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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

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1. dilemas humanos A reforma do capitalismo est fora de nosso alcance digam o que quiserem os donos da ordem e os seus mais fi is servidores da intelligentsia e da tecnocracia FERNANDES 1986a p 32 22 a esquerda e a Constitui o Folha de S Paulo 11 jun 1986 23 J em 1978 Florestan duvidava do fato das classes possuidoras terem se convertido em t o pouco tempo em sua ant tese hist rica Como poderia o paladino da contra revolu o converter se em treze anos em um burgu s liberal radical ou uma burguesia t mida e pr imperialista se metamorfosear em uma burguesia conquistadora ou revolucion ria FERNANDES 1994 p 114 254 A esquerda e a Constitui o Folha de S Paulo 11 jun 1986 255 Embates eleitorais e luta pela vida Folha de S Paulo 11 nov 1985 150 Fernando Henrique Cardoso candidato pelo PMDB em n o levantar algumas bandeiras verdadeiramente socialistas tal como a do engajamento pol tico da maioria pobre e destitu da na solu o de seus problemas mais prementes e por fim a campanha de seu candidato Eduardo Suplicy representante do PT que produzia uma adocicada propaganda eleitoral um caminho arriscado para um partido que queria decolar com for a pr pria custa de que pre o De uma social democratiza o a la moderna e a la brasileira de consci ncia cr tica humanit ria mas ir nica galhofeira e pluriclassist
2. 377 Falando sobre As contradi es do Centr o Folha de S Paulo 26 abr 1988 Florestan vai indicar que este agrupamento compostos por parlamentares dos partidos da ordem especialmente PMDB e PFL foi a primeira forma o pol tica autodefensiva e ofensiva dos estratos mais altos e privilegiados da burguesia na hist ria brasileira Ele abrange os principais atores em termos de ideologias e interesses de classes do golpe de Estado de 1964 e os arquitetos dirigentes decisivos n o os conciliadores famintos de poder do pacto conservador de 1984 e da concep o da Nova Rep blica como a via pr tica da transi o lenta gradual e segura na qual estava compreendida a convoca o de um congresso constituinte e uma tentativa pol tica de solu o pac fica da crise burguesa FERNANDES 1989b p 259 Derrota das esquerdas 7 Folha de S Paulo 21 dez 1987 2 Ren ncia ou destitui o Jornal do Brasil 12 jan 1988 180 leitores a necess ria radicalidade no tratamento das quest es que travavam da cria o e do desenvolvimento de uma sociedade democr tica no Brasil Tanto que no mesmo artigo supracitado lembra o ensinamento de Marx de que o processo pode ser menos duro e cruel de acordo com o grau de desenvolvimento do capitalismo ainda que o mesmo n o garanta o xito de nenhuma revolu o social per si Florestan confessa por m que a elabora o da Const
3. FERNANDES 1986a p 152 A rota burguesa da transi o democr tica segundo o publicista estava apenas preocupada em adaptar a ditadura s condi es hist ricas da ltima crise mundial do capitalismo que se expressava na especula o financeira desenfreada na infla o galopante no desemprego em massa no crescimento da mis ria na migra o incontrol vel dos mais pobres que j n o eram mais um ex rcito industrial de reserva na nova taxa de explora o da mais valia relativa institucionalizada pelo arrocho salarial e outros mecanismos de press o sobre os trabalhadores no endividamento e na expropria o do excedente econ mico nacional pelo grande capital estrangeiro Seu objetivo premente era enfrentar a ofensiva dos trabalhadores que a partir de 1976 e 1977 encetavam partindo da luta meramente defensiva para a luta ofensiva um movimento de autodefesa que nascia das f bricas e dos sindicatos sob um forte ativismo de base 25 Repress o participativa Folha de S Paulo 30 ago 1984 216 Perplexidade e imobilismo Folha de S Paulo 17 set 1984 27 A luta pol tica Folha de S Paulo 07 out 1984 136 Tanto os patr es quanto a ditadura se viram presos numa espiral de lutas econ micas e pol ticas que n o se esgotavam mais em acordos e arranjos de c pula Essa altera o do comportamento oper rio coincidia com os movimentos paralelos no campo e nas cidades que
4. encontra a uma nova formula o O educador progressista precisa fundir dois pap is o de professor e o de cidad o para a constru o de uma cultura c vica que atravesse a escola e permita a generaliza o de uma cultura cr tica no meio social s assim se protege de ser reduzido condi o de mero instrumento no entrechoque de interesses e conflitos sociais que operam al m e atrav s das fun es preenchidas pela educa o sistem tica na ordem social estabelecida FERNANDES 1966 p 544 545 Cabe ao professor reeducar se a si pr prio como condi o para aperfei oar se e p r se acima das conting ncias do meio tomando consci ncia da situa o e das exig ncias todo especiais que ela imp e ao educador que os professores brasileiros poder o arcar com o extraordin rio dever de advogado ex officio dos interesses educacionais descurados da comunidade 167 A mudan a em qualquer sociedade um processo pol tico fundamentalmente uma tentativa das classes dominantes de manterem a domina o de as classes intermedi rias se associarem em seu proveito domina o ou alterarem o seu conte do e as suas formas Em sentido inverso uma tentativa das classes subalternas no sentido de modificar ou destruir a domina o FERNANDES 1989d p 166 168 A doutrina materialista sobre a mudan a das conting ncias e da educa o se esquece que tais conting ncias s o mudadas pelos homens
5. gt E n o ecl tica lembra Candido 2001 p 60 Marx tamb m explorou diferentes linhas por vezes potencialmente conflitantes como a economia liberal inclusive a teoria de Ricardo o radicalismo democr tico franc s o materialismo filos fico alem o e nem por isso foi ecl tico Outros que defendem essa posi o de que h na obra de Florestan uma articula o qualitativa na reuni o das diferentes teorias sociol gicas e n o uma simples superposi o s o Reis 2005 p 206 e Martins 1998 p 29 66 um novo tipo de sociologia transformando a sociologia cient fica neutra em sociologia participante sem perder nada do rigor metodol gico e da objetividade na investiga o Creio que ele foi o primeiro e at hoje o maior praticante no Brasil desse tipo de ci ncia sociol gica que ao mesmo tempo arsenal da pr xis fazendo o conhecimento deslizar para a cr tica da sociedade e a teoria da sua transforma o CANDIDO 2001 p 60 Ap s concretizar a profecia de Fernando de Azevedo tornando se professor efetivo da Faculdade de Filosofia Florestan aproveitar sua nova posi o social para intervir no debate sobre os problemas pol ticos nacionais sempre a partir de uma postura cr tica racional atuando neste momento como um intelectual moderno no sentido apropriado por Garcia 2002 p 14 da defini o criada por Bourdieu o intelectual como um ser bidimensional que atua como produtor cultural
6. para alunos p s graduandos da PUC FERNANDES apud FREITAG 1996 p 165 Com estes escritos contrapondo e conjugando as perspectivas de revolu o dentro da ordem e de revolu o contra a ordem Florestan participa dos debates sobre os rumos da democracia no pa s dando contornos a um tipo de orienta o socialista que tem como base a antiga esperan a de racionaliza o da vida social Depois de um esfor o de auto afirma o e de luta pela sobreviv ncia que justificava a obsess o cientificista e metodol gica na qual a passagem pela universidade o fez ter uma atua o docente radical constatava que teria encontrado naquelas condi es hist ricas o seu limite de atua o no respectivo campo Se houve em algum momento um superdimensionamento da universidade a experi ncia acad mica lhe permitiu um profundo aprendizado de libera o mental pol tica e tica classes subalternas de Octavio Ianni O modelo brasileiro de desenvolvimento de Fernando Henrique Cardoso e Desenvolvimento e reparti o de renda no Brasil de Paul Singer 193 Buscando compreender a proposta intelectual elaborada por Florestan Fernandes entre aos anos de 1969 e 1983 quando sua obra se localiza entre a academia e o partido Rodrigues 2005 p 21 25 num estudo ainda em gesta o faz a seguinte divis o das fontes a artigos e livros nos quais constam os textos que constituem uma avalia o cr tica com teor predom
7. Ela repele o mais t nue mudancismo do PMDB Teme a civiliza o e a democratiza o da sociedade civil e por isso abomina a ANC com as amea as que ela pressup e de moderniza o controlada a partir de dentro com reforma agr ria reforma educacional reforma urbana combate mis ria etc FERNANDES 1989b p 175 315 A deus transi o Jornal do Brasil 19 out 1987 316 Teoria e pr tica do golpe preventivo Folha de S Paulo 30 out 1987 317 O apogeu do processo constituinte Jornal do Brasil 02 nov 1987 318 Ser ou n o ser estadista Folha de S Paulo 06 nov 1987 176 A pr tica pol tica como forma de neg cio tomava novo ritmo com o avan o das press es patronais contra os privil gios dos assalariados na cr tica aos abusivos direitos trabalhistas e o corporativismo do setor p blico Era mais uma tentativa de ampliar a transfer ncia de renda para a iniciativa privada mecanismo que est na base de fomenta o de um desenvolvimento capitalista desigual e perverso As bases ideol gicas da privatiza o estavam dadas sem se atentar para o fato de que onde o poder p blico recua ou anula a iniciativa privada n o opera como um fator estrutural e din mico de compensa o Ao contr rio o subdesenvolvimento funciona como o motor permanente de uma acumula o capitalista origin ria que se renova sem cessar FERNANDES 1989b p 177 178 agravando o quadro das v
8. es uma sociedade democr tica liberdade de comunica o e de cr tica meios financeiros e humanos ascendentes renova o constante dos talentos e colabora o entre as gera es FERNANDES 1995c p 24 483 A universidade sob tens o Folha de S Paulo 01 out 1990 227 associado pesquisa e p s gradua o fora dos pa ses desenvolvidos teve como justificativa a suposta nfase na educa o b sica que ficou restrita necess ria mas n o suficiente universaliza o do ensino fundamental promovida durante o governo Fernando Henrique Cardoso Mesmo considerando salutar o esfor o no atendimento quantitativo a qualidade da escola p blica nesse n vel de ensino continua aqu m das necessidades socioecon micas o que se comprova pelo grande n mero de repeti o e abandono que faz engrossar o contingente de jovens e adultos que fora da idade escolar ainda n o contam com a aten o de pol ticas p blicas efetivas para o seu atendimento Soma se a isso o ainda ineficiente atendimento educa o infantil rec m incorporada ao sistema oficial de ensino e a chamada bolha do ensino m dio que s consegue ser furada pelas escolas de elite p blicas e particulares que fornecem a clientela para os n veis superiores O vestibular das cotas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro UERJ no in cio de 2003 para al m de seus defeitos e virtudes teve o m rito de colocar e
9. o institucional Folha de S Paulo S o Paulo 10 mar 1987 A Constitui o inacabada p 71 73 Autofagia Folha de S Paulo S o Paulo 18 mar 1987 A Constitui o inacabada p 74 76 O uso da iniciativa popular Folha de S Paulo S o Paulo 03 abr 1987 A Constitui o inacabada p 77 80 A fragmenta o do processo constituinte Folha de S Paulo S o Paulo 12 abr 1987 A Constitui o inacabada p 81 83 A raposa mostra o seu rabo Folha de S Paulo S o Paulo 30 abr 1987 A Constitui o inacabada p 84 86 Invas o e desafio Folha de S Paulo S o Paulo 08 mai 1987 A Constitui o inacabada p 87 90 O centro do poder Folha de S Paulo S o Paulo 04 jun 1987 A Constitui o inacabada p 91 93 Constitui o e elei o Folha de S Paulo S o Paulo 18 jun 1987 A Constitui o inacabada p 97 99 As perspectivas do PMDB Folha de S Paulo S o Paulo 26 jun 1987 A Constitui o inacabada p 100 102 A pedagogia socialista s se efetivar ap s a vit ria da revolu o prolet ria CPB Not cias Bras lia jul de 1987 O desafio educacional p 149 153 Crise de poder e Assembl ia Nacional Constituinte Folha de S Paulo S o Paulo 07 jul 1987 A Constitui o inacabada p 103 107 Controv rsias sobre a Constitui o Folha de S Paulo S o Paulo 16 jul 1987 A Constitu
10. ou pragmatistas que t m como fronteira a democracia liberal e a ilus o do progresso cont nuo das transforma es sociais Ainda sim afirma Florestan n o se pode negar o lado positivo dessas contribui es a qualidade consist ncia e exegiiibilidade nos alvos centrais de mudan a institucional cujas potencialidades podem ser medidas pela rapidez com que suas propostas de reforma foram solapadas Os donos do poder tolhem a irradia o dessas reformas t picas engolfados em sua resist ncia tenaz a uma sociedade de classes aberta e democr tica O reformador como o revolucion rio definido de modo intolerante como se ele incitasse a inquieta o contra a ordem inimigo dissimulado de sua estabilidade social e pol tica Esse o ingrediente compulsivo da revolu o burguesa em sua manifesta o segmentada como uma revolu o burguesa interrompida em todos os seus ritmos hist ricos lentos ou relativamente acelerados durante lapsos curtos ou longos de tempo A tenacidade do reformador desse porte fundamental compreens o das inconsist ncias da mudan a social e necessidade de interromper reformas e revolu es capitalistas antes que elas cheguem a afetar os dinamismos de uma sociedade imantada em interesses preconceitos e controles que resguardam o status quo de ondas reformistas ou revolucion rias dentro da ordem que amea am direta e indiretamente os privil gios e as posi es de domina o
11. patronal e plutocr tico os agrupamentos pol ticos e seus intelectuais a come ar pelo novo governo eleito optaram pela manuten o da paz social aqui se situam os novos rumos que assinalam os caminhos das for as sociais e pol ticas que lutam pela revolu o democr tica Em nome desta n o se poder legitimar impor se arrasadoramente uma paz de cemit rios a voz dos mortos e dos velhos h bitos de mandonismo pol tico esclarecido O que j foi j foi A hist ria se abre de hoje e de amanh para a frente N o se trata de combater um governo que est comprometido e tamb m obrigado a realizar certas mudan as pol ticas como se fosse o suced neo e o equivalente da ditadura em colapso Esse um erro de perspectiva idiota 222 Quem paga o pacto Folha de S Paulo 28 dez 1985 223 Pacto social e a Nova Rep blica Folha de S Paulo 21 jan 1985 139 Agora trata se de lutar contra a continuidade da ordem ilegal que submeter o pr ximo governo a uma cadeia invis vel e anular o mpeto criativo das for as sociais das classes trabalhadoras e da massa popular Agora trata se de colocar frente o impulso de insatisfa o pol tica dessas for as nas rela es com o pr ximo governo e acima de tudo com o que essencial a constru o de uma nova sociedade Haver uma Nova Rep blica se as for as sociais substantivamente democr ticas se lan arem ao comb
12. talvez tentando tornar coletiva sua trajet ria individual Far isso a partir de um projeto cient fico arrojado com bases em rigorosos princ pios te ricos e investigativos e que atrav s de seus disc pulos transformar se numa importante escola intelectual brasileira Mas os efeitos deste projeto ir o culminar em algo mais do que em uma sociologia do reencontro como se mostra no ltimo cap tulo que encerra a primeira parte A quest o revolu o burguesa e capitalismo dependente A sua sociologia cr tica e militante CANDIDO 2001 vai dar voz aos grupos sociais 22 marginalizados combater ci ncia social colonizada e intervir no debate de in meros problemas nacionais a come ar pela quest o da democracia numa sociedade de revolu o burguesa inconclusa O quarto cap tulo Um objeto a educa o como dilema investiga a participa o de Florestan num destes debates quando foi aberta a oportunidade de se organizar a educa o nacional atrav s da primeira Lei de Diretrizes e Bases LDB Neste terreno vai defender atrav s de com cios palestras e muitos artigos a democratiza o do ensino e combater o uso da educa o como mecanismo de privil gio social Outro ponto fundamental para a efetiva adequa o da educa o s necessidades sociais de conserva o ou mudan a segundo Florestan est no papel do professor como agente promotor de mudan a social No seu caso particular es
13. A era da esperan a Portugal Democr tico S o Paulo mai 1974 Democracia e desenvolvimento p 48 52 Entrevista com Florestan Fernandes Portugal Democr tico S o Paulo dez 1974 Democracia e desenvolvimento p 53 57 A atualidade de L nin Leia Livros S o Paulo 15 out 1978 Brasil em compasso de espera p 99 102 O mito revelado Folha de S Paulo S o Paulo 08 jun 1980 A for a do argumento 1998 p 31 36 A atualidade de Marx Folha de S Paulo S o Paulo 13 mar 1983 Em busca do socialismo p 33 41 A vit ria da revolu o cubana Folha de S Paulo S o Paulo 1 jan 1984 A for a do argumento p 37 45 L nin e o socialismo Voz da unidade S o Paulo 21 jan 1984 Em busca do socialismo p 95 99 Significado pol tico das elei es diretas Folha de S Paulo S o Paulo 21 mar 1984 Que tipo de Rep blica p 200 205 O povo nas ruas Folha de Londrina Londrina 17 abr 1984 Que tipo de Rep blica p 188 194 Entrevista a Jo o Arruda O significado de 16 de abril Folha de S Paulo S o Paulo 24 abr 1984 Que tipo de Rep blica p 183 187 Diretas j uma derrota Folha de S Paulo S o Paulo 03 mai 1984 Que tipo de Rep blica p 179 182 Os de baixo Folha de S Paulo S o Paulo 20 jun 1984 Que tipo de Rep blica p 171 174 A ditadura sem m scara Folha d
14. Di rio da Assembl ia Nacional Constituinte Bras lia 22 jun 1989 Discursos selecionados p 367 368 O efeito gangorra Jornal do Brasil Rio de Janeiro 26 jun 1989 A transi o prolongada p 78 82 Os prefeitos do PT Folha de S Paulo S o Paulo 14 ago 1989 A transi o prolongada p 121 123 A transi o democr tica Folha de S Paulo S o Paulo 21 ago 1989 A transi o prolongada p 65 67 A educa o do futuro Folha de S Paulo S o Paulo 11 set 1989 A transi o prolongada p 211 213 Rasgando a seda Folha de S Paulo S o Paulo 18 set 1989 A transi o prolongada p 54 56 Democracia e socialismo Folha de S Paulo S o Paulo 13 out 1989 A transi o prolongada p 156 159 Isolamento ou provincianismo Jornal do Brasil Rio de Janeiro 22 nov 1989 A transi o prolongada p 39 42 Por que n o votar em Fernando Collor de Mello Folha de S Paulo S o Paulo 02 dez 1989 A transi o prolongada p 32 34 262 Alian as Urgentes Folha de S Paulo 04 dez 1989 A transi o prolongada p 31 32 O ano do PT Folha de S Paulo S o Paulo 08 jan 1990 A transi o prolongada p 23 24 O socialismo est morto Folha de S Paulo S o Paulo 19 fev 1990 A transi o prolongada p 155 156 El Salvador impasse na dualidade de poder Folha de S Paulo S o Paulo 2
15. Eram 29 candidatos dos quais apenas seis foram aprovados entre eles Florestan CERQUEIRA 2004a p 29 Na d cada de 1940 a maior parcela da popula o pobre n o tinha acesso nem mesmo ao ensino fundamental GADOTTI 2003 p 122 o que demonstra a singularidade do fato de Florestan chegar ao ensino superior dominado pelos filhos das elites Segundo Miceli 1987 no caso das ci ncias sociais paulista o alunado era composto por descendentes de fam lias imigrantes abastadas do ponto de vista material de setores tradicionais do interior do estado e de grupos familiares ligados ao magist rio secund rio burocracia estatal e ao desempenho de cargos intelectuais e culturais 30 estudo sistem tico bem fundamentado teoricamente referendado por pesquisas emp ricas come a portanto com a distin o entre ser jornalista e ser soci logo Ficam assim indicados alguns dos principais aspectos da mentalidade que se formou no ambiente uspiano da poca os quais em meu entender exerceram consider vel influ ncia sobre o modo como Florestan foi construindo sua concep o de trabalho sociol gico Eles apontam para um complexo quadro cultural e social que d sentido ao coment rio de Bastide que op e a disserta o reportagem ou a perspectiva do trabalho acad mico ao enfoque jornal stico Eles diz que uma coisa ser jornalista e outra ser soci logo o que distingue os dois o modo de trabalhar a dife
16. Folha de S Paulo S o Paulo 15 set 1986 A Constitui o inacabada p 34 36 Movimentos oper rios greves e democracia Folha de S Paulo S o Paulo 29 set 1986 A Constitui o inacabada p 39 42 A cabe a do trabalhador Folha de S Paulo S o Paulo 03 nov 1986 A Constitui o inacabada p 43 46 Luta de classes e socialismo prolet rio Folha de S Paulo S o Paulo 28 nov 1986 A Constitui o inacabada p 47 50 Congresso Constituinte sem sonhos Pasquim Rio de Janeiro 11 a 18 dez 1986 A Constitui o inacabada p 51 52 Miss o imposs vel Folha de S Paulo S o Paulo 22 dez 1986 A Constitui o inacabada p 53 55 Pacto social e desmobiliza o Folha de S Paulo S o Paulo 08 jan 1987 A Constitui o inacabada p 56 59 Os trabalhadores e a Constitui o Folha de S Paulo S o Paulo 02 fev 1987 A Constitui o inacabada p 60 63 A maioria n o est na Constituinte Jornal do Brasil Rio de Janeiro 08 fev 1987 Democracia e desenvolvimento p 126 131 Entrevista a Aristeu Moreira e F tima Turci O significado hist rico da Assembl ia Nacional Constituinte Di rio da Assembl ia Nacional Constituinte Bras lia 12 fev 1987 Discursos selecionados p 207 209 258 A crise Folha de S Paulo S o Paulo 23 fev 1987 A Constitui o inacabada p 64 66 A pr tica da representa
17. S o Paulo Hucitec 1976b Estudos Brasileiros 6 Universidade brasileira reforma ou revolu o S o Paulo Alfa Omega 1975a Biblioteca Alfa Omega de Ci ncias Sociais Sociologia S rie 1 v 3 A revolu o burguesa no Brasil ensaio de interpreta o sociol gica Rio de Janeiro Zahar Editores 1975b Capitalismo dependente e classes sociais na Am rica Latina 2 ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1975c Biblioteca de Ci ncias Sociais Comp Comunidade e sociedade no Brasil leituras b sicas de introdu o ao estudo macro sociol gico do Brasil 2 ed S o Paulo Companhia Editora Nacional 1975d Biblioteca Universit ria S rie 2 Ci ncias Sociais v 37 Comp Comunidade e sociedade leituras sobre problemas conceituais metodol gicos e de aplica o S o Paulo Companhia Editora Nacional Editora da USP 1973 Biblioteca Universit ria S rie 2 Ci ncias Sociais v 34 O negro no mundo dos brancos S o Paulo DIFFEL 1972 Cor e estrutura social em mudan a In FERNANDES Florestan BASTIDE Roger Brancos e negros em S o Paulo ensaio sociol gico sobre aspectos da forma o manifesta es atuais e efeitos do preconceito de cor na sociedade paulistana 3 ed S o Paulo Companhia Editora Nacional 1971a p 82 146 Ensaios de sociologia geral e aplicada 2 ed S o Paulo Pioneira 1971b Biblioteca Pioneira de Ci ncias Sociais Sociologia
18. efetivamente assimilado ou mesmo compreendido nos sentidos mais profundos que trazia nem devidamente discutido na mudan a de perspectivas anal ticas que apresentava considerando a agudeza da sua cr tica e o alcance das suas consegii ncias te ricas Sobre o tema conferir o cap tulo anterior 154 De acordo com Florestan no artigo Os educadores e as exig ncias educacionais do presente O Estado de S Paulo 14 fev 07 mar e 04 abr 1959 o arsenal de id ias ut picas dos fil sofos da Ilustra o teve ent o sua import ncia por permitir que se acreditasse que a educa o formal seria a chave da solu o dos problemas econ micos e pol ticos do Brasil Todavia patente que convic es dessa ordem mant m nos aferrados a uma no o obsoleta de educa o formal entendida como panac ia social Deu se import ncia exclusiva a um dos lados do tri ngulo como se o todo n o existisse a escola encarada como meio para atingir certos fins foi o nico alvo visado pelas reflex es e pelas tentativas de reforma Tomou se por assentado que constitu das as escolas seus fins seriam fatalmente atingidos e que a sociedade brasileira encontraria assim a senda que lhe abriria o caminho do progresso FERNANDES 1966 p 549 155 No mesmo artigo citado na nota anterior Florestan reconhece o valor de Dewey especialmente seu rep dio ao princ pio da autoridade externa numa sociedade fundada no sufr gio popular No ent
19. es como a Igreja Cat lica ou para adaptar dispositivos constitucionais a negociatas de car ter pessoal FERNANDES 1989b p 106 Mas a batalha constitucional n o estava perdida Por detr s do totalitarismo de classe que queria paralisar o processo constituinte para impedir que a revolu o democr tica tomasse seu rumo estava a oportunidade de se elaborar uma carta magna capaz de ensejar uma nova sociedade de classes e um novo tipo de Rep blica burguesa Ainda que longe do que muitos aspiravam este constitu a ao menos o ponto de partida para as conquistas efetivas que n o puderam ser alcan adas Afinal se uma constitui o n o mais do que a distribui o do poder na sociedade civil e o modo de usar socialmente o poder pol tico estatal n o seria utopia nem ingenuidade manter a esperan a que a press o popular engendrasse a elabora o de um texto constitucional anal tico e instrumental ou seja capaz de incorporar as grandes reivindica es populares que n o descarregasse sobre os ombros dos oprimidos todos os custos do desenvolvimento capitalista desigual e tamb m garantisse o m nimo de respeito pessoa humana com certos m nimos de salvaguardas individuais e coletivas tais como as liberdades pol ticas Acima de tudo carecemos de uma constitui o viva que fomente a transforma o de mentes e cora es forje a civiliza o da sociedade civil e institua a democratiza o do E
20. es e da reconstru o da ordem social FERNANDES 1976a p 212 No caso em quest o o mais preocupante n o foi o combate discursivo aos pressupostos estatizantes das correntes socialistas mas o massacre ideol gico sobre as concep es burguesas de revolu o educacional representadas especialmente nas figuras 150 de Fernando de Azevedo e An sio Teixeira Os esfor os dessa tangente burguesa na rea educacional buscavam colocar o Brasil num novo patamar Era uma utopia reformista de 150 Aprecia es recentes de Florestan sobre os respectivos educadores encontram se em Reforma educacional a contribui o de Fernando de Azevedo parte 3 de Fernandes 1995b e An sio Teixeira e a luta pela escola p blica em Fernandes 1992b J em Fernandes 1966 encontram se dois artigos de jornais publicados respectivamente nas d cadas de 40 e 50 Fernando de Azevedo e a sociologia educacional no Brasil Jornal de S Paulo 03 nov e 10 nov 1946 An sio Teixeira e a democratiza o do ensino O Estado de S Paulo 13 jul 1957 Para uma compara o entre a rela o projeto nacional e educa o em Fernando de Azevedo e Florestan Fernandes conferir Jos Souza 2002 J em Nunes 2000 encontra se uma ampla e profunda an lise da vida e obra educacional de An sio Teixeira 101 supera o de etapas mas uma utopia que visava a oferecer a todas as classes sociai
21. especialmente os inconformistas e dissedentes No fundo cada artigo surgia como se eu estivesse escrevendo cartas aos leitores largando a pele do soci logo em troca do papel de publicista agarrando com tenacidade s causas das classes oprimidas tica socialista da luta de classes e difus o da desobedi ncia civil como o patamar inicial de uma revolu o democr tica de cunho prolet rio e popular Solit rio e impotente para ir mais longe dediquei me a uma esp cie de jornalismo pol tico sem grifo no original que partia da conjuntura para os movimentos mais fundos de transforma o da sociedade combinando o saber sociol gico acumulado ao longo dos anos necessidade de servir imensa maioria dos espoliados e queles que como eu est o dispostos a tudo para que o Brasil supere para sempre uma degradante tradi o de embrutecimento e de exclus o dos oprimidos FERNANDES 1986a p 11 Para Florestan o fato desses escritos de combate terem duas faces uma negativa e outra positiva com a evidente contradi o entre a realidade descrita e o futuro previsto n o 2 pode ser entendido sob a simples oposi o entre pessimismo e otimismo Ao se opor frontalmente aos des gnios do que sobrou do golpe de 1964 a tentativa de implanta o de uma rep blica institucional encabe ada pelos e para os opressores nacionais e estrangeiros 21 A Folha de S Paulo surgiu na
22. o Cultura e Esportes e as comiss es de Fam lia Educa o Cultura e Esportes de Ci ncia e Tecnologia e de Comunica o 153 O livro em quest o 4 Constitui o inacabada vias hist ricas e significado pol tico FERNANDES 1989b re ne escritos destinados majoritariamente Folha de S Paulo e ao Jornal do BrasiP que continuam e aprofundam as an lises iniciadas em obras anteriores especialmente Que tipo de Rep blica FERNANDES 1986a S que agora eleito deputado constituinte depois de alguma relut ncia em participar do pleito e mesmo em se filiar ao PT Florestan podia acompanhar o processo de perto e por dentro Essa dupla condi o de parlamentar e observador n o frequente tampouco bem vista por todos Os conflitos de lealdade foram por mim solucionados privilegiando a ltima condi o Penso que o parlamentar n o pode isentar se de uma responsabilidade pol tica maior e saud vel corrigir a tica dos interesses ou do vi s direto pela perspectiva que nasce de v nculos com entidades externas e pela participa o dos movimentos pol ticos que nascem vivem e morrem na sociedade N o se trata de um equivalente t cnico da espionagem ou da detra o pura e simples Cada um respons vel pelo que escreve e se faltar verdade fica sujeito condena o de seus pr prios pares Desenvolvi uma clara consci ncia desse fato e dos limites dentro dos quais deveria exercer um papel cr
23. o abre perspectivas encorajadoras por permitir articular a solu o dos problemas educacionais ao conhecimento e ao controle efetivo dos fatores antigas institui es sociais n o conseguem se ajustar ao novo tipo de organiza o econ mica Segundo Rom o na trajet ria florestaniana o termo n o deixa de ser utilizado mas sob a progressiva apropria o para denotar a particularidade de um tipo de desenvolvimento que n o se encaixam na perspectiva sociol gica tradicional N o se tratava de mero conservadorismo nem de uma forma de desajustamento social prevista pela teoria cl ssica A percep o da particularidade brasileira faz com que progressivamente percam for a na sociologia de Florestan as id ias dualistas do tipo Brasil arcaico Brasil moderno que haviam marcado sua produ o acad mica at ent o Ocorre que sua reflex o sociol gica passa a deslocar se a partir dos textos do in cio dos anos 60 para o campo da pol tica do embate das classes sociais ROM O 2003 p 47 135 Segundo Florestan para a amplia o do horizonte cultural do homem na moderna civiliza o cient fica e tecnol gica a educa o deveria caminha junto ci ncia social aplicada como operadora de tend ncias din micas de controle da mudan a social A ci ncia aplicada como fonte de conhecimentos e de t cnicas de explora es pr tica imediata na solu o de problemas novos a educa o como mecanismo de preserva
24. o do p blico uma sa da sutil de proteger os privil gios das organiza es privadas confessionais e mercantis contra os direitos dos educandos e contra as tarefas construtivas do Estado democr tico na rea do ensino FERNANDES 1989b p 193 O processo constituinte chegava assim ao seu auge simbolizando a desagrega o final de um sistema de poder ditatorial enquanto que a sociedade brasileira apresentava uma estranha dicotomia nesse momento decisivo Ela ferve como um caldeir o em sua base econ mica e social poucas vezes em nossa hist ria ocorreu essa coincid ncia Rangem os dentes os de cima e os de baixo n o s por causa do que a Constitui o poder dar a uns e retirar ainda que parcialmente de outros tamb m porque a crise de conjuntura revela aos de baixo a natureza da crise estrutural permanente a qual resulta da superposi o hist rica de v rios antigos regimes que n o se desfizeram por completo convivem e sobrevivem gra as ao desenvolvimento desigual s terr veis dist ncias econ micas sociais culturais e pol ticas existentes entre classes ra as e regi es O quadro t trico desnuda se naturalmente provocando arrepios de medo nas classes possuidoras e privilegiadas e crispa es de dio nas classes subalternas e exclu das FERNANDES 1989b p 181 322 Como afirma Semeraro 2004 p 65 em um mundo em que a imagem conta mais do que o produto alastra se a convic o
25. o oral reproduzidos em Fernandes 1972 Fundado com base nos ideais de um grupo de republicanos em 4 de janeiro de 1875 o jornal chamava se poca 4 Prov ncia de S o Paulo Em 31 de dezembro de 1889 logo ap s a queda da Monarquia ganhou o atual nome quando o jovem redator Julio C sar Ferreira de Mesquita assumiu a sua dire o fam lia a qual at hoje pertence o ve culo Ap s apoiar Get lio Vargas em 1930 a hist ria do jornal toma novo rumo com a revolu o constitucionalista de 1932 sendo um dos principais opositores do Estado Novo nesse per odo como veremos a seguir que colabora para a forma o das primeiras gera es de cientistas sociais abrindo espa o para ensaios pol ticos culturais e acad micos ABREU 1996 32 que o torna mais consciente da necessidade de uma postura metodol gica exigente desenvolvendo melhor a percep o sobre o que diferencia o amador do profissional o aprendiz do mestre Estava se definindo na ainda jovem carreira uma tend ncia de alinhamento com uma abordagem sociol gica rigorosa capaz de conjugar a descri o detalhada dos fen menos com o entendimento de seu significado no mbito de uma totalidade social Garcia 2002 p 85 afirma que no texto sobre o folclore acima citado j estavam colocadas duas diretrizes b sicas que v o acompanhar o trabalho posterior de Florestan fundamentar a interpreta o na an lise do material emp
26. o ou difus o de tais conhecimentos e t cnicas ou principalmente como influ ncia formativa do horizonte cultural que fez da mudan a provocada um recurso adaptativo essencial da civiliza o cient fica e tecnol gica FERNANDES 1971b p 171 89 respons veis pelo estado de pauperismo de subdesenvolvimento e de desequil brio institucional da sociedade brasileira FERNANDES 1971b p 193 No entanto tr s aspectos precisam ser considerados O primeiro o cuidado em combater a no o de que o cientista social tem condi es de resolver per si os problemas educacionais Para Florestan semelhante perspectiva n o tem fundamento j que os problemas educacionais brasileiros s poder o ser resolvidos atrav s da mudan a social organizada FERNANDES 1971b p 193 dependendo ainda da forma como o cientista social for inclu do no processo e das potencialidades de mudan a do meio social ambiente O segundo em decorr ncia do anterior que para o sucesso da associa o entre cientistas e educadores a comunica o social aparece como um terceiro v rtice do tri ngulo A imprensa a divulga o da leitura e outros meios modernizados de comunica o t m tornado o conhecimento de senso comum mais acess vel contribui o dos educadores e mesmo dos cientistas sociais Vice versa estes v m demonstrando maior interesse pelas manifesta es dos leigos chegando a estimular movimentos que os c
27. o pol tica dos assalariados moldados pelo capital FERNANDES 1991a p 58 398 O fundamental consiste em desentranhar a cabe a do trabalhador da subalterniza o cultural mental e ideol gica burguesia isto da aliena o social Pois a primeira condi o a vencer para que o trabalhador deixe de ser um agente passivo ou defensivo e torne se um agente construtivo e ofensivo extrair dele tudo o que ele tenha de burgu s desemburgues lo para que ele n o corra o risco da acefaliza o e da coopta o FERNANDES 1995a p 232 233 209 Como afirma M sz ros 2005 p 61 o papel da educa o de import ncia vital para romper com a internaliza o predominante nas escolhas pol ticas circunscritas legitima o constitucional democr tica do Estado capitalista que defende seus pr prios interesses Por isso o partido n o pode deixar de se dedicar constru o de uma s lida consci ncia de conte do socialista n o pode tornar secund ria uma pol tica de educa o para o socialismo j que essa pedagogia a base da socializa o socialista Parodiando L nin poder amos dizer sem consci ncia social socialista nada conseguiremos FERNANDES 199la p 73 Florestan alerta que n o est sugerindo a constru o de um ABC do socialismo algo que seria incapaz de arrancar da natureza humana o aburguesamento em que ele est engolfado e no qual apodrece necess rio avan
28. os efeitos circulares e reativos A press o destrutiva da ignor ncia e da marginalidade cultural em rela o aos padr es de civiliza o das classes dominantes aumentou at limites extremos a viol ncia entre os pr prios exclu dos a propens o capitula o passiva ou zigue zagues nos conflitos com os de cima FERNANDES 1995c p 26 141 explos es se convertam em revolu es FERNANDES 1986a p 120 121 Na proximidade de convoca o de uma Assembl ia Nacional Constituinte ANC a tarefa de organizar as massas era mais do que urgente Segundo o pensamento de Florestan a Constitui o de uma sociedade capitalista n o tem que ser necess ria e unilateralmente burguesa desde que os oprimidos e os exclu dos consigam ditar sua vers o do bem comum e inscrever na carta fundamental os seus direitos sociais civis e pol ticos estabelecendo uma rela o dial tica entre meios e fins A Constitui o um meio pelo qual os pobres e espoliados exteriorizam consolidam e exercem a sua condi o humana Por isso ela decisiva para eles A sociedade que os reduz a objeto e os embrutece n o pode impedir que se transformem e ao transformar se a impregnem de sua for a emancipadora Por isso indispens vel recorrer a meios mais diretos e imediatos de consci ncia social e de combate pol tico Nos bairros nas aldeias nas f bricas nas fazendas nos sindicatos nas organiza es
29. uma lumpemburguesia Sob o capitalismo dependente ela n o capaz de criar sozinha uma alternativa de desenvolvimento capitalista aut nomo e auto sustentado mas forte o suficiente para oprimir o proletariado pelo alto grau de 125 Como defende Matui 2001 inspirado em Florestan n o se pode confundir revolu o burguesa no Brasil com revolu o burguesa brasileira 82 consci ncia e articula o que possui A burguesia industrial em especial a mais influente no aparelho de Estado e na economia sendo hegem nica pelos meios de forma o e informa o que congrega ainda que e talvez por causa disso em associa o ao capital estrangeiro No cortejo dessa revolu o os interesses externos s o seguidos fazendo com que seus l deres sejam adeptos da ordem e n o da transforma o Como afirma Marx 1975 em As lutas de classes em Fran a a diminui o do lucro da burguesia nacional pelas finan as o que um antigo l der pol tico brasileiro chamaria de perdas internacionais n o tem import ncia se comparada possibilidade de supress o de todo o lucro pelo proletariado FERNANDES 1989a p 52 N o que na periferia seja imposs vel uma revolu o burguesa e que a forma de revolu o burguesa acaba n o correspondendo s necessidades da massa da popula o A revolu o burguesa ocorre mas ela ocorre como uma revolu o secund ria uma revolu o que se d ao n
30. 169 O problema para o 43 que n o o impediu de soci logo n o era a exist ncia de v rias tend ncias dentro do partido despertar confian a nas massas trabalhadoras Agora se o PT ficar numa posi o n o socialista n o far sequer uma revolu o dentro da ordem ser apenas instrumental para essa moderniza o dirigida a partir de fora e de cima FERNANDES 1994 p 172 que refor a internamente a configura o de uma ordem legal contradita pela ordem social que se FERNANDES 1998 p 227 Uma outra posi o pol mica Florestan j tinha assumido Em defesa da Revolu o Chinesa Di rio da Assembl ia Nacional Constituinte 22 jun 1989 durante as cr ticas ao que ficou conhecido como o Massacre da Paz Celestial no ano de 1989 em Pequim FERNANDES 2004b 41 O PT e 1990 Folha de S Paulo 31 dez 1990 402 Sobre uma poss vel derrota do candidato do PT nas elei es presidenciais de 1989 Florestan em O efeito gangorra Jornal do Brasil 26 jun 1989 faz a seguinte aferi o E se Lula n o ganhar N o haver uma trag dia nem para ele e seu partido nem para a Frente Brasil Popular Ocorrer uma perda eleitoral compensada pela propaga o do socialismo e pela mobiliza o ofensiva das classes trabalhadoras Essa a diferen a entre a esquerda e a direita na luta pela conquista do poder O importante o movimento social Como lev lo vit ria constituir sempr
31. 30 Um estudo sobre a rela o da esquerda cat lica com o marxismo no Brasil dos anos 60 encontra se em Semeraro 1994 310 Educa o e constitui o Folha de S Paulo 04 ago 1987 174 resist ncia de natureza material e psicol gica mas cujas implica es essenciais eram pol ticas e econ micas FERNANDES 1989b p 125 As vit rias destes setores na rea educacional v o evidenciar para Florestan que o povo penetrou dentro da casa mas n o a conquistou FERNANDES 1989 p 128 Mas o apoio da maioria dos deputados da Comiss o de Educa o Cultura e Esportes ao anti republicanismo dos defensores das escolas privadas a trincheira que reunia o mercantilismo da ind stria do ensino e o farisa smo das escolas confessionais cat licas FERNANDES 1989b p 132 era apenas um dos m ltiplos exemplos dos limites da modern ssima carta magna em gesta o O mais prim rio de todos a redu o da import ncia relativa dos impostos indiretos e a institui o do imposto de renda progressivo at o ltimo grau Essa exig ncia elementar ficou de fora Outro exemplo mais chocante os produtos industrializados destinados ao exterior est o constitucionalmente isento de impostos A enormidade maior a iniciativa privada poder prevalecer como o deus Mamon de nossa religi o oficial O p blico universalmente privatizado sob todas as formas de atividades empresariais O estatismo i
32. 34 Nesse conflito bom n o esquecermos nem mesmo a mem ria de Florestan est imune vide disputa entre as vis es institucionalista e pol tico radical sobre sua obra com parte dos que est o no primeiro campo promovendo a sacraliza o de sua participa o na consolida o formal das ci ncias sociais no Brasil vendo como menor sua condi o de militante socialista e sobretudo esquecendo a dimens o pol tica de seus estudos sociol gicos e parte dos que est o no segundo campo exaltando seu radicalismo tardio mais evidente mas menosprezando os insumos transformadores de sua produ o cient fica especialmente a tida sem nenhuma contextualiza o apurada como positivista funcionalista O debate em si extremamente complexo produtivo e rico indo muito al m da divis o que caricaturei acima debate do qual vale ressaltar sou um grande devedor como se poder julgar pela leitura deste trabalho No entanto acredito que devemos lutar pela sua qualifica o apontando alguns riscos que podem ocorrer caso n o se tome dois importantes cuidados O primeiro deles o de se estar atento possibilidade de apagamento ou de esquecimento daquilo que torna singular a obra cient fica de Florestan o liame talvez entre o que h de melhor nas duas posi es acima brevemente descritas o conte do espec fico da sua sociologia especialmente sua capacidade explicativa seu tra o inovador e seu car ter conte
33. 357 359 261 A Constitui o de 1988 concilia o ou ruptura Folha de S Paulo S o Paulo 04 out 1988 A Constitui o inacabada p 360 362 Retalia es e press es Jornal de Bras lia Bras lia 08 out 1988 A Constitui o inacabada p 363 365 O desengajamento dos militares Jornal do Brasil Rio de Janeiro 09 out 1988 A Constitui o inacabada p 366 369 Desconstitucionaliza o como projeto governamental Jornal do Brasil Rio de Janeiro 17 out 1988 A Constitui o inacabada p 370 372 A deteriora o do poder Jornal do Brasil Rio de Janeiro 23 out 1988 A Constitui o inacabada p 373 375 A transi o p s constitucional Folha de S Paulo S o Paulo 25 out 1988 A Constitui o inacabada p 376 379 O pacto social improv vel Jornal do Brasil Rio de Janeiro 03 nov 1988 A transi o prolongada p 179 181 A nova lei da educa o Jornal do Brasil Rio de Janeiro 28 fev 1989 O desafio educacional p 29 32 O espa o da esquerda Folha de S Paulo S o Paulo 04 abr 1989 A transi o prolongada p 97 100 Um amargo quarto de s culo Jornal do Brasil Rio de Janeiro 01 mai 1989 A transi o prolongada p 194 198 Sondagens e propaganda Jornal do Brasil Rio de Janeiro 30 mai 1989 A transi o prolongada p 85 88 Em defesa da Revolu o Chinesa
34. 68 74 Embates eleitorais e luta pela vida Folha de S Paulo S o Paulo 11 nov 1985 Que tipo de Rep blica p 56 59 Quem ganhou Folha de S Paulo S o Paulo 25 nov 1985 Que tipo de Rep blica p 52 55 257 O cachimbo e a boca Folha de S Paulo S o Paulo 05 dez 1985 Que tipo de Rep blica p 48 51 Quem paga o pacto Folha de S Paulo S o Paulo 28 dez 1985 Que tipo de Rep blica p 41 43 A nova etapa da pol tica econ mica Folha de S Paulo S o Paulo 27 abr 1986 Que tipo de Rep blica 1986a p 29 32 A esquerda e a Constitui o Folha de S Paulo S o Paulo 11 jun 1986 Que tipo de Rep blica p 17 20 O politicismo burgu s Folha de S Paulo S o Paulo 26 jun 1986 A Constitui o inacabada p 16 19 A crise institucional Folha de S Paulo S o Paulo 13 jul 1986 A Constitui o inacabada p 20 23 Quem defende Pinochet Folha de S Paulo S o Paulo 07 ago 1986 Democracia e desenvolvimento p 83 85 Os desenraizados Folha de S Paulo S o Paulo 21 ago 1986 A Constitui o inacabada p 24 26 Os subterr neos da Hist ria n o entram nas enquetes Jornal Leia S o Paulo set 1986 A Constitui o inacabada p 31 33 A quest o dos partidos Folha de S Paulo S o Paulo 02 set 1986 A Constitui o inacabada p 27 30 Os dilemas pol ticos dos jovens
35. A idealiza o da Constitui o Jornal do Brasil 22 fev 1988 338 O significado hist rico da Assembl ia Nacional Constituinte Di rio da Assembl ia Nacional Constituinte 12 fev 1987 339 A idealiza o da Constitui o Jornal do Brasil 22 fev 1988 183 continuidade do projeto de democratiza o da sociedade civil e do Estado FERNANDES 1989b p 239 Assim dispensando uma sociologia dos mandarins que foge das an lises concretas e objetivas das representa es sociais atrav s de um suposto imagin rio simb lico Florestan vai interpretar a ANC como fruto de uma forma o pol tica parida de uma sociedade em crise que se tornou invi vel para milh es de exclu dos oprimidos e trabalhadores todos incorporados morfologicamente a ela mas privados de peso e voz com capacidade diminuta de influenciar em sua ordena o e funcionamento No entanto os valores os ideais e as id ias desses desgra ados da terra de alguma forma penetraram no processo constituinte forjando um antiijmagin rio contra elitista que ensejou diversos tipos de reformas sociais ainda que as grandes ficassem transferidas para adiante O fundamental agora era o fortalecimento da vigorosa vanguarda prolet ria entre os trabalhadores da cidade e do campo para que os horizontes abertos pela Constitui o ensejassem a luta hegem nica pelo poder pol tico cultural e econ mico e q
36. BIONDI Aloysio O Brasil privatizado edi o especial S o Paulo Funda o Perseu Abramo 2001 BLOCH Arnaldo O cafarnaum de M rio Pedrosa O Globo Rio de Janeiro 07 abr 2002 Segundo Caderno p 1 BORBA ngela Meyer O folclore e suas rela es com as ci ncias sociais a educa o e a socializa o da inf ncia em Florestan Fernandes In F VERO Osmar Org Democracia e educa o em Florestan Fernandes Campinas SP Autores Associados Niter i RJ EdUFF 2005 p 119 132 BOURDIEU Pierre Coord 4 mis ria do mundo Petr polis Vozes 1997 BOURDIEU Pierre CHAMBOREDON Jean Claude PASSERON Jean Claude 4 profiss o de soci logo preliminares epistemol gicas Petr polis Vozes 2000 p 449 474 BOURETZ Pierre John Stuart Mill A liberdade 1859 In CH TELET Fran ois DUHAMEL Olivier PISIER Evelyne Dicion rio das obras pol ticas Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1993 p 815 827 239 BUFFA Esther Ideologias em conflito escola p blica e escola privada S o Paulo Cortez Autores Associados 1979 BULH ES Ivone Os anjos tamb m erram Rio de Janeiro sn 2001 BRESSER Pereira Luiz Carlos Seis interpreta es sobre o Brasil Dados Revista de Ci ncias Sociais Rio de Janeiro IUPERJ v 5 n 3 p 269 306 1982 CANDIDO Antonio Florestan Fernandes S o Paulo Funda o Perseu Abramo 2001 CARDOSO Ciro Flamarion Uma introdu o Hist ria
37. Em sua fala o deputado adverte o ent o ministro da Educa o contra a presen a de An sio Teixeira e Almeida Jr respectivamente na dire o do Instituto Nacional de Estudos Pedag gicos INEP e na presid ncia do I Congresso Estadual de Educa o em S o Paulo Alega para tanto que tais professores n o passam de 11142 agn sticos e comunistas que ocupam altos postos para liderar uma campanha contra a forma o religiosa do povo brasileiro No dia 10 Fonseca e Silva envia um memorial ao minist rio refor ando as cr ticas e alertando para as restri es sofridas pelo patrim nio moral e espiritual da Igreja denunciando que estaria sendo desenvolvido um movimento contra o ensino particular brasileiro Em fins de novembro o deputado Lu s Vianna responde s acusa es dando a conhecer C mara dois documentos um do ministro Cl vis Salgado e outro do pr prio An sio Teixeira todos refutando as id ias contidas no discurso de Fonseca e Silva principalmente no que se referia aos v nculos com a ideologia marxista Posteriormente a pol mica sai do Congresso atravessa c rculos intelectuais e chega opini o p blica envolvendo disputas atrav s da imprensa e manifesta es de diversos tipos S em 1957 em parte sob a press o dos educadores e o clamor da opini o p blica esclarecida e em parte sob a exig ncia de circunst ncias imperiosas o assunto passou a tramitar com maior r
38. Nesse quadro no qual imergia como uma putaine respectuese e com dor de cornos tendo de falar ao p blico reiteradamente o que s vezes n o consta dos escritos que aquilo n o correspondia aos valores de minha posi o pessoal socialista o argumento era por ess ncia pol tico e visava fazer aliados O que consegui e outros comigo Portanto tenho direito de pedir uma morat ria e uma nova leitura Eu n o criei a sociedade brasileira como ela Quem estava usando a id ia do Estado democr tico educador n o era o soci logo mas o ativista empenhado numa campanha que usava a raz o como podia e o ponto de vista sociol gico como uma dimens o do pensamento cr tico FERNANDES apud FREITAG 1996 p 152 Mas longe de ter sido uma experi ncia frustrante Florestan aproveitou as vantagens advindas de sua condi o de soci logo militante para al m de travar contatos com diversos setores da sociedade brasileira observar analisar e interpretar o tempo e espa o em que vivia para com isso descobrir os v us de um quadro sombrio e doloroso expostos nas debilidades das correntes radical democr ticas nas defici ncias do movimento socialista no 1 Trecho de An lise cr tica do projeto de lei sobre Diretrizes e Bases da Educa o Nacional texto publicado previamente em 1960 no livro Diretrizes e Bases da Educa o organizado por Roque Spencer Maciel de Barros pela Livraria Pioneira 16 Tive contat
39. Org Marx Engels hist ria 3 ed S o Paulo tica 1989a Grandes Cientistas Sociais v 36 A Constitui o inacabada vias hist ricas e significado pol tico S o Paulo Esta o Liberdade 1989b Pensamento e a o o PT e os rumos do socialismo S o Paulo Brasiliense 1989c O desafio educacional S o Paulo Cortez Autores Associados 1989d Educa o contempor nea Pref cio In MARTINS Carlos Benedito 2 ed Ensino pago um retrato sem retoques S o Paulo Cortez 1989 e O processo constituinte Bras lia C mara dos Deputados Centro de Documenta o e Informa o Coordena o de Publica es 1988 Separatas de discursos pareceres e projetos 48 Legislatura 2 Sess o Legislativa 26 O renascimento da universidade In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 309 317 Que tipo de Rep blica S o Paulo Brasiliense 1986a Desafio Constituinte ____ Nova Rep blica Rio de Janeiro Zahar 1986b quest o da USP S o Paulo Brasiliense 1984a Qual 1 O que revolu o S o Paulo Brasiliense 1984b Cole o Primeiros Passos 14 A ditadura em quest o S o Paulo T A Queiroz 1982 Poder e contrapoder na Am rica Latina Rio de Janeiro Zahar 1981 Biblioteca de Ci ncias Sociais Brasil em compasso de espera Pequenos escrito
40. Pensamos que este esbo o remata a caracteriza o do que chamamos de dilema educacional brasileiro A rela o entre meios e fins no que concerne s perspectivas de controle dos problemas educacionais mais prementes n o prenuncia nenhuma esp cie de xito seguro e r pido Tal circunst ncia indica de ngulo inteiramente positivo que a transforma o do sistema educacional de um povo em fator de desenvolvimento depende de modo direto da intensidade do volume e da dire o das esperan as coletivas depositadas na educa o sistem tica FERNANDES 1971b p 198 A esperan a coletiva na universaliza o qualitativa da educa o escolar sistem tica portanto deveria persistir para a transforma o da ordem Isso porque segundo Florestan n o h d vida de que a educa o modela o homem Mas este que determina socialmente a extens o das fun es construtivas da educa o em sua vida FERNANDES 1966 p 71 Mantendo f nas possibilidades das mudan as sociais planejadas Florestan advoga pela associa o entre educadores e cientistas sociais para a elabora o de projetos que contribuam para a descoberta de meios adequados econ micos e r pidos para uma interven o racional 135 na estrutura e no funcionamento do ensino brasileiro Ainda que envolva nus financeiros severos para um pa s pobre e destitu do inclusive de uma rede escolar para atender as emerg ncias a respectiva associa
41. a mesmo os que ficaram como corrente na tradi o pol tica latino americana e brasileira num democratismo de superf cie batizados de populismo Naquele momento cabia s for as de esquerda abandonar s ilus es institucionais e nadando contra a corrente com base na vontade coletiva inexor vel dos cidad os mais conscientes lutar por uma pol tica sem meio termo de forte rejei o a qualquer compromisso entre ditadura e democracia A Na o quer democracia j se poss vel pelo processo incruento civilizado e pac fico do sufr gio universal FERNANDES 1986a p 170 As classes trabalhadoras precisavam da democracia para completar o seu desenvolvimento independente como classe social e para adquirir pleno acesso aos direitos civis e pol ticos que tinham sido lhe surrupiados A parte mais decidida da massa popular foi al m da contesta o dirigida e contida ultrapassando o limiar da desobedi ncia civil varrer o que a est n o para uma troca nos poleiros mas como premissa e ponto de partida de uma verdadeira revolu o democr tica As classes subalternas querem conquistar peso e voz na sociedade civil querem instaurar um Estado democr tico no qual possam dispor de influ ncia real e sobre o qual possam exercer controles pol ticos efetivos FERNANDES 19864 p 148 A luta por uma democracia participativa para Florestan entendida como movim
42. ainda em meados da d cada de 80 O socialismo comprometido com a democracia burguesa ainda uma forma de reprodu o do sistema capitalista de poder A revolu o prolet ria volta se para a emancipa o coletiva dos trabalhadores pelos pr prios trabalhadores Ou o PT decifra a solu o correta dessa necessidade hist rica na cena brasileira ou ele engrossar as fileiras dos partidos reformistas imantados reforma capitalista do capitalismo ao capitalismo melhorado a um movimento fascista como a um movimento socialista ou ficar indiferente Eu n o sou obrerista e n o me ajoelho diante do deus oper rio Para eu entrar no PT quero que ele defina seu programa esclarecendo melhor quais as op es que envolvem a sua presen a como n cleo pol tico da classe trabalhadora FERNANDES 1991c 265 A maioria n o est na Constituinte Jornal do Brasil 08 fev 1987 2 Devido ao extrema dedica o ao mandato Florestan se tornou um dos deputados mais conhecidos do PT durante a ANC inclusive pela sua atua o como publicista vincula o essa que resultou na difus o equ voca de sua imagem como um dos intelectuais fundadores do partido 155 ou ao capitalismo do bem estar social Penso ser esta a principal resposta deste livro s indaga es s esperan as e s convic es que nos lan am dentro do PT luta pelo socialismo prolet rio e revolucion rio FERNANDES 1989c 215 J c
43. blico com o qual nos termos de Florestan o Estado fundiu se com a empresa econ mica especialmente as grandes e gigantes o pol tico tornou se a vers o p blica dos interesses privados predominantes Segundo o publicista na difus o de sua nova educa o que o capitalismo tardio mostra suas garras e dentes afiados Em termos atuais unifica os dois predadores aliados a privatiza o neoliberal inerente globaliza o da economia e a privatiza o particularista dos donos das escolas arcaica e nociva comunidade nacional Fazendo um balan o das pol ticas neoliberais implementadas nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso o jornal em que escrevia Florestan num editorial intitulado Brasil Global publicado no dia 17 de fevereiro de 2002 registrava da seguinte forma o insucesso dos resultados macroecon micos obtidos nesse per odo Boa parte do apoio abertura vinha da expectativa de que os novos capitais estrangeiros criariam um embalo e atrairiam ainda mais capitais gerando um c rculo virtuoso Passado o momento de transfer ncia de empresas nacionais para estrangeiros surgiria uma din mica que no devido tempo aumentaria as escalas de produ o e o tamanho dos mercados tamb m para empresas nacionais al m de abrir novas fontes de financiamento e caminhos para o crescimento econ mico a inova o tecnol gica e a ocupa o de mercados mundiais Mas esse segundo
44. contradi es que convertem a radicalidade em estilo de pensamento e de a o indispens vel constru o de um futuro limpo de canga arcaica e ultraconservadora FERNANDES 1995b p 13 Colocando sua intelig ncia em permanente choque com a sociedade burguesa num ve culo pr prio dessa sociedade sem nenhuma ilus o dos seus limites Florestan cumpria tamb m a tarefa radical de revelar numa perspectiva denominada por Candido 2001 p 40 de pensamento socialista cotidiano a realidade oculta em pequenos e l cidos coment rios articulando conceitos e fatos tomando de assalto o pensamento do leitor mas devolvendo a ele a possibilidade de recuperar aquilo que cotidianamente lhe roubado a consci ncia a 452 capacidade de pensar Uma possibilidade minima reconhece o publicista frente ao desafio de combater participando do sistema de divulga o de dados imagens e debates que se inserem numa rede de defesa e fortalecimento da ordem existente que fomenta o mito do cidad o bem informado numa sociedade clivada por uma desigualdade estrutural entre classes sociais antag nicas N o obstante melhor ter um fluxo constante de dados imagens e debates que ficar a seco O leitor sempre ter algum meio de cotejar as informa es correntes com o concreto e quanto mais amplo for o circuito de informa es mais facilmente ele se tornar capaz de localizar se no fluxo dos acontecimentos e fazer e
45. desenvolvimento social que levem em conta os interesses da maior parte da popula o aquela que est mais sujeita a sofrer com as irracionalidades do mercado Especialmente no que se refere s pol ticas de ci ncia e tecnologia deve se rejeitar os projetos que visam destitui o da universidade p blica como locus de produ o do conhecimento socialmente relevante assim como as propostas que buscam a fragmenta o das atividades universit rias de pesquisa at mesmo com o apoio financeiro do poder p blico Caso a sociedade civil brasileira n o se mobilize em sintonia com o processo de empresariamento do ensino superior a atual pol tica nacional de substitui o de um sistema de C amp T de base p blica e estatal para um sistema de CT amp I apresenta se como o caminho mais r pido para a nossa absoluta subordina o a outros centros cient ficos O Minist rio da Ci ncia e Tecnologia do governo Fernando Henrique Cardoso por exemplo teve como centro de sua pol tica o projeto da chamada Lei de Inova o instrumento tido como ideal para a acelera o da produ o do conhecimento por prever mecanismos mais flex veis para que pesquisadores das institui es federais possam participar 2 FERNANDES Florestan Perspectivas consolidadas Folha de S Paulo 09 jan 1995 p 1 2 80 FERNANDES Florestan O efeito tequila Folha de S Paulo 06 mar 1995 p 1 2 226 de projetos do setor privado
46. devem aprender a lidar diretamente com seus problemas e segundo uma estrat gia pr pria Primeiro para conquistar o centro din mico da ordem e da sociedade segundo para conferir a este a capacidade de alterar as estruturas os conte dos e o rendimento do Estado FERNANDES 1989b p 22 O bus lis da quest o diria Florestan est na necess ria capacidade de articula o entre os setores radicais dos trabalhadores organizados e da pequena burguesia com a grande massa de exclu dos que congregam as periferias e os subterr neos de uma sociedade capitalista dependente como o Brasil Esse a seu ver era o calcanhar de Aquiles do PT partido ainda demasiado fraco e incipiente para ampliar suas malhas at os oprimidos que n o conhecem o sal da Terra e sequer podem comer o p o que o diabo amasso FERNANDES 1989 p 21 Segundo o publicista toda sociedade estratificada produz uma massa vari vel de indiv duos exclu dos da ordem No passado colonial por exemplo havia os homens pobres livres que n o eram nem homens do ngulo dos estamentos senhoriais 29 Florestan em A crise institucional Folha de S Paulo 13 jul 1986 faz refer ncia expl cita s seguintes organiza es e institui es a Confedera o Nacional dos Bispos do Brasil CNBB as comiss es de Justi a e Paz a Comiss o Pastoral da Terra CPT a renovada Ordem dos Advogados do Brasil OAB as comunidades eclesiais de
47. imprescind vel para o projeto revolucion rio O fim visado era o fortalecimento de uma tica comunista com capacidade de clarificar as condi es reais da luta de classes definir interesses pol ticos estrat gicos e por fim projetar teoricamente as alternativas em conflito Concep o pr xima seguinte proje o de Adelmo Genro Filho sobre o processo revolucion rio Nos momentos de crise revolucion ria as grandes massas passam a adotar embora de modo impreciso em sua configura o l gica e abstrata um novo sistema de valores pol ticos jur dicos ticos e filos ficos na forma de um projeto de poder que apresenta duas refer ncias n tidas a destrui o do 26 Embates eleitorais e luta pela vida Folha de S Paulo 11 nov 1985 257 Quem ganhou Folha de S Paulo 25 nov 1985 151 existente e a constru o de uma nova realidade a qual vai sendo constru da na rela o din mica entre a experi ncia cotidiana e a dire o pol tica de sua vanguarda precisamente esse instinto de classe essa energia revolucion ria essa consci ncia rebelde que se incorpora ao senso comum nos momentos de crise revolucion ria que faz das massas sujeitos da hist ria mesmo sem a assimila o abstrata da teoria A contradi o entre a particularidade da ideologia espont nea do proletariado e o sistema global de valores dominantes que legitimam a explora o acaba gerando uma explos o na consci ncia do
48. informalidade do Caixa 2 eleitoral sem contar a suspeita de compra de parlamentares pelo mensal o de R 30 mil OLIVEIRA 2005b 156 representam altera o de opini es pessoais ou da estrat gia do PT na Assembl ia Nacional Constituinte Mostram que o elemento humano na pol tica permanece sempre presente FERNANDES 1989b p 11 12 Com isso se o di rio florestaniano das jornadas constitucionais ostenta o grau de grandeza ou de mesquinharia dos homens diante dos dilemas hist ricos de um pa s capitalista dependente tamb m torna evidente a carga de utopia necess ria para a nega o e a supera o do desenvolvimento desigual fen meno que segundo o publicista n o ser alcan ado pela simples ades o ao formalismo democr tico mas somente com uma proposta pol tica enla ada ao desejo de se implementar uma civiliza o sem barb rie Tal como a exemplificada pela pr pria atua o de Florestan Fernandes como deputado constituinte marcada por sua fidelidade a um conceito tico de pol tica que o tornou imune ao tradicional jogo de negocia es da pol tica brasileira o que n o novidade para quem na universidade n o separara o compromisso de cientista da responsabilidade moral para com a sociedade De acordo com um de seus pares o deputado Lys neas Maciel h na trajet ria do soci logo pol tico publicista uma consist ncia entre as propostas e as atitudes que faz o exemplo de Floresta
49. manifestam eleitoralmente por vias controversas O que explicaria por exemplo os sucessos de Adolf Hitler ou Ronald Reagan A pergunta que faz Florestan outra Por que se 22 O Brasil na encruzilhada Folha de S Paulo 21 mar 1985 20 A luta popular pela Constitui o Folha de S Paulo 28 mar 1985 BI O continu smo mudancista Folha de S Paulo 23 abr 1985 142 descarrega sobre os plebeus o que tecido pela nata das elites Segundo o publicista no caso espec fico de pa ses perif ricos a que n o h motivos para que se fique embara ado com este tipo de questionamento Um povo econ mica e culturalmente atrasado possui o direito sua ignor ncia e s suas debilidades pol ticas elas n o o injuriam pois se voltam diretamente contra os que fomentam e exploram sistematicamente a ignor ncia e as debilidades pol ticas do povo E prevalece um terr vel engano nos que tratam de ler o comportamento coletivo da massa popular atrav s do c digo cultural dos letrados dos cultos dos que se pensam como o fiel da balan a e da sabedoria pol tica O que se precisaria discutir o significado pol tico e o papel hist rico da ignor ncia e das debilidades pol ticas do Povo FERNANDES 19864 p 108 O bus lis da quest o segundo Florestan est no fato de que os movimentos e as institui es os sindicatos e os partidos n o estavam correspondendo s tarefas hist ricas aca
50. mas para economizar depois Gasta se n o importa se pouco ou muito nas atividades cient ficas de pesquisa de levantamento de situa es de coloca o de problemas de procura de solu es adequadas mas para cortar rente nas despesas e reorganiza o para aplainar dificuldades para cercear abusos contra sensos e erros de consequ ncias irrepar veis AZEVEDO apud FERREIRA 2001 p 12 Vale lembrar que essas reflex es s o feitas num momento marcante na hist ria educacional do pa s quando se abre oportunidade de organizar o sistema de ensino nos debates para a configura o da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educa o Nacional Segundo Florestan o lado construtivo deste clima prop cio mudan a cultural provocada foi o fato dele ter sido imaginado pelos educadores brasileiros como um expediente para 137 Um levantamento documental e bibliogr fico sobre o CRPE SP pode ser conferido em Ferreira 2001 138 O que distingue a mudan a cultural provocada da mudan a social espont nea n o o conte do intencional dos processos que as produzem mas a maneira pela qual ele elaborado Assim na primeira esp cie de mudan a o conte do intencional adere a um horizonte cultural que confere aos agentes humanos a possibilidade de escolher fins alternativos ou exclusivos e de p los em pr tica atrav s de meios que assegurem no m nimo controle racional do desencadeamento e das principais fases do
51. nacional e os gringos mesmo que ao fim sirva no discurso de bode expiat rio para as mazelas da Na o Produzindo as pol ticas necess rias opera como uma bomba de suc o que tira as ltimas gotas de sangue dos trabalhadores manuais agora alternativamente dos assalariados em geral para inocul las nos organismos das empresas para torn las sadias e incentivar seu crescimento FERNANDES 1989b p 56 Nesse modelo de imperialismo as na es pobres s o convertidas em novas fronteiras de acumula o de capital vol til em prol das na es centrais especialmente a superpot ncia os Estados Unidos O imperialismo da era atual carrega consigo uma ocupa o espec fica do espa o das na es hospedeiras e uma revitaliza o de pr ticas semelhantes aos la os da rela o colonial direta com taxas ultra espoliativas do 283 Miss o imposs vel Folha de S Paulo 22 dez 1986 Segundo Florestan em Isolamento ou provincianismo Jornal do Brasil 22 nov 1989 a d vida desvenda a natureza ntima do tipo de domina o imperialista que a internacionaliza o da economia capitalista est engendrando e ao mesmo tempo coloca em evid ncia que sua autodefesa coletiva exige mais do que a unifica o ideol gica dos povos pobres FERNANDES 1990 p 39 40 28 Pacto social e desmobiliza o Folha de S Paulo 08 jan 1987 285 Em O desengajamento dos
52. ncia do sentido comunit rio coletivo e tradicional para uma de matriz urbana mais individualista e com base na ordem social competitiva torna a condi o dos antigos escravos ainda mais adversa o que se agrava com a pol tica oficial de apoio imigra o Sem ressocializa o a ordem inclusiva resistida a partir de elementos morais com a descren a no sistema contratual e a percep o do trabalho sob crit rios n o capitalistas deixando o negro margem da estrutura s cio econ mica A ordem social competitiva invadida por formas de vida e h bitos patrimonialistas o que torna lenta a democratiza o das rela es sociais pela concentra o dos instrumentos de ascens o social nas classes dominantes A grande luta do ex escravo nessas condi es a defini o desse seu espa o social fora da sociedade inclusiva Vive 105 De acordo com Helo sa Martins 2004 p 292 um dos tra os marcantes da a o de Florestan foi o fato de que pela primeira vez na Universidade de S o Paulo um pesquisador trouxe os pesquisados para o interior da institui o e criou um grupo de pesquisa 106 Tal como Brancos e Negros em S o Paulo FERNANDES BASTIDE 1971 cuja primeira edi o de 1959 107 Os dois assinaram Cor e mobilidade social em Florian polis publicado pela Companhia Editora Nacional em 1960 Fernando Henrique Cardoso por sua vez doutora se em 1962 com Capitalismo e escravid o no Brasil meridiona
53. no pref cio primeira edi o afirma participo desse protesto pequeno burgu s e cheio de contradi es e de ambigiiidades mas rico de perspectivas e que nos arranca da apatia em que se alicer a a continuidade do poder conservador FERNANDES 1979b p XIX Para al m de uma ruptura epistemol gica ps quica ou pol tica afortunada pelos processos pol ticos que se radicalizavam no Brasil FREITAG 1987 p 168 percebemos que o cientista passava por uma fase de amadurecimento da percep o que sob o capitalismo a luta pela sobreviv ncia de indiv duos e grupos colocava a ci ncia sob os ditames de controles externos que reprimiam a imagina o criadora criativa e transformadora No modo como o capitalismo tardio apropria se da racionalidade cognitiva a produ o cient fica passa a ser orientada segundo os fins espec ficos da reprodu o da ordem e da domina o atingindo de forma violenta a for a emancipat ria potencial historicamente constitu da do pensamento racional e da atividade intelectual profissionalizada nas universidades e institutos e laborat rios de pesquisa GARCIA 2002 p 164 Com a boa receptividade de sua condi o militante de soci logo socialista e n o mais de um socialista que tamb m soci logo pelos estudantes canadenses especialmente os de esquerda ou radicais Florestan acreditava que poderia ter ficado por l Mas o desenraizamento as dificuldades
54. o ao movimento social em prol da universaliza o da escola p blica ainda que o mote principal fosse a esperan a durkheimiana de fazer as reformas educacionais para que n o se fa a a revolu o nas ruas FERNANDES 1995b p 181 Tal concep o referendada por dois significados b sicos e contradit rios da democracia moderna tinha como ideal um sistema de ensino em que educa o popular de massas e forma o especializada apareciam como complementares sendo portanto um mecanismo eficiente e n o autocr tico de recrutamento dos mais capazes indiv duos de todas as camadas sociais A perspectiva dos pioneiros portanto corrobora uma no o democr tica de elite baseada na educa o medida que a educa o for estendendo a sua influ ncia despertadora de voca es vai penetrando at as camadas mais obscuras para a entre os pr prios oper rios descobrir o grande homem o cidad o til que o Estado tem o dever de atrair submetendo a uma prova constante as id ias e os homens para os elevar e selecionar segundo o seu valor ou a sua incapacidade AZEVEDO apud GARCIA 2002 p 52 53 evidente que Florestan preferia essa vis o tico liberal nos moldes de John Stuart Mill crente na possibilidade do cont nuo aperfei oamento individual vis o 15 Trecho do relat rio enviado em 10 de fevereiro de 1960 pela Associa o dos Antigos Alunos da FFCL da USP a Jo o Gou
55. o das sociedades de classes sob o capitalismo monopolista da era atual FERNANDES 1989e p 13 E se assim como a sociologia o nascimento do jornalismo coincide com a consolida o da burguesia como classe dominante a press o de baixo para cima oferece uma base material para a aceita o e a propaga o de uma teoria da sociedade e consegiientemente da comunica o dotada de um m nimo de cr tica da sociedade anti burguesa FERNANDES 19804 p 20 Tal perspectiva se consagra na leitura dos seus ltimos artigos publicados na primeira metade da d cada de 90 quando se consolida no Brasil um novo projeto pol tico que ter entre seus pr ceres um de seus disc pulos mais famosos o tamb m soci logo Fernando Henrique Cardoso que governou o Brasil de 1995 a 2002 Sua principal d vida em rela o ao projeto pol tico que dava continuidade transi o prolongada organizada pelas for as conservadoras era em rela o confian a que Fernando Henrique Cardoso parecia ter em sua capacidade de poder aliado com os privilegiados conduzi los a aceitar um processo de moderniza o que colocava em tese em risco os seus pr prios interesses como afirmou no programa televisivo Roda Viva da TV Cultura de S o Paulo logo ap s a elei o presidencial de 1994 Dessa forma Florestan investe em seus ltimos escritos contra o programa neoliberal de reformas implementado desde o governo Fernando Collor de M
56. p 122 123 308 Educa o e constitui o Folha de S Paulo 04 ago 1987 173 Cerca de um ano depois refletindo sobre O dilema hist rico da Igreja Cat lica Folha de S Paulo 30 set 1988 Florestan far a seguinte an lise A Igreja Cat lica enfrenta um terr vel desafio Precisa disputar a hegemonia cultural e espiritual entre dois mundos que amea am a sua exist ncia e sobreviv ncia O capital comercializa a f e a converte em uma fonte de lucro Mas dilacera as bases morais e religiosas da f O movimento socialista e comunista superou v rios preconceitos mas a sua principal tend ncia n o pode abrir m o de sua filosofia hist rica materialista Uma revolu o ecum nica forjou as bases de um entendimento Tornou se poss vel assim a supera o a defesa da Humanidade como um valor absoluto primordial No entanto com o correr do tempo o tradicionalismo e o conservantismo se recompuseram restabeleceram os centros e os nervos do antigo sistema absolutista e autocr tico de poder e anularam os pap is pastorais do sacerdote e dos n cleos de base O pior que prevaleceram os interesses materiais e a miss o terrena mais estreita da Igreja Cat lica como sistema mundial de poder autocr tico que no que diz respeito a pa ses como o Brasil identifica se com a defesa ativa do capitalismo monopolista e da rendi o passiva dos povos em desenvolvimento FERN
57. pice dessa passagem primeira pela pol tica parlamentar a sua participa o na campanha eleitoral que proporcionaram momentos especiais de articula o de for as uma interessante 271 278 Os subterr neos da Hist ria n o entram nas enquetes Leia set 1986 Movimentos oper rios greves e democracia Folha de S Paulo 29 set 1986 22 A cabe a do trabalhador Folha de S Paulo 03 nov 1986 163 experi ncia de co educa o entre intelectual e massa FERNANDES 1994 p 157 Mas foi tamb m nela que ele percebeu o efeito nocivo do imediatismo eleitoreiro das campanhas pol ticas no Brasil especialmente a falta de preparo dos partidos de esquerda para se defenderem das t cnicas burguesas de propaganda pol tica que ressaltava o publicista atravessavam os muros de suas pr prias fileiras e acabavam por fortalecer as profecias auto realiz veis dos extremistas de gabinete Os dois grupos n o entendiam que o revolucion rio agora era atacar as debilidades organizativas das classes trabalhadoras para enfrentar as for as conservadoras no Congresso Nacional Se essas debilidades organizativas n o forem reconhecidas e superadas com a rapidez poss vel nunca haver luta pela conquista do poder Este continuar nas m os da burguesia e dos seus aliados de classe que montaram a ditadura puseram em seu lugar a Nova Rep blica e j preparam o terreno para que ela
58. rias categorias de espoliados e oprimidos que se tornam mais desorganizadas fragmentadas e impotentes para enfrentar as exig ncias mais elementares de vida e sobreviv ncia Enquanto isso a massa reacion ria da burguesia invadia Bras lia para exigir dos constituintes um freio s demandas populares e evitar uma calamidade nacional Ou a Constituinte obedece ao imp rio do poder econ mico ou o pa s se tornar invi vel FERNANDES 1989b p 178 O objetivo era eliminar da Constitui o os itens que favoreciam os assalariados e prejudicavam a viabilidade econ mica das empresas Omitiam no entanto as muitas medidas de sentido contr rio A estrat gia era editar uma unifica o pela c pula das elites transformando a ANC num equivalente do col gio eleitoral Os partidos pequenos especialmente os de esquerda esmagados pela proporcionalidade tinham grandes dificuldades de tornar patente suas demandas enquanto que os partidos da ordem especialmente o PMDB e o PFL tiveram espa o para al ar v o O resultado que estrangulamos o talento e a compet ncia profissional ou t cnica e real amos a lideran a e a autoridade como princ pios organizativos e de produ o intelectual e o fator pessoal dos l deres foi o decisivo FERNANDES 1989b p 166 Florestan cita exemplos de sua pr pria atua o para ilustrar ao leitor a for a dos acordos de c pula Uma de suas emendas
59. rio 304 Constitui o e elei o Folha de S Paulo 18 jun 1987 305 Em Crise de poder e Assembl ia Nacional Constituinte Folha de S Paulo 07 jul 1987 Florestan descreve alguns fatos pitorescos A defesa de um moralismo retr grado e da censura policial por determinados l deres evang licos foi um epis dio menor Grupos de press o como o dos militares lograram converter um relator em advogado convicto de suas causas Propriet rios de terras tomaram conta do cen rio e at usaram seus seguran as como agentes de repress o contra constituintes radicais Donos de canais de r dio e de televis o decidiram como constituintes sobre seus interesses em conflito ou em coopera o com o ministro das Comunica es sob a batuta de um dirigente da Abert Associa o Brasileira de Emissora de R dio e Televis o e de um importante advogado que era seu assessor todos ignorando o que estipula o Regimento Interno da ANC e torpedeando o bom andamento das discuss es e o trabalho do bravo relator Artur da T vola At o deputado Delfim Netto n o conseguiu operacionalizar uma defini o t cnica de empresa privada e bateu em retirada FERNANDES 1989b p 105 171 Oficial que conferiu ao Presidente e aos seus ministros que o desejaram a liberdade de manipular todos os assuntos de import ncia vital para o Executivo seus acordos pol ticos suas alian as com interesses privados e com institui
60. set 2003c Reserva de cotas o que as manchetes escondem Observat rio da Imprensa Rio de Janeiro n 213 22 fev 2003d Dispon vel em lt http www observat riodaimprensa com br gt Acesso em 22 fev 2003 Os carrascos volunt rios da m dia Observat rio da Imprensa Rio de Janeiro n 230 24 jun 2003e Dispon vel em lt http www observat riodaimprensa com br gt Acesso em 24 jun 2003 Os empres rios da educa o e o sindicalismo patronal o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro 1944 2000 Bragan a Paulista EdUSF 2002a Estudos CDAPH S rie Conjuntura amp Pol tica pol tica governamental de ci ncia e tecnologia da C amp T CT amp I In NEVES L cia Maria Wanderley Org O empresariamento da educa o novos contornos do ensino superior no Brasil dos anos 1990 S o Paulo Xam 2002b p 65 84 Os empres rios de educa o b sica e a nova divis o de trabalho da educa o nacional In NEVES L cia Maria Wanderley Org O empresariamento da educa o novos contornos do ensino superior no Brasil dos anos 1990 S o Paulo Xam 2002c p 235 255 interdisciplinaridade e suas im pertin ncias Antropol tica revista contempor nea de Antropologia e Ci ncia Pol tica Niter i EdUFF 1999 p 97 108 OLIVEIRA Filho Jos Jeremias A reflex o metodol gica em Florestan Fernandes Revista USP S o Paulo Coord
61. subversivo clandestino mas pelos dados no curr culo a condi o do negro a fun o dos partidos o papel do planejamento social a luta pela democratiza o do ensino e a autonomia do campo cient fico o soci logo parte para o ex lio questionando sua forte identifica o com a academia sua condi o de militante da ci ncia A perda do ch o 180 institucional e a solid o no exterior v o abal lo mas n o o suficiente para abandonar a 18 Ex lio xodo migra o err ncia experi ncias de separa o de perda das ra zes da terra do lugar da casa Atravessar cercas muros fronteiras Ser invadido pelo medo solid o inseguran a tornar se um estranho e um estrangeiro Costurar o que foi rompido com os fios da saudade e da nostalgia Saudades da quer ncia cultura da aus ncia Florestan inicia essa dolorosa experi ncia recorrente e secular de milh es de camponeses brasileiros e latino americanos FERNANDES H 2005 Segundo Florestan em Um amargo quarto de s culo Jornal do Brasil 01 mai 1989 n o podemos esquecer que a ditadura militar massacrou pessoas destruiu mentes e cora es os germes da vida construtiva e reprimiu e oprimiu como se fosse um regime colonial O perd o rec proco uma balela N o h dio em n o esquecer e em n o perdoar Existem males que 120 luta n o pela redemocratiza o do Brasil j que isso
62. tico construtivo sem beneficiar me da dualidade tica dos dois c digos de moral que funcionam automaticamente em tais circunst ncias FERNANDES 1989b p 9 Florestan Fernandes s se filia ao PT em 1986 sob o convite da dire o partid ria e a press o de amigos para concorrer s elei es daquele ano Apesar de acompanhar o partido desde sua forma o incomodava o soci logo a falta de um programa que o sustentasse como n cleo pol tico da classe trabalhadora assim como as ambigiiidades advindas das rela es entre as correntes mais intelectualistas e as tend ncias crist e social democrata Desde o in cio senti uma grande simpatia pelo PT Mas ao mesmo tempo tinha medo de entrar para o partido porque o arco que ia desde movimentos de comunidades de base sem conota o pol tica de car ter humanit rio passando por um n cleo social democr tico que tinha servido e serve para fortalecer a reforma do capitalismo at socialistas democr ticos e comunistas e socialistas revolucion rios esse imenso arco me assustava 262 Fundado em 1891 por Rodolfo Dantas e Joaquim Nabuco o Jornal do Brasil nasceu como cr tico do movimento republicano mas logo em 1893 assumiu fei es liberais sob o comando de Rui Barbosa Depois de um per odo de ostracismo teve seu grande momento nos anos 50 e 60 quando se deu a famosa Reforma do Jornal do Brasil que serviu de paradigma para a imprensa brasileira p
63. 45 47 abr 2000 SECCO Lincoln Gramsci e o Brasil recep o e difus o de suas id ias S o Paulo Cortez 2002 Quest es da Nossa Epoca v 94 sociologia como previs o Florestan e a Revolu o dos Cravos In MARTINEZ Paulo Henrique Florestan ou o sentido das coisas S o Paulo Boitempo Centro Universit rio Maria Ant nia USP 1998 p 75 99 SEMERARO Giovanni O educador pol tico e o pol tico educador In SEMERARO Giovanni Org Filosofia e pol tica na forma o do educador Aparecida Id ias amp Letras 2004 Tornar se dirigente O projeto de Gramsci no mundo globalizado In COUTINHO Carlos Nelson TEIXEIRA Ana Paula Orgs Ler Gramsci entender a realidade Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2003 p 261 274 Gramsci e a sociedade civil cultura e educa o para a democracia 2 ed Petr polis Vozes 1999 primavera dos anos 60 a gera o de Betinho S o Paulo Edi es Loyola Rio de Janeiro Centro Jo o XXIII 1994 Cole o Estudos Brasileiros 3 SEREZA Haroldo Ceravolo Florestan a intelig ncia militante S o Paulo Boitempo 2005 Paulic ia SILVA Graziela Moraes Dias da Sociologia da Sociologia da Educa o caminhos e desafios de uma policy science no Brasil 1920 1979 Bragan a Paulista EDUSF 2002 Estudos CDAPH S rie Hist ria amp Ci ncias Sociais SILVA Ot vio Luiz Machado 4 educa o na Assembl ia Nacional Constituinte s
64. 88 tem dois vieses explicativos O primeiro est no estilo antiliter rio do texto que n o oferece deleite algum aos leitores antes exige muita paci ncia e concentra o para enfrentar uma linguagem de extremo rigor conceitual e l gico GARCIA 2002 p 128 bem diferente por exemplo das reconstru es hist ricas de sucesso naquele momento tal como a alcan ada por Gilberto Freyre cujo estilo era tido como mais acess vel pelo seu car ter ensa stico Mas a insatisfa o de Florestan n o se exaure nessa fria repercuss o do ambiente cultural mais amplo estendendo se sobretudo ao pouco reconhecimento obtido no meio acad mico especializado Nesse caso o sintoma seria o modismo que come ava a substituir a an lise estrutural funcional por n o sei que tipo de estruturalismo FERNANDES 1978a p 89 Florestan numa atitude que d legitimidade citada hip tese de Coggiola descartar com veem ncia as cr ticas sua suposta perspectiva conservadora de an lise funcional das rela es sincr nicas de reprodu o da comunidade tribal analisada colocando d vidas sobre a possibilidade de se trat las numa perspectiva dial tica sem descambar para uma dupla falsifica o ou da dial tica ou das rela es sincr nicas N o h talento que resista a essa prova Ou ent o a an lise dial tica n o uma tentativa de explicar a transforma o da sociedade uma tentativa de mistificar N o devem
65. A fun o social da guerra na sociedade Tupinamb 2 ed S o Paulo Livraria Pioneira EDUSP 1970 Biblioteca Pioneira de Ci ncias Sociais Antropologia Sociedade de classes e subdesenvolvimento S o Paulo Zahar Editores 1968 Educa o e sociedade no Brasil S o Paulo Dominus EDUSP 1966 Ci ncias Sociais Dominus 6 244 integra o do negro na sociedade de classes S o Paulo Dominus EDUSP 1965 2v Ci ncias Sociais Dominus 3 organiza o social dos Tupinamb 2 ed S o Paulo DIFEL 1963 Corpo e Alma do Brasil 11 A etnologia e a sociedade no Brasil Ensaio sobre aspectos da forma o e desenvolvimento das ci ncias sociais no Brasil S o Paulo Editora Anhembi 1958 FERNANDES Florestan BASTIDE Roger Brancos e negros em S o Paulo ensaio sociol gico sobre aspectos da forma o manifesta es atuais e efeitos do preconceito de cor na sociedade paulistana 3 ed S o Paulo Companhia Editora Nacional 1971 FERNANDES Florestan PINSKY Jaime MARTINS Jos de Souza Apresenta o Debate e Cr tica Revista semestral de Ci ncias Sociais S o Paulo HUCITEC n 1 p 1 6 jul dez 1973 FERNANDES Helo sa As chaves do ex lio e as portas da esperan a In SEMANA FLORESTAN FERNANDES 2005 S o Carlos Carta lida por Florestan Fernandes Jr S o Carlos UFSCar 2005 Grava o FERNANDES Helo sa Sintoma Social dominante e moraliza o infantil
66. CARDOSO M 1997 p 99 O segundo motivo est na rea a que se destina a pesquisa a educacional que entendida aqui como uma pr tica social que se define nos m ltiplos espa os da sociedade na articula o com os interesses econ micos pol ticos e culturais dos grupos ou classes sociais A educa o pois compreendida como elemento constitu do e constituinte crucial da luta hegem nica FRIGOTTO 1999 p 21 Essa justamente uma das li es mais importantes da pedagogia socialista de Florestan especialmente quando demonstra que a conquista de uma hegemonia socialista no interior das lutas sociais apenas se realizar se tiver atores pol tica e teoricamente qualificados e competentes em sua defesa TOLEDO 1998 p 68 Tarefa para qual n o h a necessidade de nenhum b b socialista mas uma concep o educacional dial tica que seja ao mesmo tempo did tica e pedag gica que saiba unir a compet ncia t cnica de ensinar ao compromisso pol tico de pr vocar e de pr ocupar com certos temas problemas como nos termos de Moacir Gadotti 2003 p 12 Uma concep o de educa o que para ser exercida em todos os espa os de luta hegem nica que inclui mas n o se exaure no ch o da escola deve unir linguagem e pesquisa rigorosa com paix o e utopia Ou seja unir ci ncia e pol tica para destacar a import ncia da iniciativa da decis o da organiza o e do envolvi
67. Gorender 1995 p 33 a realiza o de uma obra de alta significa o para a cultura brasileira salvou Florestan da submiss o ao marxismo dogm tico imperante em nosso pa s de tal maneira que se contam pelos dedos de uma s m o os intelectuais comunistas que durante d cadas conseguiram produzir uma obra relevante Essa relev ncia segundo o respectivo autor pode ser medida pelo seguinte fato Observe se que dez anos depois de Florestan o soci logo brit nico Anthony Giddens levou a termo o mesmo empreendimento de exame das contribui es de Marx Durkheim e Max Weber moderna teoria sociol gica Giddens seguiu inspira o pr pria que n o cabe aqui avaliar mas not vel que houvesse percorrido exatamente a mesma trilha seguida pelo colega brasileiro com um dec nio de anteced ncia O que denota sem d vida a for a da percep o intelectual do mestre paulista bem como de sua extraordin ria afina o com a contemporaneidade GORENDER 1995 33 Para uma compara o conferir Fernandes 1980c e Giddens 1994 56 As duas teorias expostas de Durkheim e Weber apresentam em comum a mesma tend ncia a eliminar do campo da an lise a pretens o de compreender a realidade social como algo concreto Em suma suas teorias n o compreendiam todos os problemas que podem cair no campo da indu o sociol gica e s o insuficientes para explicar os fen menos de mudan a nos seus aspectos concretos mais ins
68. Instituto de Estudos Avan ados da USP vol 19 n 55 p 229 243 set dec 2005 245 Pref cio In SOARES Eliane Veras Florestan Fernandes o militante solit rio S o Paulo Cortez 1997 p 9 13 Florestan Fernandes por ele mesmo Estudos Avan ados S o Paulo Instituto de Estudos Avan ados da USP v 10 n 26 p 129 172 jan abr 1996 Democratiza o universidade revolu o In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 163 180 FRIGOTTO Gaud ncio 4 educa o e a crise do capitalismo real 3 ed S o Paulo Cortez 1999 FURET Fran ois Al xis de Tocqueville Da democracia na Am rica 1835 1840 In CHATELET Fran ois DUHAMEL Olivier PISIER Evelyne Dicion rio das obras pol ticas Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1993 p 1222 1236 GADOTTI Moacir Concep o dial tica da educa o um estudo introdut rio 14 ed S o Paulo Cortez 2003 GARCIA Sylvia Gemignani Destino impar sobre a forma o de Florestan Fernandes S o Paulo Ed 34 2002 GENRO Filho Adelmo O segredo da pir mide para uma teoria marxista do jornalismo Porto Alegre Tch 1987a Contra o socialismo legalista Porto Alegre Tch 1987b A ideologia de Marilena Chau Teoria amp Pol tica S o Paulo Brasil Debates ano 2 n 7 p 89 101 1985 GIDDENS Anthony Capitalismo
69. No seu caso espec fico o destaque foi a tese 4 integra o do negro na sociedade de classes com a qual se tornou professor titular da USP Nesse livro recusando a perspectiva conservadora sobre a quest o racial no Brasil Florestan toma como unidade de an lise sua cidade natal o maior centro urbano tipicamente burgu s do pa s devido ao alto desenvolvimento de sua divis o social do trabalho Em termos temporais o estudo abarca principalmente o per odo da desagrega o do regime servil a emerg ncia da ordem social competitiva e sua consolida o BASTOS 1987 p 141 sob uma concep o tradicionalista do final do s culo XIX at 1930 e dentro de um quadro mais capitalista a partir da Na S o Paulo em que se articulam o velho e o novo a condi o do negro seria o ponto de inflex o cujos estudos desvendariam as rela es entre o macro e o microcosmo Do campo da cultura o debate sobre as rela es chega organiza o social tendo como ponto de partida a singularidade do desenvolvimento do capitalismo no Brasil Desse modo mesmo estando num espa o marcado por rela es sociais modernas o negro livre acaba por apegar se a condi es de exist ncia social n o tipicamente capitalistas Nessa constata o Florestan Fernandes enfatiza um aspecto a aus ncia de um processo de ressocializa o do negro para a nova ordem estabelecida BASTOS 1987 p 143 A muta o de uma cidade de matriz rural com a preval
