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negociações e resistências persistentes

1. TRAI O CIUME Mas no dia que eu chegar a trair ele eu to ferrada ningu m me d apoio n o n o Porque pra ele mesmo todo mundo d Muitas mulheres falam assim ele me traiu eu vou trair ele S que uma mulher namorar com outro homem o povo logo diz oh safada Acontece que a mulher submissa ao homem tem delas que conquistou espa o mas em lugar pequeno assim s d pra ignor ncia Bom eu acho que assim eles d o ousadia mulher arrumar outro homem Eu tenho uma amiga minha que foi trocada o marido dela deixou ela por um homem A mulher s vezes nem briga nem faz nada e ele com outra As mulheres que n o sentem prazer na rela o com os maridos muitas vezes elas procuram outro fora de casa pra sentir prazer porque elas n o sentem orgasmo a elas traem o marido por causa disso porque elas n o sentem prazer com o marido e v o procurar outros para poderem sentir prazer At as mulheres casadas traem Na agrovila que eu moro j aconteceu isso tem aquelas que trocam os maridos dos outros Assim a mulher que trair apanha a o homem pode trair as mulher a torta e a direita s vezes a mulher at gosta mas a covardia que ele faz com ela tamb m acontece como aconteceu com uma mulher que gostava do marido mas ele judiava dela maltratava n o dava as coisas a ela A ela botava ponta nele com outro homem que ajudava ela N o eu conhe o uma menina uma mulher casada mora
2. A a fam lia do rapaz tem que aceitar Tamb m tem aquela coisa o homem tem que assumir suas responsabilidades vai para a casa dele A quando n o d certo e separa a menina volta pra casa dos pais dela Quando o pai e a m e ajudam acolhem a filha ainda bem mas quando o pai N o vai embora expulsa vai morar aonde Ah ele n o quer a a pessoa fica o que No meio da rua gr vida 269 8 PARA ELES E PARA ELAS OS FILHOS SEMPRE FICAM COM AS M ES Em 90 dos casos os filhos ficam mais sob os cuidados das m es O pai se preocupa mais em trabalho obter patrim nio para no futuro deixar pro seu filho mas em termos de cuidar mesmo a m e Se o pai gosta e quer assumir realmente essa crian a n o deixa faltar seus mantimentos seus alimentos assist ncia no que precisar O pai tem que dar uma pens o pro filho O pai tem que trabalhar pra arrumar alimento pro filho A m e faz o resto d banho bota pra dormir acorda de manh amanhece o dia organiza A m e tem o dever de cuidar dele em casa com doen a com cuidado rem dio e o pai mais trabalhando e no ponto se ele precisar de tratamento m dico ele ter como arcar com as despesas Isso a responsabilidade Tanto faz ser menino ou menina A gente tem que ver os seus momentos mais dif ceis estudar dar um conselho na hora que precisar chegar Seu filho quando voc estiver mais velho vai cu
3. os agricultores reassentados trabalham com uma forte tica de trabalho e sempre procuram separar a sua identidade da dos traficantes e plantadores de maconha Esta regi o sofreu muito bem al m do sofrimento proveniente das demoras na instala o de canos e bombas para 37 Embora o exemplo seja de uma agrovila beira do lago os reassentados a montante do reservat rio de Itaparica tamb m enfrentam continuamente o dilema ainda mais intenso de como se associarem ou desassociarem com estas atividades il citas O trabalho de Tavares 2009 identifica em outro local Inaj distante do rio e geograficamente a jusante do reservat rio onde houve um projeto individual de reassentados de Itaparica associado a uma multiplicidade de contextos locais rurais como um espa o diante do qual os jovens precisam se posicionar 221 irriga o A repress o policial na rea foi muito forte as not cias de tr fico e plantio de maconha de assalto de carros e caminh es nas estradas serviram como pretextos para a pol cia maltratar agricultores desarraigados Na fruti agricultura e a agricultura de subsist ncia nos lotes os lucros continuam limitados atravessadores abusam com os pre os e as d vidas com comerciantes crescem No in cio de 2005 os planos para a iminente interrup o dos pagamentos compensat rios do governo VMT se juntaram a todos estes outros fatores para pintar um quadro muito cinzento do futuro para estas v timas d
4. fadado a encontrar m ltiplos problemas t cnicos na constru o e no manejo do novo ambiente Mesmo assim o aparecimento de problemas t cnicos uma ocasi o para os agentes na rea delinearem mais claramente os seus interesses divergentes O mbito t cnico o mbito legitimador dos engenheiros planejadores e executores da constru o com o s mbolo m r na pr pria barragem edificada criadora do lago e geradora de 2 500 rnegawatts de energia A imagem da empresa se espelha nos seus sucessos t cnicos e depois da barragem de Itaparica a pr xima barragem Xing representou o sonho publicit rio para a empresa exigindo obras de engenharia espet culares para gerar muito mais que 2 500 megawatts de energia sem deslocar muita gente Mas justamente por conter tanta import ncia simb lica que o mbito t cnico tamb m se torna o locus para questionamentos fundamentais sobre a viabilidade e seriedade dos projetos E isto ocorre especialmente durante o processo do reassentamento que requer o dom nio de t cnicas diversificadas nem sempre inteiramente sob o controle dos engenheiros nesta hora que a Chesf recorre ao seu favorito argumento descompremetedor de que n s somos uma empresa de gerar energia n o d projetos de irriga o Abre assim uma brecha sen o para o perd o pelo menos para a compreens o da ocorr ncia dos erros t cnicos numa rea n o familiar empresa N o se trata de listar os muitos p
5. favorece uma atitude de nega o por parte dos filhos na participa o do cultivo do lote ou ent o no m nimo indo a pulso Muitos estudam na escola da agrovila do pr at a quarta s rie ou na cidade com apoio de transporte pelo projeto e h quem pense sempre em ir embora inclusive para S o Paulo Ou seja nessas condi es muitos deles n o se percebem preferencialmente como futuros agricultores A rea de educa o tamb m fornece um espa o para a a o das mulheres O apoio no estudo faz com que a escola seja um local para muito conv vio entre mulheres e crian as em que v rias mulheres se empregam com regularidade de acordo com as suas capacidades e conex es como professoras merendeiras e faxineiras Inclusive numa das agrovilas a tens o m tua entre uma professora local e outra que vem de uma cidade pr xima serve para real ar a import ncia desta atividade para a comunidade Em refer ncia religiosidade a devo o unanimemente cat lica Falam orgulhosamente da hist ria do estabelecimento das capelas nas suas comunidades de origem e nas agrovilas uma tem capela e a outra j iniciou a constru o da sua e apontam as vigas de ferro da antiga igreja de Barreiras que se erguem permanentemente acima do n vel do reservat rio num monumento for a religiosa da comunidade de origem pois dizem que o pr prio papa soube da barragem e proibiu que derrubassem a igreja 3 Cotidianamente tan
6. o dos reassentados no processo 21 Trabalhadores rurais meeiros posseiros e pequenos propriet rios estavam atentos sobre os planos do governo e se organizaram para expressar as suas demandas Convencidos de que a remo o em si era uma decis o inevit vel j tomada pelo governo estavam ansiosos para evitar a repeti o dos tipos de perdas sofridas pela popula o rural de Sobradinho Acompanhando movimentos articulados nacionalmente em outras regi es e em reas vizinhas e motivados pela intensidade da amea a reuniram se no P lo Sindical abrangendo o conjunto de munic pios a serem atingidos pela desocupa o Em 1984 j tinham definido as Diretrizes B sicas da atua o sindical diante da luta afirmando sobretudo que era necess rio garantir o reassentamento e evitar a mera indeniza o sempre feita com valores irris rios Em 1986 o protesto do P lo culminou em seis dias de ocupa o do canteiro de obras da constru o da barragem for ando a assinatura de um acordo no mes de dezembro Neste documento de poucas p ginas estabeleceram se muitos detalhes do esquema a ser seguido assegurando a participa o continuada do P lo Sindical do Subm dio Sao Francisco como representante da popula o atingida Reconhecendo que a popula o de Itaparica teria prefer ncias diferentes para o reassentamento e em fun o das limitadas possibilidades de reassentamento ecologicamente vi vel na rea a CHES
7. A regularidade do fluxo de gua depois da constru o da barragem de Sobradinho na d cada de 1970 estimulou o avan o do controle tecnol gico deste recurso fundamental para a agricultura contribuindo para alargar a abertura de espa os para a forma o de uma elite agroexportadora irrigante extremamente afinada s demandas do mercado consumidor internacional Era de se esperar que a pr xima barragem a de Itaparica inaugurada a jusante no final da d cada de 1980 servisse como alavanca para a expans o r pida deste empreendimento Pr ximo ao final da d cada de 1990 portanto dez anos depois o que se verifica justamente o contr rio A maioria dos projetos de irriga o iniciados sob a gide da barragem de Itaparica n o consegue colher produtos suficientes para assegurar um n vel m nimo de renda e consumo para os agricultores Em vez de manchas irrigadas como s o referidas os locais de alta produtividade no jarg o dos promotores da agro exporta o existe uma s rie de projetos que se caracteriza como manchas de insucesso do projeto denvolvimentista agroexportador Depois de uma d cada clarificam se mais quais os fatores que contribuem para este insucesso Isto se identifica na economia pol tica entre diversas categorias de atores cujas a es convergem no espa o transformado em torno da barragem O Subm dio S o Francisco sofreu um processo acirrado de sub regionaliza o que prejudicou a integra o da
8. Desde os seis anos que eu ajudava pai e da pra c eu n o parei mais n o A a partir dos nove anos comecei a botar a ro a pra mim mesmo Desde os nove anos eu n o vivo independente porque vivo na casa dos pais e dependo s da comida dele mas vivo por minha conta n o dependo de ningu m pra nada n o Pelo contr rio eu fa o de tudo pra dar pra meu pai que ele doente Trabalho aqui pra mim falo da minha parte que sou jovem A gente come ou plantando plantios tempor rios como feij o melancia milho essas coisas A algu m se reuniu e viu que esse projeto n o ia pra frente s com esse tipo de plantio Resolveram mudar pra fruticultura esses permanentes que a gente tem agora como manga coco Ent o no meu ponto de vista a forma de trabalhar essa na ro a da minha m e mesmo com plantio de c co mesmo que de fato eu tenho Peguei um peda o pra plantar pra mim mesmo Mas aqueles que t m responsabilidade vai A maioria dos rapazes jovens mais na ro a agora quando d 4 ou 5 horas a pronto quem trabalha tem que se divertir tamb m passa o dia trabalhando A nica oportunidade de lazer o campo ou a cacha a Agora aqui o problema assim no final de semana dia de domingo Eles inventam de beber n o v o na ro a Vai s para o bar jogar sinuca e beber 254 PARA ELES E PARA ELAS 48 A PRODUTIVIDADE DA TERRA J foi melhor de servi o
9. a produ o de um cen rio de imin ncia da cria o de rela es bem mais claras de produ o reestruturam as vidas dessas pessoas novamente Chave na divis o destas atividades como os agricultores reassentados articulam a produ o para si mesmos com produ o para os outros O novo ambiente humano reproduzindo agricultores trabalhadores e dignos Um dos maiores desafios nestes projetos de reassentamento o de conseguir superar as dificuldades criadas pela viol ncia administrada a estas v timas da constru o da barragem de Itaparica fazendo com que voltem a ser agricultores produtivos e dignos ganhando novamente o respeito pelas suas pr prias atividades e melhorando as suas condi es de vida preciso focalizar perguntas muito al m da rea de produ o ressaltada aqui procurando saber Como est sendo a qualidade de vida nas agrovilas quanto a educa o sa de transporte e habita o 2 Como v o os ndices de morbidade e de mortalidade comparados com os ndices anteriores e 3 Como andam os ciclos de desenvolvimento das fam lias lidando com nascimentos casamentos dispers o e a cria o de novos grupos dom sticos nas diversas agrovilas e nos diversos projetos Este cap tulo mostra a negociada indefini o entre a fase de transi o e a fase de desenvolvimento em potencial identificado como um processo de viol ncia administrada que pode ser entendida como parte do descaso planejado in
10. es para rela es de g nero e de gera o e a vontade compartilhada de defender os direitos dos agricultores resultaram numa s rie de trabalhos publicados e compartilhados com o P lo Neste livro os cap tulos 3 a 8 foram adaptados de trabalhos produzidos com os resultados deste per odo de pesquisa Al m destes cap tulos houve outros n o inclu dos aqui e numerosos relat rios de inicia o cient fica um trabalho de conclus o de curso de gradua o duas disserta es de mestrado e um v deo produzido sobre as transforma es em curso A abrang ncia dos assuntos trabalhados refletia a frente ampla formada pelo P lo e pelos reassentados emaranhados em estruturas de poder que 15 alcan avam desde os trechos de solo salinizados at as cadeiras das salas de comit s do Banco Mundial A produ o acad mica tinha tamb m um endere o pol tico Expunham se a l gica subjacente dos projetos as concep es estanques de fam lia engendradas no uso de cadastros as modifica es em rela es de poder regionais a import ncia da alian a com setores progressistas da Igreja a experimenta o com agro ecologia alternativa sobre sa de e agrot xicos o uso prec rio da etnicidade na defesa da popula o a acusa o de t cnicos de desconhecimento dos agricultores a manipula o de inser es em burocracias diferentes as estrat gias de fam lias mais velhas e mais novas de recompor as suas bases de sustento sem conta
11. o direta sobre modelos diferentes propostos para agricultura irrigada De fato parece que a sua diverg ncia com o P lo Sindical pode ser vista como bem maior que a sua diverg ncia da Chesf A Chesf tem claras prioridades na rea de gera o e distribui o de energia e estas s o mais complementares do que contradit rias s 135 prioridades da Codevasf na rea de agricultura irrigada O P lo Sindical no entanto defende uma proposta baseada em irriga o por pequenos produtores familiares Esta proposta diferente na sua concep o daquela dos projetos iniciados desde os tempos da CVSF e a SUVALE os quais falavam no apoio ao pequeno produtor mas que praticavam o apoio sua substitui o por empresas rurais mais capitalizadas a presen a do P lo e da hist ria de negocia es que faz a diferen a Mediador local em defesa da popula o atingida o P lo est disposto a negociar para beneficiar s 40 000 pessoas reassentadas nos quase 20 000 hectares irrigados com mais de 5 000 lotes distribuidos de uma forma muito dispersa entre 110 agrovilas No processo de defender estes interesses ele tem participado num processo hist rico que diferenciou a regi o de Itaparica de tal forma que ela ainda representa uma promessa n o cumprida Este sinal negativo circunscreve uma realidade que requer muita agilidade e firmeza para lidar com os muitos problemas internos dos projetos e gerais da sub regi o para inverter
12. o econ mica familiar de volta para cuidar das suas terras de origem Nada mais natural que os familiares ausentes dos grupos 82 dom sticos a serem reassentados reagir possibilidade de garantir maiores recursos para si mesmos e voltarem para se inclu rem nos c lculos como beneficiados Chamados de aproveitadores pelos respons veis pela administra o do projeto estes familiares frequentemente respondendo a chamadas feitas pelos seus pais esposas irm os dificilmente encontravam uma boa acolhida pelos planejadores administradores para os seus pleitos de inclus o Outros cujas resid ncias estavam fora da rea a ser inundada mas que trabalhavam em terras nas ilhas ou nas beiras do rio os parcialmente atingidos tamb m tiveram que enfrentar negocia es complexas para poderem ser inclu dos plenamente entre os que tinham direito a lotes Para resumir no jogo de negocia es sobre inclus o e exclus o no c lculo da for a de trabalho familiar estabeleceu se um acordo entre a Chesf e o P lo ou seja os reassentados em torno da necessidade de realizar o c lculo e uma polariza o entre a Chesf que partia do princ pio de que o pr prio cadastro refletia uma realidade que deveria ser interpretada e seguida bastante estreitamente e o P lo que reconhecia algumas injusti as no corte transversal e chamava aten o para a necessidade de ajustar os c lculos de acordo com a flexibilidade real dos grupos dom sticos do
13. o das regras de acesso terra criadas na nova situa o no reassentamento ser o fundamentais na determina o da reprodu o social destas fam lias Primeiro vejam se tr s situa es de baixa for a de trabalho A primeira situa o de fam lias com for as de trabalho predominantemente femininas Observa se que alguns dos reassentados chefes de fam lia j incorporaram a parte do c lculo da for a de trabalho que refor a a domina o masculina aos seus discursos valorativos sobre a fam lia Como diz um reassentado repetidamente quando fala dos lotes recebidos A mulher s vale 79 60 do homem De fato a fam lia composta por mais mulheres teria mais dificuldade em receber lotes maiores Uma orienta o informal dada pelos administradores do projeto s equipes encarregadas de acompanhar o reassentamento era que a mulher solteira vivendo s mesmo com filhos deveria procurar voltar a morar com os pais para integrar se ao c lculo dele A mesma orienta o n o costumava ser dada para os filhos homens que moravam s E mesmo se a mulher vi va ou n o conseguia se cadastrar como uma fam lia parte ocorr ncia que mais comum entre diaristas que entre agricultores com acesso a terra mas que existe nas diversas condi es de acesso terra pr reassentamento pode se calcular as dificuldades adicionais que ela enfrentou N o podendo contar com o ponto do c lculo do marido para ganhar acima dos tr
14. rea de Itaparica no 16 Este cap tulo foi adaptado de SCOTT Parry Uma nova mancha nos per metros irrigados a nova sub regionaliza o do Nordeste In ZARUR George Org Regi o e Na o na Am rica Latina 1 ed Rio de Janeiro 2000 v 1 p 189 212 113 processo de agroexporta o irrigante devido sobretudo forma o de uma estrutura de poder complexa num contexto hist rico particular Alem da concentra o dos dom nios dos espa os de expans o nas m os de uma elite agroexportadora irrigante Itaparica foi e continua sendo o cen rio de um conflito de poder administrativo entre representantes governamentais dos setores energ ticos e agr colas A isto se somam as a es determinadas do movimento de defesa dos atingidos da barragem centradas no P lo Sindical do Subm dio S o Francisco A converg ncia destes agentes ocorre no final do s culo XX que se constitui num momento de auto cr tica nos meandros da pol tica de ag ncias financiadoras internacionais que ultra sensibilizadas sua imagem global coincide para refor ar os pleitos dos atingidos Este momento simultaneamente passageiro pela intensidade em que se apresenta nesta hora na hist ria e duradoura no que cria de apoios legais para a prote o de atingidos que podem ser acionados futuramente mesmo quando o campo de for as hist ricas dilui a visibilidade destas quest es internacionalmente O resultado da articula o destes fa
15. 1991 chama aten o falta de dados confi veis sobre a participa o de mulheres no trabalho agr cola e subestima o da sua contribui o nos dados costumeiramente usados Destacando que as mulheres participam diferentemente em pelo menos quatro categorias de trabalho trabalho agr cola no campo processamento agr cola cuidado de animais e comercializa o ela insiste na necessidade de ampliar os estudos emp ricos sobre esta participa o Demonstra que os projetos de desenvolvimento destinados a promover uma reforma agr ria desde os anos 1960 costumam excluir a mulher ou quando muito especialmente a partir dos anos 1970 inclu la em projetos de aumento de produtividade com componentes para a mulher que tendiam a refor ar o papel reprodutor da mulher ademais as atividades nas quais as mulheres foram incorporadas eram na sua maioria uma extens o deste papel artesanato costura elabora o de gel ias etc ARRIAGADA 1991 144 28 Da d cada de 1980 d cada de 1990 e ainda mais na primeira d cada do s culo atual houve um acr scimo no n mero de projetos dirigidos para o aumento da gera o da renda feminina O discurso da Chesf legitimador da remo o da popula o na rea do reservat rio de promo o de desenvolvimento energia para a produ o e consumo no Nordeste e de reforma agr ria para beneficiar os trabalhadores agr colas sem terra em Itaparica Isto foi dado como sufici
16. Eu n o tenho n o Fica na frente do meu marido assim eu n o tenho n o de jeito nenhum agora ficar na frente de outra pessoa que n o seja ele de jeito nenhum n o passa nem na minha cabe a Quando eu leio eu acho que os homens s acham que com penetra o mas assim um local que voc consegue at sentir prazer at no pulso pegando numa parte do corpo que voc nem imaginava nos seios nos l bios pegou nas suas pernas nas suas costas o contato que voc nem espera Pois eu sinto alguma coisa n o nem nos meus seios no meu bumbum mas voc sabe no pesco o a no pesco o pode ser de qualquer pessoa n S botar o dedo aqui que eu me arrepio todinha N o voc ser usada voc tem que ter aquela ousadia chegar e falar no sexo eu pe o faz alguma palavra algum gesto At o p se ele pegar no seu p voc sente Se uma pessoa chegar pra voc e voc j tiver naquela vontade basta s pegar na perna Eu sou assim at nisso aqui da perna aqui gesticula eu sinto Tem que saber se o homem for inteligente ele sabe como segurar a mulher n o existe s uma maneira n O homem se satisfaz com muito pouca coisa s a gente passou a m o nele e ta pronto Chega fica assim ligad o Ele j tummmmm 275 Vaca ovelha na idade quatorze anos n o passava nada n o Jegue o mais escolhido Tem um jegue que o cara passa a m o nos quartos dela e ela tremia O ca
17. IMOPEC Instituo da Memoria do Povo Cearense Velho Chico Agonia ou ressurrei o Salvador IMPOPEC CESE Coordenadoria Ecumenica de Servi o 1994 JULI O Franciso Que s o as ligas camponesas Cadernos do Povo Brasileiro no 1 Civiliza o Brasileira Rio de Janeiro 1962 LEON PORTILLA Miguel Culturas en peligro Mexico Alianza Editorial Mexicana 1976 L VISTRAUSS Claude As estruturas elementares do parentesco Petr polis Vozes 1982 242 LEVI STRAUSS Claude GOUGH K SPIRO M A fam lia origem e evolu o Porto Alegre Vila Martha Col Rosa dos Ventos v 1 1980 LOYOLA Maria Andr a Org A Sexualidade nas Ci ncias Humanas Rio de Janeiro Ed da UERJ Cole o Sa de amp Sociedade 1998 MACHADO Eduardo Paes Coord Poder e Participa o pol tica no Campo S o Paulo CERIFA CAR CEDAP CENTRU 1987 MACHADO Maria das Dores Carism ticos e Pentecostais Ades o religiosa e seus efeitos na esfera familiar Campinas Editora Autores Associados ANPOCS 1996 Sexualidade e contracep o em grupos religiosos brasileiros In SILVA Dayse Org Sa de sexualidade e reprodu o compartilhando responsabilidades Rio de Janeiro Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro p 67 82 1997 MATOS Silvana Sobrira de Toler ncia e Intoler ncia entre Carism ticos e Evang licos em Campina Grande PB Recife Disserta o de mestrado Programa de P s Gradua o em Antropol
18. KING Timothy Regional Economic Development The River Basin Approach in Mexico Cambridge Cambridge University Press 1970 236 BARROS Henrique O M de Coord Avalia o dos impactos socio econ micos da implanta o do Projeto Sobradinho 20 Relat rio A popula o opina sobre a reloca o Recife FUNDAJ INPSO Dept de Economia 1983 BARTH Fredrik Ethnic groups and boundaries Boston Little Brown 1969 BARTOLOM Miguel La presa cerro de oro y el ingeniero gran dios Ciudad de M xico Instituto Nacional Indigenista 1992 Movimiento ndios y Fronteras en Am rica Latina In SCOTT Parry ZARUR George Org Identidade Fragmenta o e Diversidade na Am rica Latina Recife Editora Universit ria 49 66 2003 BATISTA M rcia Rejane Rangel ndios Tux da Bahia uma experi ncia de reassentamento Recife CHESF FUNDAJ 1996 BAUM Warren C The Project Cycle Washington World Bank 1982 BERQU Elza Org Sexo e vida panorama da sa de reprodutiva no Brasil Campinas S o Paulo Editora UNICAMP 2008 BOURDIEU Pierre A Prop s de la famille comme categorie realis e Actes de les Recherches dans les sciences sociales 100 32 36 1998 A domina o masculina Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1999 BURSZIYN Marcel O poder dos donos planejamento e clientelismo no Nordeste Petr polis CNPq Vozes 1984 CAMPOS C Coord Desarrollo Rural con Equidad de G nero Ass
19. S o fam lias em plena expans o 80 tendo acrescentado filhos no intervalo depois de sua chegada agrovila seja em 1987 seja mais tarde S o acima de 40 nascimentos reportados nestas fam lias neste per odo contra apenas 5 sa das de seus membros Apesar de terem mais pessoas a flexibilidade para compor as suas resid ncias muito menor do que para as fam lias mais velhas A maior parte dos chefes destas fam lias mais jovens j trabalhara como m o de obra familiar ou como diarista em agricultura na beira do rio e conhece as t cnicas antigas de agua o mas quando os t cnicos falam dos reassentados 169 queixam se muito da resist ncia dos velhos deixando transparecer que acreditam nos jovens como mais aptos a adotar as novas tecnologias j que n o estariam t o arraigados nas suas maneiras de praticar a agricultura Esta atitude apresenta uma contradi o s ria que aponta novamente para algumas incoer ncias que aparecem na maneira como os t cnicos percebem a transmiss o do conhecimento entre gera es na agrovila Primeiro parecem ignorar a exist ncia de rela es sociais que inserem todas as fam lias numa rede complexa de parentesco fundamentada em regras de hierarquia e autoridade que dificultam a separa o dos jovens e velhos Segundo parecem ignorar que as fam lias mais velhas s o justamente as que oferecem condi es mais flex veis para recompor as for as de trabalho familiares adequadas
20. a da etnicidade A compara o desses dois movimentos de resist ncia a barragens n o teve como finalidade identificar elementos mais ou menos eficazes na luta dos atingidos e sim de examinar dois movimentos que obtiveram algum sucesso ao defender direitos de pessoas amea adas por grandes projetos governamentais e entender a articula o dos ditos movimentos em tr s n veis local nacional e internacionalmente Em ambos os casos de San Juan Tetelcingo e de Itaparica ou melhor do povo nahua e dos trabalhadores rurais nordestinos a integra o num sistema global contribuiu positivamente para a constru o de movimentos complexos e multifacetados que real am as particularidades tnicas c socio econ micas das popula es afetadas e o seu papel na cria o de identidades nacionais 71 Cap tulo 4 O c lculo da for a de trabalho familiar camponesa e o descompasso entre o tempo institucional e o tempo familiar 2 Neste cap tulo demonstra se como um projeto modelo de reassentamento aparentemente em sintonia com as metas do Banco Mundial identifica os seus participantes e no processo estabelece um dos fundamentos para um di logo que diferencia os discursos do atores envolvidos Os elaboradores do projeto de reassentamento da barragem de Itaparica pressionados pelas novas atitudes do Banco Mundial e precisando adequar os seus planos s demandas do banco multilateral tomou para si o desafiador e quase contradit ri
21. a de trabalho familiar Aplicando estes c lculos com alguns refinamentos chega se a uma decis o sobre o direito dos reassentados a um lote irrigado cujo tamanho relacionado ao potencial de trabalho familiar Como muito evidente o c lculo um instrumento de planejamento que faz parte da determina o de inclus o e de exclus o de benef cios determinando os limites ideais de abrang ncia do pr prio projeto O cadastro resulta em mensura es concretas de condi es materiais e de recursos humanos das fam lias atingidas pelas guas do reservat rio Como o projeto inclu a a garantia de acesso terra para quem dentre elas TI quisesse independentemente das suas condi es de acesso anterior teria que ter medidas para determinar quanta terra cada fam lia receberia Indeniza es individuais mesmo se toler veis para propriet rios particulares de bens neste planejamento seriam inconceb veis para a atribui o de terra a agricultores familiares Dos pequenos propriet rios posseiros comodat rios meeiros e diaristas que compuseram acima de 90 da popula o alguns receberiam valores indenizat rios diferenciados de acordo com a perda das suas benfeitorias e posses irrecuper veis Todos que fossem propriet rios de alguma forma e que assim quisessem teriam o ganho da terra apenas entregando a sua terra de seis hectares ou mais se tinha para trocar por outra de seis hectares nas agrovilas novas ou a
22. da barragem em 1991 e na C mara de Vereadores do Recife em 14 de mar o de 1994 a cria o de documentos como Depois que a gua nos tangeu do P lo Sindical em 1991 Com tempo tais esfor os n o pararam mas se escassaram e atingiram audi ncias menores Representantes do P lo Sindical ainda tomaram a iniciativa de fazer uma visita sede administrativa do Banco Mundial em Washington e em 1992 e 1993 uma das amarras do contrato de finaciamento internacional com o Banco Mundial foi desamarrada politicamente quando o Banco resolveu liberar os recursos para dar andamento ao processo de reassentamento Mas quando chegam recursos o seu percurso das camadas que comandam a distribui o nacional para a aplica o no projeto espec fico gera um ceticismo quanto possibilidade de empreiteiras construtoras pol ticos e oficiais governamentais administrarem adequadamente o dinheiro p blico A capacita o que o P lo 98 Sindical possui sobre o processo de reivindica o sempre precisa se complementar agora com informa o pol tica e t cnica sobre como formar organiza es capazes tanto de administrar projetos e lotes irrigados eficientes quanto de identificar gargalos pol tico burocr ticos para agilisar o andamento de decis es Durante este per odo todo as mais interessadas as fam lias de agricultores e trabalhadores rurais tentavam se adaptar situa o nas agrovilas ainda incompletas chamadas de tr
23. e demonstram que alguns campos entregues com o seu equipamento de irriga o implantado possuem erros de c lculo sobre a dist ncia alcan ada pelos aspersores o que acarreta na cria o de manchas secas virtualmente incorrig veis na terra irrigada e a consequente perda de parte do potencial produtivo de cada lote Ao ressaltar estes problemas a Codevasf anuncia que a sua preocupa o t cnica ser diferente que a Chesf que na explica o de um t cnico a Chesf estava ansiosa de sair da administra o destes projetos e assim aceitou os erros t cnicos A Codevasf pretende garantir uma produ o regular e previs vel potencialmente prejudicada em todos os tr s problemas t cnicos identificados permitindo a plena integra o dos projetos com as redes comerciais de produtos da agricultura irrigada J os problemas t cnicos identificados pelos pr prios reassentados se situam em outro terreno Preocupados com a rela o da sua pr pria base de sustento e de moradia com as contribui es t cnicas fornecidas pela Chesf eles chamam aten o a problemas na qualidade e na pr pria escolha da localiza o de moradias e lotes Um reassentado ecoando a voz de muitos falou com admira o sobre a quantidade de rolos de tela met lica que tinham sido empregados para refor ar as paredes rachadas da sua casa na agrov la dizendo que dava para construir mais que uma 143 casa adicional com o dinheiro empregado nos reparos A entr
24. em benef cio da popula o Para o reassentado se situar dentro desta nova estrutura de poder na qual os centros de decis o s o t o mais distantes do que eram quando ele dependia sobretudo da pr pria m o de obra familiar e frequentemente da sua rela o com algum patr o individualizado n o f cil A dist ncia a impessoalidade as contradi es internas e a natureza amorfa da maneira como as institui es burocr ticas se apresentam popula o complicam a defini o de como agir diante delas No seu discurso na MRI de um lado o representante da CHESF declara Chesf uma empresa de energia el trica e nem deveria ficar assumindo um projeto realmente tipo irriga o De outro lado Sempre interpretei o reassentamento de Itaparica n o como uma d vida mas uma compensa o e um grande projeto de desenvolvimento rural Se esse projeto que uma verdadeira reforma agr ria que estamos fazendo n o der certo a reforma agr ria est definitivamente riscada no panorama do Brasil A empolga o com a id ia que a Chesf est se posicionando como defensora dos pequenos o leva a declarar Pura e simplesmente eu acho que a CHESF no setor el trico nacionalmente uma das poucas empresas que teve o peito de enfrentar a responsabilidade de responder a esta necessidade de compensar a popula o E se n o foi toda a popula o a prioridade da ocupa o da reserva de Itaparica foi muito claro o compro
25. individuais tanto eles mesmos quanto os sub contratados por 29 eles que se destinariam a se tornar pe as chaves na reorganiza o das estruturas do poder na rea Seria f til tentar detalhar mais esmiu ando as a es destes e outros atores em constantes recombina es de dom nios de poder em Itaparica Seria como descrever uma colcha de retalhos O que importa sim tra ar as linhas gerais das transforma es nas rela es de poder iniciadas durante este in cio da fase que os planejadores entendem como transicional do projeto de reassentamento Itaparica depois da barragem Do mesmo modo que a denomina o Itaparica foi uma realidade criada pela constru o da barragem e reservat rio a dispers o daqueles que residiam na margem do Rio Sao Francisco extrapolou em muito os limites geogr ficos da rea do reservat rio Foram levados a novas reas a centenas de quil metros de dist ncia aumentando significativamente a interfer ncia do planejamento da Chesf para promover economias regionais e locais A realidade social criada para a popula o reassentada tinha como foco a Chesf como promotor do que a sua campanha de rela es p blicas e comunica o social batizava de uma Mudan a para Melhor Assim a Chesf administrava todas as fases desde o planejamento antecipada passando pela constru o de agrovilas e pela relocaliza o das fam lias e pelos anos de espera desigual de instala o de equ
26. o conseguiu preparar as reas S o quase nove anos sem terra suficiente para ocupar a fam lia As modifica es nas fam lias neste per odo n o se restringiram quelas resultantes do andamento normal do processo de desenvolvimento de ciclos dom sticos Tamb m sofreram muitas influ ncias da excepcionalidade da sua situa o da busca de alternativas dentro de um espa o administrado que elas chegaram a ocupar determinado de acordo com o c lculo na poca do cadastro Homogeneizadas como reassentadas t m que enfrentar o fato de que o projeto anda mais lento que as fam lias e que cada passo que deram e que d o sujeito a reinterpreta es pelos administradores que almejam concluir o projeto ainda com um grau razo vel de xito segundo as suas expectativas O prolongamento deste per odo de transi o agrava os problemas da reprodu o social dos grupos de agricultores e esbo a se um discurso institucional que sugere que s o as qualidades e pr ticas das fam lias reassentadas e n o as qualidades e pr ticas do projeto em si que amea am o sucesso 85 Os t cnicos agr colas de campo encarregados de acompanhar e treinar as fam lias durante cinco anos ap s o in cio do plantio alertam para um problema que est o enfrentando muitas das fam lias s t m velhos e os t cnicos desconfiam que n o v o ter condi es de trabalhar no lote irrigado com m o de obra familiar Alguns deles tamb m dizem que muita
27. o presente na realidade administrativa de Petrolina Juazeiro onde as escolhas de participantes obedeceram crit rios diferentes mais excludentes e ao mesmo tempo dependentes de projetos governamentais colonos ao mesmo tempo em que na hora do traslado marcava um futuro ainda n o realizado e portanto indefinido de agricultores irrigantes A proximidade cognitiva da experi ncia de remo o for ada resultou numa prefer ncia de uma nomenclatura que perdura h anos atingidos um termo que abarcava todos com o infort nio de estar no caminho do reservat rio Adotar a denomina o de atingido ou reassentado dava maior realce hist ria espec fica pela qual todos haviam passado A situa o destes que mais marca o projeto e sobre eles que as descri es gerais melhor se aplicam O mapa Reassentamento de Itaparica a seguir mostra a dispers o da popula o 32 ogdeidepe 7661 queg pHOM NUOJ poLredeyy ap ojusurejuasseay esinbsad ap stv20j sop ede q eniq T661 SINVE ATAOM OA OQV LAVA ILNOS 33 Que a configura o da economia regional ficou profundamente afetada pela constru o da barragem inquestion vel Itacaruba e Rodelas perderam partes significativas das suas popula es rurais e Floresta perdeu os seus habitantes da beira do rio Com as antigas comunidades parcialmente preservadas ao serem reassentadas juntas ou pelo menos vizinhas os munic pios de Oroc e Santa M
28. quando tem festa mesmo Aqui tem brigas em casa mas fica abafado dentro de casa algumas pessoas quem sabem eu mesmo sei um caso que o marido dela gosta de bater mas ela sempre quem bate nele quando ele vai bater nela Mas ningu m sabe muito n o porque um lugar muito pequeno e eu acho que essas pessoas ficam com medo de no fundo a gente saber Qualquer coisa que acontece a gente j sabe logo pelos boatos mas a gente n o sabe o que aconteceu VIGIANDO E CONTROLANDO NA CASA Eu tive medo de acontecer alguma coisa levar uma surra Eu tinha 16 anos e nunca sonhava de namorar por que minha fam lia muito r gida De repente veio assim a outra rea o de meu av porque ele sabia que a ou eu namorava em casa direito ou eu na rua talvez eu fizesse coisa pior a viol ncia n o s f sica tamb m com palavras d i mais o efeito n E pior Porque melhor algu m chegar e lhe bater lhe dar uma tapa do que lhe ofender O que o homem mais faz tentar rebaixar a mulher come a logo pelo comer quando diz que n o saiu do gosto dele risos a briga come a ele diz logo que a gente n o faz o que preste e depois que est de olho roxo ningu m sabe dizer o que foi 259 8 PARA ELES E PARA ELAS s8 LADROES E GENTE DIREITA Que tem gente ruim nesse mundo tem realmente tem nessas agrovilas Ent o se tem uma pessoa que tem co
29. que n o faltava gente para trabalhar e eles n o se enxergavam como um campo de experimenta o O uso e subdivis o informais entre as fam lias prevaleceram sobre a l gica de treinamento isolado para produ o eficientemente organizada para responder s demandas do mercado Para os t cnicos isto mais uma prova do despreparo destas fam lias para a produ o A esperan a dos t cnicos que as diferen as nos rendimentos nas reas usadas para o treinamento e nas outras reas em produ o pelas fam lias sem orienta o t cnica conven am os reassentados a adotar as pr ticas sugeridas por eles Os t cnicos ainda sugerem que a precipita o na ado o do trabalho familiar nos lotes irrigados pode ser um fator que contribua ao desgaste mais r pido do solo Para as fam lias do outro lado o mais dif cil de entender foi como ap s muitos anos de espera poderiam iniciar a sua produ o numa rea insuficiente para sustentar a fam lia quando a rea estava com toda sua rede de equipamento de irriga o instalada 90 N o a inten o aqui fazer nem um progn stico nem uma avalia o sobre os resultados de um projeto de reassentamento de dimens es t o grandes em que os sucessivos adiamentos levaram a diverg ncias que permitem a coexist ncia de situa es onde alguns reassentados j est o plantando e outros nem sabem quando ou mesmo aonde v o poder plantar e outros j perderam qualquer expectativa a n o s
30. reas na regi o A rea inundada tem uma hist ria privilegiada de uso agr cola pastoral e extrativo por grupos muito diversos Uma descri o destes grupos fornece uma vis o panor mica dos pontos cr ticos de transforma es s quais estes estavam sujeitos no processo de reassentamento Os dom nios de poder regionais e locais transparecem neste per odo de intensa mudan a O processo de reassentamento compuls rio Reassentamento compuls rio n o um processo novo Ocorre em condi es variadas identificadas ha muitos anos por Hansen and Oliver Smith 1982 como desastres naturais tumultos pol ticos e mudan a planejada A relev ncia de todas essas categorias e especialmente das ltimas duas que s o mais socialmente contextualizadas tornou se muito evidente nos anos oitenta como atestam as colet neas de trabalhos sobre resettlement 3 Trabalho in dito preparado em ingl s em 1992 com o t tulo de Dams forced resettlement and the transformation of peasant economy in the S o Francisco Valley Brazil apresentado em semin rios durante per odo como Professor Visitante no Department of Anthropology da Harvard University adaptado para inclus o neste livro 19 and relocation e sobre hydroelectric dams em tr s n meros da Cultural Survival Quarterly em 1988 bem como nas publica es de Cernea 1988 1982 que reportam a preocupa o interna do Banco Mundial no estabelecimento das suas pol ticas e pr tic
31. tanto que quiser Aquele dinheiro que arrecadado aqui na agrovila ele fica guardado para no caso de alguma precis o de algu m da agrovila seja ele dizimista ou n o Se algu m precisar do dinheiro ele tem o direito de pegar o dinheiro Aqui tamb m tem um grupo de mulheres que est o na ind stria de doce J teve encaminhamento teve reuni es e agora vai ter o curso que a gente vai entrar e participar do curso de doce para depois abrir a f brica Vai juntar n Juntou no m nimo 30 mulheres Essas 30 v o fazer um curso de doces no sindicato Logo depois desse curso vai ser aberta a f brica de doce aqui mesmo na agrovila para fazer doce e revender Do sindicato do p lo eles faziam oficina e ofereciam op o assim sobre desenvolvimento sustent vel e g nero Chamaram homens e mulheres para discutir isso l e a gente faz campanha dessas coisas 256 amp PALAVRAS DOS AS PESQUISADORAS ineg vel que a ro a ocupe o lugar central para a organiza o da agricultura familiar dos reassentados e a organiza o deste trabalho representa valores que s o piv s para a organiza o social do grupo Primeiro trabalhar na ro a uma forma de repassar a compreens o da hierarquia familiar atrav s da cobran a de responsabilidades aos filhos e a concess o de espa os no lote onde eles mesmos podem desenvolver pr ticas de valoriza o do pr prio trabalho deles da sua autonomia e liberdade assim combinando val
32. vio de cargos e d vidas sociais pelos implementadores e idealizadores Ou seja a cria o de quatro etapas idealizadas permite a execu o das primeiras duas planejamento e execu o com se fossem levar tranquilamente terceira mas termina por mascarar a secundariza ao estrutural do benef cio da popula o reassentada num discurso de planejamento mais flex vel N o t o inquietante neste per odo de pesquisa visitante foi a confirma o da constata o anterior da exist ncia de um leque amplo e variado de pesquisadores cr ticos e atuantes que questionavam sistematicamente os efeitos de projetos de desenvolvimento no mundo inteiro e cujas id ias e a es ajudavam a nortear a compreens o da realidade de Itaparica Mais uma vez na volta para a UFPE em 1993 o CNPq permitiu a reinser o de uma equipe de pesquisa no ambiente em torno do lago de Itaparica com base em Petrol ndia onde estava situada a sede do P lo Sindical Nesta fase os nossos interlocutores principais foram as lideran as do P lo bem como numerosas fam lias reassentadas em selecionadas agrovilas que conhecemos durante o traslado A realiza o de entrevistas de question rios s cio demogr ficos e a conviv ncia atrav s de observa o participante refor aram a coopera o entre os agricultores reassentados o P lo Sindical e os pesquisadores do FAGES As quest es relativas aos impactos de grandes projetos de desenvolvimento das suas implica
33. CHESF sob a press o de consultores antropol gicos e sociais do Banco Mundial sobre a necessidade do acompanhamento do processo de traslado da popula o e a constante negocia o entre os seus maiores atores sociais Estes atores inclu am a CHESF executora governamental da obra e o P lo Sindical do Subm dio S o Francisco organiza o representativa formada com base em sindicatos rurais de munic pios com popula es rurais atingidas Os dezoito meses de acompanhamento entre 1987 e 1989 foram suficientes para evidenciar as enormes dificuldades que um empenho destas 13 dimens es implicava para quem vivia da agricultura e teria que reconstituir uma base de sustento nestes novos ambientes A equipe da FUNDA congregou pesquisadores dessa institui o Rosa Amorim Maria Lia Correia de Ara jo que substituiu Dirceu Pessoa e equipe de pesquisadores da institui o e outros recrutados principalmente de antropologia da UFPE Parry Scott e Maria Auxiliadora Ferraz de S e os pesquisadores de campo criou relat rios regulares de acompanhamento e um extenso relat rio final detalhando o processo FUNDAJ CHESF 1989 Boa parte do conte do do cap tulo 1 decorre desta experi ncia trabalhando a partir de um documento elaborado durante um per odo como pesquisador visitante na Harvard Univesity 1991 1993 com o apoio do CNPQ No capitulo de Ara jo et al 2000 h tamb m utiliza o extensa deste documento que mostra a he
34. Entre as suas decis es est inclu da a quest o de quanto vai se envolver em pr ticas produtivas e comerciais orientadas por associa es articuladas de formas mais estreitas ou mais frouxas com o pr prio movimento sindical SCOTT 2000 Assim a responsabilidade vista por esta organiza o representativa da manuten o de uma vigil ncia permanente sobre as artimanhas de operadores governamentais e particulares poderosos que possam chegar a prejudicar ainda mais os agricultores reassentados Para o P lo Sindical o sucesso na organiza o associativa e na produ o agr cola acarreta um senso de responsabilidade coletiva na defini o de estrat gias produtivas e sociais que possam contribuir para a coes o da coletividade Quanto mais distante da hora da m xima coes o que ocorreu com a resist ncia n o contempla o dos atingidos nos benef cios da constru o da barragem e a for a demonstrada na hora de assinar o acordo de 1986 mais espa o parece se abrir para diverg ncias e desarticula es ao longo dos munic pios t o dispersos representados pelo P lo S o homens e mulheres que integram o P lo pois a organiza o conscientemente n o est sendo exclusiva de um dos sexos Mesmo privilegiado ele se situa entre v rias institui es reguladoras da apresenta o da comunidade para o mundo como respons veis cada uma labutando na sua esfera espec fica de atua o O P lo Sindical trabalha numa rea d
35. FUNDAJ CHESF 1988 Mapa 2 dados da CHESF Esta op o inclui quem ficou na parte remanescente das suas pr prias terras fora da linha de seguran a da previs o de inunda o algumas fam lias incorporadas em outras fam lias e alguns que morreram Estudos sobre a viabilidade dos solos para sustentar agricultura irrigada nas reas potenciais dos projetos se juntaram com press es pol ticas para determinar este amplo leque de op es dispon veis para popula es locais O relat rio INPSO FUNDAJ CHESF 1988 detalha mais as op es por munic pio Entre os que foram para outros locais e os que tiveram destinos desconhecidos soma pouco mais de um quarto da popula o que recebeu compensa es monet rias e procuraram o que os administradores designavam de solu es pr prias fugindo das medidas de controle administrativo introduzidas pelas equipes governamentais Estes relocados por solu o pr pria foram constitu dos por fazendeiros e propriet rios pr speros outras fam lias com situa es particulares que possibilitavam a procura de outras alternativas e algumas fam lias que simplesmente desconfiavam das promessas de longo prazo do governo dif cil saber o sucesso variado desta parte da popula o atingida 31 A flexibilidade do esquema de reassentamentos permitiu o estabelecimento de pelo menos oito projetos espec ficos geralmente de menor porte nascidos de iniciativas diversas
36. ITAPARICA FAGES UFPE Estas s o palavras de jovens que s o de fam lias reassentadas em agrovilas em Petrol ndia no Subm dio S o Francisco de Pernambuco As p ginas aqui foram produzidas na intera o entre fam lias de agricultores reassentados e pesquisadores do N cleo de Fam lia G nero e Sexualidade FAGES da Universidade Federal de Pernambuco com o apoio do P lo Sindical do Subm dio S o Francisco A coopera o entre estas pessoas e institui es data desde os anos oitenta e resultou em a es concretas e divulga o de muito material escrito sobre a vida nas agro vilas e a luta da popula o reassentada Este esfor o espec fico das Palavras dos Agricultores Reassentados nasceu da vontade de melhorar a comunica o entre a popula o e o setor de sa de documentando como os pr prios reassentados identificam os seus valores mais importantes sobre trabalho coopera o e o ambiente de viol ncia sobre namoros sexo e forma o de fam lias e sobre contracep o preven o e cuidados de sa de feitos por se mesmos bem como oferecidos por outros Com estas informa es em m os ser mais f cil identificar a es a serem promovidas para beneficiar a sa de da popula o respeitando os seus valores e condi es concretas A maior parte deste texto vem da boca dos pr prios jovens moradores de Agrovilas nos Blocos 1 3 e 4 do munic pio de Petrol ndia que participaram em grupos de discuss o em 2003 ao conv
37. Uma terceira como lidar com a incompreens o da AIDS que tem gerado atos de exclus o e marginaliza o em locais onde residiram pessoas com exames confirmat rios que desenvolveram sintomas Isto tem exigido colabora o entre as Secretarias de Sa de os profissionais do PSF e a popula o E a quarta o levantamento de uma consci ncia da diversidade de demandas na rea de sa de reprodutiva e de g nero que tem sido gerada por muitas mulheres boa parte sensibilizadas por capacita es promovidas pelo Departamento de Mulheres e Jovens e pela coordena o geral do P lo Sindical e as diretorias dos Sindicatos Elas sentem mais necessidade de qualidade em servi os de atendimento a elas seja nas reas de sa de f sica seja na prote o contra viol ncia dom stica Este conjunto de novas vulnerabilidades na rea de sa de bem como das outras reas afins mostra o quanto s o inextric veis os percursos seguidos pela reassentamento e pela na o para modificar um quadro local onde a sensibilidade s vulnerabilidades retrata uma regi o totalmente transformada S o novas inseguran as que real am que ainda se vive uma realidade de um Estado que mesmo quando est irremediavelmente mais presente decorrente do projeto administrado por ele e da expans o hist rica dos seus servi os continua omisso pelas suas pr prias fraquezas e indisposi es Tamb m s o inseguran as que se relacionam com um rearranjo profundo das rel
38. a administrada mesmo quando variados s o muito mais concretos elegendo pontos que s o cruciais para a defesa das coletividades locais que estes grupos representam A maneira com que o Estado e seus colaboradores interv m no cen rio local redimensiona as rela es de poder entre os agentes ao conferir significados muito mais palp veis para cada a o tomada O surgimento ou intensifica o de uma capacidade organizacional extraordin ria no sentido de fora do ordin rio para o local em quest o entre alguns grupos faz parte de um jogo no qual os potenciais danos do projeto anunciado ou j em opera o exp em um espa o de vulnerabilidade que vem exigindo uma nova articula o de poder As vulnerabilidades expostas requerem a es concretas e a inseguran a administrada se torna uma ferramenta para a cria o de uma resist ncia ou de uma colabora o intensiva dependendo da leitura das implica es do projeto Com a passagem do tempo criam se novas perspectivas das quais se possa avaliar a opera o do redimensionamento dos dom nios de poder que cada projeto programa ou pol tica espec fico possibilitou A inseguran a administrada marca uma hora do escancarar as portas do Estado distante trazendo o para pr ximo para torn lo um agente conhecido Assim os bra os de interven o aparentemente vagos e apagados inicialmente v o tomando formas cada vez mais complexas e variadas Exige a o sistem tica concentr
39. agora neste cap tulo Cronologicamente a primeira das barragens Itaparica ainda mant m o carimbo autorit rio dos tempos da ditadura militar desenvolvimentista brasileira cujos projetos contribu ram fortemente para o endividamento do pa s Durante o planejamento n o houve discuss o com a popula o sobre a sua conveni ncia No entanto quando se aproximava a data de fechamento das comportas para criar o reservat rio a abertura democr tica j se tinha firmado com a elei o do primeiro presidente civil do Brasil Os movimentos reinvindicat rios achavam novos espa os para levantar a voz com menos probabilidades de repres lias Em Itaparica esses movimentos enfrentaram uma situa o j definida de barragem aprovada mas encontraram ainda aberto o espa o para determinar as condi es dos reassentados A Chesf promovia o reassentamento como uma mudan a pro melhor salientando que os sem terra meeiros e diaristas receberiam terra pr pria irrigada nas agrovilas A id ia de estar modernizando o Sert o do Nordeste notoriamente a regi o mais atrasada do pa s com uma quase reforma agr ria servia como justificativa para colocar o pr prio movimento de resist ncia como estabilizador dessa mudan a Estabelecendo os donos de poder locais sobretudo os fazendeiros e os donos de bombas d gua como o inimigo comum foi criado um terreno para a coopera o onde o pr prio movimento contribu a para sacrificar a q
40. alguns projetos iniciaram a sua produ o agr cola em 1994 o P lo enfrentou uma realidade ainda mais complexa para promover o seu projeto de apoio a pequenos produtores agricultores irrigantes bem diferenciados dos projetos da Codevasf VIANNA MENEZES 1994 p 44 Acrescentado a insist ncia no cumprimento do resto das responsbilidades da 133 Chesf o problema antes previsto era como organizar a produ o formar associa es acessar informa es sobre mercados consumidores e pre os controlar a entrada de agroind strias e controlar o pre o de insumos sobretudo da energia el trica muito cara nestes projetos Mesmo que se complexificasse o exerc cio do sindicalismo o P lo n o recuou diante da nova agenda Em meados de 1997 percebendo as pol ticas de afastamento e a imin ncia do possivel encerramento do conv nio de assistencia t cnica entre a Codevasf com os seus cons rcios associados e a Chesf ele estava pleiteando no meio de muita pol mica e de questionamento sobre as implica es sobre a radicalidade e objetividade da sua atua o pol tica assumir a assist ncia t cnica nos projetos Colocado por alguns dos representantes sindicais nos termos mais simples o argumento usado era de que os cons rcios nao tinham resolvido nada e a Chesf precisava soltar o controle do dinheiro que ningu m via N o sem a devida cautela o P lo apostava na possibilidade de uma grande modifica o na administra o
41. ambientes surgidos em fun o do grande projeto de desenvolvimento Descaso planejado uma designa ao aqui empregada para descrever uma sensa o que persistentemente acompanha a experi ncia de interagir com os agricultores diante desse mega projeto de desenvolvimento um termo que reconhece que mais vezes que n o projetos destas dimens es prejudicam quem reside pr ximo aos locais destinados para a sua implementa o Detalhe tr s detalhe aparecem ambigiiidades m ltiplas que quando cuidadosamente examinadas criam um padr o de preju zos maiores para os que s o mais fracos por mais bem organizados e apoiados que estejam Aponta para as rela es entre uma mir ade de agentes sociais que se mobilizam para negociar em torno de objetivos estruturalmente conflitantes cada lado procurando convencer aos outros que seu argumento mais consistente e seus interesses mais nobres a descri o mais sucinta que encontro para descrever a observa o da condi o de agricultores que se tornaram atingidos e depois reassentados antes durante e depois da constru o da barragem Luiz Gonzaga nos anos oitenta O rio virou lago cumprindo simbolicamente a profecia repetida na boca do povo do Sert o virar mar Dezenas de milhares de habitantes da beira do Rio S o Francisco tiveram a sua vida profundamente alterada em nome da melhora alheia Mega projetos de desenvolvimento mobilizam planejadores e administradores durante d cadas e
42. ao do Programa Integrado de Mestrado em Sociologia e Economia UFPE 1986 publcado em Recife Massangana 1990 PARTRIDGE William L BROWN A B NUGENT J B The Papaloapan Dam and Resettlement Project Human Ecology and Health Impacts HANSEN Art OLIVER SMITH Anthony Eds Involuntary Migration and Resettlement the Problems and Responses of Dislocated People Boulder Westview Press 1982 PAZ Octavio El laberinto de la soledad Mexico Cuadernos Americanos 1950 PIERSON Donald Coord O Homem no Vale do S o Francisco 3 v Rio de Janeiro Minist rio do Interior SUVALE 1972 244 PINA CABRAL Jo o de Os contextos da antropologia Lisboa Difel 1991 Identidades inseridas algumas indaga es sobre identidade emo o e moralidade ICS Universidade de Lisboa dspon vel em www ics u corpocientifico pinacabral pdf identidades inseridas3 pdf Acesso em 23 de julho de 2005 PLANVASF Plano Diretor para o desenvolvimento do Vale do S o Francisco Plano Diretor S ntese Brasilia PLANVASF 1989 P LO SINDICAL DO SUBM DIO S O FRANCISCO Depois que a gua nos tangeu Nova Petrol ndia m meo 1991 Diretrizes B sicas para o Reassentamento Itaparica P lo 1984 QUEIROZ Maria Isaura Pereira de O Messianismo no Brasil e no Mundo S o Paulo Alfa Omega 1977 RAMOS Samuel El perfil del hombre 42 edi o M xico M xico 1963 S Maria Auxiliadora Ferraz de Dos ve
43. as inevit veis condena es de algumas pessoas que assumem a identidade de guardi es morais tradicionais n o raramente pessoas que manifestam mais abertamente a f religiosa a realiza o de rela es sexuais pr maritais especialmente quando praticadas discretamente n o suscita estranhamento H uma confirma o da continuada e para alguns dolorosa constru o de uma id ia de que o sexo seja um saud vel acontecimento esperado em qualquer namoro O desenlace que s vezes ocorre mesmo antes de engravidar resulta no acionamento das redes de rela es do rapaz que possam promover uma fuga Diante das limita es postas pelo pouco tempo dispon vel para planejar esta fuga pode poupar os pais e os pr prios noivos de um constrangimento econ mico e moral proveniente da realiza o de 38 Mais uma vez a pesquisa de Mauricio Tavares 2009 mostra muitos parelelismos com o que se descreve aqui 225 uma cerim nia indigna da import ncia do evento A cumplicidade de parentes e de amigos da comunidade que garantem as condi es do casal se afastar do conv vio cotidiano e vigil ncia paterna o tempo suficiente para simbolizar a import ncia da sua uni o sob a ben o protetora das pessoas pr ximas e da parentela que abrigou o novo casal A recep o na volta com queixas rituais rapidamente substitu das por a es conciliat rias mant m o casal incorporado no grupo 3 As fugas marcam bastante a viv ncia d
44. bem A discrimina o da cidade com as agrovilas muito grande S o mal vistos pra caramba e o que o pessoal da agrovila vai buscar na cidade geralmente pra resolver alguma coisa ir a um m dico ir comprar fazer feira de comida essas coisas comprar insumos pra ro a mesmo de veneno adubo compras de roupa cal ado rem dio ou visitar um parente ou coisa assim Eu gosto de morar na agrovila porque melhor n o tem tanta viol ncia Mas para o marido que bebe melhor estar na agrovila mesmo Em Petrol ndia voc n o pode deixar nem uma bicicleta do lado de fora que j rouba olhe quando voc for no mercadinho pode deixar do lado de fora que quando voc volta n o est l n o 261 SEGURAN A E VIOL NCIA EM CASA NA COMUNIDADE E NA RUA PALAVRAS DOS AS PESQUISADORES A procura de seguran a e conviv ncia com a viol ncia fazem parte importante da vida dos agricultores reassentados removidos quando o governo resolveu construir a barragem que se tornou uma raz o de cometer uma viol ncia contra os seus estilos de vida anteriores Inseridos numa regi o onde escalam se cada vez mais o plantio e o com rcio clandestinos da maconha em fazendas distante da vigil ncia das institui es de seguran a p blica e onde ocorre a pr tica de roubo de cargas e assalto a viajantes os reassentados procuram formar ilhas de pr ticas seguras de um agricultura que respeita a hierarquia e a moralidade
45. campo perto das ro as agora est nas novas agrovilas a parte humana do meio ambiente criado obedecendo as considera es t cnicas de fornecimento de gua luz e servi os diversos H uma m dia de 55 casas amontoadas cerca a cerca no tra ado de ruas planejadas expondo os problemas privados de cada casa ao olhar p blico da vizinhan a A relativa falta de fruteiras e de produtos de plantio para consumo dom stico e para trocas e distribui o entre amigos e visitas uma das confirma es mais claras do processo de empobrecimento No novo ambiente em cria o ainda h muitos que ap s uma das raras colheitas poss veis sem irriga o t m que comer puro o feij o de chuva porque n o houve onde plantar os temperos a mistura e n o h criat rio para abater nem aonde comprar carne para juntar ao feij o O reassentado julga a sua pobreza pelo que tem para p r na mesa n o pelas cifras t o prezadas pelos planejadores e administradores que o identificam como detentor de uma renda mensal acima da m dia no Sert o Antes do reassentamento o agricultor n o ganhava nenhuma verba de manuten o tempor ria mas plantava e criava A sua depend ncia nos comerciantes n o era t o acentuada Para muitos depois do reassentamento o desmantelo tanto que os comerciantes que fornecem s fam lias grande parte dos seus suprimentos mensais e tamb m acompanham a ida para o banco para assegurar o pagamento da d vida
46. casa e a lotes e a um lugar aceito na organiza o social da comunidade assegurado mesmo que os seus lotes sejam menores s um dos 15 lotes acima de 3 0 hectares Mas tamb m nesta faixa que se encontram fam lias sem lotes que residem nas casas constru das para reassentados com lotes cujos donos resolveram por alguma raz o n o ficar na agrovila A situa o deles parecida com aquela dos filhos que constr em nos quintais e laterais 04 casas e com a das fam lias que residem em casas com cada vez maior n mero de pessoas abrigadas nos lotes Sem terras eles procuram partes de ro as de parentes e amigos para poder plantar de meia arrendado ou por outro arranjo de coopera o no trabalho Caso seja filho de um reassentado com lote n o tem perspectiva de ganhar um lote pois as regras sobre heran a ainda n o s o bem compreendidas dentro da complexa situa o jur dica das agrovilas Ficam como fam lias preenchendo os espa os de trabalho deixados pelos chefes de fam lia mais velhos e dependem das necessidades e das vontades deles As fam lias mais novas s o maiores devido grande participa o de filhos jovens Elas t m um tamanho m dio de 5 6 membros comparado com os 44 das mais velhas e t m propor es equilibradas de homens e mulheres S o organizadas acima de tudo em fam lias nucleares Somente 2 de 27 fam lias cont m colaterais e nelas n o h outros residentes parentes ou n o parentes
47. cons rcio Os t cnicos estavam sempre preocupados com assaltos Terceiro os interesses econ micos plantadores compradores transportadores estabelecidos desde os primeiros anos de irriga o em Cabrob Oroc e Bel m s o diferentes dos interesses das agro exportadores de Juazeiro Petrolina SCOTT 1999 Quarto h grandes extens es de solo inaproveit vel para agricultura irrigada fator que foi determinante na dispers o inicial dos projetos nos lados pernambucano e baiano Quinto a infra estrutura rodovi ria perdura com uma manuten o extremamente prec ria prejudicando o escoamento da produ o Em resumo al m de todos estes fatores o argumento principal que s o as estruturas de poder formadas em torno da constru o da barragem de Itaparica que em vez de alavancarem a expans o do modelo agroexportador a obstacularizam e apresentam o novo dom nio alternativo Sem o caminho aberto para promover entre os reassentados uma a o anal gica de sele o natural de colonos assim dificultando a entrada de empresas rurais e agroind strias exportadoras com base em Juazeiro Petrolina tem sido mais prudente para a Codevasf manter um afastamento estrat gico que reconhece a sua capacidade em assist ncia t cnica rural mas que n o a compromete com os rumos tomados pelo projeto Ao criticar tecnicamente o seu contratante a Chesf evita de assumir responsabilidade pelo reassentamento e evita uma confronta
48. da fase de transi o identifica se muito mais uma transforma o que uma elimina o dos la os de depend ncia As indeniza es por bens apropriados e os recursos acumulados desde antes pelos reassentados mais pr speros abriu oportunidades para refor ar depend ncias por diversos canais controle de com rcio e transporte dentro de agrovilas entre agrovilas e entre a cidade e as agrovilas invas o de terras destinadas para reassentados acompanhada por implementa o de agricultura movida por bombas e outros meios e emprego de diaristas e mesmo fora das agrovilas a montagem de empreendimentos para empregar reassentados No in cio do reassentamento quando as regras sobre as consequ ncias de estar trabalhando para outros sobre o direito da VMT mensal muitos 38 reassentados entraram num ciclo de endividamento com comerciantes fixos e itnerantes que comprometiam quase integralmente estas rendas transferidas do Estado O endividamento persiste e os mecanismos de vigilancia do destino do dinheiro recebido no banco se sofisticam com o passar do tempo Estas ocorr ncias lembram o desabafo do administrador do programa de reforma agr ria peruana que declarou abertamente a incapacidade de projetos de reforma de eliminar rela es de depend ncia STEIN 1975 As d vidas sobre a viabilidade da produ o nestas novas condi es n o se desfazem pois circula informa o entre os reassentados sobre as dificulda
49. de Convivendo por per odos curtos com a popula o a equipe ainda realizou mais entrevistas e desenvolveu pesquisas 16 sobre alcoolismo viol ncia planejamento familiar a cultura e a sexualidade juvenis e concep es de sexualidade e g nero na m dia Os encontros entre reassentados ndios e moradores da periferia urbana sobre direitos e sobre pol ticas de sa de reprodutiva abriram canais para discuss es e reflex o sobre experi ncias A proposta de realizar oficinas sobre g nero e direitos humanos sobre viol ncia dom stica sobre juventude sobre planejamento familiar e doen as sexualmente transmiss veis e a oportunidade de pensar como enquadrar estas quest es nas estrat gias do P lo permeou os anos recentes de conviv ncia Nos cap tulos 9 e 10 e com destaque no Anexo que relata As Palavras dos Jovens de Itaparica sobre o contexto em que desenrola a sua vida documenta se este per odo mais recente As p ginas do Anexo s o desenhadas para uso em oficinas de discuss o ou em quaisquer outros meios de defender a popula o Percebe se como o ac mulo de informa es ao longo das duas d cadas de trabalho resulta em interpreta es que respeitam a hist ria do reassentamento como ponto insepar vel da compreens o da sua vida cotidiana contempor nea permitindo redefini es de estrat gias de a o Algumas reflex es adicionais sobre este material bem como os textos produzidos sobre direitos e pol ticas de
50. de reassentamento criaram um cen rio de apar ncia de preocupa o governamental Tamb m gerou alguns resultados pontuais mas acima de tudo contribuiu para que o Estado se apresentasse regi o com pele de camale o sempre se modificando sempre se reinstalando sempre rearrumando as responsabilidades e com poucas resolu es concretas ocorrendo O pr prio P lo enfrenta uma grande dificuldade na administra o sindical p s reassentamento Ele se encarregou de contribuir para o est mulo forma o de associa es de produtores que pudessem organizar racionalmente a produ o e comercializa o dos produtos das agrovilas Os graus e a velocidade de sucesso s o muito variados dependendo dos contatos e esfor os dos seus administradores particulares sendo esses reassentados com o tino para o neg cio A n o ades o de muitos reassentados a estas associa es virou um elemento que reacendeu disc rdia entre reassentados servindo para acirrar diferen as entre as suas avalia es dos esfor os dos que se 204 aproximavam mais ao sindicato Entre acusa es m tuas de vis o curta e auto interesse ambos os associados e os n o associados encontram dificuldades de organizar de forma colaborativa e coletiva a sua produ o Contra os que n o se associam alguns argumentos circulam Em alguns casos alega se que quem n o quer se associar estava mal acostumado com depend ncia num patr o Em outros casos por causa
51. de Itaparica Recife Funda o Joaquim Nabuco Massangana 2000 ARA JO Maria Lia Correia de LIMA Ana Elisa Medeiros V GALINDO Magda Caldas Irriga o P blica e os munic pios a administra o dos impactos sociais dos Projetos Br gida e Cara bas Recife FUNDAJ INPSO Depto de Sociologia e Depto de Economia m meo 1992 ARRIAGADA Irma Mujeres Rurales de Am rica Latina y el Caribe Resultados de Programas y Proyectos In GUZM N V PORTOCARRERO P VARGAS V Compil Una Nueva Lectura G nero en el Desarrollo entre Mujeres Lima p 127 157 1991 AYRES Jos Ricardo A doen a na sociedade como entidade e como processo subs dios para pensar a epidemiologia Revista Sa de e Sociedade S o Paulo v 2 n 2 p 135 162 1993 Hermen utica e humaniza o das pr ticas de sa de Ci ncia amp Sa de Coletiva 10 3 p 549 560 2005 Vulnerabilidade e Aids para uma resposta social epidemia Culture Health amp Sexuality S o Paulo XV 3 p 2 4 1997 BARABAS Al cia Autonomias Ind genas en M xico Utopias Posibles In SCOTT Parry ZARUR George Org Identidade Fragmenta o e Diversidade na Am rica Latina Recife Editora Universit ria 67 86 2003 BARABAS Alicia BARTOLOM Miguel Hydraulic Development and Ethnocide The Mazatec and Chinantec People of Oaxaca Mexico Doc 15 Copenhagen Denmark International Working Group on Indigenous Affairs 1973 BARKIN David
52. de estar se afastado da produ o agr cola desde at antes do traslado E ainda em outros casos insiste se numa atitude obstinada de autonomia familiar que provoca limita es realiza o de um trabalho coletivo Na outra dire o contra os que participam nas Associa es jogam se suspeitos de estar trabalhando em interesse pr prio trabalhando em outras coisas e n o com a terra enriquecendo se s custas de quem deve estar se lucrando com a coopera o A aquisi o de um carro de um computador de um trator de um equipamento de beneficiamento para o produto de abertura de uma linha de cr dito ou mesmo a assinatura de um acordo para fornecimento de produtos todas s o a es que despertam o olhar cr tico e questionador de associados e de n o associados S o novas reconfigura es das rela es de poder locais cujas linhas demarcadoras foram costuradas pelo processo ao qual todos foram expostos Para o P lo esta fase implicou em grandes modifica es O seu papel de representante e negociador para tornar as v timas beneficiadas tinha sido muito claro na primeira fase como tamb m na segunda embora exigisse a contragosto um certo grau de colabora o em tarefas administrativas de execu o Mas uma vez reassentada a popula o que se homogeneizasse em rela o ao projeto administrado retomou um rumo de heterogeneiza o Agora os reassentados ficaram espalhados por centenas de quil metros alguns em novas
53. demonstraram capacidade para organizar um movimento veloz vis vel e sobretudo efetivo evitando cair no mesmo destino infeliz do reassentamento O nico grupo ind gena brasileiro diretamente atingido pela barragem de Itaparica foi o dos Tuxa de Rodelas na Bahia totalizando 1 200 pessoas ou seja cerca de 3 do total atingido Acima do n vel de inunda o mas tamb m muito pr ximo rea e com locais sagrados no pr prio rio os ndios Pankararu tamb m sentiram seus efeitos Em algumas poucas ilhas do Rio S o Francisco e nas margens do rio comunidades negras cujas origens remontavam aos tempos de escravos fugidos ainda conservavam uma identidade pr pria e apenas posteriormente se tornaram refer ncias para a atua o dos grupos de quilombolas na regi o Mas a grande maioria da popula o em geral n o se percebia etnicamente diferenciada de modo a conseguir estabelecer uma base para distintas identidades internas rea Foi sua localiza o na beira do rio que criou uma diferencia o socio ecol gica entre elas os beiradeiros e os outros os caatingueiros das terras secas do interior Internamente as distin es mais frequentemente 63 reconhecidas eram as de origem por comunidade e por propriedade agr cola Assim algumas comunidades se deno minavam Fazenda enquanto outras n o carregavam nenhum nome de propriedade espec fica A popula o estava bastante dispersa nos sete munic pios e as pesso
