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a produção do espaço urbano de Fortaleza a partir da Seca

1. melhorias na poca da seca de 1932 como a pavimenta o da Rua Major Facundo a primeira a ser pavimentada a concreto o prolongamento da Rua Liberato Barroso a reconstru o da ponte de Jacarecanga o servi o de arrasamento das dunas para o prolongamento da Avenida Pessoa Anta a constru o do primeiro mict rio p blico a remodela o da Pra a do Ferreira a constru o do posto da cidade a abertura de uma nova rua a praia de Iracema No entanto essas obras n o foram erigidas por acaso haja vista que Fortaleza j havia passado por uma s rie de transforma es na sua tessitura urbana Desde tra ado xadrez projetado pelo arquiteto Adolfo Hebster dividindo o centro em quatro boulevard at a constru o de novas ruas introdu o de equipamentos modernos cinemas teatros ilumina o p blica sistemas de transporte institui es de saber como Academia Cearense de Letras e o Instituto Hist rico do Cear enfim um conjunto de melhorias urbanas visando aproximar Fortaleza da modernidade NEVES 2000 PONTES 1999 Nesse sentido a presen a dos retirantes na capital mostra se para a elite e o governo como paradoxal Se por um lado eles representavam um contraste ao padr o de modernidade influenciado pelos costumes europeus e que tinha na Fran a o seu arqu tipo Por outro eles possibilitavam ao governo edificar o seu projeto de moderniza o do centro utilizando a m o de obra barata dos reti
2. Ao professor John French que aceitou de maneira muito sol cita o convite para a banca de defesa Aos meus verdadeiros amigos que presenciam comigo desaven as e alegrias e que n o temem dizer a verdade quando ela causa enorme sofrimento minha heterog neaaaaaaaaaaaaa turma de mestrado Que me ensinou a conviver e respeitar a diversidade de pensamento Agrade o em especial ao Canid e ao Geovan pela amizade desenvolvida neste percurso e Ana Luiza por todo o esteio em quest es operacionais do mestrado Ao camarada Wendel Guedes pela dedica o destinada formata o da pesquisa Aos professores do col gio Her clito de Castro e Silva especialmente Anderson Mailma Alice Tessia e Humberto Pela uni o confian a e companheirismo no nosso trabalho colocado prova e aprovada com nota maior ap s a greve dos professores Agrade o tamb m por mostrarem que poss vel resistir aos incessantes ataques do Estado e conseguir ministrar uma boa aula Aos professores do Col gio Jader Moreira de Carvalho por enfrentarem diariamente a batalha do magist rio e n o se renderem Lorena pela companheira que se mostrou ser nesses dois anos de conviv ncia nossas intermin veis idas biblioteca p blica Menezes Pimentel e nos momentos finais da pesquisa que passou a trazer o meu almo o diariamente para eu n o perder tempo e me dedicar rdua tarefa da escrita Pode ter certeza de que grande part
3. o europeia Os adjetivos sempre salientavam os equipamentos modernos a arquitetura dos pr dios o desenvolvimento do com rcio a suntuosidade das sedes administrativas os recursos de transporte e ilumina o todos apresentados como condi o sine qua non de um estere tipo de cidade moderna N o obstante mesmo os peri dicos que teciam cr ticas cauterizantes administra o de Raimundo Gir o faziam rever ncia a Fortaleza como s mbolo da modernidade empolgante Possui pr dios colossais como o Hospital de Santo Ant nio dos Pobres O cinema como n o h igual no sul do Estado o pr dio dos Correios e Tel graphos o luxuoso Palacete Benevides sedes da Associa o Comercial e da Uni o Art stica a igreja matriz esta o da R V C Usina C I D A O Villa Margarida Prefeitura e outros Duas lindas avenidas Ilumina o el trica de primeira ordem O NORDESTE 17 03 1934 p 06 Trata se de mais um dos paradoxos da modernidade A elite que pertence ao local n o deseja represent lo como arcaico prosaico ou obsoleto A modernidade adquire tanto um sentido denotativo de express o material das ruas e pr dios da cidade do novo suplantando o velho como uma acep o conotativa onde a popula o sintetiza valores euroc ntricos desejando adquirir costumes e culturas de outro padr o societal O moderno era almejado como um horizonte a ser seguido ao qual toda a popula o citadina dever
4. o de cal adas reformas das pra as a implanta o da Coluna da Hora que se tornou um marco regulador da cidade refletindo a necessidade de um tempo ligado ind stria e abandono do tempo natural do campo Tamb m observamos os discursos que eram utilizados para se legitimar as reformas como sendo de inapel vel import ncia para a cidade quando na verdade atendia a necessidades de uma pequena camada da popula o comerciantes industriais e algumas pessoas que podiam aproveitar dos clubes e demais inova es mat rias que chegavam capital Tamb m buscamos compreender o debate acerca da constru o do porto e o papel que a acumula o de capital cumpriu na produ o do ambiente constru do O porto representava o desenvolvimento do capitalismo e a amplia o dos lucros dos comerciantes e industriais locais Em todas as fontes pesquisadas ele se apresenta como uma melhoria indispens vel para o desenvolvimento de Fortaleza Mesmo o peri dico que mais tecia cr ticas ao governo de Raimundo Gir o reconhecia a urg ncia da constru o do porto O debate maior nos jornais da poca era qual seria o local da constru o E que a maioria defendia o Mucuripe No per odo em quest o necess rio elucidar o Estado se encontrava mais centralizado ap s o Golpe de 1930 que coloca Get lio Vargas no poder S o criadas interventorias que funcionam como um interc mbio entre o governo federal e estadual Neste sentido a co
5. o do campo e ruraliza o da cidade Os retirantes passam a viver numa cidade que apesar de participar do seu processo de produ o a enxerga como algo que lhe exterior e estranho n o usufruindo dos seus benef cios Sendo eles deslocados para os sub rbios favelas distante das elites e do conv vio social A consci ncia vai deixar pouco a pouco de se referir a produ o para se centralizar em torno da quotidianeidade do consumo Com a subordina o principia um processo que descentraliza a cidade o proletariado acabar de perder o sentido da obra afastado dos locais de produ o dispon vel para empresas a esparsas a partir de um setor de habitat o proletariado deixar se esfirmar em sua consci ncia a capacidade criadora A consci ncia urbana vai se dissipar LEFEBVRE 1991 p 17 e 18 Lefebvre descreve um processo de aliena o e estranhamento argumentando que quando os oper rios se afastam do local de produ o eles ir o perder o sentido da obra fazendo com que os construtores no sentido laboral da cidade n o se reconhe am enquanto tal Em nossa opini o n o se trata apenas de perder o sentido da obra mas os trabalhadores no caso de Fortaleza do in cio da d cada de 1930 constru ram um espa o urbano moderno e n o puderam ser beneficiados com seu uso Contudo trata se de uma segrega o espacial e social e n o apenas perda da consci ncia do trabalhador Abrindo possibilidades p
6. o que a cidade estava caminhando rumo ao progresso por se distanciar da escurid o Por m em 1934 se inicia um conflito entre a companhia e a prefeitura municipal Entendeu a prefeitura de fazer um contrato provis rio para a ilumina o da cidade e publicou edital exigindo o sistema exclusivo a eletricidade o que importava em excluir a companhia que j vinha executando o servi o a g s carb nico o que era uma injusti a N o obstante ou por isso mesmo a concorr ncia n o teve xito Apareceu a estranha proposta do Sr Strainer que se oferecia apenas para instalar os focos provis rios indo a prefeitura buscar a energia el trica onde pudesse obter o que n o foi aceito de acordo com o parecer dos t cnicos CORREIO DO CEAR 10 12 1934 p 01 A Interventoria e a prefeitura acabaram rescindindo o contrato com a empresa inglesa alegando que os prazos de contratos eram excessivos e os servi os onerosos O ministro das rela es exteriores J C de Mac do Soares tentou intervir para revoga o do contrato mas n o obteve xito J era a segunda vez que o governo municipal estabelecia uma rela o litigiosa com empresas estrangeiras especificamente inglesas demonstrando uma tend ncia pol tica diferente dos anos anteriores Ap s o Golpe de 1930 as empresas estrangeiras foram tratadas com menos regalias pelo governo municipal recebendo aval da Interventoria e do Presidente da Rep blica A resposta do Intervento
7. um mart rio para os empregados de enfermarias Toda hora s o obrigados a levar o balde ao fundo da cacimba Como se poder fazer higiene sem gua Principalmente agora que a exig ncia do Sr Pelon absurda E as feses que ficam no colo das sentinas E ainda falam em Companhia de Bombeiros nesta terra sem gua sem canaliza o sem organiza o de servi o sanit rio IDEM 08 11 1933 p 01 Como nos mostra o peri dico h meses a Santa Casa estava sem o abastecimento d gua sendo que j era na poca um hospital importante inclusive no que tange ao atendimento da popula o de retirantes Por m mais paradoxal do que faltar gua na Santa Casa era a propaganda do governo que anunciava a inaugura o do Corpo de Bombeiros A pergunta mais constante nos matutinos da cidade era a seguinte com que gua eles iriam apagar os inc ndios da cidade Apesar do tom ir nico que a pergunta era formulada n o deixava de revelar um fundo de verdade e de ser uma cr tica ao abastecimento d gua na capital e sua distribui o que tinha como prioridade as reformas materiais ao inv s das casas dos citadinos e institui es p blicas como os hospitais O cear pavimenta a rua a concreto e levanta um luxuoso Departamento de Higiene Em compensa o corta o abastecimento d gua da Santa Casa de Miseric rdia Asilos do Bom Pastor e de mendicidade e do Asilo de Prote o inf ncia Que o diabo leve esse sistema de progresso e c
8. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR UECE RODRIGO CAVALCANTE DE ALMEIDA A Modernidade e as Favelas a produ o do espa o urbano de Fortaleza a partir da Seca de 1932 FORTALEZA CEAR 2012 RODRIGO CAVALCANTE DE ALMEILDA A Modernidade e as Favelas a produ o do espa o urbano de Fortaleza a partir da Seca de 1932 Disserta o submetida ao curso de P s Gradua o em Hist ria e Culturas do Mestrado Acad mico em Hist ria MAHIS da Universidade Estadual do Cear como requisito parcial para a obten o do grau Mestre em Hist ria rea de Concentra o Hist ria e Culturas Orientador Prof Dr William James Mello FORTALEZA CEAR 2012 Dados Internacionais de Cataloga o na Publica o Universidade Estadual do Cear Biblioteca Central Prof Ant nio Martins Filho Bibliotec rio a Respons vel Giordana Nascimento de Freitas CRB 3 1070 A447m Almeida Rodrigo Cavalcante de A modernidade e as favelas a produ o do espa o urbano de Fortaleza a partir da seca de 1932 Rodrigo Cavalcante de Almeida 2018 CD ROM 140 f il 4 pol CD ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho acad mico acondicionado em caixa de DVD Slin 19 x 14 cm x 7 mm Disserta o mestrado Universidade Estadual do Cear Centro de Humanidades Curso de Mestrado acad mico em Hist ria Fortaleza 2013 rea de concentra o Hist ria e cultura Orienta o Prof Dr William Jam
9. das mais prementes das mais vexat rias Invertendo naqueles neg cios os seus capitais e for ados a manter as sec es respectivas desde janeiro n o recebem pagamento Al m disto tem lucros insignificantes Lucros por hip teses que realmente preju zos que vem sofrendo com o emprego do capital e o servi o de juros a que quase todos est o sujeitos E tudo isso seria sanado com 600 000 000 uma insignific ncia que ainda sim o governo demora a resgatar sacrificando profundamente os interesses dos que lhe deram o necess rio cr dito O NORDESTE 04 09 1933 p 03 Esta mat ria do Nordeste nos revela o corol rio de interesses em jogo na constru o do porto Mesmo o leitor mais obtuso em mat ria de economia pol tica n o pode deixar de notar a press o que os capitalistas exerciam no governo no sentido de retorno dos seus investimentos e gerenciamento dos seus lucros Os investimentos nas obras do porto absolveriam capitais de ambos os circuitos prim rios e secund rios Haveria um fluxo de capitais com o objetivo de anular o espa o pelo tempo Os fluxos de capitais s o retirados do dom nio da produ o e do consumo imediatos o circuito prim rio e redirigidos seja para um circuito secund rio de capital fixo e de forma o de fundos de consumo ou para um circuito terci rio de gastos sociais e de pesquisa e desenvolvimento HARVEY 2004 p 94 O porto de Fortaleza iria acumular capitai
10. proporcionado para eles nesta disputa Por isso a constru o do centro de Fortaleza em 1933 vai ser coletiva na medida em que se utiliza a m o de obra barata dos retirantes mas a apropria o vai ser privada pois n o lhes dado o direito desses trabalhadores habitarem os locais mais saneados chamados pelas classes abastadas de espa os modernos Tamb m faremos um debate sobre o processo de urbaniza o de Fortaleza Que tipo de urbaniza o foi realizado Quais foram suas formas e seus sujeitos O que caracteriza o processo de urbaniza o de uma cidade Pois quase consensual que Fortaleza passou por um processo de urbaniza o no in cio da d cada de 1930 proporcionado em parte pela explos o demogr fica fruto de secas anteriores Por m o que est longe de ser unanimidade pois a literatura que trata sobre o tema s se refere de maneira geral n o aprofundando a quest o como e que tipo de urbaniza o ocorreu nesse per odo na capital 14 Segundo Sp sito 2001 p 84 a urbaniza o da sociedade n o compreende portanto apenas a din mica demogr fica de concentra o dos homens ou a din mica econ mica de concentra o de riquezas nem as formas concretas que expressam ou determinam essa din mica mas o seu conte do social e cultural Por isso consideramos que ser uma das contribui es dessa pesquisa fazer uma an lise do processo de urbaniza o que Fortaleza passou no in cio da d ca
11. que n o 70 quer onerar o seu bem Outro elemento importante que podemos constatar que j se tinha a no o de que algumas obras eram constru das para terem uma vida curta a pretexto de reconstru las e atrair novos investimentos O que Meszaros 2002 chama de obsolesc ncia programada da mercadoria Ou nas palavras de Berman 1997 p 98 ainda as mais belas e impressionantes constru es burguesas e suas obras p blicas s o descart veis capitalizada para r pida deprecia o e planejadas para se tornarem obsoletas assim est o mais pr ximas em fun o social de tendas e acampamentos que das pir mides eg pcias dos aquedutos romanos das catedrais g ticas Ao que tudo indica as reformas na pavimenta o de Fortaleza n o escaparam a esta l gica Quem se der a curiosidade de transitar pela travessa Senador Alencar trecho compreendido entre a rua Major Facundo e Bar o do Rio Branco verificar de que maneira pouco recomend vel est a prefeitura gastando os dinheiros do povo S nesse pequeno trecho encontram se uma meia d zia de remendos recentes defeituando todo o servi o da pavimenta o Isso vem provar simplesmente que na composi o do concreto entra grande parte de areia e uma insignific ncia de cimento O mesmo vem acontecendo com os paralelep pedos Esse mal acabamento demonstra a sociedade que a prefeitura n o fiscaliza os servi os que est o sendo executados a custa do povo e que v o s
12. 27 As iniciativas de remodelar Fortaleza registraram se lenta e crescentemente de 1860 em diante partindo dos poderes p blicos como particulares mas n o de forma conjugada pois n o houve planejamento sistematizado entre governantes burgueses e m dicos para tal fim No entanto essa realidade se torna diferente a partir da d cada de 1930 mais especificamente na seca de 1932 havendo uma maior sistematiza o uma maior articula o dos setores capitalistas com as institui es do governo federal IFOCS Instituto de Obras contra as Secas e Interventoria e tamb m com a prefeitura Portanto essa remodela o e o controle da popula o exclu da passam a ser mais planejados pelos setores privilegiados de Fortaleza e que havia uma amplia o das melhorias urbanas de forma exponencial nesse per odo Essa articula o n o se efetivou apenas no n vel da pr tica mas tamb m na esfera do discurso Foi necess rio um discurso eficiente para legitimar a explora o dos retirantes na constru o de obras p blicas As classes abastadas e o governo utilizaram se do discurso da modernidade para implantar seus projetos com o objetivo de melhorar a circula o de capital introduzir equipamentos urbanos aos moldes dos pa ses da Europa expandir o lazer e a cultura com a cria o de teatros cinemas e clubes dotar o centro da capital de uma morfologia essencialmente urbana eliminando as reminisc ncias do rural e efetivar um pro
13. Neste sentido a nossa pesquisa tem por objetivo analisar a produ o social do espa o urbano de Fortaleza a partir da seca de 1932 no inv lucro de uma modernidade paradoxal pois ao mesmo tempo em que o centro da capital vai passar por um processo de remodela o do seu espa o com constru o de pra as cal amentos de ruas a concreto constru o de uma via f rrea ligando o centro ao Mucuripe instala o de equipamentos urbanos modernos palenajamento do Estado na realiza o das obras constru o de espa os belos ordenados saneados urbanizados clubes de lazer teatro e cinemas Em contrapartida se amplia o processo de faveliza o da cidade de expulsar os pobres flagelados e trabalhadores para fora do per metro central para a margem da sociedade compreendendo o espa o urbano de Fortaleza na dimens o das antinomias centro favelas Estabelece se uma rela o que acreditamos ser desigual e combinada entre esses espa os pois partimos de uma ideia central desenvolvida pela ge grafa Ana Fani e que nortear a nossa pesquisa o espa o surge de uma contradi o fundamental a sua produ o coletiva mas a sua apropria o privada Por conseguinte faz se necess rio um debate sobre o conceito de espa o num sentido geral e mais especificamente sobre o conceito de espa o urbano para elucidar algumas quest es levantadas na pesquisa tais como O que entendemos por urbano favelas cidade e esp
14. O n mero de passageiros transportados nos bondes no ltimo ano 16 800 000 em nibus 2 160 000 Tem 7 200 consumidores de luz e 480 de for a Almanach administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear para o ano de 1934 confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica P 257 74 A ltima nota da prefeitura proibindo que viajem mais de 4 passageiros nos bondes da Light n o traz nenhum benef cio a popula o Ao contr rio acarreta preju zos As classes pobres n o se utilizam dos nibus j pelo pre o que mais caro como tamb m porque eles reclamam um traje mais descente Resulta da que o n mero de ve culos em determinadas horas do dia insuficiente para lotar os passageiros e estes ficam naturalmente prejudicados com a nova inven o da prefeitura Se tal provid ncia posta em pr tica com o objetivo de ferir a companhia inglesa v l nada temos a ver com isso Acreditamos por m que n o h de ser com esses processos que a municipalidade consiga que a Light retire os seus trilhos da Pra a do Ferreira IDEM 31 10 1933 p 01 Existiam na poca dois tipos de transporte que atendiam a maioria da popula o os bondes e os auto nibus Os bondes representavam o passado o velho com suas instala es antigas servi o prec rio com excessivas reclama es dos habitantes da urbe J os auto nibus surgiram como o moderno mais novo mais flex vel vist
15. a gua p trida infeccionada da Lagoa do Tauape Belo sistema de fazer profilaxia IBIDEM 09 09 1933 p 03 N o nos causa espanto o fato dos moradores do Tauape assim como outros bairros da periferia serem acometidos de diversas doen as A neglig ncia na fiscaliza o da lagoa e outros pontos afastados do centro da cidade chegavam a ser alarmante No entanto preciso deixar claro que havia uma maior preocupa o com a higiene da popula o em rela o ao final do s culo XIX e at mesmo dos anos 1920 Esse interesse com a sa de dos citadinos originava se em grande medida da influ ncia do padr o europeu de civiliza o que o Brasil no seu processo de moderniza o tardia tentava acompanhar A arquitetura o urbanismo os costumes valores e as no es de assepsia eram importados como mais uma mercadoria a ser consumida O problema maior para o governo e para as classes abastadas que a maior parte da popula o n o queria consumir essas mercadorias em outras palavras n o tinham acesso a esse padr o de vida A sa de n o obstante passou a ser analisada de forma sist mica com integra o dos governos estadual municipal e federal Barca Pellon era o representante do projeto nacional de sa de em Fortaleza E em rela o ao gado dos est bulos mencionado acima ele preocupava se com o desenvolvimento do tifo e paratifo por isso exigia um controle e fiscaliza o do gado de est bulos A cr tica qu
16. baseada nos estudos do engenheiro Augusto Hor Meyll situava a enseada do Mocuripe como local privilegiado para constru o da obra A constru o da cidade n o obstante deveria convergir para tal pois na poca se constru a uma estrada de ferro que ligava o centro de Fortaleza ao Mocuripe A linha f rrea pode se dizer que vai at o farol do Mocuripe encontrando se os trabalhos a uma dist ncia de apenas cerca de 300 metros da ponta dist ncia essa que ser coberta de trilhos destes para o m s seguinte Os trilhos acompanham a praia separando se do mar em certos trechos por 5 ou 6 metros apenas O leito da estrada de ferro ser alargado de 6 m 50 que tem agora para 16 m 50 direita de Fortaleza afim de dar margem ampla para uma estrada de rodagem onde os dois autom veis possam simultaneamente trafegar Na enseada que deve ser aterrada em grande parte para constru o do cais encontram se 13 mil toneladas de pedra para a consolida o das grandes dunas locais Esse enrocamento que definitivo com as outras obras atuais tem ocupados uma turma de 120 oper rios sob a chefia do Sr Gast o Aranha IBIDEM 25 08 1933 p 01 91 Al m dos ricos aspectos descritivos em rela o quantidade de oper rios trabalhando em parte da obra no que se refere amplia o da largura da estrada quantidade de pedras que se teria a movimentar etc a mat ria supracitada mais elucidativa do ponto de vista do interesse eco
17. do curso do S Francisco para o Jaguaribe a arboriza o etc SOBRINHO 1982 p 87 Mas o ministro Jos Am rico refor a que conv m principalmente como corre o da natureza semi rida do nordeste armazenar gua copiosa que distribu da irregularmente se escoa pelo seu solo imperme vel e declivoso Obter essa perda pela a udagem em larga escala solu o direta do problema das secas SOBRINHO 1982 p 87 Portanto havia um conhecimento cient fico produzido sobre as formas de combate seca pelo governo e esse conhecimento era utilizado pelos peri dicos como O Povo que era atrelado ao governo como sendo uma verdadeira panac ia Por m importante notar que h peculiaridades na seca de 1932 Al m da a udagem e estradas de rodagem foi utilizada de maneira mais sistem tica nesta seca outra forma de combate ou melhor outra maneira de Ver relat rio do IFOCS 1931 1934 Mostra as obras de a udagem e estradas de rodagem realizadas no interior do Estado No jornal O Povo a seca era aborda como fen meno exclusivamente natural N o existia questionamento sobre a desigualdade social e a extens o dos latif ndios Neste sentido bastava o governo faze um conjunto de obras para empregar a popula o sertaneja corrigisse as determina es do clima que o problema seria resolvido 22 apropria o da seca que foi a constru o de melhorias urbanas Foram constru das v rias
18. e O Povo 1932 1933 e 1934 e O Nordeste 1933 1934 e 1935 e Correio do Cear 1934 Jan Mar Abr Jun Out Dez 1935 Jan Mar e A Rua 1933 1934 Jul Set 1935 Jan Mar Relat rios e Relat rio apresentado ao Exmo Senhor Presidente da Rep blica pelo Interventor Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 a 05 09 34 Imprensa Oficial 1936 e IFOCS Inspetoria de Obras Contra as Secas Relat rios dos trabalhos realizados no tri nio 1931 1933 Apresentado ao Ministro Jos Am rico de Almeida pelo Inspetor Luiz Augusto Vieira Almanaques e Almanach Administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica 1931 1932 1933 1934 e 1935 130 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS ABRAMO Pedro A regula o urbana e o regime urbano a estrutura urbana sua reprodutibilidade e o capital In Ensaios FEE Porto Alegre 16 2 1995 p 510 555 A cidade caleidosc pica coordena o espacial e conven o urbana uma perspectiva heterodoxa para a economia urbana Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 ALBERTI Verena Ouvir Contar textos em Hist ria Oral Rio de Janeiro FGV 2004 ALMEIDA Jos Am rico de As secas do Nordeste 2 ed Mossor Minist rio da Via o e obras p blicas 1981 O ciclo revolucion rio do minist rio da via o 2 ed Mossor Fun o Guimar es Duque 1982 ANDERSON Perry Modernidade
19. es entre os interventores federais e as oligarquias estaduais eram bastante complexas t nues podendo ser rompidas a qualquer momento o que justificava este malabarismo pol tico Sem falar que outro epis dio norteava Fortaleza em 1932 a revolu o constitucionalista que deixou a situa o da seca ainda mais complexa e dividiu a aten o do governo que ora tinha que se dirigir as aten es para o sul preocupado com o movimento das oligarquias deca das ora tinha que concentrar as energias no combate seca e manuten o da ordem social Os discursos ficaram mais eufemizados por parte da elite e do governo em virtude do momento de tens o que estava ocorrendo em S o Paulo Podemos observar melhor essas mudan as numa mat ria do jornal O Povo que tinha como t tulo O Momento Pol tico que uma pequena entrevista com o Interventor Carneiro de Mendon a sobre esse per odo Acho que tudo tende para uma concilia o As esquerdas procuram neste momento fixar em alguns itens as suas aspira es m nimas Esses itens ser o levados ao conhecimento dos partidos ga chos Tire se ent o a m dia das aspira es m nimas Assim desde quando haja sinceridade boa vontade tudo se far Certo que nenhuma das partes ir quebrar a dignidade por um acordo Tudo se far sem quebra de dignidade mesmo porque n o o caso E a constituinte N o a quest o n o est na constituinte Todos queremos a constituinte A diferen a
20. gua e esgoto capaz de abastecer e higienizar uma popula o de milhares de almas Os seus grandes e populosos bairros vivem isolados sem 4 liga o com o centro Esquecidos de que a nossa terra vive merc da periodicidade do fen meno metereol gico das chuvas os higienistas que nos visitam mandam fechar cacimbas e po os e desmontar alguns cataventos que ainda existem em Fortaleza Somente uma coisa preocupa os nossos modernos estadistas encher a cidade de bungaloros fios de pedra e f cus Benjamin Trata se agora do t o decantado plano de urbaniza o de Fortaleza O contrato j foi assinado entre a prefeitura e o engenheiro Nestor Figueiredo Ora se era desejo do governo municipal contratar um t cnico urbanista para que deu in cio as reformas da cidade abrindo ruas e demolindo coretos A RUA 22 12 1933 p 03 Essa cita o lapidar em revelar o outro lado da cidade a falta de rede de gua e esgoto para os bairros mais pobres o problema da seca o isolamento dos bairros pobres da cidade com o centro e o mais importante que tipo de urbaniza o a prefeitura estava realizando Abrir ruas e derrubar coretos resolveria os problemas da maioria da popula o Sem falar na mudan a na estrat gia do governo que agora reconhecia a necessidade de contratar um especialista e pensar a cidade na sua totalidade E importante frisar que o projeto de urbaniza o do Estado n o mudou o seu foco central separar os bai
21. o centro e as favelas como produto de um nico processo socioespacial PRIMEIRA PARTE A SECA E A MODERNIDADE 1 1 Retirante o flagelo da elite No ano de 1932 o Cear passou por uma das maiores secas que j ocorreram na hist ria do Estado A falta de chuvas morte de gado migra es massivas e a fome disseminada foram fatores bastante presentes nesta seca e que estimulam os sertanejos a sa rem de suas cidades em busca de melhores condi es para a garantia de sua sobreviv ncia J no come o de janeiro de 1932 o jornal O Povo noticiava Ontem a sa da de Or s grupos de famintos atacaram um comboio que conduzia g neros remetidos pelo governo para este munic pio tomando cinquenta sacos A fome se desenvolve de maneira assustadora A cidade nos ltimos dias tem vivido invadida de famintos presenciando cenas dolorosas Para o servi o da estrada n o podem mais ser aceitos oper rios visto que possam salvar a popula o O POVO 13 01 1932 Em 1932 mat rias como essa do jornal O Povo n o s o raras uma vez que a seca seria o estopim para uma s rie de conflitos sociais que iam permear a cidade de Fortaleza e o interior do Cear Percebemos nesta reportagem que os retirantes saquearam um comboio carregado de g neros aliment cios antes de a seca ter sido declarada oficialmente Isso resultado do saber acumulado dos retirantes que passaram por experi ncias de secas anteriores como a de 1877 a de 1915 e a de
22. o civil da cidade se beneficiaria com essa melhoria 126 O conjunto desses elementos ir propiciar a urbaniza o de Fortaleza e a remodela o do centro Fortaleza tamb m apresenta no per odo uma maior articula o e planejamento do seu espa o urbano A contrata o do Arquiteto Nestor Figueiredo e a cria o da comiss o de planejamento urbano referenda a proposta de pensar urbanisticamente a cidade Embora o plano urban stico de Figueiredo n o tenha sa do do papel n o quer dizer que o espa o deixou de ser planejado Perpetuou se a linha tra ada por Hebster inspirada no Bar o de Hausmann de dar um car ter extremamente funcional ao centro com o objetivo de afastar as resid ncias e ampliar o com rcio Ainda hoje assunto pol mico sobre a intencionalidade de Hausmann na constru o dos Boulevard e do tra ado xadrez Seria para evitar a forma o de barricadas e fugas pelas ruas tortuosas Ou seria para facilitar a circula o de mercadorias Independente do resultado da pol mica em Fortaleza o tra ado em xadrez e a reforma do centro adquiriu tanto um objetivo de controle da popula o tangenciando os pobres para periferia como contemplou a melhoria na circula o de mercadoria com as avenidas centrais ligando ao porto Neste sentido entendemos a produ o do espa o urbano de Fortaleza explicada numa perspectiva dial tica entre os diversos sujeitos retirantes trabalhadores Estado e as estruturas como a
23. temos uma no o da quantidade enorme de trabalhadores necess rios para realizar esses servi os visto que as obras foram feitas em per odo concomitante Neste sentido a foto cumpre um papel importante enquanto fonte hist rica Em rela o aos retirantes n o podemos afirmar empiricamente pelo menos ainda que eles fizeram parte dessas melhorias urbanas mas podemos levantar hip teses concretas Porque as quantidades de obras constru das na cidade eram tantas que a utiliza o da m o de obra retirante n o s era ben fica por ser quase de gra a mas fundamental para mant los ocupados e sobre o controle do Estado Rios 2001 p 23 refor a a nossa hip tese que em 48 1932 os campos de concentra o e v rias frentes de servi o procuravam prender o flagelado no sert o Entretanto muitos retirantes conseguiram chegar capital onde eram recolhidos e alocados em obras como a constru o de cal amentos e pr dios E cabe acrescentar que al m da constru o de cal amentos e pr dios os retirantes tamb m trabalharam em constru o de estradas de ferro na oficina do Urubu que foi mantida durante todo ano de 1933 A modernidade e a urbaniza o de Fortaleza eram feitas atrav s do excessivo desgaste f sico dos trabalhadores e da popula o exclu da da capital para o deleite de alguns capitalistas Por m a tentativa de remodelar e urbanizar a cidade n o surgiu com a seca de 1932 Segundo Pontes 1993 p
24. tica e a experi ncia est o indicando que precisamos Por outro lado o Sr prefeito n o contara no acervo de sua realiza es o menor empreendimento de benef cio social n o apresentara qualquer obra capaz de lembrar um diminuto esfor o que objetive o amparo dos desafortunados a conjura o da mis ria ostensiva da grande popula o e as crian as infelizes que possu mos Este aspecto da vida de uma cidade que se veste com roupagens civilizadas n o pode ser atendido com tanta frieza ou compreens o pois fora de d vida que se entende progresso com flagrante descaso pelo mais rudimentar servi o de assist ncia aos n cleos desprotegidos da sociedade O progresso de Fortaleza portanto falho e mentiroso porque n o mant m em harmonia com as necessidades do povo A sa de p blica por seu turno n o anda em caminho menos errado A utilidade do seu luxuoso parque higi nico constitui uma interroga o como representa uma d vida sua manuten o de vez que as possibilidades financeiras do Estado a fazer face as suas enormes despesas IBIDEM 21 10 1933 p 01 Esta longa cita o na verdade uma s ntese da cr tica ao projeto de modernidade do Estado que priorizou uma s rie de reformas materiais na cidade sem considerar os reais anseios dos moradores A vis o de progresso estava vinculada no o de moderniza o introdu o de novos equipamentos urbanos em detrimento do desenvolvimento do ser dos s
25. vel e afastou o alinhamento dos muros do Parque da Independ ncia e da ch cara pertence ao Sr Alfredo Barbosa Leite a quem foi indenizado o preju zo correspondente mesmo depois de ter mostrado o esfor o para que o ligamento fosse feito O governo ressalta este melhoramento era sobremodo facilitado o escoamento do trafego por aquela importante via publica Reformas como essas se tornaram frequentes a partir da seca de 1932 gra as a um aumento das verbas que chegaram capital devido seca e tamb m a um setor do capitalismo ligado ao comercio e ind stria civil que precisava se desenvolver Sem falar na popula o flagelada que poderia ser um recurso barato e que foi aproveitado pelo governo na medida em que resolveria dois problemas de uma s vez diminui o dos gastos com m o de obra e controle social dos retirantes Isso se reverbera no discurso afiado do Estado no que tange a necessidade dessas melhorias para a popula o Podemos notar na sua justificativa sobre o prolongamento da Rua Liberato Barroso Em obedi ncia a um plano anteriormente tra ado de fazer prolongar a Rua Liberato Barroso at a pra a dos volunt rios em cujas proximidades projeto construir se o Pa o Municipal foram indenizados e demolidos os pr dios e terrenos necess rio a esse prolongamento no trecho compreendido entre as ruas Floriano Peixoto e Major Facundo E este um melhoramento de avultados efeitos para o fu
26. 01 A lepra foi mais uma das epidemias que acometeu a popula o na poca As condi es estruturais do lepros rio local onde ficavam isolado os leprosos segundo a Rua n o eram muito convidativas aos enfermos e muitos que iam pra l acabavam fugindo Criava se uma tens o na cidade e os representantes das classes abastadas normalmente exigiam provid ncias da prefeitura e do interventor para resolver esses problemas Pois o que estava em jogo n o era o tratamento dos leprosos em si mas a seguran a e a sa de desse setor mais rico com o medo da epidemia da lepra se espalhar As cr ticas aos representantes do Estado tornavam se inevit veis O que o diretor da Sa de est consentindo que continue crime inomin vel Ent o a lepra se propaga sem entraves o n mero de doen as aumenta dia a dia e n o se adota uma medida para p r termo ao descalabro Que quer e por quem est esperando o Sr dr Barca Pellon Estar aguardando que se federalize o servi o da lepra A RUA 28 09 1933 p 01 A imprensa j tinha consci ncia do per odo pol tico que o pa s vivia de forte centraliza o e do papel do Estado na interven o cotidiana Quando se propagava alguma doen a ou algum outro problema de maior envergadura ela cobrava de imediato uma articula o da prefeitura com o interventor federal Ao mesmo tempo em que se propagava a lepra outra doen a se fez presente no interior e na capital cearense A var ola afetou u
27. 1932 per odo de grandes transforma es sociais e econ micas quando grupos rec m chegados sem tradi o de vida urbana se tornam demograficamente majorit rios mesmo nesses dias jamais se apegaram as caracter sticas do viver fortalezense ora traduzidas pela complac ncia diante da novidade ora marcadas pela ironia demolidora e amarga aos valores mais consagrados heran a do elevado n vel de vida intelectual de fins do s culo XIX perfeitamente configurado pela posi o antiprovinciana daquele grupo s rio da Padaria Espiritual IDEM 1977 p 44 Atrav s da fala de Jos Liberal de Castro poss vel observar o choque cultural entre a elite intelectual de Fortaleza e os retirantes Esses considerados como provincianos sem tradi o urbana espantados diante da cidade moderna que tinha uma popula o mais intelectualizada adaptadas aos ideais de modernidade desde o final do s culo XIX Por isso os retirantes eram enxergados de maneira dual representando m o de obra barata que poderia ser utilizada para a remodela o da cidade deixando a ent o moderna Mas tamb m representavam costumes arcaicos rurais que para uma cidade moderna eram inoportunos deselegantes para n o dizer indesej veis Torna se plaus vel questionar se Fortaleza era uma cidade moderna na d cada de 1930 principalmente ap s a seca de 1932 uma vez que ao mesmo tempo em que ela passava por reformas urbanas que moderniz
28. Almanach Administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear para o ano de 1932 confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica P 189 199 59 A expans o do cr dito vendas de casas a presta es investimento em a es a transfer ncia de capital para o circuito secund rio nos fornece um panorama de como as rela es capitalistas de produ o espacial se processaram no per odo pois comum a transfer ncia de capital de um circuito para o outro principalmente depois da grande crise econ mica de 1929 quando o capital n o consegue realizar a mais valia na venda direta de mercadorias ou bens de consumo existe uma tend ncia a transferir recursos para o circuito secund rio Por m a quest o como explicar os fluxos entre os circuitos O que torna o investimento imobili rio atraente Segundo Gottlieb 1976 e Gottdiener 1993 este setor se torna atrativo devido baixa composi o org nica de capital e as possibilidades quase infinitas do uso da terra como mercadoria Ou seja com poucos melhoramentos uma propriedade pode mudar o seu valor de troca Uma casa pode se tornar um pequeno com rcio ou escrit rio podendo ser transformado novamente em outro estabelecimento O que n o acontece com outros tipos de mercadorias Em outras palavras o investimento na constru o civil tornou se bastante vi vel em Fortaleza principalmente ap s a seca de 1932 devido necessidad
29. La coisa de grande alcance social A capital cearense se recente de muitas falhas de civilizat rias n o h d vida 99 E n o ser por meio do problema de tra ado que se resolver o problema da sua urbaniza o Muito estimamos que o Sr Nestor Figueiredo nos explicasse como a atual rede canalizadora de Fortaleza poderia abastecer a P4 cidade futura com uma popula o de 250 000 quando sabido que o dep sito de gua existente j n o tem mais capacidade para abastecer uma popula o de 80 000 pessoas IDEM Existia uma abissal diferen a entre o discurso de urbaniza o do governo e as pr ticas desenvolvidas na cidade Um caleidosc pio quase infinito de problemas sociais norteava a capital na mesma poca em que a prefeitura inaugurava as pra as e os equipamentos modernos As reformas materiais da cidade se limitavam ao per metro central l cus por excel ncia do com rcio e desenvolvimento do capital O crescimento desordenado tinha endere o os sub rbios bairros que se erigiram na l gica da necessidade pr ximo s linhas de trem porto e as f bricas O centro n o poderia ser afetado por essa desordem da a necessidade de centralizar o poder e pensar a cidade na sua din mica total N o obstante em que medida se pode falar de um crescimento desordenado se a separa o do centro dois bairros mais pobres se manteve durante o per odo e o tra ado em xadrez permanece at os tempos hodiernos O te
30. Moderniza o essa que Al m do paradoxo e da contradi o no caso espec fico de Fortaleza a modernidade tamb m vai ser marcada pela exclus o tanto espacial como social pois enquanto a cidade ser o lugar das proibi es e dos desejos esta mesma cidade ser o lugar das proibi es e separa es Enquanto a cidade fascina por sua magnitude n o se mostra acess vel a todos Paradoxo contradi o e exclus o eis as caracter sticas da modernidade praticada em Fortaleza nas primeiras d cadas do s culo passado ARIMAT IA 2007 p 40 e 41 A pr pria exclus o espacial n o somente espacial mas tamb m material e social O espa o se confirma como um lugar de conflitos entre camadas grupos classes sociais no qual os produtores desse espa o no sentido material ou seja os trabalhadores que carregaram as pedras e ergueram os pr dios pavimentaram as ruas e cal adas ser o consumidores de sonhos menores na medida em que n o v o ter acesso aos bens de consumo que as classes abastadas ter o Portanto a modernidade de Fortaleza atende a interesses de classe e n o os da maioria da popula o Neste per odo as institui es do governo agiriam de forma mais racional e sistem tica no que se refere ao combate seca e o controle dos retirantes ressaltando o car ter complexo da modernidade como sendo mais um elemento para a compreens o da constru o do espa o urbano de Fortaleza a partir da seca de 1932
