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T - ALCIMARA APARECIDA FOETSCH - UFPR

1. 181 6 1 1 A situa o das Matas Mistas ssesada do cenafu suas nadie sadia aa dalr das DaRaA CUSTA ab Naa ga Sa ntalaa diana 181 6 l2 A questao das Calvas nesen A 194 6 2 A TERRITORIALIDADE DOS CONDICIONANTES HUMANOS 199 6 2 1 O caboclo e o IM STANtePOLONES assess 5 Tr OA 199 6 2 2 A identidade territorial comunit ria e reereeeereeeeeeeracaa 203 CONCLUS O FAXINAIS E CA VAS IDENTIDADES TERRITORIAIS NO CONTESTADO ate ant a dedo de TUPAC da SEN ga RU Odo dU ev Ted A Ta a can ds das da 209 REFER NCIAS ic ii ada a Race 220 ANEXOS assa assess R de nceaso Lola de Tras aaad datado Dedico tesao vos n tas EUt Roda dotes a deal ES 234 ANEXO 01 Faxinal dos Carvalho Fraiburgo SC 234 ANEXO 02 Faxinal dos Domingues Fraiburgo SC een 235 ANEXO 03 Pinhalzinho Bela Vista do Toldo SC eres 236 ANEXO 04 Rio Preto Irine polis SC cceeeeeeererseerereeerercaaseraneres care craeeceaeeseeerrsnne 237 INTRODU O Sposito 2004 ao discutir o pensamento geogr fico ressalta que quando a profiss o de pesquisador coincide com a de professor ou dela se desdobra o di logo torna se mais imprescind vel e ocorre de maneira constante Isso porque nas salas de aulas no gabinete e nos corredores da Universidade que as ideias v o sendo conjugadas em racioc nios que possibilitam o surgimento de novas ideias conclus es e novos
2. 1 gt pum Mb neem Se o a pn ta Prof Dr Gicilign Luiza L wen SaFr aiena Mar J k Ana Uia Dr Marta bz Medeiros Marquez USP A i a ER a fez FPGGEOIUFPR F ss Diop CAEN Prai Cr Hilsar Cssar Fraga 1 2PGGEONFI PR Prof Dr Jorge Dedico Aos Levandovski aos F etsch e aos Greg rio origens presente e futuro Como ent o Desgarrados da terra Como assim Levantados do ch o Como embaixo dos p s uma terra Como gua escorrendo da m o C Como assim Levitante colono Pasto a reo Celeste curral Um rebanho nas nuvens Mas como Boi alado Alaz o sideral Levantados do Ch o Chico Buarque A TERRA E O HOMEM Paisagem O pinheiro do Paran a Araucaria angustifolia d car ter paisagem Por m os campos nativos ocupam duas ter as partes da rea mais frequentes ao sul e a oeste onde se estendem pelas coxilhas atravessadas de canhadas bruscas n o desaparecem totalmente ao norte e a leste encontram se a vastas clareiras naturais no meio das matas nos lugares planos e menos altos Por toda parte h campos limpos e campos sujos estes reconhecidos de longe pela quantidade de arb sculos h macegas que s o manchas de vegeta o rasteira e intrincada e h faxinais nome que se empresta a uma esp cie de cerrado Maur cio Vinhas de Queir z Messianismo e Conflito Social 1977 p 18 AGRADECIMENTOS A inte
3. 86 Classifica es dos Faxinais juntamente com a separa o por QUADRO 04 QUADRO 05 QUADRO 06 MAGEM 01 MAGEM 02 MAGEM 03 MAGEM 04 MAGEM 05 o PR qo O qe RO q RR q FOTO 01 FOTO 02 FOTO 03 FOTO 04 FOTO 05 FOTO 06 FOTO 07 FOTO 08 FOTO 09 regi o munic pio e o n mero dos Faxinais Levantamento dos Faxinais no Estado do Paran de acordo com a APE cross daiane anel e prA aa da GR e ad pa aa Rela o de fam lias moradoras do Faxinal do Emboque S o Mate s do Sul PR e aaa asp a da an pad Mandamentos do Monge Jo o Maria LISTA DE IMAGENS Emboque S o Mateus do Sul PR Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Aparecida dos Pardos Irine polis SC i Comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Localiza o das comunidades do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR e Aparecida dos Pardos Irine polis SC em TEIA C O A EITA VI As solda apra pas Tapas DSO E Aida dada LISTA DE FOTOS Vegeta o de Matas Mistas com ervais nativos no criadouro comunit rio do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Vegeta o de Matas Mistas com ervais nativos no criadouro comunit rio do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Terras de plantar do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul Terras de planta
4. Outro elemento regional importante para a caracteriza o do Sistema Faxinal consiste na ro a cabocla ou seja na policultura alimentar de subsist ncia nas palavras de Chang 1988 as terras de plantar Na comunidade de Aparecida dos Pardos bastante presente o cultivo do milho do feij o e outros produtos agr colas que visam tanto o consumo pr prio quanto comercializa o do excedente quest o aprofundada mais adiante Assim sendo pode se afirmar que a comunidade de Aparecida dos Pardos fez parte das terras que foram exploradas pela companhia Lumber durante e ap s a constru o da Estrada de Ferro inicialmente atrav s da retirada da madeira e em seguida pela venda dos lotes s serrarias menores e aos imigrantes principalmente poloneses Pr ximo a esse n cleo central localizou se um dos mais conhecidos redutos da Guerra do Contestado o de Pedra Branca e h inclusive narrativas que reportam a outro ref gio mais pr ximo o de Pinheiros Dessa forma pode se dizer que houve um contato direto do imigrante polon s com o caboclo do Contestado Pouco se sabe sobre essa rela o pois muitas das mem rias se perderam o que comum em uma regi o de Guerra entretanto comprovou se que os poloneses desenvolveram no local o chamado Sistema Faxinal do qual muitos elementos essenciais s o atribu dos aos caboclos Neste sentido apresentam se a seguir os resultados da pesquisa de campo nesta comunidade que com
5. legado ainda preservado neste Faxinal e considerando tamb m a passagem pr xima das rotas Depoimento dispon vel em ARTICULA O PUXIR O DOS POVOS FAXINALENSES Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil S rie Faxinalenses do Sul do Brasil Fasc culo 3 Rebou as PR setembro 2008 129 tropeiras pode se presumir que esta cria o era tamb m e ainda comercializada visando a gera o de renda para as fam lias Bach 2009 destaca que a suinocultura no sistema de safra desenvolveu se no Brasil entre 1800 e 1960 sendo que os safristas percorriam a regi o comprando porcos durante os meses de mar o e abril para a engorda Depois de gordos os animais eram tropeados at grandes centros e comercializados em casas de banha e frigor ficos eram tropas de at mil porcos conduzidas a p ou a cavalo por caminhos sinuosos picadas e atalhos por vezes margeando rios e percorrendo cerca de seis a sete quil metros por dia O mesmo autor relata a exist ncia em 1940 de casas de banha em Porto Uni o SC pertencentes a Adolfo Kliemann Jos Freiberger e Jos Scherainer distantes apenas setenta quil metros deste Faxinal Ressalta se ainda a afirma o de Chang 1988 quando a autora destaca que nos Faxinais paranaenses havia tamb m grandes cria es de su nos voltadas para o abastecimento do mercado interno dos centros urbanos regionais p 26 Nas entrevistas realizadas no Fax
6. o quando a filia o territorial possui o potencial de ser ativada como instrumento de reivindica o pol tica ou seja o direito adquirido numa espa o temporalidade efetiva ou completamente inventada onde se legitima a identidade do grupo pelo la o territorial 207 Castells 1999 ao considerar a identidade como fonte de significado e experi ncia de um povo discute a constru o desta considerando quest es como como a partir de qu por quem e para qu isso acontece propondo tr s formas e origens de constru o de identidades identidade legitimadora identidade de resist ncia e identidade de projeto destacando que identidades que come am como resist ncia podem acabar resultando em projetos Transportando estas considera es para a an lise do Sistema Faxinal poss vel compreender esta evolu o de uma identidade de resist ncia para uma identidade de projeto A forma diferenciada com que o Sistema Faxinal se desenvolveu na regi o Centro Sul do estado do Paran inicialmente visava o melhor aproveitamento das Matas com Arauc ria atrav s da divis o entre terras de criar e terras de plantar Sistema desenvolvido por atores que se encontravam em posi es desvalorizadas pela l gica de domina o atuando como trincheiras de resist ncia e sobreviv ncia coletiva Entretanto atualmente esta identidade de resist ncia parece exatamente ter evolu do para uma identidade de projeto podendo ser compreendi
7. 20 2 2011 p 371 389 SINZIG Frei P O F M Frei Rog rio Neuhaus Petr polis Ed Vozes 1939 SOUZA A M de Dos ervais ao mate possibilidades de revaloriza o dos tradicionais processos de produ o e de transforma o da erva mate no Planalto Norte Catarinense 1998 124 p Disserta o Mestrado em Ci ncias Agr rias Universidade Federal de Santa Catarina SC Florian polis 1998 231 SOUZA M J L de O territ rio sobre espa o e poder autonomia e desenvolvimento In CASTRO I E de GOMES P C da C CORREA R L Orgs Geografia Conceitos e temas 10 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 77 116 SOUZA R M de Mapeamento social dos Faxinais do Paran In ALMEIDA A W B SOUZA R M Orgs Terra de Faxinais Manaus Edi es da Universidade Estadual do Amazonas UEA 2009 p 29 88 SOUZA R M de Fronteiras e passagens a constru o da identidade Faxinalense In I Semin rio Nacional de Sociologia e Pol tica Curitiba UFPR 2009b Artigo completo SOUZA R M de Transforma es econ micas e sociais e trajet rias na agricultura familiar Estudo de caso sobre a desconstru o da autonomia da agricultura familiar no Faxinal Saudade Santa Anita Turvo PR 2001 135 p Disserta o Mestrado em Sociologia Universidade Federal de Santa Maria RS Santa Maria 2001 SPOSITO E S Geografia e Filosofia contribui o para o ensino do pensamento g
8. LAROCHINSKI 2000 p 69 70 Ver tamb m Gluchowski 2005 p 33 36 SD M 66 anos Entrevista 08 de maio de 2014 Irine polis SC Entrevistadora Alcimara Aparecida F etsch Acervo da autora 2014 160 mostrassem os caminhos e acompanhassem abrindo as picadas N o se tratava de um convite eram obrigados Com rela o ao nome do lugar o morador D M 2014 de origem polonesa e que mora na comunidade desde seu nascimento relata que seu pai nascido em 04 11 1887 ao adquirir as terras que hoje s o da fam lia por volta da d cada de 1930 contava que o nome Aparecida dos Pardos devia se exist ncia em grande quantidade na poca do veado pardo Mazama americana na regi o Entretanto as denomina es Fazenda dos Pardos e Bairro dos Pardos existentes na Carta Topogr fica de Irine polis IBGE 1973 bem com o nome da Igreja Aparecida dos Pardos levam a refletir sobre a possibilidade de uma eventual rela o com a popula o cabocla tamb m conhecida regionalmente como parda Sendo assim permanece a d vida uma vez que os entrevistados referenciam a presen a do veado pardo por m acredita se ser estranho o fato por exemplo da nomenclatura da Igreja referir se a um animal Existe na comunidade de Aparecida dos Pardos um significativo n mero de fam lias polonesas que adquiriram terras na regi o ap s o final de Guerra do Contestado durante a atua o da companhia estrangeira que div
9. do qual evidentemente foram exclu dos todos os posseiros que espalhados pela regi o viviam da explora o da erva mate A estes posseiros nada mais restou sen o tomar o rumo de Pedras Brancas um dos redutos do Contestado p 145 Neste sentido Oliveira 1985 coloca que a 107 legisla o de terras surgida em 1850 dispondo sobre a concess o de terras devolutas sem o preenchimento de formalidades legais bastando simples t tulos de posse mansa e pac fica entretanto acelerou o movimento colonizador Agregados e elementos pobres digamos melhor excedentes do regime pastoril mal satisfeitos com a pobreza em que viviam trocaram facilmente a vida dos campos pela vida das matas tornando se pequenos agricultores e extratores de madeira e erva mate A lex haveria de dar a sua contribui o excepcional para o desenvolvimento da economia regional constituindo se fonte inestim vel de riqueza p 59 Luz 1999 descreve a colheita da erva da seguinte forma o caboclo de fac o afiado na m o mete se pelos matos onde abunda a ilex e de erval em erval anda procura das rvores que n o foram podadas na safra anterior E assim vai de rvore em rvore desbastando as golpeando lhes os galhos de baixo para cima e amontoando os ramos de espa o em espa o p 87 Oliveira 2001 ressalta que no Paran a explora o da erva mate existia desde o ano de 1820 com a exporta o para a regi o do Prata
10. estrada e outras mais que viesse a adquirir a Brazil Railway criou uma nova companhia a ela subordinada a Southern Brazil Lumber and Colonization Company p 73 Em seguida a Lumber loteou e come ou a vender a colonos estrangeiros terrenos ao longo da estrada de ferro depois que ali tinham sido expulsos os posseiros e antigos propriet rios p 74 Entretanto o autor ressalta tamb m que n o eram apenas as firmas estrangeiras que se aproveitavam desses neg cios p 75 se beneficiavam tamb m os coron is do interior e seus protegidos e todos os que dispunham de influ ncia pol tica sobre os governos estaduais Neste sentido pode se dizer que a coloniza o imigrante que ocupou a regi o do Contestado tamb m teve sua parcela de contribui o no sentido da explora o das Matas Mistas e por consequ ncia da desarticula o do Sistema Faxinal Entretanto deve se 186 considerar tamb m que em muitos Faxinais a presen a do imigrante consolidou o Sistema Tem se portanto duas vias as frentes imigrat rias que por desconhecimento da regi o e pela falta de recursos assimilaram a forma regional cabocla da cria o em comum e consolidaram o Sistema Faxinal nas primeiras d cadas do s culo XX e as frentes migrat rias que chegaram ao Contestado com o intuito de dar continuidade ao seu particular e conservador modo de vida ignorando a sabedoria regional cultural das popula es locais Sabe se que para que a t
11. nov dez 2010 p 303 310 HOBSBAWN E RANGER T A inven o das tradi es Tradu o de Celina Cardim Cavalcante 4 Ed S o Paulo Paz e Terra 2006 IAROCHINSKI U Saga dos Polacos A hist ria da Pol nia e seus emigrantes no Brasil Edi o do autor Curitiba 2001 IBGE Funda o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica Manual t cnico da vegeta o brasileira Rio de Janeiro IBGE 1992 S rie manuais t cnicos em geoci ncias n 1 KLEIN R M Aspectos din micos da vegeta o do Sul do Brasil Sellowia Itaja v 36 n 36 1984 p 5 54 KLEIN R M Mapa fitogeogr fico do Estado de Santa Catarina Itaja Herb rio Barbosa Rodrigues 1978 KLEIN R M O aspecto din mico do pinheiro brasileiro Sellowia Itaja v 12 n 12 1960 p 17 48 LAKATOS E M MARCONI M de A Fundamentos de Metodologia Cient fica 5 ed S o Paulo Atlas 2003 LAROCCA J NIOR J LAROCCA P L LIMA C de A Casa Eslavo Paranaense arquitetura de madeira dos colonos poloneses e ucranianos no Sul do Paran Ponta Grossa Editora Larocca Associados 2008 LEMOS S T de F A face oculta do caboclo de Curitibanos Santa Catarina perdas e rupturas em sua peregrina o da economia de subsist ncia para o trabalho precarizado 2006 236 f Tese Doutorado em Servi o Social Pontif cia Universidade Cat lica de S o Paulo PUC Curitiba 2006 LEMOS Z de A Curitibanos na hist ria do
12. por um grupo e sua coletividade e suas rela es existenciais formando assim sua territorialidade Andrade 1995 atenta para o fato de que o conceito de territ rio n o deve ser confundido com o de espa o ou de lugar visto que aquele est ligado ideia de dominio ou de gest o de uma determinada rea p 19 o que desta forma o associa a ideia de poder de controle quer seja ao poder p blico estatal quer seja ao poder das grandes empresas que estendem os seus tent culos por grandes reas territoriais ignorando as fronteiras politicas idem Segundo o autor no territ rio que as rela es capitalistas por exemplo efetivamente acontecem Assim sendo o que diferencia neste caso o territ rio dos demais conceitos espa o e lugar s o as rela es de poder de dom nio e gest o das reas o que por vezes ajuda na compreens o do emprego deste conceito em algumas pol ticas p blicas Por m ao passo que o pr prio territ rio necessita limitar o seu espa o de a o nota se uma sobreposi o de territ rios e o ignorar das fronteiras por ele definidas Considerando a heterogeneidade dos espa os Santos 2002a complementa afirmando que o territ rio pode ser distinguido pela intensidade das t cnicas trabalhadas e suas diferencia es pelos meios de produ o pelo trabalho pelas coisas e objetos pelo conjunto territorial devendo se considerar nesse processo a intencionalidade humana Prop e uma
13. rea do Contestado muitos rios e serras menores n o puderam ser representados por m n o deixaram de ser considerados quando dos estudos das cartas topogr ficas do Ex rcito Brasileiro e do IBGE nas escalas de 1 100 000 e 1 50 000 que objetivam perceber as comunidades mais prop cias ao desenvolvimento do Sistema Faxinal Tamb m dada a vastid o da rea pesquisada somente foram destacadas as principais cidades paranaenses e as principais cidades catarinenses evidenciando os dois munic pios pesquisados S o Mateus do Sul PR e Irine polis SC al m logicamente da delimita o dos limites estaduais No dia 20 de outubro de 1916 foi assinado o acordo de limites pelo presidente do Paran Afonso Alves Camargo e pelo governador de Santa Catarina Felipe Schmidt O Paran ficou com 20 310 quil metros quadrados e Santa Catarina com 27 570 quil metros quadrados Os paranaenses cederam Itai polis Papanduva e Canoinhas mas recuperaram Palmas e Clevel ndia E a cidade da margem esquerda do Igua u que havia sido fundada por paulistas acabou sendo dividida Uni o da Vit ria ficou para o Paran e Porto Uni o para Santa Catarina FRAGA 2005 CARTOGRAMA 01 Delimita o dos munic pios pesquisados izi L Rio Igua u Lo Mea yo a 4 Canoinhas Uni o da Vit ria 0 Pi Irine polis bi pr Ca Tiei U N N F Vie Matos Costa 2 zN O lt Pinheiro Preto Curitibanos o Camp
14. 76 81 83 91 92 3 1 REGI O DO CONTESTADO TERRITORIALIDADES PLURAIS E PEDIDA S caia core abria o A Sara a LR PR RAE CER O RO ar SR 3 2 ELEMENTOS IDENTIT RIOS REGIONAIS NA TERRITORIALIDADE DO SISTEMA FAXINAL ennenen safadas es Lea EnaA rasa dia a adaga aaa a 3 2 1 A territorialidade das Matas Mistas com presen a dos ervais nativos 3 2 2 A territorialidade dos atores sociais caboclos e imigrantes i 3 2 3 A territorialidade da cria o extensiva e do tropeirismo do porco 3 2 4 A territorialidade da policultura alimentar de subsist ncia t CAP TULO 4 OS ELEMENTOS IDENTIT RIOS NA TERRITORIALIDADE DO FAXINAL DO EMBOQUE EXEMPLO NA ESCALA DA COMUNIDADE NO ESTADO DO PARAN ceeeeeeeeseseeeseseses 4 1 O CONDICIONANTE F SICO NATURAL E OS CONDICIONANTES HUMANOS ENQUANTO ELEMENTOS REGIONAIS NA ESCALA DA COMUNIDADE aa asas ds Enade sun aar pimba asian o caiam gs 4 1 1 O Faxinal do Emboque munic pio de S o Mateus do Sul Paran 4 2 DIFERENCIA O DE OUTROS ESPA OS RURAIS ELEMENTOS SOCIOESBACIAIS Ss A a O a e T E 4 2 1 Distin o entre terras de plantar e terras de criar 4 2 2 Diferencia o entre propriedade e uso das terras 4 2 3 Sistema de cercas porteiras e mata buUrros essssessesesesssesessetesstessresseesseresseeessees 4 3 ELEMENTOS SOCIOCULT
15. Dessa maneira se faz necess rio apontar perspectivas quanto aos conceitos de territ rio e territorialidade percebendo o caso das popula es tradicionais considera es apresentadas a seguir 1 1 2 Perspectivas antropol gicas filos ficas acerca do territ rio e da territorialidade no caso das popula es tradicionais R os 2011 ao contribuir com os estudos dos processos territoriais locais de onde participam as comunidades tradicionais apresenta um estudo interdisciplinar considerando 10 Considerando o trabalho de Bonnemaison 1977 cuja tese inspirou se na sociedade da ilha de Tanna arquip lago de Vanuato Melan sia e nos habitantes que se auto definem como man ples homens lugares Haesbaert 2007 fala sobre a ideologia do territ rio quando os habitantes n o possuem o territ rio mas se identificam com ele pode se citar ainda como exemplo os ciganos Da mesma maneira Sack 1986 admite a exist ncia dos n o territ rios neste caso quando um lugar considerado territ rio por um per odo de tempo e por outro n o o que passa a depender dos interesses de seus controladores 44 dois aspectos a necessidade de investigar a diversidade existente no interior das comunidades tradicionais e a necessidade de valorizar os conhecimentos e saberes destes diversos atores por meio da no o de sentido patrimonial O autor acredita que a complexidade territorial exige uma vis o de conjunt
16. ESPIG M J MACHADO P P Guerra Santa revisitada novos estudos sobre o movimento do Contestado Florian polis Editora da UFSC 2008 CASTELLS M O poder da identidade Tradu o Klauss Brandini Gerhardt S o Paulo Paz e Terra 1999 A era da informa o economia sociedade e cultura v 2 CERQUEIRA A A Jornada de Taquaruss Feito Guerreiro Rio de Janeiro Nova Edi o 1936 47 p CERTEAU M de A inven o do cotidiano 1 Artes de fazer 17 ed Tradu o de Ephraim Ferreira Alves Petr polis RJ Vozes 2011 CHANG M Y Sistema Faxinal uma forma de organiza o camponesa em desagrega o no Centro Sul do Paran Londrina IAPAR 1988 121 p Boletim T cnico 22 CIMARDI A V Mam feros de Santa Catarina FATMA 1996 302p CORDEIRO J Levantamento flor stico de caracteriza o fitossociol gica de remanescente de Floresta Ombr fila mista em Guarapuava PR 2005 131 f Tese Doutorado Universidade Federal do Paran Curitiba UFPR 2005 CRUZ NETO O O trabalho de campo como descoberta e cria o In MINAYO M C de S Org Pesquisa Social Teoria m todo e criatividade Petr polis Rio de Janeiro Vozes 1994 p 51 66 CRUZ V do C Territ rios identidades e lutas sociais na Amaz nia In ARAUJO F G B de HAESBAERT R Orgs Identidades e territ rios quest es e olhares contempor neos Rio de Janeiro Acess 2007 p 93 122 CUCHE D A no o de cultu
17. No estado do Paran a identidade territorial Faxinalense discutida e v m sendo constantemente redesenhada com vistas a fortalecer o grupo sendo No per odo de 2007 a 2010 foi executado um projeto em parceria entre a Epagri E E de Canoinhas a ASPTA e a Floresta Nacional de Tr s Barras I CMBio que teve por objetivo caracterizar as reas de Ca va e desenvolver pesquisas participativas sobre manejo ecol gico das pastagens nativas em propriedades familiares Por interm dio dessa parceria foi criado o Comit Gestor das reas de Ca va com o prop sito de articular as pesquisas e a dissemina o regional de seus resultados BONA HANISCH e MARQUES 2011 p 08 218 que a quest o fundamental gira em torno de elaborar uma identifica o coletiva com base na continuidade das pr ticas comunit rias e esta busca adv m principalmente da necessidade de garantir sua territorialidade diante de um entorno amea ador Essas narrativas orais s o contadas recontadas e reinventadas com o tempo podem n o fornecer uma refer ncia plenamente confi vel no entanto s o evid ncias inestim veis sobre os acontecimentos e sobre a consci ncia socioespacial de pertencimento Em Santa Catarina por n o haverem pol ticas p blicas e demais estudos espec ficos que reconhe am a import ncia e atribuam visibilidade ao Sistema o mesmo vai se dissolvendo restando apenas reminisc ncias Estas compreendidas enquanto recorda es do pass
18. Os antigos mata burros que delimitavam a entrada e a sa da do grande criadouro comum n o existem mais no entanto foram constru dos mata burros entre algumas propriedades substituindo o port o Em cerca de quatrocentos metros poss vel encontrar tr s mata burros As Fotos 41 a 44 evidenciam estes elementos na comunidade 174 FOTOS 41 a 44 Mata burros encontrados na comunidade de Aparecida dos Pardos Fonte Acervo da autora 2014 poss vel notar pelas Fotos 41 a 44 que todos os mata burros existentes na comunidade possuem o port o lateral para o tr nsito dos animais e ve culos como a carro a Dessa forma pode se afirmar que dentre os elementos socioespaciais que definem o Sistema Faxinal a distin o entre terras de criar e terras de plantar n o mais evidente sendo restrita a cria o comum a pequenos n cleos familiares n o existindo a distin o entre propriedade particular e uso coletivo das terras pela comunidade como um todo O sistema de cercas porteiras e mata burros sofreu no local modifica es ao longo do tempo das cercas comunit rias do tempo do grande criadouro comunit rio restam apenas fragmentos na paisagem e as porteiras particulares foram substitu das em algumas propriedades pelos mata burros que n o representam mais a entrada ou a sa da do criadouro e sim um elemento que resolveu o problema da entrada de animais indesejados nas propriedades particulares quando os port
19. a defini o dos limites possibilita a demarca o da rea onde o poder exercido pelo grupo que habita esse espa o apropriado as tessituras s o portanto flu das e agem nesse campo de media o entre o objetivo e a identidade do grupo e o seu suporte material ou seja o territ rio Os n s s o os centros de refer ncia e poder consistem na aglomera o de diversas escalas s o interdependentes e precisam assim relacionar se comunicar se Para explicar os cortes e recortes dessas tessituras bem como suas liga es entre os n s Raffestin 1993 prop e o conceito de rede a qual compreendida pela complementaridade existente entre a circula o e a comunica o tanto com fluxos materiais quanto com imateriais que n o se confundem mas acontecem simultaneamente A rede proteiforme m vel e inacabada e dessa falta de acabamento que ela tira sua for a no espa o e no tempo se adapta s varia es do espa o e s mudan as que adv m do tempo p 204 faz e desfaz as pris es do espa o tornando o territ rio sendo assim instrumento de poder Dessa maneira o sistema territorial pode ser entendido tanto como meio quanto fim ao passo que o territ rio uma organiza o a partir de ideologias e estruturado por c digos podendo assim ser decifrado Raffestin 1993 acredita que o territ rio formado pelas rela es de poder multidimensionais ao passo que a territorialidade produt
20. ao passo que uma luta e busca o reconhecimento pelo particular modo de vida a outra foi perdendo ao longo do tempo sua especificidade Concluindo pode se dizer que apesar de toda explora o a que foram submetidas as Matas Mistas na regi o do Contestado sobretudo devido a atua o da Brazil Railway 208 Company da explora o inadequada da erva mate da economia madeireira e da moderniza o agr cola alguns comunidades encontraram possibilidades de sobreviver em seu territ rio de forma a n o impact lo t o significativamente o caso do Faxinal do Emboque e da comunidade de Aparecida dos Pardos No primeiro caso a separa o entre terras de criar e terras de plantar d vida ao criadouro comunit rio que se aproveita das reas de mata para a explora o do mate a cria o de animais e o conv vio social Sistema para o qual a manuten o das rvores nativas imprescind vel No caso da segunda comunidade a manuten o do criadouro comunit rio at poucas d cadas atr s permitiu a preserva o das reas de mata nas propriedades o que atualmente pode ser aproveitado com fins econ micos atrav s do manejo das reas de Ca va combinando a inclusive com reas de pastejo As Ca vas possuem tanto import ncia econ mico produtiva pela forte interrela o entre as rvores nativas as pastagens e os animais quanto ecol gicas pois mesmo possuindo menor biodiversidade que as florestas nativas exerc
21. as 03 Irati 02 Rio Azul 03 Teixeira permanecem Irati Soares 04 Fernandes Pinheiro 02 Imbituva 03 somente com a paisagem de Mata de Arauc ria In cio Martins 05 Ponta Grossa Ponta Grossa 06 S o Jo o do Triunfo 03 Palmeira 03 Uni o da Vit ria General Carneiro 04 S o Mateus do Sul 04 Ant nio Olinto 03 Faxinais que existiam e hoje s o considerados apenas comunidades de agricultores individuais Guarapuava Turvo 01 fa Rebou as 01 Mallet 02 Guamiranga 01 In cio Martins 05 Pitanga Mato Rico 08 Cascavel Guarania u 01 Ponta Grossa Ipiranga 01 Imba 01 S o Jo o do Triunfo 01 Palmeira 03 Curitiba Agudos do Sul 05 Lapa 02 Mandirituba 11 Pi n 03 Quitandinha 05 Rio Negro 01 QUADRO 03 Classifica es dos Faxinais juntamente com a separa o por regi o munic pio e o n mero dos Faxinais Fonte Marques 2004 p 10 15 Organizado pela autora 2013 Assim sendo Marques 2008 destaca que existiam no estado do Paran h mais de 10 anos atr s um total de 152 Faxinais Destes hoje restam apenas 44 que ainda conservam parte das origens e caracter sticas do Sistema Faxinal p 15 das outras comunidades de acordo com o autor 56 ainda apresentam algumas caracter sticas remanescentes e 52 foram totalmente descaracterizadas Os levantamentos at ent o apo
22. e elucidar as significa es em que consiste o territ rio a partir de narra es e relatos e acredita que a metodologia apropriada a da confronta o dessas narra es e relatos no quadro de intera es dial gicas De um lado as intera es oficiais e de outro as manifesta es As primeiras como sendo representativas da autoridade de organismos que de algum modo autorit rio est o relacionados com o ordenamento estatal e as segundas enquanto manifesta es intelectuais ou art sticas representativas de grupos humanos que se distinguem por sua especificidade local ou se localizam em setores da vida coletiva e que pretendem fazer se ouvir com vozes v lidas Assim El di logo de estos tipos de discursos puede ser una buena manera de apropiarse de esas emociones percepciones representaciones opiniones creencias y sensibilidades en que se despliegan sentidos contrapuestos de territorios que muestran de esta manera su fuerte filiaci n sem ntica ya que hunden sus ra ces en imaginarios sociales de mayor o menor envergadura MU OZ p 173 174 47 A estrat gia de Mufioz 2011 para construir e por em pr tica um modelo te rico hermen utico capaz de compreender a complexidade dos projetos territoriais contempla tr s etapas elabora o de um corpus discursivo de base te rica identifica o e estudo de pr ticas discursivas cotidianas e constru o formal e sistematiza o Para tanto as atividades se formalizam
23. lise da coloniza o e ocupa o preciso identificar se estes n cleos se localizavam em reas com a presen a de ervais nativos visto que a extra o da erva mate um importante elemento econ mico do Sistema Faxinal Para tanto pretende se utilizar dos trabalhos de pesquisa espec ficos acerca da localiza o e produ o ervateira bem como de cartas topogr ficas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica IBGE e do Ex rcito Brasileiro 92 Ap s a sobreposi o destes elementos ou seja dos locais onde existem as Matas Mistas onde houve a coloniza o e ocupa o por caboclos e imigrantes e ocorria o manejo dos ervais nativos outros elementos devem ser verificados como a separa o das terras de criar e de plantar bem como o uso coletivo da terra para criar Neste sentido a literatura regional pode contribuir visto que algumas incurs es na regi o resultaram em narrativas hoje dispon veis em forma de bibliografia Entretanto necess ria a verifica o in loco destes locais selecionados tamb m a partir de conversas com moradores t cnicos e profissionais que realizam trabalhos nestas reas Dessa maneira partindo dos condicionantes f sico naturais e humanos buscando os no espa o geogr fico de uma maneira sobreposta acredita se ser poss vel encontrar comunidades que possuem tais caracter sticas mais abrangentes e em seguida selecion las para uma pesquisa mais detalhada a partir d
24. m devido a uma s rie de fatores alguns j discutidos anteriormente e outros que ser o apontados e discutidos mais adiante os criadouros comuns foram sendo extintos ou restritos a pequenos n cleos familiares restando apenas paisagem da mata com Arauc ria e os ervais Nestes espa os atualmente a cria o de animais ainda presente por m n o mais comunitariamente e as Ca vas vem sendo aproveitadas com outras finalidades Hanisch et al 2010 atestam que atualmente as Ca vas s o remanescentes de Floresta Ombr fila Mista com diferentes densidades arb reas cujo estrato herb ceo formado por pastagens nativas ou naturalizadas utilizadas para pastejo animal p 303 A maior parte das Ca vas apresenta se como fragmentos florestais de variados tamanhos nas propriedades rurais e o conjunto destes fragmentos na regi o contribui para a forma o da paisagem caracter stica das regi es norte de Santa Catarina e parte do centro sul do Paran formando um mosaico de reas de cultivo intervaladas por reas de florestas p 304 Ainda sobre o conceito de Ca va Hanisch Marques e Bona 2009 complementam afirmando que se trata de uma denomina o regional do Planalto Norte de Santa Catarina para remanescentes de Floresta Ombr fila Mista com diferentes densidades arb reas cujos estratos herb ceos s o compostos por pastagens nativas ou naturalizadas extensivamente pastejadas Assim sendo pode se dizer que num
25. na comunidade ainda existem in meros port es que podem ser visualizados nas Fotos 35 a 38 171 a as FOTOS 35 a 38 Port es existentes na comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Acervo da autora 2013 e 2014 As duas primeiras Fotos 35 e 36 retratam port es que separam propriedades onde a cria o de animais ainda feita de forma comunit ria pelos familiares e as duas ltimas Fotos 37 e 38 destacam port es que d o acesso somente a propriedades particulares que criam seus animais confinados Percorrendo a p o local ainda poss vel encontrar na comunidade resqu cios das antigas cercas confeccionadas com pranch es ou rach es de madeira como se pode observar na Foto 39 172 Ro a FOTO 39 Antiga cerca comunit ria confeccionada de pranch es de madeira em Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Acervo da autora 2014 As cercas retratadas na Foto 39 constru das a partir de rach es de madeira e que praticamente n o deixam espa o entre si indo at o ch o s o caracter sticas das terras onde o Sistema Faxinal existiu Chang 1988 j atentava que toda a extens o dos criadouros era cercada ou separada das reas de lavoura por acidentes geogr ficos como rios v rzeas ou vales profundos sendo que na inexist ncia destes eram constru das as cercas cuja manuten o era da responsabilidade de todos os moradores Embora n o exista mais a cria
26. o cabocla que se valia dos recursos naturais para sobreviv ncia em especial a partir da retirada da madeira nativa e da extra o do mate nos ervais nativos 108 Chang 1988 aponta justamente a explora o do mate como um dos elementos identit rios socioecon micos que caracteriza o Sistema Faxinal sendo que os ervais nativos desenvolvidos dentro do criadouro e coletados durante a entressafra das culturas desempenhando papel de renda familiar p 13 e a regi o das matas mistas foi a mais diretamente envolvida por se encontrarem nela os mais densos ervais nativos p 33 pois o mate foi o principal fator de coloniza o e povoamento da regi o das matas mistas da segunda metade do s culo passado s culo XIX s tr s primeiras d cadas deste s culo XX idem Assim sendo frente s an lises apresentadas pode se concluir que a regi o do Contestado tamb m apresenta essa paisagem natural prop cia ao desenvolvimento do Sistema Faxinal Entretanto a exist ncia da paisagem prop cia n o o nico elemento necess rio Considerando que s o os atores sociais que d o vida s comunidades tradicionais torna se imprescind vel analisar a territorialidade dos caboclos e imigrantes enquanto outro elemento caracter stico 3 2 2 A territorialidade dos atores sociais caboclos e imigrantes Ao destacar a contribui o dos caboclos e dos imigrantes no desenvolvimento e consolida o do Sistema Faxinal no Para
27. o em comum estes espa os que mesclam atividades extrativas e de pastejo em propriedades privadas s o de grande import ncia para a 1 No per odo de 2007 a 2010 foi executado um projeto em parceria entre a Epagri E E de Canoinhas a ASPTA e a Floresta Nacional de Tr s Barras ICMBio que teve por objetivo caracterizar as reas de Ca vas e desenvolver pesquisas participativas sobre manejo ecol gico das pastagens nativas em propriedades familiares Por interm dio dessa parceria foi criado o Grupo Gestor de Ca vas com o prop sito de articular as pesquisas e a dissemina o regional de seus resultados BONA HANISCH e MARQUES 2011 p 08 sendo que o princ pio metodol gico que orienta o grupo fundamenta se no resgate e na sistematiza o dos saberes locais e sua articula o com os conhecimentos cient fico acad micos EPAGRI E E Empresa de Pesquisa Agropecu ria e Extens o Rural de Santa Catarina Esta o Experimental de Canoinhas SC ASPTA Assessoria e Servi os a Projetos em Agricultura Alternativa ICMBio Instituto Chico Mendes de Conserva o da Biodiversidade Projeto que visa utiliza o produtiva das reas que permanecem ociosas durante mais de seis meses no ano desenvolvido pela EPAGRI E E de Canoinhas Empresa de Pesquisa Agropecu ria e Extens o Rural de Santa Catarina Esta o Experimental de Canoinhas SC 199 preserva o ambiental da regi o ao passo que evitam a retirada tot
28. pode se dizer que muitas reas verdes deram e continuam dando lugar s reas agricult veis modernas apesar de toda discuss o ambiental presente No caso das popula es tradicionais regionais de uso comum da terra L wen Sahr e Cunha 2005 esclarecem que pelo fato destas terem conseguido se manter parcialmente fora dos processos de moderniza o da agricultura preservaram seu modo de vida e sobreviveram a um processo de homogeneiza o possuindo ainda um aspecto singular em termos culturais Por m os autores destacam que a falta de uma pol tica de fixa o do pequeno propriet rio em suas terras faz com que muitos vendam suas propriedades para grandes fazendeiros que implantam os sistemas de monocultura intensiva devastando as matas nativas que antes sustentavam as comunidades p 96 Notam se assim dois cen rios agr rios aquele onde a moderniza o e expans o das atividades agropecu rias devastaram as matas e homogeneizaram os espa os e aquele espa o marginalizado e resistente onde algumas pr ticas tradicionais ainda sobrevivem de forma mais harmoniosa e menos impactante com a floresta No caso espec fico das comunidades trabalhadas nesta pesquisa pode se dizer que o processo de moderniza o agr cola n o encontra se completamente ausente No Emboque a ro a cabocla tradicional j come a a ser substitu da por um plantio e uma colheita mais mecanizados assim como o manejo da erva mate Fora da rea do criadouro
29. pode ter superestimado o n mero destas comunidades H que se destacar tamb m que os dois primeiros levantamentos 1994 2004 foram realizados pelo poder p blico com vistas a subsidiar futuras pol ticas p blicas ao passo que o levantamento de 2008 foi elaborado pelo pr prio Movimento Social APF com vistas a reivindicar pol ticas p blicas Souza 2009a sinaliza a amplia o da rea de ocorr ncia dos Faxinais sugerindo a necessidade de novos levantamentos e destaca que n o foi poss vel visitar munic pios como Cruz Machado General Carneiro e Bituruna apesar de consistentes informa es sobre a presen a de Faxinais p 31 e complementa que cabe ressaltar que durante os trabalhos campo sobretudo em munic pios pr ximos divisa do Estado de Santa Catarina fomos insistentemente informados da ocorr ncia de Faxinais situados em v rios munic pios do Planalto Norte Catarinense p 33 Assim sendo buscando identificar a exist ncia do Sistema Faxinal tamb m no estado de Santa Catarina considerando a regi o do Contestado apresenta se na sequ ncia a proposta de an lise regional com base em Chang 1988 e em seguida uma proposta para an lise das comunidades com base em Nerone 2000 91 2 4 1 Escala regional do condicionante f sico natural aos condicionantes humanos Chang 1988 ao analisar regionalmente o Sistema Faxinal delineou alguns elementos que o caracterizam e que podem ser explicitados c
30. sua dimens o espacial ou numa abordagem mais restrita a territorial Assim sendo as identidades podem ser compreendidas atrav s de uma esp cie de continuum indo desde as mais abertas h bridas e flu das at as mais r gidas e rejessencializadas E em todas como constituinte indissol vel e de crescente import ncia tem se o territ rio sendo que a grande quest o como cada grupo social resolve essa tens o ora apelando para o p lo da liberdade e da autonomia atrav s de identidades m ltiplas h bridas sempre abertas e negoci veis ora privilegiando o p lo da estabilidade da fixa o e do fechamento em identidades unas naturais e essencializadas Nosso espa o tempo se move hoje claramente num ir e vir entre estes dois p los HAESBAERT 2007 p 35 Portanto nas palavras de Haesbaert 2007 no que estamos denominando aqui de identidades territoriais escolhem se ou concomitantemente reconstroem se espa os e tempos geografias e hist rias para moldar uma identidade p 44 o que permite aos 3 Ocorrido em maio de 2008 em Guarapuava Paran 26 Os processos culturais de hibrida o ou hibridiza o implicariam a princ pio tamb m territ rios m ltiplos h bridos O termo hibridismo passou de uma conota o unilateralmente negativa sin nimo de pervers o e degenera o da ra a para outro extremo de total positividade sin nim
31. tamb m poss vel perceber a presen a dos descendentes de poloneses que vieram de Curitiba Sobre estes poloneses em Santa Catarina Iarochinski 2000 fala que foram assentados em diversas regi es do estado bastante isolados uns dos outros ficando incomunic veis por d cadas O autor ao se referir especificamente Irine polis informa que as principais levas chegaram em 1911 e 1926 e assim complementa A vida dos imigrantes ao contr rio do que eles pr prios esperavam sempre foi bastante dif cil Mas nada se compara ao ocorrido na regi o do Contestado Armados apenas com uma pistola de dois canos e duas balas os polacos de Lucena ent o pertencente ao Paran e atualmente a Itai polis SC se enfrentaram com os ferozes ndios botocudos que habitavam a regi o Em 17 anos aconteceram 61 enfrentamentos com 40 mortes de imigrantes O governo pouco ou nada fez para orientar Os ndios nada sabiam de coloniza o e de que aquele sofrido povo loiro estava ali porque tinha sido convidado p 72 62 atraiu De fato a propaganda que ficou inclusive conhecida como febre brasileira muitos imigrantes eslavos neste caso poloneses que chegando ao Contestado depararam se com a dif cil e inst vel realidade da regi o No caso espec fico da comunidade de Aparecida dos Pardos as terras foram adquiridas na sua maioria por poloneses que as compraram diretamente da companhia de coloniza o da Lumber ou de donos de outras
32. tica da policultura alimentar sua principal fonte de alimento e por vezes de renda Sendo assim pode se afirmar que os quatro elementos regionais que comp em o Sistema Faxinal definidos a partir das an lises de Chang 1988 fazem parte da regi o do Contestado Esta presen a n o de forma cont nua ou seja n o cobre toda a extens o geogr fica da rea dessa maneira poss vel sobrepor estes elementos e selecionar comunidades que ao se encontrarem nestas intersec es seriam mais prop cias a terem desenvolvido o Sistema Esta sobreposi o foi realizada considerando a discuss o te rica constru da que espacializa estes elementos e foi visualizada demarcada atrav s de Cartas Topogr ficas do Ex rcito Brasileiro e do IBGE nas escalas de 1 100 000 e 1 50 000 que cobrem a regi o A partir desta sobreposi o foram selecionadas duas comunidades para o aprofundamento a comunidade do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR e a comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Tais an lises s o apresentadas nos pr ximos Cap tulos 4 e 5 CAP TULO 4 OS ELEMENTOS IDENTIT RIOS NA TERRITORIALIDADE DO FAXINAL DO EMBOQUE EXEMPLO NA ESCALA DA COMUNIDADE NO ESTADO DO PARAN O Sistema Faxinal como atesta Nerone 2000 n o se constitui de um ajuntamento confuso de homens animais e vegeta o reunidos ao longo do tempo ao contr rio se apresenta como sendo a realidade oculta de uma organiza o complexa que se
33. tida separa o entre terras de criar e terras de plantar 35 Neste momento interessa somente a defini o dos elementos que caracterizam o Sistema seu processo de desagrega o ser discutido adiante 81 2 3 OS ELEMENTOS IDENTIT RIOS SOCIOESPACIAIS E SOCIOCULTURAIS NA PERSPECTIVA DE NERONE A tese de Maria Magdalena Nerone 2000 constru da empiricamente a partir do Faxinal de Marmeleiro de Baixo localizado no munic pio paranaense de Rebou as extrapolou a coleta de dados emp ricos e se inscreveu num processo de media o entre as autoridades do munic pio e a referida comunidade Seu m todo de trabalho baseado na Hist ria Oral e com contribui es da Sociologia e da Antropologia buscou elaborar n o s o resgate hist rico como tamb m compreender o modo de vida e as experi ncias cotidianas contribuindo assim com o debate acerca da tem tica e dando visibilidade a estes m ltiplos e singulares espa os tradicionais A autora compreende o Sistema Faxinal como sendo uma forma de organiza o rural que apresenta os componentes produtivos produ o animal no espa o coletivo criadouro comum produ o agr cola e extra o da erva mate NERONE 2000 p 62 Tal entendimento baseia se inicialmente nas proposi es de Chang 1988 entretanto apresenta outros elementos que auxiliam na defini o do Sistema Nerone 2000 acrescenta que A comunidade habita a rea do criadouro comum a qual indiv
34. venda de propriedades para compradores que desconhecem e n o simpatizam com as terras de criar comunit rias press es de grandes latifundi rios vizinhos avan o da agricultura moderna surgimento dos grandes frigor ficos atua o da Vigil ncia Sanit ria entre outros motivos Em Santa Catarina soma se ainda a falta de uma pol tica espec fica que valorizasse e reconhecesse o Sistema pouco se produziu em termos t cnicos ou acad micos acerca desse modo de vida que estando invis vel mas facilmente dissolveu se N o se tem mais not cia da exist ncia de grandes criadouros comunit rios na por o catarinense do Contestado embora os outros elementos que comp em o Sistema Faxinal ainda estejam presentes em in meras comunidades do Planalto Norte Catarinense Por m a inexist ncia do criadouro inviabiliza o uso coletivo das terras pela aus ncia do espa o destinado cria o em comum e este o grande diferencial do Sistema em rela o aos outros espa os rurais o uso coletivo das terras que efetivamente lhe garante uma territorialidade espec fica Sendo assim pode se afirmar que o Sistema Faxinal encontrou na por o catarinense da regi o do Contestado todos os condicionantes favor veis ao seu surgimento e cuja exist ncia passada se comprova atrav s dos fragmentos e mem rias ainda presentes em in meras comunidades Por m tendo em vista as press es externas e internas al m da falta de uma pol tica p blica espec
35. 03 A Figura 01 destaca a distribui o dos Faxinais no estado do Paran e evidencia tanto os Faxinais remanescentes quanto os desativados e extintos permitindo notar tamb m a proximidade destes com o limite do estado de Santa Catarina Portanto ao se considerar a Figura 01 o questionamento sobre o Sistema Faxinal e sua aparente invisibilidade em Santa 26 Catarina se evidencia justamente por se perceber a proximidade geogr fica destas comunidades com o limite do estado catarinense ao Sul Carvalho 1984 ao pesquisar a comunidade do Faxinal do Couro no munic pio de Irati PR n o objetivava especificamente apontar a regi o de ocorr ncia do Sistema ou a sua distribui o entretanto fez alus o presen a de Faxinais no Sudeste do Paran e no estado de Santa Catarina O mesmo autor em 2008 afirma que se pode dizer que existia entre os moradores da regi o do Contestado uma economia moral baseada no apossamento das terras no aproveitamento dos ervais e da floresta p 284 que permitia aos caboclos uma subsist ncia calcada em pr ticas que ficaram consagradas pelo tempo como direitos Neste sentido poss vel perceber certa semelhan a entre o modo de vida destes moradores do Contestado com a viv ncia no Faxinal ou seja os la os solid rios a subsist ncia coletiva o direito adquirido com o tempo e o extrativismo florestal Souza 2009a destaca que embora o conhecimento concreto sobre a situa o
36. 116 comunidades que objetivavam perceber a exist ncia do Faxinal levantaram se inicialmente aspectos quanto aos conceitos em seguida aspectos quanto identifica o do Faxinal n mero de fam lias propriedades rea do criadouro planta es cria es extrativismo e infraestrutura 3 No texto de Soares 2012 s o mencionados 25 munic pios entretanto no quadro organizado por este autor aparecem apenas 24 Acredita se que o munic pio faltante seja Boa Ventura de S o Roque que reaparece mais tarde no levantamento da EMATER 2004 86 levantamento e que a pesquisa tinha como prop sito o cadastramento dos Faxinais buscando avaliar sua situa o fundi ria aspectos produtivos e sociais p 24 Os dados foram sistematizados por Soares 2012 e organizados no Quadro 02 DISTRIBUI O DOS FAXINAIS POR MUNIC PIO EMATER 1994 1 Munic pio de Agudos do Sul 05 2 Munic pio de Ant nio Olinto 04 3 Munic pio de Fazendinha 01 4 Munic pio de Guarania u 01 5 Munic pio de Imbituva 03 6 Munic pio de In cio Martins 08 7 Munic pio de Irati 01 8 Munic pio da Lapa 02 9 Munic pio de Mallet 02 10 Munic pio de Mandirituba 13 11 Munic pio de Mato Rico 08 12 Munic pio de Palmeira 06 13 Munic pio do Pi n 03 14 Munic pio de Pinh o 03 15 Munic pio de Pitanga 01 16 Munic pio de Ponta Grossa 07 17 Munic pi
37. 2004 Ant nio Carlos Diegues 2001 e Nazareno Jos de Campos 2000 as terras de uso comum passaram a ter maior visibilidade no Brasil a partir da d cada de 1970 n o apenas no que diz respeito aos estudos acad micos mas tamb m quanto ao seu reconhecimento jur dico econ mico social e pol tico Neste processo evidencia se no estado do Paran o chamado Sistema Faxinal sobretudo a partir da d cada de 1980 quando no processo de constru o desta identidade territorial se envolvem associa es articula es organiza es n o governamentais academia movimentos populares e Estado Estes espa os de territorialidade singular situam se na maior parte das vezes em regi es marginais e de pouco interesse econ mico cujas fronteiras reais nem sempre s o bem definidas sobretudo se localizadas entre limites estaduais como o caso da regi o do Contestado Neste sentido nota se uma maior visibilidade no trato do Sistema Faxinal no Estado do Paran e uma aparente invisibilidade no estado de Santa Catarina Assim sendo a presente pesquisa busca justamente perceber essas aproxima es e distanciamentos entre estes estados limites partindo de uma regi o com similares caracter sticas f sico naturais e hist rico geogr ficas Ressalta se que a presente abordagem n o tem a pretens o de ser nica enquanto possibilidade sendo que outros par metros podem ser estabelecidos entretanto buscou se construir e sustentar uma Tese
38. 2006 ao analisar o caboclo da regi o de Curitibanos assim o caracteriza O caboclo da regi o de Curitibanos identificava se como um filho da terra dos pinheirais e dos campos de pastoreio afinado com o car ter da natureza que o circundava S ntese da miscigena o resultante da intera o multi tnica constitu ra se num ser humano mpar forte fisicamente corajoso na medida em que as necessidades do enfrentamento aos elementos do ambiente selvagem em que vivia necessitavam de coragem e resist ncia Seu universo cultural era primitivo e singelo misturava saberes e fazeres trazidos de longe com a influ ncia dos bugres da regi o seus aparentados A religi o r stica que processava oriunda do catolicismo matizada com as crendices e supersti es largamente cultivadas em Portugal sofreram a adapta o regional na express o material da f apresentada nas prociss es festas religiosas com folguedos nas rezas dos ter os e das cantorias Sua conduta moral da emanante evidenciava se pela sobriedade dos costumes e pela no o de solidariedade que considerava todos do seu meio como irm os p 220 Machado 2004 informa que utiliza a palavra caboclo para designar o habitante pobre do meio rural e apesar de n o haver conota o tnica na palavra este era normalmente mesti o muitas vezes negro Entretanto a caracter stica principal dessa palavra que distingue uma condi o social e cultural ou seja s o ca
39. Catarina agrade o aos queridos amigos Iole Alice Vera e Pedro pela carinhosa recep o e pela companhia mpar nas andan as pelo Faxinal dos Domingues e pelo Faxinal dos Carvalho Em S o Mateus do Sul Paran agrade o aos faxinalenses do Emboque pela recep o pela dedica o e pelo aux lio na tentativa de compreender suas particularidades Agrade o em especial s fam lias Chadai e Wenglarek pelas cuias de chimarr o pelos caf s e almo os mas principalmente pelas belas horas de prosa sempre t o carregadas de afetividade e carinhosas lembran as Em Irine polis Santa Catarina agrade o EPAGRI em especial ao Engenheiro Agr nomo Danilo Paiva Sagaz pelas importantes contribui es e pelos valiosos dias de campo Agrade o ao Vereador e Presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Irine polis Jos Valmor Nicoluzzi o Diudia pela companhia pelas sa das de campo e pelas novas amizades Agrade o ainda s fam lias Painter e Marek pela generosidade dos dias de conversa e por enriquecerem sobremaneira esta Tese E assim mesmo com o risco da omiss o e a injusti a do esquecimento com muito esfor o por m sem nenhum atropelo agrade o finalmente a todos os que contribu ram para esta fase mpar da minha vida Parafraseando Caio Fernando Abreu termino dizendo que sou agradecida por estar viva por ter andado onde andei ter vivido o que vivi e por ser exatamente como sou F ETSCH Alcim
40. Guerra Sendo assim pode se tamb m dizer que a explora o decorrente da constru o da Estrada de Ferro teria contribu do para o n o desenvolvimento do Sistema Faxinal em maior escala no Contestado catarinense Considerando as duas comunidades descritas anteriormente percebe se que o Faxinal do Emboque no munic pio de S o Mateus n o sofreu tanta influ ncia desta devasta o vegetal lembrando que o mesmo come ou a se consolidar a partir de 1930 ou seja ap s a a o mais efetiva da empresa estrangeira Por m a comunidade de Aparecida dos Pardos no munic pio de Irine polis foi alvo tanto da explora o por parte da empresa madeireira quanto alvo da especula o por parte da empresa colonizadora De fato a por o catarinense do Contestado sofreu mais intensamente os efeitos da Guerra A Imagem 05 destaca a localiza o destas duas comunidades em rela o ferrovia 185 Sa 0 Munic pios pesquisados E e ii 0 Comunidades pesquisadas Pardo RE RSI Ace 05 Localiza o das comunidades do Faxinal do Emboque S o Mateus ER Sul PR e APAE dos Pardos Irine polis SC em rela o ferrovia Fonte Carta topogr fica de Ponta Grossa IBGE 1983 escala de 1 250 000 e Carta topogr fica de Mafra Minist rio do Ex rcito 1982 escala de 1 250 000 Organizado pela autora 2014 Al m da explora o das Matas Mistas Vinhas de Queir s 1977 destaca que a fim de explorar as terras laterais
41. Nerone aponta que s o seis os tipos existentes as terras de criar criadouro coletivo as terras de plantar as benfeitorias constru das e existentes a propriedade das lavouras da cria o e a propriedade da floresta Tais posses originam dois tipos gerais de grupos diferenciados os propriet rios e os usu rios A Tese de Nerone 2000 consiste de um esfor o no sentido de problematizar essas comunidades frente ao seu contexto hist rico e social considerando as particularidades regionais neste caso a das popula es tradicionais A partir desta leitura poss vel complementar os elementos que caracterizam o Sistema Faxinal apontados por Chang 1988 e perceb los considerando as abordagens cl ssicas acerca de seus principais componentes Dessa maneira Nerone salienta elementos socioespaciais que diferenciam os Faxinais de outros espa os rurais a distin o entre as terras de plantar e as terras de criar a diferencia o entre propriedade e uso das terras e os sistemas de cercas porteiras e mata burros Salienta ainda os elementos socioculturais o uso coletivo da terra as rela es de compadrio e mutir o a medicina e a religiosidade popular 2 4 SINOPSE DOS ELEMENTOS TERRITORIAIS IDENTIT RIOS DO SISTEMA FAXINAL DA INTERFACE CONTEITUAL AOS ENCAMINHAMENTOS METODOL GICOS Aproximando a interface conceitual desenhada com as proposi es anteriores acerca 2 do Sistema Faxinal percebe se que este ltimo uma prod
42. Peluso J nior 1970 ao analisar os aspectos da popula o e da imigra o no estado de Santa Catarina divide a ocupa o deste espa o em grupos da seguinte forma a Grupo da bacia do Rio Uruguai era o grupo mais pr spero e ocupava os campos de Lages Curitibanos e Campos Novos Os latif ndios tinham terras de pasto e de mato Tratava se de um grupo rural de origem portuguesa e que possu a uma melhor organiza o da propriedade rivalizando com imigrantes europeus b Grupo da bacia do Rio Igua u grupo que lutou em ambiente menos prop cio economia pastoril visto que a regi o era rica somente em campestres e terras de Ca va onde a fogo abriam se claros na mata para cria o de gado p 71 Os moradores das imedia es do caminho tropeiro que ligava o Rio Grande do Sul a S o Paulo tinham condi es de levar ao mercado seu rebanho O autor destaca ainda que o desenvolvimento do Planalto era dif cil tendo em vista a dist ncia dos centros populosos a aus ncia de estradas em boas condi es pois a regi o era 113 servida por dif ceis caminhos de tropas as nicas exporta es da regi o eram o gado e a erva mate PELUSO J NIOR 1970 p 71 Ficam vis veis neste cen rio duas frentes a primeira constitu da pela sociedade cabocla j existente que mantinha a preserva o de seu territ rio e se destacava pelas formas tradicionais de uso do mesmo e a segunda marcada pela atua o de companhias c
43. S M C P no ano de 2013 Optou se por apresentar as informa es da entrevista quando das cita es diretas destacadas em it lico para diferenciar de textos de livros e outros autores Seguiram se as proposi es metodol gicas da Pesquisa Narrativa com base em Schiitze 2010 Wiles Rosenbert e Kearns 2005 e Bohnsack e Weller 2010 123 Ainda na Imagem 01 poss vel perceber um n mero consider vel de estradas algumas de tr fego intenso outras de tr fego peri dico e algumas estradas carro veis sendo estas ltimas ligando os espa os de moradia s terras de plantar importante destacar tamb m que atrav s desta Imagem 01 pode se observar a disposi o das resid ncias e sua rela o com a hidrografia e as estradas Pelo fato das resid ncias se localizarem no mesmo espa o do criadouro comum onde os animais circulam livremente a presen a de rios permanentes e tempor rios se torna fundamental neste caso os principais rios s o o Rio Emboque e o Rio Passa Tigre O grande n mero de estradas se deve necessidade de se chegar tanto nas resid ncias quanto nos espa os comuns igreja escola e nas terras de plantar Neste sentido Leonard e Clifford 1971 acrescentam que associados a fatores sociais existem os fatores f sicos que contribuem para facilitar a rela o dos grupos com seu lugar habitado n o sendo escolhidos ao acaso Ao analisar os padr es de povoamento os autores destacam as aldeias e ou comu
44. THOM 1992 p 14 Vinhas de Queiroz 1981 caracteriza mais detalhadamente a extens o espacial do conflito no auge do movimento o territ rio ocupado pelo jaguncismo compreendia 28 000 quil metros quadrados ou seja uma extens o aproximadamente igual a Alagoas ou ainda 0 3 do territ rio nacional Fazia limites ao norte pelo Rio Igua u e a Estrada de Ferro de S o Francisco desde perto de Uni o da Vit ria envolvendo Canoinhas at junto Vila de Rio Negro ao sul inflectia sobre Lages aproximava se de Curitibanos e de Campos Novos a leste compreendia Itai polis Papanduva as picadas da col nia Moema e Iracema os contrafortes da Serra do Mirador e as demais cabeceiras da Bacia do Itaja a oeste a Estrada de Ferro S o Paulo Rio Grande p 177 Entretanto acredita se que as consequ ncias deste conflito extrapolaram estes limites sobretudo em dire o ao Sul do estado do Paran regi o onde o Sistema Faxinal bastante evidente O que se pretende perceber a regi o do Contestado para al m da demarca o oficial percebendo a atrav s da fluidez caracter stica dos movimentos populacionais Dada a multiplicidade de olhares e escritos sobre a regi o do Contestado optou se por caracteriz la atrav s de sua rela o com o Sistema Faxinal Para tanto selecionaram se as refer ncias te ricas que aproximam estes dois temas o intuito compreender a regi o do Contestado a partir dos eleme
45. a territorialidade como sendo a powerful geographic strategy to control people and things by control lingarea Territoriality is a primary geographical expression of social power It is the means by which space and society are interrelated p 05 Neste sentido afirma que a territorialidade possui tr s caracter sticas interligadas 7 Ou seja os resultados e as estrat gias efeitos dependem de quem est controlando quem e com os quais prop sitos O territ rio pode assim ser usado para conter restringir e at excluir pessoas e os indiv duos que exercem o controle n o precisam necessariamente estar no interior do territ rio 8 Ou seja a territorialidade uma potente estrat gia geogr fica para controlar coisas e pessoas controlar uma rea Trata se do poder de um indiv duo ou grupo social de influenciar controlar tanto pessoas quanto fen menos de forma a delimitar e efetivar seu controle em uma rea 39 a Classifica o ou defini o de reas no sentido de definir ou enumerar os tipos de coisas que pertencem a cada sujeito b Comunica o pode envolver uma marca ou sinal no caso de uma fronteira territorial a forma simb lica que combina a declara o da dire o do espa o e a declara o sobre a posse ou exclus o c Forma de coa o ou controle envolvendo uma tentativa de refor ar o controle de acesso rea e as coisas de dentro dela Assim sendo a territorialidade vista por Sac
46. a necessidade de situar a presente pesquisa num conjunto mais amplo onde j existem reflex es consolidadas Entretanto parafraseando Certeau 2011 n o se pretende esbo ar um quadro de todos os trabalhos te ricos e descritivos que organizaram um conceito ou o esclareceram de passagem fato que o objeto da pesquisa n o pode ser destacado do contexto intelectual e social que organiza suas distin es e evolu es assim se acredita que um arranjo te rico apesar de toda subjetividade advinda da pr pria sele o do pesquisador deve sobretudo fundamentar a discuss o a enquadrando em um pensamento l gico e racional Assim sendo parte se de uma an lise dos conceitos evidenciados territ rio identidade e identidade territorial com vistas a situar o arranjo te rico proposto e o aproximar do objeto da pesquisa 1 1 TERRIT RIO E TERRITORIALIDADE O SUPORTE ESPACIAL DA EXIST NCIA E REIVINDICA O COLETIVA Na Ci ncia Geogr fica o conceito de territ rio fundamenta in meras discuss es sendo necess ria uma sele o e um posicionamento objetivando o situar de cada pesquisa No que 38 diz respeito a esta an lise o conceito de territ rio precisa ser entendido a partir de sua evolu o e apropria o pelo Sistema Faxinal Assim sendo discutem se inicialmente os conceitos de territ rio e territorialidade na Ci ncia Geogr fica com base em autores cl ssicos destacando os elementos materiais e imateriais
47. a pr tica da religiosidade popular efetivam enquanto elementos socioculturais a identidade territorial Faxinalense evidente no estado do Paran CAP TULO 5 OS ELEMENTOS IDENTIT RIOS NA TERRITORIALIDADE DO SISTEMA FAXINAL EM SANTA CATARINA A ESCALA DA COMUNIDADE Este cap tulo objetiva partindo dos elementos delineados anteriormente nas escalas regional e da comunidade selecionar e analisar aqueles que comp emm o Sistema Faxinal no estado do Paran agora em uma comunidade catarinense da regi o do Contestado Para tanto foi realizada uma pesquisa de campo explorat ria com vistas a selecionar a comunidade que mais atendia aos prop sitos da pesquisa ou seja que possu a o maior n mero de elementos componentes do Sistema Faxinal ou fragmentos deste Nesta busca pelo aprofundamento v rias possibilidades foram analisadas considerando basicamente a sobreposi o dos elementos em quest o a partir da an lise das cartas topogr ficas do IBGE e do Ex rcito Brasileiro nas escalas de 1 100 000 e de 1 50 000 bem como a an lise da bibliografia consultada e discutida Dada vastid o da rea pesquisada e sobretudo as m ltiplas e complexas interpreta es do que vem a ser o Sistema Faxinal em seus diversos olhares v rios locais foram considerados entre eles destacam se 1 A comunidade do Faxinal dos Carvalhos no munic pio catarinense de Fraiburgo esta comunidade retratada na carta topogr fica do munic pio de C