54. dentro e fora da Comisi n Federal de Electricidad CFE arque logos antrop logos outros acad micos e jornalistas Como a popula o atingida era exclusivamente ind gena o Instituto Nacional Indigenista INI entrava nas negocia es ao lado do governo junto CFE criando um advers rio nico para o movimento O trabalho artesanal serviu para r pida identifica o do grupo nahuatl mesmo para quem desconhecia qualquer outra coisa sobre o grupo e foi a particularidade cultural ind gena e n o a identidade trabalhadora que se tornou a principal arma da luta ao mesmo tempo em que a qualidade da rede de apoio formada em torno do movimento nahua contra a barragem n o apresentava grande diferen a da qualidade da rede de Itaparica N o segredo que administra es governamentais investem em megaprojetos hidr ulicos ou outros inaugurados em sua gest o para marcar sua passagem pelo governo Cada um 68 desses projetos elaborado por muitos e muitos anos condensa muitos interesses nacionais num cen rio local Na medida em que fortes movimentos de resist ncia suscitados pelos ditos projetos clamam pelas aten es nacional e internacional eles tamb m terminam por fazer parte da forma o de uma identidade nacional Focalizando comparativamente esses aspectos dos movimentos no M xico e no Brasil poss vel entender mais uma camada de significados al m do local e do internacional que t m sido real ados at
55. desmonte da sua base de vida e na espera do traslado a popula o de Itaparica j manifestava as condi es estressantes bebida cio desorienta o incerteza sentimentos de falta de poder O realinhamento das rela es de poder do planejado e do n o planejado dos novos arranjos nas estrat gias de vida dos reassentados alguma coisa que vai muito al m de tens es reassentado anfitri o O que interessa muito mais que uma simples descri o das manifesta es individuais de estresse em si a malha social que cria o contexto onde o estresse pode florescer 20 Em 1985 durante a fase euf rica do processo de democratiza ao brasileira a CHESF na sua condi o de ag ncia governamental respons vel pela gera o gest o e distribui o de energia el trica para muito do Nordeste publicou o seu Plano de Desocupa o da rea no entorno do Rio S o Francisco o qual seria inundada ficando abaixo das guas do reservat rio O plano fazia parte de um outro plano muito mais amplo de desenvolvimento de recursos hidroel tricos iniciado com a constru o do complexo de barragens de Paulo Affonso Moxot nos anos quarenta e cuja fase mais recente inclu a a rec m constru da barragem e reservat rio de Sobradinho fim os anos setenta in cio de oitenta centenas de quil metros a montante de Itaparica Itaparica mesma a meados para o fim dos anos oitenta e a barragem de Xing a jusante final dos anos
56. din mica modifica as condi es de vulnerabilidade tanto de sa de quanto de poder das popula es a serem atingidas Inicialmente as inseguran as s o imersas numa malha complexa de rela es sociais estabelecidas num ritmo mais ou menos paulatino apresentando se como estruturais associadas esparsa atua o local dele e a perpetua o da pobreza e como coletivas locais reafirmadoras de diferencia es e hierarquias entre m ltiplos atores locais Estas est o abruptamente sobrepostas por uma inseguran a administrada que al m de ser imperativa pelas fortes consequ ncias advinda da execu o do projeto profundamente transformadora das rela es que comp em as estruturas de poder locais As vulnerabilidades cotidianas que entravam na forma o das redes interconectadas da vida local mesmo existindo ainda est o suplantadas por uma vulnerabilidade generalizada que acomete a todos e homogenei za os atores diante das esferas de atua o pondo a institui o executora Chesf e a institui o de resist ncia P lo como guias neste processo As solu es da vulnerabilidade prov em destes atores como parte do processo de planejamento e divulga o e a negocia o que decorre disso Ambos professam respeito heterogenia e ambos participam numa homogeneiza o que aclara os posicionamentos antag nicos que muitas vezes s o levadas a tomar implanta o Esta fase marca o pice da inseguran a administrada p
57. diz respeito a suas decis es com quem e quando casar que tipo de uni o etc essa autonomia muito negociada com as fam lias Nesse sentido percebe se que existe uma forte solidariedade entre as gera es e os grupos familiares solidariedade que tem permitido que novas fam lias se formem num cen rio economicamente pouco favor vel 273 O QUE OS AS JOVENS DIZEM SOBRE SEXO PARA ELES E PARA ELAS HOMEM PODE MULHER N O Se n o ficar com uma menina ela logo chama os meninos de viados Eu acho que em outro lugar diferente daqui porque aqui se a mulher quiser ficar com voc e se voc n o quiser no outro dia todo mundo sabe que voc fresco Aqui j aconteceu isso comigo O homem sempre mais ousado mais atirado ele procura mais No caso a mulher quando elas t o a fim mesmo elas querem n o tem dificuldade elas querendo f cil demais quando ela se engra a ela vai com sua cara mesmo ela procura voc como voc procura a mesma coisa Se uma mulher me procurar na hora Eu penso que ela t certa de me procurar UM rapaz pra fazer neg cio ela procura porque tem vez que ela procura se oferecendo muita gente diz que ela galinha Se a mulher vem me procurar pra essas coisas se ela for dessas tiver um pouco de intelig ncia e experi ncia ficar se oferecendo a toa da minha parte eu caio fora na hora n o d tes o nenhum se ela se
58. do Subm dio S o Francisco 1994 WARMAN Arturo Y venimos a contradecir M xico CIS INAH 1976 WATERBURY John Hydropolitics of the Nile Valley Syracuse University Syracuse 1979 WERNER Dennis Stress psico social e a barragem de Ibotirama s 1 s d repro WILK Richard NETTING Robert McC Households Changing forms and functions In WILK R NETTING R McC ARNOULD E eds Households Comparative and historical studies of the domestic group Berkeley Univ of Calif rnia 1984 WOORTMANN E Parentesco e reprodu o camponesa Ci ncias Sociais Hoje S o Paulo p 192 219 1985 WOORTMANN K A Fam lia Trabalhadora Ci ncias Sociais Hoje Rio de Janeiro 1984 Com parente n o se neguceia o campesinato como ordem moral Anu rio Antropol gico Bras lia v 87 1990 WOORTMANN K WOORTMANN E Fuga a Tres Vozes Anu rio Antropol gico 91 1992 p 89 137 Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1993 250 WORLD BANK Resettlement and Development the bankwide review of projects involving involuntary resettlement 1986 1983 Washington Environmental Department The World Bank 1994 WORLD BANK World Bank approaches to the environment in Brazil a review of selected projects Vol IV The middle and Lower San Francisco Valley Washington Operations Evaluation Department Restricted Access Report No 10039 1992 251 ANEXO PALAVRAS DOS JOVENS DAS FAM LIAS DE AGRICULTORES REASSENTADOS EM
59. do conjunto quatro problemas cujas resolu es representavam desafios dif ceis de serem superados pela Chesf A apresenta o destes problemas ilustra o campo do discurso sobre ambiente e popula o em que as pr ticas e os s mbolos do novo ambiente constru do se formam 138 como parte de uma teia de rela es sociais entre os diversos agentes Os quatro problemas s o identificados atrav s das refer ncias espaciais da forma que se enquadram no planejamento do reassentamento 1 Projeto Barreiras em Petrol ndia 2 Projeto Jusante em Gl ria 3 a Cidade de Itacaruba e 4 Rodelas Chorroch No Projeto Barreiras em Petrol ndia Pernambuco duas situa es problem ticas despontam a a implanta o de grande parte do equipamento infraestrutural e de irriga o se encontra totalmente parada desde quando as empreiteiras subcontratadas OAS e Queiroz Galv o entraram na lista de firmas investigadas no esquema Paulo C sar Farias de desvios or ament rios e b acima de 500 hectares de terra divididos em lotes para mais de 100 fam lias foram condenados como imprest veis para agricultura requerendo uma nova procura de terras para um re reassentamento O Projeto Jusante em Gl ria Bahia toma as fei es de uma fic o administrativa por falta de clareza sobre as fontes de recursos para a sua implanta o Idealizado como uma maneira da popula o local se manter pr xima s suas origens foi bancado pela Chesf parc
60. dos projetos que poderia redundar numa nova dimens o no seu papel hist rico de defensor de um modelo alternativo para beneficiar a popula o reassentada A mancha nos per metros irrigados Dentro da sub regi o de Itaparica h desafios adicionais que quando somados s condi es criadas em torno do reassentamento elucidam ainda mais o porqu de a Codevasf julgar inoportuno expandir a jusante os dom nios do seu modelo de agricultura irrigada fortemente articulada a empresas rurais Primeiro a rea constitui grande parte do chamado pol gono da maconha onde h atores poderosos cujos dom nios seriam amea ados ainda mais por uma expans o destas empresas Inclusive os pr prios reassentados precisam combater sistematicamente uma imagem criada pelos seus detratores de que muitos s o participantes nesta produ o e com rcio de maconha S o raros os reassentados que se envolvem nestas redes de plantio e de tr fico tra adas por outros Segundo a pr pria viol ncia se manifesta em outras formas nesta rea como em assaltos a carros e a nibus bem como 134 em brigas de familias que atravessam gera es S 1974 O sistema de seguran a p blica n o reprime efetivamente esta viol ncia fazendo com que a opera o comercial e empresarial seja dificultada na regi o Os t cnicos do cons rcio dos Projetos Especiais informaram que muitos carros tinham sido roubados nos poucos anos de servi o prestado pelo
61. e a partir das intensifica es e retra es da sua presen a uma s rie de fatores de gera o de inseguran a se torna muito mais transparente Desta perspectiva de Estado amb guo gerador de inseguran a elabora se a partir de exemplos concretos do caso de Itaparica um quadro que possa facilitar a compreens o de processos de adoecimento sofrimento e administra o de sa de que acompanham o desenrolar temporal de grandes projetos que envolvem migra o for ada e constru o de meios de repara o e compensa o A forma tomada em Itaparica de um projeto de reassentamento rural onde o of cio agr cola dos reassentados um eixo organizador de todo o processo O projeto de constru o da barragem Luiz Gonzaga e o reservat rio do Lago de Itaparica muito antigo e a sua concretiza o nos dois sentidos data das d cadas aparentemente remotas dos anos 1970 e 1980 Ou seja um processo que se aproxima a quatro d cadas de a o e que tem 183 resultado numa transforma o brutal do cen rio cotidiano de uma popula o numeros ssima Para al m dos quarenta mil habitantes rurais pessoas diretamente atingidas que vivem ou viviam diretamente de trabalhar a terra houve um n mero semelhante de habitantes urbanos diretamente atingidos boa parte do qual depende da intera o com estes moradores rurais como parte do seu meio de vida S o os habitantes do reassentamento rural que recebem aten o direta neste trab
62. e de d cadas o reassentamento interv m abruptamente centralizando a es numa nica institui o governamental Chesf e cortando as outras rela es anteriormente estabelecidas A Chesf faz uma divulga o do seu projeto como uma esp cie de reforma agr ria em que ela seria a catalizadora da elimina o de estruturas de produ o arcaicas de mea o e promotora da aquisi o de terra pr pria para todos Com a interrup o da produ o os conte dos das rela es com vizinhos e patr es locais experimentam grandes vazios vazios estes que o projeto ambiguamente prop e preencher com a sua capacidade de instalar agrovilas ao mesmo tempo em que na medida do poss vel insiste que est querendo preservar os la os de comunidade pr existentes Na Mesa Redonda da APIPSA sobre Itaparica MRI fica evidente uma oscila o no posicionamento do representante da Chesf sobre quem respons vel pela dire o das mudan as A sucess o n o perfeitamente sequenciada de imagens sugere a complexidade do problema do ambiente institucional na qual as 102 institui es governamentais ora desmentem a sua pr pria capacidade ora se ufanam pelo que podem oferecer em benef cio dos desassistidos ora relegam a hist ria do povo que pretendem beneficiar a um virtual vazio ora entram no jogo burocr tico cl ssico de atribuir responsabilidades a outros ora cobram de uma forma quase acusat ria a retribui o pelas suas a es
63. e drogas O reestabelecimento do plantio depois do reassentamento trouxe uma diminui o da viol ncia praticada por terceiros embora para alguns reassentados a continua o da falta de acesso a terra para plantar tem gerado maiores problemas com a viol ncia As opera es policiais de repress o do plantio de maconha de assaltos e de outros crimes frequentemente vitimizam os agricultores direitos confundidos com bandidos e assim contribuem para a amplia o da inseguran a nas agrovilas A discrimina o contra os agricultores acirrada pela representa o exagerada que os moradores da cidade fazem dos perigos das agrovilas Quem reassentado entende que as agrovilas s o espa os mais tranquilos onde se pratica menos roubos e assaltos e onde h menos desemprego que na cidade O que falam os reassentados e as reassentadas sobre seguran a e viol ncia 8 PARA ELES E PARA ELAS 48 EDUCANDO OS FILHOS porque nasceu daquele jeito briga O pior n o ter n o o pior saber educar Eu direto vai crescer daquele jeito tenho um menino de cinco anos As vezes ele dif cil pra criar Tem que ter me obedece S me obedece quando eu pego a responsabilidade porque se n o sand lia Agora o pai dele s olhar assim com drogas outros a maltratam e batendo a cara feia pro lado dele que ave Maria Agora at em pai matando roubando essas eu n o ningu m Tem vezes que ele me coisas Tem que regar p
64. e paix es s o firmados longe de casa s vezes at s escondidas nos matos No dom nio rural isto bastante expl cito justamente por causa da alta valoriza o que pais e filhos d o prote o e vigil ncia sobre as suas filhas No meio de discursos de lamento de como as jovens encaram o sexo no namoro hoje em dia os pais demonstram consci ncia desta relativa perda de controle sobre as pr ticas das filhas neste campo A luta para restringir as redes de rela es das filhas s pessoas que prov m no m ximo da vizinhan a ampliada e que sejam de fam lias conhecidas perdura Uma das maiores amea as a esta restri o se encarna na forma de rapazes sedutores de locais mais ou menos distantes e com capacidade de consumo e com alta mobilidade O maior s mbolo deles frequentemente uma moto possante Quando s o vindos de longe sem que as fam lias deles sejam conhecidas eles representam o contato com o mundo al m da agrovila e com frequ ncia al m das reas irrigadas importante lembrar que os agricultores rurais fazem amplo uso da m o de obra familiar nas suas pr ticas cotidianas da vida produtiva Como as filhas de agricultores irrigantes costumam se deslocar para residir mais pr ximo aos pais dos seus noivos quando casam ou fogem esta restri o al m de encarnar uma conhecida no o machista de sobrecontrole das mulheres tamb m um mecanismo de controle da circula o delas em nome da continua o
65. elabora o de sucessivos projetos de aproveitamento do potencial hidrel trico do Rio S o Francisco construindo as barragens de Paulo Affonso I IL II IV Moxot Sobradinho Itaparica e Xing s esta ltima formalmente fora do Submedio como tamb m com trabalhos de muito menor envergadura em outros rios e ainda projetando barragens em Riacho Seco e Pedra Branca entre Itaparica e Sobradinho A sua estrutura empresarial p blica centralizadora nacionalmente como holding da Eletrobr s favorecia a articula o entre engenheiros el tricos e civis para a promo o de obras muito volumosas e despendiosas Requer um planejamento longitudinal n o somente da demanda de energia regional mas tamb m da continuada associa o de grandes cons rcios de engenharia e de apoio t cnico como co executores As suas interven es impactam na sociedade e economia locais mas est o dirigidas a um consumo do produto energ tico longe das beiras do Rio A constru o da hidrel trica de Xing inaugurada na decada de noventa marca o encerramento de meio s culo de megaprojetos barrageiros no Rio S o Francisco mas n o marca o fim de projetos de menor envergadura O esgotamento progressivo do potencial de gera o de energia deste Rio for a a intensifica o das j previstas novas guinadas na pol tica energ tica regional aproveitando a possibilidade de importa o de energia do norte do pa s para complementar o pouco que ainda s
66. es ainda permitiam que alguns n o almejassem virar reassentados Alguns optaram por indeniza es monet rias quando n o investidas posteriormente na montagem de novas formas de subordina o da popula o local e garantias individuais de sustento despendidas de uma maneira fr vola ou usadas para estabelecer se em outros locais seja nas cidades locais seja em locais muito longe Alguns se 196 organizaram para promover a continua o de grupos clientelistas ou fazendas em novos locais encontrados por si mesmos E ainda o grupo de agricultores irrigantes das granjas que tinham tido o privil gio de se beneficiarem do projeto de irriga o em Petrol ndia alcan ou a antecipa o da implanta o de lotes maiores e com equipamento instalado o que permitia a sua continua o como uma camada elitizada da sociedade local Mas a regra era ser projetado para ser reassentado e viver na expectativa de condi es de voltar a produzir em pouco tempo prometido em seis meses nos projetos escritos Parte do al vio buscado nesta condi o foi de tentar reassentar se pr ximo ao seu lugar de origem que ficaria inundado Para tanto a confronta o foi entre a leitura t cnica dos financiadores e executores da opera o de capacidade de projetos de habita o e terras agrovila sustentar a produ o agr cola pelo pre o da tecnologia que estavam dispostos a investir claro e a leitura sentimental e de alian as locais qu
67. forte como o P lo Sindical certamente as possibilidades de sucesso seriam muito menores A transforma o ocorrendo dentro dos campos t cnicos pol tico institucionais e socioecon micos j descritos desemboca no novo campo cultural A quest o se torna o reassentado tem condi es de administrar lotes irrigados com uma tecnologia sofisticada Ele saber ler os significados relevantes no novo ambiente para se transformar no novo agente social e cultural no Sert o moderno Ao iniciar o seu per odo de cinco anos de assist ncia t cnica os cons rcios contratados pela Codevasf j vinham identificando alguns problemas culturais pois os seus coment rios cr ticos demonstram que lidam com uma popula o descapitalizada viciada despreparada e temporalmente deso rientada Ao identificar o problema de descapitaliza o uma outra forma de se referir ao empobrecimento descrito acima salienta o baixo potencial de investimento no plantio e questiona a capacidade dos reassentados se tornarem pequenos empres rios ou at empregadores na regi o N o a baixa capacidade de consumo empobrecimento que preocupa Um aspecto deste problema de descapitaliza o se relaciona intimamente com a id ia que a popula o viciada Os t cnicos demonstram um tremendo respeito pela atua o e pelos ganhos pol ticos do 152 conjunto de reassentados e o P lo Sindical mas tamb m s o r pidos em ressaltar que se acostumaram
68. fracos As hierarquias eram mais pronunciadas no lado pernambucano com predom nio de meeiros associados a fazendeiros menos no lado baiano onde mais agricultores tinham condi es de serem pequenos propriet rios e posseiros dependentes mais do fornecimento da gua bombeada do que de acesso terra Nos termos descritos neste trabalho na regi o predominava a combina o de uma inseguran a estrutural e uma inseguran a coletiva local A inseguran a estrutural deixava os agricultores e trabalhadores vontade para produzir de uma forma m dica sem que esperassem resultados de a es do Estado Eles que sem formar identidades coletivas locais fortes dependiam das rela es travadas com os outros detentores de maiores recursos terra bombas redes comerciais de tamanhos variados e meios de transporte As vulnerabilidades vividas nestas condi es se relacionavam com o contato cotidiano com a natureza diarr ias dermatites pequenas les es parasitas resfriados e a sua resolu o sublinhava o isolamento e a super inser o em redes solid rias ao mesmo tempo hier rquicas em que problemas eventuais de sa de terminavam por refor ar essa depend ncia Utilizava se do apoio de quem tinha mais recursos localmente para tratar desses problemas Os servi os de sa de dispon veis nos munic pios al m de serem de dif cil acesso f sico para muitos sofriam de limitados n meros de profissionais e n o respondiam dem
69. locais que incorporam a exclus o sistem tica N o nem o que alguns autores t m entendido como resigna o nem o que outros inserem num quadro generalizado de a es e sentimentos de resist ncia uma esp cie de contra face da exclus o que cont m os elementos constituintes das rela es de poder que isolam cada grupo ao mesmo tempo em que o insere num conjunto imenso de grupos e popula es cada qual com a sua vers o local do processo Assim instala se uma inseguran a estrutural que pelo pr prio fato de ser estrutural exclui mas n o isola as popula es locais H simultaneamente uma vulnerabilidade e um desalento que real am a fragilidade da incorpora o aos benef cios da na o pr pria do conjunto dos exclu dos e uma inclus o numa popula o maior que justamente por cada uma fazer parte de um conjunto encontra se acompanhada por um n mero incont vel de outras popula es Ter a sua voz ou a voz do seu grupo ouvida e ainda mais atendida uma expectativa reduzida neste tipo de inseguran a uma inseguran a que contempla tempos e locais que tomam uma forma de imutabilidade pelo fato de n o ser tocado direta e sensivelmente pelas pol ticas Mesmo que oscile no tempo e em cada local a inseguran a estrutural t o generalizada diminui a credibilidade na possibilidade de aliviar a vulnerabilidade de popula es locais Em todos os setores da vida cotidiana se manifesta de fo
70. mais transparentes Entre os altos administradores da Chesf cultiva se uma imagem de miserabilidade t o generalizada no Sert o que permite declara es como as duas classes mais ricas do sert o s o os aposentados de Ant nio Britto e nossos reassentados que recebem esse sal rio refer ncia aos dois e meio sal rios da verba de manuten o yrmpor ria VMT conquistados cedidos em acordo assinado entre a Chesf e o P lo Sindical at a primeira colheita irrigada nos novos lotes Esta imagem retira a hist ria particular dos ex agricultores ribeirinhos situando os numa realidade sincr nica atual onde as imaginadas condi es privilegiadas s o frutos de uma aparente generosidade do Estado via a Previd ncia Socal o INAMPS e via a Chesf Contada diacr nicamente pelos reassentados a representa o da situa o s cio econ mica mais frequente muito diferente Ressalta o empobrecimento e os impedimentos realiza o da reprodu o de uma classe de agricultores antes ocupados e produtivos Antigamente acostumados ao trabalho familiar na ro a os reassentados vivem uma vida p s traslado extremamente diferente e preocupante Como falou um reassentado numa reuni o com 19 Ministro de Previdencia na poca 148 os t cnicos fazendo refer ncia disposi o urbanizada das agrovilas antes mor vamos separados e viv amos unidos hoje moramos unidos e vivemos separados Quem morava em casas espalhadas pelo
71. membros da equipe de pesquisa da FUNDA e da UFPE em vez de abandonarem o seu interesse aproveitaram este per odo para realizar pesquisas independentes sobre o processo incluindo pesquisas sobre um pequeno projeto de irriga o antecipado Manga de Baixo por Rosa Amorim sobre rela es de poder em dois munic pios anfitri es de projetos especiais Br gida e Cara bas por Maria Lia C de Ara jo Ana Elizabeth Lima e Magda Galindo sobre administra o de programas de irriga o Maria Auxiliadora F de S sobre a organiza o de algumas comunidades reassentadas Jos Carvalho e sobre a compara o internacional de reassentamentos Parry Scott A estes estudos se somam outros ainda dispersos feitos por ext cnicos e por integrantes de Organiza es N o Governamentais e sindicais que representam um acervo ainda a ser conhecido sistematicamente contendo informa es sobre o processo Separadamente a FUNDA e a UFPE voltaram a realizar pesquisa e um dos problemas como aproveitar as informa es que foram geradas durante o intervalo descrito Um documento valioso foi criado com a transcri o da discuss o ocorrida numa 100 mesa redonda sobre a situa o do reassentamento de Itaparica durante a reuni o nordestina da Associa o Projeto Integrado de Pesquisa Social em Agricultura APIPSA em julho de 1993 Assim os coment rios que seguem se inspiram nos problemas levantados durante esta discuss o comple
72. moradias em munic pios regidos por outros P los todos inseridos numa multiplicidade de contextos locais cada um com l deres e associados com pretens es e caracter sticas diferentes nestes locais O tratamento desigual pela Chesf contribuiu ainda mais para que cada conjunto cada bloco cada projeto cada agrovila apresentasse as suas particularidades no processo Havia desde quem ficasse produzindo e exportando a partir de poucos meses ap s o 205 reassentamento at quem ainda n o havia visto nem um cano nem uma bomba instalados A Chesf e as novas faces do Estado que apareceram com a retra o em andamento diversificou a composi o das negocia es e a es exigindo uma amplia o da estrutura da j carregada burocracia sindical e uma abertura de muitos novos campos de atua o para responder a esta diversidade Ao acrescentar um papel de promotor de desenvolvimento dos reassentados ao seu papel de representar os interesses de agricultores e trabalhadores na media o das rela es com o Estado interventor o P lo se viu pressionado a se modificar Com esta volta heterogeneidade e correspondente amplia o de atividades o seu papel unificador n o sumiu mas esmaeceu significativamente Os seus componentes se envolveram em novos empenhos na pol tica de representa o alguns ca ram v timas de grupos fortes de contraventores locais em pleno combate ao plantio e tr fico de maconha o l der Fulg ncio foi assas
73. munic pios diretamento atingidos pela barragem de Itaparica em Ara jo et al 2000 Sonhos submersos ou desenvolvimento para um maior detalhamento sobre a economia local e especialmente regional antes e depois do enchimento do reservat rio 23 produ o nos sete munic pios ao longo do rio em 1986 inclu a produtos de subsist ncia e produtos de comercializa o como mandioca milho feij o produtos tradicionais de sequeiro como mamona e algod o bem como produtos comerciais das terras irrigadas como cebola arroz mel o uvas melancias e outros Estes ltimos produtos que apresentavam a maior tend ncia de ascens o na d cada que precedia a inunda o Tabela Propriedade de Terra nos Munic pios Atingidos pelo Reservat rio de Itaparica 1986 Tipo de propriedade das propriedades da rea Local PE Bahia Total PE Bahia Total Minif ndio 72 0 934 81 6 15 6 31 2 191 Empresa rural 2 5 0 9 1 7 8 6 11 9 9 3 Latif ndio 254 57 166 757 569 715 Fonte calculado do Quadro 3 1 INPSO FUNDAJ 1988 p 73 Pela legisla o brasileira o minif ndio rea inferior norma regional empresa rural de a 600 vezes a norma regional com opera o econ mica racional latif ndio por uso de to 600 vezes a norma regional com uso inadequado em rela o ao seu potencial f sico econ mico e social e latif ndio por dimens o mais de 60
74. ncia administrada os primeiros anos 3 A barragem de Itaparica deu in cio a um dos maiores programas de mudan a administrada de condi es ambientais atuais no Brasil resultando na reestrutura o do cotidiano de milhares de fam lias e na transforma o ampla das condi es de plantio e de gest o de recursos ambientais Dentro da tica ascendente de programas de desenvolvimento financiados pelo Banco Mundial nas d cadas de 1980 e 1990 as dezenas de milhares de fam lias atingidas direta e indiretamente n o poderiam ser tratadas mais como v timas dos programas Nesta pol tica seriam beneficiadas para as quais se promoveriam programas especiais que fazem muito mais que apenas compensar as perdas sofridas com a inunda o das suas resid ncias propriedades e terras de trabalho De acordo com esta filosofia os Pplanejadores e administradores da Chesf respons vel pelas obras projetaram a implanta o de aproximadamente 21 000 hectares de terra irrigada nova em projetos em diversos pontos ao longo do Rio S o Francisco insistindo que a rea irrigada instalada no Vale do S o Francisco nas ltimas cinco d cadas mola mestra do impulso de desenvolvimento econ mico e crescimento seria dobrada num per odo mais de cinco vezes mais curto como consequ ncia deste projeto De 1988 a 1994 14 a popula o rural reassentada suposta beneficiada sobretudo de grandes projetos de agrovilas ficou 13 Este trabalho teve uma
75. neste cap tulo na terceira fase o aumento da vulnerabilidade se associa a uma despedida da inseguran a administrada direta quando o Estado se fez presente e atuante amea ando e acolhendo ao mesmo tempo uma despedida com sequelas indel veis o reencontro reafirmador da inseguran a estrutural e das inseguran as coletivas locais A desconfian a de um Estado omisso reaparece mas esta omiss o pode ser percebida como mais proposital Os atores locais se articulam no novo contexto para re estabelecer nestas novas bases as hierarquias que perduram aparentemente revelia do Estado que interveio mas que se retrai A marcha do pa s se confunde com a marcha do projeto aparelhando o Estado para lidar com vulnerabilidades de acordo com pol ticas instaladas em resposta a quest es tratadas em outros n veis A quest o da vulnerabilidade se reveste em m ltiplos desprezos e ataques moralidade e base de sustento dos reassentados ora remetidos a lidar com atores das reas de seguran a p blica de moradia de produ o e com rcio e de servi os de sa de sem esquecer que outros setores como a educa o poderiam entrar A regi o do Subm dio S o Francisco amplamente reconhecida e divulgada como compondo parte do Pol gono da Maconha o que contribui para uma a o particularmente acirrada dos agentes da seguran a p blica Reclama es de maltrato insultos arbitrariedades invas es dom sticas aprisionamentos e assas
76. no dia costumeiro da feira Na cria o de um mercado local aquecido pelos pagamentos em dinheiro os comerciantes proliferaram nas cidades locais Assim na cidade a apropria o do dinheiro do agricultor trabalhador ocorre tanto pelo roubo e assalto quanto pelo sistem tico endividamento com o uso do dinheiro encaminhado pelo projeto A produ o de produtos para consumo nos lotes irrigados em reas de menor fertilidade que as que tinham na beira do rio mais dif cil e a necessidade dos complementos aumenta Isto ainda mais dificultado pela restri o que foi imposta no uso do criat rio cuja venda constitu a uma v lvula de escape nas horas de maior aperto O est mulo para a produ o de bens comercializ veis mas o volume reduzido e a coordena o dos esfor os dif cil como foi discutido ao falar das associa es Assim as redes comerciais continuam fracas e os agricultores vitimizados por pre os oferecidos por atravessadores que continuam desempenhando um papel importante na regi o Alguns s o conhecidos e confi veis mas oferecem oportunidades de pouco lucro outros s o desconhecidos e geram desconfian a ao oferecer oportunidades de maior lucro N o s o poucas as hist rias de reassentados terem sido enganados e prejudicados por atravessadores A depend ncia num dono da terra particular ou dono de uma bomba foi substitu da por uma depend ncia no trabalho jur dico moroso da Chesf para poder passar t
77. o Francisco e Cabrob onde plantava cebola como os primeiros locais a se beneficiarem de incentivos irriga o nos anos cinquenta Nos anos 1960 estas reas passam a se diversificar um pouco mais para evitar os riscos da depend ncia num nico produto Assim aumenta a produ o de videira mel o e melancia Nesta mesma poca se formam projetos de irriga o em Juazeiro e em Petrolina com incentivos p blicos mais organizados e focalizados apoiando ainda mais a diversifica o mel o tomate pimenta uva algod o e cebola Nos projetos de coloniza o neste per odo predominam lotes familiares de 4 a 8 hectares Os sete anos de Suvale 1967 1974 levam a um acr scimo de mais projetos com assentamento de colonos Bebedouro 1968 Mandacaru 1972 e a escolha de atividades produtivas sob a orienta o da Suvale e da Sudene dirige a aten o para um mercado extra regional onde a exporta o se sobrep e ao aproveitamento de mercados para culturas alimentares b sicas regionais Tamb m introduzem algumas empresas privadas detentoras de terras at mais que dez vezes o tamanho dos lotes familiares VIANA MENEZES 1994 Apoiando se em exemplos 118 espec ficos narrados em Andrade 1984 Silva sintetiza sabre a cria o da Codevasf A transforma o da CVSF em Superintend ncia ainda n o foi suficiente para que as a es voltadas para a irriga o fossem concentradas e verticalizadas Por isso a SUVALE foi e
78. o de trabalhar pra colocar os mantimentos dentro de casa ela tem como pelo menos obriga o de ajeitar o marido tamb m Agora que um trabalho maneiro n o um trabalho pesado igual ao do homem mas eu acho que um trabalho sim e bastante enjoadinho porque pra ela n o vai ter que descansar dia de domingo nem feriado nem dia de s bado nada todo santo dia porque ela n o vai deixar voc sem comer um dia que voc vai queimar as oito bocas Eu acredito que seja um trabalho enjoadinho bem enjoado todo santo dia tem que lavar um prato tem que varrer uma casa todo dia E uma rotina As mulheres come am a participar assim em colheitas e n o em trabalho de enxada Trabalho de enxada mais homens Tem mulheres assim mais machonas mulheres assim que est o mais acostumadas 255 2 PARA ELES E PARA ELAS 48 INTOXICA O E PLANTIO Fizeram uns exames ai tiraram sangue do pessoal pra fazer mas os exames que fizeram eu acredito que n o deu muito certo n o e quanto aos problemas tinha mais antes porque abriu aqui no projeto era mais legumes feij o uma coisa que requer muito Assim tem um homem que teve um problema de sa de ele morava sozinho e ele comia desses homens mais simples A plantava na ro a e tem um lat o de agrot xico A abriu a lata e fazia coc na lata a parece que entrou pelo nus dele a veneno ai acontecia aconteceu v rios
79. o sinal negativo tornando a regi o uma refer ncia para a possibilidade do estabelecimento de um modelo alternativo de agricultura moderna que beneficia o pequeno produtor 136 Cap tulo 7 Investindo no ambiente e transformando o campesinato o reassentado como o risco Desde 1988 as margens f rteis do Rio S o Francisco na Bahia e em Pernambuco num trecho em torno de cento e cinquenta quil metros a montante da parede da barragem de Itaparica encontram se debaixo das guas do lago criado por engenheiros Fruteiras algorobeiras pasto plantios de chuva e acima de tudo muitos campos irrigados que produziam feij o melancia tomate cebola uva e diversos outros produtos foram todos inundados Os agricultores que tiravam o seu sustento desta regi o privelegiada j est o entregues a um novo destino num ambiente novo constru do para eles gra as a um conjunto de fatores favor veis e desfavor veis As suas reivindica es numerosas e complexas foram e s o h bilmente articuladas pelo P lo Sindical uma entidade que re ne diversos sindicatos de trabalhadores rurais dos munic pios na rea atingida A redemocratiza o e uma persepectiva mais cr tica do Banco Mundial financiador externo do projeto devido a fracassos sucessivos em projetos semelhantes favoreciam movimentos sociais reivindicat rias e intensificavam as exig ncias que os antigidos fossem tratados como beneficiados alvos de programas de desenvolvime
80. oitenta para in cio dos anos noventa numa rea de popula o relativamente esparsa que oferecia uma enorme visibilidade para fa anhas de engenharia em paredes rochosas milenares no c nion do rio Ainda se projetavam mais barragens de menor porte entre Sobradinho e Itaparica numa fase futura Sobradinho constru da numa rea de popula o ribeirinha relativamente densa tinha levantado uma pol mica enorme devido s p ssimas condi es de compensa es e melhor descrevendo a plena expuls o da popula o residente E Itaparica era uma regi o muito mais densamente povoada As li es do complexo de Paulo Affonso e ainda mais da desastrosamente planejada remo o da popula o de Sobradinho ver SIGAUD 1986a 1986b MACHADO 1987 DUQUE 1982 BARROS 1983 serviam para orientar tanto a CHESF quanto aos residentes rurais de Itaparica e seus representantes Os quatro objetivos explicitados pela CHESF para desocupar a rea incluiram 1 pomover desenvolvimento regional instalando per metros irrigados 2 promover desenvolvimento local superando o atraso das rela oes de produ o eliminando a dependencia de meeiros e pequenos agricultores dos grandes propriet rios e dos donos de bombas 3 recompor a vida produtiva fornecendo atividades econ micas e permitindo acesso terra e meios de produ o baseados na fam lia como unidade produtiva e 4 promover integra o evitando ou minimizando tens es atrav s da participa
81. organiza o sindical de cooperativas de t cnicos de igrejas e outras atividades solid rias e no discurso not vel o maior envolvimento numa diversidade de atividades das jovens quando comparadas com os jovens No que diz respeito esfera espec fica de trabalho h um reconhecimento generalizado da import ncia da cooperativa para o desenvolvimento da comunidade mesmo que nem todos os agricultores participem ativamente e algumas das atividades n o passem de planejamentos e projetos que possam contribuir para maior integra o A valoriza o da solidariedade comunit ria em redes de coopera o n o diretamente ligados ao trabalho mais evidenciada nas falas das jovens Inclusive h refer ncias s despesas e a es mais individualizadas dos jovens dirigidas especialmente para o seu divertimento Os agricultores fazem refer ncia a capacita es que tiveram em oficinas sobre g nero marcando a presen a desta quest o como assunto de reflex o coletiva 257 SEGURAN A E VIOL NCIA NA CASA NA COMUNIDADE E NA RUA Para viver seguro nas agrovilas os reassentados enfrentam v rias fontes de viol ncia relacionadas com a pr pria casa com a comunidade e a sua hist ria particular e com a viv ncia de outros de fora das fazendas e da rua A viv ncia da viol ncia em casa perpassa a tentativa de estabelecer uma vida honesta e direita diante das dificuldades de educar os filhos conviver com os parceiros e lidar com bebidas
82. pa s de mercado Vivemos num mundo em que internacionalizada a agricultura ent o n s temos que fazer e fazer bem O Brasil abriu se para a competitividade internacional na agricultura Come ou se a perce ber que jogar gua apenas um ato de se fazer agricultura Voc joga gua na medida certa joga fertilizantes joga sementes selecionadas joga m o de obra joga cr dito e voc colhe Enfim o novo ambiente institucional efetivou uma brutal modifica o nas estruturas de poder ao passar da multiplicidade anterior para a centraliza o inerente ao ato do reassentamento para a nova multiplicidade que continha como principais atores novos e fortes representantes de organiza es governamentais e t cnicos relacionados com estes setores e setores das agroind strias em expans o Antes da implanta o do equipamento de irriga o e depois do per odo de anos de espera a pauperiza o de muitos reassentados em compara o com a sua situa o pr reassentamento chama a aten o confirmando esta fase como uma de viol ncia administrada As d vidas contra das pelos camponeses e trabalhadores durante a sua transforma o de v timas da barragem para beneficiados potenciais do programa desenvolvimentista do reassentamento evidentemente implicam numa modifica o da sua identidade como produtores rurais tendo como emblema agora a sua potencial nova rela o com a tecnologia Isto se evidencia nos coment ri
83. para que este se tornasse uma luta n o s por justas indeniza es como tamb m pela garantia da infra estrutura b sica de produ o de moradia e genericamente pela reforma agr ria N o foi contestado que a Chesf iria construir uma barragem de grandes propor es pois 2 500 megawatts correspondiam a um 56 acr scimo regional da ordem de 39 em energia produzida A constru o andava a pleno vapor desde o in cio dos anos oitenta O que estava em quest o era o tratamento a ser dado aos atingidos Enquanto a obra avan ava e as reivindica es da popula o se tornavam cada vez mais conhecidas do p blico o P lo iniciou um per odo de intensa negocia o com a Chesf armando se t cnica e politicamente atrav s de alian as com entidades simpatizantes sua causa ligadas sobretudo aos setores progressistas da igreja cat lica ao movimento sindical e partid rio nacional e a outras organiza es n o governamentais Chegou ent o a formular em 1984 o documento de Diretrizes b sicas para o reassentamento que serviria como pedra de toque para o processo Mesmo com atrasos no cronograma a constru o da barragem andava em ritmo muito mais r pido do que as complicadas negocia es entre o Minist rio das Minas e Energia a Chesf outros rg os governamentais e os Sindicatos Frente a sucessivos impasses na mesa das negocia es e ao acirramento da aparente separa o entre os sindicatos e suas bases durante es
84. para retir lo de uma pauta de reivindica es remetendo a responsabilidade sobre decis es s vezes mais pol ticas que t cnicas s institui es respons veis pela implanta o formal do projeto A constitui o do campo institucional pol tico delimita algumas fronteiras dentro das quais os diversos componentes do projeto de desenvolvimento se adequam para se situar na disputa de poder entre os agentes sociais Itaparica apenas uma de dezenas de barragens planejadas no pa s e ainda mais apenas um de uma mir ade de projetos de desenvolvimento um campo mais amplo no qual as grandes empreiteiras transitam com a maior facilidade definindo e redefinindo suas rela es com o Estado e com a sociedade civil convivendo com o compartilhamento de um calend rio de eventos licita es e leil es que formam a sua raison d etre O poder aparentemente gigantesco de opera o do projeto apequena se diante de ocorr ncias mais amplas como esc ndalos de desvios or ament rios cujas repercuss es muito al m do limites do pr prio projeto ainda resultem na paralisa o total de obras numa rea destinada a atender as demandas de um quinto da popula o reassentada Projeto Barreiras Borda de Lago Pernambuco A resolu o do impasse tamb m extrapola os limites do projeto espec fico e demonstra a sua intrincada rela o com projetos semelhantes no campo pol tico e institucional Desta forma os sucessivos adiamentos na implem
85. pr ticas de trabalho nos lotes e perman ncia no campo Na percep o da viol ncia nas falas de meninos e meninas h uma n tida diferen a Para as jovens evidencia se uma maior consci ncia e discurso mais elaborado sobre a viol ncia em casa bem como uma maior submiss o vigil ncia paterna nos seus relacionamentos Para os jovens a maior consci ncia e o discurso mais elaborado se d sobre o detalhamento de informa es sobre a viol ncia na rua e em reas externas s agrovilas e maior liberdade de a o nos relacionamentos fora do olhar vigilante dos pais um objetivo comum dos jovens combaterem a refer ncia viol ncia para marcar a imagem p blica das agrovilas No seu lugar advogam uma imagem mais ver dica da procura de uma continuidade de uma vida trabalhadora honrada e de respeito fam lia e aos outros que tanto caracteriza o agricultor reassentado 262 O QUE DIZEM OS JOVENS SOBRE FICAR E NAMORAR Dizem que o amor n o tem idade Mas cada idade tem sua forma de amar sua forma de se relacionar amorosamente e sua forma tamb m de falar aos outros sobre o amor e suas formas Cada idade tem poder amos dizer uma linguagem amorosa Entre os assuntos abordados na pesquisa n o podiam ficar de fora o amor o sexo e os relacionamentos afetivos t o importantes nessa fase da vida Os jovens usaram duas palavras para definir as formas de relacionamento mais comuns nos dias de hoje ficar e namorar Segundo
86. rem dio do mato cabacinha faz o ch e toma s toma um ai aborta Com um m s ou dois Quando acontece um aborto porque a pessoa quer abortar mesmo Na hora tem delas que a aids n o gonorr ia s filis d mal cheiro e corrimento agora a AIDS n o tem como detectar Teve uma mulher ai no Mandante no bloco 4 que morreu de AIDS Ela foi embora e deixou trinta caras comAIDS O sintoma da s filis criar as verruguinhas no p nis e a gonorr ia escorrimento O cara transar com uma nega sem usar preservativo d escorrimento e a crista de galo cria uns courinhos pendurado s que maior do que a s filis e a AIDS eu n o sei n o tive que ter dinheiro pra abortar minha filha Ta com quatro meses n o to nem a tem que ter condi o de criar um filho aqui tem uma mulher casada disse a mim que aborta eu nunca transei nunca engravidei nunca abortei mas eu sei eu vejo as meninas que faz isso A ela falou tomei cabacinha com lim o A enfermeira ficou assim olhando pra ela risos N o n o pra responder vamo responder a verdade Tem Depende se a pessoa falar qualquer m dico faz o aborto Tem gente que sabe que pra um aborto E particular faz qualquer pessoa E a maioria dos abortos aqui provocado assim atrav s de ra zes de planta V o na mata cortam Uma menina foi no hospital a semana passada a um rapaz perguntou ser eu estou com AID
87. responsabilizarem pelo sucesso dos projetos O resultado do cadastro foi visto pela equipe administradora como fundamentalmente um mapeamento definitivo para determinar a exclus o inclus o em compensa es e benef cios advindos do status de reassent vel em agrovilas e para dimension los Estes benef cios inclu ram indeniza es monet rias bem como o acesso a uma casa e a um lote irrigado de tamanho apropriado para a fam lia segundo os c lculos da Chesf bem como verba de manuten o tempor ria VMT em torno de dois sal rios e meio por fam lia at a autogest o Esta percep o se relaciona estreitamente no o de um projeto de desenvolvimento cujos componentes s o bastante fixos e 21 Segundo a literatura antropol gica o grupo dom stico se refere principalmente a grupos residenciais de coopera o e conviv ncia cotidiana e est permeado por um discurso que se refere fam lia como um termo ideologicamente mais male vel e escorregadio usado ora para referir aos la os de consanguinidade e afinidade ora ao sentimento de uni o entre pessoas que frequentemente s o mas que n o precisam ser do mesmo grupo dom stico WILK NETTING 1984 WOORTMANN 1984 FORTES 1958 GOODY 1976 O cadastro uniu as duas no es permitindo que filhos casados morando sob o mesmo teto pudessem ser considerados como fam lias independentes na hora de ganhar um lote enquanto os solteiros n o As id ias de Woortmann
88. rg os governamentais respons veis pela barragem CFE e o Instituto Nacional Indigenista INI tentaram inicialmente negar a exist ncia do projeto Em seguida ap s terem feito sondagens nacionais e internacionais e sem encontrar outros que ousassem apoiar um projeto t o publicamente rejeitado desistiram suspendendo o projeto em fevereiro de 1991 Em resumo no curto per odo entre julho de 1990 e fevereiro de 1991 o movimento nasceu cresceu assustadoramente e obteve os resultados desejados primeiro a suspens o por tempo indeterminado do projeto em in cios de 1991 e em outubro do ano seguinte o seu cancelamento Etnicidade e situa o socioecon mica nos dois locais Numa discuss o sobre a rela o entre etnicidade e na o os organizadores de um semin rio sobre o assunto salientaram que as etnicidades na forma em que as conhecemos s o produtos hist ricos da forma o das na es modernas e como tal 61 s o construtos ideol gicos distintos e entidades sociais mais ou menos coesas tendendo a o pol tica GUIDIERI PELLIZI 1988 p 7 Identidades culturais se formam atrav s da intera o de grupos em contextos hist ricos e socioeco n micos onde as rela es de domina o imprimem caracter sticas espec ficas de consci ncia cultural Na forma o de grupos com identidades diferenciadas tanto existe uma luta contra o uso exclusivo das defini es t cnicas e socioecon micas de identida
89. sa de reprodutiva foram publicados no livro Sa de Sexualidade e Fam lias Urbanas Rurais e Ind genas SCOTT ATHIAS QUADROS 2007 LONGHI 2007 e adicionalmente no trabalho sobre a leitura local de pol ticas p blicas da popula o em Scott 2006 Esta colabora o ainda resultou na elabora o de uma proposta de documentar quest es relacionadas com viol ncia dom stica e viol ncia contra as mulheres na rea de abrang ncia do projeto de reassentamento o que provou ser um assunto de prioridade secundarizada na agenda de pesquisadoras pesquisadores e ag ncias de fomento sobre sa de reprodutiva talvez reflexo da acentuada concentra o de a es deste car ter em contextos urbanos onde j existiam redes de apoio mesmo que precariamente instaladas Em 2008 mais uma vez com apoio de CNPq teve in cio uma nova etapa de colabora o entre o FAGES o P lo Sindical do Subm dio S o Francisco o P lo Sindical do Sert o Central e o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais 17 para identificar a configura o do problema de viol ncia contra as mulheres descrever os meios encontrados pelas pr prias trabalhadoras de formar redes de apoio elaborar oficinas e discutir perspectivas de a o entre elas e as respons veis pelas pol ticas estaduais e talvez at nacionais A import ncia do di logo entre o P lo Sindical e o FAGES no escalonamento de prioridades para a o destes grupos foi respeitada pelas equipes
90. se relacionar sexualmente com uma mulher pode ser identificado como homossexual pois causa um grande espanto nas mulheres quando os homens as negam e rejeitam passando estas a duvidar da sua virilidade Um homem deve estar sempre bem disposto sexualmente Por outro lado transar com um homossexual especialmente visando alguma vantagem financeira n o parece ferir a virilidade para alguns dos jovens Tanto no caso dos homens quanto no das mulheres a sociedade tenta impor um padr o de comportamento sexual que est marcado por desigualdades de poder entre homens e mulheres homens e homens mulheres e mulheres Essas desigualdades baseadas em diversos modos de repress o sexual s o fontes de injusti as violando o direito que todo ser humano tem a exercer livremente sua sexualidade e prejudicando a preven o a doen as sexualmente transmiss veis ou gravidez indesejada Um dos aspectos relevantes da opini o masculina o fato de n o gostar da passividade da mulher na cama e ao mesmo tempo recriminar s mulheres que demonstram a vontade de transar tomando uma postura ativa revelando o quanto dif cil avaliar os limites necess rias para qUe uma mulher seja respeitada Na fala das mulheres elas n o se ejsentem t o dispon veis para o sexo quanto os homens mas na fala dos homens h mulheres que demonstram a mesma disponibilidade que eles A preocupa o masculina com o prazer e as suas formas de obten o parece bem
91. ser real ada mostrando os setores espec ficos do mundo social nos quais se podem erguer uma compreens o e identifica o de responsabilidade coletiva Estas coordenadas matizam no es de responsabilidade associadas a algumas das metas que consideram comuns para as pessoas que pretendem representar Quem representa os interesses coletivos dos agricultores reassentados de Itaparica A dimens o do projeto governamental estimulou a unifica o dos sindicatos de trabalhadores rurais de cada munic pio em torno de um P lo Sindical que representava os agricultores e trabalhadores em todos os munic pios atingidos o que chegou a ser mais que uma dezena Unificados no P lo Sindical do Subm dio S o Francisco com sede em Petrol ndia os agricultores especificaram as suas demandas monitoraram o cumprimento dos acordos na continua o dos processos intermin veis de negocia o dos direitos dos agricultores reassentados junto aos respons veis governamentais pelo planejamento e pela execu o do projeto da barragem Tra aram projetos para orientar a produ o nos novos locais de moradia Cada agricultor na conviv ncia com as outras 40 a 70 fam lias da sua agrovila realiza plantio cria o e outras atividades 229 econ micas familiares empregando eventualmente outros trabalhadores As decis es sobre produ o e comercializa o variam de acordo com como a fam lia se relaciona com entidades privadas ou p blicas nestes setores
92. sua situa o individualizada De t o corrida e abrangente a programa o cotidiana da institui o terminava por deixar escapar a multiplicidade de situa es individuais nos grupos que chegaram juntos para se instalar nas novas moradas A sa da j vazia do transporte dos novos locais que comunicava muito fortemente que as pessoas estavam sozinhas por mais que se professasse assist ncia institucional garantida para os meses vindouros Maravilhados ou decepcionados com as casas de alvenaria lado a lado na agrovila esperan osos ou medrosos com os desafios tecnol gicos de trabalho nos lotes que ficavam a uma boa andada de dist ncia n o deixava de haver uma sensa o de vazio reportado por quase todos 200 A nova disposi o das casas e a terra ainda n o pronta para a maioria mexiam muito com as expectativas da nova moradia Como lidar com a briga na casa dos vizinhos Antes n o ouvia agora ouve Se o lote ainda requer equipamento em que que os homens e as mulheres acostumados labuta di ria v o se ocupar V o se entregar bebida Como ensinar aos filhos o of cio agr cola A negociai o h bil do P lo Sindical garantiu a compensa o monet ria mensal por esta falta de condi es de render benef cios de terra plantada a VMT aqu m de dois sal rios mensais por fam lia Mas a VMT paga pela Chesf num dia estipulado por m s no banco n o oferecia nenhuma atividade que podia ser incorporada num inve
93. suas estrat gias de a o diante da pluralidade de condi es espec ficas que encontrava em cada projeto Al m do trabalho diferente de promo o de associa es de produtores armavam se projetos alternativos de criat rio e agricultura notavelmente com o apoio do Servi o de Coopera o T cnica e Social SACTES da Alemanha e continuava a press o sobre a Chesf para completar as obras de uma forma aceit vel Percebia uma vontade da Chesf de entregar os projetos sem que estivessem de fato completados e insistia na fiscaliza o da qualidade das obras de todos os tipos na manuten o do pagamento da VMT sempre em pauta para acabar at que os problemas fossem resolvidos e na luta contra a emancipa o dos projetos mais adiantados na medida em que esta emancipa o fosse em detrimento forma o de associa es fortes e combativas a favor dos interesses dos pequenos agricultores irrigantes nesta conjuntura 1992 que ocorre a formaliza o do conv nio de assist ncia t cnica com a Codevasf incluindo a contrata o de dois cons rcios internacionais um Hidroservice Gersar para os projetos na Borda do Lago outro Enerconsult Projetec Fahma ECL para os Projetos Especiais nos munic pios de Cura Oroc e Santa Maria da Boa Vista Neste per odo intensificam se as negocia es e conflitos s vezes velados entre institui es para diminuir ou dividir a responsabilidade do andamento de Itaparica Dura
94. sucedidos conformando uma ativa classe m dia no campo outros ainda em projetos que resultem em cooperativas empresas n o passar o de colonos camponeses dependentes e os demais se estender o no tempo de projeto n o emancipado vivendo o confronto e a expropria o 53 Cap tulo 3 Etnia e na o em dois movimentos de resist ncia a barragens M xico e Brasil o Em dezembro de 1986 as popula es atingidas pela barragem de Itaparica no Nordeste brasileiro em movimento que culminou na ocupa o do canteiro de obras obtiveram a assinatura de um documento que fornecia substanciais garantias aos futuros reassentados No estado de Guerrero M xico em outubro de 1992 as boas not cias sobre o cancelamento definitivo da barragem de San Juan Tetelcingo chegaram s comunidades nahua unidas em oposi o a esse projeto hidr ulico deslocador Embora cada um desses movimentos tenha suas particularidades n o h d vida que as duas vit rias fazem parte de um movimento internacional cada vez mais articulado de oposi o a grandes projetos governamentais com custos sociais elevados Entre os diversos fatores que levaram ao relativo sucesso desses dois movimentos locais espec ficos em ambos os casos ressalta se o estreito enlace entre etnia e a constru o da na o conforme se enfoca neste cap tulo no intuito de contribuir para um melhor entendimento da constru o de identidades nacionais na Am rica
95. sucessivas que formamos como pesquisadores No contexto de deslocamento e desenvolvimento de novas pr ticas prevalece um ambiente de defesa ativa de uma popula o que sofreu uma brutal interven o na sua vida cotidiana Esta situa o sempre temperou positivamente o trabalho do FAGES fazendo com que temos sido um parceiro na inclus o de temas sobre sa de reprodutiva g nero e gera o na pauta de atividades dos agricultores reassentados de Itaparica numa busca de reverter o quadro predominante de Descaso Planejado que caracteriza a sua inser o no projeto governamental da constru o de uma barragem 18 Cap tulo 1 Antes da barragem planejando energia transformando agricultores De outubro de 1987 a maio de 1988 mais de 40 000 residentes da rea rural dentre os em torno de 80 000 pessoas atingidas em total foram deslocadas da beira do Rio S o Francisco para ceder lugar para a instala o do reservat rio de Itaparica 57 das fam lias deslocadas provinham do campo sendo sobretudo compostas por camponeses pequenos agricultores e trabalhadores Uma vez reassentadas boa parte ficou aguardando anos a fio a instala o do equipamento de irriga o para trabalhar nos lotes ridos designados a eles pela Companhia Hidrel trica CHESF do Governo Federal A enorme barragem se destinava ao fornecimento de energia para a demanda regional crescente das metr poles nordestinas do Recife e de Salvador bem como de outras
96. todo dia que vai ter brigas que vai ter filhos vai ter que criar uma fam lia educar filho se eles pensam que s vai ter amor pra dar a eles esquece de tudo Antigamente quando casava comprava logo um ranchinho qualquer casinha porque a pessoa na casa de sogra mora n o sei quantos anos ou separa n o tem direito a nada porque a casa n o dele da m e dele a vai levar o qu Pegue seus paninhos de bunda Veja o que deu e o que n o deu N o tem direito a casa n o tem direito a nada 268 PARA ELES E PARA ELAS 8 QUANDO ACONTECE DA MENINA ENGRAVIDAR Na maioria das vezes quando acontece da menina engravidar se o pai gostar da filha novinha ou casa ou morre Se o cara n o for muito frouxo n o casa A quando acontecer registra s d as coisas se quiser Se ela n o botar na justi a um problema a o cara tem que ter obriga o Se o cara n o trabalha em p nenhuma n o faz nada na vida como que vai dar as coisas ao filho Se acaso acontecer A os pais diz logo um lascado deixa pra l o que acontece aqui Quando acontece da menina engravidar eu acho que elas querem casar Os pais de fam lia primeiro v o ter um di logo com a pessoa pra saber qual foi o motivo de fazer aquilo e conversando v o chegar a um determinado ponto ou ele casa ou ele registra pra n o deixar assim Na maioria das vezes o pai dela manda o cabra ca
97. tulo 8 Gera es g nero e fam lias em reorganiza o Este cap tulo enfoca como as quest es de gera o e de g nero t m sido tratadas no novo ambiente de agrovilas irrigadas lan ando m o da observa o em diversas agrovilas e question rios em duas Primeiro para lidar com a quest o de gera o enfatiza diferen as nas fam lias que participam nas agrovilas de acordo com a idade dos seus chefes Segundo enfoca as modifica es nas atividades femininas dentro deste quadro Assim descrevem se processos de constru o de espa os diferenciados nos contextos pol tico econ micos do novo ambiente p s barragem privilegiando g nero e gera o Gera o g nero e o cadastro das fam lias Recapitulando lembra se que o cadastramento das mais de 5 500 fam lias a serem reassentadas foi realizado no meio dos anos 1980 pela Chesf com todos os agricultores que moravam na rea a ser inundada independentemente das suas condi es de acesso terra O cadastro identificou uma popula o predominantemente de meeiros 42 3 e de pequenos propriet rios e posseiros 40 1 e alguns diaristas 8 1 havendo uma camada pequena de arrendat rios com muita diversidade interna fazendeiros e pequenos empres rios rurais principalmente de um projeto de irriga o em Petrol ndia FUNDAJ CHESF 1988 e Cap tulo 1 deste livro No processo do reassentamento de um lado os fazendeiros arrendat rios mais abastados e granjeiros
98. uso de venenos acaba com a vida da terra e com suas defesas naturais e esbo a a necessidade de novos t cnicos mesmo quando as institui es respons veis deixam de subsidiar este apoio O receio das mulheres em participar na coloca o do veneno associa se a dois elementos principais o perigo sa de e o peso do equipamento O perigo sa de evidente a todos mesmo quando n o efetivam a tomada das precau es recomendadas e relatos de incha o coceira e dor de cabe a ap s a aplica o s o frequentes Conta se tamb m que uma mulher que se aventurou a colocar veneno sofreu como consequ ncia problemas na sua genit lia o que aumenta a percep o generalizada sobre o perigo para a mulher Al m deste perigo a restri o participa o feminina nesta tarefa explicada a princ pio como uma limita o f sica a bomba contendo 20 litros de gua embora se possa encher menos colocada nas costas sob um sol escaldante usando ou n o a roupa adequada parece pesar cinco vezes mais S que nem a roupa adequada existe para as mulheres pois o macac o protetor as luvas a m scara e as botas distribu dos pela Chesf para descontar na VMT foram todos em tamanhos masculinos 175 Num n tido refor o da divis o percebida entre os g neros a n o aplica o de agrot xicos pelas mulheres as coloca discursivamente como mais fr geis necessitadas de prote o especialmente no que se refere sua capa
99. vers o preliminar apresentada na XIX Reuni o da Associa o Brasileira de Antropologia de 27 a 30 de mar o de 1994 com o t tulo Os efeitos de seis anos sem irriga o no reassentamento de Itaparica na mesa redonda Popula o Ambiente e Desenvolvimento coordenada pelo autor deste trabalho e por Carlos Alberto Caroso Foi modificada e publicada como Os beneficiados de um programa de desenvolvimento em Itaparica e a viol ncia administrada Pol tica Hoje Revista Semestral do Mestrado em Ci ncia Pol tica da UFPE V 3 No 1 Recife p 127 150 14 Esta data mantida no texto e se refere ao per odo em que a primeira vers o deste trabalho foi escrita ajudando a compreender as id ias apresentadas nele De fato a VMT continuou generalizada at 2003 havendo varia es de projeto para projeto e continuidade eventual mesmo posterior a esta data 93 recebendo 2 5 sal rios de refer ncia a t tulo de Verba de Manuten o Tempor ria VMT enquanto aguardava a designa o prepara o e entrega dos seus lotes irrigados Os seis anos de espera podem ser caracterizados como um per odo de viol ncia administrada um per odo em que a desorganiza o e a morosidade reinam e um per odo em que o conjunto de pr ticas que influencia a vida dos reassentados revela s rias limita es aplicabilidade imediata do termo beneficiados para descrever a sua viv ncia naqueles programas de desenvolvimento A id ia uma predec
100. 0 vezes a norma regional inexistente na rea Na tabela 1 se evidencia a enorme desigualdade no uso e propriedade da terra na regi o 71 3 10 159 dos estabelecimentos rurais tinham menos de 10 hectares e representavam apenas 6 5 da rea total enquanto 6 4 dos estabelecimentos de mais de 100 hectares possu am 71 4 da terra Latifundi rios e fazendeiros tradicionais tinham extens es grandes de terra de pasto distantes da beira do rio e muitas terras perto do rio eram trabalhadas por terceiros Em geral pequenos propriet rios e posseiros se concentravam pr ximos ao rio A extens o do uso da terra por pequenos agricultores se visualiza no Censo Agr cola de 1980 que reporta que 61 0 dos usu rios s o propriet rios 4 6 arrendat rios 17 8 meeiros e 24 16 3 posseiros O contraste entre o lado baiano com 89 5 de pequenos agricultores e o lado pernambucano com apenas 48 0 marcado Estas cifras escondem o quanto a mea o era praticada j que boa parte dos pequenos propriet rios e dos posseiros entregavam parte das suas colheitas aos donos das bombas de gua que forneciam a gua das suas terras ou mesmo a outras pessoas Tamb m sub registram o n mero significativo de trabalhadores rurais diaristas e contratados informalmente existentes na rea Vale discutir com mais detalhe rela es de produ o justamente para entender o exerc cio de poder em Itaparica antes da barragem No lado pernambucano do ri
101. 108 agrovilas decorrente da capacidade reduzida das novas terras para sustent la e freiando a produ o caprina e ovina que come ou a depender de est mulos externos para organizar produ o ecologicamente adaptada ao semi rido orientado e sistematizado por t cnicos diferentes daqueles contratados pelos cons rcios Resta pouco fazer Nesta situa o alguns plantadores locais e regionais com bombas e equipamentos instalados oferecem trabalho como diarista ou at de mea o S o poucos os que conseguem aproveitar as oportunidades e o trabalho nas empreiteiras tamb m n o f cil de ser oferecido para os familiares de muitos agricultores Gerar renda al m da VMT n o era f cil Os comerciantes locais sabiam o dia e a quantia da VMT e forneciam bens at os limites que sabiam que este dinheiro podia suportar Sem compromissos muito claros com a futura produ o dos reassentados n o h facilidade de obter cr dito por per odos maiores O lugar de comprar se torna um ponto fixo com limites at a quantia dispon vel criando uma nova depend ncia comercial do reassentado consumidor Mas os reassentados s o sujeitos aos ritmos diferenciados dos seus projetos Alguns viraram agricultores irrigantes logo e outros passaram anos apenas como irrigantes em potencial Uma vez que se torna irrigante a agricultor vira alvo de atividades e campanhas dos que se interessam neste potencial produtivo A Chesf numa das suas faces rec
102. 1984 e de Bourdieu 1993 ressaltam o car ter ideol gico do termo fam lia que Bourdieu chama de uma categoria realizada em que se cristalizam e s vezes se escondem diversas tens es sociais Estas id ias s o fundamentais para informar o uso do termo feito neste trabalho 156 contabiliz veis Uma vez cadastrada a fam lia n o havia mais espa o para modifica o Muitos dos administradores desconfiados sobre a boa f da popula o interpretavam as a es de modifica o das fam lias como acima de tudo esperteza de quem queria tirar proveito do reassentamento E de fato houve fam lias que apressaram casamentos constru ram barracos e chamaram de volta filhos que estavam viajando para poderem participar de uma forma mais plena na distribui o de compensa es e benef cios como costumam fazer as fam lias camponesas GARCIA 1983 WOORTMANN 1985 1990 SHANIN 1976 Estas mesmas modifica es tamb m fazem parte do cont nuo fluxo de participa o em grupos dom sticos decorrente dos seus pr prios ciclos de desenvolvimento e s o tratadas com a maior naturalidade pela popula o O que fazer com o filho que viajou o outro que voltou ou o que casou Como decidir se o rec m casado mora com os pais ou em resid ncia separada Qual a compreens o e pr tica com respeito ao nascimento de filhos Os filhos devem sair para trabalhar ou ficar perto de casa mesmo quando as op es para trabalho s o poucas Re
103. 2 2000 Mensagens Cruzadas Pol ticas publicas e rela es familiares no meio rural In SCOTT Parry CORDEIRO Rosineide Org Agricultura familiar e g nero pr ticas movimentos e pol ticas p blicas Recife Editora Universit ria UFPE p 243 262 2006 Morais socioculturais religi o e sexualidade em contextos familiares urbanos rurais e tribais namoro aborto e responsabilidade In SCOTT Parry QUADROS Marion ATHIAS Renato Org Sa de sexualidade e fam lias urbanos rurais e ind genas Recife Editora Universit ria UFPE 2007 SCOTT Parry ATHIAS Renato Monteiro LONGHI M rcia R Como nossos pais Homens e gera es em tr s contextos diferentes em Pernambuco In ADORNO Rubens de Camargo Ferreira ALVARENGA Augusta Thereza de VASCONCELLOS Maria da Penha Costa Org Jovens trajet rias masculinidades e 247 direitos S o Paulo FAPESP Editora da Universidade de S o Paulo p 121 145 2006 SCOTT Parry QUADROS Marion Teod sio ATHIAS Renato Sa de Sexualidade e Fam lias Urbanas Rurais e Ind genas Compara es Interpreta es e Pol ticas PPGA UFPE Editora Universit ria Recife 2007 SCOTT Parry CANTARELLI Jonnhy R R Jovens religiosidade e aquisi o de conhecimentos e habilidades entre camadas populares Caderno CRH Salvador v 17 n 42 p 375 388 set dez 2004 SCOTT Parry QUADROS Marion LONGHI M rcia R Jovens populares urbanos e g nero na ide
104. 2009 290 p Inclui bibliografia e anexo ISBN 978 85 7315 676 8 broch 1 Antropologia social Migra o 2 Barragem de Itaparica Rio S o Francisco 3 Descaso planejado T tulo 304 2 CDU 2 ed UFPE 306 CDD 22 ed BC2009 171 Agradecimentos Agradecemos pela permiss o de reprodu o de trechos de artigos aqui inclu dos aos seguintes Boletim do Museu Goeldi Sa de e Sociedade Pol tica Hoje Editora Universidade de Brasilia Editora da UFPA Organiza ao dos Estados Americanos Editora UFPE Associa o Brasileira de Estudos Populacionais Anais Encontro Brasileiro de Ci ncias Sociais e Barragens Anais SUM RIO Descaso Planejado A Barragem de Itaparica e os Agricultores do Rio S o Francisco reeeeeererererereererererererereerererero 9 1 Antes da barragem planejando energia transformando agricultores tetra 19 2 Di logo dos agentes sobre planos e efetiva o do reassentamento rural de Itaparica 41 3 Etnia e na o em dois movimentos de resist ncia a barragens M xico e Brasil 55 4 O c lculo da for a de trabalho familiar camponesa e o descompasso entre o tempo institucional e o tempo familiar 73 5 procura de beneficiados num contexto de viol ncia administrada os primeiros anos ea 93 6 Economia pol tica subregional criando margens e manchas nos per metros irrigados eeeeeeaee 113 7 Investindo no ambient
105. 66 O QUE DIZEM OS JOVENS SOBRE CASAR DESCASAR E TER FILHOS Casar de papel passado j n o a regra Na hora de constituir fam lia o que conta a decis o de assumir uma uni o perante o grupo social Os jovens se referiram ao fugir como uma das estrat gias mais comuns de que lan am m o para ficarem juntos Diante do fato consumado o grupo familiar juntamente com o casal busca solu es para n o colocar em quest o o respeito que a fam lia tem diante da comunidade O fugir uma categoria pr pria da rea rural A pressa segundo os jovens um fator importante para explicar por que h t o poucos casamentos nas agrovilas Pressa para morar juntos mesmo sem ter uma situa o financeira boa um trabalho ou uma fonte de renda mais permanente que s o as exig ncias mais comuns para o casamento Pressa para ficar mais tempo junto mesmo quando os pais acham que ainda n o chegou o momento ideal para dar esse passo E pressa tamb m para ter mais intimidade com a namorada ou o namorado sem ter que esperar meses ou at anos a fio at poder ter rela es sexuais com quem se est gostando Assim falar em casamento significa tamb m falar de como a gravidez pode influenciar a forma o de uma fam lia de como os jovens lidam com o fato de serem pais e m es do significado que os filhos trazem para suas vidas enfim das formas como dividem as responsabilidades no cuidado das crian as Ao falarem d