31. N o houve apelos n o houve raz es por mais ponderosas que fossem que demovessem o futuroso Prefeito da nossa Urbs da sua tem vel sanha de aniquilar o passado um homem teimoso e sua passadofobia n o tem limites Por isso o coreto do jardim da Pra a do Ferreira presentemente atingida por um terremoto vai desaparecer est desaparecendo As picaretas do estadista de Morada Nova manejadas por m os h beis e possantes j a estas horas p em por terra a verdadeira tribuna do povo livre do Cear A RUA 12 10 1933 p 01 O peri dico continua fazendo um resgate da import ncia hist rica do coreto na derrubada de governos conservadores e antiliberais N o obstante o que est em jogo n o a defesa do coreto como objeto de relev ncia hist rica e operacional para o desenvolvimento da liberdade do povo cearense mas a cr tica ao projeto de moderniza o de Raimundo Gir o onde o coreto apenas um elemento simb lico da ret rica de oposi o Os argumentos de 80 2 55 E x defesa do velho e de cr ticas ao novo mesmo envolvido de uma epiderme l gica e racional se sustentam numa ret rica da nostalgia como aspecto substancial da nega o na medida em que as reminisc ncias sentimentais s o erigidas como o sustent culo da defesa da tradi o e da cr tica mudan a Come ou h dias a demoli o do coreto da Pra a do Ferreira O jovem governador da cidade n o se sente bem como o pa
32. a Avenida Jo o Pessoa ficava um pouco afastada do centro sem falar da Porangaba que era ainda mais distante n o carecia de tanta fiscaliza o Dessa forma animais transitando pelas art rias centrais causariam contrastes com a remodela o do centro pra as reformadas introdu o de novos cinemas teatros clubes recreativos toda uma s rie de equipamentos modernos que estavam sendo instalados em fortaleza na poca A moderniza o n o foi apenas um projeto econ mico e pol tico mas tamb m est tico e cultural A urbaniza o da sociedade n o compreende portanto apenas a din mica demogr fica de concentra o dos homens ou a din mica econ mica de 77 concentra o de riquezas nem as formas concretas que expressam essas din micas mas seu conte do social e cultural SPOSITO 1999 P 84 O centro de Fortaleza foi remodelado como s ntese de diversos processos convergentes e antag nicos S tem sentido em pensar nas reformas materiais das ruas pra as avenidas moderniza o do sistema de transporte se comparado com a aus ncia dessas infraestruturas nos bairros mais afastados nas favelas e nos sub rbios O que houve no centro da capital foi uma dial tica da moderniza o uma rela o tensa entre o todo e as partes entre os anseios da popula o e o projeto de Raimundo Gir o entre a remodela o de algumas ruas e o total abandono de outras entre uma Fortaleza que se queria moderna ao pre o de ex
33. atingida plenamente por m foi de maneira satisfat ria visto que as popula es nos campos de concentra o no interior eram exponencialmente mais volumosas do que as da capital Sem falar que os retirantes que chegaram capital n o representaram apenas preju zo social pois eles tamb m foram aproveitados para desenvolver a remodela o do per metro central de fortaleza Contribuindo por conseguinte com o processo de moderniza o de Raimundo Gir o Neves 2000 p 253 faz uma m dia de retirantes nos campos a partir da compara o entre os dados fornecidos pelo ministro Jos Am rico de Almeida n mero de concentrados e a quantidade de alimentos distribu dos atrav s do relat rio do Interventor Federal Chega conclus o que em maio de 1932 a popula o dos campos de Fortaleza era 1500 e em janeiro de 1933 passa para 5 177 Verificamos desta forma que a estrat gia do governo de manter os retirantes no interior apesar de n o ter sido atingida na sua plenitude consegue um resultado satisfat rio visto ser a popula o dos campos do interior bem mais volumosa Os campos de concentra o fizeram parte de uma estrat gia racional e bem elaborada de excluir e isolar uma camada da popula o da capital Mas n o se tratou de uma estrat gia nova ela foi utilizada na seca de 1877 com o nome de abarracamentos e pela primeira vez com o nome de campo de concentra o na seca de 1915 na regi o do alagadi o
34. centrais de assemelhar Fortaleza a uma girl de sapatos Lis XIV N o queremos condenar a tal urbaniza o Achamos apenas que com os nossos um tanto cedo para se tratar disto IDEM 29 12 1933 p 03 100 A precariedade da urbaniza o e das obras erigidas durante o ano desacreditava um setor da imprensa que achava primordial resolver os problemas centrais de moradia cal amento rede de abastecimento de gua que causou enorme transtorno em 1932 e persistiu em 1933 mesmo com a o advento das chuvas As epidemias de doen as que se espalhavam na cidade como lepra alastrim var ola tuberculose etc os acidentes de trabalho tudo isso se propagava numa imensa velocidade com o aumento das obras os diversos casos de saques em lojas casa e pr dios os acidentes de tr nsito que n o eram mais raros e diuturnamente faziam v timas estampando as p ginas dos peri dicos Neste sentido podemos falar de caos e desordem mas que n o foi uma peculiaridade da urbaniza o de Fortaleza O processo de desenvolvimento capitalista produz custos externos que toda comunidade tem de suportar Alguns deles como polui o congestionamento de tr fego degrada o e crise afetam qualquer rea que esteja passando por um crescimento r pido desordenado e esses efeitos colaterais do desenvolvimento s o intr nsecos do capitalismo SCOTT 1980 GOTTDIENER 1993 p 213 A produ o capitalista do espa o se baseia na distrib
35. centro n o era alvo dessas reformas A moderniza o numa cidade capitalista em ess ncia excludente A produ o de mercadorias priorizada em detrimento das rela es humanas por conseguinte os locais de saneamento com equipamentos modernos e condi es salutares de moradia tamb m seguem essa ordem a hierarquia da mercadoria N o obstante a pr pria rua e o cal amento s o tamb m mercadorias que tamb m se depreciam Trechos h em que dentro de pouco tempo ter desaparecido por completo o cimento tal a precariedade do trabalho O servi o est mal feito em v rios pontos e a prefeitura deve se lembrar de que o propriet rio que concorre com sua quota para o cal amento tem o direito de exigir trabalho eficiente seguro para que amanh sob pretexto de remodela o no pavimento urbano n o venha a recontribuir onerosamente para tal servi o Faz se preciso destarte fiscaliza o mais rigorosa no cal amento a concreto IDEM 16 11 1933 p 03 Esta cita o expressa que a rua mesmo sendo uma via p blica j era enxergada como mercadoria da qual os propriet rios consumidores que pagaram os seus impostos teriam o direito de usufruir de um produto com qualidade e trabalho eficiente H uma invers o de valores e uma apropria o do p blico pelo privado pois n o um cidad o que exige um servi o bem feito mediante a cobran a dos seus impostos mas um propriet rio
36. chegando a comportar cerca de 8 a 9 mil almas SOBRINHO 1982 O projeto urbano de Fortaleza estava tra ado pelo governo onde os campos seriam constru dos pr ximos aos bairros pobres da cidade Desta maneira as classes abastadas n o teriam contato com esses flagelados e ap s o t rmino da estiagem caso os retirantes n o voltassem para sua cidade natal j habitaria a periferia da cidade As popula es de flagelados eram vistas pelas elites da cidade n o apenas como pobres Mas com costumes considerados prosaicos e indesej veis Pedir esmolas andar esfarrapados perambulando pelas ruas da capital fazer bebedeiras cuspir nas ruas e cal adas todo esse conjunto de costumes que chocavam a popula o mais rica de Fortaleza contr ria aos seus ideais de Raimundo Gir o foi prefeito de Fortaleza no ano de 1933 per odo que ocorreu a maior quantidade de reformas urbanas na cidade Trataremos do projeto de moderniza o do Raimundo Gir o com mais detalhes no cap tulo segundo 25 modernidade sem falar o constante perigo de saques pois os retirantes se organizam coletivamente e saqueavam em momentos de necessidade ou at mesmo aproveitando o ensejo da seca que dava legitimidade ao ato Essas rela es sociais em constante perigo de ebuli o causavam um medo enorme na elite fortalezense que n o queria ver abaladas as suas rela es de domina o e explora o Portanto para a elite seu princip
37. da urbaniza o de Fortaleza Qualquer pesquisa que visa compreender a forma o do espa o urbano de Fortaleza na d cada de 1930 n o pode descartar o papel que cumpriram as doen as tanto num sentido anal tico pois atrav s delas se tornou poss vel rastrear as condi es de vida dos trabalhadores os bairros com menos condi es de higiene e saneamento os tipos de epidemias que se propagaram na poca sem falar da apreens o da rela o Estado popula o no trato das endemias possibilitando compreender costumes e pr ticas arquet picas do per odo E num sentido pol tico de como os doentes eram tratados e a perspectiva de se estabelecer o controle sobre a popula o mais pobre A precariedade dos nossos arquivos pode ser suprida em parte por um olhar atento sobre essas doen as Neste sentido a mat ria acima cintilante Na poca inaugurava se um novo e moderno centro de sa de com equipamentos novos dotado de uma boa infraestrutura tecnol gica para cuidar dos flagelados e da popula o doente de um modo geral O centro de sa de tinha a sua frente o secret rio Almicar Barca Pellon considerado por muitos o grande modernizador da sa de p blica brasileira Todavia o que mais interessante inferir do substrato supracitado a rela o dos doentes e seu bairro Os quatro enfermos s o do Pirambu umas das primeiras favelas da capital enfatizando a intr nseca rela o entre os 8 Por quest es de recort
38. das cidades do Brasil de pior pavimenta o Depois do surto de renova o verificado nos ltimos anos e que tem dado capital cearense aspecto de cidade moderna era triste ver como destoava do seu progresso a velha e antiquada pavimenta o das suas ruas de pedra irregular em p ssimo estado de conserva o e sem os indispens veis servi os de escoamento das guas pluviais Esta situa o lapidar em rela o aos interesses do governo Ele utiliza o discurso do progresso da modernidade em contrapartida de uma cidade velha e antiquada que tem 2 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 290 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 292 39 por urg ncia ser pavimentada remodelada em que o servi o de escoamento das guas estava obsoleto ali s nem existia O cal amento era feito de pedras irregulares em p ssimo estado de conserva o criando assim uma imagem de caos em Fortaleza antes dessas obras como sendo indispens vel moderniz la Mas os interesses do governo e desse setor capitalista tornam se mais cintilante e ganha um sentido mais abrangente ao observarmos a continua o do trecho citado acima A prefeitura chegada a oportunidade resolveu t o importante problema mandando abrir a necess ria concorr ncia p blica
39. das rela es de trabalho que a implanta o do rel gio objetivava se tornava ainda mais necess rio a partir da seca de 1932 pois o fluxo migrat rio foi muito intenso e o governo demonstrava um maior n vel de organiza o racional no que tange ao controle social dos retirantes Desta maneira essa massa de flagelados que ocupava a cidade deveria se adaptar a uma disciplina de trabalho moderna sincronizada e racional onde n o haja desperd cio de tempo Ali s n o s os retirantes deveriam se acostumar com esse tipo de vida como os demais habitantes da cidade Todavia a coluna da hora n o pode ser entendida apenas como uma obra para embelezar a cidade Al m da preocupa o est tica havia o interesse funcional que o rel gio tinha para a Fortaleza moderna A estrat gia do governo era otimizar o tempo para a produtividade Isso n o significa dizer que assim que o rel gio foi erguido as rela es de trabalho mudaram radicalmente Pois h conflitos entre a temporalidade do rel gio e a temporalidade da popula o que no caso de Fortaleza era substancialmente rural Essa popula o rural que passou a habitar Fortaleza tinha uma rela o temporal com as suas atividades do campo Tempo certo para plantar tempo certo para colher baseado numa rela o clim tica com a natureza O que provavelmente se tornou um entrave para o governo e os capitalistas Fortalezenses que tinham a inten o de cronom
40. de se falar em var ola se falava em alastrim e ainda nas informa es do governo n o se registravam bitos A cidade era representada como moderna bonita limpa com avan o nos padr es de civiliza o e sa de como se os conflitos n o existissem na capital ou quando existiam eram produtos de for as externas como o fen meno clim tico da seca Ontem no isolamento do Urubu a peste branca como chama o vulgo fez mais uma v tima Despachou um varioloso para o cemit rio de S o Jo o Batista No entanto o Diretor da Higiene fez publicar ainda ontem nos jornais vespertinos um quadro de epidemiologia em que n o se observa um nico bito causado pela var ola o c mulo in til entretanto a atitude do Sr Pelon procurando encobrir ao povo o verdadeiro estado sanit rio do Cear A cidade toda sabe que a epidemia da var ola n o declina Todos os dias se registram novos casos E de quando em quando o isolamento do Urubu registra um bito Fazer higiene muito diferente de fazer literalice O Sr Barca Pelon mais uma vez fracassou na sua vida de sanitarista not vel Manipular p lulas sempre mais f cil do que dirigir um departamento de Higiene IBIDEM 29 10 1933 p 01 114 A c ustica cr tica do matutino importante no sentido de perceber as media es entre as pr ticas sociais desenvolvidas pelo governo e as produ es discursivas sobre essas pr ticas N o se trata de reduzir o papel do gove
41. do centro na mat ria sobre a Travessa das Trincheiras O Sr Prefeito continua com a picareta em funcionamento Quando a sua a o destruidora bem orientada ainda bem quando por m a mania demolidora n o se exerce em proveito coletivo claro que a imprensa precisa clamar E o caso da Travessa das Trincheiras O S s incapaz de 4 Trataremos do conceito de urbanismo e de sua diferencia o de urbano mais a frente na pesquisa No momento suficiente entender urbanismo ligado h uma l gica industrial e a elimina o das diferen as ou seja escamoteador da realidade 7 O urbano abrevia o da sociedade urbana define se portanto n o como realidade acabada situada em rela o a realidade atual de maneira recuada no tempo mas ao contr rio como horizonte como virtualidade iluminadora O urbano o poss vel definido por uma dire o no fim do percurso que vai em dire o a ele LEFEBVRE 1999 P 26 Em toda a obra de Lefebvre principalmente as que tratam da tem tica do espa o percebemos v rias defini es sobre o urbano O leitor desavisado vai achar que trata se de uma contradi o Por m na verdade se refere ao m todo utilizado por ele Lefebvre assim como Marx n o trabalha com defini es e sim com sistemas de determina es Portanto cada defini o acerca do urbano na verdade uma determina o a mais sobre o objeto no caminho percorrido do abstrato ao concreto O conc
42. e Revolu o IN New Left Review n 144 Mar o Abril 1984 ARA JO Erick Assis de Nos Labirintos da Cidade Estado Novo e o cotidiano as classes populares em Fortaleza Fortaleza INESP 2007 AROST GUI Julio A Pesquisa em Hist ria teoria e m todo S o Paulo Edusc 2006 BERMAN Marshall Tudo que s lido desmancha no ar a aventura da modernidade S oPaulo Companhia das Letras 1998 BOTTOMORE Tom Dicion rio do Pensamento Marxista 2 Ed Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1983 BURKE Peter Hist ria e Teoria Social S o Paulo UNESP 2002 BRESCIANI Maria Stella Raz o e Paix o na Pol tica CADEIR Fric SERAPHIN Benedito MOLLE Fran ois O pequeno a ude um modo de combater seca Fortaleza SUDENE ORSTOM 1982 CALLINICOS Alex Against Postmodernism a marxist critique New York St Martins Press 1990 C NDIDO Tayrone Trem da seca Museu do Cear 2005 131 CARLOS Ana Fani Alessandri Espa o e ind stria 7 ed S o Paulo Contexto 1997 CARVALHO Rejane V Accioly A seca e os movimentos sociais Mossor Funda o Guimer es Duque 1991 p 35 CASIMIRO Liana M Carleial de Seca momento para repensar a pobreza do Cear Fortaleza FIEC IEL 1984 CASTEL Robert As transforma es da quest o social In Belfiori Wanderley Mari ngela ET alli org Desiqualdade e a Quest o Social S o Paulo Educ 1977 p 169 CASTRO Jos L de Fatores de Localiza
43. econ micos s cias pol ticos ou culturais Neste sentido a urbaniza o do centro expressava interesses de dirigentes pol ticos e de setores da classe capitalista N o se tratava de um processo ca tico e desordenado mas de uma l gica que tinha como prioridade atender a demanda do Capital seja ele ligado ao com rcio constru o civil transporte importa o e exporta o N o podemos entender o processo de urbaniza o de Fortaleza se n o considerarmos o papel que exerceu a necessidade de acumula o de capital refletindo at na prioridade de reformar equipar e sanear alguns bairros em detrimento do abandono de outros Por m necess rio deixar claro que esse processo n o foi fruto do reflexo de uma estrutura funcionalista onde os sujeitos n o tiveram participa o e a m o invisivel do mercado edificou toda a cidade Pelo contr rio foi resultado da dial tica entre os sujeitos e as estruturas sociais A urbaniza o de Fortaleza foi resultado de um campo de disputas de uma luta entre os diversos setores sociais No caso do governo estava claro que se tratava de um projeto pois na poca foi criado at um imposto sobre os meios fios e quem n o pagasse no prazo acarretaria multa Portanto o governo crivava fontes de rendas voltadas exclusivamente para 3 Para saber mais sobre a dial tica do sujeito e as estruturas sociais consultar Varquez 2002 especialmente a parte II o t pico Estru
44. empregar os retirantes e assim salv los da funesta ociosidade que tanto fere os ideais de produ o capitalista A elite de Fortaleza atrav s dos peri dicos passa a comentar a partir dos seus valores quais seriam os melhores projetos para socorrer os retirantes demonstrando sempre uma preocupa o exorbitante do controle desses flagelados pelos servi os p blicos que segunda a not cia caso n o se resolvesse o problema da fome se tornava inevit vel um ataque desse povo Mais interessante questionar em que medida essa elite estava interessada em socorrer os flagelados atrair recursos do governo controlar os retirantes ou se resguardar da presen a deles medida que as contradi es da seca de 1932 ficam mais expl citas a elite e o governo passam a se preocupar cada vez mais com o controle social no caso o isolamento dos retirantes no interior do estado S o criados portanto sete campos de concentra o cinco no interior Crato Cari s Quixeramobim Ipu e Senador Pompeu e dois na capital Urubu e Ot vio Bonfim sendo que esses campos n o eram criados aleatoriamente havia a estrat gia de ergu los nos locais das esta es de trem Pois se os flagelados fossem embarcar para a capital j eram detidos l Outra t tica era construir os campos perto das obras p blicas para evitar que os retirantes ficassem perambulando pelas ruas e no caso da capital evitando incomodar a relativa paz urb
45. jur dicas sem precisarem Edgar de Decca faz uma an lise da Revolu o de 1930 como sendo produ o de uma mem ria da classe dominante que tenta transmitir a imagem de uma revolu o unit ria e homog nea mas que de Decca analisa como supress o dos conflitos sociais e produ o do discurso do vencedor Sendo importante e necess rio um contra discurso para buscar a origem dos fatos ou melhor outro lugar da produ o do conhecimento hist rico Por isso optamos pelo uso da terminologia Golpe de 1930 ao inv s de Revolu o de 1930 Para entender melhor a analogia feita por n s em rela o ao discurso do vencedor ver De Decca 1994 27 consultar as elites locais embora na pr tica n o fosse bem assim pois as lideran as locais ainda exerciam influ ncia nos interventores claro que de uma forma mais atenuada em rela o s oligarquias estaduais Carneiro de Mendon a escolhido para ser o novo interventor do Cear Conhecido por ser muito h bil e pol tico Mendon a faz alian as com as oligarquias deca das contrariando primeira vista a orienta o dos revolucion rios Todavia com a alian a Medon a conseguia fazer uma gest o mais calma e sem oposi o Apesar de o regime pol tico ter mudado era necess rio agir com cautela pois muitas oligarquias mesmo n o estando no governo poderiam prejudicar o novo interventor fazendo uma forte oposi o ao ponto de perder o cargo As rela
46. na Escandin via o triunfo da social democracia S na Am rica Latina onde as finan as dos governos dependiam em sua maior parte das exporta es de um ou dois produtos prim rios cujos pre os despencavam de repente e dramaticamente a Depress o provocou a queda quase imediatamente de quaisquer governos existentes sobretudo por golpes militares HOBSBAWM 1995 p 140 Essa mudan a na economia mundial provocada pelo colapso econ mico do sistema capitalista afetou o Brasil de forma muito intensa visto que sua economia era 26 predominantemente agroexportadora tendo o caf como seu principal produto de exporta o da regi o sudeste sendo dispensado depois da crise do paladar do seu maior importador que era os Estados Unidos O Brasil portanto sofreu um verdadeiro choque anafil tico na sua estrutura econ mica que propiciou mudan as pol ticas de igual intensidade O Brasil tornou se um s mbolo do desperd cio do capitalismo e da seriedade da Depress o pois seus cafeicultores tentaram em desespero impedir o colapso dos pre os queimando caf em vez de carv o em suas locomotivas a vapor HOBSBAWM 1995 p 97 O cen rio no pa s estava sinistro as oligarquias se viram de uma noite para outra em total desespero a estrutura do regime abalou se completamente a Depress o acabou com a olig rquica Primeira Rep blica de 1889 1930 e levou ao poder Get lio Vargas mais bem descrito como popu
47. na sua exposi o s o as transforma es tecnol gicas e infra estruturais que dotam a cidade de novos equipamentos muito mais do que a preocupa o com altera o de padr es e costumes da popula o 50 afeiava e levantando em lugar deste uma bela e elegante torre na qual foi colocado o regulador oficial Constitui essa torre o que o povo denomina coluna da hora um lindo monumento que d ao logradouro central um aspecto de impon ncia e eleg ncia A Pra a do Ferreira era considerada o cora o da cidade essa alegoria em rela o ao rg o do corpo humano interessante pois d o sentido da import ncia que a Pra a do Ferreira tem para Fortaleza segundo o interventor como sendo o principal rg o da cidade uma vez que ela o centro de converg ncia das atividades atividades essas que poderiam ser culturais mas principalmente comerciais Por isso o interventor justifica a implanta o de um rel gio oficial pois o ritmo de trabalho da cidade estava mudando e era importante que a popula o tivesse um controle mais racional de tempo uma das caracter sticas da modernidade O rel gio se tornava fundamental para uma cidade que estava passando por um processo de moderniza o desde o final do s culo XIX mas que tinha uma popula o hegemonicamente rural e que n o era adaptada disciplina de trabalho capitalista racional e moderna que ocorria na cidade j que o car ter disciplinador
48. necessidade de acumula o de capital e o desenvolvimento do capitalismo Essas caracter sticas em nossa opini o n o podem ser dissociadas da produ o do urbano Na terceira parte da pesquisa analisamos o outro lado da cidade na esteira do que Juc 2003 pensara Fortaleza vista como duas cidades a dos ricos cristalizada no centro e nos bairros nobres e a dos pobres consubstanciadas na produ o das favelas e sub rbios No entanto importante compreender essas duas cidades como um processo desigual e combinado por conseguinte compondo o mesmo todo Tamb m destacamos as diferen as na produ o e urbaniza o geral dessas duas cidades Enquanto existe uma racionalidade instrumental na elabora o do per metro central as favelas s o constru das no que chamamos de l gica da necessidade Os dois projetos se articulam e n o s o apreendidos totalmente pela l gica racional na medida em que a cidade muito mais complexa do que as elabora es sobre ela e as disputas pelos espa os e conflitos de poder n o podem ser analisados de forma est tica mas numa din mica em espiral onde boa parte das decis es tomada no calor do momento e seus reflexos n o podem ser calculados 127 O que queremos dizer em linguagem mais simples que qualquer projeto urban stico mesmo que em sua elabora o vislumbre abarcar a cidade como um todo o resultado atingido ser sempre diferente pois as vari veis sujeitos
49. nese da marginaliza o e segrega o do crime Obviamente j existiam casos de crimes nos bairros da capital mas a partir da seca de 1932 esse processo sofre um aceleramento e come a a tornar mais vis vel a rela o favela associada ao crime prostitui o como local nefasto que necessita de corre o policial Anteontem foi v tima de um tiro no Arraial Moura Brasil pr ximo ao cemit rio o pedreiro Ant nio Jos de 23 anos de idade e residente nas proximidades da 1 Delegacia 120 Recebeu curativos no pronto socorro e n o sabe quem foi o autor do tiro que o atingiu IDEM 06 03 1935 p 01 Ontem s 21 horas foi agredido por 6 indiv duos o mar timo Francisco Roque Ferreira de 27 anos de idade casado Roque entrou na luta contra os agressores resultando sair ferido na cabe a ferindo por igual um dos agressores Foram reconhecidos Pedro Rodrigues de Paulo Joaquim Rodrigues de Paulo Chagas Camera e Jo o Monteiro IBIDEM 13 11 1933 p 02 N o por acaso ocorria esses crimes no Arraial Moura Brasil Mucuripe Alto da Balan a Morro do Croat Tauape Pirambu e demais bairros da periferia de Fortaleza Mas ao contr rio consubstanciava o reflexo do processo de urbaniza o desigual da capital e a pol tica de moderniza o do governo em afastar a popula o pobre para as periferias e favelas e blindar o centro de zonas comerciais e desenvolvimento cultural das classes abastadas
50. o o contraste de interesses deixava a rela o da companhia com a prefeitura num patamar de tens o ainda maior Era desejo do Sr Raimundo Gir o prefeito desta cidade retirar da Pra a do Ferreira os trilhos de bonde da companhia inglesa O jovem filho de Morada Nova desejava transformar a Avenida 7 de Setembro numa art ria silenciosa e calma tendo apenas o sonoro rel gio el trico da Coluna da Hora A Light por m puxou para traz Fez fincap e disse para o governador do munic pio Qual o que doutor N o retiro as linhas Rompendo as hostilidades come ou o Sr a controlar todos os servi os da Light Exigiu da companhia contra m o e quatro passageiros por banco Ontem por m o prefeito exorbitou Proibiu o tr fego dos bondes em redor da Pra a alegando que o paralelep pedo sentado ali n o suportava a trepida o do tramway E o c mulo Em toda parte do Brasil senta se a linha faz se o cal amento sem a interrup o do tr fego Al m disso o Sr Prefeito mandou deitar areia seca nos trilhos da companhia nas imedia es da Pra a IBIDEM 16 12 1933 p 03 Ap s essas exig ncias e impasses um funcion rio da Light foi tomar satisfa o com o Prefeito explicando que n o tinha condi es de funcionar desta forma Por m a media o encontrada por Raimundo Gir o foi permitir que os bondes pernoitassem fora da esta o O chefe da municipalidade havia deixado claro que o a moderniza o das ruas e
51. o centro e as ruas comercialmente mais importantes Segundo porque foi um processo arbitr rio verticalizado onde a sociedade 69 estava apartada das decis es restando apenas criticar os resultados Noutra mat ria do O Nordeste percebemos melhor esses contrastes Fortaleza apresenta em mat ria de cal amento o mais chocante dos contrastes Enquanto a Pra a do Ferreira e algumas ruas ostentam o luxo da pavimenta o a concreto ou a paralelep pedo outras vias mesmo centrais se ressentem de qualquer melhoramento nesse sentido e em v rias o cal amento existente desola o Trechos h por exemplo na rua Dona Isabel quase intransit veis como h na rua Major Facundo Dona B rbara etc uma tortura andar por ali de ve culo ou a p De forma que a capital est dando a impress o dessas mo as vaidosas que usam vestido de seda e sapatos de solados r tos IDEM 16 12 1933 P 03 2 Esse trecho muito elucidativo sobre o processo de remodela o das ruas e da implanta o do cal amento a concreto O calcamento a paralelep pedo estava sendo substitu do pelo concreto pois facilitava o transporte de carros de pessoas e era considerado mais moderno e esteticamente superior Por m como observamos essas melhorias s contemplavam o centro da capital e mais especificamente as ruas mais importantes As reas mais distantes como sub rbios favelas ou mesmo um bairro um pouco afastado do
52. o e de Expans o da cidade de Fortaleza Fortaleza Imprensa Universit ria UFC 1977 Contribui o de Adolfo Herbester forma urbana da cidade de Fortaleza Revister do Instituto do Cear Fortaleza n 108 1994 Arquitetura Ecl tica do Cear S o Paulo Nobel editora da universidade de S o Paulo 1988 in Ecletismo na Arquitetura Brasileira Org ANNATERESA Fabris S o Paulo Nobel editora da universidade de S o Paulo 1988 Cartografia Urbana Fortalezense na col nia e no imp rio e outros coment rios Prefeitura Municipal de Fortaleza Fortaleza administra o L cio Alc ntara mar o maio 1982 CHASIN Jos Marx da raz o do mundo ao mundo sem raz o In Marx Hoje S o Paulo Ensaio 1987 Marx Estatuto Ontol gico e Resolu o Metodol gica In TEIXEIRA F Pensando com Marx S o Paulo Ensaio 1995 CHESNAIS Fran ois A mundializa o do capital S o Paulo Xam 1996 COSTA Frederico Lustosa da P lo Nordeste a persist ncia das desigualdades an lise institucional da pol tica de desenvolvimento rural integrado para o Nordeste 1974 1986 UFC 1992 DAVIS Maike Holocaustos Coloniais Record 2002 DeDECCA Edgar O Sil ncio dos Vencidos 6 edi o S o Paulo Brasiliense 1994 DONGHI JulioHalpen Hist ria da Am rica Latina Paz e Terra 1989 DUQUE Jos Guimar es Solo e gua no Pol gono da seca Fortaleza DNOCS 1973 GUERRA Paulo de Brito Flashes das se
53. o que angustiava ainda mais esse pesquisador juvenil Foi a que entramos em contato com a obra Campos de Concentra o no Cear isolamento e poder na seca de 1932 da K nia de Sousa Rios Esta obra fazia um apanhado da seca de 1932 e uma an lise da constru o de campos de concentra es no cear que serviram como mecanismo de controle da popula o de retirantes que migravam do interior para a capital ressaltando a preocupa o do Estado e das classes abastadas de Fortaleza em isolar os retirantes para evitar saques revoltas e outros tipos de transtornos A partir do estudo desta obra podemos inferir que no per odo em que os retirantes estiveram presos nos campos de concentra o de Fortaleza houve um aumento na quantidade de obras p blicas na cidade Nossa hip tese portanto era que essas obras s poderiam ser feitas com a utiliza o da m o de obra desses retirantes Esse foi por conseguinte o nosso objeto de estudo na monografia de gradua o Em contato com outras leituras e com avan os nas pesquisas percebemos que na d cada de 1930 houve um aumento do processo de faveliza o da capital O que gerou algumas inquieta es como O que provocou o aumento dessas favelas Quem eram os seus habitantes Qual foi o papel do Estado na sua constru o Quais foram os fatores que importante esclarecer o uso do termo campos de concentra o Na verdade existia uma abissal diferen a entre os campos de co
54. os doentes em hospitais normais com os outros pacientes ou isol los Que tipo de doen as teria que merecer clausura Eram quest es incipientes na poca pelo no que tange ao Cear e por isso levantaram profundas contendas O caso dos moradores do Pirambu que sofriam de catapora exemplar De acordo com A Rua eles deveriam ser conduzidos para o campo de concentra o do Urubu e ficar isolados das outras pessoas Tal por m n o se verificou O isolamento do Urubu n o tinha capacidade para receber oito ou dez enfermos Parece pilheria Mas o caso verdadeiro Temos um suntuoso departamento de Higiene por m in til Os cataporentos ficaram no hospital da Santa Casa de Miseric rdia porque n o havia c modos no isolamento do Urubu O povo desconhece essa ocorr ncia O governo tamb m S o que aparece aos olhos de todos a import ncia do pr dio da Higiene A a o profil tica do chefe da sa de quase nula Uma d zia de doentes de mol stia contagiosa reduz a cacos a atividade do sanitarista not vel pra custear um estabelecimento dessa ordem que que o Estado gasta uma fortuna IBIDEM 23 09 1933 p 01 O matutino critica Barca Pellon e o Departamento de Higiene por n o isolarem os enfermos no Urubu devido n o haver mais espa o para tal Dois aspectos interessantes podem ser extra dos dessa mat ria O primeiro refere se ao fato do campo de concentra o do Urubu ainda permanecer ativo quase u
55. para Fortaleza que continuava no ano de 1933 mesmo com a estrat gia do governo dos campos de concentra o al m da epidemia de tuberculose que afetava principalmente os pobres da cidade devido subnutri o prec ria condi o de moradia e falta saneamento e carga hor ria extenuante da classe trabalhadora nas f bricas que tornavam rotineiros os diversos acidentes de trabalho Todos esses elementos s o componentes do processo de urbaniza o de Fortaleza na d cada de 1930 Enquanto havia uma prolifera o da mis ria existia tamb m um aumento no crescimento de estabelecimentos comercias como bancos construtoras maior n mero de 4 ae Zea zk i i Redator chefe e secret rio do jornal A RUA Boa parte das mat rias de cr tica ao governo foi escrita por ele Na grande maioria das vezes com tom cido e ir nico 65 autom veis na cidade e um crescimento substancial de empresa particulares E a picareta do governo para usar uma express o do jornal n o parava Se compararmos os servi os de constru es de ruas e cal amentos de 1927 a 1933 notaremos um acr scimo substancial nos anos de 1932 e 1933 ou seja no per odo da seca as obras foram intensificadas Como podemos verificar na tabela abaixo Tabela 2 Exerc cio Cal amentos novos Cal amentos Cal amentos reconstru dos reparados 1927 2 607 ms 8 050 ms 1928 5 660 5 172 ms 1929 11 060 7 470 4 305 1930 13 709 5 523 2
56. para a constru o de dois tipos de cal amentos a concreto e a paralelep pedo continua revelando os interesses da burguesia Venceu a concorr ncia a firma Industrias Brasileiras Portela S A que executou muito bem o seu contrato cobrindo 10 000m daquele primeiro tipo e 10 000m do segundo Aberta nova concorr ncia em janeiro deste ano foi vencedor o Dr Omar O Grady com quem foi contratada de acordo com o edital de concorr ncia a cobertura de 100 000m distribu dos em tr s exerc cios financeiros consecutivos sendo 25 000m em 1934 35 000m e 40 000m em 1936 Com observa o desta fonte poss vel inferir como essas obras representavam um lucro exacerbado para esse setor Havia uma disputa pelas licita es que demonstrava qual fra o do capital tinha uma rela o mais ntima com o governo Nesse caso o Dr Omar O Grady venceu a concorr ncia das Ind strias Brasileiras Portela S A e continuou com uma boa rela o com o governo durante mais tr s exerc cios financeiros consecutivos at o ano de 1936 Essas melhorias tamb m movimentavam um grande mercado da ind stria da constru o civil At hoje por conta da metragem do exerc cio em curso foram constru dos 2 217 m de concreto e 11 614 m de paralelep pedo num total de 18 831 m No per odo de janeiro de 1933 a esta data se constru ram 68 376 m de cal amento comum em ruas menos centrais e reconstru dos 80 647
57. pela seca de 1932 ao transferir levas de retirantes em busca de emprego na capital e que viam nas obras do porto a sa da de suas mazelas Por m n o era de grande serventia trabalhar sem remunera o De acordo com os discursos hegem nicos na poca se os retirantes estivessem ocupados trabalhando n o se envolveriam em saques furtos ou motins Portanto as obras p blicas de maneira geral tamb m exerciam a fun o de controle social Da a necessidade dos governos pagarem em dia os oper rios sendo estigmatizados de ap stolos da Nova Rep blica por atrasarem os vencimentos e a realiza o da obra mantendo o mesmo sistema administrativo oneroso e burocr tico criticado x Ps 59 pelo governo revolucion rio antes de se estabelecer no poder S o decorridos 9 meses que aquela desprotegida gente n o sabe o que dinheiro Avalie V S as dificuldades por que est o passando centenas de empregados na sua maioria chefe de fam lias sem receberem seus vencimentos Que desculpa dar o pobre funcion rio atrasado aos seus in meros credores como ao propriet rio da casa que habita ao seu fornecedor de leite etc Como adquirir roupas sapatos para si e sua fam la doloroso uma l stima Termino fazendo um apelo ao Sr Carneiro de Mendon a no sentido que esse valoroso revolucion rio interceda junto ao Sr Ministro da Fazenda para que seja enviado o quanto antes o numer rio necess rio ao pagame
58. pelas reformas do Bar o de Haussmann na Fran a contornando o centro comercial com um conjunto de avenidas chamadas de boulevards De acordo com Castro 1977 p 30 o plano em xadrez est intimamente ligado a objetivos colonizadores ou de expans o urbana Era o tra ado helen stico por excel ncia empregado por Alexandre o Grande nas cidades rec m criadas em seu vasto imp rio Era o tra ado da coloniza o romana introduzida algumas peculiaridades N o obstante a perspectiva de se estabelecer um plano urban stico continua na d cada de 1930 especialmente ap s a seca de 1932 sendo inclusive criado um conselho consultivo para desenvolver um plano de urbaniza o para a capital O conselho consultivo em sua sess o de ontem deliberou 95 acerca da consulta feita pelo Sr prefeito municipal sobre o projeto de urbaniza o da cidade a ser contratado pela prefeitura com o engenheiro Nestor Figueiredo O NORDSTE 12 07 1933 p 01 Todavia o conselho n o se mostrou favor vel ao plano de urbaniza o apresentado pelo arquiteto Nestor Figueiredo dando o seguinte parecer De todo o exposto resulta que sem negar a necessidade de retoques e amplia es no plano atual de desenvolvimento de Fortaleza discordo todavia da conveni ncia de uma obra geral de reforma do mesmo plano com o car ter amplo e suntu rio que necessariamente teria o projeto do engenheiro Nestor Figueiredo Julgo que as necessidades urban
59. que h que antes dela n s desejamos ver realizadas algumas reformas que julgamos indispens veis O POVO 11 04 1932 Carneiro de Mendon a fez claramente um discurso de concilia o Ele demonstra que as coisas ser o resolvidas sem radicalismos por parte de ambos os lados sem quebra de dignidade como sendo poss vel expurgar as diferen as atrav s da negocia o e do di logo fraternal Por m verificamos como ele responde com extrema cautela a pergunta sobre a constituinte devido ao momento conturbado que se passava no Brasil podendo afetar diretamente os seus interesses ou seja a perda do cargo 28 A seca e a situa o dos retirantes passaram ent o a ser segundo plano para o governo e para imprensa que passou a dar maior nfase aos acontecimentos do sul at o m s de outubro quando o movimento em prol da constituinte foi dilu do A imprensa oficial tentava justificar o seu interesse no sul atrav s da defesa do Golpe de 1930 estabelecendo uma dicotomia norte sul como se o Golpe de 1930 fosse ben fico para o norte e a sua ruptura s favorecesse ao sul A Revolu o garantiria para o Norte uma posi o favor vel no jogo de for as pol ticas nacionais j que a vit ria governista amea aria mesmo que superficialmente o predom nio paulista sobre a pol tica e a economia do Pa s considerado pelas elites locais como principal fator de sua decad ncia O jornal O Povo portan
60. que habitam e constroem a cidade n o s o previs veis Em Fortaleza n o foi diferente O governo e as classes abastadas afastam a mis ria e as doen as da sua adjac ncia mas ela volta em formas de assaltados crimes viol ncia e uma s rie de endemias sociais Nesta acep o a rela o entre seca centro e favelas n o aparece mais de maneira desordenada e desconexa como se a produ o do espa o urbano de Fortaleza fosse produto apenas do acaso e de fen menos naturais Torna se necess rio romper com as an lises formalistas que compreenderam o espa o como recept culos de processos ou como produto de constructos ideais e perceber a intera o dial tica entre os sujeitos e os espa os n o como elemento de ret rica mas como an lise de um processo hist rico A outra cidade erigida sobre o paradoxo do indesej vel necess rio Surgiu na capital um conjunto de doen as e epidemias que a pol tica do governo tratou de isolar e afastar do seu per metro A oficina do Urubu que era o local onde o Estado mantinha os retirantes trabalhando passou a ser adaptada a local de abrigo de variolosos leprosos e demais doentes numa n tida estrat gia de proteger as classes abastadas afastando os miser veis uma vez que os bairros mais pobres apresentam um maior ndice de doentes devido total falta de saneamento e descaso do projeto de moderniza o que visava tornar o centro um espa o heterotropo diferente d