48. abordagem pol tica ao sugerir que o territ rio o nome pol tico para o espa o de um pa s 2003 p 19 e destaca que o mesmo passa a ser formado com a apropria o humana do conjunto natural pr existente De fato perceber o territ rio a partir da heterogeneidade dos espa os e da intencionalidade humana possibilita uma abordagem pol tica no sentido da apropria o pelos sujeitos o que est intimamente ligado s reivindica es contempor neas como no caso das popula es tradicionais Da mesma forma contribui no sentido de atestar a diferen a existente entre os territ rios ao passo que os diferencia com base em fatores estipulados a partir de um conjunto territorial Uma abordagem que considera nas an lises do conceito de territ rio tamb m a dimens o cultural al m da pol tica parte de Souza 2007 O autor destaca inicialmente que o territ rio deve ser abordado enquanto conceito despido do manto de impon ncia com o qual se encontra via de regra adornado p 81 Isso porque normalmente a palavra evoca sentimentos patri ticos em escala nacional entretanto os territ rios existem e s o 42 constru dos e desconstru dos nas mais diversas escalas idem tanto locais quanto internacionais e tanto dentro de escalas temporais como s culos d cadas meses e dias De fato enquanto houver a intera o homem X espa o atrav s do trabalho da agrega o de valor e do retrabalho do espa o s
49. agregados b ias frias em algum Faxinal que ainda sobrevive s duras penas p 339 Martins 1995 no livro Anjos de cara suja descreve atrav s do resgate etnogr fico da comunidade cafuza de Jos Boiteux SC a trajet ria de constru o de um grupo tnico Segundo ele em 1916 com o final da Guerra do Contestado um grupo de caboclos foge persegui o imposta aos vencidos embrenhando se no sert o e vivendo em condi es de isolamento at a d cada de 1940 Esta saga da fam lia de Jesu no Dias de Oliveira e Ant nia Loteria de Oliveira contada entremeio a Guerra do Contestado partindo do munic pio hoje catarinense de Canoinhas at a ocupa o do Rio Laeisz Neste resgate por in meras vezes o 7 Trata se de uma situa o relacionada ao uso comum de terras considerando as especificidades regionais cuja forma t pica est ligada as formas de condom nio ou de servid o CAMPOS 2000 p 78 79 No caso espec fico dos Faxinais no Paran Gevaerd Filho 1989 coloca que o termo comp scuo um neologismo Jur dico pois n o se encontra em nenhum diploma legal lusitano anterior ao C digo Civil Portugu s 1967 p 45 Mesmo assim o termo empregado frequentemente no caso do Sistema Faxinal buscando explicar principalmente as rela es estabelecidas na comunidade quanto ao uso do criadouro comunit rio 103 Faxinal referenciado permitindo refletir justamente sobre
50. ainda mant m o sistema de criadouro comunit rio e ou uso coletivo das terras com alguma atividade produtiva como as pastagens p 10 Ainda de acordo com o autor a rea total destes Faxinais 26 189 0 hectares com uma rea total m nima de criadouro de 15 914 86 hectares com cerca de 3 409 fam lias 40 Quanto s informa es descritas por Marques 2004 uma parte deriva das entrevistas efetuadas nas 13 comunidades visitadas pelo pesquisador e outra das entrevistas e consultas aos rg os p blicos e organiza es da sociedade civil do respectivo munic pio e ou regi o que permitiu conhecer a situa o das comunidades rurais onde n o foram efetuadas entrevistas 87 A diferencia o das classifica es bem como a regi o e os respectivos munic pios e n mero de Faxinais apontados no relat rio do IAP encontram se descritos no Quadro 03 TIPOLOGIA REGI O MUNIC PIOS FAXINAIS Prudent polis 11 Turvo 02 Comunidades Guarapuava Pinh o 01 que Irati Rebou as 05 Irati 03 Rio Azul 04 Mallet 01 permanecem In cio Martins 02 com o Sistema Pitanga Boa Ventura de S o Roque 02 Faxinal coletivo Ponta Grossa Ponta Grossa 01 Ipiranga 01 Imba 01 original Uni o da Vit ria S o Mateus do Sul 02 Ant nio Olinto 01 Curitiba Mandirituba 05 Quitandinha 02 Guarapuava Prudent polis 07 Turvo 01 Pinh o 03 Faxinais que Rebou
51. as Nas terras de criar do Faxinal do Emboque encontra se principalmente o porco mas tamb m as aves o gado os cavalos e em menor n mero os perus Os cabritos que eram criados soltos no criadouro coletivo atualmente s o mantidos fechados em pequenos piquetes devido ao estrago que fazem na mata do criadouro Importante destacar um trecho da entrevista em que a Sra S M C P 2013 afirma ser engra ado porque o pessoal acha que a gente sobrevive de vender o porco mas n o a gente vende porco assim pro Natal que se encomenda ou para uma festa evidenciando dessa maneira a dificuldade de pessoas e governantes em entender a l gica do Sistema Faxinal Atualmente portanto a cria o de animais tem por objetivo principalmente o consumo pela comunidade As Fotos de 05 a 08 destacam algumas das esp cies criadas no criadouro comunit rio ou terras de criar do Faxinal do Emboque com destaque para o gado bovino os porcos e aves 134 ki Siin AER PAR x Na Cd prt Sa e dd FOTOS 05 A 08 adouro coletivo do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 A maior parte dos animais criada visando o consumo pr prio da fam lia sendo que o que sobra comercializado Este espa o do criadouro coletivo se constitui em um dos principais elementos que diferencia o Faxinal de outros espa os rurais entretanto por vezes como no caso do entendimento desenvolvido pela Articula o Puxir o
52. como briga entre vizinhos manuten o das cercas e venda de terras a propriet rios externos comunidade A cria o em comum nos pequenos n cleos familiares como nas resid ncias da fam lia Painter ilustrada na Foto 33 168 FOTO 33 Propriedade da fam lia Painter em Aparecida dos Pardos Irinc polis SC Fonte Acervo da autora 2014 L P 2014 conta que h cerca de 40 anos atr s era bastante comum encontrar os animais criados soltos na comunidade Esta fam lia ainda mantem seus animais circulando livremente no meio dos ervais entretanto destaca que essa pr tica est em extin o sobretudo devido aos estragos que os animais fazem nas propriedades vizinhas e cobran a por parte da legisla o estadual de que os animais devem ficar confinados em locais apropriados para este fim D M 2014 conta que antes da desagrega o da rea do criadouro comunit rio houve uma grande peste su na e os moradores que n o vacinaram perderam in meros animais Segundo ele seu pai fechou os porcos em um nico mangueir o e deu a vacina salvando praticamente todos O mesmo ainda relata que no auge da cria o de porcos os moradores compravam terras em troca de porcos t o importante eram estes animais para a economia local Existia inclusive o javali criado na comunidade que mais tarde mesclou se com o porco dando origem ao que os moradores do local chamam de java porco Em Aparecida dos Pardos assim
53. compreens o da mesma enquanto fen meno hist rico vivo e multifacetado e n o como f rmula abstrata morta MACHADO 2004 p 36 Significa pensa la a partir de suas motiva es da forma com que se processou e mais arriscadamente perceber que as consequ ncias ainda hoje s o sentidas n o somente dentro do espa o delimitado oficialmente por elementos naturais rios serras e artificiais ferrovias As an lises da Guerra podem ser encontras atrav s das mais diversas fontes como por exemplo 96 e Documental oficial atrav s de relat rios dos integrantes do efetivo militar da poca como Herculano Teixeira D Assump o 1917 Dermeval Peixoto 1916 Fernando Setembrino de Carvalho 1916 e Escritos de m dicos das for as repressoras como os de Ezequiel Antunes 1918 e Alves Cerqueira 1936 e Reminisc ncias como as de Frei Rog rio narradas por Frei Pedro Sinzig 1939 e Jornais da poca tanto regionais quanto os encontrados nas capitais de Florian polis e Curitiba e Anal ticas Maria Isaura Pereira de Queiroz 1965 Maur cio Vinhas de Queiroz 1977 e Duglas Teixeira Monteiro 1974 Al m destas fontes espec ficas da Guerra do Contestado existem as narrativas de viajantes as quais auxiliam a compreender o modo de vida da poca atrav s dos detalhes de suas descri es como Auguste de Saint Hilaire s d e Roberto Av Lallemant 1953 Somam se a estes in meros outros trabalhos regionais
54. comum os moradores cultivam atualmente monoculturas como a soja al m de reas de reflorestamento usando inclusive produtos qu micos Entretanto dada sua visibilidade enquanto Sistema Faxinal o que lhes confere um diferencial os produtores mant m o cultivo de verduras hortali as e legumes em hortas caseiras e nas terras de plantar comercializando na feira 71 O discurso da Revolu o Verde estava repleto de uma perspectiva ocidental sobre a ci ncia o progresso e a economia que deviam promover se impor se se for preciso nos pa ses do chamado Terceiro Mundo Em conson ncia com a teoria da moderniza o que era o modelo de desenvolvimento pr prio desses anos a Revolu o Verde identificava no Terceiro Mundo uma s rie de car ncias que deviam ser satisfeitas base de aumentar quantitativamente os bens e os servi os Ao mesmo tempo essa febre produtivista que em teoria beneficiaria os pa ses pobres servia tanto para aumentar a produ o de mat rias primas baratas destinadas asagroind strias do denominado Primeiro Mundo que as beneficiavam incrementando seu valor como para aumentar a produ o de maquin rio e insumos qu micos desses pa ses ricos que vendiam para os pa ses pobres MONTENEGRO G MEZ 2006 p 185 194 municipal semanal Na comunidade de Aparecida dos Pardos ocorre o mesmo por m nota se que a rea de reflorestamento maior assim como a do plantio de soja Os moradores
55. da seguinte maneira a trabajo de gabinete para el grupo de investigaci n en el que se revisar n experiencias y bibliograf as que permitan la formalizaci n sistematizaci n y el desarrollo de la Teor a Hermen utica Dial gica Territorial que identifique al grupo de investigaci n b modelizaci n de las interpretaciones identificando divergencias y convergencias entre ellas y los objetos en estudio c discusi n del modelo de interpretaci n reconociendo eventuales necesidades de ajuste p 177 Esta etapa formaliza as matrizes de um modelo hermen utico para os estudos dos territ rios prop e a constru o de um modelo que transcenda a condi o tradicional moderna ampliando a complexidade da experi ncia cotidiana tradicional e desvende os segredos culturais imagin rios que operam nela Portanto o territ rio Su materializaci n sin embargo exige la presencia y la realidad concreta de ambos del proyecto colectivo y del espacio apropiado MU OZ 2011 p 171 Mu oz 2011 destaca o car ter subjetivo e imagin rio do territ rio sendo este carregado de inten es e desejos de posse Para o autor o territ rio n o uma simples consequ ncia mas apropriado e gerado por um projeto tendo em vista as circunst ncias Metodologicamente prop e para decifrar este territ rio o uso de narra es e relatos no quadro de intera es dial gicas de um lado as oficiais e de outro as manifesta es Tais c
56. de Santa Catarina isso porque o Sistema esteve presente durante muitos anos na regi o N o existem mais atualmente os grandes criadouros comuns por m ainda poss vel perceber todos os outros elementos que caracterizam o Faxinal Sendo assim necess rio refor ar que nesta Tese a exist ncia da rea do criadouro e sua utiliza o em comum pelos moradores condi o essencial para categorizar a comunidade enquanto Sistema Faxinal entretanto outras abordagens conceituais afirmam que poss vel atestar a exist ncia do Faxinal pela condi o de que a terra foi tradicionalmente ocupada Nas pesquisas de campo no lado catarinense do Contestado durante a busca por comunidades que ainda preservavam os elementos do Sistema Faxinal deparou se com a quest o das Ca vas Estas enquanto reas remanescentes das Matas Mistas se apresentam em diferentes densidades arb reas cujo estrato mais baixo utilizado para o pastejo animal e em grande parte das vezes est o localizadas nas reas que eram destinadas ao criadouro comum dos Faxinais j desagregados Percebeu se tamb m que o termo Sistema Faxinal praticamente desconhecido pelos entrevistados que ao serem colocados a par da forma com que o Sistema se apresenta no estado do Paran instantaneamente o relacionam com a Ca va ou o Caiv o Muitos entrevistados se recordam da poca n o muito distante em que os animais eram criados solta nas Ca vas e ta
57. de Janeiro 1916 PEIXOTO D Campanha do Contestado Vol I Curitiba Funda o Cultural 1995 PELUSO J NIOR V A Aspectos da popula o e da imigra o no Estado de Santa Catarina In FAUSTINO DA SILVA J B et alli Fundamentos da cultura catarinense Edi o do Departamento de Cultura da SEC e da Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina Rio de Janeiro Editora Laudes S A 1970 p 49 75 229 PEREIRA DE QUEIROZ M I Messianismo no Brasil e no mundo S o Paulo Dominus 1965 PIAZZA W F H BENER L M Santa Catarina hist ria da gente 6 ed Florian polis Lunardelli 2003 PORTO GON ALVES C W A territorialidade seringueira Geografia e Movimento Social In Revista GEOgraphia Ano 1 N 02 1999 p 67 88 PORTO GON ALVES C W De saberes e de territ rios diversidade e emancipa o a partir da experi ncia latino americana Niter i 2006 PRADO J NIOR C A quest o agr ria 4 ed S o Paulo Brasiliense 1979 QUEIROZ M I O Campesinato Brasileiro Petr polis Vozes 1973 RAFFESTIN C Ecogen se territoriale e tterritorialit In AURIAC F BRUNET R Espaces jeuxetenjeux Paris Fayard amp Fondation Diderot 1986 p 175 185 RAFFESTIN C Por uma Geografia do poder S o Paulo tica 1993 RENK A A A luta da erva um of cio tnico no Oeste catarinense Chapec Grifos 1997 R OS F T Diversidad y sentido patrimonial contribuciones desde
58. de uma maneira mais tranquila tendo em vista que at hoje fam lias de origem cabocla ainda dividem espa o dentro das terras do criadouro comum com fam lias polonesas Nesta comunidade os conflitos armados e de enfrentamento da Guerra n o foram t o presentes permitindo a manuten o do modo de vida at os dias atuais apesar de todas as press es que sofre o Sistema Faxinal Em Aparecida dos Pardos os caboclos sofreram diretamente as consequ ncias da Guerra do Contestado refugiaram se em redutos e assistiram suas terras serem vendidas pela companhia estrangeira da Lumber aos imigrantes poloneses Estes ltimos ao chegarem depararam se com um cen rio ambiental comprometido e com a falta de recursos e apoio 203 governamental que at hoje persiste na regi o Por m em fun o da busca pela sobreviv ncia fizeram a nica coisa que lhes restava aproveitaram se dos condicionantes naturais plantando nas reas abertas e extraindo a erva mate associada cria o de animais nas reas de Ca va tamb m dando vida ao Sistema Faxinal Entretanto nesta comunidade o grande criadouro comum j n o existe mais o que leva a considerar o local como uma comunidade rural comum 6 2 2 A identidade territorial comunit ria Vasconcelos 1977 destaca que a primordial condi o para que os grupos possam alcan ar seus objetivos comuns a fixa o em uma determinada rea Isso leva a considerar a import ncia da comunidade Por comun
59. denominado de Mata est associado principalmente s reas chamadas de Ca vas sendo que as Ca vas ou terras de cri sic s o reas de cobertura vegetal onde os animais dom sticos porcos cavalos gado bovino e outros s o criados soltos alimentando se das frutas e plantas dispon veis no sub bosque destas forma es Essas reas s o remanescentes dos sistemas de produ o conhecidos como faxinais p 375 Os autores ainda complementam A fase hist rica do predom nio econ mico da erva mate na regi o representou para os agricultores um papel significativo dessa cultura na indu o de uma defini o de uso da terra motivado pela necessidade de subsist ncia Segundo Novak e Fajardo 2008 nas chamadas matas limpas onde ocorria a erva mate as frut feras silvestres os pinheiros Araucaria angustifolia e as gram neas foi tamb m onde se desenvolveu o criadouro Faxinal denominado localmente de Ca va p 384 Mattos Reis e Peroni 2012 ao analisarem a rela o entre os agricultores familiares extrativistas de erva mate e a floresta de Arauc ria no Planalto Norte Catarinense afirmam que a erva mate o principal recurso florestal n o madeireiro explorado na regi o Neste sentido os autores investigaram as terminologias populares denomina es espec ficas para estas reas de manejo 24 6 chamam de Ca va 21 3 chamam de mato 15 2 chamam de invernada e 6 1 chamam de po
60. environmental and social importance of the Faxinal System as well as the Ca vas one for the traditional rural areas of the Contestado Key words Territorial identity Faxinal System Ca vas Contestado LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 Distribui o dos Faxinais no Paran i 25 FIGURA 02 Perfil esquem tico das terras de Faxinal eeeeseeeeseessesseeeseeeeseee 13 LISTA DE ESQUEMAS ESQUEMA 01 Elementos que formam o Sistema Faxinal no estado do Paradas aa pi Dei ED CR E 30 ESQUEMA 02 Arranjo te rico acerca dos conceitos de territ rio identidade e identidade termtonall tata gran indian donas gnt 67 ESQUEMA 03 Elementos identit rios regionais do Sistema Faxinal propostos por Chang 1988 reniei pasta saidas Aa ques garantias ani iais 91 ESQUEMA 04 Elementos identit rios locais do Sistema Faxinal propostos por Nerone 2000 sesira innii 92 ESQUEMA 05 Elementos que formam o Sistema Faxinal no estado do Paran 135 LISTA DE CARTOGRAMAS CARTOGRAMA 01 Delimita o dos munic pios pesquisados 23 CARTOGRAMA 02 Sobreposi o dos elementos que comp em o Sistema Faxinal em escala regional no 99 Contestado LISTA DE QUADROS QUADRO 01 A integra o nos mundos faxinalenses 74 QUADRO 02 Munic pios paranaenses e respectivos n meros de Faxinais de QUADRO 03 acordo com o levantamento da EMATER 1994
61. es eram deixados abertos o que gerava conflitos entre os moradores Em seguida s o analisados os outros elementos que caracterizam o Sistema Faxinal na escala da comunidade aqui definidos como socioculturais e que se caracterizam pelo uso coletivo da terra pelas rela es de compadrio e mutir o e ainda pela medicina e religiosidade popular 175 5 2 2 Elementos socioculturais na comunidade de Aparecida dos Pardos Dada a inexist ncia atual do grande criadouro comum na comunidade n o mais presente o uso coletivo das terras para a cria o dos animais tendo se perdido com o tempo esse essencial elemento sociocultural que marca o Sistema Faxinal Como se trata de uma comunidade do interior bastante presente a pr tica dos apadrinhamentos nota se respeito e considera o dos moradores entre si se referindo aos compadres e comadres Todos os moradores se conhecem e sabem do modo de vida e das necessidades de todos os vizinhos N o existem mais algumas pr ticas sociais como as tradicionais novenas costumeiramente realizadas antes das celebra es da P scoa e do Natal ou ainda mensalmente Acredita se que isso se deva ao fato de que o tempo tem se tornado mais escasso para estes fins pois passou a ser dividido com outras atividades como as novas tarefas da ro a e a televis o Al m disso os encontros sociais para as conta es de causos Jogatinas e rezas parecem ser atribu dos aos mais idosos n o pross
62. explora o da erva mate em Ca vas compunham a base de sustenta o econ mica deste territ rio Por m atualmente as Ca vas possuem diversas fun es entre elas 1 Econ mico produtivo por possu rem caracter sticas peculiares em virtude da forte interrela o entre as rvores as pastagens nativas e os animais sendo que as rvores fornecem sombra para os animais e prote o para os pastos contra as geadas permitindo que estes se mantenham verdes por mais tempo facilitando a manten a dos animais p 06 Al m disso durante o ver o as rvores s o fonte de forragem aos animais j que as reas da agricultura permanecem ocupadas com culturas comerciais nesse per odo fumo e milho principalmente 2 Ecol gico se comparadas com florestas nativas realmente as Ca vas possuem menor biodiversidade por m exercem importante fun o ambiental ao manter esp cies vegetais t picas da floresta ombr fila mista tais como a arauc ria a erva mate as canelas idem al m das rvores frut feras e esp cies de menor valor comercial como a congonha o branquilho e outras Contribuem ainda para a manuten o da fauna fornecendo alimento e abrigo e em grande parte das propriedades familiares da regi o comp em as reas de Reserva Legal RL e as reas de Preserva o Permanente APP Portanto embora as reas de Ca va catarinenses n o possuam na pr tica a mesma l gica do Sistema Faxinal paranaense da cria
63. fica A primeira se faz necess ria uma vez que a mem ria social se alicer a em vultos hist ricos representativos forjando se uma dimens o heroica a partir da reconstru o de um passado m tico e precisa ser compreendida luz de sua evolu o no tempo percebendo as descontinuidades e seus motivos al m das perman ncias e suas motiva es A isso associado tem se como complemento indissoci vel a dimens o geogr fica que composta por indicadores presentes no cotidiano na paisagem na riqueza natural e social ou seja neste espa o nico de refer ncia Esta combina o permitiu perceber a constru o de uma identidade territorial Faxinalense no estado do Paran surgida inicialmente enquanto 219 identidade de resist ncia e que foi evoluindo gradativamente para uma identidade de projeto de luta Ao passo que em Santa Catarina a identidade de resist ncia mantem se at os dias atuais mas v m perdendo seu espa o de refer ncia identit ria para a press o dos agentes externos e at internos n o se inscrevendo visivelmente no jogo pol tico de articula es que reconhecem a tradicionalidade e a territorialidade de seu modo de vida ao menos por enquanto REFER NCIAS AB SABER N A Os dom nios de natureza no Brasil potencialidades paisag sticas S o Paulo Ateli Editorial 2003 ALMEIDA A W B de Terras de preto terras de santo terras de ndio uso comum e conflito In Cadernos Naea B
64. foco principal da presente pesquisa Utilizou se apenas do termo ancoragem proposto e discutido pelo autor para afirmar que embora algumas comunidades por vezes inventem ou reinventem coisas estas coisas sempre est o articuladas a um referencial ou seja algo que lhe d concretude 18 ES 7 OTET Apontada como um dos dois processos o outro a objetiva o que tornam poss vel a familiariza o ou a constru o da representa o social 53 De acordo com Hall 2005 teriam se hoje tr s formas que s o concomitantes de manifesta es identit rias a Identidades globais ou a dilui o das identidades ocasionada pela globaliza o b Identidades de resist ncia que como nos movimentos nacionalistas refor am ou retomam antigas mem rias coletivas c Novas identidades pluriculturais que s o fruto de um di logo entre o universal global e o local particular Considerando as tr s formas anteriores sugeridas por Hall 2005 acerca das manifesta es identit rias pode se dizer que no caso do Sistema Faxinal a identidade foi moldada inicialmente enquanto resist ncia partindo do retomar de antigas mem rias e pr ticas coletivas por m ao se refletir mais profundamente sobre a identidade contempor nea destes percebe se que s o fruto justamente do di logo entre o universal global e o local particular Isso porque n o se trata de uma identidade est tica posta em uma por o do espa o atemporal se tratam de com
65. foram visitados no per odo de novembro de 2007 a 89 x s N POSI O MICRORREGIAO MUNICIPIO FAXINAIS 1 2 3 n Curitiba Mandirituba 15 3 1 11 Quitandinha 13 7 3 3 Rio Negro Tijucas do Sul 9 3 1 5 Agudos do Sul 6 1 5 Pi n 4 1 3 Lapa Lapa 16 1 4 11 Prudent polis 14 9 4 1 Prudent polis Imbituva 8 3 5 Fernandes Pinheiro 5 2 l 1 Teixeira Soares 1 1 Rio Azul 7 4 2 1 Irati Irati 14 4 4 6 Rebou as 15 5 1 9 Mallet l l S o Mateus do Sul 4 2 1 1 d o Mateus do dl Faso Jo o do Triunfo 16 TEESE Ant nio Olinto l l Ponta Grossa Ponta Grossa 9 E 2 7 Palmeira 1 l Tel maco Borba Imba 4 4 Reserva 3 1 2 In cio Martins 17 8 2 6 1 Pinh o 15 5 1 12 Reserva do Igua u 3 1 2 Guarapuava Turvo 13 3 6 4 Guarapuava 4 4 Campina do Salom o 1 1 Guarania u 1 l Novas Laranjeiras 1 l f Pitanga 3 1 2 Pranga Mato Rico l 1 Boa Ventura de S o Roque 1 l l TOTAL 227 11 54 50 112 QUADRO 04 Levantamento dos Faxinais no Estado do Paran de acordo com a APF Elaborado por Souza 2009a Adaptado pela autora 2013 Analisando os tr s levantamentos produzidos tem se o seguinte comparativo 1 Levantamento da EMATER 1994 24 munic pios com 118 Faxinais 2 Levantamento do IAP 2004 16 munic pio
66. funcionamento recorrendo metodologia da investiga o hist rica Para tanto analisou os ciclos econ micos do estado do Paran auges e decl nios as condi es f sico naturais do espa o as bases produtivas e a economia ervateira As an lises v o desde o processo de prea o dos ndios das influ ncias do tropeirismo e da imigra o at a defini o de uma nova identidade para o Sistema Considerando O modelo de desenvolvimento econ mico dos anos 60 e suas implica es no campo Chang 1988 trata de um novo modelo e do papel que cada segmento social desempenhou neste processo a partir de uma an lise sob a perspectiva hist rica e do enfoque das classes sociais O privil gio ficou por conta da an lise te rica das transforma es da produ o camponesa dentro do contexto da moderniza o agr cola p 16 A autora aborda ainda as determinantes da moderniza o agr cola nos anos 1960 a diferencia o dos pequenos produtores na pol tica dessa moderniza o e as transforma es da produ o camponesa nesse quadro O terceiro e ltimo cap tulo do livro de Chang 1988 apresenta as especificidades do processo de desagrega o do Sistema Faxinal sustentando a an lise a partir da quest o da t cnica do papel do Estado da rela o entre o aumento da produ o agr cola e do esgotamento dos recursos naturais da quest o da terra das leis federais e municipais dos conflitos e das dificuldades Ao tratar do
67. gica a partir da Hermen utica Dial gica Territorial a partir da qual atrav s do decifrar dos sentidos do territ rio pode se construir um produto de di logo Para tanto elabora se um corpus discursivo de base te rica em seguida identificam se e estudam se as pr ticas discursivas cotidianas e por fim sistematiza se esta constru o formal Assim sendo compreender o conceito de identidade se faz necess rio para continuar a presente discuss o e perceber a distin o entre terras de criar e terras de plantar como constru o identit ria territorial 49 1 2 A IDENTIDADE ENQUANTO FONTE DE SIGNIFICADO E EXPERI NCIA SUA FLUIDEZ E EVOCA O POL TICA Ao se perceber o territ rio enquanto constru o social e hist rica a partir do espa o e a territorialidade enquanto s mbolo deste territ rio a identidade pode ser pensada como a fonte de significado e experi ncia de uma coletividade Assim sendo ap s o arranjo te rico que permitiu caracterizar o territ rio e a territorialidade discute se mais profundamente a seguir a quest o da identidade com vistas a compreender a distin o entre terras de criar e terras de plantar como constru o identit ria ligada ao territ rio Ao colocar a identidade no centro da discuss o Hall 2005 afirma que a tem tica vem sendo extensamente discutida na Teoria Social sobretudo devido ao fato de que as velhas identidades estariam em decl nio o que faria surgir
68. identidade peculiar Al m disso considera se ainda a pr pria refer ncia da comunidade quanto ao seu lugar no Emboque todos se consideram moradores do Sistema Faxinal em Aparecida dos Pardos os moradores se referem ao local como comunidade e n o como Faxinal muitos inclusive desconhecem o termo ou ainda o confundem com o termo Ca va Importantes elementos socioespaciais remanescentes na comunidade de Aparecida dos Pardos s o as cercas as porteiras e os mata burros Durante as entrevistas descobriu se a localiza o dos port es que demarcavam a entrada e a sa da do antigo criadouro comunit rio na estrada principal A Foto 34 evidencia o local na chamada Estrada Grande onde o primeiro port o existia at cerca de 40 anos atr s 170 FOTO 34 Estrada Grande onde se localizava o antigo port o que dava acesso rea do criadouro comunit rio em Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Acervo da autora 2014 Seguindo se por esta estrada chega se a BR 280 distante desse ponto cerca de sete quil metros O outro port o do antigo criadouro se localizava pr ximo Fazenda vizinha do Tomasi pertencente a Armelindo Tomasi e dividia esta fazenda e a rea dos moradores da comunidade sendo que pr ximo a este port o existia uma resid ncia um rancho cujos moradores tinham a fun o de zelar pelo port o com o objetivo de impedir que os animais chegassem s terras da fazenda Atualmente
69. in meros ch s feitos com folhas com palha roxa de milho com ra zes ou cip s como milome usado nas gripes com madeiras raspadas como o pau de quina pau de Andrade e outros abundantes na regi o dos Faxinais constitu am o receitu rio talvez de origem ind gena aplicado pelos benzedores pelas parteiras e vov s que sabiam como cuidar da parturiente e de doen as como sarampo tosse comprida caxumba varicela e catapora p 109 As Fotos 19 a 22 detalham melhor as plantas medicinais cultivadas no Faxinal do Emboque 146 FOTOS 19 a 22 Plantas medicinais cultivadas no Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 Nas Fotos poss vel perceber as plantas medicinais mais conhecidas como a arruda o alecrim a camomila a babosa entre outras Essas plantas s o cultivadas com a finalidade de servirem de rem dios caseiros e b n os No Faxinal do Emboque as mulheres participam da Pastoral da Crian a onde as l deres comunit rias acompanham o desenvolvimento infantil A entrevistada Sra S M C P 2013 prefere chamar de Pastoral da Fam lia visto que os rem dios caseiros e as vitaminas elaboradas s o entregues n o s para crian as Ela destaca ainda que cada fam lia planta seus rem dios caseiros quando os animais como o porco come am a entrar no p tio das casas os rem dios s o plantados na ro a terras de plantar ou ent o cultivados ao redor das moradias Nota se que o
70. intensidade sobretudo devido ao fato da estrutura fundi ria ser concentrada Segundo a autora trata se de uma moderniza o discriminadora que diferencia os pequenos produtores em produtores familiares capitalizados e produtores familiares marginalizados Caio Prado J nior 1979 por sua vez assim sintetiza a quest o agr ria brasileira se resume nisto que a grande maioria da popula o brasileira a sua quase totalidade com exclus o unicamente de uma pequena minoria de grandes propriet rios e fazendeiros embora ligada terra e obrigada a nela exercer sua atividade tirando da seu sustento se encontra privada da livre disposi o da mesma terra em quantidade que baste para lhe assegurar um n vel adequado de subsist ncia V se assim for ada a exercer sua atividade em proveito dos empreendimentos agromercantis de iniciativa daquela mesma minoria privilegiada que det m o monop lio virtual da terra p 32 Neste sentido Matos e Pess a 2011 destacam que no Brasil a moderniza o da agricultura come ou a ser propagada a partir da metade do s culo XX e com o intuito de aumentar a produ o e a produtividade de culturas de interesse internacional mediante a inser o de inova es tecnol gicas Graziano da Silva 1996 compreende esse processo de moderniza o agr cola a partir das transforma es de base t cnica da produ o agropecu ria sobretudo no per odo p s Segunda Guerra Mundial quando pas
71. la antropolog a del territorio al estudio de comunidades tradicionales In Revista Terra Plural Ponta Grossa v 5 n 2 jul dez 2011 p 153 167 RODERJAN R V Os Curitibanos e a forma o de comunidades campeiras no Brasil Meridional s culos XVI XIX Curitiba Works Inform tica Editora o Eletr nica 1992 ROSSI R V Taxonomia de Mazama Rafinesque 1817 do Brasil Artiodactyla Cervidae 174p Disserta o Mestrado em Ci ncias Biol gicas Universidade de S o Paulo USP 2000 RUA M G An lise de pol ticas p blicas conceitos b sicos 18 f 1998 Dispon vel em www ufba br paulopen AnalisedePoliticasPublicas doc Acesso em 26 de maio de 2014 SACHET C SACHET S A guerra do Contestado In SACHET C SACHET S Santa Catarina 100 anos de Hist ria O livro do povoamento guerra do Contestado v 1 Florian polis 2001 p 507 525 SACK R D Human territoriality its theory and history Cambridge Cambridge University Press 1986 SAID E W Orientalismo o oriente como inven o do ocidente S o Paulo Companhia de Bolso 2010 230 SAINT HILAIRE A de Viagem Comarca de Curitiba 1920 S o Paulo Companhia Nacional 1964 SAINT HILAIRE A de Viagem Prov ncia de S o Paulo e Resumo das Viagens ao Brasil Prov ncia Cisplatina e Miss es do Paraguai S o Paulo Liv Martins s d ESTADO DE SANTA CATARINA Mensagem apresentada ao Congresso Representativo em 14 de ag
72. mutir o e por fim a medicina e a religiosidade popular elementos que caracterizam sua identidade sociocultural Dessa maneira objetivando compreender a forma com que estes elementos identit rios se apresentam analisa se como exemplo da escala da comunidade no estado do Paran a comunidade do Emboque Esta escolha se justifica no fato de que este faxinal encontra se na borda da regi o do Contestado no munic pio de S o Mateus do Sul e tamb m onde se tem maior familiaridade com a comunidade tendo em vista pesquisas e visitas anteriores Para tanto este quarto cap tulo se estrutura em tr s partes A primeira retoma e evidencia as caracter sticas regionais com base em CHANG 1988 e neste momento mais espec ficas da comunidade selecionada tendo como base a presen a das Matas Mistas com ervais nativos enquanto condicionante f sico natural e enquanto condicionantes humanos os 122 caboclos e imigrantes juntamente com a cria o extensiva e o tropeirismo do porco al m da pr tica da policultura alimentar de subsist ncia A segunda parte deste cap tulo tem a finalidade de diferenciar o Sistema Faxinal de outros espa os rurais a partir dos elementos que marcam sua territorialidade na escala da comunidade a distin o entre as terras de plantar e de criar a diferencia o entre a propriedade e o uso da terra o emprego do sistema de cercas porteiras e mata burros A terceira e ltima parte enfoca a comunidade conside
73. nas divisas das propriedades que antes eram do criador comum ficando dispon veis apenas reas privadas al m das p blicas campos de futebol igreja beira de estrada Assim h um limite ao livre acesso dos recursos existenciais As cria es altas circulam nas reas comuns dispon veis em per odos de tempo vari veis ao passo que as cria es baixas s o confinadas Permanecem mata burros port es e cercas Posi o 04 Faxinais sem uso comum mangueir es e potreiros Representam situa es em que o uso comum da cria o animal baixa ou alta ocorre somente pelo grupo familiar ou ao grupo dom stico Portanto quando ocorre o uso comum dos recursos naturais est restrito dentro dos limites da propriedade privada SOUZA 2009 p 22 23 O potreiro abriga cria es altas e o mangueir o as cria es baixas em alguns casos evidencia se a presen a de mata burros cercas para cria es baixas e port es O Quadro 04 apresenta os resultados desta contabiliza o da APF 2 A regi o de abrang ncia desta pesquisa foi definida a partir da pesquisa explorat ria realizada na etapa inicial dos trabalhos de revis o da bibliografia referente ao tema Faxinais As fontes secund rias constituiram se das primeiras indica es da ocorr ncia de situa es e aux lio dos pr prios Faxinalenses Foram percorridos 12 mil quil metros e visitadas 227 comunidades rurais Ao todo
74. necess rios para a exist ncia destes Em seguida buscando aproximar a discuss o te rica cl ssica das popula es tradicionais apresenta se uma reflex o a partir das perspectivas antropol gicas e filos ficas acerca do territ rio e da territorialidade O intuito desenvolver um alicerce te rico para embasar a discuss o acerca do distinto uso da terra praticado no Sistema Faxinal o qual pautado na separa o entre criadouro comunit rio e terras de agricultura considerando o recorte espacial do Contestado 1 1 1 Os conceitos de territ rio e territorialidade na Ci ncia Geogr fica Sack 1986 afirma que as rela es sociais e hist ricas rela es de poder constroem o territ rio e tanto este quanto a territorialidade acontecem em situa es e contextos vividos indo desde as escalas mais complexas at as do cotidiano Neste sentido para que haja o territ rio necess ria uma delimita o da rea um controle e uma forma de poder Em sua obra Human territoriality its theory and history de 1986 o autor afirma que os territ rios s o constru dos socialmente e They are results of strategies to affect influence and control people phenomena and relationships Territory can be used to contain or restrain as well as to exclude and the individuals who are exercising control need not be inside the territory p 216 O mesmo autor ao considerar o territ rio como resultado de rela es sociais define
75. novas identidades e a fragmenta o do sujeito moderno at ent o visto como sujeito unificado Parte da proposi o de que as identidades modernas est o sendo descentradas ou seja deslocadas ou fragmentadas e afirma inicialmente que o pr prio conceito de identidade demasiadamente complexo muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na ci ncia social contempor nea para ser definitivamente posto prova p 08 o que de forma alguma exclui o seu emprego Hall 2005 acredita que um diferente tipo de mudan a estrutural transformou as sociedades modernas no final do s culo XX fragmentando as s lidas localiza es dos indiv duos sociais enquanto g nero sexualidade ra a etnia paisagens culturais entre outros Tais transforma es contribuem tamb m para uma mudan a nas identidades pessoais abalando a ideia de sujeitos integrados e constituindo uma crise de identidade para o indiv duo cuja identidade cultural teria sido abalada pela globaliza o decorrente da modernidade tardia Interessante discuss o pontuada pelo autor ao enfocar o jogo de identidades e suas consequ ncias pol ticas afirmando que Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito interpelado ou representado a identifica o n o autom tica mas pode ser ganha ou perdida Ela tornou se politizada Esse processo s vezes descrito como constituindo uma mudan a de pol tica de identidade de c
76. o solta no grande criadouro em Aparecida dos Pardos elementos como o apresentado na Foto 39 contribuem para afirmar que o Sistema Faxinal existiu na comunidade A grande rea do criadouro comum n o existe mais restando apenas pequenos n cleos familiares cujos animais s o criados em conjunto ao redor das resid ncias Nestes lugares o cuidado com as cercas coletivo ou seja toda a fam lia respons vel pelo zelo e manuten o sendo ainda realizados os mutir es para este fim Estas cercas nas reas dos criadouros familiares podem ser percebidas na Foto 40 173 f Q 4 A e gt A E pa Je 4 4 n PK AS a Rai o Re vo A 5 pi X 4 F OTO 40 Cerca comunit ria em Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Acervo da autora 2014 As cercas individuais que circundam as propriedades privadas tamb m objetivam impedir a sa da dos animais criados e delimitar a rea da propriedade J os mata burros por sua vez s o encontrados na comunidade por m com uma caracter stica diferente daqueles encontrados nos Faxinais paranaenses Em Aparecida dos Pardos eles encontram se localizados nas estradas secund rias que d o acesso s casas das fam lias e s o utilizados em substitui o ao port o Os moradores relatam que frequentemente ocorriam brigas entre vizinhos s vezes at familiares pelo n o fechamento dos port es o que implicava na fuga dos animais que por vezes causavam danos s reas de lavoura
77. o daqueles que se enquadram nessas reivindica es pol ticas no sentido de exaltar reconhecer e dar visibilidade ao seu territ rio Nesta combina o emerge por vezes um territ rio constru do artificialmente com vistas a se enquadrar nas propostas e projetos propostos pelo Estado da a problem tica da distor o do conceito Raffestin 1993 complementa ao afirmar que o territ rio uma produ o a partir do espa o Ora a produ o por causa de todas as rela es que envolve se inscreve num campo de poder Produzir uma representa o do espa o j uma apropria o uma empresa um controle p 144 Segundo o autor o espa o anterior ao territ rio sendo este ltimo resultado de uma a o conduzida por um ator que ao se apropriar deste espa o o territorializa Raffestin 1993 prop s o sistema territorial dividindo a superf cie em 40 tessituras n s e redes e cujos sistemas s o organizados hierarquicamente e permitem assegurar o controle sobre o que distribu do alocado e ou possu do A partir deles se originam as rela es de poder Nesta proposi o de Raffestin 1993 as tessituras estabelecem limites manifestando um poder em determinada rea se esses limites n o forem f sicos s o de objetivos comuns e de identidade entre o grupo e seu espa o portanto essas tessituras comunicam se interligam se N o s o homog neas mas se complementam No que tange ao territ rio
78. os enquadrar nas categorias existentes a n vel nacional e desenvolver pol ticas territoriais e setoriais as quais nem sempre d o conta das especificidades e necessidades Paralelamente as pr prias popula es moradoras do Sistema Faxinal se organizam e se articulam para garantir seus direitos e se inserir nos projetos e pol ticas existentes resistindo e defendendo sua territorialidade Neste cen rio de mobiliza es para se responder problem tica posta e discutir a territorialidade dos elementos que comp emm o Sistema Faxinal a partir do recorte espacial da regi o do Contestado torna se necess rio definir os elementos que caracterizam o Sistema Assim sendo inicialmente realiza se uma reflex o conceitual partindo dos principais entendimentos culminando com o conceito a ser adotado na Tese Em seguida dada a multiplicidade de olhares e considerando as in meras possibilidades de se compreender o Sistema opta se pela cria o de uma proposi o de identifica o sinopse que parte das contribui es das duas autoras que embora contempor neas s o tidas como refer ncias cl ssicas nesta abordagem Man Yu Chang e Maria Magdalena Nerone Apontam se as proposi es de cada obra partindo de uma breve resenha e do elencar de elementos de identifica o do Sistema percebidos durante a leitura 2 1 SISTEMA FAXINAL BREVE DISCUSS O CONCEITUAL O Sistema Faxinal caracter stico da regi o Centro Sul do estado do Paran
79. p 85 s o comunidades materialmente constru das onde a etnia embora vista por alguns como fonte de discrimina o e estigma pode ser processada pela religi o pela na o e pelo territ rio cuja especificidade tende a refor ar Em termos de identidade o autor acrescenta que este caso gira essencialmente em torno do princ pio da identidade de resist ncia entretanto acrescenta que poss vel que destas comunas surjam novos sujeitos ou seja agentes coletivos de transforma o social possam surgir construindo novos significados em torno de uma identidade de projeto p 86 Interessante perceber como e por que novos sujeitos podem ser formados a partir dessas comunas culturais e reativas idem tais instiga es s o quest es principais para a an lise dos movimentos sociais na sociedade No caso do Sistema Faxinal a organiza o coletiva que num primeiro momento visava a sobreviv ncia vem com o passar do tempo se transformando em uma identidade de projeto constru da sobretudo atrav s da atua o dos movimentos sociais Desta demanda por visibilidade na sociedade surge como fruto do I Encontro Regional dos Povos e 2 A etnia embora seja um ingrediente essencial tanto de opress o como de liberta o geralmente parece estar inserida em algum tipo de comprometimento com outras identidades comunais religiosas nacionais territoriais em vez de fomentar por si pr pria resist ncia ou novos pro
80. partir desta regi o que os questionamentos sobre o Sistema Faxinal surgiram Percebeu se que a literatura regional menciona a exist ncia de Faxinais em toda a regi o Sul do Brasil As inquieta es levaram a refletir sobre a regi o espec fica do Contestado isso porque sabido que a regi o geogr fica do Planalto Norte Catarinense onde o referido Estando ligadas Holding Brazil Railway Company e Companhia da Estrada de Ferro S o Paulo Rio Grande Farquar criou duas empresas a Brazil Development and Colonization Company para povoar as terras devolutas recebidas pela Estrada de Ferro e a mais importante a Southern Brazil Lumber Colonization que al m de comprar pinheirais no Planalto Norte Catarinense ainda obteve autoriza o para instalar serrarias em terrenos devolutos e depois vender as terras j sem rvores para imigrantes se fixarem SACHET SACHET 2001 p 71 72 Ap s concluir em 1910 a liga o ferrovi ria entre o Estado de S o Paulo e o Rio Grande do Sul a Brazil Railway iniciou um plano de coloniza o na faixa que lhe fora concedida de 15 quil metros de cada lado da linha SACHET SACHET 2001 22 conflito ocorreu com maior intensidade possui caracter sticas f sico naturais e hist rico geogr ficas similares por o paranaense onde o Sistema Faxinal reconhecido Para o recorte da pesquisa entretanto prop e se extrapolar os limites territoriais do conflito destacados anteriorme
81. pastoreio diminui o servi o de ro ada nos ervais al m de ser rico em alimentos silvestres o que reduz os custos com a alimenta o animal Portanto para Chang 1988 Vinhas de Queir s 1977 e Novak e Fajardo 2008 as Ca vas s o o espa o f sico natural prop cio ao desenvolvimento do Sistema Faxinal Por m Bona Hanisch e Marques 2011 escrevem que Ao rodar pelas estradas do Planalto Norte de Santa Catarina os viajantes se deparam com uma paisagem composta por um mosaico formado por remanescentes de floresta de arauc rias entremeados por lavouras anuais e cultivos florestais Em v rios trechos da estrada poss vel visualizar o gado bovino pastando sombra destes remanescentes florestais A forma o dessa paisagem se deve em grande medida perman ncia de um sistema produtivo tradicional dessa regi o conhecido como Ca vas ou invernadas Esse sistema mantido pela combina o do pastejo do estrato herb ceo formado por esp cies nativas ou introduzidas h d cadas com a extra o da erva mate e de lenha no estrato arb reo Atravessando o rio Igua u que delimita a divisa com o Paran esse tipo de sistema recebe o nome de faxinal p 06 grifo nosso Dessa maneira na perspectiva desses autores as Ca vas tamb m chamadas de invernadas consistem em um sistema produtivo tradicional que combina o pastoreio animal com a extra o vegetal erva mate e lenha Assim sendo poss vel perceber o u
82. pode conter restringir e at excluir pessoas sobretudo considerando sua dimens o pol tica Trata se do suporte material da exist ncia de um grupo social que constru do no jogo entre material imaterial e funcional simb lico Assim o territ rio portanto carregado de inten es e desejos humanos de posse apropriado entretanto por outro lado tamb m instrumentalizado Neste sentido Fernandes 2008 destaca que o territ rio foi escolhido por cientistas de diversas reas do conhecimento como conceito central para o estudo de diferentes escalas e tipos de espa os geogr ficos p 273 sendo inclusive incorporado a discursos oficiais Dessa forma o conceito de territ rio passa a ser instrumentalizado para atender aos interesses de institui es e expressa ent o sua mais cara propriedade as rela es de poder p 278 Por m o territ rio n o um instrumento p 290 um conceito e uma categoria e neste conflituoso contraponto entre o territ rio enquanto conceito categoria e o territ rio enquanto instrumento que o caso do Sistema Faxinal na regi o do Contestado passa a ser discutido Da mesma forma o conceito de identidade bastante complexo Nestas proposi es ela entendida como a fonte de significado e experi ncia de uma coletividade que est sempre sendo constru da localizada no tempo e no espa o por m n o deve ser reduzida a 37 partir da mera diferen a f
83. pr prio Monge quando este passou pelas terras do Faxinal A cerca branca constru da ao redor do Cruzeiro objetiva proteger a Cruz dos animais que circulam livremente pelo criadouro comum e a manuten o do local de dever de todos os moradores bastante comum encontrar oferendas como flores e velas pr ximo ao Cruzeiro sendo comum tamb m encontrar nas casas a imagem do Monge figura conhecida e reverenciada em muitos munic pios que associado aos santos poloneses fundamenta a cren a religiosa popular da comunidade Assim sendo pode se afirmar que a identidade territorial do Faxinal do Emboque se fundamenta nesta particular rela o com a terra que foi poss vel tendo em vista a presen a do condicionante f sico natural das Matas Mistas com ervais nativos e viabilizada a partir da contribui o de caboclos e imigrantes que numa mescla desenvolveram a cria o extensiva nos criadouros comunit rios e praticaram a policultura alimentar de subsist ncia nas terras de 150 plantar O Sistema Faxinal diferencia se dos outros espa os rurais justamente por apresentar essa distin o marcada entre as terras de criar de propriedade e uso particular e as terras de criar de propriedade particular e uso coletivo e pelo sistema de cercas porteiras e mata burros que se articulam para dar viabilidade a esta racionalidade Dessa forma este uso coletivo das terras juntamente com as rela es de compadrio e mutir o o emprego da medicina e
84. principal problema enfrentado era o dos transportes o que s era poss vel no lombo dos animais A partir da abertura da estrada do Viam o 17730 conectando os campos de cria o de Vacaria RS a Sorocaba SP inaugurou se a era do tropeirismo e ineg vel sua contribui o para a organiza o econ mica e espacial da regi o Centro Sul do Paran desenvolvendo o com rcio aumentando a produ o agr cola e dando origem a povoados Nessa regi o de travessia obrigat ria existia a erva mate nativa e nela que se deu a forma o de comunidades no Sistema Faxinal De toda a atividade pecu ria tropeira interessa muito a produ o animal de subsist ncia notadamente a suinocultura extensiva cuja caracter stica mant m grande identidade com a cria o de porcos do Sistema Faxinal p 25 uma vez que essa produ o animal de subsist ncia tinha um peso significativo no or amento familiar e atendia sobretudo ao consumo local de carne e banha rebanho mi do e ao transporte de cargas e pessoas e a ara o rebanho gra do Essa regi o era povoada inicialmente por um grupo cultural distinto os caboclos Para Chang 1988 o elemento caboclo consiste em um grupo tnico numericamente consider vel na estrutura social nas comunidades do tipo Faxinal s o descendentes miscigenados ou n o com lusos e imigrantes europeus dos primeiros escravos ndios p 18 Consistem na popula o local e tamb m s o chamados de brasileir
85. questionamentos p 198 199 De fato as inquieta es que levam ao desenvolver da presente pesquisa nasceram do universo cotidiano vivenciado na regi o do Contestado e das experi ncias adquiridas no contato com a Universidade que por sua vez permitiram tomar conhecimento dos estudos existentes sobre o Sistema Faxinal no estado do Paran O Sistema Faxinal caracter stico da regi o Centro Sul do Estado do Paran e tradicionalmente dividido em terras de criar e terras de plantar CHANG 1988 v m sendo amplamente discutido a partir da d cada de 1980 resultando em uma vasta gama de conceitua es e estudos de caso espec ficos A express o Faxinal foi originalmente descrita por Hor cio Martins de Carvalho em 1984 para designar os espa os onde ocorrem pr ticas extrativistas da madeira e da erva al m de servir de espa o para a cria o extensiva de animais p 14 Em 1987 Gubert Filho caracteriza o Faxinal como sendo as reas cont guas de matas de arauc ria degradadas pelo pastoreio extensivo realizado em criadores comuns p 33 Entretanto a primeira pesquisa que empregou o termo Sistema Faxinal resultante de uma Disserta o de Mestrado foi publicada em forma de Relat rio T cnico por Man Yu Chang ao Instituto Agron mico do Paran IAPAR em 1988 e de acordo com a autora o referido Sistema que diferencia as terras de plantar das terras de criar possui as seguintes
86. regi o das Matas Mistas isso porque sua forma o e consolida o est o intimamente ligadas economia ervateira a partir da primeira metade do s culo XIX Em terras catarinenses Souza 1998 destaca que o Planalto Norte Catarinense desde sua ocupa o guarda uma estreita liga o com a atividade ervateira sobretudo a partir do s culo XVIII se relacionando tamb m com o ciclo do gado como locais de pousio abastecimento e registro das tropas postos de cobran a O autor destaca ainda que a extra o da erva mate sempre existiu como alternativa econ mica para uma popula o marginal ao sistema tropeirista e de cria o de gado Por volta de 1850 j existia a atividade ervateira no Planalto Norte Catarinense sendo portanto anterior chegada dos primeiros colonizadores europeus em 1870 e toda regi o passou a ser ocupada por fazenda dos ervais onde passaram a se estabelecer agregados dispensados e liberados das fazendas de gado de Lages de Palmas e de Guarapuava p 22 23 A Imagem 03 que consiste em parte da Carta de Irine polis IBGE 1973 retrata a presen a tanto dos Campos quanto das Matas Mistas sendo poss vel perceber a disposi o de algumas resid ncias na poca as quais se distribuem conforme a hidrografia e as estradas Os dois principais rios que alimentam a rede h drica de Aparecida dos Pardos s o o Rio de S o Pascoal e o Rio dos Pardos al m de algumas vertentes de gua e mais no final d
87. s suas rela es Essa pr tica nivelava as pessoas patr es e camaradas O compadre era o primeiro a ser lembrado nas horas do puxir o na hora de queimar a ro a e em tempo de doen a Queiroz 1973 ressalta que as rela es de compadrio t m import ncia id ntica no Brasil e em todos os pa ses da Am rica Latina p 91 No Faxinal do Emboque ainda existe essa pr tica do compadrio inclusive com um batizado no pocinho do monge S o Jo o Maria estreitando ainda mais as rela es comunit rias Nerone 2000 relata que uma pr tica comum nos Faxinais a conta o de causos e supersti es que alimentam a crendice popular Incluem se as hist rias de viagens de lobisomem boitat mula sem cabe a m sicas e poesias neste repert rio marcando significativamente a oralidade No Faxinal do Emboque essas passagens s o contadas sempre que ocorre o ajuntamento de pessoas em festas novenas jogos e at vel rios Outra pr tica comum nos Faxinais consiste nos mutir es que se trata de outra manifesta o de solidariedade envolvendo o trabalho comunit rio Tradicionalmente conhecida como puxir o pixirum ou pitoco ou seja o trabalho coletivo que realizado por um grande n mero de pessoas em favor de algu m da comunidade Esse trabalho normalmente envolvia a capinagem o ro ado a semeadura ou colheita repara o das cercas e dos port es comunit rios ou seja n o tinha data pr fixada para ocorrer pois surgia da nece
88. se aproximou dos elementos fundamentais que caracterizam o Sistema Faxinal paranaense Sobre o atual munic pio catarinense de Irine polis tem se que em 1885 a fam lia de Caetano Val es forma um pequeno povoado que fica conhecido pelo sobrenome da fam lia e que na poca estava sob jurisdi o do estado do Paran Somente em 1916 com a assinatura do Acordo de Limites ap s a Guerra do Contestado que o local foi incorporado s terras 154 catarinenses Val es elevada a categoria de distrito de Porto Uni o SC em 1921 e obt m sua emancipa o pol tica atrav s da Lei Estadual n 820 de 23 de abril de 1962 cuja instala o ocorre em 22 de julho do mesmo ano por m com o nome de Irine polis em homenagem ao ex governador catarinense Irineu Bornhausen Entretanto at hoje muitos moradores sobretudo os mais antigos ainda referem se ao lugar como Val es IBGE 2013 De acordo com o IBGE 2013 a popula o estimada do munic pio de Irine polis SC de 10 843 habitantes dispostos em uma rea territorial de 589 558 quil metros quadrados o que resulta em uma densidade demogr fica de 177 72 habitantes por quil metro quadrado e um IDHM ndice de Desenvolvimento Humano Municipal de 0 699 Dentre as comunidades que comp emm o munic pio destaca se considerando os prop sitos desta pesquisa a de Aparecida dos Pardos que ainda mant m na mem ria e nas pr ticas cotidianas quase todos os elementos regionais e comu
89. ser vistos inseridos um no outro parcelas indissoci veis de suas pr prias defini es Assim sendo buscando 61 fortalecer a arquitetura te rica que visa auxiliar no entendimento das terras de criar e das terras de plantar no Contestado aprofunda se a seguir esse car ter contrastivo dos conceitos de identidade e territ rio 1 3 IDENTIDADE TERRITORIAL DE REFERENCIAL ESPACIAL INSTRUMENTO DE REIVINDICA O POL TICA Entre meados do s culo XIX e a d cada de trinta do s culo XX o Sistema Faxinal se consolidou sobretudo no estado do Paran Trata se de uma singular rela o destes povos com o seu territ rio tradicional rela o esta baseada no uso comum da terra do criadouro comunit rio no manejo equilibrado dos recursos naturais e h dricos no uso privado da lavoura e no estabelecimento cumprimento de normas e costumes estes ltimos como leis consuetudin rias S o comunidades rurais presentes no bioma da Mata com Arauc ria cuja organiza o disposta basicamente entre terras de plantar e terras de criar onde o territ rio se faz necess rio para a reprodu o social e econ mica numa combina o entre o coletivo e o privado L WEN SAHR 2005b Dessa maneira poss vel compreender o Sistema Faxinal atrav s da proposi o de uma identidade territorial ao passo que o territ rio neste caso um elemento construtor da identidade e vem sendo evocado com vistas a dar suport
90. serrarias que na poca tamb m exploravam as Matas Mistas Alguns moradores recordam se da Guerra D M 2014 fala sobre os Jagun os que queriam ter o governo deles a Monarquia e que muito pr ximo da comunidade existia um dos ref gios destes no local conhecido como Col nia dos Pinheiros distante poucos quil metros da comunidade de Aparecida dos Pardos Relata uma passagem que foi transmitida por seu pai que dizia que numa ocasi o pr ximo da Igreja que existia na Col nia dos Pinheiros os jagun os teriam atacado policiais Como repress o o governo teria mandado incendiar casas e todas as constru es vazias que fossem encontradas Conta tamb m que o ex rcito n o conhecia geograficamente a regi o e muitos dos oficiais morriam por conta disso ent o o governo solicitava aos moradores locais os colonos que 2 Nas d cadas de 1870 e 1880 surgiram somente algumas col nias polacas nas Prov ncias de Santa Catarina Rio Grande do Sul e Paran Mas ap s a proclama o da Rep blica com o governo brasileiro instituindo a imigra o europeia ou branca como a o governamental o n mero de imigrantes cresceu bastante Tanto que este per odo ficou conhecido na Pol nia como febre brasileira tal o n mero de camponeses desejando emigrar para o Brasil O governo custeava a passagem de navio e cobriria as despesas de alojamento e instala o definitiva em lotes doados ou vendidos a prazo
91. sertaneja do Contestado que teve como palco a regi o mais ao sul do que hoje o estado do Paran p 206 Nascem nesta proposi o questionamentos acerca da rela o entre a Guerra do Contestado o atual Sistema Faxinal e as terras de uso comum em Santa Catarina Os autores ressaltam que o combate do Irani ocorreu nos chamados Faxinais de Irani onde o Faxinal era definido como arraial de posseiros e caboclos entretanto n o se pode concluir que os chamados redutos dos caboclos do Contestado adotavam o Sistema Faxinal idem No caso do Irani Miranda 1987 tamb m escreveu que prevendo um ataque ao seu antro Jos Maria resolveu abalar com sua gente para o Faxinal do Irani ent o jurisdi o do Paran p 30 Dessa maneira notam se algumas associa es com os atuais Faxinais seja nas nomenclaturas seja no modo de vida Afirma se que n o se pode concluir a exist ncia de um modo de vida Faxinalense somente a partir das nomenclaturas das localidades fato comum na poca e na regi o Desta forma estas rela es precisam ser mais bem avaliadas Ao analisar a Guerra do Contestado Tonon 2009 coloca que os sertanejos possu am uma forte tradi o na regi o onde defendiam suas pr ticas religiosas e populares fundamentadas em uma tica de fraternidade e esp rito comunit rio afirmando tamb m que o esp rito e a pr tica comunit ria dos sertanejos remete aos Faxinais com a exist ncia de in meros
92. situados ao norte de Santa Catarina e o centro sul do Paran p 322 afirmando que a pr tica do puxir o tamb m era presente O autor estabelece ainda uma rela o entre o Sistema Faxinal e o surgimento das Irmandades M sticas do Contestado Para ele os membros desta Irmandade herdaram a for a da tradi o a autonomia econ mica e administrativa do Faxinal que os sertanejos conheciam sendo que muitos deles integravam p 332 dessa forma faziam o uso compartilhado comunitariamente das terras das pastagens das florestas e de outros bens Assim sendo o Sistema Faxinal ao norte da regi o do Contestado apresentava uma caracter stica marcante na sobreviv ncia de muitos sertanejos idem onde o espa o das Irmandades M sticas n o era somente o l cus das pr ticas religiosas mas tamb m espa o de viv ncia da profunda solidariedade advinda dos Faxinais Muitos militares percorreram a regi o do Contestado antes durante e depois do conflito O Capit o Vieira da Rosa sob o t tulo de Reminisc ncias da Campanha do Contestado Subs dios para a Hist ria em notas publicadas no jornal Terra Livre Florian polis 1918 mencionava na regi o a cria o de animais soltos e relatava tamb m a paisagem destacando os campos faxinais butiazais e florestas 101 Entretanto na leitura acerca das diferen as entre os redutos dos caboclos do Contestado e o que se denomina hoje de Sistema Faxinal Camp
93. tica por parte de pessoas mal intencionadas que acabam deixando os port es abertos propositalmente Nerone 2000 destaca que h dois tipos de cercas em inst ncias diferentes que se contrap e determinando a hist ria do Faxinal 1 A cerca coletiva antiga socializada que abrigava o criadouro comum cercando o espa o coletivo e fazendo parte do comp scuo tendo como fun es proteger o patrim nio cultural e guardar a mem ria do grupo Tratava se de uma refer ncia espacial 2 A cerca nova a intrusa que chega mais tarde para delimitar os lotes individuais suprimindo a rea coletiva e o patrim nio cultural da comunidade Este cercamento individual sup e a morte do Sistema ao seccionar um espa o que era de uso comum mostra tamb m sua fragilidade e contradi o se apresentando como evidente o processo de transi o entre o tradicional e a falsa modernidade p 168 138 Entretanto a cerca por vezes acaba se tornando um objeto pol mico e at contradit rio Na tica dos rec m chegados moradores e ou propriet rios ao Faxinal ela pode ser vista como um obst culo uma tradi o a ser rompida Nas palavras de Nerone 2000 passa a existir uma rea de conflito entre a norma consuetudin ria que protege a cerca coletiva e o C digo Civil brasileiro que ampara o cercamento individual p 170 Chang 1988 destaca que Toda extens o do criadouro cercada ou separada das reas de lavoura por cercas
94. tico estrat gico gerada pelas rela es sociais exercidas pelos atores e reflete a multidimensionalidade do vivido territorial dos membros de uma coletividade atrav s do sistema sociedade espa o tempo Caracteriza se atrav s da classifica o ou defini o de reas da comunica o e da forma de coa o ou controle sendo portanto uma potente estrat gia geogr fica para controlar coisas e pessoas controlar uma rea Os arranjos te ricos anteriores foram constru dos para fundamentar a discuss o que se centra na diferencia o entre terras de criar e terras de plantar na regi o do Contestado Objetivando aproximar estas reflex es te ricas aos estudos mais espec ficos utiliza se das contribui es de R os 2011 que em seu estudo interdisciplinar acerca dos processos territoriais locais onde participam as comunidades tradicionais destaca a necessidade de se considerar a diversidade existente no interior destas comunidades bem como a necessidade de valorizar os conhecimentos e saberes destes diversos atores O autor ao sugerir a utiliza o da Antropologia do Territ rio apresenta a possibilidade de construir uma imagem do territ rio que adv m do tempo das mem rias dos imagin rios territoriais e das rela es de conflito tornando poss vel assim capturar o territ rio nestes casos espec ficos Nestas reflex es acrescentam se as contribui es de Mufioz 2011 e sua proposta de aproxima o metodol
