela o a essa fragmenta o do conhecimento Morin afirma em entrevista dada a Sereza 2002 p 6 Estamos habituados a viver com conhecimentos separados com especialistas em todos os assuntos falando de um modo fragmentado Isso torna muito dif cil abordar os problemas de forma global os problemas fundamentais da humanidade O autor alerta para a constru o de uma nova forma de pensar permitindo a religa o dos saberes e a abordagem dos problemas de uma forma global Ass
177. os de vista A primeira forte oposi o ao paradigma cartesiano mecanicista veio do movimento rom ntico na arte na literatura e na filosofia no final do s culo XVIII e no s culo XIX Tanto os poetas e fil sofos rom nticos alem es retornaram tradi o aristot lica concentrando se na natureza da forma org nica Goethe a figura central desse movimento foi um dos primeiros a usar o termo morfologia para o estudo da forma biol gica a partir de um ponto de vista din mico Ele concebia a forma como um padr o de rela es dentro de um todo organizado concep o que est na linha de frente do pensamento sist mico contempor neo CAPRA 1996 p 35 O pensamento sist mico surge no s culo XX em oposi o ao pensamento reducionista mecanicista entretanto n o nega a racionalidade cient fica por m destaca que esta insuficiente para entender os acontecimentos do mundo devido extrema fragmenta o do conhecimento O pensamento sist mico de uma forma geral pode ser definido como uma nova forma de percep o da realidade O pensamento sist mico ou pensamento do complexo op e se ao pensamento simplificante naquilo em que ele procede por distin o e associa o dos fen menos e n o por disjun o justaposi o e por redu o do complexo ao simples MORIN 2001 p 151 Questionando o discurso da ci ncia como nico leg timo o grande poeta e pintor William Blake exerceu forte influencia sobre
178. os viajantes atravessaram o rio Ta ba em cujas margens vagavam bandos de porcos de mato ALENCAR 1956 p 69 Taiba fica no munic pio de S o Gon alo do Amarante H uma nica rua que se estende por alguns quil metros e nesta h um mirante casas pousadas e restaurantes A praia de Ta ba est localizada a 76 km de Fortaleza notamos a pr tica de surf e nas areias os barcos de pesca anoiteceu lua cheia pernoitamos em Ta ba FIGURAS 94 e 95 Praia e lua cheia em Taiba CE Fotos RCSartori 157 Barra do Ca upe mais longe corria o Cau pe onde se fabricava excelente vinho de caju No outro sol viram um lindo rio que surdia no mar cavando uma bacia na rocha viva ALENCAR 1956 p 69 Na manh seguinte seguimos para Barra do Ca upe acesso pela BR222 e CE090 antes de chegar Barra fizemos uma parada em Pec m uma extensa praia que abriga uma vila de pescadores Devido localiza o privilegiada Pec m possui um porto que juntamente com o porto de Fortaleza escoa a produ o industrial do Cear FIGURA 96 Porto de Pec m CE Foto RCSartori Na Barra do Ca upe h dunas e manguezais segundo os nativos s o mais de 20 quil metros de praia aonde os ventos s o prop cios para manobras de wind e kite surf fomos conferir uma das principais atra es a bonita Lagoa do Ca upe FIGURA 97 Lagoa do Cau pe CE Foto ACPOliveira 158 Mucuripe Fortaleza CE No outr
179. paginas historial htm gt Acesso em 13 jan 2010 ISAACSON Walter Einstein sua vida seu universo S o Paulo Companhia das Letras 2007 JORNAL DA UNICAMP Para Scliar ci ncia e literatura s o compartimentos de uma mesma cultura Universidade Estadual de Campinas p 9 24 a 30 mai 2004 LAGOA DA PARANGABA Dispon vel em lt http www oktiva net oktiva net 1364 nota 61873 gt Acesso em 12 mar 2011 LAGOA DA SAPIRANGA Dispon vel em lt http inventarioambientalfortaleza blogspot com br 2007 09 reserva ecolgica do sapiranga html gt Acesso em 15 jan 2010 LEFF Enrique Epistemologia ambiental 2 ed S o Paulo Cortez 2002 LEPENIES Wolf As tr s culturas S o Paulo EDUSP 1996 L VI STRAUSS Claude O pensamento selvagem 2 ed S o Paulo Companhia Editora Nacional 1976 De perto e de longe S o Paulo Cosac amp Naify 2005 266p Entrevista concedida Dispon vel em lt http oficinadeetnografia blogspot com 2006 01 uma entrevista com lvi strauss html gt Acesso em 15 de out 2010 LISTA DE ESP CIES DA FLORA BRASIL Dipon vel em lt http www floradobrasil jbrj gov br gt Acesso em 12 dez 2011 LORCA Federico Garc a Sonetos do amor obscuro e div do Tamarit S o Paulo MEDIAfashion v 2 2012 Cole o Folha Literatura ibero americana 175 MAIA L gio Jos de Oliveira Serras de Ibiapaba De aldeia vila dos ndios vassalagem e identidade no Cear colonial
180. particularidades de sua vida ALENCAR 1956 p 126 Conclui que era na l ngua ind gena que deveria beber o verdadeiro poeta nacional A pol mica se instalou conforme observamos no P s escrito de Iracema ibidem p 136 no que se refere s cr ticas como de Manuel Joaquim Pinheiro Chagas escritor e historiador portugu s Alencar verbera o terror do galicismo bem como a tacanha avareza dos lus filos que defendem o seu portugu s quinhentista ali s a adolesc ncia como um jardim de Hesp rides onde n o pode penetrar um termo ou frase profana Seria exagero afirmar que Iracema representa uma transgress o de paradigma ao reivindicar a liberdade de inven o O poeta e cr tico liter rio Haroldo de Campos iguala a Carta ao Dr Jaguaribe como o P s escrito ambos est o nas p ginas finais do romance aos Manifestos Modernistas de Oswald de Andrade Se alguma vez o pol tico conservador e ex ministro da Justi a do Imp rio 1868 70 se proclama subversivo quando assume a acusa o que lhe movida por Pinheiro Chagas de insurrei o contra a gram tica de nossa l ngua comum quando considera que a revolu o filol gica que lhe atribui o cr tico luso irresist vel e fatal funda se no esp rito popular e h de ser larga e profunda como a imensidade dos mares que separa os dois mundos a que pertencemos O autor de Iracema proclama a influ ncia dos escritores na tr
181. paz de por seu interm dio ter acesso a temas ideias e valores que diretamente lhe interessam e favorecem seu autoconhecimento assim se consumando a conex o dos textos liter rios como os atos humanos b sicos com as fontes da linguagem e da nossa humanidade COHEN apud REIS LOPES 1988 p 55 Para o pensador russo e fil sofo Mikhail M Bakhtin a palavra uma ponte entre mim e o outro essa media o com o outro desenvolvida atrav s da linguagem escrita e oral pois como lidamos com textos cotidianamente lendo estudando pesquisando s podemos aprender em qualquer rea de conhecimento se soubermos decodificar minimamente um texto O autor reivindica a ambival ncia o discurso carnavalesco amplo polif nico e dial gico opondo se uma nica direg o da ret rica cl ssica e favor vel interpreta o participativa integradora social diversa e m ltipla na constru o da obra liter ria O argumento do romance serve para a representa o dos sujeitos falantes e de seus universos ideol gicos No romance realiza se o reconhecimento de sua pr pria linguagem numa linguagem do outro o reconhecimento de sua pr pria vis o na vis o de mundo do outro Qualquer romance na sua totalidade do ponto de vista da linguagem investida nele um h brido BAKHTIN 2002 p 162 Diante deste universo h brido Couto 2011 p 105 enfatiza a import ncia do ensino da leitura no qual o ensinar a ler sempre ensinar
