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1. 107 POL QUE engrtavidaraMi A ss ijess fis s nada iotsjas Retna a t fotu E aa ada aros ias EO g 108 As viv ncias em rela o DLAVICCZ css nanciacss puqhes gba LU putosga as Deo aeaa viana autedger nua fas aiuaiudadre 112 Fatores de risco para o transtorno mental c ii reeererrreeanda 115 O puerp rio e o surto propriamente Qto asc quase aaa na a 119 Sobre os servi os de sa de que utilizaram sicsanisi adasa asssseneradadontaa derda aq da iqaa ata 122 As mulheres no hospital PSIQUIAICO cassa a a aa a a 128 A rela o com o marido e a rede social das mulheres s 132 A rela o com as m es Do desamparo maternidade 137 As mulheres e a rela o com os MINS ss IR 143 As mulheres e o trabalho Planos futuros eeseeeeeseeeseseessesesesresseseresressersresreesresree 156 Em casanovamente as EE E A AT 161 6 CONSIDERA ES FINAIS RR ERR PRN R RD RR RD RE ES RR ER 163 REFERENCIAS 2 iscas tsogassia ria a a 175 APENDICES unripe a o 179 Ap ndice 1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 180 Ap ndice 2 Entrevista semi estruturada ssissaasaiscasssagusisalisgaradiasa p iate capeta asas da isagas da staaas 183 Parte I Identifica o e Dados Demogr ficos erre 183 Parte I Condi es d SA dE cus queriam sinnena iii e ger tan 183 Parte III Roteiro Semi Estruturado is erer
2. Primeiro Trimestre Segundo Trimestre Terceiro Trimestre Tipo de Parto Com quantas semanas de gesta o P s Parto Teve algum acompanhamento In cio do tratamento psiqui trico Sintomas Cuidado pessoal Cuidados com o beb Amamenta o Quanto tempo Por qu Gesta es anteriores Quantas Abortos pr vios PARTE II ROTEIRO SEMIESTRUTURADO 1 Como foi para voc saber que estava gr vida 2 Como voc descreve a experi ncia da gravidez 3 E a experi ncia do p s parto 185 4 Como tem sido o relacionamento com o seu beb desde que ele nasceu 5 E com os outros filhos 6 E a rela o com o companheiro 7 O que mudou na sua vida a partir dessa gravidez 8 Quais pessoas te ajudaram e deram apoio nessa experi ncia 9 Como voc entende o que lhe aconteceu para precisar desse tratamento psiqui trico 10 Quais s o seus planos para o futuro 11 Voc quer dizer alguma coisa para seu beb
3. Ao que tudo indica ap s essa experi ncia D bora nem tinha mais a sua sogra como um objeto perseguidor mas era agora a pessoa mais adequada e capaz para cuidar de seu beb uma esp cie de idealiza o da sogra Concomitantemente a isso crescia um sentimento de incapacidade para ser m e de seu beb t o intenso que a fazia acreditar que n o amava mais o seu filho Poderia ser diferente se permitissem que ela se ocupasse desse beb tamb m A m e de Sueli nem sequer ligou ou visitou quando soube do nascimento da neta J a m e de Rosa esteve sempre junto tendo que assumir os cuidados maternos a que a filha n o conseguia dedicar se Francoise Dolto pediatra e psicanalista francesa ensinou a partir de sua experi ncia cl nica com a psican lise de crian as e articula es te ricas que um rec m nascido muito sens vel ao que lhe dito e aos estados de nimo da m e A maternidade uma experi ncia que convoca o saber inconsciente e que assim sendo depende de uma transmiss o e tamb m de uma cria o singular que implica subjetivamente cada mulher no exerc cio da maternidade Ou seja ao mesmo tempo em que a maternidade implica uma repeti o inconsciente entre gera es tamb m diz singularmente da inven o que pode ter lugar para uma mulher a partir da experi ncia da maternidade JERUSALINSKY 2011 p 19 De frente com essa assertiva proposta por Julieta Jerusalinsky 2011 valoriza
4. Embora seja necess rio seguir certos protocolos de atendimento fundamental que as equipes estejam preparadas para ultrapassar os limites das regras para dar vaz o s ansiedades das mulheres acolhendo as e acalmando as O pensamento predominante do s culo XXI de que h nobreza na dor do parto e que a boa m e sempre aquela que sofre BADINTER 2011 Apesar das tr s mulheres terem feito os pr natais regularmente nenhuma teve qualquer atendimento voltado para saber como estavam passando emocionalmente Nem perceberam que eu tava assim na gravidez contou Rosa sobre o m dico e Cita o retirada da entrevista com Elisabeth Badinter A m e um mito na Revista VEJA ed 2226 ano 44 n 29 de 20 de Julho de 2011 125 que lhe acompanhou durante a gesta o Ele n o percebeu os sinais e sintomas que denunciavam seu estado psicol gico abalado pois nas consultas n o conversava muito com a paciente S era assim de ver o nen m e pronto s A m e n o via S o nen m S o nen m risos Pelo hist rico de cada caso e ressaltando os fatores de risco a que todas estiveram submetidas n o houve qualquer olhar para a sa de mental dessas mulheres e s consequ ncias do adoecimento mental Observou se dos relatos das pacientes que as equipes estavam atentas aos beb s e n o s m es e rela o entre eles E infelizmente geralmente isso o que acontece nos atendimentos Os
5. em que ambos s o estimulados a desenvolverem se juntos e individualmente Atua se pelos relacionamentos interpessoais as ang stias e ansiedades e tamb m no sentido de compartilhar experi ncias sobre temas como sexualidade casamento vida profissional entre outros aspectos relevantes De certa forma as tr s mulheres tiveram um acompanhamento dessas quest es uma vez que foram atendidas por uma equipe multidisciplinar no hospital psiqui trico mas nem tudo desse tratamento hospitalar foi interessante Para duas destas mulheres o tratamento hospitalar em regime integral al m de provocar um distanciamento f sico com os seus beb s trouxe um afastamento emocional no caso de D bora e muita apreens o no caso de Sueli N o d para dizer como elas v o estar daqui a algum tempo ou com mais idade mas a princ pio ficou claro que as tr s estavam mais tranquilas ap s o tratamento para assumirem a fun o materna E fundamentalmente suas experi ncias ilustraram metas e pontos de atua o para a constru o de uma rede mais eficiente da Sa de da Mulher com a Sa de Mental E v lido construir servi os que n o deixem as m es t o longe de seus beb s Pol ticas que considerem o necess rio e somente o necess rio de dist ncia entre essa d ade m e e filho para evitar que a cis o seja mais traum tica para ambos Outra sa da para essa problem tica seria a oferta de tratamentos em casa acompanhados por agentes
6. o sa de mental de mulheres em idade f rtil no mbito das pol ticas p blicas de sa de Considerando que a experi ncia da gesta o do parto e do puerp rio leva algumas mulheres a uma situa o de vulnerabilidade emocional verifica se a import ncia de voltar aten o para essas mulheres para que possam desenvolver se e assumir os cuidados maternos essenciais para um desenvolvimento saud vel de seu beb s Gostaria de convid la a participar desta pesquisa porque acredito que a sua experi ncia frente maternidade e ao tratamento psiqui trico assim como sua hist ria de vida seriam muito importantes para ilustrar e aprofundar a reflex o acerca desse tema Sua participa o se daria atrav s de atendimentos psicoterap uticos individuais em que juntamente seriam realizadas entrevistas no espa o da institui o psiqui trica em que voc encontra se internada Caso seja necess rio gostaria da autoriza o para a realiza o de entrevistas no seu domic lio ap s a alta hospitalar O familiar que vem acompanhando o tratamento tamb m seria entrevistado para contribuir com mais informa es para a pesquisa Todas as entrevistas ser o gravadas por m seguindo os preceitos ticos asseguro que as informa es ser o utilizadas somente para fins desta pesquisa e ser o tratadas com o mais absoluto sigilo e confidencialidade de modo a preservar as suas identidades Informo que caso ocorra algum risco ou desconforto
7. o interessante As quest es de g nero somadas s condi es socioecon micas e culturais s o determinantes da sa de mental das mulheres BRASIL 2007a p 48 Esse modelo existe em Minas Gerais e em S o Paulo mas com algumas dificuldades de atua o O sofrimento do tipo psic tico e o desencadeamento de qualquer crise mental possuem uma multiplicidade de fatores que influenciam suas ocorr ncias A psicopatologia dos transtornos mentais deve ser considerada na sua pluridimensionalidade assim como a singularidade e a subjetividade dos indiv duos tamb m merece grande aten o As tr s mulheres apresentaram sintomas psic ticos no p s parto e durante os atendimentos apresentaram hist rias riqu ssimas no sentido de demonstrar os caminhos 174 que as levaram aos dist rbios emocionais A percep o dos sentidos e particularidades de cada mulher discutidas nesta pesquisa possibilitou uma compreens o sobre suas condi es subjetivas frente maternidade e feminilidade al m do caldo cultural que permeava cada viv ncia Esta pesquisa ao acompanhar mulheres internadas numa institui o psiqui trica serviu para compreender mais claramente as situa es que levam as mulheres a um estado de maior suscetibilidade a sofrimentos ps quicos frente maternidade Evidenciou o quanto a escuta da subjetividade pode ajud las a reorganizarem se e que com maior autonomia consci ncia de seus sentimentos
8. alguma SZEJER STEWART 1997 p 276 Junto s ansiedades j despertadas no terceiro trimestre da gravidez e no parto descritas h pouco somam se ansiedades relacionadas s mudan as de papel e identidade da mulher que ao desejar ter um filho dever deixar de ser somente a filha dos seus pais Al m disso seu corpo agora est tamb m diferente j n o um corpo de garota mas marcado pela experi ncia da maternidade As ang stias geralmente s o relacionadas ao corpo deformado e menos gil e ainda sem a gravidez Como cada mulher vai lidar com essas diferen as e mudan as particular de cada uma mas ser necess rio um luto do corpo da mulher gr vida e do beb em seu ventre r O puerp rio segundo Soifer 1980 p 63 essa situa o de delimita o entre o perdido a gravidez e o adquirido o filho Tamb m delimita o entre devaneio fantasia inconsciente e realidade O contato com a imagem e a personalidade do filho que est em forma o diferente do que sempre imaginou as rea es do ambiente tamb m diferentes do que imaginou e toda a experi ncia da gravidez e do parto dependendo da estrutura de cada mulher poder o trazer algumas dificuldades e sofrimento para algumas delas Ser necess ria uma lenta e gradativa elabora o por parte da mulher para se enquadrar nessa nova situa o Muitos aspectos do psiquismo inconsciente da mulher tamb m influem sobre suas viv nc
9. choradeira Me abateu muuuuito aquilo O Maur cio queria um neg cio que baratinho suspiro Bibsfiha Habibs sfiha alguma coisa assim que ele viu na tev mas na minha cidade nem por perto n o tinha era s aqui ou em Itapaj s nossa aquilo me deixou t o mal t o nervosa Da eu j comecei a ficar doente choro Me senti super mal n o sabia o que eu fazia D bora Essa situa o com o filho refletiu na rela o do casal D bora compreendeu que seu filho ficou doente porque Marcelo estava brigando e muito estressado com ele Quando seu filho recuperou se e saiu do hospital D bora disse ter ficado superfeliz mas queria dar um gelo no marido Entrou em conflito com o marido que numa das discuss es lhe amea ou de levar seu beb para a m e dele cuidar Como ele n o dava liga pra gente ele s queria que a gente ouvisse ent o eu comecei a dar o troco ele falava e eu fazia de conta que eu nem ouvia come ou a discuss o bastante entre n s dois e num dia em que eu entrei em depress o ele falou assim Qualquer coisa eu largo de voc e levo o beb pra minha m e cuidar Nossa aquilo parece que acabou comigo Foi a que eu comecei a ter surto Perto do marido D bora surtava perdia o controle desde que ele falou que levaria seu beb pra m e dele cuidar Do choro que estava constante passou a ter ins nia gritava muito sentia dor e um aper
10. es e o desejo que permeia a mulher que experencia a maternidade Se aquela n o estiver em condi es ou n o tiver uma estrutura que lhe possibilite passar pela gravidez e a maternidade com tranquilidade e equil brio mental seu filho tamb m encontrar dificuldades para um desenvolvimento emocionalmente saud vel Soifer 1980 Szejer 1997 e Felice 2000 escreveram de forma muito esclarecedora sobre a situa o singular e complexa dos per odos de gesta o parto e puerp rio vivenciadas pelas mulheres e em especial caracterizaram diferentes n veis de perturba o ps quica desde a S ndrome de Tristeza P s parto Baby Blues at a Depress o e Psicose Puerperal Discutiram os fatores de risco nos pontos de vista biopsicossociais 35 Nas situa es extremas em que a m e apresenta se com algum dist rbio mental puerperal esta n o consegue assumir os cuidados maternos essenciais para o desenvolvimento saud vel da crian a isso quando n o dirige crian a impulsos hostis que a coloca em risco quanto integridade f sica e psicol gica A m dia diversas vezes tem mostrado situa es dessa natureza que chocam intensamente e acabam como trag dias de morte ou abandono Com o foco na realidade paranaense verifica se que as ESF o Programa M e Curitibana e o Programa M e Paranaense apesar de contemplarem em seus protocolos n o h uma especificidade e um preparo adequado para o atendimento voltado sa
11. h dois meses longe do meu beb j faz quase dois meses e eu sei que dif cil complicado mas a gente tem que ter paci ncia agora Porque aconteceu e voc tem que enfrentar ele o problema e pronto Sueli Tentava compreender e justificar que a separa o de seu beb nos primeiros dias do nascimento foi melhor concluindo que teria sido pior para ambos se isso tivesse acontecido um tempo depois Porque s vezes podia ter acontecido que acontecesse com 2 3 meses quando ela tivesse seria muito pior Porque eu taria ela taria sofrendo Porque da ela j tinha o contato comigo Se acontecesse com 3 4 meses ela seria muito mais complicado Foi bom que foi bem no comecinho Sueli A situa o de Rosa estava sendo t o dif cil quando da primeira vez que foi m e Seus conflitos passados continuavam a atrapalhar na sua disposi o maternidade Atrapalhava se na organiza o da casa no cuidado com a alimenta o e com a vestimenta das crian as sentia se insegura e sem compet ncia para exercer esse tipo de fun o As m nimas situa es do lar eram penosas para ela Lavava as roupinhas deles s que lavava com jogava quiboa jogava Omo jogava sab o tudo Deixava as roupas deles todas sujas todas sem tratamento assim limpinha Roupa de crian a s lava ali rapidinho e p e no varal Eu lavava punha quiboa e manchava tudo as roupa nova deles Rosa Talvez fosse poss vel
12. natal e p s natal e os transtornos relacionados menopausa Outro servi o que atende as mulheres com transtornos psiqui tricos relativos s fases reprodutivas dentre eles os transtornos relacionados gravidez e ao puerp rio est na Universidade Federal de Minas Gerais no Servi o Psiqui trico do Hospital de Cl nicas tamb m com uma equipe multidisciplinar Diante do enfoque de g nero esta pesquisa trata da maternidade Cabe aqui uma breve defini o do conceito de g nero em conson ncia PNAISM O g nero como elemento constitutivo das rela es sociais entre homens e mulheres uma constru o social e hist rica constru do e alimentado com base em s mbolos normas e institui es que definem modelos de masculinidade e feminilidade e padr es de comportamento aceit veis ou n o para homens e mulheres O g nero delimita campos de atua o para cada sexo d suporte elabora o de leis e suas formas de aplica o Tamb m est inclu da no g nero a subjetividade de cada sujeito sendo nica sua forma de reagir ao que lhe oferecido em sociedade O g nero uma constru o social sobreposta a um corpo sexuado uma forma primeira de significa o de poder SCOTT 1989 apud BRASIL 2007e G nero uma categoria relacional constru da socialmente para responder necessidade de diferenciar a quest o anat mica dos sexos de suas manifesta es sociais como os atributos cren as pap
13. que eu pretendo mesmo trabalhar Eu n o quero ficar parada A minha cabe a t agilizada s pra mim arrumar um servi o T fixo n Ao sair do hospital pretendia colocar o filho mais velho na escola e o beb na creche para poder trabalhar Me sinto importante trabalhando Sueli conseguiu completar os estudos e pretendia fazer um curso de secretariado para ent o arrumar um emprego e poder custear a faculdade de enfermagem Com a condi o imposta pela ju za do beb ficar na creche durante o dia todo pelo per odo de dois anos ela poderia estudar e trabalhar Nunca trabalhou fora seria a primeira vez D bora pretendia voltar a trabalhar com o marido Mas pretendia tamb m voltar a estudar para conseguir um emprego melhor no futuro Eu j pensei em deixar os dois do jeito que t mesmo e trabalhar Seus filhos estavam o mais velho com o sogro e o beb com a sogra As tr s pensavam que era preciso trabalhar para aumentar a renda familiar que principalmente para Rosa e D bora era muito dif cil Rosa recebia ajuda do sogro e de sua fam lia mas a gente passa aperto Porque ele queria ter as coisas em casa eu tamb m n o tinha a gente brigava muito Foi um conflito que deu entre n s dois por causa de n o planejar certinho Rosa 157 porque da eu posso arrumar um emprego bom mais pra frente mesmo que eu esteja na minha velhice eu vou t com um emprego bom
14. um tipo de complementaridade entre m e e beb o Eu da m e supre o da crian a ainda fr gil ou inexistente BENAVIDES BOUKOBZA 1997 p 89 Mas h que se considerar o outro lado Quando o v nculo entre a m e e o beb est prejudicado desde o in cio um pouco de dist ncia entre eles pode ser necess rio no sentido de baixar a sobrecarga f sica e ps quica sentida pela m e e todos os sintomas que decorrem disso Por m deve ser uma separa o mediada isto com um terceiro dividindo as fun es e amparando a m e ou at mesmo maternando a enquanto esta n o se afasta totalmente dos cuidados com o seu beb Claude Boukobza e Florence Benavides duas psicanalistas francesas que atuam na Unidade de Acolhimento M e Beb em Saint Denis na Fran a realizam um acompanhamento de m es e beb s que nomeiam de A Cl nica do Holding Winnicott designa pelo termo de holding o conjunto de cuidados dados pela m e crian a para responder suas necessidades fisiol gicas especificadas segundo sua pr pria sensibilidade queda e que se adaptam s mudan as f sicas e psicol gicas da crian a O aspecto essencial do holding sublinha ele o fato de segurar fisicamente a crian a O centro de gravidade do beb n o se situa no seu pr prio corpo mas entre o dele e o da sua m e BENAVIDES BOUKOBZA 1997 p 90 A Cl nica do Holding proposta pelas duas autoras refere se a um cuidado oferecido s m es
15. Os pacientes sozinhos muitas vezes n o sabem o que lhes acontece e n o t m cr tica da necessidade do tratamento Os familiares s o parte fundamental dos tratamentos de sa de A rede social os mais pr ximos principalmente precisa participar nos tratamentos servir de apoio de cuidado de afeto Se n o compreender o que a pessoa tem como pode cuidar bem Carlos tamb m n o tinha muita compreens o do que ocorria com sua mulher mesmo que esta j tivesse passado por dois outros tratamentos Uma sede de entendimento da situa o e a curiosidade dele evidenciavam que algo importante faltou nos atendimentos oferecidos As tr s mulheres s chegaram ao tratamento quando houve uma piora grave dos sintomas Foi ent o necess rio o atendimento hospitalar integral que afastou as m es de seus beb s A rede social a fam lia os servi os de sa de devem ocupar se das mulheres nessa situa o e n o abandon las Conforme pesquisa de Nunes Juc e Valentim 2007 sabe se que as equipes de sa de t m muita dificuldade e pouca forma o para detectar e manejar situa es que envolvem a sa de mental Deve se lembrar de que as condi es estruturais e das equipes de sa de de cidades pequenas costumam ser piores devido falta de recursos financeiros Outra dificuldade verificada foi sobre o sistema de interna o psiqui trica Com a reforma psiqui trica houve uma grande diminui o no n mero de leitos e de
16. de mental com enfoque de g nero De acordo com o que foi exposto v se como necess rio dar maior visibilidade s quest es de sa de mental de mulheres em idade f rtil gestantes e pu rperas com ou sem transtornos mentais pr vios Desta maneira fica clara a relev ncia do tema para o meio cient fico e a sociedade civil visto a import ncia de lan ar um olhar para as quest es ps quicas envolvidas na experi ncia da maternidade Os processos de gesta o parto e puerp rio s o prop cios a perturba es emocionais de diferentes graus Diante dessa constata o e da grande ocorr ncia desse tipo de viv ncia na popula o feminina muito importante a preocupa o com a promo o sa de mental a preven o e a interven o precoce a fim de evitar rupturas graves da mulher com a realidade e do la o m e beb Para isso nesta pesquisa busca se na revis o de literatura um estudo sobre a gesta o o parto e o puerp rio numa vis o psicanal tica enfatizando esse momento espec fico vivenciado pelas mulheres demonstrando certos aspectos de normalidade e de psicopatologia enquanto produ o de um sofrimento importante assim como tamb m feita uma breve explica o sobre a import ncia da maternidade para a estrutura o da feminilidade Em seguida desenvolvem se algumas considera es acerca do termo psicose numa vis o psiqui trica e psicanal tica discutindo a diversidade e a imprecis o desse termo
17. de modo a desempenhar com confian a o papel materno FELICE 2000 p 88 Viu se na hist ria de D bora que sua m e esteve em dificuldades para cri la e matern la uma vez que estava em crise num sofrimento ps quico do tipo psic tico N o tendo acompanhamento e tratamento adequados n o pode colocar se como uma m e suficientemente boa para a filha que hoje diante da maternidade reatualiza as 139 marcas e traumas que ficaram dessa experi ncia t o primitiva e infantil D bora uma gera o depois tamb m mostrava dificuldades para ser m e de um beb E tinha medo que o roubassem Sueli teve dificuldades em entregar se ao seu beb N o conseguia cuidar dele Retratava a maternidade com base na sua hist ria de vida falando da import ncia da presen a materna Pra mim ser m e um desejo de todas n s Todos n s temos direito de ser m e assim Seje qual for n o importa a classe n o importa onde e nem o lugar Pode ser que ela more no barraco pode ser que ela more numa mans o todos n s temos direito de ser m e E m e uma coisa muito importante M e aquela que t sempre presente N o s ser m e colocar um filho no mundo isso n o Tem que sempre estar preparada pra tudo que vier isso a Sueli Nem Sueli nem D bora tiveram suas m es muito presentes Sem d vida outras pessoas completaram ou se ocuparam dessa fun o deixando outras marcas Mas ambas deixa
18. e 25 que lhe deu um lugar de valor assim como manteve a domina o masculina ainda se encontra presente no imagin rio da sociedade Os valores de uma sociedade s o por vezes t o imperiosos que t m um peso incalcul vel sobre os nossos desejos BADINTER 2011 p 10 Isso significa que apesar das mudan as referentes a uma liberta o das mulheres a maternidade colocou se e mant m se como um imperativo para elas uma vez que nunca se deixou de confundir a mulher e a m e Sem d vida isso traz consegii ncias para a vida ps quica e social dessas mulheres que muitas vezes se encontram em conflitos diante das variadas aspira es de vida O que nos diferencia dos s culos precedentes n o tanto nossa maior liberdade de ser ou n o m e mas uma abordagem diferente do destino feminino Este se confunde cada vez menos com a maternidade porque outras vias s o poss veis e desej veis Algumas mulheres o sabem desde o in cio outras o percebem ao longo da vida outras finalmente se sentir o incapazes de explicar sua n o escolha BADINTER 2011 p 152 Uma cr tica feita pelas feministas e ativistas dos direitos sexuais sobre esses programas principalmente no que se refere a mais recente estrat gia do Minist rio da Sa de por meio da Rede Cegonha traz tona uma reflex o importante Essa s rie de medidas para a sa de materno infantil visando principalmente diminuir a taxa de mortalidade materna no pa
19. expressaram o desejo de trabalhar fora e voltar a estudar D bora tinha a s tima s rie incompleta parou de estudar na adolesc ncia porque tinha que trabalhar e pensava em continuar os estudos para conseguir um emprego melhor Antes de engravidar trabalhava com o marido como jardineira Sueli alfabetizou se adulta com o incentivo do marido e recentemente concluiu o ensino m dio pelo Programa CEEBJA Tinha planos de fazer um curso de secretariado para trabalhar e custear um curso de enfermagem no futuro Rosa tamb m concluiu o ensino m dio com supletivo e falava muito frequentemente do desejo de trabalhar Fez alguns cursos como de secret ria atendente e recepcionista mas teve dificuldade para conseguir emprego formal Fazia alguns bicos com trabalho de pintura que aprendeu com seu pai Quanto religi o Rosa e sua fam lia eram evang licos Sueli cat lica mas nem ela nem o marido eram praticantes e D bora dizia n o ter religi o Rosa e Sueli vieram de fam lias grandes com v rios filhos Rosa tinha 10 irm os e Sueli 7 D bora tamb m tinha v rios irm os mas n o que convivia pois eram de outros relacionamentos de seu pai De sua m e tinha um irm o mais novo com a mesma idade de seu primeiro filho Do seu pai e de sua m e tinha 1 irm o mais velho somente POR QUE ENGRAVIDARAM H m ltiplas raz es que levam as mulheres a resolverem ter um filho v lido ressaltar que h diferen as entre querer
20. impediram no de estar mais presente no tratamento da esposa Durante a interna o Rosa achou que estivesse gr vida novamente pois houve a desconfian a do marido numa das visitas que fez a ela Ele achou a barrigudinha demais Tamb m estava dormindo muito mas era efeito da medica o que foi ajustada Fez o exame e deu negativo fato que a deixou mais aliviada Rosa cursou at o ensino m dio e tem muita vontade de voltar a trabalhar e estudar Falava disso frequentemente nos contatos com a equipe Na realidade desde que ficou doente no nascimento do primeiro filho n o conseguiu mais emprego e ficou cuidando da casa com muita dificuldade e revolta Numa das visitas sua fam lia achou que ela estava com a ideia fixa de conseguir emprego e que por isso deveria continuar mais tempo no hospital pois para eles preciso cuidar dos filhos n o sendo poss vel pensar em trabalhar M e e irm da paciente informaram em atendimento familiar que h 8 anos atr s mais ou menos a paciente envolveu se com um rapaz e ficou uns dias sumida de casa Numa noite o rapaz a trouxe para a casa de seus pais quase desmaiada e toda ensanguentada De acordo com a avalia o do m dico que a atendeu a paciente sofreu um aborto provocado por perfura o com objeto cortante N o souberam dar maiores detalhes da situa o porque este nunca foi um assunto muito comentado na fam lia Parece que na poca o rapaz queria casar se com ela
21. insistia Mas o problema isso Eu n o consigo sentir amor de m e pra ele com ele Eu n o consigo mais sentir acabou sil ncio A cl nica com a primeira inf ncia deixa em relevo como os elevados ideais de nossa cultura acerca da rela o m e beb situada desde o senso comum como fonte de um amor puro desinteressado natural no qual uma mulher encontraria uma suposta completude s fazem 150 recrudescer o mal estar de beb s com dificuldades em sua constitui o e seus pais em sofrimento Muitas m es chegam ao atendimento sentindo se culpadas horrorizadas desnaturadas por n o amar seus filhos incondicionalmente ou por n o deter um saber imanente de como ser m e desse beb JERUSALINSKY 2011 p 13 D bora passou a falar de outra quest o ativada a partir dessa decis o pelo filho Contou do medo que tem de se apegar a esse beb com o qual durante o internamento teve que se adaptar a uma separa o mas que retornando para casa poderia ficar perto dele novamente Tudo o que a gente se apega demais acaba chora muito Eu n o aguento mais uma perca na minha vida eu n o aguento perder mais nada Nesse momento despertaram sentimentos intensos em D bora a respeito das perdas que viveu em sua vida e de lutos n o elaborados A minha vida s passou s foi passando nada parou pra mim O meu pai passou minha m e passou minha av e meu av passaram todo mundo s pass
22. isso ser tratado dentro da pr pria sess o psicoterap utica 181 Gostaria de esclarecer que as participa es ser o totalmente volunt rias e que voc s t m total liberdade para recusar a participa o assim como solicitar a exclus o dos dados retirando o consentimento a qualquer momento sem qualquer penaliza o ou preju zo Coloco me disposi o para esclarecimentos que se fizerem necess rios e deixo meus contatos e os contatos de minha orientadora para qualquer informa o que voc s precisem posteriormente Aline Pesquisadora Rozilda Orientadora Tel Comercial 0xx41 3661 6631 Tel Comercial 0xx44 3011 4291 Tel Celular 0xx41 9911 2664 Tel Celular 0xx44 9935 9684 E mail aline pguedes O hotmail com rnalves Quem br Este termo dever ser preenchido em duas vias de igual teor sendo uma delas devidamente preenchida e assinada entregue a voc s Agrade o desde j a participa o de voc s enfatizando que essa pesquisa vai contribuir para avan armos no campo da sa de mental de mulheres na rea de Sa de P blica do Estado do Paran Tendo ci ncia das informa es contidas neste Termo de Consentimento eu portadora do RG declaro que fui devidamente esclarecida e concordo em participar VOLUNTARIAMENTE da pesquisa coordenada pela psic loga Aline Pinto Guedes Assinatura ou Impress o Datilosc pica 182 Tendo ci ncia das inform
23. logo coerente Parecia assustada amedrontada e persecut ria No exame cl nico estava bem os pontos da ces rea j tinham sido retirados dois dias antes do internamento e estava com uma cicatriza o normal com um sangramento pu rpero moderado e usava uma cinta abdominal H alguns dias da interna o esteve febril e com as mamas doloridas devido ao ac mulo de leite sendo medicada enfaixado os seios e indicado que fizesse compressas e banhos quentes Nos primeiros dias que chegou observava se ansiedade e persecutoriedade n o informava nada nem respondia a qualquer abordagem escondia se no banheiro isolava se recusava a medica o via oral e n o se alimentava Foi prescrito medica o injet vel e conten o no leito nos 3 primeiros dias devido paciente estar muito ansiosa agitada e insone Recusava os cuidados da enfermagem e pedia para ser atendida por homens Quando come ou a verbalizar mais estava confusa e desorientada com o pensamento lentificado e dizia n o ter certeza se era casada e se tinha filhos Pedia para receber visita da m e Durante a primeira semana este era o quadro que apresentava dormia pouco permanecia confusa com ideias delirantes desorientada contatuando pouco e recusando a medica o cuspia e jogava fora Perguntava se aqui o inferno e achava que as pessoas estavam mortas Somente ap s a primeira semana que come ou a se tranquilizar a dormir bem e a ficar mais aces
24. mas seu pai n o permitiu Rosa contou que ela quem n o aceitou casar se com ele Dizia ter sido estuprada por esse rapaz e que guardava um dio muito intenso do mesmo Rosa conheceu o seu marido antes desse traum tico acontecimento eram vizinhos quando come aram a namorar mas na poca ela n o queria um relacionamento s rio e por isso passado um m s ele terminou o namoro Foi porque eu falei que eu s 105 queria amizade Ele queria namoro Eu falava Ah eu s quero amizade E arruma uma mo a outra mo a Eu na verdade tava fugindo dele Eu n o queria rela o de casamento Eu tava com insegura Eu acho que vinha aquele pensamento Acho que 33 n o vai dar certo N o d certo pra n s Com o fim do relacionamento Roberto foi morar em outro lugar Nesse tempo Rosa viveu a experi ncia de viol ncia sexual Contou que foi for ada a ter rela o sexual e sem saber que estava gr vida acabou tamb m sofrendo um aborto Ap s 3 anos reencontrou se com Roberto que n o sabia o que tinha lhe acontecido Rosa contudo desconfiada e decepcionada com os homens resistiu bastante para reatarem o namoro e dizia que n o se envolveria com mais ningu m Nenhum homem presta n o vou ficar com mais ningu m N o quero mais ningu m Por m Roberto teimou insistiu e eles acabaram assumindo um compromisso Me assumiu Ele veio eu falei eu contei o que aconteceu e falei pra ele
25. moradias e estruturas sociais adequadas condi es dignas de trabalho e lazer etc Outro aspecto interessante que a promo o em sa de n o exclusividade do setor sa de mas demanda a participa o de outros setores e principalmente a coparticipa o e 22 corresponsabiliza o dos sujeitos Um dos eixos b sicos do discurso da promo o da sa de fortalecer a ideia de autonomia dos sujeitos e dos grupos sociais A es de promo o e prote o da sa de s o fundamentais para a reorienta o dos modelos assistenciais sendo uma estrat gia de articula o transversal que objetiva a melhoria na qualidade de vida e a redu o dos riscos a sa de atrav s da constru o de pol ticas p blicas saud veis que proporcionem melhorias no modo de viver BRASIL 2007c p 11 Preven o uma a o de antecipa o com o objetivo de evitar o progresso de uma doen a As a es preventivas s o interven es orientadas para impedir o surgimento de determinadas doen as reduzindo a incid ncia e a preval ncia nas popula es A preven o orienta se s a es de detec o controle e enfraquecimento dos fatores de risco de enfermidades sendo o foco a doen a e os mecanismos para atac la BUSS 2003 apud BRASIL 2007c p 14 relevante pensar em medidas preventivas e de promo o sa de mental de mulheres que se encontram na gesta o no parto e no puerp rio Os dist rbios mentais desencadead
26. o Para isso preconiza a constru o de uma rede articulada de servi os da aten o prim ria secund ria e terci ria Na realidade a rea da sa de mental raramente se utiliza da aten o terci ria ficando mais restrita aten o prim ria e secund ria por m tem uma especificidade que de fundamental import ncia ser retomada O atendimento sa de mental deve ser intersetorial isto precisa trabalhar em parceria com outros setores como educa o seguran a p blica assist ncia social sociedade civil entre outros Utiliza se da tecnologia de cuidado ou seja tem como prioridade o estabelecimento e manuten o de v nculos entre os pacientes suas redes sociais e os servi os de sa de junto a uma abordagem psicossocial multidisciplinar e mais pr xima dos familiares contando com o apoio e participa o dos mesmos Vale ressaltar uma mudan a de paradigma deixando de superestimar a abordagem nica dos atendimentos m dicos dos psicof rmacos e das hospitaliza es A interna o inclusive deve ser utilizado somente como ltimo recurso para o tratamento das pessoas em sofrimento mental 20 Recentemente a atua o do Minist rio da Sa de vem refor ando e articulando melhor a Aten o Prim ria em Sa de Aten o B sica para incluir as quest es de sa de mental levando em considera o o sofrimento mental e diretamente influenciando no atendimento s pessoas com transtornos mentais H muit
27. o Mas sabia que poderia adoecer depois do nascimento do beb Desde que chegou em casa da ces rea pensou Acho que estou entrando em depress o E contou Eu me tranquei para o mundo Disse que a gravidez foi projetada mas entrei em depress o de novo relevante informar que Sueli teve dois internamentos psiqui tricos anteriores um em 2007 e outro em 2010 Mas informou que n o ficou doente no nascimento de sua primeira filha Sem medica o desde a gravidez e com indica o para voltar a tomar assim que o beb nascesse o retorno n o foi imediato e come aram as alucina es e os del rios Na noite em que colocou fogo no ber o para ela representava que estava num mundo diferente que seu quarto era um cemit rio e que se via num caix o Contou que estava de dieta levantou da cama e foi direto no ber o e o beb n o estava l Com o isqueiro na m o n o sei por qu colocou fogo O ber o e parte do quarto pegaram fogo mas conseguiram controlar o inc ndio antes que algu m se machucasse Na mesma noite seu marido havia retirado o beb do quarto e o p s em outro por j ter percebido que Sueli n o estava bem Estava rejeitando o beb dizia que n o era seu que o seu beb ainda n o tinha nascido e por isso n o aceitava amament lo 101 Na ocasi o do atendimento Sueli queixou se de n o ter tido nenhuma visita familiar que ningu m ligou nem foi ao hospital e que isso a c
28. ou 10 dias da eu comecei a rejeitar ela que ela n o era o meu beb Sueli Numa noite Sueli incendiou o ber o do beb na verdade a inten o que eu tive foi a seguinte que ali no meu quarto era o meu t mulo que tavam enterrando eu viva E da eu pensei J que eu vou morrer viva eu vou incendiar que da eu morro queimada A inten o foi assim na minha ideia Que da eu morro queimada e da eu n o vou sentir dor Felizmente seu marido tinha tirado as crian as para outro quarto ao perceber a agita o da paciente naquele dia Rosa na poca do nascimento de sua filha Eu n o tomava banho n o se cuidava n o escovava dente nada Relaxei mesmo Foi uma depress o profunda acho Com frequ ncia enfatizava que sua crise era devido ao trauma de estupro que em consequ ncia fez um aborto N o sabia que estava gr vida na poca Eu acho que a depress o n o gerou da crian a gerou de eu conhecer esse rapaz Foi depois que eu conheci ele que eu que estranho a gente ouvir vozes v vultos n o normal Uma m e n o nasce quando descobre que est gr vida Junto ao nascimento do beb espera se o nascimento de uma m e mas nem sempre esses dois eventos ocorrem concomitantemente preciso para isso que haja um ambiente que possa receber e acolher essa mulher e suas dificuldades apoi la e confort la para que possa sentir se mais segura e desenvolver se co
29. s de sua m e que lhe conta a correla o entre a situa o da gesta o atual e as rememora es infantis s o constantes Esta autenticidade particular da vida ps quica percept vel desde as primeiras semanas da gesta o O estado de consci ncia parece modificado e torna se perme vel ao inconsciente Assim antigas reminisc ncias e fantasmas regressivos migram para a consci ncia sem barrar no recalcamento COHEN et al 2011 p 38 Al m disso enquanto a mulher repousa ocorre um afastamento dos diversos est mulos e modifica es que vem acontecendo no princ pio da gesta o os quais acarretam certas ansiedades devido ao reconhecimento ou n o da gravidez A sonol ncia e o repouso favorecem tamb m uma defesa biol gica adequada para o processo gestacional que est iniciando Ins nia tamb m pode ocorrer evidenciando certa ansiedade diante da gesta o Outro sintoma bastante presente s o as n useas e enj os Isso evidencia e confirma a gesta o pois ocorrem num momento de incertezas em rela o exist ncia ou n o da gravidez Esse sintoma tamb m est relacionado a ansiedades causadas pela ambival ncia do desejo de ser m e que s o expressas por viv ncias persecut rias As fantasias persecut rias podem produzir sentimento de culpa infantil devido aos ataques inconscientes m e pelo desejo de ocupar o seu lugar A viv ncia persecut ria consiste em que algu m possa arrebatar o
30. 2010 foram registrados e analisados no Paran 94 casos de morte materna por causa obst trica mais 7 casos de bitos maternos no puerp rio tardio e 25 casos de bitos de mulheres gr vidas e pu rperas por causas externas Desses 25 casos 15 foram por homic dios e 10 foram por suic dios O que significa dizer que dos 126 casos registrados no Estado do Paran de mulheres que morreram no per odo de gesta o parto e puerp rio imediato ou tardio 10 casos foram provocados por autoagress es dando uma porcentagem de 7 93 Considerando somente o n mero de mortes de gr vidas e pu rperas por viol ncia causas externas a porcentagem de suic dio de 40 Dos suic dios cometidos 1 foi no per odo da gravidez sendo uma mulher de 18 anos por meio da ingest o de medicamentos 1 ocorreu no puerp rio imediato at 42 dias ap s o parto sendo uma mulher de 36 anos por meio de arma de fogo 8 casos ocorreram no puerp rio tardio sendo mulheres entre 16 e 29 anos por variadas formas de autoagress o como disparo por arma de fogo enforcamento ingest o de veneno ou medicamentos ou por precipita o de lugar elevado Em 2011 a partir dos dados que foram registrados e analisados at Agosto de 2012 ainda n o foram investigados todos os bitos encontraram se 75 bitos maternos por causas obst tricas mais 21 casos de bitos de mulheres gr vidas e pu rperas por causas externas de viol ncia como homic dios e suic dios D
31. Depois do que aconteceu voc n o espere nada de mim Alegria essas coisas Da ele N o n o eu tenho paci ncia E assumiu da Est o h sete anos casados com dois filhos Mas Rosa enfatizava que a sua vida nunca mais foi a mesma depois desse ocorrido Eu acho que a minha vida mudou depois que eu conheci esse cara Porque eu era feliz era alegre era mais tranquila depois disso n o tenho tristez alegria Sabe aquela alegria de ter ali Eu olho em todo mundo e at falo t o bom ter alegria de verdade Da eu n o tenho essa alegria Rosa Rosa sempre viveu esse casamento com muito conflito Mostrava se muito ambivalente quanto aos seus sentimentos pelo marido Era comum confundi lo em seu discurso com outros homens que se relacionou anteriormente Recebia cobran as dele porque ela n o queria ter rela es sexuais achava que ela n o o amava Mas Rosa tinha m goa do marido por este ter ido embora e culpava o pelo trauma sexual que lhe aconteceu Eu cheguei a me interessar por ele sim S que gostar a gente n o gosta em pouco tempo Que eu gosto desse outro desse rapaz do que t o meu marido mesmo S que eu tenho dio dele ter sumido eu guardo at hoje essas frustra es tudo frustra o que a pessoa guarda Rosa 106 A figura do rapaz que a violentou estava muito presente sempre acompanhada de muita revolta e incoer ncias Dizia que tinh
32. Instituto Langage 2011 BRASIL Minist rio da Sa de Humaniza o do Parto Humaniza o no Pr Natal e Nascimento Bras lia DF Minist rio da Sa de 2002 BRASIL Minist rio da Sa de Pol tica Nacional de Aten o Integral Sa de da Mulher Plano de A o 2004 2007 Bras lia DF Minist rio da Sa de 2004 BRASIL Minist rio da Sa de Relat rio de Gest o 2003 2006 sa de mental no SUS acesso ao tratamento e mudan a no modelo de aten o Bras lia DF Minist rio da Sa de 20074 BRASIL Minist rio da Sa de HumanizaSUS visita aberta e direito ao acompanhante 2 ed Bras lia DF Minist rio da Sa de 2007b BRASIL Minist rio da Sa de Promo o da Sa de e Preven o de Riscos e Doen as na Sa de Suplementar manual t cnico 2 ed Rio de Janeiro ANS MS 2007c BRASIL Minist rio da Sa de Manual dos Comit s de Mortalidade Materna 3 ed Bras lia DF Minist rio da Sa de 2007d BRASIL Minist rio da Sa de Pol tica Nacional de Aten o Integral Sa de da Mulher princ pios e diretrizes 1 ed Bras lia DF Minist rio da Sa de 2007e BRASIL Minist rio da Sa de Plano de A o da Rede Cegonha Bras lia DF Minist rio da Sa de 2012 CALLIGARIS C Introdu o a uma Cl nica Diferencial das Psicoses Porto Alegre Artes M dicas 1989 2 De acordo com a Associa o Brasileira de Normas T cnicas NBR 6023 176 CAMACHO R S et al Transtornos
33. Uma de suas irm s n o podia engravidar e diante disso resolveu n o arriscar O meu medo era de gerar filhos com problema Algum problema porque dizem que at os 36 anos a gente corre risco n de ter um filho Da eu com medo eu com aquela paranoia de achar que ah vai ter problema que o filho pode nascer com problema mental alguma coisa da eu tive com 32 Depois dos 30 eu fiquei com medo Rosa A mulher em contrapartida limitada pela idade e o seu desejo se inscreve dentro de certos limites sendo demarcado pelos mesmos Passados trinta anos por exemplo mesmo a tecnologia m dica tendo feito recuar um pouco as fronteiras do poss vel ela se dir confusamente que tem pela frente nada mais do que uma dezena de anos para ter um ou v rios filhos Mesmo se o limite flex vel e o z prazo menos restrito ela sabe que o tempo pra ela contado SZEJER STEWART 1997 p 57 e 58 Nessa segunda gravidez com exce o de Rosa D bora e Sueli planejaram ter o segundo filho Rosa n o se adaptava ao anticoncepcional e a gravidez n o estava em seus planos nem nos de sua fam lia pois todos achavam que era arriscado que ficasse doente novamente como quando do primeiro filho que teve um sofrimento do tipo psic tico Quando eu engravidei todos ficaram ficaram todos contra Ah voc fez de 33 prop sito Teve essa filha de prop sito N o era pra ter D bora como j foi dito quer
34. beb E to esperando com paci ncia Eu sei que um dia ela vai ter que voltar Pode ser que demore Eu falo assim Demora mais um m s a gente aguenta mais um m s Se for preciso aguentar mais um m s a gente vai aguentar mais um m s S que a gente nunca vai deixar de v la pra n o perder o contato familiar Sueli Nas visitas constatava que o beb a reconhecia e contou que este sempre chorava quando tinha que voltar para o colo da bab ela n o esqueceu do meu rosto Praticamente ela teve o contato ela sente o cheiro da mam e Eu s penso em trazer ela pra casa Porque eu amo muito a minha filha as minhas duas filhas que a raz o da minha vida a luz de todos os dias A Bianca foi uma coisa muito boa que aconteceu na minha vida Foi uma coisa muito legal uma coisa incr vel assim Porque ela nasceu muito bonita Entende Ela vai ser uma polaca puxou pro pai foi a primeira que puxou totalmente a ele ent o eu gosto muito dela e sinto falta dela todos os dias todas as tardes Sueli Sua primog nita tamb m estava ansiosa para receber a irm zinha novamente em casa e Sueli a fazia entender que ela teria que colaborar para n o estressar a mam e de forma que Bianca pudesse voltar logo Quando o beb retornou para casa Sueli estava sentindo se bem conseguindo curtir encantar se e assumir a filha Ela est 100 ela est vibrando Carlos De qualquer for
35. consciente O desejo inconsciente sempre ambivalente pois para realizar um desejo preciso renunciar a outro A ambival ncia o desejo de duas coisas contradit rias incompat veis como ter um filho e permanecer virgem por exemplo SZEJER STEWART 1997 p 59 45 A ambival ncia constitutiva do desejo e est inscrita na estrutura ps quica Fazem se presentes no psiquismo desejos contradit rios inconscientes os quais produzem culpa podendo causar um grande mal estar Nem sempre a vontade consciente est em harmonia com o desejo inconsciente Desta forma pode se planejar uma gravidez desejar um filho e por raz es particulares inconscientemente n o ter esse desejo e a mulher n o conseguir engravidar Pode ocorrer tamb m de proteger se para n o engravidar por n o ter esse plano no momento e o desejo inconsciente ser mais forte que os planos racionais e a fecunda o acontecer H v rias possibilidades que podem ocorrer envolvendo o desejo inconsciente de cada um Para que o filho nas a fundamental o encontro de tr s desejos o desejo de uma mulher o desejo de um homem e o desejo de vida o qual vai encarnar no corpo da crian a Sem esse conjunto n o h nascimento os tr s desejos est o interligados e dependem um do outro explicam Szejer e Stewart 1997 baseados em ensinamentos da psicanalista Fran oise Dolto Ao encontro dos desejos do futuro pai e da futura m e nasce o projeto nem
