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José Carlos Matos Pereira Os modos de vida na cidade

1. FASE Amaz nia e aos integrantes do Observat rio de Pol ticas P blicas Conhecimento e Movimento Social na Amaz nia COMOVA pelo di logo e por despertar em mim o interesse pela atividade intelectual Deixo aqui Algumas sauda es nominais a Guilherme Carvalho Gra a Costa Matheus Otterloo Aldebaran Moura V nia Carvalho Jo o Gomes Maria Elvira Maria de Nazar Menezes Nan Solange Gayoso e as centenas de lideran as da ligadas ao F rum da Amaz nia Oriental FAOR e ao F rum da Amaz nia Ocidental FAOC que compartilharam aquele projeto Ana Cl udia Cardoso Maria da Encarna o Sposito e Gutemberg Guerra pela disponibiliza o dos textos de suas pesquisas C tia Magalh es Arquiteta da cidade de Santar m sempre prestativa e competente no atendimento dos pedidos dentre eles a confec o dos mapas que est o na tese Aos colegas da turma de doutorado especialmente Adriana Fernandes Drica e Paulo Gajanigo Paulinho pelas ideias e incentivos durante nossas conversas sobre nossas pesquisas e aos colegas das turmas de mestrado com quem fiz disciplina pelo acolhimento Diz Mills 1996 que um trabalho bem sucedido aquele que consegue aliar vida pessoal e trabalho profissional Assim agrade o ao meu sogro Luiz Fernando Rangel Tura e minha sogra Maria de Lourdes Rangel Tura pelo apoio de sempre e pelos conselhos amigos Bernardo Tura pelos HDs port teis que asseguraram que meu material de p
2. grifo nosso FOLHA DO NORTE Mais um passo vanguarda na marcha ao Oeste 05 10 1940 p 1 Deixando para traz Bel m que a ponta de acc sso do El Dorado o presidente Get lio mergulha mais e mais no mysterio florestal do Valle grifo nosso FOLHA DO NORTE Em pleno cora o da Amaz nia 08 10 1940 p 1 Est na Amazonia um pobre presidente de um pobre Brasil contemplando o infinito do indispensavel a uma regi o que tudo tem e nada possue para o homem A Amaz nia ainda soberana na natureza E o homem seu escravo N o foi domado o rio nem o homem se assenhorou de suas terras Domina o rio e se dominam as arvores altaneiras formando a 32 A programa o constou de estadia nas cidades de Bel m e Belterra no Par em Manaus no estado do Amazonas e em Porto Velho em Rond nia A agenda de Get lio Vargas em Bel m envolveu inaugura o de obras visita a rg os governamentais e institui es de pesquisa reuni es e banquete com empres rios pol ticos e delega es de v rios estados da regi o pronunciamento presidencial e um grande ato c vico no qual desfilaram cerca de 120 000 pessoas entre estudantes e militares na Pra a da Rep blica FOLHA DO NORTE 06 10 1940 p 1 07 10 1940 p 2 33 z En Mantivemos as formas de escrita da poca nas transcri es 51 vegeta o uma intrigada muralha impenetravel e inviolavel A immensid o da uma id a do infinito E o homem
3. Figuras 80 e 81 Campos de soja nas imedia es da cidade Fonte Pereira J C M 2009 e 2011 Contudo os produtores de soja t m o apoio de alguns parlamentares da C mara de Vereadores de Belterra como o da vereadora do Partido Democratas de 37 anos que v neles a possibilidade do desenvolvimento e da gera o de emprego conforme observamos no depoimento abaixo Quando perguntada sobre o que mudou na vida da cidade com a chegada desses produtores ela considera Mudou muito Eu penso assim todo progresso tem seu pre o E uma coisa que mudou muito foi a qualidade de vida Por exemplo a comunidade que eu resido desde quando eu cheguei chama se S o Pedro L n s t nhamos 48 fam lias Com a chegada dos agricultores eles quando viram n Eles pegaram as pessoas pra trabalhar pra eles m o de obra local e isso resultou outras 76 fam lias E essas 76 fam lias se voc chegar na casa deles o padr o de vida mudou tamb m Todo mundo mudou a padr o de vida dif cil voc chegar pra n o ter algu m com algum tipo de ve culo que n o for uma moto um carrinho alguma coisa assim 209 Ent o eu vejo assim que mudou mexeu grifo nosso VEREADORA DO DEM Mar o 2011 Na vis o da vereadora a vida das pessoas contratadas para trabalhar na soja mudou para melhor Isso s foi poss vel porque o antigo prefeito recebeu esses produtores de bra os abertos falam muito da quest o do impacto ambiental
4. 65 O deslocamento do projeto para Belterra constituiu uma tentativa da Companhia de superar o fracasso experimentado em Fordl ndia Com este objetivo a CFIB realizou a planta o em reas mais planas importou um novo tipo de seringueira e usou enxerto nas mudas para torn las mais resistentes s pragas Construiu um porto em guas mais profundas e se localizou mais pr xima da cidade de Santar m para facilitar o recrutamento da m o de obra Por fim permitiu que terceiros pudessem explorar na cidade a oferta de servi os como bar sapataria padaria e barbearia por exemplo mas tamb m montou a comiss ria pequeno com rcio para ofertar produtos aliment cios mais baratos para seus funcion rios Al m disso permitiu que eles pudessem desenvolver em seus lotes de moradia atividades ligadas agricultura e cria o de animais de pequeno porte uma concess o para evitar situa es como o Quebra Panela movimento que consistiu numa revolta dos trabalhadores contra a imposi o de novos h bitos alimentares por parte dos americanos Durante essa revolta teve americano que fugiu de canoa para o outro lado do rio com medo de ser morto Este o relato do Sr Erasmo lembrando em entrevista o que lhe contaram seus pais e outras pessoas com quem conviveu e que presenciaram esses fatos Seu pai era cearense e trabalhou como operador de m quinas em Fordl ndia ERASMO Outubro 2009 Bensa 1998 p 59 assinala que
5. 25 Essa express o inspira se nas formula es de Teresa Caldeira quando prop e a fala do crime para analisar as representa es dos moradores de camadas m dias e altas na cidade de S o Paulo sobre quem eram as pessoas que praticavam crimes na cidade A autora reconstitui o discurso padr o de seus entrevistados que acusavam os migrantes nordestinos e nortistas os pobres e negros moradores de favelas Em muitos dos casos n o tinham visto quem praticava os delitos mas pressupunham serem estes os grupos respons veis pela cria o da situa o de inseguran a medo e viol ncia A fala do crime constr i sua reordena o simb lica do mundo elaborando preconceitos e naturalizando a percep o de certos grupos como perigosos ela criminaliza certas categorias sociais Essa criminaliza o simb lica um processo social dominante e t o difundido que at as pr prias v timas do estere tipo os pobres por exemplo acabam por produzi lo ainda que ambiguamente CALDEIRA 2000 p 10 26 Uma busca do termo selvagem no dicion rio nos permitiu chegar a seguinte defini o habitantes das selvas silv cola que ainda n o foi domado amansado domesticado ou o que dif cil de o ser sem civiliza o primitivo b rbaro os n o letrados e tecnologicamente menos desenvolvidos conforme apresentado pelo Novo Dicion rio Digital Aur lio da L ngua Portuguesa FERREIRA 2009 47 Tomando por base a a
6. es de vida nas reas ind genas e a busca por emprego atendimento m dico e educa o para crian as e adolescentes Entre as principais etnias na cidade podemos apresentar os Ticunas e Cokama do Alto Solim es os Tucanos Bar Desana e Tarianos do Alto Rio Negro e os Sater Maw do M dio Amazonas TEIXEIRA MAINBOURG BRASIL 2009 p 540 Situa o semelhante identificada no estado do Par onde h situa es de intenso fluxo migrat rio de milhares de ind genas que vagam pelas periferias das cidades e que lutam para ter seus direitos tnicos e humanos reconhecidos pelas pol ticas sociais S o cerca de 2 000 ind genas que vivem nas cidades de Altamira S o F lix do Xingu Vit ria do Xingu e Uruar Em Altamira s o cerca de 1 500 ind genas sendo mais numerosas as etnias Xipaia e Curuaia Alguns desses bairros est o sob amea a de alagamento caso se confirme a constru o da hidrel trica de Belo Monte ALONSO CASTRO 2006 Em rela o aos quilombolas podemos nos referenciar na presen a dos remanescentes de quilombos remanejados do rio Ja com a cria o do Parque Nacional do Ja para a cidade de Novo Air o AM e que lutam organizadamente para a transforma o do lugar onde vivem em quilombo urbano Esse deslocamento para a cidade significou o desarranjo da unidade de produ o da estrutura familiar e das rela es de coopera o bem como a apreens o de novas normas e condutas sociais
7. manh os americanos chegavam em seus carros vestidos de branco e chap u com sacos de 88 golfe e estacionavam na pra a Jogavam at as tr s horas da tarde um esporte que s eles conheciam relata um dos entrevistados O golfe segundo Bourdieu 2007 desponta entre os esportes preferidos do gosto dominante dentre outros como o iatismo o t nis o r gbi a equita o o esqui e a esgrima S o esportes praticados em espa os reservados e separados clubes privados em hor rio determinado pelo praticante sozinho ou com parceiros escolhidos ou seja outros tantos tra os opostos s disciplinas coletivas aos ritmos obrigat rios e aos esfor os impostos dos esportes coletivos mediante um disp ndio corporal relativamente reduzido e de qualquer modo livremente determinado apesar de exigir um investimento relativamente importante e tanto mais rent vel quanto mais precocemente tiver sido em tempo e em esfor o de aprendizagem espec fica excluindo se qualquer viol ncia f sica ou verbal qualquer uso anat mico do corpo gritos gestos desordenados etc e sobretudo qualquer esp cie de contato direto entre os advers rios BOURDIEU 2007 p 204 Figura 18 Club House hoje C mara de Vereadores Foto Pereira J C M 2006 A evita o da conviv ncia por parte dos americanos em rela o a outros grupos sociais locais e aos outros trabalhadores da empresa era o tra o marcante da sociabilidad
8. n o t m a inten o de representar uma paisagem congelada do passado como adverte Monte M r 2008 mas de dar suporte narrativa apresentada Essas imagens como ressalta Pollak 1992 representam os lugares da mem ria o plano de refer ncia material que ancora as lembran as do per odo onde a vida social se realizava Na figura 5 a seguir podemos observar 1 as casas da Vila Timb onde moravam os funcion rios do hospital no lado direito ao alto 2 a pra a circular onde os americanos jogavam golfe em frente 3 os galp es onde se fazia o alistamento dos trabalhadores l tamb m funcionavam as oficinas Por fim ao lado direito da pra a 4 a Igreja Cat lica de Santo Ant nio e seu respectivo sal o paroquial do lado esquerdo da pra a 5 a Igreja Batista 77 As fotos de poca utilizadas neste trabalho foram gentilmente cedidas pelo senhor Osvaldo Teixeira G es engenheiro da Companhia na d cada de 1940 hoje aposentado e residindo em Bras lia no Distrito Federal 178 Essas refer ncias foram coletadas junto aos moradores da cidade atrav s de conversa informal durante minhas visitas sistem ticas a Belterra no per odo que vai do in cio de 2005 e at final de 2007 19 Figura 5 Vis o panor mica da infra estrutura criada pela CFIB Foto Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1937 Nas proximidades da cidade foi constru do o campo de avia o para dar suporte ao projeto Ele assegurava o desl
9. o Nacional do ndio encarregado de proteg los na fase de contato Este privou os de arcos e flechas instrumentos de sua exist ncia Rapidamente deixaram de fazer ro as prostitu ram mulheres e filhas assimilaram o alcoolismo Tr s anos depois do primeiro contato estavam perambulando pela rodovia como mendigos sujos disputando resto de comida 154 Do mesmo modo em muito se diferenciam dos ga chos que chegaram Santar m e especialmente Transamaz nica com o Projeto Integrado de Coloniza o PIC nos anos de 1970 Eram fam lias descendentes de colonos de origem alem 145 Cerca de 450 fam lias de produtores capitalizados j realizaram recentemente deslocamentos migrat rios para Santar m e Belterra por conta desta atividade produtiva As duas entrevistas realizadas com representantes desse segmento indicam seus principais percursos Rio Grande do Sul Mato Grosso Par Paran Mato Grosso Par Relatos de lideran as sindicais da regi o informam que poucos vivem na cidade de Santar m uma vez que se fixaram em reas mais distantes desta como as localidades de S o Jos Boa Esperan a Tabocal e no munic pio vizinho de Moju dos Campos rec m emancipado de Santar m onde desenvolvem tamb m outras atividades econ micas no ramo de supermercado churrascaria a ougue e mot is por exemplo O conflito entre os produtores de soja os rec m chegados vindos de fora e a popula o local os anti
10. o dos conflitos sociais em Santar m e Belterra ocorreu no ano de 2006 quando os conflitos ganharam visibilidade na cidade de Santar m e os campos de poder passaram a se enfrentar abertamente atrav s de passeatas manifesta es p blicas cobertura midi tica produ o de material de divulga o e mobiliza o que continham a vis o de ambas as partes bem como do enfrentamento entre pol cia e manifestantes em torno do porto da empresa multinacional Cargill At ent o esses conflitos estavam confinados rea rural desses munic pios e mobilizavam apenas militantes e simpatizantes de ambos os lados a refer ncia do autor ao territ rio m ltiplo compartilhado por m ltiplas identidades Tamb m chamamos aten o que a proposi o de Almeida n o pode ser associada s correntes de pensamento que defendem o fim do territ rio e ao discurso da desterritorializa o produzido por n o ge grafos conforme analisou Haesbaert j que na proposi o de Almeida o territ rio est associado ao uso pertencimento identidade e a territorialidades espec ficas e sua perda e n o ao seu fim 49 A Medida Provis ria n 558 de 5 de Janeiro de 2012 editada pela Presid ncia da Rep blica trata da altera o dos limites redu o dos Parques Nacionais da Amaz nia dos Campos Amaz nicos e Mapinguari das Florestas Nacionais de Itaituba I Itaituba II e do Crepori e da rea de Prote o Ambiental do Tapaj s O artigo VI
11. Com isso podemos aferir que n o existe neutralidade nos usos desse conceito e a complexidade de sua express o est relacionada a quem o usa por que usa e em que contexto se d essa enuncia o Nessa perspectiva apresenta se a ideia de portadores de sustentabilidade para elevar a discuss o para al m da defini o conceitual de forma que esta n o pode ser conduzida nem orientada por aqueles setores portadores da pr tica predat ria ou insustent vel Como afirma Acselrad 1999 p 80 ao contr rio dos conceitos anal ticos a no o de sustentabilidade est submetida l gica das pr ticas Desse modo as justificativas usadas para legitimar as pr ticas predat rias estariam relacionadas ao pre o a pagar em nome do progresso do crescimento e do desenvolvimento principalmente pelos segmentos sociais residentes naqueles lugares onde se materializam esses empreendimentos Essa perspectiva estaria relacionada quelas interven es que reduziram o conceito de desenvolvimento sua dimens o econ mica e moderniza o tecnol gica sem com isso admitir a necessidade de implementa o de pol ticas distributivas e de combate pobreza SOUZA 1996 Ressalte se que no discurso das ag ncias governamentais e de financiamentos multilaterais as defini es como pol ticas de al vio pobreza e pol ticas compensat rias ganham centralidade e cada vez mais se fala em mitiga o dos efeitos negati
12. Pestou ao Minist rio as reas localizadas na margem direita da rodovia se projetando at o rio Tapaj s onde est o situados os seringais os n cleos urbanos algumas posses isoladas e uma pequena rea de expans o com uma superf cie aproximada de 20 000 hectares al m de uma rea j de posse do IBDF destinada Floresta Nacional do Tapaj s SANTOS 1984 p 10 11 119 O jornal intitulado O Movimento noticiou a cria o do Comit Pr munic pio em 12 de junho de 1987 onde foram expostas as op es para Belterra ap s a sa da do Minist rio da Agricultura 1 que esta fosse entregue Santar m 2 que ela se transformasse em munic pio Do mesmo modo conclamava os moradores para n o ficarem de bra os cruzados MOVIMENTO 23 07 1987 O mesmo jornal noticiou que uma comiss o de moradores acompanhada de um deputado estadual esteve em Bras lia onde conversaram com um senador da Rep blica sobre o processo de emancipa o de Belterra recebendo do mesmo o apoio para a cria o do munic pio MOVIMENTO 29 09 1987 128 Da faz amos reuni es todas as comunidades Pindobal Porto Novo Aramanaf tudo onde tinha rea de Belterra a gente ia l colocar na cabe a do pessoal o que era pelo que a gente estava lutando A maioria do pessoal n o sabia nem o que era emancipa o n o sabia o que era plebiscito n o sabia nunca tinha ouvido falar CHARDIVAL Abril 2011 Diz o nosso entrevistado que visitas t c
13. Uma cidade sem fome Planejada com foco na sustentabilidade com infra estrutura educacional e justi a social Escola T cnica e Universidade Rural Merenda escolar com produtos comprados dos nossos produtores FLONA sendo administrada pelos moradores de Belterra e em Belterra Moradia pr pria para todos Tenha qualidade de vida mesmo com crescimento populacional Cidade modelo com rela o sa de educa o e lazer Que haja di logo constante entre popula o e administra o municipal Com educa o acess vel e profissionais qualificados Preserva o de praias igarap s mananciais Incentivo ao reflorestamento nas reas desmatadas Demarca o das reas ind genas e valoriza o da sua cultura Apoio e Incentivo a agricultura familiar terras mecanizadas constru o de casas de Farinha e armaz m sementes selecionadas Escolas agr colas apoio cria o de casa Familiar Rural Apoio a cria o de Cooperativas e agroind strias Regulariza o e legaliza o fundi ria Apoio a cr ditos rurais defini o de reas para produ o Amplia o e manuten o dos ramais para melhor escoar a produ o Transporte para escoar os produtos agr colas Conclus o do Programa Luz para Todos nas comunidades do Munic pio Queremos que o governo tenha uma rela o a
14. a singularidade de uma poca ou seja seu modo pr prio de organizar e expressar a sua historicidade reside verdade na tens o gerada pela contemporaneidade de atitudes herdadas do passado e de comportamentos provocadas por novas problem ticas S o estes os elementos que configuram as tens es e simultaneidade das rela es tempo espa o passado e presente lugar e totalidade mundo Assim oportuno recorrer a Santos 2008 para estabelecer as media es entre as escalas local estadual regional nacional e global observando que a pr tica humana como racionalidade econ mica capitalista sob hegemonia do grande capital e do Estado imp e usos i Segundo Costa 1993 este fato aconteceu em Fordl ndia no dia 22 de dezembro de 1930 e teve como elemento motivador a dificuldade da CFIB de abastecer com alimentos seus trabalhadores o que implicou a introdu o de produtos alheios aos h bitos alimentares da regi o como o espinafre por exemplo Nesse ato de revolta o restaurante m quinas e equipamentos foram destru dos e houve a ocupa o do porto e a proibi o por parte dos trabalhadores da atraca o dos barcos da empresa Depois de normalizada a situa o e retomadas as atividades a empresa tomou algumas medidas investiu na produ o local de alimentos plantio de frutas cria o de gado e produ o de mandioca e farinha suspendeu o fornecimento de comida para seus funcion rios e abriu concess es para comerc
15. em fun o da gua dos peixes e do transporte mas boa parte de sua atividade econ mica era voltada para o centro a mata onde plantavam a mandioca exploravam a seringueira e apanhavam castanha As fam lias nessa opera o a servi os dos madeireiros viam reduzir o seu espa o de sobreviv ncia casa ao quintal e a um ou dois hectares de terra Sua luta portanto ao exigir a garantia do espa o da sua reprodu o voltava se tanto contra o Incra quanto contra as empresas LEROY 1991 p 116 Para ilustrar o segundo caso podemos lembrar a mobiliza o em torno da cria o do movimento pr emancipa o de Belterra as reuni es na rea urbana e rural a mobiliza o de parlamentares a aprova o da lei para realizar o plebiscito e posteriormente a aprova o pela Assembl ia Legislativa da cria o do munic pio e a realiza o das primeiras elei es municipais em 1996 conforme relatos colhidos em campo Do ponto de vista econ mico diz o prefeito o munic pio pode ser apresentado por meio de tr s formas a realidade do planalto que vive da agricultura BR 163 a realidade ribeirinha que vive do extrativismo FLONA e a realidade urbana Cidade que se relaciona aos pensionistas e aposentados pequenos comerciantes agricultura na cidade presta o de servi os e da fruticultura visto que os quintais s o verdadeiros s tios PASTANA Outubro 2009 Segundo ele os 450 mil hectares das terras mu
16. es de vida do deslocamento e do acesso informa o por exemplo Mas o quadro pode se agravar caso as prospec es realizadas pela empresa de minera o Vale confirmem a exist ncia de reservas minerais no munic pio N o podemos deixar de chamar aten o para esta situa o visto que no trabalho de campo de 2009 alguns entrevistados relataram que esta empresa estava realizando estudos naquele momento Novamente em 2011 fomos alertados de que o estudo havia sido conclu do e que possivelmente haviam encontrado min rio por l Como n o temos informa es suficientes sobre essa quest o vamos trat la apenas como uma possibilidade mas de qualquer forma j podemos vislumbrar uma cidade em transi o Destacamos isso porque no munic pio de Juruti tamb m integrante da mesorregi o do Baixo Amazonas j est instalada a poderosa mineradora canadense Alcoa Os conflitos socioambientais s o intensos e provocaram o deslocamento de popula es rurais o aumento da viol ncia a contamina o do lago que abastece a cidade de gua a prostitui o e a chegada de 25 mil pessoas para o lugar cuja popula o era de 37 mil habitantes antes da implanta o do empreendimento Caso este fato venha a ocorrer em Belterra as condi es da vida do lugar v o mudar significativamente mas isto objeto de outra pesquisa Como ensina Geertz 1999 se n o h mais nada a dizer sobre o assunto ent o podemos deix lo de lado
17. o natural tem se voc n o tem nada e as pessoas n o sabem nada Talvez pra prostitui o seria voca o Ent o o turismo sexual que existe a E que todo mundo faz olho grosso mas que os gringos v m aqui pra pega as menininhas de menor a que existe isso Ent o ser que a voca o essa N o eu acho que se voc tiver uma ind stria e tiver treinamento essas pessoas v o ter a voca o pra isso Porque tem que ter um fomento pra gera o de emprego Porque n o tem como o governo alcan ar atrav s dos programas sociais a vida inteira assim Ent o a gente tem uma preocupa o pessoal grande em rela o a isso PRODUTOR DE SOJA II Mar o 2011 203 Situa o semelhante foi relatada por outro produtor de soja durante as reuni es de elabora o da Lei do Plano Diretor Participativo de Belterra no ano de 2006 quando afirmava ter pago R 80 mil oitenta mil reais para um membro do governo municipal no in cio dos anos 2000 para ter acesso s terras do munic pio Diante disso argumentava que n o havia nada de irregular com sua propriedade visto que ela havia sido comprada Situa o presenciada pelo autor 199 Assim podemos identificar no teor do discurso desse produtor de soja uma argumenta o baseada no determinismo geogr fico na vis o etnoc ntrica do homem amaz nico e na ideia de espa o como vazio demogr fico e cultural conforme apresentamos anteriormente com base nos estudos de Trindade Jr 2003 A
18. o de pestes e lagartas e enfermagem JOHNSTON s d s n 13 R G V 18 anos do munic pio de bidos PA admitido em 1942 J P V nascido em Santar m PA admitido no ano de 1929 em Fordl ndia como capataz e transferido para Belterra no ano de 1936 P O C nascido em Santar m 1913 contratado como motorista para Belterra no ano de 1934 J B N 39 anos nascido em Bel m do Par e contratado em 1930 para Fordl ndia M T A 30 anos nascida no Lago Grande em Santar m contratada em 1944 para trabalhar em Belterra como trabalhadora do campo Conforme Registro de Empregados da CFIB 75 Essas informa es foram coletadas por meio de conversas informais realizadas em junho de 2006 76 S lvia aposentada Veio da comunidade de Boim munic pio de Santar m PA Foi capataz desde os treze anos de idade e trabalhou at os americanos irem embora Estudou at a 3 s rie Maria Isaura aposentada Nasceu em Belterra seu pai veio trabalhar na Companhia Ford com 17 anos de idade O senhor Pedro hoje com 80 anos de idade veio do Lago Grande em Santar m para estudar j que seu pai se empregou na Companhia em 1934 Com a morte do pai em 1939 quando ele tinha 9 anos de idade a fam lia passou por grandes dificuldades Narra ele que ainda menino aos 12 anos de idade trabalhava na limpeza das quadras de seringa e no plantio da semente para a produ o de mudas Aos 15 anos foi para o enxerto e aos 16 anos para a
19. o e pela sistematicidade da vida cotidiana que s o repassados de gera o em gera o por meio da socializa o e do aprendizado dos saberes com os mais velhos Quando ouvimos numa entrevista o meu o pai me falou que a m e dele falou pra ele j se v o 100 anos dessa constru o 214 motivador para as pr ticas de cada grupo social E o sentido da a o social conforme definiu Geertz 1978 Vejamos o quadro abaixo PERSPECTIVA POPULA O DO LUGAR PRODUTORES DE SOJA Racionalidade Produ o para satisfa o das necessidades humanas a fim de assegurar a reprodu o do grupo social Produ o para o mercado visando acumula o de riqueza Uso da natureza a o n o predat ria preocupa o com o dia de amanh com a floresta em p e com a manuten o da vida humana e dos animais ocupa o de pequenas por es de terra alternadamente para a planta o de feij o milho arroz e mandioca cria o de animais de pequeno porte e desenvolvimento da fruticultura e hortali as em alguns casos a o em base mercanti intensiva e predat ria uso de grandes por es de terra devolutas de agricultores que venderam suas terras ou de antigos propriet rios fazendeiros produ o do monocultivo de soja mas h altern ncia de atividades para milho feij o sorvo e arroz Agora aparece a cria o de gado Ci ncia t cnica e informa o
20. p 117 Por fim gostar amos de chamar aten o para os estudos das cidades na Amaz nia que conforme adverte Castro 2009 considera a insufici ncia no quadro te rico que op e o urbano e o rural e que associa o par urbaniza o industrializa o para explicar a forma o de 8 Os munic pios de Altamira 160 755 km e Santar m 24 154 km no Par juntos ocupam em extens o territorial uma rea superior aos espa os metropolitanos existentes hoje no Brasil onde vivem mais 70 milh es de habitantes concentrados em 167 mil km conforme vimos nos estudos de Ribeiro e Santos Jr 2007 24 x spo ERTS n E Chamamos aten o que as pol ticas governamentais n o financiam esse tipo de padr o construtivo 45 suas cidades Ressaltamos que nelas a presen a quilombola e a composi o demogr fica cultural e lingu stica ind gena s o caracter sticas de sua pluralidade e singularidade conforme vimos anteriormente Mas algumas dessas quest es ser o abordadas com mais profundidade no estudo de caso os modos de vida na cidade de Belterra conforme apresentaremos de agora em diante 46 2 CIDADE NA FLORESTA BELTERRA A EXPERI NCIA DA PLANTATION DE SERINGA DE HENRY FORD NA AMAZ NIA 1934 1945 2 1 O processo civilizat rio capitalista para a Amaz nia Se alguns desses ndios querem absolutamente n o trabalhar e viver sua vontade dando exerc cio pregui a que lhes natural estes s o metidos e
21. quando a praia j havia sido ocupada Fonte Prefeitura de Santar m 1999 Fonte Pereira J C M 2004 O trabalho realizado na Europa divulgando os conflitos socioambientais para empresas organiza es e revistas importantes tive resultados como a ida da imprensa e de organiza es internacionais Santar m para conhecer de perto a situa o Outros feitos importantes foram a Morat ria da Soja e a cria o de grupos de trabalho para acompanhar o 152 desmatamento em algumas reas inclusive houve o mapeamento participativo que identificou os problemas encontrados em decorr ncia da presen a soja no munic pio apresenta nossa entrevistada amea ada Nesse contexto as no es de desenvolvimento e progresso s o fortemente questionadas Que tipo de desenvolvimento este Que concentra a terra nas m os de poucos que expulsa as fam lias de suas terras e os manda para a periferia da cidade que polui os rios e deixa as pessoas doentes Do mesmo modo s o arregimentadas por nossa entrevistada as experi ncias de vida pautadas na ca a na pesca na cria o de animais de pequeno porte e no cultivo do arroz do feij o da mandioca do milho e de uma variedade de frutas da regi o que est o relacionadas s fam lias e cultura do lugar em oposi o pr tica do monocultivo da soja Durante o ano de 2006 conversamos com lideran as dos movimentos sociais em Santar m quando nos foram
22. Departamento da Uni o DPU PA faleceu e o processo sofreu interrup o mas foi retomado ainda naquele ano Em junho de 2011 os primeiros 291 lotes em fase final de regulariza o ainda aguardam para serem entregues aos seus propriet rios 161 4 2 O modo de vida rural Na BR 163 est o localizados os migrantes nordestinos que vieram com os projetos de coloniza o do Instituto de Coloniza o e Reforma Agr ria INCRA na d cada de 1970 Eles ocupam tamb m uma pequena parte da FLONA onde se encontra o maior assentamento rural do munic pio a localidade de S o Jorge com mais de 3 500 habitantes Segundo Leroy 1991 desse tipo de ocupa o que surge a figura do campesinato das estradas tanto na BR 163 como na Rodovia Transamaz nica fruto da migra o ocorrida nos anos de 1970 e 1980 que se deu pelos fundos e n o mais pela beira do rio As fam lias se dedicam basicamente atividade agr cola como cultivo do milho arroz feij o e mandioca e cria o de animais como galinha porco e algumas cabe as de gado conforme informa es fornecidas por um agricultor cearense de 47 anos que veio com a fam lia para a regi o durante a cria o do projeto do INCRA Ele nos fala um pouco das atividades que desenvolve como agricultor num lote de 100 hectares que fica num ramal a 5 km da BR 163 Amanhece muito cedo vai tirar o leite da vaca dar comida para os bichos galinha porco essas coisas e vai para
23. Eles pegavam um quadro desses que hoje chama de 400 m ent o era um dia pra limpar pra capinar porque era muita gente 83 Mas havia uma variedade de hor rios de acordo com as atividades desenvolvidas pelos funcion rios Os enfermeiros do hospital entravam no trabalho s 6h e saiam s 14h os mec nicos eletricistas torneiros e marceneiros que trabalhavam no cercado iniciavam seu turno s 7h e tinham uma hora para ir a casa almo ar e retornar ao trabalho O segundo per odo se estendia at 16h 101 Ent o por exemplo ai ele fazia a demarca o pra esse plantio de seringa Se por exemplo aqui tivesse um toco e que a demarca o fosse bem ali a qual pra plantar uma seringueira ent o tinha que arrancar aquele toco tinha que arrancar de qualquer naquele tempo n o tinha os tratores que n s temos hoje de bod de coisa hidr ulico ent o tinha uns trator aqui chamado trator trinta n Ent o ainda queimava gasolina t o barato gasolina era que queimava gasolina olha a eles amarravam um cabo muito grosso l cabo de a o mandava cavar o toco a amarrava aquele toco apertava com umas garra e o trator puxava e o toco virava arrastava e plantava o p de seringa ERASMO Novembro 2009 A figura 31 apresenta um grupo de seringueiros durante a jornada de trabalho em Belterra Figura 31 Seringueiros durante a jornada de trabalho Fonte IBGE Dispon vel em lt http biblioteca ibge gov br visualiza
24. LAN fundado em 1939 e transformou se no Instituto de Pesquisa e Experimenta o Agropecu ria do Norte IPEAN em 1962 Com a cria o da Embrapa passou a denominar se Centro de Pesquisa Agropecu ria do Tr pico mido CPATU em 1976 e posteriormente Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amaz nia Oriental hoje com seu nome s ntese de Embrapa Amaz nia Oriental Dispon vel em lt http hotsites sct embrapa br pme historia das unidades regiao norteftamazoniaOriental gt Acesso em 01 mai 2010 102 A Jei n 3 431 de 18 07 1958 criou o Estabelecimento Rural do Tapaj s ERT definiu a estrutura organizativa um coordenador e o conselho fiscal e a composi o e atribui es do conselho fiscal dotando o de recursos da Uni o no valor de CR 20 000 000 00 vinte milh es de cruzeiros por cincos anos 103 Foram destinados CR 7 000 000 00 sete milh es de cruzeiros pelo governo federal para arcar com as despesas de manuten o das planta es de Belterra e Fordl ndia sob coordena o do IAN conforme tratou a lei n 477 de 09 11 1948 104 A lei n 2 262 de 08 07 1954 assegurou os direitos trabalhistas dos servidores de Belterra e Fordl ndia e reconheceu o tempo de servi o prestados por estes CFIB para fins de contagem de tempo de servi o e aposentadoria A lei n 49 922 de 13 01 1961 tratou do quadro provis rio de pessoal cargos atribui es sal rios e gratifica es Sucessivos decretos presidenciais cri
25. Trata se de uma urbaniza o que se d pela verticalidade ou por meio de espa os descont nuos possibilitada pela a o seletiva do capital em ilhas ou pontos luminosos do territ rio sob a tica do fordismo como um evento que teve a dura o de apenas 18 anos SANTOS 1998 TELLES 2006 GRAMSCI 1988 SAHLINS 1985 O que apresentamos at o momento constitui uma reflex o sobre a urbaniza o da Amaz nia pois nos permite pens la no contexto mais amplo do processo de acumula o do capital No entanto outro aspecto precisa ser devidamente tratado que analisar como a urbaniza o se produz como forma e conte do no interior das cidades Esse discernimento importante pois nos permite pensar a cidade n o como algo em si mesma mas na rela o que estabelece com outras cidades e din micas s cio territoriais que ultrapassam suas fronteiras buscando estabelecer o nexo entre a discuss o interurbana que se refere rede de cidades CORR A 1987 e intra urbana ou seja dos arranjos no interior da cidade VILLA A 2001 Do mesmo modo permite nos perceber a interconex o existente entre o universal o particular e o singular como escalas simult neas do mesmo processo conforme prop s Lefebvre 1987 1 3 Particularidades e singularidades do urbano da Amaz nia Para algumas situa es nas cidades as caracter sticas rurais s o marcantes Pescadores que moram e trabalham nos rios que cortam as periferias agricu
26. articula o do governo do estado do Par junto ao governo federal e as a es sistem ticas feitas pelo Minist rio das Rela es Exteriores nos Estados Unidos foram fatores que tornaram poss vel a atra o do capital americano para a Amaz nia Segundo Barreiros 1928 no dia 07 de setembro de 1925 o governador Dionysio Bentes enviou mensagem Assembl ia Legislativa informando aos deputados que fora contatado pelo C nsul do Brasil em Nova York J C Alves de Lima para informar sobre as negocia es envolvendo o governo federal e uma comiss o americana sobre estudos e explora o da borracha na Amaz nia Informou ainda que as negocia es envolviam a concess o de benef cios fiscais e doa o de terras por parte dos governos do Par e do 2 Segundo Costa em 1929 os Estados Unidos consumiam 58 da produ o mundial de borracha natural algo em torno de 475 mil toneladas que estavam sob controle das col nias inglesas 67 e holandesas 24 cujas planta es se localizavam no sudeste asi tico 43 O decl nio da produ o e a queda dos pre os s o decorrentes da entrada da borracha produzida no Sudeste asi tico pelas col nias inglesas com melhores pre os e maior produtividade OLIVEIRA SCHOR 2009 Criado por decreto do governo Hermes das Fonseca trazia em seu teor a concess o de bonifica es para quem plantasse seringueiras e constru sse infraestrutura como estradas de ferro hospitais instala es
27. cnica de solu es para v rios problemas de uma cidade marcada por profundas desigualdades sociais OLIVEIRA SCHOR 2009 p 66 Sobre esse per odo diz se ainda que a riqueza produzida na Amaz nia na poca da borracha provinha de dois l quidos da seiva da hevea brasiliensis e do sangue dos seringueiros OLIVEIRA 2000 p 200 13 Observa Piquet 1998 que as cidades brasileiras antecedem industrializa o uma vez que se formaram na maioria das vezes em fun o do capital comercial e ou pelas institui es estatais que nela foram se instalar Diz ela que at meados do s culo XX tinham uma fun o administrativa e ligada ao setor prim rio Desse modo devemos ressaltar que o par industrializa o e urbaniza o n o s o reconhec veis em todas as realidades urbanas visto haver situa es onde h urbaniza o sem a industrializa o ou com fraca industrializa o como se observou pelo caso citado 37 Argumentamos tamb m que a cria o das cidades empresa da Companhia Ford Industrial do Brasil CFIB em Fordl ndia e Belterra no per odo de 1928 1945 corresponde a outro tipo de urbaniza o e pr tica produtiva que ainda n o havia sido experimentado na regi o cujas rela es n o s o da mesma natureza daquelas experimentadas por Bel m e Manaus durante o boom da borracha e nem pela fronteira urbana proposta por Becker como o marco definidor da urbaniza o da Amaz nia para os anos de 1970
28. conduzir as massas no processo de produ o Segundo Ford 1954 p 17 a ess ncia da vida f sica cultivar fabricar e transportar Esses s o os verdadeiros alicerces da sociedade capitalista como podemos observar no livro Minha vida e minha obra onde Ford anuncia a ilus o da igualdade N o h maior absurdo do que pretender a igualdade entre os homens A natureza os fez desiguais e toda a concep o democr tica que intenta igual la resulta pois de um esfor o que retarda o progresso Todos os homens n o podem prestar servi os iguais porque o n mero dos aptos menor do que o n mero dos inaptos E poss vel que um grande grupo de incapazes consiga derrubar um punhado de capazes mas cavar o a sua pr pria ru na Os homens de valor que dirigem a massa e permitem que os menos capazes vivam com menor esfor o FORD 1954 p 20 Desse modo a fala do desenvolvimento prolongou se e naturalizou se como discurso encontrando sua justificativa na pr tica modernizadora capitalista proposta pelo Estado para o pa s Vale lembrar que em 1970 o general M dici e sua comitiva estiveram na Amaz nia para a obra inaugural da Rodovia Transamaz nica cuja miss o era ligar a regi o ao Nordeste brasileiro O evento foi noticiado como a arrancada para conquistar o gigante 3 mundo verde Descendo do carro que o conduzia o presidente hasteou o pavilh o brasileiro em um mastro improvisado no tronco de u
29. dio Tudo isso d porque tem bacaba tem a a tem buriti tem uxi tem baba u tem curu e tem Pequi isso tudo d rem dio D tudo Perfume Tem perfume de a a n Est o fabricando perfume de a a E isso tudo bom para pele Shampoo de andiroba e baba u que se estraga nessas matas Se estraga Belterra muito rica A terra boa para o plantio a pessoa n o planta se n o quiser Tem mulher aqui tem mulher que tem ro a n o fica sem ro a O dinheiro daqui muito pouco Porque Belterra hoje o setor de emprego s a Prefeitura n Ent o quando s tem a Prefeitura pra empregar fica muito dif cil porque uma Prefeitura pequena sem recurso muito dif cil a sobreviv ncia das pessoas aqui em Belterra Aqui o que tem s o os aposentados pensionistas e o pessoal da Prefeitura Aqui devia ter uma ag ncia banc ria para fazer o dinheiro circular aqui mesmo Aqui a divers o s o as praias e no fim de semana o futebol nas estradas 1 9 e 10 Consultar os relat rios contendo os debates de lideran as e gestores municipais durante o processo preparat rio de elabora o da lei do Plano Diretor nos anos de 2005 2006 permitiu nos acessar algumas informa es acerca do imagin rio desses dois grupos sobre o tipo de desenvolvimento que eles queriam para o munic pio naquele momento por meio de uma pergunta mobilizadora Como ser a Belterra de nossos sonhos 211 Abaixo apresentamos alguns elemen
30. duos para a cidade em busca de empregos tratamento de sa de educa o ou um novo estilo de vida Em outras situa es a pr pria organiza o social ind gena se configurou para formar grandes aldeias urbanas como o caso de alguns grupos Tikuna no Alto Solim es no estado do Amazonas BAINES 2001 s n No Amazonas segundo dados de 2003 cerca de 9 000 ind genas de 47 etnias viviam nas cidades de Barreirinhas Mau s Parintins Nova Olinda do Norte e principalmente 18 Baines chama aten o que pouco se sabe sobre o ndio citadino j que os dados censit rios s o pouco confi veis uma vez que a nega o da pr pria identidade ind gena constitui se numa estrat gia para fugir do preconceito e estigma Argumenta ele que as estimativas mais recentes sugerem que a popula o ind gena em Boa Vista RR pode ser de 15 ou 20 mil e a COIAB estima entre 15 e 20 mil ndios em Manaus havendo casos de pessoas de v rios grupos tnicos na mesma fam lia e pessoas que se dizem ndios mas n o sabem dizer de qual etnia 40 Manaus a capital do estado e maior recebedora desses fluxos Os motivos dos deslocamentos para as cidades s o os mais diversos Dentre eles podemos citar a implanta o de grandes projetos nas reas ind genas a constru o de estradas a prospec o de petr leo de empresa francesa a invas o de terras por garimpeiros posseiros e grileiros ligados ao agroneg cio a degrada o das condi
31. grande de carros caminh es motos e bicicletas Ali s esta ltima tem papel de destaque no deslocamento pessoas dado a quantidade de bicicletas existentes na cidade Como nos disse uma pessoa durante uma conversa informal Belterra uma pequena cidade onde tudo longe Bem estamos falando de 10 estradas dos antigos seringais de at 10 km de cumprimento cada As parab licas anunciam o contato com outras realidades telefonia celular chegou recentemente e permite facilidade de acesso aos servi os e a conex es de longa dist ncia Da praia pode se falar com qualquer parte do mundo ou pode pedir um simples moto t xi de volta cidade O servi o de pizza j entrega em casa Isso n o era poss vel h poucos anos atr s Ficar em Belterra por algum tempo significava ent o dificuldade de acesso internet ou de manter contato telef nico com a fam lia j que o celular ficava fora de rea e os telefones p blicos existentes muitas vezes n o funcionavam As celebra es religiosas s o frequentes j que a ida ao culto uma atividade social importante na cidade L existem as Igrejas Cat lica Anglicana Evang lica Pentecostal e 196 Adventista do S timo Dia N o foi poss vel identificar lugares de pr tica de religi es de matriz africana Temos ainda as partidas de futebol do campeonato municipal destaques para o ABC e Uni o que quando se enfrentam vira atra o de cl ssico local Do mesmo modo o
32. j que os trabalhos nunca terminam eles s o abandonados 237 REFER NCIAS ACSELRAD Henri As pr ticas espaciais e o campo dos conflitos ambientais In Conflitos ambientais no Brasil Rio de Janeiro Relume Dumar 2004 p 13 35 O zoneamento econ mico ecol gico e a multiplicidade de ordens socioambientais na Amaz nia Novos Cadernos do NAEA Bel m v 3 n 2 p 5 15 dez 2000 Discursos da sustentabilidade urbana Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais Rio de Janeiro n 1 p 79 90 mai 1999 Planejamento autorit rio e desordem socioambiental na Amaz nia cr nicas do deslocamento da popula o de Tucuru Revista de Administra o P blica Rio de Janeiro v 25 n 4 p 53 68 out dez 1991 ALMEIDA Alfredo Wagner B Agroestrat gias e desterritorializa o os direitos territoriais e tnicos na mira dos estrategistas dos agroneg cios In ALMEIDA A W B CARVALHO G Org O Plano HRSA vis o da sociedade Pan Amaz nica Bel m Federa o de rg os para Assist ncia Social e Educacional FASE Observat rio COMOVA UFPA 2009 p 57 105 Amaz nia a dimens o pol tica dos conhecimentos tradicionais In ACSELRAD Henri Org Conflitos ambientais no Brasil Rio de Janeiro Relume Dumar 2004 p 36 56 Terras tradicionalmente ocupadas processo de territorializa o e movimentos sociais Revista Brasileira de Estudos Urbanos Regionais Rio de Janeiro v
33. m proibido de buscar um cacho de a a ou um cacho de abacaba ou ir pescar na frente do outro Ningu m n o tem cerca praticamente n o tem cerca Ainda hoje assim Eles vivem um pouco assim Entendeu Agora eles gostam muito de festa eles gostam muito de divertir de dan as de quadrilhas de dan a de p ssaro de boto de Essas dan as festivais Hoje na Flona n s temos o Festiara que que o Festival das Iaras n s temos Festival de Licor Festiara no Aramana Festival do Licor no Cajutuba N s temos o Festival do Pato do tucunar no Peni o Festival do A a no Piquiatuba O Festival da Perema no Jaguarari S para voc ter uma id ia fora as festas de santos E toda comunidade tem um padroeiro ARCANJO Outubro 2009 O lugar foi submetido a press es jur dicas pol ticas e administrativas de poderes que lhes s o externos e de rela es que fogem sua governabilidade mas que interferiram profundamente no seu modo de vida A primeira proposi o do IBDF em 1974 quando da cria o da FLONA era tirar todas as pessoas que j moravam l h d cadas porque a concep o de unidade de conserva o proposta pelo governo militar n o admitia a perman ncia de humanos no lugar A constitui o de um estoque estrat gico de recursos naturais era o que movia tal proposi o Fala se tamb m no medo dos governantes de Bras lia que l se transformasse num foco da guerrilha id ntico ao que aconteceu
34. mas do munic pio de Santar m Dos duzentos e vinte dois concursados cento e setenta j foram efetivados Como ressalta o prefeito a Prefeitura a maior e praticamente a nica empregadora mas essa situa o se agravou visto que o munic pio n o tem fonte de recursos pr pria O valor do recurso total do munic pio foi de R 15 000 000 00 quinze milh es de reais em 2008 e R 18 000 000 00 dezoito milh es de reais em 2009 Por fim n o podemos deixar de mencionar como diz Fr goli Jr 2007 que na cidade que ocorre com mais intensidade a monetariza o das rela es Essa mesma perspectiva aparece nas an lises de Velho Diz ele que A moeda como valor de troca universalizante constitui se em instrumento uniformizador por excel ncia dos diferentes significados culturais atribu dos a bens servi os e atividades O c lculo econ mico apoiado no sistema monet rio atua como for a niveladora inter e intra social nas rela es entre os mais diferentes atores individuais e coletivos As cidades com sua dimens o de mercado e de centro econ mico em geral apresentam um cen rio particularmente rico para apreender a diversidade poss vel de alternativas socioculturais Por mais poderosos que sejam os mecanismos de mercado e a racionalidade particular que os acompanha a complexidade dos processos culturais e a pr pria heterogeneidade da sociedade moderna contempor nea produzir o combina es s nteses e interpreta
35. ncia da plantation de seringa da CFIB onde se iniciou a constru o da cidade O segundo diante das transforma es ocorridas com a emancipa o desta cidade do munic pio de Santar m a partir de 1995 at os dias atuais 2011 Per odo este que marca tamb m a chegada da agricultura cient fica e do agroneg cio globalizado ELIAS 2006 na regi o Contudo observamos que a escolha dos peda os de tempo SANTOS 2008 n o quer dizer que haja vazio na vida do lugar entre 1946 1994 Trata se apenas de um recurso anal tico para valorizar os per odos de maior signific ncia para nossa pesquisa e de uma escolha deliberada na forma de organizar o pensamento justamente por n o estarmos preocupados em construir uma cadeia puramente cronol gica dos fatos hist ricos OLIVEIRA 1998 p 52 Esse demarcador de tempo espa o foi importante pois embora busc ssemos um fio condutor de an lise entre os dois per odos os conte dos sociais e as atividades econ micas de cada momento n o eram correspondentes embora relacionais Isso nos remeteu formula o 23 das quest es de pesquisa que pudessem ser estudadas nos dois per odos conforme apresentamos abaixo 1 Como a inser o subordinada da Amaz nia ao processo de acumula o do capital e das externalidades a ela relacionadas produz um tipo de cidade diferenciada daquelas existentes em outras regi es do Brasil Por que e como isso ocorre 2 Em que Belterra
36. nia A empresa tinha investido US 20 milh es e seu patrim nio era avaliado em US 8 milh es Os preju zos com o investimento foram de US 9 276 655 04 conforme os valores de 1945 COSTA 1993 GRANDIN 2010 114 Minist rio da Agricultura filho de ex seringueiros e que administrou Fordl ndia depois da sa da dos americanos Porque o americano n o era s l tex n o a borracha era min rio porque l em Fordl ndia tinha uma serra tinha o morro do saco ent o era proibido as pessoas entrarem l era um cavado doido l eu n o sei Ent o tinha os fiscais l pra ningu m entrar Todos os meses chegava l em Fordl ndia um Lloyd por nome Lloyd Like More ent o eles enchiam toda aquelas madeiras bem carregadinho bem bonitinho e iam embora n o sei pra onde pro Rio pro Estados Unidos sei l Mas era min rio com certeza SABI Outubro 2009 Se tiraram e levaram eu n o sei mas que havia na poca havia E muitas pessoas l que eu administrei Fordl ndia fiz muitos amigos l e eles falaram que tinham reas l que eles iam s eles e os funcion rios que trabalhavam no extrativismo iam l Por exemplo tinha l um morro que eles esburacaram todinho e at hoje existe l essas cavernas que foram feitas por eles Iam de madrugada segundo eles eles contam n Iam de madrugada carregavam aqueles sacos cheios com certeza era min rio n Porque quando eu estive l tamb m uma equipe de pesquisadores esteve
37. nio hist rico cultural atrav s da lei do Plano Diretor de 2007 e no per odo atual passam por um processo de restaura o por meio de conv nio entre a prefeitura e o Instituto do Patrim nio Hist rico e Art stico Nacional IPHAN 1I At o momento nenhum morador da cidade tem esse t tulo visto que o munic pio n o det m por es de terra sob seu dom nio que na totalidade est sob guarda do governo federal A FLONA sob coordena o do IBAMA as terras rurais do INCRA a cidade e a APA sob responsabilidade do Servi o de Patrim nio da Uni o SPU atrav s do Departamento de Patrim nio da Uni o se o Par DPU Embora em 2005 tenham se iniciado as negocia es entre a Prefeitura e o Governo Federal para a regulariza o da posse da terra urbana dentro do Programa de Regulariza o Fundi ria Sustent vel do Minist rio das Cidades que contou com a intermedia o da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano SEDURB a a o proposta ainda n o foi finalizada sofrendo v rias paralisa es tz Cujo valor ficou entre os CR 93 60 do ano de 1968 e chegou a CR 295 20 em 1974 conforme os dados do Minist rio da Agricultura 1974 13 Em 1980 foi repassada para Belterra e Fordl ndia a quantia de CR 64 104 814 50 proveniente de quatro fontes de recursos or ament rio Fundo Federal Agropecu rio FFAP Polamaz nia P lo Tapaj s e Programa de Integra o Nacional PIN conforme relat rio do Minist rio da
38. o particulares VELHO 1995 p 232 233 Contudo chamamos aten o que uma das singularidades da cidade de Belterra que nem todas as rela es se fazem com base na mercantiliza o da vida e da natureza Isso possibilita no dizer de Velho 1995 um cen rio particularmente rico para apreender a 184 O Fundo de Diretrizes e Base para a Educa o FUNDEB previa o repasse de R 7 000 000 00 sete milh es de reais para 2009 mas s repassou R 1 000 000 00 hum milh o de reais 185 Segundo dados do IBGE a popula o de Belterra decresceu de aproximadamente 18 mil habitantes para pouco mais de 12 700 Isso representou um corte de 1 3 do recurso repassado ao munic pio Embora essa situa o tenha sido questionada pela prefeitura com base nos levantamentos feitos pelos Agentes Comunit rios de Sa de ACS do munic pio a situa o ainda permanece inalterada e sem perspectiva de resolu o Dados da Secretaria Municipal de Sa de BELTERRA 2009 apontam 17 251 habitantes no munic pio 171 diversidade poss vel de alternativas socioculturais ou seja as heterogeneidades e combina es Mas isso continuaremos aprofundando no decorrer da an lise 2 o rural constitui se por meio da produ o agr cola da fruticultura e da cria o de abelha aves e animais de pequeno porte na cidade conforme situa es observadas em campo Andando pela cidade logo percebemos que os lotes distribu dos ao longo das estradas
39. o de dentro porque s o pessoas que vem de fora simplesmente buscar o produto e quando a gente depara com a situa o j foi olha para te ser sincera a maioria n o de Belterra mas pessoas com necessidades financeiras muitas vezes ela incentivada a mostrar onde tem essa madeira E ganham algum recurso para isso que n o aquela grande coisa SOCORRO Outubro 2009 Temos assim sobre a APA e sobre a vida de seus moradores pr ticas externas e alheias que imp em novas formas de uso dos recursos naturais e rela es de sociabilidade quando as h por conta dos grupos sociais que se instalaram posteriormente ou que mant m rela es sistem ticas com o lugar 4 3 O modo de vida ind gena algumas anota es S o 576 os ind genas da etnia Munduruku que vivem nas aldeias de Marituba Takuara e Bragan a na Floresta Nacional do Tapaj s FLONA no munic pio de Belterra 2 180 comum a presen a de carros Hillux cabine dupla e Jet Sky na praia de Pindobal Eles representam uma forma de uso diferente do lugar pois n o respeitam o espa o dos banhistas Inclusive estacionam seus carros no espa o reservado s pessoas Isso cria conflitos entre visitantes moradores e comerciantes que dependem economicamente dessa atividade pois alguns se submetem s pr ticas inadequadas de seus clientes no uso do espa o coletivo 181 Durante a entrevista fomos informados do achado arqueol gico no terreno da sua fam lia u
40. o de frutas diversificadas para sustento da fam lia cuja manuten o ocupa a sete dias de trabalho por semana sem nenhum apoio governamental Na oportunidade ele nos mostrou as condi es t cnicas de sua produ o conforme apresentamos nas figuras de 68 a 73 A mandioca de molho a prensa e a trituradeira o forno a caixa para guardar a farinha pronta e o ensacamento manual feito pela mulher com ajuda do filho Figuras 68 a 73 Instrumentos para a produ o de farinha Fotos Pereira J C M 2009 193 Esse agricultor mostrou orgulhoso o terreno e disse que planta o que pode usar n o produz para estragar No ano de 2009 ele fez tr s tarefas de 50 m cada ressaltando que s tirava a mandioca quando ia fazer a farinha Feito isto tinha a quantidade suficiente para passar o inverno Em conversa informal um prestador de servi o na cidade de Belterra nos relatou que esteve numa propriedade na BR 163 e ficou surpreso pois a rea de floresta na frente da propriedade tinha apenas 5 metros de profundidade e uma largura a perder de vista O resto era uma grande rea descampada usada para o plantio de soja Assim a cortina de floresta escondia o desmatamento Tamb m chamou sua aten o o seguinte fato um dia ao ir para Santar m viu que o mato na BR 163 nessas propriedades estar verdinho No outro dia seco e morto Ele se referia ao agrot xico usado para matar o mato Ai era r pido era s passar o
41. o do per odo TRINDADE JR PEREIRA 2007 Devemos ainda considerar as diferen as intrarregionais da urbaniza o entre as principais metr poles da regi o Segundo Trindade Jr 2010 na Amaz nia ocidental temos a urbaniza o concentrada de popula o e capital em torno de Manaus AM por conta de seu p lo industrial Diferentemente da Amaz nia oriental que mesmo tendo o peso de Bel m e de sua regi o metropolitana tem sua din mica dada pela dispers o de m o de obra capital investimento e redes t cnicas segundo as estrat gias de a o do capital com base no apoio estatal a partir da segunda metade do s culo passado Dessa forma a Amaz nia pode cumprir seu papel na divis o internacional do trabalho como circuito espacial de produ o Essas mudan as ocorreram no mbito do territ rio vivo SANTOS 2006 no qual a cidade serviu como n de liga o entre a estrutura t cnica pol tica e social e as interven es que se deram na regi o Em decorr ncia temos uma organiza o complexa da rede de cidades como as capitais regionais as company towns as cidades m dias ou sub centros as cidades intermedi rias as cidades planejadas as cidades ribeirinhas e os espa os metropolitanos por exemplo O mesmo pode ser dito em rela o aos modos de vida que nelas se realizam atrav s das pr ticas socioculturais de diferentes grupos sociais etnias e campos de poder num complexo de situa es que transcende a
42. o e grandes projetos desorganiza o e reorganiza o do espa o Bel m EDUFPA 1995 p 47 58 PIQUET Ros lia Cidade empresa presen a na paisagem urbana brasileira Rio Janeiro Zahar 1998 POLLAK Michael Mem ria e identidade social Estudos Hist ricos v 5 n 10 p 1 15 1992 PRADO JR Caio Forma o do Brasil Contempor neo S o Paulo Brasiliense 1977 PRADO Rosane Manh es Cidade pequena para so e inferno da pessoalidade Cadernos de Antropologia e Imagem UERJ Rio de Janeiro n 4 p 31 54 1997 QUEIROZ Maria Isaura Pereira de Varia es sobre a t cnica de gravador no registro da informa o viva S o Paulo T A Queiroz 1991 Do rural ao urbano no Brasil In Cultura sociedade rural sociedade urbana no Brasil S o Paulo LTC EDUSP 1978 p 46 67 REDFIELD Robert The Folk Society The American Journal of Sociology v 52 n 4 Jan 1947 p 293 308 The University of Chicago Press Dispon vel em lt http www jstor org gt Acesso em 06 set 2009 REIS Arthur Ferreira Santar m seu desenvolvimento hist rico 2 ed Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1979 RIBEIRO Ana Clara Torres Di logo mensagem pessoal Mensagem recebida por lt cmatoscomova O gmail com gt em 22 nov 2011 246 RIBEIRO Ana Clara Torres Presen as recusadas territ rios populares em metr poles brasileiras In NUNES B F Org Sociologia de capitais brasileiras Bras lia L
43. o os estabelecidos e os dentro os outsiders e quest es como nacionalidade cor condi es de moradia profiss o sal rio n vel de renda e de escolaridade eram os elementos constitutivos e demarcadores das diferen as entre eles Em uma breve compara o com estudos recentes de Caldeira 2000 sobre a sociabilidade em cidades brasileiras que apontam a segrega o social de grupos por meio da constru o de espa os exclusivos e muros que separam as classes sociais vemos que em Belterra a proximidade f sica e o distanciamento social tamb m se faziam presentes mas sem muros nem cercas Entretanto contavam com um poderoso mecanismo de controle vigil ncia e coer o sobre a vida dos grupos sociais que deixava bem claro o lugar de cada grupo na cidade principalmente daqueles na posi o de inferioridade profissional e social De todos os americanos que vieram para Fordl ndia e Belterra segundo o senhor Sabi apenas um deles de nome Coleman constituiu fam lia com uma mulher da regi o Ele morava na localidade de Aramanai em Belterra e teve uma filha que ainda hoje vive na cidade de Santar m PA Na Vila Mensalista figura 19 moravam os trabalhadores com cargos de chefia principalmente em atividades de administra o outros que trabalhavam no hospital como o farmac utico e os russos que faziam o trabalho de aut psias ou seja os trabalhadores mais especializados As casas umas pr ximas das outras
44. os em alguns casos de base familiar em outros pelo trabalho assalariado assim como no poder local representado pela Prefeitura C mara de Vereadores e legisla o existente bem como pelo poder de pol cia e nos referenciais urbanos de consumo e desejo de objetos utens lios e servi os satisfeitos em grande medida pela cidade m dia de Santar m que fica a 50 km de dist ncia Argumentamos com base em Lefebvre 1993 que a distin o entre cidade e urbano um movimento anal tico importante que nos permite deslocar o foco de an lise dos objetos e construtos para o campo das rela es e dos fluxos socioculturais Dito isto podemos compreender o urbano o rural os ind genas e quilombolas como rela es que se projetam sobre o espa o a cidade Vale ressaltar que em Belterra isso se tornou poss vel justamente pela abund ncia de terra dispon vel as antigas quadras dos seringais que ficaram sob o uso da gente do lugar por gera es Lembramos que nos cap tulos anteriores demonstramos que mesmo no tempo da CFIB existiam pr ticas agr colas na cidade empresa de Henry Ford uma concess o para os trabalhadores e suas fam lias diante do Quebra Panelas fato acontecido na cidade de Fordl ndia no ano de 1930 A outra situa o deve se ao deslocamento de agricultores do campo para a cidade depois do fim da CFIB Diante de tanta terra os agricultores resolveram continuar plantando na cidade Advertimos que a vinda para a
45. os sojeiros v o ter que se retirar da rea n E liberar a rea pra popula o A pega as estradas 5 a 1 e a esse trecho pra c da 4 e esses outros trechos aqui Ent o aquela parte ali que tem aquele outro plantio de soja na Estrada 6 ali n Que eles trabalham com lavoura ali aquele miolo que eu digo que uma rea de expans o urbana mas hoje ela n o urbana dentro do documento que a gente tem 2 700 hectares Mas o Prefeito solicitou da Uni o as 473 quadras pra rea urbana n Infelizmente n o foi liberado isso ainda VEREADOR DO PT Mar o 2011 Sobre a perspectiva de resolu o do conflito o presidente da C mara acredita que haja uma sa da pac fica que contemple a agricultura familiar e os produtores de soja sem que haja necessidade do atrito Olha a quest o do Trevo n s discutimos essa semana agora n Em t o n s ainda n o temos uma posi o O que n s queremos resolver a quest o pacificamente N o queremos assim entrar num atrito porque entendemos que a produ o a monocultura por exemplo para agricultura empresarial ela fundamental tamb m ela importante para o pa s pro munic pio mas Ent o que trabalhar em harmonia a agricultura familiar e agricultura empresarial a monocultura A gente trabalhar em harmonia as duas N o pode apoiar uma e menosprezar a outra acho todas duas s o important ssimas VEREADOR DO PT Mar o 2011 Um integrante do staff do
46. p 113 138 Novas din micas territoriais no Brasil agr cola In SPOSITO E S SPOSITO M E B SOBARZO O Org Cidades m dias produ o do espa o urbano e regional S o Paulo Express o Popular 2006 p 279 303 ELIAS Norbert SCOTSON John L Os estabelecidos e os outsiders sociologia das rela es de poder a partir de uma pequena comunidade Rio de Janeiro Zahar 2000 Sobre o tempo Rio de Janeiro Zahar 1998 O processo civilizador Vol 1 Rio de Janeiro Zahar 1994 EMBRAPA EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECU RIA Zoneamento agroecol gico da rea do planalto do munic pio de Santar m Bel m 1999 CD ROM ENGELS Friedrich A grande cidade In A situa o da classe trabalhadora na Inglaterra S o Paulo Boitempo 2008 p 67 116 FARIAS Juliana Quando a exce o vira regra os favelados como popula o mat vel e sua luta por sobreviv ncia Teoria amp sociedade n 15 p 138 172 jul dez 2007 241 FARIAS JR Emmanuel de Almeida ALMEIDA Alfredo B W Etnicidade e urbanidade a aldeia beija flor Novos Cadernos do NAEA v 14 n 1 p 131 146 jun 2011 Quilombos na Amaz nia um esbo o preliminar do estudo de comunidades de pretos no complexo do rio Madeira S d mimeo 14p FELDMAN BIANCO Bela Introdu o In Antropologia das sociedades contempor neas m todos S o Paulo UNESP 2010 p 17 56 FERNANDES Florestan Obst culos extra econ
47. regulado pela Bolsa de Chicago e que o valor pago em mar o de 2011 pela saca de sessenta quilos foi de R 45 00 quarenta e cinco reais Como atividade produtiva inclui se a altern ncia do uso do solo Alguns plantam entre cada colheita da soja milho ou sorvo Este produtor tamb m cria cavalos e usa insemina o artificial como mecanismo de reprodu o dos animais Existem aqueles que tamb m produzem feij o e arroz S o claros os elogios s pol ticas do governo federal mas cr tica a falta de assist ncia t cnica aos projetos e a fragilidade do acompanhamento e da cobran a dos resultados que s o apresentados como aspectos negativos Por fim destaca que a n o regulariza o da posse da terra cria empecilhos na hora de conseguir o financiamento Na percep o deste nosso segundo entrevistado produtor de soja os pequenos agricultores n o t m a capacidade de administrar o dinheiro p blico recebido nem voca o e interesse de trabalhar na terra Da o fracasso das iniciativas do governo em rela o a esse segmento Assim conclui que a terra mal usada deve estar dispon vel para que a soja possa 201 ocupar grandes extens es de terra produzir em grande escala para o mercado internacional e gerar riquezas e novos postos de trabalho na regi o Este discurso n o considera o que a agricultura mecanizada desestrutura visto que segundo suas premissas o lugar destitu do de vida organizada A outra que
48. s FLONA 21 Agricultor da Floresta Nacional do Tapaj s FLONA 71 anos Morador da localidade de Maguari nascido e criado na FLONA Entrevista concedida em abril de 2011 22 Albano 49 anos lideran a que participou da luta pela perman ncia das fam lias no lugar e da elabora o dos instrumentos de manejo uso e de participa o popular Entrevista realizada em novembro de 2009 Ind genas 23 ndio Munduruku 30 anos desempregado aldeia de Takuara Entrevista realizada em outubro de 2009 24 ndia Munduruku 26 anos professora aldeia de Marituba Entrevista realizada em outubro de 2009 252 rea de Preserva o Ambiental APA Aramanai 25 Emanuel 37 anos agricultor e diretor do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Belterra e morador da APA Entrevista realizada em mar o de 2011 26 Socorro 43 anos artes Entrevista realizada em outubro de 2009 Sindicalistas 27 Lideran a sindical de Santar m amea ada de morte agricultora Entrevista realizada em outubro de 2009 28 Marildo 45 anos agricultor Diretor do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santar m entrevista realizada em outubro de 2009 e mar o de 2011 29 Bernardo 39 anos agricultor Delegado Sindical do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santar m entrevista realizada em outubro de 2009 30 Luciana 56 anos agricultora Presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
49. temos os a ougues temos os a ougues temos tamb m produ o de confec o j alguns pontos n Porque no momento em que se trabalha principalmente os eventos muito alta a produ o de confec es em Belterra Por exemplo a disputa das gincanas As gincanas elas se identificam pela roupa A quest o de desfile de escolas Elas se identificam pela roupa Todas querem chegar com a roupa mais bonita no desfile A quest o do carnaval As agremia es se identificam tamb m com roupa Al m de outros m sicas e tal Mas principalmente a roupa Ent o n s temos em Belterra uma coisa muito forte nessa quest o do campo cultural ARCANJO Outubro 2009 Como sede do poder municipal em Belterra se encontram escolas municipais as creches o hospital as secretarias de governo e o pr dio da Prefeitura as sedes do IBAMA e do ITERPA com representa o para atendimento de demandas e necessidades locais bem como a legisla o que orienta a pol tica setorial as formas de uso e ocupa o do territ rio e os mecanismos de participa o social na defini o das pol ticas municipais Lei do Plano Diretor Participativo PDP Lei Org nica Municipal LOM Plano Plurianual PPA Lei de Diretrizes Or ament rias LDO e a Lei do Or amento Anual LOA A renda municipal al m das fontes apresentadas depende ainda dos benef cios aposentadorias e programas do governo federal e estadual Ali s o Fundo de Participa o do Munic pio FPM q
50. trabalho manual de base familiar e uso de instrumentos simples como enxada fac o machado limpeza do terreno com uso de moto serra alugada e queimada em alguns casos conhecimento adquirido pela experi ncia que repassada dos pais para os filhos queimar brocar e plantar plantio no inverno para usar a gua da chuva ou abastece a caixa d gua por meio do carro pipa da Prefeitura trabalho n o mecanizado uso de m quinas e equipamentos sofisticados tratores tra ados tratores comuns pulverizador plantadeiras para soja milho e feij o plantadeira de arroz niveladora aplicador de cobertura e m quina para colher limpeza do terreno com uso de trator e corrente informa o para a localiza o da atividade com base em estudos e informa es pr vias estudo do solo uso de GPS imagens de sat lite e mapas estudos realizados por institui es governamentais sementes modificadas geneticamente para aumentar a produ o diminuir o tempo para colheita e aumentar a qualidade do produto compradas nos estados do Mato Grosso Goi s e Maranh o uso de agrot xico para preven o de pragas e de fertilizantes para melhorar a qualidade do solo assessoria t cnica de trabalho especializado para auxiliar na produ o no uso e manuten o de m quinas e no preparo do solo engenheiro agr nomo por exemplo acesso as informa es produzidas pelo Instituto
51. trata da permiss o de atividades miner rias nas zonas de amortecimento do Parque Nacional da Amaz nia desde que concedida pelo Departamento Nacional de Produ o Mineral DNPM al m de autorizar a realiza o de estudos de viabilidade para o aproveitamento hidrel trico existente por exemplo Dispon vel em http www2 camara gov br legin fed medpro 20 12 medidaprovisoria 558 5 janeiro 2012 612251 publicacaooriginal 134899 pe html Acesso 08 mar 2012 150 A Cargill tem sede em Mine polis nos Estados Unidos uma fornecedora internacional de produtos e servi os para o setor agr cola aliment cio e de gerenciamento de riscos Atua em 5 continentes 66 pa ses e tem 153 mil funcion rios No Brasil atua h 42 anos com sede em S o Paulo T m presen a em 18 estados distribu da 180 munic pios e conta com 23 mil funcion rios Como estrutura conta com 30 f bricas 20 escrit rios 108 armaz ns 7 terminais portu rios e 45 transbordos CARGILL 2006 p 8 Em Santar m o porto est instalado nas margens do rio Tapaj s numa rea de 45 459 71 m e conta com armaz ns com capacidade de 60 mil toneladas de gr os tombadores para descarregamento de caminh es de soja silos para armazenamento pr limpeza e secagem balan a esteira transportadora sugadores para o descarregamento de barca as e condi es de carregamento de navios com at 60 mil toneladas dentre outros No ano de 2007 foram embarcados 1 milh
52. um termo de tradu o entre mesti agem sincretismo fus o e outros voc bulos para designar misturas particulares CANCLINI 2011 p XIX XXXIX 42 Somam se a isso outras experi ncias vividas que parecem contrariar algumas proposi es que afirmam serem cidades aquelas aglomera es que t m popula o acima de 20 mil habitantes conforme prop e Veiga 2003 Esse autor faz cr tica proposi o estatal que considera sedes de munic pio como cidades bem como delega o dessas prerrogativas para que as C maras Municipais definam por meio de lei municipal o que uma cidade Diz ele que uma fic o que o Brasil teria quase 5 600 cidades nas quais viveriam 82 da popula o brasileira Caso se considerasse outros crit rios demogr ficos funcionais e de localiza o esse percentual da popula o urbana brasileira cairia para 57 Argumenta Veiga que se tratam de cidades imagin rias pois o que ocorre com 4 485 dos 5 507 munic pios brasileiros que s o munic pios rurais que corresponderia a 30 da popula o O Brasil verdadeiramente urbano aquele que est em 12 aglomera es metropolitanas 34 e 13 em 37 aglomera es n o metropolitanas e 10 em 77 centros urbanos que n o pertencem a aglomera es Os 13 restante s o de car ter d bio mas ambicionam status de cidade VEIGA 2003 p 56 Nossa hip tese que por tratar a defini o de cidade pelo aspecto qu
53. 2009 Dona Inoc ncia hoje com 90 anos e morando em Bel m PA relembra dos tempos em que trabalhava na planta o de seringa de Belterra Fala do a ougue que fornecia a carne da farofa de carne que muita gente colocava na lata e pendurava na cintura das aguadeiras que forneciam gua para os trabalhadores durante a jornada de trabalho Na hora do almo o 85 Conv m observar que a popula o da cidade de Santar m neste per odo n o era superior a 16 mil habitantes IBGE 1940 Esta cidade destaca se por ser uma das mais importantes do estado do Par cujo marco de funda o remete aos anos 60 do s culo XVII com a cria o da miss o religiosa em junho do mesmo ano tendo por base a aldeia de Nossa Senhora da Concei o dos Tapaj s que marca definitivamente a funda o do povoamento que posteriormente viria a ser denominado de Santar m REIS 1979 86 Agradecemos Prof Rosa Acevedo NAEA UFPA que nos autorizou a usar a entrevista feita por ela com a dona Inoc ncia em Bel m PA e Deize Melo por disponibilizar a entrevista transcrita 103 quando a sirene tocava 11h largava tudo Os fiscais os americanos ficavam de olho pra saber se a gente estava obedecendo s ordens deles Segundo ela Eles n o queriam velho pra esse trabalho no campo porque chovesse ou n o tinha que sair de casa aquela hora certa pra chegar na quadra na hora certa Acho que eu saia de casa umas 5h pra chegar na quad
54. A vida pol tica tamb m expressiva Existem mecanismos formais e sistem ticos de di logo entre o governo e as organiza es sociais que envolvem quest es gerais de 186 planejamento e gest o ordenamento do territ rio e discuss o das pol ticas setoriais sa de educa o transporte por exemplo mas tratam tamb m das quest es espec ficas dos grupos sociais tnicos e pol ticos como juventude mulheres ind genas extrativistas e agricultores Durante o processo de elabora o do Plano Diretor Participativo Municipal 2005 2006 reuniu se cerca de 5 mil pessoas em todo munic pio e 120 organiza es foram identificadas que em sua maioria tiveram participa o ativa na elabora o do plano O auge desta participa o foi a realiza o do I Congresso da Cidadania do munic pio de Belterra que juntou mais de 300 pessoas entre delegados e convidados PEREIRA 2007 Com a aprova o da lei pelo legislativo municipal no final de 2006 ainda naquele ano iniciou se o processo do p s plano diretor com a cria o do Conselho da Cidadania A partir de 2007 v rias a es foram realizadas como a implanta o do Sistema Municipal de Planejamento e Gest o SIMPLAGE composto pelo Conselho da Cidadania congressos e encontros municipais Planejamento e Or amento Participativo POP Cadastro T cnico Multifinalit rio CTM e a instala o de v rios conselhos municipais Esses procedimentos foram fundamentais pa
55. Agricultura SANTOS 1981 126 moradores em 1978 eram 461 funcion rios j em 1980 diminui para 89 conforme analisou Santos 1981 p 3 Essa situa o fez surgir no interior do Minist rio da Agricultura e na Delegacia Federal da Agricultura do Par a partir de 1979 a ideia da emancipa o pol tica das bases f sicas de Belterra e Fordl ndia Surge ent o a proposi o e elabora o do programa de emancipa o que visava criar as condi es prop cias para alcan ar tal fim cuja centralidade voltava se para a necessidade de capta o de recursos e atra o de entidades p blicas e privadas que investissem para manter os servi os e equipamentos existentes nesses lugares As etapas da emancipa o estavam organizadas da seguinte forma 1 transferir as reas ociosas para o INCRA 2 recuperar equipamentos e pr dios p blicos deteriorados 3 transferir alguns servi os coleta de lixo manuten o de estradas e pra as e administra o de mercado e cemit rio para o munic pio de Santar m 4 repassar a terra urbana para a Prefeitura de Santar m ou INCRA para que pudesse regularizar a posse da terra ou vender lotes para os interessados 5 regularizar a posse dos grandes loteamentos da cidade estradas 1 8 e 10 e da vila 129 6 estimular a cria o da cooperativa dos seringueiros de Belterra 7 transferir im veis que estejam sob guarda de rg os estatais para EMATER CPATU INEMET Correios e por fim 8 ligar
56. Case study research Thousand Oaks SAGE 1994 Entrevistas realizadas no m s de novembro de 2008 Lideran a Sindical presidente do Centro de Estudo Forma o e Pesquisa dos Trabalhadores do Baixo Amazonas CEFT BAM Lideran a Sindical dirigente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais STTR do munic pio de Juruti PA Entrevistas realizadas nos meses de outubro e novembro de 2009 e mar o e abril de 2011 Sobre o per odo Ford 1 Ant nio Delgado 78 anos ex seringueiro Nascido em Belterra em 1933 Entrevista realizada em mar o de 2011 2 Chardival Moura Pantoja 71 anos aposentado filho de pais seringueiros funcion rios da CFIB nasceu e se criou em Belterra Entrevista realizada em mar o de 2011 3 Erasmo Moura 79 anos nascido em Fordl ndia ex seringueiro Entrevistas realizadas em outubro e novembro de 2009 e mar o e abril de 2011 4 Francisca Costa Delgado 76 anos ex seringueira Nascida na rea rural de Aramanai mas se criou em Belterra Entrevista realizada em mar o de 2011 5 Francisco Bezerra Oliveira Tica 73 anos ex cozinheiro do Hospital Henry Ford entrevista realizada em outubro de 2009 6 Joaquim Santana de Melo 89 anos Nascido no munic pio de Maracan PA e veio para Belterra durante a II Guerra Mundial 7 Nilo Souza 86 anos ex seringueiro nascido no munic pio de Aveiro mas foi trabalhar em Fordl ndia em 1942 entrevista realizada em mar o de 2011 8 Pedro
57. DE FORA usinas nishni a Ra te e 189 A natureza transescalar da experi ncia urbana ssssieiireries 189 Os de fora l gica pr tica e tecnologia no uso do lugar 194 O que pensam os de dentro sobre os de fora ssi 202 A CIDADE DO PENSAMENTO E A CIDADE PRATICADA 222 Revendo o conceito sociol gico de cidade csrereereserereeos 222 A cidade praticada o cotidiano e o lugar serra 228 CONSIDERA ES FINAIS usam nascia aan DS Dra pao 232 REFERENCIAS E EEES 237 15 INTRODU O O objetivo desta pesquisa foi analisar os modos de vida na cidade de Belterra Para tanto recortamos dois peda os de tempo da vida social do lugar SANTOS 2008 p 67 buscando identificar nesses dois per odos 1934 1945 1995 2011 como a a o do capital com base no apoio estatal se deslocou para a Amaz nia brasileira se apropriou de grandes por es do territ rio destruiu ou desarranjou os modos de vida preexistentes em nome das exig ncias do mercado internacional Nesse contexto a Amaz nia foi vista como estoque estrat gico de recursos naturais e os modos de vida de sua gente objeto descart vel pois sobre eles incidiu o primeiro ato para que novas modalidades produtivas pudessem ser implantadas Ressaltamos que 66 anos separam o fim da experi ncia da Plantation de seringa de Henry Ford em 1
58. Nordeste paraense Trabalhava e o que ganhava era apropriado de forma indevida pelo delegado que o criou e quando amea ou ir embora o delegado em acordo com outro policial o enviou para o pres dio de Cotijuba uma ilha s proximidades de Bel m onde permaneceu preso por um ano e meio L conheceu um tenente do ex rcito que o levou para servir em Bel m Depois voltou para Belterra para ser seringueiro mas como cozinhava muito bem foi recrutado para o hospital por m envolveu se num acidente de carro e perdeu a vista esquerda Logo depois foi aposentado 2 Conv m observar que esse medo n o era apenas inven o dos seringueiros Diz Secreto que durante a guerra oito navios brasileiros foram afundados nos Estados Unidos e nas costas brasileiras produzindo a morte de 607 pessoas entre passageiros e tripulantes Desse modo os barcos que traziam migrantes nordestinos para a Amaz nia naquele per odo vinham cercados de preocupa es e tens es SECRETO 2007 113 sua manuten o Hoje somos munic pio mas juro que do princ pio que ainda tenho saudade TICA Mar o 2009 O senhor Tica apresenta as explica es para o que seria o real motivo do abandono do projeto pelos americanos Segundo ele n o havia gente suficiente para trabalhar os 10 mil hectares do projeto muito aqu m dos 250 mil hectares de terra recebidos do governo brasileiro em Belterra As doen as no seringal mal das folhas por exemplo a falta de a
59. Paran e Mato Grosso d o um novo desenho s formas de uso apropria o e representa o do territ rio por meio dos conflitos socioambientais envolvendo os de dentro e os de fora Aqui come a a segunda parte de nossa an lise sobre a cidade conforme apresentaremos em seguida 120 Por meio do Projeto de Lei n 186 91 o deputado Wandenkolk Gon alves reapresenta o processo de cria o do munic pio de Belterra em 24 10 1991 conforme documenta o interna da Assembl ia Legislativa do Par 2 Do ano de 1997 at 2004 o munic pio foi governado por representantes do Partido do Movimento Democr tico Brasileiro PMDB e de 2005 at o presente momento 2011 pelo Partido dos Trabalhadores PT 129 3 O CONTEXTO DOS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS E OS CAMPOS DE PODER NA AMAZ NIA ORIENTAL 3 1 O contexto do lugar e da soja na BR 163 Conv m ter em conta que os cientistas sociais n o trabalham apenas nem principalmente com informa o sobre o imediatamente vis vel de tipo jornal stico um tipo de informa o mais facilmente sujeito a escamoteamento omiss o e deforma o Lidam com realidades estruturais e processo de natureza hist rica que n o tem completa visibilidade para quem n o est munido do instrumental te rico adequado para interpretar o que est por tr s da fala comum e cotidiana e para compreender os sobressignificados de discursos e acontecimentos Jos de Souza Martins Trataremos
