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1. 048 2 Rela o das enfermeiras febianas que requereram convoca o para o Servi o Militar Ativo do RCE saga ga E seassa iresi i ia E Raita Eei 212 ABREVIATURAS ICBMM Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Militar IICBMM Segundo Congresso Brasileiro de Medicina Militar ICNEF Primeiro Congresso Nacional de Enfermeiras da FEB ABEn Associa o Brasileira de Enfermagem BE Boletim do Ex rcito BI Boletim Interno CBEn Congresso Brasileiro de Enfermagem CEERE Curso de Emerg ncia de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito CMBH Col gio Militar de Belo Horizonte COEGUE Clube de Oficiais Enfermeiras de Guerra CVB Cruz Vermelha Brasileira DASP Departamento Administrativo do Servi o P blico DF Distrito Federal DGE Diretoria Geral do Ensino DIE Divis o de Infantaria Expedicion ria DO Di rio Oficial EB Ex rcito Brasileiro EAN Escola Anna Neryl EEAN Escola de Enfermagem Anna Neryl EMFA Estado Maior das For as Armadas FAB For a A rea Brasileira FEB For a Expedicion ria Brasileira HCE Hospital Central do Ex rcito HESFA Hospital Escola S o Francisco de Assis JK Juscelino Kubitschek MB Marinha do Brasil NUPHEBRAS N cleo de Pesquisa de Hist ria da Enfermagem Brasileira PCB Partido Comunista Brasileiro PDC Pal cio Duque de Caxias PL Projeto de Lei PTB Partido Trabalhista Brasileiro
2. Quando poderei rever a minha m e o meu querido pai e irm os Estou em Casablanca t o longe Voltarei Somos ousadas acho eu Como mudou a minha vida Como tenho desenvolvido atividades que eu nunca julgara capaz Que for a Estou sentada espera da ordem de embarque Enquanto isso escrevo Escrevo para guardar quentinhas as minhas emo es Ou o vozes em todos os tons e l nguas de v rias esp cies Sinto me sozinha e enlevada com tudo isto que se passa em meu redor Procuro captar o que posso Que cansa o A turma inteira numa revoada seguiu em dire o ao avi o que pronto nos esperava Chegamos a Argel Estamos nos aproximando cada vez mais dos inimigos Sinto a mesma coragem ou talvez ainda maior para levar avante a miss o a que me dispus realizar TEIXEIRA 2006 p 19 22 Sem d vida o desconhecimento real de ambientes onde h guerra ativa gera um turbilh o de nsias e preocupa es nas pessoas que optam pelo exerc cio da enfermagem militar Tais sensos as levam a se sentirem sem o adequado preparo para atuarem efetivamente nesses cen rios ALCANTARA 2005 instigante imaginar o quanto aquelas mulheres se questionaram em seus magos sobre suas compet ncias e aptid es para estarem ali e o que fizeram para amenizar tais dificuldades N o toa que recorreram mesmo ao Express o utilizada por Leila Milman Alcantara em sua tese de doutorado intitulada A e
3. Ela muito afamada Vive em jornal solenidades desfiles essas coisas Enfermeira Carlota Mello A imagem fotogr fica adaptada que ilustrou a capa deste peri dico onde se v um grupo de enfermeiras febianas no Teatro de Opera es aprisionou simbolicamente a simula o de uma vontade de existir de se fazer ver de se dar a conhecer Ali s essa fotografia enquanto mecanismo de mem ria visual carrega consigo a magia da re cria o de um isso foi BARTHES 1984 p 115 quele que a observa uma incita o quele momento eternizado de guerra de glamour A foto suscita e ressuscita sentimentos uma qualidade inexor vel sua Em tese n o se pode esquecer que a mem ria tamb m um lugar de disputa Ali s a refer ncia orwelliana imbrica se com as formas de controle de manipula o e de deforma o da mesma Assim como a hist ria a mem ria lugar e objeto de luta nas rela es de poder em confronto na realidade social PADR S 2002 Nessa vertente a forma como elas lidaram com o n o dito o esquecido e o silenciado sobre sua trajet ria induz a reconhec las como um grupo que tentou resistir exclus o hist rica Ademais o poder que adveio do exerc cio de seu habitus reJatualizado no p s guerra promoveu um movimento dicot mico da mem ria e do esquecimento e essa 234 O formato original da fotografia que ilustrou a capa do peri dico em quest o pode ser encontrado no livro A mulh
4. Fundo VP Virg nia Portocarrero 2 4 8 Centro de Documenta o da Escola de Enfermagem Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro MEDEIROS Elza Cansan o Elza Cansan o Medeiros entrevista 10 out 2006 Entrevistador Alexandre Barbosa de Oliveira Rio de Janeiro 2006 Entrevista concedida ao projeto Signos do esquecimento os efeitos simb licos da participa o das enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira na Segunda Guerra Mundial 1943 1945 Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero entrevista 31 ago 2006 Entrevistador Alexandre Barbosa de Oliveira Rio de Janeiro 2006 Entrevista concedida ao projeto Signos do esquecimento os efeitos simb licos da participa o das enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira na Segunda Guerra Mundial 1943 1945 Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero entrevista 26 set 2006 Entrevistador Alexandre Barbosa de Oliveira Rio de Janeiro 2006 Entrevista concedida ao projeto Signos do esquecimento os efeitos simb licos da participa o das enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira na Segunda Guerra Mundial 1943 1945 2 4 9 Centro de Mem ria Nalva Pereira Caldas Faculdade de Enfermagem UERJ Rio de Janeiro CAMPOS Lenalda Lima Lenalda Lima Campos entrevista 13 dez 2001 Entrevistadora Margarida Maria Rocha Bernardes Rio de Janeiro 2001 Entrevista concedida ao projeto O grupamento feminino de enfermagem do Ex rcito
5. Em julho de 1945 antes mesmo do fim da contenda enquanto os soldados brasileiros aguardavam seu regresso ao Brasil o governo percebendo que a nova vis o de mundo dos expedicion rios poderia ser incompat vel com seu regime ditatorial resolveu desmobiliz los apesar da vontade expressa dos aliados americanos de tentar influenciar a decis o de tornar a Sobre a hist ria da atua o das enfermeiras febianas nos hospitais de campanha destacam se as seguintes publica es E foi assim que a cobra fumou de Elza Cansan o A mulher brasileira na Segunda Guerra Mundial de Ol mpia de Ara jo Camerino e os relatos de febianas nos tomos 5 6 e 7 da cole o Hist ria Oral do Ex rcito na Segunda Guerra Mundial 2001 111 FEB uma unidade modelo para instru o reorganiza o e moderniza o do Ex rcito Brasileiro Tal determina o pode ser entendida como resultante de uma preocupa o com as prov veis consequ ncias do retorno da vitoriosa e prestigiada FEB ao Brasil uma vez que os expedicion rios poderiam utilizar se de sua for a material e simb lica sobre a estrutura pol tica do pais devido autoridade e distin o que reuniram no decorrer das lutas que travaram e pelas eventuais repercuss es pol ticas que trariam NEVES 1992 Outrossim com o t rmino da guerra a FEB ao inv s de constituir se motivo de orgulho para o Ex rcito e meio de moderniza o da organiza o e instru o militar brasileir
6. Hilda Ribeiro Ign cia de Mello Braga Ilza Meira Alkmin AP NDICE A BRASILEIRA 297 8 Listagem realizada a partir do lbum Biogr fico das Febianas 1976 organizado pela enfermeira Altamira Pereira Valadares 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 Isabel Novaes Feitosa Jacy Chaves Jacyra de Souza G es Jandyra Bessa de Meirelles Jandyra Faria de Almeida Joana Sim es de Ara jo Juracy Fran a Xavier Jurgleide Doris de Castro Lenalda Lima Campos L lia Pereira da Silva Lind urea Galv o L cia Os rio Lygia Fonseca Maria Apparecida Fran a Maria Bel m Landi Maria Celeste Fernandes Maria Concei o Suarez Maria do Carmo Correia e Castro Maria de Lourdes Merc s Maria Hilda de Mello Maria Jos Aguiar Maria Jos Vassimon de Freitas Maria Luiza Vilela Henry Mathilde Alencar Guimar es Nair Paulo de Melo Neuza de Mello Gon alves Nicia de Moraes Sampaio Nilza C ndida da Rocha Novembrina Augusta Cavallero Olga Mendes Ol mpia de Ara jo Camerino Ondina Miranda de Souza Roselys Bel m Teixeira Sara de Castro 298 61 Semiramis de Queiros Montenegro 62 Silvia de Souza Barros 63 Sylvia Pereira Marques 64 Virg nia Leite 65 Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero 66 Wanda Sofia Magewsky 67 Zilda Nogueira Rodrigues 299
7. Ol mpia refere que s uma parte das aspira es foi concretizada porque o lugar das febianas na Reserva de 2 Classe n o lhes conferiu a possibilidade de retornarem ao Servi o Militar Ativo pois n o foram elas inclusas na Reserva de 1 Classe Por m esta conquista fez abrir algumas brechas para se defender uma poss vel inclus o delas no Servi o Ativo do Ex rcito Vejamos Uma vez nomeadas oficialmente como segundo tenente da Reserva de 2 Classe do Ex rcito Brasileiro as febianas passaram a ter o direito de possuir uma carta patente que uma esp cie de diploma confirmat rio do posto de oficial militar 121 Em seu auto resumo biogr fico a enfermeira Altamira Pereira Valadares relata que foi reformada no posto de 1 tenente desde 02 06 1949 conforme DO de 07 06 1949 p 8 396 VALADARES 1976 p 23 122 Em virtude de ter sido evacuada para o Brasil e ter sido internada no HCE foi a primeira enfermeira a ser condecorada com a Medalha de Campanha em cerim nia que contou com a presen a do presidente Get lio Vargas em maio de 1945 Ap s dois anos foi reformada no posto de 1 tenente em consequ ncia de acidente de servi o o que abriu precedentes para as demais Foi a primeira enfermeira da FEB a falecer VALADARES 1976 p 87 CANSAN O 2003 p 88 123 Por suas prec rias condi es f sicas foi reformada pelo Decreto de 14 11 1946 p 15 513 E depois de estar a mais de um ano internada no HCE e te
8. feminina como era no meio civil mas n o no militar a enfermagem 233 A esse respeito ajust vel a id ia de Raymond Caire 2002 p 172 de que a for a da tradi o favorece a tomada de poder pelos homens e que tal falocracia mantida por tr s fatores hist ricos o exerc cio das responsabilidades familiares por parte das mulheres a aus ncia de uma forma o de base com orienta o t cnica e a falta de forma o profissional cont nua em cursos de carreira e que a isso adiciona se certa retic ncia das mulheres em exercer cargos de responsabilidade Ainda no plano das rela es no que diz respeito s das febianas com exercentes civis de enfermagem est o seguinte recorte No in cio o nosso trabalho foi mais social depois que passamos a atuar como as enfermeiras civis N s passamos a trabalhar nas cl nicas onde atend amos nos servi os de raios X metabolismo basal coleta de sangue Todos os trabalhos que as enfermeiras civis faziam n s faz amos com prefer ncia a n s no lugar delas E elas reagiam direitinho e com delicadeza Tinha enfermeira profissional e n o profissional As civis profissionais ficavam geralmente no HCE mas n o havia muitas O Ex rcito n o cogitou desse neg cio de enfermeira profissional O Ex rcito nomeava e a pessoa passava a ser enfermeira Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero No mbito da For a a presen a de enferm
9. o de Kieninger no processo de preparo de enfermeiras anan ri para a guerra 6t A Marinha do Brasil n o convocou mulheres para os seus quadros durante a Segunda Guerra Mundial Criado em 18 12 1943 o 1 Grupo de Ca a foi comandado pelo major aviador Nero Moura durante a Segunda Guerra Mundial 98 ses Figura n 07 Clara Louise Kieninger com as enfermeiras e m dicos do 1 Grupo de Ca a da For a A rea Brasileira 1944 Acervo da FEB Pal cio Duque de Caxias Rio de Janeiro No espa o fotogr fico da esquerda para a direita est o uma mulher uniformizada n o identificada enfermeira norte americana seguida das enfermeiras Ocimara Ribeiro Regina Cerdeira Bordallo e Izaura Barbosa Lima que foi a chefe do grupo de enfermeiras brasileiras Na sequ ncia est Lutero Vargas m dico filho do presidente Vargas ao lado de Clara Louise Kieninger e de mais uma mulher n o identificada enfermeira norte americana e de um homem m dico Depois est o Judith Ar as Antonina Holanda Martins e Maria Diva Campos seguidas de mais dois m dicos Pelas informa es colhidas o cen rio desta fotografia possivelmente o de uma institui o militar norte americana Ali s o fato do treinamento dessas seis enfermeiras ter sido realizado nos Estados Unidos n o somente a instru o militar propriamente dita como tamb m a t cnica veio a lhes facilitar o seu desempenho durante a campanha pois l chegaram j
10. o de mulheres nos espa os castrenses E ainda elas tamb m tiveram algum desconforto com as enfermeiras profissionais da poca que n o reconheceram a conquista que as febianas n o portadoras de diploma a maioria conseguiram materializar pois consideravam a sua exist ncia algo dissonante dos des gnios aspirados pelas lideran as da enfermagem poca Apesar de uma ou outra dificuldade a refer ncia pr via positiva que o grupamento de enfermeiras da FEB conseguiu consagrar com sua atua o nos hospitais de campanha na It lia seria o leitmotiv com que essas enfermeiras improvisadas se resolveriam bem dentro dos muros dos quart is no p s guerra Inclusive elas chegaram a dar algumas provas de sua capacidade e esfor o em driblarem suas dificuldades t cnicas pois n o foram poucos os elogios de seus chefes nas unidades aonde foram classificadas Em outras palavras o habitus incorporado durante a atua o das enfermeiras febianas nos hospitais de campanha acabou por ratificar e ajudou a manter quase que inalterada a 268 cren a no carisma especial do grupo favorecendo o ajuste das que foram convocadas para o Servi o Ativo s novas condi es de sua imagem no campo militar Com o passar dos anos as que foram convocadas para o Servi o Ativo passaram para a reserva remunerada retomando para o Ex rcito a exclusividade masculina de seus quadros de efetivo pelo menos enquanto duraram os anos de Ditadura Militar no
11. 32 090 de 14 de janeiro de 1953 Aprova o Regulamento do Servi o de Sa de do Ex rcito 277 Minist rio da Guerra 1 Divis o de Infantaria Expedicion ria Boletim Interno n 45 de 14 de fevereiro de 1945 Publica elogio do comandante da FEB Mascarenhas de Moraes s enfermeiras da FEB Minist rio da Guerra Revista Na o Armada n 51 p 163 4 166 8 fev 1944 Minist rio da Guerra Revista Na o Armada n 53 p 120 1 abr 1944 Minist rio da Guerra As enfermeiras cumpriram o seu dever Revista Na o Armada n 68 p 121 jul 1945 Minist rio da Marinha Lei n 6 807 de 7 de julho de 1980 Disp e sobre a cria o do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha Minist rio da Sa de Funda o Servi o de Sa de P blica Enfermagem legisla o e assuntos correlatos 3 Ed v 1 Rio de Janeiro 1974 Minist rio do Ex rcito Lei n 7 831 de 2 de outubro de 1989 Disp e sobre a admiss o de enfermeiras nos quadros do Ex rcito Minist rio do Trabalho Decreto Lei n 5 452 de 1 de maio de 1943 Aprova a Consolida o das Leis do Trabalho Senado Federal Subsecretaria de Informa es Decreto n 21 076 de 24 fevereiro de 1932 Decreta o C digo Eleitoral MELLO Jos Luiz Ribeiro org A legisla o do ex combatente 3 ed Rio de Janeiro Expedicion rio 1978 2 4 Outros documentos escritos em arquivos p blicos institucionais 2 4 1 Academia Brasileira de Medici
12. 55 Para a an lise adequada dos documentos escritos foi utilizado um instrumento que fez constar os seguintes itens local de acesso natureza do documento original c pia tipo de assunto data proced ncia autoria posi o social e funcional de quem o assinou prop sito de sua produ o legitimidade rela o do conte do do documento com o objeto de estudo rela o do documento com outras fontes entre outros aspectos Fiz uso de outros instrumentos tamb m como 1 caderno de campo para as entrevistas onde tomava nota dos limites sil ncios id ias repentinas intercorr ncias e impress es sobre as entrevistas e sobre as entrevistadas 2 roteiros de entrevista constru dos a partir da categoriza o dos dados 3 gravador digital mp3 e anal gico 4 ilustra es para apoio nas entrevistas evoca o da mem ria 5 m quina fotogr fica digital para c pia de documentos e 6 internet para encontrar familiares de febianas contatar pesquisadores e localizar fontes e refer ncias bibliogr ficas atualizadas Conforme foram sendo reunidas as fontes de pesquisa procedi o seu registro classifica o e organiza o a fim de facilitar o processo de an lise GIL 1994 p 166 Assim a an lise dos dados ocorreu de forma quase simult nea coleta enquanto era revisada a literatura escrito o relat rio e identificados os conceitos e categorias afins quilo que era encontrado num processo de retroalimenta
13. Voc tem a sua posi o o seu trabalho Voc tem o seu pai e n o vai estar por a pedindo a deputado porque eu n o gosto desse neg cio Ent o eu n o pedi Eu sabia pelas colegas participava ao meu pai e ele dizia para que elas resolvessem Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero De um modo ou de outro as id ias do pai de Virg nia tangenciam o que descreveu Perrot 2005 p 375 de que o campo da pol tica sobretudo uma reserva de ca a masculina onde n o se conv m a uma mulher se meter Ali s a fam lia tende a funcionar como um espa o em que se constituem as compet ncias julgadas necess rias em determinado momento ou seja como um mercado que por suas san es positivas ou negativas controla o desempenho fortalecendo o que aceit vel desincentivando o que n o o votando ao desfalecimento gradual as disposi es desprovidas de valor BOURDIEU 2007a H que se considerar ainda que a atitude e a opini o do pai desta enfermeira oficial de alta patente do Ex rcito estavam aparentemente consoantes com o habitus militar por ele incorporado Assim a posi o do pai general p de ter emergido da exterioriza o de disposi es morais que regulam a conduta cotidiana por meio do ethos militar inclusive na 135 Em seu artigo 15 o Decreto Lei n 8 159 estabeleceu o prazo de 60 dias ap s a sua promulga o em 3 de novembro de 1945 para que fossem encaminhados os re
14. conforme registrado no livro de Ol mpia de Ara jo Camerino 1983 p 121 o n mero de enfermeiras que requereram convoca o foi de 46 Entretanto no processo de feitura desta pesquisa n o foi poss vel a identifica o das outras duas enfermeiras em documentos oficiais 200 noutras institui es al m da op o de algumas pela reclus o dom stica matrimonial familiar como se depreende desta fala Algumas tinham empregos muito melhores Tribunal de Justi a Tribunal do Trabalho Banco do Brasil e por a Elas j eram funcion rias antes de ir para a guerra Ent o voltaram a seus trabalhos de origem quando a guerra terminou Elas ganhavam muito mais Por isso que n o se interessaram em voltar para o Ex rcito A Carmem Bebiano era milion ria J a Neuza de Mello Gon alves e a Ign cia de Mello Braga se casaram Enfermeira Elza Cansan o Medeiros A situa o fora do comum de se aproveitar mulheres nas fileiras do Ex rcito chegou a ser noticiada pela imprensa sobre o qu duas das entrevistadas fizeram a seguinte men o Quando as enfermeiras voltaram ao Servi o Ativo a imprensa deu uma ou outra noticiazinha mas com pouco destaque Comigo de vez em quando sa a qualquer coisa Eu e a Virg nia quem mais sa a em foto e not cia de jornal Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Eu sei que eu era procurada A Ol mpia a Bertha e a Elza tamb m Quanto a
15. esp cie de deriva o do patrimonialismo era pr tica aceita e bastante comum entre os ex combatentes E nada melhor do que pertencer a esse esquema paternalista distribuidor de empregos e favores diretamente ou atrav s de seus mediadores autorizados Estes podiam ser os pol ticos afinados com o governo de ocasi o ou a associa o que deveria ter boas rela es com as autoridades para mediar a concess o de benesses Assim sua rela o com o poder p blico era a de estadania e n o cidadania CARVALHO 2001 p 110 5 124 5 221 3 Sem d vida o objetivo de milhares de ex combatentes era pertencer ao Estado dele depender e nele se acomodar Sobre isso um presidente de associa o de ex combatentes com invulgar sinceridade chegou a declarar sejamos realistas a maioria dos pracinhas queria mesmo era um emprego p blico est vel bem remunerado queria mesmo era a troca de favores se arrumar toma l d c FERRAZ 2003 p 234 Em proveito do privil gio conquistado pelas febianas houve uma movimenta o no plano pol tico para se incorporar outras enfermeiras que teriam sido comandadas para a FEB 198 mas que n o chegaram a embarcar para o Teatro de Opera es Europeu Comprova o disto a apresenta o de um projeto de lei pelo deputado Benjamin Farah do Partido Social Progressista Distrito Federal C mara dos Deputados em julho de 1957 um m s ap s a promulga o da lei que reincluiu as f
16. que pouco tinha posse n o permitiu neste momento e n o permitiria mais tarde o efetivo reconhecimento da representa o do grupamento e que ainda provocaria alguns preju zos simb licos futuros Este tipo de rea o encontra alguma explica o ao se observar a forma pretendida de institucionaliza o da profiss o de enfermagem no Brasil na d cada de 1920 que se preocupava em termos de inser o e aprova o social em resposta ao desprest gio hist rico com o qual a sua pr tica foi atrelada At ent o o saber da enfermagem no pa s era visto como um saber manual desprovido de qualquer embasamento cient fico intelectual ou pol tico enquanto outras profiss es da rea eram caracterizadas como saber intelectual e cient fico sendo este pensamento e esta postura de extrema import ncia no atraso do desenvolvimento pol tico e social da enfermagem GALLEGUILLOS OLIVEIRA 2001 SANTOS 2008 Diante da necessidade de reconhecimento social v rias estrat gias foram adotadas pelas lideran as da enfermagem em prol dos interesses de desenvolvimento da profiss o desde a implanta o do modelo anglo americano no Brasil SAUTHIER BARREIRA 1999 SANTOS 2002 PORTO 2007 ALMEIDA FILHO 2004 97 Com efeito esta predisposi o foi reproduzida na gest o de La s Netto dos Reys enquanto dirigiu a Escola Anna Nery e inclusive sentida durante os preparativos da cria o do Quadro de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito qu
17. 160 destemido pronto para defender a na o cuja imagem refor ada atrav s dos movimentos uniformemente bruscos e da controlada viol ncia dos gestos MENDES 2002 Indubitavelmente os desfiles c vico militares s o uma oportunidade em que o Estado trabalha as emo es e sentimentos a favor de si pela materializa o do discurso patri tico A ordem e a distribui o estrat gica dos pelot es os hinos e can es nacionais as bandeiras os uniformes as armas o sincopado do som da marcha tudo isso colabora para a hipnose coletiva e para o del rio da multid o DOMENACH 1955 p 80 Nesse sentido oportuna a apresenta o da pr xima fotografia s Figura n 13 Parada c vico militar de Sete de Setembro Belo Horizonte 1953 Casa da FEB Belo Horizonte 161 Trata se de uma foto do desfile de Sete de Setembro em 1953 nas ruas da cidade de Belo Horizonte que contou com grande ades o da popula o local e que estampa alguns membros da Associa o de Ex Combatentes da capital mineira em marcha O grupamento que est frente composto de homens fardados que s o a priori militares de carreira da reserva de 1 ou 2 Classe e de um em traje civil cuja fun o poca era de presidente desta Associa o de Ex Combatentes o ent o 2 sargento reformado Divaldo Medrado No grupamento mais retaguarda v em se dois oficiais fardados um homem e uma mulher Esta a febiana Ilza Me
18. 1943 Tamb m as discuss es sobre sal rio e status profissional da profiss o de enfermagem nas d cadas de 1940 e 1950 nas publica es da RBEn 6 As condi es previstas para a promo o a 1 tenente seriam interst cio m nimo de 5 anos no posto de 2 tenente capacidade f sica comprovada em inspe o de sa de e ju zo favor vel do comandante sobre a capacidade profissional demonstrada al m de dedica o ao servi o idoneidade moral esp rito militar conceito no meio de seus pares e no meio civil e ainda a conveni ncia para o Ex rcito Estas condi es est o descritas nas letras b c e d do Artigo 9 do Decreto Lei n 8 760 de 21 01 1946 que disp e sobre a cria o do Quadro Auxiliar de Oficiais referenciado no Artigo 3 da Lei n 3 160 57 194 Em contrapartida mais do que enxergar o Ex rcito como uma institui o consagradora de rela es sociais sexuadas por si s desiguais hierarquizadas assim tricas antag nicas e de explora o e de opress o entre duas categorias de sexo socialmente constru das HIRATA 2002 p 276 est a necessidade de se entender as possibilidades de uma organiza o ainda mal estruturada poca em ter que se haver com essa novidade Por certo pode se atestar que as entrelinhas da Lei n 3 160 57 foram escritas com base nas rela es generificadas de domina o do masculino sobre o feminino mas tamb m que a cria o dessa lei conferiu um lucro real e simb l
19. 1946 1954 CAIRE 2002 p 101 211 2 Com efeito a enfermagem militar dos Estados Unidos que como no passado n o estava mais restrita ao mbito do Teatro de Opera es em apoio meramente simb lico mas de aparato t cnico ao mecanismo t tico e estrat gico em atividades de higiene evacua es tratamento e recupera o do soldado tenderia a ganhar um conceito renovado cuja amplitude e import ncia com o passar dos tempos e registros da mem ria da profiss o seriam razoavelmente f ceis de conceber Por isso a emerg ncia de uma enfermagem militar preparada principalmente no p s Segunda Guerra ganharia especial aten o DONAHUE 1985 No Brasil o aproveitamento de mulheres em tempo de paz para o exerc cio de fun es t cnicas principalmente de enfermagem passou a ser alvo de algum ou outro debate no p s guerra mas de modo restrito e discreto Apesar dos contragostos e de um ou outro apoio o fato que a figura tipo de enfermeira militar que se constituiu num regime ditatorial fundou as bases para o discurso de defesa da necessidade em se ter uma reserva de enfermagem militar feminina em prontid o no campo do Ex rcito Brasileiro em contrapartida apesar de constitu da em uma ditadura esta figura tipo se faria institu da num regime democr tico Sem d vida tal intento n o seria f cil de se p r concreto E nesse nterim e com base inclusive nas iniciativas norte americanas algumas estrat gias foram
20. 2007 Como pontuado por Donahue 1985 p 414 5 o papel da enfermagem nas guerras se havia revolucionado quase por completo desde os tempos de Florence Nightingale na Guerra 69 da Crim ia Na Segunda Guerra Mundial por sua vez as enfermeiras norte americanas passaram a ser expressivamente recrutadas por organiza es militarizadas Com o avan o do conflito elas se acostumaram organiza o militar obtiveram conhecimento do trabalho em tempo de guerra e mostraram se preparadas para atender as necessidades da guerra moderna Sem d vida o alcance global desta guerra definiu um enorme desafio para as enfermeiras militares Ao final da contenda havia enfermeiras estacionadas em 50 pa ses da Isl ndia ao Pac fico Em termos num ricos Raymond Caire 2002 p 101 afirma que os Estados Unidos mobilizaram cerca de 60 mil enfermeiras no ex rcito terrestre e 11 mil na marinha e que trabalharam e viveram em instala es militares arriscando suas vidas em hot is e estruturas adaptadas barracas de aquartelamento hospitais tenda cabanas de material pr fabricado navios hospitais avi es de transporte trens e ambul ncias no front Serviram t o perto das opera es que as que partiram para o Pac fico foram tamb m treinadas para o combate receberam o mesmo equipamento que os GI 2 g chegaram a saltar at de barca as de desembarque sob fogo inimigo Todas foram corajosas e sobreviveram prova que tinham recebido uma excelent
21. 40 positiva de mulher militar ao se mostrarem publicamente numa luta disciplinada pela retomada de posi es no campo do Ex rcito BOURDIEU 2006 p 199 Com efeito o habitus re ne os atributos que um grupo tem de exibir para ter acesso a um campo espec fico Assim no jogo social os agentes do grupo e seus aliados se valem de seus diferentes tipos de capital e da aplica o proveitosa desse capital As impress es de Bourdieu sobre a domina o masculina foram tamb m frutuosas neste estudo O autor explicita que este tipo de domina o est presente em todas as sociedades e legitima se do fato de todas essas sociedades constitu rem se de uma perspectiva androc ntrica a qual pressup e e prescreve a domina o do princ pio masculino ativo sobre o princ pio feminino passivo Logo a domina o masculina uma domina o simb lica que implica a naturaliza o dessa domina o na sociedade exercendo sobre os corpos um forte poder sem haver necessidade de for a f sica Assim a domina o imposta e vivenciada pela presen a da viol ncia simb lica uma viol ncia doce e quase sempre invis vel BOURDIEU 2003 Outrossim ao estar inscrita nas coisas a ordem masculina se inscreve nos corpos de diferentes maneiras das rotinas da divis o do trabalho aos rituais coletivos ou privados como a exclus o das mulheres dos espa os identificados como masculinos E a o caso das enfermeiras da FEB que fora
22. alguns registros mencionam que as febianas convocadas chegaram a ter um ou outro conflito de interesse e at algum embate Corroborando esta id ia apropriada a afirma o de Bourdieu 2006 p 150 de que todo o campo lugar de uma luta mais ou menos declarada pela defini o dos princ pios leg timos de divis o do campo Com efeito as organiza es militares do Ex rcito Brasileiro s o lugares de poder em que se concentram um campo de for as e um campo de lutas E na luta pelas posi es de prest gio e de poder ensejadas pelo volume e peso do capital 23 Dentre os elogios consultados est o os publicados nos boletins internos n 43 de 24 02 1959 n 64 de 20 03 1959 e n 250 de 11 12 1959 todos do CMBH Al m destes est o os publicados nas folhas de altera es de Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero e de Carlota Mello entre os anos de 1958 e 1959 231 militar cultural profissional simb lico que cada exercente de enfermagem tinha posse esses outros agentes resistiram no que puderam para reconhecer mesmo que veladamente a nomea o e o reconhecimento das febianas como oficiais e como enfermeiras do Ex rcito Como exemplo a fala de uma das enfermeiras febianas demonstra a exist ncia de dificuldades no trato com as irm s de caridade lotadas no Hospital Central do Ex rcito an 205 unidade em que tamb m se incorporou as febianas HCE L ficavam as freiras As
23. bem e me respeitaram muito Um dia um j grande falou assim tenente Posso te falar uma coisa A senhora uma mulher atleta bonita risos Ele j deveria ter uns dezesseis anos E eu falei Olhe Voc pode olhar me admirar vontade e encher seus olhos com a minha beleza com o meu porte atl tico e elegante Voc tem direito Mas falar n o pode porque n o fica bem risos Ai ai Era t o engra ado Enfermeira Carlota Mello Ao estar oficialmente institu da da identidade de oficial ela imp s um direito seu de ser e tamb m um dever seu de ser ao tempo que fez ver ao aluno o que ele e ao mesmo tempo mostrar que ele tinha de se comportar em fun o de tal identidade Em contrapartida ao ressaltar as impress es daquele aluno sobre sua feminilidade a oficial enfermeira ratificou a faculdade da diferen a dos homens em atitudes palavras mentalidade mas tamb m resgatou os mesmos mitos constru dos pela tradi o sobre o que pr prio do feminino sa de mocidade beleza sexo e por extens o maternidade e cuidados com o lar Todos voltados para a mulher como objeto simb lico ALVES 2003 Ali s a domina o masculina que constitui as mulheres como objetos simb licos cujo ser um ser percebido tem por efeito coloc las em permanente estado de inseguran a corporal ou melhor de depend ncia simb lica elas existem primeiro pelo e para o olhar dos outros ou seja enquanto obj
24. e em luto novamente Sobre esse momento uma das enfermeiras fotografadas disse Isto foi no Pal cio do Catete no gabinete de despacho do presidente a Campanha do Tost o Todo ano n s mand vamos buqu s de flores j prontos para cada sepultura do cemit rio de Pist ia chorando E os rf os italianos colocavam os buqu s nos t mulos em nome dos rf os brasileiros Era um trabalho muito bonito Eu era da diretoria tamb m Ent o n s fomos buscar o tost o do Get lio E foi muito interessante porque ele deu s um tost o que catou do bolso Depois ele deu um cheque Nas esta es de estradas de ferro n s coloc vamos umas caixinhas e depois n o consegu amos recolher de t o pesadas que ficavam Enfermeira Elza Cansan o Medeiros 141 N o foi poss vel precisar a data exata e o nome do jornal que publicou esta reportagem Entretanto pelo cruzamento de outras fontes bem poss vel que tenha ocorrido no ano de 1953 173 Por certo este um exemplo que mostra enfermeiras febianas engajadas na preserva o da mem ria da FEB e por extens o na preserva o de suas pr prias mem rias e na re constru o de uma imagem que as favorecesse no campo social Isso porque os rituais que celebram os mortos ao tempo em que transmitem para a posteridade as realiza es da pessoa ou grupo homenageado tamb m contribuem para a sua eterniza o cuja qualidade depende da qualidade do grup
25. e uma em Curitiba aproveitou oito enfermeiras O preparo principalmente o das turmas formadas no Rio de Janeiro foi bem noticiado atrav s dos jornais e revistas onde fotografias do treinamento f sico e de instru o militar serviam de estampa Exemplo disso a pr xima ilustra o que traz a capa da revista 4 Noite Ilustrada Figura n 06 Capa da revista 4 Noite Ilustrada 1944 In CAMERINO Ol mpia de Ara jo A mulher brasileira na segunda guerra mundial Rio de Janeiro Capemi 1983 acessar fontes que definissem o n mero exato de volunt rias que se apresentaram ao Ex rcito para integrarem o Servi o de Sa de da FEB bem como o n mero exato das que chegaram a realizar o referido curso Sobre isso vide coment rios de Elza Cansan o 1987 p 44 8 2003 p 30 No Rio de Janeiro capital federal do pa s 113 alunas conclu ram o CEERE CANSAN O 1987 p 44 8 S o elas Aracy Arnaud Sampaio Isabel Novaes Feitosa Jandyra Faria de Almeida Joana Sim es de Ara jo e Lenalda Lima Campos Carlota Mello Ilza Meira Alkimim e Roselys Bel m Teixeira 2 Ac cia Cruz Edith Fanha Guilhermina Rodrigues Gomes Hilda Ribeiro Jacy Chaves Maria Concei o Suarez Wanda Sofia Magewsky e Virg nia Leite 5 Al m dessas enfermeiras outra tamb m realizou o CEERE pela 10 Regi o Militar Cear chamada Maria Hilda de Mello que s chegou ao front em 02 05 1945 e retornou ao pa s em 21 07 1945 VA
26. em todos os n veis exercer uma autoridade compreensiva inteligente positiva e mesmo bastante firme sobre todos os soldados O trecho a seguir da fala da mesma enfermeira refor a essa id ia Eu fui muito bem recebida pelos militares no Col gio Militar apesar da dureza da poca para que a mulher fosse aceita pela sociedade Quando eu cheguei o general comandante deu ordem para que todo o efetivo do Col gio se formasse no p tio Ent o vieram professores oficiais militares do primeiro escal o civis soldados estudantes cozinheiros faxineiros todo o mundo Todos eles ficaram em forma O p tio ficou cheio O general depois que me apresentou dirigiu se aos alunos e falou que qualquer reclama o minha atrav s de parte iria pegar tanto quanto catapora e sarampo risos Enfermeira Carlota Mello Como se v a orienta o jocosa do comandante do Col gio Militar conteve em seu mago a representa o mental da segrega o masculino feminino que deveria ser observada pelos part cipes daquela organiza o quando visou proteger inclusive sob pena de puni o aos que desrespeitassem quela rec m chegada Este apartheid de g nero serviria de alguma forma para re orientar certas tradi es informais nas rela es entre os homens militares naquele espa o Ademais instaurar o medo e inibir e cercear o outro s o meios pelos quais se consegue fazer respeitar os preceitos hier rquicos
27. enferm Bras lia v 56 n 5 p 581 585 set out 2003 ALVES L dia Maria Nazar Mulher nasce mulher Clarice Lispector colunista e autora de a hora da estrela Em tese Belo Horizonte v 6 p 121 9 ago 2003 ANDRADE Ana Maria Mauad de Sousa Sob o signo da imagem a produ o da fotografia e o controle dos c digos de representa o social da classe dominante no Rio de Janeiro na primeira metade do s culo XX Disserta o Mestrado em Hist ria Instituto de Ci ncias Humanas e Filosofia Universidade Federal Fluminense Niter i 1990 ANDRADE J NIOR Hermes de SILVEIRA Gl ucia R Motta da A cultura do hospital militar vivenciada por profissionais de sa de R Enferm UERJ Rio de Janeiro v 10 n 1 p 41 45 jan abr 2002 ARA JO Rita de C ssia Barbosa de O voto de saias a Constituinte de 1934 e a participa o das mulheres na pol tica Estudos Avan ados S o Paulo v 17 n 49 p 133 150 2003 BALANDIER Georges O poder em cena Bras lia Universidade de Bras lia 1982 BARREIRA Ieda de Alencar A reconfigura o da pr tica da enfermagem brasileira em meados do s culo 20 Texto amp Contexto Enfermagem Florian polis v 14 n 4 p 480 7 2005 Contribui o da Hist ria da Enfermagem para o desenvolvimento da profiss o Esc Anna Nery Rio de Janeiro v 3 n 1 p 125 141 abr 1999 284 BARREIRA Ieda de Alencar BAPTISTA Suely de Souza A re configura o do campo da enfermagem duran
28. incredulidade seria tamb m publicado um ano depois nesta mesma revista Trata se de um fragmento que constou de um relat rio escrito por Maria da Gl ria Leite Rozas integrante de um grupo de enfermeiras designado pela ABEn para participar do Segundo Congresso Brasileiro de Medicina Militar IICBMM Este relat rio ganhou publicidade no n mero 4 da RBEn de dezembro de 1959 Eis o trecho donde se atesta tal ila o 215 Enfermeira diplomada pela Escola Anna Nery Foi uma das fundadoras da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 04 04 1950 No mesmo ano em 23 de setembro foi s cia fundadora da Se o de Porto Alegre da ABED Mais tarde assumiu a dire o desta Escola entre os anos 1963 e 1969 Dispon vel em http paginas ufrgs br cenf copy of a escola centro de memoria 1 searchterm rozas Acesso em 13 out 2010 242 Em atendimento indica o feita por D Marina Resende que nos credenciou a representar a ABEn e defender os interesses da enfermagem comparecemos ao referido conclave fazendo a nossa inscri o e participando do maior n mero poss vel de atividades Seis enfermeiras de Porto Alegre inscreveram se como s cias efetivas e v rias outras compareceram s sess es As outras enfermeiras inscritas eram elementos das For as Armadas uma delas dizendo se enfermeira diplomada pela Escola Ana N ri e as demais com cursos de samaritana ou equivalente
29. insist ncia consegui que ficassem um pouco mais livres e menos constrangidas em irem um pouco al m nas suas falas Ali s este movimento foi facilitado pelo roteiro da entrevista que ofereceu deixas para que exprimissem algum descontentamento ou at alguma revolta sobre as situa es de misoginia e estereotipia que passaram Desde os contatos iniciais deixei que as participantes escolhessem o melhor local para as entrevistas de acordo com suas possibilidades e disponibilidade Entretanto nem sempre pude contar com locais adequados para a grava o que reunissem privacidade e boas condi es de pureza do som a ser gravado Das quatro enfermeiras entrevistadas tr s optaram por suas resid ncias e uma por seu ambiente de trabalho Cabe a men o de que por vezes a presen a de familiares militares e pesquisadores afetaram positivamente ou n o os resultados da entrevista Sem d vida foram nos encontros a s s onde reuni os dados mais surpreendentes e secretos No tocante ao tratamento das entrevistas gravadas foram realizados sistematicamente os seguintes procedimentos duplica o e cataloga o digital a fim de salvaguardar o material reunido transcri o literal e cabal do que foi gravado onde se mantiveram as perguntas respostas repeti es ru dos g rias estrangeirismos termos chulos e erros confer ncias de 15 A S E Em tr s entrevistas realizadas em 2009 duas com a enfermeira Virg nia Maria de Ni
30. lo entre os demais pelas escolhas expostas vestidas em seu pr prio corpo CASTILHO 2002 Por isso que ao contr rio da maioria da roupas civis o uniforme com frequ ncia consciente e deliberadamente simb lico pois identifica aquele que o veste como membro de algum grupo e o situa em uma hierarquia LURIE 1997 p 33 Ao se fazerem ver novamente com seus uniformes aquelas rec m convocadas mostraram se como mulheres uniformizadas nas regras e condutas que deviam orientar suas atua es no campo militar Destarte proveitosa a id ia de Lurie 1997 p 33 4 de que o uniforme simboliza uma forma extrema de roupa convencional sendo um traje totalmente 185 No curr culo de Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero consta que em 20 09 1957 atrav s da Portaria n 1 859 de 16 09 1957 o Ministro de Estado dos Neg cios da Guerra resolveu convoc la para o Servi o Ativo do Ex rcito DO de 18 09 1957 consta tamb m que se apresentou em 20 09 1957 DGE por motivo de convoca o para o Servi o Ativo que ficou adida Diretoria de Sa de a 20 09 1957 aguardando classifica o que foi classificada a 14 09 1957 na Policl nica Central do Ex rcito e que l se apresentou pronta para o servi o em 18 09 1957 208 determinado pelo outro e que em termos de discurso falado representa estar parcial ou totalmente sob censura Ao retomarem o uso cotidiano de uniformes as enfermeiras febianas passaram a re com
31. nias militares o aproveitamento do uso de suas fardas nestes eventos para forjar a exist ncia de uma imagem de enfermeira militar para a sociedade a concess o de entrevistas e a publica o de fotografias suas em jornais a escrita de livros que trataram da hist ria delas e da FEB a inscri o em congressos cient ficos onde rememoravam nos seus trabalhos os m ritos da participa o do grupo na guerra e o congra amento e a comemora o dos feitos da FEB com os pracinhas nas Associa es de Ex Combatentes seja na coleta de fundos para homenagear os que tombaram seja na luta pela ressocializa o dos que voltaram do front Assim nestas e noutras diversas ocasi es e espa os sociais elas se fizeram ver e se fizeram crer como um grupamento de enfermeiras de guerra em prontid o para ser reinclu do Para isso elas n o abriram m o do discurso patri tico o mesmo que bem viabilizou sua apari o p blica durante a guerra Nessa perspectiva os diversos tipos de capital social militar simb lico e espec fico de enfermagem militar operativa que conseguiram acumular at ent o e ou mobilizar a seu favor mostraram se eficazes no p s guerra inclusive para que conseguissem reunir importantes aliados a fim de que alcan assem o feito de serem novamente reaproveitadas no Servi o Ativo mas em tempo de paz Tal lucro se concretizou com a promulga o da Lei n 3 160 de 1 de junho de 1957 fruto de um projeto do deputado Ferna
32. nossa terra venham colaborar no nosso esfor o de guerra para que onde houver um contingente brasileiro haja um hospital brasileiro e enfermeiras brasileiras Naqueles dias nem de longe iria supor que para 25 000 brasileiros enviados It lia mal haveria 67 patr cias ao lado deles E que num hospital avan ado durante a guerra seria preciso acomodar numa escala de servi o apenas 10 enfermeiras em 12 enfermarias cada enfermaria com 64 homens acamados Quatro meses se passaram nada mais se disse sobre o assunto Certo que em 11 de janeiro de 1944 foi novamente aberta a inscri o e novamente apresentaram se centenas de mo as E em 28 de janeiro era solenemente iniciado o Curso de Emerg ncia da Reserva do Ex rcito MORAES 1949 p 405 6 No processo seletivo organizado pelo Ex rcito as exig ncias iniciais foram ser brasileira nata solteira ou vi va sem filhos ter no m nimo 20 e no m ximo 40 anos de idade possuir diploma de enfermeira ou certificado de curso de samaritana ou volunt ria socorrista expedidos por escola de reconhecida idoneidade ou ainda ser enfermeira profissional z 5 zoan A6 portadora de atestado fornecido pelo estabelecimento em que servia entre outras condi es Entretanto dois meses depois parte das condi es foi alterada mulheres desquitadas passaram a ser tamb m aceitas a faixa et ria mudou para 22 a 45 anos e foram admitidas E n Da A7 E E mulheres casadas desde que tiv
33. p 14 19 Esta unidade foi criada pela Portaria Ministerial n 065 Reservada de 22 05 1957 com a finalidade de se atender aos alunos das escolas militares ali sediadas e seus dependentes 226 com vidro de alpalina Tudo ali na Praia Vermelha foi feito assim Eu ia ajeitando com o que eu podia Quando eu fui para l o diretor era o major m dico Osvaldo de Mello Schmidt um pediatra um amor de pessoa Ele trabalhava pra burro Eu para despachar com ele agarrava na bata dele e ia correndo atr s Na realidade quem mandava ali era eu porque ele deixava tudo na minha m o Ele s fazia assinar os pap is Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Sobre outros improvisos que tinham que ser feitos inclusive na assist ncia a mesma febiana fez o seguinte ressalte No Posto M dico da Praia Vermelha ramos umas quatro enfermeiras N s trabalh vamos no ambulat rio meu filho nas v rias cl nicas de cirurgia ortopedia e onde precisasse Ali s eu era a ortopedista de plant o Quando acontecia qualquer coisa de ortopedia eu atendia porque l n o tinha m dico ortopedista Era eu quem fazia as imobiliza es o atendimento de primeira urg ncia J estava acostumada Eu era tudo dentro daquele posto Eu n o tinha setor certo n o Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Outra unidade do Ex rcito que tamb m estava em vias de cria o organiza o poca da chegada das e
34. pessoas sem qualifica o para os servi os de enfermagem foi uma das preocupa es da Associa o Brasileira de Enfermagem ao longo de sua hist ria Especificamente nas d cadas de 1940 e 1950 este assunto esteve em debate em v rias edi es dos Congressos Brasileiros de Enfermagem que foram organizados pela Associa o 1 O apelido Martha Rocha do referido Pavilh o devia se ao fato dele ser o mais bem arrumado mais novo e mais bonito do HCE NASCIMENTO 2004 p 53 A t tulo de curiosidade Maria Martha Hacker Rocha foi eleita Miss Brasil em 1954 aos 18 anos Logo depois Martha Rocha ficou em 2 lugar no concurso de Miss Universo mas passou a ser reverenciada em todo o mundo como uma das mulheres mais belas do planeta Arquivo disponivel em http www martarocha com br Acesso em 20 out 2010 197 Como exemplo no II Congresso Brasileiro de Enfermagem CBEn em 1948 o tema foi Aumentar o n mero de enfermeiras contribuir para a sa de mundial No V CBEn 1951 foi solicitado ao ministro do Trabalho Ind stria e Com rcio apoio ao desenvolvimento da enfermagem no pa s promovendo o cumprimento da legisla o vigente sobre quem deveria usar o t tulo de enfermeiro e a denomina o de auxiliar de enfermagem No VI CBEn 1952 foi posto em destaque o tema Vigil ncia das leis que disp em sobre o exerc cio da enfermagem pelos Poderes Executivo e Legislativo J no VII CBEn 1954 um dos assuntos trat
35. qualquer tipo de lideran a que desse condi es de lhes devolver a prosperidade Os bolcheviques conquistaram a R ssia Benito Mussolini e o fascismo tomaram o controle da It lia Hitler e o Partido Nazista se tornaram cada vez mais poderosos na Alemanha na Espanha instalou se a Guerra Civil enquanto a Inglaterra e Fran a estavam embebidas em desaven as internas N o era de se estranhar que surgiria e floresceria uma era ditatorial em muitos pa ses como inclusive aconteceu no Brasil com a instala o do Estado Novo por Get lio Vargas em 1937 Al m disso tamb m se produziriam grandes mudan as de alian as pois a It lia e Jap o que antes haviam estado do lado aliado se uniriam Alemanha para formar o chamado Eixo acordo com fortes caracter sticas militares e com planos de conquistas territoriais elaborados em comum acordo DONAHUE 1985 p 410 FAUSTO 2001 Como resultado da deteriora o progressiva das rela es internacionais das crises econ micas dos milh es de desempregados al m do surgimento desses governos totalit rios com fortes objetivos militaristas e expansionistas que durante a segunda metade da d cada de 1930 voltou se a instalar a guerra na Europa que se tornou a mais b rbara cruel e pavorosa hecatombe da hist ria da humanidade que se fez n o s por diferen as ideol gicas entre as grandes pot ncias envolvidas mas principalmente pela busca do dom nio econ mico por parte daqueles mesmos
36. rcito conferindo a esses militares que tivessem conclu do o Curso de Enfermeiros da Escola de Sa de do Ex rcito os mesmos direitos do exerc cio profissional que possu am as profissionais formadas pela Escola Oficial Padr o Escola Anna Nery ou qualquer outra Escola de Enfermagem a ela equiparada Tal decreto livrou o Ex rcito e a Cruz Vermelha da obrigatoriedade de enquanto rg os formadores em enfermagem terem que se equiparar Escola Anna Nery CARVALHO 1976 232 Na Policl nica tudo foi muito bem L havia muitos sargentos enfermeiros Umas febianas at foram madrinha de filho de sargento Havia completa harmonia Eu tenho a impress o que ali na Policl nica eram todos escolhidos porque eram todos competentes N o tinha nenhum sargento boboca assim como na guerra onde eu n o peguei um que desse palpite Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Apesar da mencionada compet ncia dos sargentos enfermeiros auferida pela sua pr tica e experi ncia a tica militar tende a beneficiar as camadas mais altas da hierarquia entre um oficial e um pra a perdura a raz o da exist ncia da disciplina e da hierarquia e o oficial quase sempre ter prefer ncia pol tica nos eventos trazendo a necessidade de controle sobre o prevalecimento e a indigna o subalterna ANDRADE J NIOR SILVEIRA 2002 Este outro recorte tamb m ilustra um pouco as impress es de uma enfermeira sobre
37. ri no Livro dos Her is da P tria O livro est depositado no Pante o da Liberdade e da Democracia na Pra a dos Tr s Poderes em Bras lia O Livro dos Her is da P tria foi criado em novembro de 2007 por lei assinada pelo presidente Luiz In cio Lula da Silva e pelo ministro da Cultura Gilberto Gil Nele est o registrados perpetuamente os nomes dos brasileiros e de grupos de brasileiros que tenham dado a vida pela p tria defendendo ou construindo com dedica o e hero smo A distin o feita depois de 50 anos da morte ou da presun o de morte do homenageado Arquivo dispon vel em http www muncan com espaco da enfermagem noticias 360 anna nery entra para o livro dos herois da patria Acesso em 26 jul 2010 7 A data 13 de dezembro 1943 o ano da cria o do QERE 1814 o ano de nascimento de Ana N ri 103 consagr lo De certa forma poss vel que as febianas tenham mesmo alcan ado alguma efic cia nisso devido s inclina es favor veis das part cipes e pelas disposi es e interesses delas em se reconhecerem mutuamente nesse mesmo projeto de mobiliza o para a guerra de defesa da P tria BOURDIEU 1996 p 51 Essa id ia refor ada com o seguinte coment rio Nossas colegas todas trabalharam bastante e com muita honra n o houve esc ndalos n o houve nada que pudesse desabonar o nosso desempenho gra as a Deus NERICI 2001 p 211 tamb m de Bertha Moraes Nerici 2001 p
38. sendo que hoje 1957 aquele Forte no Estado de Mato Grosso tem o nome de meu bisav Minha bisav a baronesa de Forte Coimbra foi uma das primeiras enfermeiras brasileiras em servi o na guerra Atendia os feridos nas batalhas e auxiliava os soldados comandados por seu marido preparando muni es Pelo lado materno sou bisneta ainda do marechal Conrado Jacob Niemeyer fundador do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro Meu pai foi o general Tito Portocarrero falecido h um ano sendo meu tio o general Hermenegildo Portocarrero Tenho irm os e primos servindo ao Ex rcito e a FAB 180 Esta reportagem estava disposta num recorte colagem do di rio pessoal de Virg nia N o foi poss vel identificar adequadamente o jornal talvez Di rio da Noite e a data exata de sua publica o segundo semestre do ano de 1957 provavelmente 181 O Estado de Mato Grosso foi dividido pelo governo federal em 1977 formando os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul sendo este o local onde atualmente se encontra o Forte Coimbra 204 Com bisav s marechais bisav enfermeira de guerra pai e tio generais irm os e primos tamb m militares compreens vel em parte que toda essa men o especial Virg nia na imprensa da poca haja decorrido do capital militar e social que sua fam lia era detentora o que estreita bem seu habitus prim rio com as coisas do campo militar Tr s meses ap s a promulga o da Lei n 3 160 57
39. simb lico exercido por seu discurso consagra as marcas simb licas sobre as quais se produz por interm dio de a es de imposi o e de inculca o o reconhecimento de uma identidade social Por isso as id ias do deputado Ferrari que foram professadas em nome do grupo podem ser tidas aqui como id ias for a que ajudaram a creditar o benef cio almejado mediado pelo conhecimento e o reconhecimento da participa o das enfermeiras febianas na guerra Outrossim este mesmo trecho re ne o uso de termos que evocam sentimentos e valores de cunho particularista e at anti pol tico talvez uma esp cie de invas o do p blico pelo privado HOLANDA 2006 p 82 Em outras palavras o que se percebe a busca pelo atendimento de uma vontade particular privada de um pequeno grupo de enfermeiras que encontrou uma forte alian a na esfera p blica e que a princ pio n o serviria aos prov veis interesses de outras mulheres enfermeiras brasileiras sobre a possibilidade de incorpora o de segmentos femininos no campo das For as Armadas Isto o privil gio das febianas foi limitado aos seus interesses particulares o que de certa forma impediu que o princ pio de igualdade de todos perante a lei fosse aplicado Desse modo mant m se a incolumidade das esferas privilegiadas de poder ocupadas pela elite pol tica dirigente e pelas pessoas associadas por meio das redes pessoais Sobre isso aparentemente apro
40. ticos estrat gia que lhes renderia os frutos esperados Pela via conservadora que foram apresentadas C mara dos Deputados no ano de 1947 duas proposi es de autoria do deputado Jos Correia Pedroso J nior representante do Estado de S o Paulo pelo Partido Trabalhista Brasileiro que visaram concess o de alguns benef cios s enfermeiras febianas No texto do primeiro projeto de lei apresentado pelo deputado fez se constar o seguinte As enfermeiras que integraram a FEB ficam com direito percep o dos vencimentos dos postos em que foram arvoradas a partir da data em que o tenham sido at a da sua desmobiliza o Para justificar o direito a este benef cio Pedroso J nior fez uma extensa exposi o que considerou o problema passado pelas febianas de terem sido arvoradas no posto de segundo tenente ao chegarem ao Teatro de Opera es e de n o terem recebido o soldo correspondente a este posto e sim ao de cabos e terceiros sargentos Como afirmou Houve n o h d vida 10 O deputado Jos Correia Pedroso J nior do PTB foi um dos parlamentares que participaram da Constituinte de 1946 Nascido em 8 de dezembro de 1907 Agua SP foi jornalista ferrovi rio contador e tamb m cronista social do Di rio do Povo de Campinas SP 1924 redator chefe do Di rio do Povo 1934 1944 e fundador do jornal 4 Defesa 1935 e publicou Do direito ao trabalho 1939 BRAGA 1998 p 694 5 110
41. 13 Rio de Janeiro Profissional EAN Devido enfermidade n o RJ retornou ao Servi o Ativo apesar de ter requerido Ol mpia de Ara jo 19 11 08 1 AL VS Diretoria Geral de Sa de Camerino Roselys Teixeira 09 11 14 Araguari MG VS Col gio Militar de Belo Gazzinelli Horizonte Sem ramis 24 04 16 Manaus AM VS Hospital de Guarni o de Manaus Queiroz Montenegro Silvia Pereira 26 06 18 Niter i RJ VS Hospital Militar de Curitiba Marques Virg nia Maria de 23 10 17 Rio de Janeiro Samaritana Policl nica Central do Ex rcito Niemeyer RJ Portocarrero Vanda Sofia 26 05 18 Curitiba PR VS Majewski Os dados do quadro mostram que praticamente a metade das enfermeiras febianas que r requereram convoca o 45 5 nascida no Estado do Rio de Janeiro distrito federal seguido de Minas Gerais e Paran 11 4 cada Sergipe 6 8 Alagoas e Bahia 4 5 cada Nos outros sete Estados da Federa o tem se apenas uma em cada 2 3 Al m disso os dados revelam predom nio de enfermeiras na faixa et ria compreendida entre 33 e 55 anos com m dia de 41 1 anos Tamb m observado que das 44 enfermeiras quatro 9 0 eram profissionais nove 20 5 eram samaritanas e 31 70 5 possu am o curso de volunt rias socorristas o que demonstra que a grande maioria delas teve uma forma o muito prec ria em enfermagem posto que em geral o curso de volunt ria socorrista VS previa apenas
42. 1983 CAMERINO Ol mpia de Ara jo Prepara o das enfermeiras para a For a Expedicion ria Brasileira Mensagem In CAMERINO Ol mpia de Ara jo A mulher brasileira na Segunda Guerra Mundial Rio de Janeiro Capemi 1983 p 29 31 CANSAN O Elza E foi assim que a cobra fumou 3 ed Rio de Janeiro Imago 1987 Um Dois Esquerda Direita Acertem o passo Macei Cian 2003 CRUZ Mario Ribeiro da org Casos da guerra que hero nas e her is da FEB contam Rio de Janeiro Frente 2002 FEITOSA Isabel Novais Caso que Isabel Novais Feitosa conta In CRUZ Mario Ribeiro da org Casos da guerra que hero nas e her is da FEB contam Rio de Janeiro Frente 2002 MEDEIROS Elza Cansan o Eu estava l Rio de janeiro gora da Ilha 2001 Hist ria Oral do Ex rcito na Segunda Guerra Mundial tomo 5 2001 p 277 306 Nas barbas do Tedesco Companhia Editora Americana Biblioteca do Ex rcito 1955 MORAES Bertha Testemunho de uma Enfermeira In Depoimento de Oficiais da Reserva sobre a FEB 2 ed s e 1949 p 403 19 MORAES Jo o Baptista Mascarenhas de A FEB pelo seu comandante Rio de Janeiro Biblioteca do Ex rcito 2005 NERICI Bertha Moraes Hist ria Oral do Ex rcito na Segunda Guerra Mundial tomo 7 2001 p 195 213 PORTOCARRERO Virg nia Maria de Niemeyer Hist ria Oral do Ex rcito na Segunda Guerra Mundial tomo 6 2001 p 259 76 REIS Edgardo Moutinho dos Ex rcito de padioleiros
43. 199 a fala que aponta certos obst culos que tiveram as enfermeiras que n o eram possuidoras do mesmo capital social que tinham as anteriormente mencionadas Uma das coisas que me trouxeram alguma dificuldade foi a falta de apadrinhamento j que uma das colegas Virg nia Portocarrero era filha do general Portocarrero um general de nome ilustre e havia ainda uma neta do general Coutinho que era m dico e a maioria possu a alguma rela o com o Ex rcito s que eu n o tinha uma ajuda sequer O pessoal apadrinhado estava nas alturas A que era funcion ria do Banco do Brasil por exemplo n o era enfermeira era uma alta funcion ria do Banco mas neta do general Coutinho e um tio era presidente do Banco do Brasil e outro ministro da Fazenda ent o bastava um bilhete Mas eu teria que trabalhar mesmo e foi para isso que fui para l NERICI 2001 p 199 Outro recorte complementa o anterior A Maria do Carmo Correa Castro ficou em primeiro lugar no CEERE empatada comigo Ela era volunt ria socorrista Era sobrinha do presidente do Banco do Brasil J viu n Nunca fez educa o fisica Ela j tinha um in cio de Parkinson antes de entrar para a FEB mas era sobrinha do presidente do Banco do Brasil risos Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Sendo assim a heran a familiar de algumas enfermeiras que compuseram a FEB Ihes possibilitou facilidades conforme a percep o das enfermei
44. Ativo Diante da magnitude do hospital e da complexidade de seu funcionamento decorrente dos seus v rios pavilh es com mil leitos em m dia as poucas civis e febianas rec m chegadas que l se apresentaram ficaram algo dilu das naquele grande cen rio e por algumas falas analisadas n o chegaram a ter muito contato laboral Figura n 22 Pose grupal durante as comemora es do terceiro anivers rio do Col gio Militar de Belo Horizonte 12 de setembro de 1958 Album Hist rico do Col gio Militar de Belo Horizonte CMBH Belo Horizonte 208 poca o tipo de tratamento dispensado aos usu rios do Servi o de Sa de do Ex rcito se fazia de acordo com a hierarquia militar A prop sito vale lembrar que no HCE existiam enfermarias para oficiais e pra as o que comprova a exist ncia da separa o e classifica o dos clientes por patente NASCIMENTO 2004 p 53 235 Nesta foto est o destacados cinco oficiais da Forma o Sanit ria Regimental do Col gio Militar de Belo Horizonte Da esquerda para a direita v em se um capit o farmac utico as tenentes enfermeiras Roselys Teixeira Gazzinelli Ilza Meira Alkimin e Carlota Mello e um capit o dentista Ao fundo e de frente est o comandante do Col gio em palestra com convidados Se for considerada a no o de que as cerim nias t m como uma de suas fun es a reanima o de um grupo e se tamb m for apreciado o lugar de destaque que aquelas enferme
45. Bel m 25 08 20 Rio de Janeiro Samaritana Hospital de Guarni o Vila Landi Macieira RJ Militar RJ Maria Celeste 02 12 23 Rio de Janeiro VS Hospital Central do Ex rcito e Fernandes RJ Hospital Geral de Salvador Maria da 02 02 09 Curitiba PR VS Hospital Militar de Curitiba Concei o Suarez Greger Maria Jos Aguiar 14 01 17 RS VS Posto M dico do Minist rio da Guerra Maria Jos 18 06 21 Campos RJ VS Col gio Militar do Rio de Vassimon de Janeiro Diretoria Geral de Sa de Freitas RJ e Posto M dico da Praia Vermelha Maria Lu sa 23 05 17 Petr polis RJ VS e Assistente Social Hospital Central do Ex rcito Vilela Henry Hospital Geral do Recife e Diretoria Geral de Sa de Mathilde Alencar 07 01 12 Rio de Janeiro VS Posto M dico da Praia Vermelha Guimar es RJ 214 Nome Data de Naturalidade Forma o em Organiza es Militares onde continua o nascimento enfermagem na poca atuaram ap s a convoca o da sele o para a guerra Nair Paulo de 16 04 17 Vit ria ES Profissional EAN 2 Mello N cia de Moraes 15 12 14 Rio de Janeiro VS Hospital Central do Ex rcito Sampaio RJ Nilza C ndido 14 10 23 Rio de Janeiro VS Policl nica Central do Ex rcito e Carvalho RJ Policl nica de Niter i Novembrina 21 11 19 Rio de Janeiro Samaritana Policl nica Central do Ex rcito e Augusta Cavall ro RJ Diretoria Geral de Sa de Olga Mendes 26 03
46. Bertha visou prestar um servi o causa e hist ria das enfermeiras febianas quando socializou aspectos nunca antes sabidos ou pelo menos tornados p blicos da singular experi ncia que tiveram na guerra Sem sombra de d vidas as mulheres enfermeiras que aqui escutamos reproduziam discursos que ratificavam as diferen as entre os sexos o que significa dizer que seus discursos n o consideram necessariamente o xito do feminismo como evidente mas uma submiss o ao desejo regras ou fun es impostas por outros pois retratam constantemente os estigmas sobre as mulheres Os poucos textos que produziram no p s guerra reduzem as condutas femininas a simples exemplos conscientes ou n o voluntariamente ou n o dos efeitos da domina o de uma cultura dominada pelos homens Ao pleitear um lugar para a mulher na zona de combate por exemplo Bertha manifesta tamb m uma inquieta o diante da evoca o de um feminismo n o integrado ao mundo pol tico TOURAINE 2007 E ainda os discursos das febianas tamb m falam de uma participa o idealizada de mulheres na guerra sem referendar seus esfor os e id ias para a paz cobrando dos chefes militares de uma For a Armada despreparada emergente de um pa s ainda atrasado uma posi o adiantada e alinhada norte americana cobrando tamb m sua prote o com sal rios e garantias em tempo de paz No plano legal a pr pria constitui o brasileira de 1946 reconhecida por
47. Enfermeira Carlota Mello Figura n 21 Enfermaria do Col gio Militar de Belo Horizonte 1958 1959 lbum Hist rico do Col gio Militar de Belo Horizonte CMBH Belo Horizonte 228 Esta fotografia posada mostra um pouco do cotidiano de trabalho de uma das tr s enfermeiras que serviram no Col gio Militar de Belo Horizonte Ilza Meira Alkimin que est sentada mais ao centro da composi o assumindo uma postura recatada Seu posicionamento leva a infer ncia de que a mesma mantinha uma lideran a do espa o representado pela fotografia Ao seu lado est provavelmente um cabo enfermeiro al m de cinco meninos acamados Esta mesma foto foi publicada no primeiro n mero da Revista do Col gio com a seguinte legenda Baixados enfermaria Os enfermeiros s o dedicados e a tenente Alkimin tem cuidados maternais com os doentes Escrita deste modo tal inscri o um exemplo por excel ncia da evoca o e legitima o da natureza feminina do tipo de trabalho daquela oficial representado na fotografia O breve excerto abaixo evidencia justamente um pouco das pr ticas cotidianas feminilizadas que essas enfermeiras febianas imprimiram como inclusive extens o do trabalho das m es daqueles alunos que em casa noutros Estados ficavam As m es dos meninos gostavam de n s Eu conversava com eles Eu ia l para o audit rio e ensinava a meninada a comer a tomar banho a limpar a orelha a lavar a
48. Ent o sob os c rculos que se estabelece o prot tipo do sistema disciplinar objetivando os comportamentos condicionados e enfatizando um compromisso com o bem estar maior da corpora o e um bem estar menor do sujeito CALAZANS 2004 TAKAHASHI 2002 Tamb m a atitude algo cuidadosa do comandante com a chegada daquela mulher revela um tratamento diferente mais atento e preocupado que se traduz num mecanismo de rela o de poder porque revela a prote o do mais forte ao mais fraco do dominante sobre o dominado CARVALHO 1990 p 146 Nesse sentido Rosa 2007 p 6 afirma que 193 Grifo meu 217 a mulher vista como um estrangeiro que deve aprender um novo idioma uma nova forma de express o verbal e corporal assumindo o olhar do outro para que possa se movimentar no novo espa o Todavia assumir esse olhar n o resulta necessariamente numa igualdade de tratamento e reconhecimento Pois mesmo falando o idioma e se portando de forma similar ser sempre um estrangeiro mulher Sobre a quest o da chegada daquelas estranhas o pr ximo recorte demonstra um pouco de como se deram as rea es presen a delas A meninada n o estava acostumada com aquilo presen a de mulheres no Ex rcito O Col gio Militar tinha s menino grande com mais de 12 anos Ent o j era menino safado que estava na adolesc ncia Eles poderiam fazer chacota ou me faltar com o respeito mas eles me receberam
49. Esolina Pinheiro professora de Servi o Social da Escola da Cruz Vermelha chegou a planejar a institui o de um Corpo de Enfermeiras Auxiliares que seria composto por cem mil mulheres treinadas para auxiliar as enfermeiras profissionais al m de um Corpo de Enfermeiras 74 Dom sticas com quinhentas mil mulheres preparadas para resolver simples casos dom sticos al m ainda de um Corpo de Nutri o um Corpo de Braile para transcrever livros para deficientes visuais e um Corpo de Motoristas com 18 mil pessoas preparadas para o transporte de trabalhadores refugiados e m dicos Mesmo fantasiosos em sua desmesurada pretens o estes n meros permitem estabelecer uma id ia sobre o lugar que a enfermagem passou a assumir no discurso mobilizat rio da poca principalmente no Rio de Janeiro e em S o Paulo PINHEIRO 1942 CYTRYNOWICZ 2000 Exemplo mais ainda pertinente da atua o da Cruz Vermelha nesse momento foi o preparo de volunt rias intensificado com cursos de emerg ncia como os de socorristas e de samaritanas Ali s como mencionou Medeiros 2001 at as princesas Maria Francisca e Maria Tereza rleans e Bragan a chegaram a se inscrever como alunas na Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha Brasileira Assim a ades o de mulheres das classes m dia e alta emprestava profiss o de enfermagem um status que bem a distinguia no campo social A ilustra o a seguir extra da da capa do jornal Di rio de Not cias pub
50. Ex rcito no p s guerra O impulso tomado na dire o deste investimento foi dado pela magnitude de elementos a serem ainda considerados na hist ria dessas enfermeiras mesmo estando elas pouco evidentes socialmente em rela o ao tempo que apareceram publicamente para o esfor o de guerra e ainda pelo grande interesse que o tema desperta seja na academia seja noutros espa os sociais onde tive a oportunidade de apresent lo al m disso est o os pr prios alicerces que facilitaram e inspiraram a constru o desse estudo sustentado na curiosa hist ria das mulheres e na hist ria de uma profiss o que ainda tem muito o qu contar a enfermagem Outrossim cabe mencionar que a hist ria das enfermeiras da FEB quase sempre foi contada por elas mesmas onde se fizeram ver quase sempre como hero nas ou v timas Elas mesmas produziram sua hist ria selecionando pois o que deveria ser rememorado No 28 entanto muitas zonas mudas subsistiram principalmente no que se refere ao p s guerra um per odo onde elas foram pouco lembradas onde foram mesmo esquecidas como se destinadas obscuridade como se estivessem fora do tempo ou ao menos fora dos acontecimentos e primeira vista exclu das do interior do Ex rcito e do pr prio campo da enfermagem PERROT 2005 Vale o ressalte de que nas rodas de conversas entre os pr prios militares homens e at mulheres f cil diagnosticar pelos seus ju zos e reten es que
51. Nas fontes consultadas n o foi encontrado como se deram as aproxima es e articula es ami de entre o deputado Pedroso Junior e as enfermeiras da FEB para que fossem apresentadas essas proposi es H Trata se do PL 535 de 01 08 1947 152 flagrante injusti a quanto s nossas abnegadas patr cias que tudo deram pela vit ria das nossas for as no front europeu O deputado continuou sua exposi o com o seguinte apelo chegada a ocasi o de ressarcir essas dignas brasileiras dos preju zos morais e financeiros sofridos por terem voluntariamente corrido a prestar servi os P tria Busca se assim uma forma equ nime visto como j uma estranha analogia entre as v timas do Eixo e as enfermeiras da FEB que tamb m o foram pois que foi a guerra lan ada pelo Eixo que as obrigou aos imensos sacrif cios feitos na recupera o daqueles brasileiros vitimados pelo Eixo no campo de batalha Para finalizar a justifica o do seu projeto de lei o deputado relembra as enfermeiras febianas que pagaram seu tributo de sangue na guerra Duas enfermeiras da FEB Guilhermina Rodrigues Gomes e Graziela Affonso de Carvalho invalidadas no Teatro de Opera es da It lia foram reformadas como primeiro tenente com os vencimentos deste posto Vale o fato como um reconhecimento t cito da qualidade de titulares do posto de segundo tenente de suas n o menos her icas companheiras Da leitura da justificativa do de
52. Neves Maia Altamira Pereira Valadares Elita Marinho Elza Cansan o Medeiros Helena Ramos Jacyra de Souza G es Maria Apparecida Fran a Maria do Carmo Correia e Castro Maria Jos Vassimon de Freitas Novembrina Augusta Cavallero Ol mpia de Ara jo Camerino Ondina Miranda de Souza e Virginia Leite Apesar de n o constar na lista tamb m esteve presente a enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero o que totaliza um n mero de 14 febianas presentes no evento 175 conhecimento desde a noite dos tempos pesa sobre as mulheres um certo interdito ao saber entendido como contr rio feminilidade Como sagrado o saber apan gio de Deus e do Homem seu representante sobre a terra por isso que Eva cometeu o pecado supremo Ela mulher queria saber sucumbiu tenta o e foi punida por isso Com efeito algumas rupturas foram se fazendo como o pr prio feminismo anglo sax o que tido como um tipo de feminismo do saber A t tulo de exemplifica o Florence Nightingale uma figura que preconizava para as mo as oriundas das classes medianas um of cio que fosse qualificado param dico e com sal rios decentes PERROT 2007 p 91 Nos anais do Congresso foram publicados os textos de nove temas oficiais e quase duas centenas de temas livres o que denota o car ter vultoso que tomou o evento poca Desses temas oficiais chama a aten o o intitulado Racionaliza o do recrutamento aperfei oamento e ac
53. QERE Quadro de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito RBEn Revista Brasileira de Enfermagem RM Regi o Militar SESP Servi o Especial de Sa de P blica TO Teatro de Opera es UDN Uni o Democr tica Nacional UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro USP Universidade de S o Paulo VS Volunt ria Socorrista SUM RIO Considera es ni iaiS iiien ena ariaa E fr a a a 016 A Delimita o Tem tica da PESQUISA ussass nestas deabalnsindolsigndad ironia itaim sis 017 E CR tp A OE E E E AER 017 Problema a 022 DO EO sas 025 COCO sara 026 AS JUSUCA UNA o RR RN E ORE RARA BRENNER DR E E RR 027 O Quadro RONCO sore o Sa eana EAEE EST E EA EE AATE A RE TS 033 TESE sna e RR DONDE TA S EAE ER 043 AS Font s e05 MEtOdOS sf ST 044 A ES RENA da TESE ao 057 CAP TULO I A marcha de enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira para o Servi o Militar Ativo do OE nasnatu E A A ERES 058 CAP TULO II Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira em tempo de paz as estrat gias para a reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 120 CAP TULO III De volta caserna a reinclus o de oficiais enfermeiras de guerra no Servi o Militar Ativo do Ex rcito aspeiiiiva putas Dia 187 Considera es BASS caia goi 263 Fontes Primarias PRN RD RR RA PR 270 F tes SCCO ALAS ossada 282 ANEXO APENDICE assim tdiiios