36. de SUS da eles n o exige diz que n o pode participar do parto Ele queria participar se fosse particular ele participava Sueli viveu uma situa o diferente porque utilizava um conv nio de sa de O acompanhante no parto pode ser qualquer pessoa que a mulher escolhe para acompanh la em todo esse processo Algu m em quem confie e que possa lhe passar seguran a Pode ser o marido o namorado a m e uma irm entre outros Acompanhar uma mulher no momento do parto permitir que as suas compet ncias naturais para condu o desse processo sejam potencializadas BRASIL 2007b p 21 N Evid ncias cient ficas t m comprovado que o apoio mulher no momento do parto melhora as condi es de nascimento diminuindo os ndices de cesarianas de partos complicados a dura o do trabalho de parto a ocorr ncia de depress o p s parto e o uso de medica es para al vio da dor BRASIL 2007b p 21 As tr s mulheres viveram esse momento do parto de modo muito particular Para o desejo n o existem regras Uma mulher pode muito bem preferir o parto normal a outra ces rea outra o parto em casa e assim por diante O que importa que seja uma medida humanizada portanto em conson ncia com a singularidade de cada mulher respeitando os limites existentes claro mas tamb m acolhendo as emo es advindas disso A medida de suportabilidade do sofrimento tamb m algo extremamente particular e nico
37. de alguns anos requerido para o tratamento O pr prio estado de depress o cr nica encheu a de pessimismo e escassa sua capacidade de confiar Por outro lado costumam ser frequentes as recorr ncias depressivas nos casos de abandono prematuro da terapia SOIFER 1980 p 87 O envolvimento da mulher no tratamento psiqui trico e psicol gico adequados pode ser determinante para um futuro mais tranquilo e saud vel tanto para ela como para o seu beb Em seguida ser apresentado um cap tulo sobre os dist rbios mentais puerperais numa vis o psiqui trica bem como ser discutido o termo sofrimento ps quico grave 2 trazendo algumas diferencia es e esclarecimentos entre o que apresentado nos 70 manuais de psiquiatria a psiquiatria cl ssica e a psican lise referente quest o estrutural nas psicoses 2 2 O SOFRIMENTO PS QUICO E AS PSICOSES A apresenta o de experi ncias de gravidez parto e puerp rio em seus aspectos de normalidade e psicopatologia confirmou a vulnerabilidade emocional e psicol gica das mulheres nesse est gio de suas vidas Neste cap tulo apresentar se uma discuss o sobre as diversas conceitua es considera es causais e de tratamento sobre a psicose Ser o abordadas as classifica es psiqui tricas dos tratados da psiquiatria cl ssica e dos manuais estat sticos sendo esses os mais utilizados atualmente pela corpora o m dica Ser explicitado tamb m sob
38. dentro do poss vel as suas escolhas e desejos trar menos ansiedades para ela Logicamente que os imprevistos que possam vir a modificar os planejamentos pr vios dever o ser bem esclarecidos e acolhidos com as gestantes O que conta que a decis o que ser tomada seja fruto do di logo e da negocia o n o da viol ncia ou da imposi o E que a mulher tenha podido expressar seu desejo ainda que tenha que renunciar em parte a ele SZEJER STEWART 1997 p 207 z Refletindo sobre esse aspecto um ponto que merece destaque sobre uma negativa realidade brasileira a de mulheres que sofrem viol ncia no parto Uma viol ncia que muitas vezes n o vista n o notada uma vez que ocorre na rela o 56 equipe de sa de paciente ao mostrar uma banaliza o de algumas pr ticas diante do trabalho de parto parto e p s parto imediato H diversas situa es vivenciadas por mulheres que denotam uma grande falta de humaniza o e de respeito para com elas E infelizmente s o pr ticas rotineiras em muitas institui es de sa de De acordo com uma estimativa apresentada no blog Cientista Que Virou M e ser m e cons ciente 1 em cada 4 mulheres 25 sofrem de alguma viol ncia no parto Destacam se diversas formas de abusos e maus tratos como exame de toque excessivo e doloroso recusa para al vio da dor xingamentos e humilha es neglig ncia no atendimento falta de explica o sobre o
39. determinam e propor medidas que previnam a ocorr ncia de novas mortes Eles tamb m contribuem para a melhoria da informa o sobre o bito materno permitindo avaliar os resultados da assist ncia prestada s gestantes BRASIL 2007d p 7 Uma not cia publicada no site da Secretaria do Estado da Sa de do Paran SESA PR informou que no per odo de Janeiro de 2011 a Setembro de 2011 houve uma queda de 36 nos n meros de morte materna por complica es na gesta o no parto ou no puerp rio em compara o com o ano anterior A redu o no Paran foi maior do que a m dia nacional que de 21 Entretanto preciso ter cautela ao analisar os dados de morte materna uma vez que nos anos de 2009 e 2010 houve no Brasil a epidemia da gripe A H1N1 levando a um grande salto nos dados epidemiol gicos de morte materna nessa poca Se essa queda em 2011 nos n meros de morte materna est associada Gripe A H1N1 que tem sido prevenida e tratada pelos servi os de sa de essa realidade na redu o de mortes maternas pode n o ser t o fidedigna Segundo dados do Departamento de Vigil ncia Epidemiol gica da SESA PR 2012 a raz o de mortalidade materna no Paran em 2008 foi de 57 57 em 2009 com o surto da gripe A H1N1 foi de 74 4 em 2010 61 83 e em 2011 43 9 A redu o da mortalidade materna e neonatal no Brasil ainda um desafio para os servi os de sa de e a sociedade como um todo As altas taxas enco
40. diferentes sentidos para os sintomas colocando em jogo o aspecto simb lico de 38 eventos org nicos em todos os mecanismos org nicos presentes na gesta o participa de modo preponderante o psiquismo inconsciente FELICE 2000 p 25 Assim justifica se a necessidade de novos esclarecimentos sobre as experi ncias m ltiplas da gravidez do parto e do ato de ter um beb enfatizando que a biologiza o n o consegue trazer explica es suficientes para determinados casos e portanto necess rio valorizar os aspectos ps quicos e sociais que singularizam o contexto de cada mulher e de cada gesta o experenciada por ela Os sentidos dos sintomas que acompanham a gesta o e o nascimento s podem ser decodificados dentro do contexto que constitui a hist ria particular de cada mulher H uma diversidade de estados e sentimentos que observada no decorrer das gesta es evidenciando que cada mulher tem a sua forma de vivenciar esse per odo Isso porque cada gravidez tem uma hist ria e esta que d o sentido e o lugar para uma crian a que tamb m nica e singular exatamente porque toda gravidez tem uma hist ria que n o existe gravidez ideal Cada uma delas mais ou menos f cil de viver Algumas mulheres vivem um sentimento de plenitude outras vivem estados de ang stia Essa diversidade de estados e sentimentos tamb m pode ser observada numa mesma mulher ao curso de diferentes gesta
41. discutido posteriormente num outro subitem Assim como tamb m a rela o das tr s mulheres com suas m es que mostraram pormenores bastante relevantes para essa discuss o D bora e Rosa n o foram vistas sobre o prisma da sa de mental em momento algum e n o passaram por qualquer a o preventiva enquanto estavam gr vidas mesmo tendo diversos aspectos de risco em suas hist rias de vida Somente Sueli recebeu orienta o m dica antes de engravidar por m n o voltou a tomar a medica o 119 psiqui trica rapidamente como lhe foi indicado e por isso o surto apresentou se ap s o nascimento do beb O PUERP RIO E O SURTO PROPRIAMENTE DITO D bora quando viu seu beb pela primeira vez Ah senti muito amor Eu queria muito aquele beb queria E sobre os dois primeiros meses Foram bons foi muito bons eu pegava ele no colinho era uma del cia pegar era bem pequenininho risos Sueli ficou alguns dias achando que ainda estava gr vida Quando chegou o SAMU eu sentia ela dentro de mim Eu sentia Foi tipo ela mexeu durante 9 meses eu sentia ela ela mexendo na minha barriga ainda O puerp rio uma fase em que a mulher encontra se descentrada em desequil brio uma vez que est em uma nova condi o diferente da que carregou durante nove meses preciso que haja um luto do corpo da mulher gr vida e do beb em seu ventre Nem sempre essas mudan as que se seguem ap s o p
42. e e filho desde a origem da vida quando a partir dos seus cuidados ela erogeniza o corpo da crian a que se abre para uma sexualidade Freud portanto valorizou a fase pr edipiana na qual as crian as de ambos os sexos est o numa forte liga o com a m e Freud sobre a forte liga o da menina com a m e fala em seu texto Sexualidade Feminina Sua rela o prim ria com a m e fora constru da de maneira muito rica e multifacetada e a dura o dessa liga o tamb m fora grandemente subestimada a fase pr edipiana nas mulheres obt m uma import ncia que at agora n o lhe hav amos atribu do FREUD 1931 p 233 Contudo Freud afirmou que h particularidades no desenvolvimento sexual das meninas considerando o tornar se mulher um processo muito mais complexo do que o desenvolvimento sexual dos meninos Isso faz sentido ao considerar que uma etapa na evolu o da sexualidade infantil o complexo de castra o tem uma organiza o bastante diferente para cada um menino e menina 41 Complexo de Castra o uma experi ncia ps quica inconsciente vivenciada pelas crian as por volta dos quatro cinco anos de idade a partir da descoberta da diferen a anat mica entre os sexos A crian a depara se com a realidade de que seu corpo possui limites causando uma grande ang stia a ela a ang stia de castra o mas que recalcada em seguida No entanto durante toda a exist ncia do sujeito e
43. embotamento afetivo e motora lentifica o psicomotora Todos esses sintomas com intensidades variadas s o caracter sticos e determinantes nos diagn sticos de psicose de acordo com uma vis o psiqui trica cl ssica 74 A Classifica o Internacional de Doen as CID 10 adotada no Brasil como classifica o de refer ncia identifica as psicoses pelas siglas que v o de F 20 a F 32 O Manual Estat stico dos Transtornos Mentais DSM atualmente est na vers o V O GIPSI que funciona em Bras lia DF desde 2001 d um lugar de grande import ncia para os pr domos que s o sinais que indicam a necessidade de uma aten o diferenciada para o sofrimento presente S o sinais que precedem a eclos o da psicose seja no seu desencadeamento seja anterior a uma reca da na psicose de pacientes com hist rico pr vio A observa o apurada e r pida dos sinais e sintomas essencial para que o tratamento ocorra o mais precocemente e para isso valorizada a subjetividade que s pode ser assinalada pelo paciente n o mais pelo saber e poder m dico que vem se preocupando na maioria das vezes em catalogar sintomas e encontrar um diagn stico A semiologia psiqui trica se mant m em guas rasas e quando cataloga sintomas est de fato apresentando sinais de enfermidade filtrando a subjetividade da queixa do paciente COSTA 2010 p 18 Numa vis o psicodin mica a caracter stica central da psicose a
44. entraram em um sofrimento mental importante do tipo psic tico e ficaram impedidas de cuidarem de si mesmas ou de exercerem a fun o materna com maior plenitude De acordo com a subjetividade apresentada por essas mulheres pretendia se levantar dados sobre as mudan as em suas vidas com a maternidade conhecer um pouco da rela o com os filhos e com o meio social vislumbrando construir pol ticas p blicas voltadas sa de mental com a es e servi os mais pr ximos das necessidades das mulheres Foram estudados tr s casos cl nicos e a partir deles algumas categorias de an lise sem a pretens o de esgotar as possibilidades de significa es dadas pelas mulheres atendidas sobre suas rela es com a maternidade As categorias de an lise selecionadas e discutidas mostraram algumas similaridades entre os tr s casos cl nicos do que as mulheres apresentaram como ang stias e conflitos O desamparo materno a preocupa o com a divis o entre os dois filhos o desejo de trabalhar a depend ncia emocional e financeira do marido foram alguns pontos em comum entre elas Na atualidade tem se a percep o de uma acelera o do tempo e sensa es em excesso Um sentimento predominante de inseguran a rela es afetivas mais distantes ou mais individualizadas e as mulheres participando cada vez mais do mundo profissional e com maior liberdade que em pocas anteriores Sendo assim poss vel refletir que muitas mulheres deve
45. equipe multidisciplinar Apresentou se tamb m os dados extra dos a partir dos contatos com as pacientes junto psic loga da unidade desde os primeiros dias do internamento assim como dos grupos psicoterap uticos grupos operativos atendimentos psicoterap uticos individuais n o gravados e das observa es da paciente no cotidiano da unidade Nos atendimentos foi utilizado o instrumento da din mica conversacional como procedimento para a constru o da informa o Neste sentido a pesquisadora agia como um facilitador do di logo lan ando o tema objeto durante a conversa com a participante de forma a abrir um espa o para que ela pudesse desenvolver e expressar seus sentidos durante a conversa o v lido constatar que com este procedimento a constru o da informa o dependia do envolvimento do sujeito estudado e que as informa es coletadas foram muitas vezes mais ricas do que esper vamos Sobre a din mica conversacional Rey 2010 destaca 85 a conversa o um processo cujo objetivo conduzir a pessoa estudada a campos significativos de sua experi ncia pessoal os quais s o capazes de envolv la no sentido subjetivo dos diferentes espa os delimitadores de sua subjetividade individual A partir desses espa os o relato expressa de forma crescente seu mundo suas necessidades seus conflitos e suas reflex es processo esse que envolve emo es que por sua vez facilitam o surgimento de novos
46. es e at numa mesma gravidez em determinadas situa es SZEJER STEWART 1997 p 37 No contexto particular de fragilidade que envolve a gravidez os atos as palavras e os sintomas evidenciam como a mulher est vivenciando essa gravidez bem como os sentidos que a crian a que est se desenvolvendo vem tendo antes mesmo de nascer As gesta es s o permeadas por contradi es e ambival ncias que t m a ver com a forma com que a mulher desenvolveu inconscientemente a sua feminilidade As ang stias os sentimentos de culpa os conflitos e fantasias psicol gicas inconscientes que envolvem a feminilidade fazem peso na experi ncia da maternidade podendo causar diversos transtornos A gravidez aparece assim como um dos momentos nos quais a rela o profunda entre a fantasia e a realidade pode ter que enfrentar oscila es remarc veis em favor de uma ou de outra criando assim um desequil brio no qual o aspecto fantasm tico pode prevalecer A 39 gt consequ ncia disso uma desacelera o do processo adaptativo da realidade ou o contr rio uma forte limita o das fantasias feitas de forma defensiva para negar a natural ambival ncia presente no processo de gravidez COHEN et al 2011 p 39 e 40 As hist rias familiares tamb m deixaram suas marcas e nesse per odo ressurgem na vida do sujeito como obst culos S o as hist rias muitas vezes desconhecidas que deixaram buracos espa os vazios e que p
47. estar gr vida e querer ser m e Ambas s o situa es diferentes e que n o necessariamente caminham juntas ou no mesmo tempo H que se estabelecer tamb m a diferen a entre a vontade consciente e o desejo inconsciente de um sujeito Conforme Szejer e Stewart 1997 evidenciaram uma 109 mulher somente ser fecundada se houver um forte desejo para isso mesmo que este esteja velado por uma n o vontade da consci ncia O desejo para os psicanalistas n o pertence apenas ordem do consciente Pode se afirmar de boa f que se deseja um filho e inconscientemente n o desej lo por raz es que escapam e dizem respeito hist ria particular de cada um Pode se tamb m fazer de tudo para n o ter filho porque isso n o razo vel n o o momento Z a situa o n o adequada e simplesmente faz lo porque o desejo inconsciente mais forte que todas as decis es racionais s vezes acontece que o desejo inconsciente se articula com a vontade consciente Mas tamb m ocorrem conflitos entre o desejo inconsciente e a vontade consciente o que produz as famosas falhas um preservativo mal colocado ou uma p lula esquecida S o os atos falhos que podem ser entendidos como discurso do inconsciente bem sucedidos Atos falhos que segundo o caso podem ser atribu dos mais ao homem ou mais mulher ou a ambos na medida em que se h fecunda o o desejo de ter um filho est presente SZEJE
48. filhos bem como o desenvolvimento emocional dos mesmos Ficou engendrado a partir da maternidade portanto o que seria o perfil da feminilidade As mulheres foram inclu das neste quadro ideol gico da normalidade natural e social se cumprissem o que delas era esperado casar ser m e e cuidar do marido e dos filhos MARTINS 2010 p 21 Diante disso a normalidade da mulher estava em se manter restrita aos ideais dom sticos e maternais estando qualquer outra aspira o refutada e mais ainda qualquer manifesta o feminina diferente era vista como um desequil brio ou desvio patol gico A sociedade oitocentista foi bastante r gida quanto aos pap is permitidos s mulheres impondo a elas o politicamente correto como o dever do casamento e da imaculada maternidade Os m dicos e moralistas da poca afirmavam que as mulheres estavam mais sujeitas loucura e isso era evidenciado caso fugissem aos ideais reprodutivos programados Ao longo de todo esse per odo m dicos e cientistas pareciam determinados a tornar a divis o de trabalho existente na classe m dia um dado universal e transformar o lugar da mulher na esfera dom stica em uma inevitabilidade biol gica da qual desvios de qualquer natureza provocariam um colapso n o apenas da mente como tamb m da esp cie As mulheres eram modeladas para o lar e a maternidade de nervos fr geis intelectualmente inferiores segundo o entendimento da poca Afastar se desse
49. http www cientistaqueviroumae com br 2012 1 1 violencia obstetrica voz das 25 html gt Acesso em 15 mar 2013 ZINGA D PHILLIPS S D BORN L Depress o p s parto sabemos os riscos mas podemos previni la Revista Brasileira de Psiquiatria S o Paulo v 27 p 56 64 2005 Suplemento II Dispon vel em lt http www scielo br pdf rbp v27s2 pt a05v27s2 pdf gt Acesso em 20 Set 2011 179 AP NDICES l ps Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Entrevista Semi Estruturada Parte I Identifica o e Dados Demogr ficos Parte II Condi es de Sa de Parte III Roteiro Semi Estruturado 180 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Eu Aline Pinto Guedes estou desenvolvendo uma pesquisa intitulada Sa de Mental e Maternidade subs dios para as pol ticas de sa de mental no Paran que tem como objetivo compreender a experi ncia da maternidade de algumas mulheres que diante desse fato desencadearam um sofrimento emocional bastante significativo fazendo necess rio um tratamento psiqui trico em regime de interna o O trabalho referente disserta o de mestrado do curso Mestrado Profissional em Pol ticas P blicas e orientado pela Prof Dra Rozilda das Neves Alves da Universidade Estadual de Maring UEM Este estudo necess rio e de grande relev ncia para propiciar uma forma de atendimento mais qualificado e para contribuir para a constru o de um projeto de preven
50. humaniza o embora pouco cumprido no Brasil a Lei 11 108 de 2005 a qual prev o acompanhante do parto Essa a o da direito mulher para ter uma pessoa de sua intimidade dando lhe apoio e seguran a durante o trabalho de parto e o nascimento do beb A falta de sensibilidade e de humanidade nos trabalhos de parto denuncia um grave problema de cidadania no sentido do desrespeito s escolhas e aos direitos reprodutivos das mulheres importante por m olhar criticamente para qualquer tipo de movimento social sobre o tema identificando os seus benef cios e valores pois com qualquer movimento de oposi o extremista corre se o risco de estar tamb m desrespeitando uma escolha individual Diante dessas discuss es da sociedade civil organizada com as pol ticas p blicas se o certo for o parto normal a falta de respeito mulher que possui uma escolha diferente estar atuante N o se pode acima de tudo prescindir do respeito autonomia da mulher 2 1 7 O QUARTO TRIMESTRE DA GRAVIDEZ PUERP RIO Ap s o nascimento a mulher experencia o puerp rio Este considerado por alguns estudiosos como o quarto trimestre da gravidez um per odo marcado por muitas surpresas e imprevistos Alguns autores consideram o per odo do puerp rio assim como o da gravidez fases cr ticas e predisponentes a dist rbios de ordem ps quica A qualidade das experi ncias emocionais e psicol gicas vividas pela mulher deline
51. ides de persegui o de que algu m vai introduzir se na casa para prejudicar ou roubar etc O tratamento urgente nesse caso e o psiquiatra deve ser consultado imediatamente SOIFER 1980 p 72 Os casos de psicoses puerperais s o mais raros mas necessitam de profunda aten o pois impossibilita a mulher de cuidar de seu beb podendo inclusive coloc lo em risco assim como tamb m a si mesma Diante disso sugere se tratamento farmacol gico associado psicoterapia t o logo se evidencia a problem tica pois do contr rio as crises podem ocorrer mais frequentemente passando se cronicidade O internamento indicado como ltimo recurso principalmente nos casos que se presentificam as ideias de suic dio Considerando a influ ncia do ambiente social sobre a pu rpera faz se interessante um trabalho com as fam lias para lhes proporcionar mais possibilidades no cuidado da mesma Nos casos de depress o p s parto pelos mesmos riscos o tratamento farmacol gico e psicoterap utico devem ser imediatos fundamentalmente se for um quadro agudo e que os sintomas persistem necess rio levar em conta que a maternidade constitui para a mulher uma fonte b sica de sa de mental A m e que sente ter fracassado em sua tarefa e que n o consegue relacionar se convenientemente com os 69 filhos experimenta uma enorme dor que chega a ser intoler vel SOIFER 1980 p 74 Compreende se que os per odos de gesta o
52. inclina es sexuais quando se descobre a falta do p nis A menina desvia de forma generalizada toda a sua sexualidade por sentir se desvalorizada em rela o aos meninos portadores do p nis Nega se a entrar em rivalidade com eles e portanto ausenta se da inveja do p nis A segunda sa da diante da descoberta da castra o feminina a nega o dessa castra o Desenvolve se na menina um intenso complexo de masculinidade identificando se dessa maneira com o pai ou com a m e f lica Prepondera a fantasia de ser homem e de um dia possuir o rg o que lhe falta Enquanto isso se presentifica a inveja do p nis e o clit ris continua a ser a zona er gena dominante A terceira atitude seria o reconhecimento e a aceita o da castra o Freud a considerou como a sa da para uma feminilidade normal A partir da mudan a do objeto amoroso da m e para o pai j que ele detentor do p nis assim como tamb m do deslocamento da libido que vai ocorrendo progressivamente do clit ris para a vagina vai caracterizando se uma inveja do p nis que tem o significado de gozar com o p nis no coito Disso transforma se para a vontade de gerar um filho ou seja o desejo pelo p nis substitu do simbolicamente pelo desejo de ter um filho O desejo que leva a menina a voltar se para seu pai sem d vida originalmente o desejo de possuir o p nis que a m e lhe recusou e que agora espera obter de seu pai No entanto a situa
53. j foi pra mim eu acho que j foi meu sonho meu sonho j era j foi embora Aquele sonho de casar tudo certinho ter os filhos e num lugar certo eu acho que esse sonho j foi S me cuidar que eu quero que eu falei pra ele que eu quero ir no dentista quero me arrumar mas eu quero trabalhar Cuidar dos meus filhos quero for a quero que Deus me d muita for a pra mim cuidar dos meus filhos Dizia tamb m que seu futuro era ficar com o marido Contou que vinha orando e pedindo a Deus para conseguir ter sentimentos pelo marido tendo sabedoria e entendimento para fazer as coisas certas Ficar com ele e aceitar a vida que Deus me 33 deu EM CASA NOVAMENTE Ap s cinco meses da alta D bora ligou para a psic loga pesquisadora dizendo que queria conversar Contou que iria voltar a estudar no pr ximo m s que estava trabalhando com o marido e sobretudo que as duas crian as estavam morando com ela 162 A sogra ficava com o beb para ela trabalhar e pegava o noite Estava tomando as medica es regularmente Quis saber sobre a pesquisa se j tinha terminado e contou que o marido a traiu enquanto estava internada Ele ent o pegou ao telefone queria tamb m falar Um tempo depois D bora ligou novamente queria contar novas not cias Ainda n o tinha voltado a estudar havia mudado de emprego e estava trabalhando como empregada dom stica Disse que estava bem melhor que tinha seu dinheiro para c
54. mais dolorosa a que passa no ntimo de cada mulher que n o se confunde com a m e Todas as que se sentem divididas entre o amor pelo filho e os desejos pessoais Entre o indiv duo ego sta e o que quer o bem estar de seu pequenino A crian a concebida como fonte de realiza o pode portanto revelar se um obst culo a esse indiv duo E certo que de tanto superestimar os deveres maternos a contradi o torna se ainda mais aguda BADINTER 2011 p 145 A mulher pressionada pela cultura ocidental atual a dar prioridade crian a tendo que se colocar dispon vel e organizando a sua vida em fun o do filho Situa o muitas vezes contr ria s aspira es de muitas mulheres mas nem todas podem admitir 160 isso N o admitem nem para si mesmas mas denunciam o fato por meio das ambival ncias que deixam escapar O espectro da m e m se imp e a ela tanto mais cruelmente quanto inconscientemente ela interiorizou o ideal da boa m e Nessas prova es conflituosas a mulher e a m e sentem se igualmente perdedoras BADINTER 2011 p 160 De planos futuros as tr s mulheres falavam de cuidar dos filhos e trabalhar fora D bora decidiu ficar com seu beb Eu posso ficar com ele eu quero ficar com ele S que n o precisa ser em excesso Eu deixo ele l pra mim poder trabalhar e tarde eu trago ele pra casa D bora n o queria mais ficar trancada em casa para cuidar dos dois filhos Escutamo
55. me mimou um monte D va o que comer carinho e n o precisava nem pedir pelos desejos Por m ambos passaram por uma desassist ncia social muito grave quando aos 5 meses de gesta o perderam a casa pr pria em que moravam numa enchente Ficaram desabrigados foram dormir numa Igreja depois numa casa velha emprestada pela prefeitura no entanto 15 dias depois tomaram essa casa deles Foram morar de aluguel ainda com muita dificuldade financeira at que Marcelo comprou uma pequena casa e 95 atualmente paga as parcelas mensalmente D bora j estava com 8 meses de gesta o quando se fixaram numa moradia novamente No dia da enchente D bora ficou muito triste e preocupada com seus familiares que estavam do outro lado da cidade e os caminhos de acesso estavam todos interditados Diziam que sua m e e irm o tinham ca do na gua e morrido Eu n o podia passar pra l e fiquei com aquela afli o eu passei pelo meio da lama por cima daquela ponte tudo arrebentada Nossa foi bem dif cil pra mim Foi bem triste pra mim Mas felizmente sua fam lia encontrava se bem apesar dos estragos da enchente No p s parto mais especificamente ap s dois meses do nascimento do beb foi que D bora passou a apresentar os primeiros sintomas como tremedeira n o conseguia dormir noite queria que o marido ficasse acordado e conversando com ela precisava de uma amiga pra conversar Gritava Queria
56. mulheres BRASIL 2007a p 48 O grupo de mulheres est sujeito a muitos fatores de risco pr prios das rela es de g nero e por isso fundamental que haja a es de aten o sa de para este grupo E preciso compreender as rela es de g nero implicadas para tra ar programas mais resolutivos e eficazes s necessidades das mulheres Em conson ncia com essa ideia do Minist rio da Sa de Martins 2010 em seu artigo Um Sistema Inst vel as teorias ginecol gicas sobre o corpo feminino e a cl nica psiqui trica entre os s culos XIX e XX destaca que as categorias de g nero ra a e classe social estiveram fortemente atreladas ao discurso m dico oitocentista como condi es determinantes dos quadros patol gicos ou seja caracterizando uma tipologia dos doentes mentais Appignanesi 2011 p 57 corrobora essa assertiva O fim do s culo XIX pode ter emoldurado a mulher como mais fraca fr gil por sua constitui o e assim mais suscet vel loucura A psiquiatria foi reconhecida e institucionalizada no final do s culo XIX e sofreu a influ ncia pol tica e cultural da poca do determinismo naturalista sendo o g nero uma categoria central na formula o te rica e pr tica desse campo Devido a isso muitos de seus estudos e contribui es ci ncia ocorreram em parceria com outra especialidade m dica a ginecologia uma vez que ambas consideravam a natureza sexual das mulheres e que est
57. n o produz psicose infantil Mas ela pode causar outros danos tamb m prejudiciais crian a Para combater esses efeitos necess rio que o meio ambiente no sentido winnicotiano possa desempenhar o seu papel BOUKOBZA 2011 p 22 AS MULHERES E A RELA O COM OS FILHOS J existe claro uma rela o entre uma mulher e um beb que acontece durante a gravidez Mas uma rela o muito mais imagin ria No puerp rio ocorre a constru o da rela o m e e beb agora reais O beb ideal fantasiado durante toda a gesta o e o beb real que acaba de nascer n o o mesmo e dever haver uma adapta o entre eles H casos em que a mulher no contato com o seu beb sofre primeiramente uma decep o devido s suas idealiza es A depress o neste per odo ser mais intensa quando a quebra da expectativa em rela o ao beb a si pr pria como m e e ao tipo de vida com o filho for muito grande FELICE 2000 p 30 Em meio s fantasias inconscientes e realidade cada mulher participante teve uma experi ncia muito particular no encontro com seus filhos 144 Nos dois primeiros meses D bora passou bem conseguiu cuidar do beb e do filho mais velho Com o beb tava normal trocava fralda dava banhinho tava bom dava mamazinho Logo que nasceu a crian a de Rosa esta foi para o cuidado dos av s porque a m e n o estava muito bem psiquicamente mas ela manteve se s
58. n o admitem essas ocorr ncias e escondem o mal estar por Julgarem se erradas fracas ou desviantes H mulheres que n o valorizam seus sentimentos assim como h familiares e profissionais de sa de que muitas vezes agem com preconceito e incompreens o principalmente se n o tiverem habilitados nessa rea A pesquisa mostrou que a sa de mental n o prioridade nos servi os que cuidam das mulheres na maternidade As equipes de sa de n o est o preparadas para detectar sinais de altera es psicol gicas e psiqui tricas na gravidez e no puerp rio Os servi os de aten o materno infantis e a aten o prim ria precisam estar mais habilitados e mais atentos para as quest es de sa de mental A estratifica o de risco deve ser realizada pela Aten o Prim ria e uma situa o que a equipe precisa investigar dentre uma s rie de outros aspectos do pr 166 natal sobre os antecedentes pessoais e dentre estes est o os transtornos psicol gicos e o uso de medica es PARAN 2012 Conforme indicou a pesquisa realizada por Nunes Juc e Valentim 2007 as equipes da ESF n o t m um trabalho espec fico com a sa de mental faltam recursos t cnicos e te ricos para lidar com essa quest o S o raz es para isso a falta de capacita o dos profissionais e o desconhecimento das diretrizes da Reforma Psiqui trica a falta de prioridade aos problemas de sa de mental pouca estrutura para atendimentos dess
59. o feminina s se estabelece se o desejo do p nis for substitu do pelo desejo de um beb isto se um beb assume o lugar do p nis consoante uma primitiva equival ncia simb lica FREUD 1933 p 128 43 Desta maneira o apego ao pai uma consequ ncia da inveja do p nis A situa o edipiana s se estabelece realmente quando o desejo do p nis for substitu do pelo desejo de ter um filho substituto do p nis A mulher somente encontrar uma plenitude de satisfa o quando tiver um filho preenchendo sua antiga inveja do p nis e seu sentimento de inferioridade CHASSEGUET SMIRGEL 1988 p 21 Pode se pensar assim que a maternidade substitui o ser feminino mutilado Nasio 1997 orientado sobre a teoria de Jacques Lacan um autor contempor neo que construiu a sua obra a partir de uma releitura das obras freudianas explicou que na realidade o elemento organizador da sexualidade humana n o propriamente o rg o genital masculino p nis mas sim uma representa o ps quica imagin ria deste denominado falo Essa representa o imagin ria o falo imagin rio adquire uma condi o de operador simb lico Nasio contribuiu para a explica o da constru o da feminilidade mostrando que necess ria uma s rie de equival ncias simb licas que v o ocorrendo durante toda a exist ncia para que uma menina torne se mulher A feminilidade definitivamente um constante devir tecid
60. obter algum estatuto simb lico alguma significa o necess rio que o sujeito seja algo distinto do Real do seu corpo algo Outro e mais do que alguns quilos de carne Por isso o sujeito se estrutura em uma opera o de defesa CALLIGARIS 1989 p 20 Essa significa o bastante diferente na neurose e na psicose pois o saber que o defende e que o refere enquanto sujeito n o o mesmo Na neurose o sujeito aposta num sujeito suposto saber tem uma estreita liga o com o significante Nome do Pai e sua significa o e subjetiva o se constituir nessa rela o com o suposto saber paterno 76 Desta forma a significa o neur tica tem como centralizadora a fun o paterna detentora da lei e isto o que faz a amarra o do sujeito no mundo O neur tico defende se com um saber da Demanda do Outro que ele sup e a um sujeito ao pai como detentor suposto de um saber essencialmente sexual O pai quem sabe lidar com o desejo materno e por consequ ncia quem pode decidir da significa o sexuada dos filhos CALLIGARIS 1989 p 25 Na psicose h uma significa o de defesa mas n o uma significa o referente a um suposto saber paterno A amarra o dos significantes n o a mesma n o centrada no significante Nome do Pai uma vez que esse significante encontra se foraclu do Lacan teorizou em seu artigo De uma quest o preliminar a todo tratamento poss vel da psicose disponibilizado nos E
61. p s parto perdeu a aten o do marido Agora acho que n o liga mais tanto pra mim Acho que ele t meio diferente comigo E ele afirmava que D bora n o tinha independ ncia pr pria Se ela pegar trabalhar ganhar o dinheiro dela ela tem que chamar meio mundo pra chupar sorvete junto com ela N o tem aquela independ ncia pr pria dela JCoisa que tiraram dela quando ela era crian a e ela at hoje n o tem essa independ ncia Marcelo Rosa tinha um marido bastante paciente e atencioso mas ainda sim queixava se de que ele n o ajudava nos cuidados com o beb Esperava que ele ficasse mais pr ximo dela e que cuidasse para que ela n o tivesse mais filhos Cuidado de ficar comigo e cuidar da sa de minha pra n o ter mais filho Al m de responsabiliz lo por isso tamb m o culpava por t la abandonado quando ela n o quis um relacionamento s rio Apesar das v rias crises de rejei o e 134 pedidos de separa o Roberto insistia em que ficassem juntos e casados O pavor terr vel de casamento que Rosa sentia era tamb m o pavor da rela o sexual que ela tamb m chamava casar Muito forte ficou na hist ria de Rosa o trauma vivido no passado de estupro e aborto e isso a acompanhava em todas as situa es de conflito em sua vida Confundia o marido ficava agressiva com ele e com os pais descontava nos filhos sofria muito Cicatrizou mas a dor cont
62. parto e puerp rio s o considerados como especialmente vulner veis ao desencadeamento de transtornos mentais A rela o da mulher com o seu meio social com o seu beb e com ela mesma pode assim se ver perturbada trazendo muito sofrimento ansiedades e quadros psicopatol gicos A confus o entre fantasia e realidade ent o dirimida de acordo com as possibilidades defensivas do ego instalando se os correspondentes quadros depressivos man acos psicop ticos vicia o por drogas etc SOIFER 1980 p 82 Diante do que foi exposto neste cap tulo precisa se pensar na qualidade de aten o que os servi os de sa de mental oferecem para as mulheres e seus familiares nesses per odos de tanta fragilidade ps quica essencial considerar que muitos casos de dist rbios puerperais poder o evoluir para quadros psicopatol gicos recorrentes denotando a cronicidade Isso sem d vida sofre influ ncia do tipo e qualidade de tratamento que foram oferecidos s mulheres quando em crise aguda bem como o que elas puderam suportar Eis a experi ncia que possu mos em rela o a tais ocorr ncias Se se proporciona devida aten o no momento oportuno n o h cronicidade e o conflito pode resolver se facilmente Caso contr rio consolidam se a situa o depressiva e as dissocia es correspondentes o trabalho rduo e penoso e pior ainda poucas vezes a paciente tem suficientes esperan as para tolerar o prazo
63. pensar que essa dificuldade estivesse relacionada falta de desejo de ocupar esse lugar Rosa sem admitir qualquer planejamento pessoal engravidou pela primeira vez porque seu marido pedia mas a experi ncia de cuidar de 153 crian as nunca foi tranquila A gente porque ele queria o filho ent o eu fiz isso Mas eu pensei que n o fosse ter uma barra t o forte Pra mim parece que ter filho foi t o dificil Eu n o sei Eu tento cuidar dos filho do meu jeito mas da impress o que dif cil uma dificuldade pra cuidar deles parece que tudo dif cil Isso gerou depois que eu tive o primeiro filho Eu pensei Ah agora vou ter um filho vai dar pra mim trabalhar pagar algu m pra cuidar dele e ir trabalhar Eu pensei assim da depois veio uma surpresa a menina Depois de tempo veio a menina Rosa Ao mesmo tempo Rosa padecia moralmente pelo aborto sofrido antes de casar Eu sinto culpa Eu acho que eu n o tenho capacidade pra ter filhos N o consigo cuidar se o Deus n o faz eu cuidar n o consigo fazer as coisas do dia a dia normal porque n o pra mim ter filho Condenava se bastante por isso influenciada pela sua convic o religiosa E isso colaborou e muito para o seu sofrimento psic tico Eu adoro crian a n o odeio crian a eu gosto de crian a amo tanto tanto amo que amo meus filhos gosto dos meus sobrinhos adoro meus sobrinhos e eu choro 3 muito
64. per odo que passou no hospital ap s sua melhora Sueli fez algumas amizades e com as mulheres compartilharam suas hist rias Trocaram alguns telefones para manterem o contato ap s a alta Estando melhor passou a apresentar uma grande ansiedade para receber alta Falava afetivamente das filhas dizia que sentia saudade delas e que tinha o desejo de voltar a cuidar do beb Ela novinha e precisa de mim Recebeu visita de seu marido que decidiu lev la embora Sueli ainda n o estava t o est vel nem se sentindo muito segura e s vezes ainda mostrava certa confus o mental Foram orientados mas decidiram pela alta mesmo assim Seu marido como respons vel assinou um termo de responsabilidade no cuidado da mesma Foi indicada a continuidade do tratamento e psicoterapia para a paciente Com a antecipa o da alta a entrevista foi realizada na resid ncia de Sueli ap s mais ou menos um m s que havia sa do do hospital Na poca seu beb ainda estava no abrigo exig ncia judicial at que Sueli estivesse mais recuperada Ao retornar para casa passou v rios dias ansiosa para recuperar sua filha que chegou um m s depois com a condi o de frequentar o abrigo de segunda a sexta feira durante todo o dia voltando para casa no come o da noite 5 1 3 O TERCEIRO CASO CL NICO ROSA Rosa foi internada no hospital psiqui trico num per odo mais avan ado do puerp rio aos 6 meses do nascimento de sua filha Tem um
65. perda de contato com a realidade Fundamentalmente numa perturba o prim ria da rela o libidinal com a realidade que a teoria psicanal tica v o denominador comum das psicoses onde a maioria dos sintomas manifestos particularmente constru o delirante s o tentativas secund rias de restaura o do la o objetal LAPLANCHE amp PONTALIS 1999 p 390 Freud em seu texto O Eu e o Id 1923 discorreu sobre a rela o existente no aparelho ps quico entre o Eu o Id e o mundo exterior Explicou que o Eu fica numa rela o intermedi ria entre o Id e o mundo exterior tentando satisfazer ambos os lados O Eu procura fazer valer a influ ncia do mundo exterior sobre o Id com o objetivo de substituir o princ pio de prazer pelo princ pio de realidade O eu representa o que se pode chamar de raz o e cincunspec o em oposi o ao Id que cont m as paix es FREUD 2011 p 31 15 Em outro texto Neurose e Psicose 1924 Freud considerou que na psicose produz se uma ruptura entre o Eu e a realidade mundo exterior devido s reivindica es pulsionais ficando o Eu sob o dom nio do Id Em A perda da realidade na neurose e na psicose 1924 Freud ressaltou que tanto na neurose quanto na psicose ocorre a perda da realidade por m a diferen a na psicose est no movimento ps quico de substituir a realidade Assim o del rio seria uma forma de reconstru o da realidade ent o pautada
66. por achar que aborto aborto contra a lei de Deus Todas essas dificuldades conflitos e ambival ncias prejudicavam seus sentimentos e papel de m e Sentia se culpada mas afirmava que n o conseguia fazer diferente Eu guardei esse dio esse dio de n o ter filho nenhum mais n o queria filho n o queria mais nada Tem a dor a dor que eu sinto que no aborto eu sentia dor foi muito terr vel nem anestesia n o pegou direito tive costura mesmo eles costuraram rasgou tanto que costuraram a dor era tanta que eu depositei a dor tudo nas crian as Rosa Rosa enfatizava que maltratava as crian as de forma inconsciente talvez num impulso porque dizia que n o queria fazer Eu n o entendo como que pode uma pessoa guardar rancores revolta e descontar nos filhos Sofria com isso Conforme Mathelin 1999 p 14 Pensar que existiria um amor materno sem viol ncia sem dio sem ambival ncia seria t o radical quanto negar a exist ncia do inconsciente 154 Isso mais comum do que se espera as ambival ncias por m preciso acolher escutar a m e que sofre para que a situa o n o se torne intoler vel e prejudicial no real da rela o entre m e e filho Rosa precisou do apoio de sua m e para cuidar do primeiro filho Com o nascimento da menina n o estava sendo diferente Por m pelo fato da ca ula ser um beb mais calmo Rosa via boas perspectiva
67. processos simb licos e de novas emo es levando trama de sentidos subjetivos REY 2010 p 126 Apostou se que os transtornos mentais do puerp rio trazem em si uma conjun o de aspectos subjetivos e das condi es das rela es sociais n o esquecendo por m dos aspectos biol gicos 4 2 A INSTITUI O O hospital psiqui trico no qual ocorreu esta pesquisa refer ncia do servi o de sa de mental do Estado do Paran com suas vagas totalmente disponibilizadas para o atendimento do SUS Constava de 35 leitos femininos para tratamento de transtornos mentais agudos As interna es ocorrem em m dia de 30 a 60 dias podendo ultrapassar ou antecipar esse tempo de acordo com a evolu o de cada paciente O tratamento realizado por uma equipe multidisciplinar tendo na unidade um profissional respons vel nas seguintes reas de atua o m dico psiquiatra assistente enfermeiro bem como t cnicos e auxiliares de enfermagem psic logo assistente social e terapeuta ocupacional Cada profissional t cnico faz uma evolu o semanal no prontu rio das pacientes e a equipe de auxiliares de enfermagem diurna e noturna faz as evolu es diariamente Os atendimentos familiares s o realizados pela psiquiatra psic loga e assistente social para tamb m garantir o atendimento multidisciplinar da fam lia a partir dessa din mica e dos registros documentais nos prontu rios que ser o apresentados alguns elementos import
68. profissionais seguem os protocolos verificam o desenvolvimento dos beb s mas n o est o atentos s mulheres ao que estas est o sentindo N o h espa o para muita conversa que poderia evidenciar as emo es que est o presentes no desenrolar da gravidez de cada mulher Durante as consultas e as oficinas do pr natal a equipe de sa de pode detectar a presen a de fatores de risco assim como de altera es sugestivas de comprometimento da sa de mental E importante observar apar ncia geral intera o com o examinador atividade psicomotora estado emocional linguagem presen a ou n o de alucina es n vel de consci ncia caracter sticas do pensamento conte do velocidade preocupa es obsess es agressividade orienta o e mem ria CURITIBA 2005 p 43 Teve uma poca que eu fiquei sem tomar banho relaxei mesmo n o tomava banho a roupa punha qualquer roupa quando eu entrei em depress o Quando eu tava gr vida eu j n o tomava banho n o me cuidava n o queria que ningu m me tocasse Nem perceberam que eu tava assim na gravidez Rosa Rosa mostrava claramente que n o estava podendo se cuidar na gesta o estava isolada irritada e angustiada Sueli apesar de parecer tranquila nos ltimos meses come ou a sentir se ansiosa e tentou conseguir atendimento psicol gico mas n o conseguiu vaga eu queria conversar com a minha psic loga de novo porque tava passand
69. psiqui tricos na gesta o e no puerp rio classifica o diagn stico e tratamento Revista de Psiquiatria Cl nica S o Paulo v 33 n 2 p 92 102 2006 Dispon vel em lt http www scielo br pdf rpc v33n2 a09v33n2 pdf gt Acesso em 9 Nov 2012 CANTILINO A et al Transtornos psiqui tricos no p s parto Revista de Psiquiatria Cl nica S o Paulo v 37 n 6 p 278 284 2010 Dispon vel em lt http www scielo br scielo php script sci arttext amp pid S0101 60832010000600006 gt Acesso em 11 Nov 2012 CHASSEGUET SMIRGEL J Sexualidade Feminina uma abordagem psicanal tica contempor nea Porto Alegre Artes M dicas 1988 COHEN D et al Acompanhamento ecogr fico pr natal de gravidez com suspeitas de m forma es estudo do impacto sobre as representa es maternas In O beb e seus int rpretes cl nica e pesquisa S o Paulo Instituto Langage 2011 CORREIA A L V Preval ncia e Fatores de Risco em Depress o P s parto em um Servi o de Refer ncia em Jo o Pessoa Paraiba Recife 2006 COSTA LI et al Da psicose aos sofrimentos ps quicos graves Caminhos para uma abordagem completa Bras lia DF Kaco 2010 CURITIBA Secretaria Municipal da Sa de de Curitiba Pr Natal Parto Puerp rio e Aten o ao Rec m Nascido Programa M e Curitibana Curitiba 2005 DALGALARRONDO P Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais Porto Alegre Artes M dicas 2000 FELI
70. s sem d vida louv vel e necess ria por m ao mesmo tempo reduz a mulher m e N o h por exemplo qualquer nfase para o atendimento de mulheres que n o s o m es A cr tica se faz importante portanto para garantir que se mantenha a pol tica integral para a mulher sem reduzi la nas condi es maternais Assim a Estrat gia Rede Cegonha deve ser parte de um programa maior o Programa de Assist ncia Integral Sa de da Mulher PAISM que foi lan ado na d cada de 1980 e inaugurou no Brasil a assist ncia em todas as fases da vida da mulher pelo princ pio da integralidade Em contrapartida basilar pensar sobre a mortalidade materna uma vez que os dados brasileiros ainda s o inconsistentes pois h falhas no sistema de informa o Foi proposto pelo Minist rio da Sa de a ado o do Pacto Nacional pela Redu o da Mortalidade Materna e Neonatal Como a es estrat gicas tem se a implanta o de comit s de morte materna nos mbitos nacional estadual regional municipal e 26 hospitalar para um registro mais apurado dos bitos maternos al m da implementa o da notifica o compuls ria do bito materno Os comit s congregam institui es governamentais e da sociedade civil organizada cuja rea de atua o Sa de da Mulher Os comit s portanto exercem um importante papel de controle social Seus objetivos s o identificar a magnitude da mortalidade materna suas causas os fatores que a