60. Pinto 1995 e Castro 1995 surgiram na regi o no fim dos anos de 1960 e no in cio da d cada de 1970 em plena ditadura militar relacionados aos empreendimentos e complexos produtivos que contaram com forte apoio estatal na implanta o de infraestrutura e cria o de ag ncias governamentais de planejamento e financiamento concess o de terras e dinheiro p blico tanto para iniciar o empreendimento como para cobrir os potenciais riscos de fracasso Tomemos como exemplos o Projeto Jar 1967 para produ o de papel de celulose arroz caulim e bauxita a constru o da hidrel trica de Tucuru 1975 para fornecer energia para os grandes projetos ligados minera o o Projeto Grande Caraj s 1980 e a ALBR S 1985 para a produ o de min rio de ferro alum nio bauxita etc Ou ainda os empr stimos pagos pelo Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econ mico e Social BNDES para financiadores internacionais como o caso da d vida contra da pelo empres rio americano Daniel Ludwig com o Projeto Jar 1967 Devemos observar que essas atividades industriais s o detentoras de uma rede complexa de infraestrutura como minas estradas de ferro portos e do poder de 4 Contudo ressaltamos que essa proposi o anal tica est relacionada a uma parte da Amaz nia A outra urbana refere se a m ltiplas cidades de diversos tamanhos e tempos hist ricos e de pap is diferenciados na rede urbana conforme
61. S o Gabriel da Cachoeira o planejamento e a gest o territorial num munic pio ind gena da Amaz nia In CARDOSO A C CARVALHO G Org Planos Diretores Participativos experi ncias amaz nicas Bel m EDUFPA 2007 p 155 192 NOGUEIRA Ricardo Jos Batista Algumas quest es sobre a Amaz nia como fronteira Boletim Paulista de Geografia S o Paulo n 77 p 39 55 abr 2001 OLIVEIRA Jos Aldemir SCHOR Tatiana Manaus transforma es e perman ncias do forte metr pole regional In CASTRO E Org Cidades na floresta S o Paulo Annablume 2009 p 59 98 s pequenas cidades da Amaz nia espa os perdidos e reencontrados In DAMIANI A L CARLOS A F A SEABRA O C L Org O espa o no fim do s culo a nova raridade 2 ed S o Paulo Contexto 2001 p 199 213 Cidades na selva Manaus Valer 2000 OLIVEIRA Jo o Pacheco de Uma etnologia dos ndios misturados Situa o colonial territorializa o e fluxos culturais Mana v 4 n 1 p 47 77 1998 Dispon vel em lt http w ww scielo br scielo php script sci arttext amp pid S0104 gt Acesso em 15 out 2011 OLIVEIRA Luiz Guedes de Relat rio enviado ao Secret rio Geral do Estado Bel m 1930 8 p OLIVEN Ruben George A cidade como categoria sociol gica In Urbaniza o e mudan a social no Brasil Rio de Janeiro Vozes 1988 p 13 29 ORTIZ Renato Taquigrafia do mundo social In Ci ncias s
62. a criminaliza o e a evita o de proximidade com esses moradores dada a distribui o espacial desigual dos grupos sociais na cidade e a cria o de fronteiras materiais e simb licas que marcam e fundamentam a segrega o socioespacial capitalista RIBEIRO 2006 2011 Dessa forma termos como fala do crime CALDEIRA 2000 met fora da guerra MACHADO DA SILVA LEITE 2007 sociabilidade violenta MACHADO DA SILVA 2004 e popula o mat vel FARIAS 2008 s o exemplos do conte do anal tico sobre a vida metropolitana 32 favor vel capacidade de reten o da popula o migrante papel pol tico importante nas regi es s quais pertencem e estrutura para ofertar bens e servi os s o caracter sticas que figuram entre os atributos para uma nova defini o do que seja uma cidade m dia PEREIRA 2004 No entanto adverte Sposito 2007 a no o cidade m dia precisa de subst ncia te rica e emp rica para que possa alcan ar o status de conceito Do mesmo modo as reflex es que se relacionam a esse porte de cidade devem dialogar com teorias e autores que estudam diferentes realidades urbanas como pequenas cidades e espa os metropolitanos ou mesmo entre as diversas cidades m dias por exemplo Da a ideia de emprestar de Corr a 2007 o termo espa os em transi o que segundo a autora serve como ferramenta de an lise para capturar as mudan as ocorridas nas cidades m dias bem com
63. apresentadas situa es de amea a a funcion rios do IBAMA que buscavam demarcar limites das propriedades dos produtores de soja e a tentativa de aliciamento destes para inviabilizar a a o estatal Essas a es tamb m foram direcionadas s popula es locais como oferecimento de trator para abertura e melhoria de estradas doa o de motor e leo diesel para gera o de energia constru o de pontes dentre outras segundo den ncia das lideran as na poca Nesse caso as disputas entre os de dentro e de fora expressam algo mais do que quem contra ou a favor da soja na Amaz nia O pano de fundo sobre a concep o de desenvolvimento seus benefici rios e sobre como distribuir a riqueza produzida muitas vezes sob a denomina o de desenvolvimento sustent vel Num conflito com estas dimens es o an ncio do preconceito uma estrat gia de desqualifica o do advers rio pol tico Um grupo s pode estigmatizar o outro com efic cia quando est bem instalado em posi o de poder das quais o grupo estigmatizado exclu do Enquanto isso acontece o estigma de desonra coletiva imputado aos outsiders pode se fazer prevalecer afixar o r tulo de valor humano inferior a outro grupo uma das armas usadas pelo grupo superior nas disputas de poder como meio de manter sua superioridade social Nessa situa o o estigma social imposto pelo grupo poderoso aos menos poderosos costuma penetrar na auto
64. argumentamos que o enfrentamento qualitativo da quest o n o estar na tomada de consci ncia ecol gica e muito menos na constru o da coopera o e do consenso supraclassista ACSELRAD 2004 Isso nos permite transitar no interior do emaranhado das rela es que envolvem os campos de poder naquele lugar e as media es multiescalares envolvidas S o as determina es hist ricas externas e globais que associadas ao contexto regional e local produzem um tipo de pr tica social que ao mesmo tempo guarda caracter sticas de universalidade particularidade e singularidade simultaneamente 170 Os governadores de Mato Grosso Blairo Maggi e de Rond nia Ivo Cassol rebateram nesta quinta feira dados do Inpe Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais que apontam os dois Estados como respons veis pelos maiores ndices de desmatamento no pa s Maggi disse que entre 2003 e 2007 Mato Grosso reduziu em 80 sua rea desmatada ao contr rio do que foi apontado pelo Inpe Cassol por sua vez direcionou as cr ticas ex ministra Marina Silva Meio Ambiente que acusava os Estados de desmataram florestas sem ouvir os governadores Os rg os ambientais querem colocar na cabe a dos governadores como se fossem os vil es do desmatamento N s assumimos a quest o ambiental em Rond nia em agosto de 2006 e reduzimos o desmatamento em 60 afirmou Cassol Segundo o governador a ex ministra n o agiientou e caiu depois de se manter intransi
65. ber Livro 2006 p 11 33 Sociabilidade hoje leitura da experi ncia urbana Caderno CRH Salvador v 18 n 45 p 411 422 set dez 2005 Outros territ rios outros mapas OSAL p 263 272 n 16 enero abril 2005b RIBEIRO Luiz C Q SANTOS JR Orlando A As metr poles brasileiras territ rios desgovernados In As metr poles e a quest o social brasileira Rio de Janeiro Revan Fase 2007 p 7 17 Metr poles reforma urbana e desenvolvimento nacional In As metr poles e a quest o social brasileira Rio de Janeiro Revan Fase 2007 p 21 47 Proximidade social e dist ncia social reflex es sobre o efeito do lugar a partir de um enclave urbano In CARNEIRO S S SANT ANA M J G Org Cidades olhares e trajet rias Rio de Janeiro Garamond 2011 p 43 72 ROCHA Gilberto M GOMES Claudemir B A Constru o da usina hidrel trica e as transforma es espaciais na regi o de Tucuru In TRINDADE JR S C ROCHA G M Org Cidade e empresa na Amaz nia gest o do territ rio e desenvolvimento local Bel m Paka Tatu 2002 p 27 57 Gest o local e municipaliza o do territ rio A cidade e o reordenamento pol tico territorial na rea de influ ncia da Usina Hidrel trica de Tucuru In TRINDADE JR S C ROCHA G M Org Cidade e empresa na Amaz nia gest o do territ rio e desenvolvimento local Bel m Paka Tatu 2002 p 83 110 RODRIGUES Roberta Menezes D
66. capital a tirar da natureza a mat ria prima para abastecer o mercado mundial Isto se torna poss vel por meio da alian a entre Estado e capital e da produ o de um conjunto de normas procedimentos legisla es e institui es que regulam os atos humanos individuais e coletivos e que facilitam tanto a apropria o dos recursos naturais como a sua circula o e consumo ao mesmo tempo em que dificultam o controle da gente do lugar sobre a natureza herdada que lhe foi primeira por muitas gera es antes da chegada do capital Da o car ter invasor dos objetos que s o alheios e desestruturadores dos modos de vida preexistentes Falta nos por fim referir ao discurso legitimador dessa a o que comumente recebe a nomina o de desenvolvimento progresso e crescimento Temos assim o territ rio usado resultante dos sistemas de objeto sistemas de a es e dos discursos Tudo isso para assegurar que os diferentes lugares sob a l gica do lucro cumpram pap is espec ficos no processo de acumula o do capital e na divis o territorial internacional do trabalho Dessa forma o uso do territ rio refere se aos Movimentos da popula o a distribui o da agricultura da ind stria e dos servi os o arcabou o normativo inclu das a legisla o civil fiscal e financeira que conjuntamente com o alcance e extens o da cidadania configuram as fun es do novo espa o geogr fico e inclui a natureza e
67. chegam muito depressa a executar todos os trabalhos de montagem e recupera o Parecem que aprendem muito depressa provavelmente porque enxergam boas raz es para isso FORD 1954 p 385 50 Para todos esses casos sustentamos que os enunciados sobre a Amaz nia muitas vezes ganham uma dimens o de inven o que a associam ao atraso ao vazio humano sugerindo um descompasso desta com a sociedade nacional remetendo ao estere tipo da indol ncia da inaptid o e da m utiliza o de seus recursos por sua popula o conforme prop s Mendes 1974 Segundo Grandin 2010 p 18 o jornal Washington Post e a Revista Time noticiaram poca que o projeto de industrializar a selva proposto por Henry Ford era uma possibilidade do homem branco levar a magia da civiliza o para o mundo selvagem Enunciados como este n o foram produtos exclusivos da imprensa norte americana Publica es com o mesmo teor foram realizadas por jornais do Rio de Janeiro e da pr pria Amaz nia como o caso do jornal Folha do Norte Referimo nos especialmente s mat rias dedicadas presen a do capital americano s margens do rio Tapaj s no oeste do estado do Par e ao que se relacionou s reportagens vinculadas quando da visita do ent o presidente Get lio Vargas na Amaz nia na d cada de 1940 Fizeram se os primeiros viveiros imensos de seringueiras onde foram lan adas as primeiras sementes prodigiosas e de onde derru
68. cidade que conferem singularidades perman ncias e mudan as significativas vida do lugar Para este caso devemos considerar as contribui es de Wanderley 2001 p 34 sobre as particularidades da urbaniza o brasileira em pequenos munic pios que apontam novas situa es na rela o campo cidade em que a vida local se constitua como o resultado do encontro entre o urbano e o rural Embora o plano de refer ncia de an lise da autora seja o munic pio sua proposi o torna se oportuna visto que essas situa es se localizam na cidade 180 Do mesmo modo as proposi es que tomam as situa es pela oposi o em muito 191 dificultam uma an lise substantiva da rela o urbano rural no caso estudado Diz Guerra que No fundo as divis es entre urbano e rural n o passam de abstra es uma vez que o territ rio sempre vivido sem fronteiras com movimentos das popula es ora em lugares mais concentrados ora em espa os dispersos Ambas as conforma es cumprem fun es definidas e contextualizadas fazendo parte de uma realidade nica e com estes aspectos inter relacionados Existem espa os de conviv ncia e encontros entre esses dois estilos de vida de habitantes que n o s o vizinhos se consideradas suas moradias mas compartilham certos ambientes na mesma intensidade As feiras podem ser um bom exemplo do encontro entre o rural e o urbano ali est o presentes os camponeses e os interm
69. cl usulas do contrato concedia se CFIB o uso intensivo da natureza com planta o de seringueiras explora o mineral utiliza o dos rios para navega o constru o de represas e a udes para a produ o de energia constru o de estradas rodovias aeroporto enfim o sistema de comunica o terrestre fluvial e a reo al m de edif cios f bricas armaz ns hospitais dep sitos e tudo mais que se fizesse necess rio Outros direitos ainda foram concedidos Ford como exportar e importar produtos brutos ou industrializados instalar n cleo de povoamento contratar pessoas de dentro e fora da regi o inclusive estrangeiros e realizar pesquisas minerais Dos termos do contrato constava ainda a assist ncia do Estado na isen o de taxas e impostos fossem elas federais ou estaduais e o 45 Conforme o estatuto da sociedade an nima da CFIB publicado no Di rio Oficial do Estado do Par em 23 10 1927 58 direito de desapropria o por necessidade ou utilidade p blica das benfeitorias feitas pela empresa ao fim do termo de concess o O retorno esperado com o empreendimento pelo governo do estado era de 7 do lucro l quido da empresa sendo 5 para ele e 2 para os munic pios envolvidos depois de 12 anos da implanta o do projeto Dessa forma todos os componentes b sicos estavam dados para assegurar a viabilidade do empreendimento apoio estatal solo f rtil rios naveg veis abund ncia de terras dispon
70. como uma pequena cidade na Amaz nia se diferencia daquelas propostas por Becker 1987 e Machado 1990 como a fronteira urbana que caracterizaram as cidades que deram suporte aos grandes projetos na regi o a partir da d cada de 1970 3 Que tipo de rela o se pode estabelecer entre a cidade de Belterra do Per odo Ford e as cidades empresa ou company towns dos projetos de minera o que ganham relev ncia acad mica a partir da d cada de 1990 conforme analisam Trindade Jr e Rocha 2002 No primeiro recorte de tempo buscamos estabelecer rela es com os estudos de Leite Lopes 1976 e Alvim 1976 1997 que estudaram as Vilas Oper rias no Nordeste na d cada de 1930 e das cidades empresa da Amaz nia com base nas pesquisas de Trindade Jr e Rocha 2002 As t cnicas usadas foram a observa o de campo as entrevistas as conversas informais o levantamento bibliogr fico documental e fotogr fico acrescido da constru o dos mapas As entrevistas foram gravadas na forma digital e posteriormente transcritas Tamb m usamos cadernos de anota es onde fizemos os di rios de campo que depois foram sistematizados digitalizados em atividade que ganhou o nome de sistematiza o dos di rios de campo Esse procedimento foi importante uma vez que pudemos recorrer a ele por v rias vezes quando escrev amos a tese Esse trabalho se tornou poss vel justamente por nossa estada na cidade de Belterra por tr s anos consecutivos 200
71. companhia indicam que por volta de 1941 tinham constru do 844 casas sendo que desse total 758 eram de palha Isto representava cerca de 90 do total das constru es e eram destinadas aos homens casados Para os solteiros foram constru dos 8 alojamentos de palha e 7 alojamentos permanentes para a acomoda o de 960 homens A vila Americana era composta de 5 casas 1 clube e uma casa para solteiros Tinha 2 casas para os m dicos e 17 para os funcion rios do hospital Vila Timb 33 casas para gerentes e trabalhadores Vilas Mensalista e Oper ria Destas 10 casas 85 J a defini o dos lugares segundo sua utilidade pode ser apresentada da seguinte forma a as estradas para assegurar o deslocamento dos trabalhadores dos equipamentos e da produ o b as quadras onde floresceriam os seringais c os barrac es e oficinas para armazenamento do l tex produ o da pe as equipamentos e utens lios necess rios atividade industrial e o escrit rio de onde se controlava a m o de obra a produ o e o cumprimento das metas e prazos estabelecidos pela empresa d o hospital respons vel pela vacina o preven o e do tratamento dos doentes e os portos e o campo de pouso para deslocamento das pessoas mercadorias mantimentos e garantia da conex o do lugar com a totalidade mundo f um pequeno centro comercial com bar sapataria barbearia alfaiataria e padaria e g o sistema de abastecimento de gua Todos esses locais faz
72. compet ncia das fronteiras municipais dada a natureza transescalar da experi ncia urbana OLIVEIRA 2001 VICENTINI 2004 RIBEIRO 2005 TRINDADE JR PEREIRA 2007 PEREIRA 2009 36 Isso n o quer dizer a inexist ncia de cidades antes dos anos de 1960 e que esta possibilidade interpretativa industrializa o levando urbaniza o seja a nica explica o para a urbaniza o da regi o j que durante o boom da borracha final do s culo XIX e in cio do s culo XX as cidades de Bel m PA e Manaus AM funcionavam como entreposto comercial e l cus da vida social cultural e pol tica do per odo Nessa poca os construtos do intendente Ant nio Lemos inspirados no moderno urbanismo franc s buscavam introduzir na Amaz nia pequenas reprodu es das cidades europ ias Desse modo Bel m tornou se s mbolo da modernidade considerada a francesinha do norte e o lugar de moradia dos seringalistas comerciantes fazendeiros e financistas Para o intendente dotar a cidade de portos pr dios p blicos bancos teatro linha de bonde sistema de gua esgoto e g s legisla o municipal estabelecer rela es com importantes pa ses da Europa participar de eventos internacionais al m de implementar um processo de higieniza o da cidade e disciplinamento das pessoas atestava a inser o da Amaz nia no mundo tido como civilizado grifo nosso No entanto vale observar que essas obras aconteceram no centro da
73. das delegacias sindicais no munic pio Inclusive na rea urbana nos bairros de Maic Floresta e Area Verde onde est o localizados os produtores de hortali as conforme dados de novembro de 2009 157 Referimo nos ao Programa de Prote o Policial que uma iniciativa da Defensoria P blica do Estado do Par em parceria com organiza es da sociedade civil e Secretaria Nacional dos Direitos Humanos do Governo Federal Essa lideran a ressalta que recusou a prote o da Pol cia Federal pois esta propunha um regime fechado de prote o 158 Conflitos pela posse da terra ocorrem tamb m em rea quilombola no munic pio de Santar m por conta da presen a de um ga cho nas comunidades de remanescentes de quilombo de Murumurutuba e Bom Jardim o impedimento da realiza o de uma estrada ligando as duas comunidades autorizada pelo poder p blico mas a a o foi embargada por um propriet rio que possui terra pr ximo s comunidades que dever ligar ainda as comunidades Miritituba e Murumuru analisa o estudo de Amaral 2008 p 7 147 mas viver ter liberdade ter a participa o mesmo ativa Numa situa o dessas estou viva pela metade Porque voc n o est fazendo tudo o que gostaria fazer AMEA ADA Novembro 2009 As repres lias vieram por parte do delegado de pol cia de Santar m inclusive com recusa deste registrar a ocorr ncia policial Fato que levou o sindicato a tomar provid ncias jun
74. de 1920 1940 documentos internos da CFIB relat rios do governo federal e legisla es diversas N o podemos nos esquecer de mencionar o nosso deslocamento para o Oeste do Par no ano de 2003 durante a pesquisa de mestrado quando tomamos conhecimento dos conflitos socioambientais em Belterra e Santar m por conta da presen a da soja naquele momento rec m chegada regi o Buscamos assim assegurar a multiplicidade das fontes de informa o criar uma base de dados e manter a cadeia de evid ncias YIN 1994 O deslocamento para v rios lugares em busca de informa es fez se tamb m por conta da falta de uma base documental sobre o per odo Ford na cidade de Belterra No trabalho de campo fomos informados que durante o golpe militar de 1964 interventores estiveram na cidade e segundo um ex funcion rio do Minist rio da Agricultura afirmaram que iriam acabar com o fordismo Ent o se dirigiram at o antigo escrit rio da CFIB e retiraram do cofre os documentos em grande quantidade que estavam guardados fizeram um monte e atearam fogo Foi o que esse funcion rio nos disse ao afirmar que presenciou este evento Quanto veracidade da informa o n o podemos colocar em d vida mas confirmamos que em Belterra at o movimento da realiza o de nossa pesquisa n o foi poss vel encontrar documentos significativos sobre aquele per odo Aqui nos contentamos com as an lises de Pollak 1993 do car ter plural e flutuan
75. de Santar m onde os moradores se dedicam produ o agr cola que comercializada no mercado municipal 15 A popula o ind gena autodeclarada nos estados do Par Amazonas Rond nia Roraima Acre Amap Tocantins e Mato Grosso de 348 411 ind genas Desse total 67 341 revelaram morar nas cidades IBGE 2010 Esses dados referem se Amaz nia Legal excetuando se o estado do Maranh o 16 Dos 37 896 habitantes do munic pio de S o Gabriel da Cachoeira 29 017 declaram se ind genas Destes 11 016 vivem na cidade IBGE 2010 11 Dispon vel em lt http www ipol org br imprimir php cod 83 gt Acesso em 02 fev 2012 39 v rios bairros da cidade principalmente os Bar s e Tukanos NAKANO COMARU 2007 NAKANO 2009 Diz Andrello 2006 que o incentivo inicial para levar os ind genas cidade est relacionado ao catecismo dos mission rios salesianos por meio da oferta de educa o escolar para civilizar a popula o da regi o na d cada de 1920 Com o fim desse regime nas d cadas seguintes a alternativa encontrada para manter os filhos na escola foi o deslocamento das fam lias ind genas em dire o cidade principalmente S o Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel AM Ressalta se tamb m a participa o pol tica ind gena a partir da Federa o das Organiza es Ind genas do Alto Rio Negro FOIRN do apoio de organiza es n o governamentais como o Instituto Socioambiental ISA e do
76. de bauxita no munic pio de Juruti PA tenha um bilh o de toneladas e que come ar o produzindo tr s milh es de toneladas at maio de 2009 com navios transportando bauxita para a expans o da refinaria da empresa na cidade de S o Luis MA Segundo ele isto deve ser trabalho para 200 anos N o modesta a inten o da Alcoa A mina est sendo desenhada para ser nada mais nada menos do que um modelo mundial do s culo XXI E por isso claro vai causar um enorme impacto ambiental no espa o onde al m da bauxita construir um porto e uma ferrovia que servir o como meios de transporte do produto at S o Lu s Observado sob este aspecto n o dif cil demonizar o projeto No entanto se a civiliza o caminha no sentido de precisar mais e mais do alum nio que fabricado com bauxita avi es s existem porque existe o alum nio rodas motores embalagens longa vida cabos para fornecer energia el trica panelas carrocerias de caminh es tamb m um outro olhar tamb m preciso O GLOBO 01 12 2008 p 6 Essa discuss o corrobora a ideia de fronteira proposta por Martins Para ele a fronteira deve ser entendida como a frente de expans o da sociedade nacional um ataque dos grupos 5538 sociais tidos como civilizados sobre territ rios dos grupos tnicos cujo cen rio de intoler ncia ambi o e morte demonstra a capacidade destrutiva dessa a o Assim o conflito marca caract
77. demais setores formando verdadeiras redes de produ o agropecu ria Estas incluem desde a produ o agropecu ria propriamente dita assim como fornecedores de m quinas e insumos prestadores de servi os agroind strias empresas de distribui o comercial empresas de pesquisa agropecu ria empresas de marketing empresas de fast food supermercados etc ELIAS 2006 p 286 Elias 2006 p 290 ressalta que essa integra o em torno da agricultura cientifica inclui a grande maioria dos aportes t cnicos financeiros jur dicos de m os de obra e de todos os demais produtos e servi os necess rios sua realiza o Inclusive deve se observar a divis o interurbana do trabalho visto que esses s o arregimentados no momento da realiza o da produ o circula o e comercializa o da soja Nosso entrevistado informa ainda que essa rede de apoio produ o da soja rende outros dividendos aos empres rios e comerciantes locais visto que a renda deste produto exige trabalho especializado produtos espec ficos em grande quantidade e m o de obra em pequena escala na presta o de servi os uma vez que nas reas de planta o a oferta de postos de trabalho limitada j que o trabalho mecanizado na poca do plantio e da colheita que se precisa mais da m o de obra entre vinte e trinta funcion rios em cada propriedade por uns oito meses durante o ano por meio do contrato tempor rio de trabalho S o
78. distribui o o fornecimento de energia n o passava de 11 h dia 4 a falta de energia el trica causava interrup o no fornecimento de gua bem como pela precariedade da rede de distribui o com mais de 40 anos de idade e que sofria constantes entupimentos 5 o sucateamento da frota de ve culos e equipamentos governamentais dificultava o deslocamento de funcion rios e o desenvolvimento das atividades durante o expediente de trabalho 6 havia defasagem do valor dos repasses de verbas federais para manter os servi os de educa o e sa de 7 o baixo n vel de renda da popula o e sua dist ncia em rela o a outras cidades com melhores estruturas de bens e servi os dificultavam a resolu o de problemas de sa de no lugar Por exemplo esses moradores faziam a consulta ambulatorial mas n o conseguiam aviar uma receita e por fim 8 houve a redu o do n mero de funcion rios para prestar servi os aos 110 At recentemente as pessoas ainda procuravam o Departamento de Patrim nio da prefeitura para pedir licen a de uso do im vel de seu interesse assumindo o compromisso de preserv lo e n o modificar a estrutura da casa Somente receberam autoriza o de modifica o as casas amea adas de desabamento No entanto essa autoriza o n o inclu a a modifica o das fachadas conforme nos informou um funcion rio deste departamento Ressaltamos que todos os im veis datados do per odo Ford foram transformados em patrim
79. dos modos de vida preexistentes do lugar com o recrutamento de sua popula o na rea rural e seu deslocamento para a cidade rec m criada para atender s necessidades de m o de obra da CFIB sendo que o seu ajustamento ao novo modo de vida o urbano se deu por meio de um processo de re socializa o na cidade que visava constituir o novo tipo humano disciplinado e hierarquizado necess rio atividade industrial 3 o uso predat rio da natureza causado principalmente pelo grande desmatamento e pelas queimadas 4 a enuncia o dos estere tipos e a sociabilidade de evita o por parte dos americanos prefiguradas e estimuladas pelo desenho hierarquizado das moradias na cidade que expressavam a premissa de industrializar a selva levando at ela a civiliza o do homem branco 5 um tipo de urbaniza o que ainda n o havia sido experimentado na regi o e que contrastou com a pobreza e precariedade dos servi os existentes no per odo nas cidades da Amaz nia Assim Belterra constitui se como um enclave em que o uso dos bens e servi os dispon veis era restrito aos funcion rios da Companhia e n o extensivo popula o residente no entorno ou em outras cidades Dessa forma configurou se como um novo arranjo socioespacial marcado pela autossufici ncia de sua organiza o e pela mobilidade regulada de pessoas e mercadorias semelhante ao que analisaram Trindade Jr e Rocha 2002 sobre as cidades empresa implantadas pelos
80. dos percentuais por meio de amostras a cada 5 anos ou de 10 em 10 anos no caso dos Censos Os dados recentes apresentam a popula o do munic pio com 47 086 habitantes IBGE 2010 2 Lembramos da entrevista que fizemos com um ind gena que mora na Gleba de Nova Olinda em Santar m onde estava acontecendo um conflito entre madeireiros e moradores por conta da extra o ilegal de madeira nas terras comunit rias Dias depois lendo o jornal soubemos que os manifestantes incendiaram as duas balsas e que estavam sendo processados pelos madeireiros 44 N o podemos perder de vista o tamanho dos munic pios a dist ncia entre as cidades e a dificuldade de deslocamento no interior da regi o que muitas vezes implicam o isolamento de mesorregi es inteiras durante o per odo do inverno como o caso das cidades localizadas s margens da rodovia Transamaz nica Esta grande extens o territorial associada dificuldade de acessibilidade s o caracter sticas preponderantes dos munic pios amaz nicos CARDOSO 2006 e de suas cidades em particular Ressaltamos que em muitas cidades da Amaz nia s se chega de barco n o se tendo acesso a elas por meio de estradas Quando ouvimos can es ou coment rios afirmando esse rio minha rua entendemos o car ter dendr tico da rede CORR A 2007 em que o rio o principal meio para o deslocamento de pessoas mercadorias ideias e informa es Essa situa o exige o uso da madeira
81. e ele n o fica ali permanente como se fosse um material radioativo PRODUTOR DE SOJA I Mar o 2011 No restante ano o n mero de empregados fica em torno de tr s ou quatro com carteira assinada O forte da agricultura mecanizada n o gerar emprego na propriedade o emprego gerado na industrializa o dos produtos que pode ser exemplificado pelo descascamento tratamento e embalagem do arroz Isso precisa das m quinas e da empresa de pl stico No supermercado precisa estocar e arrumar nas prateleiras E uma cadeia de empregos em cima do mesmo produto at chegar ao produtor O milho tem derivados para o consumo humano e para a produ o de ra o animal para criadores que por sua vez abastecem o a ougue que vende a carne O entrevistado apresenta outros benef cios com a atividade da soja Hoje voc encontra soja na margarina nos leites infantis nos leites de adulto esses leites todos enlatados leite em p voc v l lecitina de soja V algum derivado de soja O leo de soja por exemplo a soja hoje vai pra industrializa o de esmagadora Quantos mil empregos t m hoje em ind stria que esmaga soja para produ o de leo para tirar o farelo o farelo da soja que vai para produ o de concentrado O concentrado animal ele cont m hoje 62 de soja farelo de soja depois de extra do o leo A parte do processo de torragem Torra ela e hoje produz o concentrado Hoje produz uma ra o pra engorda
82. e m dios produtores de soja oriundas dos estados do Mato Grosso Paran Rio Grande do Sul e Santa Catarina cuja posi o social difere em muito do desajustado social conforme propunha Park 1928 em sua an lise sobre o homem marginal Pelo contr rio s o recebidos por empres rios propriet rios dos meios de comunica o parte da classe pol tica local e governo municipal como portadores do progresso e do desenvolvimento Formula es bem pr ximas representa o do estrangeiro proposta por Simmel 1983 como aquele que traz a novidade permanece no lugar e reconhecido por ser de fora embora n o esteja preocupado com a inser o no grupo Ali s n o seria exagero afirmar a presen a da indiferen a da avers o e da evita o SIMMEL 1967 por parte dos rec m chegados em rela o s pessoas do lugar 152 Dispon vel em lt http fantastico globo com Jornalismo FANT 0 MUL695704 15605 00A GUERRA DA SOJA html gt Acesso em 05 jul 2011 13 Situa es de conflito n o s o novas na BR 163 conv m lembrar do estudo de Martins 1993 p 71 72 para os anos de 1970 no caso das popula es ind genas os Kreenakarore foram derrotados e quase exterminados Perderam seu territ rio e 80 de sua popula o Depois de terem sido contatados e atra dos para viabilizar a constru o da rodovia Cuiab Santar m no Mato Grosso foram iniciados em pr ticas homossexuais pelo pr prio funcion rio da Funda
83. e seus modos de vida Cf pag 48 Esse discurso se reproduz na fala atual de pol ticos e produtores de soja em Belterra e Santar m como veremos mais adiante 143 Segundo Carvalho e Tura 2006b o hectare plantado em Belterra saltou de 150 em 2002 para 5 000 em 2004 Em Santar m passou de 620 hectares em 1999 para 11 000 em 2004 Isso corresponderia a 94 2 do total da soja produzida na mesorregi o do Baixo Amazonas Informa es prestadas pelo dirigente do Sindicato Rural de Santar m SIRSAN por meio de entrevista em 2011 indicam que nesses dois munic pios naquele ano o total chegou a 30 mil hectares dos 70 mil dispon veis 144 Estudos da Cargill 2000 p 61 95 apontavam que dentre os poss veis impactos com a presen a da soja nessas reas poderia ser a contamina o do len ol fre tico e corpos d gua superficiais por agroqu micos No entanto n o deu a devida aten o a o do capital na expropria o da terra dos agricultores da regi o Mesmo assim reconheceu que n o havia conflitos em torno da terra anteriormente instala o da soja ressaltando que esses conflitos embora espor dicos deve se s grandes propriedades nas proximidades da rea de expans o natural da comunidade 138 por hectare no in cio foi de R 100 00 cem reais mas chegou a mais de R 2 000 00 dois mil reais quando o processo se intensificou BERNARDO Novembro 2009 Situa o agravada com a contamina o da
84. em bairros onde a precariedade da vida a fome e a mis ria se fazem com intensa visibilidade Diz Engels Habitualmente as ruas n o s o planas nem cal adas s o sujas tomadas por detritos vegetais e animais sem esgoto ou canais de escoamento cheias de charcos estagnados e f tidos A ventila o da rea prec ria dada a estrutura irregular do bairro e como nesses espa os residem pessoas f cil imaginar a qualidade do ar que se respira nessas zonas oper rias onde ademais quando faz bom tempo as ruas servem aos varais que estendidos de uma casa outra s o usadas para secar a roupa Na escala em que nessa guerra social as armas de combate s o o capital a propriedade direta ou indireta dos meios de subsist ncia e dos meios de produ o bvio que todos os nus de uma tal situa o recaem sobre o pobre se tem a sorte de encontrar trabalho isto se a burguesia lhe faz o favor de enriquecer sua custa espera o um sal rio m nimo apenas suficiente para o manter vivo se n o encontrar trabalho e n o temer a pol cia pode roubar pode ainda morrer de fome caso em que a pol cia tomar cuidado para que a morte seja silenciosa para n o chocar a burguesia ENGELS 2008 p 69 70 1855 Oliven 1988 afirma que as cidades j existem h milhares de anos Mas com o advento da revolu o industrial no s culo XVIII e com a forma o do modo capitalista de produ o que as mesmas ganha
85. empreendimento O contexto favor vel para isso deveu se ao esgotamento das terras dispon veis no estado do Mato Grosso provocado pelo plantio da soja em larga escala e pela abund ncia de terras s margens da Rodovia BR 163 no Par Terras devolutas ou terras onde se localizavam os agricultores advindos com os projetos de coloniza o do INCRA na d cada de 1970 os nativos de Santar m e Belterra e outros provenientes dos munic pios integrantes da regi o do Baixo Amazonas O pre o baixo da terra tornou a acess vel aos produtores capitalizados de fora da regi o Acrescente se a isso os incentivos financeiros e pol ticos dos governos municipal estadual e federal para oportunizar novos empreendimentos econ micos na regi o Estudos realizados por meio da coopera o t cnica entre os governos federal estadual e a Prefeitura de Santar m produziram informa es estrat gicas sobre o potencial madeireiro as terras agricult veis a navegabilidade dos rios daquela regi o e a riqueza do subsolo que orientaram tanto a a o do governo como do grande capital Referimo nos ao Programa de Integra o Mineral em Munic pios da Amaz nia PRIMAZ nos anos de 1990 e mais recentemente s proposi es acerca do Zoneamento Econ mico Ecol gico do Oeste do Par ZEE que segundo Acselrad 2000 p 9 11 tende a ser a express o espacializada de algum modelo de desenvolvimento que pensa o territ rio apenas como base material e
86. essas coisas mas eu vejo por outro lado Eu n o sei se porque eu sou agricultora mas eu vejo assim que eles vieram com o prop sito de produzir E uma vez que as terras de Belterra oferecem isso e foram recebidos de bra os abertos na poca pelo Prefeito que era daqui ent o eu acho que isso deu a eles essa abertura de investirem aqui E hoje n s nos deparamos com uma melhoria de qualidade de vida pelas pessoas que trabalham como esse pessoal da soja que t o a E eles tamb m eles se inserem no contexto social ajudam nas obras Eu j acompanhei v rios casos de escolas que eles ajudaram em parceria inclusive a S o Pedro n s temos prova disso Ent o eu n o estou olhando s como agricultora que eu sou mas vejo tamb m esse avan o econ mico que houve Mas gra as a Deus n s n o temos assim problemas maiores porque eles s o pessoas civilizadas eles vieram pra c pra trabalhar e eles trabalham muito direitinho sabe grifo nosso VEREADORA DO DEM Mar o 2011 Assim os discursos e os posicionamentos expressam as alian as ades es e os campos de poder que se formaram e disputam tanto o sentido do desenvolvimento como quem s o os portadores das novas possibilidades e quem devem ser os seus principais benefici rios Lembramos que em situa es apresentadas anteriormente existe um movimento de coopta o pol tica por parte dos produtores de soja de associa es de agricultores do campo popular bem como o
87. final da primeira metade do s culo XVIII as expedi es asseguraram o controle pol tico militar do territ rio e as atividades econ micas ligadas s drogas do sert o cujo funcionamento assentou se na constru o de fortins aldeias mission rias e na m o de obra ind gena REIS 1979 No entanto conv m lembrar que a presen a do Marqu s de Pombal na Amaz nia 1750 1775 por meio da Companhia Geral de Com rcio do Gr o Par tanto assegurou o monop lio das drogas do sert o para os comerciantes portugueses e desarticulou as miss es religiosas na regi o como sob a l gica da cidade civilizada grifo nosso constituiram se os planos urban sticos para orientar os construtos das cidades de diferentes portes e os objetos que nelas deveriam existir realizado por engenheiros vindos de Portugal naquele per odo MIRANDA 2009 30 Para Bosi 1992 p 12 13 a coloniza o d um ar de recome o e de arranque a culturas seculares ela a resolu o de car ncias e conflitos da matriz e tentativa de retomar sob novas condi es o dom nio da natureza e o semelhante que tem acompanhado universalmente o chamado processo civilizat rio 31 Em 1944 como parte da Pol tica de Boa Vizinhan a para a America Latina desenvolvida pelo governo americano os estudos Walt Disney em co produ o com a Office of the Coordinator of inter American Affairs chefiado por Nelson Rockefeller produzem o filme The
88. financiamento internacional que tornou poss vel a mobiliza o das etnias em torno da demarca o de 10 milh es de hectares das terras ind genas que envolveu negocia es com o poder local institui es governamentais estaduais e federais e a participa o decisiva nas elei es municipais diante do peso populacional dos ind genas que somam 90 da popula o total dessa regi o Diz o autor Mesmo quem visita a cidade de S o Gabriel da Cachoeira a sensa o que se experimenta ali de tudo das institui es p blicas ao com rcio da igreja s for as armadas tudo envolvido por sociedades ind genas em fluxo que se expande das cabeceiras dos rios at a cidade e continuam descendo o rio para chegar at Manaus Ou seja no alto rio Negro n o me parece ser poss vel fazer uma distin o clara entre sociedade Nacional e sociedade ind gena Em certo sentido pode afirmar se que se ali as sociedades ind genas s o englobadas pela sociedade nacional elas tamb m a englobam pois os ndios participam de v rias institui es de brancos que v m sendo implantadas na regi o nas ltimas d cadas ANDRELLO 2006 p 33 34 Outros estudos confirmam essa situa o A migra o ind gena para os centros urbanos ocorre de maneiras muito diversas desde o traslado de grupos familiares para bairros onde j h um contingente grande de ndios organizados politicamente at casos de migra o de indiv
89. for a de trabalho e de sua m xima explora o em cada grupo dom stico e de outro a descaracteriza o da sua condi o de campon s quando da sua re socializa o vida industrial A constitui o da for a de trabalho da Companhia de Tecidos Paulista CTP dava se atrav s de um modelo de aliciamento que continha v rias formas de recrutamento das fam lias migrantes para a atividade industrial cujas caracter sticas podem ser descritas da seguinte forma eram fam lias pobres compostas por v rios membros do interior dos estados de Pernambuco e principalmente Para ba Segundo Alvim 1997 p 50 a a o de sedu o do aliciamento consistia no deslocamento do agente de aliciamento para essas reas para convencer as fam lias e lev las de nibus ou caminh o para os dormit rios provis rios coletivos denominados de dep sito que eram custeados e controlados pela empresa Seguido do processo seletivo que poderia ou n o assegurar a sua contrata o como oper rio da empresa e sua aloca o em uma das casas da Vila Oper ria ALVIM 1997 p 50 O processo seletivo era feito pelo pr prio dono da f brica A ele cabia a decis o de qualificar o rec m chegado de trabalhador ou pregui oso Atributo que era extensivo ao conjunto dos integrantes da fam lia Esse ritual humilhante conforme analisa Alvim envolvia o exame do corpo e das m os M os calejadas era atributo de trabalhador e m os fin
90. forte e as casas pr ximas foram invadidas pelas moscas muito prejudicial para as pessoas principalmente para as crian as A nossa mata aqui j foi praticamente devastada na rea urbana Se voc andar daqui pra Santar m pela estrada 1 dobrando sentido a Alter do ch o Onde vai a Jatob voc vai ver que tem muita mata derrubada Muita mata foi pro ch o A mesma coisa sentido ao rio Voc anda sentido Aramana Pindobal voc vai ver derrubada muita rvore rea de mata virgem derrubada E isso t contribuindo muito pro desmatamento e at pro clima O povo que veio de fora do Mato Grosso do sul tem uma cultura diferente da nossa A gente pesca a gente ca a sim Mas meu pai me ensinou meu filho s mate aquilo que voc comer A gente n o vai pro mato pra matar uma pregui a um tamandu A gente vai pro mato pra matar um tatu uma paca traz pra casa e come Quando gente vai l a gente nunca mata em excesso Assim a natureza pode se reconstituir Se voc for na cultura deles eles v o matando tudo destruindo tudo Se voc n o cuidar do que tem aqui hoje como voc vai querer o amanh Eles fizeram por exemplo a estrada 6 Se tu andar ali na estrada 6 da ponta dali da Jaguar at na 5 na EMBRAPA de um lado e de outro eles devastaram Hoje em dia tu v n o tem nada de plantio deles eles acabaram tinha umas castanheiras eles derrubaram tudo Plantaram tudo bem para eles l foi bom Da vei
91. ganhos de produtividade ELIAS 2006 p 285 Mas vamos ver com mais detalhes como isso se realiza no plano pr tico 194 5 2 Os de fora l gica pr tica e tecnologia no uso do lugar Nesta se o examinamos duas entrevistas com produtores de soja que t m propriedades em Belterra um paranaense e um ga cho a fim de analisar os sentidos que os mesmos produzem sobre a vida social do lugar a motiva o que preside sua a o o uso da natureza as rela es de sociabilidade que estabelecem com a popula o e a tecnologia usada nas atividades econ mica que desenvolvem A tecnologia usada pela agricultura mecanizada definida como agricultura de precis o envolve procedimentos sistem ticos e uso de tecnologia de ponta Vamos apresentar alguns procedimentos adotados por um produtor de soja para exemplificar essa situa o 1 Limpeza total da rea com ajuda de m quinas 2 An lise do solo para identificar sua qualidade por meio de pesquisa coletas de amostras em pontos diferentes e anota o dos pontos com ajuda de GPS 3 Corre o do solo com calc rio nos pontos considerados fragilizados que tem por objetivo tirar a acidez do solo 4 Plantio em linha com aduba o qu mica com ajuda de m quina que cont m caixas espec ficas para adubo e sementes e com espa amento que pode ser graduado para cada tipo de cultura soja milho arroz por exemplo 5 Uso de informa es produzidas pelo Insti
92. grandes projetos a partir de 1970 na regi o Contudo ressaltamos que as experi ncias de Fordl ndia e Belterra antecedem e antecipam o que Trindade Jr 2010 chamou de novos objetos inseridos no espa o amaz nico decorrentes da express o do meio t cnico cientifico informacional e da moderniza o do territ rio a partir dos anos de 1960 na regi o De fato s o formas alheias gente do lugar conforme analisou Santos mas n o tem a mesma densidade de ci ncia de t cnica e informa o resultantes do processo analisado por Trindade Jr para as d cadas posteriores aos anos de 1960 e para o per odo recente Da a op o com base em Sahlins de denomin las como evento de grande signific ncia uma vez que n o s o da mesma natureza que aquelas experi ncias realizadas posteriormente Os novos objetos est o 121 Inseridos na nova din mica territorial como as modernas plantas industriais o novo sistema de circula o estabelecidos pelas rodovias e ferrovias as modernas redes de comunica o os novos sistemas portu rios a expans o da rede de energia el trica apoiada na instala o de modernas hidrel tricas a presen a dos grandes projetos econ micos e de infraestrutura e igualmente suas modernas cidades TRINDADE JR 2010 p 120 At a d cada de 1960 o deslocamento de pessoas e mercadorias a extra o do excedente e o v nculo com o mercado internacional se davam por meio de embarca es que cr
93. gua do igarap antes usada para beber fazer comida lavar roupa e tomar banho e que agora n o pode mais ser utilizada pelas fam lias que n o contam com sistema de abastecimento de gua encanada As comunidades do Prata e do Paca s o citadas como aquelas que desapareceram Nelas moravam cerca de 120 fam lias MARILDO Novembro 2009 Ent o comunidades praticamente desapareceram Comunidades que t l a igrejinha algumas t m escola no meio da soja t l desapareceram n o tem mais aluno n o tem mais comunidade O mapeamento comunit rio realizado em maio de 2007 e junho de 2008 pelos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras de Santar m e Belterra contou com apoio das ONGs Greenpeace e Projeto Sa de Alegria PSA e utilizou o GPS como um dos instrumentos para a constru o dos mapas participativos em 121 comunidades Como resultados do levantamento foram apresentadas as seguintes situa es Foram identificadas 29 comunidades reduzidas em fun o das grandes planta es de soja sendo que duas delas j desapareceram completamente restando somente o registro na mem ria dos comunit rios Dos 55 pontos marcados como desmatamento quatro deles est o situados em reas de floresta prim ria cont guas aos grandes campos de soja Os outros est o em reas de floresta secund ria Os comunit rios identificaram 29 nascentes e igarap s contaminados por agrot xicos com pequenas barragens e ou em processo de assore
94. imagem deste ltimo e com isso enfraquec lo e desarm lo ELIAS SCOTSON 2000 p 24 Os autores chamam aten o que piadas depreciativas s o usadas como estrat gia dos grupos superiores grifo nosso como forma de minar e enfraquecer a posi o dos outsiders 166 Mapeamento Comunit rio dos impactos da soja em Santar m e Belterra Dispon vel em lt http www greenpeace org brasil pt Documentos mapeamento comunitario dos imp gt Acesso em 08 abr 2011 Outras iniciativas de mapeamento participativo tamb m foram realizadas por ONGs como FASE o Mapa dos Conflitos Socioambientais na Amaz nia dentro da Campanha Na Floresta Tem Direitos www comova org br e pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amaz nia IPAM www ipam org br 153 e que seu poder de ferir relaciona se a consci ncia que tenha o usu rio e aquele ao qual se destina tal humilha o Os conceitos usados pelos grupos estabelecidos como meio de estigmatiza o pode variar conforme as caracter sticas e as tradi es de cada grupo com fregii ncia os pr prios nomes dos grupos que numa situa o de outsiders trazem em si at mesmo para os ouvidos seus membros implica es de inferioridade e desonra A estigmatiza o portanto pode surtir um efeito paralisante nos grupos de menor poder ELIAS SCOTSON 2000 p 26 27 A busca pelo poder pol tico na regi o outra a o tra ada pelos de fora poss vel id
95. inquieta o intelectual em pesquisadores de diferentes disciplinas que estudam a Amaz nia urbana Isso pode ser identificado em estudos que tratam do assunto sob a tica da particularidade e singularidade Trata se de iniciativas que buscam apresentar quest es te ricas e emp ricas substantivas que t m por inten o tirar o debate do r tulo da regionalidade para coloc la relacionalmente naquilo que Santos 2006 definiu como a urbaniza o brasileira a urbaniza o da sociedade crescimento demogr fico nas cidades e multiplica o dos n cleos urbanos e a urbaniza o do territ rio o quantum de t cnica conhecimento e informa o que s o usados na divis o social e territorial do trabalho sob a tica meio t cnico cient fico informacional Do mesmo modo afirma esse autor que a totalidade mundo n o se expressa em todos os lugares da mesma forma Isso nos remete ideia de que ao falar das cidades da Amaz nia estamos nos referindo forma como a urbaniza o brasileira se realizou e se realiza na regi o ou seja trata se do espa o subnacional parte integrante de uma totalidade maior o territ rio nacional Dito isto podemos pensar tamb m no espa o subnacional do Nordeste Centro Oeste Sul e Sudeste do pa s Mas como operacionalizar uma pesquisa que possa enxergar o lugar sem perder a dimens o totalizante do capitalismo como processo civilizat rio E do mesmo modo n o esquecer que
96. inven o seja da ci ncia da arte ou das diferentes formas de pensamento e do discurso que legitimaram pr ticas de domina o milenares do colonialismo brit nico e franc s e do imperialismo norte americano naquela parte do mundo Para Said todo discurso produzido e existe num interc mbio com v rios tipos de poder seja ele pol tico intelectual cultural e moral que filtra e impossibilita a produ o de um conhecimento cr tico independente No discurso do ocidente a sociedade oriental incapaz de construir a democracia a igualdade pois vista como violenta sect ria e terrorista Diz o autor que essas s o palavras reproduzidas em livros textos poesias filmes e pe as teatrais al m de fazer parte do repert rio da produ o acad mica e ainda circula nos meios de comunica o de massa por exemplo nos Estados Unidos Fato este agravado e amplificado pela doutrina militar norte americana depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 48 mas que se repetiu por diferentes momentos hist ricos inclusive na Amaz nia conforme podemos observar pelas an lises que se seguem Vicentini 1996 assinala que a presen a dos naturalistas na Amaz nia durante o s culo XIX tamb m corrobora esse argumento uma vez que eles consideravam a vida das tribos ind genas uma forma de express o primitiva e inapta ao trabalho Da o enunciado de que a vida extrativa representava falta de intelig ncia se comparada com a forma de
97. lugar e foi demandante de grandes por es do territ rio Isso implicou o uso intensivo e predat rio da natureza e a expropria o da terra da popula o local Em ambos os casos o outro desumanizado e colocado na posi o de inferioridade para justificar que o valor de troca se sobreponha ao valor de uso e que novas t cnicas com base na mecaniza o se instaurem sob o discurso da moderniza o ao mesmo tempo em que se desqualifica o uso primeiro da popula o do lugar nominado como arcaico e primitivo por conta da t cnica simples do machado da enxada do ter ado e do uso da natureza prioritariamente para a satisfa o das necessidades humanas em bases n o mercantis Como disse BOSI 1979 p 42 a experi ncia que passa de boca em boca e que o mundo da t cnica desorienta Contudo devemos observar que a produ o de sentidos n o atributo exclusivo dos segmentos sociais mais abastados A popula o do lugar ao nomin los de sojeiros ga chos desmatadores de fora confere a essas rela es uma perspectiva que n o se d pela passividade nem submiss o ao contr rio remete aos conflitos que incluem por sua vez a produ o dos significados ou ao campo imaterial das disputas em curso Na cidade praticada de Certeau 2008 p 200 202 as narrativas produzem uma geografia das a es Essas pr ticas segundo ele produzem relatos orais que se fa
98. m de outras delibera es quer dizer me parece que seria de bom plano o Estado do Par fazer concess es gratuitas as empresas que primeiramente se organizarem para este fim a exemplo das ndias Orientaes que por meio sagaz e intelligente desbancaram a borracha do Brasil em t o curto prazo No meu humilde modo de pensar as reas que mais converiam s companhias extrangeiras s o as que margeiam a bocca do Amazonas mais proximas mais accessiveis aos mercados mundiaes BARREIROS 1928 p 11 12 Aceitando as orienta es da inst ncia pol tica federal o governo informou poder atender todos os favores visados o que foi concretizado pelo apoio dado cria o da Companhia Ford Industrial do Brasil CFIB e na doa o de terras antes mesmo da aprova o pelo legislativo estadual do termo de concess o pelo per odo de 50 anos A proposta elaborada pelo governo paraense permitiu o repasse de um milh o de hectares de terra na margem direita do rio Tapaj s localizada nos munic pios de Aveiro e Itaituba posteriormente estendida para Belterra no munic pio de Santar m ambos no estado do Par para a empresa americana Diz o governador que dessa forma o Sr Henry Ford tem no Par todas as facilidades para a aplica o e desenvolvimento de seu capital e posso afirmar lhe todas as garantias de uma terra policiada com governo certo e justi a organizada e respeitada BARREIROS 1928 p 15 Dentre as
99. mas recebendo sal rio de acordo com a produ o de l tex nos seringais do governo Da mesma forma foram concedidas isen es de taxas e impostos para aquisi o de produtos importados especialmente aqueles relacionados ao fornecimento de energia 100 Por meio de lei se estabeleceu que o Banco de Cr dito da Borracha S A era respons vel pela aquisi o de todos os bens existentes e das concess es de Belterra e Fordl ndia e pagaria por eles o valor de CR 5 000 000 00 cinco milh es de cruzeiros Definiu se tamb m que tanto os antigos funcion rios da CFIB como os bens seriam incorporados ao Minist rio da Agricultura para a realiza o de trabalhos experimentais e de ensino de agricultura tropical na regi o cuja coordena o t cnica e administrativa foi delegada ao Instituto Agron mico do Norte que recebeu aporte financeiro de CR 24 300 000 00 vinte e quatro milh es e trezentos mil cruzeiros para custear suas atividades por dois anos a contar de 31 de dezembro de 1945 quando o governo j estaria de posse de suas aquisi es Na oportunidade constituiu se uma comiss o de tr s membros para receber os bens e realizar o invent rio com representa o do Minist rio da Agricultura da Comiss o de Controle dos Acordos de Washington e do Banco de Cr dito da Borracha S A Conforme decreto presidencial n 8 440 de 24 12 1945 101 A Embrapa Amaz nia Oriental tamb m se originou do Instituto Agron mico do Norte
100. metropoliza o vai prosseguir paralelamente a um processo de desmetropoliza o As maiores cidades continuar o a crescer enquanto novas grandes cidades surgir o com a coexist ncia de movimentos que s na apar ncia s o contradit rios porque obedientes a uma mesma l gica socioecon mica e geogr fica SANTOS 2005 p 133 30 informacional se geografiza de forma diferencial diante da especializa o de tarefas no territ rio impostas pela divis o territorial e interurbana do trabalho o que Santos chama de um movimento no territ rio e na sociedade da nova urbaniza o brasileira Na busca por respostas a este fen meno urbano VELHO 1967 as an lises convergem para dois n veis de abordagens uma que trata do Brasil metropolitano e outra que se dedica ao Brasil n o metropolitano conforme demonstram os estudos de observat rios grupos de pesquisas e redes em v rias universidades brasileiras RIBEIRO 2007 SPOSITO 2007 Para o primeiro caso Telles 2006 p 49 observa que a partir de 1970 produz se um tipo de urbaniza o cuja caracter stica se d pela expans o da periferia na qual a metr pole expressa a sua forma mais definida Isso vai implicar na prioridade para onde se dirigem os investimentos p blicos os fluxos migrat rios de v rias regi es do Brasil e por sua vez as pesquisas acad micas que buscavam um entendimento dessa situa o Para o per odo recente diz a au
101. moradores do munic pio de Belterra Talvez esteja a a explica o da resist ncia dos de dentro presen a dos de fora e da n o aceita o desta atividade vista pela maioria dos entrevistados e por representantes das diversas organiza es sociais do munic pio como predat ria e alheia gente do lugar Essa posi o tamb m majorit ria dentro do Conselho da Cidadania que tem representa o parit ria do governo e sociedade civil Por fim chamamos a aten o para a presen a efetiva das organiza es populares e sindicais de Belterra na luta contra o desmatamento a expuls o dos agricultores e seu posicionamento no campo dos movimentos sociais e ONGs nos enfrentamentos que ocorreram durante esse per odo em Santar m e Belterra Observamos tamb m que a quest o socioambiental se faz presente em enunciados como desmatamento ou desmata o mudan a no clima cultura diferenciada desenvolvimento seca enchente destrui o da natureza S o termos que fazem parte do universo vocabular e da representa o da media o do lugar com a totalidade mundo Os eventos pol ticos dentro e fora da regi o a presen a de ONGs no munic pio as viagens de jovens de Belterra para outros pa ses por meio de interc mbio cultural o ponto de inclus o digital os conflitos envolvendo produtores de soja e movimentos em Santar m e Belterra com maior intensidade no ano de 2006 a ela
102. na quest o dos povos ind genas grifo nosso NDIO MUNDURUKU Outubro 2009 Na aldeia diz ele as crian as brincam de futebol e tomam banho de rio e igarap Existe tamb m a competi o de arco e flecha e luta corporal tr s vezes por ano Idosos lutam com idosos mulheres com mulheres e jovens com jovens Mas existe uma competi o anual no m s de dezembro denominada de vale tudo arco e flecha e luta corporal onde todos lutam contra todos e os tr s primeiros colocados recebem como premia o farinha tapioca e beiju veraneio ou chal s de montanha pela presen a sazonal de fam lias em f rias pelas visitas de diversos tipos de turistas esportistas congressistas ou ainda pela significativa imigra o de aposentados VEIGA 2003 p 80 182 A vida na cidade remete a outro plano de rela es em bases monet rias no qual o dinheiro o elemento mediador No entanto essas mudan as e tens es n o se limitam vida na cidade Na aldeia os conflitos com a popula o n o ind gena tamb m estavam presente no seu cotidiano Ainda existe muita ca a embora exista assim a persegui o dos outras comunidades vizinhas dos povos tradicionais Consta assim no relat rio na parte norte e na parte sul da aldeia eles perseguem muito eles entram na terra ind gena ca am com cachorro ou esperam a ca a no ramal S o das comunidades vizinhas Itapai nas e Tauari e at da comunidade de
103. nessa se o do contexto dos conflitos socioambientais e dos campos de poder na Amaz nia Oriental a partir das ideias b sicas que se seguem Primeiro de que a a o dos diferentes sujeitos coletivos se d por meio da articula o pol tica que visa aumentar o seu poder sobre a pol tica e a legisla o a respeito da aplica o de recursos p blicos e dos grupos benefici rios bem como sobre o controle dos estoques estrat gicos dos recursos naturais necess rios tanto viabilizar o projeto de desenvolvimento por eles defendido como para assegurar a reprodu o sociocultural dos grupos sociais que vivem no lugar em disputa Com base em Bourdieu 2001 podemos compreender este processo no caso estudado como a forma o dos campos de poder em disputa Temos por exemplo a a o do capital com apoio estatal que se realiza no lugar e comercializa os produtos nos mercados internacionais que recebe dinheiro p blico de bancos federais e regionais e lhe tem delegada a miss o civilizadora de promover o desenvolvimento Por sua vez a a o do campo dos movimentos sociais e ONGs tamb m ganha dimens o multiescalar partindo das cidades de Santar m e Belterra at a negocia o taz Composta pelos estados do Par Amap Mato Grosso e parte dos estados do Maranh o e Tocantins 123 Os campos de poder correspondem s rela es de for as entre as posi es sociais que garantem aos seus ocupantes um quantum
104. no Sul do Par Inclusive relata se a presen a de militares armados por l Fala se tamb m da luta dos agricultores por meio do STTR de Santar m para garantir a posse da terra e a perman ncia das fam lias Esse foi o teor da conversa com um ex assessor do sindicato hoje com 72 anos de idade que vive na cidade de Belterra e participou da luta naquela poca Na APA Aramana est o fam lias que vivem da agricultura da pesca e da fruticultura poss vel identificar tamb m novos moradores e o desenvolvimento de atividades econ micas ligadas ao com rcio e hospedagem nas praias de Pindobal Cajutuba e Aramanai por exemplo Um morador da localidade de Cajutuba e dirigente do STTR de Belterra informa que tamb m existe o artesanato Faz cestos alguma bolsa encapa garrafa faz alguma coisa assim Inclusive se voc for Secretaria de Meio Ambiente temos l imagem de artesanato de palha perfeita que foi feita em Cajutuba a gente conseguiu fazer em Cajutuba Todas essas comunidades da APA elas foram para Cajutuba para fazer esse trabalho com a palha E conseguimos fazer isso Hoje sustent vel de florestas nativas Lei Federal n 9 985 de 18 07 2000 Dispon vel em lt http www4 icmbio gov br flonas index php gt Acesso em 12 fev 2011 164 tem outras pessoas que vivem por exemplo das constru es de barracas que tamb m com palha pe as com palhas e igual eu trabalhava que com isso tamb m e sei faz
105. o carro que transportava os integrantes da ONG foi perseguido por alguns quil metros e abordado por tr s homens armados 148 condi es para capacitar as lideran as e permitiu que as den ncias ganhassem uma dimens o nacional e internacional o que a levou por duas vezes Europa Holanda Alemanha B lgica e Finl ndia para participar de eventos ligados discuss o da soja no ano de 2006 Nessas oportunidades p de apresentar a ideia defendida por seu sindicato da soja como cultura da morte pois junto com ela vem desuni o das fam lias a degrada o do meio ambiente e da biodiversidade Muda o clima diminui a produ o de alimento feij o arroz milho e farinha de mandioca a ca a e a fruticultura laranja manga cupua u pupunha por exemplo A concentra o de renda de poder a gan ncia um conjunto de coisas que diminui a nossa possibilidade de sobreviv ncia na terra j que esta incide diretamente na posse da terra e na produ o de alimentos observou a l der sindical Segundo levantamento realizado pelos STTR de Santar m entre os anos de 2005 e 2006 cerca de 500 fam lias diziam se arrependidas de terem vendido suas terras e migrado para a cidade de Santar m ou at trezentos quil metros de dist ncia de onde estavam longe das estradas e dos servi os p blicos O pedido de ajuda ao sindicato vinha no sentido de poderem se estabelecer novamente na rea rural do munic pio e voltar a p
106. o Brasil urbano guardamos essa advert ncia em nossa formula o j que a cidade como um ato de abstra o muitas vezes se distancia de como a vida social se realiza num determinado lugar no seu dia dia O problema reside justamente em como operar o conceito para cidades ou regi es que n o se desenvolveram com base na industrializa o Ou que n o t m uma organiza o complexa como a metr pole Por outro lado caberia questionar se a industrializa o esgota o conceito de urbaniza o e se ela se constitui em sua nica condi o Por op o anal tica com base em Lefebvre distinguimos a cidade como aspecto material e pr tico sens vel e o urbano como as rela es ou fluxos socioculturais Define ele A cidade realidade presente imediata dado pr tico sens vel arquitet nico o urbano realidade social composta de rela es a serem concebidas constru das e ou reconstru das pelo pensamento LEFEBVRE 1991 p 49 Desta maneira acreditamos que devemos entender a defini o sociol gica como um exerc cio de interpreta o da cidade capitalista de suas particularidades e diferen as do ponto de vista econ mico pol tico geogr fico e dos novos padr es de sociabilidade possibilitados e instalados com o seu desenvolvimento Contudo observamos que esta uma conceitua o provis ria e nos serve apenas como elemento anal tico aproximativo e ponto de partida para as reflex es que se seguem Os conceitos s
107. o fordismo Gramsci 1988 observa que sua racionalidade econ mica exigia um novo tipo humano adequado s novas formas de trabalho e produ o perfil este conseguido atrav s da combina o dos mecanismos de coa o e consentimento Os primeiros podem ser realizados por meio de uma r gida disciplina e pelo controle empresarial da vida privada do trabalhador para evitar o desperd cio de energia deste e como forma de n o prejudicar o processo de trabalho e produ o j que o mesmo exigia um movimento repetitivo mec nico e preciso A exalta o passional n o est de acordo com os movimentos cronometrados dos gestos produtivos ligados aos mais perfeitos passos da automa o GRAMSCI 1988 p 399 Em rela o ao consentimento um bom sal rio e a perspectiva da melhoria de sua condi o de vida serviriam como elementos de convencimento aceita o da proposta da empresa Na fala de Henry Ford podemos evidenciar essa proposi o Numa oficina o fio o oper rio munido de sua m quina se o oper rio n o f r h bil a m quina tamb m n o o ser se esta n o prestar nada valer aqu le Todas as vezes que se emprega mais for a que o trabalho exige h desperd cio FORD 1954 p 26 Assim o que temos em Fordl ndia e Belterra a instala o de novas pr ticas produtivas sob a racionalidade do lucro e das exig ncias do capital internacional Pr ticas que consistem numa a o destruidora dos modos de vi
108. o per odo 6 Tamb m houve apoio importante vindo da ONG Projeto Sa de e Alegria PSA que esteve presente nessas iniciativas www saudeealegria org br como por exemplo na cria o do grupo de trabalho de monitoramento da morat ria da soja Na verdade a confec o dos mapas para o campo dos movimentos e ONGs constituiu se numa estrat gia para identificar os conflitos os envolvidos e a intensidade desses conflitos Serviu tamb m como instrumento de den ncia e de monitoramento das atividades da soja diante dos acordos definidos pela Morat ria da soja As den ncias com apresenta o dos resultados dos mapas foram realizados em eventos com organiza es n o governamentais movimentos e governos dentro e fora da regi o inclusive no F rum Social Mundial realizado em Bel m PA no ano de 2009 MARILDO Novembro 2009 149 visto que grande parte da produ o feita de forma manual que d apenas para alimentar a fam lia Olha gra as a Deus t melhorando mais mas ainda tem uma parte de trabalhadores rurais que trabalha ainda brocando no ter ado derrubando com machado ainda por n o ter ainda uma conscientiza o muitas vezes um apoio queima n Que a gente sabe que n o bom pra nosso planeta n Pra nossa floresta que n s devemos de preservar mas n o tem esse apoio ainda de ter m quina n Para mecanizar A obriga muito a trabalharem assim com enxada com machado com ter ado Relata
109. o tempo que voc est tentando consertar a casa dos outros voc devia estar lendo um livro Para as situa es observadas a fofoca feita sobre o outro est relacionada ao sentido depreciativo e ao divertimento com a situa o alheia Elias e Scotson 2000 p 121 alertam para a velocidade da informa o o interesse coletivo pelo assunto e os lugares de sua produ o uma vez que esta envolve um sistema complexo de centros de intriga Diz Prado 1987 p 34 38 que a fofoca significa certo controle sobre a vida das pessoas uma vez que todos se conhecem o disse me disse e a impossibilidade de se viver no anonimato numa pequena cidade Sempre se uma pessoa algu m identificado e posicionado filho de algu m parente de algu m da ro a da cidade relacionado a uma fam lia grupo ou posi o h o reconhecimento sabe se quem quem Bem diferente das rela es impessoais superficiais e de pouco conhecimento entre as pessoas que vivem nas grandes cidades WIRTH 1967 SIMMEL 1967 Isso n o quer dizer aus ncia de fofoca na grande cidade mas a menor visibilidade dessa situa o Relato colhido junto a uma moradora de favela da cidade do Rio de Janeiro nos informa da roda de fofoqueiras no morro onde mora S que nesse lugar para um fato ocorrido n o houve conselhos diante do constrangimento feito A cabe a raspada de uma mulher foi o pre o cobrado pelo ato
110. onde se busca aprisionar o real mas um norte para o exerc cio emp rico para a comprova o ou n o daquilo que se prop s enquanto teoria aproximada Nessa perspectiva os conceitos e os m todos s o tratados como ferramentas para o exerc cio do of cio e n o como teoria acabada do conhecimento sociol gico como assinalado por Bourdieu Chamboredon e Passeron 2005 S o essas premissas que orientam o nosso trabalho Ao longo dos anos temos participado de eventos acad micos que tratam da quest o das cidades e de processos ligados discuss o da Pol tica Nacional de Desenvolvimento Urbano PNDU popularmente conhecida como o Estatuto da Cidade Por muitas vezes ouvimos falar que a Amaz nia n o tinha uma quest o urbana que muitos dos estudos sobre ela confundiam urbano com rural Outras vezes prefeitos t cnicos de governo e de organiza es n o governamentais ONG ou mesmo militantes dos movimentos sociais afirmavam haver um descompasso entre as legisla es que pensavam o territ rio e as pol ticas 20 urbanas e aquilo que acontecia nas cidades da regi o O que por sua vez implicava a dificuldade de acesso aos recursos p blicos principalmente da inst ncia federal ou inaplicabilidade dos instrumentos de regulariza o fundi ria contidos na PNDU por meio dos Planos Diretores Municipais Essas quest es al m de gerarem desconforto e calorosos debates durante esses eventos foram criando tamb m certa
111. organiza o do trabalho de colonos europeus J a floresta era tida como in spita carregada de doen as e perigosa para os rec m chegados Mais do que uma formula o te rica do final do s culo do s culo XIX essa proposi o ganha forma de discurso justifica a a o de grupos econ micos e se reproduz na fala de pol ticos e empres rios dentro e fora da Amaz nia brasileira para situa es que se apresentam para os per odos seguintes Assim podemos recorrer s contribui es de Foucault 2006 na sua proposi o do autor como produtor de sentidos que deve ganhar o senso comum e o cotidiano da vida das pessoas S que diferentemente deste que prop e a ideia do autor an nimo os formuladores dos sentidos sobre a Amaz nia s o pass veis de identifica o como aquelas contidas nas formula es evolucionistas e difusionistas da antropologia da coloniza o de Morgan na vis o estereotipada dos naturalistas e nas proposi es advindas de governantes e t cnicos do governo federal principalmente a partir da d cada de 1940 com a ida de Vargas regi o por conta de seu projeto de moderniza o econ mica do pa s Conv m observar que desde a d cada de 1930 e durante a vig ncia do Estado Novo no Brasil estava em curso o projeto de moderniza o capitalista sob o protagonismo estatal de Vargas Como sustenta Werneck Vianna 1978 p 141 a revolu o pelo alto consistiu Da metade do s culo XVII at o
112. os atores regionais como empreendedores das voca es ditadas pelo mercado mundial demonstram essa condi o Isso pode ser ilustrado pelo exemplo abaixo 133 Nosso primeiro contato com essa regi o foi em fevereiro de 2003 quando realizamos nossa pesquisa de mestrado NAEA UFPA que analisou o papel das cidades m dias na rede urbana regional e teve a cidade de Santar m como objeto de estudo Nesse momento obtivemos as primeiras informa es sobre a chegada da soja por l Ver a respeito Pereira 2005 134 Outro fator a ser considerado a qualidade do solo de Santar m e Belterra muito melhor do que em algumas reas do estado do Paran e o barateamento da produ o por conta da proximidade do porto de Santar m do mercado internacional consumidor de soja CARGILL 2000 135 O Programa de Integra o Mineral em Munic pios da Amaz nia PRIMAZ foi um estudo realizado atrav s de parceria entre Prefeitura Municipal de Santar m e os Governos Estadual e Federal que teve como resultado a identifica o do potencial dos recursos minerais h dricos florestais pedol gicos e ambientais CPRM 1996 16 Castro 2007 p 4 tamb m analisa o avan o das pr ticas predat rias sobre as reas de florestas em v rios estados da regi o amaz nica ressaltando que as t cnicas intensivas usadas tanto competem com os modelos tradicionais no uso dos recursos naturais quanto comprometem a biodiversidade e a reprodu o soc
113. os impactos criados com o asfaltamento BR 163 s o vistos pelos moradores entrevistados em Belterra e Santar m como um pre o a ser pago pelo desenvolvimento Os resultados obtidos sugerem a exist ncia de uma l gica perversa ou seja aquela de que se deve pagar algum pre o pelo progresso que permitir o alcance do desenvolvimento da oferta de empregos e melhores condi es de vida ao mesmo tempo em que esse processo poder acarretar perda na qualidade de vida diante da constata o de desmatamento polui o e viol ncia TURA et al 2008 p 18 Assim as agroestrat gias conforme definiu Almeida 2009 correspondem a um conjunto de a es pol ticas e econ micas orientadas por uma vis o de mundo mercantil da natureza e da vida humana que visam incorporar grande quantidade de terra da Amaz nia e cerrado ao processo de acumula o do capital sob a justificativa da escassez de alimentos e dos biocombust veis e pela oportunidade de neg cios propiciada pela eleva o do pre o das commodities minerais e agr colas no mercado mundial S o estrat gias de longo curso que se baseiam nos seguintes eixos estruturantes 1 retirar ou imobilizar os entraves legais jur dicos pol ticos e administrativos da legisla o brasileira de forma a n o permitir a cria o de novas reas de prote o de florestas e reservas ou flexibilizar a regula o fiscaliza o e controle das leis j existentes 2 impedir a regulariza o da po
114. porto de Santar m a pris o de um manifestante ligado ONG um manifestante pr soja 5 Diante da ofensiva dos produtores de soja que compravam terra a pre o baixo dos agricultores o STTR de Santar m fez uma grande campanha N o abra m o da sua terra por volta de 2002 com base em reuni es conversas e mobiliza o para conscientizar os trabalhadores para n o venderem a sua terra Essa mobiliza o contou com o apoio de v rias organiza es da regi o do Baixo Amazonas MARILDO Novembro 2009 142 que atira fogos de artif cio contra um barco dos movimentos sociais que passava um v deo durante a programa o noturna e outro que agride um fot grafo que cobria o ato Figuras de 44 a 47 Enfrentamento dos campos de poder na orla da cidade de Santar m PA Fonte Greenpeace 2006 Segundo relat rio anual do Greenpeace O Greenpeace bloqueou o porto da Cargill em Santar m impedindo o descarregamento de soja e seus ativistas foram atacados com viol ncia pelos seguran as da empresa O protesto fez parte de uma campanha que promoveu v rias a es contra o desmatamento para o plantio de soja na regi o Houve momentos tensos entre os ativistas e os sojeiros que reagiram muitas vezes com viol ncia Protestos contra o avan o da soja marcaram o primeiro de maio em Santar m no Par O Greenpeace participou junto com comunidades locais movimentos sociais e ONGs de uma passeata que reuniu 1 000 pessoas ped
115. preexistentes no uso predat rio da natureza e na enuncia o de estere tipos pelos de fora contra a popula o do lugar sob o abrigo da fala do desenvolvimento 1 A cidade de Belterra tem aproximadamente 7 mil habitantes e fica a 50 km da cidade de Santar m no oeste do Par a 700 km da capital do estado No munic pio a popula o de pouco mais de 177 mil habitantes As an lises mais detalhadas sobre o assunto est o a partir da p gina 157 16 Por modos de vida tomamos como refer ncia a formula o proposta por C ndido 1971 p 36 para quem os modos de vida de uma sociedade est o relacionados aos h bitos condutas t cnicas e institui es adquiridos por heran a cultural sejam aqueles desenvolvidos localmente ou os relacionados ao conv vio e influ ncia de outros grupos sociais externos sua forma o original Desse modo envolvem as formas de produ o da exist ncia e a satisfa o de necessidades imediatas e duradouras O que por sua vez implica as rela es que esses grupos sociais estabelecem com a natureza as t cnicas usadas para adquirir e produzir alimentos ca a pesca coleta agricultura por exemplo construir moradia e produzir vestu rio as prefer ncias alimentares bem como as rela es de sociabilidade mediadas por rela es de classe e as disputas pelo poder Argumentamos ser poss vel por meio da an lise dos modos de vida existentes na cidade de Belterra fazer a me
116. produ o usada para satisfa o 2 das necessidades das fam lias e outra parte vendida fora para barqueiros comerciantes turistas e para a popula o de Belterra e Santar m ou ganha o mercado internacional como no caso dos m veis feitos em madeira de lei que ganham forma de animais e do artesanato A economia do lugar tamb m gira tamb m em torno das aposentadorias benef cios e programas 177 de governo como o Programa Bolsa Fam lia PBF conforme um dos relatos de um morador e agricultor de 71 anos de idade Diz ele que Do extrativismo n s tiramos o leite da seringa n Tiramos o cumaru mesmo a andiroba Hoje n s estamos aproveitando uma am ndoa que do baba u ainda n Mas tem a casca do baba u a palha do curu Esses s o objetivos da natureza que acaba sendo riqueza pra n s Olha hoje eu tenho a banana eu tenho a macaxeira tenho a mandioca ainda tenho plantio de milho feij o e a batata n A gente planta o car tudo a gente ainda busca pra a nossa sobreviv ncia e vender o excedente que a gente tem cria o de galinha de pato de porco que nem todas as comunidades tamb m t m n AGRICULTOR Abril 2011 A comercializa o do excedente tem por objetivo juntar dinheiro para comprar produtos que satisfa am as necessidades das fam lias e que n o s o produzidos localmente Por exemplo a venda da polpa de cupua u repassada para a Cooperativa da FLONA que comerc
117. que h poucos agricultores que tem algum trator O trabalho mecanizado em geral quando acontece deve se s iniciativas conjuntas entre o sindicato e a Prefeitura por interm dio da Secretaria de Agricultura do munic pio de Belterra j o arado por tra o animal em muitas situa es A presen a da multinacional Cargill no porto de Santar m constitui outro foco de tens o entre as partes envolvidas nos conflitos j que a empresa se instalou na praia Vera Paz em frente cidade que era de uso p blico 2 A lideran a amea ada tamb m falou da aus ncia dos estudos de impactos ambientais e de seu relat rio EIA RIMA para a execu o do projeto e do papel da empresa como compradora armazenadora e comercializadora da soja para o mercado internacional Observou que no grupo de trabalho da soja que aconteceu na Holanda compromissos foram assumidos pela empresa n o comprar soja de reas desmatadas e que estavam expulsando agricultores mas n o foram cumpridos 162 Mat ria publicada no Jornal O Liberal diz que se depender do Minist rio P blico Estadual MPE o terminal de gr os da empresa Cargill instalado em Santar m n o receber t o cedo o licenciamento ambiental da Secretaria Estadual de Meio Ambiente Sema Durante a audi ncia p blica realizada ontem em Bel m o grupo Cargill fez uma nova apresenta o do Estudo de Impacto Ambiental EIA e do Relat rio de Impacto Ambiental RIMA relativos ao porto implanta