106. AS ADAMS Richard N Energy and Structure A Theory of Social Power Austin University of Texas 1975 ALBUQUERQUE DE MELO Ligia Reprodu o da subordina o de g nero o caso da mulher trabalhadora rural de empresas de uva do Submedio S o Francisco Recife Disserta o do Mestrado em Administra o Rural e Comunica o Rural UFRPE 1997 ALBUQUERQUE DE MELO Ligia RUFINO Isaura 1997 0 trabalho feminino os efeitos da moderniza o agr cola Recife Massangana 1997 AMARAL Ana Elizabeth Perruci GUIMAR ES Sueli Piscigranja uma op o de reassentamento Recife Chesf Funda o Joaquim Nabuco 1994 AMORIM Rosa Maria do N O espa o agr rio e a integra o da pequena produ o no mercado um estudo de caso no semi rido nordestino Bel m do S o Francisco PE Recife Disserta o do Mestrado de Geografia UFPE 1995 ANDRADE Manuel Correia de A terra e o homem do Nordeste 2 ed S o Paulo Brasiliense 1964 Tradi o e mudan a a organiza o do espa o rural e urbano na rea de irriga o do Subm dio S o Francisco Rio de Janeiro Zahar 1983 Poder pol tico e produ o do espa o Recife Massangana 1984 ARA JO Maria Lia Corr a de Na margem do lago um estudo sobre o sindicalismo rural Recife Massangana 1990 ARA JO Maria Lia Corr a de CALDAS NETO Magda LIMA Ana Eliza Vasconcelos Org Sonhos submersos ou desenvolvimento 235 Impactos sociais da Barragem
107. Agora mais ruim porque a terra era boa O pessoal terminava um plantio e outro em cima porque sabia que tinha resultado mas agora a terra foi ficando fraca cansada porque j com quatorze anos dez ou onze anos que a gente s naquela terra ali plantando foi ficando fraca e o pessoal foi abandonando Antes tinha muito emprego muito servi o porque voc plantava uma ro a de feij o e voc tinha que estar germinando adubando e precisava de muita gente E agora n o o pessoal cansaram mais e plantaram fruteira manga c co goiabeira Voc trabalha uma semana e vai passar um m s sem fazer nada s esperando pra colher TRABALHANDO PARA OS OUTROS Eu trabalho ganha pouco mais d pra mim Cingienta por m s eu ganho na terra de outra pessoa Na nossa mesmo meu irm o quem trabalha plantando feij o e tudo Eu trabalho pra outro cara cuido da ovelha dele e plantando capim l Na cidade n o tem o que fazer n o tem servi o na cidade s pra estudar s aparece vaga na escola mesmo estudar Tem duas op o de servi o ou na ro a ou na ro a Eu acho que qualquer servi o que voc fa a par si pr prio d bem mais futuro do que voc trabalhar pros outros Uma ro a pra voc trabalhar pra voc acredito que seja bem melhor TRABALHO DE HOMEM TRABALHO DE MULHER Eu acho que o trabalho da mulher em casa obriga o porque se o homem t tendo aquela obriga
108. Countrymen and Townsmen in the Callej n de Huaylas Peru Two Views of Andean Social Structure Council on International Studies No 51 Buffalo State University of New York Buffalo 1975 SU REZ M e LIBARDONI M Desenvolvimento Agr cola no Brasil uma perspectiva de G nero Bras lia UCA 1992 TAVARES Maur cio Antunes Caminhos Cruzados Trajet rias Entrela adas vida social de jovens entre o campo e a cidade no Sert o de Pernambuco Tese de Doutorado PPG Sociologia Recife 2009 TEIXEIRA Z A Coord CARVALHO H M SU REZ M Perspectiva de g nero na produ o rural Bras lia IPEA 1994 TURNER Victor Drama Fields and Metaphors Symbolic Action in Human Society Ithaca NY Cornell University Press 1995 URBAN Greg SHERZER Joel Eds Nation States and Indians in Latin America Austin University of Texas 1992 VAINER Carlos ARA JO Frederico Guilherme B de Grandes Projetos hidrel tricas e desenvolvimento regional Rio de Janeiro CED Centro de Documenta o e Informa o 1992 249 VERGULINO Tercina Cooperativas nos projetos p blicos de irriga o limita es e possibilidades de Desenvolvimento Anais do V Encontro de Ci ncias Sociais do Nordeste Recife Massangana 1991 VIANNA Aur lio MENEZES La s Pol ticas de desenvolvimento no Vale do S o Francisco O P lo Sindical e a luta dos atingidos pela barragem de Itaparica Rio de Janeiro CEDI KOINONIA P lo Sindical
109. F apresentou v rias op es de destino para os reassentandos solu o pr pria novas cidades projetos na borda do lago projetos especiais de irriga o mais distantes outros grupos com solu es pr prias coletivas e piscigranjas Muitos fatores influenciaram as escolhas dentre estas op es entre reassentandos de locais e de segmentos sociais diferentes As situa es de escolha enfrentadas por cada fam lia orientaram a a o da CHESF mas em vez de examinar essas op es por fam lias individuais ressalta se aqui a compara o entre as configura es sociais e espaciais antes do traslado e depois dele dando destaque s implica es que a mudan a sugere para o estabelecimento dos dom nios de poder nas arenas de a o dos reassentados de Itaparica 22 Itaparica antes da barragem O nome Itaparica somente se firmou como r tulo todo inclusivo para a regi o ribeirinha de sete munic pios desde Petrol ndia Gl ria at Bel m Chorroch ao virar alvo do reservat rio originalmente projetado em 716 milhas quadradas No lado bahiano a montante do leste ao oeste inclui Gl ria Rodelas e Chorroch e no lado pernambucano na beira do rio no lado norte inclui Petrol ndia Floresta Itacaruba e Bel m do S o Francisco O maior dinamismo demogr fico se observava nos centros urbanos maiores de Petrol ndia e Bel m enquanto os munic pios com mais extensas reas rurais contavam com taxas de crescimento menores e
110. ILVA Jose Coord et al Estudo setorial sobre a implanta o de projetos de irriga o no mbito do PROINE e a problem tica fundiaria do Nordeste Relat rio S ntese Campinas Instituto de Economia UNICAMP 1988 GUGGENHEIM Scott Evan Peasants Planners and Participation Resettlement in Mexico In CERNEA Michael GUGGENHEIM Scott Eds Anthropological Approaches to Involuntary Resettlement Boulder Westview 1993 241 GUIDIERI Remo PELLIZI Francesco TAMBIAH Stanley L Eds Processes of Interethnic Relations in Latin America Southeast Asia and the Pacific Ethnicities and Nations Austin Rothko Chapel University of Texas 1988 Smoking Mirrors Modern Policy and Ethnicity In GUIDIERL Remo PELLIZI Francesco TAMBIAH Stanley L Eds Processes of Interethnic Relations in Latin America Southeast Asia and the Pacific Ethnicities and Nations Austin Rothko Chapel University of Texas p 7 38 1988 HALL Anthony From Victims to Victors NGOs and the Politics of Empowerment at Itaparica In HUME David EDWARDS Mike Eds Making a Difference London Earthscan 1992 HANSEN Art OLIVER SMITH Anthony eds Involuntary Migration and Resettlement The Problems and Responses of Dislocated People Boulder Westview 1982 HEREDIA Beatriz A Morada da Vida Rio de Janeiro Paz e Terra 1979 HEREDIA Beatriz GARCIA Afr nio Trabalho familiar e campesinato Am rica Latina 14 1 2 1971
111. Latina v II serie Colecci n INTERAMER n 44 45 1994b Riscos aos Reassentados no Ambiente Constru do pela Barragem de Itaparica Investindo no Ambiente e Transformando o Campesinato Encontro Nacional de Estudos Populacionais 9 Anais Belo Horizonte ABEP 2 p 385 398 1994c O C lculo da for a de trabalho familiar camponesa e o descompasso entre o tempo institucional e o tempo familiar In MAGALH ES S CASTRO H BRITTO R Org Energia na Amaz nia Avalia o e Perspectivas S cio Ambientais Bel m Museu Goeldi UFPA UNAMAZ p 671 682 1996a 246 Gera es g nero e mudan a r pida dirigida no campo li es de Itaparica Boletim do Museu Paraense Em lio Goeldi S rie Antropologia 12 1 1996b Remo o Populacional e Projetos de Desenvolvimento Urbano In SANTOS Julio C zar dos CASTRO Wellington Alves de Org Encontro Nacional de Estudos Populacionais X Vinte Anos da Abep 10 1 ed Anais Caxamb ABFP v 2 p 813 834 1996c guas Transformadoras Recife PPGA NUSP V deo 1996d Frutas Tradicionais irriga o e agoroindustria num projeto de reassentamento In CAVALCANT Josefa Salete Barbosa Ed Globaliza o Trabalho Meio Ambiente Recife Editora Universit ria UFPE 283 306 1999 Uma nova mancha nos per metros irrigados a nova sub regionaliza o do Nordeste In ZARUR George Org Regi o e Na o na Am rica Latina Rio de Janeiro UNB p 189 21
112. Latina e a sua contribui o para movimentos de resist ncia A op o de contrastar movimentos locais espec ficos em primeiro lugar d um passo no rumo da compreens o dos movimentos nacionais gerais no contexto do movimento internacional de resist ncia a barragens e em segundo lugar reconhece a necessidade de respeitar a complexidade nica de cada movimento Ap s uma breve descri o dos dois movimentos de resist ncia s barragens compara se a composi o tnica e socioecon mica das duas popula es afetadas para finalmente examinar como o sucesso dos movimentos se relaciona aos usos diferenciais da etnia na cria o de identidades regionais e nacionais no M xico e no Brasil contempor neos 10Adaptado da Publica o do original em ZARUR George de Cerqueira Leite Org Etnia e na o na Am rica Latina etnia y naci n en Am rica Latina v I serie Colecci n INTERAMER n 44 45 Washington OEA 1994 55 Os dois movimentos de resist ncia s barragens Brasil A Barragem de Itaparica se localiza entre as barragens de Paulo Affonso a jusante e Sobradinho a montante As obras hidr ulicas no Vale do Rio S o Francisco iniciadas com o complexo de barragens em Paulo Affonso nos anos 40 foram projetadas para entrar no s culo XXI A constru o das primeiras barragens levou ao reassentamento de algumas popula es na beira rio rio acima em alguns locais que voltariam a ser inundados quarenta an
113. MT Os reassentados tamb m reconhecem o problema do cio Entendem que o abandono das suas casas procura de fontes adicionais de renda poderia resultar na perda da elegibilidade para a VMT T m que continuar residindo na agrovila mesmo quando outras alternativas de uso local de recursos se tornam invi veis como o plantio de chuva nas terras de sequeiro impr prias ou sujeitas seca e o criat rio limitado a dez caprinos e dois bovinos no m ximo na hora da mudan a e dizimado por inadapta o e roubo subsequente As estrat gias de reprodu o social destas fam lias foram sistematicamente enfraquecidas ao lado da agricultura familiar aut noma e refor adas ao lado de outras atividades mais diversas Enquanto os pais de fam lia reassentados com direito VMT ficam em casa mas n o encontram lugar para trabalhar nas pr prias terras os outros membros da fam lia se dedicam a muitas outras atividades algumas das quais mal contribuem para reproduzir agricultores Durante todo o per odo de espera os pais n o t m onde repassar os seus conhecimentos diretamente aos filhos e o pr prio lote recebido posteriormente exige conhecimentos que n o fazem parte do patrim nio de conhecimentos paternos sendo mais do dom nio de t cnicos em agronomia especializados As atividades dos familiares variam de acordo com a dist ncia e o acesso s cidades e fazendas nos limites dos projetos de reassentamento Observa o e conversa em agro
114. Mudan a para o Melhor tratada como uma oportunidade de realizar uma simbolicamente democr tica Reforma graria promotora de uma pol tica de distribui o de terra para quem n o a tinha Meeiros diaristas e outros trabalhadores rurais sem terra poderiam quebrar a sua depend ncia contratual hist rica com os propriet rios da terra e dos meios de produ o Granjeiros e fazendeiros e todos os outros que quisessem poderiam virar colonos irrigantes Como parte do Acordo de 1986 assinado com a Chesf depois da ocupa o do canteiro de obras o P lo Sindical se comprometeu a lutar para a implementa ao do projeto dentro dos prazos e com a qualidade esperada e tamb m de garantir o pagamento da Verba de Manuten o Tempor ria VMT em torno de dois sal rios e meio de refer ncia por fam lia at a hora da primeira safra nos lotes beneficiados por equipamento de irriga o Assim compensava a perda de ingressos devido perda da base anterior de sustento proveniente das atividades produtivas nessa terra que conhecia pouco desemprego ou desocupa o Enquanto mais se alastrava o per odo da n o implementa o completa de condi es de produ o nas agrovilas mais importante se figurava a VMT Enquanto o governo se ocupava com empr stimos do Banco Mundial e procurava negociar cada vez mais escassas fatias de or amentos apertados 35 para a continua o do projeto os novos projetos que implicavam em gera o de mai
115. NEGOCIA ES E RESIST NCIAS PERSISTENTES AGRICULTORES E A BARRAGEM DE ITAPARICA NUM CONTEXTO DE DESCASO PLANEJADO NEGOCIA ES E RESIST NCIAS PERSISTENTES AGRICULTORES E A BARRAGEM DE ITAPARICA NUM CONTEXTO DE DESCASO PLANEJADO Parry Scott Editora yX Universit ria P JFPE Recife 2009 Universidade Federal de Pernambuco Publica es Especiais do Programa de P s Gradua o em Antropologia O N cleo de Pesquisa Fam lia G nero e Sexualidade FAGES Conselho Editorial Ant nio Carlos Motta Maria Aparecida Lopes Nogueira Bartolomeu Figueir a de Medeiros Maria do Carmo Tinoco Brand o Carlos Sandroni Marion Teod sio de Quadros Danielle Perin Rocha Pitta Peter Schr der Eduardo Duarte Renato Athias Josefa Salete Barbosa Cavalcanti Roberta Campos Judith Chambliss Hoffnagel Roberto Motta Lu s Felipe Rios Russell Parry Scott N cleo de Pesquisa Fam lia G nero e Sexualidade Coordenadores Russell Parry Scott e Judith Chambliss Hoffnagel http www ufpe br fages fagesOufpe br Capa Diogo Cesar Imagem da Capa Arquivos do Autor Revis o Amanda Scott Editora o Eliete Dias Maranh o Impress o e acabamento Editora Universit ria da UFPE Cataloga o na fonte Bibliotec ria Adelma Ferreira de Ara jo CRB 4 1567 Scott Parry Negocia es e resist ncias persistentes agricultores e a barragem de Itaparica num contexto de descaso planejado Parry Scott Recife Ed Universit ria da UFPE
116. S Eu nunca fiz o exame a disse eu n o sou casada s sou noiva S pode ter AIDS se for casada Eu perguntei Ela disse n o Eu disse a ela que tem v rias maneiras de pegar AIDS ela mentira A disse ela tu tais junta n Ela disse n o A ela n o tem filho Disse logo teu namorado tem contato n o Eu disse Vixe como ela direta risos fica pensando que a gente j fez alguma coisa A ela disse agora vou me cuidar mais Eu disse veja bem Eu tinha medo de fazer o preventivo eu tinha tanto medo de fazer depois que eu fiz vou fazer de novo risos O preventivo faz no nibus tamb m O medo que a mulher tem de fazer n o de fazer do resultado Muitas mulheres n o querem fazer por causa do risco Eu tinha medo de fazer o preventivo Tem mulheres que n o cuidam da sa de porque o marido n o deixa tamb m tem isso Muitos n o querem que a mulher v para o m dico eles pensam assim que a gente vai mostrar aos homens a eles pensam que os homens ficam desejando a gente desse jeito que eles pensam na cabecinha deles Eu n o vou dizer que s o meu marido que n o n o s o muitos aqui Eu tenho vergonha com outra mulher Ah n o com mulher eu n o tenho Eu tenho vergonha de ir assim com um homem n o nem por causa dele por causa de mim mesmo Eu fiquei logo nervosa quando fui fazer o preventivo 283 2 Os
117. a es de poder nos cen rios locais fazendo com que a cada passo se redefinam e realinhem os reassentados na busca de uma vida de agricultor digno e trabalhador resistente contra as constantes amea as sua moralidade e s suas bases de sustento bases da identidade coletiva 210 emancipa o Um relato e um processo t o longo quanto o apresentado aqui merece terminar com a id ia veiculada pelos planejadores dos reassentamentos de que em alguma hora haver uma emancipa o Marcar o final de uma interven o e o in cio de algo totalmente novo evidente que n o isso que acontece Os pr prios sistematizadores desta fase idealizada Scudder e Colsen reconhecem que muitos projetos n o chegam a ela De fato pelo planejamento n o se pode esperara que chegue a esta fase Constantemente ao longo da terceira fase a retra o do Estado caracteriza um novo descortinar da inseguran a estrutural vivida pelas popula es pobres O Estado mesmo quando se torna mais vis vel em decorr ncia da amplia o das suas atividades num dado per odo hist rico como tem sido o caso em Itaparica durante todo o per odo de consolida o democr tica brasileira constantemente manifesta as suas retic ncias indisposi es e aus ncias Fazendo se extraordinariamente presente com uma remo o que gerou uma inseguran a administrada a sua emancipa o j vem prenunciada reiteradamente A sua sa da e fechamento do projet
118. a criar reinvestimento local No Subm dio S o Francisco em contraste direto com a rea nahua do Rio Balsas as comunidades ribeirinhas se revestiam de marcadas diferen as internas de poder Fazendeiros especialmente no lado pernambucano e donos de bombas d gua no lado baiano comandavam dom nios onde numerosos agricultores trabalhavam em parceria para eles Os arranjos contratuais variavam consideravelmente Algumas pessoas especialmente no lado baiano trabalhavam em sua pr pria terra e pagavam a outros pelo acesso gua de irriga o Outras pessoas 64 no lado pernambucano dependiam quase totalmente dos outros para acesso terra casa e gua As comunidades assim formadas mesmo unidas pelo estado comum de agricultores e de dominados conservavam a desigualdade At uma comunidade modelo de desenvolvimento irrigado conhecida como as granjas destacava se pela combina o de granjeiros bastante remediados que possu am inclusive uma associa o pr pria para proteger seus interesses e diaristas que eram sensivelmente mais pobres do que os agricultores da regi o A hierarquiza o e fragmenta o internas foram muito mais not veis de que entre os nahuas do M xico A produ o econ mica da rea era quase unicamente agr cola e pecu ria caprina para os pequenos bovina para os grandes A maioria dos produtos era antes mais destinada aos consumidores agroindustriais e aos grandes mercados region
119. a de regular Nem muito ruim nem tamb m 100 Porque eu acredito que as pessoas do campo mais no mato praticamente no mato posso dizer s o pessoas mais pobres que n o frequenta vamos dizer dentista plano de sa de n o tem condi es de fazer plano de sa de Eu penso que assim n o tem essas doen as de matar ningu m n o mais gripe e gripe n o mata ningu m n o Eu acho que as pessoas procura acidentes pra pontilhar digamos coceiras tamb m que o povo sente disse que da gua do rio quando o rio enche quando baixa muito o rio aqui passa bastante tempo sem chover Nordeste n ai cria muito mato naquela rea onde o rio baixou A quando ele enche cobre todo aquele mato ai apodrece tudo O povo se queixa que d muita coceira ai procura pra fazer uma consulta buscar rem dio essas coisas O maior a hipertens o e diabetes Problemas nas crian as gripe Gripe o que todo mundo tem Febre Teve um tempo que era dengue S rico assim que percebe que toma muita vitamina C risos Olhe eu n o vou dizer que ele de cacha a porque ele n o n o que as vezes ele n o tem nem bebido nem nada quando toma uma inje o passa a metade da noite l dependendo da hora que acontecer isso n A volta para casa e fica bonzinho a a irm dele vai e tira uma ficha para ele a vai o que vai perder o sono porque ela vai pegar a ficha e ele n o vai se consultar
120. a desresponsabiliza o institucional em que as institui es governamentais manifestam a sua vontade de se afastarem do projeto honrosamente na sua perspectiva para poder proceder com a realiza o de outros objetivos institucionais parcialmente impedidos de serem alcan ados por causa de Itaparica Ap s uma breve caracteriza o das primeiras duas focaliza se mais diretamente na terceira fase que ocorre quando a disputa para estabelecer dom nios de poder ao longo do Rio S o Francisco contribui mais claramente para a diferencia o da subregi o de Itaparica A primeira fase honrou os estudos t cnicos da Chesf localizando os 85 dos mais que 40 000 atingidos rurais que optaram por reassentamento em projetos na Borda do Lago ou em Projetos Especiais em locais mais distantes a montante FUNDAJ CHESF 1988 VIANNA MENEZES 1994 SILVA 1997 e Cap tulo 1 deste livro para descri es dos locais e seus contingentes populacionais Estas reas foram identificadas por sensoriamento remoto onde se aplicou o crit rio de potencial para agricultura irrigada acrescentado por quest es sobre a densidade populacional preexistente e por demandas da pr pria popula o que em muitos casos tendia preferir ficar na borda do lago pr ximo aos locais inundados mesmo diante da precariedade das an lises do potencial agricult vel neste locais Houve muita diversidade nos projetos e Uma s rie de pequenos projetos com caracter stica
121. a a o administrada pelo Estado que amea ava diretamente o acesso terra e a todos os recursos para produzir A inseguran a administrada opera uma modifica o radical na rela o de for as local e regional Um Estado omisso virou um Estado presente e pior ainda expropriador A perspectiva da perda da terra expunha toda a popula o sua condi o de extraordin ria vulnerabilidade diante de um representante de poder extra regional O ceticismo criado sobre o Estado criado ao longo da hist ria contribu a para uma desconfian a generalizada de que o Projeto seria nocivo para os agricultores O P lo versado nos documentos que orientavam as a es do Estado e bem assessorado por pessoas e institui es com experi ncia na defesa dos direitos dos exclu dos n o permitia que os agricultores sossegassem insistindo que as suas redes de rela es para garantir acesso terra n o geravam mais nenhuma seguran a diante de um projeto t o poderoso e t o palp vel Come aram a se desmantelar os 195 intricados liames das redes de rela es locais e no seu lugar figurou um nico agente capaz de homogeneizar todos sob o r tulo de atingidos Essa unifica o teve uma forte influ ncia sobre as evid ncias de vulnerabilidade da popula o A intensifica o do sofrimento ps quico da ansiedade sobre o futuro das sensa es de desespero diante da perda iminente das ra zes o desconhecimento da nova moradia todos se j
122. a defini o deles o ficar costuma estar relacionado com o n o compromisso a n o continuidade J namorar implica a exist ncia de um sentimento amoroso no casal que normalmente partilhado com a fam lia e a comunidade Meninos e meninas come am a ficar com at 11 anos mas um comportamento mais comum dos 13 em diante Entre as vantagens os homens jovens destacam o fato de que no ficar n o h lugar para cobran as H jovens que preferem ficar a namorar outros que gostam mais de namorar e alguns ainda que gostam de fazer as duas coisas simultaneamente O ficar pode evoluir para o namoro dependendo da rela o que se estabelece entre o rapaz e a mo a Os jovens costumam namorar s rio com 16 17 anos 263 8 PARA ELES E PARA ELAS 8 FICAR E NAMORAR S O COISAS PARECIDAS N O IGUAIS Ficar uma palavra que est dizendo tudo ficou hoje amanh n o tem compromisso de ficar com aquela pessoa Namorar como se fosse uma obriga o Ficar e namorar s o coisas parecidas n o iguais Quando a mulher mais s ria ficar uma coisa simples Ficar com uma pessoa e j ter rela o sexual j outro caso Nem todas aceitam eu acredito que n o dif cil depende da pessoa que a gente fique Ficar uma coisa que n o tem sentimento nenhum Agora namorar uma coisa s ria Tem mais respeito um com o outro Eu acho que tem a diferen a porque no namoro tem o res
123. a e nas atividades produtivas expondo todas as fam lias a um tratamento relativamente indiferenciado na nova situa o como reassentados A nova hierarquiza o entre fam lias se reduz a uma combina o de riqueza e tamanho do lote da fam lia C rigidifica o formal dos crit rios de participa o na fam lia n o permitindo a separa o de solteiros residentes do grupo dom stico nem incluindo aqueles que tinham migrado para passar uma temporada trabalhando fora D insensibilidade s modifica es decorrentes do avan o no ciclo dom stico especialmente no que se trata de acesso nova base de produ o tamanho do lote isto se agravando mais com o aumento na espera para iniciar a produ o E em geral uma exposi o a um discurso t cnico que culpabiliza as fam lias por dificultar o sucesso dos projetos quando elas agem de acordo com o percurso comum do desenvolvimento do ciclo dom stico Se estas s o as regras preciso lembrar que as fam lias t m as suas pr prias ast cias DE CERTEAU 1994 as suas armas como partes fracas em dom nios de poder mais amplos JAMES SCOTT 1985 1992 As perguntas sobre o refor o e enfraquecimento de rearranjos familiares e a participa o feminina se tornam cada vez mais relevantes com a passagem dos anos pois em Itaparica como em tantos outros projetos governamentais o prolongamento significativo do tempo de implanta o do projeto fez com que ocorressem modif
124. a emancipa o Outro projeto agro industrial em Petrolina PE 47 Um outro grupo de t cnicos da Codevasf passa a se distinguir quando da explicita o dos termos da participa o no que se refere s decis es e responsabilidades Em particular quando sugerida a exist ncia de um espa o dado para o exerc cio do poder de decis o evidenciado que este ltimo dependeria da for a de argumenta o do respaldo das comunidades que representam Se por um lado esse discurso parece mais pr ximo daquele dos representantes sindicais por outro ele n o se desenvolve sem tens es e exig ncias m tuas Nesta discuss o h a interfer ncia de t cnicos da Chesf Um deles de Itaparica inicia indagando se o Comit Co gestor seria deliberativo ou consultivo Responde a Codevasf Bras lia que deliberativo dentro de limites As decis es n o seriam exclusivas nem dos agricultores nem da Codevasf O trabalho conjunto depende do tipo de argumenta o sob uma autoridade o documento de contrato O Comit deliberativo mas n o livre aut nomo h limites de leis or amentos etc O P lo indaga sobre a rela o do Comit com os rg os que atuam nos per metros refere se ao Conselho T cnico a ser formado por entidades p blicas e privadas conforme a proposta em discuss o A reposta que N o h rela o de hierarquia mas o comit deve exercer press o sobre a responsabilidade de programas que as en
125. a informa es sobre a aten o dos prestadores de servi os de sa de nesta esfera 288 INFORMA ES GR FICAS FORMATO 15 5 x 22 cm TIPOLOGIA Book Antiqua PAPEL MIOLO Off set 75g m CAPA Triplex 270 g m Montado e impresso na oficina gr fica da Editora 7y Universit ria Z UFPE Rua Acad mico H lio Ramos 20 V rzea Recife PE CEP 50 740 530 Fax 0xx81 2126 8395 Fones 0xx81 2126 8397 2126 8930 www ufpe br editora e edufpe nlink com br e editora ufpe br
126. a namorar uma menina da agrovila a quando foi a hora H que eu foi falar com a m e dela a m e dela n o aceitou A eu fiquei namorando com ela escondido Escondido tipo assim sentado no banco fora longe da casa dela Eu pedi a menina pra namorar n o ped ao sogro n o vou namorar sogro Se a menina quiser eu fregiiento a casa dela mas n o por causa do pai Se n o quiser dentro da casa vai pra fora Quando realmente a mulher direita imp e respeito o namoro na casa dela o cara quer provar que uma coisa s ria e n o se aproveitar e deixar para l Agor quando a mulher fica com outro e j est se beijando com outro assim Quando termina a festa j tem ficado com uns cinco H Os rapazes preferem ficar Depende da idade dos rapazes Tem unsa que s o mais velhos j estavam procurando uma pessoa mais s ria para casar Esses mais novos s querem ficar mesmo Pra mim namorar voc levar seu namorado pra casa Pelo menos uma quest o de respeito pra sua fam lia tamb m bom pra gente Aqui namorar escondida ficar logo mal falada Todo mundo falava de mim porque eu era quietinha namorava escondida HH Todo mundo come ou namorar escondido com medo do pai e da m e a gente come a assim a sua colega ela ajeita por interm dio de outras pessoas HH As fam lias tentam achar o homem certo Se a filha prefere namorar determinado rapaz a m e diz que o rapaz n
127. a pelas regras aplicadas na agrovila garantindo o acesso a recursos para estas fam lias interessante que s o justamente os velhos que s o o alvo de acusa es e de fortes cr ticas dos t cnicos e dos administradores do projeto como potenciais entraves ao sucesso do reassentamento porque s o fracos e incapacitados pelo trabalho e ou porque os seus conhecimentos sobre agricultura irrigada da forma que foi praticada na beira do rio com terra mais f rtil e com gua distribu da por gravidade n o s o adequados para a nova realidade de agricultura por aspers o em terra n o aluvial seca e fraca onde se exigem sofisticadas t cnicas de preserva o do solo e de administra o da gua Contraditoriamente refor a se a fixa o de fam lias mais velhas e a manuten o dos seus grupos de parentes ao mesmo tempo em que se coloca em d vida a sua capacidade de adquirir e transmitir conhecimentos adequados para as gera es mais jovens Os 166 t cnicos parecem ser fortemente influenciados pela simbologia do novo e do vigoroso inerente nestes projetos pela id ia de reforma e de mudan a que excluiria o velho Mas muitos dos reassentados mais velhos t m abdicado do seu poder de conhecimento sobre as pr ticas agr colas anteriores alguns investindo na educa o dos seus filhos para serem t cnicos agr colas e muitos outros deixando que os seus filhos administrem mais diretamente o plantio nos lotes Reconhecem o c
128. a realidade dos efeitos da barragem de Itaparica demonstra que h um padr o consistente de Descaso Planejado na constru o de barragens As redes complexas e interconectadas formam alian as e oposi es duradouras e tempor rias Ora se unem t cnicos e formuladores de pol ticas com a popula o impactada e seus defensores ora se atritam Um pensar que simplifica separando este campo em dois lados sempre antag nicos inevit vel mas o antagonismo nem sempre se perfila pelos caminhos imaginados s vezes ocorre internamente s institui es planejadoras e executoras s vezes divide as organiza es que se esfor am para defender os atingidos s vezes caracteriza a pr pria popula o impactada A descoberta de pontos em comum e a forma o de alian as sejam elas perfeitamente esperadas ou muito inusitadas em torno de quest es cuja urg ncia imp e que sejam negociadas de imediato desmancha se ou se fortalece com o desenrolar da experi ncia e o surgimento de novas quest es O que perdura o contexto de um planejamento e articula o de interesses que em muito transborda as fronteiras da realidade local e a articula o de uma popula o em busca de mecanismos de tornar mais claros os seus pr prios 12 interesses e defend los diante de um contexto em que n o s o enxergados como os benefici rios priorit rios das a es planejadas Os cap tulos deste livro s o selecionados dentre muitas p ginas escritas q
129. a receber muita coisa da Chesf e como resultado n o criaram a no o do valor das coisas Um bom exemplo disto a quest o de como introduzir os c lculos sobre o custo do fornecimento da gua dentro do pensar sobre a administra o da sua produ o Nos primeiros anos a Chesf concede uma car ncia nestas despesas mas os t cnicos s o un nimes v o ter que pagar v o ter que deixar de estarem viciados ao uso do or amento da Chesf E tudo ser mais caro v o ter que produzir produtos de alta rentabilidade O despreparo dos reassentados para o manejo da gua uma precupa o constante A sua hist ria anterior como irrigantes tratada como in cua ou como prejudicial e raramente como elemento positivo na sua capacita o para produ o nos lotes irrigados Como a tecnologia de agricultura de aspers o muito diferente que a de gravidade que usavam antes h quem diga que a experi ncia anterior n o cria obst culos pois podem perceber a diferen a de imediato Outros insistem que estes agricultores estavam acostumados a trabalhar com a terra encharcada e consequentemente ter o uma tend ncia de molhar demais a terra no novo ambiente levando a problemas de produtividade e de saliniza o N o podem ver a rela o da gua com a terra da mesma forma que antes O manejo adequado da gua importante para assegurar a produ o sucessiva de produtos rent veis que possam ser lan ados no mercado internacional de a
130. a seis meses levaram boa parte dos dados sobre a m o de obra familiar registrados no cadastro da Chesf a caducarem Com as mudan as por causa do tempor decorrido quando o lote fica pronto a composi o da fam lia outra Como argumentei em outros locais SCOTT 1981 1990 trabalhadores e agricultores brasileiros recorrem imagem do cativeiro para referirem se perda de controle sobre a pr pria m o de obra dom stica Esta perda mais importante do que qualquer configura o espec fica de rela es de domina o Conseguentemente ao aumentar a sua utiliza o do termo cativeiro depois de reassentada a popula o real a as dificuldades que as fam lias encontram para recompor a sua base de subsist ncia As transforma es severas nas rela es de poder na regi o sublinham ainda mais esta dificuldade 2 Rela es de Poder em Transforma o O segundo objetivo declarado da Chesf de promover desenvolvimento local acabando com o atraso das rela es de produ o e quebrando a depend ncia em fazendeiros e donos de bombas n o surtiu o efeito imediato de libera o que o slogan terra para os que n o a tinham sugere Durante a transi o tem havido uma modifica o ineg vel nas rela es de poder No entanto a transforma o terminou por refor ar ainda mais a 37 depend ncia da popula o do que de diminu la No lugar de tratar com os variados fazendeiros propriet rios e donos de
131. a sua a o O c lculo deslanchado dentro de uma configura o pol tica de transforma o iminente em que os atores nas estruturas de poder formadas em torno do projeto est o se multiplicando se renovando e adequando as suas pr ticas para se situarem dentro das novas realidades em constru o Ao mesmo tempo em que concretiza as demandas dos beneficiados em algo vis vel e defens vel dentro do projeto o c lculo opera como mecanismo de reifica o de diferen as internas entre os beneficiados e de nega o virtual da sua mutabilidade diante do quadro A pr pria redescoberta da t o cotidiana fluidez de composi o e de articula o de atividades de grupos dom sticos camponeses e de trabalhadores rurais pode exigir uma reinterpreta o do c lculo que no decorrer do projeto pode se 74 tornar uma refer ncia para os administradores caracterizarem transgress es dos beneficiados Isto se torna ainda mais evidente quando a distribui o dos benef cios do programa de desenvolvimento adiada por quaisquer que sejam as raz es De in cio importante ressaltar que as considera es aqui se destinam melhor compreens o da rela o entre uma pr tica administrativa comum e necess ria e as pr ticas cotidianas da popula o beneficiada no caso concreto lidando com uma base de c lculo cujo uso o pr prio P lo Sindical se orgulha em ter estimulado na negocia o do Acordo de 1986 uma inc gnita saber qu
132. abilista do Banco e internamente havia necessidade dos interessados em resgatar a imagem social do banco em convencer os colegas cont beis de que valia a pena investir mais Terceiro existe mesmo alguma expectativa de sucesso nos projetos podendo fazer as v timas tornarem se beneficiados Os boatos de meados de 1997 sugeriam que com mais probabilidade que nos anos anteriores a resposta do Banco a estas indaga es era positiva O sinal postivo era um fator alentador para o P lo sugerindo que reascenderia indiretamente a parceria hist rica com o Banco O P lo sempre se atualiza nas quest es a serem tratadas e neste per odo estava num processo de se reagrupar diante dos mesmos fatores que incomodavam Chesf e nem tanto Codevasf O sucesso das press es para o reassentamento no fim da d cada de 1980 criou uma notoriedade pol tica para muitos representantes sindicais Isto levou diversos representantes importantes a participar em elei es municipais em 1992 e em menor escala em 1996 e em sucessivas elei es Esta realidade intensificou o desafio de articular estrat gias sindicais que pudessem ora representar oposi o ora representar colabora o com as diferentes administra es municipais Com o avan o do tempo e a continua o de morosidade na implanta o dos projetos o caminho de participa o politica eleitoral n o deixou de existir mas n o se deslanchou como caminho exitoso nem priorit rio Quando
133. ada mas bastante resiliente Precisa saber diversificar se na identifica o dos m ltiplos pontos de intera o entre realidades locais e projetos abrangentes que concatenam 189 a es direcionadas consecu o das suas metas priorit rias pr prias Ent o tamb m a hora para o refor o de alguns agentes que se tornam porta vozes da coletividade eleitos tanto por si mesmos quanto pelos administradores dos projetos como interlocutores com algum grau de legitimidade Esta pr pria legitimidade se torna pe a de negocia o entre as pr prias a es de administra o do projeto e nas maneiras de fazer frente a ele Em termos de vulnerabilidade a clareza das amea as imediatas seguran a cria tanto uma intensifica o de preocupa es que j eram latentes quanto introduz preocupa es novas Os agentes do Estado ganham nomes faces e rostos tanto individuais quanto institucionais e a possibilidade de avaliar o seu potencial para a o se agu a frente s a es propostas e realizadas em parte um processo contr rio inseguran a estrutural pois da expectativa de vulnerabilidades decorrentes de um Estado omisso passa para uma expectativa de vulnerabilidades proveniente de um Estado presente e ativo administrador de benef cios e de danos O Estado se torna alvo de vigil ncias que ele mesmo estimulou Contraria inseguran a estrutural e inseguran a administrada a inseguran a coletiva local n o se ord
134. ados ao processo chegaram a considerar a rela o conflitante entre trabalhadores e ndios sobre 67 a ocupa o e o uso da terra ind gena como impedimento a uma integra o mais efetiva desses grupos no movimento Al m disso os grupos ind genas negociaram com a Funda o Nacional do ndio FUNAI especialmente designada para cuidar de seu reassentamento o que representava uma divis o do movimento de reivindica es do P lo junto CHESF Em resumo mantendo seu car ter de movimento trabalhista unido o P lo Sindical complementou sua a o centralizadora na rea com a forma o de diversas alian as cuidadosamente selecionadas que permitiam a cria o de uma rede difusa de comunica o em diferentes n veis extrapolando os limites locais J no M xico a identifica o n o foi com um movimento de trabalhadores mas com um movimento cultural indigenista BARTOLOM 1996 BARABAS 199 Os ndios nahuas exclu ram cuidadosamente das primeiras reuni es os representantes de partidos de oposi o de sindicatos e de rg os governamentais e n o governamentais reservando lhes um papel de apoio e n o de lideran a Articulando se entre comunidades com a es que enfatizam a solidariedade ind gena interna e o respeito pelas opini es de cada vila terminaram criando um s movimento entre os pr prios ndios Depois estabeleceram alian as com os grupos simpatizantes e receberam o apoio de ec logos t cnicos
135. agricultura irrigada em plena produ o exigindo forte participa o masculina agricultura de vazante cada vez mais limitada plantio de chuva pesca criat rio numeroso trabalho assalariado nas granjas de fruticultura irrigada e trabalho aut nomo e assalariado nas olarias al m evidentemente do pr prio trabalho dom stico as mulheres mesmo quando reconheciam um papel subordinado aos homens tinham atividades que podiam desempenhar com pelo menos uma diminu da vigil ncia masculina sobre os rendimentos obtidos Nas agrovilas do Bloco Um da Borda do Lago em Pernambuco isto era especialmente not vel entre as fam lias cujos homens antes se entregavam mais integralmente ao trabalho nas olarias Com o reassentamento o espa o f sico desses trabalhos foi demasiadamente reduzido concentrando se hoje no lote e no quintal e durante seis anos nem havia produ o agr cola familiar As mulheres que tinham alguma atividade mais independente parecem ter perdido muito deste espa o Enquanto antes os 29 Reconhecimento este que entendemos de acordo com a categoria de viol ncia simb lica de Bourdieu em que os pr prios subordinados reproduzem a ideologia e a pr tica dos que os subordinam 30 Voltamos a De Certeau 1994 e James Scott 1985 1992 que ressaltam limita es mas que s o mais otimistas sobre o discernimento e ag ncia dos subordinados na leitura das estruturas de poder em que se encontram 172 homens t
136. ais associado a uma rea irrigada antes do reassentamento Ent o no grupo n o h expectativa de haver benef cio decorrente do nascimento de filhos numerosos se n o houver terra para trabalhar Arranjar um espa o para plantar e uma casa separada envolvem complexas negocia es entre os agricultores j reassentados e a sua descend ncia e um aborto pode adiar por um tempo a necessidade de efetivar esta negocia o com os pais dos jovens Talvez por esta import ncia dada pelos homens necessidade de se sentirem em condi es de assumir a responsabilidade de agricultores plenos eles mencionam ter estimulado um aborto mesmo quando n o havia desconfian a sobre a fidelidade da namorada Nestas horas a insist ncia do rapaz um sinal para a menina e os pais dela da necessidade de avaliar a seriedade das inten es dele entendendo a sugest o do aborto ou como uma admiss o da imaturidade da rela o e a sua dificuldade passageira de ser provedor ou se um questionamento sobre em que categoria classifica a parceira N o parece haver uma inger ncia significativa da religiosidade cat lica nessas decis es pois independente das doutrinas formais a presen a reduzida de padres e a manuten o de uma religiosidade cat lica popular terminam por n o erigir barreiras significativas a esta pr tica N o que n o haja quem fale contra a pr tica mas para os usu rios o problema maior parece ser em encontrar como realizar o abor
137. ais de escoamento de produ o Esta diferen a de perspectivas fica muito evidente quando os t cnicos da Codevasf e das empresas contratadas por ela mais atuantes em Petrolina e 89 Juazeiro e nos grandes per metros irrigados capitalizados insistem que os reassentados s o diferentes dos colonos dos per metros irrigados da sua rea de atua o costumeira Segundo eles os reassentados n o foram selecionados de acordo com os crit rios de potencial para produ o e administra o usados para selecionar colonos Portanto na perspectiva dos t cnicos estas fam lias n o t m o preparo adequado para o modelo de empresas familiares usu rias frequentes de assalariados e diaristas que moram nas favelas das reas urbanas e nas redondezas dos per metros irrigados Algumas agrovilas j est o com os seus lotes irrigados implantados e mostram a for a da l gica da produ o familiar e como se diferencia da l gica dos implantadores do projeto Alguns dos filhos dos casais idosos que estavam sem for a de trabalho familiar deixaram as suas outras atividades quando o lote dos pais entrou em opera o voltando a se dedicarem agricultura demonstrando que n o eram s velhos nesses lugares Os t cnicos queriam come ar com uma rea de meio hectare para treinamento e ap s a experimenta o e treinamento pretendiam liberar o resto para produ o S que as fam lias insistiram em usar toda a rea dispon vel j
138. ais e nacionais do que s feiras locais A produ o artesanal era reduzid ssima e consequentemente n o se criava um conte do simb lico capaz de diferenciar essas comunidades de outras comunidades agr colas camponesas Embora do ponto de vista delas fosse melhor ser beiradeiro do que caatingueiro e tamb m embora os fluxos migrat rios locais fossem em dire o ao rio muita gente migrava para S o Paulo onde as oportunidades econ micas prometiam mais Em muitos casos houve manuten o de la os com as casas de origem mas a diferen a de ganho n o se aproximava nem um pouco da diferen a de ganho entre os Estados Unidos e o M xico fazendo com que a contribui o de egressos com recursos vindos de fora fosse muito menor E a relativa indiferencia o tnica junto com as redes comparativamente fracas de apoio entre migrantes n o permitiam criar uma situa o de di spora tnica como faziam as redes nahua mexicanas nos Estados Unidos Integrando os movimentos na constru o da na o Dentro de um ponto de vista estreitamente te rico n o se pode estranhar que no Brasil se tenha constru do a barragem e no M xico n o Ambas as barragens propunham significativas remo es de popula o Os ganhos energ ticos imediatos foram 65 consideravelmente maiores no Brasil No M xico a constru o proposta de San Juan Tetelcingo de baixa produ o energ tica travestiu se com um car ter corretivo sendo
139. al a forma mais justa de operacionalizar a realiza o do c lculo da for a de trabalho familiar Para come ar a abordar esse tema teriam de ser realizadas pesquisas mais aprofundadas sobre a hist ria da fundamenta o desta pr tica em projetos de desenvolvimento bem como sobre as etnografias historiadas de cada um dos locais de implanta o de projetos O que certo que os reassentados que receberam seus lotes agr colas de acordo com um c lculo destes se divergem Alguns se acharam contemplados com lotes de tamanho adequado e outros se achavam contemplados com tamanhos inadequados Simultaneamente muitos t cnicos respons veis pelo acompanhamento destes reassentados reclamam sobre a inadequa o das for as de trabalho familiares para o duro trabalho de irriga o que esperava a popula o nestes lotes Este apanhado explorat rio tem a finalidade de identificar algumas indaga es relevantes para o caso em tela real ando as suas implica es para a compreens o da rela o entre pr ticas administrativas e pr ticas da popula o reassentada Abre mais quest es de que as fech As dezenas de milhares de agricultores reassentados pela barragem de Itaparica no Subm dio Rio Francisco na Bahia e em Pernambuco foram cadastradas em 1985 nas suas moradas na beira do rio entre Petrol ndia Gl ria e Bel m Rodelas para ser removidas em 1987 1988 e iniciar logo em seguida produ o agr cola em agrovilas com sistemas d
140. alho muito fragmentada porque representa uma s rie de retomadas de uma pesquisa que ora suspensa ora se retoma mudando de nfase Neste sentido este pr prio cap tulo demonstra os efeitos nocivos do prolongamento do processo de reassentamento uma viol ncia por dificultar a documenta o das reais adversidades enfrentadas 99 pela popula o A avalia o do reassentamento contratado Funda o Joaquim Nabuco FUNDA no calor da remo o teve que suspender os seus trabalhos no fim de 1988 quando o comprometimento do programa da Chesf apartando se dos seus cronogramas anunciados come ou a despontar Empreiteiros ficaram sem receber e protestaram contra a impossibilidade de trabalhar sem recursos pr ximas etapas do reassentamento foram adiadas gerando frequentes reclama es do P lo Sindical sobre o descumprimento de promessas da Chesf aten es institucionais e publicidade foram cada vez mais dirigidas para as fa anhas da engenharia que a constru o da barragem de Xing representava Imprudentemente nesta hora de grande desgaste para os reassentados diante da falta de recursos da Chesf a avalia o dos impactos sociais tamb m encerrou os seus dezoito meses de trabalho Acenando com a probabilidade da renova o do trabalho a Chesf manteve os pesquisadores na expectativa de uma volta Somente mais de cinco anos depois em 1994 firmaram novo contrato de avalia o com a FUNDA com novas diretrizes Os
141. alho Eles somente podem ser entendidos no contexto das modifica es na sua sub regi o que se processaram na sua rela o com os atingidos urbanos que hoje moram em cidades reconstru das bem como com os ainda mais numerosos habitantes de munic pios n o diretamente atingidos que receberam os reassentados rurais e os integraram no seu dia a dia nas maneiras que forem poss veis Fases de reassentamentos em grandes projetos e vulnerabilidade Com todas as suas particularidades o reassentamento rural n o foge de um padr o bastante sistem tico mundial de projetos de desenvolvimento que envolvem grandes remo es de popula o que receberam um auge inicial de aten o nos anos 1980 com os estudos de Cernea 1988 Baum 1982 e Hansen e Oliver Smith 1982 com particular destaque para o trabalho sintetizador de Scudder e Colson 1982 Estes ltimos autores identificam quatro fases nos processos de reassentamento que sem seguir rigorosamente os r tulos identificadores destes autores correspondem a 1 planejamento e divulga o 2 implanta o 3 desenvolvimento e 4 emancipa o Uma revis o cr tica que elaborei no in cio dos anos 1990 SCOTT 1996 ressalta a idealiza o destas fases como parte de um mapa de planejador que efetivamente quase sempre empaca na terceira fase revelando metas subjacentes priorit rias que s o pouco explicitadas nos projetos e na teoriza o sobre eles Um dos resultados disso que a int
142. am do criat rio conseguiam fugir destas restri es Somaram se a isso redu es de quantidades ainda maiores por causa da m adapta o dos animais ao seu novo habitat Deste modo os agricultores familiares perderam uma das salvaguardas mais tradicionais contra as suas dificuldades econ micas Meeiros e diaristas possuiam poucos recursos para carregar na sua mudan a o que impedia que estes investissem em quaisquer novas atividades de subsist ncia enquanto os pequenos propriet rios e posseiros na sua maioria mesmo tendo ligeiramente mais recursos tampouco encontravam oportunidades para investir 36 Sem terra onde pudessem trabalhar e sem capital residindo nos novos locais que agora se distanciavam das antes relativamente abundantes oportunidades para trabalho rural estes reassentados perceberam que o melhor para onde tinham sido levados de fato resultava numa enorme perda de controle sobre a for a de trabalho familiar Com membros da fam lia sem atividades produtivas com rendas baixas ou nulas e residindo pr ximos a outras fam lias rapidamente descobriram que as rela es entre fam lias vizinhas bem como as pr prias rela es dentro da fam lia se tensionavam mais que nunca Adicionalmente o progressivo aumento de emigra o em busca de oportunidades longe de casa e as outras inevit veis mudan as na composi o dos domic lios com a passagem de anos e anos sem implementa o plena do que foi prometido par
143. am para a barragem de Xing a uma centena de quil metros a jusante no Rio S o Francisco num canyon rochoso e pitoresco Os novos desafios ainda mais espetaculares para a engenharia vencer a natureza e manter tudo aceso para os citadinos e donos de f bricas j substituem a prioridade de Itaparica com a sua complicada e grande popula o Ainda melhor a natureza in spita resultou nesta regi o dispor de bem poucos moradores a serem reassentados simplificando o trabalho administrativo da Chesf O projeto de reassentamento supostamente ainda em andamento v tima previs vel desta transforma o e o P lo Sindical precisa se reorganizar com a modifica o do seu cen rio de a o Os atos p s inaugura o da barragem da Chesf reinstalam uma vontade de alcan ar o que nunca pode ser alcan ado por 202 inteiro o reconhecimento de que n o h mais necessidade de intervir O Estado onipresente uma vez atingida a sua meta priorit ria prefere retornar ao seu papel de gerador de inseguran a n o pelas suas a es mas pelas suas omiss es Ou seja esta uma fase do recrudescimento da inseguran a administrada e da retomada j em novas bases da inseguran a estrutural e da inseguran a coletiva local Quem est reassentado conta com se mesmo e com o P lo Sindical para continuar o di logo com o Estado e a cobran a pelo cumprimento dos termos do acordo e ao decorrer dos anos a composi o das novas rela es de pod
144. amente povoada de Itaparica a constru o da pr xima barragem Este fato foi fundamental na articula o dos sindicatos de trabalhadores rurais na forma o do P lo Sindical com o prop sito expl cito de defender esta popula o contra os potenciais efeitos delet rios de mais uma execu o de um grande projeto de desenvolvimento sem que a popula o mais diretamente atingida fosse escutada Nem a sua condi o hist rica privilegiada de Rio de Integra o Nacional e nem a de ponto de atra o para o processo de migra o para produzir na beira do Rio aproximaram a grande 193 maioria dos moradores desta rea ao Estado Dist ncia e omiss o junto com uma atua o apenas espor dica e pontual permitiram a forma o em Itaparica de uma popula o rural composta por posseiros pequenos propriet rios e meeiros todos agricultores familiares que organizavam o seu dia a dia na base de um ethos de trabalhador Virtualmente desconhecia se a desocupa o entre agricultores exceto no aglomerado urbano de Barreira onde concentrava os diaristas que trabalhavam em olarias e num projeto de irriga o conhecido como as granjas que o governo promoveu pontualmente em Petrol ndia Os agricultores familiares se relacionavam com fazendeiros arrendat rios e donos de bombas que distribu am a gua do rio para as terras vizinhas Estes senhores se dispuseram a fornec los os meios de sobreviv ncia a um pre o negociado entre fortes e
145. anda toda Localmente circulavam curandeiros benzedeiras e 194 raizeiros e muitos agricultores e agricultoras empregavam os seus pr prios conhecimentos sobre subst ncias e pr ticas associadas melhora de sa de comuns na regi o para quem conhece a ecologia local Recorrer a estes meios costumeiramente era um ato de redes mais solid rias n o refor ava a depend ncia dos agricultores nos detentores de maiores recursos materiais Ao mesmo tempo a diversidade de problemas invariavelmente levava alguns a pedir rem dios transporte contatos e outros tipos de ajuda para os seus males Estas solu es refor avam as redes personalistas e clientel sticas localizadas e simultaneamente imprimiam a no o da fraqueza e inoper ncia dos servi os do Estado muitas vezes totalmente ausente de considera o como caminho Assim diante da inseguran a coletiva local procurar resolver problemas de sa de promovia uma divis o entre n s e os outros pr ximos por m mais fortes neste cen rio que a not cia dos planos do Estado de construir uma barragem e remover toda a popula o chega espalhada por dois ve culos principais os contratados da Chesf para preparar toda a constru o da barragem e para cadastrar todos os que ser o removidos e os associados ao sindicato que formavam um P lo articulado para defender a popula o rural destinada a ser atingida pelo reservat rio Ou seja instala se um an ncio de um
146. ando outras pequenininho vai brincar de carrinho Eu acho que menino diferente o comportamento do menino e da menina Se o pai estiver no meio dos amigos no bar com o filho e a sai aquele palavr o o menino j vai aprendendo o pai n o d a m nima pra isso Mas quando a filha da diferente Os meninos s o mais liberados Numa precis o eu n o acho nada de errado um homem ajudar em casa numa precis o Agora a m e j criar um filho j fazendo coisas de casa n o d certo n o Agora no caso de uma precis o Agora ser criado igual a uma menina n o certo n o As meninas ajudam a m e em casa e os meninos na ro a com o pai As meninas a m e ensina a trabalhar em casa No caso da precis o vai trabalhar na ro a O pai pode andar com ele o filho pra onde ele quiser mostrar os puteiros Com a filha mulher n o fica feio andar com a menina pro trabalho viajar com uma filha mulher Com o filho homem n o vou ali em tal canto pega o menino pequeno e anda tudo 270 PARA ELES E PARA ELAS 8 O QUE LEVA SEPARA O O CACHIBLEMA CACHA A MISTURADA COM CHIFRES E PROBLEMA Eu acho que a maioria briga por alcoolismo mesmo porque n o tem sossego com agress o com as mulheres s vezes com o filho tamb m O que separa s o os coment rios Fulana deve estar com outro Porque os casais agientam at o ltimo momen
147. anima os mais otimistas dos reassentados que se inicia uma invers o no discurso sobre os custos dos projetos culpando as v timas Como o P lo Sindical havia previsto um hiato inevit vel na base de subsist ncia entre o per odo do traslado e a primeira colheita ele garantiu no acordo assinado com a Chesf em 1986 a verba de manuten o tempor ria VMT para o sustento da fam lia at estar produzindo e vendendo nos novos lotes irrigados Era o governo que n o conseguia 128 aprontar os lotes mas se espalhou a id ia que a Chesf estava pagando os reassentados para ficar na rea e n o fazer nada sugerindo que se tratava de um bando de desocupados aproveitadores e pregui osos uma imagem muito diferente daquela dos agricultores trabalhadores de meios modestos que antes da barragem lutavam com irriga o na beira do rio com uma taxa de desemprego aproximando zero A Chesf estava acuada diante dos projetos de Itaparica Enquanto espalhava lindas fotos e descri es dos desafios t cnicos superados com m quinas modern ssimas na constru o da barragem de Xing procurava se silenciar sobre Itaparica O P lo as ONGs e a Igreja mantinham press o promoviam eventos e passeatas e contatavam o seu outrora aliado Banco Mundial que informava que estava imobilizado pela falta de contrapartidas nacionais parte das regras do financiamento acordado Para a Chesf nunca um sucesso nas agrovilas dos projetos de reassentamento
148. ansit rias mas com apar ncia de permanente convivendo e construindo alian as e armando estrat gias de vida nos novos ambientes Tanto na introdu o e primeiro cap tulo deste livro quanto em outro lugar SCOTT 1993 argumentou se que a pr pria descri o de fases de Scudder e Colson planejamento transi o desenvolvimento potencial e libera o trata o prolongamento da fase de transi o como algo muito corriqueiro nos processos de reassentamento Este prolongamento sistem tica ou assistematicamente fornece espa os particularmente privilegiados onde os agentes das estruturas de poder amplas al m da rea de reassentamento e restritas dentro do raio de a o do pr prio projeto v o formando as suas estrat gias de a o na rea sujeita mudan a for ada Portanto as rela es estabelecidas durante o per odo de transi o n o podem ser dispensadas como esp rias e relativamente inconsequentes e sim podem ser observadas como passos importantes no fluxo de forma o de estruturas de poder nos novos ambientes Desta maneira o que ocorre durante interrup es mais ou menos longas no processo serve para identificar os elementos em jogo e a forma como os agentes se organizam em torno deles O importante identificar alguns dos elementos que t m se destacado na forma o e compreens o do uso dos novos ambientes como parte de estruturas de poder em constante reordena o A base de dados para este trab
149. ao pr prio agricultor Estes fazendeiros exerciam um controle de terra capital decis es pol ticas e erigiam rela es de clientelismo bastante intensivas com os que dependiam deles No cen rio local eram poderosos Granjeiros restritos a um projeto na parte ocidental de Petrol ndia este pequeno grupo de agricultores irrigantes pr speros e moderadamente capitalizados costumavam residir nas suas terras e as vezes na sede e faziam bastante uso de diaristas para ajudar nos seus produtos comerciais Formaram uma organiza o coletiva pr pria ACAMP que falava em un ssono pelo grupo Quando se queria demonstrar os benef cios que um projeto de irriga o poderia trazer a uma popula o local o exemplo invariavelmente era dos granjeiros de Petrol ndia 26 4 Arrendat rios os arrendat rios se dividiam entre a donos de bombas de gua equipamento de irriga o tratores e caminh es e que acharam por bem arrendar terra num valor m dio de em torno de 10 da produ o agr cola justamente para que eles pudessem empregar mais trabalhadores e meeiros e b pessoas que precisavam de terra para poder usar a sua pr pria m o de obra familiar para produ o direta O n mero reduzido e a diversidade relativa destes arrendat rios impediam a sua articula o enquanto grupo coesivo nico nos processos pol ticos locais e na a o frente ao reassentamento 5 Intermedi rios estes atores eram muito variados e procediam de dent
150. aqui que voc vai ficar bom e fica Tem uma mulher na minha agrovila que brincando de bola ai o cabra chutou uma pra mim e disse n o comeu hoje n o eu fui rebater mas ai dismintiu aqui ai meio dia eu tomei banho fui l na rezadeira ela botou uns cacos em cima e apertando e eu ai meu deus vai piorar eu pensando comigo ai ela com for a e mandou eu dizer uns dizer l no outro dia amanheceu desinchado Ch caseiro A pessoa pode ir ao m dico a ele pergunta fa a um chazinho disso daquilo Tive uma dor no p da barriga passa um banho iodo assim de mato caseiro aroeiras cajueiro fazem o banho Em todo lugar de casca quando tem um ferimento simples s procuro rem dio caseiro e tem doen a que a pessoa pode curar em casa mesmo uma doen a passageira Tem doen a por exemplo tava com uma ferida no tero fiz v rias queimagens e n o sarou Ela disse seja o que Deus quiser fez um rem dio assim de pau assim aroeira casca um bocado de rem dio assim junto cozinhada A o m dico l na cl nica passou o rem dio a comecei a tomar tava me sentindo melhor s que tava assim demorando muito a a vizinha assim ela falou que mastruz com leite muito bom a eu tomei e com dois dias que eu tava tomando j me sentia melhor do que tava tomando rem dio da cl nica Ela chegou l em casa a dona Maria viu logo ela disse que isso que tu tens inflama o foi vomitava sa
151. ar a cabo os planos escritos os diversos repre sentantes das popula es anf tri es dos reassentados prefeitos e oficiais governamentais locais comerciantes fazendeiros etc os representantes sindicais integrantes de organiza es n o governamentais atuantes na rea e acima de tudo os pr prios reassentados Recuperando a id ia do ambiente como fio unificador destes discursos percebe se que se trata de sempre identificar a fragilidade e a complexidade da modifica o do ambiente f sico como alvo de investimentos e esfor os adaptativos sendo as transforma es sociais e culturais requeridas aos reassentados representadas como uma decorr ncia natural de tais investimentos A resist ncia manifesta dos reassentados a estas transforma es vista pelos outros agentes transforma se num questionamento que quase sistematicamente desqualifica as ra zes sociais e culturais do campesinato irrigante origin rio da beira do Rio S o Francisco enaltecendo a nova categoria social projetada de agricultor irrigante de projetos bem integrado ao ambiente capitalizado criado atrav s de investimentos vultuosos governamentais 141 A constru o do novo ambiente altos riscos altos retornos e os reassentados Qualquer projeto das dimens es da constru o da barragem de Itaparica da remo o e reconstru o de tr s cidades e da recria o de uma base de sustento de agricultura irrigada para acima de 40 000 agricultores
152. ares contrapondo a fam lia inerte institucional os que 78 residiam debaixo do mesmo teto na hora do cadastro data limite dezembro de 1985 com a fam lia trabalhadora em processo de transforma o fam lias se reestruturando casais morando nas casas dos pais filhos trabalhando longe residentes que s voltavam nos fins de semana ou uma vez por m s av s que moravam com os seus filhos etc Os processos familiares tornados mais vis veis pela necessidade de determinar a quais unidades as pessoas pertenciam para efeitos do c lculo tornaram se elementos que testavam os limites da interpreta o de inclus o ou exclus o em benef cios do projeto Em termos pr ticos n o h como negar que o estabelecimento do c lculo de uma for a de trabalho familiar foi uma medida conveniente de interesse m tuo para administradores e para reassentados como atesta o documento do Acordo assinado em 1986 Segunda Indaga o Quais as desigualdades que aparecem no c lculo e quem s o os exclu dos As desigualdades que aparecem no c lculo reificam algumas existentes nas comunidades carregando as de mais for a ainda Algumas fam lias com baixas for as de trabalho v o tender a permanecer numa situa o economicamente desfavorecida em vez de super la Outras com maior disponibilidade de trabalhadores familiares s o levadas a fracionar os seus grupos dom sticos mais rapidamente Em ambos os casos a explicita o e aplica
153. aria a um questionamento sobre a aconselhabilidade sendo mais aceit vel quando quem o pai duvidoso totalmente desconhecido ou conhecido e rejeitado pelo grupo Para os agricultores reassentados a precariedade das possibilidades de sustento que os jovens enfrentam diante da indisponibilidade de novos lotes irrigados e a for a da luta coletiva promoveram uma mobilidade masculina em que o encontro com mulheres de fora dos blocos irrigados ou mesmo de outros blocos facilita uma relut ncia de assumir a paternidade Quando a gr vida for uma mulher com quem apenas ficaram nem tomam nem querem tomar conhecimento de uma decis o de abortar pois na pr pria rela o n o houve inten o de comunicar a vontade de assumir responsabilidade e o importante era ambos se precaverem antes durante e depois Tamb m n o s o poucos os homens que disseram que ao serem comunicados sobre a gravidez de uma menina direita da pr pria agrovila ou de uma agrovila vizinha mesmo assim recomendaram o aborto e geralmente foram atendidos inclusive com participa o deles na 227 descoberta dos meios de realiza o cujo esfor o mais pleno costuma ser do lado feminino O aumento da popula o nos per metros irrigados n o ben fico e n o tem nenhuma rela o com uma identidade tnica Muitos dos reassentados especialmente os pais e m es dos jovens j experimentaram residir num aglomerado urbano empobrecido de assalariados rur
154. aria da Boa Vista Pernambuco e de Cura Abar Bahia a montante no rio tornaram se anfitri es de projetos populosos de potenciais irrigantes Petrol ndia e Gl ria experimentaram uma homogeneiza o econ mica nos seus projetos de agrovilas na borda do lago antes bastante diversificadas A indefini o da produ o acompanhou o desrespeito generalizado do prazo de seis meses estipulado para a garantia do funcionamento dos lotes com novas tecnologias de irriga o em pleno funcionamento Os complexos agroexportadores da Bahia e de Pernambuco olhavam com desconfian a estes projetos com lotes pequenos e esfacelados e com agricultores descapitalizados Os dom nios de poder locais e as modifica es nas possibilidades de aproveitamento de novas bases de sustento para agricultores e trabalhadores reassentados continuam em fluxo Diferentemente dos padr es antigos de resid ncias dispersas que prevaleciam nos tempos antes da barragem as agrovilas dos projetos s o carreiras de resid ncias vizinhas em dois lados de uma rua juntadas para racionalizar os custos da implementa o dos servi os gua eletricidade sa de educa o administra o etc Quem veio morar nestes aglomerados urbanizados queixa sobre quase tudo qualidade e quantidade de gua falhas na constru o das resid ncias saneamento prec rio transporte prec rio e infrequente novos problemas de sa de e tamb m amplia o da quantidade de muri ocas
155. as 1988 1992 A mudan a planejada trazida pelo reservat rio de Itaparica n o foi provocada por tumultos pol ticos nem por desastres naturais mas as suas consequ ncias incluem transforma es profundas na organiza o dos dom nios de poder e adapta es ecol gicas das popula es reassentadas A reorganiza o um processo sempre em andamento mas no caso observado FUNDAJ CHESF 1988 como via de regra em outros casos tamb m apresenta se de um modo particularmente agudo no que Scudder e Colson chamam da fase de transi o Estes autores ressaltam que a fase de transi o costuma durar anos a fio e identificam alguns dos componentes psico culturais que a caracterizam com intensidade particular na passagem entre as fases SCUDDER COLSON 1982 274 275 o per odo de transi o uma hora de estresse qual se responde com um posicionamento conservador para reduzir a possibilidade de haver estresse futuro v timas de pol ticas nacionais de desenvolvimento que servem os interesses de segmentos mais poderosos da popula o s o capazes de encontrarem se em habitats pouco conhecidos cujos residentes anteriores os anfitri es podem pertencer a outras categorias tnicas ou stratas sociais Isto cria tens es severas entre reassentados e anfitri es como tamb m aumenta a intensidade e dura o do estresses da reloca o Com pouco tempo decorrido do reassentamento ali s mesmo antes enquanto ficavam no
156. as contribuiu pouco para amenizar as diferen as entre as denomina es neste contexto moral inserido numa hist ria como atingidos de barragens que os jovens desenvolvem as suas atividades cotidianas 222 Namoro aborto uni es e responsabilidade Com entrevistas question rios grupos de discuss o observa o oficinas e colabora o com as organiza es representativas em pesquisas apoiadas pelo CNPq pela Funda o Ford pelo Minist rio da Sa de e pelo BIRD amontoou se muita informa o sobre os reassentados durante anos de conviv ncia com per odos mais e menos intensivos de contato Com base nestas informa es o relato que segue real a tr s assuntos para ilustrar a interface entre este contexto social e religioso e a sexualidade na constru o particularizada da identidade rural O primeiro assunto s o as no es das redes sociais e da constru o de identidades nas pr ticas de namoro O segundo assunto real a a pr tica de aborto como uma hora espec fica particularmente elucidativa destas mesmas no es e constru es E o terceiro assunto a constru o da responsabilidade como categoria moral real ando a interface entre indiv duos o grupo e com aten o especial para a especificidade de organiza es representativas na constru o desta moralidade coletiva Inevitavelmente as distin es entre g nero e gera o marcam como as fam lias e indiv duos participantes nestes processos lidam com es
157. as poucas cabras e um ou dois bois ou mais raramente cavalos em algumas casas As mulheres dizem que n o conseguem mais ficar com nenhum dinheiro do pequeno criat rio como antes conseguiam A coopera o entre mulheres no cuidado com seus filhos frequente As crian as de outras fam lias muitas vezes ficam nas casas daquelas que n o est o na ro a As meninas quando j t m idade ajudam na prepara o do almo o para levar no lote Os meninos diferentemente cuidam da ro a ajudando o pai que vai mais na ro a do que a mulher especialmente quando o casal tem filhos pequenos Embora seja frequente entre filhos de agricultores em geral ter aspira es para futuramente desempenhar atividades fora da agricultura esta situa o agravada no caso das agrovilas Os filhos que eram pequenos na poca do reassentamento meninas e meninos t m dificuldades em se pensar como agricultores uma vez que estiveram a esperar durante seis anos que a fam lia recebesse o lote passando de agricultores a reassentados com produ o agr cola Foi pois um longo per odo em acompanhar os pais que n o trabalhavam mais a terra enquanto recebiam uma VMT e ainda quando poss vel faziam bicos na agricultura ou fora dela aqui e ali Este quadro 32 N o cabe dar todas as cifras aqui mas vale pena mencionar que s podiam levar 10 bodes uma quantidade considerada pequena por quem tinha este animal predileto para criat rio 177
158. as se identificavam sobretudo atrav s de suas comunidades de resid ncia A organiza o da produ o dos mexicanos e dos brasileiros permite a caracteriza o de ambos como camponeses Existem no entanto diferen as muito significativas na viv ncia di ria das rela es de poder em cada sistema Os nahuas s o agricultores com uma produ o para subsist ncia e em menor escala para os mercados locais Muitas vilas possuem especializa es artesanais que exigem maior pr tica na forma o de redes comerciais externas e no refor o da simbologia da etnicidade como elemento refor ador de consumo destes produtos Nem a agricultura nem o artesanato fogem muito regra de produ o dom stica onde as unidades de produ o raramente comportam significativas hierarquias extrafamiliares A casa a resid ncia a terra e o local de produzir passam de gera o a gera o simbolizando a solidariedade do grupo Como comunidades corporadas relativamente fechadas at a lideran a pol tica escolhida em cada vila obrigatoriamente curta um ano e desestimula a acumula o de prest gio individual s custas dos outros membros da comunidade Na tentativa de incrementar a prosperidade alguns nahuas migram para longe para os Estados Unidos onde mant m uma rede pr pria de apoio e de comunica o entre si Muitos desses migrantes continuam mantendo estreitos la os com suas casas na rea do Rio Balsas servindo suas migra es par