182. po do amor quando emudece fabrica o ninho para sua prole o tempo do trabalho ibidem p 34 e 82 119 Dki a s FIGURA 18 Gaivota Larus dominicanus O grito da gaivota o grito de guerra do valente Poti ALENCAR 1956 p 43 FIGURA 19 Gavi o anag Buteo magnirostris O gavi o paira nos ares Quando a nambu levanta ele cai das nuvens e rasga as entranhas da v tima O guerreiro tabajara filho da serra como o gavi o as armas deles voam alto e direito como o anaj O jaguar senhor da floresta e o anaj senhor das nuvens combatem s o inimigo Baturit veio pelo caminho das gar as at aquela serra que tu v s longe e onde primeiro habitou L no p ncaro o velho guerreiro fez seu ninho alto como o gavi o para encher o resto de seus dias conversando com Tup ibidem p 22 44 48 e 74 120 Iracema na Antropologia e Educa o outras tribos Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina Cora Coralina Como assinalamos na pesquisa desta tese fizemos uso da estrat gia de chegar at outras tribos ou seja a tribo dos jovens universit rios como uma forma de vislumbrarmos outras perspectivas As interven es pedag gicas foram importantes para o enriquecimento da pesquisa Nas experi ncias em sala de aula abriu se a oportunidade de vivenciar as percep es sobre as intera es entre ci ncia e literatura e a a o da criatividade Faz
183. ponto nos primeiros cap tulos de Iracema surge o soldado portugu s Martim Soares perdido na floresta e Iracema ap s flech lo d as boas vindas ao estrangeiro nos campos tabajaras na sua fala avisa o sobre os limites territoriais dos tabajaras diante do territ rio pitiguara No universo tenebroso das florestas est a jiboia a sucuri o jaguar o Juripari que se configura como esp rito do mal A imagina o perpassa Alencar que mergulha no romance quando deixa de ser apenas um observador expectador escreve O sentimento que ele p s nos olhos e no rosto n o o sei eu ALENCAR 1956 p 14 O homem assim como os primatas surgiu em meio floresta o mito da floresta encantada pertence a todas as culturas de Buda que atingiu a ilumina o sob a rvore de Bo ao para so de Ad o e Eva composto por floresta e jardim Na Gr cia e no mundo romano determinadas florestas eram declaradas sagradas protegidas por lei e cercadas por muros AVELINE 1999 p 23 A floresta o cen rio do romance imaginado por Alencar aonde no bosque sagrado da jurema se d imagina o dos personagens Paj e guerreiros atrav s dos sonhos entram em estado de xtase ao degustarem a bebida sagrada bem como pela fuma a expelida pelo fumo do Paj Ainda sobre a floresta Balandier acrescenta que da Idade M dia Renascen a ocorre o aceleramento do recuo das florestas europ ias um aqu m e um al m da humanidade
184. pr pria obra Neste pensamento o poeta Affonso Romano de Sant Anna acrescenta que o melhor cr tico tamb m aquele que ajuda o leitor a ler um determinado autor SANT ANNA 2012 p 6 A imagem liter ria em muitos aspectos uma imagem pol mica podendo ser taxada como banalidade ou como preciosidade escrever agradar e desagradar a muitos BACHELARD 1990a p 71 De todas as formas de arte a literatura considerada a mais pr xima da vida e a mais sint tica pois consegue reunir a arquitetura quando no processo de composi o do romance a m sica na estrutura mel dica da frase a pintura no tra ar o car ter dos personagens a filosofia ao definir seus ideais de vida TRAGTENBERG 2001 Isso significa que tanto para quem ensina ou interprete a literatura fundamental se questionar sobre qual o seu prop sito que se inicia com a leitura o ato de ler torna vulner vel a nossa identidade bem como o nosso autodom nio 11 Op cit p 59 Essa vulnerabilidade expressa que a cultura inquieta amiga da d vida sabe se que os humanos foram at as ltimas consequ ncias como a barb rie pol tica e social desenvolvida no cerne da Europa no s culo XX e na qual a literatura e m sica fizeram parte do cen rio de vidas que cumpriam tarefas nos campos de concentra o de Auschwitz ou seja alguns homens que conceberam e administraram o campo de concentra o foram educados lendo Skakespear
185. quando precisei As alunas turma do 2 semestre 2011 do Curso de Gradua o em Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte a viv ncia do ensino aprendizado acreditando que poss vel semearmos sonhos Ao Cristino M nica Regina e Rosaly pela dedica o e paci ncia durante a elabora o do v deo das ilustra es aquarelas e pranchas Ao Alberto P Romero Andr Camuguira Bet nia Torres Carolina L garo Carlos Ademir Farias Celma Pilan Daniel Iber Daniel V Fadelino Ester S Costa Evaneide M de Melo Franklin T Souza Georgiana Amorim Gracineide Pereira Guto Don Infali Tur Jodo Menezes Joana R gis Laura S Guerra Leilane Assump o Louize G S Souza M rio G Bissau Nadja Paulinho Nascimento Pedro Barbosa Regina Aguiar Rejane G Pedrosa Renato Maia Rosana C Gomes Silzete Moreira Thiago Lucena Victor Berm dez a amizade o apoio os momentos de desconcentra o A Adriana Louren o e Eduardo Monteiro colegas paulistas pelo afeto dedicado a mim por tantos anos de amizade me acompanhando e incentivando A Ana Claudia Pereira de Oliveira a velha amizade de muitos quil metros rodados e por caminhar junto comigo nos trabalhos de campo al m da constante ajuda cient fica A Bianca D Barbosa da Silva o apoio fraterno pelas palavras de carinho nas horas que mais necessitei A Luiza e Haroldo Della Rosa colegas ga chos que tive o privil gio de conhec los em
186. r S o Paulo Saraiva 1956 ALEXIADES Miguel N Select guidelines for Ethnobotanical research A field manual The New York Botanical Garden New York p 53 54 1996 ALMEIDA Marco Rodrigo O primeiro cronista do Rio Folha de S Paulo S o Paulo 05 fev 2011 Ilustrada p 1 ALMEIDA Maria da Conceic o de Borboletas homens e r s Revista Margem S o Paulo n 15 p 41 56 jun 2002 Para pensar bem In SILVA Francisco Lucas Orgs ALMEIDA Maria da Concei o de CENCIG Paula Vanina Natal Flecha do Tempo 2007 Cole o Metamorfose 4 Reservas po ticas do pensamento humano In NOGUEIRA M A L FIGUEIREDO M S F V ARAUJO S S M Orgs O bom pensamento contadores narradores e int rpretes Recife Ed UFPE 2009 p 59 67 M todo complexo e desafios da pesquisa In ALMEIDA M C CARVALHO E A Orgs Cultura e pensamento complexo Natal EDURFN 2009b p 97 111 ALMEIDA Maria da Concei o Xavier de O lado on rico da ci ncia Revista Famecos Porto Alegre n 18 p 62 69 ago 2002 Antropologia po tica da comunica o esse ancestral homem moderno Revista Famecos Porto Alegre n 21 p 130 134 ago 2003 AMOROZO Maria Cristina de Mello Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antonio do Leverger MT Brasil Acta Botanica Brasilica S o Paulo v 16 n 2 p 189 203 abr 2002 169 APG Angiosperm Phylogeny Group II An update of the Angiosperm Phylogeny Group classif
187. ra processos criativos j a ci ncia visava o m todo acima de tudo flexionando sua absor o pela sociedade industrial As artes mec nicas tornaram se o modelo de concep o de tudo o que era cient fico Sob estas perspectivas se foram pontuando o que era necess rio para se fazer ci ncia ou seja a partir do distanciamento da intui o livre da imagina o da cria o aderindo aos procedimentos m todos e t cnicas a concep o humana diante do po tico se transforma Nesta transi o a ci ncia norte americana foi mais fiel que a europ ia onde a tradi o human stica era mais forte O soci logo alem o Wolf Lepenies ressalta que o debate entre literatos escritores e cr ticos de um lado e de outro cientistas sociais sobretudo soci logos vem desde o s culo XIX e suas consequ ncias s o vis veis ainda hoje constituindo se parte de um processo complexo a contraposi o entre a fria raz o e a cultura dos sentimentos A literatura e a sociologia disputam a primazia de fornecer a orienta o chave da civiliza o moderna o direito de ser a doutrina de vida apropriada sociedade industrial Esse debate desempenha na vida p blica primeiramente da Fran a e da Inglaterra mais tarde tamb m da Alemanha Karl Marx e Friedrich Engels afirmaram ter aprendido mais com Balzac de que com todos os historiadores e economistas profissionais LEPENIES 1996 p 11 e 14 Na metade do s culo XIX as ci ncias