118. que no Mato Grosso esse total de 400 mil hectares j que este estado o maior produtor do Pa s Este entrevistado reconhece que a base da atividade agr cola local feita por pequenos produtores mas critica o uso do trabalho manual que define como arcaico por torn los dependentes dos programas sociais do governo Tamb m reclama que em Belterra falta m o de obra capacitada e dispon vel para o trabalho bra al Esta buscada na rea rural e urbana de Santar m e no rec m criado munic pio de Moju dos Campos Essa acomoda o da popula o local dos de dentro seria motivada pela aposentadoria recebida pelos antigos funcion rios da CFIB Mais que isso sugere que no Norte as pessoas seriam menos afeitas ao trabalho por conta da generosidade da natureza A natureza sempre foi muito generosa no Norte Eu acho que por isso que s vezes erroneamente algumas pessoas falam que o caboclo trabalha tanto Mas eu vou dizer assim numa regi o que a natureza t o generosa voc naturalmente voc n o precisa se esfor ar tanto vamos dizer assim Ent o disso vem uma quest o talvez se pegar do tempo ind gena talvez at milenar Ent o o seguinte o que falta uma especializa o das pessoas Tamb m tem voc deve ouvir isso como algumas pessoas falam voca o ah a regi o n o tem voca o Eu vou ser at duro se voc olhar pelo que acontece em Santar m e em Belterra que voca
119. rede urbana nacional constitui se uma quest o de an lise de v rias disciplinas Com base nos trabalhos de Sposito 2001 Pontes 2001 Santos e Silveira 2001 e Amorim Filho e Rigotti 2002 podemos observar que o debate sobre cidades m dias n o recente no Brasil remonta d cada de 1970 quando das primeiras tentativas de abordagem sobre o tema tendo como elemento definidor para a classifica o do porte m dio de uma cidade apenas o par metro demogr fico No entanto os estudos mais recentes prop em novos conte dos te rico conceituais buscando identificar o papel funcional dessas cidades na rede urbana Distanciamento de reas metropolitanas situa o geogr fica S o 70 milh es de habitantes 37 da popula o brasileira concentrada em 2 do territ rio nacional 167 mil km em 26 Regi es Metropolitanas legalmente constitu das RIBEIRO SANTOS JR 2007 10 Grande parte das camadas populares das metr poles do pa s mora em favelas cujas caracter sticas est o associadas baixa escolaridade baixa renda e dificuldade de acessar o Fundo de Garantia do Tempo de Servi o FGTS para melhorar suas condi es de moradia e ainda sobre eles recaem a pr tica discriminat ria no mercado de trabalho Se comparados a outros grupos sociais da cidade principalmente os segmentos mais abastados que pela proximidade f sica das favelas com algumas reas nobres da zona sul do Rio de Janeiro observa se a estigmatiza o
120. refere compet ncia e capacidade de fiscaliza o de cada inst ncia pois n o se trata de um campo homog neo visto que o ent o governador do Mato Grosso Blairo Maggi um dos maiores produtores de soja do Brasil Essa situa o tamb m remete s coaliza es formadas para as disputas das elei es municipais em Santar m 2004 que aproximaram agrupamentos pol ticos que historicamente estavam em campos opostos da pol tica L por exemplo na cabe a de chapa estava uma lideran a do Partido dos Trabalhadores PT e o vice era um empres rio ligado ao agroneg cio Assim podemos organizar analiticamente a a o dos produtores de soja para garantir seu acesso terra dos agricultores e a sua participa o na vida pol tica do lugar por meio dos seguintes mecanismos a de sedu o oferta de dinheiro carros e motos motor de energia leo diesel conserto de ponte e trator para abrir estradas b de coer o presen a de pistoleiros e amea as de morte intimida o policial inc ndio de casas e press o para a venda c de inser o participa o em cargos de confian a no governo municipal de Belterra e Santar m lan amento de candidatos a cargos legislativos apoio a cargos majorit rios e a participa o em festas religiosas e d de coopta o pol tica filia o de agricultores familiares da base pol tica do STTR de Santar m oferta de assist ncia t cnica e apoio produ o Diante do exposto
121. s o de tamanho grande e t m muitas rvores frut feras Nos v rios lotes visitados identificamos mam o cupua u bacaba lim o tangerina laranja c co a a goiaba caju muruci manga banana jambo pupunha enfim uma variedade de frutas que estragam no per odo de grande produ o visto n o serem industrializadas ou comercializadas e o consumo familiar ser insuficiente para dar conta da quantidade produzida Em alguns lotes se produz legumes e verduras como cebolinha alface couve tomate em outros cria se galinha e porco por exemplo Nas figuras 54 e 55 aparece o espa o mantido pela Prefeitura sob o nome de Horta Comunit ria e Cidadania que nos anos de 2007 e 2008 beneficiou 54 fam lias como forma de combate fome e pobreza que abastecia tamb m na poca de minha pesquisa de campo algumas escolas e creches do munic pio Esse projeto tinha tamb m por objetivo incentivar a agricultura na cidade sem que as fam lias depois de algum tempo de apoio e treinamento dependessem da ajuda da administra o municipal Figuras 54 e 55 Horta comunit ria Fotos FASE 2006 Existem muitas planta es nas quadras dos antigos seringais a pr tica da agricultura familiar dentro da zona urbana Por essa raz o o sindicato foi obrigado a rever o seu 172 186 estatuto para poder atender esses trabalhadores nos informou uma dirigente do STTR de Belterra Aqui em Belterra os quintais s o gra
122. ser observadas como suas particularidades e singularidades para que possamos analisar como a urbaniza o brasileira se realiza na Amaz nia 1 2 A urbaniza o brasileira da Amaz nia A urbaniza o brasileira segundo Santos 2005 ganha intensidade a partir da d cada de 1940 Na Amaz nia isso s vai ocorrer 20 anos depois Por l aconteceria a moderniza o seletiva a partir da d cada de 1960 naqueles lugares escolhidos que funcionariam como mancha diante da grande extens o territorial da regi o com base na interven o pol tica do Estado caracterizada por controle dos recursos naturais cria o de um conjunto de institui es de planejamento gest o financiamento e de pesquisa e disponibiliza o de recursos p blicos para os empreendimentos privados mobiliza o da m o de obra atrav s dos projetos de coloniza o e apoiando aqueles realizados pelos agrupamentos econ micos regulamenta o do mercado de trabalho em bases assalariadas constru o de infraestrutura como estradas portos aeroportos e todo um sistema de comunica o constitui o das cidades que como fronteira urbana serviram de base para a r pida ocupa o da regi o antes mesmo da implanta o dos grandes projetos Nessa estrat gia os n cleos urbanos funcionaram como espa o de concentra o do fluxo migrat rio e da m o de obra de forma a organizar um mercado de trabalho em bases assalariadas a economia urbana e exercer o cont
123. sociabilidade dos de fora estrutura se a partir da evita o da conviv ncia com os de dentro como uma sociabilidade apartada da vida da cidade embora o discurso do entrevistado contenha certo teor de cordialidade ao afirmar que em Belterra as pessoas s o acolhedoras s o pessoas simples com as quais guarda rela es de amizade Mas o c rculo social de pertencimento e conv vio desenvolvido com os pr prios pares em atividades coletivas que acontecem na localidade de S o Jos como churrascos festas e encontros semanais ou em atividades promovidas pelo Sindicato Rural de Santar m para os seus associados Nossa atividade de lazer assim como uma fam lia normal n o tem muito de diferente assim vai praia existe o pessoal da agricultura que tem clube no planalto ali que no S o Jos que tem um pessoal que vai muito l N s do pr prio Sindicato Rural temos alguns eventos que uma feira agropecu ria uma vez por m s tem uma janta de confraterniza o A gente tem integrado socialmente todas essas atividades que tem dentro de Santar m cada um uns que gostam mais outros gostam menos por exemplo de festa dependendo do tipo PRODUTOR DE SOJA II Mar o 2011 O mais comum foi encontrar os funcion rios desse grupo social em algumas atividades na cidade como na pra a ou pizzaria conversando e convivendo especialmente com os mais jovens Como n o s o muitas as fam lias vive
124. suficiente de for a social ou de capital de modo que estes tenham a possibilidade de entrar nas lutas pelo monop lio do poder BOURDIEU 2001 p 29 Ressaltamos que ao se referir aos campos de poder Bourdieu 2001 p 66 est preocupado com a posi o dos agentes na estruturas das rela es objetivas e na forma concreta das intera es Embora este autor trate de campos espec ficos como o campo intelectual o religioso o pol tico o filos fico o liter rio o da alta costura Aqui usamos o termo para designar for as pol ticas sociais e econ micas que se unem em torno de interesses comuns Como diz o pr prio Bourdieu trata se de um plano de refer ncia abstrato para o exerc cio de trabalhos pr ticos 130 com compradores de soja na Europa e a press o destas organiza es para que n o se compre soja de reas onde haja desmatamento e expuls o de pequenos agricultores Essa a o resultou na morat ria da soja e numa pactua o mesmo que provis ria entre as partes envolvidas no conflito e o mercado comprador destas commodities Do mesmo modo por interm dio desse campo de poder que se travam as lutas as formula es da resist ncia e da outra vis o de mundo Almeida 2004 observa que a contra estrat gia na Amaz nia refor a a identidade pol tica de um conjunto de grupos sociais e tnicos em amplo processo de mobiliza o em defesa de sua territorializa o e dos usos dos r
125. tempo 1934 1945 1995 2011 da vida social do lugar para identificar como a a o do capital com base no apoio estatal se deslocou para a Amaz nia Brasileira se apropriou de grandes por es do territ rio destruiu ou desorganizou os modos de vida preexistentes em nome das exig ncias do mercado internacional No primeiro per odo buscou se identificar como ocorreu o processo de ressocializa o do migrante em uma cidade empresa da Companhia Ford Industrial do Brasil baseada na cria o de uma hierarquia sociofuncional do sistema fordista de produ o e uma restri o da conviv ncia dos americanos em rela o aos brasileiros No segundo per odo analisamos a presen a da soja na cidade e em seu entorno O rural e o urbano est o contidos na cidade simultaneamente como pr ticas socioculturais que n o se fazem pela oposi o A liga o entre os dois per odos encontra se nas mudan as dos modos de vida preexistentes no uso predat rio da natureza e na enuncia o de estere tipos pelos de fora contra a popula o do lugar sob o abrigo da fala do desenvolvimento As t cnicas usadas foram a observa o de campo as entrevistas as conversas informais o levantamento bibliogr fico documental e fotogr fico Permitindo a constru o de mapas que resumem estes movimentos Pudemos realizar entrevistas com perguntas semi estruturadas para tratar dos dois per odos de tempo considerados em nossa pesquisa Desse
126. tia Magalh es 2011 Fonte Cria o Pereir 100 Agora apresentaremos os mecanismos de disciplinamento e controle da m o de obra condi o b sica para a forma o do novo tipo humano exigidos pelo sistema fordista de produ o Como isso ocorreu no ch o da floresta j que em Belterra n o tinha o intramuros da f brica como nas experi ncias realizadas pelas ind strias de Henry Ford em outras partes do mundo exigiu um processo de adapta o da proposta da companhia diante da realidade local conforme veremos a partir de agora 2 3 2 A disciplinariza o da for a de trabalho As 473 quadras do projeto tinham 16 hectares cada eram margeadas por 10 estradas com at 10 km de extens o e foram sistematicamente plantadas No sentido norte sul as de n mero impar 1 3 5 7 e 9 e as pares no sentido leste oeste 2 4 6 8 e 10 Cada quadra era organizada por uma linha de 107 seringueiras alinhadas de quatro em quatro metros cuja orienta o era marcada por uma madeira pintada e numerada Cada capataz tomava conta de uma turma que no dia anterior j sabia em que quadra trabalhar As 6h30min os trabalhadores j estavam enfileirados esperando a sirene tocar figura 32 para iniciar o trabalho O intervalo para a alimenta o de meia hora era s 11h e o retorno ao trabalho era s 11h30min O fim do turno de trabalho era s 15h30min A comida trazida pelos seringueiros farofa de ovo era guardada numa latinha q
127. tinha fam lia botava no carro e mandava deixar no Porto Novo Agora eles eles aplicavam assim um termo de uma descarga autom tica que ele n o podia mais se empregar n era assim Ent o era uma lei porque ali na entrada que vai para o Porto Novo mais adiante um pouco tinha uma guarita aonde tinha um fiscal n que toda pessoa que passasse l tinha que mostrar o que trazia E se ele trazia alguma cacha azinha em c co dentro de melancia n Pra beber aqui era descoberto l quando ele chegava aqui j sabiam ai porque tinha um telefone l e o cara telefonava imediatamente ERASMO Outubro 2009 A disciplina imposta aos desordeiros era realizada pelo servi o de policiamento 2 e interno denominados de mata cachorros porque naquela poca era a lei da borracha a lei da porrada mesmo A puni o n o distinguia idade era aplicada desde os velhos at aos 105 menores de idade Matasse roubasse ou fizesse arrua a o desordeiro ia para a cadeia Embora as puni es fossem generalizadas o valor pago pelo trabalho realizado por menores era bem abaixo do pago a um adulto Na figura 35 apresentamos a cadeia a que se refere nosso entrevistado para onde eram recolhidos os desordeiros Figura 35 Cadeia do Porto Novo Foto Pereira J C M 2011 A disciplina tamb m se estendia sobre a vida dos filhos dos empregados da Companhia durante o processo de socializa o na creche como
128. tocante s actividades a que allude a causula XXVI por for a dos inequ vocos termos dessa clausula que declara taes actividades independentes da concess o com o intuito precisamente de tornar inequivico que o Estado n o estabeleceu um regimen de privil gio mas s convencionou valores inherentes concess o access veis a qualquer outra pessoa id nea nacional ou estrangeira que pretenda uma concess o identica que foi feita ao Sr Ford BARREIROS 1928 p 32 Argumentamos que esses fatos envolvendo o governo e seus opositores expressavam os grupos de poder existentes no estado do Par e os interesses envolvidos nas tomadas de posi es Os posicionamentos da pr pria imprensa no per odo est o associados a isso quem eram os propriet rios dos jornais a que grupos pol ticos pertenciam no mbito estadual e regional e em que alinhamentos se inscreviam no plano nacional Advinham da as cr ticas speras e as defesas apaixonadas de suas posi es publicadas nos jornais Folha do Norte e O Estado do Par de circula o local e o Correio da Manh A Gazeta de Not cias e O Paiz de circula o no Rio de Janeiro conforme mostra o trabalho de Barreiros 1928 Por fim importante ressaltar que o processo de extra o do l tex em Fordl ndia e Belterra foi diferente do implantado na Amaz nia no per odo do boom da borracha no final do s culo XIX e in cio do s culo XX pois as rela es de produ o n o estavam vincu
129. trator e preparar a terra para plantio disse finalizando a sua explica o sobre aquela situa o Uma lideran a do STTR de Belterra informou que com a chegada da soja muitas fam lias venderam seus lotes para os ga chos e migraram para a cidade de Santar m A baixa indeniza o recebida e as dificuldades l enfrentadas n o permitiram a perman ncia dessas fam lias na cidade A nica alternativa foi o retorno ao lugar de origem agora sem a terra para plantar j que a terra doada pela comunidade assegura apenas o local de moradia e n o de produ o pois se trata de terrenos de pequenas propor es Pessoas entrevistadas em Belterra e Santar m tamb m fizeram uma associa o direta entre a mudan a no clima e o desmatamento Do mesmo modo vincularam as doen as respirat rias em fam lias inteiras ao uso de agrot xico nas planta es de soja Com efeito a agricultura mecanizada se faz agora em outras condi es incorporando os avan os tecnol gicos da ind stria proporcionados pelo meio t cnico cient fico informacional que transformou as pr ticas agr colas com o intuito de Suprir as defici ncias do solo prevenir as doen as das plantas combater as pragas das planta es aumentar o rendimento por hectare fabricar no laborat rio sementes mais produtivas construir m quinas para semear cultivar colher e irrigar o solo e uma quantidade incomensur vel de outras inova es proporcionando importantes
130. um esteio um pau que precisasse ser trocado eles trocavam fazia as coisas cobria s que era de palha n o era nada de madeira e nem o ch o era ch o mesmo mas depois fazia aquele aterro aguava por cima gua de sab o ia ficando aquele aterro alisado parecia cimento Era assim eles moravam em casa de ch o mesmo ERASMO Outubro 2009 Dona Francisca fala da sua participa o na constru o das casas de palha e da tarefa de cada um Era de palha mas era bem feitinha n Eu cansei de trabalhar abrindo palha e meu pai e minha m e cobria casa As mulheres eram palhas os homens subiam l para amarrar A cidade empresa projetada para dar conta da atividade industrial na floresta aparece idealizada na vis o de Cruls em sua visita ao projeto no ano de 1938 quando identificou tamb m o desmatamento de 12 mil acres de terra e a planta o de 2 400 000 dois milh es e quatrocentos mil p s de seringueiras em uma rea de 24 km O processo civilizat rio novamente reaparece agora relacionado moradia Segundo as impress es de Cruls no lugar havia Uma verdadeira cidadezinha em que todas as constru es escrit rio central almoxarifado hospital escola igreja habita es particulares casas de h spedes feitas de madeira e obedecendo a um mesmo tipo perfeitamente adaptadas s o amplas claras e alegres E desse centro que irradiam as v rias estradas conducentes n o s s instala es da compan
131. uma vez que a iniciativa privada n o se sentiria segura para fazer grandes e pequenos investimentos sem a garantia da posse da terra Do mesmo modo essa situa o cria entraves para que os antigos moradores da cidade tenham o t tulo de posse que confirmaria que eles s o donos daquilo que constru ram ao longo da vida No mapa em tom rosa as 473 quadras e em azul os 1 700 hectares repassados ao munic pio pelo SPU figura 53 MAPA 05 rea Urbana mero Estrutura Fundi ria ingiue a O fi 4 s f ara s f j i KO BA f Poro Novo 6 MH dopre b raeas L Pele z 5 H i L S o Foo Volta Grande LN Sim ea j Z A mel j e i i i a e Yeda 4H P o iy E E comes E s a m o A EGO T A j x P4 p i x a ads Gui so Cess o de Uso agradam medo 2 1 700 ha N jpa AOR y J i y sarasta a a fm A i a so Ei f Figura 53 Mapa das 473 quadras de seringa do projeto Ford Fonte Prefeitura Municipal de Belterra 2009 175 Conforme contrato de doa o datado de 19 10 2010 17 Em 2009 v rias reuni es aconteceram entre o SPU e a prefeitura Tamb m foi realizado um termo de coopera o com o governo estadual para agilizar a conclus o do Cadastro T cnico Multifinalit rio CTM que fornecer informa es f sico territoriais e socioecon micas para agilizar o processo de repasse da rea para o munic pio Em 2010 o coordenador do
132. v lei o futebol de sal o as gincanas culturais o carnaval os festejos dos santos e de 19 Durante o ano de 2009 encontramos uma jovem que relatou ter sido demitida da prefeitura e n o ter encontrado emprego depois de um ano e meio da demiss o Falou ter ido cidade de Manaus AM fazer uma sondagem e avaliar a possibilidade de se mudar para l em busca de emprego no in cio do pr ximo ano Avaliava que as oportunidades de emprego na cidade eram limitadas j que a principal empregadora a prefeitura nos ltimos meses vinha demitindo funcion rios sob a Justificativa do enxugamento da m quina administrativa Ao retornar ao campo em 2011 fomos informados de que essa jovem j havia sa do de Belterra e que estava trabalhando na cidade de Manaus 195 Esse servi o s n o comemorado pelos 50 motoqueiros moto taxistas que trabalham na cidade Um deles reclamava da pouca procura pelo servi o e ressaltou que com a entrada dos micro nibus vans e nibus que fazem o transporte intermunicipal at Santar m ao pre o de R 4 00 e R 5 00 diminuiu a procura das motos cujo rendimento com este trabalho fica em torno de um pouco mais de um sal rio m nimo por m s 196 E Spade E A T P RA asia 2 A presen a da religiosidade n o restringe ao culto Em atividades pol ticas esse plano de refer ncia tamb m aparece com muita for a Num evento que acompanhamos termos como Comunidade f solidariedade Deus e
133. vindos de fora e a casa dos m dicos figural4 O relato de um ex funcion rio ilustra bem esta situa o Esse hospital era a estrela da regi o n o tinha nem em Santar m um hospital que nem ele sempre geralmente tinha um m dico americano um brasileiro ou dois que vinha l de S o Paulo e era o atendimento era muito bom Tudo muito perfeito naquele hospital podia atender qualquer pessoa que viesse morar aqui na casa de um parente ou qualquer coisa N o precisava ser funcion rio ou gente daqui n o tudo gr tis alimenta o tudo cirurgia se fosse preciso tudo era gr tis inclusive a ambul ncia TICA Novembro 2009 GUS 1933 Figura 11 Hospital Henry Ford e necrot rio ao lado direito Foto Arquivo Pessoal Osvaldo Teixeira G es Belterra 1938 Po hospital foi incendiado em dezembro de 2004 um m s antes do in cio do mandato do prefeito do Partido dos Trabalhadores PT como forma de retalia o sua vit ria por apenas seis votos de diferen a do segundo colocado PASTANA Outubro 2009 83 Figura 12 Funcion rios do hospital na d cada de 1930 Foto Arquivo da Coordenadoria de Comunica o PMB Figura 13 Cirurgia no hospital Henry Ford 1933 Fonte Dispon vel em lt http www flickr com photos thehenryford with gt Acesso em 24 set 2010 84 Figura 14 Casa dos m dicos hoje Centro de Mem ria de Belterra Foto Pereira J C M 2011
134. virtudes simples Em sua formula o negativa simboliza o lugar do atraso da ignor ncia e da limita o Isto resultante de posi es intelectuais conservadoras que pouco conhecem o campo ou herdaram de fontes diversas certo desprezo pela vida camponesa identificando os homens do campo como matutos caipiras Aqui revela se um conjunto de formula es baseadas num repert rio acumulado de estere tipos de um meio rural distante leite palha animais bosta s o palavras chaves que rapidamente levam par dia e ao riso Muitas pe as escritas pelas elites na cidade traziam em seu teor uma vis o rural associada grosseria desgraciosa e tediosa Para a cidade os atributos s o bem mais 183 generosos como lugar das realiza es do saber da comunica o da luz do barulho da mundanidade e da ambi o Entretanto as situa es antes apresentadas conflitam com as ideias de homogeneiza o do espa o e da aparta o do urbano e rural Do mesmo modo urbano e rural n o esgotam do ponto de vista conceitual as pr ticas sociais que se materializam no territ rio Para a Amaz nia o modo de vida ind gena e a aldeia outro componente a ser considerado visto que nela como analisa Queiroz 1978 n o existe a contradi o campo e cidade os grupos sociais s o pequenos a divis o do trabalho n o complexa e n o existe concentra o urbana 4 5 O calend rio da vida do lugar Fora o relato de dois assalto
135. 0 Estudos realizados em Belterra indicam a diminui o da produ o de alimentos As culturas tempor rias s o as mais citadas pelos as produtores as de Belterra como produtos principais em seus ro ados Nota se que a produ o de feij o caiu 57 entre 2005 e 2006 passando de 726 Toneladas para 310 Toneladas A produ o de arroz tamb m sofreu queda de 28 neste mesmo per odo de 50 700 Toneladas em 2005 passa produzir 36 540 Toneladas Entretanto a produ o de milho foi ampliada de 17 700 Toneladas para 21 360 Toneladas um incremento de 21 entre 2005 e 2006 J a produ o de mandioca vem se mantendo a mesma desde o ano de 2004 ou seja 37 800 Toneladas FASE 2008 201 Enquanto nos levava para ver a planta o de maniva e frutas coqueiro mangueira caju lim o e banana ele relatou que parte do lote comprou com a venda de seu antigo lote A outra em tamanho menor de 100m x 100m comprou por R 2 400 00 dois mil e quatrocentos reais de um vizinho e pagou R 1 000 00 um mil reais de entrada e parcelas de R 100 00 cem reais por m s com o dinheiro da aposentadoria 192 para levar a energia el trica e com peda os de mangueira fez chegar a gua encanada at sua nova moradia Este agricultor planta mandioca para fazer farinha e toda produ o para consumo da fam lia dele e esposa filhos e netos O excedente quando h vendido na cidade de Belterra Tem tamb m uma pequena cria o de galinha e uma planta
136. 06 j se apropriou de grandes partes das terras dispon veis no lugar sendo as transforma es vis veis em reas da cidade e em suas imedia es dado o poder predat rio e mercantil desta a o Da adv m a tese e a confirma o de nossa pesquisa Por meio da tens o entre teoria e empiria no estudo de caso de Belterra e das media es multiescalares envolvidas vimos que as teorias da aparta o e oposi o pouco nos servem para o estudo das cidades da Amaz nia grifo nosso Assim se o real faz um movimento desafiando o pensamento este deve sentir se convidado a observ lo e a reconstru lo do ponto de vista das ideias em outra condi o Dito de outra forma como afirmava Ana Clara Torres Ribeiro em suas aulas de Metodologia e T cnica de Pesquisa no IPPUR UFRJ 2009 deve se buscar uma nova forma de pensar o pensamento Essa afirmativa nos remete a um ltimo esfor o anal tico nas considera es finais e se relaciona aproxima o entre os dois peda os de tempo estudados na pesquisa 232 7 CONSIDERA ES FINAIS Como considera es finais podemos argumentar que o fio condutor entre os dois per odos da experi ncia da Plantation de seringa de Henry Ford 1934 1945 e da presen a da soja na cidade nos anos 2000 remete a diferentes racionalidades que motivam a a o dos grupos sociais e econ micos destacando que a o do capital com base no apoio estatal destruiu ou desarranjou o modo de vida do
137. 10 00 para seringueiros enxertadores Comprometia se em dar creche moradia escola uniforme e material escolar para os filhos dos empregados assist ncia m dica hospitalar e dent ria para toda fam lia JORNAL DE SANTAR M 30 10 1943 Muitas fam lias de trabalhadores vieram de Fortaleza CE mas foram recrutadas em hospedarias de Bel m PA Um de nossos entrevistados Sr Tica hoje com 74 anos de idade veio para Belterra com seus irm os seguindo o sonho do pai funcion rio p blico de virar seringueiro e ficar rico Eu vim parar aqui porque meu pai ele tinha muita vontade de ser seringueiro cortar seringa no Acre n Naquele tempo o Acre era o eldorado do cearense muito cearense vinha pra c pro Acre trabalhava um ano e voltava pra l com dinheiro e o povo ficava n ouri ado com aquilo e vinha mais e mais e mais e papai era um desses incutido com essa vida Inclusive ele n o tinha menor necessidade de vir porque ele era funcion rio p blico l mas ele era o desejo dele era um sonho de vir pro Acre Ent o ele reuniu a fam lia que j era de seis filhos onde eu j tinha seis anos e veio aos trancos e barrancos com a passagem gr tis que o governo dava devido seca TICA Outubro 2009 56 At 1942 a moeda brasileira era o mil r is A partir de ent o passou a ser o cruzeiro 57 Conforme Costa 1993 o trabalhador recrutado pela Companhia fazia exames m dicos em Bel m Caso aprovado era embar
138. 2007 SENA Cristovam Fordl ndia breve relato sobre a presen a americana na Amaz nia In Hist ria ci ncia e fronteira na Amaz nia S o Paulo Instituto Butant Cadernos de hist rias da ci ncia v 4 n 2 p 90 107 jul dez 2008 SIMMEL Georg A metr pole e a vida mental 1902 In VELHO O G Org O fen meno urbano Rio de Janeiro Zahar 1967 p 13 28 SOUZA Marcelo Lopes Urbaniza o e desenvolvimento no Brasil atual S o Paulo tica 1996 248 SPOSITO M Encarna o Beltr o Desafios para o estudo das cidades m dias In XI Semin rio Internacional de la Red Iberoamericana de Investigadores sobre Globalizaci n y Territorio 2010 Mendoza Trabalhos completos Mendoza UNCUYO Universidad de Cuyo 2010 p 01 18 Para pensar as pequenas e m dias cidades brasileiras Bel m FASE ICSA UFPA 2009 Cidades m dias reestrutura o das cidades e reestrutura o urbana In Cidades m dias espa os em transi o S o Paulo Express o Popular 2007 p 233 253 SPOSITO Maria Encarna o ELIAS Denise SOARES Beatriz Ribeiro MAIA Doralice S tyro GOMES Edv nia T rres Aguiar O estudo das cidades m dias brasileiras uma proposta metodol gica In SPOSITO M E B Org Cidades m dias espa os em transi o S o Paulo Express o Popular 2007 p 35 67 TEIXEIRA Pery MAINBOURG Marie Therese BRASIL Mar lia Migra o do povo ind gena Sater Maw em dois contextos u
139. 30 115 MACHADO DA SILVA Luiz A LEITE M rcia S P Viol ncia crime e pol cia o que os favelados pensam quando falam desses temas Sociedade e estado Bras lia v 22 n 3 p 545 591 set dez 2007 Sociabilidade violenta por uma interpreta o da criminalidade contempor nea no Brasil urbano In RIBEIRO L C Q Org Metr poles entre a coes o e a fragmenta o a coopera o e o conflito S o Paulo Perseu Abramo Rio de Janeiro FASE 2004 p 291 315 MAGNANI Jos Guilherme Cantor Quando o campo a cidade fazendo antropologia na metr pole In MAGNANI J G C TORRES L L Org Na metr pole textos de antropologia urbana S o Paulo EDUSP 1996 p 1 30 MAHAR Dennis Pol ticas de desenvolvimento para a Amaz nia passado e presente In Desenvolvimento econ mico da Amaz nia uma an lise das pol ticas governamentais Relat rio de Pesquisa IPEA 39 Rio de Janeiro 1978 p 7 48 MARTINS Jos de Souza Fronteira a degrada o do outro nos confins do humano S o Paulo Contexto 2009 O senso comum e a vida cotidiana Tempo Social Revista de Sociologia da USP n 10 p 1 8 1998 chegada do estranho In A chegada do estranho S o Paulo Hucitec 1993 p 61 82 MARX Karl A ideologia alem S o Paulo Hucitec 1996 A mercadoria In Contribui o cr tica da economia pol tica Rio de janeiro Martins Fontes 1983 p 31 70 O m todo da ec
140. 42 Figuras de 44 a 47 Enfrentamento dos campos de poder na cidade de Santar m PA 143 Figura 48 Adesivo do Greenpeace contra a soja em Santar m 2006 144 Figura 49 Adesivo dos produtores de soja contra a presen a do Greenpeace Santar m 144 Figuras 50 e 51 Empresa Cargill no porto de Santar m PA 152 Figura 52 Mapa de localiza o de Belterra na Amaz nia 158 Figura 53 Mapa das 473 quadras de seringa do projeto Ford 161 Figuras 54 e 55 Horta comunit ria neserasessiarisasteranansiastss sine miaa aid cossdtaa aids sa dec sas eadaaad 172 Figuras 56 e 57 Frutas do lugar cupua u e bacaba ree 173 Figuta 58 Cria o de dalinhaS RS e SS A O A 174 Figuras 59 e 60 Cria o de abelha sem TErT O casuais nda ga A 177 Figura 61 Vis o parcial da cidade das casas e quintais 2004 177 Figura 62 a 67 Padr o construtivo das casas eseesseseseseseseesstsereseesseseresseseresresseesresreeseeee 180 Figuras 68 a 73 Instrumentos para a produ o de farinha i 193 Figuras 74 a 77 M quinas insumos e equipamentos usados na produ o de soja 196 Figura 78 Imagem de sat lite da cidade de Belterra 2004 203 Figura 79 planta o de soja ao lado da Escola Municipal e da Unidade de Sa de 207 Figuras 80 e 81 Campos de soja nas imedia es da cidad
141. 5 2006 2007 durante o trabalho realizado como t cnico contratado pela Federa o de rg os para Assist ncia Social e Educacional FASE e deslocado para aquela regi o do Par em idas sistem ticas de at 10 dias a cada m s O trabalho na rea do planejamento participativo aconteceu por meio de um conv nio entre o Observat rio de Pol ticas P blicas e Movimentos Sociais na Amaz nia COMOVA representado no ato pela FASE e a Prefeitura Municipal de Belterra Esse conv nio permitiu que t cnicos da FASE e professores da Universidade Federal do Par UFPA realizassem atividades sistem ticas formativas e de discuss o dos procedimentos pol tico metodol gicos com lideran as dos movimentos sociais t cnicos e secret rios de governo para a elabora o do Plano Diretor Participativo do munic pio de Belterra e o acompanhamento de sua aprova o pela C mara de Vereadores Esse projeto foi 24 financiado pela Funda o Ford e contou ainda com a participa o de professores da Universidade Luterana do Brasil ULBRA e da ONG Projeto Sa de e Alegria PSA ambas de Santar m PA Durante esse per odo pudemos conhecer a realidade da cidade e do munic pio criar uma base de dados e estabelecer uma rede de contatos que foi retomada no ano de 2009 durante os meses de outubro e novembro tendo por fim a nossa pesquisa de doutorado Processo este repetido durante os meses de mar o e abril de 2011 durante o segundo per odo
142. 5 p 411 que adverte que as rela es societ rias s o respons veis pela preserva o das totalidades sociais que v o muito al m da perspectiva econ mica Diz ela que pensar as transforma es atuais da vida urbana pela economia globaliza o mundializa o reestrutura o produtiva e reestrutura o urbana e pela pol tica neoliberalismo e crise da democracia embora de grande valia n o permite o acesso seguro ao tecido social uma vez que este ponto de partida secundariza a an lise do fazer social grifo nosso Ribeiro 2005 p 411 Esta autora apresenta a import ncia das pesquisas urbanas valorizarem o contexto a situa o o cotidiano e o lugar Com base nesta formula o procuramos desenvolver uma an lise que se preocupa em n o perder de vista a media o entre essas dimens es a saber a economia a pol tica o contexto e o cotidiano representado pelos modos de vida do lugar Nessa perspectiva ganha import ncia reconhecer as particularidades da Amaz nia e aquelas situa es que digam respeito s singularidades do lugar sem perder de vista a universalidade hegem nico que nelas se realiza Lembramos a proposi o de Santos 2008 de que a totalidade mundo n o se expressa em todos os lugares da mesma forma Da adv m a import ncia do percurso emp rico como sugere Telles 2006 para trazer ao debate das ci ncias sociais contextos pr ticas e trajet rias que ainda n o foram suficiente
143. 6 n 1 p 9 32 2004b ALONSO Sara CASTRO Edna Maria Processo de transforma o e representa o do rural urbano em Altamira In CARDOSO A C D Org O Rural e o urbano na Amaz nia diferentes olhares em perspectiva Bel m EDUFPA 2006 p 162 215 ALVIM Maria Rosilene Barbosa A sedu o da cidade Rio de Janeiro Graphia 1997 Notas sobre fam lias num grupo de oper rios t xteis In LOPES LEITE J S et al Org A reprodu o da subordina o Mudan a social no nordeste Rio de Janeiro Paz e Terra 1976 p 99 123 AMARAL Assun o Jos Pureza Popula es quilombolas no interior da Amaz nia organiza o cultural e conflito Anais do Semin rio Internacional Amaz nia e fronteiras do conhecimento Bel m NAEA UFPA 2008 Dispon vel em lt http www ufpa br naea siteNaea35 anais html geraCapa FINAL GT1 259 1295 20081128220546 pdf gt Acesso em 18 fev 2012 AMORIM Ant nia Terezinha dos Santos A domina o norte americana no Tapaj s Santar m Tiag o 1995 ANDRELLO Geraldo A cidade do ndio transforma es e cotidiano em Iauaret S o Paulo UNESP ISA NUTI 2006 238 BAINES Stephen G As chamadas aldeias urbanas ou ndios na cidade Revista Brasil Ind gena Bras lia v 1 n 7 p 15 17 nov dez 2001 Dispon vel em lt http www funai gov br ultimas artigos revista 7 htm 001 gt Acesso em 18 jan 2012 BARREIROS Tito L vio A concess o Ford e o gove
144. 945 da presen a recente da soja na cidade paraense de Belterra na Amaz nia brasileira No primeiro caso temos a constru o de uma cidade empresa na floresta a cria o de uma hierarquia sociofuncional com base no sistema fordista de produ o e uma sociabilidade marcada pela evita o da conviv ncia dos americanos em rela o aos brasileiros materializada pela cria o de espa os exclusivos de uso dos primeiros Nesse per odo Belterra aparece para o cen rio urbano n o pelo espraiamento da periferia como no processo urbano industrial vivido por v rias cidades brasileiras mas atrav s da urbaniza o pela verticalidade SANTOS 2006 Trata se da articula o de espa os descont nuos propiciada pela a o seletiva do capital com base no apoio estatal cujas escalas v o desde o lugar onde se realizou o projeto passando pela media o governamental nas esferas estadual e federal chegando at os Estados Unidos onde se localizavam as f bricas de Henry Ford No segundo caso analisamos a presen a da soja na cidade e seu entorno nos anos 2000 depois da emancipa o de Belterra do munic pio de Santar m O novo contexto resulta de uma a o planejada e seletiva que tem apoio pol tico em diversos n veis financiamento p blico flexibiliza o da legisla o ambiental e estudos cient ficos que subsidiaram a melhor localiza o do empreendimento A liga o entre os dois per odos encontra se no desarranjo dos modos de vida
145. AEA UFPA para um estudo de caso No entanto estava presente a preocupa o de n o restringir a an lise ao estudo de pequena escala j que eles n o s o autoexplicativos visto que a vida social do lugar envolve contextos pol ticos econ micos hist ricos e culturais mais amplos FELDMAN BIANCO 2010 Do mesmo modo Sabemos que uma an lise n o se faz sem o uso de categorias e estas al m de serem hist ricas datadas no tempo e no espa o tamb m variam segundo diferentes paradigmas As categorias preexistem e ao mesmo tempo s o criadas pela investiga o Elas tanto se fundamentam em conceitos j existentes como podem dar origem a novos conceitos GOHN 2000 p 263 A sa da encontrada foi por meio da articula o das dimens es do universal particular e singular do m todo dial tico de Lefebvre 1987 Aqui o universal refere se ao processo civilizat rio capitalista no qual a metr pole sua forma mais acabada mas que se faz presente tamb m nas pequenas e m dias cidades O particular diz respeito ao espa o subnacional a Amaz nia e suas especificidades e o singular a cidade de Belterra onde se realiza a media o dos indiv duos e grupos sociais com a totalidade mundo SANTOS 2006 Segundo Lefebvre 1987 p 227 todo ser concreto singular mas guarda rela o com a totalidade do universo Dessa forma o uso ou os momentos do conceito pressup e a conex o do singular ao universal pela media o d
146. Afonso Batista 80 anos ex seringueiro Nascido no Lago Grande munic pio de Santar m Entrevista realizada em mar o de 2011 9 Raimundo Nunes Torres Sabi 87 anos nascido em Fordl ndia ex seringueiro entrevista realizada em outubro de 2009 251 Entrevista cedida Inoc ncia 90 anos ex seringueira Atualmente reside em Bel m PA Entrevista realizada pela Prof Rosa Acevedo NAEA UFPA em julho de 2001 Cidade 10 Lara desempregada 46 anos desenvolve a agricultura na cidade Entrevista realizada em novembro de 2009 11 Ex tratorista 28 anos trabalhou numa propriedade de soja em Belterra Entrevista realizada em mar o de 2011 12 Criador de Abelha 27 anos Entrevista realizada em mar o de 2011 13 Estudante 22 anos Entrevista realizada em outubro de 2009 14 Estudante 21 anos Entrevista realizada em outubro de 2009 15 Funcion ria p blica 20 anos Entrevista realizada em outubro de 2009 16 Aposentado por invalidez 28 anos Entrevista realizada em outubro de 2009 17 Dom stica 38 anos Entrevista realizada em outubro de 2009 18 Agricultora na cidade 57 anos Entrevista realizada em outubro de 2009 19 Morador da estrada 8 54 anos Vizinho da planta o de soja Entrevista realizada em outubro de 2009 20 Morador da rea rural de Belterra 64 anos agricultor deslocado pela soja Vive em Belterra h 5 anos Entrevista realizada em outubro de 2009 Floresta Nacional do Tapaj
147. Al m de toda a infraestrutura constru da para fazer funcionar o seu sistema de produ o a CFIB criou uma hierarquia funcional de gerentes capatazes trabalhadores mais especializados e pe es Essa hierarquiza o foi representada e vivenciada pela popula o de Belterra na distribui o das moradias e dos indiv duos no espa o individualiza o do aprendizado ao controle e vigil ncia no espa o de trabalho somou se a defini o funcional dos lugares no espa o de moradia segundo sua utilidade como veremos abaixo expressando a rede de rela es constru das no per odo conforme as an lises de Foucault 1977 sobre o disciplinamento Essa distribui o espacial das moradias e dos indiv duos conforme prop s Foucault em Belterra deu se por meio das vilas Americana Mensalista Oper ria Timb Viveiros I e II e Pequi do alojamento dos solteiros e das cabanas dos seringueiros e campeiros 80 Segundo Foucault 1977 p 139 139 o ato corresponde realiza o com precis o de gestos e movimentos que lhes s o obrigat rios impostos e externos sua vontade Para cada movimento determinada uma dire o prescrita sua ordem de sucess o De forma a permitir a realiza o perfeita do movimento do bom emprego do tempo e do bom uso do gesto Um corpo disciplinado a base de um gesto eficiente Isto configura a docilidade do corpo conforme prop e este autor 81 Documentos internos da
148. Amazon awakers Amaz nia acorda onde se apresenta a ideia do eldorado adormecido farto de recurso natural que descoberto e usado pode ser um bem da humanidade Para tanto era necess rio dar o que lhe faltava tecnologia e financiamento Da a necessidade da miss o civilizadora americana em dire o aos povos atrasados e necessitados da tutela das sociedades civilizadas Essa proposi o ganha corpo e orienta a campanha da borracha durante a II Guerra Mundial WEINSTEIN 2007 grifo da autora 49 numa forma de induzir a moderniza o econ mica a partir da interven o pol tica onde o Estado se fez presente como ator principal dando sustenta o pol tica e econ mica ao capital encarregado de assegurar a industrializa o do pa s Esse per odo marcou o avan o da acumula o capitalista no Brasil a redefini o do papel econ mico do Estado a implanta o de um n cleo industrial de base e a afirma o do modelo urbano industrial enquanto eixo predominante da economia brasileira MENDON A 1990 Conforme analisou Fernandes 1970 essas mudan as corresponderam a transforma es estruturais na sociedade brasileira que se processaram desde o final do s culo XIX e que se estenderam pelo s culo seguinte com a urbaniza o e industrializa o do pa s e envolveram a luta pol tica entre os agrupamentos sociais conservadores do campo e aqueles residentes na cidade informados pela concep o urbana
149. B em Belterra dos modos de vida do lugar produ o do urbano na Amaz nia Interessa nos analisar nesta se o como se deu a produ o do urbano em Belterra Para isto devemos nos perguntar que transforma es ocorreram naquele lugar aonde a cidade n o existia e as pessoas viviam basicamente da atividade agr cola da pesca e da coleta dos frutos da floresta Que a es o capital realizou para concentrar m o de obra E em que bases ocorreu a re socializa o da popula o migrante na cidade empresa de Henry Ford Recorremos a Lefebvre 1991 p 71 que apresenta um esquema abstrato para analisar a urbaniza o cuja proposi o parte da urbaniza o zero inexist ncia da cidade a predomin ncia completa da vida agr ria da produ o agr cola do campo at chegar urbaniza o cem por cento absor o do campo pela cidade predomin ncia completa da produ o industrial at mesmo na agricultura Se fizermos um exerc cio emp rico tomando por base parte dessa proposi o te rica podemos apresentar o seguinte quadro em rela o Belterra com a CFIB o grande capital levou para a cidade e para o urbano grupos sociais que at ent o viviam da extra o de frutos da floresta da pesca e da agricultura nas margens dos rios Tapaj s Arapiuns Amazonas e Lago Grande deslocando os do lugar do trabalho o campo os rios a floresta e das rela es socioculturais que os envolviam vinculadas ao rural
150. Belterra ao sistema hidrel trico de Curu Una SANTOS 1984 O que temos em Belterra entre 1946 1994 um conjunto de iniciativas das esferas federal e estadual para manter vivo o projeto como criar um corpo pol tico administrativo liberar recursos para recuperar pr dios p blicos estradas manuten o dos seringais e contra o de pessoal tempor rio safristas Do mesmo modo intensificar as atividades ligadas produ o e comercializa o do l tex e cernambi cria o e comercializa o do gado produ o de mudas de frutas produ o e comercializa o de madeira e a presta o de servi os na rea de sa de para particulares No entanto esses procedimentos n o foram suficientes para evitar o fracasso desse projeto que sobreviveu at o in cio da d cada de 1980 114 Em 1980 existia em Belterra o seringal velho arrendado por 225 seringueiros e a quadra de pesquisa arrendada por outros 17 seringueiros cuja divis o dava quatro estradas contendo em m dia 247 seringueiras por estrada Para a rea de pesquisa 323 rvores por estrada Naquele ano a produ o de l tex centrifugado foi de 198 968 kg e o de cernambi 111 758 kg A produ o de mudas de citrus c co guaran caf pimenta do reino cupua u por exemplo chegou a 17 190 mudas que foram distribu das para agricultores da regi o do Tapaj s e Baixo Amazonas Nesse per odo a rea de total de Belterra era de 50 mil hectares compreendido
151. C T ROCHA G M Org Cidade e empresa na Amaz nia gest o do territ rio e desenvolvimento local Bel m Paka Tatu 2002 p 13 23 CHAGAS Clay Anderson N company town do alum nio concep es e pr ticas sociais In TRINDADE JR S C T ROCHA G M Org Cidade e empresa na Amaz nia 249 gest o do territ rio e desenvolvimento local Bel m Paka Tatu 2002 p 195 235 TURA Luiz Fernando Rangel et al A resigna o naturalizada os sentidos da BR 163 constru do por escolares do oeste paraense Relat rio do Projeto BR 163 e sa de impactos e estrat gia de a o Rio de Janeiro Funda o Fio Cruz e UFRJ 2008 VAINER Carlos B Lugar regi o na o mundo explora es hist ricas do debate acerca das escalas da a o pol tica Revista de Estudos Urbanos e Regionais v 8 n 2 p 9 29 ANPUR 2005 VARGAS Get lio Di rio In SOARES I Org Rio de Janeiro FGV 1995 v II 1937 1942 VEIGA Jos Ely de Cidades imagin rias o Brasil menos urbano do que se calcula Campinas Editores Associados 2004 VEIGA Jonas Bastos da LOUREN O JR Jos de Brito Diagn stico da atividade pecu ria desenvolvida pelo grupo executivo de produ o animal do Minist rio da Agricultura em Belterra Fordl ndia e Daniel Carvalho Relat rio de viagem Bel m 1974 20 p VELHO Gilberto Individualismo e cultura Rio de Janeiro Zahar 2004 7 ed Estilo de vida urbano e modernidade Revista E
152. FARIAS JR s d p 8 Em Santar m a presen a na cidade refere se busca dos servi os p blicos a comercializa o do excedente da produ o e pelo fato de que a sede da organiza o que congrega os quilombolas da regi o do m dio Amazonas se localiza por l AMARAL 2008 Por outro lado devemos observar que o urbano n o se esgota dentro da cidade pois sua mobilidade e fluidez ultrapassam os limites da formalidade e se instalam em reas rurais e 1 Farias Jr e Almeida 2011 fazem refer ncia a diversas etnias Yanomami Hiskariana Tukano Dessana Sater Maw que vivem na Regi o Metropolitana de Manaus no munic pio de Rio Preto das Evas por exemplo que conta com uma popula o de 300 ind genas Aten o especial dedicada aos 54 ind genas residentes na comunidade ind gena de Beija flor que se dedicavam produ o artesanal para um comerciante norte americano que explorava a exclusividade da m o de obra ind gena para a produ o de artesanato que por ele era vendido na Inglaterra Estados Unidos Alemanha dentre outros pa ses Contudo observam os autores que a presen a na cidade envolve tamb m a organiza o pol tica e constru o da identidade coletiva a luta pela posse da terra o enfrentamento com especuladores imobili rios e aliados o acionamento do Minist rio P blico Federal a Procuradoria de Justi a a FUNAI o CIMI a Universidade a constitui o do laudo antropol gico e um conjunto de out
153. J por consider las relevantes ao nosso trabalho Por fim incorporamos ao nosso estudo reflex es de alguns autores que tratam da quest o urbana ou de assuntos correlatos Cabe nos a importante tarefa de entender a cidade como um campo de pr ticas mais do que como um conceito Segundo Telles 2006 p 49 essas pr ticas devem ser compreendidas no contexto de sua produ o de forma a perceber os movimentos estruturais e seus deslocamentos as trajet rias de inser o e exclus o Esse exerc cio necess rio prop e a autora visto que precisamos reativar a tradi o cr tica das ci ncias sociais e construir par metros mais descritivos Isso quer dizer fazer um percurso mais explorat rio de forma a permitir a mudan a da categoria explicativa e a forma de colocar o problema e do mesmo modo identificar a profundidade dessas transforma es Diz ela que Ainda pouco se sabe como os processos em curso redefinem e interagem com a din mica societ ria a ordem das rela es sociais e suas hierarquias pr ticas sociais e usos da cidade Ainda ser preciso decifrar o modo como as atuais reconfigura es econ micas e espaciais redesenham o mundo social e seus circuitos os campos de pr ticas e rela es de for a TELLES 2006 p 49 Para Fernandes imposs vel apanhar os m ltiplos aspectos da mudan a social no Brasil atrav s de algumas f rmulas gerais O pa s n o s demasiadamente extens
154. Mota e a Unidade de Sa de para ilustrar a situa o apresentada pelo vereador 207 Visitamos a localidade de S o Francisco da Volta Grande Trevo que sede do distrito pol tico administrativo do mesmo nome criado pela Lei do Plano Diretor Participativo de 2006 e fica a 15 minutos de moto do centro da cidade Conversamos com uma moradora que nos informou que l vivem 210 fam lias em sua maioria mulheres e casais com muitos filhos que variam de 2 a 6 por casal As pessoas vivem dos sal rios da prefeitura da aposentadoria e dos servi os prestados aos ga chos Outras fam lias vivem da planta o de milho arroz e mandioca em lotes coletivos mantidos pelo trabalho familiar cujo resultado dividido entre os parentes envolvidos na produ o Poucos trabalham com a cria o de galinha 206 Figura 79 planta o de soja ao lado da Escola Municipal e da Unidade de Sa de Foto Pereira J C M 2011 Outro entrevistado fala da preocupa o de ficar marcado pela den ncia que fizer Isso pode ser identificado em v rias entrevistas onde v rios informantes ao relatarem as situa es que consideravam problem ticas pediam para n o serem identificados E a partir que um de n s denunciar eles v o ficar marcando quem foi l penalizar eles v o ficar marcando quem denunciou Conversamos com o presidente da C mara de Vereadores do Partido dos Trabalhadores PT sobre os problemas que acontecem na localidade d
155. NISY A Ve JAS Ss S A Universidade do Estado do Rio de Janeiro Talal UERJ E Centro de Ci ncias Sociais EM NR ESTADO Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas Jos Carlos Matos Pereira Os modos de vida na cidade Belterra um estudo de caso na Amaz nia brasileira Rio de Janeiro 2012 Jos Carlos Matos Pereira Os modos de vida na cidade Belterra um estudo de caso na Amaz nia brasileira Orientadora Prof Dra M rcia da Silva Pereira Leite Rio de Janeiro 2012 Tese apresentada como requisito parcial para obten o do t tulo de Doutor ao Programa de P s Gradua o em Ci ncias Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro CATALOGA O NA FONTE UERJ REDE SIRIUS CCSA P436m Pereira Jos Carlos Matos Os modos de vida na cidade Belterra um estudo de caso na Amaz nia brasileira Jos Carlos Matos Pereira 2012 256 f Orientador M rcia Pereira Leite Tese Doutorado Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas 1 Belterra PA Condi es sociais Teses 2 Sociologia urbana Teses I Leite M rcia Pereira II Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas II T tulo CDU301 811 52 Autorizo apenas para fins acad micos e cient ficos a reprodu o total ou parcial desta Tese Assinatura Data Jos Carlos Matos Pereira Os modos de vida na cidade Belt
156. P 2006 A urbaniza o brasileira S o Paulo Hucitec 2005 SILVEIRA Maria Laura Brasil territ rio e sociedade no in cio do s culo XXI Rio de Janeiro Record 2001 A metamorfose do espa o habitado fundamentos te ricos e metodol gicos da Geografia S o Paulo Hucitec 5 ed 1997 Os grandes projetos sistema de a o e din mica espacial In CASTRO Edna MOURA Edila A F MAIA Maria L cia Org Industrializa o e grandes projetos desorganiza o e reorganiza o do espa o Bel m EDUFPA 1995 p 13 20 1992 a redescoberta da natureza Estudos avan ados n 6 p 95 106 1992 SANTOS Paulo Rodrigues dos Tapaiul ndia Bel m Imprensa Oficial do Estado do Par 1974 SANTOS Roberto Sistema de aviamento e forma o de excedente na economia gom fera In Hist ria Econ mica da Amaz nia 1800 1920 S o Paulo T A Queiroz 1980 p 155 175 SANTOS Walmir Hugo dos O ano de 1980 em Belterra e Fordi ndia Bel m 1981 43 p Belterra e Fordl ndia a busca da emancipa o Bel m 1984 84 p SARGES Maria de Nazar Bel m riquezas reproduzindo a Belle Epoque 1870 1912 2 ed Bel m Paka Tatu 2002 SCHLESINGER S rgio NORONHA S lvia O Brasil est nu o avan o da monocultura da soja o gr o que cresceu demais Rio de Janeiro FASE 2006 SECRETO Maria Ver nica Soldados da borracha trabalhadores entre o sert o e a Amaz nia S o Paulo Perseu Abramo
157. RA 1930 Esses fatos segundo o autor das den ncias representavam o abuso de poder por parte da ger ncia da Companhia e que n o contava com seu apoio 106 Este mesmo entrevistado fala das inten es humanit rias do capitalismo praticado por Henry Ford Os preceitos que o Ford pregava eram preceitos interessant ssimos para a vida humana Ele tinha uma vis o pol tica muito diferente Diferente daquele pessoal que dominava na poca os norte americanos Diferente deles porque ele queria implantar uma pol tica de capitalismo tremendamente humanista n Pregava a igualdade de todos os funcion rios e se fosse todos tratados que tivesse a gua tratada tivesse a gua arrumada tivesse luz tivesse educa o instru o tudo isso ele exigia para o pessoal dele Ent o ele achava que m quina e homem deveriam ser tratados quase com igualdade entende Ent o eu achei muito importante a coisa da filosofia de vida do Ford Os relatos tamb m indicam que existiram formas de resist ncia no lugar mas n o foram suficientes para enfrentar a disciplinariza o e a coer o do sistema fordista Em Fordl ndia teve o Quebra Panela ato de insurrei o contra as prec rias condi es de trabalho e de alimenta o Carros foram virados equipamentos foram queimados o porto foi interditado pelos trabalhadores e muitos americanos se esconderam na floresta ou fugiram de canoa pelo rio com medo de serem mortos Mas a repress
158. Rurais de Belterra entrevista realizada em outubro de 2009 e mar o de 2011 31 Rosana 49 anos agricultora ex presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Belterra entrevista realizada em outubro de 2009 e mar o de 2011 32 Saulo 45 anos lideran a Sindical da rea da Sa de Entrevista realizada em mar o de 2009 Produtores de soja 33 Produtor de soja I paranaense 30 anos Entrevista realizada em abril de 2011 34 Produtor de soja II ga cho 42 anos Entrevista realizada em abril de 2011 BR 163 35 Agricultora 41 anos Entrevista realizada em mar o de 2011 36 Jovem agricultor 23 anos Entrevista realizada em mar o de 2011 37 Luiz agricultor 47 anos cearense Entrevista realizada em mar o de 2009 Governo 38 Geraldo Irineu Pastana de Oliveira 62 anos casado prefeito do munic pio de Belterra Entrevista realizada em outubro de 2009 e abril de 2011 39 Maria Ant nia Arcanjo 52 anos integrante da coordena o do Programa de Microcr dito do governo do estado do Par Entrevista realizada em outubro de 2009 40 Secret rio de governo 73 anos Entrevista realizada em mar o de 2011 41 T cnico de governo Entrevista realizada em mar o de 2011 253 Vereadores 42 Ademar Santos da Silva 46 anos vereador do Partido dos Trabalhadores PT Presidente da C mara de Vereadores do Munic pio de Belterra Entrevista realizada em mar o de 2011 43 Ernesto Domingues de Ol
159. S o Jorge que fica no planalto mas est dentro da FLONA tamb m Argumentamos que para o caso estudado viver na cidade n o significa necessariamente abandonar permanentemente o lugar de origem nem o rompimento total dos v nculos materiais e simb licos pret ritos Esse ind gena quer viver na cidade sem ter que abandonar a sua identidade sociocultural mesmo reconhecendo que a sua vida agora se fa a sob novas bases Sahlins 1997 p 113 115 faz cr ticas proposi o do continuum folk urbano de Redfield e ao dualismo que marcou por algum tempo o pensamento antropol gico Segundo ele necess rio superar o pensamento extremo das oposi es entre moderno e o tradicional o homem citadino e o homem tribal o urbano e o rural de forma a perceber a possibilidade de exist ncia de uma popula o translocal capaz de habitar ambos os mundos mantendo os como partes interdependentes de uma totalidade sociocultural grifo nosso Os la os n o se quebram uma vez que a ida para a cidade conta com apoio de parentes que se estabeleceram anteriormente que os migrantes recebem produtos da aldeia e enviam dinheiro para seus dependentes que as aldeias esperam destes ajuda financeira para suas cerim nias e projetos coletivos Diz Williams 1989 58 que campo e cidade s o palavras poderosas pois remetem a uma variedade de significados A campo geralmente associa se a ideia de forma natural de vida e de paz inoc ncia e
160. Yw amp loc mdsSenarc gt Acesso em 17 jan 2012 178 Almeida 2004 p 43 fala da produ o baseada na extra o atrav s do trabalho familiar em cooperativas de produtores diretos de base artesanal ou incorporando tecnologia simples agregando valor aos frutos da floresta e que comercializada em circuitos espec ficos de mercado 179 A FLONA de posse e dom nio p blico sendo que as reas particulares inclu das em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que disp e a lei Nas FLONAS admitida a perman ncia de popula es tradicionais que a habitam quando de sua cria o em conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade A Floresta Nacional FLONA uma rea com cobertura florestal de esp cies predominantemente nativas e tem como objetivo b sico o uso m ltiplo sustent vel dos recursos florestais e a pesquisa cient fica com nfase em m todo para explora o 163 S o antigos moradores do rio Tapaj s ou migrantes nordestinos que se deslocaram para l com o fim do projeto de Henry Ford L tamb m est o os 576 ind genas da etnia Munduruku que vivem nas aldeias de Marituba Takuara e Bragan a nas margens do rio Tapaj s e que lutam pelo reconhecimento de sua etnicidade e pela demarca o de suas terras Voc dificilmente v uma cerca no Tapaj s N o tem cerca Tudo coletivo Eles sabem at onde vai sua rea de trabalho e da sua fam lia Mas ningu
161. a Figura 36 Escola Benson Ford Vila 129 Foto Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1937 Na parte da tarde Get lio Vargas percorreu as terras da Companhia conheceu os dois milh es de p s de seringueiras plantadas racionalmente presenciando uma demonstra o do plantio destas e foi informado de que moravam na cidade cerca de sete mil pessoas contando 109 com hospital luz pr pria gua encanada escolas e cinema Em seguida visitou o hospital e conversou com doentes prossegue o jornal O presidente Get lio Vargas desembarcou em Belterra s 13 horas e ap s o almo o visitou planta es e departamentos As 17 horas esteve na pra a de esportes da Companhia onde discursou perante 5 000 pessoas sendo calorosamente applaudido referiu se aos salarios da Ford superiores ao minimo garantidos na lei do Salario minimo noite houve um banquete de 50 talheres no Club House que o gerente sr Braunstein offereceu em nome do Sr Henry Edsel Ford FOLHA DO NORTE 10 10 1940 p 3 Durante o banquete houve pronunciamento de dirigentes e funcion rios em posto de comando da Companhia agradecendo a presen a e o apoio do presidente ao empreendimento para a produ o de borracha em larga escala Em seguida Vargas agradeceu a recep o a ele direcionada e falou da import ncia do trabalho desenvolvido pela Companhia Ford para o ressurgimento econ mico da Amaz nia Elogiou a disciplina a organiza o e os proce
162. a es por meio de aliciamento de gestores municipais pela compra por pre o baixo ou pela troca por ve culos e motos H relatos de situa es de press o ou mesmo de amea as sobre os agricultores que viviam no lugar 190 Um dos moradores da cidade aposentado ex funcion rio do Minist rio da Agricultura diz que as antigas quadras dos seringais que estavam sob a posse dos seringueiros por meio de cess o dada pelo Minist rio da Agricultura foram compradas ou ocupadas pelos produtores de soja j que eles vieram com muito dinheiro e os moradores da cidade que detinham 16 hectares de terra achavam que era uma boa oportunidade de tirar o p da lama Ent o eles conseguiram esses 16 hectares e vendiam barganhavam barganho n o eles come aram a vender por pouco pre o reduzido quase insignificante para quem conhece Mas para eles que n o tinham nada os seringueiros que nunca tinham visto 3 mil 5 mil na m o era espetacular A come aram a entregar terra em banda de l certo E eram os sojeiros logo t pago Outros foram vendendo um pouco mais caro Tinha gente que vendia a mais de 50 mil os 16 hectares Segundo nosso entrevistado a soja traz vantagem econ mica mas prejudica o meio ambiente e contrata pouca m o de obra uma vez que o trabalho mecanizado Por essa situa o ele n o v vantagem social para o munic pio Outro relato apresenta o impacto da soja na vida da cidade Como s o produtores que
163. a zona de conforto n o precisa mexer com a estrutura pr via do pensamento que observa o real O movimento contr rio exigir do analista o desapego s suas convic es e a abertura para aceitar outras possibilidades Podemos diante desta situa o optar por duas formas de organiza o do pensamento A primeira reconhecer que se trata de cidades mas n o da cidade do conceito e sim da cidade do movimento do real que cont m e est contida num contexto hist rico social pol tico e cultural mais amplo Do ponto de vista do capital trata se 230 de cidades incompletas LEFEBVRE 1968 onde as rela es capitalistas de produ o n o amadureceram Isso possibilita admitir a coexist ncia de outras formas de produ o e modos de vida pr capitalistas ou n o capitalistas RIBEIRO 2006 p 12 No caso em an lise do ponto de vista do lugar significa admitir que mesmo no capitalismo existem rela es sociais que n o se fazem em bases mercantis no uso da terra e da natureza Aqui podemos levantar a hip tese de que a divis o social e territorial do trabalho n o precisou desse espa o e das pessoas do lugar para o processo de acumula o da riqueza Esse esquecimento por parte do capital permite assim que a vida do lugar se realize e se sustente em outros par metros materiais e simb licos Contudo observamos que a parcialidade capitalista j se faz presente por meio das atividades comerciais e de servi
164. a E pouca gente sabe Santar m fica no cora o da floresta no encontro dos rios Amazonas e Tapaj s A cidade de 300 mil habitantes est no centro de uma disputa feroz De um lado fazendeiros vindos de outros estados do pa s principalmente Rio Grande do Sul e Paran Eles querem usar as amplas terras ao redor da cidade para plantar soja Alimentar o pa s o lema deste grupo A gente acha que a soja mais um produto digamos assim que vem somar ao desenvolvimento da regi o defende Adinor Batista presidente do sindicato rural Do outro lado ecologistas Igreja Cat lica e os moradores antigos da regi o Quando a gente diz que na Amaz nia a impunidade mata e desmata porque mata a irm Dorothy mata l deres sindicais e desmata a floresta argumenta padre Edilberto Senna h duas semanas ecologistas do Greenpeace tentaram bloquear um carregamento de soja para chamar a aten o para a destrui o da floresta Os seguran as da empresa impediram a a o A Pol cia Federal foi chamada Um agente sacou a arma e amea ou os ativistas Logo depois propriet rios rurais invadiram o barco do Greenpeace e promoveram um quebra quebra Resultado da confus o quatro feridos 14 pessoas presas todas manifestantes nenhum fazendeiro FANT STICO 06 12 2006 3 4 A chegada do estranho Os migrantes rec m chegados na Amaz nia Oriental a partir do final da d cada de 1990 s o fam lias de pequenos
165. a sociedade ind gena e por fim 4 ser o lugar da pobreza e de sua espacializa o por meio da segrega o das classes sociais Mais recentemente ao propor a sociedade urbana como um conceito sociol gico Lefebvre 2002 observa que a Sociedade Urbana aquela nascida da industrializa o e dos avan os decorrentes da produ o do conhecimento Essa premissa permite fazer uma diferencia o com outras cidades j experimentadas anteriormente pelas sociedades Dessa forma constitui se como uma hip tese te rica e ponto de partida para apreender a realidade urbana Nesta perspectiva como j vimos no cap tulo III partir se ia de um marco zero de urbaniza o onde haveria um predom nio total da natureza at a sociedade urbana sua total e principal express o manifestada atrav s da urbaniza o completa concentra o urbana xodo rural extens o do tecido urbano subordina o completa do mundo agr rio ao mundo 213 Como sabemos Simmel n o era da Escola de Chicago mas como orientador e interlocutor de Park forneceu elementos te ricos e anal ticos que contribu ram com aquela formula o 221 urbano LEFEBVRE 2002 p 27 Nela as rela es sociais t m por base a l gica econ mica que ganha dimens o de universalidade Raz o lei autoridade t cnica Estado e a classe que mant m a hegemonia social servem como elementos mediadores de sua materializa o Para este autor o urbano a a
166. a Gradua o em Ci ncias Sociais e ao N cleo de Altos Estudos Amaz nicos NAEA pelo acolhimento na especializa o em Gest o P blica Planejamento e Meio Ambiente FIPAM e no mestrado em Planejamento do desenvolvimento PLADES Especialmente Saint Clair Cordeiro da Trindade Jr Ge grafo meu primeiro mestre e orientador nas duas situa es Tamb m sa do meus professores da Gradua o de modo especial Hecilda Veiga e Auril a Abel m orientadora e co orientadora respectivamente e meus professores da especializa o e mestrado como Francisco Costa o Chiquito que me aconselhou a aproveitar meus estudos para dar saltos qualitativos na intelig ncia e n o apenas subir os degraus da comodidade acad mica e a Rosa Acevedo pela permiss o de uso de uma entrevista feita por ela com uma ex seringueira O mesmo pensamento se estende a Jos Aldemir UFAM que me dirigiu palavras de apoio para eu pudesse seguir ao doutorado e continuar meus estudos Ao Programa de P s Gradua o em Ci ncias Sociais PPCIS UERJ especialmente professora M rcia Pereira Leite minha orientadora que compartilhou das formula es nascentes at a finaliza o da tese Tamb m me apresentou as quest es como favela viol ncia e sociabilidade carioca e me ajudou a organizar o pensamento e a an lise por meio da oficina de textos e leitura O mesmo agradecimento se estende aos dirigentes da institui o durante a minha estada por l Miriam S
167. a a popula o do lugar e acarreta novas formas de sociabilidade com base na evita o Esse rearranjo faz se com base na tens o e no conflito e n o pela rela o de cordialidade entre as partes Desse modo podemos identificar alian as pol ticas por motiva o econ mica entre os de fora e os de dentro no fazer cotidiano da vida na cidade tamb m se apresentam situa es de resist ncia por meio da luta pol tica como forma de manter as rela es de solidariedade e coopera o como caracter sticas do lugar Diz Santos que Os grandes objetos tem um papel de acelera o das rela es predat rias entre o homem e o meio impondo mudan as radicais natureza Na medida em que os atores rec m chegados tragam consigo condi es para impor perturba es o acontecer em uma dada fra o do territ rio passa a obedecer a uma l gica extra local com uma quebra s vezes profundas dos nexos locais SANTOS 2006 p 253 254 Continua o autor apresentando que N o existe um espa o global mas apenas espa os da globaliza o O mundo necessita da media o dos lugares o mundo escolhe alguns lugares e rejeita outros e nesse movimento modifica o conjunto dos lugares o espa o como um todo SANTOS 2006 p 337 338 No caso em an lise isso aconteceu no final dos anos de 1990 quando chegaram os produtores de soja e se apropriaram de grande por o de terra na cidade e em suas imedi
168. a e acolhida nos momentos de grande precis o Ant nia Elvis Dermei Erasmo Framilene Maria Gito e demais funcion rios da Coordenadoria de Planejamento COPLAN e Coordenadoria de Comunica o pela acolhida e pelo espa o de pesquisa e descanso Madalena Diana M nica Waldemar Enfim aos moradores de Belterra que me receberam com carinho e respeito e todos aqueles que compartilharam comigo por meio dos depoimentos as mem rias e lembran as da vida do lugar Especialmente Erasmo Moura Tica Sabi Joaquim Pedro Francisca Ant nio Chardival e ao Centro de Conviv ncia do Idoso de Belterra Toninha pelo acolhimento pela m sica e pelas informa es sobre Belterra e a Ant nio Vieira pelas horas de depoimentos que me informaram sobre as lutas sindicais durante os anos de 1970 e 1980 especialmente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santar m D Irlanda pelas frequentes conversas sobre a vida rural Francisca e demais lideran as do STTR de Belterra Manuel Edvaldo do STTR de Santar m demais lideran as do sindicato e as cozinheiras pelo almo o por tantas vezes desfrutado Ao Lica J nior e Maria pela acolhida no Hotel Bela Terra durante meu trabalho de campo e aos funcion rios pela aten o dispensada Ao coordenador do Instituto Boanerges Sena Cristovam Sena pela disponibiliza o do material hist rico sobre a Companhia Ford Industrial do Brasil e pela conversa sobre o per odo Ford
169. a favoreceu a implanta o de pr ticas t cnicas e econ micas predat rias que desestruturou o espa o socioambiental da regi o No caso da implanta o de hidrel trica de Tucuru no Par isso ficou evidente Deslocamento de popula o desarranjo das pr ticas socioculturais existentes dificuldade de di logo com as organiza es sociais locais subestima o dos impactos sobre a vida dos remanejados indeniza o insuficiente para reorganiza o das fam lias nas reas de reassentamento desrespeito ao direito de indeniza o de fam lias ou pagamentos inexpressivos e o favorecimento de pr ticas clientelistas de governantes s o situa es analisadas pelo autor Isso implica desconsiderar segundo ele o universo n o mercantil da natureza e dos modos de vida existentes naquele lugar a brusca penetra o do mundo local pela din mica do mercado e da moeda 119 servis entre o seringueiro e o seringalista as longas trilhas de seringueiras plantadas aleatoriamente que exigiam grandes deslocamentos no interior da floresta a dificuldade de acesso aos seringais para abastecimento de mantimentos dos seringueiros as longas jornadas de trabalho e o m todo simples de prepara o do l tex como a defuma o que consistia em lev lo ao fogo a fim de dar lhe consist ncia SANTOS 1980 Belterra aparece para o cen rio urbano n o pelo espraiamento da periferia como no processo urbano industrial vivido por v rias cida
170. a firma eles mandavam pintar o padr o era esse verde e branco porta verde e parede branca as casas s o feitas de madeira de castanheira era tirado a na serraria pra eles fazerem uma casa dessa era um dia um dia eles cortavam uma casa dessa era r pido que eles faziam porque j vinham as pe as todas aparelhadas s era armar ERASMO Outubro 2009 FOTO ARQUIVO PESSOAL OSVALDO TEIXEIRA GOES e t gt mi Figura 19 Casas da Vila Mensalista Foto Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1939 Na Vila Oper ria figura 20 moravam trabalhadores com alguma especializa o como mec nicos que consertavam os carros e m quinas os marceneiros que faziam as mob lias para as casas os carpinteiros que constru am as casas na cidade os torneiros que faziam as pe as para as m quinas e ve culos os serradores que cortavam as madeiras e os tratoristas que operavam o trator que era usado para abrir as estradas e preparou o campo de avia o trabalho este desenvolvido com o aux lio do maquin rio trazido dos Estados Unidos Eram casas menores com sala dois quartos e cozinha 91 Figura 20 Casas da Vila Oper ria Foto Pereira J C M 2009 Na Vila Viveiros I e II figura 21 moravam os trabalhadores que cuidavam das mudas de seringueiras As casas eram conjugadas duas casas juntas parede com parede feitas de madeira com parte da estrutura lateral coberta por folhas de zinco L moravam duas fam
171. a sexta era essa a minha vida l na Col nia Mas eu tamb m nunca fiquei sem arroz nunca fiquei sem a minha galinha ROSANA Outubro 2009 H pessoas que mesmo morando e trabalhando na cidade nos fins de semana se deslocam para a rea rural a fim de realizar trabalhos pastorais pol ticos e cuidar da ro a E de l trazem produtos aliment cios para se manterem na cidade durante toda a semana Processo este repetido sistematicamente por conta da fam lia ter uma casa na cidade e outra no campo a uma dist ncia de cerca de doze quil metros percorridos de moto ou bicicleta A rea rural o lugar onde v o buscar a mat ria prima para os trabalhos que desenvolvem conforme narrou uma artes 190 Recentemente fomos informados que nossa entrevistada j voltou para o seu lote na rea rural do munic pio depois que deixou a dire o do STTR de Belterra 178 Aqui na cidade ultimamente eu estou trabalhando com produtos artesanais na confec o de guloseimas por exemplo eu fa o chocolates eu fa o licores eu fa o doces e tamb m trabalho na parte artesanal de produtos com sementes com casca ra zes eu confecciono pe as por exemplo colares pulseiras bolsas cintos rvores de natal essas coisas que a gente utiliza mat ria morta da natureza Eu aproveito eu trabalho na reciclagem daquilo que a natureza me oferece Ent o eu fa o um aproveitamento da natureza Na realidade eu n o pre
172. a sua base social e a opini o p blica com den ncias dentro e fora do Brasil bem como negociando com diversas inst ncias governamentais outro projeto de desenvolvimento Podemos por fim constatar pelo estudo realizado que o projeto de moderniza o capitalista instado na regi o 1 excludente e expropriador dos recursos naturais de povos etnias e grupos sociais ali estabelecidos por seguidas gera es 2 predat rio em rela o natureza e aos modos de vida preexistentes que precisam ser destru dos ou desarranjados para que novas bases de base mercantis se instalem 3 a a o conjugada do capital e suas redes econ micas e do Estado nas suas diferentes manifesta es pol ticas parlamentos legislativos executivos normas pol ticas e financiamento conduz ao uso do territ rio vivo para fins de mercado como se esta fosse a nica op o de realiza o da vida social 4 cria condi es para a forma o de campos de poder que por meio da pol tica n o negam identidades e particularidades mas fazem enfrentamentos conjuntos apresentando formula es e proposi es pr ticas em bases humanit rias e do reconhecimento dos direitos sociais Desta forma as proposi es n o se fazem somente pela ades o mas pela resist ncia que se fundamenta tamb m em perspectivas que envolvem o enunciado de valores societ rios e que ultrapassam as fronteiras do urbano e do rural para ganhar a forma do territ rio e das territorialidade
173. ado do Par a Floresta Nacional do Tapaj s sob jurisdi o do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal rg o vinculado ao Minist rio da Agricultura com a rea estimada em 600 000 ha seiscentos mil hectares dentro dos seguintes limites e confronta es Oeste Rio Tapaj s Leste Rodovia Cuiab Santar m Norte Reta que passa pelo marco 50 cingiienta da Rodovia Cuiab Santar m e por um ponto de latitude igual a 2 45 S dois graus e quarenta e cinco minutos Sul margem direita do Rio Tapaj s Sul Rio Cupari e seu afluente Santa Cruz tamb m chamado de Cupari Leste at a intersec o deste ou do prolongamento de seu eixo com a Rodovia Cuiab Santar m conforme trata o artigo primeiro 159 Segundo levantamento do STR de Santar m l moravam 330 fam lias 2 157 habitantes que a a o do capital com base no apoio estatal buscava desestruturar LEROY 1991 Diz o autor que Com incentivos da Sudam duas firmas madeireiras de Bel m a Amazonex Exportadora Ltda e a Santa Isabel Agroflorestal Ltda que em 1977 tinha ganho licita o para explora o da Flona tinham a pretens o de ocupar a margem direita do Tapaj s numa extens o de cerca de 60 km de frente por 100 km de fundo as firmas n o usavam da viol ncia aberta mas da desinforma o da ocupa o silenciosa e insidiosa das promessas do progresso e emprego e da autoridade do Incra Acontece que os lavradores moravam l
174. aixa d gua de mil litros onde faz reserva de gua para a planta o Esta moradora relatou que estava apenas h tr s meses na Feira do Produtor e a renda atrav s dela obtida d para ir quebrando o galho A Feira s se realiza aos s bados e o movimento agora pouco teria sido melhor no in cio no per odo da inaugura o no m s de agosto de 2009 Reclama ainda da falta de organiza o da Prefeitura que inaugurou o espa o antes de ter produ o para vender Segundo ela era necess rio pelo menos tr s meses para plantar e ter a produ o mas tudo foi muito corrido o curso de capacita o foi de apenas tr s dias e a Prefeitura inaugurou o local um m s depois As pessoas procuram milho 187 No munic pio s o 2 500 fam lias abastecidas pelo sistema de gua encanada e 810 fam lias pelo carro pipa segundo dados da Secretaria Municipal de Obras Via o e Infraestrutura BELTERRA 2009 174 macaxeira farinha quiabo maxixe e tamb m por frutas mas n o encontram Isso dificulta o movimento na Feira Relata que al m de vender na feira tamb m vende em casa Antes tinha uma boa freguesia mas isso mudou pois todos os moradores da vizinhan a tamb m passaram a plantar e sua freguesia diminuiu Hoje a maior parte de sua renda vem da venda na feira na qual chega s seis horas da amanh e de onde sai geralmente por volta do meio dia Mas n o depende somente disso j que pensionista e tem apenas dois f
175. alou 2006 p 77 que a hist ria do passado est corporificada e incorporada nos espa os e seus artefatos tra os materiais da vida social que s o vetores e refer ncias de pr ticas e rela es que s o atuais Assim ainda hoje se ouve o apito da sirene que marca o ritmo da vida na cidade heran a deixada pelos americanos Perguntamos a um antigo morador da cidade por que a sirene ainda toca hoje Ele nos respondeu Ela toca por uma quest o de uma tradi o uma tradi o da poca em que foi colocada pelos americanos e que ela volta a lembrar justamente o tempo o come o dessa empresa que era justamente o Henri Ford Porque eu acredito que se tirar esse apito e nunca mais apitar fica uma coisa assim um pouco esquisito e mais triste para aquelas pessoas 115 Os hidrantes vermelhos pelas ruas a caixa d gua de ferro e as casas de madeira em cor branca e de janelas verdes com suas vilas em diferentes formatos Vila Americana Vila Oper ria Vila Mensalista Vila Timb Vila Viveiros I e I Vila 129 Vila Pequi os alojamentos dos solteiros e as cabanas de palha dispostas ao longo das estradas dos antigos seringais expressavam a estratifica o social do per odo mas saltam aos olhos no momento atual e deixam na paisagem o encontro entre o passado e o presente Afinal como ressalta Santos 1997 p 68 a paisagem um conjunto de formas heterog neas de idades diferentes de peda os de tempo
176. amea as que vem sofrendo O plano de refer ncia socioespacial dos conflitos inclui as localidades de Gleba Nova Olinda Pacoval Lago Grande Jabuti Tracu Garraf o igarap das Pedras e a estrada de Curu Una dentre outras No entanto a situa o mais complexa e remonta ao in cio da d cada de 2000 pois inclui o assassinato do agricultor Jos Orlando em 2003 envolvendo madeireiros e policiais a expuls o de agricultores de suas terras e o inc ndio de 25 casas nos anos de 2004 e 2005 cujas fam lias viviam nessas reas desde os anos de 1960 H grilagem de terra extra o ilegal de madeira e a regulariza o ilegal de terra para empres rios por parte dos rg os governamentais Essa lideran a teve que se expor diante dos conflitos existentes apresentando nomes para a Comiss o Parlamentar de Inqu rito CPI da Terra coordenada pela C mara dos Deputados que investigou a grilagem de terra no oeste do Par Ela relata que sempre ouviu falar da lista dos nomes marcados para morrer no Sul do Par mas agora vive a mesma situa o e desabafa A gente que nasce livre tem um tipo de vida pra liberdade pra viver pra expressar o direito de ir e vir quando a gente passa por isso uma situa o muito delicada A gente deixa de viver porque viver n o significa somente o que voc t respirando t falando t presente 156 Este sindicato conta com 20 mil associados e est presente em 410 comunidades por meio