159. assentadas na quase d cada subsequente fez com que a insensibilidade do plano aos processos de grupos dom sticos se tornasse mais evidente Para as fam lias o tempo corre sempre para o projeto o tempo oscila entre per odos de movimento intenso e outros quase parados As fam lias v o perdurar na rea um dia o projeto ser completado imagina se e os seus administradores passar o a outros projetos Estas diferen as s o reinterpretadas num discurso institucional que agora aparece em 91 diversos fragmentos pelo projeto e que se vai burilando como uma desculpa mal fundamentada para os problemas enfrentados um discurso que culpa as fam lias reassentadas pelo insucesso de um projeto que foi imposto a elas por raz es alheias s suas vontades e que sofreu adiamentos fora do seu controle o que se designa como descaso planejado De acordo com este discurso que inverte a ordem das coisas poss vel tamb m que elas sejam a raz o de n o sa rem beneficiadas do projeto Foram fam lias despreparadas sem gente para trabalhar viciadas pela ociosidade e pela ajuda governamental compostas de velhos aproveitadores que tentavam burlar as regras do reassentamento incluindo membros da fam lia que moravam longe No fim contraditoriamente as fam lias podem fracassar porque agem como fam lias mesmo e n o como o projeto planejava que as fam lias agissem 92 Cap tulo 5 A procura de beneficiados num contexto de viol
160. astante t nue oportunista e quando politicamente conveniente s vezes recorrente entre trabalhadores de um lado e o grande representante de capital de investimento para desenvolvimento de outro o que Hall chamou de complementariedade de baixo e de cima No discurso do Banco como nunca antes abriram se espa os para a 122 transforma o de atingidos em beneficiados e o apoio a estrat gias que privilegiam primeiro o povo Ent o o Banco investiu pesadamente no pr prio projeto de reassentamento com as contrapartidas setoriais do govemo brasileiro tomador do empr stimo sendo proporcionalmente muito mais dirigidas a outras despesas relacionadas com a constru o da barragem Itaparica se tornou como acontece tantas vezes quando se trata de mega investimentos uma vitrine e a mercadoria a expor nele era a nova prioridade social das a es do Banco E reiterando o que j foi dito isto refor ou e muito o P lo Sindical na sua negocia o com a Chesf a favor dos trabalhadores N o isentou o movimento da necessidade de praticar atos de for a pois a abertura para os atingidos foi sobretudo resultado da sua pr pria insist ncia e tenacidade E continua importante lembrar que o apoio do Banco refletia a sua nova cara de um lado enquanto de outro lado continuava ligado s amarras costumeiras de empr stimos internacionais Assim o Banco multifacetado n o deixa de ser sens vel s prioridad
161. atingidos pela constru o da barragem que deu origem ao reservat rio de Itaparica Ocupando a beira do Rio S o Francisco antes da constru o da barragem estes agricultores entendiam que a sua situa o era privilegiada em rela o aos agricultores de sequeiro os quais estavam sujeitos s intemp ries do clima seco e do controle fundi rio do Sert o distante do rio Na beira do rio houve acesso a terra onde se podia cultivar mesmo diante de uma diversidade de condi es O tamanho do projeto de desenvolvimento apoiado pelo Banco Mundial impressiona abrangendo quase 400 quilometros 216 de extens o do rio deixando de fora a parte do grupo ind gena Tux que ficou a mais de mil quil metros de dist ncia Os mais de 40 000 diversos agricultores e seus familiares passaram por uma experi ncia comum que unificou a sua luta definindo a bandeira de terra por terra na margem do lago como s mbolo da necessidade da compensa o por suas perdas com a inunda o SCOTT 1996 ARA JO et al 2000 Com manifesta es ocupa es do canteiro de obras e constantes negocia es com o governo reivindicavam e asseguraram projetos de moradia e irriga o com tecnologia adaptada s novas condi es ambientais Alguns abandonaram o of cio agr cola outros o reiniciaram num processo em que quase todos se tornaram agricultores irrigantes reassentados A luta para condi es de produzir e de comercializar determina uma viv ncia local
162. auxilio da Funda o Ford via o projeto Estilos Reprodutivos e Organiza es Representativas e do CNPQ para o mesmo projeto e o anterior sobre Reprodu o Sexualidade e Programas de Sa de ver tamb m o Anexo A O direito diversidade de Scott Athias e Quadros 2007 253 TRABALHANDO E COOPERANDO Para os agricultores reassentados de Itaparica o trabalho a principal refer ncia para a organiza o da vida cotidiana e a dedica o ro a nos lotes irrigados o que fornece o sustento para as fam lias Na procura de acesso terra para plantar e a outras oportunidades de trabalhar para ganhar dinheiro preciso cooperar em muitos n veis diferentes entre homens e mulheres na fam lia com colegas e vizinhos com empregadores e com t cnicos e representantes de associa es que visam apoiar agricultores em fim com muita gente diferente na tentativa de organizar que o trabalho do dia a dia e a coopera o na defesa das condi es de realiz lo que os agricultores elaboram os seus valores e investem para produzir melhoras para se mesmas e para as comunidades onde residem Para os jovens o trabalho e a coopera o configuram um espa o importante para se afirmarem como agricultores e como jovens mesmos que vivem do campo e conhecem a cidade O que falam os reassentados e as reassentadas sobre trabalho e coopera o 8 PARA ELES E PARA ELAS A RO A O LOTE E O TRABALHO FAMILIAR
163. bem como o est mulo do governo para a implanta o de piscigranjas em regi es absolutamente sem potencial agr cola suficiente para irriga o Estes apenas absorviam 3 4 da popula o total e inclu ram grupos que se destinaram a fazendas um projeto especial antecipado para os granjeiros novas reas divididas para os ind genas Tux Estes foram tratados com mais velocidade e aten o especial no processo Os granjeiros conseguiram manterem se unidos no projeto Apol nio Salles pr ximo nova sede de Petrol ndia enquanto os Tux foram divididos em dois grupos um pr ximo sede de Rodelas e outro a mais de mil quil metros em Ibotirama de Minas Gerais Mais uma vez o relat rio INPSO FUNDAJ CHESF 1988 oferece mais detalhes As sedes urbanas reconstru das na beira do lago Nova Petrolandia Nova Itacaruba Nova Rodelas e Nova Barra atra ram 6 3 dos reassentandos e outros 1 3 optaram pelas sedes antigas que permaneciam fora da rea de inunda o direta Floresta Bel m e Gl ria A Chesf permitiu a troca de casas anteriores para casas novas nas cidades Depois de tantas outras escolhas feitas quase dois ter os dos reassentados mudaram para projetos de irriga o seja na beira do lago seja em projetos especiais rio acima ou rio abaixo Estes reassentados se tornaram colonos irrigantes uma denomina o que nunca recebeu uma boa acolhida por eles em parte pelo fato de representar uma combina o de uma denomina
164. bombas para sustentar se agora h a Chesf uma nica institui o impessoal e abrangente defendida por um corpo de t cnicos cujas pr prias trajet rias sociais apenas tocam tangencialmente na regi o de Itaparica A Chesf encomendadora de constru o de barragens e geradora de energia vinculada a uma estrutura burocr tica de energia com uma articula o nacional afinada Ela anseia passar a responsabilidade da tarefa pouco conhecida de reassentar e supervisionar projetos de desenvolvimento de assentados para outras institui es cons rcios t cnicos e a pr pria Codevasf que possam lan ar m o de sua maior experi ncia em acompanhar colonos Mas est presa numa teia de rela oes nacionais e internacionais cujos atores elaboram um discurso sofisticado e male vel de crise que se usa para justificar um impasse que impede a chegada a uma solu o seja atrav s da chegada de recursos seja atrav s do repasse da responsabilidade que ganha o apelido de responsabilidade social da Chesf Mesmo a contragosto a Chesf se tornou uma patroa poderosa em cujas m os muitos reassentados clientes se percebem como aprisionados pelo menos por um per odo cujo final ainda n o se possa enxergar Certamente parte da depend ncia em fazendeiros propriet rios e donos de bombas ocorreu com a elimina o do seu controle sobre a distribui o de acesso terra e gua No entanto na observa o dos projetos desde o in cio
165. brem que a sua auto identidade de agricultor produtivo j em processo de transforma o acrescenta ma s desdobramentos Ocupam as margens das institui es governamentais dedicadas administra o das condi es das suas vidas A Codevasf cautelosa em assumir um projeto que julga ser cheio de problemas decorrentes de uma concep o pol tica e t cnica que o diferencie do seu raio de a ao predileto os per metros irrigados da rea de Petrolina e Juazeiro Com uma equipe relativamente pequena dedicada administra o e fiscaliza o dos seus dois cons rcios subcontratados para atuar na rea s o receosos de participar em reuni es e eventos nos quais poderiam ser responsabilizados ou pela ocorr ncia ou pela corre ao de erros que atribuem gest o da fase anterior pela Chesf Um t cnico explicou que n o foi propriamente a vontade da Codevasf que a levou a entrar no projeto e sim a exig ncia do Banco Mundial de que a supervis o da assist ncia t cnica estivesse sob o controle de uma empresa nacional de irriga o esta sendo a nica op o Assim a Codevasf recebeu em m os um conjunto complexo de projetos que considera anomalias diferentes dos seus outros projetos porque os agricultores reassentados elogi veis pelo merecimento das suas reivindica es de fato n o foram selecionados de acordo com as suas potencialidades administrativas como normalmente ocorre nos seus projetos Assim n o s o colo
166. casos ele morreu mas agora mudou o plantio coqueiro fruteira ai dif cil COOPERANDO Da cooperativa a promessa delas era melhorar melhorar em termos da agricultura atrav s de um empr stimo do Banco do Nordeste pra plantar fruteira A promessa dela era melhorar trazer esse recurso pra plantar fruteira e futuramente quando tiver produzindo comercializar gua de c co pra exportar pra fora do Brasil em garrafa Se re ne pra decidir assim tirar um empr stimo no banco por exemplo pra plantar c co como agora recente teve um empr stimo que a gente tirou ai Cada pessoa tirou at seus quatorze mil reais pra plantar fruteira plantar coqueiro e criar ovelha Tem que se reunir pra v se todos concordam e faz os empr stimos Quase todo projeto est na cooperativa e l tem essa Plena que d assist ncia aos projetos assim alguma praga quem est trabalhando na ro a eles ajudam com adubo veneno sempre eles est o passando informa o t m t cnicos Hoje est tendo l uma reuni o para decidir quest es da agrovila Tamb m as pessoas entram s que ningu m quer participar Marca a diz eu n o vou n o eu vou falar besteira Ent o ningu m vai Teve um problema da gua marcou uma reuni o com o pessoal ningu m vai Vai quem quer o povo reclama mas tamb m n o participa E tamb m aqui na agrovila est tendo por parte da Igreja o projeto do d zimo Paga o d zimo o
167. cidade reprodutora e como mais fracas incapazes de sustentar peso como fazem os homens No quintal das casas as planta es s o mais realizadas pelas mulheres mesmo quando os homens sem acesso terra experimentam com algumas plantas como se mencionou anteriormente Elas t m orgulho da variedade dos seus plantios As planta es mais encontradas nos quintais s o 1 fruteiras coco pinha rom caju goiaba manga mam o murici laranja lim o abacate tangerina banana siriguela pitomba caj 2 plantas medicinais e de tempero capim santo hortel gergelim erva cidreira mastruz leocena vick anador arruda e 3 plantas ornamentais nove horas espirradeira entre muitas outras As frutas s o predominantemente para o consumo da fam lia e para as trocas com a vizinhan a e parentes N o acontecendo vendas entre eles adquirem pois uma caracter stica de valor de troca nos limites de rela es pessoais rec procas Ofertam tamb m aos visitantes e sentem nesse ato um orgulho muito grande de suas produ es As plantas medicinais s o preparadas geralmente pelas mulheres em forma de ch s infus es e lambedores para uso sempre que algu m da fam lia ou vizinho adoece As plantas ornamentais folhagens e flores muito bem cuidadas s o para o lugar ficar mais bonito Esse valor de beleza uma preocupa o da mulher um valor que trouxeram do antigo lugar de moradia e est sendo transmitido s suas filha
168. clarava aplicar agrot xicos com regularidade Esta uma atividade sobre a qual os agricultores t m uma vis o muito clara sobre os danos que podem ser causados na pessoa aplicadora Preferem inclusive nos raros casos em que a economia dom stica permite contratar um diarista para que ningu m da fam lia aplique o veneno Esse 174 problema do veneno veio a ocorrer com a mudan a concretizando se com o recebimento do lote irrig vel e da produ o em solos fracos necessitado de beneficiamento pois antes n o havia necessidade nem do uso de fertilizantes nem da quantidade absurda de agrot xicos agora utilizada Em alguns casos dizem dispensava se at o uso de ambos e a colheita era garantida Hoje se n o se fizer uso de venenos a safra perdida com certeza Perdas parciais ou totais causadas por pragas desconhecidas s o cada vez mais frequentes Como contou uma agricultora que cultiva uma rea de 1 5 hectares com melancia faltando vinte dias para a colheita o plantio contraiu uma praga nova e em tr s dias a ro a estava perdida Doen as como esta se alastram cada vez mais frequentemente na regi o e os agricultores parecem n o ter muito que fazer a raiz da planta fica vermelha as folhas murcham caem e rapidamente a planta morre Quando havia agr nomos no projeto realizavam experi ncias laboratoriais sobre as pragas e seu poss vel controle A prolifera o de muitas outras pragas novas decorrente do excesso do
169. com as fam lias mais novas nesta agrovila demonstra como os desafios enfrentados pelos agricultores passaram de ser um problema simples de inclus o e exclus o de fam lias de agricultores num projeto para ser um problema de reprodu o social deste mesmo segmento dentro do modelo de desenvolvimento vigente Usamos a idade do chefe da fam lia para denominar fam lias como mais velhas chefe acima de 60 anos de idade e mais novas chefe at 40 anos de idade 24 As fam lias mais velhas De acordo com a pol tica de fixa o as fam lias mais velhas n o saem desta agrovila De fato no local h muitos agricultores idosos transmissores de conhecimentos Em 1987 na ocasi o do reassentamento somente pouco mais que 20 das fam lias eram chefiadas por homens com sessenta anos ou mais Oito anos mais tarde nos primeiros meses de 1995 quase a ter a parte das fam lias 17 cabia nesta faixa O envelhecimento populacional no interior do pr prio reassentamento fica evidente E neste mesmo intervalo estas fam lias n o sofreram perdas significativas por causa da mortalidade pois entre as fam lias chefiadas por homens acima de 60 anos s se registrou um falecimento e nas outras duas fam lias chefiadas por mulheres nesta mesma faixa de idade s houve uma que perdeu o marido ap s o reassentamento A outra 24 O ideal para uma an lise do ciclo dom stico seria a idade da esposa mas os nossos dados demonstram que no caso da a
170. cordo com os cronogramas sazonais obedecidos pelas firmas agroexportadoras Ter o de responder a novos calend rios e perceber o tempo e o espa o de uma nova maneira A transforma o continua em andamento e ainda haver muitas resist ncias No meu primeiro dia de volta depois de alguns anos sem ter estado numa das agrovilas o reassentado com quem eu tinha estado conversando durante umas horas me olhou bem s rio e disse S o tr s horas n o s o Olhei o rel gio e confirmei isso mesmo cinco para as tr s E ele disse T vendo eu n o preciso de rel gio Eu conhe o a hora Foi s depois de alguns dias que decobri que eu estava sendo informado de um dos pontos fulcrais do trabalho de transforma o do campesinato sendo desencadeiado pelos t cnicos agr colas na rea que n o 153 cansavam de dizer aos reassentados Voc s v o ter que comprar rel gio para saber a hora exata quando vai ligar e desligar os aspersores a nica forma de garantir a produ o Os mesmos t cnicos lamentavam para o pesquisador Nem compram rel gios Assim n o pode dar certo nunca O ambiente e a transforma o social Pelos discursos que foram apresentados aqui pode se declarar que investindo no ambiente que se transforma o campesinato A Chesf destruiu um ambiente complexo f rtil e altamente produtivo mas aproveitou a ocasi o para real ar a sua capacidade t cnica e criou um ambiente novo mais fr gil mais delica
171. da 231 terra agricult vel As atitudes respons veis que est o sendo promovidas d o continuidade identidade do agricultor familiar mesmo que ambiguamente familiar e empreendedor e criam um espa o mais amplo para debate sobre como as mulheres e os jovens se encaixam neste projeto Ou seja gera o e g nero com todos os seus conte dos de morais socioculturais que abarcam sexualidade namoro casamento aborto e religi o e respeitadas as relativas autonomias de cada assunto necessariamente se incorporam s pautas de a es e reivindica es conjuntas A es e Reivindica es jovens sa de e o reassentamento O N cleo de Fam lia G nero e Sexualidade O FAGES da UFPE tem acompanhado os reassentados desde quando eles realizaram as suas escolhas enquadrando se nas suas op es como atingidos Op es reconhecidas pelos administradores governamentais do projeto e constante fonte de conten o nesta regi o marcada pela disputa sobre o potencial h drico como frisado em dois trabalhos SCOTT 1999 e Capitulo 4 deste livro Esta hidropol tica muito abrangente WATERBURY 1979 HANSEN OLIVER SMITH 1982 VAINER ARA JO 1992 e Hildyard p gina eletr nica de Corner House UK e segue percursos que raramente s o os mais ben ficos para os atingidos SCOTT 1993 1994 2000 O acompanhamento evidenciou o bvio este processo toca em todos os aspectos da vida da popula o e como consequ nc
172. da coes o de redes de vizinhan a pr ximas Nestas a presen a de mulheres jovens casadas aparentadas na comunidade fortalece as trocas de visitas servi os e trabalho entre vizinhos e contribui para o fortalecimento de uma identidade 224 coletiva que n o deixa de ser montada nas trocas e na produ o em conjunto bem como na restri o feminina Mesmo quando se esboce uma maior abertura para uma individualiza o que foca aten o nos pr prios jovens e n o somente nos pais como ocorre mais intensivamente nas cidades continua havendo uma valoriza o da resid ncia rural38 Engravidando juntar se ou abortar Uma hora da comprova o da inten o dos parceiros na rela o entre jovens quando ocorre a gravidez antes da decis o p blica de se juntarem Sem negar que a religi o influencia as a es neste momento o dilema moral muito mais um dilema dom stico e de grupo que um dilema religioso As redes de rela es na comunidade se evidenciam tanto quando a comunica o da gravidez resulta na proposta de formalizar a uni o quanto quando a decis o de confronto e ou de aborto Mesmo o sil ncio pode ser um ato transformador e solid rio nesta ocasi o Quando um rapaz assume a paternidade a forma o do novo casal e forma o da fam lia n o muito traum tica Torna se a confirma o da seriedade das inten es do namoro e da vontade de ambos serem participantes respeitados nas suas comunidades Fora
173. da quantidade de fofocas e da quantidade de brigas entre vizinhos Unanimamente nas agrovilas que aguardam o t rmino da prepara o do equipamento prometido no projeto governamental identifica se a quebra na produ o agr cola e no criat rio como o problema mais grave Sem terras em condi es de plantar e sem poder se orientar por um fluxo de gua como tinham na beira do rio h uma invers o simb lica hist rica na vida dos residentes das 34 agrovilas Perde se a orienta o espacial e temporal que era fornecida pelo rio e os reassentados encontram se nas caatingas secas de onde eles mesmos ou os seus pais tinham fugido em busca das terras mais f rteis na beira do rio O ref gio ecol gico que a beira do rio era para estes retirantes da caatinga est debaixo da gua e as pessoas foram simbolicamente retornadas s suas origens hist ricas em locais ecologicamente in spitos e desconhecidos A nica forma de convencer os atingidos a voltar para a caatinga seria de maneira for ada acompanhada por promessas de transforma es tecnol gicas quase milagrosas que tornaria as caatingas em ilhas irrigadas terras de abund ncia O traslado para os projetos foi publicizado em panfletos e discursos que apresentaram argumentos sobre a vida boa que os esperava e esta era ilustrada com rendi es desenhadas de lotes irrigados com o olho aplainador do planejador e com imagens de p ssaros voando para o sol Tudo era uma
174. de aceit veis no novo sistema global GUIDIERI PELLIZI 1988 p 23 24 quanto existe uma apropria o de elementos destas mesmas defini es para fortalecer a resist ncia e perman ncia desses grupos dentro das na es Na Am rica Latina a dimens o pol tica de cria o de identidades tnicas tem recebido bastante aten o por exemplo URBAN SHERZER 1992 assim como OLIVEIRA 1978 ORTIZ 1985 no Brasil e LE N PORTILLA 1976 RAMOS 1963 PAZ 1950 WARMAN 1976 no M xico ao mesmo tempo em que a dimens o tnica tem chegado a compor parte essencial de identidades nacionais veiculadas em diversas esferas A reafirma o constante de que a na o se comp e de determinadas configura es tnicas influencia a execu o de pol ticas nacionais e cria espa os onde grupos espec ficos podem defender suas particularidades No caso do Brasil a imagem da democracia racial tem insistentemente caracterizado a na o enquanto no M xico a identidade ind gena que recebe destaque Em ambos os casos s o na es com grandes economias perif ricas em desenvolvimento com enorme potencial para as quais grandes obras vis veis de cria o de infraestrutura servem como s mbolo de ades o ao sistema global tecnicamente avan ado nesses ambientes enfrentando os escudos do progresso nacional que as popula es se organizam em movimentos de resist ncia a barragens afirmando suas particularidades e a necessidade
175. de fato calculada como exatamente 60 da produ o potencial masculina Maria Jos Reis 80 informa que no cadastro da barragem de It a mulher do sul do Brasil somava 80 da produ o potencial masculina Como que se chega a estes n meros diferentes A segunda situa o de baixa for a de trabalho familiar a de um casal jovem cujos filhos ainda n o atingiram sete ou at quatorze anos Com as demandas de consumo crescentes da fam lia a necessidade de uma base para produ o tamb m aumenta mas o momento do reassentamento n o permite um c lculo para receber um lote maior A integra o dos filhos no trabalho no lote familiar pode ser seriamente comprometida no futuro interrompendo a sucess o entre gera es A situa o de baixa for a de trabalho estruturalmente tempor ria e contradiz a evid ncia clara do crescimento prospectivo do grupo familiar Mas com a rigidez nos crit rios de acesso a mais terra p s reassentamento o projeto determina prec rias condi es de garantir a sustenta o dos reassentados nestas fam lias em crescimento A terceira situa o a do aposentado ativo Ao determinar que ele s ter acesso a um hectare e meio cria se artificialmente ou n o uma situa o que o desengaja do grupo dom stico onde participa O fato dele estar recebendo dinheiro do governo permite a sua individualiza o diante do projeto Receosos de n o estar criando o que os planejadores e administra
176. de trabalhadores familiares As agrovilas afetadas pelas demoras na implanta o dos lotes irrigados e pela trucul ncia de uma pol cia treinada para lidar mais com bandidos que que com cidad os corretos carregam dolorosamente uma reputa o de serem violentas Os pr prios moradores das agrovilas enfatizam que a sua vida trabalhadora no campo mais pac fica que a vida de desemprego e desrespeito aos outros que se observa na cidade e em algumas fazendas circunvizinhas Na vida cotidiana os jovens nas fam lias dos agricultores procuram participar na promo o de valores de respeito de trabalho e de moralidade entre pais e filhos e entre maridos e mulheres No mbito das fam lias isto n o impede os excessos de alguns que na tentativa de impor uma autoridade maltratam esposas e filhos e assim perdem a legitimidade dos seus atos na perspectiva dos jovens e da comunidade como um todo Mesmo assim em nome da proximidade entre parentes vizinhos e amigos na comunidade e sem disporem de redes de apoio de den ncias deste maltratos os membros da comunidade nem sempre ousam tomar medidas contra que comete tais excessos J no mbito de relacionamentos e namoros t o prezados pelos jovens parte da procura de valores realizada tentando encontrar um equil brio entre o ganho de experi ncia na vida afetiva e sexual com parceiros cuja proximidade social aos moradores de cada agrovila varia de acordo com a sua inser o na continuidade das
177. des que j decorreram e continuam decorrendo de outros projetos O empobrecimento hist rico de muitos irrigantes na regi o do baixo Rio S o Francisco no projeto administrado pela Codevasf foi devido saliniza o e assoreamento quest es n o claramente resolvidas em Itaparica O n mero sens vel de colonos na rea din mica de irriga o de Petrolina Juazeiro que sucumbiram perdendo as suas terras devido a d vidas depois de pequenos ou nulos per odos de relativa prosperidade desanimava os que procuravam enxergar um futuro positivo para um pequeno irrigante A depend ncia e endividamento para com os grandes financiadores de plantio para exporta o representam um perigo constante id ia da autonomia produtiva de agricultores atingindo decis es sobre o que plantar a quem vender a que pre o residindo onde e na terra de quem Mais uma vez parece que a quebra de rela es tradicionais de produ o n o implica automaticamente nem costumeiramente em agricultores pobres tornarem se mais independentes A cria o de um nico advers rio que quer ser visto como benfeitor resultou numa administra o monol tica de um projeto que contribuiu para a cria o simult nea de for as pol ticas que fortaleceram os sindicatos rurais cuja articula o entre munic pios foi feita em a es promovidas pelo P lo Sindical A media o do P lo durante o per odo hist rico da democratiza o na d ecada de 1980 foi o que con
178. destinada a estancar a sedimenta o que rapidamente avan ava na barragem de Caracol J Itaparica na longa trajet ria de planejamento anterior implementa o havia come ado mais de uma d cada antes a efetiva o das transforma es realmente significativas nas regras internacionais para grandes projetos Ou seja em ambos os casos houve muito mais do que uma simples decis o t cnica Conv m observar que as chamadas decis es t cnicas s o resultados de negocia es sociais dentro das grandes ag ncias fmanciadoras internacionais de megaprojetos governamentais Cernea 1990a 1990b discutindo a evolu o do pensamento dentro do Banco Mundial mostra o complicado processo de negocia o interna que resultou na inclus o de planos concretos de como lidar com os custos sociais dentro das exig ncias de todos os projetos submetidos Num contexto mundial cada vez mais alerta e cr tico com um crescente n mero de organiza es vigilantes na rea da ecologia da cultura e dos direitos humanos foram exatamente os problemas da barragem de Sobradinho SIGAUD 1986a 1986b DUQUE 1982 BARROS 1983 MACHADO 1987 entre outras coisas que incentivaram o aumento da preocupa o com os custos sociais dentro do banco Em meados dos anos 1980 j com a barragem de Itaparica em constru o a situa o j estava madura para a inclus o de garantias muito mais sens veis aos reassentados em especial num projeto situado no mesmo
179. do e de mais altos riscos e consequentemente mais altamente valorizado atrav s de investimentos volumosos de fontes internacionais Entregou parcialmente aliviada de uma forma negociada e bastante contenciosa a organiza o do manejo deste ambiente constru do Codevasf institui o com uma tradi o reguladora do encaminhamento da produ o agr cola para o p lo agroexportador de Petrolina Juazeiro Atrav s das interven es destas institui es no ambiente refor aram se as estruturas de poder emergentes na rea ao mesmo tempo em que se produziu um realinhamento profundo das rela es dos agricultores reassentados com outros agentes dentro destas estruturas O retorno ao investimento no ambiente cobrado aos reassentados que mesmo enfrentando anos de marginaliza o dentro das institui es implantadoras dos projetos empobrecimento e desorganiza o social e familiar agora h o de ser produtores eficientes de produtos rent veis Embora haja riscos s rios ao ambiente em todo este processo pela maneira em que o processo evoluiu pode se afirmar que boa parte dos riscos foi e vai continuar sendo assumida pelos pr prios reassentados Da perspectiva de boa parte dos administradores do projeto inverteu se o risco se antes os atingidos corriam riscos provenientes da perda de um ambiente prop cio para produ o agora s o os reassentados que p em em risco um modelo diferenciado de desenvolvimento 154 Cap
180. do pa s de cuidar delas Nos anos 1980 em Brasil ainda estavam muito incipientes os processos de etnog nese ind gena e quilombola tendo recebido limitada aten o no per odo de negocia o tanto pelos planejadores da barragem quanto pelos integrantes da resist ncia e da defesa da popula o 62 Apesar de ambas as popula es a mexicana e a brasileira que montaram os movimentos de resist ncia contra San Juan e Itaparica serem compostas sobretudo por comunidades de agricultores quando se trata de elementos socio econ micos e culturais particulares entre si percebemos not veis diferen as entre elas Existe um agudo contraste entre a identidade tnica ind gena nica das comunidades nahuas e a marcada diversidade tnica da popula o do Subm dio S o Francisco Os nahuas diferenciados por l ngua e com uma hist ria de resist ncia que remonta a pocas coloniais um dos grupos ind genas mais conhecidos no M xico Seu artesanato particular especialmente as pinturas de aves em corti o fino amate figuras talhadas em madeira redes e m scaras contribui para marc los como um grupo aparte tornando os mais facilmente identific veis por pessoas n o nahuas Na rea da barragem de Caracol a popula o de mesti os reassentada em meio aos anos 1980 sentia se mais engajada do que os nahuas na pol tica nacional Muitos se admiraram quando seus vizinhos normalmente percebidos como bastante apol ticos
181. dores percebem como a aberra o administrativa de uma pessoa estar beneficiada plenamente duas vezes pelo mesmo governo a aposentadoria e um lote grande o que se permite a redu o do seu direito a terras Como estes aposentados geralmente s o pais de fam lias com prole numerosa eles frequentemente s o articuladores eficientes de grandes n meros de trabalhadores em redes de parentesco bastante amplas A restri o ao tamanho dos seus lotes pode representar uma retirada precoce da sua condi o de articulador principal da m o de obra deste grupo familiar mais amplo ou pode ser um simples reconhecimento de um processo j iniciado de diminu do uso de terra com a idade Cada caso merece estudo para saber como se enquadra 81 A outra situa o que merece ser ressaltada a de fam lias em condi es inversas com uma for a de trabalho mais ampla tendo acima de tr s hectares irrigados e acima de tr s filhos de quinze anos ou mais Se moravam juntos antes do reassentamento na hora do c lculo da for a de trabalho descobrem que alguns dos seus filhos s o redundantes Uma vez que a fam lia atinge o m ximo benef cio permitido de seis hectares a estrat gia maximizadora de acesso terra para o conjunto seria de promover a forma o de novos grupos dom sticos com composi es suficientes para permitir acesso a outros lotes se poss vel do mesmo tamanho Em fam lias maiores isto levaria ao apressamento de casamentos
182. dos A institui o podia se conformar com a sua contabilidade institucional as quarenta mil pessoas no reassentamento eram muito menos que os milh es de habitantes das metr poles nordestinas beneficiadas com o acesso energia A forma o de Gerenciamentos ad hoc especialmente o Grupo Executivo do Reassentamento de Per metros Irrigados GERPI para resolver os problemas de Itaparica descritos como formas de privilegiar o reassentamento de fato criaram uma indefini o de campo de atua o que n o favorecia clareza nas negocia es e tentava redimensionar a rela o entre os atores de uma forma favor vel ao encerramento do caso Cada projeto prosseguia por cronogramas diferentes havendo projetos que estavam se adiantando mais Br gida em Oroc Pedra Branca em Cura Bloco 1 de Barreiras na Borda de Lago em Pernambuco e outros que se mantinham muit ssimo atrasados como Cara bas em Santa Maria da Boa Vista e Bloco 2 Barreiras na Borda de Lago em Pernambuco Localmente a diferen a nos cronogramas ocorria de acordo com fatores t o diversos quanto a in viabilidade dos lotes para agricultura a qualidade da constru o das resid ncias a in solv ncia das empreiteiras contratadas a presen a de invasores disputando acesso area e as dificuldades facilidades t cnicas enfrentadas para a implanta o do sistema de irriga o nesta fase quando a diminui o dos investimentos determina uma morosidade que des
183. dro o padroeiro da igreja que contam que foi trazida de Roma em resposta a um apelo para curar uma gravidez falsa d cadas antes Os residentes t m orgulho de terem substitu do o n mero sem significa o dado pelos planejadores para identificar a agrovila pelo nome de S o Pedro que recupera a mem ria local Mas aqui mais uma vez os cat licos enfatizam com certa condescend ncia que eles s o excessivamente tolerantes H duas fam lias evang licas a quem se permite realizar cultos dom sticos mas na condi o de que prometam n o tentar convencer outros dos vizinhos a se juntar a eles Novamente microfones e citadinos incomodam Alguns queixam da falta de imagens de santos na religi o deles bem como de suas vestimentas inadequadas para o clima N o sei como aguentam o calor com as roupas que usam No discurso dos cat licos o mais agressivo dos evang licos refor a a impress o de estes grupos serem fechados e cheios de segredos achando que s o os nicos que t m raz o As lideran as locais cat licas lamentam a perda do fervor religioso antigo e ressaltam que enquanto os cat licos prestam aten o vida cotidiana os evang licos nem falam do dia a dia s querendo saber da B blia Em duas agrovilas em torno de vinte e cinco quil metros da sede do munic pio de Petrol ndia situadas na rea taxada de Pol gono da Maconha em reconhecimento s redes comerciais montadas em torno do narcoplantio
184. dyard como estrat gias transnacionais de competi o para controle corporado Ao longo do livro h reflex es sobre abordagens te ricas e acontecimentos concretos t o diversos que fazem com que esta introdu o n o seja o lugar de realizar nenhum levantamento exaustivo adicional de literatura nem tentativa de resumir o que se sabe sobre o caso espec fico de Itaparica Reconhece se que no Brasil a exist ncia de uma tradi o rica de estudos sobre as 1 Estas palavras repetem o t tulo de um livro de Michael Cernea 1991 Putting People First que sistematiza um olhar sobre as dificuldades na labuta antropol gica no interior das estruturas burocr ticas de bancos multilaterais que promovem o apoio financeiro e tra am as orienta es sobre as normas e leis a serem seguidas Diversos artigos da abordagem de Hildyard se encontram na p gina http www thecornerhouse org uk 10 consequ ncias sociais de pol ticas de desenvolvimento de recursos h dricos se deve pr pria import ncia destas pol ticas no planejamento e na organiza ao econ mica brasileira Identificam se pesquisadores e grupos no pa s inteiro e as repercuss es e relev ncia do seu trabalho atravessam fronteiras e afetam suas pr prias a es e pol ticas Sem querer sugerir qualquer completude ou levantamento sistem tico basta lembrar de conjuntos e redes de estudiosos cujas atividades muito inter relacionadas t m sido seriamente engajadas em elucida
185. e como impacto maior a interven o realizada sobre a antiga forma o agr ria regional N o vislumbra exatamente os efeitos de uma moderniza o anunciada no discurso dos planos da Chesf em especifico como progresso mas mais precisamente a pr pria metamorfose das fam lias trabalhadoras do campo em outro segmento social cujos contornos resultariam demarcados em rela o ao meio circundante Neste momento intermedi rio depois de decidida a constru o antes de efetivado o traslado da popula o inteira do processo j se pode enxergar indaga es sobre se os novos atores sociais talvez sem for a suficiente poder o romper com subordina es anteriores ou formular uma inser o com identidade clara na nova forma de produ o e exist ncia Os dados s o de pesquisa da Funda o Joaquim Nabuco Fundaj 1988 que acompanhou este reassentamento em 1987 88 O trabalho de campo antropol gico nos munic pios atingidos Petrol ndia Floresta Itacuruba e Bel m do S o Francisco no lado pernambucano e Chorroch Rodelas e Gl ria no lado baiano assim como da elabora o de textos dos relat rios de avalia o do reassentamento servem como base para este cap tulo Por diversas vezes como parte integrante deste projeto antrop logos representantes da equipe estavam presentes em reuni es com a Chesf e o P lo Sindical da regi o principalmente as mensais de di logo e monitoramento e redefini oes de pap is dos ag
186. e dada a estrutura o da m quina administrativa seja mais f cil coordena o repassar culpas adiante Se no coment rio das fases responsabilidade sin nimo de poder de decis o o fato da coordena o dos projetos n o ser posta em discuss o por parte dos t cnicos sugere que poder de decis o pertence bem mais coordena o geral do que ao Comit Co gestor Tamb m o sugere a rea o do t cnico que frente proposta das diretrizes do P lo na forma o e coordena o dos projetos parece retirar a possibilidade de poder de decis o responsabilidade dos agricultores e ao mesmo tempo isent los de culpas na primeira fase quando se especifica que sua participa o um direito A discuss o se desenvolve ante uma proposta do assessor do P lo de uma equipe para contribuir com as diretrizes do P lo Sindical uma equipe social produtiva que na primeira fase n o teria a responsabilidade do agricultor porque Interrup o de um l der sindical que continua porque n o estamos pedindo para sair daqui N o pedimos este projeto E enfatiza o sacrif cio para aceitar essa mudan a quando um t cnico da Codevasf distingue que n o responsabilidade mas direito do agricultor participar Responsabilidade do governo Os diversos termos s o pois permut veis e permeados pela disputa de poder em pleno exerc cio na discuss o A necessidade de pactuar atrav s de um contrato ques
187. e a garantia de reas de reassentamento com infraestrutura de moradia e de irriga o adequadas para compensar as perdas decorrentes da inunda o das suas terras e moradias pelo reservat rio Fundamental para os meeiros pequenos proprietarios posseiros e diaristas que se encontravam no meio do caminho de desenvolvimento tra ado pela Chesf FUNDA J CHESF 1988 Cap tulo 1 deste livro para descri o dos contingentes e localiza o de cada uma destas categorias o P lo se tornou um ator defesor vigilante atento aos planos e atos da Chesf intervindo com a mobiliza o ocupa o e discuss o paraliza o da constru o da barragern participa o nas discuss es sobre a organiza o e administra o de projetos de agrovilas divulga o de informa es sobre a situa o Os resultados sociais da barragem de Moxot 1977 com mil atingidos inclusive muitos mudando para os pr prios municipios de Gl ria e Petrol ndia posteriormente atingidos novamente com Itaparica e da barragem de Sobradinho 1979 foram desastrosas Nesta segunda os atingidos cerca de setenta mil foram expulsos no m ximo recebendo indeniza es irris rias ou nulas Efetivamente n o tiveram acesso a projetos organizados para o seu benef cio Os representantes dos trabalhadores n o aceitavam a repeti o destes tipos de acontecimentos na pr xima barragem O artigo de Hall sobre as estrat gias de alian as 120 formadas com ONGs com a ig
188. e a um fracionamento das grandes unidades familiares inclusive com um potencial incremento no n mero de irm os e cunhados co residentes mesmo que n o fosse o padr o de resid ncia p s matrimonial predominante na comunidade de origem Tanto a Chesf quanto as comunidades a serem relocalizadas queriam mecanismos de excluir pessoas que n o constitu ssem de fato o conjunto de atingidos pela barragem Os problemas apareceram em torno de quest es sobre onde tra ar a linha Uma forma de exclus o usada pela Chesf pode ser designada de super inclus o Estabeleceram se regras ora sustentadas pela co residencialidade ora pela n o oficializa o de uni es que dificultariam o fracionamento de unidades maiores levando as fam lias a ter que incluir os seus jovens adolescentes e adultos mesmo se redundantes no seu c lculo e consequentemente s ter acesso a um lote Outra forma de exclus o foi a nega o da inclus o de familiares temporariamente ausentes do c lculo mesmo que no cadastro tenha havido um item sobre estes membros da fam lia Diante das limitadas ofertas de emprego e diante da sazonalidade na agricultura a migra o para lugares distantes para trabalhar e assim ajudar a fam lia de origem com remessas uma pr tica extremamente comum em comunidades camponesas mundialmente Uma modifica o nas condi es de emprego no lugar de origem historicamente chama uma parte destes migrantes ainda integrados na coopera
189. e abordar a quest o de como as inseguran as se configuram nas fases diferentes de grandes projetos mister sistematizar a refer ncia a inseguran as instaladas por processos m ltiplos Inseguran as estrutural administrada e coletiva local Ao falar de inseguran a aqui estamos real ando um sentimento coletivo que brota de v rias fontes Cada fonte merece separa o e identifica o para facilitar a interpreta o de casos 186 concretos mas a interface particular entre estas fontes no desenrolar de processos concretos que produz a particularidade de cada local de cada contexto Assim em cada evento visto em cada refer ncia simb lica n o a sua categoriza o como constituinte de uma ou outra fonte de inseguran a que importa mais e sim a maneira em que cada evento e cada refer ncia simb lica combinam as diversas fontes para apresentar uma realidade vivida e compreendida localmente Assim ao apresentar separadamente os conceitos de inseguran a estrutural inseguran a administrada e inseguran a coletiva local almeja se contribuir para elucidar as interpreta es de como estas articula es possam ocorrer Dificilmente qualquer observa o etnogr fica se restringir inser o em apenas uma destas qualidades de inseguran a O mais comum ser alguns elementos de cada fonte serem evidentes em cada observa o feita H uma inseguran a estrutural que comp e a natureza excludente abrangente do des
190. e as popula es atingidas faziam Alguns ficaram perto outros foram a projetos a centenas de quil metros de dist ncia e uma racha entre os ndios Tux resultou num deslocamento de mais de mil quil metros para o seu reassentamento especial Este card pio variado de solu es terminou sendo o que os administradores do projeto conseguiram fazer para aliviar a ansiedade que eles mesmos criaram Ambul ncias e servi os de emerg ncia e uma equipe para prestar apoio psicol gico e de assist ncia social foram contratados e algumas melhoras ocorreram nos hospitais locais Estes servi os foram inclu dos com a efemeridade que o pr prio projeto demandava Criava uma ilus o de ter havido um aumento da sensibilidade e investimento do Estado nos problemas de sa de da popula o atingida A efemeridade n o escapava do olho cr tico da popula o que sempre repetia a indaga o se isto iria continuar depois de reassentados Outras a es tamb m foram montadas para aliviar as tens es desta fase Equipes de assistentes sociais e profissionais afins se ocupavam com a organiza o de conversas panfletos e de visitas a locais da futura moradia O investimento foi significativo e foi vigiado pelos membros do P lo Sindical 197 Ent o esta fase de planejamento e divulga o mesmo se desenvolvendo por um per odo relativamente extenso evidencia uma din mica que se intensifica enquanto mais perto chega da pr xima fase Esta
191. e como a solu o mais comum para esse tipo de situa o Mais uma vez as fam lias t m um papel importante embora acompanhando as transforma es nas rela es de autoridade h mais espa o hoje para o di logo e novos arranjos s o poss veis Quando o assunto cria o de filhos o discurso dos jovens aponta para uma maior participa o paterna mas ainda est o claramente delimitadas as esferas dos homens e das mulheres elas s o respons veis pelos cuidados cotidianos e a educa o em geral enquanto cabe a eles o provimento da fam lia Criar filho homem e filha mulher faz diferen a A educa o do menino se deseja mais livre e ligada ao espa o da rua a da menina permanece associada casa e mais contida Esses padr es tradicionais n o s o questionados pelos rapazes nem pelas mo as Um aspecto que segundo os jovens torna diferentes os relacionamentos hoje e no tempo de seus pais a maior incid ncia de separa es entre os casais Resultado para eles da falta de toler ncia de problemas como o alcoolismo e a trai o masculina e feminina ou da imaturidade dos casais as separa es tamb m parecem refletir mudan as na condi o das mulheres seu acesso ao mercado de trabalho Quando acontece a separa o s o as fam lias que acolhem aqueles que se separaram assumindo inclusive a cria o dos filhos do casal Finalizando mesmo que o processo de formar fam lias demonstre uma autonomia dos jovens no que
192. e complexos agro industriais de empreiteiros e de construtoras etc mas tamb m do movimento dos trabalhadores rurais Por um lado este ltimo se inscreve em uma conjuntura pol tica favor vel efetiva o de demandas sociais Por outro suas reivindica es e pr ticas pol ticas contaram com o conhecimento de experi ncias bem pr ximas particularmente da vizinha barragem de Sobradinho em Itaparica que a interven o do Estado com a constru o de grandes barragens passa por altera es no que diz respeito ao processo de reassentamento da popula o atingida H em certa medida um distanciamento de pr ticas excludentes autorit rias que caracterizavam aquelas dos governos militares anteriores O Plano de Desocupa o de Itaparica no qual se inclui o Plano de Reassentamento da Popula o Rural CHESF 1985 antecede o Plano Nacional de Energia El trica 1987 2010 ELETROBR S 1987 que incorpora a preocupa o para com as quest es sociais e ambientais sendo tamb m anterior ao acordo de dezembro de 1986 entre a Chesf e o P lo Sindical da regi o No Plano da Chesf a raz o de ser da forma o do lago a produ o anual de 8 oito bilh es de KWH acrescentando a pot ncia da gera o de 2 500 MW da energia Chesf 1985 e desta forma evidenciando como inquestion vel a desocupa o da 7 Com prop sitos semelhantes inclui se esta observa o no cap tulo 6 sobre Rela es de Poder e Partici
193. e do grupo dom stico dos seus av s mesmo quando o pai ou a m e tamb m est o presentes comum ouvir express es como Agora ele n o sai mais Ele daqui mesmo N o se acostuma mais longe da gente Outros parentes irm os cunhados primos etc n o v m residir com estas fam lias no caso desta agrovila Pelo c lculo da m o de obra familiar estes agricultores ganharam lotes irrig veis predominando os de 3 0 hectares Apenas cinco das dezessete ganharam lotes maiores Antes de 1993 s havia plantio de chuva isto apenas nos meses quando n o houvesse estiagem Algumas pessoas trabalhavam em plantios de outros fora da agrovila mas n o era um trabalho f cil de encontrar Em 1993 iniciou se um treinamento em lotes irrigados Os t cnicos foram orientados a realiz lo em meio hectare do lote para passar o conhecimento das t cnicas agr colas da nova forma de irriga o e mostrar o poss vel rendimento de diferentes produtos As fam lias n o entendiam porque deixariam de plantar quando tinham terra e gua dispon veis j que havia muita gente disposta a trabalhar sem ocupa o e sem renda Esta gente disposta inclui membros de fam lias adicionais geralmente mais jovens compostas pelos seus filhos que residem na agrovila ou nas suas proximidades Das fam lias mais velhas pelo menos sete est o sem plantar atualmente ou porque n o t m o equipamento de irriga o no seu lote 2 ou principalmente porq
194. e e transformando o campesinato o reassentado como O riscO e 137 8 Gera es g nero e fam lias em reorganiza o 155 9 Reassentamento sa de e inseguran a em Itaparica um modelo de vulnerabilidade em projetos de desenvolvimento a assis ess aiaaio ein cd aipesa ss esta du casa a ia dga Piana cida dad E 183 10 Jovens e a incorpora o de sa de g nero e morais socioculturais nas pautas de negocia o te 213 Refer ricias Citadas suis sosiisiasa rise sesnterstr amigos cetro sar ua dani diada cha cen da units oa 235 ANEXO eonna sei du E E no e di 253 Palavras dos jovens das fam lias de agricultores reassentados em Itaparica DESCASO PLANEJADO A Barragem de Itaparica e os Agricultores do Rio S o Francisco Este livro acompanha uma hist ria de moradores da beira do Rio S o Francisco no Sert o pernambucanos e baianos os quais foram submetidos a um processo de migra o for ada por causa da implementa ao do projeto da barragem de Itaparica constru da para produzir energia para muitos locais no Nordeste num contexto de descaso planejado S o sobretudo agricultores familiares que passaram pela experi ncia de transforma es intensas e profundas nos cen rios da sua vida cotidiana desdobrando se em atividades de negocia o resist ncia adapta o e supera o para assegurar um espa o para retomar as suas vidas frente s novas situa es encontradas nos
195. e em ajudar anunciada pelo governo Voc est falando pelo momento agora Eu n o falo pelo momento Eu falo pelo momento todo Agora voc est acompanhando alguma coisa dando alguma imprt ncia no momento de entrada de funcionamento Mas a gente tem chamado muito a aten o e voc s n o davam a m nima import ncia a diz ah n o tem dinheiro O conjunto de atores que entra com a retirada da Chesf da administra o direta do reassentamento complexo Inclui al m 105 da Chesf no seu papel mais reduzido e os sindicatos a Codevasf o Cons rcio contratando t cnicos por um per odo de cinco anos ONGs e entidades religiosas que apoiam os reassentados os pol ticos e comerciantes locais e os representantes das agroind strias O prefeito nos anos 1990 de Santa Maria da Boa Vista teve sua fazenda produtiva inundada em Itaparica e no novo munic pio ele continua ligado crescente e poderosa agroind stria exportadora de fruticultura Ele exp e claramente as necessidades de garantir orienta o assist ncia t cnica e organiza o eficiente para que os projetos de irriga o possam ser um sucesso Esse projeto s vai ser um bom projeto se eles tiverem bons produtos e o produto final a agricultura Ora a minha preocupa o porque sei que esse projeto interfere se n o for bem administrado na vida de quem foi reassentado e na vida dos que est o em volta N s vivemos num
196. e individual diversificada que se manifesta at na religiosidade cujo percurso em parte delineia um coment rio sobre o sucesso e insucesso do pr prio reassentamento Religi o e pol tica interagem enquanto as pessoas relocadas formam as novas comunidades num intenso envolvimento em trabalhos associativos coordenados em esfor os individuais de plantios comerciais e em menor grau de subsist ncia espalhados por mais que uma dezena de munic pios Os trabalhos coletivos continuam sendo coordenados pelo P lo Sindical do Subm dio S o Francisco cuja hist ria de atua es est descrita com mais detalhe na discuss o sobre responsabilidade cultural e coletividade mais adiante As manifesta es de religiosidade dos reassentados de Itaparica fazem parte de uma tradi o longa que associa os nomes de comunidades a santos que erige capelas nos mais diversos locais e que comemora festas para S o Gon alo e homenagea outros padroeiros e santos realizando prociss es e promessas identificadas com as igrejas das cidades A devo o uma devo o cotidiana e ub qua mais de que dominical e localizada QUEIROZ 1977 CAMPOS 2002 tratam catolicismo popular sertanejo A rea do Subm dio S o Francisco historicamente tem sido servida por bispados em Paulo Afonso e em Floresta O drama social do reassentamento forneceu uma oportunidade para que a vertente do catolicismo comprometida com os movimentos 217 populares pudesse se
197. e interven o governamental Neste momento as palavras entusiasmadas de Testemunhas de Jeov de lugares distantes em miss es evangelizadoras descreveram os sentimentos de muitos Juntaram cinquenta novos fi is e simpatizantes e iniciaram planos para construir uma casa de reino A escolha das palavras tem uma atra o especial para as v timas benefici rias do reassentamento Este n o o Governo da Palavra da Vontade de Deus A mensagem de Armagedon com as Testemunhas de Jeov sendo as escolhidas para sobreviverem pontuada com alta valoriza o nos panfletos globais multi tnicos e ecologicamente diversos que espalham uma imagem buc lica da vida no campo A imagem nada parecida com o presente uma esperan a para o futuro e mais uma vez divorciada da discuss o aberta das estrat gias e lutas cotidianas mesmo que sejam justamente essas que criam o contexto para a for a desta nova cren a na rea Em junho de 2003 num ambiente de crescente desespero nacional sobre o aumento da viol ncia no pa s como um todo eclodiu um movimento ecum nico a favor de paz na cidade de Petrol ndia condenando os assaltos roubos assassinatos e tr fico de drogas Juntou cat licos protestantes hist ricos especialmente batistas e evang licos sobretudo da Assembl ia de fam lias das mais variadas categorias profissionais e de trabalho Foi um momento passageiro que mostrou a possibilidade de uni o em torno de alguns temas m
198. e irriga o constru das parte na beira do lago parte em munic pios distando at 150 quil metros a montante do fim do reservat rio ver Cap tulo 1 O atraso de anos e s vezes d cadas para as agrovilas iniciarem a 75 sua produ o e a perpetua o da espera de outros grandes n meros de agricultores que ainda n o recebiam lotes preparados para irriga o formaram juntos um quadro em que se noticiava repetidas vezes a quebra dos contratos entre as empreiteiras construtoras OAS Queiroz Galv o Odebrecht e a administradora do projeto CHESF deixando o calend rio de implanta o uma interroga o intermin vel As indaga es fruto de pesquisa de campo e a compreens o das consegii ncias do processo de negocia es s o divididas em tr s partes 1 A quem interessa o c lculo da for a de trabalho familiar e por qu 2 Quais as desigualdades que aparecem no c lculo e quem s o os exclu dos 3 Como muda a for a de trabalho familiar em oito a nove anos ou mesmo mais e quais as implica es para as estrat gias de reprodu o social das fam lias reassentadas H uma diferencia ao sistem tica na perspectiva entre planejadores e administradores de um lado e v timas beneficiados de outro mesmo que haja conflu ncia de interesses em muitos momentos Os dois grupos se inserem diferentemente em estruturas de poder mais amplas levando ado o de estrat gias diferentes de reprodu o social d
199. e mais jovens que eles Algum filho ou filha continua residindo em mais da metade 52 9 destas casas e h uma tend ncia de reter mais filhos homens adultos que filhas H apenas uma fam lia que abriga tamb m o genro nas fam lias um pouco menos avan adas na fase do ciclo dom stico com chefes entre 40 e 59 anos em que um pouco mais comum haver a co resid ncia de genros e noras Isto n o impede que genros e noras entre as fam lias mais velhas residam pr ximo a seus sogros como de fato ocorre quando mesmo contrariando as orienta es da Chesf constr em uma casa nos fundos ou ao lado 4 casos ou quando os filhos receberam uma casa no ato inicial do reassentamento por j estarem casados uma reafirma o da prefer ncia de resid ncia neolocal destas fam lias combinada com a valoriza o da proximidade de parentes Uma an lise da rela o entre a composi o destes grupos dom sticos e a pr tica da economia familiar camponesa nesta regi o iria requerer dados mais detalhados sobre trabalho disposi o de terra e idade Embora as an lises de Chayanov 1966 e a sua aplica o em regi es proximas GARCIA HEREDIA 163 Mesmo diante da aus ncia co residencial de genros e noras estas fam lias incluem muitos netos 41 2 delas os t m a maior parte criados desde a inf ncia pelos av s durante per odos de apoio aos seus filhos Agora muitos destes netos s o considerados como sendo prioritariament
200. e o in cio de mais um m s de depend ncia Os at dez bodes e cabras que a Chesf permitia que cada fam lia levasse em 1987 1988 foram perdidos logo nos primeiros anos em quase todos os projetos desaparecendo um por um levado por gente conhecida mas melhor n o dizer quem na nova morada desunida permeada por alcoolismo e viol ncia as agrovilas Nem o criat rio tradicional poupan a camponesa protege contra o processo de empobrecimento 149 O processo de empobrecimento durante a fase de espera para a implementa o do projeto detectado erroneamente como um per odo de enriquecimento pelas cifras formais que contam o ingresso monet rio proveniente da VMT somente parcialmente contrabalan ado pela expectativa de sucesso e enriquecimento uma vez que os lotes irrigados come am a intensificar a sua produ o e organiza o Nutrir este sonho apostando na viabilidade do cen rio futuro em projetos diferenciados dentro de uma regi o com limitadas outras perspectivas para pequena produ o agr cola uma das raz es de n o ter havido uma evas o ainda mais significativa entre os reassentados Alguns menos convencidos das boas inten es dos reassentados diziam antes do t rmino da VMT que dava para saber pelo plantio nos quintais quais seriam os que iriam abandonar as agrovilas quando a verba de manuten o tempor ria fosse cortada eram os que n o plantavam Isto poss vel mas muitas o
201. e operacionaliza o dos projetos de irriga o apresentada para discuss o em maio e junho de 1987 foi seguida de reuni es conjuntas entre a Chesf a Codevasf e o P lo Sindical Ela prev a forma o de um Comit Co gestor constitu do por t cnicos da Codevasf e representantes dos agricultores para operar os projetos na fase de consolida o dos mesmos A responsabilidade da Chesf seria na fase de implanta o e a da entidade formal dos usu rios quando da emancipa o A justificativa da proposta vincula de forma direta a necess ria participa o dos agricultores com car ter deliberativo emancipa o dos projetos Esta ltima se d quando os agricultores assumem as decis es inerentes ao funcionamento e opera o dos projetos em seu todo contando com recursos humanos financeiros e log sticos para execu o de tarefas especificas junto a institui es federais estaduais e municipais A autonomia econ mica e financeira se realiza quando a produ o e a comercializa o se estruturam e interagem tornando a organiza o dos agricultores cooperativa associa o forte e competitiva no mercado A estrutura organizacional e a forma de atua o propostas t m pois como objetivo tornar a opera o dos projetos uma tarefa onde os colonos e imigrantes tenham uma participa o efetiva e decisiva objetivando a emancipa o dos mesmos grifos nossos CODEVASF s d Estima se no documento
202. e pode gerar com projetos na regi o A esta situa o se somam os desafios de projetos de privatiza o Assim a base de poder altamente centralizada da Chesf apoiada no controle do uso de recursos h dricos de um s rio enfrenta uma dispers o que tem profundas implica es para a sua organiza o um ator social cuja hegemonia hist rica sobre o rio o coloca numa condi o privilegiada na sub regi o do Subm dio 117 O segundo ator composto pelo resultado das sucessivas metamorfoses institucionais para o Vale do S o Francisco da CVSF Comiss o 1948 para a Suvale Superintend ncia 1967 para a Codevasf Companhia de Desenvolvimento 1974 est descrito sucintamente em Silva 1997 p 30 46 e em Melo 1988 Nesta rea com uma voca o hist rica para a forma o de grandes fazendas de gado bovino e caprino que se adentram da beira do rio para a caatinga e de plantio de vazante nas reas de solo aluvial na beira a irriga o toma a frente dos planos destes org os desde a sua cria o mas sempre associada ao objetivo declarado de promover desenvolvimento regional resultando numa atribui o de multiplas frentes de a o A irriga o no Subm dio S o Francisco nos vinte anos da CVSF ganhou mpeto em v rios locais sem que houvesse um planejamento muito ordenado entre eles Silva 1997 identifica Petrol ndia que plantava banana e goiaba e os processava localmente e Bel m de S
203. e reivindica o de trabalhadores rurais que tem se aberto a uma amplia o da participa o feminina em d cadas recentes passando de silenciosa e combativa para barulhenta e combativa CAPELIN 1997 CORDEIRO 2004 2006 A dire o do P lo Sindical tem sido historicamente masculina o que nunca inibiu a atua o forte de mulheres nos eventos e reivindica es espec ficas mesmo tendo inibido algumas mulheres individuais Atualmente em reconhecimento a um trabalho significativo feito frente de uma diretoria de jovens e mulheres a dire o do P lo est nas m os de uma mulher com os diretores antigos agindo em articula es 230 simbolicamente identificadas como mais amplas e em assessorias diretas A pr pria unifica o dos sindicatos da regi o em torno da amea a da perda das suas terras identificou a esfera de responsabilidade do P lo desde o in cio Lutaram para incorporar c lculos de m o de obra familiar na garantia de terra para compensar as perdas decorrentes da inunda o das suas terras antigas Scott 1996 Cap tulo 5 e o P lo se tornou o ve culo privilegiado de negocia o do conjunto com os rg os governamentais e internacionais promotores financiadores e executores do grande projeto de desenvolvimento que a barragem representou A garantia do sustento de cada agricultor ser um provedor que poderia operar com a sua fam lia fez com que cada a o do P lo se tornasse urgente para assumir a r
204. eassentadas nesta agrovila enfrentaram uma interven o direta do poder do Estado atrav s do estabelecimento das regras de participa o no projeto e do seu ritmo de implanta o Isto afetou em muito a capacidade das fam lias se organizarem ao determinar 160 a quem ganharia casa lote de tamanhos diferentes e VMT destinado ao chefe de fam lia masculino b regras determinando a distribui o espacial das casas e limitando a constru o de casas novas c proibi o de transfer ncia de lotes d adiamento sucessivo da entrega de lotes irrigados criando uma inatividade for ada e dificultando a continuidade de trabalho familiar na agricultura e limita es pr pria mobilidade da popula o especialmente os diretamente beneficiados pois em tese quem n o reside n o ganha a VMT e f um relaxamento na prote o dos direitos ao lote que possibilitou as invas es De 1987 a 1993 as fam lias n o tinham em qu trabalhar na pr pria agrovila a n o ser em atividades informais muito diversas pequeno com rcio e plantio de chuva ocasional Esta agrovila foi uma das privilegiadas do conjunto da Borda do Lago em Pernambuco pois a maioria ainda demorou mais tempo para iniciar a sua produ o Isto fez com que a pr pria agrovila na poca da pesquisa de campo tenha se tornado um ponto de atra o para outros reassentados de agrovilas com implanta o mais atrasada Sobretudo parentes e amigos procura
205. eferidos pelos rapazes Estes mesmos s o mais taxativas quando descrevem os efeitos da intoxica o provocada pelo uso de agrot xicos um problema que vem se alastrando em todas as reas de agricultura irrigada Inclusive h estudos que mostram a seriedade do problema em Petrol ndia Mesmo que exista uma constata o comum de que o veneno causa danos sa de h uma percep o que a mudan a para o plantio de frutas diminuiu a circula o de veneno quando comparado com os plantios de curta dura o nos lotes irrigados As jovens mesmo reconhecendo o problema ainda levaram compreens o do problema de intoxica o desde o campo para o espa o da casa citando casos em que a conviv ncia com o rem dio em casa se associava a outros problemas de relacionamentos e de higiene o que facilitou a ocorr ncia de envenenamentos Sobre sa de reprodutiva h uma identifica o de problemas de infec es transmitidas sexualmente que demonstra que o assunto seja bastante conhecido por jovens O pr prio conhecimento sobre estas doen as serve para evidenciar a familiaridade dos homens com as pr ticas sexuais conhecimento que muito prezado entre eles Ao se tratar de quest es preven o e de aborto h uma certa naturaliza o da pr tica que as coloca no terreno da responsabilidade feminina mas que tamb m reconhece que assim confere s mulheres um poder muito grande na rela o que precisa ser vigiado pelos rapazes que valorizam mui
206. ega de numerosos lotes imprest veis para agricultura que estava sendo arduosamente readministrada pela Chesf foi visto como desconhecimento mesmo das reas designadas Um representante sindical sugeriu que os lotes foram divididos pelos t cnicos governamentais atrav s de um macroestudo aerofotom trico sem pisar na terra A nfase dada ao termo macro serviu para sublinhar o desconhecimento individual dos lotes pelos t cnicos conhecimento que s os micro reassentados adquiririam ao planejar o uso da sua terra Outros reassentados estranharam o fato de n o ter havido nenhum aproveitamento da madeira que ficou submersa questionaram a qualidade da gua para uso dom stico especialmente para beber e ficaram preocupados diante da mortandade de alguns peixes provocados por pesca predat ria ocorrendo no reservat rio Os coment rios dos reassentados mesmo intercalados com mem rias da fertilidade dos seus solos ribeirinhos e abund ncia de frutas demonstraram uma admira o com a t cnica de canais e equipamentos de irriga o salvo os que foram prejudicados pelo erro t cnico de c lculos sobre o alcance dos aspersores e uma expectativa que isto pudesse resultar neles voltarem a produzir ap s muitos anos de espera Resta sempre a preocupa o que alguns outros erros t cnicos sobre o potencial dos ambientes possam chegar a comprometer futura produ o assunto sobre o qual o P lo Sindical se debru a com regularidade pedi
207. eiramente desconhecida por ele aguardando a designa o do seu lote e a gua bombeada a v tima mais ins lita do programa de beneficiamento produzido para ele pelo governo Cabe retratar uma por uma algumas das fei es mais evidentes desta situa o da ocupa o de um novo ambiente para demonstrar algumas maneiras de como o lado violento da administra o dos benef cios se manifesta 101 O novo ambiente institucional administrando a rearticula o das rela es de poder Acima de tudo o reassentamento uma mudan a for ada e planejada o que implica na identificia o clara de planejadores e administradores aos quais se dirigem cobran as sobre o processo desencadeado pela sua a o Entrando com recursos enormes e com aprova o legitimada por pol ticas internacionais e nacionais as institui es governamentais mandam e desmandam na rea sujeita administra o do seu projeto Quando as coisas n o andam direito n o de se estranhar que as cobran as a estas institui es se tornem mais freq entes Do ponto de vista do conjunto dos reassentados as grandes linhas das modifica es na configura o de rela es de poder indicam um movimento assim A multiplicidade B centraliza o C multiplicidade De uma situa o de m ltiplos pequenos produtores posseiros e patr es com variados contratos formais e sobretudo informais para a realiza o da produ o forjados ao longo de anos
208. em Itaparica ressoaria tanto quanto a garantia de fornecimento de energia para a Regi o Nordeste no entanto o insucesso estava chamando uma aten o muito inc moda s falhas na administra o de um projeto de agricultura irrigada um projeto que n o caracteriza a pr pria institui o Impossibilitada de passar a responsabilidade para as obras necess rias para que os projetos pudessem entrar em funcionamento a Chesf optou por uma estrat gia de de um lado manter o controle financeiro e administrativo da parte das obras ao mesmo tempo em que apostava em repassar a responsabilidade para o funcionamento agricola tecnica de Codevasf negociada desde o in cio com a sua experiencia not vel de promo o de assist ncia t cnica e de agricultura irrigada sobretudo no p lo Juazeiro Petrolina 17 Vianna e Menezes citam as compet ncias estabelecidas no convenio entre a Chesf e a Codevasf eChesf reassentar a popula o implantar a infra estrutura f sica dos projetos responsabilizar se financeiramente pelas atividades e conv nios com rg os especializados na presta o de servi os sociais b sicos responsabilizar se pelas despesas fianceiras at cinco anos ap s o in cio da opera o do projeto relativas extens o rural apoio produ o e comercializa o assist ncia t cnica administra o dos projetos incluindo opera o e manuten o das infra estruturas 129 O P lo Sindical precisou redefinir as
209. emos mais adiante Tamb m a pr pria presen a multi tentacular do governo e a diversidade de a es e pol ticas voltadas para o campo resulta num envolvimento do P lo em duas dire es 1 em reas de acompanhamento e monitora o de benefici ros de programas n o diretamente associados barragem como de cr dito rural de constru o de cisternas e de desenvolvimento sustent vel o que requer constantes justificativas e redefini es de reas de atua o que s vezes polariza opini es internas e externas ao P lo sobre a sua inser o nos processos sociais que afetam a regi o 2 e em discuss es de grandes novos projetos a transposi o das guas do S o Francisco e a revitaliza o do Rio bem como os dois novos projetos de engenharia barrageira restantes nesse trecho do rio Um quarto ator social referido acima merece tratamento parte tanto pela import ncia quanto pela ambiguidade e 121 efemeridade planejada do seu papel na redefini o cont nua desta nova sub regi o o Banco Mundial Dois documentos demonstram com clareza a sua posi o um o ja citado artigo de Hall 1992 e o outro um documento de acesso restrito do pr prio Banco que circula entre todos que est o envolvidos na defesa dos atingidos O maior aliado da expans o de projetos desenvolvimentistas o Banco e seus cong neros multilaterais pois atrav s dele s que se viabilizam financeiramente os mega projetos dos setores ene
210. ena diretamente em torno do Estado Ela tem muito mais a ver com como os indiv duos se inscrevem em uma ou em outra identidade coletiva no cen rio local e regional O jogo de semelhan as e diferen as entre agentes sociais locais promove ades es e afastamentos de pessoas que passaram por experi ncias hist ricas locais variadas De acordo com as suas inser es nestes contextos locais posicionam se em hierarquias que se constr em e se reconfiguram contribuindo para uma heterogenia local que se desvenda a cada instante A presen a de uma competi o interna no cen rio local e regional apresenta uma mir ade de reivindica es e posicionamentos conflitantes que independente da heterogeneidade ou homogeneidade entre grupos contribuem para a constru o de identidades sociais contrastivas como j mostraram Cardoso de Oliveira 1978 e Oliveira Filho 2006 A elabora o de patrim nios espirituais e materiais associados a estes grupos opera numa constante separa o entre os n s e os eles Esta elabora o pode ser fruto expl cito de esfor os coletivos e colaborativos em momentos hist ricos bem 190 identific veis Tamb m pode ser resultado de um mais individualizado e paulatino ac mulo de eventos cotidianos que pela sua pr pria cotidianidade repetida tornam se coletivos A inseguran a coletiva local contradit ria no sentido de que a ades o a uma identidade que confere patrim nio espiritual e ou
211. ensa intera o Estado popula o que caracteriza as primeiras duas fases experimenta um longo processo de desarticula o com constantes redefini es Isto faz com que a quarta fase de emancipa o n o costume ser um per odo de celebra o de metas atingidas e sim uma fase de 184 renegocia o da avalia o dos impactos e do esgotamento relativo de ambas as partes Ao longo deste processo s o desencadeados contextos temporais e espaciais que favore am diferentes tipos de adoecimento sofrimento e administra o de sa de e a compreens o destes acontecimentos que se enfoca aqui N o o prop sito deste trabalho oferecer nenhuma elabora o cr tica sobre as diversas tentativas de conceitualizar o processo sa de e doen a CAPRA 1982 DUARTE 1994 DUARTE LEAL 1998 MINAYO 2005 AYRES 1993 1997 2006 e sim de descrever enfermidades de uma maneira que contemple uma sensibilidade social e cultural do fen meno H muitas elabora es bem argumentadas que j conduzem nessa dire o criando id ias como vulnerabilidade perturba es sofrimento males f sico morais qualidade de vida afli es etc e n o se trata de escolher entre elas e sim de valorizar a busca da inser o do social e do cultural no biol gico para compreender sa de As discuss es sobre os m ltiplos fatores associados sa de mental bem como sobre doen as com patologias mais rigorosamente identific veis biologicamente j contr