71. s outras tantas mulheres que tive a oportunidade de atender no hospital psiqui trico e que contribu ram para despertar meu interesse pelo tema da pesquisa Giovana e Karla pela for a minha m e amiga e companheira em todos os momentos Ao TPB pela acolhida e boas emo es A todos os amigos pela compreens o e carinho Aquele dia o menino conversava comigo Ele tinha o h lito carregado Eu sua m e n o fui capaz de suportar a pequenina mis ria de sua garganta inflamada como qualquer boa m e suporta Que h lito ruim que h lito ruim o seu De tal jeito falei que o menino apunhalado saiu de perto de mim Foi pro quintal e ficou l sentado mudo como um homem grande Um menino de sete anos Sofri depois horrivelmente querendo gerar ele de novo pra nunca mais errar Cacos para um vitral de Ad lia Prado RESUMO GUEDES Aline P SA DE MENTAL E MATERNIDADE subs dios para as pol ticas de sa de mental no Paran 2012 185f Disserta o Mestrado em Ci ncias Sociais Universidade Estadual de Maring Maring 2012 Os processos de gesta o parto e puerp rio s o prop cios a perturba es emocionais de diferentes graus Nesta pesquisa buscou se compreender sobre os significados que algumas mulheres d o maternidade a partir da experi ncia de serem internadas num hospital psiqui trico O tratamento fez se necess rio devido ao intenso sofrimento ps quico somado a sintomas psiqui tricos
72. sa de relacionados ao trabalho s neoplasias de mama e colo de tero s DST ao planejamento familiar entre outras necessidades desse perfil populacional No final da d cada de 1990 a quest o da viol ncia e das doen as cardiovasculares que at ent o eram consideradas exclusivas dos homens mostraram a complexidade da sa de da popula o feminina Novos problemas relativos sa de da mulher foram sendo considerados e ao mesmo tempo foi se fazendo cada vez mais necess rio o princ pio da intersetorialidade para o acompanhamento e tratamento dessas quest es Na d cada de 2000 elaborou se a Pol tica Nacional de Aten o Integral Sa de da Mulher PNAISM que veio consolidar os avan os do Programa de Assist ncia Integral Sa de da Mulher PAISM respeitando as pol ticas e diretrizes do Sistema nico de Sa de SUS No per odo de 2004 a 2007 o Minist rio da Sa de a partir da Pol tica Nacional de Aten o Integral Sa de da Mulher Princ pios e Diretrizes PNAISM elaborou o Plano Plurianual para o Governo Federal que estabeleceu a import ncia de se desenvolver pol ticas p blicas de sa de para a mulher de forma integrada nos diversos n veis do sistema Visava se a amplia o do acesso e a melhoria na qualidade das a es e servi os de promo o preven o assist ncia e recupera o da sa de em toda a sa de p blica do pa s De programa para pol tica p blica de Estado pre
73. sempre conscientes o qual far parte da pr hist ria do beb A ambival ncia tamb m pode se fazer presente entre o casal ou seja devido a hist ria de cada sujeito nem sempre a articula o entre as suas hist rias respectivas permite um encontro comum dos seus desejos Levando em considera o os aspectos acima citados sobre a pr hist ria da gravidez passa se s transforma es que v o ocorrendo nos tr s trimestres do desenvolvimento desta 2 1 3 O PRIMEIRO TRIMESTRE DA GRAVIDEZ O primeiro trimestre da gravidez marcado pelas primeiras transforma es no corpo da mulher modificando a imagem desse corpo Cada mulher tem o seu pr prio tempo para perceber as mudan as f sicas que v o ocorrendo em seu corpo Algumas mulheres percebem alguma mudan a logo ap s a fecunda o outras levam semanas e s vezes meses para perceberem alguma altera o Isso tem a ver com a maneira como cada uma est vivenciando a sua gravidez Assim as diversas modifica es f sicas diferentes em cada mulher expressam um discurso concernente a cada experi ncia de 46 gesta o tendo rela o com a hist ria particular de cada uma Cada mulher ter uma forma de encarar as mudan as que v o ocorrendo podendo mostrar se satisfeita ou n o Aquelas que n o percebem qualquer altera o em seu corpo mesmo tendo o saber consciente de que est gr vida podem estar passando por um processo inconsciente de nega o Talvez p
74. sempre foi teimosa e mandona e que cuidava bem da casa e dos filhos Sua gesta o foi muito boa passou bem assim como o parto e at dois meses depois Uma semana antes de chegar ao hospital de repente ficou confusa balan ava os bra os e s falava em Deus aleluia Mandou o marido sair de casa que ele estava com o Dem nio Passou a falar que a fam lia dele n o a aceitava e jogou o celular dele no rio N o dormiu por tr s noites e n o deixou ningu m dormir Foi na casa de seu irm o de madrugada e benzia todo mundo Batia com a b blia na cara do marido e ia xingar as vizinhas na porta destas Pedia bata branca porque Deus mandou a usar Foi levada ao m dico e na frente dele ela parecia bem Por influ ncia do Conselho Tutelar o m dico mandou intern la e medicou o marido Depois de tr s dias chegou ao hospital psiqui trico Chorando muito e querendo ir embora tentando convencer o marido de lev la de alta Dizia que queria ficar morando em Curitiba Marcelo disse sentir se culpado pelo surto da esposa porque levara um rapaz para morar na casa deles e ela n o aceitou O rapaz s passou uma noite na casa e foi embora Naquele dia ela cismou que o marido tinha usado maconha Depois de quinze dias de interna o D bora mostrou se mais calma mais organizada psiquicamente menos ansiosa com melhora no contato interpessoal e participava das atividades propostas Houve um segundo atendimento familiar com a cunhada da pacient
75. tamb m pode mostrar se fragilizado e ansioso quanto ao reatamento das rela es sexuais por vezes devido ao afastamento da mulher quando no estado regressivo Assim bastante importante que o m dico minimize as d vidas e receios quanto a esse tema mas principalmente que o pr prio casal possa escolher o melhor momento e a melhor forma para se relacionarem sexualmente sempre respeitando as singularidades de cada um Nesse per odo reavivam fantasias inconscientes fantasias de castra o e de esvaziamento A presen a dessas fantasias pode levar a mulher a um estado depressivo e provocar ansiedades referentes car ncia materna e autodeprecia o A lacta o tamb m propicia ansiedades diversas Cada mulher tem modelos e influ ncias externas e internas inconscientes influenciando no seu desejo de amamentar ou n o o seu beb A amamenta o uma aventura entre a m e e o beb e necessita de um treinamento de ambos portanto nem sempre ocorre de maneira f cil Este acontecimento amamentar uma esp cie de primeiro di logo entre a m e e o beb considerando que eles est o em processo de reconhecimento um do outro As fantasias com rela o imagem do beb surgidas durante a gravidez se muito intensas agora na presen a concreta do mesmo podem provocar ansiedades e dificultar o reconhecimento Alguns problemas quanto amamenta o podem expressar uma dificuldade de ambos se comunicarem assim como d
76. utilizado por diferentes ci ncias Trazendo as constru es de Costa 2010 sobre sofrimento ps quico grave ou sofrimento ps quico do tipo psic tico e sua vis o enriquecida e bastante cr tica por acreditar ser relevante para o desenvolvimento desta pesquisa 36 Por ltimo apresenta se uma discuss o te rico pr tica a partir da an lise dos atendimentos psicoterap uticos entrevistas realizados com mulheres que estiveram por um per odo internadas em uma institui o psiqui trica p blica do Estado do Paran ap s uma experi ncia muito particular frente maternidade em que surtaram e tiveram que se ausentar do seu lar para um tratamento emergencial 37 2 REVIS O DE LITERATURA 2 1 DA IMPORT NCIA DA GESTA O PARTO E PUERP RIO DO NORMAL AO PATOL GICO De maneira geral a gravidez considerada pela sociedade como um momento privilegiado e de extrema harmonia Per odo no qual a mulher experencia um desabrochar e desta forma a tend ncia permear esse momento com idealiza es e alegrias atenuando assim as dificuldades que se fazem presentes como detalhes infelizes que n o fazem eco No entanto a realidade outra A gravidez pode ser um est gio de crise na vida da mulher um est gio normal do desenvolvimento da mulher mas que marca um per odo de transi es ocorrendo uma mudan a de identidade e uma nova defini o de pap is Isso pode acarretar mulher uma s rie de rea
77. 7 ressaltaram que a gesta o provoca transforma es na vida de toda a fam lia e do meio social imediato A esse respeito uma estrat gia interessante a do Pai Presente no Pr Natal contemplada no Programa M e Curitibana da Secretaria de Sa de de Curitiba Tem por objetivo fortalecer o v nculo do pai com a m e e a gravidez Busca se estimular uma maior presen a do homem nessa fase para que junto sua companheira sejam preparados e orientados das transforma es na chegada de um novo ser na fam lia N o s o apenas as mulheres que precisam ser cuidadas Compreende se por puerp rio o per odo at um ano do nascimento do beb Nos protocolos dos programas M e Paranaense e M e Curitibana est previsto como acompanhamento do puerp rio uma nica consulta na primeira semana do nascimento do beb Com exce o dos casos que forem identificados como de Alto Risco que continuam tendo acompanhamentos da m e e principalmente do beb Somente uma das mulheres desta pesquisa passou pela consulta do puerp rio D bora contou que foi uma consulta padr o em que pesaram o beb e avaliaram o seu desenvolvimento mas mal conversaram com a m e E justamente n o tiveram consulta Rosa que j apresentava dist rbios emocionais na gesta o e Sueli que ficou doente no puerp rio imediato Rosa e Sueli j tinham apresentado transtornos mentais anteriores gesta o mas nem por isso foram assistidas nessa quest o pelos
78. CE E M D A Psicodin mica do Puerp rio S o Paulo Vetor Editora Psico pedag gica 2000 FRANZON A C SENA L M Teste da Viol ncia Obst trica 2012 Blog Cientista que Virou M e ser m e cons ciente Dispon vel em lt http www cientistaqueviroumae com br 2012 05 teste da violencia obstetrica html gt Acesso em 15 Mar 2013 FREUD Sigmund Edi o Standart Brasileira das obras psicol gicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 Algumas Consegii ncias Ps quicas da Distin o Anat mica entre os Sexos 1925 In Edi o Standart Brasileira das obras psicol gicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago v 1996 Sexualidade Feminina 1931 In Edi o Standart Brasileira das obras psicol gicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago v 1996 Feminilidade 1933 In _ Edi o Standart Brasileira das obras psicol gicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago v 1996 177 FREUD S Obras Completas volume 16 O eu e o id autobiografia e outros textos 1923 1925 S o Paulo Companhia das Letras 2011 GIAMI A PLAZA M Coord Os procedimentos cl nicos nas ci ncias humanas documentos m todos problemas S o Paulo Casa do Psic logo 2004 GUEDES A P Gesta o Parto e Puerp rio o sofrimento psic tico de algumas mulheres 2006 64f Monografia Especializa o em Sa de Mental Psicopatol
79. CL NICO SUELI Em Abril de 2011 Sueli foi internada no hospital psiqui trico vindo acompanhada de seu marido onde ficou por 23 dias e saiu com Alta a Pedido Seu marido preferiu lev la para continuar o tratamento ambulatorialmente junto ao psiquiatra que j a atendia anteriormente atrav s de um conv nio de sa de Ap s 13 dias do parto cesariana de sua segunda filha chegou ao hospital psiqui trico contida em uma maca apresentando sintomas psic ticos como alucina es visuais e auditivas confus o mental desorienta o espa o temporal e ansiedade extrema Relatou a m dica que lhe atendeu que estava num estado depressivo ap tica e com medo exacerbado da noite e das sombras Na noite anterior havia apresentado uma grave crise de agita o quando colocou fogo no ber o vazio do beb Estava com dificuldades para cuidar de seu beb n o aceitava amamentar e queixava se de dores de cabe a constantes Com tais acontecimentos suas filhas 11 anos e 13 dias foram levadas para um abrigo pelo 10 CAPS Centro de Aten o Psicossocial 99 Conselho Tutelar A mais velha ficou somente 8 dias no abrigo mas o beb ficou por um per odo mais prolongado em torno de 2 meses Segundo as avalia es iniciais realizadas pela equipe multiprofissional a paciente estava em um surto psic tico puerperal confusa desorientada com o olhar perdido e isolada das pessoas sem aceitar contato interpessoal nem desenvolvia um di
80. IGNANESI 2011 p 90 Felizmente a ci ncia e a sociedade avan aram com o passar do tempo e criaram se novos entendimentos acerca dos transtornos mentais e tratamentos mais humanizados A Reforma Psiqui trica iniciada no Brasil a partir da d cada de 1990 s culo XX no bojo da Reforma Sanit ria estabeleceu novas formas de assist ncia aos portadores de transtorno mental com leis e diretrizes que redireciona o modelo hospitaloc ntrico para a assist ncia numa rede ampliada de servi os de sa de nas comunidades Ocorre o estabelecimento de uma rede de cuidado territorial que prioriza os atendimentos na aten o b sica ou prim ria Isso significa que dentre as a es esperadas pela Aten o B sica est o s a es de preven o e promo o da sa de mental O Programa Sa de da Fam lia PSF lan ado pelo Minist rio da Sa de tem como objetivo atuar na manuten o da sa de e na preven o de doen as por meio de a es comunit rias desenvolvendo servi os que atendam aos objetivos da integralidade do processo sa de e doen a da Pol tica Nacional de Aten o Integral Sa de da Mulher PNAISM e aos princ pios da Pol tica de Sa de Mental que norteia a Reforma Psiqui trica Os atendimentos por m na aten o b sica na rea de sa de mental ainda s o incipientes e pouco qualificados Uma pesquisa de Nunes Juc e Valentim 2007 intitulada A es de sa de mental no Programa Sa de da Fam li
81. O trabalho em rede dos servi os de sa de n o funcionou faltou comunica o discuss o e a o Exemplo disso o caso de Rosa em que o atendimento do psiquiatra discordou do atendimento do ginecologista Ambos tiveram opini es diferentes sobre a forma de acompanhamento da gestante em sofrimento mental O psiquiatra analisou que a gestante n o poderia tomar medica es psiqui tricas e indicou aborto nessa situa o J o ginecologista disse que algumas medica es em dosagens baixas poderiam ajud la mas isso s veio a acontecer aos 5 meses de gesta o e Rosa j estava no surto propriamente dito No p s parto o pediatra do seu beb percebeu Oh a situa o dela n o s a depress o Ela tem mais problema O interc mbio entre obstetras e psiquiatras deve ser incentivado para assegurar o melhor resultado poss vel para a m e e o beb Deve se considerar o risco de implica es fetais decorrentes do uso de medicamentos pela gestante assim como os riscos advindos de transtornos mentais n o tratados CURITIBA 2005 p 44 2 Um dos preceitos do SUS e do trabalho em rede a import ncia da corresponsabiliza o e da coparticipa o dos pacientes e dos familiares nos tratamentos de sa de Por n o serem devidamente orientadas pelos profissionais da sa de as 127 fam lias geralmente n o sabem perceber os sinais n o sabem como lidar quando os sintomas aparecem e nem que tipo de ajuda buscar
82. Prim ria Outras mulheres no entanto podem resistir a esse estado buscando esquivar se dele e permanecer ligadas nos interesses externos Uma parte da mulher mais adulta e racional teme ficar muito absorvida pela rela o com o beb FELICE 2000 p 61 Cuidar do beb e voltar a desempenhar o papel familiar e social anterior como trabalhar e atender ao marido e aos outros filhos se tiver s o vari veis que tamb m podem contribuir para as dificuldades Em consequ ncia os primeiros seis meses ap s 62 o parto definem em boa medida o futuro mental da mulher assim como determinam e selam a rela o com o filho a fam lia e a sociedade SOIFER 1980 p 64 Todas as rea es particulares de cada mulher dependem da forma como ela se concebe enquanto mulher enquanto companheira enquanto m e e da forma como esses pap is v o se articulando Isso sofre influ ncias da sua hist ria pessoal e dos seus modelos parentais e culturais As rela es sexuais do casal s o bastante importantes para possibilitar o retorno da mulher aos outros pap is al m do papel materno Auxilia a no resgate dessa regress o inicialmente necess ria A experi ncia das rela es sexuais ap s o parto nem sempre satisfat ria Existe em algumas mulheres um temor de estar prejudicada ou rompida internamente e nos seus rg os genitais A volta da menstrua o o contato com o sangue pode contribuir para essas ansiedades O homem
83. Que ganhe bastante risos D bora A preocupa o em melhorar de vida e em realizar se de outra forma que n o somente pela maternidade era comum s tr s Rosa dizia que os filhos a impediram de trabalhar Repetia muitas vezes durante os atendimentos sobre esse conflito entre casar e ser m e ou ser solteira e trabalhar Por mim eu queria ainda fazer outras coisas antes n Dizia que tinha um planejamento anterior de fazer faculdade e trabalhar para depois casar e ter filhos Uma vez que a maternidade n o mais o nico modo de afirma o de uma mulher o desejo de filhos pode entrar em conflito com outros imperativos BADINTER 2011 p 21 Desde que se tornou m e Rosa mostrou muita dificuldade para cuidar da casa da comida da roupa das crian as que ficavam manchadas de tanto lavar ou seja n o conseguia cuidar do lar Mas ironicamente sofria de mania de limpeza Na cidade de D bora que muito pequena n o h muita op o de empregos para mulheres H mais servi os pesados D bora j trabalhou com carrinho de papel numa empresa carregando toras de madeira e de atendente num restaurante Esse era o que mais gostava mas seu marido pediu que sa sse por ci me Repetiu bastante nos atendimentos que queria voltar a trabalhar com o marido com jardinagem que um servi o leve Mesmo que para isso tivesse que deixar seu beb para a sogra cuidar Pensava at em peg lo somente nos
84. R STEWART 1997 p 56 As tr s mulheres quando engravidaram tinham a inten o consciente de presentear o marido D bora queria provar a si mesma ao marido e fam lia dele que este poderia engravidar uma mulher uma vez que havia uma hist ria passada de hermafroditismo Sueli sabia que havia um desejo de seu marido de ter uma menina pois havia tido somente filhos homens do relacionamento anterior Era o desejo dele era ter meninas Foi um sonho um sonho que ele queria quando ele tinha 27 anos E ele s realizou com 58 anos Era um sonho de ter filha mulher sim Rosa foi convencida a engravidar porque seu marido queria muito ser pai Mas isso aconteceu na primeira gesta o pois na segunda nenhum dos dois queriam mais um filho Entretanto esta n o foi a nica motiva o dessas mulheres para que engravidassem mas foi algo que influenciou nessa decis o Rosa aos 32 anos sentia o peso da idade A fibra materna desperta pregui osamente em torno dos 30 e mais energicamente entre os 35 e os 40 anos O rel gio biol gico for a as mulheres a escolher por vezes se tem a impress o de que a exig ncia da idade e o medo de perder a possibilidade de ser m e que determinam as mulheres a procriar mais do que o irresist vel desejo de filho BADINTER 2011 p 32 110 Sua m e e irm lhe diziam que deixar para ter filhos ap s os 30 e poucos anos poderia acarretar em infertilidade ou de nascerem filhos com problemas
85. Se tivesse um tratamento que precisasse ir no local ali e sempre fosse um lugar assim de ir sem hospedar n Rosa Mas todas elas tamb m valorizaram o tratamento que receberam 131 Sueli achou que a experi ncia no hospital psiqui trico lhe ajudou a compreender melhor sobre a import ncia do tratamento L eu aprendi l eu vi que tem pessoas muito pior do que eu que n o tem s vezes nem cura E que eu procuro esse tratamento pra que chegue a minha velhice e eu n o seja uma dependente cr nica Que vai e volta do hospital que vai e volta vai e volta Rosa disse Eu acho que pro bem Foi pro bem Se foi pro bem eu tenho que ficar aqui at ir no dia certo E fez uma sugest o a partir da sua experi ncia na unidade Eu acho que voc s deveriam separar as mo as as pacientes com crise mais s ria das que t m crise menos s ria As de crise mais compulsiva melhor separar das que t m crise menos compulsiva Porque elas acabam entrando em depress o junto com elas Elas amedrontam intimidam Tanto Rosa quanto Sueli falou a respeito do medo que sentiu de algumas pacientes Sueli inclusive pressionou pela Alta a Pedido dando isso como um dos motivos Eu tinha muito medo da Patr cia Eu tinha medo que um dia eu tivesse dormindo e ela me jogasse em cima de mim e acabasse acontecendo alguma coisa Da o medo tamb m faz isso Por causa que na verdade da o meu m dico mesmo ele fa
86. Soifer 1980 as ansiedades relacionadas com a proximidade do parto podem ser ansiedades quanto separa o de sua m e seu pr prio nascimento ansiedades de esvaziamento perda de partes importantes de seu corpo ansiedades de castra o como se lhe arrancassem algo valioso fantasiado como p nis ansiedades de castigo pela sexualidade e ansiedades quanto defronta o com o filho ainda desconhecido As fobias do parto n o acontecem apenas com as prim paras N o se trata nesse caso de um medo racional da dor que s poderia atingir as mulheres que ainda n o deram luz S o fobias mais profundamente enraizadas ligadas hist ria da mulher ao modo como sua m e relatou a ela o seu pr prio nascimento a esta gravidez ao seu lugar hist ria do casal ao que ela espera desse filho que repara es ela espera fazer com ele o que ela espera valorizar atrav s dele etc comum casos de mulheres que n o tiveram essas fobias na sua primeira gravidez mas as tiveram na segunda ou na terceira SZEJER STEWART 1997 p 205 E importante que se possa escutar essas ang stias tentando descobrir as rela es com a hist ria familiar e pessoal de cada uma para que possam ser superadas e assim viverem de forma mais serena essa nova fase em suas vidas Entre o s timo e o oitavo m s est prevista a realiza o da ecografia do 3 trimestre A partir desse exame ser poss vel observar o n vel de desenvolvimen
87. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido garantindo que os dados n o seriam utilizados at que fosse autorizado o projeto de pesquisa Quando isso ocorreu encaminhou se ao casal em sua resid ncia um novo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para que assinassem com a data atualizada Isso j tinha sido previsto e combinado com eles no momento da alta da paciente Portanto sem qualquer dificuldade eles assinaram e devolveram via correio para a pesquisadora A pesquisa seguiu todos os padr es ticos exigidos pela Comiss o Nacional de tica em Pesquisa Conselho Nacional de Sa de Minist rio da Sa de de acordo com o disposto na resolu o CNS N 196 96 e foi submetida para aprova o pelo Comit de tica em Pesquisa da Secretaria de Sa de do Estado do Paran Foi aprovada em Maio 2011 com o n mero do protocolo 301 2001 91 5 RESULTADOS E DISCUSS O 5 1 A MATERNIDADE E SUA IMPORT NCIA NO DESENCADEAMENTO DE SOFRIMENTO PSIC TICO CASOS CL NICOS Neste item da pesquisa ser o apresentados os resumos dos casos cl nicos das mulheres que estiveram por um per odo internadas no hospital psiqui trico devido a transtornos mentais desencadeados no contato com a maternidade e que aceitaram participar e contribuir para esta pesquisa Casos iluminam Permitem nos trazer tona as interse es e intera es da cultura da pr tica psiqui trica e da doen a em um dado momento hist rico Eles nos mostram n o soment
88. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARING CENTRO DE CI NCIAS HUMANAS PROGRAMA DE P S GRADUA O EM CI NCIAS SOCIAIS REA DE CONCENTRA O POL TICAS P BLICAS SA DE MENTAL E MATERNIDADE subs dios para as pol ticas de sa de mental no Paran ALINE PINTO GUEDES MARING 2012 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARING CENTRO DE CI NCIAS HUMANAS PROGRAMA DE P S GRADUA O EM CI NCIAS SOCIAIS REA DE CONCENTRA O POL TICAS P BLICAS SA DE MENTAL E MATERNIDADE subs dios para as pol ticas de sa de mental no Paran Disserta o apresentada por ALINE PINTO GUEDES ao Programa de P s Gradua o em Ci ncias Sociais da Universidade Estadual de Maring como um dos requisitos para a obten o do t tulo de Mestre em Pol ticas P blicas rea de Concentra o POL TICAS P BLICAS E CI NCIAS SOCIAIS Orientadora Prof Dr ROZILDA DAS NEVES ALVES MARING 2012 Ficha Catalogr fica Elaborada pelo Setor de Tratamento da Informa o BICEN UEPG G924 Guedes Aline Pinto Sa de mental e maternidade subs dios para as pol ticas de sa de mental no Paran Aline Pinto Guedes Maring 2012 185f Disserta o Mestrado em Ci ncias Sociais Universidade Estadual de Maring Orientadora Profa Dra Rozilda das Neves Alves 1 Sa de mental 2 Maternidade 3 Sofrimento mental 4 Pol ticas p blicas 5 Psican lise I Alves Rozilda das Neves II Universidade Estadual de Maring Mes
89. a Fica um tempo s a gente se apega a gente pensa que vai ser feliz e vai embora D bora chorou muito mas expressou suas dores e sentiu se aliviada depois Passou a considerar a possibilidade de tentar se aproximar de seu beb Eu vou pensar direito vou tirar um dia um tempinho s pra mim e pra ele Vou repensar no caso dele morar l Eu posso pegar ele tardinha ficar com ele curtir ele A hist ria de Sueli com o seu beb tamb m foi dram tica Ap s o surto a m e foi para o hospital e o beb foi para um abrigo Enquanto estava no hospital contou que sonhava com seu beb todos os dias Tinha a expectativa que quando voltasse para casa j no dia seguinte a sua filha sairia tamb m do abrigo S que n o foi o que aconteceu Agora j faz um m s e n s estamos sem a Bianca ainda At at a Ju za decidir Ent o a gente sente aquela saudade final de semana t passando e voc t sem ela E a casa t vazia T faltando alguma coisa aqui dentro No quintal sempre t faltando algu m Da a gente tenta fazer as coisas eu tento fazer as coisas pra mim distrair mas a gente t ligada a ela Todos os minutos e segundos Eu acordo pensando nela e falando nela e levanto Ent o eu s falo nela o dia todo Sueli 151 Enquanto o beb continuava no abrigo Sueli com o marido comparecia em todos os hor rios de visita Tinham a preocupa o em manter o la o com o
90. a es contidas neste Termo de Consentimento eu portador do RG e respons vel pela paciente declaro que a mesma concorda em participar deste estudo e sendo assim autorizo sua participa o bem como a utiliza o nesta pesquisa dos dados que forem fornecidos por ela Assinatura ou Impress o Datilosc pica Eu declaro que forneci todas as informa es referentes ao projeto de pesquisa supra nominado Assinatura do Pesquisador Data 183 ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA PARTE I IDENTIFICA O E DADOS DEMOGR FICOS Iniciais Idade Escolaridade Conjugalidade Ra a Religi o N mero de filhos Idade deles V o para escola creche Tempo de gesta o ou idade beb se for o caso Foi gravidez planejada Sim Rela o atual com o pai do beb N mero de pessoas na resid ncia Quem s o JN o Renda Familiar Ocupa o Tem autonomia econ mica Sim JN o Depende de quem Possui casa pr pria PARTE II CONDI ES DE SA DE Algum problema cl nico antes desta gesta o Algum problema psiqui trico Qual Fazia algum tratamento Uso de medica o Interna o Psiqui trica anterior Algum v cio fumo lcool drogas 184 Algum familiar com transtorno mental Fez acompanhamento do pr natal Onde Doen a obst trica na gesta o atual
91. a conflu ncias e disson ncias das pr ticas com os princ pios das reformas psiqui trica e sanit ria mostrou um estudo etnogr fico em quatro equipes de sa de da fam lia a partir da narrativa dos trabalhadores de sa de Deste estudo observou se que o Programa Sa de da Fam lia PSF mais recentemente 19 chamado de Estrat gia Sa de da Fam lia ESF n o tem um trabalho espec fico com a sa de mental ou seja h uma aus ncia de recursos t cnicos e te ricos para lidar com a sa de mental n o h uma estrat gia para lidar com esses casos e nem a es de promo o comunica o e educa o em sa de na sociedade As equipes do PSF estudadas mostraram que a n o inclus o da sa de mental tem como causas o desconhecimento das diretrizes da Reforma Psiqui trica a falta de capacita o dos profissionais envolvidos a falta de prioridade aos problemas de sa de mental pouca estrutura para atendimentos desses casos por exemplo a falta de medica o a inexist ncia de uma rede eficiente e integrada de sa de mental com as ESF 1 2 A REDE DE SA DE MENTAL VALORIZANDO A SA DE MENTAL NA ATEN O B SICA Baseado nos preceitos da Reforma Psiqui trica e na necessidade de modifica es na qualidade e na maior efetividade do atendimento prestado aos portadores de transtorno mental o Minist rio da Sa de vem propondo novos modelos de assist ncia em sa de mental que sejam eficientes em qualquer dos n veis de aten
92. a avalia o inicial dos profissionais realizada a poucos dias de sua chegada observou se que Rosa estava verborr ica ou seja falava sem parar com o pensamento acelerado e certos lapsos de mem ria Referiu ter tido alucina es auditivas e idea o delirante de cunho persecut rio Confusa com dificuldade para dormir fez crises de agita o psicomotora com libera o de agressividade principalmente com rela o ao marido por m brigava tamb m com o filho mais velho Tinha intervalos com epis dios depressivos com caracter sticas de isolamento Rosa informou em consulta com a psiquiatra que ficou deprimida ap s o parto e desde ent o n o est bem Sempre foi esquecida e atualmente vinha se sentindo lenta sem conseguir realizar as atividades como deseja Com o autocuidado preservado rapidamente mostrou se motivada para realizar as atividades no tratamento 104 Logo nos primeiros dias passou a se comunicar mais e a participar das atividades terap uticas propostas Assumiu tarefas na unidade e desenvolvia atividades expressivas com destaque para a sua concentra o habilidade e criatividade Esta foi a primeira interna o psiqui trica de Rosa que rapidamente melhorou Mostrava se comunicativa participativa e l cida Tinha momentos de maior ansiedade preocupa o com os filhos e pedia a visita deles e do marido Este s podia vir visit la nos seus dias de folga O trabalho e a dist ncia pois moravam no litoral
93. a fisiol gico bastante importante para ser acompanhado contudo esta pesquisa ressaltou que t o importante s o tamb m as condi es psicol gicas para um nascimento saud vel do beb e da m e Felice 2000 alertou para a estreita liga o existente entre os sintomas org nicos presentes na gesta o e o psiquismo inconsciente N o de hoje que os sintomas psicol gicos s o subvalorizados em rela o aos sintomas org nicos A ideia a de que somente sofrem de perturba es psicol gicas aquelas pessoas que s o doentes loucas um julgamento falho e preconceituoso que atrapalha a percep o e a aceita o do que est se mostrando impedindo sem d vida qualquer interven o necess ria essencial o conhecimento de que os aspectos psicol gicos est o presentes e precisam ser tratados de maneira antecipada evitando assim as crises mais fortes e o consequente distanciamento das m es e os beb s Para isso necess rio capacita o das equipes assim como acontece para outras quest es de sa de A interven o precoce pode evitar rupturas graves da mulher com a realidade e do la o m e beb Os aspectos psicossociais s o t o importantes quanto os biol gicos Na realidade tudo isso interage num mesmo sujeito N o h o mais importante e ambos devem ser considerados 168 Nenhuma das tr s fam lias teve orienta o e qualquer acompanhamento ligado aos atendimentos dessas mulheres Szejer e Stewart 199
94. a seria a origem da loucura feminina do sexo nervoso De fato durante a ltima metade do s culo XIX o sistema reprodutivo da mulher pareceu desenvolver uma liga o ntima com seus nervos fracos e inst veis As regras o impacto da menstrua o no corpo da mulher o parto e a menopausa sempre desempenharam um papel na avalia o da sa de mental mas s a partir dos anos 1860 essas caracter sticas especificamente sexuais assumem um lugar p blico bastante proeminente na interpreta o dos sintomas nervosos que a mulher poderia apresentar APPIGNANESI 2011 p 114e 115 Portanto com o desenvolvimento das cirurgias ginecol gicas a psiquiatria veio a utiliz las como op o de tratamento para as doen as mentais nas mulheres O artigo acima citado faz uma retomada hist rica sobre essa liga o entre a psiquiatria e a ginecologia evidenciando que o mist rio referente s mulheres h muito inquieta a 18 ci ncia mas ressalta a domina o masculina os abusos e os preconceitos estabelecidos que contribu ram para deixar as mulheres fora de cena Na Gr Bretanha ao longo do s culo XIX os m dicos gostavam de vincular a origem dos sintomas mentais ao sistema reprodutivo das mulheres Eles n o perderam tempo em estigmatizar todas as mulheres como mais vulner veis insanidade que os homens porque seus sistemas reprodutivos interferem em seu controle sexual emocional e racional APP
95. a vontade de encontr lo para conversar sobre o que realmente aconteceu Foi uma hist ria que ficou para ela cheia de buracos e portanto causadora de ang stia dio dio desse cara que eu tinha queria pegar ele esse cara de tanto dio que eu tenho ter me for ado e queria acabar com a vida dele destruir Eu cheguei a ver uma vez ele ele virou assim abaixou a cabe a e a n o quis olhar pra mim Eu queria conversar com ele at hoje eu quero conversar e tirar essa d vida de gravidez j e dele aparecer que eu n o entendo foi uma coisa que aconteceu assim de repente Rosa Pr ximo comemora o do Natal seus familiares pediram uma licen a para que Rosa passasse junto fam lia Ficou 4 dias em casa e segundo seu marido ela passou bem Mas Rosa contou que sentiu dificuldade nos cuidados maternais precisando da ajuda de outros Tenho uma pregui a N o consigo fazer como as outras pessoas Parece que t o f cil para elas A licen a terap utica foi uma experi ncia interessante para Rosa para que pudesse realmente experenciar o retorno para a casa e suas rotinas Ainda n o se sentiu muito segura para assumir as fun es principalmente quanto a cuidar das crian as mas estava tendo oportunidade de expressar seus sentimentos falar sobre suas dificuldades Estava afetada por pouco nimo e sentia se menos ativa No Ano Novo saiu de licen a novamente com o intuito de ir se adaptando p
96. ados acima 66 Conforme enunciado sobre o per odo da gesta o no puerp rio a mulher tamb m precisa de apoio e sustenta o emocional e para isso precisa estar amparada pelo ambiente Se o ambiente puder lhe dar uma contin ncia a m e sentir mais seguran a para exercer suas tarefas para com o beb estabelecendo com este uma rela o saud vel e prazerosa A falta do suporte fornecido pelo ambiente neste per odo apontada comumente como um dos fatores de risco associados depress o puerperal FELICE 2000 p 83 A perda da prote o hospitalar tamb m se faz significativa na experi ncia de sofrimento e inseguran a da mulher para assumir suas responsabilidades O estado mental da mulher de inc modo confus o despersonaliza o cansa o apresentando muitas vezes acessos de choro aborrecimentos impaci ncia irritabilidade sentimentos de autodeprecia o inutilidade paran ia Muitas dessas manifesta es psicopatol gicas s o consideradas como um conjunto de sintomas que caracteriza a S ndrome de Tristeza P s Parto tamb m conhecida como Baby Blues Por volta do terceiro dia de contato com o beb quando as turbul ncias do parto come am a se acalmar e a mulher encontra se em busca de um novo equil brio geralmente se observa em algumas mulheres uma grande fragilidade hiperemotividade e um humor extremamente l bil um momento no qual qualquer situa o cotidiana pode se tra
97. almente est o presentes na experi ncia da gesta o e do p s parto assim como a import ncia dos conte dos inconscientes e infantis que s o reativados vale acrescentar uma breve explica o sobre 40 a import ncia da maternidade na estrutura o da feminilidade de acordo com a teoria freudiana Freud em seu texto Feminilidade 1933 procurou explicar como se dava o desenvolvimento de uma mulher a partir da descoberta da diferen a anat mica entre os sexos e da rela o de uma crian a com as figuras de cuidado pai e m e Enunciou sobre uma bissexualidade ps quica ao nascer e que at um determinado momento tanto o menino como a menina mant m experi ncias semelhantes com seus pais no que se refere aos cuidados das necessidades b sicas de sobreviv ncia Desta forma importante considerar primeiramente que ambos os sexos t m dois tra os em comum logo no in cio do desenvolvimento sexual infantil Um deles a cren a na universalidade do p nis ou seja ambos acreditam que todos os seres humanos s o possuidores de p nis sendo isso uma precondi o essencial para a constitui o do complexo de dipo Desta forma inicialmente h um desconhecimento da vagina sendo o clit ris o rg o semelhante ao rg o sexual masculino o qual para as crian as ir desenvolver se posteriormente num p nis O outro tra o comum referente import ncia do papel da m e no que diz respeito fus o entre m
98. alquer anestesia Considerando a op o do parto natural h algumas t cnicas de prepara o para o parto que servem terapeuticamente ou seja para diminuir as ansiedades e as fobias proporcionando mulher um contato mais concreto com a realidade do nascimento que est por acontecer A partir disso a mulher pode vir a se preparar fisicamente e psicologicamente para esse acontecimento parece importante preparar se para o parto seja do modo que for porque uma maneira de a mulher se concentrar sobre o que a espera preparando se para isso tanto f sica como psiquicamente E tamb m ma forma de come ar a se ocupar de seu filho n o mais apenas em pensamentos mas concretamente fazendo um lugar para ele SZEJER STEWART 1997 p 217 Uma das t cnicas mais conhecidas o m todo psicoprofil tico criado pelo Dr Lamaze A mulher orientada sobre aspectos e funcionamento de seu corpo bem como sobre o desenvolvimento do feto na regi o uterina Trabalha se no intuito de educ la emocionalmente para que consiga controlar se e dirigir se com equil brio mental durante o parto Assim faz se tamb m um treino neuromuscular por meio de exerc cios e t cnicas de respira o que realizados em v rios momentos diferentes tendem a minimizar a dor durante as contra es do parto Controlando a dor a mulher pode vivenciar seu parto de uma forma consciente ativa e mais preparada para o sofrimento das contra es facilitan
99. am t m provocado a que algumas mulheres desistam de serem m es ou desistam da vida profissional ou de outra coisa que escolheram Diferentemente por m do s culo XVIII elas t m hoje tr s possibilidades aderir recusar ou negociar caso privilegiem os interesses pessoais ou a fun o materna BADINTER 2011 p 12 33 A partir disso como ficam essas mulheres que de alguma forma experimentaram de uma liberdade e maior autonomia e agora retornam para casa Diante dessas considera es poder se ia pensar as manifesta es sintom ticas que surgem durante a gravidez no momento do parto e no per odo puerperal para algumas mulheres como respostas inconscientes aos conflitos da mulher da m e e da filha N o h um jeito nico de ser m e Cada uma de um jeito e isso est diretamente relacionado sua cultura sua poca hist ria e pr hist ria ou seja hist ria com sua m e hist ria da m e dela com sua m e sua av e assim por diante Na verdade n o existem dois modos de viver a maternidade mas uma infinidade o que impede de falar de um instinto baseado no determinismo biol gico Este depende estritamente da hist ria pessoal e cultural de cada mulher Embora ningu m negue a imbrica o entre natureza e cultura nem a exist ncia dos horm nios da maternagem a impossibilidade de definir um comportamento materno pr prio esp cie humana enfraquece a no o de instinto e com ela a
100. aneira construtiva interpretativa isto o conhecimento enquanto uma produ o humana e n o como uma simples apreens o linear da realidade percebida Assim esta metodologia prioriza o desenvolvimento de uma teoria de forma o cont nua possibilitando a aquisi o de novos conhecimentos cada vez mais intelig veis de aspectos da realidade A constru o de modelos te ricos o diferencial desse tipo de pesquisa qualitativa a qual evita a utiliza o dos instrumentos de pesquisa de forma ing nua e causadora de generaliza es e classifica es conclusivas sobre os sujeitos em estudo Define o autor a teoria como constru o de um sistema de representa es capaz de articular diferentes categorias entre si e de gerar inteligibilidade sobre o que se pretende conhecer na pesquisa cient fica REY 2010 p 29 Diante do exposto no desenrolar da pesquisa prop e se uma constru o te rica para pensar a realidade dessas mulheres que frente maternidade ficaram psicologicamente e psiguiatricamente doentes Para a Epistemologia Qualitativa os conhecimentos s o constru dos entre o sujeito e o objeto Diferentemente da epistemologia positivista em que desconsidera o objeto de estudo da psicologia enquanto um sujeito intencional consciente capaz de produzir sentido subjetivo N o trabalhar com respostas fechadas e previamente definidas mas sim que o pesquisador utilize se de procedimentos que estimulem a express
101. antes sobre os casos em quest o principalmente no que se refere evolu o do tratamento das pacientes Ap s a alta hospitalar as pacientes s o encaminhadas para darem continuidade ao tratamento na rede extra hospitalar nos servi os de refer ncia do munic pio onde residem 86 As entrevistas foram realizadas em salas reservadas da institui o referida Preocupou se em garantir que no local das entrevistas estivessem somente a entrevistadora e a informante sem qualquer interrup o de terceiros possibilitando uma apreens o adequada dos relatos bem como a privacidade e o sigilo necess rios 4 3 AS COLABORADORAS A defini o da amostra foi a partir das mulheres que se encontravam internadas na unidade feminina para transtornos mentais agudos apresentando o desencadeamento de transtornos mentais associados gesta o e ao puerp rio Poderiam ser mulheres que se encontravam gestantes e no per odo puerperal No intervalo de Outubro 2010 a Outubro 2011 n o houve nenhum internamento de gestante na unidade psiqui trica referida Como n o era poss vel controlarmos qualquer aspecto das interna es ou seja pelo per odo estipulado para a coleta de dados desta pesquisa houve somente 2 casos de mulheres em sofrimento ps quico diante da maternidade e estavam no per odo puerperal Desta forma rediscutiu se sobre a possibilidade de acrescentar ao projeto casos de mulheres que tiveram um quadro depressivo ou psic ti
102. apaz de trabalhar eu me sinto capaz de muitas outras coisas Mas n o me sinto capaz de cuidar dele Interessante que enquanto insistia na impossibilidade de cuidar de seu beb ao contr rio afirmava que do filho mais velho ela queria cuidar mais Eu n o entendo tamb m queria entender mas eu n o entendo Eu deixei de gostar de um pra bem dizer passei a mimar o outro Eu gosto muito agora Eu quero muito cuidar De in cio pareceu conformada com a decis o que mudava a configura o familiar mas havia uma outra preocupa o que carregava junto A de que o marido tamb m fosse embora para a casa da m e Eu pensei o meu filho j t l daqui uns dias o meu marido pensei assim falou dando uma risada retra da Em grande parte do atendimento psicoterap utico seu discurso era sobre as melhores condi es financeiras da sogra para criar seu filho As vezes eu acho que bem melhor pra ele ficar l Porque ela mesma me falou que o que ela n o pode dar 149 pros filho dela ela vai dar praquele pro neto Depois eu vou ter dois filhos e vai ser bem mais dif cil pra cuidar na parte financeira eu falo Que s o dois e chorava Quando estava longe sentia muita vontade de ficar com seu beb mas quando chegou perto dele isso passou Ser que a presen a do desejo da sogra estaria inibindo a verdadeira m e desse beb Eu n o sei como que vai ser resolvido ainda e
103. ar o a qualidade da rela o com o seu beb e o desenvolvimento satisfat rio deste como tamb m o sentimento de sucesso para com o papel materno Confirma se ent o a import ncia dessa transi o para o futuro pessoal e familiar dos envolvidos principalmente da m e e da crian a Primeiramente a mulher encontra se descentrada Aquele beb que durante nove meses mantinha o equil brio junto mulher a partir do nascimento causa um certo 59 desequil brio nela Seu corpo est diferente e com novas fun es para exercer Junto a isso verifica se nesse per odo de variadas emo es uma fragilidade ps quica na mulher a qual vai ter diferentes medidas e caracter sticas para cada caso Nos primeiros dias que se seguem ap s o parto as mudan as v o sendo vivenciadas de modo consciente ou n o e para umas de maneira mais aguda para outras de forma mais leve A experi ncia de toda a gesta o assim como a experi ncia do parto j provocaram muitas mudan as e surpresas e a mulher de modo muito particular precisou se adaptar e no seu tempo processar essas experi ncias Diante do nascimento no puerp rio a mulher precisar passar por uma nova adapta o a qual nem sempre f cil E apesar de todas essas novidades mais ou menos surpreendentes a mulher tem que se recompor mesmo tendo sido atropelada pela experi ncia que acabou de atravessar n o estando pronta na maioria das vezes para recompor se de coisa
104. ar sem a medica o Sueli Da eu acho que passou pro filho porque muito forte a medica o Porque tem crian a que entra em depress o junto com a m e Entra em depress o junto Rosa Realmente preciso que haja um controle e uma aten o quanto aos cuidados medicamentosos durante as gesta es N o qualquer medica o e em qualquer fase da gravidez que podem ser tomadas No protocolo do servi o de aten o materno infantil 115 M e Curitibana h orienta es importantes a esse respeito H tamb m um quadro explicativo sobre os medicamentos utilizados no tratamento de transtornos mentais e consequ ncias potenciais sa de materno infantil FATORES DE RISCO PARA O TRANSTORNO MENTAL Existem muitas pesquisas que buscam o conhecimento dos fatores de risco associados aos dist rbios mentais puerperais Entre os fatores mais comumente citados est o problemas mentais pr vios suporte social prec rio problemas conjugais dificuldades econ micas e depress o durante a gravidez FELICE 2000 p 35 Considerando todos esses fatores de risco citados acima vale uma discuss o em torno da vida das tr s mulheres para o estudo em quest o Tanto D bora quanto Sueli e Rosa foram atendidas num hospital p blico e relataram dificuldades quanto condi o financeira Sueli casada com um bombeiro aposentado tinha uma vida um pouco mais estruturada nesse aspecto por m na sua fam lia d
