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aqui - Fundação Perseu Abramo

1. o como um todo ou pelo menos engendrar uma revolu o a fazer que ter de recompor a sociedade civil de alto a baixo e de retirar o estado do monop lio da grande burguesia nacional e estrangeira O parlamentarismo poderia ajudar nesse processo imprimindo lhe inclusive maior velocidade As clas ses burguesas j aprenderam que n o podem subestimar os estratos baixos e intermedi rios das classes m dias Tender o a buscar sua coopta o e uma associa o pol tica como fizeram no in cio da ditadura militar e de maneira oscilante em seu transcorrer Os de baixo est o s s Para eles sob o estado capitalista as diferen as entre presidencialismo e parlamentarismo s o m ni mas O essencial est no socialismo prolet rio ou seja em sua pr pria solida riedade de classe e no seu potencial de luta pol tica pela conquista do poder 175 Persea OPRESS O DE CLASSE E CONSTITUI O As press es das classes possuidoras especialmente das grandes organi za es patronais sobre a Assembleia Nacional Constituinte tornaram se evi dentes As amea as diretas e indiretas da democratiza o da sociedade civil e do Estado ou de constrangimentos externos sobre a livre iniciativa lan a ram a campo aberto as for as econ micas sociais e pol ticas que constituem o sustent culo do nosso sistema capitalista de poder Liberdades e direitos ao serem compartilhados traduzem se em limita es do arb trio dos
2. o encontrar defensores conscientes e firmes entre os assalariados e os trabalhadores semilivres das cidades e do campo ou seja um movimento coletivo de defesa de uma nova ordem social que sirva de sustent culo para a revolu o pol tica ensejada pela Constitui o ela descerrar o espa o hist rico para que enterremos o passado o atraso os arca smos que manietam os pobres e espoliados e os atiram nos bra os dos demagogos Como os oper rios do ABC em 1978 a na o precisa acordar e dizer um basta agora n o ditadura mas forma que ela assumiu sob o Estado de transi o permanente As classes sociais que est o na vanguarda das lutas econ micas e pol ticas com suas entidades corporativas e seus partidos n o podem pensar em sindicalismo de resultados N o h oposi o que obtenha 275 Perseu resultados no quadro hist rico existente Vivemos desde a campanha elei toral de 1986 uma era de pequenos avan os fugazes e de perda constante do poder real dos assalariados e dos trabalhadores semilivres das cidades e do campo A burguesia move uma guerra de desgaste contra a imensa maioria da popula o Ela n o pode manter se com a capacidade de manipular sua crise contra o presente e o futuro do pa s Tamb m n o pode conservar in toc vel seu poder de abusar em proveito pr prio exclusivo da faculdade de concilia o pelo tope A liquida o da Nova Rep blica toma por a o centro d
3. o na sociedade brasileira Como disse o meu companheiro que falou ainda h pouco o Consti tuinte Hermes Zaneti viemos aqui em nome de uma maioria na qual assume o primeiro plano os 80 milh es de miser veis da terra para eles que deve mos trabalhar os outros n o precisam de n s e deveriam sentir vergonha de dizer que s o uma maioria para realizar a sua vontade discricionariamente Devemos passar por cima disso e aguardar porque dias melhores vir o e o trabalho continuar e nos levar a uma Constitui o que talvez responda s exig ncias hist ricas do presente Muito obrigado Sr Presidente por sua toler ncia e muito obrigado aos Srs Constituintes pela aten o que me dispensaram Palmas 169 Pen ft OP O PELO PARLAMENTARISMO A vit ria do parlamentarismo era esperada Ele era defendido por um arco partid rio muito amplo que ia de diversos setores do PMDB e de outros partidos da ordem maior parte da esquerda Acresce que o PMDB percebe nele um ve culo para remar contra a corrente e sustentar se no poder Apesar das resist ncias reais ou aparentes do Pal cio do Planalto e dos chefes milita res as probabilidades s o de que a vit ria se repita no Plen rio da ANC H pois interesse em refletir se sobre essa op o o que ela representa o que a tornou t o sedutora a ponto de aparecer como uma necessidade pol tica Poder se ia dizer a partir do notici rio dos jornais e dos s mbolos ine rente
4. o representou e ainda representa uma oportunidade hist rica para as classes possuidoras para a pequena a m dia e a grande burguesias N o adianta proclamar que o centro neutro que o centro apoia as solu es pacificas o importante realizar as transforma es que s o neces Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 90 An F s rias a uma sociedade que j n o aguenta mais todas essas manifesta es todas essas formas de sacrif cios impostos coletivamente massa do povo Essa oportunidade hist rica est sendo perdida n o se fez nada no sen tido de uma reforma agr ria n o se fez nada no sentido de se resolver outros problemas fundamentais inclusive na rea da educa o pretende se por em primeiro plano o que vai acontecer com o mandato do Sr Jos Sarney quem vai ser o primeiro ministro se o regime deve ser um presidencialismo bra sileira ou um parlamentarismo mitigado isso tudo brincar com fogo numa situa o de crise econ mica social pol tica e institucional Pretender hoje instituir um regime parlamentarista mitigado ou um regime presidencialista de ocasi o significa ampliar a dura o dessa chamada transi o transada significa portanto permitir que aquilo que sobrou da ditadura at hoje se mantenha indefinidamente N o podemos aceitar esses fatos E o que devemos ler nas manifesta es do povo nas ruas que ele est contra isso
5. progressista fiel a uma Re p blica democr tica que n o fosse um embuste e que emergira das elei es com certa for a pol tica e com um potencial ideol gico mudancista Este compunha se com a transi o democr tica mas definia a contra as demais correntes apesar das ilus es que impediam a sua desmistifica o como uma c nica transa o pol tica conservadora que nunca passaria disso A mesma situa o hist rica deixou a nu que o PFL fora uma ast cia pol tica Emergia das elei es t o fraco que s se amparando nas tetas do governo podia alimentar se e cevar suas bases sociais Portanto o governo foi vitimado por convuls es internas perenes Precisava abrigar e nutrir for as insaci veis antag nicas distanciadas do papel do Executivo em um momento de crise econ mica institucional e pol tica Todos jogavam no agravamen to da crise para aumentar os pr prios dividendos e as posi es respectivas nas estruturas do poder estatal A Assembleia Nacional Constituinte sofreu o impacto dessa anomalia e passou a ser o campo de composi o das for as da ordem que usavam a transi o democr tica para fins esp rios e antir republicanos transferindo o caos para dentro de seus muros Os partidos da ordem n o possu am projetos de Constitui o e ao mesmo tempo viam na elabora o da Constitui o uma oportunidade para transformar suas batalhas em pugnas no seio do processo constituinte Em consequ
6. A tradi o brasileira conduzia o processo constituinte na dire o de tornar se monop lio das elites intelectuais e pol ticas das classes dominan tes Duas consequ ncias principais seriam ent o irremedi veis 1 a maioria parlamentar representativa de uma minoria econ mica e social hegem nica na sociedade civil ditaria a forma e o conte do da Constitui o 2 a elabo ra o da Constitui o assumiria um car ter inevitavelmente t cnico e ju r dico com os riscos j conhecidos e consagrados de dissociar o processo constituinte da maioria real a massa dos cidad os e seus problemas humanos e dilemas sociais concretos resultantes do desenvolvimento desigual da sa telitiza o do Brasil pelas na es capitalistas avan adas e da internaciona liza o do modo de produ o capitalista nos moldes vigentes da extrema concentra o social racial e regional da riqueza e da cultura bem como dos imensos bols es de atraso educacional e de mis ria existentes tanto no cam po quanto em todos os tipos de cidades A Constitui o surgiu pois s entidades que lutaram no seio da socie dade civil pela revolu o democr tica como um grande desafio hist rico de uma oportunidade pr tica para um avan o qualitativo que traduzisse pela primeira vez as aspira es de todas as polaridades e das for as vivas de uma na o moderna dentro dos limites do capitalismo do regime de classes e da posi o do pa s n
7. O Jap o rejeitou a condi o de uma na o colonial Com imensos sacrif cios rumou para a moderniza o monitorada a partir de dentro da industrializa o aut noma e de uma revolu o capitalista montada sobre os alicerces de uma sociedade feudal em transforma o acelerada Os dois primeiros pa ses possu am uma burguesia capaz de conduzir o processo a n vel econ mico O ltimo n o tinha sequer essa vantagem relativa E hoje divide com a superpot ncia o quinh o que lhe cabe em riqueza e poder na forma de partilha do mundo efetuada sob o capitalismo monopolista da era atual O Brasil desde a Independ ncia tomou o caminho que parecia mais f cil o de valer se das estruturas escravistas de produ o e da procura do mercado mundial A luta contra o pacto colonial n o se converteu em luta contra o colonialismo uma regra geral na Am rica Latina A primeira onda de moderniza o se fez sob a iniciativa da Inglaterra e de empreendedores que arriscaram algumas apostas no futuro capitalista do Brasil A transi o neocolonial foi relativamente curta mas n o culminou no aparecimento de um esp rito burgu s conquistador Ao contr rio ela plantou as conex es econ micas diplom ticas e culturais que conduziriam ao capitalismo com petitivo em condi es de barb rie essa a realiza o da oligarquia rural e ao abafamento da democracia da descoloniza o e do nacionalismo As duas etapas do desenvolvimento c
8. centrais oper rias ou confedera es de trabalhadores reivindicativos de ra dicaliza o que assume fei o institucional gra as aos partidos de esquerda n o populistas ideol gicos e politicamente identificados ou com a revolu o dentro da ordem ou com a revolu o contra a ordem apresenta desafios que a alta burguesia n o sabe como enfrentar As classes burguesas mais poderosas apostaram primeiro na ditadura em seguida na transi o democr tica lenta gradual e segura certas de que o coeficiente de estabilidade pol tica assegurado pela Nova Rep blica e pela Alian a Democr tica permitiria a modifica o prolongada e sob controle pol tico militar da sociedade civil No entanto a altera o desta est se ope rando aos trambolh es desordenadamente amea ando as posi es das clas ses burguesas na pr pria sociedade civil no sistema de poder global e no mo nop lio do poder pol tico estatal Com todas as suas limita es a convoca o de uma Assembleia Nacional Constituinte e a consequente elabora o de uma constitui o que deveria conter certos m nimos democr ticos desentocaram muitos fantasmas que expunham a propriedade privada a livre iniciativa a fam lia e o Estado aos riscos aparentes de uma desagrega o incontrol vel Por esse motivo os estratos burgueses privilegiados aumentaram o vigor de suas pr ticas intolerantes de luta de classes deslocando para fora da empre sa das
9. es em v rios mo mentos E no entanto a iniciativa das leis continuou ferrenhamente nas m os dos Constituintes N o houve aquela reciprocidade dial tica entre a iniciativa popular e o Constituinte que atende a essa iniciativa Ou o o Constituinte Genebaldo Correia O Sr Genebaldo Correia Constituinte Florestan Fernandes tenho tido oportunidade de ler os artigos de V Exa e bem sei da profundidade da se guran a e do equil brio com que trata essas quest es Mas do ponto de vista partid rio o partido de V Exa tem uma posi o p blica a favor do sistema presidencialista Por m sabemos e a imprensa tem divulgado que dentro do partido h opini es divergentes quanto ao sistema de governo Conhe o al guns Parlamentares do partido de V Exa que pessoalmente s o favor veis ao parlamentarismo Em se tratando de uma Assembleia Nacional Constituinte n o seria mais apropriado que o partido deixasse essa quest o aberta O SR FLORESTAN FERNANDES Esta uma quest o sobre a qual o partido realizou uma reuni o recentemente e a vota o foi expressivamente a favor Estava ausente porque tinha ido inaugurar um n cleo do PT na Vila Planalto Naquele momento respondendo a uma indaga o levantada pela deputada Irma Passoni essa quest o foi discutida e a maioria esmagadora segundo me informaram foi favor vel a uma posi o presidencialista Ou o mais uma vez o Constituinte Genebaldo Correia O Sr Genebaldo Co
10. s intrigas pol ticas A imensa maioria n o possui como aquilatar o malogro da ANC sem levar em conta que tal malogro n o foi dela pois nasceu de uma fabrica o deli berada dos eternos manipuladores do poder De outro lado como conduzir um parlamento que se presta a essa distor o a entender que ele n o constr i a hist ria sozinho e que as classes trabalhadoras e as massas populares s o o alfa e o mega das eclos es sociais A maioria conservadora repele at um reformismo barato aguado e ralo O que ela quer Uma revolu o social que n o encontre eco nas paredes do Parlamento A est ali s o xis da quest o O mudancismo sofreu uma derrota dentro do PMDB antes de ser soterrado com a Alian a Democr tica e a pseudo Nova Rep blica Se o Parlamento absorve sofregamente a luta de classes como paladino dos privilegiados e dos poderosos como os outros poderes s resta um caminho para a maioria externo ao Parlamento o da revolu o social contra a ordem Os que brincam com a quest o social logo ir o aprender essa dura realidade como ela co me a desenvolve se e se torna inevit vel O povo j se cansou de ser um saco de pancadas Cedo ou tarde isso ficar patente dada a presum vel inutilidade da via constitucional Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 200 Florestan F IDEOLOGIA E UTOPIA DO CENTR O Uma constitui o ou um projet
11. transi o demo cr tica e com as mistifica es que foram e s o endossadas pelo partido que hesita entre a atra o pelo poder e sua identidade democr tica Superado o trauma da separa o que foi prolongada e dif cil temos diante de n s o que seria o PMDB radical sem as contradi es de ser governo e os v nculos con g nitos com os conservadores e a extrema direita O partido matriz realizou simultaneamente o seu semin rio para aparar o golpe e manter seu panache e compromissos Ao fazer isso cometeu um erro porque desvendou que dentro dele n o existe espa o para um radicalismo burgu s e a supera o dos dilemas pol ticos que alicer am o cronograma pol tico militar da alian a com o governo e os objetivos essenciais da concilia o conservadora t o vivos hoje quanto em 1984 cedo para avaliar se o PSDB Todavia ele comprova atrav s de suas principais figuras que aparecem e se afirmam como promessas pol ticas que Folha de S Paulo 10 7 1988 251 Perseu as partes podem ser melhores que o todo A descoberta da repulsa a termos como socialismo ou socialista e da prefer ncia por termos mais suaves como democracia democr tico e popular fomentou ila es duvidosas Um partido novo deve forjar a sua mensagem ideol gica e pol tica de maneira clara e firme Ele n o soma rumores nem avalia es correntes na superf cie da cons ci ncia das massas e muito menos da opini o p blica Ele s
12. transi o lenta gradual e segura A cena hist rica a esse respeito de uma claridade que cega os olhos O nico caminho n o leva para frente abre se para tr s Pode se fazer um paralelo inc modo com 1934 1934 e 1988 convergem entre si Duas constitui es parcialmente retr gradas e parcialmente avan adas desafiam os que se batem pela manifesta o em bloco do status quo Eles s o pouco numerosos mas det m todo o poder Podem esmagar A quest o que vem baila podem eles hoje mais de meio s culo depois repetir a monstruosidade que soldou o Brasil renova o dos diversos antigos regi mes superpostos e articulados em um s Frankenstein que agora se chama Nova Rep blica Onde est o os movimentos populares a luta de classes a desobedi ncia civil dos setores radicais da pequena burguesia e dos estratos revoltados das classes m dias Onde est o os sindicatos os partidos e as entidades oper rias e as organiza es que combateram a ditadura militar com a mesma gana que hoje atacam a Nova Rep blica Os que gostariam de dar marcha a r hist ria supondo que isso seja poss vel ignoram tais perguntas Todavia a extrema esquerda n o pode subestim las H um solo hist rico concreto e as possibilidades de vit ria e de derrota ficam sem pre condicionadas aos ritmos e dire o da luta de classes Apesar da crise geral e talvez por ela pr pria estamos em um mo mento de fluxo de
13. Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 234 an Fernandes guesia perif rica constr i com as pr prias m os a depend ncia e a usa como um ardil pagando a conta atrav s do Estado com os recursos econ micos escassos tomados da na o Os princ pios formais grandiloquentes das grandes constitui es mo dernas inclusive as mais recentes e a carta sobre os direitos humanos da ONU s o imitados Contudo isso n o refresca nada N o basta garantir os princ pios formais de uma boa constitui o coisa que o constituinte Ber nardo Cabral sabe fazer perfei o preciso que o pa s assegure os requisi tos ecol gicos econ micos culturais sociais e pol ticos que infundam efic cia pr tica aos princ pios formais Portanto uma boa constitui o pode ser uma constitui o fantasma E n s sequer chegamos a uma boa constitui o Rondamos aqui e ali no varejo as proximidades de uma boa constitui o No conjunto antes mesmo de entrarmos no previsivelmente conturbado se gundo turno falhamos Havia clima Por m n o foi poss vel superar a hete rogeneidade e os obst culos reais ou artificiais erguidos pelas classes domi nantes a algo que n o se curvasse ao conservantismo renitente e ao ego smo entranhado que prevalecem entre elas J tenho ventilado o assunto e demonstrado que os partidos da ordem extensa parte do PMDB PFL etc n o apresentaram projetos
14. N o contentes com o que bloque aram ou restringiram querem exterminar esses poucos avan os mediante uma conspira o conservadora desencadeada diretamente pelos empres rios e atrav s de um golpe de m o pol tico que segundo os meios de comunica o se dar no plen rio Onde e como enfiar o parlamentarismo nesse contexto Ou pretende se um parlamentarismo d cil montado sobre uma burocracia e uma tecnocracia civil militar todo poderoso que instrumentalizar ainda melhor o dom nio civil e do Estado Chegar se por essa via a uma burocra tiza o plotocr tica que deixar o presidencialismo no chinelo Esses argumentos n o s o propostos com nimo negativo e pessimis ta O parlamentarismo descortina onde ele possui condi es de viabilidade hist rica perspectivas atraentes e positivas De imediato n o se ir aumentar a participa o popular girando sobre os calcanhares e imitando a Europa industrial avan ada ou o Jap o L o parlamentarismo acabou conferindo democracia maior vitalidade O pre o foi alto pois domesticou se o socialis mo a luta de classes e as Tradi es Revolucion rias Chegou se ao mesmo tempo ao grau mais complexo de cultura c vica generalizada e ao euroco Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 174 An F munismo um produto da combina o do refinamento da democracia como valor em si e por si t cnica do domador que alterna promess
15. O per odo p s constitucional inaugura se assim sob um clima de desafios de tens es e de confrontos inevit veis A democracia n o prev transi o Ou ela se instaura ou ela n o existe mesmo que se trate de uma democracia burguesa Da os imperativos que decorrem da Constitui o criar o espa o pol tico para que ela entre em vigor normalmente e adquira efic cia Ao mesmo tempo preciso lidar para que a democratiza o n o se renda aos par metros do desenvolvimento capitalista desigual de uma na o assolada pelo imperialismo inerente ao capitalismo monopolista da era atual Na pr tica se houver imagina o e coragem pol ticas e surgirem meios org nicos de transforma o da ordem existente ser poss vel com binar a liquida o do caos do passado recente e do presente a constru o de um Estado capitalista democr tico contrabalan ado por um forte poder popular a luta radical e prolet ria pelo socialismo Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 268 Florestan Fernandes FLUXO E REFLUXO O Brasil est diante de v rios caminhos Nunca em nossa hist ria a variedade de alternativas foi t o grande No entanto as condi es naturais de organiza o da sociedade civil do Estado e da cultura reduzem as alter nativas de modo t o dr stico que a palavra zerar sobe tona e toma muitas cabe as claro que os mais obscurantistas e reacion rios possuem interesse em
16. a reforma ur bana a revolu o educacional etc atribuem ao presidencialismo um estado de coisas de que ele n o causa mas produto Sem d vida a nossa rep blica autocrata refor a o estado de coisas existente Por m que tipo de presiden cialismo pode existir em um pa s como o nosso E se n o forem introduzi das transforma es substanciais na distribui o super desigual da renda e do poder que tipo de parlamentarismo teremos Aqui n o adianta sofismar O fetichismo se deslocou da rea da economia para a esfera do pol tico Ca bemos em um desses exemplos que a UNESCO situa nos limites dos casos in extremis modificar as leis para transformar a na o Os constituintes que se recusaram a transformar as leis a fundo querem o milagre de modificar a na o deixando quase tudo como est menos o sistema de governo Eis o sofisma e a fetichiza o do pol tico Como n o est ao nosso al cance mudar a realidade alteremos as suas apar ncias Da decorrer uma revolu o democr tica Esse um erro funesto Melhor seria interromper o processo constituinte ir ao plebiscito sobre o sistema de governo e em segui da completar a elabora o da carta magna O importante consiste em decidir ao que deve responder imperativamente a Constitui o Ou ela estabelecer as premissas legais da extin o de iniquidades econ micas sociais e pol ticas que s o incompat veis com a constru o de uma sociedade independente ci
17. a sociedade civil deteriorou o processo constituinte de duas maneiras A primeira porque determinou a composi o da maioria parlamentar Dados os tipos de parti dos pol ticos que possu mos a vig ncia de uma transi o democr tica que uma transi o conservadora e o peso econ mico das classes dominantes nos processos eleitorais tal sociedade civil s podia gerar uma maioria par lamentar de centro direita eufemismo pelo qual a rea o dissimula a sua verdadeira face A segunda porque ela disp e de uma capacidade de press o tentacular Ela define e imp e como moeda corrente o que entende como natureza pac fica e moderada do povo brasileiro E acima das conting n cias manipula todas as institui es chave da escola da Igreja e da empresa ao Estado Podem se introduzir algumas limita es aos privil gios Mas n o suprimi los A Assembleia Nacional Constituinte curvou se a esse arco con vencional imbat vel e tentou conciliar a moderniza o conservadora com os Jornal do Brasil 02 11 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 162 An I interesses estabelecidos pela ordem existente Nas atuais condi es hist ri cas isso era sociologicamente fatal Para quem participa do processo constituinte a estrutura que foi pro gramada das subcomiss es s comiss es tem ticas comiss o de sistemati za o e ao plen rio fazia preve
18. agora Os constituintes liberais e conservadores vergaram sob essa pres s o deixando o centro mais firme ao desamparo e combatendo o atrav s da 235 Pen ft estigmatiza o ideol gica identificando o com a esquerda e com o radicalis mo extremado Apesar disso o processo caminhou com oscila es at a Co miss o de Sistematiza o Da em diante a direita e a ultradireita inventaram as f rmulas pelas quais se saltaria de uma constitui o avan ada para uma constitui o feita na marra Este conceito do presidente da ANC e traduz fielmente a Constitui o poss vel quando o fiel da balan a principiara a ser n o uma revolu o democr tica que permitisse construir uma sociedade ci vil aberta e um Estado democr tico mas fortalecer a transi o lenta gradual e segura Essa a doen a senil da Constitui o nascente Ela aderiu como uma luva ao Estado de transi o para servir os poderes estabelecidos com suas v rias margens de legalidade e ilegalidade de autoritarismo e desorganiza o Sob a gide da fus o de emendas de acordos inevit veis para evitar o pior de vota es conduzidas com o prop sito de abreviar a dura o do processo n o de melhorar a qualidade de seus produtos e de embates de desgaste pol tico uma esp cie de guerrilha constitucional promoveu se a desmoraliza o coletiva da ANC como um todo a desagrega o dos partidos burgueses e o empobr
19. apesar da ditadura militar e da Nova Rep blica Para essa vanguarda social a Constitui o possu a um significado concreto erradicar a pobreza o desemprego as doen as a falta de escolas o latif ndio etc A impuls o de querer ser gente se associava a uma consci n cia social atenta aos interesses dos trabalhadores e aos privil gios dos patr es Dispersos por sindicatos federa es e partidos etc eles distribuem se por diversas correntes grupos e subgrupos A eles se agrega uma enorme multi plicidade de companheiros de viagem pertencentes pequena burguesia ou aos segmentos em descens o social das classes m dias N o seria poss vel detectar nesse calidosc pio social percep es homog neas Socializados por partidos pol ticos e correntes ideol gicas d spares alimentam ilus es e desi lus es contrastantes Os mais extremados colocam os pingos nos is simples mente a Constitui o abre novos horizontes e traz algumas conquistas Mas tudo isso n o passa de migalhas O povo ter de conquistar o poder para chegar a uma constitui o verdadeiramente democr tica Os menos maduros na politiza o manifestam se estranhamente como os mais revoltados O retrato que esbo am dos constituintes no conjunto de perfil baixo O dio ferve como o azeite em um caldeir o O tratamento dispensado a deputados e senadores do PMDB em diversos com cios ou ao presidente em exerc cio cont m um paradigma Ness
20. as mulheres os ndios os negros os profissionais do ensino os idosos os menores etc elaboraram listas de assinaturas que endossavam importantes emendas populares Essas listas despencaram sobre a ANC e engendraram uma realidade hist rica nova em mat ria de press o popular Os de baixo levavam seus clamores aos constituintes e bem ou mal tinham de ser ouvidos A essa forma de press o somavam se outras provenientes dos representantes das pr prias entidades de pessoas altamente qualificadas e de autoridades competentes em diversos assuntos O leque de reivindica es n o 279 Pen ft s refor ava o dos oper rios e dos movimentos populares Estendia o mbito de temas que se impunham aos constituintes de baixo para cima Os de baixo ainda n o tomavam decis es Mas ditavam o que queriam ver incorporado no texto constitucional Esses foram os dois canais mais profundos de intera o dos constituin tes com a Constitui o que estava na cabe a ou nas esperan as dos segmentos mais baixos ou exclu dos da sociedade civil Pena que o filtro conservador te nha deixado passar apenas as aspira es e as exig ncias que se conformavam com maior facilidade aos seus interesses e valores ou aos seus truques casu sticos A dimens o da colcha de retalhos decuplicou O que parece ser uma vit ria do movimento oper rio e das for as populares poder converter se na fonte de manipula es jur dicas dilat rias e perversas capazes de anu
21. dadas as condi es pelas quais se deram a substitui o do trabalho escravo pelo trabalho assalaria do a escolha do trabalhador como substituto do escravo para desempenhar o papel de inimigo da ordem e a representa o inicial em seguida persistente da greve oper ria como quest o de pol cia o car ter totalit rio do despotis mo burgu s na f brica na sociedade civil e no Estado republicano o esque ma de paz social burguesa montado ap s a revolu o de 1930 e consolidada pelo Estado Novo mantida cuidadosamente intoc vel depois da Constitui o de 1946 e atrav s do populismo e a pol tica antiprolet ria antissindical e an tigrevista da ditadura militar preservada dentro dos limites necess rios para a revitaliza o da paz burguesa sob a Nova Rep blica Foram os trabalhadores que converteram o trabalho assalariado em uma categoria hist rica e portanto em trabalho livre E a pr pria crise do esquema de paz social burguesa redefi nido ampliado e refor ado pelas corpora es multinacionais e pelo capitalismo financeiro nasceu da contrapress o oper ria e sindical Semelhante evolu o deveria ter conduzido os prolet rios a uma auto concep o de seus pap is sociais de sua posi o na luta de classes e de seu movimento hist rico a um certo orgulho Isso n o aconteceu pela fluidez do corpo dos trabalhadores ativos pela enorme popula o excedente de miser veis e
22. e o Estado em um inferno at chegarmos a uma constitui o que respeite nossa condi o humana e o poder popular 233 Pen ft QUALIDADE DA CONSTITUI O Hoje j se sabe que a Constitui o que est sendo elaborada realiza v rios avan os mas n o aquela que responde s exig ncias da situa o hist rica N o existem culpados pessoais O atraso cultural do pa s e a domina o econ mica externa explicam essa realidade inesperada pela maioria da po pula o Um pa s culturalmente atrasado possui elites econ micas destitu das de cultura c vica Elas tendem a colocar seus interesses e privil gios particu laristas acima de tudo Ou o processo constituinte atende sua vontade ou elas reduzem a p o pr prio processo constituinte por mais que se lute contra isso dentro e fora da Assembleia Nacional Constituinte Um pa s economica mente dependente tamb m um pa s politicamente dependente As excita es de rebeldia s o cut neas ou localizadas A tend ncia central consiste em acompanhar a evolu o do constitucionalismo no exterior e principalmente em respeitar as demarca es feitas pelas jun es do trip capital estrangeiro capital nacional Estado plutocr tico O nacionalismo chega a produzir cris pa es logo anuladas pelo voto majorit rio daqueles que se identificam com o trip e com suas fun es de acumula o capitalista Nesse sentido a bur Jornal do Brasil 22 5 1988
23. ela sucede e substitui a ditadura tendo ao alcance das m os a faculdade de emitir decretos decretos leis de recorrer a sinais mentirosos ou enganadores de praticar o arb trio como se ele fosse a arte brasileira de fazer pol tica Sob esse aspecto nenhum general presidente foi t o lesto quanto o pre sidente Sarney Ele sabe das coisas O seu treino civil casado ao seu conv vio prolongado com os militares e uma s bia tradi o pedessista entroncada na banda de m sica da UDN torna o imbat vel no papel do senhor presiden Folha de S Paulo 22 12 1986 43 Persea te E consegue ministros sua esquerda no seu cora o ou sua direi ta que infundem a qualquer desempenho o lastro das realiza es da prima dona Certamente n o o presidente que o pa s requeria em um momento t o dram tico Mas o primus inter pares para deixar os generais presidentes no chinelo e p r em evid ncia o quanto o Brasil perdeu elevando aos picos do Sistema personalidades secund rias que s tinham por si o consenso de seus iguais dos competidores de farda Al m disso trata se de um presidente civil que possui um senso de composi o e de conjunto soberbo Tancredo Neves o mestre no mister fi cou para tr s Basta se atentar para o desempenho de Dilson Funaro Almir Pazzianotto Jo o Sayad e cia deixando de lado os figurantes menores que s existem para dar relevo s estrelas para se apanhar de um gol
24. implantando primeiro um em seguida dois cavalos de Tr ia no seio da ANC ao mesmo tempo manipulou o reacionarismo dos estratos dominantes da burguesia e dos pr prios constituintes com v nculos com a defesa da or dem da iniciativa privada e da liberdade isto com os agentes do pior tipo de conservantismo e de clientelismo pol tico para desmantelar por dentro o processo constituinte O Centr o ou a direitona prestou se a esse papel e agora a luta defensiva n o est voltada para melhorar o projeto de constitui o A Ela se volta para o m nimo impedir a instaura o do retrocesso crescente Nesse quadro ficam evidentes duas coisas Por culpa dos pr prios constituintes isto dos setores mais retr grados dos partidos da ordem e dos l deres que os dirigem e da mesa diretora da ANC esta se anulou como fator pol tico crucial Cedeu seu espa o pol tico aos interesses privados nacionais e estrangeiros mais fortes ao atrevimento do governo e aos grupos de press o civis ou militares Desfigurou se e agora procura na rapidez a solu o para os problemas que deixou que se acumulassem e a emasculassem enredando se nas teias das perplexidades do formalismo jur dico do casu smo do imedia tismo e at mesmo na corrup o que desabou sobre v rios constituintes in dividualmente ou em grupo conhecidos como comensais do planalto e desti nat rios de suas benesses Portanto o processo constituinte s c
25. lho do bravo relator Artur da T vola Severo Gomes que tentou o imposs vel conciliar continuidade e reforma olhou o seu relat rio voar pelos ares At o deputado Delfim Netto n o conseguiu operacionalizar uma defini o t c nica de empresa nacional e bateu em retirada Duas comiss es tem ticas Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 94 An F conseguiram fugir a esse tosco drama de sert o sem luar Paulo Bisol e Amir Gabriel s o os exemplos desse xito invej vel conquistado todavia em clima de tens es e contradi es igualmente cruas Faltaram o senso da realidade o respeito nas rela es entre maioria e minoria e a decis o de tolher a he gemonia direta das classes dominantes filtrando a ideol gica e politicamente atrav s dos crivos partid rios O Planalto o patronato e as institui es chave funcionaram como os equivalentes dos partidos burgueses o que se traduziu em deprecia o da ANC e no seu empobrecimento como fulcro da coordena o da produ o coletiva dos constituintes de todas as tend ncias O Planalto aproveitou se da crise de poder que incentivou os estratos di rigentes das classes burguesas a debilitarem seus partidos e a arruinarem a au tonomia relativa dos pol ticos profissionais para sobrepor se ANC em busca de uma Constitui o conservadora O governo encontrou escancaradas todas as portas que poderiam facilitar press es ileg t
26. m de ocupar um lugar ao sol dispor de peso e voz na sociedade civil contar com a faculdade de intervir direta e indiretamente sobre o controle do Estado O que deve separar esta Constitui o das outras anteriores exatamente isso Por fim inconceb vel que o processo constituinte continue a ser a express o de negocia es por baixo do pano dos donos do poder pelos e para os donos do poder A ANC n o est funcionando sob pr ticas democr ticas e pluralistas Por isso ela se afastou de procedimentos constitucionais democr ticos e plu ralistas e enveredou por onde n o deveria jamais ter entrado o favorecimento dos poderosos e a neglig ncia dos que s o tidos como impotentes As ne gocia es que atualizam a politicalha tradicionalista e o politicismo viciado devem ser proscritos No processo constituinte uns perdem outros ganham Nem sempre pelo chamado jogo democr tico todos n s o sabemos Se o jogo n o limpo e se as regras n o forem limpas o resultado ser o pro duto das press es dos mais fortes que anulam os partidos e estrangulam o processo constituinte N o obstante limpo ou sujo tudo deve ser feito em campo aberto luz do dia em debates coletivos Os que perderem ter o de conformar se e aguardar outra oportunidade hist rica mais prop cia O nosso sonho o grande sonho do povo seria que a partir desta Assembleia Nacio nal Constituinte n s por amos um ponto final no
27. nado e o in cio para valer de todas as transforma es que foram impedidas boicotadas interrompidas ou solapadas ao longo de s culos Que a aut ntica maioria incendeie as cabe as dos constituintes e que a raz o pol tica demo cr tica prevale a entre todos n s Caso contr rio o Centr o cavar o seu t mulo ingl rio sem remover a Hist ria do seu curso Ela n o feita sob me dida mesmo por parlamentares todo poderosos presos a uma idade de ouro que os fascina No interior do capitalismo ela resulta da luta de classes e dos seus efeitos sobre a transforma o incessante da sociedade civil 183 Pen ft RESPEITO DA MINORIA PELA MAIORIA O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente Sr e Srs Constituintes gostaria de voltar a discutir os problemas que envolvem esta Casa os conflitos que n o s o de Regimento mas de ideologias conflitos pol ticos Tem havido uma barragem de propaganda para iludir a opini o p blica e mascarar os reais interesses de setores das classes dominantes que est o empenhadas n o s na implanta o da democracia mas na restaura o da ditadura Por isso necess rio que aqui unamos as nossas for as para combater esses des gnios Poder se ia dizer que a regra de ouro da democracia o respeito da minoria pela maioria E poder se ia lembrar que a Comiss o de Sistematiza o n o foi composta pelo arb trio do l der de um dos partidos mas por indica o dos partid
28. ncia de Estado e na o Em uma so ciedade civil n o civilizada a Constitui o precisa suprimir ou limitar dras ticamente a barb rie da sociedade civil e produzir condi es e dinamismos institucionais para que todas as classes exer am controles diretos e indiretos sobre o Estado restringindo o impacto do autoritarismo ou do despotismo das classes possuidoras sobre o sistema de governo Portanto a imagina o pol tica constitucional possui qualidade espec fica e se choca com a imagina o pol tica legislativa que opera atrav s de princ pios e preceitos constitucio nais j institu dos Na l gica da representa o pol tica o constituinte aparece como uma exig ncia excepcional da situa o hist rica e sua efic cia depende de seus la os org nicos com o povo com partidos ideol gicos firmes e com as grandes reivindica es das classes em conflito O deputado e o senador sur gem como express o de um processo que se repete periodicamente e sua su bordina o disciplina partid ria ou aos interesses que s o perfilhados pelos partidos o converte em um delegado de fra es de classes ou do eleitorado preso ao patroc nio de causas que facilitar o a sua reelei o Esses v nculos por sua vez podem criar rela es mais ou menos d ceis com o governo e com os canais administrativos que enfraquecem ou volatilizam sua independ n cia relativa e exacerbam seus pap is de cidad o respons vel exemplar at
29. o endossei as atividades guerrilheiras que foram desencadeadas sem condi es objetivas para transformar a sociedade brasileira Por isso acho que tenho o direito e o dever de vir aqui lembrar a mem ria desse homem que trabalhou denodadamente para que a Constitui o de 1946 tivesse a qualidade que al can ou preciso n o esquecer que Carlos Marighella teve um trabalho inte lectual de grande porte Ele foi um dos primeiros a fazer uma an lise profun da dos problemas agr rios no Brasil a apontar a necessidade de uma reforma Discurso proferido durante a sess o de 4 de novembro de 1987 na ANC Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 166 agr ria radical como condi o para que os problemas que n s enfrentamos de mis ria e desemprego fossem solucionados Ele foi tamb m o primeiro a fazer um diagn stico global de uma perspectiva que traduzia as posi es do Partido Comunista de ent o da crise brasileira e apontou os contornos dessa crise A ele devemos tamb m uma an lise rigorosa do regime ditatorial clara em seu teor explicativo e consequente no seu sentido pr tico porque ele viu que a ditadura precisava ser derrubada que n o se deveria fazer transa o com a ditadura que a transa o com a ditadura nos levaria possivelmente a situa es muito dif ceis situa es estas que n s vivemos hoje Portanto ele foi um militante de porte te rico que foi levado em se guida
30. o e cortar os impasses que derivam das limita es que pairam sobre as debilidades or ganizativas das classes trabalhadoras Se essas debilidades organizativas n o forem reconhecidas e superadas com a rapidez poss vel nunca haver luta pela conquista do poder Este continuar nas m os da burguesia e dos seus aliados de classe que montaram a ditadura puseram em seu lugar a Nova Rep blica e j preparam o terreno para que ela assegure a cobi ada transi o lenta gradual e segura com um Congresso Constituinte domesticado e tangido de cima por um governo disposto a manter os prolet rios e os opri midos em seu lugar Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 42 Florestan Fernandes MISS O IMPOSS VEL A Nova Rep blica n o nasceu sob um signo aziago Ela teve uma origem perversa veio ao mundo e cresceu gra as a uma maternidade que a deformou e perverteu para sempre Filha da ditadura ou para usar uma lin guagem amena da conven o hist rica da Rep blica institucional ela retrata aquilo do qual se pode dizer quem puxa aos seus n o degenera Importa quanto de comando militar mant m dentro de si Mas at isso secund rio Ela funciona gra as ao quantum de ordem ilegal que subsiste viva na sociedade brasileira o ar que respira o seu alimento e o seu alento E sua import ncia para v rios setores dos donos do poder procede do fato de que
31. privil gios que deveriam estar mortos dos donos do poder econ mico so cial e pol tico Amarrou se ao passado quando se tornava imperativo abrir se para o futuro ser a Constitui o do salto para o s culo XXI da ruptura com 243 Perseu uma ordem legal que solda o pa s s emana es ideol gicas do capitalismo monopolista dependente e recusa perempt ria da revolu o democr tica Poder amos ter dado cem passos frente Ao contr rio avan amos cinquenta passos e recuamos vinte e cinco em um meio a meio que s pode ser plena mente satisfat rio para a ilus o conservadora de que a hist ria determinada por via constitucional Ora n o s o as constitui es mas os seres humanos como classes povos e na es que fazem a sua hist ria Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 244 Florestan Fernandes CONSTITUI O ASSINAR OU N O Surgiu e tende a fortalecer se uma disposi o na esquerda em geral e em certas correntes do PT a pressionar os constituintes correligion rios a n o assinarem a Constitui o Trata se de uma quest o pol tica delicada e comple xa sobre a qual preciso refletir objetiva e friamente Alguns dos defensores dessa posi o refletem a opini o te rica e pr tica de jornais como Em Tempo e Converg ncia Socialista que t m atr s de si uma longa e construtiva experi ncia militante A mesma atitude encontra guarida em v rios c rcul
32. ria da burguesia uma minoria ativa e ego sta que converteu o capitalismo em uma caverna de Ali Bab A esquerda ter de participar dessa batalha N o para salvar uma cons titui o ideal socializante ou estatizante Mas para que n o caiamos no reino do quanto pior melhor de uma perspectiva reacion ria Esse reino se equaciona como a volta dos militares ao poder ou como preservar o Brasil para a verdadeira civiliza o crista N o h civiliza o crist onde a barb rie constitui a regra de ouro da exclus o da imensa maioria e o meio permanente da brutaliza o dos trabalhadores e oprimidos aos milh es Portanto a es querda almeja a derrotar a barb rie como um primeiro passo para diminuir o car ter destrutivo de um capitalismo perverso e selvagem por isso ela foi ao Parlamento consciente de que n o obteria pequenas conquistas socializan tes e estatizantes Quando falamos em pequenas conquistas queremos dizer isso mesmo A Constitui o n o um meio de assalto ao poder por anarquis tas socialistas e comunistas Onde est o os principais aliados da esquerda Nos sacerdotes democr ticos nas entidades ditas da sociedade civil e que refinaram seu ardor pol tico no enfrentamento com a ditadura nos setores radicais dos partidos da ordem progressistas ou socialdemocr ticos De onde prov m a for a da esquerda Dos de baixo das massas populares e das classes trabal
33. rica Essa trag dia espocou sob a forma de com dia na ltima sess o de modo como diziam os antigos a fazer corar um monge de pedra Em lingua gem l mpida ela foi uma sess o de liquida o dos saldos Votou se de manh tarde e noite at s duas e dez da madrugada A acelera o esquentou o ambiente e todos fizeram um esfor o extremo para render o m ximo No meio de tamanha precipita o discuss es s rias foram feitas com escr pulo e comprovou se que o pol tico profissional adora falar para ouvir se ou ser ouvido A noite j ia adiantada quando o l der do PFL levantou o caso das emendas sobre a reelei o do deputado Ulysses Guimar es Este que n o tem nada a aprender com os pol ticos que o rodeiam repetiu que n o era candidato Por fim transferiu a presid ncia e retirou se do plen rio Menos constrangidos os deputados mais afoitos deitaram fala o O cen rio eviden ciou o que era algo calculado dirigido sem riscos aos cora es dos ulyssistas A certa altura o presidente voltou selando essa interpreta o e retirando do epis dio todo o sumo pol tico que ele continha aparando no momento certo as interven es espont neas que iriam tomar tons adversos e at indignados Foi um lindo golpe de mestre A apoteose que n o abrangeu a todos andou perto disso Parecia que a ANC formava colegialmente atr s do seu dolo Esse espet culo por si mesmo cruel e deprimente situava se muito
34. rico satelizado n o possui vontade coletiva pr pria Tamb m n o precisa de uma constitui o moderna e democr tica As regras v m de fora e s o estabelecidas pelo sistema capitalista mundial de poder 293 Pen ft DESCONSTITUCIONALIZA O COMO PROJETO GOVERNAMENTAL Desconstruir um termo em moda De fato poucos falam abertamente no reino da pol tica que querem desconstruir O governo atual talvez porque se escora na espada e obedece a um cronograma pol tico militar nem sempre esconde as suas inten es e objetivos O Parlamento por ser um poder desar mado e malquerido est colocado em uma rea na qual as amea as e as pr ti cas desconstrutoras do governo muitas vezes aparecem de maneira expl cita Antes da promulga o da Constitui o o governo j recorreu a um aut ntico passa moleque Antecipou se a medidas nevr lgicas e autodefensivas estarre ceu a na o com o desmonte nomea es que se tornariam proibidas troca de presta es com os comensais do regime atrav s da concess o de canais de televis o e de esta es de r dio a transfer ncia de servi os para a rbita do pal cio inclusive do SND e por a afora Se o Congresso possu sse maior autossufici ncia responderia taco a taco ao conjunto mas acomodou se e o governo avan ou de modo grave ao descumprimento de futuras determina es j conhecidas sem provocar um conflito de poderes insan vel Fez tudo com a maior cara de pau
35. so Estamos prestes a deixar escapar entre os nossos de dos as vit rias asperamente obtidas na ANC em um clima no qual a condi o de socialista e de comunista j constitui uma barreira na comunica o com os colegas Prevalece uma desconfian a cr nica contra os que representam os de baixo com suas amea as potenciais e reais Os capitalistas ainda mo nopolizam o aparelho do Estado e ir o travar sua guerra defensiva e ofensiva atrav s dos cinco poderes o deles pr prios como classe dominante os tr s poderes cl ssicos o Executivo o Legislativo e o Judici rio e o Militar Os trabalhadores contam com sua condi o de maioria desproporcional com o que aparecem intrinsecamente como for a esmagadora de nega o da ordem existente especialmente se demonstrarem capacidade de uni o nacional e internacional A hist ria n o termina aqui Sob muitos aspectos os trabalha dores est o encerrando a era das elites autocr ticas e inaugurando a era do controle popular coletivo sobre a vida da na o A Constitui o um simples riacho nessa travessia Mas ele pode correr na dire o da nova hist ria se os trabalhadores souberem aproveit la e mais tarde apresentarem vigor pol ti co para construir outra melhor 259 Pense CONSTITUI O O DESPIQUE DO GOVERNO Afinal o governo chegou aos ltimos limites Depois de infestar a As sembleia Nacional Constituinte de vergar o processo constituinte por meio das hostes do
36. tentou decifrar a seu modo a ANC e suas tarefas imediatas uma ilus o de mandarins supor que a falta de educa o ou a ignor ncia inibiria tal gente e a jogaria no colo dos ricos no modelo de constitui o que os mandachuvas desejavam e iriam elaborar Sem proceder a sondagens emp ricas sistem ticas mas ouvindo aten ta e intensivamente aqui e ali infelizmente apenas circulando entre os que sabem que a Constitui o entret m rela es com suas vidas deve ser incon t vel o n mero dos que n o sabem da exist ncia de uma ANC cheguei a algumas conclus es consistentes H uma categoria maior de pessoas pobres e de trabalhadores que se defende passivamente Eles n o s o propriamente indiferentes Possuem informa es saem de si mesmos mas protegem se de maneira a elidir se ou esquivar se dos golpes mais demolidores Depositavam esperan as na ANC que despontava como uma solu o dos nossos proble mas Os falat rios somados s repercuss es sociais da m dia levaram nos desilus o Algo t o distante e complexo como a rede de poder carrega 223 Pen ft consigo a carga d bia de que n o poderia ser de outro modo Por que de uma hora para outra s porque queremos a Constitui o iria responder s agruras dos pobres De uma forma mais confusa aqui mais clara acol a Constitui o ficou em seu lugar aqueles que a fazem a entendem a mane jam A frustra o forte e o d
37. tribuna As dist ncias ideol gicas e pol ticas s o ul trapassadas pelo conv vio cordial que assim se estabelece e descobrem se talentos e amigos ou afinidades que por vezes atravessam aquelas dist ncias a ponto de os extremos se tocarem como na amizade entre Geno no e Rober t o Nas poucas vezes em que o afluxo aumenta o clube vira uma esp cie de Jornal do Brasil 26 1 1988 1 Deputado Jose Geno no PT e Roberto Cardoso Alves PMDB 197 Perseu recreio colegial com a tagarelice preponderando sobre a seriedade e os ora dores falando para o burburinho Se todos os entendem ningu m os escuta Um milagre parlamentar e tamb m uma vit ria do bom selvagem sobre o solene representante do povo Ainda assim assustei me com os limites naturais ou espont neos da co munica o O meu ardor socialista esperava um ambiente de discuss o ativa e de circula o de ideias No entanto prevalece a regra cada pessoa uma ilha O que se diz ou n o repercute ou se esgota no ato de falar Os meios de comuni ca o de massa possuem os seus prediletos ou suas figuras chave Os oradores que pensam falar para a Hist ria de fato contribuem para aumentar o registro da C mara e para enriquecer a difus o de A Voz do Brasil para minha sur presa mais ouvida do que supomos O barulho abafa as vozes e as ideias O pior que o ambiente apesar da liberdade total dos oradores fecha se quilo que contrari
38. uma burguesia compradora e ambos se aninham na mentalidade mercantil especulativa dos manipuladores dos grandes e m dios capitais nacionais e estrangeiros O Estado n o possui como um de seus princ pios a fun o acumulativa Ele o principal agente direto de acumula o primitiva quer transferindo renda da coletividade para o setor privado quer gerando e dis tribuindo privil gios em si e por si capitalistas com a maior generosidade sem distinguir entre o nacional e os gringos ou os de fora Se h um curto circuito na engrenagem dos fluxos e contrafluxos do capital o Estado converte se para essa gente privilegiada em bode expiat rio Se preciso recorrer a medidas mais ou menos sujas e antinacionais o Folha de S Paulo 08 1 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 46 an F Estado produz as pol ticas necess rias prolongadas ou de emerg ncia ope rando como uma bomba de suc o que tira as ltimas gotas de sangue dos trabalhadores manuais agora alternativamente dos assalariados em geral para inocul las nos organismos das empresas para torn las sadias e incentivar o seu crescimento Esses trabalhadores e assalariados n o per tencem ao nosso grupo na o s o o grupo dos outros a antina o ou a subna o subversivos que aspiram a destruir a ordem natural e sagrada das coisas com a pretens o de se incorporarem
39. 1965 e prendia se a uma complexa teia de aspira es das classes m dias e de frustra es das classes trabalhadoras O jovem especial mente sob a forma de estudante e de intelectual radical foi impelido para a frente Ele desempenhou pap is altamente construtivos de consci ncia social cr tica e de confronto aberto com uma ordem social in qua de privil gios dis simulados e de forte desigualdade social A ordem social incapaz de respon der atrav s de dinamismos de coopta o ou de autorregenera o defendeu se como se enfrentasse uma situa o de guerra civil declarada Estigmatizou ne gativamente o jovem radical reprimiu o estudante rebelde prendeu e puniu exemplarmente os que foram considerados subversivos assassinou todos os que ofereceram uma resist ncia inabal vel Em seguida abateu se sobre o jovem uma cadeia de opress o dissimulada ou escancarada procedente de v rias institui es da fam lia ao Estado visando submet lo a rendi o pas siva incondicional Essa cadeia de opress o organizada embora espont nea valoriza sobremaneira a resist ncia que sobreviveu s lutas democr ticas do passado recente e o inconformismo que foi gerado pela pr pria opress o sis tem tica Hoje o jovem retorna aos seus pap is em um Brasil diferente e n o deve ficar encantado por um passado que n o pode ser reconstru do e n o foi t o legend rio ou heroico como as idealiza es sublinham Seus par metros eram his
40. 1988 escrito em meados de setembro 291 Pen ft O corol rio da orienta o da grande burguesia e da posi o do governo o mesmo Trata se da cren a difundida de que fora da internacionaliza o n o existem sa das para as na es capitalistas do Terceiro Mundo Essa cren a alimenta se de uma fal cia Em cada momento da hist ria mundial houve sempre um centro hegem nico que fomentava o temor de que desobedecidas as regras do jogo do seu jogo os pa ses em forma o ficariam fora das ondas do progresso Portanto atr s de cada tipo de domina o externa a domina o colonial direta a domina o colonial indireta e a domina o atrav s da depend ncia existia uma modalidade de internacionaliza o salvadora que s seria acess vel aos pa ses que aceitassem a rendi o silenciosa por vezes incondicional A Alemanha fugiu das regras do jogo negando se a ser uma na o perif rica e dependente atrav s do livre c mbio ativado pelos ingleses Os Estados Unidos lograram o mesmo resultado repudiando um destino neo colonial e escolhendo para si o papel de um futuro centro imperialista contra a Inglaterra e outros pa ses da Europa que nem por isso deixaram de concorrer para a prosperidade econ mica dos Estados Unidos O capital procura riscos e lucros Os Estados Unidos pareciam promissores porque compensavam os interessados com fortes promessas de um farto excedente econ mico crescente
41. 59 Pen ft da ANC o que por si e em si mesmo pressup e uma asfixia consentida da referida soberania O apoiamento de um ter o e o processo de vota o e apro va o escolhido erguem se como um ferrolho numa ANC de composi o esmagadoramente conservadora O recurso aprova o pr via da Comiss o de Sistematiza o por sua vez um ardil de supera o dific lima e bastaria ele para criar um ferrolho quase intranspon vel A que veio isso tudo De intrigas palacianas ou planaltinas manipula das pelo PFL os sarne stas mais ardorosos do PMDB e os parlamentares que temem uma ANC democr tica e republicana nesta altura do campeonato Pretendia se expungir a ANC de qualquer propens o a usurpar o poder do Senhor Presidente A mera hip tese da soberania da ANC desenhava se como um fantasma Em consequ ncia os parlamentares endossam clara e cons cientemente que a ANC seria capaz de praticar uma usurpa o E n o sentem pudor de se verem tachados de usurpadores exatamente por um sistema de poder montado para manter e reciclar o que havia de pior no regime ditato rial Ora a ANC podia e devia afirmar se como um poder constituinte e por isso mesmo dotado da soberania conferida pela representa o popular com a faculdade de remover para a lata de lixo da hist ria toda a heran a nefasta embutida no presente governo inclusive a transi o lenta gradual e segura que nos amarra a um imobilismo pol tico est
42. A aristocracia agr ria aburguesou se surgiram novos troncos da burguesia Por m a idealiza o da Constitui o permanece fiel aos mesmos fulcros como se o nosso pa s fosse uma enorme senzala vinculada s casas grandes dos propriet rios dos em pres rios de porte e dos administradores das multinacionais A menos de doze anos do s culo XXI muita coisa se alterou As classes m dias se diferenciaram e uma parte delas avan ou numa dire o radical na idealiza o da Constitui o Agentes ativos e criativos de seus c rculos intelectuais e pol ticos e por vezes militares modificaram as formas e os conte dos de antigas institui es e organiza es inserindo as no combate pela democratiza o da sociedade civil e do Estado A Igreja Cat lica robuste ceu pol tica e doutrinariamente essas manifesta es de modernidade atrav s de diversas entidades empenhadas no combate pobreza ao genoc dio dos ndios discrimina o racial desorganiza o e destrui o moral dos fave lados dos boias frias concentra o da propriedade fundi ria exclus o e genoc dio dos miser veis da terra etc N s que nunca tivemos um aut nti Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 210 An F co radicalismo burgu s ganhamos por essas vias um equivalente hist rico Como os abolicionistas e os caifases institui es chave da ordem e persona lidades pertencentes s elites culturai
43. Al m disso estranha a obstina o de alguns setores da extrema esquerda Deslocam sua frente de luta para a repulsa de uma constitui o que permite repelir pelo movi mento de massas e pela luta de classes o regime vigente A ANC deveria ser para os revolucion rios consequentes um campo de enfrentamento pol tico Acusar a Constitui o exigir a elimina o de medidas antiprolet rias an tissociais antidemocr ticas e antinacionalistas engalfinhar se na defesa das inova es constitucionais pr prolet rias pr populares pr nacionalistas e pr democr ticas eis o seu papel A outra via seria a de voltar as costas ao Parlamento e sua Constitui o organizar se para demolir a supremacia bur guesa preparar se para a conquista do poder O meio termo escolhido uma fuga Somos extremistas por isso n o faremos nem uma coisa nem outra Ora n o foi sem raz o que L nin apontou o infantilismo de tais atitudes e comportamentos Contentam se em desmascarar a Constitui o em apontar que ela legitima o status quo Uma novidade de arrepiar os cabelos O que se esperava Que as classes dominantes mudassem de pele de um dia para outro e advogassem uma constitui o que servisse de fundamento constru o do poder popular no Brasil Neste momento imp e se uma reflex o s ria e a coragem de aceitar ou de recusar a luta parlamentar pela consolida o do movimento oper rio e sindical e pelo fortaleci
44. Contudo a constitui o continua a ser uma carta da organiza o do Estado e uma fonte de legitima o de excessos que n o s o inerentes ao capitalismo como modo de produ o estabilizado fazem parte da pilhagem que gera a acumula o de capital pr capitalista no chamado mundo neocolonial e nas na es perif ricas Vejamos alguns exemplos O mais prim rio de todos a redu o da im port ncia relativa dos impostos indiretos e a institui o do imposto de renda progressivo at ao ltimo grau Essa exig ncia elementar ficou de fora Outro exemplo mais chocante os produtos industrializados destinados ao Exterior est o constitucionalmente isentos de impostos A enormidade maior a inicia tiva privada poder prevalecer como o deus Mamon de nossa religi o oficial O p blico universalmente privatizado sob todas as formas de atividades empresariais O estatismo identificado como uma encarna o do diabo funcionar como a alavanca oculta da acelera o pol tica da acumula o capi talista Prevalece assim uma terr vel e permanente transfer ncia de riqueza Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 136 An F do setor p blico para o setor privado isto dos trabalhadores e dos pobres para as classes dominantes O car ter de pilhagem dessa forma origin ria de acumula o de capital montada sobre um privil gio odioso que permite ao rico enriquecer se ainda mais s
45. Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 230 an Fernandes cionais que as suplementaram ou corrigiram Tentou se embair a na o A Nova Rep blica teria tamb m a sua constitui o autorit ria adaptada s exig ncias do grande capital nacional e estrangeiro s manipula es do governo com seu vetor militar e necessidade de manter sob controle a ebu li o das classes trabalhadoras dos miser veis da terra das massas errantes da pequena burguesia e dos estratos inferiores das classes m dias Pretendia se o imposs vel Enquanto a crise burguesa se agrava de modo desordena do queria se sustentar em ponto morto uma rebeli o social que deixou h tempo de ser mera potencialidade hist rica Ela s n o explodiu por falta de meios institucionais organizados de luta de classes por parte dos tr s quintos de exclu dos e revoltados O poder econ mico preparou se cuidadosamente para a pugna cons titucional Jogou toda a sua for a no processo eleitoral e conquistou um xito marcante Minorit rio na estrutura de classes fez um corpo majorit rio de constituintes O chamado Plano Cruzado teve sua parte nesse milagre po l tico e o PMDB foi a alavanca da vit ria embora ele tamb m arrebanhasse votos de setores populares atra dos por um mudancismo de teor propa gand stico Al m do PMDB os demais partidos da ordem trabalharam no mesmo sentido
46. Marx Todavia teremos de lutar firmemente para formar partidos de outro tipo e us los com decis o para extinguir o mandonismo do tope na sociedade civil e no Estado O desafio enorme N o se trata de enterrar o poder podre Mas de engendrar uma Rep blica democr tica com dois polos o das classes domi nantes e o das classes subalternas em intera o e interdepend ncia 299 Pen ft TRANSI O P S CONSTITUCIONAL A Nova Rep blica persiste e busca refor ar se O senso comum os po l ticos otimistas e os meios de comunica o proclamaram que a promulga o da Constitui o punha um fim transi o O pr prio presidente da Rep blica fez o juramento de praxe pelo qual se obrigava a obedecer nova ordem legal Contudo o governo tenta por todas as vias ao seu alcance ajustar a Constitui o a ele pr prio e n o o inverso O Consultor Geral da Rep blica entenda se da Nova Rep blica dita com clareza e coragem invej veis o seu prop sito consiste em desconstitucionalizar a Constitui o Como n o foi demitido e aprofunda e amplia a sua faina desconstitucionalizadora n o preciso mais nada para saber se em que dire o caminha o governo contra a constitucionaliza o da sociedade civil e do Estado Isso p e em cena dois personagens vigorosos Primeiro o poder Judici rio Agora a constitucionaliza o do pa s segundo as novas normas passa pelo Judici rio como por cim
47. Muito obrigado a V Ex Muito bem 91 Pen st CRISE DE PODER E ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE O que infunde um car ter dram tico elabora o da presente Cons titui o a crise de poder que se manifesta em toda a sociedade nacional Os propriet rios de terras ditos latifundi rios os militares rec m egressos de uma ditadura que lan ou no Brasil no caos os donos ou administradores de empresas de grande porte nacionais e estrangeiras que temem perder v rios privil gios antissociais e antinacionais da iniciativa privada o superburocrata e o tecnocrata ultrapoderoso do aparelho estatal at a Igreja Cat lica que ten ta recuperar sua influ ncia de institui o n o pol tica com fun o diretora nas malhas do poder governamental exemplificam diversos ngulos dessa crise de poder O regime de classes se modificou e tende a alterar a organiza o o funcionamento e os dinamismos da sociedade civil Uma democracia emer gente de face nova com ra zes nos oper rios e em uma pequena burguesia amedrontada pela proletariza o nos setores de classe m dia tradicional em plena decad ncia econ mica e social de car ter transit rio em trabalhadores da terra que erguem a cabe a e seu protesto de forma violenta em oprimidos que buscam alternativas para o opr bio social e a mis ria em sindicatos e Folha de S Paulo 07 7 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 92 l
48. a hist ria e fazer com que as v rias correntes e tend ncias das classes trabalhadoras e destitu das se vissem repentinamente mobilizadas com o vigor suficiente para vergar o arco conservador e uma tradi o t cnica da representa o pol tica O Regimento Interno da ANC logrou ainda assim combinar as duas pontas dessa equa o e permitiu uma ampla exposi o dos parlamentares aquilo que se poderia chamar de a voz ou as vozes da sociedade civil Seja nas subcomiss es e de modo espor dico ou vari vel nas comiss es tem ticas seja em um momento estrat gico conjugado ao desencadeamento dos trabalhos da comiss o de sistematiza o ocorreram manifesta es intensas e maci as dos de fora com frequ ncia canais ou expositores dos de baixo que impregnaram as disposi es constitucionais advogadas pelos constituin tes Assim estes se desprenderam relativamente do cord o umbilical com o formalismo constitucional ampliaram sua rede de articula o variedade dos interesses e valores das classes e diminu ram ou cortaram seus v nculos com a tirania dos objetivos esp rios filtrados pelos partidos da ordem e do governo N o se atingiu uma situa o ideal Por m conquistou se um ponto de partida para um processo constituinte moderno de ess ncia democr tica e voltado para o futuro almejado pela maioria real A tramita o do Regimento Interno desenrolou se de modo a permitir esse casamento
49. a peneira Um ex governador exc ntrico antigo delegado da ditadura volta ao cen rio pol tico com toda a for a da sua pot ncia econ mica e da sua avidez patol gica pelo poder com mpeto total O outro partido da ordem oscila por sua dire o local entre um candidato empres rio imprevisto e imprevis vel disposto a envergar qualquer camisa e o ex governador Contudo coloca neste sua mente e cora o fiel sua voca o de plasmar se ao tr fico do poder Um partido dos de baixo avan a sem recorrer s linhas perversas desse confronto das for as de or dem com um candidato que destoa dessa harmonia pois ousa possuir ideais pol ticos e clara identidade ideol gica Contudo sua presen a mais salienta do que resgata esse quadro de hist ria podre um loda al inconceb vel que engole vorazmente a vida pol tica organizada Esse politicismo vazio pernicioso e visceralmente atrasado ele nos re verte s ditas velhas oligarquias e s suas pr ticas pol ticas embora ao mes mo tempo esteja enraizado no jogo de for as do atual capitalismo monopolis ta dependente e nas irradia es globais da cidade de S o Paulo como a mega l polis que sateliza os dinamismos internos do desenvolvimento desigual em si e por si mesmo o modo pelo qual uma burguesia impotente corr i os dinamismos pol ticos do desenvolvimento capitalista e por essa via indireta debilita a luta pol tica das classes trabalhadoras e das mass
50. adensamento de salto qualitativo para diante A Constitui o e a democracia s o pe as desse fluxo n o seus obst culos Os que opta ram pelo refluxo por meios pac ficos ou armados sabem disso N o precisam de um empurr o dos advers rios que deveriam ser os mais inteligentes e os mais firmes Fazem o que podem em todas as frentes dos partidos s orga niza es patronais comunica o de massas e ao governo para alcan arem o seu objetivo e ficarem a cavaleiro de uma situa o hist rica na qual perde ram o monop lio do poder e a faculdade de decidirem sozinhos Usam uma ret rica mas recorrem a pr ticas antiqu ssimas que a desmentem pelas quais sempre dominaram e subalternizaram os de baixo e puseram o aparelho es tatal sua merc A imensa maioria da na o n o pode deixar se fascinar por mitos por obsess es derrotistas pelo revolucionarismo verbal Em seguida Constitui o de 1934 tivemos um golpe de Estado uma ditadura terr vel e uma constitui o de modelo subfascista a de 1937 Uma concilia o con servadora dentro de um Estado de transi o permanente s pode conduzir a um resultado semelhante 271 Perseu preciso n o esquecer se persistir o dispositivo que torna poss vel uma revis o constitucional em 1993 a Constitui o atual poder ser me lhorada ou piorada Tudo depender do que os t ticos do pensamento revo lucion rio abstrato chamam de correla o de for as
51. agem contra a na o com habilidade sem alarde mas se preciso aplicando duramente o excedente de poder cujo controle n o perderam e que n o abandonar o espontaneamente O poder real portanto n o mora no Parlamento A ANC ser em bre ve dissolvida Deixar pronta e acabada uma constitui o sujeita aos atrope los e s deforma es que vir o em cascata por m de maneira crescente dos n cleos do poder real A op o por tacanha e pobre que ela seja ningu m escolhe o solo hist rico em que nascer viver e morrer estar entre o Estado de transi o permanente que nunca escondeu as suas potentes gar ras e a vig ncia da Constitui o Em determinado momento parecia que a Constitui o culminaria automaticamente na ruptura Nos dias que correm transparente que o complexo de poder civil militar possu a uma estrat gia e alcan ou seus objetivos com perdas leves ou secund rias O terreno conserva se pois preparado para que ele fa a e desfa a o que entender no respeito ou no desrespeito Constitui o A alternativa para os dissidentes para as en tidades que sempre lutaram pela democratiza o da sociedade civil e do Es tado para o movimento sindical e oper rio consiste em aceitar a luta pol tica com bravura com o fito de demolir o Estado de transi o permanente isto a Nova Rep blica Ou ele ou n s essa a quest o Com isso partidos como o PT o PCdoB o PCB o PSB o PDT e
52. antinomias existentes entre o pa s real e o pa s ideal O idealismo constitucional irrompeu pela maioria parlamen tar E saiu vitorioso numa propor o que parecia improv vel A Alian a De mocr tica cindiu se e os partidos da ordem mostraram brechas insuper veis A maioria parlamentar precisou recorrer a duas armas para atingir seus fins De um lado teve que socorrer se do governo do veto militar e da press o direta das classes dominantes O governo abriu as suas burras e mostrou as suas garras O vetor militar saltou por cima das conveni ncias e ditou e ainda continua a ditar em que dire es caminha a sua vontade de defesa da lei e da ordem As classes dominantes descobriram rapidamente que n o podiam confiar na lealdade experi ncia e devo o de seus representantes eleitos sob os abusos do poder econ mico Tinham de agir por sua pr pria conta e risco atrav s de experientes entidades tradicionais e de outras rec m criadas como a UDR e a UBE para a ocasi o e por causa da emerg ncia De outro lado lan ou se m o de um expediente pol tico militar concentra o de for as e ata que cerrado aos objetivos vitais Constituiu se o Centr o e manobrou se com mal cia e sem escr pulos tudo serviu para que a Constitui o ficasse contida em uma camisa de for a pela qual a reprodu o do pa s real permaneces se intang vel As for as da ordem abandonaram todos os luxos do passado inclusive o fo
53. as rela es das gera es coexistentes permitindo que luta de classes e os grandes proces sos de transforma o global da hist ria interfiram no grau de radicalidade e revolucionarismo organizado das manifesta es juvenis como aconteceu nos fins da d cada de 1960 na Europa e nos Estados Unidos As sociedades de classes da periferia n o possuem os mesmos recursos de controle repres sivo disfar ado e de absor o das tens es Por isso o radicalismo do jovem pode prolongar se al m e acima da dura o de uma gera o servindo como o ponto de partida ou como fator de realimenta o e de processos de mudan a Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 32 An F social revolucion rios cont nuos que acabam destruindo a ordem existente A rela o entre o jovem radical e o intelectual revolucion rio deixa assim de ser fortuita Os jovens formam o celeiro de revolu es prolongadas e estas s podem ser detidas atrav s do esmagamento impiedoso do jovem do radica lismo estudantil e juvenil e dos movimentos revolucion rios todos ligados estrutural e dinamicamente entre si O Brasil da d cada de 1950 e principalmente da d cada de 1960 re presenta um exemplo extremo O radicalismo do jovem incrustava se em um processo profundo de transforma o da sociedade brasileira ver especialmen te Marialice M Foracchi O estudante e a transforma o da sociedade brasileira S Paulo Nacional
54. burguesas s o destitu das de cultura c vica e s absorvem as mudan as que respondem s suas situa es e interesses de classes Ainda est o no est gio de praticar a acumula o origin ria combinando a de v rias maneiras com a acumula o concentrada e acelerada do capital Elas vivem sob o capitalismo monopolista da era atual sob o guante da comunidade internacional de neg cios Precisam do Estado para interpor um biombo entre elas e a domina o externa um guarda chuva protetor e n o sabem como resolver seus dilemas econ micos sociais e pol ticos sem a privatiza o do p blico a transfer ncia permanente de riqueza da na o para o setor privado e sem a capacidade repressiva do Poder P blico As desigualdades econ micas sociais culturais e pol ticas extremas em termos de classe de ra a e de regi o convertem o desenvolvimento desigual em um vulc o prestes a fomentar explos es sociais em qualquer momento Em suma as nossas classes burguesas n o aprenderam a combinar promessa e repress o Por essa raz o o nosso Estado capitalista t o tosco e brutal Se as classes burguesas aderissem ao horizonte pol tico do parlamentarismo elas n o solucionariam de uma hora para outra os desafios que pesam sobre sua cabe a como uma espada de D mocles Por m obteriam um respeito his t rico um per odo de paz social sem o concurso de entidades como a Rep blica Olig rquica o Estado Novo o desenvolvimenti
55. caixa dois ajuda a corroer ainda mais a crise fiscal do Estado sob seu pleno consentimento pois n o se deixa de pagar impostos sem provocar rastos mas contribui para elevar a participa o das grandes empresas nacionais e estrangeiras no excedente econ mico Trata se de um quadro tenebroso que p e a na o diante da imi n ncia de um colapso sem incluir no rol os rombos representados pela d vida externa e pelo d bito p blico ambas conex es diretas de transfer ncia de riquezas dos assalariados dos trabalhadores semilivres do campo e das cidades para a alta burguesia e seu Estado canhestro de seguran a nacional Ao mesmo tempo que isso acontece a crise burguesa amedronta os capitalistas os donos do poder nacionais e estrangeiros obriga os a temer a Constitui o em final de acabamento Esta n o custar mais caro para a na o que o tipo de Estado semiditatorial mascarado em vigor Por m ela quebra amarras como salvar as atuais facilidades e compensa es sem os recursos extralegais da Nova Rep blica Desse ngulo explicita se como o agravamento da crise se vincula com a concilia o suspensa como a espada de D mocles sobre uma na o pobre e desgra ada A democracia o naciona lismo a moderniza o c vica e nacionalista da sociedade civil e do Estado n o s o s um luxo Eles aparecem como o come o do fim para a alta burgue sia e o grande capital Por si mesma se a Constitui
56. chegar a uma sociedade que combine democracia com independ ncia nacional liberdade e igualdade Bras lia 17 de dezembro de 1987 FLORESTAN FERNANDES NOTA 1 Texto de introdu o do livro FERNANDES Florestan O Processo Constituinte Pronunciamen tos e debates apresentados pelo Deputado Constituinte Florestan Fernandes em 1987 Bras lia C mara dos Deputados Centro de Documenta o e Informa o Coordena o de Publica es 1988 pp 5 8 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 308 Florestan F NOTA EXPLICATIVA Este livro re ne escritos destinados em sua maioria Folha de S Paulo ao Jornal do Brasil ou pertencentes CUT e ao PT Fles continuam e apro fundam an lises iniciadas gra as Folha de S Paulo depois reunidas no livro Que tipo de Rep blica S o Paulo Brasiliense 1986 S que eleito deputado constituinte eu passei a dispor de uma posi o privilegiada de observa o Podia acompanhar o processo constituinte de perto e por dentro algo que me fascinava Ali s dediquei a maior parte dos discursos parlamentares a esse tema cf Florestan Fernandes O processo constituinte Bras lia C mara dos Deputados 1988 Essa dupla condi o de parlamentar e observador n o frequente tam pouco bem vista por todos Os conflitos de lealdade foram por mim solu cionados privilegiando a ltima condi o Penso que o parlamentar n o pode isentar se d
57. cipa o pedag gica em escola nacio O limite deste emino entre os seis nal A pedagogia do oprimido e e os 16 anos Incluindo na gratu Paulo Freire fomecem um bom daar o rpm acara a exemplo de que somos capazes de ta o b sica indispens veis e estem uma produ o pedag gica apta a dendo a contribui o do poder p Piorestan Fomendas he seo nl ae A Recortes da publica o PT Na luta da Constituinte destacando as contribui es de Florestan Fernandes n 10 out 1988 e n 3 set 1987 Acervo CSBH FPA A Carta est pronta E a luta continua Agora oPT precisa se mobilizar para a batalha em tomo das leis que v o regulamentar as normas constitucionais epois de 19 meses de trabalho foi promulgada no dia 5 de outu bro a nova Constitui o do Pa s Uma Constitui o que em rela o imposta pelo regime em militar em 1967 cont m avan os importantes no campo dos direitos civis das liberdades p blicas e da participa o do cidad o Mas que mant m intocados no essencial e no global injusti as privil gios e omiss es incompat veis com uma sociedade moder na ainda que nos limites do capitalismo A Bancada do PT chegou Constituinte consciente de que uma nova Constitui o por melhor que fosse seria incapaz de estabelecer um est gio social de justi a e Eberdade com o fim da explora o do homem pelo homem Tamb m sabia que a correla o de for as determinada pelas elei es
58. civil A novidade da presente situa o hist rica est em preservar uma ordem ilegal at o Congresso Constituinte como expediente n o s para ganhar um respiro mas tamb m para pescar em guas turvas Quem sabe se o Congresso Constituinte movido pelos fi is eleitos com base no poder econ mico far um milagre de resguardar a transi o lenta gradual e segura com tudo o que ela implica de esp rio no casamento do poder civil com o v rtice militar e a estrat gia global imperialista soprada de fora Tudo pode acontecer Contudo eu n o acredito nessa hip tese Seria s rdido demais insensato demais algo muito shakespeariano para a brutali dade tosca dos tr picos e dos pa ses pobres com milh es de oprimidos que reduzem a revolu o social a uma equa o da mis ria os partidos mudam seu modo de ser ou a sociedade civil passa por cima deles como um trator esmagando os O tempo n o oferece um respiro ao rancor autodefensivo das classes dominantes e estrat gia de seguran a global do pentagonismo im perialista Ao contr rio ele p e as burguesias dos pa ses chave da periferia contra a parede Ou elas buscam alternativas pr prias e independentes aber tas revolu o democr tica ou elas ir o pelos ares com sua ordem social pervertida de privil gios seculares Por curioso que pare a n o s o as constitui es mas os partidos que poderiam dar respostas imediatas e dec
59. com as for as sociais em busca de uma revolu o democr tica Ao mesmo tempo mostra que a hegemonia do processo constituinte deslocou se primeiro para esfacelar se em seguida Ele s pode retomar sua dignidade e capacidade cria dora avan ando numa dire o que contrarie a ordem que impera no tope de um sistema de poder viciado e corrompido al m de artificial A ANC deve tirar sua soberania da fonte mesma na qual ela se origina as classes trabalha doras e as massas populares isto a imensa maioria da na o E ela s pode alcan ar esse objetivo vital para ela submergindo nos processos pol ticos da pugna popular coletiva por uma sociedade civil civilizada e por um Estado democr tico aberto ambos expurgados da barb rie Nunca se pensou que as altera es fossem encaminhar se por a Entretanto a na o rica e poderosa autorit ria e dominante constitui uma minoria e o que pior uma mino ria implacavelmente reacion ria resistente mudan a de forma sociop tica prisioneira de interesses particularistas e voluntariamente identificada com a rendi o s na es capitalistas centrais sua superpot ncia e as multinacio nais A na o pobre e aviltada condenada a uma explora o econ mica in sens vel e reduzida a uma condi o colonial de fato constitui uma maioria es magadora engolfada na constru o de uma nova sociedade civil e no controle popular e democr tico do Estado O enlace entre essa na o v li
60. como marxista e o PT o mesmo partido que se apresentou em nome dos oper rios dos trabalhadores da terra e de outros se tores socialistas como o partido que recorre luta de classes como um instru mento de reforma social e de cria o de uma sociedade nova sem explora o do produtor direto o trabalhador e sem classes Causou me espanto o grau de sufoca o ideol gica e pol tica que pre valeceu nos procedimentos que foram seguidos na elabora o da nossa Cons titui o A hegemonia das elites das classes dominantes colocou os partidos em segundo plano seria melhor dizer claramente em partidos instrumentais para a domina o ideol gica e pol tica da burguesia stricto sensu e reduziu Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 98 An F o clamor dos partidos de oposi o ordem em miados de gatos pardos em noites sem luar Um espa o ideol gico e pol tico restrito o qual s permitia que aqueles partidos perfilhassem o papel de advogados do aperfei oamento da ordem social capitalista como se eles fossem a esquerda da burguesia n o a esquerda do proletariado Ainda assim pagaram o nus de serem estigma tizados como sect rios e baderneiros Ora n o estamos aqui para defender nenhuma seita e muito menos para instalar a baderna que s til nas circunst ncias aos que querem manter o Brasil preso a um passado morto ou a um presente vivo atrav s de la os indes
61. con denar nos a perder uma oportunidade hist rica nica Gostemos ou n o temos de admitir que o PMDB det m no momento a chave das solu es positivas Se o PMDB n o romper com o seu imobilismo e n o se dispuser a soterrar suas vantagens de principal partido da ordem tudo continuar como dantes no quartel de Abrantes O PMDB com duas faces uma de partido da ordem e do governo outra de partido progressista e de oposi o ser sempre uma arma brutal nas m os dos donos do poder o meio que oculta e legitima a aud cia e os ardis conservadores na esfera do poder e da elabora o constitucional Em outro plano encontra se a mobiliza o popular a luta direta das massas populares para que o Brasil saia do estado de anomia de desorga niza o cr nica em que se encontra e enfrente virilmente os seus dilemas hist ricos A iniciativa popular abre novos caminhos para interven es mais construtivas dos oprimidos no seio da Assembleia Nacional Constituinte e em particular para as entidades org nicas que travaram grandes batalhas contra a ditadura mas n o souberam manter o punch no momento da cons tru o do Estado de direito que defendiam Dispomos de pouco tempo e de meios pobres para retomar o terreno perdido e se as massas estivessem orga nizadas elas assaltariam a Bastilha sem gastar suas energias com as ilus es constitucionais Por m as coisas s o como s o Se n o se pode fazer dan ar os de cima seria de bom tom