212. enta o do projeto diante da falta de verbas no or amento nacional e a manuten o de um estado semi perrnanente de processo de 145 negocia o com o Banco Mundial s o empregados para retirarem dos administradores diretos do projeto parte da responsabiliza o pelas condi es prec rias em que muitos dos reassentados se encontram O campo inst tucional e pol tico nacional a crise torna se uma esp cie de caixa preta que p e r deas nas a es da Chesf e da Codevasf e que ainda exige respostas do P lo Sindical uma visita direta sede do Banco Mundial em Washington exig ncias de compromissos diretos com o presidente da Chesf e n o com os seus subordinados etc para poder efetivar a retomada da a o No caso espec fico de Itaparica e mesmo lembrando que h diverg ncias internas a todas as institui es as particularidades do projeto fazem com que muitos dos representantes das institui es respons veis pela sua administra o achem formas de reafirmar os objetivos empresariais e simultaneamente ambiguamente desqualificarem os reassentados como atores valorizados dentro destes objetivos Criam uma condi o de limbo pol tico para os reassentados A desqualifica o mais f cil de entender do ponto de vista dos objetivos da Chesf os reassentados n o geram energia dificilmente podem se tornar o cart o postal de sucesso do estatal Pior ainda na sua perspectiva que as constantes reivindica e
213. ente e programas espec ficos para mulheres neste processo teriam que se iniciar de outras bases de a o pr pria ou com est mulos externos Quais os espa os em que as mulheres de Itaparica vistas a partir das agrovilas enfocadas aqui de fato operam no reassentamento Ao enfocar a condi o feminina no trabalho agr cola e dom stico e nas rela es familiares e sua intera o com o 28 Tradu o do original em espanhol feita pelo autor deste trabalho 171 ambiente criado com as agrovilas e os lotes irrig veis recebidos podem se perceber as dificuldades enfrentadas por elas ao se dedicarem a todas as categorias de trabalho descritas por Arriagada Quando moradoras ribeirinhas o campo de atua o dessas mulheres era organizado em algumas atividades que refletiam uma forte divis o de trabalho por g nero consignando s mulheres participa es particularmente ativas em 1 trabalho dom stico 2 agricultura especialmente vazante e de chuva e 3 criat rio principalmente de galinhas bodes e s vezes porcos As mulheres costumavam ajudar na ro a como trabalho familiar n o remunerado mas como as reas de origem destes agricultores tamb m inclu am uma diversidade nos espa os ambientais e de trabalho foi poss vel segundo recordam algumas as mulheres aproveitarem um espa o mais independente em que tinham mais controle sobre a renda proveniente da sua produ o Com as diversas combina es poss veis entre
214. entes envolvidos direta e indiretamente no di logo Uma das discuss es mais incisivas se deu em torno da proposta da Codevasf para estruturar e operacionalizar os futuros projetos de irriga o Codevasf s d Os depoimentos encontram se em arquivos do Instituto de Pesquisas Sociais da Fundaj e o relato das reuni es foi objeto de discuss o interna da equipe no in cio da pesquisa Tamb m aproveita o material trabalhado por Maria Lia Corr a de Ara jo e por S e Scott sobre as metas sociais do Plano da Chesf 1985 6 Cap tulo 2 Metas Acordos e Impasses no Processo de Reassentamento INPSO FUNDA 1988 42 Para situar melhor os aspectos privilegiados nas discuss es entre os atores lembra se que no primeiro cap tulo foi poss vel discernir algumas poss veis manifesta es de interesses distintos assim como as resist ncias ou fragilidades que ent o se esbo avam A regi o de ocupa o antiga e economicamente produtiva tem uma hist ria de experi ncia em agricultura irrigada e mant m contudo tradi es de modo de vida e apresenta sedimenta o de lideran as locais Nela se desenvolveu uma organiza o sindical de trabalhadores rurais que inicialmente predominantemente assistencialista redefine se e se amplia ante a presen a das obras da Chesf Os direitos ao reassentamento resultaram n o apenas de reorienta es no mbito das a es do Estado resguardados os interesses dos setores dominantes d
215. envolvimento brasileiro sistematicamente sujeitando todos e sobretudo as camadas mais pobres a servi os inadequados e insuficientes Esta inseguran a mina a cren a na exist ncia de qualquer maneira de superar obst culos na busca de uma seguran a caracterizada por uma diminui o de vulnerabilidades Observam se as manifesta es de inseguran a estrutural em discursos recorrentes sobre os contrastes entre os ricos e os pobres e a repeti o de declara es sobre como os ricos e poderosos armar o esquemas para beneficiar a si mesmos As evid ncias contundentes s o tiradas de um cotidiano que comunica esta condi o de uma maneira multiforme e ub qua desde as decis es sobre o que comer no caf de manh at a participa o nas elei es ou aceita o das imposi es dos seus dirigentes Na viv ncia desta inseguran a pol ticas e planos empacotadinhos e alardeados publicamente como promocionais ao bem estar da na o s o percebidos como tendo muita pouca relev ncia pelas popula es locais pois uma regra de tais planos de deixar estas popula es locais despercebidas Isto mesmo que sejam contempladas formalmente nas popula es amplas inclu das nos documentos e pronunciamentos elaborados pelos respons veis 187 Assim as popula es exclu das desta maneira formam uma maioria da popula o da na o que ao longo da hist ria de coloniza o e depend ncia elaborou uma multiplicidade de discursos
216. er com o apoio de alguma terceira organiza o ou entidade H sempre uma articula o entre os componentes de reforma agr ria de desenvolvimento agr cola e de agricultura familiar que contribua para a grande diversidade de situa es observ veis entre as dezenas de milhares de fam lias espalhadas nas centenas de quil metros de projetos ao longo do Rio S o Francisco Sempre h quem queira apressar o processo de emancipa o dos projetos permitindo a aliena o de terras e h not cias de fam lias que est o juntando dinheiro para adquirir os lotes de reassentados que desistem quando chega a hora de produzir e outros que j compraram Talvez s o elas com as suas pequenas e m dias capitaliza es que ter o condi es de formar as empresas familiares privilegiadas pelo modelo de desenvolvimento vigente O que pode ser afirmado que o adiamento da implanta o do projeto ocorre fora da al ada dos pr prios reassentados no contexto de negocia es nacionais e internacionais sobre prioridades pol ticas e or ament rias E o adiamento contribui decisivamente para agravar as dificuldades de reprodu o social dos agricultores reassentados facilmente identific veis ao tentar rastrear as transforma es ocorridas durante o desenvolvimento do ciclo dom stico Al m da reifica o das desigualdades entre fam lias que ocorreu na hora da aplica o do c lculo da for a de trabalho as transforma es nas fam lias re
217. er do jeito dele risos EH nem um homem gosta de conversar com mulher Tem coisa que s de mulheres Por que os homens agem diferente porque eles t m um conceito diferente ent o nunca d certo um homem com uma mulher s vezes eu quero falar com meu namorado eu tenho medo de falar uma coisa errada a eu fico calada HH h muitas meninas se acabando querendo os homens a pulso Se n o ficar comigo voc viado Se ele comprometido e se ele dizer eu amo muito a minha esposa minha namorada e n o posso sair a dizem eu fiquei com ele e era viado A mulher sabe que ele n o viado Tem menos homens tem uma cambada que ta virando homossexual 274 8 PARA ELES E PARA ELAS 48 CONVERSANDO SOBRE PRAZER Da minha parte vai depender da vontade do ritmo da mulher que tem delas que vai pra uma festa pra se divertir mesmo ent o com essas o rock dan ar ficar namorar simplesmente Mas aconteceu j v rias que gosta mesmo de fazer rela es sexuais e rola s vezes acontece porque tem mulher que ali parada ela tem que se mexer Tem que ser quente Gemer d prazer ao cara Chupar eu acho que isso n o t certo n o O cara chupar ela quer dizer os dois Eu acho que tem cara que faz isso Eu tive essa experi ncia a mulher fazer chupando uma sensa o muito boa O homem s fala em cacha a fuder mulher mulhe
218. er mostra novas vulnerabilidades decorrentes das transforma es operadas sob a base inicial As mostras deste processo de retra o do Estado s o extraordinariamente numerosas e diversificadas Primeiro a Chesf argumenta que o reassentamento uma obra social cujas exig ncias de compet ncia fogem das compet ncias de uma companhia organizada tecnicamente para gerar energia Agora passada a constru o da barragem o reassentamento virou parte da d vida social da companhia virtualmente impag vel administrada por um dos setores de menor autonomia e de recursos menos independentes da Companhia Fracassou a tentativa de passar a administra o t cnica dos novos lotes irrigados para a Codevasf companhia governamental associada a empres rios do setor de produ o da agricultura irrigada ao longo do S o Francisco sediada em Bras lia com escrit rio regional principal em Petrolina Neste fracasso ainda a Codevasf produziu um relat rio de den ncias de incompet ncia t cnica da Chesf comprometedora da capacidade produtiva na implanta o dos lotes O P lo tamb m constantemente lembra os compromissos n o honrados pelos governos sucessivos O n o financiamento de alguns dos projetos especiais de reassentamento calcado em relat rios contundentes de impraticidade devidos s condi es ecol gicas e custos altos retorna constantemente mesa de negocia es incomodando pela maneira que mostra como alguns reassentados f
219. erente a grandes projetos E neste contexto de viol ncia administrada nas reas de 110 reassentamento est ocorrendo outra onda de viol ncia que mostra os efeitos humanos de tantas incertezas e controles novos conflitos dom sticos conflitos vicinais alcoolismo acentuado assaltos plantio e tr fico de subst ncias t xicas s o todos frequentes em muitas destas reas Os apelos ao Estado para fornecer um policiamento adequado n o t m trazido os resultados esperados Os pais se preocupam com os destinos que os filhos possam seguir A desocupa o citada por todos os observadores desta viol ncia como uma das suas principais causas mas a precariedade da ocupa o tamb m contribui Se a inten o do go verno ao elaborar um plano de reassentamento foi de fato de beneficiar os atingidos pela barragem de Itaparica desde o in cio o projeto anda muito longe de atingir a sua meta 111 Cap tulo 6 Economia pol tica subregional criando margens e manchas nos per metros irrigados A irriga o vem ganhando destaque nas ltimas d cadas como meio de salva o da economia do Semi rido do Nordeste brasileiro A cidade de Petrolina o seu epicentro de onde irradiam numerosos n cleos de produ o agr cola e industrial organizados em per metros irrigados onde a a o coordenada de muitos atores propulsiona uma acumula o de riqueza inusitada e gera inclusive sonhos de uma autonomia pol tico administrativa
220. erial de suporte inclus o destas quest es em agendas de a o e de negocia o sobretudo nos campos de sa de e g nero Morais Socioculturais contextualizando sexualidade e religi o para jovens Moralidade ou morais socioculturais se entende pela acep o simb lica ampla de valores de coletividade que regulam pertencimento coletividade interpreta o t o cara s obras da 34 Este cap tulo uma vers o re elaborada do trabalho de SCOTT Parry Jovens reassentados incorporando sa de g nero e morais socioculturais nas pautas de negocia o em Itaparica Brasil preparado para o Semn rio Tem tico O4 Segundo Encontro de Ci ncias Sociais e Barragens Salvador Novembro 19 22 UFBA em 2007 Discuss es comparativas de assuntos cong neres escritos em co autoria com membros da equipe de pesquisa Estilos Reprodutivos e Organiza es Reprsentativas incluem Scott Athias e Longhi 2006 Scott Quadros e Longhi 2003 e mais recentemente em Scott Athias e Quadros 2007 serviram tamb m para base do trabalho 213 sociologia francesa DURKHEIM 1983 1989 MAUSS 1974 Como as coletividades se tornam vis veis apenas parcialmente atrav s de organiza es representativas as identidades correspondentes dos m ltiplos agentes que operam em qualquer contexto est o em constante reconstru o e negocia o hist rica e espacial BARTH 1969 PINA CABRAL 1991 2005 A id ia de morais remete frequentemen
221. erlota o da cidade em rela o s suas possibilidades contribuindo para o incremento de demandas para solucionar os problemas dos seus residentes sobretudo dos para rurais designa o t cnica dos administradores dos projetos para moradores urbanos que viveriam de atividades agr colas no campo Como resolver estes problemas estava na pauta de estudo pelos administradores do reassentamento Em Rodelas Chorroch na Bahia os problemas s o complexos envolvendo pelo menos tr s quest es a primeira de ordem t cnica sobre as constru es prec rias e o fornecimento irregular de gua para os projetos de irriga o na Borda do Lago a segunda sobre os para rurais principalmente de Chorroch que enfrentam uma situa o parecida com os de Itacuruba e a terceira que envolve as especificidades do grupo ind gena Tux que na hora do enchimento do lago em negocia o diferenciada foi reassentado numa rea declarada tecnicamente invi vel pela an lise pedol gica e que ap s seis anos resolveu que o reassentamento deveria ser em outro local respeitando a situa o atual do grupo j subdivido em dois separados pelos mais de mil quil metros de dist ncia entre os dois locais designados aos grupos ind genas Rodelas e Ibotirama em decorr ncia do primeiro reassentamento Cada rea problem tica mencionada aqui mereceria um estudo muito mais detalhado a parte mas uma leitura do conjunto de problemas identifica t
222. es determinadas e executadas ao n vel federal a cada ano e isto requer constantes negocia es com multiplos interesses na na o para receber as contrapartidas Enquanto mais tempo passava para liberar as contrapartidas mais o Banco percebia que o produto na vitrine n o correspondia s suas pr prias expectativas de resgate da imagem de promotor de desenvolvimento social As outras facetas do Banco promotor de outros modelos de desenvolvimento detinham mais poder no campo de for as financeiro internacional e nacional Uma nova nfase aparecia nas rodas de conversas e mesas de avalia es o questionamento constante do sempre frisado alt ssimo custo per capita em rela o ao custo geral deste projeto N o apenas uma coincid ncia que este tipo de avalia o apare a num per odo de globaliza o de redu o de custos p blicos e de buscas incessantes de parcerias governamentais e extra governamentais Qual o resultado das rela es entre estes quatro atores e tamb m das suas rela es com outros atores fazendeiros pol ticos locais govemos estaduais a Igreja Cat lica as diversas ONGs pequenos empres rios rurais plantadores e traficantes de maconha comerciantes construtores empresas de assist ncia 123 t cnica e muitos outros na forma o de estruturas de poder que contribuam para o desenvolvimento da rea Com a passagem do tempo depois da cria o do reservat rio a regi o se caracteriza mai
223. esmo ele deve providenciar a reparti o de seus bens e cada um faz a sua vida Porque antes a inseguran a era muito grande porque n o tinha como sobreviver l forae a sa da era ficar com ele Hoje ela n o dependente daquela pessoa Geralmente assim a mulher quer se separar mas o homem n o quer a fica assim continua mantendo aquele casamento Eu acho que o homem que quer se separar Eu acho que a mulher porque eu conhe o muito caso o homem chega em casa a vai dar na mulher quer bater na mulher Ai ela n o ag enta mais Ela vai tentando pra ele mudar a ele nunca muda a ela tem que achar um meio Para n o haver separa o tem que ser bem calmos os dois tanto o homem como a mulher de cabe a fria e nenhum dos dois sejam muito atirados obcecados de sexo tem que se conscientizar que tem uma mulher que vai fazer uma fam lia construir uma fam lia a partir daquela mulher e pronto Eu acredito que quem come a a briga sempre na maioria dos casos a mulher mas acredito tamb m que por uma parte ela n o ia chegar assim e come ar uma confus o no meio da rua perder a calma assim no meio do pessoal por nenhum motivo Tem aquele casal que a mulher d um grito daqui e o cara responde mais alto a come a aquela confus o toda Mas na maioria dos casos a confus o parte mais da mulher Eu acho que tamb m o homem Um homem que chega b bado quer ba
224. esponsabilidade da base de sustento A procura de alian as neste empenho resultou numa forte coopera o para bem al m da estrutura sindical formal incluindo representantes de alas progressistas da Igreja e grupos ecum nicos ONGs associa es internacionais orientadas para a defesa de popula es amea adas e grupos de pesquisa e atua o em reas espec ficas relacionadas com a produ o e a documenta o e organiza o da vida cotidiana Esta mir ade tentacular de alian as criou um destaque do P lo como entidade respons vel sempre em defesa do agricultor e trabalhador rural e conciliadora da diversidade em torno desta finalidade Isto ocorre inclusive no terreno de religi o onde independentemente da voca o religiosa de reassentados espec ficos o seu compromisso com o movimento que importa para que o P lo os identifique como respons veis Em contraponto a pr pria desilus o crescente de agricultores individuais com as condi es do reassentamento favorece a forma o de grupos religiosos que procuram compensas em terrenos sagrados e se distanciam parcialmente da luta coletiva da entidade sindical Em outro dom nio na sua atua o junto s mulheres e aos jovens o P lo tem procurado ampliar a equidade e no que diz respeito ao segundo grupo criar um protagonismo juvenil para aqueles cuja inser o nas agrovilas est se dando de uma forma prec ria pelas limita es de terra e de capital para a expans o
225. essas quest es os jovens terminaram introduzindo outros assuntos que tamb m fazem parte das rela es familiares os desentendimentos as brigas e at as separa es 267 PARA ELES E PARA ELAS 8 CASAR ENTROU EM EXTIN O HOJE PEGOU FUGIU Casar aqui raro Essa palavra entrou em extin o aqui na agrovila porque pegou na m o juntou vai embora Hoje pegou fugiu Se o pai e a m e n o permitir que a menina namore o cara pega e leva pra casa Casar dif cil Fugir s o modo de falar tirar ela de dentro de casa S pra tirar uma d vida Se eu pegasse ia com a minha namorada ai fugisse trouxesse ela pra minha casa mesmo que n o acontecesse nada n o fizesse nada com ela e trouxesse ela pra casa a no outro dia o pai queria impor tipo uma ordem casar com ela Quando o rapaz e a mo a querem se juntar e a fam lia n o deixa eles fogem geralmente para a casa dos pais do noivo A maioria dos cara se junta Casar acontece tamb m s se for realmente uma mo a de fam lia que est namorando s rio a acontece mas a maioria das vezes est s ficando namorando a acontece da menina ficar gr vida a tem que casar com aquela mesmo A idade pra casar depende com a pessoa que est namorando se vai dar certo e depende tamb m de condi es de vida porque um casamento muito mais s rio de que um namoro responsabilidade a pessoa n o vai ti
226. essora id ia de descaso planejado Outros se beneficiaram primeiro Mesmo assim como diz o ditado popular a esperan a a ltima que morre Ao se estender para os quinze anos posteriores a 1994 mesmo com melhoras para muitos reassentados ainda havia muitos que esperavam ser beneficiados Em 1994 ap s seis anos em vez de que os seis meses inicialmente projetados j despontava a probabilidade de boa parte destes projetos iniciarem o plantio irrigado embora o panorama da rea total dos projetos revele a concomit ncia de agrovilas em condi es extremamente diferentes desde as que j estavam produzindo at as que ainda n o tinham implantado nada de irriga o e nem tinham previs o de quando isto seria feito Todos os anos se anuncia a imin ncia da idealiza o da fase final das obras mas os frequentes adiamentos asseguram a manuten o de uma atitude de desconfian a por parte dos reassentados bem como do P lo Sindical que os representa s vezes parece que em alguns lugares os an ncios seguidos pelo seu descumprimento apenas resultam em mais uma comprova o do n o cumprimento de promessas pelas autoridades respons veis estendendo ainda mais o per odo de viol ncia administrada As promessas de um futuro melhor s o o pano de fundo otimista desenvolvimentista em que ocorre um processo subjacente que se pode identificar com regularidade no decurso do projeto Este processo de viol ncia administrada config
227. evista de Sa de Coletiva Rio de Janeiro IMS UERJ v 6 n 1 2 1996 COUTO M T O Pluralismo religioso intrafamiliar e as transforma es recentes nos campos da fam lia e religi o Teoria amp Sociedade UFMG Belo Horizonte v 8 p 78 97 2002 Cultural Survival Quarterly Issue Number 2 Hydroelectric Dams 1988 239 Cultural Survival Quarterly Issue Number 3 Resettlement and Relocation Part 1 1988 Cultural Survival Quarterly Issue Number 4 Resettlement and Relocation Part 2 1988 DE CERTEAU M A inven o do cotidiano 1 Artes de fazer Petr polis Vozes 1994 DUARTE Luiz F D A outra sa de mental psicosocial f sico moral In ALVES P C MNAYO M C Org Sa de e Doen a um Olhar Antropol gico Rio de Janeiro Fiocruz 1994 DUARTE Luiz Fernando Dias LEAL Ondina F Org Doen a sofrimento perturba o perspectivas etnogr ficas Rio de Janeiro FIOCRUZ 1998 DUQUE Ghislaine A experi ncia de Sobradinho problemas fundi rios colocados pelas grandes barragens Ci ncia e Cultura 35 8 S o Paulo pag 1054 61 1982 DURKHEIM Emile Li es de sociologia a moral o direito e o Estado S o Paulo T A Queiroz Ed da USP 1983 As Formas elementares da vida religiosa S o Paulo Editora Paulinas 1989 Da divis o do trabalho social S o Paulo Martins Fontes 1995 FORTES M Introduction In GOODY J FORTES M The Developmental Cycle
228. familiar que determinaram o tamanho dos lotes a serem recebidos por cada fam lia 1 5 a 6 hectares foram realizados sobre dados do cadastro feito antes da remo o ver cap tulo 4 e em todos estes anos evidente que quase n o h nenhuma fam lia cuja composi o se assemelhe anterior Pais envelheceram ou morreram filhos nasceram cresceram casaram mudaram para a cidade ou migraram pra lugares mais distantes O resultado muitas fam lias pequenas com lotes grandes e fam lias grandes com lotes 151 pequenos Quem trabalhava a terra na beira do rio lembra a experi ncia do trabalho familiar mas desde 1988 para muitos n o t m havido onde trabalhar em conjunto Cada um tem procurado suas atividades particulares sem poder contar com o poder aglutinador de uma terra onde trabalhar Outros sem os seus filhos por perto se v em na necessidade de contratar diaristas e estabelecer rela es semelhantes s antigas rela es de mea o para ver os seus lotes renderem A desuni o que se apresenta em n vel das comunidades tamb m se manifesta no interior de muitas das fam lias reassentadas Esta uma caracteriza o do reassentado que a Codevasf pretende moldar para ser quem eficientemente maneja o ambiente constru do pelo Estado a altos custos Como manda o figurino bancomundialista de v tima de um projeto de desenvolvimento passa a ser potencial beneficiado O processo cheio de percal os e sem uma organiza o
229. ficar um segmento de participantes de um grupo social num ambiente localizado de acordo com a sua ades o religiosa permite precisar alguns mecanismos pelos quais a pr pria religi o orienta a express o da moralidade e da regula o da sexualidade COUTO 2001 2002 MACHADO 1996 1997 SCOTT CANTARELLI 2004 Ressalta se que a igreja situada num contexto local n o a Igreja com I mai sculo e sim uma adequa o dela ao conjunto de atores e 214 eventos hist ricos que operam no cotidiano dos grupos sociais locais que a comp em naquele lugar A conviv ncia no ambiente local faz com que as rela es entre igrejas e express es religiosas mais ou menos diversas tornem se uma pista entre muitas para a compreens o das fronteiras erguidas entre grupos locais promovendo entre alguns manifesta es de maior solidariedade em torno de valores comuns para conviv ncia cotidiana A multiplicidade ou unicidade da voca o religiosa local a sua rela o com igrejas embasadas em doutrinas e estruturas institucionais de dimens es diferentes a dist ncia entre as pr ticas e valores prescritos e os efetivamente implementados e a cis o ou uni o entre adeptos de denomina es diferentes todos s o assuntos sobre religiosidade que informam sobre as redes de reciprocidade e identidades em constru o Como se visualiza com clareza na no o de dom nios empregada na metodologia de estudo de poder social de Adams 1975 uma igre
230. firmou os direitos a reassentamento e compensa o negociada antes da inaugura o da barragem PANDOLFI 1990 O P lo com uma alian a complexa entre ONGs institui es religiosas organiza es nacionais de 39 trabalhadores e at o apoio de grupos e indiv duos dissidentes das pol ticas hegem nicas de institui es governamentais e bancos multilaterais perdura como o representante principal das demandas dos reassentados As demandas que aparecem desafiam a defini o de estrat gias de a o entre colabora o e contesta o muitas vezes girando em torno da quest o de como ser o organizadas as associa es produtivas quando os lotes produzem Antigas e novas lideran as discutem as pol ticas que est o sendo efetivadas para os reassentados e a interpola o do sindicato como voz leg tima para muitos um ganho A redefini o do seu papel constante e a pr pria fragmenta o e conten o entre atores na nova fase asseguram o constante estado de fluxo na regi o Como coment rio final dif cil esbanjar otimismo sobre o futuro que se esbo ava para os reassentados desde o in cio da fase de transi o N o f cil recompor a base de sustento dom stica nem encontrar uma inser o nas rela es de poder mais amplas que n o implique em depend ncias mesmo tendo uma voz de forte representa o via o P lo Sindical O que vir por meio de uma implementa o com sucesso de um per metro irrigado a
231. fugir da refer ncia concreta ao local real am quest es importantes contidas nas palavras dos reassentados Pelo recorte de g nero identificam as formas diferentes pelas quais mulheres e rapazes enquadrem 233 algumas id ias Pelo recorte de gera o esta diferen a pode ser vista ao comparar as palavras de jovens com as de adultos Estas palavras podem subsidiar a defini o de estrat gias de a o Em 2009 as fam lias reassentadas mant m o esfor o de alcan ar um melhoramento na vida As fam lias que moravam na beira do Rio S o Francisco nos anos 1980 e tiveram que se deslocar para morar em agrovilas constru das pelo governo ganhas atrav s de negocia es e reivindica es do P lo Sindical do Subm dio S o Francisco continuam o percurso de encontrar condi es dignas para trabalhar para conviver com ambientes hostis e com ambientes favor veis viver no dia a dia interagindo namorando formando fam lias e dentro das possibilidades sempre procurando assegurar as melhores condi es de sa de para a diversidade dos agricultores reassentados Neste processo os jovens enfrentam condi es inusitadas nas quais os seus pais s o t o aprendizes quanto eles mas tamb m s o herdeiros de uma tradi o de trabalho no campo que carimba todo com um car ter especial sua maneira de lidar com as transforma es que a hist ria reservou para os moradores desta regi o da Bahia e de Pernambuco 234 REFER NCIAS CITAD
232. ga es conveniadas Adicionalmente embora os t cnicos da Codevasf e dos dois cons rcios n o sejam un ssonos n o dif cil ouvir entre eles os mesmos tipos de coment rios usados para questionar a capacidade 131 t cnica de colonos em outros projetos Mesmo reconhecendo a legitimidade do processo pol tico que desembocou na cria o dos projetos este mesmo processo evocado para refor ar os coment rios desclassificadores desta popula o que n o foi submetida a um processo de sele o ou que n o sabe botar a dosagem certa de veneno nas plantas danificando as que querem proteger Em mais uma alus o a met foras evolucionistas um funcion rio da Codevasf frisa o desconhecimento anterior dos reassentados ao dizer passar de irriga o de balde para irriga o de aspers o como passar da roda para o computador No cap tulo 7 como em SCOTT 1999 examino este processo de nega o dos conhecimentos anteriores dos agricultores reassentados questionando a sua capacidade de absor o de novas t cnicas a prepara o de um discurso que os identifica como potenciais respons veis por fracassos futuros dos projetos independente das outras raz es Subjacente a todo este afastamento da Codevasf destes projetos est uma previs o bastante pessimista sobre os seus rumos O refor o a esta previs o veio quando ap s cinco anos do conv nio a Chesf s conseguiu iniciar uma produ o agr cola irrigada em ape
233. ge 1990 CERNEA Michael Ed Putting people first Sociological variables in rural development A World Bank Publication Second Edition revised and expanded 1991 238 CERNEA Michael GUGGENHEIM Scott Eds Anthropological Approaches to Resettlement Policy Practice and Theory Boulder Westview 1993 CHAYANOV A V The Theory of Peasant Economy In THORNER D KERBLAY B amp SMITH R E F Eds Homewood American Economic Associ tion 1966 CHESF Companhia Hidrel ctrica do S o Francisco Reservat rio de Itaparica Plano de Desocupa o Recife CHESF CIDIR 1985 CODEVASF DOP Plano de implanta o do Reservat rio de Itaparica proposta para operacionaliza o dos projetos de irriga o destinados aos agricultores do Reservat rio de Itaparica Bras lia s d CORDEIRO Rosineide M Al m das secas e das chuvas os usos da nomea o mulher trabalhadora rural no Sert o Central de Pernambuco Tese Doutorado em Psicologia Social S o Paulo Pontif cia Universidade Cat lica de S o Paulo PUC 2004 Empoderamento e mudan a das rela es de g nero as lutas das trabalhadoras rurais no Sert o Central de Pernambuco In SCOTT Parry CORDEIRO Rosineide Org Agricultura familiar e g nero pr ticas movimentos e pol ticas p blicas Recife Editora Universit ria UFPE p 145 171 2006 CORR A Sonia PETCHESKY Rosa Direitos Sexuais e Reprodutivos uma Perspectiva Feminista Physis R
234. go especialmente diante de seus parcos ganhos energ ticos e da vis o mais cr tica que se esbo ava nos anos noventa O ato de caracterizar etnicamente o movimento al m de refletir fielmente a base populacional dos atingidos fez com que os argumentos t cnicos de corre o de desigualdades sociais t o eficientes no caso brasileiro n o estivessem dispon veis para quem quisesse defender a constru o da barragem no M xico Guerrero relativamente pr ximo cidade do M xico n o tem sido um estado not vel pelo seu atraso regional dentro da na o mexicana E mais ainda quaisquer diferencia es internas s comunidades ind genas foram efetivamente escondidas Se o movimento tivesse assumido um car ter trabalhista teria entrado no jogo de definir os atingidos por categorias t cnicas e socio econ micas abrindo espa o para o tipo de argumenta o capaz de apresentar o projeto como mais uma mini reforma agr ria potencialmente ben fica aos nahuas Os negociantes e planejadores econ micos mexicanos em meio elabora o dos termos do acordo de livre com rcio com os Estados Unidos durante o per odo de oposi o barragem certamente encontrariam dificuldades na mesa caso surgisse uma den ncia 70 de etnoc dio em acr scimo a um dos seus megaprojetos Ao anunciar a desist ncia do projeto a na o apresentou uma imagem de flexibilidade e respeito causa ind gena e o movimento descobriu mais uma vez a for
235. grovila em estudo quase n o h diferen a na distribui o das fam lias chefiadas por homens ou por mulheres Assim mantivemos o uso da idade do chefe de fam lia masculino e na aus ncia dele da chefe de fam lia feminina 162 vi va na agrovila nesta faixa de idade tem acima de 80 anos e mora s mas ela j era vi va antes do reassentamento S o chefes de fam lia que t m casa lote e VMT e em muitos casos acrescentam tamb m aposentadorias adquiridas recentemente Mesmo quando enfraquecidos na sua pr pria for a f sica det m os meios de perman ncia na agrovila e ainda atuam como articuladores de grupos de parentes mais amplos que se formam ao redor Estes grupos de parentes s o de fam lias inter relacionadas por consanguinidade e afinidade e incluem sobretudo os pr prios agricultores suas esposas seus filhos casados e os netos filhos destes e alguns irm os Costumam agir mais solidariamente entre si trocas de trabalho e comida festividades e transa es n o monetarizadas ou de monetariza o reduzida do que com outros que n o s o do grupo de parentes Como que estas fam lias de chefes mais velhos articulam os rearranjos dos grupos dom sticos Os grupos dom sticos t m uma m dia de 4 4 membros por fam lia e apenas cinco dos dezessete grupos dom sticos t m cinco pessoas ou mais Os homens acima de 60 anos moram com as esposas havendo apenas um sem esposa Estas esposas s o sistematicament
236. heres com a trai o Homens e mulheres traem por motivos variados mas as consequ ncias de uma trai o s o piores para as mulheres elas s o recriminadas e difamadas quando o assunto vem tona Para os homens h maior toler ncia em rela o a tais pr ticas Isso evidencia uma desigualdade de poder entre homens e mulheres na qual as mulheres levam desvantagem O ci me foi pouco enfatizado mas aparece como um dos motivos de trai o 279 Cuidados Sa de e Doen as Na vida cotidiana uma das preocupa es dos agricultores reassentados lidar com a sa de Os problemas de sa de enfrentados por eles geram demandas que precisam ser respondidas com a es pr prias com a ajuda de outras pessoas com conhecimentos especiais e com a procura de servi os de sa de oferecidos pelo governo e por entidade particulares Diferentes problemas de sa de ocorrem quando se fala do que acomete todo mundo quando se pensa o que resulta da pr pria atividade de trabalho em lotes irrigados quando se pensa na sa de reprodutiva e isto redunda em avalia es diferentes da efic cia das a es tomadas Aqui demonstra o que os reassentados jovens mulheres e homens fazem para cuidar da sa de e da doen a 1 Doen as e Demandas de Sa de 8 PARA ELES E PARA ELAS 48 Da sa de em geral As vezes dor de cabe a No caso eu procuro por causa da garganta eu sofro da garganta mas outras coisas n o Uma s
237. ia um aspecto da colabora o foi de contribuir para instrumentalizar a politiza o de gera o e g nero com aten o especial para a elabora o de a es e pol ticas de sa de compreendidas no contexto local Foram muitas as a es e ao terminar este trabalho o importante de marcar o potencial deste campo como rea de aten o que mostra sensibilidade ao drama dos efeitos da remo o e do prolongamento do estado inconcluso das fases mais importantes para assegurar as melhores condi es para os atingidos para combater o lado de descaso em que as pol ticas de desenvolvimento sempre embalam o seu planejamento Assim aqui se descreve a produ o de um documento em anexo resultante da colabora o FAGES P lo que pode ser 232 incorporado discuss o de g nero gera o e sa de levando em conta a express o de id ias dos pr prios jovens criados no contexto do reassentamento O documento se constitui de palavras de jovens que s o de fam lias reassentadas em agrovilas em Petrol ndia no Subm dio S o Francisco de Pernambuco As cinquenta e poucas p ginas foram produzidas na intera o j descrita entre fam lias de agricultores reassentados e pesquisadores em estreita colabora o com o P lo O esfor o espec fico das Palavras dos Agricultores Reassentados nasceu da vontade de melhorar a comunica o entre a popula o e o setor de sa de documentando como os pr prios reassentados procu
238. ialmente como resgate de uma d vida social institucional hist rica contra as indica es t cnicas e consequente exclus o de financiamento do Banco Mundial O projeto se destina a abrigar centenas de fam lias algumas das quais s o descendentes de outras fam lias que j experimentaram reassentamento com a constru o do complexo barrageiro de Paulo Afonso h mais de quatro d cadas As dificuldades de achar parcerias para implementar o projeto o localizava como o ltimo item no cronograma j muito atrasado de financiamento da Chesf Na cidade pernambucana de Itacaruba inundada e recons tru da em novo local a popula o residente n o conta como contava antes com reas de produ o agr cola pr ximas j que os habitantes das reas rurais ou foram reassentados em projetos especiais distantes em torno de cem quil metros Projeto Br gida ou Projeto Cara bas ou foram reassentados dentro da pr pria nova cidade de Itacaruba sem acesso a terras para plantar A 139 combina o de influ ncia de pol ticos locais e a promessa do fornecimento de uma solu o t cnica para o problema de terras impr prias para agricultura atrav s de projetos consorciados de aves su nos e peixes piscigranjas levou muitos ex agricultores a escolher a op o de morar na cidade O fracasso dos projetos consorciados e o decr scimo acentuado de atividades econ micas produtivas e comerciais ap s o reassentamento resultou numa sup
239. ibu ram muito para alargar essas fronteiras Ao fazer refer ncia mais frequente id ia de vulnerabilidade aqui est se reconhecendo uma adequa o terminol gica com a condi o dos reassentados objeto destas reflex es ao mesmo tempo em que se sinaliza a import ncia de empregar algum termo cuja aplicabilidade abranja o social e o cultural Quando se real am contextos espaciais e temporais relacionados com sa de logo aparece a viv ncia moderna de processos que acumulam experi ncias de viol ncia dos mais diversos tipos tornando a uma quest o inevit vel para a compreens o do cotidiano moderno Tecnicamente o crescimento da viol ncia na sociedade acompanhado por uma enorme rede ou melhor m ltiplas redes de capta o produ o e divulga o de informa es bem como de preven o prote o e de atendimento aos reais e potenciais v timas e agressores Esta percep o do crescimento da viol ncia fruto de aumentos concretos de atos bem como do desvendamento de ocorr ncias antes ignoradas de tal maneira que n o h como contestar a sua exist ncia Os ve culos de comunica o reportam a amplia o da viol ncia 185 tornando conhecidos por todos a viol ncia dom stica que vitimiza sobretudo mulheres e crian as mobiliza ONGs e delegacias e varas especiais para lidar com as suas particularidades Reporta tamb m os crimes contra os que apresentam op es sexuais alternativas os ndices de as
240. ica es nas fam lias inseridas no novo contexto criado pela a o governamental E neste 158 prolongamento da transi o e longa espera de anos e mais anos como que as fam lias se transformam Como que as atividades das mulheres se modificam Qualquer observador antecipa que uma fam lia cadastrada no meio dos anos 1980 ter uma composi o muito diferente no meio dos anos 1990 Todos s o dez anos mais velhos muitos tomam outros rumos na sua vida ou mesmo morrem e ainda grande parte das fam lias continuam esperando a implanta o das melhorias prometidas Precisa se entender como as fam lias lidam com o pr prio desenvolvimento do seu ciclo dom stico nesta d cada de experi ncia e como os agricultores homens e mulheres jovens e velhos conseguem criar espa os para a sua pr pria reprodu o social neste per odo Uma agrovila na borda do lago Em 1994 e 1995 a equipe de FAGES realizou pesquisa de campo sobre as transforma es nas fam lias reassentadas Neste per odo os jornais do Estado de Pernambuco continuavam a dedicar espa o espor dico quest o do reassentamento 2 Nas diversas viagens ao campo desde julho de 1994 privilegiou apenas quatro agrovilas num total geral de mais de cem As agrovilas pesquisadas se encontram em dois extremos do projeto duas a leste com lotes irrigados em funcionamento incipiente desde 1993 Projeto Borda do Lago Pernambuco e duas a oeste sem equipamento instalado e
241. idar de voc no futuro Criar filho homem e criar filha mulher tem diferen a Tem v rias coisas que voc n o vai ensinar pra menina com certeza Voc n o vai ensinar a menina de brincar de carrinho com certeza vai ensinar a ela respeitar as pessoas respeitar o pai a m e n o vai ensinar palavr o vai mandar fazer as coisas que realmente pra uma menina fazer E o menino vai ensinar as Olhe o meu marido ele d banho na menina ele troca ela ele brinca ele faz tudo A minha filha nunca foi de gostar da tia dela nem da av sempre ela s quer ou a m e ou o pai a ela fica mais o pai Quando o pai sai ela fica mais a m e Os filhos sempre ficam com as m es os pais n o t m muita responsabilidade assim com exce o de alguns Tem alguns aqui que cuidam melhor do que as m es Tem umas aqui que os filhos passam o dia na agrovila Vai comer l na minha casa que as m es n o fazem nada Os meninos parece que passaram o dia todinho se passando pelo ch o N o tomam banho a eu os mando tomar banho que eles t o tudo sujo Bom eu acho n Eu prefiro menino Eu prefiro menina A m e prefere menina porque tem mais o que ajeitar Os pais querem mais menino pra ficar se amostrando com o filho levando ele pra passeio e com a menina n o pode fazer isso Os homens n o querem menina porque tem medo que fa am com ela o que ele faz com as coisas que de homem fazer Qu
242. ido criados para a opera o das equipes especiais em fases anteriores do processo servindo desejada libera o ou emancipa o dos administradores do projeto Os servi os p blicos nesta rea expandiram mesmo diante de uma permanente busca de profissionais escassos e o cen rio pol tico local se via povoado por profissionais de sa de que se articulavam com os outros profissionais de servi os p blicos e privados comerciantes transportadores e produtores rurais na afirma o do poder local Encerra se esta discuss o sobre as vulnerabilidades criadas na longa fase de retra o do Estado e desenvolvimento das novas rela es de poder local apontando quatro reas de sa de que caracterizam as novas condi es para os reassentados A primeira a constante viv ncia com o perigo de intoxica o trazida pelo uso excessivo de agrot xicos na moderna forma de agricultura irrigada Estudos demonstram um crescimento das doen as decorrentes deste manejo e as associa es os sindicatos 209 o P lo e os respons veis pela vigil ncia sanit ria procuram achar formas de se precaverem contra este mal moderno pouco presente anteriormente A segunda outro problema intensificado com a implanta o das agrovilas O alcoolismo associado desocupa o tanto de adultos quanto especialmente dos jovens vem preocupando os moradores das agrovilas como foi revelado em grupos de discuss o com eles e em observa es di rias
243. ienta o para demandas de consumo extra locais mas que ve no controle da gua menos um potencial energ tico do que um recurso que permite uma produ o agr cola que insere a regi o numa competi o internacional para mercados Para isto organiza concentra e verticaliza as suas atividades econ micas e pol ticas ativamente dentro da regi o O seu interesse na organiza o do setor de produ o agr cola evidente enquanto a Chesf tem neste setor uma rea de impactos secund rios da sua a o principal 119 Al m destes dois grandes atores sociais h outros dois cuja atua o fundamental para compreender a estrutura de poder que se formou em torno da constru o da barragem de Itaparica o P lo Sindical e o Banco Mundial O P lo Sindical do Subm dio S o Francisco re ne os Sindicatos de Trabalhadores Rurais dos munic pios atingidos pela barragem Posicionando se tradicionalmente como advers rio dos grandes propriet rios e empregadores locais o P lo defende interesses tanto dos assalariados quanto dos pequenos produtores agr colas as duas categorias de trabalhadores mais representativas da regi o Sua atua o amplamente documentada ARAUJO 1990 VIANA MENEZES 1994 OXFAM SACTES 1992 HALL 1992 SILVA 1997 destacando se como um dos movimentos de defesa de atingidos que mais sucesso teve em exigir compromissos escritos de beneficiamento da popula o atingida com o acordo formal com a Chesf sobr
244. igado mais pr spero do ambiente anterior S que no caso desta agrovila a resist ncia entrada de fam lias mais jovens muito mais expl cita e sistem tica por causa da participa o do Estado neste processo Quem casou depois do reassentamento n o tem direito a uma casa muito menos a um lote irrigado ou VMT A constru o de casas nos quintais e ao lado das casas originais dos projetos feita com recursos pr prios e comunica a posi o subordinada destes moradores na comunidade De in cio a Chesf foi taxativa n o permitia a constru o de casas nos lotes mas ap s o in cio da produ o esta regra amea adora deixou de ser rigorosamente enfatizada De fato o chefe de fam lia mais jovem na agrovila tem 27 anos e somente 6 11 3 t m menos que 30 anos J na faixa de 30 27Os estudos do antrop logo Aur lio Viana da Universidade de Bras lia e depois da Funda o Ford demonstram bem este processo de sucess o entre gera es para as invas es de terras no sul do pa s Agrade o antrop loga Ellen Woortmann da mesma universidade por ter informado que o Professor Viana tamb m examinou a situa o de algumas fam lias em Itaparica 168 a 39 anos h uma concentra o significativa de chefes de fam lia 17 chefes ou 32 1 do total dos chefes de fam lia Boa parte destes s o os rec m casados da poca do cadastro e s o filhos dos chefes de fam lia mais velhos na agrovila O seu direito
245. in Domestic Groups London Cambridge Univ 1958 FUNDAJ CHESF Funda o Joaquim Nabuco Companhia Hidrel ctrica do S o Francisco Hidrel trica de Itaparica impactos e mudan a social no meio rural relat rio final da avalia o do reassentamento da popula o rural de Itaparica coordena o Maria 240 Lia Pandolfi Rosa Maria do Nascimento Amorim e Russell Parry Scott Recife FUNDAJ INPSO Dept de economia 1988 GALIZA Cleide MEDEIROS Rejane Projeto Apol nio Sales um estudo de caso Recife CHESF FUNDAJ 1994 Agricultores da esperan a os p ra rurais de Petrol dia e Rodelas Recife CHESF FUNDA J 1996 GARCIA JR Afr nio Terra de trabalho trabalho familiar e pequenos produtores Rio de Janeiro Paz e Terra 1983 GOFFMAN Erving Stigma Notes on the Management of Spoiled Identity Englewood Cliffs Prentice Hall 1963 Frame Analysis Essays on the Organization of Experience New York Harper 1979 GOLDSMITH Edward HILDYARD Nicholas The Social and Environmental Effects of Large Dams Volume 1 Overview Wadebridge Ecological Centre Wadebridge Cornwall 1984 GOOD Catharine Making the Struggle One Big One Nahuatl Resistance to the San Juan Dam Mexico Paper presented to the Program on Agrarian Studies Yale University New Haven 1992 GOODY Jack Production and Reproduction A Comparative Study of the Domestic Domain Cambridge Cambridge University 1976 GRAZIANO DA S
246. inda mais em alguns projetos especiais diferenciados para os mais pr speros E todos que n o tinham terra os meeiros e demais trabalhadores rurais sem terra teriam o ganho de terra determinado pelo c lculo dos seus recursos humanos familiares dispon veis Com estas medidas foi poss vel homogeneizar uma grande diversidade de condi es diferentes virtualmente impratic veis de tomar em conta para os efeitos de planejamento e administra o do projeto Foi produzida uma nova grade que classificava a exist ncia dos ex agricultores agora indiferenciados a partir de uma nova realidade hist rica da implanta o do projeto Todos s o atingidos todos ser o reassentados e outras diferen as parte as fam lias podem ser hierarquizadas de acordo com a combina o de riqueza medida pelos bens e capital ainda dispon veis a eles depois das indeniza es e a realoca o compuls ria e de tamanho da for a de trabalho de acordo com os seus pontos atingidos no c lculo O c lculo criou um denominador comum para negocia es Mesmo sendo compartilhado como mecanismo de medida entre administradores e representantes dos reassentados ele nunca se tornou um ponto pac fico de acordo m tuo entre a Chesf e o P lo porque a pr pria din mica familiar dos agricultores em rela o s estrat gias de utiliza o de recursos se mostrou altamente flex vel Sempre se discutia o que fazer em determinadas situa es famili
247. inham onde trabalhar com o adiamento do in cio da produ o nos lotes passaram nas agrovilas estudadas de seis anos at o quintal uma rea tradicionalmente feminina tornou se um espa o de experimenta o e uma rea substituta de produ o onde os homens tamb m plantavam enquanto esperavam o acesso a um lote Sem lotes irrigados pelo menos no quintal podiam dispor de parte da gua distribu da para consumo nas casas para plantio Mesmo que a mulher continuasse a realizar os seus pr prios plantios costumeiros em parte do quintal verifica se uma situa o em que refor ou se uma condi o de ajudante do marido Al m da pr pria rea de trabalho feminino ter ficado mais restrita o dinheiro do sustento principal a VMT sai no nome do marido A pergunta que fica o projeto favoreceu a a o masculina no trabalho Nesse novo espa o quais as atua es femininas de cria o de espa os adicionais de atividades As atividades femininas continuam diversificadas Al m do trabalho em casa e ap s a irriga o na ro a e um pouco do criat rio que resta incluem se algumas atividades n o remuneradas como catequista rezadeiras e cantoras de coral outras visando a um lucro futuro com costureiras e tecel s outras aut nomas como vendedoras ambulantes comerciantes e outras como assalariadas enquanto professoras merendeiras e faxineiras etc Todas estas atividades t m que ser articuladas num ambiente cuja pr pria a
248. ipamento de irriga o Este tempo todo pagava uma verba de manuten o tempor ria VMT para compensar a perda da base de sustento at o rein cio de colheita de produ o nos novos lotes Uma revis o das op es escolhidas pela popula o e da reconfigura o espacial e sociopol tica p s barragem evidencia a dire o que tomavam algumas das mudan as ocasionadas Em outubro de 1988 as 6 187 fam lias rurais reassentadas se encontravam dispersas pela regi o e at fora dela Uma grande parte foram para os munic pios a montante de Santa Maria da Boa Vista Projeto Cara bas e Oroc Projeto Br gida em Pernambuco e em Cura Projeto Pedra Branca na Bahia outras fam lias foram destinadas a terras rio abaixo no munic pio de Gl ria 30 Projeto Jusante e muitos outros em projetos na borda de lago reivindica o especial da popula o ainda outras espalhadas numa variedade de pequenos projetos organizados de formas diferentes e outras em cidades e em outros destinos desconhecidos dentro e fora dos estados atingidos As propor es de ades o a estas op es podem ser vistas na tabela 2 Tabela 2 Op es de Reassentamento em Itaparica outubro 1988 OP ES Projetos Especiais 36 9 Projetos na Borda do Lago 22 9 Projetos Pequenos 3 1 Sedes dos munic pios 8 1 Outros locais no estado 9 5 Outros locais fora do estado 4 2 Piscigranjas Destinos Desconhecidos 11 8 Outras op es 3 2 Fonte INPSO
249. itar estes agricultores familiares a condi es impostas por eles Mas agora a vigil ncia sobre a observ ncia das normas t cnicas do projeto faz com que as regras de sociabilidade comunit ria se modifiquem h uma formaliza o expl cita de regras sobre a distribui o da terra e quem estava em desvantagem assim fica As solu es criativas t m menos espa o 84 para se realizarem Basta reconhecer que para que um filho de reassentado que acaba de casar possa ter direito a uma casa na agrovila ele tem que cumprir com dois dispositivos estabelecidos pela burocracia do planejamento que dificulmente seriam impostos isoladamente pelas fam lias n o pode construir a casa no quintal dos seus pais enfeia o tra ado arquitet nico e incomoda sobremaneira os administradores e para construir uma casa nas pontas da agrovila tem que passar pela aprova o formal de todos os moradores uma concess o burocr tica id ia de solidariedade comunit ria que contibui para formalizar arestas entre residentes e evitar o superpovoamento do espa o com demandantes de novos servi os e concess es Terceira Indaga o Como muda a for a de trabalho familiar em oito a nove anos e quais as implica es para as estrat gias de reprodu o social das fam lias reassentadas As fam lias foram cadastradas em 1985 Observadas e contadas em alguns locais em 1994 a maioria ainda n o p de plantar nos seus lotes porque o projeto ainda n
250. ite dos membros de FAGES Estas falas foram recortadas e organizadas de modo a mostrar as opini es diversas dos grupos Cada conjunto de falas precedido por uma breve introdu o e fechado por palavras dos pesquisadores onde os pesquisadores de FAGES recorrendo ao que conhecido na rea e sem fugir da refer ncia concreta ao local real am quest es importantes nas palavras dos reassentados Pelo recorte de g nero identificam as formas diferentes de mulheres e rapazes enquadrarem algumas id ias Pelo recorte de gera o esta diferen a pode ser vista ao comparar estas palavras de jovens com as de adultos feitas em outro livro no mesmo formato Estas palavras podem subsidiar a defini o de estrat gias de a o Em 2005 as fam lias reassentadas mant m o esfor o de alcan ar um melhoramento na vida As que moravam na beira do Rio S o Francisco nos anos oitenta e tiveram que se deslocar para morar em agrovilas constru das pelo governo ganhas atrav s de negocia es e reivindica es do P lo Sindical do Subm dio S o Francisco continuam a busca de condi es dignas para trabalhar para conviver com ambientes hostis e com ambientes favor veis viver no dia a dia interagindo namorando formando fam lias e dentro das possibilidades sempre procurando assegurar as melhores condi es de sa de para todos 40 Para tanto al m do apoio permanente do pr prio P lo Sindical do Subm dio S o Francisco FAGES contou com o
251. ivo no uso de terra irrigada 27 7 Meeiros compondo 42 3 da popula o de Itaparica estes parceiros se caracterizavam como uma popula o camponesa que dependia de contratos anuais para manter acesso terra atrav s de fazendeiros e outros donos de terra e patr es que controlavam a irriga o A cada ano podiam ser dispensados Havia meeiro que se perpetuava por muitos anos num local mas a sua precariedade e vulnerabilidade era muito maior quando comparadas dos pequenos agricultores que tinham acesso terra sem precisar barganhar tanto Com o aumento da popula o sem terra as propor es da produ o entregues aos patr es historicamente apresentavam uma tend ncia para aumento tendo passado de um ter o para a metade da produ o na hist ria de vida de muitos que viviam esta situa o h algum tempo Tamb m muitos meeiros cujos patr es eram mais pr speros notavelmente os fazendeiros de Pernambuco endividavam se ainda mais por causa dos pre os cobrados por bens de subsist ncia e de consumo em geral fornecidos a eles fora dos tempos de safra 8 Diaristas apenas figuravam como 6 1 da popula o da rea de Itaparica com a maior concentra o destes trabalhadores sem terra residindo em Barreiras pr xima ao projeto de irriga o dos granjeiros e em outras periferias e aglomerados urbanas Entre os diaristas tamb m figuravam um bom n mero de familiares de outros agricultores empregando estrat gias de dive
252. izados entre si e lucrando em conjunto Da sua perspectiva o abandono dos lotes irrigados pelos reassentados em Itaparica n o seria resultado de um ben fico processo de sele o natural e sim uma evas o prejudicial aos pr prios agricultores Nisto novamente os seus interesses se assemelham aos que s o declarados pelo Banco Mundial pelo menos na sua face mais diretamente ligada ao projeto no qual altos ndices de evas o costumam implicar numa avalia o de insucesso Retrospectivamente j se vislumbrava desde o final dos anos 1990 com mais de dez anos desde o enchimento do reservat rio que havia possibilidade de identificar tr s fases no processo de sub regionaliza o diferenciadora de Itaparica 1 A Primeira Fase de Desagregacio Regional ocorre com o traslado da popula o no qual se configura uma dispers o geogr fica grande da popula o atingida atrav s da execu o t cnica dos planos elaborados pela Chesf 2 A Segunda Fase de Morosidade por motivos superiores ocorre nos primeiros cinco anos do reassentamento de fato ultrapassando 1992 em que se configura uma realidade de descumprimento sistem tico de cronogramas de execu o de obras de prepara o para produ o sem que haja uma clara justificativa por ele e 3 A Terceira Fase de Negocia o para Afastamento ocorre nos seguintes anos com a continua o da morosidade mas 125 na qual tamb m se configura uma disputa mais evidente par
253. ja local articula a sua rela o com a Igreja extra local de uma maneira em que confere aos seus fi is um acesso a elementos que possam ser acionados para estruturar as rela es de poder entre os componentes do grupo social localmente contextualizado De acordo com esta leitura da sexualidade e da religiosidade espec ficas e contextualizadas a prioridade interpretativa recai sobre a compreens o dos fatores hist ricos associados a eventos que diferenciam um grupo social de outro Estes promovem a constru o de ambientes que s o forjados por uma s rie de eventos os quais participam no jogo da forma o de identidades sociais dos atores neles envolvidos Pensando especificamente o contexto de agricultores atingidos por uma barragem rural preciso identificar eventos hist ricos alguns antigos e a maior parte recentes que estruturam os campos de rela es de poder que informam os dom nios de a o em torno da constru o de redes de reciprocidade para os diferentes grupos sociais enfocados tanto em termos das articula es com estruturas de poder supra locais quanto com a forma o de pr ticas de sociabilidade cotidianas locais Nesta constru o importante compreender como a organiza o representativa busca coes o e legitimidade para colaborar e para agir em nome dos grupos 215 ressaltando certos aspectos hist ricos e pol ticos como merecedores de realce na cria o identit ria da coletividade Identifica
254. l SACTES entidade do governo alem o que tem por finalidade ajudar os pa ses em desenvolvimento atrav s de projetos para viabiliza o de renda e autogest o Os grupos enfrentaram problemas s rios pelas dificuldades para achar tempo dispon vel por rela es 179 conflituosas entre algumas das participantes e pela indefini o de muitos aspectos da sua administra o Identificamos muitas reas de atua o feminina mostrando que as limita es impostas pela pr pria estrutura do projeto de reassentamento est o longe de serem insuper veis As mulheres se queixam da incurs o masculina em reas de atividades costumeiramente femininas como nos quintais e no pequeno criat rio por m ainda mais pela perda da diversidade que estava estabelecida antes da remo o e pela concentra o acentuada da renda monet ria nas m os dos homens sem que houvesse uma atividade para mant los ativos ao mesmo tempo O advento da produ o agr cola desde 1993 ocupou os homens Isto junto com os ganhos das experi ncias vividas pelas mulheres no processo pol tico de defesa dos seus direitos acenou mesmo limitadamente para um leque crescentemente mais aberto de alternativas para elas Uma nota final Pelo que foi exposto sobre as quest es de gera o e de g nero neste cap tulo pode se dizer que primeira vista O projeto de reassentamento em Itaparica observado atrav s das agrovilas estudadas seria caracterizado co
255. l que tais tipos de a o pudessem ser realizadas antes do desencadeamento do processo de redemocratiza o Terceiro e intimamente relacionado ao segundo que a organiza o e o pr prio n vel de informa o da popula o foi muito superior anterior e consequentemente prevenia se contra os preju zos observados e descritos por reassentados anteriores e por outros assessores diversos interessados na defesa da popula o O P lo Sindical coordenava eficientemente boa parte destas a es Os projetos desafiam qualquer categoriza o dentro das quatro fases de reassentamento propostas por Scudder e Colson 1982 ver tamb m SCOTT 1993 O que iria ser um benef cio quase imediatamente evidente ao se realizar as primeiras colheitas na pr xima esta o agr cola numa rea onde se poderia esperar mais que uma safra por ano tornou se uma extens o do per odo mais crucial e excruciante do processo de viol ncia administrada Em vez de colher os frutos das condi es iniciais favor veis com a demonstra o de resultados obtidos o conjunto se apresenta numa cada vez mais permanente indefini o onde para quase todos o novo ambiente sempre est em reconstru o e merc de caprichos da cronologia particular seguido pelos administradores dos projetos As contrapartidas nacionais de recursos n o foram liberadas Muitos anos tornaram o per odo p s reassentamento um per odo de espera e de atividades diferentes daquelas
256. la h uma rea para criat rio e para uso comum e h lotes agr colas irrigados individualizados que variam de 1 5 a 6 0 hectares distribu dos de acordo com a for a de trabalho familiar calculada no cadastro de 1985 As fam lias foram reassentadas no fim de 1987 e s seis anos mais tarde em 1993 come aram a plantar nos lotes irrigados At aquela data os lotes n o tinham sido preparados para serem entregues popula o e a terra sem irriga o n o permitia plantio com retorno significativo ao agricultor neste per odo A verba de manuten o tempor ria VMT ficou como a fonte principal de sustento de muitos Na hora da pesquisa quantitativa ainda existiam mais de 20 dos lotes que n o foram entregues ou porque n o estavam com equipamento de irriga o instalado ou no caso de 11 lotes bem pr ximos beira do reservat rio porque foram ocupados por pessoas estranhas ao reassentamento Estes invasores como s o chamados pelos reassentados e pela Chesf n o permitem que os agricultores trabalhem nem que pisem nos seus pr prios lotes Usando as suas pr prias bombas para puxar gua eles plantam e comercializam diversos produtos especialmente bananas desgastando o solo enquanto os reassentados aguardam as decis es morosas das a es de despejo na justi a Catorze anos depois em 2009 muitos destes casos continuaram sem resolu o Resumindo durante os dez anos que transcorreram desde o cadastro as fam lias r
257. la atividade dos agricultores S que esta situa o ilus ria durante o per odo de espera Inclusive na aus ncia de gua quase n o h como produzir para si mesmo A rea das agrovilas quase toda pouco apropriada para plantio de sequeiro Mesmo que fosse a seca n o teria permitido plantar nada Ent o com um ato administrativo de realoca o o cotidiano dos agricultores foi violentamente modificado De agricultores ativos vivendo de agua o de irriga o bombeada e de criat rio abundante passaram a ser reassentados ociosos Inclusive diante 107 do controle administrativo centralizado da Chesf e do fato de por muitos anos estarem recebendo dois sal rios e meio de refer ncia em VMT muitos se sentiram obrigados a n o trabalhar para outros O medo era perder a nica fonte de renda segura que restava caso a nova patroa a CHESF descobrisse que estava trabalhando para outros A situa o criou condi es falsas que refor aram a imagem de improdutividade que j vinha sendo veiculada a respeito da popula o A d vida que se apresenta e que n o tem resposta imediata Para quem se vai produzir agora A organiza o da produ o est por se definir embora haja tentativas de formar cooperativas e associa es as redes comerciais de escoamento da produ o continuam muito prec rias sem ter compara o com as de Petrolina e Juazeiro e a competi o para estar inclu da nesta organiza o come a a
258. ldo Monteiro de Barros Ghislaine Duque Maria Lia Correia de Ara jo Rosa Amorim Maria Auxiliadora Ferraz de S Magda Caldas Neto Ana Flisa Vasconcelos LIMA Jorge At lio Iulianelli Jo o Suassuna Avanildo Duque Silva Nara Salles Jos Carvalho Junior aos quais se somam o nosso pr prio esfor o junto a muitos outros que 11 passaram pelo N cleo de Pesquisa FAGES atuando na sua linha de equidade social no desenvolvimento Um dos pontos culminantes recentes da articula o deste conjunto de atores dispersos articulados aliados e antog nicos deu se em Salvador na Bahia em novembro de 2007 quando se reuniram centenas de interessados que representavam a enorme diversidade de agentes para apresentar e discutir as suas a es e pesquisas no Primero Encuentro Latinoamericano de Ciencias Sociales y Represas e o Segundo Encontro Brasileiro de Ci ncias Sociais e Barragens um campo din mico e multifacetado movido pela urg ncia da compreens o dos efeitos da constru o de barragens e a defini o de caminhos e tomadas de decis es pol ticas e t cnicas que afetam a vida de muita gente A legisla o avan a a resist ncia se organiza os t cnicos se capacitam as organiza es governamentais e n o governamentais se articulam e as alian as se tornam cada vez mais complexas A jun o de escutar e ler sobre tantas experi ncias em outros locais e de viver por mais de duas d cadas em constante e variado contato com
259. lend rio organizado pelos dias do pagamento da compensa o VMT e as pr prias dificuldades de conviv ncia em resid ncias urbanizadas em vez de que espalhadas por s tios todos estes 35 Esta associa o inextric vel de religiosidade e pol tica foi muito bem caracterizada por Francisco Juli o 1962 em suas reflex es sobre como agir politicamente com as popula es rurais nordestinas 219 fatores dificultam enxergar perspectivas de melhora As novas op es religiosas apareceram para os que foram residir nas cidades ou por optarem por indeniza es irris rias ou por causa das oportunidades limitadas nos seus lotes E tamb m nas reas rurais algumas das denomina es com evangelizadores itinerantes como as Testemunhas de Jeov e a Assembl ia de Deus t m intensificado esfor os anteriores dedicando se evangeliza o intensa localizada e ao mesmo tempo difusa nos primeiros anos do novo s culo ampliando o n mero de adeptos Ao mesmo tempo os mais devotos dos cat licos ainda insistem na hegemonia cat lica proclamando repetidamente que o esqueleto n o submerso da igreja da localidade pr reservat rio de Barreiras o qual resistiu e continua resistindo ao trabalho destrutivo das guas prova de que o Papa n o permitiu a sua destrui o e est olhando para os reassentados Os embates entre os cat licos e os ainda fortemente minorit rios evang licos geram uma viva discuss o nas agrovilas sobre a
260. lguns para t cnico agr cola e 8 participar em atividades il citas roubo contrabando tr fico de maconha etc A realiza o destas atividades todas n o prepara os filhos para o trabalho na agricultura e algumas levam a confrontos diretos entre gera es sobre no es de moralidade Os t cnicos r pidos a reconhecer e criticar quando uma atividade n o se relaciona com a agricultura est o constantemente chamando aten o ao despreparo das gera es mais novas para o trabalho na agricultura A reprodu o social do agricultor familiar est t o amea ada pelas suas atividades na procura de fontes de renda para familiares quanto pelo cio imposto pelas condi es de acesso terra por um projeto que n o cumpriu com o que prometeu Visto pela perspectiva dos t cnicos o despreparo dos agricultores para o trabalho irrigado n o somente fruto das modifica es ocorridas s fam lias ao longo do per odo de adiamentos sucessivos na implanta o do projeto Tamb m reporta a diferentes concep es de modelos de desenvolvimento e prosperidade rural O modelo dos t cnicos visa mais empresa familiar organizada em moldes de produ o econ mica racional de acordo com as regras do mercado O modelo dos reassentados visa agricultura familiar organizada em moldes de produ o camponesa dirigida satisfa o das demandas do grupo dom stico acoplada a com rcio nesta regi o altamente inserida em redes comerci
261. lhos aos novos coron is um estudo das redefini es do coronelismo Recife PIMES UFPE 1974 SALLES Nara Borda de Lago um caso de conflito agr rio ambiental Disserta o de Mestrado Mestrado em Antropologia UFPE Recife 1999 SCOTT James Weapons of the Weak Everyday Forms of Peasant Resistance New Haven Yale University 1985 Domination and the Arts of Resistance Hidden Transcripts New Haven Yale University 1992 245 SCOTT Parry Between Captivity and The Middle of The World Household Organization and Migration Among Rural Workers in Pernambuco Brazil Austin University of Texas PhD dissertaton 1981 Entre o cativeiro e o meio do mundo Anais do X Congresso de Economia Dom stica Piracicaba ABED 1991 Dams Forced Resettlement and the Transformation of Peasant Economy in the San Francisco River Valley Brazil Los Angeles Paper presented at the XVIIth International Congress of LASA 1992 Fases de Reassentamento revendo uma fal cia administrativa e um desafio reivindicat rio Anais do III Reuni o Regional de Antrop logos do Norte e do Nordeste Bel m UFPA v 2 p 721 733 1993 Os Beneficiados de um Programa em Itaparica Pol tica Hoje Revista Semestral do Mestrado em Ci ncia Pol tica da UFPE Recife p 127 150 1994a Etnia e na o em dois movimentos de resist ncia a barragens M xico e Brasil In ZARUR George de Cerqueira Leite Org Etnia y naci n em Am rica
262. m alguns casos negativas De 70 a 90 da popula o dependia diretamente de atividades agr colas ou pastorais menos em Petrol ndia onde predominavam as atividades urbanast Tratava se de uma popula o muito ativa com uma taxa de desemprego reportada como de apenas 3 A economia da rea atingida pela barragem se baseava numa mistura de agricultura e pecu ria gado bovino e caprino sobretudo havendo tamb m um uso muito significativo de irriga o nas terras pr ximas ao rio Gado bovino o produto individual mais valioso pastava principalmente em reas de sequeiro bastante distantes da beira do rio Mesmo sendo um produto forte o gado bovino apresentava evid ncias de decl nio mesmo nos anos antes da implanta o da barragem devido parcialmente aos efeitos de perdas provenientes de uma seca entre 1979 e 1983 Sobre o gado caprino muito mais associado aos agricultores de menor porte os dados s o mais prec rios mas h evid ncia segura de que desde os anos setenta o seu aumento superava o aumento do gado bovino em todos os munic pios exceto Petrol ndia O povoamento rural mais denso de todos os munic pios inquestionavelmente se localizava na beira do rio A agricultura mista que contribuia com 73 9 do valor total da 4 Ver Galindo e Guimar es Cap tulo 1 Caracteriza o geo econ mica da rea do projeto e Galindo Bacelar Lima e Caldas Neto Cap tulo 7 A dimens o econ mica transforma es dos
263. m esta rea para encontrar onde trabalhar criando ainda mais press o para a ocupa o de resid ncias nela Desta forma o contexto para rearranjos familiares pode ser entendido como composto de fatores de fixa o e fatores de mobiliza o dos membros das fam lias reassentadas O governo inicialmente partia de um princ pio que tratava as fam lias como diferentes e como imut veis retratadas na hora do cadastro e proibidas de mostrar sinais de vida e de dinamicidade que poderiam complicar os planos tra ados para eles Com a passagem de dez anos desde o cadastro cientes de que uma taxa de evas o alta seria uma marca negativa adicional para este programa fortemente financiado pelo Banco Mundial criaram se muitos mecanismos para fixar as fam lias nas agrovilas Ao mesmo tempo 23 Refere se ao plantio organizado de acordo com a expectativa de chuva sem contar com irriga o 161 cientes de que corriam o perigo de aumentar as despesas e comprometer o programa com a abertura para popula es adicionais sem direitos a benef cios os administradores trabalharam para restringir qualquer possibilidade de crescimento Naturalmente em consequ ncia os sinais dados foram amb guos mas se traduziam numa pol tica de n o saem as fam lias mais velhas e n o entram as mais novas Mesmo assim as fam lias continuavam no seu inevit vel processo de desenvolvimento do ciclo dom stico A compara o das fam lias mais velhas