188. ra muitos representam a alma que se liberta das limita es do corpo f sico da sua voz os poetas tamb m emprestaram seus cantos seu canto pode ter sido a primeira forma de m sica a que o homem teve acesso AVELINE 1999 p 78 e 80 As andorinhas s o conhecidas desde Homero Na Europa foi considerada ave sagrada no entanto em 1844 uma lei parisiense a considerou novi a No Brasil a andorinha vive em quase todas as regi es DELLA MONICA 1989 p 148 Por identifica o ou amor s aves os poetas sempre a cantaram oferecendo literalmente asas imagina o humana O renascentista italiano Leonardo da Vinci n o por acaso estudou profundamente o voo das aves que o inspirou a projetar suas inven es voadoras Os animais sempre tiveram uma nobreza divina ou sacrificial de que todas as mitologias d o conta apresentando um car ter mais sagrado mais divino que os homens como no caso dos Bororos os homens qualificam se por filia o ao animal os Bororos s o araras fazem parte de um ciclo simb lico excluindo toda parti o de esp cies BAUDRILLARD 1981 p 165 Gon alves Dias considerado o maior poeta indianista brasileiro escreve na Can o do Ex lio a famosa e conhecida declara o de amor p tria exaltando as aves Minha terra tem palmeiras onde canta o sabi as aves que aqui gorjeiam n o gorjeiam como l O sabi tornou se um s mbolo de saudade mais que qualquer o
189. ram Iracema como a princesa que espera o pr ncipe voltar das guerras bem como o simbolismo da flor de maracuj entrela ada na lan a Segundo o grupo Iracema guardou a flor como lembran a at morrer e finalizaram argumentando que ao contr rio da maioria dos contos de fadas a hist ria n o termina com um final feliz 123 Do grupo 4 uma das alunas apresentou a letra de uma m sica destinada jovens de rua num ritmo de rap feita a partir da leitura dos cap tulos XII ao XV expondo sua habilidade de maneira divertida diante dos colegas ao cantar a m sica cuja composi o musical foi posteriormente musicada pela pesquisadora em partitura para piano O ritmo da partitura em alguns compassos oscila numa melodia pausada truncada acentuada inspirado pela batida do marac instrumento valorizado nas m sicas e dan as ind genas ES t A FILHA DE TUP IPU IPU IPU IRACEMA IRACEMA IRACEMA ANOITECEU NA FLORESTA TODOS SE ALOJARAM BATERAM O DIA TODO EM BUSCA DO OT RIO NO MEIO DA CABANA ENTRE AS REDES ARMADAS ESTENDEU IRACEMA E SERVIU TODA A CA A O TABAJARA GOSTOU POIS DE T O DURO DE SER AMARGO FICOU TODO O ANOITECER NO ALTO DA NOITE ESCUTA O ESTRANGEIRO METE O P IRACEMA E N O ESCUTA O PRIMEIRO IPU IPU IPU IRACEMA IRACEMA IRACEMA SINAL DE POTIGUARAS COMEDORES DE CAMAR O ASSIM ERAM CHAMADOS POR AQUELES ALDE ES NA HORA DA DESPEDIDA IRACEMA TRISTE FICOU S
190. rar atrav s das suas obras a hist ria de sua poca Para muitos escritores e cr ticos liter rios dos tr s romances indianistas escritos por Jos de Alencar Guarani Iracema e Ubirajara este ltimo considerado livro irm o de Iracema foi Iracema lenda do Cear 1865 que conseguiu este legado O inesquec vel poema em prosa foi uma oferenda do autor sua terra natal Cear cujas linhas iniciais bastariam para imortaliz lo Quem esquecer depois de ler las A hist ria simples conta com poucos personagens mas dela a sensibilidade do romancista tiraria efeitos ainda inimitados fazendo de Iracema a quem chamou a virgem dos l bios de mel a mais popular das suas cria es femininas VIANA FILHO 1979 p 131 A descri o ao final do livro emociona A jandaia cantava ainda no olho do coqueiro mas n o repetia j o mavioso nome de Iracema Tudo passa sobre a terra ALENCAR 1956 p 105 Questiona o autor no Pr logo qual sorte ser a do livro Viana Filho 1979 p 133 afirma que Iracema por m n o passaria Ela chegara para ficar Nenhuma outra lhe tornaria o lugar de mito conservado pelo povo atrav s das gera es que se renovam na mesma admira o e encantamento Se patrim nio imaterial um conjunto de pr ticas e de saberes transmitidos de gera o em gera o que diferenciam determinado povo ou regi o englobando as lendas m sicas festas celebra es conhecimentos entre out
191. relacionada ao prazer a embriaguez pela sensualidade Ao possuir Iracema Martim est inconsciente completamente seduzido e inebriado Esse gesto acaba levando Iracema a perder a virgindade assim como ocorreu na invas o do Brasil pelos portugueses se provoca a destrui o da floresta virgem americana No entanto parece que Martim n o tinha nenhuma inten o de provocar a morte de sua amada se o faz por paix o os destruidores da natureza brasileira o fizeram de forma inconsciente e inconsequente Ressalta se a consci ncia ecol gica de Alencar indo muito al m da ing nua defesa das matas do Brasil h com clareza o seu processo de destrui o Na respectiva obra verificamos que o uso das met foras n o s o transposi es mas fus es H tamb m outra passagem em que o autor ao descrever Iracema logo no in cio do livro Cap tulo II menciona os cabelos e as penas da gra na bem como o talhe da palmeira pois tanto a gra na quanto a palmeira deixam de serem apenas recursos estil sticos para estarem dentro de Iracema passando de met foras para metacomunh o assim como descreveremos mais adiante sobre as compara es dos personagens com a avifauna presente no romance Como ocorre com todos os grandes livros Iracema teve v rias interpreta es a poetisa Cec lia Meireles por exemplo configurou a como a Dona do Sonho Seu vulto quase irreal na paisagem tabajara ele sob o sil ncio da grande se
192. ressaltar que em Fortaleza h uma organiza o n o governamental chamada Caminhos de Iracema fundada em 2009 formada por uma equipe multidisciplinar composta por educadores escritores turism logos m sicos entre outros Segundo o educador turism logo e membro da ONG Gerson Linhares a Ong tem como objetivo realizar pesquisa sobre Jos de Alencar no tocante s obras indianistas principalmente Iracema realizando trabalho de educa o patrimonial de incentivo cultural em Fortaleza um tour Alencar incluindo a casa do autor as est tuas de Iracema espalhadas pela cidade praias pra as lagoas de Messejana Parangaba e tamb m h a op o de passeio incluindo a Serra de Ibiapaba Tiangu Vi osa do Cear e Ubajara Ipu e Jericoacora em ambos segundo Linhares s o abordadas a vida e obra de Alencar Anexo Tour liter rio tamb m pode ser observado em Ilh us locais percorridos pelos personagens de Gabriela cravo e canela romance de Jorge Amado bem como oferecido por guias em Los Angeles no distrito de Bunker Hill lugar onde morou o escritor John Fante e foi cen rio para v rias tramas de seu personagem Bandini em Espere a primavera Bandini 1938 e em seu ltimo romance Sonhos de Bunker Hill o tour percorre os lugares vivenciados por Bandini EZABELLA 2012 Ainda no centro de Los Angeles o restaurante chamado Mr Sippee local frequentado pelo protagonista do romance Spook Country de William Gibson outro ponto