105. arantir acesso acolhimento e resolutividade e prop e a redu o da mortalidade materna e neonatal Recentemente no Estado do Paran foi lan ado o Programa M e Paranaense em Maio de 2012 que apresenta objetivos comuns aos dois programas citados h pouco Cada gestante deve possuir uma caderneta com seu nome e local de atendimento possibilitando um maior controle por parte das unidades de sa de e monitoramento das 24 a es de pr natal e do acompanhamento da crian a Busca se uma padroniza o do atendimento dos munic pios e indica o para quais hospitais as gestantes dever o ser direcionadas de acordo com a estratifica o de risco Quanto sa de mental na vers o de 2005 do protocolo do Programa M e Curitibana consta que uma das especifica es de gesta o de alto risco devido a suspeita ou diagn stico de transtorno mental Psicoses depress o grave depend ncia qu mica epilepsia uso de drogas em per odo periconcepcional CURITIBA 2005 p 22 Nesses casos a equipe da unidade de sa de encaminha a mulher para avalia o e acompanhamento nos servi os de refer ncia em sa de mental Tamb m se preconiza que as mulheres portadoras de transtorno mental sejam encaminhadas e aconselhadas pelo Programa de Planejamento Familiar Desta forma ter informa es sobre o uso ou n o de determinadas medica es na gesta o sobre o padr o gen tico dos transtornos mentais e sobre o alto risco de rea
106. aridades h quem se sinta sem desejo sexual algum como tamb m queles que se sentem mais excitados nessa fase De qualquer forma n o h qualquer normativa quanto a esse assunto O que importa que cada casal siga com a sua sexualidade de forma que se sintam seguros e vontade A rela o com as av s tamb m um tema em quest o nessa fase de gravidez Se suas m es est o pr ximas muito pr ximas ou afastadas durante o seu desenvolvimento com a maternidade v rias influ ncias boas e ruins s o poss veis Entre as m es que se imp em e as que desaparecem pregadas na cama com um lumbago no momento em que a filha esperava a sua assist ncia a justa medida a da dist ncia respeitosa da disponibilidade afetuosa mas n o invasiva rara SZEJER STEWART 1997 p 202 2 1 6 O PARTO Finalmente o nascimento A gravidez vem a termo entre 37 e 41 semanas A diferen a se d principalmente se o parto for natural ou induzido O parto por cesariana geralmente realizado com 39 53 semanas Este pode ser realizado por anestesia geral o que n o muito comum nos dias atuais ou por meio da anestesia peridural em que a mulher pode estar consciente por m sem sentir dor Sendo assim as escolhas para o parto podem ser por via baixa natural ou cesariana induzido e tamb m quanto ao tipo de anestesia se com anestesia geral por bloqueio espinhal peridural raqueanestesia ou raquiperidural ou sem qu
107. arto s o experimentadas de modo consciente assim como para algumas mulheres tudo vivido com muita intensidade e para outras n o Sentia gr vida ainda Mesmo ela no ber o eu dizia pra ele Essa n o a minha beb A minha beb t na minha barriga ainda Que ela tava na minha barriga Sueli Na realidade Sueli estava com dificuldade de separar se de seu beb idealizado como eu fiquei os 9 meses segura com ela dentro de mim eu n o queria que ela sa sse Compreendia de certa forma que ficaria doente ap s o nascimento da filha Assim podemos compreender o momento do parto como o compromisso entre duas ambival ncias mais ou menos dif ceis de serem ultrapassadas a da m e e a do filho N o h d vida de que a mulher sabe que imposs vel guard lo dentro de seu ventre E se o fizesse seria uma forma de perd lo de um modo ainda mais definitivo A nica forma de guard lo vivo aceitando perd lo e abrindo m o da exclusividade Por outro lado algo dentro da crian a tamb m sabe que imposs vel ficar ali por mais tempo e que para viver porque esse o seu desejo preciso ir em frente SZEJER STEWART 1997 p 249 120 O filho mais velho de D bora ficou doente e precisou ficar hospitalizado enquanto ela estava no per odo puerperal Ele lhe pedia coisas e ela sofria muito por n o poder dar Com muita preocupa o com o filho sentia se culpada e come ou com
108. as crises de ansiedade devido a preocupa es com a sa de de seus filhos 146 D bora ficou mais desorganizada psiquicamente quando seu filho mais velho foi hospitalizado por uma forte dor de barriga Rosa desesperou se quando seu beb Diogo apresentou problema no intestino Durante os atendimentos falou sobre a preocupa o de que esse filho pudesse ter depress o pois era muito quieto Contou que ele teve duas crises convulsivas e que isso a apavorou Achava que poderia ser influ ncia dos rem dios que tomava mas os m dicos a orientaram que uma coisa n o teria rela o com a outra Sueli come ou a sentir se ansiosa ao considerar que seu beb poderia nascer com o mesmo problema que a mais velha que teve um atraso no desenvolvimento por ter tido falta de oxigena o cerebral no nascimento Pode se observar que as tr s ressaltaram sofrimento e preocupa o com os filhos cada uma sua maneira nas suas dificuldades e singularidades mas mostraram envolvimento afetivo com suas crias Entretanto isso n o fazia da maternidade algo perfeito para nenhuma delas nem mesmo t o prazeroso As tr s m es tiveram que se separar de seus beb s para serem internadas num hospital psiqui trico D bora ficou 3 meses afastada de seu beb Sueli e Rosa ficaram praticamente 2 meses Essa separa o no come o de uma rela o n o ficou sem consequ ncias pelo menos isso j ficou evidente enquanto D bora ainda estava no hos
109. as dormia bem outros dias ficava sem dormir Soifer 1980 e Felice 2000 afirmaram que as fantasias persecut rias ligadas aos sintomas persecut rios como imaginar que o filho vai ser roubado ou que v o machuc lo que algo ruim vai acontecer a ele um modo de se encontrar com as fantasias inconscientes at ent o desconhecidas Eu na minha mente vinha todo tipo de pensamento vinha pensamentos assim do passado de recorda es tudo do que aconteceu comigo antigamente da eu na gesta o at me sentia suja n o queria a gravidez fazia assim se sentia assim acho suja pelo que passei pela viol ncia do estupro que eu passei antigamente No terceiro trimestre as tr s mulheres expressaram a ansiedade de forma mais extrema esse terceiro trimestre de gravidez diremos que se trata de um per odo movimentado sen o atormentado do ponto de vista ps quico SZEJER STEWART 1997 p 235 Rosa e Sueli que j tiveram crises mentais anteriormente a essa ltima gravidez tinham apreens o pelo bem estar da crian a em rela o ao tratamento psiqui trico que realizaram Eu abandonei o rem dio eu tomei em Fevereiro Mar o e Abril Abril eu abandonei por causa da gravidez que eu tava projetando Mas tentou conversar com a psic loga que lhe atendeu antigamente sobre isso Da eu ia falar com a minha psic loga sobre isso at se qual era o risco que eu tava correndo de est
110. as tr s mulheres come aram a apresentar ansiedades com rela o ao filho que estava por vir A ansiedade pra mim ter logo os beb s nos bra os D bora Da voc fica com a expectativa Quando voc vai ver o rostinho dela Por mais que voc viu no computador tudo mas n o a mesma coisa quando voc fica ansiosa Falta ainda da voc vai contando os meses Porque at 6 meses passa rapidinho pra voc Mas quando chega no s timo oitavo e nono parece que demora uma eternidade Porque voc t esperando aquela coisa Entende Parece que o tempo 113 n o demora a chegar t demorando a passar o dia por exemplo parecia que era uma semana quando voc t gr vida Ent o bem complicado Sueli N o queria que nascesse essa crian a eu rejeitava Rosa Na realidade no caso de Rosa os sintomas ps quicos foram mais intensos durante toda a gravidez Com rela o D bora os sintomas somente apareceram ap s o nascimento do beb Com Sueli alguns sinais se apresentaram a partir do sexto m s de gravidez mas a situa o s saiu do controle quando a sua filha nasceu D bora e Sueli pareciam ter vivido uma gesta o de uma maneira menos conflituosa mais positiva n o havia rejei o D bora inclusive tinha a lembran a de que na gesta o foi muito mimada que foi um per odo timo Nove meses respeitou s o que eu queria e o que eu n o queria A forma
111. atamento e resist ncia ao internamento grande ansiedade e ang stia agita o falando muito e com um discurso repetitivo para convencer que deveria receber alta com dificuldade para ouvir e acatar orienta es que lhe eram feitas Contou aos profissionais que precisou do internamento porque deu um surto gritava pulava estava muito nervosa e via o diabo e tamb m porque eu s falava em Deus Por m n o concordava que precisasse do internamento e ao falar com o marido pelo telefone pediu roupas cigarros e que lhe tirasse de Alta a Pedido 7 Conten o no Leito uma t cnica terap utica de conten o f sica utilizada nos hospitais psiqui tricos indicada para pacientes extremamente agitados ou descontrolados com a finalidade de evitar danos integridade f sica da equipe de outros pacientes e de si pr prios al m de danos materiais A equipe deve ser devidamente treinada para evitar qualquer preju zo ao paciente que fica por um per odo de no m ximo 2 horas com seus membros amarrados no leito com faixas pr prias de conten o sob avalia o m dica e a observa o constante da equipe de enfermagem Alta a Pedido um tipo de alta solicitada pelo familiar que ficou respons vel pelo internamento do paciente sem o consentimento da equipe Funciona como um abandono de tratamento e devido a isso o 93 Quatro dias ap s a interna o a paciente teve um atendimento psicoterap utico individ
112. atitudes n o lhe permitiam uma postura mais aut noma na vida Para Rosa era a sua m e quem sabia e fazia tudo Isso possivelmente lhe trouxe dificuldades para assumir algumas responsabilidades como o fato de ser m e Ser m e responsabilidade Responsabilidade bastante Saber cuidar saber ter autoridade firme ali cuidar mesmo dos filhos e saber prote e proteger eles tamb m Porque eles s o muito pequenininhos depende muito da gente Proteger porque eu sou muito m e protetora Rosa As hist rias dessas mulheres com suas m es influenciaram na disposi o e na execu o de seus pap is maternos O instinto materno n o ocorre por si s a constru o de uma hist ria de do ura e amor que come a bem antes do nascimento bem antes da concep o na poca em que a m e imitando a sua consolava se de ser uma menina brincando de boneca e para al m mesmo da aventura edipiana na poca mais long nqua ainda em que sua pr pria m e cuidava dela beb MATHELIN 1999 p 29 Todas as mulheres possuem fantasias infantis relacionadas figura materna internalizada e o que varia s o os n veis de elabora o e supera o desses conte dos inconscientes Isso o que vai fazer diferen a na capacidade das mulheres de serem m es Winnicott lembrava isso com fregii ncia uma m e naturalmente boa Se fracassar como m e que traz em si uma ferida bem mais antiga que jamais se fechou s vezes
113. buir para o aprimoramento das pol ticas p blicas voltadas para a sa de da mulher mais especificamente para a sa de mental da mulher a partir de programas e a es mais pr ximas das necessidades que se apresentam Contribuir para a elabora o de medidas preventivas e de promo o sa de mental de mulheres gestantes e pu rperas no intuito de evitar um sofrimento psicol gico intenso e atender s crises mentais frente maternidade o mais cedo poss vel 81 4 M TODO Nesta se o ser abordado sobre a escolha do m todo de pesquisa e em seguida ser explicitado como foi feita a escolha dos sujeitos a descri o da institui o onde ocorreu a pesquisa os instrumentos e procedimentos utilizados para a coleta de dados os aspectos ticos abordados e garantidos bem como a an lise e compreens o dos resultados conforme se pode refletir 4 1 A PESQUISA Tratou se de uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo transversal que buscou por meio da an lise de discurso a compreens o dos significados que os sujeitos participantes da pesquisa expressaram sobre a complexidade das experi ncias das mulheres Considerando a tem tica deste estudo significa es de mulheres a respeito da maternidade buscou se utilizar os procedimentos metodol gicos mais adequados aos objetivos referidos A pesquisa qualitativa representa uma forma de construir conhecimentos cient ficos por meio de uma an lise mais profunda de f
114. cessam Desaparecem os sintomas f sicos e aparecem os sintomas ps quicos mostrando em alguns casos crises de ang stia e pesadelos Nos primeiros tr s meses ocorreu a forma o da placenta lugar de troca entre a m e e o seu beb S o essas trocas que mais caracterizam esse per odo Os movimentos do beb marcando cada vez mais a sua presen a podem trazer para a mulher uma experi ncia de extremo prazer Outras mulheres podem perceber esses movimentos de maneira mais negativa como por exemplo ataques do beb em seu ventre devido a um mecanismo inconsciente de proje o quando a m e est identificada com uma imagem de feto terror fica 49 A forma como a mulher vem cuidando de si nessa gravidez como na sua alimenta o e no seu modo de vestir se por exemplo s o comportamentos que expressam como ela est vivenciando essa experi ncia assim como o lugar que vem se fazendo para essa crian a As ang stias desse per odo podem ter rela o com uma antecipa o da separa o que ocorrer entre a m e e o beb posteriormente com o nascimento Para cada mulher vai depender das suas hist rias de abandonos e separa es e de suas elabora es a partir disso para verificar as qualidades das altera es e ang stias que sofrer Os movimentos do beb v o evidenciando uma autonomia progressiva que o feto vai adquirindo podendo ser percebido agora pela m e como algo distinto dela O estado de ansiedade pode se
115. cimento a uma perda ou a uma doen a COSTA 2010 p 58 80 3 OBJETIVOS O problema central da pesquisa foi compreender os significados que as mulheres d o maternidade quando diante da gesta o ou ap s o nascimento do beb necessitaram de um tratamento psiqui trico em regime de interna o Partindo da aproxima o de algumas mulheres que se encontravam internadas por essa dificuldade puerperal ou que estavam novamente internadas ap s uma reagudiza o do quadro psiqui trico desencadeado no puerp rio buscou se conhecer suas hist rias de vida e condi es subjetivas frente feminilidade e a maternidade Acredita se que o conhecimento das experi ncias dessas mulheres e das significa es que lhes deram um sentido poder contribuir para um maior entendimento sobre o desencadeamento e o tratamento de transtornos mentais nesse per odo de vida em que a mulher torna se m e Foram objetivos espec ficos desta pesquisa investigar Por meio de suas hist rias subjetivas levantar dados sobre como essas mulheres representam para si a fun o materna bem como as mudan as que surgiram em suas vidas a partir deste acontecimento e como est o podendo lidar com isso Verificar como essas mulheres em tratamento puderam vir a ocupar se de seus filhos suas ang stias e expectativas sobre o encontro ressaltando que ficaram separadas de seus beb s por terem sido internadas no hospital psiqui trico Contri
116. cimento assim garantiria uma maior aproxima o com as mulheres para saber como est o se adaptando a respeito de todas as mudan as que ocorreram com a vinda de um filho Faz se essencial capacitar as equipes para terem um olhar sobre a sa de mental das mulheres possibilitando que consigam identificar e avaliar as apresenta es cl nicas do sofrimento mental comum e do sofrimento mental mais grave E a partir disso fazer o monitoramento ativo dessas mulheres prestando apoio e uma escuta cl nica por meio de atividades de psico educa o oficinas grupos operativos grupos de escuta grupos de apoio terapia comunit ria entre outros de forma que v rias mulheres possam ter um espa o de trocas de experi ncias sobre as emo es de serem m es muito relevante divulgar para a popula o e para as equipes da Aten o Prim ria que recebem primeiramente as gestantes e fazem o acompanhamento dos pr natais sobre a vulnerabilidade das gestantes e pu rperas com rela o sa de mental importante aumentar o tempo de acompanhamento o n mero de consultas fazer uma busca ativa pelos agentes comunit rios e principalmente passar a considerar a sa de mental nos protocolos Em discuss es sobre o acesso aos servi os de sa de e na ltima Confer ncia Estadual de Sa de do Paran realizada em 2011 ficou muito claro uma preocupa o em como captar as mulheres para que fa am os acompanhamentos regulares do pr nata
117. co 37 2 1 1 Da import ncia da maternidade na estrutura o da feminilidade 39 2 1 2 A pre historiada gravidez assa id SS o EaD PP ia 44 2 1 3 O primeiro trimestre da STAVIDOZ saio a ENO A 45 2 1 4 O segundo trimestre da DravIdEA ss pa aa acusa sa 48 2 1 5 O terceiro trimestre da PTAVIDCL cepas aa NEEE 49 XEO O paro a e SC EAEE 52 2 1 7 O quarto trimestre da gravidez Puerp rio esesssesssesesssressressesserrsseersseessre 58 22 Os friment ps quico eas DSICOSES cse GA a 70 3 OBJE PIVOS a a EEEE NG A e E 80 ANE TODO ooa Ea E O a E 81 A PESQUISA A E EE EE EEE E E E E E REEE 81 4A StU LOG E PERDE ONA RPE RD RR ORAR OO ODDS MIR TON ORE RR 85 4A 3 AS Colaboradoras q esti ss sissisais it sostadss polca tis rs ad sua od atado Sa AU ale baia sS sais RS 86 4 4 Instrumentos e Procedimentos i e e a erre aee er N 88 5 RESULTADOS E DISCUSS O 91 5 1 A maternidade e sua import ncia no desencadeamento do sofrimento psic tico Casos CMICOS RR RR ART ED e a RR RC RR RR RR RR E AR ie aN 91 5 1 1 O Primeiro Caso Cl nico Caso Piloto rir 91 3 1 2 O Segundo C s CINICO cetges st foras a e Sana Fl 98 Aa O Terc tr Caso CHNICO hci sisiesntis iea A o eii istes EEG Et 102 5 2 Das entrevistas com D bora Sueli e Rosa Categorias de An lise 107 Quem eram essas mulheres Dados de Identifica o
118. co no per odo puerperal mas anterior a este ltimo tratamento hospitalar Ou seja mulheres que estavam num tratamento subseqiiente devido a uma reagudiza o do quadro psiqui trico Mesmo assim mulheres que se lembravam e at mesmo ainda sentiam os reflexos da experi ncia desse sofrimento marcado em suas vidas e rela es Considerando alguns crit rios de inclus o e de exclus o definidos durante a estrutura o do projeto primeiramente quatro mulheres foram convidadas a participar da pesquisa Das quatro mulheres que foram acompanhadas duas encontravam se propriamente no per odo puerperal sendo que uma foi internada dois meses ap s o parto e a outra quando o seu beb tinha apenas 13 dias Ambas apresentavam sintomas psic ticos agressividade e descontrole da situa o Necessitaram de interna o psiqui trica ou seja de um tratamento integral com acompanhamento multidisciplinar e f rmaco terap utico para se reorganizarem psiquicamente e voltar ao lar e fam lia Nenhuma interna o psiqui trica tinha antes ocorrido para uma delas sendo a sua primeira manifesta o de desorganiza o mental J a outra tinha tido duas crises 87 mentais anteriores sem liga o com a maternidade e uma interna o psiqui trica mas por um per odo curto de tempo 5 dias Este era o seu segundo internamento As outras duas mulheres tiveram a experi ncia da depress o p s parto e da psicose puerperal respectivamente e s
119. com os maridos apesar de terem uma rela o conflituosa com eles Sueli n o tinha ci me mas tinha preconceito sendo influenciada pelos coment rios pejorativos das pessoas E o povo o povo dizia claro claro isso normal Como que voc pode levar uma vida com um velho Como que voc explica que voc vive com um velho Carlos Anteontem a gente subindo essa rua aqui n s amos numa loja faltou alguma coisa pro beb a pra creche e uma cabeleireira p ssima cabeleireira por sinal dessa rua perguntou assim pra ela me diz uma coisa quem o pai da crian a Quem o pai desse beb a Sabendo sabendo que a gente tem um casamento civil e que ela mora aqui h 13 anos E Sueli reagiu s podia ser do meu marido o que voc acha Carlos Sueli tinha um marido bem mais velho que ela Tinham uma diferen a de idade de 42 anos e moravam juntos desde que ela tinha 14 anos Aos 72 anos Carlos tinha idade de av Talvez para Sueli idade de pai Perdeu seu pai quando crian a e em seguida sua fam lia desmoronou De alguma forma Carlos lhe dava uma prote o e uma condi o de vida melhor Ah uma rela o legal Na verdade ele a minha prote o Me protege de todos os perigo Eu sei que quanto enguanto eu to do lado dele eu n o tenho medo de nada de enfrentar nada S que sozinha eu n o sou ningu m E sou nada Eu tenho essa prote o de
120. com seu beb um estranho a ela assim como o em todos os nascimentos confirma que a maternidade n o uma condi o natural o 148 caso da m e com o beb tampouco est o dadas natural ou simbolicamente as garantias de que venha a se constituir um la o m e filho a partir do encontro de uma mulher com o corpo real do neonato rec m parido JERUSALINSKY 2011 p 17 2 E preciso construir uma rela o entre eles que n o se d por um instinto mecanicamente mas pela constru o de uma rela o simb lica com a crian a E o que seria criar um la o simb lico com o beb O la o m e beb n o efeito nem do instinto previamente estabelecido como um saber da esp cie acerca de ser m e nem do que pode ser racionalmente aprendido Tampouco de um quantum de afeto materno Este la o para seu estabelecimento depende de que os cuidados que a m e dirige ao beb estejam permeados por uma s rie de opera es ps quicas que implicam sua economia de gozo e sua transmiss o inconsciente de um saber JERUSALINSKY 2011 p 14 Para criarem esse la o eles precisam de contato s vezes juntos e sozinhos Sem isso os sentimentos de inseguran a e incapacidade tomam conta D bora chorava e falava de n o saber mais cuidar de um beb do medo de n o conseguir fazer nada Tudo Tudo eu n o consigo fazer nada N o sei eu n o me sinto capaz de cuidar dele entendeu E s dele Eu me sinto c
121. como a mulher vem mostrando se durante a gravidez se est cuidando de si ou n o s o comportamentos que expressam como ela est vivendo essa experi ncia assim como o lugar que vem se fazendo para essa crian a Na gravidez Rosa esteve agitada observava se descuido pessoal e que estava muito mal J tava mal j Da Lia quando eu tava n o tomava banho n o queria que ningu m me tocasse A eu n o queria me cuidar tentei me matar me suicidar tentei me destruir tamb m A gente pensou que ela at ia abortar a crian a porque ela sa a na chuva andava por a por tudo sem rumo sem destino nenhum n o avisava ningu m Roberto O segundo trimestre da gravidez segundo Szejer e Stewart 1997 geralmente caracterizado pela diminui o dos sintomas f sicos mas em contrapartida tem se uma acentua o dos sintomas ps quicos traduzidos muitas vezes por crises de ang stia e pesadelos Sueli come ou a ter pensamentos ruins Medo de que o beb nascesse com problema Que o nen m podia nascer igual a minha outra Esse era o meu medo e maus pensamentos ligados hist ria do assassinato da amiga que ocorreu na sua 114 presen a quando era adolescente Aquela mo a ali que acontecendo tudo aquilo vinha muito a imagem dela na minha cabe a Rosa tinha pesadelos n o dormia bem achava que iam fazer mal para o beb Ficava alguns dias sem dormir Uns di
122. contradit rios dom nio de seus projetos de vida e com o favorecimento da constru o de v nculos torna se mais poss vel uma sustenta o da fun o materna N o se pode esquecer a mulher um todo N o m e n o mulher n o esposa n o profissional tudo isso e algo a mais Cada uma com a sua hist ria e particularidade buscando um modo de sobreviver entre as exig ncias internas e externas da vida Por isso as mulheres devem ser atendidas na integralidade de seu ser ou o mais pr ximo disso A maternidade um direito um dever uma obriga o Poder existir uma humanidade sem filhos SOIFER 1980 p 15 175 REFER NCIAS APPIGNANESI L Tristes Loucas e M s A hist ria das mulheres e seus m dicos desde 1800 S o Paulo Record 2011 ASSOCIA O PSIQUI TRICA AMERICANA Manual diagn stico e estat stico de transtornos mentais 4 ed Porto Alegre Artes M dicas 1994 BADINTER E Um Amor conquistado o mito do amor materno Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 BADINTER E O Conflito a Mulher e a M e Rio de Janeiro Record 2011 BENAVIDES F BOUKOBZA C A Cl nica do Holding In Palavras em torno do ber o interven es precoces beb e fam lia 2 ed Salvador Agalma 1997 BOUKOBZA C A rela o de uma m e psic tica com seu filho acompanhamento de um caso m e beb em um Hospital Dia In O beb e seus int rpretes cl nica e pesquisa S o Paulo
123. cotomia raspagem dos p los pubianos enema lavagem intestinal f rceps v cuo extrator acelera o do processo de delivramento retirada for ada da placenta Embora essas interven es devam ser utilizadas se necess rias o que se observa a utiliza o de forma rotineira Segundo o Programa Humaniza o no Pr Natal e Nascimento 2002 do Minist rio da Sa de um parto humanizado aquele que tem como preceito a ado o de medidas e procedimentos que sejam ben ficos para a m e e o beb evitando portanto pr ticas intervencionistas desnecess rias Estas s o frequentemente utilizadas no Brasil e muitas vezes acarretam algumas complica es para a dupla m e e beb durante o nascimento Sem d vida existem situa es espec ficas que demandam algumas interven es para salvar a m e e o beb e nesse caso a equipe obst trica dever ter autonomia para decidir No entanto a autoriza o da gestante dever sempre ser solicitada e para tanto preciso que ela seja informada de todos os procedimentos que precisar o ser adotados 58 O trabalho de parto e o momento do nascimento devem ocorrer se poss vel sem traumas e de maneira confort vel para as mulheres N o existe nenhuma maneira correta de nascer e de se comportar durante o parto Por isso fundamental que haja um bom relacionamento entre as gestantes e a equipe de sa de que ir o atend las Outro aspecto importante sobre a
124. da vida dessas mulheres Foram considerados os seguintes crit rios de inclus o e exclus o para o convite s participantes desta pesquisa Crit rios de Inclus o e Mulheres maiores de 18 anos e Mulheres que se encontravam internadas no hospital psiqui trico 88 e Mulheres que foram internadas devido a um sofrimento ps quico relacionado gesta o parto e puerp rio e Mulheres que estavam numa interna o subsequente devido a uma reagudiza o do quadro psiqui trico desencadeado no per odo puerperal e Mulheres que concordassem em participar da pesquisa ap s o esclarecimento que suas identidades seriam preservadas e a apresenta o e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Crit rios de Exclus o e Pacientes que apresentaram comprometimentos graves que limitariam os atendimentos e a compreens o das entrevistas 44 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS O foco da pesquisa era relativo experi ncia de algumas mulheres frente maternidade e ao desencadeamento de um transtorno mental Foram realizadas entrevistas abertas e semi estruturadas em meio aos atendimentos psicoterap uticos individuais das cinco participantes que se encontravam internadas no hospital psiqui trico valorizando a escuta cl nica e psicanal tica importante frisar que o processo psicoterap utico era priorit rio por m com a permiss o e concord ncia das participantes estes foram gravados e posterior
125. das ansiedades persecut rias e depressivas e sobretudo caso essas pessoas por seu comportamento permitam que as fantasias terror ficas tenham vislumbres de veracidade a depress o puerperal se intensifica chegando s vezes a limites penosos SOIFER 1980 p 82 Se foi um fato em si ou um del rio persecut rio o que importa a realidade ps quica Na neurose e na psicose observamos um predom nio da realidade ps quica na vida do sujeito Em Laplanche amp Pontalis 1999 p 426 realidade ps quica uma Express o utilizada muitas vezes por Freud para designar aquilo que no psiquismo do sujeito apresenta uma coer ncia e uma resist ncia compar veis s da realidade material trata se fundamentalmente do desejo inconsciente e das fantasias conexas Segundo Soifer 1980 e Felice 2000 os sintomas persecut rios equivalem ao temor de ser atacada ou destru da provindo as amea as de objetos externos ou internos A paranoia surge de mecanismos inconscientes proje es de aspectos destrutivos e de fantasias inconscientes do pr prio sujeito Quando h correspond ncia com a realidade da presen a de objetos externos hostis e negativos as rela es tornam se muito conflituosas 142 O fato que a sogra de D bora estava realmente cuidando de seu beb enquanto ela estava em tratamento E quando D bora foi para casa durante a licen a n o conseguiu ficar com ele sendo pressionada a deix lo com a sogra
126. de natureza feminina O meio as press es sociais o itiner rio psicol gico parecem sempre pesar mais do que a fr gil voz de nossa m e natureza Podemos lamentar ou nos felicitar mas a m e humana n o tem sen o um v nculo muito distante com sua prima primata BADINTER 2011 p 70 e71 Al m disso cada mulher vai ter que lidar com aspectos inconscientes a respeito da figura materna que internalizou e sobre os diferentes modos de satisfa o poss veis considerando que o registro f lico apenas um deles Isso porque tamb m n o h um jeito nico de ser mulher Considerando a intensa vulnerabilidade da mulher diante da maternidade foi realizada uma pesquisa in dita intitulada Gesta o Parto e Puerp rio o sofrimento psic tico de algumas mulheres de Guedes 2006 O objetivo central era compreender as poss veis rela es entre a experi ncia da gesta o parto e puerp rio e o desencadeamento de um epis dio de natureza psic tica Guedes 2006 partiu de reflex es acerca de uma institui o psiqui trica da rede p blica de sa de do Estado do Paran por meio de atendimentos psicol gicos a uma unidade de interna o para mulheres adultas portadoras de transtornos mentais muitos deles ligados gesta o ou puerp rio A pesquisadora pode observar a freq ente 34 ocorr ncia de mulheres que se encontravam bastante desestruturadas psiquicamente com um hist rico recente de
127. de 39 sendo que nos Estados do sul sudeste e centro oeste a taxa ainda maior que 40 O Minist rio da Sa de realiza campanhas a favor do parto natural considerando que h maiores benef cios para a m e e para o beb Este defende que o v nculo pessoal entre eles facilitado que a recupera o da mulher mais r pida que o custo financeiro menor e que se diminuem os riscos de infec o hospitalar hemorragias ou de falhas inesperadas consequentes da analgesia Desta forma portanto a incid ncia de morte materna menor do que nos casos de parto cesariana Cada mulher tem uma ideia anterior sobre o parto e deve fazer a sua escolha a partir do seu desejo e tamb m verificando qual o limite de dor que consegue suportar N o obstante fundamental que a mulher tenha acesso a toda forma de informa o para que a sua decis o seja de maneira respons vel e resulte em um nascimento seguro Diante da especificidade de cada mulher as equipes precisam valorizar os sentidos e sentimentos que envolvem as mulheres com rela o ao parto os quais muitas vezes s o evidenciados por meio de fobias ang stias e desejos muito pessoais muito importante permitir que a gestante participe ativamente de todas as decis es que forem sendo tomadas com rela o ao parto ou seja quanto ao lugar que acontecer quanto equipe que ir lhe atender quanto ao m todo que ser utilizado entre outras particularidades Respeitar
128. de da mulher Valoriza se a necessidade de preparar melhor os profissionais neste campo multidisciplinar bem como estimular a vontade pol tica e a organiza o descentralizada do sistema de sa de para alcan ar melhores resultados Tamb m identifica a import ncia de investir em pesquisas ampliando os temas para al m das campanhas de doen as sexualmente transmiss veis e de preven o do c ncer de mama e do colo do tero O artigo sinaliza alguns centros de excel ncia no atendimento mulher nas suas diversas fases reprodutivas tendo em vista medidas preventivas e a preocupa o em aproximar se progressivamente do campo da sa de mental Embora esses centros funcionem de forma original verificam se dificuldades a serem superadas como a falta 15 de financiamento a baixa produtividade em pesquisas e o treinamento inadequado dos profissionais Dentre os centros especializados de apoio sa de da mulher citados interessa presente pesquisa o Projeto Pr Mulher voltado para a aten o sa de mental da mulher Este foi fundado em 1993 pelo psiquiatra Dr Claudio Soares dentro do Instituto de Psiquiatria do Hospital de Cl nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de S o Paulo O servi o realizado por uma equipe multiprofissional que atende as mulheres que sofrem de transtornos mentais relacionados ao ciclo reprodutivo como os transtornos disf ricos pr menstruais os transtornos de humor e ansiedade pr
129. de para Gesta es de Alto Risco bem como a preocupa o com um parto humanizado e um p s parto quase sem riscos Este foi um trabalho pioneiro no Brasil que vem sendo incorporado em outras regi es do pa s Ap s 10 anos do Programa M e Curitibana em 2009 foi criada a estrat gia do Pai Presente no Pr Natal pela Secretaria de Sa de de Curitiba com o objetivo de fortalecer o v nculo do futuro pai com a mulher e a gesta o e de cuidar da sa de masculina estimulada uma participa o mais ativa do homem no processo de gesta o seja na forma de oficinas educativas rodas de conversa com profissionais de sa de visita maternidade marcada para o parto acompanhamento do parto exames e vacinas Ambos futuros pais devem ser orientados e preparados para as mudan as causadas pela gravidez e pela chegada do beb Em Mar o de 2011 pela Portaria n 1459 foi lan ada pelo Minist rio da Sa de a Estrat gia Rede Cegonha que operacionalizada pelo Sistema nico de Sa de SUS fundamentada nos princ pios de humaniza o e assist ncia onde mulheres rec m nascidos e crian as t m assegurados direitos para ampliar o acesso e a qualidade do pr natal a realiza o de partos seguros e inclui garantia de transporte acompanhantes e locais espec ficos e adequados de atendimento hospitalar a aten o eficiente a crian as de 0 a 2 anos e o acesso ao planejamento reprodutivo Apresenta uma rede de aten o que deve g
130. de sa de na fun o de acompanhantes terap uticos das mulheres em sofrimento mental puerperal Seria a cria o de novas pr ticas de atendimento oferecido pelo sistema de sa de numa vis o a mais do que a equipe pode oferecer s mulheres al m de esperar que elas busquem tal ajuda A cria o do Programa M e Paranaense a menina dos olhos da gest o de 2011 a 2014 da Secretaria de Estado da Sa de do Paran e tem por prioridade organizar de maneira mais eficaz os pontos de aten o para atender s gestantes e seus filhos de 172 forma a minimizar as diferen as entre as regionais de sa de bem como melhorar os ndices de morte materna principalmente as mortes por causas evit veis Tudo isso fundamental no entanto a partir dos atendimentos no campo da sa de mental e da verifica o de diversas hist rias de mulheres que entraram num sofrimento mental a partir da maternidade v se como ainda muito incipiente as pol ticas p blicas para alcan ar essas situa es preciso valorizar tamb m o alto ndice de adoecimentos e n o somente o de mortes maternas Guedes 2006 levantou que 31 das mulheres que estavam internadas no hospital psiqui trico num determinado per odo eram por transtornos mentais desencadeados na maternidade e esse um ndice bastante significativo A partir dos dados fornecidos pela Secretaria de Estado da Sa de do Paran referentes aos anos 2010 e 2011 de morte materna
131. direito de nascen a inferior permitir que as energias fossem drenadas pelo esfor o intelectual ou da imagina o levaria ao colapso nervoso ou quela espa osa lista de sintomas que com muita frequ ncia vinham sob o abrangente 31 diagn stico de neurastenia ou de sua vizinha pr xima a histeria APPIGNANESI 2011 p 115 e 116 Esse determinismo a falta de liberdade da mulher em escolher de que forma se realizar que a coloca escrava da fun o maternal para alcan ar uma felicidade n o traduz o desejo de todas as mulheres e evidencia uma press o social velada no mito do amor materno Z E necess rio portanto colocar em quest o que cada mulher possui uma posi o particular frente maternidade uma vez que sofre influ ncias sociais psicol gicas hist ricas e culturais considerando as diferentes pocas e costumes em que vive Badinter 1985 refere que o amor materno como qualquer outro sentimento humano portanto incerto fr gil ambivalente e imperfeito Para acrescentar discuss o em outra obra t o pol mica quanto primeira por m mais recente e intitulada O conflito a mulher e a m e 2011 Badinter problematiza uma nova mudan a que vem ocorrendo quanto s mulheres e maternidade A autora retoma que desde o final dos anos 1970 as mulheres com a ajuda dos anticoncepcionais passam a buscar uma maior liberdade e uma igualdade com o sexo oposto Aspiram por coisas difere
132. do o parto sem a necessidade de interfer ncia cir rgica nem anest sica H outras formas de prepara o para o parto como a sofrologia a haptonomia e a ioga A toler ncia dor durante o parto est relacionada tamb m ao estado emocional da mulher O trabalho de parto um processo cont nuo de progressivas dilata es e contra es que v o indicando uma intensidade de dor 54 A anestesia geral passou a ser raramente utilizada porque causa efeitos depressivos na m e e no beb tendo sido substitu da por outros tipos de anestesia as de bloqueios espinhais Esse novo tipo de analgesia funciona a partir de um bloqueio motor permitindo um parto sem dor e consciente Atualmente a peridural bastante utilizada inclusive nos partos naturais como proposta de um parto normal sem dor No parto cesariana a defini o da anestesia a ser utilizada depende de alguns fatores como a indica o cir rgica o n vel de urg ncia a avalia o do anestesista e a vontade da mulher Sua vontade t o importante quanto s outras vari veis pois a respeitando a mulher ter maiores possibilidades de sentir se calma e em equil brio nesse momento De acordo com Szejer e Stewart 1997 muitas mulheres vivem grandes dilemas quanto escolha do parto pelo qual seus beb s ir o nascer Algumas acreditam que somente se sentir o mulheres se continuarem com a tradi o familiar a qual valoriza o parto normal prot tipo da mulhe
133. e acabou se aposentando Comecei com um e terminei com outro Sueli C que eu tive que mudar de cidade pra fazer o parto Pra outra cidade com aquela dor terr vel D bora Com isso logicamente n o houve planejamento nem conversa sobre o parto e nem mesmo estabelecimento de uma rela o de confian a Ambas tinham muito medo da dor cada uma por sua particularidade e sem d vida as duas iriam se beneficiar de um tratamento mais estruturado que pudesse acolh las mais Mas n o foi o que tiveram Rosa e D bora que utilizaram os servi os do SUS n o tiveram acompanhante no parto conforme prev a Lei 11 108 sancionada em 07 de Abril de 2005 Na pr tica isso muitas vezes n o ocorre alguns hospitais referem que n o t m estrutura que comporte o acompanhante Pode se aqui pensar se n o existe uma resist ncia por parte dos hospitais que vai al m da falta de estrutura de forma a n o conseguirem cumprir a lei uma resist ncia mais direta para com a presen a do acompanhante como um personagem a mais muitas vezes ansioso curioso intrometido Cabe s maternidades o ajuste do olhar para esse novo integrante redimensionando o espa o f sico e a abordagem da equipe no sentido de potencializar a sua presen a BRASIL 2007 p 23 SUS Sistema nico de Sa de 124 Rosa contou que o marido s podia comparecer nos hor rios de visita e que ningu m dormia com ela E que hospital
134. e que foi realizado pela assistente social Esta informou sobre os sintomas que a paciente apresentou no surto como um discurso religioso via vultos o diabo pessoas mostrando a l ngua e debochando dela e falava muito que as pessoas tinham feito macumba Esses sintomas surgiram depois que o seu filho mais velho ficou doente foi hospitalizado por 3 dias e isso deixou a muito preocupada Chegou a procurar uma benzedeira porque n o acreditava que seu filho iria melhorar Tudo era vivido com intenso sofrimento porque ele n o tava melhorando mesmo de verdade ele n o tava melhorando pelo menos eu n o enxergava que ele tava melhorando Nesse atendimento ainda o irm o da paciente solicitou que passasse a ser ele o respons vel pela interna o porque temia que o marido a tirasse de Alta Pedido pois j estava vendo um m dico especialista em florais na cidade deles Essa mudan a foi autorizada e na hora da paciente retornar unidade teve que ser trazida for a porque 97 se recusava a voltar No mesmo dia teve atendimento psicoterap utico individual D bora pedia muito para ir embora para cuidar de seus filhos continuava sem cr tica sobre a necessidade do tratamento estava muito inst vel ansiosa mas aceitando bem o contato Nos dias seguintes pedia para ir embora cuidar dos filhos do marido e arrumar um emprego Dizia se preocupada com a situa o financeira que era ruim e que tinha que ajudar s
135. e adequado seus pais se separaram quando D bora tinha 2 anos de idade Desde ent o o contato com o pai alcoolista foi ausente e ela foi criada pelos av s maternos Por m quando tinha 7 anos seu av faleceu e aos 12 anos faleceu a av Foi ent o que ela e sua m e passaram a morar com os tios Come ou a se relacionar com o tio porque este come ou a lev la em barzinhos comprava bebidas e n o a deixava sair sozinha Insistia em ter alguma coisa com ela que nunca tinha beijado ningu m at que um dia ela cedeu Disse que n o sentia nada por esse tio mas que este lhe foi apresentando coisas que lhe agradavam Depois sentiu como se tivesse uma paix o louca por ele Tinha informa es sobre m todos contraceptivos mas disse que era nova e sem juizo Quando engravidou foi combinado da institui o a de que o paciente n o leve receita nem medica o psiqui trica ao sair do hospital 94 descoberta pela fam lia e eles viraram as costas Seu tio e amante passou a amea la e a agredi la chegando at a tentar mat la N o assumiu a paternidade Nessa poca ela tinha parado de estudar na s tima s rie porque precisava trabalhar Contou que n o tinha paz na escola e que todo mundo a xingava Trabalhou como bab e empregada dom stica e ganhava R 50 00 por m s Toda vez que a paciente se referia a essa rela o anterior apresentava se chorosa e com bastante sofrimento Meu filho mais v
136. e apresentam sinais e sintomas ps quicos na gesta o Ficou evidente a necessidade de priorizar o cuidado com o cuidador fazendo a maternagem da m e quando preciso Palavras chaves sa de mental maternidade sofrimento mental pol ticas p blicas psican lise ABSTRACT GUEDES Aline P MENTAL HEALTH AND MATERNITY subsidies for mental health policies in Paran 2012 185f Dissertation Master s Degree in Social Science Maring State University Maring 2012 The gestation process childbirth and puerperium are propitious to develop emotional disorders in different levels This research tries to comprehend the meanings that some women attribute to maternity based on the experience of being interned in a psychiatric hospital The treatment was necessary due to the intense mental suffering added to psychiatric symptoms that prevented them from executing motherhood fully as well as taking care of themselves There s a lack of political policies and programs aiming the treatment of these women and the ones that exist are not specific and prepared for treating mental health with emphasis on gender This dissertation is based on qualitative research of descriptive transverse kind in Qualitative Epistemology prospect using psychoanalysis theoretical reference Three clinical cases of women who were interned in a psychiatric hospital after a crisis of psychosis in puerperium period were presented The procedure of Clinical research was u
137. e como os transtornos s o sofridos mas tamb m como s o vividos ao longo do tempo Revelam claramente que a vida pode ser produtiva e marcada ou pontuada pela loucura e pela tristeza sem falar na maldade APPIGNANESI 2011 p 20 Em seguida apresenta o dos tr s casos ser o apresentados ao leitor a an lise e discuss o dos elementos que surgiram dos atendimentos psicoterap uticos entrevistas que foram gravados e posteriormente transcritos evidenciando as informa es mais relevantes das suas hist rias de vida e que d o sentidos experi ncia dessas mulheres junto maternidade Para isso o cap tulo ser subdividido em categorias de an lise de acordo com a refer ncia de n cleos de sentido ou temas que perpassaram a vida privada de cada mulher Vale ressaltar que esta uma tarefa complexa visto que ao valorizar a subjetividade nada irrelevante n o mesmo 5 1 1 O PRIMEIRO CASO CL NICO CASO PILOTO D BORA D bora estava com 20 anos ao ter a sua primeira interna o psiqui trica ap s dois meses do nascimento de parto normal de seu segundo filho Foi encaminhada para a interna o psiqui trica com a queixa principal de surto psic tico de cunho m stico altera o do comportamento e atitudes agressivas Chegou ao hospital psiqui trico 6 4 4 24 D bora um nome fict cio assim como todos os outros nomes e outros dados de identifica o mencionados nesta pes
138. e encontravam internadas devido a uma reagudiza o do quadro psiqui trico desencadeado no puerp rio uma na primeira interna o e a outra no seu s timo internamento o que denota uma cronicidade do quadro psiqui trico na vida desta Entretanto alguns meses depois em Novembro de 2011 internou uma outra mulher no per odo puerperal Rosa e optou se por essa hist ria Desta forma decidiu se por analisar as tr s hist rias das tr s mulheres que se encontravam internadas no per odo puerperal enquanto os outros dois casos n o seriam mais analisados para esta pesquisa A todas as pacientes selecionadas foi apresentado e realizada a leitura integralmente e em voz alta do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em ap ndice sem omiss o de qualquer item sendo acompanhado por leitura silenciosa pelas participantes Nesse documento informou se de maneira clara sobre a tem tica da pesquisa os objetivos e os procedimentos assegurando o sigilo e a confidencialidade dos dados fornecidos bem como as identidades das participantes Foi esclarecido sobre o direito desist ncia em qualquer momento da pesquisa e que a participa o seria volunt ria Tamb m se solicitou a autoriza o de um familiar que acompanhava o tratamento hospitalar das pacientes em visitas e atendimentos familiares sendo que este tamb m assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido sendo entrevistado para enriquecer de informa es a respeito