264. m retorno financeiro tornam sua produ o muito insegura e inacess vel para estes agricultores De fato quando necess rio estes chefes de fam lia demonstram saber articular as suas redes de parentesco de uma forma que permite que a administra o das novas t cnicas seja feita pelos membros da fam lia com mais capacidade de compreend las sem comprometer as redes de parentesco Estes 167 chefes de fam lia sabiam administrar pr ticas econ micas agr colas e n o agr colas bastante diversas nas suas comunidades de origem e n o h porque pensar que n o sabem faz lo tamb m numa agrovila em produ o Aqui n o poss vel realizar uma compara o dos conhecimentos adquiridos sobre os ambientes locais em treinamento formal pelos t cnicos e em uso e observa o cotidiana pelos reassentados mas seguro afirmar que ambos t m o que aprender uns dos outros As fam lias mais jovens A pol tica de n o entram as fam lias mais novas encontra resist ncia entre estes agricultores como evidente no que j foi exposto sobre as fam lias mais velhas Uma boa an lise de demografia hist rica e de hist ria oral pode descobrir uma progressiva indisponibilidade de terra e de atividades econ micas que teria levado muitas fam lias novas nas comunidades pr reassentamento a procurar estabelecer resid ncias em outras comunidades ou nas periferias urbanas de Petrol ndia especial mente Barreiras perto do projeto irr
265. m torno de objetivos hiearquizados bastante claros Tudo cuidadosamente planejado e permanentemente negociado ao longo de todas as opera es desde as primeiras inspira es de id ias at a concretiza o e implementa o do planejado Mas s o negocia es em muitos cen rios e previamente marcadas como desiguais Mais cedo ou mais tarde os Pplanejadores e administradores implementar o os seus projetos mobilizando contingentes de aliados que se aglutinam em torno das muitas oportunidades que tais projetos oferecem E via de regra mais cedo ou mais tarde as popula es que se encontram no caminho dos projetos ter o que ceder a eles por mais que consigam impor certas condi es para como dizem os plenejadores mitigarem os impactos uma cess o resistida batalhada e negociada pois a popula o n o se ilude pelos discursos persuasivos dos idealizadores de planejamento e da administra o dos projetos sobre a possibilidade dela ser benefici ria e n o v tima Formam se alian as de defensores de popula es atingidas que usam a experi ncia acumulada local nacional e internacionalmente para elaborar estrat gias que convenham muito mais para minimizar os danos que para galgar benf cios A arma maior uma multiplicidade de meios de obstruir adiar ou pelo menos reconfigurar projetos que n o s o elaborados de acordo com a id ia de P r as pessoas primeiro 1 e que desnudam o que descreve Nicholas Hil
266. maior que a feminina O homem est mais dispon vel ao sexo que a mulher considera a virilidade fundamental para a sua identidade e possui crit rios para escolher as mulheres com as quais quer transar A mulher entretanto acha que muito f cil satisfazer os desejos masculinos pois n o h tantos crit rios ou exig ncias quanto os femininos Os homens mostram ainda dificuldade em assumir a 278 postura de procura ativa de uma parceira quando come a a adolesc ncia muitos preferem iniciar a sua vida sexual com animais e ou praticar a masturba o A valoriza o da virilidade e satisfa o sexual da parceira s o preocupa es constantes e fazem aflorar os temas da ejacula o precoce e do tamanho do p nis No ato sexual existem posi es sexuais que os homens podem fazer e a mulher n o existem pr ticas nas quais os rapazes n o se preocupam com o prazer das parceiras A virgindade feminina importante para todos os jovens h press o social principalmente dos pais da jovem para que ela se case virgem Os rapazes temem tirar a virgindade de uma namorada e sentem dificuldades na primeira rela o sexual A valoriza o da virgindade faz com que eles tenham rela es sexuais com outras mulheres quando possuem compromisso de namoro com uma virgem A trai o acontece tanto do lado feminino quanto do masculino mas os homens n o se mobilizaram para falar sobre o assunto Parece haver uma preocupa o maior das mul
267. maioria Desta maneira a rea se torna alvo para religi es que oferecem respostas espirituais fragmentadas que re dirigem as suas expectativas para esferas onde outras manifesta es roupas tica de trabalho absten o de lcool intensas redes de rela es fechadas entre si promovam mudan as comportamentais individuais que aumentem sentimentos individuais de seguran a Ou seja o Catolicismo Progressista n o t o progressista o catolicismo tradicional exige alian as confusas entre segmentos antag nicos da popula o local e o Catolicismo Popular mant m vivo uma aura do poder dos santos prociss es promessas e rezas que caracterizam o Sert o Neste ambiente de religiosidade carregada os outros agentes sociais sejam eles planejadores e administradores governamentais comerciantes t cnicos rurais agr nomos economistas membros de ONGs com algumas exce es not veis normalmente n o manifestam prefer ncias religiosas abertas ou esposam abertamente o ecumenismo As duas d cadas que j passaram desde que foram encaminhados s suas novas moradias com promessas de mudan a para melhor efetivamente t m corro do as expectativas das v timas mais esperan osas Demoras na implanta o da irriga o rendimentos agr colas baixos e decrescentes dificuldades em implantar associa es e cooperativas pouco progresso em negocia es intermin veis com o governo aumento de depend ncia em comerciantes locais num ca
268. material mais frequentemente capaz de produzir seguran a que inseguran a A natureza contrastiva de toda identidade o fator que embute a inseguran a nesta realidade O n o pertencer a um grupo de outros num contexto local sinaliza uma fragilidade inerente pr pria diferencia o e desigualdade social Os outros podem oscilar entre ser aliados ou ser advers rios mas em todo caso s o outros Ou em quase todo caso pois em certas ocasi es um momento espec fico pode permitir uma troca de pertencimento ora moment nea ora mais duradoura a depender das circunst ncias Assim os outros n o somente contribuem para uma delimita o de fronteiras para as coletividades que operam localmente mas tamb m podem oferecer condi es para que os n s possam tornar se os outros A desigualdade nas rela es de poder locais um dos fatores principais que configura a articula o e a permeabilidade relativa entre o conjunto de grupos operativos Cada momento oferece uma prova para a constitui o dos grupos Neste cen rio as vulnerabilidades de grupos se associam a diferen as que refletem uma conviv ncia hist rica e localizada em constante rearranjo sujeita aos impedimentos erigidos pelos atores nas suas ades es a grupos diferentes A inseguran a coletiva local assim se comp e de identidades coletivas locais forjadas em trocas de palavras de objetos e at de pessoas que constantemente est o se constitui
269. mentados com outras informa es eventuais de reportagens jornal sticas e de outras fontes muitas j citadas Presentes na mesa estavam o diretor da Ger ncia do Empreendimento de Itaparica GEI CHESF um t cnico da Diretoria do Meio Ambiente DMA CHESF o representante da Secretaria de Projetos Especiais do Governo de Pernambuco um diriginte do P lo Sindical o prefeito do munic pio de Santa Maria da Boa Vista o secret rio de agricultura do munic pio de Petrol ndia que tamb m reassentado dois cientistas sociais da UFPE FUNDA e diversos outros pesquisadores e interessados que intervieram A suspens o do patroc nio da pesquisa pela CHESF sintom tica dos problemas administrativos enfrentados entre 1988 e 1994 falta de recursos nem pr prios nem provenientes do Banco Mundial fatias muito reduzidas para manter apenas partes essenciais do programa preocupa o com imagem n o gerar comprova o sistem tica dos problemas enfrentados nas agrovilas desviar aten o para as obras de engenharia e a gera o de energia os verdadeiros objetivos da Empresa e re estrutura o interna redimensionando o projeto dentro da pr pria empresa com a cria o do GEI e do DMA e externa forma o dos conv nios com a Codevasf e do grupo t cnico dos cons rcios O reassentado tangido violentamente pelas guas criadas para ocupar a sua antiga moradia agora residindo numa agrovila numa rea antes quase se n o int
270. milhares de atingidos as recentes hist rias locais de constru o de barragens Sobradinho e Caracol e de reassentamentos nos mesmos rios forneciam exemplos marcantes dos efeitos nocivos das barragens sobre quem morava na beira rio em ambos Itaparica e San Juan Tetelcingo foi cultivado o apoio de grupos simpatizantes independentes Mesmo assim especialmente em rela o a este ltimo aspecto importante observar que na forma o do apoio cada movimento resguardava sua caracteriza o particular clara Em Itaparica o movimento se tornou um movimento de trabalhadores sediado nos sindicatos de trabalhadores rurais Contava com o apoio da ala progressista da igreja cat lica algunma organiza es n o governmanetais e de alguns indiv duos ligados a entidades internacionais de apoio a pequenos produtores e da rede pol tica e sindical de partidos ligados ao movimento dos trabalhadores o Partido dos Trabalhadores PT e a Central nica dos Trabalhadores CUT Contaram ainda com a cuidadosa documenta o feita pela TV Viva e com estudos t cnico acad micos que consideravam justas as suas reivindica es Dentro da pr pria Chesf respons vel pela obra houve quem simpatizasse com o movimento Curiosamente a identidade cultural ind gena amea ada dos Tux e dos Pankararu apesar de provocar alguns artigos nos jornais sobre as perdas que enfrentavam n o se constituiu como um elemento forte no movimento Certos assessores lig
271. ministra o dos munic pios e planejavam e organizavam a es para o campo 11 Sindicalistas Rurais Os sindicatos rurais na rea foram enormemente fortalecidos pela mobiliza ao do P lo Sindical para assegurar reassentamento para a popula o de Itaparica Em cada munic pio os Sindicatos de Trabalhadores Rurais STR formavam hierarquias complexas que articulavam as suas bases de pequenos propriet rios posseiros meeiros e diaristas Extra localmente o P lo Sindical se articulava entre Sindicatos e Movimentos nacionais CONTAG Confedera o de Trabalhadores em Agricultura CUT Central nico de Trabalhadores FETAPE Federa o de Trabalhadores em Agricultura de Pernambuco FETABA Federa o de Trabahadores em Agricultura da Bahia MAB Movimento de Atingidos por Barragens e com o apoio de segmentos democratizantes da igreja cat lica outros grupos religiosos em menor grau organiza es n o governamentais e partidos pol ticos que travavam uma oposi o s elites locais tradicionais 12 T cnicos Havia uma participa o de t cnicos particulares e governamentais durante as tentativas anteriores de estabelecer projetos de irriga o por exemplo em Barreiras e Ic mas a sua import ncia era muito localizada e pulverizada entre propriedades e organiza es Com a constru o da barragem o influxo de t cnicos com atua o direta sobre a rea rural inseriu uma quantidade enorme de novos atores institucionais e
272. misso da empresa com os pequenos agricultores Os grandes agricultores e mesmo os m dios ou mesmo os agricutores empres rios que tinham pequenas rea irrigadas como foi no caso Apol nio Sales ficaram totalmente diferenciados tanto que eles n o tiveram verba de manuten o tempor ria porque eram 103 agricultores capitalizados Eram agricultores que tinham uma capacidade de ger ncia diferentes do conjunto da popula o que era o pequeno agricultor Eu diria que dez por cento tinha terra terra legalizada 10 era posseiro e o restante era sem terra A maioria n o tinha tradicionalmente tido acesso terra Tinha acesso gua pela via da parceria Eles tinham rela es sociais de produ o muito diferenciadas e eram explorados pelo processo produtivo que se estabelece no Nordeste do Brasil a n vel da agricultura Produziam tinham o pleno emprego mas viviam num certo estado de pen ria social muito grande Os pequenos parecem s ter come ado a existir a partir da hora de estabelecer o seu relacionamento com a Chesf Dentro do discurso do projeto como reforma agr ria a tend ncia de rejeitar qualquer aspecto positivo do seu passado como produtores agr colas serve como artif cio para real ar os ganhos que poderiam vir com o reassentamento Isto fica claro na explica o dada pelo administrador da Chesf sobre a regulariza o fundi ria na regi o A rea que est sendo inundada pela gua n o tem do
273. mo uma a o do Estado que favorecia as gera es representadas pelas fam lias mais velhas e os homens As regras formais evidenciam isto claramente como vimos na discuss o sobre o cadastro No decorrer dos anos os camponeses reassentados demonstraram que a estreita interliga o entre as gera es mais velhas e mais novas e entre os homens e mulheres faz com que a procura de espa os para a a o de subordinados jovens e mulheres fortale a os la os de coopera o e solidariedade entre grupos de parentes e de vizinhos mais amplos Isto n o implica uma vis o simplificadora de uma solidariedade comunit ria idealizada que supere as hierarquiza es e diferencia es internas pois as agrovilas est o repletas de intrigas divisivas A simplifica o que se evita aquela que trata as divis es de g nero e de gera o como jogos de soma zero em que os ganhos de um s o as perdas de outro Na luta para a supera o das dificuldades impostas pelo favorecimento 180 dos mais velhos e dos homens formam se fam lias e pessoas que resistem e ganham lugares respeitados na comunidade Mas n o s na articula o entre g nero e gera o que o sucesso destes agricultores ser medido O reassentamento veio como uma mudan a social dirigida em que h um futuro projetado para os reassentados um futuro que depende da constante negocia o em busca da reafirma o de compromissos financeiros e administrativos do Estad
274. na agrovila n o mora na rua que o marido dela muito bom pra ela D as coisa a ela pra menina dela Agora fica traindo ele com outro agora eu tenho raiva dela d vontade de dizer ao marido dela Eu acho que isso a coisa de mulher safada Eu tenho um problema danado vou pra festa chego l s tenho raiva Nem dan a A come a a beber tamb m a fica sem gra a N o pode dan ar com ningu m porque ele ciumento at de mais Uma vez eu tava na festa queria dan ar com o primo dele a ele ficou com ci mes de mim Da minha parte vai depender da vontade do ritmo da mulher que tem delas que vai pra uma festa pra se divertir mesmo ent o com essas o rock dan ar ficar namorar simplesmente Mas aconteceu j v rias que gosta mesmo de fazer rela es sexuais e rola s vezes acontece 277 amp PALAVRAS DOS AS PESQUISADORES Homens e mulheres reconhecem dois tipos de mulheres aquelas com as quais as pr ticas sexuais s o livres e variadas as depravadas e as consideradas direitas com elas as pr ticas sexuais tendem a ser mais limitadas A sexualidade define car ter e honra expressando poder masculino Decidir casar ou ter filhos com uma mulher est relacionado ao julgamento do seu comportamento sexual O homossexual tamb m n o bem visto sendo usado como refer ncia negativa por homens e mulheres validando preconceitos e discrimina es Um homem que n o est sempre dispon vel a
275. na clinica de Marcelo Eu fui uma vez pra tirar uns raios X da minha cabe a que eu tenho um sinal e n o teve Agora que melhorou um pouquinho Foi instalado um nibus que faz visita aqui ali no Brejinho e tem um posto tamb m Mas mesmo assim quando est na urg ncia temque acordar de madrugada a gente doente Tem que ir para o outro lado l do outro lado pegar uma ficha ou ent o paga a algu m Agora assim quando tem um caso bota para Petrol ndia depois fica apelando quando o carro vai pro Recife Tem vezes assim vai no meio do caminho o doente t o ruim que acaba morrendo Tem que chegar l e voltar Tem mas mesmo que n o ter A assistente de sa de antigamente sempre ia fazer o trabalho mas hoje muito dif cil s vai de oito em oito dias s vai quando est afim Ela s vem quando o nibus do s bado vem e somente para tirar a ficha do povo porque para visitar nas casas ela n o vem n o N o mas o problema aqui quando uma pessoa sobrecarregada ela n o vai fazer nada s que ela tem a capacidade de ir s duas agrovilas nem que ela dois dias v para uma e dois dias para a outra Bom aqui precisa de mais informa o para a agrovila O defeito do agente de sa de daqui porque quando tem uma coisa que para pesar uma crian a que tem uma vacina ela n o avisa em toda casa avisa em algumas casas Mas tamb m a gente n o vamos culpar s ela por que eu acho que a P
276. nas agrovilas Elas remetem n o apenas s diferen as de concep es e viv ncias do processo mas relativiza o e ao questionamento das propostas dirigidas s comunidades locais Realizados antes do reassentamento permitem entrever seus desdobramentos poss veis suscitando indaga es sobre a natureza e o espa o das rela es a serem engendradas no contexto dos projetos de irriga o Recortamos para an lise alguns temas recorrentes nas propostas e metas sociais e que se mostram articulados entre si a participa o dos reassentados na implanta o e consolida o dos projetos b sua emancipa o c responsabilidades e decis es que cabem aos atores envolvidos e d modelos de representatividade das organiza es dos agricultores 5 Este cap tulo originalmente de co autoria O t tulo original foi Notas sobre planos e efetiva o do reassentamento rural de Itaparica em CASTRO Edna MOURA Edila MAIA Maria L cia S org Industrializa o e Grandes Projetos Desorganiza o e Reorganiza o do Espa o Bel m UFPA 1994 Foi adaptado de um trabalho elaborado em co autoria com a Maria Auxiliadora Ferraz de S professora de Antropologia da UFPE e colaboradora na coordena o do monitoramento do traslado da popula o As observa es decorrentes de participa o em di logos e o grosso da reda o foram redigidos por ela 41 A perspectiva que orienta estas reflex es aquela que perceb
277. nas alguns locais os j citados Br gida Pedra Branca e Bloco 1 de Barreiras da Borda de Lago em Pernambuco Mais que para a metade da popula o n o foi capaz de instalar a infra estrutura nesse per odo Nestas condi es isenta se das cobran as sobre as partes incompletas deixadas por outros a Codevasf n o negou o papel de coordenar a assist ncia t cnica nos projetos tarefa bem remunerada que a institui o realiza com o prazer de reafirmar o reconhecimento da sua capacidade t cnica e o seu papel norteador dos rumos de irriga o no Vale do S o Francisco Mas sempre h um raio de esperan a Sobre o futuro dos projetos os boatos com fundamento ou n o que circulavam em meados de 1997 foram semelhantes aos boatos que circulavam nos tres anos anteriores o Banco Mundial finalmente iria liberar o dinheiro para terminar os projetos ver VIANNA MENEZES 1994 36 sobre o mesmo boato em 1993 A esperan a era depositada no Banco Mundial e n o no govemo federal sobre o qual pairava a fama documentada por uma comiss o parlamentar 132 de inqu rito de deixar obras incompletas Todos sabiam que o Banco n o escondia a sua insatisfa o com o andamento do reassentamento Para retomar o investimento algumas considera es tinham que ser pesadas primeiro havia alguma forma de driblar as exigencias de contrapartidas completas do govemo brasileiro Segundo as cr ticas sobre o alto custo por reassentado do am na alma cont
278. nd ncia para o Desenvolvimento do Nordeste Sudene para ver algumas por exemplo MELO 1988 ou ler os livros cl ssicos recentes de Manoel Correia de Andrade 1986 e de Francisco de Oliveira 1981 para ver outras sub divis es que s o muito conhecidas na pr pria regi o Quatro atores e a reparti o da Subregi o Ao tratar se do Vale do S o Francisco a participa o do Estado na reparti o da regi o se torna muito expl cita desde meados dos anos quarenta Prefaciando o plano diretor para o Vale do S o Francisco os t cnicos governamentais mostram os eixos fundamentais da identifica o da import ncia da regi o ao declarar que ao final da segunda guerra mundial Havia se firmado a convic o de ser necess ria a valoriza o da Regi o tanto por sua localiza o central e estrat gica no pais unindo o sul e o norte como pelo potencial econ mico de seus recursos naturais em que se destacam as possibilidades da agricultura irrigada e da gera o de energia el trica grifos meus PLANVASF 1989 p 9 116 A encarna o tecno burocr tica destes dois grandes eixos se deu com a cria o da Chesf Companhia Hidrel trica do Vale do S o Francisco 1945 para gerar energia e a Comiss o do Vale do S o Francisco CVSF 1948 seguida pela Suvale em 1967 e a Codevasf em 1974 para promover a agricultura irrigada associada a outros objetivos de desenvolvimento regional A Chesf o primeiro ator procedeu
279. ndo diante da multiplicidade de possibilidades locais uma din mica tensa que ocorre num cotidiano onde todos det m algum grau de previsibilidade por causa das suas trajet rias espec ficas mas que mant m a fresta aberta para transforma es Antes de passar para a caracteriza o da articula o entre inseguran as e vulnerabilidades na sa de de popula es rurais sujeitos a deslocamentos e reassentamentos vale destacar que os conceitos de inseguran a e de vulnerabilidade s o entendidos como for as que geram a o e n o como impedimentos a o como uma leitura mais superficial dessas terminologias poderia 191 sugerir Assim em hora nenhuma inseguran a est sendo usada como sin nimo de falta de a o ou de rea o Sa de vulnerabilidades e inseguran as ao longo do processo de reassentamento O tema que ocupa o restante deste cap tulo uma compreens o da viv ncia de sa de vulnerabilidades e inseguran as que acompanharam e ainda acompanham o reassentamento da popula o rural de Itaparica A inten o de aproveitar uma experi ncia etnogr fica de quase vinte anos desde 1987 e ARA JO et al 2000 para elucidar um processo de exclus o cujos componentes tem uma relativa previsibilidade relacionada com a repeti o de fases que s o reproduzidas nos grandes projetos de desenvolvimento que s o levados a remover popula es que se encontram no caminho Qualquer evento observado repo
280. ndo esclarecimento e repara es Chesf e lan ando m o ao apoio de t cnicos estrangeiros do Servi Alem o de Coopera o T cnica e Social SACTES e outros O discurso t cnico fundamental pois legitima todo o projeto e se pauta acima de tudo sobre o investimento competente visivelmente comprov vel de enormes montantes de recursos A realiza o de uma modifica o permanente no ambiente obedecendo a todas as etapas legais inclusive a realiza o do Relat rio do Impacto sobre o Meio Ambiente RIMA ainda pouco legislado e fiscalizado na poca dentro de um cronograma que permitiu evitar o colapso iminente de fornecimento de energia para os grandes centros consumidores nordestinos capacita simbolicamente a Chesf para representar o 144 avan o da tecnologia a servi o da sociedade Dentro desta l gica os recursos recebidos se destinam justamente para possibilitar o dom nio do homem sobre a natureza Os eventuais problemas t cnicos encontrados no processo da constru o e da instala o do reassentamento mesmo servindo como pontos de refer ncia para a forma o de discursos que diferenciam os agentes sociais envolvidos no processo n o abalam a for a do discurso t cnico afinal de contas tamb m s o os pr prios t cnicos que resolvem problemas t cnicos Mas nem todos os problemas enfrentados podem ser carac terizados como problemas t cnicos a rotula o de um problema com t cnico pode servir
281. ngue ah tinha tanta coisa a ela disse voc tem isso a eu disse o m dico disse que N o tome mais esse rem dio n o tome esse confie em mim Ela disse at assim a eu tomei e fiquei boa gra as a Deus eu disse a ela hoje eu to viva risos Mas porque Deus foi quem mandou ela l tava me sentindo t o mal Ele foi primeiro por ter mandado ela e ela foi l em casa Vai passando de pai de m e para filho Eu n o vou dizer que sei fazer mas quando eu chego perto de m e eu digo m e todas faz assim lambedor pra crian a n o ficar tossindo muito Na nossa par quia est tendo assim mulheres sabe Com trabalhos volunt rios pessoas pra trabalhar com crian a fazendo rem dio caseiro aqui s fazendo rem dio caseiro pra crian a desnutrida Agora tem um rem dio que os homens passam vendendo nas casas risos e assim que eu comprei uma vez a ele foi vender uma outra vez n o serviu n o mas eu j comprei esse rem dio mas da resultado nada 284 3 Servi os de Sa de Formais PARA ELES E PARA ELAS 48 Articulando Processos Terap uticos Tradicionais e Biom dicos No come o quando come ou a construir o hospital novo antes era mais dif cil o atendimento era p ssimo mas agora tem mais m dicos Foi contratando mais pessoas o atendimento est melhor chega l voc bem atendido Na minha parte deveria ser pra es
282. no Ela foi destinada objetivamente para a barragem como doa o um patrim nio que a Chesf comprou com dinheiro p blico e vai doar para o pessoal doa o essa que eu n o posso caracterizar como uma compensa o porque eu n o estou propondo uma terra por outra est certo N s estamos dando terra para quem n o tinha Na verdade voc est dando um patrim nio novo ent o uma doa o A id ia claramente transmitida que a terra ganha percebida como compensa o numa outra hora agora uma doa o um pr mio para quem parece nunca ter tido nada No balan o de for as entre os reassentados e a Chesf isto enaltece a import ncia da empresa e diminui a dos reassentados Mas da parte do P lo Sindical contesta se que a Chesf ou de fato qualquer pol tico tenha tido como motiva o qualquer benef cio para a popula o Como disse um dos seus representantes ao insistir que os ganhos dos reassentados s o um resultado dos seus pr prios esfor os O pol tico de l do tempo do reassentamento se ele disser que fez alguma coisa um mentiroso nenhum fez nada Muito ao contr rio eles lutaram para que n o aparecesse nada 104 Uma das provas da descren a na Chesf est na resist ncia desta institui o formaliza o dos compromissos O P lo ressalta que concretamente os compromissos s chegaram a ser colocados no papel e assinados ap s a ocupa o do canteiro de obras pela popula o atingida
283. no Subm dio S o Francisco Cria novos e formid veis desafios do movimento ap s o reassentamento com a popula o mais dispersa a base de 11 Ver Siqueira 1999 58 produ o totalmente modificada e a maioria dos reassentados recebendo 2 5 sal rios e aguardando ano ap s ano a instala o do equipamento de irriga o O movimento se altera conforme as fei es de suas bases e as modifica es dos dom nios do poder com os quais interage M xico No estado de Guerrero a poucas centenas de quil metros da cidade do M xico os planos nacionais para o aproveitamento da bacia do Rio Balsas visavam constru o de uma s rie de barragens capazes de fornecer energia para uma enorme rea consumidora metropolitana Discutido primeiramente nos anos 1930 apenas nos anos cinquenta que o plano de seis barragens recebeu a aten o dos planejadores na Comisi n Federal de Electricidad CFE resultando na constru o de duas barragens pequenas perto da boca do Rio Balsas na orla mexicana do Pac fico nos anos 1960 Ap s alguns anos com pouca a o o aproveitamento da capacidade energ tica hidr ulica foi retomado com a constru o da barragem de Caracol formalmente Ingeniero Ramirez Ulloa subindo sistematicamente ao pr ximo ponto a montante no Vale de Balsas O ganho energ tico dessas barragens em seu conjunto n o chegava a 2 000 megawatts e a pr xima barragem San Juan Tetelcingo s prometia acrescentar en
284. nos a classifica o costumeira dos agricultores pequenos empres rios em reas de atua o da Codevasf Os pr prios reassentados tamb m n o pleiteam esta classifica o pois valorizam a hist ria particular da sua luta organizada em torno de recompensas por perdas o que bem simbolizado na lema da sua a o terra por terra na borda de lago Mesmo diante da empolga o de alguns dos seus t cnicos diante das possibilidades de melhora futura para os reassentados 147 as diferen as entre estes agricultores e os outros com os quais j lidaram s o relembrados com regularidade como elementos obstaculizadores Em termos do discurso ambiental institucional a sugest o de que o novo ambiente constru do pela Chesf um investimento muito caro j permeado por falhas poderia estar sendo colocado em risco por n o ser manejado adequadamente pelos agricultores inexperientes e incapacitados que residem nele V timas de uma agress o inicial ao seu ambiente ribeirinho tradicional no processo do reassentamento de acordo com este discurso os pr prios agricultores se tornam uma amea a a um ambiente bem menos rico em potencial agr cola mas bem mais valorizado tanto por ter sido criado atrav s de capital internacional emprestado quanto por estar articulado numa rede agro industrial exportadora em franca expans o No campo do discurso sobre a situa o socio econ mica dos reassentados as diverg ncias se tornam ainda
285. nsiste na forma de organiza o da gest o Cooperativa tem poder de compra e venda mais eficiente a cooperativa que d condi es para compra organizada de insumos barateando os e garantindo pre o na venda da produ o Ou ainda A vantagem para venda da produ o da cooperativa o que diferente com a Associa o A cooperativa de Bebedouro Petrolina PE est se ajustando certo tamb m Mandacaru Juazeiro BA tamb m em Minas Gerais Gorotuba Os lideres sindicais pedem para se ausentarem momentaneamente da mesa para discuss o lateral No retorno o P lo Sindical considera a necessidade de visitas aos per metros com experi ncias implantadas N o temos proposta pronta e acabada N o h modelo Modelo quem faz o agricultor E ante questionamento de um t cnico da Chesf sobre a fase do projeto em que se daria a defini o do modelo afirma um assessor do P lo A organiza o que vai ter que surgir com concep o puramente econ mica a ser definida l com as atividades O t cnico da Chesf concorda prosseguindo o assessor do P lo N o quest o fechada negocia o pol tica Responsabilidades a quem competem podem ser de defini o pol tica agora Podem se viabilizar ou n o no processo que vem depois Ainda retrucado pelo mesmo t cnico A responsabilidade da Chesf e Codevasf Se a popula o n o assumir operado de qualquer forma pela Chesf e Codevasf Obse
286. nt o um casal de velhos com poucas possibilidades de trabalhar no lote irrigado a menos que conseguisse mobilizar a volta dos filhos casados sua resid ncia Evidentemente a situa o se agrava quando se trata de um casal ainda mais velho na hora do cadastramento O segundo exemplo de um casal mais jovem com 40 anos e quatro filhos jovens de 07 a 14 anos na poca do cadastramento recebeu um lote de 3 0 hectares independente do sexo dos filhos 86 Nove anos mais tarde o casal completa 49 anos e os filhos t m entre 15 e 23 Com quatro filhos em idade de trabalhar e o lote al m de pequeno se o c lculo fosse sobre a fam lia atual em 1994 seria de 4 5 ou de 6 0 hectares dependendo do sexo dos filhos ainda n o entregue evidente que a fam lia lan aria m o a estrat gias alternativas de capta o de renda para todos possivelmente deixando menos gente em casa Estes dois exemplos s o caricaturais As realidades das forma es das fam lias s o muito mais complexas e envolvem o acr scimo de outras gera es e de parentes afins Mas com estes exemplos algumas dificuldades no ajustamento entre m o de obra e terra dispon vel ocasionadas pelo processo de desenvolvimento do ciclo dom stico na situa o de um congelamento formal de acesso terra as regras institucionais insistem que nesta fase de implanta o n o se pode alienar a terra recebida no projeto de reassentamento ficam ilustradas claramente S
287. nte esta fase a Chesf com o seu or amento bastante restrito procura sa das com parceiros govemamentais As grandes empreiteiras de constru o foram afastadas e a responsabilidade para a instala o dos equipamentos de irriga o e infraestrutura passa para o corpo de engenheiros do ex rcito Era comum ouvir representantes do P lo Sindical louvar esta modifica o opinando que estes engenheiros s o lentos mas pelo menos fazem o trabalho sem estar visando apenas o lucro como faziam as empresas anteriores OAS Queiroz Galv o e Odebrecht sociais e de irriga o e fornecimento de energia el trica para os sistemas de irriga o e Codevasf prestar assessoria t cnica Chesf durante a implanta o e assumir a partir do quinto ano a responsabilidade pela manuten o dos sistemas 1994 p 32 130 A pol tica econ mica nacional tamb m apressa o processo de prepara o para privatiza o na Chesf e o grande albatroz da companhia a divida n o s social mas tamb m financeira que os projetos de reassentamento implicam ver JORNAL DO COMMERCIO outubro 1997 Uma venda lucrativa da Companhia dificilmente ocorreria diante das promessas assinadas e n o cumpridas em Itaparica Como se ver livre deste custo para emplacar um resultado positivo no processo de privatiza o Ao repassar as responsabilidades para outras institui es governamentais a Chesf demonstraria que n o deixou os reassentados desamparado
288. nte na fase inicial de implanta o dos projetos organiza o com maior representatividade local mas n o necessariamente nas fases posteriores ao reassentamento Entre os t cnicos da Codevasf o consenso parecia ir at este ponto Foi evidenciada a preocupa o de que a representa o se desenvolvesse da forma mais abrangente poss vel em rela o popula o dos per metros Nos intervalos das reuni es o envolvimento dos t cnicos da Codevasf fazia se tamb m em termos de suas posi es pol ticas e prefer ncias pessoais Um deles parecia apostar que n o seria o P lo a conseguir essa abrang ncia Outros dois consideravam que o P lo teria condi es de se impor nessa organiza o futura De qualquer maneira consideravam que caberia ao P lo lutar por esta posi o Na discuss o conjunta frente afirmativa de que o documento da Codevasf n o contemplaria detalhes do modelo de organiza o dos agricultores observa se no texto o uso 50 concomitante da express o cooperativa associa o a assessoria do P lo menciona que h exemplos de cooperativas que resultam numa m quina burocr tica centralizada com apadrinhamentos corrup o etc Um t cnico da Codevasf Bras lia parece desafiar o P lo v lido considerar a quest o do nosso desconhecimento sobre a organiza o dos trabalhadores aqui O problema de representatividade e representa o de organiza o forte para gerir Talvez o pen
289. ntifica o de demandas na sa de reprodutiva Revista Brasileira de Estudos da Popula o Campinas v 19 n 1 p 209 228 2003 SCOTT Parry S Maria Auxiliadora Ferraz de Barragem de Itaparica Indaga es sobre a reconstru o da base familiar da produ o agricola Semin rio sobre Grandes Projetos Bel m UFPa NAFA 1991 SCUDDER Thayer COLSON Elizabeth From Welfare to Development a Conceptual Framework for the Analysis of Dislocated People In HANSEN A OLIVER SMITH A Eds Involuntary Migration and Resettlement Boulder Westview p 267 287 1982 SHANIN T A defini o do campon s conceitua es e desconceitu es Estudos CEBRAP 26 S o Paulo CEBRAP 1976 SIGAUD Lygia A dupla expropria o do campesinato e a concentra o de terras em Sobradinho uma contribui o an lise dos efeitos da pol tica energ tica do Estado Rio de Janeiro PPGAS Museu Nacional UFRJ 1986a 248 SIGAUD Lygia Efeitos Sociais de grandes projetos hidreletricas as barragens de Sobradinho e Machadinho Rio de Janeiro PPGAS Museu Nacional UFR J 1986b SILVA Avanildo Duque de O reassentamento Rural de Itaparica conflitos e transforma es no espa o agr rio do Submedio S o Francisco Bahia Pernambuco Recife Disserta o de Mestardo em Geografia UFPE 1997 SIQUIERA Antonio Jorge de Org Identidade e Cidadania no Brasil V 2 Recife UFPE Editora Universit ria 1999 STEIN William
290. nto assist ncia t cnica durante a implanta o matura o e manuten o do reassentamento E por fim participa o na defini o de diretrizes acerca da assist ncia t cnica e nas decis es quanto localiza o das moradias bem como ficando a coordena o da produ o nos projetos sob responsabilidade de uma organiza o coletiva dos trabalhadores rurais P LO SINDICAL 1984 11 12 Os procedimentos e crit rios resultantes do acordo entre a Chesf e o P lo em dezembro de 1986 redefinem as rela es de confronto aberto com a retomada das negocia es Dentre eles destacam se garantia de assist ncia t cnica extens o rural linha de cr dito especial e apoio comercializa o pelo prazo de cinco anos pagamento pela Chesf de remunera o no valor de 2 5 sal rios m nimos s fam lias transferidas at a comercializa o da primeira colheita e garantia participa o ativa das comunidades e entidades sindicais em todas as fases do reassentamento Para o P lo recorrer s negocia es parecia contribuir para consolidar 44 propostas fundamentalmente atrav s do seu reconhecimento formal como interlocutor da Chesf e do acesso s informa es Chesf por sua vez faziam se necess rias as negocia es desde que compat veis com a prioridade do encaminhamento da desocupa o da rea nos prazos de entrada em funcionamento da usina hidrel trica FUNDA J 1988 p 47 50 A proposta da Codevasf d
291. nto e n o apenas como v timas que estavam no caminho e tinham de ser removidas Na primeira fase da constru o do novo ambiente para estes agricultores os construtores foram contratados orientados e fiscalizados pela Chesf empresa estatal de engenharia ligada ao Minist rio de Minas e Energia cujo objetivo principal gerar energia Na segunda fase efetivamente iniciada cinco anos ap s o enchimento do reservat rio e o translado da popula o a contrata o orienta o e fiscaliza o sobre o uso deste novo ambiente caberia 18A pesquisa O Reassentamento em taparica no Vale do S o Francisco e em Pernambuco recebeu aux lios financeiros da FACEPE e do CNPq uma vers o modificada do trabalho Riscos aos reassentados no ambiente constru do pela barragem de Itaparica investindo no ambiente e transformando o campesinato publicado nos Anais do Encontro Nacional de Estudos Populacionais 9 Belo Horizonte ABEP v 2 p 385 398 137 Codevasf outra empresa nacional ligada ao Minist rio de Integra o Regional cujos projetos enfatizam o estabelecimento de per metros irrigados agroexportadores com colonos selecionados Este cap tulo examina as principais modifica es ocorridas no ambiente enquanto campo de praxis e de simbologia inserido num processo interativo de reapropria o social e cultural do espa o por diversos agentes sociais dando destaque a alguns pontos nodais de intera o onde se travam dis
292. nto em si se acaba e se inicia a luta para manter alguma coes o entre os atingidos agora reassentados para a garantia de condi es de produ o e reprodu o nas agrovilas Separados por raz es t cnicas os reassentados que experimentaram a efici ncia de um traslado muito veloz para agrovilas nem sempre totalmente preparadas para habita o ARA JO at al 2000 entraram numa nova fase da viv ncia do reassentamento caracterizada pela morosidade previs vel ocasionada na continua o da execu o dos projetos pelos administradores governamentais e seus colaboradores contratados Com o problema de gera o de energia pela barragem resolvido e a Chesf investindo pesadamente no sucesso de Xing para cumprir o seu of cio de produtor de energia as gest es institucionais a favor da libera o de recursos para os projetos de reassentamento viraram inefetivas Cada passagem de ano documentava mais um descumprimento de cronogramas anunciados para terminar a instala o do equipamento de 127 irriga o em pleno funcionamento originalmente planejado para seis meses ap s o traslado da popula o As d vidas da Chesf com as grandes empreiteiras de engenharia civil e a prec ria sa de financeira do pa s debilitado na sua luta com a infla o e o servi o da d vida externa tornaram se justificativas de ordem superior que contribu am decisivamente para protelar os investimentos nos projetos para os quarenta mil reassenta
293. ntrato uma forma de controle A meta os agricultores com dinheiro independentes importante que o agricultor participe H dificuldades com empresas privadas s o tamb m incompetentes e dif cil a Codevasf denunciar esses problemas Mas se s o os agricultores que reclamam as coisas s o mais f ceis Interp e um l der sindical presente Se n o der certo bom que fique claro de quem e a incompet ncia do trabalhador ou do t cnico A gente quer participar ate o fim Bota l o t cnico que for competente e souber 2 fazer o servi o e coninua outro assessor E importante a eficiencia Preocupa O servi o tem que ser prestado com qualidade Depois de cinco anos de quem a responsabilidade O Estado tem que assumir se vai ser Emater etc que a Chesf comece a pensar em continuar assegurando aos realocados a assist ncia t cnica fun o dos trabalhadores cobrar que assegure al m dos sete anos Um t cnico da Chesf Recife responde Est anotado A discuss o sugestiva dos interesses que envolvem t cnicos e empresas e da sua dist ncia relativa queles expressos pelos representantes dos trabalhadores rurais Ela permite tamb m observar o desdobramento dos sentidos da participa o particularmente para grupos de t cnicos e dire o da Codevasf Nota se a aus ncia de interfer ncias dos t cnicos da Chesf antes presentes no que diz respeito s problem ticas da participa o e d
294. o a maior parte das propriedades rurais era operada por fazendeiros e administradores que pastavam boi no sequeiro n o beneficiado quando tinha onde pastar Nas partes mais agricult veis contratavam meeiros que traabalhavam principalmente com m o de obra familiar Alguns propriet rios mais pr speros trabalhavam com irriga o no projeto Barreiras montado pelo governo federal havia em torno de quatro d cadas Denominavam se granjeiros e usavam extensamente diaristas que residiam num aglomerado urbano na periferia do projeto constituindo o segmento mais empobrecido da popula o da rea atingida Como em tantos outros locais os pequenos agricultores familiares propriet rios posseiros ou meeiros trabalhavam ocasionalmente como diaristas quando havia necessidade nas proximidades No lado baiano o n mero maior de pequenos agricultores familiares refletia uma hist ria de subdivis o de terras por heran a Nestes locais notavam se padr es mais n tidos de ajuda m tua e solidariedade entre parentes e vizinhos mesmo quando isto vinha acompanhado pela pr tica de mea o ou trabalho como diaristas Muitos dependiam de donos de bombas de gua para fornecer a gua necess ria para irrigar as sua planta es pagando com parte da sua produ o A complexidade das estruturas de poder antes da barragem fica bem evidenciada Havia dom nios produzidos em rela o direta com a produ o e havia outros dom nios relacionados a ele
295. o as fam lias que t m que se ajustar pois o plano continua seguindo os mesmos moldes A expectativa sobre as novas demandas de trabalho quando os lotes est o irrigados tem gerado apreens o diferenciada por parte dos administradores e por parte das fam lias reassentadas A voz dos administradores e t cnicos n o un ssona Reconhecem o problema do cio que criou outro problema de agricultores desacostumados com o trabalho na terra Para alguns isto evidencia o erro da concess o da verba de manuten o tempor ria VMT planejada para ser paga mensalmente aos reassentados at a primeira colheita viciando os agricultores ajuda do Estado Mas a cria o do v cio est na morosidade da realiza o das promessas do planejamento Outros acham que a VMT serviu para manter os agricultores no lugar sem d vida ajudou por todas as evid ncias e que o cio uma fase passageira de uma popula o que continua tendo uma forte vontade de produzir Ap s amplas negocia es a VMT foi extinta em 2003 restando problemas de produ o que n o reportassem a este mecanismo fundamental para contrabalan ar os efeitos nocivos da morosidade sempre invocados no discurso dos administradores e planejadores cuja r gua avaliadora de sucesso 87 o custo rlativo do projeto repetindo em tom da condena o que Itaparica o projeto de barragem mais caro do mundo e sugerindo que uma das raz es disso o custo da V
296. o com os reassentados da preserva o de um solo prec rio do estabelecimento de redes de escoamento da produ o e de sistemas de cr dito enfim de assegurar as condi es pol ticas econ micas e ambientais de reprodu o e transforma o social ben ficas para estes agricultores 181 182 Cap tulo 9 Reeassentamento sa de e inseguran a em Itaparica um modelo de vulnerabilidade em projetos de desenvolvimento Pol ticas governamentais s o irreparavelmente amb guas A natureza m ltipla e complexa do estabelecimento de metas e de execu o do planejado sempre deixa espa os para conflitos esquecimentos e exclus es que atingem os cidad os almejados direta ou indiretamente com as pol ticas Por esta raz o pol ticas governamentais s o geradoras de inseguran a seja qual for a tica das teorias de Estado que informa a compreens o da sua atua o A id ia de um Estado ben volo que repara as injusti as e danos atrav s da aplica o de pol ticas redistributivas que corrigem as desigualdades que ocorreriam na sua aus ncia n o isenta desta gera o de inseguran a Nem tampouco a id ia do Estado manipulado e manipulador que responde aos interesses de seletos segmentos da sociedade capazes de armar mecanismos que respondem aos seus desenhos particulares No caso em pauta o reassentamento de Itaparica como em todos os grandes projetos de desenvolvimento o Estado o mais presente de todos os atores
297. o de popula es um processo que mundialmente atingiu em torno de 80 milh es de pessoas s no per odo entre 1980 e 1990 segundo cifras do Banco Mundial WORLD BANK 1994 15 que ocorre com mais evid ncia Ap s a implanta o e administra o de um novo ambiente no Vale do S o Francisco numa faixa de centenas de quil metros de Cura Santa Maria da Boa Vista at Gl ria Petrol ndia perdura um clima de indefini o e de incompletude fruto da complexidade de fatores em jogo na adapta o ao novo ambiente e nas perspectivas cada vez mais remotas de acontecer qualquer medida que soluciona as muitas pend ncias percebidas no alcance de metas acordadas A mudan a de ambiente primeiro tomou as fei es de uma perda pois as popula es reassentadas j praticavam uma agricultura irrigada com uma longa hist ria nas terras ribeirinhas 15 Agrade o a Theodore Downing por ter me informado sobre esta publica o e Michael Cernea por t la enviado uma apresenta o importante e extremamente informativa sobre reassentamento que mostra claramente as enormes dificuldades enfrentadas no caminho de fazer com que a viol ncia administrada se transforme de fato em um benef cio 95 que foram inundadas pelo reservat rio FUNDAJ CHESF 1988 Grande parte das atividades nas cidades girava em torno desta produ o agr cola N o perderam somente as moradas Os agricultores perderam a terra que plantavam os habitante
298. o destino de exemplificar como se pode transformar v timas de barragens em beneficiados de projetos de desenvolvimento Examina as implica es de p r em pr tica a identifica o atrav s do c lculo da for a de trabalho familiar que classifica a popula o de acordo com um esquema cuja praticidade inicial mascara desigualdades e que com a passagem de tempo e sucess veis adiamentos de implementa o torna se uma fic o burocr tica emblem tica dos interesses divergentes entre os planejadores administradores e os reassentados Enquanto para os implementadores do plano de reassentamento a hist ria se inicia a partir da hora da identifica o dos beneficiados para as fam lias dos reassentados o plano ocorre num ponto de um percurso dom stico que continua Por mais que sejam profundamente influenciadas pela enorme transforma o no contexto social cotidiano representado pelo projeto as fam lias avan am nos seus ciclos de desenvolvimento dom stico ou nos seus cursos de vida independentemente dos adiamentos do projeto Mas ao mesmo tempo os destinos das suas fam lias s o inextricavelmente entrela ados com os destinos do projeto Esta alian a se torna prec ria e amea adora quando as institui es que administram o projeto n o o enxergam mais como 12 Adaptado do trabalho do mesmo t tulo publicado na colet nea de Magalh es et al 1996 73 um projeto modelo e um exemplo de sucesso potencial Es
299. o dos agricultores h um decreto que pro be Codevasf contratar pessoas a sa da empresas para presta o de servi os A equipe fica subordinada cooperativa Em refer ncia a fase inicial de opera o Pensamos primeiro em contratar empresa privada por per odo limitado para assistir os agricultores at obter a primeira safra A avalia o do desempenho da empresa ser pela comunidade do projeto Pode haver alternativas Sobre o termo de refer ncia para contrata o veja se que o projeto financiado pelo Banco Mundial que exige que ele d o aval da coisa Talvez seja licita o internacional queremos nacional Ele quer ver o porte da empresa n o nos importa mas sim o quadro Segue se a discuss o com o questionamento do P lo Sindical via as suas assessorias Para os trabalhadores a assist ncia t cnica e extens o rural obriga o do Estado n o importa se por rg o p blico ou empresa particular 8 Projeto agro inudtrial no p lo Petrolina Juazeiro 46 Argumentam os t cnicos da Codevasf Bras lia um impasse quando as organiza es do Estado j n o atendem assist ncia t cnica Os governos dos estados n o v o tirar dinheiro do bolso para contratar empresa A luta para que a estrutura do Estado seja eficiente Por que assist ncia t cnica privada No projeto Nilo Coelho h interfer ncia pol tica em detrimento do servi o J na iniciativa privada a amea a de romper co
300. o elas quanto as lideran as sindicais reconhe am que j foram numericamente mais participativas O documento Perfil do Grupo elaborado pela Diretoria da Mulher no P lo Sindical em 1994 afirma No in cio dessa luta tiveram participa o fundamental Hoje por m a participa o muito pouca A diminui o dessa atua o pode decorrer de v rios fatores incluindo a tens o e stress causados pela longa espera do lote a acumula o de tarefas e terem que se virar para arrumar dinheiro J na primeira d cada do s culo atual uma mulher Rita de C ssia antiga diretora da mulher e juventude assumiu a Coordena o do P lo Sindical at 2009 Nas duas agrovilas estudadas em Petrol ndia elas esbo aram uma organiza o atrav s do Sindicato em grupos de trabalho relacionados com a Associa o de Produtores um Grupo de Costura na agrovila 01 e um Grupo de Tear na agrovila 02 Dois grupos pequenos que tinham respectivamente 15 e 08 mulheres participantes em meados de 1995 resultaram em parte da visibilidade internacional da atua o do P lo Sindical no processo de reassentamento em Itaparica que atraiu a aten o de organiza es de coopera o internacional ONGs organiza es governamentais religiosas e filantr picas e abriu canais para a realiza o de projetos rurais dirigidos especialmente para mulheres Os grupos de trabalho s o financiados em parte pelo Servi o Alem o de Coopera o T cnica e Socia
301. o podem se negar a ficar com uma garota sem que isso coloque sua virilidade em d vida Diferentemente do ficar o namoro visto tradicionalmente como a forma leg tima de rela o entre rapazes e mo as Mas o velho namoro tamb m traz algumas inova es A principal delas que o casal tem mais liberdade nas escolhas e h mais intimidade no relacionamento Isso mais uma vez est relacionado com uma maior cumplicidade entre pais e filhos mais di logo mais confian a rela es mais democr ticas no seio da fam lia Com as filhas especialmente os pais n o s o hoje t o r gidos como antigamente embora ainda se espere das mo as que continuem tendo um comportamento sexual mais recatado do que os rapazes Pela sua vez os jovens costumam levar em considera o essa expectativa da fam lia No momento em que se assume o namoro se assumem tamb m novas regras que ir o ser determinadas a partir de uma negocia o entre o rapaz e a fam lia da jovem Os rapazes falam de respeito de confian a de seriedade sempre com rela o aos pais da garota Nem todos concordam mas a id ia que predomina Para alguns jovens partilhar com a fam lia decis es a respeito do namoro algo pr prio do modo de vida das agrovilas que n o se encontraria mais nas grandes cidades Em geral essa caracter stica apresentada de forma positiva mostrando que os jovens valorizam seu grupo social mesmo sendo cr ticos em alguns momentos 2
302. o s o eventos imposs veis de ocorrer ainda que ocorram no papel pois a sua influ ncia sobre a regi o e a maneira particular em que a popula o vive as suas vulnerabilidades ao longo dos realinhamentos de poder redefinem identidades coletivas e abrem espa os para novas negocia es e articula es sempre acompanhadas pela sombra da sua interven o 211 Cap tulo 10 Jovens e a incorpora o de sa de g nero e morais socioculturais nas pautas de negocia o Desde antes do reassentamento de muitos dos atingidos pela barragem de Itaparica nos estados de Bahia e Pernambuco j se podia prever que a socializa o de jovens em terras novas exigiria pr ticas e organiza o social diferentes que as conhecidas pelos seus pais Vinte anos depois boa parte da mobiliza o promovida pelo P lo Sindical do Subm dio S o Francisco se dirige aos jovens exigindo uma sensibilidade que integra uma leitura agu ada do contexto de negocia o constante criado pela barragem mas que vai muito al m Toca em quest es de autoridade local e de transforma es contempor neas na viv ncia de sexualidade moralidade e religi o por jovens adultos homens e mulheres Elaboram se algumas reflex es sobre como a juventude criada num ambiente de atingida se orienta num quadro de morais socioculturais contextualizado pela viv ncia de sexualidade e religi o na experi ncia hist rica da regi o Tamb m apresenta se uma discuss o sobre mat
303. o serve d conselhos n o que ela tenta escolher mas ela tenta encaminhar voc para um caminho mais certo A gente casa casa errado mas casa sabendo que um erro H Os rapazes n o querem s namorar n o j querem namoro avan ado HH Se ele quer alguma coisa e ela n o quer n o vai fazer a pulso o rapaz tem que respeitar HH Se as meninas n o procurar os homens s o tudo mole Se eles n o pedem elas que pedem eles Em vez dos homens pedirem elas pedem eles Meu caso eu conhe o Ele me pediu em namoro eu me aproximei dando uma de amiga eu n o falei assim HH Minha m e namorava por uma janelinha era na sala namorando meu pai e meu av sentado com a lanterna Naquele tempo gostava de faltar energia ent o ele j estava com a lanterna na m o Se faltasse energia ele estava com a lanterna na m o Se chegasse perto e pegasse na m o e ele visse ele reclamava Se agora fosse assim eu duvidava eu ter casado Hoje a mulher tem mais liberdade em casa e melhor assim Ela tem oportunidade de conversar e pode dizer o que gosta o que n o gosta Antigamente as mulheres eram como uma enxada deitava na cama e o pai era quem escolhia o marido para a filha a mulher era que nem escrava do homem o pai escolhia aquela pessoa e dizia voc vai casar com fulano e era assim s PALAVRAS DOS AS PESQUISADORES Em v rios momentos da hist ria a juventude tem sido associada a novos c
304. oblemas chamado cachiblema cacha a misturada com chifres e problema por cima da cabe a A separa briga cai fora um pro lado e um pro outro Eu acho que o ci me a causa da separa o ou o homem que come a a brigar a come a a bater na mulher A mulher faz uma coisa que o homem n o gosta ele quer sempre estar certo Acho que na maioria das vezes o ci me a porrada na certa porque mulher um bicho ciumento Tem um amigo meu que a mulher dele tinha muito ci me Ele ia jogar bola e sa a com as mulheres ela soube e cortou os pneus da bicicleta dele A mulher come a mais porque a mulher ciumenta demais ciumenta com qualquer coisa A maioria dos caras que se separam aqui por causa de trai o Tem cara que ainda releva aquilo d aquela discuss o mas tem aquele que cabe a dura mesmo que quando sabe de alguma coisa n o quer mas viver com ela Quando o casal separa o homem vai pra casa do pai Se a mulher tem uma fam lia que goste muito dela ela vai pra casa da fam lia Mas sai mais o homem de casa Se por acaso a mulher tiver filhos ele n o vai mandar ela ir embora da casa com o filho e ele sai Geralmente eles ou corre cada um pra casa de seus pais ou ent o o homem ele decidiu mesmo a separa o que n o tem volta porque tem delas que a gente termina e fica sei l com o pensamento com raiva mas com um pequeno pensamento de voltar ent o se ele se separou realmente m
305. ocupar uma casa idealizada por um planejador com um vizinho logo ao lado e ainda com boa parte do preparo do solo e da implanta o de equipamento a fazer E o plantio ainda ser com uma tecnologia pouca conhecida que requer assist ncia de agr nomos A sensa o de ganho sucumbe sensa o de perda um per odo de absoluta vulnerabilidade tamanha a depend ncia nos executores do projeto A mobiliza o e o refor o dos servi os de sa de do munic pio e ainda mais a montagem de servi os especiais para tratar dos problemas decorrentes da mudan a ocupa parte do planejamento da Chesf e de seus colaboradores Tanto quanto o muito notici vel trabalho de resgate de animais silvestres e dom sticos amea ados pela subida das guas Equipes inteiras s o mobilizadas para fazer o convencimento de velhos ocupantes da beira do Rio como Sr Francisco que se agarrou a uma rvore no seu s tio e recusava soltar enquanto as guas subiam Cenas semelhantes se repetiam incluindo muito choro no apartar de vizinhos cujas novas moradias n o coincidiam por mais que o trabalho planejado procurasse preservar alguns la os comunit rios Vivido pela Chesf quase como uma opera o de guerra o traslado assumiu caracter sticas de uma institui o total instant nea determinando todos os passos dos atingidos tratando os como parte da obra Da mesma forma os atingidos cada um sua maneira procuravam achar brechas para compreender a
306. oferecer demais Mas em outro caso se ela procura a gente porque ela se sente bem em transar com aquela pessoa porque ela transa com outras pessoas mas n o sente quase nada n o sente o prazer que sente com voc comigo j aconteceu v rias vezes esse tipo de coisa L em Petrol ndia tinha um cabra se engra ando pra meu lado na festa do ano trazado dez conto quer por dez conto Que dez conto Cingiienta eu sabia que ele n o queria mesmo Cinquenta demais Sei n o um viado fraco pobre n o tem dinheiro Agora o rico em S o Paulo tome mil real ai vai Eu pulava em cima igual um gato do mato Aqueles homens tradicionais eu n o gosto de mulher que vai atr s n Isso o que mais tem N o porque geralmente eles julgam por isso se v uma mulher que vai atr s de homem ele j n o quer Ele j diz assim ela oferecida ela deu em cima a ele j n o quer como se aquela mulher n o servisse para ele A mulher da rua pode ser aquela depravada que ele quer mas a mulher dele tem que ser boazinha certinha Aqui o machismo ainda os homens fazem o que quer e a mulher dentro de casa A gente que mulher tem que saber o que faz porque sen o vai ficar falada principalmente aqui em cidade pequena porque ainda prevalece o machismo porque os homens eles sempre t m raz o A mulher n o tem que esperar que ele mande ela fazer s pra faz
307. ogia UFPE 2008 MAUSS Marcel Ensaio sobre a d diva Forma e raz o da troca nas sociedades arcaicas In MAUSS Marcel Sociologia e Antropologia v II S o Paulo Edusp 1974 1923 1924 MELO M rio Lacerda de Coord As reas de exce o dos Sert es de Pernambuco Recife SUDENE 1985 MINAYO Maria Cec lia de Souza Relaciones entre procesos sociales violencia y calidad de vida Salud Colectiva Buenos Aires v 1 n 1 p 69 78 2005 243 OFICINA DO S O FRANCISCO Oficina de trabalho desenvolvimento e impactos ambientais no Vale do S o Francisco Oxfam SACTES Sociedade Nordestina de Ecologia Recife 1992 OLIVEIRA FILHO Jo o Pacheco de Org Hacia una antropolog a del indigenismo estudios cr ticos sobre los procesos de dominaci n y las perspectivas actuales de los indigenas en Brasil 1 ed Rio de Janeiro Lima Contra Capa Centro Amaz nico de Antropolog a y Aplicaci n Pr ctica 2006 OLIVEIRA Francisco de Elegia para uma re lilgi o 3a ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1981 OLIVEIRA Roberto Cardoso de A sociologia do Brasil ind gena Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1978 OLIVER SMITH Anthony Involuntary Resettlement Resistance and Political Empowerment Journal of Refugee Studies 4 2 132 149 1991 ORTIZ Renato Cultura brasileira e identidade nacional S o Paulo Brasiliense 1985 PANDOLFI Maria Lia Na Margem do Lago um estudo sobre o sindicalismo rural Recife Disserta
308. ois projetos de desenvolvimento que incluem programas de reassentamento n o s o projetos de reassentamento Como as finalidades do projeto s o outros e a popula o um elemento a remover para alcan ar o sucesso do projeto mais abrangente na fase da implanta o a concentra o de esfor os em torno da garantia do xito da cria o de um espa o esvaziado para que o seu novo uso possa ser promovido pelos planejadores Evidentemente h espa os institucionais reservados para cuidar 198 do reassentamento mas somente durante a implanta o da remo o que as a es junto a esta popula o tomam preced ncia sobre outras a es No caso da constru o de barragens este fato cristalino pois quem se mant m no seu local de origem inundado e tal acontecimento seria um fracasso para os planejadores O sucesso fornecer energia sem trope ar nos empecilhos para chegar a esta meta Ent o nesta hora o empenho de anular considera es sobre inseguran a estrutural e sobre inseguran a coletiva local de jogar um manto protetor para os atingidos com um ar de onipot ncia e num ritmo ofegante real ando o seu status de aparentes beneficiados para poder celebrar a consecu o da limpeza do espa o na sequ ncia imediata O desafio para as entidades de defesa como o P lo Sindical est posto Finda da primeira luta para conscientizar a popula o sobre a necessidade de batalhar para n o somente evitar
309. om funcion rios governamentais sem a presen a de um bom n mero de nahuas das diferentes comunidades documentando as suas a es por escrito e com c maras de v deo mandando cartas inclusive para minist rios para o presidente para as Na es Unidas e o Banco Mundial Convidaram 60 jornalistas para observar as reuni es e escrever a respeito do impacto que a barragem teria sobre os nahuas t o conhecidos por seu artesanato Falaram no r dio fizeram manifesta es na cidade do M xico pararam e informaram pessoas recebendo tamb m donativos substanciais na estrada M xico Acapulco durante as f rias natalinas e incorporaram informa es sobre problemas decorrentes das barragens do Rio Papaloapan numa a o que consolidou ainda mais o movimento de oposi o A descoberta 1983 de important ssimo s tio arqueol gico bem no meio da rea a ser inundada forneceu ainda mais lenha causa cultural e a delicada situa o ecol gica do Vale permitiu que fossem feitas alian as com grupos ecol gicos A religi o cat lica tamb m forneceu uma boa arma quando utilizou a celebra o de grande festa religiosa numa igreja rec m remodelada naquela rea para lamentar que muitos santos iriam perder suas resid ncias da mesma forma que os nahuas Levaram tamb m o lamento publicamente para o lugar mais sagrado do catolicismo mexicano a Bas lica da Virgem de Guadalupe na Cidade do M xico Cercados por todos os lados os
310. om o Estado e pela complexidade que a sua abrang ncia geogr fica implica o P lo tem uma sensibilidade particularmente agu ada para as vulnerabilidades e inseguran as que afetam os trabalhadores e agricultores Assim evitam se muitas das digress es explicativas que mesmo relevantes para o caso alongariam demasiadamente este relato planejamento e divulga o O Rio S o Francisco desde as nascentes em territ rios mineiros at a foz entre Sergipe e Alagoas tem sido alvo de projetos de modifica o arquitetados por homens sonhadores de processos produtivos grandes e organizados e de energia farta E estes projetos sempre esbarram com a presen a de outros homens que sonham com ganhar uma vida digna para si mesmos e para suas fam lias na labuta di ria na terra Na constru o das Barragens de Paulo Afonso e Moxot foi assim Ainda mais dos anos 1970 para 1980 a constru o da barragem de Sobradinho ao montante das cidades de Petrolina e Juazeiro foi um exerc cio exemplar de um processo em que a execu o do projeto dos grandes sonhadores resultou no fim dos sonhos da vida digna de muitos que anteriormente moravam de labuta na terra na beira do Rio Esta derrota repercutiu no meio sindical alertando sobre a vulnerabilidade de popula es que vivam do Rio S o Francisco e de suas terras f rteis como trabalhadores e agricultores Nas folhas n o menos f rteis dos projetos dos engenheiros tocava regi o ainda mais dens
311. omportamentos tanto no que diz respeito a gostos vestu rio m sica como s formas de relacionamento afetivo Uma dessas novidades o ficar que aparece na fala dos jovens como uma caracter stica da sua gera o O ficar incorpora em seu conceito algumas transforma es das rela es entre homens e mulheres rela es de g nero e entre os jovens e suas fam lias rela es de gera o No ficar tanto o rapaz como a jovem tem a possibilidade de conhecer v rias pessoas antes de optar por um relacionamento mais s rio Isso maior novidade para as mulheres pois agora elas est o podendo demonstrar seu interesse por rapazes inclusive no campo sexual Nesse sentido o ficar acompanha as transforma es mais recentes da sociedade que indicam uma maior igualdade nas rela es entre homens e mulheres Tamb m reflete as mudan as na fam lia Entre pais e filhos as rela es s o hoje menos autorit rias e mais negociadas inclusive no que diz respeito s escolhas nos relacionamentos afetivos dos jovens Apesar dessas mudan as a pr tica do ficar tamb m traz consigo desigualdades de g nero Em tese rapazes e mo as t m liberdade para ficar com quem quiserem mas na verdade as garotas que ficam com v rios rapazes s o muitas vezes julgadas como f ceis e n o procuradas para namorar J os rapazes disp em de maior liberdade de a o embora essa liberdade tamb m reflita uma expectativa social eles n
312. onhece e elogia esta enorme vontade de produzir dos reassentados apostando que estas qualidades pelo menos em alguns lugares v o fazer com que os projetos sejam avaliados como tendo sucesso no presente e no futuro No meio dos anos 1990 ainda havia muita ansiedade em saber o que era que iria se plantar e em saber como os produtos teriam que ser tratados com a irriga o com a nova tecnologia de aspers o diferente da t cnica com a qual cresceram mais acostumados irriga o por gravidade que usa quantidades maiores de gua Durante a MRI a interven o de uma professora t cnica em agronomia oferecendo apoio t cnico da Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE foi recebida com muito entusiasmo pelos sindicalistas pois disseram que n o estava havendo apoio t cnico suficiente e todos estavam em d vida 109 sobre como proceder nas novas reas Inclusive nas reas onde a irriga o j est implantada aparecem problemas bem concretos sobre como manejar o uso do solo e como lidar com a tecnologia h drica Representantes das agroind strias exportadoras com estrat gias bem definidas de expans o tentam convencer os agricultores da rentabilidade dos produtos que negociam convencendo os a serem produtores fornecedores E ainda se discutia como organizar as Associa es de Produtores que come am a se formar em cada projeto e como determinar a divis o das atividades produtivas entre os reassentados Tudo
313. onhecimento e interesse e compet ncia do t cnico quando este demonstra de fato estas qualidades um reconhecimento constantemente posto em questionamento por sucessivas substitui es de t cnicos decorrentes principalmente dos baixos sal rios pagos A import ncia da transmiss o de conhecimento entre gera es se torna um ponto nevr lgico tanto para a quest o de como que vai se realizar a reprodu o social destes pr prios grupos quanto pela forma com que eles v o se relacionar com os administradores dos projetos de reassentamento representantes de um Estado provedor desprovedor e acusador O fato que estes agricultores est o plantando melancia e feij o os produtos t picos da agricultura que praticavam antes do reassentamento vistos por eles como fazendo parte de uma agricultura de pobre porque de curta dura o e de baixos custos de investimento permitindo retornos frequentes mesmo que prec rios e baixos A compreens o disto como sendo resist ncia dos velhos uma leitura muito parcial e problem tica do fen meno mais a fraqueza das linhas de cr dito e de comercializa o que levam os agricultores a n o adotarem o plantio de produtos mais nobres como por exemplo de fruticultura Estes produtos s o vistos pelos agricultores como sendo de ricos n o porque seja dif cil assimilar os conhecimentos t cnicos do seu plantio mas porque os custos os riscos e o tempo necess rio para eles darem u
314. optaram por receber indeniza es e ou participar em projetos diferenciados e de outro lado a grande maioria dos meeiros 20 Esta parte da pesquisa foi feita com a equipe de Parry Scott e tr s bolsistas de inicia o cient fca e de aperfei oamento do CNPQ A vers o aqui publicada foi revisada do original SCOTT Parry SALLES Nara NETA Francisca Maria VASCONCELLOS M nica Gera es g nero e mudan a r pida dirigida no campo li es de Itaparica Boletim do Museu Paraense Goeldi S rie Antropologia 12 1 em 2000 155 posseiros e pequenos propriet rios foram reassentados com direito a lotes irrigados nas agrovilas novas Para reassentar estas fam lias a Chesf tomou como vari vel importante o c lculo da um o de obra dispon vel ver cap tulo 3 para cada grupo dom stico na hora da entrevista cadastral reificando uma vis o bastante est tica da composi o do grupo dom stico No fim dos anos 1980 em plena remo o da popula o um dos elementos que gerou mais dificuldade na negocia o com os atingidos foi exatamente o que fazer com as modifica es na composi o dos grupos dom sticos Estas modifica es foram percebidas de maneiras muito diferentes pelos administradores do reassen tamento por um lado e pela pr pria popula o por outro Uma das quest es que tamb m sempre aparecia era nestes grupos dom sticos quais seriam os agricultores mais preparados para adotar novos conhecimentos e se
315. oram particularmente prejudicados deixados a depender unicamente da VMT sem ganhar uma nova base para produzir Muitos dos que defendem o Estado tamb m usam a 203 perpetua o da exist ncia da VMT s extinta em 2005 para argumentar que os reassentados s o parias que n o querem trabalhar e que preferem viver dependentes do Estado Esta nega o do reconhecimento de que antes do reassentamento quase n o havia desemprego na regi o sempre criticada pelo P lo que ressaltou que foram trabalhadores e agricultores ativos que perderam suas bases de produ o Demoras como a de mais de uma d cada e meia na instala o do equipamento de irriga o que foi anunciado para ser instalado no prazo de seis meses ap s o traslado tamb m mancham a imagem da companhia como mal pagadora as firmas declaram n o construir por n o estarem recebendo e levam a Chesf a encontrar novas condi es e companhias parceiras grandes empresas construtoras engenheiros do Ex rcito etc para realizar o trabalho Muitos dos agr nomos e t cnicos agr colas contratados para orientar os novos irrigantes reassentados elaboram uma imagem acusat ria de incompet ncia resist ncia tradicional e limita es cognitivas destes agricultores deslocados S o tentativas de repassar a responsabilidade dos insucessos produtivos s v timas do processo A montagem e constante remontagem de comiss es espec ficas para lidar com todas as pend ncias do projeto
316. ores familiares e individuais em torno do trabalho Segundo tamb m uma forma de diferenciar entre mulheres e homens que mesmo quando os trabalhos exigem esfor os f sicos semelhantes terminam sendo representados de uma forma que o homem seja compreendido como mais forte e como provedor principal e a mulher como mais fraca e dedicada rotina Quando falam em trabalho tanto mulheres quanto homens tendem a silenciar se sobre o trabalho dom stico que por ser um espa o privado e marcadamente feminino recebe uma valoriza o menor no discurso dos jovens Nem as pr prias jovens d o realce a esta quest o O terceiro aspecto a enfatizar que o trabalho para terceiros uma op o pouco valorizada quando comparado com o trabalho para se mesmo E isto se deve n o somente pouca oferta de outros servi os mas tamb m pr pria condi o aut noma que o trabalho para se mesmo oferece Todos t m consci ncia que o veneno usado no plantio danifica a sa de dos trabalhadores que precisam manipular o produto ou as suas embalagens O plantio irrigado com a tecnologia escolhida para os lotes das agrovilas colocou o agricultor em contato maior com os venenos quando comparado com a sua situa o antes do reassentamento e a mudan a mais recente diminuindo o plantio de produtos de ciclo curto visto como tendo um efeito positivo de diminuir a exposi o a agrot xicos Quando se trata de coopera o os esfor os abrangem o trabalho da