61. remodelando numa velocidade exacerbada V rias obras foram constru das com a intencionalidade de deixar a cidade mais moderna Foi constru do nessa poca o primeiro mict rio p blico sendo instalado no canto do jardim da Pra a General Tiburcio O material sanit rio de primeira qualidade 22 pe Verificamos foi adquirido na Inglaterra e j se encontra no almoxarifado da prefeitura ent o qual era a prioridade do governo A cidade lotada de retirantes famintos sem moradia em busca de melhores condi es de vida e a prefeitura utilizando a verba oriunda em boa parte devido calamidade para construir banheiros p blicos No primeiro ano do governo de Get lio Vargas a seca j fazia parte da agenda de discuss o Resultando em 1932 e 1933 de auxilio de verbas do governo federal ao combate seca normalmente repassados via IFOCS e Minist rio de Via o e Obras P blicas No ano de 1934 ficou estabelecido na Constitui o que a Uni o teria que tra ar um plano or ament rio relativo s secas A estiagem passou a ser incorporada como pauta obrigat ria do Estado Os problemas provocados pelas secas deveriam ser contornados pelo vi s racional de controle da Uni o As imigra es passaram a ser analisadas numa dimens o global A mudan a na pol tica do governo em rela o estiagem mostrou em parte a relev ncia da seca de 1932 no cen rio nacional importante lembrarmos que se tratava de uma das maiores seca
62. s pelo gosto de deixar o seu nome ligado a alguma concreta que perdure per omnia secula seculorum O que por m est chamando a aten o do p blico a placa colocada na testa da faculdade de Direito lado em frente ao Palacete Brasil com o seguinte t tulo Travessa Morada Nova Morada nova a terra dos Gir o Da certamente a glorifica o do nome numa das ruas de Fortaleza Isso assim tamb m demais A RUA 05 09 1933 p 01 O projeto de urbaniza o da cidade atendia aos interesses de governantes e capitalistas no qual o papel do Estado era muito presente As ruas eram reformadas e tinham seus nomes alterados de maneira arbitr ria seguindo a perspectiva do enaltecimento Como ressalta Ferro 1989 a mem ria est em disputa e a cidade se torna o anfiteatro dessa luta O urbano por m necessita ser compreendido numa acep o menos an dina e mais gen rica Ainda segundo Lefebvre o urbano um campo de tens es altamente complexo uma virtualidade um poss vel imposs vel que atrai para si o realizado uma presen a aus ncia sempre renovada sempre existente LEFEBVRE 1999 p 45 Nessa assertiva o sentido da urbaniza o de Raimundo Gir o Roberto Carneiro de Mendon a e inclusive Get lio Vargas representantes do Estado se aproxima muito mais do conceito de urbanismo do que propriamente de uma sociedade urbana Podemos observar melhor os interesses envolvidos na remodela o
63. seca de 1932 analisarmos o processo de moderniza o que a cidade passara e como essa modernidade era utilizada atrav s dos discursos das elites para legitimar a vertiginosa urbaniza o que ocorria na d cada de 1930 Tamb m importante perceber o contra ponto ou seja como as camadas mais pobres viviam essa modernidade atrav s de suas pr ticas representa es etc Portanto compreender a modernidade no seu sentido paradoxal e contradit rio nos ajudar a compreender os conflitos que constitu ram a cidade a partir da seca de 1932 Podemos por exemplo no relat rio do Interventor federal Roberto Carneiro de Mendon a verificar como o discurso da modernidade estava presente no que se refere Justificativa da implanta o de um rel gio na Pra a do Ferreira e em rala o pr pria remodela o da pra a A Pra a do Ferreira o cora o da cidade o seu ponto mais movimentado e o centro de converg ncia das suas atividades Ressentindo se a capital de um rel gio p blico a altura de seus cr ditos de cidade moderna resolveu a prefeitura dot la desse importante melhoramento para o que teve remodelar o jardim da Pra a do Ferreira retirando dali o antiquado coreto que muito a importante destacar que a no o de modernidade do interventor federal Roberto Carneiro de Mendon a se aproxima muito mais do que Berman chama de moderniza o Pois percebemos no relat rio do interventor que o que ganha mais destaque
64. seco e as obras contra as secas 1910 1981 Recife UFRPE 1985 VALEN A Marcio Morais Cidades ingovern veis Ensaios sobre o pensamento harveyano acerca da urbaniza o do capital In Jos Borrzacchiello da Silva Luiz Cruz Lima Denise Elias Org Panorama da geografia brasileira S o Paulo annablume 2006 VITORIANO DE OLIVEIRA Jos de Arimat a O Moderno e o Provinciano nos Discursos Sobre Fortaleza do In cio do S culo XX Entre a Cidade que se Tinha e a 138 Cidade Que Se Queria Monografia apresentada como requisito para Gradua o UECE 2007 ZIZEK Slavoj O Espectro da Ideologia In Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contraponto 1996 p 297 331 A vis o em paralaxe S o Paulo Boitempo 2008
65. uma c pia grosseira do passado e enfarado que se acha de promessas falazes n o acredita mais nas excel ncias reformistas preconizadas e enaltecidas pelos ap stolos da Nova Rep blica A RUA 09 09 1933 p 03 De acordo com o peri dico localizamos tr s problemas referentes s obras do porto a sua posi o geogr fica se seria localizado no Mucuripe b os pagamentos dos oper rios que estavam atrasados c e a pr pria materializa o do porto que j vinha de anos de estudos estudos e nada Esses foram os problemas mais frequentes no debate sobre a constru o do porto Por exemplo a falta de pagamento dos oper rios causava enorme 38 Harvey define d i tipos de capital fixo o capital fixo incorporado a terra como f bricas escrit rios unidades escolares hospitais sistemas el tricos redes de esgotos etc Em oposi o ao capital fixo como aeronaves m quinas que podem ser movidos Na verdade Harvey parte da no o de capital fixo desenvolvida no capital de Marx mas ao diferenciar o capital fixo ligado terra do fixo que pode se movido ele espacializa a teoria de Marx S o esses em nossa opini o os m ritos de Harvey e Lefebvre especializar a teoria do capitalismo de Marx Para um balan o sobre a teoria de Harvey e Lefebvre ver Katznelson 1993 Gottdiener 1997 Soja 1993 88 transtorno na poca pois um dos objetivos da obra era absorver o excesso de for a de trabalho ocasionado em parte
66. urbaniza o da cidade com a predomin ncia do tempo do rel gio materializado na constru o da Coluna da Hora reformas do per metro central incluindo ruas pra as e demais logradouros comercias substitui o da luz a g s pela a el trica todo esse conjunto de caracter sticas que metamorfosearam a cidade antiga em moderna s foram sentidos e usufru dos por uma pequena parte da popula o Por m as normas e a doutrina o a implanta o de novos costumes e valores foram universalizadas atrav s do imperativo das leis e o autoritarismo do governo ao mesmo tempo em que os equipamentos modernos saneamento b sico e energia el trica n o passaram de utopias para a maioria da popula o Utopia no sentido grego da palavra ou seja lugar nenhum Em suma os aspectos simb licos culturais econ micos e pol ticos constitu ram um mosaico complexo permeando a realidade urbana de Fortaleza s podendo ser apreendido como unidade de uma totalidade maior que envolve um projeto coeso dos governos municipal estadual e federal na produ o espacial de uma cidade capitalista em desenvolvimento Portanto a heterogeneidade da constru o socioespacial t o diversa que 86 n o apenas a instala o de um rel gio mas principalmente a extens o das melhorias urbanas para o restante da popula o tornou se uma odisseia ainda maior 2 4 Acumula o de Capital a necessidade de um Port
67. 1919 chegando conclus o que naquele momento n o deveria mais esperar pela caridade do governo nem pela assist ncia das rela es de 4 A 2 compadrio que em momentos de seca se mostrava bastante t nue portanto era necess rio agir por conta pr pria mediante viol ncia se preciso fosse Ao chegar o m s de abril a situa o do flagelo ficava cada vez mais recrudescente Alguns munic pios do interior em especial da regi o centro sul j declaravam estado de calamidade com parte significativa da popula o passando fome Acha se declarada a seca neste munic pio o qual atravessou o per odo mais angustioso da sua hist ria o flagelo prenuciando se mais horroroso do que Chamamos de compadrio uma rela o baseada no bin mio prote o submiss o Onde o padrinho geralmente o fazendeiro garante prote o ao afilhado que geralmente um filho do morador da fazenda Isso faz com que a fam lia do apadrinhado preste servid o e obedi ncia ao fazendeiro em troca de prote o Esta rela o bastante presente ainda hoje no interior do Cear Para uma investiga o mais precisa sobre as rela es de compadrio ver Leal 1997 Ramos 1998 21 os verificados nos anos de 1915 e 1919 A cidade est repleta de famintos apresentando desolador espet culo estando esgotados os recursos da caridade p blica A popula o aguarda confiante a a o do governo no sentido do in cio imediato da constru o do
68. 1933 p 01 Esta nota sobre as atividades do centro de sa de foi divulgada em v rios jornais Notamos que houve um avan o na sa de pelo menos no que concerne aos equipamentos que foram comprados para equipar o Centro de Sa de a diversidade de servi os oferecidos e sobre a maneira organizada como os servi os foram distribu dos separado por dias e g nero Enfim n o se podem negar os avan os que a moderniza o trouxe na melhoria da sa de p blica pois se ampliou os investimentos na rea e se criou um novo hospital N o obstante necess rio entend lo enquanto movimento dial tico e relativizar os discursos do governo Na mesma mat ria percebemos o contraponto sobre a propaganda do secret rio de sa de A assist ncia infantil escolar preciso notar j se vem fazendo de ha muito tempo nos grupos escolares do Cear N o cria o do Centro de Sa de Esse diretor de Higiene um tanto rom ntico Em vez de uma a o pr tica em vez de uma verdadeira assist ncia deixa se levar pela fantasia da linda encena o burocr tica E assim que enquanto faz distribuir pelos jornais da terra uma lista dos servi oes regulares de administra o epidemologia verifica o de bitos pol cia sanit ria de habita es dos estabelecimentos dos g neros aliment cios e de higiene de trabalhos os cataporentos n o tem um tratamento especializado porque o isolamento do Urubu n o tem leitos para amparar os pob
69. 32 n o era devido ao altru smo dos governantes mas com a possibilidade da quebra da ordem social vigente O governo e a burguesia tinham medo que os conflitos sociais se agudizassem ainda mais e que os retirantes se revoltassem Por conseguinte era importante agir da forma mais racional poss vel Torna se necess rio ter clareza do momento pol tico econ mico e social em que vivia o Brasil e no caso espec fico Fortaleza Ao contr rio das estiagens anteriores houve na seca de 1932 um maior planejamento sobre todos os aspectos Os governos federal e municipal e as institui es IFOCS Departamento de Secas Minist rio de Via o e obras p blicas estavam articulados planejando desde o controle de pre o de g neros aliment cios at a invas o de retirantes na capital A seca assim como o espa o urbano de fortaleza vai ser permeada por uma racionalidade instrumental proveniente do Estado N o h espa o para o improviso em rela o ao controle da popula o e a urbaniza o da capital O Estado deveria centralizar mais ainda sua interven o nos per odos de estiagem por serem momentos de agita o social e propaga o de conflitos e questionamento da ordem vigente Para o governo as migra es volumosas de pessoas esfomeadas era um perigo constante para a capital ao passo que eles poderiam trazer doen as contagiosas al m de outras inconveni ncias que uma mir ade de retirantes mobilizados poderi
70. 5 de julho que por for a das chuvas torrenciais deste ano quase veio a ruir completamente Os trabalhos da reconstru o pode se dizer consistiram em uma nova constru o porquanto para corrigir os defeitos da obra anterior e os danos causados pela invernada tiveram de ser levantados novos muros de arrimo feito todo o piso constru das novas balaustradas e outros passeios laterais A ponte apresenta agora um aspecto moderno amplo e agrad vel Era comum tamb m no relat rio fazer compara es de maneira discreta com a administra o anterior criando uma imagem negativa da cidade antes das melhorias urbanas No caso a cidade era term metro para se avaliar se a administra o foi boa ou 33 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 288 289 45 ruim A cidade era compreendida apenas no seu aspecto f sico infraestrutural tornando se portanto a vitrine de propaganda do governo que a utilizava sempre com o adjetivo de moderna Figura 2 Rick de patina o constru do no Passeio P blico na administra o Major Facundo Fonte Relat rio do Interventor federal Roberto Carneiro de Mendon a Arquivo P blico do Cear Esta foto demonstra a suntuosidade do governo e da elite que em meio a v rios conflitos na cidade seca explos o demogr fica campos de concentra o saques dos retirantes movimento em prol da cons
71. 505 1931 806 11 842 4 682 1932 28 261 39 110 5 306 1933 43 086 41 369 1 887 Almanach Administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear para o ano de 1934 confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica P 187 e 188 Todavia se cotejarmos o ano de 1931 v spera da seca com os anos de 1932 e 1933 veremos que o aumento chega a ser bastante consider vel em rela o a cal amentos novos e reconstru dos Isso significa dizer que a seca de 1932 foi um elemento importante para a remodela o do espa o urbano de Fortaleza especialmente o centro Por ila o se houve aumento na constru o de ruas e cal amentos nesse per odo tamb m houve aumento da verba para realiza o de tal empreendimento O governo Municipal acabou angariando mais investimentos do governo Federal e investindo nas palavras de Lefebvre no setor secund rio da economia uma vez que as despesas com melhoramentos passaram de 484 117 006 em 1931 para 698 325 087 em 1932 e 558 332 700 no ano de 1933 E a arrecada o total do munic pio de Fortaleza passou de 1 926 252 439 em 1931 para 2 249 007 416 em 1932 z obtendo uma ligeira queda no ano de 1933 para 1 862 703 600 O que interessante 50 Para ver a quantidades de bancos na poca e a diversidade de empresas particulares respectivamente ver Almanach Administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear para o ano d
72. 929 Tendo sempre na m xima considera o as facilidades do tr fego a atual administra o realizou um servi o de incalcul veis resultados o qual consistiu em fazer a liga o da Avenida Visconde do Rio Branco com a Rua Sena Madureira a fim de estabelecer comunica o franca entre a zona da praia e portanto a zona portu ria e o bairro Joaquim T vora e consequentemente o distrito de Mecejana e o interior do estado Podemos perceber como era importante para o governo melhorar a circula o na cidade Os bairros que faziam parte do per metro central deveriam estar ligados com a praia ou melhor com a zona portu ria Pois o objetivo principal n o era melhorar o tr fego de pedestres como podemos observar nesse trecho extra do do relat rio e sim facilitar o acesso ao porto da cidade que no desenvolvimento atual de sua economia recebia maior import ncia Essa reforma foi chamada no relat rio do Interventor Federal de liga o No cap tulo segundo analisaremos o que papel que a acumula o de capital cumpriu no processo de urbaniza o de Fortaleza Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 290 36 importante mostrando a sua relev ncia visto que para ela ser efetuada foi necess rio reconstruir A pavimenta o do trecho compreendido entre as ruas Pedro I e Travessa do Pocinho at ent o totalmente imprest
73. Essa modernidade era marcada por uma 57 vertiginosa e desordenada urbaniza o por introdu o de novas tecnologias e s mbolos como a esta o de r dio PRE 9 e o Coluna da Hora que demonstra um aspecto mais racional na marca o do tempo Todos esses aspectos elevam a cidade de Fortaleza a um patamar de cidade moderna Por m Fortaleza tamb m marcada pelo antigo pois a maioria da sua popula o era composta de retirantes flagelados que tinham costumes considerados provincianos mas que tamb m habitavam seu espa o essa rela o complexa que tem de um lado uma popula o rural do outro uma elite com costumes modernos que faz com que Fortaleza seja uma cidade moderna mas transbordando de contradi es antigas E como diria Bermam 1999 p 13 ser moderno viver uma vida de paradoxo e contradi o SEGUNDA PARTE CENTRO CAP TULO 2 O espa o uma constru o social em todas as dimens es Mark Gottdiener 2 1 Fortaleza e a produ o capitalista do espa o urbano riqueza e mis ria dois lados da mesma moeda Neste cap tulo faremos uma discuss o te rica sobre o espa o urbano e como se deu o processo de constru o do ambiente constru do em Fortaleza compreendendo a rela o dial tica entre o centro e as favelas na produ o de riqueza e mis ria Para tal empreendimento faz se necess rio um debate sobre o conceito de espa o urbano na tentativa de
74. Gir o ao imperialismo Estadunidense e defende o carroceiro com um discurso anti moderno e regionalista Tamb m critica a no o de civiliza o baseada no caminh o Chevrolet que segundo o matutino s piorou as condi es econ micas da cidade Por m percebemos como havia uma disputa ideol gica a respeito da moderniza o da cidade A realiza o da pavimenta o a concreto do centro que nos ve culos oficias era apresentado como grande inova o e melhoria para Fortaleza tem no jornal A Rua o antidiscurso o reverso da medalha real ando o novo como quebra de costumes e tradi es citadinas Em contrapartida o carroceiro concebido como s mbolo regional e cristalizador de uma identidade c As reformas urbanas s o analisadas pelo prisma do interesse particular pois o fen meno e o espa o urbano n o s o apenas proje o das rela es sociais mas lugar e terreno 62 onde as estrat gias se confrontam Eles n o s o de maneira alguma fins e objetivos mas meios e instrumentos de a o LEFEBVRE 1999 P 83 Nesse sentido a pol mica continua quando Raimundo Gir o resolve colocar uma placa na faculdade de direito As coisas do Cear n o mudam e nem mudar o Em mat ria de pol tica ent o o neg cio aqui individualista at no modo de falar O Sr Governador da cidade entendeu de reformar a pavimenta o a concreto da cidade por conta do particular e vem levando tudo de rold o
75. Governo do estado do Cear Fortaleza 2006 GOTTDIENER Mark A produ o social do espa o urbano 2 ed S o Paulo EDUSP 1997 GOTTLIEB M 1976 Long swings in Urban Development New York National Bureau of economic research GOMES ngela M de Castro A interven o do Trabalhismo Rio de Janeiro IUPERJ 1998 Burguesia e Trabalho Rio de Janeiro Campus 1979 HOBSBAWM Fric J Era dos Extremos o breve s culo XX 1914 1991 S o Paulo Companhia das letras 1995 Os Trabalhadores Estudo sobre a hist ria de oper rio Rio de Janeiro Paz e Terra 1981 LEFEBVRE Henry O Direito Cidade 1 Ed S o Paulo Moraes Ltda 1991 A cidade do capital Rio de Janeiro DP amp A 1999 a A revolu o urbana Belo Horizonte Ed UFMG 1999 A Vida Cotidiana no Mundo Moderno S o Paulo Editora tica S A 1991 a L gica Formal L gica Dial tica Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1995 LENHARO Alar A Sacraliza o da Pol tica 2 ed S o Paulo Papirus 1986 LOPES Am rico Actos do Governo Provis rio dos Estados Unidos do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacyntho 1932 LUK CS Gy rgy Est tica I Barcelona M xico Ed Grijalbo 1967 Introdu o a uma est tica marxista Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 134 1970 Ontologia do ser social os princ pios ontol gicos fundamentais de Marx Trad de Carlos Nelson Coutinho S o Paulo Livraria Editora Ci ncias Huma
76. Jardim de 25 anos de idade casado e residente no Morro do Croat O desastre foi causado pela m quina perfurante da Inspetoria das Secas tendo o oper rio machucado a m o direita Transportado ao pronto Socorro fez ali os curativos necess rios ficando internado na Santa Casa onde se acha em tratamento O NORDESTE 28 11 1933 p 04 Waldemir Jardim era um oper rio da Inspetoria das Secas provavelmente um retirante visto que a Inspetoria privilegiava contratar os retirantes para seus servi os E ele residia no Morro do Croat bairro pobre e afastado do per metro central Muitos retirantes que chegaram capital conseguiram escapar da estrat gia do governo n o sendo retidos nos campos de concentra o Eles chegavam e normalmente procuravam terrenos afastados e de prefer ncia p blicos para se alocarem Desta forma eles ampliavam as periferias e o surgimento das favelas O espa o s tem sentido enquanto categoria de an lise na compreens o dial tica sujeito estrutura na medida em que ele reflete um processo de constru o hist rica de sujeitos concretos O espa o em si n o pode ser considerado sujeito de processo algum Por isso a import ncia de rastrear mesmo com os limites da documenta o anteriormente elencados alguns oper rios que contribu ram para produzir o espa o urbano de Fortaleza Ontem s 15 horas na ocasi o em que trabalhava numa constru o a Rua S o Luis foi v tima do desastre o oper
77. Os crimes mesmo que n o praticados na periferia da capital geralmente era realizado por seus moradores caracterizando um processo de marginaliza o da viol ncia no sentido usual da palavra transferindo a viol ncia para a margem da sociedade A gatunagem vem agindo ativamente na zona da praia sendo os seus ltimos feitos os arrombamentos na sede do N utico Atl tico Club e do caf S Jo o este de ontem para hoje O caf S o Jo o situado bem pr ximo Alfandega de propriedade do Sr Jo o Ferreira Costa amanheceu escancarado hoje Examinando a casa verificou o propriet rio ter sido visitado o seu estabelecimento sendo o total das mercadorias roubadas avaliado em cerca de 400 000 CORREIO DO CEAR 17 11 1934 p 02 Os casos de roubos aumentaram em Fortaleza A zona da praia que abrigava uma grande parte da popula o pobre que morando pr ximo praia poderia sobreviver da pesca ou qualquer outra atividade ligada ao setor era uma regi o de in meros delitos medida que a cidade crescia a desigualdade aumentava em propor o igual propiciando um crescimento da criminalidade que aos poucos se tornava mais audaciosa eliminando o seu aspecto provinciano e ganhando contornos de cidade grande A pol tica do governo de afastar os miser veis para a periferia n o conseguiria contornar o fato que o centro por seu desenvolvimento e opul ncia se tornaria o foco principal dos assaltantes Temos noticiado os cas
78. P 219 94 empreendimento comercial e industrial do Estado sem porto e sem gua ser um fracasso A RUA 03 12 1933 p 03 Todavia o investimento em ruas pra as avenidas porto e vias f rreas na capital e os investimentos nas estradas de rodagem e a udes no interior mostram dois lados de um mesmo projeto coadunar a acumula o de capital com a valoriza o do ambiente constru do portanto n o se pode pensar a urbaniza o de fortaleza sem levar em considera o esse conjuntos de fatores 2 5 A Cidade como Reta O Urbanismo de Nestor Figueiredo O planejamento urbano em toda sociedade uma fachada para o poder Mark Gottidiener linguagem comum falar de um crescimento desordenado do espa o urbano de Fortaleza a partir da d cada de 1930 Em grande medida contribui para essas an lises a explos o demogr fica causada pelas secas em especial a seca de 1932 Por m n o se analisou at que ponto essa urbaniza o foi realmente desordenada N o havia planejamento do estado E se havia planejamento em que medida foi eficiente Qual foi o papel que o urbanismo exerceu nesta urbaniza o S o quest es fundamentais que neste espa o tentaremos ao menos estabelecer um debate proped utico A tentativa de tra ar um plano urban stico para Fortaleza data de meados do s culo XIX com o plano em xadrez de Silva Paulet e depois em 1875 com amplia o do tra ado em xadrez por Adolfo Hebster influenciado
79. a o Como se formou o espa o urbano da capital no contexto dos surgimentos das favelas Qual era o papel dos retirantes na constru o do centro e das favelas Que mecanismos o Estado utilizou para manter o controle social da popula o pobre da cidade Para nos ajudar a clarificar algumas dessas quest es nos apoiaremos nas reflex es te ricas de alguns ge grafos e pensadores que fizeram elabora es coerentes e sistem ticas sobre essas tem ticas como David Harvey Henri Lefebvre Maria Encarna o Esp sito Mark Gottdiener Liberal de castro Ira Katznelson Ana Fani dentre outros Pois consideramos que importante al m de uma ampla pesquisa emp rica e an lise das fontes fazer uma boa reflex o conceitual sobre o nosso objeto E o primeiro debate de cunho te rico metodol gico o que se refere compreens o do espa o n o apenas no sentido de uma estrutura que molda ou condiciona os seus habitantes mas principalmente entender o espa o como fruto de diversas rela es sociais onde atuam v rios atores Entre eles entram a o papel do Estado dos setores capitalistas dos trabalhadores que atrav s da sua atividade 13 transformaram o espa o dos planos diretores e dos seus executores como engenheiros e arquitetos da acumula o de capital e das disputas pelo espa o O espa o nesse sentido deixa de ser resultado de um constructo idealista como permeia exemplos na historiografia cearense que denota por ex
80. a ude estreito e a intensifica o dos servi os de rodagem al m de evitar que pere am de fome centenas de cearenses IDEM 01 04 1932 Essa not cia referente ao munic pio de Ic mas no mesmo dia o jornal publicou uma mat ria semelhante em rela o ao munic pio de Senador Pompeu em que segundo O Povo a popula o da cidade pede a constru o do a ude pat Esse discurso da constru o de obras p blicas como sendo a melhor alternativa para resolver ou pelo menos atenuar o problema da seca vinha sendo utilizado desde a poca da constru o da estrada de Ferro de Baturit por m ganham um impulso e uma sistematiza o maior na seca de 1932 Obras como os a udes Estreito e Pat tinham o objetivo claro de atrair recursos oriundos do governo federal e garantir que a popula o sertaneja permanecessem em seu habitat natural Tamb m poss vel inferir da not cia a import ncia da a udagem e dos servi os de rodagem como sendo os principais tipos de obras p blicas realizadas durante as secas Como podemos perceber na exposi o de motivos assinada pelo Dr Jos Am rico sobre as formas de combate seca Desde a primeira vez que se cogitou no Brasil combater os efeitos ruinosos desse fen meno muitos foram s solu es propostas umas francamente inadequadas e outras utiliz veis ao menos como recursos subsidi rios as estradas de ferro e de rodagem a perfura o de po os e cisternas de desvio
81. a 150 m2 de rea coberta da talvez a opini o de ilustre facultativo de que ali quem n o morresse de tifo n o escapava da var ola IBIDEM 30 09 1933 p 01 Os oper rios estavam cobertos de raz o em protestar A pol tica do Estado representado na figura de Barca Pelon foi autocr tica sem dialogar com os oper rios e visava afastar as doen as do centro e dos bairros mais pomposos N o foi por acaso que os trabalhadores do Urubu come aram a adoecer De ontem pra c come aram a serem retirados os febrosos ficando por m os variolosos Acredita se que talvez devido a isto tenham aparecido ontem aqui alguns representantes da Higiene perguntando quem era e quem n o era vacinado IDEM 30 09 1933 p 01 Os trabalhadores do Urubu na sua grande maioria retirantes da seca de 1932 eram obrigados a conviver com as doen as que se alastravam na cidade sem falar da oficina em si que se encontrava em condi es de higiene prec ria Os oper rios que trabalhavam na estrada de ferro de Baturit situadas nu Urubu ainda protestaram junto ao diretor da R V C por m em v o O local para abrigar os doentes acometidos de var ola foi constru do l e o pior sem infraestrutura e condi es de saneamento Podemos analisar melhor o ambiente de putrefa o atrav s de uma carta que foi endere ada para o jornal A Rua descrevendo a higiene do local ou melhor a sua total aus ncia Diz o missivista A casa que serve
82. a causar cidade e ao governo Foi estabelecido nesse momento um servi o de assist ncia ao flagelado que tinha uma preocupa o not ria com o controle da popula o e a preven o de doen as Sendo interessante transcrever uma parte do relat rio do Interventor federal que mostra como funcionava segundo ele Desde aquele ano in cio do grande xodo das popula es sertanejas em face da trag dia clim tica j declarada pesando a responsabilidade que nos cabia em fun o do perigo que representava brusca dessa massa humana inteiramente desprovida de conhecimentos que pudessem interessar sua defesa sanit ria foram tomadas as primeiras medidas de amparo e salvaguarda Medindo bem a gravidade e a extens o do problema e n o fugindo a ele deu se come o a um servi o de assist ncia e preven o que obteve conseguindo se com esfor o sobre humano defender o Estado da proje o de epidemias muito mais devastadoras do que as que se 31 apresentavam De sa da a luta restringiu se aos pr prios recursos do Estado e aos pequenos aux lios do governo central seguida mais adiante pela popula o da cruz vermelha vindo tempo ap s o Ministro da Via o em socorro por interm dio de um contrato com esta interventoria elaborando se assim o projeto definido de organiza o dos servi os de assist ncia m dicas aos flagelados do Cear anexada a D S P em virtude de suas cl usulas Por este acordo os servi os abrangeriam os op
83. a cidade que segundo os grupos dominantes estava se tornando moderna continua Agora em rela o ao Horto municipal da cidade Continua tendo o maior desenvolvimento o Horto municipal como a prefeitura p de construir e refazer os seus jardins arborizar ruas e logradouros e fornecer a quase todas as municipalidades do interior do estado Infelizmente a sua atual situa o de todo inconveniente Era pensamento do governo municipal localiz lo nos terrenos adquiridos pela prefeitura a empresa Matadouro aponto o que para a prefeitura seriam as vantagens Al m da excepcional localiza o e da fertilidade da baixada a instala o e da fertilidade da baixada a instala o do Horto ali ter a vantagem de contar com o adubo e o barro provindos do Matadouro sendo quase nulas as despesas de transportes A prefeitura se demonstrou t o interessada em transportar o Horto para as proximidades do Matadouro que na poca ficava localizado pr ximo lagoa do Tauhape que plaus vel questionar quais eram os interesses em jogo Pois as vantagens apontadas pelo governo sobre o terreno s o t o expl citas e convidativas que se poderia pensar que se tratava de valorizar o terreno pr ximo ao Horto Mas s o apenas especula es No entanto o que mais importante notar que as obras em Fortaleza n o paravam de serem executadas No espa o de tempo compreendido entre janeiro de 1933 e esta data foram abertos
84. a dessas aus ncias ainda mais em poca de seca foi o concernente falta d gua pot vel A Prefeitura municipal queremos dizer o seu jovem orientador est com suas atividades todas absorvidas pelos servi os da Pra a do Ferreira Levantamento da Coluna da Hora destrui o do coreto concretiza o da pra a o diabo empreendimentos enfim que roubam o mais leve cuidado pela situa o do restante dos seus mun cipes Sabe o Sr prefeito o que est ocorrendo em Mecejana N o h rede de abastecimento de gua e esgoto A popula o se supre gra as ao catavento local Este por m est desmantelado h mais de uma semana de modo que o povo est bebendo gua transportada em costa de jumento e de uma dist ncia long nqua da povoa o Isso representa um enorme transtorno para quem habita as margens da lagoa onde Iracema tomava banho IBIDEM 03 09 1933 p 03 Mecejana era um bairro afastado do centro que nos jornais da poca aparecia constantemente devido problem tica da falta d gua Esta cita o lapidar na medida em que estabelece um paralelo entre os dois projetos de modernidade No per metro central a picareta do governo n o parava reforma da Pra a do Ferreira constru o da Coluna da Hora etc Enquanto a popula o de Mecejana carecia de gua pot vel e reproduzia uma pr tica do interior do Estado considerado na poca como antiquada buscar gua no lombo de um jumento para saciar a sede
85. a muito mais complexa tratava se al m da quest o da referida pra a uma discuss o sobre o monop lio dos transportes urbanos Era uma estrutura arcaica para um capitalismo que necessitava de concorr ncia Sem falar que a cidade estava se expandindo a popula o aumentando os sub rbios crescendo e alargando a dist ncia dos trabalhadores para os seus locais de trabalho O transporte n o poderia ficar fora do projeto de cc moderniza o do Estado Gottidiener 1993 p 54 reverbera a afirmativa de Lefebvre segundo a qual os interesses capitalistas s o promovidos quando se usa a pr pria organiza o espacial como for a de produ o Por conseguinte num sistema social desse tipo inova es tecnol gicas nos transportes e nas comunica es s o apenas aspectos de um complexo muito mais amplo de for as s cio estruturais que transformaram as rela es espa o tempo na sociedade moderna Neste sentido a interven o do Estado no sistema de transporte se tornara inevit vel O que poderia variar seriam os aspectos dessa interven o Concession ria do servi o de luz for a e via o el trica no munic pio de Fortaleza a The Cear Tramway Light and Power C Ltda tem seu escrit rio na Rua Bar o do Rio Branco n 844 Tem como gerente o Cel Francis Reginald Hull e sub gerente o Sr Jo o Batista de Paula A extens o atua de sua linha de 20 kmts tendo 38 bondes no tr fego e 11 auto nibus
86. a resist ncia coletiva dos trabalhadores rurais cearenses na seca de 1979 1983 Disserta o de Mestrado em sociologia apresentada UFC Fortaleza 1985 PEREIRA Munes Eufr sio William Interven o do Estado Capitalista no Espa o urbano In Marcio Morais Valen a e Gilene Moura Cavalcante Org Globaliza o e Marginalidade transforma es urbanas Natal RN EDUFRN 2008 PESSOA Maria Navilla Monteiro An lise e Previs o das receitas e despesas do governo do estado do Cear Sob influ ncia da Seca e n vel de atividade econ mica Fortaleza UFC 1992 PONTE Sebasti o R Fortaleza Belle poque Fortaleza FDR Multigraf 1993 RIOS K nia de Souza Campos de Concentra o Cear Isolamento e poder na seca de 1932 Fortaleza museu do Cear 2001 RAMOS F R L O Verbo encantado a constru o do Padre C cero no imagin rio dos devotos Inju Editora da UNJU 1998 160p ROSDOLSKY Roman G nese e estrutura de O Capital de Karl Marx Rio de Janeiro Contraponto 2001 136 ROUANET S rgio Paulo As Raz es do Iluminismo S o Paulo companhia das letras 2008 RUD George Ideology e Popular Protest New York Chapel Hill 1995 S o Paulo estado Secretaria dos Servi os e Obras P blicas Manual T cnico de departamento de edif cios e obras p blicas S o Paulo DEOP 1972 SANTOS Milton A Natureza do Espa o 3 Ed S o Paulo Hucitec 1999 SCOTT A 1976 Land and Land Rent An interpr
87. abar parte da muralha de arrimo do Aterro da Pra a General Tiburcio canto da Rua S o Paulo local onde ultimamente a Prefeitura planejava construir mict rios p blicos Embargada a obra j iniciada trataram de reconstruir a parede e o fizeram sem a necess ria solidez causa do desmoronamento desta manh CORREIO DO CEAR 20 12 1934 P 08 Neste sentido o processo de remodela o do centro se efetuava com percal os pelo caminho pois desabamento de aterros acidentes de tr nsito causados pelas obras acidentes de trabalho nas constru es dentre outros ocorria com uma assiduidade espantosa que j se tornara uma caracter stica cong nita do processo de urbaniza o da cidade Fortaleza era na poca um canteiro de obras a c u aberto Por m um canteiro sem uma infraestrutura segura para os oper rios e transeuntes como verificado no caso do desabamento do Arco do Triunfo na Rua Major Facundo uma das mais importantes do per metro central Na poca quase toda a cidade estava euf rica com a visita de Get lio Vargas veiculada em todos os jornais da urbe como um grande acontecimento at mesmo pelos matutinos que criticavam Get lio como ditador Portanto a cidade deveria estar bonita e enfeitada para transmitir uma boa imagem da administra o local Todavia Ontem cerca das 23 1 2 horas deu se um horr vel desastre do qual quase que perecem sem vida seis oper rios a servi o da Prefeitura Munici
88. abitar com a mis ria Enquanto isso de acordo com A Rua Fortaleza atravessa um per odo agitado de remodela es materiais Tudo por m n o passa de fantasia A verdade que os arredores da cidade vivem 7l As Migra es para Fortaleza Governo do Estado do Cear Secretaria de administra o do Estado Fortaleza fevereiro de 1967 P 63 72 Com a expuls o da popula o humilde da rea central da cidade e a intensifica o da taxa de crescimento urbano desenvolveram se as favelas que em breve seriam o alvo predileto dos regeneradores Sevcenko 2009 p 46 Esta cita o referente ao Rio de Janeiro no inicio do s culo XX Percebemos algumas semelhan as no que se refere afastar a popula o pobre do centro para as favelas Indicando um padr o na moderniza o das cidades brasileiras 105 as moscas Os menores vagabundos abandonados aos ensinamentos das ruas sem p o sem instru o e sem lar At a rede de gua e esgoto que nos custou um empr stimo onerosissimo a est emprest vel sem outra utilidade que n o o aborrecimento que nos vem causando todos os dias com a cabulosa falta d gua IDEM As favelas teriam neste sentido um car ter funcional e n o ocasional Seriam elas a moradias dos pobres e no caso de Fortaleza dos retirantes que adentravam a capital no per odo da seca de 1932 As reformas materiais para essa popula o seriam fantasias como expressa o peri dico por m sem dias d
89. acial em outras palavras tentou se buscar uma acumula o de capital a partir da reforma do centro da cidade tentando mitigar as contradi es internas de um capitalismo perif rico Ent o no Cear os investimentos se processaram em duas frentes distintas 1 recursos para constru o de a udes po os profundos e estradas de rodagem no interior 2 recursos para melhoramentos do centro e constru o do porto na capital O que nos interessa aqui compreender como se deu a constru o do segundo aspecto ou seja como ocorreu o processo de urbaniza o de Fortaleza e suas nuances No entanto reconhecemos que a urbaniza o n o um processo nico integral e universalmente semelhante mas que assumia formas e significados distintos de acordo com as condi es hist ricas econ micas sociais e culturais OLIVEN 1982 P 27 citando Lewis E as reformas na capital continuavam Por m a insatisfa o de alguns peri dicos com a administra o municipal tamb m Como podemos observar em rela o mudan a das novas placas e dos n meros das ruas A prefeitura no desejo iconoclasta de tudo reformar desta terra resolveu mudar as placas dos n meros das casas da cidade Ao tempo da administra o do Sr Godolfredo Maciel o assunto mereceu o cuidado do chefe municipal e a coloca o do nosso n mero se processou de forma r pida e pr tica Presentemente o servi o n o corresponde necessidade do meio Em vez de substitu
90. agem de dunas constru o de pra as Fortaleza foi dotada de um novo sistema de numera o considerada no discurso oficial como mais adequada ao aspecto de cidade moderna Atrav s do Decreto municipal n 75 de 31 de dezembro de 1932 modificou e normalizou a nomenclatura das ruas e logradouros p blicos da cidade at ent o incongruentes desordenada e falha Em conseq ncia foram colocadas e substitu das in meras placas e iniciado o servi o de numera o dos pr dios j tendo sido apostos mais de 18 000 n meros Desta forma a cidade passou por diversas reformas infraestruturais para torn la mais moderna ou seja mais apta a desenvolver o capitalismo Mudou se at mesmo o sistema de limpeza p blica que foram substitu dos por auto caminh es convenientemente adaptados as velhas carro as que desde tempos imemoriais faziam transporte do lixo domiciliar Desta maneira o servi o hoje feito com rapidez e efici ncia sem aquele aspecto moroso e antiquado 28 Idem Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 297 42 O Estado interventoria e governo municipal vai substituindo todos os aspectos mais rurais de conv vio da sua cidade O logradouro cada vez mais vai ganhando um aspecto urbano apesar de parte da popula o que habita ainda ser rural H nesse momento como diria Lefebvre um processo de urbaniza
91. agens desej veis existem outros personagens deste cen rio Eles s o ao mesmo tempo objeto de um discurso burgu s e como tal enquadrado segundo sua tica e Idem p 54 e 55 55 tamb m protagonista e construtores de outras imagens sobre a cidade PESAVENTO 1994 p 140 e 141 Em Fortaleza a partir da seca de 1932 a realidade n o muito diferente S o as classes abastadas que mais se beneficiam da modernidade e urbaniza o de Fortaleza Por exemplo as principais obras de urbaniza o saneamento aterramento s o realizadas no centro da cidade e a grande massa de retirantes n o vai ter acesso nem vai usufruir da urbaniza o da cidade Por m essa popula o de retirantes n o era passiva nesse processo de transforma o da cidade Eles se organizavam questionavam o governo e faziam saques de mercadorias for ando assim a burguesia e o governo a cederem as suas press es Nesse sentido os retirantes enquanto sujeitos coletivos tamb m s o protagonistas da cidade como j foi apontado no primeiro t pico chegavam a incomodar a paz urbana das elites e amea ar a quebra da ordem Consequentemente sendo eles o flagelo da elite que era obrigada a conviver com essa popula o que lotava a cidade a partir da seca de 1932 Mis ria e luxo coexistiam n o como um antagonismo indissol vel mais como fruto de uma modernidade paradoxal e excludente Contudo nos per odos de secas como a de 1932 int