193. ros a lenda da ndia Iracema pode ser considerada como um patrim nio imaterial H um ensaio introdut rio do professor da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Paulo Franchetti escrito especialmente para uma das edi es de Iracema publicada pela editora Ateli no qual destaca que o romance atravessou melhor o s culo XX do que O Guarani e que fixou ra zes mais fundas no imagin rio brasileiro FRANCHETTI 2010 p 10 Em rela o ao n mero de edi es e tiragens do romance afirma 2 Daniel Munduruku explica a diferen a entre ndio e ind gena ndio um conceito fic o uma imagem ind gena um ser nativo dos povos ancestrais 2 espantoso n mero de edi es da obra nos cem anos que se seguiram ao lan amento de Iracema s no Brasil contam se 113 edi es em portugu s al m de uma em latim e uma em ingl s e de duas em braille bem como tr s de adapta o para verso de cordel e uma para hist ria em quadrinhos com a inser o da obra em listas de livros de vestibular esse n mero cresceu enormemente sendo hoje dif cil dar conta das edi es todas que a obra j teve FRANCHETTI p 10 e 12 2010 O romance tamb m tem edi es publicadas no exterior tais como na Argentina 1944 Paris 1929 Figuras 1 e 2 e em Londres 1886 Tamb m impressiona o n mero de tiragens realizadas pela principal editora do livro as Edi es Melhoramento imprimiu entre 1934 e 1965
194. ros ramos do conhecimento etnol gico para entender as formas de controle e aplica o das t cnicas tradicionais sujeitas s normas dos valores culturais e o estilo tnico de uma forma o social as forma es simb licas de uma organiza o cultural produz efeitos sobre a percep o e valoriza o de seus recursos sobre seu comportamento produtivo e sobre as motiva es e a es da popula o para a reapropria o de seu patrim nio de recursos naturais e culturais LEFF 2002 p 81 85 Contudo em pocas remotas os homens para utilizarem as plantas como medicamentos se valiam das suas pr prias experi ncias emp ricas de acerto e erro e da observag o do uso de plantas pelos animais al m da interveng o divina para determinadas doen as podemos dizer que foram os primeiros etnobot nicos Em suma notamos que mitos lendas e tradi es apontam para o emprego amplo de plantas medicinais em todos os tempos em todas as camadas sociais e quase em toda a humanidade Muitas sociedades tradicionais ou aut ctones possuem uma vasta farmacop ia natural em boa parte proveniente dos recursos vegetais encontrados nos ambientes naturais ocupados por estas popula es ou cultivados em ambientes antropicamente alterados AMOROZO 2002 Savastano e Di Stasi 2006 destacam que para formalizar o estudo dessas manifesta es culturais nas sociedades convencionou se dividi las em diversos complexos tais como Forma de lingua
195. s O conceito de duas culturas cunhado por Snow pode ser assim sumarizado entre a cultura cient fica e a cultura liter ria existe certa apatia um abismo de m tua incompreens o os cientistas n o se interessam por literatura os literatos n o entendem os princ pios cient ficos b sicos como a segunda lei da termodin mica SNOW 1982 p 5 O soci logo franc s Georges Balandier 1999 p 110 argumenta sobre esse confronto hoje a raz o n o est mais engajada em um simples e n tido confronto em um embate que busca necessariamente a exclus o do mito e a erradica o das coisas vagas sendo que a ci ncia n o abriga apenas a raz o mas traz em si o mito oculto as l gicas mescladas retomando a raz o cient fica o sonho a seu modo O pensar uma fun o interior da intelig ncia humana o pensamento singular ou seja cada um cria o seu suas fun es superiores s o intuitivas cientistas realizam as suas descobertas tamb m com intui o e n o apenas usando o racioc nio Segundo o f sico austr aco Fritjof Capra 1982 o conhecimento a rela o entre o pensamento e a intui o a ponte que liga o conhecimento com a sensibilidade a imagina o Nossa cultura orgulha se de ser cient fica nossa poca apontada como a Era Cient fica Ela dominada pelo pensamento racional e o conhecimento cient fico frequentemente considerado a nica esp cie de conhecimento N o se reconhece
196. s n veis de natureza uma vez que o futuro n o dado Para o autor o futuro incerto porque aberto o mundo no qual nos deparamos rico em flutua es resultados de a es individuais e instabilidades Estamos longe do mundo newtoniano regular das trajet rias lineares Assistimos ao surgimento de uma ci ncia que n o mais se limita a situa es simplificadas idealizadas mas nos p e diante da complexidade do mundo real uma ci ncia que permite que se viva a criatividade humana como a express o singular de um tra o fundamental comum a todos os n veis de natureza PRIGOGINE 1996 p 14 50 Esse pensamento de Prigogine compartilhado com Morin segundo Almeida 2002 p 64 Edgar Morin e Ilya Prigogine acentuam que a cis o entre a cultura cient fica e a cultura human stica tem operado a inadequa o entre o conhecimento e o mundo As teorias cient ficas n o estar o nunca aptas a fornecer uma descrig o completa e definitiva da realidade Ser o sempre aproxima es da verdadeira natureza das coisas e em virtude das limita es essenciais da mente racional aceitamos o fato de que como disse o f sico alem o Werner Heisenberg toda palavra e todo conceito por mais claros que possam parecer t m apenas uma limitada gama de aplicabilidade CAPRA 1982 p 45 Assim as interpreta es e teorias s o sempre mais ou menos do que os fen menos aos quais se referem ALMEIDA 2
197. s caracter sticas f sicas de alguns personagens Iracema e Martim enquanto outros colegas narravam os cap tulos XXII ao XXIV A presen a da ci ncia no romance foi relacionada com a expans o mar tima europeia as navega es que levaram Martim Iracema e a cria o de v rios recursos com armas O grupo 9 cap XXVII ao XXX criou rimas a partir de fragmentos dos cap tulos conforme ilustra o abaixo Por muito tempo deu certo E um belo tempo se passou Mas um dia o guerreiro branco Da indiazinha enjoou Depois que ele enjoou seus belos l bios de mel que agora pareciam fel j n o quis mais beijar Iracema percebeu tudo E pois se logo a chorar E disse ao guerreiro branco quando nosso filho nascer eu vou logo ent o morrer e pra sua terra voc ent o poder voltar Poti e cotiabo Partiram para batalhar Venceram os tabajaras e foram comemorar Quando seu filho nasceu Caubi foi visitar E todo o rancor e raiva Pra tr s jurou deixar Iracema o guerreiro branco Cansada de esperar Pois o menino nas costas E na mata foi procurar E o fim dessa hist ria FIGURA 21 Rimas feitas a partir dos Vou deixar pra outro contar fragmentos dos cap tulos XXVII e XXXI do romance Iracema Foto RCSartori 126 Os integrantes do grupo 9 tamb m recitaram e exibiram alguns slides com imagens de tribos na opini o do grupo Martim representa a cultura cient fica tinha arma
198. s instituig es educacionais valorizam e desenvolvem nas pessoas a raz o e o intelecto considerados importantes pela cultura moderna tornando se o sujeito moderno especializado no pensamento l gico racional desconsiderando e n o valorizando os outros lados do indiv duo O autor indo mais al m afirmou que o pensamento da poesia da vida tamb m uma reforma de pensamento Pensar em reforma de pensamento atrav s da poesia tamb m pensar em novas re leituras da vida Todavia este papel nem sempre bem cumprido em um estudo realizado em 2006 pelo PISA Programme for International Student Assessment da Organiza o para Coopera o e Desenvolvimento Econ mico s o apresentadas as avalia es internacionais recentes sobre o n vel de leitura situando os estudantes brasileiros na faixa et ria de 15 anos numa posi o bastante lament vel mostrando desempenhos inferiores a todos os demais pa ses ou seja o Brasil ocupa o 48 lugar Ressaltando que em 2000 este mesmo programa apontou que num total de 49 pa ses o Brasil ficou na frente somente do Peru logo nota se que no per odo de 2000 a 2006 houve pouca melhoria no quesito leitura 2 Dispon vel em lt http www pisa oecd org dataoecd 48 24 39817007 pdf gt Acesso em 10 out 2010 O professor e antrop logo Edgard de Assis Carvalho entrevistado pelo professor Alex Galeno para a Revista Cronos afirma que Perdemos as tr s faculdades fundamentais da alma