139. e o campo da pesquisa exige a redu o em um n mero limitado de sinais escolhidos inicialmente como observ veis e significativos Outra caracter stica segundo Giami 2004 que o momento de coleta do material ocorre na rela o estabelecida entre o pesquisador e um sujeito e o momento do tratamento coloca o pesquisador diante do conjunto de produ es desses sujeitos Mas preciso que haja uma suspens o da rela o com o sujeito quando o pesquisador for voltar se para a problem tica da pesquisa e para a an lise dos resultados dos materiais e discursos coletados Na pesquisa cl nica a valida o dos procedimentos de pesquisa fica situada entre a teoria e a experi ncia cl nica ela define a posi o do pesquisador cl nico em rela o do profissional tendo em vista que ela introduz um segundo dispositivo de leitura e da an lise do material depois de suspensa a rela o com o sujeito entrevistado GIAMI 2004 p 48 Considera se que o momento da coleta dos dados pode incitar a algumas interven es e segundo Giami 2004 isso pode ter vantagens aos sujeitos objetos da pesquisa Essa portanto a especificidade da pesquisa cl nica por m conseguir trabalhar entre os limites da interven o e da pesquisa uma tarefa complexa e que traz muitas dificuldades As entrevistas foram abertas e tamb m semi estruturadas pois havia uma pr via organiza o de roteiro em tr s partes Identifica o e Dados Demo
140. e origem passou por uma situa o muito prec ria e com n tida disfuncionalidade familiar Depois do falecimento de seu pai a fam lia estava disfuncional com problemas financeiros e segundo informou seu marido passou por situa es abusivas Sofreu ass dio e agress es de seu tio Foi uma inf ncia muito dif cil Em uma institui o psiqui trica comum encontrar na hist ria das pacientes situa es de abuso de natureza f sica e sexual E uma realidade triste que elas contam no decorrer dos atendimentos psicoterap uticos e que de alguma forma parece ter rela o com a experi ncia de sofrimento mental atual Rosa deixou muito claro que uma experi ncia de estupro vivenciada h mais ou menos 8 anos atr s repercute na sua vida incisivamente A cada experi ncia de gesta o e a cada ano nos tr s ltimos meses do ano mais especificamente quando o fato violento ocorreu ela apresentava um novo desequil brio e lembrava se com sofrimento intenso a experi ncia traum tica Isso acarretava em crises psic ticas e afetava as rela es familiares que ficavam bastante conflituosas 116 D bora tem v rias viv ncias de abuso em sua vida Contou que foi assediada v rias vezes na rua teve que se prostituir uma poca para conseguir dinheiro e foi assediada e envolvida pelo marido de sua tia quando era adolescente Tiveram por 2 anos um relacionamento conturbado que resultou em amea as agress es e no seu primeiro f
141. e psicose e v se tamb m a imprecis o quanto psicose puerperal Devido a isso nesta pesquisa considera se a exist ncia das psicoses assim como existem os sujeitos as suas hist rias e particularidades Mant m se como refer ncia a no o de sofrimento ps quico grave ou sofrimento ps quico do tipo psic tico 79 A express o sofrimento ps quico grave segundo Costa 2003 2007 apud Costa 2010 p 59 Um constructo que nos d liberdade para falar de crises intensas de cunho normal ou psic tico com a mesma considera o essencial ou seja a de que um sofrimento humano natural com peculiaridades e contextos pr prios que pode ser manifesto em indiv duos ou rela es Fala portanto de um fen meno existencial essencialmente humano a ang stia O sofrimento humano t o antigo quanto pr pria humanidade E muito antiga tamb m a busca por al vio e pela cura do mal estar sejam por meio de medicamentos religi es psicoterapias uso de subst ncias il citas entre outros inquietude ao desassossego e ao sofrimento humano precisa ser dado um sentido uma raz o uma causa um motivo para que se aplaque a ang stia do ser e abram se novas possibilidades de resolu o Cabe inicialmente enfatizar que no sofrimento humano est implicada uma diversidade de situa es sentimentos e experi ncias que comp em um mosaico de impress es e tonalidades afetivas diversas do nas
142. e se reconhecerem enquanto sujeitos separados 63 A falta do leite as dores no seio devido amamenta o as dificuldades de suc o do beb s o situa es que podem ocorrer e nem sempre a mulher consegue atravess las tranquilamente Se a m e consegue entender a situa o e toler la a lacta o vai se desenvolver sem inconvenientes entre uma m e paciente e um rec m nascido que lentamente aprende a despertar se e mamar SOIFER 1980 p 65 Assim se a mulher conseguir amamentar o seu beb com tranquilidade e confian a o aleitamento ocorrer sem transtornos mas se existir medo depress o dor tens o ansiedade e fadiga a lacta o poder fracassar aumentando muitas vezes as ansiedades e o sofrimento Essas emo es saud veis ou n o oriundas do processo de amamenta o sofrem influ ncia da identifica o com a figura materna inconsciente Assim as ansiedades referentes lacta o podem tamb m ter rela o com as fantasias infantis O ato de mamar e a poss vel dor podem despertar na mulher um sentimento de estar sendo agredida pelo seu beb como uma proje o dos ataques agressivos para com a sua pr pria m e internalizada luz desses conceitos a dor as rachaduras do seio os abscessos mam rios e o isolamento que levam a m e a se desligar do ambiente e da crian a respondem ao conflito inconsciente entre um desejo sexual incestuoso e a tend ncia repressiva oposta As fanta
143. ealidade significa em geral que o indiv duo avalia incorretamente a acuidade das suas percep es e pensamentos realizando infer ncias incorretas acerca da realidade externa ainda que em face de evid ncias contr rias A evid ncia direta do comportamento psic tico como toda a conjuga o de defini es e elabora es que se percebe nos dias de hoje a presen a de del rios ou alucina es de uma natureza patol gica que a caracterizam em termos de altera o ps quica GHISOLFI 2010 apud COSTA 2010 p 38 39 Na evid ncia desses sintomas psic ticos a cl nica psiqui trica desenvolveu uma s rie de categorias diagn sticas para os transtornos mentais sendo o transtorno mental mais conhecido a esquizofrenia H outros transtornos psic ticos como o transtorno delirante o transtorno esquizot pico o transtorno psic tico agudo e transit rio o transtorno esquizoafetivo o esquizofreniforme devido a uma condi o m dica geral o 13 induzido por subst ncia o transtorno de humor com sintomas psic ticos e o psic tico sem outra especifica o interessante destacar que a maioria dos encaminhamentos para interna o que chegam institui o em que foi realizada esta pesquisa recebe o diagn stico F 29 Transtorno Psic tico sem Outra Especifica o Tal fato pode evidenciar duas situa es a primeira de que os profissionais que t m contato inicial com a pessoa em surto n o se at m aos detalhes e
144. elho n o do meu marido De outra hist ria j bem dificil Durante o atendimento contou tamb m que a sua fam lia muito desunida que sempre foi assim e que gostaria que fosse diferente Quando saiu da casa dos tios foi morar com seu irm o mais velho D bora tem outros irm os dos novos relacionamentos de seus pais Possui um irm o de sua idade e mais duas irm s mais novas por parte de pai mas pouco tem contato com eles De sua m e tem um irm o com a mesma idade de seu filho mais velho ou seja ambas engravidaram praticamente juntas e seus filhos convivem bastante N o conviveu muito bem morando com o irm o pois queria sair ter sua liberdade Alugou uma casa para morar com uma amiga queria ter a minha vida pr pria e me virar sozinha Trabalhou por um tempo prostituindo se e parou quando conheceu seu atual marido Na ocasi o desse atendimento disse pretender voltar a trabalhar com isso ap s o internamento pois poderia trabalhar s noite e cuidar das crian as durante o dia Conheceu seu marido ainda quando eram crian as mas se reencontraram quando procuravam emprego numa f brica Encontraram se na rua foram para a casa dela e esqueceram do emprego Marcelo ficou morando com ela por dois meses n o tinham emprego e ela considera que ele foi melhorando da pregui a dele Contou que o per odo da gravidez foi timo porque seu marido a tratava super bem E porque durante a gravidez ele
145. empre por perto inclusive conseguindo amament la at os 6 meses Sueli desde o in cio n o quis cuidar do beb porque achava que n o era o seu Amamentou o por poucos dias e j teve que ser hospitalizada O exerc cio da fun o materna implica instaurar um funcionamento corporal subjetivado nos cuidados que realiza com o beb A m e se ocupa da economia de gozo do beb do olhar da voz da alimenta o da reten o e da expuls o das fezes do ritmo de sono e vig lia estabelecendo um circuito pulsional no beb que n o ter mais como prescindir do Outro para obter satisfa o Para tanto a m e nos cuidados que dirige ao filho articula a antecipa o simb lica relativa ao desejo que estabelecia para o beb um lugar suposto antes de seu nascimento sustenta o do tempo necess rio para que a constitui o do beb possa se produzir fazendo com seus cuidados certa supl ncia diante da imaturidade real do organismo do beb Somente a partir da circula o do circuito de desejo e demanda do la o m e beb por estes diferentes registros temporais o beb poder vir a apropriar se imaginariamente de seu corpo Fazendo o seu e transformando suas viv ncias em experi ncias que algum dia poder o vir a ser recapituladas por ele como sua pr pria hist ria JERUSALINSKY 2011 p 15 Diante dessa bel ssima descri o sobre a fun o materna poss vel refletir sobre a import ncia dos primeiros
146. en menos sociais complexos Aspectos das subjetividades opini es valores cren as e atitudes podem ser conhecidos a partir de uma pesquisa qualitativa bem articulada A caracteriza o enquanto uma pesquisa descritivo transversal foi devido a ser uma pesquisa que buscava trazer um novo conhecimento a respeito de um tema ainda pouco explorado no meio acad mico a partir da descri o dos dados coletados A partir de uma an lise cr tica da epistemologia das ci ncias naturais embasadas no positivismo largamente utilizada nas pesquisas psicol gicas e nas ci ncias sociais valorizou se a chamada Epistemologia Qualitativa que uma outra forma metodol gica que considera a cientificidade da subjetividade em seu car ter de objeto complexo Rey 2010 refere que o hist rico e o cultural est o expressos na constitui o das subjetividades dos sujeitos O sentido subjetivo e suas distintas formas de organiza o e processualidade constantemente envolvidas nos n veis simult neos das subjetividades social e individual est o permanentemente presentes nas diferentes atividades e rela es do sujeito que interage nos diversos espa os e contextos da vida social Por m sua presen a nas emo es e nos processos simb licos atuais do sujeito n o 82 significa que os sentidos subjetivos sejam suscet veis significa o consciente REY 2010 p 125 126 A Epistemologia Qualitativa pressup e que o conhecimento dado de m
147. enor grau as id ias depressivas e persecut rias o desejo de afastar se o abandono A sensa o dominante de haver perdido a pr pria personalidade e ser uma mera escrava do beb e do ambiente Quando a fam lia e os amigos podem colaborar de modo eficiente tais sensa es acabam por se transformar em carinho para com o filho em alegria pelo seu progresso e crescimento Mas como j dissemos se essa colabora o n o suficiente ou se mostra inadequada o estado 68 depressivo mesmo sem chegar psicose pode prolongar se SOIFER 1980 p 73 Casos mais alarmantes denominados de Psicose Puerperal s o caracterizados como quadros psic ticos de perturba es mentais severas verificando se significativas altera es de humor e de contato com a realidade achando se presentes idea es delirantes alucina es e altera es cognitivas Tentativas de suic dio e de ataques ao beb tamb m s o caracter sticas desse quadro Aspectos de melancolia com sentimentos de inutilidade incapacidade e autodeprecia o tamb m A incid ncia desses quadros de 1 a 2 1000 partos Tal estado se caracteriza como se sabe pelo rep dio total ao beb a paciente n o quer v lo aterroriza se com ele permanece triste afastada como que ausente Torna se ap tica abandonada nem sequer aceita dedicar se aos cuidados pessoais Pode sofrer ins nia inapet ncia Fregiientemente esse quadro se associa a id ias paran
148. erereea aeee rererereeranaaas 184 11 1 INTRODU O 1 1 AS POL TICAS P BLICAS A SA DE DA MULHER E A SA DE MENTAL O tema desta pesquisa para a disserta o do Mestrado Profissional em Pol ticas P blicas diz respeito sa de mental de mulheres gestantes e pu rperas Apesar da preocupa o deste trabalho estar em torno dessa particularidade feminina a maternidade desde o in cio coloca se como importante pensar sobre como se desenvolveram as pol ticas p blicas voltadas para a sa de da mulher como um todo ao considerar que as quest es materno infantis n o s o exclusivas da realidade de todas as mulheres Desta forma em toda a discuss o deste estudo torna se evidente uma posi o cr tica sobre a confus o que se faz entre as mulheres e as m es como se ambas fossem a mesma coisa naturalmente indissoci veis No Brasil come ou se a pensar em sa de da mulher no final da d cada de 1970 a partir de pol ticas p blicas de sa de voltadas para o acompanhamento das gestantes tendo como maior preocupa o o desenvolvimento saud vel do feto Consoante a esta poca as mulheres garantiam novas condi es para a sua vida Com o surgimento dos anticoncepcionais na d cada de 1960 ocorreram algumas modifica es contextuais que influenciaram no planejamento e elabora o das pol ticas de sa de com uma mudan a na considera o das prioridades A d cada de 1980 foi a poca de emerg ncia da Aids e de tran
149. ernidade ter mais chance de ocorrer se a mulher tiver uma identifica o tamb m positiva com a pr pria m e ou seja com a figura materna Durante o per odo puerperal se a mulher estiver identificada com uma boa m e ou seja capaz e competente isso vai colaborar para o sentimento de autoconfian a e seguran a para desempenhar o papel materno Ao contr rio uma identifica o com uma m m e incapaz e incompetente trar mais empecilhos para assumir o papel materno Na verdade deve se considerar que esta rela o objetal interna consiste em um dos mais importantes fatores ps quicos que v o influir sobre a qualidade das experi ncias emocionais da mulher durante o puerp rio FELICE 2000 p 70 Fatores como uma elabora o da individua o isto da sua separa o de seu beb a sua capacidade eg ica de colocar se disposi o para os cuidados do mesmo o apoio emocional recebido do ambiente familiar e social e os fatores biol gicos tamb m 61 facilitar o a experi ncia da maternidade e em algumas situa es a supera o de depress es Pines 1982 considera que uma experi ncia suficientemente boa com sua pr pria m e permite mulher pela via de uma regress o tempor ria devido gravidez de se identificar com uma m e onipotente e f rtil capaz de dar a vida e ao mesmo tempo com ela mesma crian a realizando assim uma matura o e crescimento de si s vezes a regress
150. es sentimentos fantasias e expectativas um acontecimento extraordin rio e geralmente a sociedade n o o leva em conta como sendo uma experi ncia de certa forma violenta vivida pela mulher Experi ncia que pode ser vivida de forma prazerosa ou dram tica ou cheia de entusiasmo Depender da particularidade de cada mulher mas preciso saber ouvi la para poder compreend la na sua singularidade entretanto infelizmente esse nem sempre o foco do social A mulher gr vida desaparece por tr s de seu ventre suas palavras ficam ocultas e toda a aten o dos homens se dirige ao feto que promessa de vida SZEJER STEWART 1997 p 119 Para al m da transforma o na vida da mulher h tamb m uma significativa transforma o na vida de toda a fam lia e do meio social imediato ou seja marido filhos av s tios entre outros Sobre o an ncio da gravidez e as consequ ncias disto Szejer e Stewart escrevem uma grande not cia para a fam lia porque esse novo membro que se anuncia altera os lugares redistribui pap is Alguns se sentem envolvidos outros talvez amea ados por essa exist ncia futura SZEJER STEWART 1997 p 111 Diversos estudos sobre a gravidez mostram que os sinais e sintomas org nicos v m acompanhados de particularidades que dizem respeito vida e a hist ria de cada mulher Particularidades que nem sempre podem ser explicadas pelo saber m dico pois h
151. es casos a inexist ncia de uma rede eficiente e integrada de sa de mental com as ESF Faltam tamb m a es de promo o da sa de de educa o em sa de e informa o A forma como a mulher vem cuidando de si na gravidez por exemplo na sua alimenta o e no autocuidado e os seus atos e falas muitas vezes contradit rios s o comportamentos que expressam como ela est vivenciando essa experi ncia assim como o lugar que vem se fazendo para essa crian a Entretanto preciso escut las e propiciar um espa o para que isso aconte a Este um dos pontos de conclus o Na medida em que haja uma abertura para que as mulheres interajam livremente falando de si mesmas durante consultas e grupos suas inquieta es e ou satisfa es ir o aparecer interessante que toda a equipe tenha uma escuta mais apurada para as emo es e contradi es e que fa am o encaminhamento quando necess rio a servi os mais especializados Durante a prepara o da alta das tr s mulheres houve indica o para o tratamento psicol gico associado ao tratamento psiqui trico As tr s mostraram serem mulheres com condi es de refletir e planejar a vida desde que tenham acompanhamento apoio e principalmente espa o para desenvolver suas ideias compartilhar seus medos ang stias e assumir suas imperfei es necess rio estimular a autonomia dessas mulheres A ambival ncia constitutiva do desejo e faz parte da estrutura o
152. estionada se sentia necessidade de falar dela respondeu Eu sentia mas ele nunca tinha ouvido s falava s falava A Deus o livre Sueli enfatizou que fez muitas amizades no hospital e que se sentiu muito isolada quando voltou para casa Afastou se da vizinhan a por causa dos coment rios sobre ela e o marido Chegou a pedir a ele para voltar ao internamento Porque na verdade aqui eu me isolei de todo mundo Eu n o conversava com ningu m na rua eu 137 n o atendia o telefone eu n o falava com ningu m s o meu marido Da eu comecei a me isolar porque l no Adauto Botelho eu conversava com todo mundo Todo mundo tinha seus problemas S que da aqui eu comecei a me isolar Ap s o internamento em que recebia as visitas do marido e as outras pacientes ressaltavam o cuidado que ele tinha com ela Sueli parecia estar valorizando mais essa rela o S que da depois desse internamento eu passei por cima disso Hoje hoje em dia nesse ano eu n o tenho vergonha dele andar na rua normalmente Eu vou no nibus saio na rua com ele vamos no mercado entendeu Tinha esse preconceito Sueli Z E comum verificar entre as mulheres que ficam internadas no hospital a forma o de alguns grupinhos amizades que come am a partir dessa troca de experi ncias e afinidades Mas n o comum que elas tenham amigas fora dali A RELA O COM AS M ES DO DESAMPARO MATERNIDADE As m es da
153. eu gosto deles mas s vezes d uma revolta nisso tamb m E eu n o gosto de fazer isso eu queria trabalhar e cuidar deles Acho que uma revolta Que eu sou revoltada por causa de n o ter arrumado servi o antes E de planejar o planejamento porque eu queria assim casar levar um tempo pra ter filho com condi o boa Rosa Rosa buscava conseguir administrar os dois pap is ou melhor os v rios pap is que uma mulher pode e quer assumir sua maneira n o sem dificuldades mas respeitando o seu desejo de trabalhar acolhendo e possibilitando que isso aconte a n o seria uma forma de ajud la Talvez sem ter que reprimir isso ou sentir se um monstro como m e ela pudesse relacionar se melhor com a maternidade No s culo XXI observam se algumas revolu es na quest o da mulher e a maternidade Desde que a mulher conquistou o campo profissional as configura es familiares transformaram se e consequentemente as exig ncias sobre as responsabilidades no cuidados com os filhos ficaram maiores Em cada cultura existe um modelo ideal de maternidade predominante que pode variar segundo as pocas Conscientemente ou n o todas as mulheres o carregam Pode se aceit lo ou contorn lo negoci lo ou rejeit lo mas sempre em rela o a ele que em ltima inst ncia se determinado BADINTER 2011 p 143 159 Mas cabe enfatizar uma diferen a nessa quest o entre as mulheres com maior esc
154. eu marido Come ou a participar um pouco mais das atividades do tratamento estava mais atenta e cooperativa orientada apesar de ainda ansiosa e repetitiva sobre a alta Com um m s de tratamento seu marido compareceu ao atendimento familiar que foi realizado pela psic loga Ambos participaram do atendimento e ele trouxe a informa o sobre o surto e de que D bora ficou com ci mes exagerado dele ap s o nascimento do filho ca ula Na gravidez ela foi bastante paparicada mas depois tudo voltou ao normal Marcelo informou que pouco atencioso em casa e acha que isso contribuiu para sua mulher ficar doente Ela disse que quer sair nos finais de semana enquanto ele quer ficar em casa porque est trabalhando muito nos outros dias Os dois falaram sobre as diferen as entre eles A D bora tem uma certa dificuldade de mostrar alegria n o gosta de piada e doente se fechou bem mais enquanto Marcelo brincalh o e mais aberto ao p blico Ele quer ser dono dos meus sentimentos afirmou a paciente Foi conversado sobre as diferen as e insatisfa es entre eles Marcelo percebeu que sua esposa estava bem melhor e solicitou lev la de licen a terap utica para as festas de final de ano Natal e Ano Novo Na ocasi o desse atendimento familiar conversei com o casal sobre a pesquisa e os convidei a participarem D bora j tinha sido convidada anteriormente e j tinha concordado Ficou combinada ent o uma data para en
155. ez ideal Cada uma delas mais ou menos f cil de viver Algumas mulheres vivem um sentimento de plenitude outras vivem estados de ang stia Essa diversidade de estados e sentimentos tamb m pode ser observada numa mesma mulher ao curso de diferentes gesta es e at numa mesma gravidez em determinadas situa es SZEJER STEWART 1997 p 37 A ambival ncia tamb m pode aparecer entre o casal quando o desejo de ter filhos ou o planejamento e o tempo para que isso aconte a n o o mesmo Marcelo marido de D bora achava que o filho deveria vir somente ap s uma melhora da condi o financeira Carlos marido de Sueli temia que ela tivesse mais uma crise mental mas ao mesmo tempo pensava que a presen a do beb poderia ajud la a se identificar ao planeta novamente e a varrer da mente o lixo psicol gico O marido de Rosa junto com ela n o planejou essa gravidez que veio de surpresa porque n o se preveniram AS VIV NCIAS EM RELA O GRAVIDEZ Quando Sueli descobriu que estava gr vida foi a maior felicidade do mundo Passou os primeiros meses de gesta o sentindo muito prazer pois n o se sentia mais sozinha D bora tamb m se sentiu emocionalmente bem no come o da gesta o apesar de apresentar algumas complica es cl nicas Foi preciso tomar medica o para segurar o beb para que n o tivesse um terceiro aborto espont neo Observou se que do meio para o final da gesta o
156. filho de 5 anos que ao 103 nascer desencadeou um sofrimento ps quico grave na paciente mas na ocasi o n o foi internada tratando se ambulatorialmente pelo per odo de 4 anos A informa o dos familiares sobre a primeira gesta o de Rosa foi de que sofreu uma grande depress o Ficou bastante alterada agressiva verbalmente e colocava o beb em situa es de risco A fam lia n o compreendia o que estava acontecendo e depois que foi orientada sobre depress o p s parto Os sintomas da crise atual foram mais intensos O m dico havia suspendido a medica o devido gravidez e desta vez Rosa estava mais agitada e agressiva batia no marido xingava as pessoas na rua estava desatenta e insone Apresentava sintomas de desorganiza o mental Foi piorando de forma progressiva com muita irritabilidade e comportamentos agressivos tendo dificuldades para cuidar de suas tarefas Sa a com o beb para rua s vezes noite sem rumo Al m disso apresentava sintomas psic ticos como alucina es auditivas ouvia vozes que faziam coment rios negativos a seu respeito e del rios persecut rios Rosa teve uma perda importante poucos dias depois do parto de seu beb Seu pai faleceu e sua fam lia observou que ela parecia alheia aos acontecimentos Veio ao hospital trazida pelo marido e estava desde o in cio receptiva calma mas com um contato t mido negando suas dificuldades sem muita cr tica da situa o N
157. filho sonhado ou ainda que a gravidez t o 48 desejada implique a perda da pr pria m e por se concretizar a fantasia infantil invejosa ter o filho pela destrui o da m e FELICE 2000 p 25 Outros sintomas como desejos ensimesmamento dist rbios de car ter tamb m possuem o seu sentido inconsciente A gravidez desperta conflitos inconscientes que at ent o n o haviam se expressado Desta forma admitindo que os sintomas expressam conte dos inconscientes conflitos n o resolvidos pode se entend los como uma forma de express o particular de cada mulher e por isso a observa o de tantas diferen as em cada caso Os sintomas n o podem ser interpretados de uma maneira geral pois se deve considerar o contexto e as condi es psicol gicas nas quais se encontram as mulheres em quest o Cada mulher vai encontrando a sua pr pria normalidade adotando solu es que lhe s o poss veis respeitando as suas necessidades podendo ficar menos angustiada A quest o hormonal n o suficiente para explicar essas manifesta es pois para cada mulher observa se que as altera es hormonais provocam altera es e desconfortos diferentes 2 1 4 O SEGUNDO TRIMESTRE DA GRAVIDEZ No segundo trimestre da gravidez o embri o passa da condi o de embri o para a condi o de feto relatado como o momento mais agrad vel da gravidez entretanto possui as suas ansiedades Os sintomas anteriores geralmente
158. finais de semana Rosa sonhava em ter um emprego formal com carteira assinada Porque eu nunca trabalhei assinado ainda de carteira assinada Tenho vontade de trabalhar e ter ter as minhas coisas Teve um nico emprego n o registrado e tempor rio em que trabalhou como recenseadora de pescadores e gostava bastante Eu andava em grupo assim cadastro de pescadores Eu ia em ilhas viajava em ilhas assim livre Ta nas ilhas os quanto eles ganham de custo Foi um tipo de recenseadora Trabalhei 158 Distribuiu alguns curr culos mas sempre teve muita dificuldade de conseguir um emprego n o passava nas entrevistas Eu n o cheguei a trabalhar Espalhei curr culo andei por a mas n o cheguei a trabalhar Tive at oportunidade de servi o mas entrei em depress o da foi perdendo Eles falaram que pessoas assim com depress o eles n o aceitam porque pode ter alguma coisa algum ataque alguma coisa da n o pode N o podia Para Rosa era uma frustra o muito grande n o poder trabalhar Dizia que isso era o que gerava seu nervosismo Na verdade o meu nervosismo mais por n o ter arrumado um servi o ainda e eu ter essa paranoia quero trabalhar agora t dif cil com dois filhos Esse sonho frustrado chegava a revoltar muitas vezes e sem d vida influenciava na qualidade da rela o que estabelecia com seus filhos As vezes eu desconto neles E eu
159. g stia nervosismo perda ou aumento do apetite retraimento dor choro f cil irrita o Isso indica o sofrimento mental comum Garcia 2012 destaca que a Epidemiologia para o Sofrimento Mental Comum de 25 da popula o adulta e 53 das pessoas v o a uma Unidade B sica de Sa de UBS informa o verbal a Informa o fornecida pela Coordena o Nacional de Sa de Mental do Minist rio da Sa de representada por Leon de Souza Lobo Garcia no I Encontro de Sa de Mental do Paran ocorrido em Julho de 2012 21 Isso significa que muito comum que a popula o adulta procure a aten o prim ria devido a um sofrimento mental comum Al m disso discute se que o sofrimento mental comum fator agravante direto e indireto na evolu o de doen as frequentes na Aten o Prim ria Assim o sofrimento mental comum pode levar os sujeitos a incapacidades E para cuidar do sofrimento e da incapacidade gerada preciso conhecer o contexto de vida da pessoa Cada pessoa possui diferentes dimens es de exist ncia como social trabalho fam lia presente passado futuro espiritualidade corpo sa de doen a relacionamento interpessoal relacionamento consigo mesmo corpo mente cultura pol tica h bitos mem rias experi ncias no mundo atitudes etc Estas s o arranjadas de diferentes formas fazendo cada pessoa diferente uma da outra por suas diferentes escolhas A partir dessa ideia tem se como bastante dif c
160. gesta o ou mesmo no per odo puerperal Da mesma forma atrav s de acessos a hist rias de vida que denunciavam a ocorr ncia de epis dios psic ticos logo ap s a experi ncia da maternidade sendo este muitas vezes o primeiro surto Tamb m se mostrou recorrente o discurso de algumas mulheres sobre a reviravolta que tiveram em suas vidas a partir do nascimento de um filho quando ent o necessitaram de tratamento psiqui trico devido a intensos dist rbios emocionais bem como o afloramento de um transtorno mental Essa pesquisa foi conduzida a partir de atendimentos psicoterap uticos e an lise de prontu rios Foram levantados num per odo de nove meses todos os internamentos que ocorreram na Unidade Feminina para Transtornos Mentais que compreendia 30 leitos Dos 106 internamentos obtidos nesse per odo foram identificados 33 casos que tinham alguma rela o com os fen menos da maternidade ou seja por volta de 31 da amostra Nessa pesquisa priorizaram se os dados quantitativos isto levantar uma estimativa mais concreta sobre a ocorr ncia de interna es psiqui tricas de mulheres devido gesta o parto e puerp rio Alguns outros dados referentes s condi es sociais conjugais de sa de pr via entre outros tamb m foram discutidos por m n o em profundidade Considerando que a educa o inicia se na mais tenra inf ncia momento de grande contato entre a m e e o beb relevante refletir sobre as condi
161. gr ficos Condi es de Sa de Roteiro Semi Estruturado As entrevistas foram gravadas transcritas e posteriormente analisadas 84 Contou se com a possibilidade de que nem todas as quest es referentes anamnese e ao roteiro fossem respondidas pelas entrevistadas uma vez que as entrevistas ocorreram juntamente aos atendimentos psicoterap uticos os quais eram prioridade para o tratamento dessas mulheres Da mesma forma os poss veis desconfortos que ocorreram durante as entrevistas e que tinham rela o com o pr prio conte do que a paciente trazia tiveram a assist ncia por parte da psic loga pesquisadora no pr prio setting terap utico tendo sido a rela o terap utica suficiente para ameniz los As entrevistas foram realizadas com algumas mulheres que foram convidadas seguindo alguns crit rios de inclus o e exclus o que ser o descritos abaixo bem como com o familiar e ou respons vel que estava acompanhando o tratamento hospitalar Essas entrevistas de familiares foram abertas e n o seguiram roteiros com o intuito de agregar informa es relevantes sobre cada caso Utilizou se observa o e acompanhamento do processo sintomatol gico e de evolu o das pacientes no tratamento psiqui trico Foi feito pesquisa documental nos prontu rios para adquirir o hist rico do tratamento atual e dos tratamentos anteriores das participantes bem como para utilizar os dados referentes s anota es e observa es da
162. gudiza o do quadro psiqui trico na gravidez e no puerp rio As pol ticas de Aten o Prim ria da Secretaria de Estado da Sa de do Paran na Divis o de Promo o Sa de da Mulher da Crian a e do Adolescente tamb m enfatizam que as doen as psiqui tricas s o aspectos causais de Gesta o de Alto Risco podendo colocar a m e e ou o beb em risco Existe tamb m a classifica o de Crian as de Risco e dentre elas est o as que t m m e pai ou outro cuidador com problemas psiqui tricos ou portadores de defici ncia ou dependentes de lcool e outras drogas impossibilitando o cuidado com a crian a Diante do estreitamento entre a quest o de g nero e a sa de mental muito importante discutir no campo da sa de mental sobre a gesta o o parto e o puerp rio ou melhor sobre o sentido da maternidade na vida das mulheres um fato bastante antigo a exist ncia de uma assimetria entre homens e mulheres seja pela posi o social pol tica e financeira que diferentemente sempre ocuparam seja pelos pap is atribu dos pela sociedade esta patriarcal durante muitos s culos Desde que a mulher passou a ser pensada valorizada em alguma fun o foi pela via da maternidade Embora na atualidade no s culo XXI as mulheres estejam prestigiadas por uma diversifica o de suas fun es sociais conquistando espa os e novas formas de obter satisfa o e realiza o o primeiro papel que lhe foi atribu do
163. h eu penso que eu tenho que dar a volta por cima que eu tenho que ser forte que se isso que eu esteja preparada o dia que isso acontecer Pra que o meu marido me instrui que na verdade o dia que acontecer que um dia ou mais cedo ou 135 mais tarde vai acontecer eu tenho conscientiza o desde que eu casei Que ele ele na idade que tem ele n o vai durar 200 anos Sueli Tentavam proteger o patrim nio deles dos interesses da fam lia dela Ambos indicaram que a m e da paciente que a princ pio era contra a rela o porque ele muito velho pra voc voc n o vai ter futuro passou a concordar quando soube que ele tinha dinheiro Sueli interpretava como se sua m e tivesse vendido a para o senhor do bairro ela acabou pegando eu da casa dela e me trazendo aqui Oh eu to deixando a minha filha aqui Ela disse simplesmente Eu to deixando a minha filha aqui pra morar com o senhor Simplesmente Sueli E desde ent o era frequente pedir dinheiro e outras coisas para o genro Este passou a exercer uma fun o paterna com ela tanto pela prote o e cuidados recebidos como pela pr pria fun o de corte na rela o com a m e Ele e a sogra tinham um relacionamento bastante conflituoso Carlos compreendia que Sueli vivia entre dois medos ela vive entre dois medos Ela tem o medo de perder isso aqui e a minha pessoa tem medo de perder o que ela tem como tem medo da
164. hocou muito Ressaltou que fazia meses que n o via a m e nem os irm os nem parentes ou amigos e que todos estavam na cidade onde moram Minha m e n o se importa comigo n o Ela n o liga eu deixo pra l Ela tem os problemas dela e eu os meus S o em 8 filhos e Sueli a ca ula das meninas Mudou com sua fam lia de cidade ap s o falecimento de seu pai quando ela tinha 11 anos de idade A fam lia desestabilizou se nessa poca e Sueli trazia muitas m goas da m e desde ent o Ent o a minha m e ela sempre ela nunca ligou pras meninas ela pouco se importou Porque quando o meu pai morreu ela nem quis saber do enterro At hoje hoje vai fazer deixa eu vai vai far 20 anos isso quase 20 A minha m e n o sabe aonde que o meu pai enterrado At hoje A minha m e n o sabe Se voc perguntar pra ela M e onde que t enterrado o meu pai ela n o sabe dizer Porque ela n o participou do enterro ela n o participou do funeral dele N s participamo N s tudo pequeno Na verdade eu tinha 11 anos de idade Ent o isso o desamor Porque veja s ela n o quis saber do corpo do meu pai Sueli Na adolesc ncia Sueli vivia pelas ruas bebia bastante e n o tinha muito ju zo Aos 13 anos viu uma amiga ser assassinada pelo marido e teve que fugir para n o morrer tamb m Pouco tempo depois Sueli come ou a se relacionar com Carlos que muito mais velho que ela
165. hospitais psiqui tricos por m o sistema extra hospitalar n o estava preparado para a demanda que se criou D bora foi encaminhada para a interna o psiqui trica em outra cidade ap s ficar 4 dias internada num hospital cl nico Esperou 3 dias para conseguir vaga para esse internamento e reclamou que o atendimento em sua cidade n o foi muito bom Ah eu acho que foi mais ou menos porque eu n o melhorei nada nos quatro dias que eu fiquei internada eu s fui melhorar aqui mesmo Outra situa o muito comum e que aconteceu com Sueli a burocracia nos encaminhamentos o que dificulta as a es no momento da crise Mesmo estando na 128 Regi o Metropolitana de Curitiba ou seja mais perto do que D bora estava Sueli demorou muito para chegar ao hospital Foram quase 9 horas entre viagem e espera N o seria importante pensar numa atua o menos burocratizada para um momento de crise Bem recentemente mudou se o sistema de distribui o de vagas para interna o psiqui trica no Paran A ideia de que as interna es sejam liberadas com maior agilidade por um sistema de rede informatizado Mas como ficar o as avalia es cl nicas Ainda cedo para tirar conclus es sobre a efic cia dessa mudan a AS MULHERES NO HOSPITAL PSIQUI TRICO No caso das tr s mulheres todas elas n o tinham cr tica da situa o e da necessidade da interna o quando chegaram ao hospital Rosa foi a que aceitou melho
166. ia ter um filho para provar a masculinidade do companheiro Sempre que nervosa xingava o marido de viado e brocha Parecia colocar em quest o sua virilidade Ele achava que ele n o podia engravidar e eu queria porque queria provar pra ele que ele podia engravidar e consegui D bora Ela tamb m queria ter essa prova do marido por m seu desejo era forte para ter esse filho Ah lembro que eu queria ficava feliz cada vez que eu imaginava pra mim eu sempre tava gr vida atrasou um pouquinho eu j tava gr vida Eu queria muito um bebezinho e Eu pensava em ter um bebezinho no meu colo s isso que eu pensava 111 Sueli pensava que o beb iria traz la mais para o rumo de casa estava muito rueira e principalmente que iria cur la das crises mentais que j havia apresentado anteriormente Considerava que a gravidez poderia servir como um rem dio para acalmar a sua mente e consequentemente um rem dio para a depress o Mas a gente projetou ela n A gente tinha um planejamento A gente queria n s dois ent o vamos ter outro pra ver Porque na minha ideia que a depress o talvez curasse com a presen a de um beb na casa Essa era a minha ideia No protocolo do Programa M e Curitibana h uma chamada em destaque para a conduta necess ria com rela o s mulheres que apresentaram transtornos mentais pr vios e querem engravidar Se houver o desejo de e
167. ias emocionais ap s o parto Tal processo apresenta altern ncias depressivas pelas ilus es n o concretizadas e 60 as fantasias de perda ou impot ncia ou persecut rias mantidas nos elementos dif ceis apresentados pela realidade e man acas ou de nega o SOIFER 1980 p 64 O beb ideal fantasiado durante toda a gesta o e o beb real s o distintos e isso A 66 pode gerar certa decep o para a nova m e e para algumas estados depressivos A depress o neste per odo ser mais intensa quando a quebra da expectativa em rela o ao beb a si pr pria como m e e ao tipo de vida com o filho for muito grande FELICE 2000 p 30 Por outro lado as caracter sticas do rec m nascido e o reconhecimento gradual do beb podem ir influenciando na condi o ps quica da mulher ajudando a a desenvolver se enquanto m e deste beb e os estados depressivos v o sendo amenizados H por m casos no qual a mulher vivencia com muita intensidade impulsos e sentimentos contradit rios e apresenta maior dificuldade para resolv los obtendo portanto maior sofrimento O nascimento de um filho pode reativar problem ticas antigas na m e sob a influ ncia das fantasias sexuais infantis Desta forma v lido ressaltar que quando uma mulher se torna m e ocorre uma identifica o com a pr pria m e e suas fun es maternais Portanto uma experi ncia positiva quanto mat
168. ias infantis trazendo um sofrimento significativo para elas Apresentavam em suas hist rias viv ncias de viol ncia sexual e f sica e abortos anteriores que contribu ram para o mal estar nessa experi ncia da maternidade Ao lan ar um olhar para as quest es psicossociais envolvidas na viv ncia da maternidade foi poss vel desenvolver um conhecimento mais profundo sobre as realidades e subjetividades dessas mulheres contribuindo para uma reflex o do aprimoramento de pol ticas p blicas voltadas para a promo o sa de preven o e interven o precoce Identificou se a relev ncia de um espa o para que as mulheres tenham a oportunidade de falar de seus medos e ang stias de assumir imperfei es desenvolver capacidades e autonomia e planejar o futuro A dist ncia de seus filhos pelo tratamento trouxe algumas consequ ncias para o v nculo m e beb Devido a isso constatou se a import ncia de repensar as a es e servi os materno infantis de forma a elaborar medidas que contemplem a sa de mental de mulheres sendo necess ria a aproxima o entre essas duas reas da sa de com o est mulo capacita o das equipes e informa o da popula o sobre o tema sa de mental e g nero v lido melhorar a qualifica o dos servi os de Aten o Prim ria com a elabora o de um protocolo de pr natal e p s natal diferenciado para os casos de mulheres com hist rico de transtorno mental pr vio ou das mulheres qu
169. ica continuava exclu da Por m em contrapartida foi a partir do final do s culo XVIII e in cio do s culo XIX que as mulheres puderem encontrar um lugar de valoriza o diante da fun o da maternidade Para este discurso naturalista as mulheres n o foram criadas como uma vers o defeituosa dos homens conforme a antiga tradi o filos fica sustentara por s culos Pelo contr rio a natureza criara seres irredutivelmente diferentes dos homens para exercer uma fun o cujo corpo era dotado de capacidades e rg os especificamente adequados para tal fun o as mamas lact feras e o tero MARTINS 2010 p 20 21 30 Assim conforme Badinter 1985 a id ia rom ntica do amor materno produto de uma evolu o social que teve seu apogeu nos s culos XIX e XX Superou se a ideia de instinto materno pois tal conceitua o aproximaria em demasiado o humano do animal causando desconforto ao orgulho do homem No entanto apesar dessa mudan a de instinto para amor a ideia que prevaleceu foi a de necessidade ou seja de que haveria uma conduta materna universal e necess ria Essa ideia sobre a natureza feminina ganhou for a inclusive entre as mulheres uma vez que estas tiveram a eleva o do seu estatuto da mulher enquanto m e Progressivamente as mulheres m es tiveram a sua imagem modificada assumindo para al m da fun o biol gica uma fun o social tendo como responsabilidade a educa o de seus
170. ida de que a gravidez um per odo de alegria para todas as mulheres ZINGA PHILLIPS BORN 2005 p 57 Nos manuais de psiquiatria a psicose p s parto encontra se como psicose at pica Uma psicose p s parto uma s ndrome cl nica que ocorre ap s o parto e se caracteriza por del rios e depress o grave Os pensamentos sobre a vontade de ferir o beb rec m nascido n o s o incomuns e representam um perigo real KAPLAN 1993 p 381 Especificamente no DSM IV foi incorporado no cap tulo sobre transtornos de humor o especificador com in cio no p s parto para os casos em que os sintomas ocorrem dentro de quatro semanas ap s o parto Na CID 10 a psicose puerperal est na categoria dos Transtornos Mentais e de Comportamento Associados ao Puerp rio no entanto uma categoria pouco usual 78 A maioria dos especialistas nesse campo da opini o de um quadro cl nico de psicose puerperal t o raramente se distingu vel confiavelmente de transtorno afetivo ou esquizofrenia que uma categoria especial n o justificada ORGANIZA O MUNDIAL DA SA DE 1993 p 16 Pesquisas como as de Felice 2000 Correia 2006 Cantilino et al 2009 Camacho et al 2006 consideram algumas vari veis como fatores de risco associados aos dist rbios mentais puerperais problemas mentais pr vios hist ria familiar positiva para transtornos de humor e ansiedade suporte social e ou familiar prec ri
171. il o entendimento das experi ncias humanas na vida sendo essencial um cuidado quanto ao julgamento do que normal e patol gico e importante considerar que h uma diversidade de fatores de risco relacionados ao sofrimento mental comum e aos transtornos mentais e que estes interagem de maneira muito complexa Para pensar em medidas de promo o sa de mental e preven o crise mental ou cronifica o dos transtornos mentais graves preciso levar em conta essa complexidade Ter sa de mental envolve algumas capacidades dos sujeitos como conseguir estar bem consigo mesmo e com os outros perceber e valorizar o seu potencial relacionar se bem aceitar as exig ncias da vida saber lidar com as emo es boas e desagrad veis que a vida proporciona estar em equil brio e produtivo reconhecer seus limites e buscar ajuda quando necess rio Existem algumas diferen as entre promo o de sa de e preven o de doen as no entanto ambas tem a sua import ncia no campo da Aten o Prim ria em Sa de Promover sa de significa trabalhar com aspectos da sa de em geral buscando uma melhoria na qualidade de vida das pessoas trazendo mais sa de e bem estar geral para a coletividade Define se a partir de uma concep o centrada na sa de e n o mais na doen a portanto positivando a sa de S o exemplos de medidas de promo o sa de promo o da alimenta o saud vel e da atividade f sica educa o em todos os n veis
172. ilho Abortos pr vios tamb m s o considerados fator de risco importante para as psicoses puerperais Rosa e D bora passaram por isso D bora teve dois abortos naturais anteriores gesta o de seu segundo filho Um com quatro meses e o outro acho que com cinco meses porque um tava maior do s que o outro tavam grandinho j Entretanto n o teve nenhuma informa o m dica sobre as causas dos abortos e relatou que sofreu bastante com as perdas Ah eu engravidei e n o sabia que eu tava gr vida e as condi es financeiras eram p ssimas nem gua em casa n s t nhamos a eu tinha que buscar balde assim sabe na mina de gua e acho que foi isso de tanto carregar peso Os dois filhos que n o sobreviveram gesta o foram nomeados por D bora e ela n o quis repetir esses nomes quando nasceu o outro filho n o podia por o mesmo nome que ia ficar pensei que ia ficar chato por o mesmo nome dos dois Rosa contou que descobriu que estava gr vida quando abortou ap s o estupro Disse ser totalmente contra o aborto e que por isso n o se sentia merecedora de ser m e pelo que lhe ocorreu Eu s lembro que eu abortei quem foi o culpado foi esse cara a eu chorei a vida inteirinha minha vida inteirinha eu chorei de p gt arrependimento Porque desde aquele aborto eu fiquei com esse trauma E ficou na cabe a Porque eu acho que eu n o posso ter filho eu n o tenh
173. intranspon veis nesse momento mas em poucos dias essas dificuldades v o sendo esquecidas ao mesmo tempo em que a fun o materna vai se estruturando e entrando nos eixos Desta forma nas primeiras semanas ap s o nascimento do beb muitas dessas caracter sticas psicopatol gicas v o se atenuando para algumas mulheres Sobretudo em alguns casos evidencia se estados de descompensa es ps quicas mais graves e mais persistentes s vezes podendo durar alguns meses o caso da Depress o P s Parto caracterizada por sintomas como tristeza patol gica perda do prazer hipocondria irritabilidade desalento idea o suicida entre outros e ocorre numa incid ncia menor em torno de 10 Sa das man acas podem acontecer para tamponar a crise depressiva culminando num abandono do beb deixando o para outrem cuidar e uma maior preocupa o com a vida social Observa se tamb m irritabilidade e hiperatividade H casos por m em que a m e fica totalmente voltada aos cuidados do beb em detrimento de qualquer outra atividade Conseqientemente suas rela es com o ambiente ficam bastante prejudicadas Se o ambiente social n o puder receber adequadamente as ansiedades da mulher estar o contribuindo para uma potencializa o dessas ansiedades levando a quadros psicopatol gicos mais graves De qualquer maneira e sem chegar aos limites alarmantes do estado psic tico acham se presentes em todos os casos em maior ou m