177. amentares em mbito municipal estadual e federal setores da administra o governamental pequenos e m dios empres rios etc articulados em redes sociais de interesse comum 131 Segundo por considerarmos esta quest o como fundamental a perspectiva do conflito se amplia dada as dimens es pol tica econ mica social ambiental e cultural do mesmo Desse modo atentamos racionalidade que motiva a a o se prioritariamente o lucro ou a satisfa o das necessidades humanas em bases n o mercantis se usar sem ser predat rio ou usufruir at a exaust o sem a preocupa o com a preserva o e com o futuro se as formas de uso e apropria o do lugar se d o em base coletiva ou instauradas na propriedade privada e individual s o dimens es consideradas Atos estes geradores de tens es e contradi es de tal forma que podemos defini lo segundo a proposi o de Acselrad como conflitos socioambientais Acselrad 2004 p 15 analisa tr s tipos de pr ticas relacionadas ao mundo social e sua base material A primeira as formas t cnicas que correspondem ao uso transforma o biof sica extra o inser o e deslocamento de materiais Em seguida as formas sociais de apropria o instaurada na desigualdade historicamente constitu da de acesso aos recursos Por fim remete produ o dos significados e ordenamento do mundo que comanda atos e pr ticas diversas a partir de categorias mentais esquemas de perc
178. amento causado pela falta de mata ciliar O avan o das planta es sobre trilhas e ramais tradicionalmente utilizados por moradores locais foi amostrado em doze pontos Esses casos t m gerado constantes conflitos entre sojeiros e comunit rios Observa se assim que para viabilizar as novas modalidades produtivas foi necess rio destruir ou desarranjar os modos de vida preexistentes pautados na pequena propriedade no uso da m o de obra familiar no trabalho n o mecanizado na produ o para alimentar as fam lias ou na comercializa o em pequena escala e cujas premissas estiveram voltadas mais para o valor de uso da terra e menos para o valor de troca numa pr tica mais equilibrada e 5e Zv gt 146 menos predat ria em rela o natureza e das rela es sociais envolvidas nesse contexto 145 x O EE a Os nomes dos entrevistados de agora em diante ser o fict cios visto que alguns deles est o amea ados de morte e outros temem por sua seguran a 146 de as 2 E Esta caracteriza o da agricultura familiar como se autodenomina essa categoria de trabalhadores est mais relacionada pouca oportunidade econ mica de acesso a m quinas e equipamentos ou aos avan os tecnol gicos do que propriamente a uma op o deliberada pela atividade artesanal manual Isso pode ser deduzido a partir da an lise de documentos proposi es 139 Estudos realizados por Tura et al 2008 indicam que
179. aniza o brasileira A partir de 1946 Belterra j est sob o comando do governo brasileiro Isso se prolonga at o in cio da d cada de 1990 quando surge o processo de emancipa o da cidade Embora este per odo n o seja alvo de an lise da tese apresentamos abaixo algumas informa es a titulo de contextualiza o 2 5 O per odo de transi o entre 1946 1994 Com a sa da da CFIB de Belterra em dezembro de 1945 toda infraestrutura constru da pelos americanos foi repassada ao governo brasileiro pelo valor simb lico de 122 pouco mais de US 240 mil d lares Nos anos seguintes um conjunto de procedimentos pol tico administrativos do governo federal definiu as responsabilidades institucionais desta esfera bem como a estrutura e corpo funcional al m da dota o or ament ria De partida ficou sob a guarda do Minist rio da Agricultura que continuou desenvolvendo as atividades relativas extra o da borracha Primeiramente ficou sob responsabilidade do Instituto Agron mico do Norte IAN no ano de 1946 que estava sediado em Bel m e no final da d cada seguinte 1958 passou 102 qto a se chamar Estabelecimento Rural do Tapaj s ERT por meio de lei federal Recursos p blicos foram investidos para manter economicamente o empreendimento e parte dos ex 104 Outros funcion rios da CFIB foram transformados em servidores p blicos federais continuaram produzindo sem v nculo empregat cio
180. antes do crash de 1929 vivenciava um bom momento Isto conferia 56 ind stria automobil stica um papel de destaque j que a produ o de autom veis ultrapassava 23 milh es de unidades Havia assim uma demanda interna por borracha al m da necessidade do controle estrat gico desta mat ria prima em decorr ncia das disputas econ micas com outras pot ncias europ ias como Inglaterra Holanda e Fran a no mercado internacional COSTA 1993 A Amaz nia vivia um per odo de estagna o econ mica p s boom da borracha que vai da d cada de 1910 at meados da d cada de 1940 Em decorr ncia disso houve perda de renda dos estados produtores de seringa queda na oferta de postos de trabalho precariza o das condi es de vida dos migrantes antigos seringueiros e outras categorias de trabalhadores dependentes daquela economia bem como fragiliza o pol tica das oligarquias locais no cen rio nacional Mesmo iniciativas como o Plano da Borracha em 1912 que apresentava facilidades de isen o fiscal acesso s terras devolutas do Estado e aos recursos naturais para o capital internacional n o foram suficientes para assegurar o sucesso desejado com o plano MAHAR 1978 No entanto com a visita da miss o americana para conhecer reas da Amaz nia onde pudessem desenvolver futuros projetos e com a realiza o de estudos de viabilidade econ mica que duraram aproximadamente dois anos esse quadro come ou a mudar A
181. antitativo e por considerar que cidade aquilo que o Estado define sua elabora o n o alcan a as cidades empresa Como analisou Piquet 1998 esta modalidade de cidade uma cria o do capital para dotar de servi os e infraestrutura urbana aqueles lugares escolhidos para o desenvolvimento da atividade industrial mas que n o contam com essa condi o As company towns ou new towns por exemplo mesmo n o tendo popula o acima de 20 mil habitantes expressam a vida urbana Estas cidades empresa criadas por empreendimentos da minera o na Amaz nia representam enclaves dentro de munic pios e se dimensionam pela capacidade de oferta de bens e servi os para os funcion rios da empresa o que n o estendido para o conjunto da popula o onde se realizam esses empreendimentos TRINDADE JR ROCHA 2002 VICENTINI 1994 Como exemplo podemos tomar Monte Dourado Vila de Tucuru Porto Trombetas Caraj s e Vila dos Cabanos cuja popula o varia entre 3 200 a 12 000 habitantes TRINDADE JR 2010 Observamos que a cidade empresa n o reconhecida pelo Estado uma vez que no munic pio segundo legisla o federal s pode haver uma sede elevada categoria de cidade e que lhe d o nome conforme o Decreto Lei n 311 de 02 03 1938 que disp s sobre a divis o territorial do pa s Contudo vale ressaltar que h uma mudan a na estrat gia do capital em rela o cidade empresa pois ele passa a incorporar a estrutura pr
182. anto a dos animais 164 Na conclus o do Relat rio de Impacto Ambiental RIMA na parte relacionada a vis o da comunidade apresenta se de forma resumida os principais problemas levantados pela comunidade local ocupa o da Praia Vera Paes frustra o da expectativa de empregos xodo rural resultante da expans o da soja e seus problemas indiferen a da empresa em rela o comunidade desmatamento decorrente do plantio se soja interfer ncia em s tio arqueol gico na rea do empreendimento polui o do rio pelo lan amento de gua de lastros do navio polui o do ar pela emiss o de poeira no carregamento de navios impactos na agricultura pela expans o da soja licenciamento do terminal sem EIA RIMA falta de investimento em capacita o de m o de obra local interfer ncia na paisagem da cidade CARGILL 2008 p 35 165 Na parte do relat rio que trata da concentra o fundi ria e migra o dos pequenos produtores diz se que a soja requer reas mecaniz veis maiores quando comparadas s culturas tradicionais Para atender a essa necessidade sojicultores da regi o e de fora passaram a comprar propriedades vizinhas para aumentar sua rea de plantio levando a um processo de concentra o fundi ria em Santar m e Belterra Os pequenos produtores que venderam suas terras tiveram uma destina o bastante diversificada Uma pesquisa realizada pela equipe da CPEA Companhia Paulista de Estudos Ambi
183. anto que na segunda feira estivessem prontos para o servi o A figura 34 mostra o local a que se refere nosso entrevistado 104 Figura 34 Porto Novo nas margens do rio Tapaj s Foto Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1939 A divers o era permitida mas a ressaca ou qualquer tipo de situa o que impedisse o ritmo do trabalho eram punidos com inje o purgante extra o de dente ou outro procedimento adequado situa o de doen a alegada caso desconfiassem da hist ria contada Este controle era feito por um fiscal que passava nas casas verificando a presen a de trabalhadores nelas durante o hor rio de trabalho Tudo para garantir o perfeito funcionamento do sistema fordista de produ o Era um sistema muito rigoroso porque existia uma ordem severa ali t At porque o empregado n o podia cometer alguma infra o que pudesse desabonar por exemplo tirar assim aquele direito de ele ficar aqui Porque qualquer confus o ou bebedeira de cacha a porque aqui n o existia cacha a Se ele quisesse tomar cacha a ele tinha que ir l no Porto Novo L ele podia farrear vontade mas tamb m n o podia trazer pra c Porque se ele passasse pra c com cacha a ele no outro dia ele logo ia pra rua n Eles chamavam naquele tempo porque descarga outra coisa n eles chamavam de descarga aplicava esse termo de descarga Descarregar a pessoa mandar embora Ent o o americano pagava tudinho direitinho Se ele
184. aquele caixa eletr nico do Banco do Brasil chamava o posto fiscal ERASMO Outubro 2009 Os recrutados eram ribeirinhos pescadores e agricultores acostumados com outra forma de vida do tempo lento da pesca da agricultura e da colheita de frutos da floresta Muitos deles ainda adolescentes com idade entre 13 e 17 anos Outros vinham de cidades importantes como Manaus AM Bel m PA e de munic pios vizinhos conforme podemos observar pelas trajet rias apresentadas abaixo Manuel aposentado Nasceu em Manaus AM e veio para Belterra aos sete anos de idade com pai e m e funcion rios da Ford Quando cresceu arrendou do governo brasileiro uma por o de terra para trabalhar como seringueiro Trabalhou 40 anos na seringa sem carteira assinada Estudou at a 4 s rie 73 Os registros de empregados da empresa que manuseamos confirmam essa situa o M G M nascido em 1926 no Lago Grande em Santar m e admitido em julho de 1942 aos 14 anos de idade como aprendiz classe C seringueiro R M S nascido em 31 12 1930 em Moj Santar m admitido em maio de 1945 aos 14 anos de idade como aprendiz classe C H S T nascido em Santar m em 1927 e admitido aos 177 anos como lavrador classe C no ano de 1944 para trabalhar em Belterra Outro documento um relat rio interno da Companhia indica que nesse per odo cerca de 60 garotos trabalhavam nas planta es desenvolvendo tarefas f ceis como podagem inspe
185. aram classes funcionais para enquadramento de pessoal suprimiram vagas existentes e definiram vantagens financeiras para servidores com n vel superior lei n 51 455 A de 11 04 1962 lei n 51 665 de 17 01 1963 lei n 59 866 de 26 12 1966 lei n 60 194 de 09 02 1967 Por fim a lei n 60 799 de 02 06 1967 transferiu definitivamente para o quadro permanente do Minist rio da Agricultura todo o pessoal do Estabelecimento Rural do Tapaj s 105 A Jei n 411 de 28 09 1948 concedeu a isen o de taxas e impostos para a importa o de combust vel de empresa multinacional trezentas toneladas de leo diesel cem mil litros de gasolina e cinq enta mil litros de querosene vindos por interm dio da Anglo Mexican Co para fornecimento de energia gr tis luz e conforto para os trabalhadores da regi o 123 Para tanto foi feito um conjunto de movimentos e articula es pol ticas que envolveram legislativos e executivos dentro e fora da regi o para tornar Belterra vi vel Na I Confer ncia Nacional da Borracha realizada no estado do Rio de janeiro em 1946 discutiu se a amplia o das fun es do Banco da Borracha de Cr dito da Borracha S A para financiar atividades produtivas na Amaz nia o desenvolvimento de atividades florestais em bases cient ficas e econ micas a pol tica de alimenta o racional para o trabalhador o abastecimento de suprimentos dos seringais a redu o de impostos e a efetiva o da posse da
186. as a sua nega o Isso se de um lado representava a centralidade do papel do chefe de fam lia por outro simbolizava e servia de recado para a coletividade oper ria de que para continuar na empresa precisariam ser bons trabalhadores O segundo mecanismo de recrutamento identificado por Alvim 1997 o auto recrutamento familiar consistia numa pol tica impl cita da empresa incentivando que as 96 a PRENS 2 En A Alvim apresenta as situa es que tornaram poss veis e alimentaram a pr tica do aliciamento eram fam lias pobres e com dificuldade de sobreviv ncia Trabalhadores fugindo das rela es do engenho e pequenos produtores em posi o social decadente que buscavam um ambiente favor vel para cria o dos filhos 117 fam lias com grande n mero de familiares se auto recrutassem Situa es como esta foram completadas com o sub aliciamento que submetia os trabalhadores recrutados a aceitarem at trocar de nome e viverem com uma fam lia estranha para conseguir um posto de trabalho Como estrat gia a empresa adotou pagar baixos sal rios e ter fam lias de muitos membros trabalhando para que esta por meio de seu pr prio trabalho pudesse manter a sua subsist ncia Assim a fam lia constituiu se no elo entre a vida passada da pessoa na rea rural e a sua integra o ao sistema de trabalho industrial na cidade Estes s o os elementos estruturantes da rede complexa de rela es que envolvia o processo de c
187. as planta es Ford no Tapaj s As atividades inclu ram almo o visitas ao 88 Pindobal uma localidade a 15 km de dist ncia do centro da cidade onde h uma bela praia do mesmo nome 108 servi o m dico administra o e planta es Teve festa oper ria discurso de cria o da creche e banquete conforme consta nas anota es de campo do di rio pessoal do presidente VARGAS 1937 1942 Prossegue sempre triunphal e auspiciosa a excurs o do dr Get lio Vargas eminente presidente da Rep blica pelas terras da Amaz nia noticiou o jornal da poca Durante sua estadia em Belterra Vargas foi acompanhado por populares empres rios e dirigentes pol ticos vindos da cidade de Santar m e por funcion rios e dirigentes da CFIB de Belterra e Fordl ndia como os Srs Braunstein representante de Henry Ford e Deckard gerente da empresa na casa de quem ficou hospedado com sua comitiva Na oportunidade o presidente foi informado que Belterra n o era col nia americana j que os tr s mil oper rios s o caboclos da Amazonia as professoras que lecionavam para cerca de mil crian as e os m dicos eram indicados pelo governo estadual Segundo os representantes da Companhia Belterra era um centro de brasilidade FOLHA DO NORTE 09 10 1940 p 1 4 Tr s escolas foram constru das pela CFIB Henry Ford Benson Ford e Edsel Ford Na figura 36 apresentamos a escola visitada por Vargas durante sua viagem Belterr
188. ato de uma ex seringueira O meu pai trabalhou muito Mas eles tudo plantavam tomate maxixe cebola couve o que eles quisessem plantar eles plantavam no meio da leira podia plantar e dava muito Bom de l vieram trabalho derrubando mata e tudo n Eles moravam l na estrada 6 a fam lia dele morava l na 6 Ent o quando tocavam fogo nas quadras n Era muito fogo A quando ia terminando o fogo o pessoal invadia as quadras atr s de ca a atr s de ca a Pegavam jabuti pegavam tatu pegavam paca pegavam at veado Morrendo no fogo n E pegavam porque tinha muita ca a FRANCISCA Abril 2011 Outro entrevistado de 78 anos fala da festa na casa da fam lia quando sua m e colocava o feij o no fogo e o pai saia para pescar Ningu m comprava fiado mas no dia que minha m e botava o feij o com mocot no fogo nesse dia era uma festa Porque eu gostava muito de feij o O meu pai pescava a gente comia peixe pescada assim de milho e a mam e comprava A gente criava muita galinha pato a gente plantava assim criava assim galinha tinha cercado ali pra bois Antigamente aquela Estrada 2 que vai pra ali que vai pela 7 n a estrada do Boca fica l para a beira da mata Ali era s cearense que morava quando vinha do Cear moravam tudo pra l Era uma casa uma atr s da outra L no final tinha um cercado que criava muito porco Cercado dos porcos A Companhia tinha muita coisa neg ci
189. azo O segundo aspecto que deve ser observado o peso que tem o valor de uso para o grupo j que a troca se realiza com base na coopera o e na solidariedade A recupera o da cultura ancestral outra preocupa o presente no relato de nossa entrevistada A socializa o dos jovens e das crian as se d para que eles aprendam a viver e a se reconhecer como ind genas A sua presen a como professora na aldeia assegura que 167 costumes dos brancos n o sejam par metro para o aprendizado dos mais jovens o que aconteceria caso um n o ind gena fosse professor em seu lugar Os jogos ind genas cumprem papel importante nessa dire o Disputas ind genas onde tem o tiro o arco e flecha tem a corrida com as toras da madeira tem a corrida em dist ncia as pinturas as lutas corporal tudo isso l aldeia At incentivando as crian as os filhos n tamb m na mesma cultura do Munduruku nesses jogos e nos rituais o que se usa muito a pintura A pintura tamb m uma forma de se mostrar pros nossos filhos nossos netos at mesmo parentes n o ind genas para eles acreditem mesmo como muitas pessoas falam ah ela n o ind gena ela n o tem nada de ind gena ser mesmo O que me identifica hoje o meu rosto o meu cabelo n s temos que observar isso Eu principalmente eu me vejo assim eu tenho orgulho de ser ind gena hoje E a pintura tamb m ela influencia muito at porque os nossos filhos antes os meu
190. balho aqui finalmente aportou hontem s 3 horas da tarde o navio hospital laboratorio e officina Lake Ormoc de propriedade da Ford Motory Company em transito para Santarem traz o Ormoc Lake duas mil e duzentas toneladas de carga geral constitu da de materiaes diversos FOLHA DO NORTE 04 09 1928 p 1 55 Como o caso de JJ A F Reukema nascido em Haya Holanda em 1894 e contratado pela CFIB aos 45 anos de idade em 1937 Deixou mulher e filhos no pa s de origem mas foi desligado em setembro de 1939 conforme consta no registro de empregado da empresa 63 dentre outros diversos trabalhos e trabalhadores Cerca de 20 na es estavam representadas Al m das citadas tinha ingleses dinamarqueses suecos austr acos franceses australianos e su os Dessa forma nomes como Oxholn Efira Ostefeld Kerby Maurice Lassila Reed Otto Rougg Bromilder Rodolphe Johansnem Carey Carr James e Ricker passaram a fazer parte do universo vocabular dos trabalhadores brasileiros e de outros latinos A Companhia convocava trabalhadores para as planta es tamb m atrav s dos an ncios em jornais onde prometia Cr 9 00 por dia para trabalhadores em geral e Cr 6 00 para trabalhadoras Oferecia g neros aliment cios farinha arroz feij o a car charque carne fresca banha manteiga caf e leite condensado a pre os baixos Para os seringueiros em Fordl ndia pagava Cr 11 00 por dia e em Belterra CR
191. balho de campo como esse processo aconteceu em Belterra com mais detalhes 2 3 1 Os modos de vida na cidade Recorremos aos velhos os guardadores da mem ria da vida do lugar BOSI 1979 Aqueles que ainda vivem na cidade de Belterra e podem nos contar a partir de sua experi ncia e das lembran as como foi a vida social naquele per odo Vejamos primeiro o repente do migrante e poeta nordestino que chegou ainda crian a aos 7 anos de idade na regi o Em maio de 34 assim dizia a folhinha e o povo da ribeirinha sempre t o acomodado vendo o navio estrangeiro encostando sorrateiro ficou bastante assustado Um cors rio um viajante ou um simples comandante querendo comprar comida Mas o que ningu m sabia que o gringo trazia para o lugar nova vida No mesmo dia o estranho com entusiasmo tamanho fincou um marco na terra depois com a demarca o veio a denomina o Planta es Ford de Belterra Em pouco mais de dois anos os nobres americanos tinham um trabalho perfeito para sua agricultura montaram infraestrutura pra ningu m botar defeito fizeram muitas estradas muitas casas e moradas para compor o sistema e o movimento crescia chegando assim todo dia muita gente num s lema trabalhar ganhar dinheiro era o anseio verdadeiro de todos que aqui chegavam Variadas profiss es entre t cnicos e pe es certamente se empregavam e assim o seringal crescia de maneira tal que assustou as na es Em toda parte se via planta
192. bavam um trecho de mata virgem abrindo clareiras para a civiliza o e para o futuro eram aproveitadas as suas ess ncias e preparadas racionalmente o terreno com exemplares da planta rica e maravilhosa que h de marcar ainda com sua belleza hieratica da sua elegancia typica e com selva potencial do seu valor mercantil o symbolo da redemp o economica da gleba multiplicavam se os viveiros onde as sementes eram lan adas sob as ben os do trabalho e os auspicios do sol tropical e pare passo avultavam se os servi os de desbravamento da selva bruta e elevavam se truinphalmente as constru es das modernas urbes dando execu o aos seus planos de estabelecimento duma grandiosa ind stria na Amaz nia a Companhia Ford Industrial do Brasil continua a desenvolver as suas proficuas actividades no Tapaj s onde est o situadas as terras da concess o adquiridas junto ao governo do estado uma architectura gigantesca a estructura definitiva da fordlandia brasileira futuro centro de produc o e irradia o da mais til e procurada das materias primas de que as fabricas do mundo vivem sempre famintas grifo nosso FOLHA DO NORTE 01 01 1934 p 1 O presidente Get lio Vargas no proposito de conhecer intimamente as necessidades da Amaz nia e promover a sua entrada definitiva em novos caminhos largos de progresso e grandeza chegar hoje tarde a Bel m no avi o Douglas da Panair
193. bora o da Lei do Plano Diretor Participativo do munic pio as informa es que circulam nas escolas na TV no r dio pela internet e aquelas envolvendo as a es em torno do asfaltamento da BR 163 tudo isto faz com que esse debate ganhe visibilidade bem como torne poss vel a media o entre as dimens es do local regional nacional e internacional Inclusive o pr ncipe Charles herdeiro do trono ingl s esteve na Floresta Nacional do Tapaj s FLONA em sua viagem ao Brasil no ano de 2009 Mesmo nas can es populares essa quest o se manifesta de forma t o intensa Vejamos os versos de m sicas que tratam da natureza e da vida do lugar compostas por pessoas que vivem na cidade de Belterra As duas primeiras estrofes s o das can es de Dico Tapaj s A terceira de seu Tica tamb m poeta e compositor 213 Ele tem a gua verde o Tapaj s tem cor da esperan a e tem o peixe gua pura ela de todos n s em suas margens tem um povo que luta Hoje vem a investida do capital com o plano de esmagar a natureza Pra tirar o p r do sol da nossa terra demais nos n o vamos permitir Companheiros preciso defender o Tapaj s pela vida com seu povo que j vive a centenas de anos cultivando Minha terra tem palmeiras tem beleza natural tem a fauna tem a flora minha terra tem agora uma hist ria nacional Minha terra tem tem um rio de gua doce o famoso Tapaj s cheio de praias branquinhas que encanta todos n s Ele a
194. bre o tema mas tamb m valorizando as quest es que lhes s o particulares e singulares 29 1 A URBANIZA O DA SOCIEDADE E DO TERRIT RIO 1 1 O Brasil Metropolitano e N o Metropolitano da urbaniza o brasileira Analisando a urbaniza o brasileira Santos 2005 identifica como suas caracter sticas a urbaniza o da sociedade que corresponde aos movimentos de crescimento demogr fico e a multiplica o dos estratos de cidade em diversos tamanhos e a urbaniza o do territ rio que est relacionada sua tecnicifica o Ou seja ao quantum de t cnica conhecimento e informa o s o agregados ao espa o para assegurar a perfeita divis o territorial do trabalho e decorrente acumula o do capital propiciado pelo desenvolvimento do meio t cnico cient fico informacional que assegura a realiza o das complexas atividades produtivas comerciais fiscais e de servi os exigidas pelo sistema capitalista em escala mundial Dessa forma constituiu se uma hierarquia de cidades no pa s na qual a metr pole a melhor express o dessa urbaniza o embora n o sendo a nica visto que existe tamb m o crescimento das cidades milion rias intermedi rias regionais e locais Ela representa do ponto de vista da concentra o da pobreza dos diversos tipos de trabalhos e capitais dos m ltiplos fluxos de informa o e de mat ria a complexidade do processo em curso que se manifesta por meio da metropol
195. brevia o de sociedade urbana n o corresponde a um objeto definido e definitivo que tem por base o imediato da a o Da a escolha desse termo e n o de cidade como comumente vem sendo apresentado pela literatura que trata sobre essa quest o Isso implica deslocar a reflex o para o plano abstrato e dessa forma criar as condi es te ricas de apreens o do real que nunca simples pois traz em seu teor a marca de sua complexidade Lefebvre observa que a industrializa o n o nasce como produto da cidade ao contr rio No in cio vai se instalar pr ximos aos reservat rios de gua energia m o de obra e de outras mat rias primas aproxima o com a cidade deve se busca de capitais capitalistas e de m o de obra abundante e de pre o baixo Para ele os m todos descritivos n o alcan am determinadas rela es sociais pois elas n o podem ser apreendidas somente por sua manifesta o imediata Isso remete necessidade de fazer uma transi o qualitativa da descri o do aparente para o n vel da an lise dial tica do urbano Isso implica o abandono dos modelos para construir orienta es como forma de atualizar e apresentar novos horizontes para o trabalho cient fico O que leva a entender que a sociedade urbana proporciona o fim e o sentido da industrializa o simplesmente porque nasce dela a engloba e a encaminha a outra coisa LEFEBVRE 2002 p 69 de forma a n o ser tomada apenas como seu subpro
196. bservamos novos alinhamentos pol ticos que se tornam poss veis diante das elei es municipais que se aproximam Contudo ressaltamos que esses movimentos s o minorit rios no lugar Isso pode ser constatado quando fazemos a mesma pergunta para outras pessoas da cidade e as respostas nos conduzem em outra dire o No plano das representa es sobre que tipo de desenvolvimento desejam para o lugar a soja n o aparece associada a novas oportunidades Os conte dos das falas sempre remete ao turismo s ind strias aos bancos amplia o do com rcio e dos servi os Do mesmo modo os de dentro n o se reconhecem n o se identificam com os de fora cujas pr ticas denunciam como danosas sa de e ao meio ambiente Esses elementos s o demarcadores das diferen as da afirma o da identidade do lugar e dos diferentes valores e moralidades que envolvem as racionalidades e a es dos grupos sociais envolvidos bem como das temporalidades da vida social bem marcadas pelos moradores da cidade como distintas o antes e o depois da chegada da soja ao lugar 210 Para os moradores mais velhos o plano de refer ncia se associa muitas vezes ao passado da CFIB ao clima suave das manh s e noites relacionado ao orvalho e ao clima de montanha Para o tempo presente duas id ias mostram consist ncia e regularidade a tranquilidade e a seguran a n o haveria perigo de assalto ou viol ncia que tamb m est o as
197. cada de 1930 Luiza Amador do Setor de microfilmagem e a Carmelinda Cruz do setor de obras raras da Biblioteca P blica do Estado do Par CENTUR pela aten o dispensada durante minha pesquisa naquela institui o e aos funcion rios do setor de restaura o que gentilmente me orientaram diante do farto material de trabalho Nath lia Fernandes da Biblioteca da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu ria EMBRAPA da Amaz nia Oriental pelo material disponibilizado Osvaldo Teixeira G es pela doa o das fotos de seu arquivo pessoal sobre o per odo Ford e N cia Viana pelo envio do material digitalizado Aos funcion rios e secret rios municipais da Prefeitura Municipal de Belterra pelas entrevistas acolhidas e informa es municipais E ao saudar o prefeito Geraldo Irineu Pastana de Oliveira PT fica extensivo meu agradecimento a todos e todas que contribu ram com minha pesquisa C mara Municipal de Vereadores de Belterra e seus funcion rios pela aten o e disponibiliza o do material solicitado e aos parlamentares que se dispuseram a dar as entrevistas Ao Conselho da Cidadania de Belterra e ao F rum de Movimentos Sociais pelas entrevistas pelas conversas informa es e a disponibilidade de nos aceitar nos eventos realizados Ato este extensivo tamb m ao STTR de Santar m Especial agradecimento a Manuel Moraes Cintia e Fam lia pela aten o pelo carro pela moto pela companhi
198. cado para as planta es no Tapaj s tendo o valor da passagem descontado nos primeiros sal rios Ao chegar s planta es era entregue ao chefe de pol cia para revista e apreens o de eventuais armas ou bebidas Seguiam se novos exames m dicos prescri o de rem dios vacinas e quarentena por dois dias para observa o 58 Seca que expressa uma parte do Nordeste t o bem retratada nas an lises de Freire 1985 p 5 A palavra Nordeste hoje desfigurada pela express o obras do Nordeste que quer dizer obras contra as secas E quase n o sugere sen o as secas Os sert es de areia seca rangendo debaixo dos p s O sert o de paisagens duras doendo nos olhos Os mandacarus Os bois e os cavalos angulosos As sombras leves como uma alma do outro mundo com medo do sol O outro Nordeste a que se refere o autor o da cana de a car das casas grandes dos engenhos dos sobrados de azulejo e das classes abastadas 64 Apesar dos altos investimentos no valor de 20 milh es de d lares o projeto fracassou em Fordl ndia em 1934 e depois em Belterra no ano de 1945 O relat rio elaborado pelo diretor chefe da Companhia em Fordl ndia Archibald Johnston informava que As constru es tempor rias foram abandonadas logo no in cio de 1933 Esta mudan a foi devido restri es governamentais sobre certos tipos de rvores e os altos custos de produ o prevaleceram em decorr ncia da topografia repleta de morro
199. cao fotografias GEBIS gt Acesso em 25 abr 2011 O controle desses trabalhadores era realizado pelo apontador que controlava a presen a no servi o por meio da anota o da numera o contida em uma placa de metal recebida no momento da contrata o e que ficava pendurada no peito do funcion rio durante toda a jornada de trabalho figura 33 Um dos entrevistados nos apresentou a chapa niquelada contendo a numera o de 7 275 que recebeu aos 15 anos de idade quando foi contratado pela 84 Observamos que a imagem apresentada corresponde a uma tentativa de aproxima o com o contexto da poca uma vez que nessa data o projeto j estava sob coordena o do governo brasileiro 102 CFIB para trabalhar em Belterra Isso nos d uma aproxima o do contingente da m o de obra que circulou em Fordl ndia e Belterra durante a vig ncia do projeto Os campeiros realizavam o trabalho de poda limpeza e capina o com auxilio de enxada e fac o Essa atividade era t o intensa que tinham apenas 30 minutos para almo o e descanso Outras situa es relatadas indicam que quando quebrava alguma ferramenta ela era substitu da imediatamente at que se fizesse o conserto Tudo isso para n o haver comprometimento do ritmo de trabalho MTE JAA Figuras 32 e 33 Caixa d gua da estrada 1 onde se localizava a sirene e a chapa de identifica o funcional Foto Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1939 Foto Pereira J C M
200. cearense os maranhenses e outros mais Eles s andavam no escuro no navio com medo dos torpedos dos navios japoneses que vinham aqui nas guas do Par SABI Novembro 2009 A experi ncia fordista na Amaz nia considerada na mem ria coletiva um per odo de prosperidade de grande movimenta o de chegada de novas pessoas inclusive por via rea dadas s dificuldades de deslocamento no interior da regi o e de progresso O encerramento do projeto causou estranhamento e tristeza naqueles que viveram o per odo como podemos observar pelo trecho do repente do poeta nordestino Mas o nobre estrangeiro ao governo brasileiro devolveu o patrim nio entender ainda n o pude a raz o dessa atitude porque desfez do seu sonho Ford desistiu de Belterra l pelo final da guerra 45 talvez entregou tudo ao Estado ficando logo mudado no ano 46 Assim que os brasileiros se tornaram verdadeiros donos da situa o muito fizeram de fato mas deixaram que o mato dominasse a planta o morreram todos os pomares e os seis mil hectares sem seringal hoje est o por conta dos empregados que n o tomaram cuidado com em cada carro de assalto se empregam perto de 140 quilos de borracha 826 quilos de borracha entram na fabrica o de um bombardeio pesado Seu Joaquim perdeu os pais muito cedo e foi adotado por um delegado da cidade de Maracan pr ximo estrada de Ferro de Bel m Bragan a aos 16 anos de idade no
201. chama de cidade e como esta se realiza do ponto de vista concreto na pr tica cotidiana de seus habitantes Para tanto retornaremos primeiramente ao conceito sociol gico de cidade Existem muitas formas de definir o que uma cidade uma delas pode ser por seu aspecto quantitativo como uma grande localidade J uma defini o sociol gica segundo Weber implicaria entender a cidade como o local da troca sistem tica de mercadorias do mercado com pessoas vivendo dos produtos da ind stria e com rcio e desenvolvendo uma diversidade de atividades a elas relacionadas e n o da agricultura Essa defini o de cidade do ponto de vista econ mico reside no entendimento da Exist ncia de um interc mbio regular e n o ocasional de mercadorias na localidade como elemento essencial da atividade econ mica lucrativa e do abastecimento de seus habitantes a cidade n o ent o economicamente falando uma cidade de comerciantes e de artes os o mercado urbano local conhece ent o a gest o econ mica representando a regulamenta o de trocas e produ o na cidade WEBER 1967 p 74 75 77 81 82 Para Weber a satisfa o das necessidades de consumo imediato dos habitantes de uma localidade ou dos arredores regulada pelo mercado n o esgota o conceito de cidade Da o aparecimento da economia urbana da pol tica urbana e de um conjunto de institui es pol ticas e administrativas destinadas a este fim Do
202. chamam aten o Oliveira 2000 e Nogueira 2001 41 Inclua se aqui o valor de 200 milh es de d lares para a instala o das f bricas do projeto Jar e as d vidas deixadas por este no valor de 420 bilh es de cruzeiros PINTO 1995 54 arregimenta o de m o de obra qualificada fora da regi o e que pr ticas se d o em bases predat rias e se espraiam por vastas reas em munic pios cont guos onde se instalam CASTRO 1995 Embora o termo grandes projetos seja proveniente das situa es apresentadas a partir da d cada de 1970 podemos considerar que as interven es realizadas em Fordl ndia e Belterra entre 1928 e 1945 tiveram as caracter sticas de um grande empreendimento semelhante aos acima apresentados pelo menos em seus aspectos fundamentais apoio estatal uso intensivo e predat rio da natureza e desarranjo ou destrui o dos modos de vidas preexistentes conforme veremos pelas an lises subsequentes Queremos com essa argumenta o sustentar que a fala do desenvolvimento naturaliza o olhar sobre a Amaz nia e serve de refer ncia conceitual quando se pensa nesta regi o ao mesmo tempo em que o projeto modernizador capitalista apresentado como aquele que cria as condi es para coloc la no caminho do crescimento do progresso e do desenvolvimento atrav s da mercantiliza o de sua riqueza vista como estoque estrat gico de recursos naturais Temos ent o os dois eixos es
203. changes of ways of life pre existing the predatory use of nature and the enunciation of stereotypes by outsiders against the population of the place with the shelter of speech development The techniques used were field observations interviews informal conversations the bibliographic documentary and photographic allowing the construction of maps that summarize these social movements We could do interviews with semi structured questions to address the two time periods considered in our research Thus we observed that practiced in the city where it mediates between the place and the whole world hybrids present in everyday life and the context of its performance tell us about the Amazon and in particular the presence of ethnic quilombola and indigenous the rural and urban life since the sub space that is not realized by the oppositions created by abstract thinking Keywords Amazon Fordism Way of life Speech development Urban Verticality O conhecimento uma escolha tanto de um modo de vida quanto de uma carreira quer saiba ou n o o trabalhador intelectual forma se a si pr prio medida que trabalha para aperfei oar o seu of cio isso significa que deve aprender a usar sua experi ncia de vida em seu trabalho intelectual examin la e interpret la continuamente C Wright Mills LISTA DE ILUSTRA ES Figura 1 Localiza o da Plantation de seringa no Tapaj s iis 61 Figura 2 Trapich
204. cidade onde moravam as classes abastadas e n o na periferia onde vivia a popula o pobre trabalhadora Esses procedimentos demonstram o papel regulador do Estado tanto sobre a vida privada da popula o como sobre o uso dos espa os p blicos SARGES 2002 2 Em Bel m o capital comercial criou artificialmente a vida urbana por meio da importa o de construtos m veis e im veis Lembramos dos bondes dos bulevares dos caf s e teatros dos par metros disciplinares das condutas individuais e coletivas bem como do c digo de postura que visavam implantar h bitos e valores de orienta o europ ia entre os moradores da cidade de Bel m durante o boom da borracha Tudo isso sem a industrializa o que mesmo estando presente na Europa naquele momento n o foi o meio z x PES gt 13 atrav s do qual essas rela es se constitu ram no per odo conforme analisou Sarges 2 A cidade de Manaus vivenciou um processo de moderniza o semelhante expans o da infraestrutura e dos servi os urbanos advindos da produ o e exporta o da borracha da Amaz nia que no per odo representava 28 do total das exporta es brasileiras A cidade das avenidas dos caf s do teatro dos palacetes e de um urbanismo higienizado e organicista fruto da racionalidade que se imp e a partir da abertura das ruas da constru o de pontes e do aterro dos igarap s resulta de um urbanismo cujo objetivo era a busca por meio da t
205. cidade n o apagou a vida pret rita desses migrantes uma vez que a inser o na cidade permitiu que ele carregasse consigo as concep es rurais de organiza o da vida FERNANDES 1970 p 119 Desse modo a popula o translocal SAHLINS 1997 pode viver nesses mundos simultaneamente sem que os la os estabelecidos anteriormente fossem apagados Falamos 231 aqui do passado e presente da cidade e campo do urbano e rural da sociedade e natureza da cidade e da aldeia conforme vimos anteriormente Essa advert ncia tamb m deve ser observada no sentido contr rio da situa o analisada Ent o devemos nos perguntar e se o capital e a divis o do trabalho precisar da cidade de Belterra e de sua gente Que transforma es socioculturais e socioambientais isso pode trazer para a vida do lugar Isso nos remete a ponderar que se a vida do lugar obedece a contextos hist ricos gerais e espec ficos do mesmo modo a pesquisa acad mica realizada tamb m est sob essa condi o Parece apropriado tomar emprestado o termo usado por Sposito 2007 os espa os em transi o Embora a autora se refira s cidades m dias as situa es analisadas em Belterra nos chamam aten o para as transforma es ocorridas na cidade e em suas imedia es bem como para o modo como se posicionam seus habitantes diante de tais transforma es uma vez que a agricultura cientifica e o agroneg cio globalizado ELIAS 20
206. ciso danificar o meio ambiente e sim contribuir para que ele tire o sustento da minha fam lia n E uma gera o de renda para mim e para minha fam lia Sementes de a a sementes de tento sementes de fava s o v rias sementes inclusive a semente de pau brasil que a gente tem na rea nativo mesmo porque uma forma da gente mostrar a fora que nem tudo se perde SOCORRO Outubro 2009 Esses depoimentos nos revelam que o fato de viver na cidade n o apaga a vida pret rita dessas pessoas porque o di logo e o plano de refer ncia da viv ncia anterior se mant m vivo de alguma forma reafirmados e praticados por esses deslocamentos semanais ao campo ao mesmo tempo em que a abund ncia da natureza lhes acess vel com certa facilidade e se faz presente em seu cotidiano Assim argumentamos os fluxos provocados pelos deslocamentos campo cidade urbano rural n o se d o pela oposi o Por isso continua a artes observando que pretende Continuar com a sua vida de tradicional porque uma cultura a tradi o do lugar de viver da subsist ncia de n o ter que ir para a cidade porque na cidade a vida bem diferente do que l no campo L no campo voc tem por exemplo o caju para tomar o suco o xarope comer o doce comer a torta de caju a farofa Ent o s o v rios derivados que voc pode aproveitar da fruta n Tanto da fruta quanto da rvore mesmo porque ela medicinal Ent o s o v rias frutas que a g
207. comercial como a jarana ita ba tauari e ma aranduba entre outras Rodovias como a Cuiab Santar m Transamaz nica e a hidrovia do Tapaj s facilitam o escoamento dos produtos CPRM 1996 p 11 De acordo com o sistema de avalia o da aptid o agr cola das terras o uso preferencial dos solos deve seguir a seguinte orienta o 525 354 92ha destinados para lavouras 183 883 24 ha destinados para preserva o ambiental as terras indicadas para lavouras podem ser utilizadas com culturas de ciclo curto e ou ciclo longo considerando as condi es do solo Quanto ao clima deve ser ressaltado que a estiagem de quatro meses pode inviabilizar a utiliza o de plantas sens veis defici ncia h drica acentuada tendo em vista o sistema de avalia o n o considerar a irriga o as terras indicadas para lavouras como uso preferencial podem ser utilizadas em atividades agr colas menos intensivas como pastagem silvicultura reflorestamento e indica o de reas para regenera o natural e preserva o EMBRAPA 1999 p 49 Do mesmo modo a pavimenta o da rodovia BR 163 figura entre os projetos estrat gicos para serem executados na Amaz nia desde o governo do ent o presidente Fernando Henrique Cardoso As justificativas devem se s possibilidades da mesma servir de via de escoamento de grande parte da produ o de gr os do Centro Oeste especialmente Mato Grosso atrav s do porto de Santar m para mercados da Am r
208. como material tanto para a constru o das casas quanto das estivas que funcionam como verdadeiras ruas sobre guas Cardoso 2010 observa que mesmo sendo penalizada por normas e par metros t cnicos que descredenciam o uso da madeira para a constru o das casas sob o argumento de que esta n o tem durabilidade o seu uso secular e bem sucedido conforme demonstra a pr tica da popula o ribeirinha que dela depende Embora n o se restrinja a ela visto que em muitas cidades da Amaz nia as casas de madeira s o construtos predominantes Do mesmo modo que a situa o inversa tamb m pass vel de identifica o Da perda do rio da pesca e do p r do sol diante do deslocamento compuls rio de popula es provocado pela implanta o de algum grande projeto como as barragens para a constru o de hidrel tricas e que acabam se direcionado para a periferia das cidades Diz Oliveira que O rio n o mais o meio de circula o da popula o local nem a principal fonte de subsist ncia mas a mat ria prima para a produ o de energia el trica A popula o que ocupava suas margens foi reduzida abstra o dos dados estat sticos ou de categorias n o menos abstratas de atingidos pela barragem popula o a jusante etc a enriquecer o vocabul rio acad mico ou relat rios manipulados dos gabinetes oficiais O espa o perdeu uma das dimens es da vida um tempo espont neo simbolizado pelo rio OLIVEIRA 2000
209. comprava o necess rio mesmo Um par de roupas um neg cio Coisa que eu n o posso produzir l Eu admiro muito gosto mas tamb m para aquele que gosta de trabalhar Eu vivo da agricultura e todo dia tenho que sair pra trabalhar ROSANA Outubro 2009 Assim podemos nos valer da proposi o de Lima 2009 p 284 quando afirma a possibilidade dos agricultores embora morando na cidade continuaram mantendo atividades e o modo de viver trazidos do meio rural Contudo a vida no campo tamb m n o f cil uma vez que a experi ncia passada se fez sob conte dos de dor dificuldades supera o e de recome o Eu trabalhava eu e os meus meninos porque a idade do meu filho menor de 7 meses a gente ficou s eu e os meus meninos n o menino tinha 7 meses quando o camarada foi embora Ent o a gente se dedicou a trabalhar mesmo N s levant vamos cinco horas da manh e n s mor vamos longe da gua n uma hora para voc ir l tomar um banho e voltar com vinte litros na cabe a n Era essa a nossa vida A chegava em casa e preparava o caf os meninos iam para a aula e eu ia para ro a Umas dez horas dez e meia eu vinha encaminhar o almo o n E a tarde retornava de novo cinco e meia voltava da ro a era o que n s faz amos S que s bado e no domingo sempre tinha um tempinho a mais Era mais para ficar mais em casa cuidar de uma atividade mais pr xima da casa n Mas de segunda
210. con micas envolviam o mercado internacional as casas aviadoras e exportadoras os aviadores de primeira e segunda linha e por fim os extratores 51 O seringueiro em sua maioria retirante nordestino era o ltimo elo da cadeia econ mica Aparentemente era livre mas a estrutura econ mica o colocava em situa o de trabalho semelhante rela o de servid o SARGES 2002 p 79 60 representava perdas significativas Isto fez com que o aviamento ou seja a instaura o de uma esp cie de cr dito sem dinheiro fosse o mecanismo atrav s do qual se sustentava a economia da borracha O que conferia moeda nesse per odo apenas medida de compara o A CFIB implantou em Fordl ndia e Belterra um sistema de produ o baseado na constitui o da for a de trabalho em bases assalariadas na planta o planejada em reas definidas em quadras no disciplinamento dos trabalhadores em hierarquias sociofuncionais e na constru o de uma cidade na floresta tendo como refer ncia o sistema fordista de produ o algo que ainda n o havia sido experimentado na regi o FORDLANDIA AND BELTERRA RUBBER PLANTATIONS ON THE TAPAJOS RIVER BRAZIL Figura 1 Localiza o da Plantation de seringa no Tapaj s Fonte Russell 1942 2 Consideramos relevante a an lise de Trindade Jr 2010 p 118 ao distinguir o uso dos termos cidades da floresta e cidades na floresta O autor assinala que o primeiro te
211. curso ofertado pelos servi os de transporte apenas uma vez por dia em uma viagem de ida e volta no valor de R 13 00 treze reais Ali s esta uma dificuldade vivida n o s pelos ind genas mas tamb m pelos extrativistas e agricultores que moram na Floresta Nacional do Tapaj s FLONA Essa viagem tamb m pode ser feita de barco mas torna se trabalhosa durante o per odo da seca pois o barco n o pode entrar no rio pequeno o que dificulta o deslocamento da aldeia at a cidade por via mar tima 168 4 4 Os modos de vida na cidade Como especificidade do lugar temos o rural e o urbano contidos na cidade Vale lembrar como analisamos anteriormente que teoricamente entendemos a cidade como a materialidade a forma os construtos e os objetos as casas as ruas as pra as os pr dios p blicos etc o pr tico sens vel conforme prop e Lefebvre 1993 o lugar da proje o das rela es sociais J o rural e o urbano est o no mbito das rela es e dos fluxos socioculturais O que implica conceber para o contexto estudado uma modalidade de cidade onde n o temos a divis o complexa do trabalho nem a especializa o das atividades produtivas em bases industriais e comerciais conforme trata a literatura que definiu o conceito sociol gico de cidade como Weber Marx e Engels por exemplo isso ser discutido mais adiante Contudo isto n o quer dizer aus ncia dessas rela es antes implica pensar com que inten
212. da companhia como o Sr Archibald Johnston diretor gerente da Companhia figura 17 e o m dico chefe Dr Kenneth Waddell que vieram morar na cidade conforme descrito por Cruls 1939 em sua visita Belterra em 1938 eram para 2 fam lias cada Vila Viveiros e em constru o 52 casas duplas permanentes uma igreja um galp o uma escola e rea com bosque na Vila 129 No total naquele per odo com as novas constru es as casas somavam 896 pr dios JOHNSTON s d s n 86 nm Ns EL UN Aran peee aaee z Figura 15 Ca T Vila Americana com o carro Ford preto em destaque ao lado Foto Arquivo Pessoal Osvaldo Teixeira G es 1938 assii I a rren laln E pap css Az Figura 16 Outro tipo de casa da Vila Americana Foto Arquivo Pessoal Osvaldo Teixeira G es 1938 Foi constru da tamb m uma casa para receber Henry Ford quando este viesse visitar o projeto o que nunca aconteceu Um dos entrevistados fala detalhes do trabalho desenvolvido pelos americanos e dos carros usados pelo alto escal o da companhia 87 Os servi os deles era apenas administrar e verificar o trabalho todo de Belterra eles n o faziam trabalhos grosseiros Cada um tinha seu carrinho n Naquela poca eu ainda alcancei aqueles carangozinhos que existiu aqui roda ainda enrraiada modelo A Ford Esses eram os carros que existiam aqui bicicleta s quem tinha bicicleta aqui era os chefes que per
213. da preexistentes e s o demandantes de um novo tipo humano que deve ser re socializado na cidade disciplinado controlado e preparado segundo as exig ncias das premissas fordistas de produ o Argumentarmos que as diferentes temporalidades expressas pela vida do lugar e pelas exig ncias do capital de base fordista da CFIB v o produzir um h brido de pr ticas materiais e simb licas dos diferentes grupos sociais na cidade que em alguns momentos se enfrentam se evitam ou sobrep em Dito isto podemos pensar nas dimens es do universal do particular e do singular como momentos de um mesmo processo como vimos em Lefebvre 1987 e trabalhar na perspectiva da conex o dessas escalas respeitando o contexto das condi es hist ricas que a produziram Data de 1928 a chegada da CFIB na localidade de Boa Vista s margens do rio Cupari posteriormente denominada de Fordl ndia Dois navios americanos trouxeram as m quinas e os equipamentos necess rios para construir no lugar a cidade empresa que seria base para a atividade de explora o da seringa na regi o do Tapaj s Conforme noticiou o New York Times em 26 de julho de 1927 o navio Lake Ormoc partiu de Detroit naquele dia rumo Santar m no Brasil para abastecer de suprimentos m quinas pessoal e equipamento 62 em sua primeira opera o o seringal de Henry Ford na Amaz nia Hospitais oficinas casas escolas cinemas estradas serraria dep sitos restaurante ca
214. dad o fez crime cadeia at tomar a propriedade dele ou criar a taxa de abuso do rio para aqueles setores respons veis pela polui o Diz o produtor que a rela o pol tica com o prefeito boa que s o parceiros j que participa do Conselho Rural e Social do munic pio de Belterra e atende pedidos da Prefeitura Sempre que o prefeito nos requisita a gente procura ajudar tamb m o prefeito tem umas m quinas tem um trator de esteira a gente tem caminh o transporta pra Prefeitura para esses assentamentos e pra agricultura de pequeno porte a gente transporta sem custo Ent o a gente parceiro assim Acho que no futuro podemos fazer mais PRODUTOR DE SOJA II Mar o 2011 Do mesmo modo os advers rios pol ticos j est o identificados e definidos como as ONGs estrangeiras os ambientalistas e a Igreja Cat lica os do contra os sem propostas que falam muito mas n o apresentam nada Relata que a produ o da soja tem mercado certo na Europa e que vem principalmente por meio de balsa da regi o do Perecis no Mato Grosso e de Rond nia at o porto de Santar m De l segue de navio que tem a capacidade para transportar at 40 mil toneladas por viagem Desse total o montante produzido em Santar m e Belterra fica em 1 do total embarcado O Grupo Mcdonalds o maior comprador da soja que vira hamb rguer em suas lanchonetes espalhadas pelo mundo Diz ele que o mercado da soja
215. das formas de uso e da ocupa o do territ rio Como exemplo podemos citar a luta pol tica dos agricultores para permanecerem na terra quando da cria o da FLONA nos anos de 1970 e 1980 ou do movimento em torno da emancipa o do munic pio nos anos de 1990 No primeiro caso o atual prefeito de Belterra era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santar m Naquele per odo houve a cria o da Corrente Sindical Lavradores Unidos e a tomada do sindicato das m os dos pelegos o inc ndio do sindicato pelos setores conservadores e o assassinato do delegado sindical Avelino Ribeiro em 24 de mar o de 1982 conforme analisou Leroy 1991 p 98 Albano 49 anos falou da cria o da FLONA Come aram quando ele quando tinha 14 anos de idade por meio das lutas travadas para manter a popula o no lugar onde viviam j que a primeira vers o da Flona do governo militar propunha a retirada de todas as fam lias Isso envolveu rela es com o Estado com Ag ncias de Financiamento Multilateral e com a coopera o internacional que acompanharam os enfrentamentos pol ticos e o processo de constru o das inst ncias de negocia o com representa o de governo e da sociedade civil Desta negocia o resultou no Plano de Manejo no Plano Diretor da FLONA e na perman ncia da popula o que l morava 172 Conforme decreto presidencial n 73 684 de 19 02 1974 do presidente Em lio Garrastazu M dice criado no est
216. de 177 No meu caso que eu sou trabalhadora rural pretendo voltar para as minhas atividades normais n Sei que eu n o vou fazer mais a produ o que eu fazia h dez anos atr s mas o meu sonho a agricultura sou apaixonada pela agricultura familiar morar na cidade n o f cil porque assim voc j come a comprar desde o p o que l na Col nia voc n o compra compra quando vem na cidade para modificar o card pio de l mas l voc tem desde a farinha de tapioca o milho verde da poca n O milho de pipoca enfim tudo que voc planta Deus aben oa e a terra d n Voc tem l a sua cana o seu a a a sua produ o l n Toda poca tem fruta porque tem a poca da laranja da manga do a a do cupu cupua u do murici n Viver aqui n o f cil Porque se voc quer at uma banana voc tem que comprar L n o voc tem a lavra A gente j est acostumada com essa vidinha aqui porque comprar farinha de quilo n o f cil comprar arroz de quilo n o f cil l na Col nia voc tem a sua produ o o paiol de arroz tem o seu milho a sua galinha mata o porco no Natal matar um porquinho para comer uma farofa poca de arroz tem um pouquinho porque est colhendo arroz alimento para n o ir na taberna Eu sempre gostei de plantar cana A eu fazia o mel para se deliciar torrar caf at mesmo fazer o caf com a garapa com mel n s faz amos s
217. de Meteorologia para saber a periodicidade e a intensidade da 215 chuva para que n o haja perda da produ o Tempo de vida no lugar Existem casos de mais de 100 anos mas n o menos que 50 anos se contarmos a trajet ria familiar N o mais de 10 anos Resultado Rela o mais equilibrada com a natureza e impactos de baixa intensidade Desmatamento polui o de rios e igarap s expropria o da terra dos pequenos agricultores e an ncio do estere tipo primitivo atrasado arcaico pregui oso n o sabe usar o que tem pingu o etc e evita o da conviv ncia com as pessoas do lugar Doen a respirat ria em adultos e crian as morte de animais de pequeno porte e contamina o do mel e morte das abelhas dos melipolissicultores A o pol tica Organiza o em campo de poder e redes que v o do local ao internacional incluindo a den ncia e negocia o com compradores de soja no mercado europeu apoio a candidatos em diversos n veis e lan amento de candidaturas pr prias das lideran as desses movimentos participa o em governos locais em cargos de segundo escal o elei o de vereadores ligados ao campo luta pela cria o do estado do Tapaj s articula o com empres rios donos dos meios de comunica o pol ticos e governos em diversas escalas apoio a candidatos em diversos n veis e lan amento d
218. de dupla enxertia aos milhares e aos milh es Feliz se reunia o povo e ia ao Porto Novo para no fim de semana fazer compra namorar ou simplesmente tomar um trago de boa cana Com o servi o hospitalar e tamb m o escolar e ao ar livre o cinema com creche para os guris se vivia bem feliz a vida era sem problema TICA poeta compositor e repentista Cearense 74 anos ex cozinheiro do Hospital Henry Ford Os relatos indicam que o projeto come ou em Porto Novo que fica distante cerca de 12 km de onde hoje a sede da cidade O recrutamento da m o de obra se fazia por meio de uma embarca o da empresa que saia pelos rios Tapaj s Arapiuns Amazonas e Lago Grande procurando pessoas nas vilas que quisessem vir trabalhar em Belterra Faziam alistamento e lotavam a embarca o Primeiro vinha o trabalhador depois sua fam lia se este tivesse uma Caso contr rio viria sozinho desembarcar no trapiche s margens do rio Tapaj s e morar no barrac o provis rio constru do pela empresa O relat rio da Companhia elaborado por seu diretor chefe Archibald Johnston apresenta os procedimentos adotados para a prepara o do novo lugar O local dos campos foi escolhido a limpeza iniciou se portos constru dos e local para a constru o de estradas para a plan cie estabelecidos O primeiro campo tempor rio inclu a uma casa de for a um hospital tempor rio e facilidades de hospedagem foram planejadas 72 Transcri o d
219. de empregado de M B M assinado em 11 07 1942 Este acordo poder ser terminado em qualquer tempo no fim de cada mez contados estes do presente contracto por conveni ncia de qualquer das partes e sem aviso previo obrigando 107 me a retirar com minha fam lia das propriedades da Companhia no dia da termina o ou nos tr s dias que se seguirem Pelo presente autorizo a Cia Ford Industrial do Brasil de deduzir de qualquer import ncia que me devida ou a receber a import ncia de dez mil r is por qualquer chapa ou do vale almoxarifado e cinco mil r is por tal o de ferramenta por mim recebido quando empregado da mesma e o qual n o devolvi quando solicitado Temos assim o controle sistem tico da vida profissional e privada da vida do trabalhador legitimado por contratos formais assinados no momento da contrata o e da submiss o s condi es impostas pela CFIB At agora apresentamos as formas de recrutamento da m o de obra o processo de re socializa o dos migrantes na cidade por meio do trabalho o controle e o disciplinamento impostos pela CFIB Em seguida analisaremos a presen a de Vargas em Belterra e as alian as pol tico militares entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos e como a Marcha para o Oeste para povoar a Amaz nia justifica os v rios incentivos dados empresa de Henry Ford 2 3 3 O Projeto Modernizador de Get lio Vargas para a Amaz nia A visita do presidente G
220. de ensino prim rio galp es onde funcionavam a marcenaria e a oficina mec nica telefone e guaritas de seguran a caminh es e tratores portos e trapiches 8 Aqui do ponto de vista hist rico e anal tico podemos recorrer aos estudos de Engels 2008 p 45 46 1845 quando apresenta as transforma es provocadas pelas inova es t cnicas e das rela es de produ o na vida do trabalhador ingl s advinda com a revolu o industrial dado o acr scimo de t cnica e conhecimento ao processo produtivo como a introdu o da m quina a vapor e de outros maquin rios usados para processar o algod o Afirma que antes da introdu o das m quinas a fia o e a tecelagem das mat rias primas tinham lugar na casa do trabalhador A mulher e os filhos fiavam e com o fio o homem tecia quando o chefe da fam lia n o o fazia o fio era vendido o tecel o s vezes podia economizar e arrendar um peda o de terra que cultivava nas horas livres escolhidas segundo sua vontade posto que ele mesmo determinava o tempo e a dura o do seu trabalho Prossegue ele destacando a vida tranquila e honesta no campo os ganhos obtidos para garantir a sobreviv ncia das fam lias o hor rios do descanso e do lazer a conviv ncia entre os vizinhos o cuidado com a sa de e o corpo e da jornada de trabalho mais humanizada principalmente para os filhos desses trabalhadores a divis o social do trabalho que define o papel dos lugares na pr
221. de frango de su no de bovino n Voc encontra hoje medicamento base de soja PRODUTOR DE SOJA I Mar o 2011 Outra quest o nos chamou aten o no momento da entrevista O produtor afirmou ter dado dinheiro a um ex mandat rio de cargo municipal para assegurar a sua perman ncia na terra Segundo ele essa comiss o consumiu R 6 000 00 seis mil reais para regularizar a 198 sua situa o Em rela o ao atual prefeito observou que tinha certo medo por ele ter sido coordenador do IBAMA na regi o Naquela poca diz ele o IBAMA andava perseguindo a gente Mas faz elogios conduta do prefeito em tentar melhorar a vida das pessoas do munic pio e pelo di logo que estabeleceu com os produtores de soja Em nossa segunda entrevista o produtor oriundo do Rio Grande Sul na fronteira com a Argentina Deslocou se primeiramente para o Mato Grosso e em seguida para a regi o oeste do Par onde tem terras no munic pio de Santar m e Belterra Est por l h seis anos Tem 42 anos e forma o universit ria Planta dois mil hectares de soja em Santar m e Belterra e comenta que no estado do Mato Grosso seu vizinho plantava 42 mil hectares e que por l quem planta mil hectares considerado pequeno Segundo ele no ano de 2011 nesses dois munic pios todas as 450 fam lias de produtores plantaram 30 mil hectares dos 70 mil dispon veis de acordo com o Zoneamento Econ mico Ecol gico ZEE Observa
222. de soja que compraram as terras dos agricultores A segunda se referia n o participa o dos movimentos sociais durante a elabora o do relat rio e aos resultados apresentados Dizia nos ela que no mesmo per odo os sindicatos fizeram levantamentos e identificaram v rios problemas que n o apareceram no relat rio da Cargill Acrescente se a isso o n o recebimento pelos sindicatos de uma c pia do estudo embora tenham sido entrevistados A gente foi na Comunidade do Jenipapo Tracu F em Deus e no km 140 Ent o a gente viu que era totalmente diferente do que eles apresentaram Nas comunidades visitadas n s identificamos plantio de soja plantio de grandes reas de soja e tamb m assim grande evas o das fam lias que foram saindo da comunidade indo pra periferia da cidade A gente conversou com produtores l porque que as fam lias a comunidade estava abandonada porque na verdade quem ainda estava l continua l mas ficou isolada porque n o tem transporte n o tinha mais transporte que conduzia semanalmente a n o havia mais Agora eles est o encontrando grande dificuldade de carregar seus produtos l de bicicleta ou ent o na cabe a mesmo pra retirar pra beira da BR ao longo da BR pra poder levar pra feira Vender sua produ o E outros tavam cercados assim era a quest o da sa de a quest o do preju zo com animais porque eles colocam o veneno e da se prejudica tanto a sa de humana qu
223. de terra longe da cidade e a devolu o das reas apropriadas indevidamente pelos produtores de soja conforme nos informou o prefeito Entretanto isso ficou apenas no papel mas foi alvo de discuss o p blica Nos anos seguintes o processo pol tico continuou Em mar o e abril de 2011 quando fizemos o ltimo trabalho de campo houve v rias reuni es na cidade para tratar de obras e servi os definidos pelo Planejamento e Or amento Participativo inclusive para discutir a composi o e o desempenho do Conselho da Cidadania rg o colegiado de representa o do governo e sociedade civil Na reuni o ordin ria deste Conselho da Cidadania discutiu se e aprovou se a modifica o no regimento interno do Conselho permitindo que pessoas com cargo no governo pudessem representar as organiza es sociais At ent o esse v nculo n o era poss vel e a discuss o pela manuten o do texto e da proibi o girava em torno da perda de autonomia desses conselheiros para a tomada de decis o Mas por maioria n o por consenso essa mudan a foi realizada Tamb m constatamos uma nova mudan a de t cnicos e secret rios no governo municipal se comparados com o trabalho de campo de 2009 inclusive novas composi es da Prefeitura com antigos advers rios pol ticos Assim temos as descontinuidades pol ticas e a quebra dos acordos do executivo com as organiza es sociais locais e com apoiadores externos produzindo descontentamento que foi reve
224. de trabalho de campo Nesses dois momentos pudemos realizar 44 entrevistas com perguntas semi estruturadas para tratar dos dois per odos de tempo considerados em nossa pesquisa A posi o dos informantes foi uma preocupa o considerada durante a escolha dos entrevistados Como adverte Queiroz 1991 p 81 o informante chave reconhecido como algu m que pode relatar muito sobre o per odo escolhido Podemos dizer que em campo encontramos o nosso Doc FOOTE WHYTE 2005 p 27 o senhor Erasmo Moura e este nos permitiu acessar informa es preciosas sobre o per odo Ford Por meio delas tomamos decis es de ordem metodol gica que garantiram a consist ncia das informa es apresentadas na pesquisa Por n o se tratar de um primeiro olhar a vigil ncia teve que ser redobrada Como analisa Velho 1976 a objetividade a imparcialidade e o distanciamento n o tarefa f cil no trabalho do investigador visto que a viv ncia no lugar por meio da observa o participante entrevista contato pessoal e de uma acerta empatia que permite acessar aspectos da vida social que s podem ser apreendidos pela observa o prolongada Desse modo dif cil colocar se no lugar do outro e delimitar um tempo que permita acessar as experi ncias e as viv ncias do lugar Para tanto consideramos pertinentes os seus ensinamentos de que o processo de estranhar o familiar torna se poss vel quando somos capazes de confrontar intelectualment
225. des brasileiras mas atrav s da urbaniza o pela verticalidade Ou seja pela articula o de espa os descont nuos propiciada pela a o seletiva do capital com base no apoio estatal cujas escalas v o desde o lugar onde se realizou o projeto passando pela media o governamental nas esferas estadual e federal chegando at aos Estados Unidos onde se localizavam as f bricas de Henry Ford Para este caso argumentamos que a urbaniza o deve ser entendida mais como evento um acontecimento de signific ncia SAHLINS 1985 p 191 que se prolongou por 18 anos e se realizou num contexto hist rico de estagna o econ mica da regi o 1912 1940 e por isso representou uma tentativa de reergu la econ mica e politicamente por meio da alian a entre o grande capital o Estado e as oligarquias da Amaz nia Mas de forma alguma deve ser confundido com o processo definidor da urbaniza o da regi o da fronteira urbana proposto por Becker 1978 o marco definidor da urbaniza o da Amaz nia com o surgimento das cidades que serviram de suporte para a implanta o dos grandes projetos na regi o na d cada de 1970 Embora com ela guarde alguma rela o visto ser a cidade o l cus da re socializa o da popula o migrante da instaura o do mercado de trabalho em bases assalariadas e do modo de vida urbano A implanta o da cidade empresa foi uma estrat gia usada pelo capital para dotar de servi os e equipamentos u
226. destinado aos rg os indigenistas para integrar os ndios e seus amplos territ rios ao processo de desenvolvimento nacional conforme analisa o autor 53 pela defini o da linha que separa cultura e natureza o homem do animal quem humano e que n o o na fronteira que se pode observar melhor como as sociedades se formam se desorganizam ou se reproduzem MARTINS 2009 p 10 A fronteira o lugar da desumaniza o do outro devido ao conflito gerado por diferentes vis es de mundo e concep es de vida que l se realizam Diz o autor que A fronteira de modo algum se reduz e resume fronteira geogr fica Ela muitas e diferentes coisas fronteira da civiliza o demarcada pela barb rie que nela se oculta fronteira espacial fronteira de culturas e vis es de mundo fronteira de etnias fronteira da hist ria e da historicidade do homem E sobretudo fronteira do humano MARTINS 2009 p 11 Conflitos que ganham intensidade com a presen a dos grandes projetos na regi o Como argumenta Santos 1995 p 16 os grandes projetos na Amaz nia se realizam de forma intencional e em local abundante de recursos naturais com base na ideia de salva o da economia de integra o do mundo de seguran a e progresso Para o autor estas s o roupagens do discurso mercantil e simb lico imposto pela a o do capital com base no poder estatal Os grandes projetos segundo
227. deve luctar s porque a machina est longe Elle s tem bra os e a energia do desespero Pobre presidente Foi elle buscar na Amazonia mais uma tortura para suas torturas mais uma angustia para accrescentar s suas angustias Olhando para a natureza soberana a contemplar escravos que n o tiveram for as para domina la e sentir que em todo o Brasil mais ou menos assim em propor es mais reduzidas si bem que mais prementes pela concentra o dos homens N s que j estamos vencendo os c os ainda n o vencemos a nossa terra e os nossos rios Estamos perdidos neste infinito de necessidades Falta tudo Amazonia Falta popula o falta communica o falta energia falta sa de Terra magnifica ainda a dominadora A Amazonia do Brasil mas ainda n o dos brasileiros Pobre presidente Acompanhamos seu soffrimento e a sua tristeza de n o fazer o impossivel Porque a transforma o da Amazonia para attingir numa s gera o o gr o da civilisa o que merece o impossivel mesmo para os homens de b a vontade grifo nosso FOLHA DO NORTE 09 10 1940 p 3 Nos escritos do pr prio Henry Ford tamb m podemos identificar formula es do mesmo teor uma vez que ele afirmava n o acreditar na rela o de igualdade entre os seres humanos Para ele igualar as diferentes capacidades retardaria o progresso j que os homens n o desenvolvem a mesma capacidade de trabalho Isso exige do mais apto a tarefa de
228. dia o entre os dois peda os de tempo examinando como se deu a inser o do lugar sob a l gica do capital na economia mundializada que imp s novas formas de uso e apropria o da natureza em bases intensivas e predat rias Embora os contextos socioculturais econ micos e t cnicos entre os dois per odos n o sejam equivalentes apenas relacionais os impactos socioambientais negativos guardam proximidade j que a premissa atrav s da qual aquela inser o se verificou em ambos os casos ancorou se na l gica de mercantiliza o da vida e da natureza do lugar Para tanto no cap tulo I apresentamos a urbaniza o brasileira primeiro na proposta de Milton Santos seguido de como esta tratada nos estudos urbanos sob a estrutura de pensamento do Metropolitano e N o Metropolitano Por fim trazemos a urbaniza o brasileira da Amaz nia em seus aspectos hist ricos e aquilo que diz respeito s particularidades e singularidades recentes naquele espa o subnacional No cap tulo II tratamos da experi ncia da Plantation de Henry Ford na Amaz nia brasileira entre 1934 1945 na cidade de Belterra no Oeste do estado do Par Em uma primeira etapa apresentamos o projeto civilizat rio capitalista e os aspectos estruturantes de sua racionalidade por meio da fala do desenvolvimento que produz o sentido com base na inferioriza o do outro e do vazio demogr fico para justificar o projeto de moderniza o capitalis
229. do conforme podemos constatar pelas normas contidas em documentos da CFIB Toda comida vestimenta e outras mercadorias s o vendidos por mercadores que compram a concess o junto a Companhia Estes mercadores s o fiscalizados por regras e pre os ditados pela Companhia Nenhum pre o de alimento pode ser elevado sem permiss o da Companhia que permitido somente quando novas provas s o submetidas mostrando que o pre o das vendas avan ou para um ponto onde a margem de lucro n o suficiente para conduzir um bom neg cio Com o intuito de garantir o abastecimento de carne fresca pastos foram cercados nas planta es onde a concess o de carne tem que ser mantida em estoque Todo o gado inspecionado assim como a carne abatida pelo departamento m dico necess rio o seu aval antes que qualquer carne seja vendida A quantidade de carne necess ria em Belterra de 40 a 50 cabe as por semana Existe um n mero de vendedores que vem pelo rio de canoa e outros para a planta o de cavalo A estes requerido que todo o seu alimento seja inspecionado antes de ser oferecido venda Toda a tentativa feita para melhorar a sa de e a situa o econ mica dos empregados JOHNSTON s d s n A outra parte dos alimentos era produzida no lote da pr pria resid ncia ou nas proximidades destas pelos funcion rios da Companhia Podiam completar a sua dieta alimentar com a ca a dada a abund ncia de animais na floresta conforme rel
230. do Conselho da Cidadania do Munic pio de Belterra Este ltimo constitui se num espa o de compartilhamento de discuss es e decis es com representa o do governo e movimentos sociais por conta do Planejamento e Or amento Participativo POP em curso Para ilustrar as mudan as vivenciadas no lugar com a chegada da soja al m do levantamento fotogr fico constru mos dois mapas que tratam das formas de uso e ocupa o do espa o da cidade antigas quadras dos seringais em dois per odos de tempo 1999 e 2011 antes e depois da chegada da soja respectivamente Este trabalho foi poss vel por meio da base de dados cedida pela Prefeitura com imagem de sat lite base cartogr fica e acrescida dos dados levantados durante o trabalho de campo Estes mapas foram confeccionados 26 especificamente para a tese em arcview map por uma arquiteta especialista neste tipo de trabalho Como procedimento complementar realizamos levantamento documental na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro e no Par na microfilmagem da Biblioteca P blica Municipal CENTUR e na Empresa Agropecu ria do Par EMBRAPA em Bel m no Instituto Boanerges Sena em Santar m na C mara de Vereadores e em secretarias de governo em Belterra e por internet na Biblioteca de Washington no Jornal New York Times na Funda o Get lio Vargas FGV na C mara dos Deputados Senado e Governo Federal Esses levantamentos nos permitiram acessar jornais entre d cadas
231. do desde 2003 em Santar m por m o MPE continua discordando do empreendimento Os t cnicos do Minist rio P blico levantaram uma s rie de questionamentos nos relat rios apresentados pela empresa Consultoria Paulista de Estudos Ambientais CPEA contratada pela Cargill para realizar o EIA Ainda que o MPE tenha feito uma defesa veemente contr ria perman ncia do terminal de gr os em Santar m caber aos t cnicos da Sema decidir o futuro da regi o e os rumos da empresa na cidade Sem car ter deliberativo o encontro de ontem serviu apenas para o embasamento t cnico dos profissionais da secretaria O LIBERAL 05 11 2010 Dispon vel em lt http www orm com br oliberal interna default asp modulo 250 amp codigo 498554 gt Acesso em 26 jan 2012 163 Mat ria publicada no Jornal Di rio do Par datada de 14 07 2010 sob o t tulo de Audi ncia define hoje o destino do terminal de gr os da Cargill noticia a realiza o de uma audi ncia p blica convocada para hoje na cidade de Santar m pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente SEMA onde ser apresentado ao p blico o resultado do Estudo de Impacto Ambiental e seu relat rio EIA RIMA realizado pela empresa Espera se que cerca de cinco mil pessoas participem da referida atividade que contar ainda com a presen a do Minist rio P blico Federal Observa que o terminal que est em funcionamento desde o ano de 2003 vive sobre fortes cr ticas do Minist rio P blic
232. do mundo e pela economia de mercado que por sua vez buscavam a constru o de condi es favor veis no sentido de romper com a ordem social baseada no regime de castas no latif ndio e no trabalho escravo Situa es tidas como entraves desfavor veis ao desenvolvimento pretendido pela burguesia nacional Nesse contexto a urbaniza o converteu se no elemento din mico capaz de dar suporte industrializa o pretendida Foi na cidade que se realizou a proposta de prosperidade de diferencia o social e da economia de mercado A transi o da produ o artesanal para a produ o manufatureira de bens de consumo constitui se em seu elemento fundante de forma que a industrializa o no Brasil foi inclu da em seu sistema de valores Isso possibilitou substituir o estilo de vida tradicional por novas formas de exist ncia e sob a tica do progresso como ideologia e justificativa para realizar o convencimento social de que esta era a nica possibilidade de elevar o Brasil condi o de um pa s civilizado FERNANDES 1970 p 73 74 grifo do autor Henry Ford avaliava que o Brasil apesar das grandes extens es territoriais e da abund ncia de recursos naturais n o se desenvolvia por conta da inexist ncia dos meios de transporte Defendia ele que O autom vel est destinado a fazer do Brasil uma grande na o Os nativos embora ignorantes a respeito de certas esp cies de m quinas e desacostumados disciplina
233. duba o das seringueiras importadas e a queda nos pre os do produto no mercado internacional por conta da descoberta da borracha sint tica foram outros fatores que contribu ram para inviabilizar o empreendimento Ent o os filhos de Ford resolveram Raros E 4 repassar para o governo brasileiro o empreendimento antes do aprofundamento da crise Conforme nosso entrevistado o projeto depois da sa da dos americanos ficou sob responsabilidade do Minist rio da Agricultura O projeto ainda continuou por mais um tempo no mesmo regime de manuten o do seringal e colheita chegou ainda a colher at 12 toneladas de seringa por dia antes que desprezassem o seringal e o mato tomasse conta o cupim e o seringueiro acabasse com o resto Hoje em dia n o temos mais seringal TICA Outubro 2009 Os relatos indicam que a borracha de Belterra e Fordl ndia n o abasteceu o mercado norte americano mas fala se que de l eles levaram ouro prata madeira e outros min rios O ouro de Belterra por exemplo foi escondido dentro de peda os de Bambu Pelo menos esse fato ainda est presente no imagin rio de alguns de seus moradores Porque os americanos n o t m nada de besta A estrada da aqui por exemplo aqui a guarita Aqui embarcava para Fordl ndia Para chegar bem aqui tinha uma estrada para o acampamento era cercado de arame farpado Ali n o entrava ningu m era proibido entrar gente l tinha ouro l Uma
234. duto Como produ o Lefebvre entende os aspectos materiais e imateriais da vida em sociedade pois envolve a Produ o de coisas produtos e de obras de id ias e de ideologias de consci ncia e de conhecimento de ilus es e de verdades das representa es da linguagem Produzir em sentido amplo produzir ci ncia arte rela es entres seres humanos tempo e espa o acontecimentos hist ria institui es a pr pria sociedade a cidade o Estado em uma palavra tudo LEFEBVRE 1999 p 37 43 80 Vista dessa forma a cidade tida como local do capital j que sua constru o foi condi o b sica para o desenvolvimento do capitalismo como modo de produ o concentra o de infraestrutura e de m o de obra em bases assalariadas cria o de institui es 214 Sa z Lembramos que na antropologia quando Geertz 1978 chamava de descri o densa ele se referia ao trabalho etnogr fico associado aos conceitos fornecidos pela ci ncia Essa advert ncia do autor relacionava se ao fato da antropologia n o ser literatura 228 banc rias comerciais jur dicas introdu o da m quina em substitui o ao trabalho manual enfim a divis o do trabalho No final dos anos de 1960 o pr prio Lefebvre 1969 advertia para a distin o que deve existir entre o tipo ideal de cidade constru da pelo pensamento abstrato e a cidade real que ele definia como a cidade incompleta Assim ao analisar