62. consenso que anima o capital nacional e estrangeiro e que responde insensibilidade dos que podem t m voz e por isso mesmo mandam V o substituir maci amente um entulho autorit rio por uma constitui o democr tica para os de cima A tesoura da Constitui o sint tica garantir como a Constitui o de 1967 e o seu adendo de 1969 a continuidade da transi o transada Ela ser sob todos os aspectos a Constitui o da Nova Republica Resta nos transferir a oportunidade para elaborar a Constitui o do Brasil real para quando a revolu o democr tica jogar na lata de lixo da hist ria os privil gios e os ca su smos de uma falsa Rep blica 123 Pen ft A Nova CONCILIA O O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente Sras e Srs Constituintes o tema que escolhi para tratar agora foi a nova concilia o Pe o permiss o para ler o texto porque grave o que tenho a dizer e n o quero ir al m das fronteiras e do que poderia ser admitido nem ficar aqu m do meu dever O processo de elabora o da Constitui o atingiu um ponto cr tico O que parecia ser n o A Constitui o que seria feita de baixo para cima das entidades e manifesta es populares nas subcomiss es e atrav s de entendi mentos democr ticos nas comiss es tem ticas de fato est sendo fabricada pelos interesses conservadores da Nova Rep blica A Casa do Povo isolou se da pre
63. conservadora pois esta foi arquitetada com tal objetivo O cronograma pol tico militar tra ado na ocasi o vem sendo cumprido ris ca com altos e baixos provenientes dos imprevistos e das oscila es conjun turais Cada parceiro guardou a liberdade de proteger certos interesses pes soais corporativos ou de solidariedade pol tica de classe Mas no essencial souberam se articular para manter e refor ar a dita transi o lenta gradual e segura Por isso o Estado de transi o n o ganhou apenas alguns respiros Ele consolidou se e agora est em condi es de enfrentar tanto a Assembleia Nacional Constituinte quanto o Poder Legislativo subsequentemente e a re sist ncia e o rep dio populares Folha de S Paulo 05 8 1988 265 Pen ft Os dois discursos que tomaram conta dos meios de comunica o de massa e dos c rculos pol ticos em vez de esgotarem o drama que est sen do vivido pelas correntes inconformistas e democr ticas da sociedade civil desvendam a crueza da situa o O senhor presidente emitiu sinais de que se acomodava derrota que sofrer na ANC Entretanto logo instrumentali zou medidas que contradizem o que afirmava Os chefes militares voltam a manifestar se e utilizam o espa o institucional preservado para a pr tica do arb trio Renovar equipamentos e at comprar avi es de combate at seria o de menos embora chocante em vista da pen ria do pa s Ressuscitar a capa cidade de
64. continuidade perfeita Rep blica institucional e a levam s ltimas consequ ncias Folha de S Paulo 30 10 1987 1 Acr stico irreverente composto por comentaristas pol ticos com os nomes dos ministros Delfim Galv as e Langoni Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 158 An I Isso permite aos filisteus da burguesia civis ou fardados deitar fala o sobre a sinistrose O mal que o PMDB e seu presidente o deputado Ulysses Guimar es perderam suas posi es de combate aliaram se transi o militari zada e se comprometeram com os frutos malditos do fisiologismo sem entranhas Comungam dos males que denunciaram e agregam ao partido a responsabilidade de arcar com os efeitos retardados da explos o final de um sistema de governo que modificou seu exterior s para continuar no poder e levar avante uma mo dalidade de pilhagem que s os ingleses souberam montar e explorar com tanto engenho e arte O apodrecimento foi t o longe que a Alian a Democr tica ruiu como um castelo de areia batido pelas ondas Os parceiros do jogo do poder olham at nitos o cen rio devastado e eles pr prios se apavoram com as ru nas que provocaram e o beco sem sa da em que se encontram Os mais imaginativos escolhem o caminho do racha os mais ambiciosos e imediatistas tentam armar uma nova transi o empurrando Sarney com a barriga ao mesmo tempo que o despojam dos seus ltimos s mbolos d
65. da ordem existente Ela n o comporta uma esquerda radical em seus quadros e a esmagar se ela avan ar demais no campo das lutas sociais Portanto o circuito pol tico impele e at compe le quem optar por uma sa da radical a cerrar fileira com os de baixo com o socialismo de nexos sociais subalternos e prolet rios O desafio n o como conquistar o poder de modo r pido deslocando os que se apossaram do controle da economia da sociedade civil e do Estado para oprimir e explorar Mas como implantar o socialismo em nosso solo his t rico Os paradigmas europeus n o valem nada para n s A nossa alternativa n o reforma social ou paralisa o da democracia Ela reforma social como expediente para chegar se ao patamar da revolu o socialista Os grandes em pres rios nacionais e estrangeiros j patentearam o que o capitalismo mono polista associado e dependente nos reserva As experi ncias colhidas na ANC s o definitivas a democracia um privil gio social e cultural A radicaliza o da pequena burguesia recalcitrante e dos estratos rebeldes das classes m dias possui f lego curto conjuntural e transit ria Ela comporta uma esquerda da burguesia e um radicalismo burgu s afiado Mas se esgotar com a queda da infla o e atrav s de pol ticas redistributivistas que afastar o aqueles setores sociais dos riscos de se confundirem com os de baixo e de se proleta rizarem O seu vigor socialdemocr ti
66. das c pulas do sistema de poder das institui es chave no caso o Estado e os partidos da ordem como o PFL e o PMDB eles sofrem um isolamento pol tico sistem tico e servem apenas para legitimar as pol ticas variavelmente antissociais antinacionais e antidemocr ticas das elites no poder Parceiros inc modos que s o tolerados por causa disso e da necessidade de contar com um biombo que oculte massa do povo a ess ncia do Estado parlamentar constitucional e representativo Viva a Rep blica O car ter autocr tico dessa montagem not rio e n o poder ser su perado facilmente Como ent o sair desse ponto morto desse compromisso entre passado e presente que fecha as passagens para o futuro e corr i ate a forma o de um sistema nacional e soberano de poder Existem dois cami nhos o que nos ensina a hist ria de outros povos e eles n o s o exclusi vos O primeiro e principal consiste na mobiliza o da massa popular e na ativa o do polo prolet rio da luta de classes Como um ar ete os de baixo devem derrubar essa bastilha invis vel e cruel O segundo mais complexo e exigiria o aparecimento de um poder paralelo como foram os conselhos em algumas revolu es modernas ou como poderia ser no Brasil o r pido espraiar do movimento de participa o popular Por este caminho surgiria um poder real diretamente vinculado s realidades das condi es de vida dos oprimidos exclu dos e desenraizados com a
67. de conter uma mobiliza o popular pac fica da CUT Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 60 An F Visto de fora o epis dio era fant stico e arrogante Uma cerca humana de soldados prontos para o combate e munidos de v rios apetrechos do arma mento de guerra de um ex rcito moderno N o se tratava de um acinte mas de uma demonstra o pr tica de psicologia militar Os s mbolos do poder foram enquadrados em uma tica que expunha ao olho nu de cultos ou anal fabetos de parlamentares ou outras autoridades de civis ou militares qual era e onde se localizava o poder real Visto de fora o primeiro plano esclarecia o drama e a mis ria da situa o pol tica brasileira A farda as armas os equi pamentos militares sofisticados como s mbolos da for a da autoridade e do poder o conjunto arquitet nico do Parlamento como o poder vazio e soterra do a massa do povo afastada exclu da e humilhada v tima das injun es da viol ncia institucional militarizada como o inimigo interno Como brincar de soberania nesse contexto e no momento em que pelo Parlamento deveria passar a vontade do povo o querer coletivo supremo da na o preciso que todos nos lembremos nesta encruzilhada hist rica as v rias classes e fac es de classes t m tudo a perder se o cretinismo parlamen tar sobrepujar a necessidade de levar at o fim e at o fundo a descoloniza o a revolu o nacional
68. defesa da autonomia da Assembleia Nacional Constituinte para que ela n o sucumba ainda mais diante do absolutismo e da bateria organi zada de press es do Poder Executivo Essa atitude deve ser clara objetiva e cr tica para conduzir a uma avalia o rigorosa do que representa o trabalho que foi feito at agora e o que deveria ter sido feito tendo em vista a implanta o da democracia Um parlamento incapaz de fazer um diagn stico de suas pr prias falhas institucionais n o pode ser portador de sua transforma o democr tica e servir como a via institucional da revolu o democr tica da sociedade civil e do Estado Essas reflex es s o imperiosas e suscitam certas perguntas Por que o Congresso se tornou um poder secund rio instrumental para o Executivo e mesmo para o Judici rio e se submeteu a pr ticas pol ticas que em nome da democracia serviam para reproduzir e ampliar um sistema de poder absolu tista e arbitr rio Por que um quarto poder armado submeteu a na o e se so Jornal do Brasil 25 9 1987 135 Perseu brep e a todos os poderes sob a ditadura ou independentemente dela como a ultima ratio da Rep blica Por que a ANC se revelou incapaz de superar as limi ta es tradicionais do Congresso e capitulou diante de um Executivo ileg timo d bil e impopular Por que ela aceitou a imposi o de que n o era um poder origin rio e se comportou como poder constitu do seja nas suas rela es com as classes
69. deixar para mais tarde di logos rduos com eleitores que cometeram como eu uma confus o lament vel entre a filosofia do senso comum e a filosofia pol tica H mais coisas entre o c u e o Brasil que os pesadelos mais pavorosos jamais apanha r o Parti da equa o zero o que condizia com a minha situa o de iniciante A bancada do PT foi uma esp cie de tero materno enquanto funcionou de modo org nico Devo uma explica o pessoal ao leitor O deputado constituinte Lys neas Maciel escreveu um coment rio elegante e generoso sobre a minha significa o como parlamentar Ele um homem que respeito por seu altru smo coragem pessoal e experi ncia pol tica Veterano de grandes lutas dispens vel alongar me a seu respeito N o por vaidade simplesmente mas por uma necessidade psicol gica de explicar me aos que votaram em mim pedi lhe autoriza o para transcrever seu coment rio como pref cio do livro Como sou humano e n o poderia estar isento das paix es humanas h algo de vaidade nessa iniciativa Mas acima de tudo gostaria que os que me distinguiram com sua escolha sou bessem por algu m t o qualificado que nunca deixei cair de minhas m os os valores as bandeiras e as esperan as de um socialista militante Consegui t o pouco em cotejo com o que pensara que conquistar amos que considero ex tremamente valiosa a sua contribui o Ao elogiar me ele me solda ainda mais ao dever de servir e de supera
70. delas Contudo abrem se dois cen rios para esses partidos a frente ampla agora centrada na dupla polaridade de massas populares aliadas a estratos burgueses inquietos e reivindicativos a frente restrita da luta confinada que visa pequenas vit rias no presente conjugadas cria o de uma sociedade nova no futuro uma polaridade que confere sali ncia ao poder popular e luta de classes J assinalei que essa a transforma o hist rica capital que brotou na cena brasileira de nossos dias e que a ANC por seus v nculos burgueses conservadores n o soube refor ar e aproveitar Ainda n o se constituiu um bloco hist rico que sirva de suporte social para os dois tipos de arco pol tico Existem muitas dificuldades naturais a remover e muitas debilidades objeti vas e subjetivas a ultrapassar N o obstante a forma o desse bloco hist rico sob diversas variantes regionais e locais caminha com enorme rapidez A burguesia e o governo que gozam das vantagens dos pequenos n meros e do controle das posi es chave de poder perdem terreno e capacidade de a o Avan am e recuam em zigue zague dando cinquenta passos frente e vinte e cinco para tr s Os subalternizados mais humildes e os aburguesados cami nham mais depressa e refundem sua consci ncia do que o poder popular e o que ele representa na Am rica Latina de hoje Eles s o a causa da supera o do governo pela sociedade civil e geram dilemas que dentro em
71. do Col gio Eleitoral Aliaram se os chefes militares civilizados o PMDB atrav s de suas c pulas dirigentes e os democratas rec m sa dos do ventre do regime em decomposi o Isso significa que a oscila o foi detida por uma nova conspira o que se crismou como um ato de concilia o pol tica Ela tamb m endossou a f rmula pol tico militar de uma transi o democr tica lenta gradual e segura A ordem ilegal atrasou a crise letal que se esbo ara e protegeu o nascimento da Nova Rep blica Convertido em partido da ordem o PMDB deu guarida Alian a Democr tica pela qual os chefes militares e os not veis da ditadura iriam cobrar em con bio com a maioria conservadora da c pula do PMDB e do Parlamento a continuidade da ordem ilegal forjada pela rep blica institucional aqui que se acha o cerne dos dilemas constitucionais do Brasil de hoje Cortada no pice do seu fluxo a oscila o hist rica apontada comporta duas vis es opostas do que deve ser a Constitui o em processo de elabora o os que defendem o compromisso sagrado de Tancredo Neves malgrado sua voca o democr tica afundam no p ntano conservador Para eles n o existe uma ordem ilegal mas um entulho autorit rio Ele poderia ser remo vido como uma leve dor de cabe a com uma vassourada De fato trata se de uma colossal mistifica o pela qual a ordem ilegal n o expelida da cena hist rica e condiciona ao contr rio
72. do Congresso Nacional Os que lutaram por uma ANC exclusiva aut noma e soberana tinham raz o Esse era o nico caminho pelo qual se poderia selecionar constituintes n o deputados e senadores Estes carregam consigo na maioria h bitos e expectativas ad quiridos pela pr tica parlamentar rotineira O uso do cachimbo deixa a boca torta As marcas do uso do cachimbo s o vis veis mesmo sob o regimento anterior que ao inovar na organiza o das audi es e do processo constituin tes desmontava parcialmente a rotina e despertava de algum modo o que se poderia designar como uma consci ncia constituinte O segundo regimento aprovado pelo Centr o acentuou a moldagem da ANC pela rotina das cita das institui es diluindo o constituinte na personalidade status do deputado e do senador A imagina o pol tica constituinte foi assim sufocada em favor da pr xis legislativa Isto parece secund rio Mas n o A imagina o pol tica constituinte nica Sua peculiaridade consiste em que o parlamentar se investe de uma Jornal do Brasil 03 3 1988 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 214 An F soberania delegada de curta dura o e alta intensidade Ele encarna de um modo ou de outro a vontade geral da na o como ela atravessa os interesses contradit rios das classes sociais e busca a comunidade pol tica que serve de substrato exist ncia e interdepend
73. dos defensores das escolas privadas que tornou a colocar na mesma trincheira o mercantilismo da ind stria do ensino e o farisa smo das escolas confessio nais cat licas e surgiu em todo o esplendor o poder incontrol vel dos novos bar es assaltantes que comandam a ind stria da comunica o de massa em associa o com o governo O botim apesar de farto era pequeno demais prin Publicado sob o t tulo Uma casa de negociatas no Jornal do Jornalista n 14 ago set de 1987 111 Perseu cipalmente para os apetites que disputavam as presas os recursos p blicos para a educa o e as concess es estatais dos servi os de r dio e televis o Isso tornou imposs vel um acordo de cavalheiros entre os interessados diretos Em consequ ncia o consenso entre os constituintes ficou para mais tarde O anteprojeto e o substitutivo do relator deputado Artur da T vola foram en jeitados e o deputado n o p de sequer apresentar um novo substitutivo que acolheria a imensa rea de consenso indiscut vel e os acordos vi veis entre as partes contr rias Os l deres e os mandantes da maioria conservadora n o queriam um acordo Pretendiam uma rendi o incondicional que assegurasse o atendimento de suas exig ncias em sua ess ncia um assalto ao er rio p bli co e uma afronta soberania da na o condenada a uma forma predat ria de acumula o capitalista subcolonial O que se assistiu de estarre
74. e a hegemonia parlamentar destinou se aos conservadores de centro direita de direita e de extrema direita entendendo se estes conceitos em fun o dos graus de resist ncia dos constituintes corre o das desigual dades econ micas mudan a social programada e revolu o democr tica A maioria conservadora e hegem nica embora dispersa confiava ce gamente na tradi o parlamentar e no constitucionalismo formal imperantes no Brasil desde o Primeiro Reinado O que lan ou a elabora o da Consti tui o numa dire o imprevista foi a transforma o que se consumara na organiza o da sociedade civil desde o fim da Primeira Guerra Mundial A industrializa o maci a as inova es da estrutura capitalista das empresas agrocomerciais e agroindustriais as migra es internas as profundas alte ra es na diferencia o e funcionamento do regime de classes modificaram de tal forma as tend ncias das lutas de classes que foi preciso uma ditadura militar para garantir uma estabilidade pol tica invi vel A ditadura por sua vez despertou entidades e organiza es que operaram em campo aberto e na surdina pelos pobres pelos oprimidos pela autoemancipa o coletiva dos trabalhadores O fermento social e pol tico da rebeli o espraiou se pelo Brasil e ajudou a consolidar se um verdadeiro centro do PMDB a fortalecer sua fac o progressista ou de esquerda e a constitu rem se partidos de identidade prolet r
75. e a totalidade da situa o N o h d vidas que dever amos entrar em uma fase de negocia o que poderia conferir um car ter democr tico ao fecho do processo constituinte Vivemos em uma so ciedade de classes e ningu m poderia sonhar com outra sa da A se acha a ess ncia do pluralismo poss vel em uma sociedade de classes N o obstante que tipo de negocia o Fala se em consenso O que quer dizer consenso Acordo no tope Concilia o entre as dissid ncias dos donos do poder Ou ele quer dizer que o pluralismo de uma sociedade de classes pressup e que interesses e valores antag nicos encontraram alguma forma de conviv ncia e de equil brio Ele significa que os de baixo possuem peso e voz na sociedade civil e por consequ ncia os seus interesses e valores estabelecem um equil brio na balan a no caso na forma e conte dos da Constitui o O que vemos uma reprodu o de um filme velho do tempo do cine ma mudo As formas nem mesmo sofreram modifica es ou submeteram se a qualquer disfarce O senador Jos Richa com valoroso grupo de compa nheiros e os que acreditam estar mais ao centro centro de qu marcham Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 122 An F galhardamente ao som de fanfarras militares e sob aplausos de uma galeria invis vel que se abriga confortavelmente em suas mans es recusando se chegar ao que vale O consenso que exibem ao Brasil um
76. e abrir um pouco mais as portas da ANC O PT o PDT a esquerda do PMDB o PCdoB o PCB o PS apoiaram com empenho a ideia e travaram por ela uma batalha prolongada Ganharam um pudim As sess es com temas predeterminados ocorreriam noite e a entrada nas galerias seria regulada atrav s de quatro centas senhas distribu das proporcionalmente pelos partidos A distribui o tamb m subordinou se a um esquema de sonega o e dificulta o Poucas ve zes a casa acolheu gente em n mero razo vel e os debates da noite logo ficaram t o parecidos com os do dia que justo pensar que a ANC possui um estrategis ta ex mio pronto a derrotar todos os que pretendem democratizar o processo constituinte Este corre sinuoso e mofino como se o Brasil estivesse beira da morte n o em pugna por tornar se uma grande e poderosa na o emergente Portanto os dias de entrega das emendas populares especialmente o 12 eo 13 de agosto s o datas memor veis O Brasil est vivo E vivo atrav s dos humildes daqueles que precisam de uma constitui o inovadora e demo cr tica mas n o a ter o desta vez Os corredores cheios de gente o ardor c vico puro e agreste a chama de uma ansiosa esperan a s o em si e por si uma demonstra o de que o nosso pa s j uma na o emergente uma na o em busca do sentido do seu presente e do modo de ser de seu futuro pr ximo Os constituintes conservadores e os partidos da
77. e de lon go prazos cerrar o fileiras diante das amea as ordem Elas n o disp em de solu es para os problemas fundamentais s lhes resta a autodefesa coletiva que confraterniza os burgueses brasileiros com a comunidade internacional de neg cios apelando brucutiza o para proteger a estabilidade pol tica Por elas a transi o caminhar segundo a f rmula da transi o lenta gra dual e segura O presidente poder aproveitar a oportunidade para formar um partido que aglutine seus seguidores fi is ou n o S n o contar com a poesia de um movimento como o das diretas j e com os m gicos que con verteram a transi o ditada pelo cronograma pol tico militar em transi o democr tica O Sr Sarney acalenta a ambi o de fundar um partido de centro safa O dilema est nos pol ticos profissionais que temem a rejei o dos eleitores e ter o de arcar com acusa es destro adoras O arco hist rico que emerge como uma for a pol tica atrativa procede de baixo para cima O painel heterog neo rebeldes e dissidentes egressos do PMDB e at do PFL o PCB o PCdoB o PDT e o PSB e o PT que vem ace lerando espantosamente seu crescimento popular no meio urbano e no meio rural Os radicais e progressistas possuem diferen as ideol gicas e pol ticas marcantes com rela o aos socialistas e comunistas O pr prio eleitorado per 249 Persea cebe as diferen as e se desorienta diante
78. e de participa o das massas no controle do poder na sociedade civil Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 80 An F nas institui es chaves e no Estado a institui o chave mais complexa do mundo moderno at o aparecimento das grandes corpora es Ser que a iniciativa popular poderia abrir essa porta de uma democra cia participativa duvidoso A iniciativa popular amplia o processo de pro du o das leis Contudo n o existe na sociedade civil nada suficientemente organizado para converter a iniciativa popular em uma alternativa para a in decis o e o imobilismo da burguesia plantada ou cimentada no solo hist rico de interesses ego sticos e particularistas demasiado estreitos A cada crise pro funda repete se o ciclo de compress o conservadora fren tica e neur tica na defesa da ordem contra a anarquia E a anarquia n o vem de baixo procede de cima Dezenas de exemplos da Independ ncia Nova Rep blica atestam essa observa o Os que combatem a anarquia na verdade geram a anarquia e a multiplicam por cem ou por mil porque n o querem ceder diante do im perativo de formas de organiza o n o excludentes e mais equitativas Para concluir admito que uma atitude funcional diante de avan os se letivos permite pelo menos evitar uma regress o global Mas tais avan os seletivos s o instrumentais para bloquear a mudan a estrutural e para retirar da mudan a o seu c
79. e dizer estas palavras porque gostaria de vir aqui num dia tr gico como o da morte de Carlos Drummond de Andrade para dizer que a vida bela e merece ser vivida Muito obrigado Era o que tinha a dizer Muito bem Palmas Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 128 Florestan Fernandes O PROCESSO CONSTITUINTE E A INICIATIVA POPULAR O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente Sras e Srs ouvintes o tema que atraiu minha aten o e que eu pretendia discutir h tr s semanas diz respeito ao processo constituinte e iniciativa popular Infelizmente n o pude fazer esta exposi o no momento devido por causa da morte do ex ministro Marcos Freire pois a sess o foi dedicada sua me m ria O discurso portanto j est um pouco velho e levo em conta nas reflex es fundamentais aquilo que na g ria aqui chamamos Cabral 1 Pe o desculpas por isso mas minha quest o era fundamental naquele momento e torna se mais importante agora porque o Cabral 1 nos p s diante de um fato importante que o fantasma do Projeto da Comiss o de Sistematiza o havia desaparecido e poder amos perguntar a n s pr prios o que significa este Projeto de Constitui o que est sendo apresentado ao povo brasileiro O que ele representa Atende s esperan as s expectativas da sociedade civil Enfrenta os problemas que dizem respeito moderniza o do Estado Se se col
80. e naturalidade protegido pela presen a salvadora Jornal do Brasil 17 10 1988 publicado pelo editor sob o t tulo Desconstitucionaliza o Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 294 An I da tutela militar Por sua composi o conservadora a Constituinte engoliu a p lula amarga o conflito n o se deu e o governo ganhou a certeza de que o Congresso se mantinha como um poder domesticado que ele poderia vergar sua vontade interessante a ret rica parlamentar sob esse aspecto Em seu famoso discurso na promulga o da Constitui o o presidente da ANC n o tocou no assunto essencial para a reconstru o da sociedade civil a implanta o da democracia e a efic cia legal e pol tica da pr pria Constitui o Na realida de absolveu o governo com seu discurso exaltado como se a desconstru o pr via dos requisitos da aplica o e da observ ncia estrita das disposi es constitucionais fosse irrelevante para os constituintes mesmo em seu ltimo ato coletivo O governo sabe que voa em c u de brigadeiro e que pode ma nejar o arb trio segundo o modelo desp tico legado pela Primeira Rep blica e pela recente ditadura militar sem ter pela frente os riscos de um impeach ment Est levando avante suas incessantes experimenta es desconstrutoras refinando as e aprofundando as O Brasil e a Constitui o que se danem O poder nosso Cabe nos ditar como ele deve ser apl
81. em confronto com o estrato m dio do cume vinculado s grandes empresas e tecnocracia militar e civil Em seu desenvolvimento recente ele passou como um trator sobre a pequena burguesia urbana e rural As esperan as forjadas sob e pela ditadura foram por gua abaixo Essa semi proletariza o de n veis de vida e de oportunidades de ascens o social tornou os referidos estratos dos setores m dios e boa parte da pequena burguesia receptivos ret rica reformista e mais raramente revolucion ria Surgiu um radicalismo burgu s disperso que a ditadura ajudou a cimentar se e a organizar se em entidades ditas da sociedade civil Esse fermento foi parar na Assembleia Nacional Constituinte e erigiu se no principal fator da revitaliza o do nacionalismo defensivo da forma o de um democratismo radical e da compuls o a humanizar o capi talismo como se isso fosse poss vel submetendo o a um melhorismo t mido O resultado que duas tend ncias fortes e exclusivas de conservan tismo burgu s de matriz reacion ria e pr imperialista e de reforma social cortam o texto constitucional de ponta a ponta O formalismo jur dico n o conseguiu costurar as duas express es societ rias das contradi es internas da burguesia Era imposs vel evitar a primeira hegem nica entre os partidos da ordem Tamb m era imposs vel escamotear a segunda a principal for a hist rica de conjuntura no Brasil atual Em consequ ncia a C
82. em ser independente e socialista O cerco produziu uma invers o pol tica inesperada Primeiro n o afe tou o cora o e as mentes dos cidad os comuns como pretendia a Nova Rep blica As mentes desses cidad os descobriram em seu cora o que a verdade era outra e ela dignificava o PT Segundo obrigou o PT a voltar se para dentro de si mesmo e a buscar no substrato de seus alicerces prolet rios o dever de manter se na ofensiva Nenhum partido verdadeiramente socialista cresce fazendo concess es O cerco s definiu melhor em termos de con juntura hist rica quais s o as lutas pol ticas decisivas e com que armas elas dever o ser travadas E esclareceu algo essencial o PT ter de crescer devagar mas solidamente para ser o portador inconfund vel da bandeira vermelha estrelada do socialismo prolet rio Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 36 Florestan F CONGRESSO CONSTITUINTE SEM SONHOS Seria uma trivialidade afirmar que cada pa s possui o Congresso Cons tituinte que merece Todavia isso n o seria verdadeiro com refer ncia ao Bra sil Temos tantos milh es de deserdados e miser veis da terra em confronto com um Congresso Constituinte que poderia ser uma institui o liberadora n o s o ponto de partida de uma nova sociedade e de um novo homem mas tamb m o eixo da constru o de uma comunidade nacional livre E o que temos Uma burguesia autocastradora que ao se
83. esperava um resultado menos ofuscante Desta vez a inunda o da ANC abrangeu um maior n mero de miser veis da terra morem eles nas cidades ou no campo e de estudantes ou jovens mais ou menos pobres Um verdadeiro enxame percorreu as veias da ANC mas esta permaneceu est tica Funcionou como um escoadouro p blico ou um corpo inerte Os pr dios n o falam n o ouvem n o se movem Cen rio de uma imensa demonstra o de atividade popular dela n o participou atrav s dos mandachuvas e dos partidos da or dem empenhados em outro tipo de luta Eles s mostraram o seu testemunho ritualizando as demonstra es isto separando as da atividade viva da ANC O povo penetrou dentro da casa mas n o a conquistou Tudo foi fei to para exclu lo da forma mais minuciosa e inteligente Sess es para de Folha de S Paulo 31 8 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 120 an F bates constitucionais in cuas estruturadas dispersivamente e com presen a limitada do povo nas galerias claro ele n o compareceu A festa n o era para ele era para os que pretendem editar uma constitui o que reproduza a ordem existente tal qual ela no momento As press es para corrigir essa deliberada esteriliza o do processo constituinte foram pura e simplesmente ignoradas Pl nio de Arruda Sampaio vice l der do PT juntamente com Jos Geno no formulou uma solu o Coordenar os debates por temas
84. foi protegida pela transi o lenta gradual e segura subsistindo quase intacta Os atritos entre setores das classes dominantes foram administrados por v rios meios desde a privatiza o do p blico s interfer ncias governamentais na ANC e na ela bora o da Constitui o corrup o encoberta e manifesta etc Neste momento hist rico o agravamento da crise burguesa repercute negativamente na continuidade e nas probabilidades de efic cia da concilia o Os partidos da ordem desmoronam ou sofrem violentos abalos intesti nos O aparato estatal e a pr pria reprodu o da Nova Rep blica defrontam rep dio generalizado O caos econ mico entra em intera o com o caos social e pol tico A crise assume propor es amaz nicas e compele a burguesia a refugiar se sob a tutela militar e a perder enormes parcelas do controle de classe direto do poder especificamente pol tico o que esteve ao alcance de suas m os evitar Por que esta possibilidade desvaneceu se no ar Por falta de um projeto hist rico da burguesia dos seus partidos mais fi is os partidos da ordem temeram as consequ ncias de ser governo como atesta o PMDB dos seus intelectuais e pol ticos profissionais org nicos A resposta n o preci sa vir da sociologia marxista Basta acompanhar os artigos de Severo Gomes para descobri la Para possuir um projeto hist rico v lido para a na o e para a instaura o de uma Rep blica democr tic
85. fora aterrorizando todos os que se entendem como pessoas de bem Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 242 An F Esse imenso arco hist rico a grande novidade o ind cio de uma mo dernidade criada por dentro sem sateliza o a partir das na es capitalistas centrais e de sua superpot ncia a que palpita hoje o cora o do Brasil a tamb m que se encontra a sua cabe a civil nascente Ele revolve o solo hist rico e p e a sociedade civil em tens o No entanto sua densidade ide ol gica baixa sua capacidade de organizar um projeto hist rico quase nula o que ele faz provocar inquieta es e medo no tope aumentar o grau de consci ncia social das classes subalternas e intermedi rias e ampliar as disposi es desobedi ncia civil a um ponto explosivo Por isso despertam as entidades que se acomodavam e vibram agora sentimentos fortes de ex trema hostilidade ditadura disfar ada por tr s da Nova Rep blica e s iniquidades da ordem vigente Provocaram a radicaliza o dessas entidades e elas por sua vez concorreram para universalizar ideologias e utopias de fraternidade humana de combate ativo viol ncia e de compreens o de que a luta pol tica exige organiza o dire o e solidariedade entre for as sociais convergentes embora em confronto Essa ebuli o repercutiu na Assembleia Nacional Constituinte porque alcan ou as franja
86. gios preexistentes e a ordem estabelecida N o poderia ser diferente e est na l gica das coisas O que h a sublinhar que bem ou mal ela permite romper com o impasse deixado pela ditadura militar e refor ado pela Nova Rep blica tra ando uma nova legalidade burguesa e os pontos de partida de uma sociedade civil democr tica e civilizada Se isso vai ou n o ser aproveita do pelos oprimidos em geral e pelos trabalhadores em particular depender em grande parte do fortalecimento da luta de classes resultante dos direitos individuais e coletivos e principalmente dos direitos sociais Muitos avan os t picos foram realizados em dispositivos singulares ou em cap tulos inteiros Existe portanto uma face moderna nessa Constitui o que supera a de 1946 e responde a muitas exig ncias urgentes da situa o hist rica Ela fica aqu m do que seria necess rio a transforma es estruturais pelas quais sempre com bateram os trabalhadores do campo e da cidade Isso ineg vel Ficar aqu m todavia n o o mesmo de s servir para a lata de lixo da hist ria O certo que poderemos transpor os limites formais no futuro pr ximo se os sindicatos os movimentos e os partidos prolet rios mantiverem e ampliarem sua capacidade de luta pol tica e de nega o da ordem atrav s da Constitui o ou contra ela O que poderia infundir teor positivo e maturidade revolucion ria recusa a assinar a Constitui o O comportamen
87. igualdade A maioria parlamentar fechou o livro da Hist ria cerrou os olhos mostrou os punhos o que resta a maioria real fazer Pode se arguir que as constitui es em sociedades capitalistas nunca foram nem ser o a via da revolu o social Mas em todas as sociedades ca pitalistas que n o sejam culturalmente atrasadas elas definem os mores e os valores fundamentais da civiliza o da sociedade civil e da democratiza o do Estado dentro das desigualdades do regime de classes A raz o estamental dita outras normas outros anseios outras constri es como se uma mesma constitui o devesse ser a fonte do arb trio leg timo para os donos do poder e a chibata para os demais Por a a transi o lenta gradual e segura se pro longar indefinidamente enquanto durar a resigna o das massas populares e das classes trabalhadoras sem falar na pequena burguesia e nos estratos mais esmagados das classes m dias que engolem todos os dias toneladas de dios e frustra es Por a a transi o lenta gradual e segura sob a batuta de constituintes reacion rios passaria do remanso da democracia forte para o Estado democr tico de Seguran a Nacional Depois de sua vit ria o Centr o deve procurar outros rumos Sua ex trema direita azeitou as armas e disparou os tiros felizmente todos ret ricos que consagraram sua condi o de vetor ocasional do processo constituinte Contudo o
88. institucionais e de casu smos os quais formam uma ordem ilegal indiscut vel Essa ordem ilegal sustentava se na for a das armas e da viol ncia concentrada no topo do governo ou difusa no aparelho policial militar de todo o pa s Falou se que ela fora legitimada pelo milagre econ mico Todavia nenhum milagre poderia legitimar uma or dem ilegal Nascida da viol ncia ela teria de ser destru da pela contraviol ncia As classes dominantes e suas elites perceberam onde se metiam e tentaram amainar a contraviol ncia atrav s de concess es que provocaram uma democrati za o de cima para baixo batizada de consentida Contudo souberam preservar a ordem ilegal e interromper por v rios artif cios as eclos es sociais As classes trabalhadoras e os sindicatos foram os principais pe es dessas concess es porque provocaram medo entre os de cima Mas n o se deve subestimar o papel que tiveram entidades e organiza es que comba tiam abertamente a ditadura e recorriam desobedi ncia civil como instru mento de desmoraliza o da ditadura e de sua desagrega o Al m disso a ditadura pagou um pre o alto hipocrisia Para contar com uma fachada democr tica admitira a oposi o consentida O MDB e o PMDB em segui da se desprenderam da liberdade relativa vigiada e puseram em pr tica in crescendo a oposi o real A segunda oscila o possui um referencial mais complexo Na medida em que a rep blica in
89. membros inclusive os que pertencem ao Centr o Muitos ao que parece ficar o contentes se a prestimosa colabora o parar por a se n o atingir o mandato leg timo de seis anos e se a Constitui o for posta em pr tica Na verdade os que come aram a tremer agora tremem por qualquer coisa Nem olham para a pr pria sombra de medo que ela projete a imagem do patr o a figura do seu ministro mais galante ou algo pior o golpe pre ventivo em defesa da lei e da ordem a pedido do poder constitucional mais apto para tal mister N o h algo de podre no Brasil Tudo est podre O que poder ser til j que alerta a nossa imagina o pol tica A Constitui o n o um ponto de partida um ponto de chegada A est o bus lis de desafio para os constituintes O que o processo constituinte comprovou fartamente que muitos se unem Por m apenas se unem para tocar o seu barco e afundar os barcos dos grupos rivais O mal cong nito da ANC que ela n o pode funcionar e render em um pa s no qual o desenvolvimento desigual condena quase tr s quintos da popula o a vegetar ou a contentar se com padr es nfimos de vida de priva o relativa Nem mesmo um quinto contam os que tudo podem e suportam confrontos com os afortunados dos pa ses capitalistas mais ricos As f rmulas para combater e superar o desenvolvimento desigual s o elabo radas pelos mais interessados em mant lo indefinidamente e aprofund l
90. militarismo ao mesmo tempo arcaico e ultramoderno Arcaico porque mant m o vezo escravista o escravo o inimigo p blico n mero um traduzindo modernamente o oper rio o inimigo p blico n mero um Apenas um aparato militar excessivo poderia fazer face ao inimigo interno e operar permanentemente como o fator que en gendra um Estado autocr tico exemplar como um Estado ininterruptamente acima das classes Ultramoderno porque ele o polo do aparecimento e da expans o do complexo industrial militar o que infunde s For as Armadas um peso superior ao das classes dominantes digamos o substrato n o evi dente do conglomerado constitu do pela jun o das burguesias nacionais com as estrangeiras Portanto as perspectivas socialistas oferecem um ngulo de constru o e de avalia o da Constitui o que n o pode ser subestimado primeiro porque uma carta constitucional moderna precisa incorporar medidas cons titucionais socialistas Esse o exemplo que vem de fora e a necessidade que procede das explos es sociais que sacodem dramaticamente a sociedade brasileira nos dias que correm Segundo porque nenhuma na o moderna especialmente na periferia do mundo capitalista pode descuidar se da im port ncia do socialismo para desenvolver se como na o lograr soberania e independ ncia efetivas e atingir um est gio verdadeiramente democr tico nas piores condi es hist ricas poss veis como podem
91. ncia disso prolon garam no complicaram no e empobreceram no Tamb m houve exagero no conservantismo exasperado com o objetivo de esvaziar a Constitui o de compromissos libert rios igualit rios e democr ticos Os impasses que sur giam foram sofregamente agravados e aproveitados pelo governo que tentava assim empalmar maior liberdade de a o e de autoafirma o contrariando as regras elementares da pr pria raz o pol tica e os interesses gerais da na o Dentro dessa moldura hist rica e pol tica os partidos verdadeiramen te radicais e de esquerda ficavam asfixiados dentro da Assembleia Nacional Constituinte O PDT o PT o PSB o PCdoB e o PCB sequer dispunham de uma arena pol tica para se afirmarem em termos de seu radicalismo de seu socialismo prolet rio ou de seu comunismo Portanto a transi o democr tica ligava o nada ao lugar nenhum e s contribu a para tornar invulner veis as muralhas da rea o As coisas ficaram t o sufocantes que os progressistas do PMDB tomaram a iniciativa de uma ruptura de alto significado pol tico porque desmascara a natureza paralisadora da transi o democr tica e a ne cessidade de enterr la para sempre como requisito para liberar o fluxo do processo constituinte Por sua vez o pr prio processo constituinte configurou se como um complexo de poder contr rio continuidade da transi o democr tica Ningu m acredita mais no salve se a transi
92. ncia engajada dos partidos de esquerda o PT o PDT o PCdoB o PS e oscilantemente o PCB ou pelo radicalismo democr tico dos setores progressistas do PMDB e que medra tamb m em escala pessoal vari vel mesmo no PFL no PTB e no PDS Em consequ ncia o sistema de poder da Nova Rep blica v se amea ado Ele n o possui flexibilidade e vitalidade para conviver com uma ANC que n o esteja no bolso do colete do presidente isto que n o seja um penduricalho do Planalto e do Forte Apache O PMDB perdeu a oportunidade de ser o principal fator da consoli da o de um regime democr tico Todavia a pr pria exist ncia de um poder leg timo consubstanciado na ANC mesmo que ela n o se porte como tal em toda a plenitude expulsa o poder ileg timo configurado na composi o e na atividade da Nova Rep blica Isso percebido at pela massa do povo e p e em quest o o sistema de poder esp rio vigente n o s na figura do seu presidente e do seu mandato N o toa que os pol ticos conservadores agitam a quest o do man dato e com ela a da natureza do regime presidencialista ou parlamentarista com v rias deforma es que traem a origem e a natureza da preocupa o O pa s est cansado da ilegalidade de manipula o irrefletida e corrupta do poder pol tico estatal O PMDB aparece cada vez mais como uma esperan a perdida A ANC come a a ser vista como um poder vazio um si
93. ncia potencial maior Os pr prios jornalistas n o davam muita import ncia ao assunto embora estivesse em meu c lculo que tentariam manter um di logo vivo comigo o que s aconteceu com J B Natali e Chaer N o me parece necess rio retomar aqui quest es que ser o examina das adiante Sofri um constrangimento com a descoberta de que o processo constituinte n o seria t o rico quanto prometia e deveria ser A nova Consti tui o na verdade por pouco que dure um ponto de div rcio entre o Brasil antigo e o Brasil p s constitucional N o houve essa consci ncia jur dica e pol tica de ruptura inerente ao que deveria ser o dilaceramento final da Nova Rep blica a forma assumida pela ditadura em seus anos extremos de exist n cia Tamb m n o houve uma consci ncia do que deveria ser o Brasil confrontado Constitui o Nenhum partido da ordem trouxe para c um projeto acaba do de constitui o S o PT gra as contribui o do professor F bio Konder Comparato e discuss o a que ela foi submetida por militantes e dirigentes apresentou um projeto global de constitui o O PCdoB e o PCB tamb m trou xeram uma sistematiza o dos eixos de sua constitui o Todos partidos de esquerda sintom tico A Alian a Democr tica em conjunto e o PMDB e o PFL singularmente n o dispunham de projetos talvez porque estivessem no governo e identificados demais com a conserva o da ordem existent
94. o Estatiza o geral dos cart rios N o previa nenhum dos dois Conselhos S previa o estado de s tio exclusivamente na hip tese de guerra externa Presidencialismo com o Parlamento com de lei e o veto presidencial 1 Sistema proporcional para as Dba l pr s turnos nas para cargos executivos exceto nos munic pios com menos de 200 mil eleitores O presidente da Rep blica mant m a prerrogativa de baixar medidas provis rias com for a de lei A diferen a b sica que se o Congresso Os estados e munic pios v o ter melor participa o na receita tribut ria global Mas foi mantida a nfase nos impostos indiretos que s o os menos democr ticos porque atingem igualmente a todos sem levar em considera o o n vel de rende de cada um O n mero m ximo de deputados por estado sobe de 60 para 70 mantido o n mero m nimo em 8 Foi tamb m garantida a irredutibllidade das atuais bancadas estaduais Manuten o do STF como principal tribunal do pa s com nfase no seu car ter de corte constitucional Atribui o de compet ncia constitucional so atual STF sem zontudo adaptar sua estrutura que continua arcaica Al m da manuten o do sistema de concess o dos cart rio particulares foi decidida a privatiza o de todos os cart rios Foi criado o Conselho da Rep blica Nacional que s o votar depois A maioria das medidas coercitivas AVALIA O CR TICA Fica mentido o regime pre
95. o necess ria ao Brasil concreto de hoje Tampouco deram aten o ao que lhes cabia diligenciar para exceder a mentalidade legislativa e representar a Cons titui o como uma revolu o a fazer Nesse conjunto mental e institucional perdeu se muito tempo com coi sas que pouco tem a ver com a elabora o de uma constitui o moderna e democr tica A ret rica vem consumindo pelo menos dois ter os do tempo de trabalho As sess es esparramaram se e agora constatamos algo espantoso Na ANC existem o pinga fogo o hor rio das lideran as e intercaladas ou n o o fervilhar de reclama es e de quest es de ordem N o impera nem a concentra o mental nem o trabalho intensivo exclusivamente dedicado discuss o reelabora o e aprova o das emendas e dos destaques A disper s o estimula o palavr rio e acarreta uma rigidez institucional destrutiva Pri meiro porque ela confere ao presidente e mesa poderes e atribui es que s o exorbitantes As solu es ditatoriais desabam de cima para baixo como se o presidente e os demais membros da mesa fossem superconstituintes Segundo porque multiplica a perda irremedi vel de tempo H quest es de ordem indispens veis e funcionais Devem ser valorizadas e resguardadas Mas o pinga fogo e o hor rio das lideran as constituem aberra es Existe lugar para ambos nas sess es da C mara dos Deputados do Senado e do Congresso Nacional Em vez de prolongar se a exten
96. o PSDB n o estar o caindo no democratismo apavorado Ao contr rio sem libertar o Brasil dessa montagem de poder nunca chegaremos a lugar algum im til sonhar com reforma ou revolu o se sequer logramos uma vit ria decisiva contra um oponente que tem a faca e o queijo na m o e um apetite pan tagru lico Uma ANC exclusiva independente e soberana teria evitado esse dilema A pr pria possibilidade da sua convoca o seria um indicador de que o pa s estaria maduro para a democracia da base ao tope A imposi o de um Congresso Constituinte como se fosse a ANC e o tratamento que lhe foi dis pensado pelo complexo de poder civil militar clarificam as coisas O que se pretendia era um jogo constitucional Pelo menos nesse ponto houve uma vit ria das for as democr ticas Elas ultrapassaram o jogo constitucional e produziram uma constitui o que n o como esperavam os que detinham os cord es de decis o sob controle uma constitui o de simples legitima o do Estado de transi o permanente Por seu conte do a Constitui o em 267 Persea acabamento pressup e a dissolu o desse Estado O obst culo inesperado aparece na dura o da Nova Rep blica apta a sobreviver ANC e por con seguinte reduzir ou anular a pr pria Constitui o O dilema hist rico imediato ergue se nesse campo da dura o da Nova Rep blica preciso combat la sem tr guas desobedec la e ar ras la
97. o aprovada em 1988 O Centro S r gio Buarque de Holanda pretende com mais este Cadernos Perseu contribuir para o fortalecimento das lutas pol ticas atuais promovendo a circula o de documentos representativos dos esfor os experi ncias e conhecimentos acu mulados pela esquerda brasileira e pelo Partido dos Trabalhadores na busca incessante por transforma es sociais e pol ticas e pelo desenvolvimento da democracia em nosso pa s Boa leitura S o Paulo agosto de 2014 Centro S rgio Buarque de Holanda Funda o Perseu Abramo 11 Pen st stonst iiba nai OR Eau E 3 e E 6 ituinte S a mobiliza o pode garantir nossos direitos ma nova Constitui o est sen do elaborada e a classe traba lhadora n o pode ficar ufasta da Sen o veremos os mais legitimos anseios populares serem mais uma vez traidos ignorados necess rio refor ar a mobiliza o popular em tomo da Constituinte E isso s ser poss vel na medida em que a popula o esteja correta mente informada respeito A grande Imprensa n o tem correspondido Os notici rios sobre a Constituinte frequentemente s o incompletos distorcidos e tenden ciosos Refletem os interesses dos propriet rios dos meios de comuni ca o de massa a influ ncia que sobre eles exercem os grandes anun ciantes entre os quais os pr prios rg os e empresas do governo Al m disso recrudesce a censura pol tica Deb
98. o lenta gradual e segura que o PMDB e o PFL perversamente designaram como transi o democr tica De fato o que se consumou foi o caos Destruiu se o sistema de partidos forjado pela ditadura e engendrou se automaticamente a inviabilidade da Alian a Democr tica a qual ocorreria com ou sem Tancredo Neves Em consequ ncia salientou se o peso da capacidade de decis o do vetor militar e da tecnoburocracia e a abertura para formas de corrup o que s o t picas dos regimes coloniais e das burguesias compradoras em pleno arranque de um desenvolvimento capitalista mono polista acelerado dirigido de fora Todos os apetites em condi es estrat gicas lan aram se sobre o bolo e este era pequeno demais para semelhante ataque coletivo O governo endividou se a na o empobreceu se e regredimos a mo dalidades de clientelismo e de fisiologismo n o s pol ticos que sup nhamos superados ou em decl nio As ambi es mais fortes ocuparam o centro do pal co e os partidos de per si fr geis serviram a fins pessoais ou inconfess veis A ditadura perdeu a capacidade de refazer se como uma entidade salvadora e deixou atr s de si o dil vio O poder constituinte poderia ter desempenhado o papel de freio nesse processo de decomposi o social e de anomia institucional No entanto ele foi minado e sinistramente contido a partir de dentro e a partir de fora da institui o Ele n o independente da sociedade
99. o pior est a na chamada Nova Rep blica em seu descalabro e no que ela como um confort vel biombo para a a o desp tica dos donos do poder civis e fardados E em segundo 69 Pensa lugar nessa arquitetura artificiosa que dirige a produ o da Constitui o pe los caminhos tortuosos da defesa da ordem e dos costumes por gente que n o se lixa diante da iniquidade da ordem e p e a condi o de constituinte a servi o da mudan a escala zero Ora a Constitui o ter de ser queiram ou n o os de cima uma ruptu ra uma ruptura dentro e atrav s da lei mas uma ruptura de natureza revo lucion ria Os acordos de Tancredo Neves ficaram para tr s A Nova Rep bli ca nasceu invi vel e podre O que preciso fazer elaborar uma constitui o que acelere a democratiza o da sociedade civil e sirva de instrumento para a organiza o de um Estado burgu s democr tico Isso muito pouco para o meu gosto e as minhas esperan as N o obstante tudo para que os oprimi dos saiam do lodo e da mis ria isto ergam se por seus pr prios p s e para que os trabalhadores do campo e da cidade possam manejar a luta de classes com a mesma desenvoltura e efic cia dos patr es nacionais ou estrangeiros As exig ncias hist ricas s o de tal monta que devemos proclamar a verdade sem timidez e sem o temor das incompreens es Como enfrentar essa grave amea a que poder castrar o processo constituinte atual
100. o processo de reconstru o da sociedade civil e do Estado Os juristas que defendem essa posi o abominam a ideia de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva e soberana e se fixam na consolida o da Nova Rep blica como e enquanto rebento da ditadura mili tar descrita eufemisticamente como Velha Rep blica O Congresso Consti tuinte reduz se a um poder derivado e se extravasar desse limite est con denado inst ncia judici ria que poderia anular suas decis es e o que n o se diz ao quarto poder da Rep blica o poder militar a inst ncia suprema que poderia elimin lo do mapa O que se reitera um af ultraconservador e ultrarreacion rio que conta com o apoio da maioria parlamentar e com a toler ncia das dire es dos principais partidos da ordem o PMDB e o PFL frente de conceber a elabora o da constitui o como uma revis o constitu cional Nessa revis o constitucional a ordem ilegal vigente seria reinstaurada legitimamente como um sonho liberal dos antigos e novos donos do po der Para isso foi concebido o Congresso Constituintel 77 Perseu A outra vis o do que deve ser a Constitui o sustentada pelos que j no passado queriam remover a Constitui o de 1946 da condi o de letra morta e pelos que tentaram levar o movimento das Diretas j at o fim e at o fundo S o v rios grupos e tend ncias de opini o que compartilham da ideia de que o dese
101. ocorrer H uma esp cie de regimento propria mente dito e n o uma elabora o constitucional no sentido estrito da palavra O que o Relator Bernardo Cabral nos reserva a respeito da C mara dos Deputados uma dieta severa e magra Entretanto a C mara dos Deputados n o pode ficar afastada de uma compreens o mais ampla das suas fun es no comum dos fatores centrais do processo democr tico e no plano institucional f cil compreender se este assunto Sabemos que a civiliza o ocidental est no pice de uma crise global Sabemos que o Brasil por causa do seu modo de produ o que capitalista enfrenta esta crise como os outros pa ses de econo mia industrial avan ada Apenas a crise agr cola atinge propor es mais graves No contexto desta crise tem se alterado de maneira muito forte e salien te as fun es do Estado Um autor que n o pode ser acoimado de suspeito o fil sofo italiano L cio Coletti em um de seus estudos procura mostrar que o Estado capitalista chamado democr tico perdeu muitas de suas atribui es democr ticas por causa dessa crise de civiliza o De fato o que ocorre que o Estado democr tico se divorciou de seus valores essenciais Quando um norte americano quer falar de boca cheia em democracia recorre a exemplos de 100 ou 200 anos passados ou ao texto sagrado da Constitui o famosa mas teria muita dificuldade de encher a mesma boca com exemplos concretos da condi o de vida enf
102. ordem ficaram alheios a essa realidade tocante Pior para eles Distanciam se do presente e do futuro que est o sendo constru dos na infraestrutura da sociedade civil na surdina mas com um vigor insopit vel Essa transforma o profunda pode ser obstru da e retardada mas n o poder ser interrompida e aniquilada Os donos do poder negaram se a ouvir e avan ar Pior para eles A sociedade nova que se elabora inexoravelmente n o conter suas marcas Eles criaram o caos em que estamos Sucumbir o com ele Os constituintes de centro democr ticos liberais conservadores qualificativos exc ntricos que s exprimem a mesma coisa a rea o organizada divorciaram se desse pro cesso constituinte paralelo que brota do povo e que eles repelem Preferiram manter se em cima do muro ou em uma ofensiva reacion ria desabrida iso laram o processo constituinte institucional do processo constituinte real Pior para eles Uma revolu o democr tica est em marcha e os donos do poder possuem as posi es de comando enquanto o poder come a a escapar de 121 Perseu suas m os a deslocar se para baixo e a crescer nas veias dos miser veis da terra dos oprimidos e dos trabalhadores Enquanto a na o Institucional esconde se no governo e por tr s do muro das Institui es fortes a na o real caminha por e sobre seus pr prios p s Agora j faz pouca diferen a se a Constitui o ser sint
103. peg ssemos o primeiro cap tulo referente ao Legislativo seria de esperar se que pelo menos nos arts 73 e 91 o Legislativo fosse definido em termos claros de modo a que se esclare a qual o significado do Legislativo como um dos Poderes quer para a Na o como um todo quer para o aperfei oamento da democracia O ilustre Relator aparentemente n o atribui import ncia alguma a esse desdobramento do tema porque a ele n o se refere muito estranho que se gaste tanto espa o e n o se diga o que o Legislativo e o que ele representa no contexto da na o para a cria o o funcionamento e o aperfei oamento de uma democracia Discurso proferido durante a sess o de 28 de setembro de 1987 na ANC 139 Pen ft Este assunto interessa diretamente C mara dos Deputados Por qu Porque a C mara dos Deputados por sua pr pria origem e tradi o sempre foi chamada de C mara Baixa aquela que est mais vinculada massa dos cidad os e s reivindica es do povo Isto quer dizer que se existe dentro da Rep blica algum poder que tenha v nculos org nicos com o povo esse poder tem de ser representado pelo Legislativo e dentro do Legislativo pela C mara dos Deputados lament vel portanto que esse organismo que deveria estar aberto s press es populares que deveria mesmo ir em busca dessas press es n o tenha suas determina es definidas no texto da Constitui o de maneira clara e precisa como deveria
104. por algo que se deveria chamar de racionalidade capitalista ou segundo Werner Sombart o esp rito burgu s em sentido estrito Em suma um ataque capitalista ao subcapitalismo ou ao que j chamei h muitos anos de capitalismo selvagem Essas mat rias como outra de Luciano Coutinho sobre a crise dos pa ses ricos que n o mencionei est o unidas entre si por uma teia pol tica co mum Os dois ciclos desenvolvimentistas provocados e conduzidos de fora por na es industriais imperialistas esgotaram se Ambos culminaram em crises dif ceis e nos jogaram na rota de ditaduras autodefensivas do ponto de vista da preserva o da ordem social existente O de Juscelino teve um desfe cho menos dram tico de imediato mas preparou a Rep blica dos generais O 155 Perseu seguinte que atingiu ritmos fortes sob o general Geisel estrebucha no mago de ilus es despeda adas e de grandes esperan as destru das que esfacelam tudo ningu m acredita mais em nada Uma descren a generalizada apodera se de toda a na o e as contradi es do desenvolvimento desigual atingem a cabe a e o cora o dos empres rios dos trabalhadores e da incont vel legi o de milh es de mendigos errantes Prevalecem duas orienta es de comportamento opostas e no seu en trecruzamento t o terr veis para a na o e a sua sobreviv ncia quanto um bombardeio at mico De um lado a pervers o do individualismo e do ego s mo T
105. pr prio caminho por spero que ele seja Cabe lhes a oposi o frontal As bandeiras da democracia est o em suas m os Eles ter o de levar ao Congresso Constituinte os nexos que os unem sociedade civil existente n o a que est nas cabe as esclerosadas dos l deres dos partidos da ordem e todas as causas decorrentes inclusive a da forma o de um sistema democr tico de partidos pol ticos Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 30 Florestan Fernandes Os DILEMAS POL TICOS DOS JOVENS Um dos aspectos mais impressionantes da presente campanha pol tica est nas avalia es pol ticas autopunitivas e autodepreciativas dos jovens com rela o sua presen a ativa na transforma o da sociedade brasileira O con traste mais negativo comparece no confronto entre a exuber ncia dessa pre sen a nas lutas culturais educacionais e pol ticas da d cada de 1960 e o perfil que muitos jovens julgam apagado da sua participa o atual Prevalece uma idealiza o rom ntica e ut pica do passado que acaba produzindo efeitos inibi dores e uma retra o contraproducente E na verdade tais avalia es e atitudes contrastam com a realidade emergente pois os jovens est o reconquistando seus pap is de vanguarda e de rebeli o com muita rapidez e de outro lado o in conformismo vis vel do jovem multiplicou se por dez na juventude pertencente s camadas pobres exclu das e trabalhado
106. presente e do futuro pr ximo O processo constituinte foi pulverizado A maioria parlamentar con servadora por sua pr pria composi o pol tica e predomin ncia num rica insuper vel estava predestinada a dominar as v rias etapas do processo constituinte Foi o que escrevi em artigo publicado na Folha de S Paulo em 12 4 1987 Contudo parecia me que a Constitui o em elabora o prome tia um salto qualitativo O trabalho nas subcomiss es foi dif cil mostrou o entrave conservador e reacion rio pronto para os botes decisivos Mas elas Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 198 An F abriam o conv vio entre pessoas que entendiam mais ou menos dos assun tos e recebiam o impacto da iniciativa popular com toda a sua for a Poucas subcomiss es conseguiram o ideal Algumas foram sufocadas pela press o dos conservadores e de interesses externos ANC ou de classe ou de cate gorias profissionais ou dos outros tr s poderes o Executivo o Judici rio e o Militar Por m o produto final pelo menos na metade das subcomiss es foi positivo Havia disparidades todas suscet veis de supera o atrav s de um esfor o coletivo met dico e consciencioso Nas Comiss es Tem ticas a rea lidade tornou se nua e crua A barreira conservadora e reacion ria moveu se e mostrou suas armas A partir da o processo constituinte entrou em crise O que chegou Comiss o de Sistematiza o pode ser c
107. preservar a ordem soltar c es atirar reprimir matar Minha advert ncia a de que ou defendemos com unhas e dentes as prerrogativas as responsabilidades e as fun es da Assembleia Nacional Constituinte ou contribuiremos para levar o Brasil a uma nova aventura di tatorial Palmas 63 Pensa O USO DA INCIATIVA POPULAR A incorpora o da iniciativa popular como uma fonte de produ o das leis constitui o elemento mais avan ado que se conseguiu conquistar na ela bora o do Regimento da Assembleia Nacional Constituinte Ponto alto do projeto de constitui o do professor F bio Konder Comparato a iniciativa popular e o referendo receberam forte apoio externo principalmente da OAB e do Plen rio Pr participa o Popular na Constitui o Nos projetos de reso lu o do PT e de outros partidos de esquerda e entre constituintes radicais do PMDB as duas reivindica es encontraram acolhida plena O regimento apro vado n o foi t o longe quanto se pretendia O senador Fernando Henrique Cardoso deu cobertura favor vel iniciativa popular embora sem atender a alguns desdobramentos desejados e manteve se firme na defesa das posi es aceitas A resist ncia surpreendente de uma parte de constituintes experi mentados e de renomados constitucionalistas bem como o torpedeamento por parte de correntes mais conservadoras de v rios partidos n o impediram a aprova o das inova es Agora resta saber se elas ser o e co
108. progressistas o setor radical do PMDB que ao longo da trajet ria se converteu em MUP o PDT o PT o PSB o PCdoB e o PCB Um partido pequeno como o PT por exemplo manteve um combate acesso permanente pelas melhores causas e enervou o processo constituinte O mesmo ocorreu com a contribui o dos outros partidos ou correntes de partidos da esquerda Acresce que nes ta rea o princ pio da lideran a revelou se mais construtivo Tome se Lula como ponto de refer ncia Um l der oper rio na ANC O que ele falava sem pre continha peso pol tico e terminava por polarizar o processo constituinte compelindo os moderados ou os centristas a se desnudarem pol tica e ideologicamente Al m disso as lideran as dessa rea colaboraram entre si com relativa organicidade que declinou ou empalideceu em certos momen tos Juntos Lula Brand o Monteiro Roberto Freire Haroldo Lima Jamil Haddad com quem representasse o MUP Oct vio El sio Jorge Hage Nelton Friedrich Cristina Tavares ou outros e a colabora o de Euclides Scalco ou outros lograram conduzir os debates para fins que envolviam a qualidade da Constitui o n o sua congru ncia com os interesses patrocinados pela defesa da ordem Esses partidos e grupos mantinham seus quadros e seus Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 164 An F corpos de assessores no plen rio em atividade constante elaboravam c
109. promover a sua substitui o assim que se comprove que ela s serve para a lata de lixo da hist ria As coisas n o andam assim nos pa ses imperiais Mas eles n o se defrontam com as condi es e os efeitos destrutivos do desenvolvimento desigual Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 280 Florestan F CONSTITUI O PARA O PA S REAL Um grande pensador mexicano formulou uma distin o que se tornou lugar comum Trata se da contraposi o do pa s real ao pa s ideal Em regra as elites dirigentes s o ut picas na representa o do pa s ideal mas muito objetivas na reprodu o do pa s real O reino da fantasia n o cobre a verdade A p o p o queijo queijo Nada de sonhos e de ilus es O pa s real n o pode escapar de suas matrizes hist ricas que vem da Col nia do Imp rio e da aut ntica Velha Rep blica que n o tinha vergonha de ser olig r quica e de enfrentar as greves e as reivindica es populares como quest o de pol cia Como os de cima diziam entre si se se d a m o logo querem o bra o Era na ess ncia o medo hist rico que se formou sob a escravid o Um medo terr vel que n o se dissipou at hoje e que confere prioridade de fesa militar da lei e da ordem sobre a educa o Teme se a educa o como poss vel agente de radicalismo e de falsas esperan as Como costumava dizer ironicamente um ami
110. propiciar lhes alternativas que n o chegam sua imagina o ou s o ignoradas por seu ego smo de classe Da a import ncia de aproveitar a iniciativa popular no que e como for poss vel Nas circunst ncias Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 70 An F os pequenos avan os tomam se decisivos e evitar certas derrotas equivale a grandes vit rias O resto vir mais tarde com a autoemancipa o coletiva dos oprimidos e a constru o de uma nova sociedade que uma constitui o deformada n o poder evitar antes apressar 7 Pen ft A CONSTITUI O COMO PROJETO PoL Tico O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente Srs Cons tituintes as Constitui es que caracterizam a evolu o dos povos modernos sempre cont m um projeto pol tico Este projeto por sua vez traduz ideol gi ca e socialmente como as classes dominantes pretendem organizar a socieda de civil e o Estado Toda sociedade estratificada possui certas possibilidades de organizar a sociedade civil e o Estado Tais possibilidades n o s o um efeito do acaso mas de determina es do modo de produ o econ mica dos interesses e da situa o de classe dos estratos sociais que se apropriam do poder real dominam as outras classes estratificam a sociedade civil como condi o hist rica para reproduzir a ordem social existente A revolu o in glesa e a revolu o francesa s o exemplos experimentais de
111. que a Constitui o possui coisas boas e que poder melhorar nossas vidas se a soubermos usar N o obstante a peneira n o tapou a luz do sol H inquieta o e principalmente uma dolorosa cons tata o As grandes reformas sociais j s o transferidas para diante para a a o do pr prio povo organizado N o se diz isso mas as conversas deixam impl cito que os constituintes n o trataram os interesses populares com ardor e que muitos preferiram omitir se ou atrai oar os que votaram neles Em consequ ncia a aus ncia de raiva pior do que se operasse a sua objetiva o A descren a fria e r stica envolve um rep dio reprimido Pode converter se em seu oposto em um fiat mesmo sob uma chama pequena desde que se conclame a todos a tomar a justi a em suas m os Por fim aparece a vanguarda prolet ria que descobri ser t o vigorosa entre os oper rios quanto entre os trabalhadores da terra acompanhando os a um ex ministro da Reforma Agr ria verifiquei que s o destemidos e em confronto com o antigo mandonismo atrevidos falando de igual para igual com o ministro e numa linguagem direta exigente Os oper rios s o mais numerosos e mais bem organizados d o o seu combate em v rias frentes e Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 224 An F disp em de meios institucionais de luta de classes No entanto os trabalha dores da terra ganharam muito terreno
112. que a extrema direita quer uma quimera A ANC n o pode ser nem o ve culo da prioridade da seguran a nacional nem o meio da restaura o de um passado morto Todos n s constituintes da esquerda do centro e da direita sacrificamos uma alta quota de emendas e aceite se a verdade isso foi feito para satisfazer os intuitos dos mais conservadores para reduzir o espa o pol tico de uma revolu o dentro da ordem atrav s da elabora o de uma constitui o efetivamente democr tica Ganhamos a oportunidade de apresentar novas emendas e novos destaques O plen rio como ocorreria de qualquer forma dar a ltima palavra A quest o consiste em saber se os contras se dissolver o no processo democr tico geral ou se preferem ser os ltimos condestabres de uma ditadu Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 182 An F ra que se dissolveu na transi o lenta gradual e segura Seria uma ironia da hist ria n o tivemos um Somoza teremos contras na resist ncia implan ta o por enquanto pac fica de uma democracia de participa o ampliada Os que se incorporaram ao Centr o n o podem ignorar a ess ncia do beco hist rico sem sa da no qual se meteram Se se identificarem com a prega o reacion ria da extrema direita n o salvar o nem a honra nem a ordem nem a vida Os caminhos da hist ria se renovaram O Brasil hoje exige ar oxige
113. que eu levava para o PT e dos meus compromissos com eles se por acaso merecesse a condi o de represent los no Parlamento Comparando se as duas situa es descobre se a realidade mais profun da O desinteresse um fen meno de superf cie e esconde um vir a ser no qual a sociedade de classes gera um prolet rio que toma consci ncia social de suas tarefas pol ticas e aos poucos avan a na dire o de concretiz las por si mesmo As apar ncias s o pois ilus rias e a conjuntura atual n o conclusiva para explicar o que esse agente hist rico quer para si para a classe trabalhadora como coletividade e para a na o como um todo A Constitui o lhes interessa como um meio para alcan ar uma forma pol tica popular de democracia Contudo n o como um valor supremo e um fim em si O alvo a democracia popular e o futuro que ela rasga para tornar os humildes e os pro 25 Pen ft let rios donos de seu destino e agentes hist ricos empenhados em constituir um novo tipo de sociedade libert ria igualit ria e socialista Retomando uma velha figura hist rica o povo cansou de ser bigorna quer ser malho O Congresso Constituinte e a Constitui o ou passam por fora do seu cotidiano r stico ou atravessam o seu querer social em elabora o Em um e em outro caso configura se o dilema de uma sociedade de classes que se construiu como um mundo de explora o do capital estrangeiro e nacional de minorias todo poderosas e ultr
114. real esteja fora do alcance dos privilegiados exatamente nas m os dos outros De uma perspectiva sociol gica bvio que isso permite que o Parlamento se converta efetivamente em uma arena de debate concilia o e solu o aproximada e inst vel dos dilemas em quest o Nessas condi es o desempenho dos constituintes exige imagina o pol tica e o que mais re levante imagina o pol tica na constru o de uma constitui o que responda s exig ncias contradit rias da situa o hist rica como totalidade Isso escapou percep o e intelig ncia da maioria parlamentar con servadora Animada pelo n cleo autorit rio da Nova Rep blica e habituada ao que poder amos chamar de monolitismo de classe os parlamentares que comp em aquela maioria teimam em resolver os entreveros no grito Ainda na sess o plen ria do dia quatro houve quem dissesse N s somos a maio ria n s nos retiramos e n o damos qu rum para isso aqui funcionar na segunda feira faremos o regimento que quisermos etc A intoler ncia implica a nega o da liberdade dos que pensam e agem de forma diferente A ANC deve ser ao inverso um lugar no qual impere a liberdade o conflito regulado de ideias de valores e de ideologias A alternativa toler ncia entre iguais constituintes investidos de mandato popular e o fechamento da ANC pela for a Acredito que ningu m deseja essa regress o pol tica apesar do pod
115. resguardar os poucos direitos so ciais conquistados sem p r um cabresto no arb trio e maus h bitos dos tr s poderes etc Em suma defender a Constitui o implica em transformar concomitan temente a sociedade civil Imp e se engendrar o que Norberto Bobbio desig nou precisamente como sociedade civil civilizada A paralisia do Congresso n o pode nem deve repetir se no mbito da sociedade civil e da luta de classes Caso contr rio a Constitui o nascer como algo morto ou sem alma e os de cima por sua conta ou atrav s do Estado continuar o a pisotear os de baixo e a impedir a moderniza o como conquista interna O freio prepot ncia do governo s emergir da sociedade civil Essa rea o construtiva passa primei ro pela observ ncia do texto constitucional e em seguida pelo fortalecimen to da iniciativa e do poder populares dos quais brotar a exig ncia de uma constitui o viva mais avan ada realista e democr tica do que aparenta ser Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 296 Florestan F DETERIORA O DO PODER A deteriora o do poder atingiu uma escala de visibilidade assustado ra J examinei nestes artigos como se processara a desagrega o do sistema de poder montado sobre a concilia o conservadora e a transi o lenta gradual e segura com os riscos que isso envolvia para a implanta o de uma aut ntica Rep blica democr tica Esses r
116. ria que se representam como a sociedade civil H riscos de substitu smo no horizonte De um lado substitui o do antigo not vel pelas entidades que se encaram como a sociedade civil identifica o que deveriam evitar j que sob o capitalismo a sociedade civil a sociedade burguesa concretamente a sociedade burguesa perif rica que unifica os estratos altos da burguesia na cional a burguesia internacional os militares e os tecnocratas em um bloco hist rico De outro a substitui o mais perigosa a do povo pelas pr prias entidades que dinamizam o movimento de participa o popular Para evitar tais escolhas preciso incentivar a a o direta o que tem ocorrido de fato nas cidades e no campo Aos poucos os intermedi rios desaparecem e os de baixo ultrapassam a exclus o e a substitui o impondo se como os agentes de seu querer coletivo e os verdadeiros protagonistas da nova hist ria Por paradoxal que pare a isso exige que o humanitarismo se extinga e a luta de classes tome o lugar que deve ter no cora o e nas mentes dos oprimidos O essencial agora consiste na mobiliza o para a produ o e a condu o do processo constituinte O regimento aprovado diferencia a rela o en tre o Parlamento e as press es externas Na verdade ele enriquece o influxo dessas press es equacionando a necessidade da internaliza o de algumas delas as mais decisivas para a transforma o da lei e a implanta
117. ril Contudo o descalabro n o parou a O deputado Maur lio Ferreira Lima um pr cer tido como progressista do PMDB apresentou uma emenda que ser viu como uma luva aos prop sitos de concilia o das hostes conservadoras e governistas A sua emenda converte a soberania da ANC em uma quimera Os Projetos de Decis es destinam se a sobrestar medidas que possam amea ar os trabalhos e as decis es da ANC etc no mais limita se a transcrever o 8 7 O que adianta sobrestar medidas que possam amea ar os trabalhos e as decis es soberanas da ANC depois que ou quando forem suprimidas Por m essa joia da ret rica jurisdicista parlamentar n o esconde o jogo Eis como o seu autor a fundamenta O pre mbulo do Projeto de Regimento Interno bem como o par grafo 7 foram resultado de um acordo pol tico conduzido pelo l der do governo deputado Carlos Sant Anna importante a sua manuten o no Regi mento definitivo bem como uma reda o mais clara para o par grafo 7 que possa eliminar as resist ncias decorrentes da ambiguidade do texto contido no substitutivo O que poderia parecer ambiguidade para o governo foi assim corrigido s custas da soberania da ANC J na instala o da ANC presenciamos uma espetacular encena o do quarto poder o poder militar O Parlamento foi praticamente sitiado por for as militares como se estas estivessem empenhadas em esmagar o inimigo interno sob o pretexto
118. s de seus sindicatos partidos e outras organiza es pela indigna o de setores da pequena burguesia e das classes m dias que est o fartos da transi o democr tica prolongada e dos seus custos econ micos sociais e pol ticos As converg ncias nascidas dessas v rias reformas de oposi o n o alcan aram car ter org nico Mas modificam os ritmos da hist ria e quebram o imobilis mo das for as da ordem As press es da grande burguesia nacional e estrangeira e as interfer ncias do governo tendo frente o senhor presidente e seu c rebro militar dividem o centro O PMDB p e luz do dia esse fato Livre de seus progressistas e de seus radicais tidos pelos conservadores como estatizantes e comunizantes safa nem por isso o partido articula sua voz pol tica ao seu programa D uma no cravo e outra na ferradura certo de que assim exorcizar os seus fantas mas e ganhar de um golpe o apoio firme do centro a paz com os conservado res da direita ou da extrema direita e o apoio oficial sucess o do presidente tamp o Mistura o processo constituinte com a conquista da presid ncia o que um equ voco fatal e uma combina o explosiva Acabar fora do poder e con tribuindo para rebaixar o n vel de sua potencialidade pol tica em algo essencial para reciclar a sua imagem Em consequ ncia os estratos mais descontentes da pequena burguesia e das classes m dias ficam margem ou t m de arc
119. s rio principalmente nas cidades mais urbanizadas e indus trializadas e o sistema de poder burgu s perdera o monolitismo anterior o que levou ao Parlamento uma nova safra de pol ticos burgueses ou vinculados ao proletariado Pela primeira vez em nossa Hist ria as classes dominantes s o for a das a travar a luta de classes dentro do Parlamento Todavia usam a t tica de ceder terreno no plano formal e ideol gico mantendo firmes as r deas da domina o de classes no que se viam ajudadas pela heran a institucional le gale pol tica do Estado Novo mantida intacta nos pontos essenciais A maio Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 74 An F ria conservadora favorecia esse procedimento que colocava as apar ncias em dist ncias inating veis da realidade A Constitui o de 1946 exibe uma mo derniza o espantosa como se as classes dominantes houvessem absorvido as transforma es que o desenvolvimento capitalista propagara ao regime de classes e ao padr o capitalista nascente da luta de classes No entanto as modifica es se patentearam ao n vel de profundidade real com a imple menta o da ilegalidade do Partido Comunista a revitaliza o das t cnicas estadonovistas de manipula o dos sindicatos e das frustra es oper rias o recurso ao populismo como pio pol tico do povo A Constitui o inaugura uma fase in dita de ritualiza o das ativida des do Parlament
120. tes de um pa s Os soci logos norte americanos que tratam deste assunto fazem um diagn stico cl ssico que come ou a ter vig ncia nas ci ncias so ciais j a partir do come o do s culo com os patologistas sociais e acabou transformando se numa an lise de car ter frequente paradigm tico desde as d cadas de 1950 e 1960 Segundo esse tipo de an lise qualquer comunidade que enfrenta um problema levada a tomar conhecimento dele As ruas n o s o asfaltadas n o h esgoto o sistema hospitalar n o atende s necessidades coletivas as escolas apresentam crescente queda de sua qualidade m nima de ensino ris cos mais ou menos graves come am a surgir para as crian as as jovens ou as mulheres que passeiam em um parque podem ser atacadas por um man aco sexual e coisas dessa ordem 41 Perseu Quando o problema surge atr s dele aparece o movimento social O movimento social faz com que de baixo para cima surja uma iniciativa im portante no sentido de tomar consci ncia coletiva da exist ncia do problema e de procurar uma resposta para ele No passado o movimento social criava rg os pr prios para solu o dos problemas A n vel local as comunidades en frentavam problemas coletando recursos materiais e humanos indispens veis para resolv los Com a complexidade crescente da civiliza o industrial os problemas se tornaram muito complicados De outro lado surgiram servi os e institui es que comercializam a s
121. ticas sobretudo na defesa das emendas populares A Banca da n o cedeu s press es do governo Samey das For as Armadas e do empre sariado Defendeu a soberania da Consti tuinte inclusive nos momentos em que al guns setores vaciaram diante de vetos militares Combateu sem tr guas o Cen tr o o que contribuiu decisivamente par desgast lo reduzindo sua unidade e in flu ncia O balan o da atua o da Bancada do PT aponta um saldo positivo na sua es trat gia de obter conquistas parciais para a classe trabalhadora ao mesmo tempo que polarizava marcando posi o nas ques t es inegoci veis Assim obteve resulta dos imediatos sem perder a coer ncia po lfica Sem d vida o Partido acumulou na luta da Consttuinte uma experi ncia im portante para a defini o de suas rela es no campo institucional Voto n o assinatura Depois de v rios debates com a parti cipa o da Bancada o Diret rio Nacional decidis que o PT deveria votar n o ao texto global expressando nosso inconfor mismo com o seu car ter geral O voto n o representa a rejei o do PT aos prin cipios conservadores inscritos em ques t es fundamentais Com rela o reforma agr ria a proibi o de desapropriar terras produtivas sem definir o que produti vo pior do que estabelecer o Estatuto da Terra do regime militar A tutela das For as Armadas sobre o Pais mantida quando a Constitui o d a ela
122. tr nsecas ao capitalismo o exemplo instrutivo Uma constitui o anal tica e din mica enfeixaria em nossas m os a conquista de novos rumos e de novos ritmos hist ricos Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica o 106 CONTROLE BURGU S DO PROCESSO CONSTITUINTE As classes burguesas procuram apresentar a Assembleia Nacional Cons tituinte como uma institui o neutra na qual os representantes do povo est o acima das classes e tratam de elaborar uma constitui o que respeite igualmente os interesses de todo o povo Retirando do povo sua soberania e seu poder origin rio pois todo o poder emana do povo a ANC repre sentada utopicamente como dando o mesmo peso e o mesmo valor a todas as classes da burguesia aos oper rios aos trabalhadores do campo e aos ex clu dos ou condenados os miser veis da terra dos ind genas aos favelados Essa concep o ut pica da ANC constitui uma fic o Para se desmas carar essa fantasia basta ver os investimentos que as classes burguesas mais poderosas fizeram nas campanhas eleitorais para conquistar uma maioria im bat vel na ANC as alian as dessas classes atrav s dos seus partidos e do go verno para conquistar a qualquer pre o o controle do processo constituinte e as solu es que elas procuram impor na o nas Comiss es Tem ticas e na Comiss o de Sistematiza o N o contentes com suas amplas maiorias nas Co
123. tradi es pol ticas que n o possu mos e que n o cultivamos seria mais objetivo dizer que os donos do poder n o possuem e n o cultivam As duas experi ncias hist ricas com o parlamentarismo se vinculam a primeira com o estado es cravista a segunda com um golpe branco de pol ticos e militares conservado res contra a posse de um vice presidente tido como sindicalista e populis ta O nosso parlamentarismo em sua forma mais pura serviu ao absolutismo imperial e aos interesses dos donos de escravos e dos seus associados estran geiros nos neg cios de exporta o e de importa o Os advers rios do poder moderador atacavam no encoberta e abertamente por vezes com veem ncia Por m o que os senhores de escravos esperavam da monarquia era defesa da propriedade e da ordem p blica a seguran a policial e militar na reprodu o do escravismo N o apareceram nobres ou fac es de nobres que lutassem contra a coroa por sua liberdade pessoal ou coletiva Os embates no mbito do parlamento tinham outros rumos pois os que careciam de liberdade os escravos os libertos e os homens pobres livres n o tinham como bater se por ela coletivamente O senhor esse contava com toda a liberdade a que aspiras se no lar na propriedade na sociedade civil e no Estado O parlamentarismo constitu a uma planta de estufa na qual se cultivava a arte de ostentar uma civiliza o que n o ia al m da flor da pele e se exibia criativa
