Home

arquivo em PDF - Instituto Sedes Sapientiae

1. The concept of a healthy individual In Home is where we start from essays by a psychoanalyst New York amp London W W Norton amp Company 1990 p 21 38 Bibliografia Hjulmand 1971 1967 The depressive position in normal emotional development In Through paediatrics to psycho analysis collected papers New York amp London Brunner Routledge 1992 p 262 277 Bibliografia Hjulmand 1955c 1954 The Piggle an account of the psychoanalytic treatment of a little girl London Penguin Books 1991 Bibliografia Hjulmand 1977 201 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A import ncia de um ambiente humano adaptado como aux lio no tratamento de uma crian a em acolhimento A cl nica na institui o Robson Thiago Barbosa Nakagawa Dra Denise Sanchez Careta Profa Dra Ivonise Fernandes da Motta Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo LAPECRI USP Palavras chave D W Winnicott Psican lise em institui o Desenvolvimento ps quico Com advento das pol ticas p blicas para prote o e garantia dos direitos das crian as e dos adolescentes as institui es de acolhimento outrora conhecidas como orfanatos desenvolveram se de forma a se tornarem espa os especializados provis rios e excepcionais para crian as e adolescentes que tiveram em suas fam lias seus direitos fundamentais violados Entende se que de
2. Na sess o seguinte a analista levou um grande tecido branco que possibilitou que a dupla paciente analista dramatizasse uma hist ria onde Nice assume o papel de uma menina que ap s ter sido enfeiti ada por uma bruxa passa a encarnar um fantasma que assusta outra menina vivida pela analista Nossa hip tese que a Nice revive ativamente algo que experimentou passivamente fazendo com que a analista seja assombrada pelos fantasmas que a perturbam Esta cena reaparecer in meras vezes ao longo da an lise atrav s das atua es de Nice vividas com a analista que atacada rejeitada desqualificada ou abandonada ou trazidas pela m e adotiva que fica t o perturbada frente a essas atua es que chega ao ponto de cogitar a ideia de devolver a filha para a institui o de acolhimento pois n o suporta mais se confrontar com o dio que v no olhar que a filha lhe dirige No nosso entender a dificuldade que Lourdes apresenta para acolher e dar sentido para as quest es trazidas por sua filha liga se tamb m a sua pr pria ambival ncia em rela o ado o algo que Nice que bastante sens vel e perspicaz capta facilmente Lourdes conta que sua fam lia n o aprovou a ado o tanto que sua m e e seu irm o que moravam com ela deixaram sua resid ncia o que fez com que Lourdes se desorganizasse financeiramente e tivesse dificuldade para assumir os cuidados de Nice embora zelasse por sua apar ncia por sua es
3. O menino fruto de uma rela o extraconjugal de S rgio 29 anos com Rita 27 anos Apesar de ser amamentado pela m e antes do acolhimento em visitas institui o n o foi identificado presen a de cuidado e v nculo entre a m e e o filho Nesse caso al m das evid ncias objetivas que levaram as crian as ao acolhimento acreditamos estar diante como na grande maioria dos casos que chegam as institui es de acolhimento de uma situa o na qual o ambiente inicial n o foi capaz de prover cuidado e suporte emocional suficiente para a consolida o das bases ps quicas para o desenvolvimento emocional Winnicott 1953 1997 considera de grande import ncia o estudo da hist ria inicial das crian as que foram separadas do seu lar de origem sendo poss vel por meio dessas hist rias encontrar elementos que contribuam para o entendimento do grau de perturba o ambiental que ocorreu em per odos primitivos do desenvolvimento emocional bem como auxiliar na orienta o do ambiente de acolhimento seja ele uma institui o ou uma fam lia adotiva sobre os cuidados que essa crian as pode vir a necessitar No dia dia da institui o R mulo uma crian a que n o chama a aten o dos cuidadores Parece n o apresentar comportamentos t picos de crian as que convivem juntas como fazer bagun a se enfiar em confus es ou mesmo demonstrar estados emocionais de tristeza ou ra va que preocupasse algum adulto pr ximo um
4. ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as de relacionamento com os outros de inser o social etc quanto de condi es sociais e econ micas Assim embora tratemos de crian as neur ticas inseridas na linguagem e no discurso reservamos fundamentalmente para a crian a autista e psic tica as quais trope am ou desarrimam da via de linguagem um lugar poss vel no discurso desejante de seus pais e do Outro representado pela cultura e por um campo institucional Os discursos dos pais ser o pois concebidos como uma rede de linguagem sobre a crian a na qual cruzam os diversos discursos sociais contempor neos sobre a inf ncia Podemos supor que ao restabelecermos um campo de linguagem em torno da crian a algumas tentativas ou restos de marcas que n o se significantizaram possam ser reintroduzidos numa opera o significante na medida em que supomos em cada crian a um sujeito de desejo Kupfer 1999 p 106 Dessa perspectiva ouvir os pais seja de crian as diagnosticadas autistas psic ticas ou neur ticas far refer ncia a uma escuta que acompanha o encadeamento discursivo e sua riqueza poliss mica abrindo novos sentidos para a crian a que porventura se encontre em posi o de fixidez ou de repeti o patol gica a qual lhe imprima sofrimento ps quico Nesse sentido podemos supor que a crian a poder experimentar a sa da de um lugar fixo e nico
5. acompanhamento individual e grupo de pais No in cio do atendimento individual Luiz representava hist rias contadas por ele e assim iniciou a escrita de cap tulos estes cap tulos eram representados atrav s de marionetes e narrados a cada sess o os guardas prendem todas as pessoas da cidade Havia um menino que era ainda pequeno mas os dois guardas prenderam e devoraram o menino O menino chamou o amigo e ele o salvou Como voc se chama perguntou o irm ozinho do menino para o amigo eu me chamo Bobinho porque sou bonzinho Esta era a posi o de Luiz no grupo quando iniciou o tratamento e isto durou por um bom tempo Nos atendimentos individuais ele foi se soltando mas no grupo comportava se com um bom garoto adequadamente No segundo ano de tratamento entramos em outro momento do atendimento individual agora as hist rias n o eram mais representadas por marionetes s o filmes de super her is filmes vistos no cinema DVD Homem de Ferro Indiana Jones O atendimento individual o espa o onde Luiz representa suas hist rias Nas hist rias representadas por ele surgem lutas com personagens cuja coragem come a a aparecer Ele pr prio passa a representar os personagens do mal que tem a for a Alguns meses depois no atendimento individual ele pede ajuda para ter uma estrat gia relatando que todos os dias ele bate em algu m na escola Conta que quer brincar com uma amiga em
6. ego no pensamento winnicottiano est o relacionadas ao tema da depress o Em Winnicott a depress o pensada por um lado em termos psicopatol gicos e neste contexto o autor reconhece a exist ncia de variados tipos de manifesta es cl nicas desta enfermidade Por outro a depress o tamb m consiste no mbito do pensamento do autor em uma conquista relativamente sofisticada em termos do processo de desenvolvimento emocional do indiv duo Neste ltimo sentido o indiv duo que est s voltas com as tarefas peculiares ao est gio do concernimento stage of concern de acordo com Winnicott j alcan ou o status de unidade sendo capaz de sentir EU SOU I AM Este indiv duo pode experimentar a si mesmo 199 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as de fato como uma pessoa inteira whole person com um interior mundo interno e um exterior mundo externo separados por uma membrana limitadora que na sa de coincide com a superf cie da pele Em termos do relacionamento m e beb ou analista paciente o referido indiv duo est s voltas do ponto de vista da sua experi ncia com um relacionamento interpessoal e neste contexto com as inquietantes consequ ncias imaginativas da destrutividade e agressividade inerentes ao impulso amoroso primitivo 1955c 1954 Tendo em vista
7. o Standard das obras completas de Sigmund Freud vol 17 p 201 211 Rio de Janeiro Imago 1969 1920 Alem do Princ pio do Prazer In Edi o Standard das obras completas de Sigmund Freud vol 18 Rio de Janeiro Imago 1969 LEA ns 1937 An lise termin vel e intermin vel In Edi o Standard das obras completas de Sigmund Freud vol 23 p 247 290 Rio de Janeiro Imago 1969 KUPFER M C M PINTO F S C N e Orgs 2010 Lugar de Vida Vinte Anos Depois Exerc cio de Ed Terap utica S o Paulo Ed Escuta FAPESP 7 Nome fict cio da analista de Luiz 163 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as LACAD E P 2011 O Despertar e o Ex lio ensinamentos psicanal ticos da mais delicada das transi es a adolesc ncia Rio de Janeiro Contra Capa Livraria Ltda LACAN J 1951 Interven o sobre a transfer ncia In Escritos p 214 225 Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1998 1969 70 Le Seminaire livro 17 L Envers de la Psychanalyse Paris Seuil 1991 1975 Conf rence Genebre sur le sympt me In Le Bloc Note de la psychanalyse 5 p 5 23 1985 PETRI R 2008 Psican lise e inf ncia Cl nica com crian as Rio de Janeiro Ed Companhia de Freud FAPESP QUINET A 2003 Teoria e cl nica da psicose 2 Ed Rio de Janeiro Forense Universit rio ROUDINESCO E PLON M 1998 Dicion rio de psican lise
8. o da paciente cada vez que ela se referia a si em terceira pessoa Com todo o atendimento de fonoaudiologia que fazia desde antes de trabalhar comigo ela j tinha condi es de falar melhor e eu lhe dizia isto Ela melhorou significativamente sua fala As falas fora de contexto e as ecolalias tamb m diminu ram quando comecei a mostrar lhe que ela estava falando sem pensar frisando que passasse a pensar antes de falar O trabalho com desenhos teve um extenso desdobramento ao longo dos anos seguintes Ela inicialmente desenhava infinitos rg os sexuais masculinos e femininos recobrindo qualquer coisa que eu desenhasse Como a impedi ela passou a pedir que desenh ssemos elementos de seu cotidiano Eu desenhava e dizia para ela tamb m desenhar Mas ela n o desenhava Tomei a iniciativa de dizer que desenhasse com a m o em cima da minha Altern vamos quem dava a sugest o de desenho e adicionei m sicas inventadas que ela gostava muito e pedia para eu repetir Com o tempo e minha insist ncia passou a desenhar sozinha Quando eu cantava deixava para ela completar algumas palavras o que ela fazia com alegria Passamos a cantar juntos Surgiram no seu desenho figuras antropom rficas coladas ou justapostas entre si Separei as recortando as Ela ficou muito impressionada com a possibilidade de separar as figuras e come ou a recortar diversos desenhos de que dispunha em nosso atendimento At que come ou a desenhar as figuras separadamen
9. o entre os pais e seus filhos e valendo se suas pr prias capacidades ps quicas podem acolher e significar atribuindo sentido s comunica es e comportamentos da crian a e permitindo que se instalem as bases de um aparelho ps quico Os conceitos de rev rie Bion holding e preocupa o materna prim ria Winnicott e segunda pele Bick s o modelos que significam estas experi ncias iniciais importante tamb m destacar as contribui es oriundas dos te ricos que estudam o que chamaram da constru o da parentalidade Este termo abrange o intrincado processo de tornar se pai e m e pois ter um filho n o o mesmo que tornar se pai e m e Para al m do processo biol gico est presente um aspecto psicol gico consciente e inconsciente que passa por uma reaproxima o da hist ria da constitui o ps quica destes pais A parentaliza o exige dos pais transforma es identificat rias profundas nas quais s o reeditados conflitos antigos nesta busca por tornar se pais desta crian a e a partir destes v nculos afetivos constru dos que ser constitu da a vida ps quica da crian a e seu processo de subjetiva o Neste contexto inserem se as contribui es dos autores que sugerem a import ncia de interven es iniciais que ao romper as amaras que impedem estes pais de parentalizar seus filhos e cumprir com suas 1 Psic loga e psicanalista Mestre doutora e docente da gradua o e p s gradua o do IPUSP SP
10. Ricardo Telles De Deus Apresentador Leopoldo Fulgencio Palavras chave Transfer ncia Winnicott Piggle Cl nica Psicanal tica Introdu o O presente trabalho foi escrito com o prop sito de apresentar de modo breve e panor mico alguns dos aspectos presentes na contribui o de Winnicott ao debate acerca da transfer ncia no mbito da cl nica psicanal tica Isto ser realizado aqui com base no material cl nico apresentado pelo autor no livro intitulado Piggle um relato do tratamento psicanal tico de uma menina pequena 1977 Nossa reflex o vai levar em conta em especial o material cl nico colhido por Winnicott no in cio do referido tratamento a saber no per odo que antecedeu a realiza o da segunda consulta Tendo isto em vista faremos a seguir algumas considera es de ordem geral sobre o caso Piggle visando fornecer ao leitor deste modo uma esp cie de pano de fundo que sirva para contextualizar as reflex es posteriores O caso Piggle algumas considera es de ordem geral O leitor dos escritos de Winnicott se depara com uma frequ ncia bastante significativa com narrativas oriundas da experi ncia cl nica obtida em sua pr tica cotidiana pelo pediatra e psicanalista ingl s Dentre estas narrativas se destacam em virtude de sua extens o e complexidade dois casos cl nicos Piggle um relato do tratamento psicanal tico de uma menina pequena 1977 e Holding e Interpreta
11. Tese de Doutorado em Psicologia Instituto de Psicologia da Universidade S o Paulo S o Paulo Racker H Estudos sobre T cnica Psicanal tica Trad De Jos Cl udio de Almeida Porto Alegre Artes Medicas 1982 Safra G Semin rio de Gilberto Safra no Sedes En Espa o Potencial diversidade e interlocu o p 49 66 SP Landuz Editora 2007 _ A cl nica em Winnicott 1999 In Natureza Humana Revista internacional de filosofia e pr ticas cl nicas Grupo de pesquisa em Filosofia e Pr tica Psicoter picas do Programa de Estudos P s Graduandos em Psicologia Cl nica da PUC SP vl 1 n 1 1999 S o Paulo EDUC 1999 Winnicott D W 1945 Desenvolvimento Emocional Primitivo In Winnicott D W Textos selecionados da pediatria psican lise obras escolhidas p 218 232 Bogomoletz D trad Rio de Janeiro Imago 2000 1956 A preocupa o materna prim ria In Winnicott D W Textos selecionados da pediatria psican lise obras escolhidas Bogomoletz D trad Rio de Janeiro Imago 2000 1968 Jogo do Rabisco In Winnicott C Shepherd R Davis M Explora es psicanal ticas D W Winnicott Porto Alegre Artes M dicas 1994 1971 O brincar e a realidade Rio de Janeiro Imago 1975 1955 6 Formas Cl nicas da Transfer ncia Rio de Janeiro Imago 1974 170 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A constru o
12. o Teme que Theo tenha algo parecido mas s poder se certificar quando ele estiver com um ano Quando perguntei sobre a cirurgia ela se recordou de sua inf ncia e disse que com onze anos sua m e se separou de seu pai e foi morar com o namorado Ela foi criada pelo pai ap s uma separa o litigiosa em que ele at hoje alimenta dio e n o divide o mesmo espa o com a ex esposa Neste momento ela se emociona e mostra seu ressentimento de ter sido deixada pela m e uma m e n o deveria ser assim com uma filha de apenas 11 anos J adulta quando o pai se casou novamente ela foi morar com a m e por rivalidade com a madrasta Na poca de sua cirurgia seu pai que m dico ficou transtornado por n o ter identificado o problema da filha e n o conseguiu ficar ao seu lado durante e ap s a interven o cir rgica foi acompanhada pela m e e irm Meu pai muito dif cil ela confessa Pude conversar sobre a falta de um modelo de contin ncia para as diferen as desconfortos desencontros e frustra es e como os gritos do Theo reatualizam as vivencias maternas com as bravezas de seu pai que tanto a assusta Ao mesmo tempo os desconfortos de Theo frustram o modelo de m e idealizada que construiu para si Al m disso pude apontar como Theo a ressegura de que ele tem um cora o bem forte e vigoroso todas as vezes em que acorda e grita forte Durante a consulta tamb m pude assinalar as compet ncias de Theo desfazendo os
13. o cl nica e o envolvimento emocional com a hist ria individual de cada paciente As implica es do desamparo na contratransfer ncia O estado de desamparo origin rio que est presente na constitui o de todos os indiv duos faz com que tenham necessidade de serem amados de serem cuidados Mas cada indiv duo encontra no meio em que vive diferentes formas de receber cuidado e amor Em crian as v timas de abuso sexual principalmente nos casos em que o abuso intrafamiliar o cuidador que interage com a crian a pode ser o pr prio agente de um segundo tipo de desamparo posterior ao origin rio e traum tico seja como abusador ou como espectador conivente que negligencia sua fun o de prote o 179 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Na pr tica cl nica do projeto percebe se que em alguns casos as crian as n o conseguem localizar o que uma atitude de amor Est o t o habituadas a serem invadidas que essa forma de se relacionar pode ser a nica que conhecem Muitas delas n o sabem diferenciar o que no comportamento de um cuidador ben fico ou mal fico a si mesma Em algumas crian as poss vel perceber uma precariedade em distinguir nos adultos os comportamentos de carinho dos abusivos Um caso que exemplifica essa situa o o de uma crian a que foi abrigada em uma institui o para ser afastada do abusador e questionou a cuidadora do abri
14. o de uma organiza o ps quica predominantemente perversa reconhe o que muitos ingredientes dessa perspectiva comp em o cen rio No m nimo esse caso convida nos a pesquisar sobre o que continuamos a pensar sobre a sexualidade polimorfa perversa da crian a e a estrutura o de uma pervers o para nos ajudar na dire o da cura Se as neo sexualidades tem imposto uma revis o dos nossos conceitos estar amos melhor afinando que perverso sin nimo de perversidade Suponho que tenhamos um certo consenso de que a m e e as tias estejam lidando de forma escandalosamente perversa mas isso faz delas perversas E Paulo estaria caminhando para construir um sintoma ali onde ele manca Vamos ao col quio ent o Refer ncias Bibliogr ficas BERLINK M T org 2005 Obsessiva neurose S o Paulo Escuta BLEICHMAR Silvia 1999 Clinica psicoanal tica y neog nesis Buenos Aires Amorrortu editores FERRARI M T Derivas de La pulsion anal vicissitudes de La transfer ncia em el an lisis de um ni o com encopresis www edupsi com dirninos organizado por Psicomundo e Fort Da 2000 FERREIRA M P Transtornos da excre o enurese e encoprese S o Paulo Casa do Psic logo 2004 FREUD S 1905 Tres ensayos sobre uma teoria de La sexualidad Obras completas Amorrortu Edit Tomo VII 1930 Mal estar en la cultura Obras completas Buenos Aires Amorrortu Edit Tomo XXI 138 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN
15. os modelos psicanal ticos utilizados na atualidade e entre eles eu aponto a Psican lise das Configura es Vinculares consideram a pessoa real do analista como um fator importante no processo anal tico A interpreta o n o apenas da transfer ncia mas tamb m na transfer ncia e a contratransfer ncia um importante aliado para a compreens o da situa o anal tica O desenvolvimento ps quico se d na rela o e depende do analisando e do analista analista e paciente interactuam e haver a cria o de condi es de conten o de holding de empatia sendo ent o poss vel o estabelecimento de um espa o relacional com prop sito construtivo original os fen menos de transfer ncia e contra transfer ncia s o uma unidade din mica e dial ctica a contra transfer ncia uma componente com fun o na compreens o do que se passa na situa o anal tica Sara Ferro Considerando que o desenvolvimento ps quico se d na rela o se faz necess rio apresentar ao leitor as condi es de empatia r verie e v nculo Empatia Para Caper 1994 o conceito de Bion isolamento dentro de uma rela o de intimidade evid ncia o fato anal tico Segundo o autor Bion sugere que cada integrante percebe seu papel na rela o por isso isolamento e por surgir no contato entre indiv duos separados intimidade Para Nava 2005 para se ter consci ncia de si h necessidade de representa o do outro e iss
16. De que modo o objeto prim rio pode contribuir na atenua o do trauma no aparelho ps quico di a Rafaela Pazotto Verticchio Isabella Cfistina Barral Fana imi Cl nica psicanal tica com beb s institucionalizados A facilita o para a promo o da sa de mental a ao a oo a a a a a 188 Renata Rocha Dra Denise S Careta e Prof Dra Ivonise F da Motta Recordar desenhar esquecer deslocamentos e recusa em um caso de abuso sexual infantil iii RSRS RR MRE Renata Udler Cromberg Eug nio Canesin Dal Molin Isabella Silva Eoighesi Variedades cl nicas da transfer ncia em Winnicott um estudo do caso Piggle su santas po ams na did o isca OT Ricardo Telles de Deus Leopoldo Fulgencio A import ncia de um ambiente humano adaptado como aux lio no tratamento de uma crian a em acolhimento a cl nica na institui o 202 Robson Thiago Barbosa Nakagawa Dra Denise Sanchez Careta Profa Dra Ivonise Fermanides da Motta A din mica da cl nica interpreta es transferenciais e atos anal ticos 207 Rog ria Coutinho Brandani A din mica da transfer ncia em um atendimento de uma crian a autista 211 Rogerio Lerner Aspectos transferenciais na cl nica com crian as que apresentam risco psic tico 216 Silvana Rabello A din mica da transfer ncia quando a elabora o n o vem cs 27 Tatiana Inglez Mazzarella ANAIS
17. Desdobramentos demandas psicol gicas e relacionais expandindo o campo transferencial Em paralelo ao acompanhamento psicoprofil tico foram desenvolvidos no Setor atendimentos a pais e beb s crian as pequenas que apresentem alguma queixa relativa a quest es em seu desenvolvimento em geral relacionadas a sono alimenta o v nculo comunica o controle vesical e esfincteriano transtornos som ticos e ansiedades de separa o Tais atendimentos se realizam como interven es conjuntas pais beb crian as desde o momento da recep o triagem dos casos de O a 3anos e 11 meses prosseguindo por um per odo em geral breve mas se necess rio estendido A partir do sintoma da crian a facilita se a discrimina o entre aspectos subjetivos dos pais e aspectos constitutivos da identidade da crian a favorecendo se a comunica o pais crian a e a rela o intra familiar Verificando se a necessidade alguns dos casos recebidos em Triagem s o encaminhados ao Grupo de Atendimento Pais Beb s Crian as em que cuidadores e seus beb s t m oportunidade de considerar aspectos de sua rela o a partir do que se desenrola no aqui e agora da sess o grupal Atualmente o Setor de Sa de Mental sob coordena o do Pediatra Rudof Wechsler integra o trabalho psicoprofil tico com a possibilidade de se oferecer suporte interventivo terap utico em v rias modalidades t o logo se detectem preocupa es ou sinais sutis de alarme no desenvolv
18. J 1998 Escritos Jorge Zahar Editores Rio de Janeiro pg 498 119 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as E com isso afirmo meu ponto de vista j demonstrado clinicamente em minha tese de livre doc ncia de que tamb m no autismo estamos diante de um problema que se equaciona em termos de significante Ideia que n o de minha autoria que defendida por Lacan e que sustenta a primazia do significante tamb m no caso de autismo Enuncio assim com essas duas cita es o contexto te rico de onde parti neste projeto de pesquisa Importante tamb m reafirmar o entendimento que tenho de que o psicanalista n o se ocupa do autismo O autismo j pela hist ria deste termo em minha opini o uma op o feita pela psiquiatria Uma op o por tomar como objeto o corpo biol gicos O psicanalista trabalha em outro registro Ele posiciona se na estrutura do sujeito em a e ocupa se de dar a ver esse objeto que o causa sua falta seu desejo Trabalha portanto no registro de um erotismo que se encontra por defini o banido do campo da medicina e da ci ncia Assim trabalhamos com outra coisa muito diferente Trabalhamos com outra teoria Uma teoria que sup e outro ponto de vista que adoto em minha investiga o cl nica que a loucura uma passagem humana parafraseando Roland L thier Humana por ser atravessada pela palavra Uma passagem que pode ser em de
19. Sternbach Y 20Winograd pdf gt Acesso em 02 nov 2009 35 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Possibilidades de An lise em uma Institui o em Situa es de Abuso Christiane Sanches Palavras chave Institui o transfer ncia abuso e psican lise O atendimento as crian as e adolescentes v timas de viol ncia e seus familiares tem sido uma preocupa o de pesquisadores e de pol ticas p blicas com projetos governamentais e n o governamentais em virtude do impacto negativo para o desenvolvimento da crian a e adolescente Lamour 1997 considera que os mecanismos descritos por Ferenczi contribuem para a compreens o dos estudos de Summit sobre a din mica ps quica da s ndrome de adapta o da crian a v tima de abuso sexual p g 51 Refere que o momento de descoberta um trauma para a crian a A crian a aparece duplamente como v tima dos abusos sexuais e da incredulidade dos adultos A autora cita que comum por meio de uma pesquisa realizada nos Estados Unidos que as crian as chegam a negar os fatos ap s uma primeira confiss o As pesquisas retrospectivas revelaram que a crian a em geral nunca diz nada ela teme a puni o ou a incapacidade dos adultos de proteg la da viol ncia de seu agressor p 55 Seria esperado que a populariza o deste conhecimento trouxesse apenas benef cios para o desenvolvimento saud vel das crian
20. a que para manejar a rela o transferencial n s temos com efeito que tomar em n s na forma de um corpo estranho uma incorpora o da qual n s somos o paciente o a de que se trata N s somos o paciente ele diz aquilo mesmo que em Allouch ser dito como na psicose a transfer ncia do analista fato Um fato que faz desta cl nica um exerc cio profissional muito angustiante pesado Um exerc cio em que tomados nesta transfer ncia j n o somos mais n s mesmos mas como o diz Lacan n s somos o paciente o a de que se trata Fazemos um com o paciente E foi desta forma que os efeitos dessa transfer ncia se fizeram notar no ltimo projeto que coordenei em busca de um desenho poss vel para a constru o de uma institui o voltada ao atendimento psicanal tico de crian as que apresentam dist rbios graves Esse projeto TECER encerrou se de forma angustiada Os efeitos desta ang stia se fizeram amplificar em um fen meno de grupo que nos impediu de trabalhar Mas seguindo o fio de minha pr pria argumenta o serei for ada a dizer que esta pesquisa acad mica que busca o desenho da institui o que esta pesquisa n o faz de fato sentido se considerada do ponto de vista da investiga o cient fica N o existe o desenho ideal desta institui o porque cada caso diferente do outro e deve encontrar seu caminho para que ele possa se dizer E tamb m porque cada analista diferente do outro e ofere
21. as quais eram expressas pelo movimento de esfregar um p no outro chegando at a sangrar Estes movimentos eram acompanhados por choro intermitente e pelo comportamento de atirar objetos para fora do ber o Desenvolvimento Caique logo nos primeiros atendimentos comunicou a intensa ang stia de separa o diante de qualquer manifesta o de afastamento f sico da crian a desencadeava o choro e o movimento intenso de esfregar os p s Percebemos que atendido seu gesto em n o modific lo de posi o Caique demonstrava mais tranquilidade aceitando para mais perto de seu corpo alguns brinquedos dos quais se interessava 4 Segundo Careta 2011 enguadres diferenciados podem ser compreendidos como settings alternativos nos quais o m todo psicanal tico pode ser concretizado com rigor Ver Aiello Vaisberg 2004 Ser e Fazer Enquadres diferenciados na cl nica winnicottiana 5 O presente est gio foi poss vel atrav s da disciplina optativa A es Comunit rias no curso de psicologia da USP tendo como docente a Profa Dra Ivonise Fernandes da Motta do Departamento de Psicologia Cl nica da Universidade de S o Paulo 6 Nome fict cio 7 No primeiro atendimento a crian a tinha pr ximo de um ano Foram realizados cerca de vinte atendimentos 189 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A partir da intera o com os brinquedos tornou se frequente o movimento d
22. dos pais e dos profissionais em rela o aos psic logos e chefia de enfermagem como potenciais provedores de resolutividade imediata de conflitos ang stias e ansiedades dos beb s em rela o ao entorno f sico e relacional continente proporcionado pelo ambiente da UTI O trabalho realiza se a partir da Discuss o de Situa es de Trabalho vivenciadas pelos profissionais amplificadas por observa es compartilhadas do desenvolvimento infantil v ncular e de din micas de funcionamento mental no contexto da UTI Neo Natal Ao favorecer o aprender com a experi ncia de contin ncia s pr prias ansiedades e ao ampliar a compreens o de ansiedades parentais e ang stias primitivas o olhar psicanal tico veiculado atrav s do Grupo de Reflex o pretende fortalecer a consist ncia da rede de cuidados em contexto de risco e vulnerabilidade em per odo t o fundamental para o desenvolvimento de v nculos entre pais beb s e profissionais Observamos que no contexto institucional relacionado ao cuidado de beb s de alto risco tanto pais e beb s quanto profissionais envolvidos neste trabalho podem se beneficiar da contin ncia oferecida pela escuta psicanal tica Como se constituir am os pilares do olhar psicanal tico neste enquadre peculiar em suas v rias camadas de resson ncia 1 Psic loga da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do Hospital S o Paulo Especialista em Psicoterapia Breve Psicanal tica Psicoterapeuta da Inf ncia
23. e seus pais atendidos em cinco sess es de Interven o Precoce nas Rela es Inicias de Pais e Beb s Pretendemos apresentar o caso explicitar o caminho percorrido pela fam lia ao longo das interven es apontando a queixa explicita e o trajeto at compreens o da queixa latente as rela es transfer ncias e contra transferenciais que foram se construindo durante os atendimentos as trocas conscientes e inconscientes durante as sess es entre fam lia e terapeutas buscando refletir sobre o papel da transfer ncia numa modalidade de atendimento em que o terapeuta busca integrar aspectos dos pais e beb s 1 Especializanda em Psicologia da Inf ncia da UNIFESP Psic loga pela PUC SP rafaela msOig com br 2 Especializanda em Psicologia da Inf ncia da UNIFESP Psic loga pela Universidade Federal de S o Paulo ra nassif oyahoo com br rayssa y nassif gmail com 182 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as De que modo o objeto prim rio pode contribuir para a atenua o do trauma no aparelho ps quico Rafaela Pazotto Verticchio VERTICCHIO Apresentadora Isabella Cristina Barral Faria Lima LIMA Palavras chave Abuso sexual Trauma Fun es anti traum ticas Objeto prim rio Pretendemos neste trabalho refletir sobre o manejo cl nico a partir das teoriza es a respeito das fun es anti traum ticas do objeto prim rio articulando as com o concei
24. em que h um lado que doa mais enquanto outro recebe Dirigindo me a M apontei sua necessidade de cuidar da m e que parecia t o fragilizada e precisando do seu consolo Em alguns momentos a sua necessidade t o grande da presen a e da aten o da m e poderiam ser a sua forma de mostrar que ela n o estava sozinha que ela estava l para olhar por ela M prestou aten o muito expressiva Com o decorrer das sess es M parece se mostrar mais alegre e ativa T continua a chama la para si quando se afasta e estimula brincadeiras de cuidado materno com bonecas M medida que vai crescendo e ganhando autonomia quer vencer desafios cada vez maiores como ir mais longe e subir em lugares mais altos T pega o telefone de brinquedo ligando para o marido e estimulando M a brincar de falar com ele poss vel sentir sua necessidade de suporte emocional e aponto para M delicadamente como sua m e gostaria que o papai estivesse l para cuidar delas A fala dirigida filha mas destinada a ambas T demonstra estar aproveitando e contando com o espa o de atendimento Ainda deposita muita esperan a em voltar para sua cidade mas consegue contar mais com os suportes que tem sua disposi o 74 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Nas sess es demonstra sentir se amparada em sua fragilidade que pode ter vaz o e contin ncia No contato com a
25. na cl nica e na pesquisa de TID ju macielsoaresQgmail com 114 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as teoria da mente Em outras palavras o sujeito autista teria dificuldade em atribuir estados mentais ao outro diferentes dos seus ponto central da sua dificuldade nas rela es intersubjetivas Isso levaria crian as com autismo a interpretar motiva es e a es dos outros como semelhantes s suas sendo que diante das evid ncias de diferen as a crian a autista desistiria do contato Aitken e Trevarthen 2003 Gostar amos de trazer parar discuss o uma interven o l dica realizada junto a uma crian a autista de 6 anos em uma sala preparada dentro da sua escola separada de sua turma Chamaremos a crian a em quest o de Christian A interven o foi realizada por uma equipe de 8 pessoas composta em sua maioria por n o especialistas outras especialidades que a rea da psicologia A equipe foi agrupada em 4 duplas que intervinham na frequ ncia de 90 minutos por semana Havia assim interven o junto crian a em duas manh s por semana O resto dos hor rios Christian acompanhava a sua turma de pr escola A equipe de interventores participava de uma supervis o psicanal tica semanal com o psicanalista Laurent Danon Boileau Em paralelo Christian fazia sess es de psicoterapia psicanal tica uma vez por semana em uma institui o de sa de mental o C
26. ncias Bibliogr ficas ABREU I G 2007 Origens Autisticas do Ps quico tramas de sensa es e pulsa es Disserta o de Mestrado do Programa de Psicologia Cl nica e Cultura Instituto de Psicologia Universidade de Bras lia ABREU I G 2012 Ecos de si o corpo do analista como sem ntica do Sens vel Disserta o de Mestrado do Programa de Psicologia Cl nica e Cultura Instituto de Psicologia Universidade de Bras lia BENJAMIM M S 2007 Entre Rodopios e Balbucios reflex es psicanal ticas sobre o r tmo na constitui o ps quica Disserta o de Mestrado do Programa de Psicologia Cl nica e Cultura Instituto de Psicologia Universidade de Bras lia COELHO C FM 2007 Convivendo com Miguel e M nica uma proposta de Acompanhamento Terap utico Disserta o de Mestrado do Programa de Psicologia Cl nica e Cultura Instituto de Psicologia Universidade de Bras lia 152 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as JAN ARIO L M 2008 A Transfer ncia na Cl nica Psicanal tica com Crian as em Sofrimento Psiquico Grave Disserta o de Mestrado do Programa de Psicologia Cl nica e Cultura Instituo de Psicologia Universidade de Bras lia JAN ARIO L M 2012 Transfer ncia e espa o potencial a rela o anal tica com crian as em estados aut sticos e psic ticos Disserta o de Mestrado do Programa de Psicologia Cl nica e Cultura Instituto de Psi
27. o fragmento de uma an lise 1986a vieram a p blico na condi o de livros p stumos sendo o primeiro deles ao que parece o nico relato completo de um tratamento psicanal tico legado por Winnicott Gabrielle carinhosamente apelidada de Piggle por seus pais era poca em que estes solicitaram a ajuda de Winnicott uma menina de dois anos e quatro meses de idade e na ocasi o em que o tratamento foi encerrado uma menina de cinco anos e dois meses de idade Em termos cronol gicos o tratamento se estendeu de janeiro de 1964 a outubro de 1966 isto ao longo de aproximadamente dois anos e oito meses Em termos do contexto biogr fico do autor poss vel compreender a partir do trabalho de Abram 2008 que o tratamento de Gabrielle ocorreu em um momento bastante significativo Em 1963 ap s 40 anos de servi o escreve a autora Winnicott se aposenta de seu cargo como pediatra especialista consultant paediatrician no Hospital Paddington Green p 1206 Abram 2008 declara que Piggle foi provavelmente o ltimo paciente crian a que ele Winnicott tomou em tratamento p 1206 No que se refere ao processo de evolu o do pensamento de Winnicott tal como o prop e a mesma autora 1 Psicanalista Doutorando em Psicologia PUC Campinas Mestre em Psicologia Cl nica PUC SP P s Graduado em Teoria Psicanal tica COGEAE PUC SP Graduado em Psicologia MACKENZIE Supervisor Cl nico Profes
28. o sua reprodu o dificilmente seria fiel Como no desenho no sonho na propaganda e tamb m na transfer ncia a representa o alterada por omiss es fus es e pelo que aos quatro anos pode uma menina de saia rosa plissada aceitar ou recusar de suas experi ncias 195 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Refer ncias Bibliogr ficas FERENCZI S 1932 1933 Confusion of tongues between adults and the child The language of tenderness and of passion In Final Contributions to the Problems and Methods of Psycho Analysis London Karnac 2002 p 156 167 FREUD S 1912 A din mica da transfer ncia In Obras completas volume 10 trad P C de Souza S o Paulo Companhia das Letras 2010 p 133 146 FREUD S 1925 A nega o In Obras completas volume 16 trad P C de Souza S o Paulo Companhia das Letras 2011 p 275 282 FREUD S 1925b Algumas consequ ncias ps quicas da diferen a anat mica entre os sexos In Obras completas volume 16 trad P C de Souza S o Paulo Companhia das Letras 2011 p 283 299 KING D The commissar vanishes The falsification of photographs and art in Stalin s Russia New York Metropolitan Books 1997 196 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Variedades cl nicas da transfer ncia em Winnicott um estudo a partir do caso Piggle
29. o da sua identidade com conflitos dores sentimentos e dificuldades para entender a troca de ternura por sedu o Firenczi 1933 p 119 aponta que os pais e os adultos deveriam reconhecer por tr s do amor de transfer ncia submiss o ou adora o o desejo nost lgico de liberta o desse amor opressivo se ajudarmos a crian a a abandonar essa identifica o e a defender se dessa transfer ncia tir nica pode se dizer que fomos bem sucedidos em promover o acesso da personalidade a um n vel mais elevado Compreende se que h a necessidade de um espa o de confian a que possibilite a representa o simb lica sem a captura la pela submiss o tir nica da crian a pelo analista Clara estava diante do sentimento de trai o da av o apelo da genitora a experi ncia de uma situa o abusiva e o medo de perder o amor materno Nas sess es ela n o conseguia brincar com os materiais da caixa n o se observava gestos espont neos e criatividade O seu interesse era em conversar com a analista Pod amos observar a dificuldade pelo mundo infantil afinal a sua busca por ternura foi amea ada pela confus o da sedu o Em uma das suas conversas contou que a sua amiga tinha uma boneca e ela gostava de ver a sua amiga brincando A sua inf ncia parece que n o podia ter lugar pois viver a fantasia possivelmente era assustador diante da troca de pap is do pai por um toque sexual A amiga podia brincar ela apenas falar sobre a
30. o para que esse possa oferecer holding ao paciente de forma a favorecer as experi ncias de continuidade de exist ncia em contraposi o as falhas ambientais vividas como invas es e rupturas na continuidade do ser Careta 2011 cita em sua pesquisa que ao escutar as cuidadoras de uma institui o de acolhimento nota que al m da possibilidade de colher dados sobre determinada crian a era poss vel se deparar com o pr prio universo interior dessas mulheres composto por acentuadas ang stias de abandono e separa o denotando a necessidade de um espa o de escuta Em reuni o com as cuidadoras pautada pela escuta cl nica nos deparamos com diversas ang stias mas tamb m com a possibilidade de identifica o delas com as necessidades de R mulo Voluntariamente Cibele muito identificada com a maternagem se prop s a ser a figura de refer ncia para acolher o menino nos momentos em que ele n o conseguisse conter suas ang stias bem como auxilia lo di riamente em suas necessidades Fairbairn 1952 1980 lembra bem a import ncia de um objeto est vel no desenvolvimento ps quico ao propor que a libido est a servi o da busca de objeto e n o apenas de satisfa o Outra interven o realizada no ambiente com intuito de adapta lo as necessidades do menino foi conduzida junto a Assist nte Social uma mulher que demonstrou se bastante identificada com o menino e que possui em sua hist ria a ado o de um filho A partir da nec
31. o v nculo a intercomunica o de duas mentes sendo basicamente emocional O fundamental n o s o os objetos mas o que transcorre entre as duas mentes um v nculo compreensivo emocional entre os sentimentos e emo es do beb e a resposta materna de compreend los decodific los e agir melhor ou pior de forma adequada ou n o Esta rela o primeira entre a mente da mam e e do beb o prototipo do v nculo do conhecimento TABAK DE BIANCHEDI 31 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Assim o v nculo do conhecimento K est relacionado ao R verie Tabak de Bianchedi tamb m evid ncia a import ncia do v nculo emocional no presente algo que se transforma e permanentemente novo Em cada mudan a h sempre uma nova cria o Narcisismo do terapeuta A capacidade de conter a pr pria ang stia permite o v nculo K conhecimento em que poss vel pensar e tolerar a d vida Se o analista n o estiver aberto ao inesperado e desconhecido pode destruir a possibilidade de conhecimento promovendo a culpa e a superioridade moral da ignor ncia sentindo como um ataque ao seu narcisismo eventual funcionamento supereg ico do analista quando nele n o h a capacidade de conter as suas pr prias ang stias que decorrem do seu n o saber aquilo que se est passando na situa o anal tica havendo ent o fal ncia de suas capacidades terap
32. parte da moldura anal tica Agora Marco quem fica desconfort vel Passa longos per odos de sess es no banheiro tamb m fora da sala de an lise s vezes sai do banheiro com a cal a abaixada para que eu a levante evidente que lhe incomoda a atitude mais madura de Tiago que j consegue brincar na aus ncia e na presen a do irm o quando este est no banheiro ou na sala de an lise Assim Marco deixa de ser o centro absoluto 85 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Nesse enquadre flexibilizado em que o paciente s o dois demonstrou se poss vel trabalhar a rela o entre os irm os Tiago foi ocupando a posi o de irm o mais velho e Marco a de mais novo H trabalho pela frente mas Tiago est menos assustado menos atravessado pelo fantasma de ser o problema da fam lia Inclusive aconteceu o que parecia imposs vel Tiago teve notas excelentes no col gio Marco est sofrendo um pouco com essa reestrutura o da din mica deles pois gostava de ocupar a posi o de quem se sobressa a em rela o ao irm o mais velho O trabalho em cl nica extensa que permite altera es t cnicas sempre que a favor do paciente favorece o exerc cio da fun o terap utica do m todo psicanal tico quando a cl nica padr o poderia emperr lo Refer ncias Bibliogr ficas Freud S 2003 An lisis de la fobia de un ni o de cinco a os el peque o Hans In
33. quando o setting n o corresponde aos tradicionais crit rios psicanal ticos H tr s anos pudemos comemorar a publica o do texto A an lise da fobia de um menino de 5 anos 1905 no Col quio 100 anos de Psican lise com Crian as uma vez que ele abriu as portas para a cl nica psicanal tica com crian as Hoje podemos festejar o centen rio de um conceito psicanal tico de um fen meno cl nico que atravessa o s culo carregando a sua hist ria promovendo o manejo na cl nica psicanal tica e como veremos no Col quio seja com beb s crian as e para al m do setting formal das quatro paredes por considerarmos a transfer ncia t o fundamental pr tica cl nica com a qual nos ocupamos que propomos neste Col quio um espa o e tempo de encontro com colegas que desejam debater construir e refletir conjuntamente ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as SUM RIO CLIQUE NO T TULO PARA LER O TRABALHO PARA VOLTAR AO SUM RIO APERTE TAB Demandas para o olhar anal tico junto a grupo de profissionais em UTI neonatal transfer ncias m ltiplas RD RN END PD i Alexandra Huebner Giorge Veridiana Chimirri Mari ngela Mendes d Almeida Notas sobre a transfer ncia no contexto de pesquisa com Indicadores Cl nicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil IRDI 13 Angela Flexa Di Paolo Rog rio Lerner Ana Silvia de Morais Andre
34. s n o entram juntos ent o Tiago n o aceita nem mais consegue olhar para mim Fica no andar de baixo enfezado Ao mesmo tempo Marco concede gracioso e entra rapidamente na sala de an lise A bab apenas observa boquiaberta poss vel que Tiago tenha reencenado nesse momento de forma violenta e ambivalente a maneira como vivenciou seu destronamento pelo irm o mais novo que nasceu dois anos depois dele Estabelecido um primeiro v nculo comigo por um lado exige que o irm o mais novo o acompanhe no processo anal tico questionando seu lugar comigo enquanto o irm o o esperava na sala de espera Grita e n o aceita Por outro lado sofrida a perspectiva de dividir seu espa o comigo com o irm o e ele fica emburrado Parece ser lhe imposs vel romper de maneira radical com o padr o de estar sempre acompanhado de Marco sempre sua sombra e vendo o sobressair Ao mesmo tempo a necessidade de estar acompanhado de Marco lhe gera ang stia e dif cil aceitar o irm o mais novo no espa o que come a a conquistar Ou seja desabituado a ter um espa o exclusivamente para si Tiago chama o irm o para dentro do enquadre anal tico excluindo se no sentido de repetir o processo de ser lhe imposs vel desvencilhar se da posi o de estar sombra do irm o Lembro me da preocupa o de Clara com Tiago repetir Tiago repete n o de ano escolar mas o pavor que sente diante da aus ncia de Marco e ao mesmo tempo o desejo de conquistar
35. s tamb m podermos confiar que a gente que as coisas passam tamb m n que a gente pode viver um tumulto com eles e que n o necessariamente aquilo eterno vai continuar quest o de conter e pode ser que daqui a pouco passe n a gente fica lutando contra n Fortalecendo a fun o parental a capacidade de contin ncia de pais e crian as a no o de processo no desenvolvimento e a toler ncia a aspectos emocionais Conclus o Destacam se no Grupo temas em torno do eixo principal de oscila o entre movimentos de depend ncia das crian as junto suas m es e iniciativas de crescimento e gradativa possibilidade de relativa autonomia e independ ncia acompanhada Evidencia se um processo de crescente subjetiva o e discrimina o entre movimentos internos das m es e reconhecimento dos aspectos ps quicos pr prios tamb m nas crian as Fortalecem se as rela es iniciais com os pais como favorecedora do desenvolvimento social mais amplo da crian a Conversamos sobre a agita o de Reinaldo o grude de Gabriel o normal e o anormal em Ana Laura a rec m adquirida possibilidade de dormir descansar de Miguel a necessidade de express o de intensidade emocional das crian as o emocional interferindo no f sico a necessidade de contin ncia interna e relacional ao lado da contin ncia pelos procedimentos regras limites que em geral acompanha a ansiedade parental de tentar dar conta das ansiedades deles p
36. sempre o viajante e o anfitri o O viajante para seguir sua viagem precisa confiar que encontrar o anfitri o Mas o anfitri o quem mais se beneficia enquanto oferece abrigo recebe a esperan a e a aventura espiritual O anfitri o tamb m recebe recursos que incrementam sua vida Ao receber o outro precisa sair do seu cotidiano e encontrar valores dentro de si ainda desconhecidos Ser anfitri o construir caminho ir por si mesmo e para si mesmo Lech Lech z Estar verdadeiramente com o outro n o buscar a satisfa o das pr prias expectativas mas s necessidades do outro Bonder diz Ser anfitri o n o controlar o outro mas sim doar E a doa o tamb m n o aquilo que voc quer doar Essa categoria daquilo que voc quer ofertar n o se encaixa na grandeza da generosidade mas numa mera extens o de suas vontades E acrescenta que ofertar ao outro o que bom na pr pria concep o n o generosidade mas com rcio ser generoso n o entregar o que voc quer mas o que o outro quer BONDER 2008 p 127 1 Psic loga Cl nica com especializa o em Psicologia da Inf ncia pela UNIFESP e em Coordena o de Grupo pelo NESME Psicoterapeuta de crian a e adultos no consult rio Colabora com projetos ligados a Educa o Democr tica Presidente da diretoria do Nesme N cleo de Estudos em Sa de Mental e da Psican lise das Configura es Vinculares lamQplugnet com br 29 ANAI
37. sua m e que a abandonou e nunca voltou para dizer se estava viva e porque fez o que fez Nice jamais esquecer esse acontecimento que ter que ser assimilado ao longo de toda sua an lise at que possa ser re significado Assim nos reportamos a Luto e melancolia porque neste caso como na melancolia nos deparamos com uma esp cie de luto patol gico ou com um luto que n o consegue ser elaborado Neste artigo de 1917 Freud diz que tanto a melancolia quanto o afeto normal do luto apresentam uma perda da capacidade de adotar um novo objeto de amor o que significaria substitu lo e um afastamento de toda e qualquer atividade que n o esteja ligada a pensamentos sobre o objeto amado e perdido Entretanto a diferen a que Freud constata entre estes dois quadros que no luto essa impossibilidade de substituir o objeto perdido paulatinamente superada e apenas a melancolia implica numa perda do amor pr prio que pode encontrar express o em auto recrimina es e numa expectativa delirante de puni o Entendemos que no caso de Nice aparecem auto recrimina es e uma expectativa de puni o atrav s das figuras da bruxa e do gavi o e tamb m de uma professora exigente e cruel que Nice dramatiza numa sess o a qual amea a sua aluna encenada pela analista dizendo lhe que escreveria bilhetes dirigidos sua m e para critic la a fim de que a menina recebesse algum tipo de puni o Al m disto numa sess o Nice vence a analista em d
38. todos os bonecos morrerem pergunto o que morrer 2 ao que ele respondeu Morrer nunca vai viver Entendo que suas dificuldades n o s o da ordem do sintoma no sentido psicanal tico ou seja como forma o do inconsciente resultante do conflito entre os sistemas ps quicos Na minha compreens o utilizando a categoria proposta por Bleichmar entendo que Igor apresenta transtornos caracterizados por falhas na instaura o do recalque origin rio e consequentemente na diferencia o dos sistemas ps quicos compondo um modo de constitui o predomin ncia dos processos prim rios com fracassos na fun o de simboliza o Com essa hip tese norteadora conduzo os atendimentos buscando propiciar interven es potencialmente capazes de terminar de fundar a t pica e de constituir um sujeito ps quico pr requisitos necess rios para o desenvolvimento de um trabalho anal tico baseado em interpreta es transferenciais E qual seria o m todo clinico quando esses pr requisitos n o est o operando O texto de Freud A Din mica da Transfer ncia n o ser suficiente para suprir as demandas t cnicas para a condu o desses atendimentos cl nicos nos seus desenvolvimentos posteriores que encontrei 208 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as amplia o das propostas de interven es cl nicas al m da interpreta o transferencial nos momentos de
39. uma perturba o no mbito da identidade da menina No dizer da m e ela Piggle n o era ela mesma 1977 p 13 Winnicott escreve ap s a nica entrevista que realizou com a m e da paciente Na verdade ela se recusava a ser ela mesma e dizia Eu sou a mam e Eu sou o beb Idem Ao mesmo tempo os pais relatam que em alguns momentos Piggle parecia falar com uma voz que n o era a sua Aqui portanto se manifestava em Gabrielle algo como uma perda de autenticidade pessoal Por outro lado de acordo com os pais o sono da menina era constantemente perturbado por pesadelos assustadores Em seus sonhos Piggle era perseguida sobretudo pela mam e preta black mummy e pelo babacar babacar seres que ela temia igualmente durante o dia Antes do nascimento da irm Gabrielle costumava brincar o tempo todo mas ap s a grande mudan a Idem diz a m e ela tende a deitar em seu ber o e a sugar o seu polegar sem brincar Op cit p 14 e al m disto facilmente se torna entediada e depressiva Op cit p 6 V rias outras manifesta es cl nicas por certo poderiam vir a enriquecer esta lista Acreditamos contudo que as que foram referidas bastam para descortinar diante do leitor tra os importantes do contexto com o qual no princ pio da an lise de Piggle Winnicott se deparou Por outro lado preciso dizer que o psicanalista n o parece ter inclu do em sua avalia
40. uticas e pior ainda a possibilidade de comprometer gravemente as capacidades mentais do paciente nele mantendo um superego de caracter sticas patol gicas assistindo se por vezes a uma invers o do fluxo das identifica es projectivas devastadora FERRO 2003 Quando a d vida n o tolerada e o analista deseja responder a sua demanda de saber perde a possibilidade de pensar e pode haver um ataque ao v nculo com os analisandos e o grupo Material Cl nico Utilizarei recortes cl nicos de duas sess es de grupos distintos realizados no ambulat rio do Setor de Sa de Mental da Pediatria da UNIFESP os nomes utilizados s o fict cios Ambos os recortes revelam meu distanciamento do que estava acontecendo na tentativa de responder a minha demanda narc sica meu desejo de entender e me proteger do desconhecido No primeiro recorte mostro a minha viv ncia em situa o de turbul ncia em que o grupo teve que se proteger de meu ataque ao v nculo de conhecimento e cuidar de mim Como disse Sara Ferro houve uma invers o do fluxo das identifica es projetivas No segundo recorte na tentativa de entender o que se passava me distanciei como pessoa inteira por m pudemos analisandos e eu conter a frustra o e retomar a possibilidade de pensar Eu pude voltar a minha fun o de analista Recorte cl nico 1 O grupo composto por 7 crian as entre 7 e 11 anos Nesse dia estavam presentes 4 crian as Batem na porta e Ariel l
41. vel suic dio alguns especulavam hip tese jamais aceita por seu pai para quem seu irm o cristalizou se em uma imagem irretoc vel Aquele sim era super inteligente e teria sido o herdeiro do imp rio do pai n o fosse sua tr gica morte precoce Voc nunca conheceu este meio irm o mas chorou sua morte enlutou se junto com seu pai e enredou se ao morto idealizado idealizando o tamb m e tornando se o avesso dele uma vers o capenga dele um resto eternamente insuficiente aos olhos de seu pai Preso a uma imagem de perfei o do filho morto seu pai s podia olhar para voc com 1 Psicanalista psic loga pela UFRGS especialista em psican lise pela UFRGS mestre em Estudos Psicanal ticos pela Tavistock Clinic de Londres doutora em Psicologia Cl nica pela PUC SP professora da UNIP e do curso de forma o em psican lise do CEP membro da APPOA 56 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as desgosto como o lembrete concreto e desagrad vel de que o filho ideal n o estava mais aqui Assim nem a sua intelig ncia extraordin ria percebida por todos que tinham alguma conviv ncia com voc e evidenciada nas sess es de an lise podia ser reconhecida pelo seu pai Mas voc a mostrou com clareza a mim construindo verdadeiras instala es em sess o Civiliza es antigas monumentos colossais pal cios sofisticados personagens bem marcados enredos rebuscados nos quais i
42. 92 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Crian a hospitalizada transfer ncia s Helena Julio Rizzi apresentadora Vanessa Keiko Rossaka Palavras chave Psican lise Transfer ncia Crian a Hospital Os questionamentos que pautam esse trabalho surgiram no decorrer do programa de aprimoramento profissional em Psicologia Hospitalar do Instituto da Crian a ICr do Hospital das Cl nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de S o Paulo que cursamos em 2010 O aprimoramento um programa de p s gradua o da Secretaria Estadual de Sa de do Estado de S o Paulo em que se oferece treinamento em servi o em institui es de sa de p blica sob a orienta o e supervis o de profissionais especializados que integrem ou apoiem a presta o destes servi os Funciona de modo geral como uma resid ncia m dica mas destina se a outros profissionais da rea da sa de No ICr o atendimento s crian as e adolescentes s o realizados de forma multidisciplinar em que diversos profissionais s o chamados a atenderem seja em ambulat rio consult rio ou enfermaria sendo divididos por especialidades m dicas Os atendimentos psicol gicos ambulatoriais s o realizados por encaminhamento das equipes multidisciplinares raras vezes por solicita o do acompanhante e mais raramente ainda pelo pedido do pr prio paciente crian a ou adolescente J nas enfermari
43. A Transfer ncia na cl nica com crian as Psican lise e interdisciplinaridade por um saber que falta Cristiani Minga Beltran Fanti Palavras chave Interdisciplinaridade Psican lise com crian as Transtornos do desenvolvimento Transfer ncia crescente o n mero de especialidades que se ocupam do desenvolvimento infantil psicomotricidade fonoaudiologia neurologia psicologia psican lise entre tantas outras especialidades Jerusalinsky 1990 coloca que n o um mero acaso que o trabalho interdisciplinar em cl nica tenha come ado com a inf ncia especialmente quando o desenvolvimento est comprometido pois nestes casos s o convocadas muitas e diferentes especialidades para dar conta de um nico sujeito havendo o risco de que estes v rios discursos em que a crian a e a fam lia est o submetidas produzam uma obstru o na apropria o das fun es parentais e fragmenta o do sujeito Conforme aponta Pinho 2003 a nica possibilidade de que a interven o nessas diversas reas n o tenha um car ter iatrog nico a articula o interdisciplinar e transdisciplinar entre as mesmas em um permanente di logo entre os diferentes campos de saber Assim remeto a um fragmento da cl nica para pensar a pr tica psicanal tica e interdisciplinar Trata se de um caso de um menino de 6 anos que teve seu nome alterado para resguardar a identifica o A m e de F bio procura pela analista com muita ans
44. AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Embalando o sono contendo as transfer ncias das rela es iniciais pais beb Maria Cec lia Pereira da Silva Palavras chave Dist rbios De Sono Rela o Pais Beb s Contin ncia Reverie O que impede que um beb relaxe e descanse entre as mamadas ou durante a noite Por que n o se consola com as cantigas ou mesmo a presen a dos pais Seria reflexo da combina o de aspectos emocionais presentes na rela o pais beb Seria fruto da proje o de aspectos inconscientes dos pais n o contidos ou das caracter sticas do beb A dificuldade de dormir a queixa mais comum na Cl nica O a 3 Procuro responder a essas quest es a partir de tr s situa es cl nicas em que destaco a fun o de contin ncia do analista como uma forma atual de lidar com todas as transfer ncias projetadas na sala de an lise Mostro a import ncia da fun o de reverie do analista fun o esta que engloba a elabora o dos sentimentos contratratransferencias e os processos intersubjetivos despertados no aqui e agora da sess o juntamente com os conte dos projetados sem significado Enfatizo como a fun o de contin ncia e a fun o de reverie Bion 1962 do analista possibilitam novas redes de sentidos para as dificuldades presentes na rela o pais beb ali no momento da interven o favorecendo o desenvolvimento dos v nculos iniciais e o exerc cio da parentalidade Os pais de Mar
45. Ao mesmo tempo em que sustentamos a esperan a pela cura conversando com as crian as e com suas fam lias sobre suas dificuldades oferecendo informa es sobre o desenvolvimento humano realizando devolutivas que veiculam interpreta es sobre o sentido dos sintomas apresentados e que abram novas possibilidades de entendimento sobre suas formas de viver Fundamentalmente nos guiamos para oferecer uma resposta pergunta do paciente fazendo com que o psicodiagn stico seja um momento significativo de encontro com o outro terapeuta e de confian a de que a ajuda poss vel Sobre essa quest o Safra 2005 diz que do mesmo modo uma boa consulta n o s leva a crian a a um aumento da confian a da possibilidade de ser ajudada mas tamb m promove um enriquecimento do sentido de si mesma pela reintegra o dos aspectos que estavam dissociados de seu self p 45 Tecnicamente utilizamos como refer ncia a experi ncia do jogo da esp tula descrita por Winnicott 1941 como modelo norteador para todo o processo do psicodiagn stico procurando ajudar o paciente e suas fam lias a terem uma experi ncia completa e integrada podendo se despedir do psic logo que conduziu o psicodiagn stico e ansiando por um novo encontro tamb m significativo quando for o caso de um encaminhamento Ou seja lemos o processo como tendo um momento inicial de hesita o no qual o paciente explora o territ rio terap utico e busca estruturar um campo
46. Aos poucos essa m e dever desenvolver o asco e a repugn ncia pelas fezes do filho que tanto j a encantou e tanto a fez gozar O adulto desempenha uma dupla fun o diante do corpo infantil produzir tanto inscri es sexualizantes quanto inibi es repressivas uma vez que se encontra atravessado pelo recalcamento de sua pr pria sexualidade infantil A m e que implanta a puls o com seus cuidados erotizando o nus assim que a crian a cresce dever exercer um movimento de contra investimento promovendo a instala o do recalque no filho atrav s da demanda do controle dos esf ncteres Do lado da crian a as fezes primitivamente investidas de modo auto er tico s o presenteadas por amor ao outro demandante A crian a renuncia ao prazer auto er tico uretral e anal por amor ao outro ou melhor por uma ascens o narcisista As crian as que acedem ao controle de seus esf ncteres disponibilizam seu aparelho ps quico para a sublima o para novos modos de identifica o circula o e interc mbio com o objeto Enfim Paulo uma crian a evidentemente abusada sexualmente pelas m os e pelos fantasmas dessas mulheres Claramente se configura uma utiliza o perversa por parte desses adultos do corpo dessa crian a quase um adolescente Se h demanda formulada pelos adultos a de que Paulo continue se oferecendo como objeto de gozo para elas Pergunto me se o que o deixava manco com uma perna comprida de um adul
47. DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Demandas para o olhar anal tico junto a grupo de profissionais em uti neonatal transfer ncias m ltiplas Alexandra Huebner Giorge Apres Veridiana Chimirri Mari ngela Mendes de Almeida UNIVERSIDADE FEDERAL DE S O PAULO HOSPITAL S O PAULO UNIFESP Palavras chave Escuta psicanal tica no hospital Grupo de Reflex o para profissionais de UTI neonatal Redes de contin ncia Transfer ncias m ltiplas Introdu o Relatamos neste artigo a proposta de um Grupo de Reflex o semanal com profissionais da UTI Neonatal do Hospital S o Paulo UNIFESP refer ncia para gesta es e beb s de risco realizado por duas Psic logas e uma Enfermeira Enfatiza se a constru o de um espa o de contin ncia para preocupa es vivenciadas no cotidiano da equipe de enfermagem m dicos e residentes fonoaudi logos e fisioterapeutas no contato com os beb s e seus pais marcado por intensa vulnerabilidade frente a ang stias pela constante imin ncia de morte e malforma o dos beb s Pretende se que esta experi ncia possa gerar maior capacidade de contin ncia e consci ncia das transfer ncias m ltiplas envolvidas no processo de cuidado s fam lias Observam se in meras demandas dos pais em rela o aos profissionais de assist ncia neonatal e institui o UTI de alta complexidade em hospital universit rio refer ncia nacional
48. Joana O que psicologia pr natal S o Paulo casa do psic logo 1997 WINNICOTT D W A observa o de beb s numa situa o padronizada 1941 In Da pediatria psican lise Pp 112 132 Rio de Janeiro Imago 2000 WINNICOTT D W Objetos transicionais e fen menos transicionais 1951 In Da pediatria psican lise Pp 316 331 Rio de Janeiro Imago 2000 76 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Entre o tempo e o outro o reconhecimento da experi ncia nas franjas da transfer ncia Eug nio Canesin Dal Molin Palavras chave Connstitui o do psiquismo Intersubjetividade Trauma Reconhecimento Witold Gombrowicz escritor polon s que morou grande parte da vida exilado na Argentina encontrou uma maneira interessante de dizer o que eu gostaria de dizer lhes ao come ar minha fala Escreve ele Mas como contar o que quer que seja a n o ser ex post Ser que nada poder ser realmente dito apresentado em seu estado an nimo que ningu m jamais conseguir expressar o murm rio do momento que nasce Basta olhar em volta e j diante de nossos olhos surge a ordem e a forma Que importa Que seja assim 2007 p 32 Ele referia se dificuldade de contar uma hist ria respeitando o caos que reina no in cio de cada evento Mais claramente suas indaga es dizem respeito ao fato de que quando me ponho a contar algo a falar de algo
49. Observaram que podem criar a pr pria hist ria e se livrar de mandatos transgeracionais que n o precisam se perpetuar Nascia um casal criativo Maria Clara acordava noite para lembrar sua m e que ela ainda n o tinha ido embora acalmando a diante de suas ang stias de separa o e chorava para lembrar ao seu pai que ela n o estava morta tranq ilizando o diante de seus medos aterrorizadores E tamb m poder amos dizer que Maria Clara j estava identificada com as ang stias e os medos aterrorizadores de seus pais e com tudo isso n o podia dormir Esta interven o possibilitou que os fen menos transgeracionais fossem falados conhecidos e reconhecidos como tais e parece que cada coisa foi para o seu devido lugar criou se um ber o afetivo para Maria Clara e cada membro da fam lia p de ocupar seu lugar ps quico assumir suas fun es materna paterna e fraterna Silva 2002 141 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Caso Carmem Durante os 5 encontros que tivemos com a fam lia de Carmem pudemos compreender um pouco de sua hist ria Os pais casaram se jovens e sentiam se um pouco sobrecarregados com as demandas de uma vida familiar Enquanto narravam sua hist ria observ vamos como Carmem era uma beb com uma enorme compet ncia motora movimentando se pelo tapetinho da sala e segurando os brinquedos Ao assinalarmos essas compet ncias permiti
50. PUC SP Professora da Faculdade de Ci ncias Humanas e da Sa de PUC SP e membro da Associa o Universit ria de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental Coordena o aprimoramento na rea do autismo e psicose e P s Gradua o Lato Sensu em Teoria Psicanal tica PUC SP silvanarabbwhotmail com 216 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A din mica da transfer ncia quando a elabora o n o vem Tatiana Inglez Mazzarella Palavras chave Repeti o Trauma Transfer ncia Elabora o Aqui horr vel eu t sozinho na casa horr vel T sujo n o tem ningu m N o quero fica aqui T sozinho qu sa daqui horr vel horr vel Assim interrompeu se uma brincadeira que vinha sendo constru da por sess es a fio No enredo um bonequinho era amea ado batido abandonado a pr pria sorte enquanto Bruno mostrava sadicamente desfrutar daquela cena Mas desta vez a brincadeira n o pode continuar pois o que o trouxe an lise chegara perto demais Bruno que recentemente passou por uma ado o tardia encontra dificuldades na escola pois reiteradamente agride seus colegas muito embora tamb m estabele a com eles parcerias que lhe s o caras Atua d a ver a irrup o de uma viol ncia de um excesso sem palavras Sou tomada de surpresa pelo o que estamos vivendo ali na sess o aparenta se a um pesadelo ou a um del rio Certo que Bruno me mostra
51. Porto Ferreira Embalando o sono Contendo as transfer ncias das rela es iniciais pais beb 139 Maria Cec lia Pereira da Silva A Metodologia IRDI uma interven o com educadores de creche a partir da psican lise 145 Maria Eug nia Pesaro e Maria Cristina Machado Kupfer ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Quest es sobre a transfer ncia na cl nica de crian as com gagueira 146 Maria In s Tassinari A imita o no estabelecimento da rela o transferencial com crian as autistas 149 Maria Izabel Tafuri A cl nica com crian as autistas responde sobre suas causas cc 154 Mira Wajntal A psican lise e a transfer ncia a a ao ao o so oo ao ae oe oo o oe ie e e 159 Monica Nezan A transfer ncia em diferentes modelos de interven o precoce em comunidades de baixa renda cics V65 Nadia Regina Prando A constru o da hist ria inicial de vida e sua import ncia para a crian a em acolhimento 171 Pammela Makarowits de Mattos Dra Denise Sanchez Careta Profa Dra Ivonise Fernandes da Motta O estado de desamparo em crian as v timas de abuso sexual e suas implica es na contratransfer ncia cics NT Rafaela Cristina Bittencourt Garcia Interven o nas rela es iniciais e a transfer ncia no atendimento cl nico a pais e beb s 182 Rafaela Moura De Souza Rayssa Yussif Abou Nassif
52. Psicoterapia Psicanal tica IPUSP Mestre em Psicologia Cl nica PUC SP Supervisora de Psicodiagn stico e Psicoterapia Psicanal tica UNIP 2 Psic loga graduada IPUSP Especialista em Psicologia Infantil UNIFESP Mestre em Psicologia Cl nica PUC SP Supervi sora de Psicodiagn stico e Grupos e Comunidades UNIP Supervisora cl nica no ComTato Instituto Fazendo Hist ria 88 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Consideramos importante registrar que na sua origem o psicodiagn stico interventivo proposto por um grupo espec fico de professores do curso de Psicologia da UNIP tinha embasamento fenomel gico existencial No entanto com o tempo muitos supervisores de forma o psicanal tica assumiram a disciplina encontro que tem se mostrado poss vel porque os supervisores de orienta o psicanal tica podem aderir estrutura do processo avalia o psicol gica em grupo com uma s rie de devolutivas parciais nas quais realizam se interven es tendo a refer ncia do psicodiagn stico compreensivo proposto por Trinca 1984 Justamente por esses encontros que nos pareceu t o relevante refletir sobre a transfer ncia no psicodiagn stico interventivo pois na pr tica deste modelo n o bastaria apenas capturar o jogo transfer ncial do paciente como um dado relevante para compor a caracteriza o psicol gica do paciente uma vez que vive se a transfe
53. Refer ncias Bibliogr ficas Dias M M 2012 dios cl nica e pol tica do psicanalista S o Paulo Iluminuras FREUD S 1915 1914 Observa es sobre o amor transferencial Novas recomenda es sobre a t cnica da psican lise Ill In Ed Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1990 1920 Al m do Princ pio do Prazer In op cit 59 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Uma mosca no Inferno de Dante Denise de Sousa Feliciano A partir de fragmentos de duas sess es de an lise de um adolescente com queixa de recusa alimentar a autora tece considera es sobre a din mica que se passa na sala de an lise entre analista e analisando quando num dado momento parece haver uma possibilidade de elabora o de viv ncias s dicas muito primitivas a partir da rea o presen a de um inseto em sala de an lise A ilustra o cl nica abre possibilidade para um passeio pela teoria kleiniana da sexualidade infantil nas rela es fantasiadas com o seio pelo car ter emblem tico de representante simb lico das ang stias primordiais e da din mica de sadismo que as sess es mencionadas adquirem O sintoma mobilizador da busca de an lise pelos pais do paciente sua alimenta o restrita a poucos alimentos revela o car ter primitivo de seu mundo mental e a disson ncia com sua idade cronol gica 1 Psic loga e ps
54. STEVENS A 1996 A cl nica psicanal tica em uma institui o para crian as In Estilos da Cl nica Revista sobre a Inf ncia com Problemas vol 1 n 1 p 58 67 S o Paulo USP LP 164 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A transfer ncia em diferentes modelos de interven o precoce em comunidades de baixa renda Nadia Regina Prando Tereza Marques de Oliveira Palavras chave Consultas Terap uticas Oficina Boneca Flor Transfer ncia Interven o precoce A Transfer ncia Para compreender o conceito de transfer ncia na contemporaneidade necess rio fazer um recorte hist rico de sua evolu o atrav s das defini es apresentadas por Freud Em 1985 no Estudo sobre Histeria ele afirma que as representa es inconscientes s o incapazes de penetrar no pr consciente necessitando ent o se conectar a representa es j pertencentes ao pr consciente formando uma conex o falsa que erroneamente seria ligado a figura do m dico Em 1900 Freud reformula o conceito de transfer ncia ligando o aos sonhos Em A Interpreta o dos Sonhos ele descreve que o deslocamento afetivo de uma representa o inconsciente a outra pr consciente pode ocorrer quando a representa o do analista funciona como resto diurno do sonho tomando lugar dos objetos originais favorecendo a resist ncia A transfer ncia n o era vista como parte fundamental da
55. Sedes Sapientiae Participou da equipe fundadora do Hospital Dia Infantil da Mooca e do CAPS infantil da Mooca por 14 anos desenvolvendo trabalho com crian as e suas fam lias autora do livro Uma Cl nica para a Constru o do Corpo Via Lettera SP 2004 Organizadora do livro Cl nica com Crian as Enlaces e Desenlaces Ed Casa do Psic logo SP 2008 Atualmente atende em consult rio adultos crian as e fam lias mira wajntal uol com br 154 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as imagens A cl nica do autismo marcada por viv ncias de exclus o e seu enigma decifrar que sorte de desejo gera tal horror recusando a chance de a crian a ver se identificada e posteriormente identificar se como semelhante Mas n o me apoiarei exclusivamente neste aporte para tratar do fato que embora haja uma significativa melhora dos nossos clientes muitas vezes n o conseguiremos explicar o que produziu tamanho sofrimento Atualmente o autismo um dos temas o qual mais se pesquisa e teoriza com in meras publica es das mais diversas reas do conhecimento Parece que n o conseguimos abarcar todas as causas do fen meno Proponho que esta impossibilidade de explicitar plenamente as causas do autismo seja apenas mais um enigma a ser decifrado na cl nica Quest o com a qual sempre me deparo mas cujo desenvolvimento ainda bem incipiente Mesmo assim me
56. Sigmund Freud obras completas Ordenamiento comentarios y notas de James Strachey con la colaboraci n de Anna Freud Buenos Aires Amorrortu 2 ed 6 reimpress o Vol X p 1 118 trabalho original publicado em 1909 Herrmann F 2005 Cl nica extensa In A Psican lise e a cl nica extensa Ill encontro da Teoria dos Campos por escrito Org Barone L Arruda A P B Frayze Pereira J A Saddi L amp Freitas S R M S S o Paulo Casa do Psic logo Klein M 1975 The psycho analysis of children In The writings of Melanie Klein Trad Alix Strachey Londres Hogarth trabalho original publicado em 1932 Sofio F 2007 Fun o terap utica e hospital onde h Psican lise mestrado em Psicologia Cl nica S o Paulo Pontif cia Universidade Cat lica de S o Paulo 113 p 2010 Literacura Psican lise como forma liter ria In Revista Brasileira de Psican lise S o Paulo v 44 n 4 p 149 55 86 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as O lugar da demanda na an lise com crian as Fl via Blay Levisky Palavras chave Sintoma Demanda Transfer ncia Contratransfer ncia A partir do reconhecimento que a psican lise faz do papel do objeto na constitui o do psiquismo na crian a este dificilmente pode ser exclu do do processo anal tico principalmente a partir da teoriza o proposta por Lacan que reflito sobre
57. Winnicott 1984 conta que se surpreendeu ao perceber que com frequ ncia as crian as sonhavam com ele na noite anterior consulta fato que ele entendeu como reflexo de um preparo mental imaginativo em rela o a pessoas que supunham poder auxili las E ao afirmar que contudo l estava eu quando para minha surpresa descobri ajustando me a uma no o preconcebida Winnicott 1984 p 12 enfatiza tamb m seu movimento de deixar se colocar no lugar que havia sido dado a ele pela crian a enquanto objeto subjetivo Sendo assim quando h esperan a de que alguma mudan a possa acontecer h um movimento da crian a e tamb m de seus pais que procuram criar o objeto terapeuta que necessitam naquele momento A partir desta compreens o precisamos reconhecer ao longo dos encontros qual a problem tica que a crian a precisa tratar isto a partir de qual necessidade a crian a nos coloca em lugar de objeto subjetivo E qual dessas necessidades a crian a necessita comunicar com mais urg ncia Ao longo de sua obra Winnicott enfatizou que somente por meio dos processos de apercep o e ilus o que o beb passa a construir gradualmente a realidade compartilhada Os relacionamentos objetais iniciais s o quando favorecedores do desenvolvimento do beb necessariamente subjetivos importante que essa mesma qualidade subjetiva inicial esteja presente na transfer ncia das rela es terap uticas As experi ncias de
58. a encontrado pela crian a a partir da rela o com seus pais A crian a encontraria nas rela es iniciais de depend ncia um substituto de seus pr prios recursos para manter um sentimento de seguran a Baseada em situa es cl nicas de pacientes gravemente comprometidos e nas observa es das rela es pais beb reconhece a exist ncia de um terror infantil de cair e fragmentar se nos momentos em que se sente n o contido ex angustia do beb quando tiram suas roupas antes do banho O que Bick sugere que a crian a pode encontrar no amparo materno uma forma de se manter integrado e na aus ncia da contin ncia materna poderia apelar para outras formas de sustenta o que poderiam aparecer como um excessivo desenvolvimento muscular ou ainda tornando se precocemente auto suficiente e controlador ou excessivamente agitado ou uma esp cie de fixa o adesiva m e ela aponta que estas situa es funcionariam como a cria o de sua pr pria segunda pele 25 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A interven o proposta pela dupla de terapeutas tinha a objetivo de explicita o e movimenta o desta din mica familiar A primeira sess o traz algumas reflex es mostra um pai mais capaz de interagir com a filha e uma m e aprisionada por um discurso auto acusat rio e cuja filha tomada como representa o de seu fracasso Enquanto uma das terapeutas vivenc
59. abertura com novas possibilidades para os sujeitos ao inv s de seu fechamento numa din mica de reprodu es e cristaliza es E recuperar as dimens es da subjetividade e da singularidade tendo em conta as manifesta es de sofrimento das crian as H casos de crian as que n o querem ir escola e outras se sentem exclu das Como romper este ciclo de diagn sticos e medicaliza es que estreitam os caminhos dos alunos e afetam suas fam lias N o poderiam s institui es ter espa os de maior contin ncia mais cuidados e inova es nas rela es Assim estabelecemos uma parceria Centro de Sa de e escola 2010 a 2011 com o pr posito de conhecer mais a realidade escolar e construir um trabalho conjunto que envolvesse os profissionais da escola alunos e familiares uma escola p blica estadual de ensino fundamental 1 ao 5 ano que possui 320 alunos de seis a onze anos de per odo integral localizada no bairro de Pinheiros e pr xima ao Centro de Sa de Por que a cria o de um espa o explorat rio l dico na escola A implanta o e funcionamento de um espa o l dico na escola que implicasse a todos da comunidade escolar seria um dispositivo que propiciasse mudan as de vis es e olhares para os conflitantes processos escolares al m disso havia um material l dico enviado pela Secretaria da Educa o que estava fechado em caixas h dois anos uma vez que n o havia quem o organizasse Por este trabalho ter co
60. analista ocupa o lugar do pai 38 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Um atendimento em uma Institui o pode ser atravessado por quest es objetivas com o interesse inicial por um laudo no entanto o papel do analista com a verdade do paciente e a representa o na sua hist ria Os trabalhos realizados nos atendimentos com rica e Clara possibilitaram a abertura de um campo anal tico para a subjetividade de sua hist ria Levou se em considera o que as rela es abusivas n o se constituem de forma inusitada mas se comp em ao longo da hist ria e das rela es constru das ao longo da sua constitui o da trama familiar Refer ncias Bibliogr ficas LAPLANCHE E PONTALIS 2008 Vocabul rio de Psican lise Martins Fontes S o Paulo 2008 LAMOUR M Os abusos sexuais em crian as pequenas sedu o culpa segredo IN Crian a V timas de Abuso Sexual Org Marceline Gabel Summus editorial S o Paulo 1997 FERENCZI S Confus o de Lingua entre crian as e adolescentes 1933 IN Obras Completas Psican lise IV Trad Alvaro Cabral Martins Fontes S o Paulo 2011 FREUD S Edi o Stardard das Obras Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago A Din mica da Transfer ncia 1912 vol XII Recordar Repetir e Elaborar 1914 vol XII Al m do Princ pio do Prazer 1920 vol XVII 39 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS
61. arrisco a compartilh la aqui com voc s Revendo os casos cl nicos de crian as portadoras de patologias do contato com o outro nos quais trabalhei e que publiquei anteriormente Idem vemos que o trabalho cl nico focou se no eixo da aliena o separa o Isto a escuta anal tica foi na dire o de instituir partindo do discurso parental um campo de desejo para estas crian as que n o fosse apenas vivido como um horror de exclus o Na ocasi o enquanto pude acompanh las este trabalho resultava em ineg vel benef cio embora o tratamento tenha se iniciado em uma idade tardia Nas tr s situa es descritas as mulheres que se encarregaram da maternagem dessas crian as estavam impossibilitadas de exercer esta fun o quer pela falta de organiza o ps quica e social em que se encontravam quer por uma rea o depressiva desencadeada ou pelo nascimento da crian a ou por fatores concomitantes ao seu nascimento Nos casos descritos no livro no trabalho de escuta pod amos encontrar mitos hist rias n o ditas que ao serem disponibilizadas para crian a e suas fam lias se destramavam e permitiam que ambas crian a e familiares avan assem no curso de suas vidas um pouco mais livres com menos ang stia O trabalho que visava restituir um valor de comunica o ou sentido para as manifesta es da crian a instituir um jogo pulsional na d ade crian a ou beb e a pessoa que exerceu a fun o materna provou ser um
62. as Freud 1920 embora n o tenha analisado diretamente uma crian a No caso Hans o material era analisado a partir da observa o e rela o da crian a com seus pais entende que quando a crian a passa da passividade da experi ncia para a atividade do jogo transfere a experi ncia desagrad vel para um de seus companheiros de brincadeira e dessa maneira vinga se de um substituto Lembro me de Clara 7 anos uma menina que mudou o seu depoimento na justi a sobre uma situa o abusiva ap s o apelo de sua m e para compreender o momento do seu pai que estava com problemas Quais problemas N o sabia falar sobre eles e nunca perguntou a sua m e A av que era a cuidadora da crian a se sentiu tra da pela altera o sobre a revela o da neta A situa o abusiva ocorreu com um toque na regi o genital da menina Tal situa o trouxe lacunas para a compreens o do fen meno no mbito da justi a pois n o h provas objetivas pois qualquer exame no Instituto M dico Legal atestaria que n o houve les es Provavelmente qualquer peti o em defesa do genitor defenderia que n o h provas para conden lo apenas o discurso confuso de uma crian a A situa o abusiva e as rela es familiares para o direcionamento desta situa o est inscrita na hist ria desta crian a o que somente afastar o genitor n o mudar o curso da experi ncia desta viv ncia Podemos considerar que foram registradas marcas profundas na constitui
63. as v timas de viol ncia ou n o no entanto muitas vezes ele tamb m pode ser utilizado de forma perversa M es em situa es de conflitos judiciais em determinada circunst ncias at inventam a viv ncia de situa es abusivas contra seus filhos perpetrados pelo genitor com o intuito de afast lo do conv vio com a crian a situa o denominada no mbito judicial como aliena o parental Sabe se que o sistema judici rio trabalha com documentos e provas objetivas para caracterizar um poss vel abuso Entre eles podemos citar testemunhas depoimentos documentos diversos laudos do Instituto M dico Legal e per cias do Servi o Social e Psicol gico realizadas pelos t cnicos do Tribunal de Justi a TJ A subjetividade por sua complexidade e dificuldade para mensurar quantitativamente costuma trazer d vidas no processo jur dico para identificar e caracterizar uma situa o abusiva As avalia es dos peritos do TJ em geral trabalham com os elementos da subjetividade da din mica familiar em lit gio Nem sempre poss vel identificar e incluir no laudo as respostas objetivas que a Justi a espera deste profissional Desta forma a aliena o parental um poderoso entrave por trazer maiores lacunas para a justi a no que se refere a identifica o de uma situa o abusiva em virtude de suas caracter sticas subjetivas j que o discurso da crian a pode estar sendo atravessado pelo desejo materno de afastar a conviv ncia
64. beb Mas Theo continuava acordando v rias vezes a noite e dormindo 20 minutos durante o dia A m e ainda relatou aflita que ele sempre acordava gritando muito forte de modo assustador Na primeira consulta Theo chegou dormindo e quando acordou sorriu para mim e se entreteve com brinquedinhos at o final da sess o Na troca de olhares observo que ele faz movimentos circulares com a l ngua de forma frequente Estaria Theo numa experi ncia sensorial preenchendo toda sua cavidade bucal como uma forma de apagar sua percep o da falta Fonseca 2008 2011 ou seria resultado de um desencontro com um objeto que atenda suas necessidades Na segunda consulta o beb tamb m chegou dormindo e acordou tranquilo sorrindo para mim como se reconhecesse meu tom de voz e minha sala Ao longo da sess o com os brinquedinhos ficou mais impaciente a tonicidade de seu corpo era mais intensa e reclamava o olhar dos pais fez coco mas os movimentos de l ngua j n o apareciam Investigo com os pais se havia alguma preocupa o com rela o ao filho O pai disse que n o mas a m e com a voz tr mula e angustiada me contou que aos 20 anos foi operada do cora o Apresentava um defeito cong nito mas que n o indicava sopro ela se sentia muito cansada para subir escada ou fazer educa o f sica mas n o sabia que se 142 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as relacionava com algo do cora