235. e 209 Quadro 1 Belterra dos Sonhos para Gestores e Lideran as Municipais 212 Quadro 2 Estrutura das Racionalidades e A es reereeeererrcareea 216 Figura 82 Mapa das formas de uso e ocupa o do espa o da cidade 1999 219 Figura 83 Mapa das formas de uso e ocupa o do espa o da cidade 2011 221 1 1 1 2 1 3 21 2 2 2 3 2 3 1 2 3 2 2 3 3 2 3 4 2 4 2 3 3 1 3 2 3 3 3 4 4 1 4 2 4 3 4 4 SUM RIO jKH eTO DI ELON O MERE TE AEE A EEE EA T EAA 15 A URBANIZA O DA SOCIEDADE E DO TERRIT RIO 29 O Brasil Metropolitano e N o Metropolitano da urbaniza o brasileira 29 A urbaniza o brasileira da Amaz nia serranas 34 Particularidades e singularidades do urbano da Amaz nia 37 CIDADE NA FLORESTA BELTERRA A EXPERI NCIA DA PLANTATION DE SERINGA DE HENRY FORD NA AMAZ NIA 1934 1945 46 O processo civilizat rio capitalista para a Amaz nia ccssities 46 A chegada do capital americano na Amaz nia siseserrseeeeeeas 55 A experi ncia da CFIB dos modos de vida do lugar produ o do espa o urbano na Amazonia ssspassss iara o rd Hia CSS ea ia RU ade SSD e AD qa 68 Os modos de vida na cidade aipim quis oii laiada pia Asia andor ia aaa AS L Upa ESd 74 A discipl
236. e metropoliza o que corresponde a 1 concentra o da popula o e da pobreza 2 a concentra o das atividades modernas 3 o local privilegiado dos ajustes fiscais 4 a concentra o de atividades diversas de capital de trabalho e tecnologia 5 a concentra o dos meios de difus o de id ias mensagens e ordens 6 a concentra o de uma materialidade relacionada aos objetivos econ micos e socioculturais Assim o fato metropolitano constitui se como uma totalidade menor dentro de uma totalidade maior constitu da pela forma o social nacional SANTOS 2005 p 88 7 Como exemplo podemos citar o Observat rio das Metr poles que re ne 159 pesquisadores e 59 institui es dos campos universit rio programas de p s gradua o governamental funda es estaduais e prefeitura e n o governamental sob a coordena o geral do IPPUR UFRJ Dispon vel em lt http www observatoriodasmetropoles net index php gt Acesso em 04 nov 2011 8 Como exemplo podemos citar a Rede de Pesquisadores sobre Cidades M dias ReCiMe constitu da a partir dos trabalhos financiados com recursos do Prosul CNPq durante o ano de 2006 que reuniu alguns pesquisadores interessados no tema SPOSITO et al 2007 31 fechados e nos shopping centers seus habitantes que vivem sob o imp rio dos fluxos sob a nega o de tudo que p blico e buscando prote o frente sensa o do medo LENCIONI 2006 p 48 A metr
237. e natureza A ca a a pesca o cultivo da terra a brincadeira com as crian as na praia a lavagem de roupa o passeio de canoa e o banho de rio deixaram de ser parte de seu cotidiano quando o barco da CFIB passou nas localidades recrutando m o de obra para lev la at o acampamento provis rio da empresa na localidade de Porto Novo em Belterra onde se 65 Para viabilizar a industrializa o LEFEBVRE 2002 p 69 necess rio que o capital avance sobre o campo e sobre a natureza em busca da fonte de energia mat ria prima e m o de obra Criar a cidade a condi o essencial para re socializar a popula o ou em outras palavras urbanizar a sociedade Desse modo a cidade como espa o do poder pol tico econ mico social e cultural passa a ser protagonista por meio das classes dirigentes das institui es e regulamenta es criadas para este fim que num processo de longa dura o desprende a vida urbana da industrializa o para enfim constituir a sociedade urbana sentido e finalidade da industrializa o simplesmente porque nasce dela a engloba e a encaminha em dire o a outra coisa Temos assim a instaura o da divis o social e territorial do trabalho LEFEBVRE 1991 que separa e define o campo como o lugar da natureza da representa o do original e da agricultura que deve dar lugar s fun es de organiza o dire o produ o e do trabalho intelectual representada pela cidade para o
238. e s margens da BR 163 a localidade do trevo sofre com a atividade que cerca as casas a escola municipal e o posto de sa de existente no lugar Relata um vereador do PMDB 43 anos que durante a realiza o do nosso trabalho de campo tentava uma sess o especial na C mara para discutir o assunto e em tom de desaprova o nos diz Rapaz o seguinte eu n o sou contra o desenvolvimento da soja eu sou contra a atitude que os sojeiros t o fazendo Eles t o trabalhando praticamente dentro da casa E eles ficam passando insumo muito forte n E isso vem prejudicando a popula o principalmente quem mora ali entre o port o do Trevo aquela comunidade ela t sofrendo muito devido o sojeiro n o respeitar a parte da popula o No col gio Vitalina Mota a gente teve pessoas que j passou mal n Na hora que tava passando o produto t xico e foi obrigado a diretora procurar o operador da m quina que tava passando e paralisar servi o E n o s isso n o Eles deixam de passar na semana porque eles sabem que tem fiscaliza o passam no s bado porque s bado e domingo eles sabem que ningu m vai fiscalizar ent o faz isso Eu n o tenho nada contra eles at hoje ainda n o tive nenhuma discuss o com eles mas voc sabe n O pau s quebra do lado mais fraco N o d de confiar muito nesse povo n o VEREADOR DO PMDB Mar o 2011 A figura 79 traz a planta o de soja e esquerda a Escola Vitalina
239. e candidaturas pr prias tendo como bandeira de luta a soja na regi o participa o em governos locais como secret rios ou cargo de destaque como coordena o de projetos que d visibilidade pessoal apresentam se como potenciais candidatos s elei es de 2012 luta pela cria o do estado do Tapaj s Destino da produ o primeiro abastece as necessidades da fam lia incluso aqui filhos netos e suas mulheres Caso haja excedente vende na feira ou mini mercado de Belterra e supermercado ou feira de Santar m a produ o vendida para a empresa Cargill que negocia o produto com o mercado europeu soja J o feij o e o arroz s o vendidos para os cerealistas localizados ao longo da BR 163 ou para os supermercados localizados nas cidades de Bel m PA e Manaus AM Quadro 2 Estrutura das Racionalidades e A es Fonte Elaborado pelo autor Dessa forma observamos que as formas de uso ocupa o e apropria o do lugar n o se d o nas mesmas bases Assim pr ticas sociais e econ micas presididas por racionalidades e dom nio de t cnicas diferenciadas s o elementos demarcadores das distin es entre os campos de poder e qualificam o teor dos conflitos socioambientais em quest o Contudo chamamos aten o que mesmo se tratando de campos de poder com posi es distintas uma situa o unificou os discursos e aproximou os interesses embora por 216 raz e
240. e e mesmo emocionalmente diferentes vers es e interpreta es a respeito dos fatos situa es VELHO 1976 p 44 Assim alguns procedimentos de conduta tica em campo foram tomados como desnaturalizar as rela es estabelecidas anteriormente reconhecer que se trata de um projeto de pesquisa e n o de interven o social n o politizar o campo nem banalizar os conceitos e por fim n o transformar a observa o da realidade em participa o observante de forma a n o coincidir o discurso do pesquisador com a do grupo pesquisado conforme prop em Cardoso 1986 e Durham 1986 Para as d cadas de 1930 e 1940 direcionamos as entrevistas para os velhos de Belterra antigos seringueiros e ex funcion rios da CFIB por serem os guardi es da mem ria e das lembran as da vida do lugar BOSI 1979 e aos seus filhos que viveram situa es 25 pr ximas queles anos ouviram hist rias dos pais e parentes e presenciaram as transforma es posteriores com a sa da da Companhia e a repassagem do projeto ao governo Brasileiro Segundo Pollak 1992 p 2 o que se recolhe com as hist rias de vida s o as mem rias sejam elas individuais ou coletivas visto estas serem um fen meno social Parece pertinente trabalhar conforme prop e este autor os elementos constitutivos da mem ria s o os acontecimentos vividos pessoalmente e aqueles vividos pelo grupo social ao qual se pertence por meio da socializa o pol tica
241. e por muitas vezes aparecem na nomina o dos entrevistados como culturas Disse nos uma moradora que Belterra era resultado da cultura dos americanos do ter e poder dos migrantes nordestinos da agricultura e das popula es tradicionais do extrativismo Podemos argumentar com base em Garcia Canclini 2011 que as culturas populares n o s o fechadas em si mesmas Isso se aproxima das formula es de C ndido 1971 quando este destaca que os modos de vida resultam tamb m de heran as culturais que podem ser oriundas do pr prio grupo ou trazidas por grupos sociais externos sua forma o sociocultural primeira Assim podemos pensar que os modos de vida da cidade de Belterra na atualidade s o resultantes de h bridos das disputas conviv ncias e resist ncias de experi ncias com os americanos principalmente embora existissem na poca outras nacionalidades que passaram por Belterra durante a Plantation de seringa da CFIB 1934 1945 dos extrativistas pescadores e agricultores dos rios Tapaj s Arapiuns e Amazonas trazidos pela companhia e dos migrantes nordestinos especialmente cearenses mais ligados agricultura Vale ressaltar que at hoje o apito da sirene toca marcando o ritmo da vida da cidade heran a deixada pelos americanos Esses h bridos herdados est o associados s rela es de sociabilidade s formas de uso e apropria o do territ rio e da natureza pr tica urbana e agr cola que se realizam si
242. e do per odo A sociabilidade urbana conforme analisou D Inc o 1992 refere se s rela es entre os grupos sociais em uma determinada cidade e s o constitu das por dois tipos aquela relacionada ao uso dos espa os abertos como o caso do uso da rua pelas classes populares e a sociabilidade restrita que se desenvolve mais em espa os fechados mais entre a burguesia Vale ressaltar que no caso estudado as ruas e os espa os abertos n o representavam o perigo da viol ncia como as situa es verificadas no per odo atual em muitas cidades brasileiras e n o podem servir como elemento explicativo da evita o Tratava se 89 antes da recusa de conviv ncia com as diferentes classes sociais e grupos profissionais que compunham o projeto e da escolha de conviv ncia entre os pares da mesma nacionalidade A premissa de industrializar a selva que movia a racionalidade norte americana n o condizia com uma rela o que se desse com base na alteridade Ao contr rio essa perspectiva serviu para naturalizar a diferen a e as hierarquias sociais entre superiores e inferiores tendo como refer ncia o an ncio do estere tipo conforme analisaram Elias e Scotson 2000 Na situa o analisada por estes autores a diferen a entre os estabelecidos e os outsiders referia se ao tempo de resid ncia na cidade entre os mais antigos e os rec m chegados respectivamente Em Belterra a situa o se inverte os de fora s
243. e do Porto Novo Fonte IBGE 1953 77 Figuras 3 e 4 Vest gios do porto flutuante do Pindobal T11 Figura 5 Vis o panor mica da infra estrutura criada pela CFIB eeeeseeeeesereereesererrrrrsreeee 79 Figura 6 Campo de avia O s sininen pieron E n E E AE K a E E 80 Figura 7 Arruamento e sistema de ilumina o rrenan 80 ERCE O E E T 81 Fig ra 9 Creche Darcy Varias Ca e a ra a a a a e 81 Fig ra L0 Esentono da CHIB emissor soar MTL sadias aa E pu a na a EnS 82 Figura 11 Hospital Henry Ford e necrot rio ao lado direito 83 Figura 12 Funcion rios do hospital na d cada de 1930 83 Figura 13 Cirurgia no hospital Henry Ford 1933 arena 84 Figura 14 Casa dos m dicos hoje Centro de Mem ria de Belterra 84 Figura 15 Casa da Vila Americana com o carro Ford preto em destaque ao lado 86 Figura 16 Outro tipo de casa da Vila Americana erre ereeaneeeraanea 87 Figura 17 Gerente geral da Companhia entre 1931 1945 88 Figura 18 Club House hoje C mara de Vereadores eee 89 Figura 19 Casas da Vila Mensalista cuiasssastasals tolera so pusieigatias Sans tea shaadalelsadiaa Cons teia gadadulasa 91 Figura 20 Casasda Vila Oper ria castiga ass san je Raso tonal oiee 91 Figura 21 Casas da Vila VIVEMOS ssa GE SS eE EER 92 Figura 22 Casas da Vila 120 ssaemn
244. ecursos naturais por meio de bandeiras de luta que trazem a quest o ambiental como um de seus fundamentos e contam ainda com apoio de ONGs e universidades em torno das a es que desenvolvem A contra estrat gia ALMEIDA 2004 p 46 consiste numa pr tica de mobiliza o contra a devasta o a expropria o dos meios de produ o e a usurpa o dos saberes nativos e busca consolidar a consci ncia ecol gica incorporando a a identidade coletiva dos movimentos sociais Observamos assim que essas organiza es embora n o abram m o de suas identidades coletivas e territorialidades especificas conforme prop e este autor se reconhecem como pr ximas e se organizam em torno desse campo para aumentar o seu poder de interven o na pol tica visto que a dimens o complexa de suas formula es incorpora quest es tnicas de identidade e de g nero Vale ressaltar que n o se trata apenas de movimentos de resist ncia a contra estrat gia em seu fundamento consubstancia se em vis es de mundo pr ticas sociais e de par metros estruturais para a reprodu o da pr pria vida dos grupos sociais envolvidos 124 A no o commodity vincula se a produtos homog neos produzidos e transportados em grandes volumes por grandes empreendimentos no setor mineral madeireiro industrial soja e derivados por exemplo e coleta de plantas com propriedades medicinais Refor a o mercado de comm
245. edi rios prontos e ativos nas atividades de troca de produtos naturais manufaturados e industrializados processam se rela es reais e simb licas de demonstra o de valores de um e de outro mundo e se estabelecem rela es de sociabilidade disputas e novas tens es inerentes a um espa o que a rigor n o nem urbano nem rural GUERRA 2006 p 100 108 Wanderley destaca ainda que o rural deve ser pensado como o lugar de realiza o da vida e do trabalho muitas vezes em bases n o monet rias e n o como espa o vazio como prop e a ideologia do desenvolvimento Deste modo um conjunto de novas configura es se apresenta para aquele espa o at ent o tido como lugar da produ o agr cola A novidade adv m da presen a de moradias secund rias de pessoas que vivem na cidade e do turismo rural Assim ao distinguirmos a cidade como a base material e o urbano como rela es socioculturais LEFEBVRE 1993 poss vel observar na cidade as rela es urbanas rurais e tnicas que l se realizam por meio dos modos de vida Faz tempo diz Wanderley que o campo deixou de ser apenas espa o da produ o agr cola hoje ele recebe signos e objetos da vida urbana por meio dos servi os de hotelaria e turismo bem como em muitos casos se Ea no 192 transformou em resid ncia secund ria de moradores oriundos da cidade 191 Lembramos das oposi es criadas pelo continuum urbano rural de Redfield e o quanto essa forma de p
246. eexistente da cidade para servir como ponto de partida ao empreendimento Podemos citar por exemplo a presen a da 43 poderosa mineradora Alcoa no munic pio de Juruti PA e as consequ ncias decorrentes dessa atua o sobre a vida do lugar Para l se deslocaram 25 mil pessoas de fora para servir de m o de obra ao empreendimento sendo que a popula o municipal anterior sua instala o era de pouco mais de 37 mil habitantes IBGE 2007 Esse projeto j est em opera o desde o in cio dos anos 2000 os impactos socioambientais desmatamento polui o do manancial de gua que abastece a cidade viol ncia prostitui o remanejamento de fam lias e amea a de destrui o do s tio arqueol gico j s o vis veis e trazem grande preocupa o para a popula o local visto que os acordos feitos sobre a agenda ambiental n o foram cumpridos por parte da empresa Essas informa es nos foram relatadas por dois dirigentes sindicais da regi o por meio de entrevista No entanto a preocupa o das lideran as sindicais e populares tamb m se refere expans o da minera o para outros munic pios e cidades da mesorregi o do Baixo Amazonas Diz o dirigente do CEFT BAM Ent o assim n s tamos vendo o projeto Juruti como um problema t criando um grande problema social na regi o naquela regi o de Juruti velho Mas n o s Juruti nos tamos preocupados com outros projetos que t surgindo na margem esque
247. egi o da Transamaz nica e Xingu e em 2005 da freira Dorothy Stang mission ria com atua o em Anap PA bem como das amea as de morte que v m sofrendo lideran as sindicais ind genas e mission rios na regi o Tais fatos implicaram italiana polonesa expulsos do Sul pelo modelo agroexportador e exclu dos de sua condi o de agricultores LEROY 1991 p 37 155 Como exemplo podemos recorrer mat ria do jornal Gazeta de Santar m intitulada Sojeiros t m preconceito com santarenos publicada no caderno Cidade p 3 datado de 23 a 24 de maio de 2006 146 den ncias internacionais e motivaram a negocia o direta entre o campo dos movimentos sociais e ONGs com governos europeus tendo como consequ ncia o embargo da comercializa o da soja produzida principalmente em Belterra e em Santar m PA onde se localiza o porto da empresa multinacional Cargill O acionamento do Minist rio P blico dos governos estadual e federal e a exig ncia de prote o policial para os amea ados comp em a complexa teia de rela es que l se desenvolvem Viver pela metade esta a sensa o de uma lideran a do STTR de Santar m amea ada de morte no ano de 2005 que est sob prote o policial desde 14 de mar o de 2007 Os conflitos pela posse da terra envolvendo agricultores e empres rios e as den ncias do desmatamento causado pela expans o da soja feita pelo sindicato resultaram nas
248. em parte da estrutura constru da para dar suporte ao empreendimento Para os momentos de lazer dos trabalhadores os relatos indicaram o acampamento no Porto Novo onde iam dan ar beber e tomar banho de rio nos fins de semana e os filmes exibidos nas proximidades da Vila Oper ria Para os americanos tinha as festas no Club House o bar do italiano e o jogo de golfe na pra a central da cidade conforme veremos com mais detalhes em seguida A Vila Americana a primeira a ser constru da na cidade tinha um conjunto de casas onde viviam os americanos que coordenavam o projeto Eram casas grandes com sala quartos cozinha varanda banheiro interno fossa sanit ria cobertas com telhas francesas Eram casas amplas cercadas de rvores com terreno sem muros Nelas os utens lios dom sticos e m veis eram trazidos diretamente dos Estados Unidos ou constru dos em Belterra Tamb m tinham ilumina o e gua encanada gra as aos motores movidos por leo diesel manuten o predial oferecida pela empresa e telefone Nestas casas moravam apenas os americanos sem suas fam lias que haviam ficado em seu pa s de origem Para locomo o usavam bicicletas e autom veis trazidos por embarca es americanas e que eram de uso exclusivo deles com exce o das bicicletas utilizadas pelos chefes durante o expediente de trabalho As figuras 15 e 16 mostram essas casas inclusive algumas tinham ao lado o carro preto modelo A para transportar o staf
249. ensamento se mostra limitada para os fins do nosso trabalho Este autor fala de uma sociedade tradicional homog nea isolada e n o letrada onde o comportamento espont neo acr tico pessoal e padronizado no qual a viv ncia familiar assegura a unidade de a o do grupo com base na experi ncia religiosa Nesse caso o sagrado informa as tradi es as cren as e as concep es compartilhadas Na sociedade rural ou primitiva grifo nosso por ele analisada as atividades n o guardam rela o com a intelectualidade ou ci ncia pela inexist ncia habitual do exerc cio de classifica o abstra o e experimenta o com a legalidade nem tampouco com o mercado e a divis o do trabalho uma vez que a motiva o econ mica n o se faz presente Nessa sociedade as pessoas t m comportamentos e atitudes perecidas e acreditam nas mesmas coisas o que implica um forte sentimento de perten a dado o v nculo emocional que envolve essas rela es Ali s esta a hip tese do autor que trata como oposi o a rela o urbano rural Para ele as sociedades rurais trazem caracter sticas comuns que contrastam com as sociedades urbanas modernas cujos atributos exclusivos s o das seguintes ordens a urbaniza o com o estabelecimento de rela es econ micas e pol ticas tendo por base o status a divis o complexa do trabalho a motiva o pelo lucro a seculariza o o individualismo a impessoalidade configurando assim a desorga
250. entais junto a comunidades urbanas e rurais indicou que parte dos propriet rios que migraram n o conseguiu emprego formal ou iniciar uma nova atividade geradora de renda Parte investiu em novo im vel rural ou obteve emprego formal no campo e na cidade A migra o da popula o rural para reas urbanas de Santar m ocorreu em escala semelhante ou menor ao observado em outras regi es do estado ou da regi o Norte e reflete o anseio da popula o por melhores condi es de vida associados aos benef cios dispon veis nas reas urbanas O relat rio ressalta ainda a gera o de 2 8 mil empregos indiretos e a inje o de 56 milh es por ano na economia local A gera o de renda que ocorreu nos munic pios de Santar m e Belterra representada pela amplia o do PIB com consequente amplia o da arrecada o de tributos e transfer ncias federais e estaduais Com isso uma maior massa de recursos passou a circular na economia local notadamente em Santar m incentivando novos investimentos em atividades produtivas Todas essas quest es s o apresentadas como impactos positivos da atividade da soja Os impactos investigados e n o existentes referem se a interfer ncia na pesca presen a de defensivos nas guas nos sedimentos e nos peixes altera o do fundo do rio Tapaj s eros o assoreamento contamina o RIMA CARGILL 2008 p 23 28 29 151 E outra coisa que a gente identificou tamb m foi a
251. ental e amea a seguran a alimentar Federa o de Org os para Assist ncia Social e Educacional FASE Bel m mimeo 2006a Santar m e Belterra a fronteira da vez In SCHLESINGER S NORONHA S Org O Brasil est nu o avan o da monocultura da soja o gr o que cresceu demais Rio de Janeiro FASE 2006b p 71 87 CALTELLS Manuel A quest o urbana Rio de Janeiro Paz e Terra 2006 CARDOSO Ruth As aventuras de antrop logos em campo ou como escapar das armadilhas do m todo In A aventura antropol gica S o Paulo Paz e Terra 1986 p 17 37 CASTRO Celso Evolucionismo cultural textos de Morgan Taylor e Frazer Rio de Janeiro Zahar 2005 p 41 65 CASTRO Edna Urbaniza o pluralidade e singularidades das cidades amaz nicas In Cidades na floresta S o Paulo Annablume 2009 p 13 39 Pol ticas de ordenamento territorial desmatamento e din mica de fronteira Novos cadernos do NAEA Bel m v 10 n 2 p 105 126 dez 2007 Industrializa o transforma es sociais e mercado de trabalho In CASTRO E MOURA E A F MAIA M L Org Industrializa o e grandes projetos desorganiza o e reorganiza o do espa o Bel m EDUFPA 1995 p 91 120 CLASTRES Pierre Arqueologia da viol ncia In guerra nas sociedades primitivas Ensaio de Antropologia Pol tica S o Paulo Brasiliense 1982 p 169 204 CERTEAU Michel de A inven o do cotidiano 1 artes do fa
252. ente tem porque l o nosso territ rio o nosso solo ele arenoso Ent o uma cultura diferenciada N o uma cultura perene Ent o assim aquilo que voc tem voc pode aproveitar sem voc ter gastos A voc vai no rio voc pega o peixe voc se alimenta naturalmente sem a polui o gra as a Deus Outro aspecto a ser valorizado quando o prefeito de Belterra se refere aos lotes da cidade como verdadeiros s tios por conta da diversidade de uso e de produ o Tamb m podemos acrescentar a essa narrativa a casa de farinha no quintal a cabana de palha onde fam lia se re ne para conversar e se refrescar do calor das tardes de ver o Temos ainda a preponder ncia da madeira como material hegem nico na constru o das casas da cidade e uma variedade de rvores que cercam os im veis Isso n o quer dizer aus ncia da alvenaria tijolo e cimento mas o papel secund rio deste padr o Assim apresentamos algumas imagens das casas dentre os mais de 3 000 im veis levantados pelo Cadastro T cnico Multifinalit rio CTM ressaltando que se trata de reas bastante arborizadas conforme podemos observar pela paisagem figuras de 62 a 67 179 Figura 62 a 67 Padr o construtivo das casas Fonte Cadastro T cnico Multifinalit rio 2007 Enfim os relatos obtidos atrav s da pesquisa de campo apresentam m ltiplas situa es geradas pelo encontro de diferentes temporalidades e modos de vida na
253. entific la atrav s da participa o destes em governos locais alguns em cargos de confian a no lan amento de v rias candidaturas a deputado estadual e federal em 2006 e vereador e prefeito no ano de 2008 No entanto esta presen a pode ser notada tamb m em eventos religiosos ou manifesta es culturais que j incorporam dan as doces e parte da culin ria principalmente dos ga chos como s o denominados pelo senso comum Inclusive em 2006 foi eleito um deputado federal que teve como mote de sua campanha ter trazido a soja para Santar m quando ainda era prefeito do munic pio Dessa forma devemos observar que Desenvolvimento Sustent vel antes de ser um termo de significado unit rio representa uma express o de conflito e luta por concep es diferenciadas do que seja desenvolvimento que estrat gias s o mais adequadas para sua consecu o e quais devem ser os principais benefici rios e protagonistas de sua implanta o Para Acselrad 1999 p 80 s o discursos em disputa pela express o mais leg tima uma luta simb lica pelo reconhecimento da autoridade para falar em sustentabilidade Isso nos remete s reflex es de Bourdieu 2001 p 15 sobre o poder simb lico que a cren a na legitimidade da palavra e daqueles que a pronunciam com sua a o dominadora e arbitr ria embora n o seja reconhecido como tal por aqueles que est o sob sua influ ncia visto que os formuladores det m c
254. entre o global e o local n o h vazio de vida social nem de a o pol tica Ent o como usar o debate das escalas para articular simultaneamente essas dimens es O que definir como objeto de pesquisa diante de tantas quest es complexas e relevantes do urbano na regi o que dizem respeito tanto s cidades em rede como quilo que se refere ao espa o intra urbano Ora a a o do capital com base no apoio estatal n o nova mas que tipo de perspectiva escolher as cidades m dias Os espa os metropolitanos As pequenas cidades A cidade empresa J que todas elas fazem parte da mesma roupagem e do repert rio das iniciativas desenvolvimentistas que se projetam sobre a Amaz nia 2 E Feat Anoy E as Cardoso 2010 chama aten o para as din micas econ micas promovidas pelo Estado que n o dialogam com o local e para a desarticula o entre as inst ncias pol ticas de media o da rela o entre governo e sociedade nas esferas municipal estadual e federal Assim essas considera es nos servem como parte dos elementos explicativos para esses descompassos 21 Foi nesse contexto de situa es que optamos por construir como objeto de estudo os modos de vida na cidade de Belterra Ocorre que nossa inten o anal tica buscava deslocar o debate da rede urbana desenvolvido em nossa disserta o de mestrado Import ncia e significado das cidades m dias na Amaz nia uma abordagem a partir de Santar m PA 2005 N
255. ep o e representa es coletivas diferenciadas relacionados s formas culturais Terceiro que essa a o predat ria sobre a vida social do lugar e sobre a natureza desarranja ou destr i os modos de vida preexistentes para que novas modalidades produtivas possam ser instauradas Isto pode ser identificado pelo deslocamento compuls rio de agricultores do espa o rural para a cidade pelo uso intensivo e predat rio da natureza causado pelo desmatamento e uso de agrot xico que polui as nascentes de rios e igarap s dentre outras situa es que foram relatadas durante o trabalho de campo Assim o valor de troca se sobrep e ao valor de uso e novas t cnicas com base na mecaniza o se instauram sob o discurso da moderniza o que desqualifica o uso primeiro da popula o do lugar como arcaico e primitivo por conta da t cnica simples do machado da enxada do ter ado e do uso da natureza prioritariamente para a satisfa o das necessidades humanas em bases n o 130 mercantis 128 vide o item 2 3 1 129 Contudo esses deslocamentos tamb m se fazem em outras dire es por exemplo para as reas mais distantes dentro da rea rural do munic pio de Santar m ou para o rural pr ximo no munic pio de Belterra Temos tamb m os deslocamentos do rural e da cidade de Belterra para a cidade de Santar m e os movimentos de retorno da cidade de Santar m para o rural e para a cidade de Belterra Temos assim um
256. ep lveda dos Santos Ign cio Cano Maria Cl udia Coelho Rosane Prado e Clara Mafra aos professores Valter Sinder Helena Bomeny Patr cia Birman M rcia Contins Raquel Menezes Rosane Prado Carly Machado com quem fiz disciplinas e aos funcion rios Alice Daniel S nia e Wagner que gentilmente sempre atenderam meus pedidos Funda o Ford pela bolsa de estudos em L nguas que me permitiu passar nas provas de ingl s e franc s do Doutorado especialmente a Aur lio Viana CAPES por minha primeira bolsa de doutorado e FAPERJ por minha bolsa de doutorado estudante nota 10 Aos professores do IPPUR UFRJ que atenciosamente me receberam em disciplinas H lion Povoa e especialmente Ana Clara Torres Ribeiro pelas cr ticas construtivas pelos caminhos apresentados e por despertar em mim o analista tarefa esta que perseguirei pelos pr ximos anos de minha vida Infelizmente Ana Clara n o est mais entre n s para ver por ela mesma o quanto foram teis os seus ensinamentos E ao professor Henri Acselrad pela cr tica ao artigo a ele enviado sobre os Conflitos Socioambientais que posteriormente tornou se um dos cap tulos da tese Rosilene Alvim IFCS UFRJ pela acolhida intelectual no Rio de janeiro e pela co orienta o informal e generosa e igualmente a Jos S rgio Leite Lopes PPGAS UFRJ pelo di logo anal tico por meio das Vilas Oper rias pesquisas que tratam de situa es no Nordeste na d
257. er o tratados como ferramentas e n o como teoria acabada do conhecimento sociol gico da mesma forma que guardam profunda coer ncia com sua aplica o pr tica BOURDIEU 2005 no estudo dos modos de vida na cidade Dito isto podemos retomar com base no apresentado as tens es existentes entre o conceito sociol gico de cidade e o modo de vida na cidade de Belterra 6 2 A cidade praticada o cotidiano e o lugar As an lises que desenvolvemos nesta tese nos mostram a dist ncia existente entre a cidade abstrata e a cidade concreta conforme advertia Lefebvre 1968 Na cidade do pensamento definida por meio da divis o do trabalho cada espa o da vida social campo e 229 cidade urbano e rural recebe o papel e as atribui es a eles destinados na produ o circula o e consumo no processo de acumula o do capital Como vimos pelas proposi es de diversos autores cidade coube o poder de decis o as institui es e a legisla o o trabalho intelectual a complexa especializa o da for a de trabalho e o dom nio da t cnica expresso nas ind strias no com rcio e nos modernos servi os prestados aos citadinos Sendo ela a express o e s ntese dos avan os sociais intelectuais e tecnol gicos da sociedade n o pode ser o lugar da produ o agr cola papel este delegado ao campo uma vez que a maioria de sua popula o destitu da dos atributos anteriores pode se dedicar s tarefas da agricultura Para
258. er stica dessas disputas em torno da ocupa o e do controle do territ rio por diferentes grupos humanos que tamb m incluem a sua significa o E a disputa 37 Enormes atoleiros filas de caminh es e muita lama ao longo da rodovia Nesta poca s o comuns as cenas de caminh es nibus e carros pequenos parados nos atoleiros do trecho da BR 230 a Transamaz nica estrada que liga o Sul ao Oeste do Par O problema uma heran a de mais de 40 anos Desde que foi constru da na d cada de 70 a rodovia federal nunca foi tratada pelos governos como prioridade As defici ncias na infraestrutura dificultam a trafegabilidade Entre Novo Repartimento e Pacaj trecho com cerca de 140 quil metros caminh es est o levando at sete dias para transpor os atoleiros Cargas perec veis como frutas e verduras originadas do Sul e Sudeste do pa s chegam aos supermercados de Altamira sem condi es de serem consumidas Dispon vel em lt http www estadodotapajos com 201 1 04 atoleiros na transamazonica atrapalham html gt Acesso em 15 jul 2011 ISA Grifo nosso 3 Neste sentido estabelecer uma tutela sobre os ndios era exercer uma fun o de media o intercultural e pol tica disciplinadora e necess ria para a conviv ncia entre os dois lados pacificando a regi o como um todo regularizando o mercado de terras e criando condi es para o chamado desenvolvimento OLIVEIRA 1998 p 52 Esse era o papel
259. er muito bem a maloca cobria a maloca at o pessoal do Sindicato eu fiz aqui n EMANUEL Mar o 2011 Por ter belas praias a APA j sofre press o da a o imobili ria visto que muitas casas de veraneio foram constru das e seus propriet rios s o do munic pio vizinho de Santar m s proximidades da cidade tamb m identificamos a presen a do monocultivo da soja dentro da APA e a extra o ilegal de madeira Situa o bem diferente daquelas vivenciadas por seus primeiros moradores que chegaram por l em 19128 As nossas madeiras elas s o extra das na calada da noite Olha antes quando a gente tinha muito muito muito muito era jacarand hoje ele j est numa escala muito pequena Tem para a extra o porque o cilindro dele n o passa de 90 de di metro Ent o essa madeira ela j est ficando digamos est amadurecendo porque as outras j n o existem Ent o eles est o levando eles levam jatob eles levam cedrorana eles levam ip Ent o s o madeiras que a gente tem na nossa comunidade natural por m a gente tem essa esse desgaste da natureza irregular porque as pessoas v m eles t m seu trator tem seus carros passam na noite quando voc est dormindo a voc n o tem assim e nem aquela situa o de dizer assim voc est preso voc est autuado porque voc n o essa autoriza o at porque nem a licen a ambiental voc tem Quer dizer isto tudo dificulta N o s
260. era necess rio jogar uma bolinha antes Quando eu ia buscar minha m e de bicicleta que trabalhava no hospital Henry Ford tinha aquela n voa Quando come ou a chegar em Belterra os sojeiros ai a coisa piorou porque se desmata a tend ncia esquentar 204 Processo semelhante foi identificado por Elias 2006 p 42 em seu estudo sobre o agroneg cio no Nordeste semi rido Diz ela os chamados ga chos que s o tamb m paulistas paranaenses entre outros normalmente j s o oriundos de outras fronteiras anteriormente ocupadas constituindo muitas vezes a terceira ou quarta gera o se considerarmos os primeiros a iniciar o processo migrat rio geralmente seus pais av s e outros familiares Do mesmo modo conv m destacar que Belterra n o a cidade do agroneg cio como definiu Elias 2007 j que essa atividade gera poucos empregos e n o distribui renda na cidade Nem tampouco dela depende visto que a cidade a ela n o pode oferecer nem trabalho especializado nem produtos m quinas e equipamentos necess rios ao processo produtivo embora nela e nas imedia es desta se localizem as planta es de soja e os conflitos socioambientais ACSELRAD 2004 decorrentes daquela a o 204 Aqui na estrada 1 depois do hospital quando chegou os ga chos para l toda aquela rea era de mata ele derrubou e come ou a plantar milho arroz e soja e ele come ou a usar agrot xico que deixou um cheiro
261. eram separadas por plantas que demarcavam os espa os de cada uma com jardins que enfeitavam suas fachadas Eram menores se comparadas s casas dos americanos mas confort veis Tamb m eram servidas por gua luz telefone fossa sanit ria e manuten o oferecida pela empresa As casas eram 82 Nosso entrevistado tem 87 anos e come ou a trabalhar como seringueiro em Fordl ndia em 1940 aos 18 anos de idade Na poca foi aconselhado pelo chefe da Companhia a n o entrar para a coleta da seringa j que era bastante franzino e havia muitos casos de tuberculoses por l SABIA Novembro 2009 90 mobiliadas pela pr pria empresa que fornecia o guarda roupa a cama e o fog o que funcionava base de lenha e querosene Tinha uma cortina l na cozinha tinha um fog o feito de cimento com perna de madeira com chapa de ferro com quatro bocas Ent o a pessoa queimava lenha tinha uma chamin pra fora queimava lenha naquela poca n o existia n o era todo mundo que tinha um fog o queimado a querosene g s nem pensar nem pensar isso A gente queimava lenha a pessoa comprava lenha tinha o tirador de lenha pra vender lenha gente que tirava lenha particularmente para vender e ganhava com isso Tinha outros que fazia abano de palha de palhinha n e sa a vendendo para abanar o fogo Era assim n ent o essas casas tinha torneira tinha pia tinha banheiro dentro e a pintura todo ano eles mandavam pintar por conta d
262. erior e fundamental para esse momento a produ o de mat ria prima para a ind stria automobil stica Nem a proposta de cinco d lares se tornou realidade j que os dirigentes da Companhia em Fordl ndia propunham como pagamento entre 25 e 50 centavos de d lares por dia trabalhado GRANDIN 2010 Com efeito em Belterra as rela es capitalistas n o se implantaram no intramuros de uma f brica de autom veis VIANNA 1978 mas no ch o da floresta e por entre os rios de uma cidade empresa com base no sistema fordista de produ o readaptado ao ser implantado na Amaz nia Dessa forma a cidade a forma e urbano o conte do ganharam materialidade no universo sociocultural para os grupos sociais na regi o conforme veremos no item 2 3 1 Segundo Piquet 1998 a cria o da cidade empresa foi a estrat gia usada pelo capital diante de situa es onde a oferta de infraestrutura e servi os urbanos era prec ria e n o dava suporte para o desenvolvimento das atividades industriais Essa estrat gia se mostrou importante tanto para o processo de reprodu o do capital como para a concentra o e controle da for a de trabalho atrav s da oferta de moradia para os trabalhadores das empresas A oferta de estrutura para seus funcion rios funcionou como uma esp cie de compensa o ou vantagens adicionais moradia infraestrutura e servi os para a m o de obra mais especializada Tamb m podemos observar que esta a o n o se r
263. erra um estudo de caso na Amaz nia brasileira Tese apresentada como requisito parcial para obten o do t tulo de Doutor ao Programa de P s Gradua o em Ci ncias Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Aprovada em 30 de mar o de 2012 Banca Examinadora Prof Dra M rcia Pereira Leite Orientadora Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas da UERJ Prof Dra Rosane Manh es Prado Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas da UERJ Prof Dr Jos S rgio Leite Lopes Museu Nacional da UFRJ Prof Dr Henri Acselrad Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ Prof Dr Saint Clair Cordeiro da Trindade Jr N cleo de Altos Estudos Amaz nicos da UFPA Rio de Janeiro 2012 DEDICAT RIA Dedico esta pesquisa em mem ria da professora Ana Clara Torres Ribeiro IPPUR UFRJ que partiu recentemente mas nos deixou seu legado por meio de sua obra e seu exemplo de vida de dignidade pessoal e intelectual AGRADECIMENTOS Os que j se dedicaram a escrever uma tese de doutorado sabem que ela exige capacidade de an lise dom nio de m ltiplas teorias m todos e t cnicas de pesquisa que permitam tirar a vida social da apar ncia e posicion la na teia de rela es que a sustentam e a perpetuam apresentando assim a sua complexidade embora reconhe amos a disciplina a dedica o e a riqueza do ato individualizado N o podemos esquecer as pessoas que passara
264. erta autoridade sobre estes 167 Os produtores de soja fizeram correr um boato na cidade que haviam comprado 200 chicotes para bater no lombo dos ecologistas durante as passeatas Diz Martins 1998 p 3 4 que o senso comum comum n o porque seja banal ou mero e exterior conhecimento Mas porque conhecimento compartilhado entre sujeitos da rela o social 69 Podemos apresentar a entrevista concedida a um jornal local sobre a quest o da soja O prefeito assegura que o Estudo de Zoneamento Agroecol gico serviu de instrumento para a orienta o dos investimentos nessa rea com um mapeamento das reas alteradas atrav s de sat lite apontando onde se poderia aproveitar para o plantio de gr os sem que houvesse desmatamentos O salto dado no setor agr cola despertou interesse de empresa de fora o que fez com que nos ltimos tr s anos mais de trinta empresas se instalassem em Santar m Uma delas foi a Cargill Todos lembram que em 1997 Santar m n o tinha nenhum saco de arroz de forma mecanizada Por for a de um trabalho persistente que n s tivemos sobretudo de estudos iniciais depois de divulga o desse potencial de Santar m n s conseguimos atrair pra c uma s rie de empresas dentre as quais a Cargill que somando s tem promovido esse desenvolvimento Mat ria publicada em 31 12 2003 e dispon vel em lt http notapajos globo com lernoticias asp id 5331 gt Acesso em 24 abr 2011 154
265. esquisa n o fosse perdido por algum ato de imprud ncia de minha parte minha mulher Let cia Rangel Tura pelo apoio incondicional pela cumplicidade e pelas cr ticas Sem eles minha conquista ficaria pela metade Enfim agradecer aos meus filhos Ma ra e Jo o pela compreens o de minhas aus ncias aqui acompanhado de um pedido de desculpa minha m e Oscarina pela dignidade de vida e tia Gra a M rcia e Firmino pela acolhida durante a minha estada em Bel m Tereza Cristina minha prima irm pelas cantigas e pelo viol o e Mauro Ribeiro pelas liga es telef nicas sistem ticas Aos demais parentes e amigos de Bel m que mesmo a quatro mil quil metros de dist ncia torcem por mim para que eu seja bem sucedido em meus projetos de vida na cidade do Rio de Janeiro Por fim pedir desculpas pela omiss o de muitos nomes mas fica aqui minha gratid o enquanto durar a vida Fico feliz em poder compartilhar o meu trabalho com outros pesquisadores e com aqueles que se disponham a conhecer um pouco sobre a vida social da Amaz nia brasileira RESUMO PEREIRA Jos Carlos Matos Os modos de vida na cidade Belterra um estudo de caso na Amaz nia brasileira 255 f Tese Doutorado em Ci ncias Sociais Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2012 O objetivo desta tese analisar os modos de vida na cidade de Belterra Foram analisados dois per odos de
266. esta o de tratamento do l tex e aos 17 anos para o corte da seringa A figura 2 apresenta o porto onde as embarca es atracavam deixando os trabalhadores rec m contratados pela companhia Depois da chegada ao acampamento eles eram deslocados para a cidade a fim de realizar exames m dicos formalizar a rela o de trabalho ser fotografados e se integrar ao processo de produ o em curso Figura 2 Trapiche do Porto Novo Fonte IBGE 1953 Dispon vel em lt http biblioteca ibge gov br visualizacao fotografias GEBIS gt Acesso em 04 mai 2011 No ano de 1935 o trapiche da localidade de Pindobal tamb m j estava pronto para movimentar mercadorias e pessoas que se deslocavam saindo ou chegando Belterra 76 Encontramos uma autoriza o datada de 26 05 1934 onde os pais de A S R autorizavam o menor de 10 anos de idade a trabalhar na CFIB TT Este porto constru do sobre dois trilhos que o trazem ao n vel ou paralelo com a superf cie da gua Trilhos foram colocados em guas rasas e o porto desliza sobre eles Com o in cio das chuvas e a eleva o do n vel do rio o porto empurrado para o trilho inclinado em dire o ao armaz m Na verdade quando os carregamentos s o recebidos no n vel baixo do rio eles s o descarregados no porto e o porto o carregamento e tudo levado para a plataforma do armaz m o porto sendo constru do a uma altura diferente com o fim dos trilhos na plataforma tud
267. estringiu somente produ o de mercadorias mas levou novos padr es de vida aos lugares onde se instalou Assim podemos entender o jogo das escalas e a for a das externalidades que se imp e sobre a regi o O que por sua vez implica observar a distin o entre a escala de realiza o da a o e a escala de comando desta Assim em Belterra a urbaniza o n o se deu pelo espraiamento de reas cont guas conforme vimos anteriormente com base em Santos 2006 2008 Existem situa es em que a urbaniza o n o se d com base na expans o da periferia antes a escolha seletiva dos lugares realiza se pela cria o de ilhas de dinamismo econ mico TELLES 2006 No entanto devemos observar que n o h aus ncia de horizontalidade mas preponder ncia da verticalidade Procuramos apresentar por meio de an lises mais gerais como a a o do capital no Tapaj s desestruturou os modos de vida preexistentes re socializou a popula o do campo na cidade os converteu em trabalhadores assalariados e imp s uma nova forma de uso da natureza em base intensiva industrial e predat ria Agora demonstraremos atrav s das 71 Analiticamente entendemos a cidade como a materialidade a forma os construtos e os objetos as casas as ruas as pra as os pr dios p blicos etc o pr tico sens vel J o rural e o urbano est o no mbito das rela es e dos fluxos socioculturais LEFEBVRE 1991 14 narrativas colhidas durante o tra
268. esvelando formas e conte dos o n cleo urbano de Caraj s In TRINDADE JR S C ROCHA G M Org Cidade e empresa na Amaz nia gest o do territ rio e desenvolvimento local Bel m Paka Tatu 2002 p 113 135 RUSSELL Joseph A Fordlandia and Belterra Rubber Plantations on the Tapajos River Brazil Economic Geography v 18 n 2 p 125 145 April 1942 Dispon vel em lt http www jstor org gt Acesso em 23 fev 2009 S Maria Elvira COSTA Solange Gayoso da TAVARES Luciana Pereira O rural urbano em Santar m interfaces e territ rios produtivos In CARDOSO A C Org O rural e o urbano na Amaz nia diferentes perspectivas Bel m EDUFPA 2006 p 113 157 SAHLINS Marshall O Pessimismo Sentimental e a Experi ncia Etnogr fica por que a cultura n o um objeto em via de extin o parte ID Mana Estudos de Antropologia Social 3 2 103 150 1997 Dispon vel em lt http www scielo br pdf mana v3n1 2455 pdf gt Acesso em jun 2009 SAHLINS Marshall Ilhas de hist ria Rio de Janeiro Zahar 1985 SAHLINS Marshall A primeira sociedade da aflu ncia In CARVALHO E A Org Antropologia Econ mica S o Paulo Livraria Ci ncias Humanas 1972 7 44 247 SAID Edward W Orientalismo o Oriente como inven o do Ocidente S o Paulo Companhia das Letras 2007 SANTOS Milton T cnica espa o tempo S o Paulo EDUSP 2008 A natureza do espa o S o Paulo EDUS
269. et lio Vargas Belterra n o foi um ato formal descompromissado Lembramos da disputa no mercado internacional entre as grandes pot ncias mundiais em torno da produ o da borracha em larga escala especialmente diante do conflito envolvendo Jap o e Estados Unidos durante a II Guerra Mundial das possibilidades abertas para rela es comerciais e pol ticas entre EUA e governo brasileiro e das negocia es que envolveram a Amaz nia Tudo isto em conson ncia com o movimento do poder central em torno do alinhamento pol tico do Brasil com os aliados Um dos entrevistados relata sua experi ncia quando crian a diante de um momento t o significativo para a vida do lugar Naquela poca dos americanos o presidente Get lio Vargas veio aqui em Belterra foi o nico presidente que chegou naquela poca Ent o eu como estudante que era o estudo mais elevado naquela poca aqui era at a 5 s rie e ainda garoto n s fomos l para o Pindobal receber a comitiva e veio aquela passeata e quando ele desembarcou ali hoje onde aquela meteorologia que l era o campo de futebol n o tinha uma sede de divers o de dan a da pesada o presidente desembarcou l aquilo muito enfeitado ent o eu quero dizer que eu vi esta chegada presenciei a chegada do presidente da Rep blica ERASMO Novembro 2011 No dia 08 de outubro de 1940 a comitiva presidencial partiu de Bel m em dire o Belterra para visitar
270. eu reconhecimento explicito de que a produ o de massa significava consumo de massa um sistema de reprodu o da for a de trabalho uma nova pol tica de controle e ger ncia do trabalho uma nova est tica e uma nova psicologia em suma um novo tipo de sociedade democr tica racionalizada modernista e populista HARVEY 1992 p 121 Ford acreditava que o novo tipo de sociedade poderia ser constru do simplesmente com a aplica o adequada ao poder corporativo A prop sito das oito horas e cinco d lares s em parte era obrigar o trabalhador a adquirir a disciplina necess ria opera o do sistema de montagem de alta produtividade Era tamb m dar aos trabalhadores renda e tempo de lazer suficientes para que consumissem os produtos produzidos em massa que as corpora es estavam fabricando em quantidades cada vez maiores HARVEY 1992 p 122 N o existia em Belterra e Fordl ndia a tecnologia da linha de montagem para a produ o de massa nem consumo de massa conforme analisou Harvey 1992 p 124 mas 70 Segundo Santos 2006 p 54 por interm dio das t cnicas que o homem no trabalho realiza a uni o entre o tempo e o espa o as t cnicas s o datadas e incluem o tempo qualitativamente e quantitativamente As t cnicas s o uma medida do tempo o tempo do processo direto do trabalho o tempo da circula o o tempo da divis o territorial do trabalho e o tempo da coopera o 13 um est gio ant
271. fez a concess o do uso do im vel mas n o 107 A partir de 1968 a Diretoria Estadual do Minist rio da Agricultura DEMA PA passou a administrar diretamente Belterra cujos repasses obtidos junto ao governo federal representavam at 85 de sua receita Foram estabelecidos novos crit rios para a venda e compra do l tex e cernambi assist ncia social aos seringueiros e sobretudo renova o ativa das quadras improdutivas MINIST RIO DA AGRICULTURA 1974 p 2 108 A atividade pecu ria se prende explora o de um plantel de gado leiteiro mesti o Sindi Jersey Holandeza Schwyz Flamenga etc O leite produzido totalmente vendido aos funcion rios de Belterra enquanto que os animais excedentes s o leiloados ou abatidos O plantel de Belterra pequeno tendo atualmente 196 animais sendo 30 as vacas em lacta o O mesmo relat rio identifica um conjunto de problemas no local a cita a baixa produtividade das pastagens por conta da grande incid ncia de erva daninha b relaciona o n o desenvolvimento do capim Coloni o e Jaragu devido pobreza do solo e ao ataque de insetos s planta es durante o inverno c reclama da falta de recursos para manter a limpeza sistem tica das pastagens d observa a dificuldade de abastecimento de gua dos pastos por falta do sistema de canaliza o cuja distribui o di ria feita por um trator e observa que a baixa produtividade do gado est relacionada s prec
272. gente no cargo sem dialogar com os governadores O minist rio no passado dominava todo mundo no peito e empurrava com a barriga N s estamos fazendo o dever de casa mas pagamos um pre o que n o nosso foram erros do passado Dispon vel em lt http www folha uol com br folha brasil ult96u414008 shtml gt Acesso em 07 nov 2008 156 Como diz Velho 2004 p 27 a verbaliza o por meio do discurso que nos permite conhecer os projetos individuais ou coletivos No entanto O projeto n o um fen meno puramente individual subjetivo Formula se e elaborado dentro de um campo de possibilidades circunscrito hist rica e culturalmente tanto em termos da pr pria no o de indiv duo como dos temas prioridades e paradigmas culturais existentes At aqui apresentamos o contexto da soja na regi o De agora em diante traremos dos detalhes de como ela se realiza na cidade de Belterra e suas imedia es Primeiramente apresentaremos as formas de ocupa o do espa o e os modos de vida do lugar analisando como as divis es pol tico administrativas impostas pela a o estatal definem e interferem qualitativamente sobre eles 157 4 OS MODOS DE VIDA DO LUGAR 4 1 As formas de uso e apropria o do espa o O Munic pio de Belterra tem 4 598 km e fica a 50 km de Santar m cidade mais importante do Oeste do Par Sua localiza o se estende ao longo da BR 163 porta de entrada para o munic pio e r
273. gos moradores do lugar logo se desenvolveu envolvendo amea as alian as e enuncia o de preconceitos Mas no contexto da fala do desenvolvimento os outsiders da Amaz nia se quisermos fazer uma analogia invertida com a proposi o de Elias e Scotson 2000 s o ind genas mesti os agricultores extrativistas mulheres e trabalhadores urbanos que recebem dos estranhos vindos de fora adjetivos pejorativos de pregui osos pingu os e s o vistos como aqueles que representam entraves para o progresso econ mico Esses autores utilizam dois conceitos que denominam de conceitos guarda chuva established estabelecidos que s o aqueles autodenominados de minoria dos melhores guardi es do bom gosto que ocupam posi es de privil gio e poder assentadas na tradi o autoridade e influ ncia j os outsiders os que est o fora da sociedade constituem um conjunto heterog neo de pessoas Estigmatizados pelos primeiros como relacionados delinqu ncia viol ncia e desintegra o Como dizem Elias e Scotson trata se de rela es pautadas na intoler ncia na estigmatiza o e no poder econ mico pol tico e social Fatos recentes indicam que o servi o de pistoleiros contratados mais presente por d cadas no Sul e Sudeste do Par se desloca para aquela rea como pode ser constatado pelos assassinatos em 2001 de Ademir Fredericci o Dema importante lideran a sindical rural da r
274. governo municipal fala nos do comprometimento da produ o das frutas e da gua para beber em lugares onde n o h gua encanada e da irrita o nos olhos das pessoas Belterra era um celeiro de frutas Hoje t muito chato praticamente n o se v mais laranja n Que sempre foi muito forte em Belterra O cupua u nosso t muito comprometido At a gente t encomendando um estudo pra EMATER pra ver o que pode fazer Porque o cupua u produz muito mas se aproveita muito pouco Os frutos est o completamente contaminados assim apodrecem na rvore antes de cair e a gente acredita que isso seja efeito desse uso a descontrolado do agrot xico Irrita o nos olhos tosse a pessoa fica espirrando muito dificuldade de respirar s o as maiores causas disso a E o que pior de tudo isso que tem algumas localidades dessas onde n o tem gua encanada as pessoas sempre t m um dep sito de gua na rua uma caixa d gua um cambur o ou outro recipiente pra receber gua que vai do carro pipa e essa gua ela gua acaba sendo contaminada E ela vai pro consumo humano pra beber pra cozinhar SECRET RIO Mar o 2011 Ele tamb m reclama da falta de estrutura e de t cnicos em sua secretaria para realizar uma a o mais efetiva diante da grave situa o Repete o teor de outras falas j apresentadas anteriormente como a soja s proximidades das resid ncias do hospital e de escolas tamb m faz refer ncia ao e
275. grande devasta o n T certo n o era mata mata mata Aquela primeira mata n Mas havia floresta que isso j foi derrubada Eles dizem que n o preju zo mas pra n s preju zo E a gente v que ficou a grande devasta o o grande deserto n Eu digo assim E hoje prejudica muito a quest o do sol quente a quentura n A gente v que prejudicou muito a comunidade E o meio ambiente ROSANA Abril 2011 Marildo dirigente do STTR de Santar m ressaltou que durante a apresenta o do relat rio da empresa eles S falavam os impactos no porto em si n Assim ou pouco de gr o que ca a no rio aquela poeira e tal e tal mas aquilo que tinha que constar os impactos mesmo sociais discuss o dos trabalhadores n E o assoreamento dos igarap s O envenenamento dos len is fre ticos A isso n o apareceu Ent o falavam muito na quest o do emprego do desenvolvimento da quest o dos impostos que ia aumentar aqui na cidade trazer mais benef cios pra cidade munic pio mas foi assim foi uma coisa que n o teve resultado positivo para o nosso lado O impacto no porto a que se referiu essa lideran a diz respeito ocupa o da praia Vera Paes pela empresa Cargill A primeira imagem uma foto a rea do ano de 1999 figura 50 destaque em azul contida no banco de dados da Prefeitura Municipal de Santar m quando a empresa ainda n o havia sido instalada A segunda do ano de 2004 figura 51
276. hares quil metros de rodovias aumentando muito o pre o dos transportes e consequentemente o valor final do produto tornado a produ o brasileira muito menos competitiva no mercado internacional a localiza o estrat gica de um porto pode significar substancial redu o no custo Brasil evitando assim o chamado passeio da soja CARGILL 2000 Considerando que os pa ses compradores da soja brasileira localizam se predominantemente no hemisf rio Norte e que a produ o de soja do norte do Mato Grosso tende a aumentar o Terminal de Santar m passou a ter import ncia estrat gica para reduzir custos de exporta o e aumentar a capacidade da soja nacional competir nos mercados nacional e internacional RIMA CARGILL 2008 s n Temos assim sob a tica da velha l gica da integra o regional uma a o articulada entre Estado produtores de soja do Mato Grosso pol ticos e empres rios de Santar m que constituiu um campo f rtil para deslanchar o empreendimento Mas este n o um fato novo na regi o e se relaciona com a inser o da Amaz nia no contexto mais amplo da economia capitalista mundial e ao papel do Estado nacional na regi o que demandam o controle estrat gico dos recursos naturais Dessa forma Uma nova tecnologia espacial do poder estatal se desenvolveu impondo ao espa o nacional uma poderosa malha de duplo controle t cnico e pol tico correspondente ao conjunto de prog
277. hia tais como usina el trica a serraria o novo porto em constru o como ainda s grandes reas de plantio CRULS 1939 p 6 O caboclo por m que quiser fazer a sua pr pria casa est livre de qualquer nus s escolher o local e sair em busca das palhas de babass ou curu duas palmeiras que por ali existem em abund ncia Assim mesmo nestes casos a Companhia ainda lhe fornecer gratuitamente as esquadrias com que se civilizar um pouco a sua cho a CRULS 1939 p 12 grifo do autor Mas ele n o foi o nico a sair em defesa da CFIB Essa capacidade de forma o do novo tipo humano necess rio atividade produtiva tamb m foi defendida por Cohen 1929 44 55 quando avalizou a presen a do empreendimento norte americano na Amaz nia dizendo que Pregui osos vagabundos doentes e alco latras ali n o tem guarida um oper rio med ocre com alguns annos de servi o na Companhia torna se um verdadeiro artista E uma verdadeira escola de artes e off cios e de bons costumes As grandes reas de plantio a que refere Cruls eram abastecidas com as mudas produzidas nos viveiros mantidos com o trabalho sistem tico das novas esp cies de seringueiras pela t cnica do enxerto mais resistentes s pragas que dizimaram as planta es 95 em Fordl ndia e que foram as grandes respons veis pelo deslocamento para Belterra Parte desse viveiro pode ser observada na figura 26 onde e
278. http www 1 folha uol com br folha brasil ult96u414008 shtml gt mat ria sobre o desmatamento na Amaz nia e as disputas envolvendo governo federal e os governadores dos estados do Mato Grosso e Rond nia Acesso em 23 out 2010 lt http www ejornais com br jornal diario do para2 html gt mat ria sobre realiza o da audi ncia p blica na cidade de Santar m PA para apresenta o dos Estudos de Impactos Ambientais e seu Relat rio EIA RIMA realizado pela empresa Cargill sobre o funcionamento de seu Porto na cidade de Santar m Publicado no Jornal Di rio do Par em 14 07 2010 Primeiro Caderno p A9 Acesso em 23 out 2010 lt http select nytimes com gt mat ria sobre do navio de das empresas de Henry Ford em dire o Amaz nia Publicado no Jornal New York Times em 26 07 1927 Acesso em 23 ago 2010 lt http bd folha uol com br bd acervoonline htm gt mat ria sobre a presen a do presidente Em lio Garrastazu M dice em obra inaugural da rodovia Transamaz nica Publicado no Jornal Folha de S o Paulo em 10 10 1970 Acesso em 23 mar 2007 lt http www estadodotapajos com 201 1 04 atoleiros na transamazonica atrapalham html gt mat ria sobre o abandono da rodovia Transamaz nica e os constantes atoleiros e desabastecimento das cidades sua margem durante o per odo do inverno Acesso em 15 jul 2011 lt http notapajos globo com lernoticias asp id 5331 gt mat ria do Fa
279. i Eh EM o E HEE 2 ago 4i VE ia 3 y E E ah a Le E n FORMAS DE USO E OCUPA O DO ESPA O DA CIDADE DE BELTERRA 1999 Figura 82 Mapa das formas de uso e ocupa o do espa o da cidade 1999 Fonte Cria o Pereira J C M Confec o C tia Magalh es 2011 218 219 No mapa do ano de 2011 observamos as altera es advindas com a apropria o de grandes por es de terra na cidade e imedia es pelos produtores de soja e aparece o desmatamento feito por este segmento figura 83 Ressalta se a sua proximidade dos produtores de mel da produ o agr cola para autoconsumo das rvores frut feras das casas dos moradores das escolas e do hospital Tamb m temos aquelas reas doadas pela Prefeitura para institui es p blicas e outras destinadas ao uso coletivo conforme determina es do Plano Diretor Participativo PDP como a rea urbana e a expans o urbana Lei n 131 de 22 02 2007 Do mesmo modo aparecem as edifica es e o sistema vi rio 220 Spuren ew OFIN SOPA Sue Hor Ory u pF O ap mesa pinota FOOT W CEGOS PANO UPEWE M iG EWO DAN 57 EVO OM DUM PULO CORSO DO OVS WEO SOWEL SOMUP AS kadd Ki ea penge ey E 14102 os op osn Ru Des COR PU OUN ja sas eq pranto ep noz Re eugait AOLOZ Spa mad q epesendo p CeNy easy Li OCUPA ums toea DU pro irenacr ss g LOGS IFI SOS ONVEA Ot INVIA VON3937 R Pes HA P i xi LLOZ v
280. ia o do Estado do Tapaj s Assim intensificam se as disputas pol ticas entre as for as locais e outros grupos pol ticos estaduais com sede na capital O futuro estado surgiria da fus o de tr s microrregi es a saber Baixo Amazonas Tapaj s e M dio Amazonas Sua composi o incluiria 21 munic pios uma rea de 534 039 91 km cerca de 42 6 da rea do total do Estado do Par e aproximadamente 825 mil habitantes 14 96 do total da popula o paraense segundo dados do Censo Demogr fico 1991 cuja capital seria o munic pio de Santar m DUTRA 1999 217 Queremos chamar aten o que para o caso estudado a vida do lugar n o se restringe s delimita es formais que definem a cidade por seu aspecto quantitativo ou a enclausuram em seu espa o f sico determinado por lei municipal conforme as proposi es do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica IBGE para fins censit rios ou de implanta o de PAA aa Pain 210 pol ticas p blicas por rg os governamentais Cidade a localidade onde est sediada a prefeitura municipal constitu da pela rea urbana do distrito sede e delimitada pelo per metro urbano estabelecido por lei municipal IBGE 2000 p 223 rea urbana rea interna ao per metro urbano de uma cidade ou vila definida por lei municipal Para as cidades ou vilas onde n o existe legisla o que regularmente essas reas deve se estabelecer um per metro urbano para fins de co
281. iais destaca que Estamos a 100 anos do acontecido que pode ser capturado por conta da hist ria oral e da trajet ria de vida familiar que se apresenta no momento da pesquisa Mais a diante vamos tratar da quest o da soja na cidade de Belterra e seu entorno per odo em que passados 66 anos do fim do projeto Ford novo conflito se repete agora com netos e bisnetos dos antigos seringueiros da CFIB Dessa forma podemos pensar na dimens o geracional dos conflitos socioambientais 70 Quando o meio era natural o homem escolhia da natureza aquelas suas partes ou aspectos que eram considerados essenciais para o exerc cio da vida valorizando diferentemente segundo os lugares e as culturas essas condi es naturais que constitu am a base material do grupo as t cnicas e o trabalho se casavam com as d divas da natureza com a qual se relacionavam sem outra media o a sociedade local era ao mesmo tempo criadora das t cnicas utilizadas comandante dos tempos sociais e dos limites de sua utiliza o A harmonia socioespacial assim estabelecida era desse modo respeitosa da natureza herdada no processo de cria o de uma nova natureza Produzindo a a sociedade territorial produzia tamb m uma s rie de comportamentos cuja raz o a preserva o e a continuidade do meio de vida esses sistemas t cnicos sem objetos t cnicos n o eram pois agressivos pelo fato de serem insol veis em rela o Natureza que em s
282. ial desses grupos Essas atividades por exemplo est o associadas produ o mineral agr cola madeireira e pecu ria cuja a o geradora de intensos conflitos envolvendo uma diversidade de atores que buscam o controle e o uso do territ rio seja para a satisfa o das necessidades das fam lias ou para compor um estoque estrat gico de terras para o capital tendo por fim o atendimento das intensas demandas do mercado internacional Diz a autora que na rodovia Santar m Cuiab BR 163 no estado do Par as situa es encontradas s o de diversas ordens como problemas fundi rios ndices elevados de grilagem de terra viol ncia atividades econ micas ilegais concentra o da terra e conflitos socioambientais com popula es tradicionais Essas situa es indicam os custos invis veis do atual modelo agr cola conforme definiu SCHLESINGER NORONHA 2006 135 O Munic pio de Santar m constitui atualmente o mais importante centro comercial do M dio Amazonas registrando uma atua o industrial e agr cola significativa onde se destaca a produ o de madeira e em menor escala a produ o de gr os esse munic pio re ne ainda condi es de ampliar a sua economia principalmente no tocante ao fortalecimento de ind strias que t m a madeira como mat ria prima pois possui uma topografia que favorece a explora o e o transporte no interior da floresta al m da presen a de madeira de alto valor
283. ializa a produ o por meio de projetos oriundos do governo federal para abastecer as escolas do munic pio de Belterra Segundo esse agricultor que vive na localidade de Maguari a propriedade da terra coletiva por meio do uso e da posse familiar Essas popula es j vivem nessa rea h muitas d cadas numa Unidade de Conserva o UC criada revelia deles e sem nenhuma documenta o embora o governo federal tenha sinalizado recentemente com possibilidade da emiss o do termo Concess o do Direito Real de Uso conforme preceitos constitucionais 177 No munic pio de Belterra 2 620 fam lias foram beneficiadas pelo programa at dezembro de 2011 segundo dados da Secretaria Nacional de Renda e Cidadania MDS No entanto vale destacar que no munic pio foram cadastradas 4 134 fam lias destas 3 634 com renda percapita mensal de at R 140 00 Segundo informa es que constam no site o total de fam lias cadastradas com renda per capita mensal de at R 140 00 n o corresponde ao total de fam lias que possuem perfil para serem atendidas pelo PBF e tende a ser maior que esse Isso ocorre porque as fam lias com renda familiar per capita entre R 70 01 e R 140 00 s t m direito ao benef cio caso tenham filhos com idade entre O e 17 anos cf Lei n 10 836 de 9 de janeiro de 2004 Dispon vel em lt http aplicacoes mds gov br sagi ascom index php cut aHROcDovL2FwbGlj YWNvZXMubWRzLmdvdiSici9zY WdpL2Fz Y29tL3NlbmEy
284. iantes explorem os servi os de restaurante a ougue e mercearias por exemplo Dessa forma vamos ter em Belterra alguns servi os ofertados por terceiros inclusive migrantes estrangeiros diante da incapacidade da companhia em resolver por ela mesma tal situa o Segundo Sposito 2007 p 237 conv m observar que a multiplicidade das escalas al m das situa es j citadas envolve tamb m o intraurbano e o interurbano o campo e a cidade No entanto adverte a autora al m das rela es hier rquicas tradicionais da rede h de se considerar quest es que dizem respeito especializa o complementaridade e concorr ncia Segundo ela esses elementos constituiriam as rela es transversais que envolvem as escalas geogr ficas 66 do espa o alheios sua gente e ao lugar S o construtos artificiais fabricados que d o novas funcionalidades ao preexistente sob o dom nio da t cnica e da informa o Esta a o direcionada tem no discurso do saber competente a sua base de legitima o o que Santos chama de espa o usado resultante dos sistemas de objetos sistemas de a es e discurso Sob essa l gica imposta e externa os lugares cumprem pap is econ micos na acumula o do capital Sua solidariedade organizacional pode ser explicada pelos nexos criados de horizontalidade que se refere aos espa os cont nuos destinados produ o e de verticalidade que diz respeito circula o distribui o e con
285. ica do Norte e Europa al m de representar importante via de integra o regional e nacional A consolida o da fronteira agr cola do Mato Grosso encontra estrangulamento na defici ncia dos sistemas de transporte para escoamento da produ o em dire o aos centros consumidores tanto em rela o ao exterior quanto ao resto do Brasil Este fato encarece o produto e reduz a competitividade econ mica da regi o Alguns projetos em execu o refor am a integra o dos p los din micos do cerrado e norte mato grossense com o Sudeste brasileiro Como forma de promover alternativa de escoamento da produ o da sub regi o com vistas exporta o e adicionalmente estimular a propaga o do seu dinamismo econ mico para a regi o Norte deve ser conclu da a pavimenta o da rodovia Cuiab Santar m Com isso cria se uma nova via de integra o do Estado do Par e toda a Amaz nia com o resto do Brasil e se estimula o desenvolvimento do eixo central do Pa s escoando se para o sistema fluvial e o porto de Santar m o grande fluxo de exporta o de parte do Centro Oeste BRASIL GOVERNO FEDERAL Dispon vel em lt http www bndes gov br gt Acesso em 08 ago 2004 137 Neste sentido as a es de implanta o de infra estrutura na Amaz nia est o relacionadas ao debate mais amplo da integra o continental que tem na Infra Estrutura para a Integra o Sul Americana IIRSA sua maior express o De forma que grandes pr
286. il Isso remete a um esfor o intelectual e uma vigil ncia epistemol gica redobrada De forma que o estranhamento sociol gico o primeiro passo para desnaturalizar as conven es sociais e tir las do campo de observa o imediata proposto pelo senso comum pela sociologia espont nea e pelo conhecimento erudito Essa mudan a qualitativa do tema para o objeto de estudo exige a constru o de quest es problematizadoras e de hip teses o que s poss vel realizar com a apropria o da teoria historicamente acumulada pelas ci ncias sociais e pelo exerc cio controlado do pensamento cient fico No entanto esse ato do of cio de soci logo exige do sujeito do conhecimento n o a cole o acr tica dos conceitos nem a reprodu o mec nica e formal de seu aparato de forma aleat ria e fortuita mas a constru o de um pensamento e no caso em estudo de uma tese O que nos leva a entender que a sociologia n o um campo de profecia nem de adivinha o A constru o do objeto exige ent o um movimento reflexivo sistem tico e controlado do pensamento de forma que a constru o do repert rio conceitual seja o suporte te rico para an lise o instrumento para a elabora o de perguntas adequadas e a seguran a para a interpreta o cr tica das respostas alcan adas Se a hip tese a resposta provis ria a teoria que lhe deu suporte tamb m o e isso possibilita que esta ltima seja entendida n o como camisa de for a
287. ilhos sendo que um deles mora e trabalha em Santar m Durante os 40 minutos em que conversamos apenas um cliente entrou perguntou o pre o e saiu sem comprar nada O local guarda uma apar ncia de abandono quase ningu m passa ou compra quase ningu m freq enta Essa foi a sua reclama o a falta de divulga o do espa o Diz a agricultora no in cio as pessoas at foram l mas n o tinha muito produto Depois sumiram e n o voltaram mais Na estrada 8 a agricultura j se desenvolve h mais de trinta anos Come ou com a m e e h cerca de dez anos est sob responsabilidade da filha de 47 anos Planta se mandioca milho arroz maxixe jerimum mas tem abacateiro cupuzeiro muricizeiro pupunheira ingazeiro coqueiro tangerineira limoeiro mangueira cajueiro fruta p o e madeira de lei como o pau Brasil pau d arco e jarana O trabalho manual dificultado pela falta de instrumentos mais sofisticados e da gua que apenas uma vez por semana chega de carro pipa em v rias partes da cidade Isso impossibilita o desenvolvimento do trabalho com a horta que j est nos planos da agricultora caso a Prefeitura cumpra a promessa de levar gua encanada at l O terreno de dezesseis hectares 400m x 400m e corresponde a uma quadra dos antigos seringais negociado junto ao Minist rio da Agricultura por meio do termo de concess o de uso quando sua m e ainda era seringueira O objetivo da produ o satisfaze
288. ilidade para obten o da m o de obra RODRIGUES 2002 Pelo menos quatro caracter sticas foram identificadas para este tipo de cidade a representam a extens o da linha de produ o da empresa b tendem a negar o padr o regional de urbaniza o uma vez que esses n cleos planejados j nascem dotados de equipamentos urbanos como rede de gua e esgoto centro comercial e servi os c apresentam se como 97 Ver nota 52 118 novas formas de gest o do territ rio e por fim d funcionam como enclaves urbanos no lugar onde se localizam uma vez que negam tanto a escala local como os sujeitos pol ticos do lugar s o pouco considerados Tamb m devemos observar que os benef cios gerados por esses projetos n o s o incorporados regionalmente embora os custos sociais e ambientais sejam internalizados Para a constru o da hidrel trica de Tucuru por exemplo cerca de 30 mil pessoas foram remanejadas e 13 povoados ribeirinhos foram inundados nos sete munic pios da rea de abrang ncia do projeto ROCHA GOMES 2002 Trindade Jr e Chagas 2002 observam que as dimens es da cidade empresa envolvem quest es relacionadas ao uso e representa o do espa o expressos tanto nas pr ticas cotidianas e imagin rias dos sujeitos como na gest o de burocratas e urbanistas que em ltima inst ncia definem o seu uso Isso implica um discurso de cidade aberta que se realiza apenas no plano das ideias mas que do ponto de
289. imeiro momento era dizer se voc s colaborarem se voc esquecer esse povo voc vai ganhar muito comigo A pressionaram voc sabe que tem consequ ncia voc sabe que tem n N o sei a o pistoleiro me abrindo a camisa e uma pessoa que estava aqui ele foi empurrando j era noite para sair da sala que eu estava a eu levantei a voz tive que engrossar mesmo porque sabia que n o ia ficar de gra a a minha morte n Muito mais com testemunha que estava a tinham umas duas pessoas ainda na sede al m de mim Ent o a partir da vieram outros casos in meros recados dentro de casa tentaram me atirar umas duas vezes AMEA ADA Novembro 2009 Nesse contexto de conflito muitos delegados sindicais renunciaram ao cargo Contudo a articula o do sindicato com organiza es n o governamentais como a Federa o 160 de rg os para Assist ncia Social e Educacional FASE e Greenpeace por exemplo criou 159 E sas e 7 irei Passados quase seis anos do in cio das amea as e mesmo n o estando mais frente do sindicato a prote o policial continua pois eles est o esperando que ela saia da prote o para mat la como aconteceu com outras lideran as sindicais na Amaz nia que passaram pela mesma situa o afirmava um dirigente do STTR entrevistado em abril de 2011 160 Ver o v deo O gr o que cresceu demais sobre a expans o da soja em Belterra e Santar m 2006 Durante as filmagens
290. imidades da Vila Mensalista localizavam se dois dos alojamentos figuras 23 e 24 onde ficavam os rapazes solteiros que dormiam em redes tinham o servi o de limpeza do local mantido por um zelador da empresa e n o pagavam aluguel pela hospedagem 93 Figuras 23 e 24 Alojamentos dos homens solteiros Foto Pereira J C M 2011 A categoria mais baixa na hierarquia sociofuncional da empresa os campeiros e seringueiros n o morava em casas com o padr o de vila figura 25 Eram trabalhadores que desenvolviam atividades bra ais no campo como derrubar mata abrir estradas cavar buracos com a ajuda de ter ado e enxada plantar mudas das seringueiras O mA pese Figura 25 Casa dos Seringueiros 1953 Fonte IBGE Dispon vel em lt http biblioteca ibge gov br visualizacao fotografias GEBIS gt Acesso em 25 abr 2011 Conforme relato do senhor Erasmo eles foram se alocando ao longo das estradas em casa de palha com piso de ch o sem gua luz ou telefone 94 Os campeiros moravam nas casas de palha essas casas ai da estrada 6 pra l at na Jurubeba na estrada 8 tudo era casa de palha feita de palha vinha a turma o carro trazia aquela carrada de palha e colocava l na frente da casa a turma de mulher vinha vinha abrir as palhas tudinho arrumar e ai vinha outra turma para fazer as paredes as pessoas que moravam naquelas palhas n o tinha trabalho com nada porque eles faziam tudo tinha
291. imultaneamente v rios mundos sem abrir m o de sua identidade sociocultural primeira Ocorre que diferentemente da poca da CFIB na d cada de 1930 atualmente h resist ncia pol tica de um campo de poder representado por organiza es sociais de toda regi o do Baixo Amazonas que se op em presen a da soja e prop em outra perspectiva de desenvolvimento A dimens o multiescalar da a o desse campo chegou at a negociar com os compradores de soja na Europa e a conquistar a morat ria da soja que imp s restri es pr tica predat ria e proibiu a compra deste produto caso sua produ o se fa a com base no desmatamento e na expropria o da terra dos pequenos agricultores Isso demonstra que as rela es pela verticalidade dos espa os descont nuos podem se dar tamb m em escala ascendente que do lugar vai buscar outros espa os e agentes de media o como o parlamento estadual e federal e organiza es regionais nacionais e internacionais ligadas quest o ambiental e aos direitos humanos Bem como com poderes governamentais e n o governamentais na Europa para apresentar as suas den ncias e proposi es Podemos identificar como amea as para os modos de vida do lugar as seguintes situa es a mobiliza o do capital em torno da flexibiliza o da legisla o ambiental existente e pela n o regulariza o da posse da terra dos pequenos agricultores visto que esta em um curto prazo pode ser incorporada ao me
292. inariza o da for a de trabalho s sssessenssenssesesseessseessesseesseresseeesseesssesse 100 O projeto modernizador de Get lio Vargas para a Amaz nia 107 Outras experi ncias de cidade empresa sesesseeesssessesseeeseesssettsseessressersseeesseeessees 115 Conclus es preliminares eeeeeeeeeereeeeerererereeeeeerereeereraeerenaco 118 O per odo de transi o entre 1946 1994 121 O CONTEXTO DOS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS E OS CAMPOS DE PODER NA AMAZ NIA ORIENTAL 129 O contexto do lugar e da soja na BR 163 e ires 129 A chegada da soja no contexto da Fala do desenvolvimento 133 A ambientaliza o dos conflitos sociais ires 140 A chegada do estranho rei reereeenrearerer aeee era eaneereeanto 144 OS MODOS DE VIDA DO LUGAR e eeeeeeeereeeereeaners 157 As formas de uso e apropria o do espac o iii 157 O modo de vida tal ss Ra O 161 O modo de vida ind gena algumas anota es o oeeeeeeeeooeeeeeeseeseeroseseeses seste 164 Os modos de vida na cidade 000000oneaennoeoeooeonenesssseseorenssssessereressssssosreresessssese 168 4 5 5 1 5 2 5 3 6 1 6 2 O calend rio da vida do lugar srerereeereerereereeeeeereesererannos 183 OS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NA CIDADE OS DE DENTRO E OS
293. indo o fim do avan o da soja sobre a floresta O v deo Soja em Nome do Progre 0 produzido pelo Greenpeace foi exibido no final do evento GREENPEACE 2006 p 9 Apresentamos os adesivos produzidos pelos dois campos de poder como material de propaganda para apresentar as suas proposi es figuras 48 e 49 O primeiro produzido pelo 143 Greenpeace faz refer ncia ao desmatamento na regi o e o segundo produzido pelos produtores de soja se refere presen a da ONG internacional ambientalista na Amaz nia Figura 48 Adesivo do Greenpeace contra a soja em Santar m 2006 Foto Pereira J C M 2011 Figura 49 Adesivo dos produtores de soja contra a presen a do Greenpeace em Santar m 2006 Foto C tia Magalh es 2011 Na poca desses conflitos o Fant stico programa da Rede Globo de televis o exibiu em 06 12 2006 a mat ria denominada A guerra da soja que destacava os fazendeiros e ecologistas em p de guerra na Amaz nia e relatava os conflitos em Santar m fazendeiros 144 querem usar rea de floresta para plantar soja o que segundo eles desenvolveria a regi o Ecologistas e moradores antigos querem preservar a mata Os rep rteres do Fant stico chegam a um territ rio marcado por conflitos amea as de morte e tens o por todos os lados uma regi o em p de guerra um barril de p lvora que pode explodir a qualquer momento No Brasil uma cidade est em guerr