124. uma cunha insuper vel entre os momentos ou etapas daquele processo e o trabalho cont nuo da ANC Esta se viu anulada n o pela exist ncia das subcomiss es comiss es e a comiss o de sistematiza o Mas por uma calculada supress o de elos entre o rg o central o plen rio e os organismos intermedi rios as subcomiss es as co miss es tem ticas e a comiss o de sistematiza o e o fomento igualmente calculado de uma rotina que erigiu o centro do processo em uma entidade paral tica que seria mantida ignorante durante o per odo de trabalho da co miss o de sistematiza o e que corria o risco de ser chamada a pronunciar se mais para votar do que para decidir sobre o que se havia feito Pode se falar em c lculo racional no emprego da t tica porque ha via v rios mecanismos que evitariam semelhante desenlace e que por sua vez poriam todas as cabe as constituintes a trabalhar independentemente da participa o na Comiss o de Sistematiza o e do n mero de emendas apre sentadas Esses mecanismos exigiam que a ANC se voltasse continuamente tamb m para a produ o da constitui o em um trabalho coletivo paralelo e convergente ao da Comiss o de Sistematiza o e muito til para esta que acabou isolada e estigmatizada como se fosse o equivalente de um comit de c rebros da elabora o constitucional o que ela n o era nem deveria ser Foram feitas v rias tentativas para evitar aquele
125. vel na hist ria das torpezas pol ticas Pol ticos servi ais da ditadura atravessaram o Riacho Fundo para continuarem no poder um partido que surgira como o grande vitorioso de uma inesquec vel campanha c vica submeteu se s im posi es da ditadura e legitimou se como herdeiro do trono em troca de uma negocia o patri tica a vanguarda ditatorial recuou para o segundo plano mantendo se por m como o garante do sistema democr tico de poder e da transi o democr tica Belos discursos selaram essa farsa Dela resultou a Nova Rep blica e um governo invi vel Este n o se tomou invi vel por causa da morte de Tancredo Neves que manobrou como o comandante do Titanic Ele nasceu cresceu e manteve se ingovern vel porque possu a tr s centros de poder em atrito permanente entre si e centr fugos com refer ncia ao conjunto institucional chamado Nova Rep blica O primeiro era o vetor militar que continua a ser o n cleo das decis es vitais O segundo era o presidente posto testa do condom nio por m des titu do de legitimidade de capacidade real de decis o e inteiramente preso Folha de S Paulo 01 10 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 146 An I a compromissos que honrados convertem a Nova Rep blica em um suce d neo podre da ditadura O terceiro era a Alian a Democr tica uma falsa coaliz o pol tica entre dois partidos
126. vindouros A ruptura n o se far primeiro nas leis e em seguida nos fatos Ela veio de bai xo espontaneamente como produto do recente modelo de desenvolvimento capitalista e de suas repercuss es sociais Al m disso h a ruptura com a heran a deixada pela ditadura e com os seus res duos a transi o lenta gra dual e segura e o seu garante pol tico militar a Nova Rep blica Essa dupla ruptura imperativa Fala se que o povo ignorante e ap tico No entanto o povo se op e continuidade e se bate pela ruptura As rea es populares s frustra es da pol tica econ mica ap s as elei es do ano passado atestam experimentalmente essa infer ncia O PMDB j realizou sua experimenta o crucial e n o deve querer de novo ganhar a medalha de um campe o sujo e traidor que enrola o povo Esse debate comporta uma conclus o construtiva O projeto de cons titui o que n o pode ser forjado organicamente a partir dos partidos da ordem s o vi veis apesar disso a partir do concreto Juristas como Goffredo da Silva Telles J nior F bio Konder Comparato Raymundo Faoro Dalmo Dallari e tantos outros j deram uma contribui o positiva para o enquadra mento formal das exig ncias pr ticas Resta aos constituintes n o esquecerem as li es inerentes ao trabalho produzido pela Comiss o Afonso Arinos e se desprenderem do vi s conservador com a cegueira correspondente Conti nuidade significa
127. viol ncia destrutiva cresce mais depressa do que a fome os milh es de miser veis ou subumanos e do que a corrup o O capitalismo selvagem encontra no Brasil o seu laborat rio natural Pa ses capitalistas pobres e ricos carregam e multiplicam a maldi o do sistema Tomando se dois extremos os EUA concentram em suas minorias raciais e tnicas o mundo dos outros dos que nasceram para p r em evid ncia a nega o da ordem o seu avesso o que ela seria sem a civiliza o O nosso mundo n o o para so Mas o pre o de ficar dentro dele consiste na neurose no consumo do lcool e de drogas a conviv ncia com uma dualidade tica descomunal ignorada nessa escala por outras civiliza es anteriores a exporta o de guerras localizadas regionais ou mundiais de defesa da democracia e do cristianismo Os que penetram nesse nosso mundo em uma situa o modesta ou em toda a plenitude julgam se e s o considerados no exterior seres que descobriram a felicidade Constituem quase 75 da na o e podem ser considerados felizes enquanto n o se questionarem a natureza e o custo social dessa felicidade Ali perto dos EUA deparamos o Haiti L nem os ricos e poderosos podem imaginar Folha de S Paulo 09 2 1988 205 Pen ft o que seja felicidade O estado normal das coisas o terror A mis ria mais abjeta o servilismo mais completo a barb rie pura se mostram sem disfarce O homem n o lob
128. Aprendemos o que significa elaborar uma Constitui o nas condi es pol ticas da sociedade brasileira N o f cil Os interesses contrariados confundem essa maioria que votou o Regimento como n s todos que aqui estamos votamos eu pr prio n o concordava com esse Regimento porque ele pulverizava ainda mais a minoria criava condi es vantajosas para a maioria essa maioria poderia se fosse ativa se fosse persistente se estivesse sempre presente dentro desta Casa vencer todas as batalhas em todos os campos desde as Subcomiss es s Comiss es Tem ti cas Comiss o de Sistematiza o Discurso proferido durante a sess o de 10 de novembro de 1987 na ANC Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 168 An I N o sou membro da Comiss o de Sistematiza o mas de acordo com as normas do PT fiquei presente a todas as reuni es Pude acompanhar cui dadosamente o desenvolvimento de um trabalho criador E pedag gico aprender que um trabalho criador n o encontra reconhecimento N o vi na Comiss o de Sistematiza o uma extrema esquerda ou ent o um grupo ul trarradical da esquerda batendo se com uma extrema direita ou com um grupo ultrarradical da extrema direita Assisti a um debate pol tico vi acor dos se desenrolarem vi muito trabalho produtivo algo de que dever amos nos orgulhar E no entanto esse fecundo trabalho realizado pela Comiss o de Sistematiza o
129. Centr o de se intrometer vontade nos trabalhos das subco miss es das comiss es tem ticas da Comiss o de Sistematiza o e do ple n rio atrav s de propostas civis ou militares com ou sem saber jur dico eis a novidade mais recente noticiada pela imprensa preparou cuidadosamente a altera o de 73 dispositivos para a etapa final Vamos entrar no segundo turno em pleno Carnaval sob uma orgia de emendas constitucionais patroci nadas pelo Executivo Se a participa o popular pode o governo tamb m pode Por que n o S que suas emendas percorrem um curto trajeto custam pouco esfor o e muito dinheiro N o preciso colher milhares de assinaturas mobilizar mul tid es para chegar com muito sacrif cio a Bras lia e nela viver penosamente durante v rios dias ganhando no fim raiva e vergonha por tanto esfor o aparentemente in til Basta checar a vontade soberana do governo distribuir tarefas entre os escribas de plant o e encaminhar as emendas por meio de Jornal do Brasil 25 7 1988 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 260 An I l deres ou de aliados d ceis prontos para cumprir ordens e pacientes na es pera de suas recompensas Essa a realidade uma realidade mais feia que o Parlamento fechado manu militari Conquistado o mandato intermedi rio de cinco anos chegou a hora de dar o troco E ele desce a rampa de forma desmoralizadora para a ANC e todos os seus
130. Constitui o a dos Estados Unidos n o escapa dessa regra Ao contr rio a confirma de modo exemplar Os chamados pais da P tria tinham em mente certos valores e ideias que resistiram ao tempo O que mais os preocupava no entanto era impedir que o poder res valasse das elites para massas advent cias ou incultas colocando em risco a concep o de democracia daquelas elites A cena hist rica mudou por m a maioria silenciosa adapta se organicamente heran a pol tica legada por essa concep o Como isso se faz descrito por C Wright Mills no c lebre livro intitulado Power elite S que l a democracia restrita foi dissolvida gra as guerra civil pela democracia de participa o ampliada e depois por um pluralismo democr tico fundado na competi o de dois partidos realmente fortes o Republicano e o Democr tico Wright Mills contesta em outro livro White collar essa democracia que s abre uma op o ideol gica incontest Jornal do Brasil 22 2 1988 209 Pen Stu vel No Brasil as elites que romperam com o pacto colonial n o se preocu param com o futuro e a soberania da na o Trataram de fortalecer as suas posi es na estrutura de poder e consolidaram um Estado escravista que era democr tico apenas para os estamentos senhoriais Jos Bonif cio remou iso ladamente contra a corrente e desmascarou a situa o hist rica concreta Foi uma voz solit ria no deserto As ra ze
131. DA CONSTITUI O ESPERAN AS AMEA ADAS A CONSTITUI O E SEU ESPELHO A CONSTITUI O ASSINAR OU N O A NOVA PAUTA POL TICA O Novo PARTIDO A CONSTITUI O A PERSPECTIVA DOS TRABALHADORES CONSTITUI O O DESPIQUE DO GOVERNO AS LI ES DOS FATOS FLUXO E REFLUXO CRISE E CONCILIA O O PRODUTO FINAL CONSTITUI O PARA O PA S REAL A LTIMA SESS O DO SEGUNDO TURNO A CONSTITUI O DE 1988 CONCILIA O OU RUPTURA RETALIA ES E PRESS ES DESCONSTITUCIONALIZA O COMO PROJETO GOVERNAMENTAL A DETERIORA O DO PODER A TRANSI O P S CONSTITUCIONAL ANEXOS O Processo CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES 7 12 1987 NOTA EXPLICATIVA FLORESTAN FERNANDES 21 09 1988 LISTA DOS DEMAIS TEXTOS PUBLICADOS NAS OBRAS ORIGINAIS 186 189 193 197 201 205 209 214 218 222 227 230 234 238 24 245 25 255 260 265 269 273 277 281 285 288 291 294 297 300 305 309 313 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a Reforma Pol tica o segundo volume da s rie Hist ria amp Mem ria de Cadernos Perseu Esta publi ca o tamb m faz parte da cole o Realidade Brasileira resultado da coedi o com a Editora Express o Popular de reconhecido compromisso com a forma o de militantes dos movimentos sociais no pa s Cumprindo sua voca o de difundir documentos hist ricos que podem contribuir para debates atuais este Cadernos Perseu disponibiliza p
132. E eis que chegamos a minigrupos de iluminados que decidem em v rios n veis o que e o que n o constitucional no momento Formaram se grupos de negocia o ou de entendimentos Os projetos que sa ram desses grupos est o servindo de guia para balizar a nova concilia o pelo alto Um grupo autointitulou se caro e perdeu as asas antes de concluir seu trabalho Passou a chamar se H rcules um poderoso her i O que se nota a Uma propens o de estrat gia militar Os grandes estrategistas civis como Churchill ou militares gostam de designar as opera es b licas desse modo Provavelmente n s Constituintes e a na o pelo menos a parte mais po bre e oprimida da na o somos o alvo e as v timas desse furor belicista O outro grupo autobatizou se de consenso Consenso de quem e para qu O consenso ter de emergir dentro desta Casa ou ele ser um devaneio e um esc rnio Os dois grupos fundiram se em certos assuntos fundamentais Os liderados do senador Jos Richa e os do deputado Euclides Scalco avan aram na dire o de resolver tudo de maneira herculeamente consensual Os relato res do deputado Bernardo Cabral dobraram se diante de tanta democracia e n s vemos nos jornais por exemplo na Folha de S Paulo de domingo ou no Correio Braziliense de ontem como as duas opera es confluentes chegam cabe a dos deuses e metamorfoseiam se no boneco da Constitui o a s
133. Nesse caso quando o Parlamentar admite isso admite tamb m que a iniciativa na cria o da lei n o monop lio dele mas parte de um processo democr tico rico e avan ado pelo qual uma Constitui o traduz posi es que n o s o as conquistadas pelos partidos no processo eleitoral mas sim pelas correntes mais vigorosas que existem dentro da na o de transforma o da sociedade civil e do Estado Portanto fazendo se esse levantamento poder amos dizer que o que ocorreu aqui nos obriga a pensar numa Constitui o que infelizmente se dobrou a um governo que uma continuidade da ditadura Quando se fala em transi o democr tica fala se tamb m na continui dade da heran a ditatorial Fala se de uma maneira branda em entulho auto rit rio ou de uma forma mais severa em uma ordem ilegal Esse conceito de ordem ilegal recolhi por exemplo de um respeit vel autor chamado Irving Horowitz Uma ordem ilegal est implantada no Brasil e determina que esta Assembleia Nacional Constituinte n o um poder origin rio soberano um poder constitu do Agora chegamos constata o plena de que o outro poder constitu do um poder equivalente ao da Assembleia Nacional Constituinte Portanto temos diante de n s uma com dia e uma trag dia n o uma trag dia que se sucede a uma com dia nem uma com dia que se segue a uma tra g dia As duas coisas surgem conjuntamente E o Brasil como na o a massa do povo qu
134. O INVAS O E DESAFIO O CENTRO DO PODER PROTESTO CONTRA O GOVERNO CRISE DE PODER E AssEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE PERSPECTIVAS SOCIALISTAS NA CONSTITUI O CONTROV RSIAS SOBRE A CONSTITUI O CONTROLE BURGU S DO PROCESSO CONSTITUINTE UM DEPOIMENTO CURTO E GROSSO A CONSTITUI O EM PERSPECTIVA AUTONOMIA DOS PODERES O JEITINHO BRASILEIRO A NOVA CONCILIA O O PROCESSO CONSTITUINTE E A INICIATIVA POPULAR UMA QUEST O DE GRANDEZA O SIGNIFICADO DO LEGISLATIVO A TRANSI O DEMOCR TICA NOVAS PERSPECTIVAS O DESAFIO DOS PARTIDOS SACO CHEIO TEORIA E PR TICA DO GOLPE PREVENTIVO O APOGEU DO PROCESSO CONSTITUINTE HOMENAGEM MEM RIA DO EX DEPUTADO CONSTITUINTE CARLOS MARIGHELLA A COMISS O DE SISTEMATIZA O COMISS O DE NOT VEIS OP O PELO PARLAMENTARISMO OPRESS O DE CLASSE E CONSTITUI O Os CONTRAS RESPEITO DA MINORIA PELA MAIORIA l6 20 24 27 3I 35 37 39 43 46 50 53 55 59 62 64 68 nm 82 86 89 92 97 103 107 H 14 18 20 24 29 35 39 46 50 54 58 62 66 68 70 76 80 84 DERROTA DAS ESQUERDAS A RETRANCA DA DIREITA O GOVERNO EM PERSPECTIVA CHOQUE PARLAMENTAR IDEOLOGIA E UTOPIA DO CENTR O ODIAI VOS UNS AOS OUTROS A IDEALIZA O DA CONSTITUI O RIGIDEZ INSTITUCIONAL O QUADRO POL TICO ATUAL A PERCEP O POPULAR DA ANC CONSTITUI O CONTINUIDADE OU RUPTURA AS CONTRADI ES DO CENTR O A QUALIDADE
135. ONTROLE POPULAR DO PODER Os embates constitucionais desenrolam se nesse sentido no mago das lutas pol ticas das classes trabalhadoras com a grande burguesia nacio nal e estrangeira As apar ncias superficiais parecem come ar e terminar em um melhorismo econ mico e em um mudancismo democr tico Se tudo permanecer igual salvo certas altera es para satisfazer os anseios de parti cipa o popular das classes trabalhadoras a Constitui o poder passar por democr tica e satisfazer a todos Ora acontece que os trabalhadores n o se satisfazem mais com transforma es cosm ticas e para eles participa o popular quer dizer controle popular do poder Por isso a luta prolet ria por uma constitui o democr tica envolve dois patamares distintos interligados Primeiro a presente Constitui o precisa avan ar e n o recuar como preten dem os conservadores isto os setores dominantes da burguesia e esse avan o deve conferir aos prolet rios peso e voz na sociedade civil existente e capacidade de exercer influ ncia ativa sobre a organiza o o funcionamento e o rendimento do Estado Segundo a Constitui o precisa ser suficientemente clara e consistente para comportar tais reformas como legalmente necess rias 109 Persea e politicamente incontorn veis A reforma da ordem social vigente seria as sim sustentada e legitimada por disposi es constitucionais espe
136. RNANDES em artigo publicado por a Folha de dc a BERA D E nado ela p 3Es super explorados sem perspectivas de um r aspira o baixo N o poder ser uma campanha meramente reivindicativa e uma r plica honesta s promessas para n o serem Os objetivos de longa dura o trans cedem campanha presidencial embora educa o ea reforma parin pr est o vi dos dos oprimidos com a transforma o da sociedade brasileira Por isso o ensino p blico crescer com a de mocracia Os dois s o interdepen dentes Um fortalece a outra e vi ce versa Se a Assembl ia Nacional Constituinte falhar ela falhar co mo fator de cataliza o e impuls o oprimidos saber o conduzir a refoe ma radical na educa o a reforma agr ria e a reforma urbana como os Com estas palavras Florestan Femandes avaliou a quest o da edu ca o na Coestituinte como repre amp sesttante do PT na sess o extraordi a misia que discutia este tema Ele o deve garantir a todos igualdade apresentou tamb m a proposta das oportunidades educacio do Partido dos Trabalhadores com mais como rela o educa o Ele o projeto de constitui o do PT consagra o principio geral ensino p blico gra tutlo e obrigat rio estipulando foram O ensino dever do pour ate Hot 39 urgente que assuma co devendo ser prestado de forma f mos O caminho de nossa autoeman gratuita em todos os n veis Fixa
137. VITONIW 8 VIHOLSIH wS XOIN VO LEITURAS PARA A REFORMA POL TICA PALA MEM RIA amp HIST RIA N 2 AGOSTO DE 2014 Perla MEM RIA amp HIST RIA CENTRO S RGIO BUARQUE DE HOLANDA FUNDA O PERSEU ABRAMO DIRETORIA EXECUTIVA DA FUNDA O PERSEU ABRAMO Presidente Marcio Pochmann Vice presidenta Iole Il ada Diretoras F tima Cleide e Luciana Mandelli Diretores Joaquim Soriano e Kjeld Jakobsen COMIT DE HIST RIA DO CENTRO S RGIO BUARQUE DE HOLANDA Alexandre Fortes Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro C lia Reis Camargo Universidade Estadual Paulista Chico Alencar Universidade Federal do Rio de Janeiro Daniel Aar o Reis Filho Universidade Federal Fluminense Ecl a Bosi Universidade de S o Paulo Elizabeth Cancelli Universidade de S o Paulo Luiz Felipe de Alencastro Universidade de Paris Sorbonne Marcelo Ridenti Universidade Estadual de Campinas M rcio Meira historiador Marco Aur lio Garcia Universidade Estadual de Campinas Maria C lia Paoli Universidade de S o Paulo Maria Vict ria Benevides Universidade de S o Paulo Michael Hall Universidade Estadual de Campinas S lvia Regina Ferraz Petersen Universidade Federal do Rio Grande do Sul Vladimir Sacchetta jornalista Zilda Iokoi Universidade de S o Paulo EQUIPE DO CENTRO S RGIO BUARQUE DE HOLANDA Aline Fernanda Maciel Carlos Henrique Metidieri Menegozzo F bio Dantas Rocha Luana Soncini Sarkis Ap
138. a rea o vulc o vomita lavas e o clima latente de guerra civil Mesmo a esquerda atacada por ainda n o ter se retirado da ANC e a assinatura da pr xima carta magna prop e se como um dilema a ser enfrentado pelos partidos Esse contexto exposto sumariamente sugere que h algo mais profun do na rea o de certas entidades oper rias ao decidirem estampar e difundir os cartazes do Procura se O expediente foi mal avaliado por muitos constituintes particularmente os conservadores e os liberais ou radicais que se sentiram e por vezes foram injusti ados Ora a avalia o muda de figura quando se leva em conta essas correntes psicol gicas e pol ticas mais profundas do comportamento coletivo nas quais a apar ncia n o se confunde com a ess ncia O protesto sobe tona amea ador carregando uma mensagem que diz taxativamente n o e basta em v rios tons Estamos sendo julgados n o estamos julgando Uma ANC que se curvou prepot ncia do sistema de poder existente e por sua maioria conservadora representa n o o poder origin rio e soberano do povo mas os particularis mos das classes privilegiadas e as ambi es das na es capitalistas hegem nicas tem muito o que aprender e o que temer diante dos ressentimentos e frustra es da massa subalterna dos cidad os Ambos ressentimentos e frustra es acarretam viol ncia e agress o Seria melhor receber o recado e 225 Pen ft mudar o
139. a O casu smo ficara sendo uma necessidade normal Entre o d c e o toma l existia um espa o estreito para uma elabora o constitucional isenta de precipita es de segundas inten es e de concilia es duras de engolir A julgar pelo PT as bancadas reuniam se discutiam democraticamente e tomavam posi o pelo voto da maioria Mas nos pequenos grupos nas reuni es decisivas e deci s rias das lideran as as coisas podiam tomar rumos oscilantes e consagrar procedimentos trai oeiros Isso ocorria com maior facilidade nos assuntos de consenso dif cil que iam e voltavam ao plen rio e por fim se resolviam no que antigamente se chamava de conchavo Retornando vota o as emendas recebiam consagra es retumbantes pois exprimiam os acordos das lideran as e tinham de merecer aprova o un nime Jornal do Brasil 17 9 1988 285 Pen ft Duas consequ ncias advinham da Primeiro excetuando se a parti cipa o ocasional em alguns dos subgrupos tem ticos ou nas reuni es das lideran as de composi o vari vel o constituinte considerado individual mente n o tinha participa o respons vel nas tomadas de decis es que co mandassem os votos As emendas que vinham com o sim vingavam as que recebiam o n o das lideran as estavam automaticamente condenadas Seus autores podiam defend las no plen rio se tivessem coragem para arrostar o refr o da pressa dos colegas retira retira
140. a C mara dos Depu tados reproduz pronunciamentos e debates apresentados pelo deputado na 9 Pensa Assembleia Nacional Constituinte ANC durante o ano de 1987 A segunda lan ada em 1989 pela editora Esta o Liberdade re ne textos em sua maioria publicados em jornais de grande circula o al m de alguns artigos difundi dos em ve culos menores como peri dicos do PT e da CUT Neste caso os artigos reunidos referem se ao intervalo entre sua candidatura em 1986 e a aprova o do texto constitucional em 1988 Conforme descreve no texto de abertura de A Constitui o inacabada trata se de um momento em que Florestan goza de posi o privilegiada en contrando se ao mesmo tempo na qualidade de parlamentar e de observador A publica o que o leitor tem em m os reflete esta dupla condi o apresen tando discursos e artigos de jornais organizados aqui em ordem cronol gica Retrata um per odo de reorganiza o das for as pol ticas do pa s ap s vinte anos de ditadura militar bem como as incertezas e expectativas em torno da reconstru o da democracia naquele momento Por serem escritos no calor dos acontecimentos os artigos e discur sos aqui reproduzidos evidenciam os avan os e retrocessos do processo constituinte num contexto de recria o de nossa cultura c vica e ao mes mo tempo de disputa pela manuten o da ordem existente por parte das for as pol ticas conservadoras As an lises ora esperan osas o
141. a a norma ou s correntes de opini o tidas como liberais Experi mentei a mesma impress o que tive quando fui cassado em 1969 A minha casa encheu se de gente Ningu m podia usar poltronas ou cadeiras Era imposs vel Propagar ideias socialistas marxistas ou radicais naquele audit rio pol tico o mais importante do pa s impratic vel O horizonte intelectual m dio vacinou os nossos pol ticos esclarecidos contra isso Ora eu vinha de uma campanha feita no seio dos verdadeiros radicais estudantes professores intelectuais e sindicalistas de esquerda oper rios da oposi o sindical favelados revoltados gente humilde prestes a explodir Le vando letra o programa do PT desdobrei aos que me apoiaram ou foram me ouvir as perspectivas de uma Assembleia Nacional Constituinte ser fe cundada de alguma maneira pelo pensamento radical e socialista Um novo ponto de partida uma probabilidade de iniciar a invers o de rota pol tica que mant m o Brasil preso a matrizes hist ricas mortas coloniais neocoloniais ou arcaicas Assim como do nosso feitio poder amos introduzir e misturar ao arcaico interesses valores e aspira es novos semi radicais ou radicais Revolu o dentro da ordem como limite da reforma social que deveria ou poderia se desencadear gra as a uma ANC que iria cavar e aprofundar as rupturas entre a ditadura militar e a Nova Rep blica com as exig ncias his t ricas do
142. a burguesa a burguesia atrav s de seus rg os corporativos e da a o coletiva de classe teria de opor se ao imperialismo Ora ela uma burguesia caudat ria que transformou a de pend ncia em mercadoria e em lucro com preju zos crescentes para a na o Prefere a rendi o silenciosa s vias speras percorridas no passado pelos Estados Unidos Alemanha ou Jap o N o poderia vir dela o referido proje to que exigia atitudes independentes nacionalistas e radical democr ticas da maioria liberal e conservadora da burguesia seja no interior da ANC seja contra o governo da Nova Rep blica Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 274 An F Isso coloca para o resto da na o os dois problemas em termos de cus tos econ micos sociais culturais militares e pol ticos A crise burguesa ar ru na as demais classes inclusive as fac es mais fracas da pr pria burguesia Mas a massa dos assalariados e dos trabalhadores semilivres das cidades e do campo que arca com a conta H meandros especulativos e fisiol gicos para compensar as perdas e at convert las em vantagens reais postas em pr tica gra as ao Estado de transi o permanente Os superlucros dos bancos por exemplo derrotam a hiperinfla o a ciranda financeira produz desloca mentos que p em em perigo o sistema de produ o mas aumentam o volume da riqueza nos bolsos dos mais ricos e poderosos o
143. a c pula o clima hist rico e pol tico para um novo pacto conservador que corre na contram o da Hist ria Se voltaremos ao equivalente de um col gio eleitoral ou a um golpe militar de fensivo depender das circunst ncias Os dados est o lan ados A alternativa vista em um golpe de mestre parlamentar que conduza castra o do pro cesso constituinte o qual foi desencadeado com refinada eleg ncia e mestria pelo presidente da ANC o deputado Ulysses Guimar es Ele tornou se o her i dessa trama que por si mesma uma com dia a com dia de erros que re ne em um ex tico palco todas as lideran as e atores decisivos de uma burguesia de triste figura S o talento de um Machado de Assis faria justi a ao concreto e decifra o do segredo de que as batatas a serem colhidas est o podres Estou exagerando Nada disso At atenuo a gravidade dos fatos Exis tem coisas cuja repeti o cansam a cabe a a boca a paci ncia Recomendo a leitura dos resultados das tr s sondagens promovidas pela Folha de S Paulo 08 11 1987 Tr s levantamentos complementares encadeados entre si de Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 178 An F tal modo que se poderia falar com Fran ois Simiand em experimentum cru cis Como se faria atrav s da sociologia experimental vai se pouco a pouco explicitando os dados claros pelos quais o concreto se desnuda progressi vamente impondo o sign
144. a da culpa e uma participa o direta ou vic ria no crime Ele um crime pol tico porque um crime da polis a cidade ao civilizar se solta a barb rie 207 Pen Stu de suas amarras Ficamos c mplices dessa dissemina o e multiplica o da barb rie cooperando na fabrica o das premissas hist ricas anti ticas do ca pitalismo monopolista da era atual Os que s o socialistas e em particular os que se dizem crist os colaboram assim na cria o dessa barb rie que requerida pelo esplendor e pela reprodu o do imp rio Contra esse crime n o adianta perseguir criminosos individuais ou coletivos espont neos e ocasionais ou institucionais O criminoso tamb m uma v tima o ins trumento da puni o e sem o saber do poder do imp rio A alternativa est em outro padr o de civiliza o em uma civiliza o sem barb rie que converta cada ser humano em combatente da propaga o de um humanismo socialista e em agente da transforma o socialista do mundo da conquista da liberdade com igualdade Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 208 Florestan Fernandes IDEALIZA O DA CONSTITUI O As frustra es provocadas pela produ o da Assembleia Nacional Constituinte s o um produto de promessas e esperan as contrariadas Mal grado o elogio grandiloquente da Constitui o ela um instrumento de po der e de domina o A grande
145. a de S Paulo 29 9 1986 m A cabe a do trabalhador Folha de S Paulo 03 11 1986 m Os trabalhadores e a Constitui o Folha de S Paulo 02 2 1987 A crise Folha de S Paulo 23 2 1987 Nem ditador nem Kerensky Folha de S Paulo 06 3 1987 raposa mostra o seu rabo Folha de S Paulo 30 4 1987 A l gica do poder Folha de S Paulo 10 6 1987 m Constitui o e elei o Folha de S Paulo 18 6 1987 As perspectivas do PMDB Folha de S Paulo 26 6 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 314 Florestan Fernandes m A LSN Folha de S Paulo 26 7 1987 m Educa o e Constitui o Folha de S Paulo 04 8 1987 Parlamentarismo e presidencialismo Folha de S Paulo 14 9 1987 Transcrito por Andes ano VII 33 out 1987 m Adeus transi o Jornal do Brasil 19 10 1987 Sindicato nico e pluralidade sindical Jornal do Brasil 02 11 1987 E Ser ou n o ser estadista Folha de S Paulo 06 11 1987 Momentos de indecis o Folha de S Paulo 03 12 1987 Renuncia ou destitui o Jornal do Brasil 12 1 1988 Terrorismo oficial Jornal do Brasil 26 2 1988 Elei es presidenciais ou gerais Jornal do Brasil 29 2 1988 A guerra do mandato Jornal do Brasil 06 3 1988 Voando alto Jornal do Brasil 18 3 1988 O teste parlamentar Folha de S Paulo 03 4 1988 quem aproveita Folha de S Pa
146. a de um fio de navalha Ele que decidir at aon de ir a arrog ncia e a usurpa o do Executivo e de seus personagens chaves civis e militares Segundo o conjunto de entidades que lutaram pela derru Folha de S Paulo 25 10 1988 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 300 an Fernandes bada pr via da ditadura a convoca o de uma Assembleia Nacional Consti tuinte soberana e exclusiva e a extirpa o da ordem ilegal preexistente mas viram se derrotadas com a OAB frente A esses dois personagens somam se os cidad os mais firmes decididos e conscientes que percebem a gravidade da presente situa o hist rica e pretendem cortar as asas de um aparelho de Estado prepotente deformado e hostil seja raz o pol tica democr tica seja aos interesses e s esperan as da imensa maioria Os partidos deram as costas realidade Lan aram se campanha elei toral com todo o empenho Nela concentraram o alvo principal esquecendo se muito depressa que a promulga o de uma constitui o que desagrega um sistema de poder semilegal e desacreditado um fator de acelera o da crise disfar ada ou clara que a resist ncia s mudan as necess rias provoca e agra va Como a campanha eleitoral possui dois lances um municipal em curso e outro geral com a presid ncia em jogo surge naturalmente uma armadilha democracia e implanta o da Constitui o as duas interligadas dia
147. a e repress o A Inglaterra que sirva de exemplo ou a Alemanha Ali s em Revolucion rios Hobsbawm focaliza com finura e ironia v rios exemplos conclusivos O mo vimento socialista prolet rio n o pode confinar se a tais ilus es A barb rie intr nseca ao modo de produ o capitalista objetifica o do trabalhador e convers o da for a de trabalho em mercadoria N o h humanismo onde prevalece o louco como alvo central e o governo parlamentar se erige clara mente em meio que associa capitalistas e trabalhadores na reprodu o De mocr tica ampliada no sistema capitalista de poder Podemos ser progressistas reformistas ou revolucion rios mas n o escapamos de reconhecer no presente contexto parecem cada vez mais es treitas as veredas que a Constitui o abrir liberdade com igualdade para os trabalhadores os exclu dos os estigmatizados Os que ganham na con juntura com o parlamentarismo s o os estratos inferiores e intermedi rios das classes m dias Da a alegria dos pol ticos que deram seus hurras vit ria que consagrou seus esfor os Contudo alcan ado o governo parlamentarista o que muda na sociedade civil Esses estratos de classe m dia reconquistam parcelas de seu prest gio e poder perdidas sob o rolo compressor do desen volvimento econ mico acelerado E os outros N o estamos aqui para de fender unilateralmente certos fins Este ano deve revolucionar a na
148. a na o nova independente e pr spera para todos Os empecilhos a essa realiza o n o se acham no projeto de constitui o da Comiss o de Sistematiza o Ele somente mat ria prima um ponto de partida preciso cortar N o obstante h algo mais decisivo a fazer do que cortar preciso transformar essa mat ria prima e esse ponto de partida em uma constitui o org nica promissora e din mica que nos dissocie do passado recente e remoto e nos ponha em condi es de engendrar de fato uma sociedade nova ainda dentro do capitalismo e com os entraves de suas contradi es Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 116 an F Uma aprecia o superficial revela algo curioso o que a mentalidade legislativa estimulada pela iniciativa popular elaborou Nos t tulos 1 Il e IH do projeto de constitui o aparecem 43 artigos Nos t tulos VIII e IX est o 130 artigos No t tulo X das disposi es transit rias 64 artigos safa Dos t tulos IV a VII deparamos 261 artigos O bacharelismo e o estatismo forma lista comparecem a em todo o seu esplendor Onde o Estado a unidade concreta uma m dia de 65 artigos nas disposi es transit rias um incha o paralelo com 64 artigos O que substantivo em uma constitui o hodierna nos outros dois grupos de t tulos alcan am m dias aproximadas de 43 e 39 artigos Decididamente entre o moderno e o antigo pend
149. a para adapt las ao modelo hodierno do modo de produ o capitalista monopolista e do sistema mundial de poder que este gera e necessita para se reproduzir e crescer A bem da verdade a mesma limita o atingia o projeto de constitui o A da Comiss o de Sistematiza o apesar de concess es marginais e t picas reforma social dentro e atrav s do capitalismo O contundente artigo de C sar Maia sobre O projeto do Centr o no econ mico e no social publicado pela Folha de S Paulo em 19 de janeiro des te ano poupa me o esfor o de fazer uma s ntese do que nos reserva o Cen tr o em seu parto constitucional S n o concordo com C sar Maia no uso da palavra feudal que ele sabe inadequada ao contexto hist rico e ao modelo de desenvolvimento capitalista monopolista dependente Nunca tivemos uma forma o social feudal e essa uma das ra zes da carga de colonialismo e de rendi o incondicional ao imperialismo que corre nas veias da burguesia brasileira e de suas elites com exce es que confirmam a regra No mais o artigo d conta do que o Centr o realiza uma regress o do processo consti tuinte que emergia com grandes dificuldades e debilidades gra as aos movi mentos da iniciativa e da participa o populares A democracia burguesa se esse projeto vingar ser t o deformada e invi vel quanto o foi no Brasil das d cadas de 1920 de 1930 e de 1940 A autocracia consagrada pelos mil
150. a partido por conseguinte re ne um conglomerado de interesses burgueses vari veis e ao mesmo tempo n o possui autonomia para conduzir as reivindica es das classes burguesas e de suas elites Nenhum deles pode romper com a si tua o de partidos da ordem e do governo porque os v nculos com as classes burguesas n o alimentam semelhante demonstra o de radicalismo pol tico De outro lado nenhum dos dois partidos possui uma esfera de hegemonia pr pria e exclusiva O que prevalece a hegemonia das classes dominantes e de suas elites Elas paralisam os dois partidos como paralisaram a ditadura militar e est o paralisando a Nova Rep blica Como consequ ncia ambos est o presos a um imobilismo pol tico que os dissocia da causa suprema que seria a soberania da ANC e o que pior que os impede de possuir um projeto pol tico constitucional Qual o projeto pol tico constitucional do PMDB Qual o projeto constitucional do PFL O que a Alian a Democr tica se prop e fazer dentro da ANC e quais s o as bandeiras que ela desfralda Os dois partidos prendem se ordem existente e ao governo atrav s de uma for a est tica e ficam surdos e mudos diante das esperan as que suas promessas eleitorais despertaram nas massas populares Como explicar essa realidade A explica o a um tempo f cil e grave Ao estudar as lutas sociais na Fran a Karl Marx identificou h muito tempo o que imobiliza as classes burguesas as imp
151. a por uma nfima minoria parlamentar Se esta obteve alguma import ncia ela se deve a alian as com os radicais e dissidentes dos partidos da ordem bem como com a parte progressista do centro desses mesmos par tidos A influ ncia desse pugilo de representantes se deve sua dedica o aos projetos dos partidos prolet rios sua uni o nos temas cruciais e qualidade pol tica e intelectual dos seus integrantes Foi preciso muita garra e muita tenacidade para n o sucumbir aos duros embates com os conservadores e reacion rios De outro lado estes embora recrutados em uma minoria de privilegiados compuseram uma esmagadora maioria parlamentar municiada pelas manobras do governo dos estratos dominantes das classes possuidoras de suas entidades corporativas dos lobbies da capacidade de corrup o do Es tado de transi o do grande capital nacional e estrangeiro etc Para contraba lan ar essas for as disp nhamos de nossas bandeiras de luta do apoio popular que atravessou a ANC e a enervou das entidades democr ticas mais ativas da Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 246 An F sociedade civil e do movimento sindical e oper rio Parece muito mas foi pou co pouqu ssimo Se n o bat ssemos forte ser amos asfixiados e zerados A Constitui o em sua forma atual desigual Cont m disposi es avan adas e modernas ao lado de outras disposi es que consagram os pri vil
152. a publica o da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores PT Na luta da Constituinte n 10 out 1988 Acervo CSBH FPA O POLITICISMO BURGU S S o Paulo serve de foco para demonstrar como os donos do poder en tendem os seus pap is pol ticos e a sua rela o com a transi o democr tica Depois das belas palavras que fundamentaram o acordo que levaria trai o das Diretas j e portanto do sufr gio universal alicerce do pluralismo de mocr tico permitiram a unifica o conservadora em torno do nome e da lideran a de Tancredo Neves conduziram ao programa da Alian a Demo cr tica e campanha popular que iria legitimar o governo escolhido por uma nfima minoria para servir como o elo da Nova Rep blica com o antigo sistema s restaram as palavras As v rias li es que tornaram necess rios da perspectiva conservadora e liberal o Estado Novo e a ditadura militar per deram se na mem ria curta dos poderosos e vemos de novo que a politicalha se restabeleceu por completo como se fosse um cancro pol tico ou melhor o politicismo oco das grandes e pequenas figuras das classes dominantes e de seus movimentos pol ticos O que isso quer dizer Est o todos t o seguros da efic cia dos militares como o prolongamento da pol tica por outros meios ou t o certos de que a viol ncia a partir de cima suficiente para garantir as rachaduras que que Fol
153. a radicalizar porque suas an lises mostraram que o Brasil para essa imensa maioria que alcan a quase 80 milh es de malditos da terra que den tro do capitalismo essa grande maioria n o encontraria condi es prop cias para se converter em gente em um regimento respeitado com peso e voz na sociedade civil Em suas atividades ele foi t o consequente que acabou sendo submeti do a uma persegui o sistem tica como se fosse um criminoso e acabou em uma armadilha policial sendo morto melhor seria dizer assassinado pelo delegado Fleury Por isso nesta data 18 anos depois de sua morte devemos resgatar a sua mem ria e nos orgulharmos de sua atividade dentro desta Terra como ativista pol tico e como homem Era o que tinha a dizer Obrigado ao Sr Presidente e aos meus Colegas que ouviram a minha exposi o 167 Persea A COMISS O DE SISTEMATIZA O COMISS O DE NOT VEIS O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente meus caros colegas desta Assembleia Nacional Constituinte havia me inscrito para falar a respeito da op o pelo parlamentarismo para apresentar um texto que tinha escrito para uma sess o de grande expediente que n o vai se realizar mais Por isso encaminho Mesa o original do texto que redigi e solicito ao Sr Presidente que tome provid ncias no sentido de que seja publicado Vivemos hoje Sr Presidente Srs Constituintes uma situa o ao mes mo tempo dram tica e pedag gica
154. a revolu o pol tica da atua o do Congresso Constituinte uma ruptura definitiva que nos jogasse para frente e nos fizesse penetrar numa era de revolu o anticolonial nacional e democr tica O saudoso professor Roger Bastide classificaria essas atitudes como forma es psicossociais larvares Mas um leitor de Hegel ou um historiador qualificado logo enxergariam nesse modo de ser larval a emerg ncia de uma nova vida o florescimento de um organismo com vitalidade pr pria e com um ciclo de matura o previs vel que irrompem como um clar o sobre evolu es sociais obscuras senis e sinuosas Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 56 An F Foi com esse nimo que cheguei ao Congresso Constituinte como o no vi o mais velho e que l descobri ter sido o nosso estilo parlamentar moldado para serrar o presente do futuro e manietar o pa s aos interesses valores e decis es imperativas dos que mandam dos donos do poder dos de cima O Parlamento funciona como se fosse a na o invertida A minoria pelo proces so eleitoral corrompido gera uma maioria inabal vel A maioria por sua vez s consegue eleger uma escassa minoria e esta mesmo que se distribua entre v rios partidos e segmentos de partidos de esquerda de centro ou de direita impotente para retirar a na o de sua letargia e estado de desorganiza o permanente Os campe es do povo falam mas sua voz ecoa no vazio Alijados
155. a se tentarem progn sticos pol ticos v lidos especial mente os que transcendem a conjuntura hist rica A vit ria do governo deve ser vista em termos do que ela vale uma vit ria barata que custa caro na o por nossa pobreza e porque fere os brios de qualquer brasileiro que tenha um senso m dio de integridade ou de honestidade O governo arrastado ao mar de lama pelas acusa es correntes jamais desmentidas ou apenas refutadas pr forma tisna a Assembleia Nacional Constituinte e a transforma em parceira de aventuras Isso injusto mas ocorre Nos mesmos jornais em que se l que 222 votaram contra o mandato imposto de cima para baixo com o intuito de forjar a extin o do Estado de transi o e suas mazelas aparecem comen t rios que misturam gregos e troianos At um analista pol tico da finura e da grandeza intelectual de Newton Rodrigues imputa ANC um servilismo que n o dela como um todo mas de uma maioria heterog nea na qual at se encontram constituintes que n o deram para receber O certo que nessa maioria havia um vasto n mero de conservadores e uma centena e pico de parlamentares fisiol gicos que perpetuam uma tradi o pol tica prebend ria Jornal do Brasil 20 6 1988 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 248 An F servil e atrasada A outra centena e pico aferra se ao monop lio social do po der pol tico estatal e ilus o de que s
156. a tirar o pa s do impasse forjado por tal arranjo Ele poderia continuar a transi o lenta gradual e segura pela qual os militares sa am e ficavam ao mesmo tempo testa do poder Eles sa am do campo de visibilidade mas ficavam como os guardi es da ordem e o garante da Nova Rep blica Esta se condenava a um imobilismo penoso que iria custar muito caro na o Para tornar se uma Rep blica democr tica teria de se submeter ao crivo da legitimidade pol tica Folha de S Paulo 04 6 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 86 an Fernandes atrav s de sucessivas elei es e da instaura o de uma Assembleia Nacional Constituinte dotada de poder origin rio Entre 1964 e 1985 o pa s passara por modifica es substanciais e um vasto setor das classes trabalhadoras e dos oprimidos em geral emergia na cena hist rica e for ava passagem na esfera pol tica A luta contra a ditadura forjara a atua o articulada de v rias entidades que alargaram o espa o da contesta o democr tica na sociedade civil e infundiram novos conte dos rebeldia dos setores m dios mais insatisfeitos Portanto existia um substrato social e pol tico para arrancar a Nova Rep blica do imobilismo Por m isso n o sucedeu e a raz o clara A Alian a Democr tica o governo as for as armadas e a partir de ent o discreta mas eficazmente a Igreja Cat lica alinharam s
157. abaixo da figura de Ulysses Guimar es e de suas aspira es bem conheci das E continha um laivo amargo de subdesenvolvimento e de rusticidade que arrasou a euforia dos constituintes mais empenhados em travar a lti ma batalha Ouviram se versos e discursos que n o abonam o Parlamento e ridicularizam para sempre os constituintes de 1988 Ousou se ir al m das conveni ncias e desatar no plen rio as torrentes do nosso atraso cultural Comprovou se que o pol tico profissional n o est um mil metro acima de seu meio e que nenhum de n s tinha estofo de constituinte Que equ voco hist rico e que decep o para a na o O come o fora t mido e insosso O final apresentou se melanc lico e exasperante Tudo converge para uma con clus o as classes dominantes n o s o dirigentes e carecem de verdadeiras elites Nesse fato reside a ess ncia do capitalismo selvagem e a falta de sa das da situa o atual que transforma a democracia em um sonho Os de baixo s o mais aut nticos e qui esteja neles e n o na Constitui o a supera o do drama social brasileiro 287 Persea A CONSTITUI O DE 1988 CONCILIA O OU RUPTURA A Constitui o fabricada pelos seres humanos Carrega as suas marcas as suas debilidades as suas grandezas Passei muito tempo examinando os pas sos que demos e que deixamos de dar e tentei descobrir como ela responde ao solo hist rico e o nega Das inven es humanas ela a mais comple
158. adoria Constitu ram se as comiss es MEC USAID que definiram as linhas das futuras reformas do ensino em todos os graus Da decorreram uma expans o da ind stria do ensino e do en sino orientado pela Igreja Cat lica e o enfraquecimento progressivo da escola p blica Rompeu se a tend ncia do desenvolvimento quantitativo e qualita tivo do ensino p blico substitu da por uma nova tend ncia que privilegiava simultaneamente a acumula o de capital atrav s do ensino comercializado e a conquista de mentes e cora es por parte do ensino confessional Hoje nos defrontamos com um grave obst culo para superar os efeitos perversos dessa revers o O que importa assinalar o significado socialista que aderiu solu o de problemas que s o intrinsecamente burgueses A nova Carta Constitucional precisa fazer face pois a dois tipos de problemas aqueles que nasceram do horizonte cultural retr grado de nossa Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 100 An F burguesia e os que dizem respeito ao pr prio movimento oper rio que ao crescer exige para os trabalhadores a elimina o de formas pr capitalistas de explora o econ mica a conquista de padr es decentes de vida e a capacida de de terem peso e voz na sociedade civil Duas comiss es tem ticas pelo menos enfrentaram positivamente es sas exig ncias atendendo parcialmente s reivindica es dos trabalhadores e de outros grupos
159. agente hist rico e pol tico Ele os introjetou nos pr prios termos de sua mis ria e da nega o do que lhe era negado A ANC converteu se em um foco de luz de esperan a uma promessa que n o cabia no ima gin rio das elites das classes dominantes e no realismo de seus pol ticos profissionais A iniciativa popular foi organizada e desencadeada de cima para baixo por entidades bem conhecidas tendo frente a CNBB a OAB as co munidades de base e v rias outras organiza es entre as quais se contavam sindicatos federa es sindicais partidos de esquerda fac es radicais dos partidos da ordem no caso especialmente o PMDB e o PFL Contudo pre ciso distinguir a iniciativa popular do significado da presen a e das compul s es mentais e sociais dos de baixo Esta ltima polaridade mais ou menos escamoteada surgiu espontaneamente Ela estava no sangue do pobre dos mais humildes e na consci ncia contestadora dos trabalhadores mais organi zados e mais decididos em tomar seus destinos nas pr prias m os Na cabe a dessa gente por motiva es opostas o imagin rio das elites era conversa fiada Essa gente forjou um anti imagin rio contra elitista que atravessa a realidade brasileira como um punhal afiado fundado em suas representa es que n o refletem uma imagem invertida de suas condi es de vida Ela queria diversos tipos de reforma social simultaneamente e por querer esses tipos de reforma social
160. al sobre todas as resist ncias A primeira coisa que desobedecem a Constitui o uma linha subjetiva de defesa da ordem quando n o se implanta na cabe a e no cora o dos homens Por que deveriam respeitar mais a Constitui o se aqueles que a inventaram a compreendem como mera ideologia 157 Pense TEORIA E PR TICA DO GOLPE PREVENTIVO O pa s tem enfrentado uma onda de boatos alarmantes plaus veis al guns outros fantasiosos Poucos no entanto conhecem o grau de probabili dade que aproxima os boatos dos fatos Antigos ministros como o respeit vel professor de economia M rio Henrique Simonsen esquecem o que fizeram e colocam em circula o interpreta es sinistras outros como um antigo pre sidente militar que foi um dos piores da s rie saem a campo como patroci nadores do farisa smo democr tico Campe es da ultradireita com peles de cordeiro e apar ncias mistificadoras O que falam ou escrevem verdadeiro S que a verdade no caso n o passa apenas pela rota de suas omiss es lan a ra zes no que produziram no legado que acreditam j esquecido mas serve de pedestal ao governo Sarney que logrou ser pior que todos os outros de todos os tempos o espelho de sua gl ria porque Simonsens Figueiredos delgalonis e Cia receberam uma sociedade civil em crise e a entregaram aos seus sucessores destro ada um caos econ mico pol tico e institucional Sar ney e seu governo dessa perspectiva d o
161. andes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 68 An I composta aos peda os como se fosse um artefato um palet por exemplo Em outras palavras o poder pulverizado primeiro para tornar se depois um corpo vivo O corpo n o vira p este gera o corpo e a vida invertendo a imagem b blica Poder se ia dizer que as partes j nascem vivas e que a s nte se conteria o elemento vital supremo nascido da conjun o das partes N o obstante essa concep o da produ o por pe as cont m uma l gica do poder e imp e se indagar ao que e a quem serve essa l gica de poder que antes pulveriza e depois unifica e o que pressup e uma unifica o que brota da produ o constitucional por pe as O nexo conservador evidente e ele n o se explica somente pelo maior partido da ordem como sustent culo do governo o PMDB Ele se explica por uma vontade de neutralizar a Constitui o de retirar dela uma amea a frontal transi o lenta gradual e segura Divididas e subdivididas as von tades radicais divergentes e revolucion rias podem pender para o mudancis mo por m estar o sempre nas garras da moderniza o conservadora e do conservadorismo ilustrado la Oliveira Viana Os de cima n o precisam perder o sono Os constituintes estar o sempre diante de tarefas discretas dispersas e dilu das da parte anterior e superior ao todo Por maior que seja o seu potencial pol tico divergente
162. anham as batalhas porque em quest es decisivas s o precisos 280 votos para bat los Os procedimentos legislativos adotados as parcialidades da mesa diretora em momentos controversos os acordos e as fus es de emendas converteram a ANC em um congresso comum no qual se vota uma carta constitucional O pessimismo que se apossou do povo tamb m desabou sobre os consti tuintes que acreditaram na possibilidade de uma revolu o democr tica dentro e atrav s da ordem O segundo turno se prefigura como um mar de tormentas A mensagem desce de cima empres rios importantes de todos os setores nacio nais e estrangeiros entidades patronais de proa no controle do poder econ mico e nos descaminhos da pol tica econ mica categorias profissionais privilegiadas o Poder Militar e o pr prio governo todos exibem as garras e n o se pejam diante de nada Alardeiam seus objetivos com a maior desenvoltura como se a nossa sociedade de classes se dividisse em duas na es uma v lida e dominan te outra nula e subalterna Os constituintes recebem as mensagens vindas de cima ou para operarem como correia de transmiss o ou para irem ao confronto e den ncia No entanto a promessa de uma democracia burguesa por meio constitucional vai por gua abaixo Cada vez nos parecemos mais com um Esta do autocr tico camuflado uma frica do Sul encoberta Aceleramos o desenvolvimento desigual atrav s de uma moderniza o conservadora que serv
163. anifesta o espont nea de grandes propor es e que acabou sendo manipulada como aconteceu aqui os meus companheiros os Srs Constituintes t m no o disto e houve uma interfer ncia provavelmen te de for as parapoliciais que provocaram os atos de viol ncia para tirar das manifesta es o significado que elas possu am Discurso proferido durante a sess o de 26 de junho de 1987 na ANC 89 Pensa Deixando isso de lado a pr pria Constituinte Benedita da Silva ao me contar esses fatos me disse A maior viol ncia a perman ncia de Sarney na presid ncia At fez um pequeno verso Risos De fato uma viol ncia a perman ncia de Sarney na presid ncia E sobre isso ter amos de refletir E j houve muitas manifesta es dentro desta Casa Hoje dados os fatos que ocorreram no Rio de Janeiro que servem de alerta a todos n s necess rio ampliar a rea de reflex o e indagar por que essa viol ncia est eclodindo com tamanha for a O povo j n o aguenta as press es a que est submetido Press es de mis ria press es de descaso por parte do Poder P blico press es que v m sob a forma de v rias modalidades de corrup o de incompet ncia de caos na condu o da pol tica econ mica Maior viol ncia que a aus ncia de uma reforma agr ria Maior viol ncia que desemprego em massa J temos um registro de que em S o Paulo o desemprego industrial est alcan ando mais de 9 Maio
164. apital nacional e estran geiro incapaz de sustentar se sobre um poder origin rio e soberano ela veio para durar pouco e servir de elo ao aparecimento de uma constitui o mais democr tica popular e radical Sua principal miss o consiste em limpar o terreno minado pela ditadura prepar lo para outro plantio mais generoso e f rtil A ditadura a Nova Re p blica e o bloco hist rico no poder enredaram na concilia o conservadora e tentaram submet la por fora e por dentro dela mesma transi o lenta gradual e segura Foi uma vit ria dos constituintes radicais e de esquerda que isso n o fosse levado at o fim e at o fundo No entanto as sementes reacio n rias e conservadoras vingaram e tiveram a seu favor entidades parlamentares como o Centr o ou civis como a UBE e a UDR A minoria remou contra a cor rente Mas possui muita for a O p ndulo balan ou contra a democracia contra a na o e anulou todas as rupturas que deveriam ser desencadeadas pela Assem bleia Nacional Constituinte e depois a pleno vapor pela pr pria Constitui o Devemos falar disso com franqueza Esses fatos n o se contabilizam como uma derrota Eles contam como uma vit ria A Constitui o est a de p e n o se afirma como uma pe a homogeneamente conservadora obscu rantista ou reacion ria Ao rev s abre m ltiplos caminhos que conferem peso e voz ao trabalhador na sociedade civil e cont m uma p
165. apitalista competitivo se cruzam e as oligarquias rurais e urbanas se fundem sob o Estado Novo que fornece o modelo que inspiraria os militares em 1964 Por sua vez a expans o do capitalismo mo Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 292 An F nopolista segue a mesma via fat dica da rendi o passiva A burguesia interna n o ousa romper os liames que a encarceram aos dinamismos da internacio naliza o do modo de produ o capitalista do mercado interno e do sistema financeiro aparentemente sob controle nacional O mito de que a internacionaliza o inevit vel fundamenta e legitima todas as esp cies de transa es que colidem com a natureza e a livre inicia tiva e com o impulso inconformista de uma burguesia nacional emergente Ora a Alemanha e o Jap o desmentem esse mito No ap s Segunda Guerra Mundial sa ram nas piores condi es de uma destrui o global ou de uma humilha o paralisadora e irromperam como focos din micos do imperia lismo inerente ao capitalismo monopolista da era atual A nossa burguesia preferiu a velha rota e fez da depend ncia uma mercadoria e uma fonte de lucros lan ando o pa s na condi o de uma na o de desenvolvimento capi talista secund rio Fronteira econ mica da superpot ncia e das na es capita listas hegem nicas deixou ao socialismo e a uma futura revolu o prolet ria a ruptura das cadeias que poderiam ter sido quebradas sucessivam
166. aprivilegiadas A hist ria profunda n o compa rece nos inqu ritos de opini o e em an lises superficiais de conjuntura Pior para a na o Eu n o diria isso Melhor para a nega o da ordem existente para as suas transforma es de longa dura o e a autoemancipa o coletiva dos trabalhadores A hist ria que parece estagnada corre veloz em seus subterr neos e p e nos diante de esperan as pol ticas que transcendem as constitui es burguesas e nos obriga a pensar no futuro como a ant tese de um presente contradit rio e enigm tico Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 26 Florestan Fernandes A QUEST O DOS PARTIDOS O ltimo debate entre os candidatos a governador tornou patente que estamos encurralados a ordem ilegal deixada pela ditadura atrofia os processos pol ticos na medida em que estrangula os partidos A chamada concilia o conservadora tinha por objetivo uma estrat gia clara de natureza pol tico militar fecha os horizontes que a crise da Rep blica institucional abria para a eclos o das for as populares na cena hist rica ou como preferiu afirmar o deputado Ulysses Guimar es na qualidade de presidente do PMDB propor uma escolha que contornasse as explos es sociais Para evitar as explos es sociais ficamos com a ordem ilegal montada pela ditadura com o princ pio pol tico que esta n o logrou tornar vitorioso a transi o lenta grad
167. ar com uma radicaliza o pol tica militante A OAB ostenta essa evolu o com sobran ceria e integridade exemplar A li o a tirar se uma ordem social que apodrece arrasta os seus defensores para o abismo Ou eles aceitam a renova o ou abrem portas insond veis para sua marginaliza o e qui para sua desgra a coletiva No af de brecar a hist ria os advers rios do radicalismo a aceleram e o que ir nico fora do Parlamento e contra a Constitui o que deixa de correspon der s exig ncias hist ricas do pa s real sem aspas Os conservadores e os reacion rios t m ridicularizado a esquerda es tigmatizada como portadora de um nacionalismo estreito e atrasado v lido para a d cada de 1950 Isso se fosse verdade seria um salto hist rico porque 283 Persea a direita e a extrema direita porfam por uma restaura o do Brasil servil e olig rquico do idealismo constitucional Tamb m cotejam esse atraso da esquerda com as reformas que ocorrem na Uni o Sovi tica na China no Leste europeu que estariam retornando iniciativa privada e ao capitalismo Uma ignor ncia crassa pois as contradi es do socialismo n o se resolvem pela regress o social Em breve as experi ncias concretas dir o o que est acontecendo em uma quadra da hist ria em que os pa ses em transi o para o socialismo escapam da quarentena O que a chamada esquerda pretendia no cen rio da Constituinte era passa
168. ara os nossos leitores as reflex es de Flo restan Fernandes como deputado na Assembleia Nacional Constituinte Sua leitura acerca dos embates pol ticos no per odo bem como suas cr ticas com rela o s condi es desiguais de participa o da popula o no processo que deu origem Constitui o de 1988 constituem importante subs dio para o atual debate sobre a Reforma Pol tica De origem popular o soci logo deputado e militante do Partido dos Trabalhadores reafirma em diversos momentos de sua atua o o compromis so com a classe trabalhadora e com a reconstru o da democracia no Brasil Analisa o contexto pol tico brasileiro apontando as debilidades e a aus ncia de cultura c vica das classes dominantes do per odo e evidenciando a for ma como interesses privados constitu ram entraves para os avan os sociais 7 Perseu almejados pela classe trabalhadora Ressalta tamb m a centralidade da luta popular para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e democr tica Por estas raz es a Funda o Perseu Abramo por meio do Centro Ser gio Buarque de Holanda juntamente com a Editora Express o Popular su gerem aos militantes envolvidos na luta pela Reforma Pol tica a leitura destes artigos e discursos selecionados para subsidiar os debates sobre nosso siste ma pol tico sobre a necessidade de uma constituinte exclusiva que represente a sociedade de maneira equ nime e principalmente pelo empoderamento popular
169. arlamentarismo ter de conviver com essa fonte permanente de deforma o e esvaziamento O que pode conden lo desde j ao desequil brio pol tico cont nuo e malforma o cong nita As classes burguesas servem se das riquezas materiais e humanas do pa s como se fossem o equivalente hist rico dos pa ses imperialistas Puse ram de lado a revolu o nacional com a descoloniza o efetiva a revolu o democr tica e todas as reformas sociais inerentes ao capitalismo Sob esse aspecto a ditadura tem sido um bode expiat rio Ela serviu de instrumentos a duas cobi as entranhadas uma que procede explora o externa outra que nasce e se multiplica a partir de dentro de uma burguesia predat ria antissocial antinacionalista e antidemocr tica A fun o desta ANC consistia em definir um novo ponto de partida que pusesse fim a esse estado de coisas No entanto as classes burguesas penetraram aqui em massa atrav s ou por cima dos partidos e com a colabora o persistente do governo impediram que a Constitui o correspondesse supera o do passado e do presente e cria o daquele novo ponto de partida hist rico e resistem at s conquistas menores feitas com muito denodo por uma minoria parlamentar progressis ta reformista e revolucion ria que mal atende ao m nimo das reivindica es canalizadas atrav s de programas partid rios de projetos de Constitui o da iniciativa popular e das emendas populares
170. articular do PMDB e dos grandes eleitores os detento res daquilo que M Weber qualificava como o poder do dinheiro refor ou a asfixia do potencial dos pequenos partidos especialmente os de oposi o esquerda A iniciativa privada bancou a competi o eleitoral e colocou no Par lamento nos governos estaduais nas prefeituras nas assembleias legislativas e nas c maras municipais representantes sa dos diretamente das fileiras do capital ou solidamente aliados ou submetidos a ele Em consequ ncia a mi noria privilegiada controla quase todos os governos estaduais ou das prefeitu ras e a maioria do corpo parlamentar em todos os n veis A massa popular os trabalhadores livres e semilivres a pequena burguesia urbana e rural os estratos baixos das classes m dias ficou sub representada e com afonia pol ti co ideol gica A persist ncia prolongada do entulho autorit rio agravou essa situa o e a redu o da ANC a poder constitu do no entendimento dos outros dois poderes o Executivo e o Judici rio completou a degrada o dos partidos Por sua vez as elites econ micas culturais tecnocr ticas e pol ticas das classes dominantes exerceram suas influ ncias no seio da ANC de modo direto atravessando os partidos ou passando por cima deles Apesar disso a ANC criou um clima de tensa discuss o pol tica que modificou as rela es dos eleitores massa com os partidos liberando press es pol tica
171. as Mas esse processo de difus o n o se vinculou s atividades pol ticas propriamente ditas Estas se mantiveram margem de tais ciclos excetuando se tentativas internas ao parlamento de debate pe dag gico de tema Mesmo as entidades que se salientaram na propaga o de inova es e fortalecimento da iniciativa popular da participa o popular e da irradia o da democracia participativa nunca tentaram tomar a si uma luta acesa em prol da implanta o do parlamentarismo como alternativa ao presidencialismo O que se constatou foi um gradual crescimento do rep dio s press es do atual governo sobre a ANC para curv la vontade do Exe cutivo e o cruzamento das rea es negativas com efeitos do trauma psicol gico e pol tico provocado pela ditadura Por assim dizer a Nova Rep blica amamentou o que parecia ser o contr rio do presidencialismo e radicalizou entre pol ticos reformistas e moderados a disposi o de livrar o Brasil des sa deforma o prim ria autocr tica e desp tica do republicanismo Falou se em Republica Imperial sem se ir ao fundo da quest o correlata de saber se a Rep blica Presidencialista como forma o pol tica chegou a existir e a desenvolver se no pa s Pol ticos que possuem projetos de carreira delineados tendo em mira as elei es presidenciais desprenderam se um a um do hori zonte pol tico primordial e foram aderindo ao parlamentarismo como a sa da mais f cil a ni
172. as secundaram o que torna impratic vel utilizar o plen rio como um rg o de san o e refinamento das conquistas obtidas Em consequ ncia aquilo que a maioria parlamentar conservadora e o in fluxo do poder econ mico faziam prever desde o in cio acabou se configuran do de modo ainda mais destrutivo De novo s o as elites econ micas culturais e pol ticas das classes dominantes que trabalham a quatro m os para dar corpo a uma feroz resist ncia mudan a social construtiva Um processo constituinte que se desencadeou em um momento hist rico dram tico de crise hist rica estrutural e de conjuntura visto pela na o como o nico recurso de uma revo lu o dentro da ordem afogou ou tenta afogar esta revolu o no pantanal de uma ordem que j se tornou irrespir vel e odiosa para a maioria da popula o Todas as promessas que ele despertou est o sendo imoladas uma a uma no altar dos interesses privados da seguran a nacional e da intoler ncia dos donos do poder Isso n o o fim de tudo Mas apaga a luz de m ltiplas esperan as que associaram a constitui o altera o do estado de coisas existente Ou a atual constitui o se ver condenada a uma dura o ef mera ou as classes trabalha doras os miser veis errantes da terra os estratos mais esbulhados da pequena burguesia e da classe m dia ter o de aliar se em busca de alternativas violentas mas decisivas de revolu o social pelas quais possam
173. as dos dispositivos cons titucionais Todos os gatos acabam pardos pois prevalecem a ambival ncia e a ambiguidade das posi es que se repelem e se excluem mutuamente Em consequ ncia a filosofia pol tica que n o se definira no ponto de partida tor nou se imposs vel e impratic vel no ponto de chegada Os antagonismos de Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 236 An F classes inconcili veis poderiam dar margem a certas proposi es fundamentais convergentes voltadas para as exig ncias da situa o hist rica e para a cons tru o de uma nova sociedade civil de um novo tipo de Estado No entanto as fus es afugentaram os t nues fulgores de uma filosofia pol tica que lastre asse a Constitui o de 1988 O que quer dizer que ela nasce entrevada como um mero conglomerado de princ pios constitucionais justapostos formalmente Uma constitui o sem vida para um pa s que um barril de p lvora e no qual fermentam todas as contradi es do desenvolvimento capitalista desigual da mis ria como estilo de vida e da viol ncia institucionalizada 237 Persea ESPERAN AS AMEA ADAS A democracia liberal ou burguesa possui uma base econ mica Ela n o assenta sobre uma superestrutura pol tica e o aparelho ideol gico do Estado Ou as desigualdades econ micas sociais e culturais inerentes ao modo de produ o capitalista s o contidas dentro de certos limites com frequ ncia flex
174. as medidas de seguran a e de defesa do Estado l editadas pela ditadura em 1969 e posteriormente O que conspira contra a continuidade N o s o a CNBB a CPT a CUT o PT o PCdoB e o PCB etc um elenco tem vel da perspectiva conservadora tradicionalista e que abrange outras entidades que julguei in til enumerar O que conspira contra a continuidade a forma e o grau do desenvolvimento Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 228 An F capitalista no Brasil de hoje a diferencia o do regime de classe e a univer salidade e a intensidade da luta de classes o caos e as crises que estamos enfrentando em todas as esferas da vida a ilegitimidade a incompet ncia e a fraqueza da Nova Rep blica etc Os fatos atropelam as leis N o h como defender a ordem sem alter la profundamente nas mais variadas dire es e em um sentido democr tico Sentido democr tico que quer dizer modificar em profundidade as rela es dos oprimidos e dos exclu dos com o poder isto com a organiza o e o funcionamento da sociedade civil e do Estado Os de cima t m de partilhar o poder com os de baixo por mais que os considerem companhias indesej veis n o confi veis e perigosas Em suma a ruptura e o emblema que caracteriza a Constitui o que ser elaborada Entenda se bem essa ruptura acima de tudo uma exig ncia hist rica e sociol gica da realidade dos nossos dias e dos anos
175. as populares A mesma camisa de for a serve para todos Ao perderem se nos meandros da falsa pol tica e ao soterrarem os seus pr prios ritmos hist ricos de desenvolvi mento de classe as classes burguesas nivelam por baixo os ritmos hist ricos 17 Perseu das outras classes e em particular das classes oper rias e inviabilizam o surto do radicalismo burgu s na sociedade brasileira como um todo Transfe re o que mais s rio na vida pol tica de uma na o nova e estuante para um multiforme campo pantanoso de arranjos desmoralizantes e escabrosos que d o vaz o natureza tragic mica de sua esterilidade criativa Nesse sentido dif cil escapar fatuidade do pol tico em tais circunst ncias e ao teor tosco de uma rusticidade incompat vel com a estrutura e o funcionamento de um Estado burgu s moderno racional O contraponto desse rid culo autocomplacente e exuberante procede da outra face da moeda Os interesses fomentam a febre por posi es o cons tantemente renovado assalto aos castelos do poder Mesmo os que falam em valores e em ideais pol ticos se enredam na luta mais tosca e constrangedora por meras posi es A pol tica n o um meio racional de tomar consci ncia e resolver problemas coletivos Os partidos n o constituem um meio para ratear o poder pol tico institucionalizado entre estratos mais ou menos poderosos das classes dominantes As institui es governamentais n o s o meios para efetivar pr t
176. aspecto a Comiss o de Sistema tiza o n o pode ser acusada de nada Ela foi at corajosa segurando o carro nas marchas e aparando as arestas do pr prio radicalismo burgu s Dois exemplos s o esclarecedores Escolho os porque tive parte pessoal no seu desenrolar Das quatro emendas de minha autoria que lograram che gar Comiss o de Sistematiza o duas foram aprovadas a que dizia respeito gratifica o como abono de Natal aos idosos e relativa s rela es de pes quisa b sica e pesquisa tecnol gica com a conceitua o de ambas e do papel do Estado em sua promo o Duas emendas foram rejeitadas A que tinha por objeto conferir ao Congresso a atribui o que atualmente cabe ao Executivo de concess o dos canais de r dio e televis o com a assessoria de um Conselho de Comunica o Votaram contra 56 constituintes a favor 25 constituintes e se absteve um A outra emenda pretendia restabelecer o princ pio republicano de exclusividade das verbas p blicas para as escolas p blicas Votaram contra 57 constituintes a favor somente 27 menos que a metade e n o se registrou absten o Os dois exemplos s o t picos Eles assinalam a predomin ncia das prerrogativas da iniciativa privada e o endosso das formas de corrup o vi gentes nas concess es dos canais Primeiro o capitalismo depois o respeito coisa p blica Ora a televis o tornou se um Estado dentro do Estado uma escola acima das escolas e uma for
177. associa es patronais e do Estado o seu campo de batalha principal Primeiro as elei es sofreram o impacto com intensidade m xima do seu poder econ mico Segundo os candidatos fi is foram selecionados de modo a engordar as fileiras dos dois partidos da ordem que articulavam a Alian a Democr tica e se apresentavam como os paladinos de mudan as econ mi cas sociais culturais e pol ticas destitu das de teor revolucion rio Essa r pida evolu o fortaleceu direta e indiretamente o fechamento da sociedade civil s inova es profundas e s reformas estruturais refor ando a sua ess ncia de uma sociedade civil burguesa n o civilizada e estanque De ou tro lado manteve os partidos pol ticos burgueses estreitamente subordinados aos interesses e valores das classes sociais dominantes As elites desses partidos tiveram de fazer muita gin stica intelectual para compatibilizar a simula o de que patrocinariam as mudan as estruturais proibidas s expectativas pol ticas arraigadas de suas massas eleitorais processo que afetou mais drasticamente o PMDB que possu a a aur ola de partido de oposi o Por fim reduziu a liber dade dos pol ticos profissionais ou provocou a sua substitui o por agentes dos interesses e valores da iniciativa privada empres rios de diversos setores ou por intermedi rios d ceis suscet veis de manipula o f cil oculta e disciplinada No conjunto pois houve um retrocesso prov
178. ates e entrevistas com pol ticos de oposi o s o proibidos contratos de publicidade s o cance lados tudo para dificultar o acesso do povo a informa es indispens veis para que possa icipar da de fini o do futuro do Pair Por ou tro lado bastante sens vel a falta de agilidade na circula o de infor ma es sobre a Constituinte tanto no interior do partido como no conjunto dos movimentos sociais Diante desse quadro a Bancada do PT na Constituinte decidiu lan ar esse boletim informativo cujo objetivo divulgar not cias sobre a feitura da nova Constitui o e mais particularmente sobre o papel de sempenhado pelos resentantes do PT nesse processo O PT Consti tuinte elaborado pela Assessoria de Co da Lideran a do PT na Constituinte e dirige se basi camente aos militantes do partido atrav s de todos os seus diret nos en parlamentares sindicatos e entidades representutivas do movi mento popular Pretendemos assim cobrir uma antiga lacuna somar esfor os no sentido de preservar o direito informa o um boletim pequeno A de i ci ncia de informa es sem d vi da muito maior Mas mesmo em nosso modesto tamanho Inicial acreditamos que ajudaremos a escla recer alguns t picos Dos leitores esperamos a contribui o no senti do de estender o acesso s informa es deste boletim a outras pessoas e entidades Assim estaremos con tribuindo para ampliar a
179. atisfeitos realmente concorda com as solu es propostas Foram atirados aqui na porta do Parlamento depois jogados em uma habita o coletiva sem nenhum conforto Ningu m perguntou a essas pessoas se desejavam esse tipo de solu o Ningu m desejaria essa solu o porque a n o h solu o alguma tocar o problema com a barriga mas com a barriga dos outros converter o cidad o pobre despossu do oprimido em objeto quando na verdade ele um ser humano um agente humano um agente hist rico e deve ter a pos sibilidade de ser informado a respeito das solu es propostas das solu es alternativas e de dizer quais s o as escolhas que prefere N o se trata de tanger a massa da popula o como gado mas de saber se as solu es conv m se s o desejadas se correspondem quilo que a massa do povo deseja e se h uma resposta efetiva para os problemas que surgem nessa rea O exemplo que escolhi ocorrido em Bras lia poderia ser estendido a muitas outras quest es 143 Perseu O Sr Arnaldo Faria de S Permite me V Exa um aparte O SR FLORESTAN FERNANDES Com muito prazer O Sr Arnaldo Faria de S Acho que este pa s realmente est esquecido do que todos os aposentados fizeram e representaram para o Brasil durante todo o tempo deixando o seu suor l grimas e alguns at parte de seu cor po No entanto o atual ministro est preocupado em comprar apartamento para maraj s em comp
180. bater se duramente para ir al m e lograr duas coisas 1 impe dir que a Constitui o se convertesse em seus aspectos mais promissores em letra morta como da tradi o brasileira e latino americana 2 fazer com que a fermenta o em processo na sociedade civil continue se amplie e se aprofun de de modo a inaugurar uma era de reformas sociais dentro do capitalismo e de cavar o solo hist rico prop cio acelera o da luta de classes e a passagem do reformismo dentro da ordem revolu o socialista Esse resumo cont m tudo o que essencial Os vision rios d o gran des saltos hist ricos mas cerebrinos A t tica de levar a luta de classes para o Parlamento era a nica poss vel e deu resultados que podem ser avaliados pela rea o burguesa O movimento burgu s n o se agita toa quer extirpar da Constitui o o que ela proporciona aos trabalhadores como espa o pol tico institucional para que eles possam travar a luta de classes com outros objeti vos e segundo outras tarefas hist ricas Cabe ao movimento oper rio replicar deter e anular o movimento burgu s mantendo na carta constitucional aquilo que n o foi concedido gra as boa vontade e colabora o da classe A prova de que esta n o existe est na histeria do movimento burgu s e dos trunfos que ele lan a dentro da ANC atrav s de suas entidades de classes antigas e recentes de seus representantes pol ticos de seus partidos do Centr o do gove
181. breve n o poder o ser enfrentados e resolvidos atrav s do uso puro e simples da repres s o policial militar e da opress o pol tica Portanto a hist ria caminha segundo ritmos cuja cad ncia se modifica em frequ ncia No conjunto contudo desvenda se que os donos do poder perdem terreno e ajudam com sua prepot ncia com seu ego smo com sua viseira estreita o crescimento de um vasto e forte campo de oposi o centra do no rep dio da ordem existente e na organiza o do poder popular Erige se assim uma moldura hist rica desconhecida Dentro dela as chamadas for as da ordem e a autocracia burguesa contar o com menor espa o pol tico para manobrar impor se e perpetuar se Isso desnuda a realidade que come amos a viver O potencial inovador e democr tico da Constitui o cair em m os vidas em utilizar a liberdade para gerar no Brasil transforma es estruturais profundas que tirar o do limbo os que v m sendo pisoteados desde o per odo colonial at a Nova Rep blica A Hist ria como fa anha da liberdade delineia se no horizonte e paradoxalmente a vit ria do mandato ajuda a tec la Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 250 An F O NOVO PARTIDO Por fim o setor esquerda dentro do PMDB descolou se da matriz e assumiu a sua face Os melhores companheiros que tivemos dentro da As sembleia Nacional Constituinte romperam com a ilus o da
182. burguesia repeliu a Rep blica democr tica Lutou com unhas e dentes pela Rep blica autocr tica de baixo que vem a exig ncia hist rica de uma Rep blica democr tica a servi o de todos como instrumento da extin o da fome da mis ria da ignor ncia da viol ncia institucionalizada alicerces dos privil gios daquela m nima minoria Somos os arautos dessa nova mensagem dos humildes dos oprimidos dos trabalhadores em rebeli o A na o que deveria ter nascido em 1822 poder nascer agora E a ela cabe assumir o comando do Estado para que a revolu o democr tica ligue todos os tempos hist ricos que v o do subcapitalismo ao capitalismo e ao socialismo Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 38 An F LUTA DE CLASSES E SOCIALISMO PROLET RIO Em artigo anterior A cabe a do trabalhador comentei alguns dos aspectos do inqu rito realizado pelo N cleo do PT dos Metal rgicos dos Pl sticos dos Qu micos da Zona Sul Os resultados n o corresponderam s esperan as e aos sonhos dos ativistas que pretendiam descobrir um pon to de apoio concreto para ultrapassar o imediatismo eleitoreiro das nossas campanhas pol ticas inclusive a atual Um sindicalismo calejado por lutas prolongadas anos a fio e desejoso de retirar o movimento das classes traba lhadoras do politicismo e do eleitoralismo da burguesia v se impulsionado a sair da rbita estreita da reprodu o e fortalecim
183. c ficas cuja transgress o deveria estar sujeita penaliza o a san es punitivas N O BASTA MELHORAR A SOCIEDADE DE CLASSE E PRECISO EXTINGUI LA Esse o aspecto no qual a liga o entre o proletariado e a reforma social decorre do grau maior ou menor de avan o democr tico da Constitui o e que permite justificar o envolvimento do trabalhador em seu apoio em termos do desencadeamento de uma revolu o democr tica O outro aspecto que ligaria reforma e revolu o em mbito propriamente socialista depende do cresci mento do poder real dos prolet rios de suas organiza es sindicais culturais e partid rias no seio da sociedade civil claro que a Constitui o em qualquer sociedade capitalista s legitima essa rela o enquanto ela for instrumental para o desenvolvimento capitalista ou no m ximo para a reforma capitalista do capitalismo algo que atualmente apenas os social democratas endossam e desejam Os que se identificam com o socialismo prolet rio t m de ir mais longe e acabam perdendo por isso as garantias e liberdades asseguradas constitucionalmente como inimigos internos passam a ser estigmatizados e perseguidos Ainda assim uma constitui o autenticamente democr tica aceita e legitima e por consequ ncia protege o florescimento do socialismo prolet rio pelo menos enquanto ele n o se toma uma amea a ordem legal Essas constata es indicam que os oper rios cutistas e peti
184. ca que a revolu o democr tica e a revolu o nacional sempre preteridas pelas elites e das classes dominantes juntamente com outras transforma es capi talistas como a revolu o urbana e a reforma agr ria est o eclodindo e n o podem ser detidas A Constitui o tem de responder s exig ncias hist ricas que se colocam a partir dessa realidade Esta que vamos elaborar n o se trata de uma Carta institucional para organizar o estado in abstracto mas que deve reformular a organiza o do Estado e adapt lo a uma sociedade capitalista diferente na qual a luta de classe se tornou vis vel nos dois polos Quando os donos da terra e os empres rios fazem o que fizeram e o governo se curva quando os oper rios ainda sob a ditadura se levantam e d o brado de revolta c vica contra leis arbitr rias e o Estado se curva isso significa que a guerra civil um elemento potencial a ser considerado Es tamos portanto em uma situa o extrema A nossa burguesia ganhou uma oportunidade hist rica nova e torna se estranho que eu marxista venha aqui defender a validade de uma constitui o burguesa e a sua renova o Mas esses s o os fatos hist ricos da nossa evolu o e de fatos inexor veis n o h como fugir Esta oportunidade hist rica nos obriga a pensar naquelas transforma es que s o exigidas pelos oper rios pela massa dos miser veis da terra pela pequena burguesia enraivecida pelos setores de classe