65. bra o um olho salvar uma pessoa ou a si mesmo Com o decorrer da an lise F bio fala mais dos seus medos j tomava a iniciativa nas brincadeiras que apresentavam um enredo com tema Surge tamb m um olhar compartilhado entre analista e F bio olham se como cumplices quando algo engra ado ou interessante acontece nas brincadeiras o circuito pulsional se restabelecendo agora j no terceiro tempo conforme apontado por Laznik 2004 o de fazer se objeto para o outro pois F bio inicia a intera o olha para a analista e espera que esta note o que ele faz com um dos brinquedos de super her i o super homem quem sabe n o o super F bio Afinal seus medos diminuem j n o solicita mais a m e a noite deixou de ser beb Um sorriso um olhar um riso finalmente um sujeito em crescimento n o mais um rob importante lembrar que a psican lise tem conseguido contribui es cruciais para a articula o interdisciplinar nos problemas de desenvolvimento na inf ncia e o trabalho de um psicanalista de crian as que acredite que sua disciplina basta a si mesma sem necessidade de articula o com outras reas esta condenando sua pr tica armadilha de seu narcisismo j que perde de vista o limite e o alcance de seu pr prio ato Pinho 2003 A psican lise n o possui o saber todo do sujeito ela tal qual a estrutura o ps quica padece de uma falta de um saber que n o se conclui que precisa de outros
66. chorosa pensando muitas vezes em se jogar debaixo de nibus ela relatava que desde que veio do interior de Minas Gerais numa fuga da fam lia que a maltratava sic nunca conseguira se desvincular completamente da fam lia pois seu sentimento de culpa por estar longe e n o estar cuidando de sua m e a afligia sempre Jiane filha do primeiro casamento da m e assim que nasceu sua m e fugiu e se casou com seu padrasto com quem teve mais 3 filhos O padrasto a chamava de filha como aos outros mas era muito violento tanto com os filhos quanto com a m e Jiane relatou sofrer ao ver a m e apanhando e disse se sentir obrigada a ajud la Chorosa ela relata que sentia diferen a de sua m e em rela o a ela e aos outros filhos contou que a m e sempre tomou medica o pra depress o e n o lhe oferecia carinho mandava ajudar na casa a cuidar dos irm os e a criticava verbalizando que nada que Jiane fazia era bom o suficiente Diante deste sofrimento a principal atua o foi via holding a fim de oferecer um setting seguro e acolhedor o sentimento contratransferencial era de muito carinho como se a Psic loga necessitasse lhe maternar oferecendo experi ncias antes n o vividas por Jiane devido as falhas desta m e debilitada Jiane relatou v rias tentativas de produzir coisas a fim de ter uma independ ncia econ mica de modo que foi de extrema import ncia que as Psic logas na transfer ncia pudessem valorizar as
67. com a express o clich estereot pico ou diversos deles constantemente repetido constantemente reimpresso no decorrer da vida da pessoa A tese desenvolvida por Freud que a transfer ncia o momento no qual a carga libidinal do paciente que se acha pronta por antecipa o dirige se tamb m ao analista que ser captado num dos clich s estereot picos que o paciente constitui ao longo de sua vida O inconsciente aparece a como uma s rie de personagens muito tipificados que s o reproduzidos nas mais diversas situa es da exist ncia Em Observa es sobre o amor transferencial 1915 esta identifica o da transfer ncia repeti o tamb m est indicada pois Freud afirma que o amor de transfer ncia uma repeti o estereotipada das condutas inscritas no sujeito dispostas a surgir quando lhes d a ocasi o o que ocorre em todo amor N o existe diz Freud o amor que n o tenha o seu prot tipo Em Din mica da transfer ncia aparece uma profunda ambiguidade da transfer ncia pois Freud afirma por um lado que a emerg ncia da transfer ncia na cura testemunho do inconsciente da sua atualiza o por outro lado ele entende que a transfer ncia um obst culo para a cura pois interrompe as associa es inconscientes Neste texto que faz parte dos Artigos sobre a t cnica escritos entre 1911 e 1915 1 Psic loga formada pela USP psicanalista membro do Departamento de Psican lise da Crian a do Insti
68. com quem queria andar de m os dadas brincar com os amigos ou estar no mundo do faz de conta E a partir desta nova experi ncia poder seguir seu desenvolvimento Teria grande dificuldade em afirmar que a etiologia da sua manifesta o aut stica estaria na a o parental Quando me refiro ao fato da crian a poder retomar o curso do seu desenvolvimento estamos falando dos jogos pulsionais que constituir o seu circuito Portanto baseia se na compreens o de que essa manifesta o resultante de falhas na instala o dos tempos da puls o Foi a partir da cl nica que se construiu esta metapsicologia Mas devemos ter cuidado redobrado para que o conceito de causa n o seja a priori da compreens o A demonstra o da causa sempre experimental e pressup e uma determina o imut vel das coisas portanto pressup e que seja a hist rica e sempre determinada por uma lei constante asseguradora Ao se falar demasiadamente em causas estamos indo na contram o dos caminhos da puls o Como vemos questionado em Hegel n o h tempo atemporal e exist ncia de rela es eternas a constru o hist rica somente pode se encontrar em contradi o com o princ pio da causalidade Volgo 1998 pg 18 Pensar constru o hist rica na contram o de suas causas implica em que otrabalho de escuta anal tica se pauta em outra l gica o acaso Trata se da casualidade do encontro entre puls o e o representante da puls o entre
69. confiar na crian a e conseguir esperar por uma nova possibilidade de contato sem exigir a continuidade da brincadeira como eles gostariam Recordei com os pais o que havia acontecido voc s perceberam que s depois do meu afastamento de ter deixado voc s tr s juntos que Abel p de dirigir o olhar em minha dire o de forma jocosa fugaz por m sedutora Como voc s viram n o emiti qualquer palavra apenas um som com a entona o de quem havia sido encontrado Em seguida voc s entraram na brincadeira falando achou Ele se voltou para os carrinhos e interrompeu a brincadeira O que demonstra a vontade grandiosa de voc s de darem continuidade a uma brincadeira gostosa que j fez parte do relacionamento com ele Voc s ficaram encantados as palavras brotaram da boca de voc s entretanto Abel se fechou e n o deu continuidade brincadeira A decep o dominou o corpo e a mente de voc s o que os levou a desistirem e ficarem tristes Por outro lado voc s est o aqui em busca de respostas s tantas perguntas que fizeram Como entender tudo isso 151 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Enfatizei a import ncia do gesto da crian a de ter iniciado a brincadeira de esconde esconde em meio aos comportamentos aparentemente estereotipados dominantes na cena Trata se de uma abertura ao encontro uma tentativa t mida por m sedutora Essa faceta jocosa e sedutor
70. conseguia fazer E sem muita anteced ncia ao falarmos sobre a data da ltima sess o antes das f rias de julho voc anunciou que aquela seria sua ltima sess o para sempre Perguntei sobre esta decis o e voc me disse minha m e acha que eu n o preciso mais voc acha que eu n o preciso mais meu pai nunca achou que eu precisasse e agora eu tamb m acho que n o preciso mais Voc vem para sua ltima sess o e conversamos sobre muitas coisas entre elas sobre como seria lidar com os bichinhos da cabe a da m e sem a an lise Voc sugere que agora que voc n o vir mais quem sabe ela poderia vir no seu lugar Conta sobre uma visita da sua meia irm e de como a m e reclamou que voc estava sendo frio Ser que ela n o percebe que minha irm uma estranha pra mim Legitimo o que voc diz e conversamos sobre a possibilidade de construir uma rela o Por associa o chegamos ao meio irm o morto e voc diz pelo menos meu pai j n o fica dizendo que ele um g nio porque morto sempre bom Rimos um pouco juntos imaginando as prov veis brigas que os dois teriam caso ele estivesse vivo Voc decide continuar uma partida de Monopoly come ada algumas sess es atr s Voc estava ganhando longe de mim cheio de propriedades praticamente dono do mundo eu comentei lembrando de como voc chegou querendo comprar o consult rio E a voc me diz dono do mundo no Monopoly
71. constitu do um eu no sentido que fa a referencia a si mesmo Os elementos para a forma o dessa percep o de si devem vir inicialmente do outro Fez um desenho da m e golfinho desenhando um humano dentro de sua barriga e contou que vai nascer um homem que depois vai ser um menino legal Minha impress o era de que carecia de uma identidade b sica citando Bleichmar aquela ontologicamente ligada ser da esp cie humana como primeira identifica o necess ria para a constitui o de um ser humano e posteriormente de um sujeito ps quico Qualquer som brilho ou objeto na sala de atendimento chamavam sua aten o demonstrando que seu p lo perceptivo constantemente aberto sem barreiras ou filtros o impedia de se manter numa atividade como se ele se encontrasse constantemente bombardeado pelos est mulos ao longo de uma mesma sess o Em muitos momentos eu n o conseguia compreender suas falas ou comportamentos aparentemente descontextualizados os quais pareciam associados um funcionamento por identidade de percep o como se estivesse num movimento mais regressivo tendente ativa o do p lo alucinat rio descrito por Freud como um dos mecanismos envolvidos no processo do sonhar Assim ao misturar gua com sab o formando uma espuma branca teve a convic o de que era chantili e imediatamente o levou para sua boca dizendo que ia comer o chantili Ou nos momentos em que encontrava no arm
72. da Faculdade de Ci ncias Humanas e da Sa de da PUC SP nas disciplinas de Psican lise kleiniana e winnicottiana e do Programa de Estudos P s Graduados em Psicologia Cl nica da PUC SP elcintrao1 gmail com 70 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Transfer ncia e transicionalidade na cl nica com beb s Elisa Motta lungano apresentadora Palavras chave Psican lise de beb s Transfer ncia Transicionalidade Maternagem Contextualizando a cl nica com beb s H diversos modelos de interven es cl nicas a beb s e crian as at 3 anos com diferentes objetivos terap uticos e baseados em diferentes concep es acerca do que vem a ser um beb do estatuto que este tem na fam lia no mundo e de suas possibilidades enquanto sujeito em constitui o S o geralmente realizados em conjunto com pais ou cuidadores importante a presen a destes se considerarmos que o ambiente em especial ou cuidados maternos s o parte constituinte do sujeito do beb Na fase de depend ncia absoluta o beb a m e s o como uma unidade psiquicamente A presen a concreta do beb contudo o que possibilita o seu atendimento Dando vida aos relatos dos cuidadores o beb se mostra atua reage e exige rea es daqueles que o cercam Quando presente ele se torna mais do que um discurso um sujeito em rela o tamb m com o analista A rela o com o cuidador entra em
73. da hist ria inicial de vida e sua import ncia para a crian a em acolhimento Pammela Makarowits de Mattos Dra Denise Sanchez Careta Profa Dra Ivonise Fernandes da Motta Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo LAPECRI USP Palavras chave D W Winnicott Integra o Enquadres Diferenciados Espa o Potencial Apresenta o Esta experi ncia cl nica foi realizada com uma crian a de sete anos acolhida em uma institui o na Grande SP em virtude de maus tratos neglig ncia e drogadi o na fam lia Os atendimentos psicol gicos com frequ ncia semanal ocorrem no contexto institucional desde 2010 Ao longo destes atendimentos a crian a relata desconhecer a sua hist ria de vida inicial e revela portanto um estado confusional sobre si mesma Winnicott 1954 1990 173 176 dialoga neste sentido sobre uma distor o no desenvolvimento emocional humano uma vez que a crian a afastada de seu lar precocemente n o obteve cuidados suficientemente bons e capazes de sobreviver no tempo Diante do quadro apresentado pela crian a identificamos sua necessidade b sica de integrar no tempo seu passado e presente e sugere crian a a construir um livro sobre sua hist ria de vida inicial Tal interven o teve como objetivo proporcionar crian a um espa o para que ela vivesse experi ncias significativas amparadas por um ambiente sustentador Para Safra 2005 79 O encontro do beb com o corpo da m e
74. da proposta inicial 1 Grupo dirigido rea de Enfermagem para outros turnos e outros profissionais parece demonstrar o interesse de que este tipo de atividade que se apresenta como bastante inusitado na experi ncia de profissionais j experientes e gabaritados se integre de maneira mais presente rotina e cultura da UTI Os Grupos passaram a ter um car ter multidisciplinar tal como numa fam lia nuclear em que a rela o inicialmente dual com o cuidador prim rio mais constante a equipe de enfermagem m e vai sendo enriquecida e complementada a partir da inclus o de terceiros significativos A expans o e multiplica o de uma rede de contin ncia se fortalece Refer ncias Bibliogr ficas BION W R Experi ncias com grupos 2 ed Rio de Janeiro S o Paulo Imago EDUSP 1975 HERRMANN F Morte e Vida no Hospital Jornal de Psican lise S o Paulo 39 71 57 64 dez 2006 MACHADO C E e JORGE S B Ser profissional de sa de em uma unidade neonatal de alto e m dio risco o risco e o invis vel Estudos de Psicologia Campinas 22 2 197 207 abril junho 2005 M LEGA M P Observa o da Rela o M e Beb M todo Esther Bick Tend ncias S o Paulo Unimarco 1997 M LEGA M P e MENDES DE ALMEIDA M Innovations in Parent Infant Psychotherapy London Karnac 2007 RIBEIRO M C BARALDI S e PAES DA SILVA M J A percep o da equipe de enfermagem em situa o de morte Ritual do preparo do co
75. de trabalho interferindo na qualidade do servi o oferecido aos usu rios e na sa de emocional dos profissionais e da equipe O trabalho empreendido pelo Grupo de Reflex o pode facilitar o fluxo das ansiedades para espa os de contin ncia como alternativa a praticas projetivas que visam evas o e evacua o de sofrimento ps quico e que interferem no cotidiano profissional e relacional da equipe Considera es finais Expans es e perspectivas A experi ncia no Grupo de Reflex o pode ser geradora de maior capacidade de contin ncia para a Equipe de Profissionais em Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais num per odo fundamental para o desenvolvimento do v nculo pais beb ENFERMAGEM PACIENTE FAMILIA EXTERNA SERVI OS AV S RM OS ETC APOIO RESIDENTE PSICOLOGIA ENFERMAGEM M DICO FONOAUDIOLOGIA SERVI O M DICOS FISIOTERAPIA INTER CONSULTA CHEFIA M DICA ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Ao favorecer o aprender com a experi ncia de contin ncia s pr prias ansiedades dos profissionais e ao ampliar a compreens o acerca das rea es infantis das ansiedades parentais e das m ltiplas transfer ncias envolvidas nas rela es de cuidado o Grupo de Reflex o nesse servi o tem contribu do para a promo o de sa de em contexto de risco e vulnerabilidade no in cio da vida para pais beb s e profissionais A solicita o de amplia o
76. de Estudos da Teoria dos Campos da Universidade Federal de Uberl ndia e autora de diversos artigos entre eles Literacura Psican lise como forma liter ria 2010 fernanda sofioDusp br 3 Fabio Herrmann 1944 2006 era m dico e psicanalista Sua extensa obra publicada entre os anos 1969 e 2006 ficou conhecida como Teoria dos Campos nome do qual o autor se apropriou ao fundar o CETEC Centro de Estudos da Teoria dos Campo Trabalhos p stumos continuam a ser publicados 82 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Nesse sentido podemos pensar que Freud e Klein fizeram nova t cnica produziram teoria criaram psican lise e que por sua vez Herrmann proporcionou arsenal te rico para se pensar a respeito de cada feito cl nico Embora nesse trabalho eu tenha encontrado a teoria de Freud e Klein por diversas vezes tendo em vista a for a dessas teorias foi em Herrmann que encontrei referencial te rico para considerar o todo do atendimento o porque das interven es e a moldura anal tica adequada Assim este um atendimento nada convencional em que ecoa a teoria de tr s mestres Vejamos como transcorreu come ando pela primeira entrevista A m e de Tiago que chamei de Clara procura me assustada com o boletim semestral de seu filho Declara aflita por telefone Isto s pode ser timidez Tiago inteligente como podem dizer que n o sabe ler ou escrever Seu desespero
77. de demanda singular Enquanto o discurso manifesto estava sendo sobre qu o dif cil era para ela dormir Maria Clara demonstrava seu desejo de ser confortada e de adormecer bem como sua confian a em seus recursos quando auxiliada por um setting continente no qual ela pudesse ser discriminada das demandas inconscientes dos pais que n o a deixavam dormir Ao fim de nosso segundo encontro foi poss vel conversar com Maria Clara integrando as diferentes camadas emocionais o n vel observacional o relacional e o transgeracional Ei Maria Clara voc gostou dessa conversa hein Esse seu nome Maria Clara tem tudo a ver com essa conversa Porque Clara Tudo Claro Voc veio clarear as id ias iluminar trazer luz veio para explicar as coisas tem muito trabalho para voc hein Na ltima consulta terap utica a quarta um m s e meio depois da primeira os pais vieram com Maria Clara e nos contaram que ela estava dormindo muito bem em seu pr prio quarto acordava uma vez por noite quando toma uma mamadeira Inaugurou se o processo de separa o com a instala o do desmame O pai nos contou que tem se percebido com menos medo tem ficado sozinho no trabalho e em casa o que indica que est desenvolvendo sua capacidade de ficar s Observou que as filhas n o t m medo os medos s o dele A m e brincou com Maria Clara durante a consulta como se pudesse ter recuperado algo que havia se perdido com a interna o das tias an s
78. de identifica o projetiva descrito por Klein em 1946 RIESENBERG MALCOLM 2004 A contin ncia propicia melhor manejo das ansiedades do beb tarefa desempenhada pelo ego materno mais ntegro e h bil para simbolizar tais conte dos Dando sequ ncia contin ncia Bion denominou de r verie ZIMERMAN 2004 apud BULH ES 2010 o trabalho de conter as fortes cargas de afeto do beb metaboliz las e devolv las a ele de modo que sejam mais agrad veis e compreens veis Uma das consequ ncias mais importantes destas fun es para o beb a origem e desenvolvimento da capacidade de simboliza o decorrente da contin ncia das suas identifica es projetivas feita pela m e e da sua pr pria introje o n o s dos conte dos projetados e metabolizados por este seu continente mas tamb m de uma parcela da pr pria capacidade de r verie materna CINTRA 2003 O medo de morrer a fei o mais aflitiva das ang stias do lactente e este conte do tamb m frequentemente projetado no objeto materno Esse mecanismo gera uma grande carga de ansiedade na crian a que reconhece o teor destrutivo de suas proje es e o perigo de direcion las ao objeto materno com o qual se identifica KLEIN 1930 1970 A ansiedade originada desta troca conflituosa de introje es entre m e e filho para Klein 1930 1970 fundamental para o processo de simboliza o Em sua apresenta o do caso cl nico de Dicks de quatro anos Klein
79. detalhamento dos dedos e das m os da pessoa Eu estava do lado dela quando ele matou o sapo Pe o que ela desenhe como foi esse incidente da morte do sapo Natalina toma outra folha e desenha um homem e um objeto que parece ser uma caixa com tr s rodas Pergunto lhe onde est o sapo Ela toma o l pis roxo e come a a pintar a regi o genital da figura masculina Ela pede que eu a ajude Pergunto por que pintar com roxo Pinta com roxo porque roxo responde Quando foi abusada p nis tornou se dedo uma parte da m o de forma que lhe pergunto A m o Aham ela aquiesce Termina de pintar e com grafite faz uma figura com dedos e m os enormes e cabelos roxos A mulher que me xingava diz referindo se esposa do homem que a abusou E o sapo pergunto Natalina desenha no alto da folha num tamanho desproporcional s outras figuras uma m o Natalina encontra uma representa o substituta para o que viu quando esteve sentada na pia Desde o princ pio o p nis recusado apareceu condensado em sua fala nos dedos e na m o do abusador Conforme ela p de trabalhar a imagem o p nis desapareceu de seus desenhos Mas em sua fala o genital masculino foi deslocado tamb m para outras representa es o sapo por exemplo P nis dedo m o sapo parece ter sido o percurso entre suas representa es do investimento que a percep o do genital masculino adulto atravessou desde a primeira sess o
80. deve resultar em dist r bios permanentes na maneira pela qual a energia funciona 1917 1916 1917 p 275 19 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as nn pra eu ter sentido Sentiu mais alguma coisa continuo e ele vai do dedo ao carro batido onde acordou Diz Quando eu acordei eu ainda estava com sono Uma mulher dizia para eu n o dormir e n o me mexer Minha av eu vi tinha morrido E tiravam duas tipo bandejas bem grandes de perto do outro carro Cobertas com um pl stico preto Eu acordei achando que a gente tinha chegado na praia e um monte de gente tinha vindo ver Porque meu tio tem um monte de amigos l Mas eu n o podia dormir No mesmo romance que citei ao principiar minha fala o escritor polon s escreve que preciso compreender os significado da express o a gota d gua Quando demais demasiado Existe uma dose de realidade cujo excesso ultrapassa os limites do suport vel Gombrowicz 2007 p 73 Meu paciente encontrou uma dose de realidade acima do suport vel Mas os encontros com a realidade podem ser suport veis e n o por isso prescindirem do aux lio do objeto para serem assimilados Em casos de abuso sexual por exemplo Ferenczi 1932 1933 2002 j lembrava nos que quando a crian a volta se para o adulto ele procura assimilar sua experi ncia Mas encontra no abusador a nega o do fato e caso possa voltar se
81. devotada d a ela condi es de ter um repert rio imaginativo que o capacitar a elaborar imaginativamente as fun es corporais Portanto as diferentes fun es corporais atualizam as qualidades dos encontros que o beb teve com sua m e Trata se de um repert rio que fruto da presen a humanizadora do outro A crian a ganha unidade corporal por meio e na presen a do outro surgindo paulatinamente um corpo ps quico um corpo cujas fun es foram elaboradas imaginativamente Esse ambiente de devo o e cuidado oferecido pela figura materna de extrema import ncia para que o beb possa dar in cio constitui o das bases de self neste est dio que o beb estabelecer a separa o entre o n o eu e eu e este cuidado proporcionado pela m e inspirar ao beb confian a no ambiente para caminhar em seu desenvolvimento emocional De acordo com Winnicott 1971 1975 145 152 este o fundamento de espa o potencial Ainda medida que o self se constr i e o indiv duo se torna capaz de incorporar e reter lembran as do cuidado ambiental e portanto de cuidar de si mesmo a integra o se transforma num estado cada vez mais confi vel WINNICOTT 1954 1990 137 Assim os encontros foram se constituindo por meio da confec o de um livro contendo desenhos e relatos elaborados pela crian a retratando sua hist ria de vida inicial auxiliada pela psic loga que 1 Psic loga cl nica e institucional Pesqui
82. dio e inseguran a na Boneca e assim relatar seus desconfortos sobre a gesta o podendo desta forma integrar partes de seu self que n o desejavam a gravidez J os atendimentos individuais inspirados nas Consultas Terap uticas permitiram que a m e revivesse experi ncias primitivas possibilitadas pelo setting de confian a e pelo holding e handling oferecidos pela Psic loga e pela estagi ria Jiane pode falar sobre suas angustias seus sentimentos ambivalentes de modo que estas partes puderam ser integradas a seu self diminuindo sua depress o e fortalecendo o v nculo m e bebe Este relato de caso permite que demonstremos grande efic cia de nossos projetos em Interven o Precoce permitindo em sua maior parte que v nculos patol gicos entre pais e beb s n o se cristalizem favorecendo assim o desenvolvimento saud vel da d ade 169 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Refer ncias Bibliogr ficas Aiello Vaisberg T M J Vitali L M Flor rabisco A Oficina psicoterap utica de arranjos florais In Caderno Ser e Fazer apresenta o e materialidade Instituto de psicologia Universidade de S o Paulo 2003 Aiello Vaisberg T M J Micelli Baptista O coelho Ludivico interven o na cl nica winnicottiana In Aiello Vaisberg T M J Ambrosio F F Cadernos Ser e Fazer O brincar Instituto de Psicologia Universidade de S o Paulo 2004
83. dizerem banheiro de homens Ela ia ao banheiro a que tinha acesso passando a cham lo como nomeei e queria espiar dentro do banheiro de homens que dizia ser meu Na mesma poca surgiram intensas e variadas manifesta es masturbat rias ela vinha ao meu colo ou subia nos meus ombros para esfregar seus genitais no meu joelho ou pesco o come ou a n o se limpar para excitar se com o prurido resultante ficava muito tempo com a m o nos genitais e depois as cheirava ou levava boca Minha rea o inicial foi explicar lhe a excita o que estava sentindo mencionando as palavras como ela nomeava os genitais feminino e masculino adicionando que ela n o podia fazer nada daquilo comigo Duas coisas ficaram evidentes A primeira foi que ela associava os dois genitais aos dois sexos A segunda foi que falar de todo este assunto era como seguir se masturbando tal como Bion 1988 descreve que em estados psic ticos a fala ao inv s de ter a fun o de pensamento verbal como prevalecente vivida como uma a o Da ela esfregar as pernas quando fal vamos disto A no o de enactment tem sido utilizada para considerar a complexidade da din mica transferencial contratransferencial do trabalho psicanal tico Cassorla 2007 Zaslavsky amp Santos 2005 Cassorla 2004 destacando a identifica o projetiva no processo prop s que com pacientes graves instala se um enactment cr nico necess rio para o compartilhamento de aspectos
84. douta ignor ncia ou seja apresentar um n o saber sobre o paciente e ir propor a este a associa o livre permitindo ao sujeito romper a cadeia de seu discurso habitual s deparando se com um saber que n o se sabe um saber inconsciente sobre si A oferta de escuta pelo analista e a apropria o desse espa o simb lico a partir do estabelecimento da transfer ncia viabiliza ao sujeito ouvir suas pr prias falas dar se conta do que dito e de algum modo se apropriar de seu discurso reposicionando se diante deste Nos casos apresentados ao poder dizer sobre a ang stia frente ao real do corpo que se imp e com a doen a org nica que se faz poss vel aos poucos dizer sobre o sujeito que est ali para al m desse real O ser falante n o um corpo n o reduz sua exist ncia de seu corpo O ser falante tem um corpo e por isso tamb m pode ter um sintoma quando Paula pode defrontar se com sua filha como sujeito que a convoca para as brincadeiras que pode investir libidinalmente nela assim as necessidades e cuidados b sicos passam a ser nomeados supostos permeados pela linguagem e pelo simb lico essa suposi o que Paula faz Helo sa que possibilitar a ela desenvolver sua fala e relacionar se com os outros ao seu redor ora convocando os e ora respondendo a eles Ao mesmo tempo Paula come a a compreender a gravidade e complexidade da doen a da filha que lhe imp e a possibilidade
85. dura o de alguns anos e n o de alguns meses Considera ainda que a estabilidade a id ia central a organizar a vida no abrigo e esta seria um conjunto de fatores do ambiente que permitem crian a conhecer testar confiar e viver Destaca seu aspecto fundamental adultos que estejam juntos e juntos assumam a responsabilidade por elas Assim poder encontrar e expressar o impulso de separar os adultos que dela cuidam ou provocar desaven as entre os profissionais da equipe da institui o e sentir al vio por n o conseguir faz lo Poder descobrir que suas id ias agressivas n o conseguem realmente destruir e por conseguinte diferenciar fantasia e realidade Poder amar e odiar a mesma pessoa e assim sentir culpa e o desejo de restaurar e recuperar Esta estabilidade deveria existir independentemente da capacidade individual ou coletiva das crian as para cri la ou mant la Acreditamos que essa estabilidade deveria ser promovida pela equipe de profissionais dos abrigos O autor amplia essa compreens o ao afirmar que essa estabilidade deveria tamb m ser transmitida da comunidade em geral Winnicott tem uma concep o do abrigo como um lugar de cuidado e n o de abandono capaz de promover experi ncias fundantes e reparat rias no psiquismo da crian a Quando a fam lia por algum motivo falha outros adultos podem ocupar esse lugar de aten o e cuidado No Brasil em livro publicado em 1990 Isabel Kahn Marim constata que d
86. e Adolesc ncia Membro do N cleo de Atendimento a Pais e Beb s do Setor de Sa de Mental da Pediatria Membro do Grupo e Bio tica do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de S o Paulo UNIFESP alehgQuol com br 2 Encarregada da Equipe de Enfermagem da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do Hospital S o Paulo UNI FESP vchimirriohotmail com 3 Psic loga Psicoterapeuta com Mestrado pela Tavistock Clinic e University of East London Docente e Membro do Depto de Psican lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientiae Coordenadora do N cleo de Atendimento a Pais e Beb s Setor de Sa de Mental Depto de Pediatria UNIFESP Membro Filiado ao Instituto de Psican lise da Sociedade Brasileira de Psican lise de S o Paulo mamendesaQ hotmail com ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Configurando o contexto A sociedade atual encontra se sensibilizada pela dor dos familiares e principalmente das m es de beb s internados nas unidades de terapia intensiva neonatal Entretanto torna se importante conhecer tamb m as necessidades dos profissionais atuantes nesse ambiente de trabalho Humanizar n o apenas atender melhor mas olhar para os dois lados envolvidos na rela o assist ncia fami lia Machado et al 2005 de consenso na literatura que o ambiente de uma unidade neonatal assim como o processo de interna o s o situa es que exp e
87. e est mais participativo nas aulas de educa o f sica Importante observar que se por um lado os pais n o sup em um sujeito capaz de responder por outro lado preciso que a psicanalista e os demais profissionais consigam supor um sujeito capaz de realiza es tornando poss vel o reposicionamento dos pais em rela o ao seu filho Nas sess es F bio fica mais solto j levanta e troca de lugar na sala est mais ativo parece que n o s um corpo que senta mas um sujeito que come a a interagir mais O processo de elabora o simb lica avan a e sess o ap s sess o desenha sempre uma figura que parece um boneco sempre igual parecem c pias fig 1 mas depois estes desenhos adquirem personalidade s o super her is o homem aranha homem el stico cada um com um poder diferente novas habilidades v o surgindo e tamb m ele vai ficando mais flex vel em sua linguagem j n o precisa repetir tudo o que lhe dizem Seus gestos tamb m antes repetitivos tornam se mais livres e os pais ficam entusiasmados com as mudan as Fig 1 Primeiros desenhos 42 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A analista questiona os poderes dos super her is seriam poderes curativos que efeitos teriam Quem poderiam salvar F bio responde com poucas palavras e desvia o olhar mas ainda assim segue em seu processo de elabora o podem curar um p um
88. ela T p de se perceber e ao potencializar se como m e deixar sua filha para que viver sua vida e crescer de acordo com seu potencial Refer ncias Bibliogr ficas ELIACHEFF Caroline Corpos que gritam A psican lise com beb s S o Paulo Ed tica 1993 MENDES DE ALMEIDA Mariangela MARCONATO Magaly Miranda SILVA Maria Cec lia Pereira Redes de sentido Evid ncia viva na interven o precoce com crian as Trabalho apresentado na International Conference da Tavistock Clinic Londres 2004 SOLIS PONTON Leticia e ROSE MORO Marie Mulheres m es e filhas O papel da terapeuta mulher na consulta m e beb In Ser pai ser m e Parentalidade Um desafio para o terceiro mil nio Let cia Solis Ponton org S o Paulo Casa do Psic logo 2004 Pp 67 76 TEPERMAN Daniela Interven o psicanal tica precoce efeitos da suposi o de sujeito In O beb e a modernidade abordagens te rico cl nicas Leda Mariza Fischer Bernardino e Cl udia Mascarenhas Fernandes Rohenkohl orgs S o Paulo casa do psic logo 2002 75 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as WANDERLEY Daniele de Brito Se eu fosse um beb e pudesse contar sobre a transfer ncia na cl nica de beb s In O beb e a modernidade abordagens te rico cl nicas Leda Mariza Fischer Bernardino e Cl udia Mascarenhas Fernandes Rohenkohl orgs S o Paulo casa do psic logo 2002 WILHEIM
89. em acolher crian a parecia em surto mas com a presen a da av ele conseguia manter o controle Na discuss o da din mica familiar de Lucas com os educadores emergem vis es mais centradas no diagn stico e tratamentos pouco se levando em conta o per odo de adapta o escola entrou naquele ano sua 5 M Vi ar Psicoanalizar Hoy 2002 pg 68 Tradu o da autora 6 D Gurfinke 2008 Sonhar dormir e psicanalisar viagens ao informe pg 9 7 Crian as hist ricas que configuram um campo 2008 no livro Psican lise com Crian as Perspectivas te rico cl nicas 8 J LAPLANCHE Da transfer ncia sua provoca o pelo analista Revista Percurso n 10 1993 63 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as ang stia e hist ria de vida permeada com separa es e perdas O pai foi assassinado e m e usu ria de drogas ap s morte do marido deixa seu filho num abrigo com um ano e seis meses A av paterna tira o do abrigo aos dois anos Conseguimos ao inv s da mudan a da crian a para outra escola restabelecer a implica o dos educadores com a es de acolhimento e investimento nesta crian a Paralelamente ele estava sendo atendido no Centro de Sa de Este caso cl nico como outros levaram ao entendimento de uma demanda por um trabalho com interven o na escola que foi ao encontro das expectativas dos educadores Propor escola espa os de
90. em ajustar o foco de sua c mera Durante algum tempo paralisada pela ang stia dessa situa o segurei firme minha c mera e fotografei o sil ncio Segurar a c mera n o est garanto entre as atitudes mais agrad veis 106 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Falo de meu sentimento contratransferencial mas vale ressaltar que embora parecesse necess rio e significativo seu sil ncio dado o problema f sico que ele enfrentava era gerada uma negatividade que imaginei em nada contribu a para sua melhora nem parecia permitir qualquer possibilidade elaborativa Nessa poca atendia em grupo outros meninos da idade de Vitor tamb m com patologias incapacitantes Decidi que para ambos eu e Vitor o grupo poderia ser ben fico Disse h pouco que o sil ncio de Vitor pedia uma atitude de sua analista Paralisada sua m e afogando se em lcool seu pai minha paralisia minha c mera n o poderia continuar c mplice do sil ncio avassalador que dominava as sess es Avassalador creio para seu psiquismo Ele percebia que algo se passava com seu corpo que seus pais estavam cada um a sua maneira assustados com seu estado e com o progn stico Sua analista poderia permanecer ali lente dirigida a ele e sem fazer nada Da o grupo uma tentativa de largar a c mera e junto a outras crian as trabalhar com ele sob outro foco O grupo traria esta vantagem de um n o invest
91. em estreita conex o com a culpabiliza o das m es para explic lo este pesquisador oscilava entre uma s ndrome gen tica e entre enfatizar as rela es m es beb s nas quais indicava que as m es pareciam frias e distantes As m es de crian as autistas fizeram sua contrapartida cr tica explica Kupfer organizando se em associa es e movimentos de luta por seus direitos frente a que Kanner em 1946 recuou da perspectiva relacional materna ao escrever Em defesa das m es Ao escutarmos atualmente os discursos de profissionais da sa de sobre as crian as por n s atendidas sejam consideradas autistas ou n o e com as mais diversas queixas em seu desenvolvimento notamos com frequ ncia que os pais s o geralmente colocados no lugar de agendes essenciais e respons veis pela preserva o do bem estar f sico e emocional de seus filhos Os profissionais oferecem lhes orienta es e conhecimentos t cnico cient ficos sobre como melhor compreender atender cuidar e tratar das crian as Em contrapartida os pais s o tamb m os primeiros a serem culpabilizados quando algo n o vai bem com o desenvolvimento da crian a e quando este conhecimento t cnico cient fico falha ou demonstra se ineficiente em seu tratamento No discurso dos educadores por sua vez os pais s o tamb m diretamente responsabilizados pela educa o disciplina e bom comportamento da crian a Os educadores oferecem lhes orienta es treinamentos e m todos ped
92. es de sa de como UBS HU e CAPSI Em cada uma h uma maneira particular de apropria o do instrumento por parte da equipe e de aplica o por parte das psic logas pesquisadoras Nas UBS a aplica o tem sido realizada por ACS e auxiliares de enfermagem que passaram por um curso onde a complexidade da intera o entre aspectos org nicos e relacionais do desenvolvimento considerada pela abordagem do psiquismo proposta pela psican lise e explicitada em situa es cotidianas O destaque dado ao longo do curso para o sentido que tais situa es cotidianas t m no entrela amento entre desenvolvimento da crian a e rela es estabelecidas com seus pais fazem com que o uso do protocolo IRDI n o se reduza a uma mera repeti o de mais uma escala a ser aplicada pelo profissional 16 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as mas adquira uma significa o na rela o transferencial dos profissionais de sa de e dos pesquisadores com as fam lias O momento de aplica o do IRDI se transforma em um espa o para falar das d vidas dos pais de suas inseguran as questionamentos expectativas ang stias o que favorece a manuten o de uma rela o de transfer ncia na medida em que o profissional comparece onde h demanda para ele onde h demanda por uma escuta e por uma busca de saberes A diversidade de lugares evidencia alguns benef cios proporcionados pela instrumentaliza o
93. evidente Proponho uma primeira entrevista com ela e Tiago e sugiro que esteja presente seu marido No hor rio marcado aparecem em meu consult rio Clara Tiago seu pai e o irm ozinho Tiago mostra se de fato mais t mido que o irm o menor este sorridente e ao que me parece bastante sedutor Meses depois dou me conta de que o fato de Tiago estar habituado a ver seu irm o mais novo seduzir o outro carism tico e sobressair nas atividades que praticam invariavelmente juntos foi construindo certa rela o de depend ncia de Tiago em rela o a Marco evidenciada no campo transferencial desse espec fico processo anal tico tornado um paciente que s o dois ou seja em que um irm o se tornou imprescind vel para o andamento da an lise do outro Inclusive me contado na entrevista fora do per odo escolar os irm os come am juntos uma atividade como t nis por exemplo Pouco tempo depois Tiago recusa se a continuar e ambos para aquela atividade A forma que toma a entrevista muito denunciadora que mostra um pouco da din mica familiar em que se constitui a depend ncia de Tiago para com Marco Clara senta se a meu lado quase colada a mim e fala sem parar Derramando se em queixas s se afasta da possibilidade de compreender a complexidade de sua situa o pessoal e familiar D a mim essa fun o Pede que eu corrija Tiago cada vez que ele disser algo gramaticalmente incorreto Parece buscar em mim uma educadora embora sa
94. ficou 3 dias internada e como piorou foi transferida para o Centro de Terapia Intensiva CTI onde ficou por mais 10 dias at que teve uma pequena melhora e a transferiram para a enfermaria hemato oncol gica 94 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Segundo Rosa antes de ser internada no CTI Kelly estava andando falando e brincando mas desde ent o parou a m e demonstra estar bastante angustiada e chora ao narrar essa hist ria Ela est numa posi o tamb m delicada se por um lado precisa continuar apostando e investindo do ponto de vista libidinal em sua filha por outro precisa considerar a cada instante a gravidade de sua doen a lan ada ao real que o corpo lhe imp e Emociona se tamb m ao falar de suas outras tr s filhas de 18 10 e 8 anos a filha mais velha vem visit la todo domingo mas n o v as mais novas desde que Kelly foi internada Nos atendimentos seguintes Rosa volta a falar das outras filhas um dia interrompe o que est dizendo e afirma n o querer mais falar sobre isso pois elas m e e filha s ficam tristes quando Rosa fala sobre o assunto comigo quando n o lembram n o ficam com saudades Aos poucos Rosa mostra se menos angustiada e Kelly vai voltando a falar mais palavras propondo brincadeiras e conseguindo sentar e endurecer o pesco o O quarto que antes estava vazio est agora cheio de brinquedos As duas inventaram
95. geral a preocupa o inicial n o est relacionada com o sofrimento emocional da crian a mas com o documento laudo psicol gico que legitime o seu xito no processo jur dico Diante deste universo a crian a est submetida ao conflito dos pais pela verdade e sua dor emocional n o tem lugar Neste sentido a transfer ncia inicial com o nome da Institui o e o seu papel na rela o com o judici rio N o se trata de m es que n o s o cuidadosas com seus filhos mas ao sofrimento por ter sentido a confian a tra da e incapaz de proteger sua filha filhos Neste sentido surgiram algumas reflex es e questionamentos nos atendimentos realizados que motivaram esse estudo Diante deste cen rio qual seria a possibilidade de trabalho do analista com a crian a Onde a crian a tem que cumprir como meta trazer elementos que possam colaborar com a condena o do seu pai diante da justi a Transfer ncia Pontalis e Laplanche 2008 p 514 designa que a transfer ncia caracteriza se pelo processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de rela o estabelecida com eles e eminentemente no quadro da rela o anal tica Em 1914 Freud em seu texto recordar repetir e elaborar observou em seus estudos que os indiv duos repetem em suas a es conte dos reprimidos Desta forma o analista a partir das a es e comportamentos do indiv duo em an lise tem a possibilidade de co
96. haviam recebido um diagn stico psiqui trico de autismo Tentando encaixar as pe as em um quebra cabe as bem mais amplo fazer um acr scimo em um tecido que se estende para al m do atendimento que eu pretendia estabelecer A palavra de Perec permite tamb m reafirmar por outro lado uma posi o que n o minha nem mesmo dele exclusivamente mas que fala de um per odo na hist ria do pensamento e que se encontra tamb m no texto de Lacan ao definir seu ponto de vista como psicanalista Designamos por letra este suporte material que o discurso concreto toma emprestado da linguagem Essa defini o simples sup e que a linguagem n o se confunda com as diversas fun es som ticas e ps quicas que a desservem no sujeito falante Pela raz o primeira de que a linguagem com sua estrutura preexiste entrada de cada sujeito num momento de seu desenvolvimento mental 1 Professora Livre docente pelo Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo Psicanalista membro da cole Lacani nne de Psychanalyse Autora de O TPC uma re leitura A crian a no discurso do Outro Ensaios sobre a cl nica dos dist rbios graves na inf ncia Demanda e transfer ncia na cl nica com certas crian as no prelo e artigos publicados em revistas especializadas jfalek usp br1 Perec G 2009 A vida modo de usar Companhia de Bolso S o Paulo pg 14 2 Perec G 2009 A vida modo de usar Companhia de Bolso S o Paulo pg 14 3 Lacan
97. inicia com a fam lia se dividindo na sala de um lado o casal com n tida tens o relata as dificuldades na amamenta o O pai quem come a a falar 19 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as e demonstrando leve constrangimento diz n o estar podendo participar muito por estar sobrecarregado pelo trabalho ao mesmo tempo em que atribui o sofrimento como sendo do mbito materno por estar relacionada amamenta o como se n o se sentisse parte do problema ou melhor dizendo talvez n o se sentisse autorizado a ocupar espa o nessa rela o e conflito desencadeado entre m e e filha Por sua vez a m e demonstra ressentir se do suposto distanciamento do marido dizendo se sentir sobrecarregada Ao verbalizarem suas d vidas e dificuldades fica mais evidente para as analistas o engessamento emocional no qual a fam lia parecia estar que impedia a liberdade de expressarem seus afetos e fantasias um ao outro Bruna a filha de 4 anos por sua vez ao entrar na sala logo se entusiasma com os brinquedos que avista sobre a mesa indo diretamente em dire o a ela que est num canto oposto onde seus pais e sua irm ficam Uma das analistas se posiciona ao seu lado para acompanhar sua brincadeira Ela pega o durex e mostra a analista pedindo que a ajuda a encontrar a ponta e ao encontrarem ela faz um grande fio com ele corta Ambas ficam ligadas por esse fio de durex que fica preso no
98. iniciais e interven o com verbas de pesquisa de rg os nacionais e internacionais rogerlernerdusp br 2 As iniciais s o aleat rias e n o se relacionam com o nome real da pessoa para evitar identifica o 211 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as altura de corresponder uma situa o de antissonhar Cassorla 2008 necess ria como comunica o e supera o da experi ncia de comprometimento ps quico Em uma conversa desta poca a m e me contou ficar muito aliviada em me ver seguindo W por onde fosse com minha evidente ignor ncia quanto ao que estava acontecendo Disse que assim eu entenderia como ela se sentia com W e n o faria como os profissionais que tentavam usar o que pretendiam saber para exigir mudan as na forma como se relacionava com a filha Neste momento pensei que est vamos todos compartilhando cada um sua maneira um estado de confus o quanto a onde est vamos e o que far amos juntos al m de um temor relacionado possibilidade de ter frustrada a expectativa de alcan ar tal compreens o Comecei a nomear os lugares por onde W andava salientando os espa os de dentro e de fora Passei a dizer lhe que ela queria entender onde estava e tinha medo de n o conseguir Come ou a falar o nome do psicanalista que a atendia e o meu Conversamos sobre ela n o compreender tal mudan a Passou a usar a nomea o dos lugares por onde and vamos
99. j que a paciente se entregava livre associa o atrav s de suas narrativas e portanto colocava se na posi o de buscar a verdade sobre si Entendemos que o essencial aqui foi que a analista atrav s do seu sil ncio sustentou a atualiza o na 129 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as transfer ncia de acontecimentos vividos o abandono a trai o e a crueldade para que uma hist ria cheia de lacunas pudesse ser escutada reconstru da e ressignificada Miller 1987 em Percurso de Lacan uma introdu o pontua que Lacan sempre promoveu a import ncia do sil ncio do analista que n o deve atuar de modo que sua interpreta o duplique constantemente o discurso do paciente Para Lacan n o se trata de que o analista interprete tudo ou de que ele justaponha um segundo texto ao primeiro precisamente porque o poder da interpreta o enorme Trata se pois para o analista de medir exatamente o poder de cada uma de suas palavras Dois meses ap s o in cio de sua terapia Nice fez as primeiras refer ncias diretas sobre sua vida Das lembran as relatadas ressaltam se alguns tra os m e negra pai branco irm o cabeludo importante mencionar que Nice negra Atrav s dos tra os recordados Nice estaria trazendo para sua an lise um primeiro tra o de identifica o com sua m e biol gica Lourdes a m e adotiva que tamb m negra diz nas entr
100. jogos flagrantemente vis vel e de tamanho not vel reconhece o de imediato como a superior contrapartida de seu pr prio rg o pequeno e oculto e passa a ter inveja do p nis p 290 No caso de Natalina n o entrou em cena um companheiro de jogos mas um homem adulto excitado e a diferen a anat mica veio ligada linguagem da paix o para utilizarmos a feliz ideia ferencziana Ferenczi 1932 1933 A percep o que ganha representa o ela pode desenh la pede uma atividade ps quica que envolve a constata o da diferen a anat mica entre os sexos e a constata o da linguagem sexual adulta Ela n o est pronta para fazer tais constata es A da castra o talvez mas unida a esta as outras da sexualidade adulta e da estimula o feita sobre ela n o Em seu desenho vemos o p nis em seu relato o que a tocou foi somente o dedo a m o como se algu m ap s Trotsky ter perdido poder olhasse a foto e dissesse Trotsky est aqui mas ele n o estava pr ximo a L nin Um ano depois Natalina continua sua an lise Ela e a m e se mudam para um bairro distante ela falta algumas semanas nesse per odo Exatos treze meses depois de t la conhecido Natalina diz como noutras vezes que quer desenhar Enquanto desenha fala que o marido da m e matara um sapo Seu desenho revela nada agressivo n o h sapo algum nele V se uma figura feminina de cabelos loiros uma flor e percebe se uma leve nfase no
101. lias de origem ou substitutas vistas de forma idealizada Muito identificados com o desvalor da institui o como lugar de abandono a equipe reproduz inconscientemente exatamente aquilo em que pretende cuidar o abandono o desvalor a insufici ncia Acreditamos que a psican lise traz importantes contribui es a respeito das possibilidades de estabelecimento de v nculos significativos em contextos diferentes do familiar que nos ajudam a pensar 49 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as sobre essas quest es Vamos inicialmente nos apoiar nas contribui es de Winnicott por ter se dedicado ao sofrimento ps quico de crian as e al m disto ter trabalhado na Inglaterra diretamente na organiza o e realiza o dos planos de atendimento em abrigos para as crian as durante a segunda guerra mundial Para ele a estabilidade ambiental e a continuidade dos cuidados oferecidos nos primeiros anos de vida de uma crian a s o fundamentais para que ela possa se desenvolver psiquicamente Nos seus trabalhos com as crian as e adolescentes separados de suas fam lias durante a guerra constata que muitos deles nunca tiveram a experi ncia de um ambiente prim rio est vel ou seja adaptado s necessidades especiais da crian a Segundo Winnicott o abrigo deveria fornecer a estas crian as as experi ncias prim rias e que estas fornecidas tardiamente nos abrigos deveriam ter uma
102. membro associado da SBPSP membro efetivo do Departamento de Psican lise da Crian a do Sedes docente no Curso de Introdu o a Interven o Precoce na Rela o Pais Beb Sedes asettonQuol com br 2 Psic loga e psicanalista membro filiado da SBPSP membro efetivo do Departamento de Psican lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientae docente no Curso de Introdu o a Interven o Precoce na Rela o Pais Beb Sedes 23 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as fun es de ancoragem para o desenvolvimento de seus filhos podem possibilitar a abertura para novos sentidos e propiciar que o fluxo do desenvolvimento se movimente Como prop s Fraiberg este trabalho com os FANTASMAS QUE RONDAM A RELA O COM SEUS FILHOS e que os impedem de um contato com o beb real permite que estes conflitos possam encontrar formas de express o menos tan ticas Acreditamos que inundados pelas identifica es projetivas de seus pais estas crian as pedem socorro atrav s de seus sintomas e a interven o permite a abertura de novos sentidos Estamos frente a novos enquadres ou enquadres diferenciados que permitem atingir fundamentadas na psican lise manifesta es do fen meno humano antes inexploradas pela interven o psicanal tica O atendimento a beb s e a cl nica de O a 3 anos Reconhecer a import ncia e a pertin ncia de interven es nesta faixa e
103. menino de estatura baixa e voz fraca que necessita de esfor o para escut lo Na maior parte do tempo anda sozinho demonstrando um aparente tipo de independ ncia que pode facilmente ser entendido como evita o de contato afetivo com outras crian as e cuidadoras Em sess o apresenta gestos fr geis e pouco contato visual Durante as brincadeiras que conduz sozinho pega alguns objetos planos para servir de suporte para os personagens ficarem de p e interagirem In meras vezes os personagens caem para fora da plataforma de sustenta o e v o para longe sendo arremessados para al m da vis o R mulo comunica a falta de suporte ambiental em sua hist ria e a car ncia de recusos ps quicos para lidar com os aspectos espont neos da personalidade N o h confiabilidade nas rela es Realiza todas as tarefas sozinho como abrir a tampa da cola do frasco de tinta recortar e colar e mesmo diante de dificuldades n o conta com a ajuda do analista O trabalho nessa etapa baseado na adapta o do analista as necessidades do paciente oferecendo suporte para que se possa viver pela primeira vez em an lise os cuidados ambientais adequados Segundo Forlenza Neto 2008 p 84 as situa es traumatizantes est o aqu m das recorda es e verbaliza es s podendo ser resgatadas atrav s da exterioriza o do paciente com os conseqientes turbilh es emocionais na rela o anal tica Ap s dois meses de atendimento basicamente marca
104. mula sem cabe a Daniela para Carla Agora voc est come ando a pegar a id ia Discuss o Por v rias vezes tentei entender o que acontecia por m me coloquei pouco presente Na tentativa de colocar a minha compreens o cabe a afastei o afeto e a possibilidade de estar junto corpo Para uma cabe a sem corpo h um corpo sem cabe a Eu estava a servi o da satisfa o da minha demanda narc sica de compreender e ser boa analista Afastada do grupo eu n o proporcionava o v nculo K Eu n o podia ter empatia nem r verie As crian as puderam denunciar que eu n o estava com eles e como uma mula eu estava est ril n o podia ser criativa nem mesmo entender o que se passava Como uma mula sem cabe a eu causava medo uma assombra o que paralisava e impedia o desenvolvimento do grupo Ao poderem compartilhar comigo o fato de se sentirem sozinhas assustadas e sem minha empatia e r verie essa condi o foi invertida Eu peguei a id ia e novo v nculo foi estabelecido o v nculo K permitindo pensar como estar num grupo em que a analista n o compreende Esse recorte mostra como os v nculos mudam na sess o e como est o relacionados ao presentes Conclus o O analista precisa ter contin ncia aos pr prios sentimentos pois trabalhar analiticamente n o s algo que exerce sobre o paciente mas algo que acontece entre ambos A presen a do analista com seus recursos emocionais sua e
105. n o nos facultativo nem escolher mudar ou acessar diretamente Estamos como humanos condenados a um trabalho de historiciza o que visa construir uma narrativa enquanto forma de articular marcas inscri es transbordamentos enfim uma narrativa que pela via das palavras possa vir a transformar o vivido a ocorr ncia e o fato em algo experienciado em algo que inclui um trabalho de transforma o Para ajudar me a pensar nessa constru o tomo de empr stimo de Walter Benjamin 1940 a ideia de uma historiografia n o cronol gica mas baseada na intensidade Uma historiografia na qual coexistem o eterno e o ef mero produtora de cortes na linha do tempo H nessa maneira de compreens o um rompimento da linearidade tamb m no que se refere origem pois ela remete tanto reprodu o quanto ao inacabamento incompletude Ou seja trata se de um conceito de origem que restaura e reconhece a perda e portanto abre para o futuro o que denominado de inacabamento constitutivo Assim a narrativa como nomea o e atribui o de sentido ao vivido um processo de apropria o que exige tempo para a elabora o das perdas Vale destacar aqui que a mem ria como presentificadora do objeto ausente torna se pe a chave para o luto Por m a constru o de uma narrativa precisa lidar constantemente com a articula o vital entre mem ria e esquecimento entre produ o de sentido e falta de sentido para que se coloque em ma
106. narrativas sobre o mal estar e enj os provenientes da gesta o ela teve enj os e v mitos com muita frequ ncia o que afez vivenciar a gesta o como algo horr vel onde n o haviam aspectos positivos A todo o momento acolhiamos seu relato expressivo e pontu vamos como devia ser dif cil esse per odo de enj os as outras gestantes tamb m a acolhiam dando lhe dicas do que comer para amenizar os enj os Este trecho demonstra como foi poss vel atrav s da transfer ncia de Jiane com as Psic logas e com as outras gestantes que ela vivesse uma experi ncia de cuidado e acolhimento Nos encontro enquanto confeccionava a boneca Jiane muitas vezes se queixava da sua costura mostrando se insatisfeita ela relatava minha boneca est horr vel sic mas se mantinha persistente Coment vamos como ela parecia ter medo de costurar sempre muito cr tica sobre seu fazer mas como tamb m estava conseguindo construir sua boneca costurava bem e sua boneca estava tomando forma assim como seu beb Aqui percebe se como a Boneca permitiu a proje o de Jiane frente as suas inseguran as e desagrado referentes a sua gesta o 167 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Consultas Terap uticas No Projeto Consultas Terap uticas Pais Beb s Preven o e Psicoprofilaxia em Sa de Mental Infantil oferecemos atendimento aos beb s e seus respectivos pais e ou cuidadores um
107. no pulm o Ele quer nesse dia brincar com algo diferente de M quer brincar sozinho Abro o arm rio onde est o os brinquedos para que ele possa escolher Decide se pelo Pula Pirata Joga tr s vezes ininterruptamente Na quarta vez o pirata pula longe de onde ele brincava Enquanto vai pegar o pirata pergunto se o brinquedo sobreviveu queda Fa o a pergunta porque Vitor ao pegar o pirata olhou o para ver se n o o estragara e disse Est vivo N o morreu n o Nas duas ltimas jogadas o pirata n o pula mesmo depois de Vitor ter colocado todas as espadas Ele pede minha ajuda para descobrir porque o pirata n o pulara Logo que me chama M tamb m pede que eu a auxilie na montagem de um quebra cabe as Vitor diz a M Quer lutar Pergunto lhe Como assim lutar Ele responde U com as espadas Podemos perceber as diferen as entre o comportamento de Vitor no primeiro trecho relatado e neste No primeiro Vitor apresenta se mais passivo aparentemente n o demonstrava disposi o em continuar investindo o mundo externo o que aparecia atrav s de seu sil ncio Agora mais ativo Vitor escolhe com o qu e como quer brincar e pode investir libidinalmente os objetos inclusive convocando me transferencialmente para ajud lo Outro ponto que gostaria de salientar pode ser percebido em sua rea o queda do pirata abre se um espa o l dico onde Vitor responde animado em dois campos o de seu pr pr
108. nos quais o m todo psicanal tico pode ser concretizado com rigor do Procedimento de Desenhos Est rias com Tema na pesquisa de representa es sociais privi legiaremos ent o uma leitura transferencial centrada na apreens o do que diz o material acerca da posi o existencial do sujeito grupal frente ao objeto social em pauta p 276 277 66 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Apoio me em Bleger 1984 para defender minha presen a como psic loga e psicanalista al m do emoldurado consult rio para ingressar em c rculos mais amplos incluindo o atendimento cl nico tamb m com grupos e institui es O autor idem ressalta que a necessidade de ampliar a atua o do cl nico refere se sobretudo ao fato de a dimens o psicol gica se fazer presente em tudo porque em tudo o ser humano interv m p 16 Escreveu o autor A fun o social do psic logo cl nico n o deve ser basicamente a terapia e sim a sa de p blica e dentro dela a higiene mental O psic logo deve intervir intensamente em todos os aspectos e problemas que concernem a psico higiene e n o esperar que a pessoa adoe a para rec m poder intervir 1984 p 20 Aspectos Metodol gicos A interven o psicoter pica com o grupo de cuidadoras realizou se por dois anos de 2006 a 2008 Os encontros ocorreram em grupo semanalmente por duas horas cada sess o no pr prio contexto da institui o
109. nova Possui um prot tipo infantil de que na realidade somente a continua o J uma vez antes nos encontramos em semelhante estado de desamparo como crian as de tenra idade em rela o a nossos pais FREUD 2006 1927 p 26 O desejo de ser amado e protegido algo que perpassa todos os homens H diferentes formas de expressar esse desejo e lidar com as reminisc ncias de tal condi o infantil Em cada um esse afeto emergir em diferentes situa es e com base na hist ria de vida individual haver distintas maneiras de reviver esse estado Menezes reflete sobre as vicissitudes do desamparo e sobre sua presen a no contexto da cl nica psicanal tica Para viver as pessoas criam possibilidades afetivas no enfrentamento da Hilflosigkeit ou seja procuram destinos para seu desamparo sejam destinos criativos sua aceita o sejam destinos funestos seu evitamento Esse aspecto nos remete cl nica psicanal tica tendo em vista tratar se de uma experi ncia que leva o sujeito em face de seu desamparo tentando portanto lidar com a condi o de desamparo MENEZES 2008 p 92 178 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Na cl nica infantil do CAVAS quest es relativas ao estado de desamparo aparecem frequentemente e atrav s do l dico trabalha se em prol de auxiliar as crian as a lidarem com essa condi o e a elaborarem situa es passadas e
110. o de brinquedos na cena anal tica Melanie Klein Sophie Morgenstern Fran oise Dolto Donald Winnicott cada um destes psicanalistas e muitos outros criaram um setting para trabalhar psicanaliticamente com as crian as e encontramos inevitavelmente em todos estes diferentes enquadres a oferta de materiais para brincar seja caixa l dica ou massinha ou pap is e material gr fico Migramos ent o de um enquadre que implica a oferta de falar o que se passa pela cabe a em posi o horizontal sem o confronto visual com o analista para uma situa o em que materiais brincantes s o ofertados e convida se a crian a a contar se a partir de suas brincadeiras O que que formulamos a partir deste enquadre com crian as E que efeitos isto tem na cena cl nica tal qual vivida pelo analista e pelo paciente 1 Luciana Pires psicanalista especialista em psican lise com crian as e adolescentes pela Tavistock Clinic mestre e dou toranda do IPUSP autora do livro Do sil ncio ao eco autismo e cl nica psicanal tica Edusp luciana piresQuol com br 133 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as O menino on a pintada o pai como segredo Lu s Henrique de Oliveira Dal Palavras chave Psican lise com Crian as Sexualidade Infantil Transfer ncia Paterna Complexo de Castra o A partir de um recorte da an lise de T lio um menino de 6 anos abordaremos o modo pe
111. o de um sofrimento Silva 2008 Para concluir gostaria de assinalar que livros e orienta es n o faltam para as fam lias de Maria Clara Carmen e Theo ou mesmo para outras fam lias que procuram a Cl nica O a 3 mas muitas vezes 4 Como assinala G Wiliams 1997 1999 o beb muitas vezes se torna recept culo das ang stias parentais 143 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as carecem de uma base de sustenta o emocional para que possam ser seguidas ou para que possam ser consideradas como significativas ou adapt veis para cada momento da rela o pais beb s Silva amp Mendes de Almeida 2009 A contin ncia e a escuta dos aspectos emocionais e relacionais cerne de nossa forma o nos convida a ir al m da orienta o e dos aspectos funcionais para captar o que est nas entre linhas das queixas apresentadas pelos pais reconhecendo os fantasmas presentes no quarto dos filhos e auxiliando os a embalar o sono de seus beb s Refer ncias Bibliogr ficas Alvarez A 1994 Depress o cl nica e desespero defesas e recupera o cap 10 In Alvarez Anne 1994 Companhia Viva Artes M dicas Porto Alegre pp 139 148 Bion W 1962 Aprendiendo de la experiencia Buenos Aires Paid s Fonseca V R amp Bussab V S 2008 O self o outro e o espa o dial gico nos transtornos aut sticos In Livro Anual de Psican lise Vol XXII 141 155 Fonseca V R J R
112. o do tratamento na psican lise com crian as S o Paulo 97 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Grupo de atendimento a pais e beb s campo transferencial para a constru o da parentalidade Ida Bechelli Almeida Batista Apresentadora Mari ngela Mendes de Almeida Palavras chave Grupo de atendimento a Pais e Beb s Rela es Pais beb s Psicoprofilaxia nas rela es iniciais em servi o de Pediatria Campo transferencial na cl nica com beb s Introdu o Apresentamos aqui o trabalho com um Grupo de Atendimento a Pais e Beb s Crian as Pequenas O a 3anos e 11 meses em funcionamento no N cleo de Atendimento a Pais e Beb s Setor de Sa de Mental Departamento de Pediatria da Universidade Federal de S P Discutimos tal abordagem atrav s de vinhetas descritivas de cenas filmadas como alternativa ou complementa o de encaminhamento para fam lias com beb s crian as pequenas que necessitem e se beneficiem de um acolhimento compartilhado para ansiedades e dificuldades interferindo ou que possam vir a interferir no desenvolvimento da crian a e da fun o parental Trabalhamos com recursos provenientes dos atendimentos conjuntos consulta terap utica interven o nas rela es iniciais e psicoterapias pais beb integrados s t cnicas psicanal ticas de interven o grupal considerando se os elementos transferenciais e contratransferenciais no conte
113. o exclui a necessidade de domin la Ao contr rio por n o estar atento e pronto o trauma princ pio o paralisa mentalmente e na sequ ncia pede elementos para liga o Antes de seguir sou obrigado a falar do que Laplanche chamou de traumatismo em dois tempos Trata se de uma teoria que herdeira direta da teoria da sedu o Mas n o a neurotica de 1896 como um todo que pretendo discutir mas seus principais elementos O que restou da teoria da sedu o nos trabalhos posteriores de Freud a ideia de que um evento em si mesmo n o precisaria ter um efeito traum tico Este efeito surgiria mais tarde em outro per odo da vida quando a mem ria do evento fosse despertada de um estado de lat ncia podemos dizer A ideia permaneceu podemos ver na discuss o de Freud sobre o Homem dos Lobos em 1918 muito tempo depois do abandono da neurotica Ela implica o conceito hoje podemos chama lo assim de efeito posterior de Nachtraglichkeit Aplicado a casos de abuso sexual o conceito d conta do fato de que a experi ncia sexual ser tocado ou penetrado n o precisa ter em si mesma um efeito traum tico O trauma apareceria prefiro dizer o trauma se formaria quando mais tarde na vida alguma percep o pensamento ou fantasia re significa a mem ria da experi ncia pr via permite uma tradu o dela e ent o uma defesa eg ica torna se necess ria Ferenczi n o discorda de nenhuma das teorias freudia
114. o lado em que est sua m e O trio Marcos Gabriel e M e do Gabriel parecem ter conseguido chegar a um acordo num contato conflito mediado pelo adulto em que as crian as puderam ter voz Empatia entre subjetividades e diferen a geracional poss vel M e do Marcos observando a rela o bem pr xima de Gabriel com sua m e Nossa ele cresceu Nost lgica quanto rela o m e crian a menor Desejosa de uma proximidade simult nea a um poss vel crescimento Admirando essa possibilidade Temerosa com este crescimento A gente fica um tempo sem ver quando v cresce rapidinho Transferindo aspectos da pr pria rela o com o filho e da pr pria subjetividade para o grupo e seus membros ambival ncia em rela o ao crescimento admira o x susto com a perda de controle 100 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as M e do Gabriel Voc viu como ele t agora Agora ele n o brinca mais Todo lugar que eu vou ele s quer ficar perto de mim Num misto de perplexidade e orgulho Terapeuta M a Ida estava comentando isso da outra vez Costurando continuidades no cuidado do casal parental Terapeuta M O Gabriel est a no colinho no peitinho Associando conduta e estado ps quico em linguagem metaf rica poliss mica Terapeuta I Parece que agora est mais preocupado em deixar esta mam e n T crescendo mas parece que est precisando fic
115. onde ela p de lembremos reencenar alguns aspectos da experi ncia abusiva transferencialmente e assim permitir que a representa o desde o princ pio recusada ou n o reconhecida como tal aparecesse em seus desenhos Pergunto lhe se ela lembra o que a trouxe ao meu consult rio pela primeira vez Ela diz que sim embora a pergunta desnecess ria tivesse o intuito de observar a dimens o da recusa e da forma o substituta realizadas Ela disse que tinha quatro anos e o X tinha mexido nela Em suas palavras Eu num lembro como Eu tinha 4 Hoje t com 5 anos Na foto de Goldshtein Trotsky e Kamenev foram substitu dos pela propaganda stalinista O primeiro foi expulso do Partido Comunista sete anos depois de postar se pr ximo a L nin no discurso em frente ao Teatro Bolshoi Em seus lugares na lateral do p dio de onde contemplavam a multid o fardada foram pintados cinco degraus por onde L nin teria subido antes de retirar a boina e dirigir se aos soldados que seguiriam ao front polon s King 1997 p 67 71 A percep o de Natalina como a foto de Goldshtein ela esteve ali em algum lugar intocada durante certo tempo Sua foto percep o p de ser vislumbrada brevemente porque em transfer ncia ela recolocou se e me colocou como espectador outra vez no banheiro onde foi abusada Mas sua percep o como a imagem da pra a do Teatro Bolshoi em 1920 estava fadada a tornar se representa o E como representa
116. ou que ainda vivenciam Ao atender crian as assim ou posteriormente a uma situa o traum tica o terapeuta tem que lidar com sentimentos que afloram nele mesmo Dessa forma importante refletir sobre as especificidades da contratransfer ncia nessas situa es Esbo o sobre o conceito de contratransfer ncia na obra de Freud A contratransfer ncia um conceito menos frequente na obra Freudiana e n o foi sistematizado pelo autor Ap s Freud diferentes autores trabalharam esse tema mas h vis es muito distintas sobre ele A contratransfer ncia vista por alguns apenas como um obst culo a ser reconhecido e superado por outros vista como um campo rido mas que permite a atua o terap utica do profissional Em 1910 ao discorrer sobre as perspectivas futuras da terap utica psicanal tica Freud trabalha o tema da contratransfer ncia apresentando a como algo que nessa poca j fazia parte do trabalho dos analistas Para o autor no analista ela surge como resultado da influ ncia do paciente sobre seus sentimentos inconscientes e estamos quase inclinados a insistir que ele reconhecer a contratransfer ncia em si mesmo e a sobrepujar FREUD 2006 1910 p 150 De acordo com essa vis o tal fen meno precisa ser identificado na rela o do analista com o paciente para que o terapeuta possa localizar em si mesmo seus complexos e suas resist ncias Para que a an lise avance necess rio que o analista
117. outra de cada vez Exemplifica dizendo quando levo Bruna na nata o procuro estar s com ela a vez dela E quando estou com Lara a vez dela As analistas colocam a hip tese de que ela tenha d vidas sobre a possibilidade de cuidar das duas ao mesmo tempo e ficando dif cil poder dar aten o para ambas ficando em qualquer situa o como uma m e insuficiente ou m O desafio que se coloca neste encontro parece ser como permitir ao este grupo familiar perceber se como uma fam lia ampliada que disp e de espa o para o pai para um amor compartilhado e para lidar com a rivalidade entre irm os 20 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as As coloca es que haviam sido feitas evocam em Marcos a lembran a de um encontro da fam lia materna que segundo seu relato marcado por queixas e ressentimentos das filhas em rela o m e que a acusavam do que ela havia feito para uma e n o para outra As duas parecem se unir para destilar venenos sobre as falhas maternas Em seu brinquedo silencioso Bruna reitera o que era dito verbalmente quando encontra uma bolinha solta e diz com surpresa que havia outra buscando uma bolinha um pouco maior que ela havia guardado junto com algumas maquiagens A analista ao seu lado confirma que sim haviam duas bolinhas e que as duas cabiam naquela caixinha Animada com nossa conversa mostra que tamb m tinham dois tubos de cola A analista q
118. pedir mais a ajuda de Marcos e ele confirma que durante a noite havia acordado v rias vezes para atender Lara e tentava saber o que ela queria ao inv s de logo atribuir lhe fome Conta com anima o que est aprendendo a decodificar seus choros e necessidades deixando claro sua participa o mais ativa na din mica familiar Bruna novamente se interessa pelo durex mas agora vai juntando pedacinhos que faz um longo fio e diz que um tigre e que ele morde Sua brincadeira faz a m e lembrar que ela tinha levado da escola um livro A mam e est zangada pedindo para a m e ler muitas vezes Bruna participa da conversa complementando as falas da m e As analistas comentam sobre Bruna estar se sentindo mais vontade para expressar seus sentimentos de raiva e ci me provavelmente porque eles tamb m tinham ficado mais tranquilos em rela o a esses sentimentos O casal conta que at conseguiram sair a s s para jantar e que aos poucos sentem haver mais espa o para a vida a dois O que percebemos ao longo desses encontros que h uma mudan a de foco nas ang stias iniciais Se antes havia uma m e e uma filha encapsuladas por essa urg ncia de sentir se boa m e agora h uma fam lia que tenta se reorganizar frente as novas configura es e espa os de cada um A possibilidade de acolher a destrutividade presente nas v rias dimens es da fam lia permite que essa fam lia se reencontre Todos podem expressar seus ressentimentos e mau esta
119. potencializa o de sua pr pria maternagem parece ter sido consequ ncia de se ver novamente como frut fera fonte de energia para a filha e suficientemente boa m e para ela Um dos objetivos da cl nica de pais e beb s promover atrav s da conscientiza o das fantasias o contato dos pais com o beb real o que pode se reverter em uma rela o mais verdadeira e baseada na subjetividade daquele beb em particular em rela o com aqueles pais Os pais podem tamb m se fortalecer em suas fun es atrav s da apropria o de seu papel parental e assim capacitar se para entender e atender as necessidades do filho Mendes de Almeida Marconato e Silva 2004 O atendimento a beb s por sua caracter stica din mica e viva pode propiciar momentos de consci ncia que sejam ricos e potencialmente transformadores Um conceito importante para os atendimentos a pais e beb s o de enactment que pode ser descrito como um momento sagrado Mendes de Almeida Marconato e Silva 2004 em que algo que ocorre na consulta toca os pacientes e ressoa no analista algo como um eco de um conte do inconsciente importante para sua hist ria um s mbolo de algo que importante para aquela rela o No caso relatado o comportamento de cuidado que M tinha com a m e foi bastante esclarecedor da din mica que estava estabelecida Juntas e vivendo aquela experi ncia pudemos sentir a fragilidade de T suspensa no ar e criar outra forma de lidar com
120. prec rios 53 Daniel Rodrigues Lirio Carta a um jovem paciente l o oo ao a ao vo oo ao aa amu DO Daniele John Uma mosca no Inferno de Dante a n a a a ao ao oo ae ae oe oo ae e e ae me ie BO Denise de Sousa Feliciano A cria o na cl nica institucional projeto intersetorial na escola 61 Denise Maria Cardoso Cardellini Quando o ambiente o abrigo cuidando das cuidadoras cics 66 Dra Denise Sanchez Careta Profa Dra Ivonise Fernandes da Motta A import ncia da recusa em an lise com crian as a ao o oo ao oo ao o o e a o TO Elisa Maria de Ulhoa Cintra Transfer ncia e transicionalidade na cl nica com beb s l a a aaaea aaa NM Elisa Motta lungano ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Entre o tempo e o outro o reconhecimento da experi ncia nas franjas da transfer ncia 77 Eug nio Canesin Dal Molin Entre mamar e surfar an lise de um menino a a ao ao a ao ao a aooaa B Fernanda Dornelles Hoff Um paciente que s o dois cl nica extensa no consult rio n n a o a o o a a B2 Fernanda Sofio O lugar da demanda na an lise com crian as cics BT Fl via Blay Levisky Algumas quest es relacionadas transfer ncia no psicodiagn stico interventivo 88 Giselle Faria Guimar es Mariana do Nascimento Arruda Fantini Crian a hospitalizada tr
121. procura pelo her i para os casos dif ceis se reedita nos espa os de supervis o ou discuss o pela demanda por uma solu o m gica para o problema como se os manejos fossem sabidos a priori como receitas previamente validadas Ao contr rio as solu es devem ser constru das em equipe mas tamb m levando se em considera o os demais equipamentos dispon veis Muitas vezes regi es bastante prec rias contam com uma boa diversidade de equipamentos capazes de dar suporte crian a juntamente com a escola formando um tecido social verdadeiramente eficaz Esses servi os precisam ser mapeados At o momento neste texto tenho feito um caminho problem tico medida em que n o tenho inclu do a fam lia na compreens o e enfrentamento dos casos dif ceis Essa escolha ocorre na tentativa de contemplar os casos mais graves em que os cuidadores pouco se ocupam de fato do cuidado da crian a Para tanto as causas s o as mais diversas desde o excesso de trabalho passando pelo abuso de drogas problemas com a justi a at o descaso e o abandono Muitas vezes quem cuida uma tia ou av j bastante atarefada doente ou idosa constituindo uma situa o complexa cujo manejo foge do escopo deste texto Enfim h casos bastante dif ceis que na aus ncia de um poder p blico realmente eficaz v o transcorrer com intenso sofrimento para a crian a preciso contudo que a escola n o se paralise diante dessa situa o e descubra
122. produ es de Jiane a ponto de ela trazer trufas feitas por ela para que prov ssemos e reafirm ssemos sua capacidade criativa permitindo ent o que ela experienciasse algo n o acontecido em sua inf ncia devido a rigidez de sua m e Ao sentir se segura na rela o terap utica Jiane relatou que engravidou numa tentativa de segurar o marido pois este queria um filho e ela desde que viera de Minas Gerais estava muito depressiva n o conseguindo fazer as tarefas de casa A partir deste relato pudemos fazer uma rela o com suas proje es de dio e incapacidade frente a Boneca costurada na Oficina a gravidez descrita como algo ruim e enjoada representavam uma gravidez indesejada por ela Ao poucos Jiane pode demonstrar o dio que sentia da filha por tomar tanto seu tempo e o dio da m e por n o ter lhe oferecido coisas boas No fim das sess es quando sua filha ia em busca de seu colo e seio 3 Apesar da proposta ser atender crian a e aos pais cuidadores em sua grande a maioria os atendimentos acontecem somente com a m e e o beb S o diversos os fatores cotidianos que t m impedido os pais de compareceram e a Habitare tem se dedicado a refletir sobre eles em ocasi o oportuna pretendemos apresent los e discuti los 4 Nome fict cio 168 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Jiane muitas vezes se negava a amamentar a filha por estar com muita raiva dizia
123. projetiva na grupoterapia psicanal tica REVISTA DA SPAGESP Ribeir o Preto no 1 2007 DELLA NINA M Holding e contin ncia em Winnicott sua rela o com o campo emp tico de intera o Alter Jornal de Estudos Psicanal ticos Bras lia Sociedade de Psican lise de Bras lia n 2 257 275 2002 FERNANDES W J O processo Comunicativo Vincular e a Psican lise dos V nculos In FERNANDES W F SVARTMAN B FERNANDES B Grupos e configura es vinculares Porto Alegre Artmed 2003 p 43 55 Crescimento Mental e Modelos no Processo Grupal As dificuldades da Comunica o In Grupos e configura es vinculares Porto Alegre Artmed 2003 p 129 143 FERRO S A Grupan lise como Instrumento de Cura Anal tica Algumas Considera es Sobre os Modelos Psicanal ticos e a T cnica Grupanal tica Dispon vel em lt http Avww grupanalise pt ga pdfs revistaonlinel pdf gt Acesso em 02 nov 2009 LAM C A presen a do terapeuta na sess o Fato anal tico sol e alma 2007 Trabalho apresentado no curso CEPPV Centro de Educa o Permanente em Psican lise dos V nculos Nesme S o Paulo NAVA Ana Sofia Empatia e grupan lise uma abordagem integradora REVISTA DA SPAGESP Ribeir o Preto no 2 p 01 18 2005 TABAK de BIANCHEDI E La perspectiva vincular em psican lisis Dispon vel em lt http Avww psi uba ar biblioteca bvs aappg revistas digitalizadas 1999 2 1 MESAY 20REDONDAY20Bianchedi 20
124. propiciar a possibilidade de um novo ambiente reparador onde as fun es parentais possam ser revistas possibilitando assim o atendimento das necessidades b sicas do beb O sintoma trazido pelos pais pode ser visto como um n que atrapalha o amadurecimento do beb mas que poder ser desfeito ou afrouxado pelo trabalho conjunto propiciando melhores condi es de comunica o e desenvolvimento Um breve relato cl nico Recebemos um casal encaminhado pelo pediatra angustiados com recusa da filha em alimentar se de comida s lida J trataram com fono possibilidade de refluxo ou alergia a alguma coisa mas ela continua se recusando s vezes tem at nsia de v mito frente comida Relatam que desde a passagem do leite para a papinha Juliana se recusa a comer e s fica no leite e isto me deixa frustrada diz a m e O casal relata que Juliana nasceu fruto de uma insemina o artificial depois de 10 anos de tentativas frustradas de engravidar Minha m e dizia que era melhor eu n o engravidar por que n o daria conta Talvez Deus ache que eu n o nasci pra ser m e Uma gravidez muito desejada e esperada por todos mas acompanhada por fortes enj os durante os nove meses da gesta o e de uma ang stia devido a uma incompatibilidade sangu nea entre os pais 24 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Preocupa o que tivesse algum p
125. que o ato realizava para poder dizer mais tarde guiada pelos textos escritos pelos colegas da cole Lacani nne nessa forma precisa de dizer de efetua o do significante Respeitar a crian a em seu agir e mais buscar a leitura deste mesmo agir no relato que a m e fazia da hist ria familiar e da hist ria da crian a isto mudava toda a cena Aquela crian a que nos havia chegado muito mal agora j passava a falar a brincar e rapidamente encontrava uma forma de sair do tratamento e de se engajar na vida corrente de uma crian a qual ela n o tinha acesso at ent o ou onde encontrava entraves e dificuldades antes do tratamento Algumas crian as deitavam se no div e faziam an lise As m es entravam em an lise e diziam ent o que finalmente eram ouvidas Era no real que se efetuava portanto o significante construindo cenas criando cenas No conto A terceira margem do Rio o narrador fala de seu pai que em um dado momento decidiu um adeus para a gente Nosso pai n o voltou Ele n o tinha ido a nenhuma parte S executava a inven o de se permanecer naqueles espa os do rio de meio a meio sempre dentro da canoa para dela n o saltar nunca mais A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente Aquilo que n o havia acontecia todos pensaram de nosso pai a raz o em que n o queriam falar doideira E a est Guimar es Rosa a nomear t o bem aquilo de que se trata no acontecimento da loucur
126. que revive ali comigo na sua an lise uma dimens o do trauma do excesso daquilo que n o para de repetir uma atualidade que interrompe a possibilidade de brincar Ele n o mais est brincando n o um personagem que fala o pr prio Bruno que tomado de desespero grita Estamos Bruno e eu de cara com a intensidade das quest es a serem atravessadas Tomados pela ang stia e num primeiro momento paralisados Ser preciso interceptar este circuito Nas situa es de brincadeira com Carolina sou sempre colocada por ela na posi o de filha Minha m e ou o adulto que de mim cuida traz uma ambiguidade que me faz viver na pele via transfer ncia as dificuldades para fazer da d vida por ter sido adotada algo simb lico Voc deveria agradecer a Deus por sua mu m e ter te adotado sen o voc estaria na rua Se voc n o se comportar vai voltar para o lugar de onde voc veio Voc fala demais fica quieta S o amea as que tentam emudecer qualquer quest o colocada em torno da rela o m e e filha Elas surgem a cada vez que introduzo na brincadeira a voz da filha voz que fala do que talvez possa estar sentindo quando colocada na posi o imagin ria de devedora de uma quantia impag vel Karen acaba de chegar adolesc ncia Foi adotada ainda beb mas s o as situa es de irrup o de violentas crises de agressividade durante as quais bate nas pessoas e quebra coisas que a trouxeram para an lis
127. rela o com o terapeuta estabelecer v nculos que d em a ela seguran a de que aquele um adulto diferente do que cometeu o abuso e a negligenciou Uma outra quest o que vem tona quando se atende uma crian a abusada sexualmente o papel tico do terapeuta perante aquele ser que sofre de abusos e neglig ncias Muitas vezes h um desamparo tanto ps quico quanto real no pr prio profissional que precisa buscar recursos em outros campos para promover a si mesmo amparo ps quico e tamb m legal pois s o casos vinculados rede de apoio a v timas de viol ncia e ao campo jur dico Em muitos casos a atua o do terapeuta tamb m ampliada indo al m do que ocorre no consult rio pois ele tem que lidar com quest es pr ticas averiguar com mais detalhes como est o as rela es sociais daquela crian a como est seu ambiente familiar e se ainda h contato com o abusador Essas hist rias que comovem quem se envolve com elas suscitam no terapeuta diversos sentimentos provenientes de sua pr pria hist ria de seu pr prio desamparo e rea es contratransferenciais perpassam os atendimentos Fran a 2009 explora diversas quest es a respeito da contratransfer ncia no atendimento de crian as e adolescentes v timas de abuso sexual Podemos relacionar suas reflex es ao conceito de desamparo Uma hip tese seria a de que ao se deparar com o estado de desamparo de uma crian a que sofreu abuso sexual o terapeuta tem seu ps
128. resist ncias internas Depois de Freud diferentes teorias surgiram com base em determinados pontos pelos quais Freud passou em seu desenvolvimento da teoria Para o autor Racker 1982 existem dois grupos de analistas que seguem duas t cnicas distintas devido ao enfoque que Freud fez em dois aspectos diferentes da din mica da transfer ncia Para um grupo de analistas a transfer ncia predominantemente resist ncia O essencial do processo anal tico est em recordar a inf ncia reprimida propriamente dita em preencher as lacunas mn micas e a transfer ncia segundo Freud um instrumento para isso Para outro grupo de analistas o essencial no processo anal tico est na pr pria transfer ncia ou seja na reviv ncia devendo simultaneamente impedir se uma nova repress o Racker 1982 p 48 Winnicott 1954 fala da import ncia de considerar a hist ria do desenvolvimento da pessoa no estabelecimento do diagn stico Para ele a transfer ncia segundo o conceito cl ssico somente se aplicaria aos pacientes que n o tiveram falhas de maternagem no per odo da depend ncia absoluta 1945 Para aqueles que n o puderam contar com um ambiente suficientemente bom nesta poca o que projetado na figura do terapeuta s o experi ncias de abandono e desamparo vividas num momento anterior a constitui o de um aparelho ps quico com recursos para representar e portanto reprimir tais conte dos Assim tomando com