70. Um panorama sobre a quest o do pluralismo democr tico em paralelo com a teoria das elites Gaetano Mosca Vilfredo Pareto e Robert Michels e o monismo elitista Charles Wright Mills encontra se em Grynszpan 1996 213 Os trabalhadores e a democracia Folha de S Paulo 31 out 1984 214 Repress o participativa Folha de S Paulo 30 ago 1984 As quest es colocadas por Florestan s o por exemplo candentes no pluralismo democr tico de Robert Dahl 1997 que define a democracia como uma poliarquia um sistema no qual os cidad os comuns exercem um grau relativamente alto de controle sobre seus l deres com uma cont nua competi o pol tica e garantia efetiva do direito das minorias Mas apesar da exist ncia plural dos elementos de influ ncia do poder Dahl salienta sob uma perspectiva natural stica que existem duas parcelas de cidad os a os do estrato pol tico os poucos interessados que participariam das grandes discuss es e a es da sociedade b e os apol ticos a grande parte da popula o que fariam suas escolhas n o por um c lculo racional mas como produto da in rcia do h bito de lealdades de v nculos pessoais a partir de orienta es n o ideol gicas 135 opini o do soci logo foi isso que se deu por exemplo com o banco de c rebros do PMDB Partido do Movimento Democr tico Brasileiro que na campanha do candidato a governador Franco Montoro para
71. a de suas posi es e pap is sociais devido a t nue fronteira que as separavam da proletariza o J os trabalhadores de ind strias e servi os de empresas privadas mistas ou p blicas iam luta para resguardar o que restava de um padr o m nimo de dignidade de vida sob o fantasma cada vez mais sombrio do desemprego e do pauperismo Do campo emergiam os trabalhadores sem terras que buscavam fugir da condi o de prolet rios semilivres Nas periferias urbanas os exclu dos e marginalizados mergulhavam na mis ria e a viol ncia destrutiva aparecia como uma das poucas alternativas de reprodu o material aterrorizando as pessoas de bem Esse arco hist rico palpitando no cora o do Brasil indicava o surgimento de uma cabe a civil nascente que prometia revolver o solo hist rico e tensionar a sociedade Faltava lhe por m densidade ideol gica e capacidade de organizar um projeto hist rico Assim ao lado da inquieta o e do medo que causava no tope Florestan apostava no aumento do grau de consci ncia social das classes subalternas e intermedi rias atrav s dos atos de desobedi ncia civil que deveriam ser e em alguns casos estavam sendo canalizadas pelas organiza es sociais para al m de expressar o rep dio pela ditadura disfar ada de Nova Rep blica provocar a mobiliza o contra as iniquidades da ordem vigente universalizar ideologias e utopias de fraternid
72. a mesma vers o ou seja fen menos referentes ao ponto zero do descobrimento do Brasil n o faziam parte das quest es nacionais acrescentando o j citado desagrad vel estilo de escrita do autor fato este que merece a seguinte observa o da autora Hoje quando a antropologia passa a questionar de maneira sistem tica a forma estil stica das monografias os livros de Florestan Fernandes parecem refletir o ultrapassado formato do realismo etnogr fico Este estilo se caracteriza basicamente pelos seguintes aspectos 1 a estrutura da narrativa visa etnografia total 2 o etn grafo elimina ao m ximo sua presen a do texto 3 a nfase recai sobre um denominador comum de forma a legitimar a cultura ou a sociedade como objeto de estudo Nos livros sobre os Tupinamb tais caracter sticas se combinam a um estilo pesado e denso O leitor for ado a seguir os passos do autor em sua l gica da descoberta o que faz com que o rigor que Florestan Fernandes tinha em mente se transforme muitas vezes em exaustiva repeti o PEIRANO 1992 p 65 revelia do estilo por m Marisa Peirano afirmar a modernidade do trabalho se levado em conta as preocupa es contempor neas da antropologia Um primeiro aspecto se refere forma como Florestan colhe os dados de sua pesquisa fazendo com que o resultado anal tico resulte numa converg ncia de postulados te ricos e dados etnogr ficos suficientes para a reco
73. a sua negocia o como mercadoria encarecida pela pulveriza o dos partidos da ordem O efeito reverso dessa a o foi o aumento do desgaste governamental sua inefic cia e impopularidade pela corrup o generalizada digna dos mais intr pidos piratas da expans o da civiliza o ocidental e dos robber barons da era da revolu o urbana industrial e financeira dos Estados Unidos FERNANDES 1989b p 314 E quando tudo est podre a est a oportunidade para que nossa imagina o pol tica vislumbre uma outra data para uma constitui o de v nculos mais org nicos com a vontade popular ainda que atravessada pelos contradit rios interesses de classe mas sem os quais invi vel a exist ncia de uma democracia burguesa din mica aberta ampliada e pluralista O norte portanto era o ataque celerado mais nova arte de ocultar a luta promovida pelo escritor inventivo tornado presidente bi nico expressa no mote A Constitui o que ainda est sendo gestada tornar o Pa s ingovern vel e insolvente FERNANDES 1989b p 318 Para Florestan era inconceb vel que um presidente pudesse proclamar Na o a sua ingovernabilidade atribuindo isso a uma constitui o inacabada Isso s seria verdade se o texto constitucional tivesse vinculado a um movimento de eclos o revolucion ria ou se os constituintes tivessem entrado em conflito irrevers vel com os interesses do capit
74. ao curso de Ci ncias Sociais na Universidade Federal Fluminense UFF cuja culmin ncia se deu com minha entrada em 1998 no Programa de P s Gradua o em Antropologia e Ci ncia Pol tica PPGACP da mesma institui o Acompanhando de perto as modifica es da agenda sindical das escolas particulares comecei a identificar ali o objeto para minha disserta o de mestrado Os Empres rios da Educa o e o Sindicalismo Patronal o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio Janeiro 1944 1990 OLIVEIRA 20024 no qual realizo uma an lise hist rica e pol tica da a o sindical do ensino privado Depois de dois anos atuando como professor em institui es privadas de ensino superior percebendo que o prazer pela doc ncia e pela pesquisa tinham se igualado minha 12 voca o de jornalista resolvi dar continuidade aos estudos e optei por me submeter em 2002 ao processo de sele o para o Doutorado em Educa o no Programa de P s Gradua o em Educa o da UFF apresentando o projeto Federa o Interestadual das Escolas Particulares FIEP o novo lugar do ensino privado de educa o b sica na nova divis o de trabalho no sistema educacional brasileiro O objetivo era analisar a rela o entre a atual divis o de trabalho na rea educacional e a representa o de interesses do ensino privado de educa o b sica para contribuir com a literatura sobre o conflito p blico privado na respectiva r
75. ao in cio de uma nova forma de se fazer pol tica no Brasil que ganhou maior dimens o com a produ o de Fernando Collor de Mello que segundo Florestan em A transi o democr tica Folha de S Paulo 21 ago 1989 baseava se em tr s pilares na psicologia eleitoral de constru o da imagem pol tica na pol tica pr tica de elabora o do discurso pol tico e sua difus o por meios eletr nicos e impressos que inculcam a imagem e o discurso e no marketing eleitoral no sentido amplo de venda do candidato aos eleitores e de negocia o de suas promessas e alian as FERNANDES 1990 p 66 21 Luta de classes e socialismo prolet rio Folha de S Paulo 28 nov 1986 282 Congresso Constituinte sem sonhos Pasquim 11 a 18 dez 1986 Em outro artigo A pr tica da representa o institucional Folha de S Paulo 10 mar 1987 Florestan vai afirmar O Parlamento funciona como se fosse a Na o invertida A minoria pelo processo eleitoral corrompido gera uma maioria inabal vel A maioria por sua vez s consegue eleger uma escassa minoria e esta mesmo que se distribua entre v rios partidos e segmentos de partidos de esquerda de centro ou de direita impotente para retirar a Na o de sua letargia e estado de desorganiza o permanente FERNANDES 1989b p 72 164 independ ncia e de liga o entre os tempos hist ricos que regem o Brasil Tempos es
76. ar muito mais e engendrar nele uma segunda natureza humana socialista aferida para que ele se liberte do passado e do presente e aspire a erigir para si e para os outros uma sociedade socialista aberta para o advento do comunismo FERNANDES 1991a p 73 Estaria o PT preparado para essa tarefa Em pleno regime de exce o Florestan afirmava os seguintes princ pios b sicos que um partido oper rio deveria honrar para levar a cabo a destrui o efetiva da ditadura evitando se assim uma liberaliza o outorgada que consagrasse uma nova modalidade da autocracia burguesa e promovesse a cria o de uma democracia substantiva no Brasil 1 uma clara associa o com o socialismo prolet rio 2 uma transparente vincula o com a luta de classes nas condi es concretas existentes Sem conte dos socialistas n tidos afirmava os partidos oscilariam facilmente para a submiss o d cil o aburguesamento das lideran as e a concilia o pol tica como recurso de sobreviv ncia deixando as classes trabalhadoras entregues a si pr prias e sem b ssola pol tica FERNANDES 1982 p 83 No in cio da d cada de 90 este segundo o deputado era o maior dilema de seu partido ainda abalado pela derrota de 1989 fato que veio a se somar aos traumas da Nova Rep blica e da Constitui o inacabada Para n o mais se mostrar fraco diante dos pap is hist ricos que lhe cabiam ao PT n o restava alternativa sen o se assum
77. assegure a cobi ada transi o lenta gradual e segura com um Congresso Constituinte domesticado e tangido de cima por um Governo disposto a manter os prolet rios e os oprimidos em seu lugar FERNANDES 1989b p 50 Florestan acreditava na for a dos escolhidos pelos mais humildes que se n o formavam a maioria parlamentar representante da minoria detentora dos poderes pol ticos econ micos e culturais eram os mandat rios imperativos da maioria dos oprimidos que demandava uma conex o mais org nica com as for as parlamentares Se de baixo que vem a exig ncia hist rica de uma Rep blica democr tica a servi o de todos como instrumento de extin o da fome da mis ria da ignor ncia da viol ncia institucionalizada alicerces dos privil gios daquela m nima maioria FERNANDES 1989b p 52 os escolhidos pelas for as populares mais conscientes deveriam ser os arautos dessa mensagem de 280 As diretrizes da primeira campanha de Florestan a deputado federal encontram se na segunda parte de Fernandes 1989c sob o t tulo PT promessa e utopia uma campanha segundo o parlamentar de sentido socialista fundada na solidariedade humana na fraternidade de id ias e no altru smo pessoal Foi esse apoio que me tornou candidato e n o um simples figurante de elei es rituais e corrompidas pelo poder econ mico FERNANDES 1989c p 8 Uma campanha portanto diferente e cr tica
78. cidade de S o Paulo ARRUDA 2004 est o reunidos em Fernandes 2004a 2003 Um amor segundo Florestan dif cil de esquecer Eu acho que os livros e as pesquisas s o como as mulheres a gente abandona a rea mas o amor permanece Aquela pesquisa feita em 1941 enche a minha imagina o ainda hoje Quando eu penso nela eu me lembro dela com gratid o E lamento que tenha dado menos do que eu deveria porque ela foi t o importante para mim que eu deveria ter feito mais FERNANDES 1978a p 84 85 38 perspectivas sintetizadoras redu o dedu o e adi o pela proposi o de outras configura es que fundamentam o reconhecimento das regras metodol gicas para a constru o do novo dom nio disciplinar No caso de Florestan o que se faz uma defesa da an lise sociol gica buscando as origens sociais e pol ticas do objeto em quest o para afirmar que boa parte do estudo do folclore feito at ent o acabava por legitimar uma concep o e um projeto de sociedade que se definem pela diferen a essencial entre a cultura letrada das elites e a cultura das massas populares Respondendo a um artigo publicado por dison Carneiro publicado na Revista Brasiliense em 1959 no qual era acusado de ter uma aprecia o negativa sobre o folclore Florestan afirma que seu trabalho apenas tratava do desenvolvimento dos estudos folcl ricos em S o Paulo e jamais poderia ser encarado como suced neo ou eq
79. com Florestan Fernandes Jr foi atrav s do jornalismo que meu pai conseguiu sobreviver no in cio de sua carreira escrevendo ao mesmo tempo para dois grandes jornais da capital paulista O Estado de S Paulo e a Folha da Manh o que demonstra segundo Fernandes Jr a sua precoce capacidade de articula o escrevendo sobre literatura no primeiro jornal como cr tico liter rio e no segundo fazendo mais an lises sociol gicas antropol gicas e pol ticas Um pequeno ind cio de seu reconhecimento ascendente detalhado por Ant nio Candido 2001 vir num encontro com o modernista M rio de Andrade no final de janeiro de 1945 durante o I Congresso Brasileiro de Escritores que visava arregimentar intelectuais contra o Estado Novo Florestan mais uma vez no papel de rep rter encarregado de fazer a cobertura do evento para a Folha da Manh tem a oportunidade de ser apresentado a um dos mais expressivos intelectuais modernistas brasileiros que manifestou alegria ao conhecer pessoalmente o articulista do qual tinha lido bons trabalhos publicados na imprensa Ao mesmo tempo em que Florestan despontava na cr nica paulista Antonio Candido aluno mais antigo do curso de ci ncias sociais primeiro assistente de Fernando de Azevedo na cadeira de Sociologia II j se destacava como articulista especialmente na Folha da Manh al m da sua participa o no j citado projeto da revista Clima A figura dele naquele mom
80. cotidianas os problemas de sa de e o desejo de travar uma luta direta contra a ditadura militar o faz retornar em 1973 ao Brasil Essa luta mesmo sem c tedra ser travada atrav s de uma pujante produ o intelectual que inclui atividades editoriais o relan amento de antigos livros e uma quantidade consider vel de novas 1 Doia nele como d i at hoje a desigualdade do a nele como d i at hoje a discrimina o contra os negros do a nele como d i at hoje a apropria o privada de bens coletivos como por exemplo a educa o CARDOSO F 1987 p 25 191 Hipertens o e complica es card acas segundo Sereza 2005 p 160 12 Destaque para a revista Debate e Cr tica que na apresenta o de seu primeiro n mero traz a seguinte mensagem Numa poca em que a neutralidade tica justifica todos os crimes contra o objeto e as fun es das ci ncias sociais n s nos insurgimos contra ela e defendemos uma posi o explicitamente cr tica e militante para o cientista social Aos que confundem repressivamente ci ncia social e subvers o n s opomos o zelo verdade a que nos obriga nossa forma o intelectual e nossa responsabilidade social Aos que confundem ci ncia social com apologia da ordem e com propaganda n s respondemos com o dever que pesa sobre n s de n o recuarmos diante de um conflito que n o criamos e que de fato decidir se produziremos c
81. das esquerdas Folha de S Paulo S o Paulo 21 dez 1987 A Constitui o inacabada p 189 191 A retranca da direita Jornal do Brasil Rio de Janeiro 28 dez 1987 A Constitui o inacabada p 192 195 Jornal do Brasil Rio de Janeiro 14 dez 1987 A Constitui o inacabada p Ren ncia ou destitui o Jornal do Brasil Rio de Janeiro 12 jan 1988 A Constitui o inacabada p 199 202 Choque parlamentar Jornal do Brasil Rio de Janeiro 26 jan 1988 A Constitui o inacabada p 203 206 Ideologia e utopia do Centr o Folha de S Paulo S o Paulo 27 jan 1988 A Constitui o inacabada p 207 210 Odiai vos uns aos outros Folha de S Paulo 09 fev 1988 A Constitui o inacabada p 211 214 A idealiza o da Constitui o Jornal do Brasil Rio de Janeiro 22 fev 1988 A Constitui o inacabada p 215 219 O quadro pol tico atual Decis o Bras lia abr 1988 A Constitui o inacabada p 244 247 O teste parlamentar Folha de S Paulo S o Paulo 03 abr 1988 A Constitui o inacabada p 237 239 A percep o popular da ANC Folha de S Paulo S o Paulo 11 abr 1988 A Constitui o inacabada p 240 243 Constitui o continuidade ou ruptura Folha de S Paulo S o Paulo 20 abr 1988 A Constitui o inacabada p 248 250 Nova Carta e elei es para superar a crise Fol
82. de base especialmente os de identidade cat lica Vit rias expressivas surgiram em todos os n veis dos ndios e posseiros aos b ias frias dos favelados dos negros das mulheres dos homossexuais e das entidades de bairro aos oper rios sindicalizados e politizados atestando sempre a mesma coisa o aparecimento e o fortalecimento de condi es subjetivas de auto afirma o do homem pobre oprimido Na verdade a classe trabalhadora enfrenta a supremacia burguesa em embates diretos e complexos Como isso poderia transcorrer sem as premissas psicol gicas s cio culturais e pol ticas das ditas condi es subjetivas FERNANDES 1986a p 129 130 Faltava portanto uma guinada na conquista da democracia uma guinada que levasse em conta o significado das tarefas pol ticas necess rias para a constru o de uma sociedade civil e de um Estado democr tico o passo inicial para a mais importante batalha pol tica a substitui o da ordem ilegal institu da pela ditadura por uma ordem legal leg tima e democr tica Isso perguntava Florestan vinha antes do combate fome ao desemprego infla o e mis ria imperantes A resposta sim E o caminho seria a convoca o das massas para os combates c vicos com a cria o atrav s de seu ativismo de novos canais de a o pol tica institucionalizada capazes de submeter os poderes da Rep blica ao crivo de novas realidades e das solu es que elas exi
83. de professor titular CERQUEIRA 2004a p 181 Na condi o de outsider sofrendo com a dist ncia da fam lia dos amigos e do ch o institucional que ajudou a criar na cidade de S o Paulo Florestan franqueia sua sempre declarada identidade socialista um novo projeto que Netto 1987 p 295 vai denominar de pedagogia revolucion ria A rigor vendo se como fragmento radical de uma gera o perdida Florestan assevera que depois de muita mistifica o sobre a neutralidade cient fica o soci logo redescobre sem grifo no original que a explica o sociol gica ao n vel macro hist rico n o pode ser dissociada do pensamento cr tico e de uma posi o militante sem se perverter O que volta a unir sem grifo no original sociologia e socialismo FERNANDES 1977 p 125 Com essa redescoberta e essa re uni o evidenciando a validade da hip tese de Candido 2001 sobre o rio subterr neo do marxismo na trajet ria florestaniana estavam dadas as condi es subjetivas e objetivas para a reconfigura o dos contornos de sua sociologia cr tica e militante Assim depois de uma produ o de meados de 1960 ao in cio da d cada de 70 que nunca foi posta como contribui es de cunho marxista puro FERNANDES 1978a p 156 Florestan p de ajustar sem pudor seu papel de professor ao de intelectual marxista Nem mesmo tentei simular passando por an lise dial ti
84. de que justamente o contato inicial com a obra de Marx que permitir ao soci logo paulista repensar o conceito durkheimiano de anomia para o reconstituir como um instrumento de explica o da demora hist rica cultural lag Durkheim faz da anomia do desencontro entre as transforma es no substrato das rela es sociais e as representa es e normas sociais que deveriam corresponder lhes o centro de sua sociologia Como Marx faz tamb m do atraso da consci ncia em rela o s rela es sociais que ela mediatiza faz da aliena o o n cleo de sua sociologia Do mesmo modo Florestan Fernandes toma o desencontro do homem com sua obra como no fundo mesmo o seu objeto central de estudo MARTINS 1998 p 95 96 3 L wy 2003b p 135 136 analisando o tratamento que Gramsci faz do problema da autonomia da ci ncia afirma que a atividade cient fica cont m ao mesmo tempo uma dimens o ideol gica e uma dimens o cognitiva raz o pela qual um grupo social pode se apropriar da ci ncia elaborada por um outro grupo social sem aceitar sua ideologia N o seria necess rio ignorar o ponto de vista do advers rio mas saber incorpor lo talvez como momento subordinado na pr pria constru o cient fica e te rica em outros termos compreender e julgar de forma realista a posi o e as raz es do advers rio significa estar liberado da press o das ideologias no sentido pejorativo da cegueira do fanatismo ideol
85. de que o que n o passa na m dia n o existe Entidade ub qua e sedutora o pr ncipe eletr nico difunde habilidosamente a vis o de mundo prevalecente nos centros mundiais de poder penetrando sutilmente no inconsciente da multid o cada vez mais degradada entre a sobreviv ncia cotidiana e as viagens no mundo encantado do imagin rio e do espet culo oferecidos diariamente pela m dia 323 Praticas nocivas que afetam de in cio o funcionamento do Estado brasileiro que no caso espec fico do Legislativo n o se exaure na capacidade da m dia agendar o Congresso Nacional tal como indicado por Rodrigues 2002 mas sobretudo pelo exerc cio direto do poder em benef cio pr prio Apesar da legisla o proibir o exerc cio da fun o de diretor ou gerente de empresa concession ria de r dio ou televis o a quem esteja gozando de imunidade parlamentar ou de foro especial um levantamento realizado em 1995 indicava que das 302 emissoras de TV comerciais no pa s 94 pertenciam a pol ticos ou ex pol ticos Dos 594 parlamentares 130 possu am uma concess o de r dio ou televis o ou mesmo uma combina o das duas Quando n o pelo controle direto este se d atrav s de parentes ou testas de ferro A propriedade desses canais em muitos casos define quem tem ou quem n o tem poder pol tico no Brasil afirma Cunha 2002 p 220 lembrando que os cinco anos de mandato ao presidente Jos Sarney custaram a dist
86. democr tica e entre outras coisas falta de socializa o pol tica socialista como ideal pedag gico op es que vieram a se somar s insatisfa es com as condi es de trabalho e moradia a escassez de produtos e as modalidades insatisfat rias de distribui o e reparti o O que h de socialista ter de sobreviver ven a a op o capitalista impulsionada pelas na es ocidentais ou prevale a o socialismo ferido de tantas crises e em busca de recupera o em outras condi es Nada disso afeta ou deriva dos cl ssicos do anarquismo do socialismo ou do comunismo FERNANDES 1994 p 15 16 No mais restavam ainda as seguintes quest es se o socialismo est morto ent o por que se gasta tanta tinta papel e energias para remover fantasmas Se o socialismo n o cont m a alternativa em vir a ser do padr o capitalista de civiliza o por que refut lo com tanto medo As ideologias desapareceram Ent o por que levantar o erzatz de um neoliberalismo inexegu vel sob o capitalismo oligopolista ou monopolista imperante nas na es centrais e na superpot ncia FERNANDES 1990 p 7 As respostas na perspectiva florestaniana seriam encontradas no terreno da pr tica pol tica 39 Num texto em homenagem a Trotsky escrito no final dos anos 80 Florestan se pergunta qual seria a sua posi o diante dos artif cios intr nsecos ao debate sobre o fim do socialismo Segundo o soci logo Tr
87. determina o intelectual e sua vontade pol tica Nesse sentido a quest o de se definir se Florestan foi mais acad mico ou mais pol tico se houve ou n o uma ruptura em sua trajet ria passa a ser uma quest o secund ria SOARES 1997 p 125 126 Vale ressaltar neste sentido que a investiga o dos escritos jornal sticos de Florestan Fernandes n o se confunde com a simples exalta o de sua mem ria j que por ser de dom nio p blico ou seja voltada para o di logo com o outro encaixa se perfeitamente na categoria de fato social pass vel de ser considerado uma mem ria coletiva importante para a compreens o de uma realidade social determinada MOTTA 1998 A relev ncia deste trabalho portanto ao restabelecer o valor de uma heran a intelectual deste porte geralmente relegada a um segundo plano por sua reconhecida negatividade pode estar como afirma o pr prio Florestan em uma obra sobre retratos intelectuais de inconformistas e revolucion rios na sua capacidade de tornar compreens vel como id ias produzidas pelos intelectuais transformam se em conhecimento cr tico ou n o e por sua radicalidade engendram for as sociais que questionam o status quo seus saberes e suas pr ticas sociais FERNANDES 1995b p 9 10 Sob o exposto ressalvo que houve a op o de n o se apresentar um cap tulo te rico parte mas sim a incorpora o na medida em que a reflex o s
88. do Estado s o diversos sob a forma neocolonial ou dependente de desenvolvimento capitalista FERNANDES 1981 p 88 89 92 93 E se essa mesma postura o levou a empregar os termos revolu o passiva hegemonia e sociedade civil diferentemente do sentido espec fico com que os mesmos s o utilizados na obra de Gramsci COUTINHO 2000 p 251 talvez tamb m tenha sido ela que o tenha protegido do mal uso de Gramsci no Brasil das d cadas de 70 e 80 mal uso esse que segundo Nogueira 2000 2001 serviu para legitimar algumas convic es de que a nova sociedade civil brasileira pode fazer se a si mesma na medida em que se diferencie e se oponha ao Estado Ao separar a sociedade civil da pol tica essa perspectiva acabou por negligenciar a luta de classes ou seja a luta pela hegemonia favorecendo ao clima de despolitiza o que diluiu o car ter p blico do poder o que acabou por gerar a eros o dos institutos cl ssicos da pol tica fortalecendo o ide rio neoliberal de uma sociedade sem Estado Ou como nas palavras de Florestan ditas ainda na metade da d cada de 80 na era da internacionaliza o da produ o tal perspectiva ajudou o casamento do intervencionismo estatal e da iniciativa privada FERNANDES 1986a p 31 N o sem raz o que justamente para enfrentar essa reestrutura o do poder burgu s e por consequ ncia construir uma alternativa reformista r
89. do s culo passado Florestan afirmava que sob o disfarce de motivos ideol gicos de fins altru sticos e de realiza es econ micas s o organizados movimentos sociais que arrastam em seu bojo pessoas que poderiam ser qualificadas de inocentes com rela o consci ncia dos fins reais dos movimentos de que participam ou ao qual aderem j que extremamente dif cil para grande parte das pessoas devido s condi es modernas de exist ncia social descobrir o real sentido dos respectivos movimentos Os preju zos morais e materiais que sofrem s s o percebidos tardiamente O exemplo que o soci logo cita 8 De acordo com Mendon a 2005 p 15 o que se pretende com essa releitura do conceito de sociedade civil a redu o de todo o sistema social capitalista a um mero conjunto de institui es rela es que al m de dissolverem o pr prio conceito de capitalismo diluem junto com ele o conceito de classe social e isto algumas vezes em nome do combate ao reducionismo economista ainda imputado ao marxismo O capitalismo se volatiza assim numa mir ade indiscriminada de institui es rela es de novo tipo o que al m de enfraquecer a for a anal tica do conceito de Sociedade Civil nos termos de Gramsci esvazia o de sua capacidade de organizar projetos emancipat rios despindo o de seu significado de forma social espec fica do capitalismo de um ponto de vista totalizante 229
90. donos do poder de dar conta da barb rie que criaram atrav s de uma revolu o dentro da ordem O processo constituinte abrindo se s press es da sociedade civil libera a vitalidade do movimento democr tico da sociedade brasileira e conduz destrui o do que subsiste do complexo ditatorial FERNANDES 1989b p 89 Mas esse caminho n o seria t o simples a come ar pela convers o da principal for a de oposi o ao regime militar em trampolim para os pol ticos que mais se beneficiaram da ditadura O PMDB envolvido em um sistema fisiol gico de prebendas anti republicanas com a vit ria nas urnas acabou por adquirir a face do regime vigente na transi o transada Perdeu assim a oportunidade de ser o fator de consolida o de um regime efetivamente democr tico e ajudou a promover um quadro pol tico global de duas faces com um partido da ordem reformista que desmente no plano institucional o seu passado as suas bandeiras e os seus compromissos com a Na o e uma ANC castrada pelo Poder Executivo e por sua pr pria maioria parlamentar conservadora da condi o de poder constituinte soberano e origin rio FERNANDES 1989b p 92 Assim mesmo com a resist ncia civil da 32 a ANC curvando se participa o popular e da milit ncia engajada dos partidos de esquerda 7 a as a um governo de opereta absorveu os v cios do antigo regime aceitou o fisiologismo pa
91. e 04 abr 1959 Educa o e sociedade no Brasil p 540 551 Em defesa da escola p blica O Estado de S o Paulo S o Paulo 30 jan 06 e 13 fev 1960 Educa o e sociedade no Brasil p 382 395 A posi o dos licenciados O Estado de S Paulo 11 fev 1960 Educa o e sociedade no Brasil p 396 403 A universidade e o desenvolvimento do Nordeste O Estado de S Paulo S o Paulo 05 fev 1961 Educa o e sociedade no Brasil p 285 291 Objetivos da campanha da escola p blica O Estado de S Paulo S o Paulo 24 mai 1961 Educa o e sociedade no Brasil p 354 358 A Universidade de Bras lia Revista Anhembi S o Paulo jun 1961 Educa o e sociedade no Brasil p 339 342 Diretrizes e Bases a san o do Presidente O Estado de S Paulo 28 dez 1961 Educa o e sociedade no Brasil p 521 525 A orienta o do clero cat lico O Estado de S Paulo S o Paulo 14 fev 1962 Educa o e sociedade no Brasil p 419 423 A representa o dos alunos Revista Anhembi S o Paulo set 1962 Educa o e sociedade no Brasil p 280 284 Artigo recusado pelos jornais paulistas A natureza do Caetanismo Portugal Democr tico S o Paulo nov 1972 Democracia e desenvolvimento p 39 47 255 El dilema brasile o democracia e desarrollo La Opini n Cultural Buenos Aires 30 set 1973 Em busca do socialismo p 125 131
92. e moderna teoria social uma an lise das obras de Marx Durkheim e Max Weber Lisboa Editorial Presen a 1994 GOLDEMBERG Mirian 4 arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ci ncias Sociais Rio de Janeiro Record 1997 GORENDER Jacob Conflu ncias e contra es da constru o sociol gica Revista ADUSP S o Paulo Associa o dos Docentes da Universidade de S o Paulo n 4 p 32 33 out 1995 Ep logo para um romance revelia do autor SACCHETTA Herm nio O caldeir o das bruxas e outros escritos pol ticos Campinas Pontes Editora da Universidade Estadual de Campinas 1992 p 153 156 A revolu o burguesa e os comunistas In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 250 259 GRAMSCI Antonio Os intelectuais e a organiza o da cultura 8 ed Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1991 246 GRYNSZPAN Mario A Teoria das Elites e sua genealogia consagrada BIB Revista Brasileiras de Informa o Bibliogr fica em Ci ncias Sociais S o Paulo ANPOCS n 41 p 35 83 1996 HERZ Daniel 4 hist ria secreta da Rede Globo Porto Alegre Tch 1987 IANNI Octavio Florestan Fernandes e a forma o da sociologia brasileira In IANNI Octavio Org Florestan Fernandes Sociologia S o Paulo tica 1986 Grandes Cientistas Sociais v 58 p 7 45 JINKINGS Ivana Apresenta
93. e que o pr prio educador deve ser educado Deve por isso separar a sociedade em duas partes uma das quais colocada colocada acima da outra A coincid ncia da altera o das conting ncias com a atividade humana e a mudan a de si pr prio s pode ser captada e entendida racionalmente como praxis revolucion ria MARX 1974b 1 Nos anos 80 ocorreu no Brasil um intenso debate sobre o suposto conflito entre o compromisso pol tico e a compet ncia t cnica na educa o pol mica que segundo Saviani apud NOSELLA 2004 p 11 tinha por base o equ voco da vincula o entre neutralidade e objetividade Florestan lembrando Weber tido como o maior paradigma do soci logo liberal faz a seguinte distin o entre esses dois conceitos ao colocar em quest o a suposta tica da neutralidade no campo cient fico Ele Weber dizia que n o h campo para a neutralidade na ci ncia porque isso seria irrespons vel O problema de objetividade o conhecimento precisa ser um conhecimento verific vel objetivo que outros investigadores possam controlar Neutralidade no sentido de indiferen a do cada um que fa a o que achar melhor isso j seria admitir que o intelectual vai al m do mandarim livre para desfrutar todos os benef cios sem precisar dizer a sociedade a que ele vem Em suma ele teria o privil gio de fazer parte de um jogo cujas regras ele pr prio determinaria e que o excluiria da comunh o com outros s
94. ele me atraiu como um protegido e disse O que voc acha da Faculdade de Filosofia Eu acho a Faculdade de Filosofia a escola mais importante que temos hoje no Brasil Voc gostaria de pertencer Faculdade de Filosofia Bom respondi gostaria mas esse um objetivo muito dif cil Como aquele personagem tratado por Thomas Mann na trilogia Jos e seus irm os eu procurava aformosear meu destino naquele momento E continuei muito complicado abrir as portas da Faculdade de Filosofia para uma pessoa como eu E ele com aquele ar decidido Isso n s veremos aquele convite me surpreendeu um homem como ele acenando me com a possibilidade de voltar me para a Faculdade de Filosofia e s fez agu ar as minhas ambi es FERNANDES 1995b p 187 188 33 Para dar conta de seu anseio Florestan lan a m o de uma t tica comum de aformoseamento pelos que na poca buscavam encontrar um lugar ao sol no meio intelectual daquela que j estava se transformando na principal cidade brasileira investe na publica o de artigos em jornais da cidade de S o Paulo Nos anos 30 e 40 do s culo passado a participa o nos di rios era cobi ada por dois motivos centrais era o ve culo por excel ncia para a divulga o das id ias assim como uma possibilidade de renda adicional A grande imprensa constitu a um esteio profissional bastante cobi ado pelos jovens intelectuais d
95. em 1946 Ali o jornalista faz uma defesa do car ter n o doutrin rio das posi es de Trotski inclusive de sua concep o de revolu o permanente que advogava mais do que uma mudan a na forma da propriedade privada sob os ausp cios das burocracias nacionais um projeto de destitui o de todas as desigualdades sociais atrav s do despojamento das classes possuidoras mundiais o que s seria poss vel pela progressiva ascend ncia e conquista de poder pelas associa es oper rias organizadas internacionalmente A base dessa premissa estava na constata o de que o poder dos sovietes era pequeno em rela o ao conjunto do capitalismo na cena mundial Essa vis o procedia de uma an lise da economia capitalista como uma totalidade um modo de produ o que conforma uma divis o internacional do trabalho dominada por a es que se desenvolvem em territ rios nacionais mas que n o se configura como um conjunto de adi o de unidades nacionais Pretender construir a sociedade socialista num s pa s significa que a despeito de triunfos fazemos as for as produtivas recuarem em rela o ao capitalismo uma utopia reacion ria afirma Trotsky querer criar no quadro nacional um sistema harmonioso e suficiente composto de todos os ramos econ micos sem ter em conta as condi es geogr ficas hist ricas e culturais do pa s que faz parte da unidade mundial Os tra os espec ficos da economia nac
96. envolviam ndios negros posseiros favelados mulheres homossexuais anistia pol tica etc e a press o dentro da ordem mas firme e generalizada das comunidades eclesiais de base A resposta a esse conjunto de altera es exigia uma modifica o da estrat gia militar da opress o pol tica O poder burgu s via se de novo desafiado como durante a d cada de cinq enta e in cio da d cada de sessenta Contudo a ditadura n o dispunha mais de um excedente de poder que lhe conferisse o recurso aos m todos brutais aplicados anteriormente Teve de absorver os descontentamentos dos estratos dominantes e mais ou menos privilegiados da burguesia e de contra atacar reorganizando o sistema ditatorial de partidos de elei es e de uso da viol ncia militar expl cita ou dissimulada FERNANDES 1986a p 139 140 Foi por isso que o PMDB nascido como oposi o consentida encarou sua responsabilidade pol tica pelos par metros da lealdade de classe de seus integrantes n o considerando os termos de sua representa o pol tica frente s massas populares que corriam o risco de serem varridas das ruas e das pra as p blicas em nome de um pseudo ataque final ditadura ou da instaura o da normalidade democr tica FERNANDES 1986a p 139 140 Novamente Florestan alerta para n o se confundir a mobiliza o popular em defesa de uma democracia de conte do prolet rio com os com cios t ticos Os
97. especificar diferen as de enfoque no interior desta corrente de pensamento aqui vou me restringir a apontar alguns tra os que julgo serem efetivamente gerais entre os que participam desta escola ou contribuem para esta teoria As caracter sticas que destaco a seguir s o as que sobressaem especialmente a partir de uma leitura de Florestan Fernandes e de seu capitalismo dependente 80 defensivo mas que n o deixa de fortalecer o projeto de inser o internacional da fra o local burguesa Os dependentistas denunciam a depend ncia mas a pr pria forma como a pensam e como formulam a sua den ncia encaminha n o para o enfraquecimento da domina o mas para o seu fortalecimento pela via interna buscando a constru o de um consenso nacional em torno da burguesia local e sob a dire o dela Sob a apar ncia de uma cr tica radical portanto se esconde a submiss o ao projeto econ mico do capital por meio do fortalecimento da fra o deste capital como se tal fortalecimento por si s e sem a press o dos demais setores da sociedade conduzisse autonomiza o nacional Neste sentido o recurso na o usado como camuflagem dos mecanismos diretos de domina o que ocorrem a partir da produ o enquanto explora o e domina o do trabalho CARDOSO M 1997 p 15 Como define Martins 1998 p 170 a teoria da depend ncia seria uma tentativa de ajustar o desenvolvimento do pa
98. estava em discuss o era os meios que conduzem revolu o dentro da ordem e revolu o contra ordem mas n o os conte dos e significados revolucion rios do socialismo O PT permanece como a nica alternativa para os que se identificam com o socialismo Por enquanto n o h outro lugar para n s fora dele e estou convicto ele comprovar que veio para reduzir o capitalismo selvagem e a sociedade de classes correspondente a cacos N o obstante temos que enfrentar com coragem o calcanhar de aquiles do PT para n o repetirmos aqui a trag dia que esfrangalhou a social democracia e o socialismo democr tico atrav s de uma senilidade precoce N o h socialismo sem democracia da maioria e por suas transforma es democracia de todos para todos Esse era e dever ser sempre o roteiro ideol gico e pol tico do PT Ou ent o ele se converter em um sonho perdido FERNANDES 1998 p 180 Numa entrevista com intelectuais de 1989 Florestan apontava a perspectiva de enfraquecimento dos prop sitos revolucion rios do PT a come ar pelo l pido desejo de alguns setores em alcan ar de qualquer forma o chamado poder Mal se torna um partido pujante e imediatamente quer conquistar o poder quer fazer a revolu o de cima para baixo uma ilus o pensar que aqui no Brasil n s possamos conquistar o poder legal e da fazer uma revolu o de cima para baixo FERNANDES 1994 p
99. estratos mais firmes e decididos das massas populares sa ram s ruas e tomaram conta da pra a p blica um fr mito de esperan a percorreu todo o Brasil para nada Ora preciso que se convenha em troca de uma derrota parlamentar ganhamos um ex rcito pronto para o combate pol tico e pela primeira vez em vinte anos a ditadura n o s foi virada pelo avesso posta no pelourinho e desafiada por milh es de cidad os conscientes e dispostos a tudo foi batida dentro do campo da ordem ilegal que ela forjou FERNANDES 19864 p 179 Para Florestan era uma ingenuidade acreditar que bastaria uma emenda para derrubar a ditadura que resistiu por vinte anos com o apoio de incont veis c mplices A validade da movimenta o na sociedade civil estimulada pelo deputado Dante de Oliveira foi ter for ado os partidos ent o existentes a sa rem do imobilismo e procurar di logo com suas bases sociais colocando a nu suas raizes e suas fun es Al m disso ao mobilizar as massas permitiu que elas tornassem expressas seus desejos por meios de auto afirma o e pela conquista de posi es permanentes e din micas na sociedade civil e na sociedade pol tica Se o movimento popular multiclassista e contradit rio n o obteve sucesso na aprova o da emenda conseguiu ao menos fazer com que o Parlamento fosse bafejado pelo sol da vida que o calor humano das massas mais ou menos ativas do Povo tarde demais pa
100. estrutural funcional serve tamb m investiga o das sociedades de classe capitalista ou socialista As pessoas que atacam a partir de uma perspectiva ideol gica por causa de uma suposta posi o revolucion ria a an lise estrutural funcional esquecem se de que a an lise estrutural funcional muito importante para lidar com problemas humanos a curto prazo Al m disso quando a interven o racional possui um escopo limitado como ocorre com o controle dos problemas sociais em uma sociedade capitalista em que ela s apanha a rede de efeitos e n o a das causas pois se trata de ajustar os indiv duos e as institui es ordem existente a nica via consistente de an lise a estrutural funcional N o por culpa do investigador certamente que poderia desejar ir mais longe e associar a an lise dial tica revolu o social A impugna o da an lise funcional que se baseia na id ia de que o marxismo repele a an lise estrutural funcional acaba colidindo com o que ocorre numa sociedade onde o socialismo de Estado est criando condi es novas de passagem para uma sociedade comunista A an lise dial tica importante para o planejamento quando se trata da estrat gia dos planos Mas quando se trata da t tica dos planos a a an lise estrutural funcional que vem a ser importante FERNANDES 1978a 106 107 Este exerc cio de fidelidade aos fatos vai ser uma das marcas do etn l
101. expedientes de press o e coopta o principalmente sobre os funcion rios de seus sindicatos e empresas De outro as for as cat licas formando uma equipe de constituintes que funcionaram como delegados da CNBB na ANC rodeados por um verdadeiro ex rcito de freiras sacerdotes autoridades eclesi sticas e estudantes de escolas confessionais O pr prio Florestan foi afetado pela press o do clero atrav s de um telegrama enviado pelo padre Raul Paiva reitor do Col gio dos Jesu tas de Juiz de Fora o qual reclamava de sua posi o discriminat ria e antidemocr tica em favor das verbas p blicas somente para o ensino estatal o que impossibilitava na tese da Igreja a pessoa humana escolher a escola de sua prefer ncia Eis afirmar o publicista o que n o se esperava no fim do s culo a Igreja Cat lica continuava com a mesma disposi o que a animava no in cio da Rep blica na busca pela fatia de recursos p blicos que lhe facultasse o controle de mentes e cora es O que levava Florestan a levantar as seguintes quest es Teria raz o Althusser a Igreja Cat lica quer ser parte estrutural e din mica do aparelho ideol gico do Estado isso que a Igreja Cat lica desenha como futuro do Brasil um Estado com punho militar tendo na cabe a a ilustra o sacerdotal e no cora o a acumula o capitalista acelerada que faz do lucro o alfa e o mega da vida humana FERNANDES 1989b
102. exprimirem de modo mais organizado e viril suas reivindica es contra o projeto de lei dificilmente os senadores participar o do di logo com nimo de nos atender Em outras palavras sem imitar as for as que se op em revis o do projeto de lei e reproduzir seus m todos de luta devemos incrementar o poder de persuas o da nossa campanha e aumentar a import ncia das manifesta es puramente leigas contra aquele calamitoso esbulho da educa o popular FERNANDES 1966 p 520 No entanto os resultados do processo acabam por convencer Florestan de que os chamados controles indiretos s produzem efeitos positivos onde os mecanismos da democracia funcionam com um m nimo de efic cia FERNANDES 1966 p 508 509 Cometeu se um crime contra o ensino atendendo se s pretens es das correntes privatistas e s press es reacion rias de c rculos cat licos obscurantistas A verdade insofism vel que o Congresso parece ser cativo dessas for as n o tendo por isso meios de consolidar a democracia na esfera do ensino Acomoda se quando devia revoltar se omite se ou tergiversa quando devia decidir e impor soberanamente as solu es mais convenientes democratiza o do ensino e diferencia o qualitativa do sistema educacional brasileiro FERNANDES 1966 p 514 A nica ressalva feita sobre as for as parlamentares da poca foi em rela o ao Partido Trabalhista Brasileiro PTB que atrav s de seus l
103. for as dos movimentos sociais negro mulher jovens ind genas favelados aposentados homossexuais ecologistas prostitutas etc Sem projeto educativo e articula o abre se espa o para que o Estado continue a exercer a fun o de servir iniciativa privada o que compromete a consolida o de um movimento socialista radical que objetive a constru o de uma sociedade nova Tal perspectiva florestaniana mostra se sintonizada com outra li o leninista fundamental para esses tempos neoliberais tal como definida por Slavoj i ek Pol tica sem a forma organizacional do partido a mesma coisa que pol tica sem pol tica por isso a resposta queles que querem apenas Novos Movimentos Sociais nome muito adequado ali s deve ser a mesma que os jacobinos deram aos girondinos que queriam negociar uma solu o de compromisso Voc s querem revolu o sem revolu o O dilema atual que h dois caminhos abertos ao engajamento s ciopol tico ou joga se o jogo do sistema engajando se na longa marcha atrav s das institui es ou toma se parte em novos movimentos sociais do feminismo ecologia e ao anti racismo E reiterando a limita o desses movimentos que eles n o 207 s o pol ticos no sentido do Singular Universal eles s o movimentos de uma s causa que n o t m a dimens o da universalidade quer dizer eles n o se relacionam com a totalidade social Z
104. gica FERNANDES 19715 p 299 0 A fome Folha de S Paulo 15 nov 1993 1 Um estudo sobre esta nova estrat gia de legitima o social da hegemonia burguesa no Brasil encontra se em Neves 2005 230 No seu primeiro artigo de 1994 comentando as estrat gias assistencialistas de combate fome que estimulam uma solidariedade paral tica Florestan alertava que preciso virar o Brasil pelo avesso para descobrir outras solu es que n o procedam da caridade crist e da piedade palavras que se chocam com a virt capitalista mercen ria dos que mandam 2 Curiosamente ele volta a tratar da quest o tamb m no primeiro artigo do ano de 1995 destacando que nas rela es entre capitalismo e a festa da caridade o capital sempre se deu melhor tratando o ex rcito industrial de reserva fruto da acumula o acelerada com o aparelho repressivo estatal a coniv ncia das religi es redentoras e as ilus es difundidas pela m dia eletr nica e escrita O que a leitura dos textos de Florestan nos aponta que o horizonte das lutas no campo educacional deve ser a universalidade do bem estar social em todos os seus n veis No caso do ensino superior isso se expressa na possibilidade de acesso de um p blico cada vez mais amplo a uma educa o de qualidade socialmente referenciada que justifique sua gratuidade No caso da educa o b sica o referencial deve ser o investim
105. gico para se situar de um ponto de vista cr tico o nico fecundo na 259 investiga o cient fica 65 Uma das caracter sticas centrais da sociologia de Florestan segundo Martins a busca das media es que definem a riqueza dos processos sociais e do processo hist rico sempre com base numa concep o da realidade social como totalidade Seu objetivo descobrir os nexos vis veis e invis veis que tecem a realidade resultando numa sociologia da din mica social que tenta identificar os bloqueios que impedem ou retardam o desenvolvimento da sociedade Florestan pode com isso ser considerado um soci logo do reencontro por ter como meta diminuir ou se poss vel eliminar a defasagem existente entre o homem concreto e as suas possibilidades hist ricas Seus estudos v o apontar para o fato de que a verdade sociol gica s pode ser a daqueles que pagam o pre o pelo desencontro entre as for as de moderniza o e conserva o Para Martins 1998 p 31 a biografia e a obra do professor Florestan Fernandes a hist ria dos sem hist ria a hist ria da emerg ncia dos pobres na hist ria como sujeitos de seu destino com seu pr prio nome Essas constata es est o em sintonia com a avalia o de Antonio Candido de que a forma o marxista de Florestan ainda que lenta e comp sita respons vel pela sua fus o harmoniosa entre o rigor da sociologia e uma perspectiva pol tica revolucion ria
106. instituindo o trabalho como princ pio educativo o segundo instituindo a hegemonia como ess ncia da rela o pedag gica convergem e se complementam porque ambas partem do mesmo pressuposto de que a tomada de consci ncia n o espont nea isto a forma o da consci ncia do indiv duo n o inata exige esfor o e atua o de elementos externos e internos ao indiv duo a educa o um processo contradit rio de elementos subjetivos e objetivos de for as internas e externas Se a educa o fosse um processo espont neo natural e n o cultural n o haveria necessidade de se organizar esse processo de sistematiz lo 15 Express o usada aqui na acep o de Gramsci para quem intelectual todo aquele que cumpre uma fun o organizadora na sociedade Numa sociedade de classes essas em disputa produzem seus pr prios intelectuais org nicos que desempenham um papel fundamental na produ o e organiza o econ mica social e pol tica SECCO 2002 p 102 19 Caso esse resgate seja feito sem essa intencionalidade contestat ria a possibilidade de uma apropria o ind bita dessas hist rias continuar a se perpetuar fortalecendo uma historiografia social conveniente manuten o dessa mesma ordem que se quer transformar Como afirma Florestan a mem ria hist rica na esfera da pol tica uma parte dos dinamismos decisivos dos processos de mudan a FERNANDES 1989b p
107. intelectual brasileiro com a introdu o de autores como Gramsci Trotsky Deutscher Luk cs Marcuse Eric Fromm Brecht entre outros al m do espa o da Revista Civiliza o Brasileira dirigida por nio Silveira onde os textos de Sartre figuravam com destaque Quanto aos autores introduzidos por comunistas cariocas a responsabilidade recaiu sobre uma jovem gera o que inclu a Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder entre outros Tampouco fazia justi a aos projetos universit rios de Darcy Ribeiro iniciados com a Funda o da Universidade de Bras lia e que teriam continuidade com outra Universidade piloto no ABC paulista 6 Lembrando que a distin o Rio x SP acima posta tem como precedente hist rico o conflito entre o respectivo autor e Guerreiro Ramos LIPPI 1999 p 160 controv rsia que dominou a cena da comunidade sociol gica brasileira nos anos 50 tendo por fulcro central a quest o da particularidade e ou universalidade do conhecimento social produzido no Brasil LIEDKE 2005 p 386 Uma compara o entre as duas concep es encontra se em O trabalho sociol gico dois padr es cap tulo quatro de Lippi 1995b l Talvez essa insubordina o anti durkheimiana seja melhor aproveitada se nos apropriarmos dela como um instrumento de cr tica s compreens es do mundo social que se baseiam exclusivamente nas hierarquias institucionais geralmente travestidas de argumentos estruturais gara
108. isso exige que o humanitarismo se extinga e a luta de classes tome o lugar que deve ter no cora o e nas mentes dos oprimidos FERNANDES 1989b p 78 Era portanto a hora das massas populares cercarem o Congresso penetrarem dentro dele e se revelarem dentro de seu corpo para demonstrar que a Na o n o podia continuar acorrentada ao passado e s suas respectivas formas de domina o que a conduzem a uma col nia disfar ada As massas precisavam tomar a Bastilha escondida sobre o parlamentarismo caboclo para escoimar da Constitui o os elementos servis do idealismo constitucional atrav s de uma atua o ativa nas comiss es e subcomiss es e a consequente conclama o do seu querer coletivo o que faria do processo constituinte um processo popular de constru o de um pa s antielite e antiimperialista combatendo a argamassa social que confunde privil gio comando e poder Somente assim segundo Florestan dando esse primeiro passo estariam dadas as condi es para barrar mais uma moderniza o conservadora que no Brasil assumiu a colora o de um conservadorismo ilustrado Se n o se pode fazer dan ar os de cima seria de bom tom propiciar lhes alternativas que n o chegam sua imagina o ou s o ignoradas por seu ego smo de classe Da a import ncia de aproveitar a iniciativa popular no que e como for poss vel Nas circunst ncias os pequenos avan os tor
109. jornal sticos na seguinte frase Os seus artigos aguardados e lidos com sofreguid o selaram o nosso destino intelectual e pol tico FERNANDES 1995b p 96 413 Concordamos com Freitag 2005 p 241 que Fernandes n o procura somente formar opini es e consci ncia pol tica mas busca de fato educar seu leitor Discordamos por m quando a autora avalia que ele estava vendo no jornalismo um instrumento mais eficaz que no professor em sala de aula 414 Sobre as similaridades do projeto pol tico ideol gico de Collor e Fernando Henrique Leoni 1997 p 257 258 faz a seguinte considera o ap s lembrar o desejo rec proco e n o viabilizado pelas circunst ncias do primeiro em ter o segundo em seu minist rio Durante todo o per odo Collor o PSDB nunca ir aderir completamente pol tica do governo mas tamb m n o se engajar numa pol tica de oposi o sistem tica Fernando Henrique um dos que aprovam o Plano Collor de combate infla o ali s um dos que contribuem para fazer crer que o PSDB est do lado de Collor N o exatamente por escolha mas porque no espa o de poucos meses se torna o interlocutor favorito de Collor quando este quer se dirigir ao PSDB Mas o que Fernando Henrique topa tudo na pol tica segundo o depoimento de uma amiga gostava em Collor De acordo com Leoni 1997 p 262 do lado popular de Collor de seus discursos sobre a modernidade as priva
110. la a regras de conflito regulado Ainda aqui se exterioriza o particularismo agressivo das classes privilegiadas elas desqualificaram a intermedia o e 286 A pr tica da representa o institucional Folha de S Paulo 10 mar 1987 287 Os trabalhadores e a Constitui o Folha de S Paulo 02 fev 1987 288 O pacto social improv vel Jornal do Brasil 03 nov 1988 166 estigmatizaram as organiza es em quest o como provocativas agitadoras e perigosas FERNANDES 1989b p 65 A batalha constitucional portanto surgia como uma oportunidade para uma revolu o dentro da ordem no sentido de se estimular uma forma pol tica de democracia popular uma democracia pluralista com duas faces uma prolet ria outra burguesa o eixo hist rico da soberania necess ria para tornar o Brasil uma verdadeira Na o com voz e vez para os trabalhadores do campo e da cidade pondo fim transi o transada da Nova Rep blica o mais novo biombo que escondia das massas a ess ncia falsa de uma Rep blica parlamentar constitucional e representativa que n o passava de um Estado de car ter autocr tico de dif cil supera o Como sair desse ponto morto entre o passado e o presente que cerra as passagens para um sistema nacional soberano Segundo Florestan dois eram os caminhos n o exclusivos que nos ensinavam a hist ria de outros povos O primeiro e principal consiste
111. mica e org nica com as causas trabalhistas faz com que as mesmas estrat gias sejam vistas como panac ia para problemas sociais que n o se resolveram pelo consenso produzido pelos poderosos 4 Deve se ainda tomar cuidado para n o se traduzir a amplia o do acesso no ensino p blico fundamental como recuo do interesse privado A atua o privatista na educa o b sica sob o neoliberalismo apresenta novas faces para o dom nio da pol tica educacional a aplica o do modelo de gest o da escola particular no ensino p blico o treinamento de professores da rede p blica por entidades ligadas ao ensino privado al m de outras a es de lucro simb lico para a melhoria da imagem da escola particular a troca de impostos pela recep o de alunos da rede p blica a distribui o dos livros did ticos para os alunos da rede p blica por grandes corpora es privadas e entre outras a ado o de materiais pedag gicos dos grandes conglomerados de educa o privada por redes p blicas de ensino OLIVEIRA 2005a 231 modelo n o tarefa das mais f ceis assim como a sua consecu o est no n vel das possibilidades hist ricas No entanto a persistir o consenso que paira sobre os ltimos governos a sociedade e a m dia deste pa s tupiniquim as pol ticas de manuten o do primeiro est gio permanecer o sendo implementadas Ao inv s de remar contra a corrente construindo um projeto nacional de r
112. n 31 p 41 67 out 1991 ABREU Alzira Alves Os suplementos liter rios os intelectuais e a imprensa nos anos 50 In ABREU Alzira Alves LATTMAN Weltman Fernando FERREIRA Marieta de Moraes RAMOS Pl nio de Abreu 4 imprensa em transi o o jornalismo brasileiro nos anos 50 Rio de Janeiro Funda o Get lio Vargas 1996 p 13 60 ARRUDA Maria Arminda do Nascimento Apresenta o Alvoro o de um primeiro amor In FERNANDES Florestan Folclore e mudan a social na cidade de S o Paulo 3 ed S o Paulo Martins Fontes 2004 Ra zes p XI XV Dilemas do Brasil moderno a quest o racial na obra de Florestan Fernandes In MAIO Marcos Chor SANTOS Ricardo Ventura Ra a ci ncia e sociedade Rio de Janeiro FIOCRUZ CCBB 1996 p 195 203 ARRUDA Maria Arminda do Nascimento GARCIA Sylvia Gemignani Florestan Fernandes mestre da sociologia moderna Bras lia Paralelo 15 Coordena o de Aperfei oamento de Pessoal de N vel Superior 2003 BASTOS lide Rugai A quest o racial e a revolu o burguesa In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 140 150 BEIGUELMAN Paula A Revista Brasiliense e a express o te rica do nacionalismo econ mico brasileiro In D INCAO Maria Angela Hist ria e ideal ensaios sobre Caio Prado J nior S o Paulo Brasiliense Mar lia Editora da UNESP 1989 p 449 474
113. na mobiliza o da massa popular e na ativa o do p lo prolet rio da luta de classes Como um ar ete os de baixo devem derrubar essa bastilha invis vel e cruel O segundo mais complexo e exigiria o aparecimento de um poder paralelo como foram os conselhos em algumas revolu es modernas ou como poderia ser no Brasil o r pido espraiar do movimento de participa o popular Esse primeiro caminho proporciona frutos mais rapidamente e exporia os parlamentares que representam com frequ ncia apenas interesses particularistas aprendizagem sob press o da verdadeira natureza da representa o O segundo caminho mais dificultoso e arriscado acarreta solu es radicais como a dualidade de poder e a impossibilidade de manter se sob coa o um falso regime de representa o democr tica FERNANDES 1989b p 73 Para o publicista aquele era o momento de todas as for as vivas da Na o fazerem se sentir presentes na long nqua Bras lia e participarem da cria o de um novo Estado democr tico Alertava por m que por melhor e mais adequada que fosse esse Estado n o ia gerar por si mesmo uma sociedade civil civilizada no entanto poderia forjar suas bases pol ticas e legais abrindo op es tanto para o capital quanto para o trabalho FERNANDES 1989b p 76 E as esperan as cresciam pela incorpora o ao regimento da ANC das chamadas proposi es de iniciativa popular dema
114. nacionalismo burgu s com o radicalismo burgu s ou com o que se queira est acabada chegou a seu termo N o se trata de sair dando coices chifradas ou marradas de ficar na ilus o ing nua do quanto pior melhor Mas de estabelecer como parte da vanguarda da classe oper ria como esta deve manejar a luta de classes com objetivos pol ticos bem marcados de curto m dio e longo prazos e para impedir que os antagonismos existentes s produzam dividendos pol ticos para as classes dominantes FERNANDES 1984b p 100 101 A quest o portanto n o est na contraposi o entre guerra de movimento e guerra de posi o tal como posto na leitura dos termos gramscianos feita por Coutinho 2000 p 261 sob a premissa de que Florestan teria subestimado em seus ltimos trabalhos o peso dos setores populares hip tese que as cita es acima expostas n o corroboram Para Florestan o n da quest o que as premissas hist ricas de uma sociedade democr tica s o determinadas inevitavelmente pelo embate entre as classes sociais de interesses antag nicos o que faz com que qualquer anu ncia com os traficantes do poder se transforme em obst culo para que a classe trabalhadora consolide prop sitos independentes e conquiste conjuntamente um novo patamar institucional e uma consci ncia pol tica revolucion ria Se para Coutinho 2000 p 261 as condi es abertas pela derrota da d
115. numa escala aparentemente democr tica mas de fato de forma autorit ria Os problemas s o suscitados segundo incentivos e modelos democr ticos Sua solu o por m se d de forma racional e respons vel isto por meio de comiss es e t cnicas de planejamento distante das massas e incontrol veis a partir dos movimentos e prefer ncias das bases Da a oposi o entre democracia plebiscit ria e a democracia participativa j que esta procura manter acesso o fogo sagrado do controle democr tico permanente do comportamento pol tico dos representantes do Povo em situa es concretas cruciais Seria uma sa da para a quest o chave quem controla os legisladores e os executivos perante quem eles s o legitimamente respons veis a quem devem servir FERNANDES 1986a p 159 160 Nada de ret rica pol tica ou propaganda partid ria Para Florestan essa quest o de raiz anarquista precisa ser reconquistada pelas pessoas partidos e movimentos sociais que se preocupam com as formas de influ ncia decis o e controle desej veis numa democracia popular pujante na qual se pretende a n o deteriora o das institui es pol ticas por um sistema de poder que n o passa de servi al dos mais poderosos econ mica e ou politicamente S assim ser poss vel quebrar o frequente congelamento dos partidos que acabam por se transformar em instrumentos da ordem e da reprodu o do status quo Na 212
116. o In M SZ ROS Istv n 4 educa o para al m do capital S o Paulo Boitempo 2005 p 9 14 JOHNSTONE Monty Internacionais In BOTTOMORE Tom Dicion rio do Pensamento Marxista Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1993 p 195 199 LARAIA Roque de Barros O antrop logo Revista Brasileira de Ci ncias Sociais S o Paulo ANPOCS ano 11 n 30 1996 CD ROM N o paginado LEMOS Renato Org Justi a fardada o general Peri Bevilaqua no Superior Tribunal Militar 1965 1969 Rio de Janeiro Bom Texto 2004 L NIN Vladimir O Estado e a revolu o S o Paulo Hucitec 1979a Que fazer S o Paulo Hucitec 1979b Sobre a imprensa e a literatura Lisboa Editorial Estampa 1975 LEONI Brigitte Hersant Fernando Henrique Cardoso o Brasil do poss vel Rio de Janeiro Nova Fronteira 1997 L PINE Claude A imagem do negro brasileiro In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 129 139 LIEDKE Filho Enno D A sociologia no Brasil hist rias teorias e desafios Sociologias Porto Alegre Programa de P s Gradua o em Sociologia da UFRGS ano 7 n 14 p 376 437 jul dez 2005 Florestan Fernandes sociologia e cidadania Epist me Revista Brasileira de Filosofia e Hist ria das Ci ncias Porto Alegre v 1 n 2 p 147 156 1996 LIPPI L cia Interpreta es sobre o Brasil In MICELI S rgi
117. o do pacto social fict cio com o qual os senhores do capital pretendiam assegurar a ordem contra a anarquia e a rebeli o come ava nas afirma es de Tancredo Neves o candidato de oposi o ao regime militar de que a quest o das greves por exemplo n o seria resolvida porque a exist ncia do pacto exclu a a necessidade de tal recurso pacto portanto muito interessante para o capital e sinistro para os trabalhadores Segundo Florestan os que defendiam o tal pacto social sem reciprocidades 218 Pacto social e a Nova Rep blica Folha de S Paulo 21 jan 1985 212 Pacto social e a Nova Rep blica Folha de S Paulo 21 jan 1985 20 Sobre o tema conferir a tese de Miriam Limoeiro Cardoso 1978 que segundo Florestan Fernandes 1978c p 11 13 ao apanhar o momento de oscila o mais agudo na transi o para o capitalismo monopolista quando os setores dominantes das nossas classes burguesas ainda pensavam articular o tipo de imperialismo emergente no ap s guerra se posta como representante do novo patamar interpretativo atingido pela sociologia cr tica que se recusa a aceitar qualquer compromisso da investiga o cient fica com o envolvimento ideol gico institucional da ordem existente Sua contribui o te rica essencial para compreender se sociologicamente que atr s do desenvolvimento com estabilidade e da revolu o pelo desen
118. o do Brasil realizada na Federa o das Ind strias do Estado de S o Paulo FIESP em 6 de agosto de 1959 alertava para o risco da ideologia do progresso econ mico compartilhada por in meros segmentos da popula o estar restrita simples mecaniza o em detrimento da incompreens o da import ncia do ensino b sico e cient fico para a prepara o do elemento humano qualificado A introdu o de m quinas no pa s encarada com um fim em si mesmo e incentivada n o tanto como um meio para aumentar a riqueza ou a produ o mas como s mbolo de progresso social Em lugar de uma pol tica de desenvolvimento econ mico contamos com uma pol tica de expans o de setores privilegiados da produ o FERNANDES 1979a p 84 85 102 extremos um pode ser t o perigoso quanto o outro impondo se mant los ao alcance de controles sociais estritos e r gidos FERNANDES 1995b p 181 Especialmente sobre An sio Teixeira Florestan faz o seguinte coment rio ainda em meados da d cada de 50 Um pa s como o Brasil precisa de intelectuais bastante ntegros para descerem arena da luta efetiva pelo progresso da Na o Semelhante atividade com fregi ncia rdua e espinhosa porque acaba ofendendo direta ou indiretamente interesses ego sticos e concep es tradicionais que desfrutam de poder coativo No setor da educa o em particular muitas e poderosas s o as for as que tentam silenciar as
119. o pesquisador o professor precisa reduzir o conhecimento acumulado previamente ao que essencial e mais que o pesquisador deve defrontar se com o dever de expor tal conhecimento de modo claro conciso e elegante Ao atingir esse patamar o ensino perdeu para mim o car ter de um fardo e a rela o com os estudantes passou a ser altamente provocativa e estimulante para o meu progresso te rico como soci logo FERNANDES 1977 p 176 Ao descobrir portanto que o professor n o passa no fundo de um aluno pelo avesso ainda que sob uma concep o muito pr pria destacando que o professor prisioneiro do ensino quando ele n o pode aproveitar a experi ncia e principalmente a inexperi ncia do estudante FERNANDES 1980d p 13 Florestan se aproxima da pedagogia transformadora de Paulo Freire 1996 que tamb m nos ensina que na sala de aula o educador se educa na rela o com o educando Segundo o pr prio Florestan eu tenho definido o drama da educa o de uma forma parecida com a de Paulo Freire s que numa 174 dos dire o mais radical Ele fala de libera o dos oprimidos e eu falo na incorpora o exclu dos FERNANDES 19915 p 46 E se a fus o educador cidad o em Florestan vai se tornar p blica com sua participa o nos debates que antecedem LDB de 1961 veremos a seguir que ela se mostrar madura quando fora da escola depois do soci logo passar pelas agruras
120. p 189 Em S o Paulo as ci ncias sociais floresceram nos espa os acad micos abertos em resposta aos diagn sticos formulados pelos setores cultos da classe dirigente local com vistas a uma retomada posterior da hegemonia pol tica perdida em 30 e tripudiada em 32 Tanto a Escola Livre de Sociologia e Pol tica como a Faculdade de Filosofia Ci ncias e Letras da Universidade de S o Paulo se destinavam em princ pio forma o de pessoal t cnico altamente qualificado ambas amparadas por recursos mobilizados pelo setor privado MICELI 1987 A perenidade institucional dos cursos por m ser debitada contribui o na forma o de docentes para o ensino secund rio um espa o profissional seguro e capaz de financiar a continuidade dos estudos Um dado importante segundo Miceli ser o fato de S o Paulo em 1939 contar com um ter o das escolas secund rias do pa s o que convertia a institui o universit ria em um recurso social ambicionado De acordo com Peirano 1992 p 80 enquanto a funda o da Escola de Sociologia e Pol tica representava na vis o de um de seus fundadores o empres rio Roberto Simonsen contribuir para o desenvolvimento econ mico e para a forma o das elites do pa s a USP tinha sido imaginada na perspectiva de um de seus apoiadores o empres rio jornalista Julio Mesquita Filho para ser o c rebro da nacionalidade tendo como foco a pesquisa cient fica e a alta cultura sob
121. pa ses capitalistas perif ricos se fortaleceu A possibilidade do processo constituinte de se converter em uma revolu o pac fica com a 31 A Constitui o em perspectiva Folha de S Paulo 11 ago 1987 312 O jeitinho brasileiro Folha de S o Paulo 31 ago 1987 33 Um depoimento curto e grosso Jornal do Jornalista ago set 1987 314 Uma quest o de grandeza Jornal do Brasil 25 set 1987 175 pretens o de infundir ao sistema capitalista ao regime de classes e ao Estado normas mais libert rias igualit rias e civilizadas acabou bitolada pela dial tica destrutiva da transi o FERNANDES 1989b p 160 que em nova modalidade n o fazia nada mais do que empurrar o Sarney com a barriga O povo segundo Florestan estava perplexo e sua ira eclodia em momentos de tens o m xima O risco estaria no indigitar de qualquer fato pessoa ou entidade como o bode expiat rio ideal pelo servi o de intelig ncia da nova ordem discricion ria j que a t tica da conspira o como a utilizada entre 1962 e 1964 n o parecia ter sido abandonada menos ainda seu efeito direto que poderia voltar a ser usado o golpe de Estado preventivo FERNANDES 1989b p 163 Mas claro essa seria a ltima alternativa caso falhasse a capacidade de press o tentacular das categorias sociais privilegiadas que t m a hegemonia nas institui es chave tal como a
122. para as classes subalternas Mas n o se trata avisa Florestan de adotar um ponto de vista exclusivamente reformista e pagar um pre o in til por uma revolu o predestinada ao malogro Para que a democracia desencadeie efeitos seculares necess rio que ela adquira vitalidade indestrut vel um mpeto irrepres vel de desenvolvimento e capacidade de aperfei oamento cont nuo Em um pa s que ainda n o conseguiu sequer envolver os cidad os os partidos e o aparelho estatal na pr tica corrente dos princ pios democr ticos elementares a se acha um tremendo desafio hist rico FERNANDES 19764 p 88 Como j assinalado a preocupa o de Florestan com a revolu o burguesa n o expressa uma obsess o pelo passado n o realizado menos ainda com a consolida o da democracia burguesa per si cuja luta s pode ser transit ria e s pode ser vislumbrada com o seguinte objetivo t tico O fortalecimento da participa o do proletariado na vida p blica em geral e na esfera pol tica em particular e na consequente mobiliza o pol tica de todos os destitu dos explorados e oprimidos No limite por a tamb m os dinamismos pol ticos da sociedade de classes podem transcender ordem burguesa Esta instrumental para a passagem da democracia 127 L nin e o socialismo Voz da unidade S o Paulo 21 jan 1984 128 A atualidade de Marx Folha de S Paulo 13 ma
123. por demandar interven es pol ticas diferenciadas De forma sint tica as duas concep es sobre a condi o de subdesenvolvimento do Brasil visam em ltima inst ncia orientar o processo de moderniza o social influenciando vis es e condutas de classe assim como o Estado e suas institui es para vencer as resist ncias mudan a superando entre outros bloqueios o corporativismo e a domina o patrimonial No entanto uma primeira diferen a substancial como j assinalado no cap tulo 3 encontra se no fato de que a teoria da depend ncia na linha defendida por Fernando Henrique Cardoso seria uma tentativa de ajustar o desenvolvimento do pa s a possibilidades reguladas no plano internacional a partir de uma pol tica de ades o estrat gica para cobrar tratamentos preferenciais no plano da economia e da pol tica internacionais base de um projeto de reinser o lateral na economia capitalista com a explora o de nossas vantagens comparativas MARTINS 1998 p 170 J na perspectiva de Florestan est pressuposto que o projeto de moderniza o socioecon mico n o tira do horizonte a luta antiimperialista o que denota a necessidade de um movimento nacional que pressup e a coexist ncia n o necessariamente alian a de classes para a civiliza o do capitalismo perif rico mas sob a hegemonia da organiza o prolet ria sedimentada no partido que a representa De forma contr ria a estrat g
124. pr pria natureza da condi o revolucion ria das classes trabalhadoras que destaque a coopera o e a solidariedade como valores fundamentais para a luta comum de supera o da sociedade capitalista e a cria o de uma sociedade nova Para fugir da circula o de elites o processo burgu s de sele o de talentos baseado no individualismo e promotor da mobilidade social vertical preciso que o trabalhador elabore meios educacionais espec ficos para construir e reproduzir uma concep o de mundo independente capaz de responder sua vis o de democracia da maioria libert ria igualit ria e a seus anseios de revolu o FERNANDES 1995a p 232 N o basta para isso alerta Florestan a socializa o e a educa o no seio da fam lia na comunidade de vida e simplesmente ir escola preciso que o trabalhador tenha meios de ir al m exigindo uma escola de car ter universal que prepare todos para o exerc cio da cidadania e que ao mesmo tempo possibilite a constitui o de uma nova hegemonia ideol gica Sob o capitalismo esse segundo objetivo tem de contar com o apoio dos professores dissidentes os educadores formados pela luta prolet ria que t m em mente que a revolu o educacional uma tarefa essencial do seu fazer pedag gico Afinal a seu ver uma pol tica educacional pioneira e transformadora deve centrar se na associa o rec proca da atividade docente cr tica e do despertar do talen
125. processo Em outras palavras isso quer dizer que o horizonte cultural em quest o permite basear a escolha dos fins e dos meios na desirabilidade de certos efeitos cuja rela o com determinadas necessidades pode ser posta em evid ncia antes de eles serem produzidos e cuja produ o pode ser prevista regulada e dirigida pelos agentes humanos FERNANDES 1971b p 171 Florestan ressalta que a diferen a entre a mudan a cultural espont nea e a mudan a cultural provocada quanto ao papel do elemento racional encarado nos limites da civiliza o tecnol gica e industrial antes de grau que de natureza Uma e outra s o processos da mesma ordem que preenchem fun es an logas Distinguem se uma da outra somente com refer ncia aos recursos t cnicos e intelectuais postos disposi o do homem no campo do comportamento inteligente e do controle deliberado de for as conhecidas no meio ambiente FERNANDES 1971b p 190 91 modificar a orienta o de manuten o e extens o das oportunidades educacionais como mecanismo de privil gio s camadas mais bem sucedidas na competi o econ mica social e pol tica Surgiu como a primeira grande chance que tivemos de submeter uma vasta rea de nossa vida escolar a uma disciplina nova mais coerente com as necessidades educacionais fomentadas pela forma o e desenvolvimento da sociedade de classes do regime democr tico e da civiliza o tecnol gica industria
126. professores cassados s universidades Mas no caso da USP que exigia dos professores cassados e aposentados compulsoriamente um pedido de reintegra o houve muitas resist ncia como foi o caso de Florestan para quem o convite deveria partir da universidade Por outro lado como afirma Sereza 2005 p 162 os cargos e as posi es na universidade haviam sido ocupados a pr pria estrutura hier rquica dos departamentos fora modificada e a volta de Florestan e de Ianni entre outros se n o indesejada certamente desequilibraria as novas rela es de poder Com isso Florestan retorna institui o apenas para participar de eventos espec ficos tal como a palestra comemorativa dos cinquenta anos da universidade paulista em 1984 palestra essa registrada em 4 quest o da USP FERNANDES 19844 Nessa obra Florestan reconstr i a hist ria da universidade destacando os conflitos pol ticos culturais pedag gicos e institucionais que a constitu ram assim como a sua participa o sua luta para afastar os obst culos que se impunham ao desenvolvimento das pesquisas sociais no Brasil e pelo fim dos privil gios presentes na hierarquia universit ria que dificultava o exerc cio da democracia MAZZA 2002 p 377 19 A mesma constata o feita por Lincoln Secco ao analisar a contribui o de Florestan Fernandes para a Revolu o dos Cravos em Portugal quando atrav s de m ltiplas atividades tais como palestras arti
127. que destacasse o aspecto antropol gico de seu trabalho preferiu enfrentar a situa o fazendo apenas ressalvas ao mau uso que se faz do conceito de funcionalismo O marcante segundo a autora que na poca da publica o os Tupinamb foram categorizados como etnossociologia refer ncia gen rica ao estudo dos aspectos sociais das culturas ind genas no Brasil como 8 A pesquisa sobre os Tupinamb nasceu de um exerc cio cr tico das interpreta es de M traux sobre o respectivo grupo ind gena Entusiasmado com o resultado Baldus seu professor na Escola Livre de Sociologia e Pol tica sugeriu que Florestan fizesse uma compara o com os relatos de outros cronistas o que originou o projeto de disserta o Anos depois o contestado M traux ser o respons vel pela publica o na Fran a de parte da tese de Florestan PEIRANO 1992 p 76 Hoje os crit rios de avalia o mudaram podemos apreciar a contribui o anal tica etnogr fica e te rica de uma obra como os Tupinamb e inclusive reconhecer a sua potencialidade como instrumento de constru o de uma identidade nacional cujo projeto inclua a elucida o de suas ra zes o que para tanto ser preciso enfrentar o sentimento de injusti a que ci ncia social e ideologia parte permanece vivo quando relemos estes pesados densos mon tonos mas brilhantes Tupinamb de Florestan Fernandes PEIRANO 1992 p 84 l Duas o
128. rejeitadas que logrou chegar Comiss o de Sistematiza o da ANC tinha por objeto tirar do Executivo e dar ao Congresso a compet ncia pela concess o dos canais de televis o e r dio sob a assessoria de um Conselho de Comunica o Foram 56 votos contra e 25 a favor Uma outra pretendia restabelecer o republicano princ pio de conceder exclusividade das verbas p blicas para as escolas p blicas 319 Opress o de classe e Constitui o Folha de S Paulo 12 nov 1987 320 Opress o de classe e Constitui o Folha de S Paulo 12 nov 1987 321 O apogeu do processo constituinte Jornal do Brasil 02 nov 1987 177 Nova derrota 57 contra 27 Segundo o publicista os dois exemplos assinalam a predomin ncia dos interesses privados sobre os da coletividade Primeiro o capitalismo depois o respeito coisa p blica Ora a televis o tornou se um Estado dentro do Estado uma escola acima das escolas e uma forma subliminar assustadora de manipula o das mentes Ningu m pode proclamar se democrata e deixar solta esse processo de concess o de canais que torna o presidente da Rep blica vassalo dos potentados de redes televisivas N o se tratava da autodefesa da democracia atrav s de restri es da liberdade mas da prote o da coletividade e do Estado de pr ticas nocivas comprovadas reiteradamente Quanto educa o escolarizada nada mais h a falar Prevaleceu a privatiza
129. rico e direcion la para um sentido geral relativo socializa o dos individuos de acordo com os costumes e valores de uma sociedade inserida em uma tradi o cultural O ajustamento de Florestan vida acad mica se consolida com sua decis o em se tornar al m de professor um intelectual com vistas a suprir as defici ncias de sua forma o pelo mergulho profundo no oceano das ci ncias sociais O grande desafio afirma Garcia 2002 p 89 era fazer isso sem adotar uma posi o submissa ou conformista fato n o incomum segundo uma certa literatura sociol gica em quem ascende de posi es sociais subalternas Um passo importante para a realiza o desse prop sito foi o contato inesperado de Fernando de Azevedo ent o diretor da FFCL que lhe ofereceu ajuda biblioteca orienta o e dinheiro para melhorar suas condi es de estudo A assist ncia motivada pela informa o que o educador recebera sobre a exist ncia de um aluno com talento de pesquisador em dificuldades rejeitada por Florestan que no entanto deixou se mostrar comovido O contato permaneceu atrav s de visitas ao escrit rio do famoso educador e encontros nos corredores da faculdade Numa dessas oportunidades Azevedo instiga Florestan a tornar se professor da respectiva institui o num di logo pode se dizer prof tico Ele se impunha com aquele ar nobre como se fosse um pr ncipe da corte de Lu s XV guiando seu s q ito Ent o
130. rios ve culos de imprensa que lhe permitiu o contato com expressivas personalidades da m dia e com o seu respectivo mecanismo de funcionamento num tipo de viver social em que sua predomin ncia tida como absoluta colaborou para a configura o de uma vis o seleta das virtudes e dos v cios de uma das profiss es mais importantes da modernidade Segundo Florestan se em comum com a sociologia o jornalismo uma das fontes hist ricas mais vigorosas das sociedades de classes ambas correndo parelhas com todas as outras ci ncias sociais al m da extensa e profunda familiaridade com as t cnicas de observa o e de interpreta o dessas disciplinas ao comunicador p blico cabe um desafio a mais fazer a cr tica dos fatos e das informa es in flux sem se converter em um agente de fabrica o de not cias em um mero instrumento do ilusionismo da cultura comercial de massa FERNANDES 1995b p 167 450 Cl udio Abramo e o jornalismo Folha de S Paulo 14 ago 1988 235 Certamente a densa forma o acad mica e a rica experi ncia de vida possibilitaram a Florestan ocupar um lugar diferenciado na m dia nacional Nesse palco aliando a sensibilidade jornal stica precis o do cientista social tornou se assim como muitos de seus exemplos de contestadores necess rios um reposit rio imperativo das esperan as que sobrevivem e crescem no substrato de uma sociedade capitalista fomentadora de
131. senhor Presidente deixou de tocar na banda de m sica da UDN e correlatamente amolgou se ditadura militar e ao Estado de transi o Portanto justo que seja seu paladino mor O Governo se arroga atribui es constituintes que n o possui que s o ultrajantes ANC e que se forem absorvidas e endossadas pela maioria pelo benepl cito do Centr o aniquilar o a nova Constitui o no nascedouro A carta magna j possui limita es insan veis O segundo turno pelo que se prev acarretar empobrecimentos fatais inspirados por interesses de classes obtusos FERNANDES 1989b p 298 A nica chance do segundo turno n o funcionar como cloaca m xima segundo Florestan era o Legislativo repelir de forma veemente as interfer ncias governamentais que esmagava a legitimidade de um poder soberano da Rep blica n o aceitando o acumpliciamento que levaria a adultera o do texto constitucional e a perpetua o da transi o transada dando provas de que a ANC n o tinha se dobrado vontade das chefias militares e de seus emiss rios nem funcionava bitolada pelas debilidades das classes dominantes incapazes de sair de sua pele quando postas diante de decis es que transcendem a suas situa es de interesses FERNANDES 1989b p 301 Mais do que isso provando a impossibilidade de se modificar ou extinguir o modo de produ o capitalista sem se tocar no regime de classes foi que o
132. ser entendida como o conjunto de valores e pr ticas que configuram uma concep o de educa o com que os indiv duos os movimentos sociais os partidos pol ticos e os agentes educacionais alunos e professores lutam pela hegemonia das classes trabalhadoras e subalternizadas Portanto a primeira tarefa de uma estrat gia pedag gica socialista com a consci ncia de que n o existe tomada de consci ncia espont nea deve ser lidar com as contradi es que nascem no pr prio terreno da sociedade que se quer suplantar Como j afirmou Florestan a ordem o regime de classes e a democracia burguesa n o se firmam crescem ou se finalizam sem a contesta o das classes trabalhadoras e dos espoliados em geral Os dinamismos evolutivos verdadeiramente revolucion rios do capitalismo nascem da press o radical de baixo para cima entregue a si mesma a burguesia ossifica se e desvitaliza se por assim dizer estamentalizando se FERNANDES 1980a p 31 E uma das maneiras de fazer brotar essa press o radical resgatar as hist rias de luta dessa grande parcela da sociedade incluindo as trajet rias dos seus intelectuais org nicos 13 A pedagogia socialista s se efetivar ap s a vit ria da revolu o prolet ria CPB Not cias jul de 1987 E a burguesia educadora sabe muito bem disso Como afirma Gadotti 2003 p 66 as vis es de Marx e Gramsci do processo pedag gico o primeiro
133. social pode ser considerada como base dos demais processos de vida Cabe ao soci logo explorar teoricamente esta perspectiva realizando investiga es que permitam estabelecer em que sentido as condi es sociais de exist ncia tendem a refletir se especificamente nas capacidades adaptativas e nas possibilidades de sobreviv ncia ou de evolu o dos seres vivos FERNANDES 1971b p 18 7 Lendas dos ndios do Brasil Jornal de S o Paulo 21 mai 1946 51 Florestan passa desde j a indicar para si o terreno da miss o pol tica do professor que encarava a universidade como um partido cujo programa est numa produ o cient fica que explique as estruturas constitutivas das sociedades germe do que mais adiante vamos identificar como a sua pedagogia socialista que se manifestar de forma madura no articulista do final do s culo Sua presun o era de que a partir de hip teses expositoras dos problemas pol ticos podem emergir pol ticas institucionalizadas de interesse sist mico e n o o tratamento fragment rio dos problemas sociais muito comum nesses dias p s modernos No cap tulo a seguir veremos que toda a trajet ria do engraxate que virou soci logo SANTOS 2002 p 37 desde o epis dio do abandono da milit ncia em prol da vida acad mica indica que o socialista que fala nos anos 80 e 90 do s culo XX n o exatamente um segundo Florestan radi
134. socialistas e comunistas mas corroboram para o farisa smo das ilus es constitucionais N o que como afirma Coutinho 2000 p 261 Florestan suponha que o nico caminho sem grifo no original para a luta pela democracia e pelo socialismo o Brasil seria o de uma revolu o explosiva e violenta O que o soci logo defendia que qualquer reformismo ou revolucionarismo consistente deveria ter como proposta inicial o desmantelamento dos costumes pol ticos e principalmente da tica da concilia o 2 Em seus artigos dos anos 80 para designar a domina o de classe Florestan utiliza alternadamente dois conceitos supremacia palavra que Marx e Engels usam no Manifesto Comunista FERNANDES 1986a p 92 e hegemonia de inspira o gramsciana 0 Inquieta es burguesas Folha de S Paulo 24 jun 1985 2 Golpes dentro dos golpes Folha de S Paulo 11 ago 1985 145 Se os partidos de esquerda misturam seus pap is com os dos partidos da ordem eles desertam da luta de classes e da defesa dos interesses e valores que s os prolet rios podem erguer neste momento no interior da moldura hist rica democr tica Se um banqueiro fica contente e divulga o contentamento tratando de um partido de esquerda h algo de errado com esse partido FERNANDES 19864 p 72 Em O que revolu o Florestan vai afirmar A lua de mel com a burguesia com o
135. t o importante A t tulo de curiosidade o n mero de publica es sobre o intelectual italiano na biblioteca particular de Florestan supera o de outros grandes autores marxistas do s culo XX tais como Trotski 12 Sartre 10 Luk cs 8 e Althusser 10 Todos como no caso dos livros de Gramsci absolutamente grifados com registros de in cio ao fim fazendo com que os exemplares se apresentem como verdadeiras obras comentadas por Florestan como bem expressou a bibliotec ria Vera Lucia Coscia uma das respons veis pela manuten o do acervo em minha visita biblioteca da UFSCar em novembro de 2005 147 condi o colonial na qual se decide a partir de fora o que n s devemos pensar o que n s devemos fazer em toda e qualquer rea do conhecimento N o defendo uma postura antiintelectual que n o se leia este ou aquele autor O que acho errado a postura colonial que grassa na direita no centro e na esquerda algo t o visceral que em todas as posi es n s encontramos a mesma realidade Quanto esquerda f cil apontar os par metros externos Basta olhar ali naquela estante atr s de voc s l est o Althusser Sartre Goldman Gramsci Lefort Castoriadis Benjamin Em pouco mais de duas d cadas os nossos esquerdistas adoraram v rios deuses e rezaram diante de v rios altares percorrendo todos os cultos consagrados pela esquerda dos pa ses centrais At os antifil sofos ao apa
136. ticas do projeto Mariani assumem as dimens es reais compat veis com a realidade econ mica e pol tica subjacente mantendo a forma o dual e discriminat ria N o se eliminava assim a barreira educacional entre as classes sociais mas ampliava se a oferta de oportunidades educacionais para uma classe m dia em r pida expans o foco central das press es sociais e das pol ticas democratizadoras na sociedade brasileira em transi o XAVIER 1990 p 126 O motivo para rejei o e arquivamento do projeto Mariani n o foi como registram alguns estudos o seu car ter democr tico e progressista mas sim uma quest o de ordem pol tica relativa a interpreta es espec ficas sobre a quest o da centraliza o descentraliza o Em seu parecer Comiss o Mista de Leis Complementares do Congresso Nacional o deputado Gustavo Capanema ministro da Educa o durante o Estado Novo destaca a inconstitucionalidade do projeto pela sua extremada concep o de descentraliza o Na opini o de Capanema que reconhece o esmero cient fico e t cnico e a eleva o de prop sitos culturais contido no documento o projeto pecava pela atribui o aos estabelecimentos de um desmedido arb trio para organiza o de seus conte dos de ensino e pela ampla compet ncia que dava aos estados e munic pios na organiza o dos diversos ramos de ensino Entretanto segundo Xavier 1990 as interpreta es conflitantes s
137. tipos de produtos e sistemas de organiza o do trabalho em alian as com essas corpora es que os estados dos pa ses desenvolvidos contam para assegurar presen a ativa e determinante no processo de constitui o social econ mica e pol tica de cria o cient fica convers o tecnol gica aplica o produtiva e comercializa o O fato que essas corpora es estrat gicas sob a l gica da rapina imperialista afirma Florestan preservam um tipo de base nacional fazendo com que o Estado continue como ator central buscando responder a interesses nacionais e preserva o da sua soberania Assim em vez de ter sua fun o reduzida o Estado pelo menos nos casos dos pa ses centrais do capitalismo oligopolista surge como orientador das for as do mercado e programador do espa o p blico mundial buscando a converg ncia entre os interesses empresariais e s demandas imediatas da sociedade quase sempre atrav s das sugest es tutelares das ag ncias internacionais de domina o Fundo Monet rio Internacional FMI Banco Mundial e outras Portanto no caso dos pa ses de capitalismo dependente qualquer solu o que passe pela convers o ao neoliberalismo e sua campanha de demoli o da id ia de servi o p blico poder colocar em risco o funcionamento das incipientes institui es democr ticas como alerta Bourdieu 1997 Ao contr rio torna se imperiosa a defini o de estrat gias de