174. inua Eu sinto aquela dor A discuss o de alguns trechos sobre como era a rela o das tr s mulheres com seus maridos vem possibilitar a compreens o de que havia uma express o paternal muito presente Nenhuma delas tinha uma rela o onde a marca era o homem e a mulher D bora situou que ficou doente Quando eu comecei a exigir mais aten o dentro de casa Ela at tentava fazer de seu marido seu homem um companheiro mas este se apagava quando estava sem trabalhar Lembrando tamb m que parte de suas motiva es para engravidar foi dar um filho ao marido provando assim a sua masculinidade Quando eu nasci eu nasci com um problema Eu nasci hermafrodita nasci com dois sexos Da o meu horm nio era mais masculino e ficamos com o horm nio mais masculino Marcelo Na rela o de Sueli e Carlos logicamente que a diferen a de idade interferia nos interesses de cada um mas ambos conseguiam se respeitar E n s temos uma diferen a bem espa osa Mas pra mim pra mim n o tem diferen a Pra mim normal A gente tem um casamento normal mesma coisa que ele tivesse a minha idade S que assim ele sabe que eu n o posso acompanhar a idade dele S que ele tamb m n o pode acompanhar a minha Sueli Sueli e seu esposo organizavam se a partir da ideia de que ele poderia faltar por causa da idade avan ada que j tinha Tentavam lidar com isso com naturalidade e planejamentos futuros A
175. is anteriores manter a agenda aberta sem necessidade de marcar consulta ter disponibilidade para ouvir e realizar a escuta ativa da gestante e seu parceiro reduzindo suas d vidas e prestando esclarecimentos necess rios mesmo que para isso necessite despender mais tempo na consulta favorecer espa os nas consultas grupos oficinas BRASIL 2012 p 16 O trabalho no puerp rio com essas mulheres deveria ocorrer no sentido de estimular as suas compet ncias acompanhando as suas dificuldades e necessidades estimular suas capacidades auxiliar na elabora o de projetos de vida mediar conflitos e favorecer a constru o de v nculos familiares orientar sobre os riscos de outra gravidez entre outros Uma forma interessante dos gestores e profissionais de sa de analisar essa quest o compreendendo a relev ncia do cuidado ao cuidador ou seja cuidar das m es que precisam cuidar de seus beb s Estimular outras possibilidades ps quicas e emocionais para que as mulheres exer am sua maternidade 171 Um bom modelo disso a Cl nica do Holding praticada na Fran a na Unidade de Acolhimento M e Beb pelas psicanalistas Claude Boukobza e Florence Benavides Trabalha se com uma equipe multiprofissional que recebe as m es com seus beb s e busca se escutar e mediar intera o entre eles Uma a o que possibilita fazer certo distanciamento da m e com o beb por meio da aprendizagem da boa dist ncia
176. is e comportamentos que traduzem o ser homem e o ser mulher estando tudo isso demarcado pelas rela es de poder vigentes na sociedade A discuss o desta pesquisa dever ocorrer na especificidade da sa de mental de mulheres considerando a experi ncia de tornar se m e H diversos aspectos subjetivos que enla am a mulher nesse per odo e estes n o a levam necessariamente a uma 16 experi ncia agrad vel e podem desencadear sofrimentos ps quicos que padecem de cuidados especiais Tal fato contraria a expectativa cultural enraizada em nossa sociedade de que o per odo da gesta o e do puerp rio s o m gicos e muito esperados pelas mulheres Vale ressaltar que durante uma gravidez dita normal s o evidenciadas altera es org nicas e ps quicas muito frequentemente As transforma es na vida de uma mulher a partir de uma gravidez e do nascimento de um filho s o muito significativas deixando as num estado de extrema vulnerabilidade Sentimentos como medo raiva inseguran a ansiedade tristeza s o comuns nesse per odo Mas h casos em que a intensidade e a frequ ncia do mal estar podem desencadear crises mais severas quadros psicopatol gicos como crises de ang stia depress o ou psicose puerperal Nas situa es mais intensas a paciente pode chegar a quadros paran ides francos com pseudo alucina es ou ainda a profundos estados esquiz ides marcando ambos o in cio da psicose puerperal com a impo
177. jetos externos que expressam certa negatividade Soifer 1980 considera portanto que as ang stias persecut rias que interferem na psicodin mica da pu rpera t m rela o com uma figura materna hostil e vingativa presente no mundo interno da mulher As emo es suscitadas por esta figura materna m fazem com que a mulher sinta se amea ada como se ela ou o beb pudessem ser atacados e prejudicados Temores como de que algu m vai roubar ou mutilar o seu beb podem ser a express o de ang stias persecut rias inconscientes Junto a isso pode se fazer presente uma culpa persecut ria ou seja a exist ncia inconsciente de uma figura materna acusat ria a qual atacaria a capacidade materna da mulher como se essa figura materna n o permitisse que a nova m e ocupasse esse papel de maneira tranquila e gratificante Temores quanto incapacidade de cuidar do beb de n o dar conta das tarefas dessa nova fun o ou de perd lo podem ser a express o dessa culpa persecut ria inconsciente Geralmente essas ang stias e culpa persecut rias bastante intensas j se faziam presentes no per odo da gesta o somente se tornando mais avassaladoras no puerp rio Diante do que j foi exposto v se como fundamental a figura materna internalizada constru da j desde a tenra inf ncia segundo a teoria kleiniana das rela es objetais Confirma se assim a relev ncia desses conte dos inconscientes num momento a pos
178. l pois se verificou que muitas delas n o seguem o protocolo m nimo para garantir uma gesta o segura Entretanto os profissionais e gestores de sa de n o levam em considera o que as pessoas geralmente s o carentes de aten o e que o v nculo seria 170 t o mais poss vel se as mulheres pudessem perceber que est o sendo cuidadas em sua integralidade ou seja que os atendimentos de sa de v o al m do cumprimento de exames e interven es fisiol gicas Nos tr s casos estudados para esta pesquisa as mulheres relataram que durante as consultas n o tiveram espa o para dialogarem com os profissionais sobre suas emo es nem participaram de oficinas ou grupos de orienta o Na Estrat gia Rede Cegonha e nos Programas M e Paranaense e M e Curitibana h uma especifica o de cuidados para as gestantes adolescentes com a estrutura o de um pr natal diferenciado Seria importante que tamb m houvesse um pr natal diferenciado para as mulheres gestantes com hist rico de transtorno mental pr vio ou para aquelas que est o apresentando sinais e sintomas psiqui tricos e psicol gicos na gravidez atual E ademais fazer uma boa avalia o e disponibilizar cuidados voltados condi o psicossocial e ao contexto de vida das mulheres Algumas a es planejadas para o atendimento de adolescentes quanto ao planejamento reprodutivo tamb m poderiam ser estendidas ao grupo de mulheres com transtornos menta
179. le que ele me protege de qualquer perigo de qualquer situa o tipo assim ta disposto a qualquer situa o que eu me meta ele t ali pra me defender Ent o 133 sem ele eu j tenho medo eu tenho medo de sair na rua Separada dele eu n o sou ningu m Sueli Ele era o seu apoio quando ficava doente protetor e provedor al m de uma fonte de opini es sabedoria e experi ncia para ela Ouve ouve sim ouve Eu conven o que seja obrigada a ouvir Porque a experi ncia da gente bem maior entende bem maior Carlos Tamb m falava que seu marido era o nico que sabia perceber quando ela n o estava bem Ent o ele acabou acontecendo que ele me conhece mais do que qualquer pessoa Na verdade ele o meu psiqui trico em casa Porque ele entende cada passo que eu dou dentro dessa casa Ele sabe quando eu to triste se alguma coisa ta me atingindo ou alguma coisa ta acontecendo ele j ta sabendo Ele fala N o tem alguma coisa errada voc n o t legal Sueli D bora considerava o marido meio desligado da fam lia ficava isolado quando estava em casa e n o gostava muito de sair ao passo que D bora tinha vontade de sair ver pessoas e passear na casa dos familiares Por m n o conseguia fazer isso sozinha Queixava se da dificuldade para sair sozinha com duas crian as pequenas e reclamava a falta de aten o do marido Ressaltava que na gravidez foi muito paparicada contudo no
180. liza sua m e por essa sua falha anat mica pela m e n o ter lhe transmitido os atributos f licos e tamb m por n o lhe ter ensinado a valorizar o seu corpo de mulher Cria se na menina um desejo de possuir aquilo que n o tem o p nis Come a portanto uma liga o forte em rela o ao pai que detentor do p nis t o desejado pela menina o Complexo de Castra o direcionando para o Complexo de dipo Tal desejo estar peculiarmente presente durante toda a vida da mulher bem como uma esp cie de inveja do p nis ou ainda complexo de virilidade 42 O fato da menina reconhecer que lhe falta o p nis n o implica absolutamente que ela se submeta a tal fato com facilidade Pelo contr rio continua a alimentar por longo tempo o desejo de possuir algo semelhante e acredita nessa possibilidade durante anos e a an lise pode mostrar que num per odo em que o conhecimento da realidade h muito rejeitou a realiza o do desejo por sab lo inating vel ele persiste no inconsciente e conserva uma consider vel catexia de energia FREUD 1933 p 125 No texto Feminilidade 1933 a partir da no o de psicossexualidade e do complexo de castra o Freud enfatizou que a menina pode adotar inconscientemente tr s atitudes diferentes que decidir o o destino de sua feminilidade A primeira atitude a da inibi o sexual Esta se refere a uma ren ncia satisfa o masturbat ria clitoriana e a outras
181. lou pro meu marido que essa depress o podia ser curada em casa Ele mesmo disse isso pra ele Sueli Realmente essa experi ncia numa institui o como essa parece ser muito marcante Carlos marido de Sueli fazia refer ncia institui o hospitalar como Casar o do Esquecimento Lembrava se de alguns amigos do trabalho que ficaram mentalmente doentes que foram internados e de l nunca sa ram Percebia sem d vida que o tratamento e a estrutura s o outros mas um certo estigma continuava Foi feita para as tr s pacientes a orienta o sobre a necessidade de acompanhamento m dico e de prefer ncia de uma equipe multidisciplinar ao menos o psiquiatra e o psic logo para a continuidade do tratamento Zi Rosa valorizou o atendimento psicol gico dizendo Esvazia o ego risos Esvazia o eu da gente que fica preso Porque eu sou calada demais Eu sou muito calada 132 A RELA O COM O MARIDO E A REDE SOCIAL DAS MULHERES 2 O principal que se tem a dizer neste tema sobre a rela o de depend ncia emocional que as tr s mulheres possu am com seus maridos Eles eram as pessoas mais pr ximas dessas mulheres as quais n o tinham uma rede social muito diversa a n o ser os familiares Em meio a disfun o familiar car ncia afetiva de pai e m e e falta de autonomia financeira as tr s mulheres juntaram se aos seus c njuges e fizeram suas fam lias D bora e Rosa eram bastante ciumentas
182. m passar por ang stias e dilemas semelhantes ao das tr s citadas h pouco Esta pesquisa ressaltou a necessidade de trabalhar em dois eixos na preven o e na promo o sa de mental de mulheres o primeiro com rela o s m es que j tiveram depress es ou outros transtornos mentais anteriores ou que nasceram de m es com transtorno mental o segundo com rela o a todas as mulheres em idade f rtil que talvez venham engravidar um dia 164 A resposta que as mulheres deram sobre os significados da maternidade em suas vidas girou em torno da responsabilidade Nem todas as mulheres est o preparadas para assumir a responsabilidade de colocar um filho no mundo O apoio social e dos familiares s o necess rios para ajud las a lidar com isso minimizando as ansiedades e culpas que as acompanham quando ainda n o se sentem muito capazes de serem m es ou quando apresentam dificuldades no cuidado do beb muito comum verificar uma preocupa o com o beb em detrimento da mulher que o gerou Nem sempre essa mulher consegue naturalmente ocupar se desse beb matern lo com tranquilidade pois passa por conflitos relacionados ao tornar se m e Uma m e n o nasce quando descobre que est gr vida Junto ao nascimento do beb espera se o nascimento de uma m e mas nem sempre esses dois eventos ocorrem concomitantemente bastante vasta a literatura acerca das preocupa es com rela o ao desenvolvimento d
183. ma o marido mantinha se atento ainda com receio de alguma reca da Sueli tinha que cumprir com algumas condi es impostas pela Ju za para garantir a guarda de sua filha Deveria pelo per odo de dois anos deixar a crian a numa creche durante os dias teis da semana em tempo integral pegando a a tardezinha para dormir em casa Entendeu que tanto a Ju za como a equipe do abrigo achava que n o era t o seguro do beb estar com ela que talvez ela ainda n o estivesse bem preparada Reconhecia que n o estava muito bem quando saiu do hospital mas achava que estava melhorando a cada dia Seu m dico tamb m concordava que ela estava melhorando e fez um relat rio para a Ju za informando que seu quadro era est vel Que est vel que eu n o piorei mas dei uma melhorada De vista do que eu estive l 152 eu tava p ssima Eu tava tava totalmente alienada ainda tava bem confusa E da na outra vez na segunda n s fomos l da ele come ou a conversar comigo e ele falou N o pelas tuas apar ncias voc t t suficiente pra cuidar da sua beb j Por causa dessa experi ncia dolorosa Sueli enfatizou a import ncia de medidas preventivas para evitar que outras mulheres tenham seus filhos afastados pelo Conselho Tutelar assim como aconteceu com ela quando a pessoa sentir ela engravidou ela entrou em depress o ela busque ajuda que da n o precisam afastar o teu beb Porque eu to j
184. mente transcritos e analisados Para assessorar aos objetivos da pesquisa al m dos atendimentos psicoterap uticos das pacientes a psic loga e pesquisadora utilizou um roteiro de entrevista que foi constru do para buscar a investiga o de algumas quest es como 1 Dados s cio demogr ficos idade escolaridade estado civil religi o n mero de filhos renda familiar ocupa o moradia 2 Conhecimento das condi es de sa de f sica e mental antes da gesta o durante a gesta o nos tr s trimestres no parto e no p s parto 89 3 Relato sobre a experi ncia da maternidade incluindo os per odos da gravidez do parto e do puerp rio as condi es em que ocorreu e as mudan as vivenciadas 4 Relato sobre os relacionamentos interpessoais com os familiares mais pr ximos marido filhos pais irm os sogra e sogro 5 Impress es sobre o tratamento psiqui trico experenciado em regime integral e a conseq ente separa o do rec m nascido 6 Relato espont neo sobre os sentimentos com rela o ao beb 7 Expectativas e planos para o futuro Estava previsto que ap s a alta hospitalar da paciente a pesquisadora poderia manter o contato atrav s de visitas domiciliares caso necess rio Tamb m foram entrevistados os familiares que estavam acompanhando o tratamento das pacientes atrav s de relatos espont neos e sem roteiros para obter maiores informa es Houve pesquisa em prontu rio
185. mo m e 122 Como observa Marie Langer o maior ou menor grau de aceita o da gravidez por parte do ambiente social imediato refor a ou n o a tend ncia da mulher para a maternidade Essa autora afirma que toda gravidez produz uma situa o de maior ou menor conflito entre uma tend ncia maternal e outra de rejei o desejo e contradesejo SOIFER 1980 p 23 Portanto as atitudes do meio social e dos familiares s o fundamentais para esse momento de fragilidade da mulher Da mesma forma que pode vir a ajudar pode vir tamb m a prejudicar dependendo da maneira como a est o julgando De acordo com Felice 2000 um dos fatores de risco associados depress o puerperal a falta de suporte fornecido pelo ambiente SOBRE OS SERVI OS DE SA DE QUE UTILIZARAM Por motivos diferentes as tr s mulheres apresentaram intensa ansiedade nas proximidades do parto D bora morria de medo do parto porque d i muito mesmo com anestesia Suas duas experi ncias foram de partos normais Tava com medo tava ansiosa bastante ansiosa e com medo E o medo da hora do parto mesmo que sofrido Sueli torcia para poder fazer parto normal N o podia imaginar passar por uma ces rea que exigiria corte pontos uma incis o maior no seu corpo Eu tenho medo de g ser perfurada Rosa ao contr rio torcia para que seu parto fosse ces rea Sentiu muita dor enquanto aguardava o parto normal queria logo tomar ane
186. momentos entre a m e e o beb para a sa de mental e o bem estar de ambos e principalmente para a sa de da rela o entre eles O exerc cio da fun o materna bem executada vai depender da estrutura de cada mulher dos seus aspectos emocionais e ps quicos de sua hist ria e da rela o com o ambiente Algumas mulheres demorar o mais para se adaptar a isso e passar o por sofrimento e dificuldades mais do que outras uma situa o muito singular para cada mulher e em cada experi ncia de gesta o Todas elas estavam sendo m es do segundo filho e mostravam preocupa o com a aten o que estavam dando para os filhos mais velhos angustiando se com a divis o entre eles Os filhos de D bora e Rosa sentiram ci me quando tiveram a not cia da 145 vinda do irm ozinho Depois se acalmaram Mas as duas ainda se incomodavam com isso D bora pensava com a seguinte l gica o que tem que dar para um tem que dar para o outro tamb m e levava em conta a sua dificuldade financeira Por exemplo coisas materiais Tipo d o que ele pedi quando for maiorzinho ela a sogra o nico eu vou ser dois filhos quando comprar pra um eu tenho que comprar pros dois j dificulta mais Rosa pensava de forma semelhante E dif cil ter dois Porque eu acho que o que faz pra um tem que fazer pra outra tamb m Diogo filho de Rosa falou que n o queria ver a irm zinha Ah tira a Lia daqui N o quero a Lia Co
187. mulheres n o tenham dito explicitamente sobre as contradi es advindas das suas rela es frente maternidade observou se que D bora e Sueli tinham uma rela o de desamparo com suas m es o que pode contribuir para uma desestrutura o emocional nessa experi ncia t o sens vel vida de uma mulher que o tornar se m e D bora tinha uma m e psic tica que ficou doente no seu nascimento Sueli considerava sua m e um monstro por t la trocado por dinheiro e coisas materiais Soifer 1980 Szejer e Stewart 1997 e Felice 2000 afirmaram que o nascimento de um filho pode reativar problem ticas antigas na m e sob a influ ncia das fantasias sexuais infantis Desta forma v lido ressaltar que quando uma mulher se torna m e ocorre uma identifica o com a pr pria m e e suas fun es maternais Tamb m ocorre uma identifica o com o beb o que facilita uma compreens o do que ocorre com o mesmo devido a um estado regressivo da m e Concordando com Felice 2000 a figura materna internalizada desde a mais precoce inf ncia e o modo que cada mulher se relaciona com ela sempre ser um dos principais fatores ps quicos determinantes da qualidade das emo es das mulheres no puerp rio Quando a rela o com a m e interna muito conflituosa devido intensidade de ang stias e culpas persecut rias a pu rpera pode n o conseguir se sentir identificada com uma boa m e capaz e competente
188. n ada Rosa mesmo em sua ambival ncia marcante temia que Roberto desistisse de insistir na rela o procurando outra mulher D bora Rosa e Sueli queixaram se durante os atendimentos que se sentiam sozinhas e por isso muitas vezes tinham a necessidade de ficarem mais pr ximas dos maridos A rela o com o beb esperado ocupar se dele tamb m era uma forma de se preencherem Mas as tr s ainda estavam atrapalhando se com isso Sabemos tamb m que est longe de ser indiferente para o la o m e beb o lugar ocupado pelo pai do beb Tem efeitos contundentes o modo pelo qual o pai sustenta o la o com sua mulher e o restabelece a partir do nascimento do filho assim como sua implica o nos cuidados dirigidos ao beb Afinal o exerc cio da fun o materna n o prescinde da rede familiar e social para dar lugar ao rec m nascido JERUSALINSKY 2011 p 19 20 A rede social tem a sua import ncia Tanto a fam lia de Rosa quanto a fam lia de seu marido os dois lados ajudavam na bastante com as crian as D bora tamb m tinha o apoio da sogra mas n o t o desinteressado ao que tudo indicou Temia que ela quisesse roubar lhe o filho D bora e Sueli falaram sobre amizades A primeira contou que no momento da crise dizia que precisava de uma amiga para conversar j que seu marido interagia pouco com ela porque ele sempre chegava do servi o e ele queria contar dele e ele n o dava tempo pra gente falar Qu
189. n mother and baby Therefore we could assume the importance of rethinking the actions and mother children services in a way that enables creating measures that contemplate the mental health of women considering necessary the proximity between the two health areas including the stimulation to empower groups of work and informing the population about mental health issues It s valid to improve the qualification of Primary Assistance services with the creation of different prenatal and post natal protocol for women who have had previous mental disorders or women who have psychological symptoms during gestation process It s evident the necessity of prioritizing the care with the carer making motherhood of the mom when needed Key words mental health maternity mental suffering political policies psychoanalisis SUM RIO TE INTRODUG O aspas SasaoLes ag Rs Rrd NAL aa SARA DI a a ERAS AAA atada Rag 11 1 1 As pol ticas p blicas a sa de da mulher e a sa de mental 11 1 2 A Rede de Sa de Mental valorizando a sa de mental na Aten o B sica 19 1 3 Programas de Aten o Materno Infantil nn reeereeeeerereeereranaa 23 1 4 O mito da m e sobre a mulher usam taioragan dis pra mrgb te daio sa sSbBal Sa doada sata RM dada aa ppa angus 29 2 REVIS O DE LITERATURA aan aiaa dog aid tras apar di steren 37 2 1 Da import ncia da gesta o parto e puerp rio do normal ao patol gi
190. ncar bastante Rosa Na gravidez de Lia Rosa encontrou se com pensamentos bons acerca da pr pria inf ncia A inf ncia assim que eu tive que eu s brincava ficava s brincando tudo bom Saudade da inf ncia Saudade da poca que eu era pequenininha Porque eu lembro da inf ncia porque foi muito gostosa Brincava com tudo tudo era brinquedo 155 pra mim A verdade que eu to feliz por ver a minha filha Eu to morrendo de saudade dela Na expectativa de retornar para casa Rosa dizia que estava aprendendo a amar os filhos Bater em crian a essas coisas n o legal bater nos filhos eu gosto muito deles Isso desde que t gerando tudo o que o amor saudade amor aprender a cuidar dos filhos um ensinamento pra mim um ensinamento pra aprender a amar os dois eu amo muito eles At um pux ozinho de cabelo me d remorso eu acho que errado da um abatidinha eu j to chorando j to com pena j volto atr s quero mimar eu mimo muito eles agora N o d pra explicar eu quero cuidar dos dois Veio uma for a Veio uma for a assim parece que eu vou dar conta Eu vou dar conta dos dois Rosa Nenhuma das mulheres pretendia ter mais filhos D bora e Sueli planejavam fazer uma laqueadura Rosa n o queria passar por mais uma cirurgia mas combinou com o marido que ele faria uma vasectomia Enquanto esteve internada o marido de Rosa desconfiou q
191. ngravidar a mulher e seus familiares devem ser orientados sobre os riscos decorrentes tanto do uso de medicamentos durante a gesta o quanto da retirada dos mesmos Deve haver o aconselhamento sobre o padr o gen tico dos transtornos mentais e sobre o alto risco de reca da de alguns quadros na gravidez e no p s parto CURITIBA 2005 p 45 O m dico de Sueli avisou sobre os riscos que corria caso realmente engravidasse no entanto o seu desejo era maior que o medo Da na verdade eu fiquei da eu falei com o meu m dico se e ele falou que tinha muito risco Era arriscado S que eu falei pra ele Eu vou correr esse risco Eu vou correr esse risco de ter uma filha e uma depress o S que eu sabia Levantaram se essas motiva es que as tr s mulheres apresentaram para engravidar por considerar muito importante a pr hist ria da gravidez enquanto um aspecto muito significativo no desenrolar dessa experi ncia de gravidez parto e puerp rio A ambival ncia constitutiva do desejo inconsciente portanto h sempre desejo entre duas coisas contradit rias no psiquismo humano A escolha ou n o por uma gravidez certamente est ligada a desejos inconscientes que presentificam ambival ncias podendo causar mal estar s mulheres em maior ou menor grau dependendo das hist rias de vida e condi es ps quicas de cada uma delas 112 exatamente porque toda gravidez tem uma hist ria que n o existe gravid
192. nha comportamentos esquisitos Quando a gente tava namorando ela sempre amea ava cortar o bra o falar um monte de besteira tipo com outras vozes assim Que o diabo queria levar ela que j tava prometida pra ele Roberto Sueli teve dois surtos anteriores um em 2007 ap s o falecimento de uma tia que a acolheu como uma m e na inf ncia e o outro em 2010 ap s algum tempo sem medica o Na hist ria de D bora ficou marcante a prec ria situa o econ mica e a desestrutura social que vivenciou durante a gesta o do segundo filho Desde que se conheceram o casal vivia em condi es dif ceis de moradia sem luz sem gua passavam fome quase dois anos sem luz n s pegava gua na mina Era um sofrimento do c o Sofrido mesmo Marcelo Conseguiram construir uma casinha modesta e Marcelo sugeriu que poderiam ter um filho agora com uma casa pr pria e numa condi o melhor O planejamento do filho por m complicou se em seguida pois perderam a casa numa enchente Ja gente montou uma casinha l e foi morar junto Devagarzinho colocamos gua colocamos luz a hora que a gente ajeitou as coisas tinha gua e luz veio a gua e leva Marcelo No entanto D bora j estava gr vida de 5 meses E foi somente no oitavo m s de gesta o que conseguiram estabelecer se num lar novamente Rosa e D bora relataram problemas conjugais durante a gravidez mas esse assunto ser
193. nis tem por objetivo propor um enquadre continente e protetor moderar a ang stia materna e permitir m e e crian a cujos primeiros encontros s o perturbados encontrar a boa dist ncia uma dist ncia que se lhes assegure que elas possam continuar a se desenvolver juntas e individualmente BENAVIDES BOUKOBZA 1997 p 101 Assim o isolamento de seu ambiente pr prio e principalmente da crian a possibilitado pela interna o hospitalar n o parece ser um modo facilitador para a rela o m e beb que ainda precisa ser constru da desenvolver se para que possam conviver numa realidade familiar Era rduo para os tr s maridos comparecer ao hospital para visitar as pacientes por causa do trabalho e da dist ncia Lembrando que o hospital fica na Regi o Metropolitana de Curitiba a visita dos filhos tamb m era dificultada ou melhor nos tr s casos n o aconteceram em momento algum enquanto estiveram l sempre importante analisar cada caso caso a caso mas a proposta realizada na Fran a um indicativo de uma nova possibilidade mais pr xima das necessidades das mulheres e seus filhos estes que se estranharam mais do que o esperado no in cio do encontro real uma forma de tratar da rela o afastando os um pouco mas sempre buscando uma medida mais saud vel para ambos As tr s pacientes concordaram que teria sido melhor se tivessem tido a oportunidade de fazer o tratamento em casa Em casa mesmo
194. nsformar num grande drama levando a mulher a profundas crises de choro sem saber exatamente o porqu Muitas l grimas que vem e v o acompanhadas pelos sentimentos de tristeza incapacidade e falta de confian a em si O baby blues um estado depressivo benigno e transit rio com dura o de alguns dias O blues apresenta incid ncia de 50 e considerado um transtorno normal e passageiro caracterizando se por crises de choro ansiedade fadiga preocupa es excessivas com o beb etc FELICE 2000 p 35 Algumas pessoas tentam explicar essas manifesta es na mulher a partir de altera es hormonais e sem d vida n o se pode deixar de considerar a influ ncia dos horm nios nessa quest o Por m observou se que h casos de baby blues verificados em mulheres que adotaram crian as corroborando a id ia de que as altera es hormonais n o s o suficientes para explicar esse fen meno 67 Situa es de dificuldade aparecem frente maternidade tanto para as mulheres que est o passando por essa experi ncia pela primeira vez como para aquelas que j t m outros filhos sempre considerando as suas particularidades e contextos espec ficos e estas acreditam que n o v o dar conta de assumir essa fun o Assim algumas altera es som ticas como problemas na amamenta o problemas digestivos dores relativas cicatriza o da episiotomia quando houve uma s o vividas como barreiras
195. ntes por uma realiza o pessoal muitas vezes no caminho inverso da t o programada maternidade Isso significa que a maternidade n o mais o alfa e o mega da vida feminina Abre se para elas uma diversidade de modos de vida que suas m es n o conheceram Pode se dar prioridade s ambi es pessoais gozar do celibato e de uma vida de casal sem filhos ou satisfazer o desejo da maternidade com ou sem atividade profissional De resto essa nova liberdade se revelou fonte de uma esp cie de contradi o BADINTER 2011 p 9 Ap s todas essas mudan as sociais conquistadas de maior liberdade e direitos como exemplo conquistas no mercado de trabalho prioriza o da realiza o pessoal escolha pela reprodu o ou n o para uma parcela de mulheres principalmente as menos valorizadas e remuneradas considera se fortemente o retorno ao lar e a prioriza o novamente da maternidade Trata se de uma involu o diz a autora no 32 sentido de recolocar a maternidade no cerne do destino feminino BADINTER 2011 p 9 A crise econ mica mundial que tem gerado muito desemprego principalmente para as mulheres tem influenciado e muito no retorno delas para seus lares Em alguns pa ses ricos na Europa houve um est mulo financeiro para as m es donas de casa com vistas ao aumento da taxa de natalidade que nos ltimos anos caiu bastante Recebem por exemplo um sal rio do governo por tr s anos
196. ntou que o filho era muito grudado com ela e que o nascimento da menina acabou afastando o da m e seja porque ela teve que ser internada seja porque ele acabou indo para a casa dos av s novamente Essa situa o a deixava com remorso A rela o de Sueli com a outra filha n o ficou abalada enquanto esteve doente Reconhecia a normalmente Por m a menina de 11 anos levou algum tempo para aprovar a gravidez da m e A minha filha n o aceitou muito no come o Ela me rejeitava Ela falava que eu inventei essa hist ria de beb Que agora da ela ficava com ci me Porque agora tudo da beb Porque porque voc vai me abandonar porque voc vai me deixar Ela dizia isso Da s que depois dos 6 meses ela acabou acostumando Da ela n o deixava ela passava a m o na minha barriga via o beb mexer No caso das tr s m es cuidar do beb e ao mesmo tempo desempenhar o papel familiar e social anterior como atender ao marido e aos outros filhos foram vari veis que contribu ram para o aumento de suas ang stias De acordo com Szejer e Stewart 1997 as rea es de cada mulher v o depender da maneira como ela se concebe enquanto mulher enquanto esposa enquanto m e e da forma como esses pap is v o se articulando Isso sofre influ ncias da sua hist ria pessoal e dos seus modelos parentais e culturais Um ponto em comum interessante de destacar que as tr s mulheres tiveram significativ
197. ntradas se configuram como uma viola o dos direitos humanos de mulheres e crian as e um grave problema de sa de p blica atingindo desigualmente as regi es brasileiras com maior preval ncia entre mulheres e crian as das classes sociais com menor ingresso e acesso aos bens sociais BRASIL 2007d p 5 Os dados foram divulgados pelo Minist rio da Sa de durante videoconfer ncia realizada com as secretarias estaduais e municipais de sa de realizada no dia 28 de Maio de 2012 http www sesa pr gov br modules noticias article php storyid 2382 27 Morte Materna um conceito que traduz o n mero de mortes de mulheres durante a gesta o ou at 42 dias ap s o t rmino da gesta o independentemente da dura o e da localiza o da gravidez Podem ocorrer por causas obst tricas diretas ou indiretas As mortes maternas por causas acidentais ou incidentais n o s o consideradas nos c lculos da raz o pois s o causas externas Assim como tamb m os bitos no puerp rio tardio que ocorreram no per odo de 43 dias at um ano ap s o parto n o s o considerados como bitos maternos O Comit de Preven o da Mortalidade Materna e Infantil do setor de Epidemiologia da SESA PR forneceu os dados referentes aos n meros de morte materna do ano de 2010 e 2011 para a an lise nesta pesquisa e junto forneceu dois relat rios sobre Homic dios e Suic dios em Gr vidas e Pu rperas no Paran nesse mesmo per odo Em
198. o Promo o de sa de tamb m no 173 sentido de possibilitar que as mulheres assumam seus desejos de forma mais independente das press es sociais veladas que ditam que preciso ser m e ou a m e perfeita As pol ticas p blicas e os programas de sa de na rea da sa de da mulher e da sa de mental precisam aproximar se buscando atender de maneira mais eficiente as mulheres gestantes e pu rperas Estabelecer uma maior integra o da quest o da sa de mental e de g nero atentando para o fato de que o atendimento sa de mental deve ser intersetorial trabalhando em parceria com outros setores como educa o seguran a p blica assist ncia social sociedade civil entre outros Com as duas redes de aten o mais articuladas para o atendimento e o acompanhamento dessas mulheres m e outras mulheres que por diversos fatores possam vir a apresentar algum sofrimento mental comum tamb m estariam contempladas Ressaltando que mais importante que o estabelecimento de diagn sticos minimizar o sofrimento existente Diversos temas referentes da sa de das mulheres podem beneficiar se dessa aproxima o sa de mental com vistas ao fato de a menarca e a menopausa serem fases da vida tamb m muito predisponentes a abalos emocionais e psicol gicos A constru o de alguns centros de excel ncia no atendimento mulher na sua variedade de fases reprodutivas tendo em vista medidas preventivas uma op
199. o v 23 n 10 p 2375 2384 Out 2007 Dispon vel em lt http www scielo br pdf csp v23n10 12 pdf gt Acesso em 6 Set 2011 NASIO J D Li es sobre os sete conceitos cruciais da psican lise Rio de Janeiro Jorge Zahar 1997 ORGANIZA O MUNDIAL DA SA DE Classifica o de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID 10 Descri es Cl nicas e Diretrizes Diagn sticas Porto Alegre Artes M dicas 1993 PARAN Secretaria do Estado da Sa de Linha Guia M e Paranaense Curitiba 2012 PARAN Secretaria do Estado da Sa de Mortalidade Materna e Infantil no Paran Curitiba 2012 178 RENN JR J et al Sa de mental da mulher no Brasil desafios cl nicos e perspectivas em pesquisa Revista Brasileira de Psiquiatria S o Paulo v 27 p 73 76 2005 Suplemento II Dispon vel em lt http www scielo br pdf rbp v27s2 pt a07v27s2 pdf gt Acesso em 10 Set 2011 REY F G Pesquisa qualitativa e subjetividade os processos de constru o da informa o S o Paulo Cengage Learning 2010 SOIFER R Psicologia da gravidez parto e puerp rio Porto Alegre Artes M dicas 1980 SZEJER M STEWART R Nove Meses na Vida da Mulher uma abordagem psicanal tica da gravidez e do nascimento S o Paulo Casa do Psic logo 1997 VIOL NCIA obst trica a voz das brasileiras Produ o de Ligia Moreiras Sena et al S o Paulo 2012 1 Document rio 51min sonoro color Dispon vel em lt
200. o a incapacidade da mulher Nesses casos essa pessoa quem estaria dando o suporte para a nova m e quanto aos cuidados e prote o do seu beb e dela mesma As fantasias inconscientes influem consideravelmente na rela o com a m e real ou com as outras pessoas que ocupam o lugar de cuidadoras da mulher e do rec m nascido Al m dos estados depressivos e persecut rios poss vel verificar mecanismos man acos na pu rpera como uma rea o ao estado de confus o transcorrido durante a gesta o e o parto Quando esta se apresenta euf rica falante muito preocupada com a apar ncia dizendo sentir se extremamente bem recebendo as visitas de forma bastante exaltada Em alguns casos a mulher tem ins nia n o consegue desligar se e pode apresentar problemas na lacta o como hipo ou agalactia Os festejos familiares podem refor ar esses mecanismos man acos mas na falta das comemora es e da mobiliza o do ambiente social a depress o pode ser intensa ou algumas somatiza es podem ocorrer Por exemplo constipa o febre dores intestinais hemorragias sofrimento pela episiotomia e sua infec o abcessos por inje es abcessos mam rios entre outros Sobretudo em alguns casos embora existam os festejos familiares e sociais nem sempre estes s o suficientes para conter as fantasias inconscientes da mulher verificando se estados depressivos persecut rios e psicossom ticas como os que foram demonstr
201. o beb e o mesmo n o se pode dizer sobre o desenvolvimento das m es Sobretudo considerando que m e beb um sistema nico e que o desenvolvimento ps quico do beb depende essencialmente da intera o desse sistema pensar o beb ter que dar grande import ncia m e que precisa tamb m nascer e se desenvolver A gesta o o parto e o puerp rio s o experi ncias que despertam conte dos psicol gicos inconscientes conflitos ligados a fantasias infantis ansiedades e mecanismos de defesa que estavam sob recalque e n o haviam ainda se expressado trazendo um sofrimento significativo para algumas mulheres A gesta o tamb m um per odo que a mulher fica ao alcance de seu pr prio nascimento como se o vivenciasse novamente Passa a sentir se curiosa por descobertas da inf ncia lembra se com maior intensidade da sua e muitas vezes acaba ficando angustiada com as rememora es e com o encontro com os n o ditos com os lutos n o elaborados com os buracos que todos possuem em suas hist rias de vida Nos tr s casos as mulheres apresentaram s rios fatores de risco para o sofrimento mental Conforme foi exposto as tr s tiveram as suas vidas marcadas por situa es muito dolorosas com pouco ou nenhum suporte social hist rias familiares de desamparo ou conflituosas e com cicatrizes de viol ncia Ocorreram abortos anteriores e 165 viv ncias de viol ncia sexual e f sica em suas hist rias A desas
202. o condi o de ter crian a Porque eu abortei Eu acho que eu n o devo n o mere o ter filhos Rosa Pra quem gosta de crian a horr vel pra quem n o gosta faz o aborto como se fosse qualquer coisa crian a n o porcaria crian a ben o n o lixo Rosa Sueli passou por um evento violento aos 13 anos de idade Presenciou o assassinato de uma amiga e teve que fugir saiu correndo para salvar a sua vida Contou Quando ela me pediu socorro pra mim acudir eu n o pude fazer nada 117 porque eu fui salvar a minha pr pria pele A o que acontece que ficou marcado pelo resto da vida e eu tenho muito medo da dor Rosa e Sueli relacionaram a dor do parto ao trauma de viol ncia vivido Ambas sinalizaram que a dor do parto era terr vel porque remetia a isso E uma dor assim de rasgar mesmo Porque o cara fez rasgou me rasgou Foi t o terr vel a dor que no parto eu sentia eu lembrava Da entrei em depress o por isso foi por causa desse cara que eu entrei em depress o n o por causa do meu marido Rosa Porque o adult rio ele fez tudo isso Ent o da isso ficou marcado em mim que eu n o suporto a dor Nem cir rgica nem corte nem nada Ent o da eu vendo a ces rea fazia lembran a dela Porque o dia que ela morreu ela tava toda picada com ponto ent o isso refletiu na minha mente Sueli Em primeiro lugar necess rio esclarece
203. o de n o querer ou n o gostar de ser m e Em compara o com as duas outras mulheres Rosa tinha um conflito muito maior a respeito de trabalhar Provavelmente 161 pela educa o que recebeu Seu pai dizia que trabalhar era para os homens e almejava para as filhas mulheres somente os estudos D bora tamb m sonhava para o futuro unir a sua fam lia Eu gostaria de tentar unir a minha fam lia pra ver se d certo pra ver se um pega amor no outro gostaria de fazer a diferen a Todo mundo meu pai minha m e minha sogra tamb m Sueli pensava muito no seu tratamento Pensava em dar a volta por cima para correr atr s do seu futuro Dar a volta da doen a esquecer um pouco da doen a e fazer um curso uma faculdade alguma coisa quando a Bianca estiver um pouquinho maior Rosa pretendia oferecer aos filhos uma vida melhor do que a que teve Meu maior sonho ver meus filhos casando tudo certinho e feliz os dois eu n o s os dois quero que eles cres am e tenham uma condi o de vida bem melhor que os pai sentem s assim o que eles n o puderam dar os filhos tem quero que eles tenham uma vida bem feliz e sejam bem sucedidos os dois por isso que eu quero trabalhar ralar pra eles os dois s pra mim n o O interessante desse seu discurso que ela sonhava atrav s dos filhos como se para ela os sonhos tivessem acabado Os sonhos s pros filhos a gente
204. o devido gesta o e maternidade pode ser vivida como uma experi ncia dolorosa que comporta um risco para a identidade e autonomia da mulher causado pela reativa o do desejo infantil de fus o com a m e que pode determinar uma falha parcial na separa o individua o COHEN et al 2011 p 39 No puerp rio a mulher sofre um processo regressivo diferente da regress o vivida no in cio da gravidez Winnicott traz a denomina o de Preocupa o Materna Prim ria para o estado ps quico anormal nas mulheres normais que acabaram de ganhar nen m Essa regress o possibilita colocar a m e a servi o de seu beb ou seja ele o centro e os cuidados para com ele s o preferenciais Algumas mulheres mostram dificuldades quanto a essa capacidade regressiva ou regridem em excesso dependendo do modo como est o vivenciando essa experi ncia bem como do modo como est o podendo elaborar as mudan as decep es surpresas e novos acontecimentos Algumas sentem uma maior necessidade de apoio e at depend ncia de terceiros sentindo se muito fr gil necessitando de cuidado e prote o como se n o conseguissem fazer as coisas sozinha a regress o no per odo puerperal pode se dar de forma acentuada o que provoca transtornos emocionais e dificuldades no desempenho das fun es maternas ou pode ser operativa e adequada por possibilitar mulher atingir o estado de Preocupa o Materna
205. o e a constru o de reflex es pelo sujeito que n o est o definidas a priori Suas respostas ent o ser o verdadeiras constru es pessoais dentro do espa o de di logo de uma entrevista onde pesquisador e objeto t m uma vincula o Compreender o empreendimento cient fico enquanto uma constru o social e subjetiva Em poucas palavras a metodologia coerente com a proposta epistemol gica qualitativa substitui a resposta pela constru o a suposta neutralidade do pesquisador pela participa o e a verifica o pela elabora o GONZ LEZ REY 1998 apud MADUREIRA BRANCO 2001 p 9 Este trabalho uma pesquisa com interven o o que significa que a coleta de dados ocorreu no pr prio atendimento psicoterap utico ou seja as quest es da pesquisa 83 perpassaram pelos atendimentos Utilizou se do procedimento da Pesquisa Cl nica em que est o juntos o campo da pr tica cl nica da interven o terap utica e o campo da pesquisa enquanto processo de produ o de conhecimentos validados e comunic veis Esse tipo de pesquisa consiste em um procedimento de conhecimento do funcionamento ps quico que visa construir em uma estrutura intelig vel fatos psicol gicos que t m o indiv duo como fonte PERRON 1979 apud GIAMI 2004 p 41 41 Na pesquisa cl nica o olhar cl nico sobre o objeto da pesquisa a partir da pr tica de interven o n o ser considerado em sua totalidade uma vez qu
206. o o desenvolvimento dos sintomas o curso e o desenlace final da doen a KRAEPELIN apud DALGALARRONDO 2000 p 33 71 Sobre a etiologia e os eventos desencadeantes dos transtornos mentais a complexidade aumenta e devem ser considerados aspectos biol gicos psicol gicos e sociais que podem estar relacionados ao problema Embora a descri o dos sintomas e sua evolu o sejam essenciais para o delineamento do tratamento necess rio tamb m considerar a singularidade e especificidade de cada caso Desta forma para a realiza o de um diagn stico completo devemos consider lo pluridimensional ou seja incluir as v rias dimens es psicossociais e cl nicas do indiv duo Assim h no processo diagn stico uma rela o dial tica permanente entre o particular individual aquele paciente espec fico aquela pessoa em particular e o geral e universal a categoria diagn stica qual essa pessoa pertence Portanto n o nos esque amos os diagn sticos s o id ias hoje dir amos construtos fundamentais para o trabalho cient fico para o conhecimento do mundo mas n o objetos reais e concretos DALGALARRONDO 2000 p 32 E interessante esclarecer que o diagn stico psicopatol gico n o definitivo e pode sofrer altera es a partir da observa o do curso e da evolu o do transtorno Uma das quest es que se faz presente neste estudo quanto ao significado de 44 r 2 Esta sofrimento
207. o os maus pensamentos entende N o seria diferente se pelo menos os profissionais de sa de que acompanham as consultas de pr natal pudessem conversar oferecer um espa o para as palavras circularem valorizando mais a mulher e a m e que vem carregando essa nova vida dentro de si 126 Est o previstas a es de acompanhamento do p s natal na verdade uma consulta com a enfermeira at o d cimo dia do nascimento do beb Somente D bora passou por essa consulta Nesta a o a preocupa o com a sa de mental da mulher e em como a rela o e o contato entre a m e e o beb est o acontecendo seria bastante interessante Talvez pudessem ampliar o n mero de consultas desse tipo estendendo o contato para o puerp rio tardio uma vez que nele podem estar mais evidentes alguns sinais de desencontro conflito ambival ncia da mulher com rela o maternidade Algumas a es poderiam ser realizadas de forma intersetorial N o necessariamente o contato com a pu rpera deve acontecer nos servi os de sa de a es comunit rias tamb m podem realizar tal fun o Al m disso que possa ocorrer o trabalho em rede o fortalecimento da liga o entre os diversos setores que podem trazer melhorias para a aten o mulher no que diz respeito a sua sa de mental na gravidez e no puerp rio Outro fator interessante que ficou evidente sobre os servi os de sa de foi a respeito do mau funcionamento da rede de atendimento