54. Tal efeito se exerce atrav s das aspira es da auto imagem da auto estima que as honrarias investem nos indiv duos sobre o valor de suas posi es Tamb m as diferen as oficiais produzidas pelas honrarias tendem a fortalecer diferen as reais ao produzirem nos agraciados com diplomas a cren a reconhecida e defendida coletivamente nas diferen as BOURDIEU 2007a Em adi o a isso a titula o mesmo que apenas honrosa de oficial enfermeira da FEB guardou alguma efic cia quando imp s um dever ser s enfermeiras que tenderiam a corresponder ao papel que a institui o militar iria esperar delas mesmo desmobilizadas Entretanto h que se mencionar que nem sempre tal ades o foi observada pois na contrapartida algumas declara es desfavor veis institui o seriam mais tarde proferidas por algumas delas N o obstante pelos escritos e pela concess o de um diploma honroso s enfermeiras febianas por parte do ex comandante da FEB fica explicitamente manifesta a id ia de que existia mesmo algum reconhecimento favor vel dele em rela o ao grupo ou pelo menos boa parte dele Esta constata o ganha refor o tamb m nos textos fotogr ficos como o que se segue onde mostra a figura de um marechal de Ex rcito em destaque que se colocou concretamente do lado delas 126 M Figura n 10 As enfermeiras febianas e seus ex comandantes em solenidade no Clube Militar 194 Acervo da FEB Pal
55. Tamb m pr pria da cultura e pr tica militar a preocupa o em se internalizar nos integrantes das For as Armadas uma s rie de virtudes tidas como imprescind veis para que possam cumprir com profici ncia sua miss o Assim o car ter o esp rito militar a disciplina a lealdade a obedi ncia o respeito a coragem a iniciativa a honra a abnega o o esp rito de corpo a camaradagem o amor ao trabalho a postura a assiduidade e pontualidade a franqueza a auto estima e a f enfim todas estas e outras virtudes reunidas fazem parte de um arcabou o que conjugadas aos fundamentos de uma educa o moral r gida tomada no seio familiar d o a base de sustenta o para a forma o de um habitus militar SCHIRMER 2007 Alinhada a essas quest es em estudo onde foram abordados certos discursos masculinos tradicionais Barreira 1999 p 127 apresenta a id ia de que o discurso militar traz o apelo do amor p tria e a cren a absoluta no valor da corpora o fundamentos da constru o do esp rito militar e complementa com a id ia de que o discurso patri tico foi apropriado pelas mulheres em diferentes tempos e lugares como argumento irrecus vel sua 239 apari o no mundo p blico o que se coaduna inclusive com o caso das enfermeiras febianas aqui tratado Portanto h que se mencionar que em v rios cap tulos da hist ria da enfermagem brasileira a cultura e as virtudes militares a hexis co
56. Todos os brasileiros s o obrigados na forma que a lei estabelecer ao Servi o Militar e a outros encargos necess rios defesa da P tria e em caso de mobiliza o ser o aproveitados conforme as suas aptid es quer nas for as armadas quer nas organiza es do interior As mulheres ficam excetuadas do Servi o Militar Assim pelas vias legais do pa s a possibilidade da presen a de mulheres no campo militar seria invi vel apesar da participa o recente e expressiva de mulheres nas duas frentes A 28 F E da Revolu o Constitucionalista de 1932 em S o Paulo que visou derrubada do Governo Provis rio de Get lio Vargas FAUSTO 1999 p 343 51 ALMEIDA FILHO SANTOS 2003 8 A Revolu o Constitucionalista de 1932 foi o movimento armado ocorrido em S o Paulo de julho a outubro de 1932 que objetivou a derrubada do Governo Provis rio de Get lio Vargas e a promulga o de uma nova constitui o para o Brasil Foi uma resposta paulista Revolu o de 1930 a qual acabou com a autonomia de que os estados gozavam durante a vig ncia da Constitui o de 1891 A Revolu o de 1930 impediu a posse do governador de S o Paulo J lio Prestes na presid ncia da Rep blica e derrubou do poder o presidente da rep blica Washington Lu s que fora governador de S o Paulo de 1920 a 1924 colocando fim Rep blica Velha FAUSTO 1999 64 Ali s a experi ncia pr via e a priori bem sucedida de aproveitamen
57. Universidade Federal de Pernambuco Recife 2009b CASTILHO K thia Do corpo moda exerc cios de uma pr tica est tica In CASTILHO K thia GALV O Diana A moda do corpo o corpo da moda S o Paulo Esfera 2002 p 59 72 CASTRO Celso O esp rito militar um antrop logo na caserna Rio de Janeiro Jorge Zahar 2004 CHARTIER Roger A hist ria das mulheres s culos XVI XVII diferen as entre os sexos e viol ncia simb lica Im DUBY Georges PERROT Michelle org As mulheres e a hist ria Lisboa Dom Quixote 1995 p 37 44 Hist ria hoje d vidas desafios propostas ANPOCS Rio de Janeiro v 7 n 13 p 109 1994 COELHO Cecilia Pecego cols Escola de Enfermagem Anna Nery sua hist ria nossas mem rias Rio de Janeiro Cultura M dica 1997 COLBARI Ant nia de Lourdes Imagens familiares na cultura das organiza es In DAVEL Eduardo VASCONCELOS Jo o Orgs Recursos humanos e subjetividade Petr polis Vozes 1996 p 208 29 COOK Bernard A Women and war a historical encyclopedia from antiquity to the present v l Santa Barbara ABC CLIO 2006 CRAIK Jennifer A pol tica cultural do uniforme Fashion Theory v 2 n 2 p 5 26 jun 2003 CUCHE D A no o de cultura nas ci ncias sociais 2 ed Bauru Edusc 2002 CYTRYNOWICZ Roney A mobiliza o e o cotidiano em S o Paulo durante a Segunda Guerra Mundial S o Paulo Edusp 2002 A servi o da P tria a mobiliza o das enf
58. a administra o desse pessoal sob seu comando Eu precisava de pessoas capacitadas para me ajudarem no servi o e a turma de sargentos era a melhor do mundo Os oficiais sabem mas n o querem fazer nada porque eles t m os de c embaixo se ele capit o ele tem um tenente para ajudar J o tenente joga tudo pra cima do sargento Mas o sargento v que n o pode mandar tudo para o soldado Ent o ele capacitado para fazer de tudo E tamb m o sargento quando chega a ser sargento j universit rio j bom de trabalho e entende de tudo Agora quando mandavam um sargento ruim eu n o falava nada com ele mas eu ia sorrateiramente e dizia para o comandante Olha a gente tem que mudar porque ele n o est me ajudando bem N o est trabalhando como eu gosto Precisava ter muita paci ncia e muita t tica Ent o tinha essas coisinhas Enfermeira Carlota Mello Uma situa o algo delicada que foi experienciada pelas enfermeiras convocadas foi a do exerc cio do comando de subunidades Vista do ngulo masculino a entrada praticamente inesperada de mulheres no Ex rcito era uma excentricidade que precisaria ser ainda assimilada tanto pelos chefes quanto pelos subordinados das febianas convocadas Por certo algumas rea es masculinas em virtude da invas o pac fica de seus dom nios reservados deve ter acontecido mesmo sendo para o exerc cio de uma especialidade t cnica e a priori
59. a estufasse o peito e enfrentasse a vida militar e que eu n o me deixasse abater por qualquer coisa que acontecesse risos Ele foi um verdadeiro pai Eu era nova no militarismo N o estava acostumada com aquilo Eu fui militar na guerra mas em tempo de paz era diferente Enfermeira Carlota Mello Esta fala sugere a id ia de paternalismo que tratada por Colbari 1996 p 214 5 como tendo sido um componente cultural importante na constru o ideol gica do mundo do trabalho na transi o para o capitalismo industrial que sobreviveu como estrat gia efetiva de controle e como ideologia e que fornece um repert rio de valores e s mbolos para um modelo de ordem social que opera aqui a identifica o do comandante com a figura do pai respons vel pela manuten o do quartel fam lia e pelo sustento material e moral de seus subordinados filhos A contrapartida pode ser deduzida assim os subordinados filhos devem obedi ncia e respeito ao comandante pai e dedica o e responsabilidade com o DI Vale salientar que foram registradas no quadro n 02 as organiza es militares onde foram classificadas as enfermeiras da FEB no ato de sua convoca o para o Servi o Ativo do Ex rcito bem como as organiza es em que foram classificadas mais tarde 192 Os grifos s o meus 216 quartel casa fam lia o que se coaduna com a afirma o de Caire 2002 p 242 de que a tarefa que resta a todos os chefes
60. a usar a conquista do posto de segundo tenente da Reserva de 1 Classe funcionou como um trunfo num jogo onde o que tamb m interessava era n o s o desfrute de uma posi o de proemin ncia no campo militar mas tamb m no campo social Com efeito as febianas convocadas alcan aram com a nomea o de oficial enfermeira a posse de uma identidade juridicamente garantida que lhes conferiu prest gio al m de reconhecimento social quando passaram a tomar posse de um t tulo profissional que uma esp cie de regra jur dica de percep o social um ser percebido que garantido como um direito um capital institucionalizado legal e n o apenas leg timo BOURDIEU 2006 p 148 Contudo os predicativos oficial e enfermeira s o pass veis de discuss o Disso h que se referir que ainda no Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Militar de 1954 um m dico da Marinha deu nfase sobre o problema de se aplicar erroneamente a denomina o tradicional enfermeiro aos especialistas do Corpo do Pessoal Subalterno da Marinha que eram recrutados entre pessoal de n vel prim rio de educa o e faziam um curso de dez meses em disson ncia com as prescri es da Lei n 775 49 que prescrevia o per odo de 18 meses De fato o termo enfermeiro a poca deveria designar profissional formado por um curso de ensino superior com dura o de tr s anos e para o qual se exigia poca o curso se
61. adaptados no presente estudo que elabora o processo de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito das nicas mulheres veteranas do pa s no p s guerra Reinclus o esta que dependeu dos fatores conjunturais das influ ncias de suas representa es nos espa os p blicos e privados de como foram percebidas pela sociedade de como se deu a constru o da mem ria social delas de suas rela es com os exercentes de enfermagem poca de como conseguiram utilizar os diversos tipos de capital que acumularam em suas lutas pret ritas Assim o corpo documental utilizado aqui se diversificou incorporando fontes de diversas naturezas Boa dose de paci ncia tempo e um trabalho minucioso foram necess rios para se encontrar as fontes para esta pesquisa Na guerra pela descoberta de documentos que fundamentassem satisfatoriamente o desenvolvimento deste estudo tive que ser cauteloso para evitar a dispers o e a perda de tempo e para manter organizado o conjunto de poss veis fontes que se foram acumulando ao longo da coleta de dados Para dar conta de uma hist ria constru da no seio da hist ria das mulheres foram buscadas fontes que tivessem uma historicidade suficiente para facilitar o entendimento do murm rio que os documentos escritos tendem a provocar nesse tipo de hist ria Assim as narrativas orais imprescind veis as biografias e autobiografias as fotografias os elogios os poemas os bilhetes os di rios e inclus
62. americana na forma o da enfermeira brasileira 1934 1938 Rev Latino Am Enfermagem Ribeir o Preto v 16 n 1 p 130 5 jan fev 2008 SAUTHIER Jussara BARREIRA Ieda de Alencar As enfermeiras norte americanas e o ensino da enfermagem na capital do Brasil 1921 1931 Rio de Janeiro Escola de Enfermagem Ana Nery UFRJ 1999 SCHIRMER Pedro Das virtudes militares Rio de Janeiro Biblioteca do Ex rcito 2007 SEGALEN Martine Ritos e rituais contempor neos Rio de Janeiro FGV 2002 SILVA Cristina Rodrigues da Masculinidades e Feminilidades nas For as Armadas uma etnografia do ser militar sendo mulher In I Encontro Nacional da Associa o Brasileira de Estudos de Defesa Defesa Seguran a Internacional e For as Armadas I Encontro da 294 ABED Franca ABED 2007 Dispon vel em http www abed defesa org page4 page 7 page22 files CristinaRodrigues pdf Acesso em 24 out 2009 SILVA H lio O poder militar 2 ed Porto Alegre L amp PM 1984 SILVA Maristela Feitas Resgatando a mem ria A hist ria das enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira na Segunda Guerra Mundial Disserta o Mestrado em Enfermagem Escola de Enfermagem Anna Nery Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 1995 SOARES Barbara Musumeci MUSUMECI Leonarda Mulheres policiais presen a feminina na Pol cia Militar do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2005 SOIHET Rachel A pe
63. amor ao pr ximo Como soldado da caridade a sentinela invari vel a velar pelo doente Seu lema ser boa e caridosa seu tiroc nio acompanhar o sofrimento S ela pode dar ou retirar a esperan a Num hospital de sangue mais sublime a sua coragem mais real o seu valor CAMERINO G ES 1954 v 2 p 574 5 Do trecho acima as autoras reproduzem imagin rios do trabalho das enfermeiras de guerra afora outros atributos como o de m quina admir vel Elas se dizem os soldados da caridade na tentativa de atribuir um lugar e uma condi o particular s enfermeiras mulheres Essas s o representa es do imagin rio privado reproduzidas na palavra p blica que alimentam mesmo a domina o masculina Em contrapartida o discurso estereotipado 180 n o deixa de ser uma estrat gia feminina onde est embutida a necessidade da dissimula o de ser carinhosa amorosa boa e caridosa Nessa perspectiva o discurso performativo que enaltece o papel funcional da mulher destaca uma forma leg tima de garantir lhe certa autonomia e reconhecimento inclusive para que sejam tidas forjadas como merecedoras do t tulo de oficial Na seq ncia do texto estas febianas sagazmente complementaram suas id ias com o seguinte auto elogio As enfermeiras brasileiras foram dedicadas colaboradoras do Servi o de Sa de da For a Expedicion ria Brasileira E tamb m teceram coment rios sobre algumas iniciativas que fora
64. ap s a reinclus o realiza o das entrevistas no Servi o Ativo do Ex rcito Carlota Mello 1914 Col gio Militar de Belo 03 e 06 11 2008 Salinas MG Horizonte Belo Horizonte resid ncia Elza Cansan o 1921 Policl nica Militar da Praia 10 10 2006 28 e Medeiros Rio de Vermelha e Policl nica Central 29 10 2008 Rio de Janeiro Janeiro RJ do Ex rcito Acervo da FEB PDC e 23 06 2009 Rio de Janeiro resid ncia Roselys Teixeira 1914 Col gio Militar de Belo 04 11 2008 Gazzinelli Araguari Horizonte Belo Horizonte MG resid ncia Virg nia Maria de 1917 Policl nica Central do Ex rcito 31 08 2006 26 09 2006 e Niemeyer Rio de 15 09 2009 Portocarrero Janeiro RJ Rio de Janeiro resid ncia Durante as entrevistas deixei que elas falassem vontade mantendo um tom mais coloquial e procurando n o me ater a hor rios Os encontros com todas elas foram muito agrad veis e proveitosos mas tamb m densos e at cansativos pois o exerc cio mental de trazer luz quest es adormecidas n o foi f cil sem contar a aten o que se deve dar n o s aos ditos mas tamb m aos n o ditos que tais quest es evocam Outrossim uma dificuldade que notei foi a de ter que remet las para um recorte temporal de p s guerra menos glamoroso que o da guerra Por vezes a impress o que tive foi a de que suas hist rias no p s guerra foco da aten o maior desta pesquisa n o era para elas de tanta import n
65. as fotos funcionaram como registros que possibilitaram o estabelecimento de di logos indaga es e estudos BURKE 2004 Com efeito os discursos que as fotografias re nem sinalizam l gicas diferenciadas de organiza o do pensamento de ordena o dos espa os sociais e de medi o de tempos culturais minimizando um pouco as lacunas e sil ncios e sacralizando o momento hist rico BORGES 2005 PAIVA 2004 Sendo assim a interpreta o do texto fotogr fico comportou o exame das condi es de produ o reprodu o e o pr prio estudo da materialidade fotogr fica uma vez que o texto fotogr fico comporta uma s rie de estrat gias discursivas uma intencionalidade do autor e de quem o guarda assim como o contexto de sua produ o Para an lise das fotos foram consideradas as seguintes caracter sticas expressividade representa o pl stica visual est tica ambigiiidade fidedignidade prova ou n o do fato ideologia significado embutido intencionalidade pretens o de perpetua o e divulga o da imagem de um grupo distribui o espacial definida pela cultura capital hierarquia texto fotogr fico enquadramento disposi o dos planos e das pessoas representa es objetais efeitos de lugar e invisibilidade conte do interno da fotografia BOURDIEU 1965 SANTOS BARREIRA 2002 Andrade 1990 p 1 ao tratar do processo de an lise fotogr fica pontua que h que se perceber as rela es ent
66. as regras do jogo dentro do campo social e que esteja disposto a lutar jogar Sem d vida os agentes constroem a realidade social sem d vida entram em lutas e rela es visando a impor sua vis o mas eles fazem sempre com pontos de vista interesses e referenciais determinados pela posi o que ocupam no mesmo mundo que pretendem transformar ou conservar BOURDIEU 1991 p 112 12 Como bases epistemol gicas foram aproveitadas as seguintes obras de Pierre Bourdieu Quest es de Sociologia 1983 Raz es e pr ticas sobre a teoria da a o 1996 A economia das trocas ling sticas o que falar quer dizer 1998 Medita es pascalinas 20014 Contra fogos 2 por um movimento social europeu 2001b A domina o masculina 2003 A economia das trocas simb licas 2005 O poder simb lico 2006 A distin o cr tica social do julgamento 2007a A mis ria do mundo 2007b e Escritos de educa o 2007c 35 No que diz respeito aplicabilidade dos conceitos da Teoria do Mundo Social elegeu se o campo do Ex rcito Brasileiro como o campo preferencial por terem sido as enfermeiras febianas inclu das exclu das e reinclu das neste mesmo cen rio de car ter multidimensional que tem como pilares a tradi o a hierarquia e a disciplina e onde as posi es s o categoricamente classificadas e ocupadas A t tulo de esclarecimento h que se mencionar que os militares da ativa s o os cidad os que a se
67. cadas para como volunt rias atuarem nos hospitais de campanha durante a Segunda Guerra Mundial A s ndrome de Ana N ri nos termos de Nanci Leonzo 1998 passou a ser coisa do passado N o estava mais em jogo a unidade da P tria nem a paz mundial como nos tempos de guerra e sim a sobreviv ncia ou melhor a luta por um espa o no mercado de trabalho e por um melhor sal rio Em 1997 houve a abertura de turmas femininas no Instituto Militar de Engenharia Em 1998 foi implantado um projeto piloto de forma o de atiradoras na Amaz nia sendo desativado em 2001 Das tr s for as armadas at o momento a nica que possibilitou o acesso de mulheres numa academia militar foi a For a A rea com a admiss o em 1996 de 17 candidatas para o curso de Intend ncia da Academia da For a A rea tendo sido a primeira academia militar da Am rica Latina a aceitar mulheres no seu corpo discente D ARAUJO 2003 Grifo meu 262 Ali s em um artigo publicado na Revista do Ex rcito Brasileiro por uma historiadora intitulado Enfermeiras da FEB quando as mulheres v o luta feita uma salutar provoca o Ei la Apenas em 1957 a incorpora o dessas mulheres ao efetivo do Ex rcito foi considerada e as febianas puderam se integrar vida militar Mesmo assim no final dos anos 80 as campanhas de alistamento feminino nas For as Armadas deixavam claro que n o houvera antes outras mulheres brasileiras milita
68. cio Duque de Caxias Rio de Janeiro Na fala das enfermeiras da FEB e nos seus registros escritos n o h nota que desabone a figura do comandante da FEB Geralmente ao se referirem a ele evocam qualifica es merit rias que deixam ver que existia alguma admira o e respeito Sobre isso serve de exemplo a fala abaixo Ele era uma criatura que voc olhava e sabia que tinha uma for a tremenda Era sisudo e s rio mas quando a gente se aproximava era um pai 87 Uma ternura de pai Isabel Novaes Feitosa Nesta foto do p s guerra imediato cujo cen rio foi o do Sal o Nobre do Clube Militar est presente uma razo vel parcela de febianas 20 das 67 que participaram da guerra 3 Apesar de n o haver informa o escrita sobre a data desta fotografia das entrevistas realizadas com duas enfermeiras que se fizeram presentes nesta foto h concord ncia de que o registro foi feito logo ap s o t rmino da guerra 37 Trecho de entrevista arquivada no Centro de Mem ria Dra Nalva Pereira Caldas da Faculdade de Enfermagem UERJ 127 Sentados frente e ao centro est o o marechal Jo o Baptista Mascarenhas de Moraes e mais m a 89 r direita o general Emmanuel Marques Porto este chefe do Servi o de Sa de da FEB e outro aliado importante nas causas dessas enfermeiras Uma enfermeira esclarece que esta foto foi feita durante uma comemora o no Clube Militar Todos na foto participaram da F
69. cobrou concurso atualiza o ou coisa parecida Com a forma o que eu apresentei a For a me aceitou Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Como se percebe as febianas passaram a subsistir no Ex rcito intramuros abrigadas do mundo externo e por extens o da enfermagem civil Ou seja se a reinclus o no Servi o Militar Ativo possibilitou que de certa forma fosse constru da uma identidade social de oficial enfermeira para elas no campo do Ex rcito o mesmo lucro n o chegou a ser verificado extramuros a despeito dos interesses em jogo no campo da enfermagem poca uma vez que o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode parecer distinto para um pretensioso ou ostentat rio para outro e vulgar para um terceiro BOURDIEU 1996 p 447 217 ea O grifo meu 244 Eu acho que o pensamento da enfermeira profissional era assim Que coisa N s somos profissionais N o vamos valorizar muito essas que foram guerra Elas s o menos que a gente que temos o curso Vamos ficar quietas Elas quem tinham que ter ido para a guerra porque elas que eram as profissionais do pa s Elas n o quiseram se apresentar ent o n s nos apresentamos e por isso fomos divulgadas Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Apesar de manifesta essas diverg ncias n o h como se crer piamente na exist ncia de uma disputa aberta entre as enfermeiras profissionai
70. conhecendo toda a rotina hospitalar e de trabalho CANSAN O 2003 p 33 99 54 Ademais pela an lise da imagem a presen a de Kieninger e do filho do presidente da Rep blica ao lado daquelas enfermeiras promoveu o ac mulo de bens simb licos para um grupo que estreava no campo militar quando deu legitimidade sua exist ncia Embora as enfermeiras do Ex rcito tenham ingressado como enfermeiras de 3 Classe sem direito a posto gradua o as da Aeron utica j come aram na 2 Classe Assim estas gozaram dos direitos e regalias de oficial O trecho a seguir complementa esta informa o As enfermeiras da Escola Anna Nery n o se sujeitaram a ganhar quinhentos e vinte r is Elas ganharam mil e duzentos r is A Aeron utica ofereceu posto e soldo de tenente por isso que elas foram para a Aeron utica Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Desde as provid ncias inerentes ao treinamento diferenciado das enfermeiras da Aeron utica percebe se a valoriza o do diploma da enfermeira egressa da Escola Anna Nery que al m de assegurar formalmente o aprimoramento de uma compet ncia espec fica tamb m determinou a ocupa o de posi es prestigiosas no cen rio militar uma vez que as diferen as oficiais produzidas pelos t tulos escolares tendem a produzir ou fortalecer nos indiv duos a cren a na naturaliza o dessas diferen as O pr ximo excerto ilustra a aceita o t cita de que os portadores de
71. d 3 ICONOGR FICAS Acervo da FEB Pal cio Duque de Caxias Rio de Janeiro Acervo da Policl nica Militar do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Acervo do Col gio Militar de Belo Horizonte Belo Horizonte Acervo pessoal da enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Rio de Janeiro Acervo pessoal da sobrinha da enfermeira Ol mpia de Ara jo Camerino Sra Cristiane Camerino Rio de Janeiro Casa da FEB Belo Horizonte Internet Jornais Livros Peri dicos Fontes Secund rias 282 283 FONTES SECUND RIAS ALBERTI Verena Hist rias dentro da Hist ria In PINSKY Carla Bassanezi org Fontes hist ricas 2 ed S o Paulo Contexto 2008 p 155 202 ALCANTARA Leila Milman A enfermagem militar operativa gerenciando o cuidado em situa es de guerra Tese Doutorado em Enfermagem Escola de Enfermagem Anna Nery Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2005 ALMEIDA Alberto Carlos A cabe a do brasileiro 4 ed Rio de Janeiro Record 2007 ALMEIDA FILHO Antonio Jos de A Escola Anna Nery EAN no front do campo da educa o em enfermagem e o re alinhamento das posi es de poder 1931 1949 Tese Doutorado em Enfermagem Escola de Enfermagem Anna Nery Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2004 ALMEIDA FILHO Antonio Jos de SANTOS T nia Cristina Franco Participa o da Escola Anna Nery na Revolu o Constitucionalista de 1932 Rev bras
72. da farda das febianas O emblema de sa de dos americanos feito pelas letras iniciais em mai sculo D para os dentists N para as nurses No emblema de todo o pessoal da Sa de tem a cobra o que muda a letra O nosso emblema foi inspirado no modelo norte americano Ele tem a letra E de enfermeira e uma cobra envolvendo um sabre Fui eu quem pediu que o nosso emblema fosse feito assim porque o nosso antigo era um esmalte preto com um fio dourado formando a cruz e a cruz representa a Cruz Vermelha que uma entidade particular o que n o tinha nada a ver Enfermeira Elza 187 Cansan o Medeiros Figura n 20 Emblema da farda das oficias enfermeiras convocadas pelo Ex rcito Brasileiro Acervo pessoal da enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero 187 Grifo meu 211 Como se pode perceber da fala os agentes investem em representa es objetais emblemas uniformes medalhas etc enquanto estrat gias interessadas de manipula o simb lica tendentes para determinar a representa o mental que os outros podem construir a seu respeito Assim a sele o de itens de um uniforme com base no modelo norte americano cujo Ex rcito se consagrou na Segunda Guerra demarca uma estrat gia de diferencia o e de identifica o favor vel no mundo social BOURDIEU 1998 Al m dos signos distintivos como as insignias e as fardas militares que elas passaram
73. da popula o tornaram se sujeitos mobiliza o e igualmente alvo de ataques com armas de destrui o em massa Outrossim algumas fronteiras entendidas aqui como met fora entre Estado e sociedade entre cultura oficial e popular entre classe m dia e de oper rios entre homens e mulheres foram rompidas acionadas e mobilizadas pelo governo de Get lio Vargas Ali s muitas destas iniciativas foram de fato efeitos de mobiliza o ou efeitos de alinhamento pr Estado Novo Assim que tais a es sobrepuseram se aos objetivos pol ticos do regime e sua concep o de sociedade e tomou genericamente falando a guerra como um libi e um modelo de sociedade militarizada CY TRYNOWICZ 2002 Nessa vertente a constitui o desse front interno no pa s serviu consolida o de uma ordem interna que tinha como modelos pedag gicos por exemplo escoteiros para os meninos e enfermeiras para as meninas ambos entendidos como disponibilidade total de servir em um sistema de disciplina militar e de devo o incondicional p tria CYTRYNOWICZ 2002 73 Por isso o Estado Novo tornou a profiss o de enfermagem uma importante meta nacional e em consequ ncia da guerra houve uma intensifica o do preparo de enfermeiras profissionais e volunt rias o que pode ser verificado atrav s das not cias divulgadas pelos jornais que enalteciam a mulher e a profiss o de enfermagem BARREIRA 2005 p 482 A estrat gia da divulga
74. de 1945 Publicado no Boletim Reservado do Ex rcito n 6 p 50 Arquivo Hist rico do Ex rcito Disp e sobre proibi o aos oficiais e pra as da FEB que regressaram da It lia de fazerem declara es ou concederem entrevistas para divulga o pela imprensa sem autoriza o do Ministro da Guerra Minist rio da Guerra Aviso n 217 185 reservado de 6 de julho de 1945 Disp e sobre a dissolu o da For a Expedicion ria Brasileira e d outras provid ncias Minist rio da Guerra Aviso n 2 256 de 21 de agosto de 1945 Publicado no DO n 192 de 24 de agosto de 1945 p 13 923 Transcrito no BE n 34 de 25 de agosto de 1945 p 2 752 Disp e sobre a proibi o do uso de uniformes pelos que foram licenciados do Servi o Ativo do Ex rcito logo ap s o t rmino da guerra Minist rio da Guerra Aviso n 698 de 16 de outubro de 1951 Reitera recomenda es sobre a conduta dos militares pela palavra falada ou escrita aconselhando disciplina trabalho e lealdade Minist rio da Guerra Decreto n 15 230 de 31 de dezembro de 1921 Disp e sobre a regulamenta o da forma o de enfermeiros no Corpo de Sa de do Ex rcito Minist rio da Guerra Decreto n 21 141 de 10 de mar o de 1932 Aprova o Regulamento para o Quadro de Enfermeiros do Ex rcito Minist rio da Guerra Decreto n 8 835 de 23 de fevereiro de 1942 Aprova o Regulamento Disciplinar do Ex rcito Minist rio da Guerra Decreto n
75. de Moraes est a indica o glamourosa de que para a conserva o da impoluta tradi o das armas brasileiras rica de sacrif cios e pontilhada de gl rias imarcesc veis era necess rio o cuidado do estado moral da tropa al m da parte t cnica e que 82 Ap s o fim da guerra Mascarenhas de Moraes foi promovido a marechal de Ex rcito em 1946 por ato do Congresso Nacional e recebeu o comando da 1 RM na ent o capital brasileira Rio de Janeiro MORAES 2005 123 seria injusto deixar no esquecimento os nomes dos bravos que pelo desprendimento pelo esfor o pelas altas qualidades de rigidez de car ter e vero patriotismo tornaram se verdadeiros s mbolos para a tropa em luta no continente europeu e qui para a Na o Brasileira Neste comenos o ex comandante da FEB n o deixou de lembrar o nome das 67 enfermeiras MORAES 2005 p 291 2 E sobre elas registrou algumas elogiosas opini es suas expondo que as enfermeiras fizeram de sua atua o na campanha um verdadeiro sacerd cio enfrentando a dura e dolorosa realidade dos hospitais de guerra com bravura estoicismo e dedica o transportadas para uma vida completamente diferente daquela a que estavam acostumadas plena de sacrif cios imensos e trabalhos sem fim produziram o melhor dos seus esfor os para conceder ao soldado ferido al m da assist ncia m dica uma aten o carinhosa que lhe transmitisse um pouco de nimo nos transes dolorosos que
76. diplomas s o intimados a assenhorar se realmente dos atributos que estatutariamente lhes s o conferidos BOURDIEU 2007a p 29 Ah n o havia conviv ncia A nica enfermeira do Ex rcito que tinha um contato com elas era eu porque eu vivia muito na base a rea Mas isso era muito raro Como elas eram anan ri e n s ramos volunt rias socorristas e samaritanas elas n o davam valor e n o se misturavam conosco Eu que sempre mandei passear e n o dava bola a elas Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Elas seguiram para os Estados Unidos em 12 07 1944 por via a rea em companhia de quatro m dicos com destino Base de Mitchel Field Hospital em Long Island para treinamento militar ocasi o em que tiveram uma capit o americana como oficial de liga o Ap s foram transferidas para a base de Suffolk Field no Estado de Virginia e em seguida para o campo de Patrick Henry donde seguiram de navio em 19 09 1944 para Livorno It lia No Teatro de Opera es elas chegaram em 06 10 1944 onde tiveram como oficial de liga o a capit o Jouela Patterson CANSAN O 2003 67 A Portaria n 178 de 10 07 1944 do Ministro da Aeron utica nomeou as enfermeiras de 2 Classe para o Quadro de Enfermeiras da Reserva da Aeron utica 100 Retomando o caso particular das enfermeiras do Ex rcito al m das diferen as constatadas acerca de sua forma o profissional outros aspectos tamb m as dif
77. divisaram n o compreenderam a maravilhosa finalidade da vida todo o encanto feiticeiro da fraternidade N o ser nesse ambiente de destrui o que se h o de formar caracteres puros e que se produzir a luz sobre as trevas que sitiam as criaturas do s culo XX Assim n o medo de cumprir o dever mas a compreens o n tida clara desse dever que a obriga a rebelar se primeira vista o discurso empolgado desta deputada que negou com veem ncia a participa o de mulheres nas trincheiras tamb m de certo modo refor ou os pap is que cada um homem e mulher deveria assumir na sociedade e em especial no cen rio de guerra Guardadas as devidas propor es e a despeito de suas id ias humanit rias algum tempo depois este tipo de discurso se estreitaria com as estrat gias de manipula o ideol gica que seriam utilizadas pelo governo brasileiro na mobiliza o de homens para combaterem no front e de mulheres para atuarem na retaguarda da Segunda Guerra Mundial como enfermeira Tal situa o remete id ia de que a mulher faz parte de um ex rcito de reserva sempre em prontid o para atender quando solicitada inclusive em ambientes de destrui o Ali s esse per odo compreendido entre as duas guerras mundiais foi de grande desassossego em virtude dos pa ses derrotados da Primeira Guerra 1914 1918 se mostrar 66 insatisfeitos com sua sorte A Grande Depress o 1929 30 levou as pessoas a aceitarem
78. do chamado Golpe Preventivo de 11 de novembro Contra Golpe Legalista a fim de garantir a posse do 189 presidente eleito Na ocasi o as tropas do Ex rcito ocuparam edif cios governamentais e esta es de r dio e jornais Os comandos do Ex rcito ficaram ao seu lado como o marechal Mascarenhas de Moraes ex comandante da FEB e inclusive o pr prio deputado petebista Fernando Ferrari autor do projeto de lei que objetivou a reinclus o das febianas em 1953 J os ministros da Marinha e da Aeron utica denunciaram a a o tratando a como ilegal e subversiva Diante disso as bases Navais e da Aeron utica foram cercadas pelo Ex rcito para se evitar um poss vel confronto entre as For as Armadas FAUSTO 1999 p 421 5 CARLONI 2010 Com o discurso de defesa da Constitui o e da democracia e comprometido com a posse dos eleitos Lott fez com que este epis dio atualizasse para a d cada de 1950 um componente estrutural decisivo da pol tica brasileira o poder militar Tanto que ap s o Golpe Preventivo este general preferiu manter se no controle do aparelho militar durante praticamente os cinco anos de mandato presidencial o que resultou num importante fator de estabilidade pol tica durante o governo de Kubitschek quando atuou como ministro da Guerra apoiando militarmente o presidente GOMES 1996 p 268 SILVA 1984 Com efeito o oficialato das For as Armadas em especial o do Ex rcito estava disposto em sua maior
79. do estatuto dos regulamentos e normas militares em vigor poca entre as quais a do exerc cio da atividade militar com dignidade e efici ncia a do zelo pela honra e reputa o da classe com a observa o de procedimento irrepreens vel na vida p blica e particular a de estar preparada f sica moral e intelectualmente para o cabal desempenho de sua fun o a de ser leal em todas as circunst ncias entre outras 64 Diferentemente do epis dio ocorrido durante a guerra as febianas a serem convocadas fariam jus a soldos equilibrados com os dos hom logos masculinos o que pode ser atestado como uma demonstra o de avan o se comparada com a situa o de grande parte das 16 Esta id ia pode ser atestada atrav s da an lise dos textos publicados nos anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Militar de 1954 164 Os deveres e responsabilidades dos militares est o relacionados no Cap tulo IV do Estatuto dos Militares 1946 e no seu artigo 11 est previsto que a situa o jur dica do oficial era definida pelos deveres e direitos inerentes ao t tulo carta patente que lhe fosse outorgado 193 mulheres inclusas no mercado de trabalho poca apesar das prescri es constitucionais e das leis do trabalho em vigor que vedavam a discrimina o salarial entre os sexos Concretamente as febianas passaram a representar um segmento feminino que bem se distinguia neste item no campo social 6 Outro aspe
80. do exerc cio de sua enfermagem N o toa que quando foi 224 inaugurado no HCE em 1956 o moderno Pavilh o Marechal Ferreira do Amaral apelidado de Martha Rocha constru do com o prop sito de hospitaliza o de oficiais para quem se priorizou um tratamento melhorado diferenciado viabilizou se a contrata o de enfermeiras profissionais detentoras de maior capital cultural e por isto recomendadas para exercerem suas atividades neste pavilh o Inclusive uma delas chegou a ascender ao cargo de chefe do Servi o de Enfermagem do HCE em 1959 NASCIMENTO 2004 p 59 75 Especificamente em rela o s febianas convocadas a perten a a um quadro composto por oficiais do Servi o de Sa de do Ex rcito em que praticamente todos tinham n vel superior p de ter provocado algum desconforto Mesmo porque a condi o de oficial exige inclusive um satisfat rio n vel de conhecimento militar administrativo e t cnico para o exerc cio efetivo da fun o E a falta deste preparo chegou mesmo a ser sentida por elas mesmas como se depreende do trecho a seguir Depois que fui reinclu da o comandante do Col gio Militar me perguntou O que voc sabe do meio militar Eu respondi Eu sei pouco Ele me ensinou as coisas e at como eu devia colocar o quepe na hora de cumprimentar ou de entrar num lugar Enfermeira Carlota Mello No que tange ao aspecto t cnico h que se referir ainda que a pr tica de se contratar
81. durante toda a vida BERNARDES 2003 Ali s os participantes de movimentos sociais por mais divergentes que sejam suas origens objetivos ou projetos pessoais adquirem todo um conjunto de tra os comuns que lhes d o apar ncia de fam lia com rea es similares BOURDIEU 2001b p 62 Esta comunidade afetiva ao seu tempo e ao seu modo e de acordo com suas possibilidades e classifica es iria tentar re estruturar sua mem ria ao longo dos anos mem ria esta que ao definir o que foi comum a este grupo e o que o diferenciou dos outros 230 Trecho de entrevista arquivada no Centro de Mem ria Dra Nalva Pereira Caldas da Faculdade de Enfermagem UERJ 254 fundamentou e refor ou os sentimentos de pertencimento e as fronteiras demarcadas pelo capital simb lico que o grupo acumulou POLLAK 1989 Um bom exemplo disso foi a organiza o em 1978 do Primeiro Congresso Nacional de Enfermeiras da FEB ICNEF patrocinado pelo COEGUE ou seja por elas mesmas A presid ncia ficou a cargo de S lvia de Souza Barros febiana que n o reincluiu ao Servi o Ativo e que se diplomou em medicina psiqui trica ap s a guerra e a presid ncia de honra coube ao marechal Cordeiro de Farias detentor do bast o simb lico do comando da FEB e tamb m capit o enfermeira Ol mpia de Ara jo Camerino As comiss es executiva social e financeira ficaram sob a responsabilidade de dez enfermeiras febianas enquanto que a cient fica coub
82. durava um ano ou o de volunt ria socorrista cujo curso durava apenas tr s meses e que no curso que seria ministrado pelo Ex rcito CEERE que seriam feitas a sele o e aperfei oamento espec ficos para a guerra Outrossim a incorpora o de grande n mero de volunt rias socorristas no grupamento de enfermeiras da FEB revelou a car ncia de pessoas mulheres preparadas para o exerc cio da enfermagem de guerra Ademais alguns estudos sobre a hist ria da enfermagem brasileira consideram fontes que demonstram mesmo uma necessidade grande de enfermeiras profissionais nessa poca como o de Almeida Filho 2004 p 73 que revela que at o final da d cada de 1940 todas as escolas de enfermagem conseguiram formar apenas 1 211 enfermeiras o que obviamente n o atendia aos requisitos de assist ncia sa de da sociedade brasileira nem no mbito da sa de p blica nem na rea hospitalar que come ava a intensificar se no Brasil Essa realidade colocava em quest o a capacidade das escolas de enfermagem de formar m o de obra qualificada para atender aos servi os de sa de em todo territ rio nacional Esse total n o considera apenas as escolas de enfermagem que adotavam o modelo anglo americano se assim o fosse o total de enfermeiros ficaria reduzido a 373 2 A enfermeira Helo sa Batista formada pela Escola Anna Nery fez parte da segunda turma do CEERE no Rio de Janeiro mas n o chegou a seguir para o Teatr
83. e por esse testemunho entre tantos outros de que o nosso Ex rcito conserva em sua pureza as virtudes e os sentimentos mais profundos do povo brasileiro solid rio com os nossos sacrif cios e atento s nossas ang stias As brasileiras que em 1944 abandonaram o lar a vida trang ila a seguran a da P tria para acompanhar a trajet ria her ica da FEB revelaram o mesmo hero smo e a mesma bravura dos pracinhas Deve lhes a P tria uma compensa o A mais justa e a mais l gica essa que vem de ser determinada pelo ilustre ministro da Guerra E a mais doce tamb m ao cora o das enfermeiras brasileiras porque nesse gesto elas encontram um reflexo de sua feminina do ura impregnando de galanteria e de m scula gratid o e altivez da alma do soldado CAMERINO 1983 p 99 Publicado no DO n 188 de 17 08 1946 p 11 825 e transcrito no BE n 34 de 24 08 1946 p 2 618 A publica o deste Aviso foi divulgada no jornal Correio da Noite de 29 08 1946 7 Grifo meu 138 Perguntada sobre as circunst ncias desta medida uma das entrevistadas esclareceu que algumas febianas pediram imploraram e conseguiram ficar como civis contratadas Contratadas mas n o efetivadas Enfermeira Elza Cansan o Medeiros A pr xima fala ratifica a utiliza o desta benesse por uma parte do grupo Elas tiveram que fazer uma provinha Todas passaram naturalmente E foram nomead
84. exercentes de enfermagem da poca o que refor ou certas pr ticas de interioriza o da exclus o delas mesmas nos espa os da enfermagem Sob esta ptica a representa o da enfermeira improvisada que de certa forma se resolvera razoavelmente no campo militar n o teve o mesmo desfecho no campo da enfermagem onde n o detinham o capital institucionalizado que tem no diploma a sua garantia 25 Ao se atentar aqui para uma tem tica que envolve a mem ria desse grupo de enfermeiras reconheceu se concorrentemente a exist ncia em contrapartida do esquecimento dos sil ncios e dos n o ditos sobre este grupo Ali s o esquecimento pode ser uma op o de restringir ao essencial certos fatos ou informa es mas tamb m pode ser o resultado de uma a o deliberada de ocultamento Diante dessa dupla possibilidade pode ser til a proposta de Burke 2000 de examinar a organiza o social do esquecer as regras da exclus o supress o ou repress o e a quest o de quem quer que quem esque a o qu e por qu Essa a f rmula para ele da amn sia social dos atos de esquecimento PADR S 2002 Em suma a problem tica aqui apresentada trata de uma situa o recortada que ocorreu em dois campos o do Ex rcito e o da enfermagem e tamb m encerra em si quest es da subjetividade das enfermeiras da FEB que tiveram que utilizar as estrat gias que estiveram ao seu alcance para darem cabo de seus intentos e para re const
85. general Emmanuel Marques Porto s d 169 Um tost o de cada brasileiro recorte de jornal 195 sussaesoraecssaneniimasa 171 Solenidade durante o Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Militar 1954 182 A enfermeira Elza Cansan o e o marechal Mascarenhas de Moraes no lan amento do livro Nas barbas do tedesco 1955 eee 185 Apresenta o de enfermeiras da FEB convocadas para o Servi o Militar Ativo DO ral Si 206 Itens do fardamento das febianas convocadas para o Servi o Ativo do Ex rcito 209 20 21 22 23 24 25 26 Emblema da farda das oficias enfermeiras convocadas pelo Ex rcito Brasileiro 210 Enfermaria do Col gio Militar de Belo Horizonte 1958 1959 227 Pose grupal durante as comemora es do terceiro anivers rio do Col gio Militar de Belo Horizonte 12 de setembro de 1958 ooononnnssesssssssereesssssssereesrsessrsrreesresssese 234 Cerim nia de concess o da Medalha de Bons Servi os bronze da Cruz Vermelha Brasileira Rio de Janeiro 1958 ereee errei ananna 240 Despedida do Servi o Ativo da enfermeira Elza Cansan o Medeiros 1976 251 Objetos produzidos pelo COEGUE siearsisasicaradnra sia ndi nadadora ani neii 252 Enfermeiras da FEB na It lia Segunda Guerra Mundial capa de peri dico 256 LISTA DE QUADROS N Descri o P g 1 Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira entrevistadas
86. l Comiss o dirigida por Mabel Shaw diretora do Posto 23 da Cruz Vermelha no Largo da Gl ria e integrada por mo as da sociedade carioca MORAES 1949 p 410 1 131 mesma enfermeira respondeu Todo mundo tentou fazer isso mas a Dona Santinha n o permitiu N o foi frente porque ela n o deixava E continua Ela n o deixava a gente voltar porque tinha dio da gente Ela controlava tudo Ela prejudicou a todos N o foram s as enfermeiras n o Ela fez o Dutra criar uma lei em que o oficial n o podia casar como aspirante mas s como 1 tenente Isto porque ela n o queria o casamento do filho com a filha do gerente do Hotel Brasil Ent o ela fez o Dutra criar esta lei que perdurou por anos e anos O pessoal casava escondido e n o registrava casamento e quando era transferido n o podia leva a mulher Olha Foi uma zorra O que esta mulher fez de ruindade voc s n o podem imaginar Ela conseguia tudo Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Elza pontua outra intemp rie No final da guerra vinte e quatro de n s foram promovidas dois postos acima por merecimento O general Mascarenhas mandou botar as estrelas ainda na It lia N s voltamos com as estrelas de capit o E quando chegamos aqui o Dutra cassou a promo o N s descemos de capit o para segundo tenente quando chegamos aqui no Brasil Foi o Dutra foi o Dutra Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Do exposto va
87. la Fuerza Expedicionaria Brasilefia FEB en Servicio Activo en el Ej rcito despu s de la Segunda Guerra Mundial Objetivos describir las circunstancias que precedieron el proceso de re inclusi n de las enfermeras de la FEB en Servicio Activo del Ej rcito despu s de la Segunda Guerra Mundial analizar las estrategias utilizadas por ellas para la reinserci n en Servicio Activo del Ej rcito y discutir la nueva inclusi n de estas enfermeras en Servicio Activo en el Ej rcito Las fuentes primarias consistia en escritos orales iconogr ficos y mientras que las fuentes secundarias de bibliogr fica existente sobre ese tema Los resultados fueron clasificados analizados y contextualizados a la luz de la Teor a del Mundo Social de Pierre Bourdieu y los estudios sobre la Historia de las Mujeres de Michelle Perrot Los resultados mostraron que en la historia de la profesi n de enfermer a las enfermeras de la FEB es la primera agrupaci n femenina que se ha admitido oficialmente en las Fuerzas Armadas Brasile as En 1944 se fueron a Italia junto con la FEB en las que trabajaban en los hospitales en Am rica del Norte Durante la guerra y con el apoyo de discurso patri tico rompe operado en el discurso tradicional y paternalista que afirm lugar de la mujer en el hogar y su papel en la procreaci n Por lo tanto hab a muchas dificultades y penurias que hab a sufrido adem s de ser excluidos de cualquier estado efectivo del Ej rcito Brasil
88. leis de amparo e assist ncia aos ex combatentes que se tornaram extensivos e aplic veis a elas Uma vez promulgada esta lei foi publicada em Di rio Oficial uma rela o com as 63 enfermeiras que foram nomeadas no posto de 2 tenente para o Quadro de Enfermeiras da Reserva de 2 Classe no Servi o de Sa de do Ex rcito Entre as que n o constaram desta 8 Trata se do PL n 1 189 cuja ntegra do texto n o foi poss vel acessar Al m disso pelas fontes consultadas n o foi diagnosticado como se deram as aproxima es e articula es entre o deputado Ruy Santos e as enfermeiras da FEB para que fosse apresentado este projeto de lei Arquivo dispon vel em http Awww2 camara gov br internet proposicoes Acesso em 02 nov 2009 11 O texto na integra est dispon vel em http Awww2 camara gov br legin fed lei 1950 1959 lei 1209 25 outubro 1950 363505 publicacao 1 pl html 120 Se o I do DO de 27 11 1950 p 7 032 156 publica o estiveram as enfermeiras Altamira Pereira Valadares Graziela Affonso de Carvalho 2 Guilhermina Rodrigues Gomes e Lind urea Galv o Sobre a Lei n 1 209 50 a enfermeira febiana Ol mpia de Ara jo Camerino reconheceu que este instrumento concretizou parte das aspira es das enfermeiras uma vez que elas foram efetivadas no posto de 2 tenente e inclusas na Reserva de 2 Classe do Ex rcito com o mesmo posto do per odo de guerra CAMERINO 1983 p 121
89. lio Vargas atrav s do Decreto n 10 358 artigos 74 letra k e 171 da Constitui o Federal A declara o de guerra do Brasil ao Jap o s ocorreu em 1945 79 a exemplo do que ocorria nos ex rcitos de outros pa ses Em contrapartida contava com um efetivo masculino de sargentos e cabos enfermeiros que chegaram a ser mobilizados mas que pelo que refere Cansan o 1987 p 64 n o atenderam ao padr o do Ex rcito Norte Americano a quem a FEB iria se integrar de se ter mulheres enfermeiras incorporadas e treinadas A t tulo de esclarecimento esses cabos e sargentos enfermeiros que constitu am o pessoal subalterno do Servi o de Sa de do Ex rcito eram formados desde 1921 pelas Escolas de Forma o Sanit ria Division ria Outrossim eles adquiriram direito legal para o exerc cio da profiss o de enfermagem em 1932 atrav s do Decreto n 21 141 que aprovou o regulamento para o Quadro de Enfermeiros do Ex rcito e conferiu aos concludentes do Curso de Enfermeiros da Escola de Sa de do Ex rcito os mesmos direitos de exerc cio profissional que possu am as enfermeiras formadas pela Escola Anna Nery que havia sido elevada condi o de Escola Oficial Padr o em 1931 atrav s do Decreto n 20 109 a qual todas as demais escolas do pa s deveriam ser a ela equiparadas Tal situa o livrou o Ex rcito da obrigatoriedade de enquanto rg o formador de pessoal de enfermagem ter que se equiparar Escola
90. mesma ter sido feita necess ria em um conflito de ordem mundial de grande alcance pol tico social OLIVEIRA et al 2009a Com efeito a enfermagem assumiu um car ter militar como antes nunca havia assumido na hist ria do pa s Conforme era de se esperar a op o aparentemente exc ntrica feita por essas jovens de se alinharem num conflito b lico junto aos homens do Ex rcito n o chegou a ser bem aceita poca tanto pelas suas fam lias quanto pela sociedade brasileira e tamb m pelo pr prio meio militar que culturalmente sempre havia se feito reconhecer como um espa o masculino e masculinizante onde se impunha a incorpora o de certos comportamentos calcados pela imposi o de algumas restri es vis veis e invis veis atrav s de normas r gidas fortalecidas pelas id ias pilares de tradi o disciplina e hierarquia OLIVEIRA 2007 Al m da verifica o de alguns preconceitos e restri es as enfermeiras que foram inclu das no Ex rcito n o formaram um grupo uniforme Eram evidentes as diferen as 20 derivadas das classes sociais s quais pertenciam o que faziam divergir em dados momentos e ocasi es seus julgamentos opini es e posi es sobre o pr prio grupo e sobre sua representa o no espa o p blico Ap s embarcarem em fra es para o front tiveram como destino a It lia onde atuaram em diversos hospitais do V Ex rcito Norte Americano ocasi o em que obtiveram alguns ganhos simb licos e
91. mulheres do Brasil marcada pela importa o das id ias e ideologias do mundo europeu e norte americano um esfor o em se alterar as desigualdades de g nero mediante a luta pela desmistifica o da separa o entre o p blico e o privado entre o pessoal e o pol tico Tais separa es eram fundamentadas pelo car ter estrutural da domina o masculina o qual era expresso nas rela es da vida cotidiana mediante acordo t cito que exercido mediante viol ncia simb lica obscurecia ao mesmo tempo em que expressava as raz es que reafirmavam a necessidades de tais diferencia es Recuando no tempo especificamente nas primeiras d cadas do s culo XX no entre guerras a luta das mulheres ganhou vulto com a funda o da Liga pela Emancipa o Internacional da Mulher 1919 no Rio de Janeiro grupo de estudos liderado por Bertha Maria J lia Lutz e Maria Lacerda de Moura com o intento de lutar pela igualdade das mulheres com a Semana da Arte Moderna 1922 marco do modernismo brasileiro que contou com a participa o de renomados as artistas e intelectuais e com a cria o do Partido Comunista Brasileiro 1922 que contou com expressiva atua o feminina KUNZLER 2008 2 Em 1922 a Liga passou a se chamar Federa o pelo Progresso Feminino 3 Entre as mulheres estavam Anita Malfatti Tarsila do Amaral e Zina Aita Tereza Aita 61 Tais movimentos fizeram parte de uma evolu o crescente em busca de igualdade
92. n 537 47 Apresentado pelo deputado Jos Correia Pedroso J nior em 5 de agosto de 1947 Disp e sobre o registro dos certificados de cursos de enfermagem de que sejam portadoras as enfermeiras que serviram a For a Expedicion ria Brasileira C mara dos Deputados Projeto de Lei n 1 189 49 Apresentado pelo deputado Ruy Santos em 13 de dezembro de 1949 Disp e sobre o aproveitamento das enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira e da outras provid ncias Minist rio da Guerra Lei n 1 209 de 25 de outubro de 1950 Inclui na Reserva do Ex rcito as enfermeiras que participaram das opera es de guerra dentro do setor de sua especialidade junto For a Expedicion ria Brasileira Publicada no Di rio Oficial da Uni o de 27 de outubro de 1950 Minist rio da Guerra Lei n 3 160 de 1 de junho de 1957 Publicada no Di rio Oficial da Uni o n 127 de 4 de junho de 1957 Transcrita no Boletim do Ex rcito n 023 de 8 de julho de 1957 Inclui no Servi o de Sa de do Ex rcito no posto de 2 tenente as enfermeiras que integraram a FEB durante as opera es de guerra na It lia Minist rio da Guerra PGSE Boletim Interno n 142 de 26 de junho de 1957 p 667 Publica resultado de inspe o de sa de de enfermeiras febianas pela Junta Central de Sa de do Ex rcito Minist rio da Guerra Portaria n 1 859 de 18 de setembro de 1957 Publicada no DO n 214 de 18 de setembro de 1957 p 22 207 Transc
93. na rua Os hospitais do Ex rcito necessitavam de n s pois j t nhamos um treinamento grande N o tem uma profissional dessas daqui que tenha conhecimento da metade do que n s tivemos durante a campanha Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Deste trecho percebe se que a enfermeira entrevistada ilustrou enfaticamente o peso e o volume da experi ncia de enfermagem militar operativa que julgou terem acumulado as febianas durante a guerra em situa es de emerg ncia cl nico cir rgica que exigiram habilidade e prontid o intelectual Ali s a apropria o desse capital espec fico se constituiu em um instrumento de persuas o para de certo modo justificar a viabilidade de sua perman ncia no Servi o Militar Ativo do Ex rcito uma vez que a cada situa o os indiv duos contam com um volume e uma variedade espec fica de capitais acumulados ao longo de sua trajet ria social para lhes assegurar determinada posi o e prest gio no espa o social 115 Assim apesar da maioria das febianas n o ser portadora de diplomas outorgados por escolas de enfermagem reconhecidas como padr o poca o ac mulo e articula o de diferentes tipos de capital social cultural militar e simb lico em fun o da participa o direta na Segunda Guerra se constituiu em um ganho simb lico para este grupo quando entrariam na arena das trocas simb licas e materiais no p s guerra o que ser tratado adiante Ou se
94. necess ria pesquisa documental minuciosa porque tudo interessa a uma an lise microsc pica A micro hist ria ousa assim fazer uma hist ria total no mi do e no varejo Mas de hist ria que trata A micro hist ria trouxe portanto novidade importante pesquisa e escrita da hist ria VAINFAS 2004 p 98 Outrossim este estudo insere se no campo de pesquisas sobre a Hist ria da Enfermagem Brasileira campo este de car ter interdisciplinar situado na interse o das reas de Enfermagem e Hist ria e que vem pluralizando suas possibilidades mediante o apoio de outras reas de conhecimento tais como a da Sociologia da Antropologia e da Filosofia Assim na esteira da Hist ria Nova que a Hist ria da Enfermagem Brasileira vem reunindo um cabedal de elementos distintivos que tendem a ampliar as compet ncias de sua constru o Nesse processo not vel a constata o dos estreitamentos que existem entre a Hist ria da Enfermagem e a Hist ria das Mulheres que tomam enfermeiras e mulheres como mat ria prima agentes e objetos de relato de hist rias que imbricam quest es de g nero e de rela es de poder e domina o Desse modo que as interpreta es constru das neste estudo utilizaram se da perspectiva tra ada pela Hist ria Nova no sentido de amplificar a voz de algumas atrizes sociais Aqui a voz e a vez a das enfermeiras brasileiras veteranas da Segunda Guerra Mundial no recorte do p s
95. no Servi o Ativo da Aeron utica elas as enfermeiras diplomadas da FAB tamb m contribu ram para a 224 Trecho de entrevista arquivada no Centro de Mem ria Dra Nalva Pereira Caldas da Faculdade de Enfermagem UERJ gt Esta lei foi promulgada em 18 07 1952 e publicada no DO n 169 de 23 07 1952 226 Ocimara faleceu em junho deste ano de 2010 no Rio de Janeiro 227 Em abril de 1963 Antonina foi licenciada do Servi o Ativo a pedido quando passou a pertencer ao Corpo Docente da Escola Anna Nery 250 visibilidade da mulher e da enfermeira no cen rio militar Apesar de ser um grupo diminuto de apenas tr s profissionais certamente sacralizaram neste cen rio as marcas materiais e simb licas do capital escolar legitimado pelo diploma de enfermeira agregado ao capital militar e profissional acumulado pela participa o na Segunda Guerra Mundial Com o passar do tempo especificamente nas d cadas de 1960 e 1970 j praticamente no tenso e denso per odo de Ditadura Militar 1964 1979 as enfermeiras da FEB passaram para a reserva remunerada Logo a presen a transgressora de mulheres oficiais passou a inexistir no seio do Servi o de Sa de do Ex rcito e poucas seriam as chances de se reav la naquele contexto Sobre a passagem para a reserva remunerada uma enfermeira assim se pronunciou Em 1976 sa ram as duas ltimas eu e a Vassimon Eu num dia e ela no outro N s fechamos a porta Fomo
96. o atividades de reprodu o da esfera da vida privada Portanto as estruturas antigas de divis o sexual dominam at mesmo a dire o e a forma das mudan as isso porque al m de estarem objetivadas nos cargos nas carreiras nas patentes militares elas tamb m atuam atrav s de tr s princ pios pr ticos que determinam as escolhas das mulheres quais sejam 1 fun es que conv m s mulheres como extens o do trabalho dom stico 2 mulheres n o podem ter autoridade sobre os homens e por fim 3 o homem deve ter o monop lio dos objetos t cnicos e das m quinas BOURDIEU 2003 p 112 3 Numa quarta not cia intitulada A bisav da tenente servira como enfermeira na Guerra do Paraguai Virg nia explicou como fora despertada a sua vontade em servir ao Ex rcito ao tempo em que teceu coment rios sobre sua descend ncia militar Estou muito feliz por estar incorporada ao Ex rcito Nacional pois sempre me senti familiarizada com as For as Armadas a cujo servi o estiveram e est o v rios dos meus antepassados e parentes vivos Realmente desde minha inf ncia quando compulsava o lbum de fam lia sentia honra e entusiasmo pelo Servi o Militar Deleitava me ao ver as fotos de meus bisav s paternos marechal Hermenegildo Portocarrero e sua mulher dona Ludovina Portocarrero que na Guerra do Paraguai tiveram destacada atua o Meu bisav comandou o Forte de Coimbra recebendo o t tulo de Bar o de Porto Coimbra
97. o constante Ademais para facilitar o processo de an lise foi adotada a t cnica de triangula o das fontes coletadas pelos v rios instrumentos proposta por Trivifos 1994 No processo de cr tica interna e externa dos documentos selecionados ao se exercer um olhar atento e ao se proceder sua contextualiza o foram identificadas imprecis es e at mesmo falsifica es que me fizeram perceber a exist ncia de interesses outros de quem os produziram mas que tamb m serviram para algumas reflex es Sobre isso Capelato 1988 p 24 diz que 56 os documentos s o ao mesmo tempo falsos e verdadeiros A tarefa do pesquisador consiste em desmistificar o seu significado aparente explicitando que sua roupagem resulta de uma constru o Demoli la implica analisar as condi es em que o documento foi produzido E necess rio antes de mais nada saber quem o produziu Para qu Como e quando O pr ximo passo foi a teoriza o e s ntese ou seja a interpreta o propriamente dita luz dos conceitos de apoio no sentido de atender aos objetivos estabelecidos atrav s de movimentos entre concreto abstrato concreto imaginado concreto refletido totais parciais constru es desconstru es assimila es altera es Tais movimentos culminaram num conhecimento aproximado mas tempor rio sobre o objeto de estudo por limita es existentes em rela o aos aspectos de ordem individual deste autor e s limita es inerent
98. o de ajudar no desagravo da afronta sofrida Como combatente seguramente n o me deixariam ingressar e a nica forma seria como enfermeira CANSAN O 1987 p 39 Ainda sobre o excerto acima vale destacar que as enfermeiras da FEB aceitavam e reafirmavam as divis es de pap is sociais entre homens e mulheres ao reconhecer que sua participa o somente deveria ser como enfermeira Tal percep o pode ser explicada pela Destaque em mai sculo da autora 106 aceita o t cita de que as mulheres estavam mais identificadas com tarefas humanit rias a qual em nome da oposi o entre raz o e sensibilidade coloca o homem no lado da cultura e as mulheres semelhan a do povo para o lado da natureza BOURDIEU 2003 E assim partiu para a guerra um grupamento de enfermeiras brasileiras sem preparo e compet ncia t cnica para vivenciarem situa es de crash situa es extremas de enfermagem operativa de guerra By heterog neo em sentido estrito mas moldado para se fazer ver homog neo com a miss o de atuar nos hospitais de campanha norte americanos na It lia Todas essas novidades provocaram grande ansiedade nelas como pode ser percebido em alguns trechos do caderno de impress es da enfermeira Roselys Teixeira durante sua viagem para a It lia que fez escala na Africa Quanta emo o experimento Seriam p ginas e p ginas para descrever tudo sobre a nossa condi o de enfermeiras de guerra
99. o desde 1939 quando foi promulgado o Decreto Lei n 1 187 que disp s sobre o Servi o Militar Por este dispositivo foi firmado logo no seu artigo primeiro que as mulheres seriam aproveitadas nesse servi o somente em caso de mobiliza o em encargos compat veis com a sua natureza seja nos hospitais no servi o de assist ncia nosocomial fora das zonas de opera es seja nas ind strias e misteres correlatos com as necessidades de guerra J em 1941 era promulgado o Estatuto dos Militares que dentre diversos aspectos relacionados profiss o militar definia que as mulheres brasileiras estariam isentas dos servi os das armas sendo entretanto em caso de mobiliza o aproveitadas em outros trabalhos quer nas ambul ncias e nos hospitais para o servi o de assist ncia hospitalar quer nas ind strias e nos misteres em correla o com as necessidades de guerra e fora do Teatro de Opera es Apesar de re definirem bem as fronteiras entre as fun es masculinas e femininas quando o ponto era a mobiliza o para conflitos de car ter militar a publica o desses decretos lei deixava bem clara a possibilidade de se aproveitar as mulheres no Servi o Militar inclusive nas fun es de enfermagem bem antes da atropelada convoca o de volunt rias para a FEB Decreto Lei n 1 187 de 04 04 1939 publicado no DO n 100 de 03 05 1939 p 10 055 transcrito no BE n 20 de 15 04 1939 p 1 419 Decret
100. os expedicion rios que foram licenciados do Servi o Ativo do Ex rcito foram proibidos de usar seus uniformes Aviso n 2 256 de 21 08 1945 publicado no DO n 192 de 24 08 1945 p 13 923 e transcrito no BE n 34 de 25 08 1945 p 2 752 162 enfermeira militar Mas tamb m os rituais instituem e consagram as diferen as fazendo mover determinados grupos de uma esfera outra como do privado ao p blico do mundano ao sagrado do esquecimento lembran a pois instituir consagrar ou seja sancionar ou santificar um estado de coisas Por isso os rituais s o respons veis por refor ar os la os sociais entre os indiv duos e o grupo em que est o inseridos produzindo como efeito uma esp cie de reafirma o identit ria de um grupo social SEGALEN 2002 Com efeito a presen a da Associa o de Ex Combatentes naquele evento re ne os atributos simb licos que sustentaram uma luta travada pelos pracinhas para a defesa de seus interesses particulares e de sua hist ria e mem ria no mundo social E disso algumas febianas bem tomaram parte politicamente e esteticamente Sobre a ades o de febianas s associa es de ex combatentes uma das enfermeiras entrevistadas relatou o seguinte Al m de n s expedicion rios todo mundo que trabalhou na f brica no mar ou em qualquer outro lugar e que p de comprovar que trabalhou para feito de guerra p de fazer parte das associa es de ex combatentes A Ilza se
101. p s nazista Fran a p s Vichy Espanha p s Franco BURKE 2000 87 De certa forma isto que estava em quest o na Am rica Latina do p s ditaduras Mas se na Europa de p s guerra com exce o da Alemanha e de algumas antigas regi es de forte presen a fascista o advento da democracia imp s a tese da lembran a da confirma o do ocorrido e da mem ria como reverso valioso do esquecimento RABOSSI 1989 p 11 na Am rica Latina o p s ditadura foi significativamente diferente Sobre tal situa o Galeano 1999 p 214 escreveu que na regi o a justi a e a mem ria s o luxos ex ticos O esquecimento diz o poder o pre o da paz enquanto nos imp e uma paz fundada na aceita o da injusti a como normalidade cotidiana Acostumaram nos ao desprezo pela vida e proibi o de lembrar A institucionaliza o do sil ncio oficial e a supress o da mem ria coletiva foram fundamentais para desresponsabilizar os culpados e impor o anestesiamento e a amn sia do sil ncio final Assim a mem ria virou campo de batalha pol tico MORANA 1997 Nessa vertente h que se mencionar que algum tempo depois de lan ado o livro Depoimento de oficiais da reserva s bre a FEB foi publicado o Aviso n 698 de 16 de outubro de 1951 que reiterava recomenda es sobre a conduta dos militares pela palavra falada ou escrita aconselhando disciplina trabalho e lealdade Especificamente sobre o seu depoimento Bertha Mora
102. quis S a 295 Anexo I Postos e Gradua es das For as Armadas saupnaissimiesssaniianiinamassiandissalanesastin e 296 Ap ndice A Listagem nominal das enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira 297 Considera es Iniciais 17 ENFERMEIRAS DA FOR A EXPEDICION RIA BRASILEIRA NO FRONT DO P S GUERRA O PROCESSO DE REINCLUS O NO SERVI O MILITAR ATIVO DO EX RCITO 1945 1957 Introdu o Ao longo de sua hist ria a enfermagem quase sempre esteve direta p blica e simbolicamente envolvida com as guerras Nesses momentos de caos decisivos e importantes da hist ria da humanidade in meros s o os exemplos em que as mulheres se alinharam pr tica de enfermagem o que serviu de bom argumento para tornar poss vel sua apari o e atua o p blica Outrossim lugar comum do discurso pol tico e da literatura a id ia de que as guerras mudaram e at mesmo radicalmente as rela es entre os sexos e deram s mulheres novos poderes PERROT 2005 p 435 QU TEL 2009 Seguramente as guerras destacadamente a Segunda Mundial modificaram um pouco as regras do jogo e o rumo dos acontecimentos Assim que no Brasil nos idos da d cada de 1940 e durante o Estado Novo 1937 1945 as demandas sociais pol ticas e sanit rias favoreceram s mulheres enfermeiras o exerc cio p blico de suas qualidades tipicamente femininas atrav s de sua mobiliza o para o cuidado aos doentes principalmente em situa
103. ser reconhecido pelos outros de adquirir import ncia visibilidade e finalmente trata se de ter um sentido Existir socialmente essencialmente ser percebido isto fazer com que sejam reconhecidas t o positivamente quanto poss vel as suas propriedades distintivas Da a necessidade de transformar uma propriedade objetiva em capital simb lico Se num dado campo um agente conseguir dar aos outros uma representa o convincente do capital que afirma possuir poder chegar a tirar proveitos reais de propriedades imagin rias BONNEWITZ 2003 p 103 Desse modo o que passou a estar em jogo principalmente ap s a guerra foi o poder de se apropriar de vantagens simb licas associadas posse de uma identidade leg tima a fim de reapropriar coletivamente para o grupo de enfermeiras febianas o poder sobre os princ pios de constru o e de avalia o de sua pr pria exist ncia para se fazerem reconhecer n o somente como um grupo de vencidas OLIVEIRA 2007 p 125 Parte dos privil gios dessa consagra o simb lica residem nas palavras emocionadas do fragmento abaixo que encerrou princ pios que elas constru ram sobre o reconhecimento de sua pr pria exist ncia 256 N s sempre fomos muito injusti adas Sem falsa mod stia s o fato de termos nos apresentado para a guerra j foi um feito extraordin rio Porque por um pa s tipicamente pac fico cujas revolu es s o resolvidas com meia d zia de palavr es
104. seu retorno ao lar Rev Latino Am Enfermagem Ribeir o Preto v 17 n 6 dez 2009b OLIVEIRA Cassandra Soares de BARREIRA Ieda Barreira A 2 Guerra Mundial e o retorno das enfermerias americanas ao Brasil Esc Anna Nery online Rio de Janeiro v 4 n 2 p 209 16 2000 ORTOLAN Fernando L ris Acabou a guerra De volta ao lar Representa es das mulheres na imprensa paraguaia durante e ap s a guerra do Paraguai 1864 1904 Revista Agora Vit ria n 5 p 1 19 2007 PADILHA Maria Itayra Coelho de Souza BORENSTEIN Miriam Susskind Hist ria da enfermagem ensino pesquisa e interdisciplinariedade Esc Anna Nery online Rio de Janeiro v 10 n 3 p 532 8 dez 2006 O m todo de pesquisa hist rica na enfermagem Texto contexto enferm Florian polis v 14 n 4 dez 2005 PADR S Enrique Serra Usos da mem ria e do esquecimento na Hist ria Literatura e Autoritarismo online Santa Maria n 4 2002 PAIVA Eduardo Fran a Hist ria amp imagens Belo Horizonte Aut ntica 2004 PASSOS Carla Christina A pedra angular da enfermagem militar as irm s de caridade no Hospital Militar da Guarni o da corte no apogeu do Imp rio Rio de Janeiro Disserta o Mestrado em Enfermagem Escola de Enfermagem Anna Nery Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2000 PAULUS J NIOR Aylton CORDONI J NIOR Luiz Pol ticas p blicas de sa de no Brasil Revista Espa o para a Sa de Londr
105. seu texto foi publicado na ntegra atrav s da Se o Legisla o da Revista Brasileira de Enfermagem RBEn com o seguinte pre mbulo Temos procurado na medida do poss vel dar andamento aos projetos de interesse profissional ora em tramita o na C mara Federal Curiosamente foi comentado o seguinte Tal lei como est bem claro no seu conte do se refere apenas s enfermeiras da FEB E para que nossos irm os da FAB sejam igualmente beneficiados j um projeto sob n mero 2 817 57 se encontra em tramita o na C mara Federal e ora est recebendo o parecer da Comiss o de Constitui o e Justi a RBEn 1957 p 284 5 A referida proposi o de autoria do deputado Lutero Vargas PTB DF filho do ex presidente Get lio Dornelles Vargas e m dico que atuou no Servi o de Sa de do 1 Grupo de Ca a da FAB foi elaborada com vistas reinclus o na Aeron utica no posto de 2 tenente das enfermeiras que tamb m integraram o 1 Grupo de Ca a durante a guerra na It lia Re Pela forma em que a divulga o da reinclus o das enfermeiras febianas no Ex rcito foi redigida na RBEn tem se a impress o de que havia um maior interesse na defesa dos anseios das enfermeiras que participaram do 1 Grupo de Ca a no Servi o Ativo da Aeron utica o que era esperado sendo estas todas diplomadas pela Escola Anna Nery e que provavelmente por isso tenham sido ditas nossos irm os no texto apesar de estran
106. tempo que passou na It lia e deu lhe na veneta jogar tudo no lixo Assim nada sobrou que um memorialista ou bi grafo pudesse usar como documenta o e fonte de refer ncia Esse tipo de situa o encontra nexo com a id ia de Perrot 2007 p 17 de que s o as pr prias mulheres que destroem e apagam seus vest gios porque os julgam sem interesse Afinal elas s o apenas mulheres cuja vida n o conta muito Existe at certo pudor feminino que se estende mem ria Uma desvaloriza o das mulheres por si mesmas Um sil ncio consubstancial no o de honra Ao darem cabo de seus vest gios deixam se ver numa 235 Grifo meu 236 Grifo meu 260 condi o que se opera pela constru o sexuada de suas mem rias com intuitos de n o se deixar tra os claros de seus eventuais segredos sentimentos e hist rias Por certo quando tais registros s o produzidos por mulheres os mesmos t m certa propens o de se disporem como desvalorizados por elas mesmas Ali s paradoxal foi a lida das febianas com a guarda e divulga o de seus registros Como complicador dessa situa o por muito tempo a hist ria da FEB foi um dos temas mais desprezados e esquecidos pela Hist ria produzida nas universidades pois as dificultosas e conflituosas rela es entre o mundo universit rio e o regime militar de 1964 afastaram os historiadores em geral esquerda do espectro pol tico dos estudos da hist ria militar brasileira FER