138. trabalhadores precisam partir desde j de seus pr prios interesses pois a transi o para a democracia n o come a amanh ela se inicia no aqui e agora Se os alvos do movimento n o podem ser as elei es diretas eles ser o outros como a liberdade pol tica de todos os cidad os a reforma agr ria as condi es de trabalho os n veis de sal rio a conquista da moradia o combate fome e ao desemprego a liberdade dos partidos oper rios radicais e revolucion rios etc O essencial que os trabalhadores lutem por suas causas de forma independente e tendo em mira conquistar autonomia na sociedade civil e presen a ativa no controle do Estado FERNANDES 1986a p 143 Palavras velhas podem compor conceitos novos alertava Florestan num artigo em que identificava as similaridades entre o pacto social preconizado pela Nova Rep blica e a ideologia desenvolvimentista das d cadas de 50 e 60 Sob o refor o da propaganda e o peso do condicionamento ideol gico a maior parte da popula o acaba por ficar indefesa diante da renova o de palavras familiares combina o que facilita a conquista de cora es e mentes pelos pol ticos profissionais e intelectuais org nicos da ordem que como n o podem transformar o Brasil real esmeram se na fabrica o de f rmulas que autonomizam e 137 conferem realidade ao Brasil ideal FERNANDES 1986a p 135 produzindo um discurso com palavras ch
139. um momento em que n s todos esquecemos um pouco nossos aventais e nos lan amos a uma peregrina o por S o Paulo para fazer uma campanha a Campanha em Defesa da Escola P blica Este outro Florestan tamb m foi um Florestan seminal tamb m foi um Florestan que marcou porque mostrou que o acad mico pode e deve em certas circunst ncias lan ar se a posi es concretas de luta para melhorar as condi es de vida de seu pa s Foi uma mobiliza o intens ssima uma mobiliza o que nos levou quilo que ent o ainda era raro o encontro da universidade com os trabalhadores Andamos por sindicatos sem fim pregando Andamos por escolas andamos pelo interior pregando discutindo modifica es concretas em uma lei que iria dar as normas fundamentais ao processo educativo no Brasil CARDOSO F 1987 p 25 Como j se p de perceber pelas cita es acima com o objetivo de conscientizar a popula o brasileira sobre os problemas educacionais visando ao exerc cio leg timo da press o pol tica o publicista Florestan defendeu atrav s de uma s rie de artigos a democratiza o do ensino como mecanismo de aboli o das barreiras que restringem o uso da educa o para a manuten o dos privil gios sociais Florestan faz isso atravessando diversas dimens es da realidade sintetizando aspectos micro e macrossociol gicos permitindo um entendimento do campo educacional como uma s ntese entre a sociedade o
140. 1 a 1994 vit ria conquistada com o apoio de in meros movimentos sociais aos quais deu peso e voz na ANC A partir de ent o Florestan vai se dedicar ao fortalecimento do PT buscando contribuir para os debates sobre o papel do partido na consolida o da democracia brasileira que a seu ver corria grande perigo de continuar restrita e sob controle das mesmas for as pol ticas e econ micas benefici rias da ditadura e da transi o transada que se deu sob a Nova Rep blica 5 3 O per odo p s constitucional e a tarefa partid ria Com a transi o prolongada no per odo p s constitucional marcada pela tensa experi ncia eleitoral de 1989 que elegeu por via direta o primeiro presidente da Rep blica do per odo p s ditatorial o Partido dos Trabalhadores na vis o de Florestan Fernandes deveria atuar em tr s frentes na cria o de uma democracia que desse peso e voz aos trabalhadores e oprimidos na abertura da ordem existente para as reformas sociais e na forma o das premissas hist ricas de uma revolu o socialista Desvencilhando se do populismo o PT eclodiu como a via que poderia unir os trabalhadores e seus aliados org nicos nas v rias batalhas simult neas que deveriam enfrentar para que brotasse uma Rep blica democr tica e a conquista do socialismo n o se restringisse a mera ret rica 393 O PT e o dilema das elei es municipais Folha de S Paulo 09
141. 1988 182 E a confraterniza o do Natal o nosso entranhado amor fam lia a nossa modera o centrista na preserva o da ordem a nossa voca o crist Onde estariam os mores os fundamentos morais do nosso modo de ser e da nossa sociedade se o que existe de materialismo vulgar nos EUA e de carnificina coletiva impiedosa no Haiti se reproduzissem aqui Segundo tradi o secular Deus corrige de noite o que fazemos de errado durante o dia Isso infantilidade A noite e o dia est o engolfados em um mesmo processo que faz com que o desenvolvimento capitalista origine um mundo s uma composi o compacta gra as qual o Brasil cresce e se expande como uma na o que dialeticamente EUA e Haiti n o como entidades distintas ou superpostas mas como uma unidade complexa e indissoci vel em sua diversidade O que h de EUA no Brasil sobrevive se refor a e se agiganta medida que aquilo que Haiti se perpetue FERNANDES 1989b p 212 Cada um de n s segundo Florestan t m uma parcela de culpa e uma participa o direta e vic ria nesse crime de lesa humanidade Um crime pol tico do qual somos ao menos c mplices dinamizadores da multiplica o da barb rie cooperadores da fabrica o das premissas anti ticas do modo de produ o vigente crime que afugenta um outro padr o civilizat rio com capacidade de converter cada ser humano em combatente de um humanismo conciliador d
142. 1992a p 76 Ganhando confian a incorporou se ao PSR passando a pertencer os quadros da IV Internacional com novas responsabilidades e sobretudo esperan as sendo a principal delas a revolu o prolet ria como objetivo essencial Se nem o Estado Novo e a ordem existente balan aram por causa dessa sua op o o meu pensamento as minhas orienta es pol ticas e a minha personalidade sofreram uma muta o s bita FERNANDES 1992a p 76 A julgar pela descri o que um outro importante intelectual brasileiro faz do Velho como Sacchetta era conhecido entre os militantes mais jovens podemos ter uma pequena no o desse impacto vivido por Florestan 5l As chamadas Internacionais foram associa es que visavam reunir em n vel mundial as organiza es da classe trabalhadora A primeira delas funcionou de 1864 a 1876 formada majoritariamente por integrantes de Londres e Paris com expressiva participa o de Marx e Engels que travaram duros combates com a corrente anarquista encabe ada por Bakunin A II Internacional foi fundada no Congresso Internacional de Trabalhadores em Paris no ano de 1889 tendo a predomin ncia dos trabalhadores ligados Social Democracia alem Ela durou at 1914 com participa o relevante dos marxistas Kautsky e Plekhanov mas ficou marcada pelo revisionismo de Bernstein J a III Internacional conhecida como Comintern formada posteriormente a Revolu
143. 1995b Tens es na educa o Salvador Sarah Letras 1995c Democracia e desenvolvimento a transforma o da periferia e o capitalismo monopolista da era atual S o Paulo Hucitec 1994 Pensamento Socialista 14 Debate Contempor neo 9 Depoimento sobre Herm nio Sacchetta In SACCHETTA Herm nio O caldeir o das bruxas e outros escritos pol ticos Campinas Pontes Editora da Universidade Estadual de Campinas 1992a p 75 79 An sio Teixeira e a luta pela escola p blica In ROCHA Jo o Augusto de Lima Org An sio em movimento a vida e as lutas de An sio Teixeira pela escola p blica e pela cultura no Brasil Salvador Funda o An sio Teixeira 1992b p 45 52 O PT em movimento contribui o ao I Congresso do Partido dos Trabalhadores S o Paulo Autores Associados 1991a Cole o Pol micas do Nosso Tempo v 43 Florestan Fernandes Bras lia Minist rio da Educa o MEC Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An sio Teixeira INEP 1991b S rie Mem ria viva da educa o brasileira v 1 Entrevista a Paulo de Tarso Venceslau Teoria e Debate S o Paulo Partido dos Trabalhadores n 13 mar 1991c Dispon vel em lt http www fpa org br td tdl3 td13 memoria htm gt Acesso em 10 fev 2005 A transi o prolongada o per odo p s constitucional S o Paulo Cortez 1990 Biblioteca da educa o S rie economia e pol tica v 2 242
144. 2 PONTES Helo sa Destinos mistos os cr ticos do grupo Clima em S o Paulo 1940 1968 S o Paulo Cia das Letras 1998 PRZEWORSKI Adam Capitalismo e social democracia S o Paulo Companhia das Letras 1989 REIS Jos Carlos Anos 1960 70 Florestan Fernandes Os limites reais hist ricos emancipa o e autonomia nacional a depend ncia sempre renovada e revigorada In REIS Jos Carlos As identidades do Brasil de Varnhagen a FHC 7 ed Rio de Janeiro Editora FGV 2005 RENAUT Alain Jeremy Bentham Introdu o aos princ pios da moral e da legisla o 1789 In CHATELET Fran ois DUHAMEL Olivier PISIER Evelyne Dicion rio das obras pol ticas Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1993 p 118 123 RIBEIRO Darcy Confiss es S o Paulo Companhia das Letras 1997 RODRIGUES Lidiane Soares Entre a academia e o partido a obra de Florestan Fernandes 1969 1983 Relat rio de Qualifica o Mestrado em Hist ria Faculdade de Filosofia Letras e Ci ncias Humanas Universidade de S o Paulo S o Paulo 2005 RODRIGUES Malena Rehbein Agendando o Congresso Nacional do agenda setting crise da democracia representativa In MOTTA Luiz Gonzaga Org Imprensa e poder Bras lia Editora da Universidade de Bras lia 2002 p 103 123 ROM O Wagner de Melo 4 experi ncia do Cesit sociologia e pol tica acad mica nos anos 1960 Disserta o Mestrado em Sociologia Faculda
145. 3 Em entrevista a estudantes ga chos publicada sob o t tulo Limites da contesta o ditadura Jornal do DCE UFRGS jun 1985 Florestan vai afirmar que naquele momento nenhum dos partidos pol ticos que se chamam de esquerda nem mesmo o PT tiveram um ritmo veloz suficiente para acompanhar o movimento das classes trabalhadoras e das massas populares O PT ficou contido por uma composi o de for as que n o leva a luta contra as contradi es de uma sociedade capitalista at o fim at o fundo H grupos de diferentes orienta es e muitos n o assumem de uma maneira aberta a luta de classes a necessidade da luta de classes etc FERNANDES 1994 p 122 234 Al m da mistifica o Folha de S Paulo 20 mai 1985 235 Al m da mistifica o Folha de S Paulo 20 mai 1985 143 Sob uma Nova Rep blica que lembrava a Academia Brasileira de Letras um imenso oco como um enorme ovo de chocolate barato de casca delgad ssima adornado para seduzir a imagina o infantil FERNANDES 1986a p 100 a corrup o atingia fundamente a sociedade brasileira refor ando uma mentalidade capitalista perversa e predat ria que se aninhava em todos os n veis de organiza o do Estado Se na ditadura o Legislativo e o Judici rio pareciam se curvar m o curta e forte do Executivo na hodierna situa o tudo apodrecia em conjunto A quest o portanto n o era somente o entulho autori
146. 4 Classe Oper ria na d cada de 1930 foi expulso do PCB ap s uma cis o em 1937 quando o Comit Regional Paulista divergiu da linha do Comit Central sobre as elei es presidenciais daquele ano Depois de in meras discuss es marcadas pela intransig ncia habitual daqueles tempos o Comit com apoio da Internacional Comunista ent o dominada pelos stalinistas excluiu alguns membros do partido sob a acusa o de renegados trotskistas GORENDER 1992 5 Segundo Gorender 1992 de todos os expulsos apenas Sacchetta aderiu realmente ao trotskismo e posteriormente participou da funda o do PSR ligando se IV Internacional Ele fez parte ainda nos anos 50 da organiza o da Liga Socialista Independente e na d cada de 60 do Movimento Comunista Internacionalista Um dos epis dios mais marcantes da vida de Sacchetta foi seu entrevero com Jorge Amado que no romance Os subterr neos da liberdade a representa o segundo Gorender da escola do realismo socialista na literatura brasileira narrava a luta interna do PCB de S o Paulo na qual faz uma caricatura de Sacchetta atrav s do personagem Saquila identifica o de tal maneira transparente e insultuosa que levou o jornalista a escrever um artigo resposta denominado Jorge Amado e os por es da dec ncia publicado em Sacchetta 1992 41 O encontro de Florestan com Sacchetta ocorreu atrav s de Jussieu da Cunha Batista um antigo colega do curso de mad
147. 48 de 05 de abril de 2003 traz uma entrevista com Ant nio Carlos Lopes presidente da Sociedade Brasileira de Cl nica M dica na qual denuncia que a prolifera o de faculdades de medicina est produzindo rec m formados sem condi es de tratar mais do que uma gripe J a Folha de S Paulo de 06 de abril de 2003 no conjunto de mat rias Direito e Avesso traz depoimentos que indicam a p ssima qualidade do ensino jur dico em S o Paulo OLIVEIRA 2003d 223 De uma forma geral a expans o privada mostrou sua face cruel com a multiplica o de institui es n o acompanhando o esperado investimento em infra estrutura sal rio docente e condi es de pagamento da clientela apesar do esfor o governamental em aumentar o 17 O resultado multiplica o de cursos de baixa qualidade de financiamento estudanti acordo com o pr prio sistema de avalia o governamental professores com inumanas condi es de trabalho sal rios atrasados n mero exacerbado de aulas v rios v nculos empregat cios e alunos humilhados pelas estrat gias de combate inadimpl ncia Com esse quadro podemos imaginar as condi es de ensino aprendizagem a que est o submetidos os futuros m dicos jornalistas juristas psic logos e entre outros educadores Registra se que o aprofundamento da pol tica de empresariamento do ensino superior brasileiro veio na esteira da abertura econ mica e do projeto de privatiza o do patrim nio p
148. 6 O LTIMO ATO EDUCA O E DEMOCRACIA EM TEMPOS DE NEOLIBERALISMO 217 CONCLUS O a a e a da O 233 REFER NCIAS BIBLIOGRAFIA sua cosa io a dera an dele S GRATO a aa TORO BR do God C Aa E Lina TO epa aa R iS 238 ARTIGOS DE FLORESTAN FERNANDES re irerererereererannere nara erenarnenerenarteenna 254 DEPOIMENTOS usqutsatsad igor acne EUSEa aa Sad ae SRA SETA da as SS AS ra do ET aula aba da ds Ela dad o 263 AVAD EON RR 263 RESUMO Esta tese a partir de uma investiga o hist rico sociol gica analisa as dimens es acad mica e militante da obra do fundador da moderna sociologia brasileira objetivando mostrar que em seus escritos jornal sticos realizados durante toda a sua vida produtiva encontram se elementos que configuram uma vigorosa pedagogia socialista com base em suas mais reconhecidas voca es cient fica e pol tica A import ncia deste trabalho est na capacidade de tornar compreens vel como id ias produzidas por intelectuais podem se transformar em conhecimento cr tico e assim engendrar for as sociais que questionam o estabelecido fen meno de alt ssima relev ncia num momento em que a nica fun o da ci ncia parece ser usando palavras do pr prio Florestan a de considerar a ordem social existente como a nica poss vel Com essa pesquisa acreditamos ainda colaborar para o avan ar dos estudos de Hist ria da Educa o no Brasil especialmente o qu
149. 6 fev 1990 Democracia e desenvolvimento p 92 93 Conflitos na educa o Folha de S Paulo S o Paulo 25 jun 1990 Tens es na educa o p 9 10 A universidade sob tens o Folha de S Paulo S o Paulo 01 out 1990 Tens es na educa o p 15 16 O PT e 1990 Folha de S Paulo S o Paulo 31 dez 1990 A for a do argumento p 179 180 SBPC Folha de S Paulo S o Paulo 05 ago 1991 Tens es na educa o p 23 24 Crise na educa o Folha de S Paulo S o Paulo 18 ago 1991 Tens es na educa o p 25 26 Educa o inconsist ncias do Legislativo Folha de S Paulo S o Paulo 06 jul 1992 Tens es na educa o p 47 48 O teste do socialismo Folha de S Paulo S o Paulo 11 jan 1993 A for a do argumento p 208 209 A fome Folha de S Paulo 15 nov 1993 A for a do argumento p 224 225 Combate fome Folha de S Paulo S o Paulo 03 jan 1994 Opini o p 1 2 O enigma chin s Folha de S Paulo S o Paulo 31 jan 1994 A for a do argumento p 226 Mudan a seletiva e ruptura hist rica Folha de S Paulo S o Paulo 14 fev 1994 Opini o p 1 2 Economia pol tica da crise Folha de S Paulo S o Paulo 11 abr 1994 Opini o p 1 2 O d ficit p blico Folha de S Paulo S o Paulo 04 jul 1994 Opini o p 1 2 O limite da ingenuidade Folha de S Paulo S o Pau
150. 80 Em O produto final Folha de S Paulo 12 set 1988 Florestan afirma O que parece ser uma vit ria do movimento oper rio e das for as populares poder converter se na fonte de manipula es jur dicas dilat rias e perversas capazes de anular as conquistas mais not rias da nova carta FERNANDES 19895 p 349 381 A Constitui o de 1988 concilia o ou ruptura Folha de S Paulo 04 out 1988 82 A ltima sess o do segundo turno Jornal do Brasil 17 set 1988 383 A Constitui o de 1988 concilia o ou ruptura Folha de S Paulo 04 out 1988 201 tope No entanto com todas essas defici ncias ela poderia ser o elo para o aparecimento de uma situa o hist rica que exija um texto legal mais democr tico popular e radical Naquele momento acreditava o publicista sua miss o consistia em limpar o terreno minado da ditadura prolongado pela Nova Rep blica que adotava os seus m todos e pr ticas e fazia com que o Brasil continuasse a se vergar corrup o governamental em prol do grande capital nacional e estrangeiro Mas os privilegiados correr o um s rio risco se se mantiverem insens veis s iniquidades econ micas culturais sociais e pol ticas de uma sociedade deformada e desumana Os de baixo poder o ousar desobedecer tomar consci ncia social de sua priva o de humanidade empregar a viol ncia para atingir seus fins como sempre timbraram em fazer os de c
151. 986 158 capitalista Esse processo aprofundou o controle externo pelos pa ses centrais assim como produziu impacto sobre a fragmenta o da sociedade civil que acabou por exigir um novo tipo de dom nio das minorias olig rquicas e plutocr ticas devido ao aparecimento de um novo padr o de luta pol tica das classes sociais representadas pelo surgimento de institui es e organiza es que passaram a interferir mais ativamente sobre quest es relativas s iniquidades humanas tradicionalmente vigentes na sociedade brasileira Na nova situa o para dar fim ao prolongamento de uma transi o transada Florestan preconizava a necess ria articula o dos partidos de esquerda com essas for as sociais fator fundamental para que alcan assem um padr o de interven o capaz de promover uma altera o no modo de funcionamento do Estado brasileiro Declarava e lembrava assim a li o de Engels de que n o o Estado que determina a sociedade esta que determina aquele embora exista uma rela o rec proca quando as coisas funcionam historicamente Se a minoria que monopoliza o poder bloqueia o campo das transforma es e da linguagem ou da a o liberal radicais da burguesia a maioria deve saltar frente e servir como a alavanca da revolu o democr tica e da cria o de um estado democr tico popular Todas as for as vitais de esquerda dos sindicatos aos partidos e s organiza es culturais de frente
152. 9b p 106 307 Controv rsias sobre a Constitui o Folha de S Paulo 16 jul 1987 172 essas reformas capitalistas que na rela o conjuntural entre reforma e revolu o se transformavam em reformas socialistas tinha um significado relevante para o amadurecimento do proletariado como classe a emana o pr via de uma experi ncia socialista que sem se contentar com as transforma es cosm ticas provindas da participa o popular fizesse desta o degrau definitivo para um controle popular do poder pol tico econ mico e cultural Um exemplo de grande contribui o pedag gica Florestan vai encontrar nos movimentos sociais vinculados rea educacional de professores funcion rios e estudantes Organiza es como a Associa o Nacional dos Docentes do Ensino Superior ANDES a Federa o de Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras FASUBRA e a Uni o Nacional dos Estudantes UNE representavam a ponta de lan a na quest o das rela es do Estado democr tico com o ensino p blico rela es essas que estavam amea adas pelas entidades representativas do ensino privado tais como a Federa o Nacional dos Estabelecimentos de Ensino FENEN e a Igreja Cat lica que se empenhavam a fundo na preserva o e na multiplica o das vantagens relativas frente ao ensino p blico laico e gratuito De um lado as escolas particulares enchendo as galerias do Congresso Nacional com
153. ANDES 1989b p 357 358 Florestan no entanto alerta a seus leitores que sua posi o n o era necessariamente pela destrui o do ensino privado religioso Para mim o correto o ponto de vista do deputado Nelson Aguiar Ele me relatou que a Conven o Batista Brasileira dirige v rias institui es Nenhuma recebe dinheiro p blico como princ pio fundamental separa o da Igreja do Estado Ele pr prio testa do Col gio Americano Batista de Vit ria enfrentou grav ssima crise em 1986 que foi resolvida com recursos recolhidos na comunidade Esse o princ pio correto preciso deixar o ensino p blico desenvolver se tornar se acess vel a todos e melhorar de qualidade Essa a alternativa democr tica A outra equaciona um Estado prebend rio que reparte sinecuras com os poderosos e com as institui es fortes FERNANDES 1989b p 122 123 Ao defender um rg o o Conselho Nacional de Desenvolvimento da Educa o que serviria para implementar e dinamizar o Plano Nacional de Educa o Florestan viu mais uma vez se voltar contra ele as iras do minist rio da Educa o e dos donos das escolas privadas confessionais e mercantis Com base no princ pio do planejamento democr tico o deputado pensava na necessidade de controles racionais de aplica o e avalia o dos recursos p blicos o que parecia n o interessar aos comandantes do sistema educacional brasileiro
154. Ainda no in cio de sua forma o nos estudos sobre o folclore Florestan afirma que teve a oportunidade de formar seu tiroc nio sobre os limites das an lises dos dados emp ricos quando se conscientizou que a reconstru o emp rica n o basta explica o sociol gica ou seja que os fatos n o falam por si mesmos preciso interrog los e para isso indispens vel algum dom nio do quadro te rico envolvido FERNANDES 1977 p 174 Essa ades o portanto apaixonada raz o cient fica ou melhor s potencialidades de se utilizar o conhecimento cient fico para a galvaniza o dos elementos din micos de transforma o social no per odo de sua forma o intelectual tem como pano de fundo uma luta clandestina contra o Estado Novo quando atrav s do movimento trotskista passa a tomar contato mais profundo com o marxismo Nesse momento o interesse de Florestan pelo socialismo deixa para tr s o seu populismo radical forjado na viv ncia contradit ria da desigualdade da condi o subalterna e das potencialidades do projeto moderno de sociedade secular livre e igualit ria GARCIA 2002 p 114 e o faz entrar numa fase de identifica o ultra radical nos anos de milit ncia no Partido Socialista Revolucion rio PSR liderado pelo jornalista Herm nio Sacchetta um ex membro do Partido Comunista do Brasil PCB Sacchetta que tinha sido editor do jornal oficial do partido
155. C mara nomeia uma subcomiss o para examinar os dois substitutivos o de Lacerda e o da Campanha as emendas apresentadas pelos deputados e elaborar um ltimo anteprojeto aprovado em janeiro de 1960 Nos meses posteriores continuam as discuss es na imprensa Alguns membros da Campanha entre eles Florestan Fernandes chegam a formar uma comiss o para ir a Congresso e pressionar contra o documento aprovado No relat rio sobre a respectiva visita para a efetiva rejei o do texto aprovado a comiss o alerta para a necessidade de mudan a de estrat gia j que frente aos recursos financeiros e a influ ncia do setor privado s uma maior mobiliza o popular poderia obter xito para romper o isolamento do legislador brasileiro o que para tanto seria fundamental a prepara o de novos documentos de car ter mais t cnico e a propaga o de novos n cleos em defesa da escola p blica e da educa o popular A nossa campanha tem se concentrado no debate das defici ncias org nicas e profundas da lei insistindo principalmente nas lacunas pedag gicas e estruturais do projeto de lei Essa orienta o est certa situando nos no plano do debate construtivo dos problemas Mas preciso complementar esse esfor o de esclarecimento alargando mais as bases e os influxos populares do movimento de defesa da escola p blica Se os estudantes os professores os trabalhadores os intelectuais e os chefes de fam lia em geral n o
156. Como destaca um subt tulo do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado do governo Fernando Henrique Cardoso publicado em 1995 OLIVEIRA 2002b p 70 221 estatal seriam os grandes instrumentos de execu o dos servi os que n o demandariam o exerc cio do poder do Estado mas apenas o seu subs dio Nesse campo por exemplo junto com os servi os de sa de e cultura estariam a educa o especialmente o ensino superior e a produ o de ci ncia e tecnologia C amp T O resultado que a partir de ent o no Brasil depois de um intervalo que imp s limites inger ncia estrangeira nas rela es do Estado com os setores fortes da economia implanta se um novo fluxo modernizador um p lo diversificado de natureza neocolonial que interfere cruamente sobre a soberania nacional Em 1991 ainda durante o governo Collor Florestan avisava que a incorpora o ao sistema capitalista mundial de produ o e de poder e a privatiza o das empresas estatais estrat gicas sob a inger ncia do governo e com plena anu ncia dos empres rios e capitalistas brasileiros sugeria que n o estava acontecendo uma ruptura mas um processo de perpetua o da situa o de depend ncia Visto em conjunto esse painel sugere que os interesses da iniciativa privada nativa ainda prevalecem sobre os eventuais interesses da Na o e que ela permanece deliberadamente distante de um projeto hist rico pr prio de Na o Aceita a invas o extern
157. Constitui o a perspectiva dos trabalhadores Folha de S Paulo S o Paulo 24 jul 1988 A Constitui o inacabada p 308 312 Constitui o o despique do Governo Jornal do Brasil Rio de Janeiro 25 jul 1988 A Constitui o inacabada p 313 317 O discurso pol tico Jornal do Brasil Rio de Janeiro 03 ago 1988 A Constitui o inacabada p 318 320 A ingovernabilidade Jornal do Brasil Rio de Janeiro 09 ago 1988 A Constitui o inacabada p 325 328 Cl udio Abramo e o jornalismo Folha de S Paulo S o Paulo 14 ago 1988 A contesta o necess ria p 166 170 Fluxo e refluxo Jornal do Brasil Rio de Janeiro 15 ago 1988 A Constitui o inacabada p 329 332 Crise e concilia o Folha de S o Paulo S o Paulo 19 ago 1988 A Constitui o inacabada p 333 336 A greve Folha de S Paulo S o Paulo 25 ago 1988 A Constitui o inacabada p 337 340 O curso do segundo turno Jornal do Brasil Rio de Janeiro 28 ago 1988 A Constitui o inacabada p 341 345 O produto final Folha de S Paulo S o Paulo 12 set 1988 A Constitui o inacabada p 346 349 A ltima sess o do segundo turno Jornal do Brasil Rio de Janeiro 17 set 1988 A Constitui o inacabada p 354 356 O dilema hist rico da Igreja Cat lica Folha de S Paulo S o Paulo 30 set 1988 A Constitui o inacabada p
158. Cook no Hawai trinta anos depois Eis algumas intui es de Florestan sobre os caminhos que a antropologia poderia seguir boa parte delas hoje classificadas de etnografia experimental tend ncia que visa integrar no texto monogr fico as preocupa es epistemol gicas do processo interpretativo Fica ent o para a autora a hip tese de que o estilo ultrapassado de Florestan mascara uma tentativa genu na de revis o das conven es tradicionais em n vel de conte do mais profundo PEIRANO 1992 p 68 mascaramento para o qual tamb m contribuiu a op o pela suposta abordagem funcionalista Mas pergunta a autora com que concep o de funcionalismo Florestan trabalhou Para ela destaca se a sua distin o em rela o sociologia sistem tica de Talcott Parsons a distancia de um m todo reduzido ao empirismo e a quest o da utiliza o equivocada de conceitos gerados em meios ex genos conceitos esse que forjados em condi es diferentes de exist ncia podem gerar interfer ncias deformadoras O funcionalismo de Florestan Fernandes caracterizando se portanto por uma postura relativizadora antietnoc ntrica que procura a reconstru o intelectual de totalidades sociais a partir de uma fidelidade aos dados como realidade emp rica e te rica levou o autor ao que hoje seria aceito simplesmente como uma postura antropol gica convencional Especificamente a antropologia de Florestan Fer
159. ERNANDES 1994 p 118 183 Os trabalhadores e a democracia Folha de S Paulo 31 out 1984 184 De acordo com Sereza 2005 p 141 o acompanhamento das atividades de Florestan pelo Departamento de Ordem P blica e Social Deops remonta d cada de 1940 Mas ele se intensifica na d cada de 1960 O processo contra Florestan Fernandes durante o regime militar encontra se em Lemos 2004 185 Essas viagens foram utilizadas pelo advogado Saulo Ramos para livrar seu cliente de um pedido de pris o preventiva ainda de 1964 argumentando que se a revolu o de 1964 fosse comunista Florestan seria acusado de manter v nculos com institui es de ensino de pa ses imperialistas SEREZA 2005 p 149 121 Inimigo declarado do regime ditatorial o soci logo n o vai escapar dos efeitos diretos do Ato Institucional n 5 AI 5 editado em 13 de dezembro de 1968 Em 28 de abril de 1969 publicado um decreto aposentando compulsoriamente 42 pessoas entre elas alguns professores da USP incluindo Florestan Fernandes Tendo seus recursos financeiros diminu dos j que a aposentadoria era proporcional ao tempo de servi o sendo ainda a partir do Ato Institucional n 10 impedido de exercer qualquer atividade de ensino ou pesquisa no Brasil parte no mesmo ano para o Canad onde se torna professor de Sociologia como Latin American in Residence na Universidade de Toronto na qual em 1970 ganha o t tulo
160. Education Thought Socialist Pedagogy INTRODU O A constru o de uma problem tica n o se faz de repente ainda que quando completa a nova formula o constitua um salto uma diferen a de qualidade com rela o ao conhecimento anterior e contempor neo Uma produ o como essa n o se faz de uma hora para outra sem aviso ou sem ind cios ela vai abrindo o seu caminho num processo original h portanto uma esp cie de hist ria da sua constru o Tamb m n o se faz de sa da h portanto algo produzido que envelhece depois que o novo alcan ado N o necess rio que este seja um processo muito demorado Pode ser ou n o Mas com certeza n o se faz num nico momento sem ter um passado Miriam Limoeiro Cardoso 1996 p 89 90 Sob inspira o desta ep grafe sem advogar de antem o originalidade ou salto de qualidade ao conhecimento anteriormente produzido pe o licen a aos leitores para iniciar a apresenta o deste trabalho resgatando um pouco do processo que me levou a estudar a vida e obra do soci logo Florestan Fernandes por um recorte que entrela a algumas dimens es de sua trajet ria especialmente no que diz respeito ao jornalismo educa o e pol tica Ingressei no meio acad mico com o intuito de me qualificar para a carreira jornal stica que se consolidava a partir de 1996 na assessoria de imprensa de um sindicato patronal da rea educacional tarefa que desenvolvia concomitantemente
161. IZEK 2005 p 325 E se junto com a compreens o de que a luta pol tica exige organiza o dire o e solidariedade entre for as sociais convergentes FERNANDES 1989b p 286 o partido consegue resistir s manifesta es sociop ticas da livre iniciativa e busca cortar os cord es umbilicais entre a empresa a socializa o dos riscos e o governo cartorial FERNANDES 1991a p 61 a possibilidade de se iniciar um processo de civiliza o da sociedade civil estar dada a partir do necess rio atendimento das necessidades das classes subalternas Sob as fissuras do bloco burgu s os trabalhadores organizados se conscientizam e passam a desejar para si o patroc nio real das reformas estruturais Tiram pois da geladeira a esteriliza o pol tica da mudan a social FERNANDES 1991a p 62 A maior dificuldade que para o partido sintetizar as for as de resist ncia ele tem que conjugar demandas de agentes hist ricos diversos e antag nicos para impulsionar a cena pol tica A interven o nunca simples direta ou linear pois a tarefa partid ria est envolta em uma totalidade mais ampla que ultrapassa a simples conquista do poder e da representa o Sob essa condi o o objetivo imediato passa a ser a supera o das inigiiidades do desenvolvimento desigual tarefa que n o pode deixar de levar em conta a luta pela supress o das tradi es culturais arcaicas que garantem a hegemonia p
162. Mas de engendrar uma Rep blica democr tica com dois p los o das classes dominantes e o das classes subalternas em intera o e interdepend ncia FERNANDES 1989b p 375 387 388 389 Desconstitucionaliza o como projeto governamental Jornal do Brasil 17 out 1988 A deteriora o do poder Jornal do Brasil 23 out 1988 A deteriora o do poder Jornal do Brasil 23 out 1988 204 O problema era que os partidos estavam dando as costas ao projeto governamental de descontitucionaliza o da sociedade civil e do Estado Lan ando se campanha eleitoral municipal a tomaram como alvo central e n o a viram como uma armadilha democratiza o do pa s e como elemento de refor o continuidade da transi o no per odo p s constitucional que aniquilava a aspira o coletiva de participa o das massas para a gesta o de um p lo popular de poder pol tico FERNANDES 1989b p 378 Problema esse que Florestan estava enfrentando em sua pr pria casa j que o PT tamb m se via envolvido nos dilemas das elei es municipais O PT como partido virgem ainda n o tinha sido deformado pelas duas mol stias letais do sistema pol tico brasileiro a o clientelismo o paternalismo e o fisiologismo tra os marcantes de nossa tradi o subdemocr tica b o conv vio com o poder em especial o institucional corro do e organizado por interess
163. N o se trata disto Institui es e valores s o sempre redefinidos na marcha das civiliza es O homem nunca se livrou de certas institui es FERNANDES 1989d p 173 111 Um ponto fundamental para a tomada de posi o do sistema educacional e seus agentes para a efetiva adequa o da escola s necessidades sociais de conserva o ou transforma o est no papel desempenhado pelo professor como um agente promotor da mudan a social De acordo com Matui 2001 p 89 na perspectiva florestaniana se o cidad o o agente hist rico preparado com t cnicas democr ticas de organiza o do poder para a transforma o da sociedade o professor o agente de forma o desse cidad o Logo n o que dependa exclusivamente do agente educador a resolu o do dilema educacional brasileiro mas passa por ele a possibilidade de se constitu rem institui es de ensino que venham a satisfazer s necessidades escolares da na o principalmente dos grupos exclu dos do processo civilizat rio Num pequeno retrospecto hist rico refletindo sobre as causas de uma suposta crise da democracia brasileira Florestan afirma que a Rep blica do ponto de vista pedag gico e cultural com seus ensaios de reforma de ensino foi uma revolu o abortada pela press o conjunta de condi es estruturais desfavor veis somada falta de coer ncia ideol gica das nossas elites e aus ncia de inspira es politicas revolucion ri
164. NANDES 1989c p 37 187 interna e externa da infla o da recess o e do desgoverno Ao inv s de uma festa de confraterniza o de lamenta o ou de solidariedade conformista Florestan solicitava a reflex o sobre as possibilidades de desobjetiva o desaliena o e auto emancipa o coletiva dos trabalhadores que na luta pelo controle social sobre o lucro o motor da hist ria pode devolver sociedade a flexibilidade e a humanidade necess ria para dissociar finalmente a civiliza o da barb rie atrav s da conjuga o das promessas de liberdade e igualdade tal como sugerido pelas reflex es Rosa e Gramsci nesse sentido que podemos entender o socialismo como a proposta de um sistema que n o seja movido pelos imperativos da maximiza o dos lucros da acumula o e do chamado crescimento com seu desperd cio e sua degrada o material humana e ecol gica um sistema cujos valores e impulsos relativos n o sejam limitados pelas no es restritivas do progresso tecnol gico mais do que necess rio libertar a capacidade criativa dos imperativos da explora o e da auto expans o j que produtividade n o gera per si qualidade de vida Naquele momento espec fico segundo Florestan todas as for as deveriam estar voltadas para frear a press o das classes burguesas sobre a ANC cujos interesses se engolfavam com a depend ncia tecnol gica financeira e econ mica que ganhava e
165. O rio subterr neo do marxismo funcionando como uma tend ncia recessiva liberou o do dogmatismo do movimento socialista oficial e possibilitou uma forma o te rica diversificada capaz de lidar competentemente com uma ampla gama de orienta es metodol gicas que o amadureceu tanto como cientista social quanto militante produzindo uma sociologia cr tica que o leva n o apenas a estudar sistematicamente a realidade mas a preparar os instrumentos te ricos adequados sua transforma o em profundidade CANDIDO 2001 p 51 Num processo similar ao de Hans Freyer autor de Sociologia como ci ncia da realidade livro que Florestan indicava aos iniciantes em ci ncias sociais ele passou por v rias correntes sociol gicas para constatar que o ponto de chegada era o ponto de partida ou seja que o dilema da sociologia j estaria colocado e resolvido em Marx FERNANDES 1987 p 310 311 Entretanto Florestan avan a instituindo 4 Isso n o significa como afirma L wy 2003 p 218 que o ponto de vista do proletariado seja garantia suficiente mas o que oferece a maior possibilidade objetiva de acesso verdade E isso porque a verdade para o proletariado uma arma indispens vel sua auto emancipa o As classes dominantes a burguesia e tamb m a burocracia em um outro contexto t m necessidade de mentiras e ilus es para manter seu poder Ele o proletariado tem necessidade de verdade
166. Paulo Sumar ANPOCS Bras lia DF CAPES 1999 p 109 145 Condicionantes do Desenvolvimento das Ci ncias Sociais no Brasil 1930 1964 Revista Brasileira de Ci ncias Sociais S o Paulo ANPOCS v 2 n 5 1987 CD ROM N o paginado MONTANO Carlos Terceiro setor e quest o social cr tica ao padr o emergente de interven o social S o Paulo Cortez 2002 MOTTA M rcia Hist rias e mem rias In MATTOS Marcelo Badar Org Hist ria pensar e fazer Rio de Janeiro Laborat rio Dimens es da Hist ria 1998 NAGLE Jorge Um pensamento para a reconstru o In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 187 196 NERY Tatiana Maria de Oliveira O embate pol tico educacional nos anos 90 Tramita o da Lei de Diretrizes e Bases da Educa o Nacional In NEVES L cia Org Pol tica 249 educacional dos anos 90 determinantes e propostas Recife Ed Universit ria da UFPE 1997 NETTO Jos Paulo A recupera o marxista da categoria de revolu o In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 292 305 NEVES L cia Org 4 nova pedagogia da hegemonia estrat gias do capital para educar o consenso S o Paulo Xam 2005 Org O empresariamento da educa o novos contornos do ensino superior n
167. RNANDES 1989b p 42 n o vem de uma vis o idealizada da situa o hist rica concreta O soci logo sabe que na cabe a do trabalhador ainda perpassa elementos profundos da ideologia burguesa e dos res duos tradicionais da recente experi ncia de transmuta o de uma sociedade rural agr cola escravista em urbano industrial semi proletarizada Mais do que um slogan ou palavra de ordem a luta de classes deve ser entendida no seu sentido espec fico como um processo social e uma t cnica pol tica que naquele momento deveria se voltar para a aquisi o de meios sociais de organiza o sindical partid ria e cultural com o objetivo central de elevar a consci ncia social prolet ria As organiza es mencionadas devem realizar essa tarefa pol tica promovendo a difus o do socialismo prolet rio e revolucionando atrav s dele as mentes e os cora es dos trabalhadores Esse salto n o acontece de modo espont neo A socializa o socialista do prolet rio faz parte do trabalho educativo de tais organiza es constitui um pr requisito da luta pela conquista do poder N o adianta resmungar contra os fatos crus O melhor enfrent los e super los Ou submeter se passivamente supremacia burguesa FERNANDES 1989b p 45 46 E dessa forma que Florestan via a pugna eleitoral rec m finalizada com a qual se tornara deputado federal constituinte N o ser sem raz o que ele vai considerar como
168. S 1971b p 194 6 Um breve hist rico sobre a g nese da institui o encontra se em O Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais a contribui o de Florestan para os planos de organiza o do CBPE publicada como o quarto cap tulo da parte final de Fernandes 1966 90 Percebe se portanto como Florestan estava vinculado ao movimento de fomenta o e consolida o das pesquisas educacionais no Brasil que tem entre seus maiores representantes An sio Teixeira e Fernando de Azevedo respectivamente diretores do CBPE e do CRPE SP organiza es criadas com a pretens o de fazer com que as atividades educacionais alcan assem condi es cient ficas atrav s da colabora o das ci ncias sociais Pesquisa no Brasil lembra sempre coisas feitas um pouco no ar Um pr dio de cerca de 200 metros de longo e 20 de largo para pesquisas parece um absurdo E pesquisas de educa o Ainda mais que n o pensam que o setor de documenta o o de programas o de psicologia o de testes e medidas o de administra o o de livros e material do ensino s o imensos departamentos que o meu Centro apesar de grande acabar por n o comportar Medicina sem d vida um imenso campo de pesquisas Pois bem o de educa o n o mas devia ser bem maior TEXEIRA apud FERREIRA 2001 p 11 A O que se d aos Centros n o se subtrai mas se acrescenta solu o dos problemas da educa o nacional Gasta se hoje
169. S o Paulo Brasiliense 1986 CARDOSO Fernando Henrique A paix o pelo saber In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 23 30 Empres rio Industrial e Desenvolvimento Econ mico S o Paulo DIFEL 1964 CARDOSO Miriam Limoeiro Sobre a teoriza o do capitalismo dependente em Florestan Fernandes In FAVERO Osmar Org Democracia e educa o em Florestan Fernandes Campinas Autores Associados Niter i EdUFF 2005 p 7 40 Para uma Hist ria da Sociologia no Brasil a obra sociol gica de Florestan Fernandes algumas considera es preliminares S o Paulo Instituto de Estudos Avan ados da USP 2001a Documentos n 8 S rie Pol tica Notas para a demarca o de um campo te rico em Florestan Fernandes fundamentos confrontos e perspectiva S o Paulo Instituto de Estudos Avan ados da USP 2001b Documentos n 18 S rie Ci ncias Humanas Hist ria Capitalismo dependente autocracia burguesa e revolu o social em Florestan Fernandes Id ias Campinas Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas da Unicamp ano 4 n 1 2 p 99 114 jan dez 1997 Florestan Fernandes a cria o de uma problem tica Estudos Avan ados S o Paulo Instituto de Estudos Avan ados da USP v 10 n 26 p 89 128 jan abr 1996 Adeus Revista ADUSP S o Paulo Associa o dos Docentes da Universidad
170. Situar os v rios homens e os v rios tipos de intelectual que coexistem na mesma pessoa e que usam o autor para se concretizarem Sobretudo indispens vel n o esquecer que nenhum desses homens e de tipos de intelectual foi domesticado pela variedade brasileira de vida universit ria Darcy Ribeiro nem como etn logo nem como educador nem como homem de a o nunca gravitou dentro ou em torno de qualquer provincianismo universit rio e em particular nunca se profissionalizou como universit rio Da resultam algumas defici ncias de suas id ias e utopias Mas a reside tamb m a sua for a FERNANDES 1975a p 264 59 Ou a gente falsifica a an lise dial tica no sentido vulgar da palavra falsificar para converter a an lise dial tica em uma esp cie de cafiaspirina ou ent o a gente procura a especificidade da an lise dial tica descobrindo que a an lise dial tica s v lida para determinados tipos de problemas e principalmente para os problemas que aparecem nos povos que t m um determinado tipo de hist ria a qual nasce da estrutura antag nica do modo de produ o e de organiza o estratificada da sociedade e se caracteriza pelo fato do presente negar o passado como um elo com um futuro que n o repete as estruturas existentes porque no processo de se objetivarem e se reproduzirem elas se transformam FERNANDES 1978a p 90 91 Ressalva se por m que para Florestan a an lise
171. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCA O PROGRAMA DE P S GRADUA O EM EDUCA O O ARTICULISTA FLORESTAN CI NCIA E POL TICA COMO BASE DE UMA PEDAGOGIA SOCIALISTA Marcos Marques de Oliveira Niter i RJ 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCA O PROGRAMA DE P S GRADUA O EM EDUCA O O ARTICULISTA FLORESTAN CI NCIA E POL TICA COMO BASE DE UMA PEDAGOGIA SOCIALISTA Marcos Marques de Oliveira Tese apresentada ao Programa de P s Gradua o em Educa o da Faculdade de Educa o da Universidade Federal Fluminense para obten o do t tulo de Doutor em Educa o Orientador Prof Dr Giovanni Semeraro Niter i RJ Abril de 2006 MARCOS MARQUES DE OLIVEIRA O ARTICULISTA FLORESTAN CI NCIA E POL TICA COMO BASE DE UMA PEDAGOGIA SOCIALISTA Tese apresentada ao Programa de P s Gradua o em Educa o da Faculdade de Educa o da Universidade Federal Fluminense para obten o do t tulo de Doutor em Educa o Aprova o em 28 de abril de 2006 BANCA EXAMINADORA Prof Dr GIOVANNI SEMERARO Orientador UFF Prof Dr OSMAR F VERO UFF Prof Dr ELIANE VERAS SOARES UFPE Prof HELO SA FERNANDES SILVEIRA USP Prof Dr MIRIAM LIMOEIRO CARDOSO UFRJ Aos Vicentes que ainda n o conseguiram se transformar em Florestans AGRADECIMENTOS A realiza o deste trabalho s foi poss vel pelo apoio e est mulo do profess
172. a O candidato v se convertido a um equivalente da Kibon FERNANDES 1986a p 59 O campo da pol tica destr i os ing nuos os que querem uma coisa e fazem outra preciso enraizar os desenraizados em seus partidos em suas organiza es de luta em seus meios ideol gicos e pol ticos de atua o defensiva e ofensiva A batalha eleitoral uma batalha pol tica Os trabalhadores e os oprimidos precisam preparar se para trav la s rio at o fim e at o fundo FERNANDES 1986a p 54 55 Na condi o de publicista como articulista de um jornal de abrang ncia nacional Florestan apontava a centralidade da a o pol tico revolucion ria destacando nas quest es investigadas a galvaniza o da massa prolet ria e os problemas concernentes constitui o do sujeito revolucion rio A convers o de Florestan em o pedagogo da revolu o revelou como vimos um ensa sta do processo s cio pol tico em curso que tinha o objetivo de difundir as id ias socialistas entre os trabalhadores NETTO 1987 p 298 dando conte do forma e prosseguimento ao seu projeto singular definido por Garcia 2002 como destino impar O maior representante da sociologia uspiana vale ressaltar n o toma isso como uma tarefa doutrin ria mas como uma a o que se articula convic o de que a maturidade pol tica das classes trabalhadoras a partir da socializa o socialista de bases e quadros dirigentes
173. a Sob o capitalismo dependente o projeto de forma o de uma consci ncia social 130 Carlos Marighella a chama que n o se apaga Folha de S Paulo 12 nov 1984 BI Conceito que engloba as categorias de reforma e revolu o processos que ocorrem historicamente forjando oportunidades para ajustamentos antag nicos ordem existente FERNANDES 1995b p 121 Ele 85 revolucion ria que tem como horizonte uma democracia radical n o pode deixar de levar em conta os embates que envolvem a constru o de uma sociedade civil democr tica e de um Estado capitalista democr tico Um dos grandes desafios para a prolonga o dessa luta pol tica est em desmontar o horizonte intelectual burgu s que se fortalece principalmente atrav s dos rg os de forma o cultural tal como a escola e os meios de comunica o institui es chave da ordem que se n o forem devidamente consideradas continuar o a fortalecer o seguinte processo O universo mental burgu s se consolida enquanto outros universos mentais como o dos oper rios e seus aliados org nicos se enfraquecem FERNANDES 1991a p 52 H na sociologia de Florestan em seu projeto para o Brasil uma preocupa o evidente com a quest o educacional um dos vetores de moderniza o das rela es sociais considerado por ele como o maior instrumento de difus o de uma consci ncia cient fica da sociedade e um importante ins
174. a o em intelectual p blico consagrando as expectativas do ex aluno do Curso Riachuelo com a sempre presente preocupa o de adequar se aos interlocutores conjunturais Como afirma Fernando Henrique Cardoso 1987 p 29 o hermetismo da linguagem florestaniana num determinado momento n o era afeta o Era busca do conceito Era a tentativa para mostrar que se fazia na Sociologia algo muito importante e que a Sociologia era uma ci ncia N o era uma linguagem simplesmente para diferenciar para tornar mais dif cil ao outro mas para tornar rigoroso o pensamento Depois segundo o ex aluno ele mesmo poliu a linguagem e se liberou de seu peso Fundamental para isso foi o exerc cio em seus textos de trincheira de car ter para sociol gico nos quais o soci logo teve a coragem de improvisar para travar um di logo dram tico sobre as ra zes econ micas 176 No in cio da d cada de 60 no artigo A universidade e o desenvolvimento do Nordeste O Estado de S Paulo 5 fev 1961 Florestan afirmava indispens vel que haja uma intera o cont nua e ativa entre os acad micos e os leigos para que as institui es universit rias n o fiquem segregadas dos problemas materiais e humanos da sociedade No entanto mesmo em S o Paulo ainda n o conseguimos forjar as bases dessa intera o De um lado por causa da deforma o dominante da mentalidade m dia dos universit rios Mesm
175. a Fiz essa op o buscando seguir a indica o de Marx tal como exposta no posf cio segunda edi o alem de O Capital de como devemos nos apropriar do m todo dial tico de investiga o A pesquisa tem de captar detalhadamente a mat ria analisar as suas v rias formas de evolu o e rastrear sua conex o ntima S depois de conclu do esse trabalho que se pode expor adequadamente o movimento real Caso se consiga isso e espelhada idealmente agora a vida da mat ria talvez possa parecer que se esteja tratando de uma constru o a priori MARX 1983 p 20 No primeiro cap tulo 4 forma o de jornalista a militante da ci ncia est o expostas as circunst ncias as oportunidades e as a es que levaram um menino pobre da periferia de S o Paulo que teve sua forma o escolar interrompida a percorrer com brilhantismo as etapas de uma carreira que parecia improv vel pelas suas condi es de origem mas que se tornou promissora devido a sua total entrega a um projeto de vida e de ci ncia que teve como substrato uma milit ncia pol tica que ajudou a conformar sua vis o de mundo socialista No segundo O objetivo metodologias para uma sociologia no Brasil acompanha se a transforma o de Florestan num militante da ci ncia quando na express o de Martins 1998 torna se o soci logo da esperan a por ter como meta diminuir o desencontro entre o homem concreto e as possibilidades hist ricas
176. a as ao guarda chuva das emendas coletivas FERNANDES 1989b p 297 A t tica das for as reacion rias estava embasada na estigmatiza o de tudo que fosse avan o rejeitando elementos fundamentais para a concretiza o de uma democracia burguesa como se estes fossem estatizantes e comunizantes Uma mistifica o ardilosa que funcionava como propaganda alarmista de uma fantasia que ca a muito bem aos interesses de quem a vestia Segundo Florestan esse caldo de cultura deu ao Governo um campo amplo de manobras que possibilitou a amplia o do seu mandato e o transformou no superconstituinte com uma ninharia de pretens o ajustar a Constitui o a uma orienta o privatizadora e entreguista abolir a soberania da ANC e restringir as prerrogativas 35 Como registra Florestan em A atualidade de L nin Leia Livros 15 out 1978 Ao aliar se com setores da burguesia para destruir a contra revolu o o proletariado visa a preparar o seu pr prio caminho de conquista do poder ou seja tem em mira tamb m a destrui o da burguesia e de todo o sistema capitalista FERNANDES 1980a p 101 360 A nova pauta pol tica Jornal do Brasil 20 jun 1988 361 O Governo e o segundo turno Folha de S Paulo 24 jun 1988 192 do futuro parlamento atrav s da supress o das disposi es constitucionais que condicionavam ou limitavam o poder presidencial Na verdade h muito o
177. a conferir Poesia e verdade Folha de S Paulo 12 ago 1984 sobre A implos o da mentira ou O epis dio do Riocentro de Affonso Romano de Sant Anna artigo que cont m a seguinte aprecia o sobre a respectiva express o art stica N o existe verdadeira poesia que n o seja pol tica Por apanhar a condi o humana em sua maior complexidade e profundidade cabe poesia exprimir o hist rico e o permanente o espec fico e o geral na forma mais sint tica e universal A poesia sempre pode ir mais longe que outras cria es simb licas porque elabora todas as dores vence o medo sublima o desespero recorta as esperan as e a nega o ut pica da realidade FERNANDES 1986a p 247 118 primitivos dos poderosos com os desprotegidos dos cultos com os incultos etc FERNANDES 1971b p 175 A tarefa de preparar o homem para agir nos marcos de semelhante moralidade racional no entanto acredita Florestan s ser finalizada quando a escola for capaz de despertar em todos os indiv duos sem grifo no original os sentimentos de equidade as atitudes de toler ncia simp tica e os ideais de autonomia na solidariedade requeridos pelo pensamento racional cient fico FERNANDES 1971b p 176 1 Bem diferente portanto da presente organiza o do trabalho cient fico estreitada que est pela predomin ncia dos interesses econ micos e comerciais sobre as conveni ncias cient ficas as
178. a id ia de um pacto social reciprocamente consentido FERNANDES 1986a p 42 Frente a tal situa o o publicista faz mais um alerta O acordo de c pulas entre os v rios ramos das elites n o interessa Na o a n o ser na o burguesa que para se fortalecer e reinar n o trepida diante de nada Destruir a ditadura hoje de uma perspectiva prolet ria quer dizer acabar com as condi es que tornam as ditaduras necess rias e a democracia uma fic o ou um esc rnio N o adianta transferir para a pr xima Assembl ia Nacional Constituinte o come o de tudo Se a Nova Rep blica conseguir impor o renascente projeto burgu s de pacto social a futura Constitui o estar a servi o do Brasil ideal como a de 1946 n o da Na o como totalidade concreta FERNANDES 19864 p 138 Por m o fato do regime derrotado por enquanto ser o principal vitorioso O momento de ilus o coletiva se apresentava como uma nova oportunidade para as classes trabalhadoras que envoltas com seus problemas reais e cotidianos formando uma maioria inquieta e em desespero econ mico se apresentavam como um barril de p lvora preste a explodir Estavam dadas portanto as premissas morais as press es psicol gicas e as bases materiais para uma profunda mudan a pol tica que demandava entretanto um esfor o organizativo para dar sentido quela for a espont nea Todavia cedendo compuls o do mudancismo
179. a quest o educacional N o foi sem alegria que um ano depois j como discente tive a not cia de que os alunos da disciplina Teoria e Educa o II ent o ministrada pelos professores Osmar F vero Jos Silv rio Ba a Horta e Giovanni Semeraro receberiam a visita de Miriam Limoeiro para mais uma exposi o Depois de ter passado o primeiro per odo de doutoramento dedicando me s leituras necess rias aprova o nas disciplinas obrigat rias inclusive alguns textos de Florestan estava para iniciar a fase de maior dedica o pesquisa e achava que aquela seria 13 uma tima oportunidade de dimensionar com maior rigor o qu das li es do fundador da sociologia moderna brasileira poderia aproveitar para levar frente minhas investiga es No entanto o resultado deste encontro foi outro N o tanto pela eficiente exposi o da palestrante que tinha se aprofundado em sua pesquisa sobre o lugar da obra sociol gica de Florestan Fernandes na hist ria da sociologia no Brasil mas sobretudo pela nova formula o da mesma provoca o feita h um ano atr s A tarefa de compreender os efeitos dessa obra no campo educacional afirmou Miriam Limoeiro n o s caberia a algu m desta rea como poderia ter como uma de suas hip teses a suposi o de que esta contribui o teve a sua melhor tradu o no trabalho de Florestan como articulista de grandes jornais brasileiros fala que acendeu em mim o desej
180. a a o dos cientistas sociais cariocas e paulistas respectivamente Embora seja poss vel interpretar os textos de Miceli e de outros pesquisadores nesses termos certo que n o se trata de uma boa apropria o da metodologia dos tipos weberianos uma vez que os tipos pol tico e cient fico permanecem enrijecidos e tendem a prejudicar a an lise Independente de evocado ou n o bem apropriado ou n o como lembra L wy 2003a p 62 ainda que seja muito dif cil definir sua posi o 47 O mais relevante por m defende Lippi 1999 p 166 reconhecer que mesmo os intelectuais que tentaram escapar da agenda sobre a identidade nacional substituindo a pelo esfor o te rico e metodol gico de institucionalizar as ci ncias sociais retornaram ao grande tema j que os processos sociais e pol ticos interferem na forma pela qual a institucionaliza o se processa Sem querer arregimentar um argumento supostamente anti florestaniano em prol de minha leitura sobre a obra Florestan para os fins desse trabalho o importante ressalvar que sem minimizar o componente classista na determina o do perfil dos intelectuais MICELI 1999 p 115 a quest o da subjetividade n o deve ser desprezada na an lise de uma trajet ria intelectual como suscitou o pr prio Florestan ao se deparar j na condi o tardia de professor da pol tica com o caso do jornalista que o levou para a milit n
181. a a sangue frio e especula com a transi o neocolonial ou com as situa es de depend ncia como uma fonte imagin ria de vantagens relativas de lucros e de poder Falta burguesia nativa o impulso conquistador o que a impediu de liquidar o colonialismo at suas ra zes e a induziu a se aproveitar dele o que a afasta de um nacionalismo militante radical e o que a leva a encarar a democracia como algo formal e ritual n o como uma revolu o emancipadora de car ter geral FERNANDES 1991a p 33 E depois durante as elei es presidenciais de 1994 Florestan fazia o seguinte progn stico Onde Collor falhou Fernando Henrique Cardoso encontra amplas possibilidades de xito renovando e fortalecendo o monop lio do poder das elites 299419 tradicionais J com a vit ria do ex aluno garantida o soci logo afirma que o futuro presidente daria impulso a novo ciclo de desenvolvimento perif rico perpetuando a falta de mentalidade capitalista aut noma e de responsabilidade c vica das classes dominantes Estar amos vivendo para usarmos palavras de Florestan escritas ainda no in cio da d cada de 80 uma Idade M dia moderna num cativeiro dourado abarcado pela paralisa o do ser humano como entidade racional e moral e da sociedade como elemento impulsionador da mudan a social progressiva ou revolucion ria FERNANDES 1995a p 4 FERNANDES Florestan O limite da inge
182. a forma o sociol gica atrav s de um esp rito cr tico e militante que faz seu pensamento se transformar 120 no ritmo da transforma o da realidade que Florestan vai dar continuidade sua teoriza o com saltos de qualidade que o aproximam do objeto a ser conhecido No caso em quest o um deslocamento crucial est no vislumbrar da diferencia o interna expans o capitalista encontrando de um lado os seus centros definidos pela autonomia que tem em rela o dire o ao volume e aos tempos do capital em movimento de outro as regi es que se definem pelo oposto que passam a ser designadas como dependentes ou heteron micas essa ltima condi o de integra o que se constitui em seu conceito de capitalismo dependente uma das formas que o desenvolvimento capitalista assume no desenrolar da sua fase monopolista Nesse sentido entendo que o conceito de capitalismo dependente ao mesmo tempo estrutural e hist rico define se como parte de um determinado sistema de produ o capitalismo como parte desse sistema num determinado momento de seu desenvolvimento na hist ria capitalismo monopolista e como parte que uma de suas especificidades nessa fase parte heter noma ou dependente do capitalismo monopolista CARDOSO M 2005 p 15 A partir da n o cabe mais tomar como unidade de an lise a rela o entre um determinado Estado na o e o respectivo modo de produ o
183. a guerrilha ao socialismo a revolu o cubana 1979c Brasil em compasso de espera 19804 Movimento socialista e partidos pol ticos 1980b Poder e contrapoder na Am rica Latina 1981 4 ditadura em quest o 1982 O que revolu o 1984b e a antologia Marx Engels Hist ria 1989a cuja primeira edi o de 1983 197 Os temas internacionais estar o presentes tamb m na a o do publicista dos anos 80 como pode ser exemplificado pelos seguintes artigos publicados em Fernandes 1994 Cuba poesia e revolu o Folha de S Paulo 24 set 1984 Brasil e Estados Unidos novas perspectivas Folha de S Paulo 01 dez 1984 Em defesa da Nicar gua Folha de S Paulo 09 abr 1985 Quem defende Pinochet Folha de S Paulo 07 ago 1986 El Salvador impasse na dualidade de poder Folha de S Paulo 26 fev 1990 Sobre Cuba ver ainda A vit ria da revolu o cubana Folha de S Paulo 1 jan 1984 publicado em Fernandes 1998 128 os cursos realizados na Pontif cia Universidade Cat lica de S o Paulo PUC SP Mas se os t tulos e conte dos de todos esses trabalhos falam por si n o ser de menor import ncia a sua participa o nos debates sobre os rumos da democracia brasileira como se pode constatar pela leitura dos artigos publicados durante 1984 e 1986 que foram reunidos em Que tipo de rep blica FERNANDES 1986a colet nea que segundo Antonio Candido uma verdad
184. a nova gera o E um teste de f lego a que se submetiam os aspirantes mais ambiciosos n o podia deixar de ser o desempenho di rio ou regular como respons vel por uma coluna ou rodap de cr tica liter ria ou de arte Fora dos marcos da grande imprensa n o havia espa os alternativos para firmar presen a pelo menos n o por enquanto MICELI 1987 As alternativas vir o com a cria o e a consolida o das revistas pol ticas culturais e acad micas que garantiriam uma maior autonomia produ o intelectual possibilitando uma maior aten o e dedica o s caracter sticas espec ficas do trabalho cient fico Em S o Paulo por exemplo aparecem Clima 1941 Anhembi 1950 e Brasiliense 1955 que embora n o fossem financiadas diretamente pelas institui es universit rias atestam o vigor intelectual de muitos de seus membros que se destacavam assim como as revistas pela sintonia com diversos g neros em ascend ncia tais como as artes visuais o cinema e inclusive as ci ncias sociais Quanto s estritamente acad micas destacam se Sociologia 1939 e a Revista de Antropologia 1954 Florestan atento aos mecanismos de funcionamento do mercado acad mico vai aproveitar muitas oportunidades de inser o tal como a j descrita proporcionada por Bastide tanto em termos de busca de reconhecimento quanto por preocupa es de ordem 4 Clima considerada um marco na cr tica liter ria brasile
185. a produ o de projetos comprometidos com o dever ser e que garantiriam o pertencimento modernidade LIPPI 1999 p 167 Florestan de acordo com Garcia 2002 p 41 tamb m foi afetado pelo que Alfredo Bosi definiu em Hist rica concisa da literatura brasileira de paix o inteligente pelo homem brasileiro uma tradi o cultural nacionalista e militante que inaugurada com Euclides da Cunha em Os sert es e se radicaliza no Jeca Tatu de Monteiro Lobato e nas obras de Lima Barreto e Amadeu Amaral J para Candido 2001 ele d continuidade ao que denomina de tend ncia renovadora da intelectualidade brasileira tend ncia essa que na hip tese do liter rio havia come ado com o sert o jornal stico de Euclides da Cunha em contraposi o aos estudos elitistas de Oliveira Vianna e Gilberto Freyre Uma outra base dessa sociologia florestaniana como j visto est na proposta de integra o entre pr tica e teoria a partir do exemplo confesso de Marx que ganhar diferentes enfoques ao longo de sua trajet ria mas que nunca estar ausente de sua vis o de mundo mesmo enquanto for a subterr nea CANDIDO 2001 p 60 Tal integra o no momento de consolida o do militante da ci ncia far prevalecer nele a cren a de que as ci ncias sociais se desenvolviam sob o signo da a o como um promissor instrumento de interven o e controle da vida social pelos homens assim como havia ocorrido semp
186. a situa o Ela consiste em lutar contra o comportamento fascista do setor militar que empolgou o Governo Acho que o povo brasileiro precisa levantar se contra esse tipo de opress o como j fez contra a ditadura do Estado Novo Se os militares n o aceitarem a normaliza o democr tica n s teremos de imp la mesmo que seja for a Esse o sentido da atual situa o que exige de cada cidad o a coragem de opor se viol ncia se for preciso apelando para a viol ncia FERNANDES apud SEREZA 2005 p 150 precisam ser lembrados a cada minuto para que n o se repitam o esquecimento por sua vez uma manifesta o de autodestrui o e masoquismo FERNANDES 1990 p 197 181 O povo nas ruas Folha de Londrina 17 abr 1984 182 Vale ressaltar que ao falar de revolu o democr tica Florestan advoga numa confer ncia publicada em 1978 chamada Revolu o e contra revolu o a necessidade de uma opera o sem ntica de ess ncia puramente pol tica preciso tirar o conceito de democracia do limbo em que ela foi colocada pelas for as contra revolucion rias o que para tal essencial liberar a mente dos entraves de um totalitarismo de classe que pro be qualquer proposi o igualit ria do que deve ser a revolu o democr tica quando n o se luta pelo capitalismo mas contra ele pelo imperialismo mas contra ele por aqui que se coloca a chamada quest o da democracia F
187. a social organizada suscet veis de preservar ou de renovar a esp cie de melhoria que acarretarem FERNANDES 1971b p 219 pS 189 Em certa ocasi o Florestan confessou que o apelo ao Estado educador e o discurso reformista fora um artif cio para confrontar o Estado burgu s com 87 Em compara o com sua atua o na USP Florestan afirma que atuou nesta ltima acima de tudo como um professor ecl tico no sentido de dar em sala de aula igual import ncia s diferentes correntes da sociologia estrat gia que simplificava o meu ajustamento intermedi rio e me dava certa for a para remar contra a corrente FERNANDES 1978a p 157 188 Conferir Freitag 1996 p 152 189 O Estado educador seria um agente de mudan as estruturais e institucionais que asseguraria educa o gratuita em todos os n veis de ensino mais autonomia liberdade e financiamento para a transforma o das universidades em centros de cultura inova o cient fica e moderniza o tecnol gica FREITAG 1987 123 suas pr prias contradi es for ando o a cumprir sua promessa de educa o p blica e gratuita para todos os brasileiros Em outra ocasi o admitiu que numa conjuntura autorit ria radical o apelo ordem social competitiva podia significar um avan o e n o um retrocesso j que permitia a abertura de um espa o para iniciar a verdadeira luta democr tica FREITAG 1987 p 168 Mesmo considerando p
188. a suas baterias convertendo aquela escola em uma das arenas em que lutava por minha auto afirma o e auto realiza o havia outras como a Faculdade de Filosofia os movimentos pol ticos as revistas e os jornais etc FERNANDES 1977 p 169 Em concomit ncia fora do ambiente acad mico na luta pela sua auto afirma o e auto realiza o o jovem cientista social prossegue com suas publica es na arena da grande imprensa tal como fez nos seus primeiros escritos em O Estado de S Paulo criticando o racismo cruel da cultura ib rico brasileira em um estudo sobre o negro na tradi o oral Ao longo de 1944 e 1945 seus artigos definiram uma linha de combate na cena intelectual paulista pela orienta o met dica da investiga o e a rejei o cr tica da perspectiva dos estudos de folclore e sua pretens o categoria de disciplina cient fica A disserta o foi publicada pelo Instituto Progresso Editorial em S o Paulo no ano de 1949 Trabalhamos aqui com a segunda edi o FERNANDES 1963 Florestan reconhece por outro lado tr s aspectos positivos de sua experi ncia pedag gica na ELSP o conv vio com Herbert Baldus os cursos dos professores M rio Wagner Vieira da Cunha e Oct vio da Costa Eduardo rec m chegados dos EUA onde fizeram seus doutoramentos e no semin rio de Donald Pierson o estudo dos autores da Escola de Chicago da qual ele Pierson se considerava um represe
189. a suposta derrocada do ide rio neoliberal e o fortalecimento de um novo ideal societ rio baseado em atores sociais que em tese conjugam virtudes e benef cios dos setores p blico e privado sem carregar seus v cios Originalmente denominados de organiza es n o governamentais as ONGs tais atores v m nos ltimos anos assumindo a execu o de in meras pol ticas p blicas Sob intensa profissionaliza o as atualmente chamadas organiza es sociais v m abarcando grande parte de recursos governamentais e privados com a tarefa de promover a es sociais antes de responsabilidade estatal OLIVEIRA 2003b Como defende Monta o 2002 as apologias sobre o papel do terceiro setor no trato das quest es sociais sintoma da hegemonia do ide rio neoliberal e n o o seu contr rio S o portanto discursos que justificam estimulam e escamoteiam a retirada das pol ticas estatais de universaliza o compuls ria de acesso e financiamento dos direitos sociais principalmente educa o sa de e seguran a em prol da prolifera o de agentes privados que executam pol ticas sociais mitigadas Abre se assim um vasto campo para um novo processo de acumula o de capital com a mercantiliza o dos direitos sociais vistos agora n o mais como obriga o do Estado para com seus cidad os mas como dever individual de execu o ou recebimento dependendo de qual lugar se ocupa na estrutura de classes Ainda na metade
190. ada n o seria suficiente para a resolu o dos problemas educacionais Como ocorre com outras formas de coopera o entre educadores e cientistas sociais para o tratamento do dilema educacional brasileiro tamb m aqui o resultado final deve ser visto como produto da conjuga o de iniciativas e de realiza es Contudo conv m n o exagerar os efeitos inovadores socialmente construtivos dessa colabora o Ela insuficiente por si mesma para libertar a educa o sistem tica das teias invis veis que restringem ou deterioram as fun es das escolas brasileiras como fatores de progresso social Com isso queremos dizer que imp e associar as reformas e os planos educacionais a outras modalidades de interven o na realidade A compartimentaliza o imperante nos servi os p blicos brasileiros revela se notoriamente no funcionamento das institui es educacionais e na mentalidade com que os educadores procuram enfrentar os problemas educacionais brasileiros Ela precisa ser combatida para ceder lugar a um estilo de a o que nos leve a considerar a solu o dos problemas educacionais luz dos v rios fatores que concorrem em sua produ o e por isso precisam ser manipulados simultaneamente FERNANDES 1971b p 219 Mais do que a busca de conjuga o dos servi os p blicos Florestan alerta que a efic cia das medidas educacionais ser sempre ilus ria enquanto elas n o encontrarem condi es de vid
191. ade humana assim como difundir a compreens o de que a luta pol tica exige organiza o dire o e solidariedade entre for as sociais convergentes embora em confronto FERNANDES 1989b p 286 Dado esse passo pouco importaria se a nossa Constitui o ficou datada para 1988 por ter renovado privil gios dos donos do poder econ mico social e pol tico Afinal ilus o conservadora de que a Hist ria determinada por via constitucional dever se ia contrapor como fez Florestan a afirma o de que n o s o as constitui es mas os seres humanos como classes povos e na es que fazem a sua Hist ria FERNANDES 1989b p 286 A rejei o pura e simples do texto constitucional em nada contribuiria para a luta dos trabalhadores manifestando nada mais do que um extremismo infantil e dogm tico t o 355 A Constitui o e seu espelho Jornal do Brasil 02 jun 1988 356 A Constitui o e seu espelho Jornal do Brasil 02 jun 1988 190 criticado por Marx especialmente nas reflex es sobre as jornadas revolucion rias de 1848 e por L nin que sempre foi um advers rio realista mas flex vel das ilus es constitucionais FERNANDES 1980a p 101 Para Florestan a tend ncia de certas correntes do PT em pressionar os correligion rios em n o assinar a Constitui o mais do que uma decis o sect ria e unilateral partia de um ponto de vista m ope que via
192. ado e orientado O salto no escuro era a regra o jogo no entanto era limpo embora o desafio fosse tremendo FERNANDES 1977 p 156 No primeiro trabalho universit rio sobre a crise causal na explica o sociol gica Florestan teve a dimens o das barreiras que ia enfrentar para suprir as defici ncias de sua forma o escolar elementar determinada pela origem social t o adversa Sem familiariza o com a literatura acad mica parte para a biblioteca e faz uma compila o sobre o assunto Tirei nota quatro e meio com um coment rio piedoso do professor Bastide o que ele esperava era uma disserta o n o uma reportagem FERNANDES 1977 p 156 Seu 28 A banca examinadora era composta por dois professores franceses Roger Bastide e Paul Bastide Naquela poca a sele o inclu a sorteio de pontos e o candidato teria de comentar os assuntos e responder s perguntas da banca examinadora Foi sorteado um texto do livro De la division du travail social tude sur l organisation des soci tes sup rieures de mile Durkheim O ponto e as perguntas eram em franc s e Florestan n o falava mal lia nesta l ngua Pediu ent o aos professores para fazer a prova em portugu s Diante daquela situa o ins lita se reuniram nos fundos da sala e decidiram aceitar Como Florestan conhecia bem o texto sorteado comentou as id ias de Durkheim com tamanha desenvoltura que deixou os professores impressionados
193. afirma o de Sader 2005 p 164 tamb m vai na dire o de apontar a teoria da depend ncia como neo desenvolvimentista Fernando Henrique Cardoso e Enzo Falleto formulam a depend ncia numa vers o neo cepalina em que nossas sociedades est o inseridas num marco internacional que as condiciona sem as densas rela es que a teoria do imperialismo imp e N o por acaso talvez na denomina o de Bresser 1982 p 287 essa corrente vai se chamar a interpreta o da nova depend ncia 81 for as sociais em confronto como ele indica ao defender a hip tese de que ainda hoje o Brasil um pa s colonial Nele o colonialismo n o foi destru do at o fim e at o fundo Essa afirma o vale tanto no que concerne a uma tradi o colonial que vinca a mentalidade e certos aspectos do modo de ser das elites das classes dominantes e da capitula o passiva entre os humildes e destitu dos quanto no que respeita submiss o s na es capitalistas centrais na esfera do interesse do estilo de vida das correntes liter rias art sticas ou filos ficas em moda etc FERNANDES 1991a p 28 Dessa forma argumenta Miriam Limoeiro Cardoso 1987 p 247 Fiquemos com a sua orienta o que disp e inclusive de uma teoriza o mais rica mais fecunda e mais coerente sob a teoria do imperialismo e relativizemos a forma conceitual dependentista sob a qual essa orienta o s vezes a
194. al e da iniciativa privada o que estava longe de ter acontecido Ao contr rio todos os partidos da ordem participantes do governo ou fora dele s o partidos de identidade burguesa e mesmo os seus radicais n o v o al m do neoliberalismo ou de t midas reformas capitalistas do capitalismo A esquerda t o pequena e o centro t o moderado que a ANC precisa de constantes empux es populares para arriscar se a um p lido nacionalismo e a um fraco mudancismo dito progressista A rea o v a uma forte tend ncia estatizante e o fantasma do comunismo Todavia h 366 A Constitui o a perspectiva dos trabalhadores Folha de S Paulo 24 jul 1988 367 Constitui o o despique do Governo Jornal do Brasil 25 jul 1988 368 O discurso pol tico Jornal do Brasil 03 ago 1988 195 muita ret rica nisso tudo O que se quer privatizar o Estado em suas estruturas e fun es O que alia o atual Estado de transi o permanente ao desejo burgu s de conquistar uma constitui o moldada pela mesma transi o permanente FERNANDES 1989b p 326 Segundo Florestan a proced ncia da suposta ingovernabilidade estaria na ess ncia esp ria dessa transi o permanente que pressup e requisitos hist ricos irreais para al m da ANC e da Constitui o Ao sabor dos desmandos que colocam o Estado a servi o dos interesses democr ticos dos donos da Na o e dos se
195. an coloca em voga a necessidade de uma revolu o social como condi o para a supera o das iniguidades sociais oriundas de um suposto atraso Para Gorender 1987 um dos efeitos perversos dessa defini o de capitalismo dependente esbo ada por Florestan estaria na constitui o da chamada teoria da depend ncia com a qual se defender a hip tese de que o capitalismo pode se desenvolver num pa s perif rico e inserido no sistema da economia mundial mas s sob o impulso din mico dos pa ses centrais e a eles subordinado Mas segundo Miriam Limoeiro Cardoso 1997 p 13 Florestan Fernandes n o pode ser classificado como um dependentista Diante do conceito florestaniano de capitalismo dependente pelo seu alcance te rico e pol tico a suposta teoria ou escola da depend ncia aparece apenas como um recuo oferecendo se como alternativa a dois modelos de an lise de um lado s teorias do subdesenvolvimento de outro s teorias do imperialismo Em termos metodol gicos o dependentismo confere supremacia anal tica ao Estado na o identificando depend ncia com domina o externa Desta forma coloca o problema como uma amea a que estaria do lado de fora e que poderia ser enfrentado com uma nova esp cie de uni o nacional de car ter 13 Miriam Limoeiro Cardoso 1997 p 13 alerta que mesmo sob o risco de assumir a apar ncia de uma generaliza o excessiva por n o
196. anto ressalva que o pragmatismo n o se atentou para uma realidade chocante O desenvolvimento da democracia foi condicionado e tolhido pelas possibilidades que a organiza o em classes sociais oferece expans o e integra o de uma ordem social igualit ria Por isso o que assistimos de fato foi a forma o de um sistema escolar que se funda formalmente em valores democr ticos mas funciona na pr tica segundo interesses e acomoda es variavelmente pr ou antidemocr ticos Idealmente tal sistema escolar deveria garantir igualdade de oportunidades para todos os indiv duos em condi o de receber determinado tipo de instru o Na verdade por m ele atende apenas aos segmentos da popula o escolar que conseguem anular ou n o s o afetados pelas barreiras invis veis educa o democr tica FERNANDES 1966 p 541 104 racial econ mica social pol tica e ideol gica das classes altas FERNANDES 1995b p 12 A resist ncia reforma educacional portanto o emblema do atraso como t cnica de domina o social e defesa cega da estabilidade pol tica que faz o Estado aceitar ser passivamente o coveiro de suas pr prias escolas atrav s do assalto legalizado dos recursos p blicos que deveriam ser destinados a manuten o do ritmo de crescimento e de aperfei oamento do sistema nacional de ensino FERRNANDES 1966 p 400 401 dessa forma que Florestan justifica sua ades
197. apidez pela Comiss o de Educa o e Cultura No entanto as for as que se opunham ao feitio laicista liberal do projeto primitivo respons veis pela estagna o do processo conseguiram imprimir novos rumos discuss o e vota o da mat ria FERNANDES 1966 p 425 MI A sigla INEP tem atualmente o seguinte significado Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais 2 Designados como agitadores comunistas tamb m ser o os universit rios que no in cio da d cada de 60 lutavam por sua representa o nos rg os de administra o e dire o das universidades brasileiras como lembra Florestan no artigo A representa o dos alunos que ressalta se foi recusado pelos jornais paulistas e publicado somente pela revista Anhembi em setembro de 1962 FERNANDES 1966 Sobre a g nese da posi o da Igreja Cat lica no debate sobre a escola p blica conferir o artigo A orienta o do clero cat lico O Estado de S Paulo 14 fev 1962 na qual Florestan identifica os pressupostos da tentativa de se converter a Rep blica em escrava e instrumento da Igreja FERNANDES 1966 p 420 144 Segundo Nunes 2001 p 9 apesar de simpatia por algumas id ias comunistas An sio nunca abandonou a concep o de educa o como uma pr tica atravessada pela ci ncia e ao mesmo tempo pela arte que relat viza o peso da ci ncia na educa o pelo seu amor a ambas que mesmo tendo escrito
198. ar as possibilidades de institucionaliza o da luta de classes a expulsando para o seio da sociedade civil onde restrita faz crepitar efeitos de maneira crescentemente mais densa e violenta Liquidam assim o pluralismo democr tico do qual se dizem porta vozes a pr pria livre iniciativa inexistente onde o Estado patrocina e financia a acumula o capitalista com riqueza coletiva e por fim o pr prio Estado de direito uma fic o cruel que n o passa de um conceito vazio FERNANDES 1989b 210 O efeito perverso desse processo o recrudescimento da viol ncia destrutiva que faz do Brasil o laborat rio natural do capitalismo selvagem no qual paga se o pre o de uma neurose coletiva que se expressa no alto consumo de lcool e drogas a conviv ncia com uma descomunal dualidade tica o j citado espraiar da viol ncia cotidiana e sobretudo a objetifica o do ser humano conduzida por uma sociedade civil que engendrada pelo capital e pela domina o burguesa distribuiu desigualmente o progresso e o aplica com crit rios diferentes dentro de seus muros e na imensa periferia que se erige no seu imp rio FERNANDES 1989b p 212 Sob tais reflex es Florestan perguntava aos seus leitores 332 Choque parlamentar Jornal do Brasil 26 jan 1988 333 Ideologia e utopia do Centr o Folha de S Paulo 27 jan 1988 334 Odiai vos uns aos outros Folha de S Paulo 09 fev
199. ar os homens para transi o a uma nova ordem social FERNANDES 1966 p 129 A sociedade pode funcionar como o cemit rio das intelig ncias mais l cidas e ousadas pouco importando as categorias abstratas de reforma e revolu o sociais Neutralizar o reformista t o consequente com a resist ncia mudan a quanto privar de espa o pol tico os revolucion rios Em limites 5 Numa exposi o feita na C mara Municipal de S o Paulo em 26 de setembro de 1961 intitulada A educa o popular no Brasil publicada posteriormente na Revista Brasiliense em fevereiro de 1962 Florestan faz os seguintes coment rios Ser in til falar em f rmulas m gicas como desenvolvimento econ mico progresso social ou democracia enquanto n o se substituir o sistema educacional que possu mos montado para elites por um sistema educacional aberto a todos capaz de preparar o homem para uma sociedade na qual o trabalho uma fonte de dignifica o da pessoa e todos aspiram liberdade igualdade de oportunidades e seguran a social Os anseios de desenvolvimento econ mico e de progresso social permanecem in cuos em rela o invers o de capital social sem grifo no original no campo da educa o e principalmente utiliza o consciente e organizada da instru o como fator de mudan a social FERNANDES 1966 p 349 352 J na confer ncia Obst culos extra econ micos industrializa
200. as as suas potencialidades sem exce o COHN 2005 p 250 Inconcluso afirmo tanto no sentido de que ela a obra n o foi ainda suficientemente revelada em toda a sua riqueza e significado PINTO 1997 p 42 quanto na necessidade de repeti la da mesma maneira que Zizek 2005 p 341 se refere obra de L nin Repetir L nin repetir n o o que L nin fez mas o que ele n o conseguiu fazer suas oportunidades perdidas desta forma que compreendo a heran a da pedagogia socialista de Florestan Fernandes forjada em suas m ltiplas e imbricadas trajet rias de militante da ci ncia e professor na pol tica n o um sistema ou mesmo uma teoria fechada posta como receita para aplica o imediata mas como inspira o met dica de que a transforma o societ ria demanda um grande esfor o educativo tarefa que n o pode prescindir dos conhecimentos produzidos pela humanidade e da vincula o com os movimentos pol ticos e sociais que se fundam na perspectiva igualit ria de instaura o de um verdadeiro reino da liberdade na qual a pr xis existencial vai al m da produ o e da reprodu o material 455 A educa o do futuro Folha de S Paulo 11 set 1989 456 O socialismo est morto Folha de S Paulo 19 fev 1990 REFER NCIAS Bibliografia ABRAMO Cl udio Imp rio dos sentidos crit rios e resultados na Folha de S Paulo In Novos Estudos CEBRAP S o Paulo CEBRAP
201. as em outros setores da sociedade O soci logo j nessa poca afirma ter ci ncia que o Estado em qualquer lugar exprime mais os interesses econ micos e os ideais pol ticos das classes dominantes que os do povo como um todo FERNANDES 1979a p 104 Contudo num racioc nio que lembra Tocqueville real a que em pa ses da Europa ocidental e nos Estados Unidos os interesses essenciais da coletividade alcan am maior express o pela exist ncia e densidade de uma comunidade pol tica que conforma a organiza o do Estado sob um esp rito mais democr tico o que n o acontece em pa ses como o Brasil em que a maior parte da popula o se mant m afastada do exerc cio cont nuo exigente e motivado dos direitos civis Em casos como esse em que a educa o para a democracia come a nas pr ticas pol ticas mas n o se exaure nelas a tarefa do educador passa a ser a prepara o de personalidades democr ticas para uma nova ordem social com capacidade de atender a determinados fins pr ticos tais como o desenvolvimento da consci ncia de afilia o nacional e dos direitos e deveres do cidad o o que pressup e a capacidade de julgamento aut nomo 16 Refiro me a confer ncia Existe uma crise da democracia no Brasil pronunciada no Instituto Brasileiro de Economia Sociologia e Pol tica do Minist rio da Educa o em 28 de junho de 1954 publicada inicialmente na revista Anhembi e reproduzida em Fernand
202. as pelos sindicatos e confedera es sem erguer o espa o pol tico necess rio observ ncia dos novos direitos individuais e coletivos sem resguardar os poucos direitos sociais conquistados sem p r um cabresto no arb trio e maus h bitos do tr s poderes etc 2 FERNANDES 1989b p 371 A defesa da Constitui o implicava na transforma o concomitante da sociedade civil Da o grito de Florestan por uma conex o mais org nica entre as for as parlamentares e extraparlamentares progressistas o abrir se do meio institucional para as iniciativas do poder popular aproveitando se do espa o hist rico psicol gico e pol tico abertos pelo texto constitucional para confrontos mais agudos nas rela es entre as classes as institui es as pessoas reciclando os interesses econ micos culturais e sociais em conflito Inicia se uma nova era e essa acaba sendo a forma tardia que a ruptura comparece no funcionamento e nos dinamismos da sociedade civil FERNANDES 1989b p 374 Nesse contexto um ponto era a fundamental a renova o dos partidos que deveriam optar entre continuarem encobertos pelos interesses de classe ou tomar a dianteira no que se refere aos interesses das classes sociais em confronto Teremos de lutar firmemente para formar partidos de outro tipo e us los com decis o para extinguir o mandonismo do tope na sociedade civil e no Estado O desafio enorme N o se trata de enterrar o poder podre
203. ate e n o deixarem s nas m os do governo a solu o de nossos problemas vitais Elas far o a revolu o democr tica n o o governo FERNANDES 1986a p 133 134 Deixado a seu gosto o futuro governo alimentaria mal o d bil mudancismo que representava e como a ditadura que n o construiu sozinha a mis ria do povo a ru na da 25 herdaria e modernizaria tal estado de coisas com os Na o e a deteriora o do Estado padr es pol ticos de tipo neocolonial impostos pela colabora o estrangeira o que continuar a fazer do Brasil um reles s mbolo do novo colonialismo o espelho do que se poderia esperar do xito do capitalismo monopolista na periferia Fundamental para isso era o novo pacto social que assegurava s for as reacion rias o melhor dos mundos satisfazendo a fra o burguesa nacional que apesar de espoliada continua a lucrar muito e oferecendo ao povo a corda na qual ser enforcado desse jogo que se precisa sair Muitos intelectuais e pol ticos da esquerda antigas v timas da ditadura lutadores de proa nas d cadas de sessenta ou do in cio dos setenta e grandes esperan as do radicalismo democr tico e do socialismo aderiram a esse jogo sem rebu os O mesmo acontecendo com organiza es e entidades pol ticas que deveriam ser prolet rias e se mostram aliancistas Conformam se aos pap is de campe es da n
204. ativa e contra o impulso inconformista de uma burguesia nacional emergente Comprova se assim que nas rela es das na es hoje vale a norma a ideologia da superpot ncia e das na es capitalistas hegem nicas a ideologia das burguesias que se presumem liberais e nacionais Ao contr rio do que se fez nos Estados Unidos e principalmente na Alemanha e no Jap o o Estado n o corrigiu o particularismo cego entreguista e ego sta dos estratos dirigentes das classes dominantes Ele palmilhou o curso hist rico que estas preferiram e ignorou que deveria ser o fulcro condutor da auto emancipa o Um pa s perif rico satelizado n o possui vontade coletiva pr pria Tamb m n o precisa de uma constitui o moderna e democr tica As regras v m de fora e s o estabelecidas pelo sistema capitalista mundial de poder FERNANDES 1989b p 365 nesse prop sito que se assentava o projeto de desconstitucionaliza o do ent o governo aproveitando a moda da desconstru o conceito que fazia a cabe a dos te ricos do p s modernismo na poca Antes mesmo da promulga o da Constitui o medidas de desmonte estarreciam a Na o como as concess es de canais de televis o e de esta es de r dio seguindo princ pios antidemocr ticos e n o de reconstru o da sociedade civil Numa discuss o acad mica parida por brazilianists bem humorados o Brasil penetrava na era da industriali
205. ativa para a periferia e para as Na es pobres seria o suic dio coletivo algo semelhante com o que Rivers j interpretou como o fator psicol gico do despovoamento da Melan sia Ora a resposta outra construir uma nova civiliza o que o capitalismo com todo o seu poderio e grandeza se revelou incapaz de atingir O que quer dizer Hist ria viva Hist ria em processo produzida pelos homens eternos portadores de hist ria FERNANDES 1986a p 12 13 E naquele momento uma das manifesta es dessa hist ria era o movimento das Diretas j cujo significado como todo processo de import ncia coletiva existente numa sociedade de classes vai ter as mais variadas dimens es Com a ditadura em seu leito de morte era preciso estar atento tanto para a descoberta tardia de um ardor democr tico epid rmico das elites que indicava uma articula o burguesa para novas oportunidades de assalto ao poder do Estado e ao comando da Na o FERNANDES 1986a p 201 quanto para as potencialidades da mobiliza o oper ria camponesa e dos destitu dos que junto com o grito de fim da ditadura poderiam alcan ar um novo ponto de partida para a conquista de condi es m nimas de organiza o com um conjunto de for as sociais mais ativas e influentes No meio dessa polariza o encontravam se os estratos da classe m dia e da pequena burguesia que sob uma impuls o pol tica democr tica densa e