185. ca ao alcance de suas m os Para n o sermos v timas de um novo Behemoth precisamos reverter o custo da caminhada A monarquia e a rep blica parlamentares exigem certas premissas hist ricas inexistentes em nossa sociedade civil A primeira ilus o a ser eliminada diz respeito cren a de que a viol ncia institucional um monop lio do presidencialismo a la Sul Americana Os que estudaram a hist ria das institui es pol ticas na Europa e no Jap o sabem muito bem que o parlamentarismo n o impede golpes de estado e que dadas certas condi es externas do Estado ele pode ser instrumental de forma ocasional ou prolongada seja para a exist ncia da tirania seja para o uso concentrado da viol ncia inclusive da viol ncia pol tica e militarizada O medo dos militares 171 Perseu n o pode estar na raiz da implanta o de um sistema de governo isso seria infantil e no nosso caso extravagante Os militares inclu ram na Constitui o em elabora o o que quiseram N o houve na subcomiss o e na comiss o tem tica respectivas e na Comiss o de Sistematiza o maiorias dispostas a cont los e a coloc los em seu lugar Portanto a base burocr tica e tecnocr tica mais forte e organizada da rep blica parlamentarista nascente a militar Eles est o no topo e depende exclusivamente deles sentar ou n o os pol ticos sobre as pontas de suas baionetas As premissas hist ricas do parlamentarismo dizem respeito a
186. castrar cas tra milh es de seres humanos em seu vir a ser e o sonho de libera o dos oprimidos e de supera o da pobreza pela via mais f cil do entendimento democr tico No fim do s culo XX n o est ao nosso alcance realizar o que os Estados Unidos tamb m uma na o de origem colonial conquistou no in cio do ltimo quartel do s culo XVIII O poder econ mico cassou o mandato dos melhores representantes da burguesia e afastou do Parlamento seus melhores aliados radicais ou de es querda Triunfou um provincianismo obscurantista de aldeia contra as es peran as e as necessidades de uma na o moderna Na resist ncia mudan a Pasquim S o Paulo 24 11 a 18 12 1986 37 Pen ft social revolucion ria os estratos mais poderosos das classes burguesas em seus ramos nacionais e estrangeiros puseram em primeiro lugar a iniciativa privada e a propriedade privada isto o lucro quase na condi o de uma entidade divina e refizeram a velha rota que levou trai o da Rep blica em 1889 trai o da Alian a Liberal em 1930 trai o da Constitui o de 1946 e trai o de uma experi ncia promissora de democracia de participa o ampliada nos come os da d cada de 1960 O que nos resta fazer Lutar contra esse despotismo sem esclarecimen to no estreito campo de batalha que fica aberto aos cidad os mais firmes e decididos N s os que fomos escolhidos pelos mais humilde
187. ce como aterradora Desvenda o que o PMDB at ao fundo e coloca a na o diante de uma desilus o atroz porque a maioria do PMDB era e essencial para o salto democr tico que nos levaria s reformas e s revolu es burguesas que n o se concretizaram at hoje Muitos dos meus colegas dir o que ainda enfrentaremos uma longa ca minhada Eu respondo que temos de reagir j ou nunca A pervers o do pro cesso constituinte vem de longe dos primeiros dias Presidentes e Relatores de Subcomiss es e de Comiss es distribu dos proporcionalmente e indicados pelos l deres como se a condi o de Constituinte n o nos nivelasse e conver tesse cada divis o em uma pilhagem do partido majorit rio o PMDB e em uma concess o de m vontade ao PFL As bandeiras dos partidos ergueram se como muros que separam e isolam os Constituintes O princ pio de lideran a foi posto em pr tica como se a ANC fosse a reprodu o simplificada do Sena do e da C mara A Sra Dirce Tutu Quadros Permite V Exa um aparte nobre Consti tuinte Florestan Fernandes O SR FLORESTAN FERNANDES Darei o aparte a V Exa logo que concluir o meu racioc nio porque a minha exposi o curta e teremos tempo para um debate Os interesses econ micos particulares predominaram de ponta a ponta anulando os partidos ou convertendo os em instrumentos para atingir fins por vezes antinacionais e antissociais mas sempre negadores de um processo constituinte democ
188. cer e define como os donos do poder per cebem e manipulam a ANC N o h respeito por esta entidade e a pr pria Constitui o concebida como um meio para definir e defender interesses particularistas Criticou se muito a UDR e com carradas de raz o Mas os propriet rios agr rios formaram abertamente os seus bandos armados pro clamaram a que vinham e correram os riscos do enfrentamento com o go verno e com os trabalhadores das terras e suas organiza es corporativas A UDR um acinte por m o Estado poderia enfrent la se fosse um Estado democr tico J na Comiss o da Fam lia da Educa o Cultura e Esportes da Ci ncia e Tecnologia e da Comunica o os interesses se manifestaram e se atritaram sub rosa ocultamente os que pretendiam assaltar a na o se pro tegiam sob o anonimato e a impunidade do seu poder Para conhecer as ra mifica es de suas opera es seria preciso realizar inqu ritos especiais que dificilmente atingiriam os respons veis reais O m ximo de visibilidade apa recia nos entendimentos de certos figur es entre si no plen rio da comiss o nas ordens e comandos que certo personagem da ABERT transmitia den tro daquele mesmo plen rio a determinados constituintes nas conversa es de pessoas interpostas e de mandachuvas com constituintes ou chefetes do PMDB e do PFL na irrita o de constituintes empenhados em resguardar arranjos amea ados pela resist ncia de companheiros dotados de esp ri
189. ciais prevalecem na cena hist ri ca Primeiro a crise burguesa que imp s o golpe de Estado de 1964 e a im planta o da ditadura civil militar aumentou ramificou se e aprofundou se A esperan a voltou se para uma constitui o que garantisse a consolida o e o aperfei oamento de um Estado de seguran a nacional menos ostensivo que o atual No entanto a hegemonia conservadora foi bastante forte para Folha de S Paulo 19 8 1988 273 Pen ft restringir o alcance libert rio e democr tico da Constitui o Por m n o t o potente a ponto de amoldar a Constitui o aos requisitos jur dicos e pol ticos daquele tipo de Estado burgu s ideal para os que dirigem a periferia do mun do capitalista Segundo a concilia o deu frutos diretos e multiplicadores Permitiu que a ditadura se dissolvesse na Nova Rep blica preservando sua ordem ilegal e institucional abriu caminho para uma pseudolegitima o da elei o de Tancredo Neves pelo col gio eleitoral e para que o vice escolhido assumisse os pap is de presidente bi nico conferiu aos militares cobertura para orientar e regular a liberaliza o progressiva favoreceu a composi o de uma Assembleia Nacional Constituinte com fun es de congresso e de inibidor das impuls es renovadoras provindas das camadas populares e das entidades democr ticas da sociedade civil Ao contr rio do que sucedeu com a crise a base econ mica social e pol tica da concilia o
190. circunstancialmente vida longa ou breve N o obstante nada poder su 263 Pen ft prir a sua g nese prec ria Nesse caldo de cultura ou melhor de aus ncia de cultura c vica o governo mete o seu arsenal b lico e o seu aparato de copa e cozinha A tramita o foi assim desde o come o dir o os bem informados e os mais cr ticos fato Conhe o v rios exemplos que atestam a interfer n cia ind bita e negativa por experi ncia direta A apoteose final entretanto ultrapassa todos os limites O governo for a a m o para que a Constitui o seja na forma e no conte do uma constitui o do Estado de transi o N o poderia ser de outro jeito Mas isso coloca essa Constitui o no mesmo n vel das constitui es de 1967 e de 1969 manipuladas ou impostas de cima para baixo pelos ditadores militares H diferen as e agudas Dadas as propor es e a gravidade das interfer ncias sistem ticas elas s o apenas diferen as de grau n o de natureza Foi transferida para outra data a elabora o de uma constitui o com v nculos org nicos com a vontade popular e com interesses de classes contradit rios sem os quais impratic vel a instaura o de uma democracia burguesa ampliada aberta pluralista e din mica Essa a contri bui o do governo sem a qual os constituintes independentes da esquerda ou n o se arranjariam melhor nas tarefas de per si dific limas que devem desempenhar em um spero mund
191. civil Ele o seu produto org nico mais complexo que interage com ela em tais bases que acaba sen do o nico capaz de modific la em sua morfologia e dinamismos a m dio e a longo prazos A sociedade civil pelo tope fez com a ANC o mesmo que fizera anteriormente com o governo Esmagou a diante da parede ou cede uma constitui o pseudodemocr tica ou se ver ridicularizada e asfixiada O Centr o com sua ostenta o falsa de centrismo conservador responde como um cavalo de Tr ia desmontagem externa plantada na sociedade civil Delineia se assim uma conspira o mais sutil que as duas de 1964 a de 1968 e especialmente a de 1984 1985 esbo ando se um crime pol ti co arquitetado pelas classes que deveriam estar mais empenhadas em uma verdadeira transi o democr tica r pida e em um s lido salto inovador na dire o do futuro Qual em tais condi es hist ricas a perspectiva do governo Sar ney Nenhuma Ele n o pode e n o pretende bater se com os seus pares de Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 194 An F classe de cultura e de ideal de vida como o comprovou reiteradamente Favoreceu os sempre quaisquer que fossem os custos psicol gicos econ mi cos e sociais para a na o De outro lado favorece se a si pr prio na mesma escala pois n o seria digno de um cavalheiro ou de um campe o desmerecer o c digo de honra de sua grei O nosso Poder Judic
192. co sem uma forte polaridade oper ria se debilitar convertendo se sinuosamente como na Europa em entrave revolu o pelo socialismo Isso significa que a funda o do novo partido um acontecimento ir relevante bvio que n o Ele chega a ser um acontecimento pol tico com par vel em import ncia liberaliza o progressiva sob a ditadura imposta de baixo para cima gra as aos movimentos de oposi o na sociedade civil e decomposi o da Alian a Democr tica da qual ele um desdobramento final Mostra que a sociedade civil tolhida em seus anseios renovadores pela Nova Rep blica e pelo pacto conservador que se mant m intacto entrou em convuls o social Quem acompanhou como eu tive a oportunidade de faz lo os dramas morais e pol ticos que marcaram a decomposi o do PMDB sabe que o aparecimento do PSDB inicia uma nova era na qual a parte mais cons ciente da pequena burguesia e os estratos mais radicais das classes m dias se recusam s trai es t picas do farisa smo pol tico imperante Sem dissociar se decididamente do tope recusam se a ser parceiros passivos e agentes de manobra junto s massas eleitorais A crise veio de baixo para cima da socie dade para o PMDB embora os figurantes pensem o contr rio Por isso a data 253 Pen ft representa um golpe nas elites mais ardilosas das classes sociais dominantes e na tradi o da concilia o pelo alto O painel da esquer
193. compe ti o eleitoral Ele representa o ideal consagrado do desempenho pol tico Em consequ ncia a tend ncia espont nea foi no sentido de subordinar a ANC ao modo tradicional de organizar suas realiza es institucionais e de induzir o constituinte a comportar se como se fosse um legislador exercendo um papel adicional emendar velhas constitui es ou submeter se revis o constitu cional O primeiro regimento que poderia contribuir para dar prioridade ao processo constituinte foi desaprovado pela maioria e abolido Essa situa o muito favor vel s classes dominantes e prepot ncia dos demais poderes o Executivo o Judici rio e o Militar A Constitui o nascente mant m se presa ordem existente e corresponde ao que e esperado de um parlamento bem comportado Poder se ia dizer a Constitui o uma colagem Onde os mortos n o governam os vivos os vivos imitam o legado de v rias constitui es cl ssicas ou modernas Onde o Brasil comparece de corpo e alma o que prevalece s o as composi es que d o primazia iniciativa privada colabora o com o capital estrangeiro e privatiza o do p blico o que permite tanto a sobreviv ncia de privil gios arcaicos nos quadros do Estado quanto a concep o superada de que uma boa constitui o configura se como uma carta de organiza o do Estado Os constituintes n o se empenharam em debates preliminares sobre o car ter da Constitui
194. constitucio nais org nicos N o advogavam utopias Aderiram imagina o legislativa e ao imediatismo pol tico esperando que as solu es brotassem do processo que esperavam n o se afastaria da tradi o constitucionalista brasileira Ou seja encaminharam tudo na dire o do acerto e erro ocasionais supondo que chegariam sem maiores perturba es a uma constitui o avan ada e in cua Ora o pa s fora galvanizado pelo rancor ditadura pela campa nha das Diretas j pelas esperan as incentivadas pelas promessas eleitorais dos candidatos a constituintes do PMDB e de outros partidos da ordem De repente as massas d o de cara com o reverso da medalha ainda sob o fogo cruzado das entidades civis que lutavam pela participa o popular e pelas emendas populares Esse contraste assustou as classes dominantes e elas pas saram como tratores por cima daqueles partidos usando os como um ar ete A pugna se concentrou na continuidade do monop lio do poder contra as esperan as da massa da popula o equivocada a respeito do que a ANC re presenta na conjuntura hist rica como poder vol til e impotente Os v rios poderes constitu dos sufocaram o processo constituinte e re duziram o seu espa o criativo acompanhando pari passu a evolu o dos v rios estratos das classes dominantes Organizaram se para resistir s inova es e especialmente produ o de uma constitui o necess ria no aqui e no
195. contra os 60 atuais Al m disso Minas e Rio de Janeiro logo poder o ter mais de 60 deputados Mas deputados dos estados maiaren permana depu maiores permanecer a despropor o entre as representa es por estado ficando as dos estados meiores subdimensionadas A proposta mais importante era a estrutura do tribunal constitucionsl e ela n o vingou Em todo caso o novo papel do STF cria certas condi es para que as constitucionais relativas sos direitos fundamentais sejam tratadas com maior cuidado A privatiza o dos cart rios n o s fol mantida como foi ampliada O mais grave de tudo isso que o Poder P blico ficou litersimente proibido de exercer diretamente esse servi o p blico essencial que ficar inteiramente sob controle de porticulares O Conselho da Rep blica aceit vel Mas o Conselho de Defesa representa a continuidade do atual CSN j que ter uma presen a muito grande dos ministros militares e estabelece atribui es permanentes de defesa nacional Preocupa ainda o fato de ter sido remetida loi complementar a regulamenta o do funcionamento e compet ncias deste Conselho A aprova o do estado de defesa representa a tentativa de perpetua o do instrumental repressivo herdado da ditadura O estado de defesa profundamente anti democr tico e substitui com pequenas altera es os atuais estado de emerg ncia e medidas de emerg ncia Novas Perspectivas FLORESTAN FE
196. cracia relativamente domesticada e facilmente convers vel em Estado de Seguran a Nacional No plano ideol gico residia um condicionamento vari vel mas que se prendia no essencial defesa dos valores burgueses da concep o de liberdade Folha de S Paulo 12 9 1988 277 Persea ao conceito formal de igualdade perante a lei preemin ncia da proprieda de privada da livre iniciativa e de um Estado instrumental para ambas Os social democratas os socialistas e os comunistas tentaram ultrapassar esses limites Inutilmente diga se de vez uma bizarra ilus o de alguns grupos de esquerda principalmente dentro do PT e da CUT ignorar o abc da de mocracia burguesa e suas peculiaridades em na es capitalistas perif ricas onde n o se enraizaram objetiva es s lidas de rebeli o burguesa ao sistema capitalista mundial de poder O nacionalismo epid rmico da Constitui o ainda assim desagradou a alta burguesia em todos os setores e irritou as multinacionais e os governos de seus pa ses Em resumo coube nos uma constitui o burguesa conservadora com m ltiplos arranques no sentido da moderniza o da ordem social competi tiva imperante A fragmenta o das classes e fac es de classes da burguesia imprimiu Constitui o o car ter de uma colcha de retalhos O capitalis mo monopolista engendrou muitos problemas existenciais para os estratos m dios que perderam prest gio ou seja viram se rebaixados
197. cultura industrial de massa in cluindo se a televis o e o r dio despejam sobre n s uma catadupa de dados e de mat rias S nos limites de discuss es mais elaboradas e segundo o crit rio do efeito psicol gico de choque sobre o leitor BNDES mostra que refor ma agr ria concentrou a renda Oscar Valporto Jornal do Brasil 04 10 1987 DIEESE j prev o sucateamento das ind strias Correio Braziliense 04 1 1987 Pih questiona governo e l deres empresariais Boris Casoy Cl udio Weber Abramo e Matinas Suzuki Jr Folha de S Paulo 04 10 1987 Esse rol poderia ser estendido em termos multiplicadores mas n o tenho a inten o de ser exaustivo A est o tr s temas explosivos Luta se pela reforma agr ria ela gera efeitos perversos e os cientistas sociais j sabem por que v rios projetos s o idealizados para conduzir degenera o do processo Embarca mos na ilus o do milagre mas ficou algo palp vel um parque industrial em crescimento e diferencia o Um economista com a compet ncia o prest gio e a retid o de Walter Barelli p e as coisas no lugar e mostra que o estrangulamento da classe oper ria n o acelera o desenvolvimento capitalista amea a engen drar a regress o econ mica Por fim o empres rio do PT afirma que n o petista nem militante nem contribuinte Ele toma posi es inteligentes diante do PT n o por causa de uma face humana excepcional por m
198. curiosa contradi o a hegemonia de classe e a hegemonia de partido esfarelam se antes de se converterem em for a pol tica real Isso desenha uma curiosa situa o hist rica A Constitui o menos importante que a domina o direta de classe e o uso do Estado como uma arma de ataque e de defesa nas rela es com os oprimidos e com as clas ses trabalhadoras N o pode haver Constitui o e projeto de Constitui o porque n o h promessa prevalece o impulso e o apego repress o Sem resolver o problema principal suas rela es com o imperialismo e sua debi lidade org nica diante dele com as multinacionais crescendo por dentro da sociedade brasileira transformada em fronteira do centro imperial as classes dominantes nada t m a oferecer ou domina o ou caos O que fazer diante da mis ria O que fazer com o desemprego crescente O quefazer com o papel das For as Armadas O que fazer com a propriedade a iniciativa privada e o Estado A sociedade civil por sua mesma organiza o capitalista erige se em uma fonte de amea as O Estado por sua mesma organiza o capitalista erige se em um fortim mas como confiar nele se ele sofre um gigantismo incontrol vel necess rio acumula o capitalista O conservantismo o ni co ponto seguro Mas ele dan a sobre si mesmo se at as institui es chave como a fam lia a igreja e a escola revoltam se contra a ordem existente por causa do conservantismo de sua
199. custas do que a na o deveria investir na civiliza o da sociedade civil universaliza o do ensino do emprego da sa de da moradia de um padr o de vida decente supress o da fome etc Seria procedente uma compara o Inquinou se de corporativismo algumas medi das de prote o do trabalhador estabilidade f rias em dobro quarenta horas semanais por m n o corporativismo manter na Constitui o privil gios estamentais relativos a magistrados e outras categorias de altos funcion rios E at onde se inovou esclarecendo que parlamentares e magistrados estar o su jeitos ao imposto de renda n o ficou expl cita a incid ncia sobre os militares Esses exemplos foram escolhidos ao acaso Eles demonstraram que a maioria dos constituintes de 1987 participa da mentalidade que sempre imperou dentro do parlamento brasileiro desde a sua funda o que reduz a Constitui o a uma carta magna dos privilegiados para os privilegiados qualquer que seja a ret rica democr tica A iniciativa popular se agregou s pr ticas recentes do Parlamento Mas n o modificou a ess ncia do comporta mento parlamentar A maioria dos que decidem volta as costas democracia Trata se de algo arraigado e que cria um abismo entre o poder constituinte e sua miss o democratizadora Tamb m contamos entre n s com os paladinos da democracia N o obstante ou se integram minoria parlamentar que tem de negociar a duras
200. da voltada para o futuro a independ ncia e a revolu o democr tica e os constituintes devotados s mesmas causas e pertencentes a partidos ou fac es de partido que defendem denodadamente tais bandeiras natural e espont neo Ele planta o processo constituinte em seu solo hist rico e dirige as for as sociais da imensa maioria no sentido de converter o Brasil em senhor de seu destino e de seu querer coletivo Configura se assim o que significam as elei es Diretas j numa constela o hist rica na qual se desenrola um processo constituinte constran gido mas que pode se emancipar Acima de todos os debates elas represen tam a presen a da massa do povo na revitaliza o do processo constituinte e simultaneamente na gesta o das premissas hist ricas sem as quais uma revolu o democr tica nunca passar de uma miragem Urge n o recair nos erros do passado N o permitir por todos os meios poss veis inclusive o da desobedi ncia civil organizada e o do emprego da contraviol ncia que os de cima forjem um novo pacto sagrado de salva o nacional de concilia o Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 220 An F conservadora para o qual est o avan ando de modo ostensivo Ou se espre me o fur nculo ou se aguenta a sua perman ncia e agravamento Chegou a hora de espremer o fur nculo de tentar pela primeira vez em nossa hist ria uma elei o decisiva e de a
201. da Uni o Brasileira de Empres rios pelo Correio Braziliense 06 11 1987 Todos os setores empresariais se coligaram na mesma luta sagrada ou a Constituinte obedece ao imp rio do poder econ mi co ou o pa s se tornar invi vell Trata se de um reacionarismo empederni do de uma demonstra o coletiva de resist ncia mudan a inacredit vel Na verdade o Congresso Constituinte teria se extraviado arriscando se mal di o dos paladinos de uma defesa cega da iniciativa privada Ningu m notou que a nossa Constitui o em elabora o uma Carta de privilegiados para privilegiados tampouco ningu m ousou dizer que a iniciativa privada para ser forte precisa submeter se a normas de uma economia capitalista din mi ca e de uma sociedade civil democr tica dentro dos padr es da democracia burguesa Roberto Lopes enumera na Folha de S Paulo 08 11 1987 o que os empres rios cruzados pretendem eliminar da futura Constitui o Em pres rios querem mudar 14 itens do texto de Cabral Pura e simplesmente querem jogar na lata de lixo as nicas medidas que passaram distorcidas nos embates da Comiss o de Sistematiza o que favorecem os assalariados e que portanto prejudicam as empresas e sua viabilidade econ mica Omi tiram a avalancha de medidas que v o em sentido contr rio e indicam que no Brasil a democracia n o poder vicejar pela via constitucional Restabeleceu se a unifica o pel
202. da expl cita e organizada ficou mais diferenciado extenso e flex vel Os conservadores renitentes foram apanhados de surpresa por essa evolu o que n o drenou os radicais e progressistas das hostes burguesas para partidos estigmatizados mas os animou a fundar uma entida de partid ria pr pria O arco hist rico de alian as pol ticas na esquerda enri queceu se e o centro burgu s din mico tomou se um n cleo de radicaliza o pol tica e de reforma social Tudo isso desemboca em um salto qualitativo quaisquer que sejam as promessas que os fundadores do PSDB proclamem Boa sorte Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica Florestan Fernandes 254 CONSTITUI O A PERSPECTIVA DOS TRABALHADORES A base social do modo de produ o capitalista est no regime de clas ses Portanto imposs vel atingir para modificar ou extinguir o modo de produ o capitalista sem tocar mais ou menos profundamente no regime de classes sociais Isso t o verdadeiro que os empres rios e suas entidades corporativas agiram coletivamente 1 para impedir uma passagem abrupta da ditadura militar para um governo democr tico 2 para que se convocasse n o uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva livre e soberana Prefe riram o penoso acordo conservador pelo qual as fun es da ditadura foram recicladas atrav s de uma fant stica Nova Rep blica a transi o lenta
203. da na o A cr tica fundamental volta se aparentemente contra a extens o e as con tradi es internas do projeto Querem uma constitui o enxuta e n o anal ti ca e que seja um primor de l gica formal jur dica Ora a contrapress o popular n o se impressiona com esses pontos Ela deseja o inverso uma constitui o anal tica que incorpore todas as grandes reivindica es populares Exige um projeto de constitui o que n o continue a jogar sobre os ombros dos trabalha dores e dos oprimidos o peso das contradi es do desenvolvimento capitalista desigual Poder se ia retirar do texto uns cem ou cento e cinquenta artigos desde que prevalecesse o sentido democr tico libert rio e igualit rio da carta magna A se acha o aspecto b sico sobre o qual se deve insistir Na altura em que estamos com as iniquidades que se reproduzem ge ometricamente na sociedade brasileira o alvo dos constituintes deve ser a elabora o de uma constitui o instrumental para a implanta o t o r pida quanto for poss vel de certos m nimos de garantias individuais ou coletivas e de liberdades pol ticas que pressuponham a exist ncia de uma sociedade civil e de um Estado que n o conspirem contra a igualdade social e o respeito pessoa humana Para come ar poss vel que tal constitui o seja um pouco mais extensa que as anteriores que giraram em tomo de duzentos ou pouco mais de duzentos artigos Acima de tudo carecemos de u
204. da vontade popular Por m ele n o a vontade popular Parlamentarismo sem plebiscito imediato equivale a um golpe parlamentar pelo qual uma nova Alian a Democr tica chegaria ao poder por meios h beis mas esp rios Durante o per odo decorrente a ANC exerceria sobre o governo um controle estrito A autonomia dos poderes uma fic o e ela tem funcionado exclusivamente contra a ANC paralisando a e aprisionando a s conveni ncias de um despotismo dissimulado que usa a democracia como artimanha para imobilizar o poder constituinte ou submet lo vontade desp tica do presidente e do vetor militar Essas s o alternativas ou solu es cir rgicas Existe uma via suplemen tar que nasce das elei es diretas j para o presidente da Rep blica Mas presidente de que Rep blica a parlamentar ou a presidencialista evidente que o pa s n o suporta mais a presente desordem que impera no Estado e da se propaga para a sociedade civil e vice versa O j possui um sentido imperativo Ele significa extinguir o mal maior com urg ncia urgent ssima Por mais depressa que o processo constituinte se desenrole ele repetir a 195 Perseu hist ria da tartaruga Poder estar em todos os lugares mas quanto maior o n mero de lugares em que estiver pior para o pa s Uma decis o nefasta tomada em nome de alguns e sancionada por uns poucos no col gio eleitoral n o deve condenar o Brasil ao despenhadeiro O
205. dades que faziam do Estado um feitor de escravos e um castrador da na o como se o vinco colonial permanecesse perpetuamente vivo nessa esfera A Constitui o da Rep blica Velha manteve se nesse limite A crise do modo de produ o escravista era muito recente para associar a revolu o da sociedade civil e do Estado na elabora o da Carta Magna Mera c pia de progressos de outros pa ses ela n o correspondia s transforma es internas realizadas ou em processo Por sua vez a Constitui o de 1934 vem rente a 73 Pen ft contradi es que dividiam as classes dominantes suas elites e as rela es delas com a na o Por isso ela registra um saldo hist rico que n o se con cretizou porque as classes dominantes e suas elites preferiram defender se fora e acima do circuito das revolu es burguesas recorrendo a uma ditadura que recomp s a estabilidade pol tica dentro da ordem Prevalece ent o uma pol tica de fundar a paz social em concess es entendidas como antecipadas e suficientemente el sticas para anular as press es sociais dos de baixo espe cialmente das classes trabalhadoras da pequena burguesia e de uma classe m dia inquieta com os abalos que sofriam sob as novas tend ncias de desen volvimento capitalista e de altera es do regime de classes sociais O Estado Novo monta perfei o a arquitetura de um modelo eficiente de paz burgue sa e ao mesmo tempo articula os interesses divergentes dos v
206. dados do regime militar e da travessia pelo col gio eleitoral n o compu nha um arco hist rico de for as sociais democr ticas avan adas e rebeldes Era um partido da ordem e do poder pronto para servir quela e servir se deste Isso n o impediu a atua o brilhante e denodada de seus campe es na ANC Contudo eles sofreram desde logo as agruras de uma vanguarda desti tu da de meios parlamentares e partid rios para atingir seus fins renovadores Os sonhos de restaura o das classes m dias tradicionais e de uma revolu o democr tica a frio logo se dissiparam O seu valor manteve os na porfia mas tiveram de recorrer s concess es para arrancar dos liberais do pr prio parti do e do PFL os avan os que n o foram engolidos rapidamente pela voragem conservadora Aliando se esquerda aumentaram sua for a Por m ao mes mo tempo viram se condenados a concilia es crescentes A esquerda em seu n cleo mais coerente e combativo apenas se propu nha intensificar as transforma es democr ticas pela via constitucional N o queria para os trabalhadores e os oprimidos um prato de lentilhas A minha 187 Perseu experi ncia atrav s do PT ensinou me que t nhamos em mente como objeti vo maior encadear socialismo e embate constitucional Por m fomos compe lidos a concentrar o nosso esfor o no que era vi vel infundir Constitui o liberdades pol ticas e direitos sociais que reduzam o despotismo burgu s e si
207. de 1986 impunha limita es in transpon veis preciso lembrar que o PT elegeu apenas 16 deputados que com os outros partamentares de esquerda e pro gressistas somaram 120 constituintes Para aprovar qualquer coisa eram preci sos 280 votos Avan os Apesar desse quadro desfavor vel a Constituinte foi al m do que idealizaram os articuladores da direita O muro da corre la o de for as foi rompido diversas vezes pela mobiliza o popular respaldando a atua o coletiva do PT que juntamente com outras bancadas e parlamentares progressistas possibilitou a conquista de novos direitos o bordados o caso da amplia o dos direitos dos trabalhadores como o de greve a redu o da jomada de trabalho e a equival ncia entre os direitos dos trabalhadores rurais e urbanos No campo da seguridade a re cupera o do valor das aposentadorias e a corre o monet ria dos sal rios base para c lculo dos benef cios corrigem em parte a injusti a para com os aposenta dos Por sua vez os novos instrumentos jur dicos como o mandato de injun o de seguran a coletiva a iniciativa popular em projetos de lei abrem novos espa os de luta institucional para o movimento po pular O PT chegou Constituinte com um projeto inteiro de Constitui o o referen cial para a atua o da Bancada Durante a defini o do regimento interno nossa Ban cada tamb m com um projeto pr prio po larizou disputas pol
208. de 1987 na ANC Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 62 an Fernandes militares afirmarem de forma rebuscada que as for as militares pretendem defender a democracia Que democracia essa A democracia a ser estabelecida no Brasil de ver ser definida por nosso trabalho e se n o soubermos defender as prer rogativas do Congresso da Assembleia Nacional Constituinte n o haver democracia alguma no pa s N o temos baionetas n o temos cavalos n o temos c es pastores n o temos tanques mas temos do nosso lado a for a da vontade popular esta for a que temos de usar se n o o fizermos esta Assembleia Na cional Constituinte ser engolida pela viol ncia As manifesta es que esta mos vendo podem ser o come o de uma tentativa de solapar as atividades da Assembleia Nacional Constituinte e n o podemos recuar diante da tarefa de afirmar e defender essa responsabilidade N o podemos admitir que o m to do democr tico de tratar trabalhadores banc rios o setor pobre e oprimido da popula o seja o da viol ncia e da brutalidade N o devemos por m ser mais sens veis s viol ncias sofridas pelos Parlamentares do que s experi mentadas por aqueles que nos puseram aqui dentro e que esperam de n s a cria o de uma nova sociedade democr tica no Brasil para todos e n o ape nas para aquela minoria que det m o poder e monopoliza a viol ncia que s conhece um m todo de
209. des na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 58 AUTOFAGIA A Assembleia Nacional Constituinte desvelou a sua verdadeira face por iniciativa de uma esmagadora maioria por escolha dos parlamentares do PMDB do PFL do PDS do PTB ela aceitou a defini o dos demais poderes da Rep blica e da ordem estabelecida autodelimitando se como Congresso Constituinte Est o portanto abertos os caminhos que reproduzem o passa do recente e vinculam a Constitui o ordem ilegal vigente e ao Frankenstein constitucional engendrado pela ditadura militar O 8 7 do artigo 57 do Projeto de Resolu o n 2 B de 1987 que dispunha sobre o Regimento da ANC estabelecia Os Projetos de Decis o destinam se a regular mat rias de relev ncia para a Assembleia Nacional Constituinte n o compreendidas nas demais proposi es necessitando ter o apoiamento de 1 3 um ter o dos constituintes e ser o submetidas a parecer pr vio da Comiss o de Sistematiza o que o far no prazo de 5 cinco dias cabendo ao Plen rio em dois turnos de discuss o e vota o e por maioria absoluta a decis o final sendo arquivado definitivamente se receber parecer contr rio Essa foi a vers o t mida que se encontrou para assegurar ANC a defesa e a afirma o de sua soberania Na linguagem coloquial dos pr prios parlamen tares foram impostos dois ferrolhos manifesta o leg tima da soberania Folha de S Paulo 18 3 1987
210. descritivo ao contr rio daquela Constitui o de princ pios que todos n s almejamos Ressalto prin cipalmente a express o de V Exa agora ao final que chama a aten o para 133 Pen ft o fato de que o processo constituinte ainda n o terminou Acredito que V Exa ao colocar suas pondera es traz um brado de esperan a e de alerta a todos os Constituintes s lideran as dos v rios partidos a fim de que neste ocaso do processo constitucional ainda consigam for as para transformar o projeto Se todos n s concordarmos em que esse substitutivo seja enxugado e transformado num elenco de princ pios se todos pensarmos desta maneira e nenhum de n s tiver reserva mental com rela o a um ou outro aspecto isso por um grande pacto entre todos acredito que ainda poderemos chegar a esse desiderato a esse objetivo que de forma t o expressiva e oportuna V Exa assinala O SR FLORESTAN FERNANDES Agrade o lhe o aparte V Exa en tendeu no sentido mais pleno as inten es que eu pretendia defender e expor Agrade o ao Sr Presidente e a todos que me ouviram com tanta paci ncia e aten o A esperan a a ultima que morre Palmas Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 134 Florestan Fernandes UMA QUEST O DE GRANDEZA Estamos chegando aos momentos culminantes da elabora o da nova carta magna Imp e se pois que os constituintes tomem uma atitude intran sigente na
211. desfecho e o impasse a que ele poderia levar Elas n o obstante n o foram absorvidas ou foram aplicadas segundo crit rios que as anularia Portanto a tradi o da casa do Parla mento de um pa s pobre e subdesenvolvido bloqueou e solapou o mpeto de uma moderniza o aut noma capaz de gerar uma constitui o em conflito com a domina o conservadora Essa moldura parlamentar facilitou as manobras de entidades e orga niza es patronais contr rias s reformas que a situa o hist rica aponta como imperativas e ao mesmo tempo ofereceu um vasto campo de manobras 307 Pen Stu para interfer ncias ind bitas e arrasadoras do Executivo do Judici rio das For as Armadas dos lobbies e grupos de interesses e de press o Por fim a conspira o conservadora saiu luz do dia apegando se a formalidades ou a condena es descabidas Comiss o de Sistematiza o e impondo altera es nas regras do jogo que visam suprimir ou limitar inova es constitucionais imperiosas que favorecem os trabalhadores a grande massa de pobres e ex clu dos e a democratiza o da sociedade civil e do Estado O processo cons tituinte que deveria ser relativamente prolongado foi submetido a um bom bardeio dos setores de centro direita e da direita ou da extrema direita do PMDB do PFL do PDS do PTB etc Todos os partidos da ordem deram sua contribui o a uma causa ingl ria e as v rias for as vivas do reacionarismo
212. divide a sociedade civil Ou elas confluem na diferencia o e na integra o do Estado de Direito ou este n o interage com a sociedade convertendo se em uma camisa de for a que provoca a contesta o direita e esquerda instituindo a lei da selva e optando por colocar se acima da lei como rbitro supremo do uso da repress o e da opress o Cabe nos como Constituintes a responsabilidade de trazer para a As sembleia Nacional Constituinte o debate das quest es candentes que dividem a sociedade brasileira e a poca hist rica na qual vivemos N o podemos fugir a essa responsabilidade principalmente porque muitos de n s se comprome teram com correntes pol ticas que s o reformistas socialistas comunistas e anarquistas O espectro partid rio sob o qual se travaram os embates eleito rais e transcorreram as elei es era extremamente diversificado S esquer da podiam ser mencionados os progressistas ou radicais do PMDB o PT a maior parte dos setores do PDT o PS o PCdoB e o PCB Seria tr gico e ao mesmo tempo uma farsa que tais correntes pol ticas tivessem exist ncia real nos processos eleitorais e em seguida se vissem silenciadas no seio da Assembleia Nacional Constituinte ou o que seria pior pudessem afirmar desta tribuna suas posi es pol ticas e ideol gicas mas fossem castradas na elabora o da nova Carta Magna Eu sou o mesmo Florestan Fernandes que disputou votos dos eleitores
213. do per odo p s constitucional no plano pol tico e partid rio As facilidades apontadas para a mesclagem de constitucionaliza o e Nova Rep blica s o um convite para que o governo e com ele toda a rede de poder real econ mi co e estatal recaiam talvez com maior intensidade nos golpes duros e per niciosos que foram dados contra os interesses da na o na condu o da coisa p blica O retraimento dos partidos em um momento incisivo de divis o de 301 Pen ft guas propicia a atrofia progressiva do poder legislativo como um todo Ele retomou suas prerrogativas e as alargou instituindo um controle rec proco mais s rio dos tr s poderes e a instaura o de uma alternativa democr tica ditadura que se prolonga por baixo do pano Em seguida trepida em avan ar e em assumir todas as prerrogativas de uma forma irrevers vel e respons vel Descerra assim tanto a transitoriedade da Constitui o sem campe es para defend la quanto sua validade restrita ao tope dos privilegiados e se miprivilegiados como aconteceu sucessivamente com as constitui es de 1934 e de 1946 Por fim temos de levantar todo o v u o descr dito popular Os trabalhadores livres semilivres do campo e das cidades ter o decep es sucessivas O cumprimento da Constitui o fica largado ao arb trio dos dois poderes citados o Judici rio e o Executivo dos v rios escal es de burocratas e tecnocratas civis e militares das elite
214. do Estado Novo no chinelo O presidencialismo vocal e instrumento dos poderosos esmagou o Congresso como lhe aprouve convertendo o em poder servil A Rep blica institucional foi a p de cal Esmagou o pouco que restava de uma tradi o parlamentar que n o aprumou e que se aninhou voluntariamente no rega o das classes que a esvaziaram de sentido e conte do submetendo o Parlamento ao despotismo da iniciativa privada dos grandes propriet rios e dos mais ricos por m que desistiu de tornar se o principal pilar da Rep blica Certas figuras isoladas avultaram como gigantes sobre a plan cie Exce es que confirmavam a regra suas vozes retumbavam e ecoavam pelo pa s s que seus exemplos permaneceram in cuos A tal ponto que o ltimo Congresso o que sobreviveu ditadura expira de maneira mais melanc lica que esta com trens da alegria com esfor os concentrados com trocas de compensa es ultravantajosas e o que mais Engels escrevia que o Estado n o determina a sociedade esta que determina aquele embora exista uma rela o rec proca quando as coisas fun cionam historicamente De onde poderia vir a esperan a de um novo Congres so Certamente n o da Nova Rep blica ou do seu vetor militar e civil polidos pelo conv vio com os valores castrenses A sociedade j se alterou profun damente por a que se poderia ter uma renova o seja do Congresso seja das demais institui es do govern
215. do demonstram que as diverg ncias e os acordos unificadores nascem de fortes sentimentos e aspira es comuns embora compartilhados desigual mente pelos cidad os Preexistia Constitui o um pacto informal ou n o escrito que ope rava como o elemento fundante dos enunciados constitucionais e transferia pr pria Constitui o o car ter de um valor supremo acatado por todos por encarnar o querer coletivo em uma situa o hist rica decisiva Mais tarde d vidas e controv rsias poderiam dar margem a procedimentos para aper fei oar ou rever as f rmulas consagradas Essa a norma em uma sociedade de classes Em condi es extremas a dissolu o do mundo hist rico que as constitui es refletem exigem sua substitui o em pocas revolucion rias Mas o pacto social informal pr vio na sociedade civil e n o entre os parcei ros constituintes um pr requisito l gico e concreto de uma constitui o credenci vel como democr tica s lida e necess ria Esse elemento fundante n o subiu ANC Ela foi largamente ferida pelo seu avesso a contradi o bruta n o lavrada submetida ao britador da nive la o por baixo da concilia o no seio da maioria parlamentar ou nos acor dos que resolveram os impasses pelas negocia es das lideran as Vota es m gicas mec nicas e rituais exprimiam o consenso obtido N o poss vel pretender maior precariedade para um texto constitucional Talvez ele possa ter
216. do homem que persegue seus objetivos como escreveu Engels em 1844 O que a Assem bleia Nacional Constituinte O imagin rio das elites das classes dominantes ou de seus escribas Ou uma forma o pol tica parida da crise catacl smica de uma sociedade civil que se tornou invi vel para quase cem milh es de exclu dos e de oprimidos ou de trabalhadores que a ela s o incorporados mor fologicamente mas privados pelos dinamismos de repress o e de opress o de peso e voz em sua ordena o e funcionamento Os partidos da ordem e os pol ticos profissionais trabalharam a consci ncia social desses exclu dos desses oprimidos desses trabalhadores que entram subterraneamente na his t ria pelas portas dos fundos A campanha eleitoral teve esse alvo difundir a ideologia dos estratos dominantes das classes burguesas Assim ampliam e Folha de S Paulo 11 4 1988 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 222 an F aprofundam sua coisifica o iniciada nas f bricas prolongadas nas escolas e nas igrejas completada nos sindicatos e nos partidos comprometidos com o melhorismo o obreirismo pac fico a aliena o refinada e agu ada gra as ao consumismo de massa e ind stria da comunica o cultural Todavia o que fez esse desgra ado da terra com as ideias os ideais os valores em suma os s mbolos pelos quais buscavam fazer sua cabe a decapit lo como
217. dominantes seja nas suas rela es com os outros poderes civis ou ar mados da Nova Rep blica Por que a presente Constitui o ser um passo na dire o do desenvolvimento da democracia mas n o instalar a democracia na sociedade civil e no Estado de uma vez por todas como o in cio de um processo de amplas profundas e irrevers veis transforma es hist ricas A democracia essencial para que o Brasil rompa com os v nculos or g nicos com o seu passado colonial e com a vigente modalidadede domina o imperialista que se estabeleceu atrav s da sua incorpora o s estruturas e aos dinamismos do capitalismo monopolista dos pa ses centrais e de sua superpot ncia os Estados Unidos Ficamos presos fraseologia democr ti ca mas ao mesmo tempo impedimos que a democracia irrompa como uma for a revolucion ria de civiliza o da sociedade civil e de autonomiza o e descentraliza o do Estado O nosso parlamento nasceu talhado para n o ser democr tico Nenhu ma na o pode ser democr tica sob um modo de produ o escravista A Re p blica manteve o parlamento atado condi o de rg o de legitima o de uma ordem p blica sub republicana e antidemocr tica Agora percorrendo o texto constitucional proposto descobrimos que essa fun o que legitima o que ilegitim vel continua predominante Introduzimos em nossa carta mag na certa carga modern ssima de liberdades individuais e de direitos sociais
218. e Pro vocado o PMDB n o exibia um projeto de constitui o mas sacudia o seu programa o que n o a mesma coisa Na verdade bons partidos da ordem ou da revolu o deveriam fazer de sua participa o na Constitui o a nega o e a transcend ncia de seus programas partid rios No conjunto evidenciava se a natureza da situa o hist rica O processo constituinte seria pobre e bitolado diretamente pelas classes e fac es de classes dominantes pelo vetor militar e pelas interfer ncias castradoras do Executivo e por vezes do Judici rio o que estava dentro da l gica pol tica de um solo hist rico rido e ultrarresistente democratiza o da sociedade civil da cultura e do Estado Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 310 An F As minhas ilus es pessoais eram poucas e pobres Lembrando me de Weimar e do papel de Max Weber esperei n o ter sido eu convocado em v o pelo PT Mas Weimar passado e poucos dos nossos pol ticos conhecem Weber e o que poder caber aos soci logos na elabora o de uma consti tui o mesmo aberta s emendas populares e participa o popular As minhas ilus es ideol gicas e pol ticas de socialismo prolet rio sofreram um abalo N o existia espa o ao menos para o debate das ideias socialistas O nosso reformismo cinge se a uma variante epid rmica do conservantismo ilustrado Impunha se aceitar a realidade como ela e
219. e equ voco v o do radicalismo burgu s do centro aut ntico do PMDB do social democratismo do chamado setor progressista do mesmo PMDB ao socialismo moreno do PDT ao socialismo democr tico do PSB ao socia lismo prolet rio do PT e s variantes de identidade ideol gica do PCB e do PCdoB A batalha do Centr o foi uma com dia de costumes brasileira Prevaleceu uma maioria parlamentar que representa uma minoria do 1 ou dos 5 mais iguais ou seja dos grandes dos privilegiados e superprivile giados A derrota das esquerdas n o existiu uma f bula propagand stica Ocorreu isso sim um fen meno parlamentar que ressuscita ideias aspira es e prepot ncias que pareciam enterradas fen meno que pode custar caro ao pa s e que desvenda o quanto as elites avan aram muito menos do que as classes trabalhadoras e as massas populares nos ltimos cinquenta anos Folha de S Paulo 21 12 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 186 an F Os ignorantes est o na ponta do processo social enquanto os ricos cultos e poderosos se apegam a um passado morto e a sonhos que certamente s o um reflexo dos seus pesadelos Nem mesmo M rio Covas saiu derrotado Ao contr rio ele se safou da maldi o que caiu como um raio sobre o PMDB em virtude do casamento do plano cruzado com o processo eleitoral Ele tomou a decis o certa e os medos que passou a desp
220. e a revolu o democr tica Os que aderem a uma vis o parlamentar conservadora ou reacion ria de defesa da ordem lan am o povo e a na o contra a ANC Perdidas as esperan as que ela suscitou e ainda fomenta o caos provocado pelo regime ditatorial e pela chamada Nova Rep blica s poder ser vencido por meio de lutas intestinas cru is destrutivas e sangrentas O novo ponto de partida da hist ria poder ligar se a outra alternativa a cons tru o de uma sociedade civil civilizada A nova Constitui o por melhor e mais adequada que seja n o gerar por si mesma essa sociedade civil civilizada No entanto ela poder forjar as bases pol ticas e legais de uma sociedade civil civilizada que abra op es tanto para o capital quanto para o trabalho Em que dire o se inclinar em seguida a evolu o hist rica Postos frente a frente em uma arena pol tica despojada do nosso atraso pol tico do nosso barbarismo dissimulado de um primarismo que cega as elites das classes dominantes o que lograremos alcan ar no complexo panorama de uma crise de civiliza o que separa e op e a era burguesa da era prolet ria Perguntas dessa monta definem o papel da ANC neste instante dram tico da hist ria do Brasil como hist ria da autoemancipa o coletiva de uma na o de origem colonial e de desenvolvimento capitalista desigual Restare mos uma col nia disfar ada Chegaremos a ser uma na o livre de homens e mulheres li
221. e afirma a pr pria faculdade de instituir normas constitucionais civilizadas para o funcionamento da sociedade civil e normas constitucionais democr ticas para a organiza o do Estado O pre sente e o futuro pertencem na o n o minoria no poder A ruptura com o atual estado de coisas representa a conquista de novas vias de evolu o hist rica e sob press o popular a elabora o de uma Constitui o que defina os requisitos m nimos da extin o simult nea do subcapitalismo e do capita lismo perverso ou selvagem Esse o dilema que a Assembleia Nacional Constituinte enfrenta Se a concilia o conservadora tivesse algum sentido e a heran a de Tancredo Ne ves alguma validade a Alian a Democr tica deveria ser fiel ao compromisso que assumiu ao instalar o PMDB e o PFL na dupla condi o de partidos da ordem e do governo N o obstante o que foi formulado como uma carta de princ pios era um discurso de ocasi o e os dois partidos est o divididos entre si e o PMDB est dividido internamente com refer ncia aos pap is pol ticos dos Constituintes e ao significado da Assembleia Nacional Constituinte Isso acontece porque ambos os partidos n o formam um bloco hist rico solida Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 78 An F mente burgu s As classes burguesas n o delegaram aos dois partidos a con di o de represent las no exerc cio do poder pol tico estatal Cad
222. e aos ricos e aos poderosos mas arru na a na o Afastamos ao mesmo tempo os fermentos da inquieta o pol tica criadora e as probabilidades de que o bom senso poderia estar ao alcance das m os das classes dirigentes O que elas querem Chegar pelos meios mais baratos ao fascismo ou atear fogo a uma guerra civil na qual ter o tudo a perder O fulcro do paradoxo esse Por quanto tempo a sociedade brasileira suportar o arb trio o caos a mis ria a viol ncia privada e estatal Exclu da uma pro messa o que p r em seu lugar A repress o e o ranger de dentes n o duram para sempre Os que recorrem opress o e repress o acabam v timas de sua cegueira do seu ego smo de sua rapacidade Os que rangem os dentes assim que podem passam a morder saltam da posi o de v tima ao contra ataque Nenhuma constitui o pode regular ou impedir esses efeitos e ainda menos neutralizar os fatores que os provocam Negar a democracia mesmo d bil liberal e burguesa luz selvagem do capitalismo perif rico por temor dos de baixo implica transferir lhes tacitamente toda a iniciativa Essa a op o que os de cima est o fazendo brincando de senhores em uma era de cidadania li vre universal e respons vel Notem bem as dezenas de milh es de exclu dos de trabalhadores assalariados e semilivres n o carecem de constitui o para fazerem o que devem quando surgir a sua oportunidade hist rica Florestan Fernandes na Co
223. e assustam e condenam em 211 Perseu coro o teor de uma carta anal tica corporativa Mas esquecem se de que o formalismo jur dico favoreceu reiteradamente uma constitui o sint tica tamb m corporativa para os de cima tecendo as constitui es brasileiras como um c digo de privil gios feito por privilegiados para privilegiados Resumi as observa es ao essencial O retrato global desvenda por m um vasto panorama A crise burguesa n o apenas um fato econ mico ou uma realidade pol tica Ela um fen meno global O Brasil aparece luz das idealiza es apontadas como um vulc o que se reativa de s bito O proces so ao contr rio do que pensam os esp ritos mais t midos e obscurantistas construtivo O Brasil renasce embora a Constitui o em elabora o esteja aqu m do que deveria ser e conter Idealiza es em conflito insol vel signifi cam que os dilemas econ micos sociais demogr ficos geogr ficos culturais e pol ticos se agravaram contundentemente Segundo a tradi o das elites das classes dominantes tudo est bem para n s quando suas posi es na estrutu ra do governo n o s o tocadas Os outros que se danem Ora os outros co me am a mostrar o pre o dessa pol tica de avestruz e desse ego smo de classe amaz nico sem freios No momento o Estado repousa sobre v rios eixos de equil brio e de centros de poder e muitas vezes as circunst ncias fazem com que o poder
224. e categorias subalternizados O mesmo n o sucedeu com rela o a outras exig ncias A Carta Consti tucional fixou se em um patamar de capitalismo selvagem atribuindo priori dade quase exclusiva ao que essencial para o grande capital nacional e prin cipalmente para as multinacionais e a rede internacional de poder financeiro e pol tico que esmagam as potencialidades de desenvolvimento relativamente independente e equilibrado do pa s Quanto ao que vital para os trabalhado res em sua expans o como e enquanto classe social e em seu potencial orga nizado de luta pol tica tudo foi mantido na soma zero A Carta confere como seria normal aumento da capacidade de autoafirma o e de luta de classe burguesia em todos os seus setores Contudo s abre requisitos indispens veis exist ncia da classe e de sindicatos e partidos de classe aos trabalhado res Sequer avan ou no sentido mais geral do reconhecimento da legitimidade da desobedi ncia civil e de formas legais de insurg ncia prolet ria Quanto revolu o contra a ordem n o se poderia esperar que uma Cons titui o elaborada sob o signo da revis o constitucional e da contesta o da so berania da pr pria Assembleia Nacional Constituinte pelos outros dois Poderes com o consentimento e o incentivo evidente dos conservadores mesmo entre os Constituintes pudesse acarretar um passo a frente sabido que na hist ria das Constitui es modernas som
225. e com muitos precedentes em nossa hist ria de concilia es e reformas desse jaez Uma rasteira mofina e mesquinha N o satisfeita com sua maioria conservadora de centro sicl de fi is e campe es da iniciativa privada a na o dos poderosos ricos e armados sequer tem paci ncia de dei xar a gua correr e a justi a passar Arvora se em rbitro e busca de novo castrar a hist ria infligindo lhe os seus des gnios O pacto social significa neste momento o mesmo que a instaura o do golpe dentro do golpe em 1964 e a imposi o posteriormente da junta militar e em seguida da sa da conciliadora atrav s do col gio eleitoral Presume se que o povo burro e que a condi o preliminar do conclave nacional visualizado no Congresso Cons tituinte seja a pacifica o dos esp ritos Zerar os conflitos afastar os riscos da luta de classes para enfim chegar se a uma constitui o liberal est ril e pasteurizada Vivemos sob o clima de uma guerra civil latente n o por culpa do povo mas por causa dos sobas da ditadura e da Nova Rep blica N o poss vel zerar se a mem ria do povo com ret rica como a que difundida pelo vice presidente em exerc cio Essa guerra civil latente uma realidade hist rica Como o fur nculo ela ter de ser cortada e medicada com iodo puro O melhor caminho para isso ainda para a na o dos ricos e poderosos civis e militares a do embate pol tico franc
226. e dignidade presidencial Quem ir bancar o lance O PMDB Uma recomposi o patri tica que re na pol ticos grandes empres rios e chefes militares que aceitem o comando de um barco prestes a des pencar de uma catadupa O renascimento da ditadura com suporte popular e burgu s Nem Garcia M rquez poderia sonhar com um del rio desse vulto que constitui o desenlace da crise final da Nova Rep blica O povo por sua vez est perplexo Sua ira elevou se ao ponto de ten s o m xima e qualquer fato pessoa ou entidade pode ser indigitada como o bode expiat rio ideal A intelig ncia ou o servi o de intelig ncia que serve aos interesses mais corrompidos da ordem j descobriu isso Os jornais e as revistas mais s lidos propalam os efeitos dessa descoberta A conspira o re ponta no horizonte e assume as mesmas formas e qui o mesmo significado que a tisnou de 1962 a 1964 Atr s dos boatos h verdades e mentiras As verdades s o mentiras porque ocultam que enfrentamos realidades que foram geradas ampliadas e mantidas pelos que as est o relatando As mentiras s o verdades como se infere das acusa es que se converteram em rotina os ministros demitidos fazem girar suas metralhadoras a esmo e o governo retribui generosamen te desvendando as boas pe as que eram ou s o tais ministros A hist ria a descoberto As mistifica es duram pouco e os sacerdotes dessa religi o assentada sobre a po
227. e na defesa da transi o lenta gradual e segura por temor luta de classes e aos imprevistos de uma alternativa de contesta o civil marcada pela viol ncia Ora a viol ncia estava entranhada no sistema de poder e n o fora sen o atenuada ou sofisticada O que se incentivava era a continuidade da liberaliza o progressiva do regime anterior e o fortalecimento dentro da Nova Rep blica das for as conservadoras e reacion rias que haviam en gendrado o pacto conservador e o levaram adiante com um sangue frio e um ego smo exemplares A principal v tima dessa reciclagem do sistema de poder ditatorial e de sua democratiza o foi o povo As causas populares continuaram como an tes com fraco suporte no seio da sociedade civil A outra v tima foi o PMDB paradoxalmente o partido que pelas apar ncias mais se beneficiou com a remodelagem da transi o lenta gradual e segura rebatizada pelos l deres peemedebistas como transi o democr tica entronizada como a vaca sagra da do partido O PMDB teve de engolir o entulho autorit rio submeter se aus ncia for ada de um sistema de partidos e eleitoral autenticamente de mocr tico acatar as press es do Planalto que s o press es da camarilha governamental e do seu esteio militar e engolfar se em um sistema fisiol gico de prebendas que e pr republicano e antinacional Em suma vitorioso nas urnas o PMDB adquire a face do r
228. e ou n o o observador de olho cr tico o conceito de revolu o de L nin Os de cima j n o podem mais mandar e dirigir os de baixo recusam se a obedecer e a submeter se A dissolu o da ordem caminha por dentro de uma vontade hist rica destitu da de aut ntica raz o pol tica Os de baixo Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 18 An F movem se aqui e ali acompanham seguem desiludem se Recome am O ciclo recomp e se At esgotar se Como descobriram os franceses e depois tantos outros povos a paci ncia dos de baixo tem limites Os que n o se le vam a s rio n o podem ser levados a s rio Ainda n o chegamos ao ponto de n o retorno inexor vel Contudo estamos muito pr ximos dele talvez mais do que os pol ticos profissionais e os aproveitadores da ordem teimam em n o admitir Uma luta de classes que n o caminha por debilidades do polo forte porque este se anula ou se abastarda anulando e abastardando a todos ao romper se o equil brio est tico pura e simplesmente alui a ordem existen te esta s poder desabrochar com a for a vertiginosa que as plantas retiram da imensid o do monturo A n o h nem segredo biol gico nem novidade hist rica somente a rotina da vida somada decad ncia sem civiliza o 19 Pen ft A CRISE INSTITUCIONAL O Brasil passa por uma crise institucional das mais profundas que j enfrentou Um soci logo diria q
229. e poss vel faz lo retroceder Em um discurso que fiz questionei que maioria fundava a rea o bran ca no mago da ANC corriqueiro que a maioria est fora do Parlamento e nele representada por uma insuper vel minoria parlamentar Portanto consagrou se um processo cujo significado compar vel ao golpe de Estado de 1964 e que ainda vai custar muito sangue e muitas l grimas aos que o provocaram Na verdade 290 330 ou que fossem 400 ignoraram a maioria mandante o que n o poderiam evitar ela n o move suas mentes e cora es Ela penetrou na ANC por todas as suas portas e por todas as suas frestas gra as participa o popular e s emendas populares Ao que parece isso 181 Persea s serviu para o alerta O povo movimenta se e vai longe demais Temos de segur lo e dar lhe uma li o ensinando lhe qual o seu lugar A maioria n o aquela somos os mandat rios e a Constitui o ser a express o de nossa soberania Por conseguinte a maioria parlamentar usa a constitui o para domesticar e tolher a maioria real Em uma poca de crise global sem prece dentes que nos precipita na ru na n o poderia haver maior loucura Adeus revolu o educacional adeus reforma agr ria adeus revolu o urbana adeus aos direitos sociais pelos quais os trabalhadores da cidade e do cam po travaram lutas pol ticas e econ micas sucessivas adeus revolu o de mocr tica e nacional liberdade com
230. e uma responsabilidade pol tica maior e saud vel corrigir a tica dos interesses ou do vi s direto pela perspectiva que nasce de v nculos com entidades externas e pela participa o dos movimentos pol ticos que nascem vivem e morrem na sociedade N o se trata de um equivalente t cnico da espio nagem ou da detra o pura e simples Cada um respons vel pelo que escreve se faltar verdade fica sujeito condena o de seus pr prios pares Desenvolvi uma clara consci ncia desse fato e dos limites dentro dos quais deveria exercer 309 Pense um papel cr tico construtivo sem beneficiar me da dualidade tica dos dois c digos de moral que funcionam automaticamente em tais circunst ncias Se poucas foram as resist ncias e as desaprova es maiores foram os apoios expl citos V rios colegas discutiam comigo os artigos e alguns apro veitavam suas contribui es positivas Eu j sabia quais seriam os senadores e deputados que viriam falar comigo e debatia com prazer os assuntos Isso permitia me alargar o meu campo de vis o testar as interpreta es e sele cionar novos temas Uma colabora o espont nea foi se delineando e a in flu ncia rec proca cresceu aos poucos felizmente acima e al m dos partidos Passei desse modo a escolher entre um discurso e um artigo e a avaliar os dois modos de comunica o do pensamento O artigo mostrou se mais ma le vel com penetra o relativa mais ampla e uma influ
231. ecimento do texto constitucional As manipula es ex traparlamentares n o s ganharam mais for a O processo constituinte foi debilitado e deturpado deliberadamente V rios exemplos atestam essas afir ma es Todavia a vota o da reforma agr ria patenteia que a Constitui o na marra vem para durar pouco e a nega o de tudo que a imensa maioria da popula o desejava e necessita Ela se acopla a um Estado semiditatorial e semidemocr tico exaurido e condenado Em breve ter de ser refundida ou substitu da por outra N o obstante h contrastes que merecem ser postos em evid ncia A infraestrutura da ANC n o poderia ser melhor A parte organizativa e funcio nal tamb m n o poderia ser melhor Poucos pa ses ricos ofereceriam a seus constituintes recursos t o bem articulados e eficientes materiais e at an li ses comparativas de tal n vel Se na ltima etapa as fus es de emendas n o foram distribu das e estudadas com seriedade a culpa n o cabe ao pessoal t cnico s assessorias aos servi os de produ o e distribui o de materiais ao Prodasen gr fica do Senado mas lei da marreta que se oculta por tr s da Constitui o na marra Em contraposi o esse procedimento retirou de vez do processo constituinte sua riqueza ideol gica e pol tica As fus es abri ram arcos que v o da extrema direita extrema esquerda corrompendo em nome da democracia as matrizes ideol gicas e pol tic
232. egime vigente embora preserve em seus quadros em suas bases e entre alguns dirigentes e o grosso dos simpa tizantes as caracter sticas que ganhara como a frente de luta antiditatorial nacionalista e democr tica que marcara sua trajet ria ate o pacto conser vador A pr pria anu ncia da c pula do PMDB a esse pacto se explica por sua flexibilidade assimila o de pol ticos fortemente identificados com o conservantismo econ mico e pol tico tend ncia que se tornou incontrol vel posteriormente a ponto de o partido converter se no melhor trampolim para a elei o de candidatos egressos dos antigos partidos da ordem com passado arenista e pedessista 87 Pen ft A temos o quadro global um governo de duas faces uma sub repu blicana e outra autorit ria ou seja ditatorial um partido da ordem refor mista o PMDB que desmente no plano institucional o seu passado as suas bandeiras e os seus compromissos com a na o e uma Assembleia Nacional Constituinte que foi simultaneamente castrada pelo Poder Executivo e por sua pr pria maioria parlamentar conservadora da condi o de poder consti tuinte soberano e origin rio N o obstante a sociedade civil n o acompanhou passivamente essa evolu o A resist ncia civil cresceu e tornou se n o s vociferante mas amea adora no campo e na cidade Os muros que pode riam segregar a ANC da sociedade civil foram transpostos pela participa o popular e pela milit
233. ej veis com o imperialismo e com a expropria o dos milh es de deserdados ou subalternizados Os ideais e as aspira es das esquerdas igua lit ria libert ria nacionalista e democr tica precisam ressoar aqui dentro e t m de ser acolhidos no texto constitucional Se isso n o acontecer teremos a mais estranha Constitui o hodierna um eco atrasado da ltima Constitui o leg tima a de 1946 Um partido prolet rio como o PT s pode identificar se ideol gica e politicamente com o socialismo prolet rio Como e enquanto tal o partido pleiteia todas as medidas relacionadas com a defesa de um padr o de vida decente para as classes trabalhadoras e endossa a luta de classes como um meio de revolu o dentro da ordem transforma es compat veis com o ca pitalismo mas que podem ser proscritas por burguesias reacion rias e de revolu o contra a ordem transforma es que somente se tornam vi veis se ocorrer a conquista do poder pelos trabalhadores Nos dois planos aparecem valores e ideais pol ticos incorpor veis Constitui o de qualquer pa s capi talista da era atual e que n o podem ser negligenciados em pa ses capitalistas da periferia impelidos a combinar o socialismo ao nacionalismo libert rio e democracia burguesa como condi o para neutralizar e vencer as press es espoliativas e imobilizadoras da domina o capitalista internacional O nosso atraso relativo complica o quadro descrito As elites dirig
234. ela poder estabelecer disposi es para regular as condi es de organiza o e de funcionamento do Estado e da sociedade civil sob as duras realidades do desenvolvimento capitalista desi gual Se ela ousasse ir al m at estabeleceria as condi es para a supera o do Folha de S Paulo 11 8 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 114 an Fernandes desenvolvimento capitalista desigual desagradando os poderes externos que controlam dist ncia o nosso sistema de poder de organiza o econ mica e de produ o cultural Os que mandam na sociedade civil e no Estado n o querem dar esse salto Ainda agora o professor F bio Konder Comparato fez reflex es melan c licas sobre as normas que presidem a elabora o da nova Constitui o e frisou com carradas de raz o que prevalece a aus ncia da busca das solu es concretas de que o pa s necessita Em seu projeto de constitui o o professor Comparato deu prioridade ao planejamento democr tico Ele sabe que plano e mercado se excluem Ali s Ernest Mandel um dos autores que demons trou com a maior clareza porque isso inevit vel A iniciativa privada ou a livre iniciativa s endossa programa es submetidas s irracionalidades do modo de produ o capitalista e do mercado Convive com planos setoriais ou de n vel micro no interior da empresa e de algum rg o de servi o p blico de pequeno alcance ou de mbi
235. elas grandes corpora es estrangeiras da radi calidade burguesa e em consequ ncia da Constitui o concebida como um requisito das reformas e das revolu es capitalistas A dificuldade da esquerda revolucion ria possui ra zes hist ricas claras N o lhe cabe nem lhe poderia caber fomentar ilus es constitucionais ou gerar projetos de constitui o que as pr prias classes dominantes descartam do seu rol de atividades p blicas Em consequ ncia a esquerda revolucion ria opera com estrat gias que visam ajustar a produ o do processo constituinte cria o ao fortalecimento e am plia o de condi es hist ricas que favore am os oprimidos a participa o dos trabalhadores na sociedade civil e no controle externo do Estado o amadure cimento e a efic cia da luta de classes como uma t cnica social da forma o de uma consci ncia prolet ria rebelde e da conquista de uma sociedade socialista capaz de conjugar liberdade com igualdade Delimita se assim um campo hist rico dentro do qual o embate cons titucional configura se como intrinsecamente pobre em contradi o com aquilo que os juristas radicais s o capazes de fazer e em particular com as exig ncias da situa o concreta As conting ncias e o poder econ mico pu seram na Assembleia Nacional Constituinte uma ampla maioria parlamentar conservadora Ela exige continuidade se poss vel uma revis o constitucional das cartas magnas de 1946 e 1967 at com cert
236. ele a bater se cruamente pela do mina o de classe pura e simples e nos limites extremos as debilita a ponto de obrig las a buscar na ditadura no bonapartismo o abre te s samo de becos sem sa da As classes burguesas est o no Brasil como sempre estive ram divididas quanto s solu es essenciais que dizem respeito aos dilemas postos pelo funcionamento da sociedade civil e pela organiza o do Estado S que hoje essas divis es s o claramente explosivas porque o setor mais forte e decisivo da burguesia o capital supranacional e uma internacionaliza o do modo de produ o capitalista que a burguesia brasileira desejou e hoje n o sabe como limitar ou deslindar A t o orgulhosa oitava economia do mundo regride ao crescer porque os la os de depend ncia ocultam uma modalidade imprevis vel de neocolonialismo N o s nenhum setor da burguesia interna pode bater se pela condu o ou pela lideran a dos demais estratos burgueses A burguesia como um todo vacila diante do imperialismo da era atual e de sua multidiversidade destrutiva Quando a hegemonia direta das classes do minantes atravessa a hegemonia dos partidos pol ticos da ordem instalados no governo ela desorienta a domina o de classe e desorganiza o governo A sociedade civil eleva o seu potencial de barb rie e o governo se anula como vetor pol tico da vontade coletiva das elites das classes dominantes o que re 79 Pen Stu dunda em uma
237. eles ficar o segregados em um recanto isolado e condenados a se afogarem em um copo de gua Nas divis es e subdivis es haver sempre a esmag los uma concentra o conservadora a maioria dos centro direitas direitas e at de alguns centro esquerdas afoita mente identificados com a transi o lenta gradual e segura que multiplica suas for as e influ ncias ao dividir se e subdividir se O produto final por sua vez passar por um crivo no qual a concentra o conservadora ultrapri vilegiada podendo operar o paciente s avessas juntando o tronco as pernas os bra os etc e compondo uma constitui o que dar conta dos interesses e valores dos de cima mas nunca do Brasil como um todo como o pa s real de nossos dias Se ocorrer algum descuido ainda restar o recurso do Plen rio com sua maioria providencial e da nivela o dentro dos par metros da defesa da ordem apta a funcionar como um trator gigantesco e funesto Estas reflex es parecer o sombrias a muitos leitores Mas ouvi paciente mente centenas de discursos e acompanhei as escaramu as dos grandes e pe quenos partidos da ordem Enquanto persistir o nimo de manter e reprodu zir os compromissos sagrados assumidos por Tancredo Neves e de evitar o pior atrav s da Nova Rep blica o processo constituinte estar preso a essa arquitetura que s poder parir um Frankenstein constitucional um equiva lente pol tico da ordem ilegal vigente Pois
238. elho Nacional de Desen volvimento da Educa o e vi voltarem se contra mim as iras do Minist rio da Educa o e dos donos das escolas privadas mercantis e confessionais Plane jamento democr tico na rea da educa o implicaria em controles racionais institucionalizados de aplica o e avalia o dos recursos p blicos o que n o interessa aos que comandam o sistema educacional brasileiro a partir de po si es estrat gicas oficiais ou privadas A resist ncia possu a um limite 115 Perseu de natureza material e psicol gica embora as implica es essenciais fossem pol ticas e econ micas Na verdade as contradi es existentes s o fatores de acelera o da acumula o de capital Precisam ser mantidas intocadas Que constitui o poder ser boa dentro de tal contexto Os centros de decis o escapam aos constituintes e trabalham contra as expectativas e as esperan as do povo Da o corol rio cartesiano a Constitui o poss vel que sair do parto das concilia es criar as condi es legais da reprodu o da sociedade civil existente e do Estado autocr tico existente ou de algo muito semelhante O circuito fechado da hist ria negado por tantos cientistas so ciais que sepultam as ideologias no mundo em que vivemos e proclamam a liberdade do sujeito individual e coletivo imp em avan os muito lentos em zigue zagues ou d saltos imprevistos quando a press o popular e a luta de clas
239. em particular dos efeitos da repress o da ditadura na afirma o lenta mas visceral dos oper rios e dos canavieiros O novo sindicalismo com base nas f bricas irrompe na cena hist rica como uma for a de rebeli o imbat vel As greves derrotam a ditadu ra militar e disputam peso e voz para os oper rios na sociedade civil Nesse contexto os sindicatos assumem a linha de frente do combate e provocam a liberaliza o do regime militar Criam se se o PT e a CUT Com os demais partidos de esquerda como o PCdoB o PCB e o PSB constituem uma esquer da dentro da ANC logo refor ada em sua atua o pol tica pelos radicais do centro e da centro esquerda A tend ncia ao inconformismo e renova o aprofundam se e consolidam se V rias reivindica es prolet rias e sindicais s o atendidas nos dispositivos de teor mais moderno e avan ado da Consti tui o Todavia o texto constitucional enriquecido alargando se suas am biguidades e as apar ncias de que a Constitui o padece de gigantismo como uma colcha de retalhos onde muitos colocaram as m os e a imagina o com inten es distintas e opostas A segunda via pela qual se deu a eclos o do povo na hist ria foi a que se caracterizou atrav s da chamada participa o popular As entidades ditas da sociedade civil a OAB a CNBB a CPT a SBPC a ABI os sindicatos e confedera es de oper rios as organiza es que arregimentavam os traba lhadores rurais
240. em tem o mundo sua frente s que tem de lutar por ele fora e acima de utopias fixadas no passado Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 34 Florestan Fernandes O cerco ao PT O PT n o saiu de dentro dos dois grandes partidos da ordem que ga rantiam a visibilidade democr tica do regime ditatorial para uso externo No momento em que se constituiu as press es dos de baixo compeliam a ditadura a ceder espa os pol ticos aos que a desafiavam com maior aud cia Al m disso o PT desfraldou a bandeira vermelha daqueles que haviam sido privados do direito de greve e que eram estigmatizados como inimigos p bli cos os oper rios Suas fronteiras sociais eram amplas pois iam dos quadros oper rios e sindicalistas aos estudantes intelectuais radicais e setores mais irados da pequena burguesia e das classes m dias tradicionais Contudo ali estava de novo o perigo vermelho o vulc o que poderia amea ar a ordem e lan ar nas ruas as paix es incontrol veis da revolu o prolet ria O novo sindicalismo recebia bajula es que partiam da imprensa e dos donos do poder Mas aos poucos surgiu o desencanto Esse sindicalismo n o era o que parecia O sindicato se transformara sob o impulso da classe oper ria e de suas rela es com o mundo da ind stria Tamb m emergiam comiss es de f brica compostas por oper rios dispostos a lutar e a exercer Pasquim S o Paulo 11 18 9 1986
241. emos para uma constitui o dos privilegiados e donos do poder para os privilegiados e do nos do poder A tesoura precisa percorrer linhas evidentes E a imagina o constituinte deve funcionar a todo pano para que a inven o criadora fa a os cortes necess rios e produza uma constitui o que se distinga das anteriores no essencial em nos colocar na rota do futuro da libera o dos oprimidos e da elimina o da opress o do fomento de democracia com desenvolvimento relativamente equilibrado patamar para o aparecimento de uma sociedade na qual os mais iguais n o possam esmagar os subalternizados 117 Persea UTONOMIA DOS PODERES O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente Sras e Srs deputados venho em nome do PT fazer um pequeno coment rio a respeito do notici rio do Correio Braziliense de ontem Pelo que pude constatar sequer a autonomia relativa dos poderes existe em nosso pa s atualmente O que se l aqui que o Substitutivo Bernardo Cabral encalhou nas decis es a respeito do sistema de governo e de mandato presidencial em torno dos quais o Pa l cio do Planalto e o PMDB n o est o conseguindo entender se Depois v m outras considera es inclusive sobre uma reuni o do presidente desta Casa com o presidente da Rep blica estranho o que est acontecendo h um poder soberano absoluto que interfere no trabalho da Constituinte e com isso afeta tamb m o trabalho da C mara e do Senado N
242. en to a problemas locais regionais ou corporativos que precisam ser resolvidos com maior ou menor urg ncia Se ele pertence oposi o cabe lhe combater as pol ticas do governo nos limites da preserva o e da reprodu o da ordem existente ou da reforma social paliativa O pluralismo democr tico fecha se pois como um al ap o ou uma gaiola que captura a atividade do parlamentar de mentalidade legislativa o que n o pode e n o deve acontecer com o par lamentar de mentalidade constituinte cujo papel o de tra ar os limites a forma e o significado do pluralismo democr tico A preocupa o de submeter a ANC ao modelo do Congresso Nacio nal Constituinte reduzindo a em sua subst ncia e atribui es a um poder constitu do provocou uma renova o superficial dos quadros constituintes recheados em sua imensa maioria de pol ticos profissionais parlamentares de mentalidade legislativa e objetivos pol ticos essencialmente regulados e de ro tina Isso n o impediu que muitos parlamentares de legislaturas anteriores demonstrassem s lida voca o pol tica constituinte e que alguns parlamenta res de primeira legislatura aderissem entusiasticamente mentalidade legis lativa o que se explica pelas peculiaridades dos partidos pelo abuso do po der econ mico nas elei es dos constituintes pela import ncia do pol tico 215 Persea profissional em nossa sociedade e pelo monop lio que ele det m na
243. encarado como se nada representasse claro que nessa Comiss o de Sistematiza o ocorreu o que aconteceria se tiv ssemos o cha mado comit de not veis Se houvesse uma comiss o de not veis composta de 90 100 120 ou 150 figuras essa comiss o trabalharia s que n o com o produto vindo de baixo para cima da realiza o pol tica dos colegas da quilo que emanou da iniciativa da participa o e das emendas populares A Comiss o de Sistematiza o equivalente a uma comiss o de not veis que trabalhou responsavelmente com esp rito de devo o sociedade brasileira democracia os companheiros que aqui falaram teriam respeitado se tivessem frequentado normalmente as reuni es da referida Comiss o Portanto essa uma data dram tica pedag gica e que ao mesmo tem po nos coloca diante do dilema o que democracia A democracia n o significa o direito de 320 pessoas virem com um papel estfreg lo no nariz dos colegas e dizer somos 320 e voc s est o submetidos por serem 230 Isso n o democracia Democracia seria aguardar que toda essa contribui o que seria da Comiss o de Sistematiza o no Plen rio trabalhar debater e da tirar o paradigma definitivo das normas que v o compor a nossa nova Constitui o Aprende se com erros e vamos aprender com esses Espero que eles n o nos desorientem e que tamb m n o fa am esmorecer em n s a dedica o e a obriga o que nos trouxe aqui essa obriga
244. ente em quatro momentos distintos o da Independ ncia o da moderniza o vincu lada transi o neocolonial o da primeira fase do industrialismo e o que se inaugura na d cada de 1950 e alcan a magnitude sob a ditadura militar A nossa geopol tica debru ou se na defesa m o armada das classes privilegia das e da pureza interna da civiliza o ocidental Seca e m ope trocou a ace lera o do desenvolvimento econ mico com a maior explora o das massas e a sateliza o do pa s como um todo que se tornou uma na o emergente de baixas perspectivas O governo desdobrou e deu for a s concep es ideol gicas da gran de burguesia Comprova se assim que nas rela es das na es hoje vale a norma a ideologia da superpot ncia e das na es capitalistas hegem nicas a ideologia das burguesias que se presumem liberais e nacionais Ao contr rio do que se fez nos Estados Unidos e principalmente na Alemanha e no Jap o o Estado n o corrigiu o particularismo cego entreguista e ego sta dos estratos dirigentes das classes dominantes Ele palmilhou o curso hist rico que estas preferiram e ignorou que deveria ser o fulcro condutor da autoemancipa o da na o como um todo Est na l gica da situa o portanto que ocorram retalia es por parte dos Estados Unidos e que os dignit rios desses pa ses venham aqui dizer o que temos de fazer e o que deve ou n o conter a nossa Constitui o Um pa s perif
245. ente burguesias revolucion rias chegaram a re conhecer a legitimidade do direito fundamental revolu o Esta como processo social nasce e cresce espontaneamente como um fato hist rico natural Todavia uma Constitui o democr tica n o estabelece medidas de de fesa da ordem que desequilibrem o sistema de poder e que principalmente instituam o monop lio do poder pol tico estatal por certas for as sociais su brepticiamente O equil brio dos poderes corresponde ao equil brio das clas ses e dos antagonismos das classes A ret rica da iniciativa popular e da participa o popular n o pode ocultar ou servir para esconder uma hege monia econ mica social e pol tica dos estratos dirigentes das classes possui doras Se se inova nessa dire o preciso inovar tamb m em outra dire o que confira aos trabalhadores o aumento crescente dos meios coletivos de autodefesa e de luta pol tica ofensiva Na verdade nem mesmo o quarto poder sofreu qualquer forma de ini bi o Ao contr rio o poder militar mant m o seu status de bra o armado da 101 Perseu burguesia e que desfruta da condi o an mala de ser um Estado dentro do Estado As duas maiores pot ncias contempor neas possuem um Minist rio de Defesa sendo que nos Estados Unidos ele pode ser chefiado por um civil N s temos tr s minist rios e seis ministros militares Algo rid culo para uma na o pobre e que se justifica porque o nosso