107. tornar se a fiel da balan a pol tico eleitoral mas principalmente o temor de que os pracinhas entre os quais Vargas desfrutava de grande popularidade pudessem apoi lo e empolgar a popula o para solu es diferentes daquelas do pacto conservador das elites pol ticas brasileiras para a sucess o de Vargas atrav s de Dutra ou de Eduardo Gomes FERRAZ 2003 p 138 9 Quando o primeiro navio transporte ainda estava deixando a It lia v rias censuras foram ordenadas aos expedicion rios como o prazo limite de oito dias para usar uniformes e ou distintivos da FEB e as restri es a coment rios p blicos sobre as a es na It lia antes comentada Por m seduzidos com a id ia da volta para casa a maioria dos pracinhas preferia prestar aten o aproxima o da Ba a de Guanabara e s festas que os esperavam FERRAZ 113 2003 p 139 Desse momento o trecho que se segue de import ncia para se ter um pouco a no o de alguns desses sensos Depois a melanc lica arribada ao porto do Rio chegar tropa da It lia j era coisa vista e n o interessava mais O desejo insopit vel era agarrar a bagagem o mais cedo poss vel e sumir E foi assim que ali no Armaz m 13 do Cais do Porto do Rio desliguei me para sempre melanc lica e silenciosamente do que restava da FEB Ainda envolvi o navio James Parker num ltimo olhar de pesar e de saudade ele representava o ponto final numa hist ria de sacrif cios sem nenh
108. 04 103 Sobre isso oportuno recorrer a Valadares 1976 cuja obra oportuniza atestar que das 67 enfermeiras que estiveram no Teatro de Opera es nove 13 4 adoeceram e foram evacuadas para o Brasil ou para os Estados Unidos da Am rica 143 Volta volta volta volta volta volta E desceu j perturbadinha Ela foi mandada de volta E uma das que foram repatriadas Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Depois que voltei eu estava t o mal que era incapaz at de segurar uma colher Acabei sendo desligada do Servi o Ativo em outubro de 1945 Em junho de 1949 em virtude de males adquiridos durante a guerra fui reformada no posto de 1 tenente Adquiri uma alergia ou algo do tipo que ensopava uma toalha s vezes as l grimas espirravam longe embora eu n o estivesse chorando Fizeram v rias juntas m dicas fui operada melhorei pouco Nunca ficou claro qual era o meu problema de sa de VALADARES 2001 p 89 Ainda sobre a quest o das reformas est o pr ximo excerto que sublinha algumas circunst ncias um tanto esdr xulas Teve uma febiana que foi reformada porque foi deportada com uma neurose de guerra Ela s conseguiu se reformar porque quem estava de ministro era um antigo freguentador do rendez vous dela Um dia como a reforma estava demorando ela saiu do HCE de penhoar e foi na porta da casa dele e fez um esc ndalo Na mesma hora ela foi reformada Enfermeira E
109. 9 amp i 44 amp lcab 1971 1974 amp f 44 Acesso em 3 abr 2010 155 tamb m desconhecidos este projeto de lei foi arquivado nos termos do regimento interno da C mara dos Deputados A alian a com politicos come ou concretamente a render bons frutos para as febianas quando em 25 de outubro de 1950 o projeto de lei do deputado Pedroso J nior anteriormente analisado foi transformado na Lei n 1 209 com a san o do presidente da Rep blica Eurico Gaspar Dutra A lei determinava Incluir na Reserva do Ex rcito as enfermeiras que participaram das opera es de guerra dentro do setor de sua especialidade junto FEB Como previsto esta inclus o na Reserva do Ex rcito se fez mesmo no posto de segundo tenente para somente as enfermeiras que de fato atuaram diretamente na guerra Por isso excluiu as que embora tivessem sido incorporadas na FEB tenham permanecido no territ rio nacional sem atuar diretamente no Teatro de Opera es Apesar do parecer da Comiss o de Constitui o e Justi a n o ter sido favor vel quest o da indeniza o levantada ainda na fase de apresenta o do projeto de Pedroso J nior com a promulga o da Lei n 1 209 as enfermeiras puderam gozar da percep o de vencimentos dos postos em que foram arvoradas desde a data da mobiliza o at a sua desmobiliza o Tal despesa correu pelo Fundo de Indeniza o de Guerra Foram tamb m garantidos s febianas os dispositivos das
110. 945 1957 MELLO Carlota Carlota Mello entrevista 3 nov 2008 Entrevistador Alexandre Barbosa de Oliveira Belo Horizonte 2008 Entrevista concedida ao projeto Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no front do p s guerra o processo de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 1945 1957 MELLO Carlota Carlota Mello entrevista 6 nov 2008 Entrevistador Alexandre Barbosa de Oliveira Belo Horizonte 2008 Entrevista concedida ao projeto Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no front do p s guerra o processo de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 1945 1957 PORTOCARRERO Virg nia Maria de Niemeyer Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero entrevista 15 set 2009 Entrevistadores Alexandre Barbosa de Oliveira e Margarida Maria Rocha Bernardes Rio de Janeiro 2009 Entrevista concedida ao projeto Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no front do p s guerra o processo de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 1945 1957 272 2 ESCRITAS 2 1 Mem rias e Relatos ARRUDA Dem crito et alii Depoimento de Oficiais da Reserva sobre a FEB 2 ed s e 1949 BARCELLOS Luciano Alfredo A flagela o dos ex combatentes In LOUZEIRO Jos org Assim marcha a fam lia Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1965 p 153 154 CAMERINO Ol mpia de Ara jo A mulher brasileira na Segunda Guerra Mundial Rio de Janeiro Capemi
111. ANI T lio A segunda guerra mundial 2 ed S o Paulo Moderna 1986 Anexo Ap ndice 296 ANEXO I POSTOS E GRADUA ES DAS FOR AS ARMADAS Vice Almirante Major Brigadeiro OFICIAIS GENERAIS Contra Almireante i Brigadeiro Capit o de Mar e Guerra Capit o de Fragata Tenente Coronel Capit o de Corveta ME E 4 Major OFICIAIS SUPERIORES Capit o 1 Tenente 1 Tenente 1 Tenente z po 2 Tenente 2 Tenente 2 Tenente Guarda Marinha ig i Aspirante 7A Az S 53 Nn 1 Sargento 2 Sargento 3 Sargento 1 Sargento 2 Sargento 3 Sargento 1 Sargento 2 Sargento 3 Sargento Cabo Taifeiro Mor Cabo Marinheiro Taifeiro de 1 Classe Soldado Taifeiro de 2 GRADUADOS O o IA AR U O mm N N N N N N Nml m em e aaa e SN an A QU Ne O DO oo JIJ GODAU A UO Nme D LISTA NOMINAL DAS ENFERMEIRAS DA FOR A EXPEDICION RIA Ac cia Cruz Alice Neves Maia Altamira Pereira Valadares Amarina Franco Moura Antonieta Ferreira Aracy Arnaud Sampaio Arminda C lia Barroso Bertha Moraes Carlota Mello Carmem Bebiano Dirce Ribeiro da Costa Leite Edith Fanha Elita Marinho Elza Cansan o Medeiros Elza Ferreira Vianna Elza Miranda da Silva Fausta Nice Carvalhal Gemma Imaculata Ottolograno Graziela Affonso de Carvalho Guilhermina Rodrigues Gomes Hayd e Rodrigues Costa Helena Ramos Helo sa Cec lia Vilar
112. Ademais constata se em diversos registros fotogr ficos de rituais das escolas de enfermagem da poca a presen a habitual e destacada de oficiais de alta patente Do lado militar tais aproxima es poderiam garantir a intensifica o do preparo de enfermeiras profissionais e volunt rias que pela conting ncia de guerra serviriam aos interesses da Na o o que foi 26 Al m dos trabalhadores que atuavam na selva amaz nica na extra o de borracha houve tamb m o apoio do SESP aos que atuavam na extra o do min rio no Vale do Rio Doce O SESP teve como financiadores a Funda o Rockfeller e o Instituto para Assuntos Inter Americanos IAIA subordinados ao Minist rio da Educa o e Sa de BARREIRA SAUTHIER BAPTISTA 2001 p 161 ALMEIDA FILHO 2004 p 85 Patente sin nimo de posto militar 78 concretamente fortalecido quando o Brasil colocou se em definitivo do lado dos pa ses Aliados leia se Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial Ali s a decis o de declara o de guerra do Brasil ao Eixo veio acompanhada da id ia de fazer o pa s presente na frente de luta mediante o envio de um corpo expedicion rio aos campos de batalha Para tal o Brasil teve que se haver com a sua dura realidade de na o subdesenvolvida posto que naquele momento contava com um ex rcito pequeno mal armado obsoleto e pouco treinado Grandes foram os obst culos que se apresentaram para se tentar transformar em t
113. Anna Nery o que pode ser entendido como um preciso indicador do prest gio que o Ex rcito gozava junto ao Governo Vargas poca CARVALHO 1976 ALMEIDA FILHO 2004 p 4 Sobre os sargentos enfermeiros do Ex rcito que como as febianas tamb m integraram o Servi o de Sa de da FEB est o as falas de duas delas 3 O Servi o de Sa de da FEB foi organizado com um efetivo de 1 369 militares que atuaram em diversos rg os Ao todo foram 198 oficiais m dicos dentistas farmac uticos e intendentes 225 sargentos enfermeiros e de administra o 176 cabos e 721 soldados al m de 67 enfermeiras REIS 1969 4 O Decreto n 15 230 21 regulamentava a forma o de enfermeiros no Corpo de Sa de do Ex rcito 1 A express o Padr o Anna Nery PAN relaciona se aluna formada pela Escola Anna Nery respons vel e idealizadora pela constru o da figura tipo de uma enfermeira profissional formada com base no ensino da Enfermagem Moderna que seguiu o modelo anglo americano no pa s SAUTHIER BARREIRA 1999 Esta situa o perdurou at o ano de 1949 quando foi promulgada a Lei n 775 80 Eles eram competentes Eram enfermeiros formados Na guerra eles ficaram numa situa o hier rquica inferior nossa Mas eles eram muito bons Enfermeira Bertha Moraes Os sargentos enfermeiros que trabalharam comigo no Evacuation Hospital foram verdadeiros anjos e muito competentes Eu achava eles mais compe
114. Ao escrever entre aspas o termo enfermeiras a autora do relat rio fez uma provoca o situa o das febianas ao tempo que buscou assegurar os limites derivados do capital profissional justamente no mais importante instrumento de divulga o dos conhecimentos de enfermagem produzidos poca a RBEn Nesse caso o uso das aspas contribui para que a palavra n o signifique aquilo que parece significar colocando a em descr dito pela imposi o de uma ruptura categ rica entre o saber sagrado e o saber profano de modo a preservar o monop lio de um saber ou uma pr tica BOURDIEU 1998 p 141 Ademais ao que parece a identidade de oficial enfermeira daquelas enfermeiras tratadas entre aspas tamb m contribuiu para refor ar o estigma delas de privilegiadas Privil gio tido aparentemente como quase que inaceit vel Com efeito a diferencia o das bem colocadas detentoras de capital institucionalizado tem no diploma sua garantia o que as ampara para aplicar seus investimentos no bom momento e no lugar certo ao contr rio as mal colocadas que n o investiram em reunir um capital cultural para em situa es como a do Congresso estarem em uma condi o mais confort vel s o obrigadas a se submeter s injun es de institui es e de seus componentes assim votadas quase que via de regra a investir na hora errada e no lugar errado um capital cultural no final das contas reduzido BOURDIEU 2007c p 223 Eis a um dos me
115. EB Deve ser uma solenidade do Dia da Vit ria de 8 de maio Geralmente faz amos um banquete onde o marechal falava O grupo estava coeso Enfermeira Elza Cansan o Medeiros A fotografia em quest o torna poss vel ver que apesar da desmobiliza o que faria com que o Ex rcito se distanciasse mais dessas enfermeiras elas n o deixaram de acumular capital social simb lico mediante o contato continuado com seus ex chefes no p s guerra o que por certo franqueou lhes a possibilidade de suas presen as em alguns cen rios militares de relev ncia social e pol tica como o do Clube Militar tradicional agremia o das For as Armadas e bastidor de importantes decis es pol ticas localizado na capital federal do pa s Com efeito a imagem fotogr fica bem atesta a promo o e manuten o do v nculo delas com as coisas do mundo militar o que bem se conjuga com o seguinte fragmento N s faz amos muita festa no Clube Militar Sempre ramos homenageadas O Clube Militar sempre nos prestigiou seja antes ou depois da guerra Enfermeira Elza Cansan o Medeiros De acordo com a enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero as enfermeiras da foto da esquerda para a direita s o Sentadas Altamira Pereira Valadares Elza Cansan o Medeiros Ol mpia de Ara jo Camerino Gemma Imaculata Ottolograno Ondina Miranda de Souza Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Maria Jos Vassimon de Fre
116. Filosofia Universidade Federal Fluminense Niter i 2010 CARVALHO Anayde Corr a de Associa o Brasileira de Enfermagem 1926 1976 Document rio Bras lia Folha Carioca 1976 CARVALHO Jos Murilo de Cidadania no Brasil o longo caminho Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2001 Vargas e os militares Aprendiz de feiticeiro In D ARAUJO Maria Celina As institui es brasileiras na era Vargas Rio de Janeiro UERJ FGV 1999 p 55 81 CARVALHO S nia Casa Caserna um percurso diferenciado na vida das mulheres militares Disserta o Mestrado em Ci ncias Sociais Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal 1990 CARVALHO Vilma de Acerca da interdisciplinaridade aspectos epistemol gicos e implica es para a enfermagem Rev esc enferm USP online S o Paulo v 41 n 3 p 500 7 2007a Enfermagem e hist ria da enfermagem aspectos epistemol gicos destacados na constru o do conhecimento profissional Esc Anna Nery online Rio de Janeiro v 11 n 3 p 500 8 2007b 287 Por uma epistemologia do cuidado de enfermagem e a forma o dos sujeitos do conhecimento na rea da enfermagem do ngulo de uma vis o filos fica Esc Anna Nery online Rio de Janeiro v 13 n 2 p 406 14 2009a CARVALHO Virg nia Merc s Guimar es Ex combatentes do Brasil entre a Hist ria e a Mem ria 1945 2009 Disserta o Mestrado em Hist ria Centro de Filosofia e Ci ncias Humanas
117. For a a exemplo do que aconteceu com a grande maioria dos mais de 25 000 expedicion rios que participaram do conflito epis dio este que se fez exemplo cl ssico na hist ria do pa s para retratar a preocupa o do governo estadonovista sobretudo das lideran as militares no controle das id ias democr ticas que os integrantes da FEB que combateram ditaduras na Europa passaram a entoar A despolitiza o e a abrevia o dos efeitos da participa o da FEB seria um dos intentos de uma desmobiliza o r pida e mal planejada o que iria gerar uma s rie de problemas de ressocializa o aos seus cidad os soldados No p s guerra j num contexto de pacifica o e democratiza o o que passou a estar em jogo para as enfermeiras que compuseram a FEB foi a busca pelo reconhecimento e m rito de sua atua o nos hospitais de campanha a ponto de servir de justificativa inclusive para uma poss vel reinclus o delas no Servi o Militar Ativo do Ex rcito Ademais a experi ncia pregressa nesses hospitais e o contato com o mundo militar forjariam nelas um esp rito combativo de que iriam dar provas mais tarde 266 Tanto que ao longo das d cadas de 1940 e 1950 as febianas mobilizaram algumas estrat gias que objetivarem esse seu reaproveitamento pela For a dentre elas as alian as com o alto comando da FEB e com pol ticos renomados e influentes a presen a persistente delas em eventos p blicos missas paradas e outras cerim
118. Helena Salgado As contribui es do Servi o Especial de Sa de P blica para a forma o profissional da Enfermagem no Brasil 1942 1960 Rev bras enferm online Bras lia v 61 n 6 dez 2008 ROSA Alexandre Reis O bra o forte A m o amiga um estudo sobre domina o masculina e viol ncia simb lica em uma organiza o militar Disserta o Mestrado em Administra o Universidade Federal de Lavras Lavras 2007 ROSA Alexandre BRITO Mozar Jos de Mulheres Fardadas reflex es sobre domina o masculina e viol ncia simb lica na organiza o militar In XXXII Encontro da Associa o Nacional de P s Gradua o em Administra o Anais do XXXII Encontro da Associa o Nacional de P s Gradua o em Administra o Rio de Janeiro ANPAD 2008 RUBIM Ant nio Albino Canelas Marxismo Cultura e Intelectuais no Brasil Salvador Centro Editorial e Did tico da UFBA 1995 293 RUBINO Michelle A The Art of War Visual Propaganda and American Military Recruiting An Annotated Bibliography A Master s Paper for the M S in L S degree april 2007 55pages Advisor Michael Van Fossen Dispon vel em http ilsunc edu MSpapers 3289 pdf Acesso em 9 mar 2010 SANTA CRUZ F bio Santiago Golpe de Estado em defesa da democracia Hist ria Viva S o Paulo v 22 p 82 87 2005 SANTOS Luiz Ant nio de Castro A duras penas estrat gias conquistas e desafios da enfermagem em escala mundial Hist cie
119. LADARES 1976 p 85 87 O cen rio da fotografia o Forte S o Jo o localizado no bairro da Urca Rio de Janeiro Nela est o tr s alunas do CEERE durante um exerc cio de falsa baiana Todas est o vestidas com uniformes de treinamento f sico militar e mostram se sorridentes demonstrando aparente interesse e at mesmo prazer na execu o da atividade Esta foto foi publicada num dos ve culos de comunica o que bem falava a l ngua do regime estadonovista a revista 4 Noite Ilustrada Com efeito a escolha desta imagem para a capa da revista pode ser entendida como uma tentativa de explicitar a predestina o de volunt rias enfermeiras aos feitos de guerra Ali s como ressalta o soci logo e antrop logo Georges Balandier o poder potencializado da m dia torna ainda mais forte o processo de teatraliza o do poder pol tico Assim pelo tipo de discurso e de recurso imag tico utilizados pela propaganda com o intuito de impressionar e convencer detectam se as formas de manipula o do poder nas suas entrelinhas que o Estado Novo soube utilizar para facilitar o funcionamento de suas institui es aqui o Ex rcito BALANDIER 1982 p 42 Com efeito a propaganda autorit ria tem nas suas caracter sticas a fus o das ideologias com a pol tica de uma pol tica em movimento uma constante vontade de convers o das massas DOMENACH 1955 p 23 Sobre o curso algumas dificuldades foram expressas pelas alunas como em p
120. Mundial uma abordagem sob o olhar fotogr fico 1942 1945 2 4 10 Institui es militares Minist rio da Guerra Col gio Militar de Belo Horizonte Hist rico do Col gio Militar de Belo Horizonte Belo Horizonte CMBH s d Minist rio da Guerra Col gio Militar de Belo Horizonte Boletins Internos 1958 1959 Belo Horizonte CMBH Minist rio da Guerra Col gio Militar de Belo Horizonte Revista do Col gio Militar de Belo Horizonte Belo Horizonte ano I n 1 1958 1959 Minist rio da Guerra Policl nica Central do Ex rcito Boletins Internos 1945 1959 Rio de Janeiro Policl nica Central do Ex rcito 2 5 Documentos escritos em arquivos privados 2 5 1 Acervo pessoal da enfermeira Elza Cansan o Medeiros MEDEIROS Elza Cansan o Discurso proferido na cerim nia de formatura da 1 turma do Quadro Complementar de Oficiais do Ex rcito Brasileiro 1992 2 5 2 Acervo pessoal da enfermeira Roselys Teixeira Gazzinelli CLUBE DAS OFICIAIS ENFERMEIRAS DE GUERRA Anais do Primeiro Congresso Nacional de Enfermeiras da FEB 9 a 13 de julho de 1978 Anais do Segundo Congresso Nacional de Enfermeiras da FEB 5 a 8 de setembro de 1982 281 TEIXEIRA Roselys Caderninho de impress es s e Bras lia 2006 2 5 3 Acervo pessoal da enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero PORTOCARRERO Virg nia Maria de Niemeyer Di rio s d Curriculum Vitae Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero s
121. O resultado de tal proposta foi desastroso uma vez que os congressistas consideraram a emenda an rquica Entre seus argumentos pontuaram a inferioridade da mulher e o perigo de dissolu o da fam lia SOIHET 2000 27 As mulheres a pol tica e a defesa nacional In Careta n 1 282 S o Paulo 14 jan 1933 p 20 63 Sendo como se sabe em geral pouco bonitas as mulheres que andam metidas em pol tica conduzi las ao servi o militar obrigat rio seria dotar o Ex rcito com economia e facilidade de vastas baterias de artilharia pesada Toda a gente sabe que imposs vel fazer a guerra moderna sem canh es N o obstante a conquista do voto foi incorporada mais tarde nova Constitui o Brasileira promulgada em 1934 Em adi o a este ganho vale tamb m o registro de que at 1934 as constitui es t o somente afirmavam de forma gen rica o princ pio da igualdade de todos perante a lei sem contudo citar expressamente a proibi o da discrimina o em fun o do sexo como fixou o artigo 113 em seu par grafo primeiro Todos s o iguais perante a lei N o haver privil gios nem distin es por motivo de nascimento sexo ra a profiss es pr prias ou dos pais classe social riqueza cren as religiosas ou id ias pol ticas Em contrapartida no que se refere quest o do servi o militar feminino foi pontualmente definida no texto constitucional de 1934 a exce o das mulheres Art 163
122. Paula Carvalho Orichio 2006 e Alexandre Barbosa de Oliveira 2007 Na Faculdade de Enfermagem da UERJ Margarida Maria Rocha Bernardes 2003 e Lilian Silva de Fran a 2010 1l As tr s disserta es em ordem de publica o s o Resgatando a mem ria a hist ria das enfermeiras da For a Expedicion ria de Maristela Freitas Silva defendida na Escola de Enfermagem Anna Nery em 1995 O grupamento feminino de Enfermagem do Ex rcito na For a Expedicion ria Brasileira durante 2 Guerra Mundial uma abordagem sob o olhar fotogr fico 1942 1945 de Margarida Maria Rocha Bernardes defendida em 2003 na Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Signos do esquecimento os efeitos simb licos da participa o das enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira na Segunda Guerra Mundial 1943 1945 de autoria deste autor e defendida em 2007 na Escola de Enfermagem Anna Nery 33 O QUADRO TE RICO A presente pesquisa de abordagem qualitativa de natureza hist rico social e por isto compreende a an lise de grupos humanos num determinado espa o geogr fico e temporal Para desenvolv la optou se pelo campo ptico da micro hist ria que tem a virtude de servir hist ria geral por meio do exemplo particular e nico N o a nega nem desqualifica suas explica es gerais mas prioriza a personagem singular e a trama min scula como examinar o passado atrav s de um microsc pio para tanto
123. RAZ 2003 p 3 Nesse terreno salvo algumas iniciativas mais recentes as 67 febianas figuraram como meras coadjuvantes exclu das da pr pria hist ria esquecida dos cerca de 25 000 homens que participaram da FEB N o obstante uma das contribui es desse epis dio onde enfermeiras da FEB foram reinclu das no Servi o Militar Ativo do Ex rcito o de que ele deu uma nota pr via da cria o dos quadros femininos de enfermagem no mbito das tr s For as Em 1980 foi a Marinha a primeira a incorporar s suas fileiras candidatas do sexo feminino quando foi criado o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha de oficiais e graduados A Aeron utica tamb m resolveu incorporar mulheres s suas fileiras em 1981 atrav s da forma o de seu Corpo Feminino da Reserva da Aerondutica de oficiais e graduados E por ltimo o Ex rcito tamb m abriu suas portas mais uma vez s mulheres em 1989 quando criou o Quadro Complementar de Oficiais do Ex rcito podendo as mesmas ingressarem como oficial tempor rio ou de carreira Mas s em 1992 as mulheres ingressaram na Escola 237 A regulamenta o do ingresso de mulheres na Marinha foi amparada pela Lei n 6 807 de 07 07 1980 entre outros dispositivos legais 38 Lei 6 924 de 29 06 1981 3 Lei n 7 831 de 02 10 1989 261 de Administra o do Ex rcito EsAEx onde eram formadas as oficiais enfermeiras CANSAN O 2003 p 261 5 Ali s na ocasi o da s
124. Tais considera es sobre a quest o de g nero t m grande relev ncia aqui uma vez que o Ex rcito Brasileiro uma institui o tradicionalmente sexualizada mis gina cujo sistema m tico ritual ratifica e amplia os princ pios da inferioridade e da exclus o da mulher E a mesmo que a teoria de Pierre Bourdieu n o contemple o aspecto da complementaridade entre os g neros defendida por outros estudiosos a aprecia o das obras deste autor foi importante para se refletir a domina o masculina notada no campo desta institui o A fim de potencializar as reflex es que surgiram sobre alguns aspectos ligados quest o de g nero foi visitado outro ponto de vista exterior ao de Bourdieu Assim que este estudo reuniu algumas impress es sens veis da historiadora Michelle Perrot Em sua obra intitulada Minha hist ria das mulheres ela enfatiza que a hist ria das mulheres passou por um processo de evolu o tanto em seus objetos quanto em seus pontos de vista que partiu de uma hist ria do corpo e dos pap is desempenhados na vida privada para chegar a uma hist ria das mulheres no espa o p blico da cidade do trabalho da pol tica da guerra Partiu de uma hist ria das mulheres v timas para chegar a uma hist ria das mulheres ativas nas m ltiplas intera es que provocam a mudan a Partiu de uma hist ria das mulheres para tornar se mais especificamente uma hist ria do g nero que insiste nas rela es entre os se
125. Trad S rgio Miceli Rio de Janeiro Bertrand Brasil 200la O poder simb lico 9 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006 Quest es de Sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 Raz es e pr ticas sobre a teoria da a o Trad Mariza Corr a Campinas Papirus 1996 Rites and acts of instituition In PERISTIANY amp PITT RIVERS Org Honor and grace in anthropology Cambridge Cambridge University Press 1992 chapter 4 Um art moyen essai sur ler usages de la photographie Paris Les Editions de Minuit 1965 BOURDIEU Pierre BOURDIEU Marie Claire O campon s e a fotografia Rev Sociol Pol t Curitiba n 26 p 31 9 jun 2006 BRAGA S rgio Soares Quem foi quem na Assembl ia Nacional Constituinte de 1946 um perfil socioecon mico e regional da Constituinte de 1946 Disserta o Mestrado em Ci ncia Pol tica Departamento de Ci ncia Pol tica Universidade Estadual de Campinas Bras lia 1998 BRANDI Paulo Get lio Vargas In ABREU Alzira Alves de et al Coords Dicion rio hist rico biogr fico brasileiro p s 1930 Rio de Janeiro FGV CPDOC 2001 BRASIL Lei n 7 524 de 17 de julho de 1986 Disp e sobre a manifesta o por militar inativo de pensamento e opini o pol ticos ou filos ficos Minist rio da Sa de Conselho Nacional de Sa de Resolu o n 196 de 10 de outubro de 1996 Sobre pesquisa envolvendo seres humanos Aprova diretrizes e normas regulamentadora
126. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CI NCIAS DA SA DE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY COORDENA O GERAL DE P S GRADUA O E PESQUISA N CLEO DE PESQUISA DE HIST RIA DA ENFERMAGEM BRASILEIRA ALEXANDRE BARBOSA DE OLIVEIRA ENFERMEIRAS DA FOR A EXPEDICION RIA BRASILEIRA NO FRONT DO P S GUERRA O PROCESSO DE REINCLUS O NO SERVI O MILITAR ATIVO DO EX RCITO 1945 1957 Rio de Janeiro 2010 ALEXANDRE BARBOSA DE OLIVEIRA ENFERMEIRAS DA FOR A EXPEDICION RIA BRASILEIRA NO FRONT DO P S GUERRA O PROCESSO DE REINCLUS O NO SERVI O MILITAR ATIVO DO EX RCITO 1945 1957 Relat rio final da Tese de Doutorado apresentado ao Programa de P s Gradua o da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para obten o do grau de Doutor em Enfermagem Orientadora Profa Dra T nia Cristina Franco Santos Rio de Janeiro Dezembro 2010 Oliveira Alexandre Barbosa de Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no front do p s guerra o processo de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 1945 1957 Alexandre Barbosa de Oliveira Rio de Janeiro UFRJ EEAN 2010 xvi 299f Orientadora T nia Cristina Franco Santos Tese Doutorado em Enfermagem UFRJ Escola de Enfermagem Anna Nery 2010 Refer ncias f 270 299 1 Enfermagem 2 Hist ria da Enfermagem 3 Enfermagem Militar I Santos T nia Cristina Franco II U
127. Uma vez deferidos seus requerimentos foi publicada uma portaria pelo Ministro 173 de Estado e Neg cios da Guerra em setembro de 1957 que convocou do total de 67 17 Trata se do PL n 2 891 de 05 07 1957 172 O BI n 142 de 26 06 1957 da PGSE p 667 publica resultado de inspe o de sa de de enfermeiras febianas pela Junta Central de Sa de do Ex rcito 173 Trata se da Portaria Ministerial n 1 859 de 18 09 1957 que foi publicada no DO n 214 de 18 09 1957 p 22 207 e transcrita no BE n 38 de 21 09 1957 p 1 964 199 enfermeiras que compuseram a FEB 44 65 7 delas para o Servi o Ativo As outras ou x 7 E nua 1 n o se apresentaram ou j estavam reformadas por incapacidade adquirida na guerra 74 Das falas e textos analisados a motiva o para requererem a reinclus o teve rela o com o sentimento delas de estarem vocacionadas com o militarismo com o cr dito que o Ex rcito desfrutava socialmente poca com a perspectiva de ascens o social e com a garantia de estabilidade financeira e profissional N o obstante a d vida que pairou sobre o destino que tomaria as enfermeiras reinclu das no Servi o Ativo chegou a prorrogar um pouco a decis o de algumas Eu fui uma das primeiras a se apresentar porque era vantajoso para mim No Ex rcito eu passei a ganhar o dobro As duas outras daqui de Minas n o foram de imediato Uma era casada e a outra n o precisa
128. War analyzing the strategies used by them to be recredited in Active Service Army and discuss the reinclusion of these nurses in Active Service Army The primary sources consisted of written oral and iconographic while the secondary sources of bibliographic existing on that theme The findings were classified analyzed and contextualized in the light of Pierre Bourdieu s World Social Theory and Michelle Perrot s studies on Women s History The results showed that in the history of the nursing profession the nurses of the BEF are the first female grouping which was officially incorporated into the Brazilian Armed Forces In 1944 they went to Italy along with the BEF where they worked in hospitals in North America During the war and supported by patriotic speech operated breaks in the traditional and paternalistic discourse that affirmed a woman s place in the home and its role in procreation Therefore there were many difficulties and hardships they had endured including being excluded from any effective state of the Brazilian Army soon after the conflict in 1945 In the social political context of the immediate post war peacemaking and democratization which is now at stake was the quest for recognition and merit of their performance in field hospitals as to serve as justification for a possible re inclusion of them in Active Military Service of the Army For this purpose they mobilized a number of strategies that ultimately were effective in th
129. a noturna um vil objeto territ rio de passagem apropriado sem individualidade pr pria PERROT 1998 p 47 Na esteira desses pensamentos h que se questionar como tornar intelig vel e aceit vel at mesmo pelas pr prias mulheres brasileiras na d cada de 1940 a inclus o de enfermeiras no campo do Ex rcito Como elas poderiam ter o acesso franqueado a este espa o p blico N o obstante os limites entre o p blico e o privado tendem a mudar em decorr ncia principalmente de circunst ncias que requerem a participa o feminina ainda que para representar o privado no espa o p blico mesmo porque nem todo espa o privado feminino e nem todo espa o p blico masculino PERROT 1988 Em contrapartida essa mobiliza o de fronteiras que enquadra a guerra e o Ex rcito Brasileiro como espa o p blico n o se mostrou t o estimulada e f cil Mesmo porque nos cen rios militares daquela poca era impratic vel e impens vel a coexist ncia dos sexos Ora como o c digo militar culturalmente e essencialmente masculino aquelas primeiras mulheres militares foram vistas como transgressoras ao ousarem vestir a farda e em consequ ncia desta infra o foram por vezes tidas ou como prostitutas que queriam fazer a vida ou como militar homem SILVA 2007 Com efeito parafraseando a pr pria Michelle Perrot 2005 os primeiros e pesados preconceitos contra a apari o p blica daquelas primeir
130. a tornou se um inc modo um estigma As proibi es n o demoraram a aparecer e iniciativas foram tomadas pelo Minist rio da Guerra para restringir o impacto da chegada dos expedicion rios a ponto de se proibir que eles comentassem sobre qualquer epis dio passado ou presente sobre a FEB Tal ato de censura n o de seguran a expressa muito mais uma mentalidade sedimentada no alto oficialato brasileiro sobre o car ter e as consegii ncias pol ticas e militares da FEB do que uma medida efetivamente necess ria e exegiu vel Ademais condicionar qualquer declara o a uma autoriza o do Minist rio da Guerra revela que o nico discurso aceit vel era o institucional desautorizando qualquer outro N o obstante era de se esperar que com os expedicion rios licenciados e longe dos quart is nada poderia garantir o sil ncio dos ex combatentes sobre os epis dios de guerra Na verdade o objetivo parece ter sido quebrar o impacto da chegada da FEB evitando as declara es que pudessem embara ar a institui o militar ou envolv la nas quest es pol ticas que fermentavam naquele momento FERRAZ 2003 p 113 5 Todas as tentativas de explica o dessa dissolu o e desmobiliza o apressadas s o associadas com o processo de crise do Estado Novo e deposi o de Vargas A vers o mais comum aquela que coloca a FEB como uma esp cie de vanguarda armada e ou simb lica da oposi o ao Estado Novo Por este racioc nio Va
131. a FEB no TO da It lia 162 A idade de 58 anos era o limite para a perman ncia das febianas no Servi o Ativo quando deveriam ser reformadas compulsoriamente Par grafo nico do Artigo 7 do Decreto Lei n 8 760 de 21 01 1946 192 veio de encontro ao car ter modernizador que a institui o pretendia Al m do que com a novidade as For as Armadas do Brasil deixavam mesmo que simbolicamente de ser territ rio exclusivo de homens Suas portas passaram a estar entreabertas o que n o significa dizer que chegou a haver quebra de tabus modifica es estruturais importantes ou a cria o de um novo campo de trabalho para outras mulheres Por seu turno as estrat gias empreendidas pelas enfermeiras da FEB para serem reinclu das no Servi o Militar Ativo do Ex rcito foram primeira vista eficazes posto que elas conseguiram a cria o de uma lei federal em conformidade com os seus interesses pr prios E neste jogo apropriaram se de vantagens simb licas associadas posse de uma identidade leg tima quer dizer suscept vel de ser publicamente e oficialmente afirmada e reconhecida BOURDIEU 2006 Do curto texto da Lei n 3 160 57 alguns aspectos s o merecedores de ressalte Vejamos apesar de seu texto n o fazer men o aos deveres e responsabilidades mas somente ao gozo de direitos vantagens e regalias de oficiais da ativa ao requererem a convoca o as febianas estariam novamente sujeitas s prescri es
132. a Reserva como na hip tese de que trata o projeto independe daquela condi o Ademais deve se ter em vista que as enfermeiras da FEB acompanhando as tropas brasileiras ao teatro de guerra n o tiveram atua o apenas plat nica ou contemplativa chegaram a realizar encargos e esses encargos est o compreendidos na conceitua o do que seja Servi o Militar em caso de mobiliza o 112 Grifos meus 113 Trata se do Decreto Lei n 9 500 de 23 07 1946 154 Sob esse aspecto se a isen o n o existisse poderiam aquelas enfermeiras alegar que prestaram servi o s For as Armadas Consegiientemente do ponto de vista t cnico militar n o h o que censurar no substitutivo H que se considerar que o principio b sico sobre a isen o de mulheres no Servi o Militar era bem demarcado poca como rezava a pr pria Lei do Servi o Militar 1946 os homens e somente eles eram submetidos a obriga es militares que depois de prestarem o servi o militar obrigat rio poderiam ser convocados at certa idade limite para assim colaborar com a defesa da na o J as mulheres apesar de isentas poderiam voluntariamente habilitar se de acordo com regulamentos especiais em cursos de enfermagem e em outros compat veis com suas aptid es para o desempenho de fun es em caso de mobiliza o Como notado n o est o claros nesta lei os pormenores sobre a mobiliza o de mulheres enfermeiras e o
133. a a elas a titula o identidade de oficial ou de pra a CANSAN O 2003 Tal quest o colocada nos relatos das enfermeiras que atuaram na FEB como sendo vexat ria N s sa mos do pa s sem posto T nhamos um tracinho no bra o e ramos enfermeiras de 3 Classe O americano n o entendeu essa palha ada Chegou a um ponto que n s n o pod amos ir para o restaurante de oficiais porque n o ramos oficiais n o pod amos ir para o de pra as porque n o ramos pra a e para o de civis muito menos Ent o durante a viagem n s as primeiras cinco enfermeiras que embarcaram para a guerra ficamos muitas vezes indo tomar s um ch na Cruz Vermelha porque nem comida t nhamos direito E o major Emestino Gomes de Oliveira que ficou conosco estava pouco se lixando com a nossa situa o Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Mais tarde elas foram arvoradas no posto de segundo tenente Com certeza n o havia como continuar no Teatro de Opera es sem estarem inseridas numa cadeia de comando j que a presen a delas n o era reconhecida pela falta de gradua o posto o que tornava insustent vel a rela o com as enfermeiras norte americanas uma vez que a falta de uma defini o hier rquica as fazia passar por desagrad veis humilha es CANSA O 2003 p 65 Uma enfermeira entrevistada mencionou alguns nomes de chefes militares que de certo modo tomaram parte nesta causa entre eles o do coronel Emma
134. a atua o delas na guerra ainda tem estado muitas vezes sob um enfoque de humor e de deboche a exemplo do que tamb m acontece apesar de em menores propor es com as enfermeiras que incorporam s For as Armadas atualmente Tal constata o muito tem a ver com a persist ncia das quest es de misoginia al m dos estere tipos e preconceitos que ainda envolvem a profiss o de enfermagem Soma se a isso o valor d bio e improvisado pelo qual o Ex rcito lidou e ainda lida com o seu Servi o de Enfermagem Apesar desses pesares considero a hist ria das enfermeiras febianas cunhada entre apari es p blicas e zonas mudas um epicentro da hist ria das mulheres brasileiras nas For as Armadas Hist ria esta que ao estar contida no campo da Hist ria da Enfermagem Brasileira n o se constituiu em uma hist ria isolada por si s e insulada dentre de suas fronteiras Ao contr rio ela conserva um tra o comum com a hist ria das mulheres na enfermagem a qual revela uma pluralidade de condi es dificultosas que se assemelham com aquelas que h muito as enfermeiras brasileiras tiveram que enfrentar e ainda enfrentam OLIVEIRA 2007 p 136 Outro aspecto a ser considerado o de que este estudo vem se juntar a outros j produzidos com o intuito de amplificar a hist ria da profiss o de enfermagem os quais auxiliam na compreens o do que somos hoje como profiss o e como profissionais pois todas as lutas atuais rodam em torno de u
135. a coletiva dessas oficiais enfermeiras de guerra numa luta delas pr prias contra o esquecimento CAP TULO I A marcha de enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira para o Servi o Militar Ativo do Ex rcito 59 Ato viril por excel ncia as guerras t m sobretudo a tend ncia de consolidar os pap is tradicionais Em uma disciplina refor ada apoiada em um discurso voluntariamente culpabilizador notadamente para as mulheres cada sexo distintamente mobilizado a servi o da P tria os homens na frente as mulheres na retaguarda PERROT 2005 p 311 Na pr tica e com raras exce es tal divis o sexual do trabalho nas guerras bem definiu as possibilidades e limites entre homens e mulheres Ali s quando se fala em guerra tradicional esfera de poder e de empoderamento masculino raramente se pensa no feminino Na teoria as guerras s o tidas como universos de homens armas cavalos luta fome doen as e mortes COOK 2006 Muitas mulheres gostariam de ter sido combatente assim como Clorinda Joana d Arc Anita Garibaldi ou Maria Quit ria de Jesus ter subido em muralhas ter vestido fardas portado medalhas manejado espadas ou fuzis Mas as armas lhes foram proibidas Assim que os hospitais foram o que geralmente lhes coube nas guerras lutas e revolu es at a volta da paz quando deveriam a priori sair de cena PERROT 2005 Desse modo que a enfermagem dentre todas as outras profiss es geralmente
136. a educada Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Unica mulher no conjunto de autores deste livro Bertha testemunhou as diversas adversidades verificadas durante o voluntariado treinamento viagem rotina dos hospitais at o retorno sofrido e melanc lico ao Brasil passando pelas humilha es e preconceitos sentidos E um relato valioso da experi ncia das enfermeiras febianas na guerra Surpreende em seu texto diferentemente de outros publicados por algumas enfermeiras anos mais tarde a presen a de ind cios de que o tempo passado no Ex rcito teria sido um tempo quase morto praticamente perdido sem est mulos de muitos sacrif cios sem nenhuma paga a n o ser a consci ncia do dever cumprido Esta uma das sensa es que se t m quando procedida a leitura de seu testemunho MORAES 1949 p 418 Nas reflex es finais que escreveu Bertha ressaltou que a cria o do quadro de enfermeiras militares uma necessidade imediata que salta vista A experi ncia da organiza o da FEB deve ser meditada Os resultados obtidos com o parco contingente feminino enviado It lia devem 147 ser pesados assim como as li es dos outros ex rcitos com que convivemos em campanha MORAES 1949 p 419 Bertha prossegue suas reflex es com indaga es que chegaram mesmo a afrontar as autoridades militares da poca que julgou como culpadas pela falta de iniciativa em favorecer o aproveit
137. a fim de se entender um pouco mais de suas hist rias Ademais o uso do m todo da hist ria oral tem tica neste trabalho se justifica por ter se mostrado como um meio de conhecimento prof cuo do tema aqui explorado uma vez que tive a oportunidade de voltar minha aten o para as vers es das febianas sem prescindir de outras fontes Apesar de serem pessoas muito idosas n o foram empecilhos de modo geral suas condi es f sicas ou mentais Devo ressaltar que tamb m cheguei a contatar um familiar de uma enfermeira febiana Maria Celeste Fernandes que mora no Rio de Janeiro e o de outra que mora em Salvador chamada Jandira Bessa de Meirelles Entretanto devido suas situa es prec rias de sa de n o pude contar com seus testemunhos Uma vez realizados os contatos iniciais e estabelecidos os roteiros de entrevista al m de estudadas as biografias das que seriam entrevistadas e tamb m de suas companheiras de guerra iniciei o processo de entrevistas com as seguintes enfermeiras Carlota Mello Elza Cansan o Medeiros Roselys Teixeira Gazzinelli e Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero O quadro a seguir especifica outros detalhes sobre o grupo de febianas que participaram mais diretamente do desenvolvimento deste estudo 48 uadro n 01 Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira entrevistadas p Participantes Ano e local de Organiza es Militares onde Datas e locais de nascimento serviram
138. a n o tenha sido objetivada em escolas do mesmo n vel que a dos outros oficiais especialistas em medicina odontologia e farm cia o que desde o in cio poderia conferir uma maior legitimidade ao exerc cio da profiss o de enfermagem neste campo N o s o ao acaso as ressalvas escritas por um coronel m dico do Ex rcito que denunciou as agruras que se faziam sentir no processo de incorpora o de cidad os julgados verdadeiramente aptos para o Servi o de Sa de do Ex rcito na d cada de 1950 Voca o hoje em dia uma quest o pragm tica interesseira N o h mais voca o sem interesse imediato H sim interesse sem voca o Disso temos muitos exemplos principalmente depois dessas leis de favores pessoais que permitiram o ingresso no Servi o de Sa de de elementos sem voca o de esp cie alguma mas aproveitando se de uma oportunidade para melhores proventos e posi o N o viam o Servi o de Sa de um fim mas um meio para os seus objetivos individualistas Leis que do ponto qualitativo quanto maior efici ncia t cnica do pessoal de sa de que se deve ter sempre em mira nada produziram Ao contr rio fazendo ingressar no Servi o de Sa de esses elementos independente de qualquer sele o psicol gica f sica ou intelectual concorrem para agravar ainda mais a situa o MELLO 1954 v 1 p 662 3 Este problema sentido pelo Servi o de Sa de do Ex rcito poca refletia negativamente na qualidade
139. a o presidente da Rep blica Get lio Dornelles Vargas no momento da abertura do livro 172 de doa es de flores para as sepulturas dos soldados brasileiros no Cemit rio de Pist ia na It lia por ocasi o das comemora es do Dia de Finados Da esquerda para a direita est a enfermeira febiana Helena Ramos seguida de um homem n o identificado que tem ao seu lado outra febiana Elza Cansan o Medeiros mais outro homem de culos n o identificado ladeado pelo general Araqu m e por fim um outro homem tamb m n o identificado A legenda refere todos como dirigentes da Associa o de Ex Combatentes Trata se de uma reuni o que ocorreu entre os anos de 1951 e 1954 per odo do segundo governo de Vargas No texto fotogr fico as pessoas sorriem discretamente o que denota o sentimento de algum contentamento A presen a de duas enfermeiras febianas naquela reuni o mostra atrav s de suas aproxima es com a Associa o de Ex Combatentes as marcas das representa es presentes no universo feminino da poca de que a mulher tinha um papel a cumprir na sociedade Com esta forma de atua o neste tipo de quest o assistencial de se levar flores para os t mulos dos soldados her is da P tria elas fizeram ver nas suas pr ticas as representa es que povoavam o universo feminino principalmente da elite cujos princ pios estavam no maternalismo feminista ou feminismo maternal fazendo reproduzir as id ias da P tria M
140. adas e outras se perdem completamente H algumas no entanto que ficam gravadas nitidamente para a eternidade Enfermeira Carlota Mello RESUMO OLIVEIRA Alexandre Barbosa de Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no front do p s guerra o processo de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 1945 1957 2010 299f Tese Doutorado em Enfermagem Escola de Enfermagem Anna Nery Centro de Ci ncias da Sa de Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010 Estudo hist rico social que tem como objeto o processo de reinclus o de enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira FEB no Servi o Militar Ativo do Ex rcito ap s o t rmino da Segunda Guerra Mundial Objetivos descrever as circunst ncias que antecederam o processo de reinclus o de enfermeiras da FEB no Servi o Militar Ativo do Ex rcito ap s o t rmino da Segunda Guerra Mundial analisar as estrat gias empreendidas por elas para serem reinclu das no Servi o Militar Ativo do Ex rcito e discutir a reinclus o dessas enfermeiras no Servi o Militar Ativo do Ex rcito As fontes prim rias se constitu ram de documentos escritos orais e iconogr ficos enquanto que as fontes secund rias de acervo bibliogr fico existente sobre a referida tem tica Os achados foram classificados contextualizados e analisados luz da Teoria do Mundo Social de Pierre Bourdieu e dos estudos sobre a Hist ria das Mulheres de Michelle Perrot Os resu
141. ados foi o 225 Paralelamente nesse mesmo per odo al m das dificuldades do Servi o de Sa de do Ex rcito com o suprimento de m o de obra especializada nos seus diversos rg os de tratamento pesquisa e produ o v rias medidas de fortuna improvisa es eram tomadas para que as atividades n o fossem interrompidas posto que n o existiam no Ex rcito unidades para a assist ncia m dica s fam lias dos militares e de seus funcion rios civis com exce o do HCE da Policl nica Central e de alguns poucos hospitais gerais que a faziam parcialmente MELLO 1954 v 1 p 676 Era esta uma poca de desenvolvimento da assist ncia social de aparecimento dos IAP s onde os trabalhadores que contribu am para a Previd ncia sentiam se com direito de serem atendidos dentro de sua classe CAIADO 1954 v 2 p 311 Tendo em conta que o Ex rcito estava espalhado por todo o pa s em diversas regi es militares este era um problema complexo da For a naquele momento A fala seguinte reflete um pouco dessa situa o quando descreve alguns detalhes da dificultosa organiza o do Posto M dico da Praia Vermelha unidade de sa de do Ex rcito rec m criada onde foram servir algumas febianas Depois que retornei ativa eu fui servir no Posto M dico da Praia Vermelha O Posto tinha sido inaugurado na sexta feira e eu fui para l na segunda feira seguinte Eram dois apartamentinhos Neles tinha cl nica m
142. adquiriram certas compet ncias uma vez que elas passaram a travar contato direto e cont nuo com o moderno servi o de sa de em campanha dos Estados Unidos da Am rica o que viabilizou a atualiza o de seu habitus e promoveu lucros para seu capital social simb lico e espec fico de enfermagem militar operativa In meras s o as men es honrosas que destacam a atua o delas nos cuidados aos soldados durante o conflito mas tamb m vale ressaltar os julgamentos de alguns registros que apontam o despreparo e as falhas no processo de forma o e de atua o de algumas dessas enfermeiras brasileiras na guerra BERNARDES 2003 OLIVEIRA SANTOS 2007 De certo modo a atua o dessas enfermeiras brasileiras ampliou as possibilidades femininas no espa o p blico posto que perdurava a id ia de que via de regra os homens deveriam ser destinados para as frentes de batalha e as mulheres geralmente ficariam em casa para os cuidados aos filhos e por extens o empregadas na garantia do adequado funcionamento da sociedade civil Assim que durante a Era Vargas 1930 1964 alguns limites foram reafirmados outros rompidos ou ao menos alterados especialmente os existentes entre homens e mulheres no campo militar Entretanto logo ap s o t rmino da guerra a FEB foi dissolvida pelo governo e do mesmo modo as enfermeiras foram por ele desmobilizadas Esta a o trouxe embutida a consolida o da exclus o dessas mulheres do Ex rc
143. ais de campanha norte americanos A sa da que poderia se fazer razo vel para resolver parcialmente esta quest o e que realmente chegou a ser alvo de negocia o seria a de um prov vel acordo do Ex rcito com a Escola Anna Nery refer ncia nacional de enfermagem poca Sobre isso uma enfermeira que vivenciou este processo disse O Ex rcito chegou a pedir Escola Anna Nery para integrar o Servi o de Sa de da FEB porque esta escola tinha mais cartaz do que a da Cruz Vermelha na parte de enfermagem A enfermeira de Anna Nery era mais considerada no preparo do que a da Cruz Vermelha Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Altamira Pereira Valadares ex aluna desta Escola complementa a informa o Outras alega es n o t o relacionadas ao aspecto de g nero mas da necessidade mesma da enfermagem em si seja ela masculina ou feminina eram de se driblar as poss veis barreiras ling sticas que poderiam ocorrer entre os soldados brasileiros a serem assistidos e as enfermeiras norte americanas de se haver a previs o de um n mero relativamente consider vel de soldados brasileiros que seguiriam para o front e se aliariam estrutura do V Ex rcito Americano o que aumentaria a demanda de profissionais de enfermagem e at mesmo as influ ncias do apartheid posto que na guerra o Ex rcito Norte Americano segregou seus soldados e enfermeiras pela cor o que seria tamb m esperado que aconteces
144. amento de enfermeiras mulheres nos quadros das For as Armadas Por que as autoridades militares n o tratam de organizar imediatamente um quadro de enfermeiras profissionais e de comprovada compet ncia Por que n o existe uma Escola de Enfermeiras Militares como existe uma Escola de Sa de para os m dicos e sargentos enfermeiros Por que n o cercar desde logo de todos os est mulos morais e materiais dando lhes o lugar que compete na hierarquia militar s enfermeiras Por que n o se procura desde logo dar lhes um padr o de vida condizente com suas nobil ssimas responsabilidades MORAES 1949 p 419 Tais quest es s o emblem ticas para caracterizar o tipo de argumento que o grupo utilizou para construir suas reivindica es geralmente pautado por um discurso primeira vista e aparentemente feminista 2 por m n o pacifista Sem d vida a Segunda Guerra Mundial foi um grande neg cio que n o s moveu a fronteira entre os sexos mas que hipnotizou coletivamente homens e mulheres quando mobilizou suas mentes e pr ticas Os bons exemplos devem ser imitados e um bom exemplo a organiza o militar americana pelo menos na parte que nos interessa aqui no Servi o de Sa de e dos seus componentes N o s dever amos criar nossa organiza o feminina como dever amos trazer algumas especialistas para nos orientarem de in cio Sem essa orienta o geral nada conseguiremos pois para termos um quadro de
145. ando La s optou por n o atender a solicita o desta For a em virtude da quest o do posto e do soldo que julgou insatisfat rio como dantes j comentado Em contrapartida a despeito do contra senso que se deu com o Ex rcito encaminhamentos mais satisfat rios foram feitos nas negocia es para a convoca o de enfermeiras da Escola pela For a A rea Brasileira FAB que a exemplo das enfermeiras do Ex rcito tamb m atuaram no Teatro de Opera es Europeu por m de modo supostamente mais destacado E sobre elas que foram redigidas as pr ximas linhas no sentido de se estabelecer alguns pontos de an lise com o caso das enfermeiras do Ex rcito Como registrou Coelho 1997 p 194 5 em maio de 1942 aproximadamente sete meses antes mesmo da cria o do QERE estando no Brasil a primeira diretora da Escola Anna Nery gest o 1922 1925 Clara Louise Kieninger foi lhe solicitado que aqui permanecesse para organizar os cursos de defesa passiva e de volunt rias de guerra na Cruz Vermelha Brasileira Nesse nterim a FAB valeu se de sua influ ncia e conhecimentos e Justamente com a Escola proporcionou treinamento no pa s e a seguir nos Estados Unidos para seis enfermeiras da pr pria Escola Anna Nery que partiriam para a It lia em julho de 1944 para assistirem exclusivamente ao pessoal brasileiro do 1 Grupo de Ca a nos hospitais da retaguarda CANSAN O 2003 p 33 53 A fotografia que se segue ilustra a participa
146. ar Decreto Lei n 9 698 de 02 09 1946 Estatuto dos Militares 36 preferencialmente o do Ex rcito neste estudo uma vez que possuem especificidades muitas pr ximas quase indistintas Outros campos tamb m s o aqui considerados entre eles o campo social e o campo pol tico aonde alian as foram firmadas com o intento de se estabelecer certas vantagens ao grupo de enfermeiras febianas o campo da For a A rea Brasileira onde tamb m foram incorporadas enfermeiras para a guerra e onde elas tamb m foram reinclu das no seu Servi o Ativo a exemplo do que ocorreu com as do Ex rcito e o campo da Enfermagem Brasileira destacado no estudo por ter influenciado tamb m nos rumos da mobiliza o de enfermeiras brasileiras para a guerra e inclusive no reconhecimento da reinclus o de febianas no p s guerra A considera o destes campos visou contemplar a id ia de que os agentes neles se distribuem segundo o volume global do capital que possuem e a composi o do seu capital ou seja segundo o peso relativo das diferentes esp cies no conjunto de suas posses t tulos de propriedade econ mica cultural militar e social BOURDIEU 2006 p 135 Para Bourdieu 2005 a din mica social se d no interior de campos que possuem l gicas pr prias O que vai delimitar o campo s o os valores e as formas de capital que lhe d o sustenta o Nesse sentido a din mica social que acontece no interior de cada campo passa a ser re
147. arte exposto no trecho a seguir Eram dadas aulas em v rios lugares do Rio de Janeiro Faculdade de Medicina da Praia Vermelha Hospital Central do Ex rcito Cruz Vermelha Forte S o Jo o Quando chegava a noite eu estava exausta Havia aulas que eu achava desnecess rias de ordem unida de educa o f sica de fazer contin ncia Depois na It lia eu percebi que as coisas importantes n o haviam sido ensinadas como fazer a convers o dos graus Fahrenheit dos term metros americanos em graus Celsius dos nossos Os m dicos americanos l desconfiavam da tomada de temperatura por nossas enfermeiras VALADARES 2001 p 78 9 54 A falsa baiana uma atividade de deslocamento entre dois pontos que utiliza duas cordas amarradas e suspensas paralelamente ao ch o e entre si numa altura m dia para que uma pessoa utilize os p s e as m os para a travessia Esse exerc cio exige concentra o e controle pois as cordas tencionadas tendem a balan ar fazendo com que a pessoa se desequilibre 88 Apesar das defici ncias apontadas esse treinamento inicial representou uma estrat gia de homogeneiza o do comportamento das candidatas que viabilizou a incorpora o de um habitus militar para aquelas enfermeiras BERNARDES LOPES SANTOS 2005 Com efeito ao se fazerem part cipes do campo do Ex rcito elas passaram a internalizar certos valores de disciplina hierarquia precis o vigor rapidez entre outros que antes
148. as civis E a gente n o se destacava n o 20 Grifo meu 248 Agora claro quando n s amos representar o Col gio Militar ou quando receb amos uma medalha ou uma homenagem n s nos destac vamos Mas na vida cotidiana n o havia destaque inclusive porque a gente tinha vergonha de sair fardada porque chamava muita aten o S us vamos a farda no trabalho Enfermeira Carlota Mello Concretamente a reinclus o de febianas n o chegou nem de longe a resolver parte da crise de pessoal de enfermagem que se debatia o Servi o de Sa de do Ex rcito poca que aspirava a solu es que fossem verdadeiramente capazes de atender s suas reais necessidades Ali s este nunca foi o seu intento Entretanto a Lei n 3 160 57 representou um novo marco na hist ria da enfermagem militar brasileira pois pela primeira vez se incorporou mulheres em car ter oficial no Servi o Militar Ativo do Ex rcito para servirem em tempo de paz Alguns dias depois dos debates sobre a cria o de um Quadro Auxiliar Feminino no Segundo Congresso Brasileiro de Medicina Militar 1959 as enfermeiras que participaram do 1 Grupo de Ca a da For a A rea Brasileira colheriam os louros da Lei n 3 632 promulgada em 10 de setembro de 195922 que as reincluiu no Servi o Ativo da Aeron utica para as quais uma das febianas fez uma cr tica Tudo foi primeiro para n s Elas vieram no nosso rabado Elas
149. as enfermeiras do Ex rcito que foram tidas como fora de lugar fazem nexo com o caso dos preconceitos e pilh rias que as enfermeiras que seguiam os ex rcitos noutros tempos sofreram ao tempo que comprova a id ia de que os estere tipos culturais t m vida longa o que faz da recusa p blica a elas algo natural e precavido 91 De fato n o s no espa o p blico elas encontraram dificuldades como tamb m no privado quando tiveram que enfrentar a aceita o de seus familiares e pessoas pr ximas conforme se nota no trecho a seguir Na minha fam lia a rea o foi muito triste muito contradit ria porque eu mantive uma posi o inabal vel Fu queria faria e iria Eles achavam que eu era uma menina maluca A minha m e ficou horrorizada Quando eu me apresentei ela estava em Goi s porque tinha ido ver a outra filha que estava esperando nen m Ent o quando a mam e chegou eu disse Eu me apresentei e vou fazer o curso de enfermagem de guerra Minha filha o que isso Ficou maluca N o mam e Eu estou fazendo isso com plena consci ncia do que eu quero A rea o foi negativa Eu s tive o apoio de um irm o Ele achava que se eu queria servir eu devia ir Ningu m mais achou isso Enfermeira Roselys Teixeira Gazzinelli Como compreende Perrot 2005 p 462 a casa com certeza o lugar das mulheres mas tamb m o da fam lia e fronteiras complexas regulamentam a sua c
150. as pelo Departamento Administrativo do Servi o P blico como enfermeiras civis contratadas do Ex rcito onde trabalharam como enfermeiras de verdade Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Contudo a realiza o daquela provinha n o foi objeto de aspira o para outras febianas muito provavelmente pelo seu capital social e tamb m pelo capital simb lico que Julgaram ter acumulado at ent o Ali s o pagamento n o fora t o atrativo e a posi o que assumiriam no Servi o de Sa de do Ex rcito seria algo desvantajosa pois na condi o de civis contratadas estariam sob as ordens inclusive dos sargentos enfermeiros que foram seus subordinados nos hospitais de campanha e que depois da guerra foram promovidos CAMERINO G ES 1954 p 579 O pr ximo trecho rememora bem esta situa o Aquelas que se sujeitaram por n o terem emprego foram trabalhar como civis contratadas nos hospitais e policl nicas do Ex rcito Eu n o Como contratada eu n o iria nunca Eu n o passaria de cisne a pato Como que eu que tinha sido chefe das enfermeiras iria trabalhar sob as ordens de sargentos que tinham sido meus subordinados N o era poss vel uma coisa dessas E eles descascavam em cima do pessoal Enfermeira Elza Cansan o Medeiros 38 O DASP foi criado durante o Estado Novo para dar conta de uma pol tica de reforma e moderniza o da administra o p blica P
151. associou a ela Eu e muitas outras fizemos parte tamb m Enfermeira Carlota Mello Doravante a passagem delas da Reserva de 2 Classe para a de 1 Classe leia se Servi o Ativo seria uma quest o de tempo mas de novas alian as que seria mesmo impulsionada pelos reflexos da promulga o dessa Lei n 1 209 50 a qual inclusive serviu de base para que o deputado Lutero Vargas filho do presidente da Rep blica em exerc cio apresentasse em 2 de maio de 1951 Mesa Diretora da C mara dos Deputados o PL n 265 que teve a seguinte ementa Torna extensivas s enfermeiras que prestaram servi os no 1 Grupo de Ca a as disposi es da Lei n 1 209 De certa forma sob o abrigo das leis que 130 H que se mencionar que Lutero Vargas filho do ent o presidente Get lio Vargas incorporou se FAB durante a Segunda Guerra quando atuou como m dico junto s enfermeiras no 1 Grupo de Ca a E agora posicionava se como defensor das causas dessas ex companheiras de farda A ltima a o por que passou o referido projeto ocorreu em 19 07 1952 quando foi transformado na Lei n 1 647 em 18 07 1952 que foi publicada no DO de 23 07 1952 163 amparavam as enfermeiras do Ex rcito estavam as enfermeiras da Aeron utica que como as do Ex rcito tamb m foram desmobilizadas ao t rmino da guerra a Com o amparo da Lei n 1 209 50 as febianas n o estavam mais classificadas na condi o de civis e sim na de m
152. avam ver que o Ex rcito n o estaria t o disposto em adequar de modo pleno uma inser o feminina em seus quadros situa o que provavelmente tenha sido condicionada pelos limites e possibilidades nas rela es entre os homens e as mulheres poca no campo social e mesmo no militar Por outro lado tal desfecho era de se esperar de uma For a que ainda estava em vias de se fazer OLIVEIRA et al 2009a p 690 Assim desde o in cio as enfermeiras que tomariam parte do contingente da FEB estariam fadadas ao n o reconhecimento das l deres da enfermagem brasileira pois estas n o concordaram com as condi es de aproveitamento de enfermeiras desta For a e n o conseguiram valer os princ pios de divis o do trabalho o que manteria seu distanciamento do pessoal sem forma o profissional Por isso ao que se cr estas lideran as n o se envolveriam com as causas das febianas no campo militar Sendo assim no campo da enfermagem brasileira as enfermeiras da FEB n o teriam voz e vez o que ser objeto de an lise mais frente BARREIRA BAPTISTA 2002 p 213 83 Dentro de tais rela es de for a os agentes que monopolizam um capital espec fico tendem a adotar estrat gias que objetivam a conserva o da ordem estabelecida Por conseguinte os agentes que det m menos capital opostamente tendem a estrat gias de subvers o e rompimento dos limites que essa ordem tenta impor A transposi o desses limites portanto p
153. azo de 90 noventa dias sendo o requerimento encaminhado ao Ministro da Guerra para fins de convoca o Art 5 Revogam se as disposi es em contr rio Rio de Janeiro em 1 de junho de 1957 136 da Independ ncia e 69 da Rep blica Juscelino Kubitschek Henrique Lott Embora a base legal para a admiss o de enfermeiras no campo do Ex rcito em tempo de guerra tenha sido estabelecida num per odo autorit rio e ditatorial durante o Estado Novo de Vargas a inclus o efetiva de um corpo feminino em tempo de paz ocorreria ap s a redemocratiza o do pa s num contexto desenvolvimentista e de evolu o da atividade intelectual na gest o de Kubitschek Ademais a promulga o da Lei n 3 160 57 representou uma conquista e tanto para as febianas ao tempo que for ou uma toler ncia novidade de se ter mulheres oficialmente incorporadas no campo militar Por ela a admiss o de pessoal feminino no efetivo do Ex rcito ainda que restrita passou a ser uma realidade e guardadas as devidas propor es 16l Embora o texto da Lei n 3 160 57 fale de inclus o no Servi o de Sa de do Ex rcito deu se prefer ncia neste estudo express o reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito por ter sido julgada mais intelig vel clara e porque o pr prio projeto que deu origem a esta lei tinha como ementa o seguinte regula o aproveitamento no Servi o Ativo do Ex rcito das enfermeiras que integraram
154. baterem incorporados For a Expedicion ria Brasileira FEB tropa que contou com a participa o do Ex rcito Marinha e Aeron utica e que chegou a mobilizar 25 334 cidad os brasileiros a fim de fazerem parte de um acordo pol tico militar selado entre o Brasil e os Estados Unidos da Am rica no esfor o de guerra contra os pa ses nazi fascistas Ent o a 13 de dezembro de 1943 foi assinado o Decreto Lei n 6 097 que criou o Quadro de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito Logo em seguida volunt rias de todas as partes do pa s solteiras vi vas e casadas e com os cursos mais diversos na rea de enfermagem foram apressadamente convocadas para realizarem o Curso de Emerg ncia de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito Dentre as in meras volunt rias que realizaram o curso apenas 67 foram selecionadas para seguirem para o Teatro de Opera es A apari o deste grupamento serviu para refor ar os moldes da met fora da P tria M e a qual promoveu a transposi o dos valores imag ticos da voca o feminilizante da mulher do seio familiar para o recrutamento de enfermeiras soldado que iriam atuar nos Sobre a Funda o Rockefeller consultar o artigo A Funda o Rockefeller e a constru o da identidade profissional de enfermagem no Brasil na Primeira Rep blica de Martha Cristina Nunes Moreira 1999 A Aeron utica tamb m contou com um efetivo de seis enfermeiras que ser o tratadas oportunamente ne
155. ca de certo grupo social torna se um meio para se compreender o poder que ele tem ou que ele n o tem Na guerra que foi travada para convencer que as febianas n o foram apenas mulheres que seguiram soldados no front de interesse o ressalve de que elas se Justapuseram s coisas religiosas A despeito de sua f as aproxima es com a pr tica crist teriam servido de apoio para amenizar as oposi es por elas sofridas nessa estada no campo do Ex rcito quando vincularam suas identidades de enfermeira de guerra s coisas sagradas Sendo assim com o t rmino da guerra algumas febianas encarregaram se de se fazerem part cipes de uma cerim nia religiosa de a o de gra as pela sua participa o na guerra Sobre isto uma delas ratificou que As primeiras que voltaram rezaram uma missa na Candel ria A religi o da maioria das enfermeiras era a cat lica Enfermeira Hilda Ribeiro gt Esta missa foi celebrada por interm dio da Comiss o de Assist ncia s Enfermeiras da FEB atrav s da Cruz Vermelha Brasileira O trecho abaixo corrobora tal assertiva Durante a guerra a Cruz Vermelha tinha v rios postos O Posto 23 era o Posto Madrinha das enfermeiras da FEB Tudo que se relacionava com as enfermeiras presentes que receb amos no front essas coisas tudo era recolhido atrav s do Posto 23 que dava assist ncia a n s Foi a Cruz Vermelha quem fez esse trabalho Na guerra a Cruz Vermelha
156. ca sobre o car ter cient fico da profiss o de enfermagem num nico par grafo Sobre este complexo assunto comunico minha simpatia s id ias cr ticas registradas pela professora Vilma de Carvalho em alguns artigos de sua autoria CARVALHO 2007a CARVALHO 2007b CARVALHO 2009 269 Sem reais inten es de exaustividade pretendi socializar a trajet ria das enfermeiras febianas ap s o t rmino da Segunda Guerra Mundial o que nunca havia sido tratado em profundidade no ambiente acad mico Com efeito no processo de pesquisa algumas quest es importantes talvez essenciais foram identificadas mas deixadas de lado Ali s da hist ria das enfermeiras da FEB muitos objetos ainda podem ser pesquisados as reportagens que noticiaram o voluntariado os di rios e correspond ncias de guerra a hist ria do cuidado de enfermagem prestado no Teatro de Opera es os lugares de mem ria que elas criaram e organizaram inclusive estudos comparados e a pr pria hist ria ainda n o amplamente contada das enfermeiras do 1 Grupo de Ca a que tamb m atuaram na guerra Enfim se a hist ria da micro revolu o das ilustres des conhecidas enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira tinha uma lacuna acredito que este estudo tenha contribu do para preench la um pouco Ali s devo alertar ao leitor que chegou at estas ltimas linhas que n o tive mesmo a pretens o de estabelecer pontos finais nesta curiosa hist ria Ela
157. canismos que acrescido l gica de que os peri dicos cient ficos materializam os princ pios de vis o do mundo social determinando que se veja este mesmo 216 Os grifos s o deste autor 243 mundo segundo certas divis es FONTES SANTOS OLIVEIRA 2009 fazem com que o capital cultural seja tamb m instrumento para excluir determinados agentes de certos jogos e pr ticas o que tende a provocar um efeito acentuado de legitima o social BOURDIEU 2007c p 223 Sobre as divis es calcadas no volume e no peso do capital possu do uma das febianas manifestou o seguinte As enfermeiras profissionais se afastavam muito de n s Elas n o procuravam a n s Como elas n o foram para a guerra elas n o se aproximavam e nem nos incentivavam nem coisa nenhuma N s viv amos o nosso grupo Isso o que eu me lembro Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Ademais as enfermeiras febianas n o consideraram a necessidade de fazer o curso de enfermagem Vejamos Eu n o fiz o curso de enfermagem depois da guerra porque eu fiquei no Servi o Ativo O que que eu ia fazer mais de curso Eu me dediquei arte ao desenho Isto tirou um pouco a enfermagem da minha cabe a Depois eu pensei em continuar mas veio a reinclus o Pensei Para qu eu vou fazer curso de enfermagem E o Ex rcito n o cobrava nada Fui convocada e fiquei trabalhando na Policl nica e pronto O Ex rcito n o
158. cano sociedade e pol tica 1930 1964 6 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1996 HALBWACHS Maurice A Mem ria Coletiva S o Paulo Revista dos Tribunais 1990 H RITIER Fran oise Masculino Feminino In Enciclop dia Einaudi v 20 Imprensa Nacional Casa da Moeda 1989 p 11 26 HIRATA Helena Nova divis o sexual do trabalho Um olhar voltado para a empresa e a sociedade S o Paulo Boitempo 2002 HOLANDA S rgio Buarque Ra zes do Brasil 26 ed S o Paulo Companhia das Letras Ed Comemorativa 70 anos 1936 2006 KOIFMAN F org Presidentes do Brasil S o Paulo Cultura 2002 KUNZLER Maria Laci Participa o das mulheres na pol tica representativa In Semin rio Internacional Fazendo G nero Corpo viol ncia e poder Anais do Semin rio Internacional Fazendo G nero 8 edi o Corpo viol ncia e poder Florian polis Universidade Federal de Santa Catarina ago 2008 Dispon vel em http www fazendogenero8 ufsc br sts ST29 Maria Laci Kunzler 29 pdf Acesso em 22 fev 2010 LACOMBE Am rico Jacobina Hist ria do Brasil S o Paulo Cia Ed Nacional 1979 LAFER Celso O planejamento no Brasil observa es sobre o Plano de Metas 1956 1961 In LAFER Betty Mindlin Org Planejamento no Brasil 3 ed S o Paulo Perspectiva 1975 LEMOS Renato Fernando Ferrari In ABREU Alzira Alves de et al Coords Dicion rio hist rico biogr fic
159. car sua subsist ncia no imagin rio p blico Tais 253 representa es e imagens mentais estreitam o estabelecimento da instaura o de uma ordem simb lica a fim de potencializar sua representa o social Este poder simb lico de construir imagens e representa es her icas de si em congressos solenidades encontros com veteranos tamb m refor ava seus la os de amizade apesar de uma ou outra concorr ncia entre elas No que diz respeito s suas rela es afetivas entre as febianas tem se este recorte A nossa rela o pessoal de carinho De carinho muito grande A guerra nos aproximou muito muito mesmo dif cil dizer o que a gente sente quando abra a uma colega uma companheira dif cil E mais do que o sentimento de irm o mais do que tudo Ir para a guerra marca muito Isso deixou a gente unida N o d para descrever Enfermeira Isabel Novaes Feitosa Por certo as experi ncias militares seja em tempo de guerra ou de paz tendem a irmanar os indiv duos e ao reuni los em coletividade acentuam um esp rito greg rio Tal senso de uni o e de apoio m tuo foi mesmo apropriado pelo grupo em diversas circunst ncias CASTRO 2004 Ao viverem juntas a experi ncia mpar de participa o na Segunda Guerra Mundial com todas as lutas pessoais e sociais pelas quais passaram as febianas foram marcadas e diferenciaram se das outras mo as da poca mantendo elos de rela es e aproximando as