92. al medo era a organiza o desses flagelados saqueando invadindo a cidade questionando a ordem vigente era seu pior flagelo Neste sentido ela se reveste de um discurso de modernidade e progresso para justificar o seu apartheid social que no contexto da seca de 1932 se reverbera num alijamento socioespacial onde o centro de Fortaleza passa a ser remodelado para atender aos interesses do governo das elites e da circula o de capital 1 2 A seca n o se isola do mundo muito menos o retirante A seca de 1932 n o pode ser compreendida como um processo isolado mas como um processo articulado envolvendo interesses estruturas e sujeitos n o apenas locais mas tamb m nacionais e internacionais Portanto outros acontecimentos al m dos campos de concentra o fizeram da seca de 1932 um cen rio de intensos conflitos O mundo na d cada de trinta estava passando pela maior crise que o sistema capitalista j tinha experimentado afetando a economia de quase todos os pa ses Para Eric Hobsbawm esse per odo conhecido como A Grande Depress o criou condi es objetivas para a queda dos regimes federais na Europa e principalmente na Am rica Latina favorecendo o surgimento de estados centralizadores que interviessem mais na economia A depress o n o levou automaticamente suspens o ou aboli o da democracia representativa como tamb m evidente pelas conseqii ncias pol ticas dos EUA New Deal de Roosevelt e
93. aleza na poca pois l se encontravam os equipamentos de lazer e cultura frequentados majoritariamente pelo p blico mais abastado Centro comercial por excel ncia no quadro daquela urbs est localizado o movimento chic de armarinho miudezas assim como se acha instalado os cinemas elegantes os caf s e as confeitarias de primeira ordem desta capital Todos s o contribuintes do Estado e Munic pio Todos concorrem para o progresso material do Cear Deviam por isso mesmo merecer dos poderes p blicos um pouco mais de considera o um pouco mais de respeito Infelizmente nossos homens p blicos com rar ssima exce o cuidam que o dever do povo pagar tributo e acatar sem turgir nem mugir as ordens emanadas do alto o que acontece presentemente entre n s Al m da poeira produzida pelo trabalho da tritura o do cimento em pleno dia a prefeitura manda fazer a varri o daquele trecho em plena as 3 horas da tarde Em fortaleza o Chefe da Edilidade sente um prazer sat nico em cobrir de poeira os transeuntes e propriet rios da Pra a do Ferreira terra pra ter sorte IBIDEM 19 10 1933 p 01 As cr ticas em rela o pra a no sentido de ela estar sendo constantemente coberta de poeira de reformas intermin veis da picareta da prefeitura n o parar de funcionar naquele local s confirma a nossa hip tese do escopo da urbaniza o da prefeitura Os caf s armarinhos padarias teatros e cinema
94. amb m objetivo do servi o de assist ncia cuidar dos enfermos e dos acidentados Essa popula o de acidentados poderiam ser os tais oper rios do IFOCS visto que os servi os dentro dos campos de concentra o exigiriam menos riscos de acidentes sem falar que somando a popula o dos dois campos de concentra o de Fortaleza n o davam uma quantia t o volumosa que necessitasse de uma estrutura para acidentados E se eram a maioria oper ria do IFOCS que se acidentavam provavelmente n o eram engenheiros e outros oper rios especializados pois al m de seus trabalhos oferecerem menos riscos n o seria conveniente que eles se tratassem nos servi os de assist ncia m dica dedicada aos flagelados por mais que a propaganda do governo sobre a estrutura do servi o fosse boa Ainda podemos extrair da fonte a articula o da Interventoria com a Cruz Vermelha com o Ministro Jos Am rico de Almeida em busca de movimentar recursos de ambas as partes para manuten o do controle dos retirantes claro que esse relat rio trata se de uma propaganda da administra o do Interventor Federal Roberto Carneiro Mendon a o que indica alguns exageros n o obstante dar para percebermos como o aparato de controle social na seca de 1932 foi exacerbadamente superior s anteriores sendo dotadas de hospitais farm cias controle de estat stica leitos destinados s crian as e verbas de ambos os governos Se compararmos por exemplo com a seca
95. ana dos moradores da cidade Segundo o jornal O Povo a concentra o de retirantes nesses campos era dividida da seguinte maneira 6 507 em Ipu 1 800 em fortaleza 4 542 em Quixeramobim 16 221 em Senador Pompeu 28 658 em Cari s e 16 200 no Crato perfazendo um total de 73 918 flagelados O POVO 30 06 1932 De acordo com Rios 2001 p 54 depois dos meses iniciais e turbulentos abril e maio muitos flagelados n o mais chegaram capital porque ficaram presos nos campos do interior importante ressaltar que o sucesso da estrat gia do governo de manter os retirantes no interior foi parcial Pois se compararmos por exemplo a quantidade de ra o distribu da em Fortaleza em junho de 1932 m s da not cia ou seja logo ap s os meses turbulentos de abril e maio veremos que a ra o distribu da era de 46 794 J em outubro do mesmo ano aumentou para 63 803 chegando a 160 508 em janeiro do ano seguinte 3 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a Arquivo P blico do estado do Cear p 320 24 Esse aumento substancial dos alimentos distribu dos mostra que tamb m houve crescimento na popula o dos campos nesse per odo N o era interesse ao governo gastar mais do que o necess rio na alimenta o dos retirantes muito menos deix los robustos e mal acostumados com um banquete t o vultoso Portanto a tentativa de manter os retirantes no interior n o foi
96. ara esta pesquisa o fato da modernidade ser compreendida como paradoxal e contradit ria Pois a forma o do espa o urbano de fortaleza a partir da seca de 1932 vai ser permeada de in meras contradi es sendo necess rio analis las num cabedal te rico heterog neo para que possamos entender a constru o de Fortaleza de maneira plural onde intervieram variados sujeitos A modernidade une a esp cie humana Por m uma unidade paradoxal uma unidade de desunidade ela nos despeja a todos num turbilh o de permanente desintegra o e mudan a de luta e contradi o de ambig idade P4 e ang stia Ser moderno ser parte de um universo em que como disse Marx tudo o que s lido desmancha no ar BERMAN 1998 p 15 Berman faz uma diferencia o entre modernidade moderniza o e modernismo Sendo moderniza o grosso modo a introdu o de novas tecnologias equipamentos aplica o de novas ci ncias industrializa o da produ o forma o de m o de obra assalariada explos o demogr fica diminui o do tempo de lazer em detrimento do tempo de trabalho etc E a modernidade a experi ncia que apreende essas transforma es na esfera dos sentidos Experi ncia que para o autor a sua maior caracter stica o car ter ef mero desse processo Portanto em que medida podemos dizer que existia a modernidade em Fortaleza Em nossa opini o existia tanto um projeto de modernidade quanto um proj
97. ara que as classes abastadas e setores cc capitalistas legitimem se como sujeitos do processo criando discursos como a moderniza o de Fortaleza foi realizada pela elite o governo do Raimundo Gir o urbanizou Fortaleza dentre outros Uma parte da historiografia do Cear legitima Adolfo Hebster Silva Paulet Nestor Figueiredo sujeitos criadores da cidade como se um processo complexo como a constru o de uma cidade se resumisse a um conjunto de ideias e ou projetos frutos da intelectualidade de uma pl iade Ou como se a modernidade fosse o sujeito criador da cidade obliterando os atores sociais concretos Consideramos isso um tipo de idealismo no qual se criam ideias e depois se verifica na pr tica o que se efetivou delas A nossa preocupa o vem no sentido oposto de tentar enxergar os sujeitos construtores do espa o urbano de Fortaleza numa 30 Existem basicamente tr s tipos de idealismo metaf sico tico e hist rico Entendemos esta cita o como sendo um tipo de idealismo hist rico O idealismo hist rico entende as id ias ou a consci ncia como os agentes fundamentais ou nicos da transforma o hist rica BOTTOMORE Tom Dicion rio do Pensamento Marsista 2 Ed Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1983 p 183 43 perspectiva mais abrangente onde participaram v rios atores como retirantes classes abastadas governos popula o pobre etc Por m a propaganda sobre as melhorias d
98. as determinadas pelo crescimento da cidade as modifica es que acima aludi conveni ncia enfim de disciplinar esse crescimento poder ser atendida gradativamente sem disp ndios extraordin rios e onerosos pela pr pria Secretaria de Obras e Via o da prefeitura Toda quest o est naturalmente em aparelhar esse departamento de recursos necess rios provendo o dos meios para a elabora o desse plano o que se deve ir fazendo gradualmente a medida das reais necessidades de Fortaleza de acordo mesmo com a mentalidade ambiente e na propor o o que essencial dos recursos econ micos normais do munic pio O NORDESTE 12 07 1933 p 01 Existiam portanto dois projetos de controle do crescimento da cidade Um projeto elaborado por Nestor Figueiredo que pensava numa reforma mais radical de investimentos mais vultosos para uma reforma geral da urbe E num sentido diametralmente oposto o plano defendido pelo conselho consultivo que deveria ser executado pela pr pria Secretaria de Obras do Munic pio tendo como prioridade mudan as gradativas de acordo com os recursos econ micos do Estado em outras palavras sem gastar muito dinheiro com as reformas Por m o que havia de similar em ambos os projetos era o reconhecimento de disciplinar o crescimento urbano A cidade tinha que ser apreendida por uma racionalidade instrumental n o poderia ser deixada ao fluxo espont neo da desordem provocada pelo c aumento
99. avam mais t o esperan osos de receber viveres ou qualquer outra ajuda da iniciativa privada Agora isso ficava a cargo do Estado que controlava a economia Por decreto n 796 de 17 de outubro de 1932 foi criada em substitui o ao comiss rio de alimenta o a comiss o de abastecimento p blico que ficou incubada da fiscaliza o de todo o territ rio do Estado Com a cria o da comiss o de abastecimento p blico todo comerciante ficou impossibilitado de reter g neros aliment cios em seus estabelecimentos ou dep sitos com o intuito de provocar eleva o de pre os Aqueles que 1 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a Arquivo P blico do estado do Cear P 65 29 tentassem infringir n o foram poucos os infratores seria condenado a multar de 500 000 a 1 000 000 e ao dobro nas reincid ncias Neste sentido o governo estava agindo de forma mais centralizada controlando at mesmo as oscila es nos pre os dos alimentos Isso reflexo da nova conjuntura pol tica onde houve o definhamento das oligarquias em detrimento do Estado centralizador O governo efetivou o combate seca atrav s da articula o dos seus rg os que no caso s o IFOCS Inspetoria de Obras Contra a Seca Interventoria Federal que tem a frente o Interventor Roberto Carneiro de Mendon a e Minist rio de Via o e obras p blicas dirigido pelo ministro Jos Am rico de Almeida Essa art
100. avam seu espa o f sico era habitada por uma popula o 53 majoritariamente rural que tinha costumes h bitos considerados pelos grupos dominantes como n o modernos Marshall Berman argumenta que perfeitamente poss vel pois ele compreende a modernidade enquanto contradit ria e paradoxal Para o autor dessa profunda dicotomia dessa sensa o de viver em dois mundos simultaneamente que emerge e se desdobra a id ia de modernismo e moderniza o BERMAN 1998 p 16 Por isso a cidade de Fortaleza pode ser compreendida a partir da divis o social dos seus grupos De um lado podemos enquadrar a elite representante dos governos a popula o c mais abastada de uma maneira geral com seus costumes h bitos estilo de vida locais espec ficos de moradia E do outro lado o resto da popula o pobre que n o era composta apenas de retirantes mas que a partir da seca de 1932 per odo que analisamos nesta pesquisa era a sua maioria Esses grupos apesar de separados socialmente culturalmente e at espacialmente faziam parte do todo que era a cidade de Fortaleza moderna e contradit ria ali s a moderna por ser contradit ria A cidade portanto n o pode ser analisada apenas no seu aspecto f sico mas a partir dos sujeitos que produzem seu espa o que habitam a cidade que vivem experi ncias concretas E tamb m dos discursos que s o produzidos sobre esses sujeitos e sobre a cidade Se observarmos por ex
101. ca bem maior do que na primeira rep blica sendo os contratos e em especial os de monop lios reavaliados Todavia a Companhia do g s fez ponto aos 25 de outubro de 1935 encerrando se assim a era do g s carb nico que durou 68 anos 1 m s e 8 dias NOGUEIRA 1980 p 31 Iniciou se ainda em 1934 a ilumina o el trica em algumas ruas come ando pela coloca o de algumas l mpadas na Pra a do Ferreira Mas determinados locais como o Alagadi o e a Praia de Iracema que na poca do g s n o tinham ilumina o continuaram sem ter com a implanta o dos fios el tricos corroborando o car ter excludente e desigual da urbaniza o de Fortaleza Fato que est provocando grande n mero de reclama es e queixas da popula o v m a ser falta de ilumina o el trica em certos trechos da cidade onde n o havia ilumina o a g s e por isso n o ter o luz el trica Temos um exemplo nos dois primeiros quarteir es da Avenida Imperador lado norte Pelo que sabemos a rede nova de luz el trica n o ser estendida naquele trecho O interesse da popula o requer uma solu o para o fato em apre o e tamb m para a escurid o das ruas que se acham nas trevas quase por toda cidade IBIDEM 29 12 1934 p 09 Neste sentido a popula o pobre que morava em bairros afastados do centro nos sub rbios e favelas da capital continuou sem luz tendo que restabelecer o seu contrato com a lua Na medida em que a
102. cas Fortaleza DNOCS 1983 132 HARVEY David A produ o capitalista do espa o 2 ed S o Paulo Annablume 2006 O trabalho o capital e o conflito de classes em torno do ambiente constru do nas sociedades capitalistas avan adas In Rev Espa o e Debates S o Paulo Cortez N 6 jun set 1982 Los l mites del capitalismo y la teor a marxista M xico Fondo de Cultura Econ mica 1990 T tulo original The Limits to Capital 1982 The urban experience Baltimore The John Hopkins University Press 1989 _ Condi o P s Moderna S o Paulo Edi es Loyola 1992 Espa os de esperan a S o Paulo Edi es Loyola 2004 O novo imperialismo S o Paulo Edi es Loyola 2012 reinven o da Geografia uma entrevista com os editores da New Left Review In A produ o capitalista do espa o S o Paulo Annablume 2005a p 17 40 geografia da acumula o capitalista uma reconstru o da teoria marxista 1975 In A produ o capitalista do espa o S o Paulo Annablume 2005a p 41 74 A teoria marxista do Estado 1976 In A produ o capitalista do espa o S o Paulo Annablume 2005a p 75 94 Ajuste espacial Hegel Von Thiinen e Marx 1981 In A produ o capitalista do espa o S o Paulo Annablume 2005a p 95 126 JAMESON Fredric Transforma es da imagem na p s modernidade In A cultura do dinheiro ensaios sobre a globaliza o Petr polis Vo
103. ci ncia determina o social do m todo S o Paulo Boitempo editorial 1999 Estrutura Social e Formas de Consci ncia II a dial tica da estrutura e da hist ria S o Paulo Boitempo Editorial 2011 MOURA Maria da Concei o de Almeida Terra e Seca o estado Capitalista exerc cios pr ticos Natal Cooperativa cultural UFRN 1989 135 MUMFORD Lewis A cidade na hist ria Suas origens transforma es e perspectivas S o Paulo Martins Fontes 1998 1 ed 1961 em ingl s 129 MUNUKATA Kazumi A legisla o trabalhista no Brasil 2 ed S o Paulo Brasiliense 1984 NEVES Frederico de castro A multid o e a Hist ria saques e outras a es de massa no Cear Rio de Janeiro Relume Dumar Get lio e a Seca Pol ticas emergenciais na Era Vargas In Revista Brasileira de Hist ria Org oOficial da Associa o Nacional de Hist ria S o Paulo ANPUH Humanitas Publica es Vol 20 n 40 2000 OLIVEIRA Elias Criminologia das multid es 2 ed S o Paulo Saraiva 1966 p 8 OLIVEIRA Manfredo A tica e sociabilidade S o Paulo Edi es Loyola 1993 dial tica marxiana enquanto unidade de entendimento e raz o a leitura de Ruy Fausto In OLIVEIRA M A Dial tica hoje S o Paulo Edi es Loyola 2004 OLIVEN Ruben George Urbaniza o e Mudan a Social no Brasil Petr polis Vozes 1982 PARENTE Eneida Seca Estado e mobiliza o camponesa a express o d
104. cial do Estado secret rio Estadual de administra o do governo Pl cido de Aderaldo Castelo Foi tamb m professor universit rio e participou efetivamente do grupo Cl Fizemos essa lac nica apresenta o para que possamos entender melhor o seu lugar social da fala Portanto entender melhor o seu discurso 54 seus costumes eram p ssimos Jogar cascas de bananas nas cal adas andar de p s descal os esfarrapados alimentarem se nas ruas etc A partir de uma representa o negativa sobre os retirantes podemos observar como se davam as contradi es entre os grupos sociais em Fortaleza onde os costumes dos retirantes se mostravam diametralmente opostos aos das elites A modernidade da Capital mostrava se deveras paradoxal Apesar dos costumes sociais que Fortaleza presenciava no inicio da d cada de 1930 como a seca de 1932 e a invas o de uma popula o de flagelados em seu territ rio havia em contrapartida a introdu o de novas tecnologias que animavam as classes abastadas que associava essas tecnologias ao desenvolvimento do progresso na capital Ainda em 1933 a t tulo de experi ncia em trecho da cidade se inaugurou a p blica ilumina o el trica denunciando se em conseqii ncia o contrato com a Cear G s cuja dura o se alonga por muitos anos entravando o nosso progresso ADERALDO 1974 p 55 A eletricidade se torna sin nimo de novo urbaniza o moderniza o em detrimento
105. cos N o atenderia as expectativas da popula o seria dispendiosa esteticamente n o aconselh vel e inoperante Em contrapartida sugere que o dinheiro gasto nessa reforma fosse aplicado nos bairros mais afastados do centro pois teria uma maior funcionalidade p blica Todavia o processo de urbaniza o de Fortaleza priorizou o centro sua art ria comercial mostrando uma tend ncia das cidades capitalistas em forma o inicial Reforma se logo o l cus do poder econ mico depois se pensa no resto De acordo com Juc 2003 existiam duas Fortaleza uma com infraestrutura e com conjunto de equipamentos modernos e outra composta de areais moradias sem saneamento onde habitavam as popula es mais pobres Juc defende essa ideia da dualidade da cidade relacionada ao per odo de 1945 60 N o obstante defendemos a tese que essa realidade se aplicava integralmente na d cada de 1930 principalmente ap s a seca de 1932 pois os bairros que eram mais pobres nessa poca como Arraial Moura Brasil Mocuripe Lagamar para citar alguns se confirmar o como os mais pobres no per odo subsequente ou seja nas d cadas de 1940 a 1960 A g nese dessa urbaniza o desigual se materializa ainda na d cada de 1930 O cearense fez de Fortaleza a linda cidade cheia de alegria e de encantamento Deu lhe a impon ncia das ruas largas e sim tricas Deu lhe agora a pavimenta o a concreto Deu lhe tudo enfim que uma civilizada metr pole po
106. da R dio Clube Cear para a popula o que ali se encontrava A Coluna da Hora no entanto n o foi o primeiro rel gio da capital De acordo com artigo de Ant nio Theodorico da Costa publicado nO Nordeste 16 11 1934 p 01 e 04 J havia sido instalado em 1854 o rel gio da Catedral da S depois outro rel gio foi implantado no edif cio da Esta o Central e um terceiro com car ter oficial no pr dio da Intend ncia onde funcionava a Prefeitura na Rua Floriano Peixoto No ano de 1922 tamb m foi constru do outro na coluna do Redemptor na Prainha em comemora o independ ncia do Brasil Por conseguinte este breve hist rico sobre os rel gios da cidade mostra que a tentativa de estabelecer um padr o temporal j vinha ocorrendo desde o final do s culo XIX mas que ganha for a e se materializa de forma mais concreta na d cada de 1930 uma vez que n o se trata de um rel gio instalado numa igreja esta o ou rg o oficial do governo mas fincado na Pra a do Ferreira e como diriam alguns dos escritores da poca a maior art ria econ mica da capital Por m o projeto de remodelar a Pra a do Ferreira como l cus do centro comercial tamb m foi alvo de cr ticas de setores da imprensa Esse servi o que a prefeitura executa na Pra a do Ferreira ao que parece n o ter mais fim Est prejudicando a deus e o mundo A popula o que obrigada a transitar pela nossa principal art ria n o obstante todas as
107. da de 1930 levando em considera o a rela o centro periferia estudando como viviam os moradores dos bairros pobres para que se possa compreender uma din mica mais geral de urbaniza o e forma o da cidade na medida em que poder contribuir com o debate acerca de interpreta es j cristalizadas na historiografia cearense que mostram apenas um lado da modernidade geralmente associada aos grupos privilegiados Faz parte do of cio do historiador buscar fontes que permitam incessantemente revis es novas leituras e interpreta es do passado permitindo a din mica e a complexidade da narrativa historiogr fica Uma reflex o cara nossa disserta o a discuss o sobre modernidade numa perspectiva hist rica Muitos autores falaram de uma modernidade em Fortaleza na d cada de 1920 e 1930 Uma obra pioneira sobre o tema A Fortaleza Belle poque de Sebasti o Rog rio Pontes Consideramos essa obra um marco na historiografia cearense no sentido de levantar um debate sobre a modernidade no Cear Todavia as respostas a esse debate s o muitas vezes prec rias e unilaterais H na obra de Pontes 1999 uma hipervaloriza o das classes abastadas na constru o da modernidade de Fortaleza A popula o mais pobre analisada apenas como recept culo do processo como resultado das atitudes dessas classes A nossa pesquisa se projeta em outra dire o N o estamos querendo no entanto ir para o outro extremo de cons
108. das pra as estavam no topo da hierarquia e qualquer empresa deveria se adaptar a esse projeto O governo compreendia a import ncia de controlar os transportes como parte de um complexo social maior que ia desde o esquadrinhamento das ruas em tra ado xadrez para evitar barricadas e facilitar o tr fego de mercadorias e transeuntes at o isolamento e marginaliza o dos pobres em bairros afastados do per metro central Enquanto a Light ou qualquer outra empresa n o aceitassem as regras do jogo os preju zos s tenderiam a se elevar at a fal ncia Pois o Estado brasileiro com a ascens o de Get lio Vargas no poder 76 n o estava mais entregue a m o invis vel do mercado a experi ncia de 1929 foi muito educativa sobre os problemas que tal liberdade poderia causar mas trava se na poca de um Estado interventorial e que tudo queria controlar Percebemos a dimens o desse controle numa mat ria do Correio do Cear referente ao tr nsito de animais pela cidade Todos sabem que n o se pode contar com o abastecimento de gua do Aracape que falta desde as primeiras horas do dia at a noite E imprescind vel que se recorram aos vendedores ambulantes e se estes n o podem transitar com seus burricos como que vai ser A situa o pois desesperadora para os que ficam sem o precioso l quido do abastecimento p blico e n o podem comprar porque proibido animais transitarem pelas ruas cal adas a parale
109. das ruas reformar o seu cal amento dotando o per metro central da capital de uma infraestrutura urbana para o desenvolvimento do capitalismo Defendemos a tese que houve substancial investimento no circuito secund rio como um projeto racional do governo pois o mundo ainda enfrentava uma grande depress o e em momentos de crise investir na produ o de reformas na terra tende a valorizar o capital e gerar acumula o No caso do cear ainda tinha um incentivo a mais que era empregar a for a de trabalho dos retirantes proporcionando assim um maior controle da popula o de flagelados Este projeto desenvolveu se em dois vieses a constru o de a udes e estradas de rodagem no interior do Estado e a constru o de melhorias urbanas na capital investimentos no porto e estrada de ferro Percebemos com clareza nas mat rias dos jornais a necessidade da constru o do porto do Mucuripe pois n o por acaso que o governo constr i a estrada de ferro ligando o centro ao referido local A inten o obviamente era a de conectar as exporta es de mercadorias da via ferrovi ria com o setor naval o que Harvey 2006 chama de compress o espa o temporal ou seja diminuir o tempo que a mercadoria leva do produtor ao consumidor com o objetivo de baratear o pre o e potencializar o lucro Mesmo o leitor mais incauto em mat ria de economia pol tica saberia que todo setor capitalista seja o com rcio a ind stria ou a constru
110. de 1915 A destruidora seca de 1915 que chegou com surpresa para a administra o superior da Inspetoria veio demonstrar que os nossos conhecimentos proped uticos essenciais estrutura o racional de um controle s rio e eficiente s secas eram ainda tristemente deficientes Pretendia se suprir o trabalho de investiga o observa o e experimenta es com regulamentos burocr ticos que efetivamente nada adiantavam ao objeto visado SOBRINHO 1982 p 219 Thomaz Pompeu nos mostra como era deficiente o controle e o combate seca no ano de 1915 em detrimento da de 1932 Sem falar nas migra es para a capital que n o espec fica desta seca ou seja a elite tamb m se preocupou em atenuar os conflitos sociais utilizando o velho discurso dos servi os p blicos como sendo a salva o dos retirantes em secas anteriores O xodo se exacerba ante certas condi es cada vez mais s rias e a vaga dos retirantes que atingiam esta capital se tornava permanentemente e sempre 33 mais volumosa N o poss vel negar que tamb m concorria para isto um certo p nico de principio dificilmente justific vel N o aparecia servi o p blico e o c u continuava inclemente IDEM Apesar das migra es n o serem uma especificidade da seca de 1932 como notamos na cita o acima o que denota a peculiaridade desta seca sua rela o com o aprofundamento do processo de faveliza o da capital e com o p
111. de denotamos que o projeto do governo e dos capitalistas de Fortaleza transfigurava se numa dimens o bem mais ampla do que apenas reformas materiais mas mudan as na sociedade como um todo da a utiliza o ami de da palavra projeto no sentido de relativizar em que medida isso se efetivou 125 Optamos por analisar ainda na primeira parte o processo de urbaniza o da cidade por m nos apropriando como fonte primordial o relat rio do interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a A inten o era mostrar a limita o desse processo de urbaniza o limitando se algumas reformais materiais que atenderiam apenas uma pequena parte da popula o como por exemplo a pista de patina o e em contrapartida a ret rica do governo apresentando se como modernizador da capital Por isso tratamos de simulacro da urbaniza o no sentido de ser uma urbaniza o parcial e que n o alcan ava os arrabaldes da cidade A parte II da pesquisa foi dedicada ao centro com objetivo de apreender os diversos processos que constitu ram a produ o do espa o urbano Elencamos como elementos centrais 1 a seca 2 o papel do Estado 3 a luta entre os sujeitos pela disputa do espa o 4 e a acumula o de capital Neste ponto v lido assinalar o papel que o Estado exerceu na produ o do urbano Na medida em que Raimundo Gir o como prefeito articulou uma s rie de reformas que tinha como fulcro a moderniza o do centro amplia o
112. de Fortaleza expressavam em sua grande maioria os anseios das fra es capitalistas de desenvolvimento econ mico da cidade O porto fulgurava como uma panaceia trazendo a reden o dos flagelos da seca Mais no interior dos enunciados cintilavam seus interesses primordiais amplia o de novos canais de importa o e exporta o de mercadorias novas oportunidades de angariar recursos e de desenvolver o com rcio local Percebemos a conflu ncia visceral dessas falas quando o decreto sobre a constru o enfim assinado O presidente Get lio Vargas assinou ontem o decreto fazendo a entrega ao governo do Cear da import ncia correspondente a dois 2 ouro para a constru o do porto de Fortaleza subindo essa import ncia a quinze mil contos de r is Foi Tamb m assinado o decreto que transfere para o governo do Cear a constru o do porto IBIDEM 22 12 1933 p 01 O porto seria constru do com uma boa parte dos recursos oriundo do governo federal mas com a centraliza o administrativa do governo estadual Diferentemente de outras melhorias urbanas o porto conseguia agradar gregos e troianos N o se levantava uma voz dissonante para negar os benef cios de tal obra no m ximo se ouvia ru dos para criticar a demora de execu o das obras atrasos salariais ou discord ncia da localiza o geogr fica Em rela o localiza o geogr fica uma das teses que eram defendidas por um largo setor da imprensa
113. de im veis na capital tamb m estavam sintonizados em investir os seus recursos pr ximos s melhorias O governo por conseguinte deveria garantir o retorno dos investimentos como na Justificativa do engenheiro respons vel pelo porto Edgar Chermont disse nos que aquele local j que n o seria mais destinado ao porto destinar se no projeto que vai apresentar ao Sr interventor federal localiza o de um dep sito de infam veis de um porto a reo e tamb m para a organiza o da pesca O NORDESTE 26 12 1933 p 07 Em linguagem comum ele queria dizer o seguinte quem aplicou recurso naquele espa o poderia ficar tranquilo que o terreno seria valorizado de outra maneira Como observamos na continua o da mat ria do referido matutino O trecho da estrada de ferro est constru do admiravelmente O referido ramal deve ser aproveitado para uma linha suburbana Com essa aplica o os terrenos a margem da referida estrada de ferro se valorizariam e a cidade cresceria expandindo naquela zona IDEM N o h d vida da intr nseca rela o do projeto de urbaniza o do governo e os interesses dos capitalistas em rela o ao investimento no circuito secund rio e especula o imobili ria Portos aeroportos pontes ruas avenidas estradas de ferros ou seja investimentos em estruturas f sicas tinham que concatenar moderniza o da cidade e reparti o das fatias de lucros Todavia havia uma integra o ent
114. de isolamento fica ao lado das oficinas Tem tr s doentes de var ola sendo que dois j se acham em estado de convalescen a e v o ao banho de mar todas as madrugadas O mal da bexiga foi adquirido no pr prio hospital do Sr Pelon pois que os referidos doentes s o empregados de l O mais lament vel que as feses dos doentes s o atiradas no meio do caminho por onde transita o p blico o c mulo da falta de higiene O Sr Barca Pelon n o tem a menor considera o para com 300 oper rios que trabalham nas oficinas do Urubu IBIDEM 15 11 1933 p 03 A oficina do Urubu ficava afastada do centro da cidade por isso a prefeitura tratou de adaptar um local de isolamento dos doentes l N o havia preocupa o com a assepsia devido a sua distancia da cidade Engels descreve situa o semelhante em Manchester no que se refere ao trato com as doen as higiene e isolamentos dos oper rios A sociedade dissimulava suas partes vergonhosas suas fraquezas e seus v cios a loucura a prostitui o as doen as ela segregava em lugares malditos A sociedade burguesa dissimula ao contr rio aquilo que 112 ela vive em sua parte ativa e produtiva ENGELS apud LEFEBVRE 1999 la p 19 Para Engels era uma caracter stica das grandes cidades segregar os trabalhadores e a popula o pobre mesmo n o sendo um projeto totalmente racional Figura 5 Oficina do Urubu no ano de 1933 Foto do arquivo Nirez impo
115. de modernidade A prop sito da remessa Inspetoria Federal de Obras contra as Secas do cr dito de 30 000 contos para pagamento dos d bitos contra dos pela mesma Inspetoria O NORDESTE 07 02 1934 p 01 Esta mat ria do Nordeste mostra que os repasses do governo federal aconteciam com certa frequ ncia e os discursos com o intuito de atrair investimentos n o ecoavam no vazio Destarte O Povo tamb m utilizava suas reportagens para fazer propaganda do governo revolucion rio como se essa maior organiza o fosse devido boa vontade do presidente Get lio Vargas do Interventor Federal e do Ministro Jos Am rico Utilizando uma mat ria do pr prio jornal Podemos perceber quais eram os interesses em jogo 12 Idem 30 Passada a fase mais desfavor vel O Povo entrou na poca da agita o revolucionaria que teve o seu ep logo no movimento de outubro de 1930 Extremista de convic o Dem crito Rocha transformou o seu jornal na trincheira mais intensa dos revolucion rios cearenses o que lhe valeu persegui es continuadas do poder Com a vit ria da causa que abra ava O Povo embora passando a publicar o expediente do governo continuou a merecer a mais franca e dedicada simpatia p blica dada independ ncia que sempre presidiu a sua atua o O POVO 07 01 1932 Era o papel desse peri dico fazer propaganda do governo inclusive divulgar o seu expediente Mas a intensa preocupa o com a seca de 19
116. de os campos procuram a cada dia se cristalizar num espa o herm tico Nunca se defendeu tanto cada disciplina com o discurso da interdisciplinaridade N o foi esse o percurso tra ado por nossa pesquisa pelo menos n o o seu escopo Buscamos a interdisciplinaridade porque a rela o sujeito objeto assim o exigia Acreditamos que todo objeto de pesquisa por mais simples que seja se que isso poss vel n o monocausal e est imerso em uma totalidade maior do que a si mesmo Todavia pensamos que imposs vel ou pelo menos negligencia tentar compreender a produ o do espa o urbano de Fortaleza sem dialogar e criar conectivos com a ci ncia geogr fica que acumula um debate e um arsenal categorial muito mais preciso e rico do que a hist ria sobre a tem tica do espa o urbano Como pensar em teoria da hist ria sem refletir sobre filosofia E como pensar uma pesquisa sem levar em considera o a teoria Nas s bias palavras de Ar stegui 2006 p 24 o historiador escreve a Hist ria mas tamb m deve teorizar sobre ela quer dizer refletir e descobrir fundamentos gerais a respeito da natureza do hist rico e al m disso sobre o alcance explicativo do seu pr prio trabalho Sem teoria n o h avan o do conhecimento Defender a hist ria enquanto racional cr tica e como imposs vel de ser divorciada da teoria foi um dos anseios desta pesquisa Consciente de que no momento onde governa a desraz o e o imp rio dos sen
117. de proporcionar aos seus insaciados turistas Eis a cidade de Fortaleza Encantada Asseiada Faiscante de reformas materiais e est ticas 48 gr odio ig E vo iu Za Os colchetes indicam trechos que est o faltando no documento devido ao p ssimo estado de conserva o Optamos por conseguinte n o completar os espa os vazios pois n o h preju zo de sentido no texto e o documento respeitado na ntegra 64 o pano de boca do grande teatro da vida cearense A plateia gosta de aplaudir a representa o Desconhece entretanto a trag dia dolorosa que se passa por detr s dos bastidores A pobreza nos arredores da cidade vive a sua grande trag dia an nima Os homens p blicos nuncam penetraram a baiuca do vagabundo Acostumados ao conforto social jamais sentiram a ang stia dos que peregrinam noite e dia pelas ruas da cidade a procura de uma codea de p o A costureira que d o ltimo ponto da encomenda no atelier e espera tardinha de s bado o pequeno sal rio n o pode compreender o que seja felicidade O trabalhador da oficina e do campo exausto do cansa o e da desilus o n o encontra nenhum conforto no rega o da fam lia porque o governo n o lhe pagou a jornada semana Nas obras do Porto o governo n o paga os vencimentos dos oper rios A Inspetoria das Obras contra as Secas n o satisfaz ao pagamento dos seus fornecedores A cidade est cheia de flagelados a toda hora descem dos sert es ressequid
118. deve faz lo Sobrecarregando a companhia de maiores despesas que n o vai salvo medidas vexat rias que de certo n o h o de ser l muito aconselh veis IBIDEM 07 11 1933 p 01 Diametralmente do que se explanara no matutino acima pensamos que o prefeito sabia exatamente como andava a companhia o que justificava ainda mais as suas medidas antilucrativas para com a empresa Al m do mais o pr prio jornal j modificou o seu 15 discurso edulcorando um pouco a linguagem pois se a prefeitura que tirar os trilhos da Pra a do Ferreira deve faz lo mas sem acarretar um nus para empresa Por m era provavelmente esse nus o escopo de Raimundo Gir o A Light passou muito tempo sem investir em equipamentos novos e renova o da frota sem falar que trilhos n o combinavam com o projeto urban stico do governo A rela o de tens o da prefeitura com a companhia era bem mais complexa do que se supunham os peri dicos da poca pois representavam dois projetos antag nicos em v rias dimens es monop lio concorr ncia bondes auto nibus trilhos pavimenta o concreto e todas essas contradi es tinham como pano de fundo o projeto de moderniza o do Estado O que convergisse para o desenvolvimento do projeto seria mantido ao mesmo tempo em que os obst culos seriam extirpados do meio do caminho da modernidade No caso da Pra a do Ferreira cart o postal do projeto de urbaniza
119. diversas maneiras poss veis desde a propaganda do governo lucro da ind stria da constru o civil valoriza o do capital imobi rio at o controle social dos retirantes atrav s do trabalho Podemos perceber como a seca contribuiu para aumentar a quantidade de obras na cidade se observarmos o quadro abaixo que mostra a quantidade de meio fios que foram colocados na capital Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 294 41 Tabela 1 Ano Metros 1929 4 190 1930 4 726 1931 6 112 1932 11 909 1933 11 285 1934 5 790 Fonte Relat rio do Interventor federal Roberto Carneiro de Mendon a Arquivo P blico do Cear Se compararmos o tri nio anterior seca que foram constru dos 15 028 metros com o tri nio da seca que foram constru dos 28 984 metros houve portanto um aumento consider vel e a administra o Raimundo Gir o a partir de abril de 1932 ao assumir a prefeitura n o hesitou em considerar ser este resultado m rito de sua administra o Por m diversos elementos contribu ram para isso como a seca que atraiu recursos os retirantes servindo de for a de trabalho barata e volumosa o investimento de capital por parte de alguns capitalistas e a industrializa o de Fortaleza que estava mais desenvolvida Al m dos servi os de meios fios galerias de vaz o de guas pluviais terraplan
120. do a acumula o de capital o papel da seca e a luta entre os diversos setores envolvidos entendendo o espa o n o como recept culo de processos maiores mas como media o entre as estruturas e os sujeitos na perspectiva de uma produ o coletiva do espa o mas uma apropria o privada Em suma o espa o analisado como local de disputas que permearam e constru ram a cidade Palavras chave Modernidade Seca Espa o Urbano Favelas ABSTRACT This dissertation analyzes the production of space in Fortaleza at the onset of 1932 and in this way the process of urban development exploring the relation between the expansion of the shanty towns and the city center and the impact of the drought I argue that this process reflects the consolidation of socio spatial inequality as a process of urban renewal which on one hand drew on the use of modern equipment while on the other hand relied on the exploration and social exclusion of migrant workers drawn to the capital city as a result of the drought In this sense the project of modernization put forth by the city s administrators and economic elites survives in a constant dialectical tension between the center and the shanty towns the center driven by a well planned rational project of urban development the latter driven by the desperate search for a place to live Likewise my research seeks to understand the role and influence political actors and their relation to the ongoing proj
121. do governo com a oposi o Uma das lacunas do documento que na maioria das vezes ele mostrava as obras j acabadas n o destacando assim o seu processo de produ o N o obstante com as compara es estabelecidas na pesquisa com as diversas fontes pensamos ser essa lacuna suprimida Abordamos tamb m em nossa pesquisa a an lise do relat rio do IFOCS instituto de obras contra a seca Este relat rio nos forneceu um panorama geral das obras e melhoramentos que foram realizados no interior do Estado durante o per odo perscrutado Foi fundamental para perceber o projeto dos governos municipal e federal em investir em dois setores diferentes do circuito secund rio No interior o investimento ocorreu principalmente na constru o de a udes em terrenos particulares estradas de rodagem po os e po os profundos E na capital em melhorias urbanas no sentido geral esses documentos selecionados e pesquisados s demonstraram ter sentido na medida em que nos ajudou a esclarecer a produ o do espa o urbano de Fortaleza permanecendo v lido o velho axioma que nos foi transmitido que sem documento n o h hist ria muito menos h documento sem uma problem tica anterior que o defina Sendo importante compreender as media es entre as teorias e as fontes LAPA 1980 p 32 Por fim analisaremos a produ o do espa o urbano na sua din mica procurando encontrar os conectivos que o moldaram na intera o entre a seca