129. responsabilidade das institui es de acolhimento representadas pela figura do Estado zelar pelo cuidado e guarda das crian as e adolescentes cujas fam lias de origem por motivos diversos n o tiveram condi es de zelar O presente trabalho insere se nessa realidade e trata da experi ncia cl nica realizada em uma institui o de acolhimento de crian as e adolescente na regi o da Grande S o Paulo Por meio da apresenta o de uma interven o psicoterap utica temos como objetivo demonstrar a possibilidade de amplia o do enquandre terap utico em um espa o institucional no sentido de promover um ambiente humano adaptado que possa auxiliar o desenvolvimento psiquico de uma crian a em acolhimento D W Winnicott 1963 1983 ao se referir a import ncia do ambiente no processo de desenvolvimento infantil menciona que tal processo de matura o s se efetiva se houver um ambiente favor vel que caracterizado pela adapta o quase total no in cio da vida mudando gradativamente no sentido da desadapta o de acordo com o desenvolvimento gradual do lactente no sentido da independ ncia Nesse sentido o psicanalista ingl s considera o desenvolvimento como uma tend ncia humana natural o qual necessita de um ambiente que apenas respeite e favore a esse processo sendo esse ambiente representado pela m e suficientemente boa que sustenta a experi ncia do beb para torna l satisfat ria Onde est o Id do beb ali
130. ricos e em crescente sofistica o simb lica Assim a crian a padece de momentos traum ticos de destrui o dos seus esfor os Filmes caseiros de beb s diagnosticados como autistas quando mais velhos permitem o estudo de tal conflito Lerner 2011 Resulta que o registro interno que a crian a faz do objeto o de um destruidor o que se refor a pela confus o existente entre as identidades de si e do outro Ainda assim a crian a persiste Alguns exemplos do conflito resultante s o a crian a saber para onde o outro olha para recusar lhe o olhar e a crian a recorrer ao outro para fazer algo que pode fazer sozinha elidindo formas de comunica o e contato mais ricas e sofisticadas Ao fim da avalia o de W evidenciei pontos que os pais contaram do seu hist rico que pareciam sugerir capacidades de W fazer frente tend ncia de desconex o que apresentava desde cedo tais como a evolu o de sua fala com o tratamento fonoaudiol gico a manuten o de conte dos que aprendia e a facilidade com que se deixava contatar apesar das dificuldades em corresponder ao contato adequadamente Mencionei a import ncia de que fosse montada e coordenada uma rede de trabalho entre profissionais da sa de e educadores que seguisse diretrizes comuns o que at ent o n o havia No come o do trabalho W fazia falas descontextualizadas tinha agita o motora constante estereotipias e quase n o sustentava troca de olhares As respostas s minh
131. rio um bicho de pel cia verde que funcionando como um disparador de associa es era logo abandonado e Igor passava a lutar e bater no vazio dizendo estar matando os monstros verdes do mal Parecia vivenciar um 1 Psicanalista membro efetivo e co coordenadora do grupo F rum Cl nico Permanente Cl nica Psicanal tica Contem por nea do Departamento Forma o em Psican lise do Instituto Sedes Sapientiae Aprimoramento no HCFMRP USP Psic loga formada pela FFCLRP USP robrandaniQuol com br 207 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as momento alucinat rio a representa o do mal estava funcionando como percep o sem a possibilidade de discrimina o do objeto real e do objeto representado como no exemplo do chantili n o parece chantili chantili Diferenciar o representado daquilo que percebido marca a diferen a entre o interno e o exterior ao psiquismo discrimina o ainda confusa para Igor Como interven o pensei que n o adiantaria recorrer ao senso comum e demonstrar que gua e sab o sendo necess rio uma a o de minha parte que o impedisse de comer o sab o Interferi dizendo lhe algo assim n o chantili mas na sua cabe a quando voc pensa que chantili passa a ser e voc n o consegue diferenciar o que pensa do que e isso faz com que se confunda Seguindo as observa es de Bleichmar de que tem que renunciar a
132. seria importante que em cada atendimento as tr s etapas do jogo da esp tula pudessem ser conclu das Quer dizer que os encontros que comp em toda a avalia o psicol gica reproduzem o processo completo ou seja em cada uma dessas partes a ess ncia do todo deve se reproduzir Para tanto sistematizamos uma estrat gia cl nica que marca o per odo de encerramento do processo Trata se de uma t cnica projetiva que chamamos de linha do tempo ou seja constru mos um trajeto temporal que retoma todas as etapas do psicodiagn stico Utilizamos uma cartolina barbante fio de l cola tesoura recortes de revista l pis colorido e grafite e canetinhas O trabalho inicia com o supervisor retomando para as crian as pacientes que como j anunciado na sess o anterior este o pen ltimo atendimento Dizemos que por isso vamos relembrar tudo que fizemos desde o primeiro dia e registrar na cartolina a hist ria dos nossos encontros o material gr fico apresentado e os estagi rios v o auxiliando a crian a na reconstru o do processo de psicodiagn stico A atividade ainda prev a representa o do pr prio dia ou seja registra se o momento espec fico e a atividade da linha do tempo como se fiz ssemos uma marca o de tempo Na sequ ncia os estagi rios interv m contando para o paciente como ser o ltimo atendimento informam que v o entregar um livro de hist ria para a crian a para que ela possa levar para a casa
133. seu estado No entanto h casos que em fun o do caminho feito anteriormente por aqueles que delas se ocuparam encontram se em um impedimento S o crian as que n o frequentam escola e que ficam assim confinadas no relacionamento familiar Parti da hip tese de que era necess rio tocar essa situa o intervindo no sentido de produzir as condi es que eu considerava necess rias para a inclus o desses pacientes na escola pois eu considerava que esta inclus o escolar poderia trabalhar a favor da supera o dos problemas apresentados pela crian a foi esta a hip tese que originou este projeto TECER que coordenei Criei ent o no interior do IPUSP um espa o um laborat rio onde os trabalhos deveriam se 4 Brauer J F 2000 A crian a no discurso do Outro Ensaios sobre a cl nica dos dist rbios graves na Inf ncia tese de Livre doc ncia IPUSP 5 Conforme se pode ler em Lacan J Le sympt me confer ncia feita no Centre F de Saussure em Genebra no dia quatro de outubro de 1975 em uma jornada organizada pela Societ suisse de psychanalyse e publicada no Bloc notes de la psychanalyse 1985 n 5 pg 5 a 23 6 Termo criado por Freud para denominar o ponto que o intrigava na esquizofrenia o autoerotismo far seu caminho na psican lise mas tamb m originar uma debate do autor com Jung e com Bleuler com quem Freud investigava esse assunto E desse debate que nascer um segundo neologismo este de Bl
134. sozinho Imp s se a mim a necessidade de flexibilizar a moldura padr o esta mais conhecida como setting e muito cara aos psicanalistas o que resultou em altera es t cnicas Foi imprescind vel o pensamento de Fabio Herrmann para que que fosse poss vel considerar se esse caso sess o a sess o e para o rumo que essa an lise tomou A transforma o da t cnica no trabalho anal tico em particular com crian as n o in dita Recuando um pouco e pensando se a hist ria da Psican lise vemos que a altera o da t cnica psicanal tica no trabalho com crian as n o exclusiva contemporaneidade De fato os grandes inovadores t cnicos s o os cl ssicos Melanie Klein 1932 1975 e Sigmund Freud 1909 2003 Freud se tomarmos seu estudo sobre o pequeno Hans como um relato de caso alterou radicalmente a t cnica da Psican lise Embora nunca tenha estado com o pequeno Hans em situa o anal tica conversava com seu pai e o ajudava a tratar do filho configurando uma forma de atendimento muito longe do que seria o padr o Klein criou um enquadre anal tico inteiramente novo ao introduzir a an lise de crian as como pr tica cl nica O lugar da Teoria dos Campos outro Nela encontrei referencial te rico para dar prosseguimento a um caso que exigiu distanciamento do padr o psicanal tico estabelecido pois ela permite pensar a fun o da moldura anal tica mais conhecida como setting De acordo com esse pensamento a mol
135. suportar a pr pria ang stia do n o saber apesar de seu referencial te rico e preferi limitar minha interven o Assim entendendo que estava diante de um bloco hipermn sico como escreveu Bleichmar descontextualizado e sem um fator desencadeante aparente um fragmento discursivo que surgiu expressando que o pr prio Igor estava submetido invas o de processos que n o podia dominar perguntei quem fala isso At porque sua fala n o fez refer ncia ao pr prio genital e t o pouco veio acompanhada de preocupa o ou ang stia No seu psiquismo faltavam 209 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as os nexos que articulam as representa es entre si possibilitando que pudesse funcionar segundo a l gica do processo secund rio Desse modo algo na cena do nosso jogo no quadro colocou em movimento marcas mn micas que progrediram pelo fracasso na instala o dos mecanismos inibidores e seguindo Bleichmar a significa o n o operava do lado de um sujeito que recorda e o manifesto n o podia ent o ser equiparado tomada de consci ncia Refer ncias Bibliogr ficas Botella C e Botella S O irrepresent vel mais al m da representa o Ed Biblioteca Brasileira de Psican lise de S o Paulo 2002 Bleichmar S Nas Origens do Sujeito Ps quico do mito historia Ed Artes M dicas Porto Alegre 1993 Bleichmar S A Funda o do Inconsciente destinos da
136. tem um problema muscular e o cora o tamb m um m sculo Conta ainda que depois que souberam o diagn stico dele h quatro anos seu marido come ou a beber para afogar as m goas Em 1915 Freud no ensaio Nossa atitude perante a morte escreve que nossa atitude em face morte n o das mais francas Argumenta que quem ouvisse as pessoas dizerem que o fim necess rio de toda vida a morte sendo ela inevit vel e natural poderia acreditar que se age dessa maneira quando na realidade o que se d muito diferente As pessoas se comportam como se a morte n o fizesse parte de suas pr prias vidas Procur vamos reduzi la ao sil ncio escreveu Freud 1915 p 230 e se observarmos o caso de Vitor muitas vezes esse sil ncio pode tomar propor es inquietantes para quem o observa Mas o 1 Psic loga cl nica especialista em Psicologia Cl nica Teoria Psicanal tica pelo Cogeae PUC SP especialista em transtornos da Inf ncia e Adolesc ncia pela UNIFEV Centro Lydia Coriat especialista em Gest o P blica pelo INSEP PR Aluna do curso Psican lise no SEDES e Coordenadora do Servi o de Psicologia da Cl nica de Fisiatria e Reabilita o de Londrina 2 O paciente e sua fam lia autorizaram a utiliza o do material 105 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as sil ncio de Vitor da mesma natureza deste a que se refere Freud Se sim do que se
137. tentativa freudiana de lidar com as quest es que surgiam de um primor raro N o descreverei tudo o que Al m do princ pio do prazer traz nos de novo Meu interesse est no que podemos ler nesse texto que trata da forma o do trauma A ideia t o antiga quanto o Projeto e j fora apresentada em Introdu o ao narcisismo Trata se da ideia de uma economia no funcionamento do aparelho ps quico que mais primitiva e vive sombra do princ pio do prazer Em 1914 por exemplo Freud a descreveu da seguinte forma Reconhecemos que ao nosso aparelho ps quico cabe sobretudo lidar com as excita es que de outra forma seriam sentidas como dolorosas ou provocariam efeitos patog nicos 1914 p 85 Em 1920 este aparelho de dominar excita es discutido detalhadamente Freud 1920 reafirma a distin o feita por Breuer entre energia de investimento quiescente ou ligada e livre nos elementos dos sistemas ps quicos p 26 27 Ferenczi no texto p stumo de 1931 n o falava de algo similar de impress es mentais mesmo as menores que precisavam ser dominadas e descarregas Por enquanto caminhemos com Freud porque ap s a reafirma o da hip tese de Breuer encontramos a famosa met fora da ves cula Freud nos fala dessa pequena subst ncia viva que seria morta pela estimula o que emana das energias do mundo externo n o contasse ela com um escudo protetor contra est mulos 1920 p 27 Para Freu
138. transfer ncia exerce a fun o da m e suficientemente boa que oferece um ambiente acolhedor confi vel e continente ao beb indispens vel ao desenvolvimento emocional do indiv duo Na an lise de pacientes que desenvolveram um falso self ou que n o possuem um ego formado intacto como ocorre no caso que ser apresentado oportunamente Winnicott 1955 6 pontua a necessidade de dar maior import ncia ao manejo do que a interpreta o o analista deve ser suficientemente bom para adaptar se necessidade do paciente suscitando neste a esperan a de que o verdadeiro self n o sofrer riscos e assim poder a viver Como dissemos anteriormente o encontro do analista com o paciente se d no espa o potencial ou seja na terceira rea da experi ncia humana na qual o brincar poss vel e na qual a transfer ncia tamb m poss vel A transfer ncia compreendida por esse v rtice como uma forma de brincar O paciente faz um movimento de busca do analista e o analista por sua vez deixa se encontrar atrav s da singularidade e do estilo de ser do paciente O analista l est em disponibilidade para ser usado pelo paciente e para vir a 166 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as ser destru do em um determinado momento do percurso da an lise A destrui o do analista como objeto subjetivo um momento fundamental da an lise mas a disponibilidade do analista de c
139. trata Se n o o que ele nos fala de Vitor Vejamos o que Freud pode nos dizer sobre esse sil ncio Diz ele Pois a pr pria morte tamb m inconceb vel e por mais que tentemos imagin la notaremos que continuamos a existir como observadores De modo que na escola psicanal tica pudemos arriscar a afirma o de que no fundo ningu m acredita na pr pria morte ou o que vem a significar o mesmo que no inconsciente cada um de n s est convencido de sua imortalidade 1915 p 230 Podemos imaginar se isso se mant m quando o corpo come a a dar fortes sinais de que vacila ou seja quando tomado por uma doen a f sica Uma de minhas pacientes adulta na casa dos cinquenta anos que sofria de um tipo de Esclerose M ltipla muito incapacitante disse certa vez em atendimento estou desistindo do tratamento sei que o que eu tenho mata e n o vou prolongar mais sofrimento Desisto tamb m da vida Seria este um movimento similar por m silencioso o que pude observar em Vitor Minha paciente adulta embora estivesse na posi o de observadora da pr pria morte tamb m poderia estar sofrendo fortes influ ncias de suas sensa es e viv ncias enquanto sujeito O que significaria que essa posi o de observador se encontrava amea ada Uma tentativa de resposta deve passar por como a morte aparece no inconsciente Ao lado da afirma o de que no inconsciente cada um de n s est convencido de sua imortalidade Fre
140. um com seu analisante para assim emprestar uma materialidade ao objeto a Entendo que aquilo de que se trata de acolher o movimento que se instala nesta transfer ncia e que toma o analista como parte dele E o analista o faz oferecendo para isso os espa os de que ele disp e Mas preciso voltar ainda um instante Vista desta perspectiva a loucura passa a ser considerada como uma forma de cria o humana bem ao contr rio do que diz a palavra doideira que Guimar es Rosa emprega no conto que acabo de citar reproduzindo claro o dizer do brasileiro a esse respeito Se consultarmos um dicion rio etimol gico veremos que loucura uma palavra de etimologia desconhecida O dicion rio nos remete a doido doudo e ent o que encontramos o seguinte douda uma doen a que d no gado Dizer doideira significa portanto sugere que se trata de uma doen a do bicho homem algo de seu corpo que n o se trata de algo humano no acontecimento da loucura no sentido de humano como ser de cultura como ser de linguagem Eis a forma como essa concep o da loucura veiculada na medicina encontra se enraizada na linguagem popular mesma E eu me pergunto o que teria 11 Le Gauffay G C est quel sujet 2009 EPEL Paris pg 39 tradu o livre 12 Le Gauffay G Lacan per via de levare 2010 Buenos Aires semin rio de agosto 13 Cunha A G 1986 Dicion rio etimol gico da l ngua portuguesa Lexikon Editora Digital Rio de Jan
141. uma brincadeira de colocar um esparadrapo num bichinho de pel cia porque ele est doente Kelly aponta o esparadrapo e diz dod i depois retira o esparadrapo e diz sar vai tamb m mostrando os dod is em seu pr prio corpo e um catete cateter por onde colocam a medica o que ela precisa tomar A m e nomeia o progresso Voc viu como minha filha est bonita Podemos considerar as conquistas de Kelly numa dupla vertente elas foram poss veis gra as diminui o da ang stia da m e que pode ent o olhar para a filha al m da doen a mantendo seu investimento libidinal assim como possibilitaram Rosa ficar menos angustiada reconhecendo sua filha enquanto sujeito tal como antes Retomando O atendimento em enfermaria possui diversas vicissitudes pois lidamos com o imprevis vel n o se sabe quanto durar o per odo de interna o nem tampouco o que o paciente far em cada momento o que pode dificultar ou impossibilitar o atendimento ele pode estar sendo submetido a algum procedimento dormindo comendo tomando banho se trocando Trata se de um setting muito particular Na primeira enfermaria citada cir rgica os quartos s o compartilhados e comumente imposs vel deslocar o paciente para outro local mais reservado devido instabilidade do quadro cl nico desse modo o atendimento realizado na presen a de outros pacientes Os atendimentos aos acompanhantes podem ser reali
142. uma diferencia o entre analista e analisando a fim de delimitar as possibilidades de gozo do paciente dentro do espa o anal tico Ao mesmo tempo procura destacar que o fazer se continente das ang stias e excita es do paciente pode ser t o ou mais importante quanto uma interdi o ou uma interpreta o 1 Psic loga PUC SP especializa o em Psican lise da Crian a Sedes Sapientiae Membro do Departamento de Psi can lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientiae integrante do Grupo Acesso Estudos Interven es e Pesquisa sobre ado o da cl nica psicol gica do instituto Sedes Sapientiae Psic loga da Unidade de Terapia Intensiva Pedi trica do Hospital S o Paulo e Membro do Setor de Sa de Mental Pedi trica da UNIFESP juliageida gmail com 113 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A constru o da alteridade em um dispositivo l dico de interventores m ltiplos com um sujeito autista Julia Maciel Soares Palavras chave Alteridade Autismo Repeti o Transfer ncia O presente trabalho uma reformula o de um trabalho apresentado na mesa redonda do Coloquio de Doutorandos da Universidade Paris 13 em dezembro de 2010 Sabe se que para a crian a o brincar mais que uma simples atividade recreativa um trabalho levado a s rio atrav s do brincar que a crian a desenvolve sua capacidade de comunica o sua independ ncia nas ati
143. vivido s o condi es para a retomada e constru o de novas narrativas por essa crian a Considera es finais A provisoriedade prevista na medida de abrigamento surgiu como uma condi o para impedir que os longos per odos de institucionaliza o das crian as privadas do conv vio familiar dificultassem a retomada dos v nculos familiares e comunit rios Expressava assim a expectativa desse breve retorno em um momento hist rico em que as interna es eram provocadas principalmente por raz es econ micas Mas como vimos a quest o da provisoriedade vai assumindo sentidos e fun es muito al m do originalmente pensado Assim se a provisoriedade aparece como correlata desvaloriza o da institui o em rela o fam lia vista em si como um impeditivo de estabelecimento de v nculos e portanto como uma condi o 51 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as para a desvaloriza o da experi ncia de abrigamento Parece nos tamb m que se apresenta como uma defesa frente ao sofrimento provocado nos pr prios profissionais diante do desamparo vivido pelas crian as do abrigo S o sentidos que n o se excluem pelo contr rio se entrela am e configuram uma complexidade nas rela es presentes nas institui es abrigo e com os diversos atores que com elas interagem Nosso trabalho uma aposta no abrigo como um lugar de encontros capaz de possibilitar o vir
144. 02 Confusion of Tongues Between Adults and the Child The Language of Tenderness and of Passion In Final Contributions to the Problems and Methods of Psycho Analysis London Karnac FREUD S 1912 The Dynamics of Transference SE XII _ 1914 On Narcissism An introduction SE XIV 1917 1916 1917 Introductory Lectures on Psycho Analysis SE XVI 1920 Beyond the Pleasure Principle SE XVIII GOMBROWICZ W Cosmos S o Paulo Companhia das Letras 2007 LAPLANCHE J Probl matiques VI Paris Puf 2006 80 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Entre mamar e surfar an lise de um menino Fernanda Dornelles Hoff Palavras chave Transfer ncia Constitui o Ps quica Narcisismo Estrurura Ed pica O tema da transfer ncia grande paradigma da Psican lise Freudiana suscita questionamentos na Cl nica com Crian as O processo de transfer ncia enquanto eixo central da t cnica possui especificidades na an lise de uma crian a por sua condi o de sujeito em constitui o Apresento um caso de an lise de um menino discutindo quest es ligadas ao modo como se d a transfer ncia e a forma como acredito que ela possa ser utilizada partindo de aportes te ricos que at o momento fazem parte da minha trajet ria A crian a de uma ou de outra forma inclu da na estrutura ed pica no desejo dos pais e para seu amadurecimento se
145. 109 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Y buscava essa proximidade com a m e e com o pai que pode ser resgatada atrav s do perigo de morte A disponibilidade com que os pais responderam ao acontecido demonstrou a presen a de condi es favor veis de preocupa o genu na com a vida e sa de mental da filha A proximidade ps quica e afetiva conquistada nessa poca foi vital para os progressos que se seguiram Y pode gradativamente discriminar suas ang stias e fortalecer aspectos importantes de sua identidade Isso interferiu positivamente em seu desempenho escolar em sua vida afetiva e em seu relacionamento social O trabalho continua at hoje com resultados positivos tendo desaparecido os epis dios de uso excessivo de lcool e medicamentos com risco de morte medida em que nosso trabalho prosseguiu e Y foi aumentando o contato ps quico com seus conflitos e ang stias as melhoras vieram O que eu chamaria de caos ou turbul ncia foi gradativamente substitu do por um viver mais est vel calmo ou tranquilo O encontro com estados e cuidados primitivos de fus o que puderam ser vivenciados com a m e pai familiares e a terapeuta puderam gradativamente possibilitar o encontro com recursos ps quicos mais favor veis ao enfrentamento de v rias perdas e conflitos caracter sticos da adolesc ncia Conflitos ang stias e sentimentos puderam se manifestar por outros caminhos q
146. 90 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as escondera e voltei a fazer c cegas Neste momento ele olhou para mim e sorriu Fiquei fazendo carinho em sua cabe a e at que ele se levantou e estendeu os bra os nas grades do ber o para que eu o pegasse no colo Levantei me e assim o fiz Esta experi ncia revela a necessidade de manejo de setting se adaptar ao beb mesmo com v rios contatos anteriores Os encontros eram realizados no contexto da institui o Era necess rio seguir o ritmo da crian a ou seja o fornecimento do holding em que um dos fatores fundamentais consiste em seguir as mudan as instant neas do dia a dia que fazem parte do crescimento e do desenvolvimento do beb tanto f sica como psicol gica Winnicott 1960 2002 Caique necessitava de tempo de maneira cont nua para estabelecer o contato e o v nculo T nhamos que nos adaptar as necessidades dele de forma gradual Tal contato era embalado pela nossa afei o estabelecida no tempo Paralelo aos atendimentos com o beb intervimos no ambiente quinzenalmente foram realizados encontros com as cuidadoras respons veis pelo ber rio Em tais encontros retomou se a hist ria de vida da crian a enfatizando as rupturas vivenciadas Esta orienta o tinha o objetivo de mant las informadas sobre poss veis situa es que contribu am para o emergir de intensas ang stias na crian a compreendidas co
147. AIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as da folha No outro canto da folha uma nota 3 5 E junto desta nota voc escreveu assinatura do pai ou respons vel Peguei a folha na m o e disse a voc que agora podia compreender por que voc estava t o bravo que voc vale 10 mas seu pai s pode v lo como 3 5 eu disse Neste dia voc chorou tirou pela primeira vez a capa da onipot ncia e se mostrou fr gil Devia dar um trabalh o manter se sempre t o forte Nessa poca eu n o sabia ainda que voc se mostraria tamb m mais tarde doce Confesso que muitas vezes temi que o nosso trabalho n o daria conta de tirar voc da perspectiva de fazer la os perversos com o outro vida afora Foi dif cil aguentar e manejar tanto dio Sustentava nosso trabalho lembrando do s bio ensinamento de Freud sobre n o tomar o que endere ado ao analista como pessoal mas como uma repeti o de prot tipos de rela o E se importante saber que o amor dirigido ao analista n o deve ser atribu do aos encantos de sua pr pria pessoa Freud 1915 p 210 isso tamb m vale para o dio Que sapato feio este seu Fiquei em sil ncio Voc s tem este sapato Continuei quieta As pessoas v o pensar que voc s tem este sapato Ah com isso que voc est preocupado Com o que as pessoas v o pensar Elas v o pensar que eu sou pobre
148. AN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Novas indaga es e antigas controv rsias na psican lise com crian as Belizia Aben Athar Barcessat Palavras chave Psican lise pr tica cl nica crian a constitui o ps quica As polariza es que inauguraram a pr tica psicanal tica com crian as atualizam se na peculiaridade dessa cl nica impondo quest es que convocam a reflex o metapsicol gica e que incidem na condu o do trabalho anal tico que envolve a crian a Se a tese de que a constitui o do psiquismo resulta da a o conjunta de mecanismos internos e de influ ncias externas reiterada nos textos fundadores da psican lise o gradiente de tais determinantes configura se como eixo privilegiado das disson ncias interpretativas desde a dissemina o do saber psicanal tico As premissas evolutiva e adaptativa a respeito do ego a import ncia atribu da aos objetos e realidade externa e a interven o privilegiadamente dirigida aos pais e n o crian a marcam o pioneirismo do trabalho te rico cl nico de Anna Freud Em contrapartida Melanie Klein preconiza a precocidade das inst ncias ps quicas a determina o dos mecanismos internos e portanto das representa es do ego e dos objetos postulando em oposi o Anna Freud a pertin ncia do tratamento cl nico voltado diretamente crian a Em dire es opostas o trabalho inaugural de Klein e de Anna Freud contorna
149. AN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Considera es finais Percebeu se o quanto era necess rio a crian a viver com a psic loga experi ncias primitivas do seu desenvolvimento na continuidade do tempo para seguir com a constru o das bases do self o qual foi poss vel a partir da montagem do livro com hist rias se suas viv ncias reais Este espa o terap utico adaptado s necessidades da crian a ou seja o ambiente de holding favoreceu com que a crian a no contato com sua hist ria de vida pudesse experimentar lembran as com a figura materna identificando al m da priva o vivida o regaste de aspectos bons e amorosos com o objeto A crian a manifesta recursos emocionais mais evolu dos deixando o estado confusional e integrando no espa o e no tempo sua hist ria de vida a qual se apresentava fragmentada A partir desta experi ncia conclu mos a import ncia de localizar no espa o e no tempo a hist ria de vida da crian a que se encontra em situa o de acolhimento e que portanto sofreu rupturas com o lar de origem Consideramos ainda eficaz a interven o psicol gica proposta realizada no contexto institucional Refer ncias Bibliogr ficas SAFRA Gilberto A face est tica do self teoria e cl nica S o Paulo Id ias e Letras 2005 WINNICOTT D W 1954 Aspectos cl nicos e metapsicol gicos da regress o no contexto anal tico In Da pediatria psican lise obras escolhidas
150. ARCONATO M M Redes de sentido evid ncia viva na interven o precoce com pais e crian as In Revista Brasileira de Psican lise vol 38 3 2004 SILVEIRA M M BECHELLI A B BOTELHO B CAMPOS M L F S DITTMERS D B NAKAGAWA P Y Aplica o da Psican lise em Sa de P blica Sistematiza o de um servi o preventivo no desenvolvimento do Beb XXXI Congresso Brasileiro de Pediatria Fortaleza 2000 WINNICOTT D A m e dedicada comum In O beb e suas m es S o Paulo Martins Fontes p 1 11 1996 BECHELLI A B MENDES DE ALMEIDA M Grupo de Atendimento a Pais e Beb s Um Ninho Para o Desenvolvimento da Parentalidade l Jornada de Psican lise de Crian a e Adolescente novas perspectivas Sociedade Brasileira de Psican lise S o Paulo 2012 MENDES DE ALMEIDA M BECHELLI 1 A B Grupo de Atendimento Pais Beb s Alternativas em Preven o no Contexto Institucional e Alcance Terap utico X Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de Grupan lise e Encontro Luso Brasileiro de Grupan lise e Psicoterapia Anal tica de Grupo Identidade Grupanal tica em Tempos de Mudan a em Lisboa Portugal 2009 MENDES DE ALMEIDA M BECHELLI A B SILVEIRA M M WECHLER R Rela es Pais Beb s em Pediatria Detec o de Riscos e Promo o de Sa de emocional X Congresso Paulista de Pediatria S o Paulo 2010 104 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na
151. AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Podemos perceber que diante das informa es aqui citadas segundo a perspectiva winnicotiana a tend ncia inata no sentido da integra o e do crescimento que produz a sa de e n o a provis o ambiental Ainda assim necess ria provis o suficientemente boa de forma absoluta no princ pio e de forma relativa em est gios posteriores no est gio do complexo de dipo no per odo de lat ncia e tamb m na adolesc ncia WINNICOTT 1979 2007 p 65 Sendo assim a provis o feita pela m e de um ambiente que propicie a matura o emocional e a sa de mental da crian a isto o fornecimento de condi es suficientemente boas somada ao impulso de vida advindo da mesma no sentido da constitui o da personalidade da independ ncia de habitar seu pr prio corpo e apreciar suas fun es e ao mesmo tempo consentir limites corporais dados pela pele distinguindo eu de n o eu fazem com que ela se desenvolva Ao se propiciar uma adapta o suficientemente boa s demandas do beb ele estar menos sujeito s suas pr prias rea es aos fatores que sirvam de intrus o a este ambiente advindos do externo Do contr rio a for a da crian a em dire o vida se represa dentro dela mesma e tem o poder de destru la WINNICOTT 1979 2007 Logo n o se pode dizer que a falha materna provoca diretamente interrup es na linha de desenvolvimento do lactente causando traum
152. Anais do Il col quio de psican lise com crian as 31 de agosto e 01 de setembro de 2012 no Instituto Sedes Sapientiae S o Paulo II COL QUIO de psican lise com crian as A transfer ncia na cl nica com crian as Anais do II Col quio de Psican lise com Crian as A Transfer ncia na cl nica com crian as 2012 DES DEPARTAMENTO DE PENTE PSICAN LISE DA CRIAN A Edi o 1 2012 S o Paulo SP N mero de ISBN 978 85 63996 01 5 II COL QUIO de psican lise com crian as A transfer ncia na cl nica com crian as SEDES DEPARTAMENTO DE SAPIENTIAE PSICANALISE DA CRIAN A O Departamento de Psican lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientiae em comemora o aos 100 anos da publica o de A din mica da Transfer ncia de S Freud promover o Il Col quio de Psican lise com Crian as A Transfer ncia na Cl nica com Crian as nos dias 31 de agosto e 01 de setembro de 2012 A partir do texto de Sigmund Freud A din mica da Transfer ncia de 1912 como pensar a transfer ncia hoje na cl nica com crian as n o apenas nas diversas metapsicologias como tamb m nas diversas reas de interven es da psican lise Comiss o Organizadora Ada Morgenstern Fernanda Ferrari Arantes Fl via Blay Levisky Julia Eid Leonor de Carvalho Franco Ligia Paula Silber Rabinovitch Maria do Carmo Vidigal Meyer Dittmar Lila Maria Engracia Garcia Perez Patricia
153. Dolto F 1949 Cura psicanal tica com a ajuda da boneca flor In No Jogo do Desejo Lisboa Rel gio D gua 1993 Figueiredo L C As diversas faces do cuidar S o Paulo Escuta 2009 Freud S A Interpreta o dos Sonhos 1900 In Obras Completas vol 4 p 39 Trad Coord Jayne Salom o Rio de Janeiro Imago 1976 ss As Perspectivas Futuras da Terapia Psicanal tica 1910 In Obras Completas vol 11 p 127 Trad Coord Jayne Salom o Rio de Janeiro Imago 1976 E A Din mica da Transfer ncia 1912 In Obras Completas vol 12 p 193 Trad Coord Jayne Salom o Rio de Janeiro Imago 1976 EE Confer ncias Introdut rias Psican lise 1916 17 Confer ncias XXVII XXVIII In Obras Completas vol 15 p 27 Trad Coord Jayne Salom o Rio de Janeiro Imago 1976 Al m do Princ pio do Prazer 1920 In Obras Completas vol 18 p 17 Trad Coord Jayne Salom o Rio de Janeiro Imago 1976 a Estudos sobre a Histeria 1985 In Obras Completas vol 4 p 1 Trad Coord Jayne Salom o Rio de Janeiro Imago 1976 Granato T M M Aiello Vaisberg T M J Ferreira M H J Oficina de Costura para gestantes e m es espa o de acolhimento e retomada do processo criativo In Anais do XIII Encontro Latino Americano sobre o Pensamento de Donald Winnicott p 630 634 Porto Alegre 2004 Oliveira T M Aten o Materna Prim ria e Consulta Terap utica uma proposta de preven o comunit ria 2008
154. E COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as 18 de junho dupla CLE Quando chegamos Christian j havia pedido sua professora bal es de festa Ele passa de uma brincadeira a outra e volta aos bal es Pega um bal o vermelho de forma alongada e diz humm salsicha e faz como se o comesse N s dizemos que efetivamente o bal o tinha forma de salsicha 22 de junho dupla JF sess o seguinte Havia outras crian as na sala de brincadeira de Christian Celine diz que seu bal o uma grande p ra Eu fa o de conta que a como Marc me oferece a mesma coisa eu como e me delicio Celine repete a brincadeira depois Marc e depois Christian Ele me oferece algo para comer uma salsicha Eu a como feliz mesmo que seu bal o seja redondo e n o tenha forma de salsicha poss vel notar como Christian retoma uma brincadeira que lhe foi prazerosa iniciada com uma dupla e a faz circular no dispositivo com outros grupos de interventores interessante perceber que ele pode propor a outros adultos coisas brincadeiras e representa es das quais ele se apropria Na ltima sequ ncia ainda que o bal o em quest o em nada se pare a com uma salsicha sua proposi o n o fora de contexto pois brinc vamos de comidas com os bal es Poder amos dizer que estamos diante de um brincar simb lico onde um objeto pode representar um outro fazer fun o de faz de conta No entanto se as outras crian as puderam sust
155. Eid Palavras chave tica Transfer ncia Crian a Ado o Abrigamento Este trabalho tem por objetivo propor algumas considera es sobre a transfer ncia na pr tica psicanal tica com crian as adotadas e abrigadas a partir do vi s da tica Considerando tica enquanto respeito e reconhecimento do outro em sua singularidade e subjetividade procura assinalar a import ncia do psicanalista ser algu m que revele a seu paciente a tica do humano principalmente no trabalho com crian as que cresceram privadas de rela es ticas A tica apresentada dentro da psican lise em dois mbitos o primeiro diz respeito ao surgimento da tica nas trocas humanas e mais especificamente ao nascimento do sujeito tico o segundo traz um olhar sobre a pr tica psicanal tica norteada pela tica A autora apresenta fragmentos de sess es de dois casos de crian as marcadas por rela es esvaziadas de tica Os pontos levantados nesta apresenta o dizem respeito s sutilezas do lugar transferencial que ocupamos busca de manter uma postura tica sem intervalos a determinado lugar para onde o paciente nos convoca que pode muitas vezes colocar em risco o lugar do analista e sobre certo tr nsito entre a necessidade de ser extremamente acolhedor e quase ao mesmo tempo precisar marcar os limites presentes nas rela es humanas Sobre este ltimo ponto assinala a import ncia de o analista poder ser algu m que interdita e busca marcar
156. Encarregada da Enfermagem Psic loga respons vel pelo acompanhamento da Unidade a possibilidade de oferecimento de um espa o de reflex o sobre o trabalho e suas repercuss es emocionais no cotidiano da equipe Em agosto de 2008 surge a demanda da equipe de enfermagem com um pedido para que se criasse um espa o de interlocu o onde a equipe de enfermagem pudesse expressar suas ideias pensamentos dificuldades e facilidades assim como falar de suas emo es desencadeadas pela rotina de trabalho dentro da unidade de terapia intensiva neonatal O A equipe de enfermagem do turno da manh foi beneficiada pela implanta o do Grupo de Reflex o em fun o da encarregada da enfermagem estar presente neste per odo na unidade e de ser o per odo onde as decis es e procedimentos planejados ocorrem com maior frequ ncia Em janeiro de 2009 o Grupo de Reflex o se abre para a participa o dos demais profissionais de sa de da UTIN com o objetivo de favorecer maior flu ncia na comunica o entre os profissionais e integra o da equipe neonatal no cuidado fam lia A possibilidade desta interlocu o e troca entre todos os profissionais envolvidos no cuidado ao beb e sua fam lia j resultado do trabalho desenvolvido durante o primeiro semestre de sua implanta o Em virtude dos efeitos ben ficos dessa iniciativa a equipe de enfermagem do turno da tarde solicita a mesma oportunidade Em junho de 2011 o trio respons vel pelo de
157. Essa quest o simpl ria encontra frequentemente o susto dos profissionais atentos ao que ele faz mas surdos ao que ele fala Na concep o de muitos profissionais conversar com a crian a significa dizer como ela deve se comportar e fazer combinados significa apresentar as regras escolares previamente decididas Ora vale apontar o real significado dessas a es que implicam o fechamento ao que pode emergir de inesperado na fala da crian a Neste caso o que orienta este tipo de interven o mas que talvez n o seja t o bvio que profissionais identificados ao lugar de saber devem poder se deparar com a limita o deste saber especialmente no que tange s situa es singulares fundamental portanto um estado de curiosidade e interesse pelo ainda n o dito da crian a como se a cada momento ela estivesse prestes a comunicar algo essencial sobre si A mudan a de expectativa pelas a es para a escuta pela fala pode justamente fazer com que muitos conte dos sejam ditos e n o atuados Dessa forma ao nos depararmos com dificuldades singulares ao inv s de procurarmos respostas prontas estrat gias t picas para cada tipo de quest o podemos ouvir compreender e intervir de forma espec fica para cada caso O discurso sobre a crian a Al m da import ncia de se promover o discurso da crian a tamb m vale apontar como circulam os discursos sobre a crian a problema Nesse sentido vale apontar como o luga
158. Fraia Comiss o Cientifica Afr nio de Matos Ferreira Maria do Carmo Vidigal Meyer Dittmar Lila Maria Jos Porto Bugni Mari ngela Mendes de Almeida Mary Ono ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Fundamenta o O Il Col quio de Psican lise com Crian as A transfer ncia na cl nica com crian as comemora o centen rio da publica o de A din mica da transfer ncia 1912 texto que comp e a s rie sobre a t cnica na qual Freud procurou definir teoricamente o conceito de transfer ncia e a maneira pela qual esse fen meno opera no tratamento anal tico O termo transfer ncia j havia sido mencionado por Freud anos antes no texto Estudos sobre a Histeria 1895 nas breves considera es ao final do c lebre Caso Dora 1905 1901 e foi pouco a pouco adquirindo um valor mais preciso medida em que a compreens o do tratamento psicanal tico e de seus par metros foram se desenvolvendo Sabe se que a no o de transfer ncia extremamente fundamental para a cl nica psicanal tica e tornou se condi o imprescind vel para uma an lise Ainda que exista uma diversa gama de interpreta es tal conceito mant m em seu teor primordial a id ia de ser um modo de deslocamento ou repeti o de conte dos recalcados sentimentos desejos impulsos libidinais que foram retidos no curso do desenvolvimento que s o revividos na situa o anal tica na
159. Freud vol XII Rio de Janeiro Imago 1996 1912 ul Observa es sobre o amor transferencial In Obras psicol gicas completas de Sigmund Freud vol XII Rio de Janeiro Imago 1996 1915 _ Confer ncia XXVII In Obras psicol gicas completas de Sigmund Freud vol XII Rio de Janeiro Imago 1996 1916 HANNS L A Dicion rio comentado do alem o de Freud Rio de Janeiro Imago 1996 KUPFER M C M et al A pesquisa IRDI resultados finais In LERNER R KUPFER M C M Orgs Psican lise com crian as cl nica e pesquisa S o Paulo Escuta 2008 __ Valor preditivo de indicadores cl nicos de risco para o desenvolvimento infantil um estudo a partir da teoria psicanal tica Latin American Journal of Fundamental Psychopathology Online v 6 n 1 p 48 68 2009 A Predictive value of clinical risk indicators in child development final results of a study based on psychoanalytic theory Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental S o Paulo v 13 n 1 p 16 30 mar o 2010 LERNER R KUPFER M C M Orgs Psican lise com crian as cl nica e pesquisa S o Paulo Escuta 2008 MARIOTTO R M M Cuidar educar e prevenir as fun es da creche na subjetiva o de beb s S o Paulo Escuta 2009 PESARO M E Alcance e limites te rico metodol gicos da Pesquisa multic ntrica de indicadores cl nicos de risco para o desenvolvimento infantil Tese Doutorado Instituto de Psico
160. IPUSP com bolsa FAPESP anasmoraisWhotmail com 4 Andrea Bianchini Tocchio psic loga graduada pela Universidade S o Marcos Aprimoramento em Sa de Mental pela PUC SP Especializa o em Psicologia Hospitalar Materno Infantil pelo Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros Mestranda do Programa de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo IPUSP com bolsa CAPES e FAPESP andreatocchio8 O gmail com 5 Edna M rcia Koizume Bronzatto psic loga graduada pela Universidade Bandeirante de S o Paulo Mestranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo IPUSP Forma o em Psican lise pelo Instituto Langage e pelo Centro Lacaniano de Investiga o da Ansiedade Pesquisadora na rea de detec o precoce de risco para transtorno de espectro de autismo e de transtornos de desenvolvimento marcia koizumeDig com br 6 Gabriela Xavier de Ara jo psic loga graduada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos mestre em psicopatologia psican lise e medicina pela Universit Paris VII doutoranda pela Universit Paris VII em cotutoria com o Programa de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo IPUSP gabrielaxdearaujo hotmail com 7 Nathalia Teixeira Caldas Campana psic loga graduada pela PUC SP com experi ncia em Acompanhamento Terap
161. IS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Jovem professora eu n o concordava com essa pr tica e considerava que n o se devia fazer essa triagem e como supervisora de est gio eu n o a fazia Com o tempo fui recebendo mais e mais crian as que apresentavam graves dist rbios ao mesmo tempo em que ia iniciando esse percurso intermin vel de forma o como analista e desenvolvendo uma grande simpatia com a obra de Lacan E foi neste percurso que cheguei a desenvolver uma cl nica voltada a essas crian as que apresentam dist rbios graves dar a os primeiros passos encontrar grandes dificuldades e buscar na teoria lacaniana uma forma de dizer dessas dificuldades Naquele tempo inicial de meu trabalho vide minha tese de doutorado defendida em 1988 eu me atinha ao fundamento de que o sintoma apresentado pela crian a teria que ser entendido como sintoma no sentido anal tico do termo deveria poder ser lida nele uma estrutura significante de met fora Eu fechava os olhos naquele momento para as ditas condi es de uma an lise que precisei retomar mais tarde por ocasi o do Projeto TECER pois foi somente a que essa transfer ncia que de fato existe como pude constatar come ou a apresentar sua face turbulenta Foi na leitura da obra de Lacan guiada pela leitura dos comentadores da cole Lacani nne de Psychanalyse que pude encontrar subs dios te ricos para me orientar na dif c
162. Interferi sugerindo mudar a cor de uma das canetas para podermos reconhecer o jogador de cada um Igor resistiu quis manter a caneta preta para ele e para mim Realizei o jogo como ele prop s e posteriormente olhando para os tra os no quadro todos pretos mostrei como n o pod amos saber a diferen a entre o que dele e o que meu de quem foi cada tra o qual o jogador dele e o meu na diferen a Prossegui com as interven es na linha da discrimina o e falei sobre como o assusta como na cabe a dele est confuso ele e eu segura de minhas interven es embasadas na compreens o te rica dos seus processos mentais Contudo fui surpreendida por sua fala M e quer dizer tia sabe aquela gosminha aqueles bichinhos no pinto Aquela gosma que fica no pinto e fica comendo ele sai sangue Senti dificuldades em acompanhar seu pensamento Para suportar minha ang stia perante o desconhecido poderia ter recorrido uma interven o centrada em sua posi o em rela o sexualidade que sua refer ncia aos genitais estaria relacionada ang stia de castra o contudo acho que seria um equivoco Tamb m a hip tese de tentativa de anula o das diferen as atrav s da fantasia de perda do p nis como forma de garantir sua exist ncia n o me pareceu sustent vel pois minha compreens o de que ele ainda n o constituiu diferen as para poder neg las ou rejeit las Penso ser necess rio que o analista possa
163. M 2011 A arquitetura da ponte entre self e outro Trabalho apresentado na Sociedade Brasileira de Psican lise de S o Paulo Fraiberg S 1975 Ghost in the nursey J Amer Acad Child Psychiat n 14 pp 387 421 Golse B 2004 O que n s aprendemos com os beb s Observa es sobre as novas configura es familiares In Solis Ponton L dir Ser pai ser m e parentalidade um desafio para o terceiro mil nio Uma homenagem internacional a Serge Lebovici Maria Cec lia Pereira da Silva revis o t cnica da tradu o S o Paulo Casa do Psic logo 2004 Lebovici S amp Stoleru S 1983 La m re le nourrisson et le psychanalyste les interactions pr coces Paris Le Centurion Mendes de Almeida M Silva M C P Marconato M M 2004 Redes de sentido evid ncia viva na interven o precoce com pais e crian as In Revista Brasileira de Psican lise Vol 38 3 637 648 Silva M C P 2002 Um self sem ber o Relato de uma interven o precoce na rela o pais beb In Revista Brasileira de Psican lise 36 3 541 565 Silva M C P 2008 Follow up de uma interven o precoce o fortalecimento da fun o parental Trabalho apresentado no VII Encontro Nacional sobre o Beb como parte da oficina Interven o Precoce e Follow Up a Partir de 5 Sess es Filmadas Cenas de Trabalho Cl nico no Centro de Atendimento Psicanal tico da SBPSP De 1 a 4 de maio de 2008 no Rio de Janeiro Si
164. N AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A psican lise e a transfer ncia Monica de Barros Cunha Nezan Palavras chave Psican lise Transfer ncia Institui o Crian a Freud inventou a psican lise com o apoio das hist ricas Entre os pacientes indicados uma teve um lugar privilegiado Anna O o primeiro caso relatado nos Estudos sobre Histeria que S Freud e J Breuer publicam em 1895 demonstrando pela primeira vez que o sintoma hist rico responde reage palavra Tal descoberta permitiu a Breuer inventar o m todo cat rtico de rememora o sob hipnose Em 1892 Freud abandonou a hipnose e chegou ao m todo da associa o livre Freud assinalou o lugar capital da liga o do m dico no tratamento da histeria Para iniciar s reflex es que dar o corpo a este trabalho elegi o tema transfer ncia articulado ao meu trabalho institucional ao longo dos ltimos anos na cl nica psicanal tica com crian as que apresentam graves transtornos ps quicos De que forma ou de que posi o um atendimento realizado em uma institui o pode se considerado psicanal tico 1 O trabalho em institui es psicanal tico A experi ncia em institui o com crian as autistas e psic ticas coloca alguns paradoxos imanentes a esta cl nica Temos que nos interrogar frequentemente quanto ao nosso lugar enquanto analistas quanto dire o do tratamento na institui o e quanto ao pr prio dispositivo cl nico ex
165. Na ltima sess o a crian a tamb m leva o cartaz da linha do tempo Esta atividade intenciona ajudar a crian a a jogar a esp tula busca oferecer um suporte material para este acontecimento procura estabelecer um campo de experi ncia No entanto observamos que a atividade da linha do tempo tamb m acaba funcionando como mais um momento diagn stico Pois ao precisar representar cada atendimento a crian a seleciona o fato mais significativo que precisava comunicar e desta forma podemos certificar as hip teses diagn sticas Identificamos tamb m efeitos terap uticos que podem ter surgido ao longo do processo Recentemente acompanhamos um paciente de seis anos que iniciou o psicodiagn stico em fun o de dificuldades escolares com o decorrer do trabalho percebemos que os problemas n o eram atuais referiam se principalmente ao ano anterior a m e do paciente p de ouvir sobre os recursos e possibilidades do filho e resignificar as dificuldades que haviam sido apresentadas pela antiga professora Inicialmente perceb amos que a m e ainda estava fixada nas constantes queixas feitas pela professora do ano passado e de certa forma havia assumido este discurso que desmerecia e desacreditava no menino reproduzindo o na rela o com ele No dia da atividade da linha do tempo o paciente reapresentou a figura do gato que apareceu nos primeiros atendimentos e para fazer o registro do dia desenhou um le o que simbolizava o seu fortaleciment
166. Naquele dia fui para casa considerando jogar os meus amados sapatos pretos fora De tanto que eu gostava deles talvez estivessem mesmo j um tanto passados Mas isso era outra hist ria Em sess o tratava se de abster se de responder do lugar de um la o social qualquer Ficar simplesmente ofendida com a provoca o n o teria me permitido escutar a repeti o que se fazia ali na transfer ncia Ser rico ou ser pobre era uma grande quest o para voc Vestia se de Brooksfield dos p s cabe a porque a marca mais cara deliciava se com o Bai o de Dois do boteco da esquina do consult rio mas sua carteira era Armani Perguntava me se eu j havia ido no restaurante tal ou tal e diante da minha resposta negativa dizia pobre foda E aos poucos voc foi podendo ser tamb m gentil A primeira grande mostra de sua gentileza apareceu no dia em que voc completou 10 anos Voc apareceu no consult rio com seu bolo favorito nas m os e fez quest o de dividi lo com todos Comigo com as minhas 2 colegas que voc conhecia de vista dos corredores uma delas estava em atendimento mas voc fez quest o de deixar a fatia separada para ela com a menininha e a m e que costumavam dividir com voc a sala de espera Descemos at a cozinha para partir o bolo e colocar em pratinhos Voc estava feliz e eu tamb m Achei significativo voc querer celebrar seus 10 anos de vida ali Voc mostrava o quanto aquele lugar estava sendo impo
167. Para investigar e avaliar a din mica ps quica das cuidadoras atreladas aos relacionamentos com crian as em acolhimento utilizamos o Procedimento de Desenhos Est rias com Tema4 Aplicamos o procedimento com o grupo no in cio da interven o em 2006 e na finaliza o em 2008 com o tema Desenhe uma cuidadora e uma crian a abrigada Analisamos todos os materiais obtidos pelo grupo de forma individual privilegiando a apresenta o da din mica do universo ps quico de cada cuidadora anteriormente e posteriormente interven o psicol gica Partimos ent o para a compreens o de como o grupo se apresentava a subjetividade da equipe de cuidadoras deste abrigo Ao longo dos encontros com o grupo de cuidadoras durante dois anos n o estabelecemos t cnicas para serem desenvolvidas com o grupo Todos os encontros construiram se de forma espont nea segundo os fen menos emergentes Cada encontro era compreendido de maneira singular S ntese sobre o Grupo de Cuidadoras de 2006 a 2008 Temas Centrais 2006 Desconfian a do ambiente identifica o com a priva o relatos sobre as tentativas de suic dio desesperan a na vida 2007 Relatos de separa es perdas e abandono contato com o dio percep o da rela o de apego aumento de contato ps quico in cio do resgate dos aspectos positivos de vida 2008 O grupo sentido como continente para sentimentos contradit rios in cio da ambival ncia as participante
168. Primeira observa o de uma obviedade vis vel o que ela desenha n o um dedo um p nis Segunda observa o necessariamente feita por meio de uma pergunta por que Natalina diz que o p nis um dedo A resposta n o simples e envolve outros desenhos feitos por ela e uma compreens o cuidadosa sobre quando a sexualidade infantil encontra se com a sexualidade adulta de maneira abusiva Comecemos pela sua idade e o que podemos dizer sobre as experi ncias pr vias da crian a Aos quatro anos Natalina tinha uma irm mais velha e morava com o pai e com a m e A m e enf tica em dizer que a filha nunca observou o pai nu e diz o mesmo sobre a possibilidade de Natalina ter visto o genital masculino em qualquer outra ocasi o Acreditemos em sua m e em parte Se Natalina nunca pudera observar a diferen a anat mica entre os sexos o epis dio no banheiro revelou lhe pela primeira vez tal diferen a Se por outro lado algo escapou a sua m e e a crian a j constatara a diferen a anat mica anteriormente ela igualmente n o estava preparada para constatar a diferen a anat mica da maneira que o fez Aqui importante fazer uma distin o muito clara A observa o da diferen a anat mica entre os 194 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as sexos traz para menina algumas consequ ncias De acordo com Freud 1925b Ela nota o p nis de um irm o ou companheiro de
169. Profa Dra Ivonise Fernandes da Motta Palavras chave Comunica o Proximidade Inclus o Enraizamento Rela o pais filhos Apresenta o do presente trabalho em evento anterior 9 Congresso Nacional de Psicologia da Sa de Promo o da Sa de e Doen as Cr nicas desafios promo o da sa de Universidade de Aveiro Portugal Psicologia Sa de amp Doen as Fevereiro de 2012 Introdu o A comunica o nos dias atuais vital pelos mais diversos ngulos em que possamos analisar o viver Por m ao lado da facilita o e velocidade dos meios de comunica o sofremos for a contr ria em nossas vidas quando focalizamos apenas valores como efici ncia resultados produtividade etc Nesse texto abordarei a import ncia de alguns aspectos essenciais da comunica o humana no trabalho cl nico em mbito privado e individual e no trabalho cl nico realizado em grupos em institui es Trabalho cl nico em mbito privado Y uma adolescente de aproximadamente 15 anos que chega para atendimento ap s uso excessivo de lcool e medicamentos que resultou em interna o hospitalar com risco de vida Desde o in cio do tratamento os pais se colocaram bastante cooperativos e colaboradores A fam lia mudou seus h bitos para enfrentar o perigo da morte denunciada atrav s desses epis dios Os pais aumentam a proximidade com Y passando a acompanh la em seus compromissos di rios Isso contribuiu para uma maior e
170. R 2010 2003 Constitui o do sujeito e estrutura familiar O complexo de dipo de Freud a Lacan S o Paulo Cabral pg 46 96 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as H que se considerar ainda a especificidade do atendimento psicanal tico com crian as importante ressaltar que n o h unanimidade em rela o ao que fazer com os pais nesses casos Faria alerta para o risco de tomar a crian a apenas pelo discurso dos pais e pontua a import ncia de se atentar ao sujeito que se apresenta ao analista na cl nica ainda que crian a tomando a como sujeito capaz de produzir um saber sobre si al m de construir uma demanda pr pria de atendimento que pode n o coincidir com a demanda dos pais Isso implica que o analista dever manejar a transfer ncia tanto com pais quanto com a pr pria crian a Em ambos os casos poss vel identificar a rela o transferencial que se estabelece em um a crian a quem primeiro estabelece a transfer ncia e aos poucos convoca sua m e no outro a m e quem inclui sua filha j supondo nela um sujeito uma crian a sujeito 12 Faria M 1998 Introdu o psican lise de crian as o lugar dos pais S o Paulo Hacker Editores 13 Faria M R 2004 Das entrevistas preliminares aos tratamentos com crian as s entrevistas preliminares com crian as Comunica o oral apresentada na Jornada de abertura de FCCL A dire
171. Revista Brasileira de Psican lise Vol 42 N 1 82 88 2008 PHILLIPIS A Winnicott Aparecida SP Id ias amp Letras 2006 WINNICOTT D W A Mente e sua Rela o com o Psicossoma In Da Pediatria Psican lise Obras Escolhidas Rio de Janeiro Imago 2000 Original Publicado em 1949 205 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as WINNICOTT D W Disturbios Psiqui tricos e Processos de Matura o Infantil In O Ambiente e os Processos de Matura o Porto Alegre Artes M dicas 1983 Original Publicado em 1963 WINNICOTT D W Duas Crian as Adotadas In M dicas 1997 Original Publicado em 1953 WINNICOTT D W Formas Cl nicas da Transfer ncia In ________ Da Pediatria Psican lise Obras Escolhidas Rio de Janeiro Imago 2000 Original Publicado em 1956 _ Pensando Sobre Crian as Porto Alegre Artes 206 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A din mica da cl nica interpreta es transferenciais e atos anal ticos Rog ria Coutinho Brandani Palavras chave Cl nica com crian as Constitui o ps quica Recalque origin rio Transtornos Logo que comecei a atender Igor na poca com 4 anos e 9 meses observei que ele parecia me incluir na categoria de objetos da sala de atendimento Chegava sempre agitado correndo para o arm rio de brinquedos ou para minha mesa empu
172. Rio de Janeiro Imago 2000 p 374 92 1954 Parte IV Da teoria do instinto teoria do ego Integra o In Natureza Humana Rio de Janeiro Imago 1990 p 136 42 1954 Parte IV Da teoria do instinto teoria do ego O ambiente In Natureza Humana Rio de Janeiro Imago 1990 p 173 80 1960 Distor es do ego em termos de falso e verdadeiro self In de matura o Porto Alegre Artes M dicas 1983 p 128 139 O ambiente e os processos ____ 1971 O lugar em que vivemos In 145 52 O brincar amp a realidade Rio de Janeiro Imago 1975 p 176 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as O estado de desamparo em crian as v timas de abuso sexual e suas implica es na contratransfer ncia Rafaela Cristina Bittencourt Garcia Palavras chave Contratransfer ncia Desamparo Cl nica com crian as Abuso sexual Introdu o A partir do tema da transfer ncia na cl nica psicanal tica poss vel pensar em v rios aspectos a respeito da intera o que o analista e a crian a estabelecem entre si No estudo te rico dessa pr tica temas como o desamparo e a contratransfer ncia s o importantes na reflex o sobre a atua o cl nica O presente trabalho pretende discutir esses dois conceitos que desde Freud permeiam v rios estudos te ricos e a atua o terap utica inclusive com crian as As observa es aq
173. S DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as O indiz vel a revivesc ncia da rejei o materna Cassandra Pereira Fran a Palavras chave Analista Ang stia Narcisismo V nculo Na constitui o do setting anal tico sabemos que a transfer ncia dos pais respons vel pela sustenta o da transfer ncia da crian a no entanto a fim de quebrar esse paradigma cl nico pretendo apresentar para debate um caso em que a pr pria crian a mesmo n o tendo suporte adequado dos pais incumbe se de fazer o contrato anal tico e de estabelecer um forte v nculo transferencial Algo t o inusitado e que somente poderia ser esclarecido ao longo do trabalho ilustrava a orfandade ps quica dessa crian a As representa es pr verbais das angustiantes viv ncias de rejei o por parte dos objetos prim rios abrem espa o para acompanharmos o manejo t cnico que foi gradativamente permitindo que o material cl nico encontrasse vias de simboliza o e verbaliza o fundamentais para a constitui o ps quica dessa crian a 1 Doutora em Psicologia Cl nica pela PUC SP Professora Associada de Departamento de Psicologia da UFMG Professora do Mestrado em Psicologia da UFMG Coordenadora do Curso de Especializa o em Teoria Psicanal tica da UFMG 30 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Introdu o Segundo Sara Ferro 2003
174. SE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as h outra que est sempre por perto ele quer exclusividade Luiz quer se integrar com as outras crian as quando fica na posi o de dejeto ele n o suporta A posi o do analista nos atendimentos individuais de acompanhamento de sua demanda acolhendo acompanhando as hist rias narradas e trazidas por ele sustentando assim a transfer ncia o lugar que ele coloca o analista Algumas vezes nomeando e sublinhando atrav s das representa es das hist rias trazidas Em um atendimento Luiz conta uma hist ria que ser representada na sess o por ele e o analista tem alguns personagens do bem e do mal tem um menino que quer brincar com outros mas alguns s o do mal e n o o deixam brincar o analista diz com nfase ele queria brincar com os meninos Atrav s destas pequenas interven es e nomea es o analista sustenta um lugar diferente do dejeto objeto para que ele possa sair deste lugar para que ele possa construir uma hist ria a sua pr pria hist ria No grupo terap utico Luiz logo no in cio mostrou um querer organizar brincadeiras em grupo e um querer estar com as outras crian as As brincadeiras propostas pelo grupo possibilitaram uma estrutura o para ele brincando com tra ados jogos at chegar no teatro que ele pr prio prop e mas escrito e representado pelas outras crian as do grupo Alguns momentos de desam
175. Silva 2010 De acordo com Serge Lebovici 1983 que desenvolveu as id ias de D Winnicott 1971 em rela o s Consultas Terap uticas no trabalho conjunto com crian as e pais um procedimento de interven o ocorre a partir de um sintoma espec fico manifesto pela crian a ou pelo beb que de alguma forma est interferindo em seu desenvolvimento ou demonstrando um transtorno em sua intera o com seus pais Cada sess o consiste ent o de uma observa o multidimensional que permite acesso a sintomas da crian a e suas formas de funcionamento o fen meno inter e transgeracional que caracteriza a rela o pais crian a fam lia o ambiente e o cuidado parental a personalidade da m e e do pai os aspectos familiares e a dimens o s cio cultural Os pais podem falar sobre seu filho e expectativas em rela o a ele sobre eles mesmos sobre suas fam lias sobre seu passado sobre comportamentos que se repetem e no es e valores estabelecidos Silva 2002 Ao se identificar com os diferentes parceiros na intera o o terapeuta transforma sua experi ncia em palavras de valor metaf rico que s o ent o compartilhadas com a fam lia O que era at aquele momento impens vel e somente expresso atrav s de a es descargas individuais ou sintomas pode ent o encontrar uma representa o por meio de pensamentos e palavras compartilh veis Mendes de Almeida amp outros 2004 Nesse contexto as mudan as nem sempre s o prod
176. Teoria Psicanal tica pelo COGEAE PUC SP e aluno do curso Psican lise no SEDES Durante v rios anos trabalhou no Programa Sentinela atendendo crian as v timas de abuso sexual e outras formas de viol ncia 3 Psic loga especialista em Psicologia Cl nica Teoria Psicanal tica pelo COGEAE PUC SP em Transtornos da Inf ncia e Adolesc ncia pela UNIFEV Centro Lydia Coriat e em Gest o P blica pelo INSEP PR Aluna do curso Psican lise no SEDES e Coordenadora do Servi o de Psicologia da Cl nica de Fisiatria e Reabilita o de Londrina 193 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as e ela responde sentando na mesinha e remexendo na caneca com alguns l pis colocou o dedo na minha xequinha A resposta vale dizer ainda mais baixa que o sim anterior Uma esp cie de convite discri o e a falar eu tamb m mais baixo Sento me na mesinha na cadeira oposta e ficamos um de frente para o outro N o consigo ouvi la direito e ao mesmo tempo em que procuro agu ar os ouvidos pe o que ela me conte como isso aconteceu numa altura que s ela poderia ouvir Algu m a cinco passos de dist ncia teria dificuldades para entender o que eu dissera Natalina desenha r pido o que seria uma mulher que cuidava dela quando sua m e ia trabalhar Toma imediatamente outra folha e rabisca um c rculo olha o contrariada e rabisca outro c rculo do centro do qual puxa pequenas l
177. a Aquilo que n o havia acontecia Minha proposta no trabalho anal tico junto psicose foi posso diz lo agora que estou amparada pela palavra de Guimar es Rosa acompanhar esse acontecer deixar que ele se efetuasse propiciando que se escrevesse o significante que havia ficado a meio caminho Permitir com isso sua leitura Voltando ao belo conto de Rosa apreciemos o modo como o autor faz essa passagem que permite ao sujeito se inscrever entre dois significantes Guimar es Rosa efetua o sujeito atrav s desta constru o de frase em que ele acrescenta reg ncia do verbo permanecer um se Ilustra desta forma o proposto por Guy le Gauffay no seu C est quel sujet publicado em 2009 Fazendo recurso a uma an lise que lhe permite falar do sujeito lacaniano Gauffay diz Frequentemente esse acr scimo de um agente apenas desdobra o sujeito de uma forma que poder amos crer em uma primeira abordagem reflexiva Assim na forma de falar do sul da Fran a podem se ouvir todos os dias frases como Je me la mangerais bien cette petite c te de porc Dir se tratar se de um hispanismo j que em espanhol essas formas s o regulares Verdade mas essa explica o geogr fica 8 Jo o Guimar es Rosa 2008 A terceira margem do rio in Primeiras hist rias Folha de S o Paulo Rio de Janeiro Media fashion pg 37 9 Segundo a formula o lacaniana O significante aquilo que representa o sujeito para u
178. a o de objeto Desta passagem restaria uma quantidade de energia livre que seria justamente a energia da qual derivaria a transfer ncia Como na psicose ocorre um desvio de rota que justamente n o permite uma sa da do autoerotismo segundo esta teoria n o poderia haver transfer ncia na psicose Esta uma das bases doutrinais da ideia segundo a qual n o existe transfer ncia nas psicoses Mas a cl nica se por um lado ela n o afirma a exist ncia da transfer ncia no caso das crian as que atendi da transfer ncia tal como ela acontece na cl nica das neuroses ela no entanto nos provoca apresentando situa es enigm ticas em que h a insistente procura de uma m e um pedido a insist ncia de uma professora ou do m dico que se ocupam da crian a ou mesmo a presen a do estagi rio na supervis o que s vezes parece repetir em sua atitude ou em sua postura aquilo mesmo que ele relata como sendo a atitude ou a postura do paciente que est atendendo Para quem se interessa como eu em enveredar por esses caminhos da psicose para quem quer saber o que isso essas manifesta es longe de serem desanimadoras foram sempre um convite que eu aceitei Ainda mais complexa e igualmente provocante a dimens o relativa demanda outra condi o para o trabalho do analista Aqui temos via de regra um paciente que n o demanda nada a crian a A demanda est em outro lugar a m e que sempre tem solicita es bizarras a fazer ao
179. a o descrito no Jogo da Esp tula pois a partir deste referencial a resist ncia ompreendida como um temor frente ao que n o foi constitu do Avellar 2004 sintetiza o conceito retomando que na perspectiva winnicottiana a resist ncia se trata da constitui o de algo que n o foi vivido algo de que o indiv duo necessitava e n o foi encontrado a hesita o se refere a duas situa es diferentes uma que a possibilidade do indiv duo vir a encontrar algo que necessita e anseia uma experi ncia nova prazerosa e constitutiva A outra possibilidade o paciente estar diante de angustias impens veis de se deparar com as falhas ambientais presentes nos est gios iniciais do desenvolvimento p 96 Portanto a necessidade de lidar com a transfer ncia negativa refor a a posi o de que mesmo em uma etapa diagn stica o psic logo deve colocar se em um lugar interventivo ajudando o paciente a assumir o encaminhamento e continuando vinculado cl nica escola Sobre o tema transfer ncia no psicodiagn stico interventivo muitas quest es ainda devem ser pensadas principalmente a quest o relativa a transfer ncia grupal que tanto possibilita o acontecimento do grupo quanto em algumas situa es impede o trabalho grupal Outro tema tamb m importante refere se transfer ncia entre supervisor estagi rio que da mesma forma seria a fonte de um aprendizado efetivo quanto pode ser o impedimento do processo de a
180. a o entre o individual e o social Um lugar sempre a construir Enfim esperamos que as crian as em sua multiplicidade n o fiquem aprisionadas em diagn sticos e medicaliza es e sejam capazes de um viver criativo atando os la os entre o brincar o criar e o aprender Refer ncias Bibliogr ficas FREUD S 1980 A psicoterapia da histeria In BREUER J e FREUD S Estudos sobre a histeria Obras psicol gicas completas de Sigmund Freud vol Il Rio de Janeiro Imago 1893 1895 1980 A din mica da transfer ncia In Obras psicol gicas completas de Sigmund Freud vol XIl Rio de Janeiro Imago 1912 1980 Observa es sobre o amor transferencial In Obras psicol gicas completas de Sigmund Freud vol XIl Rio de Janeiro Imago 1915 1914 1980 Recordar repetir e elaborar In Obras psicol gicas completas de Sigmund Freud vol XII Rio de Janeiro Imago 1980 1914 KUPERMANN D 2008 Presen a Sens vel cuidado e cria o na cl nica psicanal tica Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira SIGAL A Org 1994 O lugar dos pais na psican lise de crian as S o Paulo Editora Escuta KUPFER M 2007 Educa o para o futuro Psican lise e Educa o S o Paulo Escuta WINNICOTT DW 1975 O brincar e a realidade Rio de Janeiro Imago STOPPEL A e SETTON A Org 2008 Psican lise com crian as Perspectivas te rico cl nicas S o Paulo Casa
181. a o particular as figuras concretas dos pais encarnam as fun es parentais Como o exerc cio de tais fun es repercutem na constitui o ps quica da crian a No contexto dessa cl nica qual o limite inclusive tico de uma interven o que induz a mobiliza o da subjetividade parental Essas e outras indaga es proliferam se no cotidiano do trabalho cl nico com a crian a e mant m a atualidade das controv rsias inauguradas pelas pioneiras 1 Belizia Aben Athar Barcessat psic loga cl nica e professora adjunta da Faculdade de Psicologia da Universidade Fede ral do Par Doutora em Psicologia Cl nica PUC SP beliziad gmail com 28 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Sobre a presen a e a ang stia do terapeuta na sess o Carla Lam Palavras chave Analista Ang stia Narcisismo V nculo Wadi Rum Jord nia ano 2000 Adail bedu no que conhecemos numa pequena venda da vila se ofereceu para ser nosso guia no deserto e nos convida para ir sua casa No deserto as tendas mant m dist ncia suficiente para ter a privacidade preservada e a comunica o que d seguran a Para a comunica o sonora mais importante que o tom de voz o uso do ritmo pausado com o som sil bico prolongado esse prolongamento que facilita a compreens o Um dos rituais sonoros dos beduinos a prepara o do caf O gr o colocado num recipiente e com batidas
182. a o pelo IPUSP Pr escola terap utica Lugar de Vida 2000 Trabalha na Institui o Lugar de Vida Centro de Educa o Terap utica desde 2004 2 ano Forma o Departamento Psican lise Instituto Sedes Sapientiae 2012 monicanezan gmail com 2 Termo utilizado por Jacques Lacan para designar um lugar simb lico o significante a lei a linguagem o inconsciente que determina o sujeito ora de maneira externa a ele ora de maneira intrassubjetiva em sua rela o com o desejo Pode ser simplesmente escrito com mai sculo opondo se ent o a um outro com letra min scula definido como outro imagin rio ou lugar de alteridade especular Mas pode tamb m receber a grafia grande Outro ou grande A Autre opondo se ent o quer ao pequeno outro quer ao pequeno a autre definido como objeto pequeno a Roudinesco 1998 p 558 3 Lacan na Confer ncia em Genebra sobre o Sintoma utiliza em franc s as seguintes express es para se referir aos autis tas ils sont des personnages plut t verbeux e les autistes s entedent eux m mes LACAN 1975 159 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A este prop sito Freud 1918 p 211 recomendava qualquer que seja a forma que essa psicoterapia para o povo assumir quaisquer que sejam os elementos dos quais componha os seus ingredientes mais efetivos e mais importantes continuar o a ser certament
183. a excelente op o no tratamento para estas fam lias A quest o que coloco se isto seria o suficiente para afirmar que tal sucesso demonstre de fato o que causou o padecimento Trago agora um caso em que a impress o de haver uma linearidade entre a interven o cl nica e a causa etiol gica no atendimento cl nico totalmente distinta A m e de Leo procurou ajuda no CAPSi Mooca era a terceira vez que ela procurava um atendimento para o filho A primeira procura foi motivada devido ao atraso de aquisi o da fala A segunda pela dificuldade em se adaptar na escola Desta vez ele foi reencaminhado para n s Na ocasi o ele estava com tr s anos A queixa era de atraso na fala e a extrema dificuldade em adapt lo rotina escolar pois ele se recusava a ficar na sala de aula com a porta fechada Caso isto fosse exigido dele batia a cabe a contra a parede se mordia gritava chutava e mordia quem dele se aproximasse Sua fala era repetitiva e sempre conjugada na terceira pessoa A m e de Leo era adequada e continente com ele embora inibida afetivamente Leo o segundo filho A irm mais velha portadora de uma sindrome gen tica Seus pais haviam se separado h mais de dois anos quando Leo ainda n o havia completado um ano de idade A rela o dos pais era ruim pois o pai s tinha olhos para um ci me doentio que sentia da esposa Isto foi inclusive o mote da separa o Diante destas fantasias ele se tornava agress
184. a mas a constitui o de um espa o que permita a experi ncia Por meio da apresenta o de um brinquedo do qual o menino tem bastante apre o um esp cie de ampulheta que mede o tempo e do estabelecimento de uma brincadeira de parar e inicar o tempo R mulo fica mais tranquilo e comunica suas ang sitas de separa o e abandono Diz que a tia Cibele uma cuidadora bastante pr xima do menino tinha ido na padaria e que n o voltaria A separa o do analista ao final do atendimento tamb m foi marcada por bastante ang stia sendo necess rio contar com a tia Cibele que havia chegado da padaria para acolher o menino e servir de refer ncia de suporte uma vez que sozinho n o se via capaz Compreendemos que tais ang stias muito primitivas tem suas origens em per odos iniciais do desenvolvimento humano na rela o com o ambiente original e logo anteriores a separa o provocada pelo processo judicial que retirou a crian a de casa Ainda que esse fato possa suscitar um tipo de sentimento de perda entendemos que suas ra zes est o ligadas a repeti o da perda original ou seja aquele ambiente que precocemente n o foi capaz de dar sustenta o emocional R mulo sai de um estado de apatia e passa a viv nciar suas ang stias e comunicar o que sente Retorna a uma posi o de deped ncia absoluta requisitando do ambiente cuidado Diante disso o analista amplia a interven o e passa a trabalhar com o ambiente humano da institui
185. a Bianchini Tocchio Edna M rcia Koizume Bronzatto Gabriela Xavier de Ara jo Nathalia Teixeira Caldas Campana A busca pela boa m e a amamenta o como deposit ria das ang stia no exerc cio da maternidade E ENNE ENEE IERE A A l Audrey Setton Lopes de Souza Denice de Sousa Feliciano A interven o precoce em situa es de dificuldades alimentares criando condi es de comunica o po AO EEEE A E E E Audrey Setton Lopes de Souza Magaly Miranda Marconato Callia Novas indaga es e antigas controv rsias na psican lise com crian as 28 Belizia Aben Athar Barcessat Sobre a presen a e a ang stia do terapeuta na sess o cics 29 Carla Lam O indiz vel a revivesc ncia da rejei o materna a ao ao oo ao oo ao ao oo o a e e DO Cassandra Pereira Fran a Possibilidades de an lise em uma Institui o em situa es de abuso 36 Christiane Sanches Psican lise e interdisciplinaridade por um saber que falta cics 40 Cristiani M Beltran Fanti Escuta psicanal tica de grupo de pais no atendimento institucional de crian as com sinais de autismo cc A Cristina Keiko Inafuku de Merletti Provisoriedade e v nculo na institui o de acolhimento a potencialidade dos encontros 48 Cristina Seguim Cristina Almeida de Souza Fl via Blay Levisky Lia Lima Telles Rudge Sandra Ungaretti Algumas interven es muito simples para contextos escolares bastante
186. a Psican lise de Crian as 1994 pg 50 Aberturas para um trabalho tamb m com a transfer ncia dos pais 62 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Para Vifiar o infantil n o a hist ria vivida e biogr fica ainda que seja um pouco O infantil a hist ria sonhada desejada e temida gt E com rela o ao sonhar Decio Gurfinkel refere import ncia que Winncott dava a capacidade de sonhar da crian a e principalmente sob transfer ncia A concep o do que rela o transferencial foi sofrendo transforma es na esteira dos desafios cl nicos surgidos com a segunda t pica freudiana e com o aparecimento de casos cl nicos de sofrimento ps quico que n o eram neuroses Neste recorte cl nica psicanal tica de crian as e movimentos transferenciais temos outros desenvolvimentos te rico cl nicos p s freudianos formulados por Melanie Klein D Winnicott Maud Manoni Dolto e outros As contribui es da escola inglesa com Melanie Klein introduzindo o jogo como substituto da associa o livre e propiciador da express o das fantasias internas com o trabalho do analista na interpreta o desses conte dos Da Melanie Klein trava um debate intenso com Anna Freud sobre os aspectos transferenciais implicados nos atendimentos de crian as Temos os aportes de Donald Winnicott que nos oferece novos sentidos regress o e ao jogo e a experi ncia transferencial pas
187. a Terapeuta Ocupacional e a Psicopedagoga foi muito produtiva e trouxe tona a necessidade de se articular um saber transdisciplinar em torno de objetivos convergentes a evolu o cognitiva simb lica a auto percep o corporal o circuito pulsional e um novo olhar dos pais para F bio Relembrar o que aconteceu com o filho fez com que os pais come assem tamb m a elaborar como foi para eles vivenciar o per odo da doen a e passaram a ter um novo olhar para ele e mais paci ncia com seus comportamentos Em uma sess o F bio come ou a perguntar O que quis saber o nome dos brinquedos demonstrando interesse por estes Iniciou uma brincadeira de luta at que em um momento ao mexer com massa de modelar fez um ROB Quem ser este rob Sua pr pria imagem Fez v rios rob s O tempo de ser objeto para o Outro tempo do narcisismo prim rio momento especular precisaria ser refeito pois para F bio o desejo de sua m e poderia ajud lo a n o fazer dele apenas um rob mas sim um sujeito participante do campo simb lico Inicialmente os pais brigavam com ele pelos comportamentos de birra depois passaram a suportar estes e a tentar distra lo com brincadeiras relacionando suas dificuldades com a doen a s perdas que sofreu durante a longa interna o o per odo de medica o as mudan as em seu corpo Relatam os avan os que percebem em F bio agora corre livremente no parque n o tem medo de subir nas escadas
188. a a uma ou outra pessoa Ao se tratar da rela o entre m es e beb s a transicionalidade um ponto central como tamb m na cl nica psicanal tica Winnicott 1951 definiu transicionalidade como um conjunto de fen menos que se localizam na rea intermedi ria da experi ncia entre a realidade interna e externa entre a atividade da criatividade prim ria e a percep o objetiva uma regi o neutra que ao mesmo tempo do beb e da m e A experi ncia nesta regi o importante para que na fase seguinte o beb possa fazer parte do mundo compartilhado e este fazer parte dele Em um contexto anal tico podemos falar de uma experi ncia semelhante 72 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as em que a l gica do mundo real est provisoriamente suspensa e cria se uma realidade compartilhada aquelas duas pessoas que atende ao prop sito de aprofundar se no conhecimento de uma delas As reas de fantasia do paciente e do analista se superp em criando um campo comum f rtil para a an lise Atender beb s com seus pais portanto significa estar em uma superposi o de transicionalidades o que torna a experi ncia sens vel e delicada em todos os sentidos E este campo transicional ao qual somos convidados a entrar o campo potencialmente terap utico em que se podem dar as trocas mais significativas Quando e como intervir Neste contexto
189. a crian a de arremess los e posteriormente apresentava o gesto de reivindic los Quando ocorria o distanciamento da crian a em virtude de pegar o brinquedo para ele a ang stia se apresentava e concomitantemente os sintomas de esfregar os p s Frente a esta situa o a conduta era ir ao encontro do brinquedo segurando Ca que nos bra os Ap s repeti es deste gesto da terapeuta Caique gradativamente afastava se at que ao final da hora j estava se locomovendo pela sala buscando os objetos por conta pr pria e muitas vezes explorando seus movimentos corporais refletidos diante de um espelho presente na sala O jogo com a bola o jogo acontecia quando se jogava a bola para o Caique e ela era devolvida jogo que se repetia ao longo dos encontros Entretanto quando em alguns momentos a proximidade f sica entre a terapeuta e o beb n o permitia que a bola rolasse livremente Caique come ava a esfregar os p s e a chorar o que assinalava suas ang stias diante de interrup es que impossibilitavam a continuidade do jogo Ent o quando compreend amos sua comunica o aument vamos a dist ncia o que permitia a continuidade do jogo e acalmava a crian a O ambiente psicoter pico adaptado s necessidades de Caique Nas din micas de bola arremesso de objetos e tantas outras a experi ncia era marcada pela necessidade de repeti o que por sua vez ancorava se na import ncia da continuidade repara o das ansiedades atrelada
190. a de uma brincadeira traz a possibilidade de pensar na capacidade da crian a de se desenvolver para al m das caracter sticas aut sticas demonstradas por ela Ao longo do primeiro m s de atendimento sempre realizado com a crian a e os pais pudemos observar a capacidade crescente de Abel em permanecer mais tempo na brincadeira do esconde esconde J n o chora para entrar na sala sorri para a analista quando chega porta da sala de consulta entra e vai direto para os carrinhos que est o sempre no mesmo lugar para serem encontrados por ele Passou a se interessar por outros brinquedos e a fazer mais contato com a analista e com os pais por meio do olhar dos sons e dos maneirismos Segundo os pais ele est mais alegre e mais comunicativo mesmo sem falar Considera es te rico cl nicas A cena cl nica relatada nos coloca face possibilidade de compreendermos o setting anal tico de forma mais flex vel do que aquele postulado pela psican lise cl ssica Podemos visualizar por meio do brincar espont neo da crian a a possibilidade de agir terapeuticamente por meio dos sons e dos gestos e n o necessariamente por meio da palavra dando significa o ao sens vel Por exemplo antes de iniciar a brincadeira do esconde esconde ele olhava para a analista olhava para os pais esbo ava um sorriso e s depois de comprovar que est vamos l que ele se escondia por entre os dedos das m ozinhas Ou seja havia uma antecipa o d
191. a do interno e externo ao trauma que o analista como testemunha interv m no sentido da cria o de um distanciamento ali onde estava a pura dor Selligmann Silva 2008 fala do acontecimento da cena testemunhal em paralelo com a cl nica como paradoxalmente externo e interno ao evento narrado Sua potencialidade terap utica reside tanto em sua dimens o interna uma vez que pela perenidade do trauma o tempo sempre o atual quanto da externa que cria um espa o meta reflexivo Segundo Levallois 2007 o testemunho de si o fundamento da experi ncia psicanal tica experi ncia na qual algu m reconhece a exist ncia e responsabiliza se em ser Para iniciar a empreitada coloco me como testemunha dor de um testemunho posi o esta que se d por meio da escuta que d testemunho de algo que foi vivido mas que ficou em uma zona de limbo Este primeiro reconhecimento alicerce para que venha a ser constru da uma narrativa Na fun o de testemunha de um testemunho o analista utiliza como baliza para o seu trabalho o estabelecimento de uma falta ali onde estava o nada numa articula o entre as dimens es do pulsional e da signific ncia Uma articula o que permite deixar dormir as lembran as e assim apaziguar a mem ria vivida no corpo e nas atua es A aposta do estabelecimento de uma nova tens o entre lembran a e esquecimento portanto pela via do testemunho do analista que reconhece com sua escuta a
192. a experi ncia na escola a cria o do espa o explorat rio l dico teve com objetivos oferecer um espa o com material l dico brinquedos e jogos s crian as aos profissionais e pais N o h a es dirigidas o brincar livre Ter encontros com os profissionais da escola e com os pais para a discuss o sobre a import ncia do brincar e a participa o no funcionamento do espa o construindo junto o projeto Propiciar o encontro de crian as de diversas idades com o material l dico e a escola com as fam lias devem dar continuidade ao projeto Mesmo com receptividade inicial no momento da implanta o surgiram muitas dificuldades no engajamento dos educadores em parte havia o receio do espa o ser destru do pelas crian as Em 2010 as crian as come aram a frequentar o espa o com os professores e em alguns momentos houve a presen a de psic logas Ocorreram encontros com os professores para discuss o sobre o funcionamento e organiza o de hor rios dentro da din mica escolar Os professores mostraram participa o tiraram fotos e colocaram no site da escola Com os familiares ocorreram dois encontros para a apresenta o do espa o l dico A escola atravessada por multi atividades n o favorece a participa o da fam lia Al m disso considerada de 64 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as passagem pois somente 20 dos alunos s o moradores do bairro o q