160. carrero Como escreve Perrot 2005 p 97 92 toda escrita de certa maneira vontade de viver ou de sobreviver toda escrita mensagem e mist rio Tamb m as fam lias mais not veis tradicionais como a de Virg nia tendem a deixar mais tra os do que as outras pois elas compreendem melhor os efeitos do grande noturno do esquecimento Com efeito a partilha desigual tamb m se d at na mem ria A ntima breve mas intensa hist ria de outra febiana Roselys Teixeira tamb m foi escrita Suas recapitula es perpassam entre sentimentos perplexidades alegrias e sofrimentos narrando uma hist ria sens vel que deixou alguns vest gios de um nost lgico passado Considerado objeto de testemunho da passagem de um estado a outro de professora prim ria a enfermeira de guerra de mo a mineira de Araguari a cidad do mundo de uma vida privada a uma p blica o seu caderninho de impress es encontrou nisso o seu valor simb lico quando exarou o tempo que serviu de espa o de sua express o ntima e pessoal Sobre este seu registro em entrevista a pr pria autora atestou o seguinte 259 Esse livro aqui que chamei de cademninho de impress es eu comecei a escrever poucos dias antes de embarcar para a guerra Eu nem sabia que ia embora para a guerra Comecei a escrever no Rio de Janeiro Depois eu fui continuando a escrever a escrever a escrever e quando fui para a guerra fiquei com piedade
161. cervo pessoal da enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Outra demonstra o de alian a com o antigo chefe e que rendeu algum lucro simb lico para o grupo foi a escolha da febiana Altamira Pereira Valadares para proferir um discurso na ocasi o da inaugura o do busto de Marques Porto no p tio externo do Hospital Central do Ex rcito na manh de 26 de novembro de 1953 por ocasi o de seu afastamento do cargo de diretor de Sa de do Ex rcito H que se mencionar que h pouco ele havia sido 138 promovido ao posto de marechal 137 Na poca a enfermeira Altamira Pereira Valadares estava reformada como 1 tenente VALADARES 1976 p 14 8 Sua promo o ocorreu em 25 06 1953 170 Alguns trechos desse discurso s o reveladores das expectativas criadas em torno da participa o delas na Segunda Guerra Mundial e que naquele ritual serviram de argumento para a reconstru o social de uma imagem p blica positiva de mulher militar Ei los Recebi com j bilo a honrosa incumb ncia da Comiss o Organizadora desta sincera homenagem para saudar o nosso ex chefe Ele agia com o cora o com humanidade com pondera o com respeito na defesa e prote o desse punhadinho de brasileiras enfermeiras da FEB que destemidamente se expuseram a cooperar com uma pequenina parcela suavizando as dores f sicas levantando o nimo de nossos bravos feridos doentes e combatentes E
162. cia para ser reproduzido Mas com esfor o e tempo certo buscava retomar as r deas da condu o da entrevista para o p s guerra at o pr ximo movimento delas de volta aos campos de batalha Efetivamente o m todo em si traz o sentimento de inquieta o de tornar p blicas conversas privadas E a quantas confid ncias recolhidas tive acesso Ali s se a hist ria oral 14 As entrevistas realizadas em 2006 constantes deste quadro foram produzidas especialmente para a disserta o de mestrado de autoria deste autor intitulada Signos do esquecimento os efeitos simb licos da participa o das enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira na Segunda Guerra Mundial 1943 1945 e neste estudo foram tamb m aproveitadas vantajosamente 49 possui predicados um deles a surpresa Mas nem tudo elas aceitaram que fosse gravado e publicado Hist rias de paix es arrebatadoras e tr gicas de curiosas intrigas e brigas pessoais tiveram que ficar no sil ncio Ali s desde o in cio dos encontros expliquei todas as garantias que tinham no que diz respeito aos procedimentos e prescri es ticas numa pesquisa que envolve o m todo de hist ria oral Outrossim em dados momentos foi dif cil obter delas afirma es que escapassem s diretrizes da hierarquia e da disciplina das organiza es militares Deprecia es institui o ou aos seus membros por exemplo foram rar ssimas Mas com o rapport e um pouco de
163. clusive tamb m se verificava no Servi o de Sa de do Ex rcito que formava cabos e sargentos ditos enfermeiros mas com tempo e qualidade de forma o insuficiente para tal PINHEIRO 1951 Com o intuito de se corrigir esta situa o que por interm dio da Associa o Brasileira de Enfermeiras Diplomadas porta voz de um discurso autorizado sobre o exerc cio da enfermagem poca foi promulgada a Lei n 775 49 que regulamentou o ensino de enfermagem em todo o territ rio nacional dando novos est mulos para o desenvolvimento da profiss o Entre outras aspira es este dispositivo legal serviria s enfermeiras profissionais diplomadas para se esclarecer socialmente as diferentes fun es do pessoal de enfermagem protegendo com isso a identidade da enfermeira diplomada ao tempo que marcaria os diferentes espa os e fun es de enfermeiras e auxiliares de enfermagem BARREIRA et al 2010 SANTOS et al 2002 Neste estudo foram consideradas diplomadas ou profissionais aquelas enfermeiras formadas por escolas oficiais reconhecidas como padr o poca o que foi regulado pelo Decreto n 20 109 de 15 07 1931 que tratou das exig ncias acerca do preparo profissional e de habilita o t cnica para o exerc cio da enfermagem no pa s 24 Ao mesmo tempo em que se tentava regulamentar a pr tica e a identidade dos exercentes de enfermagem no pa s as febianas conseguiram a aprova o de uma lei que as bene
164. cto sobre o texto da lei o de que em determinados trechos faz se men o s enfermeiras da FEB como se do sexo masculino fossem conforme consta no par grafo nico do Artigo 3 onde se l Ser o aplicados tamb m a esses oficiais ou no Artigo 4 que diz Os oficiais que quiserem gozar do Este embara o proposital na reda o da lei traduz salvo melhor ju zo a surpresa do semi ineditismo da presen a de mulheres nas For as Armadas o que parecia ser objeto de confus o inclusive na gram tica Outra ressalva a de que as enfermeiras reinclu das n o teriam acesso ao posto de capit o Ou seja seriam convocadas no posto de segundo tenente e promovidas futuramente no de primeiro tenente sendo este o posto m ximo a que teriam acesso por direito na escala hier rquica do Ex rcito o que deixa evidente a certifica o das restri es de suas possibilidades para a ocupa o de posi es nos escal es hier rquicos mais elevados da For a SILVA 1995 p 157 8 CANSAN O 2003 p 259 60 Assim que a reinclus o de febianas no Servi o Ativo do Ex rcito passou a estar legalmente garantida uma vez que passaram a reutilizar fardamentos e a gozar das regalias e direitos de oficiais da ativa Entretanto elas n o chegariam a usufruir do mesmo prest gio poder e autoridade dos homens neste campo 165 Sobre isso ver a Constitui o Brasileira 1946 e a Consolida o das Leis do Trabalho
165. cund rio COUTINHO 1954 v 1 p 722 212 A despeito dessa orienta o legal as febianas foram convocadas atrav s da Lei n 3 160 57 como enfermeiras mesmo sem a posse de t tulo profissional mantendo assim a antiga nomea o dos tempos de guerra quando foram incorporadas ao Ex rcito cidad s portadoras de qualquer tipo de diploma de enfermagem inclusive o de volunt rias socorristas Uma vez convocadas as 44 enfermeiras da FEB foram classificadas em diversas unidades do Servi o de Sa de do Ex rcito instaladas pelas cidades do pa s como pode ser verificado no quadro a seguir Quadro n 02 Rela o das enfermeiras febianas que requereram convoca o para o Servi o 188 Militar Ativo do Ex rcito Nome Data de Naturalidade Forma o em Organiza es Militares onde nascimento enfermagem na poca atuaram ap s a convoca o da sele o para a guerra Alice Neves Maia 2 Cataguazes VS MG Antonieta Ferreira 31 01 14 Rio de Janeiro Profissional CVB Policl nica Central do Ex rcito Villas Boas RJ RJ Carlota Mello 12 10 14 Salinas MG VS Col gio Militar de Belo Horizonte Dirce Mancebo de 07 08 16 Bel m PA VS Paiva Edith Fanha de 19 06 17 Curitiba PR VS Hospital Geral de Curitiba e Jesus Hospital Geral de Bras lia Elita Marinho 09 05 11 2 RN VS Hospital Central do Ex rcito RJ Elza Cansan o 21 10 21 Rio de Ja
166. curtiam Foram verdadeiras hero nas an nimas e obscuras trabalhadoras silenciosas de dedica o sem limites MORAES 2005 p 296 7 Este elogio por ter sido professado e registrado por um marechal porta voz autorizado e mandat rio leg timo do poder institucional do Ex rcito investiu s febianas o valor consagrador de sua participa o na guerra pois o efeito simb lico das palavras consagradoras depende da posi o social de quem enuncia uma vez que o porta voz autorizado consegue agir com palavras em rela o a outros agentes na medida em que sua fala concentra o capital simb lico acumulado pelo grupo que lhe conferiu o mandato e do qual ele por assim dizer o procurador BOURDIEU 1998 p 89 Assim esse lucro simb lico atribuiu uma ess ncia ao ser e ao fazer daquelas enfermeiras al m de t las identificado positivamente tanto no aspecto pessoal e de certa forma tamb m no profissional Al m dos elogios as enfermeiras febianas receberam um diploma honroso que legitimou sua situa o de componentes da FEB em opera es de al m mar Tal concess o nas pr prias palavras de Mascarenhas de Moraes deveu se ao magn fico trabalho executado 3 O grifo meu 34 No mesmo livro est a transcri o de outro elogio do pr prio comandante da FEB s enfermeiras MORAES 2005 p 320 A vers o original est publicada no BI n 45 de 14 02 1945 da 1 DIE 124 al m do patriotismo em de
167. dagogia da conquista do espa o p blico pelas mulheres e a milit ncia feminista de Bertha Lutz Revista Brasileira de Educa o Rio de Janeiro n 5 p 97 117 set dez 2000 SOMMERVILLE Donald The complete illustrated history of World War Two an authoritative account of the deadliest conflict in human history with analysis of decisive encounters and landmark engagements S 1 Lorenz Books 2008 TAKAHASHI Em lia Emi Homens e mulheres em campo um estudo sobre a forma o da identidade militar Tese Doutorado em Educa o Universidade Estadual de Campinas Campinas 2002 TAVARES Kleber da Silva A tica castrense e a interven o militar como recurso de manuten o da ordem institucional Disserta o Mestrado em Hist ria Social das Rela es Pol ticas Centro de Ci ncias Humanas e Naturais Universidade Federal do Esp rito Santo 2009 TRIVINOS Augusto Nibaldo Silva Introdu o pesquisa em ci ncias sociais a pesquisa qualitativa em educa o S o Paulo Atlas 1994 VAINFAS Ronaldo Pequenas hist rias grandes revela es Nossa Hist ria Rio de Janeiro n 4 p 98 2004 VELANDIA M Ana Luisa Influencia espa ola en la enfermer a colombiana Rev Latino Am Enfermagem online Ribeir o Preto v 1 n 2 p 129 150 1993 VELLOSO M nica Pimeta Uma configura o do campo intelectual Jn OLIVEIRA L cia Lippi Org Estado Novo Ideologia e poder Rio de Janeiro Jorge Zahar 1982 VIGEV
168. dava apoio e assist ncia ao combatente n o s para a parte m dica mas tamb m com apoio moral O nosso posto o das enfermeiras ficava ali na Gl ria no Castelinho Trecho de entrevista arquivada no Centro de Mem ria Dra Nalva Pereira Caldas da Faculdade de Enfermagem UERJ 133 Ora a iniciativa de se celebrar esta missa se justifica pelo fato de que boa parte das enfermeiras febianas professava a religi o cat lica apost lica romana Al m disso o grupamento foi composto em sua grande maioria por mo as formadas pela Cruz Vermelha nos cursos de Samaritanas e de Volunt rias Socorristas cursos que faziam prevalecer a observ ncia de valores morais e religiosos e que por extens o se esmeravam para construir uma identidade visual est tica para suas alunas que tivesse boa sintonia com as representa es de uma enfermagem que possu sse um cunho religioso Nesse sentido a confirma o de uma imagem associada religi o poderia conferir alguma esp cie de lucro para as enfermeiras Esta id ia pode ser conjugada com o conte do da pr xima fotografia que registra alguns aspectos curiosos e de evidente car ter simb lico o momento que se mostrou distinto e emblem tico por coincidir com o t rmino da Segunda Guerra e com o retorno das enfermeiras febianas ao pa s a ocasi o que se fez pomposa para a aparente singeleza de sua raz o de a o de gra as pela atua o que tiveram na guerra pomposa tamb m pelo n m
169. de enfermagem nas organiza es militares Ali s embora num congresso de medicina nunca antes o tema enfermagem militar foi t o amplamente debatido e defendido em sua import ncia e necessidade Outrossim o ICBMM permitiu tamb m que febianas se fizessem inscritas como membro efetivo e que aproveitassem para fazer circular id ias e intentos seus sobre a reinclus o delas no Servi o Ativo do Ex rcito inclusive como pr tica de um senso de moderniza o da For a Assim em 1954 deu se um primeiro passo no espectro acad mico para a cria o de um quadro feminino de enfermagem no seio do Ex rcito e se endossou de certa forma os argumentos para esta reinclus o H que se mencionar que ap s a experi ncia feminina do Ex rcito e da Aeron utica na Segunda Guerra a Pol cia Militar do Estado de S o Paulo resolveu incorporar mulheres em seus quadros no ano de 1955 CAPPELLE 2006 definindo um marco inicial que poderia criar algum precedente para a inser o de corpos femininos nas For as Armadas uma vez que mesmo com miss es diferenciadas ambas as institui es For as Armadas e For as Auxiliares compartilhavam de um ponto de origem comum e de um mesmo ethos masculino em suas din micas organizacionais Outrossim a incorpora o de mulheres nas For as Armadas a priori era dificultada em muito pela sua posi o mais conservadora do que nas For as Auxiliares ROSA BRITO 2008 154 Ao todo foram incorporadas 13 m
170. de largar o livrinho sabe Ent o todo momentinho que eu tinha escrevia bobagenzinhas Tudo que acontecia eu escrevia Enfermeira Roselys Teixeira Gazzinelli Destarte o acesso ins lito aos rar ssimos di rios das febianas a que se teve acesso no processamento desta pesquisa guardam algo de familiar com o modo que historicamente as mulheres trataram de seus registros e documentos ntimos quando excepcionalmente os deixaram chegar ao p blico ou ent o geralmente os destru ram na chegada de sua velhice preocupadas em n o se expor ao olhar indiferente ou ir nico de seus herdeiros PERROT 2005 p 90 Sobre isso recorre se ao que escreveu o sobrinho de uma das febianas no pref cio do livro Casos da guerra que hero nas e her is da FEB contam Realmente a hist ria de minha tia Carlota merc merece ser contada e recontada muitas vezes tempos afora pois se trata de uma vida de dedica o e de servi o ao pr ximo da maneira mais abnegada que se pode imaginar Entretanto escrever a hist ria de Carlota mesmo que eu fosse um ex mio memorialista ou bi grafo seria uma tarefa muito dif cil sen o imposs vel Carlota jamais se preocupou em escrever um di rio principalmente durante o tempo em que serviu na FEB na It lia 1944 1945 e posteriormente quando voltou ao Servi o Ativo do Ex rcito 1957 1969 Al m disso certa feita Carlota resolveu se desfazer de todos os momentos que tinha do
171. de opositores tamb m Ali s se de fato as febianas tinham uma oponente declarada esta foi Carmela Teles Leite Dutra esposa do ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra na poca da mobiliza o 1944 1945 e futura primeira dama da Na o 1946 que por sua devo o religiosa era chamada de dona Santinha KOIFMAN 2002 p 382 Tal constata o not ria no trecho do testemunho a seguir que descreve um incidente que envolveu a Comiss o de Assist ncia s Enfermeiras da 130 91 o E FEB e seu esfor o para prestar algum apoio s febianas ainda antes de seu embarque para a guerra Foi com essa Comiss o que ocorreu um epis dio digno de nota como revela o do meio ambiente onde t nhamos que nos mover Para dar maior relevo s suas atividades como usual nessas ocasi es a Comiss o resolveu convidar uma dama da alta sociedade para a Presid ncia de Honra e balanceadas as conveni ncias a escolha recaiu na esposa do ent o Ministro da Guerra atarefado na organiza o da FEB Duas mo as foram escaladas para comunicar eleita a distin o de que fora alvo A distinguida por m recebeu as mo as da Comiss o na porta da rua e foi logo dizendo que em absoluto n o aceitava que era contra o fato de mulheres entrarem no Ex rcito e quanto mais para tomarem parte direta na guerra que evidentemente n o eram mo as que prestassem as que j faziam parte da FEB e por a afora Recebidas na porta da rua da po
172. dentemente a Lei n 3 160 57 foi promulgada um pouco antes do in cio do auge da luta do movimento feminino anos 60 que visou demarcar o espa o da mulher na sociedade como um todo n o apenas no setor profissional mas tamb m no respeito e confian a em outros setores sociais principalmente dentro de suas casas nos relacionamentos com os maridos e filhos Muitas eram as discrimina es da sociedade que n o se adaptou revolu o silenciosa representada pela firme determina o das mulheres em ocupar o mercado de trabalho e nele ter tanto xito quanto os homens F ZIO 2003 220 H que se considerar que a transi o das febianas da vida civil para a militar em tempo de paz deve ter sido mesmo algo impactante posto que a sua presen a nos quadros do Ex rcito foi uma grande e estranha inova o para os militares de um ex rcito talhado pelo tradicional esp rito de Caxias hierarquicamente r gido formalista ao extremo draconiano na separa o de castas de oficiais e pra as e indiferente ao bem estar dos homens que a compunham FERRAZ 2005 Por sua vez esta institui o tamb m sofreu os impactos da chegada dessas oficiais enfermeiras em seus espa os num contexto em que a maioria das mulheres permanecia enredada nas tramas da exclus o social Hoje tem mulher fardada em todo o canto Na poca da reinclus o ningu m via mulher fardada Aqui em Belo Horizonte ramos tr s Apenas tr s Enferme
173. des Barbosa de Oliveira pelo seu imensur vel amor Ao meu pai Evaldo Batista de Oliveira pelo exemplo e suporte E minha irm Erika Barbosa de Oliveira por sua presen a viva A minha esposa Angelica Ribeiro Pinto de Oliveira por muitos e muitos motivos amor dedica o respeito carinho paci ncia companhia escuta atenta E aos nossos filhos Lucas e Leandro que inspiram alimentam fortalecem e felicitam nossas vidas com sua aben oada exist ncia Aos meus amigos de breve e de longa data e familiares presentes na da minha vida Escola de Enfermagem Anna Nery Dire o Coordena o de P s Gradua o professores e alunos de Gradua o e de P s Gradua o funcion rios e aos professores do Departamento de Enfermagem Fundamental os meus mais novos colegas de trabalho A professora T nia Cristina Franco Santos que com sua gentileza constante investiu seu tempo e energia intelectual nas minhas id ias Nesta caminhada que trilhamos juntos tive a honra e a sorte de t la como orientadora e part cipe das minhas conquistas Aos professores da Banca Examinadora Ieda de Alencar Barreira Gertrudes Teixeira Lopes Maria Itayra Coelho Padilha Ant nio Jos de Almeida Filho Maria Celina Soares D Ara jo Maria Lelita Xavier e S lvio de Almeida Carvalho Filho pela aten o especial e apoio intelectual na constru o deste trabalho Aos membros do N cleo de Pesquisa de Hist ria da Enfermagem Bras
174. destinada conserva o dos efetivos combatentes preservando a sa de da tropa e recuperando os incapazes e em tempo de paz ou na zona de interior a tratar tamb m as pessoas da fam lia dos militares reconhece a evid ncia das raz es expostas e se vale de sua pr pria experi ncia durante a ltima guerra para afirmar a necessidade da exist ncia de enfermeiras em seu quadro permanente MELLO 1954 v 1 p 670 Ao rememorar a participa o de enfermeiras no Servi o de Sa de da FEB durante a Segunda Guerra este agente detentor de um capital militar distinto deliberadamente ou n o acabou por favorec las na reprodu o de seus pr prios argumentos para inclusive uma poss vel reinclus o delas no Servi o Ativo do Ex rcito Assim o ganho simb lico verificado 177 com a primazia dessas enfermeiras da FEB servia pelo bem delas para potencializ las em 146 seus argumentos No seguimento de seu texto foram enfaticamente evocados alguns dispositivos da Lei n 775 49 que regulava o exerc cio de enfermagem para o qu o coronel fez a seguinte dedu o N o possuindo os atuais enfermeiros cultura de n vel universit rio e n o exigindo o seu curso de forma o de alto padr o de efici ncia t cnica n o conta o Servi o de Sa de com ENFERMAGEM no exato conceito atual situa o a que n o se dever conformar o alto interesse do Ex rcito por seus componentes MELLO 1954 v 1 p 671 Pelo conte do dest
175. dial Rio de Janeiro Jorge Zahar 2005 FERREIRA Aur lio Buarque de Holanda Novo dicion rio eletr nico Aur lio vers o 5 0 Curitiba Positivo 2004 CD ROM FERREIRA Oliveiros Vida e morte do partido fardado S o Paulo SENAC S o Paulo 2000 FONSECA Rosa Maria Godoy Serpa da FORCELLA Hideko Takeuchi BERTOLOZZI Maria Rita Congressos Brasileiros de Enfermagem meio s culo de compromisso da ABEn Bras lia ABEn 2000 FONTES Aline Silva SANTOS T nia Cristina Franco OLIVEIRA Alexandre Barbosa de Revista Annaes de Enfermagem publica es de enfermeiras sobre pediatria 1932 1941 Rev bras enferm online Bras lia v 62 n 1 p 157 61 jan fev 2009 FOUCAULT Michel O sujeito e o poder In DREYFUS Hubert L RABINOW Paul Michel Foucault uma trajet ria filos fica Trad Vera Porto Carrero Rio de Janeiro Forense Universit ria 1995 p 231 49 GALEANO Eduardo De pernas pro ar a escola do mundo ao avesso Porto Alegre L amp PM 1999 289 GALLEGUILLOS Tatiana Gabriela Brassea OLIVEIRA Maria Am lia de Campos A institucionaliza o e o desenvolvimento da enfermagem no Brasil frentes s pol ticas de sa de Rev bras enferm Bras lia v 54 n 3 p 466 74 2001 GIL Ant nio Carlos M todos e t cnicas de pesquisa social 4 ed S o Paulo tlas 1994 GOFFMANN Erving Manic mios conventos e pris es S o Paulo Perspectiva 2003 GOMES ngela Maria de Castro O Brasil Republi
176. dica pediatria e uma pequena salinha de curativo Com o tempo eu fui tomando os outros apartamentos Tomei um onde funcionava uma biblioteca outro passou a ser a farm cia Para montar o setor de raios X eu desmanchei uma viga de amarra o do pr dio Tive uma briga com os engenheiros mas consegui vencer Eu sempre obtinha tudo aquilo que eu queria Agora eu tinha todo pessoal conhecido por a nas chefias Muitos tinham pertencido FEB Eu cheguei a fazer um negatosc pio de madeira de cinco corpos recrutamento e sele o para cursos de auxiliar de enfermagem considerando a necessidade brasileira de profissionais bem preparados E no XI CBEn 1958 foi posta em discuss o a situa o da enfermagem no Brasil com a divulga o do relat rio final sobre o Levantamento de Recursos e Necessidades de Enfermagem CARVALHO 1976 FONSECA FORCELLA BERTOLOZZI 2000 198 A partir de 1933 surgiram os Institutos de Aposentadorias e Pens es IAP entidades de grande porte que abrangiam os trabalhadores agrupados por ramos de atividades Entre os institutos criados havia o IAPTEC para trabalhadores em transporte e cargas o IAPC para comerci rios o IAPI para industri rios o LAPB para banc rios o IAPM para mar timos e portu rios e o IPASE para servidores p blicos Esse modelo de assist ncia m dica n o era universal e baseava se nos v nculos trabalhistas PAULUS J NIOR CORDONI J NIOR 2006
177. do DO de 13 11 1953 p 4 121 4 Este PL est dispon vel tamb m em www camara gov br internet sileg Prop Detalhe asp id 216344 acesso em 30 09 06 166 mundo social e da sua posi o nesse mundo pode situ los no que Bourdieu 2006 p 146 chama de ato de nomea o oficial que o ato de imposi o simb lica que tem a seu favor toda a for a do coletivo do consenso do senso comum porque ela operada por um mandat rio do Estado detentor do monop lio da viol ncia simb lica leg tima O deputado continua sua justifica o rememorando a Lei n 1 209 50 que foi bastante oportuna para o projeto que apresentou As enfermeiras da FEB s t m motivos de admira o simpatia e gratid o aos seus parlamentares pois foi de um modo particularmente carinhoso que o Congresso Nacional acolheu o projeto posteriormente transformado em lei Lei n 1 209 50 pretens o t o justa como esta ora apresentada Para fundamentar o seu projeto Ferrari evocou legisla es que serviriam de argumento praticamente irrecus vel para uma poss vel aprova o do mesmo Um exemplo foi o Decreto Lei n 8 159 de 3 de novembro de 1945 que regulou o aproveitamento no Servi o Ativo do Ex rcito de oficiais subalternos e pra as da Reserva de 2 Classe Sobre este dispositivo a defesa de Ferrari pesou quando agu ou que se as enfermeiras da FEB fossem na poca da promulga o segundos tenentes da Reserva de 2 Cla
178. do que essas liga es s o fundadas em trocas 38 inseparavelmente materiais e simb licas Em rela o ao volume do capital social Bourdieu indica que O volume que um agente individual possui depende ent o da extens o da rede de rela es que ele pode efetivamente mobilizar e do volume de capital cultural econ mico ou simb lico que posse exclusiva de cada um daqueles a quem est ligado BOURDIEU 2007c p 67 Partindo dessas premissas o efeito catalisador do capital social e a possibilidade de sua convers o em capital simb lico de que as enfermeiras febianas tinham posse tendeu a favorec las na posi o que elas buscaram reocupar no p s guerra posto que elas conseguiram se mover bem no campo do Ex rcito atrav s da constru o e manuten o de redes de rela es em seus espa os Por isso Bourdieu considera que todo campo um campo de for as e de lutas para conservar ou transformar o pr prio campo de for as No entanto os limites e as possibilidades de a o dos agentes dentro desse campo dependem da estrutura das rela es objetivas dentro das quais o agente est posicionado e engajado Assim os campos n o s o espa os de horizontalidade mas de verticalidade ou seja de hierarquias que determinam como e em que circunst ncias os agentes podem atuar no sentido de proporcionar mudan as ou favorecer a manuten o do status quo Em outras palavras cada agente dotado de determinad
179. e professora enfermeira Iracy Braga Reis Anais do ICNEF 1978 Como resumiu a febiana Elza Cansan o Medeiros era meia d zia de gato pingado O que chama aten o neste evento a sua programa o cient fica que se fez constar de temas como reabilita o traumatologia anestesia e at energia nuclear assuntos estes palestrados apenas por e primeira vista para m dicos Al m disso a grande maioria dos trabalhos que versaram especificamente sobre a enfermagem rememoraram a participa o das febianas na Segunda Guerra O t tulo escolhido para um deles 4 enfermeira militar a ilustre desconhecida do conferencista Hydson Barbosa simboliza bem o que estava por tr s desse congresso uma luta simb lica de ilustres oficiais enfermeiras contra o esquecimento que envolveu outros agentes militares m dicos professoras e enfermeiras Tais ila es ganham algum refor o no trecho retirado do texto de apresenta o do Congresso escrito pela presidente da comiss o cient fica O ICNEF registra um marco como a pr pria participa o de um grupo de abnegadas na hist ria de nossa P tria e da Humanidade a exemplo 21 Uma segunda edi o deste congresso foi realizada entre os dias 5 e 8 de setembro de 1982 22 Os t tulos destes trabalhos e seus respectivos conferencistas foram 4 presen a da mulher brasileira na guerra enfermagem na FEB pela capit o enfermeira Ol mpia de Ara jo Camerino 4 enfermei
180. e inclus o e que gerou reflexos em diversos mbitos No do trabalho por exemplo a inser o de mulheres fez florescerem entre os homens certas precau es e preocupa es pela possibilidade de efeitos perturbadores na divis o material e simb lica de seus espa os circunscritos no mundo social A t tulo de ilustra o uma publica o jornal stica de 1930 explorou a suposta masculiniza o das mulheres que reivindicavam direitos um dos estere tipos que lhes era mais atribu do e informou que essas esquisitas senhoras que est o levantando pelo mundo todo o clamor pela conquista dos direitos da mulher n o se deveriam chamar feministas mas masculinistas Isto porque tais pioneiras vestiam se ousadamente como homens Nessa subvers o da ordem social essas que se masculinizavam no tipo e que desejavam masculinizar se nos direitos propunham uma perigosa igualdade pol tica e jur dica dos dois sexos e estava claro que mais tarde proporiam tamb m a equipara o proliferante inclusive no campo militar Al m de tais id ias o cronista mencionou ainda o seguinte SOIHET 2000 Insens vel para as coisas do cora o inacess vel s ru nas e superior s pequeninas vaidades pr prias do seu sexo a mulher moderna sem que o perceba se masculiniza para assombro nosso que espreitamos estupefatos a brusca transforma o verificada nos ltimos anos O tipo incr vel da Virago a temo lo agora multiplicado e
181. e o poco despu s del conflicto en 1945 En el contexto socio pol tico de la inmediata post guerra de paz y democratizaci n que ahora est en juego es la b squeda de reconocimiento y m rito de su desempe o en hospitales de campa a como para servir como justificaci n para una posible inclusi n de ellas en Servicio Militar Activo del Ej rcito Con este fin se moviliz una serie de estrategias que en definitiva fueron eficaces en la objetivaci n de su reutilizaci n como enfermeras oficial que se materializ con la promulgaci n de una ley federal de 01 de junio 1957 El estudio concluy que la nueva inclusi n de las enfermeras de la FEB en Servicio Militar Activo del Ej rcito Brasilefio se determin mediante la articulaci n de los diferentes tipos de capital acumulados por ellas a trav s del efecto de demostraci n de las percepciones y evaluaciones actualizadas sobre su grupo en tiempo de paz Adem s terminaron la promoci n de una enfermera militar imagen de tipo en el pa s que ha puesto de relieve el Estado Novo y que mutatis mutandis que tienden a consolidarse en un contexto de desarrollo d cada de 1950 como un signo de car cter modernizaci n de las fuerzas armadas brasile as comenzaron a perseguir a la Segunda Guerra Mundial incluido el adelanto de su enfermeria De hecho las enfermeras de la FEB dej un legado para la historia de la enfermer a militar brasile a le han dado un comunicado previo de lo que se
182. e objectification of its reuse as official nurses which came to fruition with the promulgation of a federal law on June 1 1957 The study concluded that the reinclusion of nurses of the BEF in Active Military Service of the Brazilian Army was determined by the articulation of different types of capital accumulated by them through the demonstration effect of perceptions and assessments updated about your group in peacetime Also they ended up promoting an image type military nurse in the country which has highlighted the Estado Novo and that mutatis mutandis would tend to consolidate in a developmental context 1950 s as a sign of character modernizing the Brazilian Armed Forces started to chase after the Second World War including the advancement of their nursing Indeed nurses of the BEF left a legacy for the brazilian military nursing history to have given a statement ahead of what would be the admission of women in the Armed Forces from the 1980 s Keywords Nursing History of Nursing Military Nursing RESUMEN OLIVEIRA Alexandre Barbosa de Enfermeras de la Fuerza Expedicionaria Brasile a en frente de la post guerra el proceso de reinserci n en el Servicio Militar Activo del Ej rcito 1945 1957 2010 299f Doctorado en Enfermer a Escuela de Enfermer a Anna Nery Universidad Federal do R o de Janeiro R o de Janeiro 2010 Estudio hist rico social que tiene por objeto el proceso de readmisi n enfermeras en
183. e Francisco C sar Alves Ferraz 137 a o pol tica em que os direitos sociais requeridos pelos cidad os soldados sempre apareceram como uma concess o das autoridades FERRAZ 2003 p 8 Exemplo disto foi a publica o do Aviso n 1 052 de 15 de agosto de 1946 que chegou a ser noticiado no m s seguinte na revista Anais de Enfermagem em nota intitulada Prefer ncia para as enfermeiras da FEB para as vagas dos hospitais militares nos seguintes termos Tendo em vista os servi os prestados pelas enfermeiras que serviram na FEB durante a ltima guerra o ministro G is Monteiro encareceu a todas as autoridades administrativas do Servi o de Sa de do Ex rcito a conveni ncia de se dar prefer ncia a essas enfermeiras no caso de nomea es para as vagas que se derem nos hospitais militares e reparti es cong neres Anais de Enfermagem 1946 Este encarecimento do general G is Monteiro pelo qual as febianas poderiam ser contratadas como civis pelo Ex rcito foi qualificado como um ato de justi a pela enfermeira Ol mpia de Ara jo Camerino que tamb m referiu que na poca de sua publica o o Aviso passou despercebido no tumulto daqueles dias convulsionados pelos T E aaO E acontecimentos pol ticos e policiais Sobre o tal Aviso ela escreveu algumas palavras em autodefesa do grupo de febianas Destacamo lo da rigidez das publica es oficias pelo alto sentido humano que ele encerra
184. e bisturis Rio de Janeiro Mabri 1969 273 SILVA Alberto Martins da Servi o de Sa de do Ex rcito Memorial s e 2001 SILVEIRA Joaquim Xavier da A FEB por um soldado Rio de Janeiro Biblioteca do Ex rcito 2001 VALADARES Altamira Pereira lbum Biogr fico das Febianas pesquisa da II Guerra Mundial Batatais Mauro Familiar 1976 A Capit Enfermeira Altamira Pereira Valadares conta sua participa o na FEB Revista Amicus Batatais n 3 p 77 89 maio 2001 2 2 Legisla o sobre as enfermeiras da FEB BRASIL Minist rio da Guerra Decreto Lei n 6 097 de 13 de dezembro de 1943 Publicado no Di rio Oficial da Uni o n 290 de 15 de dezembro de 1943 Transcrito no Boletim do Ex rcito n 51 de 13 de dezembro de 1943 p 4 478 Disp e sobre a cria o do Quadro de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito Brasileiro Minist rio da Guerra Decreto n 1 427 de 13 de dezembro de 1943 Aprova o Regulamento para o Quadro de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito Publicado no Di rio Oficial n 290 de 15 de dezembro de 1943 Transcrito no Boletim do Ex rcito n 51 de 18 de dezembro de 1943 Minist rio da Guerra Portaria n 5 855 de 3 de janeiro de 1944 Publicada no Di rio Oficial da Uni o n 02 de 4 de janeiro de 1944 Transcrita no Boletim do Ex rcito n 02 S 1 de 8 de janeiro de 1944 Aprova instru es para o Curso de Emerg ncia de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito Minist rio da G
185. e fato as conquistas das enfermeiras da FAB na esfera pol tica aconteciam curiosamente ap s as das do Ex rcito Como anteriormente comentado em 1952 foi promulgada a Lei n 1 647 que tornou extensivas s enfermeiras que prestaram servi o durante a guerra no 1 Grupo de Ca a as disposi es da Lei n 1 209 50 que classificou as enfermeiras do Ex rcito como oficiais da Reserva de 2 Classe E ainda as enfermeiras do 1 Grupo de Ca a somente conseguiram efetuar sua reinclus o no Servi o Ativo da Aeron utica praticamente dois anos ap s a conquista das enfermeiras do Ex rcito e com base no precedente aberto pela Lei n 3 160 57 A t tulo de ilustra o das seis enfermeiras da FAB tr s foram convocadas Foram elas Maria Diva Campos que foi enfermeira chefe dos ambulat rios do Hospital Central da Aeron utica Ocimara Ribeiro que atuou no Centro Cir rgico do Hospital do Gale o e Antonina de Holanda Martins que chegou a exercer a fun o de chefe de Enfermagem do Hospital do Gale o As outras tr s que n o requereram convoca o foram Regina Cerdeira Bordalo que foi viver nos Estados Unidos Izaura Barbosa Lima que poca exercia cargo de chefia no mbito do Minist rio da Sa de e n o retornou e Judith Ar as que j havia falecido antes da promulga o da lei em 1953 VALADARES 1976 p 100 4 CANSAN O 2003 p 33 54 Guardadas as devidas propor es ao terem requerido a reinclus o
186. e forma o como defendeu o referido autor Pelos textos consultados pode se inferir que os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial alcan aram notoriedade quando o assunto em pauta o da sua enfermagem militar DONAHUE 1985 NORMAN 1992 BELLAFAIRE 1993 COOK 2006 CAMPOS 2006 Sua assist ncia r pida e a qualidade dos cuidados prestados aos soldados enfermos e feridos foi fator crucial que manteria os ndices de mortalidade abaixo dos da Primeira Guerra Ali s como observou Donahue 1985 p 414 a valentia das enfermeiras submetidas a situa es mais rigorosas e exigentes seria atestada por muitos soldados que escreveriam mais tarde suas experi ncias 32 Soldado americano 70 Em proveito desse olhar que lan ada a seguir uma fotografia que talvez seja a mais memor vel iconografia sobre o fim da Segunda Guerra Mundial pelo seu simbolismo e fama De autoria de Alfred Eisenstaedt fot grafo da Life Magazine a imagem captada traz um beijo caloroso entre uma enfermeira e um marinheiro americano que ficaria registrado para a eternidade Na ocasi o dia 14 de agosto de 1945 muitos se juntaram para celebrar a rendi o do Jap o e o fim oficial da Segunda Guerra em Times Square Decerto o final de qualquer guerra tende a ser uma experi ncia sem par apote tica uma descarga de emo es de risos de choros de festa Figura n 02 Fim da Segunda Guerra Mundial Times Square New York 1945 Arquiv
187. e n o a tirar Por isso ele n o prefaciou o livro Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Sobre o livro ela faz o seguinte coment rio Foram tirados dez mil exemplares e em menos de dois anos n o tinha mais nenhum Hoje em dia n o se encontra nem em sebo Este trabalho foi considerado o primeiro de psicologia de guerra sendo utilizado por muitos anos na Escola de Estado Maior porque eu mostro a parte humana a rea o do soldado nos campos de batalha Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Assim como foram observadas neste cap tulo as mostras de um senso de perten a de algumas febianas s coisas casos e causos militares refor am a id ia de que elas estavam mesmo dispostas em se ocupar nestes e destes espa os 187 CAP TULO HI De volta caserna a reinclus o de oficiais enfermeiras de guerra no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 188 Nos dois cap tulos anteriores deste estudo foram abordadas as circunst ncias que antecederam o processo de reinclus o de enfermeiras da FEB no Servi o Militar Ativo do Ex rcito bem como as estrat gias adotadas por elas para a conquista desta reinclus o Por conseguinte neste ltimo cap tulo o que se ressalta justamente a consecu o de tais estrat gias Para tal h que se considerar que o contexto pol tico social que precedeu a imin ncia do reaproveitamento destas enfermeiras no Ex rcito foi extremamente complexo Com o suic d
188. e nos apresentamos Diretoria de Sa de e o diretor nos encaminhou para a 3 Se o a mesma que nos apresentamos para sermos desmobilizadas logo ap s a guerra Depois da apresenta o foi publicada em boletim da Diretoria de Sa de a 207 designa o para a unidade onde fomos classificadas Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero A fotografia deslinda os significados embutidos na prontid o ao servi o daquelas rec m convocadas quando as mostra novamente fardadas em p blico fazendo ver a quem quisesse e ou devesse que elas passaram a existir novamente para a For a Ademais o uso de uniformes simboliza esteticamente o aspecto hier rquico das institui es castrenses N o ao acaso os s mbolos de distin o que os uniformes encerram definem as possibilidades de cada agente no espa o social e condicionam sua superioridade ou subalternidade Assim eles representam um indicativo de status social e de poder daqueles que os vestem independente de suas caracter sticas pessoais cultura individual posi o social e origem s cio econ mica Tamb m por isso representam um artif cio que iguala um grupo e paralelamente distingue o dos demais BOURDIEU 200la p 63 S o os investimentos de valores trajes e acess rios que o agente passa a vestir que o configuram em um agente transformado dando lhe outra apar ncia capaz de com seus novos efeitos de sentido qualific lo particulariz lo diferenci
189. e poucas balas n s enfrentarmos uma guerra Ali s n s sa mos do conforto de nossas casas para vivermos numa barraca de lona com 16 abaixo de zero com alimenta o com tudo diferente do que est vamos acostumadas pela obriga o do patriotismo para defender a nossa gente procurando dar o melhor para ajudar na defesa do nosso soldado N s n o recebemos at ent o o agradecimento merecido Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Este tipo de discurso performativo que geralmente pretende fazer sobrevir o que ele enuncia proveio de uma febiana que sempre buscou pronunciar se em nome do grupo e garantir a divulga o de sua hist ria N o toa inclusive que ela quis se fazer presente at onde n o esteve como se observa na capa da revista Enfermagem Brasil cuja fotografia por ela concedida mostrou a inclusa atrav s de uma esp cie de recorte colagem Ano 3 n 6 novembro dezembro de 2004 Figura n 26 Enfermeiras da FEB na It lia Segunda Guerra Mundial capa de peri dico Enfermagem Brasil Nov Dez 2004 Ano 3 n 6 capa 233 33 Grifos meus 257 Controv rsias parte algumas enfermeiras febianas reconhecem algum m rito de Elza nessa luta por visibilidade do grupo e por que n o dizer dela mesma Se n o fosse ela Elza a que n s n o ser amos conhecidas mesmo Isto se deve a ela sem d vida Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero
190. e recorte percebe se uma aberta frente aos enfermeiros masculinos calcada na compet ncia e no g nero Em sua exposi o este coronel m dico proferiu julgamentos que se n o foram encaminhados e valorizados a contento por seus superiores hier rquicos pois a enfermagem militar continuou a ser praticada principalmente por enfermeiros masculinos por anos a fio ao menos violentou simbolicamente os exercentes da profiss o homens no campo do Ex rcito Do mesmo recorte nota se a elabora o de uma distin o entre a enfermagem de nivel universit rio de alto padr o com a enfermagem n o universit ria e por isso sem a efici ncia t cnica desejada Neste mister necess rio rememorar a condi o das enfermeiras da FEB que durante a guerra n o possuiam em sua grande maioria o curso de enfermeira profissional e nem o fizeram ou desejaram faz lo ap s o t rmino da guerra como apontaram os dados colhidos Outrossim a contrata o de pessoal sem qualifica o de longa data era uma realidade no Ex rcito Brasileiro N o obstante as interven es e iniciativas da ABEn com base no seu arcabou o jur dico legal contribu ram para mobilizar pensamentos sobre a necessidade de 146 Al m da argumenta o que escreveu n o foram reunidos elementos para se comprovar poss veis articula es deste coronel com o processo de reinclus o no Servi o Ativo do Ex rcito das enfermeiras febianas 147 Destaque em mai sculo d
191. e uma farda apropriada para as febianas convocadas uma das enfermeiras manifestou Foi a Comiss o de Fardamento quem idealizou a nossa farda Eu fui chamada para dar opini o Uma das coisas que n s us vamos l na It lia era o sapato norte americano que era marrom N s n o t nhamos onde comprar as coisas inclusive a farda Ent o n s passamos a comprar tudo do americano at o sapato Com a nossa reinclus o no Servi o Ativo a Comiss o queria botar sapato preto e luva marrom Eu disse Os artigos de 209 couro se combinam Se o sapato for preto a luva tem que ser preta E eles disseram Ah n o S a Cavalaria usa luva preta A foi uma confus o dentro da Comiss o de Fardamento Os generais reunidos e eu l discutindo isso risos Voc s n o entendem nada de moda N o t m bom gosto Foi um bafaf danado por causa da hist ria da cor da luva Olha Foram brigas Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Figura n 19 Itens do fardamento das febianas convocadas para o Servi o Ativo do Ex rcito Acervo pessoal da enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Dois anos depois da reinclus o um decreto complementaria o Regulamento de Uniformes do Pessoal do Ex rcito com especificidades sobre o uniforme das novatas oficiais enfermeiras Nos artigos acrescidos s o consideradas a aten o a adi o de pe as de vestu rio feminino como saias com 15 cm abaixo do jo
192. ebianas em rituais militares o que ajudaria em parte a garantir alguns lucros simb licos Mesmo porque quando os rituais militares tornam se p blicos seus efeitos simb licos podem garantir aos seus part cipes de certa forma alguma distin o Dentre os rituais militares a celebra o do Dia da P tria tem grande destaque pois atrav s das tradicionais paradas de Sete de Setembro os militares mostram se sociedade a que as coisas s o ditas com mais clareza e concretude As mensagens de patriotismo est o ali estampadas ocasi o em que se destacam certos valores como a honra a coragem destemida a bravura enfocados em gestos gritos de guerra hinos e discursos quando os homens transformam se em um s corpo em um s gesto em um s uniforme em um s esp rito Ali s este tipo de ritual um elemento importante na constitui o da masculinidade dos homens ali presentes como forma de culto figura do her i do bravo do guerreiro 128 O Clube Militar da Reserva do Ex rcito foi declarado de utilidade p blica atrav s do Decreto n 13 968 de 9 de novembro de 1943 publicado na Se o 1 do DO de 11 11 1943 p 16 596 e transcrito no BE n 46 de 13 11 1943 p 4 093 Seu estatuto aprovado em 1934 foi publicado no BE n 51 de 15 09 1934 p 641 No livro de Altamira Pereira Valadares 1976 p 108 consta a figura de um certificado seu de s cia honor ria do referido Clube datado de 25 01 1951
193. ebianas no Servi o Ativo do Ex rcito A ementa deste projeto foi a seguinte Inclui na Reserva do Servi o P blico de Sa de do Ex rcito no posto de segundo tenente amparados pelas disposi es da Lei n 3 160 de 1 de junho de 1957 as enfermeiras que foram comandadas para a FEB e posteriormente designadas para permanecerem nos hospitais militares de Natal ou do Recife nos anos de 1944 e 1945 A Mesa Diretora da C mara dos Deputados rejeitou este projeto em 9 de agosto de 1957 Como se v no palco de disputas por benesses calcadas pela pol tica clientelista algumas enfermeiras que n o atuaram nos hospitais de guerra na It lia buscaram alcan ar condi es e cren as objetivas a fim de conquistarem certos bens materiais com base na lei que reincluiu as febianas Tal precedente fora aberto com as leis da praia que beneficiaram j na d cada de 1940 militares e convocados n o expedicion rios que durante a guerra estavam em unidades ao longo do litoral brasileiro e que n o chegaram a entrar em combate no Teatro de Opera es Sobre a reinclus o no Servi o Ativo do Ex rcito as enfermeiras da FEB que a desejasse deveriam passar por uma inspe o de sa de atrav s de junta medica Foram dispensadas de provas de capacidade f sica de conhecimentos t cnicos na rea que iriam atuar enfermagem e de testes psicol gicos para verificar as tend ncias vocacionais e a intelig ncia global das interessadas
194. ecimentos s o produtos de negocia es permanentes entre os v rios sujeitos envolvidos principalmente ap s o fim das hostilidades Destacam se pois na massa documental de tais pesquisas os dispositivos de rememora o tais como a constru o de monumentos e memoriais aos mortos as visitas tur sticas aos campos de batalha e aos cemit rios militares a iconografia de p s guerra as publica es e rituais das associa es de ex combatentes a exposi o das variadas representa es hist ricas contidas nos museus dedicados s guerras e a historiografia profissional e amadora sobre as guerras FERRAZ 2003 p 20 1 A outra vertente das pesquisas hist ricas sobre veteranos visa compreend los como sujeitos sociais depois de sua desmobiliza o e retorno s rotinas sociais e profissionais dos tempos de paz Em contraste com o primeiro grupo que visa construir uma hist ria da mem ria da guerra estas pesquisas objetivam elaborar uma esp cie de hist ria social dos 45 veteranos de guerra A desmobiliza o o retorno ao lar a re constru o de la os sociais com os n o combatentes as trajet rias profissionais as opini es e a es pol ticas individuais e coletivas as estrat gias de agrupamento e defesa dos interesses desta categoria social s o os principais t picos abordados pela historiografia que se ocupa deste tema FERRAZ 2003 p 21 Assim que esses dois conjuntos de abordagens foram reunidos e
195. eiras civis profissionais diplomadas somente se concretizou em 1956 quando da chegada das primeiras no Hospital Central do Ex rcito que foram indicadas pela ABEn e por algumas Escolas de Enfermagem para como j fora comentado prestar assist ncia aos oficiais e seus familiares Mesmo porque a legisla o em vigor exigia a contrata o de enfermeiras diplomadas para a dire o dos Servi os de Enfermagem das institui es hospitalares sendo o ano de 1956 o prazo limite para o cumprimento da mesma Por isso tamb m que o Ex rcito resolveu contratar as primeiras enfermeiras civis diplomadas que tiveram que superar algumas dificuldades e conflitos para o reconhecimento de seu trabalho neste campo Este pequeno grupo trazia consigo o habitus profissional calcado no padr o anan ri NASCIMENTO 2004 p 62 3 79 20 Especificamente o Artigo 21 da Lei n 775 de 06 08 1949 234 primeira vista essa visada inser o de enfermeiras diplomadas no Servi o de Sa de do Ex rcito foi uma estrat gia bem sucedida de ocupa o de novos espa os pelas enfermeiras profissionais mas tamb m paradoxalmente mostrou se desconforme a um dos princ pios fundamentais que regiam regem a profiss o de enfermagem a de cuidar dos pacientes sem distin es posi o hier rquica social Cerca de um ano depois da inser o dessas enfermeiras no HCE chegaram aproximadamente cinco enfermeiras febianas convocadas para o Servi o
196. elho vestidos brancos para o servi o interno e bolsa de cromo e ainda algumas recomenda es como a proibi o de j ias junto com os uniformes Assim como dito o tipo de uniforme das febianas teria que atender a incorpora o da disciplina de base militar para uma honrosa atua o na esfera p blica al m de reunir algumas especificidades de car ter feminino claro Sobre as caracter sticas dos uniformes est o os pr ximos recortes 186 Trata se do Decreto n 43 934 de 03 07 1958 que acresceu ao Regulamento aprovado pelo Decreto n 30 163 de 13 11 1951 o Titulo VI e ao aprovado pelo Decreto n 34 999 de 02 02 1954 o T tulo V referentes aos uniformes das oficiais enfermeiras 210 O nosso fardamento se assemelhava ao dos homens com exce o do quepe e da saia Esse fardamento foi o que eu sempre usei logo que fui convocada desde segundo tenente at a passagem para a reserva remunerada Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero A gente passou a usar a mesma farda dos militares homens Se n s quis ssemos pod amos usar a cal a comprida verde oliva mas naquela poca as mulheres quase n o usavam Como eu era muito delgada e tinha um tipo atl tico eu ficava bem com a farda Enfermeira Carlota Mello No trecho a seguir not vel a influ ncia do estilo do uniforme das enfermeiras norte americanas no que diz respeito ao emblema que foi criado na ocasi o para fazer parte
197. emeyer Portocarrero e uma com Elza Cansan o Medeiros contei com o proveitoso e amistoso apoio da professora Margarida Maria Rocha Bernardes 50 fidelidade da transcri o do falado para o escrito e por fim o copidesque quando as perguntas foram exclu das e os erros gramaticais suprimidos e integrados textualiza o quando coube os risos as l grimas os sil ncios as entona es as contradi es as vacila es os sentimentos ou seja os n o ditos que acabam por amplificar a dimens o f sica daquilo que foi reunido em uma entrevista de hist ria oral MEIHY 2007 Ao utilizar o m todo da hist ria oral tem tica senti me n o s autor mas tamb m mediador de uma hist ria a ser contada de uma hist ria viva a ser divulgada com especificidades de uma comunidade pouco comum de uma minoria de mulheres militares vencidas De certo n o foram buscadas exatid es hist ricas testemunhos de verdades ou mesmo realidades comprovadas e sim vis es constru es narrativas idealiza es que se mostraram definidas na exposi o das falas ALBERTI 2008 MEIHY 2007 A fim de atender aos aspectos tico legais foi encaminhado s participantes um termo de consentimento livre e esclarecido a fim de orient las sobre os objetivos da pesquisa e inform las sobre os aspectos contidos na Resolu o n 196 96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Sa de Tamb m fo
198. empo recorde este d bil ex rcito numa for a mais moderna apta a enfrentar uma guerra na Europa MOURA 2005 p 16 Nomeado comandante da 1 Divis o de Infantaria Expedicion ria a primeira das tr s divis es inicialmente previstas para formarem a For a Expedicion ria Brasileira FEB o general Jo o Baptista Mascarenhas de Moraes recebeu a rdua miss o de organizar a tropa dando lhe condi es de combate para enfrentar uma das mais eficientes m quinas b licas do mundo a alem MOURA 2005 p 17 O n mero insuficiente de capit es e tenentes para completar a tropa fez com que aspirantes da Academia Militar e oficiais formados pelos Centros de Prepara o de Oficiais da Reserva fossem convocados e ingressassem diretamente na FEB Os oficias da reserva eram quase todos profissionais liberais Assim m dicos e dentistas entre outros profissionais viraram oficiais combatentes repentinamente Vale mencionar que cursos de emerg ncia foram organizados na Escola de Sa de do Ex rcito e em algumas universidades para m dicos civis MOURA 2005 p 17 Tamb m na base do improviso que seria organizado o quadro de enfermeiras que acompanharia os soldados brasileiros ao Teatro de Opera es Mesmo porque o Ex rcito Brasileiro n o possu a uma reserva feminina de enfermagem em condi es de ser mobilizada O estado de guerra contra a Alemanha e a It lia foi declarado em todo o pa s no dia 31 08 1942 pelo presidente Get
199. empre se deparam dificuldades para um relato mais preciso E h que se alertar ao leitor que existe muita hist ria a ser contada sobre isso Outrossim n o foi dado prioridade neste estudo ao cotidiano dessas enfermeiras na guerra para o que se necessitaria n o s de mais espa o e tempo como tamb m de reajustes ao desenho desta pesquisa No que se refere atua o da FEB no Teatro de Opera es ap s um curto per odo de treinamento e adapta o os soldados brasileiros iniciaram suas a es contra as defesas alem s Durante as primeiras opera es nos ltimos meses de 1944 a FEB amargou pesadas derrotas ao tentar conquistar Monte Castelo Entretanto passada a fase inicial de m sorte conseguiu tomar o Monte em fevereiro de 1945 e inaugurou uma s rie de vit rias que passaram a destac la expressivamente Um aspecto marcante foi a rendi o alcan ada pelos brasileiros de 20 573 soldados germ nicos os quais faziam parte da 148 Divis o de Infantaria Alem que possu a um arsenal de guerra bastante superior e preparo mais aprimorado de seu pessoal em rela o FEB Al m disso os brasileiros libertaram dezenas de vilas e cidades italianas Ap s um per odo de 239 dias de atividade ininterrupta a FEB encerrou suas opera es na It lia alcan ando o m rito de ter obtido in meros elogios por parte dos comandantes do Ex rcito Norte Americano BRANDI 2001 p 5 936 LACOMBE 1979 p 229 MORAES 2005 p 217 8
200. enfermeiras adequado ser o precisos anos de estudo de trabalho e entusiasmo MORAES 1949 p 419 O entusiasmo desta fala um exemplo de que a conviv ncia com a organiza o militar norte americana e a observa o de seus m todos e estruturas conferiu outras amplitudes s perspectivas de muitos expedicion rios entusiasmados e impressionados com toda a 108 Grifo meu 148 capacidade industrial b lica e organizacional dos Estados Unidos que seriam a partir de ent o tomados como bom modelo a ser seguido e aliados preferenciais nos projetos de desenvolvimento do pa s Por fim Bertha termina seu testemunho com uma prescri o de enfermeira de guerra E nunca mais se diga que a zona de combate n o lugar para mulher Venham ver o que uma enfermeira pode fazer de bom e milagroso a um homem ferido Muitas e muitas vezes uma m o carinhosa sobre uma testa escaldante um len ol bem esticado um sorriso uma face de mulher fazem mais pelo ferido MORAES 1949 p 419 A observa o das entrelinhas desse tipo de prescri o bem dirigida aos homens tr s tona a vis o idealizada sobre a valora o feminina nos tempos de guerra quando mulheres enfermeiras se fazem necess rias para fazer o que bom e at milagroso a um homem ferido parafraseando Bertha Tal clamor evocou pois o que h de simb lico no trabalho de enfermagem nos conflitos a id ia do compromisso humanit rio e dos sentiment
201. enfermeiras militares nas For as Armadas Alguns trechos do trabalho evocam com certa exalta o algumas situa es do cotidiano do grupamento de enfermeiras da FEB nos hospitais de campanha que de certa forma serviram como argumento irrefut vel de se justificar suas presen as naquele evento de medicina militar Como instrumentadora no preparo do material cir rgico nas enfermarias na sala de choque ou no transporte a reo sua tarefa era firmemente desempenhada Num ininterrupto trabalho de oito horas e durante um per odo de quinze dias de pernoite venciam a fadiga com verdadeira dedica o profissional Ao lado das nurses americanas o seu trabalho n o sofreu inferioridade CAMERINO G ES 1954 v 2 p 574 A t tulo de recomenda es elas fizeram alguns apontamentos e ajuizamentos A excel ncia de um corpo de enfermeiras a organiza o admir vel dessa m quina de efici ncia hospitalar um dos mais importantes problemas na assist ncia ao ferido de guerra Para desempenho da enfermagem num hospital de sangue n o bastante ser t cnica A enfermeira deve possuir habilidade iniciativa e principalmente senso de responsabilidade ainda mister da enfermeira cuidar da parte psicol gica do doente confort lo anim lo e levantar sua moral Se a vida da enfermeira em todos os tempos uma vida de sacrif cio em tempos de guerra ela ainda mais cheia de desprendimento altru smo e
202. entes e das institui es de modo a preservar as fun es sociais pela viol ncia simb lica exercida sobre os indiv duos e com a ades o deles Nesse sentido seu discurso faz ver e valer seu julgamento que condiciona e legitima e violenta simbolicamente quem nomeou de pato Com efeito o pato animal com pouca amplitude de v o andar lento e desajeitado popularmente identificado como mau jogador contrastado com o cisne reconhecido como timo voador que percorre grandes dist ncias em suas migra es esteticamente belo gracioso garboso e figurativamente identificado como poeta orador m sico c lebre FERREIRA 2004 Assim que na luta por distin o e apropria o de uma identidade leg tima e no mbito das hierarquias de poder que se estabelecem entre os agentes no interior de um determinado campo h uma tend ncia permanente de se classificar de se desclassificar e de se reclassificar as posi es que eles ocupam no tempo e no espa o consoante com o capital acumulado impulsionados pelos jogos de poder entre estes agentes que se movem no interior do campo e pela pr pria din mica entre o s campo s e o mundo social No breve relato que escreveu sobre sua situa o no p s guerra a enfermeira Isabel Novais Feitosa contou que voltou a atuar no Servi o de Sa de do Ex rcito no ano de 1948 140 como civil pato Mais tarde em 1951 o DASP sem qualquer comunica o ou aviso exonerou 25 ex comba
203. entro dos limites atuais de uma pesquisa de doutorado em Hist ria da Enfermagem Brasileira FERRAZ 2003 Apesar dessas limita es que se mostraram n o posso deixar de mencionar que contei ao longo desse tempo com o apoio de pessoas interessadas nos meus prop sitos direta ou indiretamente pessoal ou virtualmente Resta me ainda fazer algumas men es sobre a originalidade do estudo e nesse sentido trazer a constata o de que os poucos estudos hist ricos desenvolvidos sobre a enfermagem militar vem aos poucos ganhando propor o dentro da rea de conhecimento da Hist ria da Enfermagem Brasileira Ao iniciar esta pesquisa at onde foi do meu conhecimento n o existia publicada nenhuma outra que tivesse se ocupado com a hist ria das enfermeiras da FEB no p s guerra al m das tr s disserta es de mestrado desenvolvidas num recorte de tempo que contemplou o per odo em que atuaram na guerra 1943 1945 na linha de pesquisa de Hist ria da Enfermagem Brasileira Esta outra hist ria que apresento pois distinta do conjunto de obras anteriormente escritas sobre as febianas seu recorte temporal e tem tico novo e ainda n o explorado Foi por este caminho que me direcionei e me aventurei 10 Os autores que trabalharam com esta tem tica em programas de p s gradua o stricto sensu no Brasil foram Na Escola de Enfermagem Anna Nery UFRJ Maristela Freitas Silva 1995 Carla Christina Passos 2000 Ana
204. er Portocarrero A desmobiliza o fez com que as febianas passassem a estar privadas dos t tulos e identidades de outrora de enfermeiras de guerra de mulheres militares de oficiais do Ex rcito Brasileiro Notado em certas propor es tal ato viria a reafirmar a ordem previamente estabelecida no campo militar sobre a divis o sexual do trabalho al m de abarcar para o grupo certos preju zos de ordem social financeira e moral 114 Tamb m o retorno ao lar das enfermeiras febianas acabou sendo consagrado simbolicamente como o retorno das m es das donas de casa das esposas devotas cabendo lhes neste momento a retomada das fun es advindas do universo feminino Sobre tal espectro tem se o simbolismo que envolveu a atua o de Ana N ri na Guerra do Paraguai 1864 1870 que ap s o t rmino do conflito foi cognominada a m e dos brasileiros pelo Instituto Hist rico e Geogr fico Dessa forma as guerras reiteram as representa es mais tradicionais e simb licas das diferen as entre os sexos OLIVEIRA et al 2009b p 1 054 CARDOSO 1996 Outro recorte que trata da desmobiliza o das febianas tamb m merecedor de ressalte Quando chegamos ao Brasil j viemos desmobilizadas Entregamos o material que tinha que entregar e Tchau tchau Vai embora pra casa Ali s n s todas ficamos muito aborrecidas com a situa o porque era obriga o do Exercito n s termos continuado e n o ter jogado a gente
205. er as circunst ncias que antecederam o processo de reinclus o de enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no Servi o Militar Ativo do Ex rcito ap s o t rmino da Segunda Guerra Mundial 2 Analisar as estrat gias empreendidas por elas para serem reinclu das no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 3 Discutir a reinclus o dessas enfermeiras no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 27 AS JUSTIFICATIVAS Como n o existem de fato par metros oficiais para mensurar a relev ncia de um dado tema BARROS 2007 p 35 fico vontade para expressar nas pr ximas linhas as minhas impress es acerca das relev ncias que pretensiosamente julgo ter este trabalho alcan ado Esta pesquisa nasceu de uma inquieta o originada durante o Curso de Mestrado em Enfermagem na Linha de Pesquisa de Hist ria da Enfermagem Brasileira que realizei durante o per odo de 2005 a 2007 na Escola de Enfermagem Anna Nery onde defendi a disserta o Signos do esquecimento os efeitos simb licos da participa o de enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira na Segunda Guerra Mundial 1943 1945 que abordou a hist ria da mobiliza o de enfermeiras para a FEB at a sua desmobiliza o al m de tratar de alguns efeitos simb licos que advieram da participa o delas no Teatro de Opera es Europeu Assim este foi o embri o desta pesquisa que ora apresento sobre o processo de reinclus o de enfermeiras da FEB no Servi o Militar Ativo do
206. er brasileira na Segunda Guerra Mundial de autoria de Ol mpia de Ara jo Camerino 1983 p 47 Ali s nesta foto est o as enfermeiras que trabalharam no 7 Station Hospital sentadas da esquerda para a direita Nilza C ndida da Rocha Elza Ferreira Vianna Alice Neves Maia Nicia de Moraes Sampaio Lind urea Galv o e Amarina Franco Moura De p Virg nia Leite Hayd e Rodrigues Costa Ac cia Cruz Lygia Fonseca e Ilza Meira Alkmin 258 dicotomia condicionou as para consagrarem uma atitude de interdi o do esquecimento e por extens o de luta pela valoriza o de suas reminisc ncias OLIVEIRA 2007 p 138 9 Para enquadrar essas ila es dentre os seus lugares de mem rias os di rios que algumas poucas febianas escreveram se mostram deveras e simbolicamente especiais Ali s sobre o seu di rio de guerra que tamb m registrou passagens de sua vida no p s guerra uma das febianas comentou A organiza o desse di rio foi orientada pelo meu pai Quando eu parti daqui do Brasil para a guerra ele disse Tudo o que voc for passando escreva e me mande por um doente baixado que venha transferido para o Brasil para o HCE Voc d a ele o meu telefone que eu vou buscar Havia censura na poca ent o eu mandava cartas e fotografias para o papai pelos soldados baixados Quando eu cheguei da guerra fiz a juntada de tudo e organizei o meu di rio Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Porto
207. erando na It lia de tal forma que podiam receber mais de 1 000 feridos num dia sem que faltassem enfermeiras conforto e comida NEVES 1992 Um pouco do cotidiano desses hospitais pode ser percebido nos seguintes recortes Vinham surdos art rias rompidas grandes chocados fraturas diversas loucos neur ticos p s de trincheira e cl nica m dica Depois de atendidos pelos m dicos na sala de opera o eram entregues s enfermeiras que lhes aplicavam o sangue o plasma e os medicamentos O trabalho era estafante A equipe de enfermagem composta de enfermeiras brasileiras e americanas sargentos e soldados em a o cont nua n o media sacrif cio par que o ferido fosse bem atendido CAMERINO 1983 Hospitais de Pisa e Pist ia combatentes de Camaiore do Vale do Serchio dos ataques frustrados ao Castello das vit rias de Castelnuovo Montese Zocca Era a fila intermin vel de ambul ncias em comboio trazendo a sua carga de sofrimento Era o sofrimento no que ele tinha de mais doloroso ao cora o Sofria se vendo nossos rapazes estra alhados morrendo numa caridosa indiferen a proporcionada pelos gr os de morfina do primeiro socorro creio nunca ter rezado com mais sinceridade e fervor Senhor Fazei que se acabe esta guerra Poupai nos desse sofrimento sem par MORAES 1949 p 416 110 Parafraseando Portocarrero 2001 por melhor que se procure relatar o trabalho de uma enfermeira nos campos de batalha s
208. erenciavam tais como os de origem s cio familiar e de condi o financeira Com efeito no grupo que seguiu para o Teatro de Opera es havia as que gozavam de prest gio social derivado da boa posi o de suas fam lias tais como as enfermeiras Carmem Bebiano que era uma das maiores acionistas da Am rica Fabril filha de industrial Jacyra de Souza G es filha de fazendeiro Elza Cansan o Medeiros e Elza Miranda da Silva Souto Maior filhas de m dicos Helena Ramos e Heloisa Cec lia Villar filhas de almirantes da Marinha Maria Luiza Vilela Henry filha de engenheiro Maria Concei o Suarez filha de construtor Graziela Affonso de Carvalho filha de coronel ex governador do Amazonas Lenalda Campos filha de juiz de Direito de Capela e ex deputado em Sergipe Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero filha de general e L cia Os rio sobrinha neta do general Os rio patrono da Arma de Cavalaria as duas ltimas oriundas de tradicionais fam lias de militares do Ex rcito Brasileiro CANSAN O 2003 BERNARDES 2003 p 96 7 Em complemento a isto Cansan o 1987 p 40 afirma que algumas dessas enfermeiras fizeram parte da turma de Samaritanas de 1942 e que esta foi uma turma de choque da sociedade Dela fizeram parte mo as das mais representativas fam lias brasileiras e at estrangeiras Destas cita es adv m a id ia de que o capital social herdado por parte das enfermeiras que acompanharam a FEB simbolizado por
209. ermeiras da For a Expedicion ria Brasileira na Segunda Guerra Mundial 1943 1945 Disserta o Mestrado em Enfermagem Escola de Enfermagem Anna Nery Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2007 291 Em nome da P tria o primeiro grupamento feminino de enfermagem do Ex rcito Brasileiro na Segunda Guerra Mundial In SILVA Francisco Carlos Teixeira da SCHURSTER Karl LAPSKY Igor CABRAL Ricardo FERRER Jorge Org O Brasil e a Segunda Guerra Mundial Rio de Janeiro Multifoco 2010 p 883 903 OLIVEIRA Alexandre Barbosa de SANTOS T nia Cristina Franco Condecora es de Guerra s ex enfermeiras febianas Esc Anna Nery online Rio de Janeiro v 14 n 1 p 19 25 jan mar 2010 Entre ganhos e perdas simb licas A des mobiliza o das enfermeiras que atuaram na Segunda Guerra Mundial Esc Anna Nery online Rio de Janeiro v 11 n 3 p 423 8 set 2007 OLIVEIRA Alexandre Barbosa de SANTOS T nia Cristina Franco BARREIRA Ieda de Alencar LOPES Gertrudes Teixeira ALMEIDA FILHO Ant nio Jos de AMORIM Wellington Mendon a de Enfermeiras brasileiras na retaguarda da Segunda Guerra Mundial repercuss es dessa participa o Texto contexto enferm Florian polis v 18 n 4 dec 2009a OLIVEIRA Alexandre Barbosa de SANTOS T nia Cristina Franco BARREIRA Ieda de Alencar ALMEIDA FILHO Ant nio Jos de As enfermeiras da for a expedicion ria brasileira e a divulga o de
210. ermeiras no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial Hist cienc saude Manguinhos Rio de Janeiro v 7 n 1 p 73 91 mar jun 2000 D ARA JO Maria Celina Soares Partidos trabalhistas no Brasil reflex es atuais Estudos hist ricos Rio de Janeiro v 3 n 6 p 196 206 1990 P s modernidade sexo e g nero nas For as Armadas Security and Defense Studies Review v 3 n 1 2003 288 DOMENACH Jean Marie A propaganda pol tica S o Paulo Difus o Europ ia do Livro 1955 DONAHUE M Patricia Historia de la enfermeria Barcelona Doyma 1985 DONATO Hern ni A Revolu o de 32 S o Paulo Circulo do Livro 1982 ECO Umberto Como se faz uma tese 12 ed S o Paulo Perspectiva 1977 FALC O Jo o O Brasil e a Segunda Guerra Mundial Brasilia Universidade de Brasilia 1999 FAUSTO Boris Hist ria do Brasil 6 ed S o Paulo Edusp 1999 O pensamento nacionalista autorit rio 1920 1940 Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 F ZIO Edn ia A presen a feminina no Ex rcito e na Aeron utica do Brasil 2003 In VI Research and Education in Defense and Security Studies Seminar REDES Chile 2003 FERRAZ Francisco C sar Alves A guerra que n o acabou A reintegra o social dos veteranos da For a Expedicion ria Brasileira 1945 2000 Tese Doutorado em Hist ria Faculdade de Filosofia Letras e Ci ncias Humanas Universidade de S o Paulo S o Paulo 2003 Os brasileiros e a Segunda Guerra Mun
211. ero e representatividade das pessoas que se fizeram presentes e por ltimo o local pois tal ritual se fez na principal igreja da capital federal do pa s a da Candel ria 134 Figura n 11 Missa de A o de Gra as Igreja de Nossa Senhora da Candel ria 1945 Acervo da FEB Pal cio Duque de Caxias Rio de Janeiro O registro fotogr fico evidencia as marcas simb licas de um ritual que contemplou a prescri o de um ordenamento das pessoas no espa o religioso frente estavam os porta vozes especializados do poder sagrado as autoridades eclesi sticas seguidos das enfermeiras febianas em destaque pelas circunst ncias da celebra o entre outros agentes civis militares de alta patente religiosas e volunt rias da Defesa Passiva Antia rea Estiveram presentes o arcebispo da Arquidiocese de S o Sebasti o do Rio de Janeiro D Jaime de Barros C mara o presidente da Cruz Vermelha general Sebasti o Ivo Soares o diretor de Sa de do Ex rcito general Jo o Afonso de Souza Ferreira al m de outros representantes do Ex rcito Marinha e Aeron utica e de membros da Legi o Brasileira de Assist ncia e da Comiss o de Assist ncia Enfermeira da FEB afora outros convidados Ap s a leitura do evangelho o monsenhor Leovigildo Franca capel o da FEB pronunciou brilhante serm o como constou numa nota jornal stica que noticiou a cerim nia Percebe se 135 portanto que houve um movimento favor vel de au
212. erva do Servi o P blico de Sa de do Ex rcito no posto de segundo tenente amparados pelas disposi es da Lei n 3 160 de 1 de junho de 1957 as enfermeiras que foram comandadas para a FEB e posteriormente designadas para permanecerem nos hospitais militares de Natal ou do Recife nos anos de 1944 e 1945 Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica Anu rio Estat stico do Brasil Rio de Janeiro IBGE 1959 276 Minist rio da Aeron utica Portaria n 178 de 10 de julho de 1944 Convoca enfermeiras para o Quadro de Enfermeiras da Reserva de 2 Classe da Aeron utica Minist rio da Aeron utica Lei n 1 647 de 18 de julho de 1952 Torna extensivas s enfermeiras que prestaram servi o no 1 Grupo de Ca a as disposi es da Lei n 1 209 de 25 de outubro de 1950 Minist rio da Aeron utica Lei n 3 632 de 10 de setembro de 1959 Inclui no Servi o de Sa de da Aeron utica no posto de 2 tenente as enfermeiras que integraram a For a A rea Brasileira durante as opera es de guerra na It lia Minist rio da Aeron utica Lei n 6 924 de 29 de junho de 1981 Disp e sobre a admiss o de enfermeiras nos quadros da Aeron utica Minist rio da Educa o Decreto n 20 109 de 15 de outubro de 1931 Estabelece condi es para equipara o das demais escolas Escola Anna Nery na condi o de escola oficial padr o Minist rio da Guerra Aviso n 197 166 reservado de 11 de junho