199. s mais ricas Um cruzamento de olhares deliciosamente produtivo MOREIRA 2007 p 158 80 Segundo Regis 1996 p 4 o escritor Edgar Allan Poe observador apaixonado por estrelas escreveu Eureka em 1848 acreditando estar apresentando ao mundo uma nova cosmologia afirmou em carta essa sua profunda convicg o o que propus revolucionar a seu tempo o mundo da ci ncia f sica e metaf sica A descoberta sobre o enigma da escurid o pareceu lhe t o importante quanto a da lei da gravidade de Newton No entanto comprovada a ilus o restou lhe apor uma introdu o ao texto e pedir ao leitor que o julgasse como um poema pela Beleza que de sua Verdade brota tornando o verdadeiro Um poema admir vel em que registra toda a poeticidade de seu desejo de conhecimento Confirma o astrof sico Harrison que a primeira solu o clara e correta para o enigma da escurid o embora expressa apenas em termos qualitativos veio de Edgar Allan Poe HARRISON apud REGIS 1996 p 4 Atrav s do estudo da observa o e da associa o criativa Poe chegou conclus o de que a raz o para o enigma da escurid o era que a luz das paredes douradas ainda n o chegou at n s No universo a parte situada al m de uma certa dist ncia n o pode ser vista pois sua luz n o teve ainda tempo de nos alcan ar como percebeu REGIS 1996 Almeida 2009b p 106 afirma que Morin fazendo o uso da literatura estrat gia narrativa habitua
200. s seus infort nios Escrito com sentimento e consci ncia h de viver este livro tem em si as for as que resistem ao tempo e d o plena fian a do futuro Poema lhe chamamos a este sem curar de saber se antes uma lenda se um romance o futuro chamar lhe a obra prima ASSIS 1866 p 2 3 Amores infort nios cren as lutas fazem parte da po tica exist ncia humana incorporados nos personagens de Iracema Morin ressalta essa import ncia do g nero romance como instrumento de reflex o como um pensamento profundo sobre a condi o humana Reconhece as contribui es de pensadores como Montaigne Maquiavel Diderot entre outros Para ele romancistas como Dostoi vski e Proust figuram como seus fil sofos conforme anuncia em seu recente livro Meus fil sofos ainda a ser lan ado no Brasil O romance do s culo XIX e o cinema do s culo XX transportam nos para dentro da Hist ria e pelos continentes para dentro das guerras e da paz E o milagre de um grande romance como de um grande filme revelar a universalidade da condi o humana MORIN 2002a p 44 Como elo entre cinema e literatura citamos um dos respons veis por uma das vertentes do cinema imortalizou se pelo humanismo e pelo humor Charles Chaplin Ele utilizou temas liter rios baseados em Ulisses Dom Quixote Dickens Dostoi vski entre outros aproveitando de uma linguagem n o gramatizada mas de uma arte interior a m mica O importante para
201. s significados n o souberam responder Quanto s met foras foram mencionadas l bios de mel a mais lembrada seguida de cabelos mais negros que a asa da gra na e mais longo que o talhe da palmeira Martim como gavi o branco faces brancas como das areias e olhos azuis como a tristeza das guas profundas Poti como Narceja Iracema como met fora clara da coloniza o do Brasil e da America do Sul em geral Para se comunicar necess rio compreender e saber interpretar Durante essas atividades tivemos a inten o de mostrar para os jovens alunos futuros pedagogos a import ncia da literatura do aprimoramento e incentivo da leitura e consequentemente a escrita como oportunidades para constru o coletiva de um saber enriquecedor uma constante aprendizagem 127 importante ressaltar que nem tudo foi recebido com entusiasmo por alguns houve um grupo que n o se apresentou alegando que a falta de tempo para preparar algo entretanto um dos componentes do grupo entregou uma s ntese das atividades realizadas neste per odo na qual consta houve a apresenta o dos grupos que foi feito de forma variada e bastante criativa Tamb m outras duas alunas que al m de terem participado das atividades em grupo fizeram suas s nteses a seguir alguns trechos extra dos dessas A obra Iracema enfatiza bem a cultura ind gena em um territ rio e num determinado per odo A rela o do casal serviria de alegoria para a f
202. s sobre o fen meno estudado mas busca respeitar suas diversas dimens es Por outro lado n o se trata de incorporar diversos relatos de acontecimentos que envolvem o per odo de coloniza o do Brasil nem sobre a hist ria do Romantismo e da vida de Jos de Alencar nem mapear todos os campos de saberes que est o inscritos em Iracema como tamb m n o se tem o prop sito de apresentar e analisar as teorias sobre conceitos liter rios e interpreta o textual Cabe ressaltar a afirmativa de Umberto Eco escritor e fil sofo italiano que analisou as teorias mais radicais de interpreta o voltadas para o leitor um texto um universo aberto em que o int rprete pode descobrir infinitas interconex es existem crit rios para limitar a interpreta o ECO 1997 p 45 46 De acordo com as observa es feitas em 1965 pelo cr tico liter rio Agrippino Grieco apud VIANA FILHO 1979 p 127 para a edi o centen ria de Iracema Nunca se louvar demais o que h de realiza o brasileira na obra de Jos de Alencar essa tese deixa em aberto alguns caminhos para a espontaneidade de futuras pesquisas ou seja que estas n o se alienem apenas em um nico campo de conhecimento mas sim numa prolongada e sutil discuss o pelas veredas da po tica complexa desta obra como de outras que n o aceitam uma nica defini o declarando suas pr prias formas de ser e com poss veis elos para religar os saberes 32 Para
203. s sobre o mundo tanto o discurso da literatura quanto o da geografia da hist ria da sociologia da qu mica da f sica ou da psicologia todos eles n o sendo mais que modos de interpreta o representa o do real MOREIRA 2007 p 146 A relev ncia do romance indianista de Alencar decorre em grande parte por se tratar de uma narrativa norteada pela idealiza o dos elementos considerados como genuinamente brasileiros notoriamente a natureza e o ndio Sabe se que essa atitude impulsionou o nacionalismo nascente por ser uma forma de rea o pol tica social e liter ria contra Portugal Assim Iracema representa um mito de funda o do Brasil Nessa obra a descri o da natureza brasileira possui in meras fun es com destaque para a cor local isto o elemento particular que o escritor imprimiu literatura contribuindo para a sua nacionaliza o Para Viana Filho 1979 p 132 tanto Machado de Assis como Manuel Cavalcanti Proen a reconhecem que Iracema ao lado de Atala completa o par de romances indianistas de maior import ncia em todo o mundo no indianismo nada a superaria Com isso conforme mencionado anteriormente se ressalta a partir das ltimas palavras do romance tudo passa sobre a terra Iracema parece que n o passar 29 Esperamos assim que esta tese contribua para uma resignifica o do conhecimento implicando em outras formas de pensar propiciando um di logo entre saber