193. a fam lia Tanto a recusa de um trabalho anal tico especificamente com Marco como o des gnio de Clara de Tiago ser um problema parece me foram pren ncios do percurso pouco cl ssico que esta an lise tomou Enquanto Clara despeja lamentos na entrevista os meninos brincam com o pai num canto da sala Marco est mais absorto que Tiago na brincadeira mostrando se este irrequieto talvez deslocado Os tr s escutam o que Clara diz sentada a meu lado mas continuam sua brincadeira Clara compara os irm os Enquanto Tiago muito t mido e n o toma a iniciativa de falar em sala de aula Marco como ela espont neo esperto r pido Reitera a certa altura seus olhos assustados e ansiosos Tiago vai repetir o ano Na situa o assim criada percept vel que para Tiago tudo apavorante a escola o consult rio eu pr pria da sua dificuldade em entrar mais no jogo de mesa proposto pelo pai e poss vel sua dificuldade em falar mais espontaneamente no col gio 83 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as No decorrer da entrevista pai e filhos permanecem brincando Clara fala ininterruptamente tornando dif cil o acesso palavra para os outros Pergunta ao final aparentemente menos desesperan ada quanto irremediabilidade das circunst ncias agora que divide sua responsabilidade comigo Por que voc n o vai falar com a diretora Ela vai te explicar a
194. a nesta aplica o a m e disse que o filho fala ma e pa mas que ela n o sabe se isso quer dizer mam e e papai e por isso n o assume que quando ele diz ma est chamando por ela A psic loga disse que mesmo que inicialmente n o fosse essa a inten o de Guilherme pode ser que esse ma virasse mam e Na semana seguinte a m e pediu para conversar com a mesma psic loga para dizer que depois da conversa que tiveram a respeito do desenvolvimento de Guilherme ela conversou com o marido e os dois mudaram de atitude em rela o crian a noite estamos contando historinhas para ele e agora ele j sabe contar at cinco A aplica o do IRDI possibilitou que houvesse uma conversa com a m e a respeito da rela o estabelecida com o filho e sobre o desenvolvimento emocional da crian a favorecendo que se constru ssem op es no v nculo entre os mesmos Foram realizadas interven es mesmo num mbito de pesquisa n o apenas para responder ausente ou presente para cada item do IRDI mas que puderam expressar os entrela amentos da rela o entre m e e filho e viabilizaram o reconhecimento da m e de sua posi o Um nico encontro p de ter tido grande significado e efeito para a m e ao ponto dela pedir para falar novamente com a psic loga que a acolheu e contar as mudan as frente s manifesta es do filho Considera es finais A aplica o do IRDI tem ocorrido em diversas institui
195. a outro adulto confi vel seu relato tratado como sem sentido ou fantasioso N o toa Confus o de L nguas um texto que come a criticando o trabalho anal tico feito na poca Na transfer ncia que n o podemos esquecer carrega libidinalmente o analista e coloca o na s rie de figuras j investidas pelo paciente Freud 1912 o adulto confi vel passa a ser o analista E a ele n o cabe tratar o estado an nimo o murm rio do momento que nasce onde a realidade transbordou e o psiquismo pede ajuda como algo sem sentido ou como uma fantasia pretensiosa Para Ferenczi 1932 1933 2002 na transfer ncia e na posi o que nela ocupa o analista que se pode estabelecer a diferen a entre o presente e o passado insuport vel p 160 Entre o carro a girar o esmagamento da terceira vertebra lombar o sonho e o despertar para n o morrer o menino de onze anos sentiu de alguma forma seu dedo mexer Refer ncias Bibliogr ficas FERENCZI S 1928 2002 The Adaptation of the Family to the Child In Final Contributions to the Problems and Methods of Psycho Analysis London Karnac 1930 2002 The Principle of Relaxation and Neocatharsis In Final Contributions to the Problems and Methods of Psycho Analysis London Karnac 2002 1931 2002 On the Revision of the Interpretation of Dreams In Final Contributions to the Problems and Methods of Psycho Analysis London Karnac 1932 1933 20
196. a partir do momento em que seus pais se disponham a falar sobre ela dirigindo se ao outro que sustente um lugar de subjetiva o desta fala O dispositivo de fala dos pais em grupo ser segundo a forma de escuta e interven o proposta um recurso essencial na montagem institucional a fim de possibilitar que a crian a se desloque tamb m na montagem discursiva familiar e em certos discursos sociais estigmatizantes sobre os supostos problemas na inf ncia Pretende operar tamb m nos casos em que a crian a parece ocupar um lugar de vazio significante e cujo efeito seria justamente o do apagamento de sua fala enquanto sujeito assim como a mudez simb lica de seus pais Consideramos tamb m o aspecto hist rico e contextual dos discursos apontando a partir da que o discurso social cientificista contempor neo influencia sobremaneira as posi es discursivas dos pais os quais por sua vez se expressam com frequ ncia em falas adesivas e reprodutoras destes discursos sobre as problem ticas de seus filhos descrevendo os classificando os e objetalizando os Esse discurso coloca a crian a numa posi o pr xima a que se referiu Colette Soler no artigo Fora de discurso autismo e paranoia 1983 em rela o s crian as autistas e psic ticas denominando as crian as objeto na qual a fun o do sujeito encontra trope os em sua constitui o Assim supomos que o discurso tecno cient fico contempor neo tenha uma incid ncia similar sobre
197. a ritmicidade onde se guarda um padr o ou modelo um formato s o situa es onde a crian a autista pode ficar mais vontade para entrar em uma intera o Consideramos que o dispositivo proposto para Christian oferece uma situa o similar ao formato de intera o como na brincadeira do cad Achou um dispositivo est vel com hor rios regulares com os mesmos brinquedos onde as duplas se revezam de maneira previs vel para a crian a seguindo um calend rio estabelecido Dessa forma pode se formular que apesar da multiplicidade dos interventores a estabilidade do dispositivo permitiu que Christian entrasse mais facilmente em intera es com pessoas diferentes que reagem de modos diversos mesmo face a situa es semelhantes Mais do que facilitar a intera o essa diferen a essa variedade de a es e rea es no contato intersubjetivo que a crian a vai experienciar ter um efeito terap utico importante para um sujeito autista ela pode contribuir para a estabiliza o da percep o do sentimento de alteridade pela crian a Em outras palavras a crian a poder perceber atrav s de dispositivos como este que o outro diferente de si que ele tem motiva es e expectativas diferentes das suas e que as a es n o podem ser completamente previstas Brincar e trabalhar essa diferen a pode ser de grande import ncia no caso de terapias com crian as com transtornos aut sticos para quem atribuir no outro um estad
198. a se a natureza da neurose f bica hist rica ou obsessiva a neurose uma quest o que o ser coloca para o sujeito l onde ele estava antes que o sujeito viesse ao mundo essa subordinada a pr pria frase de que se serve Freud ao explicar o complexo de dipo ao Pequeno Hans Trata se aqui daquele ser que s aparece no lampejo de um instante no vazio do verbo ser e eu disse que ele formula sua quest o ao sujeito Que significa isso Ele n o a coloca diante do sujeito pois o sujeito n o pode vir para o lugar onde ele a coloca mas coloca a no lugar do sujeito ou seja nesse lugar ele coloca a quest o com o sujeito tal como se enuncia um problema com uma caneta e como o homem de Arist teles pensava com sua alma O sintoma neur tico concebido a portanto como uma via de subjetiva o pelo que se l acima importante fazer aqui o desdobramento O que falha na psicose a constitui o de um eu e isto sem d vida um problema mas em Lacan fala se em sujeito e este conceito n o coincide com o eu O sujeito n o o eu O sujeito est ligado ao desejo de a a E o que Allouch afirma lendo Lacan que a loucura e suas manifesta es podem ser concebidas elas tamb m como forma de subjetiva o Que a loucura humana assim como a neurose o Que a loucura literante 7 Lacan J 1998 A inst ncia da letra no inconsciente ou a raz o desde Freud in Escritos Jorge Zahar Editor Rio de Jane
199. a ser roubada A met fora parece estranha mas se aproxima da sensa o despertada no atendimento a crian as que s o portadoras de patologias f sicas degenerativas e portanto fatais Nem sempre sabemos se o paciente pode ouvir se consegue ouvir ou se podemos falar daquilo que iminente de tal ang stia que surgiu a quest o que pretendo abordar hoje Gostaria de apresentar lhes Vitor um paciente de onze anos diagnosticado com Distrofia Muscular de Duchenne Nos atendimentos ele quieto n o prop e brincadeiras Questionado sobre algo na maioria das vezes n o responde Quando chamado a realizar uma atividade n o se pronuncia A sensa o que tenho a de presenciar varia es sobre seu sil ncio Sua escolha ocorre atrav s de suas negativas proponho que desenhemos e ele balan a a cabe a negativamente o mesmo acontece quando pergunto se quer conversar ou inventar uma brincadeira Os nicos jogos que s vezes ele aceita e faz o tacitamente s o jogos onde um dos participantes ganha e o outro perde Durante o jogo n o ri n o se irrita por m mostra satisfa o quando eu perco e ele ganha dizendo Ganhei Sua m e o acompanha e entra em alguns atendimentos Em uma das sess es depois do atendimento de Vitor e longe dos seus ouvidos ela me procura ap s terem ido a uma consulta no HC Essa a primeira vez em que ela consegue falar sobre como percebe a situa o de seu filho emociona se e diz o que ele
200. a ser da crian a no percurso de novos trajetos Refer ncias Bibliogr ficas ARAG O R O Forma o de Profissionais da primeira inf ncia a import ncia da vincula o afetiva com o beb Palestra proferida no Circulo Psicanal tico do Rio de Janeiro 25 05 2007 CYRULNIK B O Murm rio dos fantasmas S o Paulo Ed Martins Fontes 2005 FREUD S Sobre a transitoriedad 1915 Edi o Standard das Obras completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1974 V XIV MARIN 1 S K Febem fam lia e identidade O lugar do Outro S o Paulo Escuta 1999 WINNICOTT D W Priva o e Delingu ncia S o Paulo Martins Fontes 1994 52 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Interven es muito simples em contexto escolar bastante prec rio Daniel Rodrigues Lirio Palavras chave Escola Vulnerabilidade Matriciamento Transfer ncia O Contexto escolar conforme se sabe palco de in meras tens es e jogos de for a que via de regra dificultam o aprendizado e geram bastante sofrimento crian a Contudo h contextos especialmente prec rios onde se combinam diversos fatores alta vulnerabilidade social alta propor o de alunos por professor falta de flexibilidade institucional despreparo dos profissionais e n o raro desinteresse do cuidador pelo aprendizado e sa de mental da crian a Muitas vezes esse quadro resulta na localiza o de alg
201. a vez detectados dificuldades no desenvolvimento da crian a provenientes de v nculos disfuncionais ou quando as benefici rias procuram o servi o espontaneamente o que caracteriza o caso aqui relatado Jiane come ou a ser atendida quando sua filha Bela j estava com 7 meses o atendimento foi feito por uma Psic loga e uma co terap uta estagi ria do quinto ano do curso Psicologia Foram realizados cerca de 40 encontros at ela receber alta devido a depress o acentuada e a idea o suicida o atendimento teve de sair do modelo de 4 encontros Durante as sess es a estagi ria sentava no ch o e brincava com Bela fazendo coment rios e muitas vezes conversando tamb m com a m e enquanto a Psic loga oferecia um escuta mais atenta a m e mas sem deixar de dar aten o a Bela a qual demandava frequentemente seu olhar Jiane tem cabelos pretos que estavam sempre presos vestia sempre a mesma cal a e independente do frio usava chinelos o nico aparato que representava uma feminilidade mais delicada eram seus brincos usados sempre e alternados foram referidos por ela como nico objeto com o qual ela n o conseguia viver sem Ao nos apresentar sua filha Bela observamos uma menina sorridente branquinha de cabelos castanhos que sempre vestia roupas rosas ou roxas combinando e com algum detalhe no cabelo parecia que com a filha a delicadeza feminina podia aparecer escancaradamente A queixa de Jiane era de estar sempre muito triste e
202. ade emocional que se encontram os pais particularmente a m e nesta fase Por m apesar da contundente fo a dessas representa es sobre o beb suas capacidades individuais poder o amenizar ou intensificar essas din micas O sofrimento que Flora vivencia na amamenta o indica a uma escuta psicanal tica que fatores como os anteriormente descritos estariam subjacentes sua queixa A alimenta o ocupa importante lugar na vida representacional do sujeito em especial nos primeiros tempos de vida quando a fome adquire coloridos muito marcantes nas fantasias do psiquismo rudimentar do beb A disposi o materna de oferecer ou n o o seio como fonte de alimento adquire qualidades especialmente sens veis para evocar quest es que as remetem s identifica o com suas pr prias m es Com base nessas premissas iniciamos em duas analistas o atendimento em interven o psicanal tica pais beb termo adotado por n s por se tratar de um trabalho fundamentado no instrumental psicanal tico e para o qual necess ria uma s lida forma o em psican lise que sustente um olhar psicanal tico mesmo em um enquadre diferenciado A t cnica que sugere o atendimento em duplas de analistas fundamentada na pluralidade de elementos e afetos que s o colocados em cena na sess o e precisam contar com a contin ncia de um olhar sob v rias dimens es permitido pelo atendimento em dupla No primeiro encontro com os pais e as duas filhas a sess o se
203. ade neonatal de alto e m dio risco implica cuidar de um rec m nascido fr gil e indefeso que apresenta um quadro de sa de grave Esse quadro oscila diariamente entre momentos de melhora e de piora sendo constante a amea a da morte Machado et al 2005 Diante dessa realidade o profissional se depara com sentimentos de inseguran a impot ncia e ang stia ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as atrav s da nega o da racionaliza o do deslocamento e proje es das emo es que esses profissionais da rea da sa de parecem acreditar que podem se defender contra a ang stia gerada pelo seu trabalho Por m o que se observa que essas defesas muitas vezes n o conseguem alcan ar seu objetivo Transfer ncias n o explicitadas permanecendo em estado bruto como proje es maci as oferecem se muitas vezes como realidade alternativa ao contato com a experi ncia emocional a ser evitada Apenas adentrando cada vez mais esse contexto de compreens o das viv ncias dos profissionais de sa de que se poder realmente favorecer mudan as nas rela es entre profissionais e pacientes visando humaniza o do atendimento Machado et al 2005 Como parte das estrat gias para instrumentalizar o trabalho da equipe de enfermagem na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do Hospital S o Paulo Universidade Federal de S o Paulo UNIFESP foi solicitado pela
204. ado s crian as que ocupam o lugar de alunos problema Vale dizer que n o se trata com isso de resolver a situa o mas de transformar algo que aparece como problema terr vel e insol vel em uma dificuldade poss vel de ser enfrentada pela escola Do pessimismo aposta Alguns casos s o discutidos na tentativa de encontrar solu es para seus impasses outros por sua vez para que o supervisor referende o seu car ter insol vel legitimando assim a desesperan a do profissional comum ouvir vou passar esse caso s por passar ou s por desencargo de consci ncia Nessas horas importante intervir ou h uma confian a em encontrar uma melhora para o caso e faz se a discuss o com afinco ou n o se faz discuss o alguma Se isso n o estiver claro desde o princ pio poss vel que o supervisor tente apontar interven es milagrosas enquanto quem passa o caso se preocupa em mostrar que elas s o impratic veis o que obviamente solapa qualquer possibilidade de reflex o 1 Psicanalista mestre em psicologia social pela USP e professor universit rio A partir de uma perspectiva psicanal tica e institucional tem publicado artigos na rea de Sa de Mental Cultura e Modifica es Corporais de onde se destaca o livro Suspens o Corporal novas facetas da alteridade na cultura contempor nea danielrliriodyahoo com br 53 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com
205. ado engrossado a voz virado um adolescente Trazia m sicas no Ipod para me mostrar fazia testes comigo para ver se eu adivinhava nome da banda e m sica Surpreendia se com o meu repert rio de rock and roll seu grande interesse do momento e tamb m com a minha vasta ignor ncia a respeito das cantoras pop mais comerciais da atualidade Trocamos figurinhas sobre nossas bandas preferidas Incrementei seu repert rio e voc o meu Ao retomar o assunto da alta voc um dia me disse agora que voc mais est me ajudando quer que eu v embora Eu me questionava sobre o que acontecia ali virara uma amiga que voc encontrava toda quinta tarde J n o era hora de fazer amigos l fora na vida real Voc estaria com dificuldades de se separar de mim Seria resist ncia minha continuar Mas havia algo de interessante na sua fala era como se pela primeira vez voc estivesse bancando por si mesmo o pedido da an lise N o vinha mais porque sua m e queria seu pai nunca verdadeiramente quis que voc viesse ou porque eu sua analista achava que era necess rio Voc era quem queria vir Eu sabia que a situa o na sua casa n o era nada f cil e sentia que era como se o espa o da an lise servisse ainda entre outras coisas como ancoragem Continuamos a ouvir m sica no seu pod a jogar cartas Monopoly e a conversar sobre os conflitos dom sticos as dificuldades com seus pais a escola os novos amigos que voc finalmente
206. ados com a modifica o do setting cl ssico e as vicissitudes decorrentes dos lugares do analista com a multiplicidade sintom tica das crian as e com os atravessamentos institucionais Sustentamos o trabalho com uma escuta especial e com a transfer ncia que no caso das crian as torna se pressionado pelas demandas familiares da escola e de outras institui es Atenta a n o responder a todas as demandas por m em determinados momentos escutamos os pais que tamb m movidos por seus desejos recalques e transfer ncias podem 1 Psicanalista membro do Departamento de Psican lise do Instituto Sedes Sapientiae e membro do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Psican lise e Contemporaneidade no departamento de Psican lise Psic loga Cl nica do Centro de Sa de de Pinheiros denicardQuol com br 2 Artigo de Fl vio Vespasiano Di Giorgi que saiu na Folha de S o Paulo em 18 de mar o em 1984 Posf cio do livro Refle x es sobre a crian a o brinquedo e a educa o de Walter Benjamim 3 D Kupermann Presen a Sens vel Cuidado e Cria o na Cl nica Psicanal tica 2008 pg 86 61 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as aceitar as mudan as em seus filhos ou interromper os atendimentos Algumas vezes os pais chegam muito comprometidos emocionalmente e demandam atendimentos sendo ent o encaminhados para outro profissional da unidade O trabalho cl nico ocorre no Centr
207. ag gicos para que os pais repliquem em seus lares o que se espera de uma boa e adequada educa o na dire o de um melhor desempenho na aprendizagem e na adequa o da conduta da crian a em sala de aula Em contrapartida os pais s o tamb m os primeiros a serem culpabilizados no discurso dos educadores quando a crian a demonstra dificuldades ou supostos atrasos na aprendizagem bem como na adequa o de seus comportamentos ao ambiente escolar A reflex o do educador sobre as poss veis falhas no sistema escolar ou na metodologia adotada al m da poss vel inadequa o da escola s curiosidades e demandas atuais dos alunos raramente apresentada Em contrapartida escutando regularmente o discurso das fam lias em encontros grupais campo do presente trabalho poss vel registrar que diante das dificuldades apontadas em seus filhos pelos profissionais da inf ncia os pais demonstram com frequ ncia ora um total n o saber sobre o que afeta suas crian as e como ajud las submetendo se s prescri es dos profissionais especialistas da inf ncia ora um saber absoluto inquestion vel sobre a causalidade de seus problemas e de seus progn sticos Neste segundo caso mostram se bastante familiarizados com nomenclaturas cient ficas com a descri o cl nica de suas caracter sticas bem como conhecedores de t cnicas m todos e instrumentos a serem aplicados em suas terap uticas ou em seu processo de aprendizagem Este sab
208. al Rio de Janeiro Imago 1977 Edi o Standart Brasileira das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud v XII 1917 Luto e melancolia Rio de Janeiro Imago 1977 Edi o Standart Brasileira das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud v XIV LACAN Jacques 1964 Semin rio Livro 11 Os quatro conceitos fundamentais da psican lise Rio de Janeiro Zahar 1985 MACEDO Heitor O Dwyer Cartas a um jovem psicanalista S o Paulo Editora Perspectiva 2011 MILLER Jacques Alain Percurso de Lacan uma introdu o Rio de Janeiro Zahar 1987 ROSA Miriam Debieux Hist rias que n o se contam O n o dito e a psican lise com crian as e adolescentes Taubat Editora Cabral 2000 132 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Uma reflex o sobre o brinquedo na cena cl nica Luciana Pires Palavras chave Brinquedo Transfer ncia Enquadre Deslocamento Freud em 1920 fascina se ao observar o jogo de seu neto com o carretel A psicanalista Fran oise Dolto em seu texto de 1940 Cura anal tica com a ajuda da boneca flor descreve o efeito cl nico que a introdu o de uma boneca em formato de flor teve em alguns de seus atendimentos Carretel e boneca ganham assim destaque Pretendemos refletir sobre o papel que os brinquedos t m na cena transferencial anal tica A cl nica psicanal tica com crian as acontece a partir da introdu
209. amb m pelos acompanhantes terap uticos nos ambientes tanto familiares quanto escolares demonstram uma maior capacidade para estabelecer rela o afetiva por meio da estimula o da imita o em um contexto espec fico O terapeuta oferece a imita o sem a inten o de entrar em contato ou muito menos de colocar a crian a na tarefa de olhar para ele e tentar imit lo N o h por parte do analista a inten o de eliciar uma resposta da crian a h apenas o oferecimento da imita o dos sons dos gestos e das a es das aut sticas A imita o promove um campo de experimenta es favor vel circula o do sens vel e edifica o de formas est ticas das quais a crian a possa encontrar o analista ou por es sens veis do mesmo Abreu 2012 33 Para poder ser encontrado pela crian a o analista se despe das palavras e at mesmo das bordas do seu corpo permitindo que a crian a por meio da saliva da boca das m os e dos pequeninos p s que por sua vez s o recepcionados pelo corpo do analista como signos sens veis Trata se para o analista de ocupar um lugar complexo que reconfigura seu pr prio corpo e nessa circunst ncia o desampara Face primazia da palavra e reconsiderado em seu corpo vivido o analista pode reconhecer os significantes sens veis testemunhados no encontro com a crian a Um primeiro encontro Recorro cl nica com crian as autistas para criar elementos vivos que possam embasar o conh
210. ansfer ncia s cics DI Helena Julio Rizzi Vanessa Keiko Rossaka Grupo de atendimento a pais e beb s campo transferencial para a constru o da parentalidade Sra Cd Ed Ida Bechelli Almeida Batista Mari ngela Mendes de Almeida O marcador implac vel a transfer ncia em um caso de patologia neuromuscular degenerativa na inf ncia cics TOS Isabella Silva Borghesi Cl nica psicanal tica de crian as e adolescentes Promo o de sa de desafio da atualidade cics VO9 Profa Dra Ivonise Fernandes da Motta Considera es sobre tica e psican lise na cl nica com crian as 0 113 Julia Eid A constru o da alteridade em um dispositivo l dico de interventores m ltiplos com sujeitos autistas cics MM Julia Maciel Soares Para concluir um projeto de pesquisa n a a ao ao o oo a oo oe e oo o o O Jussara Falek Algumas especificidades do manejo da transfer ncia na clinica psicanal tica com crian as que sofreram rupturas nos seus la os primordiais 128 Lia Lima Telles Rudge Cristina Almeida de Souza Cristina Maria Banduk Seguim Fl via Blay Levisky e Sandra S Grama Ungaretti Uma reflex o sobre o brinquedo na cena cl nica cics cics 133 Luciana Pires O menino on a pintada o pai como segredo a ao ao a ao so oo oe m i ae m 34 Lu s Henrique de Oliveira Dal Crian as encopr ticas Uma cl nica transbordante cics 35 Marcia
211. antis dispon veis como imagens metaf ricas on ricas M e do Marcos O que chamou a aten o foi que eu cheguei aqui na sexta noite ele dormiu de sexta para s bado com febre at o meu marido n o deixou dar rem dio para ele S bado ele n o tinha mais febre domingo ele estava sarado voltou a comer L em Minas ele tamb m n o estava querendo comer Compartilhando interesse por movimentos internos ps quicos nela e na crian a Terapeuta M Conforme a gente est se sentindo se a gente se sente melhor mais tranquilo isso pode interferir no estado f sico o que a gente est passando o estado emocional pode interferir na condi o f sica Tentando refrasear o que parece m gico para uma rela o vivenciada Voc s acham que isso acontece J observaram isso nas crian as Intercalando s nteses com continuidade de explora o do assunto com o grupo oferecendo contribui es mas sem saturar o campo 102 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as M e do Miguel J M e do Reinaldo Eu acredito assim talvez um brinquedo um alimento que a crian a queira que ela n o sabe se expressar ela fica doente porque o meu filho mais velho ele ficou queria chocolate e minha m e perguntou se ele queria ele disse que n o s que depois ele teve febre Ningu m sabia de onde surgiu aquela febre a depois de tanto perguntar se ele viu alguma coisa e
212. aponta que o desenvolvimento do processo de simboliza o depende da ansiedade existente nessa rela o por m frisa que uma ansiedade excessiva ocasionada talvez pela dificuldade da m e em exercer a contin ncia pode paralisar o desenvolvimento de tal processo Dessa forma Klein 1930 1970 aponta que a primeira rela o objetal fundamental para as rela es posteriores e portanto um desarranjo nessa etapa pode resultar em problemas de simboliza o para o infantes 5 O caso cl nico descrito por Klein no texto A import ncia da forma o de s mbolos no desenvolvimento do ego 1930 no qual a autora discorre sobre o desejo s dico oral a ansiedade gerada por tal desejo o processo de identifica o e o desenvolvimento do simbolismo O simbolismo no referido texto apresentado pela autora como fundamento de toda fantasia e sublima o 6 No que tange a cl nica do Projeto CAVAS UFMG temos um ponto nodal relacionado aos processos de identifica o projetiva e as fun es anti traum ticas Segundo Camargo 2002 a possibilidade de simbolizar que permitir ao sujeito sair do modo nico de funcionamento ps quico em que introje es balanceadas est o impedidas ou s o muito prec rias p 140 Segundo ela o sujeito que permanece nesse modo perpetua a altern ncia nas posi es v timas agressor e tamb m os pr prios fen menos violentos e abusivos p 140 184 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN
213. ar para a crian a estas rupturas Carolina decide pintar o desenho solicitando a ajuda da psic loga Durante este encontro Carolina relata sobre a chegada de um irm o institui o e psic loga e crian a falam sobre a composi o familiar A crian a se confunde ao falar da pr pria hist ria n o sabe dizer exatamente quantos irm os possui A partir desta conversa a psic loga sugere a crian a montar um livro com sua hist ria Fig 1 Produ o gr fica de Carolina no 1 encontro An lise do 1 encontro Neste encontro h uma comunica o da crian a da poss vel falha ambiental As rupturas do desenho os pontos que n o foram unidos impedem que o desenho se complete n o podendo ser preenchido com o colorir A crian a experimenta a experi ncia de continuidade quando o desenho pode ser completo e preenchido Evidencia se tamb m a necessidade da crian a de compor e compreender a sua hist ria de vida 2 Nome fict cio 172 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as 2 Encontro O desconhecido A montagem do livro retomada e sugere se que a crian a desenhe a quando nasceu Carolina solicita que a psic loga tamb m fa a o desenho por m em uma folha separada Carolina mostra dificuldades em desenhar o que havia sido sugerido e auxiliada neste momento pela psic loga que solicita que a crian a desenhe como ela imagina ser quando era um beb Caro
214. ar pertinho Apontando ambival ncias como naturais e simult neas no processo de crescimento M e do Gabriel E ele fala mam e eu vou ficar com voc t Interdepend ncia das necessidades infantis e parentais Terapeuta M Est fazendo companhia para a mam e Gabriel T contando est ria para a mam e Falando com a crian a para o grupo Terapeuta I n O Gabriel parece que est tendo necessidade de cuidar da mam e n Gabriel Sinalizando invers o da rela o de contin ncia Terapeuta M Ou voc quer que a mam e conte estorinha pra voc bem pertinho um do outro Reincluindo o outro polo da ambival ncia a partir da observa o de express o e gestual da crian a o livro no colo da m e Explorando perspectivas oferecendo alternativas diferentes em movimento com composi o entre as terapeutas dupla parental em vis es complementares para o grupo sem fus o mas com acompanhamento compartilhado Possibilidade de triangula o Gabriel hoje com uma camiseta I love Dad frequenta o grupo desde os 5 meses com sua m e muito deprimida e insegura ap s abandono tempor rio do companheiro e perda anterior de outro beb Durante o per odo de frequ ncia ao grupo percebe se muita evolu o no reconhecimento das compet ncias m tuas entre m e crian a e diminui o de risco para o ex beb de substitui o II O estetosc pio a escuta do interno Transferindo demandas e explorando espa
215. arcisicamente por n o ser capaz de engravidar e tomada pelo discurso de sua m e que lhe diz para desistir pois seria incapaz de cuidar de um beb esta m e n o consegue autorizar se como m e Uma gravidez concebida como triunfo hostil a esta condena o marcada por fantasias de morte e persecutoriedade Juliana ao nascer recebida pela depress o materna Impossibilitada de sentir se capaz de maternar seu beb e invadida pelos discursos familiares que a desautorizam como m e prop e filha no contraponto da exp de depress o e falta de disponibilidade inicial uma exist ncia fusionada como forma de garantir a liga o no entanto dificuldade alimentar da filha tomada como evid ncia de seu fracasso Mas o que diz Juliana com seu sintoma Resposta intrusividade materna a recusa alimentar parece uma rea o desesperada no af de diferenciar se Juliana deposit ria da angustia materna que n o tem como exercer sua fun o de rev rie pois a filha que deve funcionar como deposit ria de suas identifica es projetivas resultando na inani o como forma de se proteger desta invas o As descri es da aparente maturidade e agita o da filha em muitos outros aspectos s o condizentes com as descri es de Bick das formas pelas quais as crian as se organizam defensivamente nas falhas de constru o de sua pele ps quica Bick descreveu o fen meno que chamou de segunda pele um sentimento de seguran
216. as a pr xis inclui a apresenta o do servi o de psicologia e a oferta de atendimento a todos os pacientes assim que ocorre a interna o ou o procedimento inicial Para iniciarmos gostar amos de apresentar dois casos atendidos em enfermarias diferentes do hospital e articul los s reflex es sobre as especificidades do atendimento de crian as no que se referem transfer ncia institui o e ao analista assim como as particularidades do setting nas interna es a oferta de escuta e o manejo da demanda Helo sa Paula e Fernando enfermaria cir rgica Helo sa tem 3 anos est internada na enfermaria cir rgica ap s um transplante de f gado O atendimento psicol gico solicitado pela equipe m dica devido aos epis dios de choro frequentes de Helo sa e pelos comportamentos despreocupados sic da m e a equipe tamb m se questiona quanto compreens o dela a respeito da gravidade do quadro cl nico da filha Paula e Fernando residiam no interior do Cear com suas filhas Thais 1 ano e Helo sa 3 meses quando esta come ou a apresentar disfun es hep ticas sendo encaminhada ao ICr aos 9 meses Ap s o inicio do tratamento Heloisa e sua m e mantiveram se indo e vindo sic por um per odo de aproximadamente 6 meses depois fixaram se na casa de apoio do ICr 1 Psic loga pelo IP USP 2009 Aprimoramento em Psicologia Hospitalar pelo HC FMUSP 2011 Psic loga cl nica em consult rio at
217. as ele tentou dar lhe sentido tentou digamos ligar psiquicamente a excita o a tens o mental despertada pela experi ncia Vamos presumir que toda percep o toda experi ncia precisa ser ligada psiquicamente precisa ser conectada a outros elementos ps quicos Vamos presumir mais uma coisa antes de discutir algumas das ideias de Freud sobre o trauma todo sonho toda repeti o mesmo que seja desprazerosa uma tentativa de melhor dom nio e organiza o de experi ncias traum ticas Ferenczi 1931 2002 p 238 Toda impress o mental se quisermos dizer de outra maneira pass vel de ser repetida n o descarregada e n o dominada id ibid p 239 Minhas ltimas frases ou partes delas foram roubadas de um texto p stumo de Ferenczi N o seguirei este texto publicado pela primeira vez com o t tulo de Trauma na Psican lise Ferenczi 1931 2002 mas gostaria de apontar que nele os argumentos de Ferenczi estabelecem uma linha direta com o que chamamos a segunda teoria freudiana do trauma Ela pode ser encontrada em Al m do princ pio do prazer e todos estamos familiarizados com essa explana o metapsicol gica Em torno de 1920 Freud n o podia escapar dos dados cl nicos sobre neuroses de guerra que se amontoavam sobre sua mesa Estes casos levantavam quest es dirigidas ao n cleo do pensamento psicanal tico que estavam sendo discutidas por seus seguidores mais pr ximos A
218. as mas as rea es do beb s intrus es em seu ambiente de cuidados ou seja os seus excessos pulsionais o fazem Com um ego ainda imaturo e em forma o o beb n o reconhece os acertos da m e e t o pouco suas falhas mas estas s o sentidas como uma amea a de aniquila o ao seu pr prio eu WINNICOTT 1958 2000 Com isso queremos dizer que considerando a origem interna e externa do trauma tomamos esse conceito como uma efra o que adv m de um evento ocorrido no ambiente mas tamb m como uma rea o do infante ao seu pr prio excesso pulsional que ele n o consegue manejar e nem possui mecanismos para lidar com tal carga de energia Ressaltamos ainda que de acordo com Cintra 2003 sabe se que o trauma possui um car ter tanto estruturante quanto desestruturante e que a pr pria rela o m e beb em si causa de trauma e intrus es Sendo assim caber ao objeto prim rio desempenhar um duplo papel que tente n o s evitar e atenuar poss veis traumas mas tamb m que procure promover o equil brio entre os seus pr prios potenciais traumatizantes por meio das fun es anti traum ticas poss vel que pensemos num paralelo entre a rela o m e beb e a de um tratamento psicanal tico e como proposto por Winnicott 1979 2007 o ponto em comum entre as duas a depend ncia fazendo se presente n o s no in cio da vida mas tamb m em menor ou maior propor o no la o transferencial cl nico Uma vez que
219. as associa es verbais que este o escute como um sujeito desejante Isto para que n o fique t o merc do outro embora no atendimento de crian as esta quest o est sempre presente devido sua depend ncia aos adultos o que coloca tamb m a quest o tica para o analista O que a cl nica institucional nos apresenta que o terapeuta procura preservar a especificidade de seu of cio mas tamb m receptivo cria o ao in dito Por isso a amplitude de seu trabalho que pode ocorrer como no caso cl nico abaixo ou percorrer caminhos de entrela amentos com o social e com o cultural Katia de 6 anos chega com sua tia para atendimento quando a situa o familiar era conflituosa e dram tica pais com hist ria de abuso de lcool e m e depressiva com tentativa de suic dio Ela e seu irm o de 10 anos j ficavam em alguns per odos na casa dos tios Com dez dias de atendimento da crian a sua m e realiza mais uma tentativa de suic dio e morre N o tive tempo de conhecer sua m e t o destrutiva consigo mesma mas p de ainda deixar planejada em um buf a festa de anivers rio de 7 anos de sua filha Os tios maternos conseguem uma guarda provis ria e o pai que trabalha como vendedor ap s a morte da esposa passa a visitar os filhos e a disputar a guarda deles Pude acompanhar esta crian a durante dois anos e meio e al m de seus desenhos e o brincar que revelavam dor perda e todo processamento do luto evidenciava muitos recurs
220. as crian as de um modo geral obstacularizando sua singulariza o no desejo do Outro e nos discursos sociais atuais dificultando por isso sua empreitada subjetiva x Acreditamos que a compreens o deste discurso social contempor neo articulada escuta dos discursos atuais dos pais sobre a educa o e cuidados com seus filhos possibilitar ao profissional que trabalha com crian as no mbito institucional adotar uma escuta e interven es fundamentadas numa tica em que os pais sejam respeitados em sua singularidade ps quica e em sua produ o de fala bem como a considera o de que suas posi es discursivas s o tamb m afetadas pelos discursos sociais de uma poca problematizando as quest es t o recorrentes sobre sua culpabiliza o pelas supostas falhas problemas e fracassos nas crian as A problem tica espec fica do autismo exemplo extremo do que se denomina como crian a objeto foi geradora de muitas controv rsias e de pol micas hist ricas sobre a quest o da rela o entre os pais e seus filhos autistas desde Kanner 1943 Kupfer 1999 para al m dos inflamados debates sobre a quest o da organog nese ou da psicog nese do autismo assim como sobre a localiza o de uma etiologia do autismo na posi o parental abre uma importante reflex o nestas discuss es Trata se de considerar a dimens o da cultura e o valor de uma certa determina o discursiva em circula o no mundo contem
221. as tentativas de entrar em contato eram inconstantes e err ticas como sua aprendizagem apesar de estar em uma escola regular A todo o momento ela entrava e sa a da sala de espera para o hall e para a sala de atendimento de adulto e para a de crian as e para o banheiro e Parecia n o conseguir saber o que era dentro e o que era fora nem qual era a delimita o entre os espa os Dada a concep o mencionada mais acima referente ao desenvolvimento em conflito tenho por princ pio n o come ar por me opor s manifesta es de desconex o da crian a mas acompanh la em seu padecimento com as mesmas nos seus esfor os por super las e nas frustra es quando n o consegue Eu ia junto por onde andasse nomeando os espa os e demonstrando meu interesse pelas coisas que s vezes ela dizia porta aqui l dentro Eu ficava nervoso por n o entender o que se passava e achava que a m e estava arrependida de ter preferido que W passasse a ser atendida por mim Estava envergonhado e constrangido por perceber que havia sido depositada uma confian a em mim que eu julgava n o estar 1 Psicanalista Professor Associado Livre docente e orientador de P s Gradua o no IPUSP Fellow do College of Rese arch Training Programme University College London IPA membro do N cleo de Apoio Pesquisa em Neurodesenvol vimento e Sa de Mental da USP e lidera o grupo de pesquisa do CNPq Transtornos do espectro de autismo detec o de sinais
222. atendimento O psicanalista observa que de fato a menininha n o estava muito disposta a fazer esta viagem e durante o trajeto disse a m e Eu sou t mida demais Idem Winnicott toma esta afirma o de Piggle como algo decisivo em termos de sua compreens o do material cl nico Este fato transparece com particular nitidez nos coment rios que o autor redige a esta primeira consulta Eu sou t mida demais como se l a margem do texto Idem seria uma comunica o inicial ao analista uma comunica o que desvelaria dentre outras coisas aspectos do fen meno transferencial que j naquele primeiro contato come ava a florescer vivamente Assim sendo tal comunica o indicaria igualmente aspectos da situa o singular de Piggle em termos de seu processo de desenvolvimento emocional a O primeiro coment rio de Winnicott a esta primeira consulta o seguinte Eu sou t mida uma evid ncia de organiza o e for a do ego ego strength and organization e do estabelecimento do analista como uma pessoa papai daddy person 1977 p 17 Temos aqui por certo uma complexa afirma o do autor cujo esclarecimento nos conduziria a ultrapassar amplamente os limites deste escrito Entretanto em linhas gerais examinemos primeiramente a express o for a e organiza o do ego Pode se dizer que as id ias de for a e organiza o ou estrutura do
223. ater as for as de Pilsudski que h pouco invadiram a Ucr nia Ao lado esquerdo de L nin a nossa direita vemos dois homens O que olha a multid o reunida frente do Teatro Bolshoi em Moscou Trotsky Atr s dele est Kamenev A foto foi tirada por G P Goldshtein em cinco de Maio de 1920 King 1997 p 66 71 Freud relembra nos de algo b sico a seu pensamento em 1925 cinco anos depois da foto de Goldshtein devemos lembrar que todas as representa es v m de percep es s o repeti es das mesmas Assim originalmente a exist ncia da representa o j uma garantia da realidade do representado Freud 1925 p 279 N o casual que Freud saliente este dever de lembrar em um texto que tem por t tulo A Nega o N o casual igualmente que a primeira imagem que observam esta de L nin no p dio de madeira tendo Trotsky e Kamenev a sua esquerda Todas as representa es v m de percep es cabe repetir outra vez Mas escreve Freud 1925 alguns par grafos abaixo das frases que acabei de citar Ao ser reproduzida como representa o nem sempre a percep o repetida fielmente ela pode ser modificada por omiss es alterada por fus es de elementos diversos p 280 A percep o a foto esta At onde se sabe ela n o foi montada tal cena realmente aconteceu Posteriormente esta percep o esta foto tornou se uma representa o um s mbolo da R ssia revolucion ria E
224. avia dias em que o dio transbordava em voc como quando chegou riscando os vidros da minha janela Eu te ofereci papel te disse que percebia a intensidade do que sentia e te convidei a falar de outros jeitos Voc pediu que eu me virasse para a parede tomou o punhado de papel branco nas m os e passou a rabisc los com f ria Eu escutava o barulho da caneta sendo pressionado com toda a for a no papel Depois de riscar com rispidez pilhas de papel voc colocou algo leg vel no papel e me deu permiss o para me desvirar e olhar Voc havia desenhado o logotipo da escola havia escrito vale 10 em um canto 2 claro que em suas brincadeiras as crian as repetem tudo o que lhes causou uma grande impress o na vida real e assim procedendo ab reagem intensidade da impress o tornando se por assim dizer senhoras da situa o Freud 1920 p 28 3 Quando a crian a passa da passividade da experi ncia para a atividade do jogo transfere a experi ncia desagrad vel para um de seus companheiros de brincadeira e dessa maneira vinga se num substituto Freud 1920 p 29 4 Como coloca Mauro Mendes Dias em dios n o se trata de produzir sujeitos equilibrados o que pode haver de pior Principalmente quando o triunfo desse equil brio encontra se diretamente relacionado elimina o do dio Por isso mesmo um de nossos temas poder se interrogar sobre o destino do dio Dias 2012 p 28 57 AN
225. bater a import ncia do reconhecimento desse la o transferencial inerente pesquisa com pais beb s realizada ao longo dos primeiros 18 meses de vida da crian a Em se tratando de um instrumento que foi constru do a partir da psican lise not vel que o seu uso n o se restrinja a uma aplica o protocolar mas que permite 1 Angela Flexa Di Paolo psic loga graduada pela Universidade Federal do Par UFPA mestre e doutoranda em Psico logia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo IPUSP Pesquisa dora na rea de inf ncia e psican lise angela _flexa yahoo com br 2 Rogerio Lerner psicanalista Professor Associado Livre docente e orientador de P s Gradua o no IPUSP Fellow do College of Research Training Programme University College London IPA Lidera o grupo de pesquisa CNPq Transtornos do espectro de autismo detec o de sinais iniciais e interven o com verbas de pesquisa de rg os nacionais e internacionais rogerlerner dusp br 3 Ana Silvia de Morais Graduada psic loga graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN com experi ncia em cl nica infantil Forma o pr tica no N cleo de Interven o Precoce NIP do Lugar de Vida Associa o de Educa o Terap utica Mestranda do Programa de P s gradua o em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo
226. bilidade de que este pequeno texto venha a despertar no leitor curiosidade suficiente para ultrapassar os referidos limites 200 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Refer ncias Bibliogr ficas Observa o A obra de Winnicott citada aqui a partir da Lista completa das publica es de D W Winnicott elaborada por Knud Hjulmand Fulgencio 2007 p 17 188 Consta nesta lista o ano em que o trabalho do autor foi publicado pela primeira vez Quando necess rio uma ou mais letras s o acrescentadas ao ano de publica o visando especificar a ordem em que o trabalho veio a p blico naquele ano ABRAM J Donald Woods Winnicott 1896 1971 A brief introduction International Journal of Psychoanalysis 89 6 2008 p 1189 1217 HJULMAND K Lista completa das publica es de D W Winnicott In FULGENCIO L Org Bibliografia Winnicottiana Natureza Humana v 9 n mero especial 1 maio 2007 p 17 188 WINNICOTT D W Holding and interpretation fragment of an analysis New York Grove Press 1989 Bibliografia Hjulmand 1986a Human nature New York amp London Routledge 1988 Bibliografia Hjulmand 1988 The aims of psycho analytical treatment In The maturational processes and the facilitating environment studies in the theory of emotional development London and New York Karnac Books 2007 p 166 170 Bibliografia Hjulmand 1965d 1962
227. brinquedos que comprara para filha e descrever que conseguia brincar com sua filha em casa Logo Jiane conseguiu colocar Bela na creche possibilitando sua separa o da filha e passou a procurar modos de se tornar independente fez cursos e conseguiu um emprego de manicure at decidir que j era capaz de trabalhar por si mesma e que atenderia as clientes em sua casa Com isto finalizamos o atendimento pontuando como Jiane se tornara uma pessoa completa com desejos e capacidade de realiza es o desfecho foi muito importante para que ela pudesse tamb m relatar sua raiva e tristeza por n s a deixarmos Neste momento a transfer ncia foi tamb m de extrema import ncia para que Jiane pudesse viver a separa o de uma forma diferente ela pode descrever sua raiva sua tristeza e inseguran a e no ltimo encontro nos trouxe seus planos nos demonstrando que iria dar conta de continuar sua exist ncia ap s esta separa o Atrav s destes modelos de Interven o Precoce tanto na Oficina quanto nas Consultas a exist ncia de um espa o potencial entre paciente e analista foi fundamental para que a an lise acontecesse e nesta acontesc ncia que entra a transfer ncia como possibilitador da paciente viver experi ncias antes n o acontecidas e de extrema import ncia para constitui o de seu eu verdadeiro ou seja para continuidade de seu desenvolvimento Al m disso a Oficina em grupo permitiu que ela pudesse projetar aspectos seus de
228. ca cl ssica da interpreta o parece inabilitada pelo menos de in cio restando ao psicanalista o lugar de estar l para ser encontrado A partir da cria o de um setting muito mais m vel do que aquele que nos acostumamos a reconhecer na chamada t cnica psicanal tica cl ssica a imita o dos gestos sons e maneirismos da crian a autista passou a ser uma a o terap utica valiosa Na d cada de 1930 Melanie Klein e Anna Freud propuseram cada uma sua maneira como condi o vital para a rela o anal tica com os pequenos o uso das interpreta es verbais Esse modelo foi tamb m estendido para as crian as n o falantes e que n o estabelecem rela o afetiva com o analista E o mais significativo Melanie Klein com o Pequeno Dick afirmou categoricamente senti me obrigada a fazer minhas interpreta es base do meu conhecimento geral sendo as representa es do material de Dick relativamente vagas Klein 1930 73 Segundo a psicanalista o simbolismo pode ser revelado pela crian a inibida por detalhes do seu comportamento permitindo que o analista fa a a interpreta o para nesse caso criar a rela o transferencial que caracterizaria a rela o anal tica com a crian a Em oposi o A Freud Klein enfatizou a primazia do efeito da a o interpretativa na rela o transferencial com Dick em detrimento das a es pedag gicas para adaptar o pequeno na escola Em suma o campo psicanal tico ficou mar
229. cado por um paradigma cl ssico o analista precisa ser int rprete de gestos pouco representativos das crian as inibidas para criar a rela o transferencial Ao longo da hist ria da cl nica psicanal tica com crian as ensimesmadas pode se observar o imperialismo do uso das interpreta es verbais para criar a rela o anal tica com a crian a produzidas e utilizadas das mais diversas formas segundo os modelos de escolas psicanal ticas existentes a partir do paradigma kleiniano O tema aqui proposto permite questionar esse paradigma a partir da cl nica contempor nea com as crian as ditas autistas Desde o caso cl nico Maria na Tese de Doutorado denominada Dos Sons Palavra explora es sobre o tratamento psicanal tico da crian a autista Tafuri 2003 a autora experimenta na cl nica a possibilidade de criar a rela o transferencial com crian as ensimesmadas a partir de interven es n o verbais origin rias de sensa es e percep es sens veis do encontro com a crian a Testemunhar a presen a de gestos sons movimentos e ritmos sens veis da crian a dentre uma gama avassaladora de comportamentos estereotipados denominados aut sticos torna se a fun o primordial do analista para mu al m da a o de interpretar por meio de palavras N o se trata de agir para ter acesso crian a entrar 1 Psic loga e Psicanalista Doutora em Psicologia Cl nica USP Prof Adjunta do Departamento de Psic
230. car e classificar com formas supostamente seguras e inquestion veis a caracteriza o de uma situa o abusiva Diante da exig ncia de materiais e provas de origem objetiva m es orientadas por seus advogados recorrem a buscas de documentos para legitimar a verdade isto o testemunho fidedigno da experi ncia de uma situa o abusiva vivida em Institui es Especializadas a partir da fantasia que uma Institui o Especializada ter todos os instrumentos objetivos para atestar um abuso e tamb m a propriedade da credibilidade por seu nome de especializada O adjetivo especializado muitas vezes traz confus es no imagin rio social A Institui o compreendida como especializada para atestar um abuso por alguns cuidadores se trata de uma Institui o para atendimentos sociais e psicol gicos que trabalha com projetos de preven o e prote o capacita o de profissionais e atendimentos terap uticos para sofrimentos e traumas emocionais causados por situa es de viol ncia Observamos na nossa experi ncia de 5 anos de atendimentos nesta Institui o que essas m es consideram que a crian a ser protegida com o afastamento do genitor que se relacionou com a filha de forma abusiva como medida de prote o para evitar marcas traum ticas no desenvolvimento da crian a Muitas vezes considerando que o afastamento apagar todas as marcas j registradas no psiquismo da crian a que sofrera o abuso Em
231. ce diferentes espa os de acolhimento em sua cl nica Fica por refletir a pergunta que se segue a tudo isso como estruturar o trabalho de forma a permitir ao profissional ocupar seu lugar na transfer ncia Esse lugar her ico como diz Lacan no mesmo semin rio 14 Lacan J 23 01 1963 A ang stia transcri o Roussan 127 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Algumas especificidades do manejo da transfer ncia na cl nica psicanal tica com crian as que sofreram rupturas nos seus la os primordiais Lia Lima Telles Rudge apresentadora do trabalho Sandra S Grama Ungaretti Cristina Almeida de Souza Cristina Maria Banduk Seguim Fl via Blay Levisky Palavras chave Transfer ncia Objeto Primordial Perda Trauma Um dos raros consensos na psican lise que a transfer ncia a b ssola que orienta o trabalho anal tico Ela o motor da cura atrav s do seu manejo cuidadoso que a hist ria de um sujeito pode ser reconstru da em an lise e ressignificada Tais coloca es d o a dimens o da relev ncia do artigo Din mica da transfer ncia 1912 cujo centen rio celebramos neste congresso H tr s aspectos da transfer ncia dispersos atrav s da obra de Freud ela identificada repeti o resist ncia e sugest o Em Din mica da transfer ncia est o presentes esses tr s aspectos O segundo par grafo deste texto j evoca a repeti o
232. cia atendimento individual ou grupo o que n o respondido pelo imperativo este ou aquele Diante deste sil ncio do analista eles se posicionam pelo atendimento individual e a sa da de Luiz do grupo A dire o do trabalho foi o deslocamento da quest o grupo ou individual para possibilitar um giro discursivo da impot ncia impossibilidade para comemorar a pot ncia destes pais e a pot ncia de Luiz Na tentativa de surpreend los atrav s do inesperado tirando os da culpa por n o poder pagar mais pois sabem que pagam pouco e a institui o merece mais fala deles pr prios urgente manejar a transfer ncia institucional que est em jogo a perda de amor vivenciada por estes pais se traduz na desqualifica o da institui o e a busca da inf ncia perdida do passado vivido quando Luiz foi encaminhado para primeiro tratamento ainda na pr escola A agressividade dirigida para institui o recebida por ela sem responder do lugar da guerra e sim acolhendo Decide se por n o mais ser conivente com o lugar que eles insistiam em ficar impotentes como Luiz quando chegou ao tratamento O corte produzindo a perda do gozo possibilitou a fam lia ocupar um outro lugar lugar da pot ncia e de possibilidades Hoje eles continuam frequentando o grupo de pais Luiz continua no grupo 6 Tradu o livre Afirma o freudiana citado por Assoun em seu livro de bolso Le ons psychanalyt
233. cia na cl nica com crian as M e do Marcos Fiquei impressionada Solicitando escuta para estados internos dela e da crian a Terapeuta l Sentiu saudades de casa Associando aspectos f sicos e ps quicos em resposta convoca o M e do Marcos Eu acho que foi n Incorporando a percep o Chega Miguel de 1 ano e alguns meses no colo de sua m e que participa pela segunda vez do grupo tendo sido encaminhado por dificuldades para dormir Terapeuta M Est todo mundo contando as novidades um que ficou doente melhorou um que tem ficado bem pertinho da mam e para cuidar dela e cuidar dele o Reinaldo que est mostrando a agita o e o Miguel como que est Recapitulando o percurso do Grupo e inserindo os que chegam M e do Miguel O Miguel essa semana dormiu duas horas e meia seguidas Reportando evolu o sintom tica Terapeuta l Olha para quem n o dormia nada N o era o Miguel que n o dormia nada Valorizando o movimento M e do Miguel Que n o dormia dez minutos seguidos Reconhecendo a mudan a Terapeuta I Puxa dormir duas horas e meia seguidas o Miguel est podendo descansar agora n Ele est podendo descansar mais Amplificando linguagem e tecendo sentido do cotidiano f sico para poss vel inter rela o com o emocional Il Associando f sico e ps quico Tolerando aspectos emocionais Reconhecendo compet ncias Pais Crian as Grupo Ap s conversa g
234. ciativa do Centro de Estudos Psicanal ticos M e Beb Fam lia M lega 1997 divulgam se e desenvolvem se propostas deste tipo de trabalho tanto no mbito cl nico quanto institucional Nestes modelos s o pilares fundamentais os desdobramentos da Observa o da rela o pais beb Tavistock Esther Bick em suas dimens es facilitadoras para a compreens o das rela es entre cuidadores e cuidado e para o acolhimento a aspectos emocionais e estados de mente primitivos presentes em nosso cotidiano relacional e profissional Percursos e realiza es no cotidiano dos Grupos de Reflex o Durante os Grupos de Reflex o enfatiza se a constru o de um espa o de contin ncia para preocupa es vivenciadas no cotidiano da equipe de profissionais no contato com os beb s malformados ou prematuros e seus pais Apontam se paralelos entre a experi ncia emocional das funcion rias marcada por intensa vulnerabilidade frente a ang stias de perda pela constante imin ncia de morte dos beb s e o processo vivenciado ali no Grupo de Reflex o Verifica se aqui novamente como o dispositivo cl nico da transfer ncia para o aqui agora do contato terap utico grupal pode favorecer a elabora o de aspectos emocionais presentes no cotidiano da institui o Verifica se que ansiedades envolvidas no cuidado de beb s de alto risco se n o acolhidas compartilhadas e elaboradas tendem a ser projetadas nas rela es intra equipe ou nas condi es
235. cl nica com crian as O marcador implac vel a transfer ncia em um caso de patologia neuromuscular degenerativa na inf ncia Isabella Silva Borghesi Quem j foi a um est dio ou acompanhou de casa um jogo de futebol provavelmente experimentou a seguinte situa o Um jogador normalmente o do time para o qual torcemos recebe a bola no meio campo e parte com ela dominada desatento a seu redor Todo o est dio v aproximar se por tr s um marcador A sensa o de um desespero a princ pio silencioso algu m vai avis lo e ele vai se defender O jogador continua por m com a bola nos p s A tens o aumenta ningu m parece falar nada Aos poucos cresce em todos os espectadores a sensa o de que a bola ser roubada iminente Surgem gritos esparsos da arquibancada oposta e da cadeira ao lado a torcida quer avisar o jogador Conforme o marcador chega cada vez mais perto esses gritos se multiplicam Gritamos n s tamb m Parece poss vel avis lo ele vai nos ouvir N o nada disso ocorre O marcador sorrateiro rouba lhe a bola e por todo o est dio ainda ecoa o grito de alerta olha o ladr o Teria ele nos ouvido caso grit ssemos mais alto ou ao mesmo tempo Teria ele como perceber sua situa o Talvez n o A sensa o por m angustiante Vemos que algu m n o percebe o risco que est correndo Vemos que n o podemos afastar sempre um risco que n s mesmos como torcedores corremos a bol
236. colariza o por sua sa de e por sua frequ ncia an lise Escutando os conflitos de Lourdes a respeito da ado o a analista a encaminhou para um atendimento psicoterap utico no Sedes ao qual Lourdes aderiu muito bem Nice por sua vez parece fixada a esse momento traum tico onde ela foi abandonada por sua m e biol gica Como nos ensina Macedo 2011 em Cartas a um jovem psicanalista na cl nica do trauma desenvolvemos uma esp cie de ca a ao tempo im vel em que se aloja o horror das palavras congeladas ligadas a viv ncias catastr ficas Em toda cat strofe h a trai o daqueles a quem se amava e em quem se confiava 130 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Numa sess o em fun o de uma reorganiza o da cl nica do Sedes Nice e a analista foram surpreendidas pela impossibilidade de usar a sala onde vinha acontecendo a an lise Foi marcante a rea o de Nice por dois anos lamentou este acontecimento recusando se a aceitar a nova sala Nessas ocasi es a analista e Nice conversaram sobre as arbitrariedades a viol ncia a saudade a decep o e por fim como tudo isso a impedia de aproveitar o que se apresentava A analista procurou associar este movimento hist ria de Nice mas naquela ocasi o tal interpreta o n o fez sentido para ela Manejar a transfer ncia implica em sustentar a passagem do tempo Assim algumas vezes trata se de esperar at
237. cologia Universidade de Bras lia LE O L 2010 Encantos e Encontros com a fala explora es sobre a cl nica fonoaudion gica Disserta o de Mestrado do Programa de Psicologia Cl nica e Cultura do Instituo de Psicologia da Universidade de Bras lia KLEIN M 1930 importance de la formation du symbole dans le d veloppement du moi In Essais de psychanalyse Paris Payot 1980 LAZARY V 2003 Tratamento Psicanal tico de crian as autistas Disserta o de Mestrado do Programa de Psicologia Cl nica e Cultura Instituo de Psicologia Universidade de Bras lia PARRA L 2008 Atando e Desatando N s reflex es sobre a fun o do acompanhamento terep utico Disserta o de Mestrado Programa de Psicologia Cl nica e Cultura Instituo de Psicologia niversidade de Bras lia TAFURI M I 2003 Dos sons palavra explora es sobre o tratamento psicanal tico da crian a autista ABRAFIPP Bras lia 153 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A cl nica com crian as autistas responde sobre suas causas Mira Wajntal Palavras chave Autismo Psican lise com crian as Causalidade ps quica e Transfer ncia Inicialmente a cl nica com crian as teve o desafio de descobrir como elas associavam livremente para que suas produ es inconscientes pudessem ser escutadas Brincando foi a resposta obtida Atualmente a cl nica do autismo p e em pauta a e
238. com atrasos espec ficos na aprendizagem com dificuldades de relacionamento ou de comportamento ou mesmo em rela o queles com bom desempenho escolar Em nosso trabalho institucional atual com as fam lias deparamo nos com situa es tais que nos levam a supor que os efeitos dos discursos sociais contempor neas sobre os cuidados com a inf ncia em especial o do discurso m dico e o do discurso t cno cient fico parecem caminhar em dire o contr ria abertura para as d vidas e para as novas indaga es que os pr prios pais possam formular sobre seus filhos configurando um campo desejante Os efeitos produzidos nas posi es discursivas parentais em grande parte advindos do discurso cientificista atual os destituem do lugar de um saber simb lico sobre seus filhos Medicar supostos dist rbios e problemas de comportamento ou de aprendizagem ou indicar terapias adaptativas ou corretivas da crian a a certos contextos e ambientes parecem ser prescri es profissionais bastante frequentes em nossa poca n o somente no mbito da sa de mas com frequ ncia e por efeito deste tamb m no mbito escolar e diante das quais muitos pais parecem n o ter d vidas Os profissionais que trabalham com crian as n o escapar o de encontrar em seu campo de atua o os cuidados com os pais e a escuta dos discursos familiares os quais veiculam queixas sofrimento e pedidos de ajuda e de orienta o em rela o a seus filhos sobre seus p
239. com crian as catexia nele investida retorna para o ego o que pode ser uma parte da explica o para o fato de a gagueira esvanecer nas crian as que s o tratadas terapeuticamente pois de 80 a 100 melhoram na inf ncia Com os adultos a inscri o renitente do sintoma permaneceu Haveria portanto falhado a forma o da inst ncia superegoica no aparelho ps quico N o parece ser esse o desfecho psicopatol gico pr prio da pervers o no entanto a gagueira n o teve como a fobia um prazo de validade associado a determinada fun o na economia ps quica A marca desse tempo de pavores e horrores inerentes ao complexo de castra o e as fantasias ainda mais aniquilantes se a ele n o fosse submetido continuam expl citas na linguagem Os gagos adultos parecem necessitar da presen a do sintoma e do medo dele derivado para aplacar a ang stia Ang stia derivada do segundo tempo do dipo associada percep o da falta sem endere amento devido ang stia em enfrentar a presen a de uma aus ncia de uma aus ncia aberta nesse lugar que n o ocupado pelo pai no discurso materno Essa assertiva produzida pelas articula es entre a conflitiva ed pica a forma o dos sintomas e peculiaridades dos pacientes com sintoma de gagueira permitem nos ampliar a percep o desse fen meno Embora tenhamos refletido por um novo prisma a respeito da rela o entre o complexo de dipo e a gagueira caminho que nos permitiu o
240. com os filhos com seus sogros e seus pr prios pais Ela disse que agora a primeira vez em que ela e o marido s o chefes de fam lia Ela compareceu apenas a uma consulta agendada com a pesquisadora e que se precisasse procuraria novamente N o foi poss vel acompanhar se houve efeitos na rela o dessa m e com os filhos ou com o marido a partir dessa consulta mas se pode afirmar que neste caso a interven o cl nica com a m e de Caio foi possibilitada pelo IRDI que apesar de n o indicar risco de desenvolvimento apresentou risco de ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as sofrimento ps quico tanto para o beb como para a m e A consulta abriu espa o para que ela pudesse falar de suas ang stias que permearam o nascimento dos filhos tanto do primeiro como do segundo de sua dificuldade em construir um lar com o marido e os filhos das dificuldades de separa o enfim Situa es essas que puderam ser relatadas para algu m que a escutava sustentada pelos referenciais psicanal ticos posi o esta que favorece o uso do IRDI para al m das consultas pedi tricas permitindo o estabelecimento e a manuten o de la os transferenciais Caso 2 Guilherme foi encaminhado para um Centro de Aten o Psicossocial Infantil CAPSI a pedido da creche por n o se relacionar com outras crian as e n o se vincular com a educadora Na ocasi o em que o IRDI foi aplicado G
241. crian as Claro importante o reconhecimento das dificuldades do caso das ang stias e frustra es dos profissionais bem como da import ncia das interven es realizadas anteriormente Contudo levar um caso para discuss o significa uma disponibilidade para investir ainda mais tornando se importante a transforma o da ang stia em investimento Do sintoma ao discurso Um aluno cujo comportamento n o se ad qua s expectativas da escola ser como se pode imaginar uma fonte constante de transtornos e aborrecimentos Normalmente a crian a agitada que briga grita expressa sua sexualidade agressividade enfim sua vitalidade de forma supostamente inapropriada Esses casos s o usualmente apresentados em sua dimens o sintom tica vis vel esperando se alguma t cnica ortop dica que retifique o comportamento Obviamente entre o inc modo institucional e a interven o almejada precisa haver a compreens o da situa o Para que esta seja poss vel preciso transformar a apresenta o sintom tica em uma apreens o discursiva do caso em que o comportamento da crian a ganha sentido quando contraposto quilo que ela diz e dito sobre ela Ou seja n o se trata de negar o valor discursivo prenhe de sentido do comportamento da crian a mas apontar que este s ser devidamente desvelado em articula o ao seu discurso verbal Nessa perspectiva uma interven o simples e eficaz perguntar pelo que o aluno diz
242. culiar como se configura a o complexo de castra o de um modo invertido por assim dizer onde sem a refer ncia paterna a aus ncia de atributos femininos o deixa sem lugar sem refer ncia tamb m de si O sexo e a diferen a sexual um segredo que somente na an lise pode ser revelado sendo tamb m a an lise o lugar onde T lio come a a se apropriar de seu p nis e de seu lugar de crian a e n o mais beb Uma rela o fantasm tica com o pai surge na rela o transferencial a partir de onde se constr i uma refer ncia masculina mas tamb m a partir de onde seu crescimento pode ser sustentado A perlabora o nesse atendimento passa ent o por uma repeti o recorda o do vazio provocado pela morte do pai e pela ang stia materna diante dessa morte restabelecendo um lugar perdido de incorpora o da figura paterna e do sexo masculino 1 Psic logo Cl nico formado pela USP SP Mestrando em Desenvolvimento Humano e Sa de pelo Programa de P s Gradu a o em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da USP Membro do CETEC Centro de Estudos da Teoria dos Campos Membro Fundador da Gesto Rede Psicanal tica luishenriquedalo yahoo com br 134 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Crian as encopr ticas Uma cl nica transbordante Marcia Regina Porto Ferreira Palavras chave Encoprese Pervers o Fetiche P
243. d que agora cito Descrevemos como traum tica qualquer excita o vinda de fora que forte o suficiente para atravessar o escudo protetor Parece me que o conceito de trauma necessariamente implica uma conex o deste tipo com a brecha em uma de outra forma eficaz barreira contra est mulos Tal evento como um trauma externo est obrigado a provocar um dist rbio em grande escala no funcionamento da energia do organismo e acionar qualquer medida defensiva poss vel Ao mesmo tempo o principio do prazer por um momento posto fora de a o N o h mais qualquer possibilidade de prevenir que o aparato mental seja inundado com grandes quantidades de est mulo e outro problema surge em seu lugar o problema de dominar as quantidades de est mulos que invadiram e lig las no sentido ps quico de forma que se possa desfazer se delas Freud 1920 p 29 30 78 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Parece claro apesar da afirma o de Laplanche que o trauma para Freud pode formar se em um nico momento a quest o quantitativa econ mica que atravessa a forma o do trauma Para ele assim como para Ferenczi o elemento do choque tinha uma grande influ ncia sobre se uma experi ncia seria ou n o traum tica Meu paciente n o poderia estar mais despreparado se assim podemos dizer para colis o Ele dormia O curioso que seu sono durante a experi ncia n
244. d e caminharei 1 Psicanalista mestrando no IPUSP com bolsa FAPESP especialista em Teoria Psicanal tica pelo COGEAE PUC SP e alu no do curso Psican lise no SEDES Durante v rios anos trabalhou no Programa Sentinela atendendo crian as v timas de abuso sexual e outras formas de viol ncia 77 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as infelizmente a passos r pidos na dire o de uma tentativa de unir suas teoriza es sobre o trauma ps quico com as de Ferenczi Devo dizer que o tempo ser um inconveniente em todos os sentidos n o serei capaz de reunir toda informa o que necessito nos minutos que me restam Que nos restam devo dizer Gostaria de usar o n s porque esta ser como muitas outras uma experi ncia intersubjetiva o que observei em minha cl nica encontrar ou n o um eco em voc s Assim como a maioria de nossas experi ncias pedem esse tipo de resposta de reconhecimento quando as contamos aos outros ou quando precisamos dos outros para que tenhamos elementos para contar Como meu paciente e suas perguntas sobre o que ele n o lembra mas o interessa ou sobre o que ele sentiu mas n o tem certeza Sobre seu caso devo dizer estamos frente a uma situa o que em si mesma traum tica Podemos dizer isso porque ap s o acidente ele buscou objetos externos outras pessoas para encontrar um lugar para o acontecimento em sua hist ria Noutras palavr
245. da morte perda real e simb lica assim como a cronicidade que lhe requerer cuidados permanentes Rosa ao deparar se com o retrocesso do desenvolvimento de sua filha com esse real que rompe no corpo n o a reconhece mais enquanto sujeito Ao falar sobre suas ang stias vinculadas filha ou n o h como que um esvaziamento destas e ela consegue reinvestir em Kelly tal processo ocorre paralelamente ao de Kelly retomar seu desenvolvimento em contrapartida ela brinca e fala Nesse momento surge a brincadeira do esparadrapo uma cria o das duas como modo de lidar com o real que se imp e numa tentativa de colocar palavras ali onde n o h A m e ocupa se da crian a nomeando a significando seus gestos seus choros e por meio desse contexto marcadamente simb lico fornece crian a uma determinada imagem de si Nesses casos este contexto marcadamente simb lico que pode ser retomado a partir do encontro com o analista 6 Moretto L M T op cit 7 Quinet A 2000 As 4 1 condi es de an lise Rio de Janeiro Jorge Zahar 8 Bataille L 1988 Desejo do analista e desejo de ser analista In Bataille L O Umbigo do Sonho por uma pr tica da psican lise Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 9 Mannoni M 1989 Um saber que n o se sabe a experi ncia anal tica Campinas Papirus 10 Nomin B 1997 O sintoma e a fam lia Belo Horizonte Escola Brasileira de Psican lise pg 38 11 Faria M
246. da transfer ncia e utilizaremos este vi s para pensar na dire o de tratamento institucional para este caso em quest o Uma id ia forte em Freud que a transfer ncia a prova maior dos processos inconscientes em sua dimens o de conflito Retomamos o caso em quest o e a dire o de tratamento O investimento financeiro institucional foi pensado a partir da transfer ncia inicial estabelecida ainda fr gil atrav s do discurso estabelecido pelos pais dizendo de suas impossibilidades financeiras Vale ressaltar que no hist rico institucional inicialmente os atendimentos terap uticos acolhiam prioritariamente as demandas de fam lias com poucos recursos financeiros Voltando ao novo contrato institucional o trabalho da refer ncia segue com alguns encontros com os pais na tentativa de rediscutir o investimento no tratamento investimento este que ser simbolizado pelo pagamento Ao entrar na quest o financeira a impossibilidade aparece a todo vapor Impossibilidade e impot ncia por parte destes pais n o tem recursos est o atolados de d vidas Este trabalho de escuta destes pais perdurou por algum tempo o manejo da transfer ncia foi algo de muita discuss o em reuni es de equipe Os pais de Luiz trazem como dire o a impossibilidade de continuar com o grupo terap utico e o atendimento individual alegando o pre o caro que seria arcar com estes dois dispositivos neste momento e imp e uma decis o refer n
247. dade da crian a se descolar do outro pela falta de uma representa o de si mesmo exercendo sua fun o organizadora Os comportamentos de Igor de ficar bravo comigo quando ele errava um desenho ou quando ele derrubava algo no ch o s o alguns exemplos de sua falta de discrimina o eu outro Em seu mundo de parcialidades o atributo separado do contexto define o objeto n o sendo poss vel para ele totalidades diferentes providas de um mesmo atributo Como o ser e o atributo s o intercambi veis cada objeto nico e n o h possibilidade de armar categorias de oposi o e de diferencia o Assim no final de uma sess o em que estava insistindo com sua m e que queria tomar caf apontou para o reservat rio transparente da cafeteira e perguntou que isso gua Quero essa gua Peguei a garrafa de gua mineral e lhe ofereci dizendo que a usei para colocar na cafeteira N o quero essa gua gosto de gua de caf ele respondeu muito bravo insistindo que queria a gua de caf e n o essa de futebol apontando a garrafa que eu oferecia e que tinha no r tulo um gramado verde desenhado num formato redondo Seu funcionamento ps quico predominantemente regido pelo processo prim rio sem l gica da exclus o e da negatividade aparece em outro momento quando desenhando numa folha branca reclamou N o tem o branco Porque o c u branco eu ia fazer o c u branco Numa brincadeira onde fazia
248. dades 161 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as de estrat gias criadas por ele fazendo face a estes momentos de desamparo onde por falta de recursos simb licos Luiz ca a em um buraco sem fundo como se fosse um abismo sem possibilidades de elabora o Passaram se dois anos desde o in cio de tratamento a institui o repensa a dire o de tratamento o pagamento institucional colocado em quest o pela equipe A refer ncia institucional marca uma conversa com os pais para conversar sobre diferentes aspectos O pagamento institucional a pauta da discuss o Uma an lise sem transfer ncia uma impossibilidade constata Freud acreditando e trabalhando neste vi s que ap s algum tempo a institui o p de repensar a dire o de tratamento e a discuss o do valor do pagamento institucional Voltar ao tema inesgot vel da transfer ncia arma de uma resist ncia e alavanca da an lise obst culo e auxiliar eis a dupla cara da transfer ncia Esta a afirma o freudiana que em forma de pergunta se formula como a transfer ncia pode ser o maior obst culo e ao mesmo tempo o mais poderoso aux lio no tratamento anal tico Assoun 2006 p 13 Podemos nos perguntar Como ocorre a mudan a da transfer ncia do estatuto de arma poderosa da resist ncia ao melhor instrumento da cura anal tica Esta a f sica central
249. de espa o e tempo mencionados anteriormente A outra express o de que Winnicott se serve para se referir ao m todo de tratamento utilizado por sua vez igualmente reveladora Psican lise partag compartilhada psychoanalysis partag shared 1977 p viii s o palavras que remetem ao fato de que durante todo o tratamento de Piggle Winnicott contou deliberada e estrategicamente com o aux lio dos pais desta em termos de meio ambiente facilitador Ilustra este ponto por exemplo o fato de o psicanalista ap s a terceira consulta ter escrito que o setting familiar forneceu o hospital mental mental hospital em que ela Gabrielle pode alcan ar a sua doen a Op cit p 51 Posto isto passemos a seguir ao exame do fen meno transferencial poca da primeira consulta do tratamento Variedades cl nicas da transfer ncia Trinta dias aproximadamente separaram no tempo a primeira carta dos pais e a primeira consulta do tratamento Gabrielle nesta ocasi o tinha dois anos e cinco meses de idade e conta Winnicott parecia s ria ao entrar no seu consult rio em companhia de seus pais Era evidente segundo ele que a sua pequena paciente veio para trabalhar Op cit p 9 Num primeiro momento Winnicott conduziu os rec m chegados ao seu consult rio onde permaneceram juntos durante algum tempo A seguir os levou a sala de espera de onde ent o tentou levar Piggle de volta sala de
250. de comunica o No segundo momento que corresponde ao brincar com a esp tula o paciente realiza a comunica o que precisava enunciar neste momento as interven es do terapeuta seriam mais produtivas e o paciente viveria a experi ncia de ser compreendido No terceiro momento que corresponde ao jogar a esp tula e desinteressar se pelo jogo o paciente pode ir embora e deixar o terapeuta por ter tido uma experi ncia completa que resulta na possibilidade de colocar a sua quest o em devir Neste momento importante que o terapeuta n o se coloque como uma presen a necess ria e excessiva Pensamos que especial cuidado deve ser tomado em rela o s orienta es dadas aos pais que dizem como fazer que s o f rmulas psicol gicas interven es desta natureza centralizam no terapeuta o conhecimento dificultando para os pais jogar a esp tula e fortalecerem se no desempenho das fun es parentais Mannoni 2004 ao opor se s orienta es dadas por terapeutas defende que quase sempre mais sensato ser menos apressado esperar primeiro que 90 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as o sujeito se situe na sua pr pria hist ria antes de conduzi lo autoritariamente por um caminho que ele deveria de fato poder descobrir sozinho p 104 Ainda sobre o Jogo da Esp tula vale lembrar que esse mesmo processo tamb m ocorre em cada uma das sess es pois
251. de falar sobre aquilo As interpreta es que fazia eram verbalizadas e de alguma maneira apreendidas pelos beb s Questiona se como poss vel que os beb s ainda n o apropriados da linguagem verbal possam fazer dela uso t o eficiente A partir da sua compreens o era poss vel construir juntamente com o beb um sentido para sua experi ncia devolvendo o ao lugar de sujeito de seu desejo e da narrativa de sua vida Eliacheff comparou a psican lise de beb s dan a o corpo do analista seria um ve culo para sentir os efeitos dos acontecimentos sobre o corpo da crian a Transformando em palavras estas sensa es corporais ele as devolve crian a que ent o as pode sentir corporalmente e junto com o analista construir um sentido para elas O corpo dentro desta perspectiva seria o lugar da linguagem Ou conforme Solis Ponton e Rose Moro as emo es e fantasmas que circulam na cena da consulta v o utilizar o corpo do analista como a moradia de sua elabora o 2004 p 71 H que se pensar que necessariamente se lida nestes casos com v rias transfer ncias e contratransfer ncias com cada um dos cuidadores e com o beb Al m disso tamb m h a transfer ncia com a pr pria maternidade Podemos falar aqui do terceiro conforme Lacan ou do campo transicional segundo Winnicott De qualquer forma poss vel afirmar que entre uma m e e seu beb existe algo que se constr i a partir da rela o e n o se limit
252. de outra forma a transfer ncia antes nutrida unicamente de sil ncios e hesita es desenvolveu se em algo mais carregado mais complexo e felizmente mais ben fico a seu tratamento O est dio ainda est cheio Vemos o marcador O vejo eu o v tamb m a m e do paciente Fico a beira do campo c mera na m o Qualquer furor curandis imposs vel n o disso que se trata O marcador implac vel teima em aproximar se Observo pela lente piratas voarem pela sala sil ncios que angustiam toda a arquibancada um sorvete que n o pode ser tomado Pela minha experi ncia com esse tipo de caso sei que a bola ser roubada ou que cair o jogador que a carrega Mas baixo a c mera ele j est perto da rea Sei que n o adianta negar a vinda do ladr o Fa o um cone improvisado com as m os meu megafone corp reo H transfer ncia ent o o jogador me olha com o canto dos olhos Enquanto os outros se preocupam com o ladr o falo e minha voz soa alta pelo megafone improvisado Est vivo n o morreu n o Divirta se no jogo Refer ncia Bibliogr fica FREUD S 1915 Considera es atuais sobre guerra e morte In Obras completas volume 12 trad Paulo C sar de Souza S o Paulo Companhia das Letras 2010 108 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Cl nica psicanal tica de crian as e adolescentes Promo o de sa de desafio da atualidade
253. de ressentimentos que ela e sua irm t m em rela o m e figura muito admirada por sua compet ncia como profissional mas muito criticada por sua pouca disponibilidade afetiva para com as filhas Certamente essas mem rias intensificam os conflitos que vive agora e o medo de ver repetidas na rela o com as filhas a mesma situa o emocional que colore suas rela es com a irm e a m e Dessa forma vive intensamente a ambival ncia massacrante entre m e boa e m e m conflito que parece adquirir corpo na recusa de Lara em mamar em um dos seios como se esta divis o personificasse a presen a deste objeto mau na rela o com a filha Embora esse enredo seja derivado de suas fantasias e conflitos que remontam a sua pr pria viv ncia arcaica a analista sugere que sejam feitas inicialmente sess es de interven o pais beb pelo car ter vincular que o conflito adquire e por seu efeito sobre as fun es maternas o que a impede de funcionar como objeto primordial continente s ang stias de sua filha representando um risco ao seu desenvolvimento mental saud vel O que se coloca em quest o o processo de parentaliza o conceito psicanal tico que refere se ao processo pelo qual os pais vivenciam profundas transforma es identificat rias nas quais s o reeditados conflitos antigos e que permitem que se tornem pais desta crian a A partir destes v nculos afetivos constru dos nesse interjogo interno e relacional que ser cons
254. de ser interessante como ele sabe Contaram a ele Sim contaram e ele pesquisou e perguntou s tias e me pergunta algo em toda sess o Se vi seu time jogar se sei algo sobre sua coluna se acredito que ele sentiu o movimento de um dedo do p na noite anterior Perguntando aos outros ou mais amplamente buscando no mundo externo elementos para compor suas experi ncias ele vai igualmente compondo sua hist ria E no caso seu trauma f sico a dor e a paralisia e seu trauma ps quico indissoci vel desse evento f sico v o sendo paulatinamente vale ressaltar esta palavra absorvidos por seu psiquismo e podem encontrar aos poucos importante repetir uma tentativa de elabora o Voltarei ao paciente logo Mas j que entrei no espinhoso assunto do trauma preciso conceitua lo minimamente em nossa rea a psican lise O falecido Jean Laplanche discutindo o caso do Homem dos Lobos na sexta de suas Problematiques diz nos que A teoria freudiana do traumatismo a teoria onde o traumatismo sempre precisa de dois tempos para existir 2006 p 135 Ele vai ainda mais longe na afirma o Em suas palavras N o h traumatismo sem dois tempos p 135 Embora esteja em bons termos com o pensamento laplanchiano minha experi ncia cl nica e meus estudos n o me ajudam a concordar com essa maneira de entender a teoria freudiana por raz es simples que espero conseguir explicar Come arei por Freu
255. de usar o IRDI como acompanhamento da rela o que um professor estabelece com cada beb que est sob seus cuidados Nessa metodologia o pr prio professor que estar implicado nessa rela o ele n o estar colocado em uma posi o de observador como estava o pediatra na pesquisa original e os IRDIs n o ser o auto aplicados Deve haver por m um acompanhamento de uma terceira pessoa que ajude o professor a tomar certa dist ncia perante o que ele pr prio est acompanhando Para isso contar durante a pesquisa com o aux lio de um monitor treinado para esse fim que dever fazer como diz Claude Boukobza o holding do holding isto a oferta de uma sustenta o ao professor que sustenta o beb para que os encontros e desencontros da professora no exerc cio da continuidade da fun o exercida pela m e possam ter lugar no campo da educa o infantil Discute se aqui se a metodologia IRDI agora sustentada na rela o transferencial que precisa estar na base do acompanhamento do monitor do trabalho com a professora holding do holding poder levar o psicanal tico ao cora o das creches no sentido de manter em andamento alguns eixos dessa fun o materna de modo a impedir que se rompa o la o m e beb de forma precoce e antecipada e desta forma manter um lugar para o sujeito 1 Autores da Pesquisa Kupfer M C M Pesaro M E Bernardino L M F Mariotto R M Lajonqui re L Voltolini R 2 Psic loga Do
256. dedo da analista e no dela mas em seguida o que est em seu dedo se solta e ela volta a explorar os brinquedos deixando a analista com um durex preso em seu dedo e com a outra ponta solta Nesse momento de desabafo inicial cria se um clima tenso cujo desespero ganha voz num choro repentino e desassossegado de Lara que a m e tenta aplacar oferecendo o seio Embora o beb o aceite parece desconfort vel em movimentos de pegar e soltar em meio a um resmungo que expressa o quanto parecia incomodada com a tens o da m e Flora desabafa sua ang stia e ambival ncias at mesmo reconhecendo um sentimento de ci me e rivalidade com o leite de f rmula que oferece em momentos de insufici ncia do leite materno Com toda sua afli o reivindica a ajuda do marido ao mesmo tempo em que n o consegue receb la por n o permitir que ele se insira na rela o com as filhas sua pr pria maneira Suas atitudes revelam o quanto se imbui de mecanismos de controle que s o defensivos ao estado vulner vel que se configura Diante dessas viv ncias na sess o as analistas se organizam de modo a estarem divididas Uma delas escuta e conduz a conversa com os pais e a outra fica ao lado de Bruna numa configura o de certa forma exclu da Ambas sentem certo inc modo que leva um tempo para que possam apreender e nomear o que se configurava na fam lia e que as submetia contra transferencialmente Atrav s da observa o do lugar ocupado por Bruna aos poucos