213. es a um trabalho cient fico Assim as vers es e interpreta es aqui desenvolvidas que encaminharam a s ntese deste estudo n o s o mais que verdades provis rias j que o vivido irrecuper vel Parte destas verdades provis rias foi discutida em sess es do Semin rio Permanente do N cleo de Pesquisa de Hist ria da Enfermagem Brasileira Nuphebras espa o de produ o de conhecimento que re ne semanalmente pesquisadores alunos de p s gradua o bolsistas de inicia o cient fica candidatos aos cursos de p s gradua o ouvintes e demais interessados na linha de pesquisa de Hist ria da Enfermagem Brasileira Este grupo contribuiu para levantar potencializar e aprofundar certas quest es Muitas das escolhas que fiz foram poss veis por estar incluso em uma comunidade de pesquisadores bem aparelhados intelectualmente e que em diversas oportunidades comungaram de seus conhecimentos apoio e amizade Al m deste Semin rio os membros da Banca Examinadora da Tese do grupo de pesquisa em que se insere este projeto os professores e alunos das disciplinas do Curso de Doutorado os eventos cient ficos que participei as palestras e aulas que proferi os artigos que publiquei no mbito do desenvolvimento desta pesquisa al m de conversas com pessoas nos corredores das academias todos foram ativos colaboradores e legitimadores do 57 desenvolvimento desta pesquisa sem contar com a fundamental parceira que nutri com mi
214. es de calamidades e de guerras o que contribuiu para a visibilidade de um modelo de profissional respaldado em aspectos religiosos e patri ticos Al m disso as enfermeiras religiosas ou leigas eram regidas por c digos bem precisos relativos sua indument ria e maneira de usar o corpo de modo a construir uma tica e uma est tica consoante com a condi o feminina da poca Nesse sentido os atributos intr nsecos natureza feminina e necess rios ao cuidado do ser humano ao mesmo tempo em que expressavam e reafirmavam as oposi es fundantes da ordem simb lica atrav s da dicotomia entre o masculino e o feminino contribu ram para a atua o honrosa da mulher no espa o p blico mediante a visibilidade das qualidades 18 consideradas dignificantes da imagem feminina SANTOS et al 2008 BOURDIEU 2003 p 45 Ali s o Estado Novo e principalmente os anos da Segunda Guerra Mundial s o certamente marcos importantes na trajet ria da afirma o profissional e institucional do modelo anglo americano de enfermagem no Brasil implantado na d cada de 1920 pelo governo federal e Funda o Rockefeller OLIVEIRA 2007 CYTRYNOWICZ 2002 E justamente nesse nterim d cada de 1940 que surge a primeira iniciativa oficial de cria o de um grupamento feminino de enfermeiras para ser incorporado s fileiras do Ex rcito com o intuito de se prestar aux lio de sa de queles que atendessem ao chamado da Na o para com
215. es manifesta neste livro censurado parte do descontentamento das enfermeiras que participaram da FEB quando evidencia os conflitos e contradi es da experi ncia que tiveram na guerra al m de reduzir 106 A censura a atos superiores ou sua desacredita o seja em c rculos militares ou entre civis era regulada atrav s do n mero 109 do artigo 13 do Decreto n 2 429 de 04 03 1938 Estatuto dos Militares 107 Publicado no DO n 241 de 19 10 1951 p 15 537 e transcrito no BE n 43 de 27 10 1951 p 3 929 146 um pouco o sil ncio e abrandar seu esquecimento no p s guerra imediato Sobre o teor do texto de Bertha uma febiana manifestou o seguinte As cr ticas que ela fez s o verdadeiras Recolheram o livro e tal Mas ele circulou muito A proibi o foi no tempo de Dutra quando ele era presidente Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Outra febiana comenta algo do perfil de Bertha e do que escreveu em nome das febianas Berta trabalhou comigo na guerra Era muito competente falava ingl s corretamente ajudava muito a chefie nurse na transmiss o das ordens para as colegas brasileiras que n o sabiam falar ingl s Era elemento de liga o uma esp cie de chefe do grupo de enfermeiras brasileiras Ela n o admitia eles n o darem confian a a gente de n o nos botar na ativa Ela tamb m ajudou muito nesse movimento Ela disse a verdade nua e crua sem maltratar pois er
216. es pude acessar as curiosas justificativas e discuss es de parlamentares sobre as proposi es dirigidas s febianas no processo de reinclus o delas no Servi o Ativo do Ex rcito Outro tipo de documento que auxiliou muito o desenvolvimento do estudo foram os anais de eventos no caso os do primeiro e segundo congressos brasileiros de medicina militar ocorridos em 1954 e 1959 respectivamente fontes ricas de julgamentos e an lises de cunho acad mico onde foram publicados trabalhos que versaram sobre a enfermagem militar e inclusive sobre o caso particular das febianas Outras fontes acad micas de relev ncia foram as publica es da revista Anais de Enfermagem primeiro peri dico de enfermagem do Brasil mais tarde chamado Revista Brasileira de Enfermagem cujos artigos notas e relat rios nela 54 publicados permitiram um melhor entendimento dos limites entre as enfermeiras da FEB e as enfermeiras diplomadas Por fim ressalto os textos e fotografias que advieram de jornais da poca verdadeiros lugares de mem ria capazes de gerar e fixar representa es acerca de fatos pessoas espa os e datas e que para as enfermeiras febianas mostraram se como espa os privilegiados onde suas vozes e rostos apareceram publicamente Com efeito as reportagens selecionadas que as reapresentaram como oficiais enfermeiras quando divulgaram sua reinclus o no Servi o Ativo do Ex rcito e expressaram publicamente a conquista q
217. espalhado por todos os cantos da terra Mulheres nos governos nas reparti es p blicas nos ex rcitos nas f bricas em tudo enfim onde havia homens antigamente Nos primeiros dec nios do s culo XX tais discursos buscavam legitimar a reclus o da mulher nos espa os que fossem privados ao tempo que buscava consagrar sua subordina o e inferioridade em rela o ao homem esfor o este que fazia evidenciar certo receio e descontentamento A consagra o da inferioridade das mulheres no meio jornal stico atrav s 2 Publica o no jornal Folha da Noite 27 09 1930 autor n o identificado Grifo meu 62 de insinua es c micas e maliciosas constitui se em uma viol ncia simb lica porque difunde o desprop sito das tais preocupa es femininas ao contr rio das masculinas Em compensa o a verificada crise do Estado Olig rquico que foi derrubado com a Revolu o de 1930 gerou uma possibilidade de se redefinir e de se reorganizar a vida pol tica do pa s ocasi o que se mostrou prop cia participa o feminina Nessa conjuntura a mulher desde que regida pelos princ pios religiosos e morais cat licos teria uma contribui o nica e original a dar ARA JO 2003 Mesmo revelia dos discursos e pilh rias masculinas as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto com a publica o do Decreto n 21 076 em 1932 que instituiu o C digo Eleitoral Brasileiro cujo artigo 2 discip
218. essa depreens o Quando n s chegamos exercemos a fun o de assistente social N s fic vamos no corredor atendendo as fam lias levando para a portaria para pegar o ticket para ir ao m dico levando para aqui e para ali Qualquer coisa era conosco O coronel m dico Luiz Paulino de Mello diretor da Policl nica Central do Ex rcito mandou que todas as que l foram servir que fossem matriculadas num curso de rela es p blicas no Clube Militar Depois que ele resolveu dar uma cl nica para cada uma Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Eu fui servir no HCE na administra o E eu adorava aquilo l Eu que tomava conta daqueles pavilh es do material daquelas ferramentas todas do controle do material carga Era a dona da carga de tudo que existia no centro cir rgico e nos quartos dos doentes Eu era da administra o do pavilh o ligada ao Diretor Enfermeira Lenalda Lima Campos Eu tinha bons enfermeiros para tomar conta dos meninos no Col gio Militar e achava que eles eram mais indicados para cuidar dos alunos Ent o eu ficava mais como uma fiscalizadora para ver se tudo estava indo bem Nesse meio tempo eu podia exercer outras atividades administrativas Enfermeira Carlota Mello Atrav s da leitura das folhas de altera es de algumas febianas de boletins internos das unidades onde foram servir e de depreens es de conversas com alguns de seus fam
219. esse da ABEn para com a reinclus o das enfermeiras do 1 Grupo de Ca a ganha for a numa outra nota que foi publicada cerca de um ano ap s na mesma se o Legisla o da RBEn que deu destaque situa o de alguns projetos inerentes profiss o de enfermagem e que estavam em tramita o na C mara Federal dentre eles o pr prio PL n 2 817 57 sobre a reinclus o das enfermeiras da FAB no Servi o Ativo desta For a Na nota fez se men o de que o referido projeto havia sido aprovado em sua reda o final e que fora encaminhado ao Senado RBEn jun 1958 n 2 p 166 206 Figura n 18 Apresenta o de enfermeiras da FEB convocadas para o Servi o Militar Ativo 1957 Acervo pessoal da enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Vale ressaltar que no que se refere s coisas militares o apresentar se pronto a para o servi o indica que uma pessoa est aprioristicamente em condi es de exercer atividades inerentes caserna quartel para o que s o previamente considerados seu estado de sa de condicionamento f sico forma o t cnico militar e preparo psicossocial que em conjunto favorecem a mobiliza o de atributos consoantes com as expectativas da For a em que se pretende estar inserido a Perguntada sobre este momento uma das enfermeiras entrevistadas declarou Esse foi o dia da apresenta o no Minist rio do Ex rcito justamente quando n s fomos convocadas Eu me lembro qu
220. essem consentimento do marido tamb m era v lido o Curso de Socorrista Volunt ria de Guerra oferecido pela Escola Anna Nery Este relaxamento sobre as condi es exigidas no processo seletivo possivelmente traduz a insufici ncia de inscritas pelos mais diferentes motivos dos quais h que se considerar a constatada defici ncia num rica de enfermeiras no pa s e al m disso o exerc cio comum da tutela masculina sobre as mulheres poca o que dificultava a apresenta o de um n mero maior de mulheres quele voluntariado CYTRYNOWICZ 2000 p 80 1 SILVA 1995 p 153 As volunt rias que se apresentaram foram inscritas no Curso de Emerg ncia de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito CEERE organizado pela Diretoria de Sa de do 9 Revista Na o Armada n 51 fev 1944 p 163 4 166 8 Revista Na o Armada n 53 abr 1944 p 120 1 48 A Portaria n 5 855 de 03 01 1944 aprovou instru es para este Curso sendo publicada no DO n 2 de 04 01 1944 e transcrita no BE n 2 S 1 de 08 01 1944 Durante a realiza o desta pesquisa n o foi poss vel 86 Ex rcito condi o obrigat ria para integrar o Quadro de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito QERE criado em 13 de dezembro de 1943 Sobre isto Cansan o 2003 p 28 refere que quatro turmas conclu ram o CEERE no Rio de J aneiro uma turma foi formada na Bahia da qual foram aproveitadas cinco enfermeiras outra turma em Minas valeu se de tr s
221. esso dos integrantes dos Servi os de Sa de das For as Armadas que teve como relatores o coronel Luiz Paulino de Mello o capit o de fragata Gerson S Pinto Coutinho e o capit o Carlos Maia de Assis m dicos brasileiros do Ex rcito Marinha e Aeron utica respectivamente Em 92 p ginas in meras s o as recomenda es que eles desenvolvem inclusive para a enfermagem militar Luiz Paulino de Mello 1954 v 1 p 658 denunciou a dificultosa situa o pela qual sempre passou o Servi o de Sa de do Ex rcito Dentre as crises foram apontadas a de homens pelos claros existentes nos quadros de oficiais organizacional de recursos financeiros de material t cnico para a paz e para a guerra e de inexist ncia de quadros indispens veis para que haja efici ncia t cnica de enfermeira de oficiais auxiliares de sa de e de auxiliares femininas de enfermagem Pelas fontes acessadas deste coronel m dico uma primeira defesa em car ter acad mico e circunstanciado da necessidade de se ter um quadro de enfermeiras femininas no mbito do Ex rcito A propriedade de sua vis o sobre 176 esta quest o devia se ao fato de ser ele ocupante de cargo ligado s quest es de pessoal e de aperfei oamento no mbito do Ex rcito No corpo de sua argumenta o ele evocou a experi ncia das enfermeiras da FEB na Segunda Guerra ao tempo que tra ou sua escrita com base na predestina o feminina pr tica de enfermagem e ainda desqual
222. estreitados e suas reminisc ncias do passado recente no front eram discutidas Ao que parece esta estrat gia ao tempo que reavivava os la os que existiram entre elas tamb m servia para amplificar o movimento de retorno delas ao Servi o Ativo A fala apresentada a seguir favorece esta depreens o 142 O COEGUE foi uma coisa muito particular que a Zilda fez no apartamento dela Ent o n s fomos ser s cias Eu tenho a camisa do COEGUE at hoje Na poca n s n o nos apresent vamos na sociedade representando o Clube Era ntimo Tamb m n o pod amos nos apresentar porque n o t nhamos um t tulo para isso de oficial enfermeira do Ex rcito Foi uma estrat gia pra gente se enganchar A Zilda trabalhou muito nisto mas ela n o conseguiu nada Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Parafraseando uma das pr prias febianas na guerra a FEB aproximou quem era cisne de quem era pata No p s guerra os rumos tomados e as necessidades seriam bem distintos A Carminha Viana era milion ria dona da Am rica Fabril Esta n o voltou a trabalhar A Maria do Carmo Correa e Castro era alta funcionaria do Banco do Brasil e voltou para l A Jacira de Souza G es era do Minist rio da Justi a e para l voltou A Ol mpia voltou para o Exercito mas n o como enfermeira ela ficou no gabinete da Diretoria de Sa de como civil A S lvia de Souza Barros fo
223. ete as sete durante quinze dias e de sete as sete durante quinze noites Era pesado E tinha que saber fazer de tudo N s t nhamos que nos valer aos americanos que tinham enfermeiras especializadas que n o t nhamos A ordem que eu dava s meninas era a seguinte Veja como elas fazem e fa am melhor Esta era a minha ordem e eu cobrava Por isso que n s quase n o tivemos problemas Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Apesar de a posse de um diploma nem sempre ser penhor seguro de compet ncia a forma improvisada da participa o das febianas na sua inclus o durante a guerra e a 223 reinclus o delas como enfermeiras no Servi o de Sa de do Ex rcito em 1957 mesmo sem possu rem o t tulo profissional exemplo das fragilidades havidas sobre o capital profissional dos indiv duos que exerciam a enfermagem no campo do Ex rcito praticamente consensual a id ia de que a forma o do capital escolar tende a garantir um rendimento simb lico alto e certo grau de distin o por estar ligado s varia es das compet ncias BOURDIEU 2007a o que faz do devido preparo um ponto crucial Por isso que os improvisos no ensino e na pr tica de enfermagem militar tendem a provocar riscos para a opera o efetiva das atividades e estrat gias de uma doutrina militar s ria seja no tempo de guerra ou mesmo no de paz Assim que se pode ressentir de que a incorpora o de enfermeiras com forma o adequad
224. etos receptivos atraentes dispon veis Delas se espera que sejam femininas isto sorridentes simp ticas atenciosas submissas discretas contidas ou at apagadas E a pretensa feminilidade muitas vezes n o mais que uma forma de aquiesc ncia em rela o s expectativas masculinas reais ou supostas principalmente em termos de engrandecimento do ego BOURDIEU 2003 p 82 218 Mesmo reinclu das por um dispositivo legal as falas das febianas fazem ver que elas percebiam se no Ex rcito como estranhas e fora de lugar Tal situa o foi motivadora da mobiliza o de constantes artimanhas para conquistarem espa o e reconhecimento em um meio hegemonicamente masculino principalmente nesta chegada delas Eu cheguei ao Col gio Militar tr s meses antes das minhas colegas Quando elas chegaram melhorou No princ pio quando eu entrava no refeit rio para almo ar s havia homens E com a cara e com a coragem eu me acostumei r pido mas porque eram professores e oficiais Se fosse refeit rio de soldados e alunos onde tem coisas talvez fosse mais dif cil Mas l era ambiente de ensino Era um col gio onde todo mundo tinha um n vel de educa o diferenciado inclusive os pr prios militares Havia pessoas cultas Isso facilitou muito Enfermeira Carlota Mello bem verdade que em certos casos algumas enfermeiras conseguiram uma melhor adapta o e sucesso no uso de suas f
225. eu anivers rio 20 Ao longo da pesquisa auxiliei a enfermeira Virg nia na guarda de seu rico di rio de guerra no mbito de uma institui o do Ex rcito Brasileiro mas n o obtivemos sucesso nisto Entretanto hoje este acervo encontra se depositado na Casa de Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro onde est dispon vel para pesquisa 53 Raras s o as biografias e autobiografias dessas enfermeiras E isto seria de se esperar numa hist ria em que elas se v em e se reconhecem como coadjuvantes o que ressaltado em suas falas quando atestam o valor dos soldados combatentes para quem os olhares e honras devem estar voltados Apesar de resumidas e seletivas as biografias e autobiografias das enfermeiras da FEB ofereceram subs dios para elucidar alguns aspectos de suas vidas ao tempo em que evocam um pouco da mem ria de seu tempo De qualquer forma estas fontes serviram para a constru o dos roteiros de entrevista e de quadros e de listas para o desenvolvimento do estudo N o pude deixar de considerar tamb m os documentos aparentemente mais simpl rios como os elogios as cartas os poemas os bilhetes e os guardados pessoais Ali s foram nos arquivos privados onde tive as melhores chances de encontrar os melhores vest gios dessas mulheres Dos documentos escritos oficiais e n o oficiais destaco os da biblioteca do Congresso Nacional obtidos em edi es publicadas em di rios oficiais atrav s da internet Pelas atas das sess
226. eu tamb m um papel delimitador que recortou mais o objeto de estudo ao tempo que exerceu ainda um papel interpretativo prof cuo que auxiliou na proposi o de solu es provis rias para o problema de pesquisa al m de ter proporcionado bases para a argumenta o Por fim a tese sustentada articulou as diversas dimens es da pesquisa proposta no que diz respeito ao tema quadro te rico fontes e m todos eleitos 44 AS FONTES E OS M TODOS Como esclarece Ferraz 2003 p 19 os debates sobre as rela es entre hist ria mem ria identidade e representa es sociais que ocuparam um relevante espa o no debate historiogr fico foram fundamentais para o desenvolvimento dos estudos sobre os veteranos de guerra e chegaram at a moldar as suas principais problem ticas Nessa vertente ele classifica os estudos que t m os veteranos de guerras do s culo XX como objetos de pesquisa em dois grupos a o veterano como sujeito da mem ria social da guerra em que tomou parte b o veterano como agente social em uma sociedade p s guerra O primeiro conjunto de estudos que concentra o maior volume de pesquisas publicadas objetiva o entendimento do papel dos ex combatentes na mem ria social das guerras nas quais participaram Neste conjunto as fontes documentais s o geralmente utilizadas para melhorar os entendimentos de como o evento guerra mundial foi e lembrado pelas gera es posteriores e como as mem rias e esqu
227. exemplo por um sobrenome importante e pela posi o vantajosa no campo social inscreveria uma distin o a elas que contribuiu para que fossem bem aceitas no campo do Ex rcito tornando o mais d cil a estas rec m chegadas Guardadas as devidas propor es percebe se que tal distin o se fez extensiva ao resto do grupo quelas que n o gozavam de boas posi es sociais uma vez que a maioria das enfermeiras dentro de seus limites participou no ac mulo do capital simb lico coletivo do 101 grupo ao mostrarem se aparentemente unissonas em seus discursos esfor adas em suas a es e atentas para honrarem o nome do grupamento Assim a identidade coletiva das enfermeiras da FEB acompanhada de uma defini o expl cita das responsabilidades tenderia a limitar um pouco as consequ ncias das defici ncias individuais explicitadas enquanto que a delega o difusa decorrente do fato de pertencer a um grupo assegura aos seus membros a responsabilidade do capital coletivamente possu do mas sem coloc los sob risco de descr dito do conjunto BOURDIEU 2007c Assim os detentores de maior capital social simb lico devem empenhar se em defender a honra coletiva na honra dos membros mais desprovidos do seu grupo BOURDIEU 2006 Nesse sentido dado destaque ao trecho abaixo escrito por uma das l deres do grupamento de enfermeiras Ol mpia de Ara jo Camerino que refor a tal ila o Entre os hinos da ra a en
228. ficiaria sobremaneira para transgredirem os estatutos prescri es e culturas dos hierarquizados campos militar e da enfermagem Trata se da Lei n 1 209 50 que as classificou como segundo tenente enfermeira da Reserva de 2 Classe do Ex rcito mas que n o chegou a lhes viabilizar seu reaproveitamento no Servi o Militar Ativo do Ex rcito N o obstante as articula es de algumas enfermeiras febianas com generais e parlamentares renderiam os lucros galgados cujos argumentos e justificativas foram essencialmente pautados num discurso patri tico idealizado e legitimador de sua atua o p blica nos tempos de guerra que se aproveitou do capital simb lico que elas conseguiram acumular e rentabilizar com v rias estrat gias Assim que um projeto de lei apresentado em 1953 de autoria do consagrado deputado federal do PTB Fernando Ferrari conseguiria ser transformado na Lei n 3 160 57 que enfim as incluiria em definitivo no Servi o Ativo do Ex rcito Desse modo as enfermeiras febianas tiveram sua perman ncia assegurada nesta For a ap s um per odo de doze anos de afastamento do Servi o Ativo e passaram a gozar dos direitos vantagens e regalias inerentes aos oficiais da ativa sendo distribu das por diversas organiza es militares de sa de do Ex rcito espalhadas pelo pa s Com efeito esta reinclus o foi verticalmente estabelecida por for a de uma lei mas n o reconhecida horizontalmente e a contento pelos
229. freiras eram insuport veis Elas queriam mandar de qualquer jeito nas que foram convocadas E as convocadas tiveram muitos aborrecimentos com as freiras Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Sobre o relacionamento com os cabos e sargentos enfermeiros as dificuldades foram minoradas bastante pela exist ncia de um c digo de conduta baseado na observ ncia da posi o hier rquica entre eles e as febianas 208 A t tulo de ilustra o as primeiras irm s da caridade chegaram aos hospitais militares no per odo da Guerra do Paraguai 1864 1870 gra as a um contrato celebrado entre a Secretaria de Estado dos Neg cios da Guerra e a Irmandade de S o Vicente de Paulo No Hospital Militar da Guarni o da Corte mais tarde chamado Hospital Central do Ex rcito ingressaram dez irm s Dentre as mudan as havidas estiveram as de natureza administrativa como a altera o do organograma do hospital quando todo o pessoal de enfermagem inclusive o enfermeiro m r que era militar ficou subordinado irm superiora PASSOS 2000 p 83 4 Suas atribui es foram mais tarde especificadas atrav s do Decreto n 15 230 1921 J em 1932 foi aprovado o Regulamento para a Organiza o do Quadro de Enfermeiros do Ex rcito e criado o Curso de Enfermeiros da Escola de Sa de do Ex rcito Nesta ocasi o as irm s da caridade tiveram que frequentar cursos especiais organizados nesta Escola que permitiram que elas viessem a trabalhar com
230. gem mas fala E eu fui na onda Falei bestagem que n o acabava mais e era aplaudida risos Desse dia em diante o Col gio Militar passou sempre a me mandar aos eventos para represent lo e eles foram se acostumando a me ver e em saber que eu era enfermeira do Ex rcito Isto em vez de ser orgulho para mim era motivo de sofrimento porque eu sabia que eles n o estavam acostumados e nem eu a fazer aquilo Mas eu tinha que ir pois estava representando uma entidade Eu subia sentava l com eles e com o tempo eu fui me acostumando Enfermeira Carlota Mello Como se pode perceber em suas reapari es p blicas como oficiais as febianas tiveram que desenvolver estrat gias de enfrentamento para darem conta do exerc cio da atividade militar e de suas formalidades Em outras palavras elas tinham que reatualizar seu habitus militar em situa es e condi es ora in spitas ora ins litas Outrossim as normas e regulamentos adotados nos espa os onde foram servir as febianas definiam n o somente o seu funcionamento como tamb m determinavam suas 237 fun es e atribui es para a organiza o da conduta hier rquica e disciplinar Assim ao tempo que a enfermeira rec m chegada precisava ser disciplinada ela tamb m tinha que disciplinar educar A submiss o a esse esquema pode ser em parte percebida aqui Eu achava at gra a Eu tinha que andar muito no Col gio Militar E a quando e
231. gentina y Uruguay 1970 1990 Rosario Beatriz Viterbo 1997 MOREIRA Martha Cristina Nunes A Funda o Rockefeller e a constru o da identidade profissional de enfermagem no Brasil na Primeira Rep blica Hist cienc saude Manguinhos Rio de Janeiro v 5 n 3 p 621 45 fev 1999 MOURA Aureliano A luta antes da guerra Nossa hist ria Rio de Janeiro n 15 p 16 20 jan 2005 MOURA Aureliano Pinto de O Servi o de Sa de do Ex rcito na Rep blica Revista de Medicina Militar Rio de Janeiro n 7 p 427 449 jan abr 1991 NASCIMENTO Wilma Gon alves do Hospital Central do Ex rcito a inser o das primeiras enfermeiras civis diplomadas 1956 1959 Disserta o Mestrado em Enfermagem Escola de Enfermagem Anna Nery Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2004 NEVES Luis Felipe da Silva A For a Expedicion ria Brasileira uma perspectiva hist rica Disserta o Mestrado em Hist ria Instituto de Filosofia e Ci ncias Sociais Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 1992 NORMAN Elizabeth M We band of angels the untold story of american nurses trapped on Bataan by the japanese New York Random House 1992 NUNES Karla Leonora Dahse Antonieta de Barros uma hist ria Disserta o Mestrado em Hist ria Universidade Federal de Santa Catarina Florian polis 2001 OLIVEIRA Alexandre Barbosa de Signos do esquecimento os efeitos simb licos da participa o das enf
232. gida pelas lutas que os agentes praticam para manter ou para alterar as rela es de for a e pela distribui o das formas espec ficas de capital pois mister mencionar que o conceito de capital simb lico geralmente relacionado s id ias de prest gio reputa o fama distin o assim a forma percebida e reconhecida como leg tima das diferentes esp cies de capital profissional cultural econ mico social e militar Com efeito os possuidores de capital simb lico s o dotados de poder simb lico esp cie de poder quase natural e incessantemente naturalizado que confere aos seus detentores a possibilidade de acesso aos ganhos espec ficos que ele ocasiona Os 37 indiv duos passam a ser classificados em fun o da posse ou do d ficit de capital simb lico que dissimula as rela es de for a materiais BOURDIEU 2006 Sendo assim o capital simb lico o capital com base cognitiva apoiado sobre o conhecimento e o reconhecimento BOURDIEU 2007b N o uma coisa e sim uma rela o social muito particular na medida em que cont m as condi es de sua reprodu o Assim se a honra cabe quele que j a tem e que pode por meio de estrat gias alian as fazer frutificar seu capital simb lico porque o capital simb lico contribui sua maneira para a reprodu o das rela es sociais uma vez que o capital simb lico constitu do pelo cr dito simb lico que o grupo abona ao homem hon
233. gos sociais Nessa vertente Bourdieu 2006 p 145 assinala que na luta pela imposi o da vis o leg tima do mundo social os agentes det m um poder propor o de seu capital quer dizer em propor o ao reconhecimento que recebem de um grupo A despeito do aparente e suspeitoso interesse e apoio dessas autoridades militares tais medidas e aprecia es n o chegaram a exercer o efeito desejado naquele momento e como causa bem prov vel disso esteve justamente o que apontou o discurso das enfermeiras entrevistadas os mecanismos da domina o masculina Ali s na ocasi o da convoca o dessas enfermeiras n o chegaram elas a oferecer um risco t o acentuado para a feminiliza o do espa o militar uma vez que o estatuto das for as n o combatentes do pessoal que integra os servi os de sa de militar em tempo de guerra sempre permitiu que as mulheres estivessem presentes nas frentes de batalha e compartilhassem os perigos e os sofrimentos dos combatentes No entanto a mesma permissividade poderia causar prov veis desajustes em tempo de paz OLIVEIRA 2007 p 135 6 Ademais a id ia de fazer carreira no Servi o Militar soava para as codifica es da poca como pouco feminina e at deslocada De uma forma ou de outra esta vis o aparentemente id lica de que os chefes militares gostariam que elas fossem mesmo reaproveitadas teria seus emba amentos Nem s de aliados se fazem os jogos sociais mas
234. guerra 34 Ora pois o caminho te rico metodol gico escolhido tem respaldo na pr tica proposta pela Hist ria Nova que al m de dar voz a quem se encontra em sil ncio alterou significativamente o conceito de documento atrav s da diversifica o de objetos de estudo como foco de interesse historiogr fico Assim passaram a ganhar vulto para a Hist ria da Enfermagem a identidade profissional os uniformes as rela es de poder as quest es de g nero o processo de trabalho entre outros BURKE 1992 p 9 14 PADILHA BORENSTEIN 2006 p 535 elementos estes que se fundem coincidentemente e proficuamente no tipo de abordagem pretendida neste trabalho Para se analisar e se discutir os resultados foram utilizados alguns conceitos da Teoria do Mundo Social de Pierre Bourdieu entre eles os de campo espa o social capital habitus poder luta e viol ncia simb lica e especialmente o de domina o masculina conceitos estes que foram desenvolvidos na perspectiva de que a a o social governada por disposi es adequadas pela imers o cont nua em jogos sociais Ademais Bourdieu compreende que os agentes est o imersos espacialmente em determinados campos sociais e que a posse de grandezas de certos capitais e o habitus de cada agente condiciona seu posicionamento espacial e na luta social identifica se com sua classe social Ele tamb m defende a id ia de que para o agente ocupar um espa o preciso que ele conhe a
235. hamente flexionado no masculino 182 Este grifo meu 183 Arquivo dispon vel em http www camara gov br internet sileg Prop Detalhe asp id 207019 Acesso em 8 out 2010 205 Isto tal publica o deixa ver uma esp cie de apoio s enfermeiras que atuaram no 1 Grupo de Ca a por enfermeiras que detinham o poder de enunciar e ditar o que interessava ou n o enfermagem brasileira da poca num ve culo de expressivo apelo s cio profissional a RBEn Ademais ao se fazer refer ncia s enfermeiras do 1 Grupo de Ca a como nossos irm os as outras enfermeiras as da FEB n o foram tidas como integrantes dessa fam lia Neste caso particular este pode ser um resultado de uma luta propriamente simb lica em que as agentes envolvidas quer individualmente quer coletivamente disputavam a conserva o das rela es de for as e vantagens simb licas para um ou outro grupo BOURDIEU 2006 Sobre a apresenta o de algumas enfermeiras febianas rec m convocadas para o Servi o Ativo tem se a pr xima fotografia que registra a presen a de 15 mulheres fardadas aproximadamente algumas sorrindo para a objetiva De um modo geral o grupo aparenta trangiuilidade e contentamento O espa o fotogr fico representado na foto indica tratar se de um corredor de acesso localizado no pr dio da 1 Regi o Militar no Rio de Janeiro o que foi confirmado diretamente com duas febianas 184 A impress o deste inter
236. i documentada a cess o das entrevistas para o Centro de Documenta o da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro O projeto de pesquisa recebeu parecer favor vel do Comit de tica em Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna Nery e Hospital Escola S o Francisco de Assis sob o n mero de protocolo 68 08 em 27 de agosto de 2008 Cabe participar que as enfermeiras febianas concordaram em serem identificadas nesta pesquisa por seus pr prios nomes Em apoio a este estudo utilizo me das garantias previstas na Lei n 7 524 86 que assegura liberdade de opini o para militares da reserva e ou reformados sobre BL Ad mn r 1 pensamentos ou opini es de cunho pol tico ou filos fico Ao longo de quase todo o texto fiz uso do nome que as enfermeiras da FEB tinham quando da sua convoca o para a guerra para que n o houvesse confus es com as altera es de nome que tiveram no p s guerra 17 Assinada em 17 de julho de 1986 esta lei considera o seguinte em seu artigo primeiro Respeitados os limites estabelecidos na lei civil facultada ao militar inativo independentemente das disposi es constantes dos 51 Al m das entrevistas foram utilizadas fotografias e ilustra es como fontes prim rias As fotografias em especial ofereceram acesso a aspectos do passado que outras fontes n o alcan aram especialmente nos casos em que os textos dispon veis ou foram poucos ou insuficientes Assim
237. i fazer medicina e se dedicou psiquiatria Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Assim ap s a guerra um grupo de enfermeiras febianas foi contratado para trabalhar como civis no Servi o de Sa de do Ex rcito outras foram re Jempregadas em diversas a ee 102 reparti es do pa s uma parte retomou sua vida dom stica e algumas foram reformadas Ali s esta ltima situa o a princ pio fora resultado do tipo de trabalho que elas tiveram nos hospitais de campanha pelas in meras horas de um trabalho tenso e cont nuo o que favoreceu o risco de adoecimento e de acidentes As falas que se seguem esbo am um pouco os motivos das reformas de algumas delas Na guerra a Graziela escorregou numa t bua que servia de ponte e bateu com a cabe a no ch o e rachou a coluna E mandaram ela de volta para o Brasil Uma outra foi a Guilhermina que foi jogada de encontro a uma mesa por causa da explos o de uma granada o que afetou a coluna dela Ela ficou semiparal tica A Maria de Lourdes Merc s ficou neur tica Ela foi andar de avi o com um aviador doido varrido que a levou para cima das linhas alem s sob tiros A mulher ficou feito louco dentro do avi o Vamos embora vamos embora vamos embora 102 A reforma a aposentadoria definitiva de militar ao qual faltam condi es f sicas mentais ou morais para o Servi o Militar Ela pode ocorrer a pedido ou ex officio FERREIRA 20
238. ia a preservar a ordem interna Por sua vez Juscelino demonstrou acentuada tend ncia a indicar militares para ocupar postos governamentais estrat gicos como na Petrobr s e no Conselho Nacional do Petr leo Ali s durante seu mandato 1956 1961 JK assinou uma s rie de vantagens aos militares a fim de atender reivindica es espec ficas da corpora o militar inclusive no plano dos vencimentos e de equipamentos mui provavelmente em reconhecimento ao apoio do Ex rcito no Golpe Preventivo FAUSTO 1999 p 424 8 8 O lema do Governo JK era 50 anos de progresso em cinco anos de governo cuja pol tica econ mica foi definida num programa que abrangeu 31 objetivos distribu dos em seis grupos transportes alimenta o energia ind strias de base educa o e a constru o de Bras lia sua meta sintese FAUSTO 1999 190 Inclusive em dada ocasi o Juscelino chegou a manifestar que estava chocado com o 159 e tomou algumas esquecimento a que dez anos depois eram relegados os pracinhas medidas que beneficiaram os ex combatentes como por exemplo o in cio da constru o de um n cleo residencial composto por dez blocos de edif cios de quatro pavimentos no bairro de Benfica na Capital Federal e outro conjunto com casas populares no bairro de Cai ara em Belo Horizonte Na mem ria dos brasileiros os anos do Governo JK s o lembrados como um per odo de otimismo associado a grandes realiza e
239. ia consegii ncias radicais enfermagem e aos servi os de sa de j que o conflito afetaria a cada homem mulher e crian a dos pa ses beligerantes DONAHUE 1985 p 410 Com a declara o de guerra dos Estados Unidos ao Jap o motivada a princ pio pelo bombardeamento a reo japon s base naval americana em Pearl Harbour Hawai e com a declara o de guerra da Alemanha e It lia em repres lia aos Estados Unidos planos norte americanos passaram a ser formulados a fim de promover um registro de enfermeiras de determinar seu papel e o da enfermagem no programa de defesa dos Estados Unidos e de proporcionar servi os de enfermagem suplementares aos hospitais e organiza es de sa de p blica daquele pa s DONAHUE 1985 p 410 1 MCCANN 1995 poca 1941 42 as lideran as de enfermagem norte americanas entenderam ser necess rio persuadir o governo de que a necessidade de ajuda de fundos federais para a forma o de enfermeiras era uma medida leg tima e imperativa de defesa o que foi acatado pela primeira vez na hist ria daquele pa s Mais tarde em 1943 foi criado o Corpo de Enfermeiras Cadetes dos Estados Unidos que consistia num programa b sico de 30 meses com cotas estudos e uniformes gratuitos pagamento mensal e bolsa de estudo de p s gradua o para as enfermeiras graduadas As in meras estudantes que realizaram o curso se comprometiam a servir onde fossem requeridas tanto em organiza es civis quanto mi
240. ia de Niemeyer Portocarrero Em nota publicada no jornal Di rio de Not cias do mesmo dia fez se men o de que seriam condecoradas 30 febianas ex alunas do curso de enfermagem dessa entidade 212 e que o evento contaria com a presen a de samaritanas e volunt rias socorristas autoridades civis e militares entre as quais a do marechal Mascarenhas de Moraes e da oficialidade do Servi o de Sa de do Ex rcito Na imagem de foto jornal v se a enfermeira reformada Bertha Moraes enquanto recebe solenemente a Medalha de Bronze de Bons Servi os Vale dizer que os emblemas militares por seu turno engendram uma cultura peculiar que promove uma mitologia pr pria para a constru o de um senso de hero smo um modo algo eficaz de distinguir quem se fez merecedor e de se consagrar os seus feitos Nesse sentido o recebimento de emblemas medalhas por um determinado grupo permite de certo 212 Uma listagem com o nome das que seriam condecoradas neste ritual foi publicado numa nota jornal stica da poca que foi localizada como recorte no acervo pessoal da enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero cuja fonte n o foi poss vel identificar 213 N o foi poss vel identificar o jornal e a data exata em que foi publicada esta foto 214 N o foi poss vel esclarecer a identidade da outra mulher presente na foto que colocava a medalha no peito da febiana condecorada Salvo melhor ju zo trata se de Jacyra de S
241. ico para aquelas mulheres naquele tempo Al m do que os problemas dos direitos sociais e trabalhistas eram enfrentados por toda a classe trabalhadora brasileira poca At a d cada de 1960 por exemplo os trabalhadores rurais n o desfrutavam praticamente de direito trabalhista algum Mesmo os trabalhadores urbanos tinham dificuldades na conquista de direitos sociais como aposentadoria descanso remunerado indeniza o por acidentes de trabalho etc O pr prio uso jur dico das express es benef cios e vantagens j qualificavam seu destinat rio como um cidad o diferente dos outros FERRAZ 2003 p 290 1 Dessa forma tal concep o qualificava os direitos sociais no pa s como privil gio e n o como direito Na pr tica os trabalhadores ganhariam seus direitos pela concess o de leis sociais por parte do governo e n o porque as conquistaram na luta pol tica e nos sindicatos A consequ ncia mais flagrante foi a divis o das classes trabalhadoras urbanas entre aqueles que aceitavam os direitos sociais como uma concess o do Estado evitando a luta pol tica aberta e aqueles que somente concebiam esses direitos como uma conquista fruto de mobiliza o lastreada no conflito social Portanto n o foi mera coincid ncia que a op o hist rica da maioria dos ex combatentes tenha sido a mesma da maioria dos trabalhadores urbanos em todo o pa s CARVALHO 2001 p 114 5 124 195 Nessa esfera a conquista da reinclu
242. idar com doentes nos hospitais e aproveitando o clima de tens o com a possibilidade de o pa s enviar tropas para combater na Europa trein las para os hospitais da cidade quando ocupariam o lugar de enfermeiras que possivelmente se engajariam para servir na retaguarda das tropas no front Nessa atmosfera de guerra o governo tamb m passou a treinar pilotos e empres rios brasileiros doaram avi es 76 para o Minist rio da Aeron utica Um deles foi denominado Anna Nery e batizado por La s Netto dos Reys diretora da Escola poca e por seus doadores COELHO 1997 p 193 conforme ilustrado na fotografia a seguir Figura n 05 Cerim nia de batismo do avi o ambul ncia Anna Nery Aeroporto Santos Dumont Rio de Janeiro 1943 In COELHO Cecilia Pecego cols Escola de Enfermagem Anna Nery sua hist ria nossas mem rias Rio de Janeiro Cultura M dica 1997 p 193 Al m da contribui o dessas escolas para a guerra foi criado em 17 de julho de 1942 em decorr ncia de um acordo firmado entre os Estados Unidos e o Brasil o Servi o Especial de Sa de P blica SESP que com o avan o da Segunda Guerra Mundial visou atender aos trabalhadores que atuavam na extra o de materiais estrat gicos ao esfor o de guerra e que No centro da fotografia est La s Netto dos Reys e sua direita o magnata Assis Chateaubriand A cerim nia de batismo desse avi o ambul ncia da For a A rea Brasileira cont
243. ificou a enfermagem executada por homens quando tentou conferir predicativos feminilizantes para caracterizar a profiss o Em destaque alguns trechos de seu texto N o somente a nossa experi ncia nos campos da It lia mas a de todos os demais pa ses que afirma peremptoriamente a insubstitu vel qualifica o da mulher no delicado mister de prestar assist ncia a enfermos e feridos O b sico sentimento materno que estrutura a personalidade ps quica da mulher a mais sutil delicadeza de manuseio a capacidade inconfund vel de dedicar se ao que sofre gerando fortaleza de nimo e resist ncia f sica insuspeitadas fazem da mulher o elemento predestinado miss o da enfermagem A enfermagem masculina por mais eficiente que seja falta lhe essa suave delicadeza essa caracter stica de poder dobrar se sobre a alma sofredora e infundir lhe insinuando se pela leveza do toque e pelo carinho no trato uma nova vontade de viver Quando essas qualidades inatas est o servidas por indispens vel efici ncia t cnica elas obram militares Confortam na dor e reanimam na desesperan a com m os h beis e sutis MELLO 1954 v 1 p 670 O referido autor complementa tais id ias da seguinte forma Os mais adiantados meios cient ficos do mundo reconheceram de muito a import ncia e justeza desses argumentos entregando a enfermagem de suas institui es hospitalares ao profissional do sexo feminino O Servi o de Sa de organiza o
244. ileira Nuphebras que ajudaram in diretamente no desenvolvimento do estudo Ao Ex rcito Brasileiro pela boa marcante vantajosa inspiradora e inquietante presen a na minha trajet ria pessoal e profissional Aos meus amigos de caserna Josefar Reis de Toledo por ter me apresentado ao Nuphebras e comungado de boas id ias e an lises sobre a pesquisa em Hist ria da Enfermagem e Leonardo Jos de Souza Matos pela disponibilidade e ajuda fundamental na descoberta de preciosidades nos guardados do Col gio Militar de Belo Horizonte professora Margarida Maria Rocha Bernardes parceira e colaboradora na obten o de proveitosas fontes de pesquisa Ao Roberto Graciani que dedicou os seus ltimos anos de vida ao resgate da mem ria dos veteranos brasileiros que participaram da Segunda Guerra Mundial e que com fidalguia ajudou me a encontrar documentos importantes para esta pesquisa s enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira Carlota Mello e Roselys Teixeira Gazzinelli que me ajudaram sobremaneira na realiza o deste estudo em especial Elza Cansan o Medeiros in memorian e Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero pela acolhida carinho aten o e disposi o nas in meras visitas e telefonemas que fiz Sem d vida as senhoras proporcionaram a este relat rio um lucro mpar Na medida em que o tempo vai se distanciando e os acontecimentos v o ficando para tr s muitas mem rias se tornam anuvi
245. iliares constatou se que elas chegaram mesmo a trabalhar em servi os administrativos de natureza mais burocr tica e inclusive com cargos de chefia enquanto que algumas outras em servi os t cnicos mais voltados para a pr tica de enfermagem Chama a aten o que de todas as febianas convocadas nenhuma buscou obter o diploma de enfermeira expedido por uma escola superior de enfermagem o que as colocaria sie 195 3 de certa forma numa posi o mais vantajosa no campo pois a posse do capital cultural institucionalizado tem o efeito simb lico de conferir reconhecimento ao seu portador posto 1 Trecho de entrevista arquivada no Centro de Mem ria Dra Nalva Pereira Caldas da Faculdade de Enfermagem UERJ 195 A exce o de duas enfermeiras Antonieta Ferreira profissional formada pela Cruz Vermelha Brasileira e Maria Aparecida Fran a pela Universidade de S o Paulo que mesmo antes de participarem da guerra j haviam realizado o curso de enfermagem 222 que o diploma acad mico tido como s mbolo de um saber v lido como um objeto m gico um amuleto BOURDIEU 1992 p 82 Em contrapartida se algumas fronteiras foram moldadas e subsistiram entre as enfermeiras militares e as diplomadas civis as pr prias trajet rias profissionais tra adas pelas febianas e seus argumentos tamb m definiam essa ordem das coisas Exemplo disso a resposta enf tica de uma delas para os motiv
246. ilitar dom nio do idioma oficial apar ncia pessoal padr o tnico h bitos de consumo qualidade dos uniformes e da lingerie al m de quest es relativas hierarquia 79 Portanto no Teatro de Opera es as enfermeiras brasileiras ocuparam os espa os sociais consentidos pelos detentores do poder o que se configurou como uma estrat gia de condescend ncia pela denega o simb lica do poder BARREIRA BAPTISTA 2002 p 211 2 BERNARDES LOPES SANTOS 2008 Ademais as enfermeiras brasileiras passaram a usar os produtos dos norte americanos uniformes equipamentos medicamentos artigos de toalete etc o que acabou por influenciar simbolicamente na configura o de sua pr tica uma vez que o contato cont nuo com o padr o americano tendeu a inculcar disposi es as quais determinaram a incorpora o de novos signos ou seja tudo aquilo englobado na rubrica das maneiras de se comportar de se vestir de trabalhar de se postar pois ao longo do tempo as melhores estrat gias acabam por ser adotadas pelos grupos e s o incorporadas pelos agentes como parte de seu habitus SANTOS et al 2008 74 Trecho da reportagem jornal stica intitulada Virg nia Maria Portocarrero serviu na guerra mundial Do que se conseguiu identificar desta fonte encontrada no acervo pessoal da enfermeira destacada na reportagem o nome da coluna 4 entrevistada da semana a data da publica o 8 de dezembro de 1957 o nome da prov ve
247. ilitares mas da Reserva de 2 Classe Condi o esta que como abordado n o dava direito a elas de poderem retornar ao Servi o Ativo al m de remunera o regular entre outros Dessa forma elas somente faziam parte de um corpo de reserva que poderia ou n o ser mobilizado em caso de guerra futura Ademais essa ruptura delas do arcabou o jur dico legal do Ex rcito parecia ser o bastante para o contexto e para um campo cujas estruturas simb licas bem sacramentavam a distin o entre os sexos CAMERINO 1983 p 120 1 Por m como escreveu umas das febianas os anos se passaram e a luta das colegas para regularizarem a situa o n o foi infrut fera CANSAN O 2003 p 259 Sobre o empenho nesta luta que rendeu frutos algumas febianas se destacaram das outras Todo mundo queria voltar ativa mas a campanha contra era grande E a Vassimon conseguiu Na realidade deve se a Vassimon a lideran a desse movimento de retorno de efetiva o da turma como militar Ela quem ia para a C mara chatear e futucar com os deputados com os senadores e com todo o mundo Ela vivia pedindo a todo mundo Eram umas tr s ou quatro s que estavam nesse movimento mas a l der a bola mestra era ela Maria Jos Vassimon de Freitas O Congresso era aqui n Era f cil de a gente ter acesso E cada uma de n s que tinha amizade com algu m do poder a fazendo o trabalho Enfermeira Elza Ca
248. ina v 8 n 1 p 13 19 dez 2006 292 PERROT Michelle As mulheres ou os sil ncios da hist ria Bauru Edusc 2005 Minha hist ria das mulheres S o Paulo Contexto 2007 Mulheres p blicas S o Paulo Unesp 1998 Os exclu dos da hist ria oper rios mulheres e prisioneiros Rio de Janeiro Paz e Terra 1988 PINHEIRO Maria Esolina Samaritanismo objetivos e atividades da Cruz Vermelha No es de t cnica e de aplica es do Servi o Social Prepara o civil Defesa civil Rio de Janeiro Typografia Baptista de Souza 1942 PINHEIRO Maria Rosa Sousa Problemas de enfermagem no Brasil Rev Anais de Enfermagem Rio de Janeiro v 4 n 4 out 1951 PINTO Louis Pierre Bourdieu e a Teoria do Mundo Social Rio de Janeiro Funda o Get lio Vargas 2000 POLLAK Michael Mem ria Esquecimento Sil ncio Estudos Hist ricos Rio de Janeiro v 2 n 3 p 3 15 1989 PORTO Fernando Os ritos institucionais e a imagem p blica da enfermeira brasileira na imprensa ilustrada O poder simb lico no click fotogr fico 1919 1925 Tese Doutorado em Enfermagem Escola de Enfermagem Anna Nery Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2007 QU TEL Claude As mulheres na guerra Trad Ciro Mioranza v 1 2 S o Paulo Larousse 2009 RABOSSI Eduardo Algunas reflexiones In YERUSHALMI Yosef H et al Usos del Olvido Buenos Aires Nueva Visi n 1989 RENOVATO Rog rio Dias BAGNATO Maria
249. io do presidente Get lio Vargas em agosto de 1954 acentuou se ainda mais as tens es existentes entre os grandes partidos pol ticos do Brasil Assim o cen rio pol tico nacional dividiu se em campos opostos de um lado os varguistas que se denominavam nacionalistas e do outro os que fizeram oposi o ao ex presidente Vargas Foi nesse clima de alta tens o que teve in cio mais uma campanha eleitoral no pa s em 1955 SANTA CRUZ 2005 p 82 O m dico mineiro Juscelino Kubistchek de Oliveira sujeito carism tico de estilo moderno e com id ias avan adas despontou como favorito na corrida presidencial N o obstante a UDN n o aceitava que um candidato apoiado pelo PTB seu grande rival fosse eleito Ademais o candidato vice presid ncia lan ado pelo PTB Jo o Goulart considerado o principal herdeiro de Vargas era acusado de defender id ias esquerdistas muito radicais e o apoio do PCB a Juscelino Kubistchek JK fez com que os udenistas passassem a temer ainda mais o avan o da esquerda no Brasil Entretanto JK e Goulart obtiveram resultado favor vel na corrida eleitoral o que provocou uma rea o udenista que tentou com o apoio de militares e pol ticos influentes uma interven o que pudesse impedir a posse dos vitoriosos BIROLI 2004 SANTA CRUZ 2005 p 83 5 Em contrapartida o general Henrique Duffles Teixeira Lott ministro da Guerra e figura chave do governo n o apoiou esta iniciativa e for ou a ocorr ncia
250. ir da enfermagem de alto padr o A Lei n 775 49 mostra oficial de eleva o de sua categoria Em 1956 o Servi o de Sa de do Ex rcito recebeu o primeiro grupo de enfermeiras oriundas da 245 Escola de Enfermagem Anna Nery Esse conjunto est no HCE atuando com bons resultados PONCE 1961 p 104 5 Em contrapartida a quest o da incorpora o de enfermeiras nos quadros militares n o foi de todo un nime posto que certas restri es foram tomadas pelo mesmo autor N o vejo a necessidade e nem vantagem na militariza o da enfermagem de naipe feminino em tempo de paz Na guerra sim Militarizando as surgiram certos problemas que atualmente n o existem A meu ver deve se procurar melhorar como atrativo para recrutamento os proventos do pessoal civil de enfermagem e dar lhe estabilidade No entanto se as Diretorias de Sa de das For as Armadas julgarem conveniente poder se criar o Quadro de Oficiais Enfermeiras PONCE 1961 p 105 Em defesa da id ia de cria o de um corpo de enfermeiras militares inclusive no mbito deste Congresso uma enfermeira febiana ressaltou seu direto envolvimento Eu continuei a fazer o movimento a me bater para que o Ex rcito tivesse seu quadro feminino Tanto que desde 1959 quando apresentei o projeto para a cria o do Corpo Auxiliar Feminino para as For as Armadas em Porto Alegre eu vivi em cima Eu queria q
251. ira Alkmin em destaque Atr s deles est um grupamento de homens em trajes civis possivelmente todos pra as e membros da Associa o O que bem chamou a aten o no texto fotogr fico foi o fato da presen a feminina solit ria de uma enfermeira febiana e da mesma ter se apresentado fardada ao desfile Sobre isto est o os seguintes recortes Acabou a guerra acabou a vida militar Por m nas datas c vicas era permitido o uso de farda a qualquer oficial da Reserva Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Nessas datas a gente podia usar a farda Sete de Setembro representa o da FEB Esta a Ilza Alkmim Ela tinha mania de se apresentar fardada A Ilza gostava de ir fardada aos lugares Enfermeira Carlota Mello Fazer se fardada e mostrar se em destaque num desfile c vico militar significa informar aos espectadores que aquela pessoa ocupa algum espa o e goza de algum status naquele grupo posto que o consumo mais ou menos ostentat rio do espa o uma das formas por excel ncia de ostenta o e ou de simula o de poder BOURDIEU 2007b p 160 3 Ademais os efeitos de sua presen a no meio de homens her is da Na o tr s a id ia da re constru o e da reJapropria o de uma identidade de enfermeira militar ao tempo que promove um senso de pertencimento s For as Armadas ao fazer se ver e fazer se crer 129 Cabe esclarecer que logo ap s o t rmino da guerra
252. ira Carlota Mello Na d cada de 1950 o pessoal subalterno das For as Armadas era em geral de n vel educacional baixo quando muito possu a o prim rio Os oficiais das Armas o eram na categoria de ensino secund rio uma vez que o Estado se encarregava de sua forma o nas Escolas Preparat rias no Col gio Naval e nas Academias Militares e Escola Naval J os oficiais dos Servi os de Sa de m dicos farmac uticos e dentistas eram recrutados no n vel de ensino superior No que diz respeito aos militares que exerciam a enfermagem no mbito do Ex rcito Brasileiro de ent o h registros que mencionam que esta era uma atividade exercida por soldados cabos e sargentos enfermeiros estes formados pela Escola de Sa de do Ex rcito desde 1921 De fato a racionaliza o de recrutamento para obten o de pessoal qualificado para os Servi os de Sa de das For as Armadas era preocupa o evidente de suas lideran as e foi justamente sob tal circunst ncia que as febianas h pouco convocadas tiveram que passar pela prova o de ter que demonstrar sua compet ncia no desempenho n o s de atividades militares mas tamb m de pr tica de enfermagem sem terem frequentado um curso de forma o ao oficialato e sem serem de fato enfermeiras o que num primeiro momento possa 221 ter interferido na decis o de seus chefes para que elas fossem aproveitadas em trabalhos t cnicos Os trechos que se seguem ratificam um pouco d
253. iras ao voluntariado e poss vel participa o delas na guerra estavam o desejo de atender ao chamamento p trio o mais comum em seus discursos o mpeto aventureiro de se lan ar numa guerra a possibilidade de emancipa o feminina a inclus o num campo que antes n o admitia mulheres o do Ex rcito a falta de op o no mercado de trabalho e ainda e n o menos importante a urg ncia de seguir por paix o amor seus namorados que iriam para a guerra Outrossim o que se percebe genericamente seja de suas falas seja de seus registros escritos e fotogr ficos um senso de dedica o e contentamento prontid o para a guerra Ali s historicamente as guerras patri ticas tendem a provocar o entusiasmo das mulheres apesar de serem atividades das quais elas sempre e em todos os lugares foram exclu das ocasi o inclusive em que elas nunca figuraram como protagonistas salvo algumas poucas exce es PERROT 1998 p 136 Sobre esse entusiasmo constatado e deveras reproduzido em seus discursos est destacado o seguinte excerto E foi assim que a mulher brasileira que sempre foi alicerce desta p tria livre e forte n o podia nesse momento cruciante se furtar ao chamamento p trio Em meu caso particular a revolta foi grande N o havendo mais em minha fam lia homens que pudessem combater o inimigo pois meu irm o j havia falecido e meu pai estava bastante idoso conscientizei me pois de que cabia a MIM a obriga
254. iras ocuparam na imagem e que esta foto foi inclusive publicada pouco tempo depois na revista do pr prio Col gio h que se convir que o registro fotogr fico serviu como meio prof cuo para eternizar e solenizar este momento da vida social dessas febianas o que tamb m serviu para sancionar a presen a feminina naquela unidade militar Ao rever este registro uma das febianas fotografadas comentou que Por isso que eles seus chefes diziam que eu era disciplinada e disciplinadora Olhe o jeito comportado que eu estou sentada toda retil nea Eles diziam que eu era isso mas n o era pra ser risos Enfermeira Carlota Mello Em adi o s impress es retidas nesta fala est o elogio recebido por ela mesma da chefia da Se o de Sa de do CMBH Ei lo 2 Ten CARLOTA MELLO Auxiliar direta desta Chefia encarregada que da burocracia da Se o de Sa de um exemplo de pontualidade e de interesse pelo servi o Disciplinada e disciplinadora al m de manter em ordem e em dia todas as suas obriga es ainda disp e de tempo para fiscalizar e dirigir os servi os da enfermaria Est sempre pronta para colaborar em outros setores com boa vontade e efici ncia INDIVIDUAL A posi o correta e digna condizente com um comportamento que exalte o sentimento de honra dignidade e responsabilidade para ser visto aos olhos dos outros onde importante 20 Uma fotomontagem desta fotografia foi
255. ircula o e a distribui o de suas pe as E no lar aonde se faz a divis o sexual do trabalho e do espa o social onde se tecem as especificidades dos pap is de cada sexo aonde se definem o lugar e as possibilidades da mulher Com base neste tipo de men o n o dif cil entender os motivos em que se apoiaram as fam lias de algumas enfermeiras ao se oporem ades o naquele voluntariado E bem verdade que no caso de outras enfermeiras a luta pelo convencimento familiar foi bem mais amena e discreta ou at n o chegou a existir Ali s o voluntariado como condi o inteiramente excepcional criou oportunidades para as aventuras de se romper os elos que as mantinham distantes do mundo da guerra e de se colocarem fora de lugar e engajadas na constru o de uma hist ria diferente E aceit vel presumir que o Ex rcito n o estava preparado para receber mulheres enfermeiras em seus quadros pois tudo foi feito s pressas como o treinamento e o uniforme al m disso o comando da For a n o conferiu a elas posto militar o que significa dizer que Trecho de entrevista arquivada no Centro de Mem ria Dra Nalva Pereira Caldas da Faculdade de Enfermagem da UERJ 92 elas eram tidas como volunt rias uniformizadas e n o oficialmente e concretamente militarizadas Ou seja elas foram classificadas e nomeadas como enfermeiras da Reserva de 3 Classe do Ex rcito ao t rmino do Curso CEERE o que n o conferi
256. isados por Erving Goffman passou por esquemas de homogeneiza es de condutas e de pensamentos a fim de que incorporassem um esp rito de corpo um senso que se traduziria em apego e zelo pela institui o e por extens o P tria O trecho a seguir extra do de uma mensagem da enfermeira Ol mpia de Ara jo Camerino escrita s v speras do embarque para a guerra demonstra um pouco das apropria es que elas tomaram para si nessa apari o p blica para a guerra Mas temos a certeza de que os sofrimentos a canseira as agruras que possamos sofrer de nimo levantado ser o igualmente sentidos e vividos por todas as nossas irm s que ficaram no lar na f brica na escola em plena batalha para que fecundo e luminoso seja o destino hist rico do Corpo Expedicion rio Nunca que desertar amos deste lugar mais do que um pedestal onde fulgura a gl ria ele uma altar onde n s as enfermeiras expedicion rias iremos resolutamente comprovar diante da P tria as 7 Um local de resid ncia e trabalho onde um grande n mero de indiv duos com situa o semelhante separados da sociedade mais ampla por consider vel per odo de tempo leva uma vida fechada e formalmente administrada GOFFMAN 2003 p 15 19 105 virtudes da mulher patr cia na bravura na ren ncia no sacrif cio no endoidecido amor pelo Brasil CAMERINO 1983 p 31 Pelos ditos e n o ditos dentre as motiva es da ades o de mulheres brasile
257. ita de mulheres que participaram dos trabalhos de guerra nos hospitais de campanha Apesar de se p r em aparente defesa sua capacidade de a o e at de dar a entender que elas tinham alguma distin o a ser reconhecida n o deixa de ratificar o princ pio da inferioridade e dos limites da mulher nos espa os reservados aos homens 116 H que se considerar tamb m que a imprensa p s em evid ncia certos m ritos da atua o das febianas rec m desmobilizadas Em O Jornal um dos grandes ve culos jornal sticos da capital federal do pa s foi publicada uma mat ria com o t tulo Prontas as enfermeiras para novas miss es onde constou uma entrevista com duas enfermeiras que relataram um pouco de suas impress es da guerra A reportagem fez acompanhar a seguinte fotografia Figura n 08 Enfermeiras Antonieta Ferreira e Ilza Meira Alkmin em entrevista ao O Jornal O Jornal 13 de junho de 1945 Estampadas sorridentemente na foto est o as tenentes Antonieta Ferreira enfermeira profissional da Cruz Vermelha e Ilza Meira Alkmin volunt ria socorrista ladeadas de um rep rter a quem contaram alguns epis dios da experi ncia que tiveram durante um ano e seis dias no front ocasi o em que fizeram algumas men es autodefensivas sobre o trabalho do grupo 117 r As enfermeiras brasileiras n o foram aprender com as americanas E pena que alguns correspondentes tenham mandado dizer que n s n o sab amo
258. itares Texto Contexto Enferm Florian polis v 14 n 4 p 544 50 out dez 2005 Enfermeiras brasileiras e enfermeiras norte americanas no front da Segunda Guerra Mundial rela es de poder simb lico no cotidiano do trabalho Temperamentum Granada v 1 2008 BIROLI Flavia Liberdade de imprensa margens e defini es para a democracia durante o Governo Kubitschek 1956 1960 In Revista Brasileira de Hist ria online S o Paulo v 24 n 47 2004 BONNEWITZ Patrice Primeiras li es sobre a sociologia de P Bourdieu Petr polis Vozes 2003 BORGES Maria Elisa Linhares Hist ria amp fotografia Belo Horizonte Aut ntica 2005 BOURDIEU Pierre A distin o cr tica social do julgamento S o Paulo Edusp Porto Alegre Zouk 2007a A domina o masculina Trad Maria Helena Kuhner 4 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003 285 A economia das trocas ling sticas o que falar quer dizer 2 ed S o Paulo Edusp 1998 A economia das trocas simb licas S o Paulo Perspectiva 2005 A mis ria do mundo 6 ed Petr polis Vozes 2007b Contrafogos 2 por um movimento social europeu Trad Andr Telles Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001b Escritos de educa o Maria Alice Nogueira e Afr nio Catani Orgs 9 ed Petr polis Vozes 2007c Estruturas sociais e estruturas mentais In Teoria amp Educa o Porto Alegre n 3 p 113 9 1991 Medita es Pascalinas
259. itas Dirce Ribeiro da Costa Leite e Isabel Novais Feitosa De p Maria Jos Aguiar n o identificada Novembrina Augusto Cavalero n o identificada Helena Ramos Maria Bel m Landi Jurgleide Doris de Castro S lvia Pereira Marques Maria do Carmo Correa e Castro L cia Os rio e mais uma n o identificada 3 Cabe mencionar que o general Marques Porto foi quem se preocupou em conceder s febianas o posto de 2 tenente e fardamentos de servi o mais adequados e dignos durante a guerra no Teatro de Opera es O Clube Militar foi fundado em 26 06 1887 na poca do Segundo Reinado Adquiriu express o nos anos que se seguiram ao fim da Guerra da Tr plice Alian a quando os militares do Ex rcito passaram a pleitear maior espa o no cen rio pol tico do pa s Funcionou como uma esp cie de porta voz da oficialidade papel que manteve durante a Rep blica Velha TAVARES 2009 p 13 128 Esse capital social simb lico que elas buscavam acumular serviu inclusive para que passassem a pleitear a materializa o do reconhecimento que julgavam devido a elas mesmas por sua participa o nos hospitais de campanha Tanto assim que em of cio dirigido ao ministro da Guerra em novembro de 1945 Mascarenhas de Moraes chegou a solicitar a efetiva o das enfermeiras da FEB no Servi o de Sa de do Ex rcito Conforme mencionam as enfermeiras Ol mpia de Ara jo Camerino e Jacyra de Souza G es 1954 p 579 foram estas as pa
260. ito Ademais o fato de terem sido protagonistas da primeira experi ncia feminina no Ex rcito trouxe uma maior compet ncia para falar n o s de sua viv ncia pregressa neste campo como tamb m maior efetividade no seu discurso sobre a quest o de cria o de corpos militarizados com mulheres Sobre a sua participa o no evento e a repercuss o do trabalho apresentado uma enfermeira comentou o que se segue Foi Ol mpia quem me chamou Ela sempre nos chamava para essas coisas O congresso reuniu m dicos e n s fomos assistir O trabalho dela Ol mpia foi muito aplaudido O marechal Marques Porto presidente do congresso sempre nos prestigiou muito Por ele n s ficar amos na ativa mesmo Mas tinha general diretor de sa de e ele n o podia se manifestar acima de sua patente No congresso ele nos deu aten o e elogiou o trabalho apresentado Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero comum nas falas das febianas entrevistadas que Ol mpia de Ara jo Camerino foi uma figura importante em todo o processo de reinclus o delas no Servi o Ativo e que gozava de grande prest gio dentre os chefes militares como inclusive pode ser atestado na fotografia a seguir que estampa Ol mpia entre v rias autoridades civis e do alto escal o das For as Armadas 182 Figura n 16 Solenidade durante o Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Militar 1954 Acervo pessoal da s
261. ito h que se considerar que poca e desde sempre as enfermeiras diplomadas perduravam na luta para serem bem reconhecidas seja no campo da sa de seja no campo social Caberia mesmo Dire o daquela Escola a defesa dos interesses da profiss o no sentido de n o faz los Soldo o termo alusivo remunera o de militar Quantia b sica de refer ncia qual se acrescentam percentuais que variam com a categoria hier rquica especialidade tempo de servi o etc Essa colabora o com a Aeron utica ser objeto de aprecia o mais adiante 84 prejudicados ou desconsiderados mesmo sob aquelas circunst ncias de guerra e de apelo patri tico N o obstante era entre os ideais de servir p tria de servir ao pr ximo de concep o da profiss o como sacerd cio divino e ainda como extens o do papel de m e e de uma id ia sobre o lugar que caberia mulher subordinada ao homem e por extens o ao m dico que se definiam valores e ideais para a enfermagem tanto no discurso oficial como na pr pria auto imagem da profiss o evidente que esta imagem por fora e por dentro tinha fissuras e a pr pria possibilidade de as mulheres conquistarem um lugar junto ao Ex rcito e ter uma profiss o respeitada tornava este processo muito mais complexo e amb guo com consequ ncias sobre o processo de conquista de direitos e espa os na sociedade por parte delas A quest o aqui n o definir uma linha resu
262. ito Brasileiro uma vez que ideologicamente enfermeiras de guerra mobilizadas n o seriam mais necess rias em um novo 5 A explica o dessa periodiciza o de 1930 a 1964 para a Era Vargas est em Carvalho 1999 9 Aviso Ministerial n 217 185 reservado de 06 07 1945 21 mundo de paz Seu novo destino seria o retorno ao lar Com efeito tal situa o terminaria por obscurecer a representa o delas nos campos militar e social o que traria como consequ ncia um d bil re conhecimento acerca do que fora a atua o deste primeiro grupamento feminino de enfermagem no mbito do Ex rcito Brasileiro OLIVEIRA et al 2009b Desse modo que este grupamento passou a estar inscrito no hall das hist rias que conjugam enfermagem e guerra sendo neste estudo as agentes preferenciais das aprecia es e interpreta es c re constru das No transcorrer do texto foram identificadas com as seguintes denomina es enfermeiras da FEB enfermeiras febianas 2 enfermeiras do Ex rcito enfermeiras de guerra expedicion rias ou veteranas At aqui as vers es hist ricas sobre a atua o das enfermeiras da FEB foram de um modo ou de outro abordados anteriormente em outros estudos SILVA 1995 BERNARDES 2003 OLIVEIRA 2007 os quais se limitaram em recortes que iniciaram na mobiliza o delas em 1943 passaram pelo cotidiano delas nos hospitais de campanha e n o chega
263. iu no mbito da Academia Brasileira de Medicina Militar que com a 142 A cidade de S o Paulo fez 400 anos em 25 01 1954 Nas comemora es de seu 4 centen rio de funda o foram inaugurados na cidade a Catedral da S o Monumento s Bandeiras e o Parque do Ibirapuera sendo este o local onde foi realizado o ICBMM 174 aquiesc ncia do Minist rio das Rela es Exteriores chegou tamb m a endere ar convites especiais s na es amigas Anais do ICBMM 1954 v 1 pas Com este investimento as ades es ao Congresso atingiram o elevado n mero de 1 300 congressistas aproximadamente Entre os part cipes estavam delegados estrangeiros da Fran a Estados Unidos Chile Col mbia Peru Paraguai e Uruguai representa es do governo federal e estadual de institui es do pa s al m de militares de alta estirpe tais como o general Euclides Zen bio da Costa ministro de Guerra e representante do presidente da Rep blica no evento Anais do ICBMM 1954 v 1 p 36 Marcado por seu car ter internacional este congresso representou o primeiro do g nero no pa s e um dos maiores dos que j se realizaram no mundo conforme anunciou o governador do Estado de S o Paulo Lucas Nogueira Garcez na cerim nia de abertura em 11 de julho de 1954 Nesta mesma solenidade o general George E Armstrong diretor de Sa de do Ex rcito dos Estados Unidos chegou a expressar que sem d vida nos anos vindouros o historiador dir que a real
264. ive os guardados pessoais vestimentas medalhas objetos todos estes elementos ajudaram a dar sustenta o aos interesses da vers o hist rica aqui constru da 46 N o obstante foram tamb m considerados os documentos escritos oficiais e n o oficiais que tamb m tiveram grande utilidade no estudo entre eles constitui es decretos leis portarias projetos de lei estatutos di rios oficiais avisos ministeriais regulamentos atas boletins internos of cios partes anais de congressos memoriais programas lbuns livros raros prospectos cat logos jornais revistas relat rios entrevistas escritas textos de discursos letras de m sica folhas de altera es diplomas certificados e curr culos Nesse processo de coleta tive que travar contato com muitas pessoas pesquisadores enfermeiros historiadores bibliotec rios arquivistas militares ex combatentes familiares de algumas enfermeiras febianas e as pr prias febianas as quais me prestaram valiosas informa es sobre lugares e contatos que poderiam auxiliar na reuni o de fontes A internet e o correio eletr nico tamb m foram imprescind veis na acelera o de todo este processo No intervalo de setembro de 2007 a outubro de 2010 foram visitados os seguintes locais Biblioteca Nacional Biblioteca do Ex rcito Unidade PDC Biblioteca Setorial da Escola de Enfermagem Anna Nery UFRJ Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ci ncias Sociais UFRJ Bibli
265. ixarem a P tria para se irmanarem s incertezas e sofrimentos dos seus irm os combatentes 85 Figura n 09 Diploma honroso da 2 tenente enfermeira Ligia Fonseca 1945 Casa da FEB Belo Horizonte A concess o de um diploma mesmo que apenas honroso d ao seu portador a possibilidade de exigir benef cios materiais e simb licos N o obstante na defini o t cita do diploma ao assegurar formalmente uma compet ncia espec fica est a garantia da posse de uma distin o tanto mais ampla e extensa quanto mais prestigioso for este documento ao 35 Este diploma s foi recebido pelas enfermeiras da FEB na ocasi o de seu afastamento do Servi o Ativo devido ao fato delas n o estarem enquadradas entre os que foram convocados para o Ex rcito ap s o t rmino da guerra como aconteceu com alguns oficias O mesmo tipo de diploma foi tamb m recebido por funcion rios do Banco do Brasil que foram destacados para a ag ncia que funcionou junto For a Expedicion ria MORAES 2005 p 296 7 125 mesmo tempo imposs vel fazer qualquer exig ncia material sobre o que ele garante formal e realmente Guardadas as devidas propor es este efeito de imposi o simb lica garante uma compet ncia que se estende muito al m do que supostamente garantido por eles fazendo com que seus portadores sejam intimados a assenhorear se realmente dos atributos que estatutariamente lhes s o conferidos BOURDIEU 2007a