246. ente sobre o Parla mento A ANC cai nessa rede de intera es inevit veis Os constituintes ter minam envolvidos com extrema intensidade nas malhas dessa complexa teia de rela es rec procas entre a luta de classes na sociedade civile na ANC Os acordos intramuros se tornam transparentes dif ceis e muito danosos Por m Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 232 An F o n cleo do problema est no engolfamento dos constituintes em uma divul ga o impiedosa dos traidores do mandato popular Ocorrem erros e exage ros deplor veis no emprego dessa t cnica pelos denunciantes Constituintes devotados construtivamente ao desempenho de seus mandatos s o arrolados entre os traidores Isso s agrava as coisas pois as retifica es aumentam a dist ncia entre os bons e os maus constituintes de uma perspectiva cr tica O desgaste dos pol ticos estigmatizados t o grande que j ocorreram m ltiplos protestos contra o patrulhamento ideol gico Os representantes do povo como constituintes deviam conhecer a natureza e os limites do seu mandato Eles n o substituem de modo absoluto aqueles que delegaram originariamente o seu contestado poder constituinte Depois da verdadeira ocupa o di ria do Parlamento por imensas massas populares e entidades ou organiza es da sociedade civil das numerosas emendas populares subscri tas por milhares e at mais de um m
247. entes de nossas classes burguesas protelaram ou sabotaram reformas que poderiam ter feito h muito tempo Em consequ ncia reformas puramente capitalistas ca ram no campo de luta pol tica das classes trabalhadoras e acabaram assu mindo o car ter de reformas da esquerda ou socialistas O melhor exemplo consiste na reforma agr ria Esta possu a escasso interesse econ mico e po l tico para uma burguesia latifundi ria e que dispunha de amplas fronteiras para expandir horizontalmente a explora o do homem pobre e da terra De outro lado ao se introduzir a produ o capitalista de capital mais ou menos intensivo na agropecu ria as condi es geogr ficas o g nero de culturas ou de explora o agropecu ria e a comercializa o interna e externa dos produtos permitiam a recomposi o do latif ndio ou a explora o conju 99 Pensa gada de m dios e pequenos produtores submetidos hegemonia tecnol gica e econ mica do grande capital agr rio Em suma a burguesia n o chegou a alimentar qualquer empenho na reforma agr ria capitalista e as tens es no campo se agravaram de forma explosiva Outro exemplo pode ser retirado do ensino p blico As elites da clas se dominante mantiveram algum interesse pela expans o do ensino p blico gratuito enquanto podiam monopolizar as oportunidades educacionais como mecanismo de financiamento indireto de seu status social Assim que a situa o hist rica se alterou e o ensino p b
248. ento capitalista no Brasil A internacionaliza o do modo de produ o do mercado interno de um novo padr o de associa o que pos sui um forte componente de domina o externa direta o imperialismo deixa de operar seletivamente atrav s do mercado mundial implantando se dentro do pa s como o antigo sistema colonial a industrializa o maci a o apa recimento de sindicalismo cujas ra zes brotavam das f bricas por causa da repress o empresarial e estatal e a acelera o da luta de classes forjam uma nova moldura hist rica Apesar de diverg ncias setoriais todas as classes burguesas inclusive o setor hegem nico externo p em em primeiro plano a estabilidade pol tica e a repress o policial militar da luta de classes N o h clima para o populismo nem mesmo um populismo militar ultranacionalis 75 Perseu ta de direita Nessas condi es ocorrem duas oscila es dentro da sociedade civil no que se refere exist ncia do Parlamento dos partidos das elei es e dos marcos constitucionais A primeira oscila o vem de cima controlada direta e ferreamente pela composi o de poder civil militar Como o fermento das lutas sociais corria no subterr neo da sociedade essa oscila o valoriza o embuste constitucio nal Surge assim a primeira manifesta o de revis o constitucional que culmina na Constitui o de 1967 e nos seus complementos que tomam o nome de Constitui o de 1969 e de atos
249. ento da ordem existente Ele repudia e j n o quer mais ir s portas das f bricas brandir slogans e passar santinhos que ajudem a eleger companheiros que se atolam nas pr ticas predominantes de travar o combate eleitoral Na verdade os trabalhadores s o v timas das t cnicas burguesas de propaganda pol tica E sentem o golpe duro de constatar que dentro de seus muros e de suas fileiras essas mesmas t cnicas s o as nicas que encontram consagra o e possuem efic cia Esse estado de esp rito rebelde e construtivo defrontou se com dois dilemas O primeiro evidente consistia no grau de congru ncia do oper rio Folha de S Paulo 28 11 1986 39 Pensa de reas tidas como de ponta e mais experimentados nos embates com os patr es com os paradigmas eleitorais difundidos pelos partidos da ordem como o PMDB o PTB o PFL etc O segundo provinha da baixa sali ncia do antagonismo prolet rio em uma forma especificamente anticapitalista e socialista Poder se ia falar em um banho de gua fria Os conte dos da consci ncia de classe surgiam esmaecidos como se a cabe a do trabalhador estivesse feita pelos donos do poder Ora os resultados permitem uma interpreta o sociol gica que vai em outra dire o N o se poderia esperar um revolucionarismo potencial e muito menos um revolucionarismo expl cito nas respostas Ao longo de seu vir a ser o movimento oper rio alcan ou realiza es que s o not veis
250. entre uma tradi o parlamentar importada mas com ra zes nas nossas repetidas experi ncias constitucionais e nas prerrogativas dos consti tuintes e um nexo com as v rias camadas de um povo sem peso e sem voz na sociedade civil e no Estado em virtude da car ncia de uma cultura c vica Res tringiu se e circunscreveu se a polaridade nova e seu potencial construtivo Mas Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 306 Florestan F ela foi aceita e posta em pr tica de maneira t pica como foi indicado No entanto a avalanche de pessoas entidades e movimentos que responderam ativamente convoca o da participa o popular do ind gena ao professor universit rio compensou os lobbies os grupos de press o e de interesses que passaram a atu ar junto aos constituintes de forma insistente e permanente refor ando interesses particularistas que j grassavam entre os pr prios parlamentares Portanto a estrat gia do movimento da elabora o constitucional esta va tra ada segundo moldes e alvos que permitiriam chegar se a um produto final superior composi o de classe da ANC O estratagema conservador abateu se sobre essa estrat gia e quase chegou a estrangul la Aqui entramos no cap tulo da t tica A mesa diretora da ANC diluiu o processo de elabora o da constitui o tomando como ponto de refer ncia e como padr o o funcio namento da C mara e do Senado introduzindo
251. eputado ou senador recebe o seu quinh o Ele prometeu e n o cumpriu como sempre seguindo a nova onda dizem que vive como um maraj O que era uma esperan a esfumou se metamorfo seando se em raiva larvar recalcada dos que nunca t m vez e por isso est o condenados a n o encontrar promessas numa rotina de pobreza secular Ao lado desses e com eles interagindo est um conglomerado de in formados e que chegaram a ser acordados para uma esperan a mais alvoro a da e confiante pelas comunidades de base pelas associa es de bairros pela participa o em com cios pela m dia e uma infind vel variedade de outros meios A ANC n o identificada com o poder e com a domina o de classe Desvenda se como algo compar vel escola ou igreja da qual poderiam es perar um produto construtivo capaz de melhorar as suas vidas De novo a institui o encarada como um meio s que com maior confian a e como um meio para atingir os fins comuns de todos pobres ou ricos A Constitui o estaria para os pobres como um instrumento de altera o de realidades nuas e cruas Essa percep o poder parecer infantil por m n o foi elaborada como resposta const ncia das humilha es e sofrimentos sob influ ncia de pessoas instru das e devotadas conscientiza o dos humildes Nessa esfera prepondera uma insuper vel ambiguidade e a tend ncia moderada de con cordar com os que enfatizam
252. equenas concess es feitas s liberdades in dividuais e aos direitos sociais Eis que dentro desse contexto a press o das elites econ micas culturais e pol ticas das classes dominantes implode o Re gimento Interno e amea a as migalhas que as boas inten es esparramaram com conta gotas no projeto de constitui o Ainda por cima os mais honestos e ing nuos se voltam para n s esperando que travemos uma batalha por esse arremedo de constitui o moderna e democr tica um contrassenso Uma pantomima Quem deve bater se pelo texto aprovado s o os democratas que se dizem conservadores e liberais Esse projeto de constitui o solda os ao poder fortalece o monop lio que possuem secularmente os donos do Estado da riqueza da na o e da gente que a habita Cabe nos tentar manter e se poss vel ampliar as pequenas conquistas dos trabalhadores e do z povinho Nunca uma luta pol tica de vida e morte pois a burguesia ficou com a parte do le o e n s n o somos o outro da burguesia a cassa o dos privil gios a revolu o nacional e democr tica a constru o de uma nova sociedade civil e de uma democracia aberta ficaram relegadas a um plano secund rio Os que prevaleceram devem sair a campo e demonstrar seu valor como campe es de uma sociedade burguesa atrasada e que se contenta pela vontade coletiva dos de cima com o desenvolvimento desigual e com a sateliza o s grandes pot ncias imperialistas O
253. er de decis o do vetor militar do governo O melhor ir ao fundo das idealiza es em conflito das contradi es que as originam e as agravam em uma so ciedade capitalista da periferia perturbada pelos desequil brios e iniquidades Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 212 An F do desenvolvimento desigual As imagens de uma idade de ouro localizada no passado ter o de ser jogadas na lata de lixo da hist ria As promessas e as esperan as de uma sociedade de classes em expans o embora em crise global profunda devem ser tomadas em conta Superado o monolitismo de classe o pluralismo democr tico imp e se institucionalmente e o equil brio inst vel do sistema de poder s se viabilizar na base de toler ncia e da liberdade nas rela es entre os que pensam e agem de modo diferente Arreganhar os den tes e erguer os punhos contra os demais constituintes de nada adianta A His t ria caminha com ritmos muito r pidos no Brasil de nossos dias Os que n o entendem isso e recorrem coa o majorit ria moment nea n o conquistam o para so da estabilidade pol tica e a vit ria da plutocracia Ajudam os ritmos fortes da hist ria cavando precocemente suas sepulturas 213 Pen ft RIGIDEZ INSTITUCIONAL Uma das anomalias que interfere negativamente na produ o da As sembleia Nacional Constituinte sua assimila o ao padr o de funcionamen to da C mara dos Deputados do Senado e
254. er oferecido em ius primae noctis a Zeus que o fulminar ou ordenar que o pro jeto boneco prossiga Na verdade a constru o da Constitui o tende a tornar se um pro cesso olig rquico se n s n o erguermos um basta a esse maquiavelismo pro vinciano O pr prio Presidente da Comiss o de Sistematiza o n o poder consentir nesses procedimentos que subalternizam e ridicularizam a ANC mas tamb m ferem a sua reputa o s lida de jurista constitucionalista e es critor O PMDB por sua vez foi longe demais Ele revela uma desenvoltura na trai o de seus princ pios e de suas promessas pol ticas que espantosa Primeiro porque os dois grupos H rcules e Consenso agregam grandes m dios e pequenos privilegiados No fundo as duas opera es interpartid 125 Perseu rias desembocam na defesa dos interesses econ micos e dos valores sociais ou pol ticos das classes dominantes Nunca o PMDB mostrou se t o partido da ordem e de modo espont neo O avesso do que ele se acredita e obje tivamente deveria ser Segundo porque o PMDB socorre a transi o lenta gradual e segura no instante mesmo no qual ela deveria ser enterrada para sempre O PMDB arrega a as mangas e p e m os obra n o para fortalecer a revolu o constitucional e democr tica por m para salvar a Nova Rep bli ca dar lhe continuidade por outros meios Isso odioso A hipocrisia dessa triste realiza o apare
255. er uma revolu o democr tica espera desta Constitui o reforma agr ria revolu o educacional revolu o na esfera da sa de na elimina o da fome e do desemprego da inclus o dos oprimidos na sociedade civil uma transforma o da sociedade civil que permita chegar inclusive ao parlamen Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 132 An F tarismo respondendo ao meu querido companheiro que me questionou logo no in cio da exposi o A na o esperava transforma es profundas e acabamos caindo por erro de metodologia numa Comiss o de Sistematiza o que n o sistematizou nada porque repetiu a falta de gente deste Plen rio O processo constituinte saiu desta Casa e se estabeleceu atrav s de pequenos grupos de negocia es o que inverteu portanto a rela o que deveria haver entre iniciativa popular e Constitui o Acabamos tendo uma Carta dos privilegiados para os privile giados Basta ver a import ncia do Estado dentro desta Constitui o uma Carta de organiza o do Estado A Constitui o de um pa s moderno como a Fran a manda para a lei ordin ria quase tudo aquilo de que tratamos na Constitui o Ou o o nobre Constituinte Bonif cio de Andrada O Sr Bonif cio de Andrada Quero levar a V Exa os nossos aplausos O projeto constitucional cria uma Carta Magna burocratizadora burocratizante e casu stica que vai atingir todos os setores da vida nacional i
256. erem o preto no branco uma constitui o na qual estejam clara e explicitamente as respostas hist ricas s suas reivindica es Como a iniciativa popular e certas entidades com representatividade na sociedade civil podem servir lhes de porta voz e eles mesmos disp em de institui es bastan te fortes para carregarem suas bandeiras de forma corporativa e pol tica eles se lan am na ofensiva carregando suas bandeiras Essa situa o impediu o PMDB de se apresentar com um projeto de constitui o que servisse de guia ao processo constituinte Dividido entre uma maioria conservadora e uma minoria radical o partido teve de se so correr do artif cio de um processo constituinte original extrair os elementos centrais da Constitui o de uma elabora o sui generis e complexo que pul verizou o processo constituinte aumentou o poder de fogo dos conserva dores de todos os partidos direita mas teve a virtude de ampliar os focos de infiltra o e de influ ncia da participa o popular O resultado das duas primeiras etapas de trabalho est o a Oito pe as que cont m muitas contradi es internas e que s o de unifica o dific lima porque os que fazem parte da massa reacion ria da burguesia aliam se aos elementos retr grados de fora e sabotagem sistem tica do governo Os radicais do PMDB n o podem recuar de suas posi es de defesa do mudancismo por m n o possuem potencial isolados ou em alian a co
257. ernas do Centr o prov m de sua heterogeneidade econ mica ideol gica e pol tica Os mais iguais d o o tom Os outros dan am Al m disso muitos n o est o dispostos a arcar com o estigma da cor rup o generalizada de servi ais do Sarney e de obscurantistas Assustam se com as v rias idades do Centr o e com suas consequ ncias no plano constitucional Adeptos dos tempos modernos v m se atolados no p ntano de um conservantismo arrasador dotado de ret rica modernizadora que n o engana ningu m Outros por fisiologismo ou autoritarismo ficam decepcio nados com a divis o do bolo pequeno para tantos apetites e com a habilidade do governo de prometer tudo e dar o que pode ou o que quer A diretriz do governo clara para uma trai o barata em alta escala pre o de liquida o As contradi es externas do Centr o procedem da luta de classes e da re pulsa de entidades e organiza es democr ticas que n o se bateram com a ditadura para voltar ao passado pr populista Este o foco mais agudo das tens es e constrangimentos Pol ticos profissionais todos sabem que depen dem de suas imagens para se reelegerem O calcanhar de Aquiles est aqui Em fric o com as contradi es internas as press es de fora desaprumam o barco e amea am sua tripula o Conv m insistir sobre este ponto A luta de classes que se fere no cerne da sociedade civil atinge o Estado e despenca reativam
258. ertar na burguesia ago ra poder o ser o seu novo cacife pol tico nas rela es com as massas popula res Por sua vez a esquerda propriamente dita n o foi Assembleia Nacional Constituinte para fazer a revolu o social Todas as suas correntes sabem que o Parlamento constitui um cen rio para o qual as classes dominantes deslocam o embate pol tico como t cnica social de n o se ver for ada a turbul ncias e concess es demasiado caras e suscet veis de se converterem em transforma es tem veis A burguesia mais civilizada combina promessa e repress o O Parlamento permite oferecer muito e dar pouco conservando a promessa em banho maria ao mesmo tempo que serve como um respiro e uma artimanha a repress o pode assim ser localizada a casos extremos e urgentes A esquerda do PMDB em suas ramifica es progressistas e social democr ticas provavelmente tinha ilus es maiores que a extrema esquerda propriamente dita Egressa predominantemente de estratos massacrados das classes m dias baixas ou seus representantes mais l cidos viam na ANC uma continuidade e um aprofundamento do PMDB que se forjara nos entreveros com a ditadura militar Apostavam pois que a Constitui o poderia ser uma alavanca na revolu o social democr tica dentro da ordem e confiavam na tradi o de lutas do PMDB Todavia o PMDB que emergiu da fus o com o PP da concilia o pelo alto promovida por Tancredo Neves e os pr ceres civis ou far
259. es econ micas e suas sombrias desigualdades sociais ra ciais e regionais que assolam o pa s desde os tempos coloniais Eis a quest o socialdemocracia burguesa ou prolet ria Em suma que tipo de centro esquerda Omitindo se nessas defini es o partido oculta o seu sentido mais profundo e situa se na franja humanit ria dos que mistu ram reforma capitalista do capitalismo com conquista ou manuten o do poder Estas palavras podem parecer muito duras porque os fundadores do PSDB se consagraram como paladinos da luta pol tica democr tica e buscam alternativas para o exterm nio da Nova Rep blica Escrevo as pois com todo o respeito que eles merecem alguns como amigos queridos outros na qualidade de companheiros de viagem nos embates pela constru o de uma sociedade civil aberta e de um Estado democr tico N o obstante n o se pode ignorar o que crucial pouco sair do PMDB para permanecer dentro de um circuito pol tico fechado rico de equ vocos que separa algumas das nos sas melhores cabe as pol ticas da op o real mandonismo ou socialismo Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 252 An F Sabemos de antem o que uma esquerda da burguesia estar sempre presa a uma camisa de for a insuper vel por maior e mais honesta que seja a sua ra dicalidade A nossa burguesia n o cultiva a generosidade pol tica e quer a sua parte em riqueza poder e preserva o
260. esejam e se os trabalhadores n o forem con templados com liberdades e direitos corporativos A bom tradutor todos os governos s o timos inclusive o atual dirigido por um homem bom e que pecou por ser democr tico demais e devemos rezar para que a nova Constitui o seja o produto do equil brio do Centr o A bem da verdade o erro consistiu em convocar uma Assembleia Nacional Constituinte Bastaria meter em uma batedeira as constitui es de 1967 e de 1969 com alguns atos institucionais certos decretos e decretos leis e estar amos na Ilha da Fantasia O melhor dos mundos n o para quem quer para quem pode Os trabalhadores e os oprimidos que esperem a sua vez Ainda urge chegar a outro pacto conservador desta vez por dentro da ANC e pelos valorosos campe es do Centr o Folha de S Paulo 12 1 1988 e transcrito no Jornal de Fortaleza em abril de 1988 193 Pen ft O que arru na e anula o atual governo n o a personalidade do Sr Jos Sarney Costa novelista acad mico da Academia Brasileira de Letras e pol tico de longa carreira e m ltiplas experi ncias partid rias O governo liquefez se N o pode remar nem contra nem a favor da corrente O golpe dentro do golpe o quarto na cronologia encetada em 1964 atrav s do pacto conservador e da legitima o atrav s do col gio eleitoral funcionou como um furac o pol tico Parecia que se garantiria a transi
261. esentava um avan o Ent o onde est o erro Pode ser que a minha an lise esteja errada N o acredito que haja uma an lise acima de questionamento e de cr tica Mas a minha opini o a de que a fonte do erro est na metodologia que foi utilizada De fato a iniciativa popular foi considerada naqueles termos de passar como gato por cima das brasas Lembro me de que nas subcomiss es por exemplo ouvimos diferen tes entidades diferentes correntes da opini o p blica Em nossa subcomis s o o ndio Krenak por exemplo fez um depoimento emocionante e uma personalidade negra de cujo nome n o me recordo no momento fez outro pronunciamento brilhante V rias entidades levaram at n s reflex es de alto significado e conte do pedag gico como aconteceu com a ANDES a CPP a UNE o F rum de Defesa da Escola P blica etc Entretanto o tempo que ha via entre ouvir esses representantes de correntes populares e a elabora o do anteprojeto era t o curto que na verdade o anteprojeto j estava na cabe a do Relator Em algumas Subcomiss es a sorte favoreceu o aparecimento de um bom anteprojeto e em outras n o Em nosso caso posso dizer que o antepro jeto era severamente magro e o seu enriquecimento foi produto do trabalho coletivo que se fez sem que os pr prios Constituintes pudessem se conhecer melhor e desenvolver um conhecimento mais a fundo do que pretendiam fa zer dentro do projeto de nossa Constitui o Ent o na Subcomis
262. essoal 1 Veja se a prop sito a sinopse feita por Cynthia Peter e Iara Viotti muito dif cil sobreviver Como se ganha e como se perde na Constituinte Senhor 327 23 6 1987 p 47 9 2 imposs vel indicar o vasto material documentativo dispon vel note se nunca desmentido oficialmente S para o leitor tomar p menciono Vanda C lia e Rodolfo Fernandes Turma do DO procura cargos para apoiar Sarney Jornal do Brasil 07 6 1987 o contundente artigo de J nio de Freitas O favor secreto de Sarney Folha de S Paulo 24 5 1987 e para evidenciar a amplitude da irradia o do centro democr tico t o somente Dissid ncia ganha no voto O Estado de S Paulo 07 6 1987 95 Pensa Muitas escaramu as e conflitos execr veis entre os constituintes tiveram suas origens nessa trama de envolvimento ou de rep dio podrid o do regime Os que resistiram pertencessem ao PMDB ao PFL ao PTB ao PDS ou esquer da foram estigmatizados como a minoria radical que recorria baderna para impor teses constitucionais ex ticas e alheias ao temperamento do povo brasileiro O que se infere da Em termos sociol gicos que aquilo que se po deria designar como totalitarismo de classe e que caracteriza uma variante de fascismo larvar t o forte e difundido na Am rica Latina e que evoca o vigamento de ditaduras como as de Salazar e de Franco continua aqui den samente vivo nas ativ
263. estilo de produ o constitucional H grosserias que s o detest veis mas possuem ra zes hist ricas pelas quais passado e presente se ligam constru o do futuro E a na o nesses estratos s quer socialmente uma coisa uma revolu o democr tica irrevers vel Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 226 Florestan Fernandes CONSTITUI O CONTINUIDADE OU RUPTURA O que falta no debate parlamentar a exist ncia de concep es b sicas do que dever ser a Constitui o Brasileira na presente situa o hist rica A porosidade e o car ter inorg nico dos partidos da ordem prende os ao imediatismo e aos interesses particularistas das classes dominantes das c pulas partid rias e do governo Uma esp cie de oportunismo conservador ou de direita conforme o partido retira da cena hist rica as linhas mestras de projetos constitucionais articulados e salientes que alimentem as correntes de opini es e os movimentos pol ticos de suas bases eleitorais bvio que existem nesses partidos pol ticos juristas e intelectuais que possuem tais projetos e poderiam formul los de modo sistem tico No entanto o rateio do poder pol tico especificamente estatal n o se processa no n vel dos partidos mas na esfera da domina o de classe e do controle das inst ncias institu cionais do poder pol tico estatal inclusive o militar Por isso a contribui o desses pol
264. etores de esquerda tiveram um papel din Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 10 An F mico na Constituinte Se n s n o estiv ssemos l as consequ ncias teriam sido piores Teoria e Debate n 13 janeiro fevereiro mar o 1991 Foram privilegiados nesta publica o os textos de tem tica mais abran gente nos quais Florestan Fernandes debate o sistema pol tico as caracter sti cas do processo constituinte e as op es e projetos de na o defendidos pelo deputado e pelo Partido dos Trabalhadores naquele momento Al m disso em raz o da dificuldade de acesso os artigos publicados em ve culos menores fo ram tamb m reproduzidos estando os demais textos relacionados em anexo ao final desta edi o no qual s o indicadas as fontes para facilitar a busca ao leitor que se interesse pela ntegra da sele o originalmente publicada Assim como no primeiro t tulo da cole o Cadernos Perseu dedicado obra de den ncia das viola es dos direitos humanos durante o regime militar instaurado em 1964 no Brasil tamb m este volume suscita reflex es sobre debates pol ticos contempor neos destacando a atual discuss o sobre a Reforma Pol tica que pauta novamente nosso sistema de representa o e revolve a demanda por mudan as estruturais que animava as expectativas das organiza es dos trabalhadores no per odo da Constituinte muitas delas frustradas na inacabada Constitui
265. exto de agu amento das con tradi es sociais econ micas e pol ticas Ao contr rio do que se diz o agravamento da conjuntura um elemen to positivo para o funcionamento da Assembleia Nacional Constituinte e de outro lado n o poss vel separar a crise de conjuntura da crise de estrutura As duas crises est o superpostas A crise de conjuntura de superf cie reflete a situa o mais grave do Brasil que vem desde o passado colonial da heran a deixada pela Velha Rep blica olig rquica pela ditadura do Estado Novo e pela recente ditadura militar Portanto nunca se pode falar na conjuntura sem pensar na estrutura e n o se pode tamb m avaliar a crise de conjuntura sem pensar no que ela representa em virtude de elementos que s o intr nsecos pr pria estrutura da economia da sociedade e da cultura Discurso proferido durante a sess o de 19 de fevereiro de 1987 na ANC 53 Pen ft Os problemas mais graves do Brasil dizem respeito sua estrutura so cial econ mica e pol tica S o esses elementos que tornam muito dif cil para n s modernizar as institui es termos um sistema democr tico de governo e tamb m um Legislativo independente cioso de sua autonomia e capaz de enfrentar o Executivo capaz de ombrear se com o Judici rio capaz de funcio nar como rg o o nervo que vincula o Estado s necessidades fundamentais da na o Nesta Casa neste momento temos de afirmar que aqui reside a so be
266. fazem milagres verdade Con tudo onde o poder p blico recua ou anula a iniciativa privada n o opera como um fator estrutural e din mico de compensa o Ao contr rio o subde senvolvimento funciona como o motor permanente de uma acumula o ca pitalista origin ria que se renova sem cessar insaci vel Documentada pelos censos e por outros meios de informa o estat stica essa realidade pungente e chocante torna se t o destrutiva quanto uma guerra e aparece como a ver gonha coletiva nacional n mero um Portanto mudar nessa esfera vem a ser algo de interesse coletivo maior As mudan as acarretam inova es e s o repelidas como se fossem radicais socialistas ou comunistas e impatri ticas Ora s um cego ou um hip crita n o enxerga o que acontece e qual o rem dio para sanar o despotismo burgu s n o para extirp lo Para isto seria preciso uma revolu o social prolet ria e as assembleias constituintes n o s o instrumentais para esse tipo de revolu o No caso os constituintes desataram os n s de t midas reformas requisitos de exist ncia de uma na o capitalista moderna Eles ter o de prosperar para se conjugarem a v rias transforma es legais concomitantes dentro da ordem para que o desenvol vimento capitalista no Brasil ganhe outro porte Ali s essa a principal tarefa hist rica dos constituintes e as classes burguesas deveriam ser compreensivas ao
267. g nea que chamei de colcha de retalhos formula um desafio Sem ser uma promessa de revolu o sequer dentro da ordem a revolu o que a burguesia deveria ter realizado ela rep e a amea a aos privilegiados Sem perderem qualquer regalia eles assistem horro rizados rotiniza o de liberdades individuais e coletivas ou de direitos sociais e universaliza o do acesso a meios legais que a exclusividade convertia em fonte de odioso despotismo Emerge do contexto hist rico de fora da Constitui o uma quebra de pequenas bastilhas encadeadas que faziam do Brasil uma colossal bastilha O nosso futuro pr ximo depende pois de acontecimentos fortuitos A predisposi o para o golpe branco alimenta uma seiva daninha por que esperar cinco anos Depois desse tempo n o surgir o press es ainda mais fortes para imprimir um recorte democr tico profundo carta constitu cional 1988 confronta com 1934 A Constitui o representa um bom pretexto para uma defesa reacion ria intransigente da ordem um incentivo incoerc vel contrarrevolu o Se nada suceder a promessa democr tica passar a ser uma realidade Se o passado est morto o futuro pertence massa mais pobre e espoliada dos cidad os Essas cogita es n o suscitam elucubra es equivocadas O observador atento poder constatar como se acumulam no horizonte nuvens que indicam tempestade Os trabalhadores das cidades e da terra os estratos mais castigado
268. go meu membro esclarecido daquelas elites Florestan injusto Mas t o bom A melhor maneira de manter intoc vel o pa s real consistia em prepa rar lhe constitui es avan adas uma sublima o de desejos e anseios insatis Folha de S Paulo 16 9 1988 remetido ao jornal em 21 7 1988 281 Pen ft feitos de descoloniza o mental ou uma libera o compensat ria da condi o imperante de barb rie cr nica A Constitui o tomava como ponto de refe r ncia o pa s ideal engendrando um formalismo jurisdicista constitucional visceral Na verdade em um pa s no qual existia a escravid o combinada aos milh es de homens pobres livres que n o passavam de p rias as duas primeiras constitui es destinavam se aos estamentos senhoriais burguesia emergente e aos estrangeiros mais ou menos ricos e ilustres que circulavam pelo pa s ou nele viviam Eram constitui es t picas de uma democracia res trita N o fosse esse acidente hist rico para o mais urgente e necess rio os c digos seriam suficientes E poucas vezes eles eram invocados nos usos e abu sos do poder e da viol ncia O patrimonialismo combinava se autocracia Quem podia impunha o eu quero e ali estava a lei Mais n o era preciso importante notar se que apesar de suas origens das deforma es que sofreu e das press es internas ou externas dos donos do poder a Assembleia Nacional Constituinte extrapolou as
269. gra dual e segura se viu elevada categoria de princ pio intoc vel protegido pelo poder do fuzil e se instituiu um Congresso Constituinte organicamente preso referida forma de transi o democr tica e ao seu Estado de seguran a na cional disfar ado Nas elei es as mesmas for as sociais manejaram o poder econ mico plenitude para contar em tal Congresso Constituinte com uma maioria decisiva Na medida em que surgiram brechas nesse vasto esquema outras provid ncias foram tomadas como acionar o governo e as press es militares para conseguir certos fins criar entidades empresariais mais din Folha de S Paulo 24 7 1988 255 Pen ft micas para intervir nas vota es a UDR e a UBE intensificar a atua o das entidades empresariais de todos os ramos de atividades e finalmente com por um organismo de unidade pol tica parlamentar o Centr o para bloquear a eclos o reformista e democr tica que partia do centro e da esquerda Esses fatos indicam a qualidade e a vitalidade das altera es que ocor reram na base social do sistema capitalista de poder Essas altera es cor respondem s mudan as realizadas ou em processo que afetaram a pr pria produ o capitalista e o desenvolvimento capitalista depois de 1964 As clas ses dominantes perderam espa o pol tico e suas elites viram se constrangi das a enfrentar simultaneamente press es inconformistas que emergiam das massas populares das classe
270. grande imprensa podia desempenhar pap is construtivos no apoio das mais variadas reivindica es democr ticas sem p r em risco sua imparcialidade Portanto as oscila es que se notam aqui e ali n o representam altera o de opini es pessoais ou da estrat gia do PT na Assembleia Nacional Constituinte Mostram que o elemento humano na po l tica pr tica permanece sempre presente Ele ostenta o seu grau de grandeza ou de mesquinharia diante dos dilemas hist ricos de um pa s talado pela mis ria Tamb m exibe a carga de utopia necess ria para que a Constitui o se afirme como uma fonte de nega o e de supera o do desenvolvimento desigual Em suma o elemento humano que prova que s a democracia n o basta preciso que ela se enlace ao socialismo para libertar a civiliza o da barb rie FLORESTAN FERNANDES Bras lia 21 de setembro de 1988 NOTAS 1 Texto de abertura do livro FERNANDES Florestan A Constitui o Inacabada Vias Hist ricas e Significado Pol tico S o Paulo Esta o Liberdade 1989 pp 9 12 N E 2 O referido pref cio n o foi reproduzido nesta obra contudo pode ser encontrado no acervo digital do jornal Folha de S o Paulo com o t tulo Dignidade e Compromisso publicado em 09 de agosto de 1988 p A 3 Link http acervo folha com br fsp 1988 08 09 2 4119209 N E 3 Nem todos os artigos foram inclu dos neste volume Outros ser o aproveitados mais tarde em livr
271. ha de S Paulo 26 6 1986 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 16 An F bram por todos os lados a sociedade brasileira Um presidente embora um presidente ungido como o vice de um col gio eleitoral matreiro pode ir a qualquer parte falar bonito e voltar as costas s realidades duras e cruas da na o O pa s seria agora uma forma ampliada do beletrismo e da ret rica palavrosa f cil de empulhamento n o dos outros por m dos que falam dos que se iludem com suas engenhosas imagens verbais O que se passa de fato na cabe a dos que podem e dos que mandam que fingem ser o que n o s o e tocam o bonde para frente inventando uma hist ria que nada tem a ver com a hist ria real de todos n s impressionante embora brazilianists mais afoitos encontrem em tais manifesta es do avesso da pol tica s ria e respon s vel uma fonte de prazer est tico e de interpreta es paradoxais Olhemos o que ocorre em S o Paulo Depois da ditadura dos caminhos tortuosos pelos quais sa mos dela apenas em parte e das ltimas elei es que reconduziram o senhor J nio Quadros condi o de prefeito da maior cidade do Brasil o panorama inacredit vel Parece fic o noir algo escabroso O principal partido da ordem e do governo pratica uma obra ostensiva de de moli o do seu candidato somente uma voz a de Alberto Goldman tentou p r as coisas no lugar sem tapar o sol com
272. hadoras de estratos massacrados da pequena burguesia e das classes m dias tradicionais que por enquanto clamam por democracia mas que poder o deslocar se rapidamente para a inquieta o social e a revolu o pol tica Os senhores da ordem e os donos do poder precisam abrir os olhos N o devem se esquecer de que a luta de classes intr nseca ao Parlamento e atinge seu pico em uma ANC Contudo eles s o meios n o fins Os fins se encontram na cria o de uma sociedade civil civilizada e de um Estado democr tico que podem brotar tanto do capitalismo quanto do socialismo Esta ltima a via que tende a proliferar nos pa ses capitalistas perif ricos nos quais a intoler ncia fecha todas as sa das menos as que s o criadas revo lucionariamente pelas massas populares e pelas classes trabalhadoras Que meditem sobre isso os constituintes que desfrutam o s culo XX com a imagi na o do s culo XIX Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 192 Florestan F O GOVERNO EM PERSPECTIVA H uma esperan a de que promulgada a Constitui o a crise de go verno desaparecer a estagnofla o recuar rapidamente e se instaurar uma era de felicidade geral As ideias de M rio Amato s o um exemplo espantoso Como um dirigente industrial presidente da FIESP pode responsabilizar se por tantas infantilidades Tudo ir bem se a Constitui o conceder aos empres rios os privil gios que d
273. hegemonia prov vel do nico setor mais ou menos organizado e por sua pr pria natureza revolucion rio as classes trabalhadoras Esse primeiro caminho proporciona frutos mais rapidamente e exporia os parlamentares que representam com frequ ncia apenas interesses particularistas aprendizagem sob press o da verdadeira natureza da representa o O segundo caminho mais dificultoso e arriscado acarreta solu es radicais como a dualidade de poder e a impossibilidade de manter se sob coa o um falso regime de representa o democr tica O fato que n o poss vel ficar se em Bras lia fazendo o jogo da ama relinha O Distrito Federal foi fabricado para produzir maior autonomia para uma Rep blica burguesa autocr tica que no Rio de Janeiro ficaria sob press o 57 Pen ft popular assediada por todos aqueles jovens e velhos trabalhadores ou capi talistas homens ou mulheres negros ou brancos etc que se sentissem tra dos pela mistifica o incorrig vel de uma democracia restrita a democracia dos donos do poder todos iguais entre si e parceiros no cons rcio do poder pol tico repressivo Bras lia caminha rapidamente na dire o de acabar com esse sonho de isolar e defender o Estado das press es das massas Por enquanto por m urge que pelo menos todas as for as vivas da na o se fa am sentir l e participem da cria o de um novo tipo de Estado efetivamente democr tico Florestan Fernan
274. i o moderna e avan ada que estabele a em nosso pa s condi es econ micas sociais e pol ticas que eliminem as iniquidades que imperam em nosso pa s Quando uma pessoa com a quali dade do economista Yoshiaki Nakano declara aos jornais que contamos com n veis ideais de sal rios para manter a infla o em 15 percebemos o grau de desumanidade que prevalece na pol tica econ mica do governo E por a temos uma perspectiva de que de fato h setores que se comprometeram com a democracia mas hoje est o comprometidos com outros objetivos nosso dever tornar todas essas quest es cristalinas opini o p bli ca para que n o se fa a confus o e n o se pense que deputados e senadores que pertencem a esquerda deputados e senadores constituintes de posi es avan adas sejam do PMDB ou do PFL que estamos querendo estabelecer a baderna Ela est vindo de outro lado e contra ela que temos de erguer a nossa voz e levantar os nossos punhos para impedir o retorno de alguma coisa pior que 1964 Palmas 185 Perseu DERROTA DAS ESQUERDAS curioso acompanhar como se originam e difundem determinadas confus es sintom ticas Fala se em vit ria do Centr o e em derrota das esquerdas O Centr o um conglomerado de pol ticos unidos pelos in teresses do capital e pela necessidade que eles imp em de defesa da ordem existente As esquerdas tamb m s o um conglomerado No sentido corren t
275. i rio excluindo se as glo riosas exce es que confirmam a regra n o cego E um poder judici rio de classe indiferente como uma rocha aos dramas humanos do pa s O quarto poder o poder militar sustenta a ordem com galhardia tanto maior quan to o governo Sarney fruto das entranhas da ditadura o que ela deixou em seu lugar para levar a sua obra adiante O que resta O poder constituinte manietado pelos compromissos com a sociedade civil com o governo e com os partidos da ordem O poder prolet rio e popular que ruge furioso mas ainda n o conquistou organiza o institucional pr pria e capacidade de luta pol tica aut noma Uma coisa deixou de ser feita no in cio deste ano restaurar a Constitui o de 1946 e desencadear atrav s dela uma limpeza geral da sociedade civil e de todos os poderes Esse caminho foi barrado pela maneira como se con vocou o Congresso Constituinte como um rg o de revis o constitucional e pelo empenho das classes dominantes nacionais e estrangeiras em proscre ver uma ANC exclusiva e soberana Ainda restam duas solu es uma atraves sa o Congresso seria a destitui o do presidente que n o possui condi es reais para governar A outra solu o exigiria da ANC que convocasse um ple biscito imediato sobre o sistema de governo para compartilhar com a massa dos cidad os os rumos definitivos parlamentarismo ou presidencialismo O constituinte pode considerar se representante
276. ia ideologicamente libert rios socialistas ou comunistas A maioria conservadora teve de se confrontar com exig ncias pol ticas inesperadas e v rios avan os relativos se firmaram contra essa oposi o ferrenha desde as 231 Pen ft subcomiss es e das comiss es tem ticas at a comiss o de sistematiza o e o plen rio da Assembleia Nacional Constituinte A maioria mais conservadora e reacion ria viu se constrangida a dar um aut ntico golpe parlamentar no seio da ANC coisa que sabe fazer e fez perfei o Derrubou o regimento que havia votado e aprovado e engendrou a presente situa o na qual pode manobrar vontade em oposi o aos dispo sitivos constitucionais avan ados estatizantes e comunizantes Safa Para o Brasil n o seria mau que a Constitui o tivesse tais defeitos que marcam as constitui es mais recentes de pa ses capitalistas com problemas e dilemas de desenvolvimento econ mico desigual atraso cultural e anemia pol tica na democratiza o da sociedade civil e o Estado Agora o Centr o desfruta sua conquista e ao mesmo tempo est como algu m que abocanhou um peda o maior que a barriga As contradi es da sociedade brasileira desabam sobre ele os seus membros e os seus movimentos Se os advers rios souberem con duzir as batalhas o Centr o acabar como Napole o na R ssia De vit ria em vit ria chegar a um amargo final As contradi es int
277. icado Os eruditos est o empenhados em uma discuss o acad mica parida por brazilianists bem humorados O Brasil penetrou na era da industrializa o maci a e da internacionaliza o do modo de produ o capitalista atra vessando antes um processo prolongado e profundo de moderniza o por via conservadora S o ecos das interpreta es de Edward Shils localizadas em nosso contexto hist rico Trata se de uma mistifica o interpretativa que omite o essencial o car ter do imperialismo intr nseco ao capitalismo mo nopolista da era atual A internacionaliza o da economia pressup e que as burguesias nativas e a comunidade internacional de neg cios caminhem juntas A moderniza o consequente possui uma dial tica pr pria espec fi ca os conservadores nativos civis e militares utilizam meios autocr ticos pelos quais se criam as condi es da moderniza o dirigida de fora dis t ncia Por conseguinte como dizia Shils autocratas e oligarcas tanto podem impedir a mudan a quanto podem colaborar com os modernizadores e ges tar uma moderniza o conservadora de cima para baixo O que o Brasil precisa hoje fugir dessa forma de partilha do mundo e de preserva o das fronteiras da civiliza o ocidental O processo ter de ir naturalmente da sociedade civil para a cultura e o Estado O drama brasileiro consiste em que a fermenta o no interior da sociedade civil se avolu
278. icas pol ticas construtivas ou para a classe ou para a na o Os fins n o s o dados pela fala pol tica dos competidores e dos prov veis ven cedores mas pelo engrandecimento do ego e o recheio crescente da burra Nada org nico fora e acima da cobi a e da satisfa o de vaidades de v rios tamanhos das modestas s paranoicas O cunho burgu s n o dado pela forma do Estado por m por sua rela o com outros fins racionais atingir e consagrar apetites insaci veis H algo positivo em tal horizonte mesquinho claro que sim Ele apa rece entre os que est o fora de tal circuito O que n o se degrada se engran dece ainda que s custas de ficar margem da voracidade generalizada Os exclu dos formam assim as hostes n o dos puros mas dos que nos permitem aguardar o aparecimento de pr ticas pol ticas de outra natureza isentas do politicismo vulgar e do assalto met dico ao poder como meio para fins incon fess veis Isso quer dizer que a imensa maioria as massas incomensur veis de v timas da pervers o do pol tico e da perversidade da pol tica constituem uma retaguarda de recupera o e uma fonte insond vel de esperan as s lidas terra a terra mas s lidas Os que observam a totalidade da situa o hist rica n o podem eximir se de reflex es desconcertantes Os de cima destroem o seu pr prio mundo com suas m os cabe as e intestinos O seu circuito estreito e estarrecedor evoca desej
279. icientemen te arejado e tolerante para permitir o aparecimento de propostas abertamente socialistas ou pelo menos do melhorismo social democr tico de reforma capitalista do capitalismo A hegemonia das classes dominantes sufocou os partidos da ordem secou a voz dos pol ticos profissionais autenticamente radical burgueses e segregou a esquerda num gueto for ando a a contentar se com alguns avan os democr ticos O reacionarismo e o conservantismo ilustrado entrevaram o trabalho de v rias subcomiss es e comiss es O que passou disso apenas situa a sociedade civil e o Estado nos marcos simb licos da civiliza o industrial capitalista em desenvolvimento Transcorreram fatos pitorescos ou tr gicos A defesa de um moralismo retr grado e da censura policial por determinados l deres evang licos foi um epis dio menor Grupos de press o como o dos militares lograram converter um relator em advogado convicto de suas causas Propriet rios de terras tomaram conta do cen rio e at usaram seus seguran as como agentes de repress o contra constituintes radicais Donos de canais de r dio e de televis o decidiram como consti tuintes sobre seus interesses em conflito ou em coopera o com o ministro das Comunica es sob a batuta de um dirigente da Abert e de um importante advogado que era seu assessor todos ignorando o que estipula o Regimento Interno da ANC e torpedeando o bom andamento das discuss es e o traba
280. idades dos de cima Postos em quest o por uma ruptura constitucional que parecia transbordar ou poder transbordar os limites de uma revis o constitucional t mida e estreita os de cima jogaram sobre a mesa o seu rancor e a sua for a bruta Queriam paralisar o processo constituinte para impedir que a transi o se evaporasse Queriam desfibrar o processo constituinte para impedir que a revolu o democr tica tomasse seus rumos naturais Queriam constranger o processo constituinte para preservar o go verno de tronco e chibata a qualquer pre o Desvenda se assim toda a ver dade Por pobre que venha a ser a Constitui o abrir outros horizontes ao Brasil e cria o das bases necess rias a uma nova sociedade de classes e a um novo tipo de Rep blica burguesa Se isso pouco em confronto com o que muitos de n s aspir vamos constitui pelo menos o ponto de partida para as conquistas efetivas que n o puderam ser feitas at hoje Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 96 Florestan F PERSPECTIVAS SOCIALISTAS NA CONSTITUI O O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Exmo Sr Presidente Constituinte Sotero Cunha Sr e Srs Constituintes tive a ideia de fazer aqui um debate sobre as perspectivas socialistas na Constitui o O assunto mere cia uma an lise em profundidade mas infelizmente o tempo n o suficiente para isso De outro lado havia a necessidade de debater algu
281. ificado real de fatos que parecem ser o contr rio do que s o Aparentemente 38 gostariam da volta dos militares mas esse n mero desce para 31 e despenca para 18 submetidos a um tratamento mais rigoroso A continuidade da transi o uma fal cia burguesa prim ria cai paralelamente de 54 para 15 a ignor ncia n o uma barreira cons ci ncia dos fatos crus como seria do agrado dos donos do poder Por sua vez as elei es diretas despontam como sa das para 62 dos inquiridos A maioria quer fugir do atoleiro e n o patinar prolongadamente no lama al da Nova Rep blica O cruzamento de op es dos pesquisados sobre alternati vas para a crise pol tica indicou que as elei es diretas para presidente ainda em 1988 e elei es gerais logram uma percentagem a favor de 81 entre os quais a dos militares alcan a 32 de respostas favor veis e a revolu o so cialista atinge a mesma cifra Essa contraposi o fundamental A ditadura desgastou se atingiu o limite no qual o seu pre o ficou mais alto que as suas compensa es E se 58 s o contra a volta dos militares 50 s o contra a sa da pela revolu o socialista A crise do poder deveria assustar mais as classes burguesas do que as concess es aos assalariados e aos humildes contidas no atual projeto de Constitui o A opress o de classe chegou a um ponto extremo de tens o a partir do qual ela ser crescentemente mais perigosa para os v rios se
282. ilh o de eleitores qualificados das de cep es causadas pelos poucos avan os relativos dos projetos de constitui o etc tornara se temer rio impor o retrocesso como princ pio constitucional de salva o da liberdade da iniciativa privada do car ter sagrado da pro priedade do afluxo do capital estrangeiro da privatiza o do p blico Vivemos um drama pirandelliano A sociedade ultrapassou a Nova Re p blica e a ANC A maioria que decreta discricionariamente sua vontade nesta ltima precisa despertar para essa realidade e dar r pidos saltos fren te para n o ser tragada por uma voragem sem retomo Pode parecer que uma constitui o engendrada por constituintes eleitos qualquer que seja a sua qualidade melhor que uma constitui o imposta manu militari e que o povo ficar reconhecido aos protetores de seus direitos Todavia o povo n o quer protetores her is civilizadores Prefere o preto no branco o que n o descobre nas maquina es do Centr o Ao desencanto sucedeu se a ira e ira poder seguir se a desobedi ncia civil e a insurrei o O povo condiciona do por uma propaganda eleitoral enganadora esperava uma constitui o de conte do progressista libert rio e modernizador N o est pois propenso a engolir um pasticho que al m do mais pressup e uma farsa As Diretas j nesse contexto querem dizer mudem de estilo ou converteremos a sociedade
283. imas influ ncias esp rias e at mesmo a corrup o desenfreada Aproveitou as uma a uma como se estivesse envolvido em um jogo de guerra cujo objetivo final fosse a derrota da ANC e a consagra o da vontade constituinte da presid ncia O primeiro movimento consistiu em um ataque frontal atrav s da indica o de um l der do governo na C mara dos Deputados Carlos SantAnna um golpe ultrajante que n o foi repe lido O movimento seguinte voltou se para a arregimenta o de tropas pr prias compostas por constituintes de centro e democr ticos O Correio Braziliense noticiou em primeira m o que havia dez mil cargos colocados disposi o des ses constituintes A not cia causou perplexidade e o esc ndalo foi denunciado no plen rio da ANC Contudo a opera o vingou cresceu vertiginosamente e arruinou a credibilidade popular da ANC ao mesmo tempo demonstrando que a sua soberania era uma fic o Os partidos da ordem conviveram do melhor modo poss vel com a intromiss o e o governo Sarney ganhou a batalha plan tando dentro da ANC o seu grupo de centro ou a turma do DO que conferiu ao presidente e aos seus ministros que o desejaram a liberdade de manipular todos os assuntos de import ncia vital para o Executivo seus acordos pol ticos suas alian as com interesses privados e com institui es como a Igreja Cat lica ou para adaptar dispositivos constitucionais a negociatas de car ter p
284. imento da organiza o dos poderes O corporativismo apontado acu sadoramente contra os assalariados e os sindicatos oper rios s o pequenas manchas esparsas em um c digo imperial que constitucionaliza os privi l gios dos grandes N o podemos culpar por isso os portugueses os espa nh is o passado colonial imperial e escravista Portugal e Espanha evolu ram para constitui es modernas N s que ficamos amarrados s premissas das ordena es manuelinas e da primeira constitui o concedida ao Brasil por um imperador impetuoso Esse salto para tr s sob bravatas e elucubra es hip critas configura uma grave situa o hist rica Ela tem algo de pitoresco porque poderia ser o ponto de partida para uma contrarrevolu o parlamentar No entanto o pi toresco se desvanece atrav s dos riscos que ela cria para aqueles que n o en xergam o que est acontecendo ao seu redor Ao refletir sobre isso veio me mente o s quito de Maria Antonieta e a trag dia de um monarca pacato Lu s XVI que se afogou em uma mar de sangue carregando consigo quase todas as servid es remanescentes do ancien r gime e as arrog ncias de uma nobreza cega No exato momento em que as for as hist ricas vivas da na o transferiam para a Assembleia Nacional Constituinte as esperan as da massa do povo esses senhores sacodem sua condi o de maioria n o para projetar o processo consti tuinte para frente mas para brec lo e s
285. inte Leituras para a reforma pol tica 206 An F O corol rio matem tico dessa equa o e sua comprova o experi mental procede da evolu o da viol ncia Os bandeirantes os senhores de escravos ou os antigos donos do poder s o justamente tidos como os picos da viol ncia Ora eles refletiam a barb rie de uma civiliza o que jamais poderia dar a medida exata dos limites da viol ncia pessoal autodestrutiva e da viol ncia coletiva institucional paridas pela civiliza o do capitalismo monopolista de nossa era Os ind genas os negros os miser veis da terra os p rias urbanos de nossos dias oferecem os contornos desse tipo de viol ncia em massa e em profundidade O modo pelo qual primeiro se busca desu manizar e em seguida desagregar e destruir o que diferente divergente atesta qu o longe chegamos n o mais do padr o do homem lobo de outro homem mas na indiferen a diante do que humano J n o poder amos di zer como Marx tudo que humano me interessa No fim do s culo XX e no limiar do s culo XXI os que s o cultos e poderosos cultivam outro aforisma tudo que humano me incomoda e me desilude Por qu Presumivelmente porque o ser humano deixou de ser a medida de todas as coisas dessa perspectiva que vejo o massacre infame e covarde contra os divergentes aqueles que t m a coragem de ostentar a sua condi o humana diferente e n o temem o amor na mis
286. interesses inconfess veis ressurgem sob diversas roupagens com o fito de extirpar certos avan os como por exemplo os conseguidos nos direitos sociais e de mitigar ou extinguir da Constitui o o que ela possui de mais significativo para a implanta o de uma sociedade civil civilizada e de um Estado capitalista democr tico no Brasil H muita gente que n o quer dizer adeus barb rie Os constituintes n o fogem a essa regra a ulados ou n o por imperativos dos interesses de classes contrariados pelo medo de perder suas posi es na monopoliza o do poder pol tico estatal ou por uma tradi o de mandonismo obscurantista amea ada pelo advento de uma de mocracia de participa o pol tica ampliada 165 Perseu HOMENAGEM MEM RIA DO EX DEPUTADO CONSTITUINTE CARLOS MARIGHELLA O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente Srs Cons tituintes pedi a palavra para prestar uma homenagem a um ex deputado Constituinte Carlos Marighella que foi brutalmente assassinado em S o Paulo pelo Delegado Fleury importante que nesta Assembleia Nacional Constituinte se lembre a mem ria de um deputado que honrou esta Casa com muita dignidade e de um ativista pol tico que sacrificou a sua vida por seus ideais Tenho liberdade para afirmar o que vou dizer porque naquela ocasi o eu pertencia a uma corrente da esquerda contr ria aquela a que se filiava Carlos Marighella Posteriormente por minha forma o marxista n
287. ional Constituinte Por isso ela foi escamotea da e degradada desde o in cio posta sob a tutela do governo engendrado pela Nova Rep blica e enquadrada pelos partidos da ordem que ela gerou para neoliberalizar brasileira segundo a tradi o existente o com cio constitucio nal supremo Foi confinada camisa de for a de um Congresso Constituinte normal e espremida contra a competi o eleitoral de governadores a qual levantou a celeuma de sua ilegitimidade como puro equivalente da ditadura e da Nova Rep blica o que ali s mas poder deixar de ser se os parlamen tares tiverem a coragem de romper com e de agir em conson ncia com os imperativos pol ticos e ticos da fonte de seus mandatos a soberania popular Essa revolu o pol tica est na cabe a dos analfabetos dos ignorantes dos exclu dos dos miser veis da terra dos trabalhadores manuais dos jovens revoltados dos assalariados t cnicos e intelectuais dos radicais da pequena burguesia dos 47 Perseu estratos tradicionais das classes m dias e at da grande burguesia Radicais paridos pela crise de consci ncia pelo medo e pelo mal estar provocado por uma sociedade que se modernizou concentrando a renda e multiplicando em escala geom trica as iniquidades econ micas sociais e culturais O pacto social que se quer engendrar na hora mesma em que est prestes a reunir se um Congresso Constituinte um embuste gigantesco infelizment
288. ioria de n o cidad os ou de cidad os pela metade sejam ou n o eleitores cabe o papel passivo de sofrer e obedecer Mesmo os senhores da fala da riqueza e do poder n o alimentam nem se nutrem de uma cultura c vica densa din mica impositiva A sua uma cultura c vica de apar ncia um biombo de civilidade que revela aos pa ses civilizados que aqui tamb m h civismo Se acontecesse o inverso um presidente da Rep blica mesmo egresso do topo da ditadura e parido pelos enganos da hist ria n o usurparia as atribui es do Congresso e n o decre taria a forma de convoca o de um Congresso Constituinte Submeter se ia convoca o por aquela institui o de uma Assembleia Nacional Constituinte Leia setembro de 1986 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 24 An I exclusiva Ou o Congresso repudiaria a usurpa o impondo sua vontade em vez de aproveitar com oportunismo a sacanagem de repetir o engodo do col gio eleitoral e da farsa de uma Nova Rep blica nascida do ventre da dita dura para preservar um quarto poder oculto fardado e armado que continua a ser o centro de decis o pol tica N o h por que culpar o povo Exclu do este mant m aparente con di o passiva de comparsa surdo mudo e impass vel Falou se que foi assim que o povo assistiu a todos os grandes acontecimentos de nossa hist ria que n o era a hist ria dele Mas nem isso
289. ir lotaram o recinto Temia se a baderna mas n o houve nenhuma perturba o dos trabalhos Os professores comportaram se com civilidade e demonstraram que o Brasil j ultrapassou o limite das lutas pol ticas prim rias no n vel dos que reivindicam O primarismo juntamente com a viol ncia e a repress o corre por conta dos defensores da ordem Nesta fase na qual se realiza uma esp cie de auditoria do Brasil real a press o pol tica desenrola se no n vel das subcomiss es com lances por ve zes emocionantes pungentes e memor veis Por v rias vias gente de diversas categorias sociais profissionais tnicas e raciais surge no centro do palco e Folha de S Paulo 08 5 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 82 an F assume o papel de agente de senhor da fala Um ind gena um negro um por tador de defeito f sico um professor modesto saem da obscuridade e se om breiam com os not veis que s o convidados por seu saber ou l comparecem para advogar as causas de entidades mais ou menos empenhadas na aut n tica revolu o democr tica O Iobismo encontra assim um ant doto e os constituintes s o devolvidos ao di logo com o povo agora n o mais cata de voto e em busca de elei o Essas pessoas atravessam as portas do Parlamento como paladinos de causas particulares de alto significado nacional N o se apresentam para cobrar promessas eleitorais De
290. is rio nos dinamismos que abriam a sociedade civil democratiza o inexor vel a antigas pr ticas autorit rias e reacion rias de forma exacerbada Os partidos da ordem sofre 93 Pensa ram inflex es negativas mais ou menos profundas que implicavam graves retrocessos ao clientelismo ao paternalismo e ao fisiologismo tradicionais dentro de um quadro de competi o partid ria moderno e o pol tico pro fissional viu se com frequ ncia reduzido condi o de porta voz dos finan ciadores de suas campanhas ou dos donos invis veis de seus mandatos A recidiva colidia com a situa o hist rica que exigia daqueles partidos e dos pol ticos profissionais que atuassem como elos entre as transforma es estru turais em curso na sociedade civil e a impregna o burguesa espont nea da carta magna que deveria ser elaborada Esse complexo quadro hist rico explica o que ocorreu nas subcomis s es e comiss es tem ticas nas quais emergiram conflitos insol veis cenas de pugilato e rompimentos de protesto como exemplifica a sa da de Cristina Tavares e de seus companheiros do audit rio da subcomiss o da Ci ncia e Tecnologia Os progressistas e radicais foram acusados afoitamente pelos conservadores e liberais Polariza es ideol gicas e pol ticas abalaram a ANC amplamente emasculada ou encurralada pela hegemonia das classes burguesas privilegiadas Nela n o houve sequer solo hist rico suf
291. iscos n o se restringem a um golpe defensivo pois podem conduzir a formas de viol ncia mais dr sticas A ditadura cometeu o erro de pretender pavimentar a via de sua dissolu o progressiva Os conservadores e os liberais aceitando se essas palavras pelo que elas valem na cena hist rica ca ram no equ voco de pescar a democra cia nos escombros de um regime ditatorial que perdera at sua legitima o pol tica entre os de cima Deu se um arranjo no qual ningu m confiava ba seado na tapea o m tua e na acomoda o de interesses particularistas Os democratas mais ou menos radicais da esquerda burguesa ou da esquerda prolet ria com a exce o do PT incidiram no engano de que as concess es feitas seriam corrigidas naturalmente pela pr pria din mica da transi o democr tica Esta empacou porque n o foi programada para funcionar Jornal do Brasil 23 10 1988 publicado pelo editor sob o t tulo Na rota do atoleiro 297 Pen ft nem poderia o alvo consistia em erigir a Nova Rep blica o maior embuste da hist ria brasileira Al m disso faltou lhe espa o pol tico o que ocorreria mesmo sem o falecimento de Tancredo Neves j que n o havia suporte nos de baixo Tudo n o passou de uma aventura que jogou o Brasil em um verda deiro p ntano do qual n o ser f cil evadir se A acelera o da crise econ mica est multiplicando por mil a veloci dade da crise pol tica N o h pessi
292. isiva A crise econ mica a crise institucional e o imobilismo do governo que foi apanhado de surpresa por essa evolu o inesperada multiplicaram e ir o multiplicar cada vez mais a crepita o das lutas sociais e sua atua o como fator hist rico instabilizador e construtivo As composi es conciliadoras v o pelos ares Elas perderam sen tido hist rico e efic cia pol tica Aproxima se rapidamente a hora da verdade de uma redefini o do ordenamento da sociedade civil dos partidos e do Es tado O processo constituinte poder servir como um condensador dessa re defini o assinalando o novo ponto de partida ou ser o foco de um abcesso que nos devolver a um regime ditatorial ou desencadear uma guerra civil Parodiando Joaquim Nabuco podemos dizer que a sociedade abala da deixou escapar pelas fendas de seus alicerces o esp rito revolucion rio paradoxal que o Estado e dentro dele o Parlamento sejam o meio pelo qual esse esp rito revolucion rio se desvenda com tamanha nitidez Por m foram as for as da ordem que encaminharam as coisas nesse rumo certas de que poderiam conter o processo constituinte nos limites de uma revis o consti tucional ditada por seu reacionarismo e por seus interesses particularistas Esses c lculos j foram parcialmente frustrados e poder o ser completamente invertidos se persistirem a insatisfa o e a revolta generalizadas que se apos saram da imensa maioria Os que chegam s subcom
293. isivas nos dramas que est o sendo vi vidos em centenas de pa ses pobres da periferia do mundo capitalista que os partidos se inserem diretamente em suas sociedades civis podem exprimir com maior flexibilidade e profundidade os antagonismos econ micos sociais e pol ticos que nelas fervilham e al m disso poderiam constituir os vetores ao mesmo tempo da democratiza o das sociedades civis dos Estados cor respondentes e das constitui es exigidas pelas circunst ncias O regime ditatorial primeiro criou um sistema fict cio de dualidade partid ria e em seguida sob press o de baixo para cima engendrou um sistema de partidos duplamente castrados pelo poder militar e pelo poder econ mico A Nova Rep blica n o ultrapassou este limite Procurou mais s bia do que a raposa da f bula combinar fic o e castra o unindo os dois 29 Pensa partidos da ordem em um Frankenstein O resultado est a N o h engenho e arte que fa a a Alian a Democr tica funcionar e a Nova Rep blica s transparece equilibrada no discurso pol tico oficial de Sarney e Maciel Ulys ses Montoro e Cardoso Quanto mais o PMDB adere a esse discurso mais ele se corr i e deteriora Por qu que pela natureza das coisas ele deveria ser o partido da oposi o frontal n o o principal partido da ordem esteio da Nova Rep blica J que essa a realidade os pequenos partidos de esquerda devem pal milhar o seu
294. ismo catastr fico tamanho fam lia amaz nico que obrigue tais elites a entenderem o quanto a democracia perigosa e ruinosa para o pa s Segundo os boatos possuem uma din mica pr pria Postos no mercado circulam com moeda desvalorizada v o de bolso a bolso de cabe a a cabe a de l ngua a l ngua O seu volume se agiganta e o seu peso torna se esmagador Eles visam atingir o calcanhar de Aquiles da grande burguesia nacional e estrangeira Compelir os setores decisivos do capital a pensar e a agir como diziam no s culo passado os socialdemocratas com Kautsky frente como uma minoria amea ada pronta a destruir os seus inimigos Aquelas elites comp em facilmente assim uma destrutiva massa reacion ria burguesa disposta a aplicar todo o seu poder econ mico cultural e pol tico de classe na defesa da ordem por qualquer meio o fascismo e o nazismo ilus tram aonde pode chegar essa evolu o indesej vel Terceiro os boatos abrem o solo hist rico para o golpe de Estado preventivo A massa reacion ria da burguesia recorre ao seu bra o armado e atrav s dele destr i as for as perni ciosas que infestam a sociedade civil debilitam e inviabilizam a democracia corroem a ordem como se fossem cupins em madeira velha Hoje o golpe preventivo como ele designado pelos adeptos da democracia forte e do Estado de seguran a nacional deve atacar e eliminar o inimigo interno e o inimigo externo V
295. iss es para defender o democratismo e os interesses coletivos exigem o preto no branco Querem uma constitui o anal tica que reflita com inteireza o que todos esperam que ela desemboque no m nimo numa revolu o pol tica dentro da ordem E exatamente isso que a massa de parlamentares conservadores repudia o go verno sabota e o PMDB apenas finge apadrinhar paralisado que est pela he gemonia de seus v rios centros e de sua extrema direita Tal contraposi o indica que as decep es poder o se avolumar as lutas sociais sair do mbito do Parlamento para as ruas e a crise pol tica atingir seu verdadeiro objetivo e um cl max incontorn vel 85 Pen ft O CENTRO DO PODER O mandato presidencial n o o eixo de uma crise pol tica ele desnuda o sistema de poder vigente Os que pretendiam que a democracia passasse pelo fundo da agulha isto pelo col gio eleitoral queriam o imposs vel A concilia o conservadora gerou um sistema de poder que permitia um impra tic vel arranjo pol tico Os chefes militares a representavam naturalmente a ditadura A c pula do PMDB para evitar o recrudescimento desistia da luta democr tica em troca da parte que lhe cabia no bolo Os liberais emergiam do governo ou dos c rculos mais favorecidos do poder ditatorial com a disposi o expl cita de preservar posi es conquistadas ou ampli las Vivo ou morto Tancredo Neves nada poderia fazer par
296. ista de si pr prio O SR PRESIDENTE Francisco Carneiro A Presid ncia comunica a V Exa que disp e de dois minutos para concluir sua exposi o O SR FLORESTAN FERNANDES Encerrarei Sr Presidente O problema central passar dos exemplos natureza do Legislativo Em um mundo moderno t o complexo onde o trabalhador e o oprimido est o sujeitos a uma explora o desumana o Legislativo deve estar apare lhado para realizar investiga es a fim de fiscalizar a a o do Executivo e especialmente levar solu es aos que est o na base do sistema de poder Es tamos hoje defendendo n o uma Constitui o formalista na qual a iniciativa das leis caiba somente aos Parlamentares Defendemos uma Constitui o na qual a iniciativa das leis seja dividida entre a massa dos cidad os comuns e o Parlamento necess rio portanto que se estabele a a comunica o princi palmente entre a C mara dos Deputados e a massa dos cidad os Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 144 Florestan Fernandes Esse o problema que aqui queria levantar ressaltando que a Consti tui o n o se refere ao assunto como se este fosse estranho a uma Constitui o moderna Muito obrigado Sr Presidente e nobres colegas Era o que eu tinha a dizer Palmas 145 Perseu TRANSI O DEMOCR TICA NOVAS PERSPECTIVAS A transi o democr tica constituiu se em um marco insuper
297. ita res e endossada pelos estratos civis da grande burguesia nacional e estran geira preservada com extraordin ria hipocrisia pela Nova Rep blica seria substitu da malgrado os ritos constitucionais por uma democracia restrita parecida com aquela que sempre prevaleceu no Brasil Uma democracia res trita que recusa sua convers o hist rica era do liberalismo e do radicalismo burgueses e que quando desafiada corre aos quart is para soltar as for as de defesa da ordem Ela se expande em volume com alta velocidade vejam se as estat sticas eleitorais mas n o possui nenhuma densidade pol tica din mi ca para autotransformar se e passar por uma revolu o progressiva criativa N o existem contradi es entre o projeto constitucional do Centr o e o projeto de constitui o A da Comiss o de Sistematiza o O v u ideo l gico e a aus ncia de compuls o ut pica s o os mesmos n o s frutos das mesmas matrizes hist ricas como revela es cabais dos limites da consci n cia de classe burguesa na periferia at em um pa s central para a estabilidade e a reprodu o do capitalismo monopolista mundial Tome se o art 199 do projeto do Centr o a ordem econ mica fundada na livre iniciativa e na valoriza o do trabalho humano tem por fim assegurar a todos exist ncia digna conforme os ditames da justi a social observados os seguintes princ pios seguem se nove incisos A nica dife
298. iva Deus a p tria e a fam lia J sofremos essa doen a Temos de impedir a reca da a qual esti mulada espontaneamente em alguns c rculos sociais mas planejada em de terminados centros do poder Existem intelectuais org nicos da rea o e es quadr es organizados que atuam clandestina e abertamente nessa rede de comercializa o do golpe de Estado preventivo No momento a resist ncia democr tica firme localiza se entre aqueles que t m algum tipo de interesse ou de esperan a no aparecimento e na vit ria de uma Rep blica democr tica Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 160 An F S o os homens pobres as classes trabalhadoras os setores mais ressentidos da pequena burguesia e da classe m dia tradicional os elementos das classes altas afetados pela crise moral da consci ncia burguesa Os boatos podem pois ser teis para os que remam contra a corrente e querem construir uma nova sociedade Basta que viremos os boatos de cabe a para baixo que os combatamos com olhos voltados para a constru o dessa sociedade nova e os esvaziemos sem nenhuma concess o de seu conte do daninho e de seus objetivos reacion rios 161 Pense O APOGEU DO PROCESSO CONSTITUINTE O processo constituinte foi cercado de condi es negativas insan veis Algumas prov m da sociedade civil Dominada por categorias sociais privile giadas e dirigida pelas elites de classes burguesas conservadoras
299. jeto hist rico conceito sociol gico amb guo e equ voco mas que cont m expressividade para evidenciar o ardil ideol gico e o vazio ut pico da nova Constitui o O que preponderou foi a supremacia do capital como uma conex o do capitalismo monopolista associado e dependente Os leitores que discordarem desta posi o interpre tativa a esclarecer o facilmente confrontando os artigos dominicais de Severo Gomes com os dez mandamentos e o comportamento pr tico dos empres rios e as diretrizes de suas entidades corporativas Priorizar a depend ncia econ mica tecnol gica e cultural incentivar um acordo espoliativo diante da negocia o da d vida externa ceder s press es norte americanas e su perestimar a transfer ncia da poupan a dos pa ses centrais recorrer a uma ret rica governamental de alian a das na es pobres ou em desenvolvimen to da Am rica Latina e do resto do mundo e ao mesmo tempo submeter se a uma pr tica de capitula o passiva defender com unhas e dentes a iniciativa privada e impelir o governo privatiza o cada vez maior das empresas e das riquezas p blicas etc tudo isso traduz a exist ncia de uma burguesia nacional d bil de duas faces A sua armadura constitucional como afirma o autodefensiva tem de se voltar para o interior do pa s e converte lo no equi valente hist rico de outra na o ocupada submetida e garroteada atrav s das vantagens da luta de cla
300. l tica como arte de ser esperto renunciam aos votos t o depressa quanto os juram solenemente O povo ruge porque a ira sobe tona A mis ria e a fome n o s o complacentes Pre os e lucros correm para cima sal rios despencam o custo de vida sequer consegue emparelhar com a infla o e com o cinismo de pol ticas econ micas que se prop em voltar se para o social mas esmagam os homens pobres os assalariados e os exclu dos 159 Perseu Essa moldura hist rica aterrorizante para os que t m para os de cima Eles deveriam estar em busca da salva o do bolso da honra e da vida Por m n o est o Soltam boatos como as crian as soltam bal es ou traques nas festas juninas Ent o imp e se indagar o que h por tr s desses boatos O que se pretende com eles N o se trata de enganar o povo porque n o h mais credibilidade essa moeda sumiu da pra a com o governo Sarney e com a desagrega o da Nova Rep blica Tr s coisas s o patentes a uma sondagem sociol gica global Primeiro os boatos visam engendrar um medo p nico no seio dos es tratos dominantes da burguesia preciso que as elites econ micas culturais pol ticas e militares desses estratos atinem com o que est acontecendo ou com o que ir acontecer se a democracia ganhar densidade e ver para fi car e florescer Portanto o essencial desse ngulo psicossociol gico consiste em difundir um pessim
301. l tica e ideol gica embora esta se reduza a uma cobertura de v rias redes de interesses das classes dominantes que se entrecruzam e 151 Perseu se chocam com crueza O que foi poss vel manter aparentemente unificado sob a ditadura ou supostamente articulado sob o absolutismo camuflado da Nova Rep blica agora sai luz do sol As tentativas de segurar as re composi es partid rias ou de mant las congeladas s pioraram as coisas porque ampliaram o campo das for as de decomposi o dos partidos e a in compet ncia do governo de lidar com as bases pol ticas de que carece para ter um m nimo de efic cia As linhas de recomposi o partid ria desprenderam se do solo fisiol gico e clientel stico ou cartorial As classes burguesas n o podem escapar da l gica do capital monopolista A d vida e seus poderosos manipuladores sufo cam o Estado e os v rios setores da grande burguesia brasileira Mal servidos com um governo d bil e oscilante e pegos na ratoeira de uma ANC convoca da fora de tempo antes do momento mais oportuno para eles tais setores come am a acordar para a necessidade de possuir partidos reais que promo vam o rateio de poder e ditem de onde sair o os pequenos grupos dirigentes das elites das classes dominantes Em consequ ncia a Alian a Democr tica esfrangalhou se mesmo como fonte de acertos contingentes de inimigos cor diais e o PMDB tanto quanto o PFL evidenciou a a
302. lar da atual Assembleia Nacional Constituinte Ela deveria levar at o fundo a ruptura com a Nova Rep blica e a ordem ilegal que ela preserva e fortalece como herdeira e continuadora da Rep blica institucional isto do regime ditatorial dos generais e de seus aliados pol ticos nacionais e estrangeiros Ela tamb m deveria dar resposta aos problemas estruturais velhos e novos aos dilemas hist ricos forjados por pol ticas que conferiram prioridade acelera o do crescimento econ mico a uma geopol tica militar alucinada ao fortalecimento dos privil gios e das dist ncias entre as classes ao enfraquecimento da na o em benef cio de interesses privados que dilapi dam o p blico e o denigrem ao mesmo tempo que expandem a exporta o l quida de capital dentro de um clima fant stico de corrup o dos agentes brasileiros de maior responsabilidade e poder de decis o Os eleitores principalmente os mais pobres e que possu am consci ncia social suficiente para medir suas rela es com os candidatos e o que estes de veriam fazer no Congresso Constituinte se eleitos mostravam sua inquieta o e externavam o temor Depois que o senhor for eleito o senhor n o vir mais aqui e n o se lembrar mais de n s Deixando de lado a quest o do regime de partidos pol ticos e da desorienta o que se cria na cabe a dessa massa de eleitores o que se pode inferir sociologicamente que eles esperavam quan do menos um
303. lar as conquistas mais not rias da nova carta Duas coisas essenciais ficam patentes Primeiro a Constitui o extin gue de imediato ou atrav s de leis complementares a ordem ilegal montada pela ditadura e mantida pela Nova Rep blica que se serviu abundante mente de leis e decretos leis discricion rios e prolongou o arb trio do regime anterior Segundo essa constitui o colcha de retalhos cont m dentro de si tanto a reprodu o do passado quanto a reconstru o da sociedade civil con cebida para ser mais aberta e democr tica o ponto de partida para que se forje uma nova ordem social na qual os mais iguais perder o o monop lio do poder e os humildes poder o ganhar maior consci ncia social e maior envergadura no uso pol tico da luta de classes O dilema para os radicais socialistas e comunistas n o consiste em assinar ou n o assinar Essa uma distor o psicol gica compensat ria Ele se apresenta no desafio de aproveitar o espa o pol tico das classes trabalhadoras para seus pr prios objetivos erigir uma Rep blica na qual a democracia burguesa n o possa impedir a exist ncia e o fortalecimento do poder popular a nega o e a supera o da supremacia burguesa a organiza o de uma sociedade nova A Constitui o n o um fim em si e por si Ela um meio Os de baixo devem fazer como os de cima resolver na luta direta como utilizar produtivamente os dispositivos da carta constitucional e
304. ldes oprimidos e espoliados est o desorientados e aceitam qualquer coisa para sair do atoleiro de J nios a Malufs A cada mentira descoberta por experi ncias ag nicas dolorosas o seu desaponta mento e a sua ira aumentam Os partidos da ordem n o possuem como socia lizar politicamente essa massa err tica Os partidos da esquerda n o contam com meios para estender a sua atividade pol tica organizada aos seus n cleos mais expressivos na cidade e no campo Uns ainda n o venceram o precon ceito contra os lumpen encarados como base virtual de candidatos a ditadores ala Lu s Bonaparte ou la Get lio Vargas Outros como o PT s o demasiado fracos e incipientes para ampliarem as suas malhas at essa formid vel for a social demolidora Confinado classe e com frequ ncia aos setores de ponta e radicais do proletariado e da pequena burguesia o PT n o d conta dos oprimidos que n o conhecem o sal da Terra e sequer podem comer o p o que o diabo amassou Os de cima confiam na Constitui o e no Congresso Constituinte sen tados sobre o vulc o Um Congresso que foi de ponta a ponta em nossa hist ria tolhido pela vontade imperial do primeiro Pedro e pelo poder moderador do segundo e que em seguida sofreu todos os achincalhes que se poderiam 21 Pen ft imaginar A Rep blica trouxe a bota militar que pisoteou o Congresso v rias vezes a ltima mais recente para valer deixando a experi ncia
305. letica mente entre si O cen rio reativa velhas ambi es autocr ticas e ditatoriais ou pelo menos confere lhes a oportunidade de repetir antigos estratagemas que tornam a Constitui o uma letra morta e a democracia uma miragem As li es dos fatos essenciais s o bvias Tudo como dantes no quartel de Abrantes Os que deviam dar outro exemplo isentam se f cil justificar se A democracia deve ser posta em pr tica em v rias frentes e de diversos modos As elei es sa ram como uma vit ria contra as for as conservadoras e as manipula es nada veladas do governo Certo Todavia os partidos podiam adotar uma estrat gia ofensiva e construtiva Investir uma parcela de seus quadros militantes e dirigentes no processo eleitoral em andamento e vincular as elei es futura escolha do pr ximo presidente sem esvaziar o Parlamento O governo recebeu uma d diva a paralisa o das atividades par lamentares maiores neste momento favorece o cronograma pol tico militar da transi o lenta gradual e segura um t nico para a Nova Rep bli ca que descobre artif cios inesperadamente f ceis de desconstitucionalizar a constitucionaliza o do pa s O Sr Saulo Ramos nem precisa deitar regras Mesmo em um barco a vela esse regime bi nico e desmoralizado pode nave gar livre e rapidamente como se os deuses e o vento estivessem do seu lado H consequ ncias inevit veis e evidentes nesse encaminhamento
306. lia na escola e em outras institui es b sicas para estranhar os adultos e a vida dos adultos Pouco ou mal socializado para a experi ncia nova ele exacerba seu radicalismo e idealismo juvenil o que simplifica ou parece simplificar a contribui o positiva que vem encapsulada em sua falta de entendimento do presente e o rep dio dos velhos e do sistema Em consequ ncia a falta de articula o cultural entre as institui es e os valores em toda a sociedade au menta s vezes de forma desmedida a dist ncia entre as gera es imaturas e as gera es maduras Essa situa o psicossocial e hist rico cultural pro jeta naturalmente os elementos psicobiol gicos em um contexto que eleva o seu potencial de desajustamento inconformista e de rebeli o consciente to mando a gera o nova emergente propensa a formas extremas de radicalismo e de rejei o do mundo dos velhos As sociedades de classes industrialmente avan adas e politicamente es t veis aprenderam a lidar com tais problemas sociais Elas tendem a encarar esse radicalismo como patol gico e sociop tico e manipulam como uma esp cie de infec o passageira sem a qual o adulto n o seria completo Da o dito norte americano Revolucion rio na juventude reformista na idade madura e conservador na velhice Contudo mesmo nessas sociedades os momentos hist ricos decisivos abalam mais vigorosamente