257. deol gica produz discurso ideol gico escuta flutuante produz discurso associativo Volgo 1998 pg 14 Por fim cabe frisar o fato das puls es serem o lugar do acaso em psican lise por excel ncia uma vez que seus destinos se constituem pelo puro acaso de um encontro distinguindo se por isto dos instintos Garcia Rosa 2003 Encontro este que antecede a lei que posteriormente reger seu pr prio funcionamento Refer ncias Bibliogr ficas Freud S 1981 Lo siniestro In S Freud Obras completas L Lopez Ballesteros amp De Torres trads 4a ed Vol Pp Madrid Biblioteca Nueva Trabalho original publicado em 1919 Garcia Roza L A 2003 Acaso e repeti o em psican lise Uma introdu o teoria das puls es Rio de Janeiro JZE 72 edi o Jeruzalinsky A Semin rio IIL Universidade de S o Paulo Instituto de Psicologia Lugar de Vida 2004 Laznik M C 2004 A Voz da Sereia o autismo e os impasses na constru o do sujeito Bahia galma Mijolla Mellor S 1998 maio A impens vel causalidade do acaso In Boletim de Novidades Pulsional XI 109 26 45 Volgo M J D 1998 maio A prop sito de Psican lise e Medicina complementaridade ou causalidade Psicossom tica In Boletim de Novidades Pulsional ano XI 109 9 25 Wajntal M 2004 Uma Cl nica para a Constru o do Corpo S o Paulo Via Lettera 158 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIA
258. desorganizadora da experi ncia n o est nela em si no real mas na forma com que o sujeito a vive e a significa a qual depende tanto da hist ria individual de cada um quanto dos recursos oferecidos pelo contexto s cio cultural de pertencimento O que a crian a encontra em seu meio ao seu redor ap s a experi ncia traum tica faz toda diferen a em rela o ao modo com que ela continuar a desenvolver sua narrativa sobre si mesma Cyrulnik afirma a import ncia do modo como os adultos pr ximos crian a puderam ou n o absorver o impacto do acontecimento traum tico Quando o adulto pr ximo brutalmente atingido pelo acontecimento e n o consegue absorver o impacto a crian a fica mais exposta aos efeitos desorganizadores que impedem poss veis simboliza es Assim quando um ambiente familiar deficiente outros contextos seja no bairro na comunidade em espa os culturais esportivos profissionais podem apresentar outras maneiras de viver e podem propiciar condi es para que novos acontecimentos significativos ocorram Para este autor o acontecimento significativo muda a narrativa do sujeito sobre si mesmo ap s o acontecimento ele n o ser mais o mesmo e o vive como a repara o de uma ruptura Nunca saberemos a priori o efeito que ter para cada crian a e em que ambiente a crian a encontrar isso Apenas podemos afirmar que a possibilidade de v nculo com um outro humano e de atribuir sentido ao
259. deste pedido e a participar das brincadeiras nomeando os cuidados com a filha A vinda do pai para S o Paulo permite que esse reposicionamento se consolide Fernando participa das brincadeiras delas direcionando o olhar a voz os gestos filha Kelly e Rosa enfermaria hemato oncol gica Kelly tem 1 ano e meio e as m dicas falam de seu caso durante as reuni es semanais em que toda a equipe da enfermaria participa com bastante cautela mesmo apresentando melhoras do quadro cl nico lembram tratar se de um caso muito grave com diagn stico de neuroblastoma IV N o houve pedido expl cito para atendimento da m e ou da equipe mas como de praxe vou apresentar o servi o de psicologia e me coloco disposi o para escut las Rosa diz que quer conversar sim Kelly est chorando muito pois est sentindo dor e repete duas palavras mimi para dormir e mama para chamar a m e depois de uma medica o a dor diminui e Kelly dorme A m e relata ent o sua saga desde os primeiros sintomas at esta interna o Kelly estava passando muito mal e ningu m sabia o que ela tinha havia ficado alguns dias internada em hospital p blico de sua regi o e teve alta Rosa continuou muito preocupada com o estado da filha e uma amiga sugeriu que elas procurassem o HC H mais ou menos 2 meses recebeu o diagn stico de c ncer j no ICr H cerca de 20 dias Rosa achou que Kelly n o estava bem e a trouxe para o pronto socorro onde
260. dida em que s o vividas por pessoas diferentes Ao mesmo tempo o analista oferece novas significa es atrav s de suas interpreta es Teperman 2002 salienta a import ncia de que haja um interlocutor para as produ es do beb que o suponha como sujeito Quando os pais n o fazem este trabalho de antecipa o importante que algu m o fa a Na interven o pais beb o analista pode ainda colocar se no lugar do beb emprestando lhe sua voz e dirigindo se m e que ent o convidada a responder ao filho aquilo que o analista requisitou em seu nome Recorte cl nico e discuss o Para ilustrar e dar vida s elabora es acima trago o caso de M atendida em conjunto com sua m e T dos 8 aos 19 meses M sofria de uma patologia hep tica que exigia um transplante O tratamento foi realizado em um estado distante da casa da fam lia que por ter baixa renda foi acolhida em uma institui o de apoio a crian as doentes A m e sentia se muito solit ria sem ter algu m da fam lia para compartilhar o cuidado com a filha na institui o Seu esgotamento que se refletia na rela o com M gerou preocupa o e motivou a indica o do atendimento T inicialmente mostrou se aliviada por encontrar amparo Sentia que tinha recursos para lidar com a situa o da doen a de M mas ressentia se por n o ter o apoio de uma figura de confian a Para cuidar da filha necessitava de algu m que cuidasse de si Contou sobre sua
261. dio grudadas e forradas e depois pintadas Havia um lugar no meio onde os bonecos da fam lia 58 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as devidamente decapitados e operados com a cabe a de volta no lugar cheios de ataduras eram encaixados e ficavam ali repousando at voltarem a viver Gravadas na maca estavam as iniciais de seu nome seguidas da titula o especialista em cabe as Muita gente vinda de todos os lugares do mundo foi curada por este grande m dico Eu era a eficiente auxiliar de enfermagem a mim cabia recortar ataduras instrumentar as cirurgias e tolerar certas grosserias suas j bem menos frequentes que outrora Um dia voc pediu que eu trocasse o forro da maca de vermelha ela passou a ser verde Verde a cor da esperan a eu disse voc d esperan a aos seus pacientes e eu estou orgulhosa de voc E a medida em que voc fazia um evidente trabalho de repara o eu pensava que o momento da alta se aproximava Quantos deslocamentos Sua onipot ncia ainda estava ali mas sua finalidade era construtiva Voc colocava as cabe as de volta no lugar e n s dois coloc vamos a sua Mas para minha surpresa voc n o queria saber de ir embora Quando ensaiei marcar uma data para nossa ltima sess o voc brincou repetindo a mesma data sugerida s que com o ano seguinte Rimos E seguimos trabalhando A esta altura voc j havia espich
262. do Psic logo VINAR M 2009 Mundos adolescentes y v rtigo civilizatorio Montevideo Uruguai Ediciones Trilce 2002 Psicoanalizar Hoy Problemas de articulaci n te rico cl nica Montevideo Uruguai Ediciones Trilce LAPLANCHE 1993 Da transfer ncia sua provoca o pelo analista S o Paulo Revista de Psican lise ano VI n 10 1 sem 1993 GURFINKEL D 2008 Sonhar dormir e psicanalisar viagens ao informe S o Paulo Escuta LAURINDA M R de SOUZA 2009 Resenha de Vera Blondina Zimmermann Adolescentes estados limites A institui o como aprendiz de historiador S o Paulo A esperan a como condi o tica para o surgimento do sujeito Revista de Psican lise ano XXI n 42 2009 65 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Quando o ambiente o abrigo cuidando das cuidadoras Dra Denise Sanchez Careta Autor Apresentador Profa Dra Ivonise Fernandes da Motta Palavras chave Abrigos Cuidadores de Crian as Abrigadas D W Winnicott Procedimento de Desenhos Est rias com Tema Introdu o Como psic loga e psicanalista que nos ltimos anos vem desenvolvendo interven es psicol gicas em contextos de abrigos para crian as e adolescentes deparei me com um grupo de mulheres cuidadoras de crian as abrigadas que manifestava sofrimento ps quico intenso e que precisava portanto de cuidados psicol gicos A
263. dos pela provis o ambiental holding uma nova etapa no processo psicoterapeutico se desdobra Ocorre o aparecimento e gradual intensifica o de 6 Os nomes s o fict cios 7 Os dados da hist ria das crian as anteriores a entrada em acolhimento s o oriundos de visitas e relat rios de assis tentes sociais 203 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as um quadro de enurese acompanhado de agita o durante o sono que por vezes interrompido por gritos e pedidos de socorro do menino R mulo apresenta comportamento regredido requisitando que a cuidadora o alimente o troque e o auxilie na escova o dos dentes Demonstra irrita o diante de frusta es e busca isolamento nesses momentos Por vezes apresenta per odos de aus ncia ficando em um estado amorfo Durante os atendimentos o paciente manifesta intenso sofrimento e retraimento n o conseguindo brincar H a necessidade do analista se apresentar de forma l dica comunicando se com aspectos da personalidade do menino como em uma situa o onde um bezerro solit rio e triste cuidado por uma vaca que surge para acolh lo Os contatos n o se sustentam e muitas vezes o sofrimento e o choro invadem a sess o N o h lugar para as palavras nesses encontros Winnicott 1963 1983 relata que o que oferece consist ncia a situa o anal tica n o se trata de algo a ser recordado ou revivido na t cnica do analist
264. dura anal tica est a servi o do m todo psicanal tico e n o o contr rio e a quest o principal num caso como o dos irm os a da extens o da escuta para poder se considerar qual de fato o desejo do paciente e como trabalhar com ele Uma extens o da escuta do que se diz e do que se observa que n o corresponde apenas a uma moldura mais ampla Isso para Herrmann cl nica extensa Herrmann 2003 Parafraseando o poca de minha qualifica o de mestrado Cl nica extensa n o s uma quest o do setting Ali s n o em absoluto uma quest o do setting a supera o da quest o do setting Ou seja cl nica extensa o desprendimento do padr o que possibilita a escuta efetiva do desejo do paciente Sofio 2007 1 Parte do trabalho sob o t tulo Cl nica extensa no consult rio psicanal tico fun o terap utica e flexibiliza o do enquadre foi apresentada tanto na Jornada do CETEC 2009 intitulada Teoria dos Campos sua especificidade e a cl nica extensa como no curso Psican lise e seu horizonte de voca o no XXVII Congresso da FEPAL em Bogot 2010 A vers o completa desse trabalho dever ser inclu da em minha tese de doutoramento Literacura Psican lise como forma liter ria Uma interpreta o dentro da Teoria dos Campos a ser defendida em 2013 2 Doutoranda em Psicologia Social pela USP pesquisadora FAPESP mestre em Psicologia Cl nica pela PUC SP membro do grupo de pesquisa do Centro
265. e Logo nas primeiras sess es p e em jogo na rela o transferencial os elementos importantes fala de seu dio seus olhos fa scam tenta assustar me dizendo de seu desejo e de sua potencialidade mort fera que insiste em repetir ali uma situa o de desist ncia ou expuls o Quando me dou conta que me assusta a possibilidade de tornar me alvo direto de seu dio lembro das palavras de sua m e que teme ver em ato uma potencialidade assassina da filha Ao perceber me colocada a trato de pensar em como sair Se Karen provoca situa es de expuls o e de rompimento na fam lia nas escolas por onde passou e com as amigas como n o passar amos por elas em sua an lise Quando a repeti o do trauma apresenta se na sess o como intercept la Para responder a esta quest o ser necess rio pensarmos acerca da natureza da din mica estabelecida na transfer ncia ser necess rio nos perguntarmos como se faz a passagem de algo vivido a algo experienciado no qual a apropria o e a elabora o comparecem 1 Psicanalista membro do Departamento de Psican lise do Instituto Sedes Sapientiae doutora em Psicologia Cl nica pela PUC SP supervisora do Programa Com Tato do Instituto Fazendo Hist ria e autora do livro Fazer se herdeiro a transmis s o ps quica entre gera es 217 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as De acordo com Ansermet 2003 em rela o nossa origem
266. e aproxima o do pai por raz es pessoais da m e constru da na rela o afetiva com o seu ex parceiro Neste sentido a crian a convidada a realizar uma alian a com um alto custo emocional para o seu psiquismo no que se refere ao medo de perder o amor materno se n o ocupar o lugar solicitado por esta m e Tal situa o pode refletir em uma justi a rigorosa r gida e c tica para a compreens o de fen menos relacionados subjetividade humana diante do uso perverso de situa es graves como o abuso contra crian as e adolescentes 1 Psic loga e Psicanalista Mestre em Dist rbios do Desenvolvimento pela UPM SP Especialista em Psicologia Hospitalar SCMSP e CFP Forma o em Psican lise da Crian a pelo Instituto Sedes Sapientiae Docente do curso de Pedagogia das Faculdades Integradas Campos Salles Psic loga Judici ria Membro e Docente do Centro de Refer ncia s V timas de Viol ncia Sedes e FUNDUNESP Terapeuta do Grupo Acesso Departamento de Psican lise da Crian a Sedes christianesanchesQuol com br 36 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Diante do cen rio da aliena o parental m es que buscam como prote o para o seus filhos que sofreram experi ncias abusivas sofrem muitas vezes dificuldade para legitimar o seu discurso e diante deste territ rio legal em que o espa o para a subjetividade restrito buscam se subs dios para identifi
267. e aqueles tomados psican lise estrita e n o tendenciosa Em institui es que se dedicam ao tratamento de crian as com transtornos ps quicos h v rias formas de atendimento que se baseiam na psican lise Esse trabalho pretende abrir uma discuss o sobre a transfer ncia institucional o manejo da transfer ncia neste tipo de tratamento e o lugar dos pais neste manejo S o diversas as estrat gias de pensamento ensejadas para fundamentar atendimentos que t m lugar em institui es Uma parcela significativa delas parte da teoria psicanal tica para fundamentar tais atendimentos tanto para defender que sejam feitas interven es consideradas psicanal ticas quanto para defender que n o Nesses atendimentos a psican lise prevalece tanto na leitura dos casos cl nicos quanto na compreens o dos la os estabelecidos entre agentes institucionais e pacientes 2 Trabalho com os pais de uma crian a a transfer ncia em quest o Luiz chega institui o aos cinco anos de idade encaminhado devido aos medos e momentos de desorganiza o se descontrolava e chorava muito quando algo n o acontecia como ele planejava Anteriormente Luiz j havia sido encaminhado para tratamento pela pr escola quando os profissionais notaram algo diferente foi acompanhado por um profissional durante algum tempo A dire o de tratamento foi pensada pela equipe e pelo profissional refer ncia sua inser o em um grupo terap utico
268. e das resist ncias Freud d certa nfase compreens o da transfer ncia enquanto resist ncia j que estava buscando desenvolver a t cnica psicanal tica de modo a responder s dificuldades que se apresentavam na cura frente emerg ncia da chamada transfer ncia negativa A t cnica aqui desenvolvida implica em liquidar a transfer ncia negativa e a transfer ncia positiva ardente demais e conservar a transfer ncia am vel que permite operar por sugest o Nesta apresenta o buscaremos pensar algumas especificidades do manejo da transfer ncia na cl nica psicanal tica com crian as onde a perda traum tica do objeto primordial amea a o estabelecimento e a continuidade de novos la os inclusive com um analista Tal discuss o ser feita a partir do caso de uma menina que tinha 11 anos quando sua m e adotiva buscou o Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do Instituto Sedes Sapientiae pois o processo de ado o estava em andamento h seis meses e os impasses no la o entre m e e filha j come avam a aparecer Todos os nomes utilizados neste relato s o fict cios Nice esta paciente diz claramente para a analista que n o quer conversar sobre sua hist ria A analista entende esta fala como um movimento transferencial que implica num pedido que a paciente lhe dirige de ser respeitada naquele espa o A analista nada interpreta at que a hist ria da paciente come asse a se repetir na transfer ncia Pouco tempo depois Nice pa
269. e de Winnicott precisamente porque o havia posicionado na transfer ncia n o apenas como uma pessoa inteira mas como uma pessoa papai no sentido winnicottiano do est gio do complexo de dipo 1988 Para o psicanalista portanto se tornava evidente que Gabrielle estava s voltas entre outras coisas com aspectos relativos experi ncia do complexo de dipo Entretanto Winnicott pensa que a sua paciente havia sido como que for ada em virtude de falhas ambientais espec ficas ocorridas ap s o nascimento do novo beb Susan para o interior do est gio do complexo de dipo Da o autor afirmar coment rio 2 que em Gabrielle teve lugar um desenvolvimento prematuro do ego 1977 p 17 Se examinarmos esta primeira consulta do ponto de vista da t cnica psicanal tica n o vamos encontrar a rigor qualquer interpreta o da transfer ncia mas variados manejos da transfer ncia Encontraremos tamb m por outro lado interpreta es relativas a algumas das brincadeiras de Piggle Seria interessante neste ponto explicitar os sentidos que as palavras interpreta o e manejo adquirem no contexto do pensamento de Winnicott mas em virtude dos estreitos limites deste trabalho n o o farei Pela mesma raz o n o pude aprofundar e detalhar ao longo destas p ginas diversos aspectos relativos ao caso Piggle e teoria winnicottiana Agrada me a id ia contudo da possi
270. e idade porque ele andava muito agressivo rebelde com ela e suas duas tias maternas que moram com eles desde o nascimento de Paulo Conta tamb m que Paulo frequentemente deixa escapar fezes nas cal as porque diz n o gostar de se limpar delegando essa tarefa para sua m e e suas tias Por vezes motivo de chacota dos colegas na escola pelo cheiro que exala Paulo nunca conheceu seu pai ali s diz n o saber seu nome e sua est ria Dos homens essas mulheres nada querem falar e saber Maria entrega esse filho a suas irm s que cuidam desse homenzinho erotizando o que nele fica evidenciado como buraco E esse buraco al m de muito manipulado excessivamente lembrado olhado e falado Nas sess es Paulo se apresenta como um menino muito forte alto e inteligente com um discurso muito bem articulado consistente Conta de suas paqueras e namoradas O que vai chamando muito minha aten o o fato de que Paulo repetidamente relata s vezes numa mesma sess o tanto suas proezas futebol sticas quanto sua paix o por um ursinho de pel cia que ganhou quando tinha dois anos de idade A esse ursinho chama de um nome que n o consigo repetir uma vez que reproduz a linguagem de um beb que mal consegue pronunciar as palavras Considerando sua idade o fasc nio e a falta de pudor com que fala desse ursinho suponho que esse brinquedo que se mant m hiperinvestido n o se configura como um objeto transicional como diria Winnicott mas como ob
271. e um jogo por meio do sorriso um apelo ao outro Nesse sentido a crian a constituiu na situa o cl nica o terreno necess rio gesta o da transfer ncia Uma postura tica de n o interpretar ou decodificar o mundo sensorial da crian a antes que ela mesma a crian a possa trazer componentes significativos de um n cleo de eu ainda insipiente O lugar da analista o de estar l para ser encontrado quando a crian a demandar Como no caso acima ao ser encontrada a analista imita a crian a acrescentando ao gesto um som como se tivesse falado achou As palavras n o foram ditas apesar de estarem na mente da analista para preservar o sentido est tico da tentativa da crian a de um encontro Assim como a crian a trouxera o gesto e o sorriso na brincadeira a analista por sua vez devolvera lhe o gesto o sorriso e o som O prazer vivido na brincadeira apresentado pela crian a por um esbo o de sorriso n o foi necessariamente traduzido decodificado ou interpretado pela analista para criar a rela o transferencial O prazer oriundo da brincadeira de se esconder e ser achado foram vivenciados conjuntamente pela crian a e analista em um mesmo gesto som e movimento A possibilidade de conferir sentido ao sens vel sem a necessidade da primazia da palavra parece ser poss vel para criar a rela o transferencial na cl nica psicanal tica com as crian as autistas uma forma de reinventar a pr tica a partir da cl nica Refer
272. ealiza o em torno do que deveria sentir ou de como deveria ser ou fazer sentido Nessa perspectiva na transfer ncia posicionava se refratariamente s minhas palavras desqualificando muitas observa es dizendo isso n o tem nada a ver com o que estou falando como se na circula o desejante desejado fosse condi o de sobreviv ncia excluir ou fragilizar a fala de algu m Como nos aponta Mafra 2004 22 abordar a transfer ncia precisamente estabelecer uma rede na qual a fala vetoriza se posicionando o sujeito em seu endere amento Nesse ponto do trabalho terap utico Bernardo tinha o lastro da fala em sua m o talvez condi o para manter se fluente e assim passou a ser visto pelo outro e percebido por si Como vimos at aqui os sintomas conforme a psican lise s o inerentes constitui o subjetiva Os sintomas na linguagem em particular a gagueira tamb m est o imbricados na l gica das opera es de subjetiva o marcadamente vividas no contexto da conflitiva ed pica Faz se necess rio portanto determo nos agora nessas opera es pois observamos na an lise desse caso que os tra os sintom ticos na fala podem estar associados ao modo particular como os tra os identificat rios s o produzidos pela refer ncia simb lica ao pai De acordo com Pommier 1998 uma ang stia de castra o pode acarretar not veis varia es identificat rias uma mesma s rie pode comportar identifica es difer
273. ecimento acerca do lugar do analista com essas crian as e da quest o da transfer ncia Trata se do pequeno Abel uma crian a de dois anos que parou de falar e de responder aos est mulos sociais do depois do primeiro ano de vida Os pais procuraram atendimento a partir do diagn stico de Autismo infantil conferido por um neurologista Profundamente abalados e preocupados com o futuro do filho solicitaram uma nova avalia o Em um primeiro contato habitualmente feito por telefone digo aos pais para virem acompanhados do filho para uma consulta terap utica Ao receb los procuro acompanhar a crian a moda dela enquanto escuto o discurso dos pais sobre o pequeno Nesse caso ao entrarem na sala de consulta com o filho houve uma recusa inicial corporal e sonora por parte da crian a que se debatia no colo do pai e gritava indicando que n o queria entrar Ao fecharmos a porta o pequeno se mostrou desesperado gritava e se debatia a ponto de se machucar no colo do pai que nos seguintes termos falou Doutora n s estamos tristes e desolados ele est assim grita muito e n s n o conseguimos consol lo N o responde quando chamamos Parece surdo N o brinca Foge das outras crian as Evita ser abra ado e n o se aconchega ao nosso colo Ele n o era assim ficou dessa forma depois do nascimento da irm Me dirigi a Abel que est vamos ali para brincarmos e compreender o que estava acontecendo Repentinamente parou de gritar se v
274. eiro 2 edi o 125 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as vindo antes Seria a vis o popular da coisa o preconceito ou o conceito Mas n o vamos romancear as coisas verdade que o pr prio Lacan afirma l em Freud que o homem poeta em seu sintoma sim e que concebendo a loucura desta forma como uma mise en sc ne como uma po tica seguimos na mesma dire o Longe de ver na arte uma forma de terap utica da loucura o que vou concluindo que esse termo puls o forjado no campo da psican lise diz de algo que nos impulsiona a realizar a criar e que como tudo tem ao menos dois lados podemos ver num extremo desse cont nuo a arte a poesia e no outro a loucura como formas de realiza o desse impulso digamos dentro de est ticas diversas A loucura e tamb m a neurose esse extremo onde o material a ser forjado a pr pria carne Pensando desta forma eu entendi ao escrever meu projeto em 2003 que poderia ser interessante munir nossos pacientes de linguagens diversas apresentar a essas crian as que se encontravam completamente margem da cultura no sentido amplo v rias linguagens que nela circulam Assim poder comer juntamente com um grupo de pessoas poder brincar desenhar participar da realiza o de um filme ou da escritura de uma partitura musical ler escrever um fato que essas coisas eram novas para nossos pacientes um fato assombr
275. ele WINNICOTT 1949 apud MOREIRA 2007 o que por consequ ncia faz com que perceba as necessidades do beb naturalmente sem precisar pensar muito sobre elas Estas necessidades exigem todos os cuidados b sicos e vitais tais como mudar a posi o do beb acarici lo segur lo ao colo e aliment lo sensatamente considerando este ato para al m de uma satisfa o instintual WINNICOTT 1979 2007 Todos esses cuidados maternos que envolvem suporte e acolhimento como segurar olhar acariciar e alimentar o beb foram vinculados por Winnicott 2001 apud POMM 2008 a fun o de holding Esta fun o compreende a veicula o de uma s rie de comportamentos que fornece crian a a sensa o de apoio e prote o tanto f sica quanto psicol gica permitindo que ela explore o ambiente que a cerca com seguran a e confiabilidade constituindo um ego coeso e independente O holding um exemplo das v rias fun es anti traum ticas que o objeto prim rio pode exercer Outro tipo de cuidado desempenhado pelas m es suficientemente boas sem que elas se deem conta a ren ncia de seus pr prios interesses em prol das necessidades do lactente garantindo lhe um ego bem estruturado WINNICOTT 1979 2007 O psicanalista brit nico Wilfred Bion descreve uma relevante fun o anti traum tica a qual denomina de contin ncia nela a m e acolhe e permite que seu interior seja invadido por cargas emocionais do beb atrav s do processo
276. em nosso ambiente Ficava investigando cada peda o do banheiro de homens e de mulheres principalmente os buracos J n o sa a mais do consult rio Comecei a fazer brincadeiras corporais bem primitivas do tipo que se fazem com beb s c cegas ela pulava no meu colo queria que andasse com ela nas costas ela se escondia embaixo de uma manta para procur la Eu passava os dedos como se fossem insetos formiguinhas joaninhas etc por partes do corpo dela bra o pernas barriga cabe a nomeando os Passou a ter iniciativa de pedir a cada encontro que fiz ssemos estas brincadeiras Eu seguia fazendo o que ela pedia por acreditar que al m de terem sido a oportunidade de um contato mais rico e abertamente interativo entre n s tais brincadeiras poderiam ajudar na constru o dos limites de seu corpo que eu avaliava n o estarem bem estabelecidos Sabendo que n o podia ela me desobedecia e pulava no div e na minha poltrona at que eu a contivesse tirando a for a Em alguns momentos surgiram express es de fantasias esquizo paran ides bem articuladas tais como medo de a boca com la medo de o bra o soltar a cabe a explodir O surgimento de tais fantasias mobilizava em mim a vontade de acalm la quanto aos aspectos tem veis que continham Em determinado momento coloquei na porta do banheiro da sala de espera uma placa com os dizeres banheiro de meninas No outro onde n o podia entrar coloquei uma placa com os
277. em um motivo inconsciente Sim verdade que toda cl nica psicanal tica se funda no conceito de inconsciente e estou trabalhando com esta premissa O que proponho uma reflex o da maneira que a utilizamos Motiva o inconsciente n o seria distinta de uma l gica de causa efeito Representar explicar Ou quando falamos em inconsciente estamos diante de uma trama de leis distintas Para tentar discorrer sobre esta incipiente quest o procurarei faz lo sob o prisma do conceito de puls o frisando o fato que somos seres hist ricos e ling sticos justamente porque somos regidos pela puls o O caminho que a puls o realiza para atingir sua finalidade assim como seu objeto depender da hist ria de cada sujeito Diferindo das demais esp cies ser isto justamente o que nos torna seres temporais e capazes de nos portar de forma nica e pessoal e constituir paralelamente uma trama ps quica sobre nossas viv ncias A constru o dram tica de nossas viv ncias n o deve ser entendida como causa etiol gica de uma patologia Mito individual e historiza o sem d vida est o vinculados ao fantasma que pode estar fortemente aprisionado doen a mas n o necessariamente explica a causa de uma doen a No caso de Leo diria que a o anal tica destramou justamente o plano fantasm tico familiar em que tudo que era a manifesta o de Leo se imobilizava Este trabalho proporcionou crian a espa o para poder experimentar
278. end amos trabalhar como um grupo e o desafio foi propiciar condi es para que esse grupo pudesse advir um grupo no qual TODOS deveriam se incluir portanto e n o apenas as crian as Pois eu entendia que tratando se de crian as com um hist rico de isolamento social esse grupo s se formaria se n s todos fiz ssemos um esfor o nesta dire o seduzindo a crian a de todas as formas convidando a enfim Este trabalho ocorreria paralelamente ao atendimento cl nico destas crian as que eram ouvidas por um profissional que ouviria tamb m a m e da crian a em uma estrat gia cl nica pesquisada e relatada por mim anteriormente e que foi objeto de minha livre doc ncia Finalizamos o projeto em um impasse importante ocasionado pela transfer ncia que se desenvolveu na cl nica e no espa o de conviv ncia e que se converteu em um fen meno de grupo que n o me foi poss vel manejar sobre esse mesmo ponto que retorno aqui em busca de respostas para as muitas perguntas que o Projeto TECER deixou em aberto Diferentemente daquilo que me pareceu no t rmino do projeto em agosto de 2007 entendo hoje que o projeto foi bem sucedido Todos os envolvidos no projeto realizaram o trabalho de forma o que os levou a trabalhar nele Conseguimos inserir 6 de um total de 12 crian as em classes normais ou em classes especiais e deixar a meio caminho a inser o das demais Em dois casos isso n o foi poss vel pois restava ainda um long
279. enino e uma menina Sua m e era a empregada dom stica desta casa Seu pai amante dela Quando voc tinha 4 anos seu pai largou a fam lia oficial e foi viver com sua m e e voc Mas de certa forma as posi es subjetivas n o mudaram tanto assim Poder dinheiro submiss o servid o humilha o dio e exclus o estiveram sempre em pauta na din mica familiar Voc era o filho bastardo da empregada dom stica pobre com o patr o rico e poderoso Voc chegou inflado filho do dono dono tamb m Era o rei como tantas vezes brinquei grifando o significante presente em seu nome de batismo Diante da primeira interdi o colocada por mim no setting voc protestou dizendo que quem mandava ali n o era eu mas voc porque havia comprado o consult rio mesmo Estranho n o estava a venda eu disse N o se dando por vencido voc me disse que seu pai havia oferecido uma quantia t o extraordin ria por ele que eu tive que vender mesmo assim Mas eu insisti que o consult rio n o estava a venda por dinheiro nenhum no mundo e garanti a voc que o dinheiro n o pode comprar tudo O tamanho de sua onipot ncia indicava o tamanho de sua fragilidade Voc precisava colocar se forte e poderoso para defender se de deparar se com o lugar dif cil e d bio que ocupava no desejo dos seus pais Aos olhos do seu pai voc era a vers o imperfeita do filho oficial e perfeito morto aos 17 anos em circunst ncias nebulosas Um poss
280. entar uma semelhan a entre a imagem proposta pelo objeto bal o e sua representa o Christian se encontra fixado em uma representa o simb lica que lhe fora proposta o bal o salsicha Tal rigidez questiona as particularidades de seu acesso dimens o simb lica ao brincar simb lico Pe o 6 de abril dupla JF F faz uma torre com os tubos das bolas de sab o e gira o pe o sobre a torre Christian tenta fazer o mesmo com o pe o mas renuncia ap s uma tentativa frustrada No final da sess o C chega mostramos para ela o calend rio e durante esse tempo Christian consegue empilhar os tubos das bolhas de sab o e girar o pe o em cima N s o parabenizamos 4 de maio dupla JF Eu proponho fazer a brincadeira do pe o sobre uma placa pequena que se pode levantar enquanto o pe o gira Ele gostou muito dessa brincadeira mas tamb m ficou muito excitado com ela ele agitava suas m os e bra os 7 de maio dupla CLE Depois que come amos a brincar com o pe o e as placas tentamos cercar o pe o com blocos de pl stico e a fazer passar de uma placa a outra Ele nos guiava para que fiz ssemos o que ele queria 7 de maio dupla CE Christian pede o pe o e pega no caminho pequenas placas geom tricas de pl stico de cores e formas diversas Ele gira o pe o sobre uma placa que ele segura com uma das m os e orienta de forma que o pe o n o caia trocando de placa Observa se que Christian prop e a outros adultos re
281. entes na medida em que circunst ncias gerem experi ncias pass veis de potencializar a plasticidade e a permeabilidade dos tra os identificat rios Nessa perspectiva podemos afirmar com rela o ao caso de Bernardo que a posi o do terapeuta est interligada s circunst ncias necess rias emerg ncia das palavras em s ntese a uma rela o com quem se tenha o desejo de conversar Nessa condi o de identifica o a escuta agiu favorecendo que elementos novos repusessem a s rie da identifica o simb lica que passou do pai para o av materno e para o personagem Harry Potter para depois reencontrar no pai o representante mais legitimado desse lugar viril corajoso e fluente Refer ncias Bibliogr ficas DOR J O pai e sua fun o em psican lise Rio de Janeiro Jorge Zahar 1995 FREUD S An lise de uma fobia de um menino de cinco anos Vol X 1909 0bras psicol gicas completas Standard Brasileira Rio de Janeiro Imago 1974 GARCIA ROZA L Freud e o Inconsciente Rio de Janeiro Jorge Zahar 1984 1992 MAFRA T M A transfer ncia Rio de Janeiro Companhia de Freud 2004 NASIO J D dipo o complexo do qual nenhuma crian a escapa Rio de Janeiro Jorge Zahar 2007 POMMIER G O amor ao avesso ensaio sobre a transfer ncia em psican lise Rio de Janeiro Companhia de Freud 1998 VORCARO A A crian a na cl nica psicanal tica Rio de Janeiro Companhia de Freud 2004 O texto acima foi retirado de m
282. ento m dico que requeria idas constantes a um servi o de refer ncia distante O pai tamb m contou que quando vinha com o filho ao parque sempre passavam por um trator antigo era programa obrigat rio Seu sonho era pedir permiss o administra o do parque para consert lo Assim as crian as poderiam passear nele Leo passou a falar de seu inc modo com o fato de seu querido carro prateado estar quebrado expressando se cada vez de forma mais elaborada Fizemos uma brincadeira de lev lo oficina e o consertamos na sala de artes Como n o era nada f cil realizar este conserto frente minha dificuldade em ser uma mec nica ele dizia precisamos chamar o meu pai Concordava com ele que o pai estava muito mais habilitado a consertar o carro Mas pod amos tentar faz lo e caso n o consegu ssemos o chamar amos O pai mora em outra cidade e naquele per odo estava muito relutante em comparecer ao atendimento comigo pois julgava que eu estava combinada com sua ex mulher Temia que este pedido de Leo contivesse uma armadilha uma cena j conhecida a extrema imobilidade que a aus ncia do pai gerava deixando tudo na depend ncia de seu humor E como ele s tinha olhos para a raiva que sentia da m e nunca se fazia presente como disse acima apenas para puni la Ent o eu tamb m podia ficar na mesma vulnerabilidade que a m e de Leo e a continuidade do tratamento sujeita a uma puni o O conserto foi um suc
283. entre Alfred Binet A interven o de Christian na escola durou nesta primeira fase 5 meses e meio A orienta o do trabalho inspirado no m todo franc s 3i era a de seguir na brincadeira os movimentos e desejos de Christian estar atento a seus interesses A frase que melhor resumia a interven o proposta era fazer com que o momento passado junto fosse o mais agrad vel poss vel para todos V se a a dimens o de prazer na proposta terap utica mas que n o ser discutida no presente trabalho Cabe dizer que ainda que embora a interven o junto a Christian se passasse na escola ela n o tinha car ter educativo Christian acolheu bem toda a equipe e parecia contente da intera o que tinha conosco Nos primeiros contatos ele brincava sozinho ou entrava timidamente em uma brincadeira que lhe fosse direta ou indiretamente proposta Ao longo de cinco meses e meio de interven o Christian fez alguns progressos em particular no que concerne a linguagem e a capacidade de lidar com os afetos e excita es ele se encontra visivelmente menos tomado pela excita o no final das interven es No que tange sua capacidade de brincar no in cio Christian deslizava de uma brincadeira a outra passava rapidamente de uma atividade a outra as brincadeiras eram curtas e desorganizadas N o havia uma narratividade que costurasse uma hist ria No decorrer das sess es l dicas Christian conseguia encenar brincadeiras cada vez mais s
284. er parece por m replicado ancorado e colado no discurso dos profissionais especialistas citados anteriormente com um sentido nico e absoluto tamponando a indaga o a reflex o e a constru o dos seus saberes simb licos sobre os pr prios filhos movimentos que consideramos fundamentais para a subjetiva o da crian a Ambos os casos representam no entanto duas faces de uma mesma moeda da impot ncia onipot ncia de seu saber sobre a crian a duas pontas de uma mesma posi o imagin ria de continuidade com poucas sa das para a diferen a e a singularidade sobre um saber em rela o aos filhos Kupfer 1999 apontar a preval ncia do registro imagin rio nos la os sociais contempor neos que fomentam os discursos mim ticos e totalizantes no qual o outro tomado enquanto objeto Na falta de redes de sustenta o que possam remeter os sujeitos a uma tradi o a um passado a significa es capazes de orientar as ressignifica es do futuro estamos jogados em um mundo fragmentado no qual imperam imagens est ticas desarticuladas e por isso carregadas de um sentido colado a cada uma delas um sentido portanto absoluto Um objeto o que e n o o que vale em uma s rie dentro de uma sequ ncia capaz de lhe dar um sentido por sua posi o nela Ficamos reduzidos a um mundo de objetos p 92 46 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Ao
285. ero e Mcintyre 2010 As rea es dos pais a tal desespero costumam incidir sobre as inst ncias de tratamento e educa o da crian a o que significa que eles t m em rela o escola e aos terapeutas atitudes extremamente primitivas frequente que sua exig ncia em rela o aos profissionais seja exagerada em compensa o s profundas frustra es que t m com os filhos que sintam que o trabalho dos profissionais n o d em nada por sofrerem pela limita o de seus esfor os como pais para com os filhos que briguem triunfalmente com os profissionais para se defenderem de forma maniaca da depressividade que sentem que fomentem conflitos entre os profissionais como forma de fragmentar e projetar maci amente sua ang stia A montagem de uma rede coordenada envolvendo psicanalista fonoaudi loga escola e psiquiatra tem a fun o de permitir que tais experi ncias sejam elaboradas pelos profissionais ao inv s de gerarem atua es de sua parte na forma de identifica es complementares Racker 1982 Em rede os profissionais podem refletir juntos levando em considera o que o estado de esp rito dos pais em grande medida decorre de sua exposi o ao quadro do filho Isto permite que haja maior sensibilidade dos profissionais para com os pais o que aumenta sua confian a no trabalho realizado ainda mais por perceberem que h linhas comuns sendo seguidas constru das coletivamente A percep o desta constru o coletiva permite q
286. escrito com especial acidez proferida contra aqueles que insistem em fazer redu es para um lado ou para outro Ao longo de todo o atendimento de W e seus pais a gen tica compre papel central nas fundamenta es metapsicol gicas com que fa o as interven es Reservo a tal mbito o peso maior da etiologia e da gravidade do caso servindo de tela de fundo para a tessitura dos mecanismos ps quicos e das formas de relacionamento de que se utilizam as crian as Tal expediente al m de ser metodologicamante mais defens vel do que sua alternativa arrefece a reflex o cl nica e as interven es do peso da etiologia ampliando o espa o para que se pense o que se vive com o paciente no contexto da complexidade de suas limita es e dos recursos que constr i para super las 214 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Refer ncias Bibliogr ficas Benson P R 2007 The impact of child symptom severity on depressed mood among parents of children with ASD the mediating role of stress proliferation Journal Of Autism And Developmental Disorders 36 5 685 695 Bion W 1988 Pensamentos Psicanal ticos Revisados Rio de Janeiro imago Cassorla R M S 2004 Desenvolvimento do conceito enactment coloca o em cena da dupla a partir do estudo de configura o borderline Revista Bras de Psica 38 3 pp 521 540 Cassorla R M S 2007 Do baluarte ao enactment o n
287. escutarmos as preocupa es tanto dos pais quanto dos educadores em rela o s crian as no geral deparamo nos com adultos na maioria dos casos s voltas com a melhor maneira ou as melhores t cnicas ou m todos de trein las de adequ las em prol de uma meta educativa bem definida a saber o sucesso Poder amos ainda afirmar que trataria portanto de uma boa governan a sobre as crian as princ pio que se aliaria aos prop sitos gerais da Educa o em prol do sucesso de uma na o As crian as por sua vez insistem em apontar o imposs vel desta tarefa pois seus objetivos interesses e desejos parecem muito distantes dos estabelecidos pelos adultos e de suas formas de gest o sobre elas Diante desta situa o com frequ ncia que escutamos pais e educadores dizerem elas as crian as n o obedecem ao nosso comando N o aceitam os limites n o param s o hiperativas Os adultos em seu gerenciamento da inf ncia perdem esta dimens o do imposs vel tomando a como impot ncia e colocando se ora no lugar do fracasso ora no lugar da pot ncia e do poder atribuindo crian a estatuto de objeto manipula o e manobras Esse discurso n o parece espec fico dos pais e dos educadores de crian as com problemas de aprendizagem ou referente a alguma estrutura ps quica mas aparece com frequ ncia na fala de boa parte dos pais que temos escutado seja em rela o aos filhos diagnosticados como autistas psic ticos
288. especial mas 4 O trabalho da refer ncia institucional inicia se com a pr tica de todas as a es cl nicas que dizem respeito acolhida do paciente e de seus familiares do estabelecimento do enquadre e do contrato do tratamento A partir da escuta o tra balho inicial consiste na acolhida das ang stias expectativas e demandas do pacientes e ou familiares em se tratando da inf ncia No decorrer do tratamento cabe refer ncia institucional estar alerta para surgimento de resist ncias e maneyj las este profissional que pensar a dire o de tratamento ter a responsabilidade do acompanhamento do caso e discuss o junto com a equipe institucional Guglielmetti 2010 5 Grupo Mix no Lugar de Vida um encontro terap utico entre diferentes posi es subjetivas e discursivas Estes grupos s o compostos por crian as autistas psic ticas algumas crian as neur ticas com alguma indica o para estar no grupo problema de aprendizagem inibi o intelectual etc e tamb m por crian as abrigadas Trata se de produzir n o somen te posi es subjetivas diferentes mas tamb m entre crian as que ocupam posi es discursivas diferentes as crian as abrigadas por ex recebedoras de assistencialismos ao inv s de estar no lugar da inf ncia representante do futuro est no lugar de mera consegii ncia funesta de sua hist ria de abandono Kupfer Voltolini Pinto 2010 p 103 160 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LI
289. essidade de suporte humano de R mulo estipulou se que ela o acolheria diariamente e de forma l dica conversaria sobre como foi seu dia suas dificuldades conquistas medos etc Com o tempo R mulo a requisitava todos os dias para que contasse a hist ria do Charlie e Lola 8 importante ressaltar que essa interven o s pode ter sucesso uma vez que esse grupo de cuidadoras j est em atendi mento psicoter pico a certo tempo e que esse trabalho de cuidado pode ser visto em Careta 2011 Quando o Ambiente o Abrigo Cuidando das Cuidadoras de Crian as em Acolhimento Institucional 9 Trata se de uma sequ ncia de hist rias infantis criada por Lauren Child onde dois irm os Charlie e Lola experenciam muitas aventuras juntos 204 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Dessa maneira al m dos atendimentos psicoter picos semanais o menino podia contar com o suporte da assistente social identificada durante o dia e da cuidadora suficientemente boa durante o per odo da noite ou em qualquer hora que precisasse constituindo um ambiente humano adaptado capaz de v lo sobretudo em sua singularidade Com o tempo observou se a diminui o do quadro de enurese e o menino come a a demonstrar maior intera o com as outras crian as e expressividade de suas emo es poss vel v lo alegre demonstrando raiva e tristeza bem como o aumento da motilidade corre
290. esso e Leo saiu extremamente fortalecido Sua fala e express o melhoraram significativamente as crises no per odo escolar diminu ram e progressivamente ele come ou a fazer participa es furtivas na classe Participar passou a ser um ato assumido em desejo pr prio n o t o dependente do desejo ou conflito do outro 2 Acrian a foi avaliada pela Dra Maria do Carmo Sartorelli em mem ria 156 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Um dia abri a porta e convidei Leo e sua m e para entrar ao que ele me respondeu Espera Estou tomando meu lanche Encontrei esta agrad vel surpresa uma crian a falante e determinada em suas vontades Vemos neste caso que embora tenha tido uma boa evolu o a rigor se me perguntarem sobre o que causou as dificuldades de Leo teria problemas para formular Este trabalho teve in cio quando a crian a acabara de concluir tr s anos idade muito mais favor vel para a evolu o do tratamento Mas muito dif cil tra ar uma linearidade do que gerou a viv ncia de exclus o para ele claro que depress o materna briga dos pais na qual os filhos pareciam ser desconsiderados como sujeitos deixam suas marcas Mas esta biografia seria o suficiente para afirmar a causa de uma sintomatologia t o grave Configuraria um tipo de desejo que s exclui Estamos habituados a pensar nossa cl nica a partir de uma l gica da causalidade tudo t
291. esta depend ncia existe em fun o dos cuidados necess rios em cada caso uma compreens o a respeito dos traumas ps quicos e das fun es anti traum ticas coerentemente atribu das n o s ao objeto prim rio mas tamb m ao analista se faz essencial para o manejo da transfer ncia na cl nica psicanal tica Ao tomarmos a depend ncia tamb m como parte do contexto anal tico voltamos o nosso olhar para outro personagem externo o analista E de acordo com Winnicott 1979 2007 o que se busca ao apostar na ideia de que o analista deve ser treinado n o nada mais do que um analista suficientemente bom o que segundo sua concep o deveria al m de ser emp tico ter desenvolvido a capacidade de oferecer holding contin ncia e r verie ao analisando tal qual uma m e suficientemente boa o faz em rela o a seu lactente ou sua crian a Quando da introje o do lactente destas capacidades desempenhadas pela m e j apresentada anteriormente podemos pensar que muito do que o analista oferece advindo do que ele tamb m recebeu em sua primeira inf ncia na etapa de depend ncia do objeto prim rio enquanto uma outra parte prov m de sua experi ncia enquanto paciente em sua pr pria an lise A rela o transferencial na an lise assim como a rela o m e beb possui um duplo vi s traum tica sendo tanto desestruturante quanto estruturante Assim ter tido uma provis o materna satisfat ria nos prim rdios do desenvolv
292. estas coisas ruins podem passar pelo leite sic o que gerou sentimentos de raiva e desconforto nas terapeutas Esta verbaliza o demonstrava como o sentimento de raiva e amor representavam partes cindidas do self de Jiane O dio como Winnicott descreve apareceu para indicar que Jiane agora podia zangar se frente as falhas da inf ncia e frente as falhas da an lise que eram relatadas quando uma das Psic logas faltava dando espa o para que o eu verdadeiro passasse a vivenciar a realidade Enquanto a estagi ria brincava com Bela durante as sess es Jiane apontou que em casa era diferente pois ela n o brincava com a filha e queria que esta ficasse quieta brincando sozinha Sua falta de modelo e paci ncia para estar plenamente com Bela representavam seu dio e parte de sua atua o repetindo quest es transgeracionais Jiane reconheceu que n o poder brincar com sua filha enquanto a estagi ria conseguia a irritava como se ela n o pudesse oferecer coisas boas filha assim como sua m e n o lhe ofereceu coisas boas Esta raiva transferencial permitiu que Jiane relatasse esse sentimento e integrasse sua ambival ncia ao seu eu verdadeiro descrevendo parece que temos dois lados diferentes Al m do manejo da estagi ria com Bela realizamos tamb m um manejo entre m e e filha atrav s do envolvimento de todas num brincar fingiamos que ramos alimentadas por Bela e sent vamos todas juntar para brincar at Jiane nos trazer
293. este acto considerando como un vicio del ni o la resistencia a defecar en el orinal El contenido intestinal se conduce pues al desempe ar la funci n de cuerpo excitante de una mucosa sexualmente sensible como precursor de otro rgano que no entrar en acci n sino despu s de la infancia Pero adem s entra a para el infantil sujeto otras varias e importantes significaciones El ni o considera los excrementos como una parte de su cuerpo y les da la signifi caci n de un primer regalo con el cual puede mostrar su docilidad a las personas que le rodean o su negativa a complacerlas Lacan nos ajuda a pensar que quando surge uma demanda educativa por parte daquele s que encarnam m a fun o materna ou seja quando exigida uma renuncia pulsional satisfa o auto er tica as fezes passam de pura fun o excrement cia para objeto causa de desejo semblant de falo As fezes passam a ter um valor agalm tico para a crian a porque valiosoparaoOutro Se para Freud o ato de expulsar as fezes que permite se aceder castra o para Lacan a demanda de limpeza que funda uma inscri o da castra o porque implica numa exig ncia da ren ncia a um gozo que faz operar o Nome do Pai Se o primeiro Outro da puls o oral amea ador devorarador o 136 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Outro da puls o anal demanda algo portanto algo lhe falta A cria
294. este universo te rico poss vel supor que Piggle no mbito da primeira consulta e no entender do psicanalista ingl s o teria posicionado transferencialmente como uma pessoa inteira Winnicott parece ter entendido o eu sou presente na afirma o eu sou t mida demais como o EU SOU em termos do processo de matura o Por outro lado Winnicott comenta que h ambival ncia na transfer ncia 1977 p 19 a prop sito de certos detalhes que os pais lhe contam sobre a filha em uma carta escrita e enviada ao analista logo ap s a primeira consulta Em resumo a qualidade da transfer ncia que Piggle manifestou no mbito de sua rela o inicial com o analista seria peculiar a uma pessoa que disp e em si de uma significativa for a e organiza o de ego Dito de outro modo a transfer ncia de uma pessoa que embora se encontre doente disp e de uma sa de essencial Eis aqui um dos paradoxos winnicottianos Se voltarmos a nossa aten o uma vez mais para o primeiro coment rio feito por Winnicott a prop sito da primeira consulta constatamos que a afirma o de Piggle eu sou t mida demais sugeria tamb m o estabelecimento do analista como uma pessoa papai daddy person Vale sublinhar aqui que esta id ia est vinculada ao fato de que para Winnicott a palavra chave key word para a consulta t mida shy Op cit p 16 Piggle ficou t mida diant
295. estudos Trabalho realizado com o apoio da Funda o de Amparo Pesquisa do estado de Minas Gerais FAPEMIG atrav s de bolsas de Inicia o Cient fica 2 Acad mica do nono per odo do curso de gradua o em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais bolsista de Inicia o Cient fica no Projeto Cavas UFMG rafaelapazotto hotmail com 3 Acad mica do ltimo per odo do curso de gradua o em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais bolsis ta de Inicia o Cient fica e realiza atendimentos cl nicos no Projeto CAVAS UFMG isa farialima gmail com 4 Projeto de pesquisa e extens o do Departamento de Psicologia da UFMG atrav s do qual atendemos crian as e adolescentes v timas de abuso sexual na cl nica social da Faculdade de Filosofia e Ci ncias Humanas da UFMG 183 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A m e objeto prim rio por sua vez torna se totalmente identificada com seu beb rec m nascido WINNICOTT 1958 2000 per odo chamado pelo psicanalista de preocupa o materna prim ria situa o paralela s depend ncias absoluta e relativa do beb e que progressivamente perdida nos meses seguintes ao nascimento Isso acontece medida que o lactente adquire autonomia ainda que lentamente e em n veis m nimos A identifica o com o beb confere o t tulo m e de suficientemente boa isto devotada a
296. euler nos anos 1907 E deste autor a cria o do termo autismo que ir repousar em uma enciclop dia de psiquiatria at 1940 quando ser retomado por Kanner para designar algo que observava em certas crian as 7 Brauer J F 1988 O teste das pir mides coloridas de Max Pfister uma re leitura tese de doutorado IPUSP 120 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as desenvolver Neste laborat rio eu propunha que haveria uma estrutura de relacionamento n o hierarquizado que possibilitasse a participa o de pessoas que tivessem n veis diferentes de forma o as crian as alunos de gradua o alunos de p s gradua o profissionais da psicologia da educa o p s graduandos em artes m sica cinema todos reunidos em fun o de um interesse comum e que coincidiria com o objetivo que t nhamos no trabalho que desenvolver amos ali promover um espa o intermedi rio entre o trabalho cl nico e a escolariza o das crian as Alguns seriam ent o benefici rios do trabalho outros seriam pesquisadores do processo ou de algum ponto nele envolvido outros estariam apenas interessados em realizar o trabalho E haveria um tempo de dura o para o trabalho de seis anos ditado pelo financiamento que eu havia obtido junto FAPESP para realizar esse projeto Iniciamos os trabalhos em 2002 e o financiamento foi aprovado e iniciou se em 2004 encerrando se em 2007 Pret
297. evanta e abre a porta Uma mulher que quer marcar uma consulta me olha Fa o sinal para n o entrar Vou at a porta pe o para aguardar Ivo Eu n o entendi o que aquela mulher disse T Ela queria falar mas eu disse que n o podia porque estou com voc s Ivo Voc tem filho T Se eu tenho filho Todos Voc tem filho T N o Ivo N o Fernando Mas voc casada T Parece que voc s t m muita curiosidade sobre mim Se sou casada se tenho filho Ivo N s aqui somos seus filhos 32 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as T O que ser filho Mara Tipo assim Quando algu m pergunta se voc casada voc responde perguntando o que voc acha Porque adolescente t m curiosidade Ariel levanta e vai pasta de material gr fico produzido em sess es anterior Fernando tamb m Mara Adolescente gosta de saber das coisas e precisa conversar T Quer saber o que a mam e e o papai fazem Ivo Na lua de mel Ivo se junta ao Ariel e Fernando que est o olhando o seu desenho um grande sol Mara Adolescente quer conversar conversar aqui ali Ver o que acontece no quarto Ver de cima Adolescente igual crian a Fernando Eu n o desenho sol s desenhava no prezinho Gosto de desenhar pessoas Ariel Eu tamb m N o desenho sol Ivo O sol d destaque na folha Discuss o Nes
298. evistas iniciais Assim que vi Nice pensei em adot la porque era tristinha e tinha o cabelo black Nossa hip tese que vai sendo contada em an lise uma hist ria que cont m como um de seus elementos fundamentais o estere tipo da mulher negra e sofrida que ocupa no social um lugar desvalorizado muitas vezes associado figura da empregada dom stica explorada por uma patroa Nessa rela o oscilam as a es de cuidar e dominar em seus polos ativo e passivo amoroso e cruel Numa das sess es Nice tamb m conta hist rias sobre a primeira institui o de acolhimento onde viveu que ela chama de orfanato dizendo que era um lugar assombrado Nesse relato emprega um tom fantasmag rico de tal forma que a hist ria criada mant m certa ambiguidade entre o vivido e o fantasiado Al m disto Nice utiliza recorrentemente a express o credo como se quisesse afugentar certas lembran as H situa es em que as palavras n o d o conta de expressar a densidade do vivido Em Hist rias que n o se contam O n o dito e a psican lise com crian as e adolescentes Miriam Debieux 2000 coloca que quando parece n o haver palavras explica es que exprimam certas impress es e intensidades viv ncias que n o podem ser relatadas estas precisam ser constru das com imagens met foras para serem expressas Tem se um n o dito que para fazer presen a joga com o dito e traz a marca da ambival ncia do desejo e da nega o
299. experi ncia do outro Observ vamos na rela o transferencial o receio em n o atender as expectativas da analista mostrava se uma menina sempre muito contida e comportada N o se sentia autorizada a ser espont nea Cabe uma pergunta qual a amea a para o seu psiquismo ser espont nea e crian a Ser Clara trair sua m e Se na triangula o Institui o M e e crian a confiar no analista representante da Institui o talvez seja a trocar da ternura por sedu o isto uma amea a a sua integra o ps quica Outro ponto relevante expectativa materna confiar no analista poder despertar um sentimento de culpa insuport vel pois no seu imagin rio falar sobre o abuso pode ter a finalidade de condenar o seu pai rica outra crian a que foi atendida nesta institui o chamava a aten o por sua repetitiva pergunta sobre o papel do analista e se iria contar para o juiz os atendimentos e se o seu pai iria ser preso O segredo vivido na rela o abusiva era observado na transfer ncia com o analista Neste final de semana fui visitar o meu pai mas minha m e falou se eu contasse eu iria para um abrigo Neste recorte a rela o comp e sobre o segredo repetia a rela o que teve com o pai de manter o segredo de uma situa o abusiva com pequenos segredinhos com a analista Novamente observamos que no primeiro momento de an lise em uma Institui o especializada h uma triangula o em que muitas vezes o
300. fantasmas de que houvesse alguma patologia presente Ela ent o se queixa de se sentir desamparada quando o marido viaja dizendo que Theo sente falta do pai De fato a fun o paterna a de embalar a dupla m e beb e na sua falta a dupla se desmantela O relato dessa m e nos lembra como o processo de ter um beb requer um enorme ajustamento novas introje es novas identifica es por parte da m e n o somente pela perda de sua identidade anterior e pela perda do beb em seu interior mas tamb m pelo processo de digest o de absor o do fato do nascimento que a seu modo t o chocante quanto a morte Alvarez 1994 p 142 Quando me contaram sobre a chegada de Theo seu pai disse que quando sua esposa desistiu da empresa em que trabalhava sugeriu lhe se n o seria o momento de engravidar Ele sempre adorou crian as e j n o era t o mo o para ter um beb estava com 40 anos Intu que havia alguma ang stia de morte presente nessa declara o e na quarta consulta quando relatou um pouco de sua hist ria pude compreender Ele o ca ula de uma prole de 4 filhos Sua m e teve uma gravidez que n o se completou pois o feto morreu No nascimento de sua irm tamb m houve complica es no parto e ela ficou com sequelas emocionais e cognitivas Na sua adolesc ncia se angustiou quando seus pais brigavam e pensava que iriam se separar Ao falar de seus pais ele se emocionou ao se recordar que recentemente seu pai te
301. filha parece estar mais dispon vel e menos demandante M ainda vai atr s dos objetos de dif cil acesso mas T parece ficar menos ansiosa e preocupada M tamb m parece estar tentando se comunicar de formas diferentes Parece ter necessidade e espa o para isso j que a m e n o est mais t o aderida a ela Mostra brinquedos chama nossa aten o e nos inclui nas brincadeiras Ela que no in cio parecia ofuscada pelas necessidades da m e passou a exigir mais aten o para si manifestando e contando nos algo sobre si mesma que queria ir longe alcan ar novos objetivos mas tamb m que precisava de sua m e e gostava de seus carinhos Estava em muitos momentos pr xima m e mas n o tinha comportamentos de cuidado ou consolo Os pap is de m e e filha pareciam mais definidos Tamb m foi poss vel sentir leveza e naturalidade na rela o O acolhimento ang stia e fragilidade de T consistiu em um fator protetor para a rela o com a filha Ela necessitava para si um cuidado an logo ao que precisava oferecer para M Regredida pela pr pria condi o da maternidade recente sensibilizada pela doen a de M e pela ferida narc sica que isto acarretou sucumbiu ao ser ver sem suas refer ncias e principalmente sem seu marido com quem tinha um v nculo de acolhimento Ao reencontrar na rela o estabelecida nos atendimentos um referencial de maternagem p de aceitar as outras formas de cuidado que tinha sua disposi o A
302. foco E a observa o viva desta rela o permite o atendimento dupla Trata se n o somente da an lise de uma pessoa mas de duas ou mais pessoas em um estado bastante particular e delicado em que n o podemos estabelecer uma distin o r gida entre cada uma O contexto em que se d este tipo de interven o de um momento cr tico e privilegiado de constitui o de um sujeito e de uma fam lia de revolu o ps quica para todos os envolvidos Os pais desacomodados de sua antiga exist ncia precisam se reestruturar e abrir espa o para acolher e colocar se a servi o da nova vida Fazer um luto e construir um v nculo A emerg ncia de conte dos cristalizados e a regress o caracter stica do per odo puerperal geram uma crise que acontece simultaneamente tarefa de prestar apoio constitui o de uma nova subjetividade Em atendimentos a pais express o dos conte dos regressivos que dizem respeito transmiss o transgeracional precisam ter espa o muito comum que estes conte dos venham carregados de fantasias sobre o beb e a parentalidade importante entender qual o lugar do beb no imagin rio dos pais qual o posto que ele veio ocupar ao ser imaginado concebido ou mesmo aceito no seio desta fam lia Quais s as fantasias que podem atuar como fantasmas na constru o de seu Self Ele recebido por uma estrutura preexistente e seu lugar simb lico at certo ponto determinante de sua posi o
303. ga estimula a crian a dizendo que ela j havia feito aquele desenho outras vezes Entretanto ap s v rias tentativas da crian a sem sucesso a psic loga realiza o desenho Carolina conclui o desenho e em seguida faz outra solicita o A psic loga faz o desenho em outra folha separada a da crian a Carolina apresenta novamente a dificuldade em desenhar A psic loga auxilia Carolina colocando um boneco de pano sobre uma folha em branco sugerindo que ela o contornasse O boneco contornado e Carolina o conclui acrescentando o delineamento da cabe a e os mamilos livremente A psic loga incentiva Carolina a fazer o mesmo contorno na folha em que estava desenhando Carolina com sucesso desenha o corpo acrescenta a cabe a e o colore Desenho do banheiro EU no Komeat ENW zini E To MAp wW EU NO BANHEIRO FAZENDO xixi E 7o Manno QA Nio Banyo Fig 6 Produ o gr fica de Carolina no 32 encontro Fig 7 Produ o gr fica da psic loga no 3 encontro An lise do 3 encontro A crian a apresenta fragmentos do corpo pois tem muita dificuldade para elaborar desenho de um corpo necessitando de aux lio para alcan ar a capacidade de elabora o imaginativa Esse encontro possibilitou a experi ncia de constitui o das bases do self 174 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as 4 Encontro Retomando sua hist ria Carolina solicita fazer o desenho do av e
304. go quando esta tocou seus genitais durante o banho comparando esse ato com o abuso que sofria Essa dificuldade em separar o que cuidado do que abuso impulsiona ainda mais os sentimentos ambivalentes da crian a perante o abusador A crian a pode sentir ao mesmo tempo raiva do que ele lhe fez e saudade de conviver com ele al m de responsabilidade e culpa Nas crian as abrigadas essa ambival ncia encontra ainda mais for a pois para cessarem os abusos s o afastada de seu lar revivendo mais uma vez um estado de desamparo Em um outro caso atendido no projeto um adolescente preferiu desmentir a den ncia que havia feito pois n o queria morar em um abrigo preferia morar com a m e agressora do que perder o m nimo amparo que ela lhe oferecia Na cl nica recebem se pacientes que precisam de um aux lio para simbolizar o excesso pulsional para elaborar o trauma Atrav s do l dico lida se com aspectos concretos e simb licos do trauma dando crian a um espa o onde quando ela se sentir confort vel para isso ela possa trabalhar as quest es que a afligem Para o setting anal tico ela pode levar a cena do abuso em si e outras quest es circundantes quele trauma como por exemplo suas rela es familiares A neurose de transfer ncia estabelecida pela crian a muitas vezes constru da a partir de seu estado de desamparo de desconfian a Essa mais uma especificidade dessa cl nica pois a crian a precisa em sua
305. go que impressionou a crian a atrav s de uma produ o de sentido Freud 1920 Este o caso da garota que Piaget 1945 descreve chocada pela vis o de um pato morto e depenado na mesa da cozinha ela vai naquela noite brincar de ser ela mesma o pato morto Ao brincar ela pode superar a experi ncia chocante de se encontrar t o pr ximo da morte Para n s o brincar tem ainda uma quarta fun o ele participa do processo de constru o da alteridade Processo este que considerado como nunca completamente acabado visto que em algumas situa es mesmo os adultos se enganam na suposi o da motiva o subjetiva do outro atribuindo ao outro uma motiva o semelhante sua O processo de constru o da alteridade para n s central principalmente por dois motivos Primeiro por ser o correlato da constru o ou da unifica o do eu self Segundo por tratarmos aqui da patologia aut stica onde se sabe que h para retomar os termos da psicologia cognitiva um deficit na 1 Doutorado em Psicologia defendido em cotutela pelas Universidades Paris 13 e USP em 2012 Mestre em Psicologia no Programa de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano da USP 2007 Fundadora do Centro da Inf ncia e Adolesc ncia Maud Manonni S o Lu s Trabalhou como estagi ria e ou colaboradora no CPPL na APAE MA na Escola Terap utica Lugar de Vida e na cole Exp rimentale Bonneuil sur Marne Tem experi ncia em Psican lise com crian as
306. humano se rebela contra a id ia de fim de luto por algo perdido rebeli o na verdade contra a morte h uma tend ncia no humano a ver na transitoriedade um impedimento ao gozo e desfrute de tudo que esteja fadado ao fim Freud nos conduz assim a uma reflex o sobre o luto assinalando que o desprendimento da libido de seus objetos tende a ser sempre um processo muito doloroso O autor conclui ent o na contram o da tend ncia desvaloriza o do ef mero que o car ter transit rio de certos acontecimentos ao inv s de desvaloriz los incrementa seu valor as limitadas possibilidades de usufru lo o tornam ainda mais precioso Na institui o de acolhimento o que os educadores oferecem crian a marcado pelo sinal da provisoriedade e do transit rio Sustentamos que isso n o impede que acontecimentos significativos que mudem a compreens o da crian a sobre si possam acontecer Boris Cyrulnik psiquiatra e psicanalista franc s com atua o em situa es de guerra e conflitos na Europa atual aponta nessa dire o Em seu livro O Murm rio dos Fantasmas ele trabalha com a id ia de trauma e com as condi es que favorecem a retomada do desenvolvimento ap s o mesmo Para ele ap s um acontecimento traum tico o sujeito n o mais o mesmo o traumatismo inscrito na mem ria passa a fazer parte da hist ria do sujeito como um fantasma que o acompanha Esse autor destaca que a potencialidade traum tica e
307. i ro pg 524 123 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Nesta mesma perspectiva afirma se Allouch o afirma a loucura efetua o significante em ato a loucura ela tamb m um caminho poss vel para que o sujeito escreva sua quest o Foi justamente esse ponto de ato que constituiu para mim a porta de entrada que me deu acesso ao complexo desenvolvimento te rico realizado pelo mesmo autor e antes disto ao complexo emaranhado que era apresentado no atendimento aos pacientes aos quais eu me dedicava Essa dimens o de ato marcava sua presen a nos atendimentos que eu supervisionava no IPUSP em todos eles A cena cl nica se n o obedecia nem de longe ao formato tradicional em que o paciente est deitado no div e o analista instalado em sua poltrona parecia se mais a uma dan a ritual na qual m e e crian a faziam seus movimentos obedecendo a alguma coreografia sempre enigm tica para n s Tratava se naquele ent o de encontrar um espa o poss vel para nos inserirmos nesta dan a carregada de erotismo um erotismo n o genital evidentemente um erotismo no sentido que Freud deu a este termo um dia O que procur vamos Um lugar na transfer ncia Aquilo que pesquisei na teoria e na cl nica foi uma forma de tratar o ato Eu a encontrei Tratava se clinicamente falando de ler ou dar a ler aquilo que acontecia em ato Ler a partir da hist ria dessas pessoas aquela lacuna
308. ia Clara chegaram encaminhados pela pediatra quando tinha um ano de idade e foi vista por quatro sess es com seus pais e sua irm de 11 anos Maria Clara vinha apresentando um sono agitado acordava v rias vezes durante a noite e s se acalmava quando mamava ao seio Durante o primeiro ano de Maria Clara sua m e dormia com ela em seu quarto enquanto o pai dormia com a filha mais velha no quarto do casal mas quando chegaram ao consult rio estavam todos dormindo no quarto do casal o pai com a filha mais velha e a m e com Maria Clara numa esp cie de loft familiar As mesmas dificuldades em dormir foram relatadas como tendo acontecido com a filha mais velha at os 3 anos de idade o que tornara os pais muito ambivalentes em ter um novo beb No segundo caso os pais de Carmen nos procuraram porque ela era muito diferente de sua irm Serena Queixavam se que ela nos seus cinco meses e meio n o dormia era mais ligada acordava chorando e demorava muito para se acalmar Sua natureza era mais intolerante chorava o dia inteiro A gente brinca que ela nossa filha Almodovar muito carinhosa e muito brava exagerada chora e esperneia No terceiro caso os pais de Theo tamb m n o agi entavam mais Disseram me que no in cio era refluxo depois intoler ncia a lactose e at hoje aos 6 meses ele n o dorme acorda a noite inteira e quando acorda urra desesperado O que impede um beb t o pequeno de dormir Por que n o se cons
309. ia o aprisionamento de seu discurso a filha pode experimentar ainda que desconfiada separar se Ficamos tamb m sabendo de estruturas familiares invasivas tanto maternas quanto paternas e que o nico capaz de reagir e cortar o pai E recebemos a not cia de que Juliana traz em seu nome a marca de uma morte No segundo encontro Juliana vem correndo ao nosso encontro mas trava ao chegar porta express o de sua ambival ncia frente possibilidade de novas liga es O tema retomado ao longo do encontro por uma brincadeira de esconder aparecer e desaparecer que de in cio trazido pelos pais como uma nova mania mas permite que conversemos sobre o desejo de novas liga es cad a amiginha A fala da m e que n o se sente preparada para se separar n o sei se eu ag ento Juliana n o pode ir escolinha e sua m e n o pode pensar em engravidar Um jogo de esconder que os pais n o conseguem acolher desperta intensa angustia seguida de forte choro muito assustada precisa do colo do pai Todos s o mobilizados por seu desamparo que custa a apaziguar se A sess o revela a intensa angustia em rela o s separa es A falta parece trazer uma angustia de esvaziamento N o poss vel a experi ncia de uma falta e o modo de preenche la via invas o e fus o Juliana precisa poder brincar de esconder e ser compreendida O outro encontro traz uma fam lia mais deprimida Juliana est gripada e sua m e deprimida e de
310. ian a assim h o ender amento e o outro n o sabe tudo o que diz ele outro para si mesmo Mas no trabalho cl nico principalmente com crian as que o analista s vezes se surpreende porque recebemos casos que j vem com diagn sticos autismo hiperatividade d ficit de aten o inibi es e no processo anal tico v o se desenrolando v rios emaranhados que elucidam outras conflitivas n o confirmando os diagn sticos iniciais Esta situa o nos leva a pensar que os efeitos dos processos ps quicos os enigmas operam no jogo transferencial sentidos novos com a cria o de outros lugares poss veis para essas crian as No trabalho institucional o psicanalista est mais pr ximo das quest es sociais e a escuta nos atendimentos das crian as encaminhadas por escolas tem que se ampliar alguns casos v o al m da forma o fantasm tica singular trazendo quest es pertinentes escola Como grande encaminhadora de casos para diagn sticos e medicaliza es teria que se repensar como lugar dessubjetivante e at promotor de exclus o Comecei a me indagar sobre esta quest o quando recebi uma crian a de seis anos de idade considerado pela escola perturbadora uma vez que na classe se agitava levantando da cadeira subindo nos arm rios e agressivo com os colegas e professores atrapalhando o andamento das aulas A av e a escola entravam em conflitos porque era chamada a todo momento Os educadores mostravam impot ncia
311. ian as Elisa Maria de Ulhoa Cintra A partir das situa es de transfer ncia de an lises infantis a autora se disp e a refletir sobre os manejos transfer ncias necess rios para abordar as situa es cl nicas em que est presente de forma significativa o mecanismo de defesa que Freud chamou de Verleugnung e que pode ser traduzido por recusa desmentido ou desautoriza o Este mecanismo de defesa a desautoriza o ou recusa estabelece uma cis o no Eu entre de um lado o registro e de outro lado a desautoriza o deste registro Mas qual o registro de percep o que desautorizado Parece nos que desautorizamos a percep o de tudo o que pode variar ou diferenciar se Sentimos intoler ncia com rela o ao inesperado ao desconhecido quilo que silenciando no analista amea a com o seu car ter diferente inesperado vari vel Em rea o a esta amea a surge um desmentido ou uma desautoriza o de tudo que amea a variar e diferenciar se Atrav s desta rea o procura se tornar desimportante e indiferente aquilo que inesperado Recusa se a diferen a tornando a indiferente O que se recusa a realidade processual e hist rica a que comporta diferen as e diferencia es No lugar desta percep o da diferen a colocamos a presen a de algo que n o muda algo que magicamente possa sempre estar l Tentamos tornar previs vel o imprevis vel mesmo que seja desagrad vel e doloroso 1 Professora
312. ias de ambos e do oferecimento de um espa o de compreens o e contin ncia para as ang stias familiares Acreditamos que a partir da a quest o da demanda de an lise individual possa ser recolocada O interesse da psican lise em olhar para as primeiras rela es e procurar meios de intervir nessa din mica iniciou se a partir da observa o de que muitas patologias intraps quicas e interrelacionais da vida ulterior do indiv duo estariam dando sinais desde o in cio de vida quando se constitui o prot tipo das rela es objetais com os objetos primordiais Entretanto os pais que geralmente protagonizam esse cen rio s o inundados por quest es relativas sua pr pria experi ncia arcaica em aspectos que muitas vezes n o foram elaborados de forma a poderem sustentar o lugar parental necess rio ao seu beb Os atendimentos nessas din micas tem se mostrado importantes para que muitos desajustes no v nculo que s o expressos atrav s de dist rbios do desenvolvimento fisiol gico do beb e ou dificuldades na intera o familiar possam ser acolhidos significados e transformados Klein Bick Meltzer Harris e uma vasta gama de autores psicanalistas contribu ram para o aprimoramento do olhar ao beb e posteriormente muitos outros desenvolveram pr ticas baseadas no referencial psicanal tico no que se constituiu como a chamada cl nica do beb Mas devemos Freud o reconhecimento da import ncia dessa etapa de vida e da m e para o psi
313. iativo Brinca cria hist rias com os brinquedos da sala Em parceria comigo est bastante solto A partir da terceira sess o al m da bab Tiago passa a ser acompanhado tamb m por Marco ao consult rio Tiago entra e a bab e o irm o aguardam na sala de espera Marco olha nos com seu j caracter stico e j mencionado sorriso sedutor que ao mesmo tempo revela desolamento Fica evidente que gostaria de participar na quarta sess o que Tiago se recusa a entrar na sala de an lise sozinho indagando Se tenho que entrar na sala por que n o o Marco tamb m Explico mas minhas palavras n o parecem ressoar Porque o espa o seu para voc comigo Ele exclama enfaticamente e decidido N o vou mais entrar Seguiu se uma enorme e longa gritaria acompanhada de choro e esperneio por parte do Tiago Marco olhava nos sorridente vitorioso Tiago amea a fugir mas a porta que d para a rua est trancada Marco olha de relance inocentemente Fora pesado demais para Tiago receber tanta aten o enquanto seu irm o por ele considerado triunfante e vitorioso o esperava na sala de espera Tiago descera as escadas do consult rio e ou o o chorando ruidosamente no andar de baixo Tiago voc estava achando gostosas as nossas brincadeiras S o nossas porque agora voc est precisando do Marco A gritaria piora Marco sorri olhando para mim fixamente e nesse momento que ao que me parece sem outra alternativa pergunto Porque voc
314. iba que n o o sou Adverte me se eu n o corrigir seu filho Ele vai repetir Embora omita o objeto da repeti o refere se a repetir o ano escolar situa o na qual teremos n s duas sido c mplices do fracasso sem chance isto sim de repetirmos a oportunidade de ajudar Tiago A amea a que as palavras de Clara carregam de que o sexto ano da vida de Tiago haver sido perdido Aflita ela prossegue Tem a ideia de que eu atenda seu filho em portugu s o que ajud lo ia academicamente embora a fam lia seja de origem estrangeira e eu domine sua l ngua m e A perspectiva de Clara que seria maravilhoso se Tiago superasse as dificuldades escolares com o idioma Ou o a com aten o e digo que Tiago ficaria mais vontade se fiz ssemos as sess es em sua l ngua m e o que importante para sua an lise e que por esse motivo n o pretendo conduzir a an lise em portugu s Minha resposta mexe no campo habitado por Clara que pouco a pouco come a a se delinear Nesse campo ela quem determina como devo trabalhar Se por um lado minha resposta a assusta por outro a alivia e lhe traz seguran a Ela aflige se por n o saber como lidar com Tiago e quer confiar que eu a possa ajudar N o se mostra contrariada e pelo contr rio afirma que Marco tamb m precisaria de terapia Ofere o pensar num terapeuta para Marco como de praxe Ela imediatamente responde que n o precisa pois o mais urgente Tiago e localiza nele o problema d
315. ica em esquema de est gios ou com per odos de dedica es variados de acordo com os variados campos ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Caracteriza o e objetivos da proposta do Grupo de Reflex o metas e fontes A partir da solicita o da equipe de enfermagem da UTI instituiu se um Grupo de Reflex o semanal com dura o de uma hora realizado por duas Psic logas sendo a primeira presen a regular e cont nua na Unidade Neonatal junto Encarregada de Enfermagem e profissionais de enfermagem presentes no dia com os seguintes objetivos 1 Favorecer a humaniza o da rela o entre profissional de sa de e paciente 2 Abrir espa o de acolhimento para a equipe de profissionais 3 Instituir um espa o de reflex o sobre o dia a dia de trabalho na UTI Neonatal 4 Gerar maior capacidade de contin ncia para os profissionais das pr prias ansiedades e das ansiedades expressas pelos pais e beb s 5 Facilitar repercuss es do acolhimento ao profissional na melhoria da qualidade do cuidado com os beb s e suas fam lias 6 Facilitar repercuss es do acolhimento e interlocu o entre os profissionais na melhoria das rela es profissionais e no potencial da equipe para funcionar como um grupo de trabalho Bion 1975 Ao recorrermos s contribui es psicanal ticas de Bion nos referimos a estimular a equipe a desenvolver recursos para um n vel de func
316. ica com crian as as bases do psiquismo Nesse momento de depend ncia absoluta a realidade concebida subjetivamente uma vez que ainda n o h separa o entre EU e n o EU e isso favor vel para a crian a Por m quando esse ambiente inicial n o sustentador incapaz de se identificar com as necessidades do beb h uma fratura nesse processo de constitui o e o ambiente sentido como uma intrus o Diante dessas intrus es a mente se intala precocemente e ao inv s de imagens e experi ncias que ser o interiorizadas constitui se um estado de sentinela para lidar com o que poder ser apresentado pelo ambiente WINNICOTT 1949 2000 O lugar no mundo torna se um lugar de defesa onde a rela o com o outro n o pode existir O sujeito sente que vive na solid o R mulo possui 3 anos idade e est acolhido a 15 meses junto com um meio irm o materno de 6 anos Os irm os foram retirado do lar em virtude de um quadro de neglig ncia e abandono no qual a m e dependente qu mica a 9 anos deixava os sozinhos em casa longos per odos de tempo e quando retornava a casa n o tinha condi o de prover cuidados em fun o do uso de crack e lcool N o havia sinais de viol ncia f sica por m a casa da fam lia n o possuia condi es de higiene e organiza o Muitas pessoas desconhecidas circulavam pelo local enquanto o esgoto passava no meio da cozinha e mais ou menos 9 gatos dividiam o espa o f sico bastante limitado
317. icanalista Doutora em psicologia IPUSP SP membro efetivo no Depto Psican lise da Crian a Sedes e docente nos cursos Introdu o a Interven o Precoce na Rela o Pais Beb e Amamenta o e Psiguismo Reflex es membro filiado na SBPSP membro da Sociedade Brasileira de Pediatria SBP e membro do Depto de Sa de Mental da Sociedade de Pediatria de SP denisefelicianoQuol com br 60 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A Cria o na Cl nica Institucional a cl nica com crian as e uma interven o de orienta o psicanal tica entrela ada com o cultural Denise Maria Cardoso Cardellini Palavras chave Cl nica Institucional psican lise de crian as transfer ncia cria o Onde as crian as brincam existe um segredo enterrado Walter Benjamin Tenho como perspectiva neste trabalho a reflex o de uma experi ncia institucional exercida em uma institui o p blica de sa de e seus entrela amentos com o campo educacional Pretendo debru ar sobre este percurso revisitando algumas vertentes te ricas e interven es da cl nica psicanal tica com crian as tecidas e articuladas com as din micas transferenciais De uma psican lise em movimento que se amplia at as institui es e atravessada por quest es de grande complexidade encontramos a cl nica que nos confronta a todo momento quanto s possibilidades e alcances por
318. id ia de ambiente suficientemente bom Seja como for na introdu o que redigiu para o caso o autor fez clara men o exist ncia em Piggle de uma sa de essencial essential health a partir da descri o do trabalho psicanal tico que o leitor pode perceber a sa de essencial na personalidade desta crian a uma qualidade que foi sempre evidente para o analista mesmo quando clinicamente e em casa a crian a estava realmente doente 1977 p 3 198 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Quanto a esta sa de essencial voltaremos ao tema quando abordarmos no pr ximo item a quest o da transfer ncia Entretanto cabe sublinhar neste momento que este parece ter sido um aspecto decisivo em termos do diagn stico individual de Piggle algo relacionado capacidade da paciente manifestada durante todo o tratamento de confiar em Winnicott e de com base nesta confian a solicitar a cada vez uma nova consulta O m todo de tratamento psicanal tico sobre a demanda on demand Op cit p 2 esp cie de an lise modificada modified analysis 1965d 1962 consistiu portanto na resposta winnicottiana em termos de manejo do setting da an lise padr o standard analysis Idem aos aspectos psicopatol gicos e saud veis por ele observados em sua paciente diagn stico individual bem como aos obst culos em termos
319. iedade visto que n o sabe mais a quem recorrer para tratar do filho F bio aos 4 anos teve encefalite viral tendo tido convuls o e v rias crises durante os dois meses de interna o at que conseguissem acertar um medicamento anticonvulsivante com isto ficou per odos sem ver sem ouvir e sem andar Desde seu retorno a escola n o acompanha as aulas n o tem iniciativa para brincar n o tem amigos muito introvertido e a m e acha que o uso do rem dio gerou lentid o no comportamento Apresenta um quadro de tics desde a retirada do anticonvulsivante e segundo a m e a m dica neuropediatra n o observou sequelas ap s a retirada deste medicamento j que os exames estavam normais fato este que gerou na m e mais desamparo pois n o encontrou uma explica o m dica para o comportamento de F bio Seus tics consistem em ficar batendo a palma da m o no corpo durante longo per odo de tempo faz uma esp cie de barulho de tambor quando bate a m o na barriga as vezes gira as m os A m e diz que ele fala que n o quer crescer quer ficar nen Repete o que as pessoas dizem para depois responder e na escola insiste em ser chamado no diminutivo Fabinho raro n o chamar a m e de noite pois tem epis dios de medo h mais de um ano Segundo a m e tudo o que falam com ele leva ao p da letra demonstrando dificuldade de entendimento Apesar de F bio apresentar este quadro desde a alta hospitalar cerca de 2 anos os