95. vel Assim o uso coletivo da terra beneficiava a todos e s podia ocorrer como de fato ocorreu a multiplica o e prolifera o de criadouros comuns por toda a regi o que apresentasse condi es materiais e s cio econ micas semelhantes CHANG 1988 p 39 Portanto pode se dizer que os colonos principalmente poloneses tiveram grande contribui o na forma o dos criadouros comuns e por tabela do Sistema Faxinal p 40 n o sendo os idealizadores do Sistema mas porque sua participa o na produ o local provocou uma dinamiza o na estrutura social e econ mica regional Em sua pesquisa Chang 1988 analisa ainda a transi o do Sistema Faxinal e coloca que o pleno desenvolvimento deste atinge seu auge por volta dos meados do s culo XIX sendo que a partir desse per odo as for as econ micas que desencadeariam o processo de dissolu o do Sistema Faxinal j se faziam presentes p 67 Dessa maneira percebe se a partir de Chang 1988 que a presen a da Mata Mista como condicionante f sico natural e dos caboclos associados aos imigrantes sobretudo eslavos como condicionantes humanos s o os principais elementos identit rios do Sistema Faxinal Derivam destes o uso coletivo da terra para produ o animal sobretudo su nos a produ o agr cola baseada na policultura alimentar de subsist ncia abastecimento familiar e venda de excedente e a coleta de erva mate nos ervais nativos al m da n
96. 0 e tantos pernas bra os cabe as animais mortos bois cavalos etc casas queimadas etc Fazia pavor e pena o espet culo que ent o se desenhava aos olhos do espectador VINHAS DE QUEIR S 1977 p 131 Sobre o modo de vida ver tamb m em Felisbino e Felisbino 2002 152 defini o do Sistema Faxinal De fato interessante foi constatar que a Guerra do Contestado contribuiu para desarticular o Sistema no local A Foto 25 ilustra o local onde a cerca de 100 anos o Sistema Faxinal existia com todos seus elementos FOTO 25 Comunidade do Taquarussu no interior do Faxinal dos Carvalhos munic pio de Fraiburgo Santa Catarina Fonte Acervo da autora 2013 Na Foto 25 poss vel notar o local onde h tempos foi travada a batalha de 2 Taquarussu Por m mais evidente a modifica o na paisagem pouco se v das Matas Mistas e nenhum p de erva mate nativa encontrado apenas uma varia o da esp cie conhecida como Congonha de menor valor econ mico n o existe mais a cria o solta e o monocultivo de esp cies ex ticas salta aos olhos Socialmente o que permanece o esp rito comunit rio e as mem rias da Guerra 2 Comunidade do Faxinal dos Domingues no munic pio catarinense de Fraiburgo Trata se da segunda comunidade a possuir o termo Faxinal no nome tamb m retratada na carta topogr fica do munic pio de Curitibanos IBGE 1973 na escala de 1 100 000 ANEXO 02 De acordo
97. 34 Mude ho a from FOTO 45 Ata que registra a primeira reuni o que tratava da constru o da capela atual Igreja de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Livro Ata n 01 Igreja de Aparecida dos Pardos Foto Acervo da autora 2014 Pela Foto 45 poss vel perceber que as fam lias que se dedicaram constru o da atual Igreja de Aparecida dos Pardos eram todas de origem polonesa considerando seus sobrenomes Alguns ofereciam pinheiros para a constru o da mesma e outros contribu am com dinheiro e ou trabalho bra al 178 Como j mencionado anteriormente os limites vivenciais entre Irine polis e Canoinhas n o s o claramente definidos tanto que na Igreja de Aparecida dos Pardos localizada em Irine polis quem exerce a fun o religiosa um Padre de Canoinhas Na comunidade de Aparecida dos Pardos os moradores informaram que n o s o mais realizadas as novenas de P scoa e de Natal que aconteciam como prepara o espiritual para estes momentos J V N amp 2014 acredita que tais pr ticas religiosas tenham se perdido em virtude do aumento do trabalho com o cultivo do fumo tendo em vista que a fam lia toda fica envolvida e trabalha at altas horas da noite incluindo por vezes final de semana nas pocas mais apuradas Soma se a isso o fato comum a outros lugares relacionado presen a da televis o dos computadores e de outros atrativos que vem tomando o tempo dispon vel das fam l
98. Catarina n o tenha desenvolvido uma pol tica p blica que d visibilidade aos povos moradores do Sistema Faxinal hoje rotulados de tradicionais Portanto a busca pelos elementos que comp emm o Sistema Faxinal se concentrar na por o do Contestado localizada tanto no estado de Santa Catarina como no estado do Paran Neste ltimo os Faxinais j s o reconhecidos por dispositivos legais e existem levantamentos e estat sticas temporais que permitem identifica los A EMATER realizou no ano de 1994 o primeiro levantamento num rico sobre o Sistema Faxinal no Estado do Paran contemplando um total de 25 sic munic pios De acordo como o estudo foram contabilizados 118 Faxinais um total de 38 224 pessoas que ocupavam uma rea de 43 620 35 hectares descont nuos SOARES 2012 Souza 2009a destaca que existem poucas informa es que descrevem o modo como se processou esse 38 Metodologia empregada Toma como base dois conceitos Faxinal e criadouro comum aponta sobretudo caracter sticas f sico espaciais Segundo a EMATER 1994 s p criadouro comum o espa o de uso comum terras de criar com cercas coletivas onde animais circulam livremente e onde se localizam as moradias E Faxinal um tipo de vegeta o pr pria da regi o Centro Sul composta por pinheiro erva mate imbuia canela murta e outros Local historicamente utilizado como criadouro comunit rio Foram aplicados question rios nas
99. Contestado 2 ed Curitibanos SC Impressora Frei Rog rio 1983 LEONARD O CLIFFORD R A sociologia rural para os programas de a o S o Paulo Pioneira 1971 226 LIMA S R Capital transnacional na ind stria da madeira em Tr s Barras as companytows e a produ o do espa o urbano 2007 96 f Disserta o Mestrado em Geografia Setor de Ci ncias da Terra da Universidade Federal do Paran Curitiba 2007 L WEN SAHR C L Faxinalenses Popula es tradicionais no Bioma da Mata com Arauc ria In 1 ENCONTRO DOS POVOS DOS FAXINAIS 2005 Irati Anais Termo de refer ncia Irati Rede Faxinal 2005a Impresso p 53 62 Artigo completo L WEN SAHR C L Povos tradicionais e territ rios sociais reflex es acerca dos povos e das terras de Faxinal do Bioma da Mata com Arauc ria In III Simp sio Nacional de Geografia Agr ria II Simp sio Internacional de Geografia Agr ria Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira Anais Presidente Prudente S o Paulo 11 a 15 de novembro de 2005b Artigo completo L WEN SAHR C L CUNHA L A G O significado social e ecol gico dos Faxinais reflex es acerca de uma pol tica agr ria sustent vel para a regi o da mata com arauc ria do Paran Revista Emancipa o Ponta Grossa v 5 n 1 2005 p 89 104 L WEN SAHR C L Os mundos faxinalenses da floresta com arauc ria do Paran racionalidades duais em comunidades tradicionais In Revista Terra Plura
100. E nas palavras de Sposito 2004 os resultados de v rios dias pensando e escrevendo est o nas p ginas que se seguem Vamos a eles CAP TULO 1 TERRIT RIO IDENTIDADE E IDENTIDADE TERRITORIAL A CONSTRU O DO ARRANJO CONCEITUAL Impreterivelmente subjacentes aos territ rios existem processos e sujeitos instituintes Isso implica considerar que a Geografia mais do que um substantivo sobretudo um verbo o ato a a o de marcar de geografar a terra PORTO GON ALVES 1999 p 77 Partindo desse princ pio compreender a forma como os sujeitos instituintes constroem ao longo do tempo os territ rios lhes conferindo identidade se apresenta como um caminho te rico para compreender o Sistema Faxinal enquanto terras de criar e terras de plantar na regi o do Contestado Aproximando os dois complexos conceitos de territ rio e identidade tem se outra possibilidade conceitual mais espec fica intitulada identidade territorial o que torna geograficamente poss vel refletir sobre a forma com que um sistema tido como tradicional o Sistema Faxinal evoluiu na rela o espa o tempo na regi o do Contestado Nesta perspectiva o territ rio compreendido a partir de uma sele o conceitual que permite discutir sua constru o a partir das rela es sociais e hist ricas portanto rela es de poder que acontecem em situa es e contextos vividos enfocado como na produ o do espa o se
101. HAESBAERT R Ga chos e baianos no Novo Nordeste Entre a globaliza o econ mica e a reinven o das identidades territoriais In CASTRO I E de GOMES P C da C CORR A R L Orgs Brasil quest es atuais de organiza o do territ rio 4 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2008 p 367 415 HAESBAERT R Des territorializa o e identidade a rede ga cha no Nordeste Niter i EdUFF 1997 HAESBAERT R Identidades Territoriais In CORR A R L e ROSENDAHL Z Orgs Manifesta es da Cultura no Espa o Rio de Janeiro Ed UERJ 1999 p 169 190 S rie Geografia Cultural HAESBAERT R Identidades Territoriais entre a multiterritorialidade e a reclus o territorial ou do hibridismo cultural essencializa o das identidades In ARAUJO F G B de HAESBAERT R Orgs Identidades e territ rios quest es e olhares contempor neos Rio de Janeiro Acess 2007 a p 33 56 HALL S A Identidade Cultural na P s Modernidade Rio de Janeiro DP amp A 2005 225 HANISCH A L MARQUES A C BONA L C Resposta de pastagens nativas aduba o com insumos agroecol gicos em reas de Ca va no Planalto Norte Catarinense R E V I Revista de Estudos do Vale Igua u v 14 2009 p 139 148 HANISCH A L et al Estrutura e composi o flor stica de cinco reas de Ca va no Planalto Norte de Santa Catarina Revista Pesquisa Florestal Brasileira Colombo v 30 n 64
102. Jair Zavorski 27 Arthur Kotrich QUADRO 05 Rela o de fam lias moradoras do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Lei Municipal n 1 080 08 de 02 de junho de 2008 Prefeitura Municipal de S o Mateus do Sul PR 128 Dessa maneira fica percept vel a caracter stica identit ria regional destacada por Chang 1988 que menciona a troca cultural ocorrida entre caboclos e imigrantes nos Faxinais paranaenses Dos caboclos os poloneses herdaram a pr tica do extrativismo da madeira e do mate a cria o em comum o cultivo de alguns g neros aliment cios entre outros e estes ltimos inseriram a predomin ncia da religi o cat lica a gastronomia e vestu rios t picos al m de instrumentos agr colas pr prios Entretanto destaca se uma passagem da entrevista com a moradora S M C P 2013 quando esta afirma sobre a exist ncia ou n o de brasileiros caboclos atualmente no Faxinal Ainda existem caboclos mas a mistura t o grande que ele j virou polon s como o meu sogro que Oliveira mas Vitonski Oliveira s o dois sobrenomes poloneses para um brasileiro ent o j polon s De fato certo conservadorismo polon s remete a um sentimento de posse e exclusividade quanto ao desenvolvimento do local E W 2013 morador deste Faxinal do Emboque assim define o Sistema destacando a pr tica da cria o extensiva do porco entre outras informa es O Faxinal uma organiza o d
103. O objetivo e a caracter stica das tradi es inclusive das inventadas a invariabilidade O passado real ou forjado a que elas se referem imp e pr ticas fixas normalmente formalizadas tais como a repeti o O costume nas sociedades tradicionais tem dupla fun o de motor e volante N o impede as inova es e pode mudar at certo ponto embora evidentemente seja tolhido pela exig ncia de que se deve parecer compat vel ou id ntico ao procedente HOBSBAWN e RANGER 2006 p 10 57 certos valores e normas de comportamento atrav s da repeti o o que implica automaticamente numa continuidade em rela o ao passado p 09 Neste sentido a inven o das tradi es pode ser vista como um processo de formaliza o e ritualiza o ao referir se ao passado mesmo que atrav s da imposi o da repeti o Dessa maneira inventa se com mais frequ ncia quando padr es sociais para os quais as velhas tradi es foram constru das s o debilitados ou destru dos por r pidas transforma es na sociedade sendo necess rios novos padr es compat veis com as novas necessidades quando as velhas tradi es d o mostras de ter perdido sua capacidade de flexibilidade e adapta o tornam se obsoletas ou ainda quando s o eliminadas de outras maneiras Portanto inventam se tradi es quando ocorrem transforma es suficientemente amplas e r pidas tanto do lado da demanda quanto da oferta H
104. OBSBAWN e RANGER 2006 p 12 13 sendo que a inova o n o se torna menos nova por ser capaz de revestir se facilmente de um car ter de antiguidade p 13 Tal car ter de antiguidade pode ser percebido atrav s da utiliza o de elementos antigos nas tradi es inventadas visto que sempre se pode encontrar um amplo repert rio desses elementos no passado de qualquer sociedade Novas tradi es podem ser enxertadas nas velhas podem ser inventadas com empr stimos como por exemplo pr ticas tradicionais existentes que foram sendo modificadas transformadas em rituais e em seguida institucionalizadas com o intuito de servir a novos prop sitos nacionalistas Ao buscar situar as tradi es inventadas no tempo Hobsbawn e Ranger 2006 p 17 as classificam em tr s categorias superpostas desde a Revolu o Industrial a aquelas que estabelecem ou simbolizam a coes o social ou as condi es de admiss o de um grupo ou de comunidades reais ou artificiais b aquelas que estabelecem ou legitimam institui es status ou rela es de autoridade c aquelas cujo prop sito principal a socializa o a inculca o de ideias sistemas de valores e padr es de comportamento Importante elucidar as diferen as que por ventura existam entre pr ticas inventadas e velhos costumes tradicionais As primeiras tendem a ser bastante gerais e vagas quanto natureza dos valores obriga es e direitos que buscam inculcar nos m
105. SSUMP O H T d A Campanha do Contestado Belo Horizonte Imprensa Oficial do Ex rcito de Minas Gerais 1917 AURAS M Guerra do Contestado a organiza o da Irmandade Cabocla 2 ed Florian polis Ed da UFSC 1995 AV LALLEMANT R Viagem pelo Sul do Brasil no Ano de 1858 Rio de Janeiro Minist rio da Educa o e Cultura Instituto Nacional do Livro 1953 BACH A M Porcadeiros Ponta Grossa do autor 2009 488 p 221 BAUMAN Z Identidade Tradu o de Carlos Alberto Medeiros Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 2005 BERTRAND A L Sociologia rural uma an lise da vida rural contempor nea Porto Alegre Atlas 1973 BLOEMER N M S Brava gente brasileira migrantes italianos e caboclos nos campos de Lages Florian polis Cidade Futura 2000 BOHNSACK R WELLER W O m todo document rio na an lise de grupos de discuss o In WELLER W PFAFF N Orgs Metodologias da Pesquisa Qualitativa na Educa o Teoria e Pr tica Petr polis Vozes 2010 p 67 86 BONA L C HANISCH A L MARQUES A da C Melhoramento de Ca vas no Planalto Norte de Santa Catarina Revista Agriculturas v 8 n 02 Junho de 2011 p 06 11 BOURDIEU P O poder simb lico Lisboa Difel 1989 BRAND O M F FEIJ R G Entre textos e contextos os estudos de comunidade e as suas fontes hist ricas In An lise Social Vol XX 83 1984 p 489 503 BRANDT M Uso comum e apropria o da ter
106. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN ALCIMARA APARECIDA F ETSCH FAXINAIS E CA VAS IDENTIDADES TERRITORIAIS NA REGI O DO CONTESTADO PR SC CURITIBA 2014 ALCIMARA APARECIDA F ETSCH FAXINAIS E CA VAS IDENTIDADES TERRITORIAIS NA REGI O DO CONTESTADO PR SC Tese apresentada como requisito parcial obten o do grau de Doutora em Geografia no Curso de P s Gradua o em Geografia Setor de Ci ncias da Terra da Universidade Federal do Paran UFPR Orientadora Prof Dr Cicilian Luiza L wen Sahr CURITIBA PARAN 2014 E MINIST RIO DE EDUCA O iai UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN X L FPR SETOR CI NCIAS DA TERRA E PROGRAMA DE P S GRADUA O EM GEDGRAFIA PARECER Os membros da Barca Examinadora designada pelo Colegiado do Curso de P s Gradua o om Geografia reuniram se para a arg i o da Tese de Doutorado apresentada pein a candidate a Aleimara Aparecida Fetsch imituada FARINAIS E CAVAS IDENTIDADES TERRITORIAIS NA REGI O LO CONTESTADO PRISC pera obten o do grau de Doutor em Geografia do Sew de Ci ncias da Tera da Universidade Feceral do Paran rea de Cencenra o Espa o Sociedade e Ambiente Linha de Pesquisa Terit no Cultura e Representa o ap s haver enelisado o refondo trabalho e arg ido o a candidato aj s o de parecer da Tese Curitiba 05 de setembro de 2018 Moma e Assinatura da Banca Examinadora a x rima m n em TE e mem cm mm
107. URAIS Kiote iesise Ena nad ge india DOU Pa oa 4 3 Uso coletivo da terta sairia asas dora ta asa a aU asa gerada data ata 4 3 2 Rela es de compadrio e MUN O ce sem Dus uessa tais di Uai pas Santas aos rd 4 2 3 Medicina e religiosidade popular seas se eo pai den CAP TULO 5 OS ELEMENTOS IDENTIT RIOS NA TERRITORIALIDADE DO SISTEMA FAXINAL EM SANTA CATARINA A ESCALA DA COMUNIDADE ssesssesscesscosscsseeseesseesscossosssoseesseesueossoresesetsseesseossorseosee 5 1 APARECIDA DOS PARDOS DISCUTINDO OS ELEMENTOS DA ESCALA REGIONA D higa i NRA ido STONE ARAA A A a 5 1 1 A presen a das Matas Mistas com ervais nativos enquanto condicionantes f sico Nat ralS ARAMES RREO E aa Ea AE E EE E A A A EE E RD 5 1 2 Condicionantes humanos caboclos e imigrantes poloneses sesssseesseeeseeeesee 5 2 DIFERENCIA O COM OUTROS ESPA OS RURAIS A ESCALA DA COMUNIDADE soma saa TA SA 5 2 1 Elementos socioespaciais na comunidade de Aparecida dos Pardos 5 2 2 Elementos socioculturais na comunidade de Aparecida dos Pardos 18 103 103 108 113 118 121 122 122 130 131 135 137 142 143 143 145 151 154 19 CAP TULO 6 APROXIMA ES E DISTANCIAMENTOS ENTRE A IDENTIDADE TERRITORIAL DO SISTEMA FAXINAL E DAS AREAS DE CA VA NA REGI O DO CONTESTADO cereeeeneermeeneeereerseerserneeneensernses 181 6 1 A TERRITORIALIDADE DOS CONDICIONANTES NATURAIS
108. a aten o na regi o do Contestado justamente o n mero de assentamentos de reforma agr ria existente Entretanto n o existe mais a distin o entre terras de criar e terras de plantar na comunidade e a paisagem marcada pelo reflorestamento de pinus 4 Comunidade do Rio Preto no munic pio catarinense de Irine polis A comunidade aparece retratada na carta topogr fica do munic pio de Irine polis IBGE 1973 na escala de 1 100 000 ANEXO 04 Fica a poucos quil metros de dist ncia do Rio Igua u e da divisa com o estado do Paran Trata se de uma comunidade cuja imigra o polonesa adquiriu muitas terras da companhia de imigra o da Lumber e que de acordo com alguns moradores mantinha at cerca de trinta anos atr s a cria o em comum A comunidade do Rio Preto hoje tamb m conta com um assentamento de reforma agr ria e pratica em grande escala o manejo da erva mate nativa Entretanto n o existe mais a cria o em comum no local Al m destas comunidades foram observadas e visitadas tamb m as comunidades de Cerro do Galo em Matos Costa S o Jos do Timb zinho e Bom Sossego II em Irine polis Km 13 e Maquinista Molina em Porto Uni o Entretanto estas comunidades apresentavam com poucas distin es as mesmas caracter sticas das descritas acima Entretanto ap s analisar as comunidades mencionadas chegou se comunidade de Aparecida dos Pardos no munic pio de Irine polis e esta foi a que mais
109. a complementa o dos elementos agora propostos por Nerone 2000 2 4 2 Escala da comunidade da diferencia o para com os outros espa os rurais Para as an lises na escala da comunidade Nerone 2000 contribui sugerindo outros elementos que definem o Sistema Faxinal dispostos no Esquema 04 ESCALA DA COMUNIDADE l Nerone 2000 l Elementos socioespaciais Elementos socioculturais 1 Distin o entre terras de plantar e terras de criar 1 Uso coletivo da terra 2 Diferencia o entre propriedade e uso das terras 2 Rela es de compadrio e mutir o 3 Sistema de cercas porteiras e mata burros 3 Medicina e religiosidade popular ESQUEMA 04 Elementos identit rios locais do Sistema Faxinal propostos por Nerone 2000 Fonte Elaborado pela autora 2013 Associados aos elementos de Chang 1988 os elementos dispostos no Esquema 04 auxiliam a diferenciar o Sistema Faxinal de outros espa os rurais e tamb m destacam elementos socioculturais distintos 93 Dessa maneira ap s identificar comunidades da regi o do Contestado que se localizam nas Matas Mistas praticam o manejo dos ervais nativos praticam a policultura alimentar de subsist ncia praticam a cria o extensiva sobretudo o tropeirismo do porco e tenham sido ocupadas e ou colonizadas por caboclos e imigrantes eslavos passa se a buscar os elementos propostos por Nerone 2000 Isso torna poss vel
110. a cria o dos animais De fato as moradias formam uma esp cie de aldeia e situam se na rea florestal onde os animais de todos circulam livremente este espa o delimitado pela cerca coletiva chamado de criadouro comum Assim sendo este espa o do criadouro coletivo formado por reas de pastagens pertencentes a v rios propriet rios e estas terras servem ao pastoreio coletivo em forma de condom nio de pastos caracterizando o regime de comp scuo Nos Faxinais a produ o animal constitu da por uma esp cie r stica de su nos bovinos caprinos aves cavalos entre outros em menor quantidade Deste modo poss vel encontrar nos Faxinais moradores que n o possuem terras mas que tamb m podem criar seus animais e usufruir dos mesmos direitos dessa posse coletiva retirando da cria o desses animais sua renda e oferecendo sua m o de obra aos donos das terras Percebe se assim a fun o social do criadouro comum enquanto espa o f sico que abarca a floresta e os animais que tamb m o espa o social onde todos moram Essa a realidade do Faxinal do Emboque onde existem os propriet rios de terras nos dois espa os criadouro comum e terras de plantar e existem os moradores que n o disp em destas terras mas que podem usar o espa o do criadouro coletivo para criar seus animais livremente 4 3 2 Rela es de compadrio e mutir o Nerone 2000 destaca que as rela es de compadrio n o eram simplesmente atos pesso
111. a demarca o dos limites territoriais que separam os estados do Paran e Santa Catarina mas tamb m pelo fato de que suas consequ ncias at hoje podem ser sentidas e percebidas na regi o Dentre os in meros questionamentos e possibilidades de an lise a partir deste recorte espacial da regi o do Contestado esta Tese buscou compreender a territorialidade dos elementos identit rios que comp em o chamado Sistema Faxinal que vem assumindo um lugar de evidencia no estado do Paran e que aparentemente invis vel em terras catarinenses De fato o Sistema n o deriva da elite dos grandes propriet rios de terras e quando se objetiva perceb lo na regi o do Contestado nota se claramente a hist rica marginaliza o a que o Sistema e a pr pria regi o foram submetidos O Sistema Faxinal um sistema tradicional de uso da terra que se desenvolveu na regi o Sul do Brasil a partir dos anos finais do s culo XX Ele surgiu em fun o da necessidade de sobreviv ncia coletiva das popula es tradicionais provenientes de classes menos favorecidas da sociedade como os caboclos brasileiros e os imigrantes sobretudo eslavos Por muito tempo o Sistema n o foi percebido e nem valorizado o que contribuiu significativamente para sua desarticula o em face de uma s rie de fatores ambientais sociais econ micos e pol ticos Frente a isto alguns questionamentos conduziram a presente pesquisa Quais os elementos identit rios que disti
112. a que os Faxinais s o estruturas territoriais existentes no estado e que n o receberam aten o adequada por parte dos modelos pol ticas desenvolvimentistas pois permaneceu nestas um enfoque homogeneizador que as faziam desconsiderar os diferentes processos end genos do desenvolvimento rural constatados regionalmente p 122 Da mesma forma L wen Sahr e Cunha 2005 ao analisarem o significado social e ecol gico dos Faxinais na regi o da Mata com Arauc ria no Paran definem esse Sistema c como sendo um sistema de uso integrado da terra que abrange al m da atividade silvopastoril comunit ria a extra o de madeira a produ o de erva mate e tamb m a agricultura de subsist ncia p 90 Segundo os autores o Sistema encontra se dividido em dois espa os criadouro comum e terras de plantar O primeiro onde a comunidade Faxinalense habita cria seus animais e pratica o extrativismo da madeira e da erva mate no criadouro comum o uso da terra coletivo mas a propriedade da terra continua sendo privada As terras de plantar por sua vez localizadas fora do criadouro comum nas imedia es s o usadas individualmente para o cultivo principalmente de milho feij o batata e mandioca em geral atrav s da rota o de terra enquanto t cnica de plantio L wen Sahr 2005a destaca que presentes no bioma da Mata com Arauc ria est o os povos e as terras de Faxinais Para a autora trata se de comunidade
113. a regi o Alguns ainda hoje mant m a cria o de porcos alegando gostar da atividade que tanto fez parte da economia local e regional como pode ser visualizado na Foto 32 A atividade ocorre apesar de toda press o por parte do poder p blico que colocou fim ao grande criadouro comum 167 FOTO 32 Mangueir o dos porcos na comunidade de Aparecida dos Pardos Fonte Acervo da autora 2014 Entretanto em muitas propriedades da comunidade a cria o de porcos j foi extinta Muitos alegam se tratar de um animal dif cil de criar solto por ser curioso e que frequentemente foge causando danos s propriedades vizinhas Al m disso a comercializa o da carne e derivados su nos de origem caseira ou seja sem ser nos frigor ficos tem sido alvo de in meros impasses legais por parte da legisla o ambiental e sanit ria Assim como em grande parte dos faxinais paranaenses inclusive no Faxinal do Emboque a comunidade de Aparecida dos Pardos sofreu e vem sofrendo um processo de desagrega o do sistema evidenciado em ltima inst ncia pelo fechamento dos criadouros comunit rios O grande criadouro que existia a cerca de sessenta anos atr s j n o existe mais Atualmente o que existe s o pequenos n cleos familiares de tr s ou cinco casas que ainda criam seus animais comunitariamente em mangueir es isso se deve s press es externas dos latifundi rios e leis estaduais e tamb m s press es internas
114. acredita se que o grande diferencial do Sistema em rela o s outras propriedades rurais encontra se justamente no fato do uso coletivo das terras que pertencem a alguns propriet rios mas que d o a todos o direito de criar animais e viver na comunidade 4 2 3 Sistema de cercas porteiras e mata burros Ao evidenciar outros elementos que distinguem o Sistema Faxinal de outros espa os rurais Nerone 2000 destaca a presen a da cerca coletiva e dos port es no criadouro comum Ela afirma que estas foram solu es estabelecidas em conven o coletiva atrav s de acordos individuais resultantes de uma experi ncia de sociabilidade comunit ria consistente que perdura h mais de um s culo Essa pr tica permite o surgimento de uma tradi o em que o coletivo e o individual se fundem originando um fundo comum um verdadeiro patrim nio cultural p 167 Pare evitar que os animais fujam do criadouro comum os Faxinalenses constroem nas estradas os chamados mata burros que consistem em pontes feitas com madeira ou ferro em forma de cancela espa ada Os mata burros t m por objetivo impedir a passagem dos animais para as propriedades vizinhas e ou para as terras de plantar Assim sendo nas comunidades Faxinalenses a conserva o e o fechamento dos port es que tem por objetivo regular a entrada e a sa da do criadouro comum onde os animais vivem solta muito importante Sempre foi bastante comum o boicote a essa pr
115. ado se mant m vivas na mem ria s o lembran as vagas e quase apagadas res duos ou partes fragmentadas que referenciam o modo de vida da poca em que se criava em comum Ao se percorrer as comunidades catarinenses do Contestado em especial a comunidade de Aparecida dos Pardos poss vel perceber estas reminisc ncias No conjunto de elementos do patrim nio material do local citam se as antigas cercas de rach es de madeira que demarcavam o per metro do antigo criadouro comum as ru nas dos antigos carijos de erva mate os mata burros de madeira acompanhados dos port es laterais as capelinhas dos Santos Padroeiros encravadas nas casas os espa os destinados conviv ncia comunit ria como os pavilh es e as pr prias Matas Mistas enquanto patrim nio natural Com refer ncia ao legado imaterial destacam se principalmente o esp rito de solidariedade coletiva a religiosidade marcante as pr ticas de cultivo e cria o o trabalho extrativo realizado nas Matas al m de aspectos singulares da culin ria da cultura local da conta o de causos e contos neste caso marcadamente sobre a poca da Guerra do Contestado De fato muitas reminisc ncias enquanto evid ncias do passado se perderam por m um bom tanto permaneceu e at se transformou Sendo assim para se compreender a constru o destas identidades e perceber a imagem destes territ rios se teve que recorrer a duas dimens es de an lise a hist rica e a geogr
116. ais que solidificam amizades e compromissos mas uma forma de rela o de poder onde o ser padrinho implicava seguir regras de comportamento e de conviv ncia social Devido tamb m localiza o distante da maior parte dos Faxinais era bastante comum batizar a crian a duas vezes uma em casa e outra na igreja aumentando assim o n mero de compadres e comadres Al m dos padrinhos de batismo existiam ainda os padrinhos de crisma de 144 casamento sendo que os mais cr dulos e supersticiosos convidavam ainda para batizar as crian as no olho d gua de S o Jo o Maria Assim sendo Essa pr tica do compadrio determina um conjunto de rela es formais e informais definindo pap is estabelecendo direitos e deveres rec procos entre os compadres comadres e entre padrinhos e afilhados formando um grupo social solid rio permeado pelo respeito e considera o NERONE 2000 p 99 Neste sentido do compadrio e apadrinhamento Tomasi 2013 utilizando se das proposi es de Goffman 1979 destaca que muitas vezes numa rede social h indiv duos que se apresentam como parente amigo vizinho ao mesmo tempo p 49 ou ainda como colegas de trabalho padrinhos afilhados parentes espirituais portanto ligando se aos outros por in meros la os E justamente por estas rela es ancoradas fixadas ou seja rela es n o an nimas e com certa continuidade e estrutura o que as pessoas d o t tulos convencionais
117. al perceber a forma com que um agrupamento comunit rio com vistas sobreviv ncia coletiva gera um sentimento de perten a um conjunto espec fico de valores encontra no territ rio seu referencial espacial de identifica o e evocada na atualidade enquanto instrumento de reivindica o pol tica Diante do exposto e com vistas a aproximar a discuss o te rica proposta com o Sistema Faxinal se torna necess ria uma discuss o conceitual dos elementos identit rios que comp emm o Sistema a partir das contribui es de autores cl ssicos nesta abordagem bem como se faz imprescind vel a an lise da territorialidade destes elementos apontados na regi o do Contestado quest es discutidas e relacionadas nos pr ximos cap tulos CAP TULO 2 DEFININDO OS ELEMENTOS TERRITORIAIS IDENTIT RIOS DO SISTEMA FAXINAL COM BASE NAS CONTRIBUI ES CIENT FICAS CL SSICAS A partir da d cada de 1980 no estado do Paran as comunidades tradicionais Faxinalenses come am a sair da invisibilidade Pesquisas v m desde ent o buscando compreender a origem do Sistema perceber a racionalidade do modo de vida e definir elementos de autoidentifica o Da mesma maneira organiza es n o governamentais associa es articula es e institutos voltam seus olhares para estas comunidades apoiando as reivindica es oferecendo suporte t cnico e promovendo encontros e discuss es N o alheio s mobiliza es o Estado por sua vez tenta
118. al m do Emboque as comunidades de Rosas Cost o Fartura do Potinga Turvo e Paiol Grande Nesta poca a pr tica da agricultura visava somente subsist ncia pois os recursos econ micos principais eram oriundos do extrativismo vegetal principalmente a erva mate e a cria o de porcos O Quadro 05 destaca as 53 fam lias que atualmente comp emm a comunidade do Faxinal do Emboque N FAM LIA N FAM LIA 01 Ivone Maciel 28 Maria Kotrich 02 Jo o Janoski 29 M rio Wenglarek 03 Antonio Wilki 30 Carlos Wodarski 04 Antonio F Guimar es 31 Jos Oliveira 05 Osmar Wenglarek 32 Pedro Wodarski 06 Zenei Wenglarek 33 Fernando Grabowski 07 Edvina Wenglarek 34 Marlene Grabowski 08 Orlei Wenglarek 35 Romualdo Grabowski 09 Lauro Wenglarek 36 Paulo Wenglarek 10 Osni Wenglarek 37 Eduardo Wenglarek 11 Cezar Wenglarek 38 Jos Geraldo Grabowski 12 Aloisio Oliveira 39 Jo o Grabowski 13 Jorge Wenglarek 40 Arthur Grabowski 14 Celso Javorski 41 Tadeu Przivitowski 15 Fernando Javorski 42 Zeno Oliveira 16 Edinei Gomes 43 Nelson Przivitowski 17 Silvio Gomes 44 Tereza Wenglarek 18 Carlos Oliveira 45 Ant nio Vekichi 19 Eduardo Javorski 46 Jo o Oliveira 20 Mauro Javorski 47 Julio Oliveira 21 Lindomar Wenglarek 48 Antonio Bojanoski 22 Miro Wenglarek 49 H lia Polak 23 Madalena Karpinski 50 Pedro Polak 24 Ervino Simbarski 51 Josemar Kurek 25 Mario Grabowski 52 Luciano Kurek 26 Paulo Majeski 53
119. al da cobertura vegetal para pr ticas como a agricultura e os reflorestamentos De fato se n o fossem as reas de pastejo e do extrativismo da erva mate grande parte das reas de Ca va n o existiriam na atualidade Importante destacar tamb m que as reas de Ca va existem tamb m no Paran por m s o mais conhecidas neste estado sob a perspectiva dos espa os de desagrega o de antigos Faxinais Nas palavras de Marques 2004 seriam Faxinais que permanecem apenas com a paisagem da Mata de Arauc ria ou antigos Faxinais que atualmente s o comunidades de agricultores individuais Embora com termos e conceitua es distintas ambos s o de fundamental import ncia para a preserva o das Matas Mistas na regi o 6 2 A TERRITORIALIDADE DOS CONDICIONANTES HUMANOS Prosseguindo ap s expor a situa o contempor nea das Matas Mistas no Contestado tendo em vista os principais agentes que contribu ram para sua hist rica degrada o e ap s diferenciar o Sistema Faxinal das reas de Ca va analisa se por fim a rela o estabelecida entre caboclos e imigrantes poloneses bem como o processo de constru o de uma identidade territorial comunit ria diferenciada na regi o 6 2 1 O caboclo e o imigrante polon s Tanto o munic pio de S o Mateus do Sul PR quanto o munic pio de Irine polis SC receberam no final do s culo XIX e primeiros anos do s culo XX significativas levas de imigrantes poloneses que ao longo do tempo
120. al de subsist ncia principalmente a suinocultura extensiva cujas caracter sticas mant m grande identidade com a cria o de porcos do Sistema Faxinal Nesta suinocultura extensiva os animais eram criados em completa liberdade sendo que esta t cnica de cria o teria derivado tanto do costume ga cho quanto do costume dos caboclos e ind genas Vinhas de Queir s 1977 relata que por toda parte onde chegavam os conquistadores o gado era criado solta em fazendas que a princ pio n o tinham cercas e cujas divisas eram apenas vagamente assinaladas por acidentes naturais p 28 Ressalta ainda que por toda parte o que tirou por vezes muitas fam lias da maior pobreza foi a cria o de porcos do mato que Soltos no pinheiral crescem e ficam t o gordos que mal podem andar p 37 Lemos 2006 em sua an lise sobre os caboclos de Curitibanos destaca que nesta regi o os animais soltos no pasto sobreviviam conforme a natureza permitia a agricultura de subsist ncia concentrava se no milho e no feij o uma cultura campeira marcada pelo isolamento e pela rusticidade p 62 Straube 2006 ao analisar a estrutura o socioespacial do sistema tropeiro entre Palmas e Uni o da Vit ria no Paran partindo de uma interpreta o geomorfol gica destaca que esta ltima cidade se constituiu em um ponto especial no caminho das tropas por tr s motivos a se localiza na transi o entre o segundo e o terceiro planalto sem u
121. alidade na Ci ncia Geogr fica 1 1 2 Perspectivas antropol gicas filos ficas acerca do territ rio e da territorialidade no caso das popula es tradiCLONAIS cs guns asemaasospepiss jan i alien ago speqnlss fala caspa tng caido s pre 1 2 A IDENTIDADE ENQUANTO FONTE DE SIGNIFICADO E EXPERI NCIA SUA FLUIDEZ E EVOCA O POLITICA o cas izamaga sa ga ara qi caga 1 3 IDENTIDADE TERRITORIAL DE REFERENCIAL ESPACIAL INSTRUMENTO DE REIVINDICA O POLI TICA CAP TULO 2 DEFININDO OS ELEMENTOS TERRITORIAIS IDENTITARIOS DO SISTEMA FAXINAL COM BASE NAS CONTRIBUI ES CIENTIFICAS CLASSICAS sesesesessesorseseseseecesosoesesesceoesosoeseseee 2 1 SISTEMA FAXINAL BREVE DISCUSS O CONCEITUAL 2 2 OS ELEMENTOS IDENTIT RIOS SOCIOECON MICOS APONTADOS POR 2 3 OS ELEMENTOS IDENTIT RIOS SOCIOESPACIAIS E SOCIOCULTURAIS NA PERSPECTIVA DE NERONE cassa a to Bo acasan a EAS eretas dada ai ad 2 4 SINOPSE DOS ELEMENTOS TERRITORIAIS IDENTIT RIOS DO SISTEMA FAXINAL DA INTERFACE CONTEITUAL AOS ENCAMINHAMENTOS METODOL GICOS rasa DS 2 4 1 Escala regional do condicionante f sico natural aos condicionantes DATOS ora ra Da E a o a e da 2 4 2 Escala da comunidade da diferencia o para com os outros espa os rurais CAP TULO 3 TERRITORIALIDADE DOS ELEMENTOS IDENTIT RIOS REGIONAIS DO SISTEMA FAXINAL NO CONTESTADO ceereeseeseesees 36 37 38 43 49 61 68 68
122. an lise criteriosa e construtiva do Relat rio de Qualifica o e da Tese pois na multiplicidade de olhares que novos questionamentos emergem A Universidade Estadual do Paran Campus de Uni o da Vit ria Institui o que orgulhosamente represento meu universo acad mico vivido Agrade o por compreender minhas necessidades de aperfei oamento e crescimento profissional concedendo na medida do poss vel os afastamentos necess rios aos estudos e pesquisas de campo Ao Colegiado de Geografia da UNESPAR FAFIUV em especial aos colegas professores por compreenderem as aus ncias por partilharem as conquistas e por lutarem em comunh o em favor de uma Educa o com qualidade e comprometimento Agrade o ainda aos inesquec veis alunos que dividiram comigo ao longo dos anos a paix o pelos espa os rurais tradicionais ao Wagner da Silva Daiane Silva Paula Talita G is Devo a voc s parte dos meus posicionamentos de inquieta o cient fica e inconformismo social minha fam lia Ao meu pai Alceu F etsch pela oportunidade de um futuro promissor e por se orgulhar em falar do meu nome na comunidade em que vive meu grande incentivo nas horas dif ceis minha m e Ana Levandovski F etsch exemplo de amor por ser minha incondicional incentivadora e pelas ora es que sempre me fortalecem Ao meu querido irm o Alisson com quem compartilho os pais a cren a em Deus Pai e o amor pela fam lia Ao meu marido Dalla
123. ande maioria dos Estados Na es No caso do Sistema Faxinal Nerone 2000 destaca que sua g nese est relacionada com o princ pio organizacional do uso da terra aplicado pelos ancestrais dos Faxinalenses S o evidentes desse modo as seguintes categorias a a propriedade da terra dividida em terras de plantar e terras de criar b a propriedade das benfeitorias c a propriedade das lavouras d a propriedade da cria o e a propriedade da floresta Estas categorias d o origem a dois grupos diferenciados os propriet rios e os usu rios sem terras Ainda no caso dos propriet rios estes se dividem entre os donos do terreno de lavoura e de terras de criar e os donos de uma extens o de terra dentro do condom nio dos pastos terras de criar No Faxinal do Emboque existem fam lias que se enquadram em todas estas categorias desde os que possuem terras no criadouro e nas terras de plantar at aqueles que n o possuem terras em lugar algum mas que vendendo sua for a de trabalho adquiriram o direito de viver no local normalmente devido ao parentesco com alguma fam lia local Neste sentido importante destacar que a vegeta o existente dentro do criadouro comum de posse do propriet rio destas terras cabendo somente a este a explora o da erva mate e da madeira por exemplo No caso dos propriet rios de terras dentro do espa o coletivo do criadouro estes criam seus animais possuem sua moradia entretanto n o possuindo terra
124. anos SC Escala de 1 100 000 Fonte IBGE 1973 ANEXO 02 Faxinal dos Domingues Fraiburgo SC Comunidade de Faxinal dos Domingues Fraiburgo SC Carta topogr fica de Curitibanos SC Escala de 1 100 000 Fonte IBGE 1973 235 236 ANEXO 03 Pinhalzinho Bela Vista do Toldo SC Carta topogr fica de Irine polis SC Escala de 1 100 000 Carta topogr fica de Lebon R gis SC Escala de 1 100 000 Fonte IBGE 1973 237 ANEXO 04 Rio Preto Irine polis SC MERIH SET ae m em AS Comunidade do Rio Preto Irine polis SC Carta topogr fica de Irine polis SC Escala de 1 100 000 Fonte IBGE 1973
125. antar Sistema desenvolvido por atores que se encontravam em posi es desvalorizadas pela l gica de domina o atuando como trincheiras de resist ncia e sobreviv ncia coletiva Entretanto atualmente esta identidade de resist ncia parece exatamente ter evolu do para uma identidade de projeto podendo ser compreendida a partir de uma constru o destes atores sociais para redefinir sua posi o na sociedade Nesta constru o das identidades importante perceber que por vezes os elementos que passam a comp la s o reinventados Neste sentido Hobsbawn e Ranger 2006 at certo ponto surpreendem ao afirmar que muitas vezes tradi es que parecem ou s o consideradas antigas s o bastante recentes quando n o s o inventadas p 09 Os autores utilizam do termo tradi o inventada partindo de um sentido amplo por m n o indefinido para incluir tanto tradi es inventadas constru das e formalmente institucionalizadas mas tamb m aquelas que surgem de maneira mais dif cil de localizar no tempo sendo coisa de poucos anos mas que se estabeleceu com enorme rapidez Por tradi o inventada assim entendem um conjunto de pr ticas normalmente reguladas por regras t cita ou abertamente aceitas tais pr ticas de natureza ritual ou simb lica visam inculcar 20 A tradi o neste sentido deve ser nitidamente diferenciada do costume vigente nas sociedades ditas tradicionais
126. ar o cocho A terra se ofende 3 Ao cortar uma rvore ou p de mato n o se deixa mamando Se corta por inteiro Enquanto as plantas agonizam os neg cios da gente tamb m v o abaixo 4 Quem descasca a cintura das rvores para sec las tamb m vai encurtando sua vida rvore quase bicho e bicho quase gente 5 As casas e as propriedades de quem incendeia as matas um dia tamb m h o de virar cinzas 6 A terra nossa m e A gua o sangue da terra m e Cuspir e urinar na gua o mesmo que escarrar e urinar na boca de tua m e 7 O Pai da Vida Deus A M e da Vida a terra Quem judia da terra o mesmo que estar judiando da pr pria m e que o amamentou 8 Quem n o sabe ler o Livro da Natureza analfabeto de Deus 9 As horas de chuva s o horas de Deus quando a M e Natureza vem trazer gua para seus filhos na Terra 10 O cavaleiro que passar perto de lagoa ou cruzar uma corrente de gua e n o der de beber ao animal morrer com a garganta seca 11 Bicho do mato filho da terra S se matam os danosos 12 Bicho do mato n o traz marca de gente Pertence M e Natureza Quem ca a por divertimento ca a o alheio criminoso Ser punido 13 N o permita que seus filhos matem passarinhos malvadeza 14 N o se chama nome feio cria o Ela obedece ao instinto que a linguagem da M e Natureza 15 Quem encilha animal com mata no lombo cuidado c
127. ara Aparecida Faxinais e Ca vas identidades territoriais na regi o do Contestado PR SC 2014 Tese Doutorado em Geografia Universidade Federal do Paran Curitiba 2014 RESUMO Num cen rio de mobiliza o pol tica assiste se a partir da d cada de 1980 no estado do Paran a busca da re constru o de identidades territoriais faxinalenses por meio da atua o de associa es articula es organiza es n o governamentais academia universidades movimentos populares e poder p blico Em contrapartida na por o catarinense do Contestado regi o vizinha de similares caracter sticas f sico naturais e hist rico geogr ficas o Sistema aparenta invisibilidade Neste destoante contexto na presente Tese prop e se analisar a territorialidade dos elementos que caracterizam o Sistema Faxinal na regi o do Contestado localizada no limite pol tico entre os estados do Paran e Santa Catarina buscando compreender sua consolida o desarticula o e reminisc ncias na perspectiva das identidades territoriais Para tanto discute se a forma com que v m sendo constru das as identidades territoriais faxinalenses no Paran e se investiga o que ocorreu com a territorialidade dos elementos que comp em o Sistema em Santa Catarina No campo conceitual a tese faz uso dos conceitos de territ rio identidade e identidade territorial aproximando os de estudos mais espec ficos acerca das popula es tradicionais Em termos metodo
128. arecida dos Pardos foram analisados tanto os elementos da escala regional os condicionantes f sico naturais e humanos quanto os elementos da escala da comunidade socioespaciais e socioculturais e perceberam se semelhan as marcantes para com o Faxinal do Emboque Tamb m se tratam de terras anteriormente ocupadas por caboclos 78 No livro Terras de faxinais organizado por Alfredo Wagner Berno de Almeida e Roberto Martins de Souza 2009 poss vel encontrar um levantamento detalhado das legisla es e pol ticas p blicas relacionadas ao Sistema Faxinal desde o ano de 1831 at 2008 p 96 112 215 e que foram vendidas aos imigrantes poloneses o ambiente f sico natural id ntico se tratando das Matas Mistas de onde at hoje se extraem a erva mate e outros recursos a policultura alimentar de subsist ncia ainda muito praticada dividindo espa o com a fumicultura em ambos existe o sistema de cercas porteiras e mata burros s o presentes as pr ticas da medicina e religiosidade popular al m das rela es de compadrio e mutir o Entretanto na comunidade de Aparecida dos Pardos n o existe mais o grande criadouro comum ficando restrito a pequenos n cleos formados por poucas fam lias O cercamento da rea deste criadouro seguiu a l gica da desarticula o do Sistema no estado do Paran especialmente devido a press es externas sobretudo por parte do poder p blico exigindo o confinamento da cria o solta
129. arte se propriamente para a an lise da territorialidade dos elementos identit rios regionais que definem o Sistema Faxinal segundo Chang 1988 O primeiro elemento definido como A territorialidade das Matas Mistas com presen a dos ervais nativos apresenta uma reflex o acerca das caracter sticas fitogeogr ficas da regi o constru da a partir de contribui es de estudiosos do assunto da classifica o do IBGE de narrativas de viajantes m dicos e oficiais de estudos espec ficos e de refer ncias encontradas na literatura acerca da Guerra do Contestado Em seguida analisa se a territorialidade do segundo elemento definido ou seja A territorialidade dos atores sociais caboclos e imigrantes que em conjunto deram vida ao Sistema Faxinal na regi o do Contestado A 32 narrativa constru da a partir do entendimento de que o caboclo n o pode ser percebido com base na conota o tnica da palavra mas deve sim ser concebido a partir de sua condi o social e cultural definida regionalmente Da mesma maneira a chegada e ocupa o da regi o pela imigra o marcam uma ruptura no territ rio do caboclo mas ao mesmo tempo evidencia se uma intera o de ambos caboclos e imigrantes em certos lugares A territorialidade da cria o extensiva e do tropeirismo do porco terceiro elemento que comp em o Sistema Faxinal analisada no Contestado a partir de narrativas regionais historiadores viajantes est
130. as 1950 1997 2000 286f Doutorado em Hist ria Programa de P s Gradua o da Faculdade de Ci ncias e Letras da Universidade Estadual Paulista Campus de Assis S o Paulo 2000 Tal tese est no prelo para ser publicada na forma de livro pela Editora UEPG 82 adaptada s condicionantes f sico naturais do Sul do Brasil inicialmente implantado nas redu es jesu ticas Sobre A posse e o uso da terra no sistema Faxinal Nerone 2000 discute aproxima es entre as abordagens cl ssicas do Sistema com base em Man Yu Chang e Francisco Gubert Filho Aponta e analisa os principais elementos que caracterizam sua l gica e o diferencia dos outros espa os rurais o uso coletivo da terra as terras de plantar e as terras de criar a propriedade no Faxinal a habita o e o dom nio elementos estes pormenorizados pela autora Quanto Organiza o e trabalho comunit rio e dom stico no Faxinal prop e uma an lise das rela es de compadrio a hierarquia das rela es sociais o papel dos benzedores parteiras e da medicina popular os mutir es os h bitos alimentares e as atividades tarefas rotineiras Da mesma maneira o viver no Faxinal evidenciado por Nerone 2000 a partir da an lise da Sociabilidade e manifesta es culturais e religiosas As festas e o folclore s o retratados a partir dos cultos e refer ncias a S o Sebasti o Divino Esp rito Santo S o Gon alo Nh Bil sia S o J
131. as terras da comunidade encontram se o C rrego Lajeado e o Rio dos Porcos Em Aparecida dos Pardos n o se percebe um n mero t o grande de estradas se comparando ao Emboque acredita se que isso se deva ao fato de que a disposi o das casas seguiu a l gica linear localizando se ao lado da estrada principal entretanto h que se destacar que o n mero de resid ncias atualmente bem maior do que a retratada na Imagem 03 de 1973 somam se hoje cerca de 54 fam lias poss vel tamb m perceber pela Imagem 03 a proximidade da comunidade em rela o BR 280 que liga Uni o da Vit ria PR a Canoinhas SC sendo uma das mais antigas vias de liga o entre as duas cidades poss vel notar tamb m a presen a tanto das reas de Campos quanto das reas mais fechadas com a presen a da erva mate essenciais elementos f sico naturais ao desenvolvimento do Sistema Faxinal segundo Leonard e Clifford 1971 as resid ncias encontram se geralmente dispostas em linha ao lado de um rio ou estrada Ou ainda ao redor de uma pra a principal e das terras comunais IMAGEM 03 Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Carta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica IBGE escala de 1 100 000 1973 LEGENDA DA IMAGEM mn Rio n o represent vel em escala permanente EEE Rio n o represent vel em escala tempor rio Teee E ENTE Mata Floresta Triftgopemamento o permanente teo peidio Eee
132. assado m tico sendo elaborados tamb m os signos culturais que ser o enaltecidos por essa identidade territorial b Geogr fica composta por indicadores presentes no cotidiano na paisagem nas riquezas naturais num espa o de refer ncia O considerar dessas duas dimens es no caso do Sistema Faxinal possibilita empiricamente a abordagem na medida em que permite num primeiro momento identificar a dimens o hist rica que originou e moldou a mem ria social determinante para o enquadramento enquanto popula o tradicional e em seguida atrav s da dimens o geogr fica discutir os indicadores cotidianos territoriais que definiram esse espa o de refer ncia Complementando o vi s anal tico acrescentam se as proposi es de Cruz 2007 que na constru o da identidade territorial apresenta outros dois elementos fundamentais a O espa o de refer ncia identit ria Trata se do referente espacial no sentido concreto e simb lico o recorte espa o temporal onde s o forjadas as pr ticas materiais e as Ao lado da paisagem mais ou menos carregada de atributos naturais em geral destacados pela abrang ncia de sua manifesta o geogr fica temos o tempo espacial a ela incorporado que pode fornecer referenciais identit rios n o s geogr ficos como tamb m hist ricos ou para sermos mais precisos geo hist ricos A densidade hist rica dos lugares exerce assim uma influ ncia muito relevante O qu
133. ate Cryptocarya aschersoniana canela fogo Nectandra megapotamica canela preta sendo que ao Norte de Santa Catarina e ao Sul do Paran o pinheiro brasileiro estava associado Ocotea porosa imbuia formando agrupamentos bem caracter sticos Manual do IBGE 2002 O Manual do IBGE 2002 destaca tamb m que atualmente estes agrupamentos greg rios foram substitu dos por monoculturas sendo quase que totalmente devastados restando apenas pequenos remanescentes sem grandes express es paisag sticas e econ micas Trata se certamente de um cen rio de marcante originalidade ecol gica AB SABER 2003 p 101 ou seja no Planalto Meridional Brasileiro o mato baixo e relativamente descont nuo com pinhais altos esguios e imponentes um tanto ex ticos e homog neos em face da biodiversidade marcante dos sub bosques regionais idem Permeando esta altamente depredada regi o das Arauc rias emergem segundo o referido autor pequenos mosaicos de campos que s o entremeados por bosques de pinheiros oferecendo uma bela paisagem do territ rio brasileiro Assim sendo pode se perceber a variedade e o significativo valor comercial das Matas Mistas as esp cies de madeira nobre j quase n o fazem mais parte da paisagem por m a erva mate ainda percept vel devido entre outros fatores ao seu diferencial extrativo realizado por manejo e n o por derrubada Como relata Chang 1988 a explora o da madeira ao co
134. atores a diferencia o social as institucionalidades a diferencia o cultural as divis es pol tico administrativas as diferencia es econ micas e a mobilidade da popula o Entretanto O que n o podemos confundir a nossa simpatia por identidades mais abertas e plurais com a realidade efetiva de nosso entorno que mescla uma grande heterogeneidade de manifesta es a exist ncia desta multiplicidade de processos de identifica o e o seu conv vio paradoxal que nos permite afirmar que n o temos hoje nas pr ticas sociais efetivas um padr o ou uma forma geral de identidade ou de identifica o territorial muito menos uma dire o segura e definitiva para o futuro HAESBAERT 2007 p 56 Destacando neste sentido a necessidade primordial da contextualiza o hist rico geogr fica de cada movimento de constru o identit rio territorial idem Essa conjuntura te rica pode ser sintetizada pelo Esquema 02 67 Constru o social e hist rica a partir do espa o Rela es de poder apropria o ou controle As escalas variam das mais complexas s mais simples Dom nio e gest o poder p blico ou privado Constru do no jogo material e simb lico Suporte material da exist ncia social Indispens vel fator de autonomia A territorialidade enquanto elemento pol tico estrat gico TERRIT RIO Fonte de significado e experi ncia de uma coletividade IDENTIDADE Est sempre em
135. averiguar se estas comunidades realmente se enquadram enquanto comunidades tradicionais Faxinalenses Para tanto se faz necess rio identificar em cada comunidade al m da distin o entre terras de criar e terras de plantar e da diferencia o entre propriedade e uso das terras a exist ncia das cercas das porteiras e dos mata burros Estes s o tamb m elementos locais que diferenciam as comunidades de Faxinal dos outros espa os rurais Da mesma forma e complementando as an lises a busca por elementos socioculturais espec ficos complementa a an lise da comunidade ao se perceber a exist ncia do uso coletivo da terra das rela es de compadrio e mutir o da medicina e da religiosidade popular Portanto ao se encontrar uma comunidade que atenda a exist ncia destes elementos definidos pode se atestar se tratar do Sistema Faxinal Ap s destacar os elementos que caracterizam a territorialidade do Sistema preciso delinear a regi o do Contestado a ser pesquisada compreendendo a enquanto uma territorialidade plural e flu da dando enfoque priorit rio aos elementos identit rios do Sistema Faxinal discuss o apresentada no pr ximo cap tulo CAP TULO 3 TERRITORIALIDADE DOS ELEMENTOS IDENTIT RIOS REGIONAIS DO SISTEMA FAXINAL NO CONTESTADO Ap s definir a partir de Chang 1988 os quatro elementos identit rios regionais que caracterizam o Sistema Faxinal a saber as Matas Mistas com presen a de ervais nativos os atores soc
136. axinal do Paran As an lises e o aprofundamento foram ent o realizados neste local considerando os elementos socioecon micos em escala regional Matas Mistas com ervais nativos e a rela o entre caboclos e imigrantes poloneses e na escala da comunidade a partir dos elementos socioespaciais e socioculturais delineados O Cap tulo 6 por sua vez prop e relacionar as duas comunidades pesquisadas o Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR e a comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC sob a perspectiva das terras de criar e das terras de plantar nesta regi o do Contestado evidenciando as distin es e aproxima es entre o Sistema Faxinal e as reas de Ca va Estas an lises consideram num primeiro momento a territorialidade dos Lakatos e Marconi 2003 p 186 190 34 condicionantes naturais enfatizando sobretudo os fatores e elementos que vem ao longo do tempo contribuindo para sua degrada o Destacam se tamb m os principais fatos e a es que auxiliaram no processo de desarticula o das terras de uso comum devido explora o inadequada deste ambiente f sico natural Em seguida o sexto cap tulo analisa mais profundamente a quest o das reas de Ca va tendo em vista sua particular rela o e aproxima o com o Sistema Faxinal sendo inclusive tomados como sin nimos em algumas situa es Quanto aos condicionantes humanos o cap tulo relaciona as contribui es de caboclos e imigrante
137. boclos os homens pobres pequenos lavradores posseiros agregados ou pe es que vivem em economia de subsist ncia e s o devotos de Jo o Maria Desta forma havia tamb m brancos caboclos alem es e polacos acaboclados p 48 Vinhas de Queir s 1977 prop e uma hierarquiza o social na regi o do Contestado tratava se de um esquema b sico expresso numa escala de posi es t picas da sociedade De acordo com a terminologia vulgar assim se escalonava a sociedade sertaneja a coron is b fazendeiros c criadores ou meio fazendeiros d lavradores e agregados f pe es p 43 De acordo com o autor abaixo dos criadores menos considerados que eles achavam se os lavradores Nesta categoria se inclu am os caboclos que viviam de suas ro as p 46 estas ro as encontravam se geralmente afastadas dos centros e tamb m se inclu am nessa categoria pequenos plantadores de tabaco os criadores de porcos e a grande massa de colonos estrangeiros alem es polacos e rutenos No mesmo n vel se classificavam os empreiteiros do mate que dirigiam turmas constitu das por pessoas da pr pria fam lia ou ent o pe es contratados 48 Povo eslavo que habita regi es da Gal cia da Hungria da Ucr nia e da Litu nia 111 Martins 1995 demonstra a impossibilidade em caracterizar biologicamente o caboclo ao afirmar que a popula o do Planalto Catarinense notadamente mesti a consistindo principalmente do tipo definido com
138. bui para essa percep o 158 FOTO 27 Vegeta o de Matas Mistas com ervais nativos na comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Acervo da autora 2014 Dessa maneira pela observa o das Fotos 26 e 27 juntamente com a Imagem 03 poss vel afirmar que a comunidade de Aparecida dos Pardos possui este importante condicionante f sico natural ao desenvolvimento do Sistema Faxinal ou seja a presen a das Matas Mistas com ervais nativos que embora constantemente explorados ao longo do tempo ainda fazem parte da paisagem e s o fonte de renda 5 1 2 Condicionantes humanos caboclos e imigrantes poloneses Souza 1998 afirma que os imigrantes que se instalaram na regi o norte de Santa Catarina foram aos poucos interiorizando se fixando se nas Matas Mistas e integrando se completamente atividade ervateira Essa integra o dos colonos n o se d entretanto sem conflito p 26 O principal impasse era o de que os colonos eram agricultores e os brasileiros sic usavam t cnicas incompat veis com a agricultura como a cria o solta entretanto com o aumento das reas agr colas esse sistema inicial j n o suportava mais a conviv ncia surgindo assim os criadouros per metros definidos cercados para o uso da cria o 159 Os imigrantes poloneses que se deslocaram Aparecida dos Pardos na sua maioria eram provenientes de Itai polis SC e Major Vieira SC entretanto
139. ca em destaque na casa e no jardim FOTO 23 Detalhe das capelinhas em homenagens aos santos existentes em uma resid ncia no Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 148 Como poss vel perceber pela Foto 23 existe no Faxinal do Emboque a pr tica de construir capelinhas em homenagens aos santos padroeiros da comunidade e pessoais tanto na fachada pr ximo a cumieira do telhado quanto nos jardins Neste caso a homenagem a Nossa Senhora Aparecida na fachada e no jardim e a Santa Edwiges e aos Anjos da Guarda no jardim Ainda neste Faxinal existe uma cruz de cedro que os moradores afirmam ter sido fixada pelo monge Jo o Maria Em entrevista a Sra S M C P 2013 relata sobre a passagem do monge s o os mais antigos que contam n que tem um registro e at onde ele passou ali tem um olho n o tem gua assim junto porque tem alguns lugares que a gua fica junto da cruz ali n o tem a cruz conservado o lugar mas a gua fica mais para baixo a pr pria comunidade conserva Ningu m tem foto do monge mas o pessoal tem imagens de livros guardando inclusive os mandamentos de S o Jo o Maria Estes mandamentos encontram se descritos no Quadro 06 1 N o se deve queimar folhas cascas e nem palhas das planta es que d o mantimentos O que a terra d emprestado quer de volta 2 errado jogar palhas de feij o nas encruzilhadas o mesmo que comer e vir
140. ca a contribui o significativa dos imigrantes europeus especialmente ucranianos e poloneses e de uma fra o de camponeses que participaram da Guerra do Contestado na consolida o do Sistema Estes dois ltimos apontamentos quanto imigra o e Guerra do Contestado enfatizam duas importantes considera es acerca do Sistema ou seja a consolida o a partir da chegada da imigra o e dos povos fugidos desta mesma Guerra Inseridos na Articula o Puxir o dos Povos Faxinalenses e apoiados pelo projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil os Faxinalenses participaram do mapeamento participativo que culminou com a publica o do fasc culo de n mero 03 intitulado Faxinalenses no Setor Sul do Paran elaborado no ano de 2008 Nesta publica o eles puderam contribuir definindo a partir de sua viv ncia e percep o o Sistema Faxinal De acordo com o depoimento de Ant nio Miguel Rodrigues de Lima morador do Faxinal dos Seixas munic pio de S o Jo o do Triunfo PR De acordo com o Valdinei Stresser morador do Faxinal Taquari Rio Azul PR A Articula o muito importante porque n o povo de uma s comunidade s de um Faxinal s o de v rios da regi o inteira do Paran do Brasil e reivindica o pro governo federal e estadual para que o povo possa ser reconhecido pra que onde se preserva onde se fala muito em meio ambiente e nos Faxinais a
141. ca que na organiza o espacial do Sistema Faxinal a distin o entre as terras de criar e as terras de plantar bastante n tida Na comunidade de Aparecida dos Pardos essa divis o tamb m bastante evidente como se pode perceber na Imagem 04 Terras de Af cridfuro comunit rio A 4 X gt Terras de plantar ans Eo Terras de platar Be e e D IMAGEM 04 Comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Obs Em destaque a rea aproximada do antigo criadouro comunit rio e nos arredores as terras de plantar Fonte Imagem do Google Maps Elaborado pela autora 2013 165 A pr tica da ro a cabocla nas terras de plantar bastante presente com a planta o do milho do feij o da batatinha de hortali as e verduras A maior parte dessa produ o agr cola destinada ao consumo pr prio da fam lia sendo o excedente vendido a cooperativas agr colas e ao com rcio local n o s o comuns as feiras para venda A Foto 30 retrata uma das ro as de milho presentes na comunidade 4 FOTO 30 Ro a de milho na comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Acervo da autora 2014 Na ltima d cada tornou se muito presente o cultivo da soja monocultura que vem substituindo as reas onde se plantava o milho o feij o e em algumas propriedades at o fumo Al m das ro as nos arredores das casas ainda existem as hortas dom sticas que complementam a