204. scurso CHARTIER 2001 p 94 Tamb m s o considerados como registros de discurso filmes vers es televisivas para novelas s ries ou miniss ries a partir de adapta es de cl ssicos liter rios Um exemplo de exerc cio a respeito do estilo do vestu rio est na s rie exibida na televis o em 2001 Os Maias adapta o do romance hom nimo do portugu s E a de Queir z a s rie se reportou com fidelidade ao vestu rio conforme descrito no romance O apurado senso est tico do diretor Luiz Fernando de Carvalho das s ries Os Maias e Capitu exibida em 2008 e inspirada no livro Dom Casmurro de Machado de Assis apresentou uma vers o televisiva p s moderna com can es de Janes Joplin Jimi Hendrix entre outros Ramos 1987 p 83 atesta que o autor mais filmado seria indiscutivelmente Jos de Alencar O romance Iracema foi pela primeira vez projetado nas telas do cinema em 1949 vers o em preto branco No figurino Iracema usa um vestido com estampa de pele de on a 57 Em 1979 foi lan ada outra vers o Iracema a virgem dos l bios de mel dirigido por Carlos Coimbra com dura o de 105 minutos colorido trilha sonora composta por Toquinho e Vin cius de Moraes tendo como elenco principal a atriz Helena Ramos que participou de v rias pornochanchadas nas d cadas de 70 e 80 representando a ndia nua sensual O ator portugu s Tony Correia representa Martim O enredo tenta ser fiel a obra embora carregue e
205. sibilitando um novo conhecimento da Geografia F sica e da B tanica aos naturalistas Em 1939 o bioge grafo alem o Carl Troll cunha o termo ecologia de paisagens no sentido de uma entidade visual e espacial total do espa o vivido pelo homem pode ser definida como uma disciplina hol stica que integra as ci ncias sociais geo fisicas e biol gicas visando em particular a vis o global da paisagem essencialmente cultural e ordenamento territorial METZGER 2001 p 3 28 Fonte Manual T cnico de Vegeta o Brasileira Dispon vel em lt http biblioteca ibge gov br visualizacao monografias GEBIS 20 20RJ ManuaisdeGeociencias Manual 20Tecnico 20da 20Vegetacao 20Brasileira 20n 1 pd f gt Acesso em 13 jun 2010 88 A bi loga Ana Claudia P de Oliveira participou de uma das viagens de campo e realizou coletas de algumas dessas esp cies tais como Anacardium occidentae 15509 Hymenaea martiana 15510 Mimosa tenuiflora 15507 e Ziziphus joazeiro 15508 Essas esp cies se encontram depositadas no herb rio do Centro de Bioci ncias da UFRN os n meros citados s o identifica es do herb rio e se referem ao n mero das coletas A oiticica faz parte da paisagem da respectiva Chapada esta considerada pela nag o tabajara como um presente de Tup local aonde nasceu Iracema a morena virgem corria o sert o e as matas do Ipu onde campeava sua guerreira tribo da nag o tabajara banha
206. sociologia na medida em que ela considera os indiv duos inseridos num meio uma sociedade uma hist ria pessoal tratando os sujeitos com suas paix es sentimentos amores na maior parte das vezes apagadas pela sociologia De acordo com as afirma es de Morin essa dimens o po tica da exist ncia humana est representada pelos personagens principais de Iracema conforme mencionados anteriormente a ndia tabajara e o guerreiro branco por meio de cren as paix es e infort nios transcorrendo num determinado tempo e espa o embora o romance seja atemporal em rela o sua imortal protagonista sendo estes elementos presentes tamb m na rela o entre geografia e hist ria ou seja essa rela o n o s poss vel com a literatura como de fato existe observamos essa rela o nas Notas descritas no final do romance Na primeira expedi o foi do Rio Grande do Norte um mo o de nome Martim Soares Moreno que se ligou de amizade com Jaca na chefe dos ndios do litoral e seu irm o Poti Em 1608 voltou a dar princ pio regular coloniza o daquela capitania fundando o pres dio de Nossa Senhora do Amparo em 1611 Poti recebeu no batismo o nome de Antonio Felipe Camar o Martim Soares Moreno a mestre de campo e foi um dos excelentes cabos portugueses que libertaram o Brasil da invas o holandesa o Cear deve honrar sua mem ria como a de seu verdadeiro fundador ALENCAR 1956 p 106 107
207. t stico mais uma fonte de inspira o Assim quem sabe poder amos utilizar a mesma linguagem que a obscureceu para mostrar a ci ncia como mais uma das atividades do homem t o bela ou apavorante quanto qualquer outra e sem a qual nossa sobreviv ncia se tornaria bem mais dif cil idem Diante dos resultados dos estudos citados acima esses merecem uma reflex o de Morin 2003a que ressalta que vivemos num mundo de incompreens o mas a literatura a poesia cinema filosofia psicologia deveriam convergir para se tornar escolas da compreens o Trata se de ensinar a ler como ensinar transpor o imediato ensinar a escolher entre sentidos vis veis e invis veis repensando o mundo 54 Na opini o de Moacyr Scliar m dico sanitarista e escritor da mesma linhagem de Pedro Nava Guimar es Rosa entre outros como o escritor e psiquiatra portugu s Antonio Lobo Antunes a medicina um campo f rtil de inspira o para escritores literatura e medicina se dialogam entre si Tanto m dicos como escritores compartilham o interesse pela natureza humana que o terreno f rtil de inspira o para os escritores aonde a literatura acaba ajudando a pr tica m dica atrav s de alguns livros aonde escritores souberam descrever os fen menos relacionados doen a e ou rela o m dico paciente Scliar cita exemplos de livros liter rios como A Morte de Ivan Ilitch de Liev Tolst i que s o leituras indicadas aos alunos pela disciplina
208. te que a preocupa o b sica dos bi logos era o problema da forma biol gica e as quest es da composi o material eram secund rias Isso era especialmente verdadeiro para as grandes escolas francesas de anatomia comparativa ou morfologia das quais Georges Cuvier foi pioneiro e que criaram um sistema de classifica o biol gica baseado em semelhan as de rela es estruturais CAPRA 1996 p 37 O conceito de vida ampliou se e a ideia de liberdade criativa diretriz fundamental do Romantismo desestabiliza a teoria cl ssica dos g neros estimulando experi ncias em que se rompem as normas Assim como o individualismo e relativismo podem ser considerados a base da atitude rom ntica em contraste com a tend ncia racionalista para o geral e absoluto Este momento assinalado sobretudo pelo xito e canoniza o do romance e do drama formas liter rias modernas por excel ncia e assim usualmente tomadas como correlativas da sociedade de classes emergentes das revolu es industrial liberal e burguesa No s culo XX a partir do Modernismo a ideia de liberdade criativa inven o rom ntica prossegue sua carreira SOUZA 1999 p 13 Neste contexto a contribui o do Romantismo est relacionada ao que redefine tudo no novo ju zo concebendo de maneira nova o papel do artista e o sentido da obra de arte pretendendo liquidar a conven o universalista dos herdeiros da Gr cia e Roma em benef cio de um senti
209. tendidas como representa es ou c pias de objetos vistos um certo tipo de consci ncia A liga o entre pensadores err ticos e reordenadores dos sentidos autor e p blico despontou como uma das importantes fun es da Feira Liter ria de Paraty 2012 ou seja a desmistifica o da literatura tirar os escritores das torres de marfim em que muitas vezes os leitores pensam que eles vivem Respeito demais pela literatura sinal de pouca intimidade com ela PRATA 2012 p 6 Frei Beto numa frase designa que toda literatura um pl gio camuflado sem exce es de escritores 67 O matem tico e escritor de hist rias orientais J lio C sar de Mello e Souza pseud nimo Malba Tahan no livro Matem tica divertida e delirante 1967 procura desmistificar n o os escritores mas algumas cita es destes relacionadas com literatura matem tica e astronomia entre eles est o cap tulo O problema da galera ao luar como os poetas pretendem definir o luar d vida e muito s ria poder preocupar o astr nomo TAHAN 1967 p 173 Assim ressalta os poemas do poeta irland s William B Years que arrancou a lua de sua rbita levando para o mundo complicado de suas fantasias esot ricas ibidem p 28 o romance A Rel quia do romancista portugu s E a de Queir z Do ponto de vista liter rio o trecho que transcorremos impec vel Encontramos por m n le uma afirma o qu