320. iferencial na hist ria da psican lise Nat hum vol 9 n 2 S o Paulo dez 2007 POMM E L O v nculo m e beb primeiros contatos e a import ncia do holding 2008 Disserta o Mestrado em Psicologia Cl nica Pontif cia Universidade Cat lica de S o Paulo S o Paulo 2008 RIESENBERG MALCOLM R 1999 Suportando estados mentais insuport veis 2 edi o Rio de Janeiro Imago 2004 257p WINNICOTT D W 1958 Da pediatria psican lise obras escolhidas Rio de Janeiro Imago 2000 1979 O ambiente e os processos de matura o estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional Porto Alegre Artmed 2007 ZIMERMAN D 2007 Uma amplia o da aplica o na pr tica psicanal tica da no o de continente em Bion Interac es N 13 Outubro 2007 pp 72 82 187 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Cl nica psicanal tica com beb s institucionalizados A facilita o para a promo o da sa de mental Renata Rocha Dra Denise S Careta Prof Dra Ivonise F da Motta O conceito de sa de luz dos pensamentos de D W Winnicott 1896 1971 pediatra e psicanalista ingl s est intrinsecamente associado possibilidade de viver os est gios de desenvolvimento emocional plenamente Para que isso aconte a fundamental que um ambiente favor vel circundante sustente o desenvolvimento do potencial herdado que inato O pote
321. igido O primeiro paradoxo concerne aos fundamentos pr prio do tratamento anal tico Frente aos autistas nos perguntamos de sa da quais seriam os princ pios em que a psican lise se baseia j que esses pacientes n o articulam n o demandam e muito menos se endere am ao analista como aquele que ocupa o lugar do suposto saber Apesar de n o articularem uma demanda ao Outro sabemos com Lacan que os autistas s o seres que padecem da linguagem Na confer ncia de Genebra Lacan 1975 utiliza duas express es que singularizam a posi o do autista frente linguagem eles s o seres verbosos e escutam a si mesmos Entretanto se os autistas est o de alguma forma inseridos na linguagem por que eles n o a articulam Ou qual seria o papel do analista em meio a essa linguagem que n o faz la o e da qual a crian a faz uso t o pr prio Este um dos paradoxos entre tantos Esse paradoxo faz nos refletir sobre a extens o da psican lise a outras formas de pr xis para al m dos pilares sobre os quais ela se fundou a saber a associa o livre e a transfer ncia em que o analista ocupa o lugar de agente que causa o desejo do sujeito Lacan 1969 70 1 Forma o Acad mica psicologia Master Profissional em Psicologia e Psicopatologia Cl nica na Universidade Ren Descartes Sorbonne 1993 P s gradua o em Psicopatologia do Beb orienta o do Prof S Lebovici Universidade Bobigny Paris XIII Especializ
322. il tarefa que esta cl nica representa Em nosso meio hegem nica a teoriza o que afirma a partir da leitura do texto lacaniano a inexist ncia de transfer ncia na psicose A ferida produzida pela forclus o do nome do pai deixaria sem entrada o caminho de acesso pela via da psican lise N o haveria a suposi o de saber feita sobre a figura do analista e assim as portas estariam fechadas Esta teoria acrescenta concep o de transfer ncia feita por Freud a quest o do saber acr scimo lacaniano sem d vida mas segue a teoria de Freud no que tange concep o do processo de subjetiva o que em Freud passa pelo dipo e que dito por Lacan no semin rio As psicoses ao analisar o caso Schreber como forclus o do nome do pai Supor a exist ncia de uma transfer ncia na psicose requer uma leitura outra desta mesma teoria e um certo qu de ousadia ao propor que esta via de subjetiva o proposta por Freud e adotada na leitura mais corrente sobre o assunto que vai do autoerotismo rela o de objeto que esta via n o a nica possibilidade de subjetiva o humana O que significaria propor por exemplo que a loucura uma forma de subjetiva o humana da mesma forma ali s que o pr prio Lacan sugere no caso da neurose para o sintoma no texto Inst ncia da letra no inconsciente E tamb m para levar a compreender que na coextensividade do desenvolvimento do sintoma e de sua resolu o curativa revel
323. imb licas extensas organizadas e ricas Al m disso ele se torna pouco a pouco mais ativo na troca com a equipe constatamos que no final do per odo das interven es ele propunha muito mais brincadeiras e nos procurava ativamente para a troca e o contato Este ltimo ponto de grande import ncia se considerarmos o que Tustin indicava como tratamento do autismo fazer com que a crian a sinta que o outro existe e que ele n o t o perigoso assim E ainda podemos acrescentar que poss vel mesmo ter momentos de prazer no encontro com esse outro A interven o realizada com Christian uma experi ncia singular que apresenta v rias diferen as se comparada com um tratamento psicoterap utico comumente dispensado a crian as autistas N o iremos desenvolver aqui todos os pontos pois queremos nos centrar em um deles a pluralidade da equipe de interventores junto a uma s crian a dentro de um quadro espec fico e est vel Pensamos que se por um lado o brincar pode ser terap utico por outro defendemos que a pluralidade da equipe que realizou a interven o desempenhou um papel fundamental principalmente no que tange o processo de constru o da alteridade Em outras palavras o fato de brincar mais ou menos das mesmas brincadeiras utilizando os mesmos brinquedos dentro de um mesmo dispositivo est vel com interventores diferentes que se apresentam como outros sujeitos crian a isso tamb m desempenha um efeito terap
324. imento no mundo externo que se mostrava pelo sil ncio e pela nega o de sua doen a a um conv vio l dico que pudesse trazer vida onde antes s existia espa o para morte E na contratransfer ncia claro eu poderia sair de tr s da c mera da passividade e do sil ncio Estaria eu tamb m inserida no rol de objetos a que Vitor poderia come ar a investir Sobre as possibilidades que o grupo poderia trazer a seu tratamento lembremos de uma das refer ncias a Freud feita acima As crian as diz ele n o parecem compartilhar do mesmo cuidado dos adultos no trato da morte N o adquiriram ainda este cuidado evitando falar sobre o assunto quando algu m pr ximo est doente Bem interpretada e sob a tica infantil tal afirma o pode ser lida como elas n o negam este fato embora o fa am mais tarde elas v o ao est dio e a plenos pulm es gritam olha o ladr o Cabe um breve excerto de uma das sess es do grupo Vitor chega ao atendimento depois de outro membro M Ela diz que seu nome n o est no mural onde constam os nomes dos aniversariantes do m s porque seu anivers rio foi em Abril que j passara Vitor diz que o seu fora no dia anterior sess o e por isso seu nome estava no mural Pergunto lhe como tinha sido seu dia Ele conta que ganhou um telefone celular passeou no shopping e comeu pizza E completa adora comida de shopping M pergunta se ele tomou sorvete Vitor responde Estou com catarro
325. imento ps quico e ter passado por um processo anal tico produtivo permitem que o terapeuta seja h bil em possibilitar a revivesc ncia de um trauma do paciente fazendo o adquirir um car ter estruturante 7 Sobre a import ncia da reviv ncia das experi ncias traum ticas das crian as e adolescentes v timas de abuso sexual recomendamos a leitura de FRAN A 20104 e FRAN A 2010b 185 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Como exemplo das fun es anteriormente descritas de contin ncia e r verie tomemos um dos casos acompanhado no Servi o de Psicologia Aplicada da UFMG de uma crian a de cinco anos encaminhada pela escola por queixas de agressividade De acordo com a fam lia outros sintomas apareciam no cotidiano do infante ang stias geradoras de ins nia choro excessivo aparentemente sem motivo o que demandava contin ncia que nem sempre podia ser ofertada nesses momentos Aos dois anos de idade a crian a e um de seus irm os possivelmente presenciaram o assassinato do pai Ap s este epis dio a crian a que antes vivia com sua m e passa a viver com a av paterna que fragilizada pela perda do filho n o parecia ter condi es de acolher as ansiedades do neto referentes morte do pai n o realizando a fun o de ego auxiliar Desde as sess es iniciais a terapeuta p de experimentar as ansiedades da crian a e foi capaz de conter e suportar os con
326. imento psicol gico e relacional pais crian a Tal configura o prepara tamb m os psic logos em Especializa o no Setor para o desenvolvimento de um olhar relacional considerando se movimentos do campo transferencial e contratransferencial e de recursos para o trabalho psicoprofil tico e interventivo infelizmente ainda n o t o presentes quanto desej vel em nossos cursos de gradua o na rea da Sa de Verifica se que nosso primeiro e ainda permanente desafio a amplia o do contexto m dico pedi trico e a busca por inclus o de sentidos emocionais reverbera nos movimentos transferenciais e tem ticas expressas no material cl nico do Grupo aqui apresentado O Grupo de Pais e Beb s campo transferencial facilitando a constru o da parentalidade O Grupo atendido por duas co terapeutas aberto funciona durante 1 hora e utiliza recursos l dicos em caixa de brinquedos pr pria como instrumento facilitador A sala conta com amplo espa o com cadeiras tapete pequenos colch es pl sticos lousa e giz As crian as e seus pais s o encaminhados ao Grupo por v rias quest es explicitadas ao longo das vinhetas a seguir Buscamos integrar o que ouvimos das m es cuidadoras com o que se passa na express o l dica das crian as tentando abranger as manifesta es grupais e as express es singulares de cada indiv duo e rela o ali presente inclusive conosco como casal parental e representantes da fun o terap utica ins
327. ina enormemente aumentado O fator biol gico ent o estabelece as primeiras situa es de perigo e cria a necessidade de ser amado que acompanhar a crian a durante o resto de sua vida FREUD 2006 1926 p 151 Esse desamparo inicial acompanha todos os seres humanos e faz com que seja instigada em cada um a necessidade de ser amado de perceber o afeto que vem do outro de ser protegido dos perigos externos Isso acompanha os indiv duos por toda a vida e faz com que esse estado possa ser revivido em diversos outros momentos A Hilflosigkeit de Freud diz respeito condi o de aus ncia de ajuda como possibilidade efetiva da vida ps quica Para ele o fato do beb nascer imaturo e indefeso torna o dependente do outro para sobreviver O beb precisa da ajuda de um outro de uma a o espec fica para p r fim tens o interna que experimenta o desamparo original fundante e estruturante do psiquismo A id ia do desamparo Hilflosigkeit desenvolvida ao longo da obra freudiana refere se condi o de exist ncia do sujeito no mundo na civiliza o que apoiada numa condi o de desamparo do psiquismo MENEZES 2008 p 25 essa a maneira inicial como o sujeito se encontra no mundo e essa condi o perpassa toda sua vida Em um primeiro momento a crian a precisa que sua tens o interna sua excita o pulsional seja diminu da com a ajuda de um cuidador Posteriormente ao longo da vida o indiv duo
328. inf ncia quando precisava cuidar das irm s mais novas para que a m e pudesse trabalhar Acostumou se a cuidar de outras pessoas recebendo poucos cuidados Ao mesmo tempo em que se sentia esgotada f sica e emocionalmente com os cuidados de M que lhe exigia muito sobretudo noite recusava as ajudas oferecidas como deixar M nas atividades oferecidas aos beb s pela casa por n o confiar em mais ningu m Nas sess es em que emocionada relatava esta situa o M a olhava interessada Em alguns momentos parecia reagir ao que a m e dizia olhando a de modo especial em algumas coloca es Ao ver a m e sensibilizada chorou e foi acalmada quando ela lhe amamentou Esta parecia ser ali s a forma preferencial de acolhimento de T Mesmo em ocasi es em que M n o demonstrava estar abalada pela fala da m e nem lhe pedia o seio T o oferecia como se ao amamentar a filha estivesse se colocando no colo dando a si mesma o cuidado de que necessitava Quando a filha se afastava engatinhando para alcan ar um brinquedo mais distante T a chamava ou puxava para perto de si Em alguns momentos quando parecia mais fr gil e necessitando de cuidados pedia o carinho de M Em outras vezes M foi espontaneamente agradar ou abra ar a m e Conversamos sobre o m tuo cuidado que h na rela o das duas e as diferen as entre uma rela o conjugal por exemplo em que h igualdade entre os membros e entre uma rela o entre m e e filho
329. inha pesquisa de doutorado defendido em maio de 2009 no Programa de Psicologia Cl nica da PUCSP e in dito A tese tem por t tulo Mal estar na linguagem quest es sobre dipo e transfer ncia na cl nica da gagueira 148 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A imita o no estabelecimento da rela o transferencial com crian as autistas Maria Izabel Tafuri A experi ncia cl nica da autora com a crian a autista iniciada em 1990 ap s uma experi ncia de vida inusitada residir com as crian as e adolescentes de Bonneuil sur Marne lugar de vida para as crian as e adolescentes exclu dos da sociedade dirigido por Maud Mannoni propiciou uma reflex o cr tica sobre a servid o do psicanalista em rela o ao uso da interpreta o A possibilidade de conviver com a crian a autista nas sess es de an lise passou a ser uma condi o essencial formulada em Tese de Doutorado 2003 o analista n o int rprete Em outras palavras a concep o do corpo do analista como setting uma recusa em dar ao sens vel por meio da decifra o decodifica o e interpreta o uma significa o exterior Trata se de um trabalho cl nico fundado na capacidade de espera do analista a conviv ncia com o n o saber e em especial a experi ncia paradoxal de se sentir s sem palavras na presen a de uma crian a ensimesmada em sensa es inomin veis Ou seja a t cnica psicanal ti
330. inhas como raios que chegam aos limites do c rculo desenhado Diz que um homem com olhos de cobra levou a para o banheiro Repete que ele p s o dedo em sua xequinha e ela achou que tinha ficado com meleca na perna Continua desenhando e fala num sussurro que n o doeu que ficou quieta mas n o doeu Faz outro desenho igual ao lado do primeiro o mesmo c rculo os mesmos raios Pergunto num tom semelhante ao seu se o homem colocou outra coisa em sua xequinha al m do dedo Ela responde que n o que ele a p s em cima da pia e ficava falando bem baixinho perto o que a fez ver seus olhos de cobra depois ela sentiu o dedo e a meleca Presto aten o ao meu corpo Estou inclinado sobre a mesa olhando para baixo para seu desenho e falo bem baixinho perto Convite feito convite aceito Na primeira vez que esta menina entrou no consult rio uma transfer ncia foi feita A princ pio suas expectativas libidinais seu nas palavras de Freud 1912 modo de caracter stico de conduzir sua vida amorosa p 134 alinhou me a um objeto que lhe alterou o pr prio modo de conduzir sua vida amorosa Ali ela reencenava comigo uma parte do epis dio que a trouxe an lise E importante ressaltar esta reencena o parcial na transfer ncia e na contratransfer ncia este falar baixinho coloca nos a ela e a mim tamb m no banheiro onde o homem a tocou Percebo que ela n o responde olhando para mim olha para o
331. inicialmente copia o desenho da psic loga mas em seguida apaga o cabelo do av e comenta O cabelo do meu v n o assim arrepiadinho assim Conclu do solicita fazer a av por m desta vez Carolina n o copia o desenho e faz a sua pr pria av comentando as diferen as Carolina neste momento retoma a sua hist ria e fala sobre o seu tio dizendo que o mesmo possui cabelo arrepiado e brinco Novamente as diferen as s o apontadas por Carolina Outro desenho iniciado por solicita o de Carolina A crian a apresenta dificuldades em copiar o desenho da psic loga e seguido os insucessos solicita outra folha Carolina conclui o desenho incluindo a na janela da casa e complementando o desenho com o sol as nuvens a grama e as flores Desenho dos av s e tio Fig 8 Produ o gr fica 1 de Carolina no 4 encontro Fig 9 Produ o gr fica 1 da psic loga no 4 encontro Desenho da casa habitada Fig 10 Produ o gr fica 2 de Carolina no 4 encontro Fig 11 Produ o gr fica 2 da psic loga no 4 encontro An lise do 4 encontro A crian a neste encontro pode experimentar a constitui o da pr pria hist ria de vida amparada por um ambiente sustentador A diferencia o experimentada e h uma apropria o de sua pr pria hist ria de vida podendo at habitar o espa o da casa Desta forma h um direcionamento para a constitui o das bases do self 175 ANAIS DO II COL QUIO DE PSIC
332. io corpo e o da brincadeira Est vivo exclama n o morreu n o Est o vivos ele e o pirata e o jogo pode continuar No momento seguinte o brinquedo falha o pirata que deveria pular n o pula Vitor pede minha ajuda para saber o que acontecia com o brinquedo e novamente abrem se dois campos sua pergunta sobre porque o pirata n o pulou poderia ser colocada ao lado de suas indaga es sobre si mesmo que poder amos traduzir como o que acontece com meu corpo que n o me deixa fazer v rias coisas Algumas quest es como sobre por que ele n o tomou sorvete permitem respostas objetivas o catarro Outras por m implicam quest es dif ceis e respostas igualmente complicadas Como se pode dizer a uma crian a que seu corpo hoje n o lhe permite fazer in meras coias e que no futuro pr ximo lhe permitir ainda menos Ou seja como falar para uma crian a de algo que iminente Noutras palavras 107 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as como podemos agir quando observando um jogo de futebol a dezenas de metros do jogador que carrega a bola nos p s vemos que sorrateiramente por tr s dele aproxima se um marcador implac vel Obviamente Vitor n o deixou de silenciar em diversos momentos tamb m n o deixou de tentar negar o que lhe passava fisicamente Houve por m uma mudan a O investimento libidinal na analista ganhou aspectos positivos Dito
333. ionamento grupal em que se observa a coopera o dos indiv duos a criatividade a partir do contato com a realidade e a elabora o a partir da toler ncia frustra o e de processos de representa o que possibilitam o desenvolvimento das tarefas a que o grupo se prop e em contraposi o a um n vel de funcionamento em que prevalecem elementos latentes de persecutoriedade onipot ncia culpa evas o da realidade proje es e alian as fragmentadoras Bion 1975 Nos Grupos de Investiga o em Fun o Terap utica pr tica similar a esta aqui relatada institu da por F bio Herrmann com equipes de Enfermagem na Hematologia Centro Cir rgico Enfermaria e Ambulat rios do Hospital das Cl nicas de S o Paulo o profissional analista evoca e incita a capacidade simb lica do grupo oferecendo espa o ao tr nsito entre os sentidos deslocando os valores de senso comum permitindo a emers o de representa es reveladoras da l gica do inconsciente Herrmann 2006 Instrumentos psicanal ticos em a o a constitui o de um setting Os Grupos de Reflex o se re nem todas as semanas na pr pria Unidade em dois turnos no ambiente caracter stico junto aos beb s com a participa o volunt ria dos profissionais presentes e dispon veis no dia H portanto certo rod zio de presen as dentro do grupo geralmente oscilando entre 2 e 8 participantes al m das psic logas O convite estendido aos profissionais de outros turno
334. ios enfrentaram quando crian as e a reconhecer em si mesmos a capacidade de supera o de que foram capazes Atrav s do reconhecimento de seus recursos perceberam que eram capazes de superar mais estes momentos dif ceis ocupando agora o lugar de adulto capaz de auxiliar e apoiar as crian as nos momentos dif ceis Abrir espa os para os pais para discutirem sobre as dificuldades encontradas no dia a dia no relacionamento com os filhos para coloc los em contato com as est rias de sua inf ncia com aqueles que contavam as est rias e quais est rias eram essas abrir espa os para a inf ncia que habita em todos n s adultos com marcas e especificidades que se bem trabalhadas podem ir direcionando os caminhos para que uma maior proximidade e contato entre pais filhos seja poss vel Foi essa hip tese que pudemos confirmar atrav s dos grupos realizados Transfer ncia e a cl nica psicanal tica com crian as e adolescentes na atualidade Na atualidade ao trabalharmos com crian as adolescentes e pais se faz cada vez mais necess ria a utiliza o das palavras chaves incluir aproximar enraizar A cl nica psicanal tica com crian as e adolescentes nos dias atuais nos reporta a dois aspectos fundamentais dos v nculos humanos confian a e seguran a Esses s o aspectos fundamentais quando o tema em quest o Transfer ncia Os avan os e inova es tanto no que se refere a teoria quanto pr tica psicanal tica tem nos direci
335. iques sur Le Transfert 162 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as terap utico e p de reivindicar o seu tratamento individual pois segundo ele eu preciso deste espa o para pensar em estrat gicas com a Marina sobre como eu posso me relacionar melhor com as pessoas l fora De um lugar de impot ncia da falta de recursos financeiros hoje eles continuam o trabalho institucional ampliaram os investimentos financeiros sem culpas Luiz n o est mais na posi o de um n o lugar agora cada um tem seu lugar que seja na institui o ou fora dela Para terminar mas n o fechar a quest o gostaria de citar um trecho do texto de Freud 1913 Sobre o in cio de tratamento onde ele faz a compara o famosa da psican lise com o jogo de xadrez e afirma Todo aquele que espera aprender o nobre jogo de xadrez nos livros cedo descobrir que somente as aberturas e os finais dos jogos admitem uma apresenta o sistem tica exaustiva e que a infinita variedade das jogadas que se desenvolvem ap s a abertura desafia qualquer descri o deste tipo p 164 a partir da id ia de uma infinita variedade de lances que a equipe pensa a possibilidade de uma crian a em tratamento na institui o a oferta e n o a imposi o que permitir que se produza se n o um pedido qui uma interroga o sobre a possibilidade de um trabalho conjunto Neste sentido podemo
336. iquismo inundado por afetos relacionados aos traumas do paciente enfrentando quest es que remetem aos seus pr prios momentos de amparo e desamparo assim imprescind vel que o terapeuta compreenda esse fen meno anal tico podendo ent o buscar diferenciar o que vem do paciente e o que vem dele mesmo O desamparo da crian a pode tocar o desamparo do profissional mas preciso que este reconhe a o quanto de si mesmo est implicado na situa o anal tica Assim poss vel trabalhar com pacientes em situa es extremas de forma mais eficaz e condizente com sua realidade ps quica e social 180 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Refer ncias Bibliogr ficas FRAN A C P Org Pervers o As engrenagens da viol ncia sexual infantojuvenil Rio de Janeiro Imago 2010 188 p FREUD S As Perspectivas Futuras da Terap utica Psicanal tica Edi o Standard Brasileiras das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago v XI p 147 156 FREUD S Observa es sobre o Amor Transferencial Edi o Standard Brasileiras das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago v XII p 175 195 FREUD S Inibi es Sintomas e Ansiedade Edi o Standard Brasileiras das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago v XX p 81 171 FREUD S O Futuro de uma Ilus o Edi o Standard Brasilei
337. is sem for ar a fala como nico modo de express o j que a materialidade se define pelo uso de qualquer material que possibilite criar representa es simb licas de conte dos emocionais Da mesma forma como ocorre no setting das Consultas Terap uticas em cada encontro da Oficina tem se um come o meio e fim utilizando como principal interven o o Holding Winnicott 1945 onde o terapeuta se faz presente e sens vel s necessidades do grupo a fim de sustentar um espa o em que seja poss vel a manifesta o do gesto espont neo Deste modo a materialidade mediadora Boneca Flor apresentada s gestantes como uma m e apresenta o mundo a seu beb em pequenas doses e oferece s gestantes a oportunidade de brincar como prop s Winnicott 1968 1994 no Jogo do rabisco A gestante Jiane participou de forma ass dua ao grupo da Oficina Boneca Flor onde as gestantes se sentavam em roda e livremente conversavam sobre diversas quest es enquanto confeccionavam suas bonecas Jiane tem 24 anos veio do interior de Minas casada h cinco anos e moradora de S o Paulo desde o casamento Durante o per odo da Oficina Jiane conversava pouco nos primeiros encontros todas ficavam mais caladas e preocupadas com a costura comentavam que n o tinham a experi ncia de costurar algumas tamb m n o tinham a experi ncia em ser m e como Jiane estavam a espera de seu primeiro beb Sempre mais observadora Jiane costumava participar das
338. is humanizados no abrigo as cuidadoras ao alcan arem melhor contato emocional podiam conter e elaborar o sofrimento ps quico Ao longo do tempo as rela es interpessoais no grupo e no contexto do abrigo passaram a se constituir por relacionamentos mais humanizados 4 A import ncia do relacionamento humano sustentado pelo contato afetivo Consideramos que o desenvolvimento do ser humano acontece quando h uma figura humana ao seu lado que o estimule e o acompanhe Ele n o se desenvolver emocionalmente se for apenas cuidado para manter se vivo sem o envolvimento afetivo e confi vel O ambiente psicoter pico confi vel p de proporcionar ao grupo o contato com suas emo es Conclus es Conclu mos que estes encontros psicol gicos com as cuidadoras realizados no contexto institucional poder o constituir um modelo preventivo de interven o para o progresso da sa de mental em abrigos Indicamos os encontros psicoter picos em enquadres diferenciados para as cuidadoras em todos os abrigos realizados em grupo e no pr prio contexto institucional como medida preventiva e n o somente curativa As cuidadoras poder o compreender muito mais o sofrimento das crian as em acolhimento quando compreenderem a si mesmas Esta interven o psicol gica com as cuidadoras pode ser entendida como uma medida de sa de p blica em contextos institucionais 68 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica c
339. iscuss o a percep o da alteridade quando a crian a tenta fazer uma mesma atividade com duas pessoas diferentes ela se depara inevitavelmente com a alteridade pois a atividade n o ser nunca repetida da mesma forma cada pessoa diferente e reage de forma diferente mesmo a brincadeira o formato de intera o sendo a mesma Esta diferen a na maneira de apreender a brincadeira a marca da alteridade Christian constata que o outro n o re age exatamente como ele supusera ou previra ainda que dentro de uma brincadeira que seja digamos previs vel para ele Portanto ele constata que o outro diferente dele e de todos os outros interventores O fato de experienciar essa diferen a sem que a intera o seja rompida representa uma das riquezas desse dispositivo Para n s essa alteridade s pode ser constru da na intera o a partir da apresenta o de pequenas diferen as petit pas pareil Haag 2007 e pequenos descompassos suficientemente apresentados de forma a n o interromper a intera o Refer ncias Bibliogr ficas Aitken K Trevarthen C 2003 L organisation soi autrui dans le d veloppement psychologique humain La psychiatrie de l enfant 46 2 pp 471 520 Bruner J 1983 Le d veloppement de l enfant savoir faire savoir dire Paris PUF Freud S 1920 Au del du principe de plaisir In uvres Compl tes XV Paris PUF 1996 Haag G 2007 Les enveloppes corporo psychiques I
340. iversos fatores presentes na din mica institucional contribuem para esvaziar as potencialidades do trabalho nas unidades de acolhimento Entre esses aparece a refer ncia ao modelo de fam lia como nico poss vel bem como a dificuldade dos profissionais em lidar com o desamparo vivido por essas crian as e com as ang stias deles pr prios da advindas Com isso buscam se tornar substitutos da fam lia e algumas vezes impedem a crian a de entrar em contato com sua hist ria A partir da ela fica impossibilitada de reconhecer a sua condi o de elaborar suas viv ncias e de poder se abrir para outras perspectivas de futuro Perguntamo nos se diante do desamparo dessas crian as e dos profissionais a condi o de provisoriedade e de ida para uma fam lia n o se constituiria em uma defesa desses profissionais frente a esse sofrimento pois magicamente repararia essa ruptura j que em geral as crian as e adolescentes que chegam aos abrigos trazem hist rias dolorosas marcadas por rupturas bruscas nos la os primordiais Ainda em rela o ao trabalho com os educadores observamos que muitas vezes eles julgam mal a fam lia que coloca a crian a no abrigo e que idealizam fortemente a fam lia que vir a restaurar todas as perdas sofridas por ela Esses pais idealizados podem fazer parte de um imagin rio infantil dos educadores de perfei o parental reativado no contato com o abandono amea ando o mito da fam lia ideal que sobrevive
341. iversos jogos que fizeram mas decide diminuir seus pr prios pontos porque acha que a analista est facilitando as coisas para ela Em outras sess es foi poss vel perceber ainda a dificuldade de Nice em manter seu investimento em uma atividade prazerosa Por exemplo numa sess o ela colou um peda o grande de papel no ch o fez um mistura de tintas num copo cortou peda os de retalhos passava os na mistura de tintas e colocava os sobre o papel Ela se mostrava muito feliz com o que fazia parecia estar entregue quela atividade que lhe proporcionava muito prazer Estava tamb m produzindo algo muito bonito De um momento para outro a express o de seu rosto mudou Ficou agitada querendo terminar logo o trabalho Visivelmente o que num segundo antes parecia lhe dar prazer passava a ser um inc modo uma tarefa a qual deveria executar o quanto antes Ela jogou a mistura de tintas que havia feito no copo sobre os retalhos As nuances de cores que at ent o conferiram beleza sua produ o desapareceram e o trabalho adquiriu um colorido homog neo e mon tono Al m disto todos os retalhos foram arrancados e o papel ficou de uma s cor 131 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Freud 1917 nos diz que enquanto no luto o mundo que se torna pobre e vazio na melancolia o pr prio eu que apresentado a n s como sendo desprovido de valor incapaz de realiza o e moralme
342. ivo Foram realizadas v rias entrevistas com os pais ora com Leo presente ora individualmente A tarefa inicial de articular esta m e que n o podia sentir nada este pai ciumento e a crian a gritona n o foi f cil Para conter as crises de Leo como a descrita acima a m e o segurava no colo ou o prendia em uma cadeira tipo beb conforto Atitude que discutimos amplamente Por um lado o comportamento autoagressivo justificava a conten o na cadeirinha por outro o fato de amarrar a crian a era constrangedor 155 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as para a m e Ap s alguns meses de trabalho com a fam lia pedi uma avalia o psiqui trica da crian a e em conjunto optamos em medic la com um antipsic tico pois a crian a estava prestes a ser afastada da escola sob o pretexto de que s poderia frequentar uma escola especial No primeiro ano de atendimento o trabalho de escuta anal tica consistiu antes de tudo em circunscrever fun es de cada um dos pais com os filhos Especificamente mediar a rela o do pai com eles pois o pai privava os filhos de sua presen a e de qualquer contribui o na cria o e cuidado apenas para punir a m e Ou seja o trabalho consistiu em que o pai olhasse para seus filhos independente dos ci mes que sentia pela m e deles sem que cada ato dele visasse apenas a ex mulher desconsiderando as crian as Ele passou a ter c
343. jeto fetiche Conta me tamb m que tem uma perna mais curta que a outra e que por causa disso precisa usar palmilha Para me ajudar a pensar sobre esse caso busquei o que Freud e demais autores real am sobre o erotismo anal e a encoprese em especial Sobre o erotismo anal A grande import ncia que Freud d ao erotismo anal embora n o tenha tratado especificamente da encoprese pode ser ilustrada num trecho dos seus Tres ensaios sobre uma teoria da sexualidade 1905 Aquellos nifios que utilizan la excitabilidad er gena de la zona anal lo revelan por el hecho de retardar el acto de la excreci n hasta que la acumulaci n de las materias fecales produce violentas contracciones musculares y su paso por el esf nter una viva excitaci n de las mucosas En este acto y al lado de la sensaci n dolorosa debe de aparecer una sensaci n de voluptuosidad Uno de los mejores signos de futura anormalidad o nerviosidad es en el ni o de pecho la negativa a verificar el acto de la excreci n cuando se le sienta sobre el orinal esto es cuando le parece oportuno a la persona que est a su cuidado reserv ndose el ni o tal funci n para cuando a l le parece oportuno verificarla Naturalmente el ni o no da importancia a ensuciar su cuna o sus vestidos y s lo tiene cuidado de que al defecar no se le escape la sensaci n de placer accesoria Las personas que rodean a los nifios sospechan tambi n aqu la verdadera significaci n de
344. l ao analista em decorr ncia de seu entendimento sobre a estrutura o ps quica na inf ncia Entendida aqui como um per odo da vida em que n o h ainda uma estrutura ps quica consolidada mesmo que esteja antecipada no Outro pois sua inscri o leva tempo conforme apontam Jerusalinsky 2001 e Bernardino 2006 Pinho 2003 comenta que a n o decis o da estrutura ps quica na inf ncia traz consequ ncias em todo o trabalho terap utico ou educativo dirigido a uma crian a indo al m do mbito psicanal tico sendo um conceito transdisciplinar pois serve de ferramenta te rica para qualquer disciplina que se proponha a intervir na inf ncia No caso de F bio seu desenvolvimento sofreu perdas ap s a encefalite em diversas reas social cognitiva e emocional ele se encontrava em uma situa o de risco de desenvolvimento com tra os de autismo A doen a trouxe uma interrup o do circuito pulsional tal qual apontam os trabalhos de Marie Christine Laznik na cl nica do autismo a partir da obra de Lacan o autismo um defeito de estrutura o primeira do aparelho ps quico por conta do fracasso do circuito pulsional podendo levar constitui o de patologias diversas com d ficits grav ssimos que fazem lembrar a oligofrenia Laznik 2004 p 204 Laznik 2004 destaca que independentemente da causa da n o instaura o do circuito pulsional ele poder ser restabelecido caso haja certa contribui o
345. la o transferencial aquela que gira em torno do a Mas isso que explica suficientemente a observa o que eu fiz para voc s de que isso que distingue a posi o do sujeito em rela o A e a constitui o mesma de seu desejo que para dizer as coisas resumidamente que se trate do perverso ou do psic tico a rela o do fantasma a se institui assim fig e que a que para manejar a rela o transferencial n s temos com efeito que tomar em n s na forma de um corpo estranho uma incorpora o da qual n s somos o paciente o a de que se trata a saber o objeto para o sujeito que nos fala absolutamente estranho enquanto ele a causa de sua falta No caso da neurose a posi o diferente enquanto que eu disse a 126 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as voc s alguma coisa aqui aparece que distingue a fun o do fantasma no neur tico Aqui aparece alguma coisa de seu fantasma que um a e que somente aparece para ele E que somente aparece para ele porque esse a n o pass vel de imagem especular e n o poderia aparecer aqui se eu posso dizer em pessoa mas somente um substituto E a somente se aplica aquilo que h de coloca o em causa profunda de toda autenticidade na an lise cl ssica da transfer ncia Cito aqui uma passagem em que o pr prio Lacan afirma a exist ncia de uma transfer ncia na psicose Ele diz
346. le falou Ah eu vi aquele chocolate que eu queria Compraram o chocolate para o menino a febre foi embora Ent o quer dizer eu acho que tem muito isso do emocional ajudar a se recuperar ou ent o a pessoa adoecer Terapeuta I Muitas vezes a gente n o consegue saber o que acontece mas tamb m s de estar ali conter talvez abra ar talvez segurar A gente quer achar uma coisa f sica que elimine aquele sofrimento para ele e para n s Aprofundando discuss o da rela o entre f sico emocional Terapeuta M concorda Agora que a cuidadora de Ana Laura estava falando voc s notaram como a Ana Laura estava olhando estava prestando aten o n Estava tentando entender o que voc estava pensando o que voc estava entendendo disso que aconteceu Enfatizando tentativas de contin ncia mental ps quica mostrando capacidades e recursos da cuidadora e da crian a sss Terapeuta M Parece que o Reinaldo tamb m encontrou uma maneira de ficar mais tranquilo ali depois de uma fase de agita o o Andr tamb m quer dizer voc s fizeram alguma coisa que permitiu que as crian as ficassem mais calmas n Valorizando as compet ncias parentais de contin ncia e exemplificando com o transferido para o aqui e agora do Grupo Terapeutal Exatamente Manifestando sintonia na percep o e intensificando a alian a parental Terapeuta M Tanto aqui quanto ali quanto ali Direcionando para as crian as Terapeuta bom para n
347. lgo que foi vivido mas que n o se transformou em experi ncia que o analisando pode vir a criar condi es para a constru o de uma narrativa ou para a mudan a de posi o do sujeito na narrativa de maneira a articular os elementos que embora estejam presentes ficam restritos repeti o do trauma 218 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Instalam se na brincadeira de Bruno subs dios que permitem a continuidade de uma narrativa aquela que fora interrompida no horror da casa presentificada na sess o H uma abertura que busca tornar algo do insuport vel e n o tudo menos insuport vel mais poss vel de ser abordado o que permite um passo na dire o dos efeitos elaborativos e terap uticos Agora ele que convoca os m dicos frente ao sofrimento Depois de viver in meras situa es de cobran a da d vida pela ado o na brincadeira com Carolina respondo coloca o da m e Se voc n o tivesse sido adotada estaria embaixo da ponte Mas m e j te passou pela cabe a que voc tamb m ganhou quando voc me adotou voc ganhou a possibilidade de ser m e que voc n o tinha n o fui s eu que ganhei voc tamb m tem algo pelo qual ser grata Um sorriso seguido de um sil ncio Com Karen a coloca o em palavras de quest es a cerca da repeti o em atos que deixa surgir seu horror pobreza zona sul regi o onde nasceu a
348. lhar apaixonado da m e e se acalmou pois o que se refletia do olhar materno n o era mais uma m e aflita tomada por ang stias recheadas de fantasmas infantis e pelo medo de que sua beb n o fosse saud vel Parece que as expectativas de uma fun o materna idealizada puderam se abrandar e a m e encontrou disponibilidade emocional para atender as duas filhas Estou mais trang iila estou mais fortalecida para tomar iniciativas que acredito serem as melhores Num primeiro momento n o havia diferen a entre gera es as tr s mulheres pareciam filhas do papai Na ltima consulta observamos que se instaurou no pai a capacidade de embalar a m e nos momentos de estresse permitindo que a fun o materna fosse resgatada e fortificada Ent o pudemos ver todos subjetivados com pap is definidos pai m e e filhas E a m e nos disse Uma das coisas que a gente procurou aqui com voc s foi um espa o era uma busca de parcerias A gente tinha uma sensa o de solid o assim de achar que sozinhos n o vamos conseguir Caso Theo Quando Theo chegou ao meu consult rio encaminhado tamb m pelo pediatra aos cinco meses e meio sua m e n o encontrava uma forma de faz lo dormir Sentia se desvitalizada e incapacitada de exercer a fun o materna Ela me contou que no in cio Theo apresentava refluxo depois suspeitou se de intoler ncia ao leite materno e procurou mudar a pr pria alimenta o para evitar qualquer desconforto ao
349. lhimento e iunganoQhotmail com 2 O termo m e faz refer ncia fun o materna geralmente cumprida pela m e mas n o sempre 3 Parentalidade um neologismo que engloba os termos maternidade e paternidade 71 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Transfer ncia e transicionalidade Podemos retomar aqui a quest o inaugural da psican lise de crian as e refletir sobre como poss vel a transfer ncia nessa fase t o inicial da constitui o ps quica Para a psican lise de beb s o beb j nasce carregado de conte dos Seu corpo vem pleno de sentidos que v o se transformando ao longo da vida especialmente na primeira inf ncia Mesmo a vida intrauterina n o pode ser ignorada como uma fase significativa na qual o corpo primeiro representante do psiquismo j foi imantado de conte dos que tornam o feto mais que um futuro ser humano um sujeito em constitui o Em atendimentos cl nicos beb s muito pequenos j s o capazes de repetir dentro da transfer ncia experi ncias pelas quais passaram e din micas ps quicas que ocorrem consigo Em 1941 Winnicott em observa o de beb s numa situa o padronizada utilizava se de consultas com beb s acompanhados de suas m es para entender e tratar seu estado emocional Em outras palavras afirmava que beb s de poucos meses j eram capazes de transferir ou de projetar conte dos para a
350. libidinal por parte do psicanalista para trabalhar a rela o pais filho Na primeira sess o F bio n o olha para a analista em nenhum momento seu olhar vago apenas explora os brinquedos na sala n o faz nenhuma brincadeira com os mesmos aparenta ser um beb grande quer apenas conhecer o ambiente Permanece sentado na mesma posi o durante muito tempo apenas movimenta o tronco em dire o aos objetos Mas quando termina a sess o reclama que seu p est dormindo Sua m e comenta o quanto ele desengon ado para brincar com os brinquedos do parquinho tem muito medo de subir na balan a certa vez subiu e depois come ou a gritar desesperado A m e lembra que o bra o dele est um pouco torto porque ele quebrou na poca da encefalite e n o engessaram logo pois a prioridade era cuidar da encefalite neste momento s conseguiam enxergar a doen a Esse relato das dificuldades de percep o corporal trouxe como efeito pensar em uma a o pr tica no real do corpo que talvez pudesse trazer benef cios para F bio Remetendo ao que Lacan 1998 no Semin rio 11 Os quatro conceitos fundamentais da psican lise quando aborda sobre a defini o de pr xis o termo mais amplo para designar uma a o realizada pelo homem qualquer que seja ela que o p e em condi o de tratar o real pelo simb lico p 14 Pode se pensar que tratar o real pelo simb lico ocorre em momentos constitutivos do sujeito
351. lina comenta sobre as diferen as dela e da psic loga O encontro segue se com outro desenho sugerido desta vez pela crian a A psic loga faz algumas perguntas Carolina referente sua fam lia e ao local em que vivia Carolina relata somente parte do nome de sua m e e n o sabe falar o nome do pai A psic loga interv m e informa para a crian a dados contidos no prontu rio dos quais estava em posse fornecendo o nome do pai e da m e A crian a solicita que a psic loga informe sobre todos os seus dados Desenho do nascimento EU PAMMELA MAKAROWI TS DEM TTOS NASCI ASSIM Fig 2 Produ o gr fica 1 de Carolina no 2 encontro Fig 3 Produ o gr fica 1 da psic loga no 2 encontro Desenho da casa Fig 4 Produ o gr fica 2 de Carolina no 2 encontro Fig 5 Produ o gr fica 2 da psic loga no 2 encontro 173 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as An lise do 2 encontro H um encontro vivo entre crian a e a psic loga no atendimento Tamb m pode ser observada a falta de registros internalizados da sua pr pria hist ria pois desconhece o nome da m e e do pai e anseia saber o que est no prontu rio anotado sobre ela A crian a tamb m manifesta um estado confusional quando indagada sobre suas lembran as 3 Encontro Um corpo Carolina solicita fazer o banheiro da casa e necessita da ajuda da psic loga A princ pio a psic lo
352. lista Ao dizer N s aqui somos os seus filhos mostram a tentativa de repar a desordem causada pela investiga o O que revela uma estrutura ps quica que reconhece sua capacidade de conter a desordem e de cuidar do outro As crian as que est o fisicamente afastadas observaram o desenho um grande sol da crian a que supostamente iniciou essa desordem ao perguntar se tenho filhos Discutiram se s o adolescentes ou crian as Eu n o desenho sol s desenhava no prezinho Desenhar sol coisa de crian a Ter curiosidade coisa de crian a Parecem acreditar que a desordem foi causada pelos aspectos infantis e que esses n o deveriam estar presentes Mas como disse Mara Adolescente igual crian a e ainda Gosta de saber das coisas e precisa conversar 33 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Recorte cl nico 2 O grupo composto por 5 crian as entre 7 e 9 anos e nesse dia estavam presentes duas crian as Eduardo brinca com avi o e carrinhos e Daniela observa o Em sua brincadeira provoca situa es de confronto e diz que o carrinho morreu o avi o morreu os bonecos morreram etc Depois de muitas tentativas da terapeuta em entender o que acontecia Eduardo corta a cabe a do boneco Carla Ser que eu estou sem cabe a Eduardo Uma mula sem cabe a Carla Ah Estou sem cabe a Daniela Era o que eu ia falar Uma
353. lmente a perspectiva winnicottiana com enquadres diferenciados esta interven o p de se propagar por dois anos de forma sequencial de 2006 a 2008 Esta temporalidade por si s indica a possibilidade de desenvolver a cl nica em contexto institucional com enquadres diferenciados 1 Parte da Tese de Doutorado da autora Careta D S 2011 IPUSP 2 Mestre e Doutora em Psicologia Cl nica pela USP Coordenadora do N cleo de Abrigos do LAPECRI USP Assessora institucional em abrigos Coordenadora do Grupo Psicoterap utico de P s Guarda e P s Ado o GEAA SBC Coordena dora do GEPPI Grupo de Estudos e Pr ticas Psicol gicas Institucionais Psic loga cl nica com abordagem em Psican lise denisecaretaQuol com br 3 Professora do Departamento de Psicologia da USP Gradua o e P s Gradua o Coordenadora do LAPECRI USP Psi c loga cl nica com abordagem em Psican lise ivonise1814 terrra com br 4 O encontro anterior com as cuidadoras de um abrigo localizado no Grande ABC ocorreu durante a realiza o do estudo de Mestrado em 2004 Careta D S 2006 IPUSP A equipe de cuidadoras deste determinado abrigo era composta por oito mulheres A rotina di ria consiste em prover os cuidados f sicos de higiene e alimenta o levar e buscar as crian as na escola e acompanh las em todas as atividades do passeio ao cuidado com a sa de 5 Segundo Aiello Vaisberg 2004 enquadres diferenciados settings alternativos
354. lo S o Paulo Careta D amp Motta 2008 A import ncia do diagn stico precoce e de interven es preventivas em crian as abrigadas Revista de Psicologia da UNESP 6 1 45 59 Winnicott D W 2002 A crian a desapossada e como pode ser compensada pela falta de vida familiar In D W Winnicott Priva o e delingi ncia A Cabral trad 3 ed pp 195 213 S o Paulo Martins Fontes Trabalho original publicado em 1950 Winnicott D W 1975 Objetos transicionais e fen menos transicionais In D W Winnicott O brincar e a realidade 3 O A Abreu amp V Nobre trad pp 13 44 Rio de Janeiro Imago trabalho original publicado em 1953 Winnicott D W 1990 Teoria do relacionamento paterno infantil In D W Winnicott O ambiente e os processos de matura o C S Ortiz trad 3 ed pp 38 54 Porto Alegre Artes M dicas Trabalho original publicado em 1960 192 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Recordar desenhar esquecer deslocamentos e recusa em um caso de abuso sexual infantil Renata Udler Cromberg Eug nio Canesin Dal Molin Isabella Silva Borghesi Palavras chave Abuso sexual Percep o representa o Recusa Gostaria que observassem a foto ao lado Ela um s mbolo da R ssia revolucion ria L nin com as m os apoiadas no p dio de madeira fala aos soldados que partiriam ao front polon s comb
355. logia Universidade de S o Paulo S o Paulo S o Paulo 2010 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A busca pela boa m e A amamenta o como deposit ria das ang stias no exerc cio da maternidade Audrey Setton Lopes de Souza Denise de Sousa Feliciano Palavras chave Interven o Pais Beb Interven o Precoce Amamenta o Recebemos Flora profundamente angustiada Sua segunda filha Lara ent o com dois meses de idade n o aceitava mamar em um de seus peitos Na primeira entrevista em que estava s com uma das analistas contou que essa prefer ncia de Lara perturbava a ela e ao marido e que ambos estavam t o tomados de preocupa o que a din mica familiar parecia ter se perturbado Flora relata com certo tom nost lgico a tranquilidade na rela o com sua primeira filha Bruna que parece ter permitido que se estabelecesse certa confian a em sua capacidade de maternagem levando o casal decis o de ter mais um filho No entanto junto com o nascimento de Lara novas perspectivas de trabalho a colocavam em um conflito que pareciam soar como uma escolha entre ser m e ou profissional e a deixava culpada pela ideia de negligenciar os cuidados com a filha rec m chegada Em sua primeira experi ncia de maternidade pode ficar com a filha em tempo exclusivo at que ela estivesse com mais de um ano de idade Em meio ao relato da situa o atual evoca uma s rie
356. lta para sobreviver e garantir a sobreviv ncia do seu filho no mundo real e ser uma m e beb que vive no mundo criado pelo beb Vivendo com ele uma ilus o no mundo interno compartilhado entre a dupla aos poucos ela vai apresentando o mundo externo ao filho e vice versa at que ele possa circular por este mundo sem o seu suporte Tamb m na an lise h um mundo muito particular a ser vivido paralelamente ao mundo real e de alguma forma preparando para ele Winnicott comparou em muitos momentos a posi o do analista posi o da m e para o beb Inclusive sua posi o era a de que as experi ncias positivas vividas pelo paciente no in cio de vida eram utilizadas na transfer ncia O manejo neste contexto torna se de grande import ncia j que an logo ao manejo maternal os primeiros tempos de vida 13 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as O psicanalista ao atender beb s com seus pais de acordo com Wanderley 2002 ora se posiciona em uma posi o materna identificando se com o beb refletindo suas pr prias percep es sobre suas manifesta es e supondo nele um sujeito onde ali ainda n o h ora em uma posi o paterna efetuando cortes nos excessos maternos Em alguns casos pode ser interessante discriminar as experi ncias dos pais e do beb que embora possam ser assemelhar e ter pontos de intersec o s o diferentes na me
357. lva M C P 2010 Agressividade ou reclama o Ruidos na comunica o entre pais e beb s In O desafio do amor quest o de sobreviv ncia S o Paulo Roca p 123 131 Silva M C P amp Mendes de Almeida M 2009 Embalando o choro de pais e beb s A demanda por uma escuta em rede Texto apresentado na jornada O beb hoje rede parental e profissional 6 6 2009 SBPSP Williams G 1997 O beb como recept culo das proje es maternas In Lacroix MB Monmayrant M org Os la os do encantamento a observa o de beb s segundo Esther Bick e suas aplica es Porto Alegre Artes M dicas 1997 p 105 12 Williams G 1999 On different introjective processes and the hypothesis of an Omega Function Psychoanal Inquiry v 19 n 2 p 243 53 Winnicott D W 1971 Therapeutic Consultations in Child Psychiatry 1971 London Hogarth Press and the Institute of Psychoanalysis New York Basic Books Inc Publishers Winnicott D W 1990 Natureza humana Rio de Janeiro Imago 144 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Metodologia IRDI uma interven o com educadores de creche a partir da psican lise Maria Eug nia Pesaro Maria Cristina Machado Kupfer Palavras chave Constitui o Ps quica Interven o Precoce Beb s Educa o Psican lise Sabe se que os cuidados dirigidos s crian as na primeira inf ncia podem diminuir sig
358. m o beb Assim o atendimento fundamentava se no holding Nos atendimentos que ocorriam fora da sala compreendia se que o setting em enquadres diferenciados se ampliava Os encontros aconteciam nos lugares em que a crian a demonstrava mais tranquilidade Com a crian a no colo a terapeuta caminhava com ele pela institui o pois permanecer na mesma posi o tamb m desencadeava ang stias no beb Compreendemos que movimentar se era necess rio caminhar por locais conhecidos com nosso aux lio de mant lo no colo Ficar parada de p desencadeava suas ang stias A seguir apresentamos o relato de certa experi ncia com Ca que Tratava se do 18 atendimento com o beb Fui at o ber rio e Caique estava deitado de bru os Ao ver me colocou seu rosto contra o colch o Comecei a falar com ele o cumprimentando Ele voltava a esconder seu rosto sem sorrir ainda de bru os Aproximei me e sentei no ch o de modo que meu rosto ficou na altura do seu e continuei conversando com ele Coloquei minha m o em cima da sua m o fazendo c cegas na mesma Ele ent o puxou sua m o para baixo de seu rosto ainda sem sorrir Bem devagar fui andando com meus dedos at a m o que ele 8 D cimo atendimento 9 A m e atrav s de sua identifica o com o beb sabe como este se sente de modo que capaz de prover quase que exatamente o que ele necessita em termos de holding e provis o do ambiente em geral Winnicott 1960 1990 1
359. m o paciente criticamente doente e sua fam lia a circunst ncias que geram sentimentos intensos que manifestos ou suprimidos neste momento de crise potencializam o estresse causando fortes rea es emocionais Os profissionais de sa de envolvidos no cuidado compartilham o mesmo ambiente e vivenciam juntamente ao cliente a intensidade das experi ncias emocionais Este contato com tantas realidades diversas e o processo de identifica o com o momento ou o contexto familiar podem afetar o desempenho profissional e influenciar as rela es interpessoais A emo o manifesta por um determinado cliente pode mobilizar um grande n mero de profissionais ou tocar profundamente alguns membros da equipe gerando um clima de tens o emocional sentimento de impot ncia insufici ncia sofrimento e incerteza Isto tudo pode gerar desentendimentos e abalar as rela es de trabalho H inclusive o estigma que o profissional de sa de carrega de que seu cuidar que determina o bem estar do paciente portanto se o paciente passa por momentos cr ticos e delicados evoluindo para uma inviabilidade a equipe se sente insuficiente e incapaz de prestar lhe aux lio Nesse contexto a equipe de enfermagem caracteriza se como popula o mais suscet vel a esse tipo de abalo tendo em vista o fato de constituir uma categoria que permanece 24 horas ao lado do cliente acolhendo e dando contin ncia vivenciando e por vezes participando ativamente ou mesmo se
360. m outro significante 10 Actant ser ou objeto que completa a a o expressa pelo verbo Syn agente sujeito 124 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as falha entretanto ao n o considerar o problema enunciativo que faz com que je me la mangerais bien n o seja apenas um regionalismo mas um enunciado muito diferente de je la mangerais bien Comer alguma coisa e se comer alguma coisa s o semanticamente dessemelhantes e se ocorre ao ling ista articular sua diferen a ocorre ao analista perceber a um posicionamento subjetivo diferente que n o se reduz em nada forma reflexiva Pois o sujeito n o se come ele mesmo ele se come alguma coisa Ele acrescentou um agente sem para tanto se tomar como o objeto do verbo como quereria a voz reflexiva Por essa repeti o pronominal esse sujeito se constitui ao menos como o endere o do ato que ele engaja Se nossa l ngua declinasse quero dizer desenvolvesse declina es seria um dativo que seria chamado ao seu lugar Suplementando o verbo com um agente que n o outra coisa que ele sob um outro modo gramatical o sujeito torna complexa sua posi o fazendo se de alguma forma de paciente do seu ato Dizendo se permanecer Guimar es Rosa faz ent o como cogita le Gauffay com seu Je me la mangerais bien o acr scimo de um agente faz de si mesmo o paciente do ato que engajou Assim o diz o filho que narra o at
361. ma esteira aos profissionais que nele atendem incluindo o analista O HC um hospital de refer ncia h um discurso que circunda o complexo l eles equipe saber o 4 Moretto L M T 2002 O que pode um analista no hospital S o Paulo Casa do Psic logo 5 Freud S 1996 1912 A din mica da transfer ncia In Freud S Obras Completas Rio de Janeiro Imago 95 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Em ambos os casos evidencia se a transfer ncia ao HC no caso de Helo sa h uma transfer ncia da equipe do hospital regional que a encaminha colocando o como institui o que saber o que fazer enquanto Rosa no caso de Kelly ressalta a import ncia que teve o ICr em diagnosticar sua filha e oferecer tratamento H a suposi o ora pelas institui es que encaminham ora pelos familiares de que no HC se sabe Os profissionais da equipe multidisciplinar no entanto ir o se colocar diante dessa suposi o de saber de modos diferentes Como traz Moretto a diferen a entre o m dico e o analista se d em duas vertentes na posi o ocupada para realizar sua cl nica e no discurso sustentado por cada um O analista sustenta a posi o de sujeito suposto saber mas n o o ocupa N o o ocupa por n o responder demanda que o sujeito apresenta por n o deter um conhecimento sobre o sujeito priori Ao contr rio o analista ocupar uma posi o de
362. ma oportunidade para que o sujeito possa exercer um mecanismo de que havia sido privado e por isso nas situa es anal ticas em que as identifica es projetivas ocorrem o analista pode ter uma sensa o de presenciar uma cena extremamente antiga BION 1988 pp 95 97 apud CAMARGO 2002 pp 134 135 Dessa maneira entendemos que a compreens o a respeito do trauma e das fun es anti traum ticas do objeto prim rio essencial para a realiza o do trabalho na cl nica com crian as v timas de viol ncia sexual t o necessitadas de um aprimoramento da capacidade simb lica e tamb m para o manejo da transfer ncia Al m disso como apontamos ao longo do texto o trabalho do analista se assemelha ao trabalho do objeto prim rio no que diz respeito ao desempenho das fun es anti traum ticas 186 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Refer ncias Bibliogr ficas ANDRADE M O desenvolvimento emocional primitivo Um di logo entre os pensamentos de D W Winnicott e M R Klein 2010 Monografia P s gradua o Lato Sensu em Psicopedagogia Cl nica Centro Universit rio FIEO UNIFIEO Osasco 2010 BULH ES L B D Experi ncias maternas frente contin ncia dos medos infantis 2010 157f Disserta o Mestrado em Psicologia Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ci ncias e Letras de Assis Assis 2010 CAMARGO C N M F Agresso
363. mais o que fazer para chamar a aten o do filho Ela e o marido come aram a listar uma fonte de dados que poderiam ter levado Abel a parar de falar troca da bab depois do primeiro ano de vida nascimento da irm morte da av materna falta de tempo para o Abel como tinha antes da irm nascer etc Ansiosos e sofridos procuram encontrar as poss veis causas para o ensimesmamento do filho Enquanto conversamos permane o atenta ao pequeno sempre pr xima a ele acompanhando o e falo com ele sobre as preocupa es dos pais em rela o a ele Uma tentativa de colocar a crian a como sujeito do discurso dos pais Abel permanece absorto nas rodas dos carrinhos Termino a consulta dizendo aos pais que todos os comportamentos do filho que indicam isolamento tendem a ser diagnosticados por uma grande maioria de profissionais como Autismo Infantil Entretanto naquele encontro Abel p de apresentar uma rea o fugaz e sens vel que havia alegrado a eles a de ter esbo ado uma brincadeira de esconde esconde Os pais se emocionaram e puderam expressar o prazer sentido por eles naquela cena que apesar de ter sido fugaz fora muito significativa Mas que tinham muito medo de acreditar na capacidade do filho por causa da falta de continuidade da brincadeira Veja doutora Quando a gente quis brincar ele n o estava mais l j tinha se voltado para o carrinho disse a m e Comentei com eles sobre o nosso grande desafio naquele momento o de
364. melhor comunica o de Y com seus familiares Certa ocasi o Y comunica que ao vir para a sess o de psicoterapia acompanhada pela m e algo marcante e decisivo ocorrera A m e de Y no trajeto para meu consult rio conversava com a filha sobre certos excessos ocorridos no final de semana quando come ou a chorar e dizer que tinha muito medo de perd la Tinha medo que ela morresse Y com ares de surpresa afirma minha m e gosta mesmo de mim Essa experi ncia de confirma o de amor no v nculo com sua m e propiciaram mudan as profundas em seu ser e viver A experi ncia de se sentir amada de verdade com raizes sedimentadas em v nculos de seguran a e confian a propiciou uma aproxima o gradativamente maior de Y com seus pais e consigo pr pria O epis dio de morte ou como foi denominado a tentativa disfar ada de suic dio levou os pais de Y a fazerem uma reavalia o de v rios aspectos de seu viver e ao realizarem esse exame puderam entrar em uma sintonia mais pr xima com a filha O que tinha o colorido de morte passou a adquirir o colorido de vida Mudou se o campo do terreno do negativo para o positivo 1 Professora Doutora do do Departamento de Psicologia Cl nica IPUSP Orientadora do Programa de P s Gradua o IPUSP N vel Mestrado e Doutorado Coordenadora LAPECRI Laborat rio de Pesquisas em Criatividade e Desenvolvimento Ps quico IPUSP Departamento Psicologia Cl nica IPUSP ivonisel814Qterra com br
365. mo ang stias de separa o e assim nortear as cuidadoras sobre a import ncia de amenizar tais ang stias sugerindo comportamentos de acolhimento para com a crian a As cuidadoras foram orientadas a deixar no ber o do paciente um objeto que permanecesse sempre l Podendo este ser um bicho de pel cia ou uma fraldinha Tais objetos eram compreendidos por n s como objetos transicionais Elas foram alertadas sobre a import ncia de manter o objeto escolhido pelo beb sempre junto dele a fim de auxili lo frente a manifesta o de ang stias e frente a separa es Ou seja objetos transicionais como apaziguadores frente a ang stias de separa o Careta 2011 Com a frequ ncia das orienta es com as cuidadoras elas nos procuravam para informar sobre os comportamentos de Ca que demonstrando aten o e envolvimento afetivo com a crian a Os ber os de outros beb s passaram a ter brinquedos fixados como o de Caique Elas comunicavam a melhora da crian a estava mais tranquila chorando menos tendo diminu do substancialmente o movimento de esfregar os p s os quais estavam cicatrizando Uma das cuidadoras usou a seguinte associa o ao falar sobre o progresso de Caique como uma plantinha s dar gua terra boa e cuidados que cresce bonita n o mesmo Ainda com o beb em acolhimento foi autorizada pelo Juiz da Vara da Inf ncia a aproxima o da sua m e biol gica com a possibilidade de reinteg
366. mparada pela perspectiva winnicotianna aquela que me orienta nos ltimos anos considerei as cuidadoras como o ambiente humano que poderia favorecer se estiver saud vel o desenvolvimento daqueles que t m o abrigo como o ambiente indicado e poss vel para viver Se a a o ambiental saud vel favorece o desenvolvimento das potencialidades para a sa de do indiv duo como compreendeu D W Winnicott penso que cuidar das cuidadoras de uma institui o fundamental para que elas possam oferecer um cuidado suficientemente bom para aqueles que est o presentes no ambiente institucional Parte se da considera o de que por meio do cuidado aqui traduzido como a interven o psicoter pica encontros psicoter picos em grupo com a equipe de cuidadoras h possibilidades de resgatar a continuidade do processo de crescimento emocional dessas mulheres que cuidam de crian as em acolhimento Cada vez mais temos observado a necessidade contempor nea de a psicologia avan ar para fora dos consult rios e nesta experi ncia com as cuidadoras n o foi diferente o enquadre diferenciado da interven o psicoter pica acontecendo no abrigo e portanto a cl nica inserida na institui o Winnicott considerava somos analistas praticando outra coisa que acreditamos ser apropriada para a ocasi o 1962 1983 p 155 Complemento ainda que al m de realizar os encontros psicoter picos tendo como ancoragem a psican lise fundamenta
367. mparo na obra de Freud Ao longo da obra de Freud o tema do desamparo pode ser localizado em diversos contextos remetendo a problem ticas que v o desde a constitui o ps quica do beb at o mal estar na cultura t o debatido na contemporaneidade Menezes afirma que No discurso freudiano n o h uma formula o precisa sobre o conceito de desamparo A Hilflosigkeit refere se a uma problem tica MENEZES 2008 P 19 Primeiramente o termo apresentado por Freud como algo impl cito na constitui o do ser Para ele o fator biol gico que causa a neurose o longo per odo que o beb humano vive em estado de desamparo e depend ncia Sua exist ncia intra uterina parece curta em compara o com a da maior parte dos animais sendo lan ado ao mundo num estado menos acabado Como resultado a influ ncia do mundo externo real sobre ele intensificada e uma diferencia o inicial entre o ego e o id promovida Al m disso os perigos do 1 Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Pelo segundo ano bolsista de extens o no Projeto de pesquisa e atendimento a crian as e adolescentes v timas de abuso sexual CAVAS UFMG 177 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as mundo externo t m maior import ncia para ele de modo que o valor do objeto que pode somente proteg lo contra eles e tomar o lugar da sua antiga vida intra uter
368. mpatia e contratransfer ncias s o recursos importantes para o processo anal tico O analista precisa estar inteiro cabe a e corpo O analista peregrino e tamb m anfitri o Como viajante leva a esperan a do novo e conta com o outro para ser hospedado como anfitri o permitir se sair do seu cotidiano e ser tocado por valores dentro de si ainda desconhecidos Estar presente na sess o entregar ao outro o que esse necessita sem temer o que vai encontrar O analista al m de ser o hospedeiro dos analisandos e do grupo tamb m hospedeiro de si Ser analista ser peregrino e anfitri o ir para si mesmo e por si mesmo Lech Lech Refer ncias Bibliogr ficas BIONW R 1952 Uma teoria sobre o pensar IN Estudos psicanal ticos revisados Second thoughts Rio de Janeiro Imago 1994 p 127 137 BONDER N Tirando os sapatos o caminho de Abra o um caminho para o outro Rio de Janeiro Rocco 2008 34 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as CAMARGO C N M transfer ncia Contin ncia Holding R verie Boletim Forma o em Psican lise S o Paulo Instituto Sedes Sapientiae n 2 p 95 102 2000 CAPER R 1994 O que fato cl nico Livro anual de psican lise Tomo X Fato em Psican lise S o Paulo Escuta 1996 p 11 21 CAVALLARI Maria de Lourdes Rossetto e MOSCHETA Murilo dos Santos Reflex es a respeito da identifica o
369. mpreender tais conte dos Ainda Para Freud em 1920 p 29 descreve que o paciente obrigado a repetir o material reprimido como se fosse uma experi ncia contempor nea em vez de como o preferiria ver record lo como algo pertencente ao passado Essas reprodu es que surgem com tal exatid o indesejada sempre t m como tema alguma parte da vida sexual infantil acted out na esfera da transfer ncia da rela o do paciente com o m dico Quando as coisas atingem essa etapa pode se dizer que a neurose primitiva foi ent o substitu da por outra nova pela neurose de transfer ncia Neste momento podemos realizar um primeiro questionamento Qual o lugar que a Institui o ocupa na din mica emocional destes cuidadores ao depositarem todas as expectativas de uma suposta descoberta e legitimidade de verdade para proteger o seu filho do cordeiro que virou lobo A Institui o ocupa o lugar de salvadora da verdade talvez o Pai que protege e cuida o pai confi vel Podemos inferir uma rela o de triangula o entre m e Institui o e crian a Lembro me que muitas vezes m es ficavam 37 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as furiosas ao se sentirem decepcionadas diria tra das ao serem informadas sobre o objetivo da Institui o e que n o seriam realizadas Per cias mas atendimento psicol gico a crian a Na situa o de an lise de crian
370. muitas vezes h dificuldades entre os pais e o beb ou mesmo dificuldades entre o casal que podem se refletir nos cuidados Muitas vezes pequenos ajustes nesta fase t o sens vel podem ser suficientes para desatar n s incipientes que poderiam vir a ser empecilho para o desenvolvimento saud vel do beb e da rela o Muito antes que se possa pensar em psicopatologias os beb s j s o capazes de mostrar atrav s de disfuncionalidades corporais comportamentais ou relacionais que algo n o vai bem e que precisam de ajuda Se h na rela o alguma intercorr ncia que clame por olhar externo os reflexos do inconsciente materno refletido nas suas pr prias manifesta es e nas do filho podem ser percebidos por algu m que se disponha a tanto O psicanalista pode se oferecer ali como um receptor capaz de captar proje es n o verbaliz veis pelos pais guardando as at que elas possam ser pensadas Mendes de Almeida Marconato e Silva 2004 A interpreta o capaz de dar sentido e representa o aos afetos pode vir em forma de um gesto ou intera o com o beb n o necessariamente uma coloca o verbal fundamental que o analista perceba os beb s como sujeitos que est o em uma fase precoce do desenvolvimento A atua o e postura do psicanalista n o difere muito daquela do psicanalista de crian as ou de adultos o foco de sua atua o n o no sentido de transformar a realidade externa ou de reparar qualquer tipo de
371. multaneamente permitir ao pai que possa intervir e auxiliar neste processo 2 Oferecer contin ncia e compreens o aos pais habilitando os a ser capaz de atribuir sentidos s comunica es e comportamentos da crian a 3 Simultaneamente verbalizar os modos da crian a de lidar com situa es de extrema ansiedade relacionadas a seus estados de desamparo e depend ncia experienciados como intoler veis 4 A possibilidade de oferecer contin ncias s ang stias dos pais na rela o com seus beb s mostrou se eficaz para ajud los a digerir emo es sentidas como insuport veis e que eram depositadas em seus filhos assim como habilita los a dar sentido s comunica es da crian a 5 Acolher estas identifica es projetivas e nome las mostrou ser uma possibilidade de interven o que permitiu a emerg ncia de novos sentidos 26 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Acolher a esta fam lia permitiu que este jogo nocivo de falhas na fun o de rev rie pudesse romper se Ancorados em experi ncias de holding e rev rie emo es insustent veis antes splitadas projetadas e negadas podem ser digeridas levando a encontros transformadores que na presen a do outro podem ser resignificados e acolhidas permitindo que crian as barradas em seu desenvolvimento possam recuperar ou encontrar pais que as ajudem a desenvolver sua subjetividade 27 ANAIS DO II COL QUIO DE PSIC
372. n Delion P dir La pratique du packing Paris Er s Piaget J 1945 La formation du symbole chez l enfant imitation jeu et r ve image et repr sentation Paris Delachaux amp Niestl 1994 118 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Para concluir um projeto de pesquisa Jussara Falek Palavras chave Psican lise Autismo Transfer ncia Cl nica Psicanal tica Podemos deduzir da algo que sem d vida a verdade ltima do puzzle apesar das apar ncias n o se trata de um jogo solit rio todo gesto que faz o armador de puzzles o construtor j o fez antes dele toda pe a que toma e retoma examina acaricia toda combina o que tenta e volta a tentar toda hesita o toda intui o toda esperan a todo esmorecimento foram decididos calculados estudados pelo outro O texto que aqui se inicia tem por objetivo transmitir aquilo que foi adquirido na experi ncia do Projeto TECER projeto de pesquisa em equipe que coordenei nos anos de 2002 2007 no Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo A boa palavra de Georges Perec permite me situar bem a forma como aconteceu esta experi ncia Eu estava como n o poderia deixar de estar imersa em um jogo de quebra cabe a quebrando a minha cabe a em busca de um desenho institucional que possibilitasse o atendimento psicanal tico a inclus o na cl nica psicanal tica de crian as que
373. n a reconhece se pela primeira vez em algo em um objeto causa de desejo da m e Esse objeto ao mesmo tempo ela a crian a e n o ela e nem dela que deriva na ambival ncia obsessiva no dar ou reter o que o Outro demanda obturando assim seu desejo Esse objeto valioso as fezes ao mesmo tempo um tesouro e um dejeto um objeto a ser expulso Decorrente disso que se apresenta a d vida obsessiva a compuls o a anula o e a ambival ncia Sobre a encoprese Para Maria Teresa Ferrari a encoprese como as demais manifesta es cl nicas da crian a entendida como um ato de escrita que cifra a leitura de sua rela o com a alteridade se trata de um transtorno mais severo do que a enurese porque denuncia a aus ncia da met fora paterna ou seja o Nome do Pai n o opera no discurso da m e Como vimos a m e e as tias de Paulo n o demandam a renuncia ao erotismo anal de Pedro nem renunciam elas pr prias de gozar com as fezes e anus dele O sil ncio sobre o pai evidencia a recusa imperante e operante Silvia Bleichmar diria que no caso de Paulo encontramos uma excessiva complac ncia materna diante dos transbordamentos pulsionais de seu filho Movidas por seus pr prios fantasmas algo do recalque da sexualidade infantil dessa m e e dessas tias opera muito deficitariamente A m e que erotiza a crian a com seus cuidados dever recalcar a perpetua o dessa mesma erotiza o do corpo da crian a e do gozo dela resultante
374. na cl nica com crian as Escuta psicanal tica de grupo de pais no atendimento institucional de crian as com sinais de autismo Cristina Keiko Inafuku de Merletti Palavras chave psican lise institui o autismo transfer ncia com pais Verificamos que a escuta psicanal tica dos cruzamentos de uma rede discursiva sobre a inf ncia veiculada no discurso dos pais em trabalho institucional de grupo promove efeitos subjetivantes para seus filhos configurando portanto uma parte estrutural do trabalho com a crian a em institui o A forma de leitura destes cruzamentos discursivos foi denominada de an lise psicanal tica de discurso Chamaremos de efeitos subjetivantes aqueles decorrentes do posicionamento do sujeito em um discurso efeito de um desejo de uma nomea o e de uma enuncia o do campo do Outro Tomaremos ainda a ideia de efeitos subjetivantes como aqueles promovidos por uma transmiss o simb lica no discurso da pr pria educa o e dos cuidados sobre a crian a por m de uma educa o cujo desejo n o seja an nimo e de um cuidado que n o seja puramente mec nico Assim acredita se que estes discursos poder o subjetivar a crian a em tratamento institucional propiciando o surgimento de seu desejo Os efeitos subjetivantes seriam pois aqueles que remontam retomam ou tentam reconstituir as marcas que seriam primordiais para localizar o sujeito no desejo do Outro e cuja produ o e sustenta o s se torna p
375. na coleta de dados mas intervindo facilitando a emerg ncia de um encontro significativo favorecendo a compreens o de uma problem tica que paralisava o desenvolvimento emocional da crian a Utilizando o modelo do psicodiagn stico interventivo ao final do processo alguns casos n o precisam ser encaminhados pois j recebem a ajuda psicol gica necess ria durante a etapa diagn stica Por outro lado existe o grupo dos pacientes que v o necessitar de um encaminhamento posterior mesmo que tenham sido beneficiados pelas interven es que comp em este tipo de trabalho ainda precisam de ajuda especializada para superar seus sofrimentos e dificuldades existenciais Para estes casos lidamos com a obrigatoriedade de efetuarmos um encaminhamento apropriado e eficaz que possa de fato atender as necessidades do paciente e de sua fam lia lembrando que o encaminhamento coerente seria o objetivo ltimo de uma avalia o psicol gica Tendo em vista a brevidade deste tipo de atendimento cerca de tr s meses e al m disso como j esclarecido anteriormente a eventual necessidade de realizar um encaminhamento eficiente j que parte dos pacientes recebe alta e a outra encaminhada para outro tipo de atendimento dentro ou fora do Centro de Psicologia Aplicada buscamos demarcar claramente o alcance e os contornos do processo Procuramos manter o enquadre espec fico deste tipo de trabalho e cuidamos para n o estimular a neurose transferencial
376. na fam lia Esta contribui para sua constitui o subjetiva mas esta n o se encerra a O beb chega ao mundo absolutamente dependente do ambiente mas imp e sua presen a de forma muito marcante Seu desamparo e encanto seduzem o cuidador a se encarregar dele assim como nos convocam a olhar e interagir com ele Com beb s podemos entender de certa forma que o que se pode apreender de sua superf cie diz muito a respeito do que h de mais profundo de seu ser com toda a sua pulsionalidade e desamparo flor da pele ele um ser de relacionamento dependente do contato e do amor humano para sobreviver como se fosse separado do mundo por uma membrana muito perme vel deixando ao interlocutor entrever o que acontece em suas entranhas e provocando o a trocar com ele preciso por m compreender a l ngua em que essa exposi o acontece Ele exige para ser cuidado e compreendido em profundidade disponibilidade f sica e emocional que possibilita conter as suas ang stias e transform las O terapeuta cumprindo fun o an loga com os pais d o suporte para que eles possam desempenhar este papel junto ao beb 1 Psic loga formada pela PUC SP em forma o no curso de psican lise da crian a do Instituto Sedes Sapientiae membro do departamento de Psican lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientiae com experi ncia em atendimentos a crian as beb s e fam lias em consult rio hospital casa de apoio e institui o de aco
377. na inf ncia atrav s do brincar No caso de F bio reflete se como ele poderia evoluir com um trabalho no real do corpo atrav s de interven es de campos diferentes mas em uma dire o compartilhada Pensando nisto tudo e nas dificuldades de equil brio de consci ncia corporal a analista em conversa com os pais faz um encaminhamento para que F bio inicie acompanhamento com uma Terapeuta Ocupacional TO que ir atuar com Terapia de Integra o Sensorial muito utilizada para casos de crian as que apresentam TEA tal como descrevem Momo Silvestre e Graciani 2011 e Schwartzman e Ara jo 2011 O fato dos pais demonstrarem muita confian a no tratamento apostando na analista como sujeito de suposto saber al m do desejo da analista pela interdisciplinaridade tornou poss vel a ocorr ncia da mesma Tamb m as dificuldades escolares foram discutidas com os pais e com a Terapeuta Ocupacional e optou se por incluir uma especialista em psicopedagogia para fazer um trabalho de orienta o escola 41 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as pois segundo relato da m e a pedagoga da escola lhe informou que F bio estaria com a idade de 4 anos em suas produ es Com ajuda desta profissional aconteceram algumas mudan as na rotina escolar de F bio o que ajudou muito e ap s alguns meses ele iniciou a leitura A discuss o interdisciplinar gerada entre a psicanalista
378. nas do trauma Ele acrescenta sua experi ncia cl nica e sua sensibilidade a elas Em primeiro lugar Ferenczi percebe que o trauma gera uma cis o no eu E em segundo lugar percebe que o trauma forma se tamb m em dois tempos mas tempos diferentes daqueles indicados por Freud O primeiro tempo envolveria o pr prio evento o choque ou a confus o de l nguas entre adultos e crian a para usar os mesmos termos que ele utilizou em seus textos entre 1928 e 1932 cf Ferenczi 1928 2002 1930 2002 1931 2002 1932 1933 2002 E o segundo tempo ferencziano que completa a forma o do trauma envolveria o que podemos chamar de condi o p s traum tica ou ambiente p s traum tico Este segundo tempo ferencziano aquele onde encontramos o adulto confi vel ou em nosso trabalho cl nico o papel do analista A crian a volta se para um adulto em busca de reconhecimento confirma o e respostas acerca de suas experi ncias A crian a busca no adulto elementos com os quais possa elaborar suas experi ncias e aqui acho importante ressaltar traum ticas ou n o Uma experi ncia que n o tenha sido traum tica em si mesma poderia ganhar este atributo quando mais tarde a crian a dirige se a um adulto e escuta que o que sentiu ou experienciou n o aconteceu fantasioso ou tratado como uma mentira Toda experi ncia infantil passa em algum momento por uma tentativa de buscar no exterior no objeto elementos que poderiam ajudar no dom
379. nceito de hist ria In BENJAMIN W 1994 Magia e t cnica arte e pol tica ensaios sobre literatura e hist ria da cultura S o Paulo brasiliense FIGUEIREDO L C 1998 Temporalidad y narratividad en los processos de subjetivaci n de la cl nica psicoanal tica In ROVALETTI M L Ed Temporalidad el problema del tempo em el pensamento actual Buenos Aires Lugar Editorial S A PENOT B 2005 A paix o do sujeito freudiano entre a pulsionalidade e a signific ncia Rio de Janeiro Companhia de Freud SELIGMANNSSILVA M 2008 Narrar o trauma A quest o dos testemunhos das cat strofes sociais In Psicologia Cl nica Rio de Janeiro vol 20 n 1 p 65 82 219 e EDES DEPARTAMENTO DE Piene PSICANALISE DA CRIAN A lt 2coloquiopsicriancadgmail com
380. ncial herdado est ligado tend ncia no sentido do crescimento e do desenvolvimento Winnicott 1960 1990 A base da teoria de Winnicott privilegia a mais tenra inf ncia pois para o autor neste per odo que se inicia o desenvolvimento do ego com a integra o deste como principal aspecto se tudo correr bem O autor ressalta que mais comum do que se imagina ocorrer uma cis o da personalidade a partir da intera o com ambientes insatisfat rios Winnicott 1950 2002 Na forma mais simples de cis o a crian a apresenta uma vitrine ou uma metade voltada para fora constru da com base em submiss o e complac ncia ao passo que a parte principal do eu contendo toda espontaneidade mantida em segredo e permanentemente envolvida em rela es ocultas com objetos de fantasias idealizados p 199 relevante destacar a import ncia do cuidado materno que propicie o ambiente sustentador neste per odo j que este imprescind vel para a sa de De acordo com Winnicott 1960 1990 o beb e o cuidado materno juntos formam uma unidade p 40 O autor refere se aos prim rdios do desenvolvimento em que o beb apoia se ao ego da m e e vive a onipot ncia para gradativamente a partir de continuidades desse cuidado e falhas maternas suport veis resultar em um estado unit rio uma pessoa com individualidade pr pria caso n o ocorram intrus es ambientais prejudicando a continuidade do crescimento emocional A pe
381. nde esconde Ele conta at 10 e o analista se esconde Ele procura depois os pap is se invertem o tempo aumenta da contagem at 10 passa para contar at 20 Ele faz estrat gias ele se esconde em baixo do sof na mesma sala onde aquele que conta est Quando h o distanciamento para procur lo ele vai at o pic pic o lugar na brincadeira de esconde esconde onde aquele que est escondido pode sair do esconderijo e se salvar sem ser pego Ou seja o porto seguro onde n o necess rio mais ficar escondido preciso chegar antes daquele que o est procurando Nesta brincadeira podemos pensar na constru o do Fort Da onde ele aparece e desaparece contar at 10 ou 20 o tempo que se leva para desaparecer Atrav s desta brincadeira ele faz uma supl ncia Fort Da onde n o h o simb lico Como afirma Quinet 2003 p 18 Por falta de refer ncia simb lica o sujeito psic tico funciona no registro imagin rio onde o outro tomado como espelho e modelo de identifica o imediata Disto decorrem os fen menos de proje o rivalidade onde identifica o e erotiza o se confundem O semelhante apreendido apenas no registro do imagin rio onde a rela o especular a regra Do lugar de dejeto objeto Luiz p de construir um outro lugar daquele que cria hist rias que as escreve fazendo uma supl ncia de um simb lico fr gil onde o imagin rio reinava para possibili
382. ndo alvo dos momentos de manifesta o emocional familiar Por estes motivos iniciou se o trabalho com as enfermeiras e auxiliares de enfermagem Para a realiza o do papel acolhedor e continente fam lia e seu beb necess rio que o profissional seja instrumentalizado e desenvolva recursos para compreender as rea es do paciente e da fam lia e assim atender s suas necessidades O profissional necessita de um espa o onde possa organizar suas id ias e trabalhar suas emo es compartilhar suas percep es acerca das situa es cotidianas e se reorganizar emocionalmente como indiv duo e como parte de uma equipe e de uma rede de cuidados Psicanal ticamente estar amos desta forma tentando compreender os movimentos transferenciais que ocorrem a partir dos pais e beb s para os profissionais e para a institui o mas tamb m oferecendo escuta para os aspectos internos dos profissionais que se transferem para a situa o de trabalho modulando sua capacidade de contin ncia e tamb m demandando receptividade transferencial em outros espa os de acolhimento e elabora o ps quica A formula o de uma demanda Observando se o dia a dia da equipe de enfermagem nesse tipo de unidade percebem se momentos de intensa press o e exig ncia interna O sofrimento das pessoas que comp em a equipe de Enfermagem parece ser mascarado pelo cumprimento das rotinas Ribeiro et al 1998 Ser um profissional de sa de em uma unid
383. ndo todas as pecinhas para cima Naquela poca h quase 6 anos atr s n o dava ainda para brincar formular enredos s para mostrar o dio e a destrui o que moravam em voc Eu precisava de um bom intervalo depois de atender voc para dar conta de guardar tudo antes de outra pessoa entrar O combinado de deixar a sala como a encontrou era retomado e desrespeitado toda vez Naquela poca voc era um expert em ser desagrad vel e tinha o dom de fazer todos a sua volta te odiarem Era f cil saber quando voc chegava ao consult rio acho mesmo que todos sabiam at os das salas mais distantes Voc fazia muito barulho e entrava sempre brigando com seu motorista esp cie de bab pai substituto pago para te aguentar a quem voc foi delegado At o dia em que ele n o aguentou mais e foi embora Sua m e tamb m n o aguentava escapava para o interior ia cuidar das propriedades distantes da fam lia da decora o e dos animais mais f ceis de lidar do que este filho que s lhe punha nervosa a quem repetidamente surrava como fora surrada na inf ncia Seu pai era o todo poderoso que pagava as contas Cresceu pobre mas fez vasta fortuna conquistada pelo pr prio m rito Ele pagava pelo motorista boa escola terapias e m dicos timas roupas viagens conforto e luxo e depois cobrava uma conta bem alta na moeda da humilha o Quando voc nasceu seu pai ainda era casado com a primeira mulher com quem tinha dois filhos um m
384. nex es com uma rede AutoForma o Local de Pinheiros p de contar com auxilio de alunos da Pedagogia da USP para organiza o e classifica o do material l dico e alunos engenheiros da p s gradua o da Funda o Vanzolini atuantes em projetos sociais Para nortear este trabalho de interven o e pesquisa pensamos numa perspectiva de orienta o psicanal tica de cl nica ampliada vinculada a realidade social e cultural No cen rio contempor neo de excesso de tecnologias consumismo e individualimo a escola ainda um lugar de refer ncia para a crian a E os efeitos do papel da escola no processo de estrutura o subjetiva das crian as e jovens v o al m da transmiss o de conhecimentos Destacamos o psicanalista Donald Winnicott que aproxima em sua teoria o brincar das rela es culturais e considera como sinal de um psiquismo saud vel que torna os indiv duos mais capazes de um viver criativo O brincar essencial e h uma evolu o direta dos fen menos transicionais para o brincar do brincar para o brincar compartilhado e deste para as experi ncias culturais Tamb m consideramos outras leituras apesar dos debates vigorosos e questionamentos quanto a aproxima o da Psican lise e Educa o encontramos trabalhos institucionais prof cuos que articulam a Psican lise com a Cultura orientados pela psicanalista Maria Cristina Kupfer E outras perspectivas e formula es com a An lise Institucional Retomando