142. caracter sticas produ o animal para tra o e consumo produ o agr cola para comercializa o e consumo e extra o da erva mate nos ervais nativos renda complementar Mais tarde no ano de 2000 Maria Magdalena Nerone atrav s de sua Tese de Doutorado em Hist ria Faculdade de Ci ncias e Letras da Universidade Estadual Paulista Campus de Assis S o Paulo forneceu subs dios que permitem complementar os elementos que caracterizam o Sistema Faxinal apontados por Chang 1988 diferenciando os de outros espa os rurais atrav s da distin o entre as terras de plantar e as terras de criar da diferencia o entre propriedade e uso das terras dos sistemas de cercas porteiras e mata burros do uso coletivo da terra das rela es de compadrio e mutir o e da medicina e religiosidade popular Somam se a estes trabalhos in meros outros que contribuem no 21 entendimento dessas comunidades mpares e seu particular modo de se relacionar com o territ rio A regi o do Contestado por sua vez enquanto recorte espacial definido para a pesquisa consiste em uma rea lim trofe entre os estados do Paran e de Santa Catarina que foi palco de uma importante Guerra Civil brasileira entre os anos de 1912 e 1916 Ao longo dos anos o referido conflito e a respectiva regi o foram analisados sob os olhares de uma multiplicidade de perspectivas do militar do viajante do historiador do ge grafo do pol tico do soci logo do folclori
143. casas A Foto 47 ilustra essa situa o tica id a gt NBA Te N A R p vi FOTO 47 Imagem de Nossa Senhora Aparecida em uma casa na comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Acervo da autora 2014 O costume de colocar a imagem do Santo Padroeiro nas casas tradi o n o s do povo polaco mas tamb m deste que muito religioso acredita que a pr tica protege a casa dos perigos e males Portanto considerando os elementos socioculturais pode se dizer que o uso coletivo das terras se tornou invi vel tendo em vista a desagrega o do criadouro comum Por m as rela es de compadrio e mutir o ainda s o presentes sendo marcas culturais do cotidiano do 180 lugar explicitas nas viv ncias e la os entre os moradores A medicina popular restringe se aos pequenos cultivos de ch s caseiros e a religiosidade popular por sua vez divide espa o entre o catolicismo popular dos que creem no Monge Jo o Maria e a religiosidade crist dos que creem sobretudo em Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora de F tima bem como dos que creem em ambos Sendo assim e considerando os elementos socioespaciais e socioculturais que diferenciam o Sistema Faxinal dos espa os rurais pode se dizer que o mesmo realmente existiu na comunidade de Aparecida dos Pardos Utiliza se do verbo existir no passado tendo em vista que na presente pesquisa a exist ncia do criadouro comum j extinto no local co
144. cebe se a dif cil miss o de enquadr las em categorias segundo sua g nese h bitos costumes tradi es formas de ON pensamento express es e ideais o que de forma alguma desmerece o esfor o A quest o O que a diversidade do interior destas comunidades as torna nicas sua cotidianidade constru da atrav s da intera o do velho tradicional com o novo emergente n o sendo nunca ultrapassadas Uma interessante metodologia para se compreender estas comunidades apresentada por Mufioz 2011 que prop e elucidar as significa es a partir de narra es e relatos As primeiras como sendo representativas da autoridade de organismos que de algum modo autorit rio est o relacionados com o ordenamento estatal e as segundas enquanto manifesta es intelectuais ou art sticas representativas de grupos humanos que se distinguem por sua especificidade local ou se localizam em setores da vida coletiva e que pretendem fazer se ouvir com vozes v lidas Para tanto sugere a elabora o de um corpus discursivo de base te rica seguida pela identifica o e estudo de pr ticas discursivas cotidianas e pela constru o formal e sistematiza o Dessa maneira poss vel compreender tanto o jogo pol tico oficial quanto as demandas da pr pria comunidade o que no caso da regi o do Contestado fundamental tendo em vista as m ltiplas narrativas existentes acerca da constru o de sua hist ria entre realidades e inven e
145. ceiro elemento que comp em o Sistema Faxinal analisado no Contestado a partir de narrativas regionais historiadores viajantes estudiosos jornais e oficiais da poca da Guerra que relatam o tropeirismo e a exist ncia da cria o de animais em comum mais especificamente de su nos Por fim a an lise da territorialidade da policultura alimentar de subsist ncia constru da a partir do entendimento da chamada ro a cabocla que presente no Contestado visava principalmente subsist ncia com venda somente do excedente Ap s a an lise espec fica destas territorialidades sobrep e se espacialmente os quatro elementos definidores do Sistema Faxinal numa percep o identit ria regional para assim apontar os locais mais prop cios para se buscar evid ncias da exist ncia do mesmo Esta sobreposi o auxilia e possibilita a posterior sele o dos estudos de caso a serem aprofundados na escala da comunidade partindo dos elementos captados de Nerone 2000 3 1 REGI O DO CONTESTADO TERRITORIALIDADES PLURAIS E FLU DAS Sabe se que ao longo dos anos o Contestado vem sendo analisado sob os olhares de uma multiplicidade de perspectivas do historiador do ge grafo do pol tico do soci logo do folclorista dos artistas entre outros Cada um com sua abordagem referencial conceitual m todos e contribui o Nesta polissemia acredita se que analisar geograficamente a Guerra do Contestado s poss vel atrav s da
146. cesso e sendo formada portanto flu da Deve ser localizada no tempo e no espa o tanto material quanto 60 simbolicamente por m n o deve ser reduzida a partir da mera diferen a visto que m ltipla e aberta a reconstru es Pode ser inventada entretanto necessita de uma ancoragem para lhe dar apar ncia de concretude sobretudo quando se tratarem de inven es oficiais com objetivos pol ticos em mente uma constru o hist rica relacional e contrastiva e assume um car ter estrat gico e posicional na medida em que se torna politizada indo de uma identidade de resist ncia para uma identidade de projeto n o sendo nunca inocente Nesta op o conceitual Haesbaert 2007 chama a aten o para a grande polissemia sugerida pelos termos identidade e territ rio sugerindo deveras o emprego destes enquanto objetos de reflex o com vistas a aprofundar as an lises Refor ando neste sentido que os processos sociais contempor neos t m colocado em quest o as refer ncias espa o temporais das configura es identit rias e territoriais da modernidade sendo que para o autor os princ pios do mundo moderno est o pautados na cis o da esfera cultural em dom nios aut nomos os dom nios tico pol ticos est tico e da ci ncia a ideologia laica imbricada ao princ pio filos fico da liberdade e da subjetividade p 09 Dessa forma na atualidade a estrutura de constru o identit ria
147. chuvosos primavera ver o e per odos de ndices pluviom tricos menores inverno outono Por outro lado a palavra Mista neste caso refere se exist ncia de plantas tanto gimnospermas sementes nuas quanto angiospermas sementes recobertas por frutos VELOSO 1992 entretanto refere se tamb m a exist ncia tanto de reas de Mata quanto de reas de Campos Como definido pelo Manual T cnico da Vegeta o Brasileira IBGE 2002 as Matas Mistas presentes no Planalto Meridional s o tamb m conhecidas como Mata de arauc ria ou Pinheiral e na regi o do Contestado por se localizarem em regi es acima dos 500 metros de altitude podem ser definidas como sendo de Montana Ainda acerca desta regi o das Matas Mistas e de acordo com o manual Floresta com Arauc ria publica o da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos H dricos do De acordo com o Sistema de Classifica o Vegetal Brasileiro a Floresta Ombr fila Mista Floresta de Arauc ria Montana situa se entre 16 de latitude Sul a 24 de latitude Sul de 500 metros at em torno de 1 500 metros De 24 de latitude Sul at 32 de latitude Sul de 400 metros at em torno de 1 000 metros IBGE 2002 183 estado do Paran 2010 originalmente essa forma o vegetal ocupava 200 000 quil metros quadrados assim distribu dos gt 49 8 do territ rio do Paran gt 30 de Santa Catarina e gt 25 do Rio Grande do Sul Po
148. ciais MARTINS P Anjos de cara suja etnografia da comunidade cafuza Petr polis RJ Vozes 1995 MATOS P F PESS A V L S A moderniza o da agricultura no Brasil e os novos usos do territ rio In Revista Geo UERJ Ano 13 n 22 v 2 2 semestre de 2011 p 290 322 ISSN 1981 9021 MATTOS A G REIS M S dos PERONI N Rela o entre agricultores familiares extrativistas de erva mate Ilex paraguariensis A ST HL e a floresta de Arauc ria na regi o do Planalto Norte Catarinense n IX SBEE Simp sio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia Avan os para a identidade cultural conserva o e uso da biodiversidade Universidade Federal de Santa Catarina UFSC Florian polis 26 a 29 de novembro de 2012 Anais do evento MEDRADO M J S Et al Recupera o de ervais degradados In INFOTECA Comunicado T cnico EMBRAPA n 86 Colombo PR dezembro de 2002 MELLO A J M PERONI N Etnoecologia e manejo local das esp cies arb reas nas paisagens antr picas da Floresta Ombr fila Mista Catarinense In IX SBEE Simp sio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia Avan os para a identidade cultural conserva o e uso da biodiversidade Universidade Federal de Santa Catarina UFSC Florian polis 26 a 29 de novembro de 2012 Anais do evento MEURER A Z Caracteriza o qu mica e clim tica de popula es naturais de erva mate Ilex paraguariensis ST HILL no Planalto Norte Catar
149. com os dados coletados em campo neste local o Sistema Faxinal teria se desagregado devido s press es externas e internas comuns aos Faxinais paranaenses expans o do agroneg cio e do capitalismo reflorestamento brigas internas entre outros Sendo assim n o h mais o manejo dos ervais nativos nem a cria o em comum Nesta comunidade existe um assentamento de reforma agr ria o que remete questionar a rela o entre a localiza o destes assentamentos em reas de antigos Faxinais por m este n o o foco central da pesquisa 153 3 Comunidade do Pinhalzinho no interior do munic pio catarinense de Bela Vista do Toldo A comunidade aparece retratada na carta topogr fica do munic pio de Irine polis IBGE 1973 na escala de 1 100 000 ANEXO 03 Trata se de uma comunidade bastante distante da sede municipal e que de acordo com as entrevistas de campo realizadas com alguns moradores mantinha a l gica da cria o em comum at cerca de vinte anos atr s O local era uma antiga fazenda que foi vendida a uma empresa que reflorestou boa parte da rea nesta situa o os moradores que restaram se viram isolados e tiveram que acabar com a cria o solta Existe atualmente no local um assentamento de reforma agr ria o curioso nesse fato que muitos dos moradores do antigo Faxinal que haviam perdido suas terras para a empresa de reflorestamento requereram tamb m terras e hoje s o assentados Situa o que tamb m chama
150. como no Emboque muitas s o as narrativas que contam as interfer ncias por parte do poder p blico no passar dos anos quanto ao fechamento dos animais criados solta Muitos dos entrevistados contaram que um dos amp L P 52 anos Entrevista 08 de maio de 2014 Irine polis SC Entrevistadora Alcimara Aparecida F etsch Acervo da autora 2014 169 principais motivos que contribu ram para o fechamento das reas de cria o em comum foi a press o por parte dos representantes da lei que chegavam comunidade e pelo desconhecimento do modo de vida comunit rio exigiam que os animais fossem confinados alegando sobretudo quest es ambientais e sanit rias Dessa forma pode se afirmar que a comunidade catarinense de Aparecida dos Pardos vivenciou as pr ticas comuns ao Sistema Faxinal no estado do Paran por m ao longo do tempo e devido a press es externas e tamb m internas a rea do criadouro foi sendo suprimida ficando restrita a pequenos n cleos familiares Na comunidade de Aparecida dos Pardos a propriedade da terra privada assim como nos Faxinais paranaenses A quest o que no Sistema Faxinal do estado do Paran a terra utilizada comunitariamente no criadouro comum onde todos os moradores podem criar seus animais inclusive os moradores que n o possuem terra alguma Acredita se ser este elemento o das terras de criar que mais diferencia os Faxinais de outros espa os rurais conferindo lhes uma
151. compadrio e mutir o a medicina e a religiosidade popular Dando prosseguimento o Cap tulo 5 apresenta o estudo de caso que analisa os elementos identit rios na territorialidade do Sistema Faxinal em Santa Catarina entretanto necess rio primeiramente justificar a escolha da comunidade pesquisada A sele o partiu da an lise de comunidades catarinenses existentes na regi o do Contestado considerando inicialmente os elementos regionais elencados a partir de Chang 1988 discutidos no Cap tulo 3 Foram observados atrav s das Cartas Topogr ficas do IBGE e do Ex rcito Brasileiro nas escalas de 1 100 000 e 1 50 000 e selecionados os locais mais prop cios exist ncia do Sistema considerando a sobreposi o dos elementos da escala regional Em seguida os locais que apresentavam o maior n mero de elementos regionais componentes do Sistema Faxinal foram visitados a fim de perceber a exist ncia dos elementos na escala da comunidade Foi realizada uma pesquisa de campo explorat ria nas seguintes comunidades catarinenses Faxinal dos Carvalho e Faxinal dos Domingues ambas no munic pio de Fraiburgo Pinhalzinho em Bela Vista do Toldo Cerro do Galo em Matos Costa S o Jos do Timb zinho Bom Sossego II e Rio Preto em Irine polis Km 13 e Maquinista Molina em Porto Uni o Foi ent o que se chegou comunidade de Aparecida dos Pardos no munic pio de Irine polis e este foi o local que mais se aproximou do chamado Sistema F
152. contece isto n o lhes tira a condi o de subsist ncia tampouco o excedente comercializado tem a conota o de troca p 36 30 ESCALA REGIONAL Chang 1988 X Condicionante f sico natural Condicionantes humanos Matas Mistas com ervais nativos Caboclos imigrantes cria o extensiva policultura alimentar de subsist ncia ESCALA DA COMUNIDADE Nerone 2000 D Elementos socioespaciais Elementos socioculturais Diferencia o de outros espa os Uso coletivo da terra as rela es rurais terras de plantar e de de compadrio e mutir o a terras de criar propriedade e uso medicina e a religiosidade das terras sistema de cercas popular porteiras e mata burros ESQUEMA 01 Elementos que formam o Sistema Faxinal no estado do Paran Fonte Chang 1988 e Nerone 2000 Adaptado pela autora 2013 Dessa forma metodologicamente parte se dos elementos apontados por Chang para reconstruir a hist ria do Contestado salientando a presen a ou n o dos elementos que caracterizam o Sistema Faxinal para em seguida partir da sobreposi o destes elementos e selecionar comunidades para buscar os elementos apontados por Nerone que n o podem ser detectados na escala regional somente na escala da comunidade Demonstra se ainda neste segundo cap tulo que os Faxinais no estado do Paran j s o reconhecidos por dispositivos legais e existem levantamentos e estat sticas temporai
153. da a partir de uma constru o destes atores sociais para redefinir sua posi o na sociedade Sendo assim o que marcadamente diferencia o Faxinal do Emboque e a comunidade de Aparecida dos Pardos s o os ideais No Emboque os moradores desenvolveram com o passar do tempo o modo de vida em forma de Sistema Faxinal e percebendo a possibilidade de sair da invisibilidade a que historicamente foram submetidas s comunidades tradicionais brasileiras uniram se interna e externamente para reivindicar seus direitos frente sociedade e ao Estado Valeram se de suas caracter sticas comunit rias peculiares e de uma abertura por parte do poder p blico para se inscrever nas agendas pol ticas e requerer melhores condi es de vida e sobreviv ncia coletiva Por outro lado a comunidade de Aparecida dos Pardos embora tamb m tenha mantido por muito tempo a separa o entre terras de criar e terras de plantar foi sofrendo com as press es internas e externas comuns ao Sistema Faxinal dissolvendo o e restringindo o a pequenos n cleos familiares Muitos moradores inclusive desconhecem a exist ncia das reivindica es por parte dos Faxinalenses no estado do Paran fato que o estado de Santa Catarina n o possui legisla o pr pria para atender a estas demandas o que certamente contribuiu para a desagrega o de muitos Faxinais Dessa maneira notam se entre os dois locais um forte la o comunit rio por m com ideais distintos
154. das fazendas e agregados havia uma consider vel popula o posseira vivendo s margens das grandes fazendas e reas de matas e faxinais de pouca valia para o fazendeiro p 47 Esta popula o era fortemente miscigenada e ficou conhecida como cabocla Tamb m analisando a composi o flor stica da regi o do Contestado Lemos 2006 destaca que dentre as esp cies nativas o destaque era para o pinheiro Arauc ria angustifolia que dividia o espa o com imbuias cedros canelas e outras rvores formadoras 106 de pequenos cap es de quando em quando entre os campos onde as gram neas sugeriam a cria o de gado p 56 57 Vinhas de Queir s 1977 esclarece que somente s v speras da Independ ncia que se percebem ind cios de que a extra o do mate se tornava atividade pr pria Bem como os campos marcam as superf cies por onde se estendeu a frente pastoril os trechos de floresta indicam aquelas por onde se espalhou a atividade extrativa p 32 Afirma ainda que nunca houve dentro dessa regi o do Contestado regras fixas nas rela es entre os homens para o trabalho nos ervais estas podiam tanto ser feitas por uma s fam lia extensa como por turmas de pe es empreiteiros que trabalhavam para o dono das terras p 34 De acordo com o autor O mato virgem onde costuma crescer a erva mate denomina se Ca va voc culo de origem Tupi guarani que literalmente significa mato ruim Sua
155. de 30 mil pessoas habitantes da regi o na poca desde fazendeiros em defesa de suas propriedades at posseiros tentando se manter em terras devolutas p 17 destacando que estes habitantes da regi o na poca era na verdade toda uma popula o cabocla rec m instalada na regi o ofendida em seu brio e amea ada em sua estabilidade acostumada a lutar mais do que os soldados p 18 De fato v rios foram os motivos que contribu ram para desencadear da Guerra a ndole guerreira do homem local a estratifica o social e os modos de vida a prega o dos monges o combate de Irani a quest o de limites entre Paran e Santa Catarina e sobretudo a invas o estrangeira atrav s da constru o da Estrada de Ferro e a instala o da Lumber THOM 1992 Diegues 2003 conceitua sitiantes como sendo os pequenos produtores rurais que moram a maioria sob o regime da posse nos interst cios das grandes fazendas ou nos bairros rurais p 148 4 Por vaqueanos se entendem homens contratados como mercen rios e que compunham igualmente o corpo de capangas ou jagun os dos coron is Eram pequenos propriet rios expropriados pequenos sitiantes remanescentes da Revolu o Federalista e trabalhadores da Estrada de Ferro que foram abandonados ap s a conclus o da obra TONON 2010 p 39 4 Estando ligadas a Holding Brazil Railway Company e Companhia da Estrada de Ferro S o Paulo Rio Grande Farquar crio
156. de de ser on voro e n o somente herb voro como bois cavalos e mulas facilitando assim sua reprodu o Neste sentido Brandt 2007 destaca que se nas reas onde o gado vacum cavalar e muar eram os principais animais criados a situa o se alterava nas reas de mata de arauc ria marginais aos grandes latif ndios L eram os porcos que constitu am a principal cria o p 77 O viajante Cabeza de Vaca 1999 assim relata por aquelas terras h muitos porcos montanheses e macacos que comem aqueles pinh es Os macacos costumam subir nos pinheiros e derrubar tantas pinhas quanto conseguem para depois descer e com las junto ao solo Muitas vezes acontece que os porcos montanheses ficam aguardando os macacos derrubarem as pinhas para ent o irem com las afugentando os macacos p 162 Essa abund ncia possibilitou aos habitantes encontrar uma fonte de renda na cria o de porcos soltos visto que soltos nos pinheirais esses animais crescem e engordam atrav s do que Chang 1988 denominou de suinocultura extensiva onde estes animais se criavam em completa liberdade Em algumas notas publicadas no jornal Terra Livre de Florian polis 1918 o Capit o Vieira da Rosa militar que percorreu a regi o durante a Guerra do Contestado assim A largura do Rio Igua u como o maior rio que cruza o Estado do Paran ainda encaixado com encostas ngremes sempre p s um problema para os tropeiros Por iss
157. dicionais PNPCT e no Art 3 define os territ rios tradicionais como sendo os espa os necess rios reprodu o cultural social e econ mica dos povos e comunidades tradicionais BRASIL 2007 assim como uma s rie de outros dispositivos legais que se valem do termo territ rio para se referir ao espa o de viv ncia das popula es tradicionais Sendo assim o territ rio passa a ser delimitado em termos de rea controle e forma de poder e evocado com vistas a dar suporte a reivindica es e pol ticas ao passo que na verdade trata se do espa o apropriado e constru do socialmente do suporte da exist ncia de uma categoria objeto do m todo e da teoria No caso das popula es tradicionais em espec fico a complexidade territorial exige uma vis o de conjunto onde o territ rio visto atrav s de sua constru o no e pelo tempo no conjunto de rela es cotidianas tem sentido e adquire significado parte essencial da condi o humana o que torna poss vel construir uma imagem deste territ rio captura lo Consiste no espa o apropriado de identidade e de hist ria n o sendo uma simples consequ ncia nem um produto mecanicamente gerado pela exist ncia humana Em consequ ncia a territorialidade emerge enquanto potente estrat gia para controlar essa rea justificar sua exist ncia e particularidade se tornando inclusive um importante instrumento pol tico Refere se aos comportamento
158. dieta alimentar dos moradores e com as sobras a dieta dos animais criados principalmente o gado e o porco Entretanto tamb m comum o plantio do fumo e o cultivo de esp cies ex ticas como o pinus e o eucalipto tanto para a comercializa o quanto para a lenha a ser usada nas estufas de fumo A Foto 31 destaca um espa o bem pr ximo resid ncia da fam lia que destinado horta Na mesma imagem poss vel perceber tamb m a presen a de uma estufa de fumo antiga ao lado de uma estufa mais moderna Monteiro et al 2005 ao analisar a introdu o do cultivo de fumo como fator de mudan a cultural em comunidades faxinalenses considerando o caso do Faxinal dos Seixas em S o Jo o do Triunfo PR destaca que este 166 trabalho indo desde a semeadura at a separa o das folhas envolve os trabalhadores durante todos os meses do ano Como consequ ncia disso as atividades culturais que fazem parte da tradi o s o deixadas de lado uma vez que o produtor fica dependente das regras e prazos que s o ditadas pelas companhias fumageiras e vai com o tempo descaracterizando seu modo de vida comunit rio marcado por h bitos e tradi es A AR A x r ss FOTO 31 Espa o destinado horta caseira e as estufas de fumo em uma propriedade familiar de Aparecida dos Pardos Fonte Acervo da autora 2014 Os moradores da comunidade de Aparecida dos Pardos ainda guardam na mem ria a passagem das tropas de porco e gado pel
159. do resgate etnogr fico da comunidade cafuza de Jos Boiteux SC a trajet ria de constru o de um grupo tnico Segundo ele em 1916 com o final da Guerra do Contestado um grupo de caboclos foge persegui o imposta aos vencidos e vive uma verdadeira epopeia at encontrar um lugar em Rio Laeisz munic pio de Jos Boiteux SC Ao analisar a Guerra do Contestado Tonon 2009 por sua vez coloca que os sertanejos possu am uma forte tradi o na regi o uma rea onde estes sujeitos sociais defendiam suas pr ticas religiosas e populares fundamentadas em uma tica de fraternidade e esp rito comunit rio afirmando tamb m que o esp rito e a pr tica comunit ria dos sertanejos remete aos Faxinais com a exist ncia de in meros situados ao Norte de Santa Catarina e o Centro Sul do Paran p 322 sugerindo inclusive uma rela o entre o Sistema Faxinal e o surgimento das Irmandades M sticas do Contestado Acerca das diferen as entre os redutos dos caboclos do Contestado e o que se denomina hoje de Sistema Faxinal Campigoto e Sochodolak 2009 utilizam se dos relatos sobre as incurs es do capit o Tertuliano de Albuquerque Potyguara janeiro de 1915 na regi o de Canoinhas SC para eliminar qualquer d vida acerca da rela o entre os redutos de Canoinhas com os Faxinais n o excluindo a possibilidade da exist ncia destes fora dos redutos Ao analisarem as proposi es de Peixoto 1995 os autores afirmam q
160. dom sticos e selvagens sendo que da mesma rvore muito se aproveita a madeira No caso dos ervais trata se de uma aquifoli cea que forma numerosos bosques associados ou n o s arauc rias Quando a erveira associada perde sua virtuosidade e impon ncia Mas readquire a quando se isola em verdadeiros tufos p 33 Neste cen rio dos ervais Struch 1955 esclarece que se trata de produto nativo que aparece associado mata de araucaria Isto n o quer dizer por m que a erva mate apare a invariavelmente todas as v zes que ocorre o pinheiro sic p 98 sendo que interessante observar o grande adensamento junto ao rio Igua u quer do lado do Paran quer em Santa Catarina p 99 o que certamente contribuiu para o povoamento dessas reas c Auras 1995 lembra que os vastos ervais nativos o mate j era habitualmente consumido entre os ind genas locais eram alvo de crescente procura p 28 29 sendo que pelo porto de Paranagu PR o produto recolhido sobretudo na regi o contestada era encaminhado para os mercados do Prata Brandt e Campos 2008 ao caracterizar a regi o do Planalto Sul Brasileiro o apresentam dominado por uma vegeta o nativa de campos e floresta de arauc rias ora um misto de ambas com presen a ainda de ervais erva mate e misto de arbustos e vegeta o rasteira regionalmente conhecidos por faxinais p 44 sendo que al m da presen a dos propriet rios
161. dores do Faxinal do Emboque totalizando 53 fam lias 130 alqueires segundo os depoimentos e entrevistas para 166 076 alqueires 8 Os motivos mais comuns a desagrega o desta e outras comunidades tradicionais s o o impulso no uso de agroqu micos com a Revolu o Verde na d cada de 1970 a migra o de fazendeiros monocultores ga chos para a regi o Centro Sul do estado do Paran que passaram a comprar grandes quantidades de terra ao redor e cerca las al m dos terrenos herdados que s o partilhados e vendidos a terceiros alheios ao Sistema os chamados chacareiros e suas reas de lazer entre outros Nas entrevistas percebeu se que realmente a rea do Faxinal diminuiu consideravelmente O Faxinal possu a um tamanho bem maior que hoje a Igreja que fica a quatro quil metros da casa da entrevistada ainda ficava dentro do Faxinal A cerca de uns 26 anos o Faxinal come ou a diminuir muito isso porque as pessoas que vinham de fora da comunidade compravam terras e iam cercando suas propriedades como fez certo fazendeiro pois parte da divisa do Faxinal faz divisa com a fazenda dele mas em nenhum momento ele entrou em conflito com a nossa comunidade S M C P 2013 De acordo com F etsch e Ludka 2012 o Faxinal do Emboque encontra se na borda da chamada Regi o do Contestado e tamb m devido a esta proximidade foi selecionado enquanto exemplo a ser aprofundado neste cap tulo evidenciando os elementos identit r
162. dos CAMPO D Faxinais que se integram a atividades de car ter tur stico educativo mantendo por exemplo antigos barbaqu s para demonstra o n o Componentes de E f f pao Fa Sea produ o Comunidades que se dedicam a agricultura ecol gica e se retradicionaliza o 3 organizam em cooperativas QUADRO 01 A integra o nos mundos Faxinalenses Componentes e campos Fonte L wen Sahr 2008 Organizado pela autora 2014 Dessa maneira poss vel perceber que o Faxinal enquanto remanescente de uma antiga pr tica agrosilvopastoril v m se adaptando aos processos modernizadores conciliando e buscando acompanhar essa din mica Atrav s da reflex o constru da em sua Tese de doutoramento em Hist ria Nerone 2000 compreende o Sistema Faxinal como sendo uma forma de organiza o rural que apresenta os componentes produtivos produ o animal no espa o coletivo criadouro comum produ o agr cola e extra o da erva mate NERONE 2000 p 62 Tal entendimento baseia se inicialmente nas proposi es de Chang 1988 entretanto apresenta outros elementos que auxiliam na defini o do Sistema Nerone 2000 acrescenta que A comunidade habita a rea do criadouro comum a qual indivisa e que oferece uma paisagem peculiar As moradas possuem na sua maioria uma cerca ao redor a qual delimita cada resid ncia e seus espa os cont guos como o quintal o jardim o 15 p tio Essa cerca s
163. dos Faxinais tenha aumentado significativamente ainda n o tem sido poss vel responder com exatid o pergunta de quantos e quais s o os Faxinais no Sul do Brasil p 29 Durante seus trabalhos de campo centralizados no Estado do Paran em munic pios pr ximos divisa do Estado de Santa Catarina o autor foi informado da ocorr ncia de Faxinais situados em v rios munic pios do Planalto Norte Catarinense p 63 entretanto n o teve a oportunidade de pesquis los O que justificaria ent o o fato do Sistema Faxinal ser vis vel somente no estado do Paran Teria de certa forma a Guerra do Contestado contribu do para a extin o dos Faxinais na por o catarinense Quais as justificativas para a aparente invisibilidade desse Sistema em Santa Catarina Teria ele evolu do para outras formas de uso comum da terra se desagregado por completo ou ainda sobreviveria silenciado e oculto em algum canto catarinense Importante ressaltar que inicialmente a Tese propunha investigar a constru o da identidade territorial faxinalense na regi o do Contestado buscando apontar e discutir aproxima es e distanciamentos entre os estados do Paran e Santa Catarina Entretanto ap s o aprofundamento dos estudos de campo na por o catarinense do Contestado a proposta abarcou tamb m a quest o das Ca vas Sendo assim as inquieta es culminaram com a constru o da seguinte problem tica que norteou a pesquisa De qu
164. dos vencedores p 21 sendo que para este homem errante do planalto rf o do Estado n o fazia a menor diferen a se o ch o por ele pisado pertencia ao Paran ou a Santa Catarina pois isolados no interior criaram um forte quadro de resist ncia ao desp tico poder vigente Colocados margem do processo de desenvolvimento econ mico n o dispunham de qualquer for a econ mico pol tica capaz de al a los condi o de interlocutores v lidos na correla o de for as ent o em constitui o A superioridade num rica que apresentavam e o maior conhecimento geogr fico da rea apenas tiveram o efeito de retardar o duro e inevit vel fim de sua disposi o de construir um mundo melhor Auras 1995 atesta que ineg vel que os caboclos do planalto catarinense foram protagonistas da hist ria ao longo da Guerra do Contestado p 169 Thom 1981 por sua vez define o caboclo colocando que persiste na regi o do Contestado um tipo humano classificado como mameluco na etnia brasileira o caboclo resultado da mescla das ra as dos conquistadores europeus com os ndios desde o S culo XVP p 05 Questiona se parte das origens do caboclo n o estaria ligada s primitivas tribos Tupi e Tapuia reconhecidas como as mais antigas das que habitavam o Sul do Brasil e ressalta que buscando tradi es ind genas no caboclo do Contestado observamos fortes tra os culturais herdados das popula es tribais tanto
165. dos Faxinais s Irmandades M sticas do Contestado In OLINTO B A MOTTA M M OLIVEIRA O de Orgs Hist ria Agr ria Propriedade e Conflito Guarapuava Unicentro 2009 p 319 340 TONON E Os monges do Contestado Perman ncias predi es e rituais no imagin rio Palmas Kaygangue 2010 VASCONCELOS E Sociologia rural Imprensa Universit ria Universidade Federal de Vi osa Vi osa 1977 VELOSO H P RANGEL FILHO A LR LIMA J C A Classifica o da vegeta o brasileira adaptada a um sistema universal Rio de Janeiro FIBGE PROJETO RADAMBRASIL 1991 VELOSO H P Sistema fitogeogr fico In IBGE Manual T cnico da Vegeta o Brasileira Rio de Janeiro Funda o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica Manuais T cnicos em Geoci ncias n 01 1992 38 p VIEIRA DA ROSA J Reminisc ncias da Campanha do Contestado subs dios para a Hist ria In Jornal Terra Livre Florian polis n 6 ano 1 7 de agosto de 1918 p 01 VINHAS DE QUEIR S M Messianismo e conflito social 2 Ed S o Paulo tica 1977 VINHAS DE QUEIR S M Messianismo e conflito social a guerra sertaneja do Contestado 1912 1916 3 ed S o Paulo Ed tica 1981 WILES J 1 ROSENBERG M W KEARNS R Narrative analysis as a strategy for understanding interview talk in geographic research Area 2005 37 1 p 89 99 YIN R K Estudo de caso planejamento e m todos Trad de Daniel Grassi Porto Al
166. dos G como dos Guarani o que refor a a corrente que afirma terem os ndios dado mais do que receberam ao longo de toda a hist ria p 53 Para Thom 1981 encontram se no Contestado diversos tipos de caboclos desde aqueles j quase descaracterizados que t m suas ra zes na mescla de ndios paulistas com portugueses at os mamelucos praticamente puros descendentes dos grupos G incluindo se ainda os que s o frutos de cruzamentos dos anteriormente citados entre si Acrescenta que O caboclo da regi o do Contestado assim ao lado das tradi es de origem ib rica luso espanhola do tradicionalismo dos penetradores caipiras paulistas e do comportamento dos ga chos dos pampas recebeu forte influ ncia ind gena assimilando parte de sua cultura seus h bitos usos e costumes o que muito o ajudou a enfrentar as adversidades da vida nas florestas Ra a e cultura ind genas passaram ao caboclo que veio a constituir um novo tipo humano personagem t pico do Contestado Tradi es l nguas cren as usos e costumes que outrora viviam nas selvas hoje habitam na vida do sertanejo da regi o THOM 1981 p 59 62 110 Bach 2009 afirma que o caboclo n o precisava necessariamente ser descendente do ndio precisava apenas ter sido criado no sert o ter h bito e comportamento de sertanejo entretanto o caboclo n o poderia ter pele clara a ele se atribu a uma cor mais ou menos escura p 183 Lemos
167. dos Povos Faxinalenses n o mais pr requisito para o reconhecimento dos Faxinais Entretanto ressalta se que na presente pesquisa o Sistema Faxinal entendido a partir das proposi es de Chang 1988 e de Nerone 2000 ou seja um Sistema que se distingue das demais formas camponesas pelo seu car ter coletivo do uso da terra para a produ o animal tendo como elementos regionais caracter sticos a localiza o nas Matas Mistas com presen a dos ervais nativos e a contribui o dos elementos humanos do caboclo e do imigrante e suas pr ticas da cria o extensiva e da policultura alimentar de subsist ncia Esse cen rio complementado por elementos apontados nas escalas da comunidade tais como a distin o entre as terras de criar e de plantar a diferencia o entre a propriedade e o uso das terras o sistema de cercas porteiras e mata burros o uso coletivo das terras as 135 rela es de compadrio e mutir o e por fim a medicina e a religiosidade popular Todos estes elementos podem ser percebidos no Esquema 05 ESCALA REGIONAL Chang 1988 X Condicionante f sico natural Condicionantes humanos Matas Mistas com ervais nativos Caboclos imigrantes cria o extensiva policultura alimentar de subsist ncia ESCALA DA COMUNIDADE Nerone 2000 X Elementos socioespaciais Elementos socioculturais Diferencia o de outros espa os Uso coletivo da terra as rela es rurai
168. e informa o ocasionando inclusive certa confus o conceitual com o pr prio termo Faxinal ou melhor com o Sistema Faxinal Acredita se que isso ocorra devido ao fato de que nestas reas de Ca va que o Sistema Faxinal tradicionalmente se desenvolveu Em seu relat rio t cnico de 1988 Chang j evidenciava que as Ca vas s o origin rias das antigas reas de invernadas ou Faxinais que se distribu ram pelo Centro Sul do Paran Norte de Santa Catarina e Norte do Rio Grande do Sul se referindo neste caso a um tipo de vegeta o Vinhas de Queir s 1977 ao analisar a regi o do Contestado referiu se s reas de Ca va como um tipo de vegeta o local O mato virgem onde costuma crescer a erva mate denomina se Ca va voc culo de origem Tupi guarani que literalmente significa mato ruim 195 Suas terras arenosas e frias s o consideradas de inferior qualidade para a abertura de ro as sic p 19 Ao analisarem o processo de desintegra o e resist ncia do Sistema Faxinal em Itapar Irati PR Novak e Fajardo 2008 destacam que as matas limpas onde existiam a erva mate nativa as frut feras silvestres pinheiros e madeiras de lei al m das gram neas formaram um meio natural prop cio para o desenvolvimento do criadouro comum do Faxinal Este meio natural denominado pela popula o de Ca va e trata se de uma vegeta o pouco densa onde a cria o pode andar sem dificuldade e cujo
169. e Aparecida dos Pardos as reas de reflorestamento tamb m s o muito presentes inclusive disputando espa o com as reas de Ca va como se pode perceber atrav s da Foto 51 FOTO 51 Reflorestamento de eucalipto pr ximo s terras de plantar na comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Acervo da autora 2014 Como poss vel verificar n o s na regi o do Contestado a vegeta o nativa vem sendo constantemente degradada inicialmente com fins econ micos de aproveitamento da madeira e em seguida sendo as terras utilizadas para agricultura e ou pecu ria e para os reflorestamentos N o se questiona a import ncia destas tr s ltimas atividades apenas se aponta para o fato de que evidente a diminui o das reas de Matas Mistas apesar de toda legisla o proibitiva existente Dessa maneira caso n o haja uma preocupa o com as popula es tradicionais que ainda se utilizam dessas reas certamente com o passar do tempo estas ser o substitu das por reas agricult veis de pastoreio de reflorestamento ou de extrativismo 192 d Moderniza o agr cola Chang 1988 relata que a partir de 1967 a pol tica agr cola foi deliberadamente orientada para utiliza o mais intensiva de m quinas e fertilizantes explicitando assim os interesses industriais p 69 Por m a moderniza o agr cola se deu de forma desigual e incompleta n o atingindo a todos os produtores com a mesma
170. e a um processo de conflito tanto de interesses quanto de valores de atores sociais antag nicos n o restando muitas vezes alternativa sen o reagir com base na fonte mais imediata de autoreconhecimento e organiza o aut noma seu pr prio territ rio CASTELLS 1999 p 79 Para o autor as comunidades locais constru das por meio da a o coletiva e preservadas pela mem ria coletiva constituem fontes espec ficas de identidades Essas identidades no entanto consistem em rea es defensivas contra as condi es impostas pela desordem global e pelas transforma es incontrol veis e em ritmo acelerado Elas constroem abrigos mas n o para sos p 84 Para os atores sociais exclu dos ou que tenham oferecido resist ncia as comunas culturais de cunho religioso nacional ou territorial podem ser a principal alternativa para a constru o de significados na sociedade Servem de ref gio s o defensivas fontes de solidariedade e atuam como forma de prote o contra um mundo externo hostil e s o constru das culturalmente isto organizadas em torno de um conjunto espec fico de valores cujo significado e uso partilhado s o marcados por c digos espec ficos p 84 que s o c digos de autoidentifica o como os cones e a geografia do local A constru o destas comunas depende da forma de trabalhar a mat ria prima que fornecida pela hist ria geografia l ngua e ambiente CASTELLS 1999
171. e a in meras pol ticas p blicas Ao discutir as identidades territoriais a partir da comunidade local Castells 1999 afirma que um dos debates mais antigos diz respeito ao desaparecimento da comunidade tanto em raz o da urbaniza o quanto da suburbaniza o entretanto acrescenta que as pessoas resistem ao processo de individualiza o e atomiza o tendendo a agrupar se em organiza es comunit rias que ao longo do tempo geram um sentimento de perten a e em ltima an lise em muitos casos uma identidade cultural comunal p 79 Isso se torna percept vel no caso do Sistema Faxinal que frente necessidade de sobreviv ncia coletiva encontrou no agrupamento comunal com base em um territ rio uma possibilidade de resistir 2N o escrito fundamentado no uso no costume ou na pr tica Por comunidade neste caso entende se um grupo de pessoas dentro de uma rea geogr fica limitada que interagem dentro de institui es comuns e que possuem um senso comum de interdepend ncia e integra o N o obstante conjunto de indiv duos vivendo e interagindo dentro de um mesmo territ rio n o constituem em si mesmos comunidades particularmente se esses indiv duos n o se considerarem como tal O que une uma comunidade n o sua estrutura mas um estado de esp rito um sentimento de comunidade SHORE 1996 p 115 116 62 Nesta considera o o ambiente constru do e seu significado s o engendrados frent
172. e construindo politicamente no estado do Paran uma identidade territorial Faxinalense Esta constru o iniciou se atrav s da organiza o das pr prias popula es que ao observarem a mobiliza o de outras popula es tradicionais e percebendo suas particularidades decidiram tamb m reivindicar seu reconhecimento sobretudo atrav s do reconhecimento de seu territ rio O processo envolveu representantes dos rg os do governo estadual federal e municipal institui es de ensino e pesquisa organiza es n o governamentais e membros das comunidades Faxinalenses Esta a o conjunta gerou conquistas s comunidades Faxinalenses 212 no sentido de serem reconhecidas tornadas vis veis e inseridas em pesquisas pol ticas p blicas programas e projetos Entretanto as distor es no conceito adotado para definir o que vem a ser o Sistema Faxinal implicam diretamente nos levantamentos que d o conta de sua exist ncia num rica e distribui o geogr fica pelo territ rio paranaense Isto se torna n tido quando se observam os levantamentos produzidos a Levantamento da EMATER 1994 24 munic pios com 118 Faxinais b Levantamento do IAP 2004 16 munic pios com 44 Faxinais c Levantamento da APF 2008 31 munic pios com 227 Faxinais Isso porque ao propor superar o conceito de Sistema Faxinal de Chang 1988 e os conceitos de Faxinal ou criadouro comum da EMATER 1994 e do IAP 2004 Souza 2009a esc
173. e decretos leis resolu es projetos planos 178 indo c digos de posturas e editais que fazem refer ncia a este modo de vida desde 183 desde as proibi es da conserva o de porcos soltos nas ruas das povoa es perpassando pela necessidade da constru o e manuten o das cercas coletivas chegando at as leis de reconhecimento dos Faxinais e sua territorialidade al m de in meras outras situa es que no estado do Paran s o amplamente discutidas Entretanto quando se observa o estado de Santa Catarina percebe se que o Sistema Faxinal n o aparece nos discursos oficiais pol ticos sendo por vezes referenciado somente de maneira impl cita em pesquisas acerca de outras tem ticas relacionadas como a erva mate o tropeirismo a Floresta com Arauc ria os caboclos entre outros assuntos pr ximos Buscando compreender esta lacuna foram analisados os elementos que d o vida territorialidade dos Faxinais no Contestado realizando uma sobreposi o destes o que indicou as comunidades mais prop cias para o desenvolvimento do Sistema na regi o Esta sobreposi o considerou duas escalas a regional delimitada a partir dos elementos captados de Chang 1988 e a da comunidade a partir dos elementos captados de Nerone 2000 V rias comunidades foram visitadas e analisadas at se chegar comunidade onde os estudos foram aprofundados Aparecida dos Pardos no munic pio catarinense de Irine polis Nesta comunidade de Ap
174. e deviam ser considerados se agravando nos casos em que os movimentos pol ticos de massa desafiavam a legitimidade dos sistemas de governo pol tico ou social e ou amea avam revelar se incompat veis com a ordem do estado sic p 273 59 Nesta discuss o a rela o entre inven o e gera o espont nea algo intrigante Sabe se que as tradi es inventadas t m fun es pol ticas e sociais relevantes de forma que n o nasceriam e nem se firmariam se n o pudessem ser adquiridas Entretanto at que ponto estas podem ser manipul veis De fato as ditas novas tradi es atendem tanto a demanda quanto a oferta e emergem tamb m devido inabilidade ou a impossibilidade de se adaptar s tradi es e ou costumes antigos Transportando esta reflex o para o caso das identidades Haesbaert 2008 p 367 afirma que a re inven o das identidades pode ser utilizada na tentativa de legitimar novas unidades pol tico administrativas pois a busca de legitimidade atrav s de uma identidade cultural com o territ rio pode ser decisiva na obten o do apoio da popula o ao movimento mas pode ser secund ria frente aos interesses em jogo nas esferas mais amplas de decis o pol tica Neste sentido volta se s concep es de Cruz e seu posicionamento com rela o ao fato de que a identidade estrat gia e posicional e complementa se com as proposi es de Bauman 2005 Identidade Sempre que ou
175. e dos individualismos radicais Estas tendem a construir suas comunas considerando valores tradicionais como Deus Na o e Fam lia protegendo seus limites por meio de 1 CASTELLS M O poder da identidade Tradu o Klauss Brandini Gerhardt S o Paulo Paz e Terra 1999 A era da informa o economia sociedade e cultura v 2 56 emblemas tnicos e territoriais por m importante destacar que estas identidades n o est o restritas a valores tradicionais Quanto s novas identidades de projeto Castells 1999 afirma que n o parecem surgir de identidades anteriores presentes na sociedade civil da era industrial mas sim a partir de um desenvolvimento das atuais identidades de resist ncia p 420 de acordo com o autor identidades de resist ncia podem resultar em identidades de projeto voltadas transforma o da sociedade como um todo dando continuidade aos valores da resist ncia comunal oferecida aos interesses dominantes sustentados pelos fluxos globais de capital poder e informa o p 420 Transportando estas considera es para a an lise do Sistema Faxinal poss vel compreender esta evolu o de uma identidade de resist ncia para uma identidade de projeto A forma diferenciada com que o Sistema Faxinal se desenvolveu na regi o Centro Sul do estado do Paran inicialmente visava o melhor aproveitamento das Matas Mistas atrav s da separa o entre terras de criar e terras de pl
176. e forma indissoci vel A economista Man Yu Chang em seu relat rio t cnico 1988 ressalta que popularmente o termo Faxinal significa mata densa por m ao buscar sua etimologia a palavra significa mata rala com vegeta o variada e faixas de campo penetrando nas matas 70 Para a autora nestas reas de mata mais densa que se formaram os criadouros comunit rios para o aproveitamento desses espa os conjugados cuja caracter stica peculiar se assenta na cria o extensiva e no extrativismo da erva mate se constituindo na forma hist rica de organiza o social que mais preservou as condi es ambientais locais Portanto de acordo com Chang 1988 o Sistema Faxinal possui as seguintes caracter sticas produ o animal para tra o e consumo produ o agr cola para comercializa o e consumo e extra o da erva mate nos ervais nativos renda complementar Em termos de legisla o no estado do Paran em 1997 atrav s do Decreto Estadual n 3446 97 que cria as reas Especiais de Uso Regulamentado ARESUR o Sistema Faxinal passa a ser reconhecido formalmente Dessa forma os munic pios que contavam com o Sistema em seus territ rios passaram a receber um maior percentual na distribui o do ICMS Ecol gico Lei Complementar n 59 91 No 1 do Art 1 consta entende se por Sistema Faxinal o Sistema de produ o campon s tradicional caracter stico da regi o Centro Sul do Paran que tem como t
177. e forma ocorreu a constru o da identidade territorial do Sistema Faxinal na regi o do Contestado e quais s o os elementos que a caracterizam Objetivando compreender tantas lacunas partiu se das contribui es te ricas da Geografia para delinear uma arquitetura conceitual e metodol gica que permitisse 27 desmistificar e responder problem tica posta Assim sendo o arranjo conceitual desenvolvido no Cap tulo 1 aproxima dois complexos conceitos o de territ rio e o de identidade culminando com outra possibilidade conceitual intitulada identidade territorial Assim torna se geograficamente poss vel a reflex o sobre a forma com que um Sistema tido como tradicional o Sistema Faxinal evoluiu na rela o espa o tempo e v m se inscrevendo diferentemente nos estados do Paran e Santa Catarina no recorte espacial da regi o do Contestado Nesta reflex o o territ rio discutido conceitualmente de modo a evidenciar sua constru o a partir das rela es tanto sociais quanto hist ricas rela es de poder vivenciadas no cotidiano Assim a dimens o pol tica emerge destacando o territ rio enquanto suporte material da exist ncia coletiva sendo este apropriado e instrumentalizado Por m o territ rio n o um instrumento um conceito e uma categoria e neste conflituoso contraponto entre o territ rio enquanto conceito categoria e o territ rio enquanto instrumento que o caso do Sistema Fa
178. e fumo em uma propriedade familiar de Aparecida dos Pardos Mangueir o dos porcos na comunidade de Aparecida dos Propriedade da fam lia Painter em Aparecida dos Pardos Estrada Grande onde se localizava o antigo port o que dava acesso rea do criadouro comunit rio em Aparecida dos Pardos Laneopols SO us cestas sas a qUTa aaa DE EE US Port es existentes na comunidade de Aparecida dos Pardos Port es existentes na comunidade de Aparecida dos Pardos Port es existentes na comunidade de Aparecida dos Pardos Port es existentes na comunidade de Aparecida dos Pardos Antiga cerca comunit ria confeccionada de pranch es de madeira em Aparecida dos Pardos Cerca comunit ria em Aparecida dos Pardos Irine polis SC Mata burros encontrados na comunidade de Aparecida dos Ata que registra a primeira reuni o que tratava da constru o da capela atual Igreja de Aparecida dos Pardos Capelinha de Nossa Senhora de F tima que percorre diariamente as resid ncias na comunidade de Aparecida dos Pardos Imagem de Nossa Senhora Aparecida em uma casa na 161 162 165 166 167 168 170 171 171 171 171 172 173 174 174 174 174 177 177 14 FOTO 48 FOTO 49 FOTO 50 FOTO 51 comunidade de Aparecida dos Pardos Carijo de erva mate n
179. e n o impede que em lugares com menor especificidade ou densidade hist rica esses referenciais tamb m n o sejam inventados HAESBAERT 2007 p 46 66 representa es espaciais que constroem o sentimento e o significado de pertencimento dos grupos ou indiv duos em rela o a um territ rio p 104 b 4 consci ncia socioespacial de pertencimento S o os la os de solidariedade perten a unidade de reconhecimento como indiv duos ou grupo em rela o a uma comunidade a um lugar a um territ rio p 104 Trata se de uma constru o hist rica a partir das pr ticas e representa es espaciais que envolvem tanto o dom nio funcional estrat gico finalidades quanto a apropria o simb lico expressiva afinidades afetividades Portanto a identidade territorial pode surgir ao longo do tempo a partir da tend ncia de algumas organiza es comunit rias em se agrupar gerando um sentimento de perten a Esse agrupamento se d em torno de um conjunto espec fico de valores e sua efetiva o ocorre quando o territ rio visto como referencial espacial de identifica o Pode ser compreendida a partir da an lise das suas dimens es hist rica e geogr fica considerando seu espa o de refer ncia identit ria e sua consci ncia socioespacial de pertencimento evocada quando a filia o territorial possui potencial de ser ativada como instrumento de reivindica o pol tica e toma por base alguns f
180. egre Bookman 2001 SITES DE CONSULTA IAP Instituto Ambiental do Paran Dispon vel em www iap pr gov br acesso em 17 de agosto de 2013 IAPAR Instituto Agron mico do Paran Dispon vel em www iapar br acesso em 28 de julho de 2013 233 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica Dispon vel em www ibge gov br acesso em 23 de junho de 2013 IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econ mico e Social Dispon vel em www ipardes gov br acesso em 21 de agosto de 2013 http mongedocontestado wordpress com acesso em 02 de setembro de 2013 ENTREVISTAS E DEPOIMENTOS D M 66 anos Entrevista 08 de maio de 2014 Irine polis SC Entrevistadora Alcimara Aparecida F etsch Acervo da autora 2014 J V N 53 anos Entrevista 08 de maio de 2014 Irine polis SC Entrevistadora Alcimara Aparecida F etsch Acervo da autora 2014 L P 52 anos Entrevista 08 de maio de 2014 Irine polis SC Entrevistadora Alcimara Aparecida F etsch Acervo da autora 2014 S M C P 34 anos Depoimento 22 de outubro de 2011 S o Mateus do Sul Paran Entrevistadora Alcimara Aparecida F etsch Acervo da autora P W 40 anos Depoimento 10 de mar o de 2012 S o Mateus do Sul Paran Entrevistadora Alcimara Aparecida F etsch Acervo da autora 234 ANEXO 01 Faxinal dos Carvalho Fraiburgo SC ds Comunidade de Faxinal dos Carvalho Fraiburgo SC Carta topogr fica de Curitib
181. eguindo os jovens com estes costumes O morador D M 2014 relata que na poca em que existia o grande criadouro comum eram frequentes os mutir es para conserva o das cercas comunit rias e conta ainda que ao passo que o criadouro foi sendo fechado a comunidade tamb m colaborava na constru o das cercas particulares Atualmente ainda comum visualizar os mutir es para manuten o de algumas cercas na arruma o e limpeza do terreno da Igreja na colheita de produtos agr colas como o fumo na coleta da erva mate na matan a de animais constru o de casas e pai is na arruma o dos bueiros entre outros fins Uma das principais atividades de mutir o ligadas religi o cat lica na comunidade consiste em juntar doa es e prendas para as festas realizadas na Igreja de Aparecida dos Pardos A maior parte dos moradores colabora inclusive ajudando na limpeza e organiza o dos festejos que objetivam al m do divertimento a arrecada o de capital para ser investido na manuten o do espa o de conviv ncia comunit ria da Igreja e do Pavilh o Em termos religiosos a figura do Monge Jo o Maria tamb m muito referenciada na comunidade de Aparecida dos Pardos No local n o existe nenhuma das fontes naturais de gua do Monge por m n o muito distante na comunidade vizinha de Felipe Schmidt pode se encontrar um olho d gua e outro na comunidade canoinhense de Santa Em dia D M 2014 conta que seu pai ouv
182. eja o sistema agr cola mais encontrado nesses ambientes tamb m compreendida como um sistema de plantio itinerante onde as reas cultivadas s o submetidas a um pousio por um per odo maior Inicialmente ocorre a derrubada da vegeta o em seguida a mat ria org nica seca no local at que possa ser queimada MUNARI 2009 119 Martins 1977 evidencia que a popula o cabocla desenvolvia um modo de vida denominado economia do excedente onde o objetivo principal era a subsist ncia e o excedente era comercializado Informa o tamb m destacada por Bloemer 2000 quando este ltimo autor afirma que os caboclos poderiam viver da ca a da pesca e da agricultura de subsist ncia poss vel em uma fronteira aberta com terras devolutas e uma baixa densidade demogr fica p 72 Brandt 2007 ao analisar o uso comum e a apropria o das terras na regi o do Contestado mais especificamente em Fraiburgo SC afirma que na forma de cria o dos animais em aberto as ro as eram cercadas para impedir a invas o de animais criados e at mesmo de alguns veados que existiam na regi o p 203 As lavouras por serem destinadas subsist ncia ocupavam pouco espa o em rela o s terras de cria o sendo que em muitos casos cercavam se as ro as onde se plantava o milho consorciado ou n o com o feij o ab boras melancias arroz sequeiro entre outros produtos Vinhas de Queir s 1977 em sua an lise sob
183. el m n 10 1989 p 163 195 ALMEIDA A W B de Terras tradicionalmente ocupadas processos de territorializa o e movimentos sociais In Revista de Estudos Urbanos e Regionais Rio de Janeiro v 06 n 01 2004 p 09 32 ALMEIDA A W B de Terra de quilombo terras ind genas baba uais livre castanhais do povo faxinais e fundos de pasto terras tradicionalmente ocupadas 2 ed Manaus PGSCA UFAM 2008 ALMEIDA A W B de Terras de preto terras de santo terras de ndio uso comum e conflito In GODOI E P de MENEZES M A de MARIN R A Orgs Diversidade do campesinato express es e categorias v 2 estrat gias de reprodu o social S o Paulo Editora UNESP Bras lia DF N cleo de Estudos Agr rios e Desenvolvimento Rural 2009 p 39 66 ALMEIDA R P Um aspecto da economia de Santa Catarina a ind stria ervateira o estudo da Companhia Industrial 1979 238 f Disserta o Mestrado em Hist ria Universidade Federal de Santa Catarina Florian polis UFSC CCH 1979 ANDRADE M C de A quest o do territ rio no Brasil S o Paulo Hucitec 1995 ANTUNES E O Contestado entre Paran e Santa Catarina Bel m Imprensa Oficial do Estado 1918 64 p ARTICULA O PUXIR O DOS POVOS FAXINALENSES Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil S rie Faxinalenses do Sul do Brasil Fasc culo 3 Rebou as PR setembro 2008 A
184. elhantes Neste sentido a territorialidade humana estaria no v rtice de um grande n mero de a es humanas que implicam entre outros poder redistribui o funcionalidade depend ncia abrigo e conflito A territorializa o portanto significa v nculos de variadas conex es e como tal um processo que deve acontecer o territ rio por sua vez o tempo depositado v rias vezes intercalado vivido R OS 2011 p 156 159 O autor prop e capturar o territ rio a partir das contribui es da Antropologia do Territ rio a partir da qual o territ rio tem sentido adquire significado e onde o pensamento situa se com o intuito de conhecer a profundidade do tempo e das mem rias territoriais aberto aos imagin rios permitindo assim possibilidades investigativas para tratar abertamente do jogo simult neo de Ta trasgresi n de los l mites del conocimiento y los tiempos vividos confluyen en una Ciencia dedicada al territorio Se trata de una Antropologia del territorio la cual devela al espacio en tanto soporte biof sico de las actividades humanas no como una entidad perteneciente al orden de la yuxtaposici n sino m s bien como una forma proceso de estratos imbricados O sea la Antropolog a del Territorio resemantiza el espacio proyect ndolo a dimensiones temporales entretejidas R OS 2011 p 159 45 distintas formas e modos de viver e habitar Esta Ci ncia dedicada ao territ rio situa os sujeit
185. em a um novo molde que se instaurava na regi o ou seja a derrubada da mata e a demarca o e entrega das terras imigra o Brandt 2007 ao analisar essa nova modifica o econ mica e social afirma que a popula o cabocla da regi o teve duas op es adaptar se ou ficar exclu da p 247 Os que n o se adaptaram procuraram novas reas nos sert es do Paran Vinhas de Queir s 1977 confirma que a Lumber loteou e come ou a vender a colonos estrangeiros terrenos ao longo da estrada de ferro depois que dali tinham sido expulsos os posseiros e antigos propriet rios p 74 Machado 2004 coloca que os vazios demogr ficos deixados como resultado do conflito principalmente em virtude da viol ncia de sua fase final foram preenchidos por pequenos agricultores de origem europeia formando em algumas cidades como Videira Fraiburgo e Treze T lias algo semelhante a um apartheid social e tnico entre a recente popula o migrante branca disciplinada e economicamente remediada e a antiga popula o cabocla mesti a ou de cor indolente turbulenta e pobre p 41 De fato o acesso terra por parte da popula o cabocla ficou cada vez mais dif cil sobretudo no Meio Oeste e no Planalto Norte Catarinense nas terras devolutas tendo em vista a atua o das empresas de capital estrangeiro como a Southern Brazil Lumber and Colonization Company subsidi ria da Brazil Railway Company p 75
186. em importante fun o ambiental ao manter as esp cies vegetais que s o t picas da Floresta Ombr fila Mista Al m disso contribuem fornecendo alimento e abrigo para a fauna local e comp em reas como a Reserva Legal e as reas de Preserva o Permanente O que ficou evidente nas pesquisas de campo das duas comunidades a import ncia do papel do Estado e de outros agentes externos como Articula es ONGs Comiss es etc No Faxinal do Emboque a press o por parte do poder p blico com rela o ao cercamento do criadouro comum n o foi t o enf tica quanto em Aparecida dos Pardos Da mesma maneira em Santa Catarina n o houve uma mobiliza o que gerasse visibilidade ao Sistema Faxinal se comparado ao Paran o que existe s o projetos de melhoramento e viabilidade econ mica visando o aproveitamento das reas de Ca vas passando estas a serem valorizadas CONCLUS O FAXINAIS E CA VAS IDENTIDADES TERRITORIAIS NO CONTESTADO A regi o do Contestado foi cen rio de uma Guerra Civil entre os anos de 1914 1916 cujo entendimento bastante complexo em virtude dos in meros relatos e retratos oficiais cient ficos e populares que ora se complementam mas na maioria das vezes se contradizem Os descompassos v o desde os fatores desencadeantes perpassando pela delimita o temporal chegando at a configura o espacial Entretanto sua indiscut vel import ncia se justifica n o s por ser a respons vel por parte d
187. embros do grupo patriotismo dever regras os ltimos tratam se de pr ticas sociais espec ficas e coercitivas Dessa maneira pode se dizer que as tradi es inventadas s o sintomas importantes e l Ressaltando que o passado hist rico no qual a nova tradi o inserida n o precisa ser remoto perdido nas brumas no tempo HOBSBAWN e RANGER 2006 p 09 10 58 portanto indicadores de problemas que de outra forma poderiam n o ser detectados nem localizados no tempo Elas s o ind cios Idem p 20 Em segundo lugar o estudo dessas tradi es esclarece bastante as rela es humanas com o passado visto que em geral a tradi o inventada utiliza a hist ria como legitimadora das a es e como cimento da coes o grupal At mesmo os movimentos revolucion rios baseavam suas inova es em refer ncia ao passado de um povo Robsbawn e Ranger 2006 ao analisar a inven o da tradi o na frica Colonial assim afirmam Os mais velhos tendiam a recorrer tradi o com o fim de defenderem seu dom nio dos meios de produ o rurais contra a amea a dos jovens Os homens procuravam recorrer tradi o para assegurar que a amplia o do papel da mulher na produ o do meio rural n o resultasse em qualquer diminui o do controle masculino sobre as mulheres como bem econ mico Os chefes supremos e aristocracias dominantes em comunidades que inclu am v rios agrupamentos tnicos e sociais apela
188. en Sahr 2005a apresenta outras caracter sticas do Sistema Faxinal os enquadrando enquanto popula es tradicionais e territ rios sociais a A associa o da pecu ria da agricultura e do extrativismo em um Sistema singular b A partilha do ch o com as terras de criar sendo de uso comum c A pr tica de uma agricultura de subsist ncia com instrumentos tradicionais d A forte conviv ncia e integra o com o meio ambiente atrav s da conserva o da biodiversidade e de culturas de extrativismo e exist ncia de uma hist ria e uma cultura pr pria f A preserva o e o respeito as suas tradi es e aos seus costumes g Apresentam uma vida comunit ria solid ria e de uni o A mesma autora em 2008 ao analisar a forma com que estas popula es tradicionais se inserem no espa o social brasileiro discute a forma com que estas mant m fragmentos das tradi es do passado ao mesmo tempo em que revelam adapta es flex veis a processos externos e modernizadores Quanto a estes processos externos a que foram submetidos L wen Sahr 2008 destaca a O sobreuso dos recursos naturais b A integra o agroind stria fumageira e ervateira c O acolhimento a atividades tur sticas e educativas d A convers o agricultura org nica e A cria o de Unidades de Conserva o 14 Com o intuito de mais bem compreender a din mica do mundo Faxinalense no que diz respeito aos elementos de perman ncia do mund