266. iza o desse Congresso foi um momento de maior import ncia nos anais da medicina militar do Brasil Anais do ICBMM 1954 v 1 p 60 67 Do total de inscritos apenas 60 foram de mulheres f o que equivaleu a aproximadamente 4 6 Deste n mero 60 14 eram enfermeiras da FEB Tal diferen a entre o p blico masculino e feminino era esperada para a poca e para aquele tipo de campo militar Mesmo assim h que se referir que no que diz respeito quest o do acesso ao 143 Sobre o p blico alvo de interesse o que constou no artigo 9 do Regulamento do ICBMM S o considerados membros efetivos do 1 Congresso Brasileiro de Medicina Militar a os m dicos farmac uticos e dentistas civis e militares da ativa e da reserva que mediante pr via inscri o satisfazerem as necessidades estabelecidas b os representantes oficiais das entidades oficias e cient ficas convidadas e devidamente credenciados Anais do ICBMM 1954 v 1 p 28 144 As mulheres que constaram como inscritas nos Anais do ICBMM eram enfermeiras da FEB n 13 enfermeiras militares estrangeiras n 2 enfermeiras diplomadas civis n 3 enfermeiras civis com outras forma es n 12 m dicas n 11 dentistas n 2 farmac uticas n 2 assistente social n 1 professora n 1 secret ria de Escola de Enfermagem n 1 e outras n o identificadas n 12 145 As febianas que tiveram seus nomes mencionados como membro do ICBMM foram Alice
267. ja cada enfermeira febiana que retornou da guerra portou consigo um capital simb lico que as distinguiu das demais enfermeiras do pa s Por certo suas experi ncias em situa es operativas junto ao Servi o de Sa de Norte Americano em muito se diferenciou das tidas pelas enfermeiras brasileiras que c ficaram E provavelmente tal assimetria provocou alguma intemp rie entre estes grupos Na constru o da reputa o das febianas no p s guerra imediato o Ex rcito a despeito da desmobiliza o processada garantiu tamb m alguns lucros simb licos para o grupamento Exemplo aparente disso o trecho do texto sugestivamente intitulado As enfermeiras cumpriram o seu dever publicado na revista Na o Armada de julho 1945 Com o drama internacional e as consegii ncias que evidentemente apressou para uma sociedade demasiado saudosista dos esplendores da v spera n o mais se trata de discutir a participa o crescente da mulher nas lides antes reservadas ao homem Sua intelig ncia e seu trabalho j n o constituem um caso parte que mere a uma classifica o especial o atributo de um s ogan O fato entra naturalmente no rol dos acontecimentos quotidianos perdendo seu ar isolado de novidade Seu hero smo sua capacidade de a o passam a ser t o habituais que n o mais provocam espanto ou considera es Este tipo de discurso mostra a institui o masculina como respons vel pelo abrigo da ofensa e da suspe
268. l rep rter que a entrevistou Domiciana e o poss vel nome do jornal Shopping Not cias 75 Trecho de entrevista arquivada no Centro de Mem ria Dra Nalva Pereira Caldas da Faculdade de Enfermagem UERJ 76 As enfermeiras norte americanas que trabalharam com as febianas tinham patente de coronel major capit o e tenente segundo consta em algumas das fontes consultadas 109 Inevitavelmente o habitus das enfermeiras febianas passou por um processo de atualiza o que foi fruto em grande parte da assimila o de outras culturas de novas tecnologias para desenvolver o trabalho profissional de enfermagem de terem trabalhado com equipes norte americanas preparadas e organizadas para o enfrentamento de situa es de guerra Naquela ocasi o as brasileiras tiveram acesso ao moderno sistema de sa de americano onde a penicilina o sangue a anestesia e os novos aparelhos eram at ent o desconhecidos Al m disso nos hospitais de campanha elas atenderam indistintamente brasileiros americanos ingleses alem es e italianos OLIVEIRA 2010 p 887 9 Assim n o foi somente o choque cultural o que se verificou naquela ocasi o mas tamb m os choques moral psicol gico ideol gico e sobretudo material com a gente e com as coisas do mundo desenvolvido As diferen as eram evidentes Na atualidade nossos hospitais ainda s o fechados por falta de verba enquanto que h praticamente 60 anos atr s os americanos mantinham os seus op
269. laborou um projeto na cria o de um Quadro de Enfermeiras Militares oficializado a fim de atender s necessidades do Ex rcito em melhores condi es pecuni rias do cargo e ao pa s quando preciso fosse Enquanto aguardamos a concretiza o desse projeto n s do Brasil ficamos na retaguarda dos demais pa ses evolu dos Sentimos certo a vossa retirada privando nos de vossa m o protetora O recorte a seguir tr s o testemunho de uma das febianas que participaram desta solenidade ao tempo que demonstra sua rela o pr xima com aquele marechal Eu fui nesta inaugura o do busto Foram umas quatro ou cinco enfermeiras Ele foi colega de turma da mam e de escola prim ria depois continuou com a amizade Ele tamb m foi muito amigo do meu pai Tanto que eu ia ser at afilhada dele quando nasci mas a minha tia pediu ao papai para ser minha madrinha Papai o chamava de marqu s A enfermeira Ol mpia Camerino tamb m era muito amiga dele Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero De certa forma a inaugura o do busto do ex comandante das febianas no hospital de maior import ncia do Ex rcito e as pr prias palavras do discurso de Altamira podem ser tidos como uma maneira de se evitar que o afastamento dos corpos mortais que durante um per odo encarnaram o grupo ou seja representantes chefes e porta vozes afete a exist ncia As sa 140 do grupo e da fu
270. lavras do ex comandante da FEB nesse pleito Considerando os humanit rios e patri ticos servi os desempenhados com abnega o e apreci vel efici ncia pelas enfermeiras da FEB conforme atestam seus chefes diretos e por mim assim reconhecidos julgo me no dever de remeter considera o e julgamento de Vossa Excel ncia o caso em apre o As mesmas enfermeiras relatam que ao ser consultado o diretor de Sa de do Ex rcito poca general Jo o Afonso de Souza Ferreira deu o seguinte despacho a efetiva o das enfermeiras seria um ato de plena justi a que viria prestigiar o Servi o de Sa de do Ex rcito CAMERINO G ES 1954 p 579 Mas controvertidamente outra enfermeira manifestou o seguinte Alguns ex chefes nossos tentaram mas n o conseguiram nada porque o diretor de Sa de do Ex rcito o general Souza Ferreira n o aceitou Era o diretor de Sa de quem mandava Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero A constata o do envolvimento desses chefes neste pleito refor ada com a fala de uma delas O general Marques Porto sugeriu que as enfermeiras da FEB permanecessem na ativa Ele apresentou qualquer coisa nesse sentido mas n o foi levado frente por causa do machismo Enfermeira Elza Cansan o Medeiros 129 Como se depreende da foto e das falas aqueles que possuem menor capital se submetem aos que o t m em maior amplitude pois o campo de for as limita sua entrada nos jo
271. le a men o de Ferraz 2003 p 138 para a id ia de que Dutra nunca havia manifestado apre o pelo envio da FEB guerra j candidato a presidente dirigiu o processo de retorno dos expedicion rios assinando medidas que significaram o amortecimento do impacto pol tico de sua volta ao pa s e na sua gest o presidencial nem os febianos militares nem os civis caso das enfermeiras febianas tiveram apoio ostensivo ou concreto E ainda o mesmo autor reafirma a grande influ ncia que a primeira dama tinha na gest o do marido Coincid ncia ou n o tr s anos depois da morte de dona Santinha foi promulgada uma lei que iria conferir s febianas o t tulo de oficiais da reserva de 2 classe do Ex rcito o que iria favorecer melhores argumentos para uma poss vel reinclus o delas no Servi o Militar Ativo da For a conforme ser analisado mais adiante Assim guardadas as devidas 2 Trata se da Lei n 1 209 de 25 10 1950 132 propor es que certos desafetos e argumentos desfavor veis chegaram a dificultar a possibilidade de reinclus o delas no Servi o Ativo do Ex rcito pelo menos naquele momento Outrossim esses constantes embates revelam que na luta pelo monop lio da legitima o de um grupo no espa o social e no campo em disputa decorre a imposi o de uma vis o de mundo que se pode dar mesmo por meio das afrontas de car ter pessoal e do insulto Portanto tornar reconhecida a representa o simb li
272. lia 21 11 16 Petr polis RJ Samaritana 2 Villar Mendes Franco Hilda Ribeiro 06 05 17 Conchas PR Samaritana Hospital Militar de Curitiba e Policl nica Central do Ex rcito Ilza Meira Alkmin 08 12 18 Diamantina VS Col gio Militar de Belo MG Horizonte Isabel Novais 17 08 22 Propri SE VS Posto M dico da Praia Vermelha Feitosa Jacy Chaves 10 03 16 Curitiba PR Samaritana Hospital Militar de Curitiba Lasser Jacira de Souza 09 01 10 Santana de VS 2 G is Ipanema AL Jandyra Faria de 16 12 22 Itaparica BA VS Posto M dico da Praia Vermelha Almeida e Col gio Militar do Rio de Janeiro Jandira Meireles 2 Cachoeira BA VS Hospital Geral de Salvador Mendon a Joana Sim es de 23 07 22 Riach o SE Samaritana Hospital Central do Ex rcito Ara jo Instituto Biol gico do Ex rcito Policl nica Central do Ex rcito e Posto M dico do Minist rio da Guerra RJ Jurgleide Doris de 02 10 17 Cruzeiro do Sul VS Policl nica Central do Ex rcito Castro C sar de AC Oliveira Lenalda Campos 09 03 22 Capela SE VS Hospital Central do Ex rcito Duboc Lygia Fonseca 05 03 02 Tr s Cora es VS Escola de Sargentos das Armas MG MG L lia Pereira dos 13 10 22 Campos RJ VS Hospital Militar de Porto Alegre Santos e Posto M dico da Praia Vermelha L cia Os rio 17 07 21 Rio de Janeiro Samaritana RJ Maria Apparecida 01 11 08 Niter i RJ Profissional USP Hospital Geral de S o Paulo Franca Maria
273. licado num dia de domingo exemplar no sentido de manifestar para a sociedade carioca a forma o e prontid o de novas enfermeiras e samaritanas da Cruz Vermelha para a P tria Nessa poca tamb m surgem as volunt rias da Defesa Passiva Antia rea um dos corpos de voluntariado organizado pela Legi o Brasileira de Assist ncia que foi criada por Darcy Vargas esposa de Get lio Vargas logo ap s a declara o da participa o do Brasil no conflito mundial ocorrida em agosto de 1942 75 CUNDA oaeee fae So Novas enfermeiras e samaritanas n cerimonia de o oa t limita Figura n 04 Cerim nia de formatura de alunas da Cruz Vermelha Rio de Janeiro 1942 Acervo da FEB Pal cio Duque de Caxias Rio de Janeiro Ao ter sido estampada na capa do jornal Di rio de Not cias a formatura de novas enfermeiras e samaritanas que a priori teria car ter mais particular transformou se num evento p blico que acabou por demonstrar a prontid o das mulheres que o Estado Novo almejava em prol da na o Esta e outras propagandas visavam produzir frutos para que as mulheres viessem a se inscrever nos cursos de enfermagem de guerra e ap s frequent los transformarem se em volunt rias Al m da Cruz Vermelha outra institui o que se fez ver neste contexto foi a Escola Anna Nery que desde 1941 iniciara o primeiro curso de volunt rias com a finalidade de convocar mo as da sociedade carioca para aprender a l
274. linou que era eleitor o cidad o maior de 21 anos sem distin o de sexo Pela primeira vez as mulheres tornavam se eleitoras e eleg veis Sobre esta conquista as mulheres sofreram rea es que passavam geralmente pelas s tiras numa clara inten o de se menosprez las para assim mant las em seu lugar a casa e principalmente com sua identidade sexual inalterada inferior e oposta aos homens Essas s tiras e charges mostravam a feminista como feia e masculinizada ou seja como n o feminina MARSON 1995 1996 O artigo 4s mulheres a pol tica e a defesa nacional da revista paulistana Careta um bom exemplo Nele noticia se a proposta de um general segundo o qual as mulheres se desejassem votar deveriam tamb m servir ao Ex rcito O coment rio dele publicado em 1933 o seguinte 2 Vale mencionar que as disposi es transit rias constantes no artigo 121 do C digo Eleitoral Brasileiro dispunham que os homens com mais de 60 anos e as mulheres em qualquer idade podiam isentar se de qualquer obriga o ou servi o de natureza eleitoral Portanto o voto feminino n o tinha car ter obrigat rio 26 A discuss o sobre o voto feminino chegou ao Congresso Nacional brasileiro pela primeira vez em 1891 Influenciados pelo movimento das americanas e inglesas alguns deputados propuseram estender o direito de voto s mulheres que possu ssem diploma de curso superior e n o estivessem sob a cust dia do pai
275. litares durante o tempo que se prolongasse a guerra e os seis meses posteriores DONAHUE 1985 p 411 3 Nos anos do conflito chama a aten o o extensivo apelo propagandistico dirigido s mulheres no sentido de recrut las e que ressaltava as necessidades do tempo de guerra vivido e as oportunidades educativas para as jovens interessadas na enfermagem conforme pode ser percebido na ilustra o que se segue 68 Figura 01 Life Magazine Cover January 5 1942 Arquivo dispon vel em http www life com image 71846528 Acesso em 18 fev 2010 Esta capa da extinta Life Magazine traduz um pouco do que foi a intensa convoca o de enfermeiras para as necessidades de guerra Pelo que foi impresso nela a necessidade de enfermeiras para o pa s girava em torno de 50 000 Nesse sentido que n o foi pequeno o investimento propagand stico a fim de dar conta dessa car ncia Com efeito as capas de revistas os jornais os outdoors os cartazes foram meios muito utilizados de comunica o visual escolhidos para dar publicidade ao recrutamento para a Segunda Guerra Mundial Meios estes que precisavam transmitir valores emo es id ias e motiva es de forma eficaz atrav s de uma mistura de imagens e palavras em um limitado espa o Ademais tais recursos serviam para manipular a imagem da enfermeira na tentativa de criar um estere tipo de pessoas nesse ramo de servi o ou mesmo uma boa reputa o para a profiss o RUBINO
276. ltados evidenciaram que na hist ria da profiss o de enfermagem as enfermerias da FEB representam o primeiro grupamento feminino que foi oficialmente incorporado s For as Armadas Brasileiras Em 1944 elas seguiram para a It lia junto com a FEB onde trabalharam nos hospitais de campanha norte americanos Durante a guerra e apoiadas pelo discurso patri tico operaram rupturas nos discursos tradicionalista e paternalista que afirmavam o lugar da mulher no lar e o seu papel de procriadora Por isso n o foram poucas as dificuldades e adversidades que enfrentaram inclusive a de serem todas exclu das do estado efetivo do Ex rcito Brasileiro logo ap s o t rmino do conflito em 1945 No contexto pol tico social do p s guerra imediato de pacifica o e democratiza o o que passou a estar em jogo foi a busca pelo reconhecimento e m rito de sua atua o nos hospitais de campanha a ponto de servir de justificativa para uma poss vel reinclus o delas no Servi o Militar Ativo do Ex rcito Para tal elas mobilizaram diversas estrat gias que por fim foram eficazes na objetiva o de seu reaproveitamento como oficiais enfermeiras o que se efetivou com a promulga o de uma lei federal em 1 de junho de 1957 O estudo concluiu que a reinclus o de enfermeiras da FEB no Servi o Militar Ativo do Ex rcito Brasileiro foi determinada pela articula o dos diferentes tipos de capital acumulados por elas mediante o efeito de demonstra
277. ltante nica mas apontar os par metros em torno dos quais se podem analisar este processo CYTRYNOWICZ 2000 Infelizmente toda essa situa o resultou num desajeitado remendo onde as primeiras inten es n o foram suficientes para mascarar a fragilidade do grupamento feminino de enfermagem do Ex rcito que seria apressadamente criado e organizado debilmente treinado e reservadamente reconhecido Assim que para dar conta da organiza o do quadro de enfermeiras o Ex rcito resolveu abrir voluntariado cuja divulga o foi realizada atrav s dos principais jornais da poca VALADARES 2001 p 78 A transcri o a seguir ilustra bem as circunst ncias em que se deu essa convoca o A nossa situa o de enfermeira na FEB iniciou se exatamente no dia 9 de outubro de 1943 atrav s de uma pequena nota do jornal 4 Noite sobre a abertura de inscri o para as enfermeiras que acompanhariam o Corpo Expedicion rio Na segunda feira dia 11 de outubro dirigi me Diretoria de Sa de do Ex rcito no Pal cio da Guerra e por uma dessas circunst ncias honrosas na vida de cada um de n s tornei me para desassossego meu a volunt ria n 1 objeto a partir da da bisbilhotice dos jornalistas cariocas Onde nasceu sua idade Conhecimentos Que faz na vida Por que se inscreveu No meu entusiasmo e ingenuidade de volunt ria eu declarava ent o a um rep rter Sinto me orgulhosa e espero que todas as mulheres de 85
278. lza Cansan o Medeiros Apesar de expressar algum sentimento de revanche o recorte anterior revela tamb m que a reforma seria uma vantagem razo vel a quem dela pudesse se beneficiar pelas prerrogativas a ela vinculadas como a percep o regular de proventos e indeniza es O embuste de ter sido enfermeira de guerra se aplicou tamb m palavra p blica que diga se de passagem pouco foi franqueada s febianas logo ap s o t rmino da guerra Nesse sentido que merece especial destaque o texto escrito pela enfermeira Bertha Moraes intitulado Testemunho de uma enfermeira publicado no livro Depoimento de oficiais da reserva s bre a FEB Ali s pelas fontes acessadas bem prov vel que este seja o primeiro registro escrito publicado por uma febiana no p s guerra que tenha desvelado com algum rigor os problemas pelos quais elas passaram durante sua mobiliza o Neste livro al m do texto de Bertha Morais h outros de oficiais que eram reservistas do Ex rcito e com a convoca o para a guerra entre 1942 e 1944 foram trazidos de volta For a Os autores eram m dicos advogados engenheiros professores e outros profissionais 144 liberais que escreveram sobre as dificuldades de materializa o de uma for a militar oriunda de um pa s ainda agr rio Sem d vida representa uma das obras mais cr ticas e rigorosas a respeito da FEB ainda que elaborado pelos pr prios expedicion rios Lan ada pouco depois do t
279. lza selecionou para a feitura de seu livro estiveram tamb m s de rea o ao tratamento que as enfermeiras tiveram no mbito social E ela n o economizou adjetivos L nguas ferinas se encarregam de ou por despeito ou por inveja procurar desmoralizar as enfermeiras militares Devo entretanto esclarecer que s a pequenez de esp ritos mesquinhos assim o fazem N o afirmarei que eram santas nem que eram as melhores enfermeiras do mundo por m com a responsabilidade do cargo que ocupei afirmo que minhas companheiras de um modo geral nada deixavam a desejar em sua atua o profissional MEDEIROS 1955 p 253 O livro editado pela Biblioteca do Ex rcito teve seu lan amento noticiado pela imprensa jornal stica poca como pode ser observado a seguir designa o de Pol cia Feminina e ficou subordinado Secretaria de Seguran a P blica Em 1969 passou a denominar se Superintend ncia de Pol cia Feminina Com a fus o da For a P blica e da Guarda Civil em 1970 fus o da qual se originou a Pol cia Militar do Estado de S o Paulo PMESP a Superintend ncia transformou se em Quadro Especial de Policiamento Feminino e ganhou infra estrutura de batalh o Em 1975 adotou o nome de 1 Batalh o de Policiamento Feminino incorporando se plenamente ao arcabou o da PMESP SOARES MUSUMECI 2005 p 15 27 8 155 Ap s sua participa o na guerra Elza pertenceu segunda turma de jornalistas da antiga Fac
280. m desmobilizadas ap s a guerra exemplo razo vel Sem d vida a sociedade ocidental caracterizada por uma clara domina o masculina e consequentemente por uma subordina o da mulher no dom nio do social do pol tico do econ mico e do simb lico Nesse sentido o pensamento de Fran oise H ritier 1989 se coaduna com o de Pierre Bourdieu quando destaca o campo do simb lico evidenciando a exist ncia de valores que ressaltam as diferen as entre os sexos de forma hierarquizada valorativa para o homem e depreciativa para a mulher e as coloca como naturalizadas na 41 vida social Assim h uma esp cie de discurso simb lico que remete a uma natureza feminina biol gica morfol gica e psicol gica que legitima a sujei o das mulheres Isso posto de interesse o entendimento das rela es que ocorrem entre homens e mulheres e n o a atua o da mulher revelia da atua o do homem na hist ria Dessa forma que a quest o da diferen a sexual pode ser entendida como resultado de uma constru o social dos pap is dos homens e das mulheres O essencial a ser observado n o a oposi o termo a termo uma defini o biol gica e hist rica de oposi o masculino feminino mas antes identificar em cada configura o hist rica os mecanismos que enunciam e representam como natural portanto biol gico a divis o social portanto hist rica dos pap is e das fun es CHARTIER 1994 p 109
281. m e estavam sendo tomadas por importantes autoridades militares no sentido de fazer com que elas fossem reinclu das no Servi o Ativo do Ex rcito Uma delas foi a do general Marques Porto que ap s a guerra exerceu o cargo de diretor de Sa de do Ex rcito quando prop s a cria o de um Quadro Especializado no Ex rcito o qual chegou a ser aprovado pelo Estado Maior e passou a estar sob o poder do general Jos Vieira Peixoto diretor de Sa de em 1954 para aprova o do ministro da Guerra e consegiiente mensagem ao presidente da Rep blica CAMERINO G ES 1954 v 2 p 578 9 Nas considera es finais estrategicamente Ol mpia e Jacyra fizeram uma provoca o que deixou algo aparente a exist ncia de poss veis opositores desta id ia no pr prio campo do Ex rcito Por que as enfermeiras expedicion rias n o poderiam exercer suas fun es no posto que lhe confere sua carta patente de 2 tenente conseguida atrav s da Lei 1 209 50 como reconhecimento dos trabalhos realizados durante a guerra e do merit rio servi o que prestaram P tria CAMERINO G ES 1954 v 2 p 579 Pela visibilidade que gozou este trabalho ao estar inserido num evento e ocasi o propicios pode se constatar que o esfor o dessas duas febianas foi um exemplo bem sucedido de estrat gia para propagar id ias que objetivavam sua reinclus o no Servi o Ativo do 152 N o foram encontradas outras fontes sobre esta proposta 181 Ex rc
282. ma que era casada e estava escondendo que era casada Mas eles descobriram que ela era casada Ent o ela foi dispensada Eu s sei que ficaram 67 mo as mulheres formadas quase todas formadas com curso de enfermagem Mas o curso de enfermagem do Ex rcito era o mais importante para irmos para a guerra Enfermeira Carlota Mello A apari o p blica de um grupamento feminino de enfermagem no Ex rcito Brasileiro coisa in dita at ent o n o seria f cil de ser assimilada Ali s n o foi por acaso que certas rea es se esbo aram com esta inesperada e inusitada inclus o feminina nos quart is que iam do deboche humilha o As primeiras volunt rias do Brasil sofreram difama es horr veis At a mulher de um militar de alta patente do Ex rcito a Sra Santinha Dutra tachou nos de prostitutas que queriam ir para a guerra para fazer a vida A nossa guerra na realidade come ou aqui mesmo CANSAN O 1987 p 224 Sobre este fragmento evoco Michelle Perrot 2007 p 146 quando afirma que agir no espa o p blico n o f cil para as mulheres dedicadas ao dom nio privado criticadas logo que se mostram ou falam mais alto com frequ ncia elas ap iam se em seus pap is tradicionais e a tudo vai bem entretanto tudo se complica quando tentam agir como 55 Grifo meu 90 homens Al m disso segundo esta mesma historiadora a mulher p blica constitui a vergonha a parte escondida dissimulad
283. ma quest o quem somos n s Elas s o uma recusa s 29 abstra es uma recusa do estado de viol ncia econ mico e ideol gico que ignora que somos indiv duos PADILHA BORENSTEIN 2005 FOUCAULT 1995 p 235 Sobre as repercuss es afetivas da Hist ria da Enfermagem Brasileira Regina Santos 2003 p 10 encarece que Estes estudos t m a possibilidade concreta de despertar o sentimento de perten a classe envolver a pessoa na trama do seu cotidiano com paix o e orgulho podendo ser o alicerce para o estabelecimento de um compromisso com a profiss o a Hist ria tem o poder de envolver e comprometer as pessoas Nesse sentido que o estudo da Hist ria da Enfermagem Brasileira vem favorecer a aquisi o de uma cultura geral profissional que serve de lastro ao dom nio do conhecimento t cnico cient fico ao desenvolvimento do racioc nio cr tico reflexivo e criativo e ao entendimento de vis es e interpreta es dos tempos hist ricos e suas demandas BARREIRA 1999 Dadas as justificativas e relev ncias ora pontuadas espero que este estudo possa contribuir de modo a fornecer insights para novas pesquisas neste campo tem tico da hist ria da enfermagem militar E a partir dos objetivos definidos que sejam reveladas parte das dimens es invis veis inc gnitas submersas rec nditas m ltiplas sens veis e complexas que envolvem a tem tica no sentido de se definir metodologicamente teoricamente originalme
284. mesmo de serem valores militares s o geralmente tidos como valores masculinizantes SILVA 2007 O trecho abaixo corrobora esta assertiva Foram dezesseis mo as de Minas que fizeram este curso militar Dessas dezesseis umas nove passaram porque este curso era muito chato Tinha que fazer tudo o que o militar fazia Havia aula te rica de educa o f sica militar aulas para aprender a atirar aprender a marchar aprender a fazer tudo o que o soldado faz no Ex rcito Enfermeira Carlota Mello O car ter heterog neo um dado sobre este primeiro grupamento de enfermeiras do Ex rcito que salta aos olhos A constata o disto se deu sob diversos aspectos idade naturalidade etnia forma o profissional cultura origem s cio familiar proced ncia condi o econ mica e financeira gera o inclusive as rela es pr vias que tinham no campo militar Todos esses aspectos reunidos num s grupo formavam um mosaico constru do pelas suas diferentes trajet rias pregressas e pelos seus potenciais nos espa os sociais Com efeito o grupo de longe era visto como um bloco uno mas de perto as diferen as eram bem percebidas Ali s a pr pria heterogeneidade sugere a n o dilui o em partes o que faz aflorar num grupo como este as classifica es e as distin es de acep es entre suas part cipes sobre sua pr pria representa o imagem No que diz respeito forma o pr via em enfermagem das alunas selecionada
285. militares e eles civis Nesta rela o os militares aparecem classificados em melhores postos quer dizer s o considerados detentores de melhores condi es morais que os civis Em seu estudo Castro 2004 p 44 pontua outros atributos morais que refor am e ampliam a fronteira entre militares e civis o senso de honestidade e retid o de car ter a preocupa o com causas 211 Trecho de entrevista arquivada no Centro de Mem ria Dra Nalva Pereira Caldas da Faculdade de Enfermagem UERJ 238 nobres e elevadas P tria Brasil o esp rito de ren ncia e o desapego a bens materiais o respeito ordem disciplina e hierarquia Guardadas as devidas propor es para Ferreira 2000 p 32 esta distin o ocorre porque os civis se orientam e est o submetidos apenas s leis nacionais que regulam o que legalmente aceito Ao contr rio os militares se orientariam n o s pelas leis nacionais mas tamb m por normas pr prias aplic veis apenas aos membros da institui o que regulam n o o que legal mas o que eticamente aceit vel Resulta desta distin o que em termos comparativos os militares estariam moralmente em melhor posi o n o compreendendo como no mundo civil por vezes o imoral pode ser considerado legal Portanto o processo de forma o militar tende a levar os membros de suas institui es a se afirmarem como diferentes e em determinada medida superiores aos civis
286. mim com certeza porque havia muitos militares na minha fam lia Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Nas reportagens e fotografias publicadas h mesmo uma aten o especial Virg nia a qu R E 175 pos exemplo do que j havia acontecido na poca da guerra Em seu di rio pessoal foram encontrados quatro recortes de jornal desse momento que destacam especialmente o seu retorno ao Ex rcito O primeiro deles intitulado Funcion ria municipal assume posto de oficial do Ex rcito consta que foi publicado no Lux Jornal em 24 de novembro de 1957 Nele est o elogio do diretor do Departamento de Sa de Escolar a ent o escritur ria da prefeitura Virg nia Justa e merecida fora esta homenagem por ela recebida em decorr ncia de sua patri tica atitude em 175 A fam lia desta enfermeira composta por muitos militares fez com que ela se destacasse em dadas circunst ncias Tal depreens o tamb m foi feita por Bernardes 2003 p 131 2 em sua disserta o de mestrado Este departamento era um rg o vinculado Secretaria Geral de Educa o e Cultura da Prefeitura do Distrito Federal 201 1 177 Nesta mesma data uma nota do ter se feito volunt ria na guerra mencionou o jorna jornal Di rio Carioca com o t tulo Mulher tenente do Ex rcito tamb m fez refer ncia sua assun o no oficialato do Ex rcito Em 8 de dezembro de 1957 uma coluna com o t tulo Virg nia Ma
287. moldadas pelas enfermeiras febianas numa tentativa de serem reaproveitadas no Ex rcito no p s guerra como ser analisado no pr ximo cap tulo 80 Com o mesmo nome foi lan ado premiado filme norte americano sob a dire o de Robert Altman em 1970 81 Bom exemplo disso s o os dois primeiros congressos brasileiros de medicina militar cujas discuss es ser o ainda tratados neste estudo 120 CAP TULO IH Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira em tempo de paz as estrat gias para a reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 121 r Quando n o h guerra entre guerras pr guerra p s guerra mas sempre mobiliza o em torno da guerra CYTRYNOWICZ 2002 p 13 ou seja dubit vel a aplica o pr tica da id ia de que existe paz em sentido estrito Por essa vertente que passaria a existir no pequeno universo das enfermeiras da FEB ap s aquela guerra aberta que tomaram parte outra guerra de car ter mais particular e at simb lico em relut ncia exclus o que adveio de sua recente desmobiliza o a qual abreviou sua perman ncia no Ex rcito para o qu se aproveita o parecer de Perrot 2005 p 446 de que a guerra em suma geradora de frustra es na medida em que ela fecha as sa das que se entreabriram ou que ela mesma abrira Assim ela contribui para aumentar a tens o entre os sexos a consci ncia que cada um deles tem de si mesmo A longo pra
288. mpanha contra era grande Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Retomando a quest o das medidas de amparo que at ent o foram tomadas em favor das febianas ap s a guerra h que se registrar as cr ticas que o capit o de fragata Gerson S Pinto 101 Na reforma da administra o p blica brasileira realizada na d cada de 1930 foi introduzida a admiss o no Servi o P blico por m rito Entretanto diversos fatores de ordem pol tica dentre eles a pol tica de clientela dilu ram o impacto dessa reforma Dessa forma em 1958 dos 229 422 funcion rios que trabalhavam no Servi o P blico apenas 28 046 eram concursados pelo DASP Deve se ressaltar ainda que v rios textos legais transformaram empregados contratados n o concursados em funcion rios p blicos LAFER 1975 141 Coutinho 1954 v l p 712 fez sobre a quest o das prefer ncias ao tratar de assunto relacionado ao acesso nos Servi os de Sa de das For as Armadas interessante chamar a aten o para a pr tica da prefer ncia por ex combatentes que se vem desenvolvendo por medidas legislativas e que baseada ou no conceito de pr mio ou no de caridade mas que de qualquer modo contraria o sistema do m rito Como dif cil abolir esta pr tica o aconselh vel estabelecer medidas restritivas ao mesmo N o precisando estar t o sujeitas a certas conjecturas algumas febianas tiveram uma melhor sorte depois que foram desmobilizadas c
289. mulheres Assim o car ter dom stico marca todo o trabalho feminino a mulher sempre uma dona de casa Isso se espera tamb m da perfeita enfermeira nas guerras nos ex rcitos que esteja sempre pronta e que cuide bem dos soldados e das enfermarias 177 Conforme consta no di rio de Virg nia o elogio foi emitido em 20 11 1957 pela dire o do Departamento de Sa de Escolar e publicado pela Portaria 207 DSE no mesmo dia 178 Do que se conseguiu identificar deste recorte de jornal est o o nome da coluna A entrevistada da semana o nome da prov vel rep rter Domiciana e o poss vel nome do jornal Shopping Not cias 202 Por seu turno a imprensa atrav s dos jornais di rios atribui se a autoridade para exigir em nome da sociedade o cumprimento das normas de tal modo que confere modelos distintos para o homem e para a mulher Essa delega o auto outorgada configura uma manipula o dissimulada com finalidade persuasiva de cunho ideol gico Isso porque a imprensa como formadora de opini es modela formas de pensar e agir define pap is sociais generaliza e universaliza posi es e interpreta es Ao mesmo tempo importante perceber o discurso jornal stico como um espa o de produ o de sentido na medida em que ele aponta as suas opini es e opera um posicionamento pr definido Ou seja al m do papel social definido em feminino e masculino as representa es e imagens de g nero c
290. n o na qual ele se realiza dignitas non moritur Posto isso o busto o retrato a representa o a cerim nia comemorativa pelos quais o grupo oferece tributo de 139 O texto completo deste discurso est publicado no livro de Altamira Pereira Valadares intitulado lbum biogr fico das febianas 1976 p 13 4 14 Express o cl ssica que significa a dignidade n o morre 171 homenagens e de reconhecimento s o todos instrumentos pelos quais ele tende a utilizar para garantir o privil gio social de bem eterniz lo BOURDIEU 2007a Por essa mesma vertente n o h como deixar de mencionar as provid ncias daqueles que participaram da FEB em conferir toda a qualidade de eterniza o aos soldados brasileiros que morreram nos campos de batalha V se pois na ilustra o a seguir alguns vest gios deste intento de ex combatentes em cultuar os que tombaram Tost o cat ur po ID ara os l mulos Dos Herois em Pist i dos dirigentes da Assogia bo wi da rato cd qua aa pos om e Sanani o fe rutente Vargas ahre a un de fi s leiras Din de Finados Cont cl iwida do os por 8800 i n 3 Comtritini o PEA Ge por pe E Leia 0s 0 Diabo 7 ESIDENTE na Terceira P gi Udste Ca e Figura n 15 Um tost o de cada brasileiro recorte de jornal 195 Acervo da FEB Pal cio Duque de Caxias Rio de Janeiro Nesta fotografia que acompanhou uma reportagem jornal stica v se sentado a uma mes
291. n o lutaram porque n o se uniam conosco N o se misturavam com a ral E depois vinham atr s da gente At l na It lia elas n o se uniram conosco porque elas eram anan ri Elas se achavam o m ximo A Cruz Vermelha era a ral Mas sempre n s estivemos na frente e elas vinham no nosso rabado Mesmo quando elas foram reinclu das no Servi o Ativo da Aeron utica elas se mantiveram afastadas de n s sempre A nica que ainda se dava com elas mais ou menos e que se encontrava de vez em quando era eu porque vivia nas reuni es do 1 Grupo de Ca a As outras n o Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Outra enfermeira febiana reitera essa dist ncia entre elas 21 Grifos meus 22 No trabalho Racionaliza o do recrutamento aperfei oamento e acesso dos integrantes dos Servi os de Sa de das For as Armadas 1954 do coronel m dico Luiz Paulo de Mello est o algumas id ias que tratam desta crise 22 Esta lei que as reincluiu teve praticamente o mesmo texto e previu os mesmos direitos e garantias que obtiveram as do Ex rcito atrav s da Lei n 3160 57 249 Na guerra n s dividiamos lado a lado os servi os de enfermagem com as enfermeiras norte americanas J com as da Aeron utica n o houve rela o alguma N s n o cruzamos com as enfermeiras da Aeron utica Inclusive eu fui conhecer uma delas h pouco tempo Enfermeira Hilda Ribeiro 2 D
292. na For a Expedicion ria Brasileira durante a 2 Guerra Mundial uma abordagem sob o olhar fotogr fico 1942 1945 FEITOSA Isabel Novaes Isabel Novaes Feitosa entrevista 20 dez 2001 Entrevistadora Margarida Maria Rocha Bernardes Rio de Janeiro 2001 Entrevista concedida ao projeto O grupamento feminino de enfermagem do Ex rcito na For a Expedicion ria Brasileira durante a 2 Guerra Mundial uma abordagem sob o olhar fotogr fico 1942 1945 280 GAZZINELLI Roselys Teixeira Roselys Teixeira Gazzinelli entrevista 1 fev 2002 Entrevistadora Margarida Maria Rocha Bernardes Belo Horizonte 2002 Entrevista concedida ao projeto O grupamento feminino de enfermagem do Ex rcito na For a Expedicion ria Brasileira durante a 2 Guerra Mundial uma abordagem sob o olhar fotogr fico 1942 1945 MEDEIROS Elza Cansan o Elza Cansan o Medeiros entrevista 28 nov 2001 Entrevistadora Margarida Maria Rocha Bernardes Rio de Janeiro 2001 Entrevista concedida ao projeto O grupamento feminino de enfermagem do Ex rcito na For a Expedicion ria Brasileira durante a 2 Guerra Mundial uma abordagem sob o olhar fotogr fico 1942 1945 RIBEIRO Hilda Hilda Ribeiro entrevista 6 fev 2002 Entrevistadora Margarida Maria Rocha Bernardes Rio de Janeiro 2002 Entrevista concedida ao projeto O grupamento feminino de enfermagem do Ex rcito na For a Expedicion ria Brasileira durante a 2 Guerra
293. na Militar Rio de Janeiro Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Militar CAMERINO Ol mpia de Ara jo G ES Jacyra de Souza Coopera o das enfermeiras na ltima guerra necessidade de cria o de um quadro permanente de enfermeiras militares nas For as Armadas In I Congresso Brasileiro de Medicina Militar Anais do I Congresso Brasileiro de Medicina Militar v 2 1954 p 573 9 MELLO Luiz Paulino Racionaliza o do recrutamento aperfei oamento e acesso dos integrantes dos Servi os de Sa de das For as Armadas In I Congresso Brasileiro de Medicina Milita Anais do I Congresso Brasileiro de Medicina Militar v 1 1954 278 Anais do Segundo Congresso Brasileiro de Medicina Militar 1959 Publicado em 1961 PONCE Generoso de Oliveira Bases para a reorganiza o e atualiza o dos servi os de enfermagem nas For as Armadas 7n II Congresso Brasileiro de Medicina Militar Anais do II Congresso Brasileiro de Medicina Militar v 1 1961 2 4 2 Arquivo do Monumento Nacional dos Mortos da Segunda Guerra Mundial Rio de Janeiro BRASIL Minist rio da Guerra ndice da legisla o do Ex rcito Manual T cnico 2 parte ndice alfab tico v l e 2 Rio de Janeiro Estabelecimento General Gustavo Cordeiro de Farias 1963 Hemeroteca 2 4 3 Arquivo Hist rico do Ex rcito Pal cio Duque de Caxias Rio de Janeiro Documentos diversos referentes ao retorno da For a Expedicion ria Brasileira ao B
294. namorar o marido delas Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero N o somente nas ruas mas tamb m no mbito da pr pria Associa o de Ex Combatentes o reaproveitamento das febianas era assuntado com algum desd m Eu era s cia da Associa o dos Ex Combatentes do Brasil Quando fomos convocadas o Jamil que era o presidente na ocasi o escreveu com certo menosprezo que At as enfermeiras foram convocadas A eu me senti ofendida Por que at Eu fui Associa o falar com o Jamil Olha eu vim pedir meu desligamento Ele disse Por que minha amiga E porque voc botou no jornal que at n s fomos convocadas Voc acha que n s n o fizemos nada Naquela ocasi o havia uma tentativa de se convocar os padres da FEB e estava acontecendo certo embara o nisso Depois o Jamil ficou se dando comigo mas eu n o fiz mais parte da Associa o Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Em certos momentos suas presen as em p blico eram tidas como algo estranho indiscreto incr dulo e inclusive at vergonhoso para elas mesmas Apresentar se fardada bem como fazer carreira no Ex rcito era uma no o pouco feminina viril e deslocada para uma mulher da poca ao que parece PERROT 2005 Ali s as diferen as de tratamento ora cuidadoso demais ora preconceituoso expressam as oscila es sobre o n vel de aceita o delas no militarismo Coinci
295. nc saude Manguinhos Rio de Janeiro v 15 n 1 mar 2008 SANTOS Regina Regina Santos depoimento escrito In BARREIRA Ieda de Alencar BAPTISTA Suely de Souza O movimento de reconsidera o do ensino e da pesquisa em Hist ria da Enfermagem Confer ncia apresentada no I Encontro de professores e pesquisadores do Estado do Rio de Janeiro promovido pelo Laborat rio de Pesquisa em Hist ria da Enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UNIRIO 22 set 2003 c pia xerogr fica SANTOS Regina Maria dos TREZZA Maria Cristina S Figueiredo CANDIOTTI Zandra Maria Cardoso LEITE Josete Luzia Circunst ncias de oficializa o do curso de auxiliar de enfermagem no Brasil estudando as entrelinhas da Lei 775 49 Rev Latino Am Enfermagem Ribeir o Preto v 10 n 4 p 552 560 jul ago 2002 SANTOS T nia Cristina Franco BARREIRA Ieda de Alencar O poder simb lico da enfermagem norte americana no ensino da enfermagem na capital do Brasil 1928 1938 Rio de Janeiro Escola de Enfermagem Anna Nery UFRJ 2002 SANTOS T nia Cristina Franco BARREIRA Ieda de Alencar ALMEIDA FILHO Antonio Jos de OLIVEIRA Alexandre Barbosa de Las dictaduras de Vargas y Franco implicaciones de la consagraci n de la maternidad para la enfermer a Texto contexto enferm Florian polis v 19 n 2 jun 2010 SANTOS T nia Cristina Franco LOPES Gertrudes Teixeira PORTO Fernando FONTE Aline da Silva Resist ncia lideran a norte
296. ndo Ferrari do Partido Trabalhista Brasileiro que teve assessoria do general Emmanuel Marques Porto que comandara o Servi o de Sa de da FEB e do pr prio marechal Jo o Baptista Mascarenhas de Moraes que esteve frente dos expedicion rios na guerra Apesar de se valer do patrimonialismo e clientelismo e de suas moedas de troca a promulga o desta lei encontrou o seu valor simb lico quando exarou 267 pela primeira vez na hist ria do pa s a incorpora o de mulheres em car ter oficial e regulamentar nos quadros de efetivo do Ex rcito Brasileiro Para as que requereram convoca o novas dificuldades se mostraram nessa transi o da vida civil para a militar pois uma vez classificadas nas diversas organiza es militares do Ex rcito espalhadas pelo pa s essas rec m chegadas passaram a estar incorporadas numa corpora o talhada pelo tradicional esp rito de Caxias hierarquicamente r gido formalista ao extremo draconiano na separa o de castas de oficiais e pra as e indiferente ao bem estar dos homens que a compunham os quais foram pegos de surpresa com a novidade da chegada das febianas Por sua vez esta institui o tamb m sofreu os impactos da chegada dessas oficiais enfermeiras em seus espa os num contexto em que a maioria das mulheres permanecia enredada nas tramas da exclus o social Outrossim alguns embara os foram ainda observados na sociedade que via com estranheza essa inser
297. neiro Samaritana Posto M dico da Praia Vermelha Medeiros RJ e Policl nica Central do Ex rcito RJ Elza Ferreira 2 Rio de Janeiro VS Hospital Geral de Curitiba Vianna RJ Elza Miranda 10 06 19 S o Paulo SP VS Posto M dico da Praia Vermelha Souto Maior Gemma Rio de Janeiro VS 2 Immaculata Reis RJ Hayd e Rodrigues 2 Santa Maria VS Hospital da Academia Militar das Costa Madalena RJ Agulhas Negras RJ 8 Este quadro foi constru do atrav s dos dados coletados dos seguintes documentos Portaria n 1 859 de 18 09 1957 publicada no BE n 038 de 21 09 1957 e Portaria n 2 277 de 02 12 1957 publicada no DO de 05 12 1957 p 27 241 ambas do Ministro de Estado dos Neg cios da Guerra boletins internos de organiza es militares do Ex rcito al m de folhas de altera es e resumos biogr ficos de enfermeiras febianas Cabe ressaltar que certos nomes mencionados neste quadro diferem da listagem nominal apresentada no Ap ndice A devido ao fato de que algumas enfermeiras contra ram matrim nio no p s guerra Outrossim alguns dados n o foram localizados o que explica a inscri o de um ponto de interroga o em alguns espa os do quadro 213 Nome Data de Naturalidade Forma o em Organiza es Militares onde continua o nascimento enfermagem na poca atuaram ap s a convoca o da sele o para a guerra Helo sa Cec
298. nfermagem militar operativa gerenciando o cuidado em situa es de guerra 2005 107 aux lio divino como demonstra o trecho a seguir na imin ncia da chegada de um grupo de enfermeiras ao Teatro de Opera es Europeu Pe o a Deus neste momento d nos for a capaz de suportarmos todos os embates que se nos apresentarem De hoje em diante sei passaremos dias cru is e teremos que aumentar cada vez mais os nossos cora es a fim de termos nimo para ver e deparar juntas todas as mis rias que sei ser o in meras Entrego me inteiramente s m os de Nossa Senhora pedindo lhe prote o sobre mim e sobre todas as minhas colegas que t o profundamente admiro pelo seu sacrif cio e dedica o incompar veis Sinto neste momento um entusiasmo estranho e l grimas de emo o v m me aos olhos de satisfa o ntima por estar cumprindo o meu dever de brasileira TEIXEIRA 2006 p 23 Assim que chegaram as febianas passaram a trabalhar em diferentes tipos de hospital do V Ex rcito Norte Americano onde ficaram subordinadas s enfermeiras chefe norte americanas chief nurses que transmitiam suas ordens para as febianas atrav s da oficial de liga o que era brasileira e que para exercer tal fun o deveria ter maior dom nio da l ngua inglesa Durante o trabalho nesses hospitais as enfermeiras febianas se depararam com novos desafios entre os quais o vestu rio de m qualidade pouco pr tico e inade
299. nfermeiras febianas foi o Col gio Militar de Belo Horizonte Os trechos seguintes tratam desse momento e das variadas atividades que as febianas que l foram servir passaram a desenvolver Quando eu voltei para o Ex rcito fui trabalhar no Col gio Militar que ainda n o tinha nada Depois fizeram um pr dio l na Pampulha Eu entrei justamente nessa mudan a Ent o eu tive um trabalho imenso Eles me botaram para fazer de tudo Eu organizei uma enfermaria para atender as crian as outra menor para atender os casos mais graves fundei um consult rio m dico um gabinete para a enfermeira chefe um gabinete odontol gico uma farm cia Eu tamb m trabalhei no aprovisionamento onde fazia o card pio semanal das crian as quando fiz um curso de nutri o Mais tarde trabalhei na instala o de uma lavanderia para as roupas dos meninos e na organiza o de uma mercearia s para militares onde o pre o era mais barato Tudo o que eles mandavam eu fazia E eles me botavam pra fazer de tudo Eu fiz muita coisa no Col gio fora da enfermagem Eu era pode se dizer pau pra 200 O Col gio Militar de Belo Horizonte foi criado no dia 12 09 1955 pelo Decreto n 37 879 De acordo com este documento o Col gio seria instalado no pr dio destinado ao Centro de Prepara o de Oficiais da Reserva no bairro da Pampulha Provisoriamente funcionaria no edif cio antes usado pelo C
300. nge brasileira Sempre altaneira Sempre viril Marchamos pela gl ria da enfermeira Sob a bandeira Do meu Brasil De Anas N ris Quit rias Ludovinas As hero nas Nossos padr es Herdamos a bravura E a ternura Que se agasalham em nossos cora es Com efeito a figura legend ria de Ana N ri por representar bem a imagem da m e p tria foi refer ncia de exemplo a qual as febianas precisavam enquadrar no processo de encarna o de um habitus de enfermeira de guerra mesmo n o sendo enfermeiras como a pr pria Ana N ri n o o foi Ademais at a data de promulga o do decreto lei que criou o Quadro de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito coincidiu com a do nascimento de Ana N ri o z 70 que j demonstrava de certa forma este intento Os discursos idealizados constru dos para produzir representa es e imagens positivas de um dado grupo t m um papel que se faz importante para a exist ncia e subsist ncia do pr prio grupo quando manifestam valora es de que ele precisa para mostrar que sua exist ncia serve para alguma coisa Com essa esp cie de trabalho simb lico os que se viam como detentoras do poder de falar em nome do grupo esfor avam se para constitu lo e 68 A letra e a m sica deste hino s o de autoria de Titto Portocarrero pai da enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero O Di rio Oficial da Uni o de 03 12 2009 publicou lei que inscreveu Ana Justina Ferreira N
301. nha orientadora e amiga T nia Cristina Franco Santos cujas cr ticas aprecia es e contribui es foram importantes no processo de constru o desconstru o e reconstru o do texto apresentado que ao final de todo esse processo estruturou se em tr s cap tulos No primeiro intitulado 4 marcha de enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira para o Servi o Militar Ativo do Ex rcito trato de alguns aspectos sobre a inclus o das febianas no Ex rcito quando foram mobilizadas para o Servi o de Sa de da FEB e de sua exclus o quando foram desmobilizadas ao t rmino da guerra Tais abordagens s o antecedentes do processo de reinclus o delas no Servi o Ativo que se encetou logo ap s terem sido desligadas da For a Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira em tempo de paz as estrat gias para a reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito o t tulo do segundo cap tulo que fez desfilar as estrat gias que elas tomaram para a conquista desta reinclus o E no terceiro e ltimo cap tulo De volta caserna a reinclus o de oficiais enfermeiras de guerra no Servi o Militar Ativo do Ex rcito s o discutidos alguns resultados advindos deste processo tais como as rea es sentidas nos campos militar social e da enfermagem al m de alguns aspectos sobre o cotidiano de trabalho delas nas diversas organiza es militares onde foram classificadas bem como certos efeitos sobe a mem ria e a hist ri
302. nham pouca ou nenhuma forma o Num caso que tomei conhecimento a enfermeira americana anotou no prontu rio de uma brasileira not good nurse not good girl not good to stay here VALADARES 2001 p 80 1 Pela consulta de alguns resumos biogr ficos e cruzamento com outros documentos das 67 volunt rias selecionadas seis eram diplomadas profissionais tr s pela Escola Anna Nery Altamira Pereira Valadares Nair Paulo de Melo e Olga Mendes uma Antonieta Ferreira pela Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha Rio de Janeiro uma Ondina Miranda de Souza era formada pela Escola Alfredo Pinto e mais uma Maria Apparecida Fran a pela 9 As enfermeiras que trabalharam no transporte a reo foram Dirce Ribeiro da Costa Leite Joana Sim es de Ara jo Lenalda Lima Campos Maria Jos Vassimon de Freitas Sara de Castro e Semiramis de Queiros Montenegro 95 Escola de Enfermagem de S o Paulo Com o Curso de Samaritanas 16 A maioria 42 apresentou certificado de curso de volunt ria socorrista N o foi poss vel a identifica o da forma o de tr s delas CANSAN O 2003 VALADARES 1976 Cansan o 2003 p 24 argumenta que o n mero de enfermeiras profissionais no pa s era muito pequeno por isso que o Ex rcito acabou aceitando qualquer diploma de curso de enfermagem fosse o de profissional diplomada cuja dura o era de tr s anos o de samaritana que era considerado uma esp cie de supletivo em enfermagem que
303. nieta Barros datados de 25 de setembro de 1932 o mundo mesmo com os avan os registrados e mesmo com o progresso adentrando as casas poca estava velh ssimo decr pito falido com uma moral problem tica uma civiliza o em farrapos e um futuro comprometido e assustador Para melhor lo somente os ensinamentos dos bons livros dos bons instrutores Em dezenas de cr nicas discorria Antonieta sobre tais problemas Na ocasi o da Revolu o Constitucionalista foi organizado um corpo de enfermeiras em S o Paulo o Batalh o Fern o Salles bem como foi ativa a participa o volunt ria de alunas e professoras da Escola Anna Nery do lado do governo federal DONATO 1982 p 194 5 ALMEIDA FILHO SANTOS 2003 65 e as poss veis solu es todas apontando para o campo da educa o institucional NUNES 2001 p 51 J em 1933 ao comentar not cias que vinham do Rio de Janeiro em uma cr nica comemorou Antonieta Barros que em Conven o Eleitoral Feminina as mulheres unanimemente votaram contra o servi o militar feminino repudiando o NUNES 2001 p 52 3 Ora do recorte abaixo se pode observar o desencanto dela com a ci ncia e a conduta das criaturas do s culo XX Ela diz E n o ser dentro das trincheiras sob o matracar das metralhas e o trovejar surdo dos canh es frutos da ci ncia postos disposi o da gan ncia dos homens que conseguiremos fazer despertar na alma dos que ainda n o
304. niversidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Enfermagem Anna Nery Programa de P s Gradua o em Enfermagem III T tulo CDD 610 73 ENFERMEIRAS DA FOR A EXPEDICION RIA BRASILEIRA NO FRONT DO P S GUERRA O PROCESSO DE REINCLUS O NO SERVI O MILITAR ATIVO DO EX RCITO 1945 1957 Alexandre Barbosa de Oliveira Relat rio final da Tese de Doutorado apresentado Banca Examinadora como exig ncia do Curso de Doutorado em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 13 de dezembro de 2010 Banca Examinadora Profa Dra T nia Cristina Franco Santos Orientadora Presidente da Banca Escola de Enfermagem Anna Nery UFRJ Profa Dra Maria Celina Soares D Araujo 1 Examinadora Departamento de Sociologia e Pol tica PUC Rio Profa Dra Maria Itayra Coelho Padilha 2 Examinadora Departamento de Enfermagem UFSC Profa Dra Gertrudes Teixeira Lopes 3 Examinadora Faculdade de Enfermagem UERJ Profa Dra Ieda de Alencar Barreira 4 Examinadora Escola de Enfermagem Anna Nery UFRJ Profa Dra Maria Lelita Xavier Suplente Centro Universit rio da Cidade do Rio de Janeiro Prof Dr Ant nio Jos de Almeida Filho Suplente Escola de Enfermagem Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro 2010 Dedicat ria minha amada fam lia Agradecimentos e Homenagens Ao meu Deus co autor fundamental da minha Hist ria minha m e Maria de Lour
305. nsan o Medeiros Assim que as alian as com parlamentares seriam de import ncia capital no processo de reinclus o das enfermeiras da FEB Ali s a pr xima fala de outra febiana al m de complementar a anterior aponta o nome do deputado que serviria de porta voz do grupo Todo mundo queria ser reinclu da mas quem procurava e trabalhou junto ao Fernando Ferrari foi justamente a Maria Jos Vassimon de Freitas e a Isabel Novaes Feitosa Elas eram metidas em tudo 1 Ao regressarem ao Brasil algumas enfermeiras que atuaram no 1 Grupo de Ca a na guerra foram trabalhar como civis nos hospitais da FAB CANSAN O 2003 164 As duas n o largavam o Ferrari Tinha ainda a Ol mpia Camerino que estava a par de muita coisa A Maria Jos Aguiar tamb m Ela era funcion ria do Minist rio da Guerra Este grupo que se juntou ao Ferrari A umas outras apareceram como a Zilda Nogueira Rodrigues E a saiu o projeto Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Pelas fontes escritas e orais reunidas h ind cios significativos de que a consecu o da reinclus o de febianas no Servi o Ativo obteve mais concretude quando o general Emmanuel Marques Porto enquanto comandou o Servi o de Sa de do Ex rcito entre os anos 1951 e 1954 assessorou o deputado Fernando Ferrari na elabora o de um projeto de lei para atender este fim O pr ximo recorte ratifica tal asser
306. nte mas modestamente as nuances e releituras envoltas constru o deste trabalho acad mico Assim que se almejou alcan ar al m da feitura desta tese satisfa o intelectual serv vel e possibilidades de torn la uma pesquisa mais ampla futuramente ECO 1977 Sem d vida o desenvolvimento deste trabalho foi um grande desafio O ponto de partida envolveu a necessidade de entendimento de um contexto pol tico social complexo de t rmino da Segunda Guerra Mundial de auge da crise do Estado Novo e de in cio da democratiza o do pa s O campo eleito do Ex rcito Brasileiro complexo e multifacetado e 30 a fase de mudan as paradigm ticas experimentadas pela profiss o de enfermagem no pa s foram tamb m aspectos ardilosos a serem considerados Desta perspectiva maior passou se para um plano de an lise mais recortado onde considera es e reconsidera es singelas e sens veis a detalhes tiveram que ser tomadas para re montar parte da trajet ria de um grupo a priori esquecido naquele contexto um grupo que quase n o se fez ver no p s guerra e que n o teria lugar expressivo d cadas depois nem nos preocupados e merit rios estudos acad micos sobre a hist ria e mem ria da FEB conforme pode ser notado no trecho a seguir que foi extra do de uma tese de doutorado em Hist ria Embora esta tese desde seu t tulo evoque os membros egressos da FEB por ex combatentes entendo todos os que participaram da Cam
307. nte a elabora o da pesquisa entre outros imprevistos que ao longo foram se apresentando Imperiosamente se fez a necessidade de ceder a uma proposta de trabalho mais exequ vel e por extens o mais recortada e menos ambiciosa Com efeito as primeiras inten es visavam abrang ncia de um maior n mero de pessoas a serem entrevistadas a fim de se construir uma hist ria vista por outros ngulos por outros agentes que n o s pelas pr prias enfermeiras febianas o que pelos limites apresentados n o foi poss vel Por certo isto traria como produto a concep o da mem ria social n o s das febianas mas tamb m de como sua presen a e atua o no campo militar repercutiu simbolicamente na hist ria de vida de seus familiares amigos colegas de trabalho chefes subordinados e exercentes de enfermagem da poca Outrossim as preocupa es iniciais eram as de desenvolver uma pesquisa que atentasse para o entendimento das formas com que as enfermeiras febianas moldaram suas mem rias 32 particulares e coletivas as formas com que a enfermagem brasileira interpretou o papel dessas enfermeiras desde sua inclus o at a reinclus o no Servi o Ativo do Ex rcito e por fim a complexa rela o entre todas essas dimens es da mem ria social da participa o in dita dessas primeiras mulheres que adentraram os muros dos quart is N o obstante esta inten o de pesquisa revelou se ser maior do que poss vel realizar d
308. nuel Marques Porto com quem as enfermeiras da FEB iriam manter uma eficaz alian a noutra luta a da reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito ap s o t rmino da guerra Quando n s fomos para a guerra o nosso chefe Marques Porto que estava frente do Servi o de Sa de da FEB ponderou com a c pula Mascarenhas de Moraes e Zen bio da Costa de que n o ficava bem o Brasil Esta classifica o Reserva de 3 Classe foi criada especificamente para as enfermeiras da FEB n o existindo atualmente na hierarquia militar Fonte Di rio pessoal da enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero S o elas Antonieta Ferreira Carmem Bebiano Elza Cansan o Medeiros Ign cia de Mello Braga e Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Todas cursaram o CEERE no Rio de Janeiro 93 mandar as enfermeiras sem um t tulo para trabalhar junto ao Ex rcito Norte Americano e suas enfermeiras Ent o eles resolveram por bem nos dar o posto de 2 tenente Mas o ordenado que n s receb amos n o era relacionado a este posto O posto foi s pro forma N s o tempo todo t nhamos o posto de segundo tenente mas receb amos como sargento Enfermeira Carlota Mello Toda essa confus o revela n o s o despreparo do Ex rcito em lidar com a quest o como tamb m a sua falta de previs o sobre a possibilidade real de se estender o Servi o Militar s mulheres o que j era objeto de considera
309. o C mara dos Deputados ainda em 1953 pode ser atestada aqui Temos a honra de submeter considera o o presente Projeto de Lei que regula o aproveitamento no Servi o de Sa de do Ex rcito das enfermeiras veteranas da FEB Como not rio nossas patr cias prestaram excelentes servi os profissionais excedendo se em zelo carinho e 167 A no o de patrimonialismo foi consagrada por S rgio Buarque de Holanda que j em 1936 demonstrou em seu livro Raizes do Brasil a caracter stica fundamental do homem cordial brasileiro que em sua d bil vida p blica era tenazmente propenso a n o considerar a fundamental diferen a entre seu interesse privado e a dimens o da esfera coletiva que o cingia HOLANDA 2006 p 159 61 168 A t tulo de curiosidade em 1959 por raz es de ordem interna e ideol gica Fernando Ferrari rompeu com o PTB e fundou o Movimento Trabalhista Renovador MTR em cuja sigla foi candidato a vice presidente da Rep blica em 1960 sendo o mais votado no Rio Grande do Sul Obteve mais de 2 milh es de votos Arquivo dispon vel em http pt wikipedia org wiki Movimento Trabalhista Renovador Acesso em 18 out 2010 196 elevado esp rito de solidariedade junto aos nossos her icos combatentes hospitalizados Estas palavras do deputado Ferrari podem ser consideradas como as de um porta voz autorizado que falou em nome do grupo de enfermeiras da FEB Sendo assim o efeito
310. o Outras fontes preciosas foram os registros deixados pelas pr prias febianas como o testemunho de Bertha Moraes publicado no livro Depoimento de Oficiais da Reserva s bre a FEB lan ado em 1947 de autoria de v rios expedicion rios al m de Bertha o livro Nas barbas do tedesco de Elza Cansan o de 1955 e o caderninho de impress es n o publicado da enfermeira Roselys Teixeira al m do di rio de guerra de Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Ali s esses registros trazem express es bem pessoais sobre a guerra em que elas atuaram e conservam ao tempo que consagram suas vozes Dentre as obras biogr ficas e autobiogr ficas utilizadas estiveram lbum biogr fico das febianas pesquisa da II Guerra Mundial 1976 organizado por Altamira Pereira Valadares A mulher brasileira na Segunda Guerra Mundial 1983 de Ol mpia de Ara jo Camerino E foi assim que a cobra fumou 1987 e Um Dois Esquerda Direita Acertem o passo 2003 de autoria de Elza Cansan o 18 Essas entrevistas est o no Centro de Documenta o da Escola Anna Nery UFRJ e Centro de Mem ria Nalva Pereira Caldas UERJ na cidade do Rio de Janeiro 1 O acesso a este caderno foi proporcionado pela pr pria autora no dia 04 11 2009 em sua resid ncia na cidade de Belo Horizonte N o se trata de sua vers o original mas de uma vers o revisada e digitada por seus sobrinhos Ded e Silvana que a presentearam por ocasi o de s
311. o Bernardes 2003 p 57 infere que o poder norte americano foi claramente exercido quando o Brasil acatou a sua solicita o Por ora salvo melhor ju zo parece ser esta a explica o mais plaus vel para a necessidade de se criar um quadro feminino de enfermagem no seio do Ex rcito o do reconhecimento das rela es de poder entre dominantes que imp em e dominados que se domesticam Ademais os ex rcitos fazem uso do poder que possuem de forma clara e expl cita 81 cab vel complementar esta id ia da suposta necessidade de se criar um corpo feminino de enfermagem no Ex rcito com as alega es de melhor se atender aos soldados brasileiros feridos e doentes que baixassem nos hospitais militares durante a guerra pela reprodu o da id ia da m e p tria ideal apregoado pelo Estado Novo pelo avan o dos movimentos feministas que mobilizou os pensamentos para a possibilidade de atua o feminina nos ex rcitos e de se reproduzir o padr o norte americano que somente contava com a presen a de mulheres nos quadros de enfermagem de seu sistema militar E foi assim sobre estes poss veis provis rios argumentos que o Ex rcito Brasileiro passaria a ter enfermeiras em seu Servi o de Sa de Disso vem a quest o problema como que o Ex rcito com todas as suas in meras e constatadas dificuldades iria criar organizar e treinar de uma hora para outra uma reserva feminina de enfermagem em condi es de atuar em hospit
312. o dispon vel em http www life com image 53368163 Acesso em 18 fev 2010 Apesar das controv rsias sobre sua identidade verdadeira a enfermeira Edith Shain que aparece na foto faleceu aos 91 anos em 20 06 2010 A identidade da enfermeira n o era conhecida at o final dos anos 1970 quando Shain escreveu ao fot grafo Alfred Eisenstaedt dizendo que ela era a mulher da foto tirada no dia 14 de agosto na poca em que trabalhava em um hospital da cidade de Nova York Arquivo dispon vel em http g globo com pop arte noticia 2010 06 morre enfermeira da 2a guerra de famosa foto de beijo em ny html Acesso em 30 jun 2010 71 Em propor es mais discretas que o caso norte americano o Brasil tamb m envolveria suas enfermeiras s urg ncias e aos apelos da Segunda Guerra Mundial fazendo com que respondessem a uma politica que associava o servi o ao pr ximo ao servi o p tria uma pol tica que permitisse consolidar um front interno e impor um regime de mobiliza o e subordina o da sociedade s pretens es do governo fazendo convergir politicas de sa de e saneamento com pol ticas de militariza o e enquadramento for ado da popula o CYTRYNOWICZ 2000 Nessa miss o a propaganda se fez ponto de apoio fundamental no sentido de conclamar as enfermeiras do pais seja em capas de revistas seja em jornais Era a imprensa estadonovista a servi o dos interesses da P tria para a cria o de uma atmosfera aus
313. o Lei n 3 084 de 01 03 1941 par grafo nico do Artigo 11 publicado no DO n 54 de 06 03 1941 p 3 977 transcrito no BE n 10 de 08 03 1941 p 647 94 Das mo as que se apresentaram ao Ex rcito apenas 67 foram efetivamente incorporadas no Servi o de Sa de da FEB Dessas 61 atuaram nos hospitais de campanha e seis realizaram um curso para se especializarem em transporte a reo de feridos na Base de Parnamirim na cidade de Natal trabalho que realizaram ao longo da guerra transportando os soldados brasileiros da It lia para o Brasil e para os Estados Unidos SILVEIRA 2001 p 108 relevante ressaltar que o tipo de forma o em enfermagem que possu am ou seja o capital cultural profissional de que tinham posse al m da experi ncia pr via que tiveram na profiss o funcionaram como leitmotiv que se faria not vel nos julgamentos acerca do pr prio grupo Com efeito a observa o desta condi o se reveste de valor uma vez que os diversos tipos de capital s o instrumentos de acumula o que quanto maior o volume possu do e investido pelo indiv duo em um determinado campo maiores ser o suas possibilidades de ter um bom retorno BOURDIEU 2007a Assim o seguinte excerto exemplar no sentido de evidenciar as repercuss es desta situa o na qualidade dos cuidados prestados pelas enfermeiras da FEB aos enfermos de guerra Isso foi ruim para a imagem das enfermeiras brasileiras Algumas das escolhidas ti
314. o autor 178 modifica es na configura o da equipe de enfermagem no campo militar como foi demonstrado nos escritos ora analisados NASCIMENTO 2004 Pelo que pontuou o coronel m dico o reconhecimento da necessidade de enfermeiras nas organiza es militares viabilizou a ado o de quadros militares femininos de enfermagem na maioria dos ex rcitos No Ex rcito Brasileiro entretanto este assunto passou a ser cogitado somente a partir de 1947 na administra o de Flor ncio de Abreu em 1951 na dire o de Marques Porto e em 1954 p s se novamente em foco quando passou a ser objeto de estudos e cogita es Ali s como premissas b sicas para a consecu o de um quadro feminino de enfermagem no Ex rcito o autor indicou duas 1 enfermagem profiss o feminina e 2 exige condi es intelectuais e morais ID NTICAS s exigidas para os oficiais MELLO 1954 v 1 p 671 Dentre todos os trabalhos apresentados no ICBMM sobre enfermagem um especial para este estudo cujo t tulo sugestivo foi Coopera o das enfermeiras na ltima guerra necessidade de cria o de um quadro permanente de enfermeiras militares nas For as Armadas de duas febianas as tenentes da Reserva de 2 Classe Ol mpia de Ara jo Camerino e Jacyra de Souza G es O texto de Ol mpia e Jacyra resume a hist ria da cria o do Quadro de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito Nele elas fizeram desfilar aspectos do voluntariado do t
315. o auxiliares de enfermagem Mais tarde o Regulamento do Servi o de Sa de do Ex rcito de 1953 tamb m previu a admiss o de religiosas de qualquer Congrega o ou Ordem desde que mediante contrato onde exerceriam fun es auxiliares de enfermagem e outras tarefas compat veis com suas condi es e possibilidades Mas ao longo do tempo as atividades das irm s ficaram restritas a atua es fora da enfermagem NASCIMENTO 2004 p 29 31 BRASIL 1953 p 902 205 Um relato bem humorado dessas dificuldades de relacionamento das irm s de caridade com os exercentes de enfermagem do HCE pode ser encontrado no livro Casos da Guerra que heroinas e her is da FEB contam 2002 p 192 3 organizado por Mario Ribeiro da Cruz 206 O Decreto n 1 900 de 07 03 1857 regulou a inclus o de enfermeiros no Corpo de Sa de do Ex rcito que foram distribu dos pelos hospitais e enfermarias militares da Corte sendo mantido um quantitativo no Quartel Permanente da Corte em caso de guerra imprevista PASSOS 2000 p 59 60 Tempos depois atrav s do Decreto n 15 230 regulamentou se em 1921 a forma o de enfermeiros no Corpo de Sa de do Ex rcito que constitu am o pessoal subalterno do Servi o de Sa de da For a Esses homens passaram a ser considerados profissionais desde 1932 quando atrav s do Decreto n 21 141 o Chefe do Governo Provis rio da Rep blica Get lio Vargas aprovou o Regulamento para o Quadro de Enfermeiros do Ex
316. o brasileiro p s 1930 Rio de Janeiro FGV CPDOC 2001 p 2151 2 LEITE Ju ara Luzia Enfermeiras da FEB quando as mulheres v o luta Revista do Ex rcito Brasileiro Rio de Janeiro v 137 n 1 p 53 9 jan abr 2000 LEONZO Nanci Nossas Marias Quit rias Revista do Ex rcito Brasileiro Rio de Janeiro v 135 p 47 55 1998 LURIE Alison A linguagem das roupas Rio de Janeiro Rocco 1997 290 MARSON Melina Izar Da feminista macha aos homens sens veis o feminismo no Brasil e as des constru es das identidades sexuais Cadernos AEL online Campinas v 2 3 n 3 4 p 69 110 1995 1996 MATOS Maria Izilda Santos de Por uma hist ria das sensibilidades em foco a masculinidade Hist ria Quest es amp Debates Curitiba n 34 p 45 63 2001 McCANN Frank D A alian a Brasil Estados Unidos 1937 1945 Trad Jayme Taddei e Jos L vio Dantas Rio de Janeiro Biblioteca do Ex rcito 1995 MEIHY Jos Carlos Sebe Bom Hist ria oral como fazer como pensar S o Paulo Contexto 2007 MENDES Juliana Cavilha Hist rias de quartel um estudo de masculinidades com oficiais fora da ativa Disserta o Mestrado em Antropologia Social Centro de Filosofia e Ci ncias Humanas Universidade Federal de Santa Catarina Florian polis 2002 MORA A Mabel Im pertinencia de la memoria hist rica en Am rica Latina In BERGERO Adriana J REATI Fernando Orgs Memoria colectiva y pol ticas de olvido Ar
317. o capital que crucial na determina o do seu peso diante dos outros agentes Outra concep o que este estudo elencou foi a pautada no capital profissional propriedade que tende a ofertar uma distin o a quem o possui mediante a certifica o e legitima o de hierarquias sociais al m de uma qualifica o t cnico cient fica que confere rentabilidade social e portanto a possibilidade de se ter familiaridade com certos bens culturais simb licos o que abre o acesso a determinados direitos e deveres por seus portadores que a qualquer momento dentro do c rculo profissional que frequentam poder o ser intimidados a exibi lo Mas os que n o o possuem a contento tamb m poder o ser intimados a apresentar seus comprovantes fundamentando uma esp cie de hierarquia de 39 natureza que faz com que os agentes estejam votados a dados estatutos e prescri es de um determinado campo Assim na defini o t cita do diploma ao assegurar formalmente uma compet ncia espec fica neste estudo o diploma de enfermeira est inscrito que ele garante realmente a posse de uma cultura geral tanto mais ampla e extensa quanto mais prestigioso for esse documento BOURDIEU 2007a Por esta l gica no corpo das an lises aqui tecidas atestado o apontamento dos efeitos produzidos pelas diferentes forma es em enfermagem que possu am as febianas Tal situa o foi continuamente evocada em dadas ocasi es antes e dep
318. o da benem rita imagem da enfermeira brasileira na l gica de guerra que se esquadrinhava se associava ao imagin rio da presen a materna nos campos de batalha que aliviaria a dor e o sofrimento dos soldados feridos Por esta forma a guerra aparecia como um momento de m xima dramaticidade capaz de p r prova todas as caracter sticas altru sticas de servir ao Estado e P tria CYTRYNOWICZ 2002 Desse modo a enfermagem brasileira enquanto profiss o predominantemente feminina e diante das rupturas ensejadas pelo Estado Novo e pela entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial o que se deu em 1943 encontrava se marcada por contradi es uma vez que tanto o Estado quanto a Igreja Cat lica convergiam no sentido de produzir um discurso de confinamento da mulher no espa o privado o qual refletia as constru es simb licas mais tradicionais das diferen as entre os sexos SANTOS et al 2010 Na empreitada de chamamento e prontid o de enfermeiras para a Segunda Guerra a Cruz Vermelha Brasileira teve uma fun o destacada e reconhecida na forma o de um contingente para atuar em situa es de conflito a quem era reproduzido um discurso de cumprimento do compromisso sagrado de oferecer o quanto houvesse de esfor o caridade abnega o e carinho para bem servir amparar e assistir aos que indistintamente recorressem s suas enfermeiras CY TRYNOWICZ 2002 Como um dos exemplos da amplitude desse intento mobilizat rio Maria