385. nificativamente a incid ncia de transtornos mentais tanto na inf ncia como na idade adulta Considerando que os profissionais de educa o infantil est o ao lado dos familiares nos cuidados e na educa o das crian as pequenas assumindo tamb m uma fun o formativa entende se que esses profissionais precisam estar preparados para acompanhar a constitui o ps quica das crian as sob seus cuidados O presente trabalho pretende apresentar as fundamenta es te ricas com seus impasses que levaram sua elabora o e as reflex es iniciais de um novo projeto de pesquisa e de interven o que tem como objetivo avaliar o uso da metodologia IRDI como instrumento de promo o de sa de mental de crian as em institui es de educa o infantil A metodologia IRDI constitu da por 1 forma o te rica sobre a constitui o ps quica dirigida aos professores de creches b acompanhamento em servi o dos professores c aplica o por monitores de 31 indicadores cl nicos de desenvolvimento infantil para a avalia o e o acompanhamento das crian as de zero a dezoito meses que est o sob os cuidados dos professores formados e acompanhados pela metodologia IRDI As quest es a serem apresentadas neste trabalho referem se as modifica es propostas para a pesquisa nas creches se antes na pesquisa multic ntrica original se tratava de proporcionar ao pediatra um roteiro para acompanhar a rela o do beb com seu cuidador agora se trata
386. nio e na descarga da tens o mental causada pelas experi ncias O evento em si mesmo j nos dizia Gombrowicz an nimo ele pede nomes e elementos para que possa ser contado ex post Se h transfer ncia a crian a chega ao consult rio com uma bela quantidade de hist rias que pedem mais elementos Ou quando a recebemos e ela encontra se ainda no caos inicial no momento an nimo um de nossos pap is tentar fornecer um m nimo de elementos que permitam o dom nio e a descarga da experi ncia Meu paciente de onze anos sentado em sua cadeira de rodas me pergunta timidamente se acredito que ele sentiu o movimento de um de dedo do p na noite anterior Minha resposta matreira outra pergunta Como foi o movimento O que voc sentiu Ele diz que o dedo se mexeu e ele sentiu o movimento Mas duvidou porque n o era para ele sentir nada do umbigo para baixo Voc queria que o dedo mexesse pergunto Queria a a coisa toda ia t melhorando Mas esmagou a L3 n o sei se era 2 Se ainda resta alguma d vida sobre se Freud via o trauma como podendo acontecer em um nico tempo cabe aqui uma breve cita o retirada das Confer ncias Introdut rias De fato o termo traumatico n o tem outro sentido que n o o econ mico N s o aplicamos a uma experi ncia que num curto per odo de tempo apresenta mente um aumento de est mulos poderoso demais para que seja trabalhado ou descarregado da maneira normal e isto
387. no inconsciente de cada um de n s Isso dificulta a possibilidade de captarem o muito que podem significar para estas crian as mesmo n o sendo fam lia mas exercendo fun o parental N o seriam essas viv ncias que em parte explicariam os sucessivos encaminhamentos de Elias para ado o Em nosso contato com os profissionais das unidades de acolhimento temos percebido a rela o entre nfase na fam lia desvaloriza o do abrigo e provisoriedade Por outro lado constatamos que muitos deles est o revendo suas pr ticas conseguem se valorizar e tamb m as experi ncias das crian as no abrigo Mas diante da determina o legal de provisoriedade se perguntam Quais as possibilidades de 50 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as favorecerem o desenvolvimento dessas crian as que est o de passagem Como oferecer experi ncias significativas para essas crian as e adolescentes que apesar da curta dura o deixariam novos registros novas marcas Perguntam ainda Como estabelecer v nculos nessa condi o Como se ligar afetivamente essa crian a que logo ser desabrigada e da qual logo dever o se desligar N o nada simples do ponto de vista ps quico investir grande energia numa rela o fadada ao t rmino Em Sigmund Freud encontramos uma id ia substancial para essa reflex o Em seu texto O Transit rio 1915 ele afirma que o psiquismo
388. nstitucional tenta capturar ou fisgar a crian a que parece deriva dela Portanto esta ser uma concep o de base que estar presente no percurso do presente texto considerando a escuta psicanal tica do discurso dos pais na institui o um dos recursos que promove a extens o desse campo de linguagem para a pr pria crian a por meio de seus pais O presente trabalho foi constitu do em campo cl nico da institui o chamada Associa o Lugar de Vida Centro de Educa o Terap utica no bairro Butant em S o Paulo Esta institui o origin ria no Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo com mais de vinte anos de exist ncia sustenta trabalhos com propostas inclusivas e recebe hoje uma popula o heterog nea de crian as tanto em seu car ter de organiza o ps quica neur ticas psic ticas e autistas de queixa inicial problemas de aprendizagem de fala de comunica o 1 Psic loga Psicanalista Especialista em Tratamento e Escolariza o de Crian as com Transtornos Globais do Desenvol vimento pelo LV IPUSP mestranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano no Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo USP membro fundador e Vice Presidente do Conselho de Administra o da Associa o Lugar de Vida Centro de Educa o Terap utica Coordenadora de Grupo de Pais e Membro do N cleo de Interven o Precoce na mesma associa o crisinafukuyahoo com br 44
389. ntado Em agosto de 2006 banca para inser o no corpo de Supervisores da Sigmund Freud Associa o Psicanal tica Porto Alegre RS Outubro de 2010 no Curso Fundamentos em Psican lise Torres RS 1 Psic loga e Psicanalista com cl nica na cidade de S o Leopoldo RS Membro Efetivo da Sigmund Freud Associa o Psicanal tica Coordenadora de Semin rios e Supervisora da Sigmund Freud Associa o Psicanal tica Porto Alegre RS Membro da Sociedade de Psicologia do RS Co autora dos Livros Psican lise de Crian as Escutas Poss veis e Movimen tos Psicanal ticos Narrativas da Teoria da Cl nica e da Cultura 81 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Um paciente que s o dois cl nica extensa no consult rio Fernanda Sofio Palavras chave Fun o Terap utica Cl nica Extensa Cl nica Psicanal tica Teoria dos Campos O analisando neste caso uma dupla de irm os um paciente que s o dois Parece estranho ou no m nimo inabitual mas o prosseguimento da an lise de Tiago de seis anos exigiu a presen a de seu irm o Marco de quatro e transformou se em an lise da dupla N o de um ou de outro mas dos dois em seu relacionamento comigo e entre si A entrada do irm o mais novo nas sess es do mais velho foi uma solu o encontrada em car ter emergencial dada a depend ncia do mais velho para com o ca ula negando se ele a continuar suas sess es
390. nte desprez vel Assim um paciente melanc lico pode at saber quem perdeu como Nice que perdeu sua m e e seus irm os mas o importante nos perguntarmos o que perdeu nesse algu m que partiu e lhe partiu Freud enfatiza a o aspecto inconsciente desta perda que consiste numa perda do amor pr prio uma perda relativa ao eu Segundo Freud na melancolia uma parte do eu se coloca contra a outra julga a criticamente e assim toma a como seu objeto Contudo essas acusa es dificilmente se aplicam ao pr prio paciente e muitas vezes se ajustam a algu m a quem o paciente ama amou ou deveria amar Poder amos dizer que o caso de Nice traz esse tipo de identifica o especular com o objeto perdido e destru do Isto aparece muito bem na hist ria da crian a que se alimenta de lixo e que pode ser devorada pelo gavi o Ap s dois anos e meio de tratamento esse movimento ficou muito claro e dram tico pois Nice entrou num processo de desinvestimento geral n o frequentava mais a escola a an lise n o cuidava do pr prio corpo nem de seus la os quando sa a de casa n o dizia para onde ia Numa sess o a analista lhe disse Voc sumiu tive que insistir com sua m e para traz la liguei para voc me senti completamente esquecida acho que foi exatamente assim que voc se sentiu quando sua m e lhe deixou no foro e n o mais voltou para busc la como havia prometido Ela chorou muito e disse que ainda sonhava em achar
391. ntr rio permaneceu muito aborrecido agora sem poder localizar sua ang stia que antes ficava circunscrita aus ncia do irm o Assim passou v rias sess es do lado de fora da sala de an lise na sala de espera e gritava cada vez que o chamava para entrar na sala de atendimento Esse desenvolvimento inesperado exigiu de mim ampliar o enquadre da sess o e deixar aberta a porta que d para a sala de espera para poder incluir Tiago Ou seja as sess es nessa poca extrapolaram a sala de an lise indo para a sala de espera onde tamb m se encontrava a bab Numa esp cie de dan a a princ pio desencontrada transcorria a an lise dos irm os Eu olhava um pouco o Marco na sala de an lise depois sa a para a sala de espera depois voltava o que implicava ausentar me brevemente embora estando presente para ambos nesse sentido que essa an lise exigiu uma reformula o t cnica Eu procurava respeitar a raiva e o sofrimento de Tiago e aos poucos ele foi ficando menos bravo menos ressentido Naquela poca Marco brincava contente dentro da sala de an lise e pedia para eu passar mais tempo com ele Mostrava se apropriado do espa o que nesse sentido fora do irm o Ao me ver dirigindo me sala de espera dizia frequentemente algo como Tiago n o quer entrar Deixa ele l O sentido quase expl cito era J que ele n o quer entrar brinque comigo eu sou o reizinho Eu atendia a seu pedido sempre parcialmente buscando c
392. ntrole relacionadas a seu hist rico familiar e refer ncias internas de cuidado parental rigoroso Gabriel de 2 anos e 8 meses levanta com o estetosc pio de brinquedo na m o Marcos ap s algumas voltinhas perto da m e parecendo perdido e solicitando autoriza o para poder pedir pede D isso Me d esse Marcos co a a cabe a ensimesmado ou confuso enquanto aponta para Gabriel com o brinquedo dividindo o olhar entre estas duas dire es dividido entre o pr prio gesto de apontar para um outro fora da rela o com a m e e o olhar que pede autoriza o M e do Marcos Ah ele pegou Deixa ver vem c M e responde ao co ar da cabe a como se fosse algum desconforto f sico que necessita assist ncia sustentando a continuidade da rela o dual e a 4 refer ncia no concreto handling corporal Apesar disso e de alguns trope os no caminho Marcos se sente encorajado a buscar o que precisa caminhando em dire o a Gabriel e sua m e Terapeuta N s come amos com a agita o de algumas crian as n Mari Recapitulando o movimento do grupo Terapeuta M pois Terapeutas funcionando como dupla parental em di logo sobre estados emocionais do grupo Marcos pr ximo a Gabriel que est deitado junto de sua m e chega para pegar o estetosc pio A M e do Gabriel e do Marcos conversam com Gabriel e negociam com ele a passagem do brinquedo para Marcos que retorna ent o para
393. nvariavelmente eu era o escravo e voc o mestre Mas n s j est vamos em outro plano a viol ncia j havia em parte ganho contorno na brincadeira E se nessas cenas voc podia mostrar a riqueza dos seus recursos a capacidade de construir e criar fazendo contraponto destrui o inicial do come o de sua an lise voc tamb m mostrou claramente o seu lugar de humilhado tomando na transfer ncia o papel daquele que humilha Est vamos em pleno jogo de Fort Da voc na posi o ativa do que sofria passivamente Voc vivia nos pal cios e eu num casebre furado atingido pela chuva frio e vento Voc era o rei eu o s dito Mas nem tudo ficava dentro do contorno do brincar seu dio tamb m comparecia em ato Repetidas vezes quando eu come ava a falar voc gritava por cima da minha voz cala a boca sua burra E foi assim atrav s desta transfer ncia essencialmente negativa de dif cil manejo na qual eu era colocada no seu lugar e voc assumia o lugar de d spota que voc me mostrou de onde voc vinha E por que repetir o que gerou desprazer perguntar Freud em 1920 se n o para colocar se desta vez como senhor da situa o Freud p 28 Fui a companheira de brincadeira para quem voc transferiu a experi ncia desagrad vel o substituto atrav s do qual se vingou Mas n o era s uma sede s dica de vingan a que estava em jogo era tamb m sede de elabora o Voc fez uso de mim na t
394. o implica em ter a capacidade de ver na perspectiva do outro Para estar com o outro precisamos analista e analisandos frustrar o desejo de estar fusionado A autora trabalha com as ideias de Kohut sobre a empatia para quem empatia a capacidade de sentir buscando em suas pr prias viv ncias a viv ncia do outro Por m sentindo de maneira atenuada e sem se confundir com ele R verie Fernandes 2003 ao discutir o conceito de Bion pensar o pensamento destaca dois mecanismos do aparelho ps quico O primeiro a constante oscila o entre as posi es esquizoparan ide e depressiva em que variam de desintegra o integra o da desordem ordem din mica que pode ser simbolizada por PEP PD O segundo mecanismo a rela o din mica entre algo que cont m e algo que contido modelo continente conte do FERNANDES 20053 p 134 Segundo Camargo 2000 para Bion a identifica o projetiva ao evacuar um estado mental insuport vel projetando esse em um objeto externo para al m de sentir o al vio tem pelo menos mais dois objetivos 1 controlar esse objeto 2 causar nele um estado mental semelhante ao seu como forma de comunica o O analista deve ser continente e promover toler ncia frustra o A incapacidade de tolerar frustra o poder obstruir o desenvolvimento dos pensamentos e da capacidade de pensar BION 1952 1994 p 131 V nculo Para Tabak de Bianchedi 1999
395. o Pai 4 Cabe salientar mediante as palavras de Dor 1995 46 que a car ncia do Pai simb lico isto a inconsist ncia de sua fun o no decorrer da dial tica edipiana n o absolutamente coextensiva car ncia do Pai real em sua dimens o realis ta com isso podemos asseverar que o pai simb lico uma fun o que mediatiza os desejos respectivos da m e e do filho e que vai ser o representante do significante f lico enquanto simbolizando o objeto da falta desejado pela m e p 42 147 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as do filho pois s vezes o pai demonstrava certa desconfian a a respeito do que pensava sobre Bernardo mas sua abertura para a diferen a sucumbia diante das afirma es quase inquestion veis da m e Ambos foram se disponibilizando a falar e rever seus posicionamentos o que contribuiu decisivamente para Bernardo falar mais livremente Suponho que um excesso narc sico ou f lico atribu do ao filho levava o a for ar se para caber na correspond ncia imag tica pagando o pre o de ter que satisfazer o p blico ou ins gnias imperativas propostas pelo olhar da m e prot tipo dos olhares que enfrentar no mundo Na d vida a seu respeito Bernardo tendia a ocultar seus sentimentos por isso n o podia acreditar nem na dor dos dedos esmagados entre as carteiras fato que omitiu da professora O que sentia ficava encoberto pela id
396. o constitui um desafio na maioria das institui es de acolhimento e que s foi poss vel uma vez que esse ambiente j vem sido cuidado a anos tal como poss vel notar a partir dos trabalhos de D S Careta 2006 2011 cujas interven es foram realizadas na mesma institui o onde R mulo est acolhido Por fim foi partindo da sensibilidade do analista em perceber a import ncia em se construir uma ponte entre as necessidades da crian a e as potencialidades das cuidadoras incluindo a assitente social que o ambiente foi capaz de tornar se suficientemente bom Refer ncias Bibliogr ficas CARETA D S An lise do Desenvolvimento Emocional de G meos Abrigados no Primeiro Ano de Vida Encontros e Diverg ncisa sob a Perspectiva Winnicottiana 2006 Disserta o Mestrado em Psicologia Instituto de Psicologia Universidade de S o Paulo S o Paulo 2006 CARETA D S Quando o Ambiente o Abrigo Cuidando das Cuidadoras de Crian as em Acolhimento Institucional 2011 Tese Doutorado em Psicologia Instituto de Psicologia Universidade de S o Paulo S o Paulo 2011 ESTATUTO DA CRIAN A E DO ADOLESCENTE LEI Lei 8 069 de 13 de julho de 1990 com as modifica es introduzidas pela lei 12 010 de 6 de agosto de 2009 FAIRBAIRN W Estudos Psicanal ticos da Personalidade Rio de Janeiro Interamericana 1980 Original publicado em 1952 FORLENZA NETO O As principais contribui es de Winnicott pr tica cl nica
397. o de Sa de de Pinheiros que possui v rias especialidades m dicas e n o m dicas Institui o Estadual de Sa de que contempla as diretrizes do SUS Contamos com neurologistas psiquiatra infantil psic logos fonoaudi logas assistente social e outros que reencaminham e acompanham alguns casos de forma multidisciplinar Percebemos que cada vez mais chegam crian as pequenas de 3 a 7 anos de idade sendo consideradas pela creche escola e outras institui es casos que necessitam de atendimento psicol gico e s vezes de medica o A diversidade sintom tica ampla crian as que n o desenvolveram a linguagem se comunicando atrav s de gestos crian as com suspeita de autismo ou de psicose inibi es comportamentais e cognitivas agita o agressividade enurese encoprese quest es sexuais e queixas m ltiplas referidas ao contexto escolar Como dar conta desta complexidade cl nica na institui o O analista mesmo n o tendo as condi es dos pacientes adultos neur ticos trabalha com a transfer ncia que consiste no manejo das situa es favorecedoras de constru o ps quica para o surgimento do sujeito onde novos sentidos v o marcando processos singulares e novas hist rias s o constru das de si e do seu entorno familiar O endere amento pulsional que a crian a faz ao analista permite que o traum tico e o sofrimento manifestados na cena anal tica muitas vezes no brincar ora nos desenhos ora na escrita ou n
398. o do pai no conto de Guimar es Rosa que escreve o conto Um pouco mais complexo que isso Mas como escrever essa letra que se efetua nesta cl nica H um fato que testemunhei muitas vezes como orientadora de teses e disserta es no programa de p s gradua o do Instituto de Psicologia da USP Trata se da possibilidade de acontecer que um colega que vem trabalhando em institui es como um CAPS procure a p s gradua o para escrever sobre um caso que atendeu ou que est atendendo Tenho entendido que este movimento acontece a servi o da pr pria cl nica e tenho aceitado orientar esse tipo de pesquisa Proponho aqui que o profissional fazendo assim efetua um movimento que completa aquele que foi iniciado no ato do paciente a voz ou o texto do profissional que vai p r na letra escrever aquilo que comparece como ato do lado de seu paciente Ent o pode se supor um sujeito na psicose e tamb m uma transfer ncia Mas est em jogo uma subjetividade que neste caso n o necessariamente pessoal como afirma Roland Lethier Uma subjetividade que precisa se apoiar nesta rela o entre estas pessoas para poder advir E ent o j n o se trata de saber o que de quem mas como disse Guy le Gauffay em seu semin rio de saudar o sujeito que aparece neste clar o de um instante no vazio do verbo ser Mas como exercer essa cl nica assim t o complexa que se apoia numa modalidade de transfer ncia em que o analista ir fazer
399. o e engrandecimento Sem d vida estamos descrevendo o percurso de sucesso que nos norteia na condu o do psicodiagn stico mas muitas vezes n o conseguimos alcan ar satisfatoriamente estes objetivos Intercorr ncias como dificuldades com o grupo de estagi rios tanto na rela o dos estagi rios entre si quanto na rela o com os pacientes e com o pr prio supervisor dificuldades no relacionamento entre os pacientes dificuldades de calend rio tendo em vista os atravessamentos institucionais e dificuldades na pr pria compreens o da problem tica apresentada pelo paciente uma vez que o supervisor tanto tem uma rela o direta com o paciente quanto uma rela o atrav s dos estagi rios que respondem pelo caso e muitas vezes precisamos nos satisfazer com os fatos cl nicos reunidos por precisar adequar o n mero de procedimentos ao cronograma de uma cl nica escola s o alguns dos fatores que costumam interferir para que o paciente alcance uma experi ncia completa podendo se despedir do psicodiagn stico sem continuar transferencialmente ligado ao supervisor e estagi rios que conduziram o processo 3 Realizamos a devolutiva final para a crian a atrav s da constru o de uma hist ria romanceada sobre a pr pria crian a assumindo a proposta de Winnicott 1971 de que as interpreta es devem respeitar o tempo do paciente n o sendo in vasivas Assim a devolutiva atrav s da hist ria permite crian a identificar se com o per
400. o est em cada um dos elementos mas sim nas possibilidades de articula o de novas pontes simb licas e na sua combinat ria possibilidades estas que n o se pode dizer que antecedem o fen meno produzido Como escreveu a autora as representa es coisa s o recapturadas no trabalho anal tico mediante a livre associa o Os signos de percep o requerem a constru o de um entramado entretecido no qual o analista ajuda a articular simboliza es faltantes E complemento citando a proposta de Sara e Cesar Botella de que a a evolu o do tratamento e mais amplamente do psiquismo dar se ia na articula o de duas realidades ps quicas de um lado retirada dos recalques com o levantamento de suas causalidades temporais e do desejo infantil do outro opera es de causa o criadoras de sentido nessa conflu ncia entre sentido do passado e sentido por vir que se qualificaria a natureza processual do tratamento anal tico Retomando o caso Igor continuo os atendimentos com momentos de ang stia dificuldades t cnicas e incertezas do progn stico Tento ajud lo a constituir o dentro e o fora de seu psiquismo contudo minhas dificuldades s o muitas em meio ao caos de seu funcionamento Cito como exemplo uma sess o recente em que ele inventou um jogo de futebol no quadro branco mandando que eu desenhasse os jogadores com a caneta preta e come ou a desenhar jogadores com outra caneta tamb m preta
401. o inicial t o somente aspectos psicopatol gicos Isto porque Winnicott teria sido capaz de olhar e ver o que de fato havia de saud vel na psique da menina e em seu meio ambiente imediato bem como de lidar por meio do manejo management com dois obst culos concretos que pareciam se opor a realiza o do tratamento Um destes digamos seria de ordem espacial uma dist ncia consider vel separava a resid ncia de Piggle e sua fam lia do consult rio londrino do analista fato que inviabilizava de acordo com Winnicott a utiliza o do m todo de sess es di rias cinco vezes por semana method of the daily session five times a week Op cit p 3 O outro obst culo digamos seria de ordem temporal conforme declarou em uma carta por ele enviada aos pais de Gabrielle Op cit p 86 Winnicott n o dispunha na ocasi o de vaga vacancy para um novo caso No que se refere aos aspectos saud veis que conforme sugerimos a pouco estariam presentes na avalia o winnicottiana do caso preciso reconhecer antes de mais nada que Winnicott dispunha de um conceito de sa de ps quica do indiv duo ao passo que igualmente fazia refer ncia sa de em termos do meio ambiente facilitador 1971f 1967 Grosso modo a sa de ps quica do indiv duo se relaciona em Winnicott id ia de maturidade apropriada idade cronol gica e no que se refere ao ambiente parece estar vinculada
402. o lugar da demanda na an lise com crian as Demanda e transfer ncia surgem simultaneamente e desse surgimento que resultar ou n o a viabilidade de uma an lise acontecer nesse encontro que um pedido poder ser formulado e escutado A cl nica psicanal tica com crian as pressup e uma singularidade a crian a fala por seu sintoma como uma forma de se fazer ouvir assim n o apenas ela que se apresenta a n s Trabalhamos com v rios daqueles que se propuserem a falar sobre o sintoma e a crian a buscando desvendar sua mensagem cabendo ao analista suportar a transfer ncia n o apenas com a crian a mas tamb m com seus pais e outros respons veis por ela Propomo nos a escutar os pais ou respons veis de uma crian a tentando saber o que querem e como compreendem os sintomas de seu filho Essa escuta nos d elementos que nos possibilitam inferir sobre sua posi o na estrutura familiar Mas e quando esta configura o se apresenta com uma complexidade tamanha e que n o se faz presente no trabalho Como inferir sobre a posi o da crian a na estrutura familiar Trabalhamos com aqueles que pedem em nome da crian a e tentamos acessar aqueles que pela falta se fazem presentes Mas que lugar a crian a ocupa no desejo de cada uma dessas pessoas De que lugar o analista os escuta Como essas quest es se expressam na transfer ncia com o analista A partir do caso de Boris um menino de 11 anos que fora adotado aos 5 mese
403. o mental diferente do seu pr prio dificultaria toda tentativa de encontro intersubjetivo Aitken e Trevarthen 2003 Exporemos aqui algumas passagens que podem melhor ilustrar o que acabamos de formular Trata se de duas brincadeiras que se repetem e evoluem ao longo do tempo brincadeiras que Christian introduz com v rios interventores o bal o salsicha e o pe o Os trechos aqui transcritos s o registros de sess es redigidas pelos diferentes interventores Bal o salsicha 26 de mar o dupla EC Christian pega os bal es em forma de salsicha para fazer um combate de espadas conosco mas novamente tomado pela excita o Sua excita o o desorganiza e desencadeia estereotipias preciso falar e lhe propor algo para que ele saia da excita o C lhe diz que na verdade esses bal es parecem salsichas ent o ele come a a comer as salsichas acrescentando alguns detalhes a vermelha era apimentada e uma outra tinha pele e o incomodava da C faz de conta que tira a pele e a devolve para Christian 30 de mar o dupla CL Christian se levanta e pede a caixa de comidinhas que est no arm rio Nesta brincadeira Christian retoma o tema habitual dizendo est muito quente est queimando ao pegar um alimento Fico surpresa de notar que ele quem me guia na brincadeira e quem introduz o pur que est muito quente e uma salsicha ele me entrega um bal o comprido 116 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LIS
404. o modelo de consultas terap uticas conforme proposto por Winnicott e ampliado por Lebovici A proposta de um trabalho de interven o precoce est apoiado no reconhecimento da import ncia das rela es iniciais na constitui o do psiquismo que tem sido amplamente reconhecida pela psican lise Referindo se ao que chamou de Sua majestade o beb um estado de onipot ncia infantil que funciona como contraponto de seu intenso desamparo de origem Freud introduz uma nota de rodap na qual coloca que uma fic o como esta s poss vel se se considera a exist ncia de uma m e Est marcada desde a a import ncia da figura materna para ancorar o desenvolvimento infantil impedindo que seu beb ainda precariamente constitu do se veja precocemente imerso no desespero de seu desamparo O papel dos pais neste per odo tem sido destacado por diversos autores que apontam para o risco e o impacto sobre o psiquismo infantil da prematura experi ncia do desamparo e da depend ncia Nesta dire o de pensamento os autores cada um sob seu v rtice de observa o t m teorizado sobre a fun o do objeto primordial neste processo amparando com seu pr prio psiquismo a crian a evitando assim que o aparelho mental da crian a ainda prec rio n o tenha que se haver com ang stias insuport veis Ao oferecer contin ncia ao desamparo infantil experienciado como intoler vel pelo beb os pais acolhem uma primeira forma de comunica
405. o que aconteceu mais tarde com ela foi um processo que talvez possa ser observado fora da hist ria pol tica com uma frequ ncia que nos interesse Aos quatro anos de idade uma paciente j estava pronta a mostrar me como esses processos funcionam atrav s de seus desenhos Voltaremos foto e ao p dio de madeira mas antes temos que acompanhar os desenhos de Natalina Ela chega ao consult rio vestindo uma saia rosa plissada os cabelos encaracolados est o presos por grampos Olha me com curiosidade e solta a m o de sua m e Fica na ponta dos p s a m e agacha se e a menina sussurra lhe algumas palavras que n o escuto A m e avisa me que a filha concordou em ficar longe dela durante a sess o e sai fechando a porta atr s de si Pergunto crian a se ela sabe por que est ali Ela responde que sim Fa o a pergunta num tom de voz normal j a resposta de Natalina baixa Estranha sensa o esta de falar e ouvir do interlocutor algo que mal escuto Pergunto o porqu de sua vinda 1 Psicanalista membro do Departamento de Psican lise do Instituto Sedes Sapientiae doutora pelo Instituto de Psicologia da USP professora convidada nos Curso de Teoria Psicanal tica do COGEAE PUC e do Curso de Psicopatologia e Sa de Mental da Faculdade de Sa de da USP autora dos livros Paran ia e Cena Incestuosa da cole o Cl nica Psicanal tica da Ed Casa do Psic logo 2 Psicanalista mestrando no IPUSP com bolsa FAPESP especialista em
406. o que poderia fazer para garantir um m nimo de sa de mental para essas crian as Algumas vezes conseguir que o cuidador ou vizinho leve a crian a a um outro servi o j pode ser de grande valia Para tanto preciso mapear os atores do territ rio com os quais a escola poderia contar A Unidade B sica de Sa de UBS especialmente se for PSF pode ser um grande parceiro mas poss vel pesquisar tamb m pela exist ncia de algum CEU Centro de Conviv ncia Centro da Crian a e Adolesc ncia CCA SESC e servi os filantr picos mais diversos at chegarmos s Secretarias de Assist ncia Social ambulat rios psicol gicos e conselhos tutelares Em suma encontrar os parceiros aptos a ajudar no cuidado da crian a e da fam lia Mais uma vez a ideia que quanto mais dif cil o caso maior a import ncia das parcerias e da circula o pelo territ rio A ideia fundamental portanto superar um discurso preso s dificuldades do caso em dire o valoriza o das potencialidades advindas com o fomento aos deslocamentos geogr ficos e discursivos 55 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Carta a um jovem paciente Daniele John Palavras chave transfer ncia negativa fort da repeti o manejo Voc tinha 9 anos quando chegou aqui e dentro de voc havia uma guerra Voc n o demorou para me mostrar isso abrindo todas as caixas de jogos e brinquedos e joga
407. o refer ncia a classifica o sugerida por Racker 1982 Winnicott pertenceria ao segundo grupo de analistas por considerar a transfer ncia fen meno fundamental para o estabelecimento do espa o potencial entre paciente e analista Nele atrav s do trabalho do analista o n o acontecido pode acontecer ou seja poss vel viver uma experi ncia e retomar o desenvolvimento Percebemos ent o que h diferen as entre a cl nica cl ssica e a de Winnicott que adota um conceito fenomenol gico e temporal no qual evolui o desenvolvimento do ser humano e o faz de acordo com o aux lio do meio ambiente As diferen as te ricas resultantes de uma nova compreens o da transfer ncia resultam em mudan as no setting terap utico com um novo enfoque ao trabalho cl nico A cl nica Winnicottiana de fato n o cl nica do significado mas a cl nica do acontecimento N o a cl nica do reprimido mas a cl nica do n o acontecido N o a cl nica do inconsciente mas a cl nica do a consciente e do a inconsciente Revelou se para mim tamb m que se tratava de uma cl nica em que a concep o de transfer ncia sofria uma transforma o profunda A transfer ncia n o mais poderia ser compreendida como fruto de um deslocamento ou da identifica o projetiva Trata se de uma transfer ncia norteada pela busca do n o acontecido Safra 2007 Ent o para Winnicott que considera o setting met fora dos cuidados maternos o analista na
408. o sonho no teatro da an lise Rev bras psican l S o Paulo 41 3 pp 51 68 Cassorla R M S 2008 The analyst s implicit alpha function trauma and enactment in the analysis of borderline patients Intern Journal of Psycho analysis 89 pp 161 180 Freud S 1980 A din mica da transfer ncia In Jayme Salom o tradu o Edi o Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud Vol 12 pp 133 148 Rio de Janeiro Imago Editora Trabalho original publicado em 1912 Hoffman C D Sweeney D P Hodge D Lopez Wagner M C amp Looney L 2009 Parenting Stress and Closeness Mothers of Typically Developing Children and Mothers of Children With Autism Focus On Autism And Other Developmental Disabilities 24 3 178 187 Lerner R 2011 Indicadores cl nicos de risco para o desenvolvimento infantil verifica o da capacidade discriminativa entre autismo retardo mental e normalidade Tese Livre Doc ncia Instituto de Psicologia Universidade de S o Paulo S o Paulo Brasil Montes G amp Halterman J S 2007 Psychological functioning and coping among mothers of children with autism A population based study Pediatrics 119 5 E1040 E1046 Quintero N amp Mcintyre L L 2010 mar o Sibling Adjustment and Maternal Well Being An Examination of Families With and Without a Child With an Autism Spectrum Disorder Focus Autism Other Dev Disabl 25 1 37 46 Racker H 1982 Estudos s
409. o trabalho cl nico a fazer N o pudemos atender 34 casos que se inscreveram em nosso projeto a partir do ano de 2005 por falta total de infraestrutura Situa o lament vel mas que diz do fato de que o projeto pegou foi tomado como refer ncia para a indica o de pacientes Foram defendidas na poca 6 disserta es de mestrado e duas teses de doutorado fruto do trabalho desenvolvido em nosso laborat rio Ainda hoje h teses nascidas ou desenvolvidas no laborat rio que est o sendo conclu das Desenvolveram se est gios de alunos de gradua o e tamb m de profissionais j experientes Esse trabalho desenvolveu se em um clima de grupo no qual as crian as participaram em uma posi o diversa nova para elas pois no projeto TECER elas n o eram pacientes N s conseguimos realizar o grupo que pretend amos E houve sim muitos mal entendidos o pre o a pagar pelo caminho que escolhemos que toma partido do equ voco e do mal entendido propiciado pela visada do significante N o poderia ter sido diferente Pode se notar muito nitidamente creio eu que o trabalho que foi desenvolvido neste projeto n o prescinde e nem colide com o trabalho feito pela escola ou pelo m dico que se ocupam da crian a Penso que a proposta desta forma de trabalho deve ser suportada feita em colabora o com a escola e com os diversos profissionais que se ocupam de crian as e de suas necessidades Creio tamb m que este tipo de trabalho pos
410. obre t cnica psicanal tica Artes M dicas Porto Alegre Zaslavsky J amp Santos M J P 2005 Contratransfer ncia em psicoterapia e psiquiatria hoje Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul 27 3 pp 293 301 215 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Aspectos transferenciais na cl nica com crian as que apresentam risco psic tico Silvana Rabello Palavras chave Transfer ncia Psicose Crian as T cnica Esta apresenta o pretende compartilhar algumas reflex es acerca dos aspectos transferenciais vividos na experi ncia cl nica com crian as que apresentam risco psic tico Partilhamos com Jerusalinsky 1993 Bernardino 2000 Kupfer 2010 Vorcaro 2009 e Laznik 2004 da compreens o de que podemos encontrar no tratamento de crian as aquelas que estariam em uma indecis o estrutural entre neurose e psicose quadro cl nico entendido como psicose n o decidida Nesta configura o os aspectos transferenciais trazem os instrumentos fundamentais ao psicanalista para armar sua compreens o acerca do impasse subjetivo em quest o produzindo questionamentos acerca do posicionamento t cnico Neste trabalho pretende se delinear os aspectos vividos nesta cl nica atrav s da apresenta o de alguns casos cl nicos trazendo elementos que alimentem esta discuss o do ponto de vista te rico e t cnico 1 Psicanalista doutora em Psicologia Cl nica pela
411. ocava nas entrelinhas da din mica familiar mostrando se bastante sens vel e precisando ser acolhida recorrendo cama dos pais durante noite Embora tenham mencionado uma crise que chegara a aventar a hip tese de uma separa o o casal quando do encontro conosco j havia se restabelecido e mostrava ter condi es at mesmo de compreender o que parecia estar acontecendo emocionalmente com a filha Pensamos que eles tamb m tiveram conosco um movimento de reasseguramento frente ao desenvolvimento que pareciam experimentar nas v rias dimens es da fam lia casal e individual porque no final desse encontro Marcos expressa seu desejo de ter mais um encontro conosco mas na data marcada eles se esquecem do hor rio e quando falamos ao telefone Flora diz que estavam podendo resolver as quest es que se colocavam e que talvez pudessem seguir agora sem nossa ajuda 22 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A interven o precoce em situa es de dificuldades alimentares criando condi es de comunica o Audrey Setton Lopes de Souza Instituto de Psicologia USP Instituto Sedes Sapientae e SBPSP Magaly Miranda Marconato Callia Instituto Sedes Sapientae e SBPSP Palavras chave Consultas terap uticas Interven o precoce Rela o pais beb s Dist rbio Alimentar Este trabalho apresenta o relato cl nico e a discuss o de um atendimento conjunto pais beb apoiado n
412. ola e n o se acalma apesar de contar com pais dedicados e dispon veis Que fantasmas Fraiberg 1975 assombram o quarto do beb 1 Psicanalista Membro do Departamento de Psican lise de Crian a do Instituto Sedes Sapientiae e Professora do curso de Introdu o Interven o na Rela o Inicial Pais Beb Mestre em Psicologia da Educa o e Doutora em Psicologia Cl nica pela PUCSP P s doutora pela PUCSP Membro Efetivo analista de crian a e adolescente da SBPSP Coordenadora da Cl nica O a 3 da SBPSP mcpsilvogmailcom 2 Esse atendimento foi realizado por Maria Cec lia Pereira da Silva e Magaly Miranda Marconato e filmado por Mari ngela Mendes de Almeida 3 Esse atendimento foi realizado por Maria Cec lia Pereira da Silva e Mari ngela Mendes de Almeida 139 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as H algum inc modo f sico H algo que n o esteja funcionando bem O que reclamam Alvarez 1994 esses beb s E os pais chegam como canta Dolores Duran querendo a paz de crian a dormindo Em geral no exame pedi trico nada se encontra De fato a dificuldade de se acalmar e dormir o choro intenso antes de tudo uma solicita o que mobiliza os pais e profissionais a se voltarem ao beb imaginando quais possam ser suas poss veis necessidades O beb inconsol vel angustia os pais e toda a fam lia Silva amp Mendes de Almeida 2009 De outro lado cada
413. olocar se no lugar do objeto subjetivo implica tamb m a capacidade de poder jogar de viver dentro do espa o potencial Safra 1999 pg 99 Portanto a an lise s poss vel se houver a capacidade tanto do analista quanto do paciente de vivenciar o espa o potencial isto utiliz lo como um espa o de co cria o numa verdadeira comunica o entre ambos Winnicott 1971 Oficina Boneca Flor A confec o da Boneca Flor foi inicialmente idealizada por Fran oise Dolto 1949 1993 para o Uso com seus pacientes regredidos com o objetivo de emergir conflitos primitivos J a nossa proposta da Oficina Boneca Flor tem como objetivo oferecer um ambiente terap utico de cuidado com base nas propostas dos trabalhos desenvolvidos por Aiello Vaisberg e Granato 2004 e no modelo de interven o das Consultas Terap uticas Winnicott 1971a 1984 A Oficina prop e a confec o de uma boneca de pano com cabe a vegetal num contexto de grupo com o prop sito de abranger um n mero maior de benefici rias O encontro do grupo ocorre uma vez por semana com dura o de uma hora em m dia por tr s meses A popula o atendida caracterizada por prec rias condi es socioecon micas onde o ambiente se caracteriza pela desconfian a e desamparo o que dificulta a express o da subjetividade atrav s da fala Portanto o uso da materialidade Boneca Flor pode auxiliar na express o genu na do self e integra o dos estados emociona
414. ologia Cl nica da Universidade de Bras lia Coordenadora do Laborat rio de Psicopatologia e Psican lise Membro fundador das Associa es Brasileira para o Avan o Conjunto da Filosofia Psicopatologia e Psicoterapia ABRAFIPP Brasileira de Neurologia Psiquiatria e Profiss es Afins ABENEPI e da Brasileira de Estudos sobre os Beb s ABEBE 2 TAFURI M I Dos sons palavra explora es sobre o tratamento psicanal tico da crian a autista Bras lia Positiva 2003 149 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as mu mu em contato estimular a crian a nomear comportamentos pouco representativos como habitualmente tentamos fazer frente a uma crian a isolada N o o analista que precisa acessar a crian a por meio de a es f sicas e verbais Por mais enigm tico que seja o lugar do analista o de estar l para ser encontrado o de ser afetado por signos sens veis Atualmente possu mos uma casu stica de crian as autistas atendidas por meio da t cnica da imita o na cl nica escola do Instituto de Psicologia da Universidade de Bras lia CAEP Foram defendidas desde 2005 v rias disserta es de mestrado e teses de doutorado sobre o tema Lazary 2005 Abreu 2007 2012 Benjamim 2007 Coelho 2007 Ara jo 2008 Parra 2008 Janu rio 2008 2012 Em linhas gerais podemos dizer que as crian as autistas quando imitadas por seus terapeutas e t
415. ologia do Instituto de Psicologia da USP Brasil Coordenadora do LAPECR USP ivonisel814Oterra com br 188 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Winnicott 1950 2002 ressalta que a crian a vitima de priva o de um ambiente favor vel no in cio de vida est doente isto porque a a o ambiental saud vel favorece o desenvolvimento das potencialidades para a sa de do indiv duo Careta 2011 p 24 O presente estudo visa frisar a import ncia de um ambiente humano favor vel em institui es para o acolhimento de beb s para que assim o desenvolvimento destas crian as possa ocorrer de forma plena rumando sa de mental Para ilustrar a necessidade apontada apresentamos um recorte de um caso cl nico sobre um beb institucionalizado O ambiente de holding fez se imprescind vel no ambiente psicoter pico apontando para necessidade de manejo de setting importante ressaltar que os atendimentos aconteceram na institui o Trata se de nos adequar realidade do contexto Dessa forma o manejo de setting estabelece se atrelado aos enquadres diferenciados Careta 2011 Apresenta o A institui o em que os atendimentos aconteceram um abrigo para o acolhimento de crian as e adolescentes em situa o de risco instalado na regi o do grande ABC BRASIL Esta entidade acolhe crian as em situa o de abandono orfandade e aquelas afastadas de seus lares
416. oltando para os carrinhos expostos na estante Jogou os no ch o e come ou a moviment los silenciosamente sem olhar para ningu m Deitei me no ch o acompanhando o movimento da crian a que estando com bra o sob a cabe a movimentava em vai e vem um pequeno carrinho Ele acompanhava atentamente as rodas do carrinho como que enfeiti ado pelo movimento delas Estando ao lado dele ao tempo em que reproduzia o mesmo movimento da crian a pedia aos pais para falarem deles mesmos Dessa forma acompanhando a crian a em seu fluxo sensivel feito de movimento ritmos e sons eu ouvia a hist ria de vida dele e a dos pais 150 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Passados os primeiros trinta minutos convidei os pais para brincarmos juntos imitando o comportamento de Abel Disse a eles que se tratava de uma pr tica simples e aparentemente banal contudo valiosa para o entendimento das crian as Os pais por j terem estabelecido mesmo antes de me conhecerem uma rela o transferencial positiva se mostraram dispon veis para ficarem em sil ncio sem solicitar nada da crian a Eles se sentaram no ch o junto crian a e come aram a imit la Ficamos em sil ncio movimentando os carrinhos da mesma maneira que a crian a durante pelo menos quinze minutos Nesse per odo Abel permaneceu colado aos objetos procurou pegar outros brinquedos sem expressar nenhum som e sem olhar
417. om crian as Refer ncias Bibliogr ficas Aiello Vaisberg T M J 1997 Investiga o de representa es sociais In Trinca W Org Formas de Investiga o Cl nica em Psicologia pp 255 288 S o Paulo Vetor 2004 Ser e Fazer Interpreta o e Interven o na Cl nica Winnicottiana In Ser e Fazer Enquadres Diferenciados na Cl nica Winnicottiana pp 23 58 Aparecida SP Id ias e Letras Bleger J 1984 O psic logo cl nico e a higiene mental In Psico Higiene e Psicologia Institucional pp 20 30 Porto Alegre Artmed Introdu o In Psico Higiene e Psicologia Institucional pp 15 17 Porto Alegre Artmed Careta D S 2006 An lise do desenvolvimento emocional de g meos abrigados no primeiro ano de vida encontros e diverg ncias sob a perspectiva winnicottiana Disserta o de Mestrado Instituto de Psicologia Universidade de S o Paulo S o Paulo Dispon vel em www teses usp br 2011 Quando o ambiente o abrigo cuidando das cuidadoras de crian as em acolhimento institucional Tese de Doutorado Instituto de Psicologia Universidade de S o Paulo S o Paulo Dispon vel em www teses usp br Winnicott D W 1962 1983 Os objetivos do tratamento psicanal tico In O ambiente e os processos de matura o pp 152 155 Porto Alegre Artmed 69 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A import ncia da recusa em an lise com cr
418. om tal sentimento compreendo o Ela olhava para o rosto me perguntava a que sentimento se referia me pedia para repeti lo e o repetia Em seguida convers vamos sobre situa es associadas a tal sentimento Aos poucos passou a n o precisar mais das imagens detectando estados de esp ritos em mim e contando como se sentia em situa es sobre as quais convers vamos Considero ser frequente que per odos de enactment cr nico englobem brincadeiras que a crian a at ent o refrat ria ou extremamente aderida inicialmente tolera depois interage at vir a solicitar Quando a crian a fala em tais momentos s o referidas fantasias de fragmenta o do corpo de aniquilamento de temor quanto a n o saber onde terminam suas extremidades corporais e de del rios paran icos Tais situa es dependem muitas vezes de uma atitude ativa e arriscada do analista engendrando algum enactment agudo 213 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as que permite a constru o de algo novo a partir do que se experimentou e consolidou se o trabalho de elabora o do trauma Cassorla 2008 no caso do autismo da destrutividade da tend ncia desconex o A tend ncia de desconex o da crian a tem sobre os pais efeitos traum ticos que se expressam como ansiedade persecutoriedade e depressividade Montes e Halterman 2007 Hoffman Sweeney Hodge Lopez Wagner e Looney 2009 Benson 2007 Quint
419. onado para a inclus o e participa o dos pais em qualquer trabalho psicoter pico realizado Na pr tica cl nica com crian as e adolescentes o contato e resgate com vivencias e experi ncias positivas da pr pria inf ncia desde as mais pret ritas tem se mostrado ser aspecto vital tanto para os pais quanto para os filhos Comunica o e contato com experi ncias pret ritas quando fomos beb s crian as adolescentes e fomos acompanhados por pais ou adultos nos propiciando cuidados necess rios e imprescind veis caracterizados por confian a e seguran a semelhante um colo que nos segura de maneira cuidadosa e firme tem mostrado ser o caminho que possibilita o encontro com condi es favor veis ao desenvolvimento ps quico Aproximar se da pr pria inf ncia tornou poss vel resgatar relacionamentos onde h espa o para momentos prazerosos entre pais e filhos Foi poss vel resgatar aspectos positivos dos filhos construindo uma vis o mais integrada com os aspectos negativos Foi bastante significativo a percep o dos pais que as mudan as dos filhos dependem de uma mudan a do adulto 111 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Levando se em considera o a import ncia do ambiente na constitui o e desenvolvimento ps quico o trabalho cl nico particular individual e o trabalho cl nico institucional em grupo com crian as adolescentes e pais v m confirmar o quanto inte
420. onais ou outras crian as na enfermaria Nesse primeiro momento Paula mant m seu discurso atrelado aos fatos para evitar falar sobre os afetos mant m a filha como objeto de cuidados e n o como objeto f lico n o parece haver a possibilidade de um investimento libidinal Depara se com um sentimento acentuado de culpa por ter abandonado sua filha mais velha no Cear com o pai e a av paterna assim como por abandonar Helo sa quando vai at a casa de apoio O significante abandono emerge vinculado ao sentimento de Paula por sua pr pria m e de quem se recorda vagamente e relata que esta a abandonou aos cuidados da av paterna e do pai tal qual ela em rela o sua filha mais velha Essa a associa o que Paula faz o abandono f sico como representante de uma aus ncia de lugar simb lico Aos poucos come o a propor brincadeiras e conversas Helo sa enquanto a m e lhe cal a o sapato cumprindo esta necessidade sem atribuir qualquer sentido ao ato eu nomeio Olha seu sapato Dias depois ela quem me surpreende Olha o seu sapato Esse meu convocando me para a brincadeira j sob transfer ncia Paula traz ent o a angustiante possibilidade de perder a filha numa dupla vertente a percep o da gravidade da doen a e enquanto objeto dos cuidados com os quais se ocupa Helo sa convoca tamb m sua m e a brincar Cad o sapato da mam e Paula come a a se reposicionar diante
421. ontato frequente com as crian as levando as quinzenalmente para passar parte do final de semana com ele Assumiu tamb m trazer o filho para o atendimento grupal quando este foi prescrito Pelo lado da m e na medida em que come ou a configurar o pacto inconsciente de seu casamento ela passou a lidar melhor com os ci mes do ex marido sem ficar tomada pelas cenas que ele a submetia e s crian as Embora ela ainda se queixasse com raz o de sua pouca contribui o e participa o em todos os sentidos Paralelamente eu ia periodicamente escola e realizava reuni es com sua professora a coordena o pedag gica e os demais docentes Depois de uns oito meses de escuta desta fam lia Leo me surpreendeu fazendo jogos de triangula o com os adultos Eram jogos elementares que colocavam em pauta com quem ele escolheria ficar ou passear de m os dadas Comecei a propor que alternadamente nossos encontros fossem individuais Em geral nestes encontros ele queria andar de carro ou de motoca pelo CAPsSi Havia um carro prata com o eixo da dire o quebrada pelo qual ele tinha especial paix o Ele brincava de ir e vir escolher e decidir Em um encontro conjunto o pai relatou sua paix o por autom veis e motos Ele tinha um caminh o e uma moto O fato de n o ter um carro era atribu do pelo pai como empecilho para estar mais com as crian as ou auxiliar nos tratamentos de sa de dos filhos Sua outra filha fazia um tratam
422. or ouvir nela mais do que erro ou imperfei es mas trabalho de elabora o e sentido tamb m d sustenta o para que mudan as se processem V se no caso de Bernardo a rela o altamente investida da m e com a fala de seu filho seus ouvidos precisos para apreender toda altera o na flu ncia tamb m se aplicavam a estranhar a curva mel dica da voz de seu marido uma das marcas sensoriais mais penetrantes na experi ncia amorosa e vista por ela como afetada O modo como o pai de Bernardo ficou submetido ao fr gil reconhecimento da esposa indicia dificuldades importantes para sustentar seu pr prio valor que certamente contava com outras ra zes em sua hist ria No que concerne aos fatos descritos o pai era muito competente profissionalmente atento presente e bastante arrojado em tomar atitudes que pudessem deixar a m e mais feliz parte isso em quase todos os contatos com os pais permanecem saberes separados discursos imperme veis um ao outro embora conversassem n o se escutavam N o havia a constru o conjunta de uma percep o de ambos a respeito 3 Suportar a presen a de uma aus ncia seria a condi o segundo S o Tom s de Aquino apud Garcia Roza 1992 172 para al ar o conhecimento O desconhecimento a presen a de uma aus ncia Diferente do desconhecimento a igno r ncia o vazio A ignor ncia corresponderia posi o psic tica gerada pela car ncia do significante Nome d
423. oria dos envolvidos existia a cren a de que a fam lia seria o nico lugar poss vel para o afeto e para um desenvolvimento saud vel para os profissionais do abrigo todas as manifesta es negativas de Elias seriam anuladas pelo afeto que ele receberia na fam lia adotiva Demonstram dessa forma pouco reconhecer os v nculos afetivos que estabelecem com E levando o a n o valorizar as rela es que ele vivencia no abrigo Os profissionais da Vara da Inf ncia agiram de forma a agilizar os processos de ado o pois sabem que as crian as de pouca idade t m mais chances de serem adotados As fam lias candidatas movidas pelo desejo de adotarem e pelo desejo dos profissionais da Vara e da unidade de acolhimento de colocarem a crian a em uma fam lia acabam refletindo pouco sobre suas d vidas incertezas questionamentos e sobre o que uma ado o mobiliza em todos os sujeitos envolvidos A crian a explicitava seu desejo de ir para a fam lia candidata mas por motivos que respondem sua hist ria de abandono e ruptura assim que se via l portava se de modo a tornar bastante dif cil sua perman ncia o que acabou culminando em repetitivas devolu es Assim apesar dos ineg veis avan os alcan ados ap s a promulga o do ECA constatamos que muitos profissionais das unidades de acolhimento ainda se v em de forma desvalorizada e desqualificada e com a fun o de agilizar o encaminhamento dessas crian as para as fam
424. orma o com o professor pode prepar lo para acolher um comportamento inesperado Novamente n o se trata de procurar uma continuidade entre a crian a e seu meio naturalizando suas a es mas de compreender o pano de fundo do qual ela se destaca com o qual dialoga e constitui resist ncias e interpreta es singulares Em suma est em quest o o n o saber dos profissionais e como isso implica a necessidade constante da circula o de saberes no interior da institui o A circula o da crian a pela institui o e fora dela Outro ponto bastante comum com as crian as problema em institui es prec rias o surgimento do m rtir ou her i da vez Normalmente aquele funcion rio que se destaca pela firmeza na imposi o dos limites ou pela paci ncia e compaix o ao lidar com as crian as dif ceis Via de regra esse funcion rio desobriga os colegas da tarefa de se relacionar com a crian a Essa quest o emerge quando a crian a passa para uma serie em que n o mais ter contato com o tal funcion rio ou quando este sai da institui o criando o problema de se encontrar um substituto A regra de ouro aqui que quanto mais dif cil for o caso mais gente precisa estar envolvida compartilhando dificuldades e estrat gias Assim na escola mais gente ter de encontrar um jeito de se conectar com a crian a de criar afinidades e interesses comuns e ningu m ficar com o terr vel peso de enfrentar o caso sozinho A
425. os ps quicos Terapeuta M O Marcos trouxe aqui um aparelho pra gente ver se est tudo bem estetosc pio Quer que eu veja se est tudo bem com o Marcos Colocando o estetosc pio sobre o peito da crian a que parece bem interessada neste exame que realizamos ali no grupo de como eles est o se sentindo Conversando com o grupo na linguagem l dica da crian a entrando na brincadeira Vamos ver se est tudo bem Oi t tudo bem com voc Marcos Voc est se sentindo bem Associando o f sico e o emocional Que bom que voc voltou mais cedo at do que voc tinha dito Haviam avisado que iriam faltar duas sess es e hoje ainda estariam viajando Voc s iam viajar A viajem foi boa Demonstrando registro e valorizando comunica es do Grupo para o Grupo reafirmando o setting Marcos vai em dire o m e com o brinquedo M e do Marcos Na segunda semana que foi a semana passada ele ficou com febre a semana todinha 38 Terapeuta M Ah ent o acho que o Marcos est contando isso pra gente Legitimando o brincar como comunica o Terapeuta I olha ele veio com o aparelho n Explicitando o nosso movimento mental M e do Marcos Mas o incr vel que ele chegou em casa e no dia seguinte estava sem febre Convocando escuta para formula o em processo provavelmente mobilizada pelo Grupo Algu m do grupo comenta Olha 101 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer n
426. os ps quicos pois me contava sonhos e segredos familiares Ap s o acontecimento tinha pesadelos n o conseguia dormir chorava muito solicitando sua tia ao seu lado Em seus desenhos sua m e estava sempre presente e com o tempo foi se distanciando ficando no c u Katia continuou indo a escola participando das atividades escolares e se relacionando com os colegas Em alguns momentos pensava em morar com seu pai mas tamb m reconhecia os bons cuidados que recebia de seus tios Eram desejos de recompor sua fam lia enquanto lidava com a ambival ncia do amor e dio aos tios pais substitutos tendo que se integrar na fam lia deles que tinham outros filhos Considero que a transfer ncia no processo terapeutico foi fundamental na escuta dessa crian a como sujeito desejante visto que atingida pela perda materna no per odo dipico ela p de se ressituar no sentido de elabora es e recomposi es internas e com respaldo familiar acolhedor seguiu em um caminho identificat rio de menina que preza a vida Ela vinha para as sess es enfeitada com vestidos tiaras e pulseiras A transfer ncia institucional tamb m participou desse encontro anal tico ela aguardava s sess es e sua tia colaborava em alguns momentos trazendo a em outros a crian a insistia em vir Enfim chegamos a um momento de separa o j podia seguir sua vida com a fam lia substituta que pensava neste momento em morar no interior 4 A Sigal O lugar dos Pais n
427. oso Os efeitos disso traduziram se na possibilidade de cria o de la os afetivos e da forma o de um grupo V rios pacientes conseguiram se incluir na escola At onde pude caminhar nessa cl nica posso afirmar hoje que poss vel sim submeter a loucura a um trabalho de an lise e que isso contribui positivamente na vida destas pessoas que sofrem com a loucura sejam elas o louco ele mesmo ou as pessoas que com ele convivem v lido inclui las clinicamente nesta campo da psican lise sem pretender no entanto atrav s dela uma cura da loucura ou do autismo Pois n o com a patologia que lidamos mas com o erotismo Hoje isso me parece al m de v lido poss vel Aprendi a entender que a loucura um assunto que deve ser abordado como um fen meno de grupo de um grupo de pessoas o que faz essa cl nica ser muito complexa e muito dif cil Hoje ap s ter me debru ado sobre a teoria de Lacan de Allouch e de Lethier parece me um corol rio considerar a loucura desta forma Se n o foi poss vel sair do auto erotismo se n o foi poss vel construir um eu ent o tamb m n o foi poss vel construir um tu e uma no o de realidade Do ponto de vista do louco n o existe essa divis o Conseqii ncia disso Dir Lacan As duas coisas s o verdadeiras ainda que elas n o estejam juntas justamente por isso que n s as confundimos e que ao confundi las nada de claro dito sobre isso que concerne ao manejo da re
428. oss vel na sustenta o das rela es transferenciais nos la os sociais e portanto discursivos ao longo da vida da crian a Partimos da perspectiva que para al m dos tra os primordiais que lan am o sujeito humano precocemente na via das puls es em dire o ao Outro haja tamb m uma possibilidade de reinvestimento ps quico posterior pela via discursiva na qual seu objeto seja tamb m investido de desejo Acredita se que mesmo tendo sofrido percal os nos prim rdios da constru o pulsional de sua vida num la o constitutivo com um Outro original a crian a ainda ter a chance de se enla ar e ser la ada pelo discurso desejante de um Outro institucional de um Outro da cultura O trabalho de Kupfer 1999 fundamenta o conceito de Educa o Terap utica para a constru o de um atendimento institucional para crian as com Transtornos Globais do Desenvolvimento aponta que se numa etapa precoc ssima na qual as primeiras marcas que deveriam passar por diferentes tempos para se constitu rem como marcas eficazes e capazes de produzir o sujeito n o operou as mesmas n o se al am condi o de significantes com pleno poder de linguagem Por m diante destes impasses nas inscri es subjetivas primordiais aposta no alcance de uma rede de linguagem tecida por um Outro institucional constitu das por discursos que sustentem o sujeito de desejo Nessa medida por meio de uma extens o do campo de linguagem promovida por um campo i
429. ovimentos desprovidos de desejo e inten o dando a impress o de n o serem de uma pessoa Sensa o que nos lembra a descri o do unheimlich estranha familiaridade de Freud 1919 produzida no observador quando est diante de um ser e surge a d vida se ele est efetivamente vivo Ou na situa o inversa quando um objeto sem vida de alguma forma animado Nesta tica a manifesta o autista remete a uma sensorialidade primitiva n o metaforizada causando assim a impress o de que se est diante de um funcionamento puramente biol gico do organismo A manifesta o da crian a gera a impress o de que n o tem fun o e destinat rio fala que n o se endere a a nada a ningu m e n o comunica gestos repetitivos que n o desembocam em uma a o No autismo a express o aparece sempre de forma bizarra justamente por serem sujeitos que n o se v em enredados em uma narrativa parental a partir de uma imagem unificadora na qual o outro servir como la o para a constru o da sua identidade A estereotipia a pura descarga da excita o sem liga o ou intermedia o da fun o representativa ou elabora o nestas sutilezas que podemos entender as vicissitudes transferenciais da manifesta o aut stica e o analista deve escutar em cada estereotipia uma mensagem procurando encant la com sonhos e 1 Psicanalista Mestre em Psicologia Cl nica pela PUC SP Membro do Departamento de Psican lise do Instituto
430. pais relataram que piorou muito ap s a retirada do anticonvulsivante N o procuraram ajuda antes pois a doen a sempre foi um tema muito dif cil e n o conversam sobre este assunto com F bio A atitude dos pais com F bio quando faz estes gestos repetitivos de repreens o ficam com raiva pensam que ele faz de prop sito de birra N o conseguem relacionar estes comportamentos com o hist rico de F bio mas ao mesmo tempo a m e demonstra muito desespero por n o saber mais o que fazer sendo que algumas vezes j chegaram a bater nele 1 Psic loga formada desde 1992 mestre em Psicologia do Desenvolvimento UFBA atuou como Professora Universit ria em Salvador em cursos de psicologia participante de Institui es de Psican lise em Salvador e trabalha em consult rio atendendo crian as e adolescentes cristiani beltran gmail com 40 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Os pais buscaram interven o psiqui trica e foram orientados a procurar acompanhamento psicol gico pois se tratava de um caso de autismo de etiologia org nica Casos de autismo em decorr ncia de doen as que afetam o sistema neurol gico s o descritos em pesquisas tais como relatam Ghaziuddin e Ghaziuddin 2002 Sob o olhar da psican lise perante um diagn stico inicial de Transtornos do Espectro Autista TEA ainda que seja de origem org nica neurol gica a interven o poss ve
431. papel Uma parte dela est novamente sentada sobre a pia Vejo seu desenho que ganhara mais elementos Ao redor dos dois c rculos paralelos com as mesmas caracter sticas ela fizera um outro maior na parte inferior deste colocara um tra o como um U aberto e no centro uma esp cie de bolinha Rabiscara esquerda e direita do c rculo maior outros pequenos c rculos misturados indefinidos em seus limites Era um rosto dois olhos uma boca o nariz e os cabelos restantes de um homem calvo Natalina puxa um risco vertical que d corpo ao homem e na base do risco faz um tra o horizontal perpendicular ao primeiro O qu vejo um homem calvo sem bra os e cujas pernas resumem se aquele tra o horizontal Ele bebe diz ela Os raios nos olhos lembram as veias oculares de algu m b bado que esteve muito pr ximo a ponto de Natalina poder observ las e fazer sua associa o olhos de cobra Ela observa o desenho em sil ncio A transfer ncia feita por ela coloca me em uma posi o no m nimo desconfort vel mas tamb m rica Naquele momento posso v la sentada numa pia um homem a sussura lhe no ouvido e ela observando lhe os olhos Quando voc estava na pia olhou para baixo pergunto Ela diz que sim Pe o que desenhe o que viu Ao lado do desenho do homem do mesmo tamanho Natalina faz tra os r pidos um dedo diz ela com uma ponta circular acrescido de um prep cio e uma glande Um p nis ereto
432. para uso dos IRDI tanto por parte da equipe que a recebe como por parte da fam lia que tem seu beb avaliado H um interesse e uma preocupa o da equipe a que o IRDI permite dar uma significa o uma sistematiza o de observa es que geralmente ficariam soltas e que podem passar a fundamentar o in cio de poss veis tratamentos com beb s em risco Para as fam lias a aplica o e a decorrente orienta o podem servir como oportunidade de cuidado e acolhimento de sua singularidade representando uma oportunidade de al vio quanto a algum temor de dificuldade de desenvolvimento avaliado como inexistente ou de in cio de trabalho quando algum sinal detectado As vinhetas ilustradas neste trabalho exemplificam algumas situa es em que a aplica o do IRDI favoreceu a detec o de sofrimento ps quico na rela o transferencial com o pesquisador ou com o profissional que o aplica pois ainda que algum indicador se expresse como presente poss vel notar sutilezas de ang stias e de sofrimento que n o apareceriam em uma simples aplica o protocolar Esse o elo que pretendemos situar neste trabalho a articula o entre a pesquisa uso de protocolo e a assist ncia orienta o e encaminhamentos para pais e beb s em risco entre os referenciais psicanal ticos e sua interven o na singularidade de cada caso Refer ncias Bibliogr ficas FREUD S A din mica da transfer ncia In Obras psicol gicas completas de Sigmund
433. para nenhum de n s Para tentar criar um ambiente mais intimista entre Abel e os pais eu me levantei sentando em outro canto da sala de tal sorte que eu pudesse observar sem participar diretamente da cena Passado algum tempo os pais visivelmente decepcionados com o isolamento da crian a passaram a fazer barulho com os brinquedos para chamar aten o do filho De forma repentina e fugaz Abel tampa o rosto com as duas m os levanta a cabe a e dirige o olhar entre os dedos na minha dire o Eu me surpreendo tampo o rosto com minhas m os e tamb m olho pra ele entre os dedos expressando com o som de uma interjei o o sentido da palavra achou Naquele momento os pais se alegraram e come aram a brincar com ele da mesma forma por m falando achou Abel expressa um sorriso t mido fugaz e se volta novamente para o jogo estereotipado de olhar para as rodas dos carrinhos permanecendo assim pelo resto do tempo O que deixa os pais desarvorados e tristes Nesse momento come o a conversar com os pais no sentido de abrir espa o para a express o dos sentimentos deles em rela o crian a Eles se voltaram para o laudo da neurologista principalmente em rela o s defici ncias da crian a pois o progn stico havia sido dado no sentido de ser uma patologia grave e incur vel Volto ent o ao tema dos sentimentos deles durante o experimento da imita o Com dificuldade a m e se desmancha em l grimas dizendo que n o sabia
434. paro que ocorrem no grupo tiveram espa o para uma reestrutura o no atendimento individual Luiz pode aparecer nas brincadeiras no grupo no lugar de pot ncia lugar daquele que sabe Este lugar de pot ncia foi constru do nos diferentes lugares que ele circulava e com a mudan a da posi o dos pais No trabalho de escuta destes pais refer ncia institucional os pais trazem elementos importantes do dia a dia de Luiz trazem as dificuldades que Luiz relata para eles seja na escola seja no grupo terap utico eles querem entender para ajudar Quando indagados sobre isto podem falar repensar e reavaliar Mas este trabalho de escuta foi importante tamb m neste momento do tratamento para acrescentar ferramentas na constru o da dire o de tratamento institucional Em uma reuni o na escola pudemos constatar mudan as de posi o dos pais em rela o ao lugar deste filho Luiz n o era mais visto como impotente mais ao contr rio um menino cheio de possibilidades A escola relata que havia iniciado uma atividade de futebol mas Luiz se dizia cansado e n o queria fazer quase cedendo deixando o no lugar de exce o a escola advertida pelos pais que Luiz poderia sim fazer Hoje o futebol algo utilizado muitas vezes por ele no grupo para se apresentar na parceria com outro menino que faz parte do grupo possibilitando la os e duplas entre meninos Nos atendimentos individuais a brincadeira se desdobra para o jogo de esco
435. permitiu levantar algumas hip teses S o elas 1 A busca do trabalho de cuidadora em abrigos pode estar relacionada com a busca pelo pr prio cuidado interno Supomos que h aspectos internos de vivacidade que impulsionaram essas mulheres a procurar pelo trabalho de cuidadora em abrigos como uma maneira de tamb m cuidarem delas mesmas internamente Este auto aux lio poder ser um disparador para o crescimento emocional se for auxiliado pelo acompanhamento psicol gico 2 Aideia do abrigo tamb m como um contexto reparador para aquelas cuidadoras que possuem recursos internos para virem a cuidar de si ao cuidarem da crian a no abrigo desde que acompanhadas pelo atendimento psicol gico De maneira sint tica citamos algumas constata es 1 A cl nica psicol gica no contexto social A partir desta experi ncia constatamos o quanto poss vel e til desenvolver a cl nica psicol gica no contexto social confirmando a possibilidade do uso do conhecimento psicanal tico fora do consult rio e permitindo que outras realidades sejam atendidas em suas necessidades em atendimentos duradouros 2 Mudan a da realidade interna sem modificar a realidade externa instala es do abrigo As evolu es emocionais observadas na equipe de cuidadoras aconteceram mantendo se a mesma realidade social do ambiente abrigo independente das melhorias das condi es ambientais externas as quais tamb m s o importantes 3 Relacionamentos ma
436. perspectiva de uma escuta promotora de reflex o de uma parceria institucional e de uma co responsabiliza o social simb lica na constru o dos cuidados da educa o e de uma posi o cr tica e singular dos adultos sobre os poss veis lugares e destinos da crian a na contemporaneidade Poder amos dizer que nesse sentido o profissional dotado desta posi o e pr tica de escuta psicanal tica exerceria junto s crian as e suas fam lias uma tica e uma pol tica que visa a subjetividade a singularidade e a sustenta o dos la os sociais 47 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Provisoriedade e v nculo na institui o de acolhimento a potencialidade dos encontros Cristina Maria Banduk Seguim apresentador do trabalho Cristina Almeida de Souza Fl via Blay Levisky Lia Lima Telles Rudge Sandra S Grama Ungaretti Palavras chave Abrigo Provisoriedade Vincula o Separa es Este trabalho busca articular os termos provisoriedade e v nculo que primeira vista parecem incompat veis No entanto geralmente comparecem quando nos referimos institui o de acolhimento Qual o significado que cada uma delas assume no contexto de abrigamento O que produzem nas rela es de trabalho e nas crian as e jovens acolhidos principalmente sobre estas quest es suscitadas pela nossa pr tica cl nica no Grupo Acesso junto a c
437. petir uma brincadeira que ele havia come ado com a dupla JF Ele p de repeti la provavelmente gra as dimens o est vel do dispositivo mesmos objetos mesma dire o da equipe em seguir seus movimentos e suas brincadeiras Mas gostar amos sobretudo de ressaltar desses trechos dois pontos a repeti o em fun o da elabora o de uma experi ncia e das emo es e a percep o do sentimento de alteridade 117 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as preciso dizer em primeiro lugar que para que a repeti o de uma brincadeira leve a uma elabora o isto integra o de uma experi ncia essa repeti o deve guardar um espa o para a diferen a Assim a repeti o que permite uma elabora o n o uma repeti o do mesmo id ntica anterior isso ali s que se constata normalmente no brincar das crian as banais repete se a mesma brincadeira de forma um pouco diferente da vez anterior Neste tipo de dispositivo poss vel introduzir varia es na repeti o pela simples troca de parceiros da intera o preciso dizer que muitas vezes como no caso da brincadeira do pe o est vamos igualmente dispon veis para a intera o mas n o sab amos onde Christian queria chegar nem o que queria fazer exatamente Acolh iamos igualmente a brincadeira que ele nos propunha mas cada dupla de uma forma diferente Entramos assim no segundo ponto da d
438. po condi o temporal de um in dito incomensur vel VORCARO 2004 25 Os efeitos da transmiss o n o se reduzem a produ o inequ voca de um simulacro dos desejos inconscientes dos pais haja vista que a crian a se posiciona frente a determinados imperativos especulares Consideramos que embora a crian a esteja sendo significada numa trama discursiva que a determina pela anterioridade l gica da linguagem na supremacia do significante ela se move de forma singular nessa rede em nuances perform ticas sem precedentes Sendo a gagueira o fator que instaura a queixa esta orienta a escuta para o que supomos existir para al m da gagueira onde podemos encontrar o sujeito que apesar de parecer dominado pelo Outro abre pelo sintoma a entrada para um outro terapeuta que pode recriar o sentido do sintoma e consequentemente a posi o do sujeito que por ele se expressa Por quais aspectos transferenciais que o terapeuta pode sustentar com o paciente um novo jeito de dizer de se dizer Talvez a posi o ocupada por aquele que est como suposto saber sobre a fala autorize a crian a a falar o que diminui ou divide o poder dado aos pais ou mais particularmente m e que vai ou n o permitir que a entrada de um terceiro seja de fato significativa e lance o discurso da crian a para outras demandas que n o s para as dela em rela o ao filho idealizado Tais hip teses ser o explanadas a partir do caso de Bernardo de
439. por neo incidindo sobre o autismo p 99 Apresenta a tese de alguns autores na qual o autismo um significante moderno que d nome a um fen meno estrutural na constitui o do sujeito nome esse que o representa por m dentro de uma particular inflex o do discurso social contempor neo e que ao represent lo o recria p 100 A autora afirma ainda que a cria o contempor nea da nova categoria nosogr fica psiqui trica denominada espectro autista que inclui hoje as denomina es de autismo e de psicose infantil tem o efeito mesmo de um espectro um fantasma que assombra os pais modernos preocupados com o crescimento alarmante das estat sticas em torno do autismo Hoje nos Estados Unidos fala se em 1 autista em cada 85 crian as 45 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as CDC 2012 Por mais que se trate de um enorme del rio coletivo americano do qual fazem parte passeatas de pais de crian as autistas reivindicando e obtendo do Estado verbas astron micas as crian as n o est o indiferentes a essa febre Mergulhadas nessa discursividade mostram que est o por ela afetados e exibem com grandiloqu ncia tra os autistas e psic ticos dos mais variados vindo engrossar a cada dia as fileiras das crian as ditas pertencentes ao espectro autista 2010 p 273 Lembra ainda em rela o aos pais que a cria o do autismo de Kanner em 1943 nasceu
440. por neglig ncia maus tratos e vitimiza o Cerca de mais de 80 das crian as e jovens em situa o de acolhimento na realidade brasileira possuem fam lia Mais da metade destas mant m v nculos com seus familiares portanto poucos s o os casos de destitui o de guarda para encaminhamento de ado o Careta 2011 As visitas ao abrigo iniciaram se em setembro de 2010 Atrav s destas deu se o primeiro contato com a pr tica em psicologia nesta institui o neste mesmo per odo Este estudo se construiu a partir de experi ncia de est gio Os encontros psicoter picos foram realizados tendo como ancoragem a Psican lise fundamentalmente a perspectiva winnicottiana Descrevemos a seguir da experi ncia cl nica com a crian a Caique um ano e dez meses Caique foi abrigado aos oito meses de vida Logo ao nascer a m e biol gica entregou a crian a para um casal Os pais que cuidavam do beb na condi o de fam lia substituta procuraram por legalizar o processo de ado o o qual n o se efetivou pela conduta do casal adotante totalmente afastada dos princ pios legais A crian a foi direcionada a um abrigo Ap s um curto per odo de perman ncia na entidade cerca de um m s foi transferido para o abrigo referido neste estudo Portanto temos um panorama da vida inicial deste beb v rios rompimentos precoces nos relacionamentos O beb apresentava um quadro sintomatol gico constitu do por intensas ang stias
441. prendizagem Refer ncias Bibliogr ficas ANCONA LOPEZ Mar lia 1995a Introduzindo o psicodiagn stico grupal interventivo uma hist ria de negocia es In ANCONA LOPEZ Mar lia org Psicodiagn stico processo de interven o S o Paulo Cortez Editora 1995 ANCONA LOPEZ Silvia 1995b Psicodiagn stico processo de interven o In ANCONA LOPEZ Mar lia org Psicodiagn stico processo de interven o S o Paulo Cortez Editora 1995 AVELLAR Luziane Zacch Jogando na an lise de crian as intervir interpretar na an lise de crian as S o Paulo Casa do Psic logo 2004 MANNONI Maud A primeira entrevista em psicanalise Rio de Janeiro Elvesier 2004 OCAMPO Maria Luisa Siquier de ARZENO Maria Esther Garcia PICCOLO Elza Grassano e col O processo psicodiagn stico e as t cnicas projetivas S o Paulo Martins Fontes 1994 SAFRA Gilberto Curando com hist rias a inclus o dos pais na consulta terap utica das crian as S o Paulo Edi es Sobornost 2005 TRINCA Walter Diagn stico psicol gico a pr tica cl nica S o Paulo EPU 1984 WINNICOTT Donald W O brincar e a realidade Rio de Janeiro Imago Editora 1971 WINNICOTT Donald W Consultas terap uticas em psiquiatria infantil Rio de Janeiro Imago 1984 Textos WINNICOTT Donald W 1941 Observa o de beb s em uma situa o estabelecida In selecionados da pediatria psican lise Rio de Janeiro F Alves 1993
442. primitivos enquanto n o h condi es para sua transforma o simb lica Pode se considerar que viv ncias ainda mais primitivas do que identifica o projetiva que n o a excluem como as que prevalecem com autistas contribuem para o enactment experimentado no trabalho psicanal tico com os mesmos O teor da din mica descrita acima pode ser considerado uma forma de enactment cr nico vivido entre analista e paciente A partir do momento em que o v nculo se fortaleceu uma intensa experi ncia sensual estava sendo vivida em algum n vel sem que fosse poss vel sua percep o at irromper como expl cita masturba o por parte da paciente 212 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Segundo Cassorla 2004 quando se d o as condi es para a transforma o simb lica da experi ncia vivida enactments agudos representam a oportunidade de perceber a situa o elaborando a Tal momento se deu quando sem explicar a raz o abruptamente interrompi todas as brincadeiras corporais que faz amos at ent o e passei a restringir o atendimento sala de crian as com a porta trancada Comecei a desenhar corpos masculinos e femininos a fim de que ficasse evidente a distin o entre eles e sua separa o Ficou evidente que viv amos numa esp cie de conluio no qual a paciente estava sendo poupada de enfrentar dificuldades para as quais j possu a recursos Passei a chamar a aten
443. pula sobe nos brinquedos do playground R mulo passa a pertencer ao universo da institui o sendo falado pelos outros lembrado e reconhecido As sess es se destacam pela primazia das experi ncias est tica como sopro de ar atrav s de canudos temperatura da gua cores texturas das coisas vento do ventilador sendo compartilhadas e nomeadas R mulo passa a ser espont neo e ter experi ncias sensitivas e emocionais rumando a integra o psicossoma Deseja brincar de Homem Aranha e fica quase toda a sess o de ponta cabe a realizando suas atividades enquanto sustentado pelo corpo do analista Comunica a confiabilidade ambiental que permite com que tenha experi ncias de continuidade existencial Deseja usar os culos e o rel gio do analista Ao final dos atendimentos levado at tia Cibele que o acolhe Desse modo Winnicott 1956 2000 p 395 cita que o comportamento do analista por ser suficientemente bom em mat ria de adapta o necessidade gradualmente percebido pelo paciente como algo que suscita a esperan a de que o verdadeiro eu poder finalmente correr os riscos impl citos em come ar a experimentar viver Tal fato como podemos demonstrar pode ser estendido ao ambiente humano institucional de forma que ele n o apenas favore a o desenvolvimento ps quico de uma crian a que sofreu falhas ambientais precoces como tamb m permite com que as singularidades emerjam Todavia vale ressaltar que tal interven
444. puls o destinos do sujeito Ed Artes M dicas Porto Alegre 1994 Bleichmar S Cl nica Psicanal tica e Neog nese Ed Annablume S o Paulo 2005 Freud S Constru es em an lise in Edi o Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud Ed Imago Rio de Janeiro 1974 Freud S A Din mica da transfer ncia in Edi o Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud Ed Imago Rio de Janeiro 1974 210 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as A din mica da transfer ncia em um atendimento de uma crian a autista Rogerio Lerner Palavras chave Autismo Transfer ncia S ries Complementares Contratransfer ncia Os pais de W me procuraram por indica o da fonoaudi loga a fim de que eu a avaliasse Tinha sete anos e diagn stico de autismo emitido por um neurologista e nunca explicado pelo psicanalista que a atendia por dois anos com quem os pais n o estavam satisfeitos Ao fazer a avalia o confirmei o diagn stico explicando o quanto vulnerabilidade gen tica existente no autismo e quanto impossibilidade de fazer progn stico do desenvolvimento a ser avaliado ao longo das respostas de W ao trabalho Entendo que uma crian a autista vive um desenvolvimento conflituoso por um lado h uma forte e precoce tend ncia desconex o vivida desde beb Por outro h um tremendo esfor o para estabelecer v nculos intersubjetivos
445. qu voco quanto sua origem na mesma fonte FREUD 1916 p 443 Nesse ensaio Freud 1916 se interroga sobre a origem da transfer ncia que dificuldades nos causa como as superamos e que vantagens dela podemos auferir Ele indica posi es que servem como uma esp cie de manual t cnico de an lise primeiramente nunca se deve ceder s exig ncias do paciente decorrentes da transfer ncia Em seguida deve se super las mostrando ao paciente que seus sentimentos n o se originam da situa o atual e n o se aplicam pessoa do m dico mas sim que eles est o repetindo algo que lhe aconteceu anteriormente Desse modo abre se a possibilidade de transformar a repeti o em lembran a Freud 1912 1915 1916 busca abordar de que modo pode se superar a transfer ncia em um contexto de an lise manejando a de modo a deixar claro para o paciente aquilo que faz parte de seu sintoma de suas repeti es Partindo destas considera es te ricas passemos ao contexto de pesquisa A pesquisa com Indicadores Cl nicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil IRDI manifesta es de transfer ncia A Pesquisa Multic ntrica de Indicadores Cl nicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil teve como objetivo estabelecer e validar um instrumento o IRDI composto de 31 indicadores de desenvolvimento cuja aus ncia est significativamente associada a problemas de desenvolvimento em crian as aos 3 anos Kupfer et al 2008 O IRDI foi constr
446. qual o psicanalista encontra se inserido Entretanto dentre os descendentes da teoria psicanal tica os pioneiros analistas de crian as percorreram as investiga es freudianas com diversas indaga es Questionavam as possibilidades da crian a transferir e de que maneira isso poderia ocorrer Essa velha e conhecida hist ria teve in cio com o conflito te rico entre duas grandes psicanalistas Enquanto Melanie Klein propunha um psiquismo constitu do desde os prim rdios privilegiando a atividade fantasm tica da crian a defendendo que a transfer ncia era poss vel desde a tenra idade Anna Freud partia da premissa de uma an lise baseada na no o de um aparelho ps quico em constitui o ou seja na qual s era poss vel estabelecer transfer ncia ap s a dissolu o do Complexo de Edipo As controv rsias e descobertas decorrentes desse conflito permitiram que a psican lise com crian as pudesse avan ar consideravelmente na compreens o do psiquismo infantil e por consequ ncia na constitui o da subjetividade Atualmente a transfer ncia fen meno das rela es humanas t o indispens vel na cl nica psicanal tica tamb m facilmente identificado no vasto campo das ci ncias humanas principalmente no que diz respeito ao entendimento das in meras rela es cl nicas que se constituem Isso faz com que n s analistas tenhamos que encontrar diferentes estrat gias que promovam o trabalho ps quico at mesmo
447. que aconteceu invariavelmente extraio a configura o do futuro em suas palavras Coloco A antes de B e de C de forma que a chegada de D mesmo quando causa surpresa j fora de alguma forma anunciada prefigurada Toda hist ria contada omite o caos inicial exatamente porque est sendo contada Ao colocar as coisas no passado dou valor a certo elemento e deixo outro de fora porque na hist ria tal elemento ser importante enquanto o outro igualmente presente perde se na necessidade da ordem e na rigidez da forma A mem ria tem as mesmas vicissitudes da narrativa Um paciente de onze anos me conta sobre o acidente que sofreu lam ele o irm o a av e o marido dela praia Um carro na pista oposta tentou ultrapassar alguns caminh es que seguiam em conjunto lentamente A mulher diz ele porque a motorista era mulher veio em cima da gente Meu tio o marido da av entrou no acostamento A mulher tamb m E o carro bateu de frente E voc pergunto Esmagou a L3 e fiz as outras cirurgias responde E voc viu o outro carro vindo pergunto completando o que gostaria de ter dito da primeira vez N o Eu estava dormindo a resposta que ou o outra pergunta mais pr xima s palavras de Gombrowicz que desperta alguma curiosidade Ele n o se lembra do acidente que o deixou numa cadeira de rodas estava dormindo Mas sabe como aconteceu A resposta bvia mas a obviedade n o deixa