206. aves que abrem todas as portas aos interesses dos setores mais conservadores e reacion rios da alta burguesia de dentro e fora do Brasil Era o que estava acontecendo novamente naquele momento O pilar de qualquer desenvolvimentismo em sociedades de classes mais ou menos consolidadas o pacto social entendido como um acordo impl cito ou expl cito formal ou informal etc do grande capital com o trabalho Os p los antag nicos se curvam por algum tempo s exig ncias imperiosas da situa o e transferem sine die qualquer luta pol tica ambos ganhando em troca diferentes vantagens desiguais O trabalhador descobre o para so enquanto o grande capital p e em pr tica de uma s vez todos os mandamentos da santa religi o Criam se assim as premissas de uma acelera o do desenvolvimento econ mico que beneficiaria o trabalhador sem prejudicar os patr es assegurando a todos o melhor dos mundos poss veis em franco desmentido s leis da economia capitalista bem como ao passado e ao presente da Europa e dos Estados Unidos Viva a paz social e a unidade de patr es e trabalhadores FERNANDES 1986a p 135 136 Se essa farsa teve seu apogeu durante o Estado Novo e foi reeditada sob vestes mais sofisticadas durante os governos Juscelino Kubitschek e J nio Quadros reconfigurava se naquele per odo de forma t o acintosa que para Florestan assumia a apar ncia de um pesadelo A identifica
207. bando por corroborar o projeto de uma burguesia que pouco respeita a vida e a cultura das massas preferindo sempre a manipula o industrial da cultura da morte atrav s de nomes como Get lio Vargas Juscelino Kubitschek Teot nio Vilela e Tancredo Neves Esta cultura da morte tem a fun o de ocupar os espa os criativos da imagina o popular e de impedir que os prolet rios projetem na cena hist rica os seus pr prios her is fazendo com que as v timas da manipula o deixem de encontrar em seus movimentos e institui es um debate s rio e clarificador que reponha os mortos em seu lugar e ilumine as mentes dando aos mortos o que dos mortos e aos vivos o que dos vivos FERNANDES 1986a p 104 Sem mortos ilustres condenados a condi es de exist ncia e a um modo de ser que mortifica e assassina minuto a minuto seus dilemas coletivos aos prolet rios resta a conquista da vida e principalmente da qualidade de vida Pela rela o conflituosa com a ordem existente sob a necessidade de transform la o devir do proletariado o do tempo vivo que se relaciona com a conquista da liberdade da igualdade e da desaliena o O seu tempo o da conquista do futuro ou seja o da revolu o democr tica que se abre para a frente e para a constru o de uma nova sociedade FERNANDES 1986a p 106 22 Evid ncias negativas Folha de S Paulo 06 mai 1985 2
208. bases CEBs as comiss es de f brica as associa es de bairro as organiza es de vanguarda dos espoliados da terra dos ind genas dos negros das mulheres dos movimentos de libera o sexual das organiza es dos favelados de protestos de menores e de setores carentes FERNANDES 1989b p 20 20 A crise institucional Folha de S Paulo 13 jul 1986 21 A crise institucional Folha de S Paulo 13 jul 1986 159 nem livres j que s n o eram escravos at porque estes valiam mais no mercado dos aqueles Dessa massa vieram as popula es excedentes da transi o imperial e republicana que desaguaram na sociedade em industrializa o que produziu uma nova gama de exclu dos urbanos cabendo lhes ser o ex rcito industrial de reserva um elemento de desvaloriza o do valor monet rio do trabalho de desorganiza o das classes trabalhadoras e de manipula o repressiva das for as policiais FERNANDES 1989b p 24 A esses se somaram a popula o expulsa do campo o que resultou no incha o das cidades e nas favelas de v rios tipos e tamanhos Vistas do avi o cidades como Lima e Caracas me deram a id ia de que essas massas humanas exclu das poderiam transformar a conquista do poder em um fen meno f sico Se elas invadissem os quart is as delegacias e outros basti es da ordem elas ocupariam todo o espa o e o uso de armas se tornaria impratic vel No entanto elas s o portadoras de cul
209. bate acad mico no Brasil Em sua trajet ria o soci logo em quest o vai enfrentar com destemor as vis es contr rias estabelecendo sem meias palavras as diferen as em rela o aos interlocutores n o deixando por m de reconhecer seus valores e contribui es O mais importante a seu ver era o avan ar do conhecimento cient fico e consequentemente a b 2 4 Conferir Durkheim 1973 1970 7 Considero a cr tica uma condi o necess ria do trabalho intelectual desde que ela seja objetiva tenha sentido construtivo e se mantenha no plano do respeito da pela pessoa humana do autor criticado e dos leitores que formam sua opini o louvando se nas afirma es do cr tico FERNANDES 2003 p 3 39 eleva o do n vel de consci ncia do senso comum Sobre este ltimo aspecto numa nota explicativa primeira edi o de O folclore em quest o escrita em maio de 1975 faz uma constata o que considera melanc lica Os cientistas sociais perderam muito terreno na comunica o com o chamado grande p blico e na colabora o frequente em jornais di rios ou revistas de alta cultura A comunica o de massa destruiu os nichos que ainda davam cobertura a uma maior participa o intelectual dos cientistas sociais na discuss o de temas de interesse geral e a sociedade de consumo fez o resto absorvendo o seu tempo de lazer em atividades que s o caracter sticas dos setores m dios afluente
210. blematiza o cr tica reflex o Ela operada com outros sentidos e em outras dire es Por oposi o mem ria a hist ria denuncia e investiga alguns aspectos antes ignorados pela mem ria 2 Estudo de caso aqui entendido a partir da defini o de Goldemberg 1997 p 34 como uma an lise hol stica que considera a unidade estudada como um todo visando compreend la internamente em seus pr prios termos e externamente tentando reunir informa es detalhadas por meio de diferentes t cnicas de pesquisa com o objetivo de apreender a totalidade de uma situa o e descrever a complexidade de um caso concreto 21 deste trabalho tenha sido no come o os seus ltimos escritos a melhor compreens o da rela o educa o e democracia na obra jornal stica do respectivo autor demandou o resgate ainda que sint tico de sua a o como articulista desde o in cio de sua atividade acad mica Como afirma Miriam Limoeiro Cardoso 1996 89 se para expor a teoria de um autor n o necess rio acompanh lo passo a passo ao longo de sua vida produtiva para conhecer a constru o do seu pensamento preciso acompanhar as formas atrav s das quais ele elege e formula o que toma como seu problema entendendo como problema para os fins dessa pesquisa os motivos e as estrat gias que levaram Florestan a utilizar ou n o os meios de comunica o ao seu alcance nas diversas etapas de sua trajet ri
211. blica sob as exig ncias do grande capital do governo e do vetor militar era manter a ebuli o das classes trabalhadoras e dos espoliados em geral sob o devido controle Pretendia se o imposs vel Enquanto a crise burguesa se agrava de modo desordenado queria se sustentar em ponto morto uma rebeli o social que deixou h tempo de ser mera potencialidade hist rica Ela s n o explodiu por falta de meios institucionais organizados de luta das classes por parte dos tr s quintos de exclu dos e revoltados FERNANDES 1989b p 259 Para realizar sua pugna constitucional vale lembrar o poder econ mico investiu pesado jogando toda a sua for a no processo eleitoral e montando sua maioria parlamentar Segundo Florestan o milagre pol tico da moda foi o chamado Plano Cruzado a alavanca da vit ria do PMDB Mas uma demanda estrutural a reorganiza o da sociedade civil pelos efeitos da industrializa o maci a das inova es administrativas nas empresas agrocomerciais e agroindustriais e as consegiientes altera es na diferencia o e no funcionamento do regime de classes que alcan ava seu cl max naquele momento levou o processo numa dire o imprevista O fermento social e pol tico foi canalizado por entidades e organiza es que se engajaram nas lutas dos mais pobres acabando por se fazer representar institucionalmente nos partidos pol ticos de setores do PMDB s agremia es de id
212. borados e fixados com sua express o definitiva A concreticidade de tais conceitos que reside no processo que levou quela afirma o escapa ao leitor comum deve se por isso oferecer toda uma s rie de racioc nios e de conex es intermedi rias de um modo bastante determinado e n o apenas por indica es Segundo Vladimir Sacchetta 1996 p 53 com o tempo Florestan aperfei oou o seu estilo e com a humildade dos grandes homens o velho professor despiu se dos vezos da academia para tentar falar uma linguagem mais pr xima do povo 236 desencadeadas por meios diretos pelas classes dominantes e seus agentes eleitorais FERNANDES 1990 p 86 87 Tal o substrato dessa pedagogia revolucion ria praticada pela imprensa baseada na premissa de que a educa o nas suas dimens es formais e informais e na rela o com os aspectos pol ticos cient ficos e culturais de uma determinada sociedade potencialmente um importante instrumento de civiliza o da barb rie capitalista Sob o exposto ousa se afirmar compactuando com Jos Paulo Netto que a pedagogia socialista de Florestan o legitima como um verdadeiro tribuno do povo dentro da tradi o dos personagens que fizeram a hist ria do socialismo a come ar pelo pr prio Marx que segundo o ideal exposto por L nin deve ser capaz de Reagir contra toda manifesta o de arbitrariedade e de opress o onde quer que se reproduza e qualquer que
213. ca o que eu sabia que n o o era Poderia fazer a ressalva n o obstante de que mantive uma patente fidelidade para com os meus ideais socialistas e uma congru ncia que foi posta prova muitas vezes O que n o me desobriga de reconhecer que em nenhuma ocasi o tentei ou pude fazer um trabalho no qual eu surgisse como um marxista puro nica vez em que como professor me ajustei ao papel intelectual de soci logo marxista de maneira bastante 86 Florestan Fernandes se refere aos seguintes livros 4 integra o do negro na sociedade de classes 1965 Sociedade de classes e subdesenvolvimento 1968 4 revolu o burguesa no Brasil 1975b e Capitalismo dependente e classes sociais na Am rica Latina 1975c 122 dogm tica foi durante o per odo em que estive em Toronto FERNANDES 1978a p 156 O questionamento de Florestan sobre o seu papel acad mico n o significava como j defendido uma cis o com a perspectiva de utiliza o da ci ncia como instrumento de racionaliza o social Como afirma Coggiola ele sempre teve clareza sobre a validade da conhecida defini o de An sio Teixeira apud COGGIOLA 1995 p 15 Em rigor as ci ncias sociais s o ci ncias pol ticas s podendo ser aplicadas quando forem aceitas politicamente ou seja quando aceitas pela estrutura do poder Como ind cio ainda no final da d cada de 50 Florestan j apontava que o uso das t cnicas sociais de forma isol
214. cado Um radicalismo intelectual que se volta para o of cio e s ao acaso opera como um fermento social explosivo n o pode ser um fator hist rico de transforma o reformista ou revolucion ria FERNANDES 1977 p 242 Em rela o ao segundo aspecto Lippi 1995a lembra que se o meio universit rio no Rio de Janeiro n o foi um espa o prop cio para o debate acad mico estrito incapaz de criar uma cultura organizacional universit ria protegida da luta pol tica partid ria isto n o deve levar conclus o de inexist ncia de vida intelectual na cidade que se processava em outros espa os A autora cita inclusive o caso do Centro Latino Americano de Pesquisas em Ci ncias Sociais CLAPCS criado no Rio em 1957 considerado um dos mais s rios produtores de pesquisa sociol gica do continente que posto como contraponto ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros ISEB tido como o tipo ideal das organiza es intelectuais cariocas submetidas aos avatares dos pol ticos Contra a vis o de um ISEB reducionista entendido com uma simples f brica de ideologias conferir Pinto 2005 Segundo Rom o 2003 p 2 ainda que n o evocada a caracteriza o estabelecida por Miceli tem inspira o weberiana Por um lado vincula se ao c lebre texto Ci ncia e pol tica duas voca es por outro os tipos pol tico e cient fico s o utilizados de modo a identificar
215. calmente diverso do primeiro Florestan das d cadas de 40 e 50 mas uma vida obra marcada por uma dupla ades o investiga o sociol gica da sociedade e ao projeto de racionaliza o do mundo social que como no caso de Sacchetta ainda que em outra seara estava posto sob um horizonte intelectual e pol tico centrado na pureza da utopia FERNANDES 1992a p 79 O fato de nos livros mais relevantes desse per odo Florestan n o deixar expl cita sua posi o pol tica afirma Martins 1998 p 29 n o deve ser visto como uma quest o maior Nem era necess rio que ficasse penso eu Porque transparente foi desde o come o seu ineg vel compromisso com o que se poderia chamar de sociologia cr tica que era tamb m um compromisso radical com as lutas pela transforma o da sociedade brasileira numa sociedade democr tica justa e desenvolvida 7l No qual se entrega luta aguerrida pela defesa da autonomia da ci ncia disposi o inquebrant vel de estabelecer as bases da sociologia cient fica no Brasil e ao empenho total para contribuir com o desenvolvimento da teoria sociol gica GARCIA 2002 p 124 Cap tulo 2 O OBJETIVO METODOLOGIAS PARA UMA SOCIOLOGIA NO BRASIL O soci logo est tanto mais armado para descobrir o oculto quanto mais armado cientificamente quando ele utiliza melhor o capital de conceitos de m todos de t cnicas acumulado por seus predecessores Marx Durkhei
216. capitalismo a renova o do materialismo hist rico S o Paulo Boitempo 2003 254 ZIZEK Slavoj As portas da revolu o sele o dos escritos de L nin de fevereiro a outubro de 1917 S o Paulo Boitempo 2005 Artigos de Florestan Fernandes Mais Am rica Folha da Manh S o Paulo 19 ago 1943 In Almanaque Bando de Dados Folha Dispon vel em lt http almanaque folha uol com br florestanl htm gt Acesso em 12 set 2005 Lendas dos ndios do Brasil Jornal de S o Paulo S o Paulo 21 mai 1946 O folclore em quest o p 205 209 Fernando de Azevedo e a sociologia educacional no Brasil Jornal de S Paulo S o Paulo 03 nov e 10 nov 1946 Educa o e sociedade no Brasil p 552 559 A acultura o dos s rios e libaneses em S o Paulo Etapas Liter ria Social e Ilustrada S o Paulo Revista da Comunidade Arabe ano I n 11 p 6 8 15 16 ago 1956 An sio Teixeira e a democratiza o do ensino O Estado de S Paulo S o Paulo 13 jul 1957 Educa o e sociedade no Brasil p 560 564 Os professores estrangeiros O Estado de S Paulo S o Paulo 21 out 1958 Educa o e sociedade no Brasil p 213 216 Os destinos das universidades O Estado de S Paulo S o Paulo 03 jan 1959 Educa o e sociedade no Brasil p 205 212 Os educadores e as exig ncias educacionais do presente O Estado de S Paulo S o Paulo 14 fev 07 mar
217. cemos a pesquisa b sica voltada para as descobertas te ricas ou converteremos o Brasil em consumidor de pacotes tecnol gicos obsoletos ou semi obsoletos caros e implantados dist ncia a partir das na es capitalistas centrais em particular dos Estados Unidos Tomando se o Jap o como exemplo ele n o era uma na o avan ada dentro dos padr es ocidentais quando desencadeou ou intensificou seu processo de moderniza o auto regulada Combinando importa o de teoria pesquisa cient fica e tecnol gica com autonomia relativa de desenvolvimento chegou condi o hegem nica que hoje ocupa N s preferimos ficar com os restos do banquete e sofrer uma pilhagem sistem tica cont nua e crescente Dissociamos a capacita o tecnol gica do pensamento inventivo gerado pela universidade convertendo a em ap ndice do p lo industrial O que esperar Sem d vida uma depend ncia que nos far regredir a moldes neocoloniais sob uma explora o externa sem entranhas FERNANDES 1995c p 16 O mais perverso na opini o do f sico brasileiro Luiz Pinguelli Rosa que o sucateamento das institui es p blicas de ensino e do melhor sistema de ci ncia e tecnologia 1 A continuidade dessa pol tica cient fica no governo Lula analisada em Oliveira 20044 82 Segundo Florestan em SBPC Folha de S Paulo 05 ago 1991 o desenvolvimento aut nomo da ci ncia e da tecnologia depende das seguintes condi
218. certos costumes brasileiros inclusive a condi o inferior da mulher o fato de at homens feitos passarem a m o pela bunda de meninos ou a apatia dos oper rios e me for ava a saltar de uma leitura confusa de certos livros elementares de propaganda socialista para o significado do movimento socialista como for a social e pol tica FERNANDES 1977 p 151 No Riachuelo o curso de madureza prosseguia Com a forma o de uma pequena comunidade de estudos descobriu uma nova forma de companheirismo que lhe propiciou enfrentar com vigor as dificuldades de concilia o entre a escola e o trabalho Num grupo coeso descobriu o prazer pela comunica o e o debate intelectual um passo para a consolida o da id ia de se tornar professor Completado este ciclo Florestan Fernandes se prepara para uma nova empreitada o ensino superior Mas o que cursar A sua op o inicial engenharia qu mica estava descartada De hor rio integral n o teria como conciliar com o trabalho Apesar de estar numa nova firma com renda maior e mais tempo para os estudos os cursos de meio per odo deveriam ser as alternativas A escolha acabou acontecendo por interesses intelectuais e pol ticos ficando em segundo plano a quest o profissional Na hora da escolha pesou uma observa o registrada por Cerqueira 2004a p 28 feita pelo professor do curso de madureza Benedito de Oliveira de quem Florestan muito gostava Ele t
219. ci ncias sociais e jornalismo Da em diante ficou imposs vel conter o mpeto de meu interesse pela personalidade e pela obra de Florestan Fernandes Vi que o par ntese que fazia na pesquisa at ent o c desenvolvida n o seria um passo atr s Ao contr rio o novo projeto que se desenhava poderia ajudar essa investiga o tanto em termos te ricos quanto metodol gicos N o foi sem raz o que o inc ndio que se iniciava coincidiu com uma fase extremamente produtiva como pode ser verificado pelas publica es sobre o empresariamento da educa o que obtive em espa os acad micos e jornal sticos durante este per odo Em sequ ncia levei a meus interlocutores a decis o de transformar Florestan Fernandes em objeto espec fico de meu investimento no Doutorado em Educa o prop sito que apresentei no Exame de Qualifica o realizado em maio de 2004 atrav s de um novo projeto com o qual vislumbrava atender os requisitos solicitados pelo campo de conflu ncia ao qual estava vinculado o de Educa o Brasileira que segundo o edital de ingresso para a turma de 2002 tratava das seguintes quest es Qual a rela o que mantemos com a nossa heran a social cultural pol tica e educacional Quais as possibilidades a partir do que se encontra institu do de renova o da educa o brasileira Com quais modelos interpretativos e vis es de sociedade e educa o pretendemos romper e por qu A hip tes
220. cia e uma adolesc ncia t o marcadas pela necessidade de ganhar a vida de buscar no trabalho por vezes humilhante e degradante um instrumento de rela o com os outros e de press o sublimadora Fazendo o que me via for ado a fazer tamb m era compelido a uma constante busca para vencer uma condi o em que o lumpen proletariado e n o o oper rio definia os limites ou as fronteiras do que n o era gente Florestan Fernandes 1977 p 143 Em 10 de agosto de 1995 a ci ncia social brasileira perdia um de seus mais importantes nomes a pol tica nacional deixava de contar com um de seus mais vibrantes militantes e o nosso jornalismo dava adeus a um de seus articulistas mais cr ticos Famoso por sua trajet ria acad mica e parlamentar Florestan Fernandes nascido em 22 de julho de 1920 escreveu em diversas fases de sua vida em di rios de grande circula o Levando em conta sua adversa origem social e familiar os aspectos intr nsecos de sua prec ria forma o escolar elementar e os instrumentos de supera o dessas mesmas condi es elementos constituintes de sua vis o de mundo verifica se neste cap tulo os primeiros contatos de Florestan com o mundo jornal stico destacando os que foram significativos para o seu desenvolvimento e reconhecimento como cientista social O primeiro deles vamos encontrar ainda no in cio de seu curso de ci ncias sociais no qual ingressou aos 21 anos depois de uma
221. cia trotskista Herm nio Sacchetta suscita um problema espec fico de interpreta o da hist ria pol tica Os cientistas sociais distinguem sob v rios ngulos a personalidade status a personalidade b sica a personalidade democr tica a personalidade autorit ria etc Poder se ia acrescentar outros conceitos O que importa no caso a pergunta o que leva um homem a resistir ao longo de sua vida a todas as provoca es e evid ncias negativas preservando intoc vel sua integridade pol tica Penso que sob o capital industrial e as press es destrutivas da opress o ditatorial a resposta de conte do pol tico possui uma natureza psicol gica FERNANDES 1992a p 78 79 Florestan certamente n o advoga um retorno ontologia individual como vari vel a b explicativa dos fen menos sociais j que considera que os dinamismos psicol gicos de pol tico ideol gica nem mesmo Weber talvez um resignado anticapitalista conseguiu cumprir seu imperativo categ rico de objetividade apesar de sua honestidade cient fica indiscut vel n o conseguiu impedir a penetra o de ju zos de valor em sua obra isso vale inclusive para 4 tica protestante e o esp rito do capitalismo Comentando o tema Sader 2005 p 174 afirma que o preconceito e o simplismo do esquema interpretativo paulista sob o risco de provincianismo n o deu conta por exemplo da renova o do clima
222. cias Humanas da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2003 MARX Karl O capital cr tica da economia pol tica V 1 S o Paulo Abril Cultural 1983 Os Economistas As lutas de classes em Fran a Lisboa Editorial Estampa 1975 O 18 Brum rio de Lu s Bonaparte In MARX Marx S o Paulo Abril Cultural 1974a Os Pensadores v XXXV p 329 410 Teses contra Feuerbach In MARX Marx S o Paulo Abril Cultural 1974b Os Pensadores v XXXV p 55 59 Contribui o para a cr tica da economia pol tica Lisboa Editorial Estampa 1971 MATUI Jiron Cidad o e professor em Florestan S o Paulo Cortez 2001 Cole o Quest es de Nossa Epoca v 90 MAZZA D bora 4 produ o sociol gica de Florestan Fernandes e a problem tica educacional Taubat Cabral 2003 Florestan Fernandes In F VERO Maria de Lourdes de Albuquerque BRITTO Jader de Medeiros Orgs Dicion rio de educadores no Brasil da col nia aos dias atuais Rio de Janeiro Ed UFRJ Bras lia INEP 2002 p 369 381 MENDON A Sonia Regina de Introdu o In MENDON A Sonia Regina de Org O Estado brasileiro ag ncias e agentes Niter i EdUFF V cio de Leitura 2005 p 7 17 M SZ ROS Istv n 4 educa o para al m do capital S o Paulo Boitempo 2005 MICELI S rgio Intelectuais brasileiros In MICELLI S rgio Org O que ler na ci ncia social brasileira 1970 1995 Sociologia v 2 S o
223. cidez anal tica e da sua capacidade de previs o COUTINHO 2000 p 263 O que parece pertinente que a ojeriza manifestada por Florestan desde o in cio de sua profissionaliza o como cientista social em rela o s modas intelectuais se apresenta como uma vari vel importante para o entendimento das posi es do soci logo frente aos debates pol ticos das ltimas d cadas do s culo passado Procurando sempre um di logo com os modernos a partir dos cl ssicos por a inclusive era poss vel selecionar esses modernos p los de quarentena e por sua vez ver quais s o os problemas que s o essenciais para n s FERNANDES 1989d p 191 o soci logo mostrava se atento vigil ncia subliminar e ao uso da ci ncia como t cnica social de controle situa o pr pria de uma 24 Hip tese que como salientou o economista Ricardo Antunes em depoimento a este autor em novembro de 2005 para ser confirmada ou refutada n o pode prescindir da leitura das anota es que Florestan fez nos seus 18 livros todos da d cada de 70 sobre ou de Gramsci que podem ser encontrados em sua biblioteca pessoal que desde 1996 comp e o acervo da Biblioteca Comunit ria da Universidade Federal de S o Carlos UFSCar em S o Paulo Segundo Antunes Gramsci n o se converteu para Florestan no seu autor principal Mas certamente um indiv duo inquieto como Florestan n o teria deixado de dar alguma aten o a um autor
224. cio individual da 105 160 benthaminiana do indiv duo faminto pela maximiza o de seu pr prio prazer Mas deve se reconhecer que o esp rito democr tico da primeira concep o limita se forma o social da elite n o chegando ao funcionamento do sistema pol tico nem de suas potencialidades de desenvolvimento social A essa vis o de educa o baseada na verifica o hist rica de que a prepara o das elites antecedente instru o das massas Florestan vai corroborar desde daquela poca uma concep o mais igualit ria que tem por base a esperan a de que feita a revolu o nas escolas esta contribua para que o povo fa a uma outra nas ruas Na China em Cuba na R ssia o povo fez a revolu o nas ruas Mas em um pa s como o Brasil necess rio criar um m nimo de esp rito cr tico generalizado cidadania universal e desejo coletivo de mudan a radical para se ter a utopia de construir uma sociedade nova que poder terminar no socialismo reformista ou no socialismo revolucion rio Eu prefiro a ltima alternativa Fernando de Azevedo optaria pela primeira Ambas s o alternativas que nos p em no fluxo da hist ria embora eu n o tenha a mesma rela o de vontade de poder que ele possu a ser uma express o hist rica das for as intelectuais na sociedade brasileira FERNANDES 1995b p 200 Florestan Fernandes afirma Saviani 1996 p 81 tinha consci ncia de que apesar de l de
225. cional que leva o nome de Florestan Fernandes seu pai e a tamb m soci loga Eliane Veras Soares que al m da autoria de uma interessante obra sobre a milit ncia pol tica de Florestan serviu de ponte para minha interlocu o com Diogo Valen a seu orientando na Universidade Federal de Pernambuco UFPE com o qual al m do di logo sobre o mesmo objeto iniciou se uma boa rela o de amizade Os agradecimentos estendem se a todos os integrantes funcion rios coordenadores docentes e discentes do Programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade Federal Fluminense UFF respons veis por sua reconhecida qualidade No campo da doc ncia registro minha especial admira o e gratid o pela professora L cia Neves coordenadora do Coletivo de Estudos de Pol tica Educacional que me deu a oportunidade de participar por tr s anos de um grupo de pesquisa que se singulariza pela compet ncia dos seus membros independente da hierarquia de t tulos a riqueza democr tica de seu m todo de articula o e ensino assim como a relev ncia pol tica e acad mica dos temas que investiga No campo institucional agrade o o suporte financeiro repetindo o que aconteceu no Mestrado proporcionado pela bolsa de estudos financiada pela Coordena o de Aperfei oamento de Pessoal de N vel Superior Capes do Minist rio da Educa o MEC No campo pessoal sou grato torcida e paci ncia de familiares e amigos pelos momen
226. citadas por esse tema menor da obra florestaniana o embate disciplinar em seu entorno manifesta uma dimens o pol tica que faz Florestan se identificar como membro de uma gera o cr tica e radical de cientistas sociais 48 Escrevendo sobre Os destinos das universidades O Estado de S Paulo 03 jan 1959 Florestan afirmar sua convic o de que a primeira batalha por verdadeiras universidades dever ser ganha em nosso Pa s fora dos chamados c rculos acad micos Enquanto o homem m dio brasileiro for incapaz de compreender e de estimar seus centros universit rios estes n o ter o destino certo FERNANDES 1966 p 207 Uma an lise sobre a quest o do folclore na obra de Florestan e sua rela o com a educa o e a socializa o da crian a por exemplo pode ser conferida em Borba 2005 40 alinhados a uma perspectiva totalizante de ci ncia em contraposi o ao particularismo do pensamento conservador ent o dominante GARCIA 2002 p 113 Essa perspectiva totalizante de ci ncia ao menos no caso de Florestan n o deve ser confundida como uma subsun o absoluta do mundo social raz o cient fica menos ainda uma legitima o irresoluta de uma nica forma de conhecimento social uma suposta sociologia cient fica estritamente emp rica observacional e indutiva como defende Oliva 1997 p 33 em seu autodenominado cerrado escrut nio cr tico da obra do autor em quest o
227. co da chama se apresentou mais forte Ser com essa despedida tempor ria da milit ncia pol tica partid ria que Florestan dar os passos significativos para a sua profissionaliza o acad mica plantando as sementes de sua sociologia cr tica e militante CANDIDO 2001 processos que como se p de perceber at aqui estiveram embebidos no promissor ambiente cultural paulista Em um momento posterior no ano de 1976 num col quio realizado na Universidade de Austin Texas EUA sobre 4 revolu o burguesa no Brasil Florestan afirmar Nunca me afastei dos ideais socialistas e procurei realizar uma carreira cient fica t o exigente quanto estava ao meu alcance preservando tais ideais Portanto a minha carreira como soci logo sempre foi marcada por essa dupla vincula o entre a ci ncia e o socialismo o que me levou a viver a responsabilidade do intelectual em termos de uma extrema tens o cr tica com as iniquidades da sociedade brasileira e a refigurar na vanguarda dos que tentaram lutar por uma revolu o democr tica aut ntica dentro da ordem ou contra ela FERNANDES 19804 p 76 Segundo Miriam Limoeiro Cardoso 2001 p 29 30 em toda a sua trajet ria quando se preocupa com a sociologia como ci ncia e com o soci logo como intelectual socialmente respons vel Florestan Fernandes o faz contextualizando a ci ncia e o cientista na sociedade burguesa destacando as exig ncias e as sedu es do poder b
228. como Fernando de Azevedo e An sio Teixeira estudantes e intelectuais universit rios entre eles Florestan Fernandes a lideran a mais expressiva e combativa do movimento em defesa da escola p blica naquele per odo afirma Saviani 1996 p 79 baseando se nas palavras de um outro part cipe do movimento Roque Spencer Maciel de Barros N o podemos deixar de registrar o trabalho pertinaz do professor Florestan Fernandes levando para todos os cantos do nosso estado e mesmo para outras unidades da Federa o uma palavra de esclarecimento sobre os defeitos e perigos do projeto que a C mara dos Deputados aprovou em janeiro ltimo numa aut ntica peregrina o c vica e pedag gica que um fato in dito nos anais de nossa hist ria da educa o Dezenas e dezenas de confer ncias fez o professor Florestan Fernandes tornando se credor da admira o e simpatia de todos os que lutam pela causa da educa o nacional BARROS apud SAVIANI 1996 p 79 Desse grupo saiu um novo substitutivo que foi levado C mara pelo deputado Celso Brant ainda em 1959 ROMANELLI 1999 p 176 Em linhas gerais os defensores da escola p blica indicavam as seguintes medidas para o ajustamento da educa o aos requisitos econ micos pol ticos sociais e culturais da ordem social vinculada ao regime democr tico economia mecanizada e civiliza o tecnol gica industrial Em primeiro lugar imp e se est
229. como se tratasse de uma rela o de determina o direta e exaustiva de um geral sobre um particular desse geral Antes preciso identificar a forma de integra o espec fica desse particular ao sistema a que se vincula CARDOSO M 2005 p 12 Em rela o ao Brasil por exemplo no momento em que Florestan come a a delinear essa nova problem tica o campo de quest es da poca 25121 estavam colocadas sob a hegemonia da chamada teoria do desenvolvimentismo que em sua perspectiva economicista tomava como modelo de re jprodu o societ ria os pa ses desenvolvidos do modo de produ o capitalista cujas etapas de evolu o deveriam ser 29122 seguidas pelas sociedades subdesenvolvidas Trabalhando sob a conceitua o de 20 Florestan Fernandes tem sem d vida forma o sociol gica s lida sempre presente sua reflex o Nele por m tal solidez sociol gica n o se petrifica porque ele aplica a teoria para torn la fecunda buscando a constru o rigorosa do objeto e a explica o da realidade social CARDOSO M 1987 p 246 2 Os expoentes dessa corrente de pensamento pol tico que Bresser 1982 p 273 denomina de a interpreta o nacional burguesa s o no Brasil o Instituto Superior de Estudos Brasileiros ISEB e no continente a Comiss o Econ mica para a Am rica Latina CEPAL 122 Segundo Miriam Limoeiro Cardoso 1996 p 110 o desenvolvimentismo faz co
230. comunidade e sociedade n o eliminava a necessidade de bibliografias suplementares Ao contr rio segundo Florestan possibilitava uma nova organiza o do trabalho did tico atrav s da sistematiza o das leituras de car ter introdut rio Tanto os professores como os estudantes encontrar o nas aludidas colet neas o que se poderia considerar como preliminarmente essencial como uma introdu o coordenada e dosada ao estudo da sociologia FERNANDES 1973 p XIII Conferir tamb m Fernandes 1975d 32 No final da d cada de 50 j superado do trauma num artigo sobre Os professores estrangeiros O Estado de S Paulo 21 out 1958 Florestan far um balan o bem positivo dessa experi ncia As miss es docentes estrangeiras deram nos um rico ponto de partida para as nossas atividades universit rias cabendo lhes a gl ria de ter estabelecido um novo padr o de vida intelectual aplic vel ao ensino superior desviando o da antiga tradi o escol stica e pr cient fica a que nos habitu ramos chegando inclusive a afirmar que os que louvam os efeitos da chamada Semana da Arte Moderna de 1922 deveriam atentar para esse epis dio mais recente o nico que teve de fato significa o revolucion ria e produziu resultados duradouros FERNANDES 1966 p 213 214 3 Em 1 15 e 22 de julho de 1943 Florestan publicou neste jornal um conjunto de tr s artigos sob o t tulo O negro na tradi
231. cos da ret rica progressista nacional al m de um diagn stico surpreendentemente correto do resultado das reformas anteriores com a den ncia do tradicional dualismo da educa o brasileira que havia sido aprofundado pelo regime autorit rio e cuja corre o deveria ser efetuada pelo governo democr tico Entretanto o projeto n o passou de um conjunto de propostas moderadas para a solu o de diversos problemas da educa o brasileira como por exemplo o conflito centraliza o versus descentraliza o atrav s da busca de harmonia entre as fun es dos estados e da Uni o pela unidade nos objetivos e variedade nos m todos e para a articula o dos v rios ramos de ensino atrav s de uma nova reforma do ensino m dio com a supera o de barreiras entre o 139 Objetivos da campanha da escola p blica O Estado de S Paulo 24 mai 1961 92 estudo acad mico e o t cnico Al m disso apesar de indicar o dever do Estado na garantia de educa o para todos partindo do pressuposto da escola equalizadora o projeto original admitia incentivos para o ensino privado e induzia a uma concep o supletiva da a o estatal refor ando o seu car ter moralizador e fiscalizador De novidade somente a refer ncia s novas elites a flexibilidade que se abria a outros grupos sociais de acesso ao ensino superior atrav s da equival ncia entre os ramos t cnicos e o secund rio Desta forma as pretens es democr
232. cos e simb licos Florestan continuava sustentando a m e e casado recentemente havia ampliado suas responsabilidades familiares como chefe provedor Desse ponto de vista a carreira acad mica na qual inclusive Florestan j estava inserido mostrava se como a nica perspectiva promissora dispon vel GARCIA 2002 p 117 Segundo o pr prio Florestan n o existiam para os trotskistas um nicho autoprotetivo e as defesas das solidariedades de um forte movimento coletivo A pessoa ficava largada a si pr pria ao seu potencial ou propens o de identidade abstrata com uma utopia revolucion ria FERNANDES 1992a p 79 O distanciamento da milit ncia pol tica no entanto n o significou o abandono da postura cr tica e radical que marca toda a sua trajet ria dando nova forma e sentido a chama interior do socialismo que nunca deixou de sentir chama essa que se sust m pelo consumo de dois elementos um ut pico os ideais de uma vida igualit ria e livre outro tico os pressupostos de racionaliza o das rela es sociais injustas em vig ncia Afinal afirmar o soci logo preciso considerar que n o era o movimento prolet rio revolucion rio que sustinha aquele pequeno movimento trotskista mas o socialismo como chama interior como convic o de que muitos precisam tombar e normal que tombem para que a revolu o triunfe FERNANDES 1992a p 79 Nesse momento portanto o elemento ti
233. d cada de 60 com a fus o da Folha da Noite 1921 da Folha da Manh 1925 e da Folha da Tarde 1949 Na d cada de 80 atrav s do que se denominou Projeto Editorial da Folha de S Paulo assumiu a posi o de maior jornal do pa s ultrapassando os seus tr s concorrentes diretos O Globo Jornal do Brasil e Estado de S Paulo que se destacavam pela influ ncia entre as elites culturais pol ticas e econ micas entre os formadores de opini o de outras m dias tais como televis o r dio e revistas e ainda sobre os jornais de outras capitais e cidades do interior do Brasil SOUZA M 2002 O Projeto Folha como ficou conhecido vislumbrava a possibilidade do jornal dar um salto na hist ria e tornar se o ve culo impresso mais influente do Brasil As bases para essa mudan a estavam asseguradas gra as ao sucesso da ousada estrat gia de se aliar ao Movimento das Diretas J num momento em que toda a imprensa brasileira se mostrava c tica quanto aos seus resultados NOVELLI 2002 p 191 Ainda sobre o Projeto Folha conferir Abramo 1991 que faz uma reflex o sobre a preocupa o com a imagem p blica do jornal e sobre as a es de marketing reforma editorial e produ o de not cias implementadas pelo respectivo ve culo na d cada de 80 22 A n o ser que consideremos com Przeworski 1989 p 279 que o pessimismo n o passa de um otimismo bem informado assim sendo nem sequer julgo serem pessimistas meus
234. da cassa o profissional do ex lio pol tico e da dif cil incorpora o academia no per odo p s anistia o ex militante trotskista advoga para si a miss o de elaborar uma pedagogia socialista capaz de colaborar para o aprofundamento do processo de redemocratiza o do pa s processo que vai redundar em tr s caminhos na filia o a um partido pol tico que representava uma novidade institucional por ser express o direta do movimento trabalhista sindical no uso da tribuna parlamentar como canal de den ncia das mazelas sociais I3 Os alunos v o e v m a sua aprendizagem tem um ponto de partida e outro de chegada Com o professor tudo diferente Permanecemos em aprendizagem cont nua O ensino sob esse ngulo uma dura forma de aprendizagem pela qual entramos em confronto com a verdade na sala de aula O professor nunca acaba de aprender e quando pensa que j domina um assunto descobre que deveria come ar de novo FERNANDES 19804 p 11 174 Fazendo jus pedagogia freiriana devemos ter em mente que o sentido de libera o contido em sua proposta pressup e tamb m a id ia de incorpora o uma incorpora o aut noma fundamental para a constitui o de uma solidariedade de iguais FREIRE 1996 175 Em 24 de abril de 1969 Florestan afastado do cargo sob aposentadoria compuls ria e com vencimentos proporcionais ao tempo de servi o por aplica o do A
235. de 1960 quando formula que a depend ncia econ mica a respons vel pela heteronomia ideol gica e moral quando vincula a possibilidade de desenvolvimento fundamentalmente din mica das rela es entre as classes sociais e quando entende que o desenvolvimento aut nomo das na es dependentes sup e como necessidade a acelera o da revolu o social por que v m passando Em 1965 e 1967 completa a sua defini o de capitalismo dependente ent o j como um conceito articulado a toda uma elabora o te rica e avan a significativamente na pesquisa sobre as classes sociais sob o capitalismo dependente CARDOSO M 1996 p 91 Apreendendo e construindo seu objeto como totalidade hist rica nestes textos o soci logo est refletindo sobre a constitui o da l gica da domina o burguesa no Brasil procedimento que cont m os elementos definidores do materialismo dial tico o que faz Miriam Limoeiro Cardoso 1987 p 242 identificar um Florestan Fernandes operando desde 13 Segundo Arruda 1996 p 200 tal dilema configura se no contraponto entre o modo fragment rio e incompleto com que se deu a absor o do negro e a cren a na inexist ncia de preconceito racial no pa s 114 No artigo Retalia es e press es Jornal de Bras lia 04 out 1988 Florestan confirma esta hip tese Venho examinando essas raz es da debilidade e da condi o de depend ncia da burguesia nacional h muito tempo des
236. de de Filosofia Letras e Ci ncias Humanas Universidade de S o Paulo S o Paulo 2003 ROMANELLI Otaiza de Oliveira Hist ria da educa o no Brasil 22 ed Petr polis Vozes 1999 SACCHETTA Herm nio O caldeir o das bruxas e outros escritos pol ticos Campinas Pontes Editora da Universidade Estadual de Campinas 1992 252 SACCHETTA Vladimir Florestan Fernandes o soci logo militante Estudos Avan ados S o Paulo Instituto de Estudos Avan ados da USP v 10 n 26 p 51 54 jan abr 1996 SADER Emir N s que am vamos tanto o capital fragmentos para a hist ria de uma gera o Sociologias Porto Alegre Programa de P s Gradua o em Sociologia da UFRGS ano 7 n 14 p 150 177 jul dez 2005 SAES D cio Florestan Fernandes e a revolu o burguesa no Brasil Id ias Campinas Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas da Unicamp ano 4 n 1 2 p 59 80 jan dez 1997 SANTOS Milton T cnica Espa o Tempo globaliza o e meio t cnico cientifico informacional S o Paulo Hucitec 1997 SANTOS Robinson dos Saber e compromisso Florestan Fernandes e a escola p blica Passo Fundo UPF 2002 SAVIANI Dermeval Florestan e a educa o Estudos Avan ados S o Paulo Instituto de Estudos Avan ados da USP v 10 n 26 p 71 87 jan abr 1996 SCHWARTZMAN Simon As ci ncias sociais brasileiras no s culo 20 Ci ncia Hoje Rio de Janeiro Instituto Ci ncia Hoje v 27 n 159 p
237. de dizer vamos voltar democracia como muitos fazem uma balela FERNANDES 1986a p 189 por uma 22182 derradeira revolu o democr tica capaz de fazer com que as classes trabalhadoras completem o circuito de seu desenvolvimento independente como classe social e adquiram pleno acesso a todos os direitos civis e pol ticos que lhes s o tirados na pr tica FERNANDES 1986a p 147 Ainda em 1964 alguns meses depois do golpe Florestan foi detido por tr s dias devido a um inqu rito instaurado junto Faculdade de Filosofia Ci ncias e Letras da USP 184 Mesmo constantemente vigiado participa de in meras atividades de combate repress o as quais conjuga com viagens ao exterior tal como a experi ncia de meados de 1965 a janeiro de 1966 como visiting scholar na Columbia University nos Estados Unidos A partir de 1968 Florestan torna se mais duro e cr tico em suas interven es tendo seu nome constantemente citado na imprensa No dia 31 de mar o por exemplo o di rio carioca Correio da Manh traz uma entrevista sua sobre a morte do estudante Edson Lu s no restaurante Calabou o no Rio de Janeiro acontecimento que foi seguido por uma s rie de protestos estudantis Florestan al m de definir a a o como uma viol ncia est pida gerada pela inger ncia militar em assuntos que n o afeitos s For as Armadas apontava a nica maneira de se enfrentar
238. de esperan a e utopia que corroiam o fisiologismo parlamentar e faziam vir tona a falta de programas partid rios Era assim o Congresso virado pelo avesso O Povo inunda a ANC e abarrota as subcomiss es de propostas de informa o e de sonhos O subterr neo sobe tona em todo o 22298 seu esplendor e sublinha o quanto o nosso Estado pobre e o nosso Governo mesquinho FERNANDES 1989b p 88 A arg cia dial tica da interpreta o florestaniana aponta no 225 A fragmenta o do processo constituinte Folha de S Paulo 12 abr 1987 2 Invas o e desafio Folha de S Paulo 08 mai 1987 227 No caso do principal partido da poca por exemplo Florestan vai afirmar em As perspectivas do PMDB Folha de S Paulo 26 jun 1987 o seu programa de nada lhe adianta Ele representa o produto de uma fulgurante constela o de c rebros N o um programa destilado da pr tica pol tica um programa racional e artificial que contempla todos os grandes problemas e dilemas humanos do Brasil sem indagar se o partido possui o poder real de classe e de conflito de classe para ir das f rmulas s solu es concretas FERNANDES 1989b p 101 298 Invas o e desafio Folha de S Paulo 08 mai 1987 169 entanto as contradi es do processo que se por um lado indiciava que o Povo abriu as comportas da Hist ria n o deixavam de evidenciar o seu reverso a oportunidade para os
239. de o fim da d cada de 1950 e lhes dediquei alguns livros e ensaios FERNANDES 1989b p 363 115 Numa palestra intitulada Repensando A revolu o burguesa no Brasil aula inaugural do Departamento de Ci ncias Sociais da Faculdade de Filosofia Letras e Ci ncias FFLCH da USP realizada em 20 de agosto de 1979 Florestan indica que o respectivo livro foi concebido em linhas gerais em 1964 redigido em 1966 reformulado e conclu do em 1974 FERNANDES 19804 p 61 116 A autora se refere especialmente a Ci ncia e sociedade na evolu o social do Brasil e Desenvolvimento hist rico social da sociologia no Brasil reunidos em Fernandes 1958 117 Conferir por exemplo Rela es culturais entre o Brasil o Ocidente e o Oriente publicado em Fernandes 1979a 118 Conferir Padr o e ritmo de desenvolvimento na Am rica Latina publicado em Fernandes 19764 119 Conferir especialmente A revolu o brasileira e os intelectuais A din mica da mudan a s cio cultural no Brasil Crescimento econ mico e instabilidade pol tica no Brasil e O desenvolvimento como problema nacional todos em Fernandes 1968 76 J de acordo com a problem tica marxista ou seja ciente de que a anatomia do homem a chave da anatomia do macaco Os elementos definidores da dial tica marxista a que me refiro s o aqueles que Karl Marx expressa no M todo da Economia pol tica Relembra
240. dem revolu o socialista FERNANDES 1989b p 309 310 Florestan propugnava a amplia o da participa o dos trabalhadores no espa o pol tico institucional mas n o como um fim em si mesmo Acreditava que para a maioria maci a da sociedade civil entendendo esta com a soma dos exclu dos dos miser veis da terra e dos homens de boa vontade a escolha n o ficaria entre a Constitui o e a democracia poss vel mas sim entre a situa o contempor nea e a possibilidade de se eliminar a mis ria o desemprego a falta de assist ncia sa de e educa o condigna No desfrute da liberdade coletiva e seguindo as li es de Rosa Luxemburgo sobre a necess ria combina o entre reforma e revolu o as for as prolet rias de esquerda inclusive as mais exigentes e ardentes teriam condi es de incorporar consci ncia social os seguintes direitos individuais coletivos e sociais que precisavam ser garantidos no segundo turno a liberdade de organiza o de seus dos trabalhadores sindicatos e partidos o direito de greve o mandado de seguran a coletivo e o mandado de injun o a rela o de emprego protegida o acr scimo de um ter o de sal rio na remunera o das f rias a jornada m xima de seis horas para os trabalhos realizados em turnos ininterruptos o aviso pr vio proporcional ao tempo de servi o o limite de cinco anos como prazo confe
241. dente da origem regional tnica classe g nero etc O que importa a qualidade das influ ncias que devem ser mobilizadas organizadas e aplicadas atrav s das escolas Da segundo Florestan a relev ncia de n o se reproduzir um modelo pedag gico anacr nico e a necessidade de instituir refer ncias plurais que possuam o seguinte tra o din mico fundamental o que se imp e fazer antes de mais nada criar modelos de organiza o das escolas que permitam elevar de modo cont nuo r pido e crescente o rendimento das institui es escolares Ou seja escolas em condi es de interagir com o meio social circundante de ajudar o homem em cada circunst ncia a aspirar e obter a maior soma de poder poss vel sem grifo no original sobre as for as naturais psico sociais e s cio culturais do ambiente pelo menos daquelas que j podem ser submetidas a controle deliberado atrav s das t cnicas sociais integradas civiliza o de que compartilhamos Escolas assim organizadas estariam aptas para preencher v rias fun es sociais construtivas quer na integra o das institui es escolares ordem social existente quer como fatores de inova o psico social e s cio cultural FERNANDES 1966 p 89 90 106 adiantados Tudo se passa como se o Brasil retrocedesse quase dois s culos em rela o hist ria contempor nea daqueles pa ses e como se f ssemos for ados a defender com unhas e dentes os valores da Revolu
242. dentificado como uma encarna o do diabo funcionar como a alavanca oculta da acelera o pol tica da acumula o capitalista Permanece assim uma terr vel e permanente transfer ncia de riqueza do setor p blico para o setor privado isto dos trabalhadores e dos pobres para as classes dominantes O car ter de pilhagem dessa forma origin ria de acumula o de capital montada sobre um privil gio odioso que permite ao rico enriquecer se ainda mais s custas do que a Na o deveria investir na civiliza o da sociedade civil universaliza o do ensino do emprego da sa de da moradia de um padr o de vida decente supress o da fome etc FERNANDES 1989b p 143 O bloco hist rico burgu s formado pela burguesia nacional e a comunidade internacional de neg cios financiou a competi o eleitoral e levou para o Parlamento e tamb m para os governos estaduais as prefeituras assembl ias legislativas e c maras municipais os representantes sa dos das fileiras do capital aliados ou submetidos a ele Com a sub representa o da massa popular que sofre ainda com os efeitos das t cnicas de desinforma o em massa realizada pela satura o da imagina o propiciada pela vol pia das informa es cotidianas registradas produzidas e reproduzidas pelos meios de comunica o que comp em o grupo dos grandes eleitores a aposta na consolida o de uma democracia ritual na tradi o dos
243. deres na C mara e no Senado o deputado Almino Afonso e o senador Camilo Nogueira Gama se mostrou interessado na solu o dos 98 problemas da educa o popular e de democratiza o do ensino FERNANDES 1966 p 513 Finalmente em junho de 1961 o ltimo projeto favor vel iniciativa privada aprovado pela C mara dos Deputados e enviado ao Senado que o legitima no dia 3 de agosto por 33 votos a 11 Em 20 de dezembro daquele ano sancionado pelo presidente Jo o Goulart o projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educa o Nacional converte se finalmente na Lei n 4 024 ROMANELLI 1999 p 179 Sobre o gesto de soberano desprezo do presidente diante da democracia e da educa o popular Florestan numa entrevista a um 148 jornal paulista diz se n o surpreso apesar da carreira pol tica de Jo o Goulart estar apoiada nas mesmas for as que defendiam a escola p blica No poder o Sr Jo o Goulart redefiniu completamente sua linha de a o pol tica Membro e representante de camadas sociais privilegiadas e conservadoras n o tem nenhum interesse em p r em pr tica uma aut ntica filosofia de atua o pol tica democr tica que o obrigue a valorizar o ensino p blico e a estender sua influ ncia na din mica do regime representativo FERNANDES 1966 p 522 No mesmo pronunciamento uma men o a Oliveira Brito o ent o ministro da Educa o Os que deviam nos resguardar de risco
244. destinado para o Estado que sofria uma crise de tr s faces a de car ter fiscal a de esgotamento da estrat gia intervencionista e por fim a de administra o pol tica burocr tica Sobre essa quest o central no discurso neoliberal Florestan afirma tal d ficit n o p blico no sentido sociol gico Ele foi imposto ao Estado pela pr pria iniciativa privada Atrav s de medidas antinacionais como isen o de taxas e impostos ou sua dr stica redu o subs dios de alcance discut vel mas exigidos pela iniciativa privada empr stimos a baixos juros com amortiza o prolongada e previs o de sua renova o sob insolv ncia alegada ou calote de fato toler ncia e arranjos esp rios em opera es fraudulentas com o imposto de renda ou outros e obriga es legais resultantes das rela es de trabalho deteriora o provocada dos rg os fiscalizadores em geral suborno e corrup o como tr fico normal de poderosos nos governos e fora deles etc No entanto na perspectiva dos que se alinham a Fernando Henrique Cardoso a supera o da crise demandava a retirada dos entraves colocados pela nova Constitui o o retrocesso de 1988 e a implementa o de um projeto de reformas que viesse preparar o Brasil para uma nova inser o no cen rio internacional O novo Estado assim deixaria de ser o respons vel direto pelo desenvolvimento econ mico e social atrav s da produ o de ben
245. deuses deixam a hist ria nos ombros dos homens Florestan advoga que este poder popular tem de ser visto com uma trivialidade terrena ou seja constru do e imposto pelos que assim necessitarem e desejarem contra os que tradicionalmente excluem as escolhas de import ncia coletiva para defender seus particularismos Mas nada de zerar a Hist ria como exigiam os adeptos da extrema esquerda que gostariam que ela caminhasse de acordo com a rapidez de suas vontades Por falta de uma socializa o pol tica revolucion ria madura somada a defici ncia de conv vio com os cl ssicos do pensamento revolucion rio dos socialistas ut picos aos l deres das revolu es prolet rias eles acabam por embarcar de forma irracional nas posi es inimigas Tocando e n o se chocando com o seu 30 A ingovernabilidade Jornal do Brasil 09 ago 1988 370 A ingovernabilidade Jornal do Brasil 09 ago 1988 196 extremo afastam se do solo hist rico concreto das possibilidades de vit rias e derrotas que s o sempre condicionadas pelos ritmos e pela dire o da luta de classes Naquela situa o espec fica n o percebiam que a Constitui o e a democracia eram pe as desse fluxo n o seus obst culos A imensa maioria da Na o n o pode deixar se fascinar por mitos por obsess es derrotistas pelo revolucionarismo verbal afirmava Florestan alertando para a necess ria aten o ao dispositivo que p
246. din mica tinham suas demandas expressas pelos ide logos da revolu o dentro da ordem da democracia como um valor absoluto agitadores tenazes com a pretens o de transformar a inquieta o social em reforma pol tica Florestan no entanto n o considerava que a aprova o em si das elei es diretas para a presid ncia da Rep blica fosse a quest o de fundo Dever se ia levar em considera o 203 Significado pol tico das elei es diretas Folha de S Paulo 21 mar 1984 132 que o que acontecia no Congresso Nacional n o passava de uma batalha parlamentar FERNANDES 1986a 192 que expressava de forma clara o fato de n o termos partidos pol ticos no Brasil os que existiam foram criados condicionados e enquadrados pela ditadura os chamados partidos de oposi o e situa o todos da ordem representando alternativa alguma ao regime vigente O fundamental era a exist ncia de uma press o popular que ultrapassava a via institucional a express o de uma Na o que buscava organizar a si para a cria o de uma ordem legalmente republicana e politicamente democr tica FERNANDES 1986a p 187 Refletindo sobre a derrota das Diretas j o publicista faz a seguinte constata o Os resultados da discuss o e vota o da emenda Dante de Oliveira colocam um desafio imagina o pol tica o Povo foi derrotado Ocorreu uma imensa mobiliza o pol tica os
247. do FERNANDES 1977 p 143 144 Os homens fazem sua pr pria hist ria mas n o a fazem como querem n o a fazem sob circunst ncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente legadas e transmitidas pelo passado MARX 1974a p 335 6t Sem desconhecer que a excepcionalidade da vida de Florestan indissoci vel das perspectivas e promessas extraordin rias do tempo e espa o em que viveu GARCIA 2002 p 173 65 Miceli 1987 autor desta distin o aponta duas exce es entre os integrantes da escola sociol gica paulista que n o conseguiram ficar imunes aos foros de milit ncia pol tica no estado Antonio Candido e Florestan Fernandes 66 rf 7 como se eles mesmos pudessem dizer o que s o e a que tarefas reformistas modernizadoras ou revolucion rias se sentem impelidos de que perspectivas de disp em a falar e quais as concep es do universo pol tico com que justificam suas tomadas de posi o MICELI 1999 p 117 49 e das interpreta es que d o s suas tarefas especialmente quando tratamos do pensamento social brasileiro produzido na poca em que viveu Florestan Fernandes Os intelectuais brasileiros produtores das interpreta es que foram objeto de an lise estiveram prisioneiros das quest es de identidade quem somos n s e procuraram construir retratos de si pr prios e do pa s que respondessem a essas quest es Igualmente se detiveram n
248. dos trabalhadores no interior de suas trincheiras Ao grito de guerra Trabalhadores de todo o mundo uni vos assistimos prolifera o de um falso apoliticismo que troca pequenas vantagens pelos nicos resultados que interessam s classes trabalhadoras em sua totalidade a sua unidade econ mica social e pol tica pela transforma o da ordem existente e quando alcan arem poder real para tanto a cria o de uma sociedade nova FERNANDES 1989b p 267 Ao inv s de abanar o rabo enquanto leva pontap s os prolet rios malgrado sua relativa fraqueza na organiza o pol tica deveriam constranger as classes patronais a assumir maiores parcelas de responsabilidade para tirar dos ombros do povo o fardo das d vidas 348 As contradi es do Centr o Folha de S Paulo 26 abr 1988 34 Primeiro de Maio e solidariedade prolet ria Folha de S Paulo 05 mai 1988 Segundo Florestan num outro texto quando os sindicalistas de resultados pensam que est o colaborando para melhorar as condi es de trabalho eles s refor am e difundem entre os trabalhadores as representa es dos capitalistas sobre pap is sociais e fun es econ micas que eles n o desempenham Empurram o trabalhador na dire o de refletir com a cabe a dos patr es n o com a dele E com isso atrasam ou paralisam as classes oper rias colocando como seus os movimentos hist ricos das classes burguesas FER
249. e orientavam pela ambigiiidade qui estrat gica das determina es legais O projeto foi arquivado e ficou sem andamento at julho de 1951 quando a Comiss o de Educa o e Cultura da C mara solicita ao Senado o seu desarquivamento A resposta de extravio fez com que a mesa da C mara determinasse sua reconstitui o o que aconteceu a partir da cria o de v rias subcomiss es da anexa o de um projeto da Associa o Brasileira de Educa o ABE e da consulta a v rios educadores Em 1955 14 processos j tinham se 14 De acordo com Romanelli 1999 p 174 o projeto Mariani era em s ntese um documento que embora merecesse ressalvas n o pecava pela base Estava dentro do esp rito da Constitui o e refletia bem as mudan as por que passava a sociedade brasileira Pelo menos acenava com a possibilidade de atendimento a muitas das reivindica es da filosofia dos educadores e denunciava um grau de abertura que a legisla o anterior n o possu a 93 somado ao projeto incluindo um primeiro substitutivo apresentado pelo deputado Carlos Lacerda cujo texto estava pr ximo do projeto original Em 1956 ap s o parecer favor vel de mais uma comiss o o projeto voltou a ser debatido no Legislativo O primeiro discurso de grande impacto foi o do padre Fonseca e Silva no dia 5 de novembro cujo m rito foi obrigar os interesses conflitantes a se manifestarem num jogo pol tico aberto BUFFA 1979 p 21
250. e uma fun o das circunst ncias hist ricas FERNANDES 1990 p 82 403 Florestan por exemplo manifestou se no in cio da d cada de 90 contra a expuls o da Converg ncia Socialista do PT fato que acabou acontecendo e colaborando para a forma o do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado PSTU OZA 2001 212 expressa num Estado de direito fict cio onde por exemplo a educa o permanece como fonte de privil gio Nesse campo espec fico que exemplifica o n vel de submiss o a que foi submetida a democracia brasileira a esperan a de transforma es progressistas estava sendo transferida para os debates sobre mais uma lei de diretrizes e bases da educa o na tentativa de possibilitar qualquer avan o ainda que contendo equ vocos ou distor es para impedir que a elite reacion ria continue a fixar os padr es educacionais sempre tidos como democr ticos e necess rios para o equil brio da ordem Florestan tem em mente que a escola uma das institui es chave da burguesia junto com a Igreja o Estado e a fam lia sendo que ao lado da ltima respons vel pela propaga o do esp rito competitivo que se imp e como o valor b sico das rela es sociais fazendo com que o trabalhador aceite esse valor como supremo As mudan as na escola portanto para a tornar perme veis a o popular devem colaborar para o desenvolvimento de uma perspectiva libert ria e igualit ria nascida da
251. e S Paulo S o Paulo 06 jul 1984 Que tipo de Rep blica p 167 170 Poesia e verdade Folha de S Paulo S o Paulo 12 ago 1984 Que tipo de Rep blica p 247 250 Mem rias do c rcere Folha de S Paulo S o Paulo 20 ago 1984 Que tipo de Rep blica p 243 246 Repress o participativa Folha de S Paulo S o Paulo 30 ago 1984 Que tipo de Rep blica p 159 162 Perplexidade e imobilismo Folha de S Paulo S o Paulo 17 set 1984 Que tipo de Rep blica p 156 158 Cuba poesia e revolu o Folha de S Paulo S o Paulo 24 set 1984 Democracia e desenvolvimento p 68 70 A luta pol tica Folha de S Paulo S o Paulo 07 out 1984 Que tipo de Rep blica p 152 155 256 Ainda as diretas Folha de S Paulo S o Paulo 16 out 1984 Que tipo de Rep blica p 148 151 Os trabalhadores e a democracia Folha de S Paulo S o Paulo 31 out 1984 Que tipo de Rep blica p 144 147 Carlos Marighella a chama que n o se apaga Folha de S Paulo S o Paulo 12 nov 1984 A contesta o necess ria p 148 153 Brasil e Estados Unidos novas perspectivas Folha de S Paulo S o Paulo 01 dez 1984 Democracia e desenvolvimento p 86 88 Pacto social e a Nova Rep blica Folha de S Paulo S o Paulo 21 jan 1985 Que tipo de Rep blica p 135 138 Novos rumos Folha de S Paulo S o Paulo 04 fe
252. e de S o Paulo n 4 p 30 31 out 1995 Sobre a revolu o burguesa no Brasil In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 242 249 Ideologia do desenvolvimento Brasil JK JO 2 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 CARDOSO de Oliveira Roberto O ensino antropol gico de Florestan Fernandes recorda es de um ex aluno Revista USP S o Paulo Coordenadoria de Comunica o Social da Universidade de S o Paulo n 29 p 66 71 mar mai 1996 240 CERQUEIRA Filho Gis lio A m dia d tratamento moral pol tica Entrevista a Marinilda Carvalho Observat rio da Imprensa Rio de Janeiro ano 9 n 342 16 ago 2005 Dispon vel em lt http observatorio ultimosegundo ig com br gt Acesso em 16 ago 2005 CERQUEIRA Laurez Florestan Fernandes vida e obra S o Paulo Express o Popular 2004 Perfil parlamentar Florestan Fernandes Bras lia C mara dos Deputados Coordena o de Publica es 2004b S rie perfis parlamentares n 49 COGGIOLA Oswaldo Org 1995 Florestan Fernandes em busca do socialismo S o Paulo Xam 1995 Introdu o Florestan Fernandes e o socialismo p 9 28 COHN Gabriel Florestan Fernandes e o radicalismo plebeu em Sociologia Estudos Avan ados S o Paulo Instituto de Estudos Avan ados da USP vol 19 n 55 p 245 250 set dec 2005 Flo
253. e diz respeito s rela es ntimas que o pensamento educacional aqui produzido manteve e mant m com as ci ncias sociais Palavras Chaves Florestan Fernandes Hist ria da Educa o Ci ncias Sociais Pensamento Educacional Brasileiro Pedagogia Socialista ABSTRACT This theory starting from a historical sociological investigation analyzes the dimensions academic and militant of the work of the founder of the modern Brazilian sociology aiming at to show that in their writings of newspapers accomplished during all his productive life they are elements that configure a vigorous socialist pedagogy with base in their more recognized vocations scientific and politics The importance of this work is in the capacity to turn comprehensible as ideas produced by intellectuals can change in critical knowledge and like this to engender social forces that they question the established phenomenon of high relevance in one moment in that the only function of the science seems to be using words of own Florestan the one of considering the existent social order as the only possible With that research we still believed to collaborate for moving forward of the studies of History of the Education in Brazil especially what concerns the intimate relationships that the education thought here produced maintained and it maintains with the social sciences Key Words Florestan Fernandes History of the Education Social Sciences Brazilian
254. e do sistema colonial na qual a luta de classes aparece apenas como possibilidade para o capital o que denota uma cultura c vica que nada pode fazer contra a barb rie travestida de civiliza o por isso que Florestan alertava seus leitores para o necess rio protesto contra uma recente t tica das for as pol ticas conservadoras a limita o do n mero de pessoas que poderiam ter acesso s galerias sob a justificativa de temor baderna Numa fase em que se realizava uma esp cie de auditoria do Brasil real a press o pol tica j se fazia sentir nas subcomiss es com lances que emocionavam o publicista Por v rias vias gente de diversas categorias sociais profissionais tnicas e raciais surge no centro do palco e assume o papel de agente de senhor da fala Um ind gena um negro um portador de defeito f sico um professor modesto saem da obscuridade e se ombreiam com os not veis que s o convidados por seu saber ou l comparecem para advogar as causas de entidades mais ou menos empenhadas na aut ntica revolu o democr tica FERNANDES 1989b p 87 Era o ant doto contra o lobismo e a possibilidade dos constituintes se abrirem ao di logo com o povo para al m da cata de votos em per odo eleitoral Como paladinos de causas particulares de grande significado coletivo as pessoas comuns que ali se apresentavam n o vinham cobrar promessas eleitorais mas desfraldar bandeiras
255. e do fil sofo quando este desenvolve num texto determinado algumas de suas implica es concretas em contextos particulares claro que uma tal id ia pode experimentar transforma es importantes Mas n o se pode entender adequadamente o pensamento de um fil sofo sem alcan ar atrav s dos seus v rios estratos aquela s ntese original que o estrutura dialeticamente em todas as suas manifesta es sucessivas M SZ ROS apud NETTO 1987 p 296 No caso em quest o a id ia sintetizadora fundamental que est na base do pensamento de Florestan a pesquisa da realidade brasileira id ia presente desde o in cio de sua profissionaliza o at a constitui o de uma pedagogia socialista destinada ao fortalecimento da consci ncia social prolet ria objetivo que tem por base uma concep o sociol gica vinculada ao pressuposto iluminista da racionalidade humana como instrumento de racionaliza o da ordem social do qual o marxismo um cr tico tribut rio A culmin ncia dessa pedagogia socialista vai se dar na constitui o de Florestan como um verdadeiro tribuno do povo que como na conceitua o de L nin capaz de reagir contra toda e 19 4 A qual como Peirano 1992 preferimos designar como sua antropologia esquecida Conferir o cap tulo 2 deste trabalho 127 qualquer manifesta o de arbitrariedade e opress o aproveitando todo e qualquer espa o para 5 O mesmo L n
256. e independente deram relevo maior participa o do Estado no financiamento de empresas de ensino lucrativas por motivos estritamente econ micos Est claro que a situa o educacional brasileira exige que o Estado intervenha segundo novo estilo no crescimento educacional Se isso acontecer e o sistema p blico de ensino absorver a capacidade de interven o do Estado o caminho para a progressiva diminui o da clientela das escolas particulares estar aberto V se que n o temem propriamente a concorr ncia com as escolas p blicas na situa o atual Temem isto sim as medidas que poderiam transformar em adversas as vantagens existentes no momento gra as pr pria omiss o do Estado em suas tarefas educacionais As escolas particulares cat licas como e enquanto empresas econ micas s o movidas pelos mesmos motivos Gra as a raz es espirituais acrescem a esses motivos a defesa da posi o dominante que a Igreja Cat lica sempre ocupou na forma o intelectual e moral do homem na ordem tradicional Essa posi o foi mais ou menos amea ada pela expans o do sistema p blico de ensino o que estimulou os sacerdotes cat licos a lutarem aberta e denodadamente por novos meios de revitaliza o do sistema escolar submetido ao controle direto da Igreja Cat lica FERNANDES 1966 p 132 No outro flanco os defensores escola p blica dividiam se em os liberais idealistas que viam a educa o com o objetivo supremo de af
257. e l der moral pol tico dependendo de uma dupla condi o o pertencimento a um campo aut nomo com leis pr prias e atua o pol tica externa com base na autoridade adquirida nesse mesmo campo espec fico a partir da que come am a surgir suas reflex es sobre a sociologia como ci ncia social aplicada e as condi es para a consolida o de sua lideran a frente a uma equipe de jovens soci logos da USP posteriormente denominada como a escola paulista de sociologia promotora de um elenco de indaga es te ricas fundamentais para a ci ncia social brasileira Uma escola que vai se definindo na perspectiva de Martins 1998 p 18 pela constru o de uma sociologia enraizada nas singularidades hist ricas sociais e culturais brasileiras que busca o entendimento das condi es espec ficas de uma sociedade marcada por ritmos desiguais de desenvolvimento assim como a compreens o de seus agentes sociais voltando se como afirma Miceli 1987 para o estudo dos grupos sociais oper rios empres rios imigrantes etc estrat gicos nos processos de industrializa o e urbaniza o De fato sua import ncia nessa institui o foi enorme n o s em termos dos cursos de forma o como tamb m da pesquisa sistem tica instituindo a pr tica da elabora o de projetos coletivos de investiga o sociol gica de grande relev ncia e constituindo equipes de pesquisadores selecionados entre os melhores Flores
258. e liberdade com igualdade Mas aos que ainda achavam estranho que eu marxista venha aqui defender a validade de uma constitui o burguesa e a renova o de uma constitui o burguesa FERNANDES 2004b p 209 o publicista alerta que o fato do idealismo constitucional ter novamente refor ado a defesa da propriedade da livre empresa da privatiza o do que publico e por consegii ncia a rendi o passiva ao capital estrangeiro pelas elites das classes dominantes n o permitia concluir que o Brasil n o tivesse alcan ado um novo patamar pol tico Embora a Constitui o em elabora o estivesse aqu m do que deveria ser e conter FERNANDES 1989b p 217 218 esses eram os fatos hist ricos e de fatos hist ricos inexor veis n o h como fugir FERNANDES 2004b 209 Sem medo de continuar a ser como o abolicionista Jos Bonif cio uma voz solit ria no deserto FERNANDES 1989b p 215 o publicista insiste na tese de que o caminho a ser percorrido deveria ser o de se buscar fora do Parlamento os controles sociais indiretos que anulem suas anomalias Reconhecer que a ANC apesar de tudo ainda era naquele momento o centro de poder primordial da Rep blica era a condi o inicial para a 335 Odiai vos uns aos outros Folha de S Paulo 09 fev 1988 336 O significado hist rico da Assembl ia Nacional Constituinte Di rio da Assembl ia Nacional Constituinte 12 fev 1987 37
259. e que a educa o sempre express o de uma estrutura societ ria no caso presente de uma sociedade de classes que mina seus pr prios ideais democr ticos FERNANDES 1971b p 184 Assim se a reconstru o educacional deve ser pensada sob o respectivo pano de fundo o mesmo acontece em rela o quest o da democracia que tamb m n o era vista como um fim em si mesma j que como mostrava a tradi o sociol gica ao longo da hist ria de cada povo ela est sujeita a adaptar se maneira pela qual a respectiva sociedade concebe os direitos fundamentais da pessoa humana A educa o serve democracia na medida em que se decide usar as t cnicas pedag gicas democraticamente para amparar e expandir as convic es fundamentais da concep o democr tica do mundo formar personalidades democr ticas e robustecer tend ncias do comportamento fundadas no estilo democr tico de vida FERNANDES 1966 p 534 A quest o portanto se a escola vem na retaguarda ou na vanguarda das mudan as n o faz muito sentido para o soci logo O fato que dependendo da sociedade e da conjuntura hist rica a educa o tende a desempenhar fun es din micas ou est ticas sendo variavelmente e revelia dos desejos um fator de conservantismo ou inova o Na realidade esses dois tipos de fun o se interpenetram e se completam Qualquer que seja o grau de estabilidade do sistema social a educa o escolari
260. e que sustentava esta empreitada era que ao descortinar os fundamentos do que chamo de pedagogia socialista deste cone da moderna ci ncia social brasileira buscando compreender como as suas voca es de cientista e militante pol tico se apresentam durante toda a sua vida produtiva em seus escritos de articulista n o s ampliaria as possibilidades de respostas para essas perguntas como tamb m estaria colaborando para avan ar os estudos sobre a Hist ria da Educa o no Brasil especialmente no que diz respeito s rela es ntimas 3 Conferir Neves e Oliveira 2004 e Oliveira 2004a 20034 2003b 2003c 2002b 2002c Registro aqui o meu agradecimento ao Coletivo de Estudos de Pol tica Educacional coordenado pela professora L cia Neves principal interlocutor para a confec o destes textos Tive a companhia at mar o de 2003 do professor Jos Silv rio Ba a Horta quando ele se despediu da UFF para ingressar no Programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade Federal do Amazonas UFAM A partir da passei a contar com a orienta o do professor Giovanni Semeraro que vale ressaltar da mesma forma que o mestre Osmar F vero foi um importante colaborador nos dois primeiros anos de curso gt A partir de 2005 a nomenclatura dos campos de conflu ncia do Programa de P s Gradua o em Educa o da UFF foi modificada Educa o Brasileira e Movimentos Sociais e Pol ticas P blicas por e
261. ea Entre as vari veis que fortaleceram o caminho do doutoramento na rea educacional encontra se o seguinte epis dio Ainda no in cio de 2002 assisti a uma exposi o sobre a contribui o de Florestan Fernandes para as ci ncias sociais brasileira justamente como ouvinte numa disciplina do programa no qual desejava ingressar Al m de informa es relevantes que me ajudaram a visualizar de forma mais clara os passos que deveria dar para construir um projeto de pesquisa que justificasse minha passagem das ci ncias sociais educa o ficou a provoca o da expositora a pesquisadora Miriam Limoeiro Cardoso de que seu intuito ali era discorrer exclusivamente sobre aspectos centrais da obra sociol gica de Florestan e n o sobre os efeitos dessa obra na quest o educacional tarefa que em sua opini o deveria ficar a cargo dos p s graduandos daquela rea Mesmo sabendo que n o teria tempo h bil para aplicar diretamente as contribui es de Florestan Fernandes na montagem do projeto que esbo ava sa dali convencido de que as minhas investiga es passariam em algum momento a contar com esta nova fonte A novidade n o estava no desconhecimento do papel de Florestan Fernandes para a consolida o de um novo patamar das ci ncias sociais no Brasil Novo foi o vigoroso enfoque no car ter revolucion rio de sua obra assim como sua relev ncia e pertin ncia para a an lise cr tica de temas da atualidade entre os quais
262. ecimento deve a meu ver levar em conta mais do que a posteriormente confessada ilus o rom ntica sobre os limites da profissionaliza o cient fica no modo de produ o capitalista a import ncia t tica dessa ilus o realista para o enfrentamento conjuntural de uma tradi o intelectual pr cient fica pr pria de um capitalismo perif rico como nosso A tese foi defendida em 1964 Florestan assume a c tedra em 23 de fevereiro de 1965 fun o que ocupa at 24 de abril de 1969 quando afastado por aplica o do Ato Institucional n 5 durante a ditadura militar 100 Numa de suas ltimas entrevistas publicada em Lippi 1995b p 157 na qual se intitulava o maior soci logo brasileiro Ramos fala do aspecto ir nico e circunstancial de seu nacionalismo Eu digo que a na o uma coisa provis ria que desaparece Eu nunca me senti nacionalista Quer dizer aquilo era uma tarefa tinha se que ser nacionalista era a coisa mais vi vel naquele momento mais positiva Agora para os outros n o era um neg cio absoluto a na o uma categoria A na o nunca foi para mim uma categoria ela existencial 1 Sobre as ilus es rom ntica e realista de Florestan conferir a nota 76 68 Mesmo Oliva 1997 p 203 cr tico feroz da suposta confian a naif de Florestan Fernandes na infer ncia indutiva reconhece O indutivismo que estrutura o projeto de sociologia ci
263. ecipou a subst ncia da realidade hist rica do presente que estamos enfrentando com tantas ang stias e sobressaltos Cabe s classes subalternas e s camadas populares revitalizar a Rep blica democr tica primeiro para ajudarem a completar o ciclo da revolu o social interrompida e por fim colocarem o Brasil no fluxo das revolu es socialistas do s culo 20 FERNANDES 1998 p 35 112 O mito revelado Folha de S Paulo 08 jun 1980 75 Os estudos de Florestan sobre o dilema racial brasileiro integram assim um conjunto de reflex es sobre os limites da ordem social competitiva instalada no pa s reflex es essas que v o culminar na obra 4 revolu o burguesa no Brasil FERNANDES 1975b mas que se originaram ainda em meados da d cada de 50 e se mostraram maduras entre 1965 e 1967 Mais do que uma inflex o em sua produ o Miriam Limoeiro Cardoso afirma que os textos produzidos neste ltimo per odo concluem a constru o de seu esquema te rico de refer ncia para a explica o do Brasil com base no trin mio subdesenvolvimento depend ncia heteronomia Deste esquema ele fornece as primeiras indica es em 1955 em termos de depend ncia cultural e j expressa descobertas decisivas para elabor lo desde os textos de 1959 formuladas enquanto estado de depend ncia fundamental e como heteronomia econ mica pol tica e social dos pa ses subdesenvolvidos e
264. eformas dirigidas a partir de interesses internos o Brasil condena se segundo Florestan a incentivar uma pol tica estreita de continuidade prolongada secular e a absorver o tipo de depend ncia nascido da instrumentaliza o do Estado da ci ncia e da tecnologia utilizada pelos pa ses centrais e seus conglomerados empresariais Mas como nos lembra o pr prio soci logo h uma esp cie de processo educativo permanente nas rela es sociais em crise que sob condi es democr ticas pode engendrar a 46 combater forma o de um novo senso comum Nesse cen rio cabe ao educador socialista os instrumentos que bloqueiam as possibilidades de transforma o hist rica a come ar pela luta contra a cotidianidade um aspecto da vida cotidiana que transforma a realidade social numa realidade manipulada na qual paira uma aliena o extrema que provoca a mistifica o dos processos de reprodu o social materiais e simb licos Ao educador cabe ir al m da rotina da vida privada e escarafunchar a vida cotidiana do trabalho que n o deve ser reduzida id ia de contrato social Para isso preciso recuperar a mem ria dos segmentos populacionais marginalizados e mostrar que eles fazem Hist ria com H mai sculo a hist ria que atravessa a vida de pessoas concretas MARTINS 1998 p 198 E o resgate dessas mem rias pode revelar a verdade esquecida desses tempos de hegemonia do pensamento neoliberal a d
265. eira arma de luta O autor escreve com tens o combativa mas canalizada nos limites rigorosos da an lise pol tica e sociol gica combina o dif cil que todavia uma das marcas de Florestan Fernandes A sua vida intelectual pode ser vista de v rios ngulos Inclusive como longa tentativa de usar o rigor do conhecimento para intervir lucidamente nos graves problemas do nosso tempo Nele o soci logo o antrop logo o pensador constru ram uma base cient fica s lida sobre a qual se ergueu a plataforma do revolucion rio Como poucos no Brasil ele capaz de fazer do escrito um ato de combate que se nutre corretamente da for a conferida pelo saber rigoroso CANDIDO 2001 p 33 Pensando em sua especialidade o cr tico liter rio afirma que seu interesse centra se na forma o da prosa pol tica que Florestan alcan a com um teor alt ssimo de expressividade comunicativa Partindo da escrita pesada na mocidade cheia de mat ria e sem complac ncia com o leitor como ocorre frequentemente nos que se orientam pela busca da verdade acima de tudo CANDIDO 2001 p 33 34 progressivamente o soci logo foi 18 Florestan foi professor do curso de extens o cultural no Instituto Sedes Sapientiae entre 1976 e 1977 contratado pela PUC SP no ltimo trimestre de 1977 A partir de 1978 torna se professor titular desta institui o CERQUEIRA 2004a p 181 Com a anistia h um movimento de retorno dos
266. ela amplia o do notici rio e a ousadia gr fica Destaque para a atua o de Alberto Dines editor do jornal de 1961 a 1973 que consagrou a reforma do JB dando nova estatura ao jornalismo pol tico FERREIRA 1996 Ap s grandes dificuldades pela oposi o ao regime ditatorial sobreviveu nos anos 80 como ant tese do jornal O Globo mas com poucas condi es de enfrentar a concorr ncia do grupo dirigido pelo jornalista Roberto Marinho comandante de um imp rio empresarial em franca expans o especialmente pela proximidade que manteve com o poder pol tico durante e ap s a ditadura militar HERZ 1987 26 Os discursos do parlamentar na ANC encontram se reunidos em Fernandes 1988 2004b 264 Nessa mesma entrevista Florestan conta que numa das vezes em que foi instigado a aderir ao partido respondeu da seguinte forma a pergunta de Lula se ele era aliado ou inimigo do PT Isso n o pega comigo porque eu tenho origem inferior sua Comecei a trabalhar com 6 anos Para mim um oper rio tanto pode aderir 154 Eu preferia uma concentra o mais n tida de valores pol ticos oper rios dentro de uma tradi o que teria de ser anarquista ou marxista Como o anarquismo n o tem condi es de derrubar uma sociedade capitalista organizada a nica alternativa para mim era a marxista FERNANDES 1991c Ao decidir se filiar e se candidatar Florestan via a possibilidade de defender no Congresso as posi es que sempre pre
267. elo alcan ando assim um amplo espectro de temas Questionava sobretudo a implanta o do ide rio do Estado m nimo social e a incorpora o subordinada ao neocolonialismo o que 40 Esse tipo de atividade intelectual segundo Semeraro 2004 p 71 inspirando se no exemplo de Gramsci torna se org nica em diversas frentes no campo da produ o t cnica e especializada na sociedade civil com o objetivo de promover o consenso em torno de um determinado projeto de classe e por fim na sociedade pol tica para garantir as fun es jur dico administrativas e o efetivo exerc cio do poder 410 A desconfian a com a capacidade de Fernando Henrique Cardoso ser o Cavalo de Tr ia das elites brasileiras tamb m tinha como substrato o fato do ent o senador ter sido segundo Florestan em Alian as Urgentes Folha de S Paulo 04 dez 1989 o te rico do mudancismo da concilia o conservadora da Alian a Democr tica e da Nova Rep blica inspirada em Tancredo Neves FERNANDES 1990 p 31 216 se dava atrav s da privatiza o do aparelho estatal especialmente com o desmantelamento do sistema de produ o de conhecimento brasileiro e da n o supera o dos dilemas educacionais Como veremos a seguir sem propugnar qualquer volta ao nacional desenvolvimentismo Florestan n o deixa de lembrar da necessidade de constru o de um projeto nacional de reformas dirigidas a partir de interesses i
268. em jeito de reformador social 29 Queria ser professor e poderia atingir esse objetivo atrav s de v rios cursos O meu vago socialismo levou me a pensar que poderia conciliar as duas coisas a necessidade de ter uma profiss o e o anseio reformista de modificar a sociedade cuja natureza eu n o conhecia bem mas me impulsionava na escolha das alternativas FERNANDES 1977 p 154 Assim ap s estudar os caminhos poss veis Florestan ingressa em 1941 aos 21 anos no curso de Ci ncias Sociais da Faculdade Filosofia Ci ncias e Letras da Universidade de S o Paulo FFCL USP obtendo sucesso num dif cil processo de sele o o que para ele tinha um duplo significado a a anula o do atraso escolar b a prova de que tinha capacidade compar vel a dos colegas que haviam seguido o percurso normal FERNANDES 1977 p 155 No entanto rapidamente ele percebeu que as dificuldades estavam apenas come ando Os mestres estrangeiros que formavam a maioria do quadro de professores al m dar suas aulas na pr pria l ngua n o levavam em conta as defici ncias dos alunos e procediam como se eles dispusessem de uma base intelectual equivalente que se poderia obter no ensino m dio franc s alem o ou italiano Al m disso optavam por cursos monogr ficos que exigiam conhecimentos pr vios que n o estavam disposi o dos alunos O que impunha uma sa da paradoxal um autodidatismo intensivo nem sempre supervision
269. em social competitiva integrando ao discurso liberal republicano pr ticas autocr ticas de domina o pol tica c um capitalismo dificil porque dependente cujo desenvolvimento econ mico refreado pela falta de organiza o pol tica e de liberdade democr tica CARDOSO M 1987 p 243 245 Para dar conta do problema a chave anal tica para Florestan deve recair sobre as transforma es do capitalismo em n vel mundial especialmente ao que se refere crise do poder burgu s sob a transi o do capitalismo competitivo para o monopolista a que ele faz a importante descoberta de que a particularidade Brasil pertence generalidade capitalismo atrav s da especificidade capitalismo dependente N o f cil submeter an lise uma particularidade estrutural e hist rica cuja especificidade essa formula o era desconhecida n o se encontra somente nela mas tamb m al m dela particularidade que assim preciso apreender n o apenas enquanto singularidade mas al m desta por dois n veis mais gerais as suas determina es geral e espec fica Florestan manifesta essa dificuldade especialmente quando mant m na an lise as designa es interno e externo ou dentro e fora ao se referir quer s rela es entre Brasil e capitalismo dependente quer entre este e o capitalismo em geral CARDOSO M 2005 p 11 IT Mas ser superando as amarras conceituais e te ricas de sua s lid
270. en menos sociais e culturais 3 Florestan concluiu o curso de Ci ncias Sociais da USP em 1943 ainda licenciando se em Did tica no ano de 1944 A partir de 1 de mar o de 1945 ele assume o cargo de segundo assistente da cadeira de Sociologia II permanecendo na fun o at 27 de novembro de 1952 quando se torna o primeiro assistente da cadeira de Sociologia I CERQUEIRA 2004a 180 35 aceitar a mais nova oferta do diretor da Faculdade de Filosofia possibilitando lhe passar da aprendizagem em extens o para a aprendizagem em profundidade FERNANDES 1977 p 168 Inspirado pela experi ncia de assistente de uma importante personalidade da rea educacional Florestan submete se aos exames de ingresso p s gradua o em sociologia e antropologia da Escola Livre de Sociologia e Pol tica ELSP de S o Paulo Objetivava com isso sanar suas defici ncias intelectuais e experimentar uma forma o mais pr xima do ideal de ci ncia social norte americana o que n o tinha tido na Faculdade de Filosofia da USP Embora frutos de uma mesma conjuntura social e pol tica as respectivas institui es al m de terem sido fundadas com objetivos diferenciados desenvolveram estrat gias distintas de reconhecimento p blico com a primeira mostrando se voltada mais para o campo da pesquisa emp rica sob a influ ncia da Escola de Chicago e a segunda produto de uma alian a entre intelectuais e empres rios culturais
271. enadoria de Comunica o Social da Universidade de S o Paulo n 29 p 82 85 mar mai 1996 OZA da Silva Antonio As origens e ideologia do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado PSTU Espa o Acad mico Maring ano 1 n 3 ago 2001 Dispon vel em lt www espacoacademico com br gt Acesso 24 mar 2005 PEIRANO Mariza G S Uma antropologia no plural tr s experi ncias contempor neas Bras lia Editora da Universidade de Bras lia 1992 251 PEREIRA Jo o Baptista Borges A quest o racial brasileira na obra de Florestan Fernandes Revista USP S o Paulo Coordenadoria de Comunica o Social da Universidade de S o Paulo n 29 p 34 41 mar mai 1996 Ra a e classe social no Brasil In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 151 160 PINTO Jo o Alberto da Costa Historiografia projeto te rico e pr ticas institucionais um estudo de caso Nelson Werneck Sodr e o ISEB In MENDON A Sonia Regina de Org Estado brasileiro ag ncias e agentes Niter i EdUFF V cio de Leitura 2005 PINTO Renan Freitas A sociologia em quest o Id ias Campinas Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas da Unicamp ano 4 n 1 2 p 25 42 jan dez 1997 A sociologia de Florestan Fernandes Tese Doutorado em Ci ncias Sociais Pontif cia Universidade Cat lica de S o Paulo S o Paulo 199
272. ender o ensino prim rio a todos os indiv duos em idade escolar ou acima desta quanto n o o possuam e assegurar a todas as regi es do Pa s independentemente de sua estrutura demogr fica e de suas riquezas econ micas meios para incentivar esse desiderato Em segundo lugar imp e se diferenciar internamente o sistema educacional brasileiro de modo a dar maior amplitude s fun es educacionais dos diferentes tipos de escolas ajustando as convenientemente s necessidades educacionais das diversas comunidades humanas brasileiras Da escola prim ria escola t cnica e escola superior democratiza o do ensino aqui significa literalmente revolu o educacional leva nos primordialmente para a mudan a de mentalidade e de h bitos pedag gicos redefinindo o uso social da educa o atrav s de novas concep es educacionais e da correspond ncia efetiva para com as exig ncias educacionais de nossa poca Em terceiro lugar por fim imp e se abolir a sele o educacional com fundamento em privil gios de riqueza de posi o social de poder de ra a ou de religi o FERNANDES 1966 p 128 129 De acordo com Rom o 2003 p 40 al m de participar da Campanha com todas as suas for as Florestan mobilizou para ela alguns de seus assistentes na USP tais como Fernando Henrique Cardoso Marialice Foracchi Octavio Ianni e Luiz Pereira 97 A seguir a Comiss o de Educa o e Cultura da
273. ent fica de Florestan pode ser visto como uma saud vel rea o ao desprezo que algumas correntes sociol gicas no Brasil nutriam pela aferi o das bases de sustenta o emp rica das infer ncias que faziam em suas pesquisas Num ambiente cultural muitas vezes dominado por uma verborragia pedante que em sua pretensa auto sufici ncia explicativa legitima seus resultados circularmente sem especificar qualquer dom nio de evid ncia confirmadora ou refutadora foi mais do que oportuno o surgimento de uma postura metodol gica como a de Florestan que conclamava os discursos com pretens es cient ficas a enfrentarem o tribunal dos fatos Com a implanta o de um novo padr o de trabalho intelectual no pa s Florestan Fernandes revela uma segunda dimens o de sua milit ncia cient fica Uma ci ncia social que ao requisitar uma cidadania brasileira levando a marca feito no Brasil PEIRANO 1992 p 84 se destaca pelo envolvimento com os destinos da na o sem questionar o car ter universal dos procedimentos te ricos e metodol gicos o que inclui a luta por boas condi es de ensino pesquisa e aplica o da atividade cient fica garantias para que ela possa ser desenvolvida de modo cont nuo e orientada pelos melhores motivos poss veis A partir da iniciando a passagem de uma sociologia da esperan a para uma sociologia da interven o os esteios de uma futura sociologia do confronto os tema