307. lico tornou se uma amea a de dissemi na o de conhecimentos entre as classes pobres surgindo como uma alavan ca da amplia o e melhoria da consci ncia social de classe as mesmas elites voltaram se para a aloca o dos recursos p blicos na expans o do ensino privado leigo e confessional Muitos exemplos de natureza equivalente pode riam ser arrolados sobre outros assuntos o que naturalmente dispens vel Tais problemas que poderiam ser resolvidos em uma rbita capitalista mas n o o foram por causa da resist ncia das diversas camadas da burguesia as pr prias solu es e ou a seus efeitos sociais culturais e pol ticos formam o n cleo dos principais dilemas com que se debate esta Assembleia Em virtude da resist ncia reacion ria mudan a esses dilemas se agravaram e conden saram em torno deles for as sociais contestadoras que s o radicais no caso do PMDB e socialistas no caso dos partidos propriamente de esquerda A solu o dos dilemas agravou se com a superposi o de press es externas de pa ses que exercem sobre o Brasil domina o imperialista O ensino p blico gratuito exemplifica o agravamento Sob a ditadura militar os Estados Unidos dirigiram sobre o Brasil uma bateria programada de moderniza o cultural controlada dist ncia O ensino p blico gratuito sofreu um fort ssimo im pacto negativo o estudante s poderia avaliar corretamente aquele ensino que compartilhasse a condi o de merc
308. m s possibilidades do poder real Contudo ele seguiu sua trilha sultanesca de dis tribuir benesses e de tratar o poder como um dom pessoal O governo ingo vern vel converteu se em um caos e seu chefe tornou se uma presa indefesa de uma multid o de apetites de parentes amigos aliados e at advers rios A instaura o do processo constituinte teria de abalar for osamente esse quadro t trico somente poss vel em um pa s desorganizado submetido a centros externos imperiais e atrasado As elei es puseram o PMDB nas condi es de partido majorit rio Por m h v rios PMDBs O que celebrou a transi o democr tica centrava se na c pula e formava o PMDB dirigente Disposto a servir se do Estado n o se propunha a dissociar o governo da transi o democr tica Enquanto esta durasse ali se achava o para so O nico desafio consistia em ganhar tempo e deixar o barco correr A transi o democr tica produzia dividendos certos e quanto mais fraco e desorientado fosse o governo melhores seriam os proventos O PMDB advent cio que associava peemedebistas hist ricos conservadores com as aves de arriba o provindas de outros ninhos ex arenistas ou ex pedessistas que buscavam um porto seguro sua fisiologia pol tica e com a voca o das elites das clas ses dominantes de contar com um guarda chuva pol tico s lido para proteger 147 Perseu seus interesses Por fim o PMDB aut ntico ou
309. m dia baixa que est o perdendo posi o status e renda e pelos outros setores que reclamam por outros motivos por outras raz es com a mesma justi a Pela primeira vez na hist ria do Brasil haver a possibilidade de se ela borar uma Constitui o para todas as na es que convivem dentro do mesmo espa o territorial Todos os meus colegas devem lembrar se das palavras de Disraeli a respeito da Inglaterra que disse ser ela constitu da por duas na es N s somos constitu dos por cinco seis oito ou dez na es Pela primeira vez em nossa hist ria surge a oportunidade de se elaborar uma Constitui o que 51 Persea unifique o poder nacional que crie entre essas na es v nculos realmente fortes n o s econ micos e culturais mas jur dicos e pol ticos Da o significado hist rico espec fico desta Constitui o ela poder re presentar para o Brasil um salto hist rico qualitativo que nos colocar real mente entre as na es democr ticas do mundo Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 52 Florestan Fernandes POL TICA E DEMOCRACIA O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente Sr e Srs Constituintes tem se falado que a conjuntura econ mica um elemento adverso ao funcionamento de uma Assembleia Nacional Constituinte e que interfere negativamente nas perspectivas de que a Assembleia Nacional Cons tituinte possa preencher suas fun es nesse cont
310. m choque do que est sendo feito e do que se deveria fazer atrav s da ANC etc H um clima de combate pol tico cercando e polarizando os constituintes eles pr prios dis sociados pelos interesses e valores em contradi o que sacodem a sociedade civil os seus partidos e a institui o na qual trabalham Folha de S Paulo 16 7 1987 103 Pen ft As circunst ncias contribuem para agravar o cen rio Primeiro o gover no um prolongamento da ditadura e de seu cronograma pol tico militar de transi o lenta gradual e segura A ANC surge ao contr rio como um meio para destruir a ordem ilegal imperante herdada da ditadura e defendida com unhas e dentes por seus remanescentes civis e militares instalados no governo e na pr pria ANC ou em posi es chave no controle das grandes empresas dos meios de comunica o de massa etc Portanto ela sofre um processo de infiltra o e desgaste procedente de todos esses focos de poder e v se manie tada ou confundida no desempenho de suas tarefas Segundo a sociedade civil ainda uma sociedade civil n o civilizada Os que a controlam n o aceitam os desafios que procedem de baixo e mostram os punhos uma melhoria pois antes exibiam as armas No entanto a aus ncia de cultura c vica no tope torna imposs vel o di logo com os de baixo acostumados a sofrer a viol ncia institu cionalizada e com frequ ncia imposta atrav s do Estado Por fim os de baixo n o confiam e qu
311. m os partidos de esquerda para vencerem os adver s rios A grande esperan a a press o popular que intimida os conservado res e o governo Contudo estes usam as mesmas t cnicas de press o com envergadura e infundem ao processo constituinte o car ter de um neg cio e de fonte de corrup o pol tica Esse vasto quadro explica as controv rsias que p em o chamado rela t rio Cabral em quest o Ora n o existe um relat rio Cabral por enquanto Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 104 An F O que est em discuss o uma esp cie de colagem pela qual coexistem pre cariamente os oitos substitutivos procedentes das comiss es tem ticas um deles sem aprova o final Os que gostariam de voltar ao manso regato das constitui es t cnicas e formais do passado acusam no de contradit rio e de demasiado extenso um monstrengo Em conjunto ele merece as qua lifica es embora o relator nada tenha a ver com precariedades ainda t o vis veis Todavia os que o repudiam ficariam contentes com ele mesmo que contivesse mil artigos e n o quinhentos e o monstrengo fosse aterrorizante se tudo se medisse pelas disposi es referentes ordem econ mica ou pelas concess es de verbas p blicas feitas ao ensino privado leigo e confessional O que lhes d nos nervos s o as partes avan adas que amea am reduzir as partes que lhes cabem no bolo de riqueza e de poder
312. m que a sua pr pria voz seja silenciada ou ignorada de novo O desafio tamb m enorme para os que pretendiam uma constitui o enxuta ou sint tica Haver muita decep o mesmo que o processo consti tuinte ganhe uma densidade democr tica e libert ria indiscut vel Procedeu se a um deslocamento que est indo longe demais Apesar das discrep ncias e contradi es a voz do povo reivindica que a Constitui o contenha um rol m ximo de normas constitucionais A Constitui o se definiu concretamente como uma arma na luta contra o arb trio uma resposta ditadura e tutela mili tar embutida na Nova Rep blica N o s se quer explodir a Bastilha existe o empenho coletivo de se partir de uma posi o avan ada na pr tica de uma demo cracia de participa o ampliada Enquanto as elites econ micas e pol ticas das classes dominantes querem brecar o processo constituinte atrav s do ardil de uma transi o democr tica delimitada segundo uma equa o pol tico militar como lenta gradual e segura o empuxe que procede da eclos o popular volta se espontaneamente por um salto qualitativo que remete a uma revolu o pol tica Portanto a voz do povo tal como ela ecoa nas subcomis s es aponta na dire o da soberania plena da ANC e nega a revis o constitu cional articulada pelo governo e pelos dois partidos da Alian a Democr tica preciso examinar com cuidado os dado
313. ma constitui o viva que fomente a transforma o de mentes e cora es forje a civiliza o da sociedade civil e institua a democratiza o do Estado Em s ntese neces sitamos de uma constitui o din mica que nos possa ajudar a construir uma nova sociedade O que uma constitui o din mica uma constitui o que n o se atenha reprodu o da ordem com as suas mazelas mas estabele a a base legal para a extin o das mazelas e para a cria o de uma ordem social que consagre tudo o que humano Tome se como exemplo o seguinte artigo da Constitui o portuguesa da Revolu o dos Cravos A Rep blica Portugue 105 Perseu sa um Estado democr tico baseado na soberania popular no respeito e na garantia dos direitos e liberdades fundamentais e no pluralismo de expres s o e de organiza o pol tica democr ticas que tem por objetivo assegurar a transi o para o socialismo mediante a cria o de condi es para o exerc cio democr tico do poder pelas classes trabalhadoras O enunciado do artigo explicita o vir a ser o que as condi es legais estipuladas pela Constitui o permitem criar coletivamente Vinculam se dialeticamente passado e presen te presente e futuro A refer ncia bvio n o se aplica concretamente ao Brasil atual Contudo em um pa s no qual a burguesia deve na o todas as reformas econ micas sociais e culturais e todas as revolu es pol ticas in
314. ma subliminar assustadora de manipula o das mentes Ningu m pode proclamar se democrata e deixar solta esse pro cesso de concess o de canais que torna o presidente da Rep blica vassalo dos potentados de redes televisivas N o se tratava da autodefesa da democracia atrav s de restri es da liberdade mas da prote o da coletividade e do Esta do de pr ticas nocivas comprovadas reiteradamente Ningu m se moveu nem se comoveu Os resultados da vota o s o expressivos Quanto educa o escolarizada nada mais h a falar Prevaleceu a privatiza o do p blico uma sa da sutil de proteger os privil gios das organiza es privadas confessionais e mercantis contra os direitos dos educandos e contra as tarefas construtivas do Estado democr tico na rea do ensino A partir de tais exemplos seria antes preciso recriminar a Comiss o de Sistematiza o do que conden la como socializante xen foba e anti privativa Ela cedeu aqui e ali devido ao fato de que depois das constitui es de Portugal e da Espanha seria rid culo parecermos anti ib ricos no apego ao passado a f rmulas constitucionais vazias e formais E tamb m porque s n o sentem e n o enxergam o furor dos trabalhadores e dos oprimidos os Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 190 An F que s o surdos cegos e mudos A esquerda j discutia se e deveria ou n o endossar a Constitui o com as p
315. mente in cuo para os efeitos da revolu o descolonizadora nacional e democr tica O que pressup e que a massa por sua presen a e de suas entidades legais atue nas comiss es e subcomiss es proclame o que quer coletivamente do processo constituinte e o torne assim um processo popular de constru o de um Brasil antielite e anti imperialista no qual ser n o se confunda com privil gio comando e poder N o se trata ainda de os de baixo ditam as suas leis Seria ut pico sonhar com isto na presente situa o hist rica e no plano parlamentar Trata se bem compreendidas as coisas de que os de baixo possuem um espa o pr prio no processo constituinte e portanto a nova Constitui o deve refletir todas as classes toda a na o servindo como um novo ponto de partida para o expurgo da Rep blica e a universaliza o dos direitos e liberdades civis fundamentais O regimento regula uma rela o criadora com as Assembleias Legislativas as C maras de Vereadores e os tribunais 8 1 do artigo 13 Ele possibilita que entidades representativas de segmentos da sociedade for mulem suas sugest es e as encaminhem ao presidente da ANC idem Pelo artigo 14 as subcomiss es poder o dedicar de cinco a oito de suas reuni es s referidas entidades e al m disso receber sugest es enquanto funcionarem encaminhando as Mesa ou Comiss o idem Por ltimo o projeto de Constitui o no per odo de quarenta dias de discus
316. mente a cabe a do colonizado satisfeito consigo mesmo e com suas rela es com os centros metropolitanos O paralelo suscitado pelo epis dio Jo o Goulart desdobra outras impli ca es O sistema parlamentar de governo pode ser um expediente de domi na o desp tica pelo qual a institucionaliza o do poder exclui a massa das classes trabalhadoras e dos oprimidos da rbita pol tica Se a nossa burguesia fosse menos conservadora e reacion ria ela se apegaria mais ao parlamen tarismo que ao seu bra o armado O parlamentarismo permite o uso t pico curto ou demorado da viol ncia mas possibilita tamb m ganhar tempo Ele compat vel com promessas e repress o e o que mais importante facilita a realiza o das promessas gradualmente a conta gotas No paralelo suscita do isso n o sucedeu porque se recorreu ao parlamentarismo como recurso Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 172 An F provis rio de manipula o pol tica para fins restritos Contudo a implanta o do parlamentarismo no contexto da elabora o de uma constitui o n o um golpe parlamentar e muito menos uma amea a aos de baixo Por isso as classes burguesas poderiam encontrar nele o canal para enfrentar as tarefas hist ricas que sempre refletiram e ir de encontro s esperan as de reformis mos sem prazos definidos para cumprir suas promessas A se acha o bus lis do problema As classes
317. mento das reivindica es populares Tratam se de op es pol ticas que relacionam as esquerdas com o fluxo e o refluxo da hist ria como agentes ou como v timas posi es ali s que se alternam e se fundem conforme as circunst ncias A pr pria decis o de deslegitimar a Constitui o deve envolver essa significa o Caso contr rio o radicalismo abstrato e ret rico s ser til aos que precisam do refluxo e est o porfiando por ele com sagacidade e o peso do aparato civil pol tico e militar do Estado de transi o permanente Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 272 Florestan F CRISE E CONCILIA O O Brasil continua preso s garras da concilia o Ocorreram profun das mudan as no modo de produ o capitalista e na organiza o da socie dade civil com reflexos nas manifesta es culturais e de lutas pol ticas dos trabalhadores de estratos mais insatisfeitos ou at enraivecidos da pequena burguesia e das classes m dias tradicionais Contudo a armadura pol tica da transi o lenta gradual e segura o monop lio do poder estatal por fac es conservadoras e reacion rias das classes dominantes e o efeito amortecedor da industrializa o maci a e da moderniza o cultural controladas de fora pelas na es capitalistas centrais e sua superpot ncia absorveram anularam ou contiveram as press es vindas de baixo Em consequ ncia dois problemas cru
318. merciantes e fazendeiros que tomaram a ANC de assalto S o pessoas e grupos que andam livremente por toda a parte do monumental conjunto arquitet nico do Parlamento orientam os seus repre sentantes constituintes a r dea curta ocupam as galerias e nelas realizam tumultos que n o s o coibidos em suma s o os donos do poder e os que mandam Eles se olham como a sociedade civil e o povo ditam o que a Cons titui o deve conter para que o Brasil seja um pa s civilizado e vi vel Sob a vig ncia do primeiro regimento existiam recursos para conter e at desviar essa influ ncia unilateral O artif cio das emendas populares e da participa o popular condicionava e estimulava a absor o de influ ncias m l tiplas e d spares O impacto direto das classes dominantes em particular de seus estratos dirigentes n o seria evitado Mas ele entrava em competi o e em confronto com as demais correntes de opini o existentes na sociedade inclusive e principalmente entre os de baixo O novo regimento foi constru do calculada mente para facultara inger ncia fulminante das classes dominantes em decis es que cabem estrita e legalmente aos constituintes Embora muitos deles sejam constituintes e a maioria lhes pertencesse antes era fomentada uma dilui o 239 Persea dos contrastes e um clima democr tico de debate e inspira o pol tica Agora mesmo em vota es nas quais aqueles estratos se revelam minorit rios g
319. mesmo tempo gratas e estimulan tes Aproximamo nos rapidamente de uma situa o na qual a guerra civil la tente pode ser percebida a olho nu N o indispens vel recorrer ao psic logo social ao soci logo ao historiador ao cientista pol tico o olh metro mostra as propor es de uma insatisfa o popular que cresce amea adoramente e nas piores condi es porque n o existem freios em nenhum dos lados A cultura c vica da minoria dominante agarra se com unhas e dentes a privi l gios arcaicos nocivos antissociais e antinacionais As v rias categorias dos oprimidos e espoliados se acham desorganizadas fragmentadas e impotentes para equacionar politicamente suas exig ncias elementares de vida e de so breviv ncia Nesse contexto a Constitui o rasga horizontes promissores Ela representa uma alternativa de restringir a barb rie e um meio de empurrar a luta de classes para uma esfera propriamente pol tica e parlamentar 177 Persea O que se constata Os empres rios vieram a Bras lia como a massa rea cion ria da burguesia Impugnam certas medidas que est o muito aqu m do que os assalariados e os oprimidos pleiteiam e daquilo que a Igreja Cat lica designou como o clamor do povo E exigem dos constituintes uma marcha a r penosa com o fito de se evitar uma calamidade nacional Os que quei ram desvendar a tica burguesa leiam a impressionante p gina dedicada cria o e aos objetivos imediatos
320. metricamente criem espa o pol tico legal para a luta de classe N o v amos na ANC um recurso institucional dos prolet rios e dos oprimidos Todavia sab amos que ela uma arma quando se elabora uma constitui o nova e que poderia forjar as premissas da conquista de peso e voz pelos trabalhado res e oprimidos na sociedade civil no Estado e nas demais institui es chave existentes Certas reivindica es m nimas foram atendidas e nelas se assen tam se n o forem expurgadas os requisitos hist ricos de uma reorganiza o vigorosa das classes trabalhadoras e dos oprimidos em geral e de sua capaci dade coletiva de luta pol tica Tomando se esse painel global quem perdeu e quem ganhou Aqueles que se contentam com o verniz das coisas com as apar ncias dir o a extrema direita os reacion rios os conservadores Os que desmistificam os processos hist ricos afirmar o exatamente o contr rio o Centr o tornou vis vel o que subsistia como algo oculto at para as t o malsinadas massas ignorantes A ANC emerge em sua subst ncia de cen rio privilegiado da luta de classes As manobras do Centr o desmascaram qual o compromisso dos partidos da ordem e dos pol ticos profissionais com a resist ncia mudan a na sociedade brasileira Por ltimo fica patente que n o pelo Parlamento que as classes trabalhadoras e oprimidas conquistar o liberdade e igualdade Em suma caem as m scaras as ilus es co
321. mismo nessa afirma o Se houvesse um plano deliberado de gerar um beco sem sa da ele dificilmente sairia mais perfeito A credibilidade do governo n o alcan a a zero Ele mesmo se esfor a para aumentar e n o para diminuir sua incredibilidade O capital em um extremo o trabalho no outro querem sair do esgoto e do p ntano Entretan to esbarram na in rcia na incompet ncia e na m f do governo federal e de v rios governos estaduais em sua maioria representativos das novas postu ras fisiol gicas e anacr nicas do PMDB O int rprete determinista falaria em impot ncia No entanto a impot ncia refor a o que feito deliberadamente com o prop sito de aumentar os pr mios de um poder central corrompido e em leil o Em consequ ncia a velocidade da crise se eleva de modo incontro l vel e a na o sofre os efeitos de uma realidade que remonta aos conluios de 1984 posse do presidente bi nico e ao furor com que as for as da ordem resguardam a transi o lenta gradual e segura a Nova Rep blica e o po dre sistema de poder morto antes de findar se A Constituinte poderia ter cortado esse tr gico n hist rico A maioria conservadora impediu que a alternativa fosse concretizada votando esmaga doramente no mandato de cinco anos para o presidente fat dico O governo e a maioria conservadora batiam se por um respiro hist rico S puderam concor rer para multiplicar por mil a gravidade da crise Ao mesmo te
322. miss es Tem ticas mobilizaram todas as formas de press o e de agress o para Boletim Nacional da CUT jul ago de 1987 vers o condensada 107 Persea fazer uma constitui o que contemple os interesses e os alvos pol ticos da bur guesia Que sirva de exemplo o caso limite que se deu com a reforma agr ria At a viol ncia foi aplicada maci amente e massas organizadas desfilaram em Bras lia para exibir de que lado est o a for a bruta e o poder decisivo NA CONSTITUINTE A SOCIEDADE CIVIL APARECE DE CABE A PARA BAIXO Portanto os trabalhadores devem p r de lado as ilus es constitucio nais disseminadas pelos meios de comunica o e impostas como parte de ideologia da classe dominante Primeiro os trabalhadores precisam encarar a Constitui o como ela ela organiza sanciona e legitima a distribui o da riqueza e do poder na sociedade capitalista n o igualmente para todo o povo por m desigualmente seguindo o modelo de desigualdade econ mica cultural e de domina o de classe imperante na sociedade civil Segundo os trabalhadores precisam encarar a pr pria Assembleia Nacional Constituinte como um campo no qual prolet rios e burgueses se enfrentam como classes antag nicas e irreconcili veis Na ANC a sociedade civil aparece de cabe a para baixo invertida A minoria dominante gra as aos artif cios da demo cracia burguesa e dos mecanismos eleitorais torna se maioria parlamentar A maioria
323. mo ser o uti lizadas pelos setores das classes sociais e do movimento popular favorecidos Folha de S Paulo 03 4 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 64 an Fernandes A impregna o cat lico reformista socialdemocr tica e socialista re formista da reivindica o de participa o popular conhecida No Brasil n o fossem certas entidades com essa impregna o o processo constituinte ficaria fechado intramuros A iniciativa popular desmistifica a representa o em sentido liberal e for a o parlamentar a sair de sua pele Ela quebra pelo menos o teor imobilista e ritual de um entendimento enviesado do mandato que confere ao parlamentar a facilidade de confundir a sua voz e o seu querer com a voz do povo e os interesses dos representados em regra esquecidos at as pr ximas elei es A inexist ncia de partidos org nicos ao centro e direita agrava essa anomalia pois o parlamentar pode considerar se note se nem todos o fizeram ou o fazem o sujeito nico de sua atividade pol tica es pec fica aut nomo e egoisticamente centrado nos interesses da ordem ou seja n o na cria o desenvolvimento e aperfei oamento de uma sociedade e um Estado democr ticos mas no fortalecimento das classes dominantes e de seus privil gios Cumpre refletir no entanto que a corre o dessa anomalia tem sido canalizada por organiza es de protesto de luta e de reforma humanit
324. mobiliza s o popular em torno da Consti tuinte nico caminho para conse guirmos inscrever na futura Consti tui o us direitos e anseios dos tra balhadores brasileiros Acima Capa do primeiro n mero da publica o da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores PT Na luta da Constituinte n 1 Jul 1987 Ao lado Quadro comparativo das propostas do PT na Constituinte em rela o ao que foi aprovado PT Na luta da Constituinte n 08 mai 1988 Acervo CSBH FPA Jna Lura DA constirui no quadro abaixo o que o Congresso Cons tituinte decidiu sobre alguns dos mais importan tes temas constitucionais em debate nas ltimas semanas Na primeira coluna apresentamos as propostas do PT para que voc possa compar las ao que foi apro vado pelo plen rio Na ltima coluna avaliamos as consequ ncias do texto aprovado TEMA PROPOSTA DO PT O QUE FOI APROV Presidencialismo com o Parlamento forte e dotado de As For as Armadas devem se destinar exclusivamente defesa externa do pa s 1 Aumento da arrecada o das estados e munic pios em detrimento da Uni o 2 nfase maior nos impostos aeos para uma maior justi a iscal Proporcionalidade total entre o n mero de deputados e o n mero de eleitores garantido pelo menos um deputado por unidade da Federa o Cria o de um tribunal constitucional destinado a garantir e defender os direitos fundamentais previstos na Constitui
325. mou transada isto a atual Nova Rep blica nasceu de um parto da dita dura e o que herdamos foi uma ordem institucional ilegal A Constitui o de 1967 com os complementos da de 1969 e todo o conjunto de atos institucio nais e decretos constitui se em um Frankstein constitucional e vemos aqui sacerdotes que se ajoelham diante dela como se fosse um modelo de todas Discurso proferido durante a sess o de 11de fevereiro de 1987 na ANC Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 50 An I as Constitui es e devesse pautar nosso comportamento dentro desta Casa Na verdade houve uma ruptura que se deveria ter consumado na elei o de Tancredo Neves e n o o foi Vai se consumar agora num plano que um autor muito conhecido Max Weber chamaria de uma revolu o na esfera do Direi to A ruptura poder se ia ter dado em fun o do movimento das Diretas j mas n o se deu Poder se ia dizer que por covardia de muitos pol ticos por conveni ncia de muitas pessoas poderosas e por cegueira das nossas classes dominantes hoje essa ruptura inevit vel N o estamos aqui para elaborar uma Constitui o para a d cada de 1950 nem para a d cada de 1960 mas para hoje e para os pr ximos 25 ou 50 anos e dentro de uma situa o hist ri ca na qual imposs vel negar que est o ocorrendo transforma es estruturais profundas na sociedade brasileira O que caracteriza essa situa o hist ri
326. mou h pouco tempo h menos de meio s culo e n o converteu a descoloniza o a revolu o nacional e a revolu o democr tica em alvos centrais para grandes massas incultas e subalternas Eles servem de pretexto para a estigmatiza o da luta de classes dos oprimidos e para a proscri o do socialismo revolucion rio 295 Pen ft Agora temos de ganhar o terreno perdido defrontando nos com di ficuldades Se o Parlamento posto em quest o se omite na defesa en rgica da Constitui o a resist ncia contra a sabotagem constitucional do governo e das classes dominantes tem de vir da sociedade civil Por mais que esta desame a presente Constitui o as entidades org nicas que se notabilizaram no combate ditadura precisam desencadear uma a o pedag gica coletiva para que a Constitui o seja obedecida principalmente pelo governo pelo Judici rio e pelas elites no poder De outro lado os cidad os comuns devem fazer compara es o que melhor o statu quo ou as transforma es acolhidas pelo texto constitucional Manteremos um d spota sem coroa e um vetor mi litar no comando da na o Ser poss vel introduzir as altera es endossadas pela Constitui o sem aumentar e acelerar a luta de classes de baixo para cima sem conferir maior amplitude s atividades decididas pelos sindicatos e confedera es sem erguer o espa o pol tico necess rio observ ncia dos novos direitos individuais e coletivos sem
327. mpedindo que o pluralismo e que as voca es naturais das nossas coletividades sejam afir mativas dentro do pa s O SR FLORESTAN FERNANDES Exatamente Quero salientar que se inverte ent o a equa o inicial a iniciativa po pular sufocada e surge uma Carta de privilegiados para privilegiados O cap tulo sobre a magistratura digno de uma sociedade imperial Isso j acontecia no Projeto Afonso Arinos Tal n o pode ocorrer numa socie dade democr tica Quando nos colocamos diante de quest es como a estabilidade no em prego s quarenta horas semanais de trabalho logo se diz corporativismo mat ria de legisla o ordin ria Por que com refer ncia ao magistrado n o se considera tamb m corporativismo e mat ria de lei ordin ria E bem ordin ria at no sentido comum da palavra porque um abuso de poder Temos portanto de resgatar o processo constituinte pois j estamos livres das cadeias que o impediram de ter um percurso democr tico E temos de resgat lo nas discuss es em plen rio dando pelo menos uma satisfa o de um lado aos nossos eleitores que nos puseram aqui e de outro na o brasileira que est acima desta Assembleia Nacional Constituinte Ou o o nobre Constituinte Jos Maria Eymael O Sr Jos Maria Eymael Ilustre Constituinte Florestan Fernandes desejo fazer eco s palavras de V Exa quando assinala que o Projeto de Constitui o ora em debate permanece detalhista
328. mpo jungiram a Constituinte ainda mais ao descr dito do governo e dos partidos da ordem que lhe forneciam apoio pol tico A faca de dois gumes cortou apenas de um lado aquele que feria a imagina o popular e clamava por mudan as profundas no sistema de poder com a supress o da transi o e da Nova Rep blica A Constitui o n o representa o fim desse drama mas o seu agrava mento Ela exige do aparelho do Estado em todas as suas ramifica es um desempenho democr tico que estas se revelaram incapazes de desempenhar O corte tecnocr tico somado a uma corrup o desbragada e ao renascimento do fisiologismo pol tico mais cru inclina o aparelho do Estado a uma oli garquiza o e a uma autocratiza o piores que aquelas do regime ditatorial Esperava se deste que se voltasse por natureza por tais rumos Nos dias que correm cobram se das apar ncias o fim dessa trag dia e o come o de um democratismo que n o se confunda com a toler ncia permitida e com a libe raliza o programada A Constitui o abre portanto espa o hist rico psico Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 298 An F l gico e pol tico para confrontos abertos por mais speros que eles sejam nas rela es entre as classes as institui es os interesses econ micos culturais e sociais ou entre as pessoas Inicia se uma nova era e essa acaba sendo a forma tardia que a ruptura comparece no funcioname
329. mulacro de poder O governo ficou sozinho no palco como o verdadeiro respons vel pelo descalabro da economia o agente da crise pol tica e o obst culo real trans forma o da sociedade brasileira Herdeiro da ditadura e seu continuador cai sobre ele a maldi o que pesara sobre ela e a raiva concentrada de todos aqueles que pagam os altos custos de sua incompet ncia e de sua hipocrisia Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 88 Florestan F PROTESTO CONTRA O GOVERNO O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente Srs Cons tituintes ouvimos aqui dois depoimentos a respeito das ocorr ncias que se verificaram ontem no Rio de Janeiro dois nobres colegas fizeram pondera es que traduzem uma perspectiva naturalmente construtiva a respeito do assunto Entretanto a Constituinte Benedita da Silva recebeu diretamente do Rio de Janeiro informa es que suplementam aquelas que foram fornecidas pelos jornais e que n o foram dadas pela televis o As manifesta es ocorri das foram manifesta es de propor es muito maiores do que aquelas que t m sido divulgadas Uma grande massa de pessoas protestou com muita vee m ncia contra o presidente Jos Sarney e n o vou fazer propaganda ao dizer isto porque sou do PT e n o sou apoiador da candidatura de Leonel Brizola presid ncia da Rep blica e gritava Fora Sarney Brizola na presid ncia Portanto era uma m
330. na o como se fossem gente ou gente de escol Na pior das hip teses o Brasil ainda n o atingiu a na o como um universal Na melhor ele est nas fronteiras do colonial nacional dividido em v rias na es entre as quais somente uma real e verdadeira Depois de tantas perip cias dram ticas estamos na imin ncia de fundir entre si essas v rias na es de dissolver a na o dos que podem e dos que mandam civil e militarmente em uma na o global O que acontece O Estado desperta e movimenta se como uma hidra para salvar a na o dessa calamidade N o vou apoquentar o leitor recapitulando como se deu a queda da ditadura o nascimento e a ascens o da Nova Rep blica os vai v ns que nos repuse ram sob outra forma no cl max das conjunturas fat dicas dos governos dos generais presidentes Ali s isso pouco importa Hoje fica por tr s do outro o mesmo quadro de poder Mas contamos em contrapartida com o despertar das v rias na es e com o seu movimento r pido na dire o de transformar o Brasil em uma sociedade de classes nacional Note se classe e na o n o se repelem e se excluem sob a acelera o do desenvolvimento capitalista Aque la ao se impor como realidade plural forte requer e imp e a unidade da na o a exist ncia de uma comunidade nacional e democr tica de poder O meio para se alcan ar esse fim coletivo a revolu o pol tica dentro e atrav s de uma Assembleia Nac
331. narismo pol tico No seu todo essa uma situa o peculiar A falta de organiza o dos partidos da ordem conduziu os a um impasse Ao aceitarem os caminhos da iniciativa popular o que fizeram porque n o possu am programas e projetos pol ticos constitucionais propriamente ditos permitiram que os cidad os invadissem a cidadela dos pol ticos profissionais e desempenhassem pelo menos por um curto per odo os pap is de representantes do povo O dito est dito Toneladas de pap is desabaram sobre as subcomiss es e agora n o h como ignorar o seu conte do O desafio est lan ado N o h como ignorar o que a maioria espera dos constituintes Essas s o as duas pontas de um dilema pol tico que o conservantismo das classes dominantes n o tem como negligenciar Elas se garantiram aqui e 83 Pensa ali nas subcomiss es que lhes pareciam essenciais para a defesa da ordem Todavia como absorver o impacto da mudan a vinda e imposta de baixo para cima em alguns pontos e ignor lo em outros Se quiser por exemplo modelar um Estado de seguran a nacional ser preciso guarnecer todas as muralhas da fortaleza E isso ficou impratic vel Tornou se tamb m um jogo arriscado no qual os defensores obstinados da ordem existente n o pode r o mais avan ar sem temor como acontecia anteriormente O terreno est minado Os que ergueram a sua voz na ANC n o ir o querer nem que suas propostas sejam menosprezadas ne
332. nde est o esses campe es 131 constituintes do PMDB incorporaram se ao Centr o Os aut nticos do PMDB com seu setor progressista ou radical renegaram tal arregimenta o Um ou outro deputado ou senador do PFL do PDS do PTB etc seguiram a impuls o do democratismo por con vic o n o pelo medo de que seriam punidos pelo eleitorado como suce deu com aqueles que deram o seu aval aos que derrotaram a emenda Dante de Oliveira Alcenir Guerra Mario Assad Jos Elias Murad e alguns outros deslocam se na dire o do fortalecimento da democracia burguesa Como entender as ambiguidades e oscila es de personalidades como Luiz Viana Manuel Castro Edme Tavares Michel Temer Mendes Thame Solon Borges dos Reis Pedro Canedo e tantos outros A democracia burguesa n o vale nem um esfor o nem uma missa Este um momento de crise de consci ncia e de op o A maioria parlamentar n o est em quest o a maioria dos eleitores ludibriada no processo eleitoral tem diante de si uma imensa responsabili dade O que passou na Comiss o de Sistematiza o pode ser comparado ao fio de linha que pode atravessar o orif cio de uma agulha se levam em conta as exig ncias da presente situa o hist rica Os constituintes est o diante de um dilema A vota o em plen rio deve ser corajosamente aproveitada para atender a essas exig ncias n o para recuar e sucumbir ao rolo compressor da 191 Perseu massa reacion
333. nia da ANC e transformou a em instrumento d cil de sua vontade desp tica ou autocr tica As classes privilegiadas fizeram a mesma coisa completando essa obra devastadora Os partidos da ordem seguiram a mesma trilha criando em torno de si um deserto Cabe nos acordar desse pe sadelo erguer dentro da ANC a voz do povo o querer coletivo dos oprimidos e exclu dos que sonham com uma revolu o democr tica e necessitam de uma constitui o de homens livres para homens livres 113 Persea A CONSTITUI O EM PERSPECTIVA A avalia o da nova Constitui o pode ser feita de v rias perspectivas Nem tudo que reluz ouro O projeto a que chegou a Comiss o de Sistema tiza o por compatibiliza o de textos d spares n o a nova Constitui o Por m ele cont m o seu miolo e nele existem coisas nas quais se deve mexer com muito cuidado Os constituintes est o diante de uma tarefa imposs vel quando pen sam no que fazer do ponto de vista popular Um povo desiludido que confou muito no governo e sofreu todas as decep es poss veis diante da Nova Re p blica agora espera da Assembleia Nacional Constituinte um milagre que a ela n o cabe realizar Vejam se voc s resolvem as coisas Deem um jeito no Brasil A Constitui o a ltima esperan a Etc Essas e outras avalia es indicam as expectativas que desabam sobre a ANC S o expectativas inexe qu veis Se a ANC encontrar seu caminho
334. nicos da sociedade civil Consagrou se atrav s do sil ncio ou do apoio ativo dos dois poderes constitucionais o Legislativo e o Judici rio e posta em causa na atual Assembleia Nacional Constituinte sagrou se vito riosa pela maioria que preferiu os la os patrimonialistas e clientelistas com o Executivo soberania da mesma ANO Seria necess ria mais uma legiti ma o De que ela serviria Desde que prevaleceu a continuidade a ordem ilegal montada pela ditadura militar e defendida com unhas e dentes pelo governo que a prolonga a nova Constitui o s deixou de ser uma pura farsa um recurso institucional de revis o constitucional porque v rios grupos de constituintes decididos ousaram elaborar uma constitui o de verdade e se recusaram capitula o Esse o nexo entre a vontade popular e a Constitui o em fase final de acabamento E a se acha a encruzilhada pela qual atravessam os v rios caminhos poss veis da nossa hist ria Os mais obscurantistas e os mais rea Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 270 An F cion rios do tope note se h entre eles brasileiros e estrangeiros querem suprimir todos os caminhos menos um Aquele pelo qual o Estado de transi o permanente fique inc lume imprimindo vigor e capacidade de sobrevi v ncia Nova Rep blica Sair o Sarney por m para o seu lugar ir outro aben oado pela concilia o conservadora e pela
335. nopolista A industrializa o maci a decorrente trouxe ganhos ineg veis entre os quais a acelera o do crescimento econ mico a quase universaliza o do trabalho livre a diferencia o do regime de classes com o despontar de novas formas pol ticas de luta de classes no campo e na cidade No entanto o imperialismo da era atual carrega consigo uma ocupa o espec fica do espa o das na es Folha de S Paulo 10 3 1987 55 Perseu hospedeiras e uma revitaliza o de pr ticas semelhantes aos la os da rela o colonial direta com taxas ultra espoliativas do excedente econ mico drenado para o exterior de maneira crescente Al m disso a sua vers o de mudan a social sem revolu o acarretou maior concentra o social racial e regional da riqueza da cultura e do poder Em consequ ncia a mis ria e as massas errantes dos malditos da terra aumentaram e a constru o de uma sociedade nacional sob o impulso do capital e da luta de classes se desvaneceu A ci ncia e a tecno logia intensiva foram postas no pelourinho Por m o que est em jogo um mo delo de imperialismo devastador que converte as na es pobres e dependentes nas novas fronteiras da acumula o acelerada do capital nas na es centrais e em sua superpot ncia os Estados Unidos Esse contexto hist rico no qual entram por igual fatores e efeitos de hist ria de longa dura o e de Hist ria de conjuntura evidenciam o signifi cado nico singu
336. nquistaram n o lhes foram dados de presente Por m nos entreveros e combates imediatos certos pontos merecem prioridade e uma ofensiva sem concess es Esses pontos s o a liberdade de organiza o de seus sindicatos e partidos o direito irrestrito de greve a liberdade de organiza o sindical dos trabalhadores nos servi os p blicos o direito de greve desses trabalhadores embora sujeito s disposi es da lei complementar uma limita o terr vel o mandado de seguran a coleti vo e o mandado de injun o como um instrumento de defesa efetiva de todos os cidad os e inclusive portanto dos trabalhadores de se verem legalmente protegidos em seus direitos e garantias fundamentais a rela o de emprego protegida que n o substitui as reivindica es dos trabalhadores e sindicatos pela proibi o da dispensa n o motivada o acr scimo de um ter o de sal rio na remunera o das f rias a jornada m xima de seis horas para os trabalhos realizados em turnos ininterruptos e o aviso pr vio proporcional ao tempo de servi o o limite de cinco anos como prazo conferido aos trabalhadores rurais e urbanos na defesa de seus direitos junto Justi a do Trabalho a liberdade da Justi a do Trabalho de estabelecer normas e condi es para cumprimento de diss dio coletivo nos casos de conflito inconcili vel das partes a exclus o da sa de da rea de comercializa o das multinacionais a licen a paternidade ali s amplamen
337. ns exemplos Com isso o texto ficou reconhecidamente superficial Vou l lo para n o acontecer o que ocorreu no outro dia em que o resumo ficou maior que o pr prio texto Espero tamb m que o Sr Presidente tenha toler ncia quanto ao tempo de que disponho para que possa terminar a leitura desse trabalho PERSPECTIVAS SOCIALISTAS NA CONSTITUI O Sr Presidente Sr e Srs Constituintes inconceb vel que a Consti tui o elaborada na poca atual fique presa s concep es de liberdade de Discurso proferido durante a sess o de 9 de julho de 1987 na ANC 97 Pen Stu igualdade e de justi a social dos s culos XVIII e XIX O pr prio liberalismo se viu superado pelas transforma es ocorridas na civiliza o industrial como o atestam o welfare State a reforma capitalista do capitalismo e os controles programados da economia que visam a regular a esfera da livre competi o O pr prio Estado capitalista enrijeceu se atrav s de medidas de defesa da or dem que se proclamam democr ticas mas constituem interfer ncias na vida privada na liberdade dos cidad os e nos direitos civis de grupos categorias sociais ou classes e fra es de classe sob o subterf gio do combate ao inimigo interno e externo Por isso uma Constitui o moderna busca adaptar se variedade das correntes ideol gicas e pol ticas organizadas em partidos que traduzem objetivamente as tend ncias mais profundas em que se
338. nservador por dentro da ANC como artimanha do governo e de partidos encarados como traidores do povo por obra e gra a do Centr o arrasou o potencial pol tico da pr pria ANC que de caiu da maior gl ria para o pior descr dito O que falta aos pol ticos liberais neoliberais e democratas que pretenderam manipular a opini o p blica uma compreens o objetiva da realidade pol tica atual As incurs es autocr ticas podem ser ousadas N o obstante elas nascem com vida curta e ter o sempre o mesmo efeito de com plicador das crises forjadas ou efetivas Tais incurs es autocr ticas s o pos s veis por causa de condi es est ticas de nossa vida pol tica As condi es din micas as atropelam e solapam porque elas colidem com o senso comum e com as exig ncias da situa o hist rica no presente H mesmo um erro em design las como conservadoras Elas n o s o conservadoras em sentido es trito S o contra as mudan as que os conservadores aut nticos se apressariam em acatar para n o se verem ultrapassados pelos fatos e pelas inquieta es incontrol veis do movimento popular por mais inorg nico que ele pare a ser Por isso na ess ncia aquelas foram e s o incurs es reacion rias autocr ticas e fascistizantes ou fascist ides que se disfar am de conservadoras para os Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 262 An F tentar um pe
339. nstitucionais se dissipam Esse o ponto crucial Os trabalhadores e os oprimidos devem lutar politicamente em todos os n veis poss veis Contudo a ANC n o o suced neo do partido revolucion rio nem a constitui o mais democr tica de uma sociedade burguesa o equivalente hist rico da revolu o social N o h pois nada de novo A quest o difundir tais percep es e conhecimentos en tre as classes trabalhadoras e as massas populares O Centr o se encarregou dessa tarefa ingenuamente por falta de experi ncia na luta pol tica democr tica de seus pr ceres e de seus militantes A esquerda mant m se firme no Parlamento Mas ningu m espera milagres de sua a o pol tica E o que mais decisivo estamos livres de falsas esperan as As ilus es constitucionais ser o naturalmente substitu das pela confian a no confronto direto como fon te da autoemancipa o coletiva dos trabalhadores e oprimidos A esta altura eles descobriram que n o s o os outros dos parlamentares Para transformar o mundo ter o de agir coletivamente e por conta pr pria Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 188 An F RETRANCA DA DIREITA O que se pretende passar como uma imagem revolucion ria da Co miss o de Sistematiza o pura fantasia Seria e imposs vel no Brasil de hoje aprovar uma constitui o ao gosto conservador ou reacion rio Note se que o conser
340. nstituinte Leituras para a reforma pol tica 240 Florestan F A CONSTITUI O E SEU ESPELHO A Constitui o n o pode ser considerada como algo em si e para si um produto do trabalho abstrato dos constituintes Estes s o seres humanos que foram socializados para viver em um regime de classes impregnado de desi gualdades extremas e de contradi es insol veis no seio de uma sociedade civil moldada pelos e para os poderosos e os privilegiados na qual as classes trabalhadoras o povo pobre a ral As proje es ideol gicas e etol gi cas predominantes alimentam um idealismo constitucional manique sta Elas permitem dar com uma das m os menos do que tiram com a outra No conjunto formalmente foi constru da uma constitui o moderna e avan ada Realmente o seu resultado l quido saliente consiste na consolida o da or dem existente que sai mais forte do que jamais foi para as classes burguesas nacionais e estrangeiras N o existe uma utopia Por cima da Constitui o ou atrav s dela prevalece a classe como instrumento de domina o econ mica social e pol tica bem como de conforma o ideol gica dos de baixo aos inte resses e aos valores dos de cima As classes dominantes especialmente a parte nacional da grande bur guesia em seus diversos setores estrutural e dinamicamente articulados entre Jornal do Brasil 02 6 1988 241 Perseu si deviam neste momento possuir um pro
341. nte politizada Especialmente nas regi es industriais mas tamb m em v rios tipos de cidade e nas reas de maior tens o no campo os trabalhadores se movimentaram no sentido de conquistar por meios diretos de luta pol tica de classe peso e voz na sociedade civil e no Estado Os partidos oper rios de identidade socialista comunista ou anarquista refor aram e aprofundaram o processo dirigindo a politiza o para a conquista imediata dos atributos e dos direitos inerentes ao trabalho livre como categoria hist rica ignorados ou aceitos pelos capitalistas com relut ncia no Brasil Absorveram os influxos do movimento pela mobiliza o popular e elegeram representantes diretos ope r rios ou militantes partid rios na ANC Caso nico na hist ria brasileira um ex oper rio e dirigente sindical presidente do Partido dos Trabalhadores o deputado Lu s In cio Lula da Silva ocupa a posi o de l der naquela As sembleia na qual est o presentes outros l deres sindicais de origem oper ria e eleitos por partidos prolet rios A idealiza o da Constitui o nessa esfera vai al m de vocaliza es ideais Reivindica es concretas s o formuladas tec nicamente para serem incorporadas Constitui o Anseios ideol gicos mais amplos sobem tona mutilando o car ter estritamente burgu s do projeto de constitui o e rasgando brechas que envolvem uma dicotomia burguesa prolet ria Os conservadores e os reacion rios s
342. nteceu nos pa ses ricos e de industrializa o avan ada imaginem o que ocorre nas periferias dos pa ses da Am rica Latina da frica e da sia Um autor ingl s Ralph Miliband estudando o Estado capitalista numa perspectiva mais ampla mas referindo se principalmente Inglaterra faz uma an lise brilhante das duas oscila es nele existentes nos dias que cor rem Refere se ele alternativa entre promessa e repress o um cap tulo lindo desse livro que est publicado em portugu s Hoje em grande n mero de pa ses capitalistas a repress o acaba sendo a alternativa mais vigorosa Ralph Miliband conclui de forma melanc lica que a esperan a que estava ligada a promessa cede cada vez mais terreno ao desespero diante do avan o da repress o Esse um quadro que V Exas podem julgar pessimista mas que apa nha o problema com refer ncia a pa ses nos quais a chamada democracia burguesa conseguiu consolidar se e oferecer maioria dos cidad os um pa dr o de vida decente um m nimo de seguran a e principalmente igualdade perante a lei n o igualdade econ mica e social n o igualdade cultural mas igualdade perante a lei Fala se em democracia participativa Essa democracia participativa uma forma de organiza o da sociedade civil que abre perspectivas e ca minhos para uma participa o crescente do cidad o nas atividades mais importantes na percep o e na explica o dos problemas mais importan
343. nto o governo precisa desentocar se sair para o campo de luta sem respeitar veleidades que n o est o ao seu alcance Onde est a mola mestra da maquinaria o segredo de polichinelo A concilia o era um pacto mas um pacto das pelas e para as elites das classes dominantes Ele possui tanto valor para a na o como um todo quanto um traque de S o Jo o O que as classes tra balhadoras e subalternas queriam com os estratos mais radicais da pequena burguesia e das classes m dias tradicionais frente era uma ruptura r pida e definitiva n o s com o regime ditatorial mas com o antigo regime que ele res taurava e repunha em vigor pela for a do fuzil Os pol ticos profissionais foram muito h beis em preparar o pacote do cronograma pol tico militar consertado atrav s da concilia o conservadora para o consumo das massas Ao faz lo no entanto correram o risco da desmoraliza o descoberto o truque o pacto conservador passou a ser sin nimo de felonia A Alian a Democr tica e os dois partidos da ordem sofrem os efeitos mais duros implodindo juntamente com a credibilidade do governo A ANC precisaria ter tomado uma enorme dianteira sobre os ritmos hist ricos do pa s para estabelecer processos de com pensa o pol tica e proporcionar alternativas vi veis para uma transi o ver dadeiramente democr tica desacreditada e vista com hostilidade pela imensa maioria Ora a ressurrei o do pacto co
344. nto e nos dinamismos da sociedade civil A ordem ter de tremer contudo n o h outra maneira de sair do presente atoleiro Nesse contexto os partidos precisam renovar se Observa se que eles ficam encobertos pela situa o de interesses das classes dominantes ou to mam a dianteira no que concerne situa o de interesses das classes tra balhadoras Eles est o nas m os de caciques como antes e os seus l deres n o entendem ou fingem n o entender o que significa o partido pol tico em uma sociedade civil que se v compelida democratiza o por press es que v m de baixo ou por necessidades de moderniza o procedentes de cima Procura se reagrupar as for as do PMDB como condi o para que ele leve ao poder uma candidatura vitoriosa Isso seria o equivalente do milagre de L zaro Essa tend ncia t o vigorosa que cega as pessoas Terminada a Cons tituinte poucos partidos poder o ir li a sem programas organiza o ide ologia e utopia Resistem mudan a porque ela ser o primeiro e principal fruto da democratiza o em processo na sociedade civil e ainda porque ela soterrar a transi o inaugurando a democratiza o do aparelho do Estado em todos os n veis Semelhantes ila es poder o ser incorretas Se forem o apodrecimento do poder persistir at reduzir nos a n s todos a cacos Se n o forem as pers pectivas de superar o caos est o dadas nas condi es concretas como diria
345. nvolvimento capitalista e do regime de classes sociais desem bocou em um beco sem sa da que s pode ser ultrapassado se os oprimidos e os trabalhadores adquirirem peso e voz na sociedade civil e a faculdade de exercer controle ativo sobre o funcionamento no Estado Portanto a sociedade civil e o Estado s o vistos em seu conjunto como uma totalidade em movi mento hist rico e a Constitui o concebida como um conjunto de normas que aponta para o vir a ser uma sociedade civil civilizada e um Estado ca pitalista democr tico Sem qualquer utopia burguesa salvadora aceitando se fria e objetivamente as cruezas e as iniquidades extremas do desenvolvimento capitalista desigual pretende se que a for a e a desigualdade n o conferem privil gios inabal veis para uma minoria e mis ria crescente para a maioria A emancipa o dos oprimidos e das classes trabalhadoras precisa come ar dentro da sociedade civil e do Estado existente atrav s de uma luta global que tome por objeto encetar uma revolu o pol tica dentro da ordem O que se coloca em quest o n o o ponto de chegada o ponto de partida Nas con di es brasileiras esse ponto de partida envolve uma ruptura com a ordem existente no plano mais sens vel e popular do sistema do poder o Parlamento considerado como poder constituinte Como poder emanado do povo neste momento a Assembleia Nacional Constituinte derroga a ordem ilegal vigente e a ilegitimidade da Nova Rep blica
346. o at onde for poss vel a qualquer pre o 1 os propriet rios do grande capi tal e do poder no Brasil 2 as na es centrais e sua superpot ncia com as multinacionais e o sistema capitalista de poder Tais f rmulas abrem v rios caminhos menos o de uma democracia burguesa ampliada aberta plura lista e din mica Por isso chegamos ditadura militar para resolver a crise burguesa isto impedir que a maioria trabalhadora e destitu da impusesse solu es capitalistas eficientes para a crise e concilia o conservadora que inventou o Estado de transi o democr tica permanente Enfrentamos esse drama desde 1964 e nele reca mos em 1984 deixando que a empulha o transformasse em her is homens e partidos que tra ram sua miss o pol ti ca As fendas n o diminuem crescem e se multiplicam Em consequ ncia a crise burguesa se agrava e o governo despenca de suas atribui es normais porque tem de comprar a transi o de negoci la como uma mercadoria e ela encareceu assustadoramente com a convoca o da ANC e a pulveriza o dos partidos da ordem O governo desgasta se torna se muito caro ineficaz 261 Pen ft e impopular tem de tapar os buracos que complicam a crise uma forma de corrup o generalizada digna dos mais intr pidos piratas da expans o da ci viliza o ocidental e dos robber barons da era da revolu o urbana industrial e financeira nos Estados Unidos Porta
347. o dos partidos e das elei es Uma democracia de fachada mant m se tona sem fazer face s exig ncias da situa o hist rica As clas ses dominantes e suas elites se viam postas contra a parede A internacio naliza o da economia se iniciara e tomara rumos que indicavam como se daria e quais seriam as consequ ncias da incorpora o do Brasil s economias capitalistas centrais e da internaliza o crescente do modelo monopolista de desenvolvimento capitalista O fim da d cada de 1950 e o in cio da d cada de 1960 denunciavam que atrav s dos meios tradicionais do mandonismo do paternalismo e do clientelismo s se poderia compor uma maioria parla mentar conservadora sem deter as eclos es sociais que atingiam gravidade extrema Dentro de apar ncias democr ticas e do ritualismo eleitoral seria impratic vel manter a estabilidade pol tica e o controle burgu s da sociedade civil e do Estado As crises explodem no mbito do governo porque as classes dominantes n o conseguiam enfrent las e resolv las no seio da sociedade civil nem transferi las e solucion las na esfera do Parlamento A na o exigia mudan as estruturais As classes dominantes e suas elites responderam com a conspira o civil militar o golpe de Estado e a contrarrevolu o nesse sen tido a Constitui o de 1946 n o gerou a democracia pariu a ditadura militar O per odo da ditadura coincide com a matura o do modelo monopo lista de desenvolvim
348. o coibiu a interfer ncia direta dos interesses inconfess veis que se objetivaram atrav s dos pr prios constituintes Ningu m anjo Os consti tuintes sucumbiram natureza de sua natureza humana Valha me o exem plo do que ocorreu com a educa o e a comunica o As lideran as em tais casos se retra am e os interesses inconfess veis corriam soltos O resultado final foi a incongru ncia n o s ideol gica e pol tica mas de qualidade e de prevarica o O primeiro relat rio composto por Bernardo Cabral ilustra esse fato Era uma colcha de retalhos em que engenho e arte ajudavam na forma e no fundo o todo assustava como um Quas modo ou mesmo um Frankenstein a racionalidade sucumbia conting ncia Todos ficaram horrorizados com o monstrengo e Bernardo Cabral passou maus bocados segurando um filho que n o era seu Pois bem sob o incentivo propulsor da iniciativa popular pouco vis vel por tr s das emendas dos constituintes e do trabalho original destes proces sou se um refinamento progressivo que n o levou a uma constitui o tima ou a uma boa constitui o na linguagem dos psic logos gestaltianos mas nos deu uma constitui o satisfat ria com v rios pontos altos Como expli car isso De um lado pelo centro aut ntico do PMDB e de outros partidos da ordem que n o tinham como fugir responsabilidade do parlamentar constituinte De outro pelo trabalho incans vel dos chamados
349. o da de mocracia Assim chegamos a um quadro hist rico complexo As press es externas comuns tradicionais do povo nas galerias ou na esplanada do Congresso continuam a ter import ncia crescente Ela a chama permanente do aquecimento parlamentar e cont m um peso nico insubstitu vel quan do se desencadeia um processo constituinte de amplitude e profundidade 65 Pen ft Os que defenderam a transi o defrontam se na verdade com uma dupla ruptura Uma que toma por objeto a desagrega o final das estruturas legais e constitucionais de manuten o do passado no presente de reprodu o de iniquidades de origem colonial escravista agr rio ex portadora subcapitalista e de moderniza o acelerada dirigida de fora pelos interesses da domina o imperialista Outra que ter por fim destro ar a ordem ilegal e o Frankens tein constitucional forjados pela ditadura militar e reciclados pela chamada Nova Rep blica Portanto necess rio que as massas populares cerquem o Congresso penetrem dentro dele e se revelem atrav s do seu corpo vivo de monstrando que a na o n o pode continuar acorrentada ao passado remoto ou recente e a formas de domina o que a reduzem a uma col nia disfar ada Todavia as massas precisam tomar a Bastilha que se esconde por dentro do parlamentarismo caboclo escoimar da curta magna as servid es invis veis do idealismo constitucional a um tempo muito refinado e completa
350. o de constitui o pode n o revelar a na o como um todo No entanto desvela o exterior e o interior de suas clas ses dominantes e em particular de suas elites Marx e Engels afirmaram em A ideologia alem e depois o repetiram em outros escritos que a ideologia de uma sociedade a ideologia das classes dominantes A sociologia posterior mente confirmou essa descoberta em todas as investiga es que foram fei tas segundo t cnicas descritivas e interpretativas empiristas ou anal ticas Portanto n o entra em jogo a evasiva oposi o linear entre positivismo e marxismo e tampouco a antiga oposi o forte entre idealismo e materia lismo rica de sentido te rico e pr tico O Centr o possui uma ideologia pr pria isto formas de ocultar seus interesses reais por tr s de valores imagin rios e uma utopia correspondente isto alguma impuls o coletiva de suas elites de transformar o mundo As evid ncias dizem que n o o Centr o com sua pose liberal democr tica um conglomerado de fac es de classes burguesas Ele carrega consigo todas as maldi es do capitalismo r stico perverso e selvagem e nenhuma das virtudes do liberalismo aut ntico e do radicalismo democr tico burgu s Folha de S Paulo 27 1 1988 201 Pen ft uma falsifica o da ideologia burguesa e da necessidade atual da burguesia monopolista de alterar a sociedade civil e a cultur
351. o de esfacelamento de ilus es constitucio nais e de grandes esperan as pol ticas 1 Aten o Ministros e outras autoridades foram convidados para manifestar abertamente as suas opini es e expectativas tanto nas subcomiss es quanto nas comiss es tem ticas Alguns presta ram declara es construtivas Outros exorbitaram e desca ram em provoca es Por fim tamb m houve ministros e autoridades que abusaram de seu poder e interferiram no rendimento dos trabalhos sendo sabido que em um caso pelo menos tais interfer ncias impediram a aprova o do substitutivo do relator da comiss o tem tica em quest o O governo teve o seu espa o demo cr tico e usou o como tinha a capacidade de faz lo N o pode alegar agora que n o foi ouvido Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 264 Florestan Fernandes S LI ES DOS FATOS Os ltimos acontecimentos desmascaram a realidade pol tica Havia um pr requisito hist rico para a vig ncia normal da Constitui o em acaba mento fosse ela melhor ou pior do que ser a dissolu o da Nova Rep bli ca A continuidade da transi o incompat vel com qualquer normalidade constitucional A Constitui o n o engolir a transi o lenta gradual e se gura Esta pelo que aprendemos diariamente de forma reiterada tragar a Constitui o ou a colocar de escanteio como letra morta A ditadura sobre viveu concilia o
352. o de outro homem S os que s o lobos s o homens O nosso mundo n o a contraface do mundo dos outros Os outros n o pertencem a nenhum mundo Trata se da barb rie sem dimens o humana Os melhores da terra os nicos que s o humanos por seu sofrimento e por sua coragem que lutam sem tr guas contra a barb rie s o exclu dos temidos e dilacerados pelo terr vel engenho do poder que a civiliza o e o colonialismo colocaram nas m os de uma minoria intr nseca e organicamente criminosa O que gera o nosso mundo nos EUA e uma casta de vampiros de al mas no Haiti Os mesmos fatores que se expressam atrav s dos mesmos efei tos Contradi es insol veis da heran a colonial racionalizada em um pa s e ignorada no outro e a objetifica o do ser humano conduzida a seus extre mos sob o capitalismo monopolista da era atual na superpot ncia incubada no outro como a necessidade maldita de impedir a anarquia l embaixo Jamais a civiliza o alcan ou tamanha perversidade no disfarce e na defesa da barb rie nem na hist ria antiga nem na hist ria moderna diga se o que se quiser dos romanos ou dos ingleses A sociedade civil engendrada pelo capital e pela domina o burguesa distribuiu desigualmente o progresso e o aplica com crit rios diferentes dentro de seus muros e na imensa periferia que se erige no seu imp rio Confrontadas ao Brasil tais reflex es parecem inc modas e incoeren
353. o democr tica ou os militares Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 148 An F trar o a ditadura de volta A Alian a Democr tica desagregou se como se construiu como uma farsa Todos est o livres o que importa no momento para o processo constituinte O Presidente est livre para fundar o seu par tido de centro entenda se uma direitona j bem conhecida de todos os brasileiros O PMDB est livre para decifrar se como o partido majorit rio e retirar da Constitui o os truques que permitiriam ressuscitar um novo tipo de col gio eleitoral ampliado e generalizado O PFL est livre para deitar se no colo do bem amado ou para lan ar se a s rio no embate por um espa o eleitoral pr prio O governo est livre para funcionar como um Executivo s rio se que ter compet ncia para isso A ANC est livre para enfrentar suas tarefas hist ricas concentrando se na elabora o e no aperfei oamento de uma carta magna que sirva de fundamento e de incentivo para uma verdadeira revolu o democr ti ca Os partidos radicais e de esquerda est o livres para atacar de frente a tran si o democr tica e a Nova Rep blica desmistificando as no plano pol tico e ideol gico para aprofundar o conte do popular nacionalista e democr tico da Rep blica que emergir da Constitui o e para tocar a campanha das elei es diretas Enfim clareou se o horizonte Se
354. o e direto dentro do Congresso Constituinte se poss vel al ado pelos parlamentares em Constituinte aut no ma e soberana A burguesia ganhar assim um respiro que de fato ela n o merece por todos os erros deliberados e inconscientes que cometeu reiterada mente As demais na es tamb m ganham um respiro conquistam meios de desenvolvimento independente de classe e de luta pol tica que s o essenciais para o surgimento de um novo Brasil como comunidade pol tica nacional e como uma for a vital de integra o supranacional da Am rica Latina e das Am ricas pobres O pacto social que o governo manipula com tamanha tortuosidade vale pelo que Um meio canhestro para desmobilizar o movimento popular que anseia por uma revolu o democr tica atrav s da elabora o de uma constitui o que passe o Brasil a limpo um meio med ocre de subjugar os partidos da ordem e a maioria parlamentar a conveni ncias e interesses in confess veis imediatistas dos muito ricos e poderosos um meio pol tico para Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 48 An F refor ar a capacidade de interven o governamental em favor de uma con cilia o capitalista que confira prioridade aos alvos nacionais e imperialistas da grande burguesia na constru o de um modelo liberal de constitui o Desmobiliza a massa popular as classes trabalhadoras as organiza es sin dicais os partidos oper rios e
355. o e do Estado No entanto h uma demora cultural um hiato hist rico e pol tico entre a transforma o da sociedade e suas repercuss es sobre a organiza o funcionamento e rendimento das institui es chave E estas movidas por enquanto pelos que se acham enca rapitados na garupa do poder estatal em todos os n veis da organiza o e da competi o pelo poder modificam se muito devagar resistindo a todas as mudan as e reformas mesmo aquelas que seriam do seu interesse de classe Uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva teria a virtude de acelerar os ritmos da transforma o encolhendo as dist ncias existentes entre o Estado e a na o Todavia esse caminho foi cortado tortuosamente pelos donos do poder movidos pela ideia de que segurando as pontas podem controlar o processo hist rico Isso deixa patente que as grandes reivindica es prolet rias dos traba lhadores da terra dos v rios tipos de p rias e exclu dos precisam buscar um leito hist rico menos confuso e perverso do que o das promessas eleitorais e dos programas do partido da ordem necess rio retornar linguagem do passado ou das origens equacionando tais causas em termos socialistas mesmo quando elas s o propostas para serem atendidas dentro da ordem e atrav s da ordem Se a minoria que monopoliza o poder bloqueia o campo Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 22 An F das transf
356. o em agente da acumula o capitalista privada e se evade de suas fun es em todas as re as vitais de distribui o indireta da renda e de bem estar social intervir na prote o dos recursos minerais da na o e na limita o do campo de ativida des e da liberdade de explora o semicolonial das grandes empresas estran geiras fortalecer a defesa de todas as medidas que envolvem descentraliza o planejamento em escala regional e corre o das desigualdades sociais raciais e regionais que contribuam ativamente para reproduzir o chamado Brasil arcaico empenhar se em manter as medidas que se relacionem com a liber dade dos partidos o plebiscito o referendo popular a iniciativa popular na elabora o das leis embora tudo tenha ficado longe de uma democracia par ticipativa burguesa e a democratiza o dos direitos e liberdades individuais e coletivas inclusive o direito de voto aos dezesseis anos de idade a defensoria p blica e o fortalecimento das atribui es de controle direto e indireto do Executivo pelo Legislativo preciso que as for as prolet rias de esquerda inclusive suas vanguar das mais exigentes e ardentes aprendam a combinar reforma e revolu o As maiores li es a esse respeito v m de uma figura insuspeita Rosa Luxem burg O para so n o existe para os que s o socialistas prolet rios Demolir a autocracia burguesa mesmo em um pa s atrasado como o nosso n o repre senta chegar ao para
357. o manifesta es espec ficas de medo nos estratos que se dizem de centro mas s o ultraconservadores ou reacion rios da burguesia nacional e dos seus parceiros externos Seria melhor para o processo constituinte que a Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 152 An F implos o dos antigos partidos da ordem com seus arranjos conciliat rios se desse j N o obstante qualquer que seja o momento o fen meno ser til e criativo porque permitir infundir paradigmas democr ticos na observ ncia das inova es mais profundas na nova Constitui o 153 Pen ft SACO CHEIO Os jornais e as revistas saturam a imagina o dos leitores com uma verdadeira massa de informa es sobre o cotidiano e tamb m sobre os en contros e os desencontros da sociedade civil Aqui os parlamentares lan am se avidamente sobre os dois tipos de mat ria Poucos chegaram s an lises sofisticadas e desmistificadoras das t cnicas de desinforma o na sociedade de massas e ao pessimismo da filosofia cultural contempor nea especial mente a alem que desmonta a comunica o cultural industrializada como a crian a que esmaga a mosca azul para descobrir seus mist rios No entanto os pol ticos buscam dados para o dia a dia do pequeno expediente Exibem triunfalmente as fotos e os textos que demonstram os erros ou os acertos do governo em seus v rios n veis e permitem tocar a
358. o palco N o s o governo Sarney que precisa ser banido para que a de mocracia se torne poss vel e a legalidade palavra viva necess rio impedir o advento de outros governos an logos ou equivalentes Enfim imp e se no m nimo conquistar uma nova era hist rica sob a gide da compreens o obje tiva da Constitui o como revolu o a fazer Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 276 Florestan Fernandes O PRODUTO FINAL A Constitui o est formalmente pronta Chegou a hora de fazer inda ga es de conjunto a respeito do que ela significa Sendo uma constitui o destinada a uma sociedade capitalista da periferia e dada a composi o da maioria dos constituintes extra dos das classes burguesas alta e media seria ingenuidade esperar que ultrapassasse os paradigmas da democracia bur guesa das na es perif ricas associadas s na es centrais e sua super pot ncia Como n o h aqui qualquer forma concreta de anti imperialismo as classes burguesas do tope cultivam a rendi o passiva como neg cio e os estratos m dios e baixos da burguesia bem como as v rias fac es da pequena burguesia propugnam por um nacionalismo defensivo A ideologia da superpot ncia e das na es centrais a ideologia das classes burguesas com varia es de radicalidade que n o amea am o modelo de produ o ca pitalista internacionalizado Ele pressup e uma demo
359. o sistema capitalista mundial de poder Os partidos n o podiam servir de alavanca para tal avan o por suas debilidades organizativas e ideol gicas cr nicas ou pelo peso relativo demasiado pequeno que teriam no conjunto da Assembleia Nacional Constituinte aqueles que superassem 305 Pen ft as referidas debilidades A solu o natural seria portanto casar a forte tra di o do constitucionalismo formal s press es daquelas for as vivas que se introduziram na ANC atrav s do est mulo s press es externas por meio da iniciativa popular e das emendas populares Os obst culos a esse recurso provinham de duas fontes A tend ncia do parlamentar pr tica de suas tarefas segundo uma praxis que o converte no representante do Povo Essa praxis concentra pessoalmente de fato a sobe rania no representante da vontade popular e o converte em seu rbitro Essa tem sido ali s a solu o pela qual na sociedade capitalista as elites das clas ses dominantes assumem o comando da sociedade civil e do Estado e quan do se apresenta a ocasi o tomam se o outro do Povo substituindo o na elabora o das leis e por conseguinte na determina o de seus conte dos A fraca experi ncia de participa o popular institucionalizada imperante em todas as esferas da vida social organizada Os movimentos pela participa o e pela iniciativa populares na Constituinte compensaram este elemento Con tudo n o podiam acelerar
360. o vamos conseguir fazer nada que preste enquanto estivermos vivendo a hist ria do sapo com o ouri o cacheiro O presidente da Rep blica depois que conseguiu aboletar se na casa do sapo expulsou o de l ele quem comanda a vida na casa do sapo Trata se de uma situa o folcl rica Devemos protestar contra isso N o culpo o PMDB enquanto partido em conjunto pelo que est ocorrendo porque o Senador M rio Covas n o aceita discutir o sistema de Discurso proferido durante a sess o de 24 de agosto de 1987 na ANC Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 118 an Fernandes governo e o mandato do presidente Portanto S Exa se p s a fresco n o acei tou responsabilidades com rela o a essa quest o Creio que h parlamentares revoltados com o que est ocorrendo Consequentemente nosso trabalho est paralisado as negocia es est o sendo feitas fora do Parlamento e o presiden te da Rep blica acaba decidindo o que quer ou negociando no sentido de levar esta Casa a tomar decis es que n o lhe compete tomar Portanto necess rio protestarmos contra essa situa o e trabalhar mos no sentido de modific la J que permitimos que a soberania desta Casa fosse enrolada em papel higi nico pelo menos dever amos exercer nosso tra balho com um m nimo de autonomia e independ ncia Vamos ter aqui dias de atropelo para apresentar emendas e estas depois n s
361. oca a quest o em uma perspectiva de rela o do Parlamento com o povo o que se poderia dizer que existe um Amazonas entre esse Projeto de Consti tui o e as aspira es populares Discurso proferido durante a sess o de 23 de setembro de 1987 na ANC 129 Pen ft Ou o o nobre Constituinte Bonif cio de Andrada O Sr Bonif cio de Andrada Eminente professor Florestan Fernandes quando V Exa fala no relacionamento do Parlamento com o povo h de crer e h de estar conosco que este relacionamento pode ocorrer de maneira muito mais eficiente no regime parlamentarista do que no presidencialista E V Exa tem o exemplo dos Parlamentos dos pa ses presidencialista e parlamentarista onde a intera o povo e Poder Legislativo muito maior O SR FLORESTAN FERNANDES Deixo este problema para a reflex o dos meus colegas Respeito a opini o do Constituinte Bonif cio de Andrada que muito conhecida muito mais conhecida do que as minhas e passo adiante A esperan a e o querer da massa do povo ficaram de um lado o nosso Projeto de Constitui o ficou de outro Esta a verdade Temos de nos propor uma indaga o qual foi o papel da iniciativa popular no nosso trabalho N o podemos negar que as reivindica es populares chegaram at aqui O Sr Genebaldo Correia Permite me V Exa um aparte O SR FLORESTAN FERNANDES Permita me concluir meu racioc nio O povo penetrou nesta Casa trouxe suas reivindica
362. ocura impedir por todos os meios ao seu alcance inclusive pelo recurso ditadura militar e Nova Rep blica Essas tarefas das classes trabalhadoras colocam as organiza es sindi cais todos os sindicatos combativos as centrais trabalhadoras especialmente a CUT ea CGT e todos os partidos prolet rios em particular o PT na linha de frente das lutas oper rias que ligam reforma e revolu o De imediato a reforma constitui parte do desenvolvimento do capitalismo No entanto o desenvolvimento capitalista desigual do pa s e a domina o imperialista im p em essa tarefa hist rica s classes trabalhadoras e massa do povo Contu do se as perspectivas se desdobram abertas para o futuro a t o falada tran si o para o s culo XXT a rela o entre reforma e revolu o aparece com seu verdadeiro car ter socialista como uma emana o pr via do socialismo prolet rio Se a burguesia se mostra incapaz de cumprir seus pap is hist ricos e s o os prolet rios que tem de lutar pelas reformas e transforma es capitalistas mais profundas isso quer dizer que as tarefas hist ricas em ques t o transferem para os trabalhadores suas organiza es sindicais culturais e pol ticas a conquista ofensiva de uma nova forma da organiza o do modo de produ o da sociedade e do Estado Essa nova forma a socialista e diz respeito futura conquista do poder pela maioria PARTICIPA O POPULAR QUER DIZER C
363. odos querem alguma vantagem por bem ou por mal cegamente Toda via s os donos do poder o conseguem aumentando a mis ria dos explora dos a anomia da sociedade civil e a inviabilidade da na o Pouco importa Depois de n s o dil vio Todos amargam alguma f ria ntima o desejo de estar muito distante o rep dio a tomar decis es e a concretiz las De Homo Jaber o brasileiro caminha para a nulifica o do eu Algo estranho muito estranho em uma na o do Novo Mundo Por m o produto de uma evolu o secular que teria de chegar a esse ponto para que ficasse madura para apodrecer ou gerar outra vida Nesse contexto os de baixo est o com o saco cheio Um conceito vulgar mas preciso Eles perderam tudo ou nunca chega ram a ter nada O zero prefigura o seu horizonte O que esperar Sua rea o crise profunda por enquanto de desalento e de ambiguidade E nos pr xi mos dias nos pr ximos meses nos pr ximos anos Muitos t m pensado na Alemanha pr hitleriana e na manipula o do fascismo potencial pelas elites das classes dominantes Ali s tamb m pode riam atentar para a R ssia pr bolchevista Ou ent o refletir sobre nossa rea lidade Afinal de contas agora s o os brasileiros que est o com o saco cheio e eles s o capazes de ir ao fundo do po o e de l sa rem com a solu o do dra ma nas palmas das m os N o uma fatalidade que o desespero da massa fomente s uma sa da aquela
364. ol ticos da es querda revolucion ria Por m pode se travar a luta de classes dentro do Parla mento Mas n o fazer por meio dele uma revolu o social Seria extremismo infantil confundir as coisas e ignorar quais s o as tarefas hist ricas dos partidos socialistas e comunistas prolet rios no atual contexto pol tico A revolu o vai da sociedade civil para o Parlamento e n o deste para a sociedade civil As classes dominantes podem recorrer ao golpe de Estado e usar o Parlamento para instituir uma ditadura militar e ou civil Os trabalhadores ter o de con quistar o poder primeiro para em seguida implantar ou difundir o seu rg o de representa o e de governo que se interpenetram e se mesclam O que es tava em jogo nas elei es de 1986 e neste momento consistia como passar de Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 256 An F uma ditadura antioper ria e autocr tica para um Estado norteado pela forma de democracia burguesa com firmes polaridades prolet rias e populares A Constitui o por si mesma exprimiria uma vit ria Ela seria o fim da ditadura e o in cio de um Estado democr tico burgu s de participa o ampliada O resto teria de ser conseguido depois dentro ou contra as normas constitucionais pela pr pria luta de classes Os trabalhadores seus sindicatos organiza es culturais e partidos seus aliados pertencentes ou n o mesma situa o de classe teriam de
365. olin rio Alves Vanessa Xavier Nadotti FLORESTAN FERNANDES NA CONSTITUINTE LEITURAS PARA A REFORMA POL TICA FLORESTAN FERNANDES Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a Reforma Pol tica Florestan Fernandes CopyrightO 2014 dos autores CADERNOS PERSEU Serie Mem ria amp Historia EQUIPE Coordenadora da cole o Luciana Mandelli Edi o Luana Soncini Assistente de edi o Vanessa Xavier Nadotti EDITORA DA FUNDA O PERSEU ABRAMO Coordena o Editorial Rog rio Chaves Assistente Editorial Raquel Maria da Costa EDITORA EXPRESS O POPULAR Coordena o Carlos Bell Miguel Yoshida Sirlei Chaves Projeto Gr fico Caco Bisol Diagrama o M rcia Helena Ramos Imagem da capa Florestan Fernandes manifesta apoio mobiliza o popular em frente ao Congresso Nacional jogando sua gravata Tirada durante seu primeiro mandato como deputado em 1989 Foto de Carlos Roberto Meira Menandro Contracapa Cartaz eleitoral 1983 acervo CSBH Dados Internacionais de Cataloga o na Publica o CIP F363f Fernandes Florestan Florestan Fernandes na constituinte leituras para a reforma pol tica Florestan Fernandes S o Paulo Editora Funda o Perseu Abramo Express o Popular 2014 316 p il Cadernos Perseu Mem ria amp Hist ria 2 Inclui bibliografia e anexos ISBN 978 85 7643 241 8 Perseu 978 85 7443 244 8 Express o Popular 1 Pol tica Brasil 2 Reforma
366. olu o dos problemas e ao mesmo tempo a administra o p blica foi se especializando no sentido de retirar a solu o dos problemas da comunidade local Ent o o que ocorre Em um livro que tamb m est publicado em portugu s e que trata da crise fiscal do Estado James O Connor mostra que a tend ncia que se estabelece em um pa s com uma democracia consolidada como os Estados Unidos consiste em transferir a solu o dos problemas para a rea dos chamados competentes para a esfera da administra o da tecnocracia O que se diz que os problemas exigem planos programas pessoal especializado solu o global e articulada Isso significa que o problema percebido ao n vel do movimento social ao n vel das massas popu lares acaba sendo separado das massas populares levado para a alta adminis tra o e em consequ ncia a comunidade perde contato com os mecanismos de solu o dos mesmos Quando a solu o posta em pr tica vem como que uma iniciativa burocr tica ou tecnocr tica imposta de cima para baixo sem consultar a massa dos cidad os as camadas populares as pessoas interessadas na solu o dos problemas Quer dizer esse mecanismo pelo qual as pessoas respons veis entre aspas os rg os competentes entre aspas assumem de fato o controle de todo o poder acefaliza a capacidade do cidad o comum de intervir nas solu es dos problemas que afetam sua vida cotidiana Poderia dar v rios exemplo
367. ompar vel com o fei j o os temperos e os pertences de uma feijoada para quem n o sabe faz la O trabalho do relator teve de ser arbitr rio N o obstante a espinha dorsal da Comiss o era o centrismo do PMDB e do PFL com outros partidos da ordem Os radicais do PMDB jogaram um papel construtivo e com a cola bora o da esquerda que optou realisticamente pelos avan os pontuais foi poss vel atingir se uma carta constitucional aqu m das exig ncias hist ricas mas moderna em v rias partes e democr tica no essencial Nesse momento entrou em cena o velho esquema de jogo de bra o em que s o mestres os donos do poder no Brasil usando o conceito no sentido em que o emprega Raymundo Faoro Apoiados no que subsiste de ditadura dentro da Nova Rep blica e nos interesses particularistas das classes domi nantes a correla o de for as do plen rio mostrou o seu Brasil ideal capita lismo monopolista e pr imperialismo no tope mis ria e trabalho barato na base Ex rcito ocupado reduzido complementado por milh es de malditos errantes que constituem v rios tipos de ex rcito de reserva de m o de obra bruta quase gratuita O formalismo jur dico impregnou o projeto de consti tui o de uma bela apar ncia quase toda reproduzida do projeto de constitui o A da Comiss o de Sistematiza o Os que haviam defendido e aprovado o regimento da ANC o destro aram com uma facilidade maior por receberem apoio da me