189. entidade n o puramente imagin ria n o despreza a realidade material e objetiva das experi ncias e pr ticas sociais ela material e simb lica sendo que a constru o das identidades se faz no interior de contextos sociais que determinam a posi o dos agentes e por isso mesmo orientam suas representa es e suas escolhas CUCHE 1999 p 82 Dessa forma n o poss vel dissociar no caso das identidades a natureza simb lica e subjetiva suas representa es e seus referenciais objetivos e materiais a experi ncia social e sua materialidade A afirma o da identidade significa lutar pela especificidade do grupo pelo reconhecimento social da diferen a de seus projetos e interesses distintos portanto ela estrat gica e posicional Havendo diferen a emergem rela es de poder e uma rela o entre o cultural e o pol tico estando estas duas dimens es imbricadas num la o constitutivo na constru o das identidades CRUZ 2007 p 99 Acrescentando que as identidades emergem no interior do jogo de modalidades espec ficas de poder e s o assim mais o produto da marca o da diferen a e da exclus o do que o signo de uma unidade id ntica naturalmente constru da HALL 2005 p 109 Assim sendo a constru o das identidades est conectada com as rela es de poder onde seus significados s o constru dos contestados e negociados e s pode ser compreendida de maneira estrat gica e posicional e
190. eogr fico S o Paulo Editora UNESP 2004 STRAUBE K von K A estrutura o s cio espacial do sistema tropeiro o caso do caminho das tropas entre Palmas e Uni o da Vit ria PR 2007 118 f Disserta o Mestrado em Geografia Setor de Ci ncias da Terra da Universidade Federal do Paran Curitiba 2007 STRRUCH L M de M Contribui o ao estudo geogr fico da Erva mate In Revista Brasileira de Geografia IBGE Ano XVII n 01 Janeiro Mar o de 1955 p 94 106 TAVARES L A Campesinato e os Faxinais do Paran as terras de uso comum 2008 756 f Tese Doutorado em Geografia Humana Universidade de S o Paulo Departamento de Geografia S o Paulo 2008 THOM N Civiliza es primitivas do Contestado IUL Impressora Universal Ltda Ca ador Santa Catarina 1981 THOM N Sangue suor e l grimas no Ch o Contestado Ca ador INCON Edi es Unc 1992 TOMASI T Espacialidades intera es e redes sociais uma an lise a partir da Comunidade Quilombola de Santa Cruz Ponta Grossa PR 2013 205f Disserta o Mestrado em Geografia Universidade Estadual de Ponta Grossa Ponta Grossa UEPG 2013 T NIES F Comunidade e sociedade como entidades t pico ideais In FERNANDES F Org Comunidade e sociedade leituras sobre problemas conceituais metodol gicos e de aplica o S o Paulo Editora Nacional e Editora da USP 1973 p 96 116 232 TONON E A for a da tradi o
191. epara esse conjunto de outros espa os que tamb m integram a morada denominados de mangueiras ou mangueir es locais de engorda de porcos ou cativeiro para animais daninhos Muito embora o espa o f sico seja organizado coletivamente para a cria o de animais h que se respeitar a propriedade particular dessa forma apenas o propriet rio da terra pode extrair a erva mate a lenha ou qualquer arbusto de sua terra p 65 Assim sendo Nerone 2000 salienta elementos que diferenciam os Faxinais de outros espa os rurais socioespaciais a distin o entre as terras de plantar e as terras de criar a diferencia o entre propriedade e uso das terras e os sistemas de cercas porteiras e mata burros Salienta ainda os elementos socioculturais o uso coletivo da terra as rela es de compadrio e mutir o a medicina e a religiosidade popular Tavares 2008 coloca que a g nese do Sistema Faxinal encontra se na alian a entre ndios fugitivos do sistema de peonagem das miss es ou redu es jesu ticas e dos aldeamentos da escravid o dos bandeirantes paulistas e dos negros africanos fugitivos que se dispersaram e formaram quilombos Enquanto elementos fundantes do Sistema no in cio do s culo XVII o autor define a jun o da pr tica de terras de uso comum dos ndios a pr tica da cria o de animais dos negros africanos mais a pr tica da extra o da erva mate por ambos os sujeitos sociais p 384 Tavares 2008 desta
192. epresenta es territoriais nesses contextos HAESBAERT 2007 p 55 65 A identidade territorial toma por base num contexto complexo alguns fatores como a diferencia o social as institucionalidades a diferencia o cultural as divis es pol tico administrativas as diferencia es econ micas e a mobilidade da popula o HAESBAERT 2007 p 46 Nestas proposi es os fatores de diferencia o social econ mica e cultural dos espa os s o vistos tanto no sentido das diferen as de grau das desigualdades sociais e tamb m das diferen as qualitativas como religi o l ngua etnia entre outros As institucionalidades e as divis es pol tico administrativas comp emm tamb m a densidade hist rica e o ltimo elemento o dos n veis da mobilidade da popula o vinculado ao incremento da mobilidade essencial para o entendimento das identidades territoriais contempor neas visto atrav s das identidades territoriais no e pelo movimento idem Haesbaert 2008 coloca que uma das caracter sticas das identidades territoriais a possibilidade de serem constru das atrav s de s mbolos deslocados no tempo e at no espa o destacando o apelo s fontes tradicionalmente mobilizadas enfatizando a import ncia de se considerar duas dimens es nessas an lises a Hist rica cuja mem ria social alicer a se em vultos hist ricos representativos forjando se uma dimens o her ica a partir da reconstru o de um p
193. er reflexivo isto identificar se implica sempre identificar se com num sentido relacional dial gico e a identidade por mais essencializada que pare a justamente por seu car ter simb lico sempre m ltipla e ou est aberta a m ltiplas reconstru es p 42 Somando se a isto Hall 2005 coloca que Todas as identidades est o localizadas no tempo e no espa o simb licos Elas t m aquilo que Edward Said chama de suas geografias imagin rias suas paisagens caracter sticas seu senso de lugar de casa lar de heimat bem como suas localiza es no tempo nas tradi es inventadas p 71 72 Ao exemplificar utilizando se da cultura nacional Hall 2005 afirma que esta composta n o somente pelas institui es culturais mas tamb m por s mbolos e representa es sendo tamb m um discurso ou seja um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas a es quanto a concep o que temos de n s mesmos p 50 E ao produzir sentidos sobre a na o constroem identidades na medida em que permitem os processos de identifica o Buscando explicar a maneira com que contada a narrativa da cultura nacional o autor mesmo considerando a abrang ncia da resposta seleciona cinco elementos principais para a discuss o afirma que cada movimento social apelava para a identidade social de seus sustentadores p 45 como o feminismo s mulheres a pol tica
194. erca da Guerra do Contestado poss vel encontrar in meros termos que se reportam ao acontecimento Guerra conflito campanha embate entre outros entretanto na presente pesquisa optou se por utilizar o termo Guerra 97 Thom 1981 coloca que o termo Contestado para os leigos pode ter v rios significados Ftimologicamente se liga ao verbo contestar que encerra sempre uma discuss o de pontos de vista diferentes sobre um mesmo assunto Historicamente a palavra denomina vasta regi o do Sul do Brasil entre os rios Igua u e Uruguai situada no Paran e em Santa Catarina que at 1917 era disputada pelos dois Estados p 06 O Ex rcito no seu combate aos caboclos armou uma a o militar que denominou de Campanha do Contestado Assim sendo a Guerra do Contestado pode ser definida como um epis dio complexo pois alimentado por v rios fatores que se entrela am sejam de ordem social pol tica econ mica cultural ou religiosa FRAGA 2006 p 64 Tratou se de um conflito de ideias representa es e tamb m embates armados do qual foram sujeitos sitiantes agregados coron is pol ticos das esferas estaduais e federais for as policiais militares estaduais ex rcito vaqueanos trabalhadores da ferrovia oper rios da Lumber e imigrantes TONON 2010 p 39 Nas palavras de Fraga 2005 o Contestado reuniu no mesmo tempo e no mesmo espa o geogr fico mais
195. erra torne se agricult vel a cobertura vegetal precisa ser removida e neste sentido o imigrante ao colonizar e come ar a explorar seus lotes de terra contribui para a extra o das matas Por m apesar dessa contribui o negativa muitas col nias de imigrantes passaram a assimilar a forma de criar solta e o Sistema Faxinal consolida se na regi o Souza 1998 afirma que os imigrantes que se instalaram na regi o norte de Santa Catarina foram aos poucos interiorizando se fixando se nas matas mistas e integrando se completamente atividade ervateira p 26 Acredita se ser nesse momento em que os faxinais talvez pela influ ncia imigrante passam a criar os animais cercados na rea do criadouro e n o mais completamente soltos pela floresta Come am a surgir as porteiras e os mata burros para proteger as reas de plantar da invas o da cria o e as Matas Mistas passam a ser cada vez mais exploradas b Extra o inadequada da erva mate Chang 1988 destaca que entre 1890 e 1930 a economia do estado do Paran passa a ser conduzida principalmente pela atividade ervateira sendo que os munic pios de maior produ o coincidiam exatamente com os munic pios que apresentavam o Sistema Faxinal No caso de Santa Catarina Souza 1998 ao analisar os processos de produ o e transforma o da erva mate mais especificamente no Planalto Norte Catarinense destaca que a ocupa o dessa regi o tamb m teve como elemento centra
196. ert 2007a afirma que o territ rio constru do no jogo entre material e imaterial funcional e simb lico propondo analisa lo a partir da s perspectiva que valoriza as rela es e os processos o territ rio num sentido relacional e processual devendo se mesmo falar mais em processos de territorializa o do que em territ rio como entidade estabilizada m ltiplas temporalidades e velocidades nas quais ele pode ser constru do desde os territ rios com maior fixidez e estabilidade at aqueles mais m veis e flex veis conjuga o entre ou num continuum que se estende desde os territ rios mais funcionais at aqueles com maior carga ou poder simb lica o p 37 38 Assim sendo n o h territ rio sem algum tipo de identifica o e valora o simb lica positiva ou negativa do espa o pelos seus habitantes HAESBAERT 1999 p 172 e neste mundo onde a cultura encontra se presente em todas as esferas da vida o territ rio se v cada vez mais inserido e mergulhado nas tramas de um poder simb lico 43 Esta an lise dos conceitos de territ rio e territorialidade necess ria visto que alguns autores numa vis o mais estreita reduzem a territorialidade dimens o simb lico cultural do territ rio especialmente no que tange aos processos de identifica o territorial HAESBAERT 2007a p 40 Para Haesbaert a territorialidade algo abstrato mas n o no sentido que a red
197. ertanejos ou capturados nas fazendas dos inimigos p 210 caracter sticas parecidas com o atual Sistema Faxinal Nas bordas da regi o contestada e numa associa o ao modo de vida Faxinalense Breves 1985 coloca que os caboclos que habitavam a regi o de Chapec SC geralmente iam fazer suas ro as beira de uma sanga ou rio h l guas de dist ncia Isto para n o serem obrigados a fazer cercas e poderem ter seus cavalos e vaca quanto a tinham perto de casa p 21 22 Tal relato permite associar o modo de vida descrito com a l gica das terras de plantar que ficavam distantes das resid ncias e com as terras de criar do criadouro comunit rio caracter sticas principais do Sistema Faxinal Tonon 2009 afirma que o modo de vida Faxinalense na poca do Contestado contrariava o ide rio das elites republicanas A Proclama o da Rep blica o governo controlado por coron is a chegada dos imigrantes a implanta o da ferrovia e a extra o madeireira contribu ram para gerar uma nova conjuntura pol tica econ mica e social que era desfavor vel e excludente para o sertanejo ao qual restava resistir e morrer ou fugir para outros rinc es com poucas quinquinharias e muita esperan a sic p 324 Tonon 2009 ainda questiona e os descendentes Segundo ele est o pulverizados em todo o territ rio do acontecimento nas cercanias das cidades empobrecidos nas reas rurais como meeiros
198. es de Conserva o ou reas protegidas ou ainda mananciais para abastecimento de munic pios vizinhos As unidades de conserva o s o as reas de preserva o ambiental esta es ecol gicas parques reservas florestais florestas hortos florestais reas de reservas ind genas rea de relevante interesse de leis ou decretos federais estaduais ou municipais de propriedade p blica ou privada reda o dada pela Lei Complementar n 67 de 08 de Janeiro de 1993 A Lei do ICMS Ecol gico ou Lei dos Royalties Ecol gicos o nome que se d Lei Complementar n 59 de 1 de outubro de 1991 aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Paran 71 comunit rios segundo as mesmas caracter sticas do Sistema Faxinal ainda que o criadouro n o seja historicamente denominado Faxinal Entende se por D FAXINAL territ rio tradicional onde praticado o sistema de produ o campon s tradicional estrat gico para reprodu o social de grupos culturalmente distintos dotados de identidade pr pria e reconhecidos como comunidades tradicionais Faxinalenses um sistema t pico da regi o da Floresta Ombr fila Mista Floresta da Arauc ria que tem como tra o marcante o manejo coletivo da terra e de seus recursos naturais de modo interdependente conserva o ambiental Fundamenta se em a cultura pr pria la os de solidariedade comunit ria e preserva o de suas tradi es e pr ticas sociais incluindo o controle s
199. expressa por meio de um criadouro comunit rio em pastagens coletivas com uma cultura pr pria e um comportamento singular que os distingue das outras localidades e munic pios paranaenses p 134 135 Tendo isto considerado torna se necess rio um olhar mais aprofundado sobre estas comunidades com vistas a compreender sua din mica e organiza o atrav s da complementa o aos elementos identit rios regionais propostos por Chang 1988 A sele o dos elementos identit rios socioespaciais e socioculturais que complementam a territorialidade do Sistema Faxinal a ser pesquisada na regi o do Contestado foi elaborada partindo da Tese de Nerone 2000 que foi constru da empiricamente a partir do Faxinal de Marmeleiro de Baixo localizado no munic pio paranaense de Rebou as e consiste na metodologia aqui utilizada para a an lise na escala da comunidade Para a autora o Sistema Faxinal compreendido como uma forma de organiza o rural baseada na produ o animal no espa o coletivo criadouro comum produ o agr cola e extra o da erva mate elementos j apontados por Chang 1988 entretanto possuidor de outros elementos socioespaciais como a distin o entre as terras de plantar e as terras de criar a diferencia o entre a propriedade e o uso das terras o sistema de cercas porteiras e mata burros elementos que diferenciam o Sistema de outras propriedades rurais e o uso coletivo da terra as rela es de compadrio e
200. fica que valorizasse sua territorialidade os criadouros comuns se desarticularam levando consigo as mais essenciais pr ticas comunit rias de uso da terra Por outro lado quando se considera a quest o das terras tradicionalmente ocupadas que expressam uma diversidade de formas de exist ncia coletiva de diferentes povos e grupos sociais em suas rela es com os recursos da natureza ALMEIDA 2008 p 25 nota se que ap s 1988 quando o termo foi inserido na Constitui o Federal Brasileira referindo se a quest o ind gena seu significado vem sendo constantemente ampliado sobretudo com o advento das identidades coletivas tornando se um preceito jur dico marcante para a 216 legitima o de territorialidades espec ficas e etnicamente constru das p 48 Acerca dos Faxinais Almeida 2009 relacionando os com as terras tradicionalmente ocupadas ao aproxim los da situa o das terras soltas ou abertas mencionando inclusive al m do Paran o estado de Santa Catarina pelo fato destes segundo o autor constitu rem extens es delimitadas para o pastoreio de acordo estabelecido pelos detentores dos t tulos em sua maior parte pequenos propriet rios p 55 Portanto ao se considerar o princ pio das terras tradicionalmente ocupadas pode se afirmar que a comunidade catarinense de Aparecida dos Pardos um Faxinal assim como in meras outras comunidades do interior de Irine polis e de outros munic pios do estado
201. foram contribuindo para o desenvolvimento social econ mico e cultural do Paran e de Santa Catarina respectivamente Estes imigrantes atra dos pela propaganda brasileira encontraram em terras da regi o do Contestado um ambiente f sico natural diferente do de seu pa s de origem e tamb m uma popula o local culturalmente distinta Sem o apoio por parte do governo e deparando se com situa es adversas estas duas frentes foram mesclando conhecimentos e sobrevivendo do que as Matas Mistas ofereciam Logicamente essa intera o n o se deu sem conflito Entretanto a sobreviv ncia coletiva exigia que tanto o polon s quanto o caboclo fossem se adaptando s novas condi es o primeiro ao ambiente diferenciado e o segundo ao fato de se encontrar cada vez mais 200 espremido entre as cercas e a diminui o de suas terras O Cap tulo 3 j caracterizou o modo de vida dos caboclos na regi o do Contestado assim como os Cap tulos 4 e 5 j forneceram algumas informa es acerca da imigra o polonesa Entretanto faz se necess ria uma breve reflex o acerca da intera o regional destes dois grupos distintos Chang 1988 destaca que os movimentos migrat rios no final do s culo XIX e in cio do s culo XX eram resultantes de uma conjuntura social de car ncia de m o de obra para a agricultura de exporta o e da necessidade de pequenos propriet rios produtores de lavoura de subsist ncia p 32 Mais precisamen
202. gens naturais ou artificializadas que servem para o pastejo animal e o extrativismo coincidindo na maior parte das vezes com espa os que correspondiam anteriormente aos criadouros comuns dos antigos Faxinais Discute se ainda a territorialidade dos condicionantes humanos atrav s da rela o entre caboclos imigrantes poloneses e a constru o de sua identidade territorial comunit ria 6 1 A TERRITORIALIDADE DOS CONDICIONANTES NATURAIS A caracteriza o do Faxinal do Emboque e da comunidade de Aparecida dos Pardos permitiu observar mais localmente as aproxima es e os distanciamentos entre o Sistema Faxinal evidenciado no estado do Paran e as reas de Ca va aproveitadas em Santa Catarina entretanto identificaram se certas discord ncias conceituais entre ambos Assim sendo neste momento se torna necess ria uma regionaliza o contempor nea dos condicionantes naturais com o intuito de refletir sobre a situa o das Matas Mistas e sua rela o com os Faxinais e as Ca vas culminando com uma discuss o mais espec fica sobre o aproveitamento econ mico destas ltimas na regi o 6 1 1 A situa o das Matas Mistas Para que se possa compreender a manuten o ou desagrega o do Sistema Faxinal e das reas de Ca va no Contestado torna se necess rio considerar a situa o das Matas Mistas 182 tendo em vista que este um dos condicionantes naturais essenciais para a exist ncia destas pr ticas Para tanto h
203. he adoption of distinct concepts of the Faxinal System ranging from the necessary existence of breeding land and cultivation land to the question of traditionally occupied land In the same way some of the community and traditional practices which were no longer used were reinvented to strengthen the identities of the groups which seek recognition evolving from a resistance identity to an identity of projection of struggle In Santa Catarina on the other hand the absence of public policies of their own and the lack of action by the popular movements have contributed to the disaggregation and or disarticulation of the System considering that the community based breeding nowadays exists only in small family groups It is a resistance identity which hasn t noticeably engaged in the political game of articulations which recognize traditionality and territoriality What exists in the catarinense portion of the Contestado these days are fragments which testify the existence in the past of the Faxinal System especially in the so called Ca vas While the search for a territorial faxinalense identity becomes stronger in the State of Paran in Santa Catarina these areas which no longer count on community based breeding land are being researched and valued envisaging the economical improvement of the Ca vas areas whose use is private and no longer community based Finally it is convenient to emphasize the undeniable
204. hung des Faxinal Waldweidesystems der Hochlinder von Paran Siidbrasilien m Selbstverlagdes Geographischen Instituts der Universit t Heidelberg 2009 ELIAS D Globaliza o e agricultura S o Paulo EDUSP 2003 FELISBINO P A FELISBINO E Voz de caboclo a saga do Contestado revivida nas lembran as dos sobreviventes do reduto de Taquaru u Florian polis Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina 2002 FERNANDES B M Entrando nos territ rios do territ rio In PAULINO E T FABRINI J E Orgs Campesinato e territ rios em disputa 1 ed S o Paulo Express o Popular UNESP Programa de P s Gradua o em Geografia 2008 Geografia em Movimento p 273 301 F ETSCH A A LUDKA V M Pesquisa qualitativa enquanto ferramenta para compreender o modo de vida Faxinalense In XXI Encontro Nacional de Geografia Agr ria Territ rios em disputa Os desafios da Geografia Agr ria nas contradi es do desenvolvimento brasileiro Anais Uberl ndia Minas Gerais 15 a 19 de outubro de 2012 Artigo completo FONSECA P A V Forma o do ga cho Passo Fundo 1982 FRAGA N C Contestado A Grande Guerra Civil Brasileira In SCORTEGAGNA A REZENDE C J TRICES R I Orgs Paran Espa o e Mem ria diversos olhares hist rico geogr ficos Curitiba Ed Bagozzi 2005 p 228 255 FRAGA N C Mudan as e perman ncias na rede vi ria do Contestado Uma abordagem acerca da forma o te
205. iais caboclos e imigrantes a cria o extensiva especialmente o tropeirismo do porco e a policultura alimentar de subsist ncia parte se para uma an lise da territorialidade de cada um destes elementos na regi o do Contestado Inicialmente constr i se uma percep o da regi o do Contestado compreendendo a enquanto uma territorialidade plural e flu da o que se faz poss vel a partir da sele o das bibliografias mapas e relatos Tais narrativas viabilizam perceber as caracter sticas da regi o e da Guerra tendo como pano de fundo os pr prios elementos que caracterizam o Sistema Faxinal Este posicionamento se justifica na ampla gama de possibilidades anal ticas acerca do que foi e o que representou a Guerra do Contestado para a regi o envolvida sendo necess rio o desenvolvimento de uma leitura mais direcionada aos objetivos da pesquisa sustentando as argumenta es Assim sendo apresentam se brevemente algumas das in meras possibilidades de se compreender tanto a Guerra do Contestado quanto as consequ ncias dela para a regi o evidenciando a multiplicidade de olhares acerca do assunto Em seguida analisa se mais detalhadamente o termo Contestado com vistas a compreender os limites desta espacialidade na regi o Sul do Brasil pontuando se a localiza o geogr fica e fazendo se uma refer ncia preliminar s rela es j estabelecidas pela literatura espec fica entre o conflito e a regi o para com o Sistema Faxinal Pr
206. ias que hoje encontram se para conversar comunitariamente somente nos dias de culto missa e celebra es como casamentos batizados e inclusive vel rios Uma pr tica religiosa ainda presente na comunidade a passagem da Capelinha de Nossa Senhora de F tima que fica cada dia em uma casa e alguns dias na Igreja de Aparecida dos Pardos Durante a visita da Capelinha a fam lia tradicionalmente se re ne faz uma ora o e oferece uma quantia em dinheiro que utilizada para a manuten o da Igreja A Foto 46 retrata a Capelinha de Nossa Senhora de F tima Foto 46 Capelinha de Nossa Senhora de F tima que percorre diariamente as resid ncias na comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Fonte Acervo da autora 2014 8 J V N 53 anos Entrevista 08 de maio de 2014 Irine polis SC Entrevistadora Alcimara Aparecida F etsch Acervo da autora 2014 179 A passagem da Capelinha pelas casas representa um momento de ora o e reflex o al m disso o momento em que as fam lias se visitam para passar de casa em casa a imagem da Santa Os moradores n o sabem informar quem escolheu Nossa Senhora de F tima para ser a imagem da Capelinha por m muitos lembram das Miss es Cat licas que estiveram presentes na comunidade a anos atr s e acreditam que naquele momento decidiu se por essa Santa Assim como no Faxinal do Emboque em Aparecida dos Pardos tamb m poss vel encontrar as imagens dos Santos Padroeiros nas
207. ias sociais nivelar as pessoas e prezar por um trato igualit rio Para a autora o viver no Faxinal sempre esteve bem evidente a liga o simb lica com a terra da GUBERT FILHO F A Faxinal estudo preliminar Revista de Direito Agr rio e Meio Ambiente Curitiba ITCF n 01 a 2 p 32 40 agosto de 1987 83 qual se extrai direta ou indiretamente a subsist ncia e onde forjada a forma de ser e existir dos seus membros Idem p 102 Sob o esp rito comunit rio desenvolvem se nos Faxinais os chamados puxir es tamb m chamado de pixirum ou pitoco Trata se de uma manifesta o de solidariedade envolvendo o trabalho comunit rio que n o tinha data pr fixada e surgia da necessidade do trabalho com a ro a capinagem ro ado semeadura colheita da manuten o das cercas e dos port es Ap s cumprir sua fun o social agregado ao trabalho vinha o lazer o dono do convite oferecia alimenta o m sica e baile Nesta viv ncia as cercas coletivas e os port es do criadouro foram solu es estabelecidas por acordos individuais de uma experi ncia de sociabilidade comunit ria consistente cuja racionalidade perdura a mais de um s culo permitindo o surgimento de uma tradi o em que o coletivo e o individual se fundem originando um fundo comum um verdadeiro patrim nio cultural Idem p 167 marcado por um equil brio social e ecol gico Acerca dos tipos de propriedade no Sistema Faxinal
208. idade neste caso entende se um grupo de pessoas dentro de uma rea geogr fica limitada que interagem dentro de institui es comuns e que possuem um senso comum de interdepend ncia e integra o SHORE 1996 p 115 116 Por m um conjunto de indiv duos vivendo e interagindo dentro de um mesmo territ rio n o constituem em si mesmos comunidades particularmente se esses indiv duos n o se considerarem como tal Sendo assim o que une uma comunidade n o sua estrutura mas um estado de esp rito um sentimento de comunidade Nesta discuss o acerca do conceito de comunidade Ferdinand T nnies 1935 1973 ao analisar as comunidades e as sociedades como entidades destaca que a exist ncia de processos comunit rios estaria ligada a la os de sangue unidade de exist ncia aproxima o espacial lugar habita o comum e aproxima o espiritual atividade em comum sendo que aonde quer que os seres humanos estejam ligados de forma org nica pela vontade e se afirmem reciprocamente encontra se alguma esp cie de comunidade Ou seja a vida comunit ria est na comunh o de pensamentos e ideais Tanto no Faxinal do Emboque quanto na comunidade de Aparecida dos Pardos os la os comunit rios de sangue de aproxima o espacial e de aproxima o espiritual est o presentes Nota se em ambas o sentimento de pertencimento de perman ncia de territorialidade e uma forma pr pria de comunica o L wen Sahr 2008 a
209. ide pad a pense pianlsa Ads RSS aqua Plantas medicinais Mateus do SUPR si desleal a i Plantas medicinais Ma t s do SUP Renee a a a A de Plantas medicinais Mateus do Sul PR nossiunnnnosnesannnsiuinutin inniinn Detalhe das capelinhas em homenagens aos santos existentes em uma resid ncia no Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Cruzeiro do Monge Jo o Maria no Faxinal do Emboque S o Mateusdo SUZPR esia e n a a a aa E SSi Comunidade do Taquarussu no interior do Faxinal dos Carvalhos munic pio de Fraiburgo Santa Catarina Vegeta o de Matas Mistas com ervais nativos na comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Vegeta o de Matas Mistas com ervais nativos na comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC 139 140 141 142 142 142 146 146 146 146 146 147 152 157 13 FOTO 28 FOTO 29 FOTO 30 FOTO 31 FOTO 32 FOTO 33 FOTO 34 FOTO 35 FOTO 36 FOTO 37 FOTO 38 FOTO 39 FOTO 40 FOTO 41 FOTO 42 FOTO 43 FOTO 44 FOTO 45 FOTO 46 FOTO 47 Planta de Terreno da Southern Brazil Lumber and Colonization na comunidade de Rio dos Pardos reeeeas Casa polaca na comunidade de Pardos Irine polis 50 ssa ira n a DS sua das U Saad E Cs cru E da o Aparecida dos Ro a de milho na comunidade de Aparecida dos Pardos Espa o destinado horta caseira e as estufas d
210. idiu e demarcou os lotes A Foto 28 ilustra uma das muitas Plantas de Terreno que foram elaboradas para demarcar as terras pela Southern Brazil Lumber and Colonization Filo Chordata Classe Mammalia Ordem Artiodactyla Fam lia Cervidae Distribui se por todo o Brasil desde a margem direita do rio Amazonas at o Estado do Rio Grande do Sul A esp cie utiliza v rios ambientes florestais prim rios e secund rios incluindo reas de campos pr ximas a matas de galeria at florestas desde o n vel do mar at 5 000 metros de altitude preferindo a proximidade de corpos d gua CIMARDI 1996 Abriga se na vegeta o fechada podendo refugiar se dentro da gua por ser um grande nadador Ocupa reas com floresta estacional semidecidual Floresta Ombr fila Mista e Floresta Ombr fila Densa ROSSI 2000 161 FOTO 28 Planta de Terreno da Southern Brazil Lumber and Colonization na comunidade de Rio dos Pardos datado de 03 11 1927 Fonte D M 2014 Foto Acervo da autora 2014 Interessante perceber a partir da Planta de Terreno destacada na Foto 28 que a mesma foi elaborada por Eurico Borges dos Reis engenheiro da companhia de coloniza o na comunidade de Val es atual munic pio de Irine polis SC por m no canto direito inferior da imagem poss vel notar que o lugar ainda chamava se Rio dos Pardos pertencendo ao munic pio de Ouro Verde atual Canoinhas SC Durante a pesquisa de campo e a conversa com os m
211. ido Porto Alegre passando por Laguna Florian polis Itaja Joinville e Curitiba p 141 ou seja estes caminhos cortavam tamb m a regi o do Contestado Bach 2009 esclarece que o termo tropeirismo usado para muares equinos e bovinos em marcha estendeu se s varas de porcos conduzidas a p a longas dist ncias p 14 destacando ainda que o aumento da popula o brasileira e a comercializa o da banha foram fatores determinantes pra expans o do ciclo do tropeirismo de porcos assim narra o autor As tropeadas ocorriam entre os meses de junho e setembro quando a safra do pinh o havia terminado bem como as ro as de milho e os porcos estavam gordos Eram tropas de at mil porcos conduzidas a p ou a cavalo percorrendo de 6 a 7 quil metros por dia passando por caminhos sinuosos picadas e atalhos margeando os rios Da comitiva faziam parte o condutor respons vel pela viagem os tocadores que cuidavam das talhas o chamador e o cozinheiro Havia tamb m c es treinados para o resgate dos porcos chamados c es porqueiros frente ia uma carro a levando milho e todos os apetrechos para a viagem BACH 2009 p 14 Vinhas de Queir s 1977 atesta que a abertura do caminho por terra entre Rio Grande e S o Paulo veio a inaugurar uma fase nova na explora o da campanha ga cha p 23 sendo que at depois da Independ ncia quase at o fim do Imp rio a Estrada de Tropas o Caminho do Sul a Rota dos Se
212. ido para a coleta da erva e a n o exist ncia de outras atividades rendosas que mantivessem ocupada a for a de trabalho nos meses restantes conduziram ao assalariamento tempor rio da for a de trabalho refor ando a implanta o do modo capitalista de produ o CHANG 1988 p 33 19 ainda que os munic pios de maior concentra o do mate coincidem exatamente com os munic pios onde apresentam o Sistema Faxinal p 49 No Sistema Faxinal quando se finda a colheita do mate a popula o volta se para a agricultura de subsist ncia atrav s do preparo das ro as Essa agricultura de subsist ncia consiste numa policultura alimentar na qual destacavam se as culturas de feij o milho arroz batata mandioca e cevada CHANG 1988 p 64 cujas pr ticas envolviam o pousio geralmente associado ao uso do fogo e a rota o de terras Assim sendo Chang 1988 acredita que as condicionantes f sicas e naturais da regi o contribu ram decisivamente para a expans o do Sistema Trata se da regi o que a autora define como sendo o Paran Velho mais especificamente a regi o Centro Sul do estado onde se verifica as reas de Matas Mistas com campos na qual se tem a presen a not vel das Arauc rias e dos ervais nativos A atividade pecu ria tamb m uma forte marca regional Chang 1988 coloca que essa atividade s ganhou dimens o e fei o em resposta descoberta de ouro em Minas Gerais no final do s culo XVII cujo
213. ignificaci n social y territorio aproximaciones metodol gicas In Revista Terra Plural Ponta Grossa v 5 n 2 jul dez 2011 p 169 178 NERONE M M Terras de Plantar Terras de Criar Sistema Faxinal Rebou as 1950 1997 2000 286f Tese Doutorado em Hist ria Programa de P s Gradua o da Faculdade de Ci ncias e Letras da Universidade Estadual Paulista Campus de Assis S o Paulo 2000 NOVAK R FAJARDO S Desintegra o e resist ncia do sistema faxinal em Itapar Irati PR UNICENTRO Revista Eletr nica Lato Sensu Irati 2008 p 1 12 OLIVEIRA B de Planaltos de frio e lama os fan ticos do contestado o meio o homem a guerra ensaio de hist ria Florian polis FCC 1985 OLIVEIRA D Urbaniza o e industrializa o no Paran Curitiba SEED 2001 Cole o Hist ria do Paran textos introdut rios PARAN Lei Complementar n 59 de 1 de outubro de 1991 Lei do ICMS Ecol gico ou Lei dos Royalties Ecol gicos PARAN Decreto Estadual n mero 3 446 1997 Cria as reas Especiais de Uso Regulamentado ARESUR no Estado do Paran e d outras provid ncias PARAN SEMA Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos H dricos Floresta com Arauc ria Volume 4 S rie Ecossistemas Paranaenses 2010 38 p PARAN IAP Instituto Ambiental do Paran Portaria n 34 de 25 de fevereiro de 2011 PEIXOTO D Campanha do Contestado Epis dios e Impress es Rio
214. igoto e Sochodolak 2009 utilizam se dos relatos sobre as incurs es do capit o Tertuliano de Albuquerque Potyguara janeiro de 1915 na regi o de Canoinhas SC para eliminar qualquer d vida acerca da rela o entre os redutos de Canoinhas com o Sistema Faxinal n o excluindo a possibilidade da exist ncia de Faxinais fora dos redutos Os autores afirmam que os redutos de Santo Ant nio e Timbozinho eram aglomera es de casas em torno de uma pequena igreja com um grande cruzeiro no centro da pra a p 208 Acrescentam ainda que as reas das planta es bem como o n mero de animais necess rios para a alimenta o variavam de acordo com o tamanho dos redutos durante a Guerra Por outro lado ao analisarem as proposi es de Peixoto 1995 os autores afirmam que podem ser evidenciadas semelhan as entre alguns redutos e o Sistema Faxinal sendo que no caso do Timbozinho s o tomados inclusive como sin nimos Peixoto 1995 j se referia a um Faxinal do Timbozinho p 36 na mesma regi o Fato que os caboclos criavam animais em cercamento e aproveitavam limites naturais como barreiras O autor destaca ainda que os redutos dos sertanejos do Contestado tamb m podem ser considerados como varia es do sistema de cria o extensiva praticada nas matas de pinheirais p 211 Carvalho 2008 afirma que se pode dizer que existia entre os moradores da regi o do Contestado uma economia moral baseada no ap
215. ilhado s o marcados por c digos espec ficos p 84 que s o c digos de auto identifica o como os cones e a geografia do local No caso das duas comunidades em quest o o agrupamento comunit rio foi a forma mais adequada encontrada para aproveitar se dos condicionantes f sico naturais e defender se dos conflitos sociais da regi o do Contestado Vivendo coletivamente ficou mais f cil tanto para os imigrantes poloneses defenderem se do mundo hostil adaptando se quanto para os caboclos sobreviverem e resistirem marginaliza o social que foram submetidos Neste sentido percebe se a transi o das identidades de resist ncia para as identidades de projeto CASTELLS 1999 Nestas considera es pode se dizer que no caso do Sistema Faxinal a identidade foi moldada inicialmente enquanto resist ncia partindo do retomar de antigas mem rias e pr ticas coletivas por m ao se refletir mais profundamente sobre a identidade contempor nea destes percebe se que s o fruto justamente do di logo entre o universal global e o local particular Isso porque n o se trata de uma identidade est tica posta em uma por o de espa o atemporal se tratam de comunidades din micas que v m ao longo do tempo sendo moldadas tanto por novos atores sociais quanto por novas necessidades pol ticas No Emboque a identidade de resist ncia pautada na l gica do Sistema Faxinal evoluiu para uma identidade de projeto ao passo que se desenvolveu uma m
216. im 156 157 Na Imagem 03 destacada anteriormente existe uma inscri o pr xima Capela Nossa Senhora Aparecida se referindo ao lugar como Fazenda dos Pardos Por m nas pesquisas de campo realizadas os moradores desconhecem a exist ncia dessa fazenda afirmando que a comunidade sempre foi composta por lotes individuais existindo apenas fazendas vizinhas como a Fazenda Tomasi Com o intuito de fornecer mais detalhes acerca deste ambiente f sico natural mais especificamente do tipo de vegeta o presente na comunidade apresentam se as Fotos 26 e 27 que permitem visualizar os detalhes em quest o 4 Ee ao RE peca od FOTO 26 Vegeta o de Matas Mistas com ervais nativos na comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Obs Notar a presen a da Araucaria angustifolia e da Ilex paraguariensis Fonte Acervo da autora 2014 A Foto 26 comprova a exist ncia na comunidade at os dias atuais dos ervais nativos importante fonte de renda no passado e no presente Hoje s o combinados tamb m com os ervais plantados tendo em vista um mercado promissor para o produto existindo inclusive interessantes propostas para a utiliza o destas reas que s o conhecidas localmente como Ca vas ou seja fragmentos da Floresta Ombr fila Mista com diferentes densidades arb reas e cujo estrato herb ceo formado por pastagens nativas ou naturalizadas utilizadas para pastejo animal A Foto 27 contri
217. inal destaca que os primeiros moradores eram os brasileiros de sobrenome Pacheco e Espindola Dessa maneira e considerando a forma o de outras comunidades pr ximas a este Faxinal pode se concluir que o Emboque tamb m teve a g nese do Sistema com os caboclos Os moradores relatam que ouviram hist rias dando conta da passagem de alguns imigrantes alem es na regi o do Emboque que por n o terem se adaptado ao lugar se dirigiram a outros Entretanto ambos os entrevistados ressaltam que a consolida o do Sistema Faxinal no Emboque s ocorreu com a chegada dos primeiros poloneses que adquiriram essas terras doadas pelo governo que antes pertenciam aos caboclos A chegada dos poloneses acompanha o processo de coloniza o ocorrido no munic pio de S o Mateus do Sul cidade que ficou conhecida como a capital polonesa no Brasil resultado da vinda de aproximadamente 2 000 fam lias chefiadas por Sebasti o Edmundo Saporski 127 TAROCHINSKI 2001 Essa chegada a S o Mateus do Sul se deu por volta dos anos de 1890 IBGE 2013 Estes imigrantes eram formados pelas seguintes fam lias Yavorski Ianoski Przivitowski Chuchewski Wenglarek Grabowski As cercas que delimitariam o espa o do criadouro comunit rio somente seriam constru das na d cada de 1930 visto que antes disso a rea do criadouro era segundo os relatos obtidos atrav s das entrevistas realizadas com moradores do local de cerca de 2 000 alqueires abrangendo
218. inal do Emboque tamb m foi poss vel constatar que a pr tica da cria o extensiva do porco t o antiga ao ponto dos entrevistados nem se lembrarem de quando ela come ou e afirmarem ter sido herdada de seus antepassados O ltimo elemento regional apontado por Chang 1988 a ser evidenciado no Faxinal do Emboque diz respeito pr tica da policultura alimentar de subsist ncia Como j discutido no cap tulo anterior era pr tica comum nas comunidades rurais a chamada ro a cabocla que visava inicialmente o cultivo dos produtos agr colas para o autoconsumo e a venda do excedente A evid ncia maior de que este elemento existiu nas comunidades Faxinalenses do Paran justamente a exist ncia das terras de plantar que at hoje fazem parte da racionalidade do Sistema No Faxinal do Emboque a policultura alimentar ainda presente e esta ser mais bem discutida no subt pico 4 2 1 Distin o entre terras de plantar e terras de criar Como a maioria dos Faxinais o Emboque vem sofrendo um processo de desagrega o fruto entre outros motivos da press o capitalista aliada ao reconhecimento pol tico tardio Isso se evidencia na diminui o da extens o territorial do mesmo que passou de dois mil O Faxinal do Emboque possui uma certid o de auto reconhecimento expedida pela Prefeitura Municipal de S o Mateus do Sul de acordo com a Lei Municipal n 1 780 08 de 02 de junho de 2008 certificando como Faxinalenses os mora
219. inense 2012 89 f Disserta o Mestrado em Recursos Gen ticos Vegetais Universidade Federal de Santa Catarina Florian polis UFSC 2012 MICHAELIS Moderno Dicion rio da L ngua Portuguesa S o Paulo Companhia Melhoramentos 1998 2259 p MINAYO M C de S O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em sa de S o Paulo Rio de Janeiro HUCITEC ABRASCO 1992 MIRANDA A Contestado Curitiba L tero T cnica 1987 MONTEIRO D T Os errantes do novo s culo S rie Universidade 2 Duas Cidades S o Paulo 1974 MONTEIRO R R et al A introdu o do cultivo do fumo como fator de mudan a cultural em comunidades faxinalenses o caso do Faxinal dos Seixas no Munic pio de S o Jo o do Triunfo PR In XIV EAIC Encontro Anual de Inicia o Cient fica Universidade Estadual do Centro Oeste UNICENTRO Guarapuava Paran 31 de agosto a 3 de setembro de 2005 228 MORO R S A vegeta o dos Campos Gerais da escarpa devoniana In DITZEL C H MOSCOVICI S Representa es sociais investiga o em Psicologia Social Tradu o de Pedrinho A Guareschi Petr polis RJ Vozes 2003 403 p MUNARI L C Mem ria social e ecologia hist rica A agricultura de coivara das popula es quilombolas do Vale do Ribeira e sua rela o com a forma o da Mata Atl ntica local 2009 218 f Disserta o Mestrado em Ecologia Universidade de S o Paulo USP S o Paulo 2009 MUNOZ N V S
220. inicialmente nas proximidades de Curitiba e em seguida avan ando para o Planalto Catarinense Filho Goularti 2002 destaca que em Santa Catarina existiam dois destinos para a produ o ervateira a erva produzida no sudoeste e no oeste vale do Rio do Peixe e vale do Rio Uruguai ia para o Rio Grande do Sul ao passo que a erva produzida na regi o norte do estado vales dos rios Igua u Negro e os afluentes era escoada para o litoral e exportada principalmente para o Chile Uruguai e Argentina Bach 2009 faz refer ncia a munic pios catarinenses onde a erva mate foi importante para o desenvolvimento econ mico citando S o Jo o dos Pobres atual munic pio de Matos Costa e Canoinhas sendo estes ltimos munic pios localizados no Planalto Norte Canoinhas conhecida como a capital da erva mate tanto que a cidade chegou a se chamar Ouro Verde O mesmo autor ainda caracteriza a decad ncia deste ciclo assim afirmando O extrativismo da erva mate diminuiu na d cada de 60 quando grandes ervais foram substitu dos por planta es de soja milho pinus e outras culturas Com o aumento dos mercados consumidores e sua aplica o industrial na fabrica o de tintas resinas medicamentos desinfetantes e outros produtos foi preciso fazer plantios e adotar novas t cnicas de manejo do erval nativo para aumentar a produtividade BACH 2009 p 199 Como foi poss vel perceber na regi o das Matas Mistas e dos Campos vivia uma popula
221. iona como catalisador cultural simb lico sendo indispens vel fator de autonomia podendo se falar inclusive da constru o de uma imagem do territ rio neste caso do territ rio do Sistema Faxinal Tal imagem advinda de uma an lise dos tempos das mem rias dos imagin rios territoriais e das rela es de poder e conflito ou seja da cotidianidade Dessa forma o territ rio pode ser visto como o espa o apropriado e ocupado por um grupo social onde os atributos naturais se somam aos atributos socialmente constru dos Emerge assim um territ rio constru do no jogo entre material e imaterial funcional e simb lico e com grande valora o por parte de seus habitantes Assim sendo o viver no Faxinal a liga o simb lica com a terra e o esp rito comunit rio s o fortes elementos dessa identidade coletiva Entretanto neste caso de comunidades locais importante perceber que estas constroem abrigos mas n o para sos servem de ref gio por m o conflito de interesses e de valores sobretudo partindo de atores sociais antag nicos sempre se faz presente Dessa forma a identidade enquanto fonte de experi ncia e significado de uma coletividade no Sistema Faxinal apresenta se inicialmente enquanto uma identidade de resist ncia Na concep o que parte das identidades territoriais o elemento constituinte indissol vel e de crescente import ncia o territ rio que age como referencial central e definidor do grupo As
222. ionalmente ocupadas que designam situa es em que a produ o familiar de acordo com suas possibilidades variavelmente combina apropria o privada e comum dos recursos naturais sendo o controle e uso dos recursos considerados comuns exist ncia f sica e social especialmente pastagens naturais cursos d gua subprodutos florestais exercido de maneira livre e aberta de acordo com normas espec ficas consensualmente definidas pelo grupo social circunstancialmente denominado por express es locais a saber criador comum aberto criador comum cercado criador cria o alta e mangueir o SOUZA 2009b p 06 07 Essa significa o mais anal tica proposta por Souza 2009b insere na discuss o sobre x A EA 2 o Sistema Faxinal a quest o das terras tradicionalmente ocupadas o que aproxima ainda mais a rela o entre territ rio e identidade 2 No par grafo 1 do Art 231 da Constitui o Federal de 1988 definem se S o terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios as por eles habitadas em car ter permanente as utilizadas para suas atividades produtivas as imprescind veis preserva o dos recursos ambientais necess rios a seu bem estar estar e as necess rias a sua reprodu o f sica e cultural segundo seus usos costumes e tradi es 12 Cunha 2003 ao discutir o desenvolvimento rural e o desenvolvimento territorial tendo como estudo de caso o Paran Tradicional afirm
223. ios na escala da comunidade e com vistas a compreender a constru o de sua identidade territorial De fato o mesmo apresenta de uma forma bem n tida os elementos socioecon micos regionais apontados por Chang 1988 restando ainda analisar os elementos socioespaciais e socioculturais na escala da comunidade partindo das contribui es de Nerone 2000 4 2 DIFERENCIA O DE OUTROS ESPA OS RURAIS ELEMENTOS SOCIOESPACIAIS Nerone 2000 destaca que a ess ncia do Faxinal n o pode ser compreendida em um olhar superficial e apressado Ela acredita que o Sistema Faxinal diferencia se de outros espa os rurais por apresentar al m dos elementos j destacados por Chang em1988 uma marcada distin o entre as terras de plantar e as terras de criar uma diferencia o entre a rea informada na Resolu o 049 2009 Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos H dricos SEMA que cria a Cria a rea Especial de Uso Regulamentado ARESUR do Faxinal Emboque situado no munic pio de S o Mateus do Sul e d outras provid ncias na data de 19 de outubro de 2009 131 propriedade e o uso das terras e tamb m pela presen a do sistema de cercas porteiras e mata burros 4 2 1 Distin o entre terras de plantar e terras de criar Nerone 2000 destaca que na concep o do modelo Faxinal a terra dividida em duas partes de acordo com a composi o da paisagem uma destinada cria o solta terras de criar e outra
224. iros Pr ximos s esta es ferrovi rias eram instalados armaz ns para atender aos rec m chegados THOM 1992 p 78 Atrav s da Brazil Development and Colonization Company que fazia parte da Holding Brazil Railway Company a Lumber promoveu a vinda de imigrantes europeus especialmente da Pol nia e da Ucr nia para atuarem no setor agr cola LIMA 2008 Nas palavras de Fraga 2005 este territ rio outrora contestado passou a ser rapidamente ocupado por milhares de migrantes europeus e excedentes das col nias do Rio Grande do Sul ocupando as terras de posse e viv ncia dos caboclos sob dom nio e direito de coloniza o da Cia Lumber Auras 1995 tamb m narra esta situa o Visando explorar o vasto potencial madeireiro e promover a coloniza o das largas terras marginais do leito ferrovi rio a Brazil Railway cria em 1909 a subsidi ria Southern Brazil Lumber Company Colonos de origem alem e posterior e secundariamente italianos e poloneses oriundos dos Estados do Rio Grande e Paran foram atra dos pelas propostas da empresa fixando resid ncia nas f rteis terras ao longo do vale do Rio do Peixe V rios n cleos coloniais foram ali criados 112 claro que a esta altura o corpo de seguran a da Companhia j havia varrido da regi o de forma sum ria e definitiva todos os posseiros inclusive aqueles mais renitentes p 42 43 Com o fim do conflito do Contestado restou a muitos se inserir
225. is de seis mil quil metros quadrados de terras cobertas com cerca de 15 milh es de rvores em idade de corte SACHET 2001 p 508 Certamente a constru o da ferrovia no Contestado modificou de forma indiscut vel a paisagem e o modo de vida da regi o sendo inclusive um dos fatores desencadeantes da Guerra M ltiplas s o as formas de se retratar este fato entretanto opta se por discutir a constru o e o impacto da constru o da ferrovia relacionando a com o equil brio ecol gico existente at ent o entre os moradores na sua maioria cabocla e as Matas Mistas A Brazil Railway objetivando explorar a riqueza vegetal constr i em Tr s Barras e Calmon duas grandes serrarias sendo que a primeira ficou conhecida como a maior serraria da Am rica do Sul AURAS 1995 p 100 que em seu per odo auge entre 1916 1929 184 exportava a madeira processada para grandes centros brasileiros europeus e da Am rica do Norte Nesses anos inicia se em larga escala a explora o vegetal no Contestado sem considerar o equil brio ambiental que estas matas proporcionavam aos habitantes da regi o No caso do Sistema Faxinal as reas de mata s o os espa os onde ocorre a concentra o das resid ncias a cria o de animais a explora o da erva mate e a maior parte das rela es comunit rias Tem se que As manchas de Campos s o rodeadas pelo dom nio da Mata com Arauc ria cuja esp cie caracter stica
226. is e a qualidade percebida do produto resultante de sua explora o p 17 22 A partir dos anos 1970 at a atualidade a partir desta d cada que a atividade madeireira sofre mudan as como a erradica o de parte dos ervais nativos para dar lugar a reflorestamentos e monoculturas como a da soja diminui o das exporta es versus o aumento do consumo interno o abandono dos processos tradicionais e o aumento dos ervais plantados A quest o neste caso repousa justamente sobre este ltimo per odo que quando a atividade extrativa da erva mate come a a amea ar significativamente as Matas Mistas seja pelo manejo inadequado seja pela remo o da cobertura vegetal original para dar lugar aos ervais plantados isto sem mencionar o comprometimento destes pelo manejo inadequado Neste sentido Medrado et al 2002 ao analisar os ervais degradados destaca os principais motivos que levam a esta situa o colheitas sucessivas envelhecimento natural adversidades clim ticas ataque de pragas compacta o de solo esgotamento de nutrientes no solo podas mal feitas intervalos muito pequenos e competi o com o mato p 04 No Faxinal do Emboque a atividade ervateira ainda bastante presente N o existem mais os antigos carijos agora substitu dos por barbaqu s mais modernos mas poss vel perceber na paisagem tanto o manejo dos ervais nativos quanto espa os onde os ervais foram plantados Na comunidade de Aparecida d
227. isa e que oferece uma paisagem peculiar As moradas possuem na sua maioria uma cerca ao redor a qual delimita cada resid ncia e seus espa os cont guos como o quintal o jardim o p tio Essa cerca separa esse conjunto de outros espa os que tamb m integram a morada denominados de mangueiras ou mangueir es locais de engorda de porcos ou cativeiro para animais daninhos Muito embora o espa o f sico seja organizado coletivamente para a cria o de animais h que se respeitar a propriedade particular dessa forma apenas o propriet rio da terra pode extrair a erva mate a lenha ou qualquer arbusto de sua terra p 65 Ao discutir as Origens do Sistema Faxinal da pen nsula Ib rica ao Paran a autora analisa a propriedade comum e o processo colonizador ib rico destacando a organiza o comunit ria bem como o aproveitamento coletivo de alguns espa os na Espanha e em Portugal Coloca que a l gica do uso das terras no Sistema Faxinal n o se constitui em um modelo tradicional brasileiro supondo que sua g nese estaria ligada a uma heran a Ib rica Tese de doutorado em Hist ria apresentada no ano de 2000 ao Programa de P s Gradua o da Faculdade de Ci ncias e Letras da Universidade Estadual Paulista Campus de Assis Este estudo integrou o conjunto de investiga es da Linha de Pesquisa Movimentos Sociais Refer ncia completa NERONE Maria Magdalena Terras de Plantar Terras de Criar Sistema Faxinal Rebou
228. iu falar do Monge quando ainda morava em Paragua u Itai polis SC Segundo ele o Monge previa muitas coisas que se tornaram realidade somente duas coisas ainda n o aconteceram dentre suas previs es Rio Negro sumir do mapa 176 e desmoronar o Morro da Cruz em Porto Uni o Conta tamb m que o Monge previa que viria um besouro de a o para acabar com a mata e tamb m a cobra preta que mata gente se referindo motosserra e ao asfalto respectivamente Na comunidade atualmente n o existem mais as figuras das benzedeiras e das parteiras tamb m n o h a atua o das Pastorais Por m muitos se lembram de um benzedor chamado Estanislau j falecido Hoje dada a proximidade com os centros urbanos de Irine polis Canoinhas e Porto Uni o n o se nota mais a presen a destes na comunidade tendo em vista que as estradas s o melhores e o tempo para se chegar na cidade encurtou se O que est presente ainda o cultivo dos ch s mais comuns ao redor das casas nos quintais e que s o utilizados como medicamento pela pr pria fam lia Quase que a totalidade das fam lias moradoras de Aparecida dos Pardos de origem 67 tradicionalmente polonesa ou se familiarizou com descendentes destes O povo polaco muito religioso e na comunidade cultua principalmente Nossa Senhora Aparecida tida como padroeira No in cio da forma o da comunidade foi constru da uma escola que serviu tamb m de Igreja at por vol
229. iza o camponesa em desagrega o no Centro Sul do Paran Londrina IAPAR 1988 Boletim T cnico n mero 22 11 sua forma de organiza o que se distingue das demais formas camponesas de produ o no Brasil pelo seu car ter coletivo no uso da terra para a produ o animal p 14 Esta inst ncia comunal consubstanciada na forma de criadouro comum que o espa o onde os animais s o criados solta Importante destacar que Os termos Faxinal e Sistema Faxinal s o a rigor diferentes Faxinal a terminologia dada a um tipo de vegeta o J o Sistema Faxinal uma forma particular de organiza o econ mica onde h um aproveitamento econ mico integrado desta mata s reas circunvizinhas Entretanto o costume regional estendeu o significado da palavra Faxinal tanto para o criadouro o uso desta mata como para o Sistema Faxinal a forma de organiza o particular CHANG 1988 p 13 rodap A autora tem como preocupa o central no decorrer do texto responder a quest es b sicas como o que o Sistema Faxinal qual sua origem e racionalidade quais s o os mecanismos internos de funcionamento quais os motivos da desagrega o e quais as for as econ micas e sociais em jogo nesse processo Ao analisar A g nese dos Faxinais na forma o econ mica e social do Paran Velho Chang 1988 ateve se compreender seu significado econ mico e social bem como seus mecanismos internos de
230. jetos CASTELLS 1999 p 421 63 25 Es NS 2 e a Rede Puxir o dos Povos e Comunidades Tradicionais Comunidades Tradicionais cuja articula o n o compreende s os Faxinalenses mas tamb m outros distintos grupos a saber xet guaranis kaingangs quilombolas benzedores e benzedeiras pescadores artesanais cai aras cipozeiras religiosos de matriz africana e ilh us Como se evidencia na busca pela reivindica o e garantia dos direitos emergem distintas identidades e territorialidades brasileiras revelando a exist ncia de in meros grupos tradicionais e a dimens o geogr fica do territ rio entra em pauta na discuss o tendo em vista seu amplo emprego tanto a partir destes povos quanto a partir das pol ticas p blicas Buscando compreender n o meramente os aspectos subjetivos da crise de identidade mas atendo se tamb m s condi es objetivas que ela expressa Haesbaert 2007 prop e uma abordagem geogr fica da identidade pelo vi s das chamadas identidades territoriais O autor coloca que nossas identidades em seu car ter mais ou menos m ltiplo s o sempre configuradas tanto em rela o ao nosso passado nossa mem ria e imagina o isto sua dimens o hist rica quanto em rela o ao nosso presente ao entorno espacial que vivenciamos isto sua dimens o geogr fica p 34 Esta concep o sugere um debate contempor neo das identidades ou seja a partir de
231. k 1986 como se referindo s a es e estrat gias para controlar uma rea um territ rio existindo diferentes n veis de territorialidade Dessa maneira de simples recurso de grupos humanos na antiguidade a territorialidade torna se com a modernidade instrumento pol tico estrat gico onde o territ rio a delimita o e a territorialidade o controle a a o vinculada ao seu contexto social a estrat gia de poder o que se acredita que vem ocorrendo com rela o s popula es tradicionais brasileiras que se valem de seu territ rio e sua territorialidade como instrumento pol tico estrat gico com vistas a se inserir principalmente em pol ticas p blicas Por m h que se destacar que o territ rio n o um instrumento Fernandes 2008 coloca que instrumentos s o objetos da metodologia O Territ rio um conceito e uma categoria um objeto do m todo e da teoria p 290 Nas palavras de Porto Gon alves 2006 o territ rio o espa o apropriado espa o feito coisa pr pria enfim o territ rio institu do por sujeitos e grupos sociais que se afirmam por meio dele p 05 De fato o territ rio vem sendo evocado com vistas a dar suporte para in meras pol ticas p blicas e tem se tornado um instrumento uma metodologia entretanto essa apropria o oculta seu verdadeiro significado o de espa o apropriado e constru do socialmente de suporte da exist ncia Por outro lado nota se a mobiliza
232. l Ponta Grossa 2 2 213 226 jul dez 2008 p 213 226 L WEN SAHR C L SAHR W D Territ rios Faxinais espa os A problem tica espa o territ rio na forma o social brasileira In Saquet M e Sposito E Org Territ rios e territorialidades teorias processos e conflitos 1 ed S o Paulo SP Express o Popular 2009 v 1 p 143 173 LUZ A A da Os fan ticos crimes e aberra es da religiosidade dos nossos caboclos 2 ed Florian polis UFSC 1999 M L WEN SAHR C L Espa o e Cultura Ponta Grossa e os Campos Gerais Ponta Grossa EDUEPG 2001 p 481 504 MAACK R Geografia F sica do Paran Rio de Janeiro Jos Olympio 1981 2 ed MACHADO B P Forma o da estrutura agr ria tradicional dos Campos Gerais In BALHANA A P MACHADO B P Contribui o ao estudo da hist ria agr ria do Paran Boletim da Universidade Federal do Paran Curitiba n 3 jun 1963 p 1 27 MACHADO P P Lideran as do Contestado a forma o e a atua o das chefias caboclas 1912 1916 Campinas SP Editora da UNICAMP 2004 MARQUES A da C HANISCH A L BONA L C Inova es tecnol gicas em reas de Ca vas atrav s de processos participativos 2008 Dispon vel em www microbacias sc gov br visualizar Arquivo do entity arquivoPK acesso em 16 04 2014 221 MARTINS J de S Capitalismo e tradicionalismo S o Paulo Editora Pioneira 1975 Cole o Pioneira de Ci ncias So
233. l gicos a pesquisa adota duas distintas escalas de an lise a regional e a da comunidade para investigar os elementos do Sistema em duas comunidades a do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR e a de Aparecida dos Pardos Irine polis SC Os elementos da escala regional foram propostos a partir de Chang 1988 ao passo que os elementos da escala da comunidade foram delineados a partir de Nerone 2000 Nestas an lises poss vel perceber que no estado do Paran a atua o desta s rie de atores no processo de constru o das identidades territoriais culminou com a ado o de distintas conceitua es do Sistema Faxinal que v o desde a necess ria exist ncia das terras de criar e das terras de plantar at a quest o das terras tradicionalmente ocupadas Da mesma maneira algumas das pr ticas comunit rias e tradicionais que j se encontravam em desuso passaram a ser reinventadas com vistas a fortalecer as identidades dos grupos que buscam reconhecimento evoluindo de uma identidade de resist ncia para uma identidade de projeto de luta Em Santa Catarina entretanto a aus ncia de pol ticas p blicas pr prias e a n o atua o dos movimentos populares colaborou para a desagrega o e ou desarticula o do Sistema tendo em vista que os criadouros comunit rios atualmente s existem em pequenos n cleos familiares Trata se de uma identidade de resist ncia que n o se inscreveu visivelmente no jogo pol tico de a
234. l a presen a dos ervais nativos sendo que posteriormente os colonos europeus tamb m se integraram a esta explora o p 13 Fato que a extra o da erva mate sempre existiu paralelamente ao tropeirismo e cria o de gado por m associada a uma popula o marginal Souza 1998 destaca ainda que na regi o at a d cada de 1970 a produ o da erva mate era quase que na sua totalidade derivada da explora o dos ervais nativos A partir desta data come am a fazer parte da paisagem e da economia os ervais plantados e aos poucos os pequenos barbaqu s d o lugar a secadores autom ticos de grande capacidade em uma nova agroind stria p 14 O mesmo autor ainda afirma que estes ervais foram formados e manejados de forma integrada cria o de animais desde o final do s culo XVIIP p 15 e 187 apresenta uma periodiza o distinta com rela o s formas de produ o transforma o e regulamenta o desta atividade extrativa 1 In cio da ocupa o e coloniza o at os anos 1970 inicialmente a ocupa o da regi o motivada pela exist ncia de ervais nativos explorados de forma tempor ria e itinerante Posteriormente com a chegada dos colonos europeus as atividades processos de produ o e transforma o se tornam fixos O fundamental neste momento que tanto os per odos de colheita e de intervalo entre as colheitas eram regulamentados com o objetivo de proteger os erva