274. ente Uma coisa constatar que o padr o endog mico resultante da ordem matrimonial existente era contrabala ada por uma vida sexual livre e ativa atrav s da qual se processava a miscigena o entre negros e brancos Outra perceber que o preconceito de cor contribu a para perpetuar a ordem senhorial vigente medida em que ele operava como um fator de segrega o social Ele n o visava evitar nem mesmo restringir a miscigena o Mas ao contr rio fazer que esta se processasse sem afetar substancialmente as posi es rec procas dos dois grupos de ra as no sistema social FERNANDES 1971a p 90 173 herdeiros do cativeiro come am a afirmar se como homens livres e cidad os Isso evidencia que Florestan apesar de comprometido at a sua morte com o programa socialista SAES 1997 p 77 n o se permite uma leitura idealista sobre as possibilidades concretas dos que sofrem as conseq ncias mais nefastas de um determinado modo de produzir e viver como ocorreu no estudo das rela es raciais apesar da confessa proje o endop tica com a situa o humana do negro Poder se ia ressalvar que o pr prio Florestan reconhece que uma das limita es de 4 revolu o burguesa no Brasil que a estrutura antag nica da sociedade de classes foi apanhada do ngulo dos estratos dominantes das classes possuidoras defendendo por m que esse constitui um bom m todo explicativo quando n o se p
275. entidade libert ria socialista ou comunista Sob exig ncias pol ticas inesperadas dentro da Constituinte v rios avan os relativos foram impressos nas subcomiss es nas comiss es tem ticas na comiss o de sistematiza o e por fim no plen rio da ANC Constrangida a maioria conservadora deu um aut ntico golpe parlamentar derrubou o regimento aprovado por seus pr prios deputados para bloquear os dispositivos constitucionais 39 66 avan ados estatizantes e comunizantes 346 As contradi es do Centr o Folha de S Paulo 26 abr 1988 7 Em Esperan as amea adas Folha de S Paulo 22 mai 1988 Florestan comenta que os procedimentos legislativos adotados as parcialidades da mesa diretora em momentos controversos os acordos e as fus es de emendas converteram a ANC em um congresso comum no qual se vota uma carta constitucional FERNANDES 1989b p 276 186 Safa Para o Brasil n o seria mau que a Constitui o tivesses tais defeitos que marcam as constitui es mais recentes de pa ses capitalistas com problemas e dilemas de desenvolvimento econ mico desigual atraso cultural e anemia pol tica na democratiza o da sociedade civil e o Estado Agora o Centr o desfruta sua conquista e ao mesmo tempo est como algu m que abocanhou um peda o maior que a barriga As contradi es da sociedade brasileira desabam sobre ele os seus membros e os seu
276. ento encarnava o modelo de intelectual moderno uma esp cie de lugar institucional que oferece as condi es de supera o da ambigiiidade das rela es da juventude com os protetores oriundos de camadas sociais privilegiadas GARCIA 2002 p 102 Ao contr rio Florestan ainda era afetado por uma amb gua condi o intelectual que deslizava entre a inseguran a dadas as suas condi es de reprodu o material e a autoconfian a devido ao autodidatismo que apresentava Depois de alguns encontros durante a gradua o a amizade se consolidou no epis dio que levou Florestan a se tornar o segundo assistente de Fernando de Azevedo quando Candido fez uma interven o crucial levando o renitente aluno a Depoimento ao autor em novembro de 2005 37 A Folha da Manh foi fundada em 1925 Em 1960 funde se com os jornais Folha da Noite e Folha da Tarde para cria o da Folha de S Paulo jornal que como veremos no cap tulo 5 ter importante participa o no processo de redemocratiza o na d cada de 80 38 Segundo Garcia 2002 p 146 na hist ria da institucionaliza o das ci ncias sociais no Brasil Candido e Florestan corporificam de maneira distinta a oposi o entre ci ncia e arte caracter stica da modernidade a partir da qual se desenvolvem vertentes distintas de concep o e pr ticas sociol gicas em disputa entre si pela defini o da natureza leg tima da perspectiva de conhecimento dos f
277. ento maci o para o atendimento qualitativo da massa populacional que tem na escola p blica sua nica possibilidade de acesso aos bens sociais Por fim vale ressaltar que em todos os n veis deve prevalecer o imp rio do esp rito p blico condi o fundamental para a exist ncia do pluralismo de id ias como possibilidade de consolida o dos ideais democr ticos Isso porque como afirma Neves 2000 p 97 a escola de propriedade privada tendencialmente restringe sempre mais a possibilidade de alcance da democratiza o do espa o escolar por expressar prioritariamente interesses espec ficos particulares Terminando uma de suas teses o soci logo Fernando Henrique Cardoso 1964 colocava a quest o subcapitalismo ou socialismo Sabemos que a op o pelo segundo 4 FERNANDES Florestan Combate fome Folha de S Paulo 03 jan 1994 p 1 2 48 FERNANDES Florestan A festa da caridade Folha de S Paulo 2 jan 1995 p 1 2 Uma breve reflex o sobre a rela o entre o terceiro setor e os meios de comunica o encontra se em Oliveira 2003e Assim acredito poder o perceber que os efeitos perversos que est o sentindo pelo uso e abuso das novas estrat gias de solidariedade burguesa da qual o trabalho volunt rio camuflado pelas pol ticas de est gio treinamento terceiriza o e cooperativismo s um exemplo s o sintomas de um processo muito maior que a falta de uma vis o sist
278. ento social constitu a se como uma alternativa democracia pluralista vigente nas sociedades ocidentais capitalistas dependentes ou n o por se insurgir contra a manipula o de pessoas interesses econ micos e valores pol ticos por uma parte das elites respaldadas por 208 Os de baixo Folha de S Paulo 20 jun 1984 202 A esquerda e a Constitui o Folha de S Paulo 11 jun 1986 20 A ditadura sem m scara Folha de S Paulo 06 jul 1984 211 Ainda as diretas Folha de S Paulo 16 out 1984 134 eficientes partidos em confronto nos sistemas representativos abertos Segundo o publicista a rela o hist rica das classes trabalhadoras com a democracia permite situ las como classes revolucion rias pois a sua necessidade pol tica de democracia n o se esgota com a revolu o dentro da ordem apenas se inicia com ela FERNANDES 1986 p 147 Mas enquanto os trabalhadores lutam por uma democracia de conte do social os conservadores os liberais e os radical democratas se preocupam apenas em restaurar ou resguardar a democracia Nos Estados Unidos por exemplo o modelo liberal por excel ncia os limites desse tipo de democracia s o patentes Passadas as elei es o poder fica nas m os de oligarquias partid rias de lobbies bem organizados e dotados de fundos s lidos de grupos de interesses e de press o e de organiza es governamentais que operam
279. eoliberalismo prescindem de uma fortissima carga ideol gica e de uma esp cie de Estado que converte a democracia dos mais iguais em requisito do capitalismo Nada de utopias apregoam como se a humanidade tivesse 453 Sondagens e propaganda Jornal do Brasil 30 mai 1989 454 Segundo Florestan uma contradi o em termos j que ao se tornar poss vel uma utopia deixa de existir FERNANDES apud MARTINS J R 1998 p 15 237 esgotado o seu potencial inventivo no progresso inerente invas o de todos os lares pela televis o e nas maravilhas de um welfare State que atesta a fal ncia da civiliza o capitalista FERNANDES 1990 p 212 Como assevera Florestan h qualquer coisa de podre em um universo intelectual em que n o se compreende o significado da hist ria em processo preferindo se a especula o est ril de que a hist ria n o existe FERNANDES 1990 p 156 Ao inv s disso fica para n s a tarefa de levar frente o inconcluso programa pol tico cient fico pedag gico do radicalismo plebeu florestaniano muito bem sintetizado por Gabriel Cohn da seguinte maneira Trabalhar na margem para vencer a condi o marginal visar ao centro sem instalar se nele buscar sempre identificar as condi es objetivas para a aplica o de t cnicas democr ticas de interven o na realidade social na busca de novas formas de organiza o compat veis com a realiza o de tod
280. er descartada O resultado que o Projeto Unesco ao inv s de encontrar solu es para os problemas raciais acabou por identificar uma forma espec fica de preconceito e discrimina o O Brasil como laborat rio mostrou se oposto id lica id ia de que o seu modelo de escravid o teria sido mais humano do que outros e o mais importante suas consequ ncias estavam longe de confirmar o mito da democracia racial que se havia propagado inclusive por alguns estudos acad micos Nesse processo o soci logo que adquiriu maior visibilidade foi o antes reticente Florestan Fernandes MAIO 1999 p 152 que al m da participa o na pesquisa em si aproveitar essa experi ncia para impulsionar o seu trabalho frente cadeira de Sociologia 104 Gilberto Freyre por exemplo ao discutir os estudos de autores racistas formula uma interpreta o do Brasil como sociedade constitu da na base por uma democracia racial resultado da interpenetra o de v rias etnias e culturas em harmonia Interpenetra o essa conseguida gra as a uma organiza o social desenvolvida no tr pico tendo por base o patriarcalismo sustent culo de rela es sociais nunca marcadas pelo antagonismo BASTOS 1987 p 140 71 106 I da Faculdade de Filosofia da USP Al m de publica es conjuntas com Bastide alguns de seus assistentes ir o consolidar suas carreiras com o tema tal como Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni
281. eres humanos respons veis da mesma sociedade FERNANDES 1989d p 196 Para uma releitura da pol mica no campo educacional conferir o texto de Nosella 2004 170 Os educadores e as exig ncias educacionais do presente O Estado de S Paulo 14 fev 07 mar e 04 abr 1959 113 brasileira Contra tudo contra todos e at contra motivos pessoais ego sticos precisa lutar o educador brasileiro para atender e p r em pr tica uma filosofia educacional construtiva capaz de mudar a mentalidade do homem atrav s da educa o das novas gera es e da reeduca o das velhas FERNANDES 1966 p 122 No caso de Florestan a fus o entre o educador e o cidad o teve in cio ainda nos tempos de professor de sociologia quando conseguiu superar seu comensalismo predat rio para compreender melhor sua fun o docente A fase inicial foi dura para mim e para os estudantes Como todo professor jovem eu n o estava preparado para ensinar em cursos de gradua o Esses cursos ao n vel introdut rio requerem professores de longo tiroc nio maduros no trato com a mat ria e com o ensino Ora eu estava tamb m reaprendendo Em consegii ncia excetuando se um curso semestral de coment rio cr tico de As regras do m todo sociol gico que dei em 1945 professei cursos inevitavelmente indigestos nos quais os meus pontos de chegada se convertiam nos pontos de partida dos estudantes Aos poucos esse tipo de en
282. ermo utilizado por Em lia Viotti 1995 p 8 para designar o uso por Florestan de v rios autores para conciliar rigor acad mico e milit ncia pol tica quest o que tem atormentado sen o mesmo paralisado muitos intelectuais do nosso tempo 55 deixar uma marca apenas superficial no seu esp rito COGGIOLA 1995 p 14 Ao tentar fundar uma sociologia cient fica no Brasil integrada a uma matriz marxista n o dogm tica Florestan acaba por se aproximar da seguinte defini o de padr o sociol gico defendido por Pierre Fougeyrollas apud COGGIOLA 1995 p 13 A pretensa concilia o entre ci ncias sociais e marxismo objetivo confesso de um certo ecletismo universit rio compar vel ao casamento da gua com o fogo cujo resultado s poderia ser a extin o do fogo Entre a ideologia das ci ncias sociais e o marxismo como cr tica radical de qualquer ideologia preciso escolher E escolhendo o marxismo poss vel integrar os saberes fragment rios fornecidos pelas ci ncias sociais enquanto que escolhendo as ci ncias sociais como tais completamente imposs vel integrar o marxismo Um ind cio de que o marxismo que integra s outras correntes de pensamento da sociologia cl ssica na obra de Florestan est em Os problemas da indu o na sociologia publica o original de 1954 que na verdade uma prele o feita pelo soci logo aos professores de sociologia de escolas norma
283. ersas fases na trajet ria de Florestan tamb m n o significa a nosso ver que as transi es se deram em rupturas mas numa dimens o tica que coaduna o percurso de matura o individual e as condi es hist ricas Essa dimens o tica diz respeito a sua forma de incorporar a cren a na racionaliza o da vida social durante o processo de sua ascens o profissional A hist ria de vida de Florestan mesclando realismo e idealismo fornece nos uma obra voltada para a explica o racional da realidade social mas tamb m uma subjetividade marcada por uma certa utopia de racionaliza o da conviv ncia humana Mesmo quando adere aos equ vocos de seu tempo j que seus escritos refletem sempre o 2277 esp rito de uma poca Florestan se posta como um intelectual exemplar por n o se 74 Por outro lado sob a mobilidade imposta pelo emprego de dom stica de sua m e que o fez conhecer in meros bairros de S o Paulo e v rios tipos de vizinhan a pelas frestas das brincadeiras e das amizades com os meninos de rua Florestan diz ter descoberto as nuances de car ter humano percebendo que o grande homem n o o que se imp e aos outros de cima para baixo ou atrav s da hist ria o que estende a m o aos seus semelhantes e engole a pr pria amargura para compartilhar a sua condi o humana com os outros dando se a si pr prio como fariam os meus Tupinamb Os que n o tem nada que dividir repartem com o
284. ert las em vantagens reais postas em pr tica gra as ao Estado de transi o permanente Os superlucros dos bancos por exemplo derrotam a hiperinfla o a ciranda financeira produz deslocamentos que p em em perigo o sistema de produ o mas aumentam o volume da riqueza nos bolsos dos mais ricos e poderosos o caixa dois ajuda a corroer ainda mais a crise fiscal do Estado sob seu pleno consentimento pois n o se deixa de pagar impostos sem provocar rastos mas contribui pra elevar a participa o das grandes empresas nacionais e estrangeiras no excedente econ mico FERNANDES 1989b p 334 335 Esse quadro tenebroso n o inclui os rombos da d vida externa e do d bito p blico que possuem conex o direta com a transfer ncia de riquezas dos assalariados dos 371 Fluxo e refluxo Jornal do Brasil 15 ago 1988 372 Crise e concilia o Folha de S Paulo 19 ago 1988 197 trabalhadores semilivres para o Estado e por conseqgi ncia para a alta burguesia Para Florestan o momento era o de se aproveitar da crise expressa especialmente na perda de poder aquisitivo dos trabalhadores para impedir o advento de outros governos an logos a partir de uma compreens o da Constitui o como uma revolu o a fazer aproveitando dela os dispositivos que ajudam a incorporar os menos abastados sociedade civil dotando os de peso e voz para democratizar o Estado Por exemplo o dispo
285. es Ao seguir os passos da luta de Florestan em defesa dos principios democr ticos e pela constitui o de um sistema educacional condizente com esses principios al m de asseverar a validade do seu olhar sociol gico para a an lise da rela o educa o democracia na segunda metade do s culo XX no Brasil espero tamb m deixar evidente que o trabalho por ele realizado como articulista demonstra n o s a sua integridade b sica como homem pensador e cientista como cumpre um efetivo papel de pedagogia das causas sociais o que garante seu lugar na hist ria da imprensa brasileira como um verdadeiro publicista revolucion rio Acima de tudo por m mais que uma singela homenagem a este honor vel homem p blico este trabalho um convite para que outras pessoas se sintam instigadas a buscar nos textos originais de Florestan Fernandes subsidios para a compreens o da realidade em que vivemos qui para a elabora o de poss veis formas de interven o e transforma o 5 A maior parte dos escritos jornal sticos deste per odo publicados principalmente nos jornais Folha de S Paulo e Jornal do Brasil est o reunidos em Fernandes 1998 1995a 1995c 1990 Parte 1 O MILITANTE DA CI NCIA 24 Cap tulo 1 A FORMA O DE JORNALISTA MILITANTE DA CI NCIA H pouco interesse em descrever a variedade de ocupa es a que precisei dedicar me ou as aventuras e desventuras que pontilharam uma inf n
286. es 1979 166 Obviamente sem a ilus o do autor de Da democracia na Am rica de que a democracia a ao mesmo tempo todo poderosa e est em toda parte na medida em que a a o da sociedade sobre ela mesma figura a como o essencial da vida pol tica e no entanto moderada se for verdade que a paix o igualit ria protegida a contra seus pr prios excessos FURET 1993 p 1235 Segundo Florestan tal confronto anal tico n o pretende insinuar que nas comunidades europ ias ou norte americanas a civiliza o industrial tenha se desenvolvido de modo org nico e perfeito FERNANDES 1979a p 83 112 de pessoas valores e movimentos sociais MATUI 2001 p 63 O educador n o pode estar alheio a essa dimens o E o que muito importante se ele se colocar do lado da mudan a atento por m aos poss veis sentidos que ela pode ter ter que realiz la em dois n veis dentro e fora da escola r Assim poss vel arrolar v rios problemas e temas que mostram a necessidade de o professor no seu cotidiano ter uma consci ncia pol tica aguda e agu ada firme e exemplar N o que ele deva se tornar um Quixote ou espadachim Mas ele precisar ter instrumentos intelectuais para ser cr tico diante dessa realidade e para nessa realidade desenvolver uma nova pr tica que v al m da escola FERNANDES 1989d p 170 A antiga e sempre premente quest o colocada por Marx da educa o do educador
287. es Jr novembro de 2005 Helo sa Fernandes Silveira novembro de 2005 Ricardo Antunes novembro de 2005 V deos FLORESTAN Fernandes o mestre Dire o de Roberto Stefanelli Bras lia TV C mara 2004 Dispon vel em lt http www camara gov br internet tvcamara default asp selecao MAT amp Materia 13144 gt Acesso em 25 de julho de 2005 FLORESTAN Fernandes 1994 Programa Roda Viva S o Paulo Cultura Marcas 2005 1 DVD 85 min
288. es b sicas que todo investimento disciplinar em sua g nese ocorre por um exerc cio interdisciplinar de avan o ou nega o de uma disciplina anterior ou vigente e que a constitui o epistemol gica das disciplinas possui similaridades se n o integrais no m nimo an logas Um bom exemplo de como ocorreu esta articula o num momento de g nese disciplinar est na sociologia de Durkheim portadora de conte dos espec ficos derivados do debate com a filosofia social a partir de um vocabul rio inspirado nas ci ncias naturais que passa a defender uma explica o sociol gica dos fen menos que at ent o no seu ponto de vista passavam privilegiadamente pela ontologia individual O surgimento de uma disciplina pressup e distin es em rela o a outras disciplinas j constitu das Por isso a sociologia para Durkheim projetar se ia com a hip tese de que n o qualquer id ia que pode ser tratada como coisa a sua unidade de an lise mas a que adquire o car ter de consci ncia coletiva fundamental para a reprodu o social Fundado no pressuposto de que as id ias n o desaparecem com o indiv duo que pensa nem s o propriedades dele Durkheim criou um novo campo de explica es para fen menos at ent o imbricados no campo da psicologia que se voltava para a representa o individual Pode se assim identificar neste autor um exerc cio inter disciplinar referenciado desconstru o de imigra o da
289. es esp rios A prote o petista portanto n o provinha de suas origens oper rias ou de suas posi es socialista Provinha de sua idade e de seu idealismo por vezes cru e ing nuo que o impulsionava nas contesta es solidariedades e sacrif cios exigidos pelas lutas cotidianas Lan ando se ao inevit vel a disputa do poder oficial ainda em forma o e sem ter resolvido se era e o que seria um partido de massas e socialista corria o risco de optar por um arco de alian as vi vel e promissor como defendia alguns de seus l deres em detrimento de conferir aos oprimidos meios pr prios de luta pol tica para a conquista coletiva de melhores condi es de vida e posteriormente de avan o ao socialismo Para Florestan a quest o candente eram as tarefas do proletariado nos seus mais variados n veis e em conjunto na transforma o da sociedade civil e na luta pela hegemonia pol tica Com as condi es objetivas frente das condi es subjetivas de consci ncia e de luta cujo sintoma era a falta de satura o das entidades sindicais pelos trabalhadores e a n o politiza o dos movimentos sociais e das organiza es locais pelas camadas populares a consequ ncia de um aliancismo ing nuo ou oportunista levaria perpetua o da dispers o dos votos do povo e consequentemente o fortalecimento dos blocos de poder da burguesia 30 A transi o p s constitucio
290. es trabalhadoras COUTINHO 2000 p 259 146 revolucion rio sempre um conflito de viol ncia entre classes que pode eventualmente resultar em concess es m tuas regulamenta o das disputas violentas e penaliza o da viol ncia destrutiva anti social e antinacional Assim se n o irrelevante o debate sobre a hip tese de que Florestan n o teria apreendido corretamente o sentido de algumas no es gramscianas COUTINHO 2000 p 250 as quais aparecem em n mero consider vel em seus escritos jornal sticos dos anos 80 fundamental para a quest o aqui em foco a constata o como admite o pr prio cr tico da validade anal tica e pol tica do seu salutar radicalismo Florestan desmistificou muitas das ilus es que dominavam setores importantes da esquerda em sua avalia o da situa o aberta com a chamada Nova Rep blica uma express o que lucidamente ele sempre fazia acompanhar de aspas ou de um ponto de interroga o Quando hoje luz do que agora sabemos dos governos Jos Sarney Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso reexaminamos a den ncia florestaniana das tend ncias regressivas e conservadoras contidas na nova fase hist rica que ent o se iniciava somos for ados sem grifo no original a constatar que muito daquilo que a alguns de n s parecia na poca manifesta o do sectarismo do velho Florestan era ao contr rio a confirma o da sua lu
291. escola a Igreja a empresa e o Estado A pr pria ANC pela sua composi o acabou por se curvar a esse arco convencional imbat vel e tentou conciliar a moderniza o conservadora com os interesses estabelecidos pela ordem existente o que naquelas condi es hist ricas era sociologicamente fata FERNANDES 1989b p 165 O quadro anunciava Florestan aos seus leitores n o era uma novidade e j havia sido descrito por ele logo em seu nascedouro no livro Nova Rep blica FERNANDES 1986b A transi o democr tica foi um neg cio pol tico da burguesia nacional e estrangeira em associa o com seus partidos da ordem para que a extin o da ditadura militar n o fosse abrupta sob o risco de se perder o controle sobre seus efeitos Prisioneiro dos compromissos com esses setores o governo lan ou m o de uma concilia o conservadora que ao contr rio do que parecia refor ava a domina o pol tica e a hegemonia ideol gica dos estratos nacionais da burguesia e do sistema capitalista mundial de poder Para que tudo isso fosse pelos ares seria imperativo que a burguesia nacional travasse uma luta de vida e de morte com o sistema capitalista mundial de poder com a retaguarda garantida pelo vetor militar Ora a burguesia nacional n o nem nacionalista nem conquistadora ela t o internacionalizada quanto o seu mundo de neg cios e de privilegiamento da iniciativa privada
292. esia nacional d bil de duas faces FERNANDES 1989b p 284 285 351 O segundo turno Jornal do Brasil 28 mai 1988 352 Para Florestan o neoliberalismo antes de tudo uma mistifica o que ergue uma blindagem a qualquer auto explica o do seu significado Em suas duas polaridades b sicas neocl ssica conservadora e neocl ssica liberal assume uma posi o de defesa intransigente do status quo Depois da exaust o do liberalismo s poderia acontecer isso o qualificativo liberal apenas tem sentido como proposi o da abertura do mercado para as corpora es gigantes e o enlace do governo com o desenvolvimento capitalista especialmente na transfer ncia de riqueza p blica nacional para o setor privado em termos dos interesses das corpora es gigantescas e do seu complexo industrial militar FERNANDES 1991a p 23 353 O segundo turno Jornal do Brasil 28 mai 1988 354 A Constitui o e seu espelho Jornal do Brasil 02 jun 1988 189 Burguesia essa que n o se reconhece no estado de atraso inerente ao desenvolvimento desigual E que postulava um novo arco hist rico sob a press o vinda dos de baixo agu ada por uma crise econ mica que afetava os valores axiol gicos de in meros segmentos sociais A classe m dia tradicional e a pequena burguesia por exemplo sem compensa es diretas na distribui o de renda passavam por uma profunda crise moral pela amea
293. ess ria raz o pr tica se torna absoluta em detrimento da imprescind vel raz o cr tica MARCUSE 1999 os valores e os significados expressos pelo texto florestaniano num primeiro momento podem parecer nada mais do que deslocados qui alien genas No entanto sua radicalidade e seu efeito de desconforto mostram se fundamentais para que tenhamos condi es de fazer uma necess ria cr tica dos fatos e da informa o que consumimos e assim combatermos o sistema de fabrica o de not cias que engendra o ilusionismo da cultura comercial de massas FERNANDES 1995b 167 do qual a pol tica se torna cada vez mais ref m Um exemplo dessa pr tica de ilusionismo Florestan vai encontrar no padr o de qualidade jornal stica do maior partido pol tico do pa s Os narradores e os jornalistas t m de obedecer a uma estandardiza o no modo de falar de tecer coment rios de evitar as contradi es chocantes de atrair interesse e curiosidade desideologizando a linguagem de vestir se de tomar um tom de or culo e impositivo ao focalizar o rotineiro pela superf cie de simular que atr s de cada relato existe uma permanente descoberta jornal stica em processo etc H uma alta qualidade invari vel na comunica o com o ouvinte Por m penetra se no mundo mental da plastifica o cuidadosa e bem servida n o na rea do pensamento inquiridor ou criativo que ajude algu m a evadir se de
294. esse se contrapor internacionaliza o do modo de produ o capitalista Para os de baixo a luta encontrava se no elementar na quest o da sobreviv ncia cotidiana contra a mis ria e o desemprego a conquista de m nimos de uma vida social civilizada e da condi o de gente Sob revoltas espont neas esbo ava se um grau de consci ncia social inorg nica cercada pelo falso compadrio o paternalismo o clientelismo e o mandonismo que vergam a vontade e a cabe a desses seres humanos geralmente induzidos capitula o passiva ou vingan a inoperante espraiada na viol ncia cotidiana Alguns por m conseguem forjar instrumentos de autodefesa e chegam luta econ mica social e pol tica ingressando ou criando associa es de aux lio m tuo sindicatos centrais sindicais e inclusive partidos que se fortaleciam com as chamadas emendas populares Sob esse solo hist rico desenrolava se a ANC que no momento da vota o em plen rio indicava um novo ponto de partida para o erigir de um outro sistema de governo que s se realizaria sob novas premissas hist ricas quando as classes trabalhadoras quebrassem as algemas da subalterniza o e tivessem condi es para enfrentar os contras os famosos 1 ou 5 dos privilegiados que moram nascem crescem vivem e morrem aqui por m n o possuem entranhas de brasileiros FERNANDES 1989b p 185 259 326 Os contras J
295. esta pesquisa estar em 4 integra o do negro na sociedade de classes FERNANDES 1965 obra com a qual Florestan se torna catedr tico da USP promovendo a desconstru o do mito da democracia racial brasileira e combatendo as explica es culturalistas sobre a forma o do car ter nacional demonstrando que a dita n o integra o do negro na sociedade de classes devia se pauperiza o decorrente de sua exclus o do mercado de trabalho Alimentavam se nos termos de Garcia 2002 os passos para a supera o de uma sociologia no Brasil por uma sociologia do Brasil Mas ao inv s de uma sociologia nacional tal como proposta por Guerreiro Ramos em sua defesa de redu o dos m todos e procedimentos sociol gicos ao compromisso com a na o Florestan vai defender que preciso associar ambi es te ricas investiga o dos fen menos sem esquecer que se precisa contribuir tanto para o conhecimento sociol gico do Brasil quanto para o progresso da sociologia como ci ncia LIPPI 1995b p 106 Reconhece portanto o inevit vel comprometimento com o meio social e cultural especialmente as injun es postas no horizonte intelectual do pesquisador assim como as constri es do ponto final no momento da utiliza o dos resultados pela comunidade Uma an lise de sua defesa estrat gica pelo resguardo radical dos m veis extracient ficos para um produtivo processo de elabora o do conh
296. estudantis nas fam lias nas igrejas nas escolas nos partidos nas escolas de samba nos centros de cultura etc em todas as situa es grupais concretas e cotidianas os prolet rios e oprimidos negam a ordem social capitalista sua teia de espolia o econ mica de domina o social e cultural ete FERNANDES 1986a p 116 117 118 Como contraface positiva da rela o contradit ria dos oprimidos com o capitalismo essa nega o p e em cena as for as sociais de uma revolu o democr tica que podem escapar ao poder burgu s e enfrentar as for as pol ticas que est o divorciadas da Na o as quais s o respons veis pelo triste espet culo das negocia es dos cargos para o provimento dos minist rios e dos demais escal es FERNANDES 1986a p 112 os mesmos que representam as elites culturais e econ micas com os quais comungam o primeiro mandamento de uma t pica concep o senhorial de mundo expressa na seguinte f rmula o Povo n o tem consci ncia pol tica o que explicaria as vit rias sucessivas de Get lio Juscelino Jango Ademar J nio e al m de outros acontecimentos o desfecho lament vel das Diretas J Da a pergunta trata se de uma massa condenada rendi o passiva Segundo Florestan indaga o t o crua carece de precis o sociol gica Uma vis o comparativa demonstra que outros povos inclusive de na es tidas como avan adas tamb m se
297. evolucion ria ao neoliberalismo Coutinho vai tomar o exemplo de Florestan Fernandes como modelo para se enfrentar a democracia de coopta o vigente a partir dos anos 90 Agora sabemos gra as entre outras coisas ao radicalismo de Florestan que a esquerda brasileira n o pode travar essa luta se n o se libertar de uma dupla ilus o por um lado a de que os avan os obtidos na constru o de nossa democracia j estejam definitivamente consolidados mesmo no n vel da superestrutura pol tica e por outro lado a de que ainda que os consigamos consolidar tais avan os sejam suficientes para realizar a verdadeira emancipa o humana do nosso povo A democracia que come amos a construir na poca da transi o s se consolidar de modo definitivo e s realizar plenamente seu valor universal no horizonte da sua progressiva radicaliza o ou seja da sua transforma o em democracia socialista COUTINHO 2000 p 264 29 Refletindo sobre o mesmo per odo Sader 2005 p 176 177 afirma que junto com a re importa o de um marxismo domesticado pelo eurocomunismo Gramsci retornou mais como te rico das superestruturas e assim a esquerda se desentendeu com o socialismo para fixar seu horizonte na democratiza o A mis ria da teoria abriu caminho para a mis ria da pol tica sem reflex es estrat gicas sem abordagens globais sobre o capitalismo e portanto sem for a para recria
298. ferecer por si mesmo novas alternativas s na es latino americanas que se encontram em situa o neocolonial ou em situa o de depend ncia Elas poder o passar pelos est gios das economias centrais e isso est ocorrendo nas principais economias e sociedades da regi o mas esses est gios n o poder o reproduzir os mesmos efeitos porque o contexto 246 Em rela o aos pensadores marxistas especificamente Florestan afirma Eu n o tenho nada contra eles ao contr rio Eu estou dentro da rbita dos pensamentos deles Eu s sou contra a moda contra o fato de eles serem epis dicos em rela o ao eixo e aos ciclos do nosso pensar O mal est em ser moda e n o moda moda importada e depois exagerada convertida em algo vazio FERNANDES 1989d p 203 27 A esquerda e a Constitui o Folha de S Paulo 11 jun 1986 28 De modo extremamente esquem tico poder amos resumir assim essa imagem pecebista para o PCB o Brasil continuaria a ser um pa s atrasado semicolonial e semifeudal bloqueado em seu pleno desenvolvimento para o capitalismo pela presen a do latif ndio e da domina o imperialista Em consegii ncia carecer amos ainda de uma revolu o democr tico burguesa que deveria ser feita com a participa o de uma burguesia nacional supostamente antiimperialista e antifeudal COUTINHO 2000 p 247 148 hist rico a estrutura da economia da sociedade e
299. finido de acordo com sua ess ncia que se corporifica a restaura o da capacidade dos seres humanos de intervir construtivamente na natureza na civiliza o e na perenidade da vida do universo Florestan Fernandes 1998 p 209 Em sua tarefa de instaura o cient fica de uma nova sociologia no Brasil norteada por uma larga vis o pol tica Florestan Fernandes consagra uma dureza de posi o na qual transparece o sentido revolucion rio da fus o que faz entre o conhecimento rigoroso e a for a da convic o Foi isso segundo Candido 2001 p 60 que fez dele o maior praticante de um tipo ci ncia social que ao mesmo tempo um arsenal da pr xis para a cr tica e a transforma o da sociedade O desfecho l gico dessa trajet ria de milit ncia cient fica e pol tica foi a sua atua o parlamentar a partir de 1986 mas que de acordo com Candido pode ser mais bem traduzida em n vel coletivo pela atividade jornal stica Foi ent o que Florestan canalizou a sua prodigiosa cultura e a sua experi ncia intelectual para a reflex o sobre o cotidiano tornando acess vel a centenas de milhares de pessoas o ponto de vista socialista sobre os problemas do momento Estava completada a sua trajet ria pois a pr xis emergia depurada da farm cia sociol gica e filos fica que montara com 411 O teste do socialismo Folha de S Paulo 11 jan 1993 218 grande capacidade de s ntese mas uma s ntese transfigu
300. ga como uma entidade absolutista e converte a Constitui o em um retrato de si mesma sem retoques como se a carta magna fosse um papel de embrulho para empacotar as contradi es do desenvolvimento capitalista desigual FERNANDES 1989b p 99 O quadro que se apresentava era melanc lico Sob a hegemonia das classes dominantes a voz dos pol ticos profissionais autenticamente radical burguesa foi sufocada pelo reacionarismo e o conservantismo ilustrado que entrevaram subcomiss es e comiss es atrav s de medidas nada democr ticas fazendo da debilita o dos partidos uma condi o natural do sistema pol tico brasileiro situa o prop cia para que atrav s da vontade constituinte do governo as respectivas classes pudessem colocar em pr tica seus instrumentos de press o e influ ncia inclusive de corrup o como lembrou Florestan ao fazer men o mat ria do Correio Braziliense que noticiava em primeira m o a coloca o de dez mil cargos disposi o dos constituintes A not cia causou perplexidade e o esc ndalo foi denunciado no plen rio da ANC Contudo a opera o vingou cresceu vertiginosamente e arruinou a credibilidade popular da ANC ao mesmo tempo mostrando que a sua soberania era uma fic o Os partidos da ordem conviveram do melhor modo poss vel com a intromiss o e o governo Sarney ganhou a batalha plantando dentro da ANC o seu grupo de centro ou a turma do DO Di
301. gem Tudo tem sido v ret rica e continuar a ser pura ret rica enquanto a massa dos cidad os estiver exclu da do debate pol tico f cil condenar a fome o desemprego a infla o a mis ria e as interfer ncias estrangeiras em nossa economia e soberania enquanto todos podem lavar as m os como Pilatos deixando o barco correr Nada os obriga a qualquer norma pol tica de conte do tico Soltar as massas nas ruas sem outros meios de a o pol tica um convite aos poderosos eles disp em de meios institucionais de a o pol tica dos sindicatos patronais aos partidos da ordem e ao Estado Montam a cavaleiro da situa o e colhem os frutos das explos es sociais que lhes dizem o que precisam fazer para evitar que tais 221 O pacto social dos oprimidos Folha de S Paulo 11 mar 1985 28 Na d cada de 90 escrevendo sobre a Crise na educa o Folha de S Paulo 18 ago 1991 Florestan ratifica a import ncia da rela o entre educa o e pol tica na perspectiva de sua pedagogia socialista Muitos colocam o combate fome e pen ria em primeiro lugar Contudo educa o e consci ncia social clara s o os principais substratos dos pobres na luta de classes Uma popula o trabalhadora menos r stica n o seria reduzida condi o de substituta e sucessora da popula o escrava e liberta por tanto tempo se dispusesse de melhor n vel educacional e cultural Al m disso h
302. go 1984 sobre o livro hom nimo de Graciliano Ramos no qual Florestan faz o seguinte coment rio O vigor do livro na minha mem ria prende se revolta ntima ao af de denunciar e de desmascarar al m e acima dos limites do inconformismo ideol gico e pol tico de buscar uma objetividade t o intransigente e penetrante que nos lembra a verdadeira ci ncia no sentido de Marx Ao sobrepujar seu rancor e as humilha es sofridas o intelectual descobre o significado da pris o e da viol ncia que imperam em toda a sociedade brasileira de modo a identificar o microcosmo dentro do qual fora lan ado como limite mais brutalizado e esquecido do todo mas ao mesmo tempo o mais expressivo e revelador De um golpe o Estado Novo e as v rias franjas psicol gicas policiais militares ou pol ticas da opress o mostravam se no que eram em sua realidade hist rica espec fica e nas proje es que a soldavam ao passado escravista e colonial mais ou menos remoto e recente ou seja em sua realidade hist rica estrutural FERNANDES 1986a p 243 244 Sobre cinema conferir o mesmo artigo citado na nota anterior em que Florestan faz a seguinte men o sobre o filme Mem rias do C rcere Nelson Pereira dos Santos explora a t cnica cinematogr fica como Graciliano Ramos a t cnica liter ria como recurso de descoberta da verdade arma de den ncia intelectual e instrumento de luta pol tica FERNANDES 1986a p 245 J na poesi
303. gos e entrevistas com destaque para a sua participa o no jornal Portugal Democr tico o intelectual brasileiro ajudou a animar a resist ncia de muitos ativistas por aqui O que impressiona nas avalia es pol ticas de Florestan a simbiose entre o publicista engajado pol tico e homem de a o preocupado com a persuas o e o convencimento de seus leitores e ouvintes e o soci logo o cientista comprometido com o conhecimento objetivo da realidade Simbiose dif cil sempre perigosa e incompleta mas que em Florestan Fernandes era para todos aqueles que o conheceram de perto na milit ncia pol tica e como soci logo engajado quase um tra o de sua personalidade SECCO 1998 p 77 Conferir A natureza do Caetanismo Portugal Democr tico nov 1972 A era da esperan a Portugal Democr tico mai 1974 e Entrevista com Florestan Fernandes Portugal Democr tico dez 1974 todos reproduzidos em Fernandes 1994 129 construindo uma forma mais flex vel para a qual foi fundamental a combina o crescente entre os intuitos pol ticos com os intelectuais a jun o entre paix o e convic o Ao final tra ou um estilo refinado e ao mesmo tempo comunicativo sem perder a precis o a solidez da informa o e o rigor do argumento uma s ntese rara de ci ncia e pr tica com densidade intelectual e clareza de entendimento que acabou se transformando num grande trabalho pedag gico pol
304. gou ao longo da vida como expressa em uma outra entrevista Tenho poucas qualifica es N o sou pol tico profissional mas me orgulho de participar desse processo do PT Vou falar n o em nome mas atrav s de um partido que defende o socialismo prolet rio Com 66 anos ou fa o o que posso ou n o farei nada Estou no PT desde maio de 1986 numa tentativa de demonstrar minha coer ncia lealdade para com o movimento prolet rio socialista Se falhar falharei com boas inten es FERNANDES 1994 p 131 O fundador tardio do PT acreditava que o partido tinha condi es de se transformar num importante instrumento dos mais pobres para civilizar a sociedade civil brasileira a partir do acirramento da luta de classes e por consequ ncia da cria o de condi es para a instaura o de uma real ordem social competitiva No entanto Florestan j afirmava desde o in cio que para isso o partido n o poderia ceder s correntes do socialismo legalista que abriam caminho para a sua social democratiza o o que seria o primeiro passo para a cria o de uma casta burocr tico eleitoreira disposta a entrar no jogo da representa o pol tica sem o n vel de intransig ncia necess ria para resistir aos apelos da coopta o e qui da corrup o pr prias de uma democracia burguesa preocupa o que demonstra por exemplo ao prefaciar o livro de Adelmo Genro Filho 1987b sobre as disputas internas do PT
305. gresso de homens v lidos que decidiam revelia qual deveria ser a vontade do povo mais uma prova de que os pol ticos estavam distantes de possuir uma cultura c vica altura da conjuntura hist rica A realiza o do segundo turno revelou se particularmente infeliz Por m o texto produzido pela Comiss o de Sistematiza o um teste de que apesar dos entraves nada impede que se chegue a uma constitui o razo vel apesar do desenvolvimento desigual ou at por causa da necessidade de combat lo A perversidade n o s est nas constitui es mas nas a es dos homens que fazem tudo pelo social defendendo contudo com unhas e dentes a persist ncia da autocracia FERNANDES 1989b p 344 345 376 O novo partido Folha de S Paulo 10 jul 1988 37 O novo partido Folha de S Paulo 10 jul 1988 378 Segundo Florestan em A ltima sess o do segundo turno Jornal do Brasil 17 set 1988 foi o que se chamou de a ditadura das lideran as n o um mal em si em particular para os partidos menores e com forte esprit de corps Mas produziu o avesso do que o Centr o proclamara quando deu o golpe de modifica o do regimento interno Se todos os partidos funcionassem como partidos ideol gicos e org nicos os males seriam de pequena monta Como isso n o sucede as lideran as ficaram com as m os livres para operar coercitivamente fazer arranjos mais ou meno
306. ha de S Paulo S o Paulo 20 abr 1988 A Constitui o inacabada p 251 254 As contradi es do Centr o Folha de S Paulo S o Paulo 26 abr 1988 A Constitui o inacabada p 259 262 Primeiro de Maio e solidariedade prolet ria Folha de S Paulo S o Paulo 05 mai 1988 A Constitui o inacabada p 266 268 Esperan as amea adas Folha de S Paulo S o Paulo 22 mai 1988 A Constitui o inacabada p 275 277 260 O segundo turno Jornal do Brasil Rio de Janeiro 28 mai 1988 A Constitui o inacabada p 278 280 A Constitui o e seu espelho Jornal do Brasil Rio de Janeiro 02 jun 1988 A Constitui o inacabada p 284 286 O PT e o dilema das elei es municipais Folha de S Paulo S o Paulo 09 jun 1988 A Constitui o inacabada p 287 289 A Constitui o assinar ou n o Folha de S Paulo S o Paulo 14 jun 1988 A Constitui o inacabada p 290 292 A nova pauta pol tica Jornal do Brasil Rio de Janeiro 20 jun 1988 A Constitui o inacabada p 293 295 O Governo e o segundo turno Folha de S Paulo S o Paulo 24 jun 1988 A Constitui o inacabada p 296 299 A quest o da anistia Jornal do Brasil Rio de Janeiro 28 jun 1988 A Constitui o inacabada p 300 303 O novo partido Folha de S Paulo S o Paulo 10 jul 1988 A Constitui o inacabada p 304 307 A
307. i o inacabada p 108 111 Um depoimento curto e grosso Jornal do Jornalista Bras lia ago set 1987 A Constitui o inacabada p 132 134 Educa o e constitui o Folha de S Paulo S o Paulo 04 ago 1987 A Constitui o inacabada p 120 123 A Constitui o em perspectiva Folha de S Paulo S o Paulo 11 ago 1987 A Constitui o inacabada p 124 127 O Jeitinho brasileiro Folha de S o Paulo S o Paulo 31 ago 1987 A Constitui o inacabada p 128 131 Uma quest o de grandeza Jornal do Brasil Rio de Janeiro 25 set 1987 A Constitui o inacabada p 142 145 Adeus transi o Jornal do Brasil Rio de Janeiro 19 out 1987 A Constitui o inacabada p 157 160 Teoria e pr tica do golpe preventivo Folha de S Paulo S o Paulo 30 out 1987 A Constitui o inacabada p 161 164 259 O apogeu do processo constituinte Jornal do Brasil Rio de Janeiro 02 nov 1987 A Constitui o inacabada p 165 169 Momentos de indecis o Folha de S Paulo S o Paulo 03 nov 1987 A Constitui o inacabada p 181 184 Ser ou n o ser estadista Folha de S Paulo S o Paulo 06 nov 1987 A Constitui o inacabada p 173 176 Opress o de classe e Constitui o Folha de S Paulo S o Paulo 12 nov 1987 A Constitui o inacabada p 177 180 299 Os contras 185 188 Derrota
308. i 1995 p 1 2 4 FERNANDES Florestan O eclipse do trabalho Folha de S Paulo 26 jun 1995 p 1 2 CONCLUS O Como s o escritos dispersos eles n o apanham o drama Lidam com seus aspectos cruciais e no momento em que as esperan as afloram ou desabam Trata se de um testemunho anal tico mas predominantemente ensa stico prov vel que minha posi o marxista e a condi o provis ria de parlamentar provoquem distor es ou equ vocos que outros observadores evitariam N o obstante alimento a convic o de que o testemunho integro e sincero Acredito com Karl Mannheim que o posicionamento do sujeito n o deforma suas indaga es e afirma es e que a explicita o dos v nculos ideol gicos e ut picos fornecem elementos de controle ao leitor A participa o torna se imperiosa na sociedade moderna e vital no Brasil terra na qual os intelectuais fazem parte das elites ou se alinham com elas Por felicidade minha origem social e minha identidade ideol gica e ut pica coincidem N o preciso virar me do avesso para entender os oprimidos e bater me por sua emancipa o coletiva atrelando me aos seus movimentos sociais e a seus protestos pol ticos Florestan Fernandes 1990 p 6 7 Com o registro das reflex es suscitadas a partir da leitura dos artigos publicados por Florestan Fernandes durante toda a sua vida produtiva acredito ter cumprido o objetivo fundamental proposto na introdu o deste trabalho de
309. i ncias sociais ou um suced neo c modo em seu lugar FERNANDES PINSKY MARTINS 1973 p 5 6 Al m de Revolu o burguesa e capitalismo dependente de Florestan constam dessa edi o entre outros Populismo e 125 publica es reunindo e dando novos sentidos a artigos publicados ao longo da vida em revistas acad micas e mesmo na grande imprensa SEREZA 2005 p 161 Numa carta amiga B rbara Freitag de 25 de agosto de 1978 Florestan faz o seguinte balan o Consegui abrir minha cole o sobre Pensamento socialista com O que fazer de L nin para a qual fiz uma apresenta o curta mas que est sendo muito apreciada Al m disso saiu o meu livrinho sobre L nin pela tica e foi um estouro editorial A edi o j est se esgotando em menos de dois meses A Hucitec republicou a minha entrevista para Trans Form A o como livro com o t tulo 4 condi o de soci logo pois repeli o t tulo original da revista muito pretensioso sobre o trabalho te rico e lan ou uma reorganiza o de velhos ensaios com o t tulo O folclore em quest o Fora isso tive tr s reedi es de 4 integra o e de Fundamentos ali s esta obra teve v rias reimpress es que n o contaram Portanto o ausente est presente como sempre Tamb m dei algumas confer ncias antes da doen a e j nesta semana e no primeiro semestre dei o curso sobre A sociologia numa poca de crise de civiliza o
310. ia como fez o pr prio Florestan num artigo posterior a definindo como o estudo dos condicionamentos das orienta es e dos efeitos supra individuais do comportamento humano O quadro paradoxal vemos que o que se entendia por etnossociologia na d cada de 40 hoje se classifica como antropologia o que reconhecemos como antropologia de Florestan Fernandes para muitos sua sociologia funcionalista o que chamar amos genericamente de ci ncias sociais Florestan qualifica como etnologia Tal situa o aponta a aparente arbitrariedade das divis es interdisciplinares sugerindo que as classifica es e os r tulos de uma disciplina em diferentes momentos s o tamb m fen menos sociais e culturais que adquirem sentido somente quando se leva em conta o contexto em que foram gerados PEIRANO 1992 p 78 O fato que talvez escolhendo o caminho mais dif cil com o Ensaio sobre o m todo de interpreta o funcionalista na sociologia sua tese de livre doc ncia produzida em 1953 Florestan continuar defendendo sua concep o de funcionalismo como instrumento cient fico v lido para a an lise de determinados fen menos sociol gicos reafirmando que as cr ticas permanecem injustas e deslocadas N o s elas ignoram o que eu pretendia podia e devia fazer elas deixam completamente de lado que a ci ncia n o se faz de um dia para o outro Naquele momento eu n o era apenas um jove
311. ia de articula o negociada dos adeptos da social democracia brasileira s abrangia as elites o que na opini o de Florestan insuficiente para resguardar seus des gnios Por isso ele desconfiava da convic o do seu ex aluno em poder cozinhar os privilegiados dentro de seu pr prio caldo de privil gios e perguntava Onde est o as for as sociais e partid rias dos trabalhadores dos destitu dos e dos oprimidos Pelo discurso do presidente fora do governo no povo com o qual ele dialoga unilateralmente de cima para baixo embora espere dele suporte entusi stico Mais do que isso na concep o do bloco de poder que assume a hegemonia das pol ticas p blicas com Fernando Henrique Cardoso estavam completamente esgotadas as potencialidades do ide rio nacional desenvolvimentista principalmente no que diz respeito ao 415 Sobre a rela o pessoal entre Fernando Henrique Cardoso e Florestan Fernandes conferir Leoni 1997 texto no qual encontra se na p gina 61 a seguinte afirma o do ltimo sobre o primeiro Ele teria existido sem mim Tinha talento para fazer qualquer coisa na universidade 416 FERNANDES Florestan Experimentun crucis Folha de S Paulo 16 jan 1995 p 1 2 Num livro sobre a biografia de Fernando Henrique Cardoso Florestan recoloca a quest o Ele ser um instrumento de suas alian as ou um ator FERNANDES apud LEONI 1997 p 350 220 papel
312. icar impossibilitados de p r a ci ncia e a tecnologia cient fica a servi o dos projetos nacionais de desenvolvimento econ mico social ou cultural FERNANDES 1976a p 315 A quest o da inser o brasileira nesse processo portanto deve tomar como ponto de partida o debate sobre o suposto colapso da pol tica nacional desenvolvimentista e sua substitui o por um projeto n o refrat rio s premissas neoliberais ainda que posto como sua melhor cr tica e alternativa que tem produzido resultados bastante contradit rios No que se refere produ o do conhecimento por exemplo sob as pol ticas de privatiza o do ensino superior ficamos restritos a uma inclus o subalterna cuja perman ncia dessa situa o pode levar ao esgotamento de nossas potencialidades de constru o de um pa s aut nomo e n o subserviente aos ditames do capital internacional O setor privado segundo o Censo Escolar de 2001 detinha 87 das institui es e 69 das matr culas Enquanto de 1994 a 2001 o n mero de alunos em institui es privadas cresceu de 970 584 para 2 091 529 nas institui es p blicas as matr culas passaram de 690 450 para 939 225 com aumentos correspondentes de 115 e 36 OLIVEIRA 2004c Esse crescimento quantitativo ressalta se foi acompanhado por uma not ria queda da qualidade de ensino fen meno que vem sendo denunciado por v rios ve culos de imprensa 2 A revista Isto por exemplo na edi o 1 7
313. icologia e da sociologia destacando suas especificidades e complementaridades As abordagens biol gicas e psicol gicas apesar de sua enorme import ncia para a caracteriza o do que social nas rela es vitais contribuindo para revelar as bases org nicas e 50 cria o de instrumentos intelectuais que contribuam efetivamente para a compreens o e a organiza o racional da sociedade projeto que come a a ser radicalmente perseguido por Florestan Um ponto importante que j naquele momento Florestan n o assume a tradi o sociol gica de forma passiva ainda que experimente intensamente os limites de todas as suas correntes ciente da dist ncia que havia entre os resultados pr ticos alcan ados e as teorias acad micas ent o produzidas Ainda em 1946 resenhando um livro sobre lendas ind genas no Brasil Florestan afirma que faltava s ci ncias sociais ent o predominantes o exerc cio efetivo da cr tica ao projeto civilizat rio que encarcerava o saber e o fazer cient fico em uma pris o colonizadora Uma das coisas que mais me impressionam em Hebert Baldus a sua decidida voca o de defensor dos ndios na qual s foi excedido ou igualado contemporaneamente por homens como Curt Nimuendaju e como o General Rondon Distingue se de ambos por m sen o pela natureza fortemente emotiva das rea es pela possibilidade que tem de as transmitir em suas aulas Cria destarte em seus disc pu
314. ida com o evento potencial ou a ocorr ncia in flux o que exige que ele fique atento ao que acontece ao que poderia acontecer e ao que parece que aconteceu mas volatilizou se em realizar Em suma uma esfera da realidade em que ideologia pessoa ou institui o e processos hist ricos surgem no turbilh o do vir a ser mais vol til imagin vel Por isso a cr tica dos fatos e das informa es se torna muito complexa e precisa incluir um treino maduro na an lise e desmascaramento dos dados O concreto que parece dar se como ponto de partida ou de chegada da reconstru o jornal stica uma produ o anal tica e interpretativa Se o jornalismo n o corresponder a esses requisitos do conhecimento cr tico ele se converte em agente de fabrica o de not cias e mero instrumento do ilusionismo da cultura comercial de massa FERNANDES 1995b p 167 Acreditamos que tal concep o da pr tica jornal stica aproxima se do enfoque te rico desenvolvido por Genro 1987a que considera que a despeito do jornalismo ser uma forma de conhecimento com base na ind stria moderna ele se torna progressivamente indispens vel para o aprofundamento da rela o entre indiv duo e g nero humano com o potencial de corroborar uma proposta pol tica efetivamente antiburguesa Em sua obra Genro critica tanto os pressupostos do funcionalismo subjacente Teoria Geral do Sistema que reduz a comunica o humana a uma esp cie de o
315. ido novo deve forjar a sua mensagem pol tica e ideol gica de maneira mais clara e firme se postando como uma resposta a serem inferidas pelo vir a ser pol tico produzindo f rmulas para tend ncias doutrin rias de alimenta o conserva o ou transforma o da ordem existente N o que se deva pedir perd o por defender a social democracia mas as ambigiiidades e vacila es do seu documento de lan amento pareciam fazer o PSDB navegar no espa o da pol tica abstrata justamente numa sociedade em que a luta de classes assume uma das formas mais cru is deslocando o alvo para a simples proclama o do parlamentarismo como sistema ideal de governo Mas para que juntar parlamentarismo e social democracia E que social democracia Burguesa ou prolet ria Em suma que tipo de centro esquerda Omitindo se nessas defini es o partido oculta o seu sentido mais profundo e situa se na franja humanit ria dos que misturam reforma capitalista do capitalismo com conquista ou manuten o do poder pouco sair do PMDB para permanecer dentro de um circuito pol tico fechado rico de equ vocos que separa algumas de nossas melhores cabe as pol ticas da de centro e da centro esquerda A tend ncia ao inconformismo e renova o aprofundam se e consolidam se FERNANDES 1989b p 348 Sobre o novo sindicalismo conferir Mangabeira 1993 3755 A greve Folha de S Paulo 25 ago 1988 199 o
316. ima Ganharam empuxo para deslanchar afirmaram se como agentes hist ricos de nega o da ordem e de fiadores de uma causa pr pria de um movimento de transforma o social da sociedade existente O vir a ser tamb m toma conta de suas cabe as e penetra fundo em suas a es coletivas de classe e de solidariedade de classe FERNANDES 1989b p 361 A colcha de retalhos constitucional sem ser nem mesmo uma promessa de revolu o inclusive dentro da ordem amea ava os privilegiados por rotinizar as liberdades individuais e coletivas atrav s da universaliza o do acesso a meios legais de utiliza o de peso e voz Era a oportunidade que o Brasil tinha de socializar cultural e politicamente a maior parcela de sua popula o proporcionar a ela os requisitos psicossociais e s cio culturais que ensejem o h bito de usar defensiva e ofensivamente as normas legais estavam abertos os caminhos para o despertar de uma cultura c vica e para a associa o entre a vida social cotidiana a uma consci ncia de classe auto emancipadora e cr tica da tradicional orienta o passiva da nossa burguesia e da pol tica suicida do ent o governo presa ao mito da internacionaliza o como nico caminho para o desenvolvimento s cio econ mico Essa cren a alimenta se de uma fal cia Em cada momento da Hist ria mundial houve sempre um centro hegem nico que fomentava o temor de que desobedecida
317. imo de subdesenvolvimento mas produzido por uma outra l gica conceitual deve ser As discuss es que suscitavam eram desse modo socialmente conduzidas para o campo econ mico desde que o desenvolvimentismo se tornou dominante como ideologia no Brasil 79 entendido a partir da forma como o modo capitalista se produz e reproduz Logo n o um estado que se realiza a partir de dentro de um Estado na o mas por fatores estruturais e conjunturais da economia mundial A supera o dessa situa o n o est posta em um projeto de desenvolvimento mas no rep dio condi o de depend ncia que em si deve expressar a nega o do modo de produzir vigente Dizendo de outra maneira sob o capitalismo dependente o desenvolvimento n o capaz de superar o subdesenvolvimento ou ainda o desenvolvimento pode sim acontecer mas se e quando poss vel tende a fortalecer e n o a superar o car ter dependente desse capitalismo consequentemente fortalecendo e n o superando todo rol de desigualdades e exclus es que caracterizam o capitalismo dependente ideologicamente rotulado como subdesenvolvimento CARDOSO M 2005 p 32 Assim opondo se a presun o de uma uni o nacional para a acelera o do desenvolvimento vale lembrar desenvolvimento esse que representa a internaliza o das rela es de depend ncia causadoras do pr prio subdesenvolvimento Florest
318. in a exposi o das convic es socialistas e das reivindica es democr ticas que Florestan Fernandes 1995a p 102 definiu como um publicista de partido mas que como ele se op e profissionaliza o da atividade revolucion ria isto n o deseja ser um simples ventriloquo do operariado sabendo que sua tarefa irradiar o m ximo que puder o marxismo como teoria e pr tica de transforma o do mundo N o por acaso segundo Silveira 1987 que a partir do trabalho mais profundo com a heran a leninista o pensador paulista passar a se referir como um publicista que n o se v no mundo de Alice FERNANDES 1986b p 62 Longe de uma fant stica casa de espelhos ele se percebe dentro de um universo hist rico agreste duro e cruel dedicando se a publica es explicitamente vinculadas ao socialismo revolucion rio ultrapassando inclusive as fronteiras do pa s Nos anos de 1970 Florestan debateu por interm dio de artigos em revistas jornais livros e palestras a situa o da Am rica Latina as lutas de liberta o na frica a situa o da Uni o Sovi tica Alb nia Pol nia a socialdemocracia na Europa as ditaduras fascistas de Franco na Espanha e de Salazar em Portugal e muitos outros temas correlatos sempre sob o crivo do marxismo Assumiu o combate aos problemas do capitalismo com coragem e abnega o SEREZA 2005 p 115 Esses
319. inando me muitos h bitos higi nicos e ideais de vida que nunca mais abandonei um certo amor pela leitura e a vontade de ligar a minha curiosidade aos livros que me ca ssem ao alcance da m o O que me foi importante porque no desespero de romper a castra o cultural invis vel foi por a que eu pr prio abri o meu caminho formando uma curiosa cultura letrada que ia do Tico Tico literatura de cordel aos livros de piada e a uma variad ssima literatura erudita na qual prevaleciam os livros did ticos e de hist ria vendidos nos sebos e os romances Se a cidade continha alguma civiliza o eu me tornei seu adepto e seu afilhado pelo autodidatismo FERNANDES 1977 p 146 Florestan deu continuidade sua socializa o circulando pelo submundo das profiss es de baixo valor social entre engraxates entregadores de carne aprendizes de barbeiro ou alfaiate balconistas de padaria copeiros ajudantes de cozinheiro gar ons etc um c rculo em que as lutas oper rias estavam fora de pauta e as fontes de informa o eram as pessoas a que serviam ou os jornais sensacionalistas Uma crian a ou um adolescente dentro desse submundo j faz muito quando enfrenta a press o negativa contra a curiosidade intelectual FERNANDES 1977 p 146 147 N o foi f cil por exemplo enfrentar a resist ncia de sua m e que n o gostou da id ia de seu filho em entrar para um curso de madureza com medo de que estudado o fi
320. inantemente anal tico e atrav s dos quais poss vel observar o esfor o de inserir a produ o cient fica e a condi o intelectual no quadro global de compreens o acerca do desenvolvimento do capitalismo e dentro do esquema interpretativo da revolu o burguesa no Brasil b artigos sobre outros intelectuais que trazem reflex es sobre a responsabilidade a milit ncia e a autonomia intelectual e nos quais ganha centralidade al m da tem tica da revolu o o marxismo como linhagem te rica que tem como um de seus fundamentos o esfor o pela unidade entre teoria e pr xis c pref cios notas explicativas e introdu es que al m do valor pelas informa es acerca dos textos que antecedem tornam se um procedimento atrav s do qual o autor se remete s suas id ias passadas e presentes e s pol micas causadas por seus escritos em evidente exerc cio de metalinguagem d entrevistas depoimentos e compactos cr ticos conjunto de textos cujo teor dado pela narrativa da experi ncia em primeira pessoa no qual encontra se a constru o de uma imagem de si e de seu passado onde a experi ncia subjetiva se amalgama com a vontade coletiva e correspond ncia com B rbara Freitag em que o tema da condi o intelectual um dos mais constantes 126 N o se trata de negar as distintas fases de sua trajet ria marcada em especial pela passagem te rico pr tica do funcionalism
321. inda que a democracia ampliada burguesa por tais meios e com tais fins A possibilidade de repeti o de mais uma concilia o conservadora daria continuidade estrat gia de fechar os horizontes para a eclos o das for as populares na cena hist rica tal como aconteceu com a transi o lenta segura e gradual da ditadura e que fazia da Nova Rep blica um equivalente civil do regime militar antecedente At o pessoal o mesmo os procedimentos tecnocr ticos s o os mesmos o desprezo pelo povo o mesmo As varia es que podem ser apontadas correm por conta do sangue novo que o PMDB levou para o tope modernizando e refinando a fachada de uma Rep blica institucional civilizada FERNANDES 1989b p 27 A quest o dos partidos Folha de S Paulo 02 set 1986 portanto como se intitula o artigo correspondente cita o anterior que eles reproduziam esse mesmismo mantendo suas for as pol ticas presas ao enquadramento do poder burgu s militar que se perpetuava fazendo da chamada Alian a Democr tica um blefe do conservantismo e do reacionarismo que simbolizavam o peso do poder econ mico das classes dominantes na sociedade civil esmagando a democratiza o espont nea que as Diretas J colocaram em perspectiva s for as sociais organizadas e aos partidos de esquerda restavam o desafio de quebrar esse sistema de manipula o e lutar pela politiza o independente do
322. instaurado no per odo stalinista que se voltava estritamente para a forma o de profissionais atendendo a necessidade da divis o social do trabalho e do industrialismo com base na educa o individual e na manuten o das diferen as sociais marcadas pela oposi o entre trabalho manual e trabalho intelectual LUEDEMANN 2002 p 30 109 Embora se saiba que a mudan a social n o constitui uma fun o da consci ncia alcan ada intelectual ou socialmente sobre os fatores os efeitos e as possibilidades de controle dos problemas sociais tal consci ncia representa o primeiro passo a ser dado na luta do homem pelo dom nio de suas condi es reais de exist ncia FERNANDES 1971b p 208 E essa consci ncia afirma Florestan se adquire atrav s da Educa o FERNANDES 1991b p 31 A quest o portanto n o saber se a educa o fonte de conservantismo ou radicalismo mas como ela se torna isto ou aquilo para atender s necessidades educacionais do ambiente Essa conclus o leva nos diretamente ao que fundamental A educa o escolarizada tanto pode ser compreendida como produto da mudan a social quanto como seu requisito e at como seu fator espec fico O que significa que as rela es de ambas vistas sociologicamente s o revers veis e embora existam situa es nas quais as escolas aparecem como foco de estabilidade social e de resist ncia mudan a tamb m existem sit
323. intelig ncias mais l cidas expondo as exproba o p blica deformando seus intuitos ou relegando as ao ostracismo e ina o Ao assumir uma posi o de lideran a no movimento dos educadores brasileiros pela escola p blica universal e gratuita An sio Teixeira exp s se aos riscos mais severos mas est contribuindo de forma excepcionalmente positiva para o progresso de padr es democr ticos de concep o de ensino em nosso Pa s FERNANDES 1966 p 564 Florestan apesar do socialismo declarado exalta o radicalismo burgu s cujos exemplos nos pa ses aut nomos demonstram a import ncia das reformas nas reas de educa o urbaniza o distribui o e forma de propriedade da terra inclusive a igualdade formal de todos os cidad os diante da lei um rol de adapta es das superestruturas infra estrutura do sistema econ mico pol tico e cultural reformas sociais com implica es revolucion rias para a transforma o da ordem estabelecida FERNANDES 1995b p 177 Segundo o soci logo a import ncia dessas revolu es dentro da ordem pode ser medida pela dedica o dos pa ses centrais em formar t cnicos e especialistas em reforma social profissionais que lidam setorialmente com a precipita o e a efic cia das t cnicas e ideologias que alimentam o pensamento abstrato mas o subvertendo para criar um substrato cultural das inova es mais urgentes e assim equilibrar e a
324. ional por mais importante que sejam constituem em escala crescente os elementos de uma unidade mais alta que se chama a economia mundial e que serve afinal de contas de base ao internacionalismo dos partidos comunistas revolucion rios SACCHETTA 1992 p 92 93 Por m t o importante quanto o conte do desse contato com um movimento esquerda da doutrina stanilista est no aproveitamento do que havia de melhor na atividade trotskista o intenso conv vio intelectual e pol tico o compromisso tico com a 5 Um estudo sobre a forma como a URSS afetou o imagin rio pol tico dos comunistas no Brasil encontra se em Ferreira 1998 43 utopia da emancipa o humana FERNANDES 1992a p 76 Como adverte L wy 1998 p 22 a recep o de uma doutrina ela mesma um fato social que deve ser compreendido em sua rela o com a realidade hist rica concreta E dessa forma que Florestan d continuidade sua aprendizagem marxista com o seu socialismo vago reformista e ut pico cedendo lugar a uma milit ncia pol tica disciplinada Envolve se por exemplo na elabora o e distribui o de um jornal mimeografado rodado em sua casa e contribui com a tradu o da Contribui o cr tica da economia pol tica para a qual escreve a introdu o Marx e o pensamento sociol gico moderno o que o impeliu a descobrir por sua pr pria conta o jovem Marx e a desvendar a sedu o d
325. ir como partido oper rio socialista Se ficasse preocupado apenas com seu r pido crescimento quantitativo poderia acabar ref m das armadilhas de uma alian a entre burocracia e profissionalismo pol tico e ceder ainda mais press o conservadora e moda na quest o do fim do socialismo Sobre este tema Florestan afirmara N o fa o parte daqueles que acham que o marxismo est morto mas que o marxismo precisa se redefinir Em todas as revolu es ele se redefiniu e n o poderia ser revolucion rio se assim n o o fizesse o que n o significa rever 210 o marxismo ou ser revisionista e sim p r toda uma filosofia pol tica dentro de um contexto hist rico concreto FERNANDES 1994 p 172 o que procura fazer por exemplo em suas reflex es sobre a crise do Leste a queda do muro de Berlim e a degenera o da Uni o Sovi tica no in cio dos anos 90 vendo a positividade do respectivo processo para a recomposi o das for as hist ricas socialistas A come ar destaca a oportunidade de se questionar como j faziam h bastante tempo v rias correntes esquerda dos partidos comunistas oficiais as op es feitas pelo socialismo real em prol das v rias composi es negativas do partido nico que levou aos desvios burocr ticos ao gigantismo do Estado popular inexist ncia da democracia da maioria aus ncia dos trabalhadores nos sovietes e da autogest o
326. ira Do seu projeto editorial participaram nomes como Antonio Candido D cio de Almeida Prado Paulo Em lio Salles Gomes e Gilda de Mello e Souza Em Pontes 1998 encontra se uma reconstru o das trajet rias de vida e trabalho de seus fundadores com destaque para as tem ticas abordadas e as posi es de seus integrantes frente s mesmas Ao fim a autora contrasta o perfil institucional do grupo com a trajet ria de Florestan Fernandes que se destaca tanto por sua origem pobre quanto por seu destino mpar a incorpora o de um padr o de trabalho cient fico mais profissional e rigoroso Anhembi criada por Paulo Duarte nasceu identificada com as vanguardas est ticas e culturais europ ias MICELI 1987 Brasiliense por sua vez foi uma realiza o editorial de Caio Prado Jr um ve culo de divulga o e discuss o da teoria marxista mas de posi es alternativas s publica es ligadas ao PCB Uma an lise do conte do pol tico da revista encontra se em Beiguelman 1989 35 Sociologia voltava se para a divulga o da produ o cient fica da Escola Livre de Sociologia e Pol tica ELSP especialmente de seus mentores Herbert Baldus Donald Pierson e Em lio Willems que se destacaram respectivamente pelos estudos indigenistas de comunidade e acultura o J a Revista de Antropologia foi criada por Egon Schaden e era voltada para o ambiente acad mico internacional MICELI 1987 34 material De acordo
327. irma o da individualidade em termos universais e eternos os liberais pragm ticos que utilizando argumentos de ordem pr tica preconizavam a maior efici ncia da escola p blica e o seu maior atendimento s necessidades imediatas do pa s os de tend ncia socialista que viam no ensino p blico um instrumento eficaz na supera o do subdesenvolvimento pol tico econ mico social e cultural BUFFA 1979 Desse grupo a manifesta o de maior impacto foi sem d vida a Campanha em principalmente muitas escolas cat licas Em outras palavras o Estado democr tico que tolerou e amparou a coexist ncia da escola p blica e da escola particular acaba sendo acusado de pretender destruir a segunda para beneficiar ou alargar a primeira De minha parte n o nego que tenho decidida predile o pela alternativa A realidade por m que o Estado brasileiro nunca pretendeu at o presente favorecer o monop lio do ensino e n o est em condi es de suport lo economicamente em nossos dias FERNANDES 1966 p 388 Quanto ao primeiro t pico ele afirma que n o consentir fam lia o direito de educar a prole se fosse esse o caso seria menos prejudicial coletividade que o direito da fam lia de educar a prole em detrimento do estilo democr tico de vida FERNANDES 1966 p 386 96 Defesa da Escola P blica do qual participaram l deres sindicais antigos educadores do movimento escolanovista tais
328. is inscritos no Curso de Extens o Cultural promovido pela Secretaria de Educa o do Estado de S o Paulo realizado em janeiro daquele ano Ao situar as contribui es dos cl ssicos para solucionar os problemas de indu o na sociologia Florestan descarta a exposi o cronol gica colocando a obra de Marx como a mais avan ada para dar conta da quest o esbo ada De acordo com Renan Freitas Pinto 1992 p 207 o apoio a essa posi o de busca das mais variadas contribui es te ricas Florestan Fernandes vai busc lo no pr prio Marx sendo segundo ele surpreendente o n mero de teorias antag nicas aproveitadas por Marx e de modo semelhante cabe ao soci logo de hoje realizar uma constante revis o cr tica dos fundamentos te ricos da sociologia extraindo das teorias sociol gicas sejam elas conservadoras acad micas p s acad micas marxistas p s marxistas todo o seu conte do positivo J para Oliveira Filho 1996 p 84 ao se dar um sentido muito gen rico ao termo ecletismo n o se levando em conta uma abordagem estrutural e din mica da constru o das teorias desconhecendo a import ncia dos procedimentos l gicos e sem nticos das defini es para a an lise conceitual passa se a considerar ecl ticos todos os autores que apresentam densidade te rica ou numa posi o extrema todos os que efetuam qualquer forma de reelabora o conceitual tal como fizeram Marx e Florestan 80 Segundo Jacob
329. isas S o Paulo Boitempo Centro Universit rio Maria Ant nia USP 1998 p 59 68 TOCQUEVILLE Al xis de Lembran as de 1848 as jornadas revolucion rias de Paris S o Paulo Cia das Letras 1991 TRAGTEMBERS Maur cio Herm nio Sacchetta uma perda de todos In SACCHETTA Herm nio O caldeir o das bruxas e outros escritos pol ticos Campinas Pontes Editora da Universidade Estadual de Campinas 1992 p 159 161 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Pr Reitoria de Pesquisa e P s Gradua o Apresenta o de trabalhos monogr ficos de conclus o de curso 8 ed Niter i EdUFF 2005 VALEN A Diogo Florestan Fernandes em quest o um estudo sobre as interpreta es de sua sociologia Disserta o Mestrado em Sociologia Centro de Filosofia e Ci ncias Humanas Universidade Federal de Pernambuco Recife 2004 VIANNA Luiz Werneck A institucionaliza o das ci ncias sociais e a reforma social do pensamento social agenda americana de pesquisa In VIANNA Luiz Werneck 4 revolu o passiva iberismo e americanismo no Brasil Rio de Janeiro Revan 1997 p 172 217 VIOTTI da Costa Em lia Soci logo conciliou ci ncia e pol tica Folha de S Paulo S o Paulo 11 ago 1995 Brasil p 1 8 XAVIER Maria Elizabete Sampaio Prado Capitalismo e escola no Brasil a constitui o do liberalismo em ideologia educacional e as reformas do ensino 1931 1969 Campinas Papirus 1990 WOOD Ellen Democracia contra
330. itadura impunham s for as populares a ado o de uma estrat gia de luta que substitu sse a proposta de uma revolu o explosiva e violenta pela de uma revolu o processual para Florestan n o se pode ignorar que a democracia s existe quando viol ncia e contra viol ncia podem cruzar se na cena hist rica ou seja processual ou explosivo o processo 22 Golpes dentro dos golpes Folha de S Paulo 11 ago 1985 28 Para Florestan essa teoria n o uma concep o pol tica vi vel construtiva ou revolucion ria Ao contr rio ela intrinsecamente derrotista e imobilista na situa o em que nos encontramos ou come amos a lutar pelos meios poss veis com vistas a consolidar ganhos crescentes ou facilitaremos a continuidade e a supremacia da contra revolu o Para se fazer isso n o necess rio sucumbir s concess es O que se apresenta como extremamente urgente acabar com o pensamento infantil de que se poderia politizar as massas sem come ar a luta FERNANDES 1994 p 119 24 Embora denunciasse com lucidez os limites transformistas do projeto de abertura Florestan parece ter subestimado em seus trabalhos posteriores a RBB o fato de que tal projeto foi atravessado e contraditado por um processo de abertura isto por um movimento social objetivo que resultou da ativa o da sociedade civil em particular dos segmentos ligados s class
331. itimadora de interesses colada ao seu espec fico objeto social e s suas demandas por autonomia e reconhecimento social Centrada no trin mio interesses direitos cidadania essa sociologia de objetos fragment rios possibilita a pervers o das ci ncias sociais em pequenos objetos e as destituindo da sua relev ncia n o apenas social mas tamb m cient fica em virtude de condenar o processo de conhecimento particulariza o e fragmenta o VIANNA 1997 p 212 397 A Constitui o e seu espelho Jornal do Brasil 02 jun 1988 208 dessa forma inviabilizar a continuidade de uma cultura de espolia o secular O combate no campo das reivindica es concretas segundo Florestan adquire um significado pedag gico estrat gico decisivo essa arena que prepara os de baixo para aprender o que auto emancipa o coletiva e cidadania numa sociedade de classes que esconde praxes coloniais atr s de uma muralha de supersti es democr ticas E os ensina a organizar disciplinarmente o inconformismo e o rep dio a manifesta es circunscritas de iniquidades econ micas sociais raciais regionais ecol gicas culturais e pol ticas Eles se armam assim para o envolvimento direto na luta de classes com seus meios ideol gicos e pol ticos de contraviol ncia desmoronando a ordem existente onde ela mais vulner vel e indefens vel bem como construindo a partir de outros alicerces a fab
332. itui o incendiou sua imagina o o que o levou a enfrentar uma experi ncia in dita numa circunst ncia na qual o pa s parecia querer se livrar de antigas servid es e constri es A vis o que eu tinha do Estado brasileiro at certo ponto era simplista Acreditava ser poss vel atrav s das representa es que os partidos de esquerda conquistaram introduzir no Parlamento como no caso europeu um clima em que o socialismo tivesse algum significado e que as reivindica es populares ressoassem com maior vigor FERNANDES 1994 p 156 Tal vis o come ou a ser contraposta quando o seu olhar antropol gico embebido por sua experi ncia de observador participante daquelas jornadas constitucionais percebeu o ambiente de clube com seus constantes frequentadores no qual havia se transformado o plen rio da C mara dos Deputados H uma certa rotina Sabemos o que costumam falar no pequeno expediente e o que dir cada um conhecido o assunto que o leva tribuna As dist ncias ideol gicas e pol ticas s o ultrapassadas pelo conv vio cordial que assim se estabelece e descobrem se talentos e amigos ou afinidades que por vezes atravessam aquelas dist ncias a pontos de os extremos se tocarem Nas poucas vezes em que o afluxo aumenta o clube vira uma esp cie de recreio colegial com a tagarelice preponderando sobre a seriedade e os oradores falando para o burburinho Se todos entendem ningu m
333. jugada estrat gia de amadurecimento da luta de classes como t cnica social de forma o de uma consci ncia prolet ria voltada para a constru o de uma sociedade socialista para qual a mensagem b sica era a difus o do princ pio de que a defesa da ordem pressup e a altera o profunda da mesma nas mais diferentes dire es mas sempre com um sentido democr tico Sentido democr tico que quer dizer modificar em profundidade as rela es dos oprimidos e dos exclu dos com o poder isto com a organiza o e o funcionamento da sociedade civil e do Estado Os de cima t m de partilhar o poder com os de baixo por mais que os considerem companhias indesej veis n o confi veis e perigosas FERNANDES 1989b p 249 A ruptura n o se faz primeiro nas leis e depois nos fatos Ela vem de baixo como produto das rela es de produ o e reprodu o material e suas repercuss es sociais No caso da presente situa o brasileira destacava se a deteriora o da economia das condi es de vida dos trabalhadores e no andar de cima a crise moral n o uma crise de moralidade que servia de combust vel corrup o generalizada e desenfreada instalada principalmente mas n o exclusivamente na esfera estatal e no clientelismo pol tico Tal desorganiza o tem uma l gica pr pria que deriva de sua reprodu o e crescimento Mas ressalta Florestan isso n o uma anomia da economia ca
334. jun 1988 J sob as elei es presidenciais de 1989 em O espa o da esquerda Folha de S Paulo 04 abr 1989 Florestan identifica um forte deslocamento para a direita no partido sob o empuxo de uma corrente de centro esquerda que estava levando o PT para o caminho da mol stia eleitoral do conciliacionismo propens o endossada pelo ent o presidente do partido o companheiro Luiz Gushiken FERNANDES 1990 p 98 34 Nessa nova elei o o parlamentar recebeu 27 676 votos MARTINEZ 1998 395 Apesar da derrota nas elei es presid ncias 1989 segundo Florestan foi O ano do PT Folha de S Paulo 08 jan 1990 ano no qual o partido reuniu as condi es objetivas para o seu amadurecimento organizativo e te rico Em torno da candidatura de Luiz In cio Lula da Silva descobriu seu potencial organizativo e aprofundou o que deveria ser no plano te rico como um partido socialista e democr tico de massas que arrancava de dentro da ordem para transformar se com ela FERNANDES 1990 p 23 206 FERNANDES 1991a p 11 Sem refutar a import ncia dos movimentos pol ticos de car ter social democratas para o aprofundamento das reformas sociais necess rias impregnando a revolu o dentro da ordem de conte dos e esperan as inovadores ele critica seus limites de ades o ao welfare state e a utiliza o de seus s mbolos e utopias como forma de reprodu o da sociedade civil lastreada no capi
335. justamente o modelo preferido dos ide logos do neoliberalismo o norte americano onde v rios movimentos sociais com fins altru sticos aparentes s o organizados para levantar fundos e mobilizar as energias humanas requeridas pela luta contra determinado efeito indesej vel o alcoolismo a indig ncia o abandono do deficiente f sico etc mas no fundo acabam por satisfazer a necessidades ego sticas dos altru stas profissionais que geralmente falham em sua miss o FERNANDES 19715 p 299 Num artigo de 1993 ele volta ao assunto Os que se comovem diante da fome e se congregam contra sua desumanidade possuem comida riqueza e conforto demais para ir s extremas consegi ncias Ou ela se torna objeto de caridade e de humanitarismo ou ela desata dois tipos de movimentos sociais No in cio da d cada de 1940 descobri o que um dos tipos representa a mercantiliza o da pseudo solidariedade social sem grifo no original Muitos movimentos s o meios de explorar os incautos e de usar a pobreza em rela es de troca mistificadas Pelo que li nos Estados Unidos por exemplo verdadeiras fortunas circulam nessa rede de assist ncia organizada Outro tipo de movimento deita ra zes no protesto social na entreajuda comunit ria em entidade filantr picas e em fun es do welfare state em agonia sob o neoliberalismo FERNANDES 1998 p 224 No Brasil segundo o soci logo os dois tipo
336. l J Ianni publica ainda 4s metamorfoses do escravo pela Difel em 1962 e Ra as e classes sociais no Brasil pela Civiliza o Brasileira no ano de 1966 72 portanto num circulo vicioso em que as suas novas atividades se restringem a atividades similares ao do antigo regime sem contar com o abrigo dos velhos costumes dada a crise de sua heran a cultural O meio negro assim refor a e recria f rmulas de ajustamento com ra zes passadistas ajudando a promover o bloqueio de sua ressocializa o pela falta de moderniza o do estoque de id ias comportamentos e valores nas reas vitais do processo de urbaniza o enquanto os brancos alargam a dist ncia em rela o aos novamente excluidos O negro muda em fun o de uma hist ria que n o a dele mas a do branco O homem de cor de modo geral um homem dividido dilacerado Socializado no seio da cultura dominante do branco ele aprende desde pequeno a internalizar os modelos os valores os ideais dos brancos Sofre um processo de embranquecimento ps quico compuls rio existe nele um 39 66 brancor ele deveria ser uma coisa e ele outra L PINE 1987 p 134 A prova de que o mito da democracia racial assentado na afirma o de que n o se forjaram barreiras de modo consciente ascens o social do negro BASTOS 1987 p 147 n o passa no crivo hist rico sociol gico Florestan Fernandes aponta para o car ter hip crita da fo
337. l dos Estabelecimentos Privados de Ensino realizado h mais de dez anos com a exacerba o de alguns pontos j presentes no projeto Mariani principalmente no que se referia ao car ter complementar da a o estatal e ao ensejo da coopera o entre a iniciativa privada e o governo Previa que a admiss o gratuita de alunos nas escolas particulares ou a redu o da contribui o seria compensada por bolsas e outras vantagens do governo O substitutivo Lacerda como ficou conhecido no seu T tulo IV deixava expl cito o car ter supletivo do ensino p blico pela veda o do favorecimento ao monop lio estatal e pela igualdade de condi es entre as escolas oficiais e particulares no que tocava inclusive distribui o de verbas atrav s de bolsas de estudo financiamentos para constru o reforma de pr dios escolares e equipamentos Sob o impacto desse substitutivo a sociedade se mobiliza e recrudesce se o embate das ideologias em conflito no qual Buffa 1979 identifica dois grandes grupos em confronto um a favor do ensino privado outro a favor da escola p blica No primeiro a autora encontra como principal articuladora a Igreja Cat lica que levantou a bandeira da liberdade de ensino como liberdade de escolha do tipo de escola pela fam lia objetivando entre outras coisas a subven o p blica e a n o inger ncia do Estado Subordinada a ela 145 Um resumo das proposi es do respectivo congresso rea
338. l no Brasil FERNANDES 1966 p 130 A seu ver jamais se vira semelhante movimento de opini o em torno dos problemas educacionais brasileiros FERNANDES 1966 p 355 desde o Manifesto dos Pioneiros da Educa o Nova de 1932 que tinha como objetivo nortear a cria o de um sistema de educa o de car ter org nico e integrado capaz de submeter as tend ncias de diferencia o e descentraliza o a um conjunto comuns de fins e princ pios diretores b sicos A principal contribui o do Manifesto foi ter influenciado a Constitui o de 1934 especialmente os artigos 5 e 150 que estabelecia como compet ncia da Uni o tra ar as diretrizes educacionais assim como a fixa o de um plano nacional que compreendesse todos os n veis de ensino com a responsabilidade de coordenar e fiscalizar sua execu o Ap s o v cuo ditatorial do Estado Novo a Constitui o de 1946 manteve essa determina o dispondo que competia Uni o legislar sobre ela No ano seguinte a pedido de Clemente Mariani ent o ministro da Educa o uma comiss o foi constitu da para preparar um esbo o do projeto de lei que foi encaminhado ao Congresso Nacional em outubro de 1948 Os trezes anos decorridos entre 1948 e 1961 s o uma etapa particularmente ideologizada do conflito p blico privado na rea educacional O per odo iniciou se com o j citado projeto de lei de Clemente Mariani que conjugava segundo Xavier 1990 p 120 os arroubos t pi
339. lart ent o presidente do Senado publicado como A posi o dos licenciados O Estado de S Paulo 11 fev 1960 157 Em sentido descritivo como forma de governo e modo de vida de uma sociedade de mercado e capitalista ou normativo como forma de governo e modo de vida de uma sociedade interessada em garantir a liberdade necess ria concretiza o das capacidades de todos os cidad os GARCIA 2002 p 51 158 Xavier 1990 chega a sustentar que a derrota dos pioneiros da educa o nova foi relativa Se os princ pios de extens o democr tica n o foram vitoriosos a concep o elitista de democracia que representavam n o deixou de estar presente nas premissas das pol ticas educacionais das d cadas de 40 50 e 60 ainda que em alguns casos como pura ret rica 19 O pensamento de Mill repousa sobre uma concep o de liberdade participa o estendida de uma minoria ao conjunto do corpo social Seu liberalismo de transi o de maior preocupa o com a distribui o da riqueza tem como caracter stica a tentativa de ultrapassar a r gida oposi o entre o indiv duo e o Estado conciliando liberdade e progresso social no qual se destaca a proposta de colocar a educa o como bem p blico ainda que resguardada do despotismo estatal Contra todo voluntarismo pol tico que tenderia a pretender impor ao povo sua pr pria felicidade o pensamento pol tico de John Stuart Mill coloca frente o exerc
340. lece um horizonte novo a partir do qual problematiza equaciona articula e descortina muito do que se ensina e pesquisa em universidades institutos e centros Cria um padr o de pensar a realidade social por meio do qual se torna poss vel reinterpretar a sociedade e a hist ria bem como a sociologia anterior produzida no Brasil J Miriam Limoeiro Cardoso 1996 p 89 estudando a obra do respectivo soci logo buscando situ la no tempo hist rico em que feita e nos lugares te rico metodol gico e pol tico que ela passa a ocupar na comunidade cient fica e na sociedade brasileira v cada vez com mais clareza Florestan Fernandes como um construtor fundador Trabalho com a suposi o de que ao exercer o seu oficio como cientista Florestan se torna o criador de uma problem tica nova original e fecunda que distingue a sua sociologia e exerce enorme influ ncia em mais de uma gera o de cientistas sociais no Brasil Em torno dela se aglutinam outros importantes produtores que lhe d o tratamentos variados e alcances diversos Por meio dela Florestan contribui significativamente para o desenvolvimento da sociologia enquanto disciplina cient fica e desse modo atua como grande idealizador e propulsor da sociologia como atividade cient fica no Brasil Sobre a pesquisa conferir Miriam Limoeiro Cardoso 2005 2001a 2001b 1997 1996 e 1987 14 objeto circunstancial no atravessamento das reas de educa o
341. lertavam para a pr pria l gica dos capitais globais centrados nas estrat gias das corpora es transnacionais para a ocupa o do maior n mero poss vel de mercados nacionais Como suposto nas rela es internacionais n o compete a essas empresas planejar a integra o dos mercados que dominam um sistema mundial supostamente mais livre e din mico O investidor vem prioritariamente para vender mais no mercado local A hip tese de exportar a partir da base interna fica em segundo plano e s acontece em condi es excepcionais de acumula o sob condi o de manuten o do baixo custo da m o de obra o recebimento de subs dios e incentivos fiscais assim como a possibilidade de importar os elementos tecnol gicos e cient ficos fundamentais para a produ o local No caso brasileiro segundo Florestan onde a tecnologia de ponta ainda ensaia seu salto decisivo a cria o de oligop lio nos setores mais avan ados nos quais a composi o de capital se modifica bruscamente o processo de abertura e privatiza o tende a gerar crises de grande envergadura O fato que aqui as empresas estrangeiras ocupam grande espa o nos setores de m dia e alta tecnologia S em S o Paulo por exemplo o maior mercado do pa s as empresas de capital externo s o respons veis por 37 3 do faturamento l quido total da ind stria de transforma o muito embora representem apenas 2 do n mero de empresas Como admitia o