122. do Gir o Nessa perspectiva nem a seca nem os retirantes se isolam de um processo global portanto do mundo 5 necess rio fazer uma corre o sobre a favela do Lagamar A cita o do Silva 1992 foi extra da do documento organizado pelo governo do Estado intitulado migra es para Fortaleza em 1967 O problema que no referido documento a favela do Lagamar datada de 1953 e n o 1933 como mostra Silva O debate do in cio da favela n o uma quest o menor Diferentemente do Mucuripe Pirambu Arraial Moura Brasil que em 1933 j eram favelas com razo vel n mero de moradores o Lagamar come a a constituir as primeiras habita es ap s a seca como demonstra o depoimento da Maria Lagamar A favela do Lagamar surge em 1933 momento em que estava sendo constru da a BR 116 no antigo caminho de Messejana acesso para quem vinha do sul centro e sudeste do Estado O terreno era irregular e alagado e foi sendo ocupado por retirantes da seca Aqui era s lama mato e espin Eu cavei um buraco formou um olho d gua que era um amor A que foi chegando gente diz dona Maria Cust dio da Silva a Maria Lagamar uma das primeiras moradoras do local em depoimento ao pesquisador Luiz T vora T vora 0000 p 0 Segundo a moradora o pr prio nome do bairro adv m dela A quest o que se os primeiros habitantes do Lagamar come am a chegar no local em 1933 n o podemos dizer que ali j se encontrava um favela Isso demo
123. do velho antigo e insuport vel g s carb nico Outra inova o para a cidade na poca foi a primeira transmiss o a r dio realizada na inaugura o da Coluna da Hora representando dois marcos simb licos que denotavam a cidade de progresso e moderniza o No dia da inaugura o da coluna 31 de dezembro de 1933 foi realizado nos est dios da casa Dummar futura PRE 9 ent o nos altos da atual sede da CIMAIPINTO a primeira transmiss o radiof nica no Cear para aparelhos receptores fixados no referido monumento do centro da Pra a a n o mais de 200 metros de dist ncia Mas que progresso para poca IDEM 1974 p 54 e 55 O ano seguinte em 1934 vai ser inaugurado primeira radio do Estado do Cear a Cear Radio Clube PRE 9 que significava ent o para a ascendente burguesia urbana de Fortaleza que a capital estava se modernizando e em constante progresso Sandra Jatahy Pesavento ao analisar as caracter sticas da ascendente burguesia urbana que crescia em boa parte das capitais brasileiras devido ao desenvolvimento do capitalismo argumentou para ela principal ator do espet culo da cidade que esta se transforma Parques jardins cal amentos boa luz seguran a Lojas com vitrinas iluminadas caf com espelhos cinemas e teatros O palco est armado para que a burguesia desempenhe a performance desejada Entretanto por mais que o novo imagin rio urbano se povoe de figuras e im
124. e 1932 confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica P 147 e 192 51 Almanach Administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear para o ano de 1934 confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica P 187 e 188 66 ressaltar que houve um aumento de investimentos dos governos Municipal e Federal no setor de constru o e melhoramentos de ruas mesmo num momento cr tico e t nue que o Pa s estava passando devido crise de 1929 Por que os investimentos n o diminu ram substancialmente visto que o capitalismo enfrentava a maior de suas crises Ou ser que os investimentos migraram de um setor para o outro Harvey argumenta que as crises s o fases de intensa racionaliza o na transforma o e expans o geogr fica A dial tica interna da sociedade civil perpetuamente mitigada e reproduzida mediante o recurso constante do ajuste espacial HARVEY 2006 P 115 Defendemos nesse sentido que Fortaleza passou por um ajuste espacial no qual Raimundo Gir o encetou o momento para aplicar reformas no centro da cidade atraindo recursos desenvolvendo o setor secund rio e absorvendo a m o de obra dos retirantes que al m de ser barata gerava uma acumula o adicional de capital retirava os flagelados da ociosidade e do perigo do banditismo social O processo de urbaniza o de Fortaleza desta forma foi marcado por uma dial tica do ajuste esp
125. e carnaval A aus ncia de uma rede de saneamento e de abastecimento de gua nestas resid ncias seria um fator end geno ao processo de urbaniza o desigual que separa os centros das periferias N o de agora que a falta d gua desorganiza a vida da cidade Antes da canaliza o e do esgoto a capital cearense se abastecia d gua de cacimba Cada resid ncia particular ou p blica tinha um po o cacimba como vulgarmente conhecida entre n s Cada propriedade mais vasta tinha um possante catavento O servi o de higiene era incipiente As fossas fixas resolviam o problema com relativa economia Com o avan o da civiliza o Fortaleza inaugurou a sua rede de gua e esgoto De come o o Acarape fornecia gua vontade A cidade era bem servida Tudo finalmente corria bem O povo pagava uma taxa car ssima verdade em compensa o a linfa aracapense corria dia e noite pelos canos da rede irrigat ria Afim de combater o mosquito condutor da febre amarela a Higiene resolveu mandar fechar as cacimbas e desmontar os cataventos de Fortaleza A cidade cresceu Os jardins p blicos gastam milhares de litros d gua A pavimenta o a concreto da urbs consome outros milhares de litros Resultado falta gua aos habitantes desta capital IDEM 17 10 1933 p 03 O rio Acarape era fonte principal de abastecimento da cidade desde o governo Franco Rabelo O rio Acarape foi escolhido como reservat rio e sua gua enviada para exam
126. e de absorver a for a de trabalho excedente oriunda dos retirantes e atrair investimentos do governo federal para desenvolver a cidade e as fra es da classe capitalista Pois a an lise da morfologia espacial e as contradi es do ambiente constru do n o pode se resumir a uma explica o monocausal ou tratar de compreender aspectos isolados da estrutura urbana mas buscar compreender os elementos conectivos contituintes da realidade na din mica do processo hist rico Nesse sentido quatro elementos foram centrais para a constru o da forma espacial de Fortaleza 1 A acumula o de capital 2 O papel do Estado governo municipal governo federal e suas institui es 3 A luta de classe e a 4 A seca de 1932 Os aspectos supracitados s o fundamentais para a compreens o do desenvolvimento desigual de Fortaleza no per odo pois no modo de produ o capitalista o crescimento de uma 2 Lefebvre define as atividades de produ o no espa o em dois circuitos prim rio e secund rio O circuito prim rio seria o respons vel para a produ o de mercadorias nas ind stria ou bens m veis de consumo geral J o circuito secund rio seria o respons veis pela produ o de bens im veis como a constru o civil de casas apartamentos pr dios comercias etc No ciruito secund rio atuaria de maneira hegem nica o capital imobili rio com especula o financeira tentando realizar a mais valia neste setor Para um aprofundamento d
127. e deste trabalho deve se ao seu carinho e dedica o E por fim aos autores que me fizeram refletir para al m da obviedade e do modismo acad mico Com eles aprendi a travar os combates da hist ria Pois hist ria n o jamais consenso pelo contr rio fissura de conceitos e debates de ideias De fato frequentemente a sociedade imp e sil ncios na hist ria E esses sil ncios s o t o hist ria quanto a hist ria Marc Ferro RESUMO O presente trabalho toma por escopo analisar a produ o do espa o urbano de Fortaleza a partir da seca de 1932 compreendendo a rela o entre seca centro e favelas como resultado de um desenvolvimento socioespacial desigual e combinado na medida em que o processo de remodela o do centro com introdu o de equipamentos modernos se efetivou a base da explora o e exclus o de uma camada da popula o que passou a habitar as periferias da capital contribuindo para acelerar o processo de faveliza o de Fortaleza Tamb m busca entender as nuances do projeto de modernidade e moderniza o do governo e das classes abastadas numa constante tens o dial tica entre o centro e as favelas onde o primeiro se erige baseado num projeto racional e bem planejado j o segundo se ergue sobre a l gica da necessidade dos que anseiam algum tipo de moradia A pesquisa tamb m almeja compreender os diversos sujeitos e elementos que se articularam nesta produ o como o papel do Esta
128. e do objeto e por escolhas metodol gicas n o iremos fazer uma an lise detalhada das epidemias endemias ou outras doen as que se desenvolveram no in cio da d cada de 1930 O nosso interesse na an lise mesmo que de maneira tangencial perceber a rela o dessas doen as com os bairros pobres da capital com o que chamamos de outra cidade 74 A partir de 1933 surge uma nova era na sa de p blica do Cear com as a es desenvolvidas pelo grande sanitarista Am lcar Barca Pellon ao implantar a estrutura distrital institu da pelo Decreto n 1 013 de 09 de maio de 1933 ficando conhecida como a reforma Pellon uma verdadeira revolu o administrativa no mbito da sa de p blica estadual Essa forma zelosa de cuidar da sa de p blica para controlar e prevenir alarmantes surtos epid micos que ceifavam vidas e deixavam grandes segielas na popula o foi adquirindo propor es significativas com o passar dos anos Gadelha 2006 108 bairros pobres sem infraestrutura urbana e o desenvolvimento de endemias A higiene da popula o j se tornara objeto de preocupa o do Estado desde final do s culo XIX e in cio do s culo XX criando concep es sobre o que seria salutar e insalubre ou seja na tentativa de padronizar costumes e valores que a popula o deveria reproduzir no seu dia a dia Uma quest o pol mica no per odo era concernente ao isolamento dos enfermos Qual seria a postura adequada tratar
129. e em condi es de moradia sub humana A forma o das primeiras favelas da capital data de Estrada de Ferro 1954 Cercado do Z Padre 1930 Mucuripe 1933 Varjota 1945 Meireles 1950 Lagamar 1953 Morro do z Ouro 1940 Graviola 1940 e Papequinho 1950 revelam qu o recente o crescimento 2568 exagerado da capital do Estado al m de outros bairros populares como o Pirambu em 7 470 5 A E 1932 e o Arraial Moura Brasil no final do s culo XIX Esses bairros cresceram de maneira desordenada trazendo na sua forma o um conjunto de mazelas sociais como doen as 8 As Migra es para Fortaleza Governo do Estado do Cear Secretaria de administra o do Estado Fortaleza fevereiro de 1967 P 54 A forma o do maior bairro popular de Fortaleza Pirambu data de 1932 outras secas determinaram o seu crescimento e tamb m o avan o do mar sobre a praia de Iracema desalojando os moradores que buscaram outras paragens As Migra es para Fortaleza Governo do Estado do Cear Secretaria de administra o do Estado Fortaleza fevereiro de 1967 P 54 70 Entre os trilhos beira da praia e o alto da encosta surgira um grupo de casas dispersas escondidas da cidade pela Esta o Ferrovi ria Essas casas constam da planta de 1888 sob a denomina o de Arraial Moura Brasil Certamente constitu am a mais antiga forma de pr favelamento que a cidade conheceu isto se considerarmos que
130. e faveliza o Neste sentido os setores abastados e o governo exerceram um processo de moderniza o num claro apartheid centro favela e as reformas materiais priorizaram o desenvolvimento do com rcio e da acumula o de capital Em linguagem comum gostar amos de dizer que o processo de produ o do espa o urbano de Fortaleza se desenvolveria de maneira desigual independente da seca O que torna a an lise da seca importante e que d a ela um status de peculiaridade na forma o do espa o o fato dela colocar novos atores sociais no anfiteatro da urbaniza o e de novos discursos serem constru dos sobre o seu teto A seca influenciou como realidade s cio material e tamb m como discurso para atrair recursos do governo federal e acelerar o processo de moderniza o do centro Tamb m consideramos necess rio esclarecer a utiliza o em alguns momentos do conceito de modernidade ao inv s de moderniza o Entendemos Modernidade como sendo bem mais amplo do que moderniza o pois moderniza o grosso modo seria a introdu o de novos equipamentos m quinas e reformas materiais no espa o urbano J a modernidade dialogando com Berman seriam as experi ncias ambientais da sociedade como um todo indicando n o apenas mudan as materiais que incorpora a moderniza o mais mudan as nos valores costumes rela o da popula o com o tempo ou seja um projeto mais global Portanto quando nos referimos modernida
131. e foi dirigida a ele foi de n o dar o mesmo tratamento ao gado do Matadouro Modelo que alimentava a maioria da popula o O cuidado com a sa de assim como a urbaniza o era um processo desigual Como no caso da Lagoa do Tauape que al m da polui o da gua era um constante foco de mosquitos E enquanto isso as doen as se propagavam nas periferias da capital Como por exemplo a lepra O Cear est infestado de doentes do mal de Hansen disseminado em todo o quadrante do Estado e nas pr prias fronteiras urbanas de Fortaleza Em diversos pontos do interior e nas ruas da capital mesmos nos lugares mais frequentados s o observados diversos desses infelizes a esmolarem a caridade p blica N o tem rem dios rf os de qualquer assist ncia imploram um pouco de p o Enquanto assistimos de nossas portas esse espet culo doloroso o Sr Diretor da Sa de passeava o seu riso a sua displic ncia e quem sabe a fugacidade de sua ventura em luxuosos carros pela ruas de Fortaleza E n o aparece uma provid ncia Os que habitam o 110 Lepros rio quando tem qualquer recurso fogem e vem contaminar os rebentos sadios da fam lia Os novos os que perambulam pela cidade n o v o para o ref gio maldito porque o miser vel hospital vive desprovido de tudo sem higiene sem conforto sem gua sem assist ncia m dica e amanh talvez sem alimenta o que j hoje precar ssima IBIDEM 28 09 1933 p
132. e pensar em 250 000 habitantes sem levar em considera o a realidade financeira do munic pio No contrato ficaram acordados que a prefeitura pagaria o valor de 120 0008 ao engenheiro em cinco presta es Al m do valor da obra em si que pela vultuosidade do projeto envolvendo desde arboriza es a separa o de bairros n o se podia ter um n mero preciso do gasto Uma cr tica mais contundente analisava os principais problemas sociais da cidade destacando os como prioridade em detrimento de um projeto que al m de custar caro para a popula o n o resolveria as dificuldades dos que mais necessitavam de urbaniza o STA popula o do Brasil no ano de 1933 foi estimada em 43 340 000 habitantes tendo o Estado do Cear 1 800 000 e Fortaleza 126 000 a s tima cidade mais populosa na poca Almanach Administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear para o ano de 1934 confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica P 30 No ano de 1934 a popula o de fortaleza teve um ligeiro aumento passando para 133 066 tornado se a oitava cidade mais populosa Almanach Administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear para o ano de 1935 confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica P 140 144 Portanto o projeto se balizava num crescimento futuro da cidade 98 Fortaleza uma cidade que s tem apar ncia N o tem por exemplo uma rede de
133. e por Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro que a aprovou como sendo de boa qualidade desde que fervida e tratada por ozone Ponte 1999 p 50 N o obstante o rio manteve se como fonte principal de abastecimento nos governos posteriores com poucas reformas at a d cada de 1930 A cidade cresceu sua popula o multiplicou se e as reformas no sistema de abastecimento n o acompanharam esse crescimento N o implica dizer como atesta o matutino acima que se deveria voltar para o abastecimento de cacimbas e cataventos obviamente bem mais prec rio e com maior risco de salubridade O que podemos apreender dessa cita o fora essa ret rica nost lgica que o abastecimento d gua priorizou as reformas dos jardins pra as a remodela o da cidade no sentido geral do que o atendimento aos anseios da popula o pobre O estado n o neutro muito menos seus governantes O 106 Estado capitalista enquanto vari vel complexa constitu do por diversos segmentos sociais atua de diversas formas muitas vezes de forma contradit ria como reflexo dos grupos de poder que o comp e ou mesmo como resultado do conflito de classes na sociedade capitalista PEREIRA 2008 p 426 Naquele momento o abastecimento das casas hospital da Santa Casa e de outros edif cios p blicos tiveram seus servi os prejudicados Por m as obras permaneceram ininterruptas A Santa Casa de Miseric rdia h meses que se abastece com gua de cacimba
134. e tomar banho destarte percebemos a assimetria no processo de urbaniza o de Fortaleza na medida em que a rede de gua e esgoto atendia apenas a uma pequena parcela da popula o A maioria dos habitantes deveria se virar com um jumento isso na possibilidade de possuir um Ontem a cidade amanheceu seca Pelos sub rbios a gua do Aracape n o correu A canaliza o de Fortaleza um n mero de aborrecimentos para as fam lias da terra Parece uma com dia americana da Sunshine De manh tem gua A tarde n o tem No dia seguinte falta gua de manh E a noite depois que a cidade est dormindo aparece um chorinho do l quido aracapense O pior de tudo que no fim de cada semestre a Fazenda do 104 Estado manda cobrar ao propriet rio da casa o pagamento pela a gua que ficou no Aracape Todo dia surge um jardim p blico Todo dia a prefeitura arranja um servi o novo Para o trabalho da pavimenta o a concreto na Pra a do Ferreira a prefeitura colocou duas possantes caixas d gua nas imedia es dos servi os Ao povo pode faltar gua Pode faltar o conforto e o asseio pouco importa IBIDEM 16 09 1933 p 03 O problema da falta d gua n o era exclusivo da Messejana O pr prio sistema de abastecimento era prec rio e irregular n o atendendo os bairros mais afastados do per metro central Mesmo na d cada de 1960 trinta anos ap s o per odo de nossa pesquisa a rede de abastecimento de
135. ect of urban renewal the role of the State the process of wealth accumulation the impact of the drought and the struggle of competing sectors of society Axiomatic to this process it is important to understand space as a process of mediation between agency and structures which is collectively produced and appropriated by private interests space in this context is analyzed as a place where conflict permeates the process of urban expansion Key Words Modernity Drought Urban Space Shanty town SUM RIO a IN LOCU O saia E E E 1 Primeira parte Seca e Modernidade ccceeceeeereeerereeeserecereecesorocesorocessooeessoneosso0000000 20 1 1 Cap tulo 1 Retirante o flagelo da elite ssesoosseessesocsscessescoescesseecoesocsscesoesocssesoesseesses 20 1 2 A seca n o se isola do mundo muito menos o retirante ccccccececeecerererecerereecceresa DD 1 3 Melhorias urbanas o simulacro da organiza o ccccseecereseererereresennesenecoees S 1 4 Fortaleza moderna contradi es antigas e sseesseesssossssesssesssesssoossoossosssssesssesesooses SD 2 Segunda parte Centro saias sda sas a scan idiaddO 2 1 Cap tulo 2 Fortaleza e a produ o capitalista do espa o urbano riqueza e mis ria dois lados da mesma moeda saia ceseateneia ci feiieoiprc asas seara cernd ssostni toos esos sooroo esso O 2 2 O centro e a dial tica da moderniza o esssscssoesesocsce
136. eguinte a forma o do centro e das favelas foi resultado de intensos processos de lutas e disputas pelo poder na cidade Preconizando Gottidiener 1993 os lugares e formas n o produzem a si mesmo mas s o resultados de processos envolvendo pessoas numa rede de organiza o social Os espa os de produ o de opul ncia e mis ria s podem ser entendidos no seu contexto hist rico E no caso de Fortaleza envolveu tanto um projeto excludente de modernidade e moderniza o de acordo com Mandel 1982 faz parte da perspectiva do capital trabalhar espacialmente para fabricar desigualdades geogr ficas entre centro e periferias de modo desigual tanto como a luta por moradia dos retirantes e das pessoas pobres que constitu am o espa o urbano de Fortaleza O espa o est sempre em disputa CONSIDERA ES FINAIS Hoje como ontem s a raz o cr tica porque seu meio vital nega o de toda a facticidade e o irracionalismo sempre conformista pois seu modo de funcionar exclui o trabalho do conceito S rgio Paulo Rouanet Os caminhos trilhados por essa pesquisa foram tortuosos e s vezes desesperadores Por m n o podemos dizer que n o resultou de nossas escolhas A primeira delas foi tentar estabelecer um di logo interdisciplinar com outras reas especialmente com a geografia e a filosofia A interdisciplinaridade n o foi buscada por ser palavra da moda mesmo porque hodiernamente ela s ecoa como ret rica vazia on
137. em outras palavras tudo pode ser ideologia ent o ela n o nada Em contra partida entendemos ideologia da forma como Lukacs a desenvolveu Como ve culo de conscientiza o e pr via idea o da pr tica social dos homens a ideologia antes de tudo uma forma de elabora o ideal da realidade que serve para tornar a pr tica social dos homens conscientes e operativa Lukacs 2010 p 38 Ester Vaisman 1989 Nesta acep o que compreendemos o car ter ideol gico do Estado e seus representantes em Fortaleza e seus discursos sobre a cidade 78 Para um debate sobre o car ter contradit rio do Estado ver Canoy 1994 Gottdiener 1993 Para uma an lise do papel do Estado na acumula o de capital Harvey 2005 115 Podemos analisar a diferen a entre o modo como Barca Pelon exp e as atividades do rec m inaugurado Centro de Sa de pr dio moderno e luxuoso para a poca e a cr tica do vespertino O programa bem desenvolvido Os dispens rios tomam o vasto aspecto de um eficiente trabalho de assist ncia m dico social Temos assim a assist ncia pr natal para mulheres gr vidas A assist ncia infantil pr escolar e escolar Na s filis doen as ven reas e boubas o hor rio ficou assim determinado para os homens segundas quartas e sextas feiras para as mulheres ter a quinta e s bados O tratamento de tuberculose tamb m mereceu o cuidado do Departamento de Higiene IBIDEM 26 09
138. em que medida foi fruto da do acaso e da desordem S o quest es que trazemos para o na perspectiva de trilhar um caminho para al m do bvio No cap tulo 3 abordaremos o outro lado da cidade Os espa os das periferias sub rbios e favelas com o objetivo de esmiu ar a l gica da sua produ o e sua rela o com o centro Centro e favelas s o encarados como dois momentos de um nico processo dois lados de uma mesma moeda A urbaniza o de Fortaleza se desenvolve de maneira desigual e combinada com um projeto de moderniza o e afastamento dos problemas sociais para as periferias da cidade O campo de concentra o do Urubu torna se uma oficina de trabalho para a popula o de flagelados e espa o de abrigo dos doentes de var ola tuberculose lepra etc H uma reforma na sa de implantada pelo diretor do Departamento de Higiene Almicar Barca Pelon Todavia uma reforma com diversas contradi es sem dialogar com a popula o pobre escolhendo uma via autocr tica Os pobres passam a ser identificados como os doentes em potencial sendo transferido para locais s vezes sem infraestrutura como a oficina do Urubu A cidade mostra nesse cap tulo o seu car ter dual como se fosse duas cidades distintas Por m na verdade foi parte de um projeto de exclus o que visava desenvolver o centro no seu aspecto comercial e capitalista e expulsar a mis ria para as zonas afastadas 3 i y y S o 3 x Es Analisaremos o conceito de c
139. emplo a constru o de Fortaleza como fruto da elabora o de Adolfo Hebster Nestor Figueiredo Silva Paulet engenheiros e arquitetos que projetaram uma no o de cidade A cidade a nosso ver muito mais complexa que isso A cidade n o simples condi o objetiva da vida Na medida em que sup e condi es de dire o e gest o e envolve interesses e necessidades diversas produto das contradi es de classe Assim o espa o produzido atrav s das lutas que ocorrem na cidade Carlos 1997 p 08 Compreender a cidade como fruto das contradi es de classe fundamental para perceber como o centro de Fortaleza foi formado de um modo pensado as ruas em tra ado xadrez as liga es das avenidas centrais ao porto a introdu o de uma s rie de equipamentos modernos ao mesmo tempo em que se tratou de excluir uma parte da popula o para espa os marginalizados afastados da urbaniza o em favelas como o Lagamar Mucuripe Arraial Moura Brasil Pirambu etc A transforma o do espa o no caso da cidade de Fortaleza na d cada de 1930 em termos mais amplos reflete uma disputa pelo poder uma disputa de classes sociais Os retirantes e a popula o pobre de maneira geral constru ram essas favelas n o porque gostassem de habitar espa os miser veis sem urbaniza o saneamento b sico etc N o se trata do que eles queriam e sonhavam para eles e suas fam lias mas o pequeno campo de possibilidade concreto que
140. emplo o discurso do cronista Mozart 39 Suas dos Soriano Aderaldo numa cr nica do livro Hist ria Abreviada de Fortaleza referente a Fortaleza moderna poderemos perceber sua vis o acerca dos retirantes da modernidade e as contradi es que a permeavam Se assim procediam as chamadas elites o que n o dizer da massa dos habitantes de nossos sub rbios Levas de emigrantes em conseq ncia das secas constroem favelas em seu derredor e trazem para a cidade problemas sociais os mais variados da prostitui o de infelizes mocinhas pobres ao biscatismo conseq ente da m o de obra n o qualificada Do costume de cuspir no p das paredes ao de alimentar se nas ruas e jogar nas cal adas as cascas se bananas manga e laranja ali mesmo consumidas Dos p s descal os roupa em trapos e mal lavada ADERALDO 1974 p 60 Apesar de a cr nica ter sido escrita posteriormente d cada de 1930 pois o livro n o 2 traz a data espec fica da cr nica muito importante para analisarmos como o autor representava os retirantes Segundo ele s o os emigrantes que traziam os problemas sociais para a cidade como a prostitui o o biscatismo m o de obra desqualificada sem falar que 3 Mozart Soriano Aderaldo apesar de ter nascido no Maranh o era descendente de uma tradicional fam lia cearense de Momba a Ocupou v rios cargos no governo chegando a ser prefeito de Senador Pompeu diretor da Imprensa Ofi
141. ensificavam se os conflitos e exacerbavam se as contradi es na capital Uma popula o de retirantes sem recursos materiais devido a uma s rie de fatores como concentra o de latif ndio no campo m distribui o de renda conflito de interesses entre classes sociais pol tica excludente do Estado dentre outros contribu a para aumentar a viol ncia na cidade A seca de 1932 entendida como fen meno social exacerbou a desigualdade e a exclus o tamb m sendo ela um fator objetivo para se compreender a constru o do espa o urbano de Fortaleza visto que nesse per odo que o centro da cidade remodelado Tamb m nesse per odo que se come a uma explos o demogr fica causada em parte pela seca em que os retirantes ir o lotar a cidade e junto com o resto da popula o pobre habitar as primeiras favelas da Capital O governo agora numa rela o de paternalismo estatal era obrigado a dar respostas aos anseios dessa nova popula o que chegava cidade As obras serviriam para dar trabalhos aos exclu dos por conseguinte ocup los e aproveitar uma m o de obra que estava em excesso J as favelas era uma forma das elites isolarem essa camada dos seus locais de moradia e lazer claro que no caso das favelas n o havia uma racionaliza o na constru o do seu espa o como havia nos bairros das elites Elas eram erigidas devido exclus o e necessidade que permeava a Fortaleza moderna O g
142. entara substancialmente Tamb m estava em quest o e o matutino aponta com sagacidade a ofusca o das melhorias realizadas nas administra es passadas pela administra o hodierna Cada Prefeito gostaria de deixar sua marca ou ganhar o t tulo de modernizador Raimundo Gir o n o era indiferente a esses anseios No entanto a destrui o do coreto e a introdu o da Coluna da Hora revelavam al m desses aspectos pol ticos uma tend ncia de uma cidade que se adaptava ao capitalismo n o apenas nos aspectos econ micos e pol ticos mas culturais e simb licos pois a Coluna da Hora representava uma no o espec fica de temporalidade o tempo do rel gio das horas de trabalho das atividades programadas por segundos minutos e horas em detrimento de uma temporalidade essencialmente campesina estigmatizada e norteada pela natureza O tempo do rel gio marca a imposi o de novos costumes de uma sociedade que est se industrializando e que precisa otimizar o tempo da produ o e circula o de mercadorias Por isso a constru o de um marco regulador se fazia urgente gt gt Para debate acerca da transi o do velho e do novo pautada na obra de Valter Benjamin ver Rouanet 2008 81 Pelo navio Sheridan chegaram a nossa capital os 8 volumes de que consta o material do novo rel gio a ser instalado na coluna erigida Pra a do Ferreira A remessa foi feita pela casa Byignton com matriz em S o Paulo e fi
143. er rios da I F O C S e os campos de concentra o compreendendo 18 postos 5 resid ncias sanit rias e 4 hospitais constru dos tamb m de se es matrizes de Dire o contabilidade farm cia almoxarifado e expedi o inclu da ainda a manten a de 80 leitos destinados s crian as retirantes Tinham os postos como objetivo os cuidados de preven o contra doen as contagiosas assist ncia m dica cir rgica a enfermos e acidentados a fiscaliza o dos g neros aliment cios o controle de estat stica vital e a propaganda e educa o sanit rias Mas essa fonte n o fala por si s sendo necess rio interpret la ou como diria Michel De Certeau 2007 temos que entender o lugar social da fala Todavia podemos perceber v rios elementos importantes a partir do discurso do Interventor Federal como o Estado chamava a responsabilidade do controle daquela popula o para si representando um momento pol tico onde a assist ncia privada tinha sido trocada pelo que Castro Neves chamou de um certo modelo paternalista de ordenamento das rela es sociais O Estado passa a interferir na economia para manter a ordem social que significava tamb m manter a ordem de mercado Al m das suas fun es policiais o Estado passaria a coordenar a distribui o de riquezas do Pa s atrav s de m todos racionais de distribui o de trabalho e controle social Outro elemento importante que podemos inferir da fala do inte
144. er pagos por esse mesmo povo Tudo isso ocorre agora em pleno e rigoroso ver o E quando chegar o inverno Temos necessariamente de encomendar algumas canoas se desejarmos transitar pela Pra a do Ferreira e rua Major Facundo A RUA 29 10 1933 p 09 O libelo acima critica a qualidade da pavimenta o destacando que o material utilizado na constru o era adulterado composto mais de areia do que de cimento E a culpa seria da prefeitura que n o fiscalizara as obras Diferentemente do relat rio apresentado pelo Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a que representou uma imagem edulcorada da remodela o de Fortaleza alguns peri dicos mostraram uma vis o diametralmente oposta esbo ando que foi um processo constitu do de diversas contradi es E as contradi es iam desde o p ssimo saneamento dos bairros pobres at precariedade do servi o de sa de prolifera o da mis ria nos areais ao redor da cidade aus ncia de local para cuidar dos mendigos propaga o de doen as como var ola lepra e alastrim aumento dos n meros de delitos aumento exponencial dos acidentes de tr nsito e de trabalho divorciamento socioespacial do centro periferia dentre outros antagonismos provenientes do processo de moderniza o de Fortaleza ou melhor das reformas materiais realizadas no per metro central Deixando os demais logradouros expostos sorte 71 O Sr Goverdador da cidade deveria lan a
145. es Mello 1 Modernidade 2 Seca 3 Espa o urbano Fortaleza CE 4 Favelas T tulo CDD 981 31 Universidade Estadual do Cear UECE CENTRO DE HUMANIDADES MESTRADO ACADEMICO EM HIST RIA ATA DA DEFESA DA DISSERTA O DO ALUNO RODRIGO CAVALCANTE DE ALMEIDA s 10h00min do dia 05 cinco de setembro de 2012 dois mil e doze no Curso de Mestrado Acad mico em Hist ria da Universidade Estadual do Cear a Comiss o Examinadora da disserta o para obten o de grau de Mestre apresentada pelo aluno Rodrigo Cavalcante de Almeida intitulada A MODERNIDADE E AS FAVELAS A PRODU O DO ESPA O URBANO DE FORTALEZA A PARTIR DA SECA DE 1932 em ato p blico ap s argui o feita de acordo com o Regimento do referido Curso decidiu conceder a mesma o conceito Anshi em resultado atribui o dos conceitos dos professores doutores William James Mello Orientador EEUU John David French EEUU e Gisafran Nazareno Mota Juc UECE Assinam tamb m a presente ata O Coordenador Prof Dr Altemar da Costa Muniz e o secret rio Adauto Rufino de Lima Neto para devidos efeitos legais Fortaleza 04 de setembro de 2012 Prof Dr late es bos helio Dr John David French ir A Prof Dr Altemar da Costa Muni Mrs ines Aee kn n Lima Nets Aos meus pais Le ncio Nunes de Almeida e Maria Gerlane Cavalcante de Almeida simplesmente por tudo AGRADECIMENTOS Este momento um dos mais gra
146. essa discu o ver LEFEBVRE 1999 GOTTDIENER 1993 e HARVEY 1981 43 Particurlamente o mesmo peda o de terra com seu m nimos melhoramentos de capital pode ser utilizado de maneiras muito diversas de tal modo que o espa o abstrato pulverizado apresenta possibilidades quase infinitas de valor de troca para a movimenta o da terra na sociedade Isto ao contr rio dos lucros oriundos do circuito prim rio a realiza o de valor na terra ocorre por causa da sua baixa composi o org nica de capital e por causa da facilidade com que pode ser transformada em usos alternativos e depois comercializada GOTTDIENER 1993 P 188 60 cidade acompanhado de desigualdades socio espacias Ao mesmo tempo em que as classes capitalistas acumulam riquezas e v o morar em bairros com uma maior infraestrutura urbana e equipamentos modernos aumenta a mis ria na classe trabalhadora expulsando os para as periferias N o se trata de uma caracter stica espec fica de Fortaleza mas como diria HILL 1977 p 47 A lei do desenvolvimento desigual refere se h uma tend ncia end mica do capitalismo para produzir tanto desemprego como emprego mis ria como riqueza subdesenvolvimento como desenvolvimento Trata se portanto da estrutura interna do capitalismo no qual a produ o do espa o se processa de maneira desigual Fortaleza n o foge a essa regra o crescimento do seu espa o urbano foi permeado de contradi es e de
147. estabelecer outro painel te rico categorial compreendendo o espa o na sua dimens o ontol gica Fortaleza na d cada de 1930 j apresentava ind cios de um desenvolvimento capitalista acentuado com amplia o das lojas produtos importados instala o de f bricas distribu das em diversos ramos como tecidos redes sab o leos aniagem mosaicos cal ados curtumes destila o e bebidas velas malas torrefa o de caf s gelo cigarros etc Sem falar no desenvolvimento dos transportes ferrovias e at a expans o do capital financeiro como observamos nessa mat ria do jornal A Rua Uma empresa cearense para constru es de casas Vendas as presta es Amparada por v rios capitalistas desta cidade projeta se para breve a funda o de uma empresa cearense para constru o de casas Essas constru es dado o estado econ mico de nosso povo ser o vendidas a presta es facilitando deste modo consideravelmente a solu o do problema da habita o com que por vezes nos vemos assoberbados V rios capitalistas da terra t m subscrito grande n meros de a es da empresa dando assim um grande impulso a sua breve instala o Por um acionista da novel sociedade nos foram gentilmente mostrados ont m os documentos constitutivos da funda o da mesma A RUA 28 08 1933 Em rela o a diversidade e ao n mero de f bricas e ind strias instaladas em Fortaleza j no in cio da d cada de 1930 Ver
148. etative review o the French Literature In C Booard et al eds Progress in Geography London Eduward Arnold 1980 The Urban Land Nexus and the State London Pion SEVCENKO Nicolau A Literatura como Miss o tens es sociais e cria o na primeira rep blica 2ed S o Paulo companhia das letras 2009 A urbaniza o brasileira 5a ed S o Paulo EDUSP 2005 SILVA FILHO Antonio Luiz Macedo e Imagens da Cidade Fortaleza Museu do Cear Secretaria da Cultura e Desporto do Cear 2002 Paisagens do Consumo Fortaleza no Tempo da Segunda Grande Guerra Fortaleza Museu do Cear Secretaria da Cultura e Desporto do Cear 2002 SILVA Jos B d Os incomodados n o se retiram Fortaleza Multigraf 1922 As contradi es do espa o da l gica formal l gica dial tica a prop sito do espa o In CARLOS Ana Fani et al org O espa o no fim do s culo a nova raridade S o Paulo Contexto 1999 SILVA William Ribeiro da Reflex es em torno do urbano no Brasil In org BELTR O SIMMEL Georg A metr pole e a vida mental In VELHO Ot vio Guilherme org O fen meno urbano 4 ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1979 1 Ed 1902 134 SINGER Paul Desenvolvimento econ mico e evolu o urbana an lise da evolu o econ mica de S o Paulo Blumenau Porto Alegre Belo Horizonte e Recife S o Paulo Editora Nacional 1974 Economia Pol tica da Urbaniza o S o Paulo Bras
149. eto de moderniza o por parte do Estado A quest o em que medida esses projetos foram aplicados inteiramente No cap tulo primeiro Retirantes o flagelo da elite e A seca n o se isola do mundo muito menos os retirantes analisaremos o papel que a seca e os retirantes cumpriram no processo de urbaniza o de Fortaleza no sentido em que ela serve como um catalisador das contradi es do urbano pois os retirantes que migraram para a capital no per odo foram em grande medida utilizados como m o de obra para realizar o projeto de moderniza o do governo ou seja remodelar quase todo o per metro central 16 2 A seca abordada como uma caracter stica importante para a compreens o da urbaniza o de Fortaleza na d cada de 1930 pois al m da m o de obra uma parte dos retirantes ir o se tornar moradores da cidade ampliando as favelas da capital No cap tulo segundo iremos tratar do processo de forma o do centro a dial tica da moderniza o e os elementos respons veis pela produ o do espa o urbano como um todo o cap tulo de maior f lego da pesquisa Consideramos como caracter stica formadora do espa o de fortaleza os seguintes elementos A seca a acumula o de capital as lutas dos sujeitos que habitaram o espa o e a interven o do Estado Iniciamos o cap tulo fazendo uma discuss o sobre as principais reformas realizadas no governo de Raimundo Gir o como abertura de ruas constru
150. etrar as rela es de 37 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 288 51 trabalho dessa popula o Pois Fortaleza estava se tornando uma sociedade industrial e era comum dessas sociedades industriais ser marcadas pela administra o do tempo e por uma clara demarca o entre o trabalho e a vida THOMPSON 1998 p 300 Deste modo o centro comercial de Fortaleza deveria dar o exemplo dessa nova temporalidade que era pautada nas rela es de mercado na produ o de mercadorias na urbaniza o da cidade que se tornava moderna numa uniformidade do tempo que agora n o era mais o tempo da natureza mas o tempo do rel gio mec nico sincronizado uniformizado estabelecendo uma dicotomia entre trabalho e vida Fortaleza estava passando por um processo de moderniza o que se refletia em v rios aspectos culturais econ micos pol ticos e sociais A mudan a na percep o temporal ou melhor a tentativa de se impor uma nova idiossincrasia por parte da burguesia e do governo apenas um dos elementos que comp em a modernidade de Fortaleza visto que essa modernidade complexa e permeada de paradoxo e contradi o Os retirantes eram utilizados para construir e remodelar por exemplo o espa o urbano da cidade Eram obrigados a morar em outros espa os que n o eram planejados de maneira racional mas a partir das necessidade
151. exponencial comparado ao ano de 1932 O movimento de importa o e exporta o de mercadorias corroborava a necessidade de se investir no setor secund rio de valoriza o do ambiente constru do Em um trecho do jornal A Rua excepcional enquanto s ntese da pol tica do governo relata que A estabilidade econ mica e financeira do Cear depender exclusivamente de duas a es t cnicas a constru o do porto de Fortaleza e o trabalho eficiente de a udagem Todo e qualquer 8o porto no mocuripe s come ou a ser constru do novamente a partir do ano de 1939 atrav s do decreto n 504 7 de julho de 1938 Voltando a ser localizado na enseada do Mocuripe e s foi completamente terminado em 1952 recebendo seu primeiro vapor em 1953 Portanto na d cada de 1930 fortaleza continuou com o antigo porto localizado pr ximo da regi o central onde hoje fica a Praia de Iracema 4 Segundo os dados oficias da guarda moria durante o ano de 1932 deram entrada no porto de Fortaleza 535 embarca es diversas com 952 816 toneladas de registro 27 683 homens de tripula o trazendo 149 378 toneladas de carga Saiu devidamente despachado igual n mero de embarca es levando deste Estado para os portos da Uni o e do estrangeiro 449 763 volumes pesando 2 911 toneladas Almanach Administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear para o ano de 1934 confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica
152. ficar localizado naquela vizinha enseada conforme resolu o ltima Torna se por m indispens vel o aproveitamento daquela via de transporte para liga o r pida do mocuripe com esta cidade Mesmo que n o se estabele a um servi o de trens suburbanos bem se poderia adotar o sistema de troler motor para tr nsito daqui aquele ponto t o procurado pelas fam lias para lugar de repouso Confiamos que o Sr ilustre interventor tomar a iniciativa de obter do governo federal uma concess o em favor dos interesses de nossa capital que com esse melhoramento contar um grande progresso IBIDEM 26 12 1933 p 04 Como podemos notar a racionalidade em rela o cidade imperava Se o porto n o seria mais constru do pr ximo estrada de ferro na enseada do mocuripe caberia ao interventor federal dotar aquele espa o de funcionalidade N o h margem para o acaso para obras erigidas de qualquer forma Todo local tem que ter um sentido principalmente se esse for lucrativo e valorizar o capital antes investido As melhorias urbanas sofriam j na poca intensa especula o imobili ria Os espa os eram urbanizados de maneira assim trica 92 desigual n o por acaso ou obra do destino mas porque fazia parte do jogo de interesses envolvidos na disputa do urbano Assim como os a udes no interior do Estado eram constru dos em terrenos de particulares valorizando suas respectivas propriedades os propriet rios
153. fologia espacial de Fortaleza na d cada de 1930 O fato do plano n o ter sido aplicado de uma vez como uma racionalidade matem tica que 101 tenta planificar e padronizar tudo n o retira a import ncia do sentido da urbaniza o que estava sendo implantada no per odo que tinha por objetivo efetuar mudan as espaciais para deixar tudo exatamente como estava a cidade era pensada como uma reta por m mesmo o Estado mais centralizado n o tinha o poder de definir quem andaria e entortaria essa reta TERCEIRA PARTE FAVELAS CAP TULO 3 3 O outro lado da cidade favelas doen as e outros problemas sociais A forma o do espa o urbano de Fortaleza foi permeada de contradi es e desigualdades sociais constituindo uma dial tica entre o centro e as periferias A seca apenas um elemento catalisador desse processo da a sua import ncia na an lise da urbaniza o de Fortaleza de uma maneira geral por conseguinte no momento em que o centro da capital passou por diversas transforma es alterando a sua tessitura urbana dotando o de equipamentos modernos de ruas com cal amento a concreto novas pra as cinemas teatros novos pr dios e clubes A periferia da cidade os seus bairros pobres na sua maioria afastada do centro sofreram neglig ncia por parte do Estado sendo erigido como explanado anteriormente na l gica da necessidade sem infraestrutura b sica em espa os salubres e impregnados de doen as
154. gua s abastecia cerca de 15 5 dos pr dios da cidade Torna se evidente o contraste da urbaniza o o seu car ter excludente e fara nico priorizando o embelezamento est tico da cidade em detrimento de reformas na infraestrutura nas periferias da cidade Fortaleza seguiu a esteira de um modelo j aplicado no Rio de Janeiro pois pode se afirmar que o crescimento das favelas ocorreu primordialmente como resultado das a es em prol da moderniza o e embelezamento da cidade MAIOLINO 2008 p 27 Raimundo Gir o e Carneiro de Mendon a nesta acep o foram suced neos de Pereira Passos Ambos queriam modernizar o centro e expulsar a popula o pobre para a margem Moderna bela e saneada uma Paris tropical a nova fei o da cidade inspirada na reforma urbana de Hausmman na capital francesa ainda no s culo XIX transformara o centro em lugar de luxo com suas ruas alargadas a constru o de magn ficos edif cios a introdu o de cal adas e de ilumina o p blica a reforma do porto IDEM 2008 p 27 Descontextualizada esta cita o parece fazer alus o a Fortaleza na d cada de 1930 por m refere se cidade do Rio de Janeiro no in cio do s culo XX As similitudes n o s o coincid ncias ou obras do acaso pelo contr rio revela o papel do Estado na constru o de ambas as cidades na perspectiva de implanta o do projeto de moderniza o que visava criar extremos O luxo n o poderia co
155. ia se adaptar sem nenhuma denega o Portanto al m de uma pavimenta o nova e esteticamente bonita a capital precisaria ter um sistema de transporte urbano novo e eficiente A mobilidade 73 urbana para usarmos uma express o hodierna foi um dos problemas da moderniza o de Tuas de 54 E Fortaleza protagonizando lutas tit nicas entre a prefeitura e Light empresa que exercia o monop lio do transporte na poca Uma dessas lutas ocorreu devido reforma da Pra a do Ferreira e a prefeitura no caso criou um decreto para retirar os trilhos da Ligth pois estaria atrapalhando a tal reforma e segundo o prefeito tamb m estava causando congestionamento no local Isto o c mulo E falta de senso pol tico O chefe do executivo municipal deve convir que os trilhos da Light n o podem ser removidos de um momento para o outro e ao sabor de um desejo pessoal da Pra a do Ferreira para outro qualquer ponto da cidade Quanto a recis o do contrato pilheria que n o vale a pena nem falar N s n o temos alcance para capital de t o arrojada empresa Salvo se desejamos voltar aos antigos bondes de burro A RUA 29 08 1933 p 03 O jornal A Rua como o ve culo que fazia oposi o aberta ao prefeito sai em defesa da empresa alegando arbitrariedade por parte de Raimundo Gir o que tinha amea ado romper o contrato com a Light caso ela n o retirasse os trilhos da Pra a do Ferreira Por m a problem tica er
156. icos da realidade os diversos sujeitos hist ricos envolvidos estabelecer hierarquias e compreender as media es dial ticas para obter uma vis o do todo No capitalismo o crescimento econ mico como Marx o nomeia usualmente um processo de contradi es internas que frequentemente irrompe sob a forma de crises HARVEY 2001 P 42 s Em rela o utiliza o da dial tica enquanto m todo de an lise tivemos acesso h uma pequena parte da literatura que trata do assunto Ver KOFLER 2010 Kosik 1986 Goldmann 1978 1979 Lima 1997 Raniere 2011 Giannotti 1985 2000 Marx 1985 2011 Luk cs 2010 Hegel 2011 Lefebvre 1995 Mesz ros 2009 2011 61 utiliza o do m todo dial tico que segundo Kofler a conex o dial tica se distingue por sua capacidade para reconhecer e seguir o movimento interior constitutivo da ess ncia dos fen menos e para avan ar da superf cie ao n cleo anterior do fen meno KOFLER 2010 P 212 Neste sentido o pensamento dial tico se rege pela unidade em que os fen menos aparecem como elementos dial ticos funcionais de uma totalidade ordenada segundo determinadas leis IDEM 2010 p 198 Traduzindo para a morfologia do espa o urbano de Fortaleza apesar dele aparecer como ca tico e desordenado podemos compreender a sua forma o a unidade dos contr rios na forma o do centro no qual o velho e o novo se relacionam numa tens o pe
157. icula o se concretiza atrav s do departamento de secas Podemos perceber essa rela o atrav s de uma mat ria do jornal O Povo cujo t tulo era Plano de socorro s v timas da seca A mat ria dizia o seguinte O ministro Jos Am rico de Almeida conferenciou com o presidente Get lio Vargas sobre a situa o dos nordestinos que est o morrendo de fome Nessa conferencia o titular da varia o exp s os planos apresentados pelo inspetor geral de obras contra as secas em relat rio sendo um dos alvitres sugeridos remessas diretas de g neros aliment cios aos flagelados por interm dio dos estados que ser o providos de recursos fornecidos pela Uni o cabendo ao Minist rio da Via o fornecer gratuitamente o transporte necess rio pelo navio do lorde Brasileiro sendo esse o nico meio de serem socorridos as popula es visto como n o h possibilidade de atacar de uma vez as obras contra as secas O doutor Jos Am rico determinou o in cio das obras de maior urg ncia que custar o 5 mil contos de r is Tendo o presidente Get lio Vargas aprovado essa delibera o O POVO 21 01 1932 Nitidamente havia uma maior articula o e tamb m uma maior preocupa o em rela o seca de 1932 Esta situa o de tens o foi aproveitada pelas classes abastadas que frequentemente clamavam pela urg ncia de obras p blicas conseguindo atrair cada vez mais recursos do governo federal para implanta o do seu projeto
158. idad o IBIDEM 11 11 1933 p 03 A moderniza o de Fortaleza foi balizada numa s rie de contradi es onde o luxo coexistiu com a mis ria e o problema da gua se manteve uma constante nos bairros perif ricos da capital Todavia a cidade vai se configurando numa polariza o crescente medida que a popula o aumentava pois como explanamos em cap tulo anterior os campos de concentra o obtiveram resultado parcial as favelas tamb m se alastravam e junto com elas 107 um conjunto de mazelas sociais que a popula o abastada da capital lutava para manter afastada e isolada do seu conv vio Apesar das medidas profil ticas da Higiene a catapora est assolando nesta capital Alguns casos foram registrados no hospital da Santa Casa De acordo com o regulamento da Higiene a diretoria do hospital comunicou se com o Departamento de Sa de afim de o mesmo providenciar a respeito H tr s dias que tal se verificou e somente ontem a Higiene mandou conduzir a sua ambul ncia para o Piramb quatro doentes Ficaram no hospital esperando pela boa vontade do bem organizado e moderno servi o de assist ncia alguns cataporentos O Diretor do formid vel estabelecimento de Sa de h dias inaugurado com requintado aparato n o deve ficar de bra os cruzados gozando a fama e os louros da vida f cil M os a obra colaboradores do Centro de S ude IBIDEM 21 09 1933 p 03 As doen as tamb m fizeram parte
159. iderar a modernidade como resultado apenas dos trabalhadores popula o pobre e retirantes Assim estar amos cometendo o mesmo erro de observar apenas um lado de uma realidade multifacetada e n o enxergar amos a totalidade do processo a articula o das partes na forma o de um todo contradit rio e ao mesmo tempo coerente mas compreender o projeto de modernidade do governo e setores capitalistas numa perspectiva heterog nea e n o monol tica neste contexto que a discuss o sobre o tipo de modernidade e moderniza o que ocorreu em Fortaleza no in cio da d cada de 1930 torna se importante Em que sentido se pode chamar de modernidade Existe diferen a entre modernidade e moderniza o Para a discuss o do conceito de modernidade nos ancoramos nas contribui es de Fredric Jameson 15 Renato Ortiz Perry Anderson Henri Lefebvre e especialmente Alex Callinicos e Marshall Berman Entendemos a d cada de 1930 em fortaleza como componente de um processo mais amplo de transforma es econ micas pol ticas culturais e sociais das sociedades capitalistas Essas transforma es visavam criar inova es tecnol gicas estimular o desenvolvimento econ mico expandir conex es de mercados locais nacionais e internacionais fazendo com que seus habitantes experimentassem mudan as s vezes vertiginosas criando uma atmosfera de efemeridade e inova o constante Por m o que mais importante no conceito de modernidade p
160. iliense 1977 SOBRINHO Tom s Pompeu Hist rias das Secas s culo XX Fortaleza Batista Fontenele 1982 SOJA Edward Geografias p s modernas a reafirma o do espa o na teoria social cr tica S o Paulo Zahar 1993 137 SOUZA Simone de Da revolu o de 30 ao estado novo In org Uma Nova Hist ria do Cear Edi es Dem crito Rocha 2000 SPOSITO Maria Encarna o amp WHITACKER Arthur Magon Cidade e Campo rela es e contradi es entre urbano e rural 1 ed S o Paulo Express o Popular 2006 A urbaniza o da sociedade reflex es para um debate sobre as novas formas espaciais In CARLOS Ana Fani et al org O espa o no fim do s culo a nova raridade S o Paulo Contexto 1999 THEOPHILO Rodolpho Hist ria da Seca do Cear 1877 1888 Rio de Janeiro Imprensa Inglesa 1922 A seca de 1915 2 ed Fortaleza Imprensa Universit ria UFC 1980 A seca de 1919 Rio de Janeiro Imprensa Inglesa 1922 THOMPSON E P Costumes em comum S o Paulo Companhia das letras 1998 La sociedad Inglesa Del siglo XVIII Luchas de cases sin clases In Tradici n revuelte y consi ncia de classe 3 ed Barcelona Editorial critica 1989 A forma o da classe operaria inglesa Vol 1 3 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 A Mis ria da Teoria ou um planet rio de erros uma critica ao pensamento de Althuser Zahar Editores S A 1981 VELOSO Ursulino Dantas O Nordeste
161. ir a placa velha pela nova a edilidade atrapalha o servi o mandando pintar na parede dos edif cios um n mero provis rio 52 Ver Relat rio do IFOCS 67 para o mesmo ser substitu do depois pela placa efetiva O funcion rio postal encarregado pela distribui o de cartas e jornais encontra s ria dificuldade para normalizar o servi o Ficando tamb m prejudicado o particular que n o recebeu com regularidade a sua correspond ncia Urge uma reforma contra a reforma Reformar para melhor v l Para pior melhor deixar a coisa como estava IDEM 17 08 1933 P 03 Qualquer altera o no cotidiano na normalidade da rotina di ria era criticada pela maioria dos peri dicos da poca A mudan a dos n meros das casas foi o prosc nio de disputas quase hom ricas pois a efemeridade dos nomes e n meros al m de dificultar o servi o postal regular transfigurava a identidade dos lugares A cr tica geralmente vinha de forma comparativa com administra es pret ritas no caso dessa mat ria do jornal A Rua elogiava a forma como Godolfredo Maciel tinha executado a mudan a dos n meros das ruas de forma pr tica e efetiva Enquanto isso as ruas do centro iam sendo reformadas mas nem sempre da maneira que o governo gostaria Como o desabamento do aterro da Pra a General Tib rcio noticiada pelo Correio do Cear como Servi o mal feito Em consequ ncia da torrencial chuva desta manh veio a des
162. ircuito secund rio no cap tulo 2 da disserta o 18 Observamos nesse cap tulo o crescimento do crime que aos poucos se toma organizado e a associa o da criminalidade confus es falta de saneamento aos bairros pobres Locais como Mucuripe Tauape Alto da Balan a Morro do croata e principalmente o Arraial Mouro Brasil come am estampar as p ginas policias dos jornais da cidade A popula o pobre da capital pela especula o imobili ria e altos pre os do centro s o tangenciadas para as periferias e favelas morando a grande maioria em condi es sub humanas sem nenhuma infraestrutura urbana A contradi o que essas popula es das favelas que come am a ser associadas ao crime prostitui o e outras mazelas tomam o centro como escopo dos seus delitos Pois o local onde se concentram as riquezas da cidade Cria se uma situa o paradoxal O governo e as classes abastadas expulsam a mis ria do seu per metro de moradia com o objetivo de isol la Por m ao marginalizar aprofundam se as condi es de mis ria e delingu ncia que retornam para suas adjac ncias atrav s de roubos furtos e crimes de maneira geral Da a complexidade da produ o do espa o urbano por maior que seja a tentativa do Estado e dos setores capitalistas em criar uma racionalidade instrumental que tente abarcar todo o urbano A realidade se mostra sempre subversiva e abre margem para novas possibilidades A cidade sempre ser
163. isciplina de trabalho capitalista Sendo muito interessante fazer uma analogia das sociedades industriais inglesas e de Fortaleza na d cada de 30 no que tange numa tentativa de controle mais racional do tempo 52 modificado a partir dos grupos que o habitam pois bairros mais modestos v o se formando pr ximos s linhas de trem que estavam surgindo Isto ocorreu provavelmente devido s estrat gias do governo de controlar as levas de retirantes que chegavam capital pelos trens e l j se instalavam em campos de concentra o ou fora deles construindo as embrion rias favelas Tamb m se instalavam pr ximos s ind strias pois seriam eles os oper rios sem falar que ficariam distantes dos grupos mais abastados que n o gostavam de ter flagelados como vizinhos Neste sentido as forma es dos bairros de Fortaleza est o intrinsecamente ligadas s Ox diferen as sociais dos grupos que o habitavam Assim a moderniza o de Fortaleza excludente pois s uma parte da popula o usufrui da sua urbaniza o e tamb m contradit ria pois a maioria da popula o da cidade de origem rural ou seja n o moderna E interessante percebermos o choque que havia entre os retirantes e a elite fortalezense que lutava para transformar Fortaleza numa cidade moderna com uma popula o hegemonicamente rural mesmo na poca em que se fixam as primeiras grandes levas de imigrantes rurais trazidas pela seca de
164. ivo Tamb m foram solicitados cat logos e pre os de rel gios europeus atrav s das firmas Alfredo Salgado Gradovhl amp Fils Dumar amp Cia e Ant nio Fiusa contudo tamb m resultou em nada Ap s esses impasses foi criada outra comiss o composta pelo dr Ernesto Pouchain e pelos relojoeiros Abilio Silva e Milton Muratori para julgar a licita o mais vantajosa em rela o ao rel gio A comiss o aprovou a proposta da firma Bryngton Co que tinha filial em Recife pois apresentou o menor pre o garantindo entregar o rel gio todo montado pela quantia de 20 contos de r is Depois foi aberta outra licita o para saber qual a empresa que iria construir a Coluna Apresentaram se dois concorrentes dr Ant nio Urbano de Almeida e o Sr Covis Janja aquele prontificando se a edific la por 29 300 e estes por 28 6908 Como estava fixado no or amento municipal n o ultrapassar a referida constru o de 25 contos condicionou a proposta vencedora a uma redu o de pre o IDEM 01 09 1933 p 05 19 Isso foi aceito pelo senhor Janja todavia a hist ria do rel gio e da coluna tinha apenas come ado A primeira pol mica acerca da constru o da Coluna ocorreu devido ao coreto que existia na Pra a o qual nunca conseguiu agradar gregos e troianos Havia aqueles que defendiam sua import ncia hist rica e pol tica pois ele era frequentemente utilizado para proferir discursos sobre a cidade problemas sociais ou mesmo
165. jeto de urbaniza o que rogava pelo desenvolvimento da cidade numa antinomia centro favelas para expulsar a popula o pobre e os doentes para a margem da sociedade Todavia a mudan a do processo de urbaniza o tamb m ocorreu simultaneamente com as transforma es das rela es de trabalho Neste sentido essas rela es foram deixando de ser baseadas no tempo natureza relativo a uma paisagem buc lica e rural tendo que se adaptar ao tempo cronometrado do rel gio Ali s n o s as rela es de trabalho mas todo o 35 Analisaremos a oficina do Urubu com mais detalhes no cap tulo terceiro 49 cotidiano dos trabalhadores passou a ser regulamentado pelo tempo da ind stria do com rcio e do capitalismo Em suma compreendemos a cidade e o espa o urbano de uma maneira geral como sendo produto e condi o de uma mir ade de rela es sociais A cidade de Fortaleza nesse aspecto analisada atrav s dos conflitos que a constitu ram Desta forma percebemos o car ter contradit rio da sua urbaniza o que privilegiou o centro e os bairros nobres e acelerou o crescimento das periferias e favelas 1 4 Fortaleza moderna contradi es antigas As sociedades modernas representam uma ruptura radical com o estado natural das sociedades tradicionais Alex Callinicos Um elemento importante para compreendermos de maneira geral como a cidade de Fortaleza modificou o seu espa o urbano a partir da
166. lep pedo ou a concreto Se se permite que animais puxando carro as com rodas de borracha penetrem nas ruas porque impedir o tr nsito deles s porque n o est o atrelados a um ve culo A Avenida Jo o Pessoa cal ada a concreto em toda a extens o do Benfica a Porangaba Entretanto por ali transitam sem proibi o nenhuma animais de toda a esp cie sem que dali resulte qualquer dano ao cal amento Reflita bem o Sr Prefeito sobre os embara os que essa medida ocasiona ao com rcio e a popula o em geral e ver que conv m revog la em bem do p blico e para maior simpatia da administra o municipal CORREIO DO CEARA 04 10 1934 p 01 A prefeitura proibiu os animais transitarem em algumas ruas do centro da cidade que foram cal adas a paralelep pedo ou a concreto alegando que poderia danificar o material do cal amento Sendo que boa parte do abastecimento de gua venda de diversos produtos como frutas e outros g neros de primeira necessidade ainda eram realizado por ambulantes conduzindo as mercadorias nos animais A contradi o aumenta quando o peri dico cita que da Avenida Jo o Pessoa a Porangaba os animais transitam sem nenhuma fiscaliza o e mesmo assim n o causaram dano algum no concreto Na verdade o que podemos inferir dessa medida da prefeitura que ela queria afastar os animais do per metro central escopo principal da moderniza o l cus do com rcio e anfiteatro do desenvolvimento pois como
167. lial em Recife sendo o rel gio fabricado pela Westing House E U da Am rica O rel gio como j do conhecimento p blico ser movido a eletricidade com 4 faces e dispositivos autom ticos para darem a corda necess ria Esta regulada por meio de pesos que ser o levantados quando preciso pelo maquinismo autom tico Desta maneira a interven o que se requer apenas em ordem a lubrifica o e limpeza e ao bom andamento dos motores A fortaleza dever chegar brevemente de avi o o Dr Hermes barroso de Lima da filial Byignton do Recife e que se vem encarregar da montagem do rel gio O NORDESTE 29 11 1933 p 4 e 5 O rel gio apresentado como o mais moderno poss vel n o sendo quase necess rio trabalho humano para regular salvo em mat ria de limpeza e manuten o trazendo caracter sticas que s o sin nimos dos discursos da moderniza o como movido eletricidade constitu do de dispositivos autom ticos sendo ainda todo o material importado dos Estados Unidos O rel gio era um s mbolo moderno em v rias acep es Em primeiro lugar representava a instala o de uma nova temporalidade industrial urbana afastando se do tempo da natureza materializado no campo E em segundo lugar o pr prio rel gio em si j era moderno na sua composi o f sica De acordo com O Nordeste o rel gio custou 20 000 000 sem os impostos que teriam sido dispensados gra as interve
168. lista nacionalista IDEM 1995 p 110 claro que a Primeira Rep blica n o caiu de forma mec nica resultando apenas da crise de 1929 mas sua queda pode ser entendida numa rela o dial tica entre a quebradeira econ mica de 1929 e os interesses dos sujeitos pol ticos envolvidos no Golpe de 1930 Neste contexto ocorreram algumas mudan as pol ticas no pa s Os estados perderam autonomia e houve uma forte centraliza o pol tica Os discursos contra as pr ticas pol ticas das oligarquias da primeira rep blica mobilizaram diversos sujeitos sociais oligarquias dissidentes classe m dia urbana tenentes e trabalhadores Por m a revolu o pensada pelos tenentes revolucion rios e a oligarquia dissidentes deveria ocorrer nos marcos formal da democracia liberal de reforma do estado burgu s objetivando moderniz lo para o desenvolvimento do capitalismo SOUZA 2000 p 35 As oligarquias ca ram mas como a revolu o teria que seguir a cartilha da democracia liberal de reforma do estado burgu s n o houve uma mudan a na distribui o da riqueza da sociedade Apesar de n o ter ocorrido uma mudan a radical em termos de classes sociais houve uma transmuta o pol tica Passou se de um liberalismo olig rquico para um centralismo interventorial Get lio Vargas criou as interventorias estaduais respons veis para tomarem medidas administrativas pol ticas econ micas e
169. m ou seja 107 480 m assim distribu dos Cal amento a paralelep pedo 21 887 m Cal amento a concreto 17 217 m Cal amentos comuns 68 376 m Total5 0 gt 5 005 a iae aaae ond dio guisa t is an 107 480 m Assim essas reformas urbanas foram fundamentais para o desenvolvimento do circuito secund rio da sociedade e da ind stria da constru o civil Essa urbaniza o ocorreu concomitantemente industrializa o de Fortaleza pois era necess rio ter um aparato 25 Idem 26 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 292 293 40 tecnol gico desenvolvido para possibilitar a constru o em larga escala sem falar na m o de obra livre e barata das pessoas que vinham do campo e que rapidamente tinham que se metamorfosear de camponeses em oper rios Esses dados acima tamb m mostram como o volume de melhoramentos foi intenso a partir da seca e como algumas fra es de capital souberam aproveitar o momento para ampliar sua margem de lucro e desenvolver suas ind strias Como diria Lefebvre A cidade se define como rede de circula o e de consumo como centro de Z informa es e de decis es uma ideologia absoluta esta ideologia que procede de uma redu o extrapola o partic
170. m a maior parte da sua produ o destinada a produtos prim rios para um pa s urbano industrial o in cio da efetiva gest o do territ rio nacional como implanta o de ind strias de base sobretudo estatais com o crescimento da malha urbana das cidades e introdu o de equipamentos modernos como uma rede mais sofisticada de energia el trica um novo sistema de transporte e aumento de autom veis com a constru o e reformas de portos visando melhorar a circula o de mercadorias constituindo assim a rede urbana brasileira Nesse sentido Fortaleza insere se num contexto nacional de urbaniza o que come a a ocorrer na d cada de 30 ligada a um processo de industrializa o mas com o agravante da seca de 1932 que torna o seu tecido urbano inst vel devido presen a dos retirantes O governo contrapartida come a a investir em melhorias urbanas na cidade com o objetivo de torn la mais moderna na esteira do contexto nacional de urbaniza o A m o de obra flagelada serve de recurso para a constru o da nova cidade que data sua g nese no final do s culo XIX mas que intensificada nesse momento As ruas do centro come aram a ser remodeladas para atender o novo padr o de urbaniza o que preza pela melhor circula o de pessoas mas principalmente de mercadorias Era necess rio ampliar a circula o de mercadoria para gerar uma maior acumula o de capital especialmente ap s a crise de 1
171. m ano ap s a seca O segundo que a popula o dos bairros pobres quando adoeciam era enviada para l A imprensa mesmo a que fazia oposi o ao governo referendava esta atitude Reunir a popula o pobre os retirantes e os enfermos mostrava se uma alternativa vi vel para o governo Os servi os de higieniza o ao que tudo indica adentravam o centro e os bairros mais abastados com uma frequ ncia maior Alguns bairros da periferia como o Tauape que ficava pr ximo a famosa lagoa que justifica o seu nome tornara se caudat rio do processo de moderniza o e higieniza o mesmo cumprindo uma fun o social importante para a cidade A Lagoa do Tauape conhecida como um local onde se praticava a lavagem de roupas Muitas lavadeiras tinham na lagoa a sua principal quando n o a nica fonte de renda Que vez por outra eram prejudicadas por falta de higieniza o da gua 109 O Cear que em mat ria de higiene estava atrasado trinta anos viajando em carro de bois iria agora na opini o de not vel higienista penetrar o luzeiro da ci ncia profil tical o contr rio entretanto o que se vem observando Enquanto exigem medidas rigorosas e inexequ veis no tratamento do gado estabulado o gado abatido no Matadouro Modelo se dessedenta na Lagoa do Tauape Esta lagoa um lavradouro p blico Roupas de doente de todas as enfermarias s o ali lavadas Para os est bulos tanto requinte higi nco Para o gado do Matadouro
172. ma parte significativa da popula o gerando pol micas sobre a forma de tratamento formas de conten o e isolamento e tamb m sobre o diagn stico Durante um tempo se dizia que n o se tratava de var ola e sim alastrim Todavia a problem tica maior ocorreu devido constru o de um local para isolar os doentes nas imedia es da oficina do Urubu Quando o pr dio da Companhia construtora destas oficinas come ou a ser adaptado para o isolamento das pessoas atacadas de doen as infectocontagiosas os oper rios que ali trabalham levaram a termo uma reclama o contra essa esdr xula medida que estava sendo executada pelo Sr Barca Pelon Chegando ao conhecimento esta justa reclama o dos oper rios pronunciou se a respeito em oficio afirmando n o haver raz o para tal receio porquanto a Higiene havia tomado todas as precau es 75 E ai er x Como explanado anteriormente n o nosso objetivo fazer uma an lise detalhada do desenvolvimento dessa e outra doen as Para uma an lise da prolifera o representa es e debate acerca da var ola no inicio do s culo xx em Fortaleza ver Barros 2011 111 necess rias para evitar o cont gio Essa medida do ilustre cientista come ava a produzir os ben ficos frutos enquanto os variolosos vindos de outros pontos da cidade iam tendo ingresso no mesmo hospital onde ficavam em completa promiscuidade tifoidicos e variolosos O pr dio em quest o talvez n o tenh
173. mais complexa do que as elabora es sobre ela Por fim cabe tecer uma lac nica apresenta o sobre as fontes utilizadas em nossa pesquisa Apropriamo nos de peri dicos da poca como O Povo O Nordeste Correio do Cear e A Rua No Povo buscamos analisar os discursos dos grupos dominantes e do governo sobre os retirantes a moderniza o da cidade e os conflitos que permeavam a cidade naquele momento visto que na poca foi criada a imprensa oficial sendo o matutino respons vel por divulgar o expediente do governo Era um jornal em que se podia perceber os discursos oficias do governo J no jornal A Rua peri dico de oposi o aos governos no caso ao prefeito Raimundo Gir o e ao interventor federal Roberto Carneiro de Mendon a apresentaremos outro olhar sobre o processo de moderniza o da cidade as cr ticas s obras que foram constru das na capital e tamb m nos ajudar a entender como era o cotidiano da cidade o jornal mais rico na descri o dos problemas sociais que constitu ram a capital e tinha um discurso c ustico e voraz sobre as reformas projetadas por Raimundo Gir o Tamb m utilizaremos o Relat rio do interventor federal Roberto Carneiro de Mendon a que tra a um panorama das principais obras constru das em fortaleza no per odo arraigado de um discurso de modernidade defendendo as obras como indispens vel para 19 tornar Fortaleza uma cidade moderna Este foi importante no cruzamento de fontes
174. mas um 65 O urbano se define como lugar onde as diferen as s o conhecidas e ao serem conhecidas postas prova Portanto confirmando se ou anulando se Os ataques contra o urbano consideram fria ou alegremente o desaparecimento das diferen as n o raro identificadas ou confundidas com as particularidades folcl ricas A ideologia tecnocr tica ou individualista homogeneizante Lefebvre 2008 p 90 O urbano nesta acep o desenvolvido por Lefebvre como m todo da transdu o ou reflex o do poss vel o espa o das diferen as de outras sociabilidades o vir a ser no sentido hegeliano de reconhecimento da consci ncia de si no outro Mais tarde ele vai definir esse espa o como vida cotidiana obviamente numa revis o cr tica do conceito Lefebvre 1991 di Arquiteto pintor e te rico urbano Nasceu em Viena no ano de 1843 e faleceu em 16 de novembro de 1903 Tentava conciliar a est tica ao car ter funcional considerando a constru o da cidade como uma obra de arte N o teve muito influ ncia na sua poca onde predominou na Europa as reformas Haussmann 97 conjunto amplo de fatores Observamos melhor as caracter sticas do plano nas suas cl usulas contratuais que define como seria desenvolvido o projeto 1 Parte An lise da aglomera o nos seus m ltiplos aspectos no tempo e no espa o de acordo com os pontos de vista f sico geol gico hidrogeol gico geogr fico hidrogeogr fico me
175. moravam quais eram os trabalhos que realizavam no per odo etc Devido ter sofrido um acidente quando trabalhava na Esta o Central foi socorrido no pronto socorro o carreteiro Joaquim Bernado da Silva Recebeu curativo ontem no pronto Socorro a menor Raimunda de Castro que foi registrada sob o n 1 164 por ter sido v tima de acidente no p direito ontem no Arraial O NORDESTE 24 10 1933 p 05 No primeiro caso tratava se de um carreteiro que se acidentou trabalhando na Esta o Central Os acidentes na Esta o eram frequentes pois se realizava muitas atividades no local Desde constru o de estradas de ferro at o descarregamento de mercadorias para serem 118 transportadas via ferrovi ria No segundo caso n o h muito descri o do tipo de acidente o que chama a aten o o fato da v tima ter sido registrada com o n mero 1 164 destacado pelo O Nordeste N o obstante n o sabemos se este n mero representa os n meros de acidentes ou somente uma ficha de atendimento normal Outro fato merecedor de destaque o referente ao local de moradia da Raimunda de Castro ela morava no Arraial Moura Brasil um dos bairros pobres de Fortaleza na poca e de acordo com Castro 000 constituiu a primeira esp cie de pr favelamento da capital Ontem s 12 horas ocorreu nas salinas do Sr Adriano Martins na Barra do Cear lament vel acidente de trabalho do qual foi v tima o oper rio Waldemar
176. n o do Interventor Carneiro de Mendon a Caso tivesse que pagar os impostos o custo sairia quase o dobro Neste sentido o maquin rio foi apresentado como vantajoso para a municipalidade e que seria inaugurado na v spera de Natal Por m nem tudo ocorreu como se esperava Descobriram depois que o rel gio n o cabe na cama que lhe arranjaram na tal Coluna do revolucion rio desconhecido Por ltimo verificaram por ocasi o de examinarem a encomenda que os quatros vidros que protegem o mostrador vieram quebrados Ser poss vel tanta urucubaca Santo Deus quando teremos hora oficial na cidade A RUA 7 12 1933 p 01 Segundo o jornal al m do material ter vindo j danificado e n o caber no local da Coluna ainda houve outro problema Rachou o pedestal da Coluna da Hora De acordo com o peri dico a base sofreu uma rachadura prejudicando mais ainda o projeto do governo de inaugurar a melhoria urbana A Pra a do Ferreira e a Coluna da Hora eram o cart o postal do projeto de urbaniza o da prefeitura Qualquer entrave na sua remodela o de imediato j era denunciado nas p ginas da imprensa que n o poupavam cr ticas quando se relacionava a tais melhorias Todavia a Coluna inaugurada na virada do ano de 1933 para 1934 que 82 segundo o jornal O Povo foi esperado por uma multid o de pessoas que se aglomeravam ao redor da Coluna onde Raimundo Gir o proferiu um discurso que foi irradiado atrav s
177. n mico construir uma estrada de ferro ligando ao porto Com isso melhoraria substancialmente o fluxo de mercadorias A circula o de capital revelava a sua import ncia para uma cidade que estava se modernizando pois o investimento no porto era seguido de investimento no alargamento das vias f rreas pensando na conex o de ambos os setores Mais uma vez confirma a nossa tese que neste per odo houve um aumento no circuito secund rio como tentativa de desenvolver a cidade numa poca de crise econ mica mundial N o seria demasiado pensar que a sa da Keynesiana ao menos como horizonte era referendada o que torna o discurso das obras p blicas ainda mais forte com uma verve sentimental e redencionista pois havia um atenuante a problem tica da seca O discurso da seca era lucrativo e atra a recursos para serem utilizados no desenvolvimento material da cidade A constru o de uma estrada de ferro ligando o centro ao Mocuripe mostrava uma clara inten o do governo de expandir o com rcio atrav s do alargamento da circula o de capital As obras tinham um car ter funcional n tido Por m a especula o em torno da constru o do porto na enseada do Mucuripe n o se confirmou frustrando assim quem especulava investir na rea Acaba de ser inaugurada a via f rrea que liga esta capital a enseada ao farol do Mocuripe Esta estrada de ferro rec m constru da vai ficar sem aplica o desde que o porto n o vai
178. nas 1979 Proleg menos para uma ontologia do ser Social S o Paulo Boitempo Editorial 2010 MAIOLINO Ana L cia Gon alves Reurbaniza o de uma favela carioca In Marcio Morais Valen a e Gilene Moura Cavalcante Org Globaliza o e Marginalidade transforma es urbanas Natal RN EDUFRN 2008 MANDEL Emest O capitalismo tardio S o Paulo Nova Cultural 1982 A crise do capital os fatos e sua interpreta o marxista S o Paulo MARICATO E Metr pole na periferia do capitalismo ilegalidade desigualdade e viol ncia S o Paulo HUCITEC 1996 MARX Karl Teorias da mais valia hist ria cr tica do pensamento econ mico Livro 4 de O Capital Tradu o por Reginaldo Sant Anna S o Paulo Civiliza o Brasileira 1980 1985 Volumes I II HI Para a cr tica da Economia Pol tica Sal rio pre o e lucro O rendimento e suas fontes a economia vulgar S o Paulo Nova Cultural 1986 0 O Capital cr tica da Economia Pol tica Volumes I II HI IV e V S o Paulo Nova Cultural 1985 86 Manuscritos econ mico filos ficos S o Paulo Boitempo 2004 Cr tica da filosofia do direito de Hegel S o Paulo Boitempo 2005 MARX K e ENGELS F A Ideologia alem S o Paulo Ed Hucitec 1987 Grundrisse manuscritos econ micos de 1857 1858 esbo o da cr tica da economia pol tica S o Paulo Boitempo rio de Janeiro Ed UFRJ 2011 M SZ ROS Istiv n Estrutura Social e Formas de Cos
179. ncentra o no Cear e a experi ncia hist rica do nazismo na Segunda Guerra Mundial Os campos no Cear serviam para manter o controle da popula o que queria emigrar para Fortaleza nos per odos de seca A popula o que ficava nos campos apesar de retida n o exercia trabalhos for ados e n o era executada em c mera de g s Ela geralmente executava os trabalhos da Inspetoria de Obras contra a seca na constru o de a udes estradas de rodagem po os e no caso de Fortaleza melhorias urbanas Optamos por utilizar o termo devido a sua refer ncia hist rica pois a partir da seca de 1915 eram assim chamados usualmente 2 A nossa monografia recebeu o t tulo de A mis ria da modernidade os retirantes na constru o do espa o urbano de Fortaleza a partir da seca de 1932 O debate central que ela levantava que os retirantes tamb m eram sujeitos da constru o do espa o urbano de Fortaleza pois a partir da explora o do seu trabalho que foi poss vel remodelar o centro da capital O espa o deixa de ser apenas um constructo idealista ou seja proje o de arquitetos e engenheiros e passa a ser analisado como fruto de diversas rela es sociais Monografia apresentada para a obten o do t tulo de licenciatura em hist ria pela UECE 2008 12 constitu ram o espa o urbano de Fortaleza como um todo Isso mostra uma mudan a no foco de nossa investiga o e que resultou na constru o do objeto da disserta o
180. nstra que a seca de 1932 contribui para a g nese desse processo e n o secas anteriores como Mucuripe e Pirambu 34 1 3 Melhorias urbanas o simulacro da urbaniza o O espa o n o humano porque o homem o habita mas porque o constr i e reproduz tornando o objeto sobre o qual recai o trabalho em algo que lhe pr prio Por outro lado o espa o passa a ser produzido em fun o do processo produtivo geral da sociedade CARLOS 1997 p 15 A seca de 1932 contribuiu para que a cidade de Fortaleza se tornasse mais habitada por m as pessoas que passaram a morar na cidade retirantes eram enxergadas pelas classes abastadas de maneira paradoxal Pois se por um lado representava vandalismo rebeldia costumes inapropriados quebra da ordem vigente por outro significava a m o de obra barata para implanta o do projeto de modernidade e consolida o do capitalismo desejado por essa classe dominante Portanto a cidade vai ser constru da ou melhor reconstru da na seca de 1932 a partir dos conflitos sociais entre os setores capitalistas o governo e os retirantes que representavam lucro e marginaliza o A partir da d cada de 30 Fortaleza acusa um crescimento demogr fico elevado que se reflete no aumento de sua rea urbana Contudo a expans o da cidade a partir do aumento da popula o n o gerou a amplia o relativa ainfra estrutura urbana tais como cal amento energia el trica gua encanada rede de esgo
181. nstru o do porto como ferrovias e demais melhorias urbanas recebem verbas do governo federal para serem realizadas e os governantes municipais aproveitam se da problem tica da seca para atrair recursos A seca al m de ter sido uma realidade s cio material tamb m pode ser apreendida enquanto discurso para referendar as reformas na cidade 17 A nossa tese que houve um investimento massivo o que Lefebvre e Harvey chamam de circuito secund rio da sociedade E este investimento est relacionado ao per odo enfrentado de grande depress o e crise do capitalismo a n vel internacional Investir em melhorias urbanas porto estradas de ferro a udes e estradas de rodagem se mostra uma sa da atraente para o Estado O exemplo do porto lapidar pois melhoraria a circula o de mercadoria e obviamente os lucros dos setores capitalistas Analisamos ainda no cap tulo 2 o plano urban stico do arquiteto Nestor Figueiredo destacando a fun o do planejamento urbano na produ o da cidade N o obstante tentamos relativizar afirma es apressadas que dizem ser o crescimento urbano na d cada de 1930 desordenado O problema saber quanto de ordem e desordem teve na forma o desses espa os Ser que podemos falar que o centro n o foi planejado E as favelas surgiram apenas por crescimento natural Ou existia um projeto de exclus o dessa popula o Em que medida o espa o urbano de Fortaleza foi resultado de planejamento E