210. tor da tarde escondido nas moitas spessas da ubaia soltava j os prel dios da suave endecha ibidem p 34 2 A coleta de material bot nico foi feita usando as t cnicas usuais para coleta de material em campo As amostras foram herborizadas conforme os procedimentos usuais em trabalhos de levantamentos flor sticos Mori et al 1989 e identificadas com o auxilio de especialistas chaves de identifica es e ou por compara o com cole es do herb rio da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal 89 A presen a do jatob e sua simbologia relacionada for a se faz na paisagem contemplada da Chapada aonde a serra quebrava para o sert o crescia um frondoso jatob que afrontava as rvores do mais alto p ncaro da serrania ALENCAR 1956 p 64 local aonde foi levantada a taba da tribo Pitiguara visando ficar mais pr xima da tribo inimiga Tabajara cujo chefe se chama Jatob Alencar ibidem p 13 relata que Iracema usa os espinhos da ju ara como agulhas para tecer a renda da rede cab vel essa informa o na imagina o do autor pois a palmeira ju ara n o possui espinhos ou podemos supor que na linguagem da poca ou local ju ara significasse palmeiras em geral As demais esp cies observadas se encontram descritas no Quadro 1 foram agrupadas em fam lias de acordo com o sistema APG III Angiosperm Phylogeny Group TMI 2009 Os autores das esp cies foram confirmados nas bases de dados
211. trategia de m todo reconstru mos los viajes de la protagonista Iracema como forma de actualizar el romance resultando en el video documentario Caminhos de Iracema sert o serra e mar Iracema romance y personaje instigan di logos que posibilitan romper la dicotom a entre las dos culturas Charles P Snow reconociendo que ellas no son incomunicables y revelando el argumento central de la tesis Iracema pertenece al orden del complejo es un romance h brido que est m s all mucho m s all de aquella sierra que todav a se ti e de azul en el horizonte Palabras Clave Literatura Iracema Complejidad Quadro 1 Quadro 2 Figuras 1e 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19 LISTA DE QUADROS E ILUSTRA ES Rela o das esp cies flor sticas e seus respectivos usos pelas tribos ind genas segundo o romance Iracema 1956 Composi o da avifauna segundo o romance Iracema 1956 P ginas de rosto das edi es de Iracema editadas na Argentina E PAE A TOS DVD e encarte do v deo document rio Caminhos de Iracema sert o serra e mar Abacaxi Ananas ssp L MerTil ocinnnicininnininnnninicnnnnos Angico Piptadenia macrocarpa Benth Cajueiro Anacard
212. trava a flecha Diante do exposto as viagens de campo constitu ram de riquezas expressivas A obra indianista de Alencar pode ser lida como um livro sobre viagens uma cartografia n o apenas geogr fica de informa es objetivas mas subjetiva afetiva ao que se somam as idas e vindas dos personagens sempre moduladas pelos ritmos da mem ria e da imagina o do escritor O presente imediato convive o tempo todo com o passado mais ou menos pr ximo As linhas das narrativas e met foras s o pistas que servem para ilustrar tais cartografias aonde parece haver sempre uma brisa e um horizonte o ar limpo e o mar verdejante aonde as montanhas aguardam que outros seres as atravessem a verdadeira viagem da imagina o a viagem ao pa s do imagin rio no pr prio dom nio do imagin rio BACHELARD 1990b p 5 166 F TUDO PASSA SOBRE A 7 TERRA 167 TUDO PASSA SOBRE A TERRA Conforme observado a literatura assume uma gama de saberes todas as ci ncias est o presentes no monumento liter rio o saber que ela mobiliza nunca inteiro nem derradeiro n o diz que sabe alguma coisa mas que sabe algo das coisas BARTHES 1978 p 19 O romance revela um potencial articulado como inst ncia complexa sugestivo aberto s diversas reflex es norteado pelo refinamento da sensibilidade da intui o do leitor proporcionando sua compreens o para al m das significa es expl citas no seu discurso repl
213. turais a Bot nica a Ecologia a Fitofarmacologia a Medicina as Ci ncias Humanas Etnologia a Sociologia a Hist ria a Arqueologia e a Lingu stica abrangendo ainda setores da Economia e tamb m o campo das Artes como literatura pinturas etc Nas artes pode se citar como exemplo um dos mais famosos bot nicos do Renascimento Andrea Mattioli que realizou uma grande atividade de pesquisa e como m dico cr tico e leitor atento de textos antigos escreveu os Discursos sobre os seis livros de Ped cio Diosc rides Anazarbeu sobre mat ria m dica no qual grandes pranchas ilustram a obra importante que uma equipe de investiga o etnobot nica tenha elementos com forma es em diferentes reas e que consigam interagir e comunicar entre si como refere Bonet 1998 p 133 o campo de trabalho da Etnobot nica uma ocasi o excepcional de enriquecimento para a ci ncia j que implica esta coopera o de investigadores de horizontes diversos Esta proposta tamb m consonante com o pensamento de Leff 2002 para o qual em alguns casos tanto o reconhecimento como a avalia o das pr ticas tradicionais das culturas sobre a manipula o de seus recursos se torna necess rio recorrer a um conjunto de disciplinas como as de car ter etnol gico etnobot nica etnoecologia e etnolingu stica para descobrir o tra ado de seu processo de constitui o e desaparecimento Por sua vez estas disciplinas articulam se com out
214. u um movimento sutil da nossa pr pria alma Num sentido abrangente tudo aquilo que se move pode ser entendido como um som potencial Quando nos deparamos com uma paisagem na natureza reconhecemos seus contornos suas cores Os seres que ali habitam Percebemos tamb m os sons desta paisagem sejam eles produzidos por animais pelo vento pela gua ou pela a o do homem REIGOTA et al 2001 p 73 No mundo imagin rio de Iracema h presen a dos sons nos embalos dos mist rios da jurema no canto da lua nova Cap tulo XVI na presen a sonora do jurupari esp rito do mal pelas matas no olhar do velho Batuiret no canto mavioso das aves noturnas N o existe uma s coisa no mundo que n o seja misteriosa mas esse mist rio mais evidente em determinadas coisas do que em outras No mar na cor amarela nos olhos dos velhos e na m sica BORGES KODAMA 2010 p 35 A arte de produzir um jeito de cantar em que cada palavra suporta o peso de seu significado e a consist ncia de sua sonoridade um ind cio em Iracema aonde h uma composi o musical acentuada pelos diversos mist rios al m dos rumores da mata do mar do vento dos animais dos cantos das aves das cerim nias rituais das tribos ind genas a m sica abrange dan a cantos sons dos instrumentos ind genas bor marac in bia e dos ca adores trombeta a corporeidade entre outros O paj vibrou o marac e saiu da cabana Eis retro
215. uma testemunham de um modo diferente a exist ncia daquilo que as mant m unidas Essas pr ticas podem ser tanto humanas como pr ticas biol gicas exemplificando que quem duvidasse da exist ncia do Sol teria contra si n o somente o testemunho dos astr nomos e o de nossa experi ncia cotidiana e o da clorofila dos vegetais captadas pela energia ibidem p 119 No s culo XIX em virtude ao entusiasmo tecnol gico propagado pela Revolu o Industrial se propagaram as tentativas de sistematiza o e ascens o de diversas reas do conhecimento Com isso muitos pa ses investiram na cria o de institui es escolas polit cnicas museus sociedades cient ficas em busca do desenvolvimento de pesquisas e estudos para benef cio do desenvolvimento da ci ncia tamb m na Revolu o Industrial que o encanto com o meio ambiente desaparece 42 Ci ncias exatas como a F sica e a Qu mica tiveram um avan o na medida em que se articulava o desenvolvimento tecnol gico com o industrial sendo consideradas fundamentais para o desenvolvimento cient fico Tamb m influenciadas por essas mudan as as ci ncias humanas observaram o surgimento de novas reas como a Sociologia e a Psicologia Foi no s culo XIX que surgiu a fragmenta o das ci ncias humanas em economia ci ncias pol ticas e sociologia PRIGOGINE 2009 p 66 No final do s culo XIX despontava a ideia de que a arte era inspirada pa