342. lho passasse a ter vergonha dela Com os colegas de rua a rea o tamb m n o foi positiva com o gosto pelo estudo e pela leitura transformando se em motivo de chacotas vai ficar com miolo mole diziam O apoio acabava vindo de pessoas de fora de seu c rculo social ou de amizade Nos bares e restaurantes em que trabalhei por exemplo nunca recebi um apoio ou um conselho construtivo de qualquer colega da minha idade ou mais velho embora entre os fregueses encontrasse simpatia quem me desse ou emprestasse livros e at apoio pr tico para ir mais longe FERNANDES 1977 p 147 27 Mas se n o teve est mulos para mudar de of cio ou de vida com os homens de suas antigas ocupa es aprendeu uma outra li o que entre eles encontrei pessoas de valor que enfrentavam as agruras da vida com serenidade e tinham o seu padr o de humanidade sabiam ser homens e nesse plano eram mestres insuper veis com toda a sua rusticidade deprecia o da cultura letrada e incompreens o diante dos pr prios interesses e necessidades Foi deles que recebi a segunda capa de socializa o que superp s anterior pela qual descobri que a medida do homem n o dada pela ocupa o pela riqueza e pelo saber mas pelo seu car ter uma palavra que significava para eles pura e simplesmente sofrer as humilha es da vida sem degradar se FERNANDES 1977 p 147 O ponto final dessa prepara o sui generis de
343. lista do capital FERNANDES 1989 p 86 Parte 2 O PROFESSOR NA POL TICA 86 Cap tulo 4 UM OBJETO A EDUCA O COMO DILEMA Poucos pa ses no mundo moderno possuem problemas educacionais t o graves quanto o Brasil Como heran a do antigo sistema escravocrata e senhorial recebemos uma situa o dependente inalter vel na economia mundial institui es pol ticas fundadas na domina o patrimonialista e concep es de lideran a que convertiam a educa o sistem tica em simbolo social dos privil gios e do poder dos membros e das camadas dominantes O fardo era pesado demais para ser conduzido com responsabilidade e espirito p blico construtivo num sistema republicano que se transformou rapidamente numa transa o com o velho regime do qual se tornou mero suced neo pol tico Florestan Fernandes 1971b p 192 Com essas palavras Florestan apresentava no final dos anos 50 sua aprecia o sobre o dilema educacional brasileiro pela qual observava o desajuste qualitativo e quantitativo de nosso sistema de ensino frente s necessidades da na o e de suas regi es A estabilidade e a evolu o do regime democr tico estariam exigindo a extens o das influ ncias socializadoras da escola s camadas populares assim como a transforma o r pida do estilo de trabalho did tico tradicional que n o era prop cio forma o de personalidades democr ticas Na medida em que o sistema educacional restri
344. lizado em 1948 ano de funda o da Federa o Nacional dos Estabelecimentos de Ensino FENEN encontra se em Oliveira 2002a p 57 60 Segundo Florestan no artigo Em defesa da escola p blica O Estado de S o Paulo 30 jan 06 e 13 fev 1960 as bandeiras levantadas pelos defensores da escola particular n o passavam de sofismas j que o ensino privado nunca esteve amea ado Ao contr rio ele foi reconhecido e protegido pelas leis colhendo mesmo cont nuos benef cios legais e at ilegais dos poderes p blicos da isen o tribut ria a favores diretos na doa o de terrenos de equipamentos e de recursos ou em subven es de v rias esp cies de que se beneficiam 95 estariam as escolas particulares leigas que sem uma doutrina pr pria apoiavam se na da Igreja para defender interesses principalmente financeiros Ressalta se por m que a participa o das escolas leigas apesar de sua menor visibilidade continha um significado pol tico importante por representar a g nese de uma identidade empresarial a FENEN que no futuro se fortalecer em torno dos chamados interesses financeiros OLIVEIRA 2002a Antecipando este argumento Florestan j apontava em pleno debate que os motivos estritamente pecuni rios era o fulcro de toda mobiliza o privatista As escolas particulares leigas abrindo m o do princ pio de que a escola particular para ser livre precisa ser economicament
345. lo 08 ago 1994 Opini o p 1 2 O segundo turno Folha de S Paulo S o Paulo 05 dez 1994 Opini o p 1 2 Novo ciclo de desenvolvimento perif rico Folha de S Paulo S o Paulo 26 dez 1994 Opini o p 1 2 A festa da caridade Folha de S Paulo S o Paulo 2 jan 1995 Opini o p 1 2 Perspectivas consolidadas Folha de S Paulo S o Paulo 9 jan 1995 Opini o p 1 2 Experimentun crucis Folha de S Paulo S o Paulo 16 jan 1995 Opini o p 1 2 O efeito tequila Folha de S Paulo S o Paulo 6 mar 1995 Opini o p 1 2 Vacila es no Senado Folha de S Paulo S o Paulo 15 mai 1995 Opini o p 1 2 263 Pol tico ou acad mico Folha de S Paulo S o Paulo 31 mai 1995 A for a do argumento p 216 217 Transi o dificil para os sindicatos Folha de S Paulo S o Paulo 19 jun 1995 Opini o p 12 O eclipse do trabalho Folha de S Paulo S o Paulo 26 jun 1995 Opini o p 1 2 Racismo e cordialidade Folha de S Paulo S o Paulo 10 jul 1995 Opini o p 1 2 Os partidos de esquerda Folha de S Paulo S o Paulo 07 ago 1995 Opini o p 1 2 Custos sociais do capitalismo Folha de S Paulo S o Paulo 20 ago 1995 Opini o p 1 2 Universidade e talento Revista ADUSP S o Paulo n 4 out 1995 Educa o p 8 11 Depoimentos Cibele Saliba Rizek novembro de 2005 Florestan Fernand
346. lora o domina o interna ou seja retirar a responsabilidade que de outro modo recairia sobre a parcela local da burguesia pela explora o do trabalho pela domina o e pelo suposto atraso Limitar o car ter dependente domina o externa constitui na verdade argumento usado pelo setor local da burguesia para melhorar suas condi es de colocar na pauta pol tica a quest o da uni o nacional pelo desenvolvimento e assim aumentar a sua capacidade para conseguir ades o nacional ao projeto de desenvolvimento do grande capital internacional CARDOSO M 2005 p 19 Pelo forte entrela amento entre a ordem econ mica mundial e a ordem social local o Estado na o continua a ter relev ncia anal tica e pol tica mas o que o determina o movimento do pr prio capital especialmente a rela o que este estabelece com a sua classe antag nica deste modo se sob certos aspectos uma quest o nacional de fato a quest o n o se resolve no plano nacional estrito at porque ele n o existe como tal CADOSO M 1996 p 105 Se indispens vel que a analise do desenvolvimento capitalista recorra ao n vel das rela es entre na es esta por sua vez n o pode prescindir da an lise das rela es entre as classes sociais fundamentais articulando o que acontece nos p los hegem nicos e nos sem autonomia Nessa medida o conceito de capitalismo dependente n o pode ser tomado como sin n
347. los o nimo necess rio para continuarem a campanha por um ambiente mais prop cio ao ndio brasileiro figura geralmente her ica na literatura rom ntica do civilizado mas v tima constante de sua falta de simpatia ecum nica FERNANDES 2003 p 206 Para chegar medula do conte do do livro indica Florestan preciso recompor os fios centrais de uma concep o do mundo e do homem que sacudiu o pensamento alem o e europeu p s hegeliano definida historicamente com muita justeza como humanismo realista FERNANDES 2003 p 207 O exemplo de Baldus ajusta se portanto perspectiva de que a raz o cient fica n o prescinde de uma pr tica orientada pela teoria sendo que essa ltima sempre atravessada pela din mica social tal como sugerido por um dos pensadores que viveram sob a concep o de mundo e de homem acima citada A quest o se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva n o te rica mas pr tica na praxis que o homem deve demonstrar a verdade a saber a efetividade e o poder a citerioridade de seu pensamento A disputa sobre a efetividade ou n o efetividade do pensamento isolado da praxis uma quest o puramente escol stica MARX 1974b p 57 biops quicas das rea es e atividades sociais dos organismos ou da integra o delas em totalidades configuradas socialmente negligenciam a vincula o inversa que poderia sugerir at que ponto a intera o
348. m Weber e como outros quando mais cr tico quanto a inten o consciente ou inconsciente que o anima mais subversiva quando tem mais interesse em desvendar o que censurado contido no mundo social Pierre Bourdieu Quest es de sociologia No semin rio O saber militante realizado em homenagem a Florestan Fernandes em maio de 1986 na Faculdade de Filosofia Educa o Ci ncias Sociais da Universidade Estadual de S o Paulo Unesp no Campus de Mar lia a soci loga B rbara Freitag 1987 dividir a trajet ria de Florestan em duas fases uma acad mico reformista outra pol tico revolucion ria Segundo essa autora de um lado teriamos o jovem ligado ortodoxia cient fica institucionaliza o acad mica da sociologia e ao reformismo liberal Do outro o maduro que rompe com a concep o racionalista da neutralidade da ci ncia adere cr tica aos padr es contempor neos de profissionaliza o e institucionaliza o das ci ncias sociais e finalmente opta pelo radicalismo pol tico orientado para a revolu o socialista Com base em depoimentos biogr ficos e autobiogr ficos Garcia 2002 p 70 faz uma interpreta o cr tica da classifica o de Freitag defendendo a hip tese de que muito antes de conhecer a sociologia Florestan tinha uma hist ria de enfrentamento com o mist rio da internaliza o da domina o com a inaceit vel desraz o de pessoas que agem cont
349. m Florestan Fernandes Campinas Autores Associados Niter i EdUFF 2005a p 149 200 Dez anos sem o mestre Observat rio da Imprensa Rio de Janeiro ano 9 n 341 08 ago 2005b Dispon vel em lt http observatorio ultimosegundo ig com br gt Acesso em 08 ago 2005b Ci ncia e tecnologia no governo Lula a inova o do mesmo In NEVES L cia Maria Wanderley Org 4 reforma universit ria do governo Lula reflex es para o debate S o Paulo Xam 2004a p 73 89 250 Resenha Democracia contra capitalismo a renova o do materialismo hist rico Educa o Revistas de Estudos da Educa o Macei Centro de Educa o da Universidade Federal de Alagoas ano 12 n 20 p 149 155 jun 2004b A morte da universidade p blica Observat rio da Imprensa Rio de Janeiro n 263 10 fev 2004c Dispon vel em http www observat riodaimprensa com br gt Acesso em 10 fev 2004 A mercantiliza o dos direitos e os novos dilemas da educa o brasileira Universidade e Sociedade Distrito Federal ANDES SN n 30 p 92 99 jun 2003a O projeto pol tico pedag gico da terceira via Achegas Revista de Ci ncia Pol tica Niter i n 14 dez 2003b Dispon vel em lt http www achegas net gt Acesso em 20 dez 2003 Resenha A interioriza o do ensino superior e a privatiza o do p blico Movimento Niter i Faculdade de Educa o da UFF n 8 p 173 175
350. m abrindo o seu caminho dentro da Sociologia Eu abria tamb m caminho para outros que vinham depois e de modo mais geral para o desenvolvimento do pensamento sociol gico no Brasil A an lise estrutural funcional que pratiquei foi instrumental em todas as dire es FERNANDES 1978a p 90 Em um outro texto Florestan confirma a estrat gia afirmando que n o foi apenas a influ ncia dos professores estrangeiros que n s aprendemos a obedecer a uma certa tend ncia ao ecletismo Foi tamb m como um modo de defesa diante de uma repress o que se manifestava por todos os meios FERNANDES 1987 p 315 Portanto mais do que uma s ntese de conveni ncia ou um mesmo ecletismo te rico o que marca a obra de Florestan o valor primeiro impresso em uma utopia que identifica como problema fundamental da sociologia a investiga o sobre os obst culos emancipa o humana quest o est presente na reflex o de Durkheim sobre a anomia social na investiga o weberiana em torno do problema da irracionalidade e sobretudo no trabalho de Marx acerca da aliena o Mais do que uma ci ncia do capitalismo ainda que gerada no modo de produ o capitalista a sociologia desde sua g nese internacional afirma Peirano 1992 p 81 carrega consigo o Reproduzida em Fernandes 19800 64 paradoxo da exist ncia institucional de uma ci ncia social cr tica que se op e em diversos 2293 graus aos interes
351. m meados da d cada de 80 nova configura o e deixava poucas alternativas para um pa s perif rico e associado ao capitalismo monopolista vigente Ele exige a rendi o silenciosa e total impondo a incorpora o at o fundo e at o fim e a globaliza o dos recursos materiais e humanos dos pa ses v timas Do ponto de vista externo trata se da internacionaliza o vista como nica sa da do mundo capitalista p s industrial do ponto de vista interno trata se de captar capital c rebros especializados tecnologia avan ada e de adequar o desenvolvimento capitalista aos dinamismos da economia mundial Na verdade nos dois p los temos o imperialismo da era do global reach as na es capitalistas centrais transferem suas fronteiras para os pa ses perif ricos que aceitam politicamente essa solu o as na es capitalistas perif ricas sofrem uma cirurgia estrutural que atinge o esqueleto o cora o e alma de sua capacidade de ser e de sobreviver O mundo s cont m dinamismos que v m de fora e absorvem destroem ou 350 Em Democracia e socialismo Folha de S Paulo 13 out 1989 Florestan afirma que os que encarnaram melhor esse ide rio e essa utopia de igualdade com liberdade como base do socialismo foram Rosa Luxemburg e Antonio Gramsci Tanto Rosa quanto Gramsci segundo o soci logo discerniram que a estatiza o e a socializa o dos meios de produ o inevit veis na R ssia p s revolucio
352. m pauta o drama do dificil acesso ao ensino superior de grande parte da popula o brasileira principalmente negros e pobres Por falar em racismo vale lembrar uma das ltimas afirma es de Florestan sobre o assunto jamais contaremos com uma democracia efetiva se n o o eliminarmos O negro ainda constitui o ponto central de refer ncia de nossos atrasos e avan os hist ricos a esperan a maior na luta dos oprimidos pela cria o de uma sociedade nova A perman ncia do atraso educacional portanto continua como um sintoma da nossa aus ncia de cidadania Numa perspectiva florestaniana o que deveria pautar a quest o educacional em todos os n veis o debate sobre as pol ticas socioecon micas implementadas nos ltimos anos o que por sua vez determina qual o papel do Estado na promo o dos direitos fundamentais do homem no qual est incluso o acesso educa o h muito proclamados nas declara es universais e na Constitui o nacional A continuar a sublima o desse debate permanecem as estrat gias de precariza o e privatiza o dos agora chamados servi os p blicos que deixam de ser pensados a partir das pol ticas de universaliza o e igualdade para dar lugar ao 84 Segundo Luiz Pinguelli Rosa o Brasil possui o melhor sistema de ci ncia e tecnologia associado pesquisa e p s gradua o fora dos pa ses desenvolvidos ao lado da ndia e agora da Cor ia do Sul q
353. me de que a consci ncia cr tica para ser criadora n o precisa ser dissolvente FERNANDES 1977 p 158 O Vicente finalmente come ava a dar lugar ao Florestan Nesse processo o que antes era motivo de medo a sua rela o com os professores estrangeiros tornou se um fator importante de est mulo e supera o das adversidades A rela o com Roger Bastide por exemplo culminou em progressivo apoio de car ter mais estrutural com o professor franc s passando a se preocupar com as condi es de vida do aluno pobre Ser por interm dio de Bastide por exemplo que Florestan passa a colaborar regularmente a partir de 1943 no jornal O Estado de S Paulo Ironicamente o mesmo professor que havia criticado sua reportagem leva o aluno aos palcos da imprensa e o deixa sob os olhos da opini o p blica o 31 Como se ver no cap tulo 4 Florestan tamb m vai utilizar no in cio de sua carreira de professor os manuais como recurso pedag gico para se aproximar de seus alunos J nos anos 70 o cientista social participar de um projeto editorial preocupado em dotar professores e estudantes de um conjunto completo de instrumentos de trabalho did tico que lembrar um pouco a sua preocupa o em enriquecer os cursos de forma o sociol gica O projeto que se caracteriza pela reuni o de textos cl ssicos e contempor neos da literatura sociol gica sobre as duas dimens es dos sistemas sociais globais
354. mente sua cren a de que os estudos raciais teriam a ganhar com a crescente institucionaliza o das ci ncias sociais no Brasil que estava superando a fase dita livresca baseada em explica es ensa sticas criticadas n o para se contestar as suas grandes s nteses mas para colocar alguns par nteses sob a verifica o que fizeram da realidade brasileira Em abril de 1950 o antrop logo Alfred M traux assume o rec m criado Setor de Rela es Raciais do Departamento de Ci ncias Sociais da Unesco e junto com Ruy Coelho ex aluno de Bastide na USP torna se respons vel pela coordena o do projeto a ser realizado no Brasil Depois de algumas conversas iniciais Bastide reconhecido por seus trabalhos sobre a cultura afro brasileira recebe no final daquele ano o convite para dirigir a pesquisa em S o Paulo A capital paulista por seu r pido processo de industrializa o e urbaniza o serviria como contraponto Bahia produzindo se assim um contraste sobre as rela es raciais no Brasil No entanto este ltimo estado acabou n o sendo incorporado ao trabalho A decis o foi por concentrar as investiga es em S o Paulo tendo como compara o um estudo de Costa Pinto no Rio de Janeiro e outro do Instituto Joaquim Nabuco IJN em Recife entidade criada por Gilberto Freyre De acordo com Maio 1999 p 150 a hip tese de que a escolha sobre os lugares da pesquisa tenha tido como base o prest gio intelectual n o pode s
355. mento das massas a base para o pensador italiano Antonio Gramsci da for a mobilizadora do marxismo SEMERARO 1999 p 150 1 Uma vis o oposta que considera Florestan umbilicalmente ligado a uma concep o de sociologia elaborada a partir de um ideal de ci ncia tacitamente empirista eternamente preso a categorias metacient ficas como emp rico observacional e indutivo encontra se em Oliva 1997 p 15 16 Florestan por sua vez num livro que trata da sua condi o de soci logo comentando as rela es que manteve com a filosofia especialmente com a epistemologia argumenta que se n o houve condi es para a sociologia brasileira naquele momento de sua forma o fazer um di logo prof cuo com ela ele pessoalmente sempre defendeu a necessidade de uma articula o entre as duas disciplinas Defendia ainda que o sucesso dessa articula o teria como fim a promo o de dois efeitos a para o fil sofo das ci ncias um treino efetivo na rea de ci ncias sociais de seu interesse j que a experi ncia vic ria cria o risco de um pensamento demasiado abstrato que acaba n o dando aten o s dificuldades que existem no trabalho intelectual do soci logo do economista do historiador b para os soci logos a consci ncia de que suas investiga es emp ricas geralmente s o encerradas quando est o apenas come ando FERNANDES 1978a p 142 Uma tomada de posi o contra a separa o a
356. mento de sua qualidade Florestan n o parecia se dar conta de que esses objetivos poderiam ser conflitantes e que a concretiza o de apenas um deles poderia gerar efeitos desastrosos o que acabou acontecendo Ao fim a ditadura militar promoveu a democratiza o atrav s do apoio ao ensino privado garantindo a qualidade necess ria ao seu projeto de desenvolvimento investindo em n cleos de excel ncia fora e dentro da universidade p blica No entanto a democratiza o da universidade e mesmo da educa o em geral como visto no cap tulo anterior em Florestan nunca ficou restrita quest o do acesso per si A concretiza o do modelo democr tico n o poderia para o soci logo prescindir da qualidade necess ria para o desenvolvimento cient fico e tecnol gico inclusive com base na gratuidade e no acesso livre ao ensino superior como garantia de deselitiza o do saber Lembrando novamente uma cita o de Fernando Henrique Cardoso a ira do soci logo 124 contra a injusti a da privatiza o do ensino superior era antiga No pref cio segunda edi o do livro que re ne os textos publicados sobre a respectiva reforma universit ria Florestan alerta que os ensaios reunidos buscavam ser apenas uma contribui o positiva para c a passagem de uma escola superior tradicional a universidade conglomerada a uma universidade nova a universidade multifuncional e integrada FERNANDES 1979b p IX J
357. militares Jornal do Brasil 09 out 1988 Florestan destaca que o papel das na es centrais e particularmente a influ ncia aliciadora corruptora e condutora dos Estados Unidos n o recebem o tratamento que merecem O quintal dos Estados Unidos n o pode democratizar se fora e acima de um certo teto Isso poria em risco os privil gios do centro imperial e amea aria as fronteiras do destino hist rico que Deus a Natureza e o Poder lhe conferiram FERNANDES 1989b p 368 165 excedente econ mico drenado para o Exterior de maneira crescente FERNANDES 1989b p 71 A perpetua o dessa condi o faria com que o Brasil n o se universalizasse como Na o continuando a ficar dividido entre v rias na es em uma sociedade que se modernizou atrav s da concentra o da renda e da multiplica o geom trica das inigiiidades econ micas sociais e culturais acarretando no distanciamento do sonho de novo Brasil como comunidade pol tica nacional e for a de integra o da Am rica Latina Embora conhecidas as descomunais vantagens o Congresso Constituinte era uma nova oportunidade hist rica o novo campo de batalha que se apresentava a chance de fazer do Estado algo mais do que sempre foi um n cleo de intermedia o da domina o externa e de um estreito monop lio das classes dominantes vesgas para os interesses mais profundos e gerais da Na o como um todo FERNANDES 1989b
358. modo de produ o vigente Para restringir as possibilidades de equivoco e erro neste exerc cio de comunica o acad mica estrita que no processo de acompanhamento da transforma o do jornalista insciente no articulista Florestan me esmerei em adotar os procedimentos metodol gicos adequados especialmente os que dizem respeito s t cnicas investigativas de uma pesquisa hist rico sociol gica de car ter predominantemente bibliogr fico livros e revistas acad micas e documental publica es peri dicas complementada com alguns depoimentos Ressalvo que entendo por pesquisa hist rico sociol gica aquela que se posta como uma investiga o cr tica que busca compreender e avaliar os fatos os eventos e as situa es passadas sempre com a perspectiva de iluminar os problemas presentes e engendrar novos futuros Nesse sentido tomo como par metro a li o de Ciro Flamarion Cardoso 1986 de que as fontes n o devem ser tratadas como meros informantes de dados mas sim como testemunhas cuja qualidade das respostas depende das perguntas que fazemos a elas Ou seja importa n o s a forma como se pergunta mas tamb m com que objetivos e de que lugar se questiona Afinal como argumentou Pierre Bourdieu a produ o da verdade sociol gica depende de fatores ligados posi o ocupada pelo cientista na sociedade e na luta de classes E mais se o soci logo consegue produzir alguma verdade n o apesar de seu interes
359. momento ainda n o chegou Folha de S Paulo apud OLIVEIRA 2005a p 187 423 No governo Lu s In cio Lula da Silva 2003 2005 o processo de mercantiliza o do ensino sob o slogan da democratiza o do acesso teve como novidade o intitulado Universidade para Todos ProUni Lembrando que as formas indiretas de financiamento subs dios cr ditos isen es e apoio pol tico continuam Sobre os mecanismos de financiamento do ensino superior atrav s de recursos p blicos conferir Davies 2002 44 Uma an lise cr tica sobre o processo de empresariamento de ensino no Brasil ocorrido nos anos 90 encontra se em Neves 2002 FERNANDES Florestan Economia pol tica da crise Folha de S Paulo 11 abr 1994 p 1 2 FERNANDES Florestan Vacila es no Senado Folha de S Paulo 15 mai 1995 1 2 427 Os efeitos da pol tica de privatiza o do governo Fernando Henrique Cardoso sobre o patrim nio p blico brasileiro podem ser conferidos na obra do jornalista Aloysio Biondi 2001 na qual encontra se a seguinte 224 Segundo o jornal existiam duas linhas b sicas para explica o de tal fen meno Para os que defendem as virtudes da abertura ao capital estrangeiro o fracasso se devia a causas externas como o desaquecimento da economia mundial as crises financeiras em mercados emergentes ou a pol tica de juros altos e c mbio artificial adotada pelo ent o governo J os cr ticos do neoliberalismo a
360. monstrar a validade dos escritos jornal sticos do famoso soci logo e pol tico para a an lise e compreens o do respectivo per odo que se confunde com a hist ria brasileira da segunda metade do s culo XX especialmente sobre as dimens es do processo de evolu o da nossa democracia restrita e de seu correspondente sistema educacional Como consegii ncia saio convicto de que foram confirmadas com o apoio do resgate da rica trajet ria de Florestan as duas hip teses subsidi rias dessa empreitada a de n o distin o entre o militante e o acad mico e de que como publicista que o renomado autor consegue melhor articular essas duas voca es Ao seguir os passos da luta de Florestan em defesa dos princ pios democr ticos e pela constitui o de um sistema educacional condizente com esses princ pios al m de asseverar a validade do seu olhar sociol gico para a an lise da rela o educa o democracia verificou 234 se que o trabalho por ele realizado como articulista demonstra n o s a sua integridade b sica como homem pensador cientista e revolucion rio como cumpre um efetivo papel de pedagogia das causas sociais principalmente quando se consolida atrav s do trabalho de articulista o seu lugar na imprensa brasileira como um verdadeiro publicista revolucion rio Um publicista revolucion rio na acep o tomada por Paulo Silveira deve atender aos seguintes requisit
361. mpre combateram os trabalhadores do campo e da cidade Isso ineg vel Ficar aqu m todavia n o o mesmo de s servir para a lata de lixo da Hist ria FERNANDES 1989b p 291 292 A transposi o dos limites formais dependeria da capacidade de luta e nega o da ordem atrav s da Constitui o ou contra ela dos sindicatos dos movimentos e dos partidos de identidade prolet ria que vinham acelerando seu crescimento popular no meio urbano e no meio rural Junto com os radicais e progressistas estas for as teriam dois cen rios a instigar uma frente ampla imediata centrada na polaridade das massas populares aliadas aos estratos burgueses mais inquietos e reivindicativos uma frente restrita da luta confinada a pequenas vit rias no presente mas conjugadas para a cria o de uma nova sociedade futura que conferisse sali ncia ao poder popular e luta de classes lembrando novamente que a 7 A atualidade de L nin Leia Livros 15 out 1978 358 a Constitui o assinar ou n o Folha de S Paulo 14 jun 1988 191 concep o de alian a para Florestan estava acoplada vis o leninista delas como meios e nunca como fins diferenciando portanto objetivos t ticos de concilia o Apostando na cad ncia r tmica de uma concep o hist rica que se modifica frequentemente assim como na capacidade de mobiliza o e conscientiza o da emerg ncia c do povo b
362. n presente em seus artigos de maturidade est sobretudo na cr tica que faz aos argumentos dos que defendem o fim da centralidade do trabalho no capitalismo tardio O banimento da no o de conflito na esfera das rela es entre capital e trabalho s favorece segundo o soci logo a falaciosa utopia da democracia participativa nos termos usados pelos ide logos da nova social democracia que coloca maior peso nos aspectos formais da cidadania e esquece as quest es de fundo aquelas que dizem respeito ao projeto de emancipa o humana do jugo de todas as formas de explora o que passam impreterivelmente ainda que n o somente por quest es que dizem respeito s estruturas ritmos e fun es de dada economia sob o impacto do mercado mundial FERNANDES 1998 p 216 A estes argumentos o publicista responde e coloca a seguinte quest o O trabalho n o desapareceu Evoluiu e sofreu altera es nascidas da civiliza o capitalista como um todo Sem o homem isto sem o trabalhador n o h produ o e sem esta em constante desenvolvimento n o existe civiliza o Automatiza se a produ o Mas anula se o elemento humano Ou se quer chegar ao ideal de fascismo e do nazismo de robotizar o ser humano e todas as qualidades da pessoa 41 FERNANDES Florestan Custos sociais do capitalismo Folha de S Paulo 20 ago 1995 p 1 2 448 Pol tico ou acad mico Folha de S Paulo 31 ma
363. n ria substituta do antigo regime poderiam conduzir aos ideais democr ticos e igualit rios do socialismo e do comunismo especialmente se a revolu o socialista se desencadeasse nos pa ses centrais da Europa e se irradiasse pelo mundo Suas cr ticas portanto n o foram negativas tais como as dos social democratas e outros marxistas j que os dois perseguiam o autogoverno coletivo da maioria tal como descrito sucintamente por Marx nos escritos da d cada de 1840 e tamb m na cr tica ao Programa de Gotha acreditavam nos sovietes ou conselhos e promoviam a exalta o de sua autonomia contra os desvios burocr ticos registrados por L nin e acusados com veem ncia posteriormente por Trotsky FERNANDES 1990 p 157 188 anulam os dinamismos internos das economias internacionalizadas FERNANDES 1989b p 279 Mesmo sem tocar profundamente nestas quest es a sensibilidade capitalista dos parlamentares dos dirigentes pol ticos e militares e dos setores privilegiados foi afetada Formada majoritariamente no exterior sob a adora o dos valores e dos interesses dessa forma de capital a cabe a e a tica dessa gente moldada pelas multinacionais e a defesa do mundo livre ensaiava uma nova modalidade de moderniza o controlada dist ncia que j naquela poca ganhava a alcunha de neoliberalismo definido por Florestan como uma esp cie de extremismo burgu s i
364. n lembrar a insist ncia gramsciana de que todo projeto pol tico coerente cont m uma base tica que o torna vi vel sen o expressas em vit rias imediatas mas como geradoras de elementos subjetivos e objetivos din micos capazes de entusiasmar novos sujeitos coletivos e individuais Por essas raz es a figura do professor cresceu ao fazer diretamente a pol tica partid ria pois n o abandonou em nenhum momento os compromissos feitos em campanha A firmeza de suas posi es se d exatamente porque uma vez escolhidos os par metros que deveriam nortear sua pr tica deles n o abriu m o Isso mostra que sua compreens o da realidade da vida nacional n o permitia atitudes que denotassem o esquecimento da popula o que jurou defender Quando muitos conchavam cedem a interesses menores e ao personalismo exacerbado parece que nos esquecemos do quanto importante a presen a de homens cuja coragem se transforma em simbolo e exemplo MACIEL 1989 p 14 15 Para Maciel o que mais honrou a atividade parlamentar de Florestan foi o fato de n o ter aberto m o do compromisso com os setores populares a den ncia constante do car ter de classes das propostas dos grupos que se denominavam liberais e por consegii ncia a den ncia das barganhas pol ticas por cargos e poder O que mais denunciou mestre Florestan foi o preju zo que essas negocia es trariam para o assalariado menor o campon s o favelado e os aba
365. nal Folha de S Paulo 25 out 1988 391 Sobre as elei es municipais de 1988 conferir o conjunto de artigos publicados em jornal reunidos em O PT e as prefeituras se o segunda de Fernandes 1990 392 Segundo Florestan em Os prefeitos do PT Folha de S Paulo 14 ago 1989 o poder local o alicerce a partir do qual se organizam o poder econ mico e a hegemonia ideol gica das classes dominantes Ao assaltar com xito os basti es da sociedade civil os munic pios a oposi o prolet ria e seus aliados radicais de fac es burguesas subalternizadas erguem uma alternativa socialista e amea am a continuidade da ordem existente FERNANDES 1990 p 121 122 205 O partido se tece avan a gradualmente transforma se Dentro dele convivem v rias ideologias e pol ticas de esquerda Qual vencer Como ser o PT em seu est gio maduro Repetir a trag dia da social democracia europ ia os dramas dos partidos comunistas ou se revelar capaz de unir as v rias tend ncias e gerar o partido de esquerda de novo tipo que as Am ricas ib ricas necessitam FERNANDES 1989b p 287 Com o t rmino de sua experi ncia de observador participante do processo constituinte essas ser o algumas das quest es que v o nortear a sua futura atua o parlamentar marcada pela campanha das primeiras elei es presid ncias diretas ap s o fim da ditadura nas quais se reelege para um segundo mandato de 199
366. nam se decisivos e evitar certas derrotas equivale a grandes vit rias O resto vir 22 O uso da iniciativa popular Folha de S Paulo 03 abr 1987 23 O uso da iniciativa popular Folha de S Paulo 03 abr 1987 24 Conservadorismo esse que segundo Florestan em A raposa mostra o seu rabo Folha de S Paulo 30 abr 1987 camufla algo muito mais profundo e perverso o que havia anteriormente denominado de resist ncia sociop tica mudan a O que acontece conosco Fomos contaminados pela lepra do conservantismo cr nico nas origens coloniais e ela se incorporou estrutura gen tica dos donos do poder Como a aranha que herda a capacidade de tecer a teia capturar e sugar a mosca o conservador t pico brasileiro por mais not vel generoso e inteligente que seja um inimigo nato dos humildes aqueles seres indefesos que infestam a paisagem mas s o indispens veis para manter viva e em funcionamento a m quina da produ o FERNANDES 1989b p 85 168 mais tarde com a auto emancipa o coletiva dos oprimidos e a constru o de uma nova sociedade que uma constitui o deformada n o poder evitar FERNANDES 1989b p 83 A falta de clareza sobre essa articula o entre medidas de revolu o dentro da ordem com as de revolu o contra ordem levaria a perpetuar uma situa o em que para os humildes sem peso e voz na sociedade civil o Estado continuaria como equivalent
367. nandes se percebe no extremo cuidado com que o autor aplicou conceitos de nossa sociedade aos Tupinamb na arbitrariedade que verificou na divis o tradicional entre economia pol tica parentesco religi o na constata o da possibilidade de uma hierarquia entre as v rias esferas reconhecidas pela nossa mentalidade por exemplo o fato de que entre os Tupinamb a religi o engloba o parentesco a pol tica a economia e a guerra Inspirado em Mauss Florestan Fernandes mostra um interesse marcante em descrever os sistemas de significa o nativos como claramente diferentes dos nossos PEIRANO 1992 p 69 70 857 Segundo Florestan ineg vel que o uso da an lise funcional na sociologia sistem tica privilegia a estabilidade da ordem o que poderia e deve ser criticado n o se pode negar ci ncia social entretanto o interesse de conhecer aspectos da realidade sem os quais a sociedade e a vida em sociedade n o poderiam existir O erro seria naturalmente de concentrar as investiga es s nesses aspectos e de supor que uma vis o est tica da ordem intr nseca an lise funcional FERNANDES 1978a p 106 61 Foi isso talvez que levou Florestan a seguir uma dire o diferente da tend ncia dos antrop logos brasileiros de ent o inclinados a tratar a quest o ind gena pelo tema problema da rela o entre os ndios e a sociedade nacional tomando os estudos destes grupos como parte do B
368. ndada pelas for as sociais cat lico reformistas social democr ticas e socialistas reformistas com vistas desmistifica o da representa o pol tica liberal que sob a inexist ncia de partidos org nicos faz dos parlamentares os representantes aut nomos dos interesses da ordem Mas para que 22 A crise Folha de S Paulo 23 fev 1987 20 A pr tica da representa o institucional Folha de S Paulo 10 mar 1987 21 Autofagia Folha de S Paulo 18 mar 1987 167 essa express o das organiza es de protesto de luta e de reforma humanit ria que se representam como a sociedade civil n o acabasse em um substitu smo in cuo dois cuidados seriam necess rios O primeiro o n o esquecimento de que sob o capitalismo a sociedade civil a sociedade burguesa e que no caso de uma sociedade burguesa perif rica ela que unifica os estratos altos da burguesia nacional a burguesia internacional os militares e os tecnocratas em um bloco hist rico FERNANDES 1989b p 78 O segundo evitar que se tomassem as entidades pelo povo Para evitar tais escolhas preciso incentivar a a o direta o que tem ocorrido de fato nas cidades e no campo Aos poucos os intermedi rios desaparecem e os de baixo ultrapassam a exclus o e a substitui o impondo se como agentes de seu querer coletivo e os verdadeiros protagonistas da nova Hist ria Por paradoxal que pare a
369. ndo rapidamente 1 Marx nos ensina que a reconstru o do real um produto te rico que se eleva do abstrato ao concreto pensado pela via do pensamento que opera pois desde o come o com conceitos 2 Mas ensina tamb m que tal reconstru o s poss vel sobre o desenvolvimento concreto mais rico vale dizer quando um modo de produ o est implantado e portanto sua l gica comanda o social 3 Assim tendo se tornado intelig vel o novo modo de produzir na racionalidade que lhe pr pria a partir do estudo da realidade hist rica mais desenvolvida que lhe d forma s ent o o passado que o antecede e do qual se distingue qualitativamente tamb m se torna intelig vel CARDOSO M 1987 p 243 Florestan Fernandes se deter nas especificidades de nossa burguesia para precisar os contornos do seu conservadorismo e buscar as raz es da fragilidade da democracia entre n s Ao inv s de exaltar o seu passado revolucion rio sua nfase reca ra sobre a l gica da domina o burguesa e a identifica o de suas contradi es postura que visa iluminar os caminhos para uma nova ordem social Nessa an lise tr s aspectos se destacam a a debilidade cong nita da burguesia em criar um espa o pol tico pr prio tornando invi vel uma revolu o nacional sobre o seu comando b o mandonismo olig rquico que se consolida como uma forma de domina o conservadora de origem rural perpassando o ide rio legalista da ord
370. ndonados pelo sistema Crit rio tico puramente Submiss o a uma linha partid ria 157 que n o podia por quest es estrat gicas abrir m o de sua plataforma Obedi ncia a palavras de ordem de grupelhos minorit rios de atitudes radicais O simples enunciado das perguntas mostra que n o se trata de nenhuma redu o da pr tica pol tica mas do engrandecimento da pr pria maneira de cuidar da coisa p blica e de servir Na o MACIEL 1989 p 14 Neste sentido a den ncia de Florestan sobre o jogo dos pol ticos n o recai numa tentativa de moraliza o da pol tica CERQUEIRA 2005 contr ria vis o da pol tica como arte mas na exig ncia de se cobrar dos atores pol ticos o que est por detr s da pr pria encena o que decantam para assim tornar clarividente os autores do politicismo oco das grandes e pequenas figuras das classes dominantes e de seus movimentos pol ticos como faz o publicista em O politicismo burgu s Folha de S Paulo 26 jun 1986 ao analisar as j citadas elei es municipais da capital paulista Esse politicismo vazio pernicioso e visceralmente atrasado ele nos remete s ditas velhas oligarquias e s suas pr ticas pol ticas embora ao mesmo tempo esteja enraizado no jogo de for as do atual capitalismo monopolista dependente e nas irradia es globais da cidade de S o Paulo como a megal polis que sateliza os dinamismos internos d
371. nerais da Na o e na limita o do campo de atividades e da liberdade de explora o semicolonial das grandes empresas estrangeiras fortalecer a defesa de todas as medidas que envolvem descentraliza o planejamento em escala regional e corre o das desigualdades sociais raciais e regionais que contribuam ativamente para 364 A Constitui o a perspectiva dos trabalhadores Folha de S Paulo 24 jul 1988 365 Sobre a revolucion ria alem conferir Loureiro 2004 especialmente a sess o Um olho que ri outro chora parte final do cap tulo 4 A revolu o alem 194 reproduzir o chamado Brasil arcaico empenhar se em manter as medidas que se relacionem com a liberdade dos partidos o plebiscito o referendo popular a iniciativa popular na elabora o de leis e a democratiza o dos direitos e liberdades individuais e coletivas inclusive o direito de voto aos dezesseis anos de idade a defensoria p blica e o fortalecimento das atribui es de controle direto e indireto do Executivo pelo Legislativo FERNANDES 1989b p 311 312 Com pouco esfor o e muito dinheiro o Governo preparou a altera o de 73 dispositivos para essa etapa final do processo constituinte obedecendo as f rmulas para combater e superar o desenvolvimento desigual pelos que s o mais interessados em mant lo e aprofund lo seguindo os princ pios da concilia o conservadora Era a compra da transi o
372. nfantil que busca a produ o de enormes excedentes econ micos para movimentar as molas mestras do desenvolvimento capitalista no Jap o na Europa e nos Estados Unidos Todos os setores da grande burguesia pressionam os constituintes a endossar o avesso do que necess rio Na o como um todo Por isso n o podem ser modernos em um sentido positivo e construtivo de fortalecer a democracia de abater os privil gios e de acabar com o desenvolvimento desigual a base hist rica e a fonte de financiamento da aventura de uma moderniza o conservadora e controlada a partir de fora FERNANDES 1989b p 280 Essa conex o do capitalismo monopolista dependente e associado obedece aos seguintes mandamentos que norteiam as a es dos empres rios e de suas organiza es corporativas Priorizar a depend ncia econ mica tecnol gica e cultural incentivar um acordo espoliativo diante da negocia o da d vida externa ceder s press es norte americanas e superestimar a transfer ncia de poupan a dos pa ses centrais recorrer a uma ret rica governamental de alian a das na es pobres ou em desenvolvimento da Am rica Latina e do resto do mundo e ao mesmo tempo submeter se a uma pr tica de capitula o passiva defender com unhas e dentes a iniciativa privada e impelir o Governo privatiza o cada vez maior das empresas e das riquezas p blicas etc tudo isso traduz a exist ncia de uma burgu
373. nfigurava se assim o avan o pelo desligamento do sindicato da tutela estatal do dirigente sindical da viol ncia empresarial e do partido pol tico do confinamento imobilista uma prova de que as press es dos assalariados e das entidades libert rias da sociedade civil chegaram ANC sem amea ar a ordem e o desenvolvimento capitalista que dialeticamente saiam refor ados pelo deslocamento dos dinamismos da sociedade civil desviado de um p lo autorit rio para um democr tico ainda que o mesmo fen meno n o tenha ocorrido em outras reas tal como na quest o agr ria e na educacional A burguesia enfrenta o desafio de fortalecer se seja para desempenhar as fun es que antes cabiam pol cia seja para democratizar suas rela es com os trabalhadores e suas organiza es sindicais confederativas Os trabalhadores por sua vez precisam avan ar rapidamente para ocupar o espa o pol tico conquistado e ampli lo pela a o direta o que lhes imp e uma revis o completa de suas t cnicas de organiza o e de luta de classes FERNANDES 1989b p 340 No curso do segundo turno um dos acontecimentos mais importante foi a cria o do Partido Social Democr tico Brasileiro PSDB formado por um setor esquerda do PMDB Apesar de cedo para avaliar o partido Florestan critica a prefer ncia por termos suaves em seu programa que fomentava ila es duvidosas Segundo o publicista um part
374. ngia a procura dos candidatos escolariza o e se tornava inerte em rela es s mudan as solicitadas inclu a se entre os fatores adversos ao desenvolvimento social Por conseguinte em vez de acelerar a difus o e o fortalecimento dos ideais de vida consagrados legalmente ele interfere no processo como fator de demora cultural FERNANDES 1971b p 197 133 Que fazem parte de A ci ncia aplicada e a educa o como fatores de mudan a cultural provocada texto escrito para o Simp sio sobre os Problemas Educacionais Brasileiros organizado pelo Centro Regional de Pesquisas Educacionais de S o Paulo CRPE SP no ano de 1958 FERNANDES 1971b 134 A express o demora cultural cultural lag foi criada pelo soci logo norte americano W F Ogbum para identificar as diferen as nos ritmos de desenvolvimento entre os aspectos materiais e culturais de uma determinada sociedade O fen meno seria corriqueiro em sociedades com r pida industrializa o nas quais as 88 O tal dilema funciona como um c rculo vicioso no qual as condi es de subdesenvolvimento geram problemas cuja gravidade aumenta em fun o das dificuldades materiais ou humana em resolv los A interven o conjuntural deliberada ainda que topicamente bem sucedida acaba por contribuir pouco para alterar a situa o estrutural O esfor o por isso precisa ser repetido diversas vezes para que n o se perca a pequena vantagem conquistada
375. nifique o trabalho aspire distribui o eq itativa dos direitos e das obriga es sociais e consagre te rica e praticamente o saber racional fornecido pela ci ncia e pela tecnologia possibilitando assim a intera o social como fonte de aperfei oamento moral da pessoa e da sociedade fazendo de todo o ser humano um real agente criador da cultura com capacidade de exercer de maneira cr tica e sustent vel o dom nio sobre as condi es naturais e artificiais do ambiente FERNANDES 1971b p 177 Nessa perspectiva abarcando pol tica e ci ncia a pedagogia socialista de Florestan mostra se coadunada com o projeto gramsciano de colaborar para que os condenados da terra tornem se dirigentes de seu mundo A id ia de dirigentes que Gramsci tem em mente portanto mais ampla do que a no o de cidadania hoje em voga que pode ser entendida como uma forma de registrar e englobar os indiv duos no sistema de democracia liberal Dirigentes para o autor dos Cadernos significa que dada a todos a possibilidade concreta de se tornarem autodirigentes de serem sujeitos pol ticos capazes de conduzir em conjunto a democracia de serem organizadores de todas as atividades e fun es inerentes ao desenvolvimento org nico de uma sociedade plena civil e pol tica SEMERARO 2003 p 271 272 Tanto em Florestan quanto em Gramsci a defesa do rigor cient fico da disciplina da escola da se
376. nstru o do sistema social visado somente a partir da que a respectiva totalidade avaliada A busca de Florestan era evitar a superposi o aprior stica de elementos te ricos especialmente de uma teoria ex gena sociedade estudada abertura te rica e metodol gica que segundo Peirano 1992 p 66 contradiz a imagem criada em rela o ao autor sobre o seu suposto adesismo nesta fase a uma nica concep o de ci ncia especialmente quando se leva em conta que na poca j era sens vel a influ ncia marxista em suas leituras Um exemplo dessa abertura est na continua o de sua reflex o sobre a especificidade da an lise dial tica 3 Em um livro autobiogr fico Darcy Ribeiro 1997 p 142 faz na verdade uma autocr tica coletiva sobre o per odo em que ele e Florestan estudaram na ELSP Ao me fazer cientista em Sampa eu estava sendo de fato contrapolitizado A tem tica dos meus estudos sobre arte plum ria o desenho kadiw u seu parentesco sua religi o e mitologia bem como os copiosos estudos eruditos de Florestan Fernandes sobre a organiza o social e sobre a guerra na sociedade tupinamb eram mais do que leg timos mas deixavam o Brasil dist ncia Apenas para um contraste analisando um dos livros do antrop logo sobre o ensino superior no Brasil Florestan far o seguinte coment rio sobre Darcy Para entender um livro como este necess rio fazer uma biografia
377. ntante GARCIA 2002 p 112 Os artigos e trabalhos sobre o folclore esse alvoro o de um primeiro amor a express o que Florestan utilizava para cristalizar as lembran as das suas primeiras pesquisas realizados em bairros populares e de 37 GARCIA 2002 p 113 Em contraposi o ao enfoque folclorista ent o em voga Florestan iniciava seu primeiro embate disciplinar promovendo um trabalho de demarca o de fronteiras abrindo caminho para uma nova concep o de ci ncias sociais no Brasil similar guardada as especificidades ao desenvolvido por Durkheim na Fran a no in cio do s culo passado Como demonstrado em Oliveira 1999 num ensaio inspirado pela leitura de Bourdieu sobre a institucionaliza o das ci ncias sociais n o h produ o cient fica sem arcabou o te rico que no in cio do processo de constitui o de uma disciplina n o produza o estabelecimento de novas articula es pois imposs vel n o ver a ci ncia como um fato social determinado que sofre a interfer ncia na rela o entre os conceitos admitindo portanto a constru o desconstru o e a reconstru o j que o objeto n o se resume ao que se quer conhecer A partir do caso das ci ncias sociais europ ia que emergem nos fins do s culo XIX e se consolida no posterior na heran a iluminista sobre a poss vel universalidade de uma ci ncia interpretativa para todas as sociedades chega se a duas constata
378. ntasmas que rondam a imagina o infantil do sectarismo doutrin rio que na maioria das vezes s o procedentes de interpreta es equivocadas das revolu es prolet rias das modas que circulam a partir dos centros culturais imperiais ou de motivos t ticos dissonantes das realidades particulares de cada conforma o social FERNANDES 1986a p 19 Esse equacionamento deveria por exemplo voltar se para a quest o dos embates eleitorais que se agu avam com a Nova Rep blica Entre a rejei o infantil da via eleitoral e a ades o ing nua ou perversa politiza o profissional e institucional das elei es Florestan propunha que a luta pol tica popular e prolet ria se desse em seu pr prio terreno Isso implica engatar a campanha eleitoral revolu o democr tica em partir de ombros dados com os de baixo engajando os direta e concretamente nas v rias etapas e desdobramentos daquela campanha Pressuporia aceit los como parceiros iguais como companheiros e tocar o bonde com eles segundo um estilo de fazer pol tica que forjaria as bases efetivas de uma democracia participativa FERNANDES 1986 p 58 Refletindo sobre as elei es municipais em S o Paulo de 1985 Florestan rejeitava ao mesmo tempo a posi o da Central nica dos Trabalhadores CUT que confrontava negativamente a elei o municipal aos interesses dos trabalhadores a postura de seu amigo
379. nte acad mica privilegiando os m todos de apropria o cient fica a come ar pelo trabalho de campo e os focos de interpreta o substituindo a relev ncia pol tica pela excel ncia intelectual MICELI 1987 De acordo com esta linha de argumenta o ter amos no Rio de Janeiro uma concep o de ci ncia social intervencionista militante e aplicada da qual a melhor express o seria as teorias desenvolvimentistas exemplo de um politicismo que se caracteriza pela formula o de diagn sticos e palavras de ordem que inserem o Estado e suas ag ncias no centro do debate J em S o Paulo a marca seria a do treinamento metodol gico a leitura dos cl ssicos o trabalho de campo e a socializa o do saber sob o paradigma funcionalista politizando em outra dire o ao se voltar para o estudo dos atores estrat gicos de implanta o e desenvolvimento do capitalismo no Brasil Ou seja S o Paulo foi praticamente o nico espa o institucional em que se constitui algo pr ximo ao que se poderia qualificar como uma elite propriamente intelectual Numa perspectiva de hist ria intelectual comparada a elite de cientistas uspianos o que mais se assemelha quela fra o cultivada da classe dirigente capaz de fazer valer sua presen a e autoridade em fun o da contribui o que traz ao exerc cio de fun es culturais irredut veis sua contribui o econ mica MICELI 1987 46 Sem exclui
380. nternos para que o Brasil n o perpetuasse um tipo de depend ncia nascida da instrumentaliza o ex gena do Estado da ci ncia e da tecnologia Ainda que com uma certa dose de pessimismo nos escritos de despedida de Florestan permanece a cren a num processo educativo permanente nas rela es sociais em crise ou seja a possibilidade de se engendrar a forma o de um novo senso comum desde que esse processo tenha como um de seus pilares o resgate das mem rias entre as quais incluo a do objeto em quest o que podem revelar a verdade de uma hist ria que o medo de um lado e a cobi a do outro tendem a disfar ar a do trabalho como fonte social de riqueza Cap tulo 6 O LTIMO ATO EDUCA O E DEMOCRACIA EM TEMPOS DE NEOLIBERALISMO A globaliza o a partir de tecno estruturas de acumula o capitalista desenfreada e da viol ncia destrutiva p e em risco a civiliza o construida ao longo dos s culos por difus o e inven o de t cnicas sociais e de valores espirituais que fizeram dessa civiliza o algo in dito como produto do homem Rep e se o desafio agora de modo cru socialismo ou fim da civiliza o Este pode dar se por via natural ou cultural O capitalismo oligopolista hodierno antecipou se a qualquer cat strofe da natureza Erigiu a via hist rica como ve culo da autodestrui o da humanidade da civiliza o e do universo Gerou assim a ultima escolha no socialismo rede
381. ntia de neutralidade para sacramentar como faz a moral laica durkheimiana segundo Heloisa Fernandes 1994 p 52 uma n tida demarca o dos territ rios do saber e uma rigorosa distin o igualmente hier rquica das suas fronteiras e compet ncias 48 autopreserva o e auto afirma o correspondem sempre a um n s coletivo que funciona como fonte limite e refer ncia para a a o individual Ou nas palavras de Mandel 2001 p 77 a necessidade hist rica frequentemente filtrada por personalidades determinadas que n o podem faz la desviar se do seu curso normal mas que podem marc la at certo ponto com suas caracter sticas pessoais Como afirma Garcia 2002 p 173 n o se trata de contrapor a dimens o psicol gica e pessoal s dimens es coletivas da sociedade e da cultura como se fossem duas ordens distintas e apartadas entre si Afinal lembrando a m xima marxista os homens com o desejo de influir fazem a hist ria mas sempre sob determinadas constri es O relevante identificar quais as chamas que o motivaram a incorporar a partir de seu estilo de vida subalterno as promessas da modernidade paulista de um modo t o singular inclusive o que o fez ser uma das suas exce es a n o incorporar o tipo ideal de imunidade pol tica no ambiente cient fico de S o Paulo revelia de sua reconhecida contribui o Ou seja constatar que mesmo
382. ntologia do ser social restrita s propriedades sist micas referidas pela cibern tica quanto os legados da Escola de Frankfurt que em sua teoria cr tica da cultura da comunica o e da ideologia aborda o jornalismo sob o ngulo Sobre a institucionaliza o da sociologia da Educa o no Brasil conferir Dias 2002 7 Num artigo escrito por ocasi o do falecimento de um famoso jornalista paulista Cl udio Abramo e o jornalismo Folha de S Paulo 14 ago 1988 8 Como lembra Mandel 2001 p 34 os homens e mulheres n o podem estabelecer rela o de produ o entre si sem estabelecer ao mesmo tempo rela es de comunica o 16 exclusivo da reprodutibilidade t cnica e do reducionismo ideol gico de um determinado marxismo que tem por base as premissas naturalistas do stalinismo tomando a respectiva atividade como mero meio de manipula o Na vis o de Genro que adota a perspectiva leninista do jornalismo como instrumento de organiza o coletiva a comunica o jornal stica se posta como uma modalidade de apreens o do real que apesar de estar condicionada pelo advento do capitalismo torna se uma nova condi o para a universaliza o das rela es humanas que embora ainda hoje expresse e reproduza a vis o burguesa de mundo possui caracter sticas pr prias enquanto forma de conhecimento social que ultrapassa por sua funcionalidade hist rica concreta a mera funcionalidade ao
383. nuidade Folha de S Paulo 08 ago 1994 p 1 2 40 FERNANDES Florestan Novo ciclo de desenvolvimento perif rico Folha de S Paulo 26 dez 1994 p 12 21 A atualidade de Marx Folha de S Paulo 13 mar 1983 222 35 Nesse universo as minorias privilegiadas se organizam como as classes dominantes dessa nova modalidade de sociedade competitiva detendo um poder colonial que permite incorporar a si pr prias e as suas infortunadas na es nas estruturas de poder do capitalismo internacional O soci logo entretanto adverte que o capitalismo selvagem n o reproduz o passado e que a revolu o burguesa no capitalismo oligopolista substituto do monopolista apresenta se de outra forma e com outros objetivos fundamentais Nesta era da robotiza o na qual segundo Florestan engendra se uma barb rie sublimada ocorre a pervers o absoluta do conhecimento cient fico tecnol gico que ampliou os mecanismos de diferencia o social e acumula o de riqueza em detrimento das t cnicas racionais que poderiam extirpar a desigualdade e a viol ncia funcionando em prol da auto regula o dos assuntos coletivos da comunidade Isso porque ao inv s de tentarmos ir al m da importa o de produtos do conhecimento cient fico e tecnol gico assimilando de fato os padr es de pensamento associados a essas reas assim alcan ando condi es de os p r em pr tica de maneira original acabamos por f
384. nvergir as aten es para o econ mico Sua proposta central o crescimento econ mico avaliado por indicadores basicamente econ micos 78 capitalismo depentente Florestan vai enfrentar um dos pontos centrais desse projeto que est sendo proposto para regi es como a Am rica Latina a id ia de uni o nacional que est sustentada na suposi o de que h sempre em cada Estado na o uma comunidade de interesses interna que est envolvida pelo af coletivo do desenvolvimento que em tese afetaria de forma positiva todos os seus integrantes O problema segundo Florestan que as rela es de depend ncia ou heteronomia n o se instalam propriamente entre na es nem mesmo entre burguesias hegem nicas e hegemonizadas A produ o acumula o e reprodu o do capital se d pela a o das fra es burguesas envolvidas no processo inclusive com as fra es locais desempenhando um papel fundamental tanto na rela o com o trabalho quanto nas rela es com o Estado na o que implementa as pol ticas que concretizam as op es do capital Por essas raz es o conceito de capitalismo dependente acaba por conduzir aos desmascaramento simult neo da domina o imperialista e das burguesias nacionais De acordo com Florestan identificar depend ncia e domina o externa constitui um equ voco grave tanto te rica quanto politicamente cuja consegii ncia principal excluir da cr tica a exp
385. o Brasil dos anos 1990 S o Paulo Xam 2002 Brasil 2000 nova divis o de trabalho na educa o S o Paulo Xam 2000 NEVES L cia OLIVEIRA Marcos Marques de O que querem os empres rios educacionais do governo Lula Universidade e Sociedade Distrito Federal ANDES SN n 32 p 43 51 mar 2004 NOGUEIRA Marco Aur lio Gramsci desembalsamado em torno dos abusos do conceito de sociedade civil Educa o em Foco revista de educa o Juiz de Fora Universidade Federal de Juiz de Fora Centro Pedag gico v 5 n 2 p 115 130 set fev 2000 2001 NOSELLA Paolo Compromisso pol tico e compet ncia t cnica vinte anos depois Eccos Revista Cient fica S o Paulo UNINOVE v 6 n 1 p 9 24 2004 NOVELLI Ana Lucia O Projeto Folha e a nega o do quarto poder In MOTTA Luiz Gonzaga Org Imprensa e poder Bras lia Editora da Universidade de Bras lia 2002 p 181 197 NUNES Clarice An sio Teixeira a poesia da a o Revista Brasileira de Educa o Rio de Janeiro ANPED n 16 p 5 17 jan abr 2001 An sio Teixeira a poesia da a o Bragan a Paulista EDUSF 2000 OLIVA Alberto Ci ncia e ideologia Florestan Fernandes e a forma o das ci ncias sociais no Brasil Porto Alegre EDIPUCRS 1997 Filosofia 55 OLIVEIRA Marcos Marques de O articulista Florestan Fernandes democracia e educa o em tempos de neoliberalismo In FAVERO Osmar Org Democracia e educa o e
386. o Org O que ler na ci ncia social brasileira 1970 1995 Sociologia v 2 S o Paulo Sumar ANPOCS Bras lia DF CAPES 1999 p 147 181 As ci ncias sociais no Rio de Janeiro In MICELI S rgio Org Hist ria das ci ncias sociais no Brasil Vol 2 S o Paulo Sumar Fapesp 1995a p 235 307 A sociologia do Guerreiro Rio de Janeiro Editora UFRJ 1995b 247 LOPES Aline Marinho Florestan Fernandes Gilberto Freyre e a modernidade no Brasil Disserta o Mestrado em Sociologia Instituto Universit rio de Pesquisas do Rio de Janeiro TUPERJ Rio de Janeiro 2004 LOSURDO Domenico Fuga da hist ria A Revolu o Russa e a Revolu o Chinesa vistas de hoje Rio de Janeiro Revan 2004 LOUREIRO Isabel Maria Rosa Luxemburg os dilemas da a o revolucion ria 2 ed S o Paulo Editora UNESP Funda o Perseu Abramo 2004 L WY Michael Ideologias e ci ncia social elementos para uma an lise marxista 16 ed S o Paulo Cortez 2003a As aventuras de Karl Marx contra o Bar o de M nchhausen marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento 8 ed S o Paulo Cortez 2003b A evolu o pol tica de Luk cs 1909 1929 2 ed S o Paulo Cortez 1998 LUEDEMANN Cec lia da Silveira Anton Makarenko vida e obra a pedagogia na revolu o S o Paulo Express o Popular 2002 MACIEL Lys neas Pref cio dignidade e compromisso In FERNANDES Florestan 4 Constit
387. o ao marxismo e do scholar ao militante pol tico mas de considerar como a mudan a se faz sem se configurar uma ruptura na perspectiva geral a partir da qual Florestan coloca se diante dos problemas que enfrenta O ponto em quest o envolve a possibilidade de uma coer ncia de base sem grifo no original na conduta pessoal que aponta para o rigor do procedimento da conduta cient fica e p blica da dire o sociol gica e pol tica da obra e da vida Trata se em suma de reconhecer a import ncia fundante da dimens o tica na posi o cientificista de Florestan GARCIA 2002 p 171 A tens o entre os ideais socialistas e a op o profissional que est presente em toda a trajet ria de Florestan toma nesse momento uma dire o pol tica que revela uma din mica in dita no seu modo de pensar a realidade brasileira o que n o significa que a inflex o operada no pensamento de Florestan no confronto te rico e pr tico com a contra revolu o burguesa se plasme num corte absoluto com o seu trabalho anterior efetivado nos marcos da sociologia NETTO 1987 p 295 A observa o de M sz ros em El concepto de la dial ctica em Luk cs obra de 1973 sobre as principais linhas esquem ticas de uma id ia sintetizadora fundamental presentes na mente de um fil sofo ajuda nos a entender a din mica de pensamento de Florestan Segundo o pensador h ngaro as linhas esquem ticas t m de estar presentes na ment
388. o Francesa uma situa o que seria c mica n o fossem as conseq ncias graves que dela poder o advir A nossa posi o pessoal pesa nos como inc moda Apesar de socialista sem grifo no original somos for ados a fazer a apologia de medidas que nada t m a ver com o socialismo e que s o sob certos aspectos retr gradas FERNANDES 1966 p 427 Em carta B rbara Freitag no ano de 1971 fazendo considera es sobre o fato de ter recorrido no o de Estado educador em seus textos na Campanha Florestan justifica da seguinte maneira sua ades o circunstancial s proposi es liberais Se voc me perdoa voc tomou a nuvem por Juno De fato o que voc leu s o trabalhos de pol mica e propaganda pol ticas Eu estava engajado numa merda de uma pol tica pequeno burguesa na qual os pressupostos do jogo pol tico consistiam em nossa fraqueza Um punhado de intelectuais de estudantes de l deres sindicais e pol ticos de esquerda tentando enfrentar a avalanche da fome cat lica pelo controle das consci ncias e dos setores conservadores pela destrui o da escola p blica independente Naquela situa o recorri a um equivalente da simula o os pressupostos ideais do Estado democr tico Uma maneira de fazer a cr tica moral que desarma os inimigos e cria aliados por ser irretorqu vel Funda se nos dados e nas exig ncias do sistema Se ele existe logo tem de manter se e de aperfei oar se
389. o Russa nasceu em Moscou no ano de 1919 Foi nela que se travou referenciado pelo desenvolvimento da experi ncia socialista russa o embate entre as correntes stalinistas com base na pol tica de socialismo num pa s s e trotskistas marcada pela id ia de revolu o permanente Por fim Trotski que havia sido expulso da URSS em 1929 ap s chefiar movimentos de oposi o contra a trai o da revolu o pela burocracia russa cria em 1938 a IV Internacional que teve significativo papel ao estimular o debate mundial sobre o desenvolvimento desvirtuado do socialismo oficial JOHNSTONE 1993 42 Sob o influxo do Velho l amos e faz amos a cr tica dos cl ssicos do bolchevismo sem perder de vista que a realiza o de um projeto socialista n o passa pela mera substitui o de homens no poder do Estado mas na ruptura com as formas de explora o e domina o existentes Mais ainda ensinara nos o Velho a pessoa mais importante que qualquer cargo da a rejei o corrida ao sucesso e a gloriola f cil com que o sistema premia os her is sem car ter os macuna mas diplomados pelas universidades os assessores da domina o TRAGTEMBERS 1992 p 160 O conte do e o sentido dessas conversas de Sacchetta com os jovens podem ser captados na palestra Trotskismo reprodu o de uma aula proferida no curso de Doutrinas Pol ticas da Universidade Popular Presidente Roosevelt
390. o ajudavam a professar naquele momento com a divulga o das pesquisas de opini o sobre o suposto desinteresse pela Constituinte Por ignor ncia ou complac ncia esquecia se que a incorpora o morfol gica da maioria de miser veis da terra e de trabalhadores assalariados livres e semilivres n o significava uma inser o social efetiva dada a falta de peso e voz nessa mesma sociedade civil Os senhores da fala da riqueza e do poder decidem tudo Aos outros a imensa maioria de n o cidad os ou de cidad os pela metade sejam ou n o eleitores cabe o papel passivo de sofrer e obedecer N o h porque culpar o povo Exclu do este mant m aparente condi o passiva de comparsa surdo mudo e impass vel Falou se que foi assim que o povo assistiu a todos os grandes acontecimentos de nossa hist ria que n o era a hist ria dele Mas nem isso verdadeiro Ele nunca foi agente ativo porque sempre esteve privado da condi o de agente hist rico O que vai de fato pelo cora o e pela mente do povo Esta a pergunta essencial dif cil de responder FERNANDES 1989b p 31 Para Florestan o desinteresse um fen meno de superf cie que esconde o vir a ser de um proletariado que gradativamente vai tomando consci ncia de suas condi es de vida e das tarefas necess rias sua transforma o As an lises de conjuntura nessa perspectiva nunca podem servir de base para avalia es conclusivas sob
391. o de instaurar tal investiga o O primeiro gesto nesse sentido foi a decis o de realizar um breve ensaio que serviria para finalizar mais um per odo disciplinar e consequentemente iluminar minhas id ias com um pouco mais das li es que Florestan Fernandes nos deixou A partir da an lise dos artigos publicados por Florestan Fernandes na Folha de S Paulo em 1994 e 1995 o trabalho intitulado O articulista Florestan democracia e educa o em tempos de neoliberalismo OLIVEIRA 2005a cumpriu a meu ver o seu objetivo de lan ar luzes sobre as dificuldades de um pa s perif rico em dar conta de suas dividas sociais num momento de intensifica o do processo de internacionaliza o do capital e aparente perda de poder pol tico dos Estados nacionais Al m disso concretizado este exerc cio uma dupla demanda me parecia ter sido atendida A primeira de ordem pr tica estava no amadurecimento da pesquisa sobre a rela o p blico privado na hist ria educacional brasileira debate que como percebi tinha em Florestan Fernandes um conhecido personagem A segunda de ordem pessoal foi a possibilidade de redimensionar minha trajet ria profissional que guardada a devida e bvia propor o coincidia com o meu Para Ianni 1986 p 7 sob v rios aspectos a sociologia brasileira est marcada pela obra de Florestan Fernandes Essa obra compreende um not vel acervo de contribui es te ricas e hist ricas Estabe
392. o desenvolvimento desigual em si e por si mesmo o modo pelo qual uma burguesia impotente corr i os dinamismos pol ticos do desenvolvimento capitalista e por essa via indireta debilita a luta pol tica das classes trabalhadoras e das massas populares FERNANDES 1989b 17 O contraponto desses interesses que fomentam a febre por posi es o constante e renovado assalto aos castelos do poder na qual os partidos e as institui es governamentais n o passam de meios para ratear os recursos p blicos est segundo Florestan na for a e nos interesses dos que ficam margem dessa voracidade generalizada Os exclu dos formam assim as hostes n o dos puros mas do que nos permitem aguardar o aparecimento de pr ticas pol ticas de outra natureza isentas do politicismo vulgar e do assalto met dico ao poder como meio para fins inconfess veis Isso quer dizer que a maioria as massas incomensur veis de v timas da pervers o do pol tico e da perversidade da pol tica constituem uma retaguarda de recupera o e uma fonte insond vel de esperan as s lidas FERNANDES 1989b p 18 Um exemplo dessa possibilidade Florestan vai encontrar na crise institucional que levou desestabiliza o do regime ditatorial resultado concomitante e conjugado do processo de adapta o do pa s intensifica o da internacionaliza o do sistema de produ o 268 O politicismo burgu s Folha de S Paulo 26 jun 1
393. o governo de S o Paulo em 1982 tratou o tema como ret rica pol tica pura tendo influ ncia posterior no conjunto de perip cias que redundou na concilia o com a chamada Frente Liberal O PMDB escolheu a concilia o como t cnica pol tica de desgaste do regime vigente Mentor e parceiro mor da Alian a Democr tica o PMDB despiu se da manta de cordeiro revelando as garras das oligarquias que controlam ferreamente o poder pol tico institucional com ou sem ditaduras Por ele n o passa nem poderia passar a democracia participativa Na melhor tradi o brasileira ele o avesso dessa alternativa que pode atravessar os sonhos de seus intelectuais e de alguns de seus not veis mais ou menos radicais mas s o em confronto com a realidade miragens de cunho demag gico FERNANDES 19864 p 160 161 Florestan mostrava preocupa o ap s a derrota das Diretas J com o processo de produ o de candidatos elei o indireta que seria decidida pela farsa do Col gio Eleitoral que daria continuidade transi o lenta gradual e segura do regime militar FERNANDES 1986a p 156 A chamada abertura pol tica n o passava de um expediente adaptativo da ditadura perda de seu poder pol tico um meio para reciclar se e manter se tona preservando ou revitalizando tudo o que era crucial sua sobreviv ncia como uma forma sinistra de absolutismo irrespons vel
394. o objetivo de fortalecer a democracia brasileira 36 Tupinamb Segundo o soci logo a Escola Livre possui um segundo patamar em sua vida n o tendo a mesma influ ncia que a institui o em que se graduou a qual considera o seu ventre materno A esperan a de uma complementa o revelou se desde logo muito limitada N o iria abrir veredas t o novas como esperava De outro lado era um mito que n o se recorria ao treino emp rico na Faculdade de Filosofia Por a portanto a minha nsia de aprender viu se frustrada O pior que os cursos de p s gradua o n o eram efetivamente mais do que cursos avan ados de gradua o abertos a estudantes p s graduados A Escola Livre n o possu a recursos materiais e humanos para fazer mais do que isso o que me contrariou muito de in cio levando me mesmo a recusar alguns cursos em que me havia matriculado e pelos quais apenas repetiria a aprendizagem anterior FERNANDES 1977 p 169 Mas a julgar pela constata o a seguir assim como pelos efeitos em sua forma o e nos desdobramentos de sua obra n o se deve considerar que essa tenha sido uma experi ncia perdida Quando percebi que alimentava esperan as erradas imprimi novo curso s minhas rela es com a Escola Livre os seus professores e os seus estudantes entre os quais formei muitos amigos Passei a comportar me como um professor que eu era que por assim dizer reciclav
395. o os melhores acabam prezando demais os crit rios fechados de sele o e de avalia o do seu labor intelectual Distanciam se assim do meio de suas necessidades e dos seus valores num espl ndido isolamento que aniquila a cultura e seu influxo criador sobre a vida pr tica e moral do homem De outro em virtude do n vel intelectual m dio muito baixo imperante em todos os c rculos sociais inclusive nas chamadas elites dos homens de a o Sem possuir elementos para julgar apropriadamente o rendimento do labor universit rio seus centros de interesse e seus produtos os leigos ou se abst m diante dos problemas universit rios brasileiros ou tomam posi o ruinosa por excesso de oposi o ou por excesso de entusiasmo FERNANDES 1966 p 289 290 117 pol ticas e s cio culturais dos graves dilemas educacionais que nos defrontamos FERNANDES 1966 p XV Ao formular em linguagem intelig vel para os leigos a natureza sociol gica dos nossos problemas educacionais Florestan reencontrava se com suas origens e ao mesmo tempo combatia o conformismo deliberado que vinha contaminando as ci ncias sociais j naquela poca Hoje 29 jan 1971 aprende se mais lendo um bom artigo de orienta o cr tica quando os jornalistas fazem uma descri o honesta ou um romance do que se lendo obras de cientistas pol ticos soci logos economistas de alto n vel os modelos sofisticados e o vazio
396. o reforma cortina de fuma a acomoda o personalismo que est o na base do comportamento pol tico das classes possuidoras atrav s dos seus representantes CANDIDO 2001 p 34 5 1 O publicista guerrilheiro e a Nova Rep blica Nos artigos publicados na se o Tend ncias Debates que ao abrir espa o para representantes de v rias correntes ideol gicas ajudou a Folha de S Paulo a consolidar sua imagem de jornal progressista vis o que segundo Mario Souza 2002 p 111 lhe deu 200 Na nota explicativa de Que Tipo de Rep blica Florestan por exemplo agradece a Ot vio Frias Filho ent o diretor da Folha de S Paulo pela sua paci ncia de esperar que eu vencesse o sectarismo do guerrilheiro pol tico isolado FERNANDES 1986 p 13 130 uma urea de credibilidade e respeito nos mais diferentes segmentos da sociedade 29201 brasileira Florestan aborda com severidade as transa es pol ticas que configuraram o que se convencionou chamar de Nova Rep blica vendo a como uma falsa promessa de transforma o um mecanismo para despistar os m veis de continuidade da autocracia burguesa que sob nova forma tornava se mais sofisticada e imperiosa Seu alvo n o era a ditadura militar em si mas as for as sociais que a sustentavam visando levar discuss o e an lise dos problemas pol ticos brasileiros para o maior n mero poss vel de pessoas
397. o seu pensamento cient fico FERNANDES 1992a p 77 Mas a milit ncia pol tica que funcionava como um microcosmo ideal envolvendo pol tica jornalismo e vida acad mica trazia dificuldades para a perpetua o de seus estudos Tornando me assistente da Faculdade e aluno de p s gradua o da Escola Livre de Sociologia e Pol tica eu enfrentava encargos intelectuais discentes e docentes dispersos e pesados N o podia ser um militante devotado a todos os pap is e obriga es e ao mesmo tempo logo entraram em cena as tese de mestrado e de doutorado que iriam ser uma fonte de atrito constante com os companheiros FERNANDES 1992a p 76 Entre as tr s voca es desenvolvidas na universidade trotskista a acad mica leva vantagem com o devido apoio de Sacchetta que se fez de seu advogado frente s cobran as dos outros integrantes partid rios O l der do PSR considerou que Florestan poderia ser mais til ao movimento na universidade servindo mesma causa por meios diversos Tal decis o segundo Garcia 2002 p 123 tornava se aceit vel no mbito daquele grupo pol tico doutrin rio revolucion rio gra as radicaliza o que Florestan Fernandes poderia imprimir ci ncia social paulistana se tomarmos como norte convic o do marxismo cientifico sobre o papel e o poder do saber cient fico para o controle racional do mundo Por m uma outra 5 Republicada duas veze
398. o trabalho lhe sugerindo n o abandonar a perspectiva adotada Era o sinal de que o esfor o para a conforma o de uma nova estatura psicol gica estava dando certo Concentrando na aprendizagem do of cio Florestan buscava liberta se de velhos complexos e se preparava para vencer novos obst culos Como t tica concentrou se nas exig ncias diretas provindas das aulas das provas e dos trabalhos e lan ou m o dos 30 Se tinha pouco tempo para aproveitar a inf ncia nem por isso deixava de sofrer o impacto humano da vida nas trocinhas e de ter r steas de luz que vinham pela amizade que se forma atrav s do companheirismo nos grupos de folguedos de amigos de vizinhan a dos colegas que se dedicavam ao mesmo mister como meninos de rua engraxates entregadores de carne biscateiros aprendizes de alfaiate e por a a fora FERNANDES 1977 p 143 31 2931 condenados manuais Assim alcan ando maior autonomia intelectual passou a enfrentar em melhores condi es um grande inimigo a intimida o causada pela cultura dos mestres estrangeiros Eu estava na poca da semeadura qualquer que fosse a grandeza relativa dos meus mestres eu tinha o que aprender com eles e o que eles me ensinavam ou transcendia aos meus limites ou me ajudava a construir o meu ponto de partida Cabia me aproveitar a oportunidade A leitura de Mannheim em particular que iniciara com intensidade j nos come os de 1942 convencera
399. o trabalho como fonte social de riqueza De acordo com Florestan o que a hist ria oficial aponta como cria o das elites na verdade produto das lutas trabalhistas O crucial que os trabalhadores se inclu ram como e enquanto classe entre os agentes hist ricos for ando a maioria das grandes transforma es sociais do mundo moderno que figuram na consci ncia burguesa e na hist ria oficial como inova es das elites no poder Entre as transforma es repontam desde a modifica o das condi es de trabalho da jornada de trabalho eleva o dos sal rios redistribui o da renda e padr es decentes de vida at a participa o simb lica dos trabalhadores na administra o da empresa a conquista de c digos de trabalho mais egjiitativos da seguridade social da expans o e democratiza o do ensino etc FERNANDES 1991a p 22 5 FERNANDES Florestan Mudan a seletiva e ruptura hist rica Folha de S Paulo 14 fev 1994 p 1 2 6 Entendido aqui tanto como indiv duo quanto como sujeito coletivo tal como o partido que segundo Florestan num de seus ltimos artigos n o pode esquecer de somar representa o institucional a tarefa de educa o pol tica dos trabalhadores para a sua emancipa o e desaliena o FERNANDES Florestan Os partidos de esquerda Folha de S Paulo 07 ago 1995 p 1 2 232 Um dos maiores m ritos da pedagogia socialista de Floresta
400. ob a tica de Florestan Fernandes um estudo da participa o popular nos quadros da democracia da 253 Nova Rep blica Relat rio de Pesquisa Departamento de Hist ria Instituto de Ci ncias Humanas e Sociais Universidade Federal de Ouro Preto Ouro Preto 1998 SILVEIRA Paulo Um publicista revolucion rio In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 287 291 SOARES Eliane Veras Florestan Fernandes o militante solit rio S o Paulo Cortez 1997 SOUZA Jess 4 constru o social da subcidadania para uma sociologia pol tica da modernidade perif rica Belo Horizonte Editora UFMG Rio de Janeiro IUPERJ 2003 SOUZA Jos Vieira de A rela o projeto nacional e educa o em Fernando de Azevedo e Florestan Fernandes In 25 Reuni o Anual da Associa o Nacional de P s Gradua o em Educa o ANPED Caxambu MG set 2002 Textos dos trabalhos e p steres Dispon vel em lt http www anped org br 25 josevieirasousat 4 doc gt Acesso em 30 dez 2005 SOUZA Mario Luiz de Imprensa e hegemonia como a Folha de S o Paulo trabalhou a reforma educacional do primeiro governo FHC Disserta o Mestrado em Educa o Faculdade de Educa o Universidade Federal Fluminense Niter i 2002 TOLEDO Caio Navarro de Utopia e socialismo em Florestan In MARTINEZ Paulo Henrique Florestan ou o sentido das co
401. obre o tema requeria e um estudo de caso sobre a obra de um intelectual requer isso em muitos momentos das quest es te ricas como matrizes orientadoras da pr xis investigativa Com isso o contorno final deste objeto em constru o se configurou numa tese dividida em duas partes O militante da ci ncia e O professor na pol tica com tr s cap tulos cada seguido de um ltimo texto conclusivo abrangendo assim toda vida produtiva de Florestan Fernandes Ainda que o foco 19 Como se ver a seguir a hip tese de ruptura epistemol gica ps quica ou pol tica tendo como marco o recrudescimento da ditadura militar no final dos anos 60 foi defendida por Freitag 1987 num importante semin rio em homenagem a Florestan na d cada de 1980 Posteriormente a pr pria pesquisadora reconhecer comentando a obra de Soares 1997 sua ent o orientanda que o pol tico j se encontrava encubado no jovem Florestan estudante de Sociologia do mesmo modo que no deputado federal nunca se silenciava a voz do soci logo cr tico dissecando a realidade brasileira Na categoria do intelectual que constitui uma constante na vida de Florestan se condensam as duas dimens es de sua personalidade a acad mica e a pol tica FREITAG 1997 p 13 2 Como alerta Motta 1998 p 76 n o se deve confundir mem ria com hist ria A hist ria aposta na descontinuidade pois ela ao mesmo tempo registro distanciamento pro
402. ogo Florestan o que lhe permitir questionar os depoimentos dos cronistas utilizados assim como o valor etnogr fico de desenhos e gravuras O objetivo dessa estrat gia foi fazer com que a sua avalia o dos dados recolhidos se processasse em base similar a uma observa o direta mas que ambicionava ainda unir a essa sistematiza o ordena o estrutural consciente e inconsciente da sociedade estudada Um ltimo aspecto relevante estava no recorte escolhido para a an lise Demonstrada a import ncia da guerra tanto para os cronistas que a documentaram quanto para o funcionamento da sociedade este fen meno serviu como porta de entrada para o exame do sistema de parentesco da economia da religi o dos padr es morais da cosmologia da estrutura individual de personalidade A guerra permitiu desta forma uma leitura por cima dos ombros dos Tupinamb no dizer de um antrop logo contempor neo Clifford Geertz PEIRANO 1992 p 67 60 A nfase na exegese nativa como em Victor Turner a utiliza o de uma institui o para atrav s dela falar sobre outros aspectos da sociedade analisada como feito por Gregory Bateson e Clifford Geertz a distin o de n veis de consci ncia e consci ncia da realidade social tal como sugere Claude L vi Strauss e por fim a tentativa de se fazer antropologia de um evento hist rico a partir de documentos da poca tal como fez Marshall Sahlins com a morte do capit o
403. oi registrada por Antonio Candido no document rio dirigido por Stefanelli 2005 quando afirma que devido doen a acreditava que 152 No fim da vida fui levado a uma evolu o inversa uma revolu o atrav s de acontecimentos que s o conhecidos O professor que se partia pelo meio busca uma crescente participa o publicista especificamente pol tica e naturalmente tensa insurgente antielite e contra a ordem social capitalista Novas esperan as e novas lutas fora dos quadros institucionais da universidade Encontrei um equil brio entre as duas partes do meu ser e uma resposta aos anseios revolucion rios Poderei servir ao proletariado e aos humildes como servi universidade FERNANDES 1995a p 15 O trabalho parlamentar de Florestan expressar essa tens o entre teoria e pr tica revelando a convic o de que a produ o de conhecimentos sobre a realidade brasileira propiciada pela dedica o sociologia aporta insumos s for as sociais que podem se colocar objetivos socialistas NETTO 1987 p 295 N o por acaso que Florestan como deputado pelo PT n o deixar de estar vinculado durante a Constituinte de 1987 aos movimentos sociais mais aguerridos educa o negros mulheres ndios sem terra e de combate fome sempre ao lado das bandeiras mais radicais que visavam o estabelecimento de uma democracia mais includente e participativa Dessa experi ncia sa ra um impressionante di rio
404. ol tica e ideol gica das classes dominantes a partir de um jogo de falsas apar ncias reveladas em in meras manifesta es Contra isso deve se instigar a participa o das classes subalternas na sociedade civil possibilitando a ocupa o nas institui es sociais centrais e no poder pol tico estatal desse ponto que se pode compreender a import ncia das reivindica es urgentes salariais condi es de trabalho sa de habita o saneamento e claro educa o como instrumentos que podem quebrar a acelera o do desenvolvimento como pol tica exclusiva das elites e 36 atual hegemonia das pol ticas da identidade Ellen Wood 2003 prop e um pluralismo de consci ncia cr tica que ajude a constitui o de uma comunidade democr tica reconhecedora das diferen as de g nero cultura e sexualidade entre outras mas que n o as transforme em um sofisticado mecanismo de mistifica o Segundo a autora diversidade e diferen a s o obviamente relevantes Mas ao inv s de um pluralismo indiferenciado e desestruturado deve se reconhecer a unidade sist mica do modo de produ o que engloba essas identidades para assim ter se a capacidade de distinguir suas rela es constitutivas sem esquecer outras formas de desigualdade e opress o Ressalta se que acoplada s pol ticas de identidade fortaleceu se segundo Vianna 1997 p 212 uma sociologia de reforma social de entona o minimalista leg
405. omo observador participante da ANC Florestan afirma que a repercuss o de seu trabalho de publicista entre os parlamentares foi positiva motivo para in meras discuss es com muitas palavras de apoio e algumas desaprova es De acordo com o tema ele j sabia por exemplo quais seriam seus respectivos interlocutores o que o fazia alargar seu campo de vis o testar as interpreta es e escolher novos assuntos delineando se uma colabora o espont nea de influ ncia rec proca que ia al m e acima dos partidos Entre um discurso e um artigo dois modos de comunica o do pensamento o ltimo mostrou se mais male vel com penetra o relativa mais ampla e uma influ ncia potencial maior FERNANDES 1989b p 9 10 Nos textos iniciais percebe se uma grande expectativa quanto ao processo constituinte promessa que vai se definhando com o tempo Ainda assim Florestan continuar a afirmar que a nova Constitui o por pouco que dure se postava como um ponto de div rcio na transi o transada que se delineava desde meados da d cada de 70 N o houve a ruptura que vislumbrava que marcaria o dilaceramento final da Nova Rep blica O motivo segundo o soci logo foi a aus ncia de projetos dos partidos da ordem especialmente o PMDB e o PFL e a falta de espa o para o debate de id ias mais radicais j que o nosso reformismo continuava a n o passar de uma va
406. oncebeu a educa o como panac ia Ningu m deve esperar que a solu o dos problemas educacionais brasileiros pressuponha por si mesma a solu o dos demais problemas que nos afligem FERNANDES 1966 352 ainda que considerasse a educa o popular a mola propulsora da evolu o do mundo moderno A inexist ncia da educa o popular est na raiz dos males com que nos defrontamos e que nos revelamos impotentes para resolver Sem perdermos de vista que a reconstru o educacional n o tudo e que ela jamais deve ser encarada como um fim em si mesma temos de concentrar boa parcela de nossas energias na cria o de um sistema de ensino capaz de responder positivamente aos requisitos materiais e morais da educa o democr tica FERNANDES 1966 p 353 Sob a concep o de que a grandeza das na es repousa na grandeza de seus homens estava j assinalado que ao identificar na pessoa humana o fator humano estrat gico de qualquer sociedade especialmente nas na es subdesenvolvidas jazia a percep o de que o fim de uma reforma educacional n o o indiv duo isolado visto em si mesmo mas o indiv duo considerado como parte de uma sociedade levando se em conta o grau de adequa o que deve existir entre o comportamento humano inteligente e as condi es 108 vigentes de exist ncia social FERNANDES 1966 p 140 Ou seja Florestan n o desconhecia o fato d
407. onflito sendo ela uma importante arma que no entanto por ser um artefato n o tem condi es de determinar a priori qual o seu alvo A mudan a social em seus variados n veis afirma Florestan sempre uma realidade pol tica que pode come ar a partir da fome e da mis ria mesmo da riqueza e do desenvolvimento Mas o que alimenta a mudan a e a resist ncia mudan a sempre uma posi o pol tica nas rela es de classe FERNANDES 1991b p 33 No que diz respeito educa o escolarizada portanto deve se evitar o perigo e inocuidade de se cair num racioc nio de tipo mecanicista Nenhuma fatalidade compele a educa o a atuar inexoravelmente como uma for a unilateral e cega pelo menos dentro dos limites em que ela possa ser encarada atrav s de reguladores psico sociais ou s cio culturais Ela pode em outras palavras formar o homem de diferentes maneiras e o pr prio homem quem decide atrav s de comportamentos sociais inteligentes as varia es em quest o FERNANDES 1966 p 71 Na d cada de 80 na proemin ncia de mais uma moda intelectual quando da subsun o do estruturalismo pelo p s modernismo num debate sobre a forma o pol tica e o trabalho do professor Florestan afirmar que tamb m preciso evitar inculcar nos educadores a perspectiva de dio s institui es Vamos acabar com as escolas elas s o pris es Todas as pris es precisam ser destru das
408. onvertem em grupos de press o na rea de reconstru o educacional FERNANDES 1966 p 104 Isto porque afirma o soci logo qualquer conhecimento positivo produzido sobre a situa o educacional brasileira ser impotente por si mesmo para alterar a qualidade e a efic cia da rea o societ ria aos problemas educacionais Essa circunst ncia s se alterar presumivelmente na medida em que se puder combinar produtivamente esse conhecimento com a atividade regular dos educadores militantes e com o conhecimento do senso comum escolarizado FERNANDES 1966 p 110 Ao fim al m dos conhecimentos sobre a situa o e os alvos a serem alcan ados os especialistas devem dispor de boas condi es de trabalho para que possam regular institucionalmente sua participa o na elabora o na aplica o e no controle dos planos de interven o esbo ados Da afirmar Florestan a import ncia da exist ncia de organiza es como o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais CBPE que regiam os Centros Regionais de Pesquisas Educacionais CRPE em alguns estados da federa o Ele o CBPE introduz o planejamento como processo social na esfera da educa o sistem tica no Brasil e confere ao soci logo dentro dele pap is sociais que lhe permitem colaborar regularmente nas fases de elabora o e de aplica o de planos de controle educacional em que se imponha a utiliza o de conhecimentos sociol gicos FERNANDE
409. or Giovanni Semeraro que al m de um orientador meticuloso e atento mostrou me que a atividade acad mica feita com rigor e dedica o cr tica n o exclui rela es de respeito e amizade sentimentos fundamentais para a supera o das adversidades encontradas no caminho O mesmo pode ser dito em rela o ao mestre Osmar F vero que al m de respons vel pelo meu encontro com Giovanni acompanhou de perto todo o desenrolar da pesquisa inclusive dando me a oportunidade de colaborar para um livro por ele organizado em homenagem a Florestan Fernandes nos dez anos de seu falecimento Foi tamb m atrav s de F vero que cheguei a Miriam Limoeiro Cardoso outra componente da banca uma das mais importantes conhecedoras da obra sociol gica de Florestan naquilo que ela tem de mais radical e produtiva A ela como explico na Introdu o devo o insight que me levou a esta aventura florestaniana No meio do caminho para al m das pedras deparei me com in meras outras pessoas que de alguma forma compuseram um mosaico de colabora o volunt ria ou involunt ria bastante produtivo Entre elas as duas examinadoras convidadas a soci loga Helo sa Fernandes Silveira que al m da leitura cr tica de alguns artigos me deu a oportunidade de participar de uma experi ncia pedag gica paradigm tica duas singelas por m intensas palestras num curso de forma o de l deres do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra MST na Escola Na