368. onstitui o heterog nea e heter clita Preserva intacta uma ampla heran a do passado inclusive a tutela militar como recurso extremo para qualquer fim Mas abre muitas portas para a inova o mais ou menos radical Isso indica que a socie dade civil se alterou em suas estruturas e dinamismos fundamentais Por m a burguesia mostrou se incapaz de formular um projeto hist rico de consti Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 278 An F tui o v lido para o presente com respostas claras diante das exig ncias da situa o N o basta agrupar a rica massa de c rebros da burguesia preciso alimentar uma chama criativa que a burguesia brasileira n o possui A me lhor constitui o comparada s de 1934 e 1946 nasce com vida curta e ter de ser revista ou substitu da na melhor das hip teses dentro em breve O outro impacto que a Constitui o se revelou impotente para absor ver diz respeito eclos o do povo na hist ria Essa eclos o deu se por duas vias Primeiro atrav s das classes trabalhadoras das cidades e do campo bem como pelos milh es de n mades da mis ria e de trabalhadores semilivres exclu dos completamente da sociedade civil O movimento dos trabalhadores vinha de longe Do in cio do s culo da forma o dos sindicatos e dos partidos oper rios na d cada de 1920 do salto qualitativo que alcan ou seu pico nos fins da d cada de 1950 e come os da de 1960 e
369. onte do pol tico revolucion rio Se a burguesia e se os estratos mais politizados e org nicos da burguesia n o possuem alternati va a Constitui o n o encontra os campe es de um projeto constitucional dentro da ordem E os que combatem a ordem existente n o podem levar a s rio substituir seus ideais revolucion rios pela salva o da ordem N o o seu papel hist rico O que lhes compete lutar pela revolu o social e pela conquista do poder Na ANC eles comp em uma esquerda real que n o se confunde com a esquerda dos partidos da ordem e do governo margem desses partidos eles podem formar em uma situa o de atraso pol tico ao lado daquela esquerda parlamentar Contudo s poder o pensar em projeto de Constitui o quando a quest o do poder se formular em termos de como organizar uma sociedade e um Estado socialistas Palmas 81 Persea INVAS O E DESAFIO A t cnica tradicional de press o pol tica no interior do Parlamento brasileiro era a de manifesta o da galeria Para neutraliz la concebeu se recentemente uma t tica medrosa limitou se o n mero dos que podem ter acesso s galerias Duzentas pessoas seria o n mero toler vel pelo que se des cobriu recentemente quando os professores de Bras lia em greve tentaram uma ocupa o em massa dos lugares A custo chegou se a 300 depois a 400 lugares Por fim quando se descobriu que nenhuma norma legitimava a proi bi o os que puderam sub
370. ontinua ativo por uma de suas pontas a minoria centrista e de esquerda que d combate ao desmantelamento da ANC e de seus pap is hist ricos construtivos Mas essa minoria n o poder mais usar a pr pria ANC como o meio de sua autoafirma o e da democratiza o da sociedade civil da cultura e do Estado Tamb m fica evidente que a outra solu o sai da ANC por m como solu o pol tica de emerg ncia n o como efeito do impacto institucional reformador da nova carta magna Trata se da ativa o do movimento pela redu o do mandato presidencial e da decis o dos pol ticos de realizar por outras vias a extin o da transi o lenta gradual e segura que s serve para prolongar a ditadura sob a forma de Nova Rep blica uma pena que tenhamos sido arrastados a isso Todavia como a ANC falhou em sua principal tarefa que consistia em colocar um ponto final r pido na ordem ilegal imperante herdada da Rep blica institucional imp e se recorrer s elei es diretas t o depressa quanto 219 Pen Stu seja poss vel para atingir se aquele alvo O Brasil n o pode esperar A ANC precisa encaminhar se no sentido de realizar esse salto hist rico qualitativo garantindo que a escolha pelo povo de um presidente confi vel e competente retempere e restabele a a luta popular pela democracia e pela restaura o de esperan as que se desgastaram ou desvaneceram O quadro pol tico atual altera profundamente os la os da ANC
371. ontraste Os dois ex tremos se tocam ainda que n o se unam Os mais reacion rios entre os de cima assestam suas baterias contra a Constitui o e um novo come o com a poss vel instaura o de uma democracia burguesa com um polo prolet rio forte do qual os de cima n o se livrar o facilmente daqui para frente Os mais revolucion rios entre as diversas correntes de vanguarda do socialismo e do comunismo repudiam a Constitui o em nome da pretensa legitima o da Nova Rep blica Os primeiros agem dentro dos limites de seus in teresses de classe e de sua tradi o pol tica autocr tica Os ltimos ignoram que fazem o jogo dos inimigos A Nova Rep blica n o carece de legitima o Quem tenha lido o pequeno livro de Guevara sobre a guerrilha sabe que a legitima o das ditaduras expl citas ou mascaradas da Am rica Latina de corre da inexist ncia da recusa popular De quantas legitima es sucessivas precisaria a Nova Rep blica Ela passou pela pia batismal da concilia o conservadora e do col gio eleitoral duas falcatruas que funcionaram perfei o Recebeu o endosso da mobiliza o popular dirigida pela Alian a Demo cr tica mas de fato pelo PMDB em com cios encarados como de salva o p blica Originou se e mant m se pela l gica pol tica da transi o lenta gradual e segura inventada pelos chefes militares e sancionada por todos os setores hegem
372. oope rativamente emendas coletivas e incentivavam a combatividade dos suplentes o que explica por exemplo o xito marcante de Jos Geno no Operou se assim a metamorfose do monstrengo em uma constitui o com espinha vertebrada e com sentido moderno e de conte do democr tico ineg vel Os avan os foram feitos em diferentes dire es o que n o impediu contradi es formais e l gicas ou omiss es injustific veis a comunica o os ndios e a parte relativa fam lia ao menor e ao idoso ficaram sem revi s o Al m disso todos os constituintes foram vitimizados pelo encurtamento progressivo dr stico do tempo de dura o dos trabalhos da Comiss o de Sis tematiza o Este corte n o foi t cnico mas pol tico Representou um meio para reduzir o alcance inovador e para alguns iconoclasta da contribui o constitucional dessa comiss o Todos sofremos por isso mas o golpe fatal foi desfechado sobre o cr nio da ala esquerdista ou radical Os que comp em o que se autobatizou de Centr o n o possuem raz o para se sobreporem aos demais e exigir uma mudan a das normas do Regimento para recome ar o jogo O protesto deveria ter sido feito no momento exato no qual se consentiu que o presidente da ANC baixasse um conjunto de decis es que amputava a massa de destaques indiscriminadamente segundo acordo com as lideran as mas na verdade de forte cunho pessoal Agora o que se busca um retrocesso Os
373. orma es e da linguagem ou da a o liberal radicais da burgue sia a maioria deve saltar frente e servir como a alavanca da revolu o de mocr tica e da cria o de um Estado democr tico popular Todas as for as vitais da esquerda dos sindicatos aos partidos e s organiza es culturais de frente devem aprender a lidar diretamente com seus problemas e segundo uma estrat gia pr pria Primeiro para conquistar o centro din mico da ordem e da sociedade segundo para conferir a este a capacidade de alterar as estruturas os conte dos e o rendimento do Estado Os que teimam em seguir o caminho da obstru o s podem aprender por meio de derrotas sucessivas Os de baixo j possuem outra envergadura e outra presen a no seio da sociedade civil Precisam perder agora a timidez dizer a que v m e o que querem e isso s poder o fazer atrav s do socialismo prolet rio 23 Pensa Os SUBTERR NEOS DA HIST RIA N O ENTRAM NAS ENQUETES Existe um aceso debate a respeito do desinteresse pela Constituinte por pesquisas de opini o Os meios de comunica o de massa esquecem por m o essencial a sociedade civil existente no Brasil incorpora morfologicamente milh es de miser veis da terra de trabalhadores assalariados livres e semili vres Por m ao mesmo tempo castra os socialmente Eles n o possuem nem peso nem voz nessa sociedade civil Os senhores da fala da riqueza e do poder decidem tudo Aos outros a imensa ma
374. orretamente de hipocrisia constitucional mentira convencional O art 1 j retoma os caminhos que unificam as classes burguesas nos terrenos do interesse e da do mina o de classe da ideologia montada como uma sala de espelhos fant sticos e da aus ncia da cultura c vica como b ssola pol tica A esta altura o leitor estar curioso ent o onde se acham as diferen as Elas na verdade s o pouco numerosas mas cont m a precis o de uma interven o cir rgica N o acrescentam especificam Longe de ser um Frankenstein o projeto do Centr o refina o Estado patrimonialista mantendo o como uma institui o chave viva dentro de uma sociedade civil nascida do modo de pro du o capitalista monopolista da era atual do regime de classes instrumenta lizado pelo despotismo burgu s mais brutal e ego sta e do sistema capitalista mundial de poder Portanto o molde o de uma constitui o que n o se coloca como realidades concretas as quest es da na o como um todo da humanida de da pessoa de uma sociedade civil aberta e de um Estado capitalista demo cr tico a Constitui o necess ria nos tr picos nas fronteiras extremas da civiliza o e no pice da barb rie um Estado de opress o dos de baixo de mo nopoliza o do poder pol tico estatal pelos de cima e de acumula o capitalista origin ria permanente para a burguesia nacional e estrangeira As consequ ncias s o claras Esse
375. os de acordo com as regras de proporcionali dade Mas essas reflex es seriam secund rias Poder se ia lembrar o passado de alguns l deres do Centr o Tenho aqui em m os por exemplo um do cumento assinado pelos nobres confrades Roberto Cardoso Alves Gastone Righi e outras grandes express es do Centr o no qual se fala em princ pio da Declara o Universal dos Direitos do Homem Se tiv ssemos adotado esta Discurso proferido durante a sess o de 16 de dezembro de1987 na ANC Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 184 An I declara o como nossa Constitui o estar amos numa posi o muito mais avan ada ideol gica e politicamente Fala se em autonomia sindical direito de greve pol tica de pleno emprego contratos coletivos de trabalho sem in terven o do Estado estabelecimento do sal rio desemprego restaura o do direito estabilidade compatibiliza o com o Fundo de Garantia do Tempo de Servi o Fala se na defesa do monop lio estatal nos setores econ micos fundamentais e por a afora um manifesto da Frente Parlamentar Nacio nalista de 21 de junho de 1983 mas nem esse argumento seria importante pois os homens podem regredir ideologicamente em vez de avan arem na dire o do futuro Acontece que h uma luta pol tica maior entre aqueles que lutam pela revolu o democr tica e aqueles que querem impedir que o povo brasileiro venha a ter uma Constitu
376. os de cima sabem governar este pa s que eles pr prios conduziram atrav s da ditadura e da Nova Rep blica ao caos global Ainda n o se sabe qual ser o talhe definitivo da constitui o de 1988 Ela foi mistificada e elevada s nuvens quando os meios industriais de comu nica o de massa os estratos conservadores das classes dominantes e prin cipalmente a composi o civil militar que governa ou desgoverna o pa s esperavam pescar uma carta magna ao seu gosto Agora a ANC e o seu pro duto est o sendo desmistificados e reduzidos s propor es reais Entretanto preciso aguardar o que nos reserva o segundo turno aparentemente o pior para fazerem se ju zos definitivos De imediato o governo teve uma vit ria chocante e suja mas uma vit ria Nas revolu es e nas contrarrevolu es os que ganham s o os que contam Certas coisas s o vis veis mantidas as condi es hist ricas existentes A situa o econ mica dos miser veis da terra e dos trabalhadores livres e semilivres n o se alterar em nada O mesmo aconte cer com a pequena burguesia e com os estratos em queda social das classes m dias tradicionais Elas est o sendo mo das e condenadas proletariza o relativa ou absoluta Isso nos coloca diante de um quadro hist rico igual ao que prevalece no momento As classes dominantes que formam um bloco hist rico pouco articulado mas convergente e unido na defesa de interesses de curto
377. os de van guarda no movimento sindical e oper rio O desencanto popular e a decep o das classes trabalhadoras diante da Assembleia Nacional Constituinte que se dissociou das bandeiras da transforma o democr tica estrutural e mostrou faces reacion rias que pareciam superadas infundem significa o maior orienta o indicada Tudo se passa como se a recusa perempt ria se assentas se na exist ncia de uma alternativa concreta constitui o ou revolu o Como essa uma quest o pol tica decisiva imp e se discutir as suas implica es e imperiosidade Gostaria de desdobrar a discuss o atrav s de tr s perguntas 1 O que se esperava da Constitui o na presente conjuntura hist rica 2 Quais foram os resultados que os movimentos de participa o popular e em especial o movimento sindical e oper rio vinculados esquer Folha de S Paulo 14 6 1988 245 Perseu da lograram na ANC 3 O que poder justificar e inclusive compelir os partidos de esquerda a n o assinarem a Constitui o Desde j precisam ficar estabelecidas duas premissas Uma de que a assinatura da Constitui o jamais ser algo que v al m da aceita o da legalidade e da apresenta o de candidaturas representa o parlamentar em uma ANC por partidos prole t rios reformistas ou revolucion rios A assinatura parte de uma rotina ins titucional e indica na sua ess ncia que a Constitui o foi elaborada dentro das regra
378. os exemplificar a partir do Brasil O socialismo prolet rio n o uma etiqueta da moda Ele representa uma corrente pol tica e ideol gica que est no fundo da presente crise de civiliza es e no futuro pr ximo da hist ria em curso da humanidade numa era de aboli o das classes da luta de classes e do colapso da raz o Palmas Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 102 Florestan F CONTROV RSIAS SOBRE A CONSTITUI O Uma constitui o envolve a distribui o do poder na sociedade civil e o modo de usar socialmente o poder pol tico estatal Se esses s o problemas graves nas na es capitalistas mais avan adas imagine se na periferia As constitui es anteriores puderam ser protegidas pelos privil gios que a ex trema concentra o de prest gio social de riqueza e de poder conferiam s classes dominantes Elas n o se viram amea adas apesar de tr s constitui es terem sido promulgadas depois da revolu o pol tica de 1930 1934 1937 e 1946 Agora n o h como estabelecer a paz social for a ou obter um m nimo de articula o entre os interesses antag nicos das classes sociais Em consequ ncia conflitos inconcili veis atravessam os partidos da ordem que apoiam ou n o o governo manifestam se com extrema intensidade na Assembleia Nacional Constituinte e tornam os seus avan os dif ceis desabam sobre as avalia es desencontradas e as expectativas e
379. os j em prepara o A data de publica o um ponto de refer ncia O intervalo entre a reda o e a publica o varia Pode ser de dias mas em alguns casos chega a abranger duas ou tr s semanas Nota do autor Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 312 Florestan Fernandes LISTA DOS DEMAIS TEXTOS PUBLICADOS NAS OBRAS ORIGINAIS Para o leitor interessado em conferir a ntegra dos textos publicados nas colet neas que originaram esta publica o disponibilizamos abaixo a rela o dos t tulos e data de publica o dos que n o foram aqui reproduzidos todos dispon veis online Os debates ocorridos na ANC est o dispon veis em http Ay ww2 camara leg br deputados discursos e notas taquigraficas reforma educacional Sess o de 13 8 1987 m Direito de greve Sess o de 16 2 1987 Por uma sociedade democr tica Sess o de 22 2 1987 Liberdade e democracia Sess o de 12 3 1987 A crise permanente da UNB Sess o de 16 3 1987 m Educa o brasileira Sess o de 23 3 1987 Extin o de privil gios Sess o de 3 4 1987 Apoio educa o Sess o de 22 4 1987 O 1 de maio Sess o de 4 5 1987 Tratamento injusto aos professores Sess o de 7 5 1987 Em defesa da democracia Sess o de 14 5 1987 313 Pen ft m Agress o aos trabalhadores Sess o de 21 5 1987 A Constituinte e o sistema p blico de ensino Sess o de 24 6 1987 A consolida o da pe
380. para a consolida o de nossa democracia Luciana Mandelli Diretora da Funda o Perseu Abramo Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 8 Florestan Fernandes O Centro S rgio Buarque de Holanda CSBH da Funda o Perseu Abra mo apresenta o segundo n mero da cole o Cadernos Perseu dedicada a pro mover a circula o de livros e documentos hist ricos relevantes para a hist ria da esquerda que estejam em situa o de dif cil acesso nas ltimas d cadas Neste volume a Editora Express o Popular se soma ao projeto do CSBH buscando difundir entre a juventude e o conjunto dos militantes dos movimentos sociais e populares o conhecimento produzido pela classe tra balhadora brasileira em seu processo de luta Fruto desta coedi o o livro integra tamb m a cole o Realidade Brasileira cujo principal objetivo trazer contribui es para a an lise da forma o social brasileira do ponto de vista do trabalho tanto em perspectiva hist rica quanto atual Considerando a relev ncia das reflex es de Florestan Fernandes du rante sua experi ncia como deputado petista no processo constituinte se lecionamos textos lan ados poca em duas publica es organizadas pelo pr prio autor O Processo Constituinte e A Constitui o Inacabada Vias Hist ricas e Significado Pol tico A primeira publicada em 1988 pela Coordena o de Publica es do Centro de Documenta o e Informa o d
381. partido e entre correntes mais ou menos decisivas dentro do PMDB A sorte ou o azar gerou assim o perfil final da composi o do quadro dirigente e eventualmente de maior influ ncia daquelas entidades e condicionou a for ma o do n cleo fundamental da comiss o de sistematiza o As lideran as dos partidos maiores escolheram os crit rios pelos quais iriam ser seleciona dos seus representantes nessa comiss o O PMDB e o PFL tiveram espa o para al ar v o e os partidos pequenos viram se esmagados pela proporcionalida de pois tinham de se virar com uma representa o diminuta reduzida ao l der ao vice l der como suplente e ao relator se chegassem a ter algum Se compararmos esses crit rios por exemplo com os que orientaram a elabora o da Constitui o de Weimar descobriremos que estrangulamos o talento e a compet ncia profissional ou t cnica e real amos a lideran a e a autoridade como princ pios organizativos e de produ o intelectual Um segundo elemento negativo interno era ocasional O presidente e em particular os relatores eram componentes nucleares da qualidade do re lat rio inicial e do substitutivo que vinha em seguida A varia o foi do ti 163 Pen ft mo ao sofr vel os exemplos salientados quanto ao que apareceu de melhor dizem respeito a Jos Paulo Bisol Almir Gabriel ou Severo Gomes e Artur da T vola apesar da sabotagem dos trabalhos dos dois ltimos Al m disso a ANC n
382. pe o sentido de perfei o do todo que prevalece nas escolhas presidenciais Em suma o senhor presidente n o um canastr o infort nio que cou be a um grande pa s nas Am ricas mas um artista de primeiro quilate e que s revela o seu talento mpar no confronto com outros artistas maiores e que s o numa escala refinada capazes de desempenhar seus papeis com a mesma mestria que o figurante principal O nico que destoava do conjunto perfeito saturou se da pol tica como uma forma de arte P s o chap u na ca be a e disse adeus escola sarneiana dos pol ticos como artistas Cometeu um equ voco hist rico e provocou comisera o Pois demonstrou um atraso espetacular colocando a tica no centro da pol tica em um Estado que cultiva o neoliberalismo como um artif cio de representa o e busca na liberdade dos atores um meio para servir seguran a nacional com outros fins Esses acontecimentos art sticos s o de alta significa o hist rica Eles nos mostram que a hist ria n o parou A crise da ditadura avan ou atrav s do seu rebento e patenteia que hoje a Nova Rep blica por sua vez est em crise Atingido o cl max ela vive a trag dia como com dia A transforma o qua litativa percept vel a partir de dentro At o audit rio mais entusiasta dos fiscais de Sarney j percebeu a realidade N o falam em cruzado mas que fomos sacaneados e em cruz credo E os que se opunham a es
383. penas avan os seletivos deformados da democracia ou participam da imensa maioria dos que convertem a fraseologia democr tica em um fim em si e por si mesmo Ningu m ignora quais s o causas da exist ncia de milh es de mise r veis do analfabetismo crescente da infla o cr nica do desemprego ou subemprego da maioria dos trabalhadores livres e semilivres da fome da cor rup o desenfreada da explora o do Brasil nos quadros do global reach do sistema capitalista mundial de poder dos obst culos reais reforma agr ria reforma urbana revolu o educacional etc Eu pr prio cunhei h muitos anos a express o capitalismo selvagem e ela rende conta abstratamente do que ocorre na reprodu o de uma sociedade civil n o civilizada e de seu Estado de fascismo potencial dissimulado Todavia busca se uma l mpada de Aladim Ignora se a explica o objetiva e cient fica de todos esses males que s o por sua vez atribu dos pelos parlamentaristas ao sistema de governo Se a maioria dos constituintes decidir pela implanta o do parlamenta rismo que o fa a de modo completo e j Pessoalmente acho que se deveria proceder a um plebiscito pr vio Essa seria a maneira de se associar a mas sa de cidad os iniciativa das leis ao processo constituinte Entretanto os 137 Persea mesmos constituintes que n o tomaram as medidas que deveriam instaurar constitucionalmente e de forma democr tica a reforma agr ria
384. pol tica Brasil 3 Brasil Assembleia Constituinte 4 Democracia I T tulo II S rie CDU 312 81 CDD320 981 Bibliotec ria respons vel Sabrina Leal Araujo CRB 10 1507 1 edi o agosto de 2014 Todos os direitos reservados Editora Funda o Perseu Abramo e Editora Express o Popular Editora da Funda o Perseu Abramo Editora Express o Popular Centro S rgio Buarque de Holanda Rua Aboli o 201 CEP 01319 010 S o Paulo SP Rua Francisco Cruz 234 CEP 04117 091 Tels 11 3522 7516 4063 4189 3105 3500 S o Paulo SP Brasil Tel 55 11 5571 4299 www expressaopopular com br revistaperseuDfpabramo org br livrariaDexpressaopopular com br Todos os esfor os foram feitos para determinar a origem das fotos usadas neste Caderno PERSEU Nem sempre isso foi poss vel Teremos prazer em creditar as fontes caso se manifestem APRESENTA O INTRODU O O POLITICISMO BURGU S A CRISE INSTITUCIONAL Os SUBTERR NEOS DA HIST RIA N O ENTRAM NAS ENQUETES A QUEST O DOS PARTIDOS OS DILEMAS POL TICOS DOS JOVENS O cerco ao PT CONGRESSO CONSTITUINTE SEM SONHOS LUTA DE CLASSES E SOCIALISMO PROLET RIO ISS O IMPOSS VEL PACTO SOCIAL E DESMOBILIZA O O SIGNIFICADO HIST RICO DA CONSTITUINTE POL TICA E DEMOCRACIA A PR TICA DA REPRESENTA O CONSTITUCIONAL AUTOFAGIA DEFESA DA CONSTITUINTE O USO DA INICIATIVA POPULAR A FRAGMENTA O DO PROCESSO CONSTITUINTE A CONSTITUI O COMO PROJETO POL TIC
385. positiva mente nacionalistas Os estratos internacionais n o podem tolerar que A d vida seja retirada de cartaz n o por refinamento art stico mas porque isso seria endossar de moto pr prio a pulveriza o do sistema capitalista mundial de po der N o lhes importa que a novela assuma tons galantes e ousados ou mesmo intermezzos hist ricos e histri nicos Esse um problema dos l de baixo No fim eles ter o de gemer com o principal com os juros e com as c lebres comis s es dos intermedi rios O artista estrela por sua vez soberano na encena o feita dentro do pa s Com ou sem uma enxurrada de decretos e de decretos leis est ao seu alcance substituir o texto e p r em cartaz O Cavaleiro da Triste Figura subtraindo se da companhia e da consagra o no palco E sabe se de antem o quem ele escolher para arcar com o papel chave receber os apupos da plateia e ficar para sempre como o vil o da hist ria 45 Perseu PACTO SOCIAL E DESMOBILIZA O Toda classe dominante usa o poder para resolver seus problemas parti culares e enquadr los na realidade de seu pa s e do mundo No Brasil ocorre o inverso O Estado a l mpada de Aladim ou o abre te s samo que p em ao alcance de suas m os toda sorte de riqueza que a imagina o mais mali ciosa poderia desejar Por hip tese essa representa o e fun o do Estado parte de uma heran a colonial O colonizador flibusteiro foi sucedido por
386. privi legiados O nosso capitalismo selvagem sens vel a oscila es que afetam o seu grau de autonomia quase absoluta e repudia com virul ncia qualquer restri o do p blico fortemente implantada em nossas tradi es As press es se voltam contra privil gios que os constituintes estariam conferindo aos as salariados Essas press es por si pr prias desmascaram se e desmistificam se ao ganhar a luz do dia Pois patenteiam que al m de transferir renda do setor p blico para a iniciativa privada e de fomentar um desenvolvimento capitalista desigual e perverso o Estado tem mesmo de tomar a si tarefas que os estratos mais poderosos da burguesia nacionais e estrangeiros repudiam e combatem com a maior tenacidade Folha de S Paulo 12 11 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 176 An I A nossa presente Constitui o cont m muitos avan os nas reas das liberdades individuais e coletivas ou dos direitos sociais No entanto esses avan os s o moderados N o correspondem necessidade de dar peso e voz aos assalariados na sociedade civil e no Estado e quanto aos milh es de ex clu dos miser veis e oprimidos eles s o in cuos N o contribuem para extin guir a fome o desemprego ou subemprego aberto e disfar ado o atraso cultu ral e mental a desumaniza o cr nica e o aviltamento moral que prevalecem no campo e na cidade Pode se dizer que as constitui es n o
387. proveitar o poder constituinte para substituir a farsa que se prepara aos nossos olhos Carecemos de elei es que associem democratiza o e democracia como dois elos de uma mesma realidade A Constitui o em elabora o poder deixar de ser um mero peda o de papel e o presidente eleito sob regras l mpidas poder se tornar o instrumento de uma vontade popular coletiva capaz de apoi lo com afinco ou de alij lo do poder se se mostrar incompetente ou submisso aos interesses inconfess veis dos donos do poder nacionais e estrangeiros Constituir o fim da demo cracia representativa e constitucional como biombo do monop lio do poder estatal pelos de cima Restam duas perguntas interligadas Os constituintes ter o coragem e esp rito c vico para encetar um processo regenerador t o au dacioso As classes trabalhadoras e as massas populares atender o ao apelo da raz o pol tica e apoiar o candidatos presid ncia que n o sejam simples ca adores de votos e m o de gato da burguesia reacion ria 221 Pen ft PERCEP O POPULAR DA ANC A sociologia dos mandarins fugiu dos temas concretos Hoje se fala no imagin rio e nas suas rela es com o simb lico Por m n o se faz uma an lise objetiva das representa es Voltamos a Hegel de uma forma perversa como se a sociedade n o tivesse hist ria e esta fosse uma express o metaf sica das constru es mentais do soci logo n o a atividade
388. que nos det m O respeito por um pacto nascido de uma combina o da for a bruta com a mal cia de pol ticos profissionais e o ego smo conservador A desobedi ncia civil aplica se a fins como esse de salva o nacional ou de cria o de uma sociedade nova Ponhamos de um lado Bol var de outro Gandhi A passividade levar o dil vio s ltimas consequ ncias e pouco adiantar o as l grimas diante de uma l pide funesta Aqui jazem os sonhos de um pa s que poderia ter sido grande independente e feliz Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 196 Florestan Fernandes CHOQUE PARLAMENTAR O pol tico produto de sua classe de uma educa o que passa por uma longa matura o e da sua voca o pessoal Vi me posto na conting ncia de lan ar me competi o eleitoral sem toda essa bagagem e por assim dizer a sangue frio A decis o foi mais do PT dando se nome aos fatos de Lula do que minha A elabora o da Constitui o incendiou minha imagina o e minha disposi o a enfrentar a experi ncia nova em uma circunst ncia na qual parecia que o Brasil iria livrar se de v rias servid es e constri es atrav s dessa nova constitui o O ambiente do plen rio da C mara dos Deputados como um clube para os seus frequentadores constantes H uma certa rotina Sabemos o que costumam falar no pequeno expediente e o que dir cada um conhecido o assunto que o leva
389. que os privilegiados querem pescar em guas turvas com seus anz is O que acontece quando os de cima n o conseguem mandar e os de baixo se recusam a obedecer L nin j deu a resposta uma re volu o social Algu m dir o Brasil n o possui todas as premissas hist ricas de uma insurrei o prolet ria e camponesa E a R ssia por acaso possu a Os que brincam de cirandinha de PMDB versus PFL ou de Jos Sarney Costa versus Marcos Maciel e Ulysses Guimar es penetram no circuito de desmo raliza o e esvaziamento da Constituinte apostando no general de plant o e cometem um erro grosseiro Se a for a armada pudesse deter a hist ria o Duque de Caxias o teria feito O Brasil de hoje um vulc o A Constitui o se volta para o passado ao endossar privil gios e iniquidades odiosos ou sublima princ pios abstratos Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 156 An F que os de baixo n o entendem e os de cima esperam burlar impunemente Estes est o mal acostumados E enganam se se sup em que o nosso povo um rebanho de carneiros Qualquer historiador ou soci logo sabe o quanto h de imprevis vel em uma revolu o Se uma constitui o n o responde s exig ncias da situa o hist rica pior para aqueles que a tecem para us la como ardil pol tico A Constitui o um meio de domina o de classe Quan do os de baixo se recusam a obedecer eles passam como um vendav
390. que se odeiam o PFL que nascera de uma trai o ditadura e o PMDB que ali chegara por trair o seu passado o seu presente e o seu futuro pois o pacto da transi o democr tica significa tudo isso uma trai o s bandeiras e ao programa do partido e uma trai o ao significado que ele possu a e ainda det m no cen rio pol tico nacional N o era a Alian a Democr tica que legitimava a Nova Rep blica era o PMDB vassalo e suserano de Jos Sarney cujo mandato tinha de ser exercido em comodato com o PMDB Para honra da verdade s o vetor militar observou seus compromissos com a manuten o do governo cobrando apenas a preserva o das prerroga tivas das for as armadas e de fiel da balan a O presidente vacilava entre seu cora o o PFL e o seu mentor o PMDB Entre uma no cravo e outra na fer radura bajulava o vetor militar do qual dependia cada vez mais por falta de sustenta o pol tica Sem veia de estadista e formado atrav s do politicismo provinciano e do clientelismo pol tico ele confundiu a presid ncia com um sultanato de velhas lendas sobre remotas ar bias Sem uma vontade firme oscilou entre o vetor leal que lhe garantia seguran a o mentor efetivo que exigia sua parte de le o na partilha do poder e o pr prio cora o que lhe ditava a conhecida norma Mateus primeiro os teus No mais perdeu se como Ism lia as imagens do poder em sua cabe a n o correspondia
391. r que agora esse ac mulo de liber dade e de for as pol ticas ser devidamente aproveitado 149 Persea O DESAFIO DOS PARTIDOS A ditadura impediu que as transforma es do modo de produ o capi talista se refletissem de maneira direta e profunda nas institui es da socie dade civil Tirando as empresas e os sindicatos os partidos ficaram sujeitos a uma camisa de for a que os violentava politicamente e os neutralizava ide ologicamente No entanto a incorpora o do pa s s economias das na es capitalistas hegem nicas e de sua superpot ncia alterou t o profundamente o regime de classes em suas estruturas e funcionamento que ainda sob a ditadura foi preciso abrir espa o para um quadro partid rio mais complexo que a polariza o artificial imposta em termos de Arena e MDB o partido da ordem institucionalizado e o partido da oposi o consentida Esse foi o papel da lei Petr nio Portella e o in cio de uma evolu o que a ditadura perdeu a capacidade de controlar A instaura o de uma Assembleia Nacional Constituinte mexeu na turalmente no quadro partid rio A Nova Rep blica cerceou os partidos como p de Embora o deputado Jo o Gilberto tenha contribu do para alterar algumas regras do jogo partid rio o governo em coniv ncia com a Alian a Jornal do Brasil 05 10 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 150 an Fernandes Democr tica em p
392. r tico pluralista e determinante Governo com seus polos civis e militares interferindo ao bel prazer onde lhes aprouvesse Institui es chaves da sociedade civil da economia religi o usando seus representan tes suas maiorias ocasionais ou permanentes e os partidos da ordem in clusive os da oposi o governamental com a maior sem cerim nia e efic cia S o povo permaneceu rf o de pai e m e Ou a Constitui o n o era para ele ou grande parcela dos Constituintes se enxerga como advogados ex officio da massa pobre da popula o incapaz de falar e agir por si mesma Corrigir erros agora imposs vel Eles j deram os frutos que os seus art fices pretendiam e o mal est feito Todavia podemos impedir que os erros Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 126 An F que s o os acertos dos poderosos n o ganhem mais espa o para persistir e crescer atrav s deste processo constituinte Ainda sobram condi es para for armos um estilo de trabalho que honre as nossas responsabilidades pol ticas e ticas como Constituintes preciso come ar banindo os conchavos as alian as de interesses esp rios a negocia o da liberdade e dos direitos do povo e da na o necess rio incluir os pobres e os trabalhadores e a imen sa legi o de milh es de oprimidos e de exclu dos no perfil do Brasil que se desenha na Constitui o em formula o Eles t
393. r a limpo o Brasil real forjar uma cons titui o para ele que fosse instrumental para revolucionar a ordem existente em todos os n veis da sociedade civil e da cultura ao Estado dentro e atrav s do regime capitalista vigente Foi impedida de faz lo pela est tica de uma transi o corrupta e corruptora Mas constatou que isso o melhor que po deria tentar para ganhar espa o pol tico para os de baixo Sem as reformas capitalistas do capitalismo s resta uma sa da positiva a nica almejada pela esquerda revolucion ria e que a presente Constitui o n o comportaria Nada e ningu m poder o impedir que o Brasil real desperte do seu sono espl ndi do soterrando o passado e criando para si um futuro socialista nos marcos das correntes mais profundas da hist ria mundial Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 284 Florestan F LTIMA SESS O DO SEGUNDO TURNO O segundo turno terminou sob um esfor o concentrado que coloca em quest o a pr pria qualidade e a seriedade do processo constituinte A su gest o partiu do PT endossada pelos partidos de esquerda mas foi praticada sob t cnicas legislativas discut veis e por vezes casu sticas Esta palavra equ voca evoca na linguagem pol tica corrente alguma coisa que oscila entre a matreirice e a safadeza As solu es pelas c pulas quer dizer pelos enten dimentos das lideran as envolviam diversos tipos de barganh
394. r me Assim a vida Jiro Takahashi tomou a iniciativa de sugerir a composi o deste livro Em uma passagem por Bras lia procurou me no Congresso e falamos rapida mente sobre o assunto Devo agradecer lhe o convite e a confian a da editora em arriscar se a public lo Eu preferia organizar a transcri o dos artigos pela ordem inversa de sua publica o Maria Carolina de Ara jo sugeriu que no caso seria melhor seguir a ordem original segundo a qual eles vieram a lume Trata se de uma solu o cartesiana O leitor pode acompanhar melhor as diversas etapas do processo de elabora o da Constitui o de 1988 Adotei a sugest o porque as esperan as e as decep es subiram e desceram ao longo do per odo Torna se mais f cil focalizar a luta incessante entre poder e con trapoderes que tentaram intervir no processo constituinte castrando ou fo 311 Perseu mentando promessas que hoje s o inexor veis Al m disso essa programa o tamb m me projeta como objeto O leitor descobrir o quanto vol til a ima gina o humana s vezes com as esperan as no alto acreditei com outros companheiros em avan os que afloraram reiteradamente sem concretizar se Outras vezes com as decep es fervendo empenhei me a fundo no combate contra influ ncias ou delibera es retr gradas que se desvaneceram ou vin garam A Folha de S Paulo e o Jornal do Brasil viam se envolvidos na pugna cons titucional evidenciando que a
395. r uma fragmenta o das correntes inovadoras e o fortalecimento concomitante dos moderados O ambiente criado pela transi o democr tica e as interfer ncias de um governo empenhado em impedir a sua derrota estranhamente posta no desenvolvimento normal do processo constituinte agravavam esse efeito Em um dado momento parecia que o Brasil estava condenado a ter uma constitui o poss vel e muitos chegaram a proclamar que ela seria pior do que a de 1946 e mesmo do que as de 1967 e 1969 frutos da ditadura militar Outros constrangimentos vinham da tradi o parlamentar brasileira A debilidade dos partidos corre paralelamente com o vigor das lideran as e o despotismo dos l deres O fator pessoal decisivo e sempre o l der elemento au tocr tico predominante de um processo parlamentar subdemocr tico A ANC absorveu e imprimiu grande vitalidade aos pap is construtivos e negativos da lideran a e da figura do l der Obedeceu se de modo estrito ao princ pio da proporcionalidade da representa o o que era extremamente vantajoso ao PMDB E os acordos entre os partidos de fato acordos entre lideran as e por vezes entre certos l deres fez com que a compet ncia fosse subestimada em fun o da autoridade O Sr M rio Covas n o escolheu arbitrariamente os presidentes e os relatores das subcomiss es e das comiss es tem ticas Ele comp s habilmente as indica es que tinham essa origem de partido para
396. r viol ncia que a infla o crescente que a recess o Essas s o t cnicas de manipula o da viol ncia utilizadas pelo capital para resolver seus problemas para transferir rendas do setor pobre trabalha dor para o setor rico e poderoso e essas formas de viol ncia n o s o discuti das s o mantidas ocultas Se algum orador como estou fazendo agora se refere a isso quando ele termina de falar certamente n o aplaudido porque a verdade d i aqueles que n o est o de acordo com as manifesta es de contraviol ncia O que est ocorrendo por parte das massas trabalhadoras s o manifesta es de contravio l ncia Essas manifesta es caem na categoria daquilo que Karl Marx chamou a viol ncia como parteira da Hist ria Os de baixo n o t m outro mecanis mo de transformar a sociedade os de cima disp em do Estado disp em do despotismo empresarial disp em de v rios mecanismos de repress o e de opress o e portanto podem usar a viol ncia para manter a ordem os de bai xo s t m uma forma de transformar a sociedade introduzir maiores taxas de igualdade social e de liberdade E esta forma a guerra civil O Brasil est correndo um risco muito s rio de ir guerra civil porque n o estamos respondendo s necessidades fundamentais de uma grande mas sa da popula o brasileira As nossas classes possuidoras perderam a grande oportunidade his t rica que se abriu aqui j falei sobre isto Esta Constitui
397. ra decepcio nadas diante do universo de possibilidades vislumbradas pelo ent o depu tado ao longo do processo conforme sua pr pria descri o denotam as potencialidades e limites da atua o pol tica dentro da ordem vigente Em entrevista concedida em 1991 ap s ter sido eleito deputado federal pela segunda vez Florestan Fernandes avalia este conjunto de possibilidades abertas pela disputa democr tica ainda que as partes envolvidas atuem em condi es assim tricas de poder Partindo de sua experi ncia e avalia o retrospectiva no que concerne participa o do Partido dos Trabalhadores na Constituinte pondera claro que pela minha origem e pela minha forma o marxista tendia a ver o Parlamento como uma institui o altamente conservadora que buscava resol ver os conflitos sociais tendo em vista a defesa da ordem existente No entanto h espa o para se exercer tarefas construtivas A sociedade capitalista tem esta caracter stica possui uma possibilidade de transforma o que n o elimina da pelas iniciativas das classes burguesas Muito embora o Congresso brasilei ro reflita inversamente a nossa sociedade a minoria rica e poderosa a maio ria parlamentar e a maioria da na o representada por uma minoria que s pode conquistar pequenos avan os Hoje sem pretender me tornar um pol tico profissional compreendo que poss vel utilizar o Parlamento de uma maneira criativa e inovadora O PT e outros s
398. ram nascem crescem vivem e morrem aqui por m n o possuem entranhas de brasileiros Essas duas categorias s vezes se combinam aos 30 que compartilham da condi o humana e agora est o oscilando alguns mais para o tope outros mais para baixo e que no entanto raramente se empenham decididamente para alterar a realidade S o cultos e refinados demais para isso temem que os custos sociais de uma revolu o democr tica saiam de seus lombos Jornal do Brasil 14 12 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 180 Florestan F Seria dramatizar demais fazer afirma es como essa Afinal de contas o Centr o se bateu por uma solu o que foi defendida pelo PT S que o PT o fez no in cio do processo constituinte e atrav s de uma proposta de regimento que est perdida em umas das gavetas do Sr Ulysses Guimar es ou foi parar na lata do lixo E o Centr o aprovou as regras do jogo desprendeu se delas quando as elites das classes dominantes repudiaram em coro o projeto de constitui o da Comiss o de Sistematiza o como socializante estatizan te e anti iniciativa privada Safa Esse um besteirol de primeira As min guadas conquistas populares daquele projeto s o largamente compensadas pelo que ele uma carta magna de privilegiados para privilegiados Retoma e amplia o velho vezo de institucionalizar privil gios estamentais e de ser um reg
399. rania popular Aqui n o somos representantes nem delegados de poderes constitu dos Aqui temos o mandato do povo para constituir um novo sistema de poder este o debate central que tem animado as nossas discuss es Isto sig nifica que temos que refletir profundamente sobre quais s o os nossos pap is e o nosso dever perante essa tarefa da Assembleia Nacional Constituinte Para concluir apresento a V Ex depois desta discuss o uma proposta do PT a respeito da iniciativa popular e do referendo Somente atrav s de novas modalidades de rela o da massa dos eleito res com o Estado ser poss vel introduzir uma revolu o democr tica na orga niza o do Estado Por isso a iniciativa popular e o referendo est o nas ra zes de uma nova tend ncia na produ o dos direitos na revolu o do direito J n o s o mais apenas os representantes do povo os produtores do direito e tampouco a Assembleia Nacional Constituinte que gera a Carta Magna do pa s isoladamente O Estado moderno tornou se um Estado perigoso que amea a a liber dade do cidad o e por isso acabou se tornando necess rio descobrir novas f rmulas pelas quais o cidad o comum e grupos de cidad os possam ultra passar os limites dos partidos das oligarquias partid rias e chegar at uma Assembleia Nacional Constituinte para apresentar propostas de lei e ao mes mo tempo referendar a lei por ela produzida Quero aqui enfatizar a contribui o que o PT p
400. rar ve culos pagando antecipadamente preocupado em comprar pr dios inteiros no Rio de Janeiro ou em Belo Horizonte apenas para agradar o presidente da LBA Marcos Villa a que amigo do presidente Sarney Quer portanto ficar bem com o rei para continuar mamando nas tetas do governo Todos os aposentados e pensionistas est o morrendo de fome mas ele n o lhes autoriza o pagamento de acordo com o piso nacional de sal rios e eles continuam em dificuldades Portanto apoio a sua posi o Certamente esses aposentados e pensionistas ainda viver o muito tempo para ver o enterro simb lico desse ministro da Previd ncia que pouco est preo cupado com os aposentados e pensionistas desta p tria O SR FLORESTAN FERNANDES O exemplo o mesmo N o se busca estudar as condi es de vida dos aposentados Os aposentados tamb m s o tratados como aqueles desfavelados que foram aqui expostos mais severa condi o de exist ncia por v rios dias Seria o caso de se perguntar quais s o as solu es que os aposentados querem para os seus problemas Hoje ouvimos um colega nosso falar aqui muito bonito a respeito dos aposentados Como foi S Exa relator auxiliar seria o caso de lhe perguntar o que fez na Comiss o em benef cio dos aposentados Todos sabemos que nada fez e o pol tico n o pode ser um mentiroso sistem tico Tem de ser um homem com integridade pol tica e moral n o se podendo transformar em uma esp cie de propagand
401. ras de S o Paulo A mem ria hist rica na esfera pol tica uma parte dos dinamismos decisivos dos processos de mudan a No entanto a mem ria idealizada e deformadora n o criativa Ela induz a erros de percep o da realidade e alimenta um inconformismo compensat rio acabrunhado que reduz a carga positiva de comportamentos coletivos de desobedi ncia civil ou de rebeli o Folha de S Paulo 15 9 1986 31 Pen ft social construtivos essencial que os jovens entendam que sua condi o hist rica sofre uma dupla interfer ncia Primeiro a juventude uma catego ria social de composi o demogr fica m vel e inst vel N o o jovem em si e por si que ser mais ou menos radical e mais ou menos conservador a rela o da categoria com a estrutura da sociedade e com o momento hist rico que pode tornar a categoria seja explosiva exuberante e rebelde seja conformista morna e passiva Em uma sociedade capitalista a luta de classes pode infundir categoria instantes muito ricos de historicidade e de revolucionarismo Foi o que aconteceu com os jovens que subiram cena his t rica entre os fins da d cada de 1950 e os fins da d cada de 1960 Segundo o conflito de gera es n o constitui um processo intrinsecamente psicobio l gico Em sociedades estratificadas especialmente nas sociedade de classes nas quais a mudan a r pida uma regra o jovem educado na fam
402. recuar A ANC precisa avan ar e inventar uma constitui o nova adaptada ao presente e ao resgate do Brasil como na o democr tica no futuro pr ximo 229 Pen ft S CONTRADI ES DO CENTR O O Centr o configura se como a primeira forma o pol tica autode fensiva e ofensiva dos estratos mais altos e privilegiados da burguesia na his t ria brasileira Ele abrange os principais atores em termos de ideologias e interesses de classes do golpe de Estado de 1964 e os arquitetos dirigentes decisivos n o os conciliadores famintos de poder do pacto conservador de 1984 e da concep o da Nova Rep blica como a via pr tica da transi o lenta gradual eu segura na qual estava compreendida a convoca o de um congresso constituinte e uma ltima tentativa pol tica de solu o pac fica da crise burguesa Por isso ele articula apesar de sua heterogeneidade o gran de capital nacional com as multinacionais e o sistema capitalista mundial de poder e agrega todos os tipos de privil gios arcaicos e modernos t picos de nosso desenvolvimento desigual O Congresso Constituinte cercado por suas limita es origin rias deveria ater se revis o constitucional da ordem ilegal montada pela di tadura reformulando em uma carta magna sui generis as constitui es ditas autorit rias de fato ditatoriais de 1967 e 1969 e outras medidas institu Folha de S Paulo 26 4 1988
403. ren a entre a reda o desse artigo Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 202 An F e o da Comiss o de Sistematiza o est na ordem dos conceitos no primeiro a livre iniciativa est em primeiro lugar no ltimo em segundo O mesmo ocorre com o art 226 que corresponde ao art 229 do projeto da Comiss o de Sistematiza o A ordem social tem como base o primado do trabalho e como objetivo o bem estar e a justi a sociais foi acrescentado o conceito de bem estar social A est a base ideol gica a mesma e nem poderia ser diferente tratando se do Brasil As famosas esquerdas que teriam moldado uma carta constitucional estatizante e socializante n o possu am n me ros e m sculos para elaborar uma constitui o realmente moderna mesmo de conte do capitalista O que separa os setores ultraconservadores e reacion rios da burguesia mais ou menos liberal e radical n o s o os interesses de classe e a ideologia Isso deslocaria um setor da burguesia brasileira para posi es nacio nalistas e revolucion rias anti imperialistas e democr tico populares Processo que n o se deu na realidade Onde o Centr o inova e com isso desnuda o seu car ter como se pode exemplificar com o pre mbulo que me eximo de trans crever ele cai em um formalismo constitucional que os institucionalistas norte americanos designariam como disfuncional e n s chamamos c
404. rentada pelos negros nos guetos pelas minorias raciais que vivem em Nova lorque e em outras grandes cidades norte americanas ou quando se trata dos 10 ou 15 da popula o norte americana que vivem em um estado de pen ria que est abaixo da pobreza relativa Que sejam 10 ou 15 Temos a de 25 a 30 milh es de habitantes vi vendo abaixo do limite da pobreza relativa Segundo v rios autores especia listas no estudo da pobreza temos n meros muito maiores em torno de 20 a 25 vivendo nos limites da pobreza relativa que responde por um estado de priva o psicol gica cuja aceita o pelos norte americanos dif cil por causa do seu alto padr o de vida essencial que nos lembremos de que no contexto do combate s re volu es prolet rias difus o do socialismo desenvolveu se a doutrina da Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 140 An F chamada democracia forte da persegui o implac vel dos inimigos internos e externos O inimigo interno aquele que quer modificar a ordem de forma radi cal e revolucion ria Ele visto como equivalente ao inimigo externo isto um agente do inimigo externo portanto tratado em termos policiais e a exemplo dos panteras negras mostra que o bom pantera negra o pantera morto Por a vemos o limite a que chegou a tecnocratiza o e a militariza o do Estado democr tico nas na es capitalistas avan adas Se isto aco
405. retendeu dar ao lado de outros partidos que defendem esta causa porque a est o germe de uma nova forma pol tica popular de democracia no Brasil Jamais poderemos dizer que o povo a origem e a fonte de legitima o do poder se estiver dissociado dos organismos que produzem a Lei Magna as Leis Ordin rias e o controle fundamental do funcionamento do Estado em um pa s moderno Muito obrigado Sr Presidente por sua toler ncia Palmas Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 54 Florestan F PR TICA DA REPRESENTA O CONSTITUCIONAL Os candidatos elei o para o Congresso Constituinte vivem uma situ a o dram tica O pa s enfrenta problemas graves alguns que vem do passado remoto e refletem no padr o vigente no Brasil de desenvolvimento capitalista desigual uma heran a pesada de suas origens coloniais e a perpetua o de pri vil gios e de v rias modalidades de antigos regimes que n o foram dissipados atrav s de v rias revolu es pol ticas a da Independ ncia a da Proclama o da Rep blica e a da Alian a Liberal A pr pria consolida o nacional n o se deu a fundo por causa dessas realidades com suas cadeias de repercuss es diretas e indiretas Outros problemas infelizmente ainda mais graves procedem das vias pelas quais se realizou a incorpora o do pa s aos dinamismos e s estru turas do modo de produ o circula o e consumo do capitalismo mo
406. retira O bando de colegiais n o queria perder tempo e recorria san o moral para obrigar os companheiros a se conformarem com o estiolamento coletivo Segundo estabeleceu se o que se chamou de a ditadura das lideran as Essa ditadura n o foi um mal em si em particular para os partidos menores e com forte esprit de corps Mas produ ziu o avesso do que o Centr o proclamara quando deu o golpe da modifica o do regimento interno Se todos os partidos funcionassem como partidos ideol gicos e org nicos os males seriam de pequena monta Como isso n o sucede as lideran as ficaram com as m os livres para operar coercitivamente fazer arranjos mais ou menos desastrosos para o conte do da Constitui o e conferir mesa e ao presidente Ulysses Guimar es poderes arbitr rios Se o princ pio democr tico n o funciona na base o tope acaba decidindo por con ta pr pria ou induzindo decis es discut veis bvio que a presid ncia da mesa ficara com amplo campo de mano bras que iam al m da esfera constitucional propriamente dita e contra ela Que sirva de exemplo o acontecimento grotesco pelo qual o PMDB o PFL e seus aliados promoveram um arranjo escabroso s esc ncaras A vota o em dois turnos foi adotada como norma constitucional mas sua aplica o deixada para o pr ximo ano Assim os dois partidos poder o enfrentar as elei es municipais deste ano em condi es mais confort veis O presidente Uly
407. rfil amb guo e enigm tico at que a m scara caia desnudando para todos os olhos sua subst ncia contrarrevolucion ria O paradoxo sobe tona portanto com facilidade Como elaborar uma constitui o aceit vel e v lida em um pa s com os extremos de riqueza para nfimas minorias e de mis ria para largas maiorias sem a exist ncia de con verg ncias hist ricas sobre as quest es que atentem aos interesses m dios da na o como um todo A nossa Constitui o acabou sendo parida por emen das coletivas que resultaram de negocia es das lideran as levar longe demais a l gica da representa o pol tica supor que acordos prec rios e for a dos dessa esp cie sejam o equivalente pol tico e jur dico de um pacto entre os desiguais Para ter efic cia na ANC esse pacto teria de realizar se na socieda de civil para em seguida passar ao plano constitucional Um acordo de ca valheiros por melhor que seja satisfaz aos cavalheiros especialmente se eles se atribuem muita import ncia e encaram suas delibera es como substitutas da vontade coletiva m dia ou aproximada do povo fonte da soberania da ANC As tr s revolu es burguesas cl ssicas a da Inglaterra a da Fran a e a dos Estados Unidos revelam diverg ncias e acordos entre os representantes da vontade popular Evidenciam os caminhos dif ceis que foram percorridos para que ocorressem conflu ncias produtivas e alentadoras Contudo acima de tu
408. ria ou na grandeza porque dentro dele e atrav s dele que constroem o seu mundo parte e as condi es sociais e morais de sua exist ncia Estou naturalmente falando da morte a que foi cruelmente destinado Luiz Antonio Martinez Corr a O talento malvisto em nosso meio Vinculado a uma condi o divergente ele se al a s mentes sem cora es como um crime um crime contra a ess ncia sagrada da sociedade como diria o velho Durkheim e que s poderia receber a puni o exemplar A morte pelo crime real dos criminosos reles e de sarjeta O talento pode ser tolerado A diverg ncia em suas v rias modalidades pode ser tolerada A fus o dos dois e em particular o grau de liberdade que ambos pressup em desequilibram os pratos da balan a O atentado ao elemento sagrado da boa sociedade daquela sociedade que oculta a barb rie atr s da civiliza o ima gin ria exige o sacrif cio do que atentou contra as vigas morais mestras do nosso mundo Eis a por que tem raz o Jos Celso Martinez Corr a esse um crime pol tico Ele pol tico por v rias raz es Quando a defesa da ordem passa pela condena o e pela destrui o do ofensor a puni o expiat ria e emerge em primeiro plano em sua raz o pol tica essencial Ele um crime pol tico porque toleramos que tal esp cie de puni o sangrenta se dissemine e aumen te como se fosse uma gangrena Cada um de n s todos n s temos uma par cel
409. rios setores da burguesia A oligarquia que os historiadores enterram prematuramente com a Rep blica Velha reciclada A plutocracia emergente lastreada no capital estrangeiro no industrialismo nos dinamismos em crescimento moderado do mercado interno nos desdobramentos financeiros de todas essas verg nte as do capital ganha um espa o pol tico unificado e um ponto de partida para enfrentar as consequ ncias de uma revolu o pol tica que ela se recusou levar avante das constri es e cicatrizes do regime ditatorial e da transi o para uma nova era dita democr tica Chegamos assim ao que muitos entendem como os efeitos do t rmi no da guerra e da derrota do fascismo Um palavreado oco O Brasil se alterara durante a guerra e a principal transforma o aparece nos ritmos da industrializa o do desenvolvimento das cidades do crescimento do merca do interno da nova associa o entre a cidade e o campo sob a primazia da primeira das migra es internas e especialmente das modifica es estrutu rais do regime de classes A press o de baixo para cima tornara se demasiado forte para o esquema de paz burguesa montado pelo Estado Novo O referido esquema de paz social nunca deixou de operar contra os oprimidos as reivin dica es do movimento oper rio e sindical a eclos o democr tica visada pelo polo prolet rio da luta de classes at hoje Gra as ditadura a representa o sofrer um golpe
410. rmalismo jur dico liberal At as emendas coletivas e vota o conjunta de emendas coletivas negociadas entre as lideran as tornaram se palat veis Os constituintes deveriam repelir esses procedimentos Por m eles pareceram vantajosos e sequer foram postos em discuss o Prevaleceu o alvitre de que melhor um mau acordo que uma boa demanda Em uma era de fisiologia e de fim de s culo a elabora o da Constitui o incorporou se crise da civiliza o Tudo vai de rold o para a lata de lixo da hist ria Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 282 An F Os leitores de Marx evocam a imagem da hist ria segundo a qual a trag dia se repete como com dia Todavia n o podemos sequer cultivar epi gramas famosos A ANC mostra a quem queira ver que os de cima perderam o controle do tim o O navio est deriva At os empres rios estrangeiros se socorrem das luzes do ministro da Guerra e o Centr o revela receios de certas batalhas que n o poder o ser travadas dentro de seus des gnios O que aconteceu H uma por o minorit ria mas consistente do pa s real entre os constituintes Al m disso o pa s real repudia a com dia que poderia restabelecer momentos constitucionais anteriores A brecha dos partidos da ordem n o caiu do c u Foi provocada pela insatisfa o popular pela contes ta o dos trabalhadores mais organizados das cidades e do campo atrav
411. rno e do veto militar Os trabalhadores n o possuem instrumentos de luta de classes t o fortes e amparados na pseudolegalidade da ordem existen te Todavia eles s o milh es s o a maioria maci a da sociedade civil e podem arrastar com eles os exclu dos os miser veis da terra e todos os homens de boa vontade A escolha n o pois simples apenas entre a Constitui o e a democracia poss vel Ela uma escolha entre a situa o atual e a elimina o da mis ria do desemprego da falta de assist ncia sa de da inexist ncia de uma rede educacional suficiente e de um padr o de vida decente Portanto uma escolha entre a continuidade da transi o democr tica depois de promulgada a Constitui o e uma sociedade civil na qual os trabalhadores disponham de condi es e meios para atuar livremente como classe em todos os n veis do econ mico ao cultural e ao pol tico e desfrutar da liberdade coletiva de se organizarem para concretizar suas tarefas hist ricas atrav s de revolu es dentro ou contra a ordem social vigente 257 Pen ft Os capitalistas e patr es j demonstraram quais s o os pontos centrais que devem engajar a luta prolet ria na defesa de dispositivos essenciais para os trabalhadores como e enquanto classe social N o se trata de ficar s nisso preciso incorporar consci ncia social de classe as liberdades e direitos individuais coletivos e sociais que os trabalhadores co
412. romessa clara de que nos pr ximos anos as reformas estruturais reprimidas ser o soltas A equa o pol tica que ela imp e a toda sociedade civil bvia os de cima ter o de recor rer viol ncia institucional ou dever o aprender por fim a conviver com e a respeitar os de baixo A Constitui o armou estes ltimos de liberdades indi viduais e coletivas ou de direitos sociais e colocou em suas m os meios legais de autodefesa e de contra ataque O n da concilia o foi desatado e a luta de classes n o permanecer mais contida pela camisa de for a do despotismo da ordem e daqueles que o monopolizavam A suposi o n o catastr fica pois n o fixa a guerra civil para depois de amanh Mas os privilegiados correr o um s rio risco se se mantiverem in sens veis s iniquidades econ micas culturais sociais e pol ticas de uma socie dade deformada e desumana Os de baixo poder o ousar desobedecer tomar consci ncia social de sua priva o de humanidade empregar a viol ncia para atingir seus fins como sempre timbraram em fazer os de cima Ganharam empuxo para deslanchar afirmaram se como agentes hist ricos de nega o da ordem e de fiadores de uma causa pr pria de um movimento de transforma o social da sociedade existente O vir a ser tamb m toma conta de suas cabe as e penetra fundo em suas a es coletivas de classe e de solidariedade de classe 289 Pen ft Portanto a Constitui o desigual hetero
413. rotina da responsabilidade pol tica exemplar O Brasil continua o mesmo Os pol ticos e seus partidos tamb m En quanto isso as realidades mais duras e cruas convertem se por instantes em discurso Senti me contrafeito nas primeiras vezes que recorri a esse recurso diante de um amplo audit rio quase vazio dessensibilizado pelo uso repetiti Publicado sob o t tulo Encontros e desencontros da sociedade civil na Folha de S Paulo 08 10 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 154 Florestan F vo da t cnica e por saber que ela movimenta uma vasta m quina de registro reprodu o e publica o restrita que apenas assinala que os parlamentares n o est o mortos Al m disso grupos de interesses partidos pol ticos auto ridades v timas eleitores etc esperam essa demonstra o de vitalidade e de den ncia Por vezes o discurso s rio e cont m alguma contribui o posi tiva Por m isso secund rio O primordial o funcionamento da m quina parlamentar e a prova cabal de que o eleitor n o errou e na melhor das hi p teses poder acertar de novo votando no seu candidato na futura elei o Ou em um plano diverso que o partido de que ele participa est na estacada sustentando o governo ou apontando seus podres execra o p blica Esse seria o folclore da vida parlamentar visto atrav s do seu subpro duto menor Contudo os mesmos meios de
414. rrantes por dentro da qual se esconde um ex rcito industrial de reserva imenso pela cultura de subalterniza o permanente dos oprimidos gerada e difundida pelas elites das classes dominantes e pelo aparecimento muito recente de um sindicalismo forte combativo e decididamente centrado na proletariza o das mentes e cora es dos dirigentes Se o Brasil tivesse um passado feudal essa evolu o teria sido mais r pida O nosso passado colo nial e escravista e nossa burguesia pr imperialista isto deixou de bater se pela autonomia do desenvolvimento capitalista e op s se com tenacidade a todas as reformas e revolu es intr nsecas ao capitalismo como a revolu o nacional a revolu o democr tica a descoloniza o real a reforma agr ria etc As sequelas negativas possuem pois uma matriz hist rica complexa Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 40 An F Marx e Engels ressaltaram que uma burguesia fraca debilita o movimento prolet rio e agu a a barb rie da luta de classes Projetando se os dados sobre um tal contexto hist rico distante e re cente fica patente que os trabalhadores e os oprimidos jogaram um papel hist rico importante embora permane a ignorado pela hist ria oficial e pelos agentes que se acreditam privilegiados como os produtores do nosso progresso O fato de desconhecerem sua import ncia ativa n o diminui nem altera o alcance dos fatos e
415. rreia Gostaria de ouvi lo para tirar uma d vida Na Assembleia Nacional Constituinte a posi o do partido indago a um cientista pol tico deve prevalecer sobre a posi o do Constituinte Numa Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 130 Florestan Fernandes Assembleia Nacional Constituinte n o no funcionamento normal de uma Casa legislativa V Exa admite que a posi o do partido possa se sobrepor do Constituinte O SR FLORESTAN FERNANDES Deve se por acaso o partido tiver um Projeto de Constitui o que o que acontece com o PT N o ocorre com o PT o que acontece com o PMDB que por exemplo n o tem um Projeto de Constitui o e por isso obrigado a recorrer a artif cios para defender posi es artif cios inclusive hoje bem conhecidos que vou mencionar aqui na minha exposi o se dispuser de tempo Se os colegas preferem fazer uma tert lia aceito de forma agrad vel O Sr Genebaldo Correia Agrade o a condescend ncia de V Exa O SR FLORESTAN FERNANDES Para mim um pr mio receber aten o dos colegas Se as reivindica es essenciais que vierem da iniciativa popular n o se refletiram no Projeto de Constitui o temos de levantar o problema Por que isso n o aconteceu claro que nenhum de n s foi contra a iniciativa popular Ao contr rio prevaleceu durante a vota o do Regimento a ideia de que a iniciativa popular repr
416. rtificialidade de sua exis t ncia As demais organiza es partid rias da burguesia defrontam a mesma condena o hist rica O Brasil est dobrando uma esquina da hist ria e n o pode preservar sob o capitalismo monopolista partidos de caciques de not veis e de arranjos improvisados ou imediatistas Chegou a era da m quina do partido investimento e pelo menos no n vel organizativo os partidos burgueses n o possuem outro rem dio sen o imitar os procrastinados parti dos oper rios de esquerda O senador Jorge Konder Bornhausen indicou a dire o na qual cami nham as ilus es burguesas Folha de S Paulo 25 9 1987 Tomando os par tidos como equa es abstratas ele situa tr s hip teses que prenunciariam a persist ncia de um PMDB depurado conservador o aparecimento de um grande partido liberal e a cristaliza o do PT como o partido de unifica o de v rios tipos de divergentes Ora a l gica do capital vale tanto para a bur guesia quanto para as classes trabalhadoras pelo simples fato de que estas n o podem neg la e conquistar o poder sem mudan as pol ticas estrutu rais Imp e se pois abarcar a totalidade o quadro global da luta de classes e de fermenta o pol tica que liquidar os velhos partidos democr ticos ou liberais e far surgir outros efetivamente adaptados ao presente e ao futuro pr ximo No caso da esquerda a evolu o come ou com vigor e est provocand
417. s comunica o de massa que a euforia foi dos pr prios pol ticos Como a Rep blica presidencialista a Rep blica parlamentarista surgiu margem do povo Desta vez como os acontecimentos principais transcorreram em am biente fechado a aus ncia popular foi completa Criou se dentro desta Casa um ardor dionis aco que afetou mo os e velhos e que detonou uma emo o coletiva entre os que compartilham do patroc nio da causa ou a apoiavam com empenho um verdadeiro clima de torcida de futebol O gol decisivo re Discurso proferido durante a sess o de 11 de novembro de 1987 na ANC Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 170 An F cebeu o aplauso caloroso No entanto l fora a vida corria segundo a rotina que exclui a massa do povo de qualquer euforia e o parlamentarismo vem luz dentro de um circuito hist rico exclusivo preciso refletir sobre o que est ocorrendo Nenhum dos partidos conservadores reformistas ou revolucion rios incluiu o parlamentarismo en tre suas bandeiras de luta pol tica eleitoral Existiam parlamentaristas hist ricos e eles nunca foram numerosos ou t o ativos como reformadores sociais a ponto de abalarem a indiferen a dos partidos diante da organiza o ideal do sistema de governo Recebemos sob um longo processo de moderniza o cultural v rios ciclos de confer ncias sobre o parlamentarismo de grandes mestres das ideias pol tic
418. s da pequena burguesia e das classes m dias precisam mobilizar se N o para erigirem a Constitui o em um falso escudo protetor Mas para exigir que ela n o constitua letra morta primeiro e para assinalar em seguida os rumos do seu aperfei oamento A Constitui o mesmo que seja muito boa e quase perfeita o que est longe de ocorrer com a que nos coube n o vale em si e por si Os de cima no Brasil nunca precisaram mobilizar se para tornar a Constitui o efetiva Eles disp em do arb trio e o empregam ad libitum como bons autocratas que s o Os de baixo n o s o nem nunca foram socializados cultural legal e politica mente para utilizar a Constitui o N o disp em como diriam os soci logos dos requisitos psicossociais e socioculturais que alimentem o h bito de aplicar defensiva e ofensivamente as normas constitucionais preciso despertar a cul tura c vica e associar a vida social cotidiana forma o de uma consci ncia de classe cr tica e autoemancipadora Essa a via para extinguir se a tutela militar os golpes de Estado e a autocracia burguesa A Constitui o s um recurso para atingir tal objetivo caso ela se converta em valor e caso se insira no quadro real das lutas pol ticas da maioria para conquistar liberdade com igualdade S em semelhante contexto 1934 1946 ou 1988 deixar o de provocar paralelos melanc licos que fazem prever acontecimentos indesej veis Florestan Fernandes na Cons
419. s levamos conos co o orgulho de uma representa o sem castra es e sem mutila es Ouvi dentro de uma casa pobre de favela a pergunta ansiosa de uma mulher E depois o senhor n o se esquecer de n s N o d para esquecer O mandato imperativo e envolve uma fidelidade rec proca jurada fundada em uma co munh o de valores e de grandes aspira es Os que compartilhamos dessa f jurada t cita ou expl tica n o vemos o mandato como uma obriga o negativa Nada de impedir a revolu o demo cr tica a revolu o nacional a descoloniza o a reforma agr ria e o subde senvolvimento o pleno florescimento da liberdade do oprimido da felicidade humana para todos da autonomia sindical da greve irrestrita da educa o da pesquisa cient fica e tecnol gica etc Esse o papel que a burguesia parece querer e esperar de seus representantes fi is sacerdotes de uma classe mas se eles assim agirem ser o os coveiros de uma na o com futuro Neste fim do s culo XX o Brasil precisa de uma carta magna para possuir uma sociedade civil civilizada um Estado aberto luta de classes e a uma democracia que o associe na o e promo o do seu desenvol vimento sem as deforma es e as iniquidades do 1 e dos 5 mais ricos e poderosos O Estado cadeia forjado pelas realidades do colonialismo di reto precisa ceder seu lugar ao Estado de uma sociedade civil civilizada ainda que sob o capitalismo A
420. s o fica aberto a emendas durante trinta dias Emendas subscritas por trinta mil cidad os ou mais em listas organizadas por entidades associativas legalmente constitu das devem tramitar regularmente segundo condi es realmente democr ticas Se certa emenda for rejeitada poder ser reapresentada em plen rio desde que conte com o apoio de cinquenta e seis constituintes cf o 8 1 do artigo 22 o artigo 24 e o item III deste No resumo omiti algumas faculdades que podem ser Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 66 An F desfrutadas pela manifesta o direta ou mediada da vontade popular O Ple n rio Pr Participa o Popular da Constituinte est difundindo por todo o Brasil as normas que consagram a institui o da iniciativa popular O leitor dever munir se dessas informa es e tra ar seus planos O tempo urge O processo constituinte condenado pelos donos do poder a uma delibera o deformada v se restabelecido e em intera o rec proca com as fontes leg ti mas da soberania da ANC H quem diga que isso de nada adiantar Os conservadores e obs curantistas liquidar o no Plen rio por sua maioria esmagadora o que ul trapassar seus limites de toler ncia mudan a sem revolu o abusando da r dea curta Veremos O processo constituinte abre novas portas para todos e sinaliza o fim de uma era hist rica odiosa Ser que o reacionarismo ousa ir
421. s o a iniciati va popular foi alguma coisa que teve um momento registrado mecanicamente mas que se refletiu no texto na medida em que os Constituintes estiveram alertas para depois corrigir o trabalho do Relator Nas comiss es tem ticas a 31 Perseu iniciativa popular tinha uma presen a reduzida O senador Marcondes Gade lha para premiar altas personalidades da Rep blica convidou dois ministros para serem ouvidos Convidou tamb m alguns especialistas de grande valor recomendados pelos Constituintes que se tivessem sido ouvidos o cap tulo sobre Ci ncia e Tecnologia seria s rio Entretanto n o o que acontece hoje n o s rio de causar vergonha Deveria estar na Ordem Econ mica n o sob a rubrica Ci ncia e Tec nologia Se poss vel deveria constar de um cap tulo de como os lucros il citos e a corrup o podem ser constitucionalizados Essa a verdade Por fim chegamos s emendas populares e vimos como foram tratadas aqui milh es de pessoas centenas de entidades foi um esfor o coletivo e de folhas de sabaram sobre esta Casa e causaram uma grande como o O que resultou de todo esse processo Muito pouca coisa Portanto ocorreu um div rcio e isso muito importante assinalar Todos os tratadistas em ci ncia do direito sabem disso Quem o respons vel pela iniciativa das leis O Parlamentar tem o monop lio dessa iniciativa ou ela pode vir de baixo para cima pode exprimir o querer coletivo
422. s o da jornada de traba Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 216 An F lho dos constituintes devia se proceder a uma racionaliza o desse trabalho preservando se o plen rio estritamente produ o constitucional Isso deveras importante No segundo regimento pretendeu se trans formar o relator em figura decorativa Os fatos mostram o contr rio Em em bates decisivos o relator ou os sub relatores desempenham um papel crucial Portanto a racionaliza o dos processos de trabalho implicaria atribuir ao de putado Bernardo Cabral e a seu corpo de auxiliares um campo de a o flex vel e construtivo Al m disso com o aparecimento do Centr o e o agu amento de conflitos conceituais que escamoteiam as quest es candentes da luta de classes o debate fora de plen rio e as tentativas de concilia o ganharam um relevo indisfar vel O Sr Ulysses Guimar es ocupa se do arbitramento quando se delineiam concilia es vi veis Mas h antes disso um terr vel tra balho de desbravamento mais ou menos inc gnito que absorve as lideran as alinhadas entre si ou em choque frontal As solu es encontradas n o deviam despencar no plen rio como se viessem da cabe a de J piter Seria melhor para os constituintes e para a na o como um todo que as negocia es se tor nassem transparentes e sofressem alguma explicita o p blica e pelo menos nos pontos vitais Ao encaminhar as vo
423. s que ganharam uma legaliza o esperada como o PCB e o PCdoB e recrudes ceu o peso do poder econ mico das classes dominantes no seio da sociedade civil esmagando assim uma r pida democratiza o espont nea que as mobili za es das Diretas j colocaram em perspectiva hist rica A imensa massa dos oprimidos e manipulada como carne para canh o dos partidos da ordem e a sua politiza o independente se torna de forma inevit vel um desafio aos par tidos de esquerda que aceitem conviver com os riscos de a o revolucion ria Esse resumo n o visa salientar nenhuma esp cie de catastrofismo Quan tos exemplos comparativos demonstram que uma ordem ilegal que fecha a sociedade civil desemboca na expans o social A descoberta recente incen tivada a partir dos Estados Unidos de aberturas controladas e relativas com a absor o do v rtice militar ativo pelo comando pol tico civil s poderia dar certo em conjunturas econ micas muito favor veis a fortes reformas sociais inclusive a pr pria democratiza o da sociedade civil e do Estado Ora exa tamente isso que as elites dirigentes das classes dominantes repudiam com o maior ardor e o que o v rtice militar considera como uma amea a em si de expans o de comunismo Em consequ ncia os estrategistas pol tico militares nacionais e estrangeiros predominantemente norte americanos ficam restritos a pap is secund rios que mal refor am a
424. s arrolados nesse livro mas vou deix los de lado importante que se pense em uma coisa para n s que vivemos uma situa o de mis ria em condi es prec rias de desemprego de fome coleti va de expropria o dos oprimidos esse mecanismo que adulterou o sistema democr tico de autogoverno nos Estados Unidos um refinamento V Exas poderiam at dizer Parece que voc est na lua est levantan do quest es um pouco avan adas para n s Ainda n o atingimos esse n vel de elabora o administrativa e pol tica e portanto ainda lidamos precariamente com as quest es sociais que dizem respeito massa da popula o O nosso ponto de refer ncia pode ser exemplificado com o que aconte ceu aqui em Bras lia O nobre deputado Brand o Monteiro l der do PDT j se referiu ao modo pelo qual o governo do Distrito Federal destruiu as chamadas Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 142 An F ocupa es irregulares E S Exa conclamou seus colegas nesta Casa para que percebessem o drama humano dos moradores que vieram alojar se na rampa do Congresso Nacional e acabaram sendo removidos como se fossem trastes in teis para uma habita o coletiva improvisada Essa a maneira brasileira de enfrentar o problema N o h sofistica o n o h realmente a tentativa de introduzir o n vel de compet ncia De fato os recursos s o concentrados na solu o dos problemas essenciai
425. s autoriza o para intervir na lei e na ordem Os crit rios de composi o dos tribunais su Periores n o mudam Os mesmos minis tros indicados para cargos vital cios pelos presidentes militares e por Samey que decidir o inclusive sobre os princ pios constitucionais sem regulamenta o At na defini o dos direitos fundamentais o direito de propriedade igualado ao direito vida enquanto permanecem sem meca nismos de enfrentamento os problemas cruciais como a mis ria a concentra o de renda a divida extema J a decis o de assinar a Constitui o n o era uma quest o de m rito mas uma quest o formal Assinar a Carta significa ter participado de sua elabora o inde pendentemente de concordar com o que foi aprovado E evidente que a Bancada do PT participou ativamente mesmo em minoria Assim a decis o do Diret rio Nacional foi a de assinar Se a Constitui o promulgada n o a que a gente queria trata se agora de mu d la luta do PT continua no sentido de garantir a regulamenta o e aplica o dos avan os democr ticos aprovados e na tentativa de modificar os pontos conserva dores com emendas Constitui o No contexto mais amplo a luta do PT continua com a conscientiza o a organiza o mobiliza o popular construindo as condi es necess rias para realizar as trans forma es que a Constituinte n o realizou Capa do ltimo n mero d
426. s da nossa tradi o constitucional est o nessa op o pelo pri vatismo o engrandecimento do poder do senhor em seu patrim nio na prov ncia e no Estado Quanto maiores sejam as contradi es entre a ordem existente e os interesses particularistas dos quadros dominantes e dirigentes piores ser o as consequ ncias negativas de uma constitui o do faz de con ta O formalismo constitucional converte se em um recurso heur stico e dita f rmulas avan adas mas in cuas A fun o da Constitui o passa a ser sim b lica um indicador do progresso das elites e por extens o do pa s Con tudo ela s aplic vel no mundo dos que mandam Ela institui uma ordem de privil gios e degrada o Estado condi o de biombo do despotismo dos donos do poder Os pais da P tria nos Estados Unidos queriam e ergueram uma na o imperial Em nosso pa s o que interessava ao poder senhorial era a continuidade da escravid o o combate anarquia da ordem e a reprodu o do n vel econ mico instalado o que pressupunha endossar a indirect rule a situa o neocolonial emergente em sacrif cio da autonomia e da soberania da na o Essas marcas ficaram at hoje O idealismo constitucional das eli tes das classes dominantes gira inquestionavelmente em torno da defesa da propriedade da livre empresa da privatiza o do que p blico da rendi o ao capital estrangeiro e s suas exig ncias espoliativas
427. s das classes m dias desempenharam os pap is de mandat rios dos oprimidos Destitu dos de peso e voz na sociedade civil estes encontraram advogados ex officio de suas causas primeiro contra a ditadura militar em seguida contra a Nova Rep blica e neste instante por uma constitui o libert ria cujo centro esteja na participa o popular O poder popular surge na cena hist rica assim por caminhos pac ficos e tendo em vista a constru o de uma constitui o na qual o povo n o seja mera fic o jur dica mas agente hist rico da ordena o institucional da ordem legal da sociedade civil e do Estado Pela for a da mobiliza o foram atra dos para o processo estratos descontentes da pequena burguesia e numa escala impos s vel de avaliar de todos os condenados explora o exclus o e opress o Essa modalidade de idealiza o da Constitui o teve um impacto s rio sobre a ANC e o conte do do projeto de constitui o Mas foi insuficiente apesar do impressionante apoio de massa e de sua irradia o ideol gica para sobre pujar a hegemonia conservadora instalada solidamente atrav s dos partidos da ordem ou de suas fac es mais decisivas como sustent culos da ordem Por fim devem ser considerados o movimento oper rio e sindical As classes trabalhadoras cresceram em n mero e amadureceram em consci ncia social Dentro do contexto hist rico descrito sua radicaliza o foi extrema me
428. s dessa situa o pol tica As lutas sociais que pareciam dormitar no subconsciente de uma massa silen ciosa de cidad os ap ticos estavam de fato fervilhando no substrato da socie dade Subiram rapidamente superf cie e para a sorte imerecida dos donos do poder gra as ao processo constituinte concentraram se em torno de uma revolu o pol tica dentro da ordem O dilema que se explicita at para uma an lise superficial inelud vel Ou as classes dominantes absorvem essa re volu o pol tica encaixando a no processo constituinte por onde ela eclodiu ou a revolu o pol tica se voltar contra as classes dominantes levando junto em derrocada o processo constituinte A armadilha da transi o lenta gra dual e segura voltou se contra o ca ador A Nova Rep blica e o pacto con servador dos dois partidos da ordem n o suportaram a prova da convoca o de uma ANC O processo constituinte abrindo se s press es da sociedade Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 84 An F civil libera a vitalidade do movimento democr tico da sociedade brasileira e conduz destrui o do que subsiste do complexo ditatorial Os que pensavam que podiam fazer a hist ria veem se de repente postos contra a parede O grau de desenvolvimento capitalista da sociedade brasileira e o n vel de desenvolvimento do regime de classes conferiram s lutas sociais uma influencia oscilante mas dec
429. s do jogo de um pa s democr tico ou subdemocr tico Os chifres n o podem ser maiores que o boi A outra consiste em saber se essa mat ria com porta por sua import ncia intr nseca uma op o a posteriori de princ pio L nin repudiava o extremismo infantil e o dogmatismo seguindo o exemplo de Marx nas revolu es de 1848 1851 Algu m poderia em s consci ncia esperar que um punhado de constituintes radicais e de esquerda iriam mol dar uma constitui o democr tico popular e de transi o socialista No fun do se tomamos uma decis o sect ria e unilateral depois de termos travado tantos combates ficamos sujeitos cr tica fundamental se se pretende mais do que poss vel pela via legal a estrat gia da esquerda ter de ser a ado o da luta revolucion ria clandestina ou pelo menos da t tica das duas frentes Ora as delibera es foram tomadas em outro n vel aquele que os antigos marxistas batizaram de revolu o dentro da ordem a press o dos de baixo para obrigar os de cima a democratizar a ordem existente A Constitui o parecia ser o que n o era O Estado de transi o que strictu sensu um regime autocr tico burgu s abriu a esfera institucional por m ao mesmo tempo restringiu o espa o pol tico dos constituintes Uma ampla maioria parlamentar conservadora ou reacion ria acabou se organi zando como for a hegem nica A maioria dos oprimidos e dos trabalhadores foi representad