319. o de Opera es It lia O mesmo aconteceu com outras duas alunas da Escola Alfredo Pinto Luiza de Souza Botelho e Marina Serra de Melo Rolemberg que participaram da primeira turma do CEERE amp O modelo nightingaleano implantado no Rio de Janeiro na d cada de 1920 criado na Inglaterra vitoriana e repassado ao Brasil pelos Estados Unidos guardava as marcas das organiza es militares e das institui es religiosas para mulheres O modelo de escola de enfermagem trazido pelas enfermeiras americanas tinha como novidade em rela o ao modelo nightingaleano eminentemente hospitalar a inspira o do movimento de sa de p blica que ap s a Primeira Guerra ganhou grande impulso nos Estados Unidos SAUTHIER BARREIRA 1999 96 H que se mencionar que com o Estado Novo e a Segunda Guerra acirraram se certos conflitos entre as enfermeiras profissionais e as enfermeiras consideradas amadoras tradicionais pr ticas ou as que trabalhavam sem um curso formal como muitas irm s de caridade CYTRYNOWIZ 2000 Com efeito esta situa o foi uma das mais significativas sobre as rea es negativas que se abateram sobre a apari o p blica das enfermeiras da FEB a do n o reconhecimento pelas enfermeiras profissionais diplomadas da poca posto que a grande maioria das enfermeiras febianas 62 7 possu a apenas a forma o de volunt ria socorrista Assim que a heterogeneidade sobre o capital cultural profissional de enfermagem
320. o de percep es e aprecia es atualizadas sobre o seu grupo em tempo de paz Outrossim elas acabaram promovendo uma imagem tipo de enfermeira militar no pa s que se colocou em evid ncia no Estado Novo e que guardadas as devidas propor es tenderia a se consolidar num contexto desenvolvimentista d cada de 1950 como um sinal do car ter modernizador que as For as Armadas Brasileiras passaram a perseguir ap s a Segunda Guerra Mundial inclusive no avan o de sua enfermagem Com efeito as enfermeiras da FEB deixaram um legado para a hist ria da enfermagem militar brasileira ao terem dado uma nota pr via do que seria a admiss o de mulheres nas For as Armadas a partir da d cada de 1980 Palavras chave Enfermagem Hist ria da Enfermagem Enfermagem Militar ABSTRACT OLIVEIRA Alexandre Barbosa de Nurses of the Brazilian Expeditionary Force in front of the post war the process of reinsertion in the Active Military Service of the Army 1945 1957 2010 299f PhD in Nursing School of Nursing Anna Nery Center of Sciences of the Health Federal University of Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010 Historical social study which has as its object the process of reinclusion nurses of the Brazilian Expeditionary Force BEF in active service in the army after the Second World War Objectives to describe the circumstances that preceded the process of re inclusion of nurses of the BEF in Active Service Army after the Second World
321. o encarregado de consagrar celebrar Assim para as enfermeiras febianas posar ao lado do presidente da Rep blica em um evento que remonta a participa o da For a Expedicion ria na Segunda Guerra Mundial conferiu visibilidade ao grupo mediante sua divulga o em uma fotografia que apresenta a autoridade m xima do pa s o que denota a efic cia do capital social do grupo fotografado Outra estrat gia utilizada pelas febianas para serem reinclu das no Servi o Ativo foi a divulga o de seu trabalho de enfermagem de guerra em cen rios de discuss o de cunho cient fico como no do Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Militar ICBMM ocorrido entre os dias 11 e 15 de julho de 1954 na cidade de S o Paulo sob os ausp cios da Comiss o do IV Centen rio de S o Paulo e da Academia Brasileira de Medicina Militar cuja presid ncia estava a cargo do marechal m dico Emmanuel Marques Porto ex comandante do Servi o de Sa de da FEB 1944 1945 poca este conclave veio de encontro s necessidades de ordem organizacional e cient fica sentidas pelos Servi os de Sa de das For as Armadas do pa s ap s a experi ncia na Segunda Guerra Mundial Ao todo foram expedidos cerca de 5 000 of cios s autoridades civis e militares bibliotecas entidades culturais autarquias e agremia es particulares al m de 25 000 circulares dirigidas aos profissionais de sa de de todo o pa s A id ia da realiza o do Congresso surg
322. oas que bem possu ssem capital social e simb lico para que assim pudessem participar melhor dos jogos sociais em diversas circunst ncias Nisto o general Emmanuel Marques Porto ex chefe do Servi o de Sa de da FEB foi uma refer ncia proveitosa para o grupo A t tulo de demonstra o a fotografia que se segue ajuda a refor ar a id ia dos la os que o general e suas ex comandadas nutriam entre si 136 Como descrito por Moura 1991 p 443 Marques Porto dedicou se inteiramente medicina castrense atuou na Revolu o de 1930 no Movimento Constitucionalista de 1932 e na Segunda Guerra Mundial conquistou v rios t tulos nacionais e estrangeiros chefiou os servi os de sa de da 1 e 4 RM dirigiu hospitais militares foi instrutor na Escola de Sa de do Ex rcito e na Escola de Estado Maior do Ex rcito e da Aeron utica eleito presidente da Uni o Pan americana de Medicina Militar organizou o curso de forma o de sargentos especialistas de sa de bem como proporcionou v rios cursos de especializa o para oficiais e graduados presidiu a Academia Brasileira de Medicina Militar elaborou um novo regulamento para o Servi o de Sa de do Ex rcito em 1953 que inclusive reestruturou a Diretoria Geral de Sa de entre outros feitos 169 Hilma BERTHA ELZINHA L CIA SORNA MS TOS ELILDA SemTados LIMPIA GEN MARQUES PORTO ONDINA VIRGINIA Figura n 14 Resid ncia do general Emmanuel Marques Porto s d A
323. obrinha da enfermeira Ol mpia de Ara jo Camerino Apesar de n o se ter nenhum registro escrito que esclare a a data e a ocasi o em que foi produzida esta fotografia com o cruzamento de outras fontes deduz se que a foto registra um momento solene havido no mbito do Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Militar em 1954 A relev ncia deste registro encontra justificativa em ter congelado a imagem da enfermeira Ol mpia de Ara jo Camerino numa posi o destacada para uma mulher naquele cen rio e ocasi o o que atesta sua boa rede de rela es capital social e de prest gio capital simb lico no Ex rcito Logo sua retaguarda e ao centro da mesa est o marechal Emmanuel Marques Porto ladeado por outros oficiais generais Como explicou uma febiana A Ol mpia era muito destacada por eles porque ela j era funcion ria antiga do Minist rio da Guerra e amiga deles 153 As fontes foram entrevistas e os anais do ICBMM onde foram publicadas outras fotografias e textos das solenidades realizadas no congresso 183 Pelo teor dos textos que foram publicados nos anais deste que foi o primeiro encontro cient fico que reuniu m dicos militares das tr s for as armadas das for as auxiliares e de for as estrangeiras este congresso representou um importante marco simb lico para a enfermagem militar do pa s por ter acolhido em suas discuss es uma s rie de recomenda es para o desenvolvimento da pr tica
324. ode determinar a exclus o dos mesmos do campo Assim as transforma es operadas por esses agentes s o revolu es parciais ou seja s o revolu es que n o colocam em quest o os fundamentos do objeto de disputas jogo ao menos com evid ncia BOURDIEU 1983 p 91 Nessa vertente a fala que se segue traz uma cr tica de uma febiana n o ao Ex rcito mas forma com a qual La s Netto dos Reys conduziu a quest o Quando foi dada ordem para que o Ex rcito organizasse o seu corpo de enfermeiras este mandou chamar a diretora da Escola Oficial para que com suas alunas o organizasse Esta a primeira coisa que perguntou foi quanto v o ganhar essas enfermeiras E ao saber que o soldo seria apenas quinhentos e vinte r is respondeu que suas alunas n o se sujeitavam a ganhar t o pouco Foi ent o que o Ex rcito teve que aceitar volunt rias que n o perguntaram quanto iam ganhar mas que sentiram que seus irm os que iam para a luta precisavam de sua ajuda CANSAN O 1987 p 66 7 Se este julgamento encontra algum sentido deve ser ressaltado entretanto que La s Netto dos Reys e por extens o a Escola Anna Nery demonstraria outras formas de colabora o direta com as For as Armadas Brasileiras na constitui o de efetivos de enfermeiras para a Segunda Guerra n o com o Ex rcito propriamente mas com a Aeron utica efetivamente Ali s sobre esse n o atendimento de La s solicita o do Ex rc
325. ois da guerra que visavam geralmente legitimar as classifica es e hierarquias escolares e as possibilidades da maioria das febianas que possu am curso de volunt ria socorrista de apenas tr s meses de dura o tamb m no campo que acontece a estrutura o ou objetiva o do habitus disposi es socialmente constitu das que orientam as a es dos agentes Bourdieu 2005 afirma que os agentes espec ficos sejam eles seres humanos ou institui es s o estruturados e estruturantes no processo de naturaliza o da domina o Isto os agentes ao mesmo tempo em que t m o poder de moldar a sociedade s o por ela moldados uma vez que se trata de uma rela o dial tica entre a conjuntura e a estrutura do campo A inclus o de enfermeiras no campo do Ex rcito Brasileiro fez com que elas incorporassem um habitus militar que fosse consoante com o tipo de trabalho e rela es que iriam desenvolver no cen rio de guerra Entendido aqui como produto do aprendizado e da inculca o de certas normas e ideologias do Ex rcito a incorpora o do habitus militar que foi prescrita s febianas esteve condicionada aos esquemas de domina o que o Ex rcito enquanto institui o total bem soube operar A atualiza o deste habitus militar se mostraria ainda como uma estrat gia a ser utilizada no p s guerra quando algumas enfermeiras febianas mostraram se engajadas num processo de reconstru o social de uma imagem
326. ol gio Estadual de Minas Gerais localizado na Avenida Augusto de Lima pr ximo ao centro da cidade at o t rmino das obras na Pampulha A inaugura o e o in cio das aulas realizaram se a 21 04 1956 Com a conclus o das obras em fins de 1959 finalmente foi poss vel o funcionamento do Col gio totalmente reunido na Pampulha a partir de 1960 Hist rico do CMBH s d 227 toda obra Foi um tempo que eu trabalhei muito Mas foi bom porque eu estava entrando no meio Eu n o estava acostumada ent o o trabalho fez com que eu pulasse por cima das dificuldades Enfermeira Carlota Mello Acerca das necessidades de apoio de sa de espec ficas para o Col gio Militar de Belo Horizonte tem se o pr ximo recorte Naquela poca era importante o cuidado com a sa de dos meninos porque eles vinham de toda parte do Brasil para estudar aqui Eram poucos os col gios militares que existiam N o era em todo lugar como existe hoje N o tinha em Bras lia no Nordeste no Sul mas s no Rio de Janeiro e em S o Paulo Depois que fundaram o de Belo Horizonte Ent o vinha menino de toda parte do Brasil pra c E eles iam passar o fim de semana em casa Quando eles voltavam traziam as doen as Era gripe sarampo catapora caxumba e n o sei mais o qu Quando era doen a grave eles ficavam internados ou ent o em isolamento de hospital A gente foi trabalhando com higiene saneamento essas coisas
327. olenidade de formatura da primeira turma de oficiais do segmento feminino da EsAEx ocorrida em 1992 a major reformada Elza Cansan o Medeiros fez mais um de seus discursos perform ticos que apontou o caso das febianas como exemplo a ser seguido pelas novas oficiais do Ex rcito De acordo com os entendimentos verbais que tive com V Exa general de Ex rcito Carlos Tinoco Ribeiro Gomes ministro do Ex rcito venho complementar efetivamente a doa o do pr mio Veterana da FEB que ofereci para a aluna oficial que mais se destacasse na turma da Escola de Administra o do Ex rcito Hoje vejo com alegria ingressarem aquelas que ser o as nossas seguidoras na carreira das armas no Ex rcito Coube V Exa a primazia de implantar novamente um quadro que se extinguira quando se reformaram as ltimas oficiais enfermeiras da FEB em 1976 Em 1959 at a data de meu desligamento do Servi o Ativo lutei para que fossem readmitidas as mulheres no oficialato do Ex rcito entretanto v rias foram as barreiras encontradas Hoje vejo com alegria que elas foram superadas Esperamos Sr Ministro que estas jovens que ora ingressam no oficialato se mirem em nosso exemplo Permita me parabeniz lo e ao Ex rcito por este passo frente na moderniza o de seu quadros MEDEIROS 1992 Sem d vida este era um novo tempo diferente daquele em que as febianas chegaram no Ex rcito h quase cinco d
328. omo pode ser constatado destes fragmentos Para mim a desmobiliza o n o influenciou grandes coisas porque eu tinha uma vida social j estabelecida tinha uma situa o boa Ap s a guerra eu passei dois anos passeando e descansando Depois resolvi fazer concurso para o Banco do Brasil Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Quando voltei eu me apresentei ao meu servi o Eu j era funcion ria da prefeitura onde exercia a fun o de pr tica de laborat rio Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Quando terminou a guerra cada uma foi cuidar da sua vida Ent o saiu no jornal que estavam procurando mo as capacitadas para trabalhar na Associa o de Cr dito Assist ncia Rural patrocinado pela Funda o Rockefeller um grupo norte americano A eu fui trabalhar no interior dando assist ncia s fam lias rurais Era um trabalho de assist ncia s donas de casa na pr tica da costura cozinha higiene essas coisas A equipe era composta por engenheiros agr nomos veterin rios m dicos dentistas assistentes sociais e enfermeiras Enfermeira Roselys Teixeira Gazzinelli Logo ap s a guerra algumas febianas criaram um curioso clube que batizaram de Clube de Oficiais Enfermeiras de Guerra o COEGUE onde eram feitas algumas reuni es no apartamento da enfermeira Zilda Nogueira Rodrigues no bairro do Leme Rio de Janeiro Nesses encontros seus contatos eram
329. onal que jamais seria recuperado Assim acompanhar a trajet ria dessas leis fundamental para se compreender algumas posturas posteriormente assumidas por grande parte dos expedicion rios BARCELLOS 1965 MELLO 1978 Nesse sentido sobre o processo de reinclus o das enfermeiras febianas no Servi o Militar Ativo do Ex rcito ponto de interesse desta pesquisa um aspecto deve ser considerado o de que suas estrat gias foram moldadas em dadas circunst ncias em sintonia com a luta de ressocializa o dos veteranos da reserva da FEB Ademais ap s o t rmino da guerra duas alternativas emergiram como poss veis para a resolu o dos problemas dos veteranos de curto e longo prazo Uma delas mais contestadora visava conquistar os direitos e benef cios dos ex combatentes bem como manter a chama da mem ria expedicion ria atrav s da intensifica o dos conflitos sociais e de classe Outra mais conservadora entendia que a melhor pol tica era n o enfrentar o Estado mas conseguir os benef cios atrav s de negocia o com seus representantes sem enfrentamentos e sem qualquer conota o esquerdista A via conservadora venceu e foi mantido um padr o de Para um aprofundamento sobre os problemas de ressocializa o dos ex combatentes brasileiros ap s o t rmino da Segunda Guerra consultar a tese de doutorado 4 guerra que n o acabou a reintegra o social dos veteranos da For a Expedicion ria Brasileira 1945 2000 d
330. onde se propunha que fosse recomendado s Diretorias de Sa de dos Minist rios de Guerra Marinha e Aeron utica que estruturassem seus cursos para pessoal de enfermagem segundo a Lei n 775 49 para o que se conseguiu 21 assinaturas Entretanto esta mo o acabou n o sendo posta em vota o pois foi alegado que os cursos de enfermagem das For as Armadas estavam sendo fechados ROZAS 1959 p 437 Sem d vida o problema de enfermagem nas For as Armadas era o mesmo da enfermagem no Brasil e no mundo provavelmente de defici ncia de enfermeiros e enfermeiras de alto padr o como labutavam os hospitais do pa s poca o que foi inclusive constatado pela ABEn atrav s do seu Centro de Levantamento de Recursos e Necessidades de Enfermagem Ainda sobre os esfor os para a cria o de um quadro feminino de enfermagem e inclusive sobre os poss veis lucros que a consecu o desse pleito poderia trazer s pr prias febianas que estavam na ativa uma das entrevistadas declarou Eu me lembro que houve um movimento que achei justo Mas tamb m bom porque com certeza iriam aumentar o posto da gente Achei que n s f ssemos subir e que ia ficar mais conhecida a enfermeira no Ex rcito Mas nessa ocasi o a id ia n o vingou pois a pr pria Diretoria de Sa de do Ex rcito quem empatava Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Apesar de um ou outro esfor o ou simpatia para com este Quadro A
331. onsidera es Finais 263 264 Durante o Estado Novo de Get lio Vargas 1937 1945 foi criada e organizada a For a Expedicion ria Brasileira que viria a se integrar ao V Ex rcito Norte Americano na It lia por ocasi o da Segunda Guerra Mundial 1939 1945 Para dar sustenta o ao discurso oficial de que n o faltaria socorro aos cidad os brasileiros que se prontificariam a defender a Na o o Ex rcito se viu s voltas para organizar um Corpo de Sa de para o qual houve a necessidade de se contar com enfermagem Diante do parco n mero de enfermeiras diplomadas existentes poca no pa s e das dificuldades de negocia o das autoridades militares com as l deres da enfermagem a decis o foi a de partir para o recrutamento de volunt rias Com efeito o apelo patri tico minou a necessidade de uma melhor sele o e adequado treinamento para aquelas que iriam acompanhar a FEB A estrat gia de divulga o de not cias pela imprensa enaltecendo as qualidades da mulher brasileira e da profiss o de enfermeira e sua relev ncia nos tempos de guerra foi utilizada com efic cia pois centenas de mo as se apresentaram para sele o e treinamento Dessas 67 seguiram para o Teatro de Opera es sendo que apenas seis delas eram enfermeiras diplomadas enquanto que as demais haviam feito cursos de samaritana e de volunt ria socorrista Simbolicamente apoiadas pelos discursos militar e patri tico as enfermeiras operaram ruptura
332. onstroem e esculpem os corpos biol gicos n o s enquanto sexo genital mas igualmente moldando os a pr ticas normativas Com efeito nas imagens e textos selecionados podemos encontrar representa es sociais que instituem o mundo em suas clivagens valorativas nos recortes significativos que definem as categorias de percep o an lise e defini o do social ORTOLAN 2007 p 2 4 Sobre sua fala pret rita anteriormente transcrita que bem valorizou o trabalho dom stico o que pareceu at avesso impr prio quele momento de retomada das febianas de posi es nos espa os do Ex rcito a mesma enfermeira comentou depois Pois eu falei do lar Eu nunca casei Eu fiquei sempre morando com meus pais Quem era a chefe da casa era a minha m e Eu n o posso dizer que fizesse qualquer coisa em casa Eu ia fazer coisas fora Mas se eu tivesse casado lamentando Eu acho mais bonito a mulher ficar do lado do seu marido Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Conjugada a este tipo de discurso est a id ia de que as mudan as da condi o feminina obedecem a l gica do modelo tradicional entre o masculino e o feminino N o obstante a presen a feminina no Ex rcito os homens continuariam a dominar o espa o e 179 a O grifo meu 203 por conseguinte as reas de poder neste mesmo espa o ao passo que as mulheres ficariam destinadas predominantemente a reproduzirem neste espa
333. ooperando eficientemente para o bom andamento do Servi o de Sa de naquele setor especialmente no tocante boa apresenta o das suas depend ncias Disciplinada pontual finamente educada fa o lhe este justo elogio e agrade o lhe a valiosa coopera o INDIVIDUAL Comuns na cultura militar os elogios sobretudo os individuais tendem a fazer distin es e promover diferen as ou seja distinguir os agentes de um campo Enquanto pr tica motivacional eles geralmente re nem em si certos valores que s o tidos como essenciais para a forma o dignifica o e distin o de um membro das For as Armadas valores estes que servem para a forma o de um quadro mental esp rito tido como t pico desses espa os um habitus enfim TAVARES 2009 O excerto do depoimento abaixo corrobora essa assertiva Na Policl nica eu era muito elogiada Gra as a Deus eu sempre tive elogio Nunca fui chamada a aten o de nada Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Da an lise de alguns elogios dirigidos s febianas convocadas logo ap s sua reinclus o h certos ind cios do tipo de trabalho que elas passaram a desenvolver e do grau de aceita o reconhecimento induzido delas nas unidades onde foram servir Dentre os valores virtudes militares que geralmente foram ressaltados nesses elogios estiveram os de 202 Publicado no BI n 43 de 24 02 1959 do CMBH 230 responsabilidade iniciativa
334. os de abnega o carinho amabilidade esp rito mission rio prontid o como elementos morais imprescind veis para a sua pr tica No mago e na reprodu o desse tipo de discurso tais atributos femininos s acabam estigmatizando a pr tica Com efeito o texto de Bertha apropria e aproveita um discurso que masculino numa causa feminina o que em suma promove a manuten o da ordem estabelecida CHARTIER 1995 p 40 Entretanto no final das contas seus argumentos acabaram encontrando alguma for a por terem sido publicados num livro instrumento eficaz de comunica o p blica ainda mais sendo ele proibido o que por seu turno teria conferido sua publica o alguma curiosidade Isso porque o verdadeiro princ pio da magia dos enunciados performativos reside no mist rio do minist rio isto na delega o ao cabo da qual um agente singular recebe o mandato de falar em nome do grupo BOURDIEU 1998 p 63 Sendo assim o livro como ve culo de comunica o consegue fazer com que seus leitores tratem o discurso nele contido como ele 149 quer ser tratado e nesse contexto que a viol ncia simb lica se faz presente em todo discurso ideol gico Assim entre uma cr tica mais direta e um argumento mais idealizado aquela febiana anunciou enfaticamente s lideran as militares e sociedade da poca a sua posi o acerca da viabilidade de se haver um lugar para as mulheres na zona de combate Al m disso
335. os que levaram as febianas a n o realizarem um curso superior de enfermagem no p s guerra N o n o Por que e para qu N s sab amos muit ssimo mais do que as enfermeiras diplomadas E ela se justifica e se defende assim Voc s n o fazem id ia do que foi o trabalho que n s realizamos l na guerra e o que n s tivemos que atender Coisas que jamais foram vistas aqui Tudo o que n s t nhamos l era completamente diferente do que se tinha aqui Enquanto aqui n s t nhamos lixo pin a enferrujada e essas porcarias todas l n s t nhamos o que havia de mais moderno poss vel Foi a primeira vez que se abriu um cora o para o qu foi criada a t cnica na hora Um ano de guerra vale por seis anos de Escola de Enfermagem Tanto que os estudantes de medicina do 5 ano foram diplomados quando voltaram Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Ela continua exaltando o seu m rito e o do grupo que comandou nessa experi ncia pr via Uma coisa que eu me ressinto de n o terem me dado o t tulo de Honoris Causa porque eu chefiei um hospital de 1 200 leitos Quem naquela poca aqui no Brasil j tinha visto um hospital de 1 200 leitos No dia 23 de dezembro de 1944 eu tinha cerca de 1 000 doentes brasileiros internados no hospital e os americanos tinham 200 Eu tinha 24 enfermeiras e os americanos tinham 67 Nosso trabalho n o era brincadeira n o Nosso trabalho era de s
336. osto de 1944 Cria no Ex rcito as condecora es denominadas Medalha de Campanha Medalha de Guerra e Cruz de Combate Decreto Lei n 8 760 de 21 de janeiro de 1946 Cria o Quadro Auxiliar de Oficiais Decreto Lei n 9 500 de 23 de julho de 1946 Lei de Servi o Militar Decreto Lei n 9 698 de 2 de setembro de 1946 Aprova o Estatuto dos Militares Lei n 646 de 4 de mar o de 1949 Disp e sobre o amparo a participantes da For a Expedicion ria Brasileira que serviram no teatro de opera es da It lia em 1944 e 1945 Lei n 775 de 6 de agosto de 1949 Disp e sobre o ensino de enfermagem no pa s e d outras provid ncias Lei n 1 147 de 25 de junho de 1950 Estabelece medidas de amparo e assist ncia aos ex combatentes Regulamento de contin ncias signaes de respeito honrarias e cerimonial militar para o Ex rcito e a Armada Rio de Janeiro Imprensa do Estado Maior do Ex rcito 1937 C mara dos Deputados Projeto de Lei n 265 51 Apresentado pelo deputado Lutero Vargas em 2 de maio de 1951 Torna extensivas as enfermeiras que prestaram servi os no 1 Grupo de Ca a as disposi es da Lei n 1 209 de 25 de outubro de 1950 que incluiu na reserva do Ex rcito as enfermeiras que participaram das opera es de guerra junto For a Expedicion ria Brasileira C mara dos Deputados Projeto de lei n 2 891 57 Apresentado pelo deputado Benjamin Farah em 5 de julho de 1957 Inclui na Res
337. oteca do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial Centro de Documenta o da Escola Anna Nery UFRJ Centro de Mem ria Nalva Pereira Caldas UERJ Casa de Oswaldo Cruz Arquivo Hist rico do Ex rcito PDC arquivo do Col gio Militar de Belo Horizonte arquivo morto da Policl nica Militar do Rio de Janeiro acervo da Academia Brasileira de Medicina Militar Rio de Janeiro Associa o dos Ex Combatentes do Brasil Se o Rio de Janeiro Acervo da Casa da FEB Belo Horizonte Museu da FEB Rio de Janeiro Acervo da FEB PDC organizado pela febiana Elza Cansan o Medeiros acervo pessoal das febianas Carlota Mello Elza Cansan o Medeiros Roselys Teixeira Gazzinelli e Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero al m de guardados particulares disponibilizados pela sobrinha da febiana Ol mpia de Ara jo Camerino 47 As decis es tomadas para o processamento das fontes envolveram o uso de tr s m todos o de hist ria oral tem tica o de an lise fotogr fica e o de an lise documental sobre os quais passo a fazer algumas considera es Escrever hist ria sem o contato com os agentes que a vivenciaram e moldaram uma tarefa dif cil Para este estudo tive a felicidade e a boa sorte de conseguir entrevistar e me aproximar amistosamente de quatro das 67 enfermeiras que compuseram a FEB Todas elas foram muito sol citas e criaram uma atmosfera toda favor vel para que esta pesquisa obtivesse os dados necess rios
338. ou tamb m com a presen a de uma comitiva de professoras e alunas da Escola Anna Nery COELHO 1997 p 193 71 estavam sendo vitimados pela febre amarela e mal ria Este acordo tamb m previa a ocupa o do litoral norte nordeste do territ rio brasileiro por bases militares norte americanas por configurarem se em reas geograficamente estrat gicas para impedir o acesso nazifacista Am rica Latina Nesse sentido fazia se necess rio que se assegurassem tamb m as condi es de sa de dos militares que viessem a atuar nessas bases OLIVEIRA BARREIRA 2000 p 209 211 CAMPOS 2006 O SESP contou com a participa o da enfermeira Claire Louise Kieninger primeira diretora da Escola Anna Nery 1922 1925 como interlocutora entre as enfermeiras brasileiras e o Servi o poca Kieninger se reportava ao discurso patri tico enaltecendo o papel da enfermeira na guerra ao tempo que denunciava a escassez dessa profissional no Brasil RENOVATO BAGNATO 2008 BARREIRA BAPTISTA 2002 Essas demonstra es de afinidades entre a enfermagem e as coisas do universo militar eram estrat gicas para ambos os lados No caso da enfermagem a ades o ao apelo patri tico dava visibilidade profiss o mediante a divulga o de sua import ncia em situa es de conflito Nesse sentido se fez expl cita a incorpora o de representa es objetivas das estruturas militares como o sentido de prontid o de alerta de marcha e de abnega o
339. ouvor a celebra o enfim a distin o Ali s pr prio da cultura militar o uso de elogios que distinguem aqueles cumpridores da miss o merecedores das honrarias e das aten es nos desfiles de suas vit rias O tom singular dos elogios militares com seus c digos bem moldados deixa ver um encanto de um instante e incute nos elogiados sentimentos e id ias que visam no final das contas a preserva o dos valores e do estado das coisas militares Por certo os dominantes legitimam a domina o por meio da produ o simb lica que os elogios por exemplo outorgam Nas rela es sociais e culturais nem todos os grupos t m o mesmo poder de identifica o ou seja nem todos os grupos t m a mesma autoridade de nomea o e autonomea o CUCHE 2002 p 186 Somente o grupo que sustenta os processos simb licos e materiais de produ o da alteridade pode impor as suas pr prias defini es Dessa forma os sistemas simb licos cumprem sua fun o como instrumentos de imposi o ou de legitima o de domina o viol ncia simb lica refor ando consegiientemente as rela es de for as expressas nos jogos sociais BOURDIEU 2006 Assim os elogios e as honrarias conferem um poder aos agraciados e um poder sobre os agraciados A t tulo de exemplifica o em trecho do livro testemunho 4 FEB pelo seu comandante publicado em 1947 de autoria do rec m promovido a marechal de Ex rcito Jo o Baptista Mascarenhas
340. ouza G es febiana reformada 241 modo que seja favor vel o julgamento do que representou a pr tica deste grupo o que acaba por conferir mais afinidade de sua pr tica com o pr prio sistema militar e sua cultura Assim com o passar do tempo as enfermeiras febianas acumularam um capital militar cujo peso e volume lhes conferiu dentro de certos limites um melhor espa o como oficial nas unidades de sa de do Ex rcito em que atuaram N o obstante este capital que encontrou o seu valor dentro dos limites internos do pr prio campo do Ex rcito e nalgumas institui es de enfermagem paramilitares a ele diretamente vinculadas como a Cruz Vermelha n o fora suficiente para bem posicion las no campo da enfermagem posto que rar ssimas muito pontuais incontroversas e s vezes algo contradit rias foram as men es sobre a exist ncia dessas oficiais enfermeiras do Ex rcito como se pode perceber no coment rio publicado na RBEn sobre a Cerim nia de Concess o de Medalhas de Bons Servi os da Cruz Vermelha Brasileira A Sociedade da Cruz Vermelha Brasileira aproveitou o Dia da Enfermeira para entregar medalhas de m rito s enfermeiras da Cruz Vermelha que integraram a FEB Momentos de confraterniza o como esses acentuam a situa o segura da enfermeira nos ambientes hospitalares de mentalidade nova e sadia RBEn jun 1958 n 2 p 168 Outro coment rio n o com esse mesmo tom laudat rio mas tomado por certa
341. pa s 1964 1985 Entretanto mesmo na reserva ou reformadas elas continuaram a alimentar sua identidade veterana em algumas ocasi es curiosas no sentido de valorizarem sua mem ria e por extens o de interditarem seu esquecimento Ali s elas ficariam para o resto da vida marcadas com o ep teto de enfermeiras de guerra o que as distinguia e promovia certos ganhos materiais e simb licos Indubitavelmente as febianas deixaram um legado para a hist ria da enfermagem militar brasileira ao terem dado uma nota pr via do que seria a admiss o de mulheres nas For as Armadas na d cada de 1980 Um exemplo nos termos da enfermeira Elza Cansan o Medeiros Ademais numa poca como a de hoje em que o conhecimento de enfermagem ainda busca sustenta o te rica e pr tica estando num estar por fazer o estudo dos exemplos dos tempos passados da profiss o como este caso particular das enfermeiras da FEB ajuda a entender um pouco os porqu s do nosso agora E mais conforma mais cr tica reflex o e criatividade nos nossos pensamentos e diagn sticos No exame da hist ria das febianas os conceitos da Teoria do Mundo Social de Pierre Bourdieu bem como os estudos sobre a hist ria das mulheres de Michelle Perrot conjugados com as fontes e m todos eleitos bem auxiliaram nas vers es e interpreta es aqui constru das provisoriamente 22 Alerto que n o tive reais pretens es de simplificar a discuss o epistemol gi
342. pa ses FALC O 1999 VIVEGANL 1986 Uma guerra total 3 A Grande Depress o foi uma depress o econ mica que teve in cio em 1929 e que persistiu ao longo da d cada de 1930 terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial considerada o pior e o mais longo per odo de recess o econ mica do s culo XX por provocar altas taxas de desemprego quedas dr sticas do produto interno bruto de diversos pa ses bem como quedas siginificativas na produ o industrial pre os de a es e em praticamente todo medidor de atividade econ mica em diversos pa ses no mundo FAUSTO 1999 31 A Segunda Guerra Mundial foi um conflito militar que teve in cio em 1 de setembro de 1939 e findou em 14 de agosto de 1945 e envolveu a maioria das na es do planeta incluindo todas as grandes pot ncias organizadas em duas alian as militares opostas os Aliados e o Eixo Foi a guerra mais abrangente da hist ria com mais de 100 milh es de militares mobilizados Em estado de guerra total os principais envolvidos dedicaram toda sua capacidade econ mica industrial e cient fica a servi o dos esfor os de guerra deixando de lado a distin o entre recursos civis e militares Marcado por um n mero significante de ataques contra civis vide Holocausto foi a nica vez em que armas nucleares foram utilizadas em combate sendo o conflito mais letal da hist ria da humanidade com mais de 70 milh es de mortos SOMMERVILLE 2008 67 que trar
343. panha da It lia como membros da For a Expedicion ria Brasileira do 1 Grupo de Avia o de Ca a da For a A rea Brasileira e do Corpo de Enfermeiras Quantitativamente o n mero de membros destes dois ltimos grupos bastante reduzido em rela o aos da FEB historicamente participaram da mesma guerra no mesmo Teatro de Opera es e compartilham mem rias de guerra comuns por fim pertencem s mesmas associa es participam das mesmas cerim nias e n o se distinguem uns dos outros pelas unidades das quais fizeram parte Todos estavam na mesma guerra Se esta tese privilegiou os expedicion rios da FEB foi por sua propor o num rica durante e depois do conflito e n o pela avalia o da import ncia ou n o de cada grupo dentro da guerra que travaram na It lia FERRAZ 2003 p 10 Alvo de constantes reflex es foi a viabilidade desta investiga o uma vez que o acesso e a descoberta das fontes de pesquisa que fossem efetivamente adequadas e serv veis para assegurar a constru o deste estudo deu se de forma gradual e muito trabalhosa Diversos arquivos centros de documenta o bibliotecas e acervos institucionais e pessoais foram consultados Ao t rmino das primeiras buscas a constata o da exist ncia de poucos registros publicados sobre as enfermeiras febianas serviu para motivar ainda mais a pesquisa e a defender a id ia de que tal escassez vem demonstrar mesmo o seu esquecimento OLIVEIRA 2007 Outra con
344. piciosa de guerra VELLOSO 1982 p 72 situa o bem parecida com a que se deu no chamamento de enfermeiras norte americanas para as For as Armadas dos Estados Unidos Como exemplo segue a capa de uma revista semanal da poca ENFERMEIRAS PARA DBRASI Figura n 03 Capa da Revista O Cruzeiro 1943 Arquivo dispon vel em http Awww cliohistoria hpg ig com br bco imagens 2gm brasil cruzeiro 2 htm Acesso em 11 mar 2010 72 Nesta capa v se a imagem de uma jovem e bela enfermeira que de algum modo lembra o tipo f sico de enfermeira veiculado nas revistas e p steres norte americanos da mesma poca RUBINO 2007 Est ela bem maquiada e penteada seus tra os s o expressivos veste uniforme branco e est sorridente sua retaguarda est a imagem de uma cruz vermelha e na borda inferior a inscri o enfermeiras para o Brasil A express o sorridente dessa figura feminina aliada inscri o na capa dessa revista permite s leitoras mulheres brasileiras a ado o do pensamento inculca o de que ao aderirem ao chamado teriam a garantia de que tamb m ficariam satisfeitas com esta decis o de servirem P tria como enfermeira Ademais o pr prio uso de seu uniforme e a estampa da cruz vermelha evidencia os tempos de guerra Vele ressaltar que a Segunda Guerra Mundial definiu a constitui o de um processo de total indistin o entre os campos civil e militar de forma que todos os setores da vida
345. pontualidade zelo desempenho efici ncia desprendimento educa o organiza o assiduidade entusiasmo disciplina dedica o e interesse ao servi o valores estes que em muito fazem nexo com as necessidades de uma vida castrense regrada e por isso bem alinhada com os anseios do comando e da institui o Portanto o foco era o de ambient las no campo e de formatar seus comportamentos para a devo o das normas e prescri es estabelecidas Nesse caso as palavras t m o efeito de consagrar uma identidade consoante com as coisas e pr ticas militares uma vez que o tratamento distintivo tende a penhorar o sujeito consagrado a se comportar de acordo com a sua nova identidade social BOURDIEU 1998 p 101 H ainda que se considerar que de acordo com as unidades aonde foram classificadas as febianas convocadas passaram a servir com irm s de caridade enfermeiras profissionais diplomadas auxiliares de enfermagem atendentes e auxiliares de servi os m dicos al m de soldados padioleiros cabos e sargentos enfermeiros masculinos Todos estes exercentes de enfermagem j se encontravam distribu dos pelos hospitais policl nicas postos m dicos col gios militares e outras organiza es onde elas foram lotadas e a priori eram detentores de um capital militar principalmente no caso dos sargentos enfermeiros e cultural profissional de enfermagem especialmente no caso das enfermeiras profissionais Com estes exercentes
346. priada a id ia de Bourdieu 2006 p 159 de que a pol tica o lugar por excel ncia da efic cia simb lica a o que se exerce por sinais capazes de produzir coisas sociais e sobretudo grupos Assim os porta vozes ao utilizarem se do 19 Trecho do texto publicado no Di rio do Congresso Nacional Se o I 13 11 1953 p 4121 2 17 D Ara jo 1990 p 201 refere que o nepotismo e o clientelismo passaram a ganhar vulto no mbito do PTB na d cada de 1950 logo ap s a morte de Vargas 197 poder que a pol tica lhes confere em falar em nome de um grupo e sobre este grupo acabam colocando a exist ncia desse grupo em quest o pela opera o de magia que inerente a todo ato de nomea o Ora pois a Lei n 3 160 57 passou a fazer parte de uma ampla legisla o de amparo aos ex combatentes que em boa parte envolvia o sistema clientelista de distribui o de cargos e vantagens aos protegidos de pol ticos Ali s numa estrutura pol tica como a brasileira em que os representantes eleitos pelo povo s o medidos pela sua efici ncia na distribui o dos dividendos da pol tica do favor os ex combatentes sempre foram concorrentes diretos parte mais importante da distribui o de vantagens e sinecuras de pol ticos do Legislativo e do Executivo E nisso n o se pode deixar de incluir as enfermeiras febianas FERRAZ 2003 p 233 Outrossim os pr prios veteranos aceitavam essa ordem das coisas O clientelismo
347. publicada na Revista do Col gio Militar de Belo Horizonte ano I n 1 1958 1959 p 24 210 Publicado no BI n 250 de 11 12 1959 do CMBH O grifo meu 236 apresentar a esses outros a imagem de si o mais honrosa poss vel e apropriada para algu m que se quer fazer crer como oficial de Ex rcito Assim assumir a postura correta uma forma de respeitar a si pr prio e de exigir respeito Outrossim a concess o conferida a elas de se fazerem destacadas na fotografia entre militares de maior posto hier rquico garantiu para elas mesmas o testemunho e o endosso de suas presen as naquele espa o social BOURDIEU BOURDIEU 2006 Um aspecto que merece destaque o de que ao tomarem parte dos rituais militares as febianas se investiram de uma identidade militar Mesmo porque os ritos institucionais marcam esteticamente e solenemente a passagem de uma linha simb lica que instaura uma divis o fundamental da ordem social mediante seu efeito de consigna o estatut ria pois aquele que institu do sente se compelido a ser e agir conforme sua nova identidade no espa o social Sobre isso tem se o seguinte recorte Tudo quanto era evento que o Col gio Militar era convidado eu era escalada para ir Na primeira vez que eu tive que subir num palanque e falar um ex combatente me deu o bra o e subiu comigo Ele viu que eu estava tremendo e disse Vai Se te derem a palavra voc fala Fala o que vier na sua boca fala boba
348. putado Pedroso J nior pode se atestar que os artif cios pol ticos pelos quais se buscava construir a imagem das febianas foram marcados por Julgamentos preno es sentimentos que em muito foram influenciados pelas media es do campo social Este esfor o era cabido para se gerar uma esp cie de marketing favor vel do grupo Mas apesar do trabalho das emo es despendido com argumentos de que as febianas pagaram seu tributo de sangue na guerra e a estranha analogia entre elas e as v timas do Eixo os resultados n o foram t o favor veis naquele momento como se atesta no parecer da Comiss o de Constitui o e Justi a Sempre temos opinado que a lei a bem do seu pr prio prest gio nunca deve conter ou acobertar ou impor uma fic o ou inverdade Como mandar pagar como tenente quem tenente n o era Gostar amos de poder concordar com o ilustre colega autor do projeto e poder satisfazer as dignas patr cias que t o valorosamente contribu ram com seu quinh o de 153 devotamento e patriotismo para a vit ria contra o Eixo Mas a verdade que os deveres e as responsabilidades do legislador nem sempre se conciliam z E o E E 2 com os desejos da boa vontade e com as injun es do sentimentalismo N o obstante apesar dos apontamentos sobre a identidade militar das febianas e sobre o diagn stico de sentimentalismo do texto do projeto os membros da Comiss o tentaram um s
349. quado ao inverno europeu a novidade de ter que se haver com a chefia de sargentos enfermeiros do Servi o de Sa de do Ex rcito as rela es assim tricas com as enfermeiras norte americanas com maior capital militar e profissional e incorporadas ao ex rcito que comandava a guerra as dificuldades de comunica o na l ngua oficial a realidade cruenta dos hospitais de campanha e o contato com o mundo estrangeiro SILVEIRA 2001 VALADARES 2001 Os relatos a seguir evidenciam algo da necessidade de adapta o e assimila o da rotina norte americana pelas brasileiras Enquadradas no V Ex rcito Norte Americano tivemos que seguir suas normas Com o extraordin rio poder de adapta o que uma das qualidades principais dos brasileiros pudemos desempenhar a delicada e importante miss o que nos foi confiada conseguindo diversas de n s 108 elogios n o s do comando brasileiro como tamb m do americano PORTOCARRERO 1957 Eu trabalhava igual a elas norte americanas Eu sempre dizia Quero ver como voc s fazem primeiro porque n o sei se meu jeito combina Achava que era eu quem tinha que se adaptar Eu atendia junto com elas Enfermeira Hilda Ribeiro A posi o desvantajosa em que as febianas foram incorporadas aos hospitais de campanha em rela o das norte americanas decorreu de diversos fatores os quais envolveram compet ncia t cnica incorpora o de habitus m
350. querimentos o que impediu que as febianas requeressem quando foram classificadas na Reserva de 2 Classe somente em 1950 pela Lei n 1 209 168 forma de se movimentar as rela es entre o mundo interior militar e o mundo exterior civil CASTRO 2004 ROSA 2007 Outra enfermeira febiana deixa claro em sua fala que n o chegou a se envolver tamb m neste processo Essa parte n o me tocou Quando acabou a guerra cada qual teve que arranjar o seu emprego porque se n o tivesse emprego ia morrer de fome Ent o o que a gente fez Cada uma foi cuidar da sua vida Eu fui logo trabalhar nisso naquilo Ent o eu n o fiquei naquela expectativa preocupada aguardando as coisas Enfermeira Roselys Teixeira Gazzinelli Estas falas deixam ver que n o houve uma ades o efetiva de todo o grupo na defesa direta da reinclus o delas no Ex rcito Por certo poucas mesmo foram as que se dispuseram a se mobilizar na busca por apoio pol tico uma vez que boa parte delas n o necessitava prover de seus pr prios meios para se sustentar ou ainda porque n o desejavam se expor nos meios sociais que pertenciam N o obstante nas fontes acessadas comum o registro de que a representa o p blica das enfermeiras febianas era tida como estranha transgressora e criadora de certo mal estar O trunfo que o grupo bem sabia utilizar para n o parecer t o fora de lugar era geralmente o de articular se e de envolver se com pess
351. r a la admisi n de mujeres en las Fuerzas Armadas desde la d cada de 1980 Palabras clave Enfermer a Historia de la Enfermer a Enfermer a Militar N 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 LISTA DE FIGURAS Descri o P g Life Magazine Cover Jomar 068 Fim da Segunda Guerra Mundial Times Square New York 1945 070 Capa da Revista O Cruzeiro 1943 enpiasandaiioadiadaoaas dada ada dra ES OUR aa 071 Cerim nia de formatura de alunas da Cruz Vermelha Rio de Janeiro 1942 075 Cerim nia de batismo do avi o ambul ncia Anna Nery Aeroporto Santos Dumont Rio de Janeiro 1943 enneren es das ai nao sds sa IDE R a aih 076 Capa da revista A Noite Ilustrada 1944 iara GUESS a 086 Clara Louise Kieninger com as enfermeiras e m dicos do 1 Grupo de Ca a da For a A rea Brasileira OM quastAijaninadso pisos gundo asda raso aa 098 Enfermeiras Antonieta Ferreira e Ilza Meira Alkmin em entrevista ao O Jornal 116 Diploma honroso da 2 tenente enfermeira Ligia Fonseca 1945 124 As enfermeiras febianas e seus ex comandantes em solenidade no Clube Militar O a a DE RS ES SEA 126 Missa de A o de Gra as Igreja de Nossa Senhora da Candel ria 1945 134 Carta patente da 2 tenente da Reserva de 2 Classe Ligia Fonseca 1950 157 Parada c vico militar de Sete de Setembro Belo Horizonte 1953 160 Resid ncia do
352. r sido beneficiada com a lei de confirma o no posto que possu a na guerra foi promovida a 1 tenente VALADARES 1976 p 91 124 Ap s a guerra foi reformada no posto de 1 tenente em conseqii ncia de mal adquirido em campanha p de trincheira atrav s do Decreto n 3 940 publicado no DO n 129 de 07 06 1948 VALADARES 1976 p 61 157 Figura n 12 Carta patente da 2 tenente da Reserva de 2 Classe Ligia Fonseca 1950 Casa da FEB Belo Horizonte O porte de carta patente consiste na materializa o da distin o a quem det m o posto de oficial sendo uma prerrogativa deste grupo de militares ao tempo que confirma o gozo das honras direitos regalias e vantagens inerentes ao posto sem entretanto confirmar seus deveres como pode ser notado no seu pr prio texto Com efeito a carta patente um instrumento que tamb m institui uma identidade e uma compet ncia e faz consagrar os limites que posicionam hierarquicamente os agentes no campo Sobre isso proveitoso o trecho a seguir de Bourdieu 1998 p 100 A institui o de uma identidade a imposi o de uma ess ncia social Instituir uma compet ncia o mesmo que impor um direito de ser que tamb m um dever ser ou um dever de ser E fazer ver a 158 algu m o que ele e ao mesmo tempo lhe fazer ver que tem de se comportar em fun o de tal identidade Para as febianas mais que posicion las hierarquicamente no
353. ra conferir alguma efici ncia simb lica sua apari o no mundo p blico Por isso que este ritual n o serviu apenas para a a o de gra as das enfermeiras da FEB Ademais a fala abaixo faz algum nexo com as ila es apresentadas Quando n s voltamos da guerra as pessoas sempre ficaram com o p atr s por termos vivido no meio de homens Sempre aquela id ia de que a gente tinha se comportado mal Mas depois come aram a reconhecer o nosso trabalho por causa das homenagens que recebemos As poucas muito poucas homenagens Com o tempo passou a haver um pouco de reconhecimento Enfermeira Elza Cansan o Medeiros 136 Por outro lado como assinalado pela entrevistada o car ter sucinto das homenagens dirigidas s febianas no p s guerra tamb m pode ser explicado mediante a compreens o de que elas fizeram parte de um ex rcito cujos l deres simpatizantes do nazifascismo de tudo fizeram para n o s desmobilizar como tamb m despolitizar os expedicion rios antes mesmo de seu retorno ao Brasil A luta dos ex combatentes no p s guerra n o seria nada f cil Assim que ap s 1945 uma s rie de leis foi criada no pa s para atender e abrandar as press es que surgiram com a desmobiliza o e o retorno da FEB No entanto verificou se uma razo vel demora em legislar sobre as necessidades desses ex combatentes que voluntariamente ou n o deixaram no Brasil fam lia amigos emprego e um estado emoci
354. ra na FEB pelo Dr Yvon Maia 4 enfermeira brasileira na Hist ria do Brasil pelo general Edgardo Moutinho dos Reis 4 enfermeira militar a ilustre desconhecida por Hydson Barbosa e 4 participa o da mulher brasileira na II Guerra Mundial pelo general Carlos de Meira Mattos Anais do ICNEF 1978 255 de Florence Nightingale na Inglaterra e de Ana N ri no Brasil Trinta e tr s anos ap s a guerra este mesmo grupo se re ne com entusiasmo luta e sacrif cio para a realiza o deste Congresso A produ o cientifica vem demonstrar que o homem mesmo nos momentos dificeis se prop e a obter proveitos para a manuten o do ser humano Os temas se prop em a reconhecer a contribui o efetiva dos conhecimentos adquiridos na II Guerra Mundial em rela o ao desenvolvimento da medicina Anais do ICNEF 1978 Como pontua Halbwachs 1990 p 25 s h lembran a quando algo ou algu m nos remete a ela Assim os congressos do COEGUE onde elas desfrutaram da companhia uma da outra partilharam id ias e conversaram sobre suas mem rias serviram para reafirmar e reelaborar sua identidade veterana que fora constru da numa ocasi o e cultura muito peculiar CARVALHO 2009b Nessa vertente o funcionamento do espa o social baseia se na vontade de distin o dos indiv duos e dos grupos isto na vontade de possuir uma identidade social pr pria que permita existir e sobreviver socialmente Trata se antes de tudo de
355. rado PINTO 2000 p 134 Consequentemente a valoriza o do capital simb lico isto a realiza o de ganhos simb licos mediante ofertas gratuitas e generosas que obrigam a retribuir sob forma de trabalho mas que ao dissimularem essa verdade objetiva conservam a reputa o honrada tende simplesmente a reprodu o de suas pr prias condi es Se o capital simb lico produz mais valia simb lica e se a mais valia simb lica produz capital simb lico porque o capital simb lico gera a si mesmo d filhotes PINTO 2000 p 134 No que tange especificamente ao capital social conceito aqui tamb m bem aplicado Bourdieu explicita que este o resultado de uma tentativa de tornar explic veis certas propriedades inerentes s rela es entre os agentes mas tamb m entre as institui es O capital social o conjunto de recursos atuais ou potenciais que est o ligados posse de uma rede dur vel de rela es mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e inter reconhecimento ou em outros termos vincula o a um grupo como conjunto de agentes que n o somente s o dotados de propriedades comuns mas tamb m s o unidos por liga es permanentes e teis BOURDIEU 2007c p 67 No tocante estrutura do capital social Bourdieu indica que esta seria composta basicamente pelas liga es entre os agentes de um campo bem como por liga es entre agentes de campos diferentes sen
356. ram a ir al m da desmobiliza o do grupamento ocorrida em 1945 Ou seja O que aconteceu com essas enfermeiras no p s guerra O que passou estar em jogo Como conseguiram ser reinclu das no Servi o Militar Ativo do Ex rcito Que tipo de estrat gias elas utilizaram Quais os resultados de sua reinclus o no Servi o Ativo Como foi a retomada de suas posi es no campo militar O que elas representaram no passado e representam hoje para a enfermagem brasileira Eis a alguns dos questionamentos que este estudo tentou resolver 7 O termo febianas um sigl mino adaptado derivado da sigla FEB e utilizado neste estudo para adjetivar as mulheres que compuseram o Quadro de Enfermeiras do Servi o de Sa de do Ex rcito na For a Expedicion ria Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial 8 Geralmente os militares das For as Armadas podem se encontrar em uma das seguintes situa es 1 na ativa os de carreira os incorporados para presta o de servi o militar inicial os componentes da reserva quando convocados reinclu dos designados ou mobilizados os alunos de rg o de forma o de militares da ativa e da reserva e em tempo de guerra todo cidad o brasileiro mobilizado para o Servi o Ativo e 2 os inativos os da reserva remunerada quando perten am reserva e percebam remunera o da Uni o por m sujeitos ainda presta o de servi o na ativa mediante convoca o ou mobiliza o e os reformado
357. ras entrevistadas Nesse sentido o pensamento de Bourdieu se coaduna com essas percep es quando afirma que a transmiss o de poderes distintivos entre membros de uma mesma familia caminha pari passu com a 104 possibilidade de transmitir atrav s da heran a sociol gica bens aptid es cargos e at mesmo prest gio BOURDIEU 2007a Desse modo tal heran a sociol gica funciona como uma esp cie de vantagem inicial e de cr dito ou de usufruto antecipado BOURDIEU 2007a p 70 que assegura s herdeiras melhores oportunidades de reconhecimento social Salvo todas essas diferen as se alguma coisa precisava ser comum e uniforme a todas elas esta seria teoricamente a forma o militar atributo que foi perseguido principalmente durante a realiza o do CEERE no sentido de que conseguissem reunir um conhecimento das coisas militares a contento para estarem em condi es de se incorporarem n o s ao Ex rcito Brasileiro como tamb m ao Norte Americano uma vez que trabalhariam nos hospitais de campanha junto s enfermeiras desta For a As fontes analisadas levam a crer que na breve carreira militar que tiveram acesso as enfermeiras febianas foram compelidas desde sua chegada no campo do Ex rcito a adquirirem e a internalizarem alguns valores essenciais para a forma o dignifica o e distin o delas enquanto portadoras de uma identidade militar Outrossim sua inclus o numa institui o total nos moldes prec
358. rasil Documentos do Destacamento de Sa de da 1 Divis o de Infantaria Expedicion ria caixetas 362 363 379 a 385 386 a 388 2 4 4 Biblioteca Nacional Rio de Janeiro FOLHA DA NOITE Rio de Janeiro 27 set 1930 JORNAL TRIBUNA POPULAR O povo quer ver as enfermeiras fardadas as enfermeiras compreendem que a guerra teve um sentido Rio de Janeiro 12 jul 1945 p 8 O JORNAL Prontas as enfermeiras para novas miss es Rio de Janeiro 13 de jun 1945 REVISTA CARETA As mulheres a pol tica e a defesa nacional S o Paulo n 1 282 14 jan 1933 2 4 5 Biblioteca Setorial de P s Gradua o da Escola de Enfermagem Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro ASSOCIA O BRASILEIRA DE ENFERMAGEM Relat rio final do levantamento de recursos e necessidades de enfermagem no Brasil 1956 1958 Brasilia ABEn 1980 Enfermeiras brasileiras condecoradas Revista Anais de Enfermagem Rio de Janeiro n 20 set 1946 Se o Legisla o Revista Brasileira de Enfermagem Rio de Janeiro n 2 p 166 jun 1958 279 2 Congresso Brasileiro de Medicina Militar Relat rio apresentado por Maria da Gl ria Leite Rozas Revista Brasileira de Enfermagem Rio de Janeiro n 4 p 435 8 dez 1959 2 4 6 Casa da FEB Belo Horizonte FONSECA Ligia Carta patente 15 dez 1950 FONSECA Ligia Diploma honroso 10 nov 1945 2 4 7 Casa de Oswaldo Cruz Departamento de Arquivo e Documenta o Funda o Oswaldo Cruz Rio de Janeiro
359. re signo e imagem aspectos da mensagem que a imagem fotogr fica elabora e principalmente inserir a fotografia no panorama cultural no qual foi produzida e entend la como uma escolha realizada de acordo com uma dada vis o de mundo regulamentos disciplinares das For as Armadas opinar livremente sobre assunto pol tico e externar pensamento e conceito ideol gico filos fico ou relativo mat ria pertinente ao interesse p blico N o obstante no par grafo nico deste mesmo artigo est a ressalva de que a faculdade assegurada n o se aplica aos assuntos de natureza militar de car ter sigiloso e que independe de filia o pol tico partid ria 52 A maior parte das fotos selecionadas foram obtidas dos acervos pessoais das febianas entrevistadas com especial destaque pela disponibilidade p blica e organiza o para as do Acervo da FEB localizado no Pal cio Duque de Caxias Rio de Janeiro e que esteve sob o comando da major enfermeira Elza Cansan o Medeiros at dezembro de 2009 ocasi o de seu falecimento As outras fotos foram acessadas atrav s de familiares de febianas acervos institucionais livros peri dicos e internet Um conjunto razo vel de documentos escritos tamb m foi selecionado Dentre eles entrevistas com as pr prias enfermeiras febianas localizadas em livros ou arquivadas em acervos institucionais Estas receberam status de documento escrito e tiveram especial destaque no estud
360. referenciais Portanto atrav s do legado sociol gico de Pierre Bourdieu e das observa es substanciais de Michelle Perrot que se encontrou a sustenta o te rica para satisfazer o processamento das descri es an lises e discuss es que aqui foram desenvolvidas posto que suas id ias e formula es ocuparam sintomaticamente uma posi o confort vel neste estudo Orientado pela reflex o que busquei sistematizar acerca do problema de pesquisa e quadro te rico apresentado elegi algumas hip teses ao longo do processo de investiga o que foram por certo abandonadas em favor de outras em virtude do amadurecimento das id ias e da incorpora o de contribui es ao estudo Assim ap s reflex es e reconstru es individuais e coletivas o estudo que ora apresento sustenta a seguinte tese 43 A articula o dos diferentes tipos de capital acumulados pelas enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira que atuaram no Teatro de Opera es Europeu durante a Segunda Guerra Mundial e que foram desmobilizadas logo ap s o seu t rmino contribuiu para que elas fossem oficialmente reinclu das no Servi o Militar Ativo do Ex rcito Brasileiro como oficiais enfermeiras no p s guerra mediante o efeito de demonstra o de percep es e aprecia es atualizadas sobre o seu grupo em tempo de paz Assim que esta tese foi enxergada como um elemento norteador preciso que serviu de guia investiga o proposta Exerc
361. reinamento da habilita o da nomea o como enfermeiras de 3 classe do cotidiano dificultoso nos hospitais de campanha da cadeia de evacua o dos doentes nos hospitais do servi o de 148 Destaque em mai sculo do autor 14 As condi es para a matr cula seriam a ser brasileira nata b ter no m nimo 18 e no m ximo 30 anos de idade c ter idoneidade moral comprovada d ter aptid o f sica e ter sido diplomada como enfermeira por escola oficial ou equiparada f se casada apresentar consentimento do marido reconhecendo as obriga es que sua esposa contrair segundo as necessidades do Ex rcito e a legisla o militar em vigor MELLO 1954 v 1 p 671 150 Da leitura dos anais foram identificados oito trabalhos que trataram da enfermagem militar 151 Al m destas enfermeiras outras enfermeiras febianas tamb m apresentaram trabalhos no ICBMM Entre elas a enfermeira Altamira Pereira Valadares foi autora de Sintese da atua o das enfermeiras brasileiras na 2 Grande Guerra Mundial que segundo constou em seu livro 1976 p 23 o trabalho deveria mas n o foi publicado nos anais por ter sido extraviado A enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero tamb m relatou que a mesma situa o aconteceu com ela neste Congresso 179 evacua o a rea de feridos e doentes da desmobiliza o do grupamento de enfermeiras e por fim e estrategicamente da necessidade de cria o de um quadro permanente de
362. res Na intoler ncia quanto natureza biol gica feminina se expressa uma vis o da mulher como sexo fr gil contribuindo para a reprodu o dos valores masculinos na socializa o das mulheres que ousassem a pensar em transpor os muros dos quart is e com isso refor a se o discurso da incompatibilidade feminina com os valores atribu dos ao conceito de ser militar Dessa forma permite se que haja uma socializa o do biol gico e uma biologiza o do social mascarando a divis o dos g neros na organiza o militar ROSA BRITO 2008 TAKAHASHI 2002 p 125 BOURDIEU 2003 Assim que os princ pios que presidiram a utiliza o de mulheres nos ex rcitos ocidentais priorizaram aquelas fun es retaguarda para libera o de uma m o de obra 151 masculina necess ria no front Envidou se portanto o esfor o de recrutamento para os dom nios onde as mulheres podiam prestar os melhores servi os o mais cedo poss vel sem forma o pr via ou quase sem ela E de certo modo a enfermagem representou a primeira m o de obra que deu prova de sua capacidade de adapta o e atendimento s necessidades patri ticas pol ticas e dos ex rcitos CAIRE 2002 p 155 DONAHUE 1985 E estes seriam os argumentos fundamentais das febianas para conquistarem seus ditos direitos em um contexto nacional algo desfavor vel para elas de pacifica o Para reverter essa situa o os jogos sociais incorporaram se aos jogos pol
363. res O que houvera ent o LEITE 2000 p 54 Hoje tamb m em aten o interroga o desta professora espero que este estudo tenha ajudado a elucidar um pouco mais quem foram essas pioneiras da enfermagem militar no pa s E por extens o que ele tenha se feito como mais um lugar de mem ria delas que desde sua apari o p blica para a guerra mobilizaram se para alcan ar uma melhor defini o de sua exist ncia no mundo social e para isso sempre partiram de uma vis o idealizada normatizadora e por que n o dizer masculinizada mesmo Ali s dentre as muitas contradi es inerentes sua hist ria o caso particular das febianas pode ser entendido como um epicentro da hist ria das mulheres brasileiras nas For as Armadas que ao estar contida no vasto campo da Hist ria da Enfermagem Brasileira n o se constituiu em uma hist ria isolada por si s Ao contr rio ela conserva um tra o comum com a hist ria das mulheres na enfermagem a qual revela uma diversidade de condi es dificultosas que se assemelham com aquelas que h muito as enfermeiras brasileiras tiveram que enfrentar e ainda enfrentam OLIVEIRA 2007 p 136 Enfim para escrever esta tese nos dom nios da Hist ria busquei n o parecer t o passional no que pude Se n o consegui efetivamente alivio me evocando a fala de uma das enfermeiras febianas que tive a grande honra de ter conhecido Cada qual conta a hist ria do seu jeito sabe C
364. resentou Ferrari fez constar o seguinte Como not rio nossas patr cias prestaram excelentes servi os profissionais durante as opera es de guerra na It lia excedendo se em carinho e elevado esp rito de solidariedade o que foi atestado pelos Chefes do Servi o de Sa de da FEB assim como pelos comandantes norte americanos Eis porque decorrido algum tempo ap s o t rmino da II Grande Guerra imp e se a necessidade de ser examinada a atual situa o dessas patr cias muitas exercendo fun es da especialidade em reparti es p blicas e outras como burocratas Mais uma vez o sentimento patri tico arrebatado dos tempos de guerra era trazido em interesse das febianas Na guerra das palavras o pr prio deputado tomou como refer ncia o capital simb lico acumulado por elas prefaciando o prest gio do grupo Assim as estrat gias simb licas por interm dio das quais os agentes procuraram impor a sua vis o das divis es do 133 Fernando Ferrari graduado em Ci ncias Econ micas e em Direito ajudou a fundar o PTB com o processo de enfraquecimento do Estado Novo em 1945 Foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Sul em 1950 para mandato de 1951 a 1955 quando apresentou o PL que visou reinclus o das febianas no Servi o Ativo e mais tarde foi reeleito em 1954 para mandato de 1955 a 1959 LEMOS 2001 134 Trata se do PL n 3 832 de 12 11 1953 que est publicado em sua ntegra na Se o I
365. revista na Carta de 1937 e criada por um decreto lei de julho de 1938 era um rg o ligado presid ncia da Rep blica que possu a poderes bastante amplos incluindo a institui o de um controle central sobre o pessoal e o material assim como a responsabilidade de dar assist ncia ao presidente na revis o das propostas legislativas FAUSTO 1999 p 378 Na guerra os sargentos enfermeiros ficaram subordinados s enfermeiras febianas Eles realizaram os servi os mais simples mas tamb m os mais pesados e arriscados apesar de possu rem direito ao exerc cio profissional tanto quanto as enfermeiras formadas pela escola padr o ou escola a ela equiparada conforme previsto no Decreto Lei n 21 141 de 10 03 1932 100 Grifos meus 139 A met fora contida nesta fala perform tica aciona simbolicamente a distin o social das partes dominantes e dominadas que est em jogo num campo ao tempo que vincula diferen as biol gicas pato cisne com diferen as sociais sargento oficial regulando quem quem nos jogos sociais Tal julgamento expl cito pode ser entendido como um meio de reafirmar uma vincula o social determinada pelo ac mulo de bens simb licos nas estruturas do pensamento e da express o da entrevistada Parte dessa necessidade de afirma o adv m da constitui o de seu habitus atrav s do qual os indiv duos elaboram suas trajet rias e asseguram a reprodu o social que n o pode se realizar sem a a o dos ag
366. rgas temeria a volta da FEB tanto pelo que 78 Aviso n 197 166 reservado de 11 06 1945 112 ela significava para a popula o quanto pelo perigo concreto de uma a o armada dos expedicion rios contra o regime FERRAZ 2003 p 130 NEVES 1992 Entretanto nem a FEB derrubou Vargas tampouco este a temia As maiores resist ncias FEB antes do seu envio e depois em seu retorno partiram justamente do ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra e do chefe de Estado Maior G es Monteiro que teriam mais a perder do que Get lio Vargas FERRAZ 2003 p 138 O trecho abaixo da fala de uma febiana vem um pouco ao encontro desta id ia ao ressaltar o modo como foi operada a desmobiliza o da FEB Houve uma revolta grande Foi muita patifaria o que fizeram com as enfermeiras e com o pessoal da FEB At o pessoal de carreira que continuou na ativa foi pagar castigo no interior nas fronteiras Os febianos n o podiam andar fardados O Dutra era fascista era nazista Ele seguia a cartilha do Hitler A todos eles ficaram com medo quando n s voltamos Houve um pavor geral Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Qualquer que seja a vers o historiogr fica escolhida sobre os motivos da desmobiliza o da FEB alguns pontos s o constantes a amea a que representava para o ex rcito que ficou no pa s esse novo tipo de ex rcito febiano mais liberal e democr tico o medo de que os oficiais febianos pudessem
367. ria Portocarrero serviu na guerra mundial acresceu uma entrevista com ela Alguns trechos s o dignos de ressalte pois refletem a opini o desta enfermeira febiana apenas seis meses ap s a promulga o da Lei n 3 160 57 Virg nia declara se satisfeit ssima em servir o Ex rcito cujo amor traz em seu sangue Mas acrescenta logo com mod stia n o queria ser focalizada Minhas companheiras trabalharam muito tanto quanto eu Virg nia Maria Portocarrero serve agora na Policl nica Central do Ex rcito com todos os deveres e regalias militares O tipo feminino que mais admira o da mulher que exerce suas atividades em casa 4 mulher brasileira nasceu para o lar definido pelo bra o do homem o cora o da mulher o c rebro de ambos Lar que abrange toda a imensa familia brasileira disse Virg nia Foi considerando a humanidade como parte de um grande lar que ela quis servi la indo para a guerra A representa o do trabalho dom stico ocupou razo vel espa o nesta reportagem para o qu se aproveita o discurso de Perrot 2007 de que este mesmo trabalho fundamental na vida das sociedades ao proporcionar seu funcionamento e reprodu o e na vida das mulheres Mas tamb m um peso nos seus ombros pois responsabilidade delas E um peso tamb m na sua identidade a dona de casa perfeita o modelo sonhado da boa educa o e torna se um objeto de desejo para os homens e uma obsess o para as
368. rita no BE n 38 de 21 de setembro de 1957 p 1 964 Trata de convoca o de enfermeiras que compuseram a FEB para o Servi o Militar Ativo do Ex rcito Brasileiro Minist rio da Guerra Portaria n 2 277 de 2 de dezembro de 1957 Publicada no DO de 5 de dezembro de 1957 p 27 241 Trata de convoca o de outras enfermeiras que compuseram a FEB para o Servi o Militar Ativo do Ex rcito Brasileiro Minist rio da Guerra Decreto n 43 934 de 3 de julho de 1958 Acresce ao regulamento aprovado pelo Decreto n 30 163 de 13 de novembro de 1951 o Titulo VI e ao aprovado pelo Decreto n 34 999 de 2 de fevereiro de 1954 o T tulo V referentes aos uniformes das oficiais enfermeiras convocadas para o Servi o Militar Ativo Minist rio da Guerra Portaria n 1 886 de 13 de setembro de 1962 Publicada no DO de 25 de setembro de 1962 p 9 953 Disp e sobre a promo o de enfermeiras convocadas no posto de primeiro tenente 275 2 3 Outros documentos oficiais BRASIL Constitui o dos Estados Unidos do Brasil 1937 Constitui o dos Estados Unidos do Brasil 1946 Decreto n 20 109 de 15 de junho 1931 Regula o exerc cio da enfermagem no Brasil e fixa as condi es para a equipara o das Escolas de Enfermagem Decreto Lei n 1 187 de 4 de abril de 1939 Disp e sobre o Servi o Militar Decreto Lei n 3 084 de 1 de mar o de 1941 Estatuto dos Militares Decreto Lei n 6 795 de 17 de ag
369. rmino da guerra enfrentou alguma dificuldade com a censura getulista em 1947 por conter duras cr ticas ao governo Ex rcito e sobretudo atua o dos comandantes da For a Expedicion ria Praticamente todos os depoimentos se empenham em apontar problemas dos mais variados tipos e propor es e assumiram uma postura cr tica raramente encontrada nas mem rias dos combatentes contradizendo em v rios aspectos o discurso oficial a respeito da FEB Trata se de um pol mico revelador e proveitoso livro sobre a FEB H que se mencionar que a censura deste livro fez flagrante a diferen a que existia entre o Ex rcito de Caxias e o Ex rcito da FEB Comentar os epis dios de guerra apontar os m ritos mas tamb m os erros poderia ser muito comum num ex rcito como o norte americano mas n o no brasileiro FERRAZ 2003 CANSAN O 2003 p 243 Em parte tal id ia representada pela pr xima fala No Ex rcito Norte Americano existe uma rela o mais social porque era mais flex vel a quest o da disciplina de conduta militar de tratamento Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Mais do que zelar pela mem ria docilizada da participa o brasileira na Segunda Guerra a proibi o do livro fez ver uma rea o temerosa dos militares de alta patente do Ex rcito de que a imagem da institui o pudesse ser maculada mesmo porque coment rios 104 No pref cio da 2 edi o do livro Depoimen
370. rporal e as representa es objetais uniforme bandeira diploma condecora es os rituais e os discursos militares al m de seus organogramas e regulamentos em v rias ocasi es e em diversos momentos foram herdados apropriados e reproduzidos para servirem de modelo para as escolas de enfermagem como meio fundamental de controle e persuas o Com efeito a incorpora o desse habitus paramilitar foi testemunhado sobretudo entre as d cadas de 1920 a 1950 tamb m com o intuito de se enunciar e consolidar um modelo de enfermeira altru sta adestrada abnegada e virtuosa para a sociedade BARREIRA 1999 PORTO 2007 SANTOS BARREIRA 2002 OLIVEIRA 2007 VELANDIA M 1993 Dentre as institui es que seguiam essa orienta o paramilitar a Cruz Vermelha Brasileira bem se destacou como foi not vel durante e ap s a Segunda Guerra Mundial Por certo tal situa o pode ser atestada na pr xima fotografia que mostra o momento em que uma das enfermeiras febianas recebeu uma condecora o num rito de homenagem da Cruz Vermelha mem ria de Ana N ri e de comemora o de seu 50 anivers rio de funda o que foi realizado no dia 20 de maio de 1958 na sede Pra a da Cruz Vermelha na capital federal sob a coordena o de um general de Ex rcito 240 Figura n 23 Cerim nia de concess o da Medalha de Bons Servi os bronze da Cruz Vermelha Brasileira Rio de Janeiro 1958 Acervo pessoal da enfermeira Virg nia Mar
371. rta da rua mesmo voltaram Voltaram por que n o dizer cabisbaixas e amarguradas MORAES 1949 p 411 Assim que as intemp ries entre as febianas e Dona Santinha aconteceram mesmo antes do embarque para a guerra o que bem exemplifica a dificultosa inclus o daquelas mulheres ao meio militar quando chegaram mesmo a ser marginalizadas neste processo Tal afirma o pode ser confirmada pelo pr ximo relato Enquanto a Dona Santinha foi viva n s n o tivemos nada Ela era vi va de um parente do meu pai Certa vez ela disse na casa do ex cunhado dela que as enfermeiras da FEB eram prostitutas que iam para a guerra fazer a vida Ora ganhando s 520 mil r is 520 mil r is para enfrentar uma guerra Mesmo que fosse uma prostituta S na cabe a doentia de uma mulher como ela A sobrinha dela ficou brava e gritou e brigou com ela em r nossa defesa Foi um bafaf danado dentro de casa por causa dessa hist ria Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Ap s o t rmino da guerra os desafetos continuaram Ao ter sido questionada sobre os respons veis pela desmobiliza o das febianas a enfermeira Elza Cansan o Medeiros manifestou o seguinte essa tal de Dona Santinha e o Dutra fizeram toda a maldade que voc encontrar da poca Pode botar dizer logo Foi Dutra e Dona Santinha E ao ter sido ainda questionada sobre o reaproveitamento delas nos hospitais militares no p s guerra a