410. or exemplo as contradi es de suas posi es sobre os objetivos da universidade que em parte acabaram por ser incorporadas s reformas do ensino superior promovidas pelos militares nos anos que abrem a ditadura o auto exame que realiza sobre o epis dio numa nota explicativa que antecede o ensaio A universidade em uma sociedade em desenvolvimento publicado originalmente no ano de 1966 mostra que Florestan tinha consci ncia de que poderia cometer equ vocos mas ao mesmo tempo condi o para super los Sempre me coloquei frente dos que acham que a fun o do intelectual consiste em negar a ordem em nome do pensamento cr tico e das for as de transforma o revolucion ria da sociedade de classes Se esses temas n o comparecem na presente discuss o ou s aparecem em termos de certas conex es da mudan a social com a sele o das fun es sociais construtivas da universidade isso se deve aos aspectos do assunto que me cabia abordar Minha participa o no movimento de reforma universit ria iria intensificar se e radicalizar se somente em 1967 e 1968 alterando toda a minha perspectiva do assunto O ensaio como um todo no entanto n o foge a tudo que tenho tentado fazer de minha vida em constante confronta o com o pensamento conservador e o controle externo da universidade FERNANDES 1976b p 144 Segundo Freitag 1987 ao defender com o mesmo ardor a necess ria democratiza o do ensino e o au
411. ormaliza o institucional como cauda do movimento pol tico conservador c rebros de mudancismo e m o civil da transi o lenta e segura FERNANDES 19864 p 128 Por tr s dessa t tica estava o velho e nocivo entendimento de que n o existiam as condi es objetivas e subjetivas para a organiza o autonomiza o e emancipa o das massas Segundo Florestan mais uma lenda dos que se submeteram a uma ret rica neo iluminista de car ter estritamente liberal fortalecida com a devida anu ncia dos donos do poder Se n o faltaram as condi es objetivas cujo sintoma estava no p nico das hostes burguesas mais conservadoras e reacion rias o publicista salienta que as condi es subjetivas se criam na e atrav s da luta pol tica condi o para que as classes subalternas se 224 Novos rumos Folha de S Paulo 04 fev 1985 225 Segundo Florestan no artigo O cachimbo e a boca Folha de S Paulo 05 dez 1985 fica claro agora que ningu m serviu ditadura contra a vontade A regra geral nos planos civil e militar as elites das classes dominantes serviram se da ditadura e do Congresso FERNANDES 19864 p 49 226 O pacto social dos oprimidos Folha de S Paulo 11 mar 1985 140 tornem uma for a social decisiva E foi remando contra a corrente que as massas populares avan aram apenas com o pequeno impulso que receberam dos movimentos
412. ornal do Brasil 14 dez 1987 Neste mesmo artigo Florestan identifica entre os oprimidos e os contras os 30 que oscilam entre o tope e os de baixo mas que raramente se empenham decididamente para alterar a realidade S o cultos e refinados demais para isso temem que os custos sociais de uma revolu o democr tica saiam de seus lombos FERNANDES 1989b p 185 179 Para que estes ltimos e sua maioria parlamentar que na ANC ganhou o apelido de Centr o deixassem de domesticar a maioria real e assim postergar as revolu es e as reformas educacional agr ria e urbana dando adeus revolu o democr tica e nacional o Brasil precisava de um ar oxigenado pela luta de classes e pelos seus efeitos sobre a incessante transforma o da sociedade civil Florestan sabia que uma constitui o nunca foi ou ser o equivalente de uma transforma o radical Mas acreditava que o Parlamento convertido em cen rio para o embate pol tico durante o processo constituinte poderia ao menos infundir elementos de liberdade pol tica e direitos sociais que reduziria o despotismo burgu s forjando as premissas da conquista de peso e voz pelos trabalhadores e oprimidos nas institui es chave no Estado e na sociedade civil Com as ilus es constitucionais dissipadas as m scaras ca ram mas a luta por uma revolu o dentro da ordem ainda n o tinha se encer
413. os 1 um amplo e profundo conhecimento hist rico estrutural da sociedade brasileira o que quer dizer tamb m a maneira pela qual ela se inseriu e se insere no capitalismo mundial isto articulado a uma massa de informa es atualizadas sobre economia pol tica cultura etc em especial as que se referem mais propriamente din mica da luta de classes 2 uma tomada de posi o pol tica que tem significado uma absoluta intransig ncia em rela o s diversas formas de compromisso de concilia o e de coopta o cujo nome cl ssico corrup o que visam a manuten o e o refor o do poder burgu s 3 uma concep o de hist ria que situa a luta de classes n o apenas em rela o s chamadas condi es objetivas mas tamb m em rela o ao campo das possibilidades do devir hist rico isto ao espa o das pr ticas onde se entrecruzam os momentos objetivos e subjetivos SILVEIRA 1987 p 289 At preencher todos esses requisitos de um publicista da causa revolucion ria Florestan passou por uma dura aprendizagem que come ou justamente com a distin o entre trabalho jornal stico e trabalho acad mico quando o mesmo professor que lhe abriria as portas da imprensa rejeitou a sua primeira reportagem Se numa suposi o esse epis dio original despertou nele uma vis o negativa e preconceituosa em rela o pr tica jornal stica comportamento comum no meio acad mico a sua participa o em v
414. os chifres maiores que o boi Como parte uma rotina institucional em nada a assinatura do texto implicaria numa ades o obtusa legalidade parlamentar pelos partidos de identidade prolet ria E mais a sua recusa n o condizia com as vit rias alcan adas pelo apoio popular s nossas bandeiras de luta que se parece pouco pelo que se queria ver impresso na carta magna vale pelas li es empreendidas em prol da ado o da estrat gia da t tica de duas frentes que inclui a revolu o dentro da ordem como mecanismo de press o para democratizar a ordem existente A Constitui o em sua forma atual desigual Cont m disposi es avan adas e modernas ao lado de outras disposi es que consagram os privil gios preexistentes e a ordem estabelecida N o poderia ser diferente e est na l gica das coisas O que h de sublinhar que bem ou mal ela permite romper com o impasse deixado pela ditadura militar e refor ado pela Nova Rep blica tra ando uma nova legalidade burguesa e os pontos de partida de uma sociedade civil democr tica e civilizada Se isso vai ou n o ser aproveitado pelos oprimidos em geral e pelos trabalhadores em particular depender em grande parte do fortalecimento da luta de classes resultante dos direitos individuais e coletivos e principalmente dos direitos sociais Ela a Constitui o fica aqu m do que seria necess rio a transforma es estruturais pelas quais se
415. os dados para o senhor Tocado pela humildade do mestre Florestan se rende e decide aderir a coisa mais importante que aconteceu em minha vida de soci logo profissional e de militante socialista FERNANDES apud PEREIRA 1987 p 152 O chamado Projeto Unesco foi um conjunto de pesquisas sobre rela es raciais realizado no in cio dos anos 50 em algumas regi es do pa s com o intuito de apresentar ao mundo uma experi ncia de intera o racial tida na poca como muito bem sucedida Tudo come ou em meados de outubro de 1949 quando Arthur Ramos assumindo o Departamento 102 Al m da tese Florestan dedicava se a uma pesquisa sobre A acultura o dos s rios e libaneses em S o Paulo Etapas ago 1956 sob a orienta o de mile Willems Segundo L pine 1987 a quest o das rela es raciais n o era uma novidade na obra do cientista social brasileiro j que ela estava subjacente nos estudos sobre o folclore buscando entend lo como fonte de esteri tipos e na pr pria pesquisa sobre os ndios Tupinamb s 103 Como reproduzido em Fernandes 1978a p 94 70 de Ci ncias Sociais da Unesco delineou um plano de trabalho que viria a ser aprovado em junho de 1950 s que com um por m o seu idealizador tinha falecido Mesmo sem participar de seu desenho definitivo Maio 1999 p 142 considera que as investiga es de Ramos foram balizas fundamentais do desenvolvido posteriormente especial
416. os escuta Um milagre parlamentar e tamb m uma vit ria do bom selvagem sobre o solene representante do povo FERNANDES 1989b p 203 A espontaneidade das comunica es tamb m assustava o calouro mais velho do Parlamento j que seu ardor socialista o fazia esperar por um ambiente de discuss o ativa e de circula o de id ias tal como o vivido durante a campanha feita no seio dos verdadeiros radicais estudantes professores intelectuais sindicalistas oper rios favelados e outros 330 Em depoimento ao v deo Florestan Fernandes o mestre dirigido pelo jornalista Roberto Stefanelli Jarbas Passarinho por exemplo ex ministro do Trabalho da Educa o e da Previd ncia no regime militar e ex presidente da Comiss o Tem tica que tratava do papel das For as Armadas durante a constituinte afirma que n o acreditava que Florestan fosse um leninista que defendesse a tomada do poder pela for a ainda que soubesse que seu af vel interlocutor fosse um pujante marxista com o qual manteve uma rela o de respeito e admira o intelectual m tua O v deo produzido pela TV C mara foi vencedor na categoria Document rio do 26 Pr mio Jornal stico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos concedido pelo Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado de S o Paulo no ano de 2004 31 Choque parlamentar Jornal do Brasil 26 jan 1988 181 tipos de gente humilde pre
417. os exorcizar nem a palavra fun o nem a an lise causal resultantes das elabora es estruturais funcionais Elas s o instrumentais O que se deve exorcizar uma concep o naturalista de ci ncias sociais esse o bus lis da quest o FERNANDES 1978a p 87 105 Marisa Peirano ao analisar a antropologia esquecida de Florestan a partir da perspectiva maussiana de que preciso se investigar em que contexto uma obra escrita e as poss veis raz es de sua aceita o e rejei o traz a seguinte quest o por que os estudos de Florestan Fernandes sobre os Tupinamb n o s o abertamente reconhecidos como sua fase antropol gica ao inv s de serem considerados exemplos da fase funcionalista de sua sociologia PEIRANO 1992 p 52 Uma primeira aprecia o sobre o problema ser feita atrav s da posi o de um importante antrop logo brasileiro para quem Florestan escreveu livros muito bonitos que foram importantes do ponto de vista te rico mas n o estavam vinculados com a nossa tem tica o pre o na vis o de Darcy Ribeiro pago por Florestan 85 Como nos ensinou Mauss a sociedade que legitima algumas de suas cria es seja a magia ou o trabalho do antrop logo Sem o reconhecimento da sociedade o trabalho do cientista social n o existe socialmente PEIRANO 1992 p 52 58 para ser aceito e respeitado na universidade Sobre este ltimo aspecto Antonio Candido dar
418. os intensos e profundos com os diferentes setores da sociedade brasileira dos oper rios e estudantes s elites liberais e tradicionais dos educadores jornalistas e l deres sindicais aos ma ons esp ritas pastores protestantes e sacerdotes cat licos FERNANDES 1977 p 200 107 obscurantismo violento das for as conservadoras na utiliza o do Legislativo e do Executivo pelos interesses particularistas das classes e setores sociais dominantes aspectos sintom ticos da persistente rea o sociop tica mudan a social atrav s da qual submergem as inova es democr ticas esbo adas pela sociedade brasileira Tal quadro o conduz seguinte conclus o Pela primeira vez em minha vida era provocado a definir a consci ncia burguesa em termos de uma equa o concreta que me ensinava que o controle burgu s da sociedade civil estava bloqueando e continuaria a bloquear de modo crescente no Brasil a revolu o nacional e a revolu o democr tica de recorte especificamente capitalista FERNANDES 1977 p 200 Para Saviani 1996 p 84 a experi ncia pr tica na milit ncia em defesa da escola p blica foi decisiva no amadurecimento do cientista inclusive para as suas prementes investiga es sobre o capitalismo dependente e a revolu o burguesa no Brasil No entanto Florestan nunca se curvou ao mito de que todo o problema da poca moderna um problema educacional GARCIA 2002 p 43 muito menos c
419. otsky n o deixaria de admitir que h uma colheita desastrosa de erros acumulados que poderiam se minimizados se os exemplos de L nin Marx e Engels tivessem sido postos em pr tica Mas sobretudo converteria sua caneta em uma chibata desmascarando os defensores inconsegiuentes de um social democratismo que destina periferia e aos pobres absolutos ou relativos de seus pr prios povos a mudan a social conservadora que reproduz a ordem existente e proscreve as alternativas radicais civiliza o sem barb rie FERNANDES 1994 p 189 191 40 Conferir por exemplo a vis o de Florestan sobre O enigma chin s Folha de S Paulo 31 jan 1994 na qual assume posi o similar defendida pelo fil sofo italiano Domenico Losurdo 2004 que sem negar as zonas de sombra erros e contradi es do pa s asi tico em sua tentativa de superar a mis ria o sub desenvolvimento e o atraso n o descarta a potencial carga de emancipa o pol tica social e ideol gica inserida no seu projeto de desenvolvimento econ mico Portadora de antigas civiliza es hostis a China acelera o desenvolvimento e se imp e no cen rio mundial gra as ao mpeto unificador da revolu o em processo 211 Questionando a participa o no governo a representa o parlamentar e a democracia eleitoral como um valor em si o soci logo em experi ncia pol tica clamava para que seus partid rios lembrassem que o que
420. ou at mesmo abrir suas pr prias empresas de base tecnol gica Com isso as empresas ganham o direito de utilizar laborat rios federais mediante contrato e o governo pode implementar mecanismos legais para o financiamento de projetos de pesquisa no setor privado Uma das barreiras que o projeto pretendia vencer a da cultura vigente na universidade p blica contr ria incorpora o do esp rito comercial o que pode dificultar o elo entre pesquisa e produ o No entanto a nova nfase sobre o setor privado como propulsor da inova o n o deveria causar medo no meio acad mico porque na perspectiva do MCT os pap is desses atores n o s o excludentes universidade cabe formar bons recursos humanos ao setor privado atrav s da P amp D cabe fazer a ponte entre os laborat rios e as prateleiras Da a incorpora o do 7 de inova o sigla C amp T agora portanto transformada em CT amp I OLIVEIRA 2002b Ressalta se que n o querer estar subordinado s diretrizes dos pa ses centrais n o significa que se deseja rumar para um regime aut rquico mas apenas que se rejeita a posi o de importador de matrizes cient ficas e tecnol gicas Sem um desenvolvimento aut nomo da ci ncia da tecnologia e da cultura o Brasil n o conseguir dar um salto qualitativo e assim permanecer no atraso econ mico e social que o impede de enfrentar de forma eficaz os problemas da fome e da mis ria Ou fortale
421. p o real mandonismo ou socialismo A nossa alternativa n o a reforma social ou paralisa o da democracia Ela reforma social como expediente para chegar se ao patamar da revolu o socialista FERNANDES 1989b p 305 306 Florestan previa que a radicaliza o da pequena burguesia e dos estratos rebeldes da classe m dia por ser conjuntural e transit ria teria f lego curto tendente a se esgotar com a queda da infla o e atrav s de pol ticas redistributivistas que afastar o aqueles setores sociais dos riscos de se confundirem com os de baixo e de se proletarizarem FERNANDES 1989b p 306 Tal vigor social democr tico sem uma forte polaridade oper ria converter se ia em sinuoso entrave revolu o socialista Mas nada disso significava que a funda o do novo partido fosse um fato irrelevante Acompanhando os dramas morais e pol ticos que marcaram o PMDB o publicista afirma que o PSDB iniciava uma potencial era de recusa s a es t picas do farisa smo pol tico imperante qui um golpe nas tradicionais concilia es pelo alto o que seria um salto qualitativo independente das promessas de seus fundadores O mais importante por m era que o Centr o via reduzir seu espa o pol tico constrangido a ceder terreno e sofrendo derrotas contundentes o que n o salvava o segundo turno j que novamente os acordos de lideran a reduziram a ANC a um con
422. p 152 N o se trata ainda de buscar uma revolu o ex gena mas de debelar os problemas e dilemas sociais provocados pela in rcia das elites dos estamentos no passado remoto e das classes sociais no passado recente e no presente FERNANDES 1995b p 48 Nessas condi es preciso despertar a consci ncia social para reformas que abram um espa o democr tico nas rela es sociais e ter coragem de descobrir e defender at mesmo m todos que exijam solu es burguesas provis rias mas que abram caminhos para a democracia da maioria na qual se deseja conjugar liberdade e igualdade at porque n o h anseio de renova o sem uma cultura socialista sedimentada primordial democratizar a sociedade civil e o Estado O desenvolvimentismo criou esperan as que nasciam frustradas porque ignorava as reformas e revolu es decorrentes do capitalismo maduro N o preciso repetir o elenco das mudan as estruturais suficiente coloc las em seu lugar e ressaltar que elas s o transit rias para os que almejam o socialismo como meta final Dadas as altera es ocorridas nas rela es de classes e a capacidade de impor mudan as capitalistas de baixo para cima o conjunto de transforma es profundas confunde se com a revolu o dentro da ordem O capitalismo n o voa em cacos pelos ares FERNANDES 1995b p 49 29131 A revolu o permanente portanto assume fei es complexas na atual periferi
423. p 60 Para tanto Florestan considerava fundamental o combate s for as pol ticas que venderam as Diretas J por vantagens pol ticas e que naquele momento conspiravam para a amplia o do mandato do ent o governo legitimado por um novo pacto social in cuo no qual os oper rios entram nessa hist ria como o Chapeuzinho Vermelho na f bula do Lobo Mau FERNANDES 1990 p 181 cujo nico interesse era a desmobiliza o do protesto oper rio e da ira popular sintoma da superposi o de duas crises uma conjuntural outra estrutural de longa dura o Sob elas os seguintes agentes de um lado uma burguesia internacional e seus associados empenhados em resguardar seus privil gios atrav s da defesa do privatismo liberal de outro uma classe trabalhadora parcialmente organizada para alterar a situa o e no meio um fraco e ret rico governo que herdou a ingrata tarefa de promover a transi o lenta gradual e segura em condi es concretas invi veis Nessas condi es internas e internacionais pode se falar em uma situa o de guerra civil latente Os de cima perderam a faculdade de decidir e de mandar Os de baixo avan am de modo oscilante no sentido de n o obedecer e de buscar meios pr prios de auto organiza o de autodefesa e de ofensiva Certas organiza es ditas da sociedade civil interpuseram se entre os contendores com o fito de travar a luta de classes ou de submet
424. parece sobrecarregada Essa sobrecarga pode pesar mas n o deve desviar do fundamental para estudar a revolu o burguesa numa regi o como o Brasil a quest o central s pode ser adequadamente pensada tomando como refer ncia b sica o desenvolvimento capitalista sob o imperialismo Na acep o florestaniana a transforma o revolucion ria da sociedade burguesa depende de uma avalia o correta das especificidades da sua domina o o que abrange tanto as formas estabelecidas quanto os conflitos criados pela explora o e pelo controle do trabalho por parte do capital Essa avalia o em consequ ncia deve estar atenta aos princ pios presentes n o apenas no projeto do capital para a explora o econ mica e o controle ideol gico e pol tico mas tamb m nas contradi es que as tentativas de realiza o desse projeto criam no interior das classes dominantes no interior das classes dominadas e na rela o entre capital e trabalho Para tanto preciso se atentar para o fato de que apesar de s cia menor a burguesia local lan a m o de um poder tir nico para a condu o e a organiza o social da ordem capitalista monopolizando os privil gios como se fossem direitos e conquistando n veis elevados de expropria o e explora o do trabalho para partilhar o lucro com as fra es burguesas hegem nicas A burguesia brasileira salienta Gorender 1987 apesar de incapaz de concretizar sua revolu o n o
425. penhou a inclu da a a o docente Nesse contexto em lugar de se constituir simplesmente como professor sem d vida s rio consistente e respons vel ministrando um ensino de qualidade a sucessivas turmas de alunos conforme a expectativa social e institucional estabelecida foi levado a converter a cadeira de Sociologia I da Faculdade de Filosofia Ci ncias e Letras da USP que ficou sob sua responsabilidade a partir de 1952 1953 num verdadeiro espa o educativo destinado a formar quadros de alto n vel no campo das ci ncias sociais SAVIANI 1996 p 72 Ou seja mesmo no auge de sua milit ncia cient fica Florestan revelava uma percep o clara sobre a diferen a entre pesquisa fazer crescer o saber e ensino fazer crescer o aluno n o desconsiderando a natureza propriamente pedag gica dos processos de ensino aprendizagem o que o faz alcan ar nas palavras de Saviani 1996 p 73 o ponto culminante do processo educativo que se define pelo ato de produzir direta e intencionalmente em cada indiv duo singular a humanidade que produzida hist rica e coletivamente pelo conjunto dos homens Ao considerar que o ensino da sociologia e a pesquisa sociol gica provocaram o aparecimento de uma segunda natureza dentro de mim Florestan est apontando para a ess ncia da educa o isto um processo que visa transforma o interna dos sujeitos pela incorpora o de elementos
426. perfei oar as institui es chave da sociedade O exemplo brasileiro mostra que tamb m h investimentos desse tipo nas sociedades perif ricas mas no limite dos desejos impostos pelas elites dominantes dispostas a frear qualquer instrumento de equaliza o social inclusive a instru o p blica 22153 O problema que no capitalismo selvagem essas reformas essenciais s o bloqueadas pelas resist ncias internas e externas fazendo com que suas realiza es efetivas 2 An sio Teixeira e a democratiza o do ensino O Estado de S Paulo 13 jul 1957 153 De acordo com Miriam Limoeiro Cardoso 2005 p 21 a express o capitalismo selvagem usada por Florestan na d cada de 70 causou grande impacto e tornou se uma refer ncia em certos c rculos durante algum tempo mas n o o suficiente para que o conte do do conceito florestaniano de capitalismo dependente fosse 103 dependam da conjuga o com outras importantes batalhas a descoloniza o a revolu o nacional e a universaliza o da cidadania O erro dos radicais liberais foi justamente n o perceber que para transformar as institui es preciso alterar outras dimens es da sociedade Baseados em experi ncias ex genas sob pressupostos de um contexto hist rico cultural e institucional t pico de uma na o capitalista avan ada colocavam suas radicalidades no limite da conserva o da ordem inspirados que estavam por concep es liberais
427. pital e suas fun es nem sempre as classes trabalhadoras prejudicam ou destroem o capitalismo Dadas as condi es vigentes elas contribu ram para o desemperramento para impulsionar o desenvolvimento capitalista que parcelas mais ou menos vesgas e retr gradas da burguesia queriam manter atado ao p de meia ao entesouramento ou especula o financeira improdutiva Os trabalhadores desataram o n em plena ditadura de uma evolu o que n o podia mais ser contida Anos depois o horizonte se esclareceu para todos e at para aqueles que pintavam o direito irrestrito de greve sombriamente como um cataclisma econ mico e por conseguinte como o eclipse da livre iniciativa FERNANDES 1989b p 338 339 2 A greve Folha de S Paulo 25 ago 1988 374 A greve Folha de S Paulo 25 ago 1988 Em O produto final Folha de S Paulo 12 set 1988 Florestan faz o seguinte coment rio O novo sindicalismo com base nas f bricas irrompe na cena hist rica como uma for a de rebeli o imbat vel As greves derrotam a ditadura militar e disputam peso e voz para os oper rios na sociedade civil Nesse contexto os sindicatos assumem a linha de frente do combate e provocam a liberaliza o do regime militar Criam se o PT e a CUT Com os demais partidos de esquerda como o PC do B o PCB e o PSB constituem uma esquerda dentro da ANC logo refor ada em sua atua o pol tica pelos radicais 198 Co
428. pitalista Ao contr rio faz parte de seu funcionamento O tal jogo de azar move se a partir de dentro e a partir de fora O paradoxal que nesse clima de desordem e crise global fomentadas pelo tope as classes burguesas do grande capital aos estratos modernos da classe m dia incluindo a parte mais s lida da pequena burguesia continuassem cegas diante da gravidade da situa o e acabassem por se apegar ao privatismo incentivando dentro da ANC os interesses esp rios do capital primordialmente os do capital estrangeiro FERNANDES 1989b 253 enfraquecendo a mais ainda do que ela forte poderia suscitar para a democratiza o do Estado colocando o a servi o da Na o 383 O quadro pol tico atual Decis o abr 1988 344 Constitui o continuidade ou ruptura Folha de S Paulo 20 abr 1988 345 Nova Carta e elei es para superar a crise Folha de S Paulo 20 abr 1988 185 Mas nem tudo saiu como o previsto Ainda que deixando de ser a cabe a e o cora o da regenera o da sociedade civil como imaginava Florestan o processo constituinte n o ficou restrito como queriam as elites a uma simples revis o constitucional da ordem ilegal montada pela ditadura reformulando em uma carta magna sui generis as contradi es impressas e expressas nas constitui es autorit rias de 1967 e 1969 O objetivo de se criar a constitui o autorit ria da Nova Rep
429. poderosa com alta capacidade da a o parlamentar FERNANDES 19915 p 39 Mas essas vari veis de conjuntura apenas indicavam a complexidade do dilema social brasileiro que consiste na resist ncia sociop tica das elites brasileiras a qualquer proposi o de mudan a social mais profunda sintoma de uma a o pol tico cultural incompat vel com a ret rica liberal e s inova es demandadas pela pr pria ordem econ mica O dilema social brasileiro caracteriza se como um apego sociop tico ao passado que poder ter consequ ncias funestas Ostenta se uma ades o aparente ao progresso Professa se por m uma pol tica de conservantismo cultural sistem tico Os assuntos de import ncia vital para a coletividade s o encarados e resolvidos luz de crit rios que possu am efic cia no antigo regime ou seja h tr s quartos de s culo Enquanto isso as tens es se acumulam e os problemas se agravam abrindo sombrias perspectivas para o futuro da na o patente que os adeptos dessa pol tica est o cultivando paradoxalmente uma gigantesca revolu o social altamente sangrenta e destrutiva em sua fase de explos o Qualquer que seja a posi o que se tome individualmente diante de semelhante eventualidade parece bvio que se tornou crucial apontar aonde nos conduz no momento o dio contra o radicalismo e a consegiente paralisa o de esfor os nos mbitos da reeduca o dos homens da renova o das institui
430. pontos de vista considero os simplesmente bem informados O que nos leva a uma outra quest o o otimismo seria ent o um pessimismo mal informado Certamente nem sempre ainda que se deva reconhecer que nos textos de combate o vi s militante pelo voluntarismo pr pria dessa condi o possa ofuscar quest es fundamentais o que n o invalida os insumos que os mesmos podem proporcionar para o entendimento de uma determinada realidade s cio hist rica 131 do grande capital e ao expor as condi es e os meios que pudessem ajudar para o surgimento de uma substantiva democracia da maioria n o a maioria eleitoral mas a maioria dos destitu dos oprimidos e exclu dos com peso e voz na sociedade civil o publicista vislumbrava combater o impacto da cultura industrial de comunica o de massa e da falsa desideologiza o da hegemonia de classe da burguesia para acirrar a resist ncia dos oprimidos que carregam a hist ria em outra dire o e s o portadores de uma mensagem inversa que traz consigo a civiliza o sem barb rie FERNANDES 1986a p 12 A est em sua ess ncia o significado do movimento prolet rio e das revolu es prolet rias e dos seus v nculos inexor veis com o anarquismo o socialismo e o comunismo A Hist ria n o est morta Palpita no cora o dos homens e ilumina sua imagina o bem como suas esperan as e exig ncias N o fosse isso a altern
431. por sua vez foram alguns dos temas das novas experi ncias docentes de Florestan Fernandes no seu retorno ao Brasil na segunda metade dos anos 70 especialmente 195 Especialmente no per odo que antecede a Revolu o Russa de 1917 L nin se volta prioritariamente imprensa deixando em segundo plano outros tipos de atividades tais como palestras e reuni es chegando a declarar Agora a imprensa o principal destacando sua import ncia como ve culo de organiza o e propaganda Segundo i ek 2005 p 11 o que chama aten o nesses textos a sua legibilidade a clareza quase cl ssica com que tra a os contornos da luta da qual participava o seu autor E a grande li o do publicista L nin para os dias de hoje aproxima se muito com o que o publicista Florestan apresentar em seus textos jornal sticos nas d cadas de 80 e 90 Paradoxalmente s dessa maneira problematizando a democracia deixando claro que a democracia liberal a priori em sua pr pria no o como teria dito Hegel n o pode sobreviver sem a propriedade privada capitalista que nos poderemos tornar verdadeiramente anticapitalista I EK 2005 p 297 1 Florestan respons vel pela publica o no final da d cada de 70 de O Estado e a revolu o L NIN 1979 e Que Fazer L NIN 1979b assim como pela organiza o de uma antologia dedicada a L nin FERNANDES 1978b No mesmo per odo lan a os seguintes livros D
432. pr prio Minist rio da Ci ncia e Tecnologia MCT em setores de uso intensivo de tecnologia farmac utico inform tica e telecomunica es a participa o dessas empresas muito maior Um ind cio de que as estrat gias de investimento das corpora es transnacionais se constituem em elemento de risco para a nossa economia est no fato de que no total de inova es geradas no ano de 1998 a maioria absoluta foi patenteada por elas Dessas 888 foram depositadas no exterior e 924 no Brasil Contudo das depositadas no exterior mais de 86 foram concedidas Aqui n o passou de 17 OLIVEIRA 2002b p 81 De acordo com Dreiffus 1996 essas corpora es s o os agentes impulsionadores da avalia o sint tica Assim a privatiza o brasileira o governo financia a compra no leil o vende moedas podres a longo prazo e ainda financia os investimentos que os compradores precisam fazer E para aumentar os lucros dos futuros compradores o governo engole d vidas bilion rias demite funcion rios investe maci amente e at aumenta tarifas e pre os antes da privatiza o Aproveite voc tamb m conhe a os detalhes neste livro BIONDI 2001 p 25 26 48 FERNANDES Florestan Transi o dif cil para os sindicatos Folha de S Paulo 19 jun 1995 p 1 2 225 nova fase da divis o internacional da produ o que com seus centros de pesquisa e desenvolvimento P amp D geram novos
433. proletariado e dos desenraizados para que a ordem ilegal fosse desbaratada e o Congresso Nacional Constituinte almejado n o se transformasse em um respiro para os fi is do poder econ mico conseguir resguardar a transi o lenta gradual e segura com tudo o que ela implicava de esp rio no casamento do poder civil com o v rtice militar e a estrat gia global imperialista soprada de fora 161 Florestan mesmo sob esse duro cen rio mant m um lampejo de otimismo Tudo pode acontecer Contudo eu n o acredito nessa hip tese Seria s rdido demais insensato demais algo muito shakespeariano para a brutalidade tosca dos tr picos e dos pa ses pobres com milh es de oprimidos que reduzem a revolu o social a uma equa o da mis ria os partidos mudam seu modo de ser ou a sociedade civil passa por cima deles como um trator esmagando os O tempo n o oferece um respiro ao rancor autodefensivo das classes dominantes e estrat gia de seguran a global do pentagonismo imperialista Ao contr rio ele p e as burguesias dos pa ses chave da periferia contra a parede Ou elas buscam alternativas pr prias e independentes abertas revolu o democr tica ou elas ir o pelos ares com sua ordem social pervertida de privil gios seculares FERNANDES 1989b 29 Um dos desafios segundo o publicista era combater o j citado mito da apatia das massas que os meios de comunica
434. pula o desenraizada ficar t o vida por compensa es e esperan as v s Quais s o os seus sonhos Por n o terem nada n o pertencendo nem ao mercado nem pol tica se movem por promessas miragens e anseios esperando o fim da purga o e da 272 Os desenraizados Folha de S Paulo 21 ago 1986 28 Os desenraizados Folha de S Paulo 21 ago 1986 274 Os desenraizados Folha de S Paulo 21 ago 1986 160 exclus o sem se darem conta da combina o auto explosiva entre trabalho barato e aliena o pol tica que fortalece o sistema de poder Dessa forma a condena o moralista do lumpensinado e do desenraizado por sua rusticidade ignor ncia e apatia n o passa de um discurso diante do espelho da pr pria sociedade civil capitalista que fabrica seus milh es de exclu dos para a necess ria reprodu o da ordem essa reflex o segundo Florestan que deveria ser feita naquele momento de ebuli o de uma nova ordem que se queria democr tica Reflex o que estava sendo desconsiderada pelos partidos da ordem por motivos bvios e pelos partidos de esquerda ressabiados em avan ar no terreno minado da ideologia terrorista burguesa sobre a viol ncia dos exclu dos a refer ncia b sica da viol ncia institucional que se oculta nas atividades legais das classes privilegiadas Eis segundo Florestan o dilema hist rico que se colocava poder se ia chegar democracia a
435. qualquer ocasi o GARCIA 2002 p 174 A seguinte avalia o que Florestan faz sobre a tradicional divis o do jovem e velho Marx mostra que ele estaria de acordo com a autora de Destino impar H pois uma integridade b sica em K Marx como homem pensador cientista e revolucion rio Essa integridade n o foi quebrada por sua evolu o intelectual Ao rev s ela tornou necess ria essa evolu o porque ela sempre o obrigava a ir t o longe quanto lhe fosse poss vel naquilo que fizesse Carece de sentido portanto contrapor o Marx maduro ao jovem Marx embora a sua produ o na idade madura refletisse o cl max de sua poderosa imagina o criadora FERNANDES 1989 p 46 Oswaldo Coggiola 1995 defende a hip tese de que a milit ncia de Florestan est na base de sua sociologia mesmo aquela considerada por alguns como determinada pelo funcionalismo positivista A dedica o milit ncia cient fica foi a seu ver a solu o encontrada para a sua crise de consci ncia por ter sublimado a castra o pol tica com uma pr tica intelectual exigente Segundo Coggiola as op es metodol gicas que faz Florestan n o obedecem aos princ pios de um ecletismo bem temperado COHN 1987 ou de uma s ntese original de teorias contradit rias mas a posicionamentos estrat gicos resultantes das condi es de vida e luta quando por exemplo lan a m o de autores n o marxis
436. que n o s o dados naturalmente e nem adquiridos espontaneamente mas que uma vez incorporados pela media o da a o educativa passam a operar como se fossem naturais SAVIANI 1996 p 73 172 Florestan poca da Campanha afirmara que sua ades o foi circunstancial e acess ria j que n o era um especialista na rea Elas as condi es da Campanha me ajudaram a compreender melhor aquele dever e me incentivavam a servi lo de um modo que me seria inacess vel de outra forma Com as limita es de formula o intelectual de algu m que n o era nem especialista em assuntos educacionais atirei me a uma luta desigual que mais me parecia uma cruzada na qual nunca deixei de considerar me como o representante fortuito dos interesses e valores educacionais das massas populares FERNANDES 1966 p XX No in cio da d cada de 90 falando sobre sua contribui o ao desenvolvimento educacional brasileiro continuou a questionar sua condi o de educador Sou um professor sou um soci logo sou um intelectual mas acho que ainda seria preciso alguma coisa mais para eu me apresentar de p blico como educador a imagina o dos outros que me transforma em educador FERNANDES 1991b p 44 115 Ao fazer a equival ncia entre a sala de aula e o laborat rio em termos de forma o e amadurecimento intelectuais Florestan demonstra sua preocupa o com a forma de se comunicar com os alunos Como
437. r 1983 12 Um desafio maior e mais importante acredita Florestan do que aumentar o excedente econ mico e aplic lo produtivamente A pr pria economia continuar sufocada se n o nos revelarmos capazes de alterar o arcabou o social que a aprisiona retendo ou comprimindo o impacto do crescimento econ mico sobre o progresso social e cultural FERNANDES 1976a p 88 84 restrita para a democracia de participa o ampliada e a plenitude da democracia burguesa sob o pluralismo democr tico FERNANDES 1980a p 31 32 Ciente de que o grau de desenvolvimento capitalista condiciona as possibilidades e as perspectivas de uma revolu o social Florestan nos incita a desenterrar e refinar duas cl ssicas no es da literatura socialista a de revolu o dentro da ordem e a de revolu o contra a ordem FERNANDES 1995b p 41 termos que ter o presen a marcante nos seus textos de articulista ap s a d cada de 70 Resistir possibilidade de conjuga o dessas no es sinal de falta de confian a num projeto de transforma o social e o que pior o referendar da hip tese de que a nica alternativa a perpetua o da barb rie como slogan da civiliza o Uma sociedade civil que repele a civiliza o para todos e um Estado que concentra a viol ncia no tope para aplic la de forma ultra opressiva e ultra ego sta envolvem uma barb rie exasperada espec fica FERNANDES 1995b
438. r a relev ncia da argumenta o capaz de compatibilizar condicionantes ligados s origens sociais queles desencadeados pelas mudan as em curso no mercado de trabalho intelectual uns e outros tomando fei o e sentido no contexto pol tico institucional da poca MICELI 1999 p 111 preciso guardar como assevera Lippi 1999 uma necess ria reserva em rela o a essa dicotomia a come ar pelo risco de se ver a especificidade da ci ncia social paulista sem levar em conta os condicionantes pol ticos internos e externos que a estimularam assim como o perigo de substancializa o da an lise sobre o pensamento social desenvolvido em outras regi es do Brasil Em rela o ao primeiro aspecto necess rio por exemplo investigar o significado pol tico do rompimento da USP com seus mecenas iniciais a suposta colis o entre o projeto iluminista das elites locais e a irresist vel profissionaliza o de setores m dios em ascens o social MICELI 1987 quer seja para glorificar as conquistas progressivas de autonomia e autoridade que levaram os objetivos do projeto original a serem confrontados com as demandas de sua base social os formandos quer para se compreender os momentos limites dessas conquistas como faz o pr prio Florestan no ensaio A gera o perdida no qual faz um duro balan o sobre a intelligentsia paulista destacando os anos 40 50 e 60 e deixa o seguinte re
439. r m ximo da Campanha n o detinha a hegemonia do respectivo movimento que estaria nas m os dos iberais idealistas capitaneados pelo jornal O Estado de S Paulo Participam da Campanha de Defesa da Escola P blica pessoas de diferentes credos pol ticos Pois bem nenhum de n s deu preced ncia s suas convic es ntimas sobre o objetivo comum Limitamo nos a defender id ias e princ pios que deixaram de ser mat ria de discuss o pol tica nos pa ses pr pria autonomia e pela sociedade de seu governo Nessa dupla condi o a felicidade ganha contra as cren as avan a no mesmo passo que a liberdade essa liberdade faz o homem sair da solid o de seus interesses privados para encontrar na sociedade os meios para dar sentido sua vida BOURETZ 1993 p 826 18 Jeremy Bentham um cone do utilitarismo jur dico e pol tico Cr tico feroz do princ pio do direito natural e dos direitos do homem seu pensamento visa prevenir a invas o das leis positivas sobre a liberdade individual Para Bentham o Estado deve se restringir fun o judici ria e garantia da seguran a dos bens particulares por julgar que o interesse privado a fonte mais eficaz de um crescimento da riqueza que beneficiar definitivamente o maior n mero de pessoas RENAUT 1993 p 119 16l Essa concep o essencialmente democr tica j que desde ent o n o coloca em cheque a qualidade do nosso homem indepen
440. r um pensamento anti capitalista 250 A nova etapa da pol tica econ mica Folha de S Paulo 27 abr 1986 2 Ou como afirmava Florestan em A nova etapa da pol tica econ mica Folha de S Paulo 27 abr 1986 combatendo os profetas da utopia os economistas burgueses que prometem o reino da felicidade em toda parte A massa de pobreza e desigualdade t o grande e as exig ncias constrangedoras da acumula o capitalista t o imperiosas que seria uma loucura esperar do capitalismo a solu o dos nossos problemas e 149 As preocupa es de Florestan sobre a possibilidade das elites burguesas brasileiras alterar alguns tra os n o ess ncias do seu modo de domina o sem no entanto renunciar as estruturas autocr ticas de domina o com base na sua an lise sobre a impossibilidade estrutural da burguesia brasileira de ampliar minimamente suas bases de consenso COUTINHO 2000 p 258 n o vinham portanto de um sectarismo ou de um radicalismo inconsequente mas sim da convic o de que s uma uni o de for as de esquerda ainda que t tica e provis ria FERNANDES 1986a p 19 seria capaz de evitar os riscos do conciliacionismo com os de cima Para o publicista os esquerdistas ao inv s de se devorarem uns aos outros deveriam partir de um equacionamento objetivo das tarefas pol ticas das classes trabalhadoras da cidade e do campo e n o dos fa
441. ra retrocessos e transa es engenhosas luta continua mas como luta popular pela revolu o democr tica FERNANDES 1986a p 182 Para Florestan a sociedade brasileira estava gr vida de revolu o social contrariando a tradicional vis o sobre a apatia das massas na qual a exclus o foi a representada como um ato de omiss o da vontade coletiva das v timas 204 O povo nas ruas Folha de Londrina 17 abr 1984 205 O significado de 16 de abril Folha de S Paulo 24 abr 1984 206 Diretas j uma derrota Folha de S Paulo 03 mai 1984 207 Diretas j uma derrota Folha de S Paulo 03 mai 1984 133 de uma domina o econ mica cultural e pol tica t o cruel e perversa qu o infernal FERNANDES 1986a p 172 A dissocia o e a contradi o chegam a um extremo t o chocante que as classes possuidoras precisam restringir o mundo dos homens as fronteiras da Humanidade ao seu pequeno universo social e usar os demais a massa da popula o especialmente o seu setor majorit rio miser vel e mais oprimido como bode expiat rio Eles s o a fonte e a raz o de ser de todos os males da seca do nordeste do atraso econ mico do obscurantismo cultural da impraticabilidade de um regime democr tico etc FERNANDES 1986b p 17 As massas longe de serem uma maioria silenciosa dentro de suas possibilidades sempre estiveram presentes nos processos de mudan
442. ra a pr pria emancipa o uma hist ria vivida por inteiro e de maneira extremamente tensa na inf ncia 72 Apud L wy 2003b p 217 Cujos resultados podem ser encontrados em D Incao 1987 53 e na adolesc ncia que colocava frente a frente e em m tuo antagonismo sua capacidade de entendimento do mundo e a realidade da domina o social Como demonstra o de que os anos de forma o e socializa o foram condicionantes pol ticos para as eras cr ticas e militantes recorre ao pr prio Florestan Eu nunca teria sido o soci logo em que me converti sem o meu passado e a socializa o pr e extra escolar que recebi atrav s das duras li es de vida Para o bem e para o mal sem invocar se a quest o do ressentimento que a cr tica conservadora lan ou contra mim a minha forma o acad mica superp s se a uma forma o humana que ela n o conseguiu destorcer nem esterilizar Portanto ainda que isso pare a pouco ortodoxo e antiintelectualista afirmo que iniciei a minha aprendizagem sociol gica aos seis anos quando precisei ganhar a vida como se fosse um adulto no conhecimento do que a conviv ncia humana e a sociedade em uma cidade na qual n o prevalecia a ordem das bicadas mas a rela o de presa pela qual o homem se alimentava do homem do mesmo modo que o tubar o come a sardinha ou o gavi o devora os animais de pequeno porte FERNANDES 1977 p 142 A exist ncia de div
443. rado j que os requisitos para uma reorganiza o dos de baixo precisavam ser protegidos Esse o ponto crucial Os trabalhadores e oprimidos devem lutar politicamente em todos os n veis poss veis Contudo a ANC n o o suced neo do partido revolucion rio nem a constitui o mais democr tica de uma sociedade burguesa o equivalente hist rico da revolu o social N o h pois nada de novo A quest o difundir tais percep es e conhecimentos entre as classes trabalhadoras e as massas populares O Centr o se encarregou dessa tarefa ingenuamente por falta de experi ncia na luta pol tica democr tica de seus pr ceres e de seus militantes A esquerda mant m se firme no Parlamento Mas ningu m esperava milagres de sua a o pol tica E o que mais decisivo estamos livres das falsas esperan as As ilus es constitucionais ser o naturalmente substitu das pela confian a no confronto direto como fonte de auto emancipa o coletiva dos trabalhadores e oprimidos A esta altura eles descobriram que n o s o os outros dos parlamentares Para transformar o mundo ter o de agir coletivamente e por conta pr pria FERNANDES 1989b p 191 Os de baixo primeiro pedem mudan as Depois come a a lutar politicamente por elas Por fim levam tudo de rold o e constroem por meios pr prios a sociedade nova FERNANDES 1989b p 202 Mais do que uma lei hist rica Florestan indicava a seus
444. radora Tendo come ado com a escrita dif cil para especialistas pr pria da atividade universit ria acabou no jornalismo denso e l mpido feito para esclarecer o maior n mero poss vel de leitores completando as etapas que definem um tipo muito fecundo de pensador socialista CANDIDO 2001 p 61 Foi portanto como publicista que Florestan Fernandes da mesma maneira como descreveu a forma de trabalhar de seu jornalista predileto Cl udio Abramo p de melhor manifestar seus anseios pol ticos e se comunicar de forma direta com seus leitores contribuindo para difundir nas entrelinhas o tipo de consci ncia cr tica inerente ao socialismo e preliminar a qualquer manifesta o de rebeli es dos oprimidos FERNANDES 1995b p 130 Isso o que se constata na leitura dos ltimos artigos publicados por Florestan especialmente os destinados Folha de S Paulo na primeira metade da d cada de 90 quando se consolida no Brasil um novo projeto pol tico Tal projeto constitu do ainda de forma n o sistem tica nos governos Fernando Collor de Mello 1990 1992 e Itamar Franco 1992 1994 consolida se durante as duas gest es de Fernando Henrique Cardoso 1995 1998 e 1999 2002 seu aprendiz na escola uspiana de 412 Vale ressaltar aqui que o reconhecimento da qualidade da atividade jornal stica de Florestan por Candido era rec proco Ele confessa a sua admira o pelo amigo agitador de id ias por meios de ensaios
445. rasil tend ncia que tem no trabalho de Darcy Ribeiro a sua maior refer ncia O trabalho de Florestan indo por um outro lado toma a sociedade ind gena determinada como um todo em seus pr prios termos se aproximando um pouco dos antrop logos estrangeiros que tenderam a se preocupar com as caracter sticas intr nsecas dos grupos ind genas que habitaram o Brasil Mas antes de qualquer acusa o de ado o de um estilo colonizado uma nota de cautela afirma a autora torna se necess ria Florestan Fernandes tamb m n o se identifica totalmente com a concep o estrangeira os Tupinamb n o foram constru dos como objeto em termos de um grupo distinto situado em territ rio brasileiro os Tupinamb representavam o territ rio brasileiro eles eram o Brasil de 15008 Est mais uma das sutilezas que envolvem este monumental trabalho mas que no entanto de novo passou desapercebida PEIRANO 1992 p 74 Uma outra sutileza percebida por Marisa Peirano est na constata o de que a fase positiva funcionalista de Florestan estava ao contr rio de algumas interpreta es informada sim por um tipo de interesse nacional ainda que em sintonia urg ncia de um determinado contexto social agindo como cidad o do mundo destacando a universalidade da ci ncia ele n o deixa de defender que o Brasil caso queira progredir precisa participar de sua elabora o PEIRANO 1992 p 84 Essa seria pois
446. rasileiro Florestan deixa a seus leitores uma perspectiva otimista sobre a realidade que come amos a viver No conjunto desvenda se que os donos do poder perdem terreno e ajudam com sua prepot ncia com seu egoismo com sua viseira estreita o crescimento de um vasto e forte campo de oposi o centrado no rep dio da ordem existente e na organiza o do poder popular Erige se assim uma moldura hist rica desconhecida Dentro dela as chamadas for as da ordem e a autocracia burguesa contar o com menor espa o pol tico para manobrar impor se e perpetuar se O potencial inovador e democr tico da Constitui o cair em m os vidas em utilizar a liberdade para gerar no Brasil transforma es estruturais profundas que tirar o do limbo os que v m sendo pisoteados desde o per odo colonial at a Nova Rep blica FERNANDES 1989b p 295 Um grande teste viria com o segundo turno da ANC que se prefigurava como a fase mais tormentosa do processo Devido aos acordos de lideran a que favoreceram a aprova o de Frankesteins pol tico ideol gicos norteados pela confraterniza o pelo alto que ditou os limites das demandas populares representadas pela esquerda o segundo turno apresentava o car ter de filtro saneador Os que pudessem mais ou menos manteriam ou perderiam terreno sendo t cito que as corre es seriam t ticas ou de reda o O fundamental ficaria protegido gr
447. raz es humanit rias e mesmo a seguran a ou o bem estar das na es FERNANDES 1971b p 181 Cap tulo 5 A TAREFA UMA PEDAGOGIA SOCIALISTA O que o pol tico profissional brasileiro representante do Povo ou dom stico de privil gios poderosos A resposta que se pode dar a essa tr gica interroga o uma s Cumpre educar o Povo para a democracia se quisermos instaur la de fato e fortalec la incessantemente na sociedade brasileira Enquanto o Povo n o for o rbitro supremo e final das decis es pol ticas tomadas em seu nome os seus representantes no Poder n o ter o for as mesmo que o queiram para agir com inteira liberdade e civismo no trato de quest es que envolvam interesses substanciais Por m para que o Povo preencha essas fun es imprescind vel que ele seja preparado para tanto que ele possa tomar consci ncia da natureza daqueles interesses e dispor de meios intelectuais para resguard los de qualquer pervers o ou corrup o das institui es pol ticas A est sem rebu os o dilema da situa o pol tica brasileira que associa o destino da democracia entre n s ao que soubermos fazer em prol da moderniza o do ensino e da educa o popular Florestan Fernandes 1966 p 509 Em sua resist ncia ditadura que se instaura em 1964 Florestan Fernandes vive um momento de profunda transforma o pessoal Certo de que foi punido cassado em 1969 n o por ter sido um
448. rbitr ria entre ci ncia e filosofia outra acusa o que sofre de Oliva 1997 Florestan faz em A Universidade de Bras lia Anhembi jun 1961 republicado em Fernandes 1966 12 Para n s n o seria suficiente partir do B B do socialismo claro que n o As no es simplistas enterraram prematuramente a luta de classes no Brasil FERNANDES 19804 p 24 18 S assim uma vigorosa pedagogia socialista ter condi es de enfrentar as concep es educacionais que visam apenas adaptar as novas gera es a um modelo de sociedade e n o despertar as novas gera es para a constru o de outra sociedade uma educa o emancipadora que as desafie a construir outra GADOTTI 2003 p 13 S assim ela n o se converter numa concep o escapista espera da revolu o para se realizar mas num processo de hominiza o que espelha o esfor o solid rio dos homens entre si GADOTTI 2003 p 65 para uma auto emancipa o coletiva e resoluta logo revolucion ria Como distingue Florestan uma perspectiva pedag gica socialista n o deve ser confundida com a no o de socialismo como sistema pedag gico o que s pode existir numa situa o p s revolucion ria na qual haveria em princ pio uma pedagogia socialista como filosofia oficial e geral da organiza o do sistema educacional FERNANDES 1989d p 151 Pedagogia socialista nos marcos do modo de produ o vigente deve
449. re a capacidade de sonho e realiza o de um determinado agente hist rico No caso da Constitui o o publicista entende que ela vista pelo povo n o como um fim mas como um meio de se alcan ar uma forma pol tica popular de democracia que longe de ser um valor supremo em si o alvo 25 A quest o dos partidos Folha de S Paulo 02 set 1986 218 Os subterr neos da Hist ria n o entram nas enquetes Leia set 1986 162 necess rio para tornar os humildes e os prolet rios em agentes hist ricos de um novo tipo de sociedade libert ria igualit ria e socialista A hist ria profunda n o comparece nos inqu ritos de opini o e em an lises superficiais de conjuntura Pior para a Na o Eu n o diria isso Melhor para a nega o da ordem existente para as suas transforma es de longa dura o e a auto emancipa o coletiva dos trabalhadores A hist ria que parece estagnada corre veloz em seus subterr neos e p e nos diante de esperan as pol ticas que transcendem as constitui es burguesas e nos obriga a pensar no futuro como a ant tese de um presente contradit rio e enigm tico FERNANDES 1989b p 32 33 O otimismo de Florestan frente s possibilidades de uma revolu o dentro da ordem que deixou de ser uma fic o capaz de engendrar os dinamismo necess rios para uma revolu o contra ordem que poder ou n o se configurar no futuro pr ximo FE
450. re se ressalvando as especificidades e os limites de cada dimens o respectiva no dom nio cient fico da natureza Dentro desta perspectiva o sucesso do cientista social depende da 9 Nesse sentido vale seguir a recomenda o de Miceli 1999 p 112 de n o se tomar os relatos memorial sticos pelo seu valor de face como ind cios de verdade mas como reposit rios privilegiados de informa es objetivas e representa es subjetivas que ajuda na elabora o do perfil intelectual analisado Com esse cuidado que se visa al m de tomar Florestan como caso paradigm tico do ambiente cultural paulista MICELI 1987 compreender como ele lidou com esse mesmo meio observando quais foram as motiva es que levaram a fazer determinadas escolhas Pois se n o a consci ncia dos homens que determina seu ser MARX 1971 p 29 e sim o inverso n o chegaremos a esse ser social se n o passarmos pela media o de sua consci ncia 68 Lippi 1999 fala da produ o do Grupo de Trabalho Pensamento Social Brasileiro da Associa o Nacional de P s Gradua o em Ci ncias Sociais ANPOCS realizada entre 1983 1995 Em A sociologia objeto e principais problemas publicado originalmente como verbete na Enciclop dia Delta em 1957 Florestan numa hodierna perspectiva podemos dizer interdisciplinar e ecologista faz uma interessante distin o entre os campos da biologia da ps
451. re si mesmo e deixam patente que a transforma o da sociedade de classes incompat vel com a acumula o em espiral de privil gios FERNANDES 1986b p 10 O bloco hist rico interno das classes burguesas fica portanto paralisado politicamente e somente a a o das classes prolet rias e subalternas avan ando para se fortalecerem como classes independentes pode engendrar uma sociedade civil mais aut noma e um novo tipo de controle sobre a organiza o e o rendimento do Estado S assim teriam condi es de enfrentar a supremacia e a hegemonia dos que gozam das negocia es infind veis a partir das mais variadas formas de composi es internas Certos setores das elites e dos estratos dominantes das classes altas lan am se ao mercado econ mico cultural e pol tico e vendem se pelo melhor pre o FERNANDES 1986a p 86 Entre esses setores est o biombo parlamentar que pelos procedimentos costumeiros da classe pol tica profissional aparecem como um bando de mafiosos Existem v rias pequenas m dias e grandes Sic lias por este vasto mundo Segundo Florestan n o se poderia mesmo cobrar dos partidos da ordem como o PMDB e o PFL Partido da Frente Liberal o que n o s o ainda que se pudesse cobrar o que alegam ser No entanto a situa o se inverte quando diz respeito aos radicais de centro e de esquerda que se dizem democratas sinceros
452. recerem na Europa e nos Estados Unidos encontraram uma vaga de cr dito A se revela o colonizado ing nuo satisfeito com sua selvageria Acho isso algo indigno do pensamento cr tico e da consolida o universit ria preciso autonomizar e isso significa criar as premissas da produ o cultural aut noma do conhecimento original FERNANDES 1989d p 190 Foi essa postura que o levou por exemplo a rejeitar sob a influ ncia inicial do marxismo trotskista o stalinismo na d cada de 40 e o que mais importante o revisionismo t mido do socialismo oficial das d cadas de 50 e 60 que formulara uma imagem do Brasil integrada ideologia desenvolvimentista e a uma perspectiva pol tica que colocava a classe trabalhadora como cauda pol tica FERNANDES 1986a p 18 da burguesia p28 nacional propondo como alternativa a interpreta o como j visto no cap tulo 3 de que o Brasil contempor neo era um pa s plenamente capitalista ainda que como resultante de uma revolu o burguesa de tipo n o cl ssico Durante muito tempo prevaleceu a id ia de que o desenvolvimento capitalista podia produzir resultados similares em qualquer parte dependendo do est gio em que ele estivesse e de sua potencialidade de amadurecimento ou de atingir uma forma pura No entanto hoje claro sob o capitalismo monopolista e imperialista que o desenvolvimento capitalista n o o
453. ren a entre reportagem e a disserta o est no procedimento de trabalho que o tipo de texto resultante expressa Ao escolher esfor ar se ao m ximo para atingir o n vel de trabalho exigido pela Faculdade Florestan aderiu pela primeira vez perspectiva cient fica de acordo com a concep o acad mica representada no epis dio por Roger Bastide GARCIA 2002 p 79 80 Na passagem do jornalista insciente ao cientista disciplinado os primeiros frutos ser o colhidos logo ap s aderir ao padr o mon stico exigido pelo pensador franc s como no trabalho apresentado professora Lav nia Costa Villela no segundo semestre de 1941 sobre o folclore paulistano tema pr ximo de sua hist ria de vida Um pouco mais maduro o futuro cientista social soma ao seu autodidatismo a orienta o sociol gica de mile Durkheim e Marcel Mauss O resultado foi uma pesquisa de campo com foco na forma o e na fun o de dinamismos aut nomos de socializa o da crian a FERNANDES 1995c p 5 que apresentava manifesta es similares entre o folclore brasileiro e o ib rico com breves indica es sobre a din mica da vida social paulista GARCIA 2002 p 83 A nota nove foi motivo de comemora o mas a justificativa o enfoque sociol gico do folclore teria sido levado longe demais deixou o jovem Florestan inconformado Buscando uma solu o para o inc modo o aluno consulta Roger Bastide que aprova a forma como desenvolveu
454. restan Fernandes A Integra o do Negro na Sociedade de Classes In MOTA Louren o Dantas org Introdu o ao Brasil Um Banquete nos Tr picos Vol 2 S o Paulo Ed Senac 2000 pp 387 402 O ecletismo bem temperado In D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 p 48 53 COUTINHO Carlos Nelson Marxismo e imagem do Brasil em Florestan Fernandes In COUTINHO Carlos Nelson Cultura e sociedade no Brasil ensaios sobre id ias e formas Rio de Janeiro DP amp A 2000 p 243 265 CUNHA Paulo Jos Televis o e poder no Brasil In MOTTA Luiz Gonzaga Org Imprensa e poder Bras lia Editora da Universidade de Bras lia 2002 p 217 223 D INCAO Maria Angela Org O saber militante ensaios sobre Florestan Fernandes Rio de Janeiro Paz e Terra S o Paulo UNESP 1987 DAVID Maur cio Dias Org Economia e pol tica da crise brasileira a perspectiva social democrata Rio de Janeiro Rio Fundo 1991 DAVIES Nicholas Mecanismos de financiamento a privatiza o dos recursos p blicos In NEVES L cia Maria Wanderley Org O empresariamento da educa o novos contornos do ensino superior no Brasil dos anos 1990 S o Paulo Xam 2002 p 151 176 DAHL Robert Poliarquia S o Paulo EDUSP 1997 DIAS da Silva Graziela Moraes Sociologia da sociologia da educa o caminhos e desafios de uma polic
455. revia uma revis o constitucional dali a cinco anos em 1993 A Constitui o atual poder ser melhorada ou piorada Tudo depender do que os t ticos do pensamento revolucion rio abstrato chamam de correla o de for as FERNANDES 1989b 331 Para o publicista era hora de encarar o processo final da ANC como um campo de enfrentamento pol tico exigir a elimina o de medidas antiprolet rias anti sociais antidemocr ticas e antinacionalistas aceitando com coragem a luta parlamentar pela consolida o do movimento oper rio e sindical e das demandas populares A sua recusa estrita tamb m poderia ser estudada frente s condi es hist ricas O que o publicista n o entendia era a deslegitima o da Constitui o por um radicalismo abstrato e ret rico uma sa da pelo meio termo que n o ousa enfrentar as tarefas necess rias de organiza o para a demoli o da supremacia burguesa e a consequente conquista pelo poder Naquele momento por m a an lise da crise do poder burgu s no Brasil colocava a primeira op o na ordem do dia levando se em conta os seguintes custos econ micos sociais culturais e pol ticos em jogo A crise burguesa arruina as demais classes inclusive as fac es mais fracas da pr pria burguesia Mas a massa dos assalariados e dos trabalhadores semilivres das cidades e do campo que arca com a conta H meandros especulativos e fisiol gicos para compensar as perdas e at conv
456. riante epid rmica do conservantismo ilustrado o que o imp s a aceitar a realidade e assim deixar para mais tarde os di logos com os leitores que cometeram como o pr prio parlamentar a confus o comum e lament vel entre a filosofia do senso comum e a filosofia pol tica O leitor descobrir o quanto vol til a imagina o humana s vezes com as esperan as no alto acreditei com outros companheiros em avan os que afloraram reiteradamente sem concretizar se Outras vezes com as decep es fervendo empenhei me a fundo no combate contra influ ncias ou delibera es retr gradas que se desvaneceram ou vingaram A Folha de S Paulo e o Jornal do Brasil viam se envolvidos na pugna constitucional evidenciando que a grande imprensa podia desempenhar pap is construtivos no apoio das mais variadas reivindica es democr ticas sem p r em risco sua imparcialidade Portanto as oscila es que se notam aqui e ali n o 267 A leitura deste pref cio republicado em Fernandes 1989c com o t tulo O PT e o socialismo e dos artigos jornal sticos de Florestan dessa poca pode a meu ver ajudar a esclarecer muitas coisas que correm nos dias de hoje A come ar pelo registro de que uma das condi es que o fizeram aceitar o convite do PT era a obriga o de contribuir com 30 de seu sal rio para a edifica o do partido situa o bem diferente dos que hoje assumem no m nimo ter cedido
457. ribui o para parlamentares de quase duas mil concess es de r dio e televis o Sem falar na falta de qualquer crit rio na renova o pelo Congresso das atuais concess es sempre feitas por vota es simb licas ou de ritos sum rios CUNHA 2002 p 222 223 324 A retranca da direita Jornal do Brasil 28 dez 1987 325 Momentos de indecis o Folha de S Paulo 03 nov 1987 178 No beco sem sa da forjado pela crise econ mica pela d vida p blica e pela d vida externa que se processava sob retalia es externas e omiss es internas os estratos privilegiados da burguesia empurravam o Estado brasileiro para um impasse com o agravamento de crises estruturais que n o se resolvem exatamente para alimentar o mecanismo brutal de acumula o capitalista sob o desenvolvimento desigual Tais estratos esperavam por um milagre a perman ncia sem riscos das desigualdades econ micas sociais culturais raciais e regionais que desenham um Brasil de fachada moderna e de conte do social potencialmente explosivo Ousavam evocar algumas modalidades de liberdade burguesa especialmente no campo econ mico para ao fim aceitar a submiss o ao capital externo a condi o de s cios menores uma esp cie de vanguarda pr imperialista na periferia Sob o mote ideol gico do mercado como patrim nio nacional esta vanguarda refor ava o mito de que vivemos um mundo s como se nada pud
458. rica o de ordens sociais eq itativas FERNANDES 1991a p 48 A tarefa partid ria por conseguinte despertar a consci ncia social para reformas que abram um espa o democr tico nas rela es de classe e assim viabilize a passagem da luta pol tica convencional para embates que envolvam a constru o de uma sociedade civil democr tica ainda que dentro de um Estado sob o dom nio do capital condi o essencial para a prolonga o da luta pol tica na dire o da conquista do poder pelos que almejam chegar ao come o de uma nova civiliza o O processo de conscientiza o pol tica do proletariado fundamental para o rompimento do horizonte intelectual burgu s cuja base est nos aparelhos de re produ o ideol gica do capitalismo as m dias e o sistema educacional por exemplo Esse processo consubstancia se numa miss o partid ria que se inicia no terreno pedag gico para o desenraizamento dos assalariados do universo burgu s na prepara o de atividades pol ticas das quais os trabalhadores e seus aliados est o normalmente exclu dos ou marginalizados Essa uma tarefa pedag gica diretamente vinculada a uma aprendizagem que come a nas empresas amadurece nos sindicatos e nas greves alcan a sua plenitude no partido oper rio e na disputa do poder Trata se n o s de adquirir uma consci ncia social oper ria e socialista mas de eliminar a aliena o das estruturas mentais e da imagina
459. rido aos trabalhadores rurais e urbanos na defesa de seus direitos junto Justi a do Trabalho a liberdade da Justi a do Trabalho de estabelecer normas e condi es para cumprimento de diss dio coletivo a exclus o da sa de da rea de comercializa o das multinacionais a licen a paternidade a assist ncia gratuita aos filhos e dependentes at seis anos de idade em creches e pr escolas mantidas pelas empresas a proibi o da distin o entre trabalho manual t cnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos a igualdade de direitos entre o trabalhador com v nculo empregat cio permanente e o trabalhador avulso proibi o da dispensa do empregado sindicalizado a partir do momento da candidatura a cargo de dire o e de representa o sindical at um ano ap s o final o mandado controle estatal das telecomunica es e estatiza es de servi os p blicos que tenham sido contempladas na Constitui o resguardar as atribui es do Estado como agente regulador e normativo da atividade econ mica nas poucas esferas nas quais elas foram respeitadas batalhar pela perman ncia e efetividade do imposto sobre as grandes fortunas contra uma pol tica fiscal atrasada e pirata que converte o Estado em agente de acumula o capitalista privada e se evade de suas fun es em todas as reas vitais de distribui o indireta de renda e de bem estar social intervir na prote o dos recursos mi
460. riedade e da complexidade dos estudos e da pesquisa enquanto pr ticas transformadoras da realidade garantidoras da universaliza o da capacidade intelectual aparece imbricada com uma identidade pol tica formada na trama das rela es sociais e das H FERNANDES Florestan Universidade e talento Revista ADUSP out 1995 p 11 06 rf a capacidade de todos de pensar e agir portanto sobre a rela o de reciprocidade entre sujeitos que aprendem e ensinam ao mesmo tempo SEMERARO 2004 p 72 214 lutas de classes Tanto em Florestan quanto em Gramsci o intelectual org nico n o est separado do povo da cultura da hist ria e da pol tica das classes subalternas desejosas de construir uma nova civiliza o Desejo esse que implica o enfrentamento dos desafios existentes advindos da complexa rela o entre utopia e realidade e que segundo Toledo 1998 p 68 deu sentido vida e obra de Florestan pela sua recusa em admitir a sociedade existente como modelo e ideal para a realiza o das possibilidades e sempre renovadas necessidades humanas os mesmos desafios portanto que se postam para os que insistem em navegar contra a corrente da hegemonia neoliberal Para muitos de n s de uma sociedade cada vez mais ego sta e hedonista com base numa ordem social competitiva extremamente injusta por m admitida como natural e at desej vel e na qual a nec
461. rma o Ele acredita que os educadores tamb m t m necessidade de serem educados que apenas a pr xis revolucion ria coletiva enraizada na pr xis cient fica por um lado e na pr xis real do proletariado por outro permite essa auto educa o dos revolucion rios e de toda a humanidade trabalhadora Vale destacar ainda a lembran a de M sz ros 2005 p 74 de que a auto educa o de iguais e a autogest o da ordem social reprodutiva n o podem ser separadas uma da outra fator fundamental para se alcan ar o objetivo de uma pedagogia socialista Educar citando Gramsci colocar fim separa o entre Homo faber e Homo sapiens resgatar o sentido estruturante da educa o e de sua rela o com o trabalho as suas possibilidades criativas e emancipat rias JINKINGS 2005 p 9 114 Tal percurso continuou quando assumiu a cadeira de Sociologia I fazendo com que algu m que n o era um especialista em educa o se tornasse contra a vis o do pr prio um verdadeiro educador no sentido apontado por Saviani 1996 p 72 como aquele que pratica a educa o com a consci ncia clara de que a est praticando o que o leva a formular conceitos de m xima significa o para o conhecimento da ess ncia pr pria dos fen menos educativos A radicalidade com que Florestan Fernandes assumiu a condi o humana o levou a assumir tamb m radicalmente as atividades em que se em
462. rmula o mostrando que o mito baseia se na afirma o de que a ordem social competitiva aberta a todos igualmente forjando se a cren a de que h um paralelismo entre a estrutura social e a estrutura racial da sociedade brasileira O mito da democracia racial funda uma consci ncia falsa da realidade a partir da qual acredita se que o negro n o tem problemas no Brasil j que n o existem distin es raciais entre n s e as oportunidades s o iguais para todos N o se trata de uma formula o sem sentido Serve a uma constela o de interesses entre os quais isentar as elites de culpas e evitar a realiza o efetiva da integra o racial democr tica a forma pela qual as elites exorcizam a amea a dos movimentos sociais BASTOS 1987 p 148 A limita o que Florestan v nos movimentos sociais n o significa como acredita Saes 1997 p 77 que ele tenha sido pouco sens vel na an lise do processo hist rico brasileiro presen a pol tica das massas Segundo Arruda 1996 p 199 o soci logo reconhece que o protesto negro muito embora n o fosse suficientemente forte para superar as desigualdades raciais representa a constru o de uma nova era hist rica na qual os 108 Para Florestan mesmo a tend ncia em definir a miscigena o como ndice da aus ncia de preconceitos e como fator determinante de ascens o social n o encontra uma comprova o anal tica consist
463. rocura dissimular ou mistificar os antagonismos de classes FERNANDES 1980 p 61 A cr tica de Saes 1997 ainda assim mostra se equivocada por n o se limitar a uma aprecia o metodol gica de um livro espec fico mas sim a uma aferi o gen rica sobre a suposta contradi o entre o socialismo e a sociologia de Florestan com base em apenas um exemplar da vasta produ o do respectivo autor S para exemplificar a improced ncia de tal aferi o deve se considerar a leitura da compara o que Florestan faz de sua participa o num outro debate p blico quest o tratada no pr ximo cap tulo com o papel desempenhado por Jos do Patroc nio nas lutas abolicionistas descontados naturalmente os coeficientes hist ricos e pessoais o processo abolicionista foi realmente revolucion rio e aquele ilustre tribuno possu a dotes de que n o me posso vangloriar afirma o que pode ser encontrada em Fernandes 1966 p XIX XX antes por m da pr pria publica o de 4 revolu o burguesa no Brasil O mais importante no entanto que o soci logo mesmo sob uma an lise pessimista permanece acreditando no poder que os grupos possuem atrav s da educa o da 109 r A j Quem tamb m questiona novamente analisando apenas o mesmo livro o enfoque que Florestan d aos fatores estruturais em detrimento da dimens o da a o social consubstanciada na tematiza o dos grupos e classe
464. rutural e din mico para a constitui o da sociedade nacional Mas segundo Miriam Limoeiro Cardoso 1996 p 124 126 E dilema brasile o democracia e desarrollo La Opini n Cultural 30 set 1973 83 Aqui a sociedade nacional n o unidade de an lise n o referencial te rico objetivo pol tico projeto que para concretizar se precisa da constitui o e da a o de um querer coletivo este n o como uma vontade consensual mas como vontade nacional que os tr s quartos de banidos das estruturas de poder possam opor ao privil gio das minorias e As revolu es na concep o de Florestan n o s o acidentes hist ricos o socialismo nunca cair do c u FERNANDES 1995a p 98 e s ocorrem quando os interessados ousam defender com intransig ncia seus interesses reais na luta contra a velha sociedade O oprimido o principal elemento dissolvente produzido pela ordem social capitalista e dele depender a destrui o dessa ordem social e os surtos subsegiientes da civiliza o FERNANDES 1995a p 41 No caso espec fico dos pa ses de origem colonial nos quais as elites n o realizaram por completo as revolu es capitais a descoloniza o a revolu o nacional e a revolu o democr tica e fizeram apenas parcialmente as revolu es infra estruturais as reformas urbana agr ria e industrial as tarefas hist ricas n o cumpridas s o transferidas
465. s FERNANDES 2003 p XX Para Florestan no entanto o pessimismo da an lise deveria dar lugar a o Os estudos do folclore deveriam voltar a ser uma oportunidade fecunda de intera o entre a universidade e o meio ambiente uma motiva o de valor cient fico pertinente com c capacidade de criar uma identifica o profunda e uma certa comunh o da intelligentzia brasileira com o saber popular e com os estratos ao mesmo tempo mais humildes e mais consp cuos do Povo FERNANDES 2003 p XXT o que demandaria uma preocupa o obtusa com a forma e o conte do da comunica o acad mica Era dessa maneira que ele gostaria que seu trabalho sobre as trocinhas prov rbios jogos de sal o cantigas de piquenique supersti es ditos e frases feitas rodas parlendas e pegas infantis dos desenraizados de S o Paulo fosse entendido em termos da proje o endop tica que sempre cimentou o meu interesse pessoal pelo estudo do folclore FERNANDES 2003 p XXT Como confirma Arruda 2004 p XV Os temas que escolheu estudar s o reveladores do substrato ntimo de suas convic es mais profundas entranhadas na busca perseverante da compreens o do papel dos exclu dos da sociedade moderna esp cie de declara o de amor aos alijados da heran a que se imp s raz o pela qual este livro Folclore e mudan a social na cidade de S o Paulo encanta e faz pensar Para al m das muitas quest es sus
466. s Fernandes 1971b 1995a 54 Os meus colegas trotskistas n o compartilhavam do sacrif cio que exigia o meu trabalho na universidade por causa at da atividade partid ria Eu sempre dava uma contribui o menor do que a que eles esperavam FERNANDES apud COGGIOLA 1995 p 14 5 Afinal como afirma Mandel 2001 p 19 o marxismo aparece na hist ria da humanidade como uma s ntese qu drupla s ntese entre as principais ci ncias sociais s ntese entre as ci ncias sociais e o projeto de emancipa o da humanidade s ntese entre o projeto de emancipa o humana e o movimento real de auto organiza o e auto emancipa o do proletariado moderno s ntese entre esse movimento oper rio real e a a o e organiza o pol tica revolucion rias Mandel lembra ainda que essas s nteses n o s o acabadas de uma vez n o s o dogm ticas ou n o deveriam ser tidas como tal sem nenhuma opini o axiom tica que n o deva ser constantemente reexaminada luz das novas experi ncias ou fatos com a exce o igualit ria de que o ser humano o objetivo final de toda a a o humana 44 vari vel deve ser levada em conta para o completo entendimento dessa op o entre a milit ncia pol tica e a acad mica Trata se do fato de que entre o movimento socialista clandestino e a universidade essa ltima era a nica que oferecia possibilidades profissionais concretas e perspectivas efetivas de acesso a recursos econ mi
467. s estejam eles no campo ou nas cidades sejam eles brancos negros ou ndios enfrentem os dilemas humanos que enfrentarem O que o capitalismo expulsa e separa o socialismo deve unir e liberar Essa a realidade hist rica que torna o proletariado t o diferente do seu antipoda burgu s e do seu porta voz o demagogo Uma democracia popular desde o come o n o pode separar os de baixo deve unific los em torno da mesma bandeira igualit ria Os desenraizados Florestan Fernandes Folha de S Paulo 21 ago 1986 SUM RIO RESUMO e E Ri O q 9 INTRODU O ed E n a q o Tp EU ENEE 11 PARTE 1 O MILITANTE DA CI NCIA 1 A FORMA O DE JORNALISTA A MILITANTE DA CI NCIA ssssssssssssssssssssestrstrsrrssessrerssrsrrsrreren 25 2 O OBJETIVO METODOLOGIAS PARA UMA SOCIOLOGIA NO BRASIL 52 3 A QUEST O REVOLU O BURGUESA E CAPITALISMO DEPENDENTE ss 69 PARTE 2 O PROFESSOR NA POL TICA 4 UM OBJETO A EDUCA O COMO DILEMA isa asas GPS 87 5 A TAREFA UMA PEDAGOGIA SOCIALISTA ir rerrerererere aee erarere nara eearereneaaenaa 119 5 1 O publicista guerrilheiro e a Nova Rep blica rec ererererereeeeeeeeeeecerneraneeanenaa 129 5 2 O observador participante das jornadas constitucionais ieeeereeeceererereeerereereneeaneas 152 5 3 O per odo p s constitucional e a tarefa partid ria ie eeeeeeeerererererererercereneraneranenas 205
468. s a possibilidades reguladas fora dele no plano internacional pelos grandes conglomerados econ micos pelos governos estrangeiros dos pa ses ricos Porta se desta forma como uma pol tica de ades o estrat gica para cobrar tratamentos preferenciais agindo simultaneamente no plano da economia e da pol tica internacionais base de um projeto de reinser o lateral na economia capitalista com a explora o de nossas vantagens comparativas Essa perspectiva na vis o de Miriam Limoeiro Cardoso 1987 p 247 n o se sustenta j que ela incapaz de lidar com as diferen as hist ricas no interior do pr prio capitalismo na sua rela o com as diferentes regi es do desenvolvimento desigual E ainda menos capaz de permitir pensar aquilo que dentro do desenvolvimento desigual capitalista opera a transforma o efetiva desse modo de produ o e aponta para a possibilidade da constru o de um modo de produ o novo ou seja qualitativamente diferente Fundamentando perspectivas pol ticas que representavam os interesses do capital a teoria da depend ncia retrocedia e abandonava a contund ncia contestadora da concep o de capitalismo dependente tal como elaborada por Florestan Fernandes CARDOSO M 2005 p 36 Sem abandonar o termo depend ncia Florestan consegue enxergar que a quest o central est no desenvolvimento capitalista em seu conjunto e nas 124 A seguinte
469. s as regras do jogo do seu jogo os pa ses em forma o ficariam fora das ondas do progresso Portanto atr s de cada tipo de domina o externa a domina o colonial direta a domina o colonial indireta e a domina o atrav s da depend ncia existia uma modalidade de internacionaliza o salvadora que s seria acess vel aos pa ses que aceitassem a rendi o silenciosa por vezes incondicional FERNANDES 1989 p 364 384 A Constitui o de 1988 concilia o ou ruptura Folha de S Paulo 04 out 1988 385 Petalia es e press es Jornal de Bras lia 08 out 1988 202 Florestan lembra os exemplos da Alemanha do Jap o e dos Estados Unidos na es que se negaram condi o perif rica repudiando o destino colonial contra os centros hegem nicos de uma determinada poca atrav s da nega o do livre c mbio e de grandes sacrif cios de uma moderniza o monitorada internamente com vistas industrializa o aut noma No Brasil ao contr rio de um esp rito burgu s conquistador plantou se conex es econ micas diplom ticas e culturais que conduziram o pa s a um capitalismo competitivo em condi es de barb rie acarretando no abafar da democracia da descoloniza o e do nacionalismo Naquela conjuntura no final dos anos 80 o mito da internacionaliza o fundamentava e legitimava as mais variadas formas de transa es que se voltam contra a livre inici
470. s de movimento tiveram trajet rias peculiares Enquanto a teia de a es protetoras da pobreza sempre foi paral tica na esfera estatal e an mica na esfera privada a explora o comercial espec fica dos movimentos sociais come ou a ganhar vulto na d cada de 90 com o florescimento das ONGs e o fortalecimento 99441 das organiza es sociais do terceiro setor Em 2003 falando para empres rios da rea educacional o consultor de empresas Stephen Kanitz um articulista neoliberal de sucesso e criador do primeiro s tio digital do pa s ligado filantropia d a seguinte sugest o Voc s fazem igual s antigas institui es de caridade que achavam que os clientes deles eram os necessitados Claro que n o o cliente do terceiro setor o doador Eles t m que fazer de tudo para agrad lo Da mesma forma voc s se equivocam quando objetivam satisfazer apenas aos alunos Os seus clientes s o os pais que pagam alto e reclamam dos reajustes das mensalidades A tarefa mostrar que vale a pena pagar o pre o cobrado KANITZ apud OLIVEIRA 2005a p 190 49 As falhas segundo Florestan ocorrem pelos seguintes motivos Por falta de conhecimento adequado da situa o de interven o baseada propriamente em t cnicas racionais e de controles efetivos de sua utiliza o como for a social os referidos movimentos ou s o neutros para a solu o dos problemas sociais ou ent o os agravam de maneira tr
471. s desastrosos para o conte do da Constitui o e conferir mesa e ao presidente Ulysses Guimar es poderes arbitr rios Se o princ pio democr tico n o funciona na base o tope acaba decidindo por conta pr pria ou induzindo decis es discut veis FERNANDES 1989b p 355 37 O curso do segundo turno Jornal do Brasil 28 ago 1988 200 Com a constitui o formalmente pronta Florestan via se confirmar uma antiga tese sua a burguesia mostrou se incapaz de formular um projeto hist rico de constitui o que respondesse claramente s exig ncias da situa o porque para al m do agrupamento de sua rica massa de c rebros faltou lhe a chama criativa do inconformismo com o estado de depend ncia da Na o Nascia assim um texto constitucional razo vel o melhor se comparado com 1934 e 1946 mas com promessa de vida curta j que veio tona com data marcada para sofrer uma revis o global Posta sob o signo do prec rio a Constitui o trazia perigo s v rias reivindica es prolet rias e sindicais atendidas no processo de elabora o mas n o deixava imune a tranquilidade aparente das elites Na verdade nascida da vontade coletiva de elites classes ou na es poder viver ou morrer t o fragilmente quanto os seus inventores e portadores FERNANDES 1989b p 360 Por isso refor a Florestan sob uma Constitui o com elementos de ruptura e continuidade a quest o n o era a di
472. s dessa natureza comprometem se na empreitada e tornam se paladinos de uma triste causa disfar ada atr s de f rmulas altas como a enunciada pelo senhor ministro da Educa o O ensino um s P blico ou privado ele se define pela qualidade que oferece Essa data ficar na hist ria da educa o no Brasil como o dia da transa o final um dia nefasto em que os homens incumbidos de velar pela coisa p blica decidiram p r a Rep blica em leil o ferindo a diretamente no pr prio cerne vital da vida democr tica o ensino p blico FERNANDES 1966 p 525 Com sua participa o na Campanha em Defesa da Escola P blica a opini o p blica nas palavras de Fernando Henrique Cardoso 1987 p 24 passa a conhecer um novo Florestan complementar ao trabalhador intelectual que inaugurou um modo novo de fazer sociologia no Brasil Antes de falar no seu trabalho intelectual gostaria de ressaltar um outro aspecto que sempre coexistiu com o aspecto de Florestan universit rio uma esp cie de ira sagrada contra a injusti a Do a nele como d i at hoje a desigualdade do a nele como d i at hoje a discrimina o contra os negros do a nele como d i at hoje a apropria o privada de bens coletivos como 148 Diretrizes e Bases a san o do Presidente O Estado de S Paulo 28 dez 1961 A entrevista foi publicada em forma de artigo assinado 99 por exemplo a educa o E houve
473. s dominados que nesse momento se autonomiza em rela o a certos valores fundamentais da ideologia burguesa GENRO 1985 p 84 Dessa forma a pedagogia socialista de Florestan distante de uma vulgar pedagogia 22258 t pica de um socialismo de c tedra completava o circuito aberto pela inflex o de seu pensamento que resultou no resgate do paradigma marxiano e no consequente deslocamento da an lise te rico cr tica para a a o pol tica E o avan o dessa atividade milit nte teve como estofo o exerc cio de uma concep o pedag gica que se caracterizou pela vincula o entre a reflex o te rica e a interven o pol tica sem desintegrar teoria e milit ncia O pedagogo socialista n o abre m o da condi o intelectual te rica esta ainda mais exigida pela prova da educa o coletiva mas se redefine enquanto s se realiza na medida em que o pedagogo tamb m receptor e coesionador da experi ncia do coletivo a que se reporta A pedagogia socialista n o funda a consci ncia revolucion ria desej lo seria pretender a substitui o da vanguarda do partido contudo desenvolve a atualiza a potencia a no seu processamento e pois parte integrante da a o de vanguarda NETTO 1987 p 304 Seu posterior engajamento num partido pol tico que representava uma novidade gt a outra face dessa institucional por ser express o direta do movimento trabalhista sindica reflex o
474. s e servi os e teria fortalecido a sua fun o de promotor e regulador desse desenvolvimento Essa fun o estaria restrita a uma a o redistributiva dos bens sociais e ao cumprimento do cl ssico objetivo de garantir a ordem interna e a seguran a externa No plano social o seu conservantismo apresenta dois aspectos redu o dos impostos em benef cio da acumula o privada de capital e sufoca o da face de bem estar social patrocinado pelo Estado Este estrangula a assist ncia social restringe a partilha do excedente econ mico do poder p blico com as minorias marginalizadas e com os miser veis de diversas origens e categorias Portanto o Estado capitalista neoliberal fortalece a repress o enquanto aumenta as promessas de distribui o da renda FERNANDES 1991a p 24 Nessa perspectiva a quest o da democracia depende de sua for a interna de autodefesa n o mais das concess es aos mais fracos ou s classes subalternas promovendo se com isso a ideologia funcional do cidad o respons vel por suas riquezas e ou mis rias fortalecendo o mito da meritocracia liberal e justificando as desigualdades sociais Para tanto tornava se premente a transfer ncia para o setor privado das atividades que pudessem ser controladas pelo mercado A privatiza o e a constitui o do setor p blico n o 7 FERNANDES Florestan O d ficit p blico Folha de S Paulo 04 jul 1994 p 1 2 418
475. s empres rios e suas entidades corporativas agiram coletivamente para primeiramente impedir a passagem abrupta da ditadura militar para um governo democr tico e a seguir limitar a liberdade e a soberania da ANC Mas se o texto constitucional n o satisfazia os crivos pol ticos da esquerda revolucion ria a execu o de uma luta de classes dentro do Parlamento estava na ordem do dia Seria extremismo infantil confundir as coisas e ignorar quais s o as tarefas hist ricas dos partidos socialistas e comunistas prolet rios no atual contexto pol tico O resto teria de ser conseguido depois dentro ou contra as normas constitucionais pela pr pria luta de classes Os trabalhadores seus sindicatos organiza es culturais e partidos seus aliados pertencentes ou n o mesma situa o de classe teriam de bater se duramente para ir al m e lograr duas coisas 1 impedir que a Constitui o se convertesse em seus aspectos mais promissores em letra morta como da tradi o brasileira e latino americana 2 fazer com que a fermenta o em processo na sociedade civil continue se amplie e se aprofunde de modo a inaugurar uma era de reformas sociais dentro do capitalismo e de cavar o solo hist rico prop cio 362 O Governo e o segundo turno Folha de S Paulo 24 jun 1988 363 A quest o da anistia Jornal do Brasil 28 jun 1988 193 acelera o da luta de classes e a passagem do reformismo dentro da or
476. s movimentos Se os advers rios souberem conduzir as batalhas o Centr o acabar como Napole o na R ssia De vit ria em vit ria chegar a um amargo final FERNANDES 1989b p 260 261 Florestan apostava numa nova ocupa o do Parlamento pelas massas populares e pelas organiza es sociais assim como ocorreu quando das numerosas emendas populares subscritas por milhares de eleitores decepcionados com os poucos avan os dos projetos de constitui o Superando os limites da representa o poder amos chegar a uma constitui o de respeito condi o humana e de inspira o popular Para o publicista os trabalhadores s poderiam confiar em uma coisa em sua capacidade de organiza o e de luta pol tica de auto emancipa o coletiva como classe Sob um Primeiro de Maio infeliz no qual glorificava se um sindicalismo de resultados degeneresc ncia do antigo peleguismo que colocava em cheque a luta pela unidade sindical com base na solidariedade e na luta de classes Florestan refletia com seus leitores Como mudar a sociedade civil conquistar peso e voz para o proletariado na sociedade civil adquirir influ ncia prolet ria sobre a organiza o e o funcionamento e o rendimento do Estado sem que os trabalhadores desfraldem as suas bandeiras ergam o seu protesto e exijam reformas sociais Onde est a solidariedade prolet ria e que resultados s o esses que estra alham a for a coletiva
477. s outros as suas pessoas eis O ponto de partida da filosofia folk FERNANDES 1977 p 144 75 Processo que no caso em quest o desenvolve se durante a sedimenta o da modernidade paulistana como j localizada no cap tulo anterior calcada nos princ pios liberais adquiridos em uma na o perif rica e atravessada pela experi ncia no respectivo sistema universit rio GARCIA 2002 76 Ou como sugere num outro momento refletindo sobre as suas tentativas de associar a pesquisa sociol gica revolu o democr tica na sociedade brasileira uma obra marcada pelas ilus es realistas algumas ou rom nticas outras que s o inevit veis quando se quer fazer alguma coisa do ponto zero FERNANDES 1976a p 9 7 Afinal se a humanidade s levanta os problemas que capaz de resolver MARX 1971 p 29 imaginemos um homem Conferir por exemplo o balan o que faz sobre os seus escritos de 1959 a 1962 quando estava imbu do em servir filosofia de uma reforma educacional democr tica da qual iremos tratar no cap tulo 4 54 adequar totalmente s circunst ncias buscando sempre um destino singular que leva o coletivo frente muito diferente do destino habitual daqueles que muito bem socializados identificam se totalmente ao esp rito do presente jamais o desrespeitam e por isso sempre fazem uso dele sabendo aproveitar todas as oportunidades que lhes s o oferecidas em