182. nto daquela sofredora gente prestes a agonizar IDEM 27 09 1933 p 03 O n o pagamento dos oper rios era apenas a ponta do iceberg em rela o din mica total da obra Havia tamb m a problem tica da licita o pois foi aberta uma concorr ncia para saber qual seria a empresa respons vel para a constru o Concorreram para tal as firmas Cristiani Nielsen e Geobra Civis e Hydraulicas As propostas foram abertas por uma comiss o presidida pelo engenheiro Oscar Weischenck que designou um engenheiro para dar parecer a respeito Ao que consta esse parecer j est lavrado e favor vel firma Cristiani Nielsen No departamento consta entretanto que j foi apresentado um protesto contra esse parecer CORREIO DO CEAR 22 10 1934 p 01 com a alega o de que venceu a proposta menos econ mica Al m da possibilidade de fraude na licita o o governo ainda tinha que responder aos fornecedores dos materiais pois o pagamento tamb m se encontrava em atraso 5 Colocamos aspas em governo revolucion rio por se tratar de um golpe de Estado e n o de uma revolu o social Por m mantivemos o termo devido ao uso dele pelos partid rios de Get lio Vargas Para uma an lise que desconstr i o movimento de 1930 como uma revolu o ver Dedeca 1994 9 Diretor do Departamento de Portos 89 A situa o dos propriet rios de fornecimentos s obras do sob a superintend ncia da fiscaliza o do porto
183. o Marx analisa o capitalismo como um modo de produ o em que para funcionar necess rio um ciclo de produ o reprodu o circula o e consumo Da o seu car ter sist mico no qual todas as partes se articulam na sua reprodu o social Por m para o sistema capitalista se reproduzir e o seu ciclo funcionar preciso haver processos de acumula o de capital Marx tamb m definia como caracter stica imanente do capitalismo a sua tend ncia a crises de sobreacumula o O paradoxo o seguinte para sobreviver o capitalismo tem que acumular por m quando acumula demais ele entra em crise Lefebvre descobriu a chave heur stica para esta quest o destacando que o capitalismo sobrevive mediante a produ o do espa o Neste sentido a acumula o de capital n o pode ficar de fora de uma an lise que se proponha compreender a produ o espacial de uma cidade capitalista Todavia neste t pico iremos avaliar o papel que a acumula o de capital cumpriu na forma o do espa o urbano de Fortaleza materializado nos discursos sobre a necessidade de constru o do porto O debate sobre a constru o do porto de fortaleza bem primevo datando ainda do per odo Imperial Mas ele ganha um contorno mais amplo na d cada de 1930 quando a cidade come ava a se industrializar necessitando expandir o seu espa o e seu capital Nada melhor numa capital litor nea do que um porto para escoar as suas mercadorias Por isso tod
184. o favelamento se define mais pelo confinamento social do que pela uma ruim condi o arquitet nica Posteriormente na d cada de 1930 deste s culo para aquele trecho pobre e isolado ainda que pr ximo ao centro foi removido parte do meretr cio da zona comercial principalmente o espalhado pela a Rua das Flores Castro e Silva e adjac ncias decis o oficial que veio degradar o bairro A abertura recente da avenida Leste Oeste alterou completamente a forma urbana e a vida social da rea Moura Brasil homenageado na nomenclatura do bairro era o renomado oftalmologista cearense Jos Cardoso de Moura Brasil 1846 1929 que depois se transferia em definitivo para o Rio de Janeiro onde viria a falecer Castro 1982 p 76 103 banditismo aus ncia de rede de esgoto falta d gua etc Portanto neste cap tulo tentaremos analisar alguns dos problemas sociais que constitu ram as favelas da capital destacando o outro lado da modernidade n o apreendida pelos discursos oficiais e menos ainda por pr ticas materiais que transformassem o seu entorno V rias foram as mazelas que assolaram os bairros pobres da poca pois somente o centro da capital passou por um processo efetivo de moderniza o no que tange a amplia o da infraestrutura urbana e de espa os de desenvolvimento de lazer e cultura As favelas e os bairros pobres de maneira geral careceram n o apenas de moderniza o do seu espa o mas do mais elementar servi o Um
185. o que n o necessitava de trilhos fixos para se locomover Mais rapidez no transporte do trabalhador para o seu servi o refletindo as necessidades de uma cidade que crescia e se desenvolvia A contenda com A Light figurava al m da quest o do monop lio dos bondes a necessidade de substituir um transporte obsoleto por um mais moderno Por isso acreditamos que Raimundo Gir o restringiu os n meros de passageiros dos bondes com o seu intuito de diminuir a quantidade de lucro da empresa e incentivar a propaga o do auto nibus uma vez que a Ligth detinha o monop lio dos bondes mas n o dos auto nibus Raimundo Gir o tamb m estava consciente da dif cil fase que passava a empresa inglesa pois a maioria dos pa ses ainda estava de maneira lenta se recuperando da crise de 1929 e a Light n o era imune a essa situa o Pensar a municipalidade que Fortaleza um timo campo de explora o para os servi os de transporte a cargo da empresa inglesa Jornais de Londres anunciam conforme estamos informados exatamente o contr rio Dizem que as a es deb ntures da Light cujo valor nominal de 100 est o sendo cotadas na bolsa da capital inglesa ao pre o de 24 5 A not cia a ter o fundamento que mesma atribu mos demonstra eloquentemente que a companhia estrangeira n o est disposta a agravar uma situa o j de se prec ria Se a prefeitura quer tirar os trilhos da Pra a do Ferreira sem nus para empresa
186. os caravanas de famintos Nos centros populosos das localidades sertanejas agrupam se milhares de camponeses a procura de p o e de trabalho A pomposidade o luxo a sela o pompom o frou frou da alta sociedade todo esse requinte de beleza n o pode viver sem o aux lio do trabalhador an nimo que habita os sub rbios envelhece nas f bricas e nas oficinas e morre de tuberculose nos hospitais A cidade o pano de boca dos sub rbios e dos campos Sem o concurso das gentes dos bastidores a farsa da vida n o ter uma boa representa o e a plateia chicotear com apupo o elenco da Companhia N o se iluda o governo com o julgamento dos moralistas O povo tem fome E a fome diz um ditado tem cara de hereje IBIDEM 10 08 1933 p 05 Esta longa cita o escrita por Gast o Justa tinha como objetivo defender o jogo do bicho pois o governo aprovara uma lei considerando esse jogo ilegal Por conseguinte o referido peri dico abriu uma campanha nas suas p ginas defendendo o jogo do bicho como fonte de renda para a classe trabalhadora Por m o que sintom tico nesta mat ria que ela sintetiza as principais contradi es por que passava a cidade na poca salientando que existia uma Fortaleza representada para turistas asseada faiscante de reformas mat rias e est ticas ao mesmo tempo em que os sub rbios estavam repletos de problemas sociais tais como falta de pagamento aos trabalhadores excesso de migra o
187. os anti modernos da Capital como as favelas e os areais deveria ser ocultada da visita de Get lio A din mica da cidade foi transfigurada nos dia 17 a 20 de setembro de 1933 per odo da estadia de Get lio Vargas as obras de cal amento das ruas tiveram que sofrer altera es no calor da visita para resplandecer cintilar somente os aspectos positivos da urbaniza o Agora por m com a passagem da comitiva presidencial o Sr Prefeito deu nova fei o aos trabalhos Por qu Ningu m sabe O certo que ele mandou que a picareta da prefeitura desordenadamente arbitrariamente desalojasse todas as pedras de algumas travessas e simultaneamente da Pra a do Ferreira de forma que hoje ningu m mais pode andar por aqueles s tios Ontem por exemplo o mau servi o culminou Ningu m sabia onde pisar Tinha se a ideia que um terremoto deslocara o empedramento da cidade fazendo um estrago irremedi vel O NORDESTE 23 09 1933 p 04 Por m o que notamos que a imagem constru da pelo O Nordeste divergiu do projeto do Prefeito O matutino na mesma mat ria ainda ironiza Raimundo Gir o insinuando que ele estava iludido achando que parecia Get lio Vargas quando na verdade ele estava interrompendo o tr nsito atestando o progresso e tamb m atestando um servi o mal orientado O cal amento das ruas foi um dos pontos mais pol micos no projeto de moderniza o na poca Primeiro porque s contemplava
188. os de roubos que repetidamente est o ocorrendo em nossa capital muito deles revestidos do car ter sensacional dos gangsters americanos estando indiv duos mascara dos assaltando os transeuntes na madrugada e em pleno centro da cidade A propriet ria da pens o Lulu apresentou queixa ontem policia dizendo que desde de muito seu estabelecimento visitado pelos ladr es sendo notado agora grande falta de cadeiras lou as colheres e outras coisas Na Rua S o Paulo da noite de 121 ontem para hoje foi visitada pelos ladr es uma sapataria e estabelecimento de artefatos de couro cuja porta principal amanheceu arrombada Desta casa de neg cio localizada no pr dio n 145 de propriedade do Sr Francisco Collares roubaram artefatos de couro avaliados no seu total em cerca de tr s contos de r is IDEM 06 12 1934 p 02 O crime come a a se organizar na d cada de 1930 Not cias como essas ganham uma frequ ncia espantosa As contradi es da cidade transfiguram numa maior nitidez o sistema de pol cia come a a ficar diminuto diante dos roubos assaltos e assassinatos O crescimento neste sentido foi desordenado abarcando as regi es ricas e pobres de Fortaleza As ricas como foco dos assaltados e as pobres como moradia dos praticantes Essas contradi es mostram a complexidade da cidade enquanto objeto de an lise Por mais que o governo tenha um projeto de modernidade para a cidade de divis o socioespacial do
189. os demais locais especialmente das favelas As favelas com seus doentes trabalhadores e popula o de miser veis come aram a ser associadas ao crime prostitui o e confus o como reflexo de uma pol tica de marginaliza o criada pelo projeto de moderniza o do governo e das classes abastadas O reverso da medalha ocorre no sentido que o local de onde a popula o pobre foi execrada torna se o l cus das suas reivindica es A mis ria volta para o centro numa outra perspectiva O espa o de luxo e opul ncia n o consegue extirpar a pobreza e a mis ria do seu habitat Se n o t m eles como vizinhos t m ao menos como visitantes ilustres dos seus mercadinhos lojas avenidas pra as ruas reivindicando de alguma forma um espa o de conviv ncia Em suma nossa pesquisa buscou compreender esse complexo de contradi es que permearam a produ o do espa o urbano de Fortaleza Enxergando essa produ o n o apenas como assim trica e desigual mas tamb m como combinada e articulada Portanto assim como Ulisses que teve que reconhecer o poder dos deuses para voltar para sua cidade natal 128 no reino de Itaca reconhecemos o limite temporal de uma disserta o e a sua contribui o Por m voltaremos para casa feliz se na melhor das possibilidades esta pesquisa provocar uma reflex o cr tica sobre a constru o do espa o urbano e servir de esteio para outros pesquisadores 129 FONTES Peri dicos
190. os os jornais da poca clamavam para a constru o do porto do Mucuripe Ontem s 13 horas estiveram com o Dr Edgard Chermont chefe das obras do porto deste Estado Disse nos que no dia 7 esteve com o ministro Jose Am rico que abriu uma verba de 250 contos afim de satisfazer parte do d bito em que se acha o nosso departamento de Obras do Porto para com seus empregados extranumer rios que alguns h 6 meses outros h 3 n o recebem vencimentos Acrescentou nos que no Rio esteve com o capit o Carneiro de Mendon a tendo lhe este assegurado estar trabalhando 7 Rela o de engenheiros que foram enviados para estudar a realiza o do porto de fortaleza ainda no imp rio 1854 Dr H A Millet 1858 o Dr R J G Jardim e o Dr Pierre Berthot em 1860 o capit o tenente Raja Gabaglia em 1864 o Dr Zozimo Barroso em 1874 Sr John Hawkshaw e em 1881 o Dr Milner Roberts Almanach administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear para o ano de 1932 confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica P 230 87 fortemente para a continua o do servi o O NORDESTE 19 07 1933 p 01 Observamos nesta mat ria que existia uma articula o do Departamento de Obras do Porto com a interventoria para a realiza o das obras pois o porto n o seria uma melhoria para atender apenas o munic pio de Fortaleza e o Estado do Cear mas o crescimento econ mico do pa s como um todo Ha
191. overno e as classes abastadas da capital queriam expurgar o centro e os seus bairros de moradia o que significava afastar do seu conv vio as camadas mais pobres Por m 56 essa n o era uma tarefa f cil pois as camadas mais pobres representavam a grande maioria da popula o que tinha migrado para a capital devido seca de 1932 e que buscavam em Fortaleza uma melhoria na qualidade de vida e n o um recrudescimento da mis ria Esses contrastes sociais que havia na cidade s salientavam o car ter contradit rio da moderniza o de Fortaleza referenciada no antagonismo dos grupos sociais que habitavam a cidade interessante assinalar que essas contradi es s o inerentes modernidade Isso n o significa apenas tecnologia urbaniza o produtos modernos mas tamb m uma camada da popula o que viva na exclus o do processo que possa trabalhar com m o de obra barata para gerar taxa de mais valia que proporcione a acumula o de outra camada Nesse sentido importante compreender a modernidade como sendo um complemento do desenvolvimento capitalista na cidade uma vez que as reformas urbanas que ocorreram em Fortaleza no inicio da d cada de 1930 mais especificamente nos anos 1933 e 1934 estavam relacionadas tamb m ao contexto de uma nova classe social que emergia no Pa s a burguesia industrial urbana nesse emaranhado de conflitos e interesses de classe que ocorreu o processo de moderniza o de Fortaleza
192. pal de Fortaleza Estava em constru o h alguns dias no trecho da Rua Major 68 Facundo esquina com a Travessa Senadora Alencar um arco em que seriam colocadas flores naturais para o fim de ser saudado com elas a entrada da nossa cidade o Sr Chefe do governo provis rio Naquela hora a mandado do humanit rio Prefeito da Capital uma turba de trabalhadores foi desobstruir o referido arco pois com a not cia da chegada hoje a tarde do Sr Get lio Vargas todos os esfor os seriam perdidos em concluir a obra em tempo Quando despregavam as primeiras taboas veio abaixo toda a arma o resultando da cat strofe sa rem cincos oper rios com s rios ferimentos nos membros e um contusionado gravemente A RUA 17 09 1933 P 02 Ap s o acidente os oper rios foram levados pela pol cia para a Santa Casa de Miseric rdia onde receberam atendimento Na verdade era muito importante para Raimundo Gir o como administrador da cidade apresentar Fortaleza como uma cidade moderna resultado do seu trabalho Pois al m dessa boa imagem garantir a sua perman ncia no poder poderia receber mais incentivos financeiros para efetuar a moderniza o da Capital visto que uma boa parte dos recursos era oriunda do Governo Federal Para tanto n o bastava reformar as ruas pra as logradouros etc era necess rio vend la como um arqu tipo da modernidade onde o centro era a sua vitrine principal Os aspectos obsoletos arcaic
193. populacional Esta era a tarefa do urbanismo padronizar a cidade dirimir sua heterogeneidade considerada como uma contradi o Como o urbanismo conseguiria resolver ordem e desordem equil brio e movimento estabilidade e mobilidade Como essa reflex o conseguiria isso sen o concentrando as exig ncias impondo uma homogeneidade uma pol tica do espa o uma programa o rigorosa suprimindo ao mesmo tempo os s mbolos a informa o o l dico LEFEBVRE 2008 p 91 Neste sentido o projeto de Nestor Figueiredo se enquadra numa tentativa de ordenar a cidade da aplica o de uma l gica industrial e evacua o da racionalidade 96 65 urbana Por m ele apresentado travestido de uma coura a reluzente que chega a ofuscar os seus objetivos Realizou se ontem na sede da prefeitura municipal a anunciada exposi o do plano de urbaniza o de Nestor Eg dio Figueiredo Come ou tecendo algumas refer ncias ao alcance e responsabilidade desse contrato que devia ser mais uma obra de previs o que de momento Discorreu sobre o urbanismo analisando o sua exist ncia na antiguidade no seu colapso na idade m dia e em seu recente ressuscitamento no s culo passado novamente preocupado com os planos urban sticos Explicou aos presentes como esses planos devem obedecer n o somente a t cnica pura mas tamb m ao lado emocional poder amos dizer rom ntico de acordo com a psicologia dos po
194. possui dois aspectos o movimento f sico real de mercadorias do lugar de produ o ao lugar de consumo e o custo real ou impl cito ligado ao tempo consumido e as media es sociais cadeias de atacadistas varejistas opera es banc rias etc necess rias para que a mercadoria produzida encontre seu usu rio final HARVEY 2006 p 47 Os investimentos no porto e nas estradas de ferro atenderiam a essa demanda reduzir o custo do produto final diminuir o tempo de giro do capital acelerar a sua valoriza o em linguagem comum tinha como objetivo fazer com que a mercadoria chegasse mais r pido aos seus consumidores al m claro de ocupar a m o de obra dos retirantes Neste sentido a acumula o de capital exerceu um papel importante na forma o do espa o urbano de Fortaleza na medida em que absorveu o trabalho excedente e criou novos canais de negocia o e de trocas Na poca existiam tr s portos no estado do Cear Fortaleza Aracati e Camocim A amplia o do porto de Fortaleza ou no caso a constru o do porto no 63 sm E Mocuripe representava os anseios dos setores capitalistas que queriam expandir os seus capitais naquela cidade No ano de 1933 segundo O Nordeste 27 01 1934 p 05 o n mero registrado de embarca es que adentraram no porto perfez um total de 571 navios 1 029 462 toneladas de registro 30 902 de tripula o e 114 392 270 toneladas de carga E 64 marcando assim um aumento
195. precau es deve ficar com os pulm es avariados tal a nuvem de p que se espalha pelos quadrantes da velha pra a E o com rcio Esse tem tido grandes preju zos que poder o ser atestados por qualquer comerciante ali localizado Um caminh o que se movimenta incessantemente em todas as dire es carregado de areias para as obras de cal amento o menor dano que ocasiona empoeirar os tecidos das lojas de modas que se encontram nas imedia es do intermin vel servi o Lembre se o Prefeito que o com rcio quem lhe mant m as extravag ncias inclusive as que transformam a Pra a do Ferreira em detest vel logradouro IDEM 10 10 1933 p 01 Esta mat ria lapidar no que se refere import ncia que exercia o com rcio e a Pra a do Ferreira na capital cearense E o jornal tinha raz o quando dizia que era o com rcio que bancava essas obras ou nas palavras do peri dico essas extravag ncias Tal projeto de urbaniza o do governo municipal atendia primordialmente aos interesses dos setores capitalistas ligados ao com rcio e ind stria da constru o civil A Pra a do Ferreira como representava o centro comercial da cidade era tamb m o local onde a picareta mais pulsava ao ponto de alguns jornalistas ironizarem que o que ocorria naquele logradouro era um terremoto Por m al m do car ter comercial j explanado 83 a Pra a do Ferreira tamb m exercia fasc nio por ser o s mbolo da modernidade de Fort
196. propagandas pol ticas E existiam aqueles que o tratavam com esc rnio menosprezando o seu estilo arquitet nico alcunhando o de feio antiquadro e obsoleto Vai ser demolido o coreto da Avenida 7 de Setembro na pra a do Ferreira Do ponto de vista est tico n o resta d vida provid ncia que se justifica pois aquilo n o l coisa que se recomende apesar de ter custado ao que se diz mais da metade de uma centena de contos Caro e feio Mas tinha al m da serventia para as retretas aos domingos a de ser tribuna dos demagogos desde os mais sisudos aos mais implumes ensa stas da orat ria Muita gente pregou ali ideias de todo quilate Ouviram se dali palavras de fogo e asneira de palha Oradores aclamados aplaudidos vaiados e apeados Alguma coisa de hist rico E onde ser agora a tribuna da orat ria popular Nos pisos da Coluna do rel gio IBIDEM 02 08 1933 p 03 E onde os demagogos falar o agora Este foi o t tulo da mat ria do Nordeste acima citado Para o matutino o coreto era um espa o essencialmente das express es de demagogos que tinha l seu valor hist rico apesar de custado muito caro e ser feio Mas que de certa forma a sua demoli o era justific vel n o fazendo tanto alarde a esse respeito No sentido oposto A Rua saiu em defesa da manuten o do objeto em quest o justificando como espa o da express o e liberdade do povo e acusando o Prefeito de ter passadofobia
197. purgar costumes e valores rurais Portanto nesta dial tica como afirma Goldmann 1991 p 5 6 nunca h pontos de partida absolutamente certos nem problemas definitivamente resolvidos afirma que o pensamento nunca avan a em linha reta pois toda verdade parcial s assume sua verdadeira significa o por seu lugar no conjunto da mesma forma que o conjunto s pode ser conhecido pelo progresso no conhecimento das verdades parciais Em suma esta analogia se aplica perfeitamente ao centro e dial tica da moderniza o que s podem ser apreendidas como relacional portanto como um processo 2 3 Coluna da Hora A Odisseia de um Rel gio Do p do nada do ch o Vai subindo c us afora Numa sublime ascens o A tal Coluna da Hora Nos velhos tempos de outrora A tal Coluna da Hora Causaria sensa o Talvez ficasse na hist ria Da princesa Teodora O nome do seu Gir o Feira de Missangas Aqui trataremos de expor alguns dos aspectos simb licos e culturais que fizeram parte desse empreendimento urbano como a constru o da Coluna da Hora a remodela o da Pra a do Ferreira a introdu o de novos equipamentos para a cidade e a sua ilumina o 78 el trica O eixo norteador ser a Coluna da Hora e a Pra a do Ferreira por sua import ncia material e acima de tudo simb lica para o projeto de moderniza o da capital Uma parte significativa da historiografia cearense j t
198. r Federal Cel Moreira Lima ao ministro das rela es exteriores bastante elucidativa deste novo cen rio pol tico Sinto obrigado a declarar a v excia Que a n o ser ordem formal Sr Presidente da Rep blica de minha parte nenhuma possibilidade reconsiderar ato de recis o meu antecessor contrato Cear G s Company visto haver ele consultado interesses da administra o e popula o desta capital Referido contrato pelas sua clausulas e prazo excessivo oneroso e prejudicial um desses encargos do passado que urgia fazer desaparecer de qualquer forma sob pena do governo revolucion rio revelar se solid rio com todas as imoralidades administrativas que arrastaram o pa s a revolu o de 1930 IDEM 27 11 1934 p 08 O Interventor ainda menciona no mesmo telegrama que num prazo m ximo de 20 dias instalaria a ilumina o el trica que segundo este o servi o j estava bem encaminhado faltando apenas comprar uma parte restante do material Mas o que ficou evidente no telegrama do Interventor que existia uma nova forma de lidar com os contratos das empresas estrangeiras N o podemos inferir se tratava de um projeto nacionalista apesar de alguns 6 Para saber mais sobre o processo hist rico de ilumina o de Fortaleza ver Nogueira 1980 Bezerra de Meneses 1992 Aderaldo 19740 e Silva e Filho 2004 85 elementos sinalizarem para isso mas com certeza se referia a uma centraliza o pol ti
199. r as suas vistas para Rua Rufino de Alencar mais conhecida por Ladeira da Prainha Por ali ainda n o se passou o fio de pedra Nem sequer o chefe da edilidade teve a boa vontade de mandar acertar o cal amento pontiagudo daquela via p blica Parece que o mesmo tem contrato com alguma f brica de cal ados Os pisos dos passeios t m aspectos de uma escada Uma verdadeira montanha russa Cheia de altos e baixos Os transeuntes vencem de ida e volta aquele trajeto com maior sacrif cio Ora a Rua Rufino fica situada no centro da cidade ao lado do pal cio Arquiepiscopal N o se compreende portanto o abandono em que o tem deixado o Mair da cidade Al m da falta de est tica logo no come o da Rua no bifurcamento da Pra a da S com a Rua S o Jos levanta se um grande areal Se o Sr Prefeito tem olhos para ver a Pra a do Ferreira parece se descuidar do resto da nossa capital IDEM 27 10 1933 p 03 Esse descuido ou neglig ncia com os demais logradouros da cidade n o era por acaso A remodela o da capital ao contr rio do que pensavam alguns jornais citadinos n o se devia falta de planejamento urbano mas justamente o oposto Existia um planejamento que beneficiava uma parte da cidade tendo em vista principalmente o desenvolvimento do com rcio e dos chamados bairros aristocr ticos De acordo com Sp sito 000 p 86 uma dada forma espacial tamb m um dos elementos de redefini o dos processos
200. ra possibilitar a compreens o do conjunto de media es que envolveram as pr ticas do Estado e seu reflexo na estrutura urbana E Ideologia uma das categorias mais pol micas na teoria marxista Existem basicamente tr s formas como o conceito apreendido Pode se entender ideologia como falsa consci ncia como um produto invertido das rela es sociais ou seja como uma consci ncia invertida da realidade causada por rela es sociais alienadas produto da sociedade capitalista e da divis o social do trabalho desta forma que Marx a entende na Ideologia Alem Marx 2007 Tamb m pode se analisar ideologia como vis o de mundo desenvolvido principalmente pelo fil sofo Lucien Goldman e seu disc pulo Michel Lowy Em nossa opini o h um barateamento do conceito nesta acep o onde ideologia se aproximaria de idiossincrasias H tamb m a perspectiva do fil sofo Slavoj Zizek que a entende de maneira mais abrangente A ideologia pode designar qualquer coisa desde uma atitude contemplativa que desconhece sua depend ncia em rela o a realidade social at um conjunto de cren a voltado para a a o desde o meio essencial em que os indiv duos vivenciam suas rela es com uma estrutura social at as ideias falsas que legitimam um poder pol tico dominante Zizek 2010 p 09 Zizek amplia por demais o conceito de ideologia perdendo assim a operacionalidade de explicar um uma situa o hist rica concreta
201. raial Moura Brasil nas vizinhan as do aristocr tico bairro da Jacarecanga o atestado mais frisante do descaso dos nossos administradores por tudo que n o seja a Pra a do Ferreira e suas imedia es A RUA 1933 p 03 e 08 Aqui se encontra a s ntese do outro lado da urbaniza o de Fortaleza o antiverso o reverso da medalha A urbaniza o era pensada executada de forma desigual e combinada O centro usufruindo de uma mir ade de reformas materiaiss desde cal amento das ruas cria o de clubes de lazer para as classes abastadas Enquanto as favelas e sub rbios vivendo um total descaso como se a popula o estivesse numa outra cidade Este cap tulo teve por objetivo 122 apresentar esta cidade ocultada pelos discursos oficias da modernidade salientando que o processo de moderniza o da capital restringiu se ao centro empurrando a popula o de flagelados doentes e trabalhadores para a margem da cidade e da sociedade Todavia esse processo tem que ser compreendido na sua intera o e n o apenas como dicot mico O centro dependia das favelas era uma esp cie de mal necess rio pois as favelas abrigavam a maior parte da m o de obra que realizou essa moderniza o Por m nunca demais deixar claro que foi uma moderniza o sem mudan as na estrutura socioespacial que os capitalistas e o Estado tentavam equilibrar as diversas contradi es que compunha a cidade O espa o urbano por cons
202. rantes e ainda atraindo recursos do governo federal para o combate seca Portanto as classes dirigentes enxergavam os retirantes como uma possibilidade contradit ria de lucro e perturba o social Enquanto isso a situa o do flagelo no Cear n o dava tr gua A coisa pelo sert o de dezembro para c tem piorado em tudo e por tudo incalcul vel o n mero dos sem trabalho e esses est o matando o gado alheio roubando cria es galinhas e o mais que encontram j se teme um ataque desse povo o que n o se pode duvidar Fala se no canal de Chor em que a turma de estudos h um m s leva o tempo acima e abaixo e servi o ou socorro aos necessitados nada at hoje entretanto dizem haver verba para os servi os de emerg ncia N o acho poss vel ou de resultado o canal de Chor ao Cedro acho vi vel e de menos disp ndio com maiores vantagens o canal do rio Quixeramobim ao Cedro projetado pelo Dr Piquet e cujo projeto os Pompeus condenam Seja como for e em que servi o acho que deve o governo socorrer aos pobres Fome h muita O POVO 07 01 1932 7 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear 23 A seca era abordada diariamente nos jornais com o intuito de angariar recursos oriundos do governo Federal Sempre salientando o perigo de a popula o ficar sem trabalho ociosa e os projetos de a udagem e irriga o como sendo fundamental para
203. ratou da tem tica por m ao se referirem Coluna da Hora abordaram como marco de um projeto de modernidade o que n o deixa de estar correto mas s expuseram o rel gio como produto conclu do N o analisaram a sua g nese e seu desenvolvimento Por isso iniciaremos destacando a odisseia que foi o seu processo de constitui o Disse que esta ideia n o era recente pois desde o ano passado sob a administra o do major Tib rcio Cavalcante a Prefeitura cogitava deste melhoramento urbano Em dezembro o major licenciou se e foi ao Rio incumbido de procurar um rel gio adequado a Pra a do Ferreira Seus esfor os foram por m baldados Nem no rio nem em S o Paulo encontrou um que satisfizesse Consigo levara tamb m plantas e fotografias das quatro faces da referida pra a Confiando a organiza o do projeto da Coluna a uma comiss o de tr s membros entre os quais se achavam os arquitetos Ruderico Pimentel e o capit o Ruy de Almeida Cada um apresentou o seu projeto chegando todos a conclus o pela m dia das alturas dos pr dios que a Coluna devia ter a eleva o de 10 a 12 metros O NORDESTE 01 09 1933 p 05 Por m nenhum desses projetos apresentados foi aprovado pelo Estado com alega o de n o consultar o senso est tico do local O arquiteto da Prefeitura tamb m apresentou tr s projetos que foram sumariamente recusados Ficou a cargo do engenheiro e arquiteto Jos Justa apresentar um projeto definit
204. re os governos para as constru es dessas obras O presidente assinou o decreto entregando ao Cear 25 mil contos apurados taxa 2 ouro para a constru o do porto de Fortaleza PT autorizou ainda o ministro de via o contratar com particulares em fretes para aquisi o material para Rede de Via o Cearense PT abra os Carneiro de Mendon a IBIDEM 04 07 1934 p 01 amp A rede de via o cearense compreende a estrada de ferro de baturit de Fortaleza ao Crato com 599 Km 109 os ramais da alf ndega com 2 Km 900 de Itapipoca com 61 Km 300 inclusive o sub ramal da barra de Maranguape com 7 Km 246 de Cari s com 33 Km 200 de Or s com 42 Km 740 da Para ba com 119 Km 402 inclusive o sub ramal de Cajazeiras e a estrada de ferro de Sobral de Camocim Itapipoca com 373 Km 493 perfazendo assim o total de 1 239 Km 410 em tr fego Almanach Administrativo Estat stico Industrial e Liter rio do Estado do Cear para o ano de 1932 confeccionado por Jo o da Camara Fortaleza Empreza Tipographica P 142 O Cear representava a s tima maior rede de estrada de ferro em 1932 que continuou sendo ampliada com a estrada de Fortaleza ao Mocuripe em 1933 93 Este telegrama mostra claramente os recursos do governo federal destinados ao porto e s estradas de ferro na perspectiva de valorizar o ambiente constru do e melhorar a circula o de capital Ainda segundo Harvey a circula o de mercadorias
205. res doentes da catapora IDEM 2 O papel do historiador analisar as fontes de maneira cr tica captando intencionalidades para al m dos objetivos expl citos No caso desta cita o al m do ataque aberto pol tica de sa de implantada por Barca Pelon tamb m se pode inferir uma s rie de outros servi os que a administra o de sa de exercia e que era de grande utilidade para a popula o Como uma pol tica de verifica o da higiene dos alimentos dos locais de trabalho uma pol tica sanit ria de habita es A problem tica levanta no entanto em que medida esses servi os realmente funcionavam e principalmente atendiam a maioria da popula o 116 Pelo que vem sendo exposto por nossa pesquisa at o momento os servi os assim como o processo de moderniza o se distribuiu de maneira desigual favorecendo hierarquicamente os setores abastados Por m na medida em que se criava um Centro de Sa de a popula o como um todo tamb m seria beneficiada Havia obras que beneficiavam exclusivamente os setores abastados e outras que contemplavam a popula o geral A moderniza o tem que ser compreendida de maneira paradoxal inserida num contexto complexo de disputas ideol gicas e pol ticas e n o como um processo homog neo produtor de ideias e pr ticas monol ticas A prefeitura por exemplo vem realizando diversas obras de car ter perfeitamente adi vel enquanto relega ao abandono tudo que a pr
206. reto entendido como a s ntese de m ltiplas determina es MARX 2011 63 justificar com argumentos aceit veis o consider vel disp ndio que vai fazer sem qualquer interesse aconselh vel da parte da popula o V o ser gasto neste servi o 200 ou 300 contos sem nenhum proveito para a cidade Pelo lado est tico a estrutura da travessa uma pilheria rid cula Et quadra parada pelo beco um alej o Pelo que toca ao descongestionamento da Pra a do Ferreira o absurdo n o menor pois esse congestionamento s existe na cabe a dos inovadores apressados O tal beco vai ser t o til quanto o da travessa da Boa Vista que o povo bem sabe a que ele destinado Perguntamos n o seria mais proveitoso para a popula o que essa avultada quantia fosse aplicada em cal amento na zona afastada do centro ou em qualquer melhoramento que beneficiasse o contribuinte Qualquer pessoa em bom senso ficaria com nosso ponto de vista nunca os que s o refrat rios da imprensa e nesse n mero o atual Prefeito bate o Record H por m uma se o dinheiro fosse do seu bolso certamente que s s o aplicaria mais cuidadosamente Mas que usa a p lvora alheia pouco se incomoda que o tiro atinja ou n o o alvo Se o programa gastar dinheiro haja IDEM 14 09 1933 p 01 Segundo o peri dico a reforma da Travessas das Trincheiras seria n o s invi vel como totalmente desnecess ria para os cofres p bli
207. rio Francisco Jer nimo de 30 anos de idade casado residente a Rua da Leopoldina 225 recebendo uma ferida contusa na perna esquerda Transportado ao pronto Socorro recebeu ali os curativos necess rios O Nordeste 01 12 1933 p 02 Hoje cerca de 9 horas foi v tima de um acidente no trabalho o menor Eliseu Mendes Salles residente a Rua Solidade O menor trabalhava com o pedreiro Francisco Mendes e Salles e teve um dedo machucado em consequ ncia de uma queda na constru o de uma cal ada Rua 25 de Mar o Eliseu Salles foi transferido ao pronto socorro onde recebeu os curativos necess rios IDEM 01 08 1934 p 04 119 Os textos supracitados denotam um aspecto importante da produ o do espa o urbano Eles trazem um elemento que intencionalmente obliterado das fontes oficiais Os percal os na constru o dessas ruas como os diversos acidentes e os oper rios em processo de trabalho podem ser considerados sujeitos dessa constru o Tamb m mostra o uso da m o de obra infantil e o procedimento padr o quando aconteciam esses acidentes No primeiro momento as v timas eram transportadas atrav s do carro do Pronto Socorro que segundo O Nordeste 29 11 1933 p 5 atende a qualquer hora do dia e da noite s telefonar para o n mero 238 E no caso da v tima precisar de interna o seria levada para a Santa Casa An lise desses acidentes importante pois o espa o urbano pode ser compreendido como proce
208. rmanente de reformas modernizantes novas pr ticas mat rias com forma es discursivas enraizadas em acep es nost lgicas como cr tica dessas transforma es infraestruturais Podemos observar um exemplo nessa mat ria Segundo um documento da edilidade as carro as n o poder o trafegar na pavimenta o a concreto As ruas Major facundo e do Ros rio Pra a do ferreira Travessa Senador Alencar enfim os pontos centrais da cidade est o sendo pavimentados a concreto Diante desse impasse o que poder fazer o pobre carroceiro Pagou o imposto adiantadamente durante o corrente ano e n o pode exercitar a sua atividade Pensa que o Sr Prefeito que a civiliza o est no caminh o Chevrolet queimando gasolina da Am rica do norte Antes do contato da vertigem inhanque o Cear atravessava um per odo de grande prosperidade econ mica e financeira Hoje entretanto constatamos o contr rio Enquanto experimentamos o progresso na mec nica nos ares em terra no mar por outro lado o nosso dinheiro se escoa para o estrangeiro e ca mos numa pobreza de job O movimento de carro as nosso E regional Fica entre n s Mas o Sr Prefeito n o entende de finan as Acha que a carro a afeia a nossa linda art ria toda recamada de concreto E pronto Com um decreto manda as favas o servi o de carro as pelo centro da capital Bela vis o de administrador A RUA 05 09 1933 p 01 O jornal tece uma cr tica cida ao Prefeito Raimundo
209. rmo desordenado transmite uma impress o de que a urbaniza o de Fortaleza foi feita ao caso sem a presen a efetiva do Estado e fra es capitalistas como fosse resultado apenas de um aumento demogr fico oriundo da seca de 1932 Por m como nos alerta Hegel na Ci ncia da L gica necess rio ter a paci ncia do conceito para compreendermos a s ntese de fatores que compuseram a constru o do espa o urbano da capital Pois a pr pria desordem foi em parte ordenada e a ordena o foi tamb m desordenada O plano urban stico que tinha como meta racionalizar o caos s se justificava por sua presen a E aos olhos de muita gente n o parecia vi vel principalmente pelo alto custo e por ter quest es de primeira ordem alicer ares para serem resolvidas antes O projeto em perspectiva por mais perfeito agacemente falando n o far muita coisa al m do que j est feito precisamos falar claro Ademais mesmo com as rendas assegurada do Matadouro nova fonte de receita de vulto para o munic pio essa despesa nos parece que bem poderia ser evitada N o porque n o a possa fazer a prefeitura mas porque h servi os que est o reclamando mais urgentes provid ncias para a sua realiza o Neste caso vem em primeiro plano o cal amento Temos ruas centrais j sem uma pedra pra as em id nticas condi es e outras cal adas mas em tal estado que melhor fora n o o fossem o que d a impress o ante o concreto das vias
210. rno a uma concep o manique sta que tinha como nico objetivo ceifar a vida dos trabalhadores e da popula o pobre da capital Pelo 2 contr rio necess rio enxergar mais longe e entender o conjunto de contradi es que permearam a atua o do Estado e suas estrat gias de edulcorar os discursos numa perspectiva ideol gica As pr ticas de isolar a popula o pobre e os trabalhadores n o se apresentava ao Estado como um ato esp rio mas como uma alternativa de controlar a prolifera o das doen as e a a o dos retirantes O Estado e o espa o urbano apresenta uma unidade cujo car ter hist rico e dial tico semelhante rela o existente entre o espa o e a sociedade Nele o espa o e por ele as classes sociais e os grupos de poder se confrontam PEREIRA 2008 p 426 A constru o do espa o resultado dos conflitos de poder envolvendo os diversos sujeitos sociais e o Estado O pr prio setor capitalista n o atua no espa o de maneira homog nea mas como fra es de capital MANDELL 1982 GOTTIDIENER 1993 Portanto a a o do Estado pode em algum momento favorecer uma determina fra o como o capital imobili rio em outros momentos pode agir de maneira contr ria Todavia no tocante classe trabalhadora no sistema capitalista historicamente a interven o do Estado favorece mais os capitalistas e menos os trabalhadores Da a import ncia do cruzamento de fontes na pesquisa pa
211. rotejo de moderniza o do governo De acordo com Silva 1992 p 00 entre 1930 1955 surgiram as seguintes favelas na cidade Cercado do Z Padre 1930 Mucuripe 1933 Lagamar 1933 Morro do Ouro 1940 Varjota 1945 Meireles 1950 Papouquinho 1950 Estrada de Ferro 1954 Neste sentido a seca acelera um processo de aprofundamento das contradi es do espa o urbano de Fortaleza na medida em que os retirantes quando chegam capital precisam de moradias Neste ponto entra o projeto do governo a especula o mobili ria o poder das classes abastadas no sentido de afastar os flagelados da zona central e tangenci los para as favelas Pois n o era do interesse da elite que essa popula o ocupasse as reas nobres da cidade ou melhor as reas mais modernas e urbanizadas Os retirantes poderiam servir para essa elite como explora o de m o de obra barata no desenvolvimento da urbaniza o da cidade mas jamais poderiam servir como vizinhos Portanto para compreender como o espa o urbano de Fortaleza foi constru do na d cada de trinta essencial analisar os sujeitos hist ricos envolvidos no processo como as elites Estado e os retirantes Entendemos a seca e o retirante imerso num contexto de crise do sistema capitalista mundial como sendo ambos utilizados para obten o de recursos e constru o de melhorias urbanas para consolidar um projeto de modernidade das elites locais e do governo de Raimun