294. io Ata da primeira sess o plen ria da primeira confer ncia nacional da borracha realizada em 24 07 1946 In Anais da I Confer ncia Nacional da Borracha Rio de Janeiro Biblioteca Documental da Borracha v 4 1946 p 69 97 CALDEIRA Tereza Pires do Rio Cidade de muros S o Paulo EDUSP 2000 CANCLINI Nestor Culturas h bridas S o Paulo EDUSP 2011 p XVII XL C NDIDO Ant nio Parceiros do Rio Bonito S o Paulo Duas Cidades 1971 239 CARDOSO Ana Cl udia O espa o da cidade amaz nica tomado como ponto de conex o entre escalas e din micas globais regionais e locais Anais do IX ENANPEGE Goi nia ANPEGE 2011 CD ROM Possibilidades do Estatuto da Cidade para as cidades da Amaz nia Bel m Mimeo 2006 CARDOSO Ana Cl udia O problema das escalas e o desafio urbano da Amaz nia In REIS A Org Arquitetura urbanidade e meio ambiente Florian polis UFSC 2011 p 67 87 CARGILL Terminal Fluvial de Gran is S lidos da Cargill S A Relat rio de Impacto Ambiental RIMA CPEA 2008 Relat rio anual 2006 Terminal Fluvial de Gran is S lidos de Santar m Plano de Controle Ambiental PCA Santar m 2000 CARVALHO Guilherme Hidrel tricas no rio Madeira as disputas em torno de dois mega empreendimentos na Amaz nia Revista Proposta Rio de Janeiro n 114 p 78 86 2007 CARVALHO V nia TURA Let cia A expans o do monocultivo de soja em Santar m e Belterra injusti a ambi
295. ios Tapaj s Arapiuns Amazonas e Lago Grande AMORIM 1995 SENA 2008 O grupo dos estrangeiros minorit rio era constitu do por holandeses italianos russos japoneses chilenos chineses peruanos portugueses alem es barbadianos e sul africanos e compunham o quadro sociofuncional formado por t cnicos especializados e pe es cuja dire o estava sob coordena o americana Podemos assim aferir a diversidade da m o de obra em Fordl ndia e posteriormente em Belterra conforme relatos colhidos em campo Segundo Cohen 1929 as atividades profissionais em Fordl ndia estavam divididas em 26 se es oficinas de m quinas a vapor carpintaria eletricidade pintores usina central encanadores serraria garagem marinha armaz ns estivadores pecu ria hoteleiros m dicos e enfermeiros cozinheiros e copeiros higiene capatazes e apontadores escrit rio estradas servi os gerais brocas e derrubadas capina o planta o extratores de lenha para a usina Dispon vel em lt http select nytimes com gt Acesso em 23 ago 2010 54 Parte da imprensa paraense tamb m aderiu entusiasmadamente presen a dos navios de Ford na Amaz nia conforme mat ria publicada em Bel m Desde ante hontem ansiosamente aguardado em nosso porto procedente de Detroit ponto na America do Norte onde o billionario Henry Ford age fazendo repercutir pelo mundo afora o valor actividade Energia intelligencia e amor ao tra
296. itiagessrana ds Jonlsada Dasbasalln dass nnna uaea 93 Figuras 23 e 24 Alojamentos dos homens solteiros eras 93 Figura 25 Casa dos Seringueiros 1953 sic dec isasaia o anais ai ganda VR data aa Pagan ds 94 Figura 26 Viveiro das mudas de seringueiras Belterra 1935 96 Fig ra 27 Bar dota asas arroios eos se dado DU ond dad a O e da E 96 Figura 28 Sapataria em Belterra 1933 22 s2muasnssitasgasisrcesssmaaassuitaseaitan assanb lopes iuasa mas dasagadas tos 97 Figura 29 Caixa d gua e dep sito de ferramentas da estrada 7 97 Figura 30 Mapa lugares da mem ria esseseeeeeseesesresseseresresstseresresstssrestesseeseesseeseeseresreses 100 Figura 31 Seringueiros durante a jornada de trabalho esseeeeeseesssesesseserssressessrrsreesessreses 102 Figuras 32 e 33 Caixa d gua da estrada 1 e a chapa de identifica o funcional 103 Figura 34 Porto Novo nas margens do rio Tapaj s eeeeereecee 105 Figura 35 Cadeado Porto Novos ssa ste mag pas andei E Ea a da a pass Serasa 106 Figura 36 Escola Benson Ford Vila 120 causa as eeciues guedes pisa nda bene ia aerea encadeada da aaa 109 Figuras 37 e 38 Visita de Vargas Belerma aa ga asda dae dis aaa 111 Figura 39 Banquete no Club House seeseessseessensseessssessseesseessesssereseressseesseesseesseresseeesseee 111 Figuras de 40 a 43 Passeata dos Movimentos Sociais e ONGs na cidade de Santar m 1
297. itura e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov veis IBAMA acerca das demandas e propostas advindas das aldeias para os governos federal estadual ou municipal Para as situa es observadas n o se configura a conforma o de bairro tnico dentro da cidade Um ind gena fala da vida na aldeia de Takuara e das atividades relacionadas ca a pesca ao extrativismo na floresta ao trabalho na agricultura e das transforma es ocorridas em sua vida quando foi morar na cidade por conta dos estudos Diz ele Minha vida na aldeia era trabalhar na quest o do extrativismo na ca a o tatu a paca o catitu o veado na pesca e no trabalho da agricultura no ro ado de mandioca arroz e alguns plantavam feij o do reaproveitamento na quest o do artesanato como o caro o de tucum tucum a palha e o tissume Na mata a gente tirava a extra o do leo da copa ba da andiroba e a madeira pra fazer as casas as malocas Assim tamb m algumas pessoas vendiam a madeira na pr pria comunidade mesmo n o tinha assim exporta o pra fora A quest o da diversidade cultural e bem diferente das aldeias ind genas A quest o da sobreviv ncia Na aldeia assim tudo compartilhado na cidade n o tudo diferente Se a pessoa n o tiver dinheiro ele n o come ele n o bebe E na aldeia ter dinheiro ou n o a pessoa ela sobrevive E na cidade tem que trabalhar e tem que estudar e tem que trabalhar
298. iveira Bet o 43 anos vereador do Partido do Movimento Democr tico Brasileiro PMDB Entrevista realizada em mar o de 2011 44 Maria de Lourdes Mal 37 anos vereadora Partido dos Democratas DEM Entrevista realizada em mar o de 2011 Conversas informais realizadas em junho de 2006 Manuel filho de ex seringueiros funcion rio da CFIB trabalhou como seringueiro Maria Isaura Filha de ex seringueiro funcion rio da CFIB S lvia trabalhou como capataz na CFIB Conversas informais realizadas em mar o de 2009 Morador da estrada 8 54 anos Educador popular 72 anos Jornais Jornal O Estado do Par de 15 05 1928 Jornal O Estado do Par de 23 05 1928 Jornal Folha do Norte de 04 09 1928 Jornal O Estado do Par de 28 11 1928 Jornal O Estado do Par de 02 12 1928 Jornal O Estado do Par de 28 12 1928 Jornal Folha do Norte de 01 01 1934 Jornal Folha do Norte de 05 10 1940 Jornal Folha do Norte de 06 10 1940 Jornal Folha do Norte de 07 10 1940 Jornal Folha do Norte de 08 10 1940 Jornal Folha do Norte de 09 10 1940 Jornal Folha do Norte de 10 10 1940 Jornal Folha do Norte de 01 07 1943 O Jornal de Santar m de 30 10 1943 Jornal A Gazeta de Santar m de 23 05 2006 Jornal O Globo de 01 12 2008 254 Boletim Informativo Jornal O Movimento Belterra Ano I n 1 de 23 de julho de 1987 Jornal O Movimento Belterra Ano I n 4 de 29 de setembro de 1987 Documentos eletr nicos lt
299. ividuais e coletivas no lugar Vamos analisar a seguir o conflito entre esses significados e as pr ticas que lhe est o associadas aos expressados e realizados pelos de dentro e pelos de fora a partir das observa es de campo e das entrevistas com a popula o do lugar inclusive com os dois produtores de soja pudemos montar o quadro das racionalidades que servem de elemento 208 Tsso n o quer dizer nem vis o nem uma pr tica simplista mas uma perspectiva de vida que se realiza cotidianamente e deve se prolongar por d cadas caso o dia dia assegure por meio do trabalho essa longevidade Como diz Sahlins 1972 o xito da busca de alimento por exemplo exige a mobilidade o conhecimento do lugar o uso do tempo o transporte da carga e a liberdade do movimento Mas aqui n o h o uso da cartografia do GPS nem da b ssola orientadora dos deslocamentos A complexidade aqui se d justamente pela multiplicidade das dimens es que envolvem o ato e n o pelo aproveitamento da tecnologia de ponta Do mesmo modo nas conversas de campo nos revelam que reconhecem uma variedade imensa de plantas rvores frutos e seus usos medicinais alimentares e artesanais identificam pelo rastro o tipo do animal e o percurso feito pela ca a sabem sobre os peixes e p ssaros o per odo de sua reprodu o e a necessidade de sua preserva o dentre um conjunto de outras possibilidades criadas pela intelig ncia experi ncia experimenta
300. iza o Contudo n o podemos deixar de mencionar outros processos simult neos em curso que correspondem a desmetropoliza o e involu o metropolitana Santos 2005 p 42 43 53 chama aten o que est o em curso dois tipos de moderniza o do territ rio brasileiro aquela da regi o concentrada como nos estados do Sul Paran Santa Catarina Rio Grande do Sul al m de S o Paulo e Rio de Janeiro e parcelas consider veis do Mato Grosso do Sul Goi s e Esp rito Santo onde ocorre a moderniza o generalizada e a manifesta o do capitalismo maduro e a outra para o restante do pa s onde se realiza a moderniza o seletiva que representa a escolha dos lugares que por sua vez destacam se como mancha diante de um vasto territ rio visto haver uma distribui o desigual da informa o da t cnica e do conhecimento entre as regi es brasileiras Assim a moderniza o capitalista proporcionada pelo meio t cnico cient fico 4 5 s T cada STR s Sii E Esse meio marcado pela presen a da ci ncia e da t cnica nos processo de remodela o do territ rio essenciais s produ es hegem nicas que necessitam do meio geogr fico para a sua realiza o A informa o em todas as suas formas o motor do processo social e o territ rio tamb m equipado para facilitar a sua circula o SANTOS 2005 p 38 5 w w O processo de
301. j foi esquecido por muito tempo H todo um trabalho de recupera o dos h bitos e costumes da cultura ancestral Por exemplo a recupera o da l ngua Munduruku realizada por meio de trocas com outros 166 povos da etnia que falam a l ngua e a repassam por meio de aulas e apostilas na aldeia Quem ajuda s o os ind genas do alto Tapaj s do munic pio de Jacareacanga e da localidade de Itai Cinzas Mas eles tamb m est o aprendendo o Nhengatu a l ngua falada por muitos povos ind genas da Amaz nia Essa uma preocupa o que os mais velhos t m em rela o educa o dos jovens e das crian as na aldeia Ressaltamos que na aldeia os mais velhos t m o papel de guardi es da tradi o e fonte de aprendizado conforme prop e Bosi 1979 Do rio tido como fonte de vida vem o peixe como o tucunar e o aracu Este ltimo est sendo preservado por causa do defeso e sua pesca proibida E o momento da multiplica o do aracu Mas nem s da fartura do rio vivem os Munduruku o perigo da pesca predat ria permanente Durante o per odo da seca pescadores fazem pesca de arrast o nos rios pr ximos aldeia Redobra se a vigil ncia dos guerreiros e do cacique Tuxaua Todo o pescado apreendido dividido entre as fam lias mesmo que elas n o estejam precisando do alimento Uma pequena parte o suficiente para almo o e janta doada aos pescadores invasores quando estes s o obrigados a ser retirem das terras i
302. j vinham desenvolvendo no Sul no Mato Grosso as suas lavouras Ao chegar aqui eles come aram a utilizar grandes reas pra explora o da soja do milho do feij o do arroz n E evidente que isso criou um impacto muito grande na cidade Com essa abertura ao redor da cidade at mesmo e n o diria dentro da cidade porque na poca a cidade era considerada s mesmo um centrozinho Mas ao redor da cidade isso criou um impacto muito forte PASTANA Abril 2011 O prefeito fala ainda que o trabalho manual realizado pela popula o bem diferente daquele mecanizado desenvolvido pelos rec m chegados os de fora Um ex funcion rio dos produtores de soja de 28 anos refor a essa opini o ao falar da experi ncia e do trabalho que desenvolveu como tratorista Relembra dos seringais e das reas de floresta derrubadas e da diferen a da t cnica usada pelos produtores de soja Eles trouxeram tecnologia nova n Na verdade era novo pra todo mundo n Plantio mecanizado Porque aqui era tudo tudo mesmo a cultura era no machado no fac o Esse tratorista diz que n o concorda com a ideia de que os produtores obrigaram as pessoas a venderem as suas terras Tomava ele como exemplo a posi o de seu sogro e sua sogra que mesmo sendo procurados resolveram se manter no lugar Na verdade que sempre eles falam e eu concordo com eles Eles n o se apossaram de terra de ningu m As pessoas venderam as terras sem ter p
303. l e fizeram uma r pida pesquisa e constataram que l existia ouro prata outros tipos de min rio ent o eles queriam descer l com m quinas para poderem extrair e explorar Eles n o levaram as m quinas porque n o iam permitir que s com autoriza o Embora eles tivessem chegado l com uma autoriza o para pesquisar Mas eu disse N o voc s t m autoriza o para pesquisar n o para extrair Agora para extrair voc s trazem outra autoriza o l de Bel m porque estava sob a dire o do Minist rio da Agricultura CHARDIVAL Mar o 2011 A cidade empresa fora criada com a promessa de ser a maior produtora de l tex do mundo que a CFIB utilizaria na produ o de pneus e outros derivados para sua ind stria automobil stica nos Estados Unidos come ou a mostrar fragilidades Segundo Costa 1993 o plano inicial da empresa era plantar tr s mil hectares por ano Para tanto seria necess rio um contingente de 7 293 trabalhadores permanentes Em 1931 s havia plantado 400 hectares e arregimentado 3 100 trabalhadores Em Belterra esse n mero em 1938 era de 1 200 e quatro anos depois 1942 a Companhia n o desmatou nem plantou nada e o n mero de pessoal trabalhando diminui para 2 184 Valores bem abaixo dos que constavam nos planos da CFIB Entretanto o projeto durou apenas 18 anos desde a sua cria o em Fordl ndia no ano de 1928 para em Belterra experimentar o seu fim no ano de 1945 Telles assin
304. ladas ao sistema de aviamento que criava obriga es quase servis entre o seringueiro e o seringalista Para Santos 1980 o aviamento surgiu como resultado do contato da sociedade amaz nica com a economia monetarizada do capitalismo industrial europeu desenvolvendo se com base na explora o da m o de obra na baixa participa o ou quase inexist ncia de dinheiro nas trocas no uso de t cnicas rudimentares de produ o e na presen a de agentes intermediadores que garantiam a conex o com o mercado americano e europeu e recebiam grande margem de lucro com o dif cil processo de extra o do l tex A desconfian a da popula o cabocla com a moeda oficial dava se por conta de sua constante desvaloriza o por parte do Estado e pela identifica o de um processo sistem tico de falsifica o que sempre 50 Aviar na Amaz nia significa fornecer mercadoria a cr dito O aviador seringalista de n vel mais baixo fornecia ao extrator seringueiro certa quantidade de bens de consumo e alguns instrumento de trabalho eventualmente pequena quantidade de dinheiro Em pagamento recebia a produ o extrativa Os pre os dos bens eram fixados pelo aviador o qual acrescentava ao valor das utilidades os juros normais e mais a margem apreci vel de ganho a t tulo do que se poderia chamar de juros extra SANTOS 1980 p 159 Essa estrutura reproduziam se em outras escalas com as mesmas caracter sticas As rela es e
305. lado em v rias entrevistas e conversas informais durante o trabalho de campo As tens es em torno do controle pol tico do executivo e legislativo continuam presentes Estamos a poucos meses das elei es municipais de 2012 e os movimentos cis es alian as e demarca o de posi es j se fazem e mostram a vitalidade pol tica local que guarda rela o com as disputas maiores da sociedade nacional 188 Mas nem s das singularidades vive Belterra Outra quest o importante est associada presen a da soja Essa a o do capital com base no apoio estatal impacta diretamente a vida da popula o urbana e rural conforme veremos com mais detalhes de agora em diante 189 5 OS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NA CIDADE OS DE DENTRO E OS DE FORA 5 1 A natureza transescalar da experi ncia urbana Diz Ribeiro 2005 p 412 que a vida local se move por regras e aspectos estruturais que transcendem a sua realiza o cotidiana dada a natureza transescalar da vida urbana Essa afirmativa nos importante uma vez que com o processo de globaliza o o capital usa os lugares e lhes imp e pap is econ micos alheios vida de seus habitantes SANTOS 2005 A presen a da soja na cidade de Belterra e seu entorno guarda rela o efetiva com esta perspectiva uma vez que desarranja os modos de vida preexistentes reorganiza as formas de uso e controle das terras e dos recursos naturais lan a estere tipos contr
306. lantar como antes Em entrevista uma dirigente do STTR de Belterra de 56 anos de idade relatava conhecer v rias situa es onde os agricultores venderam suas terras e n o conseguiram se adaptar vida na cidade O retorno foi inevit vel mas para terrenos de menores propor es que dificultavam morar e desenvolver a atividade produtiva por conta do tamanho reduzido do lote Dizia ela Conhe o pessoas que venderam suas terras e foram e muitas voltaram na comunidade do Tracu a gente v que muitas fam lias j vieram t o morando ali no trevo sabe Sa ram l da comunidade j conseguiram comprar um pedacinho ali pelo trevo ali na Comunidade de S o Francisco e est o morando por l E umas pessoas que a gente sabe foram pra cidade e voltaram ainda compraram assim um pequeno terreno n Porque s vezes n o d muitas vezes nem pra trabalhar a agricultura familiar porque s vezes s d mesmo pra fazer a casa e um plantio LUCIANA Abril 2011 Segundo ela o trabalho do sindicato para conscientizar os agricultores para n o venderem a sua terra e continuar trabalhando e produzindo mesmo em condi es adversas que queriam saber o objetivo da atividade A essa tentativa de intimida o acrescenta se o relato do fechamento do carro na estrada com integrantes de uma organiza o parceira da ONG que realizava o trabalho de coopera o com os movimentos na regi o dentre outras situa es relatadas sobre
307. lecido que o munic pio de S o Gabriel da Cachoeira Estado do Amazonas passa a ter como l nguas co oficiais as Nheengatu Tukano e Baniwa Art 2 O status de l ngua co oficial concedido por esse objeto obriga o munic pio 1 A prestar os servi os p blicos b sicos de atendimento ao p blico nas reparti es p blicas na l ngua oficial e nas tr s l nguas co oficiais oralmente e por escrito 2 A produzir a documenta o p blica bem como as campanhas publicit rias institucionais na l ngua oficial e nas tr s l nguas co oficiais 3 A incentivar a apoiar o aprendizado e o uso das l nguas co oficiais nas escolas e nos meios de comunica es Art 3 S o v lidas e eficazes todas as atua es administrativas feitas na l ngua oficial ou em qualquer das co oficiais Art 4 Em nenhum caso algu m pode ser discriminado por raz o da l ngua oficial ou co oficial que use No munic pio coexistem 22 etnias Araposo Baniwa Barasana Bar Desana Hupda Karapan Kubeo Kuripako Makuna Miriti tapuya Nadob Pira tapuya Potigu Siriano Taiwano Tariana Tukano Tuyuka Wanana Werekena e Yanomami que falam 20 l nguas diferentes e que est o dispersas por mais de 500 comunidades 20 delas presentes em 14 S Costa e Tavares 2006 p 138 fazem refer ncia aos bairros de Urumari Maic Area Verde Urumanduba Mararu e Diamantino como aqueles que t m caracter sticas rurais na cidade
308. leta censit ria cujos limites devem ser aprovado pelo prefeito local Area urbanizada de cidade ou vila s o classificadas como reas urbanizadas aquelas legalmente definidas como urbana caracterizadas por constru es arruamentos e intensa ocupa o humana as reas modificadas por transforma es decorrentes do desenvolvimento urbano e aquelas reservadas expans o urbana IBGE 2000 p 224 Observamos que na cidade praticada conforme analisou Certeau 2008 seus habitantes nem sempre s o prisioneiros dos limites das imposi es formais j que essas pr ticas invadem o espa o e muitas vezes quebram as cercas limitantes por meio da circula o e dos usos conforme ainda acontece hoje em Belterra No mapa formas de usos e ocupa o do espa o da cidade temos uma imagem de sat lite do ano de 1999 acrescida da rea urbana e com dados referentes aos im veis da cidade os produtores de mel existentes e as 10 estradas existentes figura 82 Assim podemos observar que a vida na cidade vai al m dos espa os delimitados por lei municipal e que a a o predat ria do capital ainda n o estava presente e assim chama aten o a floresta em p j que n o h o intenso desmatamento verificado no per odo posterior com a chegada dos de fora 210 Metodologia do Censo Demogr fico 2000 Dispon vel em lt http w ww ibge gov br gt Acesso em 18 fev 2009 E E 5i 5 z Es P E TE S Fij ji F at
309. lias uma em cada casa Figura 21 Casas da Vila Viveiros Foto Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1939 92 Na Vila 129 figura 22 viviam os trabalhadores que desenvolviam atividades bra ais no projeto Disse nos o senhor Ant nio um ex seringueiro e morador da vila que l moravam as pessoas que trabalhavam nos seringais como ele e sua esposa por exemplo As casas eram do ponto de vista material do mesmo padr o das casas da Vila Oper ria mas tinham como parede folhas de zinco e ficava mais distantes do centro da cidade cerca de quatro quil metros Tinham sala quarto e uma pequena cozinha Eram servidas por gua e luz mas n o tinham telefone nem fossas sanit rias Figura 22 Casas da Vila 129 Fonte Pereira J C M 2009 Dona Francisca descreve a estrutura da casa o fog o e a chamin que tinha nas casas da Vila 129 O fog o era do tamanho dessa m quina E era de chamin ainda para sair a fuma a A chapa de ferro de cimento ele era de cimento dessa altura assim era de cimento a chapa de ferro com as tampas tamb m o buraco tinha tampa e tinha chamin A em 1945 deu um pequeno temporal n A quando amanheceu o dia as casas ficaram todas destelhadas e gua dentro e chamin j tinha sa do era tudo Naquele tempo n o tinha essa capoeira hoje em dia n Teve chamin que foi parar na 4 estrada 4 A n o botaram mais chamin Ficou sem chamin as casas mas era tudo equipado Nas prox
310. longo per odo de transi o vivido pela cidade at o ano de sua emancipa o em 1995 Tamb m estabelecemos a rela o entre a experi ncia da cidade empresa de Henry Ford com as Vilas Oper rias do Nordeste na d cada 1930 estudadas por Leite Lopes 1976 e Alvim 1976 1997 e as experi ncias de cidade empresa na Amaz nia a partir das d cadas de 1960 e 1970 com base nos estudos de Trindade Jr e Rocha 2002 No cap tulo III analisamos o contexto dos conflitos socioambientais na Amaz nia Oriental tomando como refer ncia as cidades de Santar m e Belterra PA Apresentamos os campos de poder que se formaram em torno das disputas por conta da presen a da soja na regi o e como esta em base predat ria desestrutura os modos de vida preexistentes as estrat gias e contra estrat gias em curso as amea as de morte e os mecanismos usados pelos produtores de soja para expropriar a terra dos agricultores legitimada pela fala do desenvolvimento No cap tulo IV nos dirigimos para o munic pio de Belterra apresentando como s o os atuais modos de vida rural na BR 163 na Floresta Nacional do Tapaj s FLONA e na rea de Preserva o Ambiental APA Aramanai assinalando como esses espa os sofreram a a o o controle e a nomina o formal da esfera estatal Aqui detemo nos no modo de vida da etnia Munduruku presente na Flona nas aldeias de Marituba Takuara e Bragan a Em seguida analisamos como o urbano e o rural es
311. ltores que abastecem com produ o de hortali as os supermercados da cidade ou vendem para a popula o do entorno das reas urbanas ocupadas cultivadores de ervas medicinais que tanto buscam manter viva a pr tica como organizam grupos de moradores para a gera o de emprego e renda ou casos em que a produ o de frutas e hortali as na cidade faz parte de uma estrat gia de autoconsumo para melhorar a alimenta o familiar diante dos baixos sal rios apresentando 38 se assim como uma atividade mais permanente de complentariedade da renda PEREIRA 2009 Segundo Fernandes 1968 p 119 a agricultura tanto forneceu o ponto de partida para acumula o do capital como inseriu o homem do campo na vida da cidade de modo que o imigrante desprendeu se econ mica e socialmente do mundo rural mas levou consigo as concep es rurais de organiza o da vida A presen a tnica na cidade constitui outra particularidade visto que existem lugares onde o portugu s concorre com outras l nguas como no caso do munic pio de S o Gabriel da Cachoeira no Amazonas onde grande parte da popula o ind gena e o Nheengatu Tukano e Baniwa s o as l nguas co oficiais institu das por meio da lei municipal n 145 de 11 12 2002 conforme os artigos e par grafos abaixo que tratam de parte dessa legisla o Art 1 A l ngua portuguesa o idioma oficial da Rep blica Federal do Brasil Par grafo nico Fica estabe
312. m em nosso caminho e indicaram as nossas fragilidades a incompletude de nossas a es e as incoer ncias moment neas das nossas argumenta es Mais que isso apontaram caminhos indicaram leituras e pediram novas formula es e an lises mais consistentes Dir amos aqui em homenagem a elas que uma linhagem intelectual se faz de v rios mestres PEIRANO 2008 Nessa condi o compartilharam conosco seus ac mulos e suas experi ncias profissionais e pessoais No entanto houve outras n o menos importantes que leram as formula es fizeram corre es e prestaram solidariedade nos momentos de dificuldades Ofereceram a m quina fotogr fica o laptop o gravador a bicicleta doaram passagem deram conselhos e emprestaram seus ouvidos para a escuta das ang stias dos anseios e das novas descobertas Houve aqueles que indicaram e nos levaram aos entrevistados nos hospedaram e nos acolheram como se fossemos da fam lia Outras fizeram os mapas disponibilizaram as fotos e informa es importantes que fazem parte do escopo do trabalho tornando assim nossa tarefa bem mais agrad vel N o vamos poder listar nem agradecer a todos e todas nominalmente mas desde j gostar amos de agradecer a gentileza dispensada a nossa pesquisa Contudo mesmo correndo o risco de cometer a injusti a do esquecimento prefiro registrar nessas p ginas aqueles que precisam ser nominados Universidade Federal do Par UFPA onde fiz minh
313. m uma calceta e obrigados a trabalhar em obras p blicas e com este rem dio que se tem aplicado a alguns nos temos livrado de embara os Francisco Xavier Mendon a Furtado Governador e Capit o Geral do Estado do Gr o Par e Maranh o Par 30 08 1757 A fala do desenvolvimento como denominamos a produ o de sentidos sobre a Amaz nia brasileira nos contextos estudados envolve elementos que merecem nossa aten o j que orientam o olhar de diversos atores sociais definem seu papel econ mico e pol tico e essencializam os modos de vida dos grupos sociais que nela vivem Seus enunciados b sicos podem ser formulados da seguinte forma uma regi o selvagem a ser dominada uma riqueza natural adormecida e diversa que precisa ser economicamente valorizada um lugar despovoado que precisa ser ocupado um povo destitu do da capacidade de usar e transformar em riqueza o patrim nio que det m Termos como selva e selvagem expressam as caracter sticas do lugar e os povos que nele vivem A sociedade ind gena por exemplo para esse caso n o se refere etnia sin nimo de atraso embora essa nomina o tamb m se estenda para agricultores extrativistas e quilombolas Parte se segundo essa premissa da ideia de vazio sociocultural que precisa ser preenchido pelo processo civilizat rio Podemos compreender melhor essa formula o recorrendo teoriza o de Morgan sobre o per odo da coloniza o
314. m de forma diferenciada especula o imobili ria inclusive com a venda ilegal de terras p blicas por antigos mandat rios de cargos p blicos municipal desmatamento de grandes reas de florestas extra o ilegal de madeira polui o de rios e igarap s por conta do uso de agrot xico ocupa o por fazendeiros de leitos de igarap s e de reas p blicas de uso comunit rio das comunidades ribeirinhas e de agricultores familiares CARVALHO TURA 2006 a territorializa o do capital ELIAS 2006 p 115 que se faz por meio da difus o da agricultura cient fica e do agroneg cio globalizado que desestrutura a vida do lugar dado o poder destrutivo de sua a o Relata uma lideran a da localidade de jacar rea rural do munic pio de Santar m que houve a diminui o do n mero de fam lias na comunidade que j foi de 55 e hoje de apenas 38 Mas nosso informante fala tamb m da compra de terra de agricultores do fechamento de estradas impedindo o deslocamento livre das pessoas do assoreamento e da intoxica o dos igarap s do lugar onde mora dos problemas de sa de das pessoas do fechamento de escolas em outras localidades e da amea a de morte que vem sofrendo v rias lideran as sindicais por conta da presen a de pistoleiros na regi o Segundo ele o valor pago 42 Conforme analisamos no primeiro cap tulo a fala do desenvolvimento traz em seu teor uma perspectiva que essencializa a regi o
315. m maior import ncia Tomando por base os escritos da cidade como categoria sociol gica Oliven 1988 p 14 define tr s principais perspectivas aqueles que encaram a cidade como uma vari vel dependente aqueles que encaram a cidade como uma vari vel contextual e aqueles que encaram a cidade como uma vari vel independente No primeiro caso a cidade n o se auto explica est relacionada a uma totalidade do qual faz parte o que implica em afirmar que urbano e rural s o manifesta es concretas de unidades mais abrangentes ou seja dependentes de um complexo entrela amento de fatores econ micos pol ticos militares religiosos etc Dessa forma conv m mencionar os diferentes tipos de cidades que variam no tempo e no espa o pelo menos que defendem diferentes posi es te ricas que compartilham com esta perspectiva 224 Na sociologia urbana norte americana da Escola de Chicago v rios autores propuseram formula es para explicar as transforma es que viviam as cidades americanas no in cio do s culo XX Nessa perspectiva a cidade j era uma forma de organiza o social dada cabendo no entanto ao pesquisador explic la Em publica o de 1916 Park 1967 prop e caminhos te rico metodol gicos para o desenvolvimento de pesquisas voltadas a entender as transforma es em curso nas grandes cidades americanas tendo como ponto de partida a clara apresenta o da diferen a entre os as
316. ma arvore enquanto uma banda militar tocava o Hino Nacional Depois descerrou uma placa de bronze incrustrada no tronco de uma grande castanheira com Reprodu o parcial de um artigo publicado no Rio de Janeiro pelo jornalista Maciel Filho do jornal O Imparcial intitulado Pobre presidente no mesmo per odo 35 Esse livro foi editado num volume com mais duas obras Hoje e amanh e Minha filosofia da ind stria sob o nome de Os princ pios da prosperidade de Henry Ford traduzido no Brasil por Monteiro Lobato 1954 Dispon vel em lt http bd folha uol com br bd acervoonline htm gt Acesso em 23 mar 2007 52 cerca de dois metros de diametro na qual estava inscrito Nestas margens do Xingu em plena selva amazonica o Sr Presidente da Republica d in cio constru o da Transamazonica numa arrancada historica para a conquista deste gigantesco mundo verde FOLHA DE S O PAULO 10 10 1970 Passados mais de 40 anos dessa inaugura o a promessa de desenvolvimento n o se cumpriu e as cidades localizadas s margens da rodovia Transamaz nica passam at seis meses por ano com problema de desabastecimento porque fica intrafeg vel durante o inverno Isto se repetiu na fala empresarial contida na entrevista concedida ao jornal O Globo no encarte denominado de Raz o Social de 01 12 2008 onde o presidente da mineradora canadense ALCOA Franklin Feder diz acreditar que a mina
317. ma pe a de barro que ia ser enviada ao Instituto do Patrim nio Hist rico Nacional IPHAN para an lise de forma a datar o seu per odo Estudos indicam que no s culo XVII quando os portugueses chegaram ao Tapaj s encontraram nessa regi o a poderosa na o Tupai formada por v rias etnias que tinha popula o estimada de 30 mil ind genas SANTOS 1974 182 Conforme levantamento realizado por um ndio Munduruku no ano de 2008 165 A vida come a cedo na aldeia de Marituba O trabalho na agricultura envolve todas as fam lias durante o dia inclusive as crian as quando n o est o na escola L se planta milho mandioca feij o arroz car macaxeira batata e frutas como abacaxi abacate e cupua u A a bacaba buriti e tucum d o o vinho muito apreciado pelos ind genas O tucum por exemplo tamb m fornece a semente que vira artesanato e ajuda a manter financeiramente muitas fam lias s onze e meia da manh retorna se aldeia para fazer os trabalhos da casa e o artesanato com os frutos e sementes trazidas da floresta Madeira morta tamb m vira artesanato As sementes s o do a a da bacaba tento vermelho ou amarelo que a gente colhe no rio se transforma em colares brincos pulseiras cocar e braceletes Tudo isso n s fazemos e vendemos Esse trabalho feito por pais e filhos A m e faz o colar o filho vai fazendo o anel o outro filho j vai fazendo o artesanato de madeira morta confor
318. mandamentos foram refer ncias lan adas na atividade coletiva Isso para anunciar a rela o de respeito de depend ncia da natureza e a import ncia de preserv la marcou as falas no decorrer do encontro 185 anivers rio da cidade o passeio na Pra a Brasil que concentra grande n mero de pessoas principalmente nos fins de semana e o banho de rio no majestoso Tapaj s dada a proximidade das praias de Porto Novo Pindobal Cajutuba e Aramanaf As festas promovidas na cidade no m ximo duas por m s s o restritas aos primeiros quinze dias enquanto dura o sal rio da Prefeitura conforme nos disse um funcion rio p blico Lembramos que a cidade dorme cedo com exce o dos fins de semana mas acorda cedo tamb m Quando a sirene toca a primeira vez s 6h o sinal do despertar da vida social para mais um dia de atividade A fofoca tamb m faz parte das narrativas Algumas contadas com risos maliciosos outras com o desconcerto por estar envolvido na trama Fala se do esc ndalo envolvendo um vereador que se recusou a reconhecer uma reclama o de paternidade da trai o conjugal de fulano e cicrano das fotos de mulheres peladas que circulam em celulares e do curral das guas um local onde se faz festa dan ante espor dica e que tem forte desaprova o das mulheres casadas dentre uma diversidade de situa es que nos foram relatadas Em meio ao emaranhado dessas informa es surgem tamb m os conselhos
319. me nos informou uma jovem ndia Munduruku O trabalho vai at onze e meia a depois volta para casa pra almo ar produzir tomar banho e fazer o trabalho de casa e retorna novamente uma e meia duas horas e retorna novamente do trabalho cinco horas da tarde cinco e meia Isso a o dia dia fazendo o mesmo trabalho plantando colhendo e ajudando tamb m NDIA MUNDURUKU Novembro 2009 O ajudar neste contexto est relacionado ao Puxirum que conhecemos pelo nome de mutir o onde pais filhos esposas e parentes se ajudam mutuamente para fazer o ro ado plantar colher e fazer farinha A fabrica o de farinha envolve a fam lia nuclear toda al m de outros parentes Se o filho casado o filho vai com a sua esposa e filhos ajudar o seu pai porque o trabalho da mandioca ele muito puxado Se tiver 30 pessoas todas as 30 trabalham E a mais r pido com mais pessoas Na parte da noite tem o ritual em que a aldeia toda celebra a sua exist ncia e s o repassadas aos mais jovens outras formas de express o da vida ind gena por meio das dan as cantos vestimentas e hist rias contadas pelos mais velhos Esse um momento de grande divers o para as crian as No decorrer do ritual durante a noite eles aprendem com o ritual pra que serve porque que usa pra qu que usa aquele tipo de veste porque fazer aquele ritual naquele per odo E tudo isso vai incentivando para que n o perca n a cultura que
320. mente analisadas Podemos desta forma pensar a inser o da Amaz nia como circuito espacial da produ o na divis o internacional e territorial do trabalho como detentora de um abundante estoque estrat gico de recursos naturais que podem ser transformados em mat ria prima bem como enquanto fornecedora de m o de obra barata necess ria ao processo de acumula o do capital Com isso podemos observar como a a o do capital com base no apoio estatal desestrutura ou destr i os modos de vida preexistentes para que novas racionalidades mercantis de uso predat rio da natureza se instalem Esta situa o n o era identificada com tanta intensidade antes da chegada dos grandes projetos na Amaz nia que s o datados do 34 final da d cada de 1960 e do in cio dos anos de 1970 PINTO 1995 CASTRO 1995 mas se prolongaram pelas d cadas seguintes Isto confere a esta regi o especificidades que precisam ser estudadas uma vez que a forma o das cidades da Amaz nia nem sempre est associada ao par urbaniza o e industrializa o CASTRO 2009 como em outras regi es do Brasil embora esta situa o tamb m possa ser identificada Aqui a regi o entendida como subespa o e parte de uma totalidade maior como vimos em Santos 2006 Assim propomos que a abund ncia de natureza ou de recursos naturais o rural e o urbano contidos na cidade e a presen a tnica quilombola e ind gena na cidade s o caracter sticas que precisam
321. mentos ELIAS 1994 23 As formula es de Elias nos servem de base para analisar como determinados conceitos e representa es informam e orientam a a o dos grupos sociais das institui es ou 55 de uma sociedade inteira como nos dois per odos hist ricos vividos por Belterra sob a fala do desenvolvimento Contudo argumentamos fundamentado em Marx 1983 que a teoria a representa o do real no plano das ideias como an lise n o sendo no entanto nem descri o nem fotografia Desta perspectiva consideramos que n o h uma nica formula o sobre a vida social especialmente sobre grupos sociais e sociedades tidas como primitivas e atrasadas Podemos aqui nos valer das formula es de L vi Strauss que apresenta uma outra possibilidade do olhar agora com base na rela o de alteridade com o outro L vi Strauss 1973 p 24 29 analisa a diferen a entre o pensamento cient fico e a forma de representa o das sociedades ind genas que define como pensamento m tico ou m gico Observa que nas sociedades ind genas o padr o de classifica o complexo e o repert rio vasto como pode ser exemplificados no caso da nomea o de animais plantas e insetos cujo plano de refer ncia a utilidade destes para aquela organiza o social Por exemplo o repert rio etnobot nico entre as tribos pesquisadas chega a mais de oito mil termos que tem nas suas experimenta es pr ticas parte de s
322. mesmo modo necess ria a incorpora o do conceito pol tico administrativo de cidade visto ser esta tamb m a sede da autoridade pol tica e por correspond ncia com certa autonomia para a tomada de decis es Pol tica econ mica urbana zona urbana e autoridade urbana s o termos relacionado a esta quest o que empurram a cidade para al m de seu conceito econ mico WEBER 1967 p 82 O esfor o te rico de Weber est intimamente associado s transforma es pelas quais passava a ent o Europa ocidental com o desenvolvimento da cidade capitalista Assim ele 223 est analisando um tipo espec fico de cidade aquela nascida com o incremento da sociedade industrial Em Marx 1983 e Engels 2008 a cidade aparece como o local do desenvolvimento do capitalismo espa o da industrializa o e da explora o da for a de trabalho uma vez que a divis o social do trabalho e a substitui o do trabalho manual pela m quina colocam em rela o os burgueses detentores dos meios de produ o e na outra ponta o proletariado aqueles que det m apenas sua for a de trabalho Essa rela o voltada produ o de mais valia que tanto produz mercadorias como cria as bases para a explora o do trabalho assalariado A grande cidade nesse contexto tamb m lugar da pobreza e da rela o de indiferen a entre as classes sociais principalmente em rela o aos prolet rios que vivem em condi es desumanas
323. mia o concedida pela Comiss o de Desenvolvimento de Desenvolvimento Urbano da C mara dos Deputados em Bras lia DF no ano de 2007 19 Dentre as quest es apresentadas pelo mapa estavam polui o e assoreamento de rios e igarap s desmatamento ca a e pesca predat ria monocultivo da soja e uso de agrot xico grilagem de terra e expuls o de agricultores viol ncia f sica e amea as declaradas dentre outras Observamos que lideran as populares secret rios e t cnicos do governo municipal contribu ram para sua constru o Para mais detalhes ver Pereira 2007 187 Este mapa serviu de refer ncia para propor no cap tulo sobre o ordenamento territorial as formas de uso e ocupa o do espa o como as reas destinadas s Atividades Produtivas as Zonas de Prote o Ambiental de Interesse Social e Alimentar com base nas ideias de sustentabilidade e fun o social da cidade e da propriedade conforme a Lei do Plano Diretor aprovada pela C mara de Vereadores e sancionada pelo prefeito municipal no ano de 2007 Lei n 131 de 22 02 2007 Naquele per odo j havia grande resist ncia dos participantes do processo do Plano Diretor sobre a presen a da soja no munic pio principalmente devido a proximidade das casas escolas e hospital municipal e s tens es decorrentes em torno das limita es da localiza o desta principalmente na cidade Os acordos pol ticos inclu ram verbalmente naquele momento a permuta
324. micos industrializa o no Brasil In Mudan as sociais no Brasil S o Paulo DIFEL 1979 p 61 92 din mica da mudan a sociocultural no Brasil In Sociedade de classe e subdesenvolvimento Rio de Janeiro Zahar 1968 p 107 133 FERREIRA Aur lio Buarque de Holanda Novo Dicion rio Digital Aur lio da L ngua Portuguesa 2009 CD ROM FOOTE WHITE William Sociedade de esquina Rio de Janeiro Zahar 2005 FORD Henry Os princ pios da prosperidade Rio de Janeiro Brand 1954 FOUCAULT Michel Ditos amp escritos III est tica literatura e pintura m sica e cinema Rio de Janeiro Forense Universit ria 2006 Disciplina In _____ Vigiar e punir Rio de Janeiro Vozes 1977 p 125 152 FREIRE Gilberto Nordeste Rio de janeiro J Olympio 1985 FR GOLI JR Heitor Sociabilidade urbana Rio de Janeiro Zahar 2007 GEERTZ Clifford O saber local Petr polis Vozes 1999 p 9 30 Interpreta o das culturas Rio de Janeiro Zahar 1978 p 13 41 GOFFMAN Erving Estigma notas sobre a manipula o da identidade deteriorada Rio de Janeiro Zahar 1982 GOHN Maria da Gl ria Teoria dos movimentos sociais paradigmas cl ssicos e contempor neos S o Paulo Loyola 2000 GRAMSCI Ant nio Americanismo e fordismo In Maquiavel a pol tica e o Estado moderno Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1988 p 375 413 GRANDIN Greg Fordl ndia ascens o e queda da cidade esquecida de Henry F
325. mina A da cabeceira do igarap que vinha pra c Da gua que vinha pra c era da cabeceira pra c L eles tiraram O papai a hora que ele chegava em casa meia noite tinha um carro aqui de dez rodas que dava duas tr s viagens para Porto Novo Chegou um lorde a passou um m s e eles tirando ouro e carregando para l E Quando eles foram Quando eles sa ram dali podiam ir embaixo ANT NIO Abril 2011 Em Fordl ndia a situa o se repete conforme veremos pelos depoimentos abaixo O primeiro de um ex seringueiro que trabalhou na CFIB O segundo de um ex funcion rio do 3 Doen a que seca as folhas diminuindo o seu tempo de vida causado pelo fungo Dothidella ulei Manifestou se pela primeira vez em Fordl ndia no ano de 1934 resultando na perda de 26 do que havia sido plantado 2 227 8 acres em 1935 e na transforma o de Fordl ndia numa esta o experimental para o estudo cient fico da borracha COSTA 1993 Relatos de campo indicam ainda o ataque de insetos e lagartas Edsel Ford o filho nico do magnata americano morreu em 1943 Coube a seu filho Henry Ford II assumir os neg cios da fam lia que diante da situa o de crise econ mica da poca decidiu fechar v rias frentes de trabalho da Companhia Dentre elas Fordl ndia e Belterra que no dia 05 de novembro de 1945 foram repassadas ao governo brasileiro pelo valor US 244 200 dinheiro que foi usado para saldar obriga es trabalhistas na Amaz
326. mo O valor de troca se sobrepunha ao valor de uso e o tempo lento da vida pret rita ganhava nova velocidade e din mica aquela exigida pelo trabalho sistem tico e repetitivo para a produ o de seringa que de Belterra devia alcan ar o mercado mundial e particularmente servir de mat ria prima ind stria automobil stica norte americana Produzem se ent o profundas mudan as no plano imediato do vivido e do concebido desses migrantes j que o produto de seu trabalho n o lhe pertence mais nem tampouco a natureza agora sob o dom nio da racionalidade capitalista da CFIB Em Belterra apropriando se do assinalado por Lefebvre 1969 podemos afirmar que o mundo da 67 O valor de uso est relacionado ao trabalho realizado para a transforma o da natureza a fim de satisfazer as necessidades de subsist ncia do grupo O valor de troca por sua vez refere se ao trabalho humano que dedica certa quantidade de tempo para produzir mercadorias que sejam intercambi veis monetariamente no qual o dinheiro o equivalente geral e o mediador dessas rela es MARX 1983 71 mercadoria com sua l gica e linguagem se generaliza no cotidiano a tal ponto que cada coisa se vincula com sua significa o LEFEBVRE 1969 p 10 Isto ao dinheiro e ao valor de troca O que por sua vez implicou em mudan as nas rela es e m todo de produ o nas pr ticas alimentares nas formas de propriedade e do trabalho bem como no uso do
327. mo marcador do tempo metropolitano para falar da velocidade e complexidade das rela es e processos Essa condi o produz na vida dos metropolitanos o que o autor define como atitude blas que na ess ncia refere se atitude de poder discriminar de construir valores e significados diferentes para as coisas como ato de auto preserva o Esta atitude inclui avers o estranheza repuls o indiferen a contra o pr ximo como caracter stica b sica de seu processo de socializa o ou seja a antipatia que o protege do perigo metropolitano Dessa forma com base nos autores apresentados podemos tomar algumas refer ncias como elementos definidores do conceito sociol gico de cidade Pelo menos quatro grupos de quest es ganham destaque em v rios deles 1 ser a cidade o local da troca sistem tica de mercadoria e da divis o social do trabalho o que implica especializa o das atividades profissionais e produtivas e a cria o e manuten o de institui es e legisla es voltadas para este fim 2 ser sede do poder pol tico e econ mico funcionando como centro decis rio e delimitador de rela es que ultrapassam seus limites f sicos 3 ser produtora e portadora do modo de vida que resulta em uma forma diferenciada de valores condutas comportamentos e motiva es que tem por refer ncia o dinheiro que serve como elemento mediador das rela es entre pessoas grupos e institui es e que a diferencia da sociedade rural e d
328. mo modo n o repetiu a experi ncia do restaurante j que cada fam lia era respons vel por sua pr pria alimenta o atrav s da compra de produtos na comiss ria Tamb m n o levou a ferrovia a piscina dos americanos nem se fez um campo para pr tica do golfe Como j dissemos a cidade empresa foi a estrat gia usada pela CFIB para dotar de condi es urbanas o lugar para o desenvolvimento da atividade industrial PIQUET 1998 A distribui o espacial das moradias e dos indiv duos visou localizar os equipamentos e a for a de trabalho segundo sua utilidade FOUCAULT 1977 Constru mos um mapa denominado Lugares da Mem ria figura 30 a partir do relato dos seringueiros e de visitas aos lugares que serviram de refer ncia material aonde essa experi ncia se desenvolveu Assim foi poss vel cartografar a localiza o das estradas das quadras de seringa das casas hierarquizadas na forma de vilas das cabanas dos seringueiros do escrit rio da Companhia dos portos do cemit rio do hospital do campo de pouso do cercado onde funcionavam as oficinas e se fazia o alistamento dos trabalhadores da pra a onde os americanos jogavam golfe do Club House da cadeia do centro comercial Enfim parte significativa dos construtos da poca 9r6L PE6L IS VHS OA TVINLSNANI VISQUIN va QUOA VIHNVHINOD VA VONHHIS 3A NOLLVINVTA OA SYYavNO sauvon Figura 30 Mapa lugares da mem ria a J C M Confec o C
329. modo observamos que na cidade praticada onde se realiza a media o entre o lugar e a totalidade mundo os h bridos presentes na vida cotidiana e o contexto de sua realiza o nos informam sobre a Amaz nia e em particular da presen a tnica quilombola e ind gena do rural e do urbano na cidade uma vez que a vida naquele espa o subnacional n o se realiza pelas oposi es criadas pelo pensamento abstrato Palavras chave Amaz nia Fordismo Modos de vida Fala do desenvolvimento Urbano Verticalidade ABSTRACT The aim of this thesis is to analyze the Belterra ways of life We analyzed two time periods 1934 1945 1995 2011 of the social life of the place to identify how the action of the Capital based on governmental support moved to the Brazilian Amazon has appropriated large pieces of territory destroyed or disrupted the ways of life in the name of the requirements international market In the first period attempted to identify how was the process of reintegration of migrants into a city company Ford Industrial Company of Brazil based on creating a hierarchy sociofuncional Fordist production system and a restriction of living of Americans and Brazilians In the second period we analyzed the presence of soy in the city and the around it The rural and urban are contained in the city simultaneously and socio cultural practices that are not made by the opposition The connection between the two periods lies in the
330. moram s proximidades das planta es relatam doen as respirat rias em adultos e crian as mau cheiro e moscas que invadem as resid ncias Tamb m identificam os mecanismos de sedu o de fam lias para a venda da terra como oferta de dinheiro carros e motos al m de outras situa es T mais quente devido desmata o N o h mais aquele friozinho por isso sempre procuramos os rios e igarap s Todas as casas t m aquela barraquinha de palha no fundo do quintal que pra se refrescar Est muito quente por conta da devasta o provocada pelos ga chos por causa da planta o de soja Na estrada nove que leva ao Aramanai e Maguari era mata fechada mas agora n o tem mais at as pr prias castanheiras pequiazeiros as plantas nativas n o t m mais Eles desmataram tudo mas o solo n o deu para a planta o eles abandonaram tudo Muita gente vendeu mesmo as pessoas que moravam aqui trocaram seus terrenos por moto carro velho pouco dinheiro e foram morar na periferia de Santar m Hoje em dia os terrenos est o abandonados Na estrada da revolta teve muita gente que trocou os seus terrenos por besteira achavam que R 5 000 00 cinco mil reais era dinheiro teve gente que j voltou tentando comprar terra para construir H 20 30 anos atr s Belterra tinha outro clima a desmata o s proximidades da rea urbana Antigamente o clima era de montanha para tomar um banho no fim de tarde
331. movimento multidirecional desses fluxos Segundo um dirigente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santar m STTR os bairros da cidade de Santar m recebedores de popula o foram Nova Vit ria Santarenzinho Amparo Santo Andr Nova Rep blica Floresta e Matinha 130 ae ato o PIR AR ET 2 E PER O capitalismo n o somente uma atividade econ mica Conforme prop s Elias 1994 ele um projeto civilizat rio que para o caso estudado expropria o agricultor de sua terra submete o re socializa o na cidade ao trabalho assalariado e a ditadura do dinheiro que serve como base de media o das rela es comerciais profissionais e do acesso aos bens e servi os 132 Esses conflitos se d o no mbito do territ rio vivo SANTOS 2006 na jun o da rela o sociedade natureza Para Santos n o h vida social nem hist ria sem o espa o E n o h espa o sem a vida social que o produziu como pr tica humana passada e presente At ent o t nhamos a natureza natural que sofreu a a o humana e passou a ser natureza transformada ou uma segunda natureza a sociedade Contudo no capitalismo e do ponto de vista do capital temos as racionalidades que mercantilizam a vida e a natureza atrav s da media o do trabalho humano e do uso da t cnica da ci ncia e da informa o que produz os objetos estradas m quinas hidrel tricas portos cidades aeroportos navios etc que ajudam os detentores do
332. movimentos sociais e ONG contra a soja no porto da Cargill na cidade de Santar m 2006 256 Outras fontes BELTERRA Diagn stico T cnico Municipal da Secretaria Municipal de Sa de 2009 Mapa da estrutura fundi ria de Belterra 2009 Imagem de sat lite 2006 Plano Diretor Participativo do munic pio de Belterra Lei n 131 de 22 02 2007 Arquivo fotogr fico 1930 CFIB Companhia Ford Industrial do Brasil Registro de Empregados Estatuto da Sociedade An nima CFIB de 10 10 1927 Termo de permuta que concedeu novas terras CFIB de 04 11 1934 FASE Indicadores Sociais e Ambientais do Munic pio de Belterra estado do Par 2008 23 p V deo do Plano Diretor Participativo do munic pio de Belterra Bel m 2007 Acervo fotogr fico 2006 Relat rio da III Oficina de Capacita o de Lideran as Populares Realizada nos dias 16 e 17 de fevereiro de 2006 na cidade de Belterra na Associa o Cultural e Desportiva dos Piratas ACEDESPD Relat rio da I Oficina para Gestores P blicos de Belterra Plano Diretor Participativo e Planejamento P blico Estrat gico Realizada nos dias 02 03 e 04 de dezembro de 2005 na sede do Conselho Nacional dos Seringueiros CNS na localidade de Alter do Ch o no munic pio de Santar m PA SANTAR M Ortofoto do Porto de Santar m 1999 SIPAM Servi o de prote o da Amaz nia Imagem de sat lite da rea urbana de Belterra 2004
333. mpla e transparente para com o p blico atrav s de um Conselho Or ament rio dentro da Prefeitura Constru o de mais escolas de ensino fundamental e m dio Qualifica o de professores Constru o e amplia o das creches Cursos profissionalizantes para os alunos inform tica mec nica Linha tur stica para os lugares atrativos do munic pio Barcos e lanchas para Tapaj s fazendo linha di ria no Munic pio Rede de esgoto gua tratada em todos os bairros e comunidades do munic pio Quadro 1 Belterra dos Sonhos para Gestores e Lideran as Municipais Fonte Elaborado pelo autor a partir dos relat rios de atividades do Plano Diretor 2005 2006 212 Pelo exposto podemos identificar que nos relat rios de atividades do Plano Diretor dos anos de 2005 e 2006 as aspira es est o voltadas para a preserva o da floresta e o combate ao desmatamento a valoriza o da cultura ind gena e a regulariza o das suas terras o investimento no turismo a melhoria do sistema de transporte e da infraestrutura de servi os qualifica o de pessoal apoio instala o de ind strias e cria o cooperativas populares e estabelecimento de rela es democr ticas entre o governo e a popula o local A mesma situa o se repete no conte do das entrevistas feitas nos anos de 2009 e 2011 Nos dois casos a produ o de soja n o aparece como aspira o econ mica dos
334. mpo meu av minha av meu pai minha m e Segundo seu pai de 71 anos de idade em 1926 por l j viviam oito fam lias parentes como tias e av s Antes mesmo da Ford vir para Belterra j existiam os moradores da rea N o s l mas na comunidade de Porto Novo tamb m moravam alguns parentes dele Meu pai me contou que minha av contou para ele que veio morar pra c em 12 1912 porque o marido dela era m sico e eles andavam de canoa nas comunidades tocando SOCORRO Outubro 2009 Ant nio 78 anos ex seringueiro hoje morador da Vila 129 nascido na localidade do Porto Novo nas proximidades do cemit rio da Companhia informa que nasceu em 1933 mas sua m e j morava por l antes da chegada dos americanos Seu pai e sua m e trabalharam nas quadras de seringa de Belterra e seu padrinho foi capataz no mesmo per odo Apesar da escassez da m o de obra para as planta es a orienta o interna na CFIB era a de manter dist ncia dos ind genas uma vez que eles n o eram considerados domesticados nem aptos ao trabalho Adjetivos como pregui osos indisciplinados e trai oeiros faziam parte do discurso de seus dirigentes conforme apresenta o estudo de Grandin 2010 Santos 2006 tratando das rela es entre sociedade e natureza e das transforma es ocorridas nesta ltima por conta das t cnicas utilizadas socialmente nos lugares habitados e criadores de meios artific
335. mpo de futebol igreja sistema de abastecimento de gua e energia ferrovia dentre outros constitu ram a infraestrutura erguida pelo empreendimento americano Os por es do Ormoc e do Farge estavam com o maquin rio e materiais necess rios para iniciar e manter a planta o uma escavadeira a vapor geradores el tricos m quinas para a constru o de estradas tratores enxadas p s uma britadeira uma enorme m quina de fazer gelo equipamentos hospitalar misturadores de concreto uma serraria bate estacas destocadores um rebocador a diesel pequenas lanchas fluviais pr dios pr fabricados um dep sito desmontado e reciclado da f brica da Ford em Highland Park estacas de a o estrutural pr fabricado e pronto para a r pida constru o de pr dios amianto para uso nos tetos como isolantes dispositivos para encanamentos material de escrit rio roupas medicamentos e alimentos havia uma ferrovia locomotiva trilhos e conex es num total de um milh o de d lares em produtos GRANDIN 2010 p 134 135 A CFIB promoveu o recrutamento de m o de obra dentro e fora da regi o No ano de 1929 a for a de trabalho era formada de 2 825 empregados inclusive estrangeiros Eram migrantes nordestinos principalmente cearenses mas tinha paraibanos e pernambucanos al m de baianos e potiguares e de outras regi es como os mineiros e pessoas oriundas da Amaz nia como aquelas residentes nas proximidades dos r
336. multaneamente na cidade Observamos que a urbaniza o pela verticalidade sob a tica do fordismo re socializou a popula o na cidade e mesmo com a sa da da CFIB 18 anos depois da regi o marcou a vida urbana como forma e conte do prolongando se pelas d cadas seguintes A vila que ficou resultante da experi ncia fordista se transformou em distrito do munic pio de Santar m e guardou as caracter sticas da cidade na floresta para 66 anos depois experimentar a sua emancipa o como munic pio e nas quadras dos antigos seringais ver renascer com mais for a a vida urbana constru da no passado Essas condi es hist ricas v o permitir cidade de Belterra conter o urbano e o rural como modos de vida simult neos que podem ser explicados pelas quest es anteriores mas acrescidos dos seguintes componentes a atividade rural na cidade que j existia de forma embrion ria desde os tempos da CFIB ganhou intensidade com a mudan a de muitos agricultores para a cidade que diante da disponibilidade de terras e de recursos naturais fizeram crescer na cidade a pr tica agr cola Dessa forma urbano e rural n o se fizeram pela 234 oposi o mas pela complementaridade Como argumentamos com base em Fernandes 1979 n o poss vel apagar as experi ncias de vida pret rita do migrante que levou consigo para a cidade o modo de vida adquirido na vida rural Desse modo a popula o translocal SAHLINS 1997 pode habitar s
337. n lise e compara o das institui es inven es e descobertas ele tra ou os est gios de evolu o das sociedades considerando que a hist ria da ra a humana poderia ser explicada pela escala ascendente do desenvolvimento da humanidade calcado na ideia de um progresso natural e necess rio que se daria da seguinte forma a selvageria iria da inf ncia da ra a humana at a inven o do arco e flecha a barb rie da inven o do arco e flecha at a inven o do processo da fundi o do ferro com o uso de ferramentas e a civiliza o da inven o do alfabeto fon tico at o presente MORGAN 2004 1877 Nessa proposi o a representa o do outro se faz na condi o de inferioridade Segundo Boas O ponto de vista evolucionista pressup e que o curso das mudan as hist ricas na vida cultural da humanidade segue leis definidas aplic veis em toda parte o que faria com que os desenvolvimentos culturais em suas linhas b sicas fossem os mesmos entre todos os povos e ra as costumes similares s o encontrados nas regi es mais distantes e diferentes A ocorr ncia dessas similaridades um dos alicerces da hip tese evolucionista Nessa hip tese implica a id ia de que nossa civiliza o ocidental europ ia representa o desenvolvimento cultural mais elevado em dire o ao qual tenderiam todos os outros tipos culturais mais primitivos grifo nosso BOAS 2004 p 41 42 Era inconceb
338. nas concess es escandalosas que o Sr Dionysio governador do Par fez s empresas estrangeiras quanto Sr Ford n o h fugir do dilemma ou o milliardario est no desconhecimento dessas malvadezas praticadas sombra de seu nome e compre lhe para logo despachas os prepostos que o compromettem o pretende transformar o Par em col nia de seu paiz e os paraenses de b a f em mulatos de sua senzala O ESTADO DO PAR 02 12 1928 p 1 No final do mesmo m s com a chegada dos trabalhadores em Bel m noticia se a amea a da pol cia de Santar m para eles se retirassem da cidade em 24 h ou seriam presos e tamb m a a o armada de intimida o desses trabalhadores que eram tratados como desertores pela for a policial existente em Fordl ndia O ESTADO DO PAR 28 12 1928 p 2 59 M f existe em asseverar o Sr Sousa Castro sem pestanejar que o concession rio pretende introduzir immigrantes estrangeiros sem cogitar do trabalhador nacional quando a clausula respectiva expressa no sentido de ser approveitado de prefer ncia o trabalhador nacional como em repetir a ballela de gosar o Sr Ford de isen es de impostos estaduaes e municipaes para toda e qualquer actividade que exer a no Estado quanto a concess o clara e expressa no sentido de que tal isen o se applica ao objeto da concess o ficando o Sr Ford em p de egualdade com qualquer outra pessoa a todos os respeitos e para todos os fins no
339. nd genas J as malhadeiras rede de pesca s o apreendidas e levadas para a aldeia A rela o com a floresta se d com base no respeito dela se tira somente o necess rio para a satisfa o das necessidades imediatas Da floresta nos tiramos o alimento como a ca a que hoje tem muito n o vendido e nem permitido outras pessoas passarem na floresta l da aldeia Outra coisa tamb m que se tira de l cip as sementes as madeiras as palhas pra fazer as casa os cocos pra fazer os colar tudo isso nos tiramos de l da mata N s temos bastante cuidado quando a gente tira Por exemplo tem que saber tirar a palha pra que ela n o morra sen o vai faltar pros nossos filhos e netos E se n s ind genas n o cuidarmos nossa mata do nosso rio do nosso povo em geral mais tarde como ser E por isso que n s temos todo esse cuidado com a natureza com a mata principalmente pois de l que n s vivemos E dela que n s tiramos o nosso alimento como a planta o Temos que ter cuidado tanto com a mata como com o rio P4 As primeiras contribui es advindas do relato apresentado que o modo de vida ind gena n o se faz apartado da natureza Viver da e na floresta condi o b sica para reprodu o da vida desse grupo social Dessa forma a rela o de respeito no uso dos recursos obtidos uma preocupa o presente e futura tanto para garantir sempre a fartura como para n o compromet lo no longo pr
340. nde deve convergir todo o aparato necess rio para viabilizar para o caso estudado os projetos estrat gicos da CFIB Conv m lembrar com base neste autor que no mundo da mercadoria a cidade o lugar da produ o circula o e apropria o da riqueza produzida De forma que os construtos da cidade expressam uma vis o de mundo e as rela es de poder que se estabelecem entre os grupos sociais que nela vivem 69 iniciou o projeto L o tempo da vida social ainda n o era cronometrado pelo rel gio diferente do que enfatiza Simmel 1967 ao estudar a vida na cidade Estes s o elementos comuns das v rias narrativas colhidas por meio de entrevistas que nos permitiram situar o contexto de implanta o da Companhia Ford Industrial do Brasil no lugar Na localidade de Irussanga em Belterra ainda hoje vivem 19 fam lias que s o descendentes daqueles grupos sociais que j habitavam a regi o antes da chegada dos americanos S o fam lias que vivem da ca a veado paca cutia tatu da pesca pescada chaperema aracu jaraqui tucunar da produ o de mandioca farinha e tapioca da planta o de muruci tapereb da extra o do caju e da torrefa o de sua castanha esta ltima vendida aos visitantes das praias e igarap s nos fins de semana Socorro outra de nossas entrevistadas esclarece que as fam lias tradicionais n o s o os ind genas ou quilombolas mas os descendentes destes que vivem em uma comunidade h muito te
341. ndes D pra plantar nossas frutas como o abacate o cupu cupua u a laranja D pra trabalhar as rvores frut feras e a quest o da horta Tem pessoas aqui que trabalha a horta no quintal A planta o alface o cheiro verde ROSANA 2009 Figuras 56 e 57 Frutas do lugar ET e bacaba Fotos Ant nia Uchoa 2011 Pereira J C M 2009 Na vila 129 figura 58 visitamos um quintal de 400 m cheio de frutas como lim o c co cupua u banana goiaba pupunha acerola piqui laranja manga jenipapo abacate jaca seringueira com uma pequena planta o de caf e cria o de galinhas financiadas pelo Banco da Amaz nia BASA no valor de R 1 500 00 um mil e quinhentos reais Mesmo com esse apoio o morador reclamava n o ter condi es de comprar ra o Contava ainda necessitar da ajuda advinda da aposentadoria dos pais j que seu projeto original era criar galinhas para vender os ovos Mas as galinhas n o estavam sendo bem a alimentadas e a cria o tinha baixa produtividade Segundo ele a produ o n o dava para encher uma forma de ovo que era vendida a R 0 30 trinta centavos a unidade Caso n o conseguisse alimentar as galinhas teria que vend las para pagar o financiamento Cada galinha seria vendida no m ximo a R 20 00 vinte reais o que cobriria o empr stimo do banco mas n o devolveria os recursos pr prios envolvidos no projeto Tamb m reclamou da associa o de moradores do bairro
342. ndo em Belterra fala se algo em torno de 25 ficou f cil identificar que um desses produtores casou com uma jovem da cidade e constituiu fam lia no lugar Mas isto se constitui em exce o S o pessoas com conhecimento t cnico do que fazem com op es pol ticas definidas e posi es politizadas embora um deles tente negar os enfrentamentos existentes naquela regi o justificando que Se n o h morte n o h conflito como aquele que acontece no sudeste do Par Sobre as vantagens da soja o produtor argumenta que ela gera empregos cada emprego gerado no campo corresponde at seis gerados na cidade e melhora a vida das pessoas empregadas nessa atividade uma vez que os produtores pagam mais de um sal rio m nimo assinam carteira profissional e garantem os direitos trabalhistas Assim os funcion rios t m boas casas com ar condicionado televis o alguns t m moto Tudo isso comprado com o sal rio que recebem desse segmento E uma comodity fant stica que gera tantas divisas para o Pa s e n o ocupa uma rea t o substancial assim que paga os impostos e produz se com base na preocupa o ambiental 200 que inclusive certifica e fiscaliza o cumprimento dos acordos estabelecidos S em suas propriedades tem 20 funcion rios O discurso inclui tamb m a preocupa o com a preserva o das reas permanentes das matas ciliares dos rios da regi o e a puni o dura para aqueles que infringem a lei o ci
343. nga tudo era bem feito para poder enxertar n Enxertar ela quando chegasse o tempo da enxerta o a mas aquilo era 78 tudo limpo tudo limpo A seringa daqui de Belterra tudo limpo no toco dela tudo adubado era toda adubada FRANCISCA Abril 2011 Outro filho de seringueiros de 71 anos de idade fala da sua rela o com seringal e do repentino trabalho da m e nas planta es por conta da morte do pai quando este ainda era crian a Eu cresci junto com esse seringal porque quando meus pais estiveram aqui o meu pai era empregado funcion rio ele morreu em 1941 eu mal o conheci eu estava com 2 anos Ent o eu fiquei na creche E a minha m e foi obrigada a se empregar pra trabalhar no projeto Ford CHARDIVAL Abril 2011 O cercado onde funciona hoje a Secretaria Municipal de Infraestrutura SEMINF era o posto fiscal de alistamento dos trabalhadores e o espa o onde os americanos montaram a oficina mec nica a garagem a marcenaria e a carpintaria L montaram as m quinas a comiss ria que segundo o Sr Erasmo era o com rcio para vender mercadorias vindas de S o Paulo Rio de Janeiro e Bel m para os funcion rios a pre o mais baixo A venda racionada garantia o permanente abastecimento das fam lias que trabalhavam na empresa sendo o controle do acesso aos produtos definido pelo n mero de membros da fam lia Tudo anotado no cart o de racionamento As imagens apresentadas datadas das d cadas de 1930 e 1940
344. nicas de comiss es se dirigiram Belterra para conhecer e viabilizar a emancipa o Mesmo com todo empenho o processo iniciado n o surtiu o efeito esperado dada correla o de for a desfavor vel no parlamento estadual nos fins dos anos de 1980 Esse movimento junto ao legislativo foi retomado no in cio dos anos de 1990 diante da nova bancada de parlamentares eleitos quando o projeto de emancipa o foi novamente retomado Uma lei estadual garantiu que o plebiscito se realizasse e a resolu o n 1 523 do Tribunal Regional Eleitoral TRE definiu o mesmo para o dia 06 de agosto de 1995 Proposta esta posteriormente aprovada e sancionada por meio da Lei estadual n 5 928 1995 que criou o munic pio de Belterra Em 1996 ocorreu a primeira elei o em Belterra onde foram eleitos tanto o prefeito como a C mara Municipal composta por nove vereadores que tomaram posse no ano seguinte Em 1997 agora como munic pio Belterra come ou a escrever seu nome na hist ria pol tica do estado do Par Como nos disse um vereador durante o trabalho de campo em 2011 Belterra deixou de ser uma vila de funcion rios Passados 66 anos do fim da experi ncia da plantation de seringa de Henry Ford a cidade novamente se v contextualizada em situa es que incidem sobre os modos de vida do lugar Antigos seringueiros seus filhos e netos agora em disputa com fam lias de produtores de soja oriundos de Santa Catarina Rio Grande do Sul
345. nicipais est o assim distribu dos 320 mil hectares est o na FLONA sob responsabilidade do IBAMA 120 mil hectares est o na rea de Preserva o Ambiental APA e 99 mil hectares na BR 163 sob coordena o do INCRA desde 1972 quando come aram os primeiros assentamentos L uma pequena parcela de fam lias tem o t tulo definitivo de posse a grande maioria tem apenas a Licen a de Ocupa o LO Na rea da bota est o os 34 mil hectares que contempla parte da rea rural e toda a rea urbana de Belterra formada por 473 quadras de 16 dezesseis hectares cada que est o sob guarda do Servi o de Patrim nio da Uni o SPU Hoje apenas 1 700 um 173 Esta rea recebe esse nome porque tem formato f sico de uma bota Ela compreende toda rea urbana e parte da rea rural nas imedia es da cidade 174 Ressaltamos que 10 mil hectares de terra dentro da bota pertencem ao munic pio de Santar m j que esta tem no total 44 mil hectares nos dois munic pios 160 mil e setecentos hectares da rea urbana est o sob dom nio do munic pio por meio de concess o do SPU mas a reivindica o do governo que seja repassada o total da rea do antigo projeto Ford que de 7 585 ha sete mil quinhentos e oitenta e cinco hectares PASTANA Outubro 2009 Ali s esta uma reclama o do prefeito a de que a falta de terra sob o dom nio da Prefeitura impede e dificulta o desenvolvimento econ mico do munic pio
346. niza o da cultura com o abandono de pr ticas rituais oriundas da vida rural pelo migrante na cidade REDFIELD 1947 192 Para o per odo atual a dinamiza o econ mica de uma regi o rural come ou a ser muito mais determinada pela capta o de rendas urbanas que se transfere pela estadia de fam lias que constroem segundas resid ncias ch caras e s tios casas de 181 Nesse sentido o meio rural n o seria apenas o lugar da produ o agr cola mas um espa o diferenciado capaz de oferecer popula o urbana padr es de resid ncia espec ficos e formas de lazer ligadas ao contato com a natureza A respeito da expans o das resid ncias secund rias em certas reas rurais e do turismo este em grande parte est associado ao patrim nio natural e ao calend rio das festas tradicionais de cada regi o WANDERLEY 2001 p 38 Observamos ainda que a presen a tnica na cidade residual uma vez que poucos ind genas vivem na cidade de Belterra A maioria se deslocou para estudar e trabalhar na cidade de Santar m Aqueles poucos que moram na cidade vivem do artesanato outros s o funcion rios p blicos exercendo a fun o de professores ou t cnicos de governo Tamb m identificamos l deres sindicais A participa o pol tica desse grupo est assegurada por meio de uma representa o no Conselho da Cidadania e no F rum de Movimentos Sociais ou em eventos pol ticos na cidade e nas negocia es com a Prefe
347. nossa vida nossa for a nossa VOZ moto serra zoando o clima mudando e s faz aquecer o arroz e a soja n o faz nosso povo deixar de crescer Voc vai ver Castanheiras bacabeiras pequi s jaranas ma aramduba e at jacarand A lei protege mas que prote o essa o trator e a moto serra todo dia fazem festa Essas situa es expressam e valorizam a racionalidade dos modos de vida do lugar o uso e apropria o da natureza e do espa o em bases mais equitativas e de forma socioambiental mais sustent vel Sua preocupa o principal reside em usar a natureza para satisfazer as necessidades familiares imediatas e duradouras mas tamb m se relacionam a uma vis o de longo prazo com base na disponibilidade permanente desses recursos Da a ideia de n o desmatar de n o ca ar al m do que se precisa de n o plantar para al m do que se pode usar Embora n o neguem a necessidade de comercializar quando h excedente e muitas vezes proponham a implanta o de ind strias para aproveitar as toneladas de frutas que estragam nos quintais das casas j que n o existe mercado para tanta produ o Do mesmo modo reivindicam do governo cr dito assist ncia t cnica financiamento estradas e equipamentos e maquin rios para a produ o Isto corresponde como j apresentamos anteriormente produ o de significados e ordenamento do mundo ou seja s formas culturais ACSELRAD 2004 que orientam as pr ticas ind
348. nt stico programa da Rede Globo sobre os conflitos entre movimentos do Baixo Amazonas e Produtores de soja na cidade de Santar m PA Acesso em 24 abr 2011 lt http books google com br gt Revista Life n 9 dez 1940 mat ria sobre a visita do presidente Get lio Vargas em Belterra PA Acesso em 06 ago 2010 Legisla o FEDERAL Decreto Lei n 311 de 02 03 1938 Dispon vel em lt http www2 camara gov br legin fed declei 1930 1939 decreto lei 311 2 marco 1938 351501 publicacaooriginal 1 pe html gt Acesso em 31 jan 2012 FEDERAL Decreto Lei n 8 440 de 24 12 1945 Dispon vel em lt http www planalto gov br gt Acesso em 18 nov 2009 FEDERAL Lei n 411 de 28 09 1948 Dispon vel em lt http www planalto gov br gt Acesso em 18 nov 2009 FEDERAL em 18 nov FEDERAL Acesso em FEDERAL Acesso em FEDERAL Acesso em FEDERAL Acesso em FEDERAL Acesso em FEDERAL FEDERAL Acesso em FEDERAL 255 Lei n 477 de 09 11 1948 Dispon vel em lt http www planalto gov br gt Acesso 2009 Lei n 2 262 de 08 07 1954 Dispon vel em lt http www planalto gov br gt 18 nov 2009 Lei n 3 431 de 18 07 1958 Dispon vel em lt http www planalto gov br gt 18 nov 2009 Lei n 49 922 de 13 01 1963 Dispon vel em lt http www planalto gov br gt 18 nov 2009 Lei n 51 455 A de 11 04 1962 Dispon vel em lt http www planalto gov b
349. ntificavam o uso da borracha 1 2 quilo de borracha entra na fabrica o de cada m scara de g s para fabricar um flutuador salva vidas s o necess rios de 77 5 a 45 quilos de borracha 112 A narrativa do senhor Joaquim um ex combatente do destacamento militar em Bel m que foi viver na cidade de Belterra revela o medo de bombardeio sobre cidades do Par por ca as japoneses A me apresentei fui pro batalh o na companhia Ai no tempo da guerra 45 1945 diz que sonham ter visto um submarino l em Bragan a l fora A l o 34 BC que era batalh o de guerra se sacou pra l pra Bragan a foi se acampar pra l no tempo desse submarino JOAQUIM Novembro 2009 Rumores como estes sobre a presen a de submarinos inimigos nas guas do Par tamb m povoaram o imagin rio dos seringueiros de Belterra durante a II Guerra Mundial e ainda hoje permanecem vivas como elementos constitutivos da mem ria coletiva do 2 492 per odo Os americanos fizeram aquele campo de avia o s que depois n o foi pra frente o governador botou abaixo porque ele naturalmente pensou pausa num ataque naquele campo ali ai mandou parar o servi o ai fizeram l no campo uma casa aonde tinha todo o sistema de metralhar Cada buraco daquele tinha uma metralhadora ERASMO Outubro 2009 Os navios japoneses os submarinos vinham at nas guas do Par Ai os navios que carregavam o pessoal os
350. nvolvimento do Minist rio P blico na tentativa de resolver a quest o por meio de um termo de ajustamento de conduta no qual participaram tamb m o sindicato 208 patronal SIRSAN Na oportunidade pode perceber o descaso do rg o de fiscaliza o do governo do estado que dizia desconhecer a situa o A contradi o no discurso do representante desse rg o segundo o secret rio que a sede se localiza a 100 metros de dist ncia dessas planta es de soja O que ficou claro l nessa primeira audi ncia que a compet ncia porque tudo tem compet ncia fiscaliza o n Ent o a compet ncia da fiscaliza o do controle da orienta o e da aplica o desses produtos na agricultura a ADEPAR E a ADEPAR no munic pio n o cuida disso Inclusive eles t m um escrit rio ali na BR n o d talvez 100 metros da onde acontece essa pulveriza o a em Belterra E finalmente o gerente l o representante da ADEPAR que estava l ele disse que desconhecia que acontecia isso uma tristeza o cara que o representante do rg o dizer que desconhece um problema desses que tava a 100 metros do escrit rio dele Inclusive quando t o aplicando l testemunha l da rea diz que os do escrit rio tamb m v o embora porque eles tamb m n o suportam ficar l dentro do escrit rio SECRET RIO Mar o 2011 Apresentamos algumas imagens das grandes extens es da soja no entorno da cidade figuras 80 e 81
351. o simples JOHNSTON s d s n Passadas muitas d cadas do acontecido ao visitar a praia de Pindobal encontramos os vest gios do porto citado por Johnston Figuras 3 e 4 Vest gios do porto flutuante do Pindobal Foto Pereira J C M 2009 Depois de organizarem essas estruturas para receber os equipamentos vindos de Fordl ndia e a nova leva de trabalhadores o pr ximo passo foi construir a cidade de Belterra 2 3 2 A organiza o do espa o urbano Rapidamente a floresta foi derrubada para a abertura das estradas com a ajuda de tratores correntes machados ter ados e serrotes de duas pontas Tamb m foram preparadas as quadras para plantar as mudas de seringueiras e constru das as casas onde iriam morar americanos funcion rios e para instalar os escrit rios da empresa A madeira retirada como a castanheira o cedro a ita ba e jarana por exemplo foi aproveitada para constru o das casas e mob lias mas o acampamento continuou recebendo as pessoas que de l iam por meio de condu o para a cidade se apresentar ao trabalho Uma ex seringueira hoje com 75 anos de idade fala sobre o trabalho de seu pai e sua m e durante a limpeza das quadras para a planta o de seringa Era muito bonito meu irm o Era muito aqui Olha quando come aram a plantar o plantio na estrada 10 A minha m e me trouxe pra c com o meu pai para trabalhar Nesse tempo a Companhia queria as quadras tudo limpo e o plantio de seri