235. larece que a caracteriza o n o se resume somente na presen a de estruturas objetivas como por exemplo o criadouro comum mas tamb m pela identidade coletiva definida pela defesa de uma tradicional modalidade de uso dos recursos Todavia ao viabilizar objetivamente a chamada identidade coletiva se acrescentam novas modalidades de uso como os mangueir es e os potreiros o que inegavelmente superestimou o n mero destas comunidades abrindo m o da presen a da singularidade do Sistema Faxinal a rela o entre criadouro comunit rio e terras de plantar enquanto elemento identit rio territorial H que se destacar tamb m que os dois primeiros levantamentos 1994 2004 foram realizados pelo poder p blico com vistas a subsidiar pol ticas p blicas ao passo que o levantamento de 2008 foi elaborado pela assessoria da Articula o Puxir o dos Povos Faxinalenses APF com vistas a fortalecer a reivindica o de pol ticas p blicas sobretudo as de car ter fundi rio Sendo assim fica evidente que no Paran a identidade territorial Faxinalense vem sendo constru da a partir da articula o de usos da terra nas comunidades terras de criar e terras de plantar Entretanto quando se analisam os levantamentos produzidos pela APF percebe se que embora a identidade se mantenha esta se volta para uma constru o mais flu da a das terras tradicionalmente ocupadas por Faxinalenses buscando uma inser o na discuss o nacional
236. lasse para uma pol tica de diferen a HALL 2005 p 21 grifo nosso Neste sentido as paisagens pol ticas evidenciam a emerg ncia de novas identidades pertencentes a uma nova base pol tica definida tamb m por movimentos sociais como o 3 Ao analisar o quinto descentramento do sujeito cartesiano a partir dos avan os da Teoria Social e nas Ci ncias Humanas ocorridos no pensamento per odo da modernidade tardia segunda metade do s culo XX Hall 2005 50 feminismo as lutas negras os movimentos de liberta o nacional idem Portanto a identidade algo realmente formado ao longo do tempo por processos inconscientes e de forma nenhuma algo inato e existente no momento do nascimento permanece sempre incompleta est sempre em processo e sendo formada p 38 dessa maneira em vez de falar da identidade como coisa acabada dever amos falar de identifica o e v la como um processo em andamento p 39 Dessa maneira ao se refletir e discutir a constru o das identidades sociais contrasta se com a aparente estabilidade e longevidade tendo em vista o car ter din mico e em curso constante sendo prefer vel para alguns falar em processos de identifica o do que em identidade enquanto substantivo Haesbaert 2007 afirma que a identidade nunca constru da a partir da mera diferen a ou de caracter sticas pr prias singulares pois tem sempre um car t
237. lu da m ltipla e aberta a reconstru es podendo inclusive ser inventada desde que haja certa ancoragem que lhe d concretude N o nunca inocente sobretudo quando assume um car ter estrat gico e posicional na medida em que se torna politizada Ressaltando que de acordo com Porto Gon alves 1999 a constru o de uma identidade coletiva poss vel n o s devido s condi es sociais de vida semelhantes mas tamb m por serem percebidas como interessantes e por isso uma constru o e n o uma inevitabilidade hist rica ou natural p 80 Ao se considerar o Sistema Faxinal na jun o destes dois conceitos anteriores torna se necess rio aprofundar um terceiro conceito o de identidade territorial Nesta defini o a identidade territorial Faxinalense abordada a partir do sentimento de perten a quando o territ rio se efetiva enquanto referencial espacial de identifica o As identidades territoriais podem surgir como neste caso a partir do agrupamento coletivo com vistas inicialmente sobreviv ncia comunit ria mas que com o passar do tempo passam a se redesenhar Neste cen rio Porto Gon alves 1999 coloca que a partir dos anos 1950 percebe se que a territorialidade brasileira est se redesenhando posto que novos sujeitos se insinuam instituindo novas territorialidades p 77 A institui o destas novas territorialidades gera a busca por visibilidade e aten o Compreende se
238. ma das mais lindas paisagens do territ rio brasileiro Saint Hilaire 1964 em seu relat rio de viagem relata que nas depress es desse terreno surgem esparsas manchas florestais em que predomina a til e majestosa arauc ria enquanto sua sombra vicejam in meras esp cies de ervas e subarbustos de folhagem variegada e ramo delicado p 10 Ainda acerca da forma o vegetal dos campos da regi o Sul do Brasil Moro 2001 evidencia que estes se concentram nas regi es de estepe com gram neas e se caracterizam pela presen a de arbustos algumas plantas semi xer fitas e palmeiras an s L wen Sahr e Cunha 2005 contribuem afirmando que as manchas de Campos s o rodeadas pelo dom nio da Mata com Arauc ria cuja esp cie caracter stica o Pinheiro do Paran Araucaria angustifolia p 92 Apesar do largo emprego da madeira de Arauc ria na constru o civil a mais apreciada esp cie a Imbuia Ocotea pulchella e num extrato mais baixo aparece a erva mate Ilex paraguayensis cujas folhas s o utilizadas para a produ o de ch Assim se percebe um dualismo em termos de vegeta o nesta regi o os Campos e as Matas Mistas Versando sobre a composi o flor stica da regi o do Contestado Thom 1981 destaca que esta formada tamb m em parte por campos Esse tapete vegetal em que predominam as gram neas corresponde s savanas em outras partes do mundo estando adaptado natureza do solo e do clima Segu
239. ma escarpa expressiva b se localiza entre duas regi es de campos Palmas e Campos Gerais se apresentando como um local para pouso numa rea intermedi ria de mata fechada c permite O termo ga cho n o se restringe aos nativos do Rio Grande do Sul um produto de cultura ambiente ou seja uma consequ ncia de um estado econ mico e ecol gico o homem primitivo simples ca ador de gado ainda sem p tria definida sem outro senhor que n o a sua vontade FONSECA 1982 p 14 apud CHANG 1988 p 24 116 a transposi o das tropas atrav s da estrutura geol gica de um vau Deve se por m destacar que esta rota tropeira de Palmas a Uni o da Vit ria se constitu a como uma rota secund ria Bach 2009 afirma que da cria o de porcos em regi o das matas distantes dos grandes centros originou se o tropeirismo de porcos Esses animais quando estavam gordos precisavam ser conduzidos aos locais de abate ou at as esta es ferrovi rias mais pr ximas p 14 O autor relata e identifica os locais onde existiam as f bricas ou casas de banha citando inclusive munic pios catarinenses como Matos Costa em 1930 em Matos Costa SC havia uma f brica de banha p 355 outras em Porto Uni o Conc rdia e outros locais O historiador Alfredo Crosby 1992 ao se referir ao porco afirma que este dentre todos os animais domesticados o que mais se assemelha a uma erva daninha isso em virtu
240. maioria s o pequenas propriedades e ali onde se preserva o meio ambiente sic ARTICULA O PUXIR O 2008 p 09 Projeto coordenado pelo antrop logo Alfredo Bueno Wagner de Almeida sede em Manaus AM Informa es publica es e outros projetos em www novacartografiasocial com 76 No meu entender acho Faxinal um lugar onde tem a cria o solta onde voc pode trabalho em comunh o tudo junto tudo unido faz o puxir o pra trabalhar na cerca onde tudo cercado voc tem cabrito porco gado galinha ali tudo solto ent o acho que isso a pra mim um Faxinal onde tem uni o voc pode trabalhar unido todo mundo tem sua cria o tem sua terra ali chegar ser isso a um Faxinal Como que o uso da terra no Faxinal O uso da terra no Faxinal todo mundo tem um pedacinho l o que sem terra planta na terra do outro se puder pagar um aluguel paga se n o puder n o tem problema desse jeito que usa a cria o tamb m pisa na terra de todo mundo n o tem divis o solto mesmo o uso da terra sic LIMA apud ARTICULA O PUXIR O 2008 p 02 Dessa forma dentre tantas possibilidades conceituais poss veis conv m destacar que na presente pesquisa trabalha se com o conceito de Sistema Faxinal inicialmente proposto por Chang 1988 e mais tarde complementado por Nerone 2000 cuja caracter stica principal a separa o entre terras de criar e terras de plantar Primeiramen
241. mb m relatam a exist ncia de todas as outras pr ticas comunit rias pr prias do Sistema Faxinal por m afirmam que atualmente n o se cria mais solta os animais somente s o criados soltos nas reas de Ca va de forma individual n o mais coletiva O que ocorreu foi o cercamento do criadouro e a manuten o das reas de criar pelos moradores que agora de forma individual continuam criando seus animais nas Ca vas Buscando valorizar a pr tica e encontrar solu es ambientalmente adequadas para o manejo 217 foi criado o Grupo Gestor de Ca vas A primeira situa o problem tica tamb m enfrentada pelos Faxinais paranaenses a legisla o inadequada pois de acordo com a legisla o ambiental as reas de Reserva Legal que coincidem com muitas reas de criadouro podem ser utilizadas para o manejo florestal sustent vel por m sem prever sistemas silvipastoris Entretanto de fato as reas dos Faxinais e das Ca vas j est o incorporados cultura local h d cadas e na maioria dos casos a conserva o e manuten o destes remanescentes est condicionada justamente ao prop sito econ mico do uso destes espa os para a produ o animal e o extrativismo vegetal se n o fosse isso grande parte destas reas n o mais existiria ou teria sido convertida em reas de reflorestamento agricultura de gr os ou plantio do tabaco Faxinais no Paran ou Ca vas em Santa Catarina independente da terminologia de
242. mentos que comp emm o Sistema Faxinal a partir das contribui es de Chang 1988 na escala regional e Nerone 2000 na escala da comunidade Dando continuidade a terceira atividade foi a sem ntica qual corresponde o trabalho de combinar sinteticamente todas as vari veis elementos ou fen menos SPOSITO 2004 p 84 Neste sentido a l gica concernente ao m todo dirigiu dedutivamente a maneira de se abordar os dados que nesse momento j estar o se qualificando como informa o geogr fica por sua coer ncia interna e peculiaridade na apropria o abstrata da realidade p 84 Esta atividade consistiu em relacionar os elementos das escalas regional e da comunidade com os espa os existentes na regi o do Contestado permitindo assim identificar os locais mais prop cios ao desenvolvimento do Sistema Faxinal 35 de onde foram selecionados os estudos de caso no Emboque S o Mateus do Sul PR e em Aparecida dos Pardos Irine polis SC A ltima atividade realizada foi a normativa atrav s do refinamento da informa o ou seja quando a base te rica o encaminhamento metodol gico e a elabora o de racioc nios para a an lise tornam se necessariamente mais claros p 84 o momento em que ocorre a reda o com vistas comunicar o conhecimento produzido ou seja a ordena o final das reflex es e a constru o da conclus o De fato como apontam Alfredo Wagner de Almeida 1989
243. muda pela explos o da autonomia das esferas culturais as ideias de Estado Na o e concomitantemente de territ rio nacional de classe e de indiv duo matrizes identit rias do mundo moderno se redefinem ou perdem parte dos pap is que antes exerciam HAESBAERT 2007 p 09 Nesta considera o a percep o do Estado Na o entendida de um lado frente a uma perda do poder de gest o interna e externa frente ao transpassamento das fronteiras territoriais pelos fluxos econ micos e informacionais e de outro pela reconstru o de tradi es tnicas buscando uma afirma o da diferen a mesmo enquanto estrat gia de resist ncia Emerge nesta problematiza o uma concep o de territ rio moldada pela continuidade fixidez e pautada nas rela es definidas e est veis com grupos identit rios Ao buscar destrinchar e elo entre cultura e identidade para posteriormente discutir teoricamente o tema das identidades territoriais Haesbaert 2007 prop e como para a an lise de qualquer outro conceito vislumbr los n o propriamente enquanto seus opostos mas por contraste visto que os conceitos s o formados e definidos a partir de inter rela es em termos de constela es considerando seu car ter relacional Nesta perspectiva o conceito de cultura surge a partir do contraste com o conceito de natureza ao passo que o conceito de identidade emerge contrastado com o conceito de diferen a devendo
244. munidade de Aparecida dos Pardos Irinc polis SC Fonte Acervo da autora 2014 Em termos econ micos Souza 1998 ressalta que a partir da crise de 1930 come a o decl nio da economia ervateira devido sobretudo redu o dr stica do mercado internacional e a autossufici ncia atingida pela Argentina quanto produ o do produto Dado este impacto as atividades agr colas e de cria o de animais passam a ter maior dimens o econ mica na regi o do Contestado O atual munic pio de Irine polis encontrava se Larocca J nior Larocca e Lima 2008 ao analisarem a arquitetura de madeira dos colonos poloneses e ucranianos no Sul do Paran o que nominam de Casas Eslavo Paranaenses afirmam que as caracter sticas construtivas b sicas da casa de madeira paranaense decorrem dos materiais e do clima podendo frequentar o repert rio eslavo ou alem o ou italiano respeitando se a d vida com o modelo original caboclo O que tornou a Casa Eslavo Paranaense uma manifesta o cultural espec fica foram as leituras pr prias impressas ao programa da obra arquitet nica especialmente com respeito varanda cozinha sala e ao s t o compartimentos esses que adquiriram com o passar do tempo fun es diferentes das que desempenharam no arranjo da casa luso brasileira por exemplo p 101 163 na rota tropeira do in cio do s culo XX na liga o entre Uni o da Vit ria e Mafra e secundariamente Timb Grande
245. n Chang 1988 destaca que na regi o das Matas Mistas estes atores sociais mesclaram conhecimentos Dessa forma observando sua territorialidade poss vel identificar as regi es prop cias para a exist ncia do Sistema Assim sendo constr i se uma reflex o acerca destes dois atores percebendo sua presen a e as rela es estabelecidas entre ambos partindo inicialmente dos caboclos at a chegada dos imigrantes L wen Sahr e Cunha 2005 chamam a aten o para uma popula o tradicional do Sul do Brasil os caboclos ressaltando que estes apesar de consider vel press o v m conseguindo se manter relativamente afastados dos processos de moderniza o preservando seu modo de vida nas palavras dos autores uma popula o aut ctone p 93 Segundo os autores os caboclos vivem h mais de dois s culos nos sert es do Sul nas matas tropicais dos planaltos do Rio Grande do Sul Santa Catarina e Paran p 90 onde praticam sobretudo nos vales dos rios um sistema integrado de atividade silvopastoril comunit ria extra o de madeira agricultura de subsist ncia e produ o de erva mate A esse sistema d se nome de Faxinal ou Sistema Faxinal 109 Auras 1995 esclarece mais precisamente no contexto do conflito do Contestado que n o h documentos escritos pelos caboclos H entretanto a presen a ineg vel do pr prio caboclo que fez o Contestado Este homem n o pode ser resgatado nos registros
246. n Marcelo Greg rio pela compreens o nas faltas e aus ncias pelos risos at de madrugada e pelo somar dos sonhos Aos meus sogros e cunhadas pela paci ncia e confian a Nossas conquistas s tem valor se temos com quem partilh las sou grata pelo sentido que d o minha exist ncia e agrade o imensamente por me enxergarem melhor do que realmente sou Aos amigos e amigas s o tantos mas agora em especial agrade o Vanessa Maria Ludka n o s por me receber em sua casa mas tamb m por partilhar conhecimentos e amizade sempre com muito chimarr o e bolo de cenoura querida amiga Kelly von Knoblauch pelos caf s e encontros que sempre animam revigoram e acrescentam amada amiga Marines Hoffmann Vieira pelas palavras de apoio pelos coment rios de incentivo e pela presen a na minha vida amiga irm Adriany Edin ia Schiliga com quem desde o jardim de inf ncia compartilho alegrias e tristezas Com voc s aprendi a olhar as miudezas da vida e a enfrentar as dificuldades do caminho Ao querido amigo Padre Anderson Spegiorin por todas as carinhosas lembran as em forma de palavras ditas e tamb m por adensar minha biblioteca particular com valiosas publica es acerca dos n s crist os e polacos Em Mallet Paran agrade o aos familiares e amigos de Rio Claro do Sul porque n o importa a extens o geogr fica do lugar desde que voc se sinta em casa e queira sempre voltar Em Fraiburgo Santa
247. ncia da popula o Por ser o espa o onde os animais circulam livremente poss vel perceber atrav s das imagens que a vegeta o rasteira mais rala E dessa maneira considerando a presen a das Matas Mistas e dos ervais nativos enquanto elemento f sico natural necess rio exist ncia do Sistema Faxinal percebe se que o Faxinal do Emboque realmente se apresenta como um lugar prop cio para o desenvolvimento desta modalidade de comunidade Os condicionantes humanos na escala regional elaborados a partir de Chang 1988 partem da contribui o de caboclos e imigrantes quanto cria o extensiva o tropeirismo do porco e a policultura alimentar de subsist ncia As an lises te ricas elaboradas anteriormente s o complementadas neste momento por entrevistas e depoimentos com vistas a mais bem explicar nesta comunidade tais elementos que s o tamb m descritos detalhadamente na posterior an lise dos elementos socioculturais com base em Nerone 2000 De acordo com o depoimento do Sr P W 2013 morador do Faxinal do Emboque o Faxinal surgiu a partir da desagrega o de um grande latif ndio que existia no local cujo desmembramento deu lugar a lotes menores que foram repassados para funcion rios da ex fazenda Esses funcion rios eram caboclos que passaram a criar os animais em comum e extrair a erva mate nativa dando origem ao Sistema Faxinal Outra entrevistada a Sra S M C P 2013 ao se referir hist ria do Fax
248. ndi o fundamental para a categoriza o da comunidade enquanto Faxinal Diversos fatores comuns aos Faxinais paranaenses contribu ram para a desagrega o do Sistema no local conforme j relatado anteriormente por m os fragmentos ainda persistem na paisagem tornando poss vel afirmar que ele existiu em terras catarinenses da regi o do Contestado talvez n o em t o grande n mero quanto no Paran todavia tamb m marcou o modo de vida no Planalto Norte Catarinense As distin es e aproxima es entre o Sistema Faxinal paranaense e as comunidades catarinenses ser o tratadas no pr ximo cap tulo CAP TULO 6 APROXIMA ES E DISTANCIAMENTOS ENTRE A IDENTIDADE TERRITORIAL DE SISTEMA FAXINAL E DAS REAS DE CA VAS NA REGI O DO CONTESTADO Ap s construir uma proposi o te rica e metodol gica para analisar a regi o do Contestado a partir dos elementos identit rios que comp emm o Sistema Faxinal e compreender a organiza o ambiental social tanto do Faxinal paranaense do Emboque quanto da comunidade catarinense de Aparecida dos Pardos torna se necess ria neste ltimo cap tulo uma reflex o conjunta que relacione ambas as comunidades na perspectiva abordada Para tanto discute se a territorialidade dos condicionantes naturais a partir das Matas Mistas e das Ca vas estas ltimas sendo fragmentos remanescentes da Floresta Ombr fila Mista com diferentes densidades arb reas onde o estrato herb ceo formado por pasta
249. ndo o autor existem campos sujos onde aparecem rvores esparsas e campos cerrados onde as rvores em maior n mero mostram se agrupadas formando os cap es sendo que de modo geral 80 da vegeta o corresponde Floresta da Arauc ria tamb m conhecida por Araucaril ndia onde predomina a linda rvore de forma de c lice o pinheiro brasileiro que tem o nome cient fico de Araucaria angustifolia p 16 Esta Floresta dos Pinhais desenvolveu se na regi o de clima temperado solo s lico argiloso e se estende desde o Sul do Planalto Paulista at o Norte do Rio Grande do Sul em 105 altitude que oscila de 600 a 1200 metros Vinhas de Queir s 1977 contribui com a discuss o afirmando que no Contestado por toda parte h campos limpos e campos sujos estes reconhecidos de longe pela quantidade de arbustos h macegas que s o manchas de vegeta o rasteira e intrincada e h faxinais nome que se empresta a uma esp cie de cerrado p 18 Oliveira 1985 relata que nos planaltos frios do Sul do Brasil as associa es se tornam mais homog neas cujas folhas se afinam e suas concentra es tomam um sentido de opul ncia uniforme Referimo nos s matas de pinheiros e ervais ilex mate intercaladas de cedros e grande variedade de laur ceas p 32 O autor narra que na esta o do outono desprende dos pinheiros o pinh o sement culo que serve de alimento para o homem e para v rios animais
250. nguem o Sistema Faxinal de outros espa os rurais Estaria o Sistema Faxinal restrito ao territ rio paranaense onde atualmente mais evidente Qual a rela o da Guerra do Contestado com o Sistema Faxinal Quais as semelhan as e diferen as quanto ao trato do Sistema Faxinal entre os estados do Paran e de Santa Catarina E assim construiu se uma problem tica que almejou analisar a identidade territorial do Sistema Faxinal na regi o do Contestado buscando compreender sua evolu o consolida o desarticula o e reminisc ncias al m de sua in visibilidade 210 Para tanto tornou se necess rio discutir o territ rio e a territorialidade enquanto suporte espacial da exist ncia e reivindica o coletiva do Sistema Faxinal Esta op o te rica deve se ao fato de que o conceito de territ rio foi instrumentalizado e empregado para se referir ao espa o de uso e abrang ncia do Sistema bem como de outras territorialidades espec ficas sendo constantemente evocado nos discursos sociais e pol ticos Fernandes 2008 j atentava para o fato de que o conceito de territ rio foi escolhido por cientistas de diversas reas do conhecimento como conceito central para o estudo de diferentes escalas e espa os geogr ficos p 273 Em se tratando do Sistema Faxinal pode se citar como exemplo o Decreto n mero 6 040 de 07 de fevereiro de 2007 que institui a Pol tica Nacional de Desenvolvimento Sustent vel dos Povos e Comunidades Tra
251. nidades lineares onde h o grupo de vizinhan a os servi os est o concentrados no povoado maior e os agricultores saem todos os dias para a ro a regressando tarde ao povoado As resid ncias se encontram geralmente em linha ao lado de um rio ou estrada ou ao redor de uma pra a principal e das terras comunais p 74 Da mesma maneira Smith 1971 ao construir uma narrativa referente sua viagem pelo Brasil destaca que no trecho de Curitiba PR at Blumenau SC o padr o de povoamento era sobretudo em forma de aldeia linear onde vales s o estreitos e o solo de fundo muito limitado e em certos lugares praticamente inexistente Os s tios se alinham em ambos os lados do curso de gua p 246 onde se notava uma grande proximidade entre as casas Assim sendo observando a Imagem 01 poss vel perceber que a estrutura de povoamento do Faxinal do Emboque seguiu os princ pios da aldeia linear concentrando as moradias ao longo principalmente das estradas Assim sendo a Imagem 01 evidencia a exist ncia das Matas Mistas com ervais nativos enquanto elemento f sico natural em escala regional necess rio ao desenvolvimento do Sistema Faxinal e possibilita tamb m a visualiza o do grande n mero de estradas de tr fego intenso peri dico e carro vel e rios elementos comuns na disposi o espacial dos Faxinais poss vel notar tamb m a estrutura de povoamento em forma de aldeia linear da comunidade seguind
252. nimaes porcinos abandonados na matta comendo exclusivamente pinh o e no meio do reductinho de Trombudo a 9 Km a sudeste de Perdizinhas para mais de 100 bodes cabras e cabritos tamb m em completo abandono sic p 181 Entretanto acredita se que este abandono deve se n o ao fato da popula o ter se deslocado para outros redutos mas sim pelo modo com que os animais eram criados de maneira solta principalmente os su nos Este ciclo encerrou se segundo Bach 2009 em virtude da devasta o das florestas pela ind stria madeireira a partir de 1940 o que modificou a paisagem da regi o Sul do Brasil juntamente com a chegada dos caminh es novas t cnicas de cria o de porcos a substitui o da banha por leos vegetais a agricultura mecanizada e uma nova realidade social p 14 Entretanto na busca por este elemento regional que ajuda a delimitar a regi o de poss veis Faxinais compreender os locais onde as rotas tropeiras se fizeram presentes se torna necess rio Fraga 2005 destaca que al m dos caminhos tradicionalmente conhecidos no sentido sul norte existem os caminhos no sentido Leste Oeste que s o menos explorados pelo referencial historiogr fico do tropeirismo Estes ltimos caminhos objetivavam via de regra ligar cidades portu rias ao interior produtor de charque peles de animais e erva mate entre outros produtos O referido autor destaca cinco destas rotas Paranagu Curitiba Joinville Ri
253. nit rios do Sistema Faxinal Dessa forma analisam se para Aparecida dos Pardos na sequ ncia os elementos f sico naturais e humanos na escala regional e posteriormente na escala da comunidade 5 1 APARECIDA DOS PARDOS DISCUTINDO OS ELEMENTOS DA ESCALA REGIONAL Parte se agora para o aprofundamento dos elementos f sico naturais e humanos da escala regional a partir de Chang 1988 buscando compreender a partir da an lise da comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC a quest o das Matas Mistas com ervais nativos e a presen a do caboclo e do imigrante 5 1 1 A presen a das Matas Mistas com ervais nativos enquanto condicionante f sico natural Reportando se novamente s proposi es de Chang 1988 e considerando a escala regional de an lise da presente pesquisa afirma se que a presen a das Matas Mistas com ervais nativos determinante para a exist ncia do Sistema Faxinal Este elemento f sico natural encontra se presente na comunidade de Aparecida dos Pardos munic pio de Irine polis SC destacando se que neste tipo de ambiente as primeiras ocupa es econ micas efetivas reservaram sempre uma ntima liga o com condi es f sico naturais oferecidas pelo lugar p 15 155 Chang 1988 ainda destaca que este ambiente f sico das duas sub regi es do Centro Sul Campos e Matas Mistas propiciou a forma o dos criadouros por m a evolu o para o Sistema Faxinal se verificou somente na sub
254. nsidade da gratid o atrav s de atos inegavelmente superior manifestada atrav s das palavras Entretanto negar algumas men es neste espa o privilegiado n o parece s bio Sendo assim agrade o Ao Senhor Nosso Deus alicerce for a e escudo pela oportunidade muito desejada de vivenciar este aperfei oamento pessoal profissional Agrade o as incont veis b n os ao longo do percurso a sa de os encontros e o alimento da f nas horas solit rias Sempre precisarei do direcionamento de suas m os em novas buscas e conquistas Ao Programa de P s Gradua o em Geografia da Universidade Federal do Paran pela aceita o da proposta de pesquisa e por ter proporcionado um frut fero e inesquec vel ambiente de reflex o cient fica Agrade o aos queridos Zem e Adriana pela presteza dedica o e carinho ao atender s solicita es professora doutora Cicilian Luiza L wen Sahr minha orientadora Agrade o pela compreens o nos momentos de d vida e ang stia pelas carinhosas e t o valiosas sugest es ao longo da pesquisa por ter dividido seu tempo para construir comigo uma tese que desse conta de responder aos meus anseios Agrade o imensamente pela confian a pela amizade e pelo rigor intelectual que permitiram superar a inseguran a proveniente da minha expectativa Aos professores Nilson Cesar Fraga Luiz Almeida Tavares Marta Inez Medeiros Marquez Nicolas Floriani Jorge Ramon Montenegro Gomez pela
255. ntados se constitu ram em levantamentos preliminares e no ano de 2008 a Articula o Puxir o de Povos Faxinalenses APF com base nos i SOUZA R M de Mapeamento social dos Faxinais do Paran In ALMEIDA A W B SOUZA R M Orgs Terra de Faxinais Manaus Edi es da Universidade Estadual do Amazonas UEA 2009a 88 relat rios levantamentos anteriores da EMATER 1994 e do IAP MARQUES 2004 elaborou um novo modelo de an lise acrescentou novos elementos e elaborou quatro posi es de enquadramento destas comunidades a saber Posi o 01 Faxinais com uso comum criador comum aberto abrange reas com mais de 1 000 hectares que podem ser livremente acessadas por cria es altas e baixas para uso comum das pastagens naturais e recursos h dricos Situa o observada nos munic pios de In cio Martins e Pinh o Posi o 02 Faxinais com uso comum criador comum cercado estes s o caracterizados pela presen a do uso comum dos recursos naturais em criadores comuns de extens es vari veis onde circulam livremente cria es baixas cabritos ovelhas porcos e galinhas e altas gado bovino e cavalar sendo delimitadas fisicamente por cercas de uso comum mata burros port es valos e rios SOUZA 2009 p 22 Posi o 03 Faxinais com uso comum criador com cria o grossa ou alta caracterizados pelo fechamento com cercas de quatro fios de arame
256. nte a entressafra das culturas desempenhando papel de renda familiar CHANG 1988 p 13 grifos da autora A produ o animal se dava dentro do criadouro comunit rio nas terras de criar definido por cercas coletivas sendo que ao seu redor ficavam as terras de plantar Esse criadouro de uso comum era composto de propriedades privadas e as cercas eram constru das de maneira coletiva prevalecendo o princ pio da solidariedade e dos interesses m tuos O espa o do criadouro se sustentava sobre tr s pontos a propriedade da terra patrim nio a constru o da cerca m o de obra e material e o zelo da mesma cuidado e m o de obra Acerca da explora o dos ervais nativos dentro do criadouro Chang 1988 acrescenta que esta atividade associada agricultura trouxe prosperidade a v rios munic pios ervateiros que tiveram tamb m a colabora o de imigrantes poloneses ucranianos alem es e italianos no processo Dessa forma sustenta a tese de que o mate foi o principal fator de coloniza o e povoamento da regi o das matas mistas da segunda metade do s culo passado s culo XIX s tr s primeiras d cadas deste s culo XX p 33 Nessa regi o encontravam se os mais densos ervais nativos que explorados fizeram ressurgir o com rcio introduziram novas tecnologias e contribu ram para transformar as rela es de produ o Chang 1988 destaca 33 O curto per odo de mar o a agosto requer
257. nte por Vinhas de Queir s 1981 pois se acredita que as consequ ncias do conflito ultrapassaram esses marcos caracterizados por elementos naturais como rios serras e cabeceiras de bacias hidrogr ficas e elementos artificiais como Estradas de Ferro col nias e vilas O pr prio autor ao definir a rea contestada ressalta que ela correspondia ao territ rio ocupado no auge do movimento p 177 soma se a isso o fato de que ap s o t rmino oficial da guerra em 1916 muitas pessoas deslocaram se para outros lugares fugindo das consequ ncias do conflito Compreende se portanto a regi o do Contestado enquanto uma regi o flu da de caracter sticas f sico naturais e hist rico geogr ficas comuns O Cartograma 01 al m de destacar a regi o Contestada pelos estados do Paran e Santa Catarina apresenta outros elementos importantes para a problem tica da Tese Entre eles ressalta se a presen a da rede ferrovi ria que empregou muitos trabalhadores tendo trazido muitos de outros lugares e foi uma das respons veis por parte da devasta o das Matas Mistas importante elemento f sico natural necess rio ao desenvolvimento do Sistema Faxinal poss vel ainda perceber a presen a dos principais rios da regi o como o Rio Igua u o Rio do Peixe o Rio Negro e o Rio Timb sempre referenciados na literatura regional quando discute se os limites da Guerra Entretanto dada a escala espacial necess ria cobertura da
258. ntos que comp em o referido Sistema evidenciando assim os questionamentos centrais que resultaram na constru o da problem tica da Tese Neste sentido o Cartograma 02 evidencia este recorte espacial da regi o do Contestado Nele poss vel perceber a sobreposi o de elementos que caracterizam o Sistema Faxinal em escala regional cuja abordagem ser aprofundada na sequ ncia como as Matas Mistas com ervais nativos as reas de campos as frentes migrat rias as principais e secund rias rotas tropeiras e a ferrovia 99 CARTOGRAMA 02 Sobreposi o dos elementos que comp em o Sistema Faxinal em escala regional no Contestado LEGENDA o Principais cidades catarinenses s Principais cidades paranaenses O Comunidades pesquisadas Principais rios Limites estaduais Ferrovia Principais fluxos migrat rios Principais rotas tropeiras Rotas tropeiras secund rias Delimita o aproximada da regi o do Contestado Matas Mistas com ervais nativos aproximado Areas de campos Serra Geral Fonte Ab Saber 2003 Bach 2009 Cabral 1960 Iarochinski 2000 IBGE 1992 Klein 1978 Maack 1981 Roderjan 1992 Vinhas de Queir s 1981 Peloso J nior 1970 Fraga 2006 Elaborado pela autora 2014 100 Campigoto e Sochodolak 2009 acreditam que a hist ria dos Faxinais vincula se tamb m a guerra
259. ntr rio da explora o do mate pouco contribuiu para a ocupa o do solo uma vez que as companhias madeireiras n o adquiriam terras e sim as rvores p 65 Al m disso a renda proveniente do setor madeireiro era muito mais concentrada tendo em vista que a serraria era muito mais equipada que o barbaqu A atividade depredat ria da explora o madeireira estragava inclusive os ervais durante a derrubada das rvores exaurindo as matas regionais que eram de grande 190 serventia para a subsist ncia da popula o local Logo ap s a retirada completa da cobertura vegetal pelas companhias madeireiras as terras eram na sua maioria vendidas ou arrendadas a pequenos produtores Chang 1988 destaca ainda que essa atividade madeireira fortalecida nos anos 1930 passa a atingir seu limite por volta de 1960 e contribuiu significativamente para a desestrutura o do Sistema Faxinal primeiro por esgotar as fontes naturais dos criadouros e segundo por avan ar sobre o espa o dos criadouros com os reflorestamentos No Faxinal do Emboque as reas de reflorestamento ainda n o adentraram o espa o do criadouro por m encontram se muito pr ximas dividindo espa o com as terras de plantar como pode ser observado na Foto 50 xinal do Embo que S FOTO 50 Reflorestamento de eucalipto pr ximo s terras de plantar no Fa o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 191 Na Comunidade d
260. o a descoberta de uma eleva o dentro do leito fluvial o chamado vau em Uni o da Vit ria tornou este lugar o ponto preferido no Caminho onde as tropas poderiam passar de uma margem a outra igualando este ponto apenas com outra travessa numa outra ramifica o do caminho no municio Rio Negro Registro STRAUBE 2009 p 42 era portanto o lugar mais raso do rio 117 escreveu sobre a cria o e animais soltos principalmente o porco e sobre a paisagem descrevendo os campos florestas e Faxinais na epoca que nesses mattos limpos de cipos gramados permittindo passear por ellas a cavallo como nalgum parque europeu os fructos nutritivos s o abundantes entre os quais os guaramins o vacum as goiabas serranas os ara s a imbuia o pinh o as amoras e o buti constituem o alimento principal para engorda de su nos A descrip o que fizemos das terras curitibanenses explica primeiro o modo de vida do caboclo que tendo a crea o de porcos como sua principal a unica ind stria era obrigado a viver pelos ermos no meio das mattas segundo a difficuldade que as for as do governo encontraram nas marchas e no servi o da intend ncia sic p 01 Da mesma forma Herculano Teixeira D Assump o 1917 Primeiro Tenente do Ex rcito que atuou no Contestado assim observou sobre a cria o su na e caprina not vel durante as nossas opera es militares encontramos por todo o sert o muitos a
261. o o e na viv ncia dos fandangos Trata se de uma organiza o complexa que para a autora tem ra zes portuguesas Nerone enfoca a desagrega o do Sistema Faxinal perpassando pelo antigo e pelo novo analisando os mecanismos de desagrega o e resist ncia os quais chama de cercas ou seja as cercas de dentro internas ao Sistema e as de fora press es externas As tradi es mantidas e ou reinventadas bem como as rupturas tamb m s o discutidas juntamente com a quest o jur dica do processo de desarticula o evidenciando ainda as rela es ambientais neste processo de desestrutura o Acerca das rela es sociais Nerone 2000 coloca que estas s o baseadas nas rela es de compadrio as quais n o eram simplesmente atos pessoais que solidificavam amizades e compromissos eram tamb m rela o de poder que permitiam o rompimento aparente de barreira entre as diversas categorias sociais n o s entre os homens mas tamb m entre as mulheres e determinava entre as comadres certas normas de conduta p 99 Dessa maneira o compadrio escondia sob a apar ncia de uma consci ncia niveladora e de uma associa o moral uma estrutura de domina o entre os propriet rios e n o propriet rios p 99 Essas rela es formais e informais definiam pap is direitos e deveres o que acabava por formar um grupo solid rio que primava pelo respeito e pela considera o m tua tendiam assim a dirimir as dist nc
262. o Faxinal do Emboque S o Mateus do Antigo carijo de erva mate na comunidade de Aparecida dos Pardos Irinc polis SC sesnstarananstar ada nsnsi Reflorestamento de eucalipto pr ximo s terras de plantar no Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Reflorestamento de eucalipto pr ximo s terras de plantar na comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC 188 188 190 15 APP AS PTA EPAGRIVE E FOM GGC IBGE ICMBio IDHM PNC RL RV SEMA SF LISTA DE SIGLAS Areas de Preserva o Permanente Assessoria e Servi os a Projetos em Agricultura Alternativa Empresa de Pesquisa Agropecu ria e Extens o Rural de Santa Catarina Esta o Experimental de Canoinhas SC Floresta Ombr fila Mista Grupo Gestor de Ca vas Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica Instituto Chico Mendes de Conserva o da Biodiversidade ndice de Desenvolvimento Humano Municipal Planalto Norte Catarinense Reserva Legal Revolu o verde Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos H dricos do estado do Paran Sistema Faxinal SUM RIO INTRODUCA Onnan nE AEA E CAP TULO 1 TERRIT RIO IDENTIDADE E IDENTIDADE TERRITORIAL A CONSTRU O DO ARRANJO CONCEITUAL ce 1 1 TERRIT RIO E TERRITORIALIDADE O SUPORTE ESPACIAL DA EXIST NCIA E REIVINDICA O COLETIVA 1 1 1 Os conceitos de territ rio e territori
263. o Negro Mafra e Porto Uni o Uni o da Vit ria chagando a Campo Er o mais longo registrado nesse sentido Itaja Curitibanos 51 E a Faxinal neste caso se refere a um tipo de vegeta o caracterizado por Klein 1978 como sendo uma mata rala e em geral pouco densa acompanhada por sub bosques de taquarais e carazais ocorrendo tamb m pinheirais ora em agrupamentos densos ora esparsos al m de outras esp cies de rvores 118 Campos Novos e Chapec cortando o Vale do Itaja Florian polis antes Desterro para Lages com v rios pousos intermedi rios como Bom Retiro Rancho Queimado Bocaina do Sul e Canoas e Laguna S o Joaquim e Lages p 141 Dessa maneira poss vel perceber que muitos caminhos tropeiros cortavam a regi o do Contestado especialmente passando por Curitibanos Timb Grande Ca ador Mafra Rio Negro Canoinhas Porto Uni o Uni o da Vit ria General Carneiro e Matos Costa Relacionando com os elementos dos Faxinais pode se dizer que a proximidade com estas rotas e caminhos permitia o desenvolvimento de algumas atividades econ micas essenciais para o Sistema como a comercializa o do porco e da erva mate 3 2 4 A territorialidade da policultura alimentar de subsist ncia Chang 1988 destaca que a produ o agr cola do Sistema Faxinal baseava se na policultura alimentar de subsist ncia que visava o abastecimento familiar e a comercializa o do excedente destacando se o cultivo d
264. o Pinheiro do Paran Araucaria angustifolia Esta se sobressai com sua copa nitidamente vis vel que fica a uma altura de cerca de 20 30 metros Sua madeira relativamente resistente bastante utilizada sobretudo na constru o civil Mais apreciada todavia a da Imbuia Ocotea pulchella hoje dif cil de ser encontrada da qual proveio a madeira utilizada na constru o das casas mais antigas dos Caboclos nos Faxinais Num extrato mais baixo da Mata com Arauc ria aparece a erva Mate Ilex paraguayensis Ela original deste tipo de mata e suas folhas s o utilizadas desde o per odo pr colombiano para a produ o de ch Um grande n mero de esp cies desta mata tamb m utilizado como ervas e plantas medicinais pela popula o local L WEN SAHR e CUNHA 2005 p 92 Dessa forma torna se evidente que a constru o da ferrovia e a posterior explora o das reas de Matas Mistas ao longo desta contribu ram para desequilibrar a rela o entre popula o e ambiente em muitos lugares edificada em forma de Sistema Faxinal Se as reas de mata s o fundamentais para a exist ncia dos criadouros comuns dos Faxinais a explora o desenfreada dessas matas fragiliza e ou desagrega o Sistema como um todo H que se considerar tamb m que justamente nesta poca hist rica ou seja nas d cadas de 1910 1920 que muitos Faxinais come am a se consolidar em regi es paranaenses que n o sofreram t o diretamente os efeitos da
265. o analisar as comunidades rurais tradicionais Faxinalenses na Floresta com Arauc ria afirma que na constitui o das comunidades as rela es sociais de parentesco compadrio culturais e tamb m religiosas s o essenciais permitindo uma coes o social Neste sentido os la os comunit rios se aproximam das identidades territoriais Ao 204 discutir as identidades territoriais a partir da comunidade local Castells 1999 afirma que as pessoas resistem ao processo de individualiza o e atomiza o tendendo a agrupar se em organiza es comunit rias que ao longo do tempo geram um sentimento de perten a e em ltima an lise em muitos casos uma identidade cultural comunal p 79 Isso se torna percept vel nas comunidades rurais da regi o do Contestado que frente necessidade de sobreviv ncia coletiva encontraram no agrupamento comunal e na luta pela terra uma possibilidade de existir e resistir Tratam se neste caso como diria Castells 1999 de abrigos mas n o para sos tendo em vista que estas comunidades precisam desenvolver rea es defensivas contra as condi es impostas pelas transforma es incontrol veis e aceleradas do mundo Sendo assim as comunidades servem de ref gio s o defensivas fontes de solidariedade e atuam como forma de prote o contra um mundo externo hostil e s o constru das culturalmente isto organizadas em torno de um conjunto espec fico de valores cujo significado e uso part
266. o ao referir se ao passado mesmo que atrav s da imposi o da repeti o Inventa se com mais frequ ncia quando padr es sociais para os quais as velhas tradi es foram constru das s o debilitados ou destru dos por r pidas transforma es na sociedade sendo necess rios novos padr es compat veis com as novas necessidades quando as velhas tradi es d o mostras de ter perdido sua capacidade de flexibilidade e adapta o tornam se obsoletas ou ainda quando s o eliminadas de outras maneiras Novas tradi es podem ser enxertadas nas velhas podem ser inventadas com empr stimos como por exemplo pr ticas tradicionais existentes que foram sendo modificadas transformadas em rituais e em seguida institucionalizadas com o intuito de servir a novos prop sitos Certamente as tradi es inventadas t m fun es pol ticas e sociais relevantes de forma que n o nasceriam e nem se firmariam se n o pudessem ser adquiridas ou seja possuem certa ancoragem Entretanto at que ponto estas podem ser manipul veis De fato as ditas novas tradi es atendem tanto a demanda quanto a oferta e emergem tamb m devido inabilidade ou a impossibilidade de se adaptar s tradi es e ou costumes antigos O que se nota com base nesta discuss o e na considera o das identidades de projeto que no caso dos Faxinais busca se frequentemente exaltar as pr ticas viv ncias e costumes tradicionais singulares inclu
267. o ao tratar destes processos da rela o entre os discursos atos e poderes que tratam sobre os territ rios locais e seu desenvolvimento o que exige La aplicaci n de nuevos enfoques y m todos interdisciplinarios junto a la existencia de modelizaciones que contengan un doble desafio primero estar abiertas a la reflexi n y segundo ser posibles de aplicar a la realidad local inmediata p 154 Neste sentido o territ rio visto como um espa o constru do no e pelo tempo produto de um conjunto de rela es cotidianas que o homem teceu para si e para os outros o que inclui a dimens o pol tica do territ rio o homem portanto influye afecta y controla acciones mediante el estabelecimiento de un dominio en una rea geogr fica espec fica idem Para R os 2011 o territorio es m s que el espacio son varios los territorios posibles en un espacio geogr fico com n p 154 no territ rio que fluem os acontecimentos internos significativos a cada coletividade Assim os territ rios se caracterizam por contar com uma sociedade e uma biodiversidade que permitem a identifica o Nestes casos a territorialidade refere se a comportamentos implantados no territ rio e que se relacionam com a maneira com que os meios os elementos e as motiva es com as quais se habita e permanece em um espa o imp em ritmos de vida e formas de interagir com o ambiente e com os outros mais ou menos distintos mais ou menos sem
268. o caboclo que pode ser algu m de olhos azuis ou mesmo um ndio destribalizado p 131 Em meio a um embate de possibilidades anal ticas acerca das origens desenrolar representa es e consequ ncias da Guerra evidencia se a figura do homem local o qual caracterizado mais pelo padr o sociocultural do que pela composi o racial de seus membros entendido tamb m como o caboclo do Contestado o qual era corajoso instintivo e violento ao mesmo tempo em que era franco leal e honrado SANTA CATARINA 2000 p 112 Este Homem do Contestado n o era de uma lida s exercia m ltiplas atividades era criador serrador ca ador pe o agregado mateiro lavrador e lenhador A denomina o que recebeu o caboclo abrangia v rios tipos humanos desde o branco lusitano ou castelhano o ndio Tupi Guarani Kaigang e Xokleng o negro escravo africano o mameluco da mesclagem do branco com o ndio o cafuzo descendente do cruzamento de negro com ndio o mulato mesti o negro e branco ou ainda o produto final das misturas de todas essas etnias tornando o inconfund vel onde quer que se apresente THOM 1992 p 19 21 Entretanto antes mesmo do in cio oficial da Guerra do Contestado em 1912 top grafos agrimensores e agentes da Estrada de Ferro S o Paulo Rio Grande iniciaram as medi es nas marginais dos trilhos para demarcar os espa os de coloniza o para os imigrantes estrange
269. o de Prudent polis 13 18 Munic pio de Quitandinha 06 19 Munic pio de Rebou as 06 20 Munic pio de Rio Azul 06 21 Munic pio de S o Jo o do Triunfo 04 22 Munic pio de S o Mateus do Sul 03 23 Munic pio de Teixeira Soares 03 24 Munic pio de Turvo 03 QUADRO 02 Munic pios paranaenses e respectivos n meros de Faxinais de acordo com o levantamento da EMATER 1994 Fonte Sistematizado por Soares 2012 e organizado pela autora 2013 Este levantamento da EMATER serviu de base para um posterior levantamento encomendado pelo Instituto Ambiental do Paran IAP efetuado por Marques 2004 Este ltimo tinha por objetivo identificar os Faxinais que possu am criadouro comum e apontar os Faxinais em que o criadouro comum j havia se extinto por m mantendo a paisagem de Faxinal Para tanto o autor classificou os Faxinais em a Comunidades que permanecem com o Sistema Faxinal coletivo original criadouro comunit rio cercas coletivas e uso coletivo das terras b Faxinais que permanecem somente com a paisagem de Mata de Arauc ria sem sistema coletivo propriedades com cercas individuais cria es isoladas etc c Faxinais que existiam e hoje s o considerados apenas comunidades de agricultores individuais comparando com o levantamento estadual da EMATER 1994 De acordo com Marques 2004 atualmente existem no Estado do Paran no m nimo 44 Faxinais que
270. o de car ter aberto democr tico e enriquecedor de uma cultura HAESBAERT 2007 p 47 48 64 habitantes de um determinado territ rio de alguma forma se reconhecer como participantes de um espa o e sociedade comuns O territ rio percebido como um continuum envolve sempre ao mesmo tempo uma dimens o simb lica cultural atrav s de uma identidade territorial atribu da pelos grupos sociais como forma de controle simb lico sobre o espa o onde vivem sendo tamb m portanto uma forma de apropria o e uma dimens o mais concreta de car ter pol tico disciplinar e pol tico econ mico podemos acrescentar a apropria o e ordena o do espa o como forma de dom nio e disciplinariza o dos indiv duos HAESBAERT 1997 p 42 Necess rio ressaltar que toda identidade territorial social por m nem toda identidade social como o g nero por exemplo territorial visto que esta ltima toma o territ rio como referencial central e definidor do grupo sua fra o do espa o geogr fico HAESBAERT 1999 Assim podemos afirmar que como toda rela o social toda identidade cultural espacial na medida em que se realiza no atrav s do espa o mas nem toda identidade territorial no sentido da centralidade adquirida pelo referente espacial em estrat gias de apropria o culturais e pol ticas dos grupos sociais ou seja realiza se claramente neste caso o elo ent
271. o destas rela es Para ele a territorialidade gerada pelas rela es sociais exercidas pelos atores tem sua origem nos naturalistas que enfatizavam a territorialidade animal mas para o autor mais ampla pois reflete a multidimensionalidade do vivido territorial pelos membros de uma coletividade pelas sociedades em geral Os homens vivem ao mesmo tempo o processo territorial por interm dio de um sistema de rela es existenciais e ou produtivas p 158 O autor ainda afirma que o territ rio pass vel de formaliza o e quantifica o uma constru o a partir do espa o algo j dado a mat ria prima natural portanto a territorialidade pode ser definida como um conjunto de rela es que se originam num sistema sociedade espa o tempo em vias de atingir a maior autonomia poss vel combat vel com os recursos do sistema p 161 Raffestin 1993 cita como exemplos de rede o dinheiro e a informa o circula o e comunica o 41 e assim todas as escalas sociais e espaciais representam uma territorialidade indo das mais est veis at as mais inst veis O autor afirma que o territ rio algo abstrato e no seu interior pode haver desigualdades disputas contradi es e sobreposi es de territ rio o que apesar de formar uma totalidade tamb m visto como uma unidade n o homog nea refor ando que c as desigualdades s o resultado da multidimensionalidade do vivido
272. o milho do feij o do arroz da batata e da cebola Estas ro as eram feitas das terras de mato pelo princ pio do pousio da terra onde para se fazer uma ro a bastava cortar e queimar o mato N o era feito nenhum tipo de trato cultura ap s o semeio p 27 Entretanto esta territorialidade r stica e tradicional do policultivo alimentar de subsist ncia n o era logicamente exclusividade dos Faxinais e existia ainda existe na maior parte das comunidades interioranas visto que tinha a fun o da produ o de alimentos para os moradores Assim sendo os caboclos e mais tarde os imigrantes praticavam segundo Renk 1997 a ro a cabocla exercendo a agricultura juntamente com a cria o de animais separando as reas em terras de criar e terras de plantar As terras de plantar eram as ro as abertas na floresta onde se praticava a rota o de terras e a coivara cercando estas terras com toras ou lascas de madeira para evitar a invas o dos animais Este sistema regional permitia pela exist ncia de amplos espa os naturais combinada baixa ocupa o demogr fica a livre circula o de animais em grandes espa os e a produtividade somente para o consumo Uma das formas mais antigas de interven o humana no meio ambiente Consiste em um sistema l gico de organiza o e uso dos recursos naturais geralmente associado a popula es pobres rurais e tradicionais na regi o dos tr picos midos ou s
273. o os rios e as estradas Ver tamb m Bertrand 1973 e Vasconcelos 1977 1 50 000 das localidades de Rio Claro do Sul 2007 e S o Mateus do Sul 2005 124 LEGENDA DA IMAGEM 01 Esta EE ES sc ec ps E e Elle O IC E ECE E L e e a 1 e E ie EE e a EE CI fes 125 Em complementa o a Imagem 01e objetivando fornecer mais detalhes acerca do tipo de vegeta o apresentam se a seguir as Fotos 01 e 02 que permitem visualizar a forma o vegetal do Faxinal do Emboque FOTO 01 Vegeta o de Matas Mistas com ervais nativos no criadouro comunit rio do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Obs Notar a presen a da Araucaria angustifolia e da Ilex paraguariensis Fonte Acervo da autora 2013 FOTO 02 Vegeta o de Matas Mistas com ervais nativos no criadouro comunit rio do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 126 Atrav s das Imagens 01 e 02 poss vel perceber a presen a not vel da Araucaria angustifolia e da Ilex paraguariensis que s o esp cies de grande import ncia para o Sistema seja no caso da complementa o alimentar animal Arauc ria ou seja no caso do extrativismo vegetal objetivando o lucro a Arauc ria antigamente e a erva mate at o momento Esta vegeta o se desenvolve no espa o do criadouro comum pr ximo s resid ncias o que d ao Sistema Faxinal esse car ter de preserva o ambiental consorciado exist
274. o paranaense de S o Mateus do Sul No local foram analisados primeiramente os elementos regionais que caracterizam o Sistema Faxinal ou seja as Matas Mistas com ervais nativos enquanto condicionante f sico natural e enquanto condicionantes humanos foram analisadas as contribui es de caboclos e EN imigrantes poloneses especialmente quanto ao desenvolvimento do Sistema cria o Para tanto destaca se as seguintes contribui es D Assump o 1917 Struch 1955 Klein 1960 1978 Saint Hilaire 1964 Vinhas de Queir s 1977 Martins 1977 Almeida 1979 Thom 1981 1992 Oliveira 1985 Chang 1988 Crosby 1992 Martins 1995 Auras 1995 Renk 1997 Cabeza de Vaca 1999 Luz 1999 Bloemer 2000 Santa Catarina 2000 Oliveira 2001 Moro 2001 Filho Goularti 2002 IBGE 2002 Ab Saber 2003 Machado 2004 Fraga 2005 L wen Sahr e Cunha 2005 Cordeiro 2005 Lemos 2006 Brandt 2007 Brandt e Campos 2008 Bach 2009 Gil 2008 Yin 2001 33 extensiva ao tropeirismo do porco e policultura alimentar de subsist ncia Na escala da comunidade foram analisados os elementos socioespaciais que diferenciam o Sistema Faxinal de outros espa os rurais distin o entre as terras de plantar e as terras de criar pela diferencia o entre propriedade e uso das terras e pelo sistema de cercas porteiras e mata burros e os elementos socioculturais uso coletivo da terra rela es de
275. o pessoal que cria os seus porcos soltos em comum tudo junto tipo uma fam lia s tudo cria no terreno dos outros tudo a cria o junta ent o vamos supor que isso fosse uma fam lia s tudo reunido unido um Sistema do pessoal ficar no interior pra n o procurar de ir pra cidade atr s de emprego gerando emprego pra si mesmo na comunidade O Faxinal segura o pessoal na ro a Segura no interior por causa que ele tem de onde fazer um dinheiro e de se alimentar n o comprando carne como tem crioulo sistema mais f cil de ele sobreviver no interior ent o ele fica por a se n o ele vai ter que procurar a cidade e l ele vai ter pagar gua luz e comprar tudo o que ele precisa de se alimentar e acaba n o sobrando nada nem tem como sair daqui pra ir pra cidade apud ARTICULA O 2008 p 03 A partir do trecho anterior parte se para a reflex o de outro elemento regional importante para o desenvolvimento do Sistema Faxinal a cria o extensiva e em particular o tropeirismo do porco O munic pio de S o Mateus do Sul no Paran n o evidenciado nas principais rotas tropeiras conhecidas do Brasil Meridional entretanto sua localiza o geogr fica muito pr xima ao que Fraga 2005 chama de emaranhado de caminhos internos que ligam aos gerais p 140 141 como j evidenciado no cap tulo anterior De fato poss vel perceber pela racionalidade ainda existente desta pr tica que a cria o extensiva um
276. o tamb m no caso dos Faxinais a ponto de serem considerados um elemento regional de import ncia para caracterizar o Sistema 3 2 3 A territorialidade da cria o extensiva e do tropeirismo do porco Oliveira 1985 evidencia que n o ser exagerado acentuar que ainda h bem pouco tempo a paisagem humana dos planaltos meridionais se formava em torno deste trip pastoreio erva mate e explora o madeireira p 36 ressaltando que o madeireiro e o ervateiro associam por vezes a explora o da floresta com atividades agropastoris cultivando hortali as cereais e criando gado su no p 39 114 Fraga 2006 ao se referir ao tropeirismo nos estados do Paran e de Santa Catarina destaca que este ciclo econ mico foi de fundamental import ncia para estes estados n o somente em termos econ micos sendo determinante tamb m em aspectos sociais e culturais mesmo que tenha sido apenas terra de passagem p 138 O autor destaca ainda que ao contr rio do que se pensava at ent o existiu uma rede de interliga es muito mais complexa pois al m dos caminhos tradicionais que ligavam Rio Grande do Sul a S o Paulo existiu tamb m um emaranhado de caminhos internos que se ligam aos gerais que se resumiam s liga es entre Santa Maria passando por Chapec e Palmas Santa Maria passando por Campos Novos e Uni o da Vit ria Vacaria passando por Lages Curitibanos Rio Negro e Curitiba e o litor neo que vem do sent
277. o tradicional bem como dos elementos novos resultantes da racionalidade moderna dos Faxinais Lowen Sahr 2008 prop e uma reflex o acerca dos componentes e campos que existem e atuam nestes espa os O Quadro 01 apresenta estas considera es e permite notar a dinamicidade destas comunidades CAMPOS COMPONENTES a cria o tradicional de animais solta permanece e com elas as CAMPO A e i cercas valos que delimitam os criadouros As cercas valos entretanto Elementos resistentes a X o outrora confeccionados com madeira v m sendo substitu das por telas processos o E de arame que garantem facilidade na manuten o al m de custos mais modernizadores A do baixos p 222 Igreja perman ncia de manifesta es religiosas distintas da cat lica CAMPO B moderniza o de cultos rituais religiosos cat licos Componentes de Escola conhecimentos passados de gera o gera o convivendo com media o entre escolas urbanas e descontextualizadas da realidade faxinalense moderniza o e Posto de sa de Of cios tradicionais benzedeiras curandeiras tradicionalismo integrados ao Sistema de Sa de P blico Meios de transporte Carro as convivendo com carros e tratores Casas dos moradores Substitui o das moradias de madeira por CAMPO C P Elementos din micos e aening Estabelecimentos comerciais Antigos bares diversificam suas ofertas de modernos i at venda produtos industrializa
278. obiliza o social reivindicando os direitos dos moradores enquanto popula es tradicionais Por outro lado na comunidade de Aparecida dos Pardos a identidade de resist ncia permanece n o mais marcada pelo modo comunit rio consubstanciado pelo criadouro comum mas uma resist ncia 205 toda marginaliza o social que est o submetidas as popula es rurais do Contestado frente ao avan o do capital atrav s dos reflorestamentos dos frigor ficos e da monocultura Compreender os pensamentos e ideais das comunidades rurais n o tarefa f cil nem coisa que se perceba em um olhar apressado Isso requer tanto uma constru o te rica adequada quanto uma constru o metodol gica eficaz Neste sentido R os 2011 ao refletir sobre os processos territoriais locais dos quais as comunidades tradicionais participam ressalta que necess rio considerar a diversidade existente no interior dessas comunidades e tamb m valorizar os conhecimentos e saberes dos diversos atores que a comp em Assim emerge a territorialidade definida pelos comportamentos pelos elementos pelas motiva es ritmos de vida e formas de interagir com o ambiente e com os outros Compreender isso pode ser poss vel atrav s da constru o de uma imagem desse territ rio a sua cotidianidade considerando as mem rias os imagin rios e as rela es de poder e conflito no e pelo tempo Quando se considera as comunidades do Sistema Faxinal per
279. ocial bem como em sua vis o de tempo espa o CASTELLS 1999 p 23 E assim quem constr i e para qu constru da a identidade coletiva s o questionamentos centrais e em grande medida determinantes do conte do simb lico dessa identidade sobretudo devido ao fato de que a constru o social desta sempre ocorre em um contexto marcado por rela es de poder sendo poss vel propor tr s formas e origens de constru o de identidades identidade legitimadora identidade de resist ncia e identidade de projeto A identidade de resist ncia leva forma o de comunidades d origem a formas de resist ncia coletiva diante de uma opress o que aparentemente foram definidas com clareza pela hist ria geografia ou biologia facilitando assim a essencializa o dos limites da resist ncia CASTELLS 1999 p 25 J a identidade de projeto produz sujeitos sendo que estes s o o ator social coletivo pelo qual indiv duos atingem o significado hol stico em sua experi ncia p 26 e a constru o da identidade consiste em um projeto de vida com base at em uma identidade oprimida Entretanto necess rio destacar que identidades que come am como resist ncia podem acabar resultando em projetos CASTELLS 1999 p 24 Nota se tamb m o surgimento de identidades de resist ncia poderosas que se retraem para os seus para sos comunais e se recusam a participar diretamente dos fluxos globais intensos
280. ocial estar se tamb m diante de um territ rio e como o poder onipresente nas rela es sociais o territ rio est outrossim presente em toda espacialidade social p 96 Tais considera es permitem acrescentar na an lise te rica acerca do territ rio uma dimens o cultural o que contribui na diferencia o destes espa os da mesma forma refor am a percep o de que os territ rios s o constru dos e desconstru dos nas mais diversas escalas espa o temporais e est o presentes em toda sociedade O territ rio surge na Geografia Pol tica considerando o espa o concreto em si que apropriado e ocupado por um grupo social ou seja os atributos naturais somados aos socialmente constru dos Portanto essa ocupa o vista como geradora de identidade sociocultural onde o territ rio pode ser definido a partir de dois ingredientes o espa o e o poder SOUZA 2007 p 106 E em qualquer circunst ncia o territ rio encerra a materialidade que constitui o fundamento mais imediato de sustento econ mico e de identifica o cultural de um grupo descontadas as trocas com o exterior O espa o social delimitado e apropriado politicamente enquanto territ rio de um grupo suporte material da exist ncia e mais ou menos fortemente catalisador cultural simb lico e nesta qualidade indispens vel fator de autonomia SOUZA 2007 p 108 Dessa maneira considerando as proposi es anteriores Haesba
281. ocial exercido por meio de acordos comunit rios b cria o animal extensiva solta em terra comunal criadouro ou criador comunit rio c extrativismo florestal de baixo impacto manejo de erva mate arauc ria e outras esp cies nativas d produ o de subsist ncia em quintais agroflorestais individuais internos ao criador Faxinal propriamente dito e produ o agr cola policultura alimentar de subsist ncia para consumo e comercializa o em reas individuais externas ao criador Tamb m considerado FAXINAL aquele criadouro comunit rio com as caracter sticas descritas para os Faxinais ainda que esse criadouro n o seja historicamente denominado Faxinal IAP 2011 Art 1 fl 02 Ao analisar o Sistema Faxinal e sua identidade Souza 2001 caracteriza o Faxinal como sendo um espa o f sico natural existente no interior do criador cuja delimita o determinada pela presen a de esp cies vegetais de relevante interesse econ mico como tamb m pela disponibilidade de forrageiras nativas que atendiam a pecu ria mantida no Sistema p 31 32 Por criadouro comunit rio um dos principais elementos do Sistema o autor compreende o espa o f sico constru do tendo por base uma rela o social cuja finalidade a organiza o comunit ria O mesmo autor alguns anos ap s analisar a constru o da identidade Faxinalense apresenta um significado mais anal tico para os Faxinais terras tradic