212. rros pobres dos ricos visando um maior controle da popula o e uma melhor circula o de mercadorias N o obstante os caminhos a serem percorridos sofriam constantes altera es e n o dependiam apenas dos desejos e anseios do prefeito ou de qualquer estadista A cidade muito mais complexa do que as intencionalidades dos sujeitos que a habitam e a constroem A morfologia do espa o assume uma forma que n o necessariamente funcional para o capital apenas para certas fra es de classe GOTTDIENER 1993 p 220 Destarte n o se pode exercer o controle total da cidade embora seja esse o intuito do urbanismo Como explanamos anteriormente esse urbanismo tamb m tem como fun o homogeneizar os espa os modelar as rela es sociais heterog neas obliterando as caracter sticas peculiares dos espa os sociais Todavia o projeto urban stico de Nestor Figueiredo n o t o diferente dos projetos anteriores na medida em que adota padr es euroc ntricos mant m o tra ado xadrez e legitima as desigualdades sociais materializadas nas formas espaciais dos bairros centro em oposi o s periferias A nosso v pensamos que cada povo deve ter o seu gosto est tico Uma cidade americana tem o seu aspecto urbanista diferente de uma cidade europeia O clima a topografia o costume social tudo deve influir na reforma est tica da localidade Transformar uma cidade s pelo gosto de imitar o sistema de outros povos n o
213. rtante salientar que o governo e os setores abastados tinham um projeto de modernidade no sentido amplo da palavra desenvolvimento da cultura arte ind stria reas de lazer infraestrutura urbana Todavia esse projeto se materializava na cidade de maneira socioespacial ou seja se desenvolvia de maneira desigual e assim trica nos espa os nos bairros nas ruas etc Por conseguinte a infraestrutura e as reformas que eram apresentadas pelo governo atrav s dos seus ve culos relat rio do Carneiro de Mendon a e no jornal O Povo n o condizia com a cr tica que alguns peri dicos e outras fontes mostravam As fontes oficiais produziram sil ncios que a narrativa hist rica deveria fazer gritar 76 As fotos n o podem ser consideradas meras ilustra es na pesquisa Elas adquirem status de fonte hist rica com uma carga subjetiva do pesquisador que as seleciona Esta foto mostra a oficina do Urubu onde podemos observar o seu isolamento em rela o cidade e a desorganiza o do seu espa o exterior na acumula o de entulhos e falta de saneamento A foto tamb m mostra a que custo se executava as obras de moderniza o da cidade ou seja isolando os trabalhadores e os doentes 113 Figura 6 Oficina do Urubu vista por dentro Foto do arquivo Nirez A pol tica da prefeitura quando come ou a surgir os primeiros casos de var ola na capital foi a de pintar um painel hist rico l mpido obliterando a realidade Em vez
214. rventor como o governo enxergava o costume dos retirantes que eram inteiramente desprovido de conhecimentos que pudessem interessar a sua defesa sanit ria Podemos notar a compara o em tom de esc rnio em rela o higiene dos retirantes Trata se de uma contradi o aos padr es de assepsia moderna que a elite fortalezense almejava sendo portanto o papel da Interventoria educar aquela popula o aos padr es normais de higiene A popula o era alvo desse servi o de assist ncia que abrangeria os oper rios do IFOCS e os campos de concentra o Cabe se questionar quem o Interventor chamava de oper rios do IFOCS J que ele separou esses oper rios da popula o dos campos Seriam eles retirantes que faziam servi os urbanos e que n o estavam nos campos Ou seriam os 5 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a Arquivo P blico do estado do Cear P 124 14 NEVES Frederico de Castro Get lio e a Seca Pol ticas emergenciais na Era Vargas In Revista Brasileira de Hist ria Org o Oficial da Associa o Nacional de Hist ria S o Paulo ANPUH Humanitas Publica es Vol 20 n 40 2000 p 115 32 engenheiros e outros funcion rios especializados do IFOCS Talvez se analisarmos quais eram os servi os de assist ncia m dica aos flagelados poderemos elucidar ou pelo menos apontar um caminho para essa quest o Al m de cuidar da preven o de doen as contagiosas era t
215. rvey 2004 p 87 nos mostra que o movimento fluido sobre o espa o s pode ser estabelecido mediante a instala o de certas infraestruturas f sicas no espa o Vias f rreas rodovias aeroportos instala es portu rias redes de cabos sistemas de fibra tica redes el tricas sistemas de gua e esgoto etc Esse capital fixo investido na cidade importante para absorver capital e evitar crises em m dio prazo Todavia sua funcionalidade n o era somente esta de substancial relev ncia que o investimento no porto tenha operacionalidade pois n o se justifica a constru o de um porto que n o receba e n o despache embarca es Al m da mobilidade de escoar excesso de capital e de trabalho o capital fixo investido na terra requer que as intera es espaciais sigam o padr o geogr fico fixado de seus investimentos para que seu pr prio valor se realize HARVEY 2004 p 87 H tr s anos come aram os estudos do porto Entretanto n o se sabe ainda onde o mesmo ficar localizado Se na enseada do Mucuripe se em continua o da ponte de cimento armado conforma a opini o de um dos especialistas H oito meses que os oper rios do porto n o recebem seus minguados sal rios O governo revolucion rio deveria abolir a pr tica do fornecimentos pagando em dias os seus empregados diaristas ou n o e resolver o problema portu rio do Cear com a maior brevidade porque o povo vendo em tudo isso
216. s bairros popula o vida cotidiana e cultural esse projeto nunca se efetiva por completo Em Fortaleza n o foi diferente Com vistas voltadas para o embelezamento p blico restringidos a zona mais central de Fortaleza n o obstante as possibilidades do munic pio os nossos governadores vem descurando lastimavelmente das necessidades gerais da cidade relegando as para plano inteiramente secund rio Fortaleza n o possui um servi o de limpeza p blica recomend vel O lixo coletado em horas impr prias e atirado quase no cora o da cidade servindo de pastos aos animais exposto ao sol impregnando o ar de seus perigosos miasmas As ruas embora sejamos uma cidade aberta aos ventos que a toda hora levanta nuvens de p n o tem nenhuma irriga o O munic pio n o mant m nenhum estabelecimento para recolher os mendigos nem qualquer organiza o para amparar os menores delinquentes ou abandonados A mis ria vive exposta em todo quadrante da cidade Chagados e enfermos de todas as mol stias inv lidos e vagabundos esmolam nos lugares mais p blicos dando ao forasteiro a impress o que somos um vasto hospital ambulante N o possu mos um parque de divers o para as crian as N o temos um campo desportivo nada que estimule a pr tica da cultura f sica Os sub rbios est o esquecidos num areal tremendo desservidos de tudo Falta lhes cal amento limpeza p blica higiene luz policiamento e muitas vezes at gua O Ar
217. s de primeira ordem eram espa os de grupos privilegiados A urbaniza o nesses locais n o poderia parar por isso que o centro e especialmente a Pra a do Ferreira vivia coberta de Poeira Por m era um tipo diferente de poeira dos areais e sub rbios ocasionados pelo excesso de reformas e n o pela neglig ncia total e abandono das reas mais pobres Outro aspecto importante da moderniza o de Fortaleza foi o referente ilumina o p blica Segundo Nogueira 1980 a ilumina o de fortaleza teve tr s fases 1 a era do azeite de peixe 2 a era do g s carb nico e 3 a era da eletricidade com fios O per odo analisado em nossa pesquisa marca a transi o da era do g s carb nico para a da eletricidade com fios Como observamos existia um projeto do governo de modernizar a capital e nada mais simb lico do que a ilumina o que est associado ao ide rio de progresso desde os tempos do iluminismo em contraste com a escurid o figurativa de atraso e trevas No entanto a ilumina o segue na esteira da moderniza o das ruas e pra as ou seja desigual contemplando apenas uma parte dos logradouros As ruas mais afastadas do centro num ad gio da poca deveriam fazer contrato com a lua 84 E A 2256 p ERRA red A ilumina o a g s ficava a cargo da empresa brit nica Cear G s Company que exercia essa atividade desde 1866 clareando algumas ruas da cidade dando poca uma sensa
218. s de v rios setores al m do papel que cumpriria na circula o de mercadorias Um latifundi rio da capital ou do interior do Estado poderia exportar mercadoria com um menor custo pois no capitalismo a circula o de excedente est constantemente mudando para novos canais quando novas oportunidades s o exploradas novas tecnologias e novos recursos s o alcan ados e a capacidade produtiva s o abertas HILL 1977 p 42 O desenvolvimento do porto nesta acep o convergia para o desenvolvimento econ mico da cidade e dos setores capitalistas que dela faziam parte A grande e velha esperan a do Cear vai desta feita felizmente tomando as cores de uma consoladora realidade Fruto verdade de uma terr vel seca de que os nossos sert es largo tempo guardar o ominosa lembran a Pode se dizer assim que os eternos estudos de outrora lograram o seu fim J est marcado de vez o local e os t cnicos se lan am afanosos aos trabalhos das plantas definitivas IDEM 11 11 1933 p 03 6 Harvey amplia a teoria dos circuitos de Lefebvre inserindo na discuss o um terceiro circuito ligado aos gastos sociais e pesquisa e desenvolvimento Investimentos para serem absorvidos numa longa dura o Harvey 2004 p 93 105 90 Bourdieu 2008 presciente quando diz que os discursos n o podem ser desvinculados das suas bases sociais Em outras palavras eles n o podem ser reduzidos a si mesmos Os discursos sobre o Porto
219. s imediatas de ter uma moradia Assim sendo a moderniza o como palavra de ordem hegem nica nos discursos pol ticos do governo passava a quil metros da periferia e dos bairros pobre da cidade No livro Fatores de Localiza o e de Expans o da cidade de Fortaleza do arquiteto Jos Liberal de Castro verificamos melhor como era a dimens o espacial de Fortaleza na poca da seca de 1932 e a mudan a que a cidade sofre depois da seca A cidade era ainda bem pequena como se percebe atrav s da planta levantada em 1932 poca em que conseguia recobrir bem pouco a mais do que as vias planejadas por Hebster em 1875 A partir do in cio do dec nio de 30 desenvolve se a cidade toda zoneando se de acordo com a estrutura preexistente Os bairros mais modestos v o se espalhando ao longo das ferrovias junto das quais principalmente na zona oeste surgem as ind strias As pessoas mais abastadas come am a preferir a Aldeota CASTRO 1977 p 35 e 36 Castro argumenta que a cidade de Fortaleza ap s a seca de 1932 aumenta consideravelmente o seu espa o urbano Mas o interessante notar que esse espa o 38 No cap tulo Tempo Disciplina do Trabalho e Capitalismo Industrial E P Thompson faz uma brilhante an lise de como as sociedades industriais na Inglaterra estabeleciam o controle do tempo e como a popula o de trabalhadores ingleses passaram por esse conflito temporal que estavam intimamente relacionadas a uma d
220. s j ocorridas no estado do Cear E que os governos estaduais e federais agiriam junto com as classes abastadas para tentar atenuar os conflitos que ela poderia gerar Portanto era necess rio enviar mais verbas para que o controle da popula o fosse efetivado sem conflitos Isso significava construir obras e colocar os retirantes para ocupar seu tempo no caso trabalhar pesado Foi constru da mais uma pra a conhecida como Fausto Barreto Na planta da cidade levantada ultimamente ficou projetado uma pra a que tomou o nome de Fausto Barreto e esta localizada a praia de Iracema no ponto terminal da Avenida Pessoa Anta rec m aberta e pavimentada O terreno destinado referida pra a foi adquirido em condi es vantajosas para municipalidade Foi feito o servi o de aterramento dos charcos ali 21 As reformas referentes a seca de 1932 se iniciam no governo do prefeito Tib rcio Cavalcante mas ganham um impulso maior na administra o de Raimundo Gir o no ano de 1933 2 Idem p 290 38 existente e aproveitado o coqueiral como arboriza o do logradouro que tem atualmente aspecto pitoresco e sadio Conjecturamos que essa era uma das formas que o governo encontrava para utilizar os retirantes estabelecendo um controle sobre seu tempo livre visto que era necess ria muita m o de obra para fazer os servi os de aterramento dos charcos constru o de pra as e ruas e n o carecia de muita especializa o para es
221. ses tipos de servi os sendo por conseguinte muito vi vel para o Estado a aloca o dos flagelados nessas obras e que n o foram poucas importante salientar que os discursos acerca dessas obras sempre v m acompanhados de adjetivos como vantajosas bonitas de imensa serventia p blica fundamental para melhorar o tr fego entre outros Em nenhum momento ressaltada a import ncia dos trabalhadores na constru o dessas melhorias como se elas fossem feitas pelas ideias da elite e do governo e n o pelo trabalho dos oper rios que carregavam as pedras erguiam as pra as modificavam as ruas etc Havia uma invers o de valores em rela o a essas melhorias Elas eram utilizadas dentre outros objetivos para fazer propaganda do governo E as reformas continuavam sem parar Outro aspecto da morfologia urbana que sofreu altera o em Fortaleza nesse per odo foi o cal amento Houve um investimento exorbitante do governo e de alguns setores capitalistas nos anos de 1932 a 1934 em rela o pavimenta o das ruas e desenvolvimento de um novo cal amento As ruas estando mais bem pavimentadas favoreciam o desenvolvimento do com rcio e da ind stria da constru o civil uma vez que nesse per odo v rias cooperativas de constru o se instalam em fortaleza abrindo possibilidade at para o parcelamento de casa em v rias presta es refletindo uma expans o do cr dito e aumento do capital financeiro Fortaleza era uma
222. sesoossesossossesocsossesocssseossossossesee O0 2 3 Coluna da Hora a odisseia de um rel gio e sssesesooesooesooesssesssesesocssoossoossssesssosssooseo 77 2 4 Acumula o de capital a necessidade de um porto ccccs rsrsr rerreererocescesenares S 2 5 A cidade como reta o urbanismo de Nestor Figueiredo c ccccescercereerecssececoseocesoaoe DA 3 Terceira parte Favelas seosessoocsssosccessscceesscossssoocessooecesosecesoscosessooesesosesesosecessseossssossss L02 3 1 Cap tulo 3 O outro lado da cidade favela doen as e outros problemas sociais 102 Considera es FinAiS sssssssssesssessssssorosssrsersscsssossvoossvessossossosos osdotoosvisoses ress sostssssisvssss sosse L29 IDI i PEE E E E E EEEE E A A AE E E 129 Refer ncias Bibliogr ficas seseessecssesocsseesoesccssecsoesoosscesoeecosscessesocesocsseesoesocsseesoesocssesssesses L30 11 INTRODU O Toda pesquisa tem sua hist ria Gostar amos de iniciar falando um pouco da trajet ria da nossa pesquisa Ela surgiu quando est vamos fazendo o curso de gradua o em hist ria pela UECE Universidade Estadual do Cear e numa cadeira do curso intitulada Metodologia da Pesquisa Hist rica fomos obrigados a pesquisar alguma coisa e no final da disciplina apresentar um projeto Ent o surgiu o nosso primeiro dilema te rico metodol gico O que pesquisar em mat ria de historiografia As op es eram grandes
223. sigualdades socio espacias numa dial tica da modernidade em que discurso e realidade material se antagonizam formando uma unidade dos contr rios Neste cap tulo tentaremos analisar algumas das contradi es que constitu ram Fortaleza no per odo 2 2 O Centro e a Dial tica da Moderniza o O espa o n o humano porque o homem o habita mas porque o constr i e reproduz tornando o objeto sobre o qual recai o trabalho em algo que lhe pr prio Por outro lado o espa o passa a ser produzido em fun o do processo produtivo geral da sociedade CARLOS 1997 P 15 O espa o enquanto objeto de an lise algo complexo e multifacetado Para Lefebvre 1999 n o apenas um local da produ o mas se delineia como uma for a produtiva envolvendo forma fun o e estrutura N o obstante o espa o dial tico por natureza sua constitui o s pode ser apreendida em movimento na forma o de um todo coerente Dizer que o espa o dial tico reconhec lo como din mico e n o mero reflexo de um modo de produ o a sua estrutura interna determinada por uma s rie de fatores sendo necess rio separar os elementos centrais de sua constitui o dos seus aspectos secund rios Da adv m a importante destacar que essa estrutura interna ou tend ncia do modo de produ o n o explica o processo hist rico Ela apenas o ponto de partida jamais o de chegada necess rio analisar os aspectos emp r
224. ssado Tem uma verdadeira vol pia pelo modernismo Arrasou a Pra a do Ferreira pelo prazer de construir para o futuro Mas preciso demolir tudo Como Juli o o Apostata quer lavar Fortaleza de toda n doa da administra o do P4 passado Deixar inc lume o coreto da 7 de Setembro fazer obra incompleta que nas suas paredes est a inscri o em vern culo da remodela o do jardim na administra o do Dr Godolfredo Maciel Da o pesadelo do jovem Chefe da Edilidade Acha que a cidade de Fortaleza veio a lume ressurgiu do nada gra as aos seus esfor os Enquanto houver dinheiro estamos certos o jovem Governador do munic pio derruir tudo Constratando com esta febre de reformas a pobreza esfarrapada anda esmolando a caridade p blica pelos passeios da cidade Mas como j disse o Sr a pobreza n o vale nada Vale mais um palmo de pavimenta o a concreto do que um abrigo para as crian as pobres S o palavras do facundioso chefe do executivo municipal E n o h l gica que sirva O coreto entrou h dias no pano das reforma A picareta entrou em cena sem contempla o Pobre passado IDEM 10 10 1933 p 03 Observamos portanto que o passado o pano de fundo para uma cr tica mais visceral ao projeto de moderniza o da cidade Ao mesmo tempo em que a picareta do governo n o para de executar reformas materiais que atender o a uma pequena parcela da sociedade a mis ria em torno da cidade aum
225. sso e n o apenas resultado acabado da pol tica de moderniza o do Estado E torna se interessante observar as contradi es dos oper rios remodelando o centro reformando pra as e ruas e ao mesmo tempo habitando os sub rbios e as favelas Outra forma de enxergar as problem ticas da outra cidade dos bairros pobres da capital concerne em se cotejar o aumento dos crimes confus es brigas furtos e outros delitos com o crescimento da periferia Esses problemas sociais tamb m fizeram parte do projeto de urbaniza o do governo e dos setores capitalistas numa pol tica de afastar os miser veis e poss veis delinquentes do centro O Arraial Moura Brasil por exemplo um dos bairros mais pobres no per odo grande periferia de Fortaleza aparecia nos jornais normalmente de duas formas 1 algum morador sofria um acidente de trabalho 2 ou no segundo caso se envolvia em alguma confus o roubo ou situa o do g nero Os crimes aumentam na cidade principalmente nas periferias come ando a demonstrar uma rela o mais visceral entre o aumento da viol ncia com a amplia o do processo de faveliza o Domingo tarde foram s vias de fato no Arraial Moura Brasil Humberto Ferreira da Silva e Jo o Batista de Sousa ferindo se mutuamente a navalha saindo aquele ferido no bra o direito e este na regi o hipot nar direita IDEM 14 11 1933 p 07 O processo de criminaliza o nos bairros se intensifica notamos a a g
226. teorol gico hist rico social econ mico 2 Parte Elabora o do plano em cartas quadros sin pticos etc 3 Parte Organiza o do plano diretor que dever compreender a ossatura do plano os meios de transporte e zoneamento organiza o do com rcio varejista bairro industrial e zona do porto localiza o dos bairros resid ncias determina o dos espa os verdes gabaritos legisla o e regulamento estudo de uma legisla o especial do plano diretor com conex o com o c digo municipal de constru es O plano geral para o desenvolvimento sistem tico da cidade atende a uma popula o de 250 mil habitantes O NORDESTE 20 12 1933 p 01 As partes do contrato mostram a dimens o do plano urban stico Tratava se de um projeto para a cidade envolvendo aspectos econ micos sociais pol ticos estudos geogr ficos geol gicos hidrogeogr ficos A capital foi pensada na sua estrutura global pois havia separa o de bairros industriais dos residenciais organiza o do com rcio varejista do sistema de transporte cria o de uma legisla o pr pria em conex o com o c digo de constru o do munic pio an lise das aglomera es que na poca j se tornara um problema e por fim uma proje o para o futuro pois o plano tinha como base atender uma popula o de 250 000 habitantes ou seja o dobro da popula o do per odo O projeto de Nestor Figueiredo sofreu muitas cr ticas dentre um dos motivos o fato d
227. tidos podemos ser acusados de herege mesmo assim n o abdicamos desta postura O m todo de exposi o da pesquisa para n s t o importante como o per odo de investiga o Neste sentido a pesquisa foi divida em tr s partes 1 Seca e Modernidade 2 Centro 3 Favelas N o iremos aqui repetir o que foi exposto na introdu o e no corpo da pesquisa tentaremos n o cair nesta tarefa ingrata Apenas gostar amos de deixar claro 124 alguns elementos que ficaram obscuros no decorrer do texto ou por falha na exposi o ou pelo car ter lac nico de uma disserta o Quando investigamos a seca de 1932 e o papel que os retirantes cumpriram na produ o do espa o urbano de Fortaleza o nosso objetivo era abordar a seca enquanto uma caracter stica epifenom nica na produ o do espa o urbano de Fortaleza Trat la como epifen meno n o significa dizer que ela n o foi importante para a constitui o do espa o mas reconhecer o seu papel num conjunto de hierarquias MESZ ROS 2011 Era importante estabelecer hierarquias de determina es Em nossa opini o a seca de 1932 funcionou como um catalisador das contradi es na medida em que propiciou uma leva de retirantes a invadir a capital e reivindicar alimento trabalho e moradia Os retirantes no entanto servir o de m o de obra barata para a implanta o das melhorias urbanas ao mesmo tempo em que v o habitar as favelas da capital e acelerar o processo d
228. tificantes do trabalho acad mico pois a ocasi o de reconhecer a pesquisa como um esfor o coletivo e dar nome a quem nos ajudou mesmo que essa ajuda tenha se resumido a uma palavra de incentivo Agrade o minha ador vel fam lia pelo acalento em momentos de desespero CAPES pela bolsa de incentivo pesquisa sem a qual dificultaria bastante a realiza o deste trabalho pelo menos nos moldes apresentados Ao meu orientador William James Mello que me ensinou um dia que existem dois tipos de professores Os de portas fechadas e os de portas abertas Inapelavelmente ele se encaixa na segunda op o que pelo cabedal te rico acumulado e pela a sua produ o n o se distanciou da humildade equalizando o tratamento de um aluno de gradua o ao de um professor doutor E pela confian a depositada em minha pessoa mesmo nos momentos adversos do trabalho Divido com ele os acertos desta pesquisa A professora Zilda Maria Menezes Lima por sua preciosa ajuda na corre o do projeto principalmente no que se refere ao estilo possibilitando uma maior fluidez textual Espero ter trazido um pouco desse conhecimento para a disserta o A professora Berenice Abreu por ter acreditado em mim no in cio da pesquisa e me fazer sentir um pesquisador Ao professor Gisafran Nasareno Mota Juc pelas duras cr ticas no processo de qualifica o que fortaleceram o presente trabalho E por ter aceitado participar da banca de defesa
229. tituinte n o se esqueciam de seus momentos de luxo e lazer Esse tamb m mais um ind cio do aumento de verbas que chegava cidade devido seca A cidade era remodelada num ritmo acelerado ou melhor o centro da cidade e alguns bairros da classe abastada Em rela o ao centro da cidade se observarmos as fotos das suas principais ruas como a Major Facundo a Bar o do Rio Branco dentre outras verificaremos a presen a de autom veis os edif cios come ando a se verticalizar sua pavimenta o a concreto todos os ind cios de um centro comercial que se tornava efervescente e moderno 4 De acordo com Castro 1988 p 216 a patina o era um desporto em voga com o qual a Jeunesse Dor e aproveitava os passeios cimentados das novas pra as para exibir se Da em se pensar em projeto de modernidade e n o apenas de moderniza o A elite cearense se espelhava nos costumes europeus e queriam uma cidade n o apenas com novos equipamentos modernos mais com uma popula o culturalmente moderna 46 Figura 3 Rua Major Facundo a primeira a ser pavimentada a concreto Fonte Relat rio do Interventor federal Roberto Carneiro de Mendon a Arquivo P blico do Cear Essas fotos nos d o um panorama de como era o centro da cidade de Fortaleza ou melhor algumas possibilidades da reconstru o do centro de Fortaleza Partindo da perspectiva que essas fotos foram selecionadas para propagandear o governo e que as fo
230. to imediatamente aprova a cria o do segundo Batalh o provis rio destinado a colaborar militarmente com as for as federais em defesa da Ditadura ou seja da pr pria Revolu o de 30 ora agredidas pelos reacion rios paulistas A inoportuna rebeli o paulista segundo o jornal traz em seu bojo uma sede de dom nio que se tivesse de ser saciada acarretaria a desgra a do Norte j que a hegemonia paulista sempre foi funesta aos nossos interesses regionais A Revolu o de 30 ao contr rio veio criar para o Norte condi es pr prias at ent o desconhecidas NEVES 2000 p 136 e 137 Portanto a neglig ncia da imprensa ou melhor do jornal O Povo em rela o seca at o m s de outubro foi justificada pelo interesse do peri dico em manter a continuidade do governo provis rio que segundo ele favorecia os interesses regionais legitimada como sendo necess ria para garantir a autonomia do Norte Enquanto isso os campos de concentra o foram esquecidos na imprensa apesar das verbas do Minist rio da Via o continuar chegando ao estado do Cear Por m mesmo num contexto t o repleto de conflitos pol ticos o Estado conseguiu agir de maneira centralizada e organizada poss vel verificar essa organiza o e centraliza o com a implanta o das interventorias que refletiu diretamente na maneira de se combater a seca no estado do Cear Os retirantes n o est
231. tos mesmo que fossem para denegrir o governo n o passavam de umas das poss veis representa es do real Algumas ruas foram selecionadas no relat rio outras n o Algumas fotos foram selecionadas nesta pesquisa em detrimento de outras Podemos questionar como eram feitas essas melhorias Visto que as fotos at ent o analisadas mostravam as melhorias j em estado de conclus o No entanto s o poucas as fotos no Relat rio do Interventor que mostram as obras em andamento e por conseguinte os trabalhadores em atividade pois n o era inten o do governo mostrar a que custo era feitas essas melhorias sendo muito mais interessante para efeito de propaganda exibir os resultados 47 Figura 4 Pavimenta o da Rua S o Paulo Relat rio do Interventor federal Roberto Carneiro de Mendon a Arquivo P blico do Cear Esta foto uma das poucas que mostram os trabalhadores no processo de constru o das melhorias Ela se refere ao servi o da nova pavimenta o da Rua S o Paulo N o podemos afirmar pela foto que aqueles trabalhadores sejam retirantes Por m ela bastante significativa pois revela quem s o os sujeitos que constroem materialmente a cidade Percebemos na foto a presen a de trabalhadores em atividade e quantidade de trabalhadores que era necess rio na poca para se pavimentar uma rua Como todas as ruas do centro foram pavimentadas remodeladas junto com a constru o de pra as pontes e outras obras
232. tos transportes coletivos etc SILVA 1992 p 29 Nessa poca se intensifica o processo de faveliza o de Fortaleza causada em parte pela explos o demogr fica que a seca de 1932 proporcionou Boa parte da popula o de retirantes que vieram para a capital foi morar em bairros afastados da elite Contudo o que ge grafo Borzachielo quis dizer que o aumento da popula o n o foi acompanhado com um aumento da infraestrutura urbana em rela o a esses habitantes Porque houve sim um aumento dessa infraestrutura urbana da cidade por m esse aumento n o foi apropriado por todas as classes sociais O governo aproveita a quantidade de popula o retirantes e os recursos atra dos do governo federal devido seca e passa a investir nas chamadas melhorias urbanas Faremos um levantamento das melhorias urbanas que foram realizadas no per odo entre 1932 a 1934 atrav s do relat rio do interventor federal Roberto Carneiro de Mendon a com o objetivo de perceber os discursos oficias sobre as melhorias e o complexo jogo de interesses entre os sujeitos envolvidos no processo de urbaniza o de Fortaleza nessa poca Portanto um t pico que tamb m tem uma fun o de descrever as reformas urbanas do per odo para que possa servir de base para an lise de pesquisadores posteriores 35 Segundo Silva 2006 Santos 000 a partir da d cada de 1930 o Brasil inicia uma transi o de um pa s agr rio exportador co
233. trabalho que eram publicados quase diariamente no jornal O Nordeste na tentativa de entender onde esses trabalhadores moravam e se realmente havia uma rela o de marginaliza o centro favela representada nesses acidentes Hoje s 10 horas na ocasi o em que trabalhava num guindaste na f brica Miriam na praia foi v tima de um acidente o oper rio Luis Casimiro de 31 anos de idade solteiro residente no alagadi o Luis Casimiro teve um dedo do p esmagado recebendo igualmente outros ferimentos Quando estivemos na santa casa o pobre oper rio esperava que a companhia de seguros desse ordem para lhe serem feitos os curativos necess rios IBIDEM 23 10 1933 p 05 Luis Casimiro era residente do Alagadi o bairro pobre da capital onde na seca de 1915 foi constru do um campo de concentra o Notamos tamb m ser comum nos acidentes de trabalho encaminhar os feridos para hospital da santa casa E no caso do Luis ainda tinha que aguardar o aval do seguro para receber os curativos Os acidentes de trabalho tornaram se constantes da d cada de 1930 tanto os acidentes nas f bricas devido s p ssimas condi es de seguran a e carga hor ria extenuante e os acidentes das melhorias que se utilizavam da m o de obra dos retirantes na maioria agricultores que n o tinham experi ncia no setor da constru o civil sofrendo constantes acidentes Analisando os acidentes podemos observar quem eram os oper rios onde
234. treze 13 kil metros de novas ruas tendo sido levantados 2 180 metros de cerca de arame Podemos observar melhor essas obras atrav s de algumas fotos Todavia importante entender as fotos inseridas na pesquisa n o como meras ilustra es mas como fontes hist ricas que demonstram intencionalidade de quem a produziu e de quem as utiliza inclusive nesta pesquisa 31 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 296 32 Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 295 44 Figura 1 Ponte de Jacarecanga depois de sua nova reconstru o Fonte Relat rio do Interventor federal Roberto Carneiro de Mendon a Arquivo P blico do Cear Esta foto relativa ponte de Jacareganga que foi reconstru da O governo a utiliza como mais uma das melhorias que deixou Fortaleza uma cidade moderna No Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a boa parte das fotos s o mostradas fazendo uma compara o entre o antes e o depois das melhorias Com isso fazia sempre uma propaganda positiva do Interventor e do Prefeito Tib rcio Cavalcante ou Raimundo Gir o dependendo do per odo Ainda sobre a ponte de Jacareganga percebemos melhor a propaganda do governo nessa cita o A prefeitura teve necessidade de reconstruir a ponte de Jacareganga a Avenida
235. turalismo e a Hist ria Ver tamb m Mesz ros 2011 especialmente o cap tulo 1 A Natureza da determina o hist rica e o cap tulo 6 Estrutura e hist ria A inteligibilidade dial tica do desenvolvimento hist rico 72 a constru o de ruas Mas as obras nem sempre correspondiam s expectativas e s vezes eram motivos de chacotas na imprensa Por toda a parte observa se uma falha no trabalho Ora um bueiro ora um arremate mal feito deixando as vistas do p blico o aspecto do desmantelo prefeitural O paralelep pedo que est o sentando t o spero que tem a apar ncia do antigo cal amento Corre at uma pilheria a respeito Um paraense ironizando o trabalho disse que aquilo n o era paralelep pedo mas cearenselep pedo Ontem ao passarmos pela Rua Dr Pedro Borges verificamos que o concreto que se est fazendo naquele trecho nas media es da Padaria Italiana trabalho de tapia o pois que o concreto sentado sobre uma camada de areia Pelo menos o que se nota nas extremidades De modo que a espessura da massa diminuta n o correspondendo ao que ficou estipulado da firma empreiteira com nossa edilidade IDEM 10 11 1933 p 01 medida que a remodela o da cidade ocorria as cr ticas na imprensa acompanhavam nas mesmas dimens es Todavia tamb m existiam elogios sobre o aspecto est tico da cidade no sentido de uma urbe moderna bela nos par metros da civiliza
236. turo da cidade e muito facilitar como j esta facilitando o desenvolvimento do trafego urbano Torna se indispens vel que a administra o municipal complete a abertura da rua projetada no trecho compreendido entre as ruas Floriano Peixoto e General Bezerril a fim de que a medida atinja a sua finalidade O relat rio mostra portanto o empenho para convencer que esse prolongamento era de total necessidade que facilitaria o tr fego ou seja o desenvolvimento futuro da cidade deixando impl cito que a cidade e a administra o no caso prefeito Tib rcio Cavalacante e Interventor iriam ter perdas enormes se a obra n o fosse constru da Ressaltando como sendo de fundamental import ncia concluir essa melhoria que para a abertura do trecho ora entregue ao publico foi necess rio desapropriar cinco pr dios no valor total de R S 385 000 Os discursos eram criados com a inten o de justificar a constru o dessas melhorias Falava se do aumento de verbas destinados a essas obras utilizavam a ret rica da Relat rio do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendon a 22 09 31 05 09 34 Arquivo P blico do estado do Cear p 291 grifo meu Idem p 289 2 Idem 37 antinomia cidade moderna em detrimento da velha cidade para que os setores capitalistas e o governo efetuassem seu projeto urbano de desenvolvimento capitalista excluindo as camadas pobres da participa o dos benef cios Fortaleza estava se
237. ui o assim trica da riqueza pois tem como ess ncia a manuten o da propriedade privada O projeto do governo orquestrado por Nestor Figueiredo n o poderia fugir desse axioma A centraliza o da prefeitura na perspectiva de criar um plano que projetasse o crescimento da cidade estava pautada na administra o dessas desigualdades jamais na sua solu o Todavia o projeto n o sai do papel provavelmente devido ao seu custo operacional O governo ainda cria uma subcomiss o para executar o plano reunindo quase todas as lideran as da prefeitura com o apoio da interventoria e sob a lideran a do engenheiro mesmo assim n o vai adiante Apesar do plano urban stico n o ter se materializado no sentido como foi pensado nas cl usulas do artigo do contrato n o podemos compreender Fortaleza na d cada de 1930 sem a sua intencionalidade e como princ pio educativo para as administra es posteriores A cidade n o poderia ser constru da por for as naturais do acaso e da aglomera o os ricos n o poderiam pleitear o seu sono na morada dos pobres resid ncias com rcio e ind stria s o coisas diferentes e deveriam por conseguinte habitar espa os diferentes o centro deveria ser tomado como prioridade urban stica a circula o de mercadorias t o importante quanto a circula o de capitais Em linhas gerais esses conjuntos de fatores que ilustraram a cartilha de Nestor Figueiredo definiram em boa medida a mor
238. ujeitos que habitavam a cidade No momento que apareciam problemas como doen as e excesso populacional a sa da sempre foi autocr tica e unilateral sem possibilidade de comunica o com a popula o mais pobre Em linhas gerais esse era o molde do projeto de modernidade do governo divis o socioespacial exclus o e marginaliza o de uma camada da popula o especialmente os pobres e doentes e implantar uma moderniza o sem mudan as A maneira como a sa de p blica foi tratada representada na pol tica de Barca Pelon que seguia uma orienta o nacional exemplar em revelar as contradi es da modernidade de Fortaleza Por isso nos atemos a explanar mesmo que de forma geral a rela o da sa de na forma o do espa o urbano e na constituindo do outro lado modernidade o que chamamos de outra cidade 117 A produ o do espa o urbano de Fortaleza se mostrou um mosaico de v rios atores sociais Todavia cabe questionar onde est o os trabalhadores na pesquisa Ser que eles n o exerceram nenhuma influ ncia na produ o do espa o Esse se apresentou como um dos maiores desafios desta pesquisa encontrar os trabalhadores A dificuldade veio em dois sentidos 1 a precariedade dos arquivos do cear 2 a aus ncia dos trabalhadores nas fontes conservadas maioria fontes oficias Portanto a tarefa n o era simples mas bastante rdua A sa da encontrada por nossa pesquisa foi investigar os acidentes de
239. ularmente arbitr ria e perigosa se oferece como verdade total e dogma utilizando meios terroristas Leva ao urbanismo dos carros da limpeza p blica dos mediadores que se pretendiam impor em nome da ci ncia e do rigor cient fico Lefebvre 1991 p 43 A cidade de Fortaleza ao mesmo tempo em que era a mais desenvolvida do Cear e que tinha uma maior industrializa o uma maior rede de com rcio e uma maior urbaniza o tamb m passa a ser o l cus das contradi es de classes onde existiam v rios sujeitos disputando os seus espa os Da o medo do governo e dos grupos privilegiados no que se refere ao controle social dos retirantes O governo por m continua a sua propaganda urbanista Como consegii ncia natural do preparo da nova pavimenta o teve a prefeitura que estudar e construir as galerias de vaz o das guas pluviais servi o de que a cidade se ressentia quase totalmente Correspondentes aos trechos cobertos com cal amentos a concreto e a paralelep pedo foram constru dos 724 metros de galeria as quais produziam resultados magn ficos durante o ultimo inverno ficando assim provada a sua efici ncia Fortaleza a partir da seca de 1932 virou um verdadeiro canteiro de obras Ainda foi feito nesse per odo um servi o de coloca o de meios fios no qual a prefeitura aproveitou para fazer propaganda do seu governo comparando com o governo anterior Portanto as melhorias eram utilizadas das mais
240. vos habitantes das diversas cidades Para o plano de urbaniza o de Fortaleza havia a considerar portanto estes dois lados igualmente importantes e necess rios Seus habitantes t m sentimentos morais pr prios que constituem um delicioso motivo de beleza coletividade cearense A RUA 20 12 1933 p 03 Figueiredo tem consci ncia do papel que o urbanismo exerce na remodela o de uma cidade N o por acaso que no seu discurso ressalva a import ncia dos sentimentos valores morais e costumes dos seus habitantes influ ncia de Camillo Sttle pois o urbanismo age exatamente no sentido oposto Faz parte da sua l gica como destacou Lefebvre homogeneizar esses costumes atrav s da centraliza o de atividades e do controle da desordem Isto se torna mais operativo com a problem tica da seca numa conflu ncia de habitantes do campo e da cidade exigindo um maior n vel de ordena o do Estado A exposi o do plano urban stico continua salientando que o plano urbano deve presidir sempre o crit rio de previsionar isto impedir males futuros A utilidade p blica est acima da obra de luxo As cidades de hoje apresentam estas falhas que obstam a expans o e a forma o de uma futura cidade IDEM 20 12 1933 p 01 O tra ado da cidade continuaria na linha desenhada por Paulet Botic rio e Hebster por m ampliando o per metro e a sua dimens o global N o apenas a divis o das ruas seria levada em considera o
241. zes 2001 p 95 142 Cultura e capital financeiro In A cultura do dinheiro ensaios sobre a globaliza o Petr polis Vozes 2001 p 143 172 O tijolo e o bal o arquitetura idealismo e especula o imobili ria In A cultura do dinheiro ensaios sobre a globaliza o Petr polis Vozes 2001 p 173 206 P s modernismo a l gica cultural do capitalismo tardio S o Paulo tica 2002 JUCA Gisafran Nazareno Mota Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza S o Paulo Anablume editora 2 ed 2003 LEAL Victor Nunes Coronelismo Enxada e Voto Rio de Janeiro Nova fronteira 1997 LIMA Carlos Cirne Dial tica pra principiantes Porto Alegre Edipicurs 1997 KATZNELSON Ira Marxism and The City Claredon Press Oxford 1993 KOFLER Leo Hist ria e Dial tica estudos sobre a metodologia da dial tica marxista Rio de Janeiro UFRJ 2010 KORSCH Karl Marxismo e Filosofia Rio de Janeiro UFRJ 2008 133 KOSIK Karel Dial tica do Concreto Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 GIANNOTTI Jos Arthur Certa heran a marxista S o Paulo Companhia das Letras 2000 Origens da Dial tica do Trabalho Porto Alegre L amp PM Editores LTDA 1985 GOLDMANN Lucien Ci ncias Humanas e Filosofia o que sociologia Rio de Janeiro S o Paulo Difel 1978 Dial tica e Cultura S o Paulo paz e terra 3 ed 1991 GADELHA Laurizete de Souza A Hist ria dos secret rios da sa de do Estado do Cear 1961 2006

a produção do espaço urbano de Fortaleza a partir da Seca

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