352. o de toneladas de soja no porto de Santar m que recebeu at 3 navios por m s e 45 caminh es por dia no per odo de grande safra junho julho agosto CARGILL 2000 RIMA CARGILL 2008 141 Apresentamos as imagens da passeata organizada por movimentos sociais e ONGs na cidade de Santar m finalizada em frente sede da empresa Cargill no porto de Santar m e que contou com a presen a de forte aparato policial figuras 40 41 42 e 43 Figuras de 40 a 43 Passeata dos Movimentos Sociais e ONGs na cidade de Santar m PA Fonte Projeto Sa de e Alegria PSA 2006 Com os enfretamentos no porto da empresa Cargill e na orla da cidade esse fato teve repercuss o internacional por conta da presen a do Greenpeace e da agress o e pris o de v rios de seus manifestantes imagens ganharam o mundo por meio da televis o r dio jornal e internet Contudo a lat ncia dos fatos se constituiu ao longo dos anos visto que se criou um campo de resist ncia de uma variedade de organiza es sindicais populares tnicas religiosas e de g nero que se opuseram presen a da soja na regi o propondo outra modalidade de desenvolvimento S o l gicas opostas sobre o uso e a apropria o do territ rio sobre quem devem ser os benefici rios dos projetos desenvolvidos e para onde direcionar a aplica o dos recursos p blicos na regi o Nas figuras 44 45 46 e 47 podemos ver em sentido hor rio o barco do Greenpeace no
353. o Trevo e que afetam em torno de 100 fam lias Eu vejo um pouco eu diria assim at amea adora para a popula o o que diz respeito sa de n O risco da sa de das pessoas Inclusive n s j temos discutido isso aqui na C mara com rela o soja que t sendo plantada ali na margem da BR 163 principalmente de l e quando eles v o aplicar o inseticida l o agrot xico l na rea deles na lavoura o vento traz todo o odor digamos assim do veneno n Pra cima das casas que est o do outro lado da BR e prejudicando a popula o ali O pessoal n o t se dando bem inclusive j foi acionado o Minist rio P blico e ele j fez um acordo e n o foi cumprindo Ent o n s tamos averiguando agora a situa o pra poder tomar nova provid ncia VEREADOR DO PT Mar o 2011 Ressalta ele a possibilidade dos produtores de soja se deslocarem de perto das resid ncias na cidade por conta do uso do agrot xico que prejudica a sa de da popula o e 207 porque est o localizados dentro rea de expans o urbana conforme diretrizes estabelecidas no Plano Diretor Municipal E com rela o aqui dentro da cidade ainda tem a presen a tamb m da soja mas ela est mais fora ainda da rea urbanizada n A rea que n s temos urbana j definido e que liberado pela Uni o para o munic pio n o tem sojeiro dentro dessa rea Mas tem nas proximidades que vai causar problema Mas eu acredito que com a expans o da cidade
354. o a doen a esse neg cio de falta de ar que existe que a gente via que n o existia mas n o era muito Hoje em dia todo mundo vai passar no m dico vai passar por esse problema de falta de ar Por qu O veneno o veneno que ainda est na terra Veio o progresso pra c que a gente pensava que ia ter trabalho e tal n o quando eles chegam aqui j com seu trator e tal e continua o mesmo desemprego Se n o for a Prefeitura Ent o n o foi bom neg cio A narrativa de um criador de abelha sem ferr o melipossicultor relata a mudan a no 55205 clima por conta da derrubada de muita mata Segundo ele Quanto menos rea de mata menos rea para que a abelha v buscar o n ctar o p len e tudo que ela precisa para viver l j que elas precisam de um raio de mil a tr s mil metros para se deslocarem Nesse caso o deslocamento das abelhas chegaria at as reas onde se localiza a soja Observa ainda que v rios criadores est o cercados por ela e quando h pulveriza o do inseticida o veneno vai matando os enxames das abelhas al m de contaminar o mel Lamenta ele que com essa situa o os criadores nunca conseguir o o selo org nico para o mel que produzem Do mesmo modo preocupa se que o uso do agrot xico possa provocar a esteriliza o das abelhas Fala ainda da dist ncia existente entre as promessas do progresso para a gera o de emprego e como isso se d na pr tica 205 Nosso ent
355. o de porco gado essas coisas ANT NIO Abril 2011 Chamamos aten o de que a CFIB praticamente reproduziu na cidade de Belterra em menor escala e com poucas modifica es o que j havia experimentado em Fordl ndia A hierarquia sociofuncional em Fordl ndia era a seguinte Vila Americana para os americanos 98 que funcionava como um condom nio fechado visto que o acesso era vedado Vila Democrata que era formada por bangal s e casas mais amplas para os funcion rios do hospital e do escrit rio Vila Oper ria para os trabalhadores com alguma especializa o Vila dos Trabalhadores do Campo bra ais e barrac es para solteiros L tamb m tinha o Club House o campo de golfe e uma piscina para atividades exclusivas dos americanos conforme analisaram Costa 1993 e Amorim 1995 No entanto observamos algumas diferen as em rela o distribui o espacial das moradias e das constru es realizadas Em Belterra as casas dos americanos ficavam pr ximas do escrit rio central da empresa do hospital e da resid ncia de trabalhadores especializados das Vilas Mensalista Pequi e Oper ria Bem diferente dos bangal s localizados a tr s quil metros de dist ncia da rea central do projeto em Fordl ndia Podemos supor que esta disposi o espacial pode estar relacionada com a dificuldade que a empresa teve em controlar a revolta dos funcion rios em Fordl ndia no ano de 1930 o j citado Quebra Panela Do mes
356. o depoimento contido em v deo sobre o relato da experi ncia de elabora o do Plano Diretor Participativo de Belterra FASE 1997 75 antes das negocia es finais para a transfer ncia dos bens se completarem JOHNSTON s d s n L eles fizeram o acampamento com posto m dico almoxarifado e hospital Outros trabalhadores foram deslocados de Fordl ndia para Belterra Nessa poca o abastecimento de gua era feito em cambur o colocados um a cada cem metros para que as pessoas pudessem se servir conforme nos fala um ex seringueiro que nasceu em Fordl ndia e veio para Belterra em 1934 aos tr s anos de idade Saia uma embarca o daqui com uma pessoa com um funcion rio fazendo alistamento pelas beiradas ai n o do Tapaj s convidando as pessoas pra vir se queria vir trabalhar aqui com os americanos Eles diziam logo que vinha porque aqui era um lugar onde corria dinheiro n o era tanto porque naquela poca n o era dinheiro de hoje era o r is aquele dinheiro r is Quando existia aquela moeda de prata de cinco mil r is dois mil r is prata mesmo Ent o eles alistavam no pr prio instante em que ele dava o pr prio nome n a ele j estava garantido Aqui quando a embarca o ia mais num certo trecho que hoje chamo de comunidade naquele tempo n o aplicavam esse termo ent o pegava aquela barcada de gente trazia e ele logo no outro dia ia logo trabalhar A gente ia se alistava ali aonde hoje tem
357. o e de movimentos sociais que atuam na regi o e que em 2007 foi surpreendentemente obrigada pelo Supremo Tribunal Federal a ter que realizar o ELA RIMA O referido terminal movimenta um milh o de toneladas de soja por ano No entanto desse total apenas 50 toneladas correspondem a Santar m visto que os 95 restantes seriam do estado do Mato Grosso Isso injetaria na economia local algo em torno de R 35 milh es ano resultado do trabalho de 200 produtores de gr os Embora conte com o apoio empresarial hostilizada pelo movimento organizado e olhada com indiferen a pela popula o O que promete um clima de tens o para a referida audi ncia Finalizando a mat ria diz se que esses setores que s o contra a presen a da Cargill em Santar m contam com o apoio do Minist rio P bico Federal que v fragilidade no processo de implanta o do Porto na cidade Dispon vel em lt http www ejornais com br jornal diario do para2 html gt Acesso em 14 jul 2010 150 O pr prio relat rio de impactos ambientais RIMA apresentado pela Cargill no ano de 2010 muitos anos depois do in cio das opera es da empresa no porto de Santar m foi muito criticado pelas lideran as sindicais Uma agricultora e dirigente do STTR de Belterra relata duas discord ncias com o relat rio A primeira quando afirma que as fam lias venderam suas terras por livre e espont nea vontade n o havendo qualquer tipo de press o por parte dos produtores
358. o e heterog neo As diferen as geogr ficas econ micas demogr ficas sociais e culturais s o significativas at em escala regional fazendo com que o passado o presente e o futuro coexistam e se interpenetrem inseparavelmente FERNANDES 1968 p 107 28 Tomando por base a proposi o de Ribeiro 2006 p 12 13 observamos que a articula o entre o geral e o singular envolve de um lado o entendimento do amadurecimento das rela es capitalistas de produ o para alguns espa os de outro da coexist ncia de outras formas de produ o e modos de vida pr capitalistas ou n o capitalistas Dessa forma s atrav s dos elos estabelecidos entre ambos que ser poss vel apreender a totalidade social em movimento e analisar as transforma es que se processam na forma o social As obriga es anal ticas do presente trazem como antes a exig ncia da an lise das rela es de classe e de poder Essa exig ncia no entanto inclui a necessidade de que sejam valorizados o contexto a situa o o cotidiano e o lugar N o se trata de uma simples descri o da experi ncia vis vel mas principalmente buscamos descobrir as condi es sociais que as produziram Trata se de um olhar treinado e orientado por escolhas feitas previamente conforme prop e Magnani 1996 Isso nos remete ao desafio de trazer ao debate as cidades da Amaz nia dentro de uma perspectiva de di logo com a literatura constru da so
359. o para identificar como estas se posicionam diante de tais transforma es E assim recorrer ao poder explicativo das escalas no entendimento da sociedade contempor nea Segundo Sposito 2007 o estudo das cidades m dias n o deve ser tratado como uma subespecialidade da geografia ou de trabalho restrito a um grupo de pesquisadores em particular j que o investimento de pesquisa a ela relacionada busca compreender as cidades m dias em seus processos din micas e conte dos socioecon micos e espaciais bem como as rela es multiescalares que estabelecem com outras cidades e com o rural No caso das cidades n o metropolitanas as justificativas da import ncia dos estudos a elas direcionados s o as mais diversas poss veis diante da desconcentra o das atividades produtivas e das mesmas servirem de l cus para esses deslocamentos Mas apresentam se tamb m refer ncias ligadas ao crescimento demogr fico e econ mico diversifica o de bens e servi os e a possibilidade de an lise da distribui o geogr fica desses novos capitais em diversas regi es e estados do Brasil Os eixos estruturantes de orienta o dessas an lises t m sido a difus o da agricultura cient fica desconcentra o industrial difus o do com rcio e dos servi os especializados e o aprofundamento das desigualdades socioespaciais conforme analisaram Sposito et al 2007 Ressaltamos que as pesquisas que se estruturam tendo por refer ncia o Metrop
360. o particular como realizador da ess ncia que torna poss vel o pensamento compreender o singular Diz ele h casos em que o universal fornece a forma e o singular o conte do H outros em que ocorre o inverso No entanto observamos que no caso espec fico de Belterra o universal ofereceu tanto a forma da cidade empresa os construtos e a hierarquiza o sociofuncional e produtiva quanto o conte do urbano sob a tica do sistema fordista de produ o 3 O universal aqui entendido como o hegem nico visto que mesmo no capitalismo est o presentes rela es que n o se fazem somente pela mercantiliza o da vida e da natureza Diz Ortiz 2002 p 14 que as ci ncias sociais s o hist ricas Historicidade num primeiro momento significa restri o a qualquer pretens o de inteira universalidade da explica o cient fica n o tenho d vidas que elas possuem a uma universalidade parcial Como o objeto sociol gico encontra se historicamente demarcado as categorias de interpreta o do real n o podem constituir se em leis gen ricas cuja validade seria atemporal A interpreta o encontra se assim amarrada s realidades concretas Assim como j dissemos anteriormente reafirmamos a teoria e o m todo s o tidos como ferramentas de trabalho para observa o do real e de seu enquadramento 22 Dessa forma a constru o do novo tipo humano GRAMSCI 1988 se fez com base na nega o do singular atrav s da re s
361. o per odo atual as atividades agr colas em grande parte ainda s o manuais visto que o acesso aos avan os tecnol gicos proporcionados pelo meio t cnico cient fico informacional se d de forma desigual social e territorialmente As manchas da pobreza e da riqueza no territ rio nacional nos subespa os e no sistema urbano do pa s confirmam essa condi o Na cidade praticada CERTEAU 2008 onde se realiza a media o entre o lugar e a totalidade mundo SANTOS 2006 os h bridos presentes na vida cotidiana e o contexto de sua realiza o nos informam sobre a Amaz nia em particular da presen a tnica quilombola e ind gena do rural e do urbano contido na cidade uma vez que a vida naquele espa o subnacional n o se realiza pelas oposi es criadas pelo pensamento abstrato A abund ncia de natureza ou dos recursos naturais quando acessados permitem mesmo em condi es t cnicas adversas e sem financiamento o seu uso em bases n o predat rias e n o mercantis tendo como fundamento a satisfa o de necessidades humanas sejam elas imediatas ou duradouras Assim as pr ticas na cidade v o al m do que define a legisla o municipal uma vez que a territorialidade propiciada pelo uso pelo deslocamento e pelo sentimento de perten a n o est orientada por essa limita o Em situa es como esta onde o concreto desafia o conceito a atitude mais confort vel dizer que n o se trata de cidades Consideramos que ess
362. o seu uso ou seja a a o humana passada e presente por conseguinte o trabalho e a pol tica SANTOS SILVEIRA 2001 p 21 e 241 Como nos ensinou Ribeiro 2005b p 264 o capitalismo cria novas regionaliza es e enclaves privatiza os recursos naturais t o necess rios vida para assegurar os interesses de grandes corpora es e dos Estados centrais que impedem os avan os das conquistas sociais pois ao comercializar o patrim nio natural e cultural cria uma aliena o territorial por meio de rela es societ rias que buscam produzir um consenso de que a vida social se move apenas pelos c digos da competitividade do consumismo e do individualismo da sociedade de consumo Dessa forma destruir o preexistente significa construir um novo tipo humano cujas necessidades ser o satisfeitas por produtos j industrializados e produzidos por terceiros caso possa pagar por eles 133 Contudo devemos observar que para o contexto estudado h dois grandes movimentos em curso a agroestrat gia do capital com base no apoio estatal que trataremos mais adiante e a contra estrat gia dos movimentos sociais e seus aliados que conformam os campos de poder que se enfrentam permanentemente em torno dos usos e da apropria o do territ rio No entanto ressaltamos aqui o uso do termo territ rio envolve as dimens es geogr ficas sistema de objetos sistema de a es e discursos e antropol gicas identidades
363. o veio de Bel m com o aparato policial coordenado pelo Coronel Magalh es Barata que posteriormente se tornou governador do estado do Par Em Belterra as tentativas de levar para a cidade cacha a escondida em bambu c co ou melancia n o resistiram s revistas nas guaritas de controle e nem descarga demiss o feita pela companhia contra os trabalhadores apanhados praticando algum delito considerado grave conforme proibiam as regras de conduta da empresa Segundo Amorim 1995 o sal rio pago por m s era definido por produ o no momento do acerto de contas mas o resultado do trabalho era cobrado quinzenalmente O n o cumprimento dos acordos estabelecidos poderia levar demiss o do empregado sem qualquer indeniza o por parte da empresa Ap s a conclus o mensal do trabalho seu desempenho era avaliado pelo capataz gerente e chefe do escrit rio que podiam validar ou n o a sua perman ncia na Companhia Caso fosse demitido deveria devolver as ferramentas de trabalho recebidas no momento da contrata o se porventura as tivesse perdido tudo era descontado Segundo um de nossos entrevistados o controle era feito por fichas pl sticas de cores diferenciadas que identificava o tipo da ferramenta repassada ao trabalhador Quando assinava o contrato de trabalho o empregado j tomava conhecimento e se submetia imposi o dessas condi es como podemos observar pela transcri o literal do conte do do registro
364. ocamento sistem tico de passageiros e o transporte de mercadorias vindas de outras regi es para a cidade figura 6 Tamb m constru ram estradas casas para os funcion rios sistema de ilumina o figura 7 galp es figura 8 a creche onde as m es deixavam as crian as durante o expediente de trabalho figura 9 e o escrit rio da companhia figura 10 FOTO ARQUIVO PESON OSVALDO TENDRA G ES Figura 6 Campo de avia o Foto Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1946 80 PO AA PB OP DO FRIA OER 55 BEF S Figura 7 Arruamento e sistema de ilumina o Foto Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1939 Figura 8 Galp es Fonte Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1939 FOTO ARRIO PERSAS CVM DIO TEINEIRA GOES Figura 9 Creche Darcy Vargas Foto Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1939 PVE MANO PI Co DO TES RA CCC Lea a e Figura 10 Escrit rio da CFIB Foto Arquivo pessoal de Osvaldo G es 1939 81 Nas proximidades da Vila Americana foi constru do o Hospital Henry Ford figura 11 que se tornou uma grande refer ncia na rea de sa de na Amaz nia por seus equipamentos e corpo profissional especializado figura 12 Nele trabalhavam 41 pessoas entre m dicos e enfermeiros sob supervis o de um m dico norte americano Inclusive as cirurgias eram feitas 82 no pr prio hospital figura 13 Nas imedia es tamb m ficava o hotel onde se hospedavam os funcion rios principalmente aqueles
365. ociais e trabalho intelectual S o Paulo Olho D gua 2002 p 5 16 PARK Robert Ezra 1916 A cidade sugest es para a investiga o do comportamento humano no meio urbano In VELHO O G Org O fen meno urbano Rio de Janeiro Guanabara 1967 p 26 67 245 PARK Robert Ezra Human migration and the marginal man The American Journal of Sociology v 33 n 6 p 881 893 1928 PEREIRA E A D SILVA M S da FERREIRA T M Vila permanente recortes e retratos de uma company town na Amaz nia In TRINDADE JR S C ROCHA G M Org Cidade e empresa na Amaz nia gest o do territ rio e desenvolvimento local Bel m Paka Tatu 2002 p 59 81 PEREIRA Jos Carlos Matos O papel de Santar m como cidade m dia na Amaz nia In CASTRO E Org Cidades na Floresta S o Paulo Annabrume 2009 p 329 352 Li es e aprendizados com a elabora o do plano diretor participativo de Belterra no oeste do Par In CARDOSO A C CARVALHO G Org Planos diretores participativos experi ncias amaz nicas Bel m EDUFPA 2007 p 53 83 Import ncia e significado das cidades m dias na Amaz nia uma abordagem a partir de Santar m PA Bel m 2004 Disserta o Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento N cleo de Altos Estudos Amaz nicos Universidade Federal do Par PINTO L cio Fl vio A desorganiza o do grande projeto In CASTRO E MOURA E A F MAIA M L Org Industrializa
366. ocializa o da popula o migrante na cidade especialmente aquela oriunda dos rios Tapaj s Arapiuns e adjac ncias das terras da Companhia Ford Industrial do Brasil CFIB bem como de nordestinos e de trabalhadores de outros pa ses Como uma das teorias de nossa an lise recorremos proposi o da urbaniza o pela verticalidade ou seja da urbaniza o por meio dos espa os descont nuos SANTOS 2006 2008 de forma a pensar como a a o do capital com base no apoio estatal em dois per odos de tempo que guardam entre si a dist ncia de 66 anos desorganiza os modos de vida C NDIDO 1971 preexistentes do lugar para que novas modalidades produtivas possam ser instauradas com base na mercantiliza o da vida e da natureza Diz C ndido 1971 p 19 36 que o estudo deve observar no interior do corpo social os fatores que podem transformar os modos de vida Ou seja valorizar aqueles aspectos que ajudam admitir ou rejeitar a intrus o de h bitos condutas t cnicas e institui es estranhos sua heran a cultural Essa perspectiva deve se ao trabalho do soci logo que fareja por toda parte o humano no que tem de pr prio em cada lugar buscando sua riqueza e singularidade pelo aspecto qualitativo A an lise dos modos de vida na cidade de Belterra do ponto de vista te rico metodol gico requereu a demarca o dois per odos de tempo O primeiro de 1934 a 1945 durante o per odo de vig ncia da experi
367. odities a implanta o de agroind strias de ind strias agroflorestais incluindo se as de papel e celulose e de bioind strias a expans o das usinas de ferro gusa e empreendimentos mineradores que fazem dos recursos naturais uma atividade comercial em larga escala ALMEIDA 2004 p 43 125 Vainer 2006 chama aten o que a a o dos sujeitos pol ticos est relacionada s rela es de poder mediadas pela correla o de for a de cada um que envolve tanto a sua legitima o quanto o seu questionamento vista a natureza multiescalar do poder 126 A territorializa o pode ser associada a tr s aspectos importantes as extens es territoriais de pertencimento a mobiliza o para o livre acesso aos recursos naturais e territorialidade espec fica ALMEIDA 2004b p 28 de quebradeiras de coco baba u castanheiros e seringueiros por exemplo Para o caso estudado envolve agricultores extrativistas ind genas e moradores da cidade 127 Chamamos aten o para a teia das rela es envolvidas Diz GOHN 2000 p 252 que os movimentos sociais aglutinam em torno de si bases demandat rias assessores e lideran as e tem estreitas rela es com uma s rie de outras entidades sociopol ticas como partidos e fac es pol ticas legais ou clandestinas igrejas sindicatos e ONGs nacionais e internacionais setores da m dia e atores sociais formadores de opini o p blica universidades parl
368. odovia estrat gica para o escoamento da produ o de gr os para o mercado internacional e aos fundos banhado pelo rio Tapaj s Sua popula o ultrapassa pouco mais de 16 mil habitantes IBGE 2010 distribu dos em tr s formas de organiza o social o urbano o rural e a aldeia O percentual da popula o urbana chega a 42 do total Munic pio de l X Belterra Figura 52 Mapa de localiza o de Belterra na Amaz nia Fonte FASE 2007 171 S o 16 318 habitantes sendo 6 852 no urbano e 9 466 no rural IBGE 2010 158 Do ponto de vista pol tico administrativo o munic pio divide se em quatro grandes reas 1 a cidade sede do munic pio lugar onde se construiu a cidade empresa de Henry Ford para dar materialidade ao plantation de seringa nos anos entre 1934 1945 2 a Floresta Nacional do Tapaj s FLONA criada por lei federal em 1974 por iniciativa do extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBDF posteriormente transformado em Minist rio do Meio Ambiente MMA 3 a rea rural no entorno da cidade e ao longo da BR 163 e por fim 4 o rural na rea de Preserva o Ambiental APA Aramanai criada por lei estadual em 1995 Longe da simplicidade das defini es formais esses lugares onde se realiza a vida social se fizeram com lutas pol ticas por enfrentamentos e alian as envolvendo diferentes sujeitos coletivos e escalas de a o diversas em torno da defini o dos limites
369. odu o industrial e na vida social Em Marx 1983 e Engels 2008 a cidade aparece como o local do desenvolvimento do capitalismo espa o da industrializa o e da explora o da for a de trabalho Uma vez que a divis o social do trabalho e a substitui o do trabalho manual pela m quina colocam em rela o os burgueses detentores dos meios de produ o e na outra ponta o proletariado aqueles que det m apenas sua for a de trabalho Essa rela o voltada produ o de mais valia que tanto produz mercadorias como cria as bases para a explora o do trabalho assalariado Segue Marx 1996 p 78 a cidade j o fato da concentra o da popula o dos instrumentos de produ o do capital dos prazeres e da necessidade ao passo que o campo evidencia o fato oposto o isolamento e a separa o A oposi o entre o campo e a cidade s pode existir nos quadros da propriedade privada 12 para o embarque e desembarque de pessoas mercadorias ferramentas m quinas e equipamentos clube e pra a para a pr tica de esportes Essas formas urbanas materializavam os conte dos sociais da poca no contexto particular de sua produ o representado pelo projeto fordista na regi o O espa o transforma se conforme prop s Santos 2006 No come o era a natureza formada por objetos naturais que ao longo da hist ria v o sendo substitu dos por objetos fabricados objetos t cnicos e mecanizados e depois cibern
370. ojetos de infra estrutura rodovias ferrovias hidrovias hidrel tricas em curso mesmo aqueles inclusos no Programa de Acelera o do Crescimento PAC est o conectados racionalidade do deslocamento de pessoas mercadorias e ideias no interior tanto da regi o quanto ao aspecto de viabilizarem o fluxo das riquezas da Amaz nia para o mercado nacional mas principalmente para os Estados Unidos Europa e sia e busca da integra o econ mica do continente sob hegemonia brasileira conforme analisou Carvalho 2007 No relat rio de presta o de conta do PAC consta que na rodovia BR 163 o trecho previsto para pavimenta o Santar m PA a Guarant do Norte MT do total de 978 km 50 j foi realizado cujo investimento entre 2007 2010 chegou a R 761 5 milh es A previs o de conclus o do trabalho para 20 12 2013 PAC TRANSPORTE 2011 p 40 46 Dispon vel em lt http www brasil gov br search b start int 10 amp Subject list Transporte gt Acesso em 04 jan 2012 136 O mesmo argumento consta nos estudos realizados pela empresa multinacional Cargill como justificativa para a constru o de seu porto na orla da cidade de Santar m A exporta o brasileira de soja se d pelos portos do sul do Brasil estando distante das regi es produtoras tornado se portanto um meio de escoamento dif cil e caro da produ o de gr os para os grandes centros consumidores internacionais Essa produ o percorre mil
371. olitano e N o Metropolitano s o estudos de grande relev ncia e embora compartilhemos de muitas das ideias formuladas acreditamos que outra proposi o tamb m possa ser apresentada como possibilidade anal tica para o estudo do urbano Afirmamos isso 11 e N R Re x a E E Quando se trata de internacionalizar as etapas menos sofisticadas de produ o do centro para a periferia da economia capitalista comum que as escolhas locacionais n o recaiam sobre os espa os metropolitanos S o as cidades m dias assim alvo de muitas escolhas porque oferecem ambientes minimamente dotados das condi es m nimas infraestruturas servi os for a de trabalho para a consecu o de atividades produtivas SPOSITO 2010 p 8 33 com base em Marx 1983 quando este prop e que a teoria uma representa o do real no plano das ideias como an lise Isso nos remete a um concreto pensado e elabora o de conceitos Por concordarmos com essa premissa recorremos a outro tipo de enquadramento te rico que nos permite estudar as cidades a partir das no es de universalidade particularidade e singularidade conforme prop e Lefebvre 1987 Desta forma podemos pensar o que as cidades da Amaz nia cont m do processo civilizat rio capitalista ELIAS 1994 no qual a metr pole sua forma mais definida conforme analisou Telles 2006 Inclu mos tamb m em nossa reflex o a proposi o de Ribeiro 200
372. onomia pol tica Contribui o cr tica da economia pol tica Rio de Janeiro Martins Fontes 1983 p 218 226 MEIRA S lvio Belterra sua jurisdi o tese aprovada pela II Confer ncia da Borracha em 10 de setembro de 1949 Bel m 1949 mimeo MENDES Armando A Inven o da Amaz nia Bel m UFPA 1974 MENDON A S nia Regina de Estado e sociedade a consolida o da rep blica olig rquica In LINHARES M Y Org Hist ria geral do Brasil Rio de Janeiro Campus 1990 p 229 272 MIRANDA Lia Urbaniza o na Amaz nia o projeto pombalino e as pequenas cidades 244 ribeirinhas In TRINDADE JR S C T et al Org Pequenas e m dias cidades na Amaz nia Bel m FASE ICSA UFPA Observat rio Comova 2009 p 15 33 MONTE M R Patr cia A constru o do olhar na antropologia visual duas experi ncias Fortaleza 7 Ciclo Internacional de Di logos em Antropologia e Imagem LAWUFC 2008 MORGAN Lewis Henry A sociedade antiga ou investiga o sobre as linhas do progresso humano desde a selvageria atrav s da barb rie at a civiliza o 1877 In CASTRO C Org Evolucionismo Cultural textos de Morgan Taylor e Frazer Rio de Janeiro Zahar 2005 p 41 65 NAKANO Kazuo Anderson S o Gabriel da Cachoeira planejamento e gest o territorial imbricada In CASTRO Edna Org Cidades na floresta S o Paulo Annablume 2009 p 237 279 NAKANO Kazuo Anderson COMAR Francisco de Assis
373. onstitui o da for a de trabalho da Vila Oper ria nos anos de 1930 No caso da Amaz nia as pesquisas sobre as cidades empresas s o de outro per odo Segundo Trindade Jr e Rocha 2002 a instala o da cidade empresa ou company towns n o recente na regi o Come a pelas experi ncias de Fordl ndia e Belterra no final da d cada de 1920 e se intensifica a partir dos anos de 1960 para acompanhar a implanta o dos grandes projetos Desse modo representa um novo arranjo socioespacial na realidade local e regional j que se diferencia tecnicamente das cidades do seu entorno dada a autossufici ncia de sua organiza o Como j vimos anteriormente Trindade Jr 2010 faz uma distin o entre os termos cidade da floresta e cidade na floresta As company towns conforme definem Pereira Silva e Ferreira 2002 p 60 s o cidades planejadas criadas pelas empresas para dar suporte aos grandes projetos destinados explora o dos recursos naturais na Amaz nia Ao se percorrer o interior das mesmas dizem os autores tem se a impress o de estar num outro mundo intencionalmente produzido racionalmente programado atrav s de construtos e objetos dispostos no espa o Isso implica uma racionaliza o da din mica urbana cujo interesse principal viabilizar a realiza o econ mica do empreendimento de forma que a localiza o em pontos estrat gicos tanto busca a proximidade dos recursos naturais quanto a fac
374. operadores de m quina ou trabalhadores que ajudam no plantio no abastecimento da plantadeira com semente e adubo no carregamento das sacas no 197 beneficiamento da semente no tratamento da planta o com uso do agrot xico e fertilizante e no conserto de m quinas e equipamentos Destaca que a hierarquia funcional tem a ver com a especialidade da m o de obra e que determinante tanto para o tipo de trabalho que se vai realizar quanto para o sal rio que se vai receber Pessoas mais respons veis que existe uma carga de responsabilidade maior nas costas dele onde ele gerencia outras equipes essas coisas esse a tem um sal rio maior E existe tamb m a quest o de produ o porcentagem de produ o para o gerente E pessoas que exercem um trabalho de mais dificuldade tamb m t m um sal rio maior e vai sendo vai degradando conforme quest o manual n Pessoal que s vezes d uma ajuda um ajudante um assistente s vezes tem um sal rio menor PRODUTOR DE SOJA I Mar o 2011 Sobre o uso de agrot xico na propriedade ele observa que Hoje os produtos aprovados pelo Minist rio da Agricultura e pela Vigil ncia Sanit ria S o produtos desenvolvidos em cima de um padr o de tecnologia que quanto menos toxidade melhor Hoje voc mexe com um produto aplica um produto e n o tem dano ao meio ambiente por exemplo ele se perde rapidamente O que a planta ali absorveu o que n o absorveu ele se perde ele se decomp
375. opoliza o do territ rio nacional RIBEIRO SANTOS JR 2007 p 8 10 est relacionada grande densidade populacional por km e o aumento de 5 milh es de habitantes na ltima d cada o crescimento das periferias e peso das metr poles na participa o da renda e na din mica econ mica nacional no aumento da escalada de viol ncia nos territ rio populares das favelas e periferias pol cia crime organizado e seguran a privada Do mesmo modo existe um quadro de fragmenta o institucional que demonstra o desinteresse na gest o p blica das reas metropolitanas vazio de autoridade a es isoladas e clientelismo pol tico que configura um quadro institucional que pode ser descrito como desgovernan a j que n o h pol ticas estruturantes que aumentem a oferta de moradia a mobilidade urbana e que regulem a especula o imobili ria para este complexo sistema urbano metropolitano RIBEIRO 2007 Podemos dizer que existe hoje no cen rio metropolitano um triplo desafio Na o o do desenvolvimento do pa s o da supera o das desigualdades sociais e o da governan a democr tica da sociedade A constru o de um novo projeto de desenvolvimento para o Brasil sustent vel e democr tico exige colocar a quest o metropolitana no centro da agenda social brasileira RIBEIRO SANTOS JR 2007 p 13 16 Para o segundo caso o estudo das pequenas cidades e do papel que cumprem as cidades m dias na
376. oram apresentadas por Meira 1949 p 5 ao governo federal e aprovadas na referida Confer ncia a primeira referia se a organiza o jur dica de Belterra e Fordl ndia mediante projeto de lei a ser enviado ao Congresso Nacional A segunda que os atuais servidores de Belterra e Fordl ndia fossem equiparados queles que exerciam fun es administrativas no governo federal 106 Nesse mesmo ano foram cortadas 125 mil rvores mas poderia chegar a 145 mil caso n o tivesse a falta de m o de obra no lugar Iniciaram se as planta es de madeira de lei pr prias para a constru o naval H um plantio de ipeca maior do que se pode supor Fez se tamb m na mesma ocasi o e em grande quantidade o plantio de frutas oleaginosas e de castanheiras que naturalmente ser o para a pr xima gera o que encontrar a vida amaz nica verdadeiramente disciplinada idem p 73 124 Embora a atividade econ mica ainda continuasse centrada na produ o e comercializa o do l tex novas modalidades produtivas foram experimentadas no lugar como a cria o de gado tanto para abastecer os moradores com leite como para comercializ los em eventos que ocorriam na cidade de Santar m A partir dos anos de 1960 v rios problemas come am a se tornar mais vis veis como o baixo pre o pago pelo governo pelo quilo da seringa e cernambi aos seringueiros a falta de manuten o dos equipamentos dos seringais e do tratamento do
377. ord na selva Rio de Janeiro Rocco 2010 GREENPEACE Relat rio anual 2006 Dispon vel em lt http www greenpeace org br gt Acesso em 14 nov 2011 242 GUERRA Gutemberg Desenvolvimento territorial na Amaz nia rural e urbano como faces da mesma moeda In CARDOSO A C Org O rural e o urbano na Amaz nia diferentes perspectivas Bel m EDUFPA 2006 p 100 110 HAESBAERT Rog rio Fim dos territ rios ou novas territorialidades In LOPES L P M BASTOS L C Org Identidades recortes multi e interdisciplinares Campinas Mercado das Letras 2002 p 29 51 HARVEY David Condi o p s moderna S o Paulo Loyola 1992 A justi a social e a cidade S o Paulo Hucitec 1980 IBGE Censo Demogr fico 2010 Dispon vel em lt http www ibge gov br gt Acesso em 04 nov 2011 Censo Demogr fico 1940 Dispon vel em lt http www ibge gov br gt Acesso em 18 fev 2009 Metodologia do Censo Demogr fico 2000 Dispon vel em lt http www ibge gov br gt Acesso em 18 fev 2009 JOHNSTON Archibald Relat rio sobre as planta es de borracha em Fordl ndia e Belterra Tradu o de NOGUEIRA Ant nio Frapuan Sena S d 26p LEFEBVRE Henri A revolu o urbana EDUFMG Belo Horizonte 2002 A cidade do capital Rio de Janeiro DP amp A 1999 O direito cidade S o Paulo Moraes 1991 L gica formal e l gica dial tica 4 ed Rio de Janeiro Civiliza o B
378. os japoneses inimigos da humanidade As for as armadas das Na es Unidas precisam de Borracha Nas esteiras dos tanques nas botas e roupas imperme veis para tropas de desembarque nos uniformes de v o dos aviadores nos carros de assalto nos bombardeiros e em mil e um instrumentos ou pe as usadas direta e indiretamente consome se atualmente imensas quantidades de borracha A Comiss o Nacional de Borracha apela para o patriotismo de todos para que contribuam com todos os artigos de borracha usados e imprest veis em prol dos esfor os de guerra das Na es Unidas Entregue seus objetos velhos no posto de gasolina mais pr ximo de sua casa Os pneus e c maras velhos cujos possuidores os desejarem vender ser o adquiridos a pre os estabelecidos Contribua com sua borracha velha Comiss o Pr Campanha Nacional de Coleta de Borracha Com coopera o de Anglo Mexican Petroleum Company Ltd Atlantic Refining Company of Brazil Standard Oil Company of Brazil The Caloric Company The Texas Company South American Ltd FOLHA DO NORTE 01 07 1943 p 06 8 Segundo Secreto essa situa o j acontecia desde o boom da borracha Entre 1872 1900 estima se que cerca de 500 mil tenham se deslocado para a regi o com passagens subsidiadas pelo governo Esse movimento voltou a se repetir nos anos de 1915 1916 31 mil e 1943 1944 50 mil soldados da borracha 0 Na mesma p gina algumas informa es complementares qua
379. os n veis financiamento p blico 131 Mesmo a floresta cumpre uma fun o social pois ela fornece a palha e a madeira para fazer a casa a canoa e alguns instrumentos de produ o Tamb m oferece a ca a para a alimenta o as sementes para o artesanato as folhas ervas e seivas para fazer rem dios bem como o fruto que tanto serve para compor a dieta alimentar como para produzir tintura para colorir as roupas ou pintar o corpo nos rituais Para mais detalhes ver o cap tulo apontamentos sobre o modo de vida ind gena adiante 132 Schlesinger e Noronha 2006 observam que 90 da produ o de soja do planeta direcionada ra o animal tendo como maiores consumidores os Estados Unidos Uni o Europ ia e China Dizem os autores que de cada 10 quilos de soja consumido no mundo 8 quilos v m dos Estados Unidos l der do mercado mundial com participa o 39 em 2005 seguido do Brasil com 23 7 que em 2005 produziu mais de 51 milh es de toneladas de soja e Argentina com 18 1 Do total de 47 2 milh es de hectares de gr os plantados no Brasil a soja representa 47 22 2 milh es de hectares Conv m ainda ressaltar que a produ o de soja em 1995 era de 25 7 milh es de toneladas Ou seja dobrou de quantidade em apenas uma d cada 134 em v rios casos flexibiliza o da legisla o ambiental afrouxamento da fiscaliza o dos rg os respons veis e estudos cient ficos que subsidiaram a melhor localiza o do
380. os servi os locais a gera o de renda melhorando a qualidade de vida da popula o do munic pio A opera o do Porto teve in cio em 2003 sob um termo de concess o de 25 anos podendo ser prorrogado pelo mesmo tempo Isso foi poss vel pela aquisi o do direito de arrendamento por meio de concorr ncia p blica junto a Companhia Docas do Par CDP 141 Conforme prop e OLIVEIRA 2000 p 53 a constru o de estradas na Amaz nia cont m a estrat gia de seguran a e de crescimento econ mico criando condi es para amplia o da fronteira na medida em que cria infraestrutura necess ria que permite acessar os recursos naturais da regi o do solo e subsolo Embora nos discursos de legitima o do ato essas estradas sejam apresentadas como a quebra do isolamento regional e sua integra o ao territ rio nacional 137 Como bem definiu Trindade J nior 2003 esses movimentos representam olhares sobre a Amaz nia como um ecossistema homog neo no qual a natureza determina a vida social ou como espa o estrat gico para a o estatal do vazio geogr fico a ser ocupado da riqueza natural e da m o de obra incorporada ao desenvolvimento nacional ou da fronteira econ mica como circuito espacial de produ o para o processo de acumula o do capital na divis o internacional do trabalho SANTOS 1997 Nesse contexto favor vel que conduz intensifica o do plantio da soja os conflitos se acentuam e se manifesta
381. osicionaram o Brasil no conflito como lhe deram o papel de produtor de borracha para abastecer o mercado americano especialmente aquele ligado ind stria armamentista Arregimentar m o de obra para os seringais e fornecer borracha para os aliados foi miss o brasileira naquele contexto Nesta perspectiva os soldados da borracha como ficaram conhecidos esses trabalhadores constitu ram a for a de trabalho estrat gica para dar conta daquela a o O Governo Roosevelt assinou acordos com pa ses latino americanos para a produ o de borracha durante a guerra Vargas assumiu o compromisso de abastecer o mercado americano at 1946 em troca de um empr stimo de US 100 milh es cujo acordo de coopera o inclu a o trabalho em conjunto com organiza es americanas Vale lembrar que nesse per odo a Ford Company Motors nos Estados Unidos suspendeu por tr s anos a produ o de ve culos civis para produzir jipes avi es e tanques para as for as militares daquele pa s Neste esfor o de guerra as planta es Ford na Amaz nia cumpriam papel estrat gico GRANDIN 2010 Uma nota publicada pelo governo no Jornal Folha do Norte em Bel m PA intitulada Objetos usados de borracha valem muito para a vit ria convocava a popula o para fazer a sua parte na Campanha da Borracha conclamando a a vender a borracha velha ao governo que seria usada no esfor o de guerra e assim fortaleceria a luta dos aliados contra
382. osse definitiva nem nada Mas venderam Ent o eles n o tomaram terra de ningu m aqui n o Eles venderam porque quis O meu sogro n o vendeu o meu sogro tem duas quadras e meia de terra hectare n duas e meia aqui N o vendeu Eles n o venderam por dois motivos sempre a terra foi a 191 vida deles o sustento deles E outra coisa que eles j n o sei n o mas eles t m outra cabe a T guardadinho l na mata mesmo tudo ajeitadinho Em seguida fala da vida que ainda se desenvolve nas antigas quadras dos seringais Na Estrada 8 Ali quando voc passa perto de casa voc vira mais pra tr s s mata Eu tenho por exemplo tenho 200 metros que o terreno mesmo que vai da rua ali atr s eles plantam Desses 200 metros at chegar l ela plantou capim A tem uma quadrinha de macaxeira uma quadrinha mesmo jerimum que ela gosta ela tem um sitio com laranja tamb m tem um pedacinho de pasto que ela tem umas vaquinhas l um neg cio de leite Pessoas assim que foram criadas e at hoje Eu sei que eu admiro muito o que eles fizeram e n o venderam E porque tamb m por isso que eu tenho esse lado O meu pai tamb m tem terra e n o abre m o Um vereador fala da estrat gia de comprar a terra de um vizinho como forma de pressionar aquele morador que n o quer sair que cercado pela soja obrigado a vender o seu lote ou seja uma press o indireta para a venda Na verdade isso
383. ou hist rica denominada de mem ria herdada Resta nos ainda computar as pessoas ou personagens da mem ria para o caso estudado os americanos e o presidente Get lio Vargas que esteve em Belterra em 1940 E por fim os lugares da mem ria o plano de refer ncia material onde se realizou a experi ncia Para apresentar esses lugares recorremos ao conjunto de 24 fotos de poca generosamente cedidas por um ex funcion rio da CFIB hoje aposentado e vivendo em Bras lia DF Al m disso com base nos relatos e na visita feita com um filho de seringueiro a lugares importantes da cidade pudemos confeccionar o mapa Lugares da mem ria onde foram plotadas as refer ncias f sicas que aparecem nas narrativas dos entrevistados Para o per odo atual realizamos entrevistas com lideran as sindicais mulheres jovens vereadores prefeito secret rio e t cnicos de governo ind genas e produtores de soja de Belterra buscando garantir a representa o das quatro divis es pol tico administrativas do munic pio por meio da qual os moradores do lugar se apresentam nos momentos coletivos a saber Cidade BR 163 APA Aramanai e Floresta Nacional do Tapaj s FLONA Acrescentamos ainda as lideran as do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais STTR do munic pio de Santar m uma delas amea ada de morte e sob prote o policial Tamb m participamos de reuni es do F rum dos Movimentos Sociais do Movimento de Mulheres e
384. pectos f sicos materiais institucionais e dispositivos legais da cidade deslocando as abordagens desses aspectos para centralizar as an lises no campo das rela es sociais Diz ele que A cidade um estado de esp rito um corpo de costumes e tradi es e dos sentimentos e atitudes organizados inerentes a esses costumes e transmitidos por essa tradi o um produto da natureza e particularmente da natureza humana unidade geogr fica ecol gica econ mica e cuja divis o do trabalho distribui a popula o moderna em m ltiplas profiss es e ocupa es do homem civilizado de um tipo peculiar de vida PARK 1967 p 30 Park 1967 prop e buscar na antropologia de Boas e Lowe os m todos de observa o empregados na investiga o dos costumes cren as valores pr ticas sociais e concep es para o estudo da vida urbana nos Estados Unidos Segundo ele a solidariedade social fundada numa comunidade de interesse e n o sobre sentimentos e h bitos cuja racionalidade e valora o t m no dinheiro a sua principal explica o Desse modo a divis o do trabalho toma por refer ncia o aproveitamento natural dos talentos individuais e as oportunidades advindas do h bito do costume e da educa o Wirth 1967 assinala a preocupa o com as caracter sticas peculiares da vida na cidade Para ele uma defini o sociol gica de cidade deve estar centrada no estudo da especificidade do modo de
385. permanente de prontid o para o trabalho LEITE LOPES 1976 p 58 que sob o apito da f brica eram obrigados a manter a pontualidade e assiduidade Para o autor se do ponto de vista do capital esse ideal representou o otimum produtivo para os trabalhadores e suas fam lias a precariedade das condi es de trabalho e habitacionais os baixos sal rios a vigil ncia permanente por parte da empresa a amea a 5 Observamos que somente as cabanas de palha n o fazem parte da paisagem atual embora permane am no imagin rio coletivo e seja facilmente identificada a sua localiza o por aqueles que viveram no tempo dos americanos 116 constante de demiss o e despejos assim como a falta de liberdade de organiza o sindical significaram um verdadeiro cativeiro Segundo Alvim 1976 os oper rios eram recrutados em feiras locais atrav s de aliciadores cujo crit rio de sele o estava condicionado s fam lias com grande n mero de filhos para cumprirem longas jornadas de trabalho de at 12 horas por dia A forte presen a da m o de obra feminina na f brica significava do ponto de vista dom stico uma sobrecarga ao trabalho da m e e materializava uma forma de divis o sexual do trabalho As an lises de Leite Lopes 1976 e Alvim 1976 argumentam que o controle permanente imposto pela empresa inclusive do mercado de trabalho e imobili rio significou de um lado um poderoso mecanismo de imobiliza o da
386. podemos observar pela experi ncia de um filho de ex seringueiros que narra situa es de seus aprendizados e como este plano de refer ncia foi usado na cria o de seus pr prios filhos Ent o o que eu lembro muito que deixou muito forte na minha mem ria foi a quest o da disciplina Tanto na escola quanto no servi o era extremamente disciplinado Tudo era disciplinado Ent o isso marcou a minha vida at hoje e eu transferi isso Eu transferi isso pro meus filhos Na medida em que eles foram surgindo eu procurei transferir para eles toda essa quest o de disciplina de ordem de obedi ncia de respeito de educa o CHARDIVAL Abril 2011 87 Um subprefeito de pol cia que prestou servi o em Fordl ndia quando de sua sa da do lugar por um pedido formal da empresa ao governo do estado fez algumas pondera es em relat rio que foi enviado ao Secret rio Geral da For a P blica Militar em Bel m PA Relatava algumas arbitrariedades cometidas pela ger ncia da CFIB Dentre os fatos relatados estavam a amea a de expuls o e queima das casas de seus funcion rios que constru ram suas habita es em lugar inadequado a proibi o da venda de bebida para funcion rios da empresa em barco atracados no porto de Fordl ndia mas liberado para norte americanos e outros estrangeiros o impedimento de enterro de um cad ver de trabalhador da Companhia no cemit rio dela pelo fato da morte ter ocorrido fora de suas possess es OLIVEI
387. pontual e fragmentado produziu transforma es radicais no mbito da experi ncia e da pr tica daqueles indiv duos um tipo de transmiss o de conhecimento pr tico e espec fico de um ethos capaz de assegurar o xito da atividade econ mica Temos assim para fins de novos par metros de organiza o da vida social do lugar o patrim nio objetivado de outra civiliza o grifo nosso alheio e externo sua forma o sociocultural primeira a universaliza o das trocas monet rias do mundo urbano que converte o dinheiro em necessidade universal e absoluta conforme analisou BOURDIEU 2006 33 37 Essas transforma es tamb m v o interferir profundamente nas formas de uso do tempo e do espa o por estes migrantes Isso nos leva a propor como primeira aproxima o a defini o de tempo como a dura o e a intensidade da vida social e de espa o como o lugar onde a vida social acontece LEFEBVRE 1991 Contudo n o podemos abdicar das formula es de Elias 1998 sobre o tempo Segundo ele o tempo refere se sequ ncia dos acontecimentos dos movimentos repetitivos e padronizados medidos e controlados socialmente com ajuda do rel gio tempo cotidiano e do calend rio semanas meses e anos Com base em Elias 1998 podemos dizer que a no o de tempo est sempre presente na vida social a hora de dormir ou acordar de ir escola ou ao trabalho a hora do cinema e da partida de futebol e a dura o desses e
388. portu rias e resid ncias que alojassem a m o de obra existente e facilitassem o escoamento da produ o A aboli o de impostos para importa o e exporta o e a abertura de linha de cr dito especial completavam os incentivos fiscais criado pelo governo Mas a falta de verbas p blicas e privadas de pessoal qualificado e de um mercado interno desenvolvido assim como um mercado externo sem qualquer controle brasileiro tornou o plano invi vel MAHAR 1978 57 Amazonas para que o capital americano pudesse ser atra do para a regi o Vejamos trechos dos documentos que informam essas condi es Havendo tomado parte muito insignificante na ida da Comiss o Americana de Borracha para a explora o e estudos da nossa hevea no valle do Amazonas tive occasi o de acompanhar daqui as continuas conferencias entre v exc e os minist rios da Agricultura e do Exterior sobre a conveniencia dos dous governos do Par e do Amazonas abrirem m o de vez dos impostos de exporta o dando como substituto o imposto de capital baseado sobre uma porcentagem fixa e invariavel durante um praso limitado de annos continuamente renovado nico meio de attrahir o capital extrangeiro que alli se queira encaminhar Ficou tambem assentado que os dous governos estaduaes facilitariam caso fosse necess rio a entrada de trabalhador chinez bem como a concess o de grandes reas de terras p blicas para o plantio extensivo desse mesmo producto al
389. que n o funcionava e dessa forma dificultava que os moradores pudessem acessar recursos que exigem a organiza o coletiva de associados 186 As estradas 1 e 10 aparecem entre aquelas que det m um grande n mero de filiados do sindicato ficando apenas atr s da localidade rural de S o Jorge na BR 163 que possui o maior contingente populacional do munic pio S o cinco delegacias sindicais na cidade 173 Figura 58 Cria o de galinhas Foto Pereira J C M 2009 Na feira do produtor na estrada 1 no centro da cidade existem 10 boxes disponibilizados para a venda de hortifrutigranjeiros mas apenas dois estavam ocupados Uma vendedora de 57 anos que trabalhava no local com seu filho explicou que plantava no quintal de casa h algum tempo Por tr s anos plantava s cebola que era vendida na cidade de Santar m e teve que parar por conta da pouca exist ncia de gua no bairro onde mora Depois come ou a plantar milho e um pouco de maniva mandioca em um espa o bem menor Em seguida passou para tomate coentro cebolinha alface cheiro verde e couve Observou ainda que n o teve nenhum treinamento nem recebeu apoio financeiro para isso Seu trabalho envolvia fazer os canteiros colocar as mudas e adubar a terra num lote de 400 m2 Mas a planta o era pouca por conta da dificuldade de obter mudas e gua que conseguida atrav s do abastecimento do carro pipa da Prefeitura Recentemente comprou uma c
390. r s necessidades da fam lia e n o produzir para fins comerciais Com a ajuda de dois sobrinhos e uma moto serra em dois dias se faz a derrubada depois se deixa secar para em seguida tocar fogo Feito isto espera se a primeira chuva do inverno para come ar a planta o Muitas dessas quadras j n o t m mais esse tamanho devido ao fracionamento do terreno para doa o a filhos e parentes ou para meio da venda e ou concess o para terceiros O la o de parentesco nesse momento acionado uma vez que a doa o de um peda o de terra para um sobrinho sem casa um ato de solidariedade familiar Espera se que a 188 Essa entrevista nos foi concedida em outubro de 2009 quando retornamos novamente ao local em mar o de 2011 a feira j havia sido desativada 175 retribui o a este ato venha por meio do trabalho para atividades ligadas prepara o das tarefas peda o de terra e das outras atividades decorrentes semear colher e manter por causa da situa o dele como ele se encontrava l em Santar m a ele queria um local porque ele tem muita cria o bode carneiro pato um monte de coisa e tinha vontade que fizesse crescer o rebanho das coisas dele l porque ele morava em casa alugada a um dia conversando com n s e a gente tem esse terreno grande A n s oferecemos para ele um peda o de terra doando para ele LARA Novembro 2009 Esse lugar fica mais afastado do cent
391. r gt 18 nov 2009 Lei n 51 665 de 17 01 1963 Dispon vel em lt http www planalto gov br gt 18 nov 2009 Lei n 59 866 de 26 12 1966 Dispon vel em lt http www planalto gov br gt Acesso em 18 nov 2009 Lei n 60 194 de 09 02 1967 Dispon vel em lt http www planalto gov br gt 18 nov 2009 Decreto presidencial n 73 684 de 19 02 1974 que cria a Floresta Nacional do Tapaj s FLONA Dispon vel em lt http www planalto gov br gt Acesso em 25 jun 2011 FEDERAL Lei n 9 985 de 18 07 2000 que disp e sobre os usos da Flona Dispon vel em lt http www4 icmbio gov br flonas index php Acesso em 12 fev 2011 gt ESTADUAL Lei n 2 592 de 03 10 1927 que repassa um milh o de hectares nas margens do Rio Tapaj s Companhia Ford Industrial do Brasil Mapas Mapeamento comunit rio dos impactos da soja em Santar m e Belterra Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais dos munic pios de Santar m e Belterra Greenpeace e Projeto Sa de Alegria PSA 2008 Acervo fotogr fico Arquivo pessoal do Sr Osvaldo G es com fotos de Belterra das d cadas de 1930 40 Biblioteca de Washington Dispon vel em lt http www Jib washington edu Acesso em 17 ago 2010 Greenpeace Fotos do confronto entre militantes do Greenpeace e policiais no porto da Cargill na cidade de Santar m 2006 Projeto Sa de e Alegria Fotos Da manifesta o dos militantes dos
392. ra s 6h pro capataz j tomar o nome da pessoa que chegou na hora 9 682 era a minha chapa INOCENCIA Julho 2001 Duas guaritas de seguran a funcionavam 24 horas por dia com telefone para controlar a entrada e sa da de pessoas e autom veis que eram revistados ao entrarem nas propriedades da Companhia A CFIB exigia com rigor uma boa conduta de seus funcion rios Bebida alco lica era proibida e qualquer deslize era objeto de demiss o segundo a lei severa dos americanos Outra ex seringueira narra o quanto era dif cil entrar nas terras da Companhia diante do r gido controle da entrada e da sa da das pessoas No tempo do Ford gente n o entrava assim de peito aberto aqui n o Tinha um port o ali um port o Ent o naquele tempo tinha a casinha l tipo uma guarita A do fiscal e tinha corrente Duas correntonas dessa grossura A chegasse l viesse um carro de l de Santar m parasse l a gente vai para Belterra quero ir l Voc tem parente a em Belterra Tenho Nome Fulano de tal Onde mora Estrada 1 ou Vila 129 que nome a casa Tudo assim A ele batia o telefone para o fiscal A conversava se perguntasse tudinho e estivesse tudo correto a passava Mas se n o tivesse n o passava voltava mesmo FRANCISCA Abril 2011 O senhor Tica relata que para se divertirem os trabalhadores poderiam ir a Porto Novo aos s bado e domingos dan ar e beber aquela cachacinha cont
393. ra uma reorienta o da pol tica p blica no mbito municipal que segundo o prefeito teve por objetivo a constru o de uma nova cultura pol tica como forma de combater o assistencialismo e o clientelismo j que o passado recente da vida pol tica no munic pio estava associado depend ncia e subservi ncia que causaram certa acomoda o das pessoas A participa o de diversas organiza es sociais durante a elabora o da Lei do Plano Diretor Participativo PDP revelou tens es existentes no lugar por conta da presen a da soja na cidade e suas imedia es A elabora o do Mapa dos Conflitos Socioambientais de Belterra apresentou essas contradi es Por meio dele identificou se quais eram os impactos e 199 onde se localizavam quem eram os provocadores e os respectivos impactados 197 Participamos do encontro da Associa o Feminina de Belterra ASFEBEL com mulheres de todo munic pio cuja pauta tratava dentre outras coisas da viol ncia dom stica e sexual contra a mulher da Lei Maria da Penha e de assuntos relacionados cria o de institui es e mecanismos de prote o mulher de puni o dos culpados e de preven o Al m de discutir as iniciativas e a es governamentais e n o governamentais sobre a quest o 198 Essa experi ncia recebeu o pr mio Selo Cidade Cidad como uma boa pr tica na rea da gest o p blica para cidades com menos de 50 mil habitantes conforme pre
394. ramas e projetos governamentais Esta malha programada se concretizou principalmente a na extens o de todos os tipos de rede de articula o do territ rio b numa estrat gia mais seletiva baseada na implanta o de p los de crescimento locais privilegiados capazes de interligar os circuitos nacionais e internacionais de fluxos financeiros e de mercadorias c sobretudo na Amaz nia na cria o de novos territ rios diretamente geridos por institui es federais e superpostos divis o pol tico administrativa vigente BECKER 1999 p 30 138 A sa da da soja pelo porto de Santar m diminuiria em 5 mil km o percurso da navega o se comparada com a localiza o no Sul Sudeste Isso representa uma economia de at US 150 milh es ao ano SCHLESINGER NORONHA 2006 139 Observa o relat rio que a produ o de soja poderia ser feita nas reas j desmatadas de Santar m dada a proximidades do porto o que facilitaria seu escoamento Seria poss vel ainda trazer a soja do Mato Grosso Sinop Sorriso e Lucas e de Rond nia mas necessitaria de obras de infraestrutura na BR 163 e a constru o da hidrovia Telles Pires Tapaj s grifo nosso CARGIIL 2000 140 O mesmo relat rio cita entre as vantagens para a regi o com a instala o do Terminal Fluvial de Gran is de S lidos da Cargill Agr cola S A o aumento da arrecada o de impostos e tributos a dinamiza o da produ o agr cola do com rcio e d
395. rasileira 1987 De lo rural a lo urbano Barcelona Pen nsula 1969 LEITE LOPES Jos S rgio A ambientaliza o dos conflitos sociais In ANTONAZ D PRADO R SILVA G Org A ambientaliza o dos conflitos sociais participa o e controle da polui o industrial Rio de Janeiro Relume Dumar 2004 p 17 38 F brica e Vila Oper ria considera es sobre uma forma de servid o Burguesa In LOPES LEITE J S et al Org A reprodu o da subordina o Mudan a social no nordeste Rio de Janeiro Paz e Terra 1976 p 41 98 LENCIONI Sandra Reconhecendo metr poles territ rio e sociedade In SILVA C A FREIRE D G OLIVEIRA F J G Org Metr pole governo sociedade e territ rio Rio de Janeiro DP amp A FAPERJ 2006 p 41 57 LEROY Jean Pierre Uma chama na Amaz nia Rio de Janeiro Vozes FASE 1991 L VI STRAUSS Claude A ci ncia do concreto In O pensamento selvagem Nacional 1973 p 15 50 LIMA Rosirene Martins O rural e o urbano no contexto de uma cidade m dia amaz nica 243 reflex es sobre a urbaniza o de imperatriz In TRINDADE JR S C T et al Org Pequenas e m dias cidades na Amaz nia Bel m FASE ICSA UFPA Observat rio Comova 2009 p 283 298 MACHADO Lia Os rio Significado e configura o de uma fronteira urbana na Amaz nia In BECKER Bertha K et al Fronteira amaz nica quest es sobre a gest o do territ rio Bras lia UNB 1990 p
396. rbanos distintos da Amaz nia Caderno CRH Salvador v 22 n 57 p 531 546 set dez 2009 TELLES Vera da Silva Debates a cidade como quest o In TELLES V e CABANES R Org Nas tramas da cidade trajet rias urbanas e seus territ rios S o Paulo Humanitas 2006 p 35 64 Trajet rias urbanas fios de uma descri o da cidade In TELLES V CABANES R Org Nas tramas da cidade trajet rias urbanas e seus territ rios S o Paulo Humanitas 2006 p 69 116 TRINDADE JR Saint Clair C T Cidades na floresta os grandes objetos como express es do meio t cnico cient fico informacional no espa o amaz nico Revista IEB n 30 p 113 137 set mar 2010 MALHEIRO Bruno Cezar P Entre rio rodovias e grandes projetos mudan as e perman ncias em realidades urbanas no Baixo Tocantins PA In TRINDADE JR S C T et al Org Pequenas e m dias cidades na Amaz nia Bel m FASE ICSA UFPA Observat rio Comova 2009 p 59 91 PEREIRA Jos Carlos Matos Reestrutura o da rede urbana e import ncia das cidades m dias na Amaz nia Oriental In SPOSITO Maria da Encarna o Org Cidades m dias espa os em transi o S o Paulo Express o Popular 2007 p 313 342 A Amaz nia e a dimens o humana de sua geografia Portal Amaz nia Bel m v 1 2003 TRINDADE JR Saint Clair C T ROCHA Gilberto M Cidade e empresa na Amaz nia uma apresenta o do tema In TRINDADE JR S
397. rbanos o lugar onde a cidade n o existia e dessa forma assegurar o desenvolvimento da atividade industrial Pelo menos para aqueles funcion rios mais qualificados tecnicamente uma vez que a maioria dos trabalhadores os seringueiros moravam em casas de palha piso de ch o batido sem gua luz ou telefone e comiam farofa de peixe ou ovo numa latinha que ficava pendurada no c s da cal a durante a intensiva jornada de trabalho Temos ent o uma adapta o do sistema fordista de produ o visto que este n o se realizou nos intramuros da f brica nem houve produ o e consumo de massa mas um processo que antecedeu a estes O trabalho sistem tico de oito horas quase ininterrupto para plantar seringueiras e coletar o l tex que deveria ganhar o mercado mundial Usamos o termo deveria porque tanto Fordl ndia como Belterra n o abasteceram de borracha o mercado 120 externo com sua produ o De l os relatos indicam que os americanos retiraram madeira e min rio como ouro e prata por exemplo Podemos para fins anal ticos apresentar os elementos estruturantes dessa experi ncia em Belterra 1 um conjunto de procedimentos usos e apropria o do territ rio alheio gente do lugar sob a racionalidade do lucro e do uso da t cnica mais sofisticada que na pr tica representou um processo de expropria o da natureza das fam lias que l moravam antes da chegada da empresa de Henry Ford 2 a destrui o ou o desarranjo
398. rcado de terra da soja a fragilidade fiscalizadora e repressiva do Estado para coibir pr ticas predat rias os incentivos fiscais e financeiros oriundos do governo federal para atividades de produ o da soja N o podemos esquecer que as unidades de conserva o florestas nacionais reas de preserva o reservas extrativistas est o no centro das disputas que envolvem a aprova o do novo C digo Florestal Brasileiro visto que sua desregulamenta o significa novas terras que podem ser incorporadas ao mercado do agroneg cio por exemplo para a produ o de soja diante dos pedidos do mercado internacional e do peso desta commodity na balan a comercial brasileira Podemos observar ainda que a a o pol tica do campo de poder ligado ao agroneg cio busca alterar as normas e legisla es estatais e ganhar a ades o da opini o p blica por meio do marketing di rio nos meios de comunica o de massa Esses movimentos conforme Almeida 2009 constituiram se nas estrat gias do agroneg cio Esse processo inclui ainda a fragiliza o da base social dos agricultores familiares nos enfrentamentos seguintes por conta da estrat gia de coopta o de sua base 235 pol tica desenvolvida pelo sindicato patronal ligado soja e das amea as de morte que v m sofrendo v rias de suas lideran as Do mesmo modo a contra estrat gia est presente por meio do campo dos movimentos sociais e ONGS formulando propostas mobilizando
399. rda do rio Tapaj s tamb m de minera o que muito maior quatro vezes segundo t o nos falando de que o projeto Juruti e vai pegar o munic pio de Monte Alegre parte de Alenquer e parte de Curu da ALCOA tamb m e j est o na parte de pesquisa mas um problema o Baixo Oeste do Par eu diria que nos pr ximos oito dez anos nos vamos viver um caos muito s rio aqui na regi o cinco seis meses atr s teve uma paraliza o por parte dos funcion rios l pararam seis mil homem seis mil homem paralisaram por dois dias fazendo alguma reclama o de suas empresas porque s o empresas terceirizadas por l em m dia eu imagino que tem muito mais de 10 mil pessoas trabalhando na empresa Eu diria que 70 s o de fora da regi o DIRIGENTE CEFT BAM Novembro 2008 S o situa es que acontecem em Juriti mas n o s o exclusividade desta cidade pois de um modo geral tem se o monocultivo da soja e a explora o ilegal de madeira que entre outras quest es envolve os munic pios da mesorregi o do Baixo Amazonas e interferem diretamente na vida da cidade Isso ficou evidenciado na fala de lideran as durante as entrevistas as conversas informais em eventos coletivos realizados por essas organiza es no momento do nosso trabalho de campo 2 Observando os dados do IBGE chamamos aten o que este rg o n o capta esse movimento populacional do real visto que trabalha apenas com atualiza o
400. revistado esclarece que quem cria abelha com ferr o chamado de apicultor j os criadores de abelha sem ferr o s o chamados de melipossicultores 206 Ver o mapa de uso e ocupa o do espa o da cidade na p gina 219 onde se pode visualizar que os produtores de soja se instalaram s proximidades dos produtores de mel 205 Porque quando foi para come ar a soja aqui saiu aquele neg cio que voc viu n o a soja vai vir vai trazer progresso vai trazer emprego vai trazer desenvolvimento a coisa que a gente n o v porque na realidade s traz desenvolvimento para quem dono da soja s traz progresso para quem o dono Porque gera o de renda mesmo pra Belterra n o vejo gerar renda e o impacto que eu acho ambiental acho um impacto muito grande pra gente Para explicar como se deu o impacto ambiental nosso entrevistado remete a uma Belterra do passado pr ximo e ressalta como a soja estranha vida do lugar Uma coisa que a gente percebe que se voc for olhar bem n o tem nada a ver com Belterra eu n o sei mas quando a gente n o tinha essa soja no nosso redor Belterra era bem fria era uma temperatura mais agrad vel Hoje j esquenta muito Tem esses fen menos que alterou v rios lugares do mundo n o s aqui mas eu acredito que a soja tamb m teve um impacto muito grande nisso Animais que a gente via a gente via muitos animais aqui em Belterra hoje a gente n o v mais n Na entrada da cidad
401. rias condi es de alimenta o manejo e de sanidade dos animais carrapatos e doen as gastrointestinais por fim apresenta a f precariedade dos est bulos para proteger os animais VEIGA LOUREN O JR 1974 p 12 14 109 Em 1973 viviam em Belterra 235 seringueiros sendo 162 homens e 73 mulheres Desse total 66 4 eram solteiros 31 9 casados e 1 7 de solteiros idem 125 emitiu o t tulo definitivo de posse Direito este estendido aos filhos dos seringueiros Talvez resida a a l gica governamental de que a concess o da casa representaria uma forma indireta de sal rio Os servidores de Belterra recebiam um sal rio m nimo regional Nos anos de 1980 apresentavam se situa es que fomentariam um clima de insatisfa es inquietudes e incertezas principalmente pela indefini o quanto ao seu aproveitamento como base das atividades produtivas do governo federal Naquele per odo cerca de seis mil pessoas l moravam e enfrentavam problemas de diversas ordens que podem ser assim enumerados 1 os seringais estavam sem limpeza e manuten o h mais de 15 anos 2 o baixo pre o do l tex desestimulou o corte das plantas produtivas por parte dos seringueiros e a produ o de mudas e sementes era insignificante diante das potencialidades locais 3 o fornecimento de energia el trica era prec rio por conta da redu o das cotas de combust veis e pela falta de manuten o nos equipamentos de gera o e
402. rit rio o geogr fico e o antropol gico Ressaltamos que do ponto de vista da geografia n o h possibilidade de desterritorializa o j que esta sempre envolve um processo de reterritorializa o Segundo Haesbaert 2002 p 31 inerente ao ser humano aos grupos culturais a recomposi o da sociedade em bases territoriais o territ rio faz parte de sua fundamenta o ontol gica o que estamos presenciando a consolida o de novas formas de organiza o territorial Da 140 de reestruturar o mercado de terras que agora deve estar sob guarda do grande capital e dispon vel produ o em grande escala voltada ao mercado internacional ALMEIDA 2009 3 3 A ambientaliza o dos conflitos sociais Segundo Leite Lopes 2004 a ambientaliza o dos conflitos sociais torna se poss vel quando a quest o ambiental passa a ser alvo do cotidiano das pessoas dos pol ticos dos empres rios e das institui es p blicas e privadas inclusive de pesquisas atrav s da observa o e nomina o que ganharam forma de quest o Neste sentido institui es e legisla es s o criadas recursos s o destinados e quadros tecnopol ticos deslocados para este fim Como afirma Leite Lopes 2004 p 18 a ambientaliza o dos conflitos sociais est relacionada constru o de uma nova quest o social uma nova quest o p blica Partindo desse plano de refer ncia podemos propor que a ambientaliza
403. rmo remete Amaz nia da d cada de 1960 pois suas caracter sticas de pequenas cidades e associadas frequentemente circula o fluvial conferiam a elas fortes liga es com a din mica da natureza com a vida rural n o moderna e com o ritmo da floresta ainda pouco explorada Rela es que estavam mais ligadas ao seu entorno e s localidades mais pr ximas Contudo conv m observar que o termo cidades da floresta n o est apenas associado ao passado visto a atualidade dessa proposi o Trindade Jr 2010 p 118 119 fala dos fortes enraizamentos das cidades ribeirinhas com o rio o entorno a natureza e com a caracter stica socioecon mica e cultural local e regional Isso pode ser exemplificado segundo ele pelo uso do rio para a satisfa o de necessidades alimentares de lazer para o transporte de mercadorias e pessoas e por sua import ncia na constru o do imagin rio sociocultural J o termo cidades na floresta est associado aos nexos e exig ncias do mercado nacional e internacional demandante de mat ria prima uma vez que estas se caracterizam por ser base dos grandes projetos que se instalam na regi o para a explora o econ mica da madeira min rio fragr ncia esp cies animais e vegetais turismo E por serem objetos artificiais transformam se em enclaves urbanos medida em que negam a forma de organiza o socioespacial e cultural local e regional 61 Em seu estudo sobre
404. rnador Dionysio Bentes Bel m Instituto Lauro Sodr 1928 BECKER Bertha K Os eixos de integra o e desenvolvimento e a Amaz nia Revista Territ rio Rio de Janeiro ano 4 n 6 1999 p 29 42 Amaz nia S o Paulo tica 1990 S rie Princ pios MIRANDA Mariana P O papel das cidades na ocupa o da Amaz nia Conv nio IPEA CEPAL Bras lia 1987 mimeo 31 p BENSA Alban Da micro hist ria a uma antropologia cr tica In REVEL J Org Jogos de escala a experi ncia da microan lise Rio de Janeiro FGV 1998 p 39 76 BOAS Franz As limita es do m todo comparativo da antropologia In CASTRO C Org Antropologia cultural Rio de Janeiro Zahar 2004 p 25 40 BOSI Alfredo Dial tica da coloniza o S o Paulo Companhia das Letras 1992 BOSI Ecl a Mem ria e sociedade lembran as de velhos S o Paulo T A Queiroz 1979 p 1 49 BOURDIEU Pierre A distin o a cr tica social do julgamento S o Paulo EDUSP 2007 Arg lia 60 estructuras econ micas y estructuras temporales Buenos Aires Siglo Veintiuno 2006 CHAMBOREDON J C PASSERON J C O of cio de soci logo metodologia da pesquisa na sociologia Petr polis Vozes 2005 O poder simb lico S o Paulo DIFEL 2001 BRASIL Minist rio da Agricultura Produ o e comercializa o do seringal de cultivo da base f sica de Belterra Bel m 1974 35 p BRASIL Minist rio da Ind stria e do Com rc
405. ro a mesmo n A ro a seria te dizer assim vai para a enxada vai para capinar Se for nessa poca do ano tu vai fazer a ro a vai brocar mesmo na foice n Ainda a quest o mais tradicional ainda n Na nossa regi o ainda assim LUIZ Novembro 2009 Essa atividade confirmada e acrescida por outras informa es pela atual presidente do STTR do munic pio de Belterra que congrega mais de 6 mil associados Segundo ela os agricultores Produzem mais o arroz o feij o n a cria o de galinha e plantar fruteiras tamb m As frutas como laranja cupu cupua u cacau essas coisas A a sabes que tem alguns projetinhos aqui no munic pio tamb m tem planta o de a a essas coisas Dessa forma informa a l der sindical o incentivo a essas atividades por parte do governo necess rio tanto para melhorar a qualidade de vida desses trabalhadores e de suas fam lias quanto para impedir que eles se desloquem para a periferia das cidades j que a terra pouca e sem regulariza o falta assist ncia t cnica e apoio para transporte e comercializa o da produ o A vida na Flona se desenvolve com base no trabalho da agricultura planta o de feij o arroz milho mandioca car batata e macaxeira da ca a de animais silvestres e do extrativismo do peixe da madeira dos frutos e sementes leos e l tex da floresta Alguns 162 moradores tamb m criam porco galinha e pato Parte dessa
406. ro l existem muitos terrenos vagos e poucas casas constru das As ruas s o bastante arborizadas e de ch o batido que faz muita poeira com a passagem de algum autom vel Identificamos duas situa es com a visita existem terrenos que s o apenas locais das planta es visto que muitas pessoas t m dois lotes um para plantar e outro para morar como o caso da nossa entrevistada A outra quando o lote de moradia e local da produ o A produ o de mel outra atividade realizada na cidade Segundo um dirigente da Associa o dos Melipolissicultores de Belterra existem cerca de 100 produtores de abelha sem ferr o na cidade Mas muitos a fazem por hobby outros criam somente para quando precisarem ter o mel e outra parte cria comercialmente Durante nossa conversa ele fez um r pido levantamento daquelas pessoas que s o de seu conhecimento pessoal e que desenvolvem essa atividade Ele identificou 35 produtores que foram plotados no mapa das formas de uso e ocupa o do espa o da cidade 201 e Apresentamos um quintal onde podemos observar essa produ o Nas fotos as caixas das abelhas juntamente com os favos de mel figuras 59 e 60 19 Durante a entrevista ele aproveitou para nos detalhar quais s o os procedimentos do processo produtivo Para come ar uma cria o de abelha tem que ter o enxame que pode ser obtido da seguinte forma a ir mata para derrubar uma rvore ou encontrar uma rvore ca da que tenha en
407. role social sobre os rec m chegados Foi na cidade que se realizou a re socializa o da popula o migrante atrav s da difus o de valores e comportamentos da vida urbana enfim a constitui o do modo de vida urbano A concentra o da popula o nas cidades e a multiplica o dos n cleos urbanos foram decorrentes desse processo de urbaniza o Essas s o quest es demarcadoras do processo de 35 urbaniza o na regi o conforme analisaram Becker 1987 1990 Corr a 1987 1989 e Machado 1990 Segundo Becker 1987 1990 a urbaniza o da fronteira entre os anos de 1970 e 1980 traz as seguintes caracter sticas 1 expans o e consolida o de centros regionais sub regionais e locais que serviram de base para projetos produtivos impulsionados pelo investimento estatal 2 concentra o de popula o nas capitais estaduais principalmente Bel m PA e Manaus AM 3 multiplica o de n cleos dispersos ligados mobilidade da for a de trabalho 4 retra o de antigos n cleos localizados nas margens dos rios que perderam import ncia com a abertura das estradas e por fim 5 a implanta o das franjas avan adas que correspondem s cidades das companhias Para o momento atual temos a concentra o de popula o nas capitais estaduais a multiplica o das pequenas cidades e o fortalecimento das cidades m dias como novos vetores econ micos populacionais pol ticos e culturais que caracterizam a urbaniza
408. ros procedimentos e a alian as estabelecidas pelos ind genas tendo por objetivo o reconhecimento a demarca o de suas terras e por consequ ncia a sua ressignifica o como Aldeia Beija flor 41 pequenas comunidades como modo de vida que por sua vez implica a emerg ncia de novos valores novas racionalidades e desejos de consumo MACHADO 1990 SANTOS 2005 Castells 2006 argumenta que urbano tudo o que acontece dentro da cidade Talvez para a d cada de 1970 uma explica o com esse teor fosse plaus vel No entanto para o momento atual j n o poss vel ter a mesma certeza visto que com avan o tecnol gico e a intensifica o dos fluxos de informa es as trocas socioculturais entre a vida urbana e a vida rural se estreitaram Cada vez mais os valores e referenciais urbanos se instalam e se consolidam em reas rurais Do mesmo modo que a mudan a para a cidade de popula es rurais n o significa necessariamente passar uma borracha sobre a vida pret rita do migrante Da a ideia de que o modo de vida urbano cont m e est contido em outras realidades n o urbanas como espa o relacional e relativo como pr tica social humana passada e presente que o produz conforme prop e HARVEY 1980 Desse modo podemos argumentar que a amplia o dos modos e meios de circula o imaterial internet televis o e telefonia permite o deslocamento de informa es e imagens sem o deslocamento de mercadoria e pessoas po
409. s nos seis anos em que conhecemos o lugar a vida na cidade calma n o h hist rias de roubos assaltos ou brigas de gangues Muitas pessoas ainda dormem de janelas abertas No hotel onde ficamos hospedados a chave do quarto ou a geladeira s o facilmente acessados j que o propriet rio tem outro com rcio na praia e se desloca para l nos fins de semana Por v rias vezes deixamos a bicicleta na rua sem a preocupa o de que pudesse ser levada Isso demonstra outro padr o de sociabilidade no qual o medo e a viol ncia ainda n o se fazem presentes L as pessoas se conhecem bem e os la os de confian a s o mais fortalecidos O calend rio da vida do lugar est relacionado s atividades t cnicas do trabalho na Prefeitura aos pequenos com rcios e servi os de base familiar e s atividades rurais na cidade Tamb m existem aqueles que trabalham na cidade m dia de Santar m que fica a cinquenta quil metros de dist ncia Para os jovens o dia dia volta se ao estudo nas escolas municipais aos afazeres dom sticos e s atividades profissionais e art sticas ofertadas pela municipalidade como computa o capoeira e m sica Os mais jovens reclamam da falta dos postos de trabalho na cidade e da necessidade de deslocamento para as cidades vizinhas de Santar m principal cidade do Baixo Amazonas ou Juruti onde est em andamento o projeto de minera o da empresa canadense ALCOA 193 O Projeto de Inclus o Digital por e
410. s animais Enfim a experi ncia come ou a dar sinais de fragilidade pol tico administrativa e de perspectiva Analisando o relat rio do Minist rio da Agricultura MA podemos observar que a explora o do trabalho dos seringueiros continuou existindo mesmo sob a coordena o do governo brasileiro Entre 1968 e 1974 foram comercializados 3 980 288 quilos de l tex e cernambi que renderam ao governo o valor de CR 12 428 723 86 Desse total foi repassado para os seringueiros apenas a quantia de CR 3 102 533 39 ficando para o governo o valor de CR 9 326 190 47 conforme dados do Minist rio da Agricultura 1974 A venda do l tex e cernambi era feita por meio de licita o p blica o que garantia sempre o melhor pre o para a comercializa o No entanto o valor pago ao seringueiro era bem abaixo do mercado As justificativas usadas pelo Minist rio da Agricultura remetiam aos parcos recursos dispon veis no governo para a compra da produ o Mesmo reconhecendo que havia explora o do trabalho do seringueiro nenhuma medida foi tomada durante muito tempo para solucionar as distor es de pre o o que por sua vez resultou no desest mulo produtivo dos seringueiros de Belterra Esse quadro foi agravado com a crise da ind stria automobil stica 1982 e a consequente redu o da procura por borracha Contudo devemos observar que os seringueiros ficaram nas casas que moravam desde a CFIB J sob a guarda do Governo Federal este