282. ographic features the System seems to be invisible In face of this divergent context in this thesis we propose to analyze the territoriality of the elements which characterize the Faxinal System in the Contestado region located at the political limits between the States of Paran and Santa Catarina in order to understand its consolidation disarticulation and reminiscences under the perspective of territorial identities To do so we discuss the way the territorial faxinalense identities have been built in Paran and investigate what happened to the territoriality of the elements which make up the System in Santa Catarina From the theoretical field in this thesis we use the concepts of territory identity and territorial identity bringing them close to more specific studies of traditional populations In methodological terms the research follows two distinct analysis scales the regional and the one of the community in order to investigate the elements of the System in two communities Faxinal do Emboque in S o Mateus do Sul Paran and Aparecida dos Pardos in Irine polis Santa Catarina The elements of the regional analysis scale were proposed following Chang 1988 while the elements of the community scale were outlined according to Nerone 2000 From the analysis it is possible to realize that in the State of Paran the actions of the people involved in the process of building territorial identities have culminated in t
283. olonizadoras com o amparo do poder pol tico e econ mico que visavam ignorar o territ rio existente e construir um novo territ rio com a contribui o da imigra o evidenciando assim um campo de for as uma teia ou rede de rela es sociais que a par de sua complexidade interna define ao mesmo tempo um limite uma alteridade a diferen a entre n s o grupo os membros da coletividade ou comunidade os insiders e os outros os de fora os outsiders SOUZA 1995 p 86 Por outro lado como destaca Chang 1988 os movimentos imigrat rios do s culo XIX e in cio do s culo XX eram resultantes de uma conjuntura nacional de car ncia de m o de obra para a agricultura de exporta o e da necessidade de pequenos propriet rios produtores de lavoura de subsist ncia p 32 Assim sendo em alguns lugares a funda o das col nias imigrantes ocorreu de uma maneira mais tranquila entretanto em outros espa os como no caso da regi o do Contestado o embate entre caboclos e imigrantes mais n tido Por m a discuss o quanto presen a de caboclos e imigrantes deve ter como foco os atores sociais que d o vida ao Sistema Faxinal e neste sentido de fato existem no Paran Faxinais caboclos Faxinais imigrantes e Faxinais que mesclam esses dois atores Dessa maneira acredita se que estes dois atores sociais no decorrer do tempo mesclaram suas tradi es costumes e formas de ocupar o territ ri
284. om as costas 16 N o se tira leite sem deixar um teto cheio ao terneiro 17 N o se tira mel sem deixar alguns favos para as abelhas 18 Rogar pragas chamar o diabo para si 19 Quer morrer novo N o respeite os velhos 20 Cumpra a tua promessa Palavra dada sagrada Quem n o a cumpre trocado por m caro 21 O velhaco caloteiro deve a Deus mas paga ao diabo Te livres de tal credor 22 Do vadio at o rastro feio 23 O ladr o s cio do tinhoso O roubo repartido no inferno 24 Da baba do capeta cheia a boca do mentiroso 25 A pobreza n o defeito a sujeira sim 26 Trata bem do teu h spede para seres bem tratado 27 Quem usa a arma da boa conduta ama e obedece a Deus 28 Respeita a fam lia dos outros para que respeitem a tua 29 N o preciso ser santo mas preciso ser respeitado QUADRO 06 Mandamentos do Monge Jo o Maria Fonte http mongedocontestado wordpress com 149 A Foto 24 mostra a cruz dedicada ao Monge Jo o Maria existente na comunidade do Faxinal do Emboque FOTO 24 Cruzeiro do Monge Jo o Maria no Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 A Foto 24 retrata o Cruzeiro dedicado ao Monge Jo o Maria no Faxinal do Emboque ele se localiza pr ximo a um dos tr s mata burros existentes no cercamento das terras de criar Segundo os moradores a estaca principal da Cruz vertical feita de cedro foi deixada pelo
285. omunit rio organizar mais mutir es destacar sua identidade tnica e religiosidade refletir comunitariamente sobre as decis es se fazer representar junto aos encontros que discutem suas demandas ou seja os h bitos costumes e ideais que quase se perderam no tempo e nas press es ressurgiram contempor neos e fortes assumindo suas fun es sociais e pol ticas Nestes casos Haesbaert 2008 p 367 afirma que a re inven o das identidades pode ser utilizada na tentativa de legitimar novas unidades pol tico administrativas pois a busca de legitimidade atrav s de uma identidade cultural com o territ rio pode ser decisiva na obten o do apoio da popula o ao movimento H que se destacar tamb m que as ditas novas tradi es atendem tanto a demanda quanto a oferta e emergem tamb m devido inabilidade ou a impossibilidade de se adaptar s tradi es e ou costumes antigos Em oposto a comunidade de Aparecida dos Pardos assiste a perda de suas caracter sticas comuns com maior intensidade e n o se atenta para a manuten o de sua identidade coletiva Os motivos v o desde a aus ncia de reconhecimento por parte do estado de Santa Catarina at o trabalho cotidiano com a fumicultura que ocupa as horas que poderiam ser dedicadas ao conv vio social comunit rio De fato a efetiva o da identidade territorial neste caso comunit ria s ocorre quando um referencial espacial assume o papel de elemento central de identifica
286. onforme o exposto no Esquema 03 ESCALA REGIONAL l Chang 1988 Condicionante f sico natural Condicionantes humanos Matas Mistas com ervais nativos Caboclos e imigrantes 1 Cria o extensiva e tropeirismo do porco 2 Policultura alimentar de subsist ncia ESQUEMA 03 Elementos socioecon micos regionais do Sistema Faxinal propostos por Chang 1988 Fonte Elaborado pela autora 2013 Trata se de uma caracteriza o regional e que objetivava tra ar o perfil mais abrangente do Sistema Faxinal Dessa forma partindo destes elementos pretende se observar a regi o do Contestado buscando a intersec o destes elementos por acreditar que os locais onde estes se sobrep em s o prop cios exist ncia do Sistema Faxinal Identificados os locais onde existe o condicionante f sico natural ou seja as Matas Mistas pretende se partir da literatura espec fica sobre os tipos de vegeta o da regi o Sul do Brasil recobrimento flor stico para discutir a presen a deste elemento Em seguida acerca dos condicionantes humanos torna se necess rio identificar os locais na regi o definida onde a presen a dos caboclos e dos imigrantes foi marcante Neste sentido uma an lise da literatura hist rica quanto aos processos de coloniza o da regi o contribuir para perceber onde a fixa o de colonos e imigrantes foi mais evidente Associada a essa an
287. onsidera es permitem refletir sobre a rela o entre a tradicionalidade e a origem dos territ rios onde as proposi es metodol gicas do autor narra es e relatos dos atores sociais serviriam de base para compreender as circunst ncias que desenharam e continuam desenhando estes territ rios diferenciados Frente ao exposto o territ rio na presente discuss o compreendido partindo de sua constru o social e hist rica a partir do espa o o que implica em rela es de poder seja atrav s da apropria o tessituras n s redes seja atrav s do controle Para existir necessita de um espa o delimitado que varia entre as escalas mais complexas at as mais cotidianas e simples O territ rio ainda est ligado a uma ideia de dom nio e ou gest o de uma determinada rea seja pelo poder p blico seja por empresas privadas resultando em diferentes configura es territoriais com base nas t cnicas nos meios de produ o no trabalho e na 48 intencionalidade humana Pelo fato de ser tamb m constru do no jogo entre material e imaterial funcional e simb lico pode vir a funcionar como um catalisador simb lico cultural suporte material da exist ncia social e nesta qualidade indispens vel fator de autonomia Quanto territorialidade esta compreendida enquanto s mbolo de um territ rio e dessa forma existe efetivamente podendo servir de estrat gia pol tico cultural em outras palavras de instrumento pol
288. oradores notou se que a demarca o de limites entre estes dois munic pios hoje catarinenses ainda n o perfeitamente percebida por todos Ora alguns falam que as terras pertencem a Canoinhas ora a Irine polis A Planta de Terreno analisada anteriormente pertence atualmente ao morador de origem polonesa D M O mesmo conta que seu pai natural de Rio Negro PR que trabalhava de servente na comunidade de Paragua u atual munic pio de Itai polis SC adquiriu as terras do dono de uma antiga serraria que existia no local e que pagou por elas trabalhando na caldeira saindo todos os dias s seis horas da manh enfrentando reas alagadas e o frio do inverno pois como relata ao serrador interessava s a madeira as terras n o poss vel notar ainda pela Planta de Terreno que as propriedades vizinhas tamb m foram vendidas aos imigrantes poloneses cujos sobrenomes s o Kosowski Krzewinski Dominicoski Soluchinski Jankoski entre outros 162 Os principais sobrenomes poloneses encontrados na comunidade que hoje conta com cerca de 54 fam lias s o Kozowski Krzewinski Marek Jankowski Szostak Soluszinski Panczniaki Marchinhaki entre outros Logicamente existem fam lias que n o descendem dos poloneses como Carvalho Cardoso Camargo e outros Na paisagem poss vel perceber a arquitetura polonesa no estilo construtivo das casas A Foto 29 evidencia essa individualidade FOTO 29 Casa polonesa na co
289. ordo com o autor a maior concentra o de poloneses aparece em Lucena e redondezas onde ocupam terrenos numa massa compacta em n mero de 1 200 fam lias espraiando se na regi o pr xima em dire o a Blumenau at o morro Tai e em dire o a Canoinhas para o oeste p 101 No Faxinal do Emboque as tradi es e costumes poloneses s o muito presentes comum ouvir pessoas conversando em polon s cultuando a imagem da Padroeira da Pol nia Nossa Senhora de Czestochowa cozinhando comidas t picas fazendo ora es em polon s Nos arredores das casas os jardins pomares e hortas denunciam a presen a do povo eslavo Como j tratado no Cap tulo 4 as primeiras fam lias polonesas provenientes de Curitiba compraram as terras de uma antiga fazenda consolidaram e deram continuidade pr tica cabocla da separa o entre terras de criar e terras de plantar at os dias atuais A comunidade de Aparecida dos Pardos tamb m ainda mant m presente no cotidiano algumas das pr ticas e costumes dos poloneses Entretanto como j discutido no Cap tulo 5 n o pratica mais a distin o entre terras de lavoura e terras de cria o partilhando o grande criadouro comum restrito a pequenos n cleos familiares De fato considerando as duas comunidades em quest o pode se afirmar que o conservadorismo polon s e o senso de liberdade do caboclo mesclaram se em fun o da sobreviv ncia coletiva nos dois casos No Emboque
290. os sendo que muitos brasileiros na regi o dos Campos principalmente os caboclos come aram a sentir se apertados com a O Litoral paranaense juntamente com a regi o Centro Sul formam o que se convencionou chamar de Paran Velho por serem as primeiras regi es a serem ocupadas na coloniza o da Prov ncia CHANG 1988 p 16 80 chegada dos colonos p 39 isso devido s cercas postas por todos os lados com as quais n o estavam acostumados Os imigrantes tiveram importante rela o com o Sistema Faxinal A leva que chegou ao estado do Paran e mais especificamente nas matas do Vale do Igua u chegou por volta de 1890 a 1910 Eles tinham segundo as autoridades a miss o de compensar o atraso e as t cnicas elementares utilizadas pelo elemento local ou seja o caboclo CHANG 1988 p 34 entretanto devido s distintas condi es f sico clim ticas e as prec rias condi es infraestruturais de produ o e mercado al m da falta de apoio oficial os imigrantes ao inv s de renovarem as t cnicas foram obrigados a se adaptarem s condi es oferecidas adotando as t cnicas locais de produ o idem Exemplo claro disso a ado o por parte dos colonos imigrantes da constru o dos criadouros comuns o que trouxe seguran a quanto invas o dos animais nas lavouras visto que cercar as lavouras pela extens o ou continuar matando os animais criados soltos pelos vizinhos era impratic
291. os Novos Principais cidades catarinenses Principais cidades paranaenses Munic pios pesquisados Principais rios Limites estaduais Ferrovia Delimita o aproximada da regi o do Contestado Serra Geral Fonte Vinhas de Queir s 1981 Fraga 2006 Elaborado pela autora 2014 23 24 Das fontes que indicam a exist ncia do Sistema Faxinal em toda regi o Sul do Brasil e por vezes o relacionam com a Guerra do Contestado algumas merecem destaque por terem contribu do na defini o da problem tica de estudo L wen Sahr e Cunha 2005 afirmam que em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul os Faxinais j pertenceriam ao passado devido sobretudo influ ncia cultural dos colonos imigrantes no s culo XIX e Quest o do Contestado 1912 1916 Tavares 2008 em contrapartida destaca que na constitui o dos elementos fundantes da constru o dos Faxinais in cio do s culo XVID soma se a contribui o dos imigrantes europeus sobretudo camponeses do leste da Europa Ucr nia e Pol nia e da fra o dos camponeses que participaram da Guerra ou Revolta do Contestado para a sua consolida o p 383 Da mesma forma Campigoto e Sochodolak 2009 acreditam que a hist ria dos Faxinais vincula se tamb m a guerra sertaneja do Contestado que teve como palco a regi o mais ao Sul do que hoje o Estado do Paran p 206 Martins 1995 no livro Anjos de cara suja descreve atrav s
292. os Pardos os poloneses ao perceberem as dificuldades encontradas assimilaram pr ticas agropecu rias j desenvolvidas pelos caboclos e foram com o passar do tempo contribuindo para a consolida o do chamado Sistema Faxinal nos dois lugares sem se preocupar se ocupavam terras do Paran ou de Santa Catarina Gluchowski 2005 ao se referir aos poloneses de S o Mateus do Sul os caracteriza como sendo um tipo curioso de colono A especialidade dos colonos de S o Mateus a erva mate Foram eles os primeiros poloneses que aprenderam a utiliz la e industrializ la introduzindo para a fabrica o da erva uma s rie de aperfei oamentos como o novo tipo de secador denominado barbaqu etc Hoje fazem bons neg cios tamb m com a erva mate e 202 como t m bonitos e ricos ervais com o seu orgulho valentia e fantasia podem perfeitamente ser denominados nobreza da erva mate p 66 Esse tipo curioso de colono polon s a que se refere Gluchowski 2005 consiste naquele que al m de praticar a lavoura aprendeu a extrair da floresta um importante recurso econ mico para a poca a erva mate Al m disso compreendeu que criando os animais confinados junto aos ervais teria de investir menos na constru o de cercas Sobre os poloneses em Santa Catarina Glochowski 2005 relata que al m de Lucena atual Itai polis SC n o existe nenhuma outra concentra o t o importante de poloneses e ucranianos De ac
293. os Pardos ocorre o mesmo n o existindo mais os antigos carijos mas o manejo dos ervais nativos permanece sendo que a produ o retirada do local enviada a outros barbaqu s maiores existentes no munic pio de Irine polis A Foto 48 retrata um carijo remanescente no Faxinal do Emboque 188 FOTO 48 E carijo de erva mate no Faina do Prane S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2014 Na comunidade de Aparecida dos Pardos os carij s tamb m ainda fazem parte da paisagem como pode ser visualizado atrav s da Foto 49 FOTO 49 Antigo carijo de erva mate na comunidade de Aparecida dos Pardos Irinc polis SC Fonte Acervo da autora 2014 189 Assim sendo a erva mate uma esp cie que pode ser considerada como esp cie chave no desenvolvimento econ mico da hist ria regional do Contestado tendo em vista seu longo per odo de explora o Por m conforme atesta Chang 1988 enquanto desabava a economia ervateira a economia madeireira se fortalecia p 66 ambas contribuindo para a degrada o das Matas Mistas c Economia madeireira A Floresta Ombr fila Mista preservada atualmente em poucas localidades ocupava quase inteiramente o planalto acima de 500 m de altitude nos estados do Paran Santa Catarina e Rio Grande do Sul p 81 e era formada principalmente pelas seguintes esp cies Araucaria angustifolia pinheiro brasileiro Ocotea pulchella canela Ilex paraguariensis erva m
294. os comportamentos implantados neste territ rio estando no v rtice de um grande n mero de a es humanas Dessa maneira torna se poss vel compreender o redesenhar do Sistema Faxinal considerando as modifica es ocorridas no e pelo tempo enfatizando n o somente as mem rias mas tamb m as novas necessidades e articula es que redefiniram a territorialidade desse grupo social Mu oz 2011 ao analisar a rela o entre significa o social e territ rio prop e uma aproxima o metodol gica a fim de permitir identificar e compreender o car ter simb lico imagin rio dos projetos territoriais e tamb m assentar as bases para construir uma Hermen utica do Territ rio por ele chamada de Hermen utica Dial gica Territorial A tarefa principal desta hermen utica decifrar os sentidos do territ rio a partir de narra es e relatos O autor considera o territ rio como parte essencial da condi o humana para ele territ rio e consequentemente a territorialidade n o elemento objetivo no sentido materialista nem subjetivo no sentido idealista sendo algo que Na pesquisa proposta pelo autor a espacialidade definida s o as comunidades tradicionais existentes no Sul patag nico do Chile 46 posicion ndose significativamente de un entorno siempre calificado heterog neo y diverso en que lo humano sucede como realidad hist rico social y no natural emerge creativamente desde la subjetividad de la experiencia colec
295. os elementos territoriais identit rios que caracterizam o Sistema em duas escalas na escala regional e na escala da comunidade Inicialmente organizou se uma breve discuss o conceitual com a inten o de definir o Sistema Faxinal partindo de Carvalho 1984 Gubert Filho 1987 Chang 1988 do Decreto Estadual Paranaense n 3446 97 Marques 2004 Souza 2001 2009b Cunha 2003 L wen Sahr e Cunha 2005 29 L wen Sahr 2005a Nerone 2000 Tavares 2008 evidenciando tamb m as contribui es da Articula o Puxir o dos Povos Faxinalenses Em seguida foram definidos atrav s das contribui es de Chang 1988 os elementos identit rios socioecon micos que caracterizam o Sistema Faxinal em escala regional S o eles a presen a das Matas Mistas como condicionante f sico natural e dos caboclos associados aos imigrantes sobretudo eslavos como condicionantes humanos sendo que derivam destes o uso coletivo da terra para produ o animal sobretudo su nos a produ o agr cola baseada na policultura alimentar de subsist ncia abastecimento familiar e venda de excedente e a coleta de erva mate nos ervais nativos al m da n tida separa o entre terras de criar e terras de plantar Da perspectiva de Nerone 2000 cuja Tese consiste de um esfor o no sentido de problematizar essas comunidades frente ao seu contexto hist rico e social considerando as particularidades regionais neste caso a das popula es tradicionai
296. os limites pontuais da regi o do conflito Assim sendo a literatura que faz refer ncia regi o do Contestado menciona por vezes a exist ncia de Faxinais ora os apontando como tipo de vegeta o ora evidenciando implicitamente sua poss vel exist ncia atrav s da refer ncia a alguns dos elementos que comp emm o Sistema Com o intuito de clarificar estes questionamentos apresenta se a seguir um entendimento mais minucioso dos elementos identit rios inicialmente na escala regional que caracterizam o Sistema Faxinal 3 2 ELEMENTOS IDENTIT RIOS REGIONAIS NA TERRITORIALIDADE DO SISTEMA FAXINAL Dada impossibilidade de se refletir neste momento sobre a Guerra do Contestado em sua totalidade constr i se uma vis o desta a partir da an lise da territorialidade dos elementos que comp em o Sistema Faxinal a territorialidade das Matas Mistas com presen a dos ervais nativos a territorialidade dos atores sociais caboclos e imigrantes eslavos a territorialidade das terras de criar criadouros comuns e territorialidade das terras de plantar policultura alimentar de subsist ncia Buscam se a partir desta constru o os locais onde estes elementos se sobrep em visto que estas reas podem ter sido ou ser reas onde existiu ou existe o Sistema Faxinal 3 2 1 A territorialidade das Matas Mistas com presen a dos ervais nativos O territ rio brasileiro dada sua dimens o continental apresenta grande di
297. os por meio de seus h bitos e imagin rios territoriais para em seguida revelar possibilidades de sustentabilidade de seus territ rios permitindo que o sujeito territorial se abra al mundo desde sus propios sentidos existenciales p 161 Interessante perceber que a Antropologia do Territ rio possibilita construir uma imagem do territ rio que adv m de tiempos memorias imaginarios territoriales relaciones de poder y conflicto R OS 2011 p 161 cuja intensidade acumulada refere se a mem rias tradi es usos e costumes mas tamb m refere se e inclui o novo o emergente Assim a cotidianidade do territ rio como acontecimento prov m de territ rios vividos m ltiplos e locais cada um com suas pr prias temporalidades Portanto no caso mais espec fico das comunidades tradicionais R os 2011 acrescenta que para se analisar estes territ rios h de se refletir sobre a diversidade existente no interior destas comunidades bem como perceber atrav s do sentido patrimonial os conhecimentos e saberes desenvolvidos pelos atores que as comp emm Nesta perspectiva o territ rio visto como uma constru o no e pelo tempo sendo produto das rela es cotidianas que os atores constroem para si e para os outros permitindo uma identifica o a constru o de uma imagem do territ rio que inclui n o somente as mem rias mas tamb m o novo o emergente A territorialidade neste sentido refere se a
298. ossamento das terras no aproveitamento dos ervais e da floresta p 284 que permitia aos caboclos uma subsist ncia calcada em pr ticas que ficaram consagradas pelo tempo como direitos O autor ainda prop e olhar a hist ria sob a tica dos de baixo p 289 notando assim que os pequenos posseiros ocupavam terrenos devolutos em regi es de fronteira como a do Contestado no s culo XIX Certamente o movimento do Contestado n o era formado apenas por camponeses Tavares 2008 coloca que analisar a contribui o dos camponeses que participaram deste movimento na consolida o da forma o social dos Faxinais n o uma tarefa das menores Para ele entre as raz es est o a dificuldade em compreender o epis dio complexo que foi a Guerra do Contestado e a vasta literatura existente atualmente acerca desta regi o nas mais diferentes reas das ci ncias traduzindo assim diferentes vis es de mundo a respeito do que ocorreu neste conflito sendo a delimita o da rea de influ ncia do conflito como um ponto a ser considerado visto que a demarca o oficial desconsidera alguns espa os 102 Machado 2004 acrescenta que nos redutos do Contestado a cultura da cria o em comp scuo no sistema extensivo sofreu modifica es porque no interior dos redutos os recursos considerados posse de todo o grupo eram formados pelas terras circunvizinhas o gado grande bois e vacas e mi do galinhas e porcos trazidos pelos s
299. osseguindo parte se para a an lise da territorialidade dos elementos identit rios regionais que definem o Sistema Faxinal segundo Chang 1988 O primeiro elemento definido como A territorialidade das Matas Mistas com presen a dos ervais nativos apresenta uma reflex o acerca das caracter sticas fitogeogr ficas da regi o constru da a partir de contribui es de estudiosos do assunto da classifica o do IBGE de narrativas de viajantes m dicos e oficiais de estudos espec ficos e de refer ncias encontradas na literatura acerca da Guerra do Contestado O intuito dessa sele o perceber a territorialidade desse elemento compreendendo sua localiza o geogr fica no recorte espacial definido Em seguida analisa se a territorialidade do segundo elemento definido ou seja A territorialidade dos atores sociais caboclos e imigrantes que em conjunto deram vida ao 95 Sistema Faxinal A narrativa constru da a partir do entendimento de que o caboclo n o pode ser percebido com base na conota o tnica da palavra mas deve sim ser concebido a partir de sua condi o social e cultural definida regionalmente Da mesma maneira a chegada e ocupa o da regi o pela imigra o marcam uma ruptura no territ rio do caboclo mas ao mesmo tempo evidencia se uma maior ou menor intera o de ambos caboclos e imigrantes em certos lugares A territorialidade da cria o extensiva e do tropeirismo do porco ter
300. osto de 1916 pelo Dr Felippe Schmidt governador do Estado de Santa Catharina p 46 SANTOS M A natureza do espa o t cnica e tempo Raz o e emo o S o Paulo Edusp 2002a SANTOS M O Brasil territ rio e sociedade no in cio do s culo XXI Rio de Janeiro Record 2003 SANTOS M O dinheiro e o territ rio In Territ rio Territ rios Programa de P s Gradua o em Geografia da Universidade Federal Fluminense Associa o dos Ge grafos Brasileiros Niter i 2002b p 17 38 SANTOS M Por uma geografia nova S o Paulo Hucitec 1980 SCH TZE F Pesquisa biogr fica e entrevista narrativa In PFAFF Nicolle WELLER Wivian Orgs Metodologias da pesquisa qualitativa em Educa o teoria e pr tica Vozes Petr polis 2010 p 210 222 SETEMBRINO DE CARVALHO F Relat rio apresentado ao General de Divis o Jos Caetano de Faria Ministro da Guerra 1915 Rio de Janeiro Imprensa Militar 1916 SHORE C Comunidade In Outhwhite W BOTTOMORE T Dicion rio do Pensamento Social do S culo XX Rio de Janeiro Jorge Zahar Editora 1996 p 115 117 SILVA T T A produ o social da identidade e da diferen a In SILVA T T Org Identidade e diferen a a perspectiva dos estudos culturais Petr polis Vozes 2004 p 73 102 SIMINSKI A SANTOS K L dos FANTINI A C REIS M S dos Recursos florestais nativos e a agricultura familiar em Santa Catarina Brasil Bonplandia n
301. ota se o destaque forma diferenciada da cria o de animais no criadouro e s pr ticas extrativistas da madeira e da erva mate Segundo Gubert Filho 1987 na regi o Sul do estado do Paran nas reas de relevo suave ondulado e plano se concentram os Faxinais que vem a ser reas cont guas de matas de arauc ria degradadas pelo pastoreio extensivo realizado em criadores comuns p 33 Esses criadouros comunit rios podem abarcar grandes reas cercadas por arames e este ambiente florestal marcado por esp cies como a arauc ria a erva mate a imbuia e uma s rie de frut feras nativas da fam lia das Mirt ceas Ocorre a ocupa o diferenciada das terras marcada pela vis vel dicotomia Faxinal lavouras onde at hoje encontramos a propriedade particular e uso comunal da terra em reas de Faxinal e a propriedade e o uso particulares nas reas de lavoura idem Para o autor o Faxinal complexo hist rico geogr fico s cio cultural econ mico pol tico e sobretudo humano natural p 34 e para compreend lo Gubert Filho 1987 sugere o emprego de quatro pontos de vista o ecol gico o econ mico o social e o pol tico Nestas considera es al m do criadouro e do extrativismo as terras de plantar e seu uso particular passam a compor a defini o do Sistema Merece destaque o apontamento no sentido de que o Sistema deve ser compreendido atrav s de uma integra o entre o ambiente e as rela es humanas d
302. ou ideia comparado ao paradigma de uma categoria adquire caracter sticas dessa categoria e re ajustado para que se enquadre nela MOSCOVICI 2003 p 61 Neste sentido a manuten o e a mudan a ou seja a conflu ncia entre os elementos velhos e os novos coexiste a partir da ancoragem o processo din mico e conflitivo do novo sobre o estabelecido Da Matta 1983 acrescenta que se a sociedade possui a capacidade de classificar esta mesma sociedade pode operar e manipular tais classifica es visto que n o classificam o nada e sim pessoas coisas rela es objetos ideias at o espa o s o os pontos de refer ncia para todo o sistema p 76 Dessa maneira Ancoradas em determinados referenciais espa o temporais as identidades acabam ganhando apar ncia de concretude e com frequ ncia s o assim essencializadas como se fizessem parte indissoci vel dos grupos sociais a que se referem O poder da identidade social tanto mais enf tico quando maior for a efic cia dos grupos sociais em naturalizar essa identidade tornando objetivo o que pleno em subjetividade transformando a complexidade da constru o simb lica no simplismo de uma constru o natural a hist rica e aparentemente est tica HAESBAERT 2007 p 52 17 sa E Embora a obra de Serge Moscovici se constitua em uma leitura fundamental nos estudos de Representa o Social as Representa es n o s o o
303. ou por algum acidente geogr fico as v rzeas rios ou vales profundos Logo elas n o passam obrigatoriamente pelas linhas de divisa das propriedades O seu tra ado passa por onde a maioria dos moradores achar conveniente atendendo o mais racional poss vel a finalidade de dividir as terras de cria o das de lavouras p 43 No Faxinal do Emboque as cercas se dividem em particulares de responsabilidade e uso de cada morador e comunit rias de responsabilidade de todos As Fotos de 09 a 12 representam as cercas encontradas no local considerando esta divis o FOTOS 09 E 10 Cercas comunit rias do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 Fonte Acervo da autora 2013 As Fotos 09 e 10 retratam as cercas comunit rias ou seja de responsabilidade m tua e que circundam o espa o do criadouro coletivo O objetivo destas cercas impedir a sa da e ou fuga dos animais de pequeno m dio e grande porte Quando este cercamento encontra se 139 comprometido ou desgastado pelo tempo que s o organizados os mutir es para conserto e manuten o A Foto 11 evidencia uma cerca mais nova com quatro fios de arame que objetiva impedir somente a passagem do gado gra do de maior porte permitindo assim a livre circula o do gado menor como su nos e aves A Foto 12 por sua vez retrata uma cerca que limita a estrada do espa o destinado horta caseira dos moradores sua fun o impedir a
304. para a planta o terras de lavoura sendo que estes dois espa os constituem se nos pilares produtivos e s o separados por uma cerca coletiva O detalhe que no Sistema Faxinal o espa o da moradia junto dos animais e da floresta Neste espa o coletivo poss vel visualizar as constru es como as casas os pai is a casa do monjolo a casa do forno as constru es que servem de garagem a estrebaria o galinheiro e em alguns casos a igreja a escola e algumas casas comerciais Quanto ao Faxinal do Emboque a Imagem 02 evidencia a distin o entre as terras de criar e as terras de plantar no M E E IMAGEM 02 Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul Paran LEGENDA rea aproximada do criadouro coletivo Espa o das terras de plantar Fonte Imagem do Google Maps Elaborado pela autora 2013 132 Na Imagem 02 o contorno em amarelo demarca o espa o do criadouro comum onde se localizam as resid ncias se criam os animais e se pode perceber a presen a da vegeta o sobretudo da Arauc ria e da erva mate A demarca o em vermelho mostra o limite entre as terras de criar e as terras de plantar sendo estas ltimas de uso particular dos moradores Assim sendo atrav s desta representa o poss vel notar espacialmente uma das principais caracter sticas do Sistema Faxinal a diferencia o entre os espa os de propriedade particular e uso comum criadouro coletivo e de uso
305. particular terras de plantar Pode se notar tamb m atrav s de um olhar mais atento a disposi o das resid ncias ao longo das estradas e a vegeta o que se torna mais rala onde os animais circulam livremente Na investiga o de elementos integrantes das terras de plantar do Faxinal do Emboque percebeu se que se trata da policultura alimentar baseada no arroz feij o milho e nas hortas caseiras de cada fam lia O excedente s vendido quando sobra ou comercializado nos finais de semana nas feiras no centro do munic pio de S o Mateus do Sul cultivado tamb m o fumo atualmente o fumo tradicional mas houve uma poca h uns anos atr s que a empresa fumageira estimulou o plantio de fumo org nico que foi abandonado alguns anos mais tarde por necessitar de muita m o de obra e n o dar tanta diferen a positiva no pre o final As Fotos 03 e 04 demonstram este espa o das terras de plantar no referido Faxinal NAS A FOTO 03 Terras de plantar do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 133 FOTO 04 Terras de plantar do Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 Na Foto 03 poss vel perceber o cultivo do milho importante alimento para os moradores e para os animais A Foto 04 evidencia o espa o das terras de plantar aguardando um novo cultivo Em ambas as imagens poss vel perceber as estradas carro veis que ligam o criadouro s ro
306. passagem de qualquer animal ao espa o de cultivo neste caso localizado ao lado da moradia e n o nas terras de plantar o que tamb m comum nos Faxinais dada dist ncia das reas de lavoura As porteiras tamb m exercem um papel importante no Faxinal do Emboque elas servem tanto para impedir a entrada dos animais no espa o da resid ncia quanto para a passagem destes ao lado do mata burro Neste Faxinal ainda poss vel perceber uma porteira que separa as terras de criar das terras de plantar Estas particularidades podem ser visualizadas nas Fotos de 13 a 15 FOTO 13 Porteira individual na entrada de uma resid ncia no Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 Este tipo de porteira retratado na Foto 13 serve para impedir a passagem dos animais de grande porte ao espa o da resid ncia localizada no interior do criadouro comunit rio de propriedade zelo e responsabilidade dos moradores da terra onde foi constru da comum encontrar porteiras desse tipo nos Faxinais e normalmente elas servem para permitir que os moradores cultivem ao redor das resid ncias seus jardins hortas e rvores frut feras 140 FOTO 14 Porteira coletiva localizada ao lado do mata burro separando as terras de criar das terras de plantar no Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 A porteira retratada na Foto 14 de responsabilidade coletiva e tem por objetivo po
307. primeiro momento o termo Ca va se referia exclusivamente a um tipo de vegeta o caracter stico da regi o Centro Sul do estado do Paran e do Planalto Norte Catarinense Em seguida em algumas an lises catarinenses passou a ser empregado como sin nimo para o Sistema Faxinal pesquisado na por o paranaense Acredita se que isso se deva a uma busca por aproxima o com a literatura conceitual e metodol gica desenvolvida nas pesquisas sobre os Faxinais no Paran Hanisch et al 2010 destacam as principais esp cies vegetais que comp em as reas de Ca va na regi o Araucaria angustifolia Pinheiro Ilex paraguariensis erva mate Myrcia sp Guamirim Ocotea porosa Imbuia Ocotea puberula Canela guaic Drimys brasiliensis Cataia Ilex microdonta Congonha Sapium glandulosum Leiteiro Ilex brevicuspis Ca na e Cinnamo dendrondinisii Pimenteira 198 Por m atualmente sobretudo com a implanta o do Grupo Gestor de Ca vas e de projetos que visam o melhoramento destas reas as Ca vas passam a ganhar relev ncia e visibilidade no sentido de promover o seu melhor aproveitamento econ mico inclusive combinando as com o pastejo A grande distin o em rela o ao Sistema Faxinal encontrado no estado do Paran repousa no fato de que as reas de Ca va s o manejadas de forma particular e n o comunitariamente De acordo com Bona Hanisch e Marques 2011 no in cio do s culo XX a cria o de gado e a
308. prios elementos que caracterizam o Sistema Faxinal partindo das contribui es de Vinhas de Queiroz 1981 Machado 2004 Thom 1981 1992 e Fraga 2005 2006 para compreender as motiva es e a rea de abrang ncia do conflito Visando aproximar a discuss o dos elementos regionais que caracterizam os Faxinais partiu se ainda para um entendimento da regi o do Contestado a partir das contribui es de Campigoto e Sochodolak 2009 Miranda 1987 Tonon 2009 2010 Peixoto 1995 Carvalho 2008 Tavares 2008 Breves 1985 e Martins 1995 Este posicionamento se justifica na ampla gama de possibilidades anal ticas acerca do que foi e o que representou a Guerra do Contestado para a regi o envolvida sendo necess rio o desenvolvimento de uma leitura mais direcionada aos objetivos da pesquisa delineando objetivos e sustentando as argumenta es Assim sendo apresentam se brevemente algumas das in meras possibilidades de se compreender tanto a Guerra do Contestado quanto as consequ ncias do conflito para a regi o evidenciando a multiplicidade de olhares acerca do assunto Em seguida analisa se mais detalhadamente o termo Contestado com vistas a compreender os limites desta espacialidade na regi o Sul do Brasil pontuando se a localiza o geogr fica e fazendo se uma refer ncia preliminar s rela es j estabelecidas pela literatura espec fica entre o conflito e a regi o para com o Sistema Faxinal Prosseguindo p
309. processo sendo formada flu da Deve ser localizada no tempo e no espa o Pode ser inventada mas necessita de uma ancoragem uma constru o hist rica relacional e contrastiva Pode se tornar politizada IDENTIDADE Pode surgir ao longo do tempo a partir do agrupamento comunit rio TERRITORIAL Gera um sentimento de perten a Contempla um conjunto espec fico de valores Se efetiva quando o territ rio o referencial espacial de identifica o Pode ser entendida a partir da an lise de sua dimens o hist rica e geogr fica Pode ser evocada enquanto instrumento de reivindica o pol tica ESQUEMA 02 Arranjo te rico acerca dos conceitos de territ rio identidade e identidade territorial Fonte Elaborado pela autora 2013 Considerando as in meras possibilidades te ricas poss veis bem como o Esquema 02 pode se dizer que os conceitos de territ rio e identidade v m se apresentando como possibilidade de an lise da forma com que os distintos espa os de criar e plantar que d o vida ao Sistema Faxinal v m evoluindo na regi o do Contestado Tal conjuntura permite tamb m perceber o modo com que a identidade territorial Faxinalense pode se moldar forjar para se adaptar s necessidades contempor neas garantindo o acesso e a preserva o do elemento espacial que lhe d suporte o territ rio Neste caso identidade e territ rio se fundem e permitem a partir da an lise de uma identidade territori
310. processo de dissolu o desse Sistema no Centro Sul do estado do Paran a autora aponta o capitalismo e a modernidade como principais causas 78 sustentando a hip tese de que o Sistema Faxinal estaria em desagrega o o que para a autora ocorreria atrav s de um processo gradual de duas vias abandono da cria o solta e a venda de terrenos dentro dos criadouros para empresas rurais do agroneg cio Especificamente sobre a g nese dos Faxinais Chang 1988 coloca que a forma o destes se deu devido combina o de dois fatores um quadro favor vel de condicionantes f sico naturais Matas Mistas e um conjunto de fatores econ micos favor veis do fim do s culo XIX produ o ervateira Assim sendo o Sistema assenta se em tr s elementos principais produ o animal para consumo produ o agr cola para comercializa o e consumo e extra o da erva mate renda complementar A semelhan a dos demais sistemas de produ o familiares o Sistema Faxinal apresenta tamb m os seguintes componentes produ o animal cria o e animais dom sticos para tra o e consumo com destaque s esp cies equina su na caprina bovina e aves produ o agr cola policultura alimentar de subsist ncia para abastecimento familiar e comercializa o da parcela excedente destacando as culturas de milho feij o arroz batata e cebola coleta de erva mate ervais nativos desenvolvidos dentro do criadouro e coletados dura
311. provam tanto a exist ncia dos condicionantes f sico naturais e humanos necess rios ao desenvolvimento do Sistema quanto a exist ncia do mesmo num passado n o t o distante Discutem se tamb m os fatos e fatores que contribu ram para a desagrega o dos criadouros comuns elementos centrais na defini o do Sistema Faxinal atrav s da an lise dos elementos na escala da comunidade 5 2 DIFERENCIA O COM OUTROS ESPA OS RURAIS A ESCALA DA COMUNIDADE De fato como apresentado anteriormente a comunidade de Aparecida dos Pardos possu a todas as caracter sticas f sico naturais e humanas necess rias ao desenvolvimento do Sistema Faxinal Em continuidade torna se necess rio averiguar na escala da comunidade os elementos que diferenciam este espa o de outros espa os rurais atrav s dos elementos socioespaciais Em seguida aprofundam se os elementos socioculturais presentes no 164 cotidiano Ambos elementos espaciais e culturais ir o conferir identidade territorial ao Sistema 5 2 1 Elementos socioespaciais na comunidade de Aparecida dos Pardos Por elementos socioespaciais entendem se aqueles que diferenciam o Sistema Faxinal dos outros espa os rurais como a distin o entre terras de criar e terras de plantar agora analisadas sob a perspectiva desta comunidade a quest o da propriedade e do uso das terras e por fim o sistema de cercas porteiras e mata burros Nestas proposi es Chang 1988 desta
312. que atrav s do distinto olhar de cada pesquisador buscam explicar as motiva es identificar os atores envolvidos produzir uma cronologia dos fatos ocorridos e compreender as consequ ncias na sociedade Nesta vasta gama de possibilidades anal ticas se torna imprescind vel a ado o de uma linha de racioc nio acerca do conflito com vistas a responder as necessidades da Tese Para tanto conceitua se o Contestado apresenta se as motiva es que o desencadearam e localiza se geograficamente a rea em quest o para em seguida analisar a territorialidade dos elementos que comp em o Sistema Faxinal nesta regi o Machado 2004 analisa a pol mica denomina o Guerra do Contestado como ficou batizado o conflito desenrolado no Planalto Catarinense entre 1912 e 1916 p 35 O autor acredita ser mais adequado falar de Guerra no Contestado o que de qualquer maneira seria ainda uma denomina o espacialmente incorreta j que a maior parte das cidades santas e do conflito ocorreu em territ rios catarinenses n o contestados pelo Paran idem Isso porque a Guerra tomou grandes propor es territoriais para al m do espa o requerido pelos dois estados Dessa maneira compreende se a regi o do Contestado para al m dos limites oficiais delimitados percebendo a como uma regi o flu da cujas territorialidades plurais extrapolaram os limites f sicos e artificiais estabelecidos Ao analisar as fontes ac
313. que se considerar a evolu o da paisagem destes espa os Ao analisar as paisagens sob o ponto de vista das Ci ncias da Natureza Ab Saber 2003 refor a a ideia de que a paisagem uma heran a Heran a em todo o sentido da palavra heran a de processos fisiogr ficos e biol gicos e patrim nio coletivo dos povos que historicamente as herdaram como territ rio de atua o de suas comunidades p 09 De fato a paisagem da Floresta Ombr fila Mista herdada historicamente na regi o do Contestado vem sendo constantemente explorada e degradada desde a poca da Guerra do Contestado perpassando pela explora o madeireira at atualmente com a expans o do agroneg cio e dos reflorestamentos Tais pr ticas ofensivas a este ambiente florestal certamente contribu ram para a desarticula o dos Faxinais e das Ca vas sejam eles paranaenses ou catarinenses Nestas considera es analisar mais profundamente os fatores e elementos que contribu ram para a degrada o das Matas Mistas torna se fundamental exemplificando com as comunidades consideradas nesta pesquisa ou seja o Emboque S o Mateus do Sul PR e Aparecida dos Pardos Irine polis SC Para continuar a discuss o acerca da regi o da Floresta Ombr fila Mista considerar a etimologia das palavras pode ser interessante A palavra Ombr fila de origem grega significa amigo das chuvas ou seja um ecossistema onde chove o ano todo oscilando entre per odos mais
314. r m atualmente esse ecossistema encontra se degradado e amea ado sobretudo devido ao desmatamento relacionado ao avan o da agricultura da agropecu ria dos reflorestamentos de esp cies ex ticas e dos loteamentos para assentamentos urbanos Somam se a isso as amea as pela ca a introdu o de esp cies invasoras tr fico de animais e plantas atropelamentos queimadas contamina o de ambientes extrativismo sem manejo turismo desordenado aus ncia de Educa o Ambiental e o desenvolvimento de planejamentos inadequados Como se pode perceber in meros s o os motivos que ao longo dos anos v m contribuindo para degradar as Matas Mistas Por m neste momento interessam nos de forma particular aqueles que se relacionam Guerra do Contestado e situa o das reas do Sistema Faxinal e das Ca vas Dessa maneira apresenta se a seguir uma cronologia de fatos e a es que auxiliaram no processo de desarticula o das terras de uso comum na regi o pela explora o inadequada do ambiente f sico natural das Matas Mistas a A atua o da Brazil Railway Company Um marco importante para o in cio da degrada o explora o das Matas Mistas na regi o do Contestado foi a constru o da Estrada de Ferro S o Paulo Rio Grande por volta de 1910 pela Brazil Railway Company O trecho catarinense foi constru do entre 1907 e 1910 sendo que como parte do pagamento a referida empresa recebeu do governo brasileiro cerca de ma
315. r do Faxinal do Emboque Animais do criadouro coletivo do Faxinal do Emboque Animais do criadouro coletivo do Faxinal do Emboque Animais do criadouro coletivo do Faxinal do Emboque Animais do criadouro coletivo do Faxinal do Emboque Cercas comunit rias do Faxinal do Emboque 89 127 148 124 131 156 164 185 125 125 132 133 134 134 134 134 138 FOTO 10 FOTO 11 FOTO 12 FOTO 13 FOTO 14 FOTO 15 FOTO 16 FOTO 17 FOTO 18 FOTO 19 FOTO 20 FOTO 21 FOTO 22 FOTO 23 FOTO 24 FOTO 25 FOTO 26 FOTO 27 Cercas comunit rias do Faxinal do Emboque Cercas individuais do Faxinal do Emboque Cercas individuais do Faxinal do Emboque Porteira individual na entrada de uma resid ncia no Faxinal do EmbOQUC ieie nnno apra ras antiga Resta Gota R and eras ES Porteira coletiva localizada ao lado do mata burro separando as terras de criar das terras de plantar no Faxinal do Emboque Porteira coletiva que separa as terras de criar das terras de plantar no Faxinal do EmboQqUe ss aemaadb risca Snqasda secs Cote tan esasa ue da Os mata burros no Faxinal do Emboque S o Mateus do TA A S E a a a dd Os mata burros no Faxinal do Emboque S o Mateus do Plantas medicinais Mateus dor SUP R amis gu
316. r vezes a narrativa se apresenta enquanto hist ria alternativa ou contranarrativa constru da 5 A ideia do povo puro original quando a identidade nacional baseia se tamb m simbolicamente na ideia de exclusividade da popula o Interessante perceber como esse discurso tenta se equilibrar entre a tenta o de retornar a gl rias passadas e o impulso de avan ar ainda mais em dire o modernidade HALL 2005 p 56 o elemento regressivo anacr nico da est ria da cultura nacional Fato que num mundo de fronteiras dissolvidas e de continuidades rompidas p 84 nota se um alargamento do campo das identidades e uma prolifera o de novas posi es de identidade idem ou seja o fortalecimento de identidades locais rea o defensiva ou a produ o de novas identidades fortalecimento da diferen a Nesta perspectiva as identidades possuem tamb m um car ter simb lico e os s mbolos que a comp em n o s o constru es arbitr rias ou aleat rias estes possuem ancoragem em referenciais uma vez que as marcas da identidade n o est o necessariamente inscritas HOBSBAWN E RANGER T A inven o das tradi es Tradu o de Celina Cardim Cavalcante 4 Ed S o Paulo Paz e Terra 2006 16O termo est ria refere se narrativa de lendas contos tradicionais de fic o causos e comumente aceita como sendo um relato de fatos n o comprovados Ao passo que hist ria refere
317. ra o marcante o uso coletivo da terra para produ o animal e a conserva o ambiental Fundamenta se na integra o de tr s componentes a produ o animal coletiva solta atrav s dos criadouros comunit rios b produ o agr cola policultura alimentar de subsist ncia para consumo e comercializa o c extrativismo florestal de baixo impacto manejo de erva mate arauc ria e outras esp cies nativas Nota se nesta defini o uma aproxima o quanto aos elementos identit rios do Sistema propostos por Chang 1988 Marques 2004 no Relat rio Final de Consultoria T cnica elaborado para o Instituto Ambiental do Paran destaca que Considerou se para a execu o das atividades a defini o apresentada no texto do Decreto Estadual n 3 446 97 tendo em vista que o mesmo a refer ncia oficial que foi considerada para os objetivos desse levantamento portanto o IAP compreende o Sistema Faxinal a partir dos elementos destacados no Decreto Estadual que os reconheceu no estado do Paran Pela Portaria n 34 de 25 de fevereiro de 2011 o IAP complementa Artigo 1 Para efeito desta portaria e com base no Decreto Estadual n 3 446 de 14 08 97 tamb m s o considerados Faxinalenses aqueles que vivem em criadouros 8 O ICMS Ecol gico um instrumento de pol tica p blica criado pioneiramente no Paran que trata do repasse de recursos financeiros aos munic pios que abrigam em seus territ rios Unidad
318. ra nas Ci ncias Sociais Bauru SP EDUSP 1999 CUNHA L A Desenvolvimento rural e desenvolvimento territorial o caso do Paran Tradicional Rio de Janeiro 2003 210 p Tese Doutorado em Desenvolvimento e Agricultura Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 2003 CUNHA L A G Os Faxinais como territ rios sociais In 1 ENCONTRO DOS POVOS DOS FAXINAIS 2005 Irati Anais Termo de refer ncia Irati Rede Faxinal 2005 Impresso Artigo completo D ASSUMP O H T A campanha do Contestado as opera es da Columna do Sul V 1 Belo Horizonte Imprensa Official do Estado de Minas Geraes 1917 223 DA MATTA R Carnavais malandros e her is Rio de Janeiro Zahar 1983 DELGADO G da C Capital financeiro e agricultura no Brasil 1965 1985 S o Paulo Icone Campinas UNICAMP 1985 DEMO P Pesquisa princ pio cient fico e educativo S o Paulo Cortez Autores Associados 1991 DIEGUES A C Aspectos sociais e culturais do uso dos recursos naturais da Mata Atl ntica In L L SIM ES C F LINO Orgs Sustent vel Mata Atl ntica a explora o de seus recursos florestais 2 ed S o Paulo Editora SENAC 2003 p 135 158 DIEGUES A C Repensando e recriando as formas de apropria o comum dos espa os e recursos naturais In DIEGUES A C MOREIRA A de C Orgs Espa os e recursos naturais de uso comum S o Paulo Nupaub USP 2001 p 97 124 EGGER A Geo kologischeUntersuc
319. ra no munic pio de Fraiburgo SC do Contestado coloniza o 2007 310 f Disserta o Mestrado em Geografia Universidade Federal de Santa Catarina Florian polis UFSC CCH 2007 BRANDT M CAMPOS N J de Uso comum da terra e pr ticas associativistas da popula o cabocla do planalto catarinense In Revista Geosul Florian polis v 23 n 45 jan jun 2008 p 43 64 BRASIL Constitui o da Rep blica Federativa do Brasil 1988 BREVES W de S O Chapec que eu conheci In Revista do Instituto Hist rico e Geogr fico de Santa Catarina IHGSC Florian polis v 03 n 04 1985 p 07 73 CABEZA DE VACA A N Naufr gios e coment rios Porto Alegre L amp PM 1999 CABRAL O R Santa Catarina S o Paulo Cia Ed Nacional 1960 CAMPIGOTO J A SOCHODOLAK H Os Faxinais da regi o das arauc rias In OLINTO B A MOTTA M M OLIVEIRA O de Orgs Hist ria Agr ria Propriedade e Conflito Guarapuava Unicentro 2009 p 183 212 CAMPOS N J de Terras de uso comum no Brasil um estudo de suas diferentes formas 2000 258 f Tese Doutorado em Geografia Humana Faculdade de Filosofia Letras e Ci ncias Humanas Universidade de S o Paulo S o Paulo 2000 222 CARVALHO H M de Da aventura esperan a a experi ncia auto gestion ria no uso comum da terra Curitiba 1984 mimeografado CARVALHO T M de N s n o tem direito Costume e direito terra no Contestado In
320. rando os elementos socioculturais do Sistema Faxinal o uso coletivo da terra as rela es de compadrio e mutir o e a medicina e a religiosidade popular 4 1 O CONDICIONANTE F SICO NATURAL E OS CONDICIONANTES HUMANOS ENQUANTO ELEMENTOS REGIONAIS NA ESCALA DA COMUNIDADE Esta primeira parte objetiva retomar e aprofundar os elementos regionais definidos a partir de Chang 1988 agora na escala da comunidade paranaense definida para exemplo o Faxinal do Emboque Esta an lise espec fica auxilia na caracteriza o e fornece informa es iniciais para a posterior an lise mais detalhada do local 4 1 1 O Faxinal do Emboque munic pio de S o Mateus do Sul Paran Um dos condicionantes f sico naturais da escala regional necess rio ao desenvolvimento do Sistema Faxinal apontado por Chang 1988 a presen a das Matas Mistas com ervais nativos Na regi o do Faxinal do Emboque este condicionante presente viabilizando assim a possibilidade do Sistema existir no local A Imagem 01 evidencia em destaque a presen a tanto da Arauc ria quanto da erva mate que contrastam com espa os de vegeta o rasteira arbustiva e arb rea Pode se notar tamb m a presen a de espa os de reflorestamento no caso deste Faxinal reflorestamento de eucalipto As informa es sobre a comunidade do Faxinal do Emboque foram obtidas principalmente por meio de visitas e coleta de entrevistas e depoimentos sobretudo com os moradores P W e
321. re espa o pol tica e cultura Idem p 44 A efetiva o da identidade territorial s ocorre quando um referencial espacial assume o papel de elemento central de identifica o quando a filia o territorial possui o potencial de ser ativada como instrumento de reivindica o pol tica As identidades de bairro e as identidades nacionais s o exemplos entretanto que outros grupos ou comunidades podem acionar identidades territoriais de acordo com as estrat gias pol ticas em jogo muito al m do simples jogo do tradicional das identidades territoriais encaixadas que caracterizam o mundo estatal moderno HAESBAERT 2007 p 45 Emerge o que o referido autor chama de naturaliza o ou seja o direito adquirido numa espa o temporalidade efetiva ou completamente inventada onde se legitima a identidade do grupo pelo la o territorial Neste sentido Porto Gon alves 2006 coloca que a passagem de uma determinada condi o social condi o de uma determinada identidade pol tico cultural n o autom tica p 69 assim sendo reconhecemos analiticamente que a constru o de identidades territoriais envolve um movimento que vai da identidade ou territ rio e do territ rio identidade Embora na pr tica estejam sempre articuladas de forma concomitante e indissoci vel alguns casos sugerem reconhecer o predom nio de uma dire o em rela o outra sobretudo para enfatizar o papel das r
322. re o Contestado versando sobre a presen a de Jos Maria no Faxinal do Irani coloca que o Irani constitu a a parte sul do munic pio de Palmas sob administra o paranaense e fazia fronteira com o Rio Grande e al m dos campos ali existentes o terreno era acidentado coberto de matas virgens e de Faxinais Deparavam se montanhas e vales profundos despenhadeiros e cavernas Havia quem dissesse que a terra era fertil ssima p 90 As matas e os Faxinais do Irani foram ocupados desde fins do s culo passado por uma popula o que migrou do Rio Grande A esses primeiros habitantes vieram juntar se outras modestas fam lias que chegavam n o se sabe daonde arranchavam nas terras devolutas plantavam o seu milho o seu feij o criavam seus porcos tudo para subsist ncia e para pequenas trocas Nos redutos da Guerra o autor destaca que a irmandade se encarregava tamb m da planta o em comum de ro as de milho e segundo tudo indica da coleta comum de erva mate Havia ro as desse tipo pr ximo ao reduto de Ca ador e mais tarde no Tamandu p 190 Vinhas de Queir s 1977 acrescenta ainda que na arremetida sobre a floresta a ro a cabocla substituiu o aproveitamento do mate onde quer que fossem raras as minas de erval p 35 sendo que noutros lugares tornou se complemento quase obrigat rio da atividade extrativa entretanto ficou a meio caminho em terras onde cresciam os padr es de fe
323. re quando o territ rio visto como referencial espacial de identifica o Podem ser compreendidas a partir da an lise das suas dimens es hist rica e geogr fica considerando seu espa o de refer ncia identit ria e sua consci ncia socioespacial de pertencimento S o evocadas quando a filia o territorial possui potencial de ser ativada como instrumento de reivindica o pol tica e tomam por base alguns fatores a diferencia o social as institucionalidades a diferencia o cultural as divis es pol tico administrativas as diferencia es econ micas e a mobilidade da popula o Dessa maneira analisa se a forma com que a identidade faxinalense vem sendo moldada forjada para se adaptar s necessidades contempor neas e garantir seu acesso e preserva o ao elemento espacial que lhe d suporte o territ rio Neste caso identidade e territ rio se fundem e permitem a partir da an lise de identidades territoriais perceber a forma com que agrupamentos comunit rios com vistas sobreviv ncia coletiva geram sentimentos de perten a conjuntos espec ficos de valores encontrando no territ rio seus referenciais espaciais de identifica o que s o evocados na atualidade enquanto instrumentos de reivindica o pol tica O Cap tulo 2 de cunho metodol gico procurou definir a partir das contribui es das autoras tidas como cl ssicas nos estudos sobre os faxinais Man Yu Chang 1998 e Maria Magdalena Nerone 2000
324. refer ncia utilizada o que se destaca a conserva o dos remanescentes florestais encontrados nestas reas atrav s da utiliza o de estrat gias de manejo destes sistemas tradicionais Neste sentido algumas pr ticas j vem sendo utilizadas como o manejo agroecol gico do solo do pasto e do rebanho melhoramento a produtividade animal explora o sustent vel da erva mate da bracatinga de esp cies frut feras medicinais e outras esp cies de interesse econ mico introdu o de insumos naturais p de basalto cama de avi rio nas pastagens uso em programas de corredores ecol gicos manuten o de servi os ambientais entre tantas outras Neste sentido percebe se que os espa os rurais onde se mant m as pr ticas tradicionais v m superando a vis o modernista que os condenava ao desaparecimento ou reduzia suas pr ticas a uma vis o folcl rica Agora estes sujeitos cientes de sua identidade territorial buscam utilizar seus saberes e fazeres locais como fatores de desenvolvimento exigindo a constru o de novas percep es de seus espa os Superam a subestima o de suas capacidades de iniciativa e inova o se envolvendo na defini o de estrat gias locais buscando seu favorecimento atrav s do di logo com seus representantes pol ticos onde a afirma o de sua territorialidade objetivo comum E assim o territ rio enquanto alicerce de hist ria e exist ncia passa a ser compreendido tamb m como direito
325. ros essenciais elementos como a cria o extensiva a policultura alimentar de subsist ncia a diferencia o entre a propriedade e o uso das terras o sistema de cercas porteiras e mata burros as rela es de compadrio e mutir o a medicina e a religiosidade popular A exist ncia e a pr tica destes elementos em conjunto o que diferencia o Sistema Faxinal de outros espa os rurais o que garante sua territorialidade espec fica sua identidade territorial O estudo de caso discutido no Cap tulo 4 a partir do Faxinal do Emboque localizado no munic pio paranaense de S o Mateus do Sul descreve e discute os elementos anteriormente referenciados enfatizando sua essencial liga o com o territ rio Tamb m atesta a efic cia da metodologia proposta que objetiva diferenciar o Sistema de outros espa os rurais tradicionais condi o necess ria para garantir aos Faxinais sua territorialidade singular sobretudo pautada na diferencia o do uso das terras Portanto na regi o das Matas Mistas no Sul do Brasil os condicionantes naturais e humanos permitiram o desenvolvimento deste Sistema distinto de uso da terra As comunidades Faxinalenses formadas na sua maioria por caboclos e descendentes de imigrantes eslavos notadamente poloneses e ou ucranianos foram construindo uma forma de viver diferenciada no espa o agr rio A partir da d cada de 1980 com os primeiros estudos e relatos que come aram a dar visibilidade ao Sistema foi s
326. rritorial no Sul do Brasil 2006 Tese Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Programa de P s Gradua o em Meio Ambiente e Desenvolvimento Universidade Federal do Paran Curitiba 2006 224 GEVAERD FILHO J L Perfil hist rico jur dico dos Faxinais ou comp scuos In Revista de Direito Agr rio e Meio Ambiente Curitiba ITCF n 1 a 1 agosto 1986 p 44 79 GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 5 ed S o Paulo Atlas 2008 GLUCHOWSKI K Os poloneses no Brasil subs dios para o problema da coloniza o polonesa no Brasil Tradu o de Mariano Kawka Porto Alegre Rodycz amp Ordakowski Editores 2005 Edi o hist rica n 0630 GOFFMAN E Relaciones en p blico micro est dios del orden p blico Madrid Alianza Universidad 1979 G MEZ J R M Desenvolvimento em des constru o narrativas escalares sobre o desenvolvimento territorial rural 2006 434 f Tese Doutorado em Geografia Faculdade de Ci ncias e Tecnologia UNESP Presidente Prudente 2006 GOULARTI FILHO A Forma o econ mica de Santa Catarina Florian polis Cidade Futura 2002 GRAZIANO DA SILVA J Do complexo rural aos complexos agroindustriais In GRAZIANO DA SILVA J A nova din mica da agricultura brasileira Campinas UNICAMP IE 1996 p 1 40 GUBERT FILHO F A Faxinal estudo preliminar In Revista de Direito Agr rio e Meio Ambiente Curitiba ITCF n 01 a 2 agosto de 1987 p 32 40
327. rt es para Viam o que muitos foram os nomes que tomou constituiu o principal v nculo a unir o Extremo Sul ao centro do Brasil e sua influ ncia s esvaiu se ao principiar o tempo do trem de ferro e dos navios a vapor Thom 1981 coloca que depois de aberta a estrada ligando os campos ga chos a S o Paulo entusiasmado com o com rcio de gado o governo daquela prov ncia passou a incentivar novas frentes criadoras p 37 e na poca da cria o da Prov ncia do Paran a regi o do Contestado era cortada pela estrada geral que ligava Viam o no Rio Grande do Sul a Sorocaba em S o Paulo Cortando o sert o hoje catarinense entre Rio Negro e 115 299 Lages neste trecho o caminho chamava se estrada da mata idem Sendo que esta n o passava de uma picada aberta na vegeta o espessa rica em arauc rias imbuias e taquaras o que dificultava e tornava lento o tr nsito de muares e bovinos Chang 1988 ao analisar o caminho das tropas do s culo XVII ao s culo XIX delineia o tra ado dos principais caminhos tropeiros e atesta que toda a regi o sul do Brasil nas reas onde apresentavam matas de arauc ria erva mate nativa e cujo povoamento ocorreu nos dois s culos anteriores principalmente no s culo XIX conheceu a forma o de comunidades do Sistema Faxinal p 24 De acordo com Chang 1988 da atividade das fazendas interessa para o entendimento dos Faxinais apenas a produ o anim
328. rticula es que reconhecem a tradicionalidade e a territorialidade O que h na por o catarinense do Contestado atualmente s o fragmentos que comprovam a exist ncia passada do Sistema Faxinal sobretudo nas chamadas Ca vas Enquanto se fortalece no estado do Paran a busca por uma identidade territorial faxinalense em Santa Catarina estes espa os que n o mais contam com as terras de criar comunit rias est o sendo pesquisados e valorizados na perspectiva do melhoramento econ mico das reas de Ca va cujo uso particular e n o mais comunit rio Por fim conveniente ressaltar a ineg vel import ncia ambiental e social tanto do Sistema Faxinal quando das Ca vas para os espa os rurais tradicionais do Contestado Palavras chave Identidade territorial Sistema Faxinal Ca vas Contestado F ETSCH Alcimara Aparecida Faxinais and ca vas territorial identities in the Contestado region PR SC 2014 Thesis Doctorate in Geography Universidade Federal do Paran Curitiba 2014 ABSTRACT In a scenario of political mobilization since the 1980s we have seen in the State of Paran the search for the re construction of territorial faxinalense identities by means of the actions of associations articulations NGOs the academia universities popular movements and the public service As a counterpart in the neighboring Contestado region of Santa Catarina which has similar physical natural and historic ge