478. s pol ticos S o Paulo Hucitec 1980a Pensamento Socialista Movimento socialista e partidos pol ticos S o Paulo Hucitec 1980b Pensamento Socialista Linha de Frente Fundamentos emp ricos da explica o sociol gica 4 ed S o Paulo T A Queiroz 1980c A natureza sociol gica da sociologia S o Paulo tica 1980d Ensaios v 65 Mudan as sociais no Brasil 3 ed S o Paulo DIFEL 1979a Universidade brasileira reforma ou revolu o 2 ed S o Paulo Alfa Omega 1979b Biblioteca Alfa Omega de Ci ncias Sociais S rie 1 Sociologia v 3 Da guerrilha ao socialismo a revolu o cubana S o Paulo T A Queiroz 1979c Biblioteca de Estudos Latino Americanos v 1 243 A condi o de soci logo S o Paulo Hucitec 1978a Estudos Brasileiros 9 S rie Depoimentos n 1 Org L nin sociologia S o Paulo tica 1978b Grandes Cientistas Sociais v 5 Pref cio In CARDOSO Miriam Limoeiro Ideologia do desenvolvimento Brasil JK JQ 2 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1978c p 11 14 A sociologia no Brasil contribui o par o estudo de sua forma o e desenvolvimento Petr polis Vozes 1977 Sociologia brasileira v 7 A sociologia numa era de revolu o social 2 ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1976a Biblioteca de Ci ncias Sociais Circuito fechado quatro ensaios sobre o poder institucional
479. s que surgem se destinam a avaliar as potencialidades de resolu o dos dilemas brasileiros acabando por desembocar na id ia de uma revolu o democr tica id ia esta que se imp s como uma hip tese necess ria e se desenvolveu mais amplamente quando Florestan Fernandes abordou os temas sociedade de classes e subdesenvolvimento PEIRANO 1992 p 84 buscando desvendar a realidade subjacente ao nosso capitalismo dependente Cap tulo 3 A QUEST O REVOLU O BURGUESA E CAPITALISMO DEPENDENTE Ao concretizar se a Revolu o Burguesa transcende seu modelo hist rico n o s porque est superado Mas ainda porque os pa ses capitalistas retardat rios possuem certas peculiaridades e se defrontam com um novo tipo de capitalismo no plano mundial A burguesia nunca sempre a mesma atrav s da hist ria Florestan Fernandes 1975b p 220 Era mais um dia de trabalho em seu gabinete quando Florestan Fernandes recebeu a visita de Roger Bastide para um novo convite participar de um projeto que objetivava investigar as rela es raciais no Brasil Com outros compromissos especialmente o doutorado O assistente recusa a oferta Bastide insiste com o argumento de que s participaria do trabalho se pudesse contar com sua ajuda Sob nova recusa o professor franc s sai do gabinete volta logo em seguida e da porta faz sua ltima tentativa O senhor n o aceita s escrever eu colho
480. s suportes do processo de moderniza o do Brasil Lopes 2004 Com base na obra de Jess Souza 2003 Lopes afirma que Florestan interpreta o respectivo processo de moderniza o segundo a escola do patrimonialismo contrapondo a moderna S o Paulo com o resto do pais atrasado personalista e corrupto A nosso ver a vocaliza o da interpreta o florestaniana como propositora de um dualismo geogr fico n o procede j que como demonstraremos ainda neste cap tulo suas an lises v o apontar justamente para os equ vocos das perspectivas end genas do desenvolvimento capitalista sobre o globo especialmente por estas n o reconhecerem que o que se apresenta como atraso sempre o coet neo complementar do moderno A lembran a que Lopes 2003 p 70 faz de que os desn veis regionais s o uma constante do desenvolvimento capitalista j era uma li o h muito apreendida por Florestan como se pode constatar nessa afirma o colhida do artigo A universidade e o desenvolvimento do Nordeste O Estado de S Paulo 05 fev 1961 O Nordeste n o pode voltar as costas para o passado recente de S o Paulo o que vivemos ontem ou estamos vivendo hoje poder ser seu futuro amanh O mesmo j aconteceu inversamente quando o Brasil meridional constitu a a regi o subdesenvolvida da sociedade colonial FERNANDES 1966 p 290 291 74 9 de modificar a orienta o da evolu o das es
481. s um m nimo de dignidade No entanto essas intelig ncias radicais seguidoras da obra abolicionista n o lograram atingir os objetivos Por qu Porque no Brasil segundo Florestan o que importava para as elites das classes dominantes era deseducar n o educar Educar os filhos das elites e deseducar a massa mantendo a fora da escola ou dentro de uma escola funcional reprodu o de m o de obra qualificada ou semiqualificada de acordo com os v rios graus de desenvolvimento econ mico FERNANDES 1995b p 195 Em plena era de alian a para o progresso sob a hegemonia da ideologia desenvolvimentista a quest o educacional continuava a ser tratada da mesma forma das eras colonial imperial e da g nese republicana Por a se tem um horizonte cultural claramente delimitado porque afinal de contas a cultura c vica era a cultura de uma sociedade de democracia restrita inoperante na rela o da minoria poderosa e dominante com a massa da sociedade Essa massa era a gentinha e para ser a gentinha a educa o seria uma p rola que n o deveria ser lan ada aos porcos ou ent o seria uma esp cie de ersatz uma coisa elementar rudimentar que ajudaria a preparar m quinas humanas para o trabalho FERNANDES 1989d p 162 Da a import ncia segundo Florestan ainda que ciente dos seus limites de apoiar naquele momento as reformas baseadas numa filosofia democr tica da educa o que visava reeduc
482. scolhas maduras no sentido de adequar as op es as avalia es e os comportamentos sua situa o de classe sua ideologia e pr ticas pol ticas ao seu sistema de valores Reduzidas ou eliminadas suas fontes de informa es o seu horizonte pol tico fica sujeito s correntes de opini es mais fortes manipuladas por m quinas de partido ou por press es 81 Como indica Florestan ao justificar a publica o de alguns artigos in ditos que foram dispensados pelos jornais sob os seguintes motivos textos longos produ o acima da cota contratada a supera o do conte do pelo tempo vol til do interesse jornal stico e por fim quando a incongru ncia entre a posi o do publicista e a do jornal se torna excessiva tende a prevalecer a linha jornal stica preestabelecida O pluralismo democr tico n o se confunde com a neutralidade absoluta A grande imprensa encontra em sua pr pria liberdade os par metros do seu cociente de liberdade nas rela es com articulistas ou publicistas polarizados ideologicamente FERNANDES 1989c p 10 2 Florestan seguia assim a estrat gia de Gramsci 1991 p 170 de como aproximar o leitor O leitor comum n o tem e n o pode ter um h bito cient fico que s se adquire com o trabalho especializado por isso deve se ajud lo a assimilar pelo menos o sentido deste h bito atrav s de uma atividade cr tica oportuna N o basta lhe oferecer conceitos j ela
483. se em produzi la mas sim por causa deste mesmo interesse Tal salvaguarda para a pesquisa em quest o de suma import ncia por dois motivos O primeiro devido ao seu objeto que por ser um te rico cuja produ o al m de vasta Alguns textos do revolucion rio russo sobre a imprensa est o reunidos em L nin 1975 10 O princ pio da neutralidade tica lugar comum de todas as tradi es metodol gicas pode em sua forma rotineira incitar paradoxalmente ao erro epistemol gico necess rio portanto revogar a esperan a ut pica de que cada um possa se liberar das ideologias que pesam sobre sua pesquisa unicamente pela virtude de uma reforma decis ria de um entendimento socialmente condicionado ou de uma auto s cio an lise cuja nica finalidade seria permitir a auto satisfa o na e pela s cio an lise dos outros BOURDIEU CHAMBOREDON PASSERON 2000 p 63 93 17 39 66 complexa e rica de primeira linha como identifica Miriam Limoeiro Cardoso 1996 p 90 avalizaria acredito que sem ressalvas as posi es acima indicadas Florestan n o aceita os dados oferecidos pelo conhecimento comum e pelas ideologias dominantes como se de fato fossem dados N o se deixa cair nem na ingenuidade de tomar como realidade a empiria imediata nem no dogmatismo das teorias acabadas que tudo explicam antes mesmo de se confrontarem com a pr tica factual e concreta
484. seja a camada ou a classe social atingida que saiba sintetizar todos estes fatos para tra ar um quadro de conjunto da brutalidade policial e da explora o capitalista que saiba aproveitar o mais pequeno pormenor para expor perante todos as suas convic es socialistas e as suas reivindica es democr ticas para explicar a todos e a cada um o alcance hist rico universal da luta emancipadora do proletariado L NIN apud NETTO 1987 p 304 Mas a melhor tradu o de sua capacidade em irradiar o marxismo como for a revolucion ria o que o faz mesmo contra a sua vontade tornar se uma express o hist rica das for as intelectuais na sociedade brasileira est no otimismo da vontade que atua a partir do pessimismo da raz o os v rtices da pr tica revolucion ria gramsciana que no caso brasileiro tem a seguinte especificidade N s n o temos rem dio sen o sermos otimistas N o h outra sa da N s n o temos uma hist ria n s n o conquistamos col nias n o constru mos imp rios O nosso reino o futuro FERNANDES 1987 p 313 Ant doto portanto s posturas intelectual pragm ticas dos defensores das utopias 29454 oss veis ue proclamam o fim da Hist ria e o fim das ideologias em conson ncia 3 com os interesses de manuten o do status quo do atual modo de produ o e reprodu o social Nada de ideologias pede uns acreditando que a iniciativa privada e o n
485. serviram para intitular o ltimo cap tulo da segunda parte ltimo ato educa o e democracia em tempos de neoliberalismo Nos 2 Reunidos em Educa o e sociedade no Brasil FERNANDES 1966 3 A Constitui o inacabada vias hist ricas e significado pol tico FERNANDES 1989b No caso de Marx a compara o leva em conta a den ncia da representa o parlamentar como arena pol tica que reflete o avesso de uma sociedade cindida em classes No de Tocqueville refere se condi o de ambos como protagonistas e testemunhas de experi ncias parlamentares singulares cujos registros ajudam n o s a elucidar os respectivos processos mas trazem elementos para uma teoriza o da pr tica pol tica em democracias burguesas em conforma o 23 ltimos artigos especialmente os escritos entre 1989 e 1995 quando se consolida no Brasil um novo projeto politico Florestan investe contra o programa neoliberal de reformas implementado desde o governo Fernando Collor de Melo 1990 1992 questionando sobretudo a implanta o do ide rio do Estado m nimo social e a incorpora o subordinada ao neocolonialismo da chamada era da globaliza o tema central de toda sua obra sociol gica Ao fim concluo afirmando que o Florestan articulista simboliza o cl max de uma pedagogia socialista advogando de que como publicista que o renomado autor consegue melhor articular as suas duas mais conhecidas voca
486. ses engatados numa situa o de depend ncia que tem como s mbolo maior a d vida imposta pelos figurantes externos da trag dia brasileira as na es capitalistas imperialistas e as suas organiza es internacionais tais como o Fundo Monet rio Internacional FMI o Banco Mundial e o Clube de Paris A divida Os devedores n o devem nada pois tratando se de uma novela a d vida uma fic o Os credores por sua vez acreditam na d vida Ela a sua raz o de ser Sem ela sairiam do palco Todavia o que eles emprestaram e est o tomando de volta As coisas n o batem entre si Desse ngulo a d vida deixa de ser uma fic o e se apresenta em sua verdadeira subst ncia real como O roubo colonial a novela que ningu m ousa levar ao palco ou ao v deo Os estratos internacionais n o podem tolerar que 4 d vida seja retirada de cartaz n o por refinamento art stico mas porque isso seria endossar de moto pr prio a pulveriza o do sistema capitalista mundial de poder N o lhes importa que a novela assuma tons galantes e ousados ou mesmo intermezzos hist ricos e histri nicos Esse um problema dos l de baixo No fim eles ter o de gemer com o principal com os juros e com as c lebres comiss es dos intermedi rios FERNANDES 1989b p 55 Nesse cen rio o Estado aparece como agente direto da acumula o primitiva gerando e distribuindo privil gios generosos sem distinguir entre o
487. ses estabelecidos da sociedade que a abriga Ela cita como exemplo o caso da Fran a do in cio do s culo XVIII quando nos estertores da Revolu o Jacobina a sociologia foi chamada a dar o impulso para uma nova nacionalidade no Institut National Uma moralidade secular se fazia necess ria em substitui o jurisdi o da Igreja uma moralidade com a qual todos os homens de boa vontade pudessem concordar e a sociologia prometia transformar a ci ncia em mecanismo de aprimoramento da vida social especialmente no que dizia respeito s pol ticas nacionais quando a se o de ci ncias humanas foi suprimida no Institut National em 1803 por ordem de Napole o Bonaparte foi tamb m suprimida a esperan a de as ci ncias sociais contribu rem para o processo de constru o nacional PEIRANO 1992 p 81 No Brasil justamente no per odo de constitui o do cientista social Florestan Fernandes era a sociologia a disciplina que abrigava as esperan as de constru o de uma 299 sociedade destinada ao desenvolvimento e compat vel com o melhoramento do esp rito PEIRANO 1992 80 N o por acaso a sociologia de Florestan lastreada por sua condi o social de origem e por uma milit ncia pol tica socialista radical ter como valor primeiro a identifica o com os que sofrem o drama do desencontro GARCIA 2002 p 26 Nesse sentido torna se n o desprez vel a hip tese de Jos de Souza Martins
488. si o e n veis intelectuais variados quatro comunica es sobre temas educacionais desenvolvidas em conven es formais participa o de 3 mesas redondas em canais de televis o e 2 mesas redondas em recintos fechados para p blicos especiais 1 exposi o no decorrer de um com cio preparado por entidades sindicais oper rias 5 confer ncias em que o assunto foi debatido do ngulo de algum problema educacional b sico preparadas para p blicos org nicos Se considerarmos s as 44 confer ncias em conjunto ver amos o seguinte 19 foram realizadas na capital do Estado de S o Paulo 16 foram realizadas em comunidades urbanas no interior do Estado de S o Paulo 8 foram realizadas em grandes capitais de outros Estados brasileiros 1 foi realizada em uma comunidade urbana no interior do Estado de Minas Gerais FERNANDES apud MAZZA 2003 p 254 100 cient fica o uso social da intelig ncia a liberta o do homem da servid o e da mis ria NAGLE 1987 p 191 A vit ria privatista no epis dio da LDB na an lise de Florestan ocorreu pela conjuga o de duas vari veis conjunturais a pela forte associa o da Igreja Cat lica com o setor empresarial do ensino com a primeira lutando para recuperar o monop lio da educa o e o segundo tentando evitar a competi o com o sistema p blico em crescimento b pela qualidade do representante dos interesses das escolas particulares o deputado Carlos Lacerda uma mente
489. si mesmo e planar no universo subjetivo da fantasia e dos confrontos ardentes Tudo isso obriga a constatar se que o padr o Globo de qualidade n o rebaixa o jornalismo televisivo Todavia cont m dentro de si oculto o veneno do conformismo como produto acabado e como rela o dos receptores com os processos mentais em que se v em imersos pela linguagem FERNANDES 1990 p 54 55 407 Cl udio Abramo e o jornalismo Folha de S Paulo 14 ago 1988 08 Rasgando a seda Folha de S Paulo 18 set 1989 215 Em dire o oposta como articulista da grande imprensa produzindo reflex es conceitos e id ias que se inserem imediatamente nas conjunturas pol ticas respectivas Florestan amadurece como um intelectual org nico do proletariado vinculando se profunda e criticamente ao modo de produ o de seu tempo sendo portanto portador de uma concep o pol tica que o habilita a exercer fun es organizativas para assegurar a hegemonia 9 E dessa forma que classificamos a sua fun o de publicista social da classe que representa como uma forma de interven o na pol tica que segundo o pr prio Florestan assume progressivamente o car ter de uma atividade intelectual parelha com as ci ncias sociais Se cada civiliza o perpetua se ou deixa rastros de sua exist ncia por certas formas de testemunhos hist ricos tanto o jornalismo quanto a sociologia s o fontes hist ricas vigorosas da civiliza
490. sino conturbado e perturbador foi desaparecendo ao digerir as minhas leituras e ao compreender melhor as minhas pr prias fun es docentes tornei me um professor mais experiente e competente Ent o j podia encarar o estudante e o ensino de sociologia de outra maneira FERNANDES 1977 p 176 177 Ainda como assistente Florestan desenvolveu junto com Antonio Candido um conjunto de transforma es na cadeira de Sociologia II na USP simplificando programas introduzindo novas mat rias orientando diretamente pequenos grupos de alunos e na tentativa de adaptar o ensino da sociologia s condi es brasileiras reabilitou um instrumento execrado pelos professores franceses os manuais fazendo com que os cursos introdut rios se tornassem mais formativos Isso n o significava um rebaixamento das exig ncias de forma o cient fica mas um ponto de partida adequado para o dom nio te rico do campo sociol gico e para a manipula o precisa dos conceitos Os estudantes deixavam de ser minhas v timas e o pr prio ensino se transformava em um eixo de gravita o de minha capacidade de lidar com o pensamento sociol gico FERNANDES 1977 p 178 171 Como afirma Mandel 2001 p 20 o educador marxista n o se comporta como um educador unilateral nem em rela o ao proletariado nem ao movimento hist rico s perip cias da luta de classes Ele aprende constantemente com o real que est em cont nua transfo
491. sistema escolar e o plano pedag gico Tanto o discurso como a atua o permanente levam no a se estender sobre outras consequ ncias da democracia Deste modo ao lado de refor ar o papel da educa o como liberadora da ignor ncia e tamb m da inseguran a da servid o moral e da mis ria Florestan Fernandes n o deixa simultaneamente de arrolar as cr ticas ao car ter antidemocr tico e sociop tico da estrutura do sistema educacional brasileiro quando examina o div rcio entre o ensino e as condi es sociais de exist ncia Fechando o quadro de refer ncia mais compreensivo para a an lise do processo de educa o com especial nfase na educa o escolarizada Florestan Fernandes ressalta o papel do elemento pol tico no racioc nio nas op es e nas influ ncias dos educadores consideradas as condi es da vida social na moderna sociedade de massas Tese das mais abrangentes anteriormente mencionadas formando um s corpo o Estado democr tico o direito educa o o impacto negativo do meio social a ci ncia e a tecnologia 1 Os artigos foram publicados principalmente no jornal O Estado de S Paulo um dos principais divulgadores da campanha material reunido em Educa o e sociedade no Brasil FERNANDES 1966 Al m dessa atividade a participa o de Florestan na Campanha implicou em 39 confer ncias dedicadas an lise e cr tica do projeto de Diretrizes e Bases feitas em audit rios de compo
492. sitivo sobre o direito de greve que embutido em um conjunto de direitos individuais e coletivos e de direitos sociais arma o trabalhador como cidad o fazendo dele mais do que um agente econ mico mais fraco o fornecedor da for a de trabalho mercadoria manipul vel ad libitum em virtude de uma legisla o trabalhista arcaica protetora do despotismo patronal que varia de acordo com os ramos de produ o FERNANDES 1989b p 337 Mais do que uma quest o de economia interna das empresas e de compress o negativa nos ritmos de acumula o a greve um instrumento pol tico que ajuda na amplia o do espa o legal para a articula o das reivindica es populares um sinal de maturidade que o Brasil dava ao colaborar para a consolida o do trabalho livre At 1978 segundo Florestan o trabalhador assalariado poderia ser equiparado a um equivalente ou substituto do escravo Aproveitando as transforma es advindas com a revolu o econ mica e tecnol gica durante o processo de industrializa o maci a e internacionaliza o da economia brasileira os oper rios se converteram em categoria hist rica e venceram os patr es e a ditadura Os oper rios do ABC foram os instrumentos pelas quais essa realidade subiu tona a Constitui o passa a limpo o presente estado de coisas adaptando a situa o de interesses das classes trabalhadoras ao grau de desenvolvimento capitalista Ao opor se ao ca
493. sob determinadas constri es os homens com o desejo de influir n o deixam de fazer a hist ria Esta ressalva se justifica porque um dos objetivos aqui justamente demonstrar a hip tese de que os escritos do ltimo Florestan atravessadas pelo vi s da milit ncia ou seja o desejo expl cito de influir comportam ainda que n o produzidos sob condi es ideais de trabalho acad mico insumos valiosos para o conhecimento de uma realidade social determinada Com isto n o se quer afirmar que o equacionamento da inser o social dos intelectuais deva estar restrito s suas pr prias perspectivas j que a simples sucess o de posturas identit rias como bem alerta Miceli 1999 p 117 pode esvaziar a credibilidade hist rica da argumenta o No entanto esse equacionamento para a sua devida realiza o n o pode prescindir dos retratos que estes mesmos intelectuais fazem de si 6 N o a primeira vez que Florestan recorre a um argumento aparentemente pouco ortodoxo ou antiintelectualista Ela j havia feito isso falando de sua forma o no texto Em busca de uma sociologia cr tica e militante quando recorre ao orgulho selvagem da concep o agreste do mundo r stico das pequenas aldeias do norte de Portugal de onde origina a sua fam lia assim como a filosofia folk sob a qual organizou a sua primeira forma de sabedoria sobre o homem a vida e o mun
494. sobre o conhecimento a democracia e o papel da educa o A busca de um novo espa o de atua o que n o deixa de ser uma recupera o dos tempos de milit ncia 28 f 7 na qual o proletariado entra apenas como cobaia para que o saber real demonstre toda sua grandeza pois os mestres e educandos n o trocam nunca seus pap is GENRO 1985 p 81 29 Esse car ter de novidade era assim explicado por M rio Pedrosa Diferentemente de todos os partidos o PT simplesmente o Partido dos Trabalhadores nico de estrutura nico de tend ncias nico de finalidade Partido de massa n o tem vanguarda Ele o que guia se por sua pr tica acerta por seu instinto Quando erra n o tem dogmas e pela autocr tica refaz seu erro Por isso deixamos sua porta os preconceitos os pendores as tend ncias extras que possivelmente nos moviam at l PEDROSA apud BLOCH 2003 p 1 260 E tamb m de alegria de viver como se pode depreender deste depoimento de Florestan Fernandes Jr falando sobre o abalo do ex lio em seu pai Foi nesse in cio da d cada de 70 que a doen a dele come ou a se manifestar E al m disso ele ficou meio isolado Os amigos sumiram e ele n o tinha mais o espa o da universidade Ele n o tinha a quem falar Ele s se reencontrou novamente recuperou a felicidade quando entrou para a pol tica partid ria FERNANDES H FERNANDES Jr 1995 p 25 Opini o similar f
495. sobre o processo constituinte documento de grande valor hist rico para a compreens o de um importante momento da vida pol tica brasileira Guardadas as especificidades tal documento que ser objeto de an lise no t pico a seguir pode ser comparado aos relatos de Marx 1974a e Tocqueville 1991 sobre as jornadas revolucion rias de 1848 na Fran a No caso de Marx a compara o leva em conta a den ncia da representa o parlamentar como arena pol tica que reflete o avesso de uma sociedade cindida em classes No de Tocqueville refere se condi o de ambos como protagonistas e testemunhas de experi ncias parlamentares singulares cujos registros ajudam n o s a elucidar os respectivos processos mas trazem elementos para uma teoriza o da pr tica pol tica em democracias burguesas em conforma o 5 2 O observador participante das jornadas constitucionais Florestan estava condenando se morte O que felizmente para a sua surpresa n o aconteceu O debate eleitoral segundo Candido o reanimou e o deixou mais forte 26 Que se inicia com sua elei o de deputado federal constituinte pelo PT em 1987 com 50 024 votos obtidos no Estado de S o Paulo o que fez dele o quarto mais votado do partido Os resultados eleitorais das candidaturas de Florestan est o publicados em Martinez 1998 Na Assembl ia Nacional Constituinte o parlamentar apresentou 93 emendas tendo 34 aprovadas Integrou a subcomiss o de Educa
496. ssivamente rendendo se ao politicismo barato e clientelismo tradicional confundindo um fantasioso discurso democr tico com uma mirrada pr tica democr tica que visava esconder o essencial O Parlamento n o gera a democracia Esta precisa nascer e crescer na sociedade civil para moldar um parlamento democr tico FERNANDES 1989b p 97 Nesse momento de sua reflex o Florestan faz uma pausa conceitual como que se desse conta e quisesse mostrar isso ao leitor de que no calor dos debates a utiliza o dos termos nem sempre corresponde pertin ncia das id ias que vislumbra expressar 2 Invas o e desafio Folha de S Paulo 08 mai 1987 30 Em As perspectivas do PMDB Folha de S Paulo 26 jun 1987 Florestan afirma Desaparecido o inimigo principal que era a ditadura o PMDB tinha de fazer face a uma transforma o profunda que o adaptasse s altera es que ocorreram nas suas rela es com a sociedade brasileira e com o Estado N o o fez Ao contr rio protegeu se por tr s do escudo de ser uma frente pol tica absorvendo res duos e compensa es que o desfiguraram ideologicamente e puseram em contradi o com suas ra zes populares Rotinizou se como partido da ordem na tradi o dos partidos de clientela pol tica do passado e entronizou se como o n cleo principal de uma pseudo Alian a Democr tica pela qual seria o principal partido da ordem a servi o do Governo e servindo se dele o es
497. stado Em s ntese necessitamos de uma constitui o din mica que nos possa ajudar a construir uma nova sociedade uma constitui o que n o se atenha reprodu o da ordem com as suas mazelas mas estabele a a base legal para a extin o das mazelas e para a cria o de uma ordem social que consagre tudo que humano FERNANDES 1989b p 110 N o se tratava segundo Florestan de uma a o autoprotetiva restrita s conquistas feitas nas reas dos direitos individuais ou coletivos mas de se fazer a exig ncia socialista das reformas capitalistas repudiadas pela pr pria burguesia A luta para conseguir e manter 306 Crise de poder e Assembl ia Nacional Constituinte Folha de S Paulo 07 jul 1987 Em uma nota de rodap Florestan faz jus a sua fama de vido leitor de jornais ao indicar aos seus leitores onde poderiam encontrar as fontes de suas den ncias imposs vel indicar o vasto material documentativo dispon vel note se nunca desmentido oficialmente S para o leitor tomar p menciono Vanda C lia e Rodolfo Fernandes Turma do DO procura cargos para apoiar Sarney Jornal do Brasil 07 06 1987 o contundente artigo de J nio de Freitas O favor secreto de Sarney Folha de S Paulo 24 05 1987 e para evidenciar a amplitude da irradia o do centro democr tico t o somente Dissid ncia ganha no voto O Estado de S Paulo 07 06 1987 FERNANDES 198
498. stador CARDOSO M 2005 p 8 Um outro rev s de igual valor est na possibilidade de se desdourar a grande riqueza pedag gica da trajet ria florestaniana expressa na s ntese dial tica de sua dupla condi o de militante da ci ncia e professor na pol tica que como demonstra Eliane Veras Soares na distin o que faz entre o acad mico pol tico e o pol tico acad mico revela a for a e a fragilidade do indiv duo ante as institui es as estruturas sociais e a din mica da hist ria 16 Os dilemas pol ticos dos jovens Folha de S Paulo 15 set 1986 17 Um balan o qualitativo deste debate encontra se em Valen a 2004 do qual inclusive eu me aproprio dos termos que distinguem as duas vis es sobre a obra de Florestan 8 Risco maior que pode ser sintetizado na seguinte afirma o de Jaldes Meneses Enquanto a criatura a sociologia se profissionaliza busca uma vaga bem comportada na divis o sociot cnica do trabalho desatada pelo amadurecimento do capitalismo brasileiro o criador Florestan se radicaliza progressivamente at morrer na posi o de ultra esquerda dentro do pr prio PT MENESES apud SILVA 2002 p 179 frase que o leitor pode tomar como a ant tese do trabalho aqui apresentado 20 No final das contas Florestan Fernandes aparentemente fraco e amea ado pela onipot ncia das estruturas sociais consegue dar a volta por cima revelando sua for a moral sua
499. stes a explodir No in cio mesmo com o dif cil trabalho nas subcomiss es dado ao entrave conservador e reacion rio a abertura ao conv vio entre pessoas que entendiam algo do assunto e o incentivo das iniciativas populares prometia um salto qualitativo para a Constitui o em elabora o N o que todas as subcomiss es conseguissem o ideal j que todas funcionavam pela press o conservadora e os interesses externos ANC mas o produto final era positivo especialmente pelo papel construtivo dos radicais do PMDB e da esquerda que levou a constru o de uma carta constitucional aqu m da exig ncias hist ricas mas moderna em v rias partes e democr tica no essencial O rev s por m veio com o formalismo jur dico da Comiss o de Sistematiza o que manteve viva uma tradi o nefasta a de converter as constitui es brasileiras em falsas fontes de legitima o de uma democracia inexistente FERNANDES 1989 p 205 Nesse processo o j citado Centr o teve papel preponderante Em termos sociol gicos Florestan vai identificar tal agrupamento com a utopia coletiva das elites em sua ambi o de dominar o meio social Como um conglomerado ideol gico de v rias fac es burguesas o Centr o carrega consigo as maldi es do capitalismo r stico perverso e selvagem mas nenhuma virtude do aut ntico liberalismo e do radicalismo democr tico Visavam sobretudo sepult
500. stor o psicol gica do dilema entre assinar ou n o mas o aproveitamento do espa o pol tico para as classes trabalhadoras galgarem seus pr prios objetivos erigindo uma Rep blica na qual possa existir o fortalecimento do poder popular e assim ter condi es de negar e superar a supremacia burguesa pr condi o para o soerguimento de uma sociedade nova Tudo converge para uma conclus o as classes dominantes n o s o dirigentes e carecem de verdadeiras elites Nesse fato reside a ess ncia do capitalismo selvagem e a falta de sa das da situa o atual que transforma a democracia em um sonho Os de baixo s o mais aut nticos e qui sem grifo no original esteja neles e n o na Constitui o a supera o do drama social brasileiro FERNANDES 1989b p 356 Fabricada pelos seres humanos carregando as suas marcas as suas debilidades e as suas grandezas a Constitui o das inven es humanas a mais complexa e sutil mistificadora e hip crita verdadeira e cruel FERNANDES 1989b p 360 Examinando os passos dados e os que n o foram poss veis Florestan afirma que ao tentar descobrir como ela responde ao solo hist rico e ao mesmo tempo o nega chega seguinte conclus o a Constitui o ostenta os rasgos ut picos oculta os v nculos ideol gicos e dissimula a ess ncia do poder na forma em que este exercido por pessoas institui es e forma es sociais do 3
501. t rio a ser removido mas o fato que nenhuma transi o democr tica seria poss vel sem o extirpar do complexo de causas e efeitos circulares que produzem o apodrecimento do sistema de poder As cavalari as est o entupidas de alto a baixo e s a indigna o popular maci a e a c lera coletiva do Povo poder varrer para longe e para sempre as incalcul veis toneladas de lixo que asfixiam a sociedade civil e o Estado Como diria Joaquim Nabuco as fendas e rachaduras rasgam a sociedade brasileira em todas as dire es N o h como soldar as partes quebradas preciso compor uma sociedade nova com a presen a ativa e construtiva das classes trabalhadoras e dos deserdados da terra Nem no futebol o chute d certo como prova a amarga experi ncia do t cnico Evaristo de Macedo Os pol ticos profissionais que aprendam com ele FERNANDES 1986a p 101 102 Al m da corrup o do Estado a ditadura cortando a evolu o natural dos partidos engendrou um fict cio quadro institucional dominado por dois sustent culos da ordem um oficial outro de oposi o consentida que n o tinham for as para tocar na influ ncia inibidora de uma outra debilidade org nica do pa s a que se refere s rela es org nicas entre o capital nacional e o estrangeiro rela es essas submissas ao modelo de desenvolvimento imperante no capitalismo monopolista Sem a fonte de seguran a pol tica o regime dita
502. t veis Ser nas investiga es de Karl Marx que vamos encontrar a nica teoria consistente j elaborada no moderno pensamento sociol gico sobre a interpreta o indutiva de uniformidades de segii ncia encaradas historicamente Foi por isso e n o por outra raz o que preferimos abordar por ltimo a contribui o de Marx quando ela antecede realmente as outras duas no tempo FERNANDES 1980c p 96 100 105 107 N o por acaso como j visto a sa da de Florestan do movimento trotskista coincide com a defesa de sua primeira tese acad mica o mestrado em 1947 Concomitantemente em companhia de Antonio Candido passa a trabalhar em tempo integral na Faculdade de Filosofia Dando continuidade a sua carreira acad mica inicia um programa de pesquisa sobre a teoria das ci ncias sociais como forma a evidenciar suas qualidades cient ficas e consolidar seu prest gio no meio acad mico Tal pesquisa vai culminar em 1951 com o t tulo de doutor recebido com a tese 4 fun o social da guerra na sociedade Tupinamb trunfo com o qual torna se primeiro assistente de Sociologia I preparando o caminho para substituir ningu m menos que Roger Bastide A partir dessa obra Florestan Fernandes revela se o maior herdeiro dos mestres estrangeiros o produto puro e mais bem acabado do novo sistema de produ o intelectual e acad mico implantado na capital paulista GARCIA 2002 p 125 126 No en
503. tal Citando Adam Przeworski 1989 Florestan indica que os compromissos mantidos entre social democratas e o capital privado forjam uma express o da pr pria estrutura da sociedade capitalista Os social democratas protegem os lucros das reivindica es das massas porque as pol ticas redistributivas radicais n o s o vantajosas para os trabalhadores O mecanismo n o foi projetado deliberadamente mas o fato que o funcionamento do sistema capitalista apresenta se de modo tal que se os lucros n o forem suficientes as taxas de sal rio e o n vel de emprego acabam por declinar Esse o motivo por que os social democratas abrem m o da aboli o da propriedade privada dos meios de produ o em troca da coopera o dos capitalistas na eleva o da produtividade e na distribui o dos ganhos Por isso que os social democratas n o s procuram reproduzir o capitalismo mas tamb m lutam para aperfei o lo mesmo enfrentando a resist ncia dos capitalistas PRZEWORSKI apud FERNANDES 1991a p 9 Ciente de que a social democracia n o abria caminho para o socialismo Florestan defende que caberia ao PT encampar um projeto hist rico socialista para um Brasil pluralista ntegro e irredut vel Para tanto seria necess rio que o partido mantivesse uma tica revolucion ria para educar as massas oper rios camponeses trabalhadores intelectuais e at estratos das classes m dias aproveitando de forma articulada as
504. tal como a fam lia Mesquita propriet ria do jornal O Estado de S Paulo embasada na experi ncia universit ria europ ia de maior enfoque te rico metodol gico Apesar de j possuir uma certa notoriedade a primeira tentativa de Florestan ingressar na ELSP falha Localizado o motivo do insucesso Florestan dedica se ao estudo do ingl s e consegue aprova o ainda em 1945 L Florestan mesmo insatisfeito com o n vel da nfase empiricista que encontrou na institui o tem um passagem marcante que culmina em seu t tulo de Mestre em Antropologia obtido em 1947 com a pesquisa 4 organiza o social dos 4 Florestan ainda que embevecido achava se despreparado para o cargo e via grande risco para o pr prio Azevedo em aceitar o convite o que levou a afirmar Dr Fernando o senhor tem toda a responsabilidade por este convite O senhor est convidando um aluno eu n o sou professor O senhor deveria chamar um professor essa a sua responsabilidade Se eu falhar a o senhor n o pode transferir a culpa para mim Azevedo mostrou se assustado e sentindo se convencido pelo aluno respondeu Acho que voc tem raz o melhor procurar outro assistente Foi quando Candido interveio e salvou o amigo Olha Dr Fernando n s todos sabemos muito bem que o Florestan burro que n o sabe nada que incompetente n o pode ser assistente Ap s risos o convite ficou acertado FERNANDES 1995b
505. tan chegou a implantar um centro de pesquisa o Centro de Sociologia Industrial e do Trabalho CESIT junto cadeira Florestan contratado para a cadeira de Sociologia I a partir do dia 1 de janeiro de 1954 a qual vai ocupar por mais de uma d cada at o dia 23 de fevereiro de 1965 Segundo Garcia 2002 p 14 quanto maior a especificidade do campo maior a independ ncia de seus membros dos interesses mundanos maior a inclina o para afirmar a autonomia criticando os poderes estabelecidos e maior a efic cia simb lica da posi o pol tica que toma 38 O CESIT oficialmente criado em 28 de fevereiro de 1962 marca uma transi o na linha de pesquisa do grupo de soci logos uspianos reunidos na Sociologia I Depois de se deter por v rios anos sobre a quest o das rela es raciais no Brasil o grupo passa a preocupar se especificamente com quest es relacionadas ao desenvolvimento brasileiro ROM O 2003 p 4 67 de Sociologia I espa o institucional cuja dire o ele detinha CARDOSO M 2005 p 7 8 Ser com uma pesquisa sobre rela es sociais no Brasil iniciada quando ainda desenvolvia a tese de doutoramento sob o patroc nio da Organiza o das Na es Unidas para a Educa o Ci ncia e Cultura Unesco que ele vai ensaiar os passos dessa sociologia de interven o ROM O 2003 p 23 dando provas de sua maturidade autoral e independ ncia de pensamento O ponto alto d
506. tanto a repercuss o p blica e acad mica do texto ficou bem abaixo do que esperava o autor apesar de sua convic o de que o trabalho havia alcan ado a maior contribui o poss vel para uma investiga o emp rica explicativa do sistema cultural tupi Penso que mostrei que se pode explorar a reconstru o hist rica com o mesmo rigor que a pesquisa de campo e que demonstrei que ramos capazes de estudar as sociedades tribais por nossa conta e com os nossos meios segundo os requisitos descritivos e interpretativos da ci ncia moderna FERNANDES 1978a p 89 8l De acordo com alguns depoimentos do soci logo sua sa da definitiva do PSR foi em 1952 mantendo portanto contato com a organiza o durante todo o per odo de doutoramento ainda que com diminuta atividade militante COGGIOLA 1995 p 14 82 A tese teve sua primeira publica o em 1952 na cidade de S o Paulo pelo Museu Paulista Trabalhamos aqui com a segunda edi o Fernandes 1970 83 Como primeiro assistente da cadeira de Sociologia I da Faculdade de Filosofia Florestan vai trabalhar de 27 de novembro de 1952 a 31 de dezembro de 1954 Em livro recente sobre o tema Fausto 2005 p 92 afirma que a obra de Florestan ainda hoje a melhor s ntese dos relatos dos cronistas estrangeiros feita no Brasil 57 As incompreens es sobre a sua contribui o um marco nas investiga es das sociedades primitivas no Brasil FERNANDES 1978a p
507. tas para desbloquear a ortodoxia ent o reinante no pensamento marxista oficial Insistimos em que a dimens o especificamente pol tica dessa concilia o termo pouco apropriado seria melhor falar em enfrentamento bem sucedido se que se trata disso foi dada pelo fato de 1 Florestan ter acedido milit ncia pol tica antes que academia 2 T lo feito apoiado na corrente pol tico intelectual mais avan ada no marxismo e do socialismo internacional aquela encabe ada por Leon Trotski embora extremamente minorit ria e justamente por isso de vanguarda que esteve longe de De minha parte n o repudio as id ias que as circunst ncias me levaram a defender Ainda hoje me identificaria com os mesmos prop sitos embora projetando minhas insatisfa es e aspira es profissionais e pol ticas em um sistema de refer ncias mais radical Nada tenho a repelir naqueles ensaios Se eles se converteram em documentos antes de alcan ar maior efic cia isso nada tem a ver com a sua contribui o intr nseca O esfor o foi feito as energias foram investidas os riscos foram assumidos Os resultados melanc licos n o p em em xeque o m rito dos argumentos expostos nem das causas defendidas Se evidenciam alguma coisa eles nos ensinam que devemos manter a luta fazendo maiores esfor os investindo energias ainda mais fortes e principalmente correndo todos os riscos FERNANDES 1976a p 9 10 11 78 T
508. te papel se mostrar maduro quando fora da universidade advoga para si a miss o de esbo ar uma concep o educacional revolucion ria capaz de transformar a sociedade brasileira tema do quinto cap tulo A tarefa uma pedagogia socialista Na volta do ex lio lutando contra um processo de abertura politica que n o passava de uma transi o transada revela se um ex mio ensa sta do processo s cio pol tico fortalecendo sua tarefa de difundir a doutrina socialista entre os trabalhadores Colocando se com um tribuno do povo SILVEIRA 1987 Florestan participar do debate sobre os rumos da democracia brasileira inclusive com presen a marcante como deputado federal na Assembl ia Nacional que resultou na Constitui o Federal de 1988 A partir dessa experi ncia produzir um impressionante di rio sobre o processo constituinte documento de grande valor hist rico para a compreens o de um importante momento da vida pol tica brasileira talvez compar vel guardadas as especificidades aos relatos de Marx 1974a e Tocqueville 1991 sobre as jornadas revolucion rias de 1848 na Fran a A seguir em 1990 reelege se para um novo mandato tendo como foco o fortalecimento do papel do Partido dos Trabalhadores PT na consolida o do processo democr tico N o ser de menor import ncia por m a sua participa o como articulista debatendo temas candentes do per odo entre os quais os que me
509. teio da recomposi o modernizadora do conservantismo pol tico FERNANDES 1989b p 100 301 O centro do poder Folha de S Paulo 04 jun 1987 302 Florestan cita al m do PT o Partido Democr tico Trabalhista PDT o Partido Comunista do Brasil PC do B o Partido Socialista Brasileiro PSB e o Partido Comunista Brasileiro PCB 303 Constitui o e elei o Folha de S Paulo 18 jun 1987 170 Esse o nosso drama Os estratos dirigentes das classes dominantes possuem uma vis o curta e r stica da democracia Esta existe na medida em que seus particularismos e interesses de classes se imponham a toda a Na o atrav s do Estado Quando os chamamos de conservadores incorremos em um erro terminol gico O conservador possui uma concep o realista do mundo do poder e do Estado Ele precisa ver objetivamente o que pretende preservar para selecionar as mudan as inevit veis e coloc las em pr tica com vistas a manter o status quo e afastar do solo hist rico as fendas que trazem atr s de si o cataclisma a revolu o social Uma burguesia que teme a reforma agr ria que fomenta o crescimento demogr fico e as migra es de milh es de miser veis da terra que hip crita at diante do aborto e da autonomia da Rep blica democr tica seu instrumento de domina o ideol gica e de hegemonia pol tica n o conservadora nem possui s men liberal Encastelada no Estado e senhora da ANC ela se enxer
510. tica corajosa pela qual a fus o de ra a e classe regule a eclos o do Povo na Hist ria FERNANDES 1998 p 36 A quest o racial na obra de Florestan portanto n o est descolada da classista j que ela a base da nega o da quest o social pela burguesia ascendente que para impor seu projeto pol tico deita ra zes em alian as com os setores tradicionais bebendo de seus valores de suas pr ticas e de suas id ias garantindo uma forma de encaminhamento pelo alto da transi o modernizadora que aqui se desenrola O estudo do negro e das rela es raciais no Brasil n o representa pois na obra de Florestan algo secund rio ou marginal mas segundo me parece o problema concreto de onde partem suas reflex es posteriores sua an lise da forma o e da evolu o da sociedade brasileira L PINE 1987 p 130 110 Florestan inclui como arena de atua o destes grupos os ve culos de opini o p blica Ao analisar a luta abolicionista em S o Paulo ele vai salientar que gra as ao aparecimento de uma opini o p blica que revelara crescente sensibilidade contra a es desse g nero as pr ticas repressivas e punitivas se suavizaram ou foram abolidas completamente muito antes que em outras zonas do Estado FERNANDES 1971a p 108 11 Na d cada de 80 num artigo intitulado O mito revelado Folha de S Paulo 08 jun 1980 Florestan afirmar O protesto negro ant
511. tico atrav s da publica o peri dica de seus textos em grandes jornais CARDOSO M 1995 p 30 Cabe me apenas dizer que como deputado socialista Florestan Fernandes efetuou um movimento culminante na sua luta inclusive porque se tornou simultaneamente um dos jornalistas pol ticos mais eficientes e penetrantes que temos tido forjando um instrumento ajustado ao combate pela imprensa e se tornando junto a p blicos vastos int rprete do que se poderia chamar de pensamento socialista cotidiano Da sala de aula ao grande p blico ele modulou em escala cada vez mais ampla a sua atua o de analista da sociedade e de combatente do socialismo CANDIDO 2001 p 40 No caso espec fico do livro em quest o que analisaremos com mais acuidade no t pico a seguir com textos escritos majoritariamente para a Folha de S Paulo jornal que se destacava no processo de abertura pol tica Candido enfatiza a fun o cumprida pelos artigos de Florestan que buscava mostrar milit ncia pol tica de esquerda a necessidade de mobiliza o popular para a efetiva transforma o e supera o do regime ditatorial Este um dos motivos condutores do seu pensamento nesse livro que procura entre outras coisas mostrar como a aut ntica luta pol tica tem de vir dos de baixo los de abajo que Mariano Azuela descreveu h tanto tempo no esfor o revolucion rio do M xico Da a dureza com que desmascara os mecanismos de conluio pseud
512. tipo de estrutura societ ria 62 ind cios que sua grande ambi o naquele momento mais do que se tornar um soci logo popular era vencer dentro da academia o que aconteceu com a contradi o de suplantar os mestres estrangeiros com o apoio significativo deles com destaque para Baldus Bastide e o contestado M traux A aparente contradi o entre se fortalecer como soci logo apostando num trabalho de car ter mais antropol gico se resolve na ci ncia de Florestan de que os trabalhos sobre os tupis que seriam vistos na tradi o alem e americana dentro do campo da etnologia ou da etnografia na tradi o francesa que predominava na Faculdade de Filosofia na qual Florestan fazia o seu doutoramento o estudo dos povos primitivos reca am no campo da sociologia FERNANDES 1978a p 92 Antes de concluir clamando por uma nova aprecia o deste momento da obra de Florestan Peirano destaca que o ponto negativo desse processo foi que com a op o dele em se voltar para o campo sociol gico propriamente dito deixando para tr s o treino antropol gico os livros sobre os Tupinamb acabaram inclu dos nos termos do novo campo de atua o passando por distin o ao per odo de maturidade denominado dial tico a representar a fase funcionalista de sua sociologia Contribuiu para isso a pr pria aceita o do Florestan desta qualifica o que ao inv s de procurar uma caracteriza o
513. tiza es e a abertura do Brasil ao mercado externo Mas os elogios do PSDB ao conservadorismo moderno de Collor especialmente no que se refere sua pol tica econ mica vinham tamb m de outros peessedebistas H lio Jaguaribe e Luiz Carlos Bresser Pereira por exemplo tal como se pode aferir em David 1991 Por outro lado vale registrar a vis o de Florestan sobre o mesmo personagem expressa em Por que n o votar em Fernando Collor de Mello Folha de S Paulo 02 dez 1989 A falta de humildade ressalta o lado mais negativo o autoritarismo de quem n o toma em conta o outro a auto sufici ncia do discurso demag gico a volubilidade que permite adotar o sim e o seu contr rio como quem muda de camisa ou palet o egocentrismo exuberante de quem acha dentro de sua cabe a as solu es prontas e acabadas de qualquer dilema Fruto de uma tradi o cultural centrada no politicismo e no oportunismo pol tico dividiu generosamente com os de sua grei as prerrogativas e os privil gios que procedem da monopoliza o social do poder debitando no or amento da prefeitura ou do governo estadual os custos da manuten o daquelas prerrogativas e privil gios FERNANDES 1990 p 33 34 219 sociologia o mais importante representante de uma das correntes da chamada teoria da depend ncia cujo d bito est na concep o de heteronomia de Florestan mas que ao enfatizar diferentes elementos acaba
514. to Institucional n 5 116 brasileiras e finalmente na sua consolida o como um dos principais articulistas da imprensa nacional quando o professor Florestan torna se um reconhecido publicista que tem como caracter stica b sica de seus textos a cuidadosa articula o entre pol tica e ci ncia Al m da produ o de conhecimentos e de sua transmiss o institucionalizada Florestan afirma Saviani 1996 p 82 nunca descurou da sua difus o p blica o que se comprova pelo fato dele ter frequentado assiduamente as p ginas da imprensa durante toda a sua trajet ria divulgando incansavelmente um saber cr tico da sociedade encarado como instrumento para a necess ria a o transformadora a ser protagonizada pelos debaixo Desta forma ele acaba por cumprir magistralmente em sentido cr tico e revolucion rio as tr s 8 Ao praticar todas elas grandes fun es universit rias a pesquisa o ensino e a extens o buscando a integra o numa a o pedag gica revolucion ria Florestan atingir o n cleo constitutivo da natureza educacional a qual Saviani 1996 p 82 identifica com a concep o gramsciana de catarse entendida como a assimila o superior da estrutura em superestrutura na consci ncia dos homens Sob o exposto vale o adendo de que a vis o que ficou na literatura sobre o suposto hermetismo da linguagem florestaniana n o costuma levar em conta sua gradual transform
515. to inconformista tendo como fim a libera o 44 Sobre a tramita o da nova LDB que acabou promulgada em 1996 conferir Nery 1997 Sobre a participa o de Florestan no processo conferir Silva 1998 e os seguintes artigos do publicista A nova lei da educa o Jornal do Brasil 28 fev 1989 em Fernandes 1989d Conflitos na educa o Folha de S Paulo 25 jun 1990 e Educa o inconsist ncias do Legislativo Folha de S Paulo 06 jul 1992 publicados em Fernandes 1995c 213 dos oprimidos Uma pol tica portanto capaz de impulsionar entre os de baixo uma forte aspira o de combater o embrutecimento de promover a desaliena o e desvendar o seu talento para si para a sua classe e para a coletividade Os que t m experi ncia com o pensamento de Paulo Freire j sabem qual essa pedagogia dos humilhados e ofendidos dos oprimidos e qual o m nimo que diz respeito elabora o de uma pedagogia dos oprimidos e que dialeticamente s pode ser uma pedagogia da desopress o N o existe uma pedagogia dos oprimidos existe uma pedagogia da desopress o da libera o dos oprimidos FERNANDES 1989d p 165 N o se trata alerta Florestan de educar as massas populares apenas para o uso de t cnicas rudimentares de nossa civiliza o letrada e industrial A id ia p r em pr tica uma filosofia educacional democr tica adequada aos valores fundamentais de uma civiliza o que dig
516. torial diante da comunidade internacional burguesia nacional apresentava se o seguinte dilema ou sai da concha estatal autoprotetora e se torna politicamente ofensiva diante do capital estrangeiro ou se fortalece por via econ mica transferindo para si as grandes empresas estatais ou semi estatais FERNANDES 1986a p 84 As solu es estruturais de qualquer maneira eram bloqueadas pelo aliado principal a comunidade internacional de neg cios cuja capacidade de press o se d pela atua o dos banqueiros internacionais e de organiza es como o Fundo Monet rio Internacional FMT 26 O chute Folha de S Paulo 03 jun 1985 27 O chute Folha de S Paulo 03 jun 1985 238 Inguieta es burguesas Folha de S Paulo 24 jun 1985 144 O que temos uma incapacidade cr nica que n o intr nseca burguesia mas que nasce das rela es da burguesia com a forma dependente do desenvolvimento capitalista com a prepot ncia e a insensibilidade do imperialismo diante dos s cios menores da periferia e com as for as sociais secretadas pelo modo de produ o capitalista e pela organiza o social cultural e pol tica correspondente quaisquer que sejam as circunst ncias hist ricas envolvidas O capitalismo dificil da periferia opera como um al ap o Ao revelar seu pre o e suas consegii ncias as ousadias encurtam o espa o hist rico do movimento burgu s fechado sob
517. tortuosa socializa o pleb ia 7 2 O estudo sobre um mal sucedido transplante de f gado o segundo grande erro m dico sofrido pelo mesmo paciente pode ser conferido em V timas de hemodi lises casos diversos e o caso Florestan cap tulo de Bulh es 2001 Sobre a vida Florestan Fernandes sugiro a leitura de duas biografias rec m lan adas Cerqueira 20044 e Sereza 2005 com o primeiro dando maior destaque ao seu perfil parlamentar e o segundo enfatizando sua rela o com a paulic ia nome da cole o qual se destina a publica o 26 Consta que o menino Vicente como o apelidara sua madrinha Herm nia Bresser de Lima com a qual conviveu parte da inf ncia e que n o admitia que um menino de origem t o humilde filho de sua empregada dom stica tivesse um nome t o pomposo quanto Florestan estudou at a terceira s rie prim ria no Grupo Escolar Maria Jos no bairro de Bela Vista quando dividia o tempo escolar com trabalhos de rua para ajudar no sustento da fam lia que se resumia quela poca a ele e sua m e uma mo a analfabeta filha de imigrantes portugueses da regi o do Minho que ap s a morte do pai abandonou o trabalho no campo no interior de S o Paulo pelo trabalho dom stico na metr pole Aos 9 anos por m foi obrigado a dedicar todo o tempo s tarefas de sustento da casa Todavia os professores tinham cumprido comigo o seu of cio ens
518. tos de aus ncia ou presen a l pida e s vezes r spida em todos estes quatros anos de trabalho Pelos mesmos motivos somada a intensidade de uma vida conjugal hoje finalizada que fa o um agradecimento muito especial a C tia Couto da Costa v tima circunstancial dos dem nios suscitados por essa minha empreitada acad mica Cortar o n g rdio eis a quest o Proletarizar o cora o e a mente desses subalternos que permanecem abaixo das linhas de classe da subalterniza o como o ltimo degrau da sociedade indigentes marginais popula es carentes ou dependentes e outros Os anarquistas tiveram a virtude de estender os bra os a esses companheiros e a grandeza de compreender o seu infort nio Os revolucion rios nacionalistas ou comunistas da periferia acabaram aprendendo pela pr tica que eles s o os humildes mais exigentes de amor de solidariedade humana e de companheirismo No Brasil ainda arranhamos as meias verdades Culpam se a falta de organiza o e a falta de meios para chegar at eles com a mensagem libert ria da fraternidade humana e da igualdade pol tica Espera se que o movimento popular d o salto qualitativo de mobiliza o que s poder nascer de uma identidade partid ria forte que compreenda que a classe oper ria n o cont m fronteiras diante da mis ria e que o socialismo prolet rio s poder florescer pela incorpora o daqueles que s o os mais desiguai
519. total que eles envolvem uma ci ncia til para quem comanda burocraticamente e pode pagar um pre o funcional pelas decis es impostas de cima para baixo FERNANDES apud FREITAG 1996 p 151 um tipo de jornalismo e de literatura cinema poesia m sica ensaio etc int rprete das demandas sociais FERNANDES 1971b p 182 potencialmente pr ximo de uma no o de saber cient fico capaz de assinalar a maior revolu o j ocorrida na hist ria cultural do homem que utiliza seus argumentos e avalia es para se opor a todas as formas poss veis de aliena o de pessoas de grupos ou de coletividades humanas desmascarando seus fundamentos antinaturais e supra racionais nas rela es dos homens com as mulheres dos pais com os filhos dos adultos com os jovens dos civilizados com os 177 Tudo se passou como se me transformasse de um momento para outro em porta voz das frustra es e da revolta dos meus antigos companheiros da inf ncia e da juventude O meu estado de esp rito fez com que o professor universit rio falasse em nome do filho da antiga criada e lavadeira portuguesa o qual teve de ganhar a vida antes mesmo de completar sete anos engraxando sapatos ou dedicando se a outras ocupa es igualmente degradadas de maneira severa naquela poca FERNANDES 1966 p XIX 178 No campo da literatura conferir o artigo Mem rias do c rcere Folha de S Paulo 20 a
520. trados das camadas sociais dominantes que revelam um pessimismo sobre a efic cia das nossas institui es e uma indiferen a pelo funcionamento das escolas e pelo trabalho docente e discente manifestando 110 menos que um ceticismo a respeito da capacidade do povo em aproveitar os beneficios da educa o escolar sistem tica um temor pelas conseq ncias da democratiza o do ensino De outro o educador que tende a operar como agente de difus o cultural e n o como int rprete realista das demandas da educa o brasileira o que faz com que as inova es defendidas resultem de confrontos que conduzem a superestima o das nossas potencialidades Em confronto elas acabam por sabotar as possibilidades de consenso sobre o significado das escolas e dos servi os educacionais como valor social Em conjunto as duas tend ncias contribuem de formas diferentes para manter o rendimento das institui es escolares em n veis de subaproveitamento das oportunidades ou dos recursos educacionais do ambiente Seus conflitos geram al m disso o maior obst culo expans o e diferencia o do sistema educacional brasileiro que consiste na falta de diretrizes m dias universalmente aceitas sobre a import ncia da educa o sistem tica para a forma o moral do homem para o equil brio social e em particular para o desenvolvimento da sociedade brasileira FERNANDES 1971b p 210 A escola est no meio de um c
521. trumento de mudan a social que tem como base a rela o entre educadores e educandos MARTINS 1998 p 35 A seguir identificando as reflex es sobre o dilema educacional brasileiro na obra de Florestan acompanhando a transi o do militante da ci ncia para o professor da pol tica ser poss vel analisar as lutas travadas por ele no campo do ensino para ocupar os vazios deixados pela interrompida revolu o burguesa Poderemos assim encontrar insumos para combater o universo mental que hoje parece estar satisfeito com os limites de uma cidadania restrita e de uma democracia como estilo padr o cultural que caso permane a hegem nico ir perpetuar as desigualdades sociais as condi es indignas de vida e a ignor ncia p blica efeitos diretos da falta de oportunidades educacionais e do incremento da apropria o privada do conhecimento produzido socialmente est diretamente subordinado lei trotskista de desenvolvimento desigual e combinado sob a qual Florestan constr i sua no o de revolu o burguesa interrompida que pressup e uma concep o de revolu o socialista para al m das fronteiras nacionais j que s a generaliza o da revolu o poderia criar um sistema de apoio e sustenta o e com isso impedir sua deforma o FERNANDES 1995a 132 Lembrando as cr ticas de Marx aos socialistas inconsistentes Florestan afirma que n o se pode extrair o capita
522. truturas conscientiza o e da atua o pol tica sociais e de dirigir o seu pr prio destino L PINE 1987 p 137 Isto porque para Florestan a investiga o do passado tem seu interesse mais profundo ligado ao futuro e aos processos que dever o realizar uma verdadeira revolu o social dentro da ordem L PINE 1987 p 137 No caso em quest o o importante foi observar o negro como pessoa sujeito de si mesmo e de uma hist ria que foi negada mas que n o obstante transcorreu como a o dos oprimidos da a import ncia da passagem da condi o de v tima passiva para a de agente do movimento negro da frustra o subjetiva para a rebeli o e a Segunda Aboli o Desse ngulo o aparecimento do regime de classes confere aos negros e mulatos novos pap is hist ricos emergentes FERNANDES apud PEREIRA 1996 p 41 Se o inconformismo negro n o teve como vencer ele n o p de desistir Para Florestan como lembra Cohn 2000 p 399 a validade de um movimento n o se mede apenas pelo xito em viabilizar os alvos perseguidos mas sobretudo pelo vigor combativo que foi capaz de oxigenar as condi es concretas de uma determinada sociedade E numa sociedade de classes o vigor de um movimento negro deve ser medido por sua capacidade de articular duas categorias Para ser ativada pelo negro e pelo mulato a nega o do mito da democracia racial no plano pr tico exige uma estrat gia de luta pol
523. tudo uma constru o discursiva na qual prevalece id ia de que h para al m da estrutura s cio econ mica uma esfera p blica na sociedade civil que um verdadeiro espa o mediador livre entre o privado e o aparato pol tico estatal O problema que esse espa o de debate p blico iluminado foi sempre redobrado pelo medo da multid o irracional passional que pode pela contamina o o que Espinosa chamou de imitatio affecti explodir em viol ncia assassina baseada nas supersti es manipuladas pelos padres e outros ide logos Ent o o espa o iluminado do debate racional foi sempre baseado em certas exclus es na exclus o daqueles que n o eram considerados racionais o suficiente as classes baixas mulheres crian as selvagens criminosos eles precisavam da press o de uma autoridade irracional para mant los no lugar ou seja para eles v lida a conhecida frase de Voltaire se Deus n o existisse seria necess rio cri lo ZIZEK 2005 p 184 342 A percep o popular da ANC Folha de S Paulo 11 abr 1988 184 estava sendo forjado pelas elites Era a hora de espremer o fur nculo FERNANDES 1989b p 246 e tentar superar as suas dificuldades hist ricas Naquela fase final do processo constituinte a necess ria t tica de garantir os avan os que ampliavam a participa o dos trabalhadores na sociedade civil e no controle externo do Estado deveria estar con
524. turas tradicionais e de cren as inculcadas pelos civilizados que excluem esse uso da contraviol ncia e deixam se cozinhar no banho frio de surdos rancores pelos quais a frustra o lan a o dio para dentro das pr prias hostes e a solidariedade n o chega a atingir o porte hist rico de uma uni o sagrada autodefensiva e ofensiva contra os de cima S o Paulo como o Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras abriga em ilhas dispersas e em reas cont guas milh es de desenraizados que se perdem no p e na polui o humana da Metr pole FERNANDES 1989b p 24 25 Metr poles que na acep o de Milton Santos 1997 diferentes das do primeiro mundo que t m trajet rias tradicionais que acompanham o percurso tempo espacial do modernismo para o p s modernismo crescem rapidamente e logo se tornam necr poles quando j n o nascem necrosadas Nessas descontinuidades que podemos ler o texto silencioso da perpetua o de antigas e a cria o de novas estruturas de domina o explora o e indiferen a nas quais os poderosos trocam por migalhas o apoio das massas vitimadas pela explos o demogr fica dessa moderniza o de superf cie Eu pr prio lembra Florestan de sua inf ncia lumpen e miser vel da terra corria pelas ruas gritando queremos Get lio atr s de outros milhares de p s descal os ou mal cal ados iguais a mim FERNANDES 1989 25 O que faz essa po
525. u se com sua entrada no Gin sio Riachuelo vizinho ao Bar Bidu na Rua L bero Badar onde trabalhava como gar om Atento aos fregueses com os quais podia aprender alguma coisa chamava sua aten o os professores que iam lanchar ap s as aulas Por sua vis vel dedica o aos livros e habitual intelig ncia aferida nas conversas cotidianas alguns desses seus clientes abordavam o jovem Florestan perguntando sobre seus estudos Sob esse est mulo acabou cultivando rela es que lhe abriram novas portas tal como a do professor Jair de Azevedo Ribeiro que concedeu ao jovem gar om a oportunidade de voltar aos estudos com um bom desconto J atrav s de Manoel Lopes de Oliveira outro fregu s que se tornou amigo um novo emprego foi arranjado como entregador de amostras de um laborat rio farmac utico Sair do bar e ter uma nova oportunidade naquela poca 1937 era algo not vel Os preconceitos contra esse tipo de gente atingia tais propor es que nem com o apoio de Clara Augusta Bresser irm de minha madrinha jamais logrei outra esp cie de emprego O c rculo de ferro fora rompido e com o novo emprego poderia manter minha m e e pagar os estudos FERNANDES 1977 p 148 A condi o de estudante e o emprego de gravata representaram mais do que a ruptura com a cultura folk e com a condi o social anterior Abriam se novos horizontes de socializa o e a crian a deslumbrada da cidade transpunha os m
526. ua es nas quais sucede o contr rio cabendo s escolas preparar o caminho para a transforma o de h bitos comportamentos e ideais de vida FERNANDES 1966 p 85 Assim refor a se a educa o ser sempre uma mudan a social provocada inserida num processo social de mudan a No caso brasileiro o dilema que se o processo solicita inova es o mesmo ambiente que demanda essas inova es n o consegue mobilizar for as para implement las Como j indicado na vis o que Florestan tem sobre o papel do ensino h uma interdepend ncia estrutural e din mica entre o homem e a educa o na qual a primeira forma o segundo e o segundo por sua vez define o valor social da primeira determinando a extens o de suas fun es no meio social preciso ter em mira esses dois p los do problema os estudiosos tendem a dar muita import ncia ao primeiro negligenciando mais ou menos o segundo No entanto a import ncia da educa o como t cnica social e as fun es que ela chega a desempenhar na forma o da personalidade dependem estreitamente do modo pelo qual os homens entendem socialmente por causa de suas concep es do mundo e das suas condi es de exist ncia as rela es que devem se estabelecer entre a educa o e a vida humana FERNANDES 1966 p 71 Nessa perspectiva concep es c ticas ou dogm ticas sobre a fun o da escola nos processos de mudan a social pouco ajudam De um lado os leigos e le
527. ue sob certos aspectos n o mais um pa s em desenvolvimento S o conhecidas as contribui es da ci ncia e da tecnologia do Brasil ao crescimento da produ o econ mica nacional nos campos de petr leo no mar e em guas profundas de soja no cerrado de lcool combust vel nos transportes de gera o de energia hidrel trica da constru o civil pesada ROSA apud OLIVEIRA 2002b p 68 5 De acordo com o Minist rio da Educa o numa pesquisa publicada em 2003 como consegii ncia da m qualidade do ensino p blico devido falta de recursos escolas mal equipadas professores mal remunerados e sem prepara o adequada 41 dos estudantes n o terminam o ensino fundamental OLIVEIRA 2005a p 189 6 FERNANDES Florestan Racismo e cordialidade Folha de S Paulo 10 jul 1995 p 1 2 81 FERNANDES Florestan O segundo turno Folha de S Paulo 05 dez 1994 p 1 2 228 voluntarismo de uma pretensa sociedade civil homog nea e cl ssica novidade das pol ticas promotoras da denominada equidade de oportunidades Os efeitos do trabalho volunt rio e do associativismo solid rio no sistema educacional merecem a aten o dos que se preocupam com o ensino p blico brasileiro os verdadeiros amigos da escola preciso investigar a fundo os pressupostos e as promessas que fundamentam o debate sobre o papel do chamado terceiro setor na atual etapa de acumula o de capital que coincide com
528. uem sabe futuramente contribuir para a forma o de uma constitui o verdadeiramente democr tica Uma ANC que se curvou prepot ncia do sistema de poder existente e por sua maioria conservadora representa n o o poder origin rio e soberano do Povo mas os particularismos das classes privilegiadas e as ambi es das Na es capitalistas hegem nicas tem muito o que aprender e o que temer diante dos ressentimentos e frustra es da massa subalterna dos cidad os FERNANDES 1989b p 243 As organiza es populares e aos partidos de esquerda cabia por consequ ncia a tarefa de evitar antigos erros e lan ar m o de todos os meios poss veis da desobedi ncia civil e se necess rio do emprego da contra viol ncia para n o permitir a configura o de mais uma concilia o conservadora expressa no novo pacto sagrado de salva o nacional que 340 O teste parlamentar Folha de S Paulo 03 abr 1988 Segundo Florestan no artigo A percep o popular da ANC Folha de S Paulo 11 abr 1988 voltamos a Hegel de uma forma perversa como se a sociedade n o tivesse hist ria e esta fosse uma express o metaf sica das constru es mentais do soci logo n o a atividade do homem que persegue seus objetivos como escreveu Engels em 1844 FERNANDES 1989 p 240 A reflex o do soci logo brasileiro assemelha se a cr tica de Slavoj Zizek l gica p s moderna do
529. ui o inacabada vias hist ricas e significado pol tico S o Paulo Esta o Liberdade 1989b p 13 15 MAIO Marcos Chor O projeto Unesco e a agenda das ci ncias sociais no Brasil dos anos 40 e 50 Revista Brasileira de Ci ncias Sociais S o Paulo ANPOCS v 14 n 41 p 141 158 1999 MANDEL Ernest O lugar do marxismo na hist ria 2 ed S o Paulo Xam 2001 MANGABEIRA Wilma Os dilemas do novo sindicalismo democracia e pol tica em Volta Redonda Rio de Janeiro ANPOCS Relume Dumar 1993 MARCUSE Herbert Algumas implica es sociais da tecnologia moderna In KELLNER Douglas Org Tecnologia Guerra e Fascismo S o Paulo UNESP 1999 p 73 104 MARTINEZ Paulo Henrique Org Florestan ou o sentido das coisas S o Paulo Boitempo Centro Universit rio Maria Ant nia USP 1998 MARTINS Filho Jos Roberto Pref cio Um homem e seu tempo In FERNANDES Florestan Florestan Fernandes a for a do argumento S o Carlos EDUFSCar 1997 p 9 15 MARTINS Helo sa de Souza Metodologia qualitativa de pesquisa Educa o e Pesquisa S o Paulo Faculdade de Educa o USP v 30 n 30 p 289 300 mai ago 2004 MARTINS Jos de Souza Florestan sociologia e consci ncia social no Brasil S o Paulo EDUSP 1998 248 MARTINS Tatiana Gomes Raizes da sociologia brasileira Florestan Fernandes e a quest o do intelectual Disserta o Mestrado em Sociologia Instituto de Filosofia e Ci n
530. uivalente de um tratado de folclore FERNANDES p 2003 p 3 Em sua resposta com o t tulo Folclore e Ci ncias Sociais publicada numa edi o posterior da mesma revista propunha uma colabora o eficiente entre os dois campos n o deixando entretanto de estabelecer os requisitos que considerava necess rios para essa articula o Os escritores brasileiros que pretendem o qualificativo altamente honroso de folclorista precisam fazer jus a ele mediante a realiza o de trabalhos que explorem com seriedade os recursos espec ficos da pesquisa folcl rica propriamente dita Doutro lado nada h a objetar contra os escritores que pretendem estudar o folclore como realidade ps quica social ou cultural Somente para que as inspira es se concretizassem seria desej vel que fizessem isso de fato atrav s dos procedimentos de investiga o da psicologia da etnologia ou da sociologia O que n o pode perdurar s o as confus es que v m transformando o folclore em disciplina h brida aberta s aventuras mais singulares dos que se sentem incapazes de qualquer atividade intelectual produtiva Sem subestimar a pessoa ou o trabalho de ningu m parece que j tempo de p r fim seja improvisa o involunt ria seja mistifica o consciente seja falta de especializa o apropriada nesse campo de estudos FERNANDES 2003 p 4 A cita o acima significativa da postura de Florestan em rela o ao de
531. um estudo sobre a educa o moral em Emile Durkheim S o Paulo EDUSP Escuta 1994 Ensaios FERNANDES Heloisa FERNANDES Jr Florestan Tudo na vida s rio mas nada definitivo Entrevista com Zilda Iokoi e Marcos Cripa Revista ADUSP S o Paulo Associa o dos Docentes da Universidade de S o Paulo n 4 p 22 27 out 1995 FERREIRA Jorge URSS mito utopia e hist ria Tempo Revista do Departamento de Hist ria da Universidade Federal Fluminense Rio de Janeiro Sette Letras n 5 p 75 103 1998 FERREIRA M rcia dos Santos O Centro Regional de Pesquisas Educacionais de S o Paulo 1956 1961 Disserta o Mestrado em Educa o Faculdade de Educa o da Universidade de S o Paulo S o Paulo 2001 FERREIRA Marco Ant nio Costa OLIVEIRA Newton de Os Guardi es de Minerva Rio de Janeiro SINEPE MRJ 1997 FERREIRA Marieta de Moraes A reforma do Jornal do Brasil In ABREU Alzira Alves LATTMAN Weltman Fernando FERREIRA Marieta de Moraes RAMOS Pl nio de Abreu A imprensa em transi o o jornalismo brasileiro nos anos 50 Rio de Janeiro Funda o Get lio Vargas 1996 p 141 155 FREDERICO Celso Florestan jornalista Folha de S Paulo S o Paulo 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 3 FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necess rios pr tica educativa Rio de Janeiro Paz e Terra 1996 FREITAG B rbara Florestan Fernandes revisitado Estudos Avan ados S o Paulo
532. um programa partid rio no momento em que sua obra estava amea ada se afasta dos partidos Ele recusava a no o de ordem lealdade hierarquia e o desprezo pela discuss o te rica comuns nas hostes partid rias de ent o Na base de sua forma o estavam o pr prio catolicismo e o pragmatismo de John Dewey 94 Em meio disputa segue a tramita o do projeto na C mara Em 29 de maio de 1958 a Comiss o de Educa o e Cultura aprova um novo substitutivo que em segunda discuss o em novembro do mesmo ano recebe tr s emendas o que o faz retornar Comiss o Em dezembro de 1958 o deputado Carlos Lacerda amigo da livre iniciativa FERREIRA e OLIVEIRA 1997 p 34 apresenta mais um substitutivo n o colocado em debate Em janeiro de 1959 o deputado apresenta um terceiro substitutivo dando uma reviravolta na dire o das discuss es fazendo com que a quest o educacional assumisse definitivamente um novo car ter ideol gico com a pol mica descentraliza o versus centraliza o sendo substitu da definitivamente pelo conflito escola p blica versus escola privada ROMANELLI 1999 De acordo com Florestan o substitutivo Lacerda era estrat gico levou t o longe o favoritismo escola privada que deveria servir for osamente como pe a de composi o FERNANDES 1966 p 425 Vale ressaltar que o documento apresentado pelo deputado estava calcado nas conclus es do 3 Congresso Naciona
533. uma primeira dimens o do que estamos chamando de militante da ci ncia Mas um dos fatos mais interessantes a se constatar no fen meno analisado segundo a autora que se os livros sobre os Tupinamb n o pegaram o autor pegou Mesmo desconhecido do p blico em geral e ignorado o seu conte do vale dizer pela comunidade acad mica especializada os estudos sobre os Tupinamb legitimou mais o autor que a pr pria obra e em termos sociol gicos dir amos que foi a performance de Florestan Fernandes que o colocou em condi es de assumir a lideran a da sociologia paulista PEIRANO 1992 p 76 Nesse sentido afirma a autora n o houve erro de c lculo j que h 88 Essa perspectiva de que os Tupinamb representavam o Brasil em 1500 fortalecida num ensaio que Florestan escreveu para tentar explicar porque os ndios so obraram diante dos brancos A resposta segundo o soci logo n o est na quest o tecnol gica j que com a tecnologia nativa e o controle dos recursos fornecidos pela terra tendo se em vista a precariedade do equipamento adaptativo dos portugueses eles poderiam ter condi es de resistir coloniza o FERNANDES 1978a p 91 92 O problema estava na falta de flexibilidade do sistema tribal que n o permitiu a uni o entre os ind genas Isso possibilitou aos portugueses us los uns contra os outros e impediu a gera o de uma evolu o independente capaz de gerar um outro
534. ureza que por volta de 1942 e 1943 trabalhava como jornalista na Folha da Manh Sacchetta ent o secret rio geral do jornal paulista sentia grande simpatia pelos alunos da Faculdade de Filosofia e se mostrou muito sol cito ao saber que o jovem que acabara de conhecer era estudante de ci ncias sociais Depois de algumas conversas r pidas a rela o se fortaleceu com os cafezinhos fora do jornal discuss es mais alongadas e uma amizade que durou at o fim da vida Em julho de 1943 ap s saber que Florestan havia sido convidado para escrever num ve culo concorrente Sacchetta estrilou Pomb s n s nos encontramos quase todos os dias e voc vai dar a sua colabora o ao Estad o Lembrei lhe que ele nunca me convidara para escrever na Folha que nossas conversa es eram intelectuais e pol ticas e n o me movia o interesse de redigir artigos para v rios jornais Mas que estava s suas ordens Ele fez o convite formalmente muito s rio O primeiro artigo saiu em 19 08 1943 sob o t tulo Mais Am rica Isso estreitou mais os contatos e a amizade FERNANDES 1992a p 75 At ent o agindo ao sabor das oportunidades contra a ditadura de Get lio Vargas especialmente em encontros e manifesta es com estudantes da Faculdade de Direito Florestan n o resistiu a atra o magn tica de Sacchetta que lhe abriu uma outra via de combate mais secreta e com prop sitos revolucion rios FERNANDES
535. urgu s e por outro lado os interesses de classe diferenciados as possibilidades e os limites de racionalidade da atividade cient fica 45 No entanto sobre essa quest o fazem se necess rias algumas considera es particularmente sobre a especificidade da ci ncia social de S o Paulo um dos temas candentes na literatura mais recente sobre a forma o das ci ncias no pa s Numa distin o com o Rio de Janeiro a produ o sociol gica paulista sob uma l pida acelera o de sua estrutura social teria criado condi es para o desenvolvimento de um mercado cultural aut nomo terreno prop cio para a forma o de uma ci ncia social propriamente acad mica dist ncia de querelas pol ticas ROM O 2003 p 1 Nessa perspectiva em contraposi o a experi ncia intelectual carioca estaria atravessada pela inger ncia do poder pol tico desde sempre devido ao cerco influente de lideran as e c rculos governamentais O resultado que no contraste a pol tica estava para o Rio como a economia para S o Paulo sendo o primeiro o lugar mal por excel ncia do ambiente acad mico e o segundo o seu lugar ideal Enquanto na capital federal vai se construindo uma hierarquia de objetos e problem ticas em fun o de sua relev ncia para o debate pol tico mais amplo o que equivale a dar prioridade aos conte dos em detrimento dos procedimentos cient ficos em S o Paulo logo prevaleceu uma hierarquia propriame
536. uros da fortaleza da degrada o iniciando um ciclo de esperan as que lhe parecia mais do que uma ilus o irremedi vel Uma sociedade de classes em forma o n o t o aberta quanto muitos pensam e tampouco aberta em todas as dire es O ch o da superf cie 28 exigia uma viagem muito dif cil e poucos chegavam at ele naquela poca Era normal portanto que eu sentisse uma grande alegria de viver e uma esperan a sem limites como se o mundo me pertencesse e a partir da tudo dependesse de mim O orgulho selvagem de agress o autodefensiva transformava se numa for a psicol gica estuante que me punha em intera o com o mundo dos homens a sociedade e n o fora dele FERNANDES 1977 p 150 151 Na Novater pica empresa do ramo de rem dios esse orgulho selvagem teve que se confrontar com as rela es travadas no eixo da vida pequeno burguesa que estava a conhecer e do qual fazia parte a maioria de seus novos amigos Um novo mundo de fam lias organizadas boa parte imigrantes que destinavam suas estruturas institucionais aos seus membros proporcionando educa o felicidade seguran a prazeres e condi es para o xito individual Um dos efeitos foi a amplia o de sua leitura que chegou inclusive ao debate sobre o socialismo e a sociedade brasileira atrav s do contato com M rio Pianna cunhado de um de seus amigos Rec m chegado da It lia ele via com olhos muito cr ticos
537. us s cios estrangeiros o pr ximo passo seria a escolha de um candidato palat vel na desejada elei o ritual substituta do col gio eleitoral militar dissimuladamente controlada pelos grandes eleitores da Nova Rep blica Aproximamo nos rapidamente pois do momento decisivo A ruptura que n o se consumou em 1984 poder ou n o ocorrer agora A no o de for as vivas da sociedade suscita ambig idades e interroga es No entanto elas t m de sair da modorra em que estagnaram depois da elei o de Tancredo Neves e do seu vice o senhor Presidente Da extrema esquerda ao centro mais moderado imp e se uma uni o nacional em defesa da democracia da democratiza o da sociedade civil e do Estado da escolha e da elei o de candidatos org nicos da burguesia e do proletariado presid ncia Isso n o para sufocar diferen as ideol gicas ut picas e pol ticas que ter o de conviver e de colidirem entre si Mas dar cabo da Nova Rep blica o perverso rebento da ditadura e enterr la para sempre N o ser o fim das classes da luta de classes ou o in cio de um Estado participativo e de poder popular Entretanto marcar o come o de uma nova era na qual se extinguir a tradi o autocr tica colada a um falso republicanismo e a um pseudofederalismo que infestam a vida pol tica e infelicitam a imensa maioria da popula o pobre e trabalhadora FERNANDES 1989b p 328 Como os
538. utras interessantes an lises sobre a antropologia de Florestan encontram se em Cardoso de Oliveira 1996 e Laraia 1996 O primeiro destaca os elogios de Alfred Metraux do qual lembra ter ouvido que gostaria de ter escrito os Tupinamb Robert Murphy do qual leu artigo em que afirmara que Florestan havia recriado o m todo funcionalista por mostrar sua efic cia no trado de dados bibliogr ficos e Talcott Parsons que numa conversa demonstrara grande conhecimento sobre a obra do soci logo brasileiro destacando especialmente o seu dom nio da teoria sociol gica ao cientista brasileiro J o segundo percorre os passos da antropologia florestaniana de 1949 a 1964 Enfim Florestan Fernandes se definia e definido como soci logo mas deixou uma obra antropol gica que o situa entre os maiores que este pa s produziu Como antrop logo me orgulho de ter sido seu aluno LARAIA 1996 O n vel de esquecimento da antropologia florestaniana pode ser medido na pesquisa feita por Simon Schwartzman 2000 sobre os principais cientistas sociais brasileiros do s culo XX na qual Florestan foi citado pelo m rito por 20 dos soci logos 23 1 dos cientistas pol ticos e 14 3 dos economistas Na antropologia nenhuma refer ncia Pela influ ncia ele teve 20 dos votos dos soci logos 7 7 dos cientistas pol ticos e 14 3 dos economistas Novamente nada no campo antropol gico 63 denominou Baldus ou mesmo de etnolog
539. v 1985 Que tipo de Rep blica p 131 134 O pacto social dos oprimidos Folha de S Paulo S o Paulo 11 mar 1985 Que tipo de Rep blica p 127 130 Tancredo n o ou Sim Porandubas S o Paulo 12 mar 1985 Que tipo de Rep blica p 123 126 Jornal de estudantes da PUC SP O Brasil na encruzilhada Folha de S Paulo S o Paulo 21 mar 1985 Que tipo de Rep blica p 119 122 A luta popular pela Constitui o Folha de S Paulo S o Paulo 28 mar 1985 Que tipo de Rep blica p 115 118 Em defesa da Nicar gua Folha de S Paulo S o Paulo 09 abr 1985 Democracia e desenvolvimento p 78 80 O continu smo mudancista Folha de S Paulo S o Paulo 23 abr 1985 Que tipo de Rep blica p 111 114 Evid ncias negativas Folha de S Paulo S o Paulo 06 mai 1985 Que tipo de Rep blica p 107 110 Al m da mistifica o Folha de S Paulo S o Paulo 20 mai 1985 Que tipo de Rep blica p 103 106 Limites da contesta o ditadura Jornal do DCE UFRGsS Porto Alegre jun 1985 Democracia e desenvolvimento p 121 125 O chute Folha de S Paulo S o Paulo 03 jun 1985 Que tipo de Rep blica p 99 102 Inquieta es burguesas Folha de S Paulo S o Paulo 24 jun 1985 Que tipo de Rep blica p 83 86 Golpes dentro dos golpes Folha de S Paulo S o Paulo 11 ago 1985 Que tipo de Rep blica p
540. vel de estruturas que s o transferidas pelo capital do n cleo central para a periferia Portanto o desenvolvimento capitalista promove a transforma o do capitalismo FERNANDES 1995a p 70 Tradicionalmente a domina o burguesa nessas condi es converte a si mesma numa for a social totalit ria e o Estado nacional em instrumento pol tico institucionalizado dessa for a possibilitando a emerg ncia de um tipo espec fico de domina o burguesa que n o faz a hist ria atrav s da revolu o nacional e de sua acelera o Mas ao contr rio pelo caminho inverso de sua conten o e esvaziamento FERNANDES 1995a 126 Burguesia nacional e burguesia estrangeira est o associadas nessa forma de revolu o burguesa que n o responde a nenhuma necessidade hist rica coletiva pois s responde s necessidades b sicas da domina o estrangeira e do crescimento do capital nacional Essa modalidade de revolu o burguesa extremamente nociva e precisa ser combatida com a mesma energia com que se combate a domina o externa ambas s o a mesma coisa FERNANDES 1995a p 70 Para a revers o da condi o de depend ncia para a constitui o de um pa s dono do seu destino hist rico com capacidade de alterar sua posi o relativa diante de outras na es deve haver uma altera o profunda da ordem social vigente pela destitui o dos estamentos e dos grupos sociais privilegiados o primeiro requisito est
541. volvimento se encontra um formid vel fortalecimento da rea o e a germina o de uma contra revolu o prolongada com o seu estilo espec fico de tirania burguesa 221 Segundo Florestan no artigo Brasil e Estados Unidos novas perspectivas Folha de S Paulo 01 dez 1984 Tancredo era um pol tico de carreira esmeradamente preparado para ser um intelectual org nico da ordem FERNANDES 1994 p 87 J num jornal dos alunos da PUC SP Tancredo n o ou Sim Porandubas 12 mar 1985 o publicista afirmar que tal candidato n o era o representante pol tico nem o ponto mais alto de uma concilia o de classes na qual o mpeto revolucion rio das massas tivesse uma acolhida efetiva Representa de fato uma bem sucedida manobra para sair por dentro do movimento e p r lhe um brid o conservador FERNANDES 1986a p 123 138 com base em an lises paralelas com o ocorrido na Espanha na Su cia na Alemanha e no Jap o estavam cometendo um grande equ voco Seja porque os pactos sociais sob o capitalismo imperialista da era atual possuem m o nica favorecendo desigualmente o capital e o poder Seja porque no Brasil as condi es imperantes s o de extrema crueldade e de superexplora o da mais valia dos assalariados exige o subdesenvolvimento relativo e o esmagamento global do p lo do trabalho Sob a ditadura ou sob a democracia esta realidade n o se altera o que transforma em miragem
542. xemplo deram lugar a Pol ticas P blicas Movimentos Instituintes e Educa o e Diversidade Desigualdades Sociais e Educa o Mantive no entanto as refer ncias por acreditar que as quest es tratadas n o divergem em profundidade das abordagens dispostas sob as novas denomina es assim como continuam a servir de relevantes par metros minha investiga o 15 que o pensamento educacional aqui produzido mant m desde seu in cio com o desenvolvimento das ci ncias sociais no pa s Aprovado no exame M os obra Antes por m gostaria de afirmar que mesmo que ao fim desse ciclo n o venha obter o sucesso circunstancial esperado estou convicto de que o investimento pelo menos no que se refere demanda pessoal valeu pena Isto porque o prop sito inicial que me levou a optar pela vida acad mica o objetivo de me qualificar como jornalista e cidad o est plenamente satisfeito o que n o significa que o processo tenha se esgotado Atrav s do contato com a obra de Florestan Fernandes descobri que o jornalismo a partir de uma extensa e profunda familiaridade com as t cnicas de observa o e de interpreta o das ci ncias sociais pode se aproximar delas como uma das fontes hist ricas mais vigorosas para a compreens o interven o e qui supera o das inigiiidades sociais Para isso salienta Florestan ao comunicador p blico cabe enfrentar o seguinte desafio O jornalista l
543. y science no Brasil 1920 1979 Bragan a Paulista EDUSF 2002 DREIFFUS Ren 4 poca das perplexidades mundializa o globaliza o e planetariza o novos desafios Petr polis Vozes 1996 DURKHEIM mile As regras do m todo sociol gico S o Paulo Abril Cultural p 373 463 1973 Os Pensadores v 33 241 Representa es individuais e representa es coletivas In Durkheim mile Sociologia e Filosofia Rio de Janeiro Forense 1970 p 13 42 FAUSTO Carlos Os ndios antes do Brasil 3 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 2005 F VERO Osmar Org Democracia e educa o em Florestan Fernandes Campinas S o Paulo Autores Associados Niter i EdUFF 2005 FERNANDES Florestan Folclore e mudan a social na cidade de S o Paulo 3 ed S o Paulo Martins Fontes 2004a Raizes Discursos selecionados In CERQUEIRA Laurez Perfil parlamentar Florestan Fernandes Bras lia C mara dos Deputados Coordena o de Publica es 2004b S rie perfis parlamentares n 49 p 205 489 O folclore em quest o 2 ed S o Paulo Martins Fontes 2003 Raizes Florestan Fernandes a for a do argumento S o Carlos EDUFSCar 1998 Organizado por Jo o Roberto Martins Filho Em busca do socialismo ltimos escritos amp outros textos S o Paulo Xam 1995a contesta o necess ria retratos intelectuais de inconformistas e revolucion rios S o Paulo tica
544. za o maci a ap s um processo prolongado e profundo de moderniza o conservadora sob o pressuposto do caminhar partilhado entre as burguesias nativas e a comunidade internacional de neg cios Numa dial tica pr pria o car ter intr nseco do imperialismo hodierno demanda que os conservadores nativos utilizassem meios autocr ticos para criar as condi es da moderniza o dirigida dist ncia O Brasil segundo Florestan precisava fugir dessa forma de partilha do mundo atrav s da revitaliza o da 3836 Retalia es e press es Jornal de Bras lia 08 out 1988 203 cultura pol tica e das fun es do Estado o que dependia da desestigmatiza o da luta de classes dos oprimidos e consequentemente do socialismo revolucion rio Naquele momento quando a maior parte do Parlamento se omitia na defesa da Constitui o a resist ncia contra a sabotagem governamental e das classes dominantes teria de vir da sociedade civil especialmente das entidades org nicas que lutaram contra a ditadura e em prol dos mais pobres atrav s de uma a o pedag gica coletiva ajudando aos cidad os comuns a refletir sobre a melhor op o o status quo ou as transforma es inclu das no texto constitucional Ser poss vel introduzir as altera es endossadas pela Constitui o sem aumentar e acelerar a luta de classes de baixo para cima sem conferir maior amplitude s atividades decidid
545. zada sempre desempenhar dentro dele algumas esp cies de influ ncia inovadora correspondendo assim s transforma es das situa es de exist ncia selecionadas positivamente pela organiza o da sociedade Doutro lado qualquer que seja o grau de instabilidade do sistema social para haver continuidade das formas sociais de exist ncia as escolas ter o de preencher regularmente um m nimo de fun es sociais construtivas na perpetua o de extensas parcelas da heran a social e desempenhar por conseguinte certas influ ncias est ticas vitais FERNANDES 1966 p 85 As mudan as sociais no sistema educacional seja para criar um m nimo de esp rito cr tico generalizado o que podemos chamar de conscientiza o ou para o seu bloqueio precisam ser provocadas 164 Florestan segue aqui ainda que falando de reforma educacional nos marcos do capitalismo a indica o do pedagogo ucraniano Anton Makarenko sobre o princ pio b sico de uma educa o p s revolucion ria A pedagogia socialista deve centrar sua aten o na educa o do coletivo e a sim estar educando o novo car ter coletivista de cada crian a em particular MAKARENKO apud LUEDEMANN 2002 p 3 Makarenko foi respons vel pelas experi ncias educacionais autogestion rias desenvolvidas na Col nia Gorki e na Comuna Dzerjinski nos anos 20 e 30 na Ucr nia experi ncias essas que foram a ant tese do modelo da maquinaria escolar

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