411. s diferentes como o caso da cria o do estado do Tapaj s Terminada a apura o do plebiscito sobre a divis o do estado do Par realizado em 11 de dezembro de 2011 66 dos eleitores paraenses rejeitaram a proposta de cria o dos estados do Tapaj s e Caraj s Mas em Santar m a vota o a favor da cria o do estado do Tapaj s alcan ou o percentual de 98 63 da aprova o dos eleitores do munic pio Apresentaremos a seguir dois mapas sobre as formas de uso e ocupa o da cidade e imedia es antigas quadras dos seringais da CFIB em dois per odos de tempo o primeiro referente ao ano de 1999 antes da chegada da soja e o segundo do ano de 2011 depois de sua instala o e ano do ltimo trabalho de campo da pesquisa que demonstram do ponto de vista cartogr fico a intensidade das transforma es ocorridas no espa o No primeiro mapa 1999 temos a rea de floresta bastante preservada visto que as reas antigas quadras dos seringais ainda n o haviam sido apropriadas pelos produtores de soja Naquele momento o uso ainda era coletivo e muitas fam lias desenvolviam atividades ligadas produ o agr cola As narrativas indicam que pela disponibilidade de terra essas reas eram plantadas alternadamente com arroz mandioca milho feij o Bastava conseguir uma autoriza o junto ao Minist rio da Agricultura que liberava o uso da terra para os moradores da cidade Do mesmo modo as territorialidades dos grupo
412. s em Fordl ndia Por este motivo e muitos outros decidiu se procurar por uma nova localidade para a expans o futura Os custos de manuten o e estudos sobre seringueiras localizadas aos p s de morros s o enormes e o crescimento das rvores retardado Na verdade a manuten o de parte da planta o j foi abandonada e as reas condenadas Para piorar estes contratempos somente os menores tipos de barco podem navegar rio acima durante a esta o de seca A esta altura 1 732 acres da planta o de Fordl ndia foram condenados restando 6 444 acres de cultivo de borracha nos quais a manuten o continua Existem 839 000 rvores nessa rea das quais somente uma pequena percentagem est desenvolvida JOHNSTON s d s n Acrescente se an lises de trabalhos posteriores que tamb m indicam fatores que contribu ram para esta situa o dentre os quais podemos citar o atraso nas opera es a m escolha da localiza o do empreendimento e o mal das folhas doen a que atacou os seringais SENA 2008 al m da forma acidentada do terreno para o desenvolvimento do cultivo da seringueira o distanciamento do projeto em rela o ao porto de Santar m principal cidade naquela regi o e lugar de concentra o da m o de obra dispon vel e a dificuldade de navega o dos navios maiores durante o per odo da estiagem CRULS 1939 Ademais os 25 homens enviados por Henry Ford para a Amaz nia com a miss o de implantar o projeto mo
413. s entre a estrada Santar m Cuiab e o rio Tapaj s idem 115 Entre 1981 e 1983 foram registrados mais de 406 mil atendimentos consultas exames curativos partos interna es pequenas cirurgias aplica o de fl or e inje es por exemplo nos hospitais de Belterra e Fordl ndia que receberam por isso a quantia de CR 88 378 726 00 SANTOS 1984 127 quando o governo federal reconheceu a sua inviabilidade econ mica e resolveu ajudar no processo emancipat rio Conforme assinala Santos 1981 p 20 22 a rea rural Belterra tinha cinco mil produtores cuja ocupa o territorial n o ultrapassava 30 mil hectares com suas ro as ou plantio permanentes e se encontravam sem nenhum amparo legal para regulariza o de suas posses o que n o lhes permitia o acesso ao cr dito banc rio e desse modo ampliar a sua produ o Essa ocupa o que teve origem com a CFIB e se intensificou com a abertura das estradas Santar m Curu Una e Santar m Cuiab que atravessam suas reas o que abriu caminho natural penetra o de pequenos agricultores em busca de terra que estavam sem uso Atrav s da portaria Ministerial n 323 de 24 10 1980 o Ministro da Agricultura repassou jurisdi o do INCRA parte das terras sem uso de Belterra e Fordl ndia para fins 117 de regulariza o da posse da terra e abriu possibilidades para a implanta o de projetos de coloniza o para largas faixas de terras ocio
414. s espec ficas camponesa ind gena quilombola ribeirinha extrativa O processo de apropria o pelo capital de novas reas para expans o das atividades produtivas como novos circuitos espaciais da produ o em Belterra recente e ainda n o desarranjou totalmente os modos de vida preexistentes embora em seu entorno esta situa o j esteja bem avan ada por meio da agricultura cient fica ELIAS 2006 representada pelos produtores de soja e das demandas do produto em escala mundial Assim a vida na cidade Belterra ainda se faz em parte mais pelo valor de uso satisfa o das necessidades humanas em bases n o mercantis e por rela es de sociabilidade que n o se d o com base no medo e nem pela evita o pelo menos entre os grupos sociais oriundos do lugar Para o caso estudado urbano rural natureza sociedade aldeia cidade moderno tradicional s o heterogeneidades e multiplicidades concomitantes os h bridos que n o se explicam pela teoria das oposi es e omiss es Contudo ressaltamos que para o momento atual ainda de forma incipiente h um processo de tecnifica o da cidade por meio da pavimenta o e abertura de novas vias 236 amplia o da oferta dos servi os de transporte como nibus micro nibus e vans instala o da telefonia celular e de institui es de pesquisa e ensino superior inclusive de outras regi es do Brasil que do ponto de vista do lugar significa melhoria das condi
415. s hist ricos representativos das diversas maneiras de produzir as coisas de construir o espa o O que aconteceu em Fordl ndia e Belterra do ponto de vista emp rico significou a materializa o da fala do desenvolvimento e do projeto de moderniza o capitalista proposto por Vargas para o Brasil Contudo devemos observar que este fen meno tamb m se estendeu para a regi o Nordeste na d cada de 1930 e reapareceu na Amaz nia nos fins da d cada de 1960 e in cio de 1970 Temos assim o modelo urbano industrial como paradigma e pr tica do desenvolvimento do pa s conforme apresentamos nas an lises seguintes 2 3 4 Outras experi ncias de cidade empresa Tomando por base os estudos de Piquet 1998 que analisou as cidades empresa no Brasil identificando este fen meno como caracter stico dos fins dos anos de 1940 na regi o Sudeste podemos concluir que as experi ncias de Fordl ndia e Belterra por antecederem este per odo constituem se entre as primeiras cidades empresa do pa s Processo similar s aconteceu no Nordeste brasileiro na d cada de 1930 sob a forma das Vilas Oper rias ligadas ao trabalho fabril da ind stria t xtil conforme analisaram os trabalhos de Leite Lopes 1976 e Alvim 1976 1997 A Vila Oper ria constituiu se do ponto de vista da comunidade industrial num modelo onde imperava a disciplina e a moradia higi nica A proximidade entre a casa e a empresa deixava os oper rios num estado
416. s primos at os meus irm os mesmo eles tinham vergonha de se pintar n o queriam se pintar hoje n o Hoje eles deixaram a vergonha de lado hoje eles mostram o que eles s o mesmo e n o tem vergonha de andar pintado nem nada A luta pela demarca o das terras ind genas no Tapaj s j passa de 30 anos A luta dos Munduruku de Belterra mais recente O processo de pedido de demarca o de 1995 No ano de 1999 o governo fez um levantamento do lugar para delimitar a rea mas a demarca o ainda n o foi publicada no Di rio Oficial da Uni o V rios of cios foram enviados Procuradoria do Estado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov veis IBAMA e Funda o Nacional do ndio FUNAD em Bras lia mas at o presente momento o processo em curso ainda n o foi conclu do Isto gera tens o entre essas institui es e a etnia Munduruku visto que os ind genas amea am fazer a autodemarca o de suas terras o que ali s uma proposta dos povos ind genas da regi o do Tapaj s e Arapiuns Com rela o cidade nossa jovem informante relata que os ind genas dependem dos servi os de banco e do INSS da cidade de Santar m O deslocamento da aldeia at aquela cidade demora em torno de sete horas sendo duas horas de caminhada at a localidade de Nazar para pegar o nibus at a cidade de Belterra e de l o nibus at Santar m O caminho de volta feito da mesma forma Este per
417. s sociais inclu am o uso do espa o pr ximo cidade para ca ar criar animais e se deslocar na realiza o da vida cotidiana No relato de um vereador aparecem essas situa es vividas na cidade antes da chegada dos produtores de soja Antes da chegada dos produtores antes era destinado ao plantio da seringa Todas essas reas essas quadras de Belterra s o 473 elas eram cultivado aqui a seringa n E com a extin o com a digamos assim com a fal ncia do projeto do Ford ent o passou pro Minist rio da Agricultura e a n o conseguiram segurar e a foi desativando mesmo e as pessoas foram destruindo os seringais e plantando e cultivando outras culturas n A agricultura mesmo a agricultura familiar o plantio do arroz do milho o feij o da mandioca n Ent o era essa cultura mais trabalhada aqui Inclusive ainda hoje tem alguns na Estrada 8 pelo menos voc encontra algu m que cria gado l A quest o das frutas foi importante tamb m VEREADOR DO PT Mar o 2011 209 A ideia de um novo estado no Tapaj s aparece no final do Imp rio em 1877 atravessando as d cadas seguintes do s culo XX com projetos proposi es e iniciativas do mesmo teor at que foi amortecida com a instaura o do governo militar no Brasil Entretanto com a abertura pol tica e em 1985 com a cria o no Baixo Amazonas do movimento regionalista pr cria o do estado do Tapaj s Movimento em Defesa da Cr
418. sas 8 Belterra j era distrito do munic pio de Santar m Nessa mesma d cada surge o movimento pol tico de sua emancipa o e transforma o em munic pio Negocia es envolvendo governo lideran as pol ticas da cidade e parlamentares tornaram esse sonho poss vel conforme nos relatou uma das lideran as do movimento de emancipa o Depois da reuni o em Bras lia com o Minist rio da Agricultura e de seu posicionamento pr emancipa o nos fins da d cada de 1980 o caminho a ser seguido era de mobilizar a popula o para lutar pela realiza o do plebiscito e cria o do munic pio por meio de lei estadual Comiss es de trabalho foram criadas para estudar a legisla o e mobilizar a popula o para preparar material de divulga o e articular apoio parlamentar 116 Durante a d cada de 1980 a receita de Belterra foi obtida por meio da produ o e venda das sementes de seringueira e puer ria coletadas por mulheres e crian as pela produ o de mudas de frutas tropicais laranja tangerina lim o abacate cupua u biriba guaran jambo graviola sapotilha mangust o c co e maracuj pela produ o e comercializa o do l tex e cernambi e por servi os hospitalares prestados para terceiros atrav s de conv nio com o INAMPS e FUNRURAL SANTOS 1984 117 Em 1980 foi repassada toda rea de terra de Belterra situada margem esquerda da Rodovia Santar m Cuiab num total de 240 mil hectares 118
419. ses temas em suas narrativas Selecionamos alguns poucos trechos para demonstrar as percep es e representa es dos de dentro em rela o ao contexto vivido com a chegada da soja e a um de seus principais atores os produtores de soja A popula o local apresenta os produtores de soja como os respons veis pelo desmatamento na cidade e pela mudan a do clima Ga chos e sojeiros s o os termos de nomina o destes Embora existam produtores de soja paranaenses matogrossenses 203 2 catarinenses ga cho o termo de classifica o operado pelos moradores da cidade para os de fora que produzem soja Ali s esta uma queixa de um produtor de soja que n o ga cho e se incomoda com a generaliza o do termo Diz ele que na poca da chegada regi o a rela o era de desconfian a e preconceito contra os de fora Hoje tem j uma amizade uma vis o diferente Na poca que a gente chegou aqui as pessoas tinham muito preconceito da gente que chegava n Podia chegar de qualquer regi o chegava aqui era ga cho Pode ser um cearense Sendo meio branco ga cho ga cho Ent o tinha essa distin o a Hoje mudou muita coisa Acabou aquela press o porque a pr pria popula o aqui ela tinha uma press o com o pessoal que chegava de fora Hoje j tem uma vis o diferente at onde eu sei a gente t se dando muito bem PRODUTOR DE SOJA I Mar o de 2011 Pessoas que
420. sidade elas se realizam Trata se de recorrendo s proposi es de Certeau 2008 p 174 analisar as maneiras do fazer que est o relacionadas s pr ticas socioculturais Ao faz lo podemos ver que mesmo uma pequena cidade na Amaz nia traz elementos desafiadores para os par metros classificat rios formais quantitativos e qualitativos Seguindo esta perspectiva anal tica e com base na pesquisa emp rica que realizamos apresentar os modos de vida na cidade da seguinte forma 1 o urbano constitui se por meio das atividades econ micas ligadas ao com rcio e servi os de base familiar e nos postos de trabalho ofertados pela Prefeitura que a principal empregadora municipal n o existe portanto atividade industrial Essas atividades que demonstram a din mica econ mica da cidade est o relacionadas a mini mercado locadora pizzaria sorveteria material de constru o e el trico revenda de motos bares papelaria e presentes restaurantes lanchonetes internet duas pequenas pousadas farm cia posto de gasolina transporte nibus van e moto t xi a ougue barbearia banca de revista loja de miudezas em geral venda de artesanato jogos eletr nicos posto de venda de passagens para Santar m consult rio m dico com ultrassonografia e endoscopia servi o dos Correios conserto de bicicleta venda de produtos agr colas e uma auto escola licenciada pelo Departamento Nacional de Tr nsito DETRAN e ainda em fase de ins
421. sociadas s belezas naturais do lugar como as praias e a floresta e ao jogo de futebol nos fins de semana No entanto reclama se da falta de oportunidades de trabalho e da pouca circula o de dinheiro na cidade embora reconhe am que h mudan as significativas para melhor nessa rea Viver em Belterra um para so n o tem viol ncia n o tem preocupa o com roubo N o troco Belterra por outra cidade Aos finais de semana vamos praia tomar banho e comer churrasco de carne e peixe com os amigos A melhoria do asfaltamento foi uma grande vit ria No ver o era poeira e no inverno lama Quando a gente ia para Santar m o carro ficava atolado Agora n o o com rcio est melhorando S falta entrar e sair mais recursos aqui n o tem banco O pessoal recebe e gasta em Santar m devido ter mais com rcio e ser mais barato A gente recebe em Santar m e j faz as compras por l Em Santar m tem camar o jamb z per supermercado Em Belterra n o tem um com rcio que tenha de tudo sempre falta alguma coisa L tudo mais f cil cerca de 80 da popula o de Belterra compra em Santar m A feira do produtor aqui nunca d certo tem gente que vai daqui para o mercad o 2000 Santar m para vender os seus produtos Agora com o micro nibus a viagem ficou mais r pida Aqui em Belterra tem condi es de receber v rias ind strias Porque tudo que tem neste lugar d muito cosm tico perfume sabonete rem
422. spet culos A distribui o das tarefas por dia semana e m s medida e controlada pelo rel gio de pulso ou de ponto pelo calend rio pela frequ ncia da caderneta escolar ou pelas anota es da produtividade profissional nas visitas ao m dico e a periodicidade das vacinas etc Para o lugar estudado o uso do tempo estava associado sobretudo ao trabalho Ao apito da sirene para acordar e se posicionar diante dos seringais ao intervalo do almo o e ao hor rio do fim do expediente presen a controlada por um apontador que anotava diariamente o n mero do trabalhador inscrito numa placa de metal que este carregava no peito durante a jornada de trabalho e produtividade do dia previamente determinada de cujo resultado dependeria a sua continua o ou n o na empresa Enfim argumentamos que n o podemos separar tempo e espa o pois estes s o imprescind veis para o entendimento da vida social respeitando claro o contexto espec fico dessa rela o Dito isto podemos aferir com base em Elias que tempo uma representa o mental que possu mos das sequ ncias temporais adquiridas por meio da socializa o institucional ou familiar e por mecanismos de coer o e controle 68 Estas defini es s o importantes pois as media es que se estabelecem entre os diferentes grupos sociais e destes com a natureza se d o em bases desiguais conforme poderemos observar nas an lises seguintes 2 3 A experi ncia da CFI
423. sse da terra onde vivem as popula es tradicionais ind genas quilombolas quebradeiras de coco baba u ribeirinhos seringueiros castanheiros comunidades de fundo de pasto faxinais geraizeiros e outras categorias sociais e agricultores familiares 3 criar um estoque estrat gico de terras para os empreendimentos econ micos ligados soja cana de a car eucalipto pinus mamona leos vegetais e explora o mineral ferro estanho cobre ouro ni bio bauxita caulim 4 destinar dinheiro p blico para subsidiar as proposi es desse segmento do capital Tudo isso sob a coordena o da Confedera o Nacional da Agricultura CNA e demais entidades patronais e seus aliados no interior do Estado no Legislativo Executivo e Judici rio diz o autor Dessa forma a agroestrat gia pressup e outra a o fundamental a desterritorializa o das popula es tradicionais e dos agricultores familiares como forma e ou negocia es em curso do movimento sindical com governos nas quais o mesmo reivindica acesso ao cr dito regulariza o da terra assessoria t cnica financiamento para compra de m quinas e equipamentos dentre outras quest es 147 EE E e ee Foram aplicados cerca de 800 question rios nos munic pios de Belterra e Santar m na rea urbana e rural entre jovens e idosos 48 Como apresentamos anteriormente mesmo que de forma incipiente observa se dois pontos de vistas disciplinares sobre o ter
424. ssibilitando assim o estabelecimento de v nculos e intera es de reas descont nuas SPOSITO 2009 p 20 Em pequenas cidades e nas reas rurais da Amaz nia a internet j uma realidade por conta do Projeto de Inclus o Digital do governo federal Do mesmo modo que as antenas parab licas despontam por entre rios e florestas da regi o Assim h uma difus o dos valores societ rios RIBEIRO 2006 que n o alcan am e se difundem somente nas cidades embora esta seja o l cus privilegiado da a o Produz se ent o o hibrido na experi ncia urbana aqui representada pelas cidades de Bai o Camet e Mocajuba no Baixo Tocantins no estado do Par onde a pi arra e o rio o peixe e o enlatado o brega e o samba de cacete o carro e o barco a antena parab lica e a igreja o ind gena e o homem branco coexistem simultaneamente Enfim s o cidades h bridas de objetos rela es e significados MALHEIRO TRINDADE JR 2009 p 82 Ao de referir ao hibridismo Canclini 2011 fala das misturas interculturais de um mundo fluidamente interconectado que reestrutura processos historicamente est veis como etnias na es classes sociais que a seu ver s o reconvertidos e inseridos em novas condi es de mercado e produ o 2 Diz ele entendo por hibrida o processos socioculturais nos quais as estruturas ou pr ticas discretas se combinam para gerar novas estruturas objetos e pr tica trata se de
425. ssos modernos encontrados na planta o bem como a qualidade do sistema de saneamento e o esfor o de estrangeiros e brasileiros para assegurar o sucesso do projeto e engrandecer o Brasil Todos os presentes de p cantaram o hino nacional brasileiro Prosseguindo a programa o o presidente ainda se reuniu com lideran as pol ticas de Santar m e se comprometeu em atender as demandas apresentadas do prefeito daquela cidade Os eventos foram devidamente documentados e as imagens abaixo apresentam alguns desses momentos como a chegada na praia do Pindobal figura 37 a reuni o com lideran as pol ticas figura 38 e o banquete no Club House com dirigentes da CFIB figura 39 110 mall Brazilian wid coustry s fng sekumes Vargas to Belterra and Herry Ford s rubter evelopeent Vargas stamde betwren hi roller and Poed a Manager Harry Braonsteia Figuras 37 e 38 Visita de Vargas Belterra Fonte Revista Life n 9 dez 1940 Dispon vel em 1 Acesso em 06 ago 2010 Figura 39 Banquete no Club House Fonte Biblioteca de Washington Dispon vel em lt htt vW Acesso em 17 ago 2010 111 De acordo com Secreto 2007 a Marcha para o Oeste como se denominou a pol tica varguista de povoamento orientava o programa de coloniza o para ocupar a Amaz nia de migrantes principalmente nordestinos fugidos da seca Os acordos assinados entre Brasil e Estados Unidos durante a II Guerra Mundial em 1942 tanto p
426. st registrada a visita de inspe o do gerente geral da CFIB Sr Archibald Johnston esquerda T Ia ir Figura 26 Viveiro das mudas de seringueiras Belterra 1935 Fonte Biblioteca de Washington Dispon vel em lt http www lib washington edu gt Acesso em 17 ago 2010 No centro comercial na estrada 1 pr ximo Vila Oper ria se localizava o bar do italiano figura 27 a sapataria figura 28 e a padaria do portugu s a barbearia do barbadiano e a alfaiataria do sul africano e em frente o a ougue Nessa esquina Vila Oper ria com a estrada 1 ficava uma tela para a exibi o de filmes Isso acontecia algumas noites da semana para os trabalhadores Figura 27 Bar do italiano Foto Pereira J C M 2011 96 Figura 28 Sapataria em Belterra 1933 Fonte Biblioteca de Washington Dispon vel em lt http wwwlib washington edu gt Acesso em 17 ago 2010 Nessas imedia es ficava a caixa d gua que abastecia as resid ncias A outra foi constru da na estrada 7 figura 29 e ao lado dela funcionava o dep sito de ferramentas e o ambulat rio para atendimento m dico Figura 29 Caixa d gua e dep sito de ferramentas da estrada 7 Foto Arquivo pessoal de Osvaldo Teixeira G es 1939 97 A concess o da empresa para que terceiros pudessem prestar servi os no interior da cidade era rigidamente controlada por ela Isso se refere qualidade do produto e ao pre o pratica
427. st o a ser observada que o olhar desse segmento se volta para as terras que ainda est o protegidas por algum tipo de legisla o ou para aquelas que ainda n o foram incorporadas ao mercado de terra da soja conforme podemos aferir pelos discursos abaixo S o 2 milh es e 700 mil hectares nos munic pios Santar m e Belterra Considerando que esses dois munic pios t m levantado pelo Zoneamento Econ mico Ecol gico o ltimo zoneamento que foi feito o segundo ali s detectado nos dois n s temos mais ou menos uns 500 mil hectares de rea antropisada Destes 500 mil utilizados mesmo n s temos pra agricultura a se der uns 70 mil entre soja milho arroz Ent o n s usamos muito pouco do nosso espa o aqui ainda e sem necessitar por exemplo adentrar as reas de floresta virgem e esse tipo de coisa Hoje a atividade de soja usa juntando os dois munic pios em torno de 1 2 da rea PRODUTOR DE SOJA I Mar o 2011 Hoje j foi feito um levantamento Santar m e Belterra t m 3 milh es e 100 mil hectares se a lei permite 20 isso daria direito de 1 milh o de hectares j daria direito de 200 mil hectares De 3 milh es j daria direito 600 mil hectares Est o sendo cultivados hoje 20 mil hectares A produ o de soja hoje est sendo em torno de 1 milh o de sacas 1 milh o de sacas s o 20 mil hectares 20 mil hectares l no Mato Grosso s vezes um produtor s PRODUTOR DE SOJA II Mar o 2011 Para sit
428. stravam desconhecimento sobre clima solo rios cultivo de seringueiras e sobre a vida social na regi o Eles tinham uma vis o simplista da t cnica e desprezo pelo conhecimento cient fico Eram pr ticos que faziam antes e planejavam depois e queriam repetir na floresta os mesmos procedimentos usados na linha de produ o de uma f brica A Companhia concluiu ent o que as planta es em Fordl ndia n o davam retorno econ mico E mesmo tendo investido US 7 milh es de d lares e seis anos de trabalho depois de consultar especialistas sobre o assunto optou em 1934 pelo deslocamento para Belterra onde desenvolveria a nova planta o e construiria uma nova cidade GRANDIN 2010 Data de 04 05 1934 a assinatura do termo de permuta que concedeu novas terras para serem exploradas pela CFIB com a extens o de 281 500ha duzentos e oitenta e um mil e quinhentos hectares denominada de Belterra conforme termo aditivo assinado entre o governo do estado representado no ato pela Diretoria Geral de Obras P blicas Terras e Via o e a CFIB por interm dio de seu Diretor Gerente Archibald Johnston J em 1941 Fordl ndia praticamente servia de campo experimental de pesquisa e laborat rio da Companhia Naquele ano foram condenados 3 425 95 hectares Resultado este que contrariava as expectativas da CFIB visto que nos planos iniciais previa se a produ o de 1 200 a 1 400 quilos de l tex por hectare plantado RUSSELL 1942
429. studos Hist ricos v 8 n 16 p 227 234 1995 Observando o familiar In NUNES E O Org A aventura sociol gica Rio de Janeiro Zahar 1976 p 36 46 VELHO Ot vio G O fen meno urbano Rio de Janeiro Zahar 1967 VIANNA Luiz Werneck Liberalismo e sindicato no Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 VICENTINI Y Cidade e hist ria na Amaz nia Curitiba EDUFPR 2004 Hist ria e cidade na Amaz nia brasileira a utopia urbana de Ford 1930 In RIBEIRO L C Q PECHMAN R Org Cidade povo e na o Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1996 p 411 447 VILLA A Fl vio Espa o intra urbano no Brasil S o Paulo Nobel FADESP Lincols Institute 2001 WANDERLEY Maria de Nazareth Baudel A ruralidade no Brasil moderno por um pacto social pelo desenvolvimento rural In Una nueva ruralidad en America Latina CLACSO 2001 Dispon vel em lt http bibliotecavirtual clacso org ar ar libros rural wanderley pdf gt Acesso em 18 jun 2011 WEBER Max Conceito e categoria da cidade 1921 In VELHO O G Org O fen meno urbano Rio de Janeiro Guanabara 1967 p 73 96 250 WIENSTEIN Barbara Modernidade tropical vis es norte americanas da Amaz nia nas v speras da Guerra Fria Revista do IEB n 45 p 153 176 2007 WIRTH Louis O urbanismo como modo de vida 1938 In VELHO O G Org O fen meno urbano Rio de Janeiro Guanabara 1967 p 97 122 YIN Robert K
430. sumo Esta ltima cria o nexo entre os lugares separados e assegura o funcionamento global da sociedade e da economia As verticalidades dizem respeito aos pontos no espa o Que separados uns dos outros asseguram o funcionamento da sociedade e da economia d o sobretudo conta dos outros momentos da produ o circula o distribui o e consumo sendo ve culo de coopera o mais ampla tanto econ mica e politicamente como geograficamente para este caso a solidariedade obtida atrav s da circula o do interc mbio e do controle por meio das rela es interurbanas SANTOS 2006 p 284 Segundo Santos 1992 p 98 a mecaniza o do planeta criada pela racionalidade mercantil sob comando e em benef cio das firmas estados e classes hegem nicas Assim a natureza instrumentalizada domesticada e apresentada como sobrenatural Com a economia mundializada cada lugar o ponto de encontro de l gicas que trabalham em diferentes escalas mas operam sob a mesma racionalidade na busca da efic cia e do lucro no uso das tecnologias do capital e do trabalho Por isso argumentamos ser poss vel por meio da an lise dos modos de vida existentes na cidade de Belterra identificar como a inser o do lugar sob a l gica do capital da economia mundializada imp e novas formas de uso e apropria o da natureza ao mesmo tempo em desarranja ou desestrutura os modos de vida preexistentes ao recr
431. t o contidos na cidade bem como a presen a ind gena em sua forma embrion ria apresentando os como fluxos socioculturais do lugar A cidade de Belterra se apresenta como o lugar do poder local do com rcio e servi os de base familiar e dos postos de trabalho ofertados pela Prefeitura mas a pr tica agr cola 18 vis vel por meio da planta o de mandioca arroz feij o e milho do cultivo de legumes e verduras e pela cria o de abelhas sem ferr o porco e galinha Tamb m destacamos como os moradores da cidade se relacionam com o rural pr ximo por meio de deslocamentos sistem ticos em busca de mat ria prima para o trabalho artesanal ou de visitas aldeia por exemplo Dessa forma podemos observar como a popula o translocal SAHLINS 1997 pode habitar simultaneamente esses espa os sem abrir m o de sua identidade sociocultural Por fim destacamos outros aspectos do calend rio da vida do lugar como por exemplo ir praia ao culto jogar futebol e as rela es de sociabilidade que n o se fazem com base no medo No capitulo V tratamos dos conflitos socioambientais na cidade ACSELRAD 2004 examinando como os de fora e os de dentro ELIAS SCOTSON 2000 racionalizam a vida e o uso do espa o as suas t cnicas de trabalho e o que pensam uns sobre os outros diante dos conflitos da soja que expropriou fam lias de agricultores e moradores da cidade dando outros usos ao territ rio Observamos cont
432. ta em curso no pa s e direcionado para l naquele per odo Em seguida apresentamos os condicionantes que possibilitaram o deslocamento do capital americano para a regi o do Tapaj s primeiramente em Fordl ndia 1928 e depois para Belterra 1934 identificando como as alian as entre o governo federal oligarquias da Amaz nia e o capital internacional por meio de atos pol ticos e normativos tornaram esse 17 empreendimento poss vel A presen a de Get lio Vargas em Belterra exemplifica e refor a o modelo urbano industrial como paradigma do desenvolvimento do pa s A doa o de terras a migra o de m o de obra de dentro e fora da regi o e de outros pa ses a isen o de taxas e impostos criaram um cen rio favor vel para a instala o da cidade empresa da Companhia Ford Industrial do Brasil CFIB e a decorrente re socializa o de migrantes na cidade seu disciplinamento e a organiza o em bases assalariadas foram aspectos considerados Apresentamos os modos de vida na cidade o tempo do trabalho e as formas de sociabilidade da evita o por parte dos americanos a hierarquia sociofuncional e residencial e a disposi o dos objetos e das rela es segundo a sua funcionalidade sob a tica do sistema fordista de produ o como fim e meio para criar o novo tipo humano necess rio ao trabalho industrial sem o intramuros da f brica Por fim falamos do fracasso do projeto do repasse ao governo brasileiro e do
433. tada por popula es cujo contato com brancos colonizadores portugueses remete ao s culo XVII podendo tamb m estar associado ao discurso do vazio demogr fico como j vimos anteriormente com base na fala do desenvolvimento 47 Conforme constou no contrato assinado entre o governo do estado do Par e a CFIB datado de 21 07 1927 e ratificado pela lei n 2 292 de 03 10 1927 aprovada pela Assembl ia Legislativa do estado 48 Sob o t tulo A concess o escandalosa o senador Sousa Castro articula vehementemente replica pela Gazeta de Noticias nota official ao dr Samuel Mac Dowell um vibrante editorial da Gazeta sobre o caso O ESTADO DO PAR 15 05 1928 p 1 Notar que este editorial se insere em um conjunto de outras not cias do per odo como A concess o Ford a restaura o do regimen das capitanias O ESTADO DO PAR 23 05 1928 p 1 4 O Jornal O Estado do Par em mat ria intitulada Nas terras do Sr Ford noticiou que 400 trabalhadores abandonaram os servi os da Companhia por conta dos baixos sal rios e da p ssima qualidade da alimenta o servida a eles Muitos foram detidos pela pol cia de Santar m que os aconselhava a voltarem para as planta es em Fordl ndia mas muitos j haviam se dirigido capital Bel m O ESTADO DO PAR 28 11 1928 p 1 Com a chegada desses trabalhadores confirma se as noticias de explora o que est o soffrendo os nossos patr cios
434. tala o o Instituto de Pesquisa do Butant SP o primeiro campo experimental da Amaz nia A delegacia de 183 Santos 2008 p 66 tamb m diz que o urbano frequentemente o abstrato o geral o externo A cidade o particular o concreto o interno N o h o que confundir Por isso na realidade h hist rias do urbano e hist rias da cidade 169 pol cia o cart rio civil e o escrit rio da Rede Celpa que fornece energia el trica para o munic pio est o ali localizados tamb m Em Belterra n o h bancos e as transa es banc rias bem como o recebimento de aposentadorias benef cios e sal rios s o feitas na cidade de Santar m a 50 km de dist ncia Para outras modalidades de pagamento existe um centro lot rico que presta alguns servi os da Caixa Econ mica Federal e o posto dos Correios S no ano de 2009 foi instalado o nico de servi o de telefonia celular do munic pio que atende a cidade e as reas pr ximas Os pequenos com rcios de base familiar representam uma parte importante da economia do lugar pois abastecem as atividades demandantes de determinados tipos de servi os e produtos Os pequenos com rcios eles se localizam na rea central mas tamb m temos pequenos com rcios na estrada 8 na 129 e na estrada 10 e no trevo T Nesses pequenos com rcios n s temos mercearias t Que comercializam uma diversidade de produtos de consumo temos as pequenas padarias ramo de panifica o
435. te das experi ncias de vida e de seus relatos Outra estrat gia usada foi participar de eventos acad micos nacionais e internacionais tendo por objetivo acompanhar as formula es dos trabalhos dos Grupos de Trabalho GT s afins com o objetivo de identificar as quest es de que tratavam a forma de argumenta o e a estrutura conceitual usada por seus autores bem como apresentar o que est vamos formulando Com este ato fomos obrigados a elaborar artigos para participar dos eventos e 27 esses produtos foram sendo adensados sistematicamente por conta desses movimentos e incorporados tese Diz Bourdieu que A constru o do objeto um trabalho de grande f lego que se realiza pouco a pouco por retoques sucessivos de emendas sugeridos por o que se chama o of cio quer dizer esse conjunto de princ pios pr ticos que orientam as op es ao mesmo tempo min sculas e decisivas BOURDIEU 2001 p 27 Al m das quest es apresentadas usamos as disciplinas do doutorado para compor parte da teoria de base da tese e estabelecemos interlocu o com pesquisadores do Rio de Janeiro e da Amaz nia que tratavam de quest es afins Tamb m nos detivemos por v rios meses sobre as cr ticas contribui es e caminhos te rico metodol gicos apresentados pela banca examinadora da qualifica o M rcia Leite PPCIS UERJ orientadora Rosilene Alvim IFCS UFRJ Rosane Prado PPCIS UERJ e Ana Clara Torres Ribeiro IPPUR UFR
436. tempo e do corpo amp pois segundo a divis o social do trabalho na cidade que se dar as rela es capitalistas de produ o Costa 1993 que desenvolveu detalhada an lise dos documentos internos da Companhia identificou dois movimentos estrat gicos por ela desenvolvidos Primeiro expropriou a terra das fam lias que moravam dentro da rea da concess o da Ford por meio do pedido junto ao governo paraense para que este efetivasse a indeniza o e efetuasse a retirada das fam lias Segundo como resultado do primeiro visava transform los em trabalhadores assalariados subordinados empresa Sabendo que s expropri los da terra n o era suficiente para transform los em assalariados Johnston diretor geral da empresa negociou com seus dirigentes nos Estados Unidos para implantar outras formas de usos da terra criando obriga es e deveres para os agricultores que fossem favor veis Companhia para que tanto trabalhassem na limpeza e manuten o dos seringais quanto se comprometessem a produzir alimentos que seriam comprados por ela Para viabilizar a produ o foi necess rio construir uma cidade na floresta nos moldes das cidades empresa j experimentadas nos Estados Unidos Na Amaz nia surgia uma cidade com estradas que margeavam as quadras de seringueiras casas residenciais para o respectivo quadro funcional abastecimento de gua e energia el trica venda de produtos de primeira necessidade hospital e escolas
437. tencia chefia administra o porque o americano trazia dos Estados Unidos as bicicletas pra eles andar aqui o ve culo era as bicicletas Ent o s quem tinha bicicletas aqui eram os chefes Assim mesmo eles s podiam usar na hora do servi o quando terminava eles tinham que deixar ali dentro do cercado a bicicleta ERASMO Outubro 2009 COMPANHIA FORD INDUSTRIAL DO BRASIL Figura 17 Gerente geral da Companhia entre 1931 1945 Fonte Dispon vel em lt http www flickr com photos thehenryford with gt Acesso em 24 set 2010 O senhor Erasmo relata que as principais atividades de lazer dos americanos eram o golfe jogado todo o dia de domingo na pra a central da cidade as festas no Club House figura 18 para ouvir m sica e beber u sque e o jogo de sinuca num bar de propriedade de um italiano de nome Sim o Gonzalez que teve autoriza o da empresa para numa das casas desenvolver essa atividade na cidade Para os padr es mais exigentes da vestimenta norte americana tinha um alfaiate de origem sul africana que fazia os palet s cal as e outros acess rios Essas atividades eram restritas ao staff americano assistidas de longe pelo conjunto de trabalhadores da Companhia No m ximo os jovens podiam no caso do golfe carregar as sacolas contendo tacos e bolas pelo qual recebiam o valor de cinco mil r is no final das partidas como remunera o pelo trabalho realizado No domingo por volta das oito horas da
438. terra para o ocupante que a explora Propunha se a assist ncia educativa para o trabalhador e seus descendentes atrav s de instala o de universidades e escolas agr colas Com rela o Belterra e Fordl ndia tratava se de eliminar todos os impedimentos antiecon micos Se necess rio transferir o Instituto Agron mico do Norte de Bel m para Belterra e contratar mais bra os na perspectiva de transform las na maior e a mais completa escola de agricultura tropical do mundo MINIST RIO DA IND STRIA E DO COM RCIO 1946 Esses problemas de dif cil solu o permaneceram ainda vigentes fazendo com que o jurista S lvio Meira se expressasse veemente sobre Belterra e Fordl ndia na III Confer ncia Nacional da Borracha no ano de 1949 S o homens que vem servindo quela regi o desde os tempos dos americanos dedicando o melhor de seus dias ao progresso de um trecho de nossa p tria que era floresta e passou a ser civiliza o S o verdadeiros pioneiros a servi o da p tria sem garantias legais necess rias n o deve ser permitido a divis o ou o loteamento de Belterra seus 3 000 seringueiros n o devem ser retalhados ou entregues particulares a sede j possui servi os de gua ilumina o el trica habita es escolas creches hospital em suma todos os elementos b sicos indispens veis organiza o de um grande centro civilizado grifo nosso MEIRA 1949 p 11 Duas propostas f
439. territorializa o e territorialidade conforme apresentamos acima Nossa proposi o tem por objetivo nos afastar das vis es rom nticas e ecoc ntricas que rondam algumas formula es sobre a Amaz nia que valorizam a natureza natural e subtraem o humano que l vive e colocar em destaque na an lise os grupos sociais e pol ticos em disputa buscando identificar a for a de cada um as escalas em que atuam e as alian as que estabelecem Ao mesmo tempo buscamos n o apartar sociedade natureza urbano rural cidade aldeia mas relacion las com as pr ticas desses grupos procurando identificar com clareza principalmente as pr ticas predat rias e a intensidade de sua interven o Isto porque elas expressam do ponto de vista pr tico os modos de vida diferenciados que se enfrentam sobrep em e ou convivem desconfiadamente nos espa os onde a vida social se realiza 3 2 A chegada da soja no contexto da fala do desenvolvimento Data do final da d cada de 1990 a chegada da soja no Oeste do Par na rea de influ ncia da Rodovia BR 163 mais especificamente nos munic pios de Belterra e Santar m que em poucos anos se transformaram nos maiores produtores de soja do estado O deslocamento do plantio da soja para esta regi o do pa s foi programado resultando de um conjunto de estrat gias organizadas pela articula o entre o Estado e o grande capital Uma a o planejada e seletiva que teve apoio pol tico em divers
440. ticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma m quina Atrav s da presen a desses objetos t cnicos hidrel tricas f bricas fazendas modernas portos estradas de rodagem estradas de ferro cidades o espa o marcado por esses acr scimos que lhe d o um conte do extremamente t cnico a partir da a o intencional do homem SANTOS 2006 p 63 64 a natureza do espa o analisada por Santos 2006 cuja transforma o est associada historicidade da a o humana seja ela passada ou presente Dessa forma a natureza natural acrescida dos objetos humanos as formas que expressam por sua vez os conte dos sociais da poca sob a racionalidade econ mica do lucro por meio da divis o do trabalho Em lugar da floresta a cidade empresa Ao inv s de uma rela o equilibrada com a natureza os desmatamentos e queimadas para limpar o lugar onde cresceriam os seringais O mesmo fato se refere aos trabalhadores livres que s o convertidos em trabalhadores assalariados com base no contrato de trabalho no disciplinamento e no controle ao serem expropriados de suas terras Assim a mercantiliza o da vida e da natureza preside a a o fordista do grande capital na regi o do Tapaj s confirmando a premissa de Santos Em sua an lise sobre o Fordismo Harvey chama aten o sobre O que havia de especial em Ford e que em ltima an lise distingue o fordismo do taylorismo era a sua vis o s
441. to Corregedoria de Pol cia na cidade Bel m capital do estado do Par Outra situa o envolveu um empres rio acompanhado de pistoleiro que foi amea la dentro do sindicato Amea a cujo teor indicava consequ ncias graves caso continuasse fazendo as den ncias p blicas Por duas vezes estiveram em sua casa e rondavam as comunidades onde ela desenvolvia as atividades sindicais para mat la com recipientes contendo gasolina que eram usados para intimidar os presentes durante o ato e diziam se ela aparecer aqui hoje s volta as cinzas Sua fuga se tornou poss vel porque esta foi avisada a tempo que eles estavam por l Nas reas mais tensas relata a l der sindical as amea as tinham a mesma for a de intimida o se criar assentamento aqui tem que mandar construir tamb m uma f brica de caix o Ela conta que cerca de 100 pessoas j receberam amea as por parte de madeireiros policiais e empres rios Por v rias vezes foi intimada a comparecer junto ao juiz por conta do processo movido por fazendeiros e empres rios diante da a o pol tica de resist ncia desenvolvida pelo sindicato 2005 2006 e 2007 Esse per odo todo vivi sob transtorno recebendo recado aqui mesmo dentro do sindicato teve vezes que vieram empres rios com seus pistoleiros me fazer amea a um veio junto com o pistoleiro Inclusive um ficou com a camisa aberta para e mim olhar que ele estava armado e eles tipo assim no pr
442. tora observa se a centralidade da metr pole nas din micas nacional e regional e seu lugar nos circuitos globalizados da economia Diz Lencioni 2006 p 45 que a origem da palavra metr pole vem do grego e significa cidade m e se comparada com as col nias a ela relacionadas No entanto observa que ao se falar de metropoliza o est se falando do espa o e n o da cidade Dessa forma metropoliza o expressa o processo socioespacial cuja caracter stica transforma as cidades em metr poles alta densidade fluxos imateriais rela es com outras metr poles denominadas de cidades globais Trata se de desenvolver as condi es metropolitanas que s o imprescind veis para a reprodu o do capital subvertendo toda a l gica urbana herdada e negando a cidade esse o movimento que suplanta a cidade que nega a vida urbana e aprisiona nos condom nios Esse termo nos parece apropriado visto que Santos tem usado demarcadores de tempo para demonstrar per odos distintos da vida urbana nacional Esse autor apresenta para o Brasil urbano a urbaniza o aglomerada como resultado da explos o demogr fica a partir dos anos de 1950 com o crescimento populacional dos n cleos urbanos com mais de 20 mil habitantes a partir dos anos de 1970 a urbaniza o concentrada por meio da multiplica o dos n cleos urbanos principalmente das cidades intermedi rias e enfim em per odo mais recente o processo d
443. tos que foram documentados acerca do ide rio de cidade e de munic pio aquelas relacionadas ao ordenamento territorial s pol ticas setoriais e rela o do governo municipal com os moradores e as organiza es representativas da popula o do campo e da cidade Essas expectativas est o relacionadas ao que esperam em termos de servi os equipamentos benef cios e melhorias no munic pio Os gestores municipais aqui tomados como refer ncia s o secret rios e t cnicos da Prefeitura As lideran as populares s o coordenadores e integrantes dos movimentos de mulheres e ind genas jovens e sindicalistas urbanos e rurais associa o de moradores cooperativas e conselhos municipais por exemplo GESTORES MUNICIPAIS LIDERAN AS POPULARES Polo cultural e pesquisa ecoturismo e produtos agro florestais N o tenha nenhum propriet rio com mais de 2 mil hectares de terra Planejada organizada com reas verdes conservadas Com ordenamento de desenvolvimento espec fico para cada p lo Centro BR 163 e Tapaj s Sem poeira e lama com um povo saud vel educado e feliz Um grande centro industrial agr cola e tur stico da regi o Uma cidade planejada que seja refer ncia nos modelos educacional e s cio ambiental Uma cidade com alto ndice de desenvolvimento humano refer ncia extrativista Preserva o do patrim nio hist rico e cultural
444. truturantes da an lise para pens la na divis o internacional do trabalho e a partir do papel que cumpre no processo de acumula o do capital Em O processo civilizador Norbert Elias discutindo o uso corrente dos conceitos de cultura kultur e civiliza o nas sociedades alem e francesa observa que os mesmos Lan aram ra zes Estabeleceram se O indiv duo encontra essa cristaliza o j em suas possibilidades de uso Usa essas palavras porque lhe parece uma coisa natural porque desde a inf ncia aprende a ver o mundo atrav s da lente desses conceitos 1994 p 26 Segundo Elias o processo civilizador foi capaz de realizar profundas mudan as nas condutas e nos h bitos humanos mais simples da vida cotidiana como o sentar o sentir o ir mesa e o comportar se j ningu m chega civilizado ao mundo Sua realiza o pressup s uma constru o social permanente que se deu com base no medo na coer o e no monop lio da viol ncia f sica e seus instrumentos pelos detentores do poder Diz o autor que O conceito de civiliza o refere se a uma grande variedade de fatos ao n vel da tecnologia ao tipo de maneiras ao desenvolvimento dos conhecimentos cient ficos s id ias religiosas e aos costumes Pode se referir ao tipo de habita es ou maneira como homem e mulheres vivem juntos forma de puni o determinada pelo sistema judici rio ou ao modo como s o preparados os ali
445. tuto de Meteorologia acerca da periodicidade e intensidade das chuvas Diante de todo esse aparato poss vel pensar o per odo da planta o preferencial de cada cultura A geralmente prefere plantar no in cio um milho um arroz porque na poca de florada dele ele vai t pegando bastante chuva Ele exige bastante gua O milho e o arroz exigem bastante gua E diferente da soja e do feij o Feij o mesmo ele exige muito pouco chuva Ent o a gente faz essa rota o a Plantando arroz que uma gram nea ou o milho de princ pio no primeiro ciclo de cultura voc tem um espa o depois pra plantar o feij o que a chuva j est diminuindo voc vai plantar o feij o e vai t colhendo esse feij o j numa estiagem boa Esse feij o ele vai t sequinho ele vai t com uma qualidade totalmente superior PRODUTOR DE SOJA I Mar o 2011 O maquin rio usado s o tratores tra ados tratores comuns pulverizadores plantadeiras para soja milho ou feij o plantadeiras de arroz niveladoras aplicadores de cobertura e m quinas de colher e de limpeza de gr os Alguns produtores t m secadores e armaz ns para guardar seus produtos J as sementes s o compradas nos estados do Maranh o Goi s e Mato Grosso 202 O tamanho da rea total da fam lia de 1 350 hectares mas relata trabalhar em apenas 500 hectares 195 Nas figuras de 74 a 77 apresentamos como exemplo as sacas com semente o trator usado na lavo
446. ua es dessa magnitude as mensagens das campanhas educativas que postulam a convers o individual por meio da tomada da consci ncia ecol gica pouco ajudariam conforme prop e Acselrad 2004 ao analisar os conflitos socioambientais O homem predador neste contexto pertence a uma classe social abastada disp e de capital para bancar o empreendimento de apoio pol tico e institucional de tecnologia de ponta e da certeza da impunidade diante das fragilidades governamentais em rela o fiscaliza o e ao fazer cumprir a lei embora em seu discurso afirme seguir a lei e se revele injusti ado e perseguido pelos rg os estatais ligados ao meio ambiente A imagem do sat lite Quickbird disponibilizada pelo Sistema de Prote o da Amaz nia SIPAM nos d a dimens o do impacto dessa atividade econ mica na cidade de Belterra e seu entorno figura 78 Nela podemos observar as reas desmatadas pelos produtores de soja 202 Zu J Figura 78 Imagem de sat lite da cidade de Belterra 2004 Fonte Servi o de Prote o da Amaz nia SIPAM Depois de apresentar o que pensam os produtores de soja sobre o lugar e sua gente agora faremos o caminho inverso traremos o que as pessoas do lugar pensam sobre os rec m chegados regi o 5 3 O que pensam os de dentro sobre os de fora Nesta se o analisamos v rias entrevistas dos moradores do lugar com o objetivo de identificar suas percep es sobre es
447. ua explica o mas tamb m na sua capacidade de observa o e sistematiza o Tais constata es levam o autor afirmar que as esp cies s o conhecidas n o porque s o teis elas s o consideradas teis ou interessantes porque primeiro s o conhecidas J o processo para obten o de cobre fundido da cer mica tecelagem agricultura e cria o de animais por exemplo em algumas sociedades ind genas sup e s culos de observa o ativa e met dica hip teses ousadas e controladas a fim de rejeit las ou confirm las atrav s de experi ncias incansavelmente repetidas a ci ncia do concreto conforme analisa o autor O mesmo pode ser pensado para o caso estudado uma vez que a produ o dos sentidos pelos de fora sobre os de dentro e seus efeitos em sua auto representa o e auto estima se constroem atrav s do acionamento da fala do desenvolvimento Assim os modos de vida na cidade de Belterra e as rela es de sociabilidade se reproduzem tomando por base a premissa do civilizado como veremos a seguir para o primeiro per odo entre 1934 1945 2 2 A chegada do capital americano na Amaz nia O interesse do capital americano na regi o do Tapaj s no final da d cada de 1920 envolveu quest es econ micas e pol ticas de m ltiplas determina es e diversas escalas de articula o entre o capital internacional governo brasileiro e as oligarquias da Amaz nia A economia americana
448. ua opera o ajudavam a constituir SANTOS 2006 p 235 236 Naquele lugar como indicam os relatos sobre o modo de vida preexistente a atividade humana n o era predat ria e o dinheiro pouco circulava A apari o deste atrav s do sal rio constituiu um forte atrativo que associado possibilidade de melhoria nas condi es de vida material serviu como elemento motivador para que aquela popula o aceitasse se deslocar para trabalhar na Companhia Este deslocamento significou abrir m o de seu modo de vida e de sua rela o com a natureza em bases n o monet rias cuja orienta o se dava mais pelo valor de uso e menos pelo valor de troca E sobretudo significou uma reestrutura o da vida social A re socializa o dessa popula o na cidade deu se atrav s do treinamento da disciplina do controle e da produ o por meio de sua submiss o s novas formas de trabalho ent o institu das assalariamento hor rios estabelecidos tarefas pr determinadas e produtividade aferida e controlada diariamente sob a forma de um contrato de trabalho que regulamentava o conte do dos atos sociais dessas rela es Estava em curso a constru o do novo tipo humano exigido pela racionalidade econ mica uma vez que adequado s novas formas de trabalho e produ o Este perfil foi estabelecido em Belterra atrav s da combina o dos mecanismos de coa o e consentimento conforme analisou Gramsci 1988 em seu estudo sobre o fordis
449. udo que os sentidos produzidos v m de ambos os lados e apresentam os projetos de desenvolvimento que cada campo de poder representa bem como revela o papel que cumpre a Amaz nia e especialmente o lugar na divis o territorial e internacional do trabalho no processo de acumula o do capital como sentido e pr tica social No cap tulo VI exploramos o conceito sociol gico de cidade e o aproximamos da cidade praticada CERTEAU 2008 de forma a estabelecer o nexo entre a cidade do pensamento e cidade incompleta LEFEBVRE 1969 e discutir como o percurso emp rico TELLES 2006 pode revelar quest es n o consideradas pela teoria bem como a possibilidade da totalidade mundo n o se realizar em todos os lugares da mesma forma SANTOS 2006 Nas considera es finais apresentamos as media es entre a plantation de seringa 1934 1945 e a presen a da soja no lugar Discutimos o que pode haver de rela o entre dois peda os de tempo cuja dist ncia de 66 anos e envolveu intensas transforma es socioculturais e tecnol gicas Isso nos permitiu entender como a a o do capital com base no apoio estatal e sob a guarda de fala do desenvolvimento destruiu ou desarranjou os modos de vida preexistentes 19 METODOLOGIA Transformar um tema de tese em objeto de pesquisa n o uma tarefa f cil Em se tratando de uma tese de doutorado onde se exige ineditismo e alto poder de abstra o essa tarefa torna se ainda mais dif c
450. ue produzir em menos tempo com grande quantidade e qualidade E o que acontece isso hoje a agricultura 196 mecanizada ela disp e aqui de cultura as sementes que venham pra c pra gente de fora A gente compra de Goi s compra do Maranh o do Mato Grosso PRODUTOR DE SOJA I Mar o 2011 Com a dificuldade de acesso ao cr dito privado por conta da aus ncia de titula o da terra e nos bancos p blicos por conta de alguns projetos n o estarem adequados legisla o ambiental a nica sa da para os produtores de soja n o capitalizados contar com o apoio dos fornecedores de pe as e equipamentos servi os e compradores de produtos que viabilizam o empreendimento dando um cr dito de confian a ao produtor Os fornecedores de agrot xico e fertilizante conseguem entregar para receber na saca a Cargill e a Mato Grosso cereais disp em de dinheiro para a compra de combust vel e o servi o de mec nica manuten o de m quinas e equipamentos pode ser pago depois da venda da produ o No caso da soja que comprada pela Cargill o dinheiro depositado na conta at tr s dias depois da venda Com base em sua pesquisa sobre o agroneg cio no Nordeste semi rido Elias destaca que Um dos principais signos da agricultura cient fica uma crescente interdepend ncia de com os demais setores econ micos e o crescimento geral da economia ocorrendo um processo cont nuo de fus o com capitais dos
451. ue ficava pendurada no c s do cintur o que se prendia cal a O rigor no hor rio e o cumprimento das metas de trabalho eram diariamente averiguados conforme relato de v rios entrevistados Segundo o senhor Erasmo o primeiro apito tocava s 5h30min para que a primeira turma acordasse e se dirigisse s planta es Eram os campeiros e seringueiros Geralmente cumpria se oito horas de trabalho por dia e trabalhava se no s bado em meio expediente O relato de um ex seringueiro traz mais detalhes sobre essa situa o Uma regra era o americano tinha um sistema que a pessoa tinha que chegar na hora certa Digamos o cara ia trabalhar e o capataz chamava chamava de capataz capataz era de fazenda quero dizer assim dizer naquele tempo de capataz aquele que tomava conta daquela turma de trabalhadores Ent o o empregado tinha que estar por exemplo pelo menos cinco minutos antes do apito deste apito a que apita n J com a enxada o ter ado ou coisa assim na linha porque o capataz colocava aquele pessoal cada qual na sua posi o n o pra apitou pegou tamb m apitou largou Ele s dava por exemplo meia hora pra pessoa comer e tinha que andar com uma latinha de lanche aqui na cintura Tinha por exemplo uma pessoa um aguador aguadeiro que chamava andava com uma lata de gua na turma Porque naquele tempo a turma de trabalhadores aqui n o era 4 nem 5 nem 10 nem 15 nem 50 pessoas era de 100 150 ou 200 pessoas
452. ue garante a presta o dos servi os p blicos municipais para a popula o visto que o recolhimento com outras fontes como o Imposto Sobre Servi o ISS Imposto de Circula o de Mercadorias ICMS e o Imposto Predial e Territorial Urbano IPTU insignificante Na cidade est o os ex trabalhadores da Companhia Ford Industrial do Brasil CFIB hoje aposentados e seus descendentes Muitos deles s o funcion rios p blicos visto ser a Prefeitura a maior empregadora municipal Os funcion rios p blicos s o em sua maioria 170 professores s o cerca de trezentos que ganham aproximadamente R 1 200 00 hum mil e duzentos reais por m s Destes 90 t m n vel superior e trabalham com cerca de cinco mil alunos no munic pio Os funcion rios de servi os gerais ganham quase sempre um sal rio m nimo Outros profissionais ganham um sal rio m nimo e meio por exemplo motoristas e vigias Os mais bem pagos s o os m dicos e os advogados S o pouco mais de 600 funcion rios n mero que vem diminuindo por conta da diminui o do repasse do FPM da recente crise econ mica mundial e da conten o de verbas feitas pelo governo federal e 184 l estadual No passado o n mero de funcion rios j foi de 800 mas com os fatores antes 85 Outro fator foi a mencionados houve uma redu o da folha de pagamento da Prefeitura substitui o dos contratados por concursados que em grande parte n o s o da cidade de Belterra
453. um grande problema que a gente precisa trabalhar uma pol tica pra isso porque o sojeiro compra uma propriedade aqui o agricultor que faz resist ncia pra vender a propriedade aqui n o quer sair daqui mas o vizinho vende a outra do outro lado E a ele fica cercado Como ele n o tem a condi o para eliminar os insetos O sojeiro elimina da lavoura dele n E o que resta l vem pra a lavoura do pequeno E a ele fica sem condi es Ele acaba se desestimulando e vendendo tamb m a propriedade dele Ent o automaticamente o sojeiro vai abarganhando toda uma rea de terra a for ado digamos assim automaticamente Um deslocado pela soja hoje vivendo nas imedia es da cidade de Belterra relatou a sua experi ncia de vida diante do acontecido Esse agricultor de 64 anos de idade foi obrigado a vender seu lote na localidade rural de Tracu no munic pio de Santar m onde trabalhava desde os 14 anos de idade com seu pai tamb m cearense e sair com a fam lia Os vizinhos foram vendendo os lotes para os produtores de soja e ele pressionado teve que tomar a mesma decis o Hoje a comunidade praticamente n o existe pois os sojeiros compraram tudo O pre o baixo pago pela venda da terra o levou a comprar um lote menor e completar o pagamento com parcelas de sua aposentadoria Hoje vive com a fam lia no munic pio de Belterra num lote de 1 600 m mas teve que improvisar Com galhos de rvore fez os postes 2
454. ura os silos onde se guarda a produ o de gr os e a m quina que joga inseticida na planta o Figuras 74 a 77 M quinas insumos e equipamentos usados na produ o de soja Fotos Moraes M e Pereira J C M 2011 Os deslocamentos familiares indicam movimentos iniciados nos anos de 1960 de Santa Catarina para o Rio Grande do Sul e posteriormente Paran Em seguida esses fluxos se dirigiram para o Mato Grosso e mais recentemente para o estado do Par A pr tica agr cola do lugar definida como primitividade uma agricultura fracassada que n o sabe nem pra que rumo ir uma vez que n o tem dinheiro sementes fertilizantes maquin rio e assist ncia t cnica por parte do governo Os agricultores de dentro s o vistos como aqueles que ainda usam o queimar brocar e plantar pr ticas utilizadas no sul do pa s nos anos de 1960 como enfatiza o primeiro entrevistado Claro que tem que ter essa tecnologia Hoje voc vai l no Sul na Regi o Sul voc chega num s tio voc v l s vezes um mini produtor um pequeno produtor que tem apenas dois tr s hectares Mas ele tem carro zero na garagem ele tem uma galinha se voc quiser comer uma galinha na hora ele tem porco leite queijo ling i a salame derivados tem tudo Existem melhoramentos assim mas n o tem por exemplo uma empresa de pesquisa que seja s pra desenvolver esp cies que melhora a vida de produ o rural q
455. urbana Segundo ele seria mais adequado falar em cultura industrial j que esta resultante de uma estrutura social mais ampla a industrializa o capitalista A cultura urbana tal como apresentamos n o nem um conceito nem uma teoria Ela propriamente dito um mito j que narra ideologicamente a hist ria da esp cie 212 humana CASTELLS 2006 p 136 lt Em Simmel temos uma an lise que busca articular as transforma es econ micas a divis o do trabalho a especializa o das atividades produtivas e como estas interferem no comportamento humano individual e coletivo Trata se de examinar como o trabalho voltado 212 Castells 2006 p 39 135 cita duas defini es que envolvem o conceito sociol gico de industrializa o a primeira corresponde a concentra o espacial da popula o a partir de certos limites de dimens o e densidade A segunda envolve a difus o de valores atitudes e comportamento denominado cultura urbana Na vis o de Castells n o se trata de uma cultura urbana trata se ent o principalmente de uma cultura industrial 226 para a produ o de mercadorias tamb m racionaliza as rela es humanas que passam a ser pautadas no dinheiro na impessoalidade e no interesse Para Simmel 1967 p 17 a economia do dinheiro domina a metr pole e delimita rela es calculistas e de interesse cuja met fora da difus o universal do rel gio de bolso serve co
456. utar a m o de obra na rea rural do Tapaj s ou por meio da migra o de outras regi es do pa s e submet la a um processo de re socializa o na cidade por meio do disciplinamento e do controle de base fordista para a forma o do novo tipo humano necess rio atividade industrial As horizontalidades s o as extens es formadas por pontos que se agregam sem descontinuidade a f brica da produ o propriamente dita o l cus de uma coopera o mais limitada SANTOS 2006 p 284 bem como as rela es entre o campo e a cidade por exemplo Diz Ribeiro 2011 que na horizontalidade est o as rela es sociais que configuram a vida dos lugares 4 Relembramos que os modos de vida segundo C ndido 1971 est o relacionados aos h bitos condutas t cnicas e institui es adquiridos por heran a cultural ou desenvolvidos localmente Dessa forma envolvem as formas de produ o da exist ncia e a satisfa o de necessidades imediatas e duradouras rela es com a natureza t cnicas usadas para adquirir e produzir alimentos construir moradia e vestu rio as prefer ncias alimentares etc e as rela es de sociabilidade 67 Como veremos a seguir trata se de um conjunto de transforma es materiais e simb licas impostas pelo sistema fordista de produ o visto que aqueles trabalhadores n o detinham as condi es t cnicas para o desenvolvimento da atividade industrial Dessa forma o treinamento
457. uzavam os rios da regi o o que configurava o car ter dendr tico da organiza o de sua rede de cidades CORR A 1987 Por fim podemos apresentar como elemento de aproxima o entre a cidade empresa de Henry Ford em Fordl ndia e Belterra e as company towns criadas na Amaz nia no final dos anos de 1960 o uso intensivo e predat rio da natureza a necessidade de m o de obra migrante os construtos e objetos alheios gente do lugar a segrega o dos grupos profissionais e sociais no espa o a mobilidade vigiada e os impactos socioambientais que resultaram no desarranjo do modo de vida preexistente para a realiza o de novas modalidades de exist ncia social com base na racionalidade econ mica e nas rela es assalariadas da m o de obra Do mesmo modo s o a es que se fazem com base apoio estatal como benef cios financeiros e fiscais doa o ou concess o de grandes extens es de terra inclusive com deslocamento compuls rio das fam lias que moravam no lugar antes da chegada do projeto e pelo afrouxamento da legisla o existente de forma a n o criar empecilhos para a implanta o do empreendimento S o as verticalidades analisadas por Santos 2008 e Telles 2006 onde os lugares cumprem pap is definidos e espec ficos no circuito global da economia que guarda especificidade se comparada com a urbaniza o por expans o para as periferias ou por lugares cont guos caracter sticos do processo de horizontaliza o da urb
458. veis e a possibilidade de recrutamento da m o de obra barata Tudo isto ad referendum do parlamento estadual Esse ato de generosidade do governo estadual n o passou despercebido pelo senador paraense Sousa Castro que fez den ncias de favorecimento do capital americano na Amaz nia Essas den ncias ganharam repercuss o na imprensa nacional tal como as decorrentes disputas entre as oligarquias locais e os jornais a ela alinhados como veremos pelas not cias veiculadas no per odo que se posicionavam contra ou a favor das medidas adotadas pelo governo do estado para atrair o capital americano para a regi o As cr ticas do senador referiam se doa o de terras falta de transpar ncia p blica quando da realiza o do acordo contrata o de m o de obra estrangeira em detrimento da m o de obra nacional e aos benef cios fiscais recebidos por Henry Ford referindo se a uma poss vel venda do Par aos americanos Essa entrevista foi tratada pelo governo paraense como uma infelicidade uma inj ria um ataque pessoal aos integrantes do governo e ao pr prio governador Dionysio Bentes Diz a nota do governo 46 Segundo Russell 1942 o tempo estimado para obter retorno econ mico de um investimento feito em plantation de seringa era de 5 a 10 anos ap s o investimento Chamamos que quando este autor se referiu concess o do Tapaj s como terras sem dono possivelmente porque desconhecia que a floresta era habi
459. vel para o colonizador europeu civilizado aceitar a ideia de um grupo humano sem a hierarquia de poder das classes sociais o contrato social regulador dos atos estatais e sem a presen a da ordem divina representada pela Igreja Segundo essas premissas o outro n o teria uma sociedade o que levaria do ponto de vista do colonizador a denomin los de selvagens ou primitivos grifo nosso CLASTRES 1982 Como se sabe essa formula o foi apropriada pela a o colonialista das grandes pot ncias europ ias para justificar e legitimar o uso da for a o assassinato e o exterm nio de grupos sociais inteiros pois se constituiu numa a o pol tica e ideol gica de favorecimento de expans o do controle das terras territ rios e sobre popula es que se realizou durante o per odo da coloniza o denominado por Prado J nior 1977 de a era do descobrimento 27 O estigma consiste em destituir o outro da sua condi o de humanidade para dessa forma coloc lo numa situa o de inferioridade Isso pode estar associado com a classe social ra a na o ou religi o dos envolvidos GOFFMAN 1982 28 Essa perspectiva em muito se aproxima das formas de domina o realizada em outras partes do mundo por grandes pot ncias econ micas e militares Said 2007 em Orientalismo o Oriente como inven o do Ocidente questiona a forma do olhar sobre diferentes sociedades orientais pautada no preconceito na discrimina o na
460. versifica o e especializa o a coincid ncia de contato f sico estreito e rela es sociais distantes contrastes berrantes um padr o complexo de segrega o a predomin ncia do controle formal e atrito acentuado entre outros fen menos A heterogeneidade tende a quebrar estruturas sociais r gidas e a produzir maior mobilidade instabilidade e inseguran a e a filia o de indiv duos a uma variedade de grupos sociais opostos e tangenciais com um alto grau de renova o de seus componentes WIRTH 1967 p 122 Dessa forma o modo de vida urbano deve ser abordado em tr s dimens es inter relacionadas 1 a dimens o f sica tendo por base a popula o a tecnologia e a ordem ecol gica 2 a dimens o da organiza o social envolvendo a estrutura social as institui es e o tipo de rela es sociais 3 o conjunto do comportamento coletivo e os mecanismos de controle social no que se refere a atitudes ideias e personalidades Por fim Wirth chama aten o para o perigo de se confundir o urbanismo com industrialismo e capitalismo moderno visto que o surgimento do modo de vida urbano estaria presente em outras cidades pr industriais e pr capitalistas e que as mesmas n o deixaram de ser cidades em vista disso Essa ideia recebe uma forte oposi o de Castells que faz uma cr tica proposi o que busca uma correspond ncia direta entre forma ecol gica a cidade e um tipo espec fico de sistema cultural a cultura
461. vida urbano naquilo que ele difere por exemplo do modo de vida rural Ao mesmo tempo em que apresenta preocupa o com os crit rios de caracteriza o da cidade que se esgotam no tamanho nos dados estat sticos na defini o formal para fins de recenseamento Caso os par metros de an lise sejam apenas estes Wirth adverte que nunca se chegar a nenhum conceito adequado de modo de vida urbano j que a cidade como conceito sociol gico n o se esgota nem nos limites formais nem em espa os f sicos estabelecidos 24 Franz Boas 2004 propunha um m todo que tinha como ponto de partida a hip tese e que esta pudesse ser testada em campo por meio dos dados observados em um territ rio pequeno e bem definido que permitisse depois com base em estudos realizados em outras reas fazer compara es e generaliza es 225 Heterogeneidade de popula o migra o de outras cidades do interior e de outros pa ses mistura de povos ra as e culturas todos esses aspectos devem ser observados Este autor prop e para fins de uma an lise sociol gica Uma cidade uma fixa o relativamente grande densa e permanente de indiv duos heterog neos Os grandes n meros s o respons veis pela variedade individual pela relativa aus ncia de conhecimento pessoal ntimo pela segmenta o das rela es humanas as quais em grande parte s o an nimas superficiais e transit rias e por caracter stica correlata A densidade envolve di
462. vista pr tico n o acontece visto que a segrega o socioespacial dos grupos sociais e profissionais s o caracter sticas constitutivas desse tipo de cidade Temos assim a experi ncia da cidade empresa com a estrat gia do capital que sob a guarda da a o estatal vai se localizar em lugares prop cios ao seu desenvolvimento pr ximos s fontes de energia e mat ria prima e de f cil recrutamento de m o de obra a moderniza o pelo alto VIANNA 1978 que passa a configurar mesmo que de forma pontual o processo urbano industrial do desenvolvimento brasileiro 2 4 Conclus es preliminares Conseguimos por meio das an lises realizadas at o presente momento identificar que o que aconteceu em Belterra difere em muito de situa es evidenciadas durante o boom da borracha na Amaz nia no fim do s culo XIX e in cio do s culo XX j que para aquele per odo temos as rela es baseadas no sistema de aviamento que criava obriga es quase 8 A gest o territorial sob controle da cidade empresa implica a transi o do espa o livre para a uma mobilidade regulada de pessoas e mercadorias De reas sob a guarda do Estado e sua concess o por meio de acordo pol tico para multinacionais que redefinem seus usos acessos significados e sua produ o ROCHA 2002 A esse respeito Acselrad 1991 p 65 66 observa que o planejamento tecnoburocr tico que norteou os planos de desenvolvimento para a Amaz ni
463. vos dos grandes empreendimentos e menos em reconhecimento dos direitos sociais Os campos de poder disputam a possibilidade de informar e cristalizar seu discurso a respeito da concep o e das pr ticas de desenvolvimento que lhes s o peculiares no senso comum e na vida cotidiana da popula o local e regional No entanto vale observar que estes n o s o campos fechados pois poss vel identificar segmentos de um campo popular estabelecendo alian as com setores ligados soja Em entrevista recente uma lideran a do STTR de Santar m nos informava que a organiza o sindical patronal estava visitando comunidades prometendo ajuda para tecnificar a produ o abrir estradas e filiando pequenos agricultores como uma forma de coopta o para a sua base pol tica Narrava ele que durante a audi ncia p blica realizada em julho de 2010 e mediada pelo Minist rio P blico Federal para apresenta o do Estudo de Impacto Ambiental e Relat rio de Impacto Ambiental EIA RIMA feito pela empresa Cargill estes novos alinhamentos j estavam vis veis E foram aferidos pela presen a de pequenos agricultores e de uma organiza o representativa portando faixas gritando palavras de ordem vaiando o Minist rio P blico Federal e vestindo camisas padronizadas Neste evento participaram cerca de 2 000 pessoas MARILDO Abril 2011 155 O mesmo entendimento pode ser estendido s disputas entre governo federal e governos estaduais no que se
464. xame b colocar uma caixa que funciona como armadilha para captura das abelhas que mais dif cil e funciona mais para as abelhas com ferr o c a multiplica o de caixas que mais usada atualmente Uma caixa depois de um ano j se consegue ser transformada em duas ou at quatro Isso assegura que n o haja mais necessidade de ir mata derrubar uma rvore para obter o enxame A confec o das caixas envolve a sele o da madeira Por fim reclamou da ilegalidade da atividade que n o reconhecida pelo governo 176 tese sem ferr o Figuras 59 e 60 Cria o de abelha Fotos FASE 2007 A imagem de sat lite nos d uma visualiza o espacial das quest es apresentadas uma vez que as casas se localizam as margens das estradas e ao fundo est o as planta es as rvores frut feras e as cria es As casas est o destacadas em tom verde para facilitar a identifica o das mesmas em rela o aos quintais de grande dimens o figura 61 Figura 61 Vis o parcial da cidade das casas e quintais 2004 Fonte Banco de dados do Plano Diretor Participativo 2006 Para os agricultores oriundos do campo viver na cidade n o f cil e o sonho de voltar ao lugar de origem permeia o imagin rio e as experi ncias dessas pessoas habituadas vida rural e ao trabalho agr cola mesmo que na cidade desenvolvam algumas dessas atividades sob novas condi es Vejamos o relato de uma agricultora de 47 anos de ida
465. xemplo uma parceria entre a Prefeitura Petrobr s a ONG Projeto Sa de e Alegria e a Coopera o Internacional ICCO e visa propiciar o acesso a tecnologia da computa o e o uso do computador para a popula o da cidade e da Floresta Nacional do Tapaj s FLONA O Telecentro como popularmente conhecido oferece os cursos de computa o desde 2006 e j formou at julho de 2009 1 256 alunos entre crian as jovens adultos e idosos Desse total 200 s o de comunidades rurais que fazem o curso durante o per odo de f rias O curso tem a dura o de tr s meses e o aprendizado em seu m dulo b sico refere se aos programas para fazer texto planilha apresenta es de slides desenho editora o gr fica e uso da internet Trabalha se nesse projeto com a ideia da forma o de formadores cuja retribui o d se por meio do trabalho volunt rio nos informou a coordenadora do projeto 184 no qual muitas pessoas de Belterra se empregaram No plano de refer ncia das alternativas est Bel m PA mas para Manaus no Amazonas que esse deslocamento se faz com mais frequ ncia e intensidade No ltimo per odo em que fizemos o trabalho campo 2011 observamos uma nova din mica na vida da cidade ruas abertas e pavimentadas novas casas e escolas municipais foram constru das Uma nova linha de nibus foi implantada com um posto de venda de passagens na rua principal Vimos muita gente andando nas ruas acompanhando um fluxo
466. yya1as 30 30YdI9 va 0dvdsa OA OY YdNIO 3 OSN 3A SVNHOS Figura 83 Mapa das formas de uso e ocupa o do espa o da cidade 2011 Fonte Cria o Pereira J C M Confec o C tia Magalh es 2011 221 Segundo informa es repassadas por um ex integrante do setor de terras do munic pio calcula se que cerca de 70 das terras das antigas reas dos seringais foram ocupadas pelos produtores de soja A cor clara se refere a essas reas apropriadas inclusive com apoio de antigos mandat rios de cargos municipais conforme vimos nas entrevistas As cores em rosa fora da rea urbana s o aquelas referentes ao desmatamento na rea rural capturadas por meio da imagem de sat lite do ano de 2004 Assim podemos ter a certeza de que os impactos e os conflitos socioambientais n o s o falsas acusa es da popula o do lugar dos de dentro aos de fora As entrevistas e os mapas confirmam essa situa o 222 6 A CIDADE DO PENSAMENTO E A CIDADE PRATICADA 6 1 Revendo o conceito sociol gico de cidade As situa es que analisamos anteriormente conflitam com as id ias de homogeneiza o dos espa os e da aparta o do urbano e rural sociedade e natureza aldeia e cidade e pouco nos servem como possibilidades anal ticas Para fins de detalhamento dessas quest es apresentaremos nesta se o a rela o que se pode estabelecer entre teoria e empiria por meio da an lise referente ao que o pensamento abstrato
467. zem por meio da coexist ncia do reconhecimento dos lugares que correspondem ao ver mas tamb m demonstram os caminhos percorridos por seus praticantes o ir Enfim o mapa e a trajet ria respectivamente Ouvimos nas narrativas de nossos entrevistados relatos como aquela caixa d gua ali as planta es nas estradas 1 4 l aonde tem o campo de futebol l no Porto Novo ai viemos caminhando pela estrada desde o Pindobal at o centro da cidade l 215 N o sendo o alvo da pesquisa embora com ela guarde alguma rela o no que diz respeito produ o dos sentidos Vale ressaltar que durante o trabalho de campo de nossa pesquisa de mestrado 2003 em Santar m ouvimos termos de nomina o do outro que n o se fazia com base na rela o de alteridade mocorongo para os santarenos chupa osso para os obidenses e arig para os cearenses s o exemplos de nossa constata o S o sentidos que demarcam de um lado identidades e diferen as de outro a naturaliza o do estere tipo que sutilmente coloca o outro em posi o de inferioridade embora isso n o seja abertamente declarado e nem muitas vezes percebido 233 onde a SEMINF era onde se fazia o alistamento dos trabalhadores no tempo da CFIB Essas situa es parecem confirmar as proposi es do autor Temos assim a vida da popula o na cidade como resultado das diferentes temporalidades e modos de vida qu
468. zer Petr polis Vozes 2008 240 COHEN Jacob Fordl ndia a grande interroga o do futuro Bel m 1929 CORR A Roberto Lobato A rede urbana S o Paulo tica 1989 S rie Princ pios periodiza o da rede urbana da Amaz nia Revista Brasileira de Geografia Rio de Janeiro v 4 n 3 p 39 68 jul set 1987 COSTA Francisco de Assis Grande capital e agricultura na Amaz nia a experi ncia Ford no Tapaj s Bel m EDUFPA 1993 CPRM COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS Superintend ncia Regional de Bel m Invent rio florestal de avalia o preliminar do potencial madeireiro do munic pio de Santar m Bel m 1996 CD ROM CRULS Gast o Impress es de uma visita Companhia Ford Industrial do Brasil Revista Brasileira de Geografia Ano 1 n 4 p 3 22 out 1939 D INC O Maria ngela Modos de ser e viver a sociabilidade urbana Revista Tempo SociallUSP S o Paulo 1992 p 95 109 DURHAM Eunice A pesquisa antropol gica com popula es urbanas problemas e perspectivas In CARDOSO R Org A aventura antropol gica S o Paulo Paz e Terra 1986 p 17 37 DUTRA Manuel O Par dividido discurso e constru o do estado do Tapaj s NAEA UFPA Bel m UFPA NAEA 1999 ELIAS Denise Agricultura e produ o de espa os n o metropolitanos notas te rico metodol gicas In SPOSITO M E Org Cidades m dias espa os em transi o S o Paulo Express o Popular 2007

José Carlos Matos Pereira Os modos de vida na cidade

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