329. rtilidade Segundo o autor em algumas partes da rea plantava se mandioca arroz ou 3 Sobre os monges do Contestado sugere se a leitura de TONON E Os monges do Contestado Perman ncias predi es e rituais no imagin rio Palmas Kay gangue 2010 120 banana por m o milho era o centro da lavoura e a base da alimenta o cabocla sendo consorciado ao feij o e por vezes ab bora e melancia p 36 Oliveira 1985 destaca que nos planaltos catarinenses o sertanejo al m do ga cho desenvolve outras atividades fazedor de erva mate extrator de madeira ou ainda um pequeno agricultor Embora n o se dedique preferencialmente lavoura e esta sempre rudimentar e primitiva n o escapando influ ncia dos m todos ind genas de queima da mata e encoivaramento procura manter uma lavoura de subsist ncia em que n o faltam o milho o feij o a batatinha ou a moranga a economia de coleta tem sido sempre mais c moda para o caboclo Assim sendo facilmente opinou pela extra o da ilex e a explora o do pinho p 64 Neste sentido como foi poss vel perceber a pr tica da policultura alimentar de subsist ncia elemento regional importante para o Sistema Faxinal existia tamb m em outras regi es inclusive em toda a regi o do Contestado onde existiam comunidades rurais Tal constata o chega ao ponto de ser l gica visto que cada agrupamento agr rio de pessoas encontra na pr
330. s poss vel complementar os elementos que caracterizam o Sistema Faxinal apontados por Chang 1988 Dessa maneira Nerone salienta elementos que diferenciam os Faxinais de outros espa os rurais a distin o entre as terras de plantar e as terras de criar a diferencia o entre propriedade e uso das terras e os sistemas de cercas porteiras e mata burros Salienta ainda os elementos socioculturais o uso coletivo da terra as rela es de compadrio e mutir o a medicina e a religiosidade popular Para finalizar esse cap tulo elaborou se uma sinopse dos elementos identit rios do Sistema Faxinal aproximando a interface conceitual dos encaminhamentos metodol gicos Neste sentido importante destacar a diferencia o metodol gica entre os estudos de Chang 1988 e Nerone 2000 O estudo de Chang abrange todos os Faxinais paranaenses na poca apresentando uma caracteriza o mais abrangente ao passo que o estudo de Nerone aprofunda a an lise a partir do Faxinal Marmeleiro de Baixo no munic pio de Rebou as PR Nesta conjuntura tem se o Esquema 01 Sobre o conceito concorda se com Chang 1988 pois o conceito de subsist ncia empregado aqui n o prescinde das rela es de troca Em outras palavras subsist ncia n o significa autossufici ncia mas sim a reprodu o da unidade de produ o e de seus membros Se para isto necess rio a venda de certos excedentes para comprarem o que n o produzem o quem em geral a
331. s Nestas coloca es Hall 2005 contribui ao destacar que as identidades emergem no interior do jogo de modalidades espec ficas de poder e s o assim mais o produto da marca o da diferen a e da exclus o do que o signo de uma unidade id ntica naturalmente constru da 206 p 109 Assim sendo a constru o das identidades est conectada com as rela es de poder onde seus significados s o constru dos contestados e negociados e s pode ser compreendida de maneira estrat gica e posicional estando portanto sujeitas manipula o dos grupos sociais visto que s o ao mesmo tempo produto e produtoras de lutas sociais e pol ticas Nesta constru o das identidades neste caso considerando as comunidades importante perceber que por vezes os elementos que passam a comp la s o reinventados Neste sentido Hobsbawn e Ranger 2006 discutem a inven o das tradi es e sabe se que as tradi es inventadas t m fun es pol ticas e sociais relevantes de forma que n o nasceriam e nem se firmariam se n o pudessem ser adquiridas Considerando o Faxinal do Emboque essa reinven o torna se evidente A comunidade ao se auto definir como Faxinalense percebeu a necessidade de evidenciar cada vez mais as caracter sticas do Sistema que lhes confere esta identidade se inserindo assim na discuss o social e pol tica emergente no estado do Paran Passaram a ter mais cuidado com as cercas e os animais do criadouro c
332. s caboclas que praticam sobretudo ao longo dos vales dos rios um sistema de uso integrado da terra que abrange a atividade silvopastoril comunit ria a extra o de madeira e erva mate e tamb m a agricultura de subsist ncia p 53 Trata se de uma organiza o baseada em terras de criar e de plantar separadas por valos cercas que tamb m pertenciam ao passado nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul mas que ainda s o presentes no territ rio paranaense Tais considera es enfatizam a presen a do ator social que inicialmente deu origem ao Sistema ou seja os caboclos e destaca a presen a dessa particular forma de rela o com o territ rio em toda a regi o Sul do Brasil entretanto segundo a autora tendo desaparecido em dois dos estados da regi o A Figura 0l apresenta um perfil esquem tico do Sistema Faxinal auxiliando no entendimento visual do mesmo 13 Terras de plantar Criadouro comunit rio at 5 km Terras de plantar imm i FIGURA 02 Perfil esquem tico das terras de Faxinal Legenda 1 Espa o do criadouro de uso comum resid ncias pastagens Mata com Arauc ria e cria es 2 Limite entre o criadouro de uso comum e as terras de plantar cercas e valos 3 Estradas que atravessam o criadouro porteiras e mata burros 4 Terras de plantar milho e feij o Fonte Egger 2009 p 22 apud L wen Sahr 2005a p 58 Al m dos elementos e espa os apresentados L w
333. s de lavouras normalmente trabalham em terras alheias arrendando as fazendo parcerias ou vendendo m o de obra camarada seja nos ervais seja nas terras de cultivo Os usu rios por sua vez mesmo n o possuindo terra alguma podem criar seus animais no criadouro comum e vender sua m o de obra O grupo se divide em dois os que s o propriet rios de cria o e aqueles que n o possuem bem algum na comunidade mas que t m o direito de criar animais De fato estes dois grupos possuem vis es distintas quanto ao espa o de uso coletivo do criadouro Ao passo que para os usu rios corresponde a um espa o de sobreviv ncia para os propriet rios constitui se at como um empecilho devido ao comprometimento da terra No Faxinal do Emboque das 53 fam lias existentes nem todas possuem a propriedade da terra Existem as fam lias que possuem maior quantidade como a fam lia de P W e outras que possuem suas casas nos terrenos dos pais e av s criam os animais usando o espa o do criadouro comum e vendem sua m o de obra na lavoura e no extrativismo da erva mate e da madeira al m de trabalharem como pedreiros carpinteiros e exercerem outras fun es na comunidade A principal fonte de renda dos moradores da comunidade vem da agricultura 137 sobretudo do plantio do feij o do milho e do fumo O beneficiamento da erva mate tamb m ocorre no Faxinal antes nos antigos carij s atualmente em barbaqu s mais modernos Dessa maneira
334. s implantados no territ rio reflete a multidimensionalidade do vivido territorial de uma coletividade atrav s do sistema sociedade espa o tempo Este territ rio por permitir uma abordagem pol tica no que se refere ao Sistema Faxinal pode ser mais bem compreendido atrav s de sua vincula o ao conceito de identidade ou ainda melhor ao conceito de identidade territorial Nesta proposi o a identidade pode ser definida como fonte de significado e experi ncia e ser visualizada atrav s de sua fluidez e evoca o pol tica frente emerg ncia de novos sujeitos que dela fazem uso num primeiro momento enquanto forma de resist ncia mas podendo evoluir seguidamente 211 para uma identidade de luta com vistas a assegurar sua posi o na sociedade Esta identidade territorial manifesta se quando o territ rio passa a ser o referencial espacial e o instrumento de reivindica o pol tica e pode ser compreendida como sendo o controle simb lico sobre o espa o onde se vive uma forma de apropria o e dom nio pois gera um sentimento de perten a contempla um conjunto espec fico de valores e pode surgir ao longo do tempo a partir do agrupamento comunit rio No Sistema Faxinal os elementos que em conjunto determinam sua identidade est o diretamente ligados ao territ rio ao espa o de viv ncia coletiva inicialmente atrav s da pr tica comunit ria da separa o das terras de criar das terras de plantar perpassando por out
335. s terras de plantar e de de compadrio e mutir o a terras de criar propriedade e uso medicina e a religiosidade das terras sistema de cercas popular porteiras e mata burros ESQUEMA 05 Elementos que formam o Sistema Faxinal no estado do Paran Fonte Chang 1988 e Nerone 2000 Adaptado pela autora 2013 Dessa maneira poss vel constatar as diferentes formas de se compreender o Sistema Faxinal no estado do Paran sobretudo considerando as abordagens cl ssicas de Chang 1988 e Nerone 2000 o entendimento do Estado IAP MARQUES 2004 e EMATER SOARES 1994 e a vis o das organiza es sociais Articula o Puxir o SOUZA 2009 Estes contrastes ser o discutidos posteriormente 4 2 2 Diferencia o entre propriedade e uso das terras Nerone 2000 destaca que nos Faxinais a propriedade do terreno particular sendo que parte corresponde ao criadouro comum terras de criar e uso coletivo onde se encontra a cobertura vegetal e a outra parte constitu da pelas terras que s o destinadas agricultura ou seja as terras de plantar Estes dois espa os s o separados pela cerca Portanto as terras de criar s o de propriedade particular e uso coletivo ao passo que as terras de plantar onde se cultiva principalmente milho feij o arroz trigo e batata s o de propriedade e uso particular 136 A propriedade da terra de fato pilar b sico e elemento essencial na estrutura social e econ mica da gr
336. s com 44 Faxinais mar o de 2008 39 munic pios sendo algumas comunidades georreferenciadas e em algumas aplicadas entrevistas abertas e participativas al m de serem produzidos mapas situacionais pela Cartografia Social 90 3 Levantamento da APF 2008 31 munic pios com 227 Faxinais poss vel perceber a partir destes tr s levantamentos diferen as importantes tanto no que se refere ao n mero de munic pios com Faxinais quanto ao pr prio n mero de Faxinais Isso pode ser justificado pelo descaracterizar de algumas comunidades Faxinalenses com o passar do tempo e tamb m pela inclus o exclus o de munic pios nas pesquisas Interessante notar que a APF considera um conceito mais abrangente para caracterizar o Sistema ou seja o fato das terras terem sido tradicionalmente ocupadas e n o somente a exist ncia do criadouro comum Assim sendo ao propor superar o conceito de Sistema Faxinal de Chang 1988 e os conceitos de Faxinal ou criadouro comum da EMATER 1994 e do IAP 2004 Souza 2009a esclarece que a caracteriza o n o se resume unicamente pela presen a de estruturas objetivas tal como o criador comunit rio ou Sistema Faxinal mas sim pela sua identidade coletiva redefinida pela defesa de uma tradicional modalidade de uso dos recursos p 26 Portanto a Articula o Puxir o acrescenta novas modalidades de uso como os mangueir es e os potreiros o que inegavelmente
337. s de vida que os imigrantes que ocuparam o primeiro munic pio eram provenientes de Curitiba ao passo que os imigrantes que se deslocaram ao segundo munic pio eram provenientes de Paragua u comunidade do atual munic pio catarinense de Itai polis Gluchowski 2005 confirma estes dados ao colocar que No Paran surgem ent o duas Comiss es Colonizadoras uma no vale do rio Igua u na regi o de Palmeira e outra na regi o de Rio Negro Na regi o de Palmeira surgem ent o as seguintes col nias polonesas Santa B rbara Cantagalo Rio dos Patos S o Mateus gua Branca a seguir Eufrosina e Rio Claro Quem trabalhou na funda o dessas col nias foi Saporski que como diretor de S o Mateus granjeou muitos m ritos junto aos colonos Nos anos de 1890 e 1895 estabeleceram se nessas col nias segundo dados oficiais ali s incompletos e anota es de testemunhas oculares 8 200 emigrantes do Reino da Pol nia Na regi o de Rio Negro fundada ent o a col nia Lucena atualmente Itai polis na qual foram assentadas 1 488 almas e a col nia Augusta Vit ria onde foram instaladas 120 almas Atualmente Itai polis faz parte de Santa Catarina sendo o maior n cleo polon s naquele Estado p 34 Portanto se tratavam realmente de duas comiss es colonizadoras uma proveniente de Curitiba e outra de Itai polis Importante destacar que mesmo n o se tratando do mesmo grupo colonizador tanto no Emboque quanto em Aparecida d
338. s moradores preferem a medicina popular a entrevistada destaca que eu s tomo rem dio para press o alta porque ainda n o descobrimos nenhum rem dio natural sen o eu plantava aqui em casa mesmo 147 Nerone 2000 lembra tamb m que nas comunidades brasileiras sendo elas rurais ou urbanas a festa religiosa do santo padroeiro ocupa lugar de destaque sendo que o poder aglutinador dessas festas marca profundamente a comunidade se constituindo em um elo entre o passado e o presente De fato a festa era motivo para assuntos ao longo da semana ou por semanas por parte de toda comunidade Os fatos eram lembrados nas conversas e nos mexericos p 144 No Faxinal do Emboque e segundo as entrevistas realizadas a religi o predominante a cat lica n o existindo a pr tica de outra O padre que atende a comunidade vem de uma vila pr xima a Vila Nepomuceno e a par quia do Faxinal tem o nome da santa polonesa Czestochowa tendo tamb m o culto a Nossa Senhora Aparecida S o Jos e Santa Ana sendo as festas destes dois ltimos celebradas em mar o e julho respectivamente As missas acontecem uma vez por m s mas todo domingo ocorre a Celebra o da Palavra e a catequese somam se a isso as novenas de P scoa e Natal e a passagem di ria da Capelinha pelas casas s o duas capelinhas que ficam um dia em cada casa Tamb m comum encontrar no Faxinal do Emboque capelinhas nas casas dos moradores A Foto 23 mostra essa pr ti
339. s pinheiros as madeiras de lei e as frut feras silvestres cobertas por rasteiras gram neas e essa racionalidade levou constru o de cercas coletivas que abrangessem as terras de Ca va cont gua de todos da mesma localidade Dentro do per metro das cercas ficava definida como terras de cria o ou o criadouro CHANG 1988 p 37 Sendo assim pode se dizer que os colonos principalmente os poloneses tiveram grande contribui o na forma o dos criadouros comuns e por tabela do sistema faxinal N o porque fossem eles os idealizadores do sistema e sim porque sua participa o na produ o local provocara uma dinamiza o na estrutura econ mica e social da regi o Os poloneses foram os respons veis diretos pela introdu o de cercas nos 201 sert es paranaenses e em consequ ncia do decl nio do modo de viver semi n made das popula es acostumadas com a atividade pecu ria CHANG 1988 p 40 Portanto os criadouros comuns sintetizavam a intera o din mica entre os dois modos de produzir o dos caboclos e o dos imigrantes se tornando assim a forma mais adequada para aproveitar se dos recursos vegetais praticar a lavoura de subsist ncia e criar os animais Considerando os locais pesquisados o Faxinal do Emboque em S o Mateus do Sul e a comunidade de Aparecida dos Pardos em Irine polis SC percebeu se atrav s das pesquisas de campo constitu das de relatos entrevistas e hist ria
340. s poloneses na forma o e evolu o das comunidades pesquisadas culminando com a constru o de uma identidade territorial comunit ria em ambas Por fim a conclus o no sintetizar das reflex es e ao responder a problem tica posta diferencia o Sistema Faxinal das reas de Ca va analisando suas distintas territorialidades e destaca a constru o da identidade territorial Faxinalense no estado do Paran sobretudo atrav s da atua o de seus agentes de representa o articula o n o evidenciada na por o catarinense do Contestado Este fechamento fica por conta das rela es estabelecidas entre as reminisc ncias e o processo de desagrega o tanto do Sistema Faxinal quanto das reas de Ca va na regi o Portanto pode se dizer que a pesquisa seguiu os n veis e descri es propostos por Sposito 2004 com base nas proposi es de Libault 1994 A primeira atividade foi a compilat ria cujo arranjo inicial permitiu delinear o problema a ser respondido bem como a identifica o das fontes e t cnicas para se estabelecer o universo da pesquisa Foi quando os questionamentos foram se somando s leituras acerca do Sistema Faxinal e da regi o do Contestado A segunda atividade foi a correlat ria quando foram estabelecidos par metros para a homogeneiza o dos dados e para a comparabilidade das unidades adequadas Essa atividade consistiu na defini o da metodologia a ser utilizada para compreender a territorialidade dos ele
341. s que permitem identific los a levantamento do Instituto Paranaense de Assist ncia T cnica e Extens o Rural EMATER 1994 24 munic pios com 118 Faxinais b levantamento do Instituto Ambiental do Paran IAP 2004 16 munic pios com 44 Faxinais c levantamento da Articula o Puxir o dos Povos Faxinalenses APF 2008 31 munic pios com 227 Faxinais Entretanto poss vel perceber a partir destes tr s levantamentos diferen as importantes tanto no que se refere ao n mero de munic pios com Faxinais quanto ao pr prio n mero de Faxinais Isso pode ser justificado pelo descaracterizar de algumas comunidades Faxinalenses com o passar do tempo pela inclus o exclus o de munic pios nas pesquisas e pelas distintas conceitua es adotadas por exemplo a APF considera um conceito mais 31 abrangente para caracterizar o Sistema ou seja o fato das terras terem sido tradicionalmente ocupadas e n o somente a exist ncia do criadouro comum No Cap tulo 3 ap s definir a partir de Chang 1988 os quatro elementos identit rios regionais que caracterizam o Sistema Faxinal parte se para uma an lise da territorialidade de cada um destes elementos na regi o do Contestado Inicialmente constr i se uma percep o da regi o do Contestado compreendendo a enquanto uma territorialidade plural e flu da sendo que as narrativas viabilizam perceber as caracter sticas da regi o e do conflito tendo como pano de fundo os pr
342. s terras arenosas e frias s o consideradas de inferior qualidade para a abertura de ro as p 19 Acerca da explora o do mate Bach 2009 destaca que Considerada o ouro verde do Sul a erva mate Ilex paraguariensis foi durante muitos anos uma das principais fontes de riqueza Nativa e protegida no interior das matas milhares de pessoas durante a safra ocupavam se de sua colheita Com baixo custo operacional e mercado favor vel a erva mate desestimulava o investimento em outras culturas p 198 Almeida 1979 afirma que imigrantes europeus aprendem a ganhar dinheiro com o com rcio do mate e ainda fala dos armaz ns espalhados pela zona ervateira quatro no Paran Rio Negro Antonina Morretes e Paranagu e seis em Santa Catarina Porto Uni o Lucena Oxford Len ol Campo Alegre e S o Bento do Sul al m da matriz em Joinville Em meados de 1915 a Brazil Lumber obt m do governo do Paran uma concess o para explorar a erva mate em terrenos devolutos no interior da rea de lit gio territorial entre Paran e Santa Catarina A Lumber transfere ao coronel Fabr cio a parte de execu o do trabalho de coleta da erva Inconformado por se tratar de rea que segundo senten a do Supremo Tribunal Federal pertencia a Santa Catarina o governo deste estado concede o mesmo direito de explora o do mate ao coronel Manoel Vieira superintendente de Canoinhas Parece ter havido um acordo entre os coron is
343. sam a ocorrer intensas modifica es da produ o no campo e tamb m das rela es entre capital e trabalho O autor tamb m concorda que a partir da d cada de 1960 o campo brasileiro vive uma enxurrada de inova es tecnol gicas no processo produtivo sobretudo com rela o s quest es agron micas f sico qu micas e biol gicas al m da constitui o dos complexos agroindustriais Delgado 1985 e tamb m Elias 2003 destacam as principais inova es e caracter sticas deste per odo aumento dos ndices de tratoriza o e do consumo de fertilizantes de origem industrial modifica es no padr o tecnol gico dos bens de capital demanda por insumos e m quinas industrializa o da produ o agr cola bens de produ o e insumos integra o de capitais industriais banc rios agr rios expans o das 7 Pode se exemplificar com o caso do cr dito agr cola que foi politicamente ordenado para favorecer produtos de exporta o e mat rias primas para as ind strias 193 agroind strias agrocom rcios e cooperativas agr colas organiza o de conglomerados industriais entre outros Acrescenta se a isso o pacote tecnol gico da Revolu o Verde Por m tratou se de um sistema produtivo excludente e concentrador que n o considerava a pequena produ o tradicional e nem fornecia subs dios a esta Da mesma forma pouco considerava a necessidade de preserva o ou de manejo das reas de mata Neste sentido
344. se a uma narra o ordenada escrita dos acontecimentos e atividades humanas ocorridas no passado empregada tamb m para designar o ramo da Ci ncia que se ocupa de registrar cronologicamente apreciar e explicar os fatos do passado da humanidade em geral e das diversas na es pa ses e localidades em particular ou designar ainda os fatos do passado da humanidade registrados cronologicamente MICHAELIS Moderno Dicion rio da L ngua Portuguesa S o Paulo Companhia Melhoramentos 1998 2259p 52 somente no real mas os elementos sobre os quais tais representa es s o moldadas e constru das s o do real selecionadas 185 i E ri Neste sentido Moscovici 2003 versa sobre a ancoragem afirmando que ancorar pois classificar e dar nome a alguma coisa p 61 o processo de reduzir ideias estranhas a categorias e imagens comuns ou seja tornar o novo um objeto conhecido cujo processo n o neutro visto que o novo elemento posicionado de acordo com o que conhecido pelo grupo Dessa maneira a ancoragem d sentido ao objeto e a maneira com que o conhecimento se enra za no social converte se em categoria e torna se familiar portanto a ancoragem um processo que transforma algo estranho e perturbador que nos intriga em nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma de uma categoria que n s pensamos ser apropriada No momento em que determinado objeto
345. sexual aos gays e l sbicas as lutas raciais aos negros entre outros o que constitui o nascimento hist rico do que ficou conhecido como a pol tica de identidade ou seja a identidade para cada movimento SAID E W Orientalismo o oriente como inven o do ocidente S o Paulo Companhia de Bolso 2010 51 1 Narrativa da na o a forma com que contada e recontada essa narrativa nas hist rias e literaturas nacionais sua difus o na m dia e cultura popular o que vem a fornecer uma s rie de s mbolos e representa es que d o sentido na o D significado e import ncia exist ncia e funciona como foco de identifica o Exemplos cen rios eventos hist ricos paisagens cerim nias p blicas perdas triunfos desastres rituais 2 nfase nas origens na continuidade na tradi o e na intemporalidade a identidade nacional colocada na verdadeira natureza das coisas e pode ser invocada para reassumir sua inquebr vel exist ncia Os elementos essenciais do car ter nacional apesar das vicissitudes da hist ria permanecem imut veis s o eternos 3 A tradi o inventada no que Hobsbawn e Ranger prop em ao considerar as tradi es alegadas como antigas que s o na verdade muito recentes ou at inventadas 4 Mito fundacional ao passo que a est ria que conta a origem do povo vincula se a um passado t o distante que se perde nas brumas do tempo n o do tempo real mas do tempo m tico Po
346. sim sendo a sinopse desenhada para a presente abordagem considera 85 os elementos identit rios do Sistema Faxinal como aqueles que se ligam diretamente com o territ rio importante destacar a diferencia o metodol gica entre os estudos de Chang 1988 e Nerone 2000 O estudo de Chang abrange todos os Faxinais paranaenses na poca apresentando uma caracteriza o mais abrangente ao passo que o estudo de Nerone aprofunda a an lise a partir do Faxinal Marmeleiro de Baixo no munic pio de Rebou as PR Dessa forma metodologicamente parte se dos elementos apontados por Chang para reconstruir a hist ria do Contestado salientando a presen a ou n o dos elementos que caracterizam o Sistema Faxinal para em seguida partir da sobreposi o destes elementos selecionar comunidades para buscar os elementos apontados por Nerone que n o podem ser detectados na escala regional somente na escala da comunidade Relevante destacar que possivelmente na por o catarinense do Contestado pode haver Faxinais desagregados e extintos uma vez que j foram identificados tais casos na por o paranaense Outra possibilidade a de que o Sistema Faxinal n o tenha existido no lado catarinense entretanto acredita se com base na literatura e nas caracter sticas f sico naturais e humanas em termos de ocupa o e coloniza o que o mesmo tamb m tenha feito parte da din mica de ocupa o neste estado O que pode ocorrer que Santa
347. sive recorrendo por vezes reinven o ou seja se voltam a praticar mutir es aumentam a cria o no criadouro retomam festividades em homenagem aos Santos Padroeiros novenas cultos adora es reconstroem mata burros e cercas coletivas j abandonados renascem as rela es de compadrio e se buscam em outros Faxinais vizinhos elementos que possam refor ar a identidade Faxinalense na comunidade Nesta situa o tem se o que se pode chamar de re tradicionaliza o tamb m chamada de re enraizamento HAESBAERT 1999 ou ainda re significa o ou 214 reinven o HOBSBAWN e RANGER 2006 que significa revitalizar retomar um contexto descaracterizado esquecido ao longo do tempo e incorpora lo s tradi es modernas Este processo estimulado e conduzido entre outros fatores por quest es econ micas e ocorre quando a comunidade identifica o significado das perdas e passa a garantir a legitimidade e a perman ncia das pr ticas encaixando as aos novos e contempor neos cen rios De fato as transforma es sociais s podem ser compreendidas enquanto processuais e as identidades coletivas enquanto sendo formadas ao longo do tempo assim reinventar ou re tradicionalizar no caso da identidade territorial Faxinalense significa adaptar se s novas realidades e garantir sua territorialidade sobretudo ganhando visibilidade e inserindo se em pol ticas p blicas Estas pol ticas englobam uma s rie d
348. so do termo va como sin nimo de Sistema Faxinal em Santa Catarina Ca va ou mesmo invernada Com o mesmo entendimento Meurer 2012 ao estudar a caracteriza o qu mica e clim tica de popula es naturais de erva mate no Planalto Norte Catarinense destaca que essas reas de Ca va ainda que em diferentes est gios sucessionais s o importantes refer ncias ambientais para diversas esp cies da fauna e flora local inclusive com a explora o da erva mate p 29 Como exemplo a autora coloca uma foto que ilustra uma Ca va no munic pio catarinense de Major Vieira onde poss vel perceber a vegeta o nativa 72 Invernadas Designa o comum a certas pastagens rodeadas de obst culos naturais ou artificiais onde se guardam equ deos muares e bovinos para repousarem e recobrarem as for as Tamb m serve para durante o inverno engordar os animais FERREIRA 1986 p 964 Por m como na pesquisa de campo da Tese o termo invernada n o foi citado trabalhar se como a rela o entre os conceitos de Ca va e Sistema Faxinal 196 sendo utilizada tanto para a explora o da erva mate quanto para o pastoreio dos animais neste caso su nos Siminskiet al 2011 da mesma maneira ao discutirem os recursos florestais nativos e a agricultura familiar em Santa Catarina mais especificamente as reas que correspondem Floresta Ombr fila Mista destacam que o alto percentual da cobertura vegetal
349. sobre popula es e comunidades tradicionais e visando ampliar a visibilidade dos Faxinalenses maior n mero por m abre m o de suas ra zes pois fragiliza sua territorialidade espec fica ou seja o que os diferencia dos demais povos tradicionais ou n o O que se percebe atualmente que se abre m o da identidade territorial rela o terras de criar e terras de plantar para fortalecer numericamente e politicamente o grupo isso fomentado n o pelos Faxinalenses mas por seus assessores pol ticos o que se torna 213 percept vel quando se analisa o crescimento do n mero de Faxinais Trata se da constru o de uma identidade de projeto CASTELLS 1999 uma vez que se produzem sujeitos ou seja atores sociais coletivos pelos quais os indiv duos atingem o significado hol stico em sua exist ncia esta identidade consiste em um projeto de vida neste caso com base at em uma identidade oprimida marginalizada Estas identidades de projeto surgem neste caso do desenvolvimento de uma identidade de resist ncia entretanto com vistas a dar continuidade aos valores da resist ncia comunal oferecida inicialmente aos interesses dominantes sustentados pelo capital pelo poder e pela informa o Nesta constru o das identidades importante perceber que por vezes os elementos que passam a comp la s o reinventados sendo que a inven o das tradi es pode ser vista como um processo de formaliza o e ritualiza
350. ssibilitar a passagem dos animais ao lado do mata burro Este ltimo elemento comum nos Faxinais foi constru do para permitir a passagem de ve culos sem a necessidade de abrir ou fechar os port es diminuindo assim os conflitos com aqueles que propositalmente deixavam as porteiras abertas e permitiam a fuga dos animais Importante destacar que esta porteira se localiza na estrada principal do Faxinal ou seja no local de tr fego intenso sendo que por ela transitam n o somente os moradores do local como tamb m outras pessoas de outros lugares 141 FOTO 15 Porteira coletiva que separa as terras de criar das terras de plantar no Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 O port o retratado na Foto 15 separa as terras do criadouro comum das terras destinadas lavoura tamb m de responsabilidade coletiva e de acesso somente aos moradores do Faxinal visto que liga os espa os das moradias s terras de propriedade particular de plantio Na comunidade do Faxinal do Emboque existem tr s mata burros importante elemento sociocultural que diferencia estas comunidades das demais comunidades rurais brasileiras As Fotos 16 a 18 mostram esse elemento com maior detalhe 142 FOTOS 16 a 18 Os mata burros no Faxinal do Emboque S o Mateus do Sul PR Fonte Acervo da autora 2013 Todos os mata burros retratados objetivam separar as terras do criadouro coletivo das terras de propriedades partic
351. ssidade Registram se tamb m os dias de via o que consiste na limpeza das estradas e caminhos bem como o conserto de pontes e bueiros Tais pr ticas caracterizam um sentido 145 comunit rio onde o interesse coletivo predominava sobre o particular e as normas eram determinadas pelo grupo acumulavam lazer e trabalho No Faxinal do Emboque as pr ticas comunit rias do puxir o objetivam principalmente a arruma o das cercas coletivas os aux lios aos vizinhos e parentes durante as pocas de plantio e ou colheita as trocas de dias dias de servi os trocados o mutir o para a coleta da erva mate e tamb m a ajuda quando da matan a de animais sobretudo os de maior porte como gado e porcos gordos 4 3 3 Medicina e religiosidade popular Nerone 2000 destaca que a flora dos Faxinais enriquecida tamb m pelas plantas medicinais muito empregadas na medicina popular A autora evidencia o destaque dado pela comunidade s benzedeiras e parteiras No caso das benzedeiras ou benzedeiros estas n o possu am outro of cio atendiam pessoas durante o dia receitando ch s rem dios caseiros esfrega es e recebiam em troca mantimentos produtos da ro a e at animais As benzedeiras e as parteiras eram procuradas inclusive por pessoas de outras comunidades Bastante comum nos quintais dos Faxinais o cultivo de plantas medicinais sendo bastante comum a troca de mudas entre os moradores Nerone 2000 assim descreve Os
352. sta da imprensa dos artistas entre outros cada um com sua abordagem referencial conceitual m todos e contribui o Esta Guerra consiste em um epis dio complexo pois alimentado por v rios fatores que se entrela am sejam de ordem social pol tica econ mica cultural ou religiosa FRAGA 2006 p 64 envolvendo habitantes da regi o na poca fazendeiros posseiros pol ticos coron is for as policiais militares entre outros atores V rios foram os motivos que contribu ram para seu desencadear a ndole guerreira do homem local a estratifica o social os modos de vida a prega o dos monges o combate de Irani a quest o de limites entre Paran e Santa Catarina e sobretudo a invas o estrangeira atrav s da constru o da Estrada de Ferro e a instala o da Lumber THOM 1992 Esta rea geogr fica fazia limites ao Norte pelo Rio Igua u e a Estrada de Ferro de S o Francisco desde perto de Uni o da Vit ria envolvendo Canoinhas at junto Vila de Rio Negro ao Sul inflectia sobre Lages aproximava se de Curitibanos e de Campos Novos a leste compreendia Itai polis Papanduva as picadas da col nia Moema e Iracema os contrafortes da Serra do Mirador e as demais cabeceiras da Bacia do Itaja a oeste a Estrada de Ferro S o Paulo Rio Grande VINHAS DE QUEIROZ 1981 p 177 Esta regi o ficou conhecida como a Regi o do Contestado THOM 1992 p 14 e justamente a
353. stando sujeitas manipula o dos grupos sociais visto que s o ao mesmo tempo produto e produtoras de lutas sociais e pol ticas De fato a identidade pode ser constru da tanto para manter a legitima o das rela es de poder hegem nicas quanto para subvert las neste sentido ela pode ser hegem nica ou subalterna CRUZ 2007 As identidades n o s o unificadas est veis ou fixas e o discurso 55 perform tico desenvolvido para fixar e estabilizar uma identidade pode silenciar outras ou subvert las ou desestabiliz las De acordo com Castells 1999 entende se por identidade a fonte de significado e experi ncia de um povo p 22 sendo este significado entendido como a identifica o simb lica por parte de um ator social da finalidade da a o praticada por tal ator p 23 Dessa forma toda e qualquer identidade constru da e a principal quest o diz respeito a como a partir de qu por quem e para qu isso acontece idem de fato A constru o de identidades vale se da mat ria prima fornecida pela hist ria geografia biologia institui es produtivas e reprodutivas pela mem ria coletiva e por fantasias pessoais pelos aparatos de poder e revela es de cunho religioso Por m todos esses materiais s o processados pelos indiv duos grupos sociais e sociedades que reorganizam seu significado em fun o de tend ncias sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura s
354. ta de 1960 quando a Igreja de Aparecida dos Pardos foi constru da Na comunidade n o existe mais a escola tendo em vista que estes pequenos n cleos educacionais do campo foram fechados e os alunos mandados aos centros urbanos A Foto 45 retrata a ata que relata a reuni o realizada para encaminhar a constru o da referida Igreja De acordo com Iarochinski 2000 o termo polaco durante algum tempo foi usado no Sul do Brasil para agredir e ofender os imigrantes e seus descendentes Era um termo pejorativo que teria sido usado inicialmente no Rio de Janeiro no come o do s culo XX para se referir a prostitutas suecas de um Cassino da Urca Como estas eram loiras como as polacas do Sul do Brasil os sulistas trataram de chamar toda prostituta seja ela loira preta branca amarela ou ndia de polaca Dai surge o termo polon s derivando do franc s polonais com o intuito de diminuir a inferioridade tnica e o preconceito por m muitos preferem ser chamados de polacos e n o de poloneses por n o acreditar ser necess rio se valer de uma terceira l ngua neste caso o franc s para traduzir o termo da Pol nia para o Brasil 177 e E AT Cha td Q 15 de E AS NA de AISA a podido des arandos de Rio des Tendo je pegada o As Jarissa AOs Tatan Seil e Edesio Rodo afpa a pv Secr is ve E ERES y gt Va 6 4n6 idas ter SP PSA liscoutica wo cada de jd 00000 primins o 000 00 Fio dos ada pI 19
355. talvez pela aus ncia do criadouro comum atuam mais individualmente na produ o e comercializa o dos produtos agr colas Dessa maneira pode se dizer que estes quatro fatores influenciaram regionalmente na devasta o das Matas Mistas e consequentemente na desagrega o dos sistemas tradicionais de uso da terra que sobreviviam de forma mais harmoniosa nestes locais como neste caso o Sistema Faxinal Inicialmente foi a atua o da Brazil Railway na constru o da ferrovia na retirada da madeira em sua faixa de dom nio e no loteamento e venda das terras aos imigrantes atrav s de sua subsidi ria empresa de coloniza o Em seguida foi a extra o desenfreada e inadequada da erva mate nativa restringindo sua incid ncia a lugares espec ficos perpassando pela explora o madeireira que durante anos exauriu as Matas Mistas regionais Por fim a moderniza o agr cola excludente e concentradora que n o abria espa o para os pequenos propriet rios fazendo com que muitos vendessem suas terras Logicamente soma se a isso a inoper ncia e aus ncia hist rica do Estado na regi o quest o que ser aprofundada posteriormente 6 1 2 A quest o das Ca vas Imposs vel n o notar na paisagem paranaense e catarinense os fragmentos florestais remanescentes da Floresta Ombr fila Mista que s o conhecidos local e popularmente como Ca vas Entretanto com rela o sua caracteriza o h uma significativa escassez d
356. te acerca das col nias do Vale do Igua u a autora destaca que foram marcantes as levas de imigrantes poloneses que vieram ap s a aboli o da escravatura 1850 e se localizaram no interior das Matas Mistas dedicando se agropecu ria de subsist ncia e integrando se atividade ervateira Essa associa o do mate com a agricultura trouxe prosperidade a estes colonos Estes imigrantes eram vistos como portadores de tradi o e t cnicas mais evolu das e teriam a miss o de compensar o atraso e as t cnicas rudimentares do caboclo Entretanto devido s condi es f sico clim ticas diferentes de sua terra de origem al m de prec rias condi es de infraestrutura de produ o e mercado e da falta de apoio por parte do governo os poloneses ao inv s de renovarem as t cnicas foram obrigados a se adaptarem s condi es oferecidas adotando as t cnicas locais de produ o CHANG 1988 p 34 Nas matas onde havia os ervais nativos os imigrantes compreenderam que a prioridade em termos econ micos era o mate induzindo assim uma defini o mais n tida quanto ao uso das terras as terras onde se encontravam os ervais deveriam ser preservadas para sua extra o e as reas mais abertas seriam para a agricultura Tamb m perceberam que era inconveniente a cria o sobretudo a mi da andar pr ximo s reas de lavoura Para resolver o problema aproveitaram se das reas de Ca va onde se encontravam as ervateiras o
357. te parte se de elementos socioecon micos presentes no territ rio produ o animal produ o agr cola e coleta da erva mate em uma escala regional ou seja na regi o do Contestado para em seguida ap s sobrepor tais elementos mais abrangentes utilizar dos elementos identit rios socioespaciais e socioculturais propostos por Nerone 2000 para analisar casos espec ficos na escala das comunidades A escolha dos conceitos cl ssicos que se baseiam nos elementos tradicionais do Sistema permite buscar as singularidades do Faxinal o que se torna importante na investiga o de sua presen a em terras catarinenses mais especificamente na regi o do Contestado onde estes ainda n o foram identificados e ou sistematizados Parte se de Chang 1988 e Nerone 2000 pelo fato de se considerar estas pesquisas como ponto de partida para o entendimento dos elementos que comp emm o Sistema Faxinal e tamb m em fun o da necessidade da elabora o de escalas de an lise 2 2 OS ELEMENTOS IDENTIT RIOS SOCIOECON MICOS APONTADOS POR CHANG Publicada na d cada de 1980 a pesquisa de Man Yu Chang sobre o Sistema Faxinal surgiu ligada ao Programa de Desenvolvimento Rural Integrado PRORURAL evidenciado entre 1982 e 1984 o qual objetivava abordar os problemas econ micos e sociais das formas de organiza o camponesa do Paran Para a autora o que torna o Sistema Faxinal at pico 32 CHANG M Y Sistema Faxinal uma forma de organ
358. tiva experiencia en que sociedades y comunidades se reconocen en una relaci n que podemos llamar condici n de territorialidad que les permite representarse unas respecto de otras y de s mismas es decir identificarse y diferenciarse a la vez p 170 Nestas proposi es o territ rio n o pode ser visto como um produto ideal uma ideia ou um conceito os territ rios s o uma proje o subjetiva imagin ria algo gerado por um projeto tendo em vista as circunst ncias surge carregado de inten es e desejos humanos de posse Por isso ele apropriado um espa o de identidade e hist ria cuja consist ncia fundamental um sistema de significa es e como tal um sistema de interpreta es Dessa maneira o territ rio n o uma simples consequ ncia um produto gerado e emanado mecanicamente pela subjetividade humana mas sendo uma cria o imagin ria pode constituir se em um produto de di logo MUNOZ 2011 p 171 podendo ser interpretado a partir de suas significa es din micas Mu oz 2011 contribuindo para elucidar an lises sobre o territ rio enumera duas quest es a primeira que ao considerar o territ rio como significa o social imagin ria este tem significados espec ficos a segunda que qualquer metodologia que pretenda dar conta de tais significa es precisa considerar as especificidades dessas caracter sticas Assim com vistas a elaborar uma interpreta o adequada Mun z 2011 prop
359. tradicionalmente dividido em terras de criar e terras de plantar v m sendo amplamente discutido a partir da d cada de 1980 o que resulta em conceitua es e estudos de caso 69 espec ficos Assim sendo torna se necess ria uma an lise acerca da evolu o do conceito inicial e a defini o do conceito a ser utilizado nesta pesquisa A express o Faxinal originalmente descrita por Hor cio Martins de Carvalho em 1984 sendo o criadouro comunit rio seu elemento de maior import ncia O autor destaca que segundo o uso regional Faxinal quer dizer criador grande provavelmente se referindo s pastagens naturais existentes na regi o e que facilitavam pelas condi es da vegeta o a cria o extensiva de animais em particular su nos e grandes animais p 16 De acordo com Carvalho 1984 originalmente Faxinal se referia ao mato denso e grosso com uma vegeta o mais cerrada se comparada a outras reas de mato mais ralo Segundo o autor o Faxinal era preservado para pr ticas extrativistas da madeira e da erva al m de servir de espa o para a cria o extensiva de animais p 14 O criador comunit rio era uma forma de organiza o consuetudin ria estabelecida entre propriet rios da terra para sua utiliza o comunal tendo em vista a cria o de animais A rea encontrava se formada por v rias parcelas de terras de distintos propriet rios originando um espa o cont nuo Nesta perspectiva n
360. treiro Por m apropriam se do termo Ca va apresentando suas caracter sticas rea que possui mato com rvores sendo ro ada frequentemente para tirar erva mate podendo ter ou n o cria o p 203 Da mesma forma Mello e Peroni 2012 destacam que no Planalto Norte de Santa Catarina a Floresta Ombr fila Mista um mosaico composto por reas de cultivo e pastagens inseridos entre fragmentos de florestas onde o pinh o e a erva mate s o extra dos 3 o E o 74 as comunidades locais denominam essas unidades de paisagem de fragmentos da FOM como Ca vas p 330 Os autores destacam ainda que as principais formas de manejo nestas reas s o a pastagem e manuten o dos animais dentro da floresta ro ada do sub bosque e a NOVAK R FAJARDO S Desintegra o e resist ncia do sistema faxinal em Itapar Irati PR UNICENTRO Revista Eletr nica Lato Sensu Irati 2008 p 1 12 74 Floresta Ombr fila Mista 197 poda favorecimento e enriquecimento com esp cies nativas especialmente a erva mate idem A partir destas considera es poss vel perceber que em Santa Catarina mais especificamente na regi o do Planalto Norte as reas popularmente conhecidas como Ca va s o locais onde o Sistema Faxinal historicamente teria se desenvolvido sobretudo devido s caracter sticas f sico naturais das Matas Mistas com ervais nativos e aos condicionantes humanos dos caboclos e imigrantes Por
361. u o a partir do espa o cujo 84 territ rio gerado o resultado de uma a o conduzida por atores que ao se apropriarem deste espa o o territorializam Ainda quanto constru o do territ rio do Sistema Faxinal destacam se as rela es sociais e hist ricas ou seja rela es de poder que se estabeleceram a partir de situa es e contextos vividos visto que o territ rio o espa o constru do no e pelo tempo sendo produto de rela es cotidianas que incluem tamb m a dimens o pol tica O conceito territ rio n o deve ser confundido com o de espa o ou de lugar visto que est ligado ideia de dom nio ou gest o de uma determinada rea e assim afirma se que no caso do Sistema Faxinal o conceito de territ rio mais comumente aplic vel tendo em vista justamente a dimens o pol tica que o envolve Neste sentido os elementos b sicos que comp emm o Sistema Faxinal podem ser evidenciados e discutidos a partir de sua territorialidade a qual existe efetivamente e pode se apresentar como uma estrat gia pol tico cultural onde a an lise da territorialidade da produ o animal da produ o agr cola e dos ervais atrav s da rela o sociedade espa o tempo possibilita perceber a forma com que o Sistema Faxinal foi se desenvolvendo e tamb m se desarticulando nos diferentes locais onde se fez presente Pode se perceber a partir dessas considera es que o territ rio o suporte material da exist ncia coletiva e func
362. u duas empresas a Brazil Development and Colonization Company para povoar as terras devolutas recebidas pela Estrada de Ferro e a mais importante a Southern Brazil Lumber Colonization que al m de comprar pinheirais no Planalto Norte Catarinense ainda obteve autoriza o para instalar serrarias em terrenos devolutos e depois vender as terras j sem rvores para imigrantes se fixarem SACHET SACHET 2001 p 71 72 Ap s concluir em 1910 a liga o ferrovi ria entre o estado de S o Paulo e o Rio Grande do Sul a Brazil Railway iniciou um plano de coloniza o na faixa que lhe fora concedida de 15 quil metros de cada lado da linha SACHET SACHET 2001 98 Acerca das caracter sticas geogr ficas da regi o tem se com altitude oscilante entre 600 e 1 200 metros na maior por o de solo s lico argiloso tipo terra roxa predomina a floresta de arauc rias na qual se intercalam cap es faxinais e taquarais entre as matas dos pinhais e os campos de gram neas THOM 1992 p 14 Este territ rio do Contestado compreendia uma vasta rea geogr fica que era disputada entre Paran e Santa Catarina desde 1853 com a cria o da Prov ncia do Paran desmembrada de S o Paulo TONON 2010 tendo como fronteiras ao Norte os rios Negro e Igua u ao Sul os campos de Curitibanos Lages e Campos Novos a Leste a Serra Geral e a Oeste os campos de Irani o que a caracterizou como Regi o do Contestado
363. udiosos jornais e oficiais da poca da Guerra que relatam o tropeirismo e a exist ncia da cria o de animais em comum mais especificamente de su nos Por fim a an lise da territorialidade da policultura alimentar de subsist ncia constru da a partir do entendimento da chamada ro a cabocla que presente no Contestado visava principalmente subsist ncia com venda somente do excedente O intuito dessa sele o perceber a territorialidade destes quatro elementos compreendendo sua localiza o geogr fica no recorte espacial definido Concorda se com Cruz Neto 1994 que a atividade de pesquisa n o se restringe ao uso de t cnicas refinadas para a obten o de dados na mesma medida em que o trabalho de campo n o se explica por si s Assim sendo buscando relacionar a discuss o conceitual da pesquisa de campo o quarto cap tulo partiu da sele o de uma comunidade paranaense em que poss vel perceber pela escala regional dos elementos que comp emm o Sistema Faxinal CHANG 1988 a possibilidade de aprofundar a outra escala proposta a escala da comunidade NERONE 2000 Dessa forma se torna vi vel sustentar tanto a proposi o metodol gica definida na pesquisa quanto s afirma es acerca da forma com que o estado do Paran vem tratando esse particular modo de vida A comunidade selecionada para o aprofundamento enquanto estudo de caso no Cap tulo 4 o Faxinal do Emboque localizado no munic pi
364. ue podem ser evidenciadas semelhan as entre alguns redutos e o Sistema Faxinal sendo que no caso do Timbozinho s o tomados inclusive como sin nimos 25 Peixoto 1995 j se referia ao Faxinal do Timbozinho p 36 na mesma regi o Fato que os caboclos criavam animais em cercamento e aproveitavam limites naturais como barreiras podendo se pensar que o Sistema Faxinal modifica se ao longo da hist ria ressaltando que o autor afirma tamb m que os redutos dos sertanejos do Contestado tamb m podem ser considerados como varia es do sistema de cria o extensiva praticada nas matas de pinheirais p 211 Dessa maneira refor a se a diferencia o quanto ao trato do Sistema Faxinal no Paran Figura 01 onde s o reconhecidos legitimados e inseridos em pol ticas p blicas e em Santa Catarina onde parecem n o existir se desagregaram s o silenciados invis veis ou teriam evolu do para outras formas de uso da terra 53 52 51 50 49 Curitiba BO aA SPA Piao d E y V AN RA Santa Catarina 53 52 51 50 40 FIGURA 1 Distribui o dos Faxinais no Paran 1 Faxinais Remanescentes 2 Faxinais Desativados 3 Faxinais Extintos 4 Escarpa da Serra Geral 5 Escarpa Devoniana 6 Campos 7 Mata de Arauc ria Fonte dos Dados Brutos Marques 2004 Base Cartogr fica Cigolini Mello Lopes 2001 Concep o e Cartografia L wen Sahr e Berto Fonte L wen Sahr 2005b p
365. ulares de moradores que n o pertencem ao Faxinal S o portanto os limites do criadouro comum e se localizam nas estradas principais onde o tr fego mais intenso e n o se limita ao transitar dos moradores locais Como poss vel perceber pelas imagens ao lado de cada mata burro existe uma porteira ou port o para possibilitar a passagem dos animais e de carro as A comunidade tamb m recebe o repasse de uma porcentagem do ICMS Ecol gico e procura empregar o dinheiro em reparos e manuten es nas cercas porteiras e mata burros Certamente s o elementos que diferenciam a comunidade Faxinalense de outros espa os rurais brasileiros 4 3 ELEMENTOS SOCIOCULTURAIS Os elementos sociais extra dos da Tese de Nerone 2000 a serem analisados na escala da comunidade s o constitu dos pelo uso coletivo da terra pelas rela es de compadrio e mutir o e pela medicina e religiosidade popular presentes nestes locais Dessa maneira aprofundam se estes elementos tanto no Faxinal do Emboque neste cap tulo quanto na 143 comunidade de Aparecida dos Pardos Irine polis SC no pr ximo cap tulo com vistas a perceber a forma com que contribuem para caracterizar essa racionalidade 4 3 1 Uso coletivo da terra Segundo Nerone 2000 o Sistema Faxinal uma das modalidades do uso coletivo da terra existente no estado do Paran sendo que a forma de organizar esse espa o coletivo estaria relacionada import ncia da floresta para
366. um processo de constru o de significados com base em um atributo cultural ou ainda ao seu conjunto de atributos culturais que prevalecem sobre outras fontes de significa o estando tamb m constantemente em processo em constru o S o portanto din micas m ltiplas e abertas est o sempre em movimento sempre se realizando sendo constru das ao longo de discursos e sujeitas a historiza o radical 54 Cruz 2007 ao colocar que a identidade relacional e contrastiva destaca que h a necessidade de se compreender que a identidade n o uma coisa em si mas uma rela o uma posi o relacional visto que constru da na e pela diferen a mas n o exclusivamente Tal considera o implica no fato de que apenas por meio da rela o com o outro da rela o com aquilo que n o precisamente com aquilo que falta com aquilo que tem sido chamado de seu exterior constitutivo que a identidade ganha sentido e efic cia p 98 Da mesma maneira A afirma o da identidade e a marca o da diferen a implicam sempre as opera es de incluir e excluir A identidade e a diferen a se traduzem assim em declara es sobre quem pertence e quem n o pertence sobre quem est inclu do e quem est exclu do Afirmar a identidade significa demarcar fronteira significa fazer distin es entre o que fica dentro e o que fica fora SILVA 2004 p 82 Ainda segundo Cruz 2007 a constru o da id
367. unidades din micas que v m ao longo do tempo sendo moldadas tanto por novos atores sociais quanto por novas necessidades pol ticas Aproximando ainda mais as discuss es te ricas ao caso das comunidades tradicionais cita se como exemplo as considera es de Cruz 2007 ao analisar a emerg ncia processos e condi es de novas identidades territoriais constru das por estas popula es que buscam afirmar seu modo de vida na Amaz nia O autor evidencia a marginaliza o a que historicamente tais popula es foram submetidas e destaca o protagonismo destas na constru o da hist ria e da geografia da regi o propondo a constru o de um itiner rio te rico para se pensar o conceito de identidade e sugerindo alguns elementos essenciais a este conceito a a identidade uma constru o hist rica b relacional e contrastiva c material e simb lica d estrat gica e posicional e pode ser hegem nica ou subalterna As proposi es do autor embora considerem comunidades amaz nicas podem ser transpostas para a realidade do Sistema Faxinal onde o recorte espacial da regi o do Contestado aponta para a marginaliza o hist rica do territ rio e cuja identidade Faxinalense pode ser compreendida atrav s dos elementos essenciais sugeridos a este conceito Ao sustentar a proposi o de que a identidade uma constru o hist rica Cruz 2007 partindo de Castells 1999 e Hall 2005 afirma que a identidade
368. uritibanos ANEXO 01 na escala de 1 100 000 IBGE 1973 e uma das duas nicas na regi o do Contestado a possuir o termo Faxinal no nome Por m na pesquisa de campo desenvolvida na comunidade constatou se atrav s dos relatos orais colhidos e da leitura de livros e pesquisas que contam a hist ria do local por exemplo Felisbino Felisbino 2002 Brandt 2007 e Brandt Campos 2008 que se trata de um antigo Faxinal que teria se desagregado devido a Guerra do Contestado entre outros motivos Isso se deve sobretudo ao fato de que no interior da comunidade fica o antigo reduto ou cidade santa de Taquarussu ou Taquaru u para alguns atacado em 08 de fevereiro de 1914 Entretanto n o existem mais no local os ervais nativos e nem a cria o em comum elementos fundamentais aqui considerados para a Lakatos e Marconi 2003 p 186 190 Fra 8 de fevereiro de 1914 Durante o dia os canh es lan aram sobre o reduto 175 tiros de granadas explosivas tipo schrapnell alem o estilha os Os homens do reduto correram para as trincheiras cavadas aqu m das casas mas n o podiam p r a cabe a para fora sem que fossem alvejados pelas metralhadoras Conta um soldado de artilharia Havia uma igreja a qual desmoronou queimou se aniquilou sob o bombardeio arrastando queimando exterminando consigo toda a gente que dentro estava Grande n mero de cad veres calculado por uns em 40 e tantos e por outros em 9
369. us discursivo de base te rica em seguida identificam se e estudam se as pr ticas discursivas cotidianas e por fim sistematiza se esta constru o formal Prosseguindo com a abordagem te rica discute se o conceito de identidade observando que o mesmo n o deve ser reduzido mera diferen a E vista como fonte de 28 significado e experi ncia de uma coletividade est sempre sendo constru da e localiz vel no tempo e no espa o dada sua fluidez podendo at ser inventada desde que uma ancoragem lhe d concretude ou assumir um car ter estrat gico e posicional ao se tornar politizada As reflex es partem de Hall 2005 Haesbaert 2007 2008 Moscovici 2003 Da Matta 1983 Cruz 2007 Castells 1999 Hobsbawn e Ranger 2006 Bauman 2005 e Silva 2004 destacando tamb m que a identidade uma constru o hist rica relacional e contrastiva n o sendo nunca inocente Em seguida buscando fortalecer a arquitetura te rica aprofunda se esse car ter contrastivo dos conceitos de identidade e territ rio Ao discutir as identidades territoriais parte se de Castells 1999 Porto Gon alves 1999 Cruz 2007 e principalmente de Haesbaert 1997 1999 2007 2008 destacando que estas podem surgir ao longo do tempo a partir da tend ncia de algumas organiza es comunit rias em se agrupar gerando um sentimento de perten a Esse agrupamento se d em torno de um conjunto espec fico de valores e sua efetiva o ocor
370. uza ao car ter de abstra o anal tica enquanto imagem ou s mbolo de um territ rio efetivamente existe e pode inserir se eficazmente como uma estrat gia pol tico cultural p 40 41 mesmo que o referido territ rio n o se manifeste materialmente como no caso da Terra Prometida dos judeus O territ rio pol tico por natureza aparece nas reflex es te ricas como o conceito que torna poss vel analisar a dimens o pol tica do espa o geogr fico ou seja suas rela es de poder Dessa maneira a identidade e o territ rio est o mergulhados em rela es de poder sujeitas aos mais diversos jogos entretanto este poder tamb m m ltiplo e n o restrito s figuras centralizadoras do Estado ou das classes dominantes Assim sendo o territ rio conceito e categoria constru do socialmente o espa o apropriado e para que ele exista necess ria uma delimita o da rea um controle e uma forma de poder Nele pode haver disputas contradi es desigualdades e sobreposi es por se tratar de uma unidade n o homog nea podendo assim ser distinguido a partir da heterogeneidade e da intencionalidade apropria o humana que o caracteriza A territorialidade por sua vez produto das rela es deste territ rio se refere s a es e estrat gias para controlar uma rea e pode ser vista como uma potente estrat gia de controlar esta rea podendo ser inclusive instrumento pol tico estrat gico
371. vam para a tradi o para manter ou expandir seu controle sobre os s ditos As popula es nativas recorriam tradi o para assegurar que os migrantes que se estabeleciam na rea n o viessem a obter nenhum direito econ mico ou pol tico p 261 Ainda Hobsbawn e Ranger 2006 p 271 atentam para o fato de como comum o fen meno da inven o das tradi es e destacam que estas surgiram com frequ ncia excepcional no per odo de 30 a 40 anos antes da I Guerra Mundial Podem ser entendidas a partir da diferencia o entre a as inven es oficiais que tamb m podem ser chamadas de pol ticas surgidas em Estados ou movimentos sociais e pol ticos organizados ou criadas por eles b as inven es n o oficiais que tamb m podem ser chamadas de sociais geradas por grupos sociais sem organiza o formal ou por aqueles que cujos objetivos n o eram espec fica ou conscientemente pol ticos como clubes e gr mios tivessem eles ou n o tamb m fun es pol ticas Os autores ainda afirmam que de acordo com a ordem natural das coisas a consequente inven o das tradi es pol ticas foi mais consciente e deliberada pois foi adotada por institui es que tinham objetivos pol ticos em mente Idem p 271 Entretanto os problemas dos Estados e dos governantes passaram a se tornar mais graves na medida em que os s ditos tornaram se cidad os e se descobriram enquanto possuidores de direitos pol ticos qu
372. versidade flor stica De modo espec fico no clima subtropical da regi o Sul do Brasil a presen a da Araucaria angustifolia determina o tipo de forma o vegetal que vem sendo chamado de pinheiral mata de Arauc ria floresta aciculifoliada zona dos pinhais floresta com Arauc ria Matas Mistas ou o mais utilizado Floresta Ombr fila Mista CORDEIRO 2005 Trata se de uma regi o formada por m ltiplas associa es e agrupamentos nos mais variados est gios de sucess o KLEIN 1960 A Floresta Ombr fila Mista definida a partir da classifica o da vegeta o brasileira proposta pelo IBGE 2002 atrav s do sistema fision mico ecol gico onde o termo Ombr fila refere se forma o florestal que se situa 104 em regi o de alta pluviosidade e com chuvas bem distribu das no decorrer do ano e o termo Mista refere se ao encontro de duas floras distintas Temperada Austro Brasileira e Tropical Afro Brasileira Partindo de uma percep o geogr fica Ab Saber 2003 ao analisar os planaltos de Arauc rias e pradarias mistas caracteriza O mato baixo e relativamente descontinuo com pinhais altos esguios e imponentes um tanto ex ticos e homog neos em face da biodiversidade marcante dos sub bosques regionais p 101 Ressalta ainda que de vez em quando em meio alta regi o das Arauc rias surgem pequenos mosaicos de campos entremeados por bosques de Pinhais que segundo o autor oferecem u
373. vir essa palavra pode se estar certo de que est havendo uma batalha O campo de batalha o lar natural da identidade Ela s vem luz no tumulto da batalha e dorme e silencia no momento em que desaparecem os ru dos da refrega A identidade uma luta simult nea contra a dissolu o e fragmenta o uma inten o de devorar e ao mesmo tempo uma recusa devoluta de ser devorado p 83 84 Nesta batalha est envolvida uma disputa por recursos simb licos e materiais da sociedade onde a identidade s existe a partir da enuncia o da diferen a e objetiva traduzir o desejo de in meros grupos sociais de garantir acesso aos bens sociais uma esp cie de identidade como conflito visto que a identidade n o algo dado Assim a identidade e a diferen a est o em estreita conex o com as rela es de poder Al m disso o poder de definir a identidade e marcar a diferen a n o pode ser separado das rela es mais amplas de poder SILVA 2004 p 81 portanto a identidade e a diferen a n o s o nunca inocentes Frente a tantos enquadramentos te ricos poss veis a partir do conceito de identidade o posicionamento para a pesquisa se torna fundamental Assim sendo entende se a identidade n o descartando sua complexidade mas compreendendo que justamente tal caracter stica a torna neste caso adequada Trata se da fonte de significado e experi ncia de uma coletividade que permanece sempre incompleta est sempre em pro
374. xinal na regi o do Contestado passa a ser discutido Desenvolvendo os conceitos de territ rio e territorialidade na Ci ncia Geogr fica utiliza se de Sack 1986 Raffestin 1993 Andrade 1995 Santos 2002a Souza 2007 e Haesbaert 2007a com vistas a enfatizar que o territ rio enquanto conceito e categoria socialmente constru do Trata se do espa o apropriado e para que ele exista necess ria uma delimita o da rea um controle e uma forma de poder podendo haver disputas contradi es desigualdades e sobreposi es A territorialidade por sua vez produto das rela es deste territ rio se refere s a es e estrat gias para controlar uma rea podendo ser inclusive instrumento pol tico estrat gico Objetivando aproximar estas reflex es te ricas dos estudos mais espec ficos utiliza se das contribui es de R os 2011 que em seu estudo interdisciplinar acerca dos processos territoriais locais onde participam as comunidades tradicionais destaca a necessidade de se considerar a diversidade existente no interior destas comunidades bem como a necessidade de valorizar os conhecimentos e saberes destes diversos atores Nestas reflex es acrescentam se as contribui es de Mu oz 2011 e sua proposta de aproxima o metodol gica da Hermen utica Dial gica Territorial a partir da qual atrav s do decifrar dos sentidos do territ rio pode se construir um produto de di logo para tanto elabora se um corp

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