317. organizada Agora ap s o reassentamento a popula o receia que a Chesf esteja usando o papel justamente para se descompromissar A Chesf tem muita vontade de aprontar e largar na m o do agricultor como se n o tivesse nenhuma responsabilidade se vai dar certo ou n o Ela entregaria a terra tome l e n o quero saber mais de nada como demonstra e vem demonstrando inclusive para come ar as primeiras irriga es ela queria que a gente assinasse um documento j come ando a Chesf a sair de qualquer responsabilidade Os t cnicos da Chesf explicam que na situa o atual de rearruma es internas entre as diversas empresas que prestam servi os s obras nenhum empreiteiro quer aditivo j que na sua perspectiva h problemas em fazer os contratos anteriores serem honrados A Codevasf com mais experi ncia na implanta o e organiza o de projetos de irriga o segundo v rios t cnicos e representantes sindicais s entrou na marra pois estava receosa em assumir obras que percebiam como sendo da responsabilidade da Chesf Quando o representante da Secre taria de Projetos Especiais do Governo Estadual de Pernambuco fala que este ano 1993 ele facilitou o encaminhamento de pedido de sementes ao governo e que pode facilitar encontros com o governador ele recebe uma cr tica do representante do P lo Sindical pelos anos de omiss o do governo estadual contrapondo os anos de luta com a novidade da disponibilidad
318. os agricultores reassentados ocorrendo entre familiares conhecidos inclusive mais de que no caso do grupo ind gena vizinho marcada pela constru o da etnicidade e dos moradores urbanos cuja maior fluidez e diversidade de rela es invisibilizam mais a natureza coletiva do ato de assumir o compromisso do filho devolvendo a ao terreno de religiosidade diversa No reassentamento como em outros locais a decis o de abortar coloca em quest o a pr pria continua o da rela o for ando defini es mais claras sobre a avalia o das qualidades e das inten es dos parceiros Nunca uma quest o tranquila mas a moralidade subjacente decis o tem menos a ver com doutrinas religiosas de que com as regras de reciprocidade vividas pelo grupo local e pelo pr prio casal amplamente conhecido que a pr tica do uso de rem dios do mato ou da farm cia para descer a menstrua o especialmente nos primeiros meses n o costuma ser entendida como aborto embora o uso do rem dio de farm cia Cytotec por ser muito dispendioso e eficiente mesmo quando a gravidez bastante avan ada receba tal conota o Estes rem dios do mato e da farm cia est o dispon veis mesmo que requeiram transpor obst culos econ micos e sociais na sua aquisi o Se antigamente com certa facilidade o uso de rem dios do mato podia assumir o papel de refor o de identidade local para agricultores ao operar em novos contextos ecol gicos e
319. os depois com a constru o de Itaparica Nesse intervalo a partir dos anos 70 o governo se empenhou em criar o muito badalado maior lago artificial do mundo construindo a barragem de Sobradinho a algumas centenas de quil metros rio acima do ponto projetado para Itaparica As li es de Sobradinho foram muitas e tiveram muita resson ncia Acima de tudo a desastrosa evacua o dos camponeses residentes na rea inundada alertou as popula es atingidas pela barragem seguinte do Rio S o Francisco Itaparica para a necessidade de se organizarem a fim de evitar uma desapropria o semelhante O movimento dos atingidos por Itaparica come ou a despontar em 1976 quando a Companhia Hidrel trica de S o Francisco Chesf embora ainda centrando seus esfor os em Sobradinho j preparava a futura entrada nos sete munic pios do Subm dio S o Francisco em margens baianas e pernambucanas Observando as perdas dos camponeses de Sobradinho os camponeses de Itaparica iniciaram a luta de terra por terra na margem do lago com uma s rie de protestos em locais dispersos Em 1979 a coordena o do movimento se centralizou com a cria o do P lo Sindical que reuniu os Sindicatos de Trabalho Rural STR dos munic pios que estavam no caminho do planejamento da barragem Durante os cinco anos seguintes o P lo promoveu e coordenou a es coletivas bem vis veis como concentra es nas obras e manifestos de den ncia ampliando o movimento
320. os durante o MRI do 106 representante da Chesf e do sindicalista reassentado Ap s uma apresenta o curta contendo alguns detalhamentos t cnicos de engenharia da constru o de barragens que inclusive geram a eletricidade necess ria para fornecer o bombeamento das guas a serem usadas nos projetos de irriga o o representante da Chesf comenta Sabem que para pagar o custo dessa energia tem que ser produto de alta rentabilidade de f cil comercializa o e de produtividade alta E quando a oportunidade de retrucar se apresenta o sindicalista comenta o problema de ter que produzir para compensar isto pagar o custo da energia eu tenho viv ncia na agricultura e n o vejo como tirar dali n o A Chesf tem muita vontade de aprontar e botar na m o do agricultor como se n o tivesse nenhuma responsabilidade se vai dar certo ou n o O novo ambiente produtivo produ o para si mesmo e para os outros Ao contr rio da imagem produzida de os reassentados n o terem tido nada antes do reassentamento justamente a nova sensa o de n o ter nada ou melhor ainda de n o ter onde produzir que mais fere estes antigos agricultores irrigantes da beira do Rio S o Francisco O que anima os que eram diaristas e meeiros poderem estar produzindo para si mesmos quando come arem a produzir O fazendeiro o dono da bomba o granjeiro empregador n o ser o mais parceiros imediatos dos valores produzidos pe
321. os judicialmente expulsarem os invasores Numa agrovila que desde os primeiros anos estava em funcionamento perto de Petrol ndia a quinta parte 11 dos lotes se encontrava em m os de dois invasores e os reassentados foram avisados para se manterem distantes inclusive com direito a placas amea adoras e caveiras avisando o perigo para quem n o foi convidado Os agricultores reassentados que seriam os donos dos lotes nas planilhas da Chesf observam que os invasores s o ca adores de indeniza es ligados a fam lias poderosas e as suas pr ticas agr colas s o nitidamente de sugar a terra Estas pr ticas incluem a queima de material vegetal que poderia servir para nutrir o solo o uso descontrolado de gua resultando na eleva o das guas nos ajeiros e a saliniza o r pida da rea al m do uso de defensivos que tamb m provocam saliniza o Mesmo ganhando acesso a seus lotes na justi a algum dia desconhecido no futuro estes reassentados est o preocupados que a sua base para produ o vai se desgastar em pouco tempo por causa do descaso ambiental dos invasores N o s a fragilidade potencial dos lotes como base da produ o para a fam lia que preocupa os reassentados As pr prias modifica es nas fam lias decorrentes de anos de conviv ncia com a ociosidade imposta pelo processo de reassentamento podem levar a dificuldades na execu o do trabalho agr cola familiar Os c lculos de for a de trabalho
322. os seus agentes dentro dos pr prios projetos de desenvolvimento Primeira Indaga o A quem interessa o c lculo da for a de trabalho familiar e por qu Em 1985 a Chesf completou a primeira etapa da realiza o de cadastros detalhados para orientar as indeniza es e compensa es para a popula o a ser removida Em dezembro de 1986 o P lo Sindical organizou os agricultores e ocupou o canteiro de obras da barragem para for ar a assinatura de um documento formalmente amarrando os compromissos da Chesf com a popula o neste documento o Acordo de 1986 que o Item II estabelece os c lculos de for a de trabalho concretamente com clareza para ambos os lados Sem atentar para detalhes t cnicos maiores as bases dos c lculos s o 76 Tabela 3 1 O C lculo da For a de Trabalho Familiar Pontos Necess rios para Pontos por membros de fam lia Tamanho de Lotes Irrigados pontos hectares Anos masculino Feminino 0 0 a 3 0 3 0 7a14 0 20 0 15 15 a 64 1 00 0 60 3 0 a 4 5 4 5 65 0 50 0 30 4 5 ou 6 0 Pontua es especiais e Solteiros acima de 18 anos fazem parte do conjunto familiar e Aposentado ativo 1 5 hectares e Irriga o entre 3 e 5 99 hectares 1 ponto adicional capacidade empreendedora e Propriet rios posseiros e arrendat rios com 6 hectares ou mais automaticamente ganham lote de 6 hectares e Meeiros e trabalhadores rurais s ganham de acordo com a for
323. pa o Pol tica no relat rio do INPSO FUNDA J 1988 43 Z rea E poss vel contudo distinguir propostas e metas sociais bem como princ pios que orientariam a condu o do reassentamento particularmente em alguns aspectos nele considerados como decorrentes da moderniza o tecnol gica nos per metros irrigados Ressaltam se entre outros como recorrentes o desenvolvimento regional e local traduzido como fator de progresso e cujo sentido seria resgatar a d vida social para a popula o ribeirinha CHESF 1985 a supera o do atraso nas rela es de produ o e depend ncias tradicionais a recomposi o da vida produtiva para assegurar a inser o regional dos projetos e por fim atrav s de mecanismos de participa o dos atingidos o evitar ou minimizar os efeitos de poss veis tens es sociais al m de legitimar o processo de reassentamento CHESF 1985 O documento do P lo Sindical Diretrizes B sicas para o Reassentamento foi divulgado em 1984 quando a es coletivas de enfrentamento direto eram privilegiadas pelo movimento sindical Nele tem se a necessidade imperiosa do reassentamento como um fato de justi a para com os agricultores grifo nosso P LO SINDICAL 1984 2 S o reivindicados entre outros os seguintes aspectos mais pontuais e urgentes indeniza es justas alertando se para as quest es sociais da transfer ncia for ada das fam lias defini o das reas de reassentame
324. peito ao pai m e da noiva porque quando est namorando s rio realmente a gente sempre freq enta a casa das meninas ent o tem um certo respeito com ela pelos pais porque sen o a confian a fica pouca E ficar n o ficar ningu m est sabendo os pais n o est o sabendo ent o eu acredito que o respeito seja bem menos Se n o ficar com uma menina ela logo chama os meninos de veados Eu acho que em outro lugar diferente daqui porque aqui se a mulher quiser ficar com voc e se voc n o quiser no outro dia todo mundo sabe que voc fresco Aqui j aconteceu isso comigo Foi ontem eu estava batendo uma bolinha quando venho voltando uma menina fez Vem c Posso lhe beijar A veio me beijar a eu disse N o pare a A chamaram eu de fresco Namorar o melhor Namorar e ficar eu namoro com uma menina aqui e fico com outras por a se surgir de repente Daqui a pouco est namorando s rio freq enta a casa dela beijinho pra l e beijinho pra c vai ter uma festa ela fica em casa acaba surgindo uma neguinha l o cabra fica com ela e por a vai Eu entendo assim que esse ficar s namorar uma noite numa festa e pronto n o se v mais Pode ser at mais que uma noite mas sem compromisso Pode ficar v rias vezes mas sem compromisso nenhum Mas j em outras cidades ficar transar Aqui o nosso ficar s namorar sem compromisso Ficar um neg cio as
325. perdas mas tamb m angariar benef cios como que se administra o trabalho de colabora o e de contesta o com os executores do projeto Acompanha o traslado da popula o D assist ncia Assessora Contabiliza Observa Responde a incidentes espec ficos Chamar aten o aos defeitos nos novos locais vai trazer risco em perder alguma oportunidade de acompanhar outra mudan a O pr prio ritmo acelerado do trabalho de traslado para as novas casas e lotes determinado pela Chesf como executora quase impossibilita a fiscaliza o que tal tipo de a o merece O ritmo e a abrang ncia comunicam uma falta de toler ncia a falhas um espa o n o aberto para a manifesta o de vulnerabilidades que eram para ter sido todas sanadas na fase anterior Evidentemente n o foram e disso todos sabem Sabendo que efetivamente esta fase o do pice da vulnerabilidade da popula o atingida o P lo assume o papel de apontar e amenizar estas fragilidades criadas e chamar aten o ainda s outras vulnerabilidades n o tratadas O poder de imagina o da perda das orienta es espaciais e da base de sustento costumeira que marcava a fase anterior materializa se na viagem deixa ro ados plantados mesmo j avisados que teriam que dar fruto at antes da hora da viagem Leva um n mero contado de bichos do criat rio e deixa ou vende 199 outros a pre os reduzidos Despede se de uma paisagem conhecida e entra num caminh o para ir
326. porque j tava bom Ta vendo que ele n o liga n o liga n o Ele tem vergonha quando chega l 280 PARA ELES E PARA ELAS 8 Com a Intoxica o A intoxica o provoca tontura febre v mito dor de cabe a quase os sintomas da dengue dor no corpo Fizeram uns exames ai tiraram sangue do pessoal pra fazer mas os exames que fizeram eu acredito que n o deu muito certo n o e quanto aos problemas tinha mais antes porque abriu aqui no projeto era mais legumes feij o uma coisa que requer muito veneno ai acontecia aconteceu v rios casos mas agora mudou o plantio coqueiro fruteira ai dif cil Higiene primeiramente lavar os alimentos pra tirar qualquer res duo de veneno tomar um bom banho lavar sempre a m o porque pega em veneno Meu irm o tem uma ro a ai n s plantamos melancia ai pra envenenar n s plantando e fazendo as covas e n s plantamos agora mesmo estamos emburacando nas covas na bomba ai bomba derramava nas costas dele n o apertava a tampa direito derramou nas costas dele ai ele depois pegava em veneno e melou as m os e tudo ai quando foi almo ar ou foi tomar caf eu disse vai lavar as m os n o ele disse ox tem nada n o com pouco ele estava trambecando com a vista escurecendo querendo vomitar e tremendo L na Agrovila delas mesmo eu fiquei sabendo de 2 3 casos tem uma vizinha minha que logo no come o ela morre
327. pr ximos ao p lo Juazeiro Petrolina e distantes do reservat rio onde tambem se instalaram reassentamentos e que se encontram numa posi o intermed ria nos projetos de constru o de futura barragens geradoras de eletricidade Pedra Branca e Riacho Seco 115 Estas divis es sub regionais fazem parte de um processo permanente de rearticula o dos dom nios de poder que t m sido ressaltados com frequ ncia no caso do Nordeste Para qualquer regi o uma proposta de uma nova regionaliza o ou de uma sub regionaliza o um an ncio da intensifica o dos conflitos e alian as geo pol ticas que subjazem a estrutura o das rela es de poder vigente Isto sem d vida e o caso para o Rio da Integra o que se apresenta como s mbolo hist rico da liga o da regi o Centro Sul nos seus nascentes no estado de Minas Gerais com a Regi o Nordeste e especificamente os estados banhados pelas suas guas Bahia Pernambuco Alagoas e Sergipe Com o in cio das sempre anunciadas obras da transposi o das aguas do rio esta suposta integra o ainda se estende para os estados do Cear Para ba e Rio Grande do Norte e forma uma fissura nos posicionamentos dos representantes de diveros interesses na regi o Instituo da Mem ria do Povo Cearense IMOPEC 1994 As propostas de sub divis es internas da regi o nordestina s o muitas e t m ra zes hist ricas profundas Basta ver as listas de publica es da Superinte
328. projetos tendo sua presen a dada atrav s de quadros t cnico administrativos funcion rios diretores e presidentes e tamb m pol ticos tendo assumido na conjuntura nacional de democratiza o um discurso participativo embora em certa medida com cartas na mesa de negocia es podem confundir o car ter das rela es que ent o estabelecem com os atingidos e reassentados Na pr tica a agente que expropria econ mica e culturalmente mas se apresenta como resgatando uma enorme d vida social para com a popula o da regi o e assim no discurso assegura progresso ou melhores condi es de vida Pensamos que uma ltima transforma o se dava pela implanta o dos grandes projetos enquanto impacto definitivo da constru o de grandes barragens Neles os novos segmentos talvez pare am aut nomos diferenciados do meio circundante Tratar se ia de uma possibilidade de homogeneiza o dos interesses sociais devido aos meios tecnol gicos e de trabalho pr prios da irriga o moderna De acordo com a concep o marxista as classes n o se constituem em si nem mesmo para si mas frente s outras V rios de seus segmentos resultam de transforma es seculares enquanto outros s o produzidos Esta ltima a situa o em que se encontram trabalhadores e camponeses reassentados em Itaparica As perspectivas para aqueles que permane am em alguns projetos n o dista muito de um modelo de empres rios bem
329. propostas originalmente com todos os reassentados numa 97 depend ncia acentuada dos percal os misteriosos de um governo ineficiente e aparentemente desinteressado nos destinos da popula o desalojada As obras oficiais pararam publicamente as institui es administradoras tendo que se rearranjar redefinindo prioridades fazendo involu es providenciando capacitac o t cnica ou mesmo evitando assumir compromissos em alguns casos A avalia o social parou e os rg os dos governos federal estaduais e locais fraca e temerosamente tentaram acertar um discurso negociando as diversas responsabilidades Uma vez que as agrovilas foram constru das e a popula o trasladada apareceu o conjunto designado popularmente de os cons rcios reunindo entidades t cnicas que assumem parte ningu m assume toda da responsabilidade para o bom andamento dos projetos nos dois extremos geogr ficos do projeto O movimento sindical e as ONGs com dificuldade conseguiram manter o reassentamento vista do p blico durante um tempo atrav s de eventos como o semin rio Itaparica tr s anos depois na Universidade Cat lica de Pernambuco 1990 apoio Comiss o Pastoral da Terra CPT a Oficina do S o Francisco na reuni o da Sociedade Nordestina de Ecologia 1991 participa o no Movimento dos Atingidos por Barragens VAINER ARA JO 1992 protestos e manifesta es espor dicas quando poss vel como por exemplo um protesto no p
330. putas de poder que apontam as transforma es e resist ncias da popula o camponesa mais diretamente influenciada pela a o em estudo Demonstra como a constru o f sica e simb lica do ambiente novo se associa proximamente s finalidades principais das pr prias empresas contratantes Examina tamb m leituras alternativas deste processo de constru o do ponto de vista de reassentados ex agricultores da beira do rio que passaram pela experi ncia de serem atingidos antes de se agregarem categoria de reassentados As pr ticas e discursos t cnicos pol ticoinstitucionais s cioecon micos e culturais ilustram a rearticula o de estruturas de poder na transforma o social do campesinato realizada no contexto de grandes projetos de desenvolvimento Problemas na administra o do reassentamento ambiente e popula o Em julho de 1994 o P lo Sindical envolvido no complexo e cont nuo processo de renegociar a sua rela o com a Chesf arqui respons vel pela articula o dos diversos interesses p blicos e privados no projeto de desenvolvimento e insatisfeito com o andamento da implanta o do reassentamento preparava se para mais uma cobran a do cumprimento das promessas desta vez atrav s de um encontro direto com o presidente da institui o Nesta altura dos acontecimentos os dirigintes do P lo identificavam entre os muitos problemas enfrentados e sem nenhum ordenamento expresso de prioridade dentro
331. que a emancipa o total dos projetos de Itaparica ocorreria quando consolidados em sete anos Na apresenta o desta proposta ao P lo Sindical observa se que a participa o dos agricultores teria sua abrang ncia definida em rela o participa o da Codevasf envolvendo tanto decis es e responsabilidades quanto a obten o de recursos no decorrer da consolida o e emancipa o dos projetos Segundo um diretor da Codevasf Bras lia 45 A filosofia da Codevasf de que o soberano a organiza o dos agricultores Nosso papel hoje de assessoramento de fornecer informa es para decis o pelo agricultor Varia de n vel para n vel de participa o dos agricultores Em Bebedouro a Codevasf tem participa o m nima Interfere para que a associa o n o fique dependendo da Codevasf para que tenha outras fontes de recursos Sudene etc O discurso dos t cnicos da Codevasf al m de apontar para a necess ria busca de recursos financeiros por suposto mesmo ap s a emancipa o enfatiza que abreviar esta ltima etapa exigiria prover recursos humanos profissionais t cnicos para al m dos fornecidos pelos rg os goverrnamentais ou seja contratando equipes t cnicas atrav s da entidade dos agricultores com perfil dos quadros indicado pela Codesvasf A explica o que se segue exp e uma contraposi o de interesses em jogo assim como um sentido para o envolvimento da participa
332. r muitos outros assuntos abordados nestes produtos de pesquisa Foi um per odo de intensa documenta o e interpreta o permitida devido colabora o e apoio do P lo Sindical e de muitas entidades e pessoas que trabalhavam com ele Com a pr tica constante de entrega deste material lideran a do P lo e com visitas frequentes mas muito mais irregulares que desejado devido dist ncia 500 kil metros e aos espa os reduzidos de liberdade de tempo das atividades universit rias estreitaram se os v nculos entre o FAGES e o P lo Sindical Assim a partir de 2001 at 2006 acrescentou ao apoio do CNPq um apoio significativo da Funda o Ford para a realiza o da pesquisa a o Estilos reprodutivos e organiza es representativas Este apoio abriu uma brecha para coopera o mais direta em torno de quest es de g nero e gera o assunto pelo qual o P lo j mostrava prezar A pr pria dinamicidade da sua diretoria de Juventude e da Mulher fazendo trabalhos diversos de capacita o de mulheres e jovens ao longo dos anos contribuiu para uma abertura significativa para pensar como a sa de reprodutiva se relacionava com os pleitos da organiza o e de associa es de produtores que se formavam nas agrovilas Os pesquisadores encontraram jovens e adultos mulheres e homens dispostos a participar em grupos de discuss o sobre a vida produtiva sobre a reprodu o sobre a socializa o dos filhos e sobre os programas de sa
333. r s pontos nodais de intera o nos quais se travam disputas de poder entre os agentes envolvidos no processo da constru o de um novo ambiente O primeiro ponto nodal ressalta as pr prias limita es do ambiente f sico em suportar povoamento com atividades agr colas criando um campo de pr ticas e discurso que p e em relevo as capacidades t cnicas humanas de lidar com o ambiente O segundo ponto ressalta o 140 confronto t cnico e pol ticosocial sobre os procedimentos mais adequados para o reassentamento no qual a hist ria e os interesses particulares marcam um campo em que a sensibilidade s especificidades de grupos locais leva a um redimensionamento dos elementos componentes do ambiente permitindo uma reavalia o do puramente t cnico O terceiro ponto ressalta as irregularidades administrativas que apontam as reais limita es no poder do Estado e das classes dirigintes em efetivar projetos de grande porte de acordo com um planejamento idealizado de reordenamento do ambiente f sico e social que n o corresponde a cronogramas execut veis dentro da realidade or ament ria nacional e do efetivo compromisso destes grupos com as metas espec ficas dos projetos Estes campos de pr tica e de discurso reaparecem constantemente em di logo com os agentes sociais diretamente envolvidos no processo os dirigintes de institui es como Chesf e Codevasf os administradores e t cnicos das empresas privadas contratadas para lev
334. r a compreens o dos impactos destas pol ticas sobre os povos atingidos e encontrar formas de defender essas popula es H uma rede irradiada de Santa Catarina e articulada com pesquisadores do Cone Sul Silvio Coelho dos Santos Ilse Scherer Warren Cec lia Helm Maria Jos Reis Leopoldo Bartolom Rosa Catullo Juan Carlos Radovich pesquisadores do Rio de Janeiro cujos estudos repercutem ao longo da escala de atores desde a reformula o de pol ticas que orientam bancos multilaterias e funda es organiza ao de movimentos de Atingidos por Barragens MAB e grupos sindicais Lygia Sigaud Carlos Vainer Aur lio Vianna Federico Guilherme Ara jo grupos que se aglutinam em torno da Amaz nia onde as quest es tnicas e ecol gicas ganham um realce pela sua inser o em pol ticas nacionais e internacionais L gia Simonian Edila Moura Sonia Magalh es Edna Castro Alcida Ramos Gustavo Lins Ribeiro Alfredo Wagner Berno de Almeida Jean H bette Stephen Baines Rosa Acevedo Marin Ars nio Oswaldo Seva Filho pesquisadores que acompanham os efeitos da intensa constru o de barragens de tamanhos diversos em Minas Gerais Franklin Rothman M rcia Pinheiro Ludwig bem como os pr prios pesquisadores do Nordeste que focalizam na import ncia estrat gica do Rio S o Francisco e na import ncia da hidropol tica hist rica e atual no Nordeste Eduardo Paes Machado Maria Ros rio Carvalho Pedro Agostinho Henrique Osva
335. r n o fala nada disso ela s fala em cozinhar HH O homem tem mais necessidade que a mulher a mulher s pensa em estudar falar da vida alheia HH O homem tem essa coisa de dizer sou mais potente porque o homem quando t na sua idade dos quatorze anos a punheta j deu nele ai n o deixa passar nada e a mulher n o tem essas coisas oh se n o Porque geralmente a gente quando tem essa idade n o tem coragem de procurar uma mulher bem dif cil mesmo ser crian a timidez uma vez o amigo disse que ia levar a gente pra ter com mulher mas a gente fica com vergonha ai tem que se fazer na m o mesmo Eu tenho muitos pecados mas n o deu vontade S acontece quando o cara t com seus quatorze anos pra os dezesseis um per odo que voc passa que eu n o sei como o homem resiste tanto n o sei como o rapaz n o se esgota n o se acaba na punheta todo dia duas tr s duas tr s N o toda hora que a pessoa quer fazer amor acho bom fazer isso com vontade que d mais prazer n o d pra dizer para ele que eu vou ficar s na maioria das vezes o homem sempre sente mais prazer principalmente no orgasmo pelo o que eu leio pelo o que escuto a a gente se torna assim uma transa uma sexualidade ali pronto s pra satisfazer a ele e a gente Eu tenho depende da mulher tem muitas que sabem dizer o que ela quer e outras n o sabe tem vergonha fica logo pensando que sem vergonha
336. r um contexto local realizar uma escolha n o totalmente arbitr ria de elementos de um cen rio guiada pelas indica es que o olho do observador levado a privilegiar na sua intera o com alguns agentes que nesse contexto operam Assim poss vel real ar conte dos espec ficos das redes de rela es constru das de acordo com as pr ticas e conceitos de um conjunto de agentes que se tornam discern veis atrav s das suas a es cotidianas Isto se d sejam quais forem as suas propor es relativas na constru o de identidades coletivas e na ades o diferenciada de pessoas que habitam nos espa os escolhidos e que elaboram maneiras de sociabilidade entendidas como formadoras delas enquanto fazendo parte de grupos As refer ncias sexualidade s o brevemente tratadas na descri o do contexto e depois retomadas nos itens espec ficos sobre namoro e aborto forma o de uni es enquanto as pr ticas religiosas j se integram numa pr pria descri o do contexto contempor neo de Itaparica Os agricultores reassentados No ambiente rural o residir numa agrovila de agricultores irrigantes reassentados no Sert o do Subm dio S o Francisco pernambucano e baiano se caracteriza por uma semelhan a na base econ mica atrav s de uma forte experi ncia unificadora comum de resist ncia e por uma diversidade de origens comunit rias S o principalmente agricultores da beira do rio com mais algumas familias polivalentes
337. ra para trabalhar de meia ou para arrendar outro peda o do lote A responsabilidade masculina forte nestas atividades Mesmo assim quando a fam lia tem o lote produzindo na maior parte dos casos as mulheres est o presentes junto fam lia em coopera o sem ter uma parte significativa do lote reservada para ela Isto n o as impede de s vezes plantarem ao redor do lote produtos diversos como acerola coentro coco banana macaxeira principalmente culturas para o uso de subsist ncia garantindo o alimento para si o companheiro e os filhos A comercializa o dessas culturas limitada s vezes havendo a venda de produtos como acerola e coentro na feira ou a algu m da cidade normalmente por encomenda Com o dinheiro apurado costumam comprar carne ou algo que as crian as estejam precisando A mulher que trabalha no lote ajuda em todos os servi os segundo a concep o dos agricultores Os homens num primeiro contato falam mais do lote e de suas planta es n o incluindo muito a a o da mulher Contudo n o se demora a perceber a atua o direta e constante de mulheres ajudando dentro do lote irrigado recebido executando todas as tarefas pertinentes agricultura irrigada H por m uma exce o no que diz respeito s contribui es femininas no trabalho agr cola a aplica o de agrot xicos uma ajuda que nem ela nem o marido quer que ela fa a em 115 fam lias s havia uma mulher que de
338. ra ter um fruto obedece mas s vezes quando eu pego a bom porque se coisar mal coisado sand lia pego o chicote S pra bater forte morre quando eu quero mas homem 258 8 PARA ELES E PARA ELAS 48 BEBENDO BRIGANDO E VIVENDO s vezes lcool vive jogando baralho bebendo nos cabar ai a mulher vai desgostando desgostando Vai perdendo o amor at que chega num ponto que ela diz chega Ai separa de uma vez Depois o marido chega abusando ela o filho querendo bater quebrando as coisas Ai ela vai aguentando tudo mas vai chegar um momento que ela vai dizer Parei por aqui n o ag ento mais Voc n o considera a mulher que tem Ai vai separa e vai viver a vida dela e deixa ele pra l Meu pai ele bebia mas ele chegava assim meio dia ia no bar tomava uma dose e outra as vezes se embebedava mas ele nunca deixou de botar o sustento pra dentro de casa Quando n o tinha nada pra fazer na ro a plantar ai se embebedava Chegava em casa bebo s vezes os meninos trazia ele A ele chegava em casa mam e botava a comida dele s vezes nem almo ava nada ia dormir Ela ajeitava ficava conversando com ele e nem ligava conversa de bebo Dormia e se acordava bom o problema a cacha a Aqui quando tem briga irm o primo Porque aqui tudo fam lia aqui na rua tudo fam lia ent o e n o tem gente de fora aqui n o s
339. ragem de matar outro de roubar um bico que uma coisa sem valor que um bico realmente isso que faz a fama Porque se t s voc um cara honesto direitinho mas se voc t aqui rodeado de ladr o quem t de fora vai dizer o que CONVIVENDO COM A POL CIA O papel da pol cia vim pra corrigir Vem um trabalhador nosso com uma simples faca na cintura ela toma Se ele disser n o rapaz fa a isso n o leva uma pisa s isso Agora prender bandido que bandido ela n o faz isso n o O papel dela esse ai fazer o que n o deve Teve um tempo que a policia vivia revistando as casas das agrovilas Ai tinha um velhinho que n o faz mal a ningu m O coitado mal anda Ia com a faca nos quartos Ei pra que essa faca ai eu preciso cortar uma coisa e outra passe pra c se n o vai apanhar O posto era pra ser aqui pra dar mais seguran a policia aqui n o tem S aparece por aqui quando tem maconha ou quando diz tem um monte de arma na agrovila ai eles vem pegar as armas Os policiais vem atr s de espingarda de matar rolinha pra comer no almo o pre S o uns homens muito ruim bagun a tudo manda o pessoal sair pra fora Ped gio eles t ali pra multar quem tiver irregular voc d um dinheirinho a ele Eles s o comprados d o o dinheiro no caso eu vou passar ali e se eu tiver armado ou com qualquer coisa pra ele n o tomar a arma ai
340. ram identificar os seus valores mais importantes sobre o trabalho a coopera o e o ambiente de viol ncia sobre namoros sexo e forma o de fam lias e sobre contracep o preven o e cuidados de sa de feitos por si mesmos bem como oferecidos por outros Com estas informa es em m os mais f cil identificar a es a serem promovidas para beneficiar a sa de da popula o respeitando os seus valores e condi es concretas Conviv ncia no dia a dia nas pr prias agrovilas e nas mesas de reuni o sistematiza o de dados oficiais levantamentos demogr ficos question rios entrevistas grupos de discuss o realiza o de semin rios participa o em workshops promovidos por outros realiza o de oficinas para discutir quest es relacionadas com g nero gera o e sa de todos terminaram por fazer a sua contribui o para a elabora o de um texto que respeitasse a hist ria dos reassentados A maior parte do texto vem da boca dos pr prios jovens moradores de Agrovilas nos Blocos 1 3 e 4 do munic pio de Petrol ndia proveniente de participa o em grupos de discuss o em 2003 a convite dos membros do FAGES As falas foram recortadas e organizadas de modo a mostrar o que melhor representa as opini es diversas dos grupos Cada conjunto de falas precedido por uma pequena introdu o e fechado por palavras dos pesquisadores em que os pesquisadores do FAGES recorrendo ao que conhecido na rea mas sem
341. rar uma mo a da casa dos pais pra dar uma vida pior que ela j tem tem que dar uma melhor N o pode tirar a pessoa de casa e n o ter o que oferecer Na minha opini o a maioria dos casais mora na casa dos pais porque se juntam e n o tem condi es de arrumar uma casa alugar uma casa ou comprar a vai pra os pais Alguns que n o t m condi es n o t m trabalho fixo trabalha de alugado a vai pra casa dos pais Agora os outros que trabalham e t m condi es j t m um dinheiro guardado procura fazer uma casa ou aluga uma casa e vai morar Geralmente o rapaz leva as mo a pra sua casa at quando venha dinheiro pra possuir sua pr pria casa pra morar com ela porque como se dissesse se eu fugir eu posso agora me casar Agora falar em casar Os jovens se juntam casam porque engravidaram tem um ano de namoro A n o tem como ficar longe n o Porque hoje o que leva todas as mo as a fugir porque os pais prendem demais elas n o sabem das coisas acaba nisso levando nos pensamentos do pr prio namorado Ela acha que o que ele diz est certo ela acaba fugindo com ele Se fosse uma coisa assim mais diferente que fosse assim mais disputada que tivesse mais di logo entre esses jovens entre os rapazes isso n o aconteceria Acontecer at podia acontecer mas seria em poucos casos Geralmente a maioria dos casados eles se juntam s pelo sexo Porque eles n o imaginam que vai se ver
342. refeitura tinha dinheiro muito bem pra pagar agente de sa de e ficar um l e um aqui Por exemplo tivesse mais um m dico que pudesse andar mais umas duas vezes na semana aqui n o Porque s tem uma vez na semana Aqui pelo menos assim se ele passa o exame hoje e chegar com oito dias o exame s vem tal dia passa um dia antes para ver se chegou Na rua no pronto socorro tamb m tem m dico porque a gente chega no hospital seis horas da tarde vai chegar que horas aqui Dez 285 problema pra pegar ficha Tem que chegar cedo de quatro horas pra pegar Se chegar de seis horas em diante n o tem mais ficha n o num instante se acaba muita gente e pouca ficha Se voc n o for atendido naquele dia tem que esperar pro outro dia at morrer morrendo O neg cio a ficha pra ser consultado tem que dormir l a noite Pega a ficha e quando for umas oito ou sete horas da manh vai se consultar Tem um nibus adaptado que atende que tem m dico que vem atender aqui dia de sexta e tem tem um m dico e uma dentista O agente de sa de do Pastoral sai avisando na agrovila sem ir na casa de ningu m s avisando o dia que vai ter m dico Por exemplo o rem dio do meu pai ou quando vai pra prefeitura tenho que pegar na prefeitura e quando n o tenho que pegar no posto ai vai avisar o rem dio est l no posto ai eu vou buscar horas da noite mais f cil conseguir a noite do q
343. refor ar no Sert o Exortados a defenderem os seus direitos os agricultores terminaram por se aliar com grupos cat licos progressistas que ganhavam for a no contexto do processo de redemocratiza o do pa s O catolicismo pelo seu bra o mais ecum nico fez se companheiro do processo reivindicat rio colaborando com as causas do P lo Sindical Os padres mais ativos viram abrir os caminhos para carreiras pol ticas pr prias como deputados federais ou estaduais O planejamento das agrovilas sempre inclu a espa os para igrejas reivindica o essa que os reassentados atribuem em Petrol ndia aos padres Geraldo e Adriano Estas capelas refletem a ambiguidade do catolicismo rural sustentado mais pelo povo do que pela pr pria Igreja As capelas foram constru das pelos administradores do projeto como s mbolos de integra o comunit ria e s o mantidas pelos fi is locais que as assumem sob a tutela do p roco municipal organizando as novenas e outras rezas em tempos sagrados e cotidianos evangelizando os jovens limpando as capelas e escolhendo representantes para a diocese Estas pr ticas que mant m a estrutura da Igreja formal numa regi o onde h poucos padres para celebrar missas em tantos locais que fazem o catolicismo perdurar na falta de cl rigos Ainda entre parteiras e curandeiras ocorre uma mistura de conhecimento de ecologia e rela es sociais locais junto com a for a religiosa simb lica da reza para ajudar a
344. reja e inclusive de muita import ncia com alguns representantes das ag ncias financiadoras internacionais de certa forma mesmo com as ressalvas sobre a lentid o da implementa o no per odo de 1988 a 1992 incorpora o ambiente de euforia e ufanismo que acompanha os ganhos do movimento nas horas das mais intensas negocia es O pr prio t tulo do artigo sintom tico From Victims to Victors No entanto dos dez a vinte anos desde a remo o da popula o o P lo tem passado por muitos altos e baixos na tentativa de fazer com que de fato possam ser vitoriosos Com a diminui o da intensidade de investimentos na rea de Itaparica a situa o dos reassentados saiu dos holofotes jornal sticos A Chesf fiel meta energ tica e sacraliza o da engenharia desviou a aten o em favor da ainda muito badalada usina de Xing inclusive por seus custos sociais avaliados como baixos custos sociais ver SIQUEIRA 1999 por crises energ ticas e discretamente para as novas obras projetadas ao longo do rio Os investimentos na irriga o para exporta o promovida pela Codevasf continuam concentrados nas proximidades de Juazeiro Petrolina Os projetos de Itaparica s o tangenciais a estes grandes focos de a o de institui es nacionais e s o alvos da comprova o da efici ncia da a o dos defensores dos trabalhadores neste ponto que a rea se torna uma mancha incomodando os outros atores como detalhar
345. rg ticos e de agroexporta o O seu Plano Diretor explicita este papel de coopera o financeira PLANVASF 1989 p 82 identificando niveis diferentes de coopera o com os govemos federal estaduais e municipais A Chesf e o Governo Federal n o poderiam ter realizado a constru o nem de Sobradinho nem de Itaparica sem o pesado financiamento do Banco Mundial E internamente partes destes projetos que n o recebem aprova o t cnica financeira do Banco se precarizam por terem que buscar recursos em outros locais nacionais e estaduais sobretudo O Banco Mundial tem muitas facetas N o ap ia indiscriminadamente qualquer megaprojeto que pleiteia recursos Ademais a sua credibilidade constru da na sua pr pria hist ria associada incorpora o financeira e pol tica global com responsabilidade Na d cada de 1980 o Banco estava sentindo press o internacional devido aos resultados sociais negativos de grandes projetos que tinha financiado sendo proeminente entre eles o caso de Sobradinho Cernea antrop logo expositor pol tico t cnico de uma reforma de prioridades em grandes projetos a partir da fase do seu planejamento 1988 1991 relata as press es externas e internas no Banco CERNEA 1990 e Hall 1992 chama aten o s a es advindas de ONGs internacionais Destes fracassos o Banco Mundial resultou t o escaldado quanto os movimentos de defesa dos atingidos e formou se uma alian a mesmo que b
346. rinho bem safada digamos se for feia a diferen a de voc transar com a jegue bem pouquinha n o tem carinho nenhum bom mulher bem safada fique mordendo o cara fungando Para mim as mulheres gostam que o cara tenha um pau grande acho que as mulheres n o querem que o cara goze r pido quer que demore que se satisfazer tamb m porque no caso o homem goza r pido e s ele sente prazer e no caso ela fica na vontade 8 PARA ELES Olha eu vou dizer uma coisa quando uma mulher passa mais de 15 dias sem ter rela o com o marido a n o ser que ela esteja doente porque ali n o vai esperar outra coisa n o ela tem outro E PARA ELAS 48 A PRIMEIRA RELA O SEXUAL Eu conheci um cara que ele disse que n o gostou da primeira vez n o ruim demais a primeira vez corta tudo no cabra ele disse que se arrependeu de ter feito a primeira vez Se com a namorada o cara n o pode um namoro s rio n o pode ai tem que ir fora mesmo encontrar pessoas por esporte Quer dizer que lugar assim como Bras lia Recife esse neg cio de mulher virgem assim n o tem nada haver qualquer pessoa pode tomar partido mas s que aqui diferente Se namorar com uma menina virgem e acontecer alguma coisa tudo resolvido na bala Muitas eu acredito muitas n o algumas em vez de fazer se guardam muito por causa dos pais Ficam com medo 276 E PARA ELAS
347. rio e numa rea ainda mais densamente povoada No final dos 1980 entretanto com os pa ses do terceiro mundo enfrentando crises de d vidas cada vez maiores era mais f cil admitir a possibilidade de abandonar ou pelo menos de adiar indefinidamente planos de construir barragens cujos custos sociais culturais e ecol gicos fossem altos e vis veis E foi em 1988 no Brasil que os ndios Kayap e outros grupos aliados entraram em confronto direto com os planejadores do complexo de barragens de Altamira chamando as aten es nacional e internacional para a amea a aos ndios e assim conseguindo a retra o p blica dos planos Em outros lugares do mundo tamb m crescem os movimentos de oposi o a barragens CULTURAL 66 SURVIVAL QUARTERLY 1988 HANSEN OLIVER SMITH 1982 OLIVER SMITH 1993 Nesse novo contexto planos de barragem autorit rios de gabinete sem negocia es amplas com as popula es afetadas e sem considera es s rias sobre o bem estar dos reassentados perdem a vez tanto nos pa ses de origem quanto nas ag ncias fmanciadoras Isso n o significa que alguns grupos com interesses particulares na realiza o dos empreendimentos n o tentem empurrar a aprova o de certos projetos S significa que se tornou mais dif cil conseguir a aprova o destes Estruturalmente existiam semelhan as not veis entre os dois movimentos tratava se de numerosas comunidades em v rios munic pios somando dezenas de
348. rmas as mais diversas e entre elas sempre s o inclu das condi es que possam ser percebidas como patol gicas A inseguran a administrada ocorre quando o inusitado ou inesperado se torna realidade Esta seguran a est gerada quando uma a o espec fica costumeiramente correspondente a uma pol tica do Estado de fato toca diretamente na popula o local e os grupos que operam no local se v em imperativamente motivados a se envolver nesta a o a cria o de dramas sociais GOFFMAN 1963 1979 TURNER 1985 cujas intensidades respondem for a de cada a o desencadeada Grupos locais enfrentam momentos hist ricos t o cruciais quanto as pr prias propor es da a o proposta pelo Estado nos quais o emprego de 188 identidades coletivas para negociar os espa os alvos das interven es planejadas fundamental A pol tica e o programa espec fico que geram a inseguran a administrada s o uma reifica o concreta do Estado quando a omiss o vira a super inclus o Mesmo assim os sinais desta super inclus o n o emitem nenhuma mensagem clara que transforme a percep o subjacente dos grupos locais envolvidos sobre as inten es excludentes do Estado Se a inseguran a estrutural contribui para um ambiente geral favor vel a uma perspectiva c tica generalizada da popula o local em rela o ao Estado os caminhos escolhidos pelos grupos que est o sujeitos aplica o de um projeto que gere inseguran
349. ro e de fora da rea atingida s vezes participavam simultaneamente em outra categoria poderosa como fazendeiros arrendat rios ou donos de bomba Como comerciantes donos de lojas transportadores atravessadores de produtos arroz cebola mel o pele de cabra etc e outros envolvidos na comercializa o de colheitas e de gado O seu acesso a e conhecimento de mercados permitia que assumissem uma posi o privilegiada seja em muitas comunidades ribeirinhas seja nas sedes dos munic pios 6 Pequenos agricultores com acesso terra as grada es de riqueza e de parentesco informavam em que lado dos contratos de parceria estes pequenos agricultores ficavam bem como o quanto iriam recorrer do trabalho pr prio ou de algum familiar como diarista de algu m que estava oferecendo emprego Estes numerosos pequenos agricultores sendo pequenos propriet rios posseiros e comodat rios somavam pelo menos 45 6 da popula o rural de Itaparica concentrada como se viu no lado baiano Cada um tinha acesso mais ou menos independente a alguma base m nima para a produ o do necess rio para a sua fam lia Historicamente muitos combinavam plantio nos dep sitos aluviais sazonais dos vazantes junto com criat rios de caprinos e agricultura de sequeiro A regulariza o do fluxo do rio devido constru o de barragens a montante nas d cadas mais recentes inviabilizava crescentemente tal combina o favorecendo um aumento significat
350. roblemas t cnicos enfrentados na constru o do novo ambiente para os reassentados O que se mostra como alguns dos mais importantes destes problemas se traduzem em pontos dial gicos para delinear as diferen as entre agentes sociais Neste sentido h um conjunto de problemas t cnicos que a fiscaliza o da Codevasf categoriza como eminentemente prejudiciais e estreitamente relacionados inexperi ncia da Chesf na rea do manejo de recursos h dricos 142 para a forma o de campos de plantio irrigado Desde o in cio do projeto de reassentamento se previa a entrada da Codevasf Veja o cap tulo 2 cap tulo 6 ou alguma entidade semelhante na fase de plantio irrigado e desde 1993 o contrato de assist ncia t cnica na rea dos projetos passou para a Codevasf e duas empresas consorciadas particulares sub contratadas por ela enquanto a Chesf funcionava como repassador de recursos Da em diante os problemas t cnicos enfrentados ser o fio gerenciamento e manejo de recursos h dricos pelos novos irrigantes e a Codevasf n o est disposta a assumir os preju zos decorrentes de erros na administra o anterior Os documentos elaborados pela Codevasf explicam que as esta es de bomba que enviam gua para os projetos foram entregues sem as instru es de opera o que mostravam os n veis timos de opera o o que implica em desgaste e desperd cio desnecess rios Tamb m questionam a qualidade das v lvulas distribuidoras
351. rona ou ao farmac utico ou provavelmente mesmo o balconista sendo fonte de informa es sobre tratamento seguidos pelos reassentados Os servi os de sa de alcan am as comunidades via agentes de sa de postos nas agrovilas e o nibus que leva uma equipe para atender e isto apreciado pelos moradores jovens embora as jovens chama aten o vontade de ter contato mais regular com os agentes As experi ncias com os servi os de sa de na cidade revelam avalia es que alternam entre a satisfa o de ter um servi o que atende e de revolta com as esperas as faltas de m dicos e a limita o nos servi os dispon veis Os jovens mostrando maior conhecimento da cidade conversam mais sobre as limita es e as op es dispon veis Mesmo para esta popula o com poucos recursos a op o de servi os particulares demonstrou ser uma necessidade para alguns O cuidado com sa de uma rea sobre o qual todos t m conhecimento e articulam uma diversidade de estrat gias As jovens s o muito mais atentas e cr ticas sobre os servi os que afetam o espa o da casa e da fam lia e os jovens falam mais sobre o trabalho na agricultura e os servi os oferecidos na cidade Os assuntos relacionados com sa de reprodutiva mostram uma certa invers o na qual os jovens restringem a sua aten o s doen as e as negocia es de rela es entre homens e mulheres enquanto as mulheres reconhecendo essas quest es introduzem tamb m conversas
352. rquitetura for a todas as fam lias a morarem pr ximas umas das outras o que antes n o acontecia Isso gerou um ambiente diferenciado do antigo conv vio em moradias mais dispersas na beira do rio ampliando a exposi o de todos aos olhos observadores a coment rios frequentes dos vizinhos sobre atividades particulares redimensionando assim os espa os de rela es sociais cotidianas Essas mudan as implicam uma diferente maneira de intera o com o meio ambiente e nas rela es familiares C mo Como se redefinem as tarefas das mulheres e as tarefas dos homens 31 Vale a pena lembrar que os agricultores reassentados na Borda de Lago em Pernambuco est o entre a minoria que j estava produzindo no in cio de 1995 Muitos reassentados esperaram muito mais tempo aguardando a entrega dos seus lotes e consequentemente s disp em de reas com gua no pr prio quintal 173 Nos anos logo depois da implanta o da produ o de 1993 a 1995 os homens reconquistaram seu espa o privilegiado o lote agr cola irrigado A ro a no lote notavelmente do homem Cabe chefia decidir como dividi lo de acordo com as possibilidades da fam lia Isto implica decidir quem trabalha em quais tarefas e com que grau de autonomia seja no peda o que de fam lia seja num peda o cedido para um filho ou uma filha no modelo campon s conhecido de ro ado ro adinho descrito por Garcia e Heredia 1971 seja atrav s de pessoas de fo
353. rsifica o de ingressos via atividades m ltiplas 9 Ind genas a popula o ind gena Tux era um grupo etnicamente distinto de mais de 1 200 membros localizado em e em torno da sede do munic pio de Rodelas na Bahia O seu acesso terra era garantido pela legisla o federal brasileira com a representa o da Funda o Nacional do ndio FUNAI no processo de negocia o A sua produ o agr cola n o diferia significativamente dos outros residentes descritos do lado baiano e a terra a ser inundada inclu a a Ilha da Vi va terra tribal de significados sagrados e espa o ritual do grupo Na altura do canteiro de obras e subindo a serra no lado pernambucano em Petrol ndia havia o grupo ind gena Pankararu acima de 5 000 Este grupo sentia o efeito do tempo da constru o as resid ncias dos trabalhadores e 28 administradores da obra sendo erigidas encostadas nas suas terras e as suas referencias sagradas ribeirinhas afetadas 10 Funcion rios P blicos Professoras e professores e trabalhadores de sa de provinham da popula ao local com algum n vel de instru o e com liga es a figuras pol ticas locais e municipais O exerc cio destes pap is representava uma media o cultural fraca entre dom nios locais e supralocais de poder delineando uma certa distin o ou privil gio dentro das comunidades Outra camada de funcion rios p blicos bem diferente era os que ocupavam cargos de responsabilidade na ad
354. rta ao seu tempo que um tempo irrecuper vel que oferece elementos nicos que garantem a impossibilidade da sua replicabilidade O processo hist rico cuida de borrar tentativas de montar modelos comparativos com aplica o geral O reassentamento rural de Itaparica ocorreu na sa da de um per odo de ditadura intensificou num per odo de democratiza o prolongou se num per odo de estabiliza o democr tica e perdura Estes fatores s o insepar veis da sua hist ria e sinalizam contra o tratamento caricatural de fases associadas a modelos cujas temporalidades parecem ter sido suspensas na percep o de alguns planejadores Em nome da clareza de exposi o um dos eixos organizadores desta discuss o de vulnerabilidades e fases a trajet ria do P lo Sindical do Subm dio S o Francisco uma entidade sindical que acompanhou todo o processo de estrutura o de Sindicatos Municipais de Trabalhadores Rurais STRs em P los multi municipais de articula o de a es O P lo assumiu o papel de representante dos trabalhadores rurais e agricultores atingidos pela constru o da barragem e este fato permitiu que na regi o do Projeto de Itaparica a ades o ao P lo pelos STRs ocorresse de uma forma particularmente intensa quando comparada com outros P los em forma o na poca ver 192 ARA JO 1990 Por sistematicamente mediar o contato da enorme diversidade de agricultores e trabalhadores nos munic pios da regi o c
355. rva se novamente que a quest o da participa o recai em termos de responsabilidade fazendo se aqui acompanhar da a o ou opera o mando Prosseguindo o mesmo t cnico da Chesf tem se o desfecho da discuss o Se o Sindicato tem proposta que pode preceder a fase de transfer ncia frase interrompida Voc s j t m proposta e est o aguardando estrat gia momento oportuno A provoca o parece incomodar a todos na reuni o A dire o da Codevasf Brasilia diz que a pauta est esgotada H contudo refer ncias atua o dos governos estaduais e o P lo pede c pias dos conv nios estabelecidos pela Chesf O mesmo t cnico da Codevasf diz que os acordos s o p blicos Deve se fazer chegar c pias ao P lo A Codevasf est em fase aberta de negocia es com as cartas na mesa di logo franco e construtivo disposi o para entendimento Percebe se tamb m a contraposi o de posturas n o s das empresas 52 governamentais frente ao P lo mas delas entre si Encerra se um ciclo das reuni es Retomamos pois a indaga o sobre a metamorfose dos camponeses e trabalhadores em outro segmento social cuja identidade est por se definir ante as novas condi es de vida ante o desenvolvimento das rela es com o Estado em novo contexto Nesse sentido observar amos que a Chesf e a Codevasf enquanto empresas governamentais que conduzem a retirada o reassentamento e a dire o inicial dos
356. s ao mesmo tempo que abriria o caminho para uma privatiza o que atrairia compradores fortes Desde o in cio do conv nio com a Codevasf esta mostrou que nas condi es em que o reassentamento se encontrava ela n o era candidata a assumir a responsabilidade Muito pelo contrario preparou um relat rio que acusa frontalmente a Chesf de incompet ncia t cnica na execu o de projetos de irriga o citando elementos como espa amento de aspersores qualidade inferior de materiais conex es e instala es mal feitas e equipamentos sofisticados comprados sem instru es para acompanh las Refor ando o seu papel tradicional de conhecedor de t cnicas de irriga o a Codevasf tamb m faz um recuo no que diz respeito responsabiliza o pelos projetos de reassentamento ao categoriz los como exclu dos das reas de atua o do terceiro distrito de irriga o de Petrolina Pernambuco e do sexto distrito de Juazeiro Bahia Os t cnicos da Codevasf encaram Itaparica como uma experi ncia em que as salas montadas no escrit rio de Petrolina para a sua administra o servem como um espa o intermedi rio de informa es com a coordena o formal localizada em Bras lia e ocupando uma nfima parte do total das a es coordenadas a a partir do Distrito Federal As informa es t cnicas s o coletadas e bem organizadas em relat rios mensais com um acompanhamento criterioso e detalhado em cumprimento das suas obri
357. s peculiares por exemplo Manga de Baixo Jeremoaba Inaj AMORIM 1995 TAVARES 2009 e um Projeto que resultou da insist ncia da popula o local mas que foi rejeitado por crit rios t cnicos pelo Banco Mundial e pela Chesf e excluido de financiamento projeto Jusante em Gl ria da Bahia e Ppiscgranjas diferenciadas cuja complexidade t cnica e vulnerabilidade de manipula o pol tica apresentaram dificuldades de administra o e 126 organiza o desde o in cio Itacuruba e Chorroch AMARAL 1994 e Irriga o beneficiada no Projeto Apol nio Salles que foram organizados mais rapidamente e em lotes maiores com residencias em cada lote para preservar a condi o economicamente privilegiada dos antigos colonos das granjas irrigadas de Petrol ndia GALIZA MEDEIROS 1994 e e a grande maioria dos reassentados foram para agrovilas nos Projetos de Borda de Lago 34 agrovilas em Rodelas e Gl ria da Bahia e Petrol ndia de Pernambuco e Projetos Especiais 76 agrovilas em Cura Abar na Bahia e Oroc e Santa Maria da Boa Vista em Pernambuco O resultado imediato do reassentamento foi sobretudo uma dispers o geogr fica que inseriu os projetos em realidades municipais bem diversas muito mais diversas das que foram encontradas na beira do Rio antes Isto levou a uma forte subdivis o dos atingidos de acordo com os seus projetos individuais Para o P lo Sindical a fase da luta para o reassentame
358. s que as ajudam nessa tarefa A cogni o sobre a est tica e a sua imbrica o na organiza o social merecem um estudo mais aprofundado Havia antes do reassentamento um espa o efetivo da atua o da mulher em termos do or amento familiar Quando a composi o da economia familiar permitia acesso terra s mulheres cabia tamb m um pequeno criat rio galinhas porcos patos ovelhas e sobretudo bodes O criat rio hoje praticamente invi vel Primeiro com base em estudos t cnicos da capacidade de sustento das reas de pastagens a Chesf limitou o 176 n mero de animais que podiam ser trazidos 2 fazendo com que as pessoas que mais lan avam m o a esta atividade fossem particularmente prejudicadas Segundo nas agrovilas h queixas de que n o existe uma estrutura adequada para o criat rio e que o roubo de animais constante Em v rios casos as cria es existentes passaram a ser de dom nio do homem inclusive havendo quem construiu casa no lote e l permanece cuidando dos animais ou coloca uma pessoa para l morar a fim de evitar o roubo o que muitas vezes ainda acontece apesar da vigil ncia Nas duas agrovilas estudadas em Petrol ndia existe apenas uma cria o de porco relativamente grande que est sob a responsabilidade de uma mulher Ela recolhe lavagens das casas e restos das ro as para aliment los ajudando assim no or amento familiar No restante s o uma ou duas galinhas presas algum
359. s agricultores Havia espa o para barganha e muitas vezes solu es adequadas foram encontradas Mesmo assim n o raramente aos t cnicos cabia comentar que esse senhor n o agricultor comerciante ou eles dizem que s o agricultores mas fazem outras coisas ou ele n o morava aqui mas quando soube do projeto veio correndo para ser inclu do ou ela s casou agora para ganhar um lote ou constru ram um barraco muito prec rio agora s para ter direito a outra casa na agrovila Todas estas coisas aconteciam mas as interpreta es dos t cnicos costumavam sugerir subterf gios dos planos t o cuidadosamente elaborados Havia quem sugerisse at repetidamente que os furos aos planos iniciais poderiam ainda chegar a prejudicar o pr prio sucesso do reassentamento Fam lias se comportando como fam lias viraram advers rias do bom andamento do reassentamento planejado como sens vel ao novo modelo mundial 83 importante salientar novamente que as desigualdades discutidas aqui s o desigualdades familiares que existem em qualquer comunidade rural ou mesmo urbana O processo de ajustamento entre as composi es familiares e o acesso aos meios de produ o familiar ocorre de acordo com a forma o das estruturas de poder discern veis nas hist rias particulares de cada localidade e para entender como estes ajustamentos se distribu fam em torno deste trecho do rio S o Francisco antes do reservat rio teria q
360. s anos a disponibilidade local de terra para trabalhar estimulou a chegada de pessoas para a agrovila e uma press o para fornecer moradia para estas pessoas Adicionalmente desde 1987 houve em torno de 25 casamentos na agrovila resultando na sa da de filhos e filhas de casa A metade destes casamentos foi de pessoas provenientes destas fam lias mais velhas Nos casamentos dos filhos houve um esfor o maior para encontrar novas resid ncias na pr pria agrovila enquanto com as filhas a resid ncia p s casamento mais comum era na cidade de Petrol ndia Casar foi uma raz o de sair muito mais frequente do que a procura de trabalho em outros locais mesmo antes do in cio da produ o Foram relativamente poucos que tomaram o destino de S o Paulo ou Rio de Janeiro De fato em alguns casos a migra o de retorno destes locais mais que compensou pela emigra o A soma de todo este movimento no seio da fam lia mesmo contribuindo para a diminui o do tamanho do grupo dom stico aponta para o crescimento das redes mais ampliadas de fam lias inter relacionadas em grupos de parentes atendendo ao crit rio de fixa o da popula o na rea S em parte sobretudo com os casamentos que resultaram em sa das atendeu ao crit rio de mobiliza o criando uma evas o que para o al vio dos administradores n o era dos pr prios beneficiados e sim dos seus dependentes A tentativa de manter grupos de fam lias inter relacionadas j
361. s cujas express es pol ticas e culturais se 25 diferiam de um lugar para o outro Alguns dos principais agentes podem ser identificados 1 Agroind strias muitos dos produtos comerciais especialmente tomates e algumas frutas eram destinados a empreendimentos agroindustriais fora da rea atingida pelas guas A pr tica regional destas ind strias era de realizar contratos antecipados de compra de safras o que terminava por definir uma boa quantidade do que era plantado e produzido na regi o Politicamente estas agroind strias favoreciam o estabelecimento de per metros irrigados para a produ o dos seus insumos O seu v nculo lhes fornecia uma ascend ncia sobre a elite pol tica local e na poca a sua express o mais forte se estendia entre o p lo din mico de Petrolina e Juazeiro bem como Belo Jardim Pesqueira e Arcoverde Fazendeiros as fazendas eram e muitas ainda s o da propriedade de elites locais muito bem estabelecidas que residindo ou n o nas sedes municipais aspiravam a fun es pol ticas e empregos municipais quando n o estaduais e as vezes nacionais Mesmo que costumavam fazer visitas frequentes s suas fazendas frequentemente empregavam administradores que supervisionavam a opera o e cuidado do seu gado e dos seus contratos de parceria mea o nas terras irrigadas mais pr ximas ao rio Normalmente o pre o da prepara o do solo e das sementes se tirava dos 50 da produ o que competia
362. s das cidades perderam fornecedores e fregueses Todos tiveram que reconstituir as suas bases A situa o nas cidades reconstru das relativamente pr ximas s anteriores Nova Petrol ndia Nova Itacaruba e Nova Rodelas complicada e diversa e merece aten o parte Uma vez reconstru da a infraestrutura f sica urbana a Chesf procurou dar por terminada a sua interven o salvo alguns reajustes reinvindicados O pr prio processo de reassentamento levou e continua levando a realinhamentos pol ticos financeiros e comerciais bem descritos tamb m em Ara jo et al 2000 Inclusive importante lembrar que a reestrurura o da vida nas cidades tamb m atinge as reas receptoras dos novos projetos agr colas uma realidade captada e pesquisada comparativamente em dois munic pios Oroc e Santa Maria da Boa Vista ARA JO et al 1992 A nfase neste cap tulo sobre os novos ambientes na maneira que se apresentam aos reassentados rurais e aos agentes envolvidos no estabelecimento nestes ambientes Afinal de contas o lema mudan a para melhor usado amplamente para estimular a aceita o do traslado foi dirigido sobretudo aos agricultores e trabalhadores rurais percebidos simultaneamente como os atingidos e os benficiados do reassentamento SCOTT 1991 Como ressaltado anteriormente as circunst ncias iniciais para a realiza o do reassentamento de Itaparica em condi es comparativamente mais favor veis ao
363. s das fam lias est o arraigadas nas suas antigas tradi es de plantio e que pela idade vai ser dif cil modific las Deixando de lado a quest o da resist ncia cultural mudan a por enquanto v rios fatores entram na forma o deste problema da idade dos agricultores 1 a pr pria constitui o demogr fica das fam lias nas comunidades pr reassentamento comentada na segunda indaga o acima 2 as estrat gias de atividades econ micas adotadas para superar as limitadas op es na agricultura familiar e 3 o pr prio envelhecimento da popula o beneficiada Os ltimos dois fatores interligados s o fortemente agravados com a demora na entrega dos lotes Vejam se dois exemplos O primeiro exemplo de um casal estabelecido com 50 anos e cinco filhos adultos de 15 a 25 anos residindo em casa na poca do cadastramento A fam lia recebeu um lote irrigado projetado para estar em funcionamento com um tamanho de 6 hectares independente do sexo dos filhos mas ainda n o efetivado por condi es do solo Nove anos mais tarde o casal tem 59 anos e os filhos entre 24 e 34 Na falta de atividades econ micas na comunidade estes filhos se dispersaram e formaram os seus pr prios grupos dom sticos boa parte residindo na sede do munic pio deixando menos gente em casa Quando ou se o lote for entregue fam lia pronto para produ o a m o de obra familiar dispon vel ser aqu m das exig ncias do lote Seria e
364. s demandas nos lotes sob o controle destas fam lias Terceiro parecem ignorar a pr pria diversidade de atividades anteriormente empreendidas pelos agricultores que permitem uma leitura distinta de atividades diferenciadas Ou seja s porque antes praticavam um tipo de agricultura n o quer dizer que n o ir o perceber as diferen as no novo tipo de agricultura Quarto parecem ignorar por conveni ncia talvez que as raz es de n o seguir certas orienta es t m a ver com a fraqueza de redes comerciais financeiras e associativas em opera o na rea fazendo com que os plantios potencialmente mais lucrativos tamb m sejam os que cont m mais risco e menos controle por parte dos reassentados N o pela idade dos agricultores mas pela organiza o da economia local que aparecem as condi es para criar uma transmiss o de conhecimento que possa beneficiar os reassentados Quinto parecem ignorar a participa o feminina na cria o de novos espa os de produ o e de intera o social na agrovila Este ltimo item merece aten o privilegiada permanece pouco reconhecida a inser o de mulheres nestes processos 170 As mulheres no novo ambiente As mulheres reassentadas em Itaparica n o receberam nenhum destaque especial nos projetos de agrovilas fazendo com que espelhassem uma situa o corrente entre mulheres rurais em toda Am rica Latina TEIXEIRA et al 1994 SUAREZ LIBARDONL 1992 CAMPOS 1994 Arriagada
365. s energia ganhavam prioridade na divis o das fatias de or amento A popula o reassentada ficava num limbo de planejador compreendido como uma fase transicional cujo prazo ficava cada vez mais indefinido Mesmo opressivas as depend ncias pr vias constru o da barragem permitiram acesso terra para muitos dentro de condi es sociais limitantes mas conhecidas Depois da constru o da barragem as depend ncias das fam lias reassentadas entraram num per odo de fluxo cont nuo em duas frentes 1 o estabelecimento de uma base de sustento pr prio e 2 a forma o de novas rela es com as classes dominantes para redefinir os seus privil gios e realinhar a economia regional Veja se cada uma destas frentes 1 Base Dom stica de Sustento A perda de acesso terra para trabalhar diminui seriamente a capacidade de fam lias de pequenos agricultores e camponeses de controlar a m o de obra familiar A Chesf prometeu lotes irrigados ao mesmo tempo em que ressaltava imediatamente que as an lises do solo na rea dos projetos revelavam uma capacidade muito limitada de plantio em terra de sequeiro e em terras de pasto sem mencionar com tanta frequ ncia as suas d vidas t cnicas sobre o prazo da viabilidade de irriga o nos pr prios lotes Estas restri es resultaram na limita o do traslado das terras de origem para o reassentamento a apenas dois reses de gado bovino e 10 de gado caprino Poucas fam lias que dependi
366. s hectares m nimos ela teria que ter tido tr s para 4 5 hectares ou quatro para 6 0 hectares filhos do sexo masculino residentes acima de 15 anos Se se tratasse de filhas esses n meros passariam para 5 ou 7 respectivamente Como foram poucas casas com composi es t o numerosas pelo c lculo as casas chefiadas por mulheres sistematicamente eram beneficiadas com lotes menores Diante da situa o p s reassentamento quando o acesso terra definido e regularizado com esquemas e regras expl citas de fiscaliza o governamental se alguma modifica o na composi o do grupo dom stico favorecer a for a de trabalho familiar por exemplo o acr scimo posterior de um parceiro de um genro ou de uma nora extremamente dif cil rejadquirir uma base para produ o que ponha estas fam lias em p de igualdade material com outras que eram chefiadas por casais na hora do reassentamento e receberam lotes maiores A desvantagem enfrentada na hora do cadastramento se cristaliza numa exclus o mais duradoura no novo ambiente As mesmas fam lias teriam tido dificuldades semelhantes nas suas comunidades de origem mas a flexibilidade e diversidade de padr es de acesso terra pr existentes poderiam deixar mais alternativas para permitir o acesso para elas Ainda em rela o s mulheres vale a pena chamar aten o que nem se colocou em discuss o a pr pria no o pol mica da produ o potencial feminina poder ser
367. s op es morais dos moradores Numa agrovila observada a Assembl ia de Deus construiu o seu templo ao lado da capela cat lica e os representantes mais reconhecidos dos cat licos declaram que foram v timas das suas pr prias atitudes tolerantes Como disse uma senhora Ningu m queria dizer n o Nem a Chesf que dona da terra Ningu m combateu a constru o do templo Os cat licos em tom desautorizador frisam que os assembleianos todos j fizeram alguma coisa muito pecaminosa decidindo mudar de religi o para se salvarem Acham isso dif cil de entender pois como cat licos que entendem do seu credo nessa situa o seria s confessar e serem perdoados pois n o haveria necessidade de trocarem de Igreja Nesse local ainda queixam da maneira com que as quatro fam lias em torno de 10 dessa agrovila est o fechadas s interagindo entre si mesmas Adicionalmente os microfones e visitas de citadinos para os servi os religiosos barulhentos e agressivos contribuem para a acusa o dos cat licos de que os da Assembl ia acham que sabem mais que os outros 3 36 No Nordeste embora seja em refer ncia ao ambiente francamente urbano de Campina Grande a pesquisa de Matos 2008 revela as profundas divis es entre fi is de igrejas diferentes 220 Em outra agrovila a igreja cat lica a constru o proeminente e todos associam a sua presen a lembran a do passado pr reassentamento H uma imagem de S o Pe
368. s para recompensas veiculadas pelo P lo Sindical parecem eternizar simbolicamente uma rela o que a institui o anseia acabar ressaltando as perdas sofridas por uma popula o produtiva e refor ando a interpreta o da autoria dos ganhos como parte da luta sindical e n o como uma doa o ou presente do governo a uma popula o pobre e desassistida Quando representantes da institu o s o pressionados a falar sobre o assunto enfatizam os aspectos de reforma agr ria do projeto alegando que antes do reassentamento estes agricultores que iriam ganhar lotes irrigados n o tinham nada minimizando toda a sua experi ncia anterior como agricultores irrigantes Apesar do fato de que em torno da metade dos agricultores eram pequenos propriet rios ou posseiros j se viu acima no cap tulo 2 que um representante mudou esta porcentagem para 10 o discurso lembra mais dos meeiros em fazendas e dos diaristas os despossu dos num discurso institucional que supervaloriza a cria o do novo ambiente pelos engenheiros rec m chegados e 146 subestima a perda do ambiente antigo historicamente aproveitado pela popula o Para as institui es que administram o projeto uma vez que o novo ambiente constru do importante manter a sua valoriza o atrav s de um manejo que assegure o bom retorno ao investimento Nesta hora quando a responsabilidade governamental passa da Chesf para a Codevasf os reassentados desco