208. o por uma multiplicidade de trocas todas destinadas a encontrar para o p nis o melhor equivalente NASIO 1997 p 21 Sendo assim o desejo da m e e de toda mulher ter o falo Um filho primeiramente identifica se com esse lugar de falo de desejo da m e portanto aparece no lugar de uma falta causando uma ilus o compartilhada de completude Mas o ato de castra o efetuado por um terceiro o da fun o paterna vai incidir sobre esse v nculo m e e filho Para melhor compreender importante considerar a castra o para al m da ideia de perder ou de n o possuir o rg o Castra o como um ato de corte nessa rela o primordial m e e filho uma castra o simb lica Corte em ambos os lados para a m e quanto pretens o de ter o falo e para o filho quanto pretens o de ser o falo da m e Assim o pai quem enuncia a lei enquanto estabelece a cren a para a crian a de que o pai o detentor do falo da m e 44 n o unicamente de maneira como a m e se arranja com a pessoa do pai que conv m nos ocuparmos mas da import ncia que ela d palavra dele digamos com clareza a sua autoridade ou em outras palavras do lugar que ela reserva ao Nome do Pai na promo o da lei LACAN 1998 p 585 E por meio do valor da palavra desse pai para a m e que esta eficaz sobre a crian a Desta forma o pai simb lico o da lei s pode existir por meio do inconsciente materno Seg
209. o que ser feito para mudar o olhar dos profissionais e da popula o sobre essa nova concep o e estrat gia em sa de Ampliar o entendimento e o olhar sobre a sa de mental na Aten o Prim ria para trabalhar no sentido da preven o e promo o de sa de mental A ANS tem buscado estimular as operadoras de planos de sa de a repensarem a organiza o de sistema de sa de com vistas a contribuir para mudan as que possibilitem sair do modelo hegemonicamente centrado na doen a em procedimentos e baseado na demanda espont nea para um Modelo de Aten o Integral a Sa de onde haja incorpora o progressiva de a es de Promo o da Sa de e Preven o de Riscos e Doen as BRASIL 2007c p 11 Para isso bem importante compreender o conceito de Sofrimento Mental Comum sabendo que s o gradua es menores ou iniciais de sofrimento comparados ao sofrimento dos transtornos mentais graves e persistentes e ao sofrimento verificado pelo uso prejudicial de lcool e outras drogas importante tamb m lembrar que pelos princ pios da Reforma Psiqui trica as mudan as devem ocorrer n o somente quanto dimens o t cnico assistencial mas tamb m visando uma mudan a na dimens o sociocultural O mesmo deve acontecer para a transforma o da assist ncia sa de mental na aten o b sica do SUS A pessoa que sofre tem diferentes manifesta es tristeza des nimo cansa o raiva ansiedade solid o an
210. ocr ticas enfrentada de forma real stica pela institui o formuladora e solucionada luz do poss vel consenso entre os atores sociais a partir de eficaz fluxo de informa es De acordo com a Constitui o Brasileira de 1988 a Constitui o Cidad em seu artigo 196 tem se a sa de como um direito de todos e um dever do Estado Alguns anos depois com a PNAISM pretende se que a sa de da mulher tenha suas demandas mais efetivamente atendidas Desta forma a PNAISM mant m as quest es relativas sa de da mulher presentes no PAISM e deve incluir outras demandas desconsideradas anteriormente Dentre os objetivos espec ficos da PNAISM est a amplia o das a es a grupos da popula o feminina historicamente preterida nas pol ticas p blicas como as mulheres com transtornos mentais e deficientes as mulheres negras e ind genas as trabalhadoras rurais as presidi rias entre outras Os planos de a o envolvem variadas reas do Minist rio da Sa de que t m interface com a sa de da mulher como as reas de Sa de Mental Sa de da Crian a Aten o B sica Direitos Humanos e Educa o em 1 Material de apoio disciplina ministrada pelo Prof Carlos Jos Marins Filho em 27 10 2005 na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Miss es Campus Santo Angelo 14 Sa de Tamb m tem por objetivo promover a aten o obst trica e neonatal qualificada e humanizada Um objetivo da PNAISM q
211. ocupou um lugar paternal Deu lhe seguran a e uma condi o de vida melhor Ah eu fui educada pelas minhas tias eu fui educada por uma patroa minha que mora em Curitiba com 13 anos se empreguei com ela e da fui criada pela ltima vez pelo meu marido pr prio dos 14 aos 28 anos Ap s um ano de rela o engravidou da primeira filha e a partir da ambos oficializaram a rela o Carlos estimulou a a estudar pois quando se conheceram Sueli era analfabeta e falava tudo errado Ent o o meu marido que me incentivou a estudar Porque ele fala que o estudo nunca demais Al m disso amparou a financeiramente ajeitando judicialmente o que lhe de direito caso ele viesse a faltar como seguros pens o bens A grande diferen a de idade entre Sueli 28 anos e o marido 72 anos sempre gerou muitos coment rios preconceituosos A eu comecei a me isolar de novo n o 102 sair com ele pelo preconceito Porque as pessoas comentam perguntam Ele teu pai ou teu marido Ent o bem complicado Na gesta o e no p s parto da primeira filha n o teve problemas mas a vizinhan a falava coisas que a deixavam mal N o sou explosiva Eu guardava tudo o que os outros falavam eu ia pela cabe a dos outros Falavam que ela n o ia andar nem falar por causa da idade do pai dela Isso foi fazendo com que Sueli se afastasse do conv vio na vizinhan a ficando mais isolada No
212. ogia e Psican lise Pr Reitoria de Pesquisa e P s Gradua o da Pontif cia Universidade Cat lica do Paran Curitiba 2006 JERUSALINSKY J A cria o da crian a brincar gozo e fale entre a m e e o beb Salvador Agalma 2011 KAPLAN H I SADOCK B Comp ndio de Psiquiatria ci ncias comportamentais e psiquiatria cl nica Porto Alegre Artes M dicas 1993 LACAN J Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar 1998 LAPLANCHE J amp PONTALIS J B Vocabul rio da Psican lise S o Paulo Martins Fontes 1999 MADUREIRA A F A BRANCO A U A pesquisa qualitativa em psicologia do desenvolvimento quest es epistemol gicas e implica es metodol gicas Temas em Psicologia da SBP Bras lia DF v 9 n 1 p 63 75 2001 Dispon vel em lt http pepsic bvsalud org pdf tp v9n1 v9nla07 pdf gt Acesso em 10 Out 2011 MARTINS A P V Um sistema inst vel as teorias ginecol gicas sobre o corpo feminino e a cl nica psiqui trica entre os s culos XIX e XX In Hist ria e Loucura saberes pr ticas e narrativas Uberl ndia EDUFU 2010 MATHELIN C O Sorriso da Gioconda cl nica psicanal tica com os beb s prematuros Rio de Janeiro Companhia de Freud 1999 NUNES M JUC V J VALENTIM C P B A es de sa de mental no Programa Sa de da Fam lia conflu ncias e disson ncias das pr ticas com os princ pios das reformas psiqui trica e sanit ria Cadernos de Sa de P blica Rio de Janeir
213. olaridade e as de menor escolaridade As primeiras muitas delas t m evitado a maternidade em prol de investir na vida profissional ou possuem condi es de bancar algu m que cuide dos filhos para poderem trabalhar Enquanto as outras mulheres com menos grau de instru o acabam investindo mais na maternidade pela falta de op o no mundo afora Geralmente s o pouco valorizadas e pouco remuneradas no trabalho externo A desigualdade social que se soma dos g neros pesa fortemente sobre o desejo de ter filhos BADINTER 2011 p 27 Contudo ocorre hoje uma ideologia maternalista que difunde a inexist ncia de contradi es e ambival ncias maternas E uma nova fase do movimento feminista que torna a maternidade o centro do ser feminino da feminilidade numa esp cie de retorno m e natureza O novo discurso feminista uma reivindica o da diferen a identit ria entre homens e mulheres utilizando se disso como arma pol tica e moral Desta forma ressalta se mais do que nunca aspectos da experi ncia biol gica feminina como a menstrua o a gravidez e o parto o retorno da celebra o do sublime maternal BADINTER 2011 Mas tamb m caracter stica do mundo contempor neo um ideal feminino motivado pela realiza o pessoal H portanto um conflito de ideais femininos nos tempo atuais entre com o ideal mais antigo o modelo da maternidade e outras aspira es pessoais Mas a contradi o
214. om outras pessoas al m dela Verifica se portanto um per odo de ambival ncia pois a m e sabe que n o poder manter o seu filho no seu ventre e para t lo vivo precisar perd lo abrindo m o da exclusividade de sua rela o para com ele Diante disso tudo esse um per odo no qual podem ocorrer algumas descompensa es som ticas e ps quicas Geralmente as descompensa es som ticas s o amea a de parto prematuro toxemias descompensa es diab ticas hipertens o arterial c imbras diarr ias constipa o pertinaz aumento brusco e excessivo de peso Muitas vezes essas descompensa es n o t m uma explica o conhecida e pode se pensar que cada mulher dependendo da sua hist ria com essa gravidez vai ter uma manifesta o singular As descompensa es ps quicas tamb m trazem sempre um significado da hist ria dessa gravidez para a mulher bem como de sua hist ria pessoal Podem ocorrer estados de ansiedade e depress o altera es de sono fobias diversas como por exemplo com rela o a deformidades do corpo da gestante ou do corpo do beb As ansiedades podem estar relacionadas a alguma interdi o inconsciente de dar luz Szejer e Stewart exemplificam essa situa o de maneira bastante clara com a seguinte cita o Assim a mulher que em sua fam lia por diversas raz es ocupava o lugar da que n o teria filhos seja porque ela era o filho que faltava em sua gera o seja por
215. omprar suas coisas O beb estava com a sogra e D bora levava o para a casa nos finais de semana Ao telefone n o deu para saber como realmente estava vivendo essa nova situa o Parecia tranquila mas isso j aconteceu uma vez quando do atendimento hospitalar Estaria tranquila conformada ou sem est mulo e com dificuldades para assumir os cuidados de seu beb N o sabemos Desde que Rosa recebeu alta hospitalar n o se teve mais not cia dela N o se sabe se conseguiu colocar em pr tica o seu plano de arrumar um emprego deixando os filhos na creche e na escolinha para que pudesse trabalhar Algo que ela dizia que tanto queria mas ao mesmo tempo sentia se culpada em fazer isso Com Sueli no ltimo contato fazia poucos dias que o beb estava de volta em casa Vinha passando os dias na creche por exig ncia judicial mas durantes s noites e nos finais de semana a fam lia estava completa Ela estava tranquila e muito feliz com a maternidade Enfatizava a import ncia da continuidade do tratamento ambulatorial para que seu quadro n o cronificasse assim como viu acontecer com uma tia e com tantas outras pacientes que conheceu l no hospital 163 6 CONSIDERA ES FINAIS O prop sito deste trabalho foi compreender os significados que as mulheres d o maternidade quando diante da gesta o ou ap s o nascimento do beb necessitaram de um tratamento psiqui trico em regime de interna o Frente maternidade
216. or uma dificuldade de se adequar a uma imagem de mulher maternal devido a uma rela o conflituosa com a sua m e entre outras possibilidades de interpreta o interessante ressaltar a enorme influ ncia que a figura materna inconsciente tem na estrutura o da personalidade e nos comportamentos da mulher com rela o ao mundo exterior A figura materna constru da e interiorizada desde as primeiras experi ncias da inf ncia e depois de lat ncia adolesc ncia e vida adulta A rela o fundamental da m e e do beb est na base de todas as rela es objetais afetivas e intelectuais dos sujeitos A capacidade da m e de receber conter responder criativamente reverie de Bion as manifesta es emocionais do beb acatar e devolver mitigadas as explos es de dio e pavor mas tamb m as express es de amor e gratid o favorece a constru o de uma figura materna interior que acompanha molda e d seguran a e confian a na pr pria capacidade da crian a posteriormente a mulher de enfrentar construtivamente as vicissitudes da exist ncia uma das quais e n o pequena a maternidade SIMON apud FELICE 2000 p 10 Assim como j foi explicitado no primeiro cap tulo desta pesquisa as primeiras rela es do beb com a sua m e s o preponderantes para o desenvolvimento da feminilidade e consegiientemente para a possibilidade da experi ncia da maternidade Se a rela o entre o beb e a m e n o for satisfa
217. ortanto exercem uma influ ncia significativa por m inconsciente De acordo com Szejer e Stewart 1997 p 38 Buracos significa n o ditos lutos n o feitos eventos n o formulados e que n o foram colocados em palavras que pudessem lhes dar sentido e permitissem que fossem integrados O desconhecido de cada hist ria os buracos reaparecem do passado em momentos especiais da vida de cada ser humano como por exemplo no evento de uma gravidez e no nascimento de um novo ser na fam lia Desta forma muitas vezes o per odo de uma gravidez pode estar revestida de uma hist ria familiar com feridas n o cicatrizadas e problemas n o resolvidos que se reatualizam podendo influenciar de forma negativa essa experi ncia O papel e o lugar que cada um ocupa em sua fam lia influenciar na possibilidade do sujeito criar ou n o a sua pr pria fam lia ou seja gerar filhos Assim valorizando a singularidade de cada caso isto a hist ria particular que atravessa cada gravidez cada mulher e cada fam lia que poss vel ent o explicitar o desenvolvimento geral da gravidez bem como o momento do parto e do p s parto e as eventuais manifesta es particulares que denunciam ou n o certo sofrimento Sem esquecer a influ ncia preponderante do psiquismo inconsciente de cada um 2 1 1 DA IMPORT NCIA DA MATERNIDADE NA ESTRUTURA O DA FEMINILIDADE Considerando as contradi es e ambival ncias que ger
218. os bitos j analisados dos 96 casos de mulheres que morreram em 2011 no per odo de gesta o e 28 puerp rio 7 casos foram de suic dios ou seja uma porcentagem de 7 29 Entretanto examinando somente as mortes por causas de viol ncia dos 21 casos a porcentagem de 33 33 para autoagress es Na gesta o foram registrados 2 casos de suic dio um por enforcamento 16 anos e outro por les o provocada intencionalmente por fuma a pelo fogo e por chamas 21 anos No puerp rio imediato houve registro de 2 casos de bito por complica es advindas de transtornos mentais pr vios em mulheres com 21 e 28 anos de idade No puerp rio tardio houve a ocorr ncia de 3 casos de suic dio 1 por disparo de arma de fogo com 20 anos de idade e 2 por enforcamento ambas com 36 anos de idade Diante desses dados fica a quest o de como seria relevante que os comit s de morte materna estendessem as suas an lises para al m do que categorizado como bitos maternos uma vez que a incid ncia de bitos por viol ncia causas externas acidentais ou incidentais tem se mostrado muito alta e por isso medidas de preven o fazem se urgentes Isso sem falar nos casos que n o s o registrados portanto n o s o pass veis de serem considerados ao olhar da sociedade e das pol ticas p blicas como os de mulheres que desencadearam um sofrimento mental importante no per odo da gesta o parto e puerp rio colocando em risco a sua pr p
219. os fortes estressores ambientais perda do emprego perda de um ente querido problemas conjugais ou aus ncia de parceiro dificuldades econ micas instabilidade financeira e ou ocupacional ansiedade ou depress o na gesta o gravidez indesejada fatores obst tricos e complica es no parto abortamentos espont neos ou de repeti o hist ria de abuso sexual relacionamento parental conturbado na inf ncia neglig ncia na inf ncia baixa autoestima gravidez na adolesc ncia entre outros Fatores de risco s o condi es biol gicas e psicossociais que quando presentes em determinados grupos da popula o est o associadas a uma maior probabilidade de desenvolvimento de um determinado transtorno por parte desta popula o VALEN A 2005 apud CORREIA 2006 p 27 Os fatores de risco devem ser verificados de forma sistem tica e regular Embora as pesquisas na sua maioria apresentem os fatores de risco de uma forma generalizada relevante indicar que existem as especificidades culturais locais e temporais que podem identificar fatores de risco distintos Segundo Correia 2006 p 23 No caso da DPP os fatores gen ticos s o importantes por m mesmo que o indiv duo apresente uma predisposi o gen tica prov vel que fatores biol gicos ou psicossociais necessitem interagir para ocasionar a doen a De tudo o que foi apresentado pode se inferir que s o incertas e diversas as conceitua es d
220. os ao tema dentre eles o blog Cientista que virou m e Dentre os resultados observou se a seguinte situa o quanto s atitudes dos profissionais de sa de durante o per odo de interna o das mulheres amea as 5 gritos 5 fizeram piadas de seus comportamentos 12 mandaram parar de gritar 9 57 criticou por seus lamentos ou choro de dor emo o alegria 19 fizeram coment rios ir nicos em tom depreciativo 21 chamaram a mulher por algum apelido ou diminutivo 32 Das mulheres da amostra somente 53 disseram terem sentido se compreendidas amparadas e tratadas com respeito O document rio e os resultados do teste citados acima denunciam algumas falhas por parte das equipes de sa de durante o parto Segundo o teste elaborado por Franzon e Sena 2012 quase metade do grupo de mulheres se sentiu desrespeitada No Brasil um abuso tecnol gico est relacionado s pr ticas obst tricas denotando em alguma medida um excesso de cirurgias cesarianas H tamb m diversos casos de parto natural em que s o praticadas interven es violentas e geralmente desnecess rias Interven es ao parto normal s o todas as medidas tomadas com rela o gestante e ao beb que modifica o processo natural e fisiol gico do nascimento S o alguns tipos de interven o ocitocina sint tica o sorinho exame de toque episiotomia corte do per neo puxos precoces manobra de Kristeller empurrar a barriga tri
221. os nessa etapa de vida das mulheres muitas vezes tornam se crises persistentes em suas hist rias Isso pode acontecer por variados fatores sejam devidos a algumas mulheres n o darem continuidade ao tratamento proposto ou at mesmo por falhas no sistema de sa de que utilizaram assim como por outros motivos As a es preventivas tem por fim eliminar elos da cadeia patog nica ou no ambiente f sico ou social ou no meio interno dos seres vivos afetados ou suscept veis Os meios a serem empregados na profilaxia ou na preven o poder o ser aplicados em v rios per odos que constituem a hist ria natural da doen a Em outras palavras podem servir para impedir que o est mulo desencadeante atinja o organismo ou ainda para modificar lhe as consequ ncias ROUQUAYROL 1988 apud BRASIL 2007c p 158 As medidas de promo o de sa de e preven o a doen as aumentam a qualidade de vida das pessoas e juntamente contribui para a redu o dos custos nos sistemas de sa de 23 1 3 PROGRAMAS DE ATEN O MATERNO INFANTIL No Programa M e Curitibana desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Curitiba desde 1999 s o verificadas as diretrizes de aten o sa de da mulher oferecendo assist ncia s gestantes e aos rec m nascidos H uma articula o entre as unidades de sa de os servi os de refer ncia e as maternidades vinculadas buscando um desenvolvimento saud vel da gesta o a partir de pr natais com especificida
222. para se dedicarem aos cuidados dos filhos Afinal diziam a maternidade um trabalho como outro qualquer e frequentemente com mais valor que qualquer outro exceto pelo fato de ser estimulado em apenas meio sal rio m nimo O desemprego maci o que atingiu mais duramente as mulheres do que os homens teve como consequ ncia trazer a maternidade para o primeiro plano um valor mais seguro e reconfortante do que um trabalho mal pago que se pode perder da noite para o dia Isso porque sempre se considera o desemprego do pai mais destruidor que o da m e e porque psicopediatras descobriam continuamente novas responsabilidades em rela o crian a que s incumbiam quela BADINTER 2011 p 10e 11 Juntamente com a quest o econ mica tamb m se observa o aumento de exig ncias sociais ao que seria a boa m e criando um ideal poder se ia dizer de m e perfeita Ideal esse dif cil de cumprir 2 Contradi o mal estar ang stia o que muitas mulheres passaram a sentir a partir dessa multiplica o de fun es Dividiram se entre os dois desejos ou os v rios desejos ao pre o de uma escolha Escolher tamb m perder algo sempre Conciliar maternidade e vida p blica uma tarefa que ficou estafante para as mulheres muito trabalho e com frequ ncia pouca remunera o A divis o de tarefas com os homens na vida dom stica n o uma constante nem suficiente As novas dificuldades que surgir
223. pelos desejos do Id Sobre a g nese das forma es delirantes algumas an lises nos ensinaram que o del rio como um remendo colocado onde originalmente surgira uma fissura na rela o do Eu com o mundo exterior A etiologia comum irrup o de uma psiconeurose ou psicose sempre a frustra o a n o realiza o de um daqueles desejos infantis nunca sujeitados t o profundamente enraizados em nossa organiza o filogeneticamente determinada O efeito pat geno depende de que o Eu nessa tens o conflituosa continue fiel sua depend ncia do mundo externo e procure amorda ar o Id ou se deixar sobrepujar pelo Id e separar da realidade FREUD 2011 p 180 e 181 A teoria psicanal tica considera a exist ncia de tr s estruturas da qual ressalta que sejam estruturas de defesa a neurose a pervers o e a psicose Para a subjetiva o do sujeito ou seja para que ele exista enquanto sujeito sujeito de Desejo necess rio que ele defenda se por isso a estrutura de ser o objeto da Demanda Imagin ria do Outro Isso o que vai dar uma significa o ao sujeito Uma significa o subjetiva que o defender dessa Demanda do Outro de ser o objeto de gozo do Outro fazendo do sujeito algo diferenciado do Real de seu corpo de um peda o de carne e nada mais uma estrutura o de defesa na medida em que se subjetivar existir como sujeito barrado pela castra o como na neurose ou n o como na psicose
224. pital Quando D bora retornou de licen a ap s passar 15 dias em casa ela estava diferente em rela o ao seu beb Parecia n o se sentir mais no direito de ser m e dessa crian a sentia se incapaz e tentava mostrar se conformada com essa decis o Antes de ir para casa estava louca para ver ele Eu tava muito ansiosa querendo ver ele da quando eu vi eu n o senti nada D bora passou ent o a afirmar que o filho ca ula seria criado pela av paterna sua sogra Agora o meu filho menor vai ficar com a minha sogra mesmo s vai morar eu o meu marido e o meu filho mais velho to pensando que melhor porque a minha sogra t fazendo tudo o que ela pode por ele e algumas coisas eu j n o posso dar 147 Essa decis o foi reflexo da rea o da sogra que ficou com choradeira e pedindo para n o lhe tirar o beb quando D bora foi busc lo para levar para casa Depois de v rios dias longe de seus filhos D bora ficou com o filho mais velho e somente o primeiro dia com o seu beb No primeiro dia que eu levei ela j ligou pra mim levar o beb pra ela ver ligou e ainda xingou o meu marido porque eu prometi pra ela que eu ia levar todo dia pra ela ver da eu peguei e levei e n o tirei mais de l indiscut vel a interven o da sogra durante esse per odo de licen a Um dia D bora quis levar o beb na casa do irm o e a sogra quis ir junto No caminho foi a av
225. por causas obst tricas diretas ou n o mais os dados de bitos maternos no puerp rio tardio e os bitos por causas externas viol ncia observou se uma taxa de quase 8 de mortes por suic dio de mulheres na gesta o ou no p s parto E ainda considerando somente as mortes por causas externas a taxa ficou entre 30 e 40 por suic dio Esse um dado espantoso e que exige medidas de preven o Por isso basilar revelar que enquanto essas ocorr ncias continuarem a serem lidas como categorias externas n o ser o consideradas nas pol ticas p blicas e continuar o fora dos protocolos de atendimento 2 Pensar nessa quest o ir ao encontro com o compromisso internacional assumido pelo Brasil a respeito dos Objetivos de Desenvolvimento do Mil nio que tem como metas dentre tantas outras redu o da mortalidade infantil e a melhoria da sa de das gestantes Estar atento e cuidar da sa de mental das gestantes contribuiriam e muito para isso Outro aspecto o j existente Programa de Planejamento Familiar deve encontrar medidas que ampliem a capta o de mulheres com hist rico de transtorno mental pr vio para orient las sobre os riscos e cuidados necess rios ao engravidarem prevenindo novos adoecimentos mentais Para as mulheres em idade f rtil preciso adotar medidas de promo o sa de e qualidade de vida Sabe se que a desestrutura social e financeira s o fatores de risco para o adoecimento ps quic
226. portanto diagnosticam a crise de uma maneira mais geral a segunda de que h apresenta es de sofrimento ps quico dif ceis de serem catalogadas e portanto uma defini o escapa aos agrupamentos mais usuais De acordo com o DSM IV e o CID 10 o reconhecimento do desencadeamento da psicose em especial a esquizofrenia a partir da presen a de sintomas enquadrados como positivos e negativos Os sintomas positivos parecem refletir um excesso ou distor o de fun es normais enquanto os sintomas negativos parecem refletir uma diminui o ou perda de fun es normais ASSOCIA O PSIQUI TRICA AMERICANA 1994 p 264 Os sintomas positivos ou s ndromes produtivas nas psicoses s o distor es ou novas manifesta es do pensamento del rios da percep o alucina es auditivas visuais cenest sicas da linguagem neologismos parafrasias do comportamento atos impulsivos comportamento bizarro e motora agita o psicomotora Os sintomas negativos ou s ndromes deficit rias nas psicoses produzem efeitos de empobrecimento ps quico emocional e social do indiv duo Ocorre uma perda em algumas fun es ps quicas quanto ao pensamento empobrecimento lentifica o do pensamento vontade dificuldade de realizar a es organizadas falta de iniciativa linguagem empobrecimento da linguagem diminui o da flu ncia verbal ao comportamento isolamento social ao afeto distanciamento afetivo
227. press o da m e e dos irm os Isso que ela vive entre dois medos dois p nicos A press o dos parentes e um medo de perder isso aqui Na hist ria confusa de Rosa compreendeu se que ela tinha uma rela o de muita ambival ncia com rela o aos homens Nenhum homem presta n o vou ficar com mais ningu m N o quero mais ningu m Tinha o marido como um porto seguro mas parecia que n o o desejava como mulher Dizia n o saber exatamente o que era gostar verdadeiramente de um homem Ele na verdade uma boa pessoa Ele diz at hoje que acha que eu n o gosto dele Por causa das brigas dos entendimento Mas eu me dou com ele assim ele uma boa pessoa Mas dizer de gostar eu n o sei o que que gostar gostar mesmo que ele bonzinho mesmo Uma boa pessoa Ele cuida faz as coisas ele faz de tudo pra ficar tudo bem Rosa a fam lia dele uma boa fam lia por isso que eu to com ele Ele diz que eu n o gosto dele mas eu gosto dele uma boa pessoa Rosa 136 Nos tr s casos estudados ficou evidente a depend ncia emocional que as mulheres tinham para com seus companheiros Todas expressaram um receio de que seus maridos abandonassem nas D bora sofria ao imaginar que Marcelo poderia voltar para a casa da m e dele caso brigassem levando seu filho Sueli tinha medo de ficar desamparada pelo marido se este morresse uma vez que ele tinha uma idade ava
228. profissionais de sa de Mesmo com a estratifica o de risco evidenciada nos programas materno infantis na pr tica os problemas mentais n o s o observados o que impossibilita um acompanhamento precoce e preventivo s crises agudas Al m disso quando ocorre a consulta do puerp rio avaliam o desenvolvimento do beb mas nem sempre conversam com as m es para realmente saber como elas est o passando Os servi os precisam se reestruturar em rela o ao in cio e precocidade do curso da psicose e tamb m melhorar as bases da pr tica dos profissionais de sa de mental e a fim de trabalhar efetivamente com esse grupo de clientes cruzarem as fronteiras dos servi os tradicionais EDWARDS e cols 2000 apud COSTA 2010 p 16 169 Outro aspecto importante com rela o ao puerp rio que muitas vezes o mal estar ps quico intensifica se ap s alguns meses portanto a consulta na primeira semana do nascimento n o suficiente para identificar algumas altera es H casos em que o sofrimento mental acontece logo no in cio mas outros que aparecem somente posteriormente No caso de D bora exemplo disso ela passou a apresentar sintomas quando seu beb j estava com 2 meses de vida Sendo assim seria interessante dar uma aten o especial ao puerp rio tardio considerado desde os 42 dias at o primeiro ano de vida da crian a Que o acompanhamento do p s parto fosse estendido pelo menos at os seis meses do nas
229. ps quica Comparece portanto em todas as escolhas conscientes e inconscientes que uma pessoa possa fazer E n o seria diferente sobre a quest o da maternidade A partir dos atendimentos nos tr s casos ficaram evidentes conflitos inconscientes quanto s rela es objetais internalizadas e conflitos conscientes ou nem tanto com pessoas 167 reais por exemplo com a figura da sogra da m e da realidade com o marido com os filhos e outras pessoas da rede social das mulheres As tr s tamb m mostraram desejo e ambival ncia sobre o ser m e e dona de casa e o ser mulher e trabalhar fora E todas sua maneira pareciam negociar este lugar com maior ou menor sofrimento Badinter 2011 enfatizou de que nos tempos atuais h a possibilidade de diferentes destinos femininos Mas essa maior liberdade de escolha entre ser m e ou n o pode aprisionar algumas mulheres em conflitos e ang stias que nem sempre ser o conscientes entretanto influenciar o nas suas vidas Essa autora ainda acrescentou que h tr s modos de lidar com essa dualidade dos interesses pessoais e da fun o materna aderindo negociando ou recusando Ao analisar os programas materno infantis do Estado do Paran ficou evidente que a preocupa o ocorre em torno das quest es fisiol gicas da gesta o n o havendo uma aten o para os aspectos ps quicos e emocionais que acompanham as mulheres nessa fase N o h d vida de que o ponto de vist
230. ps quico grave Isso porque se pretende abordar os casos cl nicos sob essa refer ncia ou seja considerar a mol stia que acometeu as pacientes como um estado psic tico n o decidindo por uma estrutura psic tica definida nem por um diagn stico psiqui trico de psicose uma vez que n o poss vel saber a priori o que ocorrer no curso de suas vidas e doen a ap s os tratamentos que foram acompanhados Insistimos que no caso do sofrimento ps quico grave deve se pensar em novos modos de compreender o sofrimento sobre quando determinadas viv ncias tornam se insuport veis e quais as potencialidades do sujeito que podem sustent lo diante dessa realidade rejeitando assim qualquer defini o pr estabelecida em especial as deficit rias COSTA 2010 p 59 Costa 2010 em sua tese de doutorado apresentada em 2003 problematizou sobre o sofrimento ps quico grave propondo o Grupo de Interven o Precoce nas Primeiras Crises do Tipo Psic tico GIPSI para tratar do que o pr prio nome sugere Para isso discutiu vastamente sobre a diversidade de conceitua es sobre o termo psicose de diferentes sentidos estudados por diferentes ci ncias como a psiquiatria a 72 psican lise a psicopatologia e a psicologia cl nica e concluiu junto a outros autores que o termo psicose est repleto de imprecis es Sugere um exemplo disso citando Campbell 1986 apud COSTA 2010 p 37 que ressalta sobre a psicose O re
231. que as impediram de exercerem as fun es maternas em maior plenitude e a cuidarem de si mesmas H uma car ncia de pol ticas p blicas e programas voltados para o atendimento dessas situa es e os que existem n o possuem uma especificidade e um preparo adequado para o atendimento voltado sa de mental com enfoque de g nero Tratou se de uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo transversal na perspectiva da Epistemologia Qualitativa utilizando como referencial te rico a psican lise Foram apresentados tr s casos cl nicos de mulheres que foram internadas no hospital psiqui trico ap s uma crise do tipo psic tica no per odo puerperal Utilizou se do procedimento da Pesquisa Cl nica tendo sido uma pesquisa com interven o ou seja dos atendimentos psicoterap uticos deram se tamb m as entrevistas abertas e semi estruturadas com as pacientes e seus companheiros Nos resultados fez se uma discuss o a partir de algumas categorias de an lise levantando as significa es dessas mulheres quanto ao tornar se m e Observou se similaridades sobre as ang stias conflitos e ambival ncias que sentiram O desamparo materno a preocupa o com a divis o entre os dois filhos o desejo de trabalhar a depend ncia emocional e financeira do marido foram alguns pontos em comum entre elas Todas as mulheres revelaram durante a experi ncia da gesta o parto e puerp rio conte dos psicol gicos inconscientes e conflitos ligados a fantas
232. que era miudinha quando pequena sendo vista pela fam lia como o oposto de suas irm s feitas para ter filhos poder reviver nessas fobias algo relacionado a essa interdi o de ter filhos SZEJER STEWART 1997 p 201 202 Com a aproxima o do parto muitas mulheres sentem extremas ang stias Algumas por n o se sentirem preparadas para a pr pria situa o de parto outras devido separa o de seu beb ou por n o se sentirem seguras em assumir o papel materno ou ainda por temerem pela vida delas ou de seu beb As ansiedades aparecem tamb m em rela o s mudan as que logo ocorrer o seja pelo surgimento de um novo ser na fam lia o que de alguma maneira vai transformar o equil brio familiar seja pelo contato com esse ser at ent o desconhecido seja por medo das perdas 51 De sua parte a m e que teve que passar por tantas ansiedades at conseguir adaptar se ao estado de gravidez e que j havia incorporado o feto como parte de seu esquema corporal ao mesmo tempo que se acostumara ao diferente ritmo metab lico hormonal e fisiol gico dever passar por um novo processo de adapta o desta vez de retorno situa o comum de n o gravidez SOIFER 1980 p 51 A essa passagem de um estado para outro necessitando de uma nova adapta o soma se ang stia inconsciente do trauma do nascimento Como se na mulher reativasse a ang stia de seu pr prio nascimento Desta forma segundo
233. que est o em dificuldade para cuidar de seus beb s E o holding do holding ou seja cuidar das m es para capacit las a ajudarem suas crian as A m e o que ela Sem procurar logo aperfei o la nem tampouco retirar seu filho podemos assisti la mas n o basta de jeito nenhum para uma m e que acaba de parir escut la diz lo n o tem tanta rela o com a viv ncia a motricidade o funcional em jogo trata se de um viver com e sobretudo de um fazer com para a pessoa que se ocupa desta m e e deste beb DOLTO 1978 apud BENAVIDES BOUKOBZA 1997 p 91 A Cl nica do Holding realizada na Unidade de Acolhimento M e Beb em Saint Denis funciona como um hospital dia para receber m es e seus filhos quantos tiverem nas idades entre O e 6 anos A equipe composta por psicanalistas psic logos e 130 educadores trabalha na dire o de escutar e mediar a rela o das m es com seus filhos e das m es com outras m es e os filhos destas Vislumbra se as rela es interpessoais com trocas de experi ncias sobre assuntos como sexualidade casamento trabalho e os diversos tipos de ang stias por elas vivenciadas Tem mostrado se como uma forma eficiente de retirar um pouco essas m es da rela o dual conflituosa e ambivalente com seus filhos possibilitando a elas um outro olhar e um espa o para que possam circular outros aspectos de suas subjetividades A Unidade M e Crian as de Saint De
234. que todo mundo me ouvisse Queria fazer da fam lia Da fam lia do meu esposo Gritar para o Marcelo v Contou que se arrumou toda para ficar linda para ele mas que ele n o reparava nela Da rela o dos dois disse achar que ele gosta dela mas que ele tamb m quer ser livre Referiu se a si mesma como um chiclet o pois gruda demais e sempre foi muito ciumenta No entanto sentia que estava mudando vou trabalhar e ocupar a minha cabe a Queixou se de que ele acha que tudo o que ela faz est mal feito Mas concluiu que iria aceitar tudo o que ele quer e dar o melhor de si Ao final do atendimento disse algumas palavras interessantes Queria sair hoje para o mundo Mostrar minha beleza o que todo mundo quer ver N o uma pessoa tonga triste burra como sempre fui Mudou agora me sinto inteligente Disse n o saber o que sente pelos filhos mas que pensava em cuidar deles pois estando na mamadeira ela poderia trabalhar Desse primeiro atendimento psicol gico ficou evidente uma autoestima rebaixada com uma sensa o de autoconfian a maior ap s os primeiros dias de tratamento Nos dias que se seguiram D bora mostrou se mais calma em alguns momentos ainda com certa instabilidade de humor e quanto aceita o do tratamento proposto 96 O marido compareceu ao primeiro atendimento familiar na semana seguinte interna o da paciente e foi atendido pela m dica psiqui trica Informou que D bora
235. quem levou o beb no colo como se tivesse medo de deix los sozinhos Ou se poderia pensar que a sogra estava insegura ou com medo de perder o seu novo filho Estava evidente o grande desejo da sogra para criar o neto e as press es s vezes bem expl citas que fazia na m e do beb Ela ficou e ela vai ficar com ele Era o meu nico medo Embora a sogra tivesse ensinado um pouco sobre como cuidar dele como fazer a mamadeira o que ele quer quando ele chora quando come a a reinar poder se ia pensar que juntamente s dicas passava tamb m a ideia de ela que sabe cuidar ou ela quem conhece este beb Desta forma inferiu se que esses acontecimentos refor aram os sentimentos de inseguran a e de incapacidade da paciente frente a seu beb assim como o estranhamento entre eles Ambos conviveram um nico dia e nem sequer tiveram algum momento sozinhos M e e beb estavam afastados h algum tempo e ela n o o estava reconhecendo porque quando saiu ele era bem bebezinho agora ele j t enooorme D bora passou a dizer que n o se sentia capaz de cuidar bem de seu beb Eu n o sei mais cuidar dele Dizia tamb m que n o tinha mais sentimento por ele Eu sinto que eu n o gosto mais dele que eu n o amo mais ele como eu amava antes sil ncio e choro N o sei explicar por qu Parece que acabou N o tenho amor de m e por ele Essa rela o ambivalente
236. quico Promo o de sa de possibilitando que as mulheres assumam seus desejos e fa am suas escolhas sem a necessidade de corresponder ao imagin rio social velado de que preciso ser m e ou a m e perfeita 1 4 O MITO DA M E SOBRE A MULHER Elisabeth Badinter fil sofa e psicanalista francesa desenvolveu uma pesquisa bastante pol mica inclusive para os tempos atuais que resultou no livro Um Amor Conquistado O Mito do Amor Materno 1985 Neste afirmou que o amor materno n o inato s mulheres e n o se trata de um instinto feminino Por meio de um estudo hist rico de diferentes pocas a autora argumentou contra o determinismo considerando que o amor materno n o um sentimento inerente condi o de mulher e sim adicional um sentimento que pode vir a se desenvolver Desta forma concluiu que muitas mulheres n o apresentam espontaneamente o desejo de serem m es Ressaltou que em diferentes momentos da hist ria por exemplo no s culo XVII as mulheres n o apresentavam forte liga o com a sua prole Apesar dos ideais emancipat rios do S culo das Luzes nos quais se valorizava a igualdade a fraternidade e a liberdade o que se observou historicamente foi uma grande contradi o pois se manteve o modelo naturalista de organiza o pol tica e social ou seja as rela es de poder e de dom nio masculino da poca Isso significa que para o grupo de mulheres a sua participa o na esfera p bl
237. quisa cumprindo os preceitos ticos sobre sigilo confidencialidade e preserva o das identidades 92 acompanhada do marido o qual estava nitidamente assustado e agitado Na primeira avalia o psiqui trica a paciente mostrava se com uma higiene regular l cida e orientada reconhecendo suas crises e referindo que n o podia control las Logo que chegou ap s ter sido encaminhada para a unidade feminina de transtornos mentais agudos foi recebida pela equipe de auxiliares de enfermagem do dia que segundo informaram a paciente encontrava se calma contando que tinha um filho de 2 meses e observaram que estava com leite nos seios Alimentou se e dormiu bem mas estava bastante ansiosa para fumar No dia seguinte devido a sua intensa inquieta o agita o e ansiedade invadia a porta do posto de enfermagem queria ser ouvida mas n o conseguia acalmar se com as orienta es que lhe eram feitas foi realizado conten o no leito por duas horas nas quais dormiu Seu discurso era repetitivo sobre a alta e queria ir embora a todo custo Na primeira semana de tratamento passou pela avalia o individual da equipe t cnica multidisciplinar e diante de todas as avalia es realizadas constatou se que seu estado ps quico era o seguinte acessibilidade ao contato interpessoal orienta o espa o temporal conseguindo realizar os cuidados pessoais e de higiene de forma independente cr tica rebaixada sobre a necessidade do tr
238. r chegou mais calma na institui o Sueli e D bora n o entendiam e n o aceitavam o tratamento Duas das entrevistadas tiveram licen a no per odo das festas de fim de ano Sueli foi direto para casa de alta mas o seu beb n o estava l ainda ficou no abrigo mais um m s de sua chegada Entende se que o contato em casa com o pr prio ambiente e seus familiares favor vel s pacientes porque elas podem perceber como se sentem e encontrar com suas emo es gradativamente A dist ncia do beb n o pode ser muita nem por muito tempo Observa se que h falhas no planejamento dessa quest o considerando o que a sa de p blica disponibiliza at ent o prudente refletir sobre as necessidades e queixas das mulheres sobre as dificuldades por elas vividas durante essa fase da vida para consequentemente aprimorar as a es de sa de mental para elas e suas fam lias A realidade de um tratamento hospitalar em regime integral j discutida e criticada ao considerar o afastamento social a que os sujeitos s o submetidos E imaginem o quanto mais complicado e arriscado pode ser quando o que se afasta uma dupla de sujeitos quase que indiferenci veis N o haveria uma forma melhor de tratamento que n o precisasse distanciar m e e filho Que preju zos podem existir por meio dessa quebra t o precoce no contato entre eles 129 Segundo Winnicott nesta fase em que o beb depende dos cuidados da m e h
239. r arcaica Mulher esta que est ligada a modelos arcaicos das condi es puramente naturais do parto natural e da amamenta o ao seio Sentem a ces rea como um m todo artificial e menos digno entre as mulheres e s vezes a entendem como uma transgress o A fil sofa e psicanalista francesa Elizabeth Badinter observa que atualmente existe uma press o cultural para que o parto normal aconte a citando as seguintes palavras O pensamento predominante no s culo XXI de que h nobreza na dor do parto e que a boa m e sempre aquela que sofre BADINTER 2011 Ao contr rio existem as mulheres que preferem uma cesariana seja por temerem a dor do parto normal ou por o acharem mais pr tico ou por se sentirem melhor frente espera por conta do agendamento seja por outras motiva es pessoais De acordo com informa es fornecidas no Portal da Sa de do Minist rio da Sa de no Brasil ocorre um n mero bem maior de ces reas do que o indicado pela Entrevista com Elizabeth Badinter P ginas Amarelas Revista VEJA Editora Abril Ed 2226 ano 44 n 29 Jul 2011 Portal da Sa de Parto Normal mais seguran a para a m e e o beb Dispon vel em lt http portal saude gov br saude visualizar texto cfm idtxt 20911 gt Acesso em 30 Mar 2013 55 Organiza o Mundial de Sa de OMS Este ltimo recomenda 15 de cesarianas do total de partos realizados por m a taxa nacional est em torno
240. r passageiro ou prolongar se s vezes sob a forma de fobias agudas hipocondrias ou depress es Quando passageiro ao remitir d lugar a um per odo de euforia e tend ncia atividade que em geral vem acompanhado pelo reconhecimento e aceita o dos movimentos SOIFER 1980 p 33 2 1 5 O TERCEIRO TRIMESTRE DA GRAVIDEZ No terceiro trimestre da gravidez novamente h uma mudan a na rela o entre a m e e o feto e come a se a prever o parto e imaginar o nascimento O mal estar f sico retorna agora devido ao fato do beb ter crescido e engordado As mulheres dormem mal e sentem se mais cansadas A coabita o serena do segundo trimestre transforma se numa coabita o um pouco constrangedora em que o filho come a a se sentir apertado e a mulher come a a sentir seus limites f sicos percebendo que essa situa o n o poder durar por muito mais tempo SZEJER STEWART 1997 p 184 A ideia de separa o causa uma ang stia diferenciada da ang stia anterior isso porque de certa forma a separa o desejada j que os limites para os dois ficam cada vez menores e o desconforto para a gestante e para o beb grande H por m ang stias de separa o pois a m e aproximando se cada vez mais do parto vai entrando em contato com o fato de que aquela crian a que por v rios meses mantinha uma rela o de grande depend ncia para com ela estabelecer a partir do nascimento 50 uma rela o c
241. r que a sensibilidade dor varia consideravelmente conforme os indiv duos Recentes e numerosos trabalhos sobre esse assunto mostram que a sensibilidade N est ligada emo o A dor n o seria um fato objetivo mas uma forma de emo o Quando a dor aparece a hist ria de cada uma nesse terreno entra em jogo podendo surpreender e capturar todos os recursos de uma enquanto outra a enfrentar sem maiores dificuldades SZEJER STEWART 1997 p 241 As tr s participantes apresentaram transtornos mentais pr vios que n o necessariamente levaram interna o psiqui trica D bora apresentou uma crise depressiva aos 13 anos mas n o se lembra de muita coisa que fez Ficou internada em um hospital cl nico por 4 dias e tomou por pouco tempo uma medica o manipulada Eu tinha tomado rem dio Mas isso j depress o eu j tava em crise j tava em depress o pra mim ningu m gostava de mim aquelas coisas era o que eu via da eu peguei e tomei sete comprimidos Diazepan acho Rosa teve uma crise psic tica na primeira gesta o e tratou se ambulatorialmente Assim como na segunda j apresentava sintomas na gravidez os quais pioraram no per odo puerperal a partir do contato com os filhos A perda do pai 118 poucos dias ap s o nascimento da filha sem d vida foi um fator agravante para a crise emocional mais atual Segundo informou seu marido antes de ser m e Rosa ti
242. ram evidentes em seus discursos express es de desamparo car ncia e solid o Nos tr s surtos que Sueli apresentou em sua vida repetiu um mesmo pedido o de chamar tr s pessoas de alta estima para ela Meu marido sabe quando eu entro em surto quando eu come o a chamar tr s pessoas Que a minha madrinha que mora aqui do lado o padre e a minha m e Quando eu come ar a falar neles de madrugada e que a minha m e n o a minha m e eu falo pra ele Minha m e n o a minha m e Minha m e a Erondina Ent o ele j sabe que eu to entrando em surto psic tico Sueli D bora viveu em v rias casas e foi cuidada e abandonada por diferentes pessoas Quando sua m e ficou doente seu pai saiu de casa Foi criada pelos av s maternos que morreram quando ainda era crian a e foi para a casa da tia depois do irm o depois foi morar sozinha e por ltimo foi morar com o companheiro Com v rias perdas tamb m n o podia contar com a sua m e para a fun o que se esperava dela A minha m e tem depress o ent o n o uma pessoa com quem eu posso contar Ela n o se trata n o uma pessoa que eu posso chegar e conversar sobre o que eu sinto ou coisa parecida D bora 140 Rosa ao contr rio tinha uma m e mais presente que a ajudava bastante por m o excesso pode trazer consequ ncias negativas tanto quanto a falta Seus pais eram invasivos e superprotetores e de certa forma suas