216. uscar a lagoa da beleza onde outrora tanto gostara de nadar caminhava para aquela que vira seu esposo abandon la triste e s na margem do rio chamavam aquele s tio da Mecejana que significa a abandonada ALENCAR 1956 p 85 Seguimos para a Lagoa de Messejana outro lugar ambientado pelo romance fica no bairro do mesmo nome local aonde nasceu Jos de Alencar Nas comemora es dos 278 anos de Fortaleza e 170 anos de Alencar realizou se um concurso para eleger a musa do Cear al m do t tulo a musa teve suas caracter sticas f sicas esculpidas numa escultura alusiva Iracema Essa escultura se encontra dentro da lagoa tanto a escultura como as dez placas tem ticas ao redor do cal ad o estavam mal conservadas quebradas e pixadas 10 FIGURA 110 Est tua da Lagoa de Messejana Fortaleza CE Foto RCSartori 165 112 FIGURAS 111 e 112 Placas tem ticas da Lagoa de Messejana Fortaleza CE Fotos RCSartori Segundo Alencar 1956 p 121 Messejana significa o que abandona Mais uma vez Martim parte sem se despedir de Iracema com Poti para guerrear Nas margens da referida lagoa Poti finca uma flecha no ch o Martim quebra um ramo de maracuj este segundo o autor simboliza a flor da lembran a e a entrela a na haste da seta para que Iracema a veja a ndia chora ao encontrar a flecha todos os dias ela voltava para as margens da lagoa a espera de Martim mas quando l chegava somente encon
217. utro p ssaro 110 O cantor e compositor radicado em Botucatu SP Angelino de Oliveira canta em Tristeza do Jeca Eu sou como sabi que quando canta s tristeza desde o galho que ele est Tom Jobim e Chico Buarque tamb m musicaram Sabi Vou voltar Sei que ainda vou voltar para o meu lugar Foi l e ainda l Que eu hei de ouvir cantar uma sabi ressaltando que grande parte da obra de Tom Jobim inspirada na Mata Atl ntica na paisagem do entorno da sua casa a floresta da Tijuca Da m sica literatura de Tom Jobim Alencar inspira es vindas da rica biodiversidade brasileira Foi tamb m na Tijuca que Alencar escreveu Iracema o livro nasceu aqui nas frescas montanhas da Tijuca VIANA FILHO 1979 p 29 abra ent o este livrinho que lhe chega da corte ALENCAR 1956 p 7 Entretanto o embri o do romance come ou a ser gerado nos idos de 1848 quando ele visitou sua terra natal e renasceu a lembran a das paisagens da sua inf ncia O livro cearense Foi imaginado a na limpidez desse c u de cristalino azul e depois vazado no cora o cheio de recorda es vivazes ibidem p 8 Quando Tom Jobim abria o piano dele sa am mares lagoas matas serras montanhas peixes aves Tom vivia falando de ecologia numa poca os anos 60 em que essa palavra ainda n o exigia uma ida ao dicion rio Em troca sua m sica tentou fazer de n s melhores brasileiros e nos alert
218. va lhe o corpo a sombra da oiticica ALENCAR 1956 p 13 O caju considerado pela nag o tupi como um de seus mais completos e importantes alimentos pois os ndios tupis como habitantes aut ctones do nordeste do Brasil conheciam muito bem o caju logo seu pr prio nome origin rio da l ngua ind gena a palavra acaiu de origem tupi significa noz que se produz Al m da descrig o do uso do caju que consta no Quadro 1 h tamb m um ritual que os tabajaras entoam Jaci lua um canto que menciona a fruta Veio do c u a esposa do sol j volta o rosto para ver seus filhos Ela traz as guas que enchem os rios e a polpa do caju ibidem p 55 Nas sombras dos juazeiros se encontra a taba do Paj ou seja a grande taba da na o tabajara se situa em um dos vales da Chapada e mais longe pendurada no rochedo sombra dos altos juazeiros a cabana do Paj ibidem p 15 Nesta cabana h esteiras que s o feitas das folhas da carna ba o paj se senta na esteira e na porta da oca fuma o cachimbo meditando os sagrados ritos de Tup assim como a troca da fuma a da despedida conforme mencionado o fumo provem da erva de Tup Da jurema feito o licor considerado a bebida sagrada de Tup Tamb m s o sobre as esteiras da carna ba que s o ofertados os restos da ca a e os vinhos A ubaia em tupi significa yb aia fruto azedo e se configura como escondirijo para o sabi do sert o mavioso can
219. viagens pelo estado do Cear foram utilizadas anota es em cadernetas e pap is soltos visando descrever o que ocorria durante os percursos bem como para registrar as conversas informais e reflex es pessoais suscitadas por n s e pelas pessoas que encontramos durante os trajetos das viagens import ncia mpar para avivar nossa mem ria unindo fatos e datas mas principalmente como re descobertas que amos fazendo ao longo dos caminhos reais imagin rios 34 Isso equivale a dizer que privilegiamos os meios de investiga o aonde cada observador registrou suas observa es em um di rio pessoal la anotaci n acompa ada de a adidos subjetivos impresiones sentimientos ofrece a la mirada exterior que puede ser uma grande mirada del pr prio observador uma mat ria que permite eludir la relaci n observador fen meno MORIN 1995 p 195 A arte da entrevista segundo Morin 1995 p 196 consiste em superar las inhibiciones apelando a la necesidad de comunicac on del entrevistado As entrevistas foram realizadas atrav s de di logos conversas informais perguntas n o estruturadas relatando o entrevistado livremente seu parecer sobre Iracema seus personagens temas norteados ou pr ximos do romance ndios colonizadores religi o rituais funda o de vilas cearenses subsidiando assim a pesquisa com informa es diversificadas colhidas pelos caminhos percorridos onde passado e presente se misturav
220. za CE Serra de Maranguape CEN cioinn ai Rio Pirapora Serra Maranguape CE Queda do Rio Pirapora CE eee Flertando com o habitante verde de olhos pretos da Serra de Maranguape CE n i Trilha da Serra de Maranguape e cabana de palha CE Lagoa da Parangaba e vegeta o do entorno Fortaleza Acesso Lagoa da Sapiranga Fortaleza CE Est tua da Lagoa de Messejana Fortaleza CE Placas tem ticas da Lagoa de Messejana Fortaleza CE 151 152 152 153 153 154 154 155 155 156 156 157 157 158 159 159 160 160 160 161 162 163 164 165 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APG M CCHLA CE DVD FCA FOLHA DE SPAULO FUNAI GRECOM IBAMA IBGE MAI ONG PISA RN UFRN UNESP UNICAMP USAL Angiosperm Phylogeny Group HI Centro de Ci ncias Humanas Letras e Artes Cear Digital Versatile Disc Faculdade de Ci ncias Agron micas Folha de S o Paulo Funda o Nacional do ndio Grupo de Estudos da Complexidade Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renov veis Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica Master en Antropolog a Iberoamericana Organiza o n o governamental Programme for International Student Assessment Rio Grande do Norte Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual Paulista J

diálogo ciência e literatura renata coelho sartori

Contents

Download Pdf Manuals

Related Search

Related Contents

di&aacute;logo ci&ecirc;ncia e literatura renata coelho sartori

Contents

Download Pdf Manuals

Related Search

Related Contents

diálogo ciência e literatura renata coelho sartori