372. ru rem suas identidades nos espectros profissional e social Como resultado desse processo as febianas acabaram promovendo uma imagem tipo de enfermeira militar no pa s que se colocou em evid ncia no Estado Novo 1937 1945 e que guardadas as devidas propor es tenderia a se consolidar num contexto desenvolvimentista como um sinal do car ter modernizador que as For as Armadas Brasileiras passaram a perseguir ap s a Segunda Guerra Mundial inclusive no avan o de sua enfermagem Enfim foi sob tais ind cios que se desenvolveu este trabalho de car ter hist rico social e que teve como objeto de estudo o processo de reinclus o de enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no Servi o Militar Ativo do Ex rcito ap s o t rmino da Segunda Guerra Mundial Desse modo o recorte temporal do estudo teve como marco inicial o ano de 1945 quando as enfermeiras febianas foram desmobilizadas ao t rmino da guerra e por 26 conseguinte exclu das do estado efetivo do campo do Ex rcito Doravante elas passaram a mobilizar estrat gias que visaram o seu reconhecimento dada sua atua o nos hospitais de campanha e que visaram ainda o seu reaproveitamento no Servi o de Sa de do Ex rcito em tempo de paz o que concretamente s viria a acontecer no ano de 1957 por for a de uma lei federal sendo este o recorte final Para dar conta do problema de pesquisa apresentado foram derivados os seguintes objetivos l Descrev
373. rvi o das armas nas For as Armadas delas fazem profiss o exclusiva permanente ou em car ter transit rio como os militares da reserva quando convocados ao Servi o Ativo e os cidad os incorporados s For as Armadas para a presta o do Servi o Militar Obrigat rio Por tal as enfermeiras da FEB antes do embarque para a guerra n o tiveram direito a posto militar Depois j no Teatro de Opera es elas passaram a oficial da reserva Mas ao serem desmobilizadas deixaram de s lo Por for a de lei mais tarde em 1950 elas foram classificadas como oficiais da reserva de 2 classe sem remunera o J em 1957 as febianas que requereram a reinclus o foram convocadas para o Servi o Militar Ativo do Ex rcito quando passaram a gozar dos direitos e prerrogativas de oficial da reserva de 1 classe Na hierarquia militar os postos s o destinados aos oficiais e as gradua es s pra as enquanto os soldados n o possuem gradua o Estas classifica es servem para instituir uma dada identidade que prescreve padr es e normas de comportamento ao seu portador al m de garantir lhe tratamento diferenciado e direito de ser tratado socialmente conforme a posi o hier rquica que ocupa O Anexo I ilustra as posi es das diversas personagens que este estudo elencou necess rio alertar que em diversas passagens do texto considerado tamb m o campo militar o que n o invalida e desqualifica as pretens es em consider
374. s FAUSTO 1999 p 429 o que se coaduna de certa forma com a mem ria de algumas enfermeiras febianas pois foi justamente neste per odo que seria finalmente aprovada sua reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito O pr ximo enxerto relembra um pouco disso A guerra j tinha acabado h dez anos Esqueci do Ex rcito N o gostava e n o me sentia bem em falar de guerra Dez anos depois resolveram chamar as enfermeiras Isso foi na gest o do Lott como ministro da Guerra e na de Juscelino como presidente da Rep blica Nessa poca retiraram da gaveta um projeto que j estava l h anos Quando esse projeto veio tona a gente nem pensava mais em voltar Enfermeira Carlota Mello Ao ser retirado da gaveta este projeto de lei de n mero 3 832 53 foi transformado na Lei n 3 160 que foi sancionada pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1 de junho de 1957 e que concretizou finalmente a possibilidade de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito das febianas que a desejasse Eis a transcri o integral do texto da almejada lei O Presidente da Rep blica Fa o saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei 19 Jornal O Estado de S o Paulo O Brasil na guerra sem meias verdades 19 jun 2000 Caderno D p 3 160 A Lei n 3 160 57 foi publicada no DO n 127 de 04 06 1957 e transcrita no BE n 023 de 08 07 1957 Em 12 11 1957 foi realizada a lei
375. s o pr ximo recorte revelador desta heterogeneidade do grupo Pela defini o do regulamento interno o Curso destinava se forma o de enfermeiras militares mediante um trabalho de adapta o das profissionais civis recrutadas entre mo as diplomadas e entre aquelas que possu ssem longa pr tica de enfermagem devidamente comprovada Por m 89 na rotina do Curso de Emerg ncia uma coisa logo se tornou vis vel a heterogeneidade das candidatas quanto instru o pois n o tendo havido uma sele o inicial na abertura de inscri o havia gente de n vel intelectual abaixo das classes m dias do curso prim rio Espantar dizer por m ser oportuno lembrar que algumas mesmo nessas condi es foram aprovadas convocadas e enviadas It lia S uma pequena propor o era composta de mo as diplomadas ou de profissionais de longa pr tica a maior parte compondo se de meras volunt rias socorristas sem nenhuma pr tica hospitalar sem mesmo conhecimentos b sicos da arte de enfermagem MORAES 1949 p 406 A sele o das enfermeiras fez se tamb m por meio de exames f sicos como relata uma das enfermeiras entrevistadas Houve uma sele o muito forte E a gente n o podia ser muito bonita nem muito feia nem muito alta nem muito baixa nem muito preta nem muito V rias volunt rias n o tinham altura suficiente n o tinham peso ou tinham qualquer problema Apareceu at u
376. s o no Servi o Ativo do Ex rcito pelas febianas ao ser entendida como benef cio do Estado foi uma excepcionalidade conseguida por um grupo que construiu uma apar ncia estrat gica de vencido e que bem soube se articular com pessoas influentes chefes militares associa es de ex combatentes pol ticos e at eclesi sticos com quem conjugou o peso do capital social e simb lico que boa parte delas tinha posse Neste caso aplica se com algum conforto a no o de patrimonialismo 9 ou mesmo a id ia do jeitinho brasileiro como um recurso de poder que pode tornar a administra o p blica algo flex vel para o interesse pol tico de determinados agentes que decidem a melhor a o estrat gia para alcan ar seus objetivos de acordo com a posi o em que percebe os demais agentes ALMEIDA 2007 BOURDIEU 2006 Sob este prisma de todas as estrat gias tomadas para a reinclus o as enfermeiras febianas consideraram que a mais eficaz foi a do lobby arquitetado por elas com o marechal Jo o Baptista Mascarenhas de Moraes e com o general Emmanuel Marques Porto na tentativa bem sucedida de alian ar com o renomado deputado Fernando Ferrari do PTB amp N o toa que de todos os agentes que se envolveram nessa causa elas destacam este pol tico como quem as apadrinhou de fato Sua cordialidade bem como o jeito emotivo e generoso com que o deputado as tratou no texto da justifica o de seu projeto de lei junt
377. s quando ap s terem passado por uma das situa es anteriores estejam dispensados definitivamente da presta o de servi o na ativa mas continuem a perceber remunera o da Uni o par grafo 1 do Artigo 3 do Estatuto dos Militares 1980 22 O Problema de Pesquisa Se a rela o de enfermeiras com os ex rcitos foi de certa forma poss vel e at requerida durante as guerras o mesmo n o ocorreu com tanta semelhan a quando a quest o era a incorpora o de segmentos femininos de enfermagem nas corpora es militares em tempos de paz Mesmo porque pelo que alerta Perrot 2005 p 441 em todo o caso as brechas abertas pelas guerras s o rapidamente fechadas quando volta a paz sobretudo no que se refere ao trabalho e aos pap is privados Isto posto as agora ex enfermeiras da FEB compreendidas num contexto pol tico social diferente de redemocratiza o e pacifica o passaram a adotar uma s rie de medidas estrat gicas em diversos momentos e situa es num novo front isto num front que objetivou sua reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito no p s guerra Assim o capital social representado pelas alian as com militares de alta patente eclesi sticos membros de associa es de ex combatentes e clubes militares oficiais m dicos e pol ticos influentes al m da publica o de alguns textos e da presen a persistente delas em desfiles solenidades eventos e congressos militares tudo i
378. s as ltimas enfermeiras do Ex rcito Acabou acabou Enfermeira Elza Cansan o Medeiros O registro fotogr fico realizado no p tio frontal da Policl nica Central do Ex rcito serve para ilustrar o momento de despedida do Servi o Ativo da enfermeira Elza Cansan o Medeiros entre seu comandante sua colega a febiana Maria Jos Vassimon de Freitas e outros oficiais daquela institui o 228 x x gt Express o que se refere aposentadoria de militar por idade ou por tempo de servi o 251 its GAAL E yfr MOA D PA Eita r Es 4 a q m wg a o La e Te aC PE CEA sa 5 y A Ka rP LL MA aci A ad j A Pts deae era AG Figura n 24 Despedida do Servi o Ativo da enfermeira Elza Cansan o Medeiros 1976 Acervo da Policl nica Militar do Rio de Janeiro Rio de Janeiro A partir do final da d cada de 1970 algumas poucas febianas passaram a dar publicidade s suas mem rias principalmente s de guerra que em geral reuniram vis es mais romanceadas a exemplo do tom laudat rio de boa parte dos escritos de expedicion rios brasileiros muitos dos quais publicados a partir dos anos 50 pela Biblioteca do Ex rcito Editora Outra iniciativa delas para rememor las e com isso livr las do esquecimento foi a do Clube de Oficiais Enfermeiras de Guerra COEGUE que nas d cadas de 1970 e 1980 estampou sua logomarca em uma s rie de objetos Numa luta propriamente simb lica para
379. s as outras febianas onde ela fez seu juramento bandeira nacional pode ser entendido como uma esp cie de rito de legitima o pois ela deixou de ser civil para ser militar Com efeito este tipo de rito tende a inculcar o dom nio pr tico da l gica imanente do 125 O adjetivo castrense refere se classe atividade servi o ambiente militar Esta pasta foi localizada na Casa da FEB Belo Horizonte em novembro de 2008 sendo gentilmente franqueada pelo Sr Roberto Graciani 127 Of cio n 060 S de 01 03 1952 da Chefia da 13 Circunscri o de Recrutamento 159 campo militar e a impor a submiss o aos valores s hierarquias e s censuras inerentes a este campo BOURDIEU 2006 Dentre as honras direitos regalias e vantagens que as enfermeiras da Reserva de 2 Classe do Ex rcito passaram a gozar estava a possibilidade de participarem dos c rculos dos oficiais do Ex rcito oportunidade em que inclusive foram aceitas como s cias honor rias do Clube Militar da Reserva do Ex rcito resultado tamb m da promulga o da Lei n 1 209 50 o que demonstrava seu engajamento e predisposi o de manter com seus pares uma rela o de comunica o mais estreita conferindo lhes uma esp cie de trunfo para os Jogos sociais que passaram a jogar a partir de ent o Al m da promulga o da Lei n 1 209 50 outra estrat gia utilizada para a reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito foi a presen a de f
380. s de pesquisas envolvendo seres humanos BURKE Peter A escrita da hist ria novas perspectivas S o Paulo Unesp 1992 286 Testemunha ocular hist ria e imagem Bauru Edusc 2004 Variedades de hist ria cultural Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2000 CAIRE Raymond A mulher militar Rio de Janeiro Biblioteca do Ex rcito 2002 CALAZANS M rcia Esteves de Mulheres no policiamento ostensivo e a perspectiva de uma seguran a cidad S o Paulo Perspec online S o Paulo v 8 n 1 p 142 150 2004 CAMPOS Andr Luiz Vieira de Pol ticas internacionais de sa de na Era Vargas o Servi o Especial de Sa de P blica 1942 1960 Rio de Janeiro Fiocruz 2006 CAPELATO Maria Helena Rolim Imprensa e Hist ria do Brasil S o Paulo Contexto 1988 CAPPELLE M nica Carvalho Alves O trabalho feminino no policiamento operacional subjetividade rela es de poder e g nero na 8 Regi o da Pol cia Militar de Minas Gerais Tese Doutorado em Administra o Centro de P s Gradua o e Pesquisas em Administra o Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2006 CARDOSO Maria Manuela Vila Nova Anna Nery a trajet ria de uma hero na Disserta o Mestrado em Enfermagem Escola de Enfermagem Anna Nery Universidade Federal do Rio de Janeiro 1996 CARLONI Karla Guilherme Marechal Henrique Teixeira Lott a op o das esquerdas Doutorado em Hist ria Instituto de Ci ncias Humanas e
381. s depois fortaleceu alguns argumentos de que elas deveriam ser aceitas pela sociedade e amparadas pelo Estado As enfermeiras do Brasil compreendem que a guerra teve um sentido que seu esfor o n o se perdeu e que foram combatentes pela liberdade e que por isso contribu ram para as primeiras liberdades do nosso povo Elas v o voltando aos seus lares Podem orgulhar se de que lutaram pela P tria contra o fascismo e o povo quer v las fardadas A farda que elas souberam conquistar socorrendo os feridos animando os pracinhas nas neves da It lia O povo quer v las protegidas pelo Estado A farda distingue os her is da P tria a medalha maior do combatente S o as queridas enfermeiras do povo que lutaram pelo povo e de quem n o se pode tirar o seu uniforme de guerra A FEB um ex rcito de poca dif cil N o s o 118 pracinha deve usar a sua gloriosa farda nas datas c vicas mas tamb m as nto P 79 enfermeiras Elas fazem parte do ex rcito que venceu o fascismo Este fragmento prov m de um dos mais importantes di rios do Partido Comunista do Brasil de ampla tiragem di ria que fazia parte de um tipo de imprensa que burlava a censura prescrita pelo Departamento de Imprensa e Propaganda do Governo Vargas Ali s nesta poca os comunistas defendiam amplamente o fim do Estado Novo e posicionavam se contr rios forma de atua o dos lideres do Ex rcito como inclusive constatado nas entrelinha
382. s do fragmento destacado FAUSTO 1999 RUBIM 1995 OLIVEIRA et al 2009b Assim que tais reportagens al m de trazerem em seu bojo as id ias preconcebidas sobre a divis o hierarquizante do mundo social em masculino e feminino tamb m serviram para encetar algumas estrat gias que favoreceriam argumentos para o in cio de um processo de reinclus o de febianas no Servi o Militar Ativo do Ex rcito A t tulo de curiosidade nos Estados Unidos logo apo o t rmino da guerra existiam 266 256 mulheres norte americanas militarizadas A maior parte delas foi desmobilizada com a cessa o das hostilidades no entanto algumas permaneceram regidas por estatuto tempor rio Foi por isso que o Departamento da Defesa solicitou ao Congresso que as mulheres a partir de ent o fossem admitidas por completo nas for as armadas atrav s da chamada Lei de Integra o das Mulheres nas For as Armadas de 17 de junho de 1948 As enfermeiras por sua vez foram integradas antes por uma lei de 1947 no Ex rcito e na Marinha e por uma de 1949 na For a A rea A partir de ent o as enfermeiras norte americanas tomariam parte em todas as expedi es ultramarinas seja na Guerra da Cor ia Trecho da mat ria intitulada As enfermeiras compreendem que a guerra teve um sentido que foi publicada no jornal Tribuna Popular em 12 07 1945 119 1950 1953 onde elas serviram nos Hospitais Cir rgicos M veis do Ex rcito MASH seja no Vietn
383. s e as que fizeram parte da FEB mas pelo menos alguma tens o chegou a acontecer quando o que estava em considera o eram os des gnios para o desenvolvimento da enfermagem no pa s Ali s no Segundo Congresso Brasileiro de Medicina Militar realizado entre os dias 24 e 30 de agosto de 1959 na cidade de Porto Alegre foi not vel a exemplo de sua primeira edi o a apresenta o de algumas opini es modernizadoras sobre a pr tica da enfermagem Neste conclave um dos 13 temas oficiais foi Bases para a reorganiza o dos Servi os de Enfermagem nas For as Armadas desenvolvido por tr s oficias m dicos general Generoso de Oliveira Ponce capit o de mar e guerra Geraldo Barroso e tenente coronel Ant nio Amarante da Pol cia Militar Dentre suas sugest es estiveram a cria o de um quadro nas For as Armadas para as enfermeiras que o acesso n o fosse limitado ao posto de capit o situa o das febianas mas que fosse a enfermeira elevada aos mais altos postos como os demais oficiais e que fosse criada uma Escola de Enfermagem nas For as Armadas para o preparo de seu pessoal Surpreendentemente alguns bons argumentos foram bem ressaltados pelo referido general e merecedores de transcri o N o se compreende mais a enfermagem limitada apenas execu o do trabalho prescrito pelo m dico Reconhece se que suas fun es s o mais amplas mais complexas Os modernos centros de tratamento n o podem prescind
384. s espa os militares a carta patente funcionou como uma esp cie de passaporte para adentrarem os muros dos quart is Atrav s de suas cartas essas mais novas oficiais de baixa patente do Ex rcito conseguiram ampliar o ac mulo de um capital militar que lhes garantiu um poder simb lico para se fazerem tidas com maior aceita o nos cen rios castrenses Um exemplo o caso da enfermeira Ligia Fonseca que na ocasi o do recebimento da sua carta patente foi comandado seu compromisso bandeira nacional por ter sido promovida ao primeiro posto Encontrados em uma esp cie de pasta pessoal estavam a carta patente objeto da ilustra o anterior e um of cio datado de 1 de mar o de 1952 que solicitou seu comparecimento dois dias depois 13 Circunscri o de Recrutamento para o compromisso No corpo do documento fez se constar um pequeno texto que deveria ser por ela reproduzido na ocasi o Perante a bandeira nacional e pela minha honra prometo cumprir os deveres de oficial do Ex rcito e dedicar me inteiramente ao servi o da P tria Cabe relembrar que as febianas n o tinham posto at a promulga o da Lei n 1 209 50 que enfim assegurou o posto de oficial da reserva de segunda classe a elas por isso que foram requeridas para prestarem o compromisso a este que por for a da lei foi o primeiro posto Este ritual para o qual foi convocada a enfermeira Ligia Fonseca e mui provavelmente por toda
385. s nem inje es uma afirmativa falsa Todas sa ram daqui com os conhecimentos suficientes Apenas nos faltava pr tica na aplica o de penicilina descoberta muito recentemente e no sistema de transfus o de sangue empregado mas mesmo assim n o foi dif cil aprender Nunca nenhum m dico ou enfermeira aliada precisou nos ensinar rudimentos ou fazer refer ncias a falhas nossas O texto jornal stico e a fotografia que o acompanhou aparentemente despretensiosos indicam a medida de uma necessidade de honrar a imagem das patr cias que foram volunt rias para prestarem cuidados aos feridos de guerra Sem d vida a imprensa objeto de trocas reguladas que influencia na tomada de posi es E guardadas as devidas propor es foi part cipe da constru o de uma imagem algo favor vel s febianas Nesse sentido oportuna a apresenta o de um trecho desta mesma reportagem que noticiou inclusive a prontid o delas para futuras miss es Acaba de regressar da frente italiana mais uma turma de enfermeiras brasileiras Durante um ano estiveram na frente italiana ajudando com esfor o e dedica o a combater o inimigo nazi fascista at a sua derrota final Agora quando se aproxima o regresso dos nossos soldados as enfermeiras voltam P tria ap s cumprimento de sua miss o e aguardam as ordens das autoridades superiores prontas para qualquer miss o nova Outra reportagem publicada um m
386. s nos discursos tradicionalista e paternalista que afirmava o lugar da mulher no lar e como procriadora mas ao mesmo tempo enquadraram se dentro da moldura da met fora da P tria M e e envoltas na suposta voca o natural da mulher para a profiss o de enfermagem quando evocaria estere tipos de m es esposas e filhas dos soldados que no front pelejariam N o toa a figura her ica de Ana N ri a m e dos brasileiros era o modelo que foi apresentado a elas para ser seguido 265 V rias foram as dificuldades enfrentadas pelas enfermeiras febianas a falta de apoio de seus familiares e as pechas de populares sobre seu voluntariado e incorpora o nos quart is o treinamento d bil e apressado a relut ncia do comando militar em dar lhes posto ou gradua o a novidade de ter que se haver com a chefia de sargentos enfermeiros do Servi o de Sa de do Ex rcito as rela es assim tricas com as enfermeiras norte americanas com maior capital cultural e profissional e incorporadas ao ex rcito que comandava a guerra as dificuldades de comunica o na l ngua oficial a inadequa o de suas fardas ao servi o e ao inverno europeu a realidade cruenta dos hospitais de campanha o testemunho do alto grau de insensatez que o de uma guerra e acima de tudo a de n o terem recompensados seus esfor os e sofrimentos ao t rmino da guerra Ali s nesta ocasi o elas foram desmobilizadas e exclu das do estado efetivo da
387. s partes ntimas o nariz os olhos risos Eu tinha que ajudar em tudo Enfermeira Carlota Mello O aspecto tutelar o toque feminino e a adapta o limitada da institui o presen a dessas primeiras mulheres chegariam a amenizar e flexibilizar muito sutilmente e restritamente alguns dos efeitos masculinizantes do militarismo Com sua chegada uma esp cie de fenda se abriu no rigoroso e mis gino terreno militar consentindo a despeito das resist ncias a infiltra o de novos valores A absor o delas indicou mais do que uma simples mudan a est tica na imagem externa do Ex rcito mas tamb m a extens o de valores tidos como feminilizados para o cotidiano dos quart is SOARES MUSUMECI 2005 Entretanto n o se pode correr o risco em afirmar que essas mulheres chegaram a provocar 201 Revista do Col gio Militar de Belo Horizonte ano I n 1 1958 1959 229 grandes rupturas s institui es militares ap s terem sido reinclu das mas ao menos trouxeram vida nova e certo frescor A transcri o abaixo de um elogio consignado pelo Chefe da Forma o Sanit ria do Col gio Militar enfermeira Ilza Meira Alkimin a que aparece na foto corrobora os dizeres anteriores ao tempo que endossa o aspecto tutelar do trabalho das febianas para com os alunos 2 Ten ILZA MEIRA ALKIMIN Muito dedicada aos alunos do Internato onde presta os seus servi os trata os sempre com muito carinho e cuidado c
388. s tipos de regulamentos especiais que seriam utilizados nesse processo Cabe mencionar que outro projeto de lei foi apresentado no mesmo m s tamb m de autoria do deputado Pedroso J nior e que disp s sobre o registro dos certificados de cursos 116 de enfermagem de que eram portadoras as enfermeiras que serviram a FEB Este projeto de lei foi arquivado no mesmo dia nos termos do regimento interno da C mara dos Deputados por motivos desconhecidos Mais tarde outra proposi o foi apresentada pelo deputado Ruy Santos da Uni o Democr tica Nacional Bahia justamente no quinto anivers rio de cria o do QERE em 13 de dezembro de 1949 que tentou melhorar o amparo s febianas com a oportunidade de reinclu las no Servi o Ativo Dizia a ementa deste projeto de lei Disp e sobre o aproveitamento das enfermeiras da FEB e d outras provid ncias N o obstante por motivos 114 Os grifos no texto s o meus 115 Lei do Servi o Militar 1946 11 Trata se do PL n 537 de 05 08 1947 cujo texto n o foi poss vel ser acessado em sua ntegra 117 O deputado baiano Ruy Santos foi m dico jornalista e profesor poca de sua proposi o era deputado federal no mandato de 1946 a 1951 Teve v rios trabalhos publicados Alguns anos depois apresentou o PL n 3 082 1955 que disp s sobre o ensino da enfermagem no pa s Dispon vel em http Awww senado gov br sf senadores senadores biografia asp codparl 222
389. se fazer ver e se dar a conhecer elas buscaram produzir um quadro mental oportuno que serviria para represent las no mundo social seja com suas mem rias escritas seja com o uso de representa es objetais Destes ltimos artif cios eis alguns exemplos 22 Os livros escritos por algumas delas foram lbum biogr fico das febianas pesquisa da II Guerra Mundial 1976 de Altamira Pereira Valadares 4 mulher brasileira na Segunda Guerra Mundial 1983 de Ol mpia de Ara jo Camerino E foi assim que a cobra fumou 1987 de Elza Cansan o que tamb m publicou mais tarde Eu estava l 2001 e Um Dois Esquerda Direita Acertem o passo 2003 252 Figura n 25 Objetos produzidos pelo COEGUE Acervo pessoal da enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Estes e outros objetos criados pelo COEGUE e estampados com a sua logomarca reavivam a mem ria de que um dia existiu um grupo de oficiais enfermeiras de guerra o que remete a uma luta pela manuten o e perpetua o de uma identidade coletiva leg tima e em consequ ncia de um poder simb lico Mesmo porque n o h poder simb lico sem uma simbologia do poder BOURDIEU 1998 p 63 Sagazmente o s mbolo do COEGUE ao trazer a estampa de uma mulher fardada em contin ncia bandeira nacional traz embutido o sentimento e o discurso patri tico como elemento estrat gico para exprimir o envolvimento do grupo com o amor P tria e para justifi
390. se com os mesti os soldados e enfermeiras brasileiras CANSAN O 2001 82 Fiquei sabendo que a diretoria da Escola Anna Nery foi procurada pelo Ex rcito para formar o quadro de enfermagem da FEB N o houve acordo porque a diretoria queria que as enfermeiras fossem como oficias o que n o foi aceito pelo Minist rio da Guerra VALADARES 2001 p 78 Sobre tal conflito de interesses Bertha Moraes 1949 p 406 7 interrogou Por que teria ocorrido isto por que esse desinteresse das enfermeiras diplomadas ou profissionais em cooperar com a FEB Muitas raz es existir o certamente por m uma devemos relembrar porque ponder vel invocada com raz o pela Escola Ana N ri a escola m ter de enfermagem em nosso pa s e sem d vida ainda a mais importante Segundo informa es ouvidas por n s das pr prias autoridades superiores da Sa de do Ex rcito a diretoria da Escola Ana N ri ao tomar conhecimento das condi es de aproveitamento das enfermeiras e dos seus vencimentos se recusou a colaborar por consider las abaixo do n vel m nimo de amparo em que s o universalmente admitidas profissionais dessa natureza Tal a precariedade das condi es oferecidas pelo Ex rcito que aquela Escola deu o assunto por encerrado Depreende se pelas alega es apresentadas e por outras fontes tamb m consultadas que as circunst ncias em que se deu esse desacordo foram caracterizadas por uma forma algo suspeitosa que deix
391. ser democr tica e progressista para a poca demarcava bem os limites das possibilidades das 150 mulheres quando o assunto era o Servi o Militar apesar de garantir que todos eram iguais perante a lei Art 181 Todos os brasileiros s o obrigados ao Servi o Militar ou a outros encargos necess rios defesa da P tria nos termos e sob as penas da lei 1 As mulheres ficam isentadas do Servi o Militar mas sujeitas aos encargos que a lei estabelecer Como se pode depreender a distin o entre os sexos no militarismo nacional poca tinha amparo nas prescri es legais mas tamb m s cio culturais Ademais o mundo militar se punha distante por se sustentar com seus mitos masculinizados e suas atividades de alto risco de vida sujei o aos preceitos r gidos de tradi o e hierarquia dedica o prontid o vigor f sico entre outros Outrossim ao menos em nossa civiliza o ocidental o esfor o f sico sustentado a capacidade para certa ascese e para uma disciplina rigorosa a coragem obstinada e pode se at dizer um certo gosto pela viol ncia quase sempre foram propriamente qualidades mais masculinas do que femininas D ARA JO 2003 Sendo assim como pontua Raymond Caire 2002 p 154 n o se faz guerra com flores Essa demarca o do que seja fun o de macho foi o que em diferentes pocas constituiu se em justificativa fundamental para n o se aceitar mulheres nas corpora es milita
392. sse como hoje o s o em face da Lei n 1 209 50 teriam tamb m gozado do aproveitamento outorgado no preceito do decreto lei Ou seja as enfermeiras febianas n o puderam requerer sua perman ncia no Servi o Ativo com base neste decreto lei porque n o eram da Reserva de 2 Classe ap s o t rmino da guerra e sim de 3 Classe que como mencionado antes foi uma classifica o praticamente exclusiva para o grupamento de enfermeiras desde antes do embarque que n o deu 167 inicialmente ao grupo o direito ao posto militar o que j aparentava uma bem prov vel posi o estrat gica da For a em n o precisar mant las em seus quadros no p s guerra Pela via pol tica conservadora atrav s de apelos simb licos e das alian as pol ticas a pretendida reinclus o das febianas no Servi o Ativo do Ex rcito passou a reunir alguns lucros pois as febianas souberam capitalizar esses apelos e alian as para lograrem seus intentos Em contrapartida chama aten o a absten o de algumas febianas neste processo conforme revela o trecho a seguir O deputado Ferrari era meu vizinho Mor vamos no mesmo edif cio em Laranjeiras no edif cio Paissandu As vezes eu descia junto com ele no elevador E papai me proibiu Ele dizia N o toca no assunto porque voc s merecem receber esse t tulo sem projeto O Ex rcito e a P tria devem essa obriga o a voc s de modo que trate muito bem o Ferrari mas n o pe a
393. sso serviu de fortaleza para esmaecer o ceticismo que a princ pio envolveu a id ia de um poss vel reaproveitamento dessas enfermeiras no Servi o de Sa de do Ex rcito Assim tais estrat gias que em certas ocasi es at mesmo pareceram pouco importantes e diminutas visaram reverter uma situa o que j se havia esboroado a da perman ncia delas no Ex rcito e ainda demonstraram a tentativa de irrup o delas nos jogos sociais que se apresentaram ap s o t rmino da guerra ocasi o em que tentariam modificar um pouco o rumo dos acontecimentos 23 Em seus pleitos as febianas n o chegaram a contar com o apoio declarado de enfermeiras profissionais diplomadas uma vez que estavam praticamente em contramarcha aos interesses em jogo dessa categoria poca Diz se em contramarcha porque foram inclusas no Ex rcito durante a Segunda Guerra para exercerem como volunt rias a fun o de enfermeira e depois de exclu das pela desmobiliza o desejavam ser reincluisas nesta mesma condi o a despeito do capital profissional de enfermagem que pouco ou mesmo n o tinham posse Ademais na d cada de 1940 por for a da demanda que existia era significativo o n mero de pessoas leigas que atuavam tanto nos hospitais como nos servi os de sa de p blica do pa s Apesar da varia o de fun es que essas pessoas exerciam eram praticamente todos conhecidos do p blico como enfermeiros as a exemplo do que in
394. stata o a de que n o pude utilizar me de registros de sua pr tica laboral no cotidiano das unidades militares onde foram incorporadas ap s terem sido reinclu das no Servi o Ativo pois ao que parece pouco era registrado da pr tica de enfermagem no recorte 31 e l cus escolhidos Por isso tamb m n o pude explorar em extens o o cotidiano delas com a propriedade que desejei Afora tais apontamentos praticamente todas as enfermeiras febianas que consegui entrevistar relataram dificuldades em rememorar certos acontecimentos pret ritos de interesse para esta pesquisa A t tulo de ilustra o s o delas as seguintes falas Essa parte eu n o estou lembrada A gente vai se esquecendo das coisas porque n o pouco o que n s passamos Por causa da idade que eu tenho 94 anos alguns dizem assim Roselys voc tem uma cabe a Bem cabe a eu tenho agora o que est l dentro que eu n o sei se est funcionando direito risos Enfermeira Roselys Teixeira Gazzinelli Eu estou com a mem ria fraca N o me lembro Eu me esqueci Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero N o me lembro A minha cabe a est meio N o grava tudo n o Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Outros entraves foram a falta de ajuda de custo para o desenvolvimento da pesquisa o curto tempo do Curso que foi agravado pelas atividades profissionais e pelos compromissos s cio familiares dura
395. ste estudo e a Marinha do Brasil n o chegou a convocar mulheres para os seus quadros durante a Segunda Guerra Mundial 3 Portaria n 5 855 de 03 01 1944 publicada no DO n 02 de 04 01 1944 4 Nas guerras os teatros de opera es s o vastas reas f sicas que em geral concentram as for as militares as fortifica es e as trinheiras e onde se travam as principais batalhas 19 hospitais de campanha durante a guerra Tal idea o foi alvo de diversas publica es jornal sticas que enalteciam a figura feminina para os esfor os de guerra na tentativa de modular a produ o da opini o e do julgamento social dos brasileiros o que de certa forma acabou por distinguir e valorizar simbolicamente essas enfermeiras que se apresentaram como volunt rias para a guerra Por certo o discurso patri tico que anunciou a necessidade de enfermeiras e a propaganda a servi o do regime estadonovista predispuseram razo vel parcela de jovens a aceitar ou mesmo a desejar participar do universo militar CYTRYNOWICZ 2000 OLIVEIRA 2007 Sua singularidade foi a de se fazerem ingressas num campo praticamente tido como in spito s mulheres Representaram pois o primeiro e nico grupamento feminino a participar efetivamente e profissionalmente nas composi es dos quadros de servi o das For as Armadas no Brasil em tempo de guerra o que de certo modo concorreu para que se desse certa visibilidade profiss o de enfermagem devido
396. suic dio de Get lio Vargas no ano seguinte Depois do suic dio do presidente em agosto de 1954 ele retornou para a reserva e publicou as suas mem rias como comandante da For a Expedicion ria Brasileira 186 simb licas Com efeito a aproxima o de uma febiana com o marechal e com as coisas e causos do campo militar exp s a rememora o de representa es pret ritas daquelas enfermeiras no Ex rcito Em entrevista Elza tece alguns coment rios sobre sua proximidade com este oficial O marechal Mascarenhas gostava muito de mim Era muito carinhoso comigo Ele era o mais velho general da guerra Eu todo s bado lanchava com o Marechal na casa dele Quando eu n o a ele ao me encontrar dizia A senhora est zangada comigo A eu me desconcertava N o Marechal Eu n o pude ir por isso por aquilo Depois da guerra todo s bado eu tinha que lanchar com ele Tinha uma meia d zia de pessoas ligadas a ele que ele gostava Eu havia pedido a ele para prefaciar o livro Mas ele n o aceitou porque tinha uma hist ria que ele n o gostou a do causo de um soldado muito safo que foi preso e os alem es come aram a interrog lo Como se chama o seu capit o Banana d gua E o tenente Laranja seleta E o sargento Abacaxi azedo O soldado botou nome de fruta em todo mundo e no final disse que o nosso ex rcito era comandado por frutas risos A o marechal queria que eu tirasse e eu disse qu
397. sultadas p de ter garantido alguma vantagem no processo A t tulo de curiosidade o EMFA foi criado a partir da Constitui o de 1946 e trata se de um rg o de integra o das tr s For as Armadas Marinha Ex rcito e Aeron utica subordinado ao Poder Executivo que foi respons vel por toda cria o aplica o e conclus o das estrat gias de seguran a e defesa nacionais al m de ter sido incumbido de resolver assuntos de ordem financeira administrativa e cultural Com a ascens o dos militares ao poder em 1964 as For as Armadas passaram a ter autonomia nica de decis es 165 um dos nomes fortes da pol tica p blica do pa s que seria candidato presid ncia da Rep blica poucos anos depois Ao se fazer porta voz autorizado do grupo de enfermeiras da FEB ele dotou se do poder de falar e de agir em nome do grupo Nesse sentido ao referirem que foi dele o apadrinhamento pol tico decisivo que tiveram nesta empreitada as enfermeiras personificaram magicamente a sua representa o na figura deste agente que lhes fez representar permitindo lhes agir e falar atrav s dele assumindo ele o direito de representa o ao falar e agir pelo grupo Sendo assim a 12 de novembro de 1953 o deputado Ferrari apresentou seu anteprojeto cuja ementa foi a seguinte Regula o aproveitamento no Servi o Ativo do Ex rcito das 134 enfermeiras que integraram a FEB no TO da It lia No texto da justifica o que ap
398. te o Estado Novo 1937 1945 Rev bras enferm Bras lia v 55 n 2 p 205 16 2002 BARREIRA Ieda de Alencar BAPTISTA Suely de Souza SANTOS T nia Cristina Franco PERES Maria Ang lica de Almeida Associa o Brasileira de Enfermeiras Diplomadas no contexto da alian a Brasil Estados Unidos II Guerra Mundial e P s Guerra Hist ria da Enfermagem Revista Eletr nica Bras lia v 1 p 2 23 2010 BARREIRA Ieda de Alencar SAUTHIER Jussara BAPTISTA Suely de Souza O movimento associativo das enfermeiras diplomadas brasileiras na 1 metade do s culo 20 Rev bras enferm Bras lia v 53 n 4 p 157 73 2001 BARROS Jos O projeto de pesquisa em Hist ria Petr polis Vozes 2007 BARTHES Roland A c mara clara nota sobre a fotografia Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 BELLAFAIRE Judith A The Women s Army Corps A Commemoration of World War II Service Washington DC 1993 12 BERNARDES Margarida Maria Rocha O grupamento feminino de Enfermagem do Ex rcito na For a Expedicion ria Brasileira durante 2 Guerra Mundial uma abordagem sob o olhar fotogr fico 1942 1945 Disserta o Mestrado em Enfermagem Faculdade de Enfermagem Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2003 BERNARDES Margarida Maria Rocha LOPES Gertudes Teixeira SANTOS T nia Cristina Franco Base de sustenta o militar de Vargas durante a 2 Guerra e a soberania b lica alem percep es de enfermeiras e mil
399. tentes que foram nomeados para trabalhar no Servi o de Sa de os quais foram imediatamente substitu dos por funcion rios concursados Isabel referiu ainda que tal situa o teria chegado ao conhecimento do general Jo o Segadas Viana veterano da FEB e que havia sido comandante do 6 Regimento de Infantaria na It lia Este general recorreu diretamente ao presidente Get lio Vargas solicitando o retorno dos pracinhas ao Servi o de Sa de Conforme descreve o presidente contatou por telefone o diretor do DASP e ordenou lhe que providenciasse o retorno destes ao Servi o P blico Desse modo no mesmo ano os ex pracinhas foram encaminhados a diversos rg os p blicos e ela designada para trabalhar junto Diretoria do Ensino Industrial do Minist rio da Educa o e Cultura FEITOSA 2002 CRUZ 2002 p 162 H que se considerar que a contrata o de algumas febianas para o Servi o de Sa de do Ex rcito na condi o de civis serviu para intensificar um pouco a for a simb lica do grupo quando tornou mais constante a intera o funcional delas com os militares da ativa o que consistiu numa estrat gica para aquelas egressas de guerra um ganho simb lico O pr ximo trecho ajuda a adensar esta id ia Com a chegada de febianas como civis contratadas que come ou o movimento A Vassimon uma delas quem liderou esse movimento do nosso retorno ao Servi o Ativo Todo mundo queria voltar ativa mas a ca
400. tentes que os m dicos Trabalhavam que era uma beleza e n o tinham recalque nenhum comigo Eles me chamavam de tenente pediam licen a para sair e para voltar Foram formid veis N o tive atrito com eles Quando tinha alguma d vida na enfermaria eu recorria a eles Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Tais men es s o importantes para demonstrar que apesar do Ex rcito contar com profissionais de enfermagem que possu am amparo legal para o exerc cio da profiss o al m de alguma compet ncia e habitus militar j incorporado houve mesmo assim a convoca o atropelada de mulheres enfermeiras para seus quadros por ocasi o da Segunda Guerra Mundial Cabem as perguntas Por que a pressa E qual a necessidade real de uma reserva feminina de enfermagem para o Ex rcito Elza Cansan o 1987 p 64 tenta explicar da seguinte maneira Embora a profiss o de enfermagem seja eminentemente feminina o Ex rcito s tinha at ent o enfermeiros masculinos Alertados pelos americanos de que a FEB deveria levar o seu pr prio corpo de enfermeiras n o s para facilitar o entendimento entre pacientes e enfermagem como tamb m porque as suas profissionais j estavam sobrecarregadas de servi os foi a ent o que o Brasil se viu premido a organizar o Curso de Emerg ncia de Enfermeiras da Reserva do Ex rcito e dentre as que terminaram esses cursos selecionou as que seguiram para a It lia Sobre iss
401. tidas como femininas foi a que mais se fez aceita para o aproveitamento de mulheres nas mis ginas e masculinizadas organiza es militarizadas sejam como agregadas as que acompanhavam os ex rcitos para cuidar dos feridos sejam como convocadas inclu das oficialmente s institui es militares nos per odos de guerra sejam ainda como incorporadas efetivadas em tempos de paz quando passavam a ter direito a uma carreira promo es e condi es muito pr ximas das dos homens mas ainda com restri es ocupa o de fun es de prest gio tais como s relacionadas ao combate e ao comando ROSA BRITO 2008 pj l Classifica o utilizada por Alexandre Reis Rosa e Mozar Jos de Brito 2008 que foi adaptada da proposta por Raymond Caire 2002 60 Por certo a atua o de mulheres enfermeiras em situa es de guerra n o era fato novo Vem da inglesa Florence Nightingale expoente maior da enfermagem e de Ana N ri o nosso exemplo nacional a refer ncia pr via que bem serviu para demarcar a presen a viabilidade e necessidade de enfermeiras em situa es b licas mesmo que na retaguarda Assim as apari es de mulheres enfermeiras comumente respaldadas e legitimadas pelo poder masculino e masculinizante de governos e institui es regalaram possibilidades que recondicionaram a invisibilidade delas nos espa os p blicos e modificaram por vezes a ordem das coisas N o obstante not vel na hist ria das
402. tiva Eu lembro que o deputado Ferrari teve muito contato com o general Marques Porto que foi dando informa es ao deputado porque ele era civil O deputado n o tinha conhecimento das coisas Ele achou valorosa a nossa participa o na guerra Mas ele n o conhecia os pormenores Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Assim o ceticismo da improv vel reinclus o das febianas no Servi o Ativo do Ex rcito come ou a perder sua sustenta o quando elas passaram a contar com o peso do capital pol tico do consagrado deputado federal Fernando Ferrari do Partido Trabalhista Brasileiro Foi ele quem fez o projeto de lei para n s Ele foi o nosso padrinho Ele fez tudo por n s Ele atendeu ao pedido de Vassimon e de outras mais Ele entendeu a nossa situa o e comprou a briga O Ferrari fazia tudo pela gente e pelos militares Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Ao que parece a escolha do deputado Fernando Ferrari para aliado esteve atrelada sua origem partid ria sua trajet ria pol tica bem sucedida inclusive em defesa dos membros das For as Armadas al m da proximidade que mantinha com Juscelino Kubitschek 132 H que se considerar tamb m que o pr prio marechal Mascarenhas de Moraes outro aparente aliado das febianas estava na fun o de chefe do Estado Maior das For as Armadas EMFA na poca dessas aproxima es pol ticas o que apesar de n o ser mencionado nas fontes con
403. to da enfermagem na Revolu o Constitucionalista seria a base para a escolha da enfermeira como um emblema em torno do qual o Estado Novo 1937 1945 constituiria um ideal de mulher e de mobiliza o feminina CYTRYNOWICZ 2000 Outrossim a atua o de enfermeiras nessa Revolu o foi bem reconhecida por parte das altas autoridades militares do Ex rcito O atestado honroso profici ncia profissional delas pode ser entendido como sinal de prest gio junto corpora o que desfrutava de indiscut vel status junto ao Governo Vargas Ali s a atua o de enfermeiras nessa guerra civil contribuiu para ampliar e projetar a enfermagem no imagin rio da sociedade brasileira como j acontecia em outros pa ses avan ando para al m das atividades de preven o de doen as eis que manifestavam alguma compet ncia para compor as equipes de sa de em situa es de conflito b lico CY TRYNOWICZ 2000 ALMEIDA FILHO SANTOS 2003 p 585 Enquanto o pa s experimentava efetivas aproxima es de enfermeiras com os cen rios e pr ticas militares id ias de aparente avers o ao servi o militar feminino irrompiam poca como as expressas no estudo de Nunes 2001 sobre a hist ria de Antonieta Barros mulher negra que alcan ou a primazia de ter sido eleita deputada na Assembl ia Legislativa do Estado de Santa Catarina em 1934 e que de certo modo quebrou estere tipos relacionados etnia classe social e g nero Nos escritos de Anto
404. to de oficiais da reserva s bre a FEB de 1949 est o descritas algumas das rea es desfavor veis que a 1 edi o publicada em 1947 obteve ARRUDA 1949 105 Desde os navios de transporte norte americanos no retorno ao Brasil os expedicion rios faziam refer ncias informalmente a dois tipos de ex rcito em tudo diferentes de si De um lado o Ex rcito de Caxias aquele que ficara no pa s para a suposta defesa do territ rio caracterizado por seus quart is pouco higi nicos pelas exterioriza es excessivas de disciplina com pouca serventia para a guerra real pela maior import ncia que conferia s perdas materiais do que s baixas de combate de outro o Ex rcito da FEB que atravessou o oceano para a luta direta contra o nazi fascismo baseado no modelo militar norte americano mais democr tico no qual as rela es humanas entre oficiais e pra as visavam efici ncia em combate e n o a exterioriza o de uma superioridade social imanente do oficialato Este um dos pontos que marcam as cr ticas encontradas em Depoimento de oficiais da reserva s bre a FEB FERRAZ 2005 p 52 145 algo depreciativos dirigidos a certos atos superiores consistia primeira vista em transgress o disciplinar Ademais as conhecidas motiva es e formas de controle e de censura sobre a mem ria nos regimes de exce o s o indutoras de um esquecimento organizado na sua reconvers o para tempos de democracia Alemanha
405. toados neste instante vibrante da nossa Hist ria em que o Corpo Expedicion rio hasteia as bandeiras gloriosas da desafronta rumo ao inimigo l em Berlim onde ele se encastela no del rio do crime e no desvario do dio da destrui o e do obscurantismo ergue a mulher brasileira na afirma o solene de marchar lado a lado aos soldados de Caxias tal como Ana N ri nas batalhas do passado Aqui estamos envergando a farda de enfermeiras expedicion rias para ir al m muito al m dos mares afrontando os perigos da guerra partilhar a gl ria de tamb m lutar pelo Brasil N o a aventura que nos seduz N o o esnobismo que nos anima N o a vaidade que nos entusiasma Mais profunda a voz da nossa consci ncia e mais serena e perfeita a convic o do nosso dever CAMERINO 1944 Do trecho apresentado h ind cios de rever ncia e culto Ana N ri como modelo a ser perseguido pelas febianas o que mesmo uma constante em v rias das fontes consultadas como neste fragmento do pref cio ao livro da enfermeira Ol mpia de Ara jo Camerino escrito pelo general Carlos de Meira Mattos nossa enfermeira militar 75 anos ap s a guerra do Paraguai reviveu em todo o esplendor e beleza a figura her ica de Ana N ri 102 CAMERINO 1983 p 27 Ou ainda como o general Tito Portocarrero frisou na primeira r 68 a estrofe do Hino da Enfermeira da Reserva do Ex rcito de sua autoria Ao lado da fala
406. toridades civis militares e eclesi sticas em se fazerem presentes nesta celebra o Eu me lembro desta missa Foi muito bonita N s todas nos abra amos e recebemos muitos cumprimentos A missa nos tocou bastante Foi a nossa despedida do Ex rcito Ainda est vamos fardadas com o uniforme que trouxemos da guerra Todas n s t nhamos orgulho de botar aquela farda Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero O uso pelas enfermeiras rec m desmobilizadas de suas fardas evidencia uma estrat gia de resist ncia de se fazer ver de se fazer crer e de se dar a reconhecer mediante a utiliza o deste signo exterior ao corpo que associado aos signos incorporados como as maneiras de agir e de falar enfim um habitus tendem a evocar e refor ar a exist ncia de uma identidade de enfermeira militar BOURDIEU 1998 p 103 OLIVEIRA SANTOS 2010 Assim que este ritual para o bem do grupo possibilitou a reafirma o de um discurso patri tico que se fez fortalecido pelo trabalho volunt rio que ofereceram ao bem comum ao tempo que se exprimiu atrav s do discurso religioso o exerc cio por elas de uma pr tica crist que viabilizou algum lucro no sentido de consagrar a boa f daquelas enfermeiras Ou seja pelo discurso patri tico e religioso se incitou a constru o mesmo que circunscrita pelo ritual de uma imagem de enfermeira de guerra honrada e altru sta o que de certa forma serviria pa
407. tr s meses de 18 Conforme Cansan o 2003 p 211 e Portaria Ministerial n 1 859 de 16 09 1957 1 O dia 1 de junho de 1957 da promulga o da Lei n 3 160 foi tomado como refer ncia para c lculo da idade das febianas que em geral foram convocadas entre setembro e dezembro de 1957 Das 44 n o foram identificadas as datas de nascimento de cinco enfermeiras as quais n o foram consideradas para efeito do c lculo da m dia da faixa et ria das que requereram convoca o 215 dura o Entretanto h que se comentar que ap s a experi ncia de guerra boa parte delas foi empregada em atividades profissionais onde exerceram a pr tica de enfermagem em alguns hospitais e servi os O quadro registra ainda as unidades do Ex rcito em que as enfermeiras convocadas foram servir ao longo de sua perman ncia no Servi o Ativo al m de mostrar que algumas delas tamb m chegaram a atuar em mais de uma organiza o militar Os Estados da Federa o onde foram classificadas foram Rio de Janeiro a grande maioria Minas Gerais S o Paulo Paran Rio Grande do Sul Bahia Pernambuco Amazonas e Bras lia a capital do pa s em constru o O trecho a seguir retrata o momento da apresenta o e acolhida de uma delas na unidade onde acabara de ser classificada No primeiro dia que cheguei ao Col gio Militar de Belo Horizonte o comandante me chamou no seu gabinete e explicou o militarismo Disse que eu levantasse a cabe
408. tratavam E n o ia adiante Enfermeira Virg nia Maria de Niemeyer Portocarrero Apesar da reinclus o das enfermeiras da FEB no Servi o Ativo do Ex rcito ter sido um importante precedente para o ingresso efetivo do segmento feminino nas For as Armadas do Brasil como defendeu Elza Cansan o elas continuariam a ser por um bom tempo o nico exemplo vivo de presen a feminina neste campo Assim o que se viu com esta reinclus o foi o enxerto de uma pequena e delicada amostra de novidade numa velha e patriarcal institui o que de certo modo funcionou como exemplo de um ex rcito que se modernizava Entretanto a reforma advinda de sua presen a no campo militar foi mais est tica que sem alterar paradigmas n o favoreceria a inclus o de outras mulheres nas For as Armadas Ali s como dantes comentado do grupamento que fora para a guerra uma boa parte n o requereu a reinclus o o que tamb m serviu de certa forma para desarticul las ao longo do tempo suavizando mais a sua for a simb lica coletiva e fragilizando sua representa o identit ria O fragmento da entrevista com uma febiana evidencia os efeitos da suposta desarticula o do grupo No Brasil todo n s ramos muito poucas Ent o n o tinha como sobressair Muita gente n o nos via logo n o tinha oportunidade de saber que n s existiamos Ent o foi um tempo que teve algumas enfermeiras militares nesse mundo de enfermeir
409. tura e publica o da mat ria no Plen rio sobre a inscri o DCN1 12 11 53 PAG 4121 COL 04 Arquivo dispon vel em www camara gov br internet sileg Prop Detalhe asp id 2 16344 Acesso em 30 set 2006 191 Art 1 S o inclu das no Servi o de Sa de do Ex rcito na situa o de convocadas as enfermeiras que integraram a FEB durante as opera es de guerra na It lia nos anos de 1944 e 1945 no posto de 2 tenente Art 2 S o assegurados s enfermeiras a perman ncia nas fileiras at a idade limite facultada a transfer ncia para a reserva remunerada ap s 25 vinte e cinco anos de servi o e gozo dos direitos vantagens e regalias inerentes aos oficiais da ativa exceto o acesso que ser at o posto de 1 tenente Art 3 Para a promo o ao posto de 1 tenente ser o aplicadas as exig ncias do artigo 9 ressalvado o disposto em sua letra a do Decreto Lei n 8 760 de 21 de janeiro de 1946 devendo as propostas de promo o serem organizadas pela Diretoria Geral de Sa de e encaminhadas ao Ministro da Guerra Par grafo nico Ser o aplicadas tamb m a esses oficiais as disposi es dos artigos 7 e seu par grafo nico 17 e as letras a b c par grafo 1 do artigo 22 do Decreto Lei n 8 760 de 21 de janeiro de 1946 Art 4 Os oficiais que quiserem gozar do aproveitamento previsto nesta lei dever o requer lo por interm dio da Diretoria Geral de Sa de dentro do pr
410. u passava perto dos alunos eles faziam a contin ncia E quando eu voltava vinha todo mundo fazer a contin ncia novamente Se tivesse que voltar dez vezes dez vezes eles deixavam a distra o deles ou o que estavam fazendo para fazer a contin ncia E eu explicava N o precisa de mais contin ncia Contin ncia apenas uma sauda o Enfermeira Carlota Mello Sobre as prescri es e adapta es vida na caserna uma febiana comentou que o regime militar n o nenhum bicho de sete cabe as Se voc tem uma forma o educacional r gida voc vive muito bem no regime militar porque as normas militares nada mais s o do que as normas de boa educa o Voc n o entra na casa de ningu m sem pedir licen a e a maneira do militar pedir licen a batendo contin ncia H o respeito hierarquia militar Quem teve uma forma o familiar pesada como eu tive com governanta alem n o tem problemas de adapta o dentro do Ex rcito Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Embora as diversas falas das enfermeiras tenham pontuado possibilidades de adapta o vida militar vale ressaltar que por muito tempo os militares constru ram uma fachada fechada e uma cultura muito particular onde alguns valores internalizados orientadores de suas a es fomentaram um senso de distin o e seu afastamento do mundo civil Ali s desta diferencia o deriva a distin o claramente percept vel na caserna entre n s
411. ubstitutivo para poder amparar dentro do que julgaram como poss vel as enfermeiras febianas cuja reda o ficou assim Art 1 Ficam inclu das na Reserva do Ex rcito no posto de segundo tenente as enfermeiras que serviram junto FEB exclu das as que a qualquer t tulo permaneceram no territ rio nacional Art 2 S o extensivos s enfermeiras da FEB no que lhes for aplic vel os dispositivos das leis de amparo e assist ncia aos ex combatentes Art 3 Para os efeitos desta lei consideram se enfermeiras da FEB as que efetivamente dentro do setor de sua especialidade participaram das opera es de guerra da FEB exclu das as que a qualquer t tulo permaneceram ent o no territ rio nacional Este substitutivo do PL n 535 proposto pela Comiss o de Constitui o e Justi a recebeu parecer favor vel da Comiss o de Seguran a e tamb m da Comiss o de Finan as Cabe pois a transcri o de algumas partes do parecer dessa Comiss o de Seguran a por conter aspectos sobre a natureza do servi o que as febianas prestaram na guerra e a viabilidade deste substitutivo Em princ pio a inclus o na Reserva se subordina a presta o anterior de Servi o Militar Todavia a essa regra n o est o sujeitas as mulheres que s o favorecidas com a isen o de que trata o art 2 1 da Lei de Servi o Militar Logo n o se podendo exigir delas a presta o de Servi o Militar sua inclus o n
412. ue elas conseguiram materializar tiveram um bom proveito neste estudo No que diz respeito s fontes secund rias este estudo valeu se de teses disserta es e artigos publicados em peri dicos cient ficos bem como de trabalhos diversos e livros que abordassem a Hist ria da Enfermagem Militar a Hist ria da Enfermagem a Hist ria das Mulheres a Hist ria Militar e a Hist ria do Brasil Tais fontes foram tratadas criticamente e selecionadas sistematicamente de acordo com sua ader ncia tem tica e temporal Ademais elas serviram para trazer tona elementos para debate que potencializaram a intertextualidade constru da inscrevendo as interpreta es desenvolvidas em uma rede de id ias que impulsionou as an lises e discuss es apresentadas Em certas ocasi es tive que garimpar fontes nos ditos arquivos mortos em condi es muito prec rias que guardam por parte de quem os administram a insensibilidade e ignor ncia de sua import ncia No que pude tentei sensibilizar os respons veis e alertar quela comunidade de que esses documentos ali esquecidos s o preciosidades que sem o adequado armazenamento conserva o e restaura o estar o condenadas destrui o Outrossim n o posso furtar me de mencionar a sensa o que tive em certos momentos ao inesperadamente encontrar documentos relevantes para a pesquisa Como isso bom Pois impulsiona anima e retroalimenta o processo para novas descobertas
413. ue fosse criado enquanto eu ainda estava na ativa para que eu pudesse fazer a sele o a fim de que n o houvesse problemas tamb m O anteprojeto foi discutido muito bem aceito e aprovado por aclama o no Congresso mas foi engavetado como tudo aqui no Brasil Foi s fogo de palha Na poca n o havia for a nenhuma Tinha como eu disse a voc eu com as minhas amizades particulares Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Dentre as conclus es apresentadas nos anais para este tema oficial que tratou da reorganiza o e atualiza o da enfermagem militar estiveram 1 O problema da enfermagem nas For as Armadas apresenta como fator preponderante a defici ncia de pessoal devidamente habilitado 2 A Enfermagem feminina de alto padr o necessidade indiscut vel para efici ncia do servi o de enfermagem nas For as Armadas 3 da maior import ncia a cria o de Escola de Enfermagem de n vel universit rio para as For as Armadas inclusive Pol cias Militares 4 A reorganiza o das escolas ou cursos de forma o de auxiliares de enfermagem em funcionamento nas For as Armadas medida complementar de grande import ncia Anais do IICBMM 1961 v 2 p 737 246 Durante o Congresso h registros de que as enfermeiras que representaram a ABEn chegaram a receber uma carta de sua presidente Marina Andrade Resende com uma mo o que deveria ser encaminhada para vota o
414. uerra Portaria n 272 de 10 de maio de 1944 Publicada no Di rio Oficial n 108 de 12 de maio de 1944 Transcrito no Boletim do Ex rcito n 20 de 13 de maio de 1944 Disp e sobre a situa o militar das enfermeiras quanto a c rculo local de refei es recompensas e san es Minist rio da Guerra Decreto Lei n 6 716 de 20 de junho de 1944 Publicado no Di rio Oficial n 169 de 22 de junho de 1944 Transcrito no Boletim do Ex rcito n 31 de 29 de junho de 1944 Eleva os vencimentos das enfermeiras da Reserva do Ex rcito convocadas Minist rio da Guerra Aviso n 1 665 de 22 de junho de 1944 Transcrito no Boletim do Ex rcito n 27 de 1 de julho de 1944 Define a subordina o das enfermeiras convocadas Minist rio da Guerra Aviso n 1 495 de 26 de junho de 1944 Publicado no Di rio Oficial n 131 de 8 de junho de 1944 Transcrito no Boletim do Ex rcito n 24 de 30 de junho de 1944 Declara inteiramente aplic vel s enfermeiras convocadas que fizeram parte da FEB os artigos 32 e 37 e as letras b c e d dos art 38 e seus par grafos da Portaria n 64 599 de 23 de maio de 1944 e d outras provid ncias 274 C mara dos Deputados Projeto de Lei n 535 47 Apresentado pelo deputado Jos Correia Pedroso J nior em 5 de agosto de 1947 Disp e sobre vantagens das enfermeiras que integraram a se o hospitalar da For a Expedicion ria Brasileira C mara dos Deputados Projeto de Lei
415. uldade Nacional de Filosofia e Ci ncia Pol tica 1949 52 Esta faculdade hoje o Instituto de Filosofia e Ci ncias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro 185 Figura n 17 A enfermeira Elza Cansan o e o marechal Mascarenhas de Moraes no lan amento do livro Nas barbas do tedesco 1955 Acervo da FEB Pal cio Duque de Caxias Rio de J aneiro 9 Na legenda que acompanhou a fotografia fez se constar o texto FLAGRANTE Colhido na Biblioteca do Ex rcito vendo se a ex enfermeira da FEB Elza Cansan o Medeiros autografando um exemplar do livro de sua autoria Nas barbas do Tedesco para o marechal Mascarenhas de Moraes Do texto fotogr fico cabe a leitura de que a presen a da maior autoridade do Ex rcito 157 poca num evento em que recebeu um livro autografado sobre a FEB e o fato de se deixar fotografar ao lado da autora traz em si o registro de um momento de trocas materiais e 156 Esta ilustra o foi encontrada em formato digital no Acervo da FEB N o foi poss vel identificar o nome do jornal que veiculou esta foto e a data de sua publica o Entretanto como a 1 edi o do livro foi publicada em 1955 e tomando por base a fala da pr pria Elza bem prov vel que a foto tenha sido publicada neste mesmo ano 157 Em 1953 o marechal Mascarenhas de Moraes foi nomeado chefe do Estado Maior das For as Armadas oportunidade em que acompanhou a crise pol tica que levaria ao
416. ulheres Guarda Civil ocasi o em que foi criado o Corpo de Policiamento Especial Feminino atrav s do Decreto n 24 548 de 12 05 1955 Tal iniciativa foi proposta por um grupo de assistentes sociais no I Congresso Brasileiro de Medicina Legal e Criminologia realizado em 1953 com o argumento de que a forma o psicol gica feminina traria vantagens para a atua o policial em certas reas espec ficas como o trabalho junto a mulheres idosos e menores delinguentes ou abandonados Desse modo que a Pol cia Militar do Estado de S o Paulo foi pioneira na inser o feminina apesar de se tratar de um corpo feminino de guardas civis Em 1959 ainda como parte da Guarda Civil o Corpo de Policiamento tomou a 184 No p s guerra a persist ncia estrat gica da presen a de febianas em diversos cen rios ocasi es e circunst ncias evoca a id ia da viabilidade e da necessidade de se ter mulheres enfermeiras para cuidar nos hospitais militares mesmo em tempo de paz Outro exemplo disso aconteceu em 8 de maio de 1955 dia da Vit ria quando foi levado a p blico o curioso livro Nas barbas do tedesco de autoria da febiana Elza Cansan o Medeiros gt que reuniu algumas c micas cr nicas dos pracinhas durante a guerra Ela conta que o livro teve a inten o de mostrar s gera es ap s guerra com o m ximo de simplicidade e clareza o lado humano o lado burlesco de nossa vida de campanha MEDEIROS 1955 p 10 Nas palavras que E
417. uma paga a n o ser a consci ncia do dever cumprido MORAES 1949 p 418 Neste recorte residem vest gios que fazem ver certo descontentamento e pesar sobre a pouca visibilidade que foi atribu da s enfermeiras febianas em seu retorno ao pa s E pelos seus discursos pouco foi feito para tornar conhecida e reconhecida oficial e publicamente a atua o delas Assim parafraseando Michelle Perrot 2007 uma mulher que desaparece n o representa muita coisa no espa o p blico A insatisfa o de uma das febianas com a desmobiliza o pode ser aqui atestada Eu fiquei muito triste porque a minha fam lia toda de militares e eu tive um orgulho enorme de ter trabalhado como militar Mas depois de passar o que eu passei fui desmobilizada Tivemos muitos elogios dos jornais e das pessoas amigas E eu vim empolgada com o agradecimento dos meus doentes Ent o eu n o me arrependi de ter ido Eu senti orgulho de ter tratado dos soldados da FEB Mas quando chegamos nem agradecimento tivemos S nos dispensaram Eu vim embora muito sem gra a porque eu quis e pensei que fosse continuar Meu pai ficou com os olhos cheios d gua porque ele era Caxias demais E ele disse assim Minha filha voc tem seu pai e seu emprego Esquece isso Voc est feliz por ter ido e ter tratado desses homens Ent o basta isso para preencher este momento Foi assim Enfermeira Virg nia Maria de Niemey
418. un es de autoridade seja por certa humildade de boa cepa seja por seu fino trato com seus subordinados e em alguns casos pelo capital militar herdado de seus familiares e do exerc cio de fun es militares pr vias na guerra Todos esses elementos contribuiriam para que elas fossem bem aceitas na institui o tornando a mais d cil a estas rec m chegadas Trabalhei no Col gio Militar de Belo Horizonte Foi um tempo muito bom Eu n o tive problema nenhum Eu trabalhei na enfermagem Fui amiga de todos desde o general at o soldado Todos se davam muito bem comigo e eu com eles sem problema Enfermeira Roselys Teixeira Gazzinelli Em contrapartida com a reapari o p blica dessas mulheres uniformizadas alguns deboches preconceitos e dificuldades que sempre recorriam ao fato delas serem do segundo sexo vieram tona As pessoas estranhavam Todo mundo ficava olhando e perguntando Que bicho raro esse N s caus vamos estranheza Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Na rua havia muita rea o Ficavam debochando a toda hora Mulher fardada Mulher n o Mulher n o era o que diziam os homens 219 nas ruas pejorativamente O meu uniforme ficava na Policl nica Eu me trocava l para n o ouvir essas coisas porque eu era meio encabulada e ficava revoltada quando ouvia essas coisas J as mulheres elas achavam que a gente ia para
419. unicar a apropria o de comportamentos atitudes e valores uma vez que uniformes s o indicadores extremamente eficazes da codifica o de regras apropriadas de conduta e sua internaliza o CRAIK 2003 p 6 Tamb m a farda funciona como uma esp cie de signo institucional que trata dos seus de modo grupal pouco subjetivo cujo uso tem certa tend ncia em assexuar quem a veste como pode ser observado na foto anteriormente mostrada que estampa um pouco da atenua o de certos signos distintivos de feminilidade conjugado inclusive com o estilo de corte de cabelo que deveria ser curto e o uso discreto de adornos em exterioridades Tal situa o evidencia um pouco dos efeitos da hierarquia entre os sexos que tende a se impor mediante a disciplina relativa ao uso do corpo trajes e penteados adequados uma vez que as divis es constitutivas do mundo social e mais precisamente as rela es sociais que s o institu das entre os g neros inscrevem se sob a forma de hexis corporais opostas e complementares e de princ pios de vis o e divis o que classificam as pr ticas sociais segundo oposi es entre o masculino e o feminino A mulher antes de tudo uma imagem feita de apar ncias que na cultura judaico crist ora se oculta ora se mostra C digos bastante precisos regem suas apari es assim como as de tal ou qual parte de seu corpo PERROT 2007 p 49 50 Sobre as discuss es e desentendimentos sobre a cria o d
420. uxiliar Feminino n o se conseguiu dar concretude sua cria o Tudo ficara ao que bem parece no dom nio 8 Suas gest es na presid ncia da ABEn Nacional aconteceram de 1958 a 1960 e de 1960 a 1962 21 Este recenseamento constatou que existiam at dezembro de 1956 4 517 enfermeiros diplomados pelas escolas de enfermagem do pa s dos quais 3 600 estavam em atividade e assim distribu dos 2 473 68 7 em hospitais 546 15 12 em Sa de P blica 379 10 55 em escolas e 202 5 6 em outros campos de enfermagem O d ficit estimado de enfermeiros era de cerca de 4 500 enfermeiros e 74 500 auxiliares de enfermagem 247 das promessas dos desejos da boa vontade e das boas inten es A cria o de um corpo feminino de enfermagem passaria a ser um problema espera de solu o Equacion lo e resolv lo exigiria tempo As enfermeiras da FEB s foram reinclu das porque tiveram um apoio grande do general Marques Porto e do marechal Mascarenhas de Moraes Houve todo esse envolvimento Mas depois acredito n o era mais interesse do Ex rcito manter mulheres Por muito tempo ningu m tocou mais no assunto O que eu achei foi o seguinte Eles nos engoliram por for a de lei e nos trataram bem pela disciplina Mas depois acharam que n o valeria pena encher o Ex rcito de mulher Ainda tinham aquela besteira do homem para com a mulher A a coisa n o ia adiante Tratavam
421. v rgula ponto e v rgula retic ncias Fontes Prim rias 270 271 FONTES PRIM RIAS 1 ORAIS Entrevistas GAZZINELLI Roselys Teixeira Roselys Teixeira Gazzinelli entrevista 4 nov 2008 Entrevistador Alexandre Barbosa de Oliveira Belo Horizonte 2008 Entrevista concedida ao projeto Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no front do p s guerra o processo de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 1945 1957 MEDEIROS Elza Cansan o Elza Cansan o Medeiros entrevista 28 out 2008 Entrevistador Alexandre Barbosa de Oliveira Rio de Janeiro 2008 Entrevista concedida ao projeto Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no front do p s guerra o processo de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 1945 1957 MEDEIROS Elza Cansan o Elza Cansan o Medeiros entrevista 29 out 2008 Entrevistador Alexandre Barbosa de Oliveira Rio de Janeiro 2008 Entrevista concedida ao projeto Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no front do p s guerra o processo de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 1945 1957 MEDEIROS Elza Cansan o Elza Cansan o Medeiros entrevista 23 jun 2009 Entrevistador Alexandre Barbosa de Oliveira Rio de Janeiro 2008 Entrevista concedida ao projeto Enfermeiras da For a Expedicion ria Brasileira no front do p s guerra o processo de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito 1
422. va eu acho Elas ficaram esperando para ver se havia a possibilidade de trabalhar por aqui porque n o queriam sair de Minas e tinham receio de ter que ir para Bras lia Na poca quase tudo que era feito era para Bras lia Ningu m queria ir para l Parecia que iria para o fim do mundo N s tivemos tr s meses para resolver se quer amos ou n o E elas ficaram observando esperando Quando elas viram que eu fui classificada no Col gio Militar de Belo Horizonte e que elas tinham a possibilidade de tamb m se manterem aqui a que elas se apresentaram Eu servi de cobaia para as minhas colegas Enfermeira Carlota Mello Especificamente sobre a sua tomada de decis o uma enfermeira manifestou que o retorno para o Servi o Ativo n o foi compuls rio foi optativo S voltou quem quis Eu tirei uma licen a sem vencimentos no Banco do Brasil e voltei para experimentar aonde que eu queria ficar se no Banco do Brasil ou no Ex rcito L gico que eu preferi o Ex rcito porque o Banco do Brasil era um antro de comunistas e eu n o tinha mais condi es de ficar l Enfermeira Elza Cansan o Medeiros Para outras febianas o retorno s fileiras do Ex rcito n o chegou a ser objeto de aspira o Os principais motivos indicados recaem no fato delas estarem bem empregadas 174 Uma rela o com os 44 nomes est disposta num quadro algumas p ginas adiante Cabe mencionar que
423. xos e integra a masculinidade Alargou suas perspectivas espaciais religiosas culturais PERROT 2007 p 16 42 O empenho de Michelle Perrot 1988 1998 2005 2007 em escrever uma hist ria das mulheres articulando o conceito de g nero aos diversos epis dios hist ricos que marcaram as mudan as pol ticas econ micas e sociais da humanidade faz ver a mulher como agente privilegiado subvertendo a ordem masculina Por m ao fixar o olhar apenas na mulher ou na condi o feminina al m de anular a influ ncia do outro homem na constru o da subjetividade feminina tamb m deixa a impress o de que os homens existem em algum lugar al m do social como se mais uma vez o masculino constitu sse um par metro extra hist rico e universalizante MATOS 2001 p 46 N o obstante estes constatados limites sobre a quest o de g nero tanto nas abordagens de Pierre Bourdieu quanto nas de Michelle Perrot n o foram impeditivos para as an lises e discuss es aqui encaminhadas Ali s ao se fazerem conjugadas no que coube as impress es desses dois autores favoreceram o entendimento das zonas de poder e domina o e seus efeitos sobre as enfermeiras da FEB apesar das diferen as te rico metodol gicas que configuram suas pesquisas Assim que se definiu como n o cabida a necessidade de busca de outras diferentes leituras sobre a quest o de g nero al m destas de Bourdieu e Perrot que foram tratadas como p
424. zo ela estimula o feminismo futuro Como foi visto no primeiro cap tulo a apari o e atua o p blica deste primeiro grupamento feminino de enfermagem do Ex rcito trouxeram embutidas a despeito dos estere tipos e resist ncias sentidas a supera o dos seus pr prios limites o que forjou nelas um esp rito combativo de que iriam dar provas mais tarde virtude esta que seria posta em alinhamento com a id ia de reinclus o no Servi o Militar Ativo do Ex rcito que passou a povoar suas mentes Por seu turno quebrar o n cleo aparentemente duro que bloqueava a possibilidade deste intento n o seria t o f cil Al m do que h que se considerar que o n mero de enfermeiras febianas que se mostraram inicialmente interessadas em serem reaproveitadas parecia ser bem pequeno Em contrapartida as enfermeiras que se dispuseram a lutar mobilizariam algumas estrat gias que passam a ser abordadas neste cap tulo Como as especificidades de cada situa o estrat gica s se tornariam intelig veis se analisadas em seu conjunto buscou se analisar quando foi poss vel desde as mais expressivas e supostamente mais eficazes at as aparentemente singelas Dessa forma na 122 esteira da Hist ria das Mulheres este segundo cap tulo valeu se tamb m do que parecia a priori sem import ncia diminuto e simb lico Finda uma guerra esperado pelos militares o bem nos quer ou seja a acolhida o aceite a aprova o o l

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