243. re vis es mais psicodin micas quanto s psicoses que valorizam o campo do ps quico e a no o psicanal tica de estrutura 2 Primeiramente preciso lembrar que ao falar sobre normalidade e psicopatologia sa de e doen a mental necess rio muita cautela Isso porque os crit rios para a considera o desses conceitos sofrem diversas influ ncias filos ficas ideol gicas pragm ticas s cio culturais entre outros H uma multiplicidade de aspectos e abordagens diferentes que buscam uma compreens o dessa rea t o multifacetada e complexa da psicopatologia Outra quest o fundamental para considera o referente formula o dos diagn sticos em psiquiatria Estes s o baseados em dados cl nicos e no perfil de sinais e sintomas os quais s o conhecidos a partir de entrevistas com o paciente e seus familiares ao relatarem a hist ria da doen a Vale enfatizar que n o existe um sintoma psicopatol gico totalmente espec fico para um determinado transtorno mental mas o conjunto total de dados cl nicos que v o determinar o quadro psiqui trico Infelizmente n o existe no dom nio dos transtornos ps quicos um nico sintoma m rbido que seja totalmente caracter stico de uma enfermidade devemos evitar atribuir import ncia caracter stica a um nico fen meno m rbido O que quase nunca produzido totalmente de forma id ntica pelos diferentes transtornos mentais o quadro total incluind
244. reveu a saber estado crepuscular alucina o auditiva tentativa de constru o de um 77 del rio alucina es cenest sicas n o auditivas e assim por diante CALLIGARIS 1989 p 27 Diante disso poderia ser a experi ncia da maternidade gesta o parto e puerp rio experi ncias de transi o mudan as e de extrema fragilidade algo como uma injun o s mulheres que em uma estrutura o psic tica sobreviveriam e organizar se iam por meio de uma crise A cl nica psicanal tica por n o ser uma cl nica descritiva nem fenomenol gica considera a psicose a partir de uma vis o estrutural fundada na transfer ncia Desta maneira considera uma estrutura psic tica mesmo na aus ncia de manifesta es e sintomas psic ticos Assim poss vel um sujeito psic tico de estrutura psic tica mesmo que n o tenha passado por uma crise durante a sua vida Acredita se que geralmente se desencadeia a crise psic tica por influ ncias de determinantes ambientais e relacionais Seria o acontecimento da maternidade da gesta o do parto e do puerp rio um exemplo disso Os conflitos inconscientes entre a mulher a profissional e a m e Nos ltimos 20 anos tem havido um crescente reconhecimento de que para algumas mulheres a gravidez pode ser sobrecarregada por muitos transtornos de humor em particular pela depress o Esse conhecimento segue o sentido contr rio ao de uma cren a popular amplamente difund
245. ria sa de e a de seus beb s Mesmo que algumas hist rias n o finalizem por mortes as perdas e rupturas que podem acontecer a partir de casos assim s o tamb m muitas vezes irrepar veis Para esta pesquisa tamb m n o foram levantados os casos de mortes infantis ligadas ao sofrimento mental das m es Por isso importante revelar que enquanto essas infelizes ocorr ncias continuarem a serem lidas como categorias externas continuar o fora dos protocolos de atendimento e desta forma n o ser o acopladas s pol ticas p blicas mantendo muitas mulheres e crian as merc dessas desgra as Refletindo sobre as crises ps quicas desencadeadas no per odo da gesta o parto e puerp rio preciso valorizar as quest es de sa de mental por meio de iniciativas que melhorem a qualidade e o acesso do atendimento a essas mulheres Esta pesquisa almeja servir de contribui o para a constru o de pol ticas p blicas de preven o sa de mental de mulheres mesmo que esse conceito preven o sa de mental pare a imposs vel E importante pensar tamb m no sentido da promo o sa de 29 A ideia considerar como preven o a iniciativa e o olhar apurado para as manifesta es e emo es demonstradas por algumas mulheres quando engravidam e precisam nascer como m es dando possibilidade para as palavras circularem e quem sabe propiciar novos encaminhamentos com interven o precoce e com menor sofrimento ps
246. rogressivamente e sua experi ncia foi mais positiva Contou que seu marido teve que trabalhar e que ficou sozinha com os filhos Levou os na Igreja e desta vez n o se sentiu insegura em estar com eles Estava mais animada e sem sintomas psiqui tricos Passou por tr s atendimentos psicoterap uticos individuais os quais foram gravados em que tratou de quest es emocionais e conflituosas Curiosamente Rosa mostrou se muito contradit ria enquanto contava a sua hist ria de vida Tamb m evidenciou uma grande dificuldade por assumir suas atitudes geralmente responsabilizando o outro unicamente pelo que tinha acontecido 107 Ao final do tratamento dizia sentir se segura e preparada para cuidar dos filhos bem como para retornar para casa Recebeu alta melhorada ap s 55 dias de interna o sendo orientada sobre a continuidade do tratamento extra hospitalar de prefer ncia no CAPS de sua regi o no qual teria acompanhamento multidisciplinar garantindo os atendimentos psiqui trico e psicol gico O nico contato da psic loga pesquisadora com o marido da paciente deu se no dia de sua alta quando foi realizado um atendimento e orienta es pertinentes 5 2 DAS ENTREVISTAS COM D BORA SUELI E ROSA CATEGORIAS DE AN LISE QUEM ERAM ESSAS MULHERES DADOS DE IDENTIFICA O Primeiramente ser apresentada a caracteriza o da amostra por meio de um quadro que ser discutido em seguida Quadrol Apresenta o do
247. s no sentido de acreditar que as suas condi es maternais iriam melhorar C ela t o certinha nos hor rios de tanto orar acho que a menina veio tranquila ela nem chora Se voc n o der de mama pra ela nos hor rios ela n o chora nem chora de fome come bem tudo uma ben o a menina Rosa Aprendi a gostar dos dois Com a menina porque ela muito alegre ela espont nea cada dia ela me ensina o que que ser m e O primeiro n o porque ele chorava muito que ele tinha problema como que fala problema de intestino n o intestino pregui oso c lica que ele tinha ele chorava eu n o sabia o que eu dar pra ele comer n o sabia o que dar pra ele comer na hora certa o primeiro filho me bati bastante nessa segunda parece que veio tudo certinho e eu tive no in cio de depress o Rosa Ao que tudo indica a sensa o de maior calmaria que Rosa dizia sentir agora com o beb poderia ser pelo fato de estar conseguindo identificar se mais com ela por ser uma menina E importante considerar que quando a m e consegue por alguma via ser convocada e identificar se com o beb estar em melhores condi es de matern la Ah eu lembro dos dias tamb m que eu namorei bastante que eu era namoradeira Brincava assim de beijinho com os coleguinhas Da eu penso a Lia vai ser assim igual eu tamb m brincalhona vai namorar vai brincar de namorar vai bri
248. s vel ao contato por m mantinha uma cr tica rebaixada sobre a necessidade do tratamento descuido pessoal e alguma confus o mental Dizia que estava com depress o p s parto e portanto j reconhecia que era casada e que tinha duas filhas uma de 11 anos e outra rec m nascida Passou a aceitar os medicamentos prescritos parando de tomar medica o injet vel 100 Ap s apresentar uma melhora gradativa Sueli teve uma nova crise de agita o agredindo outras pacientes sem qualquer raz o evidente e teve que ir para a conten o no leito novamente Logo se acalmou come ou a participar das atividades propostas teve melhora no autocuidado estava mais organizada psiquicamente e contatuando melhor com as pessoas Observava se uma postura cooperativa com iniciativa e maior envolvimento com o meio Passou por atendimento psicoterap utico individual no qual informou sobre a gravidez A gravidez foi tranquila uma maravilha Passou t o depressa e j chegou Entretanto sofreu de grande ansiedade a partir do sexto m s por medo que seu beb nascesse com problemas assim como aconteceu com sua primeira filha Esta nasceu com sequelas cognitivas devido falta de oxigena o cerebral no momento do parto Tamb m tinha receios das consequ ncias de ter interrompido o tratamento psiqui trico medicamentoso para engravidar Acreditava que enquanto estivesse gr vida mesmo sem os rem dios estaria livre de qualquer depress
249. s dados s cio demogr ficos e do n mero de interna es psiqui tricas das mulheres entrevistadas Nome Idade Estado N mero Idade Ocupa o Escolaridade Religi o N mero de N mero de conjugal de filhos dos crises interna es filhos ps quicas D bora 20 Amasiada 02 filhos 5 anos 2 Do lar S tima s rie Sem 02 Primeira anos h 4 anos meses BES interna o 02 incompleta religi o psignistrica abortos Sueli 28 Casada h 02 filhas 11 anos Do lar Ensino M dio Cat lica 03 Terceira anos 13 anos 13 dias interna o completo PS psiqui trica Supletivo Rosa 37 Casada h 02 filhos 5 anos 6 Do lar Ensino M dio Evang lica 02 Primeira anos 7 anos meses let interna o 01 aborto ERRO psiqui trica Supletivo Quando chegou ao tratamento D bora estava com 20 anos Sueli quase completando 28 anos e Rosa com 37 anos Sueli e Rosa eram casadas oficialmente h 13 e 7 anos respectivamente e D bora estava amasiada h 4 anos com o companheiro Essas tr s mulheres tinham dois filhos com as seguintes idades os de D bora Maur cio 108 de 4 anos e Marcelo Roger de 2 meses os de Sueli Sueli Carolina de 11 anos e Bianca Giovanna de 13 dias os de Rosa Diogo de 5 anos e Lia de 6 meses As tr s possu am casa pr pria mas enfatizaram ter uma situa o financeira dif cil Todas n o possu am autonomia econ mica dependiam da renda do marido mas
250. s mulheres evocarem os primeiros tempos dedicados aos cuidados de um beb de modo extremamente ambivalente por um lado desfrutando do id lio de estar fora do mundo com esse beb por outro lamentando estar fora da circula o social do trabalho da produ o cultural do desejo sexual Por um lado almejando sair pra trabalhar e por outro n o conseguindo tirar esse beb da cabe a Em qualquer um dos p los a ang stia comparece JERUSALINSKY 2011 p 161 Na fam lia de Rosa As mulheres nenhuma foram trabalhar assim fora S os meninos E para as mulheres Sobrava ajudar em casa s S na casa Todas as suas irm s que s o m es n o trabalham fora Por isso Rosa trazia d vidas se seria correto deixar as crian as para poder trabalhar Achava que isso seria maltrat los Sabe quando que voc vai maltratar Quando voc tiver fazendo as coisas contra a sua vontade disse a psic loga num dos atendimentos Quando adolescente Rosa foi convidada por uma professora para expor suas pinturas recebendo bolsa de estudo para isso uma professora ofereceu bolsa de estudo pra mim pra mim trabalhar fora pra expor as pintura com 13 anos Mas ele n o deixou e eu fui guardando tudo aquilo de revolta Porque eu queria sair pra um lugar fora e trabalhar Queria trabalhar n o queria casar ainda Talvez o conflito de Rosa seja muito mais pelo que gostaria de ser do que pelo fat
251. s para adquirir o hist rico do tratamento atual e dos tratamentos anteriores das participantes se fosse o caso Das cinco mulheres procurou se compreender caso a caso como cada uma vinha atravessando a experi ncia de sofrimento mental desencadeado pela realidade da maternidade Diante das hist rias de vida por elas relatadas procurou se encontrar alguns n cleos de sentido e os temas de cada uma frente feminilidade e maternidade Para uma melhor compreens o dos sentidos dados por cada mulher ser apresentado um resumo sobre a hist ria de cada uma separadamente bem como sobre o tratamento em curso e a descri o psiqui trica do que apresentavam quando em sofrimento Posteriormente ser o discutidos os resultados por meio de eixos tem ticos utilizando recortes das falas das mulheres para auxiliar no entendimento das suas subjetividades Cada eixo tem tico uma categoria de an lise para buscar alguma compreens o acerca dos significados dessas tr s mulheres nos v rios aspectos que envolveram a gesta o e o puerp rio 90 Na fase de qualifica o foi analisado o primeiro caso um caso piloto sobre D bora uma mulher que chegou ao internamento no final do ano de 2010 fase em que o projeto de pesquisa estava em constru o para ser encaminhado ao Comit de tica em Pesquisa Como houve a concord ncia em participar da pesquisa por parte da paciente e de seu marido a princ pio ambos assinaram o
252. s procedimentos adotados gritos e amea as de profissionais ao serem atendidas atitudes intolerantes e sarc sticas discrimina o social impossibilidade de acompanhante no parto viol ncia verbal f sica e at abuso sexual A partir do document rio disponibilizado online Viol ncia Obst trica A voz das brasileiras lan ado em Novembro de 2012 muitas mulheres expuseram se para contar de que forma sentiram se violentadas nesse momento t o delicado do final de uma gesta o Esta uma das diversas a es que est o sendo desenvolvidas no Brasil com o objetivo de denunciar e desnaturalizar a viol ncia obst trica contra as mulheres Esse tem sido um tema de discuss o cada vez maior pela sociedade civil representada em grande parte por diversos grupos de mulheres Algumas a es coletivas t m sido realizadas no intuito de modificar essa realidade por meio de ativistas mulheres pesquisadores profissionais de sa de entre outros grupos Outra a o interessante ocorreu em Mar o e Abril de 2012 com a realiza o do Teste da Viol ncia Obst trica uma a o de blogagem coletiva criada pelas pesquisadoras Franzon e Sena por meio de um question rio virtual visando levantar informa es sobre a assist ncia obst trica no Brasil Os resultados foram anunciados em Maio de 2012 e deram se a partir de uma amostra de 1966 mulheres que responderam ao question rio tendo divulga o em 70 blogs brasileiros ligad
253. s tr s pacientes n o as orientaram enquanto mais jovens sobre assuntos referentes feminilidade sexualidade e maternidade N o eram abertas a esse tipo de conversa sobre particularidades da mulher D bora engravidou do primeiro filho na mesma poca que sua m e engravidou de seu irm ozinho ca ula mas nem por isso trocavam ideias e experi ncias sobre essa sincronicidade Rosa achava que engravidaria toda vez que tivesse rela es sexuais e para que isso n o acontecesse achava que as mulheres deveriam se cuidar mais e n o ceder para os maridos Julgava a sua m e pelo enorme n mero de filhos que teve 11 no total e por isso n o validava qualquer conselho que esta poderia lhe dar a respeito do assunto Falava que sua m e teve filhos como se fosse penca de banana Eu n o quero conselho de m e que tem uma penca de filharada e viva a tua vida Eu n o quero isso da Eu queria ter um filho um s Rosa Sueli tamb m tinha v rios irm os mas isso n o era uma quest o para ela Pareceu estar mais vontade com a ideia de ser m e at mesmo porque compreendia que ter um filho poderia cur la da depress o 138 Se esses assuntos sobre o feminino n o s o naturalmente tratados nas hist rias de algumas mulheres os mesmos podem no futuro colaborar para o surgimento de sentimentos como incapacidade e inseguran a ao atuar determinados pap is como por exemplo na maternidade Mesmo que as
254. scritos 1998 que o psic tico tem outra maneira de se posicionar a partir da falta do Nome do Pai inscrito no significante H um buraco no lugar da significa o f lica e a sua organiza o e rela o com o mundo passa a ser diferente A Verwerfung ser tida por n s portanto como foraclus o do significante No ponto em que veremos de que maneira chamado o Nome do Pai pode pois responder no Outro um puro e simples furo o qual pela car ncia do efeito metaf rico provocar um furo correspondente no lugar da significa o f lica LACAN 1998 p 564 Portanto o sujeito psic tico ele pr prio quem vai ter que tecer sua significa o produzir um saber na falta da fun o central a do Nome do Pai protegendo o da Demanda do Outro O que n o entra no simb lico retorna no real sempre incompreens vel e inapreens vel Diante disso o desencadeamento psic tico ou a emerg ncia da crise psic tica acontecem ao ligarem se falta de simboliza o do significante paterno que nesse caso n o faz a amarra o dos tr s registros Real Simb lico e Imagin rio na estrutura o ps quica No desencadeamento da crise existe sempre alguma coisa como uma injun o feita ao sujeito psic tico de referir se a uma amarragem central paterna Ele n o tem a possibilidade de referir se a esta amarragem que n o foi simbolizada por ele a partir da come a uma crise com os fen menos que a psiquiatria cl ssica desc
255. se a ideia de que por meio da maternidade uma mulher pode inventar um lugar para si D bora diante de uma hist ria de vida permeada por diversos abandonos parecia procurar um lugar e durante a gravidez conseguiu receber uma aten o que at ent o n o conhecia Entretanto na experi ncia do p s parto sentiu se novamente abandonada reatualizando suas hist rias de perdas e desamparo Quando seu beb nasceu toda a aten o que vinha recebendo foi direcionada para ele ficando a m e esquecida 143 Observou se em Rosa uma regress o maior para al m do necess rio aos cuidados do beb Rosa queria voltar para o seu lugar de antes o lugar de filha V rias vezes pensava em se separar do marido e voltar para a casa dos pais para ser cuidada por eles Na verdade s vezes eu at brinco com ele que eu n o quero nem ele Quero ficar sozinha cuidada pela minha m e A minha vontade que a minha m e cuide de mim Meu pai at falou Separe que da quem vai cuidar de voc a tua m e e teu pai Que eu tenho esse bipolar Rosa A dificuldade que uma mulher apresenta na fun o materna seja pela sua hist ria de vida seja pelos seus aspectos inconscientes causar preju zos em rela o crian a na medida em que o meio ambiente n o desempenhar o importante papel de acolher auxiliar e se necess rio maternar essa m e em crise poss vel sustentar com Winnicott que a psicose parental
256. sed and intervention was included which means that the psychological assistance included interviews opened and semi structured with the patients and their husbands The results part involves a discussion based on some analysis categories raising the meanings that these women attribute to maternity We observed similarities on the anxieties conflicts and ambivalence that they felt The mother helplessness the worries with division between two children the desire to work and the economical and emotional dependence on their husbands were some of the things they had in common All of these women revealed during gestation process childbirth and puerperium unconscious psychological contents and conflicts connected to childish fantasies bringing significant suffering to them They mentioned that they went through experiences of sexual and physical abuse as well as previous abortion that contributed to disorders during motherhood experience When focusing on psycho social issues involving the experience of maternity it is possible to develop a deeper knowledge on the subjective reality of these women which contributes to a reflection on how to improve political policies related to the promotion of health prevention and precocious intervention We identified the importance of having some space where women have the capacity and autonomy to plan their future The distance from their children due to treatment brings some consequences to the connection betwee
257. sforma es no padr o de procria o devido ao uso generalizado de m todos contraceptivos Desta forma a preocupa o de base deixou de ser os aspectos reprodutivos envolvendo a concep o a gesta o e o parto para aspectos da sexualidade e dos efeitos da contracep o na sa de da mulher Em 1984 foi criado pelo Minist rio da Sa de o Programa de Aten o Integral Sa de da Mulher PAISM por meio das reivindica es dos movimentos feministas unidos ao movimento sanit rio Diante deste redefiniu se a agenda relativa sa de da mulher que passou a n o ser somente considerada pela perspectiva tradicional materno infantil e nem se manteve reduzida a no es essencialistas de sa de doen a e reprodu o Buscou se de forma in dita no Brasil pela integralidade e equidade da aten o sa de da mulher garantindo a assist ncia em todas as fases de sua vida de 12 acordo com as caracter sticas apresentadas em cada uma delas assegurando o bem estar e a cidadania Com o PAISM a preocupa o com a sa de da popula o feminina passou a abranger a es educativas preventivas de diagn stico tratamento e recupera o Foram oferecidos atendimentos popula o de adolescentes mulheres adultas e da terceira idade Prestava se aten o na cl nica ginecol gica ao pr natal parto e puerp rio ao climat rio s mulheres em situa o de viol ncia dom stica e sexual s mulheres com problemas de
258. sias inconscientes que acompanham tais estados costumam centrar se em viv ncias terror ficas de ser devorada pelo filho sugada em seco etc e representam castigos temidos pela realiza o dos desejos sexuais ao mesmo tempo que reproduzem a problem tica infantil ante a oralidade SOIFER 1980 p 76 Para esta autora uma das ansiedades mais intensas da lacta o relaciona se s sensa es sexuais do pr prio ato de amamentar um misto de prazer e proibi o incestuosa As sensa es sexuais s o sentidas pelo contato do beb com o seio mamilo ou tamb m porque a cada sugada do beb ocorrem contra es uterinas O ato de amamentar com o seio bastante valorizado pela sociedade e as mulheres que n o conseguem amamentar dessa forma sentem mesmo que de maneira mascarada uma culpa ligada a isso Tal situa o pode corroborar o sentimento de impot ncia e incapacidade da m e trazendo mais preju zos na economia ps quica da mulher e na rela o dela com sua crian a 64 As fantasias inconscientes e as ansiedades desse momento tamb m podem propiciar ang stias e culpa persecut ria Segundo a teoria kleiniana os sentimentos persecut rios equivalem ao temor de ser atacada ou destru da provindo as amea as de objetos externos ou internos Esse estado paran ico surge a partir de proje es de aspectos destrutivos e de fantasias inconscientes do pr prio indiv duo somando a isso alguns aspectos da realidade como ob
259. sist ncia dos servi os de sa de para as condi es dif ceis dessas mulheres somou se s suas realidades A associa o de fatores como exposi o a subst ncias psicoativas intra tero desnutri o infec es rela es familiares ou profissionais conflitantes abandono exposi o a eventos negativos experi ncias adversas e falta de apoio social aumentam o risco para a sa de mental materna CURITIBA 2005 p 43 Por mais que sejam conhecidos os fatores de risco para o desencadeamento de sofrimento mental e embora os programas materno infantis existentes preconizem a estratifica o de risco ou seja uma classifica o de risco para um encaminhamento mais adequado s necessidades de cada caso nas tr s situa es isso falhou De acordo com a classifica o de risco protocolada nos servi os de sa de gestantes com hist rico de transtornos mentais pr vios depend ncia qu mica epilepsia ou abortos devem ser encaminhadas para as unidades de atendimento de Alto Risco para serem devidamente acompanhadas Nada disso aconteceu Nem com refer ncia s quest es de sa de mental nem com refer ncia aos abortos anteriores que sofreram N o levar tudo isso em considera o mostra que a sociedade nos dias atuais ainda considera que gerar uma vida algo da natureza das mulheres portanto que esse processo deve ocorrer sem dificuldades sem conflitos e sem ambival ncias As pr prias mulheres muitas vezes
260. ssa experi ncia de castra o revivida na forma de eterna insatisfa o do desejo Um dos objetivos da experi ncia anal tica com efeito possibilitar e reativar na vida adulta a experi ncia que atravessamos na inf ncia admitir com dor que os limites do corpo s o mais estreitos do que os limites do desejo NASIO 1997 p 13 A diferencia o que ocorre em rela o organiza o do complexo de castra o no menino e na menina pode ser explicada pelas palavras de Freud em seu texto Algumas Consequ ncias Ps quicas da Distin o Anat mica entre os Sexos que diz o seguinte Enquanto nos meninos o complexo de dipo destru do pelo complexo de castra o nas meninas ele se faz poss vel e introduzido atrav s do complexo de castra o FREUD 1925 p 285 Ainda no mesmo texto Freud ressaltou que o complexo de castra o inibe a masculinidade e encoraja a feminilidade A percep o de que ela e as outras mulheres inclusive sua m e n o possuem p nis leva a a direcionar seu investimento objetal ao seu pai ou seja coloca a na fase do complexo ed pico A separa o da menina de sua m e marcada por um sentimento de dio levando a a uma rela o ambivalente de hostilidade rancor e amor para com ela Esse sentimento negativo uma reatualiza o da separa o que a crian a vivenciou com a perda do seio materno e que ficou recalcada at ent o Al m disso a menina responsabi
261. ssibilidade de se aproximar do beb e recusa a atend lo SOIFER 1980 p 67 grifo do autor De acordo com o Relat rio de Gest o 2003 2006 sa de mental do SUS acesso ao tratamento e mudan a do modelo de aten o do Minist rio da Sa de a popula o feminina encontra se numa situa o de desigualdade na sociedade brasileira e relata As mulheres t m menores sal rios concentram se em profiss es mais desvalorizadas t m pouco acesso aos espa os de decis o no mundo pol tico e econ mico sofrem mais viol ncia dom stica f sica sexual e emocional e vivem dupla e tripla jornada de trabalho Esta desigualdade cresce ainda mais a depender da classe social da ra a da idade e da orienta o sexual da mulher BRASIL 2007a p 48 Ainda neste relat rio h uma clara preocupa o com o aumento das interna es de mulheres por transtornos mentais com freqii ncia os transtornos de humor e cada vez mais os transtornos mentais e comportamentais associados ao puerp rio Em 2004 a Coordena o de Sa de Mental passou a participar das reuni es da rea T cnica de Sa de da Mulher que apresentava como uma de suas pautas os transtornos mentais associados ao puerp rio Tais fatos sinalizam a necessidade e a preocupa o em elaborar diretrizes de aten o sa de mental de mulheres As quest es de g nero 17 somadas s condi es socioecon micas e culturais s o determinantes da sa de mental das
262. stesia e ganhar seu beb Eles puseram no chuveiro at no chuveiro pra ver se ganhava eles fizeram de tudo pra gente ganhar normal pra n o precisar fazer parto com anestesia Porque gasta muito eles mexem com equipamentos tudo acho A eu no chuveiro l eu tava sentindo muita dor no chuveiro Nem sempre poss vel escolher o tipo de parto mas sempre importante conversar com a gestante sobre o que pensa do assunto uma vez que conforme j foi comentado na revis o de literatura com a aproxima o do parto v rias mulheres sentem muita ansiedade Por isso muito importante permitir que a gestante participe ativamente das decis es que forem sendo tomadas com rela o ao parto Respeitar 123 quando poss vel o seu desejo e as suas escolhas trar menos ansiedade para ela E se houver qualquer limita o essencial que tudo seja comunicado e bem orientado para a gestante acolhendo suas ang stias Quando se prev o tipo de parto s o tomadas v rias decis es A primeira diz respeito ao in cio do trabalho de parto ele vai ser natural ou induzido Seja qual for a decis o ele mais bem assumida e vivida quando tomada de comum acordo a partir de um di logo entre a mulher e o obstetra SZEJER STEWART 1997 p 228 D bora e Sueli foram surpreendidas pela mudan a do m dico que as vinham acompanhando na hora do parto Na verdade o meu m dico era um e foi transferido pra outro porque el
263. sultado do uso conflitante do termo n o existir uma defini o nica e aceit vel do que a psicose Em geral por m os dist rbios classificados como psicoses diferem dos outros em um ou mais dos seguintes aspectos 1 gravidade as psicoses s o dist rbios importantes mais graves intensos e desintegradores tendem a afetar todas as reas da vida do paciente 2 grau de retraimento o paciente est menos apto a manter as rela es afetivas com o objeto 3 Afetividade as emo es s o com fregii ncia qualitativamente diferentes do normal s o exageradas no aspecto quantitativo 4 Intelecto linguagem e pensamento sofrem perturba es capacidade de discernimento deficiente podem aparecer alucina es e del rios e 5 regress o deteriora o generalizada do funcionamento e um retorno a n veis primitivos de comportamento A cl nica psiqui trica cl ssica considera a psicose a partir da ocorr ncia de alguns fen menos sintomas que agrupados caracterizam se como as s ndromes psic ticas S o sintomas como alucina es del rios pensamentos desorganizados e comportamentos bizarros A defini o mais estreita de psic tico est restrita a del rios ou alucina es proeminentes com as alucina es ocorrendo na aus ncia de insight para a sua natureza patol gica ASSOCIA O PSIQUI TRICA AMERICANA 1994 p 263 Ou ainda Falar em comprometimento do teste da r
264. t ria seja por uma incapacidade da m e ou por qualquer outra raz o particular e esse beb n o tiver as suas necessidades emocionais cuidadas por atitudes maternais saud veis a figura materna resultante e internalizada trar preju zos na auto estima na auto confian a e na seguran a desse sujeito posteriormente mulher para os problemas cotidianos como a pr tica da maternidade Outra caracter stica t pica do primeiro trimestre de gravidez a ocorr ncia de diversos mal estares como por exemplo as n useas os enj os os desejos os dist rbios 47 de sono os dist rbios de car ter entre outros Alguns autores psicanal ticos acreditam que esses sintomas t m semelhan as com as primeiras fun es do beb Logo nos primeiros dias de gravidez um sintoma comum uma grande sonol ncia Do ponto de vista psicol gico faz parte de uma regress o sob a forma de uma identifica o fantasiada com o feto Sabe se que os rec m nascidos levam um certo tempo para adaptar a alimenta o e o sono a um equil brio A situa o de gravidez remete a mulher ao seu pr prio nascimento durante a gravidez a mulher se v remetida sua pr pria origem e tomada por uma esp cie de repeti o de sua pr pria hist ria SZEJER STEWART 1997 p 131 Foi constatado que muitas vezes as mulheres gr vidas come am a se questionar sobre a sua pr pria inf ncia e origem e podem ter acesso a estas informa es atrav
265. tendia se que as a es relativas sa de da mulher avan assem devido ao maior planejamento e consequente melhoria nos resultados da execu o a partir de or amentos garantidos e vi veis 13 As pol ticas p blicas est o relacionadas s diversas fun es que o Estado assume para garantir a justi a social e portanto a diminui o das desigualdades sociais O campo das pol ticas p blicas complexo devido inter rela o entre as reas t cnico administrativa e pol tica A dimens o pol tica est relacionada ao processo decis rio a que o Estado est submetido Isso significa que o Estado quem define em qual rea social vai atuar de que forma quando e por qual raz o Junto a isso h as reivindica es de diversos grupos com variadas expectativas sociais Cabe ao Estado intermediar e negociar os diferentes interesses de maneira a priorizar as maiores necessidades e as viabilidades de acordo com a ideia de justi a social Assim a escolha feita e a decis o tomada pelo Estado ser representativa dos interesses de um grande n mero de pessoas e uma vez consolidada representar uma conquista de direitos e garantias defendidos pela sociedade Uma defini o interessante sobre pol ticas p blicas segundo Marin Filho 2005 As pol ticas p blicas devem ser a express o pura e genu na do interesse geral da sociedade o que num processo leg timo pressup e seja a demanda social auscultada em inst ncias dem
266. teriori na vida da mulher na experi ncia da maternidade Quando a mulher se relaciona internamente com uma figura materna muito persecut ria e ou se sente atacada em sua capacidade materna por uma m e muito perfeccionista que a culpabiliza e a quem deve aplacar provocando lhe intensa culpa persecut ria muitas dificuldades emocionais surgem quando a mulher se torna m e Normalmente ela j se sente angustiada desde a confirma o da gravidez que vivida com muita ambival ncia O desejo de ser m e sofre muitos impedimentos internos e a gestante n o se permite estar plenamente feliz com a perspectiva de ser m e FELICE 2000 p 70 65 Todas as mulheres possuem fantasias infantis relacionadas a uma figura materna internalizada e o que varia s o os n veis de elabora o e supera o desses conte dos inconscientes Segundo Klein 1928 as tend ncias destrutivas da menina em rela o ao corpo da m e e os desejos de atacar e roubar os beb s contidos dentro dela geram o temor persecut rio de que a m e em repres lia ataque da mesma forma os seus beb s FELICE 2000 p 44 Uma defesa eg ica para aplacar esses estados emocionais de persecutoriedade a idealiza o um mecanismo defensivo t pico da posi o esquizo paran ide Seria converter algu m por exemplo a pr pria m e ou a sogra em um objeto idealizado ou seja em algu m que deteria todos os recursos para cuidar bem dessa crian a enfatizand
267. to do beb o quanto engordou e o quanto cresceu bem como est o seus aspectos morfol gicos tamb m analisado o l quido amni tico as condi es da placenta e a posi o em que o beb se encontra para fazer a previs o do tipo de parto a ser realizado 52 E importante ressaltar que a previs o do parto advinda desse ltimo exame hipot tica uma vez que imprevistos podem ocorrer at o momento real do nascimento modificando provavelmente o que a mulher esperava Em tudo essa mulher dever ser cuidada O per odo da gravidez segundo Szejer e Stewart 1997 um per odo de metamorfose ntima Em todos os trimestres as mudan as s o constantes exigindo novas adapta es sentindo novas ansiedades e velhas ang stias trazendo tona hist rias familiares e infantis As atitudes dos familiares do meio social e da equipe que a acompanha t m grande influ ncia nesse momento de tanta fragilidade o ambiente pode ajudar consideravelmente a mulher ou reprimi la tornando a experi ncia bastante penosa A sexualidade do casal pode sofrer algumas interfer ncias neste momento devido s condi es f sicas em que a mulher se encontra Sobretudo tamb m pelo fato desse beb que cresceu estar bastante presente um filho real que ilusoriamente estar preenchendo a falta alterando muitas vezes a rela o de cada um homem e mulher com o desejo Logicamente que cada um ser afetado de acordo com as suas particul
268. to por dentro Suas m os come aram a tremer e depois seu corpo todo tremia Come ou a falar em Deus n o tinha controle das suas m os que se torciam Uma senhora orou e mandou eu pensar em Deus e foi o que eu fiz Eu pensei em Deus risos Da eu surtei falando em Deus Enquanto Sueli delirava que ainda estava gr vida n o reconhecia o seu beb J bastante confusa e com dificuldades para se adaptar nova situa o chegou uma amiga que a princ pio veio para ajud la mas que atordoou o ambiente e deixou Sueli pior Na verdade ela disse que veio me ajudar E na verdade esse ajudar acabou me atrapalhando Acabou acontecendo que ela tamb m toma rem dio Ela toma 121 muito ela toma rem dio h 35 anos Ent o ela acabou me transtornando porque eu tava muito sens vel Isso faz pensar que apesar de ser bem importante ter algu m que auxilie a pu rpera nos primeiros dias em casa preciso que seja uma pessoa que esteja em boas condi es emocionais para acolher a m e com o seu beb Sueli come ou a rejeitar o beb n o conseguia amament lo nem cuidar dele Tamb m n o se alimentava e nem dormia direito e estava muito inquieta eu acho que eu tava nos 9 dias a o meu marido dormia e eu chorava muito de madrugada chorava s que ele n o percebeu que eu estava chorando Porque voc fica muito sens vel voc fica meio abalada Da com acho que n o lembro se era 9
269. trado em Ci ncias Sociais III T CDD 305 4 ALINE PINTO GUEDES SA DE MENTAL E MATERNIDADE SUBS DIOS PARA AS POL TICAS DE SA DE MENTAL NO PARAN Aprovada em 26 de outubro de 2012 BANCA EXAMINADORA dl Profa Dra Rozild j a AN a das Neves Alves Orientadora UEM heila Regina de Camargo Martins Membro UEM Profa Dra Claudia Medeiros de Castro Membro USP A todas as m es com respeito e admira o por cada uma que sua forma mais f cil ou mais dif cil vivencia essa aventura de gerar criar aprender a amar e sentir tantas outras emo es agrad veis ou n o mas que se disponibiliza a grudar se para depois separar se contribuindo para o desenvolvimento de um ser humano saud vel nico e com autonomia AGRADECIMENTOS Prof Dr Rozilda das Neves Alves pelas orienta es apoio e dedica o durante todo o processo de constru o da pesquisa Ao Hospital Col nia Adauto Botelho pela concess o do espa o e dos materiais necess rios para a realiza o da pesquisa Ao Diretor Administrativo Alceu Bosi pela oportunidade de realiza o do curso de mestrado equipe da Unidade 2 Feminino pela compreens o e apoio para a realiza o da pesquisa Joice Matsudo pela supervis o do Est gio Supervisionado e pela amizade s mulheres D bora Sueli e Rosa que aceitaram compartilhar as suas hist rias de vida acreditando na proposta de pesquisa
270. trata se de uma grave car ncia materna em sua inf ncia Nem mesmo se trata mais para ela de animalidade ela n o busca nem devorar nem preencher o filho ela n o quer ser perfeita Esse beb lhe cai literalmente das m os ela n o pode carreg lo nem f sica nem moralmente MATHELIN 1999 p 16 Pode se dizer que as marcas do nascimento e das primeiras rela es ficam como express o do narcisismo de cada um Sendo assim Mathelin 1999 p 39 esclarece 141 que O amor dos pais t o tocante e no fundo t o infantil n o nada sen o o narcisismo deles que acaba de renascer No per odo puerperal as tr s mulheres sentiram se incapazes de cuidar de seus beb s Rosa e Sueli logo de imediato ao nascimento e D bora um tempo depois principalmente quando houve interfer ncia de sua sogra D bora chegou ao internamento falando que a sogra queria roubar lhe o filho quando ela come ou a entrar em depress o ela falava que eu era um viado e que a minha m e era macumbeira que a minha m e s tinha feito um feiti o pra mim pegar uma mulher e fazer um filho e que a minha m e ia tomar o filho Marcelo Dizia ter ouvido da sogra poucos dias antes de ir para o hospital Quem diria D bora que voc ia ter um beb t o lindo assim E facinho de roubar teu filho De qualquer maneira quando a rela o da pu rpera com sua m e ou com a sogra se v assim perturbada por irrup o
271. trevistar o marido que coincidiria com o dia em que este viesse buscar a paciente de licen a caso esta fosse liberada pela m dica respons vel Pr ximo ao Natal ele veio busc la foi feita a leitura do termo de consentimento e ambos assinaram assim como a pesquisadora Foi realizada a 9 e A Z E A A a Licen a Terap utica quando o paciente vai para a casa por um certo n mero de dias para que se obtenha o ganho terap utico de adaptar se progressivamente ao seu ambiente bem como conviver com seus familiares e meio social 98 entrevista com Marcelo e depois sa ram de viagem para casa Os 3 atendimentos psicoterap uticos entrevistas com D bora foram realizados ap s o seu retorno de licen a D bora ficou 3 meses internada nessa institui o tendo tido uma licen a estendida no per odo de Natal e Ano Novo quando ficou 15 dias em casa e retornou para finalizar o tratamento hospitalar Observou se que retornou da licen a em conflitos com o papel materno muito ambivalente quanto maternagem de seu beb Saiu com alta melhorada e compensada psiquiatricamente Foi encaminhada para continuar o tratamento ambulatorialmente uma vez que n o h CAPS em seu munic pio tendo indica o para psicoterapia Ficou evidente nos atendimentos que D bora tinha um desejo de fam lia unida um desamparo maternal e social e que buscava encontrar um lugar de intimidade junto fam lia de seu marido 5 1 2 O SEGUNDO CASO
272. u pensei em levar ele no final de semana pra casa mas do jeito que der pra mim t bom Porque parece que eu n o sinto mais aquela coisa de m e pra filho sabe Eu n o sinto aquela prote o de m e eu perdi D bora Com o decorrer dos atendimentos D bora come ou com um choro intenso e ap s alguns manejos que tentavam algum movimento daquela express o conformada e aparentemente decidida da paciente em deixar o seu beb com a sogra constatou se que havia sofrimento e sujei o que a acompanhavam D bora foi sendo incentivada a falar mais sobre esses sentimentos e sobre o que mais havia acontecido durante a licen a principalmente no seu contato com a sogra Foi uma aposta que foi feita ao desconfiar dessa decis o t o contradit ria e at mesmo considerando a ambival ncia comum frente fun o materna e que poderia estar potencializada ap s um distanciamento f sico e emocional de seu beb Conforme D bora foi tendo espa o para falar o choro e as ang stias presentes puderam ser ouvidos e manejados D bora pode ent o aos poucos lembrar se do quanto esse beb foi desejado por ela antes que qualquer dificuldade aparecesse Eu queria muito aquele beb queria Eu tinha muito medo de ele ir parar com a minha sogra e ele t l Diante disso ressaltou se que ela estava indo de alta retornando para casa e para a fam lia portanto poderia agora levar seu beb para junto dela Mas D bora ainda
273. ual no qual relatou com mais detalhes o que havia lhe acontecido antes de chegar ao hospital e um pouco de sua vida e fam lia D bora teve quatro gesta es dois abortos e dois filhos Mas n o era o que pretendia Seus 2 filhos um de quatro anos e um de 2 meses s o de pais diferentes Eu nunca liguei pra ter filho e essas coisas N o pensava na maternidade e engravidou muito cedo de uma rela o proibida e conturbada Enfatizou que o primeiro filho n o queria ter tido uma vez que foi de uma rela o com seu tio marido da tia com o qual se envolveu por dois anos J a segunda gesta o foi planejada porque queria dar um filho para o marido com o qual est junto h 4 anos e que nasceu hermafrodita tinha dois sexos Ele fez uma cirurgia quando crian a e ficou com o sexo masculino mas se manteve cheio de d vidas de sua virilidade por exemplo se poderia engravidar uma mulher ou n o Quanto aos dois abortos anteriores n o soube dizer s raz es que levaram a isso Os m dicos n o ligam pra ningu m Na ocasi o do atendimento ressaltou N o quero ter mais filhos nem solteira nem casada Aos 14 anos de idade morava com os tios e sua m e a qual sofre de transtorno mental desde quando a paciente nasceu A m e tem depress o Ela n o faz nada ela n o fazia nada a n o ser fumar a vida dela era fumar Devido s condi es de sua m e que nunca fez um tratamento psiqui trico regular
274. ue ela pudesse estar gr vida novamente pois estava barrigudinha demais Essa suspeita mobilizou muita ansiedade na paciente que fez o exame e para sua sorte deu negativo Ah eu fiquei louca da vida Porque eu pensei Meus Deus mais um filho Que condi o eu vou criar se dois eu j criei igual uma crian a Lavava roupa tudo errado cuidava da casa tudo errado Mais um coitado sofrendo mais uma crian a sofrendo Eu at brinquei eu falei Prefiro ser uma magrinha barrigudinha do que gr vida N o quero estar gr vida Rosa Rosa indo embora tamb m dizia eu tenho que ter responsabilidade de n o deixar nada passar de mal na mente S isso E acrescenta se para cuidar de seus filhos Eu tenho que cuidar dos meus filhos e evitar de andar em casa de pai e m e 156 AS MULHERES E O TRABALHO PLANOS FUTUROS Estamos falando sobre o futuro se esque a do passado ele sempre estar conosco Ele nunca morrer Autor Desconhecido Apesar de todas as mulheres dessa pesquisa n o terem autonomia econ mica e portanto dependerem de seus maridos todas tinham a forte inten o de trabalhar Todos eles evidentemente diziam que era momento de cuidarem de seus beb s e de deixar para depois essa ideia poss vel dizer que as tr s de certa forma sentiam t dio e solid o nessa vida de m e e dona de casa Rosa repetidas vezes enunciou que trabalhar era o seu maior desejo S
275. ue merece destaque em virtude da tem tica desta pesquisa envolve as reas da sa de da mulher e da sa de mental Pretende se implantar um Modelo de Aten o Sa de Mental de Mulheres sob o Enfoque de G nero Busca se realizar a es como ampliar as pesquisas e as informa es referentes s mulheres portadoras de transtornos mentais no SUS assim como qualificar a aten o sa de mental das mulheres Al m disso implantar nos munic pios e estados programas e projetos sobre g nero e sa de mental O artigo Sa de Mental da Mulher no Brasil desafios cl nicos e perspectivas em pesquisa de Renn Jr et al 2005 fez um levantamento sobre como ocorre o atendimento em sa de mental de mulheres no setor de sa de p blica numa perspectiva de integra o da sa de mental com a ginecologia pondo em discuss o as poucas iniciativas existentes seus pontos positivos e as dificuldades vividas O artigo primeiramente ressalta que a partir do PAISM a sa de reprodutiva foi considerada de uma forma mais ampla com dados epidemiol gicos s lidos focando principalmente na sa de f sica e mental das mulheres desde o per odo da adolesc ncia at a terceira idade Apesar desse grande avan o com a abrang ncia no entendimento das necessidades na rea da sa de da mulher observa se que devido diversidade das condi es da popula o brasileira fica limitada pr tica da equidade e da integra o na assist ncia sa
276. undo Lacan o agente da castra o a efetua o em todas as suas varia es dessa lei impessoal estruturada como uma linguagem e completamente inconsciente Uma experi ncia por atravessar um obst culo a superar uma decis o a tomar um exame a passar etc todos s o desafios da vida cotidiana que reatualizam sem o conhecimento do sujeito e ao pre o de uma perda a for a separadora de um limite simb lico Compreendemos assim o sentido da formula o lacaniana a castra o simb lica e seu objeto imagin rio Isso quer dizer que ela a lei que rompe a ilus o de cada ser humano de se acreditar possuidor ou identificado com uma onipot ncia imagin ria N SIO 1997 p 37 38 A partir do que foi apresentado acima pode se verificar a import ncia do filho falo na organiza o ps quica de uma mulher E simultaneamente pode se tamb m compreender a essencial influ ncia das fun es materna e paterna sobre o desenvolvimento ps quico do beb De sobremaneira a castra o instala a falta essencial na estrutura o do sujeito sexuado e de desejo 2 1 2 A PR HIST RIA DA GRAVIDEZ Antes de falar sobre o desenvolvimento dos trimestres da gravidez propriamente dito importante ressaltar algo que tem a ver com a pr hist ria dessa gravidez que como ela foi poss vel Para que a fecunda o ocorra necess rio o encontro do desejo da mulher e do homem os quais ter o um projeto de gravidez nem sempre

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