430. s dos estratos ricos investidos na acelera o da acumula o do capital nacional e estrangeiro e n o na solu o dos problemas b sicos da massa dos cidad os Mas ainda assim coloca se o programa e a com mais gravidade Como se deve colocar o Poder Legislativo diante dessa situa o Como ele se deve armar para ter recursos para estudar esses programas para cola borar com a massa dos cidad os que descobrem os dilemas que est o enfren tando que dizem respeito morte prematura das crian as massa de deser dados massa de migrantes que v o de um lugar para outro ao acaso jogados daqui para l Como vivem esses migrantes nas grandes cidades Quais s o as condi es de vida do trabalhador que se chamou candango e que foi lan ado para fora de Bras lia depois que a cidade foi constru da que permite pensar em Bras lia como a mais nova cidade brasileira uma das mais modernas cida des do mundo constru da segundo padr es arcaicos por assim dizer portu gueses do per odo da coloniza o Como o Legislativo em geral e a C mara dos Deputados em particular deve se armar para enfrentar tal problema E principalmente qual o mecanismo global que deve presidir a rela o entre a consci ncia social dos problemas e grupos interessados e a atividade deste Congresso deste Parlamento N o basta descobrir a solu o e depois devolv la como um prato feito e acabado preciso saber se essa massa de cidad os ins
431. s e ideol gicas que os partidos da ordem seja os da oposi o seja os do governo n o lograram absorver e aguentar Al m disso as entidades que lutaram anteriormente contra a ditadura a partir da sociedade civil por liberdades pol ticas e garantias sociais e o movimento vigoroso que elas de sencadearam pela participa o popular na iniciativa da cria o das leis por dentro da ANC abalaram as prec rias formas de organiza o e funcionamen to dos partidos da ordem tamb m da oposi o ou do governo Portanto a uma crise de poder que ia da classe ao Estado observamos paralelamente uma outra espec fica e irrevers vel das organiza es partid rias Essa crise se ocultou por tr s do biombo das benesses governamentais que protegeu em grau maior o PMDB mas permitiu que o PFL disfar asse seus desencontros com a realidade pol tica e suas dificuldades de sobreviv ncia Ao avan ar o processo constituinte desencavou da toca a aparente nor malidade das rela es do governo com a Alian a Democr tica e agu ou as contradi es que opunham irremediavelmente o PFL contra o PMDB ou vi ce versa Isso era previs vel e se o governo atual n o fosse uma express o do trip presidente dois partidos da ordem vetor militar o processo teria atingi do maior velocidade muito mais depressa e poderia estar no seu cl max Antes de concluir se o processo constituinte pressiona a recomposi o dos partidos e sua redefini o po
432. s econ micas pol ticas e culturais das classes dominantes O par metro parlamentar se anula alegando que o faz para fortalecer a democracia No entanto foi ocasional a demora da elabora o constitu cional S o coincid ncias a dura o do mandato raiz de todos os males e o engate de elei es que interferem na solu o dos requisitos legais decorrentes da pr pria Constitui o A vontade dos mand es em termos de classe e de poder pol tico estatal transparece com claridade Quem ganha nesse jogo de gato e rato pelo qual os avan os reais ou imagin rios do processo cons tituinte s o postos de quarentena ou em leil o Os trabalhadores da terra e os oper rios s perdem Os sindicatos e os partidos de esquerda prolet rios tam b m s perdem Os rumos de uma revivesc ncia conservadora instigada por m todos paternalistas clientelistas e de demagogia barata s o patentes Para os de baixo s resta uma certeza em tais condi es o Parlamento um bom campo de luta de classes somente para os estratos mais altos da burguesia e para os donos do poder Os trabalhadores da terra e os oper rios com seus sindicatos confedera es partidos e organiza es culturais apenas possuem o recurso do enfrentamento corpo a corpo da luta de classes direta O esclarecimento desse ovo de Colombo cont m a sua import ncia Ele delimita qual deve ser o alcance e o significado da via parlamentar para os de baixo N o obstan
433. s mais ou menos radicais dos partidos da ordem deram uma configura o nova atividade pol tica dos partidos de esquerda bota ram na li a as entidades que abra aram a causa da participa o popular e puseram os constituintes diante das exig ncias inovadoras e abrasadoras das emendas populares Todavia os processos legislativos adotados na ANC combinados esmagadora maioria de constituintes pertencentes aos estratos conservadores das classes dominantes reduziram o fogo criativo da ebuli o O centro moveu se no sentido de apoio seletivo em quest es candentes apenas de forma moderada A extrema direita e a direita compuseram uma muralha da China S cederam quando a alternativa era a de perder os an is e os dedos a derrota pura e simples Entretanto hostilizaram e baniram os avan os cruciais e deitaram demasiada gua ao vinho atrav s das tacanhas fus es de emendas o que encrava em nosso avan ado e moderno labor constitucional conota es d bias e tortuosas A esquerda s logrou vit ria ou conquistas relativas com o apoio do centro aceitando castra es ou arranjos que p em a Constitui o de 1988 frente da de 1946 e na rbita do cons titucionalismo moderno contudo n o responde ao essencial s exig ncias prementes da nossa situa o hist rica Assim as debilidades da burguesia s o o alfa e o mega da Constitui o A nossa Constitui o ficou datada para 1988 ao mesmo tempo que renova os
434. s mazelas e de sua incapacidade de associar a mudan a estrutural consolida o e defesa inteligente da ordem Os segmentos mais abertos da burguesia apelam para a alternativa da democracia participativa Por m a democracia participativa se deixar de ser uma mistifica o apregoa a esperan a e repele a repress o Ela permi tiria inundar a ANC com as massas populares e as for as sociais antielites Ela almeja a civiliza o r pida da sociedade civil e a democratiza o efetiva do Estado com o desmantelamento dos aparatos de viol ncia institucio nalizada a partir do Estado ou da empresa econ mica Para uma maioria parlamentar que se identifica como conservadora e de centro conserva dor ela soa como o equivalente pol tico do socialismo Ora a democracia participativa constitui de fato uma tentativa de evitar a social democracia revolucion ria coisa do passado e de aliar o capitalismo com a seguran a da reprodu o do capital e a liberdade de manter o capitalismo em um mundo de esperan as m nimas calcadas na reforma distributiva Avaliada em seu todo ela muito pouco em confronto com a tradi o revolucion ria do socialismo Mas um fantasma para a totalidade de uma burguesia pre sa a privil gios pr capitalistas e a uma acumula o capitalista origin ria permanente que n o cessa nunca alimentada pela deforma o do Estado Ou um conceito vazio desligado de inten es propriamente democr ti cas
435. s res duos da ditadura e na transi o transada e forjar amos o ponto de partida para a forma o de uma nova Sociedade Ningu m mais e o povo em primeiro lugar acredita em tal possibilidade Mas resta nos o dever de cumprir os nossos pap is e o nos so mandato com um m nimo de hombridade Aos que lutam tortuosamente para continuar no tope n s devemos responder tentando com afinco infundir pr xima Constitui o o m ximo de conte do democr tico popular e prole t rio que ela possa conter O Sr Jos Geno no Permite V Exa um aparte O SR FLORESTAN FERNANDES Pois n o O Sr Jos Geno no Serei breve N o podia deixar de manifestar o meu total apoio s palavras de V Exa que na tribuna da Constituinte assim como na c tedra nos debates nos artigos de jornal mant m uma linha de coer n cia de uma cr tica afiada ao conservadorismo das elites brasileiras que sempre 127 Perseu buscam um jeitinho para deixar o povo de fora para fazer alguma mudan a onde nada mude Nada vou certamente acrescentar ao conte do do discurso de V Exa porque concordo inteiramente com ele e V Exa faz hoje numa cr tica ao conjunto do processo Constituinte com uma oposi o l cida corajo sa afiada a esse jeitinho que busca produzir dentro da Assembleia Nacional Constituinte essa coisa fria essa coisa gelada essa coisa do conservadorismo que tem medo do tumulto e das paix es das multid es q
436. s ret ricas brilhantes mas vazias das novas rep blicas e dos novos governos civis Podem ajudar a m dia a conferir maior visibilidade e credibilidade ao desengajamento dos militares bem como ao combate pobreza e defesa da redistribui o da renda mas s os tolos acreditam nisso As massas oprimidas est o calejadas de ret rica e dentro de pouco tempo ter o de recorrer a outros meios para substituir as palavras que o vento leva por realidades constru das por suas pr prias m os O que se ganha n o tempo s o dios e viol ncias comprimidos por s culos de explora o de rivalidade e de ego smo voando pelos mares Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 28 An F dentro desse painel ou mural que se deve esbater a quest o dos par tidos Desde o passado imperial os partidos n o se forjaram como meios de rateio do poder entre diferentes classes da sociedade civil Em uma sociedade escravista com um Estado escravista o poder se distribu a a partir do status senhorial Essa tradi o manteve se depois da implanta o da Rep blica e quando ela se viu amea ada por duas vezes a m o armada da burguesia colocou as coisas em seus lugares O Estado Novo e a Rep blica institucio nal estabeleceram uma compensa o pol tica mediante a qual a for a bruta neutralizou as transforma es econ micas culturais e pol ticas ocorridas na sociedade
437. s trabalhadoras rurais e urbanas da pequena burguesia e de alguns estratos das classes m dias V rias entidades represen tativas desse setor ou pertencentes a correntes da Igreja Cat lica sintonizadas com a reforma social travaram batalhas en rgicas contra a ditadura e pela democratiza o da sociedade civil Na verdade a situa o hist rica atesta que esta se fendera de alto a baixo nos ltimos trinta ou quarenta anos A histeria reacion ria que se apossara das classes dominantes em 1962 agora s tem raz o para decuplicar O trabalhador conquistou por conta pr pria embora parcialmente peso e voz na sociedade civil Os sindicatos se transformaram o movimento ganhou maior dinamismo e influ ncia por ltimo foi imposs vel excluir os partidos oper rios da cena hist rica Eles penetraram pelas fen das que se cortaram na sociedade civil chegaram ao Congresso Constituinte e dentro dele travam a luta de classes com o maior denodo e coragem A op o hist rica deixou de ser imposta de cima para baixo pela vontade das classes dominantes e de suas elites dirigentes Ela reforma capitalista do capitalis mo defendida pelo aut ntico centro e pela esquerda da pequena burguesia e das classes m dias ou anticapitalismo e socialismo encarnado pelo PT PCB PCdoB PSB e pelos radicais do PSDB E importante que se veja esse quadro hist rico em sua totalidade A ANC n o produziu um texto constitucional que satisfa a aos crivos p
438. sa democracia de comediantes e para comediantes e qui por puro despeito difundiam rumores antipatri ticos batizando o cruzado de cruz gio roubavam o papel da nossa maior economista e vertiam l grimas de sangue O z povinho prefere vociferar Sua imagina o est povoada de fantasmas da ideia de trai es e de traidores como se a Nova Rep blica fosse uma figura b blica e se degradasse ao cair no p ntano do comum dos mortais A partir de fora o espet culo torna se ainda mais interessante Os figurantes externos tamb m s o atores da co m dia Por m concebem na como uma trag dia O Estado como forma de arte nunca foi um forte de banqueiros organiza es internacionais como o FMI Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 44 An F o Banco Mundial ou o Clube de Paris e na es capitalistas imperialistas Por onde elas passam ficam a trag dia e cinzas s cinzas Contudo isso d um tom picante ao drama brasileiro Visto de dentro temos uma com dia lastreada na trag dia Visto de fora deparamos uma trag dia com tons de com dia O gi gante levantou se de seu ber o espl ndido e amea a com sua d vida tamb m gigantesca todos os grandes do mundo Contrapondo se trag dia e com dia constata se que a ditadura ou a Rep blica institucional matou o seu rebento a Nova Rep blica Ela gerou uma d vida que foi dada como uma heran a valios s
439. sa diretora e dos demais poderes da Rep blica que Rep blica Em pouco mais de um ano vivi o equivalente de uns cem anos de frus tra es amarguras e hostilidade aos que mant m viva uma tradi o nefasta de converter as constitui es brasileiras em falsas fontes de legitima o de uma democracia inexistente O que defender neste momento Quem pode encarar um audit rio como os v rios que me submeteram prova em S o Paulo e defender a simples utilidade de uma constitui o constru da de tal forma H ainda batalhas pela frente Nem tudo est perdido Por m no essencial o que representa o Parlamento no Brasil Como torn lo respeit vel diante de um povo impaciente que sedento de reforma social de transfor 199 Persea ma es profundas topa com uma armadilha Uma revolu o a fazer para enterrar de vez a ditadura e a autocracia dos donos do poder via Estado e para criar uma sociedade civil nova e um Estado verdadeiramente democr tico em suas estruturas funcionamento burocr tico e dinamismos pol ticos todavia como implement la em semelhante contexto hist rico por baixo de um despotismo de classe vesgo e atrasado Eu vivi o choque dentro e atrav s de lutas pol ticas travadas no Par lamento A experi ncia n o t o desmoralizadora para mim Ao contr rio ela instiga ao combate sem tr guas E os que absorveram o choque a partir de fora gra as aos meios de comunica o de massa e
440. sabemos n o ser o consideradas As vinte mil e poucas emendas mais as emendas populares est o funcionando como enfeite de bolo Ora se o processo de elabora o da Constitui o democr tico ent o seria necess rio que as emendas fossem a espinha dorsal da nova Constitui o e que o presidente da Rep blica se retra sse ao seu papel Provavelmente S Exa se sente apoiado por for as mi litares pelo poder da corrup o pelo temor dos parlamentares que se acos tumaram a um regime no qual eram destitu dos de maior liberdade ent o se criou um conjunto de circunst ncias negativas para a elabora o do processo constituinte Devemos remover essas condi es a fim de que esta Casa fun cione normalmente e n s possamos desempenhar nossos pap is com altivez e esp rito construtivo J desiludimos o povo j falhamos N o devemos agora acumular a vergonha de aceitar negocia es que n o levam a nada de positivo ao contr rio abastardam o processo constituinte Era o que tinha a dizer 119 Pen ft O JEITINHO BRASILEIRO As tend ncias que se delineiam na Assembleia Nacional Constituinte n o s o de provocar maiores esperan as A iniciativa popular como e enquanto tal funcionou melhor do que se poderia esperar H tantas cr ticas massa do povo aos humildes e aos ignorantes com condena es candentes s organi za es c vicas humanit rias e pol ticas incluindo se no rol os partidos que se
441. sen a popular ativa por todos os meios poss veis Os debates sobre temas constitucionais em Plen rio por exemplo foram pulverizados ou ent o lan ados para a noite com o fito bvio de es vaziar as galerias e poupar os Constituintes das vaias ou dos aplausos O acesso popular s galerias submeteu se a crit rios t o restritivos que poucos conquistaram uma senha e o direito de ouvir as exposi es e os debates En Discurso proferido durante a sess o de 2 de setembro de 1987 na ANC Trechos deste foram reproduzidos no ve culo do Partido dos Trabalhadores PT S o Paulo de agosto setembro de 1987 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 124 Florestan Fernandes quanto isso o processo constituinte afunilou se como era previsto As per sonalidades que tomam decis o fazem parte da assessoria do Sr Relator o Constituinte Bernardo Cabral e todos n s que n o nos inclu mos neste ou naquele grupo de articula o estamos sendo logrados Os mesmos pol ticos e as mesmas for as sociais que realizaram o enterro das elei es diretas escolheram o Col gio Eleitoral como uma via de trai o e n o de transi o democracia reaparecem com um pacto conservador ainda pior que o pri meiro A na o v se enganada depois de iludida e n s podemos dizer que desempenhamos os pap is de palha os da corte A exist ncia de uma grande comiss o foi questionada como n o demo cr tica
442. ses desatam de baixo para cima a reforma e a revolu o Os constituintes preferem acomodar se refor ando a primeira alternativa sob a confian a de que o tempo opera a nosso favor pois Deus brasileiro Qual a resposta a essa situa o Vimos esses constituintes em campa nha pol tica a ulando o povo a querer da ANC algo parecido com a terra sem males dos Guarani e dos Tupi a sociedade nova com meios e fins para se autodeterminar e se autodefinir como se o poder constituinte fosse tam b m um poder executivo e m gico Eleitos a conversa muda de tom sobe tona a concilia o e fica tudo como dantes no quartel de Abrantes O povo n o aceita isso Os constituintes n o digamos radicais mas de bom senso n o aceitam isso A fase de discuss o na qual entramos requer uma altera o profunda de estilo No entanto o carro pega em outro lugar A maioria dos constituintes est comprometida com valores ran osos e contaminados de po liticismo A mentalidade m dia predominante legislativa n o constituinte Sem uma mentalidade constituinte firme e corajosa haver transi o consti tucional como exigem os que mandam no governo nos partidos da ordem na C mara e no Senado no Judici rio na sociedade civil Por m nunca tere mos uma constitui o para o presente e o futuro um impulso hist rico para o Brasil sair do seu estado de servid o mental moral e pol tico reconstruir se como um
443. sfraldam as bandeiras das grandes esperan as e das grandes ilus es combatem por utopias e lutam pelo nosso futuro literalmente p em os constituintes diante das exig ncias que o fisiologismo a debilidade e a aus ncia de programas dos partidos afugenta ram do debate constitucional Enfim vemos o mundo pelo avesso O povo inunda a ANC e abarrota as subcomiss es de propostas de informa es e de sonhos O subterr neo sobe tona em todo o seu esplendor e sublinha o quanto o nosso Estado pobre e o nosso governo mesquinho O que acontecer em seguida Essa avalancha de pessoas grupos en tidades e institui es se interromper brevemente Em campo manobran do ativamente s ficar o os agentes do lobismo A voz do povo s voltar atrav s das peti es quando o projeto de constitui o estiver na pauta de discuss o da Comiss o de Sistematiza o Levantam se duas perguntas O lobismo vencer a batalha Ou o povo abriu as comportas da Hist ria em processo de uma vez por todas Na verdade nem todas as subcomiss es ti veram a mesma sorte Algumas s est o sofrendo a forte press o do lobis mo Noutras este n o foi esmagado apenas teve o seu espa o reduzido N o obstante os constituintes disp em de maior flexibilidade para enfrentarem as correntes internas do forte conservadorismo imperante nos partidos da ordem e a opacidade burguesa que se oculta habilmente por tr s do manto protetor do reacio
444. sidencialista que se tornar mais democr tico do que este atual presidancialismo herdado da ditadura Por m a perman ncia de instrumentos autorit rios como as medidas provis rias com for a de lei compromete a qualidade do regime de govemo O mandato presidencial baixa de 6 para 5 anos No caso do presidente Sarney ainda n o Quanto s elei es parlamentares nada muda tendo sido derrotada a tese do voto distrital Nas elei es para os cargos 3 sistema de dois turnos vai entrar em pr tica no caso do presidente da dos gove cidades mais populosas o que consideramos um avan o epenas parcial j que lutamos pelos dois turnos como regra geral Melhora um pouco mas ainda est meite longe da nossa proposta O correto seria que a capecidede de legistar isto de fezer leis fosse apenas do Poder Legislativo O texto aprovado miit m o poder de legislar do Executivo embora reduzindo o Na ess ncia nada mude j que o plen rio da Constituinte rejeitou at mesmo a Ultima inst ncia surgida nas h a Qual propunha que as For as Ai defenderiam a ordem constitucional ao inv s da lei e da ordem quando convocadas pelo conjunto dos Tr s Poderes consogra o tutela militar sobre a Na o Houve um avan o parcial na quest o da Quem tem menor renda paga proporcionalmente mais do quem tem maior renda do sistema tribut rio S o Paulo a partir da pr xima legislatura passar ter 70 deputados
445. sima legat ria Tome disse a ditadura esta d vida ser a sua salva o Para receb la o mundo se ajoelhar a seus p s A d vida rolou como bola de novo fez crescer uma outra enorme d vida interna e esmagou todas as pretens es de pot ncia interme di ria cultuadas pelos generais presidentes ou n o No entanto agora s n o apertam os cintos os ricos e poderosos Desdobrou se assim diante das nossas superestrelas uma miss o imposs vel Como representar os pap is da novela tragic mica que se chama A d vida Os devedores n o devem nada pois tratando se de uma novela a d vida uma fic o Os credores por sua vez acreditam na d vida Ela sua raz o de ser Sem ela sairiam do palco To davia o que eles emprestaram e est o tomando de volta As coisas n o batem entre si Desse ngulo a d vida deixa de ser uma fic o e se apresenta em sua verdadeira subst ncia real como O roubo colonial a novela que ningu m ousa levar ao palco ou ao v deo A Nova Rep blica desmistifica se quando encarada luz dessa miss o imposs vel Ela n o pode ser nem uma coisa nem outra Nem ditadura nem democracia burguesa A d vida constitui uma radiografia que exp e as fratu ras de uma burguesia associada N o existe uma base social s lida para uma democracia burguesa Os estratos nacionais da burguesia n o podem recusar A d vida porque n o querem e n o podem ser anti imperialistas ou
446. smo e a ditadura militar nesse n vel que se situam os constrangimentos especificamente insti tucionais e pol ticos da Rep blica parlamentarista Um desequil brio t o gra ve no corpo social tomou em v rios pa ses o parlamentarismo invi vel N s pretendemos importar o estado como um enlatado pronto e acabado Foi o que ocorreu com o absolutismo com a monarquia constitucional e com a Re p blica Ora as institui es crescem dentro da sociedade e se s o assimiladas do exterior requerem a elabora o de premissas hist ricas que deem respaldo ao seu funcionamento sua efic cia e ao seu aperfei oamento cont nuo Isso n o ocorreu at hoje O Brasil tinha em 1980 120 milh es de habitantes Quantos eram al m de eleitores cidad os de fato e de direito nessa popula o consider vel A cultura c vica n o se desenvolveu no seio das elites que a repelia como inc moda e indesej vel Porque ela deveria propagar se entre as classes trabalhadoras e os milh es de oprimidos que formam v rios ex rcitos de malditos da terra N o foi o presidencialismo que forjou essa realidade 173 Perseu Foi o desenvolvimento desigual combinado explora o imperialista mais impiedosa O presidencialismo deturpado e a aus ncia de cultura c vica s o frutos que se reproduzem permanentemente sob o desenvolvimento desigual e a drenagem imperialista que amea a tudo da independ ncia econ mica e cultural soberania nacional O p
447. social todo o povo pobre e trabalhador surge ali como uma minoria parlamentar gra as aos partidos pol ticos prolet rios e aos setores dissidentes da burguesia que constituem a sua esquerda e se aliam de modo oscilante aqueles partidos o PT o PDT o PS o PCdoB e o PCB AVAN AR COLETIVAMENTE PARA ENFRENTAR A BURGUESIA E O GRANDE CAPITAL Essa situa o hist rica concreta obriga os trabalhadores em particular os seus setores mais organizados e combativos que atuam atrav s da CUT a assumirem com firmeza certas tarefas fundamentais no momento N o se trata de agir autoprotetivamente de defender s as conquistas feitas nas reas dos direitos e garantias individuais e coletivos ou da ordem social mas de avan ar coletivamente do mesmo modo que est o fazendo os pequenos e m dios produtores os latifundi rios o grande capital nacional e estrangeiro Para isso necess rio que se avaliem corretamente as reformas que s o rejei tadas pela burguesia embora elas sejam reformas capitalistas Essas reformas se tornam exig ncias socialistas para os prolet rios das cidades e do campo A resist ncia burguesa a tais reformas converte as em reformas socialistas para o proletariado como classe e para a massa do povo Consegui las e mant las Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 108 an Fernandes significa realizar uma revolu o democr tica e nacional que a burguesia teme e pr
448. squisa cient fica Sess o de 14 7 1987 Homenagem sociedade brasileira para o progresso da ci ncia Sess o de 17 1 1987 Estabilidade no emprego Sess o de 24 7 1987 Paz na Am rica Central Sess o de 7 8 1987 Homenagem mem ria de Cl udio Abramo Sess o de 19 8 1987 Ocupa o militar na USP Sess o de 16 9 1987 Isonomia salarial Sess o de 23 9 1987 Os aposentados Sess o de 28 9 1987 Propaganda subliminar Sess o de 3 10 1987 Aposentados Sess o de 9 10 1987 Ci ncia e tecnologia Sess o de 14 11 1987 Destina o de verbas p blicas Sess o de 14 11 1987 As contribui es de Florestan Fernandes Subcomiss o da Educa o Cultura e Esportes constam do Anteprojeto do relator Jo o Calmon volume 207 dispon vel em http Ay ww2 camara leg br atividade legislativa legislacao Constituicoes Brasileiras constituicao cidada o processo constituinte comissoes e subcomissoes comissao8 subcomissao8a Subcomiss o da Educa o Cultura e Esportes projetos de dispositivos constitucionais Educa o escolar Cultura Lazer Esporte Os artigos n o publicados nesta edi o s o todos de jornais que disponibilizam seus acervos online Folha de S o Paulo dispon vel em acervo folha com br e Jornal do Brasil dispon vel em www jb com br paginas news archive m Os desenraizados Folha de S Paulo 21 8 1986 Movimentos oper rios greves e democracia Folh
449. ssa constata o O mesmo se pode dizer da revolu o norte americana e da revolu o japonesa ou da revolu o prussiana a partir de Bismarck embora essas revolu es apresentem configura es muito distintas quando comparadas quelas duas revolu es cl ssicas Discurso proferido durante a sess o de 29 de abril de 1987 na ANC Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 72 An I A Alemanha era um pa s perif rico dependente e subdesenvolvido os Estados Unidos tinham um passado colonial e corriam o risco de realizar uma independ ncia engolfada na domina o econ mica externa atrav s do mercado e portanto de ver sua soberania pol tica corro da e o forte impulso de seu destino manifesto anulado o Jap o resistiu decididamente ao drama do colonialismo contornando o e resguardando se como uma na o inde pendente por meio de uma revolu o econ mica sob controle social e pol tico interno O Brasil caminhou em outra dire o como sucedeu em toda a Am rica Latina Aceitou a domina o indireta como uma vantagem hist rica privilegiando a preserva o das estruturas coloniais de produ o e estratifi ca o social A Magna Carta n o se vinculou ao liberalismo anticolonialista mas ao absolutismo da coroa e a um modelo de sociedade civil que restringia a monarquia constitucional a vontade pol tica dos senhores de escravos Essa a raiz de nossa tradi o constit
450. ssenciais Mas confere um significado subjetivo e objetivo aos resultados do inqu rito que n o pode ser negligenciado Em primeiro lugar os trabalhadores est o em dia com a vez e a hora que vivem No corpo a corpo para reduzir a supremacia burguesa ou o despotis mo burgu s dentro da f brica na sociedade civil e no Estado eles percebem claramente o que devem querer e repudiar Por tr s do aparente imediatismo que repetia o politicismo e o eleitoralismo imediatista dos partidos da ordem e das classes capitalistas os trabalhadores marcam bem os alvos diretos de sua contraofensiva Em segundo lugar parece decepcionante que eles atribuam prioridade t o limitada quest o da d vida externa e hegemonia prolet ria sobre a forma pol tica de governo vide artigo anterior De uma perspectiva extremista estas quest es deveriam ser as primeiras n o as ltimas na clas sifica o dos quesitos Ora os trabalhadores se manifestaram em termos da situa o concreta existente das tarefas pol ticas que podem efetivamente desempenhar dentro dela Se respondessem de outra maneira estariam se iludindo ou refletindo ilus es pseudorrevolucion rias propagando o revolu cionarismo verbal A est o bus lis do seu autorretrato ou de sua radiografia das realidades candentes do movimento oper rio neste momento Limitar o poder burgu s dentro da f brica na sociedade civil e no Estado equivale a aumentar o poder real do proletariado na s
451. sses A modernidade e os avan os da Constitui o exprimem duas coisas A identidade das elites culturais das classes dominantes com a civiliza o dos pa ses centrais O espa o ideol gico da burguesia n o pode reconhecer se no estado de atraso inerente ao desenvolvimento desigual A press o de baixo traduz por sua vez um arco complexo que n o abrange somente os malditos da terra e os prolet rios urbanos A crise econ mica atinge as franjas dos valores axiol gicos e leva setores crescentes da classe m dia tradicional desvinculada das compensa es diretas na distribui o da renda a uma crise moral profunda Forma se assim um centro rico de matizes e nas presentes circunst ncias firme na oposi o ao estado de coisas A pequena burguesia assiste apavorada degrada o econ mica de suas posi es e pap is sociais As fronteiras que separam uma seguran a relativa da proletariza o diluem se e as perspectivas de continuidade de ascens o social desaparecem Os trabalhadores das ind strias e dos servi os nas empresas privadas mistas ou p blicas v o luta de classes em todos os planos para salvar o que resta de um padr o de vida ultrajante e para proteger se contra o pauperismo e o desemprego Os trabalhadores da terra emergem da condi o de prolet rios semilivres e se batem por terra e emprego Os exclu dos e marginalizados afundam na mis ria e voltam viol ncia destrutiva dentro de suas hostes e para
452. sses Guimar es deixou de obedecer ao regimento e devolveu ao plen rio a faculdade de exercer a sua soberania Este por maioria simples tomou uma decis o que colidia com o regimento e com qualquer tica pol tica m nima Os demais partidos agiram erradamente ao votar pois deviam tentar a obs tru o quele garroteamento Esse foi o maior esc ndalo vis vel nas atividades internas ANC Serve para salientar a adultera o do clima de trabalho no final do processo constituinte O agrupamento de emendas seguiu crit rios que tornavam imposs vel qualquer controle seletivo do que se votava Na maioria das vezes os mate riais concernentes aos agrupamentos s eram conhecidos pela mesa e pelas lideran as Os constituintes ou votavam em cruz seguindo a sinaliza o das lideran as ou se viam constrangidos a procurar explica es e ainda assim votar como se fossem rob s programados Al m disso a cabe a e a voz esta Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 286 An F vam no tope Eu mesmo passei pela experi ncia desagrad vel de pretender falar sobre uma enormidade e n o consegui apesar de o Lula ter desistido do seu direito fala Em suma o Brasil revelou se por inteiro nesses instantes extremos O atraso cultural irrompeu da ANC e demonstrou que os pol ticos que deveriam encarnar a soberania dos cidad os estavam longe de possuir uma cultura c vica altura da situa o hist
453. stas devem travar suas batalhas com vistas vit ria das posi es democr ticas mais avan adas dentro da ANC A ret rica e a propaganda da participa o popular s o promissoras Todavia nada substitui o objetivo essencial o socialismo revolucion rio como o elemento central das lutas prolet rias pela democracia Repetindo Marx e Engels n o basta melhorar a sociedade de classes E preciso extingui la substituindo a por uma sociedade igualit ria Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 110 Florestan Fernandes UM DEPOIMENTO CURTO E GROSSO N o poss vel ignorar os fatos nus e crus Depois que a cis o rachou a subcomiss o de Ci ncia Tecnologia e Comunica o gra as coragem da relatora Cristina Tavares e de seus companheiros parecia que a Comiss o da Fam lia da Educa o Cultura e Esportes da Ci ncia e Tecnologia e da Comu nica o seria poupada da repeti o da trag dia como com dia No entanto tal expectativa n o ocorreu Os 36 conservadores compeliram os 27 progres sistas a travar uma luta pol tica ingrata e ingl ria que deslustra a Assembleia Nacional Constituinte Um autoritarismo que reproduz as li es da ditadura militar e um mandonismo digno dos antigos senhores de escravos ou da velha oligarquia da Primeira Rep blica na verdade serviram de biombo para esconder uma acintosa pirataria Reeditou se com todo o vigor o anti republicanismo
454. stitucional ou ditadura perdia efic cia repressiva e ca pacidade de aparentar uma legitimidade que n o possu a ela se tornou cara e obsoleta Compelia os s cios hegem nicos as na es capitalistas centrais e as multinacionais e as classes dominantes nacionais e suas elites a se exporem em cheio ao dio que fermenta nos por es da sociedade O Brasil assumia o car ter de um barril de p lvora prestes a explodir e a destro ar todos os culpados diretos e indiretos pelos desmandos e crises gerados pela ditadu ra V rios setores sociais procuravam pois uma alternativa ou uma retirada estrat gica dos militares que os desmoralizaria e os faria passar hist ria como bodes expiat rios quando de fato eles foram a m o do gato ou um movimento que os afastaria do poder por via pac fica mediante elei es diretas O PT encetou o segundo ponto de partida rapidamente endossado Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 76 An F pelas entidades e organiza es que se batiam pela desobedi ncia civil e pelo PMDB engrossado pelos liberais que navegavam nos barcos e nas guas da ditadura Em consequ ncia dessa evolu o a oscila o ganhou for a e logo demonstrou que seria imbat vel Nesse contexto o movimento das Diretas j que poderia propiciar uma sa da l mpida e radical submergiu numa compo si o conservadora que decidiu a partir de cima atravessar o Rubic o atra v s
455. t o longe que converte os seus agentes mais h beis em coveiros das classes privilegiadas nacionais e estrangeiras 67 Pen st FRAGMENTA O DO PROCESSO CONSTITUINTE A ordena o dos trabalhos de elabora o da Constitui o obedece a um plano l gico aparentemente dotado de uma racionalidade inatac vel Oito comiss es constitucionais subdivididas cada uma em tr s subcomiss es permitiriam distribuir os v rios assuntos ou temas por grupos de deputados e senadores constituintes mais afeitos s quest es pertinentes e sua comple xidade E uma comiss o final de recomposi o do todo a Comiss o de Siste matiza o Essa arquitetura fundada em uma divis o do trabalho permitiria desdobrar a discuss o de cada tema e posteriormente passar o pente fino na obra realizada e estabelecer a harmonia atrav s de uma s ntese madura e ob jetiva Todavia a Constitui o a realidade pol tica mais rica de uma na o Ela n o cont m apenas a vontade do povo tal como se expressa atrav s da tica de seus representantes Ela desnuda o poder e o reveste como o manto de fantasias e cruezas das ideologias daqueles que representam a vontade do povo origem da soberania do Parlamento e sua primeira e principal v tima A forma de elaborar a Constitui o traduz portanto essa inquietan te verdade Antes de se tornar um corpo vivo a Constitui o retalhada Folha de S Paulo 12 4 1987 Florestan Fern
456. ta es os l deres poderiam dedicar algumas palavras a esses aspectos abandonando a mec nica recomenda o bancada do sim ou n o e do voto em aberto Os procedimentos adotados fortalecem a mentalidade legislativa e a disciplina partid ria mas n o concor rem para engradecer a consci ncia constitucional dos parlamentares Em suma aprende se fazendo A diferen a entre os dois regimentos originou fatos consumados Mas a mesa e o Presidente podem superar os fatos consumados e aumentar o fermento criativo do processo constituinte O princi pal agora n o a velocidade mas a qualidade da Constitui o t o prejudicada pelas vicissitudes que enfrentamos Bem ponderados os pr s e os contras o caminho da melhor qualidade desponta tamb m como o mais r pido 217 Pen ft O QUADRO POL TICO ATUAL Uma situa o de crise sempre cont m componentes criativos novos processos hist ricos novas for as sociais renovadoras novas esperan as o reverso da medalha Isso n o vis vel na presente situa o brasileira O caos econ mico soma se crise institucional desmoraliza o do governo e ao conflito dos quatro poderes o Executivo o Legislativo o Judici rio e o Mi litar o poder maior n o configurado como leg timo nas fun es que se arro gou coroados por uma frustra o popular sem precedentes A ira do povo n o poderia assumir propor es mais graves e ela se dirige sim
457. ta n o teria fim Al m disso o regime ditatorial que veio para assegurar o desenvolvimento com seguran a segundo a norma imperialista difundida a partir dos Estados Unidos s provocou um processo reconhecidamente positivo e construtivo levou a desorganiza o at o fim e at o fundo da sociedade civil e do Estado A superf cie continuou a parecer mansa o subterr neo da sociedade brasilei ra como um todo um vulc o que propaga amea as de cat strofe a todos os rinc es do Brasil A fun o latente da ditadura consistiu em chegar a chama p lvora O Brasil j n o pode recuar ao passado Todavia v se tolhido por uma camisa de for a que n o segurar nada s tornar as explos es sociais mais dram ticas e avassaladoras Enfim a modernidade n o chegou europeia Ela veio como uma avalancha t pica da periferia O sonho de desenvolvimento com seguran a conduziu ao seu avesso os que pensam o Congresso Constituinte como um freio iludem se Nenhuma constitui o pode submeter uma sociedade de classes an mica isto desorganizada de alto a baixo ao milagre de um realinhamento m gico O sintoma mais ostensivo e perigoso do que acontece reponta nas oscila es das massas que buscam her is populistas e saltam de galho em galho a cada elei o Elas n o s o um term metro de que os de cima det m o controle do poder e da sociedade Ao inverso s o um ndice de que os milh es de humi
458. tc de um lado e aumenta as probabilidades de a o conjugada dos donos do poder na defesa de seus privil gios sob a vers o brasileira de capitalismo selvagem da periferia A melhor estrat gia consis te no ataque As classes burguesas usam o paradigma atrav s do governo e atacam com um pacto social inconceb vel em um momento desafortunado e contra um inimigo que j n o t o inocente para aceitar tais manobras de perf dia pol tica As massas populares e os trabalhadores possuem um lugar para travar essa batalha embora com conhecidas e descomunais desvanta gens o Congresso Constituinte 49 Persea O SIGNIFICADO HIST RICO DA CONSTITUINTE O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente Srs Cons tituintes eu talvez seja o calouro mais velho desta Casa e sinto me honrado em estar nesta condi o de calouro aos 66 anos Escolhi para falar com meus colegas e companheiros um tema que acho da maior relev ncia o significado hist rico desta Assembleia Nacional Constituinte Tivemos v rias Constitui es mas nunca tivemos uma Constitui o t o importante na Hist ria do Brasil E infelizmente nunca tivemos tamb m condi es t o adversas para que ela possa ser elaborada tendo em vista a natureza dos problemas com que nos defrontamos Para se debater o tema da soberania da Assembleia Nacional Constituinte preciso entender que ela resulta de um processo pol tico inelut vel Houve uma transi o que se cha
459. te eles precisam da democracia nos tempos que correm para se organizarem com car ter org nico acumularem experi ncia e for a pol tica adquirirem peso e voz na sociedade civil lograrem alguma esp cie de controle sobre as estruturas o funcionamento e o rendimento do Estado A oscila o portanto prejudica desproporcionalmente os mais fracos e ajuda a preservar intacta a viol ncia institucional dos de cima e a fraqueza relativa dos de baixo Ela uma manifesta o do esporte burgu s do deixa tudo como est para ver como fica Uma demonstra o suave que at a omiss o Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 302 An F uma arma de luta pol tica nas m os da burguesia de seus pol ticos profissio nais e de seus agentes no governo Ora a Constitui o voltava se contra essa erva daninha da antidemo cracia que pelo avesso reflete a democracia restrita que se esconde por tr s de um ritual eleitoral massivo Ela visava desatar a participa o popular e gestar um polo popular de poder pol tico A continuidade da transi o ani quila essa aspira o coletiva e reaviva a convic o radical de que a revolu o democr tica n o passa por dentro da ordem 303 Pen ft ANEXO O Processo CONSTITUINTE Fiorestan FERNANDES 17 12 987 NOTA EXPLICATIVA FLoREsTAN TRAN 25874 NOA 988 LISTA DOS DEMAIS TEXTOS PUBLICADOS NAS OBRAS ORIGINAIS O Processo CONSTITUINTE
460. te desse aut ntico mar de lama Essa a quest o Pelo menos duas comiss es chegaram a uma obra positiva A pr pria oitava comiss o possui a seu favor o anteprojeto e o subs titutivo subscritos por Artur da T vola Resta muito caminho a percorrer e a reden o do processo constituinte depende somente de uma revers o da maioria Contudo como confiar nessa possibilidade A maioria que n o se respeitou numa comiss o ir ter a coragem de regenerar se nas pr ximas etapas nos trabalhos da Comiss o de Sistematiza o e do plen rio Os que confundiram o seu poder de decidir com o arb trio ser o ainda sens veis voz da raz o e ao chamamento de seu mandato de constituintes Toda a dis cuss o sobre a soberania da ANC ruiu por terra os pr prios constituintes n o decidiram por si ou por seus partidos sobre o que lhes cabia fazer Pelo menos na rela o de 36 a maioria sobre 27 a minoria uma forte propor o de constituintes voltou as costas s suas responsabilidades como e enquanto constituintes e incentivou os demais a procederem do mesmo modo Esse n mero de constituintes pode afirmar isso democracia No entanto isso n o democracia pervers o do poder de uma maioria ocasional Portanto indo ao fundo da discuss o temos de salvar n o a face mas as nossas responsabilidades como e enquanto constituintes Ao corromper a ANC o governo corrompeu o poder origin rio que esta devia encarnar destruiu a sobera
461. te praticada por v rias empresas a assist ncia gratuita aos filhos e dependentes at seis anos de idade em creches e pr escolas manti das pelas empresas a proibi o da distin o entre trabalho manual t cnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos a igualdade de direitos entre o trabalhador com v nculo empregat cio permanente e o trabalhador avulso fixa o pela Assembleia Geral da contribui o de categoria profissional a ser descontada em folha para custeio do sistema confederativo independen temente da contribui o prevista em lei proibi o da dispensa do empregado sindicalizado a partir do momento da candidatura a cargo de dire o e de representa o sindical at um ano ap s o final do mandato se eleito o mesmo aplicando se a seu suplente controle estatal das telecomunica es e estati za es de servi os p blicos que tenham sido contempladas na Constitui o note se prevaleceu uma estrita orienta o privatista que restringiu aquilo que deveria ser feito em um pa s com desenvolvimento capitalista desigual resguardar as atribui es do Estado como agente regulador e normativo da atividade econ mica nas poucas esferas nas quais elas foram respeitadas ba talhar pela perman ncia e efetividade do imposto sobre as grandes fortunas Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 258 Aan E contra uma pol tica fiscal atrasada e pirata que converte o Estad
462. tes E a confraterniza o do Natal o nosso entranhado amor fam lia a nossa modera o centrista na preserva o da ordem a nossa voca o crist Onde estariam os mores os fundamentos morais do nosso modo de ser e da nossa sociedade se o que existe de materialismo vulgar nos EUA e de carnificina coletiva impiedosa no Haiti se reproduzissem aqui Segundo tradi o secular Deus corrige de noite o que fazemos de errado durante o dia Isso infantili dade A noite e o dia est o engolfados em um mesmo processo que faz com que o desenvolvimento capitalista origine um mundo s uma composi o compac ta gra as qual o Brasil cresce e se expande como uma na o que dialetica mente EUA e Haiti n o como entidades distintas ou superpostas mas como uma unidade complexa e indissoci vel em sua diversidade O que h de EUA no Brasil sobrevive se refor a e se agiganta medida que aquilo que Haiti se perpetue Quem n o acreditar nisso pergunte a s rio por que os dois Brasis s o na verdade um s e a seiva e os dinamismos capitalistas de ambos se en trecruzam e se fundem A interpenetra o t o forte que cada um deles possui algo em propor es vari veis de EUA e de Haiti A civiliza o que importamos e que nos sateliza como parte estrutural funcional e hist rica do imp rio re quer que caminhemos nessa dire o como povo e como na o Florestan Fernandes na Constitu
463. tica ou anal tica enxuta ou encharcada O povo atravessou o Amazonas colocou em cima da mesa suas ltimas mensagens Os soberanos constituintes optaram pela sobe rania A nova Constitui o est cozida como o prato com veneno em um ban quete dos Borgias Os v rios grupos de consenso que buscaram uma nova concilia o pelo alto ir o alcan la Mas ao pre o de converter esta ANC em um equivalente pol tico tanto do col gio eleitoral quanto da transi o conser vadora que gerou a Nova Rep blica S o os mesmos personagens os mes mos benefici rios os mesmos partidos as mesmas for as sociais militares e pol ticas Sua negocia o vencer pelo n mero Formam a maioria Por m lan am o Brasil no abismo final Os garantes da ordem j n o s o o sabre e o fuzil S o os humildes que fizeram por alguns dias e de maneira extrema por algumas horas dos pr dios da ANC uma vers o da Bastilha N o a des tru ram Os alvos s o outros Aprenderam a conhec lo no seu interior nas ambiguidades da sua indiferen a ao povo na sua debilidade insuper vel De um golpe os humildes descobriram que n o est o representados e que s o os agentes de sua pr pria vontade O que o ilustre relator deputado Bernardo Cabral afirmou na soleni dade em sua homenagem na FMU cf Folha de S Paulo 15 8 1987 t o sintom tico quanto o s o a organiza o que prestou a homenagem as perso nalidades que estiveram presentes
464. ticos juristas e intelectuais funciona como um recurso ideol gico e na busca dos meios pr ticos para fortalecer a ordem existente torn la perene e instrumental para a domina o de classe dos de cima Assim o fim lti Folha de S Paulo 20 4 1988 227 Pen Stu mo da Constitui o consiste em legitimar o ilegitim vel forjando um mundo de apar ncias que consagra uma ordem social democr tica e um Estado de mocr tico imagin rios e inexistentes Os projetos dos not veis dos partidos convertem se pois em f rmulas vazias e em cap tulos da hist ria das ideias que servem de ganha p o para os professores universit rios da mat ria No polo oposto temos o reverso da medalha Os partidos de radicalidade burguesa n o encontraram como vicejar nesse terreno pol tico rido Portanto da n o surge qualquer manifesta o digna de nota Os juristas que poderiam trabalhar nessa fronteira s o deslocados para uma social democracia an mica ou para o pensamento cr tico puramente individual S o pontos de refer ncia te rica Porem suas elabora es perdem se nas bibliotecas e n o alimentam um impulso de produ o constitucional que poderia renovar os partidos da ordem metamorfose los em alternativas reformistas org nicas para um conservan tismo agreste e fisiol gico A esquerda propriamente revolucion ria encontra pouco o que fazer nesse terreno no qual o constitucionalismo separado pela pr pria burguesia nacional e p
465. tipo de constitui o por si mesma entra em conflito com a na o como um todo e remove da carta constitucio nal a ess ncia da fun o do Parlamento na vida moderna Ele n o permitir canalizar para o Parlamento as lutas de classes porque deixa de ser um canal institucional de solu o dos conflitos econ micos sociais culturais e pol ti 203 Persea cos A luta de classes expulsa para o seio da sociedade civil onde ela crepita de modo crescentemente mais denso e violento Em suma os de cima forjam uma terminologia constitucionalista e democr tica ao mesmo tempo que li quidam o pluralismo democr tico de que se dizem porta vozes a livre inicia tiva que n o existe onde o Estado patrocina e financia com riqueza coletiva a acelera o da acumula o capitalista e o pr prio Estado de direito que se toma uma fic o cruel pois n o passa de um conceito constitucional vazio O que fica como realidade hist rica a luta de classes n o regulada e a au tocracia dissimulada por tr s de lantejoulas de bacher is Tudo ocorrer bem para os que mandam at que os de baixo deixem de obedecer e resolvam por sua vez p r em pr tica o seu modelo popular e igualit rio de democracia expelindo do controle do Estado aqueles que confundem ambi o e oportu nidade com poder real Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 204 Florestan Fernandes ODIAI VOS UNS AOS OUTROS A
466. tituinte Leituras para a reforma pol tica 290 An F RETALIA ES E PRESS ES Descontadas as mensagens sigilosas feitas por via diplom tica e formal tivemos um cord o de presen as indesej veis pelas inten es reveladas Entre outras na es do centro imperial vieram ao Brasil as mais altas autoridades abaixo dos chefes de Estado ou de governo do Jap o da Alemanha e dos Estados Unidos N o se prenderam a sutilezas Falaram claro o que queriam como as multinacionais e seus dirigentes A ordem expl cita e perempt ria Fa am o que exigimos ou nos retiraremos O capital busca lucro e seguran a O poder imperial grandeza e influ ncia Obede am O big stick n o apareceu Mas seria preciso N s temos de ranger os dentes e engolir a saliva envenenada Por que isso poss vel Por v rias raz es que n o podem ser discutidas nos limites de um artigo Venho examinando essas raz es h muito tempo desde o fim da d cada de 1950 e lhes dediquei alguns livros ou ensaios Po r m duas raz es merecem ser postas frente de todas Primeiro a orienta o passiva da nossa grande burguesia que prefere ser uma burguesia associada e dependente a enfrentar a inunda o do competidor estrangeiro Segundo a posi o de nosso governo que adotou uma pol tica suicida de defesa da civiliza o ocidental ignorando que a tarefa cabe aos pa ses que governam o mundo criado pelo capital Jornal de Bras lia 08 10
467. to c vico nas idas e vindas de emiss rios do ministro das Comunica es e em v rios outros epis dios que seria fastidioso descrever aqui N o se produzia uma carta magna Tentava se dividir um bolo entre famintos de poder de di nheiro e de influ ncia Nunca os constituintes comprometidos poderiam estar t o perto dos pap is de vendilh es do templo mesmo os que se amparavam na armadura do cristianismo do catolicismo e do liberalismo A ANC finalmente revelava a face que lhe impunha o capitalismo selvagem uma casa de tr fico e de negociatas na qual se vendia a retalhos uma constitui o no ato de ser Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 112 An F elaborada At ex deputados venerados sepultavam o seu passado participando desse s rdido neg cio trocando um passado de gl ria por quarenta dinheiros deixando nos perplexos sobre o que nos espera nos pr ximos anos O dia 14 de junho de 1987 ficar em minha mem ria como um dia de lembran as amargas de esperan as sepultadas e de um ponto final O que nos aguarda O que pode ser uma ANC que se torna palco de tais aconteci mentos Que constitui o poder resultar de um clima hist rico desses de corrup o econ mica pol tica e moral Um regime pol tico deteriorado apo dreceu o processo constituinte antes que se chegasse a seu t rmino Teremos ainda for as para contrarrestar esse golpe fatal e retirar o processo consti tuin
468. to dos constituintes no segundo turno A Constitui o avan ou mas ficou aqu m das exig ncias de democratiza o esperadas pelos oprimidos e pelos trabalhadores organizados Se os constituin tes conservadores retirarem dela o que essencial para os sindicatos as con federa es e os partidos prolet rios cometer o uma ruptura com as regras do jogo postas em pr tica na elabora o da Constitui o ostensivo que os setores mais conservadores reacion rios e intransigentes das classes burguesas movi mentam se a ulados e sustentados pelo governo nesse sentido Os meios de comunica o de massa em especial a Folha de S Paulo e o n mero 375 da revista Senhor A Constitui o segundo os empres rios fornecem dados objetivos para uma radiografia desmascaradora Nesse caso as conquistas e as migalhas que resultaram do poder de fogo das classes trabalhadoras seriam mutiladas re duzidas ou pulverizadas A resposta a esse acinte bvia Todos os acordos entre as lideran as iriam pelos ares Os pr prios avan os reais ou potenciais estariam comprometidos ou neutralizados S a recusa das assinaturas reporia as coisas em seus lugares deixando se ao capital nacional e internacional e ao governo a responsabilidade de enfrentar as consequ ncias pol ticas de sua cegueira o furor dos subalternizados e o agravamento em espiral da luta de classes 247 Perseu NOVA PAUTA POL TICA Ainda cedo par
469. to regional Mas repele o chamado contro le centralizado ou burocr tico como se o capitalismo monopolista fosse alheio a esses desdobramentos das t cnicas sociais de administra o e de tecnocratiza o meios centrais das pol ticas econ micas p s keynesianas Basta ler O novo Estado industrial de John Kenneth Galbraith Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1968 para constatar que Behemoth se instaurou no seio do neocapitalismo As esperan as dos defensores de uma terceira via como Harold Laski Karl Mannheim Georges Gurvitch Louis Wirth e tantos outros foram enterradas pela civiliza o ocidental p s industrial que est asfixiando a livre iniciativa e liquidando as liberdades individuais e coletivas da heran a liberal como assinalam os estudos de C Wright Mills James O Connor etc Ali s como conciliar de outro modo o militarismo do capitalis mo monopolista da era atual com as armadilhas de uma economia de guerra permanente nada oculta O mal que as receitas que s o boas para os pa ses capitalistas avan ados n o o s o para as burguesias da periferia sujeitas aos ataques frontais de uma pseudoliberdade de mercado presas a uma falsa soberania nacional e v timas de uma tica pol tica colonizada Portanto o planejamento democr tico est exclu do do card pio Eu pr prio tive a desdita de defender um rg o que serviria para implementar e dinamizar o Plano Nacional de Educa o um Cons
470. tores empresariais congregados pela UBE Os assalariados e os miser veis da terra j n o t m o que perder Se a repress o persiste ou tende a aumentar e nenhu ma esperan a se delineia que v tudo para o diabo Os burgueses se com portam como campe es da ordem Mas a ordem est se esfarelando A volta dos militares n o resolve nada e isso est comprovado Por que n o arriscar uma experi ncia democr tica para valer A opress o s d certo enquanto o povo a teme Ora isso coisa prestes a encerrar se talvez para sempre Como diz o ministro da Guerra quem n o acreditar que tente 179 Persea Os CONTRAS O Brasil n o precisa de inimigo externo para ser lan ado e manter se no fundo do po o Estamos longe dos Estados Unidos e a no o de quintal teria de ser muito ampla para aplicar se vara curta com que aquela superpo t ncia trata as na es do norte da Am rica e da Am rica Central Todavia o capitalismo monopolista dependente cria as condi es hist ricas para a exis t ncia dos contras Os de cima para se manterem no tope recorrem a todos os meios de bloqueio da revolu o nacional e democr tica Assim eles repro duzem as injusti as e as iniquidades econ micas culturais sociais e pol ticas que alimentam simultaneamente a drenagem de riqueza do Brasil para o Exterior e a concentra o da renda do prest gio e do poder nos famosos 1 e 5 dos privilegiados que mo
471. toricamente finitos e humanos Duas coisas devem ser ressaltadas neste hoje que vivemos O jovem que nasceu e cresceu sob a ditadura perdeu muitos contatos com a realidade e com a hist ria como processo vivo Mas conheceu em sua carne o que a opress o e como a repress o institucional s vezes inconsciente e definitiva dentro da fam lia da escola etc odiosa Essa uma riqueza mpar O potencial radical de um jovem pobre de pequena burguesia ou rico que sofre prolonga damente uma experi ncia dessas constitui um agente pol tico valioso Ele est embalado para rejeitar e combater a opress o sistem tica e a repress o dissimulada o que o converte em um ser pol tico inconformista promissor Al m disso a sociedade se alterou transformou se em seu modo de produ o 33 Pensa capitalista que se tornou monopolista e se internacionalizou submetendo se de maneira mais profunda domina o externa e ao imperialismo em sua organiza o de classes O movimento sindical e a luta das classes trabalha doras alcan aram outro n vel e oferecem cultura radical emergente da ju ventude uma oportunidade hist rica sedutora O pr prio jovem se engaja nos movimentos socialistas de contesta o e de democratiza o pol tica de uma forma muito mais exigente e avan ada do que na d cada de 1960 Portanto a quest o consiste no modo de responder ao apelo da consci ncia cr tica de integridade e justi a O jov
472. trar em suas m os o poder absoluto Que se dane a Constitui o e que se fomente a democracia Os que n o se curvam a esses des gnios sibilinamen te evidentes mas n o explicitamente enunciados s o inimigos da ordem e perturbadores da paz social devem ser e s o tratados como advers rios renitentes a serem postos fora do caminho Ou isso ou a transi o lenta gradual e segura desmorona com seu Estado biombo N o seria poss vel imaginar qualquer coisa mais grotesca mais antide mocr tica mais contraconstitucional que essa rota de cartas marcadas com riscos calculados segundo um cronograma pol tico militar O politicismo convencional que transparece no duelo verbal de Sarney x Ulysses incom petente para defrontar se com essa realidade Na verdade ele passa por fora da democracia forte herdada da ditadura que os partidos e os pol ticos Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 266 An F profissionais n o lograram desconstruir A direita o centro e a esquerda com suas varia es extremistas rendem se por igual obstru o das vias demo cr ticas e s ilus es constitucionais Ignoram o poder real e onde ele esta enganando se sob as no es cl ssicas da soberania popular e de ess ncia do mandato representativo N o existe representa o para os adeptos armados ou desarmados do Estado de transi o permanente Eles n o representam eles agem E
473. ua luta pol tica para enfraquecer deslocar e derrubar a supremacia burguesa Resta um branco ou um vazio no quadro global Os extremistas e os estrategistas de gabinete deveriam dar aten o a ele e uma aten o substan tiva A forma da consci ncia social de classe dos trabalhadores amoldou se dialeticamente s exig ncias hist ricas elementares do presente Por m os conte dos dessa mesma consci ncia social de classe est o em atraso com re fer ncia ao que percebido e interpretado corretamente O socialismo pro let rio n o comparece como algo vis vel como a identidade caracter stica do trabalhador que j est imerso em um desenvolvimento independente de classe e inicia o ataque supremacia burguesa em alvos certeiros Portanto o sindicato a central sindical o partido e outras organiza es que ainda n o se constitu ram s o respons veis diretos e indiretos por esse branco ou esse vazio 4 Persa Se tais infer ncias hipot ticas em face da natureza dos dados forem corretas a CUT e o PT se acham defasados com rela o s necessidades his t ricas dos trabalhadores e s impuls es do movimento prolet rio Precisam desprender se do espontane smo e corresponder organicamente s tarefas pol ticas que as classes trabalhadoras s poder o desempenhar daqui para frente se absorverem com firmeza os esclarecimentos e as inspira es do socialismo prolet rio revolucion rio agora resolver essa quest
474. ual e se gura e com um regime que constitui um equivalente civil da ditadura militar burguesa At o pessoal o mesmo os procedimentos tecnocr ticos s o os mes mos o desprezo pelo povo o mesmo As varia es que podem ser apontadas correm por conta do sangue novo que o PMDB levou para o tope modernizan do e refinando a fachada de uma Rep blica institucional civilizada Folha de S Paulo 02 9 1986 27 Pen ft O c rculo vicioso maior se perpetua indefinidamente Mantida a ordem ilegal ordenada pela ditadura os partidos se inscrevem nesse mesmismo Eles n o sa ram dos ardis que o ministro Petr nio Portella logrou erguer para entre var a sociedade civil mantendo suas for as pol ticas emergentes presas no en quadramento do poder burgu s e da insensibilidade mort fera do Conselho de Seguran a Nacional As duas grandes esperan as o PT e o PDT remam contra a corrente e o ltimo contra a persist ncia de uma demagogia populista que anula com a m o direita o que oferece a sua m o esquerda As altera es ocor ridas ao contr rio do que sugeriram as primeiras esperan as n o contrabalan aram aquela heran a tr gica A ordem ilegal persistente esvaziou as impuls es democr ticas que pareciam vir de cima tornou a Alian a Democr tica um blefe fortaleceu a camisa de for a que o conservantismo e o reacionarismo contrapuseram tenazmente aos pequenos partidos inclusive partidos org nico
475. ucional impregnada de modernismo impor tado e de formalismo jur dico avan ado por m um biombo para excluir os homens pobres livres da sociedade civil e para dar continuidade exist ncia e sobreviv ncia da escravid o com as novas perspectivas que se abriam a uma economia satelitizada e exportadora A est a raiz remota mas que ressurge como uma hidra de sete ca be as no agravamento sempre renovado da trag dia brasileira N o existe uma consci ncia constitucionalista porque n o existe uma sociedade civil que associe o modo de produ o capitalista necessidade hist rica das v rias revolu es burguesas como a revolu o nacional a transforma o estrutural capitalista no campo a revolu o urbana e a revolu o democr tica A nossa moderniza o pol tica se reduziu importa o de uma tecnologia estatal de domina o de classe A moderniza o se impunha de fora para encadear a produ o econ mica interna ao mercado mundial de dentro para que as clas ses dominantes pudessem dispor de instrumentos eficazes de defesa da ordem e pudessem associar se aos estratos mais poderosos da burguesia internacional contando com freios para limitar o constante desgaste que eles exerciam sobre a soberania do Estado A democracia converteu se em um jogo entre os mais iguais um sistema de poder deformado e o constitucionalismo era em si mes mo uma farsa pol tica que sequer encobria ideologicamente as cruas reali
476. ue o fen meno natural parte do processo de incorpora o s economias capitalistas centrais e da internacionaliza o do seu sistema de produ o e de mercado da expuls o dos milh es de ha bitantes de antigas e novas zonas agr rias para os centros urbanos ou apa rentemente urbanos da metropoliza o acelerada de algumas cidades e da moderniza o da produ o industrial e do espa o urbano controlada a partir de fora do crescimento r pido do regime de classes e do seu impacto sobre a fragmenta o de uma sociedade civil constru da para o dom nio de mino rias olig rquicas e plutocr ticas dos ritmos do crescimento demogr fico do aparecimento de um novo padr o de luta sindical e de luta pol tica de clas ses do aparecimento de novas institui es ou organiza es que interferem ativamente sobre as iniquidades humanas que sempre tiveram vig ncia na sociedade brasileira como a CNBB as comiss es de Justi a e Paz a CPT a renova o da OAB o surgimento das comunidades eclesiais de base das co miss es de f brica das associa es de bairro de organiza es de vanguarda Folha de S Paulo 13 7 1986 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 20 An F dos espoliados da terra dos ind genas dos negros das mulheres dos movi mentos de libera o sexual das organiza es de favelados at de protestos de menores e dos setores carentes etc a enumera o comple
477. ue clamam por mu dan as no texto constitucional Muito obrigado a V Exa O SR FLORESTAN FERNANDES Eu que agrade o ao aparte de V Exa A Sra Dirce Tutu Quadros Permite V Exa um aparte O SR FLORESTAN FERNANDES Com muito prazer A Sra Dirce Tutu Quadros Prezado deputado acho que grupos ou blo cos dentro desta Casa n o s o necessariamente corruptos ou desvirtuados do nosso sistema que n o o parlamentarista Os partidos n o t m grande for a ou estrutura eles se tornam automaticamente aglomera es at tem por rias na maior parte das vezes e muito natural que os Constituintes aqui se dividam mais ideologicamente do que em uma forma de partido O SR FLORESTAN FERNANDES Agrade o o aparte de V Exa Natu ralmente discordamos porque eu acho que tudo isso poderia ocorrer de outra maneira o debate poderia se dar aqui dentro e hoje n s n o temos a grande comiss o temos um bloquinho decidindo por todos sobre o que vai ser a nossa pr xima Constitui o prov vel que esse bloquinho tenha acertos maiores que erros ningu m pode dizer o que sair dessa atividade mas ela por sua natureza esp ria contradit ria e inconsequente porque n o com pat vel com o estilo de trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte Agrade o aos colegas pela aten o com que me ouviram e devo dizer que n o estou querendo desafiar ningu m Foi muito penoso para mim che gar aqui
478. uil brio oriundo de uma iniciativa privada mal concebida e deter a luta pela privatiza o vista como uma cru zada ultradireitista Por paradoxal que pare a foram os partidos de esquerda a parte mais s lida do centro e os radicais do PMDB apoiados por entidades sindicais populares e cat licas que se uniram para impedir um retrocesso Primeira Rep blica ou um recrudescimento militar Contudo pouco pude ram fazer um t nue melhorismo constitucional enxertado vacilantemente em uma carta magna heterog nea e much ado for nothing como diria Shakes peare Corremos o risco de perder terreno no segundo turno e de observar esse melhorismo de acomoda o derreter se como o gelo sob o sol ardente f cil lan ar as culpas desse resultado sobre o governo Sarney Este incitou e agravou a evolu o negativa exposta n o s pela quest o do man dato pelas facilidades do entulho autorit rio a ordem ilegal vigente mas tamb m porque ele representa a ditadura militar sob vestes civis cumprindo o cronograma pol tico tra ado na conspira o da transi o transada To davia preciso tirar os ciscos dos olhos A conspira o possu a um suporte econ mico e pol tico pois tinha uma origem de classe Os conservadores daquele momento tr gico s o os mesmos que arru nam o processo consti tuinte na condi o de parlamentares e s o os pr ceres dos partidos da or dem os grandes industriais co
479. ulo 20 4 1988 publicado sob o t tulo Nova Carta e elei es para superar a crise m Ciclo encerrado Jornal do Brasil 25 4 1988 Acima do bem e do mal Jornal do Brasil 03 5 1988 Primeiro de Maio e solidariedade prolet ria Folha de S Paulo 04 5 1988 I Meias palavras Jornal do Brasil 14 5 1988 O segundo turno Jornal do Brasil 28 5 1988 Elei o direta uma necessidade hist rica Folha de S Paulo 29 5 1988 O PT dilemas das elei es municipais Folha de S Paulo 09 6 1988 O Governo e o segundo turno Folha de S Paulo 24 6 1988 i A quest o da anistia Jornal do Brasil 28 6 1988 O discurso pol tico Jornal do Brasil 03 08 1988 A ingovernabilidade Jornal do Brasil 09 8 1988 A greve Folha de S Paulo 25 8 1988 O curso do segundo turno Jornal do Brasil 28 8 1988 O dilema hist rico da Igreja Cat lica Folha de S Paulo 30 9 1988 O desengajamento dos militares Jornal do Brasil 09 10 1988 I O presidencialismo imperial Jornal de Bras lia 28 10 1988 E E li o E E E E E E E E E 315 Persea express o FUNDA O gt Perseu Abramo POPULAR Partido dos Trabalhadores 8 85 577 ISBN 9 9 9 VINI
480. ultaneamen te a tudo que ou cheira a pol tico Essa ira poderia ser a fonte da supera o desse quadro tr gico fomentado deliberadamente pelos donos do poder em penhados em continuar a transi o lenta gradual e segura a qualquer custo Prevalece uma crispa o do vetor militar que prestigia o presidente sa do do bolso do colete dos mand es da ditadura e n o concorda com o desgaste da autoridade do senhor Jos Sarney com as oscila es democr ticas da Assem bleia Nacional Constituinte e com a anarquia reinante Na verdade o processo constituinte foi castrado a partir de fora e a partir de dentro com o benepl cito do poder judici rio Definiu se a carta Jornal Decis o Bras lia 1 quinzena de abril de 1988 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 218 An F autorit ria em vigor como uma constitui o leg tima e a ANC como derivada e destitu da de soberania O poder Judici rio permaneceu mudo Seu lobby mostrou se muito ativo na preserva o refor o e amplia o dos privil gios dos magistrados O procurador da Rep blica deu sem mais esta nem aquela o tom do pensamento jur dico oficial restringindo a ANC a um Congresso com fun es de revis o constitucional submetido aos outros dois poderes No entanto palavras n o alteram a realidade O processo constituinte cresceu e chocou se com o poder Executivo e com seus excessos autorit rios Este re agiu
481. urge em resposta a necessidades a serem inferidas do vir a ser pol tico produzindo as f rmulas que ir o gerar tend ncias doutrin rias e alimentar sua influ ncia na conser va o ou na transforma o da ordem existente O documento que impulsiona o lan amento do PSDB apanha nitida mente as duas polaridades que o definem no quadro pol tico De um lado a ruptura com a c lula m ter o rep dio do conservantismo ilustrado que a ditadura soube polir com mestria e a Nova Rep blica azedou de outro a compuls o pelo aperfei oamento da ordem existente e a fixa o dos limites democratiza o Ningu m deve pedir perd o por ser inconformista e prin cipalmente por defender a socialdemocracia O documento por suas ambi guidades e vacila es navega no espa o da pol tica abstrata dentro de uma sociedade na qual a luta de classes uma das mais cru is e feias de toda a periferia do mundo capitalista A fei o socialdemocr tica retrata se como um em si e para si o que colide com a esfera do pol tico O seu alvo concreto aparece na proclama o do Parlamentarismo como sistema ideal de governo Por m juntando se parlamentarismo e socialdemocracia o que se planta no Brasil Um regime democr tico burgu s civilizado como na Su cia na Fran a e na Alemanha ou se lan a a semente da desagrega o da ordem existente o ponto de partida da destrui o do antigo regime no sentido espec fico com suas iniquidad
482. usar o arsenal legal da ditadura para reprimir turbul ncias que poderiam desabar sobre Bras lia constitui um acinte e demonstra o antago nismo irreconcili vel existente entre o Estado de transi o permanente um Estado de seguran a nacional dissimulado sob o manto da Nova Rep blica e a instaura o de um verdadeiro regime pol tico democr tico De outro lado os v rios ac litos e o pr prio senhor presidente prosseguem imperturb veis em marcha batida na repeti o de arbitrariedades inscrevendo as ZPEs na ordem do dia o que o contrap e ao Parlamento atrav s de um decreto lei de teor monstruoso e altamente provocativo retomando a iniciativa de ativar suas bases partid rias e seus representantes parlamentares em pugnas inter nas do PMDB e por tr s da apar ncia de brandura e conc rdia reorganizando sua interven o inadmiss vel no funcionamento da ANC Levando se em conta o que o senhor presidente no Estado de transi o permanente e na Nova Rep blica fica evidente que os verdadeiros n cleos de poder sorriem acatam as decis es da Constituinte mas aferram se a seus prop sitos de revigorar a transi o lenta gradual e segura Esta s n o se sobrep e ao Estado autocr tico porque sua condi o de exist ncia e de reprodu o pol tica ampliada Contudo apresenta se como a principal raz o de Estado daqueles n cleos e a fonte de sua necessidade imperiosa de con cen
483. vador n o contra a mudan a da ordem Ele pretende selecio nar as altera es da ordem e coloc las em pr tica em seguran a isto sob estrito controle governamental e institucional O reacion rio habita o mundo da reprodu o da ordem e arma se contra a mudan a Esta aparece como um cataclisma social o fim do mundo pelo menos o mundo dos sonhos do reacion rio A Comiss o de Sistematiza o n o tinha como elaborar uma constitui o para uma posi o pol tica ou para a outra Primeiro porque pre cisava trabalhar sobre materiais que vinham de outras inst ncias os quais estava ao seu alcance restringir ou modificar nunca dar lhes sumi o S o as consequ ncias e os entraves de uma constitui o de baixo para cima no mbito da Assembleia Nacional Constituinte Segundo porque uma teme ridade brincar de democrata antiga nos dias que correm Aquela massa de gente andando pelos corredores falando diante dos constituintes vaiando constituintes do PMDB do PFL e de outros partidos em com cios diante do Jornal do Brasil 28 12 1987 189 Pen ft Parlamento e mesmo o deputado Ulysses Guimar es enviando para l tone ladas de cartas telegramas emendas populares etc s significa uma coisa o povo despertou e quer uma constitui o realmente democr tica que res ponda aos dilemas humanos do pa s Todos est o cansados de concilia o e reforma de acordos de c pula e sob esse
484. veis e espoliativas para os mais ricos e poderosos ou se toma imposs vel montar o substrato da sociedade civil manter os dinamismos de uma cultura c vica e assegurar a ordem legal que lhes conferem legitimidade e continuidade relativas A grande promessa da Assembleia Nacional Constituinte provinha da esperan a de que esses requisitos m nimos de uma democracia liberal se riam finalmente atingidos A experi ncia demonstra que isso n o aconteceu e provavelmente continuar fora do nosso alcance V rias condi es hist ricas persistentes que traduzem o querer coletivo do bloco hist rico formado pelas elites das classes dominantes e pela comunidade internacional de neg cios concretamente o imperialismo bloquearam as vias que conduziam a esse fim A ANC n o revelou valor para afirmar se como entidade soberana Foi alu da por dentro pela inexist ncia de partidos da ordem consequentes e for tes Flutuou de assunto em assunto desorientada pol tica e ideologicamente Folha de S Paulo 22 5 1988 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 238 an F pelas press es externas que n o vinham apenas de lobbies de homens de neg cios de categorias sociais privilegiadas e de grupos de press o Foi pre parado um conjunto de emendas fundamentais com amplo apoio popular que servisse de b ssola transforma o por via constitucional A pr pria par ticipa o popular deveria atenuar o deseq
485. verdadeiro Ele nunca foi agente ativo porque sempre esteve privado da condi o de agente hist rico O que vai de fato pelo cora o e pela mente do povo Esta a pergunta essencial dif cil de responder Como candidato a deputado federal entre outras participei de duas si tua es extremas t picas portanto educativas Uma em uma igreja de S o Ma teus um bairro perif rico da zona leste de S o Paulo Diante de um audit rio na maioria pouco ou nada politizado tive de discutir os caminhos que nos conduziram ao Congresso Constituinte e o que se pode esperar deste tanto positiva quanto negativamente As perguntas eram inocentes mas traduziam a nsia de aprender e a natureza da castra o pol tica produzida por uma exclu s o sistem tica dos de baixo da sociedade civil Os ignorantes n o estavam ali estavam nos pal cios onde ficam os que mandam e fabricam por sua igno r ncia real essa rusticidade que n o seria pr pria de uma sociedade civil civi lizada Em outra situa o em Sapopemba na mesma zona leste vi me diante de um audit rio bem mais numeroso de gente humilde e trabalhadora que me submeteria a um teste crucial Este pertencia aos exclu dos politizados que j descobriram que chegou a vez do povo e nos encontramos no limiar de uma nova era As perguntas eram diretas sem subterf gios e impunham que eu vomitasse ali diante de todos as entradas de meu ser pol tico do tipo de socia lismo
486. vers o resumida pelo Prof Octavio Ianni 35 Pen ft press es pol ticas difusas mas fortes que se erguiam simultaneamente contra a ditadura o despotismo do capital e a espolia o dos trabalhadores Por sua vez Lula possu a a firmeza de algu m que sabia o que queria como trabalha dor e dirigente sindical O partido testemunhava que as reivindica es econ micas por via sin dical eram insuficientes e que o verdadeiro dilema continha uma natureza pol tica explosiva Do sindicato ao partido ia um salto que traduzia a qua lidade hist rica da consci ncia social adquirida pelos trabalhadores em suas rela es com o capital e com a necessidade de transformar a sociedade civil e o Estado As manobras conservadoras que geraram a Nova Rep blica n o lo graram estalar o PT nos ardis do pacto social e o governo viu se compelido a mostrar o quanto de ditadura ainda ardia dentro dele Governar por decretos nessas condi es embora com anu ncia do Congresso e sob a coa o militar e o conservantismo burgu s tinha um pre o submeter o PT por bem ou por mal reduzi lo impot ncia Os meios de comunica o de massa fizeram a cabe a das pessoas para aceitarem as manipula es Foram montados os casos da Bahia e a chacina de Leme As chicanas subiram aos pal cios do Morumbi ao Planalto E imposturas que a ditadura militar n o ousou foram tentadas como meio de estigmatiza o de um partido prolet rio que teimava
487. vilizada e democr tica Ou ela continuar a ser um biombo constitucional de uma falsa Rep blica presidencialista ou parlamentarista Muitos dir o tarde demais para uma op o que no fundo implica recome ar inutilmente tudo de novo Agora trata se de melhorar o que foi feito e de aguardar ou tra oportunidade Mas pouco foi feito e as oportunidades hist ricas n o se repetem O povo confiou Levou a Bras lia com muito sacrif cio e de v rias maneiras as suas esperan as As classes trabalhadoras e as massas popula res acusam o golpe das promessas e dos sonhos enterrados t o rapidamente A ANC ainda pode corrigir o engano que cometeu ao colocar os privil gios acima e frente das iniquidades Essa sim seria uma quest o de grandeza no aproveitamento de uma oportunidade hist rica que ainda n o morreu pois est ao alcance de nossas m os Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 138 Florestan F O SIGNIFICADO DO LEGISLATIVO O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente Sras e Srs deputados o tema que escolhi para abordar hoje em se tratando de um de bate sobre assuntos constitucionais da C mara dos Deputados o significado do Legislativo Penso que estamos caindo no engodo de elaborar uma Constitui o for malista A ideia de que a Constitui o formalista pode ser facilmente funda mentada na parte relativa Organiza o dos Poderes e Sistemas de governo Se
488. vres e iguais entre si Faremos da nova Constitui o uma ruptura e o come o de uma civiliza o sem barb rie Ou continuaremos atolados no idealismo constitucional como na o modernizada mas sem hist ria 61 Pen Stu DEFESA DA CONSTITUINTE O SR FLORESTAN FERNANDES PT SP Sr Presidente n o pe o a palavra pela ordem mas pela desordem que est sendo criada pelo governo e que devemos combater com a maior energia N o h cabimento no que est acontecendo no pa s Somente aqueles interessados em restaurar o fascismo poder o estar satisfeitos com o que est a N o venho aqui condenar o PMDB embora o O Estado de S Paulo de hoje estampe em toda uma p gina que o PMDB defende o presidente Sarney Os respons veis por tudo o que est acontecendo s o em primeiro lugar o governo e em segundo esta Casa que n o soube defender as suas prerroga tivas e afirmar se como deveria no sentido de exercer uma soberania plena capaz de deter as ambi es de todos aqueles que sonharam com a ditadura no passado que continuam a sonhar com a ditadura no presente e que continu ar o a sonhar com a ditadura no futuro Temos de romper com essa situa o hist rica temos de acabar com essa desordem com essa viol ncia provocada pelas for as que se dizem da ordem mas matam em S o Paulo massacram trabalhadores em todo o pa s violentam banc rios apesar de os ministros Discurso proferido na sess o de 31 de mar o
489. xa e sutil mistificadora e hip crita verdadeira e cruel Ostenta os rasgos ut picos mes mo os que nascem para serem gestos e s mbolos oculta os v nculos ideol gi cos at os mais necess rios e dissimula a sua ess ncia o poder na forma que ele exercido por pessoas institui es e forma es sociais do tope Ela tamb m pode ser uma aventura em v rios sentidos durar pouco ou muito Na verdade nascida da vontade coletiva de elites classes ou na es poder viver ou morrer t o f cil e fragilmente quanto os seus inventores e portadores A Constitui o de 1988 vem luz com data marcada para sofrer uma revis o global e cont m mecanismos que remetem a revis es parciais seguidas e constantes Foi posta sob um signo do prec rio durante a sua elabora o e posteriormente Ela n o responde s exig ncias da situa o hist rica Por m parece melhor que n o desperte grandes paix es e deixe em aberto um vasto campo renova o e atualiza o Sufocada pelo poder do dinheiro tisnada Folha de S Paulo 04 10 1988 Florestan Fernandes na Constituinte Leituras para a reforma pol tica 288 An I por uma hegemonia de classe que sequer se deteve diante da mercantiliza o do voto oprimida pelo arb trio de uma Nova Rep blica que prolonga a dita dura atrav s de seus m todos pr ticas pol ticas militares e policiais vergada pela corrup o manejada pelo governo e pelo grande c
490. zerar Por si mesma essa riqueza de alternativas constitui um ndice da emerg ncia do povo na hist ria O poder popular se constr i e se imp e E isso gera desespero nos que antes comandavam no plano da atividade social consciente a escolha de alternativas Exclu am as de import ncia coletiva e tocavam seus particularismos para frente como se tivessem realizado o que convinha ou conviria a todos N o obstante na extrema esquerda existem muitos adeptos do zerar jovens homens de meia idade e velhos com experi ncia pol tica revolucio n ria Por que pretendem zerar De um lado pela falta de uma socializa o pol tica revolucion ria madura e pela defici ncia de conv vio com os cl ssicos do pensamento revolucion rio dos socialistas ut picos e dos comunistas aos l deres das revolu es prolet rias de nossa poca S desejam uma coisa que Jornal do Brasil 15 8 1988 269 Pen ft a hist ria caminhe com a rapidez de sua vontade Como isso n o ocorre embarcam irracionalmente nas posi es de seus inimigos Ora zerar consiste em voltar ao passado ou recusar se a lutar pelo futuro com armas pr prias Tamb m significa ser o outro dos agentes coletivos das revolu es que numa sociedade de classes de origens coloniais e sob profunda domina o externa s o os trabalhadores livres e semilivres os malditos da terra a esc ria posta margem pelos que mandam Portanto hoje deparamos esse extraordin rio c

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