369. s pelos seus problemas que pelos seus sucessos uma mancha n o pela sua produtividade em lotes irrigados mas pelo desafio que apresenta para se deslanchar efetivamente como rea com caracter sticas favor veis melhoria do padr o de vida dos seus moradores Desagrega o regional morosidade e negociando afastamento O sucesso da sub regi o de Itaparica marcaria um contraponto sub regi o de Juazeiro Petrolina porque o dom nio sobre o contexto local exercido sob a influ ncia do P lo Sindical cujo modelo de desenvolvimento de agricultura irrigada se diferencia bastante do modelo predominante nesta Apesar dos projetos de reassentamento constituirem de fato uma expans o em rea irrigada em torno de 20 000 hectares um acr scimo de uma vez de 9 do total em toda a regi o do Subm dio do Vale do S o Francisco na poca esta rea foge do controle das empresas rurais e agroind strias em ascend ncia no vizinho Juazeiro Petrolina Um t cnico da Codevasf descreve a idealiza o da participa o de colonos em projetos de desenvolvimento ao comparar Itaparica com um projeto muito prezado no p lo Juazeiro Petrolina H apenas uma pequena coisa que coincide entre Itaparica e Nilo Coelho que o Estatuto da Terra rege no que diz respeito a quem foi desalojado tem direito Nilo Coelho teve 1 500 parcelas e 700 foram ocupadas por desalojados que ingressaram no Projeto Muitos destes desalojados n o tinham e
370. s pessoas necessitadas e aflitas A tens o entre a religiosidade popular e as divis es internas da pr pria Igreja formal se apresenta em alguns eventos espec ficos As manifesta es de f em santos e a participa o em prociss es elaboradas nem sempre s o vistas de uma forma positiva pelos Padres Paroquiais Na prociss o de Nossa Senhora da Sa de que dura duas noites e tr s dias numa caminhada de sessenta quil metros de Floresta a Tacaratu onde ela padroeira com representa es do calv rio ao longo do caminho acompanham carros oficiais prote o policial e ambul ncias Os padres participam mas como relutou um padre progressista uma Igreja ativa em defesa da popula o e participante em negocia es e discuss es sobre a vida cotidiana n o devia estimular tanto estas participa es de f t o distantes destas quest es Mas na vis o dos 218 fi is os padres s o passageiros vindos de fora e sua substitui o potencial faz com que n o se possa contar com o seu apoio sempre nas negocia es com a Chesf e com outros agentes do governo A passagem de tempo e a dimens o multi municipal das suas a es tornam esta inconst ncia da Igreja evidente para os reassentados N o conseguem identificar a Igreja como um ator unificado a seu benef cio material Ali s nem Igreja nem sindicato rural nem associa es de agricultores nem de produtores se mostra capaz de deter a piora das condi es de vida da
371. s pr prios reassentados foram notavelmente melhores que nos casos de barragens que a precederam especialmente a barragem de Sobradinho Primeiro internacionalmente o Banco Mundial financiador do projeto estava com a sua sensibilidade aos impactos sociais incrementada ap s as cr ticas a Sobradinho e outros grandes projetos internacionais criando espa o dentro das pol ticas formais do Banco para exig ncias maiores em benef cio das popula es localizadas em reas de implanta o de grandes projetos de desenvolvimento CERNEA 1990 Itaparica se tornou uma esp cie de vitrine potencial de reden o da pol tica social do 96 Banco e esta disposi o se traduziu num acordo em que o Banco assumiria 100 do custo do reassentamento sujeito con trapartida de libera o de outros recursos pelo governo brasileiro para outras partes do empreendimento e tamb m como parte do tratamento setorializado de empr stimos Segundo nacionalmente o processo de redemocratiza o criou um ambiente altamente favor vel para a participa o de representantes sindicais no processo de determina o das condi es do reassentamento Mesmo que esta participa o tenha exigido grandes esfor os dos sindicatos rurais em articular a forma o do P lo Sindical reunindo sindicatos de munic pios em torno da rea do reservat rio e em grandes mobiliza es para for ar a elabora o de compromissos escritos quase inimagin ve
372. saltos e homic dios que recheiam os jornais e os relatos dos que tiveram as suas vidas tocadas por tais infort nios e ainda o desmonte da confian a moral e sentimento de auto respeito como cidad o que a divulga o das falcatruas de homens p blicos e os seus parceiros trazem para todos A lista poderia ampliar e certamente merece diversifica es e desdobramentos muito mais amplos mas n o h como fugir da participa o num sentimento p blico de que o mundo se torna cada vez mais violento E o que acompanha este sentimento outro sentimento que ser detalhado muito mais aqui ao tratar da compreens o das transforma es nas condi es de sa de dos reassentados de Itaparica a experi ncia e o sentimento de inseguran a No primeiro par grafo deste cap tulo foi declarado que o Estado gera inseguran a evidente que o Estado n o age como agente isolado No caso de grandes projetos de desenvolvimento como a constru o de uma barragem para iluminar cidades inteiras e alimentar f bricas produtoras de saldos no balan o comercial nacional e regional cada passo que dado pelo Estado repercute de alguma forma na gera o de inseguran a para quem se encontra no caminho Todo o projeto contribui para a continuada fabrica o de novas malhas de rela es sociais em espa os que t m as suas pr prias hist rias dentro das quais tamb m existem fatores que geram inseguran a agora sujeitas a grandes transforma es Antes d
373. samento sobre o Comit Co gestor foi para uma organiza o ainda incipiente Podem ter outra proposta Um t cnico da Chesf Recife interp e Nem todos ter o o mesmo n vel de participa o no movimento sindical H o problema de representa o do grupo poss vel que neste primeiro momento quando n o come ou a produ o n o seja ainda organizado o comit em cada agrovila fase de prepara o para o comit Frente listagem das responsabilidades da Chesf que ficara num quadro negro um assessor do P lo observa que os servi os dela atuariam diretamente no lote e que as agrovilas n o seriam trabalhadas Uma coisa a comunidade outra o trabalho O t cnico da Codevasf interv m Se por quadra hidr ulica se por habita o sugerida pela Codevasf a defini o dos agricultores No lote tem se a supremacia do agricultor ou o centro n cleo de decis o pode ser a fam lia A estrutura co gestora implica em planejamento execu o a nivel local o que diferente da coordena o geral Insinua se aqui a defini o dos mbitos de influ ncia do Comit Co gestor e da coordena o dos projetos Enquanto um grupo da Codevasf busca enfatizar a quest o da participa o O espa o para que o agricultor participe est aberto n o precisa nem haver luta As for as que v o nos dizer como concretamente essas coisas v o se fazer um outro grupo do 51 mesmo rg o i
374. sar N o toda vez n o se o pai gostar do cara ele vai conversar Agora se ele n o for muito chegado ao cara a ele vai botar pra casar for a Se acontecer comigo a crian a sendo meu eu assumo Um filho meu viver pelo mundo sabe l criado por quem passando at fome precisando de um rem dio Se acontecer comigo eu assumo Agora ela se for uma mulher de respeito a gente pode casar morar junto e assumo a crian a e a mulher Agora se realmente j tiver sido de outro assumo s a crian a mesmo Quando ela engravida alguns pais obrigam o pai da mo a obriga Outros quando ela chega pro namorado e diz eu to gr vida ele diz tome v comprar rem dio pra voc abortar Ou se n o eles compram o rem dio caseiro e assim tome e aborte que eu n o quero n o E outras que n o querem abortar dizem aos pais e ent o os pais obrigam a casar Outros nem casam porque o pai n o quer assumir O pai n o deixa a filha dentro de casa V morar mais ele N o quero voc dentro de casa A a mulher n o tem mais aquela op o de ficar dentro de casa Se o pai n o quer mais tem que pegar as coisas dela e morar com o namorado A chega l mesmo o rapaz n o querendo mas a fam lia do rapaz acolhe aquela pessoa dentro de casa porque geralmente a fam lia tamb m n o quer mas porque o filho fez algum Porque eles se colocam no lugar se fosse minha filha acontecesse com ela
375. sde a transfer ncia at a comercializa o da primeira colheita e assist ncia t cnica credit cia e comercial por cinco anos f participa o continuada e ativa das comunidades e entidades sindicais em todas as fases do reassentamento e g enchimento do reservat rio somente ap s equacionar o reassentamento Cientes de que a companhia governamental de engenharia iria transferir sua aten o para o pr ximo monumento t cnico a ser constru do a barragem do Xing bela obra de engenharia que envolvia t neis explos es e uso de tecnologias avan ad ssimas acoplado a um n mero limitado de popula o afetada os sindicatos conseguiram armar se atrav s de uma salvaguarda escrita do compromisso social com os reassentados O pr prio traslado da popula o entre o final de 1987 e os primeiros meses de 1988 deslanchou uma s rie de atos de resist ncia localizados sobre particularidades da situa o de cada grupo demonstrando diferen as entre setores dos sindicatos municipais e o P lo Sindical Mesmo assim no geral o traslado transcorreu num ambiente de coopera o entre advers rios com o P lo e a Chesf desempenhando os pap is principais sentando na mesa e discutindo como lidar com os impasses passageiros que ocorriam ao longo do traslado da popula ao O P lo Sindical com sua lideran a consolidada chegou a constituir durante um per odo de dez anos a partir de sua cria o um novo eixo organizativo do poder
376. se per odo tornou se imperativo retomar as reivindica es feitas atrav s de a o coletiva p blica a fim de mostrar o potencial da voz dos atingidos O movimento voltou s ruas sempre com o cuidado de documentar suas a es por escrito por filme e com o apoio de profissionais n o governamentais Aproximando se ao fim dessa fase em dezembro de 1986 camponeses e trabalhadores de toda a rea ocuparam o canteiro de obras e sombra da enorme parede de concreto frente aos olhos observadores de jornalistas e das filmadoras paralisaram as obras por seis dias Jogaram pedras numa a o simb lica de destrui o da barragem evidenciando a sua indigna o Depois unidos insistiram em s sair ap s a assinatura de um acordo sobre as condi es do reassentamento O Acordo de 1986 resultado desse processo al m de constituir a consagra o do movimento sindical como leg timo representante dos atingidos reconhecia melhor do que qualquer outro documento anterior o compromisso assumido pelo Estado de minimizar os custos sociais de grandes projetos 57 governamentais nessa rea Dentre as muitas quest es inclu das no acordo ressaltamos a provis es protetoras contra o desmembramento prejudicial da fam lia b detalhes sobre o c lculo da for a de trabalho familiar e seu direito rea irrigada c direito sobre rea para agricultura de sequeiro e criat rio d direito remunera o de 2 5 sal rios m nimos de
377. se esbo ar Afastados alguns dos velhos patr es outras figuras entram no cen rio muitas das quais acham bastante campo para a o no per odo de cio imposto Outros j engrenados nas estruturas produtivas e comerciais regionais dominantes j aproveitam dos pequenos produtores e preparam o terreno para um aumento de produ o prevista Um dos aspectos mais cru is da viol ncia administrada durante o cio imposto nos reassentamentos a proibi o impl cita ou expl cita de realizar atividades produtivas costumeiras Abre espa o para a cria o de novas redes de depend ncia ou da recria o das antigas Primeiro tem se que saber o que a Chesf permite e o que n o permite pois a possibilidade de perder o direito casa e ao lote espanta todos Em muitos lugares os lotes demoraram anos e anos para serem designados ou ficavam nas m os de invasores e assim as pessoas nem sabiam onde que deveriam trabalhar se quisessem beneficiar a sua pr pria terra Como realizar um desmatamento sem saber para quem ficaria a terra sem saber exatamente para que tipo de produ o agr cola sem ter aux lio t cnico suficiente para saber o que tirar e o que deixar para evitar problemas de eros o e de usos inadequados de defensivos agr colas talvez provocando a perda de nutrientes Al m da dificuldade de realizar plantio de sequeiro a cria o tamb m sofreu uma limita o do n mero de animais a serem transportados para as
378. sem previs o para o in cio da produ o Projeto Cara bas Ver Mapa 1 cap tulo 1 Os dados quantitativos apresentados aqui se referem apenas a uma das agrovilas em funcionamento na Borda do Lago usando as observa es nas outras as vezes para complement los e verific los quando poss vel bem como informa es secund rias obtidas em visistas a outros locais e tamb m por outras fontes pesquisadores administradores jornalistas sindicatos agricultores no decorrer da pesquisa As observa es s o sobre como fam lias reassentadas em fases diferentes do seu ciclo de 22 No Jornal do Commercio do Recife Pernambuco nos dias 28 a 31 de maio de 1995 h uma s rie de reportargens feitas por M Abreu que fornecem uma vis o panor mica bastante completa da situa o atual dos diversos projetos que comp em o reassentamento 159 desenvolvimento indicado pela idade dos chefes se organizam diante do reassentamento A agrovila na Borda do Lago em Pernambuco composta de 56 casas de alvenaria dispostas ordenadamente em filas nos dois lados de uma rua nica de terra que dista apenas 300 metros da pista pavimentada a menos de dois quil metros da cidade de Petrol ndia No meio da agrovila h uma escola num lado da rua e uma capela e tanques de gua no outro Estas casas e outras edifica es foram constru das por empresas contratadas pela Chesf Cada fam lia reassentada teve direito a uma casa Ao redor da agrovi
379. servi os de Sa de PARA ELES E PARA ELAS 48 Articulando Processos Terap uticas Tradicionais e Biom dicos Toda vez que eu adoe o minha v faz um rem dio l com um bocado de folha ai eu tomo fico bom e vou pro canal jogar bola ai t doente de novo ela faz ch de rom capim santo essas coisas pra gripe pra febre pra tosse Ch depois ch ch Ch de cidreira ch de hortel Ch de hortel misturado com alho pra gripe ch de lim o pra dor de cabe a Pra d mais sono ch de casca de laranja capim santo cidreira T nervoso maracujazinho Quando eu t gripado com febre tomo ch de eucalipto e a car pra tirar o catarro dos br nquios Um neg cio mais s rio uma dor no peito nas costelas vou pra o m dico Tenho sinusite D dor de cabe a posso tomar qualquer rem dio Se eu tomar a dipirona p ra se tomar esses outro rem dio n o p ra Pra gripe tamb m tem a raspa da bananeira bom com o olho da pinha mistura tudo Eu mesmo passo pi o Quando eu sinto a dor dente no mato tem uma planta chamado pi o quebrava e deixava passava pronto gua e sal tamb m Eu j fui sim com problema na garganta ai n o fiz consulta com m dico nenhum n o fui diretamente na farm cia indicado por colegas O farmac utico sabe todos os sintomas do corpo humano se a pessoa sentir qualquer coisa diz ele ah j sei tome esse rem dio
380. sim sem ser s rio Ficar do jeito que quiser J namorar uma coisa assim pra levar pra casa pra rua Quando est namorando o pessoal j fica perguntado Vai casar quando Eu quero comer bolo Eu j estou cansada disso Namorar namorar s rio depois de um m s o namorado vir pra casa o namorado fica vindo pra casa o pai fica sabendo Agora ficar os pais n o fica sabendo fica pela rua mesmo Tem mulher que assim ficar de hoje em dia assim pega um beija pega outro beija O que eu sei das meninas que s o solteiras assim Chega na esquina fica com um chega em outra fica com outro e j est se beijando com outro assim Quando termina a festa j tem ficado com uns cinco Os rapazes preferem ficar Depende da idade dos rapazes Tem uns que s o mais velhos j estavam procurando uma pessoa mais s ria para casar Esses mais novos s querem ficar mesmo 264 PARA ELES E PARA ELAS 8 NAMORAR UMA COISA S RIA A gente chega l logo no come o eu n o conhe o ela e nem ela me conhece a a gente se apresenta Se for rolar namoro s rio eu n o sou homem tenho que falar com os pais dela saber se os pais cncordam ou n o concordam Se concordar mesmo a voc vai para a casa da sua namorada sete horas vem dez embora Depende dos pais dela Tem uns pais que cheio de safadeza outros boa gente meso S rio para casar assim Comecei
381. sinado outros entraram na pol tica ganhando e perdendo outros encontraram postos para articular as rela es do sindicato com a sociedade mais ampla Internamente abriu um Departamento de Mulheres e Jovens que promovia uma vis o mais diversificada das demandas dos agricultores Ao destacar se neste setor a diretora Rita de C ssia conseguiu tornar se Coordenadora do P lo cargo que ocupava at a segunda metade de 2009 O P lo n o perdeu a sua import ncia nem o foco da sua aten o mas a retra o da interven o direta do Estado o tornou uma institui o muito mais multifacetada Chamar tudo isso de uma fase de desenvolvimento maquilar uma realidade com uma palavra inadequada Mesmo com os respons veis pela supervis o deste chamado desenvolvimento recheando os discursos com refer ncias import ncia dos projetos se auto sustentarem e da necessidade de encontrar parceiros e mercados fortes para a sua produ o o que se identifica um processo de retra o ou de recrudescimento visando uma libera o da responsabilidade pesada que as primeiras duas fases carregaram no Estado A refer ncia temporal desta fase o exato oposto da segunda fase Nada de ritmos ofegantes Idas vindas rodeios retornos largadas e retomadas 206 terminam por caracterizar uma morosidade dentro da qual tanto as velhas quanto as novas vulnerabilidades aparecem Pensando nas adjetiva es de inseguran as empregados
382. sinatos todos em nome da busca de contraventores associados maconha ou ao roubo e assalto a cargos e passageiros s o constantes entre reassentados que insistem que s o trabalhadores cuja reputa o est sendo colocada em quest o O perigo do envolvimento na contraven o atividade atrativa para enriquecimento r pido n o deixa de existir mas ao debelar este perigo a pol cia atinge a moral dos que foram atingidos pelo reservat rio Assim os agentes de seguran a p blica s o enxergados mais como verdugos de que como os protetores que alguns almejam ao pensar a possibilidade que uma ronda da viatura de seguran a p blica nas agrovilas poderia trazer 207 Ser enxergado e tratado como produtor ou traficante de drogas ou assaltante ajuda a produzir um contra discurso dos reassentados que insistem que o lugar da paz e do trabalho produtivo no campo enquanto a cidade o espa o dos desordeiros A tentativa de recuperar o status envolve um desmonte das acusa es dos outros e o redirecionamento delas para os moradores da cidade Ali s na cidade eterna atra o abrigo dos que n o encontram casas nas agrovilas ou pretendem outro meio de vida que as novas depend ncias dos reassentados se concretizam A VMT buscada no banco e boa parte deixada logo em seguida na feira realizada nas lojas seja no mesmo dia do pagamento dia decorado nos calend rios tanto dos pr prios reassentados quanto dos comerciantes seja
383. sobretudo pelos firmes la os sociais comunit rios entre todos E mais importante ainda que qualquer consci ncia da hist ria nacional em d cadas passadas hist ria marcada por projetos de barragens no estado vizinho de Oaxaca no Vale do Papaloapan com alt ssimos custos sociais e fortes esquemas de repress o estatal contra protestos tinham bem pr ximo o exemplo do povo rec m deslocado da barragem Caracol sensivelmente insatisfeito com o tratamento dispensado pelo governo ap s seu reassentamento O movimento se formou com muita rapidez Cada comunidade reunida discutia e unanimemente se pronunciava contr ria barragem sem exce o O desencadeamento de uma s rie de a es chamou cada vez mais a aten o para os custos sociais aplicados no projeto Dentro de poucos meses organizaram uma reuni o regional outubro de 1991 quando a poca importante da colheita e o influxo de comerciantes nativos de outras partes do pa s e de migrantes dos Estados Unidos comum nesse momento contribu ram ainda mais para ampliar o movi mento N o foi permitida a participa o de simpatizantes n o nahuas que vieram reuni o mas foram expulsos Na segunda reuni o regional em novembro criaram o Consejo de Pueblos Nahuas mais abertamente interessado em promover alian as com estes e com outros simpatizantes alguns dos quais formaram uma entidade separada de apoio As comunidades trabalhavam unidas n o admitindo reuni es c
384. sponsabilidade agora No homem tem a vasectomia tem a camisinha e pra mulher tem a opera o que ela faz o DIU tem o diafragma e tem o anticoncepcional Foi gonorr ia colega meu e inclusive ele veio at tomar um dinheiro emprestado a mim que ele tava sem dinheiro pra poder comprar uma inje o na farm cia Ai eu emprestei Eu vi ele me mostrou com era Digamos o p nis fica como se estivesse gozando saindo pus feito um esperma saindo Comigo aconteceu com uma menina da cidade e ela teve dois abortos Sem a gente Eu mesmo quando casei eu tava tomando um anticoncepcional e n o tava me dando sabe Ficava tonta se n o tivesse algu m para me segurar eu ca a a eu fui no m dico a mudei n Parei to usando camisinha agora to tomando rem dio de novo Se eles s o inteligentes e t m responsabilidade v o usar mas se n o a mulher que se cuide ou ela toma p lula ou n o faz mais nada pensa mesmo Comprimido e camisinha Pra pegar l no hospital que eles d o Assim tem que procurar ningu m vai na sua casa e diz tome camisinha O meu companheiro tem vergonha de conversar at comigo Na hora de conversar a gente ave O povo s se previne quando est acontecendo depois que ataca mais pessoas que quando pegam a doen a que est o doentes que v o tentar se prevenir mais Dizem que transar com camisinha o mesmo que chupar bala com um papel Eles os homens se preoc
385. ssociado s metas governamentais de desenvolvimento regional pela via de exporta o de produtos frut colos desconhecido O pr prio passado da rea de Itaparica tinha nos granjeiros de Petrol ndia um exemplo da desigualdade embutida no modelo Os relativamente pr speros granjeiros conviviam com os diaristas mais empobrecidos da regi o inteira de Itaparica Isto serve como premoni o para os reassentados Ou nem a isso v o chegar De qualquer modo o alerta a favor dos direitos e contra as perdas tem encontrado protagonistas para ser levado em frente 40 Cap tulo 2 Di logo dos agentes sobre planos e efetiva o do reassentamento rural de Itaparica O cotejar e analisar propostas e metas contidas nos planos governamentais da Companhia Hidrel trica do S o Francisco Chesf e da Companhia de Desenvolvimento do Vale do S o Francisco Codevasf relativas ao reassentamento da popula o camponesa do Subm dio S o Francisco revela as apresenta es e questionamentos feitos por estes mesmos agentes e pelo P lo Sindical dos Trabalhadores Rurais da Regi o em reuni es conjuntas entre seus representantes t cnicos lideran as e assessores Suas discuss es em momentos cr ticos que antecedem desocupa o da rea possibilitam apreender impasses e interesses que se expressam em confrontos media es e negocia es tensas ao longo da retirada da popula o e do estabelecimento das novas condi es de exist ncia
386. sta fase fun o desempenhada pela Funda o Joaquim Nabuco tamb m em condi es tempor rias 201 A implanta o passageira Ela ofusca momentaneamente as inseguran as estruturais e coletivas locais mas elas ficam latentes O Estado n o podia ser mais presente mas na sua atua o ainda se revela omisso nas responsabilidades para com os mais pobres Com as popula es homogeneizadas na sua condi o de reasssentados as redes e malhas locais se rendem a um movimento maior que elas mas os seus atores continuam no jogo de re estabelecer a complexidade das malhas das rela es de poder locais sobre as novas bases em implanta o desenvolvimento Ser que na mudan a para melhorar a vida melhora O reservat rio est no lugar e a barragem um atrativo s mbolo da compet ncia dos engenheiros A energia j est garantindo que nas cidades nem as f bricas param nem as pessoas vivem no escuro Est melhor Mas os agricultores familiares e trabalhadores rurais agora inseridos na fase do projeto que os planejadores compreendem como de desenvolvimento ser que est o vivendo uma melhora De fato eles est o num pleno per odo de retra o dos mecanismos geradores da inseguran a administrada permitindo o reaparecimento das outras inseguran as e voltam a se multiplicar os liames das refer ncias das suas vulnerabilidades Os olhos institucionais e os esfor os do jornalismo de comunica o da Chesf passar
387. sta pr tica se torna menos o refor o da coletividade e mais o de algumas linhas de 39 Os Woortmamn 1991 e os artigos de Scott Longhi e Franch in Scott Athias e Quadros 2007 todos t m trabalhado a no o de fuga a sua rela o com a reafirma o das rela es de parentesco entre residentes rurais 226 descend ncia familiar conhecimento de av s e de m es como ocorre no meio urbano Quando a decis o de abortar unilateral e da mulher tendo passado no m ximo por uma discuss o no interior de um grupinho de parentes femininas e amigas o homem frequentemente nem sabe do que ocorreu e a rela o que n o aguentaria a chegada de um filho naquela hora tem mais facilidade de perdurar Se ele desconfiar f cil ele questionar a desinforma o independente de se sentir aliviado ou n o pelo ato podendo ele estar inclusive de acordo com a necessidade de abortar O que est em jogo a fidelidade porque n o consultar a ele se o filho somente pode ser dele ou ser que de outro Numa conversa de casal que com muitos parceiros reportada como quase monossil bica e imperativa ou melhor curta e grossa o homem pode insistir para que tire Sendo uma esp cie de pr teste sobre se os dois est o se julgando como prontos a assumir a responsabilidade o terreno para disc rdia est bem preparado O recurso a um aborto preferencialmente um evento silencioso conhecido por poucos e torn lo p blico lev
388. stimento na continua o da tica de trabalho que caracterizava a agricultura na beira do rio Esta fase de absoluta hegemonia da inseguran a administrada e da confirma o da vulnerabilidade exacerbada pelo fato de somente ter o governo para responsabilizar pelos problemas enfrentados e apelar para resolv los Na rea de sa de isto ia desde os problemas cotidianos que teriam que ser levados aos servi os especiais montados ou refor ados at s emerg ncias ocasionadas pelo stress da situa o tamb m previstos parcialmente pela Chesf mas nunca vividos como ocasi es previs veis pelas fam lias nas quais ocorriam uma hora de plena vulnerabilidade social As velhas redes desmanteladas a reconstru o delas nas novas moradas sob novas bases ainda incipientes e fr geis a pr pria reafirma o cotidiana da moralidade de agricultura familiar colocada em cheque O P lo Sindical organizado para defender o agricultor e o trabalhador rural teve que focalizar os seus esfor os na reivindica o e fiscaliza o da a o do governo Oferecia um dos poucos contrapontos poss veis para procurar assegurar que essa vulnerabilidade n o resultasse num esquecimento e exclus o Os pr prios respons veis pelo financiamento externo pelo Banco Mundial reconhecendo a import ncia deste per odo e da observa o da intera o e respeito m tuos entre a Chesf e o P lo exigiram a presen a de uma equipe de pesquisa para acompanhar e
389. sumindo fam lias est o num constante estado de fluxo lidando com processos muito diversos de recomposi o resultando de envelhecimento mortes nascimentos casamentos e migra es e as respostas que d o a estas decis es indicam adapta es press es e resist ncias s estruturas de poder que as constrangem Estas modifica es ocorrem dentro de contextos de poder que favorecem certos rearranjos sobre outros No caso de Itaparica h algumas perguntas a serem feitas As determina es cristalizadas em pol ticas formais e informais da administra o do reassentamento resultam no refor o e no enfraquecimento de quais tipos de rearranjos do grupo dom stico Ou dentro deste mesmo racioc nio o envelhecimento destas fam lias se tornaria um empecilho ao sucesso dos projetos Qual ser a participa o das mulheres nestas fam lias e nos projetos No cap tulo 4 estes tipos de perguntas j apareceram ao discutir as considera es sobre os efeitos do c lculo da for a de trabalho familiar em torno da sele o de fam lias de composi es 157 diferentes Identificaram se alguns efeitos da aplica o das regras estabelecidas para as fam lias participarem no reassentamento a maiores dificuldades especialmente nos lotes menores para fam lias chefiadas por mulheres e para aposentados b homogeneiza o parcial das diferen as e desigualdades por reassentamento evidenciadas na diversidade anterior no acesso terr
390. t o acentuada pela Codevasf retomada nesta pr tica pelo P lo Sindical ao remeter a discuss o para o seu documento anterior Diretrizes Um t cnico da Chesf Recife observa que haver todo 49 apoio da Chesf ao associativismo organiza o na primeira etapa A responsabilidade da Chesf E indaga De conduzir o trabalho de associativismo com diretrizes do P lo Sindical A assessoria do P lo responde que ser com apoio de pessoas contratadas aptas para esse tipo de trabalho Pela hist ria de Itaparica h participa o dos trabalhadores A luta pela terra n o termina com a aquisi o do lote coletiva quanto aos meios de produ o de supor que nesses projetos o sindicato n o pode ter responsabilidade de gerir a conjuntura de mercado mas pode ajudar e contribuir na dire o e dire o pol tica A discuss o segue acirrada em provoca es mutuas Quando o debate passa a se centrar na forma de organiza o dos agricultores para gerir os neg cios dos per metros agudizam se as tens es e as suspeitas rec procas na tentativa de perceber os modelos e inten es subjacentes s afirma es de n o os terem detalhados Essa discuss o deixa entrever um claro questionamento sobre o alcance da representatividade do P lo Sindical particularmente por parte dos t cnicos da Chesf Mais explicitamente nos intervalos das reuni es os t cnicos das duas ag ncias comentavam que o P lo seria importa
391. tas quest es Namoros redes sociais e identidade Durante a juventude o namoro um despertar para a forma o de parceiros no exerc cio da sexualidade rapazes e mo as constroem uma s rie de categorias de pessoas que interfiram na identifica o dos usos que se pode fazer de redes sociais diferentes Nas redes de rela es familiares mais estreitas s o sobretudo os pais que configuram categorias cujas significa es remetem disciplina e exemplifica o das pr ticas normatizantes do grupo Os pais s o rigorosos ou n o mas o pr prio ato de enfatizar a quest o do rigor promove uma dicotomia bem marcada na rea dos reassentados entre filhas e filhos As filhas t m os seus namoros mais vigiados e os filhos que precisam ganhar experi ncia atrav s da exposi o a redes sociais 223 mais amplas e por isso mais perigosas contanto que mesmo assim sejam relativamente confi veis Nesta rede a depender do sexo e da proximidade da idade a rela o que se estabelece com os pr prios irm os sinaliza a valoriza o dada ades o disciplina familiar administrada sobretudo pelos pais de acordo com a sua participa o nas morais coletivas H uma regra da esperada cumplicidade do grupo de irm os do mesmo sexo Algumas irm s acobertam as escapulidas da vigil ncia paterna das outras irm s fazendo com que os pais n o se apercebam de namoros e paix es passageiras das suas filhas e irm s Estes namoros
392. te o caso dos reassentados da barragem de Itaparica a refer ncia emp rica para este cap tulo Uma das bases mais frequentemente usadas para acertar detalhes da distribui o de benef cios em programas de desenvolvimento governamentais no campo o c lculo da for a de trabalho familiar um ndice satisfat rio por diversas raz es satisfaz a necessidade de reconhecer a ascend ncia do grupo dom stico sobre o indiv duo na articula o de estrat gias produtivas de pequenos produtores ele satisfaz a necessidade de incorporar diferen as entre grupos dom sticos assim reconhecendo desigualdades inerentes s suas potencialidades imediatas para disp ndio de energia nas atividades produtivas e satisfaz a necessidade dos planejadores e administradores possu rem mensura es estatisticamente manipul veis para tomar decis es de inclus o e exclus o de grupos dom sticos em certos benef cios concretos O princ pio do c lculo costuma contar com o apoio tanto de planejadores administradores quanto de atingidos administrados j que representa uma prote o contra uma distribui o indiscriminada de benef cios que poderia favorecer arbitrariedades O c lculo da for a de trabalho familiar capta um momento no ciclo de desenvolvimento do grupo dom stico e congela esse momento O corte transversal produzido reflete um momento hist rico e pol tico de articula o de for as na comunidade local onde o programa destina
393. te a id ia de sexualidade H tempo que a sexualidade identificada como for a motriz para uma reprodu o social atrelada forma o de redes de reciprocidade mais amplas ou mais restritas que permitem uma conviv ncia entre grupos BERQU 2003 LEVI STRAUSS et al 1980 LEVI STRAUSS 1982 LOYOLA 1998 H uma multiplicidade de manifesta es referentes sexualidade entre as quais se incluem no es de g nero CORR A PETCHEVSKY 1996 DUARTE LEAL 1998 e das variadas rela es entre sexo e reprodu o escolha de parceiros conjugais recorr ncia ao aborto provocado orienta o sexual etc As converg ncias e diverg ncias de padr es grupais em rela o sexualidade revelam a pr pria dinamicidade dos grupos em identificarem as maneiras pelas quais as redes de reciprocidade entram nas estrat gias de forma o da popula o comprometida com a resili ncia e continuidade de grupos espec ficos na sua inser o hist rica local nesta interface entre reprodu o biol gica e reprodu o social passando por maior ou menor dissocia o destas da pr pria id ia do exerc cio da sexualidade ou de acordo com a terminologia dos movimentos contempor neos dos direitos sexuais que se pode observar a constitui o das redes de reciprocidade e configura es identit rias em constante constru o local Da mesma forma dentro das morais socioculturais a religi o sempre um agente significativo Identi
394. ter na mulher come a por ele 272 amp PALAVRAS DAS PESQUISADORAS Casar juntar fugir Seja como for chega uma hora em que os jovens resolvem dividir algo mais do que sentimentos e bons momentos Como disse uma das jovens O pessoal diz que a vida de solteiro muito boa mas ningu m quer ficar nela Muitos s o as formas por m de abandonar a condi o de solteiro Os jovens opinam que hoje as condi es s o menos favor veis do que no tempo de seus pais n o t m um peda o de terra para plantar uma casa para morar Isso torna mais dif cil os casamentos se darem de forma tradicional Nessas circunst ncias os jovens se juntam muitas vezes t m filhos sem ter uma independ ncia financeira Casar n o portanto um assunto s de dois Mesmo quando inicialmente seja contra a uni o a fam lia um elemento chave na organiza o do novo n cleo dom stico Os jovens casais costumam se instalar na casa dos pais do rapaz A escolha pela fam lia dele est ligada a id ias e valores culturais tradicionais Nas falas dos rapazes apareceu v rias vezes a norma de que eles devem ser os provedores da nova fam lia Quando n o t m dinheiro suficiente para levar suas jovens esposas para uma casa pr pria oferecem a da fam lia para servir temporariamente de domic lio conjugal Uma circunst ncia que apressa o fim da vida de solteiro a gravidez N o sendo mais a nica op o o casamento ainda se imp
395. terogeneidade da popula o que se encontrava nas reas atingidas pelo reservat rio Mesmo antes da entrega do relat rio final da FUNDAJ CHESF iniciou se um processo de continua o de compromissos e de autonomiza o da Universidade Federal e do FAGES das outras institui es FUNDA e CHESF desenvolvendo pesquisas independentes para poder pesquisar e divulgar com mais autonomia o drama dos agricultores reassentados Para tanto o per odo de quatorze meses como pesquisador visitante na Harvard University forneceu a oportunidade de ampliar o conhecimento da bibliografia internacional sobre estas quest es e revelar um inquietante cen rio de abordagens que seguiam as fases idealizadas por investigadores sociais que cooperavam estreitamente com entidades internacionais de planejamento implementa o e estudo de experi ncias de reassentamento No trabalho de Scudder e Colson 1982 esta segii ncia est sistematizada e serviu como ponto de debate e questionamento numa apresenta ao na Reuni o de Antrop logos do Norte e Nordeste em Bel m em 1993 O artigo publicado nos Anais do evento SCOTT 1993 revela que a terceira fase que chamada de desenvolvimento descrita como vari vel e s vezes nunca realizada pelos autores e argumento que a demora ou total fracasso na execu o dos benef cios na terceira fase estrutural e 14 garante que a quarta fase emancipa o seja realizada de uma forma ficcional e como al
396. tidades rsinan levando como por exemplo acionar o rg o que contratou a firma para que ela reformule ou refa a programa Passam explica o das fases do processo de operacionaliza o em termos de tempo e responsabilidades a pedido de t cnico da Chesf Itaparica 1a fase set 1987 jul 1988 quando n o havia sido inicada a produ o nos lotes fase de reassentamemo e adapta o de responsabilidade da Chesf com assessoria da Codevasf 2a fase jul 1988 jul 1989 com a produ o irrigada fase de in cio da produ o sob coordena o da Chesf Codevasf 32 fase jul 1989 1993 fase de produ o consolidada sob coordena o da Codevasf 4a fase 1993 em diante no 5 ano de produ o efetiva processo de emancipa o 48 E ainda esclarece sobre a responsabilidade das etapas Todas podem ser de responsabilidade exclusiva do governo incluindo a comercializa o da primeira safra ou o poder de decis o dos trabalhadores desde a primeira fase Chesf e P lo n Coordena o necess rio que a gente se alie ao agricultor pensar junto Do contr rio a gente pode tomar a dianteira O contrato fundamental A gente guerreia dentro da luta A equipe t cnica vai primeiro treinar seu pessoal e partir para a troca t cnico agricultor Observa se nesta exposi o o uso diferenciado dos termos responsabilidade coordena o conforme fases e agentes Talvez isso ocorre porqu
397. to agora o que eles n o aceitam a trai o s vezes os homens mant m o casamento mas procuram uma mulher l fora n Mas tem homem que se separa e quando chega ali diz Ah se separou porque ela tem outro Mas ela nem traiu foi ele que traiu ela Raramente voc encontra um homem fiel At as mulheres casadas traem Na agrovila que eu moro j aconteceu isso tem aquelas que troca os maridos por outros Tem as mulheres que botam chifre no marido Mas mais feio Os marido nem sabe e as mulher colocando ponta Todo mundo sabe menos o marido o corn o Tem homem casado que toda noite de agrovila em agrovila chega em casa duas tr s horas da manh bebo todo dia todo dia a a mulher tem que procurar outro homem ai corno Vou matar a mulher Ai pronto quer matar a mulher N o d as coisas mulher e quer matar ela Ppor que Briga de namorado por coisa de ci me e de casado s o v rios motivos Briga de namorado a maioria assim briga hoje a se rasgam pronto quando no outro dia faz as pazes Nos casamentos qualquer briguinha t o se separando Por causa de um prato de n o sei o que Antigamente o povo segurava mais mas hoje em dia qualquer coisa uma separa o Mudou porque hoje est mais f cil de A mulher agora tem mais facilidade de arrumar emprego n o depende do homem O que leva separa o a cacha a os chifres e os pr
398. to e n o nas suas restri es no dom nio da moralidade coletiva Em geral importante reconhecer que recurso a um aborto se reveste de um forte conte do no estabelecimento das redes de rela es sociais e no refor o identit rio coletivo individual familiar e de g nero de jovens em todos os contextos sociais A religiosidade mesmo oferecendo c digos interpretativos para esta pr tica e servindo para refor ar rejei es n o acumula for a suficiente para tornar se a refer ncia principal da maior parte dos 228 que se envolvem na decis o recheada de significa es de fazer uso desta pr tica Responsabilidade sociocultural e organiza es representativas Nas entrelinhas da discuss o de namoros gravidezes e abortos poss vel perceber uma meta generalizada de homens e mulheres de chegarem a considerar se e a serem considerados como respons veis uma categoria valorizada como sinal de chegada ao reconhecimento pleno como integrante adulto dos seus grupos sociais comunit rios A pr pria id ia de responsabilidade remete ativa constru o permanente da identidade comunit ria e a regula o da sexualidade e a religiosidade s o fortemente matizadas pelos contextos locais Nesta hora as a es das organiza es representativas contribuem um aspecto adicional como fonte de responsabilidade diferenciada Justamente por essa raz o que a pr pria estrutura o dessa organiza o representativa precisa
399. to as pr ticas populares quanto a associa o com a igreja em si s o espa os fortemente femininos mesmo havendo alguns meninos que frequentem a escola de catequismo junto com as meninas e alguns homens que assistam s missas e incentivem a participa o em eventos religiosos A condu o de todos os rituais de reza novena organiza o da circula o da imagem da santa nas casas amarra o de fitas em santos e a es de gra as para promessas alcan adas s o atividades femininas As mulheres falam delas e de suas rezas promessas anseios e desejos Mencionam que mais f cil os homens poderem receber uma gra a atrav s da intercess o delas com os santos A 33 Esta afirma o foi ouvida com certa frequ ncia pelos pesquisadores do FAGES N o temos uma fonte que de fato comprove esta afirma o 178 participa o nas rezas noturnas di rias uma atividade muito importante na confraterniza o das mulheres da comunidade Um dos espa os femininos novos que resultou de todo o processo de reassentamento foi a participa o pol tica especialmente em atividades organizadas dentro do sindicato Nele h uma Diretoria da Mulher e da Juventude qual elas se referem nas suas falas como a nossa representa o As mulheres foram atrizes importantes no processo de reivindica o do P lo Sindical para garantir o reassentamento Ainda hoje s o participantes de assembl ias e reuni es deliberativas embora tant
400. to o n o comprometimento da sua autonomia por uma gravidez indesejada seja per quest es de idade ou por quest es das qualidades da parceira Nestes casos eles podem intervir para estimular o aborto por v rios meios conhecidos H uma consci ncia sobre AIDS que mostra ser uma doen a que provoca mal estar tanto pelo que provoca em termos de conversa aberta sobre sexo em inquieta o pela sua forma discreta de manifesta o e em exageros sobre a contamina o quando os casos s o revelados Comparado com os homens as mulheres fazem mais 287 refer ncia procura de terceiros para lidar com a sa de reprodutiva procurando os servi os para ter acesso aos meios de preven o e para realizar preventivos O assunto da sexualidade feminina mesmo podendo ser objeto de conversa entre elas suscita refer ncias moralidade e condi o de casada para legitimar a desenvoltura da conversa Os processos terap uticos adotados demonstram uma flexibilidade grande na procura da resolu o do problema com grande recurso para rem dios provenientes do mato em forma de ch s e ainda em rezas e curandeiros conhecidos Os jovens e as jovens mostraram confiar muito nestes rem dios os jovens falando mais sobre o uso que fazem e as jovens ainda reportando ao problema de como manter o conhecimento sobre estes rem dios nas tradi es familiares A medicaliza o corre paralelo ao uso de rem dios caseiros muitos se auto medicando com dipi
401. tores a constru o de uma identidade amb gua da rea de Itaparica de um lado uma atra o para a expans o dos dom nios do modelo agroexportador irrigante com 20 000 hectares de equipamento de irriga o instalado ou em boa parte a instalar aos custos do governo e de outro lado uma amea a ao mesmo setor pois os processos de instala o desta capacidade outorgam poderes a agricultores que fogem do controle historicamente conquistado e costumeiramente exercido por este setor em outros per metros irrigados Divis es sub regionais e o semi rido do S o Francisco Na divis o administrativa federal da bacia do Rio S o Francisco o Subm dio ocupa apenas uma fra o de todo o Rio estendendo se do reservat rio de Sobradinho a Paulo Affonso Esta sub regi o o cen rio dos investimentos mais vultosos dos rg os federais atuantes na bacia do Rio e tamb m historicamente uma rea densamente povoada 114 A pr pria organiza o do fornecimento de informa es sobre toda esta rea uma maneira de evidenciar como continuamente vai se processando a sub divis o formal dentro do Subm dio S o Francisco O pr prio Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica IBGE explica que as sub divis es espaciais visaram a traduzir ainda que de maneira sint tica os desn veis da organiza o do Territ rio Nacional quanto s quest es sociais e pol ticas FIBGE 1991 p 30 Seguindo as categorias de organi
402. tre 280 a 620 megawatts a esse total contribui o relativamente pequena para resolver o d ficit energ tico nacional noticiado entre 7 e 8 mil megawatts Os t cnicos tamb m reconheciam que a constru o de San Juan Tetelcingo poderia aliviar em parte o problema da sedimenta o que estava encurtando a vida da barragem de Caracol E estava previsto o deslocamento de entre 22 000 e 30 000 ndios nahuas que residiam em 18 vilas espalhadas pelos numerosos munic pios do vale Conforme Good 1992 cuidadosamente documenta n o foi nenhum an ncio formal do projeto de constru o da barragem que desencadeou o movimento r pido e eficiente do povo nahua contra ela O in cio da constru o de uma ponte com 150 metros de altura e v rios quil metros de extens o sobre uma rea ainda a ser inundada a recusa de emitir t tulos na rea porque seria inundada a chegada de funcion rios governamentais em maior 59 n mero nessa regi o do rio Balsas as redes informativas de um partido de oposi o com partid rios locais e sua den ncia dos planos no jornal a chegada de alguns nahuas que trabalhavam como linguistas para o Instituto Nacional de Antropologia e Hist ria que diziam ter ouvido falar desse projeto tudo se juntou para tornar evidente aos nahuas que tinha chegado a hora de resistir Por diversas raz es n o foi dif cil unir os nahuas Eles tinham sua identidade cultural bem delineada pela l ngua pela produ o artesanal e
403. trutura que ele tem deveria ser um hospital que freq entasse mais m dico O prefeito trouxesse mais m dico especialista porque a gente n o pode quebrar um bra o aqui tem que ir pra Recife um pr dio t o bonito t o caro Eu acho que tem coisa que a pessoa n o sabe o b sico mesmo raio X pra fazer a ultra sonografia acho que tem ai ou tem que fazer em Paulo Afonso tem esses m dicos assim mas tem pediatra tamb m Tem v rios mas n o lembro o nome de todos assim como o rapaz terminou de falar ai tipo quando quebra um bra o uma coisa mais s ria Tem que ir pra Recife A mais as coisas mais simples Eu acho que porque demora Eu acredito pelo menos em termos de sa de porque eu acho que se voc tem um problema s rio n o d pra esperar as vezes d eles s o devagar demais arquivam aquilo l e passa os tempos e voc precisando daquilo que nem um rapaz que marcou a opera o ele j com uma h rnia pra operar precisando operar o mais depressa poss vel quando foram marcar a opera o dele marcaram pra quarenta e cinco dias uma coisa errada pra mim a demora o ponto principal Das vezes que eu fui foi no pronto socorro se for urgente no pronto socorro atendido bom o atendimento mas se for pra pegar uma ficha para consultar ai p ssimo Eu j fui e esperei l de tr s horas at cinco e meia e n o consegui ai fui embora e nunca mais voltei l Ai pagou uma consulta
404. tulos para os novos donos dos lotes para lidar com heran as para permitir ou proibir 208 arranjos como terceirizar o trabalho ou empregar outros ou para ter acesso a terras que foram invadidas por outros No final a terra pr pria mas n o parece Um dos trabalhos constantes da Chesf era de informar aos reassentados da aproxima o do dia quando teriam que pagar a gua ao Estado novo dono das bombas Ou seja no dia a dia centralizou o controle sobre os meios que antes serviam para estabelecer hierarquias locais entre agentes de patrim nios relativamente pequenos No novo contexto o Estado muito menos male vel e muito menos disposto a trocar favores por essa depend ncia A vulnerabilidade toma uma nova forma Aos olhos dos reassentados o Estado se tornou mais presente embora mais omisso que os antigos patr es e colegas na sua considera o para com as necessidades dos agricultores Na rea espec fica de administra o de servi os de sa de os tempos da na o foram favor veis aos reassentados Assim a elabora o da Constitui o de 1988 forneceu as bases para a implementa o de uma pol tica de atendimento territorializado s fam lias atrav s do Programa de Sa de da Fam lia PSF promovendo o atendimento in loco dos agricultores reassentados com agentes provenientes da pr pria rea rural bem como m dicos e enfermeiros contratados para oferecer servi os Estes programas ocuparam espa os que haviam s
405. u e dizem que ela tomou rem dio ai morreu envenenada Teve uma mulher que engravidou ele era casado e ela engravidou desse homem a tomou veneno s que ela tomou uma dose acima da m dia porque se ela botasse pouco veneno ela n o morria Se tomar muito veneno n o morre s morre se tomar pouquinho a ela n o teve nada S que ningu m sabe o que vai aparecer daqui para frente Assim tem um homem que teve um problema de sa de ele morava sozinho e ele comia desses homens mais simples A plantava na ro a e tem um lat o de agrot xico A abriu a lata e fazia coc na lata a parece que entrou pelo nus dele a ele morreu 281 PARA ELES E PARA ELAS A SA DE REPROD UTIVA E A PREVEN O S camisinha mesmo A pessoa se prevenir com camisinha pra evitar a gravidez da mo a Muita gente toma rem dio que eu n o sei o nome As vezes muita gente toma rem dio de mato Evitar filho primeiro tem que pensar no que vai fazer porque eu acho que se deixar pra pensar na hora eu acho que mesmo que a pessoa teja com o preservativo no bolso mas na hora se for pensar em fazer aquilo na hora n o faz Eu penso que pode sem camisinha com aquela pessoa que voc mais intimo dela que voc viu que ela n o transou com algu m assim efetivo Nesse caso isso voc faz com a neguinha ali e tal tem que tomar o maior cuidado porque eu n o quero assumir re
406. ue durante o dia Melhorar tamb m a assist ncia de Petrol ndia porque se chega uma pessoa com o bra o quebrado alguma coisa quebrada nem em Petrol ndia fica porque n o tem assist ncia a vai para Paulo Afonso a engessa bra o Aqui sempre sobra ficha Mas porque voc s aqui voc s n o sofrem de falta de ficha E l n o L as pessoas se consultam muito Teve um dia em que a m dica teve que falar olhe voc s s venham quando estiverem doentes qualquer besteira voc s n o venham n o t o tomando a vaga de outro Tem gente que vai s para tomar a vaga de outro A gente tem que dormir l Eu mesma eu vou dia de Domingo porque minha m e mora l eu vou dia de domingo eu vou duas horas duas horas e meia 286 amp PALAVRAS DOS AS PESQUISADORES primeira vista os agricultores reassentados jovens n o se diferenciam muito de outras popula es entendendo que os problemas de sa de enfrentados por eles s o os mesmos de outras popula es em condi es de poucos recursos como eles Gripes e febres que s o tratados sobretudo em casa ou com compras de rem dios na farm cia s o citados por todos embora com maior detalhamento pelas jovens uma das quais ainda relacionou o problema de alcoolismo como problema que afeta especialmente homens nas agrovilas e que os impede de realizar tratamentos adequados As condi es locais de contato com o mato provocam problemas dermatol gicos que foram r
407. ue haver estudos aprofundados detalhados que muito fariam para esclarecer a din mica das comunidades nesta rea Mulheres fam lias jovens em expans o aposentados e fam lias muito numerosas todos ocupariam espa os diferenciados apresentando desigualdades parcialmente baseadas em composi es familiares Com base em observa es informais que precisariam de mais investiga o para serem comprovadas definitivamente h alguma indica o de que muitos locais estavam j num processo de satura o das op es locais dispon veis para a pr tica de agricultura irrigada havendo um controle de terra nas m os de pais de fam lia sem condi es de garantir acesso terra para os seus filhos em idade de se establecerem separadamente Muitas solu es criativas foram encontradas para manter filhos na comunidade e outros filhos viajavam para mais longe s vezes com a inten o de voltar No caso do reassentamento o c lculo da for a de trabalho familiar reifica ou melhor congela um ponto no processo de desenvolvimento dom stico e introduz um novo elemento extremamente poderoso na determina o do acesso local aos meios de produ o uma burocracia governamental encarregada de levar a cabo um projeto elaborado para satisfazer normas t cnicas concretas Muitas fam lias ganharam acesso terra que antes n o tinham e muitos donos da terra especialmente os conhecidos como fazendeiros foram indenizados e deixaram de suje
408. ue o lote est invadido 5 Vendo o outro lado isto quer dizer que dez fam lias ou quase dois ter os delas j est o plantando desde 1993 e a forma de organizar o plantio promove a inclus o de outros membros de fam lia parentes e n o parentes no trabalho por 1971 HEREDIA 1979 GARCIA 1983 possam ajudar a entender uma l gica da fam lia camponesa em funcionamento no Nordeste seria interessante ter uma pesquisa hist rica detalhada sobre grupos dom sticos com d cadas de dedica o agricultura irrigada na beira do rio 26 Os n o parentes s o integrados como arrendat rios meeiros e diaristas 164 v rias raz es a idade dos chefes de fam lia e os problemas de sa de enfrentados por eles impedem que muitos participem plenamente na ro a a divis o da produ o camponesa em partes sobre as quais fam lias diferentes especialmente filhos t m responsabilidade a recria o de rela es de mea o e arrendamento de diversas maneiras com parentes e n o parentes e o uso de diaristas ocasionais Estas fam lias n o se estagnaram nem apenas envelheceram com a passagem de anos Elas ativamente procuravam o melhor para os seus componentes no processo de dispers o favorecido pelo avan o de idade novos casamentos e procura de trabalho fora e de expans o acolhendo filhos separados netos rec m nascidos e jovens e outros filhos que voltaram de trabalho fora Apesar das suas limita es nos ltimos doi
409. ue s o o resultado de uma trajet ria de pesquisa e a o que reflete a volatilidade dos contextos criados pelo planejamento e execu o do projeto da barragem de Itaparica Evidenciam um compromisso de pesquisador que perdura ao mesmo tempo em que mostra as oscila es nos tipos e possibilidades de intera o e a persist ncia de algumas quest es em intensidades e configura es diferentes que aparecem ao longo de mais de vinte anos O in cio do contato com esta realidade se deveu a uma hist ria do pesquisador em estudos sobre contextos rurais organiza ao familiar e agricultura migra o e estruturas de poder desde os anos setenta No final da d cada de oitenta a constru o da barragem de Itaparica se encontrava pr xima sua conclus o e uma popula o de mais de oitenta mil moradores da beira do Rio S o Francisco metade dos quais agricultores enfrentava um iminente traslado das suas velhas moradias para novas reas As agrovilas de destino foram constru das como parte de um projeto de remo o e reassentamento provocado pelo Governo Neste cen rio os sindicatos trabalhavam para defender a popula o atingida e garantir a qualidade dos projetos Em coopera o com a Funda o Joaquim Nabuco como coordenador do FAGES e pesquisador de assuntos cong neres elaborei um projeto junto com o economista Dirceu Pessoa em resposta a termos de refer ncia elaborados pela Companhia Hidroel trica do Vale do S o Francisco
410. uest o tnica em favor do uso das defini es t cnicas e socioecon micas para identificar a popula o A defesa cultural de uma rea t o fortemente caracterizada por desigualdades sociais dificilmente seria sustent vel no ambiente nacional de corre o de injusti as e por um movimento com caracter sticas sindicais Por conseguinte n o de surpreender que no 69 reassentamento o maior grupo etnicamente diferenciado os Tux tenha sido dividido em dois grupos distintos com mais de mil quil metros a separ los O movimento de resist ncia em Itaparica de acordo com a composi o da sua base e o ambiente de abertura democr tica foi bem sucedido ao exigir melhores condi es de reassentamento com uma estrat gia que n o utilizava a etnicidade como cavalo de batalha E a pr pria imagem do Brasil como democracia racial n o foi contestada dentro do movimento No M xico foi constru da uma identidade nacional em torno da combina o de uma elite modernizadora com uma cultura ind gena forte A na o frequentemente se apresenta atrav s de s mbolos de seu indigenismo a ideologia da revolu o mexicana os museus o turismo e o artesanato Para que grupos poderosos se oponham com sucesso a algum s mbolo da identidade ind gena do pa s preciso haver uma argumenta o t cnica que d significativo realce aos ganhos da moderniza o o que com certeza n o foi poss vel na barragem de San Juan Tetelcin
411. unci n I A IAPAR Proceder H 1994 237 CAMPOS Roberta B C A Compadecida no Juazeiro do Norte performance de imagens b blicas e emo es entre os Ave de Jesus ILHA Revista de Antropologia Florian polis v 4 p 115 132 2002 CAPPELLIN Paola GIULIANI P C GUARANA E Fazer pensar e decidir Os pap is das mulheres nos assentamentos rurais algumas reflexoes a partir de tr s estudos de casos Raizes Campina Grande v 15 n 1 p 113 130 1997 CAPRA Fritjof Ponto de Muta o A Ci ncia a Sociedade e a Cultura emergente S o Paulo Cultrix 1982 CARDOSO DE OLIVEIRA Roberto A Sociologia do Brasil Ind gena 2 Ed Ampliada Rio de Janeiro Edicoes Tempo Brasileiro 1978 CARVALHO SILVA FILHO Jos de A besta fera e as guas de baixo um estudo de representa es Recife Disserta o do Mestrado em Antropologia UFPE 1992 CAVALCANTI Josefa Salete Mulher e Trabalho na Fruticultura Revista Pernambucana de Antropologia Vol 1 No 2 S rie Fam lia e G nero Recife UFPE Editora Universitaria p 97 119 1966 CERNEA Michael Involuntary Settlement in Development Projects Policy guidelines in World Bank financed Projects Washington World Bank World Bank Technical Paper No 80 1988 From Unused Social Knowledge to Policy Creation The Case of Involuntary Resettlement Development Discussion Paper 342 May Harvard University Harvard Institute for International Development Cambrid
412. untaram Ofuscaram os outros sofrimentos Um dos caminhos que apareceu para resolver esta nova vulnerabilidade incluiu em primeiro lugar juntar se s a es de mobiliza o em defesa de um reassentamento digno organizado pelo P lo e isto possibilitou uma a o de parada da constru o da barragem para for ar a assinatura de um acordo escrito antes apenas parcialmente planejados mas inexistentes enquanto compromissos formais nas propostas do governo As salvaguardas neste documento mesmo se incapazes de aliviar boa parte da expectativa de sofrimento por perda iminente abriram uma fresta para a inclus o formal de todos como reassentados beneficiados com direito a lotes irrigados de terra que correspondiam s suas capacidades de trabalho familiar Para alguns dos que j tinham abandonado a regi o procura de melhores oportunidades em terras distantes como S o Paulo estas promessas serviram como op o de voltar s suas origens e tentar estabelecer um patrim nio que n o estavam conseguindo fazer distante E na pr pria regi o quem era posseiro propriet rio meeiro arrendat rio fazendeiro agora seria reassentado A Chesf distribuiu imagens de p ssaros voando para o c u e panfletos que usavam o mote mudar para melhor Mostrava desenhos de arquitetos das novas agrovilas projetadas para a moradia semi urbanizada para preparar a popula o bastante dispersa para a sua mudan a As op es de solu
413. untos t o acentuada que as fam lias iniciaram um processo de negocia o ainda mais 165 adiantado na agrovila vizinha para permitir a constru o de casas para filhos de acordo com a orienta o da Chesf sem direito a lotes nas extremidades das agrovilas e inclusive numa rua projetada para ser paralela rua da agrovila Tendo onde trabalhar no contexto da agrovila com produ o agr cola irrigada as fam lias mais velhas procuram articular arranjos que as mant m com dependentes em casa ou na vizinhan a filhos e netos dependentes esses que frequentemente se tornam os trabalhadores que d o uma forte contribui o ao sustento da casa com atividades no lote Respeitam a regra de neolocalidade procurando encontrar resid ncias especialmente para manter os filhos homens mais pr ximos para poder contar com a sua contribui o no trabalho agr cola bem como em outras atividades solid rias do grupo de parentesco Especialmente depois do in cio da produ o alguns constru ram casas nos lotes ou para servir como abrigo tempor rio para os pr prios familiares enquanto estavam no lote ou para servir de moradia a parentes e outros que chegaram para trabalhar tend ncia mal vista pela Chesf mas que tendia a aumentar Na agrovila poss vel reconhecer alguns grupos de parentes mais solid rios formados por membros de fam lia que j interagiam nas suas comunidades de origem e cuja continuidade fortemente refor ad
414. upam mais com o prazer sabe L no Sesc Sesi eles d o uma fichinha assim eles entregam hoje a daqui h um m s eles marcam para vir entregar de novo pra qualquer pessoa eles d o uma quantidade e com um m s vai pegar mais nove por m s no outro m s pode ir pegar mais a se a pessoa ainda tiver Bom ela tomou a cabacinha com lim o uma cabacinha pronto Quando fui cl nica com o pai da minha menina o m dico perguntou se eu queria fazer um aborto eu disse n o se eu vim ao mundo minha filha tamb m tem o direito de vim Ele disse pois ta bom Em farm cia geralmente o namorado ele chega compra e da ela toma e aborta o menino N o encontra algu m pra dar conselho mas pra fazer o mal Arranja raiz de todo jeito pode fazer um mal a querer porque a gente transava porque a pessoa Aqui bem pertinho da agrovila ela disse 282 gente gostava daquele momento mas ela n o queria porque ela tem uma filha No caso eu pensei que ela fosse se prevenir mais na hora mas n o ela engravidava at no vento a mulher Foi duas vezes ai eu cai fora n o aguentei n o Eu n o queria ter filho ai ela abortou sem eu t por perto Eu n o tinha vontade de me casar com ela No caso a gente providenciou cytotec Na minha agrovila eu acho que a maioria abortam os filhos os pais n o quer assumir e elas n o tem condi es de assumir uma crian a sozinha ai aborta Tem delas usam
415. ura se num uso particular do poder de organiza es burocr ticas encarregadas de executar programas de desenvolvimento de criar expectativas para as popula es atingidas para logo em seguida na execu o do programa frustr las No dif cil trabalho de prever ov 94 os diversos fatores que v o entrar em jogo durante a execu o do programa quase inevit vel que ocorram imprevistos com consequ ncias nefastas para os potenciais beneficiados de tais programas Para os beneficiados a viol ncia nestes casos no m nimo dupla primeiro a viol ncia da inclus o for ada no programa modificando muitas vezes abruptamente as suas rela es sociais e as suas rela es com o meio ambiente e segundo a viol ncia decorrente da sujei o s novas regras do jogo impl citas na pr pria estrutura organizacional do programa A administra o da viol ncia tem pelo menos duas faces primeiro por fazer parte de uma estrutura burocr tica uma administra o despersonalizada e aparenta envolver participa o de representantes dos grupos atingidos sugerindo maior poder decis rio para eles do que de fato eles t m e segundo desencadeia outros processos de viol ncia em fun o dos reajustes da popula o ao novo ambiente em cria o lan ando novos desafios para a execu o do programa com sucesso A viol ncia administrada um fen meno generalizado a muitos programas de desenvolvimento Mas no reassentament
416. utras preocupa es relacionadas com a qualidade da base socioecon mica futura e sua capacidade de aproveit la contribuem para aumentar o receio dos reassentados sobre a sua produtividade futura Percebem os riscos e a precariedade da rela o com este novo ambiente e com a sua refer ncia mais importante o lote irrigado Os reassentados que passaram anos a fio sem lotes ou receberam lotes que n o apresentam condi es para agricultura com pedras com gua e com outros impedimentos depois de mais de uma d zia de anos come aram a receber outros lotes ou indeniza es conforme as suas prefer ncias e a disponibilidade de terras Os reajustes feitos com alguns projetos apresentando dificuldades maiores que outros passam distante da id ia de mudar para melhor Sempre h o medo do lote recebido posteriormente n o prestar desde o in cio ou tornar se imprest vel rapidamente como observaram que acontecia com colegas que receberam e trabalhavam os seus lotes desde os primeiros anos do projeto Em alguns locais os reassentados dizem que foram instru dos pela Chesf a desmatar inteiramente os lotes e agora tanto h lotes 150 apresentando problemas de eros o quanto h lotes onde o mato tomou conta de novo e n o d para saber se ficar o prontos para produzir Alguns lotes foram invadidos em locais diferentes pelo projeto inteiro e est o criando muitas dificuldades para os administradores chesfianos e os reassentad
417. vilas mostra que uma m representa o caracterizar estas fam lias como ociosas Est o mantendo o delicado equil brio entre a garantia dos seus direitos aos lotes irrigados e a ocupa o dos familiares Entre os que se mant m na agricultura al m das atividades pr prias limitadas de plantio no quintal de chuva nos lotes e de criat rio h pelo menos as seguintes atividades 1 casar com algu m de fora do reassentamento e plantar em terra de c njuge isto inclui terra ind gena dos Pankarar s 2 trabalhar alugado ou de mea o para os reassentados nos lugares cujos cronogramas est o mais adiantados 3 voltar para a beira do rio fora da rea do reservat rio e trabalhar em fazendas irrigadas ou em terras 88 invadidas e plantadas 4 alugar terras pertencentes s popula es anfitri s nas periferias das reas de reassentamento e 5 se deslocar para os per metros irrigados de Petrolina para trabalhar como assalariado ou diarista Fora da agricultura as atividades dos familiares dos reassentados se amontoam 1 trabalhar na constru o civil na rea de projetos e nas cidades 2 trabalhar em transportes de passageiros e de produtos 3 abrir um com rcio na agrovila ou na cidade 4 trabalhar em obras civis promovidas por autoridades governamentais 5 trabalhar em servi os dom sticos 6 procurar empregos diversos atrav s de migra es Recife Salvador Aracaj Macei S o Paulo Rio etc 7 estudar a
418. voc paga pra a arma ficar com voc A MACONHA O fazendeiro do lado de l plantava maconha e tudo Ai o vizinho de l mesmo dizia a pol cia onde tinha p de maconha A policia na dela mandava um helic ptero e achava o plantio de maconha dos vaqueiros l Que a policia j veio j arrancou maconha e j prendeu algu m isso aqui j aconteceu mas quem planta planta seu pouquinho ali na ro a l n o todo mundo geralmente de cem se tira um que faz um neg cio desse a maioria s o pessoas direitas 260 8 PARA ELES E PARA ELAS A AGROVILA E A CIDADE Agrovila muito discriminada pode ter certeza um cara de agrovila passar l em Petrol ndia Falou que da agrovila agrovila lugar de maconheiro de bandido de ladr o Em todo lugar tem ladr o cidade tem ai se v o coment rio Na agrovila tem um ladr o J o suficiente pra todo mundo levar culpa porque agricultor foi agricultor j bem menosprezado diante da sociedade em todo lugar e sendo de agrovila pior Porque o cara de agrovila menosprezado pra caramba ali em Petrol ndia e essas cidadezinha Algu m diz ei rapaz a agrovila perigosa n o sei o que s tem ladr o maconheiro mas em todo lugar tem O que faz o lugar ser bom a gente se voc uma boa pessoa voc lidar com todo mundo com gente ruim com gente boa se voc anda fazendo o
419. xperi ncia em nem capacidade para agricultura Foi isso que determinou o insucesso original do projeto Hoje em dia os desalojados n o passam de 10 a 15 do total Os colonos que ficaram s o pequenos empres rios com por exemplo seis hectares de uva que produzem para exportar e que recebem assist ncia da SEBRAE Os fracos venderam os lotes para aliviar a situa o financeira deles e quem tem entrado s o pessoas que t m tecnologia O valor de lotes de seis hectares em torno de trinta mil reais Entrevista de campo julho de 1995 124 Esta pequena coisa faz uma grande diferen a quando se considera que o processo de forma o dos projetos irrigados de Itaparica contou e ainda conta com a atua o do P lo Sindical O t cnico de Codevasf ainda referiu com evidente satisfa o expuls o dos colonos originalmente desalojados por Nilo Coelho como um processo de sele o natural Os espa os abertos para a atua o livre de empresas s o a alavanca para o sucesso do modelo agroexportador vigente Em linguagem t cnica isto se traduz no cumprimento da meta anunciada para os projetos sempre ser a eufemisticamente designada emancipa o Sem um sindicato forte ou associa o para defender os seus interesses dois ter os dos colonos de Nilo Coelho sucumbiram O P lo Sindical nem imita nem aprecia este modelo promovido pela Codevasf pois a sua luta de formar projetos irrigados com pequenos produtores bem organ
420. xtinta e em seu lugar foi criada em 1974 a CODEVASF a Companhia de Desenvolvimento do Vale do S o Francisco Sua atua o deveria dar prefer ncia ao atendimento dos empres rios rurais em detrimento coloniza o Desaparecia assim a prioridade ao desenvolvimento social e inicia se a promo o da acumula o de capital corn as empresas rurais do Subm dio 1997 p 33 Intensifica se a instala o de projetos de colonos muitos idealizados na Suvale Mani oba e Curac 1975 Tour o 1976 Nilo Coelho 1982 Salitre Casa Nova Pontal mas cada vez mais sobre o dom nio de agroind strias e empresas rurais associadas a grandes empresas nacionais e internacionais e ou estreitamente afinadas com as dernandas t cnicas internacionais de produ o qualidade e embalagem de produtos voltadas para a exporta o CAVALCANTI 199 ALBUQUERQUE 1997 Aumenta a quantidade de terra sob o controle destas empresas nos projetos enquanto muitos colonos pequenos produtores se descapitalizam e v o sendo expulsos VERGULINO 1991 Os assalariados tamb m crescem em numero ALBUQUERQUE RUFFINO 1997 GRAZIANO DA SILVA et al 1988 e o carater excludente do projeto de desenvolvimento via irriga o e exporta o se torna ainda mais transparente Assim a Codevasf um ator social que disputa o dom nio do Subm dio S o Francisco representando quando comparada com a Chesf uma parcela diferente da elite regional semelhante na sua or
421. za o de dados censit rios de 1945 at 1991 o crit rio passou de zonas fisiogr ficas quadro f sico do territorio para micro regioes homog neas com base na organiza o de produ o emergente na transforma o do espa o nacional 1968 para mesoregi es homogen as caracterizadas pelas suas estruturas produtivas 1976 recente que os municipios da Bahia atingidos pelo reservat rio Gl ria Rodelas Chorroch ou s pelos reassentamentos tamb m Cura que inclu a Abar deixaram de integrar uma micro regi o designada de Corredeiras do S o Francisco iniciada em Juazeiro mas sem chegar at Paulo Affonso para se dividir entre as microregi es de Juazeiro Cura Abar e de Paulo Affonso Gl ria Rodelas e Chorroch ambos como parte da nova meso regi o do Vale Sanfranciscano da Bahia Em Pernambuco os munic pios atingidos pelo reservat rio Petrol ndia Floresta Itacuruba e Bel m do S o Francisco e s pelos reassentamentos Oroc e Santa Maria da Boa Vista tamb m foram subdivididos entre a microregi o de Petrolina estes e a de Itaparica aqueles ambos como parte da n o t o nova mesoregi o do S o Francisco Pernambucano Na nova sub divis o em microregi es verifica se em ambos os lados do Rio uma nitida separa o entre de um lado aqueles munic pios muitos com reassentamentos feitos que foram diretamente atingidos pelo reservat rio em si e de outro lado os munic pios mais

negociações e resistências persistentes

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