448. que as coisas sigam seu curso o que n o pode ser evitado nem apressado Na nova sala havia uma caixa com miniaturas de pl stico Nice pegou uma delas um p ssaro e conta que ele era um gavi o que havia pegado uma crian a A analista perguntou Uma crian a O que o gavi o vai fazer Nice respondeu Vai comer uai Nice diz mais tarde que assistiu um filme sobre a frica na institui o de acolhimento e que ele servia para aprenderem a n o desperdi ar comida pois s o essas as suas palavras tem muita crian a que passa fome e que come comida azeda do lixo Nice explica que estas crian as que comem comida azeda do lixo ficam t o fracas que acabam sendo comidas pelos gavi es Nossa hip tese que na transfer ncia Nice se sente amea ada por rejeitar aquilo que lhe oferecido temendo atrav s disto destruir e ser destru da pelo objeto o que parece apontar para certa especulariza o na rela o entre sujeito e objeto Para pensar as especificidades da din mica a estabelecida que guarda uma semelhan a com muitas outras com as quais nos defrontamos nos atendimentos realizados pelo Grupo Acesso decidimos nos reportar a Luto e melancolia 1917 importante assinalar que n o compreendemos que este caso configura se como um quadro de melancolia pois se trata de uma paciente com uma estrutura neur tica Contudo dada a gravidade do acontecimento vivido por Nice ligado perda do objeto primordial
449. quismo do indiv duo quando em 1911 fez uma breve men o em uma nota de rodap sobre o fato inquestion vel de que n o se poderia conceber a exist ncia de um beb sem que se levasse em conta os cuidados maternos sem os quais o psiquismo precoce do beb n o toleraria estar exposto ao desamparo Winnicott 1960 1983 recuperou essa observa o de Freud e jogou luz sobre ela desenvolvendo sua teoria do desenvolvimento emocional primitivo considerando que a qualidade da experi ncia no in cio da vida do beb seria fundamental para o seu desenvolvimento mental sadio A partir de sua premissa de que o indiv duo seria sempre concebido em rela o focalizou a import ncia das intera es entre m e e beb durante os primeiros anos de vida da crian a Na constru o da parentaliza o h uma hist ria precedente de cada um dos pais bem como a pr pria hist ria da concep o ocupando na din mica familiar um lugar que pr definido por essas representa es e que muitas vezes se sobrep em de maneira contundente ao beb que fica impossibilitado de desenvolver livremente suas capacidades com uma hist ria pr pria muitas vezes sendo deposit rio de representa es n o elaboradas dos pais que v m tona no momento de seu nascimento em que acontece uma nova configura o familiar Estas hist rias de cada um que muitas vezes estiveram adormecidas no inconsciente parental por longo per odo eclodem neste momento devido a intensid
450. r ncia necessitando se da sua for a para o acontecimento do processo Portanto inicialmente em rela o aos aspectos transferenciais relacionados ao momento da procura pela cl nica escola e a chegada ao atendimento entendemos que o psic logo ou a institui o ocupam a posi o de objeto subjetivo para os pais que procuram atendimento para seus filhos e tamb m para estes Geralmente os pais procuram a cl nica por indica o de terceiros muitas vezes da escola ou amigos em outras ou ainda procuram atendimento espontaneamente Quase sempre j tentaram resolver as dificuldades apresentadas como queixa em rela o crian a e n o obtiveram as mudan as esperadas Sentem se sem recursos incapazes de ajudar o filho que est em sofrimento ou apresentando comportamentos que perturbam a fam lia Tanto os pais quanto as crian as t m expectativas em rela o ao atendimento e quase sempre h esperan a de que algu m possa auxili los ao compreender a situa o vivida por eles As elabora es de Winnicott sobre sua experi ncia com as consultas terap uticas t m contribu do muito para pensarmos no processo de psicodiagn stico interventivo No pref cio de Consultas terap uticas em psiquiatria infantil Winnicott 1984 ele fundamenta essa pr tica na rela o subjetiva de objeto que a crian a estabelece com o terapeuta rela o esta capaz de favorecer a emerg ncia de uma comunica o significativa No decorrer deste livro
451. r prios e das crian as de forma resolutiva no imediato sem muito espa o para tolerar transit rios tumultos A partir da transfer ncia para o aqui e agora do Grupo de ansiedades relacionadas a v nculos atuais e pregressos viabilizam se possibilidades de ressignifica o e contin ncia que passam a ser vivenciadas tamb m em casa com nfase nas pr prias capacidades parentais de tolerar estados emocionais em si e nas crian as viver turbul ncias e ao conter poder passar por isso e aprender com a experi ncia emocional 103 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Refer ncias Bibliogr ficas BARANDON ET AL The Practice of Psychoanalytic Parent Infant Psychotherapy London Routledge 2005 BECHELLI A B SILVEIRA M M JOPPERT S M H Aplica o da Psican lise em Sa de P blica Sistematiza o de um servi o preventivo no desenvolvimento do beb Encontro Nacional sobre o Beb S o Paulo 2006 BECHELLI A B TOSTA R M Preven o precoce de dist rbios ps quicos na sa de e na doen a A Atua o com beb s pais e profissionais cuidadores em diferentes contextos institucionais Il Congresso Brasileiro Psicologia Ci ncia e Profiss o S o Paulo 2006 BECHELLI I A B Entrevista nica Uma Abordagem Preventiva na D ade m e beb Tese de Mestrado Universidade Metodista de S o Paulo UMESP 2002 MENDES DE ALMEIDA M SILVA M C M
452. r de cada crian a naturalizado e cronificado dentro da institui o Isso acontece quando se estabelecem formas estereotipadas de manejar e falar sobre ela Por vezes um menino rebelde tido como futuro bandido e uma menina que fala palavr o ser vista como forte candidata maternidade precoce precisamos ter cuidado com as profecias auto realizadoras Ao se reconhecer a import ncia do modo com que se fala de uma crian a para os demais funcion rios e para as demais crian as como algo que demarca seu lugar na institui o atentamos tamb m para a crian a problema produzida discursivamente pela institui o Assim conforme discutido no item anterior vale substituir as formas rotulantes e cronificantes fechadas em si mesmas por formas que ampliem e aprofundem a no o sobre o sujeito falado e se poss vel constitua uma compreens o plural de cada um com sua din mica contradi es e conflitos Na correria do cotidiano institucional comum a entrada de um novo professor sem que haja tempo para que lhe seja passado um hist rico sobre a crian a Em territ rios socialmente vulner veis s o corriqueiros os casos em que familiares s o presos envolvem se com drogas t m problemas com a justi a al m do envolvimento em hist rias de assassinato e viol ncia Se for o caso algo t o banal como 54 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as o compartilhamento dessa inf
453. r ou v tima a falta b sica e as duas faces da mesma moeda In Dalka C A F amp Tereza C C V orgs O fim do sil ncio na viol ncia familiar Teoria e Pr tica S o Paulo gora 2002 p 131 140 CINTRA E M de U As fun es anti traum ticas do objeto prim rio holding contin ncia e r verie Tempo Psicanal tico Rio de Janeiro vol 35 p 37 55 2003 FRAN A C P Incesto os des gnios do dipo consumado In Pervers o As engrenagens da viol ncia infantojuvenil Fran a C P org Rio de Janeiro Imago 2010 pp 165 168 Restos da inunda o pulsional In Pervers o As engrenagens da viol ncia infantojuvenil Fran a C P org Rio de Janeiro Imago 2010 pp 169 173 FREUD S 1893 1895 Estudos sobre a histeria In Edi o Standard Brasileira das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud Vol Il Rio de Janeiro Imago 2006 Cc 1920 Al m do princ pio de prazer In Edi o Standard Brasileira das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud Vol XVIII Rio de Janeiro Imago 2006 KLEIN M 1930 A import ncia da forma o de s mbolos no desenvolvimento do ego In Contribui es Psican lise S o Paulo Mestre Jou 1970 MOREIRA J O A ruptura do continuar a ser o trauma do nascimento prematuro Revista de sa de mental e subjetividade da UNIPAC vol n 08 p 102 2007 NETO A N 2007 A no o de experi ncia no pensamento de Winnicott como conceito d
454. ra o da crian a ao seu lar de origem Ainterven o ambiental al m das orienta es com as cuidadoras se estendeu com a m e biol gica da crian a Ela foi acompanhada em atendimento psicol gico pela equipe do LAPECRI USP e orientada pela terapeuta da crian a quanto a import ncia da presen a constante e afetiva com o beb evitando que ele sinta a separa o por momentos prolongados de forma que os cuidados maternos se apresentassem com afei o Os v nculos entre m e e filho se fortaleceram e a crian a pode ser desabrigada e reintegrada em seu lar de origem Conclus o A partir do recorte cl nico apresentado e das considera es feitas inicialmente apoiadas na teoria de Winnicott que prioriza os momentos iniciais de vida como sendo a base para sa de consideramos que de real import ncia o provimento do ambiente humano suficientemente bom para que beb s 10 Por exemplo deix lo sozinho troc lo de ber o n o dar aten o a crian a diante de manifesta es de ang stia 11 Winnicott 1951 2000 apresenta a express o objeto transicional referente primeira posse n o eu da crian a Os objetos que s o normalmente adotados pelo beb s o o cobertor ou a fralda o urso de pel cia etc O autor ressalva que n o o objeto em si que denominado objeto transicional mas sim a experi ncia ilus ria um s mbolo no tempo que indica a travessia do beb desde a subjetividade at a objetividade sendo o obje
455. ram e influenciaram sobremaneira a extens o do tratamento psicanal tico crian a e os pontos de controv rsia por elas introduzidos permanecem v vidos apesar de remodelados s novas emerg ncias ao exerc cio de uma cl nica voltada s quest es ps quicas e contextuais que circundam o universo existencial da crian a s Atualmente grande parte daqueles que se dedicam teoriza o e operacionaliza o dessa cl nica legitimam a pertin ncia em determinados casos do tratamento voltado diretamente crian a mas incluem necessariamente a participa o dos pais no processo terap utico condicionado desse modo ao duplo v nculo transferencial com o analista H tamb m concord ncia significativa quanto forte influ ncia de fatores contextuais na emerg ncia do sofrimento ps quico da crian a dada a incompletude de sua constitui o ps quica e correlativamente estreita associa o de seu psiquismo com o psiquismo daqueles que exercem as fun es parentais Entretanto e a despeito das conson ncias discursivas e das similaridades na conduta anal tica o debate incide ainda sobre os gradientes impondo s quest es te ricas o constante trabalho de pensamento exigido pela experi ncia cl nica Tais quest es apresentam se a partir do momento em que nos deparamos com a demanda parental pelo atendimento crian a Em que circunst ncias o tratamento deve dirigir se diretamente crian a Como em cada situ
456. ransfer ncia como sua analista carretel endere ando a mim o seu dio at que ele pudesse ter um outro destino E se o dinheiro era um operador importante da din mica familiar isso tamb m se evidenciou na forma como voc trazia o pagamento Vinha com o cheque do seu pai em um bolso e o dinheiro do estacionamento no outro Repetidas vezes voc tirou o trocado do estacionamento do bolso e me ofereceu com um sorriso de deboche nos l bios Ou ent o tirava o cheque do bolso e o jogava no ch o na tentativa de fazer com que eu me agachasse diante de voc para peg lo Tivemos muitos momentos dif ceis Os combinados eram exaustivamente retomados e burlados Tentei diferentes manejos de toques de humor a tentativas de nomear a repeti o que ali se instaurava Eu dizia a voc que voc estava tentando me fazer odi lo tentando provocar em mim a rea o que provocava em outras pessoas que acabavam se afastando de voc batendo em voc desistindo de voc E te deixei claro que n o desistiria mas que tamb m n o iria tolerar tudo Brinquedos duros foram lan ados contra mim e a sess o interrompida com um exaltado assim n o podemos continuar E eu me perguntava se nestes momentos em que eu tamb m era tomada de dio n o sa a da posi o de analista Aos poucos fui entendendo que o meu limite fazia limite para voc e que o que eu achava a princ pio ser puro ru do contratransferencial tinha fun o anal tica H
457. ras das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago v XXI p 13 63 FREUD S O Mal Estar na Civiliza o Edi o Standard Brasileiras das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago v XXI p 67 148 MENEZES L S Desamparo S o Paulo Casa do Psic logo 2008 126 p 181 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Interven o nas rela es iniciais e a transfer ncia no atendimento cl nico a pais e beb s Rafaela Moura de Souza Rayssa Yussif Abou Nassif Palavras chave Rela o Pais Beb s Transfer ncia Interven o Precoce Integra o Na proposta de interven o precoce atende se ao mesmo tempo crian as pequenas e seus pais de forma a oferecer um espa o em que as ang stias de pais e beb possam ser expressas e trabalhadas Nesta modalidade de trabalho as interven es realizadas se baseiam no discurso verbal dos pais e tamb m no brincar do beb integrando ambas as formas de comunica o num rico di logo entre terapeutas pais e beb Atrav s da ilustra o de um caso cl nico atendido no Ambulat rio de Pais e beb s da UNIFESP Hospital S o Paulo buscaremos demonstrar tal trabalho de interven o precoce e evidenciar din micas da transfer ncia no trabalho das rela es iniciais entre pais beb s e terapeutas Apresentaremos o caso de Michael um beb de um ano e cinco meses
458. rcha o processo de historiciza o H a busca de um ponto de virada daquilo que vivido na rela o transferencial levada a um ponto limite exp e ao vivo e a cores o abuso a viol ncia o bruto pulsional Esse o term metro que mede a temperatura do suport vel e que traz not cias para o analista donde surge o trauma Uma temperatura que precisa ser sentida na transfer ncia para que algo vivido possa tornar se experi ncia E isso o analista vive desde o seu pr prio corpo numa dimens o que ultrapassa sua capacidade de pensar H uma prem ncia terap utica de que se abra a possibilidade de narrar Uma narra o que franqueie caminho para uma temporaliza o que fa a um corte no eterno presente do traum tico Na an lise com crian as a narrativa do trauma surge tamb m via o brincar Na repeti o do enredo trazido por Bruno depois de tomada por uma ang stia de interven es mal sucedidas de questionamento da viol ncia atuada introduzo um outro boneco adulto que n o fazia parte da cena montada por ele Voc n o pode fazer isso com ele n o o seu corpo o dele voc n o pode fazer o que bem entende eu n o vou deixar Bruno se surpreende abre se um sil ncio um sil ncio que aposto que possa engendrar a possibilidade do novo Em seguida eu ligo uma sirene do socorro que chega Falo dos cuidados necess rios ameniza o da dor Posiciono me como testemunha do abuso da viol ncia e da dor nesta bord
459. reconhe a o que h na rela o terap utica localizando o que pertence ao paciente e o que do mundo interno do pr prio analista Para Freud necess ria uma auto an lise para o terapeuta diferenciar seus pr prios conte dos daqueles que consegue perceber no paciente Posteriormente o autor tamb m trabalha a id ia de que necess ria ao jovem analista uma an lise did tica realizada por outro profissional Em 1915 Freud apresenta o manejo da transfer ncia como uma das maiores dificuldades na psican lise Assim fundamental reconhecer quais sentimentos s o induzidos pela situa o anal tica a experi ncia de se deixar levar um pouco por sentimentos ternos em rela o paciente n o inteiramente sem perigo Nosso controle sobre n s mesmos n o t o completo que n o possamos subitamente um dia ir mais al m do que hav amos pretendido Em minha opini o portanto n o devemos abandonar a neutralidade para com a paciente que adquirimos por manter controlada a contratranfer ncia FREUD 2006 1915 p 182 Assim percebe se que Freud via a necessidade de reconhecermos a contratransfer ncia para control la Mas o autor tamb m fomenta a reflex o sobre at onde temos o controle desses afetos o que torna t o importante tentar precisar as especificidades desse fen meno Isso fica muito claro no caso do atendimento de crian as do CAVAS pois o terapeuta est sujeito a um limiar muito t nue entre a atua
460. rela o analista paciente para o sucesso da an lise como ilustra o caso Dora no qual a transfer ncia vista como um conjunto de fantasias ou experi ncias afetivas passadas que devem ser revividas na rela o com o analista portanto a fun o da an lise seria pontuar explicar e destruir estas transfer ncias Na A Din mica da Transfer ncia em 1912 Freud continua considerando a transfer ncia como a resist ncia mais poderosa ao tratamento ele descreve o desenvolvimento do sujeito a partir dos impulsos libidinais dizendo que estes se dividem em uma parte da personalidade que fica consciente e outra parte que se mant m inconsciente de forma que esta catexia libidinal insatisfeita ir se dirigir figura do m dico Com a descoberta do Complexo de dipo Freud descreve que esta libido inconsciente entra num curso regressivo ou seja a for a da libido inconsciente se torna mais forte que a consciente e revive as imagos infantis como a imago paterna do paciente atrav s da figura do analista Um novo olhar referente neurose de transfer ncia descrito em uma das confer ncias de Freud em 1916 onde o papel da transfer ncia ainda explicado de acordo com sua rela o com a resist ncia Freud descreve que quanto maior a intensidade e persist ncia da transfer ncia maior a express o da resist ncia a qual seria dividida em dois tipos a transfer ncia positiva carregada de sentimentos afetuosos e a transfer ncia negativa q
461. represente e representado do encontro de um rg o sensorial e um objeto apto a represent lo encontro entre o inconsciente parental e o do filho encontro m e beb encontro singular de cada destino O acaso do encontro a causalidade inconsciente causa nada linear que implica em uma pluralidade de fatores e respostas poss veis das quais a reconstru o difere muito da reconstitui o dos fatos Mijilla Mellor 1998 Acaso este que tamb m implica em admitir a insuport vel express o de uma exterioridade que nos ignora 157 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Podemos dizer que a cl nica do autismo a cl nica que maneja o desencontro Devido ao fato de um dos dois envolvidos no jogo pulsional n o comparecer nesta rela o a comunica o desorganizadora Ou a m e n o pode responder aos sinais desta crian a ou a crian a se v impossibilitada de comparecer na rela o Na cl nica com crian as trabalha se com a ferida do dilema de ser ou n o ser ter ou n o o objeto do desejo do outro ou mesmo a dor de estar exclu do deste dilema A explica o sempre um recobrimento desta ferida mas nem sempre se traduz sob a l gica da causa conseqii ncia Incorrer na confus o entre a possibilidade de reconstru o simb lica e restitui o dos fatos al m de suas implica es ticas resulta que a escuta operacional produz o discurso operacional a escuta i
462. res sem que isso coloque em quest o a conviv ncia familiar A fam lia reconhece que as ang stias haviam diminu do e que a configura o familiar estava mais harmoniosa por m h um receio da m e em conseguir sustentar essas condi es quando da volta ao trabalho Na sess o seguinte a m e j havia voltado ao trabalho e havia alguma tens o pelo car ter de reorganiza o da rotina mas que n o parecia adquirir os contornos de congelamento e ang stia que hav amos testemunhado no primeiro encontro A sess o se desenvolve mais como um relato do que haviam descoberto com as ltimas mudan as mas parecia ter um leve tom de reasseguramento que eles buscavam nas analistas Ap s seis meses num telefonema que havia sido combinado para essa poca Flora diz estar preocupada com Bruna que se mostrava muito insegura e amedrontada e marcamos uma conversa com o casal para entender melhor a queixa atual Eles contam que a filha n o queria ficar na escola e chorava todos os dias al m de acordar noite com pesadelos Ao longo da sess o alguns fatores como mudan a de escola e crise do casal vai deixando 21 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as claro que Bruna havia se sentido insegura com algumas perdas que havia tido em rela o escola e s perdas inerentes ao fato de estar crescida potencializado pelos viv ncias com a irm e a imin ncia de perda que a crise do casal se col
463. rganizar a hip tese de que esse sintoma funciona como um s mbolo da dificuldade em viver a identifica o simb lica com o pai ficamos com outras quest es Uma delas a seguinte por quais motivos o sintoma com fun o de castra o permaneceu situado na linguagem Essa pergunta trabalhada ao longo da apresenta o do caso de Bernardo pelas rela es estabelecidas entre o sintoma na linguagem e os ideais parentais O manejo aparentemente simples de se calar para que a fala do outro tenha lugar segundo a teoria psicanal tica significa de fato sustentar o lugar do sujeito quase como faz a m e que passa depois do per odo inicial de indiferencia o e fus o a desconfiar de que n o sabe o desejo de seu beb e precisa dirigir lhe uma quest o colocando o assim na posi o de enunciador e sustent culo do seu dizer e n o mais submetido tradu o sincronizada de si pelas proje es imagin rias dela poss vel nesse exemplo simples verificar que toda a diferen a suposta no lugar que o sujeito pode ocupar a partir da escuta a ele conferida no tempo e no espa o da cl nica tende a ser potencializadora de alteridade e de marcas distintivas de si para si mesmo nos processos de identifica o De modo an logo dedica o desconfiada da m e que vai aos poucos transformando um beb dependente num sujeito diferenciado dela a fun o do terapeuta que suporta o valor de uma fala escandida e comprometida em sua forma p
464. rian as em acolhimento institucional que pretendemos pensar Os desenvolvimentos te ricos no campo da psicologia e especialmente da psican lise levaram por um lado compreens o de que o trabalho do abrigo poderia associar necessidades de pertencimento v nculo e separa o Para muitos no entanto essa possibilidade estaria relacionada maior dura o do per odo de acolhimento das crian as e adolescentes nas institui es de acolhimento Por outro lado muitos estudos ao tomarem como objeto o regime disciplinador controlador e autorit rio que caracterizavam estas institui es num passado recente mostraram os preju zos do isolamento da massifica o e da aus ncia do conv vio familiar e comunit rio ao desenvolvimento dessas crian as e desses adolescentes que produziam alguns efeitos como depend ncia em rela o institui o e pouca habilidade em participar do conv vio social especialmente em diferentes contextos que n o o dos abrigos Esses estudos justificariam a transitoriedade expressa na Lei Estatuto da Crian a e do Adolescente ECA O ECA Lei Federal promulgada em 1990 introduz novos par metros legais ao propor prote o integral aos direitos da crian a e do adolescente entre os quais est o o direito vida educa o e conviv ncia familiar e comunit ria O abrigo medida provis ria e excepcional utiliz vel como forma de transi o para a coloca o em fam lia subs
465. ritmadas vai se tornando sol vel A fun o desse ritual produzir um som t pico que se algu m estiver passando reconhecer o som e se sentir convidado a juntar se ao bedu no Essas hist rias vieram minha lembran a enquanto lia o livro Tirando os sapatos de Nilton Bonder O autor faz reflex es sobre a passagem b blica de Abr o as quais coloco a seguir j com minhas pr prias reflex es Quando Abra o ouve o chamado de Deus sai da terra de seus pais para seguir em dire o a Terra prometida Abra o n o sabia onde era a terra prometida Para Bonder o objetivo n o era a terra mas o ir Abra o sai do conhecido para construir algo ainda desconhecido O nome dessa passagem b blica Lech lech que significa tanto v para si mesmo quanto v por si mesmo Ser peregrino ir para si mesmo trilhando um caminho E ir para si mesmo buscar algo para al m do j conhecido As amea as n o est o no caminho nem no desconhecido mas na vulnerabilidade gerada pelos fundamentos enraizados Esses nos impedem de reflex o e se confundem com a nossa pr pria identidade Por outro lado a seguran a est na intera o nos v nculos estabelecidos com pessoas Todo viajante necessita da hospitalidade para sobreviver Os fundamentos enraizados impedem da intera o e de aceitar a hospitalidade Sem hospitalidade n o viajamos e n o tra amos o nosso caminho n o podemos ir a n s mesmos No caminho h
466. roblema Ser que vai acontecer alguma coisa quando ela nascer Juliana nasce normal e saud vel por m n o pode ser admirada por sua m e faltou lhe a experi ncia est tica Apreens o do belo No dia do parto segundo o relato da m e foi tudo muito estranho parecia que eu n o sabia o que eu tava fazendo l N o lembro da emo o era como se n o tivesse se realizado Se n o olho as fotos Ao chegar no quarto teve muito medo de perder a filha ou de n o dar conta Chorava sem parar O pai percebe que estava deprimida no dia seguinte ao parto Foi medicada durante 3 meses Amamenta a filha no peito por 4 meses o leite secou depois introduz a mamadeira Ao introduzir a papinha recebe a recusa da filha Eu falo que n o me sinto m e Imaginava uma bonequinha mas agora eu vi que n o assim Quando o pai chega em casa sempre brinca com a filha e se divertem juntos mas quando escuta a m e subindo as escadas parece que muda fica nervosa chegando a agredir o pai Quero a mam e O corte deve radical n o h como fazer uma passagem gradativa H um v cuo entre o pai e a m e Propomos ao casal um atendimento fam lia e eles aceitam Por que Juliana n o pode comer Do que fala seu corpo Para o que se fecha Qual o sentido deste sintoma de recusa Fruto de uma insemina o artificial de um casal que n o conseguia engravidar sem motivos org nicos evidentes Uma m e angustiada ferida n
467. roblemas de comportamento seus atrasos de aprendizagem e sobre seus supostos sintomas ps quicos Torna se necess rio refletirmos acerca de nossa posi o profissional diante destas demandas familiares e escolares sobre as crian as e quais as concep es sobre inf ncia fam lia educa o e tratamento que abordaremos para circunscrevermos nossas posi es te ricas e ticas nas pr ticas com a inf ncia e especialmente no caso deste trabalho na escuta e interven es com suas fam lias O presente trabalho ressalta portanto a import ncia da sustenta o de um dispositivo institucional voltado especialmente para o trabalho com os pais em grupo configurando uma estrat gia de manejo transferencial na qual buscamos devolver aos pais o saber simb lico sobre seus pr prios filhos O contexto atual de um cientificismo exacerbado sobre os cuidados e a educa o infantil parece promover nos pais uma perda de sua identidade parental e do reconhecimento do que se suporia para cada um ser pai ou m e de uma crian a cuidando e educando a singularmente Espera se que o trabalho apresentado tenha seus desdobramentos futuros e possa incidir em outras pr ticas sociais voltadas s crian as e suas fam lias propiciando uma abertura para questionamentos que no lugar da exclus o da culpabiliza o das interpreta es selvagens ou da orienta o e treinamento diretivo e an nimo dos pais caminhem na dire o de inclu los na
468. rpo Rev Esc Enf USP V 32 n p 117 23 ago 1998 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Notas sobre a transfer ncia no contexto de pesquisa com Indicadores Cl nicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil IRDI Angela Flexa Di Paolo Apresentador do Trabalho Rog rio Lerner Ana Silvia de Morais Andrea Bianchini Tocchio Edna M rcia Koizume Bronzatto Gabriela Xavier de Ara jo Nathalia Teixeira Caldas Campana Palavras chave Sinais Iniciais de Problemas De Desenvolvimento Transfer ncia Psican lise e Pesquisa Indicadores Cl nicos de Risco para Desenvolvimento Infantil Introdu o Ao propor debater o tema transfer ncia em um contexto de pesquisa que p e em jogo a aplica o de um protocolo que busca detectar sinais de risco de transtornos na inf ncia Cf LERNER KUPFER 2008 KUPFER et al 2008 KUPFER et al 2009 KUPFER et al 2010 algumas quest es se inscrevem de que forma poss vel observar manifesta es de transfer ncia Como sustentar a posi o de um pesquisador interessado em observar sinais de problemas na inf ncia e ao mesmo tempo partir do discurso psicanal tico que j opera seu tratamento Como sustentar uma posi o investigativa que permita reconhecer sustentar la os transferenciais sem ignor los ou interpret los em excesso Tendo em vista esses questionamentos este trabalho tem como objetivo principal de
469. rrando me como se eu fosse um objeto atrapalhando seu caminho Tudo parecia funcionar num continuum n o discriminado casa sala de espera sala de atendimento como se ele n o pudesse perceber o in cio de cada encontro comigo e consequentemente apresentava muita dificuldade nos encerramentos das sess es Seus comportamentos de atirar objetos no ch o seus ataques de raiva e sua oposi o em sair da sala n o pareciam ser da ordem de movimentos transferenciais e sim de descargas motoras desorganizadas a es carentes de um sujeito que as exercesse E quando n o h um sujeito que se aproprie das suas a es n o h por correlato um destinat rio para essas a es sendo elas simplesmente o prot tipo da descarga Suas falhas na instala o do eu correlativo ao eixo da temporalidade o impossibilitavam de encerrar uma sess o tranquilo pela garantia do amanh como continuidade desse encontro vivenciando cada experi ncia como nica pontual em si mesma N o conseguia se organizar e se locomover satisfatoriamente no mundo ao seu redor Assim trombava com os m veis ou tinha ataques de ira quando queria passar entre a poltrona e a parede insistindo com um corpo num espa o visivelmente imposs vel de ser atravessado demonstrando suas falhas na apropria o e representa o do pr prio corpo Numa sess o me disse quando eu era grande e apesar da constru o da frase incluir a palavra eu acredito que n o estava
470. rtante para voc ao mesmo tempo que evidenciava um efeito do nosso rduo trabalho Voc podia ser agrad vel com o outro Ao longo do tempo outras demonstra es de gentileza intercalavam as cenas de humilha o Um dia voc contou que veria o espet culo do Cirque Du Soleil Perguntou se eu j havia visto algum respondi que h muitos anos eu assistira a montagem de Alegria que havia gostado muito e que a m sica era linda Na sess o seguinte voc apareceu com uns fones e sem dizer nada os colocou nos meus ouvidos Ao reconhecer a trilha daquele espet culo eu sorri e voc sorriu tamb m Desta vez n o era de deboche E voc que outrora havia criado um personagem chamado motorista suicidero um boneco sentado em um carrinho de lego que voc lan ava com toda a for a div abaixo para ver em quantas partes ele se partia agora incorporava um novo personagem Voc era um grande cirurgi o de renome internacional o nome que voc deu a ele era de fato a vers o do seu nome em ingl s que tinha uma especialidade peculiar ele ressucitava pessoas que haviam morrido degoladas colando de volta suas cabe as no lugar O tratamento era rebuscado envolvia cirurgia complexas ataduras e uma longa recupera o em uma maca especial criada por voc Fizemos juntos a tal maca com material de sucata Claro que eu ficava com a parte trabalhosa voc dava as ordens Investimento de v rias sess es a maca era um apanhado de caixas de rem
471. rupal sobre Ana Laura 3 anos acordar chorando e dificuldade dos cuidadores em saber o que se passava com ela M e do Marcos Uma crian a pode adoecer por n o estar gostando do ambiente que ela est Assim ele estava tendo febre e l em casa pode ter sido um estado emocional essa febre dele Condensando aspectos em quest o conceitualizando inquieta es em processo de formula o durante o grupo conex o entre f sico ps quico Terapeuta M O que voc s acham Convocando o grupo a pensar expandindo a discuss o M e do Reinaldo Eu acho que sim por que minha irm teve isso quando n s ramos crian as minha m e levou eu e ela para o Nordeste Aqui a gente acostuma com a gua da torneira e l voc tinha que pegar gua em um barreiro n A chuva acumula gua tinha sapo quando a minha irm viu aquilo ela j teve febre ficou 2 semanas com febre direto Ela n o queria comer n o queria nada para dar banho nela era uma tortura tinha que pegar aquela gua ferver Ent o ela falava M e esta gua est suja e tinha sapo Ent o essa febre foi aumentando aumentando aumentando A minha m e falou Eu vou embora sen o minha filha vai acabar morrendo aqui A febre dela s acabou ela s quis comida quando viu a Bas lica da Aparecida do Norte Acho que ela pensou assim Eu estou em casa A febre foi embora ent o eu acredito que seja emocional Oferecendo associa es com viv ncias inf
472. rven es psicoter picas tem que considerar o ambiente da crian a e do adolescente e inclu lo na interven o realizada Nesse contexto a inclus o dos pais e familiares tem se revelado aspecto fundamental na Cl nica Psicoter pica Psicanal tica Refer ncias Bibliogr ficas Louz Neto M R 2010 TDAH ao longo da vida Porto Alegre Artmed Motta F Sant Anna B A Miranda M C Muszkat M Polizio B P Mangucci E Ricastro R M Ribeiro S R Lacerda R R 2010 Proposta de Interven o para Crian as e adolescentes portadores de TDAH VII Simp sio Nacional de Investiga o em Psicologia Braga Portugal Motta 1 F 2006 Orienta es de Pais S o Paulo Casa do Psic logo Motta F amp Rosa J T 2008 Viol ncia e Sofrimento de crian as e adolescentes Aparecida do Norte SP Id ias e Letras Winnicott D W 1975 O brincar e a realidade J O de Abreu amp V Nobre trad Rio de Janeiro Imago WINNICOTT D W 1983 O ambiente e os processos de matura o Irineo Constantino Schuch Ortiz trad Porto Alegre Artmed WINNICOTT D W 1989 Tudo come a em casa Paulo Sandlertrad S o Paulo Martins Fontes WINNICOTT D W 1990 Natureza humana Davi Litman Bogomoletz trad Rio de Janeiro Imago 112 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Considera es sobre tica e psican lise na cl nica com crian as Julia
473. s provocar as diferentes pessoas envolvidas permitindo que as certezas a respeito daquela crian a d em lugar s interroga es fazendo com que eles passem do estatuto de resposta para a pergunta poss vel tratar esta crian a O in cio de tratamento deve necessariamente passar por um tempo de trabalho pr vio como o que Freud 1913 denominou tratamento de ensaio para indicar um trabalho pr vio an lise propriamente dita e posteriormente Lacan chamou de entrevistas preliminares assinalando que h um limiar uma porta de entrada para esse processo Refer ncias Bibliogr ficas ASSOUN P L 2006 Le ons psychanalytiques sur Le Transfert Paris Anthropos FREUD S 1895 Estudos sobre a histeria In Edi o Standard das obras completas de Sigmund Freud vol 2 Rio de Janeiro Imago 1969 nas 1909 An lise de uma fobia em um menino de cinco anos In Edi o Standard das obras completas de Sigmund Freud vol 10 p 15 Rio de Janeiro Imago 1969 O 1912 Recomenda es aos m dicos que exercem a psican lise In Edi o Standard das obras completas de Sigmund Freud vol 12 p 149 159 Rio de Janeiro Imago 1969 1913 Sobre o in cio do tratamento Novas recomenda es sobre a t cnica da psican lise In Edi o Standard das obras completas de Sigmund Freud vol 12 p 164 187 Rio de Janeiro Imago 1969 1918 Linhas de progresso da terapia psicanal tica In Edi
474. s s viv ncias de rupturas as quais desencadeavam ang stias extremas na crian a e prejudicavam o progresso do desenvolvimento ps quico Winnicott 1960 1990 O ambiente tem por isso como principal fun o a redu o ao m nimo das irrita es a que o lactente deva reagir com o consequente aniquilamento do ser pessoal Sob condi es favor veis o lactente estabelece uma continuidade da exist ncia e assim come a a desenvolver a sofistica o que torna poss vel estas irrita es serem absorvidas na rea da onipot ncia p 47 A institui o entrou em reformas no per odo do est gio Tal fato acarretou em uma s rie de mudan as na rotina do ambiente que repercutiram obviamente na rotina de Caique Al m do barulho e movimenta o de pessoas diferentes nas depend ncias do abrigo Caique mudou de quarto e os atendimentos a partir de ent o foram transferidos para uma sala diferente No primeiro atendimento ap s a mudan a a crian a apresentou um choro intermitente ao ser levado para a nova sala Ap s v rias tentativas para acalm lo mas sem resultado positivo o beb foi direcionado ao p tio o que o tranquilizou Este manejo repetiu se nos cinco atendimentos seguintes Gradativamente estar na sala nova deixou de ser intrusivo Novamente a adapta o s necessidades de Caique faz se imprescind vel o que foi poss vel atrav s da nossa identifica o com a crian a um estado de preocupa o materna da terapeuta co
475. s de idade e que aos 11 foi devolvido e temporariamente abrigado para depois voltar a viver com sua m e biol gica reflito sobre as m ltiplas transfer ncias e demandas presentes nesse trabalho assim como nos movimentos contratransferenciais em mim suscitados no encontro com esse paciente e com os diversos atores que fizeram parte desta cena cl nica 1 Fl via Blay Levisky psicanalista mestre em psicologia social IP USP psic loga PUC SP membro do Departamento de Psican lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientiae e integrante do Grupo Acesso Estudos Interven es e Pesquisa sobre ado o da cl nica psicol gica do instituto Sedes Sapientiae flavialevisky gmail com 87 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Algumas quest es relacionadas transfer ncia no psicodiagn stico interventivo Giselle Faria Guimar es Mariana do Nascimento Arruda Fantini Palavras chave Psicodiagn stico Interventivo Transfer ncia Objeto subjetivo Jogo da Esp tula Procuramos neste trabalho construir uma reflex o sobre o fen meno transferencial na pr tica do psicodiagn stico interventivo em grupo realizado na cl nica escola da Universidade Paulista UNIP Esta forma de conduzir a avalia o psicol gica e a concep o cl nica subjacente a este modelo uma das caracter sticas marcantes na forma o dos alunos de Psicologia da UNIP De certa forma como de
476. s estagi rios ou a professora ou o m dico Essa via da demanda foi a porta por onde entrei no trabalho e a o que fiz foi me deixar guiar abandonando sobretudo a concep o de que nosso paciente era a crian a Como al m de tudo nossos pequenos pacientes via de regra n o falavam ou falavam muito pouco come amos a ouvir o que as m es tinham a dizer Entendi em 1987 que eu deveria orientar meus alunos a receberem a crian a como quem aceita o jogo proposto pela m e mas que deveriam receber tamb m a m e uma vez que ela assim solicitasse E foi desta forma que iniciamos um trabalho que foi bastante frut fero e n o menos intrigante Iniciei meu percurso como professora no ano de 1974 desenvolvendo minha cl nica junto quela que se denomina hoje Cl nica Durval Marcondes ligada ao Departamento de Psicologia Cl nica do IPUSP Fundada por esse professor que tamb m ajudou a formar a Sociedade Brasileira de Psican lise de S o Paulo essa cl nica foi organizada segundo a doutrina freudiana Nela a pr tica era a seguinte triava se entre os pacientes que procuravam por atendimento aqueles que seriam atendidos ali os neur ticos e os demais pacientes eram encaminhados a outras institui es habilitadas ao seu atendimento que n o existiam naquela poca Assim as crian as de que me ocupei como pesquisadora tinham como hist ria cl nica sucessivos trabalhos de diagn stico e posterior encaminhamento 122 ANA
477. s ocupam de maneira genu na o lugar de cuidadoras e adultas aparece a capacidade de olhar a crian a e reconhecer suas necessidades Ent o 2006 Caos e desesperan a 2007 Constitui o de holding e no es de continuidade de envolvimento e 2008 Envolvimento e esperan a Surge o futuro S ntese do Procedimento de Desenhos Est rias com Tema Selecionamos uma an lise para esta apresenta o A cuidadora ser identificada por N vea nome fict cio 50 anos N vea evolui em sua din mica ps quica revela a diferencia o alcan ada representa uma figura adulta e duas crian as acompanhadas por um movimento de gratid o e afetividade Comunica que evoluiu e agora pode ocupar o lugar de uma pessoa adulta que cuida de crian as com sentimentos afetivos permeados por uma postura de acolhimento e ternura As rela es s o retratadas como n o sendo apenas parcerias idealizadas e rela es simbi ticas como em 2006 Comunica o contato com as emo es e revela ainda ang stias marcadas pela desconfian a de v nculos 6 Preservamos o material gr fico e n o apresentaremos os desenhos e as respectivas hist rias 67 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as O contato com as emo es alegria e tristeza apresenta se acompanhado pela internaliza o da Moral e a tica senso de valores como conquistas do desenvolvimento Considera es Finais Este estudo nos
478. s que queiram estar presentes H tamb m um rod zio de local de acordo com a disponibilidade de salas e profissionais participantes Os profissionais s o convidados a trazerem livremente preocupa es com o seu dia a dia de contato com os beb s internados e seus pais Busca se detalhar a situa o relatada na tentativa de expandir as possibilidades de compreens o dos aspectos envolvidos no cuidado aos beb s e poss veis motiva es emocionais presentes nos contatos entre pais e profissionais e no contato dos profissionais entre si diante de ang stias inerentes a seu contexto de trabalho Assim movimentos transferenciais e contratransferenciais entre as v rias inst ncias de cuidado podem ser evidenciados comentados e elaborados no contexto tamb m cuidador e continente do Grupo de Reflex o A proposta baseia se no modelo de Discuss o de Situa o de Trabalho presente nos cursos de forma o em Estudos Observacionais Psicanal ticos e na tradi o desenvolvida pela Cl nica Tavistock de Londres refer ncia para o atendimento de Crian as e Fam lias no National Heath Service na Inglaterra e refer ncia internacional no setor de assist ncia ensino e pesquisa em cuidados na rea de Sa de Mental 4 Alexandra Huebner Giorge e Mari ngela Mendes de Almeida 5 Veridiana Chimirri 10 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Aqui em S o Paulo desde 1987 a partir da ini
479. sa a ser determinada pela qualidade sens vel do psicanalista principalmente em pacientes traumatizados modulada pela singularidade de cada analisando Dessa forma nesses pacientes n o seria a neurose de transfer ncia freudiana atualiza o do insconsciente mas no percurso anal tico o analista se deixa odiar destruir e ser usado pelo analisando fazendo do encontro afetivo cria o As contribui es da escola francesa influenciadas pela sistematiza o lacaniana trazem Fran oise Dolto que enfatiza a erogeneidade das diversas partes do corpo e pela experi ncia corporal vivenciada pela media o da fun o materna produz simboliza o E Maud Mannoni sublinha os lugares que uma crian a ocupa em rela o aos fantasmas dos pais Para ela no processo anal tico emerge a hist ria dos desejos parentais os n o ditos os discursos entrela ando as tramas ps quicas portanto a escuta anal tica deve ser estendida al m do sintoma que a crian a apresenta indo at seu meio familiar e social Jean Laplanche retrabalhando e reformulando conceitos mas na trilha freudiana reconhece a transfer ncia como reveladora do inconsciente portanto portadora de um novo sentido A dimens o fundamental da transfer ncia para ele seria a rela o ao enigma do outro Com a formula o de sua teoria a sedu o generalizada reafirma o eixo a prioridade do outro na constitui o do sujeito sexual O enigma sexual proposto pelos adultos cr
480. saberes e que nunca se completa Refer ncias Bibliogr ficas BERNARDINO L M F A interven o psicanal tica nas psicoses n o decididas na inf ncia In Col quio do LEPSI IP FE USP 2006 S o Paulo Col quio do Lepsi IP FE USP 5 S o Paulo 2006 GHAZIUDDIN M Al K e GHAZIUDDIN N Autistic symptoms following herpes encephalitis in http www ncbi nlm nih gov pubmed 12369775 2002 JERUSALINSKY A N Semin rios S o Paulo USP 2001 Multidisciplina Interdisciplina e Transdisciplina no trabalho cl nico com crian as Escritos da Crian a N 3 Porto Alegre Centro Lydia Coriat 1990 LACAN J O Semin rio Os quatro conceitos fundamentais da psican lise 1964 Livro 11 Rio de Janeiro Jorge Zahar 1998 LAZNIK M C A voz da sereia O autismo e os impasses na constitui o do sujeito Salvador Ed galma 2004 MOMO A R B SILVESTRE C e GRACIANI Z O processamento sensorial como ferramenta para educadores facilitando o processo de aprendizagem Ed Memnom S o Paulo 2011 PINHO G S A Psican lise e a Cl nica Interdisciplinar com Crian as A Psican lise na Interdisciplinaridade Revista da APPOA Porto Alegre n 120 dez 2003 SCHWARTZMAN J S e ARA JO C A Integra o Sensorial nos Transtornos do Espectro do Autismo in Transtornos do Espectro do Autismo MOMO A e SILVESTRE C Ed Memnon S o Paulo 2011 43 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia
481. sadora e psic loga colaboradora do N cleo de Abrigos do LAPECRI USP Membro do Grupo de Estudos e Pr ticas Psicol gicas em Institui es GEPPI onde realiza trabalhos com fam lias em processo de ado o e assessoria psicol gica a institui es de acolhimento de crian as e adolescentes pammela mattosQuol com br 171 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as identificava no prontu rio da crian a algumas informa es sobre sua fam lia de origem A seguir apresentaremos uma s ntese dos encontros e suas respectivas an lises seguido pelas produ es gr ficas desenvolvidas nos encontros Hist rico A crian a era vista pela institui o de forma alegre sorridente e obediente n o demandando muita aten o das cuidadoras para com ela Nos encontros iniciais dos atendimentos psicol gicos apresentava retraimento ansiedade estados de excita o e comportamentos obsessivos Carolina est inserida numa prole de oito irm os sendo que deste tr s encontram se em acolhimento na mesma institui o Desenvolvimento 1 Encontro Ligando os pontos Carolina decide brincar de escolinha escolhe que a psic loga ser a professora e ela a aluna solicitando que a psic loga fa a um desenho de liga pontos Os pequeninos c rculos feitos s o unidos por Carolina por m alguns intervalos entre os c rculos que ficam sem conex o que s se unem ap s a psic loga identific
482. sanimada Trazem a empregada para ajudar ela fica na sala de espera Os pais contam que falaram com o pediatra da possibilidade de pensar em uma nova gravidez mas este achou que era melhor esperar Mas a inclus o desta nova possibilidade apesar de enfraquecer sua sa de traz uma Juliana mais brincante e mais em contato com as terapeutas que transitam entre si o lugar na brincadeira A quarta sess o revela uma abertura da fam lia Juliana j aceita um pouco mais a comida e os pais j cogitam a possibilidade de resignificar uma gravidez e j poss vel visualizar Juliana podendo frequentar outros espa os A brincadeira rica com temas de fam lia e alimenta o sugerido a Juliana se gostaria que mais algu m participasse com ela da brincadeira e ela chama a m e que fica muito emocionada poss vel achar gra a de seu ci me em rela o s terapeutas Falamos novamente dos temores que sempre acompanharam a experi ncia de maternagem mas o ambiente n o traz a tens o dos primeiros encontros uma lembran a de um passado dif cil mas que n o se presentifica no encontro Podemos nos separar um pouco tamb m como terapeutas desta fam lia O novo encontro s marcado para um m s depois Ao longo dos encontros pudemos ajudar ao 1 Possibilitar m e lidar com sua culpa referente a depress o p s parto e explicitar seus receios de n o poder ser uma boa m e que a levavam a propor uma rela o fusionada com a filha e si
483. scrito por Ancona Lopez 1995a a constru o acabamento e sistematiza o deste jeito caracter stico de conduzir o psicodiagn stico coincide com a pr pria hist ria do curso e da cl nica escola de Psicologia da Universidade Paulista Conferindo desta forma um tra o identit rio na forma o do aluno Nesta modalidade de atendimento o psicodiagn stico tamb m encarado como um momento privilegiado para a obten o de efeitos terap uticos ou seja n o se encerra na coleta de dados que v o ajudar o profissional a discernir sobre o encaminhamento e orientar o futuro processo psicoter pico Tomando o psicodiagn stico dentro de um contexto investigativo e avaliativo os pr prios movimentos transfer nciais e contratransfer nciais tamb m ser o entendidos como dados a serem recolhidos como recomendado por Ocampo Arzeno Piccolo e col 1994 no decorrer das entrevistas necess rio entender o que o paciente transfere para o psic logo e o que isso lhe provoca fato que permite uma caracteriza o do tipo de v nculo que o paciente estabelece Mas frente ao psicodiagn stico interventivo diluem se as fronteiras entre a etapa diagn stica e a psicoterapia Por valorizar o momento de busca pelo atendimento psicol gico entende se que fundamental intervir no presente momento no qual as inquieta es e sofrimentos do paciente est o mobilizando o o bastante para ele ter pedido ajuda profissional n o delegando assim as interven es
484. se recorte h um momento em que eu me defronto com o n o entendimento do que acontece Isso ocorre por eu tentar satisfazer meu narcisismo ser boa analista que entende o que acontece e contribu com timas interven es particularmente interpreta es Quando Ivo diz n o entender o que aquela mulher disse eu relaciono a pessoa que bateu a porta Eu perdi o momento presente Ivo denunciava que est vamos sem entender o que acontecia Assim distanciada do presente a pergunta se tenho filhos me pareceu uma pergunta absurda Eu n o sabia como tinha surgido e na busca de explica es fiquei sem saber o que dizer E embora a pergunta pudesse trazer tanto uma resposta positiva quanto negativa se surpreendem com o n o ou ser com o meu impacto Ao responder me coloquei de alguma forma mais presente na sess o me revelando como pessoa As crian as perceberam que fiquei impactada o que tamb m causou impacto neles Na resposta eu revelei minha intimidade sou uma pessoa que tamb m perde o controle Tamb m me surpreendo e fico sem saber o que fazer com o que sinto Houve a invers o de fluxo das identifica es projetivas Como Ferro colocou por eu n o estar aberta ao desconhecido promovi a culpa e funcionei para destruir a possibilidade de conhecimento O grupo precisou encontrar uma maneira de se recompor de se organizar e entender o que acontecia Por m nesse momento n o puderam contar com a ana
485. seis anos mediante o qual poderemos ver que a gagueira est imbricada na l gica das opera es de subjetiva o marcadamente vividas no contexto da conflitiva ed pica Nesse caso observamos que o sintoma na fala pode estar associados ao modo como os tra os identificat rios s o produzidos pela refer ncia simb lica ao pai Partindo do caso Hans FREUD 1909 o sintoma organizado como resposta ao espa o deixado vago pelo pai o menino desloca a fun o deste como elemento da castra o para o cavalo o acerto realizado pelo sintoma visa assegurar sua integridade f sica e ps quica pois evita um mal mais perigoso que o de permanecer num imenso desprop sito como assegura Nasio 2007 10 o de manter o desejo sexual de um adulto na cabecinha de um menino de quatro anos Cumprida sua fun o de castra o que traz como produto o superego herdeiro do complexo de dipo o sintoma perde sua fun o e a 1 Doutora em psicologia cl nica n cleo de psican lise pela PUCSP mestre em fonoaudiologia pela PUCSP psicanalista fonoaudi loga foi professora do curso de fonoaudiologia da PUCSP professora do curso de especializa o da COGEAE cl nica interdisciplinar com beb s e do curso de especializa o em linguagem inestassinariQuol com br 2 A crian a na cl nica psicanal tica Rio de janeiro Companhia de Freud 2004 146 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica
486. senvolvimento desta proposta se organiza para atender solicita o dos profissionais do per odo vespertino Caracter sticas da popula o alvo demandante do Grupo de Reflex o nossa casu stica A Unidade Neonatal composta por 24 leitos sendo 8 de cuidados intensivos 8 de cuidados semi intensivos e 8 de cuidados intermedi rios com um ndice de ocupa o acima de 80 destinada ao atendimento de pacientes que necessitam de atendimento de alta complexidade com progn stico incerto devido a malforma es ou condi es cl nicas prec rias que comprometem sua recupera o plena associando se fatores de ordem socioecon mica e cultural que por vezes dificultam restringem ou inviabilizam as altas e A Unidade Neonatal est inserida em uma institui o de ensino dedicada forma o de profissionais j graduados com o objetivo de especializa o e p s gradua o fato que promove uma variada rede de conex es e relacionamentos aumentando a rede de movimentos em transfer ncias m ltiplas que exige dos envolvidos flexibilidade receptividade assertividade e organiza o o que muitas vezes se mostra desgastante para o grupo considerando as diferentes fun es que necessitam desempenhar vide ilustra o em anexo A equipe de enfermagem numerosa e constitui a nica categoria profissional presente constantemente dentro da Unidade sem rotatividade tendo em vista que os demais profissionais atuam de maneira peri d
487. ser uma cl nica com crian as e por ser no mbito institucional A quest o lan ada pelo col quio de pensar a transfer ncia na cl nica com crian as na cena contempor nea nos remete ao texto Freudiano com as descobertas do insconsciente da transfer ncia e da sexualidade infantil Vemos que na sua teoriza o o conceito de transfer ncia surge no ltimo dos ensaios que comp em a colet nea Estudos sobre a Histeria escrita em parceria com Joseph Breuer 1985 no qual as duas principais no es referentes cl nica s o enunciadas resist ncia e transfer ncia Daniel Kupermann faz um itiner rio do conceito de transfer ncia a partir desse momento pensada como resist ncia indo na dire o da repeti o necess ria ao trabalho de acesso s fantasias recalcadas e ao Complexo de dipo com a atualiza o do inconsciente Isto implica em riscos e desafios para o analista na situa o cl nica como podemos ler nos textos A Din mica da Transfer ncia 1912 Observa es sobre o amor Transferencial em 1915 e Recordar Repetir e Elaborar em1914 Assim a transfer ncia no artigo A Din mica na Transfer ncia j surge como repeti o incorporada ao processo anal tico podendo ser positiva ou negativa e aliada descoberta de que todas as rela es emocionais se desenvolvem a partir de desejos vinculados sexualidade Pensar sobre a transfer ncia no trabalho institucional nos instiga pelos desafios encontr
488. sibilita um suporte para esses profissionais 121 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Quero dizer que uma tal forma de trabalho deve se instituir no interior da rede social que se dedica ao cuidado da crian a e de sua m e pois n o se trata de um trabalho que vai atender a todas as necessidades apresentadas neste campo Penso ainda que a dura o limitada do trabalho est impl cita no fato de que ele tem um objetivo claro mediar o trabalho desenvolvido na cl nica e a inser o da crian a na escola e oferecer um espa o para o desenvolvimento de est gios de pesquisas de mestrado e de doutorado Tudo isso tem uma dura o limitada diferentemente do trabalho cl nico cuja dura o indeterminada poss vel analisar a loucura A essa pergunta esta pesquisa que relato aqui responde que sim E o faz a partir de uma investiga o realizada na cl nica Seguindo apenas a teoria poder amos desembocar em ao menos duas hip teses a este respeito Segundo Freud dir amos que a resposta negativa Para Freud na psicose est ausente a transfer ncia esta que uma condi o que possibilita o trabalho anal tico Tendo ele partido do trabalho junto s hist ricas e neste campo de trabalho descoberto a transfer ncia Freud postula que todo ser humano deve percorrer um caminho pr estabelecido na doutrina psicanal tica que do autoerotismo o conduzir rel
489. sican lise com Crian as La cl nica desde la perspectiva que estamos enunciando no es el lugar donde se produz la teor a es el espacio desde el cual se plantean los interrogantes que ponem en tela de juicio las teor as que sustenemos con convicci n Silvia Bleichmar 1999 Cl nica psicoanal tica y neog nesis As crian as que transbordam com suas fezes e urina s o grandes frequentadoras dos consult rios psicanal ticos No entanto a teoria psicanal tica tem nos fornecido poucos subs dios que melhor norteiem essa cl nica Pode se concluir com isso que os psicanalistas est o inclu dos na assertiva freudiana de que Todos os neur ticos e v rias outras pessoas repudiam o fato de que inter urinas et faeces nascimur nascemos entre urinas e fezes FREUD 1929 H tempos vejo me especialmente convocada a afinar minha escuta sobre a cl nica com crian as encopr ticas ou seja crian as acima de quatro anos que deixam escapar suas fezes nas roupas buscando formular as necess rias articula es metapsicol gicas Nos raros estudos psicanal ticos encontrados h uma tend ncia do entendimento de que a encoprese aponta para um grave e preocupante dist rbio indicador de correntes psic ticas do funcionamento ps quico N o descartando que essa seja uma plaus vel compreens o para alguns casos inclusive dentre alguns que atendi na cl nica psicanal tica com crian as tenho encontrado com alguma frequ ncia q
490. siderando o manejo de setting em enquadres diferenciados Os atendimentos aconteceram no contexto da institui o e o paciente um beb Ressaltamos que os encontros eram sustentados pelo contato sensorial de forma humanizada priorizando a comunica o corporal e a contratransfer ncia Conclu mos que as pr ticas psicol gicas s o fundamentais no contexto de abrigos essencialmente pela possibilidade da continuidade do processo de desenvolvimento emocional daquelas crian as que dependem deste ambiente para viver Estas pr ticas agregam os atendimentos psicol gicos com as crian as inclusive beb s acompanhados pelo cuidado com o ambiente humano circundante s crian as neste caso as cuidadoras e a m e biol gica Constatamos a import ncia de cuidar do ambiente atrelado aos cuidados com o paciente Refer ncias Bibliogr ficas Aiello Vaisbeg T M J 2004 Arteterapia para crian as In Ser e fazer Enquadres diferenciados na cl nica winnicottiana pp 173 84 Aparecida SP Id ias e Letras Careta D S 2006 An lise do desenvolvimento emocional de g meos abrigados no primeiro ano de vida encontros e diverg ncias sobre a perspectiva winnicottiana Disserta o de Mestrado Instituto de Psicologia Universidade de S o Paulo S o Paulo Careta D S 2011 Quando o ambiente o abrigo cuidando das cuidadoras de crian a em acolhimento institucional Tese de Doutorado Instituto de Psicologia Universidade de S o Pau
491. situa o O que poderia explicar a diretora que n o Clara Proponho frequ ncia de duas vezes semanais o que aceito pelos pais de Tiago Em apr s coup dou me conta que fui violentamente tomada pelo campo transferencial da entrevista pela forma impositiva de Clara identificando me projetivamente no sentido Kleiniano com sua ang stia de m e em face ao fracasso Tamb m poder amos pensar em termos da teoria de Herrmann que n algum tempo ps quico entrei de cabe a para em seguida tomar ar no campo da ang stia proposto por Clara Foi como no ditado popular Yo no creo en brujas pero que las hay las hay Eu sabia que Clara exagerava mas por via das d vidas consenti e fui falar com a diretora contaminada pela preocupa o com o fracasso escolar de Tiago ao mesmo tempo que estando certa de que Clara exagerava Clara encontrara em mim a c mplice que buscava Como era de se esperar n o havia o menor ind cio de que Tiago pudesse repetir de ano escolar No campo transferencial Clara e eu hav amos compartilhado do desejo de evitar que se concretizasse o que ela considerava como pior cen rio poss vel o fracasso escolar atravessado por esse fantasma e imerso nesse campo transferencial em que vigora o des gnio da m e que inicio um trabalho com Tiago Pude o perceber ainda mais fortemente depois dessa experi ncia de ir escola Em sala de an lise nas duas primeiras sess es Tiago mostra se um menino inteligente e cr
492. situa o anal tica atrav s do relacionamento com objetos Descreveu uma s rie de possibilidades de padr es de manipula o do objeto pelo beb representando aspectos de sua rela o com a m e ou com o m dico e inclusive a capacidade de lidar com as duas pessoas ao mesmo tempo Associa o comportamento do beb a fantasias inconscientes acerca da figura materna internalizada Ora se o beb j tem as figuras parentais internalizadas parece ser um sinal de que capaz de transferir Eliacheff 1993 relata atendimentos a beb s que sofreram graves rupturas e viviam em institui es de acolhimento Em alguns deles o comportamento descrito pelos cuidadores era muito diferente daquele apresentado durante a consulta o que a levava a crer que de alguma forma o beb tenha percep o da condi o diferenciada do setting anal tico e isso favore a que ele reviva na transfer ncia a ruptura e o sofrimento que levaram ao sintoma A interpreta o somente pode ser feita com xito quando formulada com base na transfer ncia na repeti o de conte dos no contexto da an lise ela que autoriza e atribui sentido interpreta o fazendo com que seja mais do que um enunciado vazio Eliacheff tamb m relata sua contratransfer ncia que a norteava na condu o das an lises A interpreta o para ela n o pode ser feita apenas com base no que relatado pelos cuidadores mas no que inscrito na sess o o que indica o desejo da crian a
493. sofrimento Suas possibilidades dizem respeito simboliza o das experi ncias e das rea es a elas As especificidades requeridas s o olhar e escuta para a linguagem que pr pria do beb Sutil baseada em pequenos movimentos gestos olhares vocaliza es adormeceres e despertares sobretudo como rea es s verbaliza es dos pais e analista essa linguagem requer aten o e sensibilidade para ser apreendida O beb tem inicialmente seu corpo para manifestar suas viv ncias Por isso as disfuncionalidades corporais relativas por exemplo a respira o alimenta o excre o sono s o o principal meio para externar o sofrimento e apelar por ajuda em situa es mais cr ticas medida que cresce desenvolve mais recursos de comunica o Como aponta Wilheim 1997 o humano desde o nascimento um ser destinado a falar e a que se fale com ele A comunica o subentende uma rela o intersubjetiva em que todos os envolvidos se engajam no exerc cio de conectar se consigo mesmo para transmitir se e receber o que vem do outro importante que o psicanalista que se prop e a atender em conjunto beb s e seus cuidadores possa se comunicar na l ngua do beb bem como na dos adultos Esta circula o de linguagens a condi o de ele estar ao mesmo tempo no lugar do adulto e da crian a tem rela o com a transicionalidade Caracter stica ali s que pode ser atribu da m e que precisa poder ao mesmo tempo ser adu
494. somente para o processo terap utico e para um futuro profissional ausente Ancona Lopez 1995b sintetiza essa quest o afirmando que Quando o cliente busca um psic logo espera ser atendido em suas necessidades pouco importando sob que nome este atendimento se efetue Muitas vezes desconsiderando este pedido do cliente o psic logo ao nomear sua pr tica decide postergar a interven o empobrecendo um encontro rico de possibilidades p 33 Para tanto construiu se um modelo de psicodiagn stico em grupo com o objetivo de produzir movimentos de identifica o e diferencia o favorecendo o conhecimento de si Mais do que isso preencheu se o espa o entre a entrevista inicial e final com uma s rie de devolutivas parciais na pr tica intercalam se os atendimentos das crian as com as devolutivas parciais aos pais No desenvolvimento do trabalho alunos e supervisores trabalham em conjunto com os clientes ao supervisor cabe a coordena o e condu o do grupo e aos alunos cabe o lugar de co terapeutas Tamb m existem momentos em que cada dupla de alunos conversa individualmente com o paciente pelo qual respons vel seguidos do debate em grupo De acordo com Ancona Lopez 1995 esta forma de trabalhar permite ao aluno experimentar o contato com o cliente e assistir ao manejo do grupo pelo supervisor A presen a deste garante a qualidade do atendimento ao cliente p 81 1 Psic loga graduada PUC SP Especialista em
495. sonagem em quest o dentro do seu tempo Mais especificamente seguimos a proposta de Safra 2005 para a montagem da narrativa que deve conter a ang stia b sica da crian a suas organiza es defensivas o tipo de rela o objetal e um personagem que funcione como um objeto compreensivo que ajude na integra o do self p 48 91 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Seguindo pelo caminho das dificuldades muitas vezes percebemos a necessidade de em alguns casos intervir mais diretamente frente s resist ncias que impedem o desenvolvimento do processo de psicodiagn stico Ou seja quando nos deparamos com resist ncias que impedem a abertura para a cura que resistem percep o do novo que constrangem o movimento de mudan a mas que principalmente relutam tanto frente compreens o do significado da demanda expl cita quanto frente ao encaminhamento Geralmente estas resist ncias aparecem nos respons veis pela crian a ao insistirem na compreens o costumeira das dificuldades apresentadas pela crian a e na reafirma o dos padr es relacionais da fam lia Observamos que quando a transfer ncia negativa n o consegue ser minimamente cuidada o mais comum ocorrer a desist ncia do psicodiagn stico no decorrer do processo ou a n o consecu o do encaminhamento Guiando nos pelo pensamento de Winnicott podemos entender as resist ncias como o per odo de hesit
496. sor Universit rio ricardotellesdeusQ hotmail com 2 Psicanalista Professor do Programa de P s Gradua o em Psicologia PUC Campinas autor dos livros O M todo Especulativo em Freud ed EDUC e Freud na Filosofia Brasileira em parceria com Richard Simanke ed Escuta leopoldo fulgencioQgmail com br 197 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as o tratamento de Gabrielle se situa no interior da terceira e ltima fase por ela denominada o uso de um objeto 1960 1971 p 1205 Este tratamento portanto teve lugar em um momento relativamente tardio e maduro da trajet ria cl nica te rica e pessoal de Winnicott Vejamos agora algumas das peculiaridades que fizeram parte da situa o inicial do referido tratamento O in cio do tratamento O primeiro contato que Winnicott estabeleceu com o caso ao que parece se deu por meio de uma carta redigida e enviada a ele pelos pais da paciente Na carta Gabrielle descrita como algu m que em linhas gerais se desenvolveu saudavelmente at os vinte e um meses de idade ocasi o em que nasceu Susan sua irm menor A partir da de acordo com o relato dos pais teve lugar na menina toda uma s rie de preocupantes modifica es Bem descrito pelos pais segundo Winnicott o complexo estado cl nico de Piggle manifestado logo ap s o nascimento de sua irm inclu a dentre outros fen menos
497. ssa a criar hist rias atrav s das quais se d a conhecer por meio de suas fantasias Nas fantasias trazidas ora uma empregada a principal protagonista ora aparece uma nova personagem uma boneca que est doente de quem Nice cuida muito bem Numa ocasi o Lourdes a m e adotiva relata para analista um atrito ocorrido entre ela e a filha em que esta lhe disse Pode me devolver para o abrigo quando eu crescer voc me pega como sua empregada Em Del rios e sonhos na Gradiva de Jensen Freud 1907 diz que as fantasias que emergem frente ao contato com as rel quias de um passado aparentemente esquecido n o s o um produto arbitr rio da imagina o constituem se num eco de lembran as infantis esquecidas Tais lembran as s o tecidas sobre tra os de mem ria Al m disto Nice traz recorrentemente o medo de ser esquecida pela m e adotiva Trata se a da irrup o no real de um acontecimento traum tico que s poder se inscrever no inconsciente se algumas palavras forem encontradas para reconstruir uma hist ria apagada e reduzida a nada mas que insiste com a for a de atos que se repetem analista a m e adotiva transmite a seguinte hist ria que Nice teria lhe contado aos cinco anos de idade Nice foi deixada em frente ao Foro por sua m e biol gica que nesta ocasi o disse lhe que voltaria mais tarde mas isto n o aconteceu Pouco depois Nice foi levada para um lugar que chama de orfanato no qual morou por
498. ssoa capaz de prover o cuidado materno satisfat rio que auxiliar o desenvolvimento saud vel do beb a chamada m e suficientemente boa para Winnicott garantindo atrav s de identifica es com seu beb o holding ou seja a provis o ambiental total O conceito de holding inclui a rotina completa do cuidado seguindo as mudan as instant neas do dia a dia Tal cuidado n o o mesmo para diferentes crian as Winnicott 1960 1990 Ou seja um ambiente humano que se adapte s necessidades do beb Afase de holding vai facilitar que o beb caminhe em seu desenvolvimento partindo da depend ncia absoluta em que o beb n o percebe o cuidado materno o beb ainda n o uma unidade portanto est fundido m e n o podendo assumir controle do que bem ou mal feito logo estando em posi o de apenas se beneficiar ou sofrer as a es ambientais Para assim atrav s de experi ncias favor veis do cuidado materno rumar independ ncia tendo alcan ado a condi o de uma unidade em que desenvolve meios para ir vivendo atrav s do ac mulo de recorda es do cuidado recebido Winnicott 1960 1990 1 Aluna do Curso de Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo Brasil renatarochaQusp br 2 Doutora em Psicologia Cl nica pelo Instituto de Psicologia da USP Brasil Coordenadora do N cleo de Abrigos LAPE CRI USP denisecaretaduol com br 3 Professora da Gradua o e P s Gradua o de Psic
499. sta membro do Departamento de Psican lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientiae integrante do Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do Instituto Sedes Sapientiae sandra ungaretti gmail com 48 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as coloca o em fam lia substituta a LEI busca garantir o direito da crian a e do adolescente conviv ncia familiar uma vez que reconhece a fam lia como o lugar privilegiado de desenvolvimento desses Observamos no entanto que a nfase na fam lia como lugar privilegiado de desenvolvimento da crian a e do adolescente muitas vezes tem trazido como correlato a desvaloriza o do acolhimento institucional comum o fato dos profissionais de abrigo o representarem e se representarem de forma bastante depreciativa Essa deprecia o ocorre n o apenas por n o serem fam lia mas devido a carregarem as marcas trazidas pela hist ria dessas institui es orfanatos dep sito de crian as lugar de abandono e exclus o o que muitas vezes favorece a identifica o desses profissionais com essa condi o Quando estas linhas de pensamentos confluem a valoriza o da fam lia a desvaloriza o do abrigo ao lado do princ pio de provisoriedade pressionam para a es de desabrigamento muitas vezes precipitadas que nem sempre levam em conta o que de fato o melhor para as crian as e para os adolescentes Com o obje
500. strutura o e forma o do psiquismo requisitando novas formula es sobre sua compreens o din mica e interven es Por todos estes anos nos atendimentos de crian as com patologias do contato com o outro de etiologias diferentes posso afirmar que muitos casos puderam se beneficiar com significativa melhora do quadro cl nico embora muitas vezes seja dif cil explicitar exatamente sua etiologia claro que muito da teoria vem balizar o campo do atendimento Mas esta pr tica me colocou frente a uma quest o um tanto quanto desconcertante nem sempre se pode explicar a causa do autismo Ou seja a significativa melhora dos casos atrav s da escuta anal tica n o necessariamente significa saber sobre suas causas Suponho que o fato de serem estruturas muito primitivas nas quais o processo de representa o est comprometido deixa suas arestas na transfer ncia e t m grande contribui o para o fen meno Anteriormente quando discuti a cl nica da manifesta o autista diante da frequente pergunta Como se fala com crian as autistas 2 Wajntal 2004 abordei como dif cil sustentar a transfer ncia nestes casos Considerei como essencial na cl nica com crian as autistas que o analista deve sonhar Ou seja o sonho como escuta baseia se em uma aposta na possibilidade de se obter uma resposta mesmo que a crian a sempre sinalize o contr rio Aos olhos do espectador a manifesta o parece pura fun o autom tica m
501. sua m e e seu irm o Fala do irm o de 3 anos como se o tempo n o tivesse passado como se ainda estivesse congelada naquela cena traum tica Deixar de encarnar a m e implica em permitir que ela se v Como tolerar este desligamento Como se desapegar dessa rel quia que ela coletou do lixo e que lhe d certa unidade e um sentido para sua exist ncia Como romper com essa hist ria destino para permitir que novas hist rias sejam vividas Muitos pacientes do grupo Acesso que viveram rupturas dolorosas nos seus la os primordiais trazem alguns aspectos da din mica transferencial acima relatada Nesses casos absolutamente imprescind vel algo que ocorreu no caso de Nice a analista sustentou na transfer ncia a escuta do sofrimento do vazio existencial e do dio em que a paciente se encontrava enredada Al m disto foi fundamental que a analista suportasse desde o seu lugar uma identifica o com um objeto destru do e abandonado para que nesse processo a paciente conseguisse entrar em contato com esta identifica o Refer ncias Bibliogr ficas FREUD S 1907 Del rios e sonhos na Gradiva de Jensen Rio de Janeiro Imago 1977 Edi o Standart Brasileira das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud v IX ____ 1912 Din mica da transfer ncia Rio de Janeiro Imago 1977 Edi o Standart Brasileira das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud v XII ____ 1915 Observa es sobre o amor transferenci
502. sui autonomia e lhe impercept vel esta condi o WINNICOTT 1979 2007 No entanto o autor atribu a a tal estado uma caracter stica paradoxal j que do ponto de vista psicol gico o beb dependente mas alguma independ ncia lhe conferida na medida em que ele possui o que herdado como as tend ncias patol gicas imut veis e os pr prios processos de matura o em potencial que compreendem o desenvolvimento do self do ego a sequ ncia hist rica do id e o surgimento das defesas egoicas em rela o aos instintos No outro per odo descrito por Winnicott o da depend ncia relativa o lactente tem conhecimento de sua sujei o e vai se adaptando s progressivas falhas maternas ocorridas no exerc cio dos cuidados com o beb seja pelo fato da m e n o conseguir interpretar bem as necessidades deste ou por n o atend las em tempo satisfat rio Este processo acarreta uma desadapta o gradativa que contribui para acelerar o desenvolvimento do lactente sendo esta a recompensa deste est gio Em contrapartida a import ncia do est gio de depend ncia absoluta se d na medida em que garante a continuidade e estabilidade dos processos de desenvolvimento do lactente WINNICOTT 1979 2007 1 Agradecemos orienta o cuidadosa e inspiradora da Professora Cassandra Pereira Fran a e tamb m s colegas do PROJETO CAVAS UFMG Liliane Camargos e Larissa Bacelete pela leitura pr via do texto e colabora es com nossos
503. surgimento de conte dos que ficaram fora da captura do sistema pr consciente consciente e que podem surgir como alucinat rio Freud prop s como nova modalidade t cnica as constru es em an lise e segundo ele o valor dessas interven es para o analisando est mais na convic o que deve despertar no sentido de que isso lhe permita abrir a possibilidade de novas redes associativas e menos na realidade hist rica ou na rememora o daquilo que lhe proposto A amplia o do instrumental cl nico baseado inicialmente na din mica da transfer ncia possibilita a proposta de interven es anal ticas baseadas na din mica da cl nica caracterizada pela altern ncia entre dois modos do funcionamento ps quico O analista deve manter um duplo movimento ora guiando seu trabalho pelas associa es do analisando da ordem das representa es e podendo oferecer interpreta es ora sendo convocado observa o de material da ordem do atemporal e do n o representado oferecendo interven es que possibilitem a constru o de novas redes representacionais Esse dinamismo do psiquismo faz com que possam coexistir correntes representacionais de diversas ordens umas com processo representativo e outras onde aparecem restos n o recalcados do exerc cio pulsional direto Retomando minha quest o sobre o m todo clinico encontrei em Bleichmar a proposta da cl nica da neog nese caracterizada pela produ o de algo novo que n
504. t ria reconhecer como sintoma como grito e como pedido de ajuda manifesta es muito iniciais relativas a fun es vitais como comer dormir e manifesta es ainda mais precoces como a constitui o de v nculo em fam lias com beb s prematuros Trata se do uso do m todo psicanal tico em enquadres diferenciados nos quais a aten o flutuante a interpreta o a transfer ncia e a contra transfer ncia s o ferramentas que permitem uma escuta um movimento de gesta o de sentidos Quer amos tamb m destacar que s o perspectivas nas quais o adoecer e o sofrimento humano inclui a dimens o relacional tanto na sua articula o com o papel do objeto externo da fam lia na constitui o do sujeito quanto com a inclus o da pessoa do analista como fator de crescimento Incluir esta dimens o implica em pensar uma cl nica na qual o rev rie a empatia metaforizante e a figura do analista s o elementos primordiais em qualquer proposta de interven o psicanal tica A possibilidade de oferecer contin ncias s ang stias dos pais na rela o com seus beb s tem se mostrado eficaz para ajud los a digerir emo es sentidas como insuport veis e que eram depositadas em seus filhos Acolher estas identifica es projetivas e nome las mostrou ser uma possibilidade de interven o que permitiu a emerg ncia de novos sentidos As consultas terap uticas t m como objetivo oferecer holding ao beb e seus pais no sentido de
505. tamb m dever estar o ego da m e PHILLIPS 2006 S o as experi ncias vividas sustentadas por um ambiente facilitador constante e identificado com as necessidades desse pequeno ser que v o sendo elaboradas imaginativamente pelo beb constituindo 1 Psic logo Cl nico e Institucional Pesquisador e Psic logo Colaborador do LAPECRI USP Membro do Grupo de Estudos e Pr ticas Psicol gicas em Institui es GEPPI onde realiza trabalho com fam lias em processo de ado o e assessoria psicol gica a institui es de acolhimento de crian as e adolescentes robson nakagawa gmail com 2 Podemos citar o Estatuto da Crian a e do Adolescente ECA como representante maior e norteador dessas pol ticas Todavia tamb m possivel mencionar o Plano Nacional de Conviv ncia Familiar e Comunit ria PNCFC e a Lei Org nica da Assist ncia Social LOAS como dispositivos legais complementares 3 O t tulo II do Estatuto da Crian a e do Adolescente que trata dos direitos fundamentais os relaciona como a prote o vida e sa de nascimento e desenvolvimento sadio e harmonioso em condi es dignas de exist ncia 4 Essa uma analogia que o autor faz a c lebre frase de Freud Wo Es war soll Ich werden 5 Winnicott utiliza o termo holding para designar essas habilidades que a m e ambiente suficientemente bom capaz de desempenhar 202 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl n
506. taram est rias provenientes de livros de contos de fadas mitos ou mesmo inventadas pelo grupo V rias atividades l dicas foram desenvolvidas Concomitantemente ao grupo de crian as foi realizado grupo de orienta o aos pais ou respons veis pela crian a ou adolescente pais m es av s tios O grupo de pais ou respons veis se constituiu desde o in cio num clima de muita confian a e contin ncia em rela o aos depoimentos dos colegas contribuindo com reflex es a partir de suas experi ncias O empenho e disponibilidade para o trabalho puderam ser constatados pois quase n o ocorreram faltas aos encontros Quando algu m teria que se ausentar num movimento espont neo enviava outro membro da fam lia para represent lo que rapidamente era integrado ao grupo participando ativamente Pudemos constatar a import ncia da exist ncia de um espa o aonde as pessoas pudessem ouvir e serem ouvidas e trocar experi ncias Ao final dos encontros as participantes verbalizavam J acabou muito pouco tempo deveria ter mais vezes por semana sic No decorrer dos encontros foram surgindo as preocupa es e as dificuldades sendo poss vel que as ang stias e as ansiedades decorrentes fossem trabalhadas favorecendo uma vis o mais integrada das crian as e uma disponibilidade maior para ajud los Os relatos de est rias da inf ncia permitiram aos participantes que entrassem em contato com as dificuldades que eles pr pr
507. te Devido ao contato frequente que tenho com a escola sabia que naquele momento seria iniciada a alfabetiza o de W e comecei a introduzir palavras escritas no seu desenho Depois de algum tempo ela come ou a fazer tra os que imitavam letras at escrever letras copiando a sequencia do alfabeto Meses depois surgiram as palavras inicialmente sem espa o Ela pedia para eu ler os livros de hist ria e acompanhava com o dedo enquanto eu lia Pude perceber que ela n o entendia o espa o entre as letras Comecei a brincar de escrita com letras separadas e a apontar a import ncia do espa o Minha leitura fazia uma pausa nos espa os par que ela percebe que o espa o servia delimita o das palavras Nossos corpos j estavam delimitados na medida em que ela n o precisava da minha m o para escrever nem desenhar Hoje W escreve e l perfeitamente S o raras as manifesta es mais expressivas do quadro de autismo como estereotipias interesses restritos e repetitivos problemas de linguagem como ecolalias e falas descontextualizadas Diferentemente de quando come ou o tratamento W tem um vivido interesse em interagir com as pessoas e sua capacidade simb lica avan ou enormemente com o que ela capaz de fazer fabula es preservando a integridade da diferen a entre fic o e realidade W come ou a utilizar os rostos de personagens dos livros que tipicamente expressavam algum sentimento para aprender por associa o a lidar c
508. te dos nela introjetados diminuindo a persecutoriedade destas cargas atrav s da metaboliza o do conte do e posteriormente p de devolv las crian a para que ela introjetasse a experi ncia modificada Nesse ponto de acordo com Camargo 2002 podemos dizer que os pacientes assim como os beb s introjetam n o apenas o conte do processado pelo analista ou pela m e e devolvido atrav s da fun o de r verie mas introjetam tamb m a fun o de conter que posteriormente propiciar melhores condi es ao pr prio sujeito de lidar com suas ansiedades Atrav s desses processos a crian a p de se expressar de melhor forma conseguindo falar sobre determinados temas enquanto paralelamente a fam lia relatava melhoras significativas em seu cotidiano Ao final de uma das sess es a crian a diz terapeuta eu n o matei meu pai mesmo caracterizada por uma carga alta de angustia esta sess o parece ter sido menos terr vel para o paciente que conseguiu expressar sua ansiedade por outro m todo que n o apenas o da identifica o projetiva sendo tal modifica o fundamental para suas rela es objetais Percebemos atrav s dos atendimentos cl nicos supervis es e estudos te ricos realizados no Projeto CAVAS UFMG que uma compet ncia de extrema import ncia para o analista relaciona se com a capacidade de tomar para dentro de seu psiquismo sentimentos e pensamentos que os pacientes n o conseguem suportar e de
509. te por exemplo se eu fosse num vel rio eram 15 dias sem conseguir dormir At hoje voc v como o trauma como que ah n s temos que ir num vel rio eu vou no vel rio mas eu n o vou l ver a pessoa eu n o vou n o A partir desse momento a m e e a filha mais velha se discriminam dizendo que n o t m medo de defunto E uma rede de sentidos se revelou quando apontei E dormir morto parece que est dormindo n P de se ent o identificar que o medo do pai era o medo da morte e que ele acabava envolvendo a fam lia num medo que era s dele Em outra sess o a m e nos surpreendeu trazendo mem rias de sua inf ncia sofrida Ela se recordou de sua rela o com os av s Ela vivia num s tio no interior de S o Paulo em que havia mais duas casas numa morava seu av paterno que havia tido um derrame e na outra morava sua av materna com duas tias que eram an s sendo uma delas deficiente mental Emocionada ela comentou sobre a impossibilidade de consolar o choro desesperado de suas tias quando a m e delas morreu e elas foram retiradas da fam lia para serem institucionalizadas N s pudemos ent o compreender como as separa es e o choro encontravam uma reverbera o intensa na mente da m e e ela procurava calar rapidamente qualquer choro de suas filhas evitando o reencontro com a situa o traum tica Maria Clara por sua vez nos apresentava desde o in cio um quadro diferente e uma qualidade
510. tem na escola me perguntaram o que tinha acontecido com ele que ele estava t o agitado Eu falei em casa ele estava tranquilo hoje que eu estou vendo que ele est agitado Compartilhando olhares sobre a crian a Terapeuta M O que ser que aconteceu com o Reinaldo hein Marcos que ele est agitado Voc est achando que o Reinaldo est agitado Incluindo as crian as como interlocutores convocando o olhar intersubjetivo e a conex o a o estado ps quico estimulando a comunica o grupal Reinaldo com dificuldades importantes no v nculo e comunica o demonstra agita o esfregando ruidosamente o carrinho contra a mesa fazendo um barulho bem alto enquanto olha para a m e em aparente desafio e convoca o o mais velho do grupo com quase 4 anos Marcos de 3 anos e meio garoto t mido talvez fortalecido ali por nossa convoca o de sua opini o observa Reinaldo sorri com aparente admira o e balan a o brinquedo em sua m o acompanhando o ritmo da excita o de Reinaldo Marcos parece n o aguentar a intensa excita o que dura pouco tempo Logo coloca o brinquedo no ch o comportadamente com aparente medo de perder o controle Marcos chegou ao tratamento como uma crian a muito contida e controlada com dificuldade de express o e autonomia numa rela o simbi tica com sua m e extremamente angustiada que esperava de Marcos atitudes previs veis e maduras que n o desafiassem sua pr pria necessidade de co
511. tem que encontrar outras formas de lidar com afetos que o remetem ao desamparo e que fomentam uma ang stia calcada nesse estado original Esse conceito tem diversas faces ao longo da obra de Freud Menezes discorre sobre elas e as condensa da seguinte forma podemos dizer que a no o freudiana de Hilflosigkeit implica uma dimens o de desamparo independentemente de sua concreta efetiva o numa situa o traum tica H desse modo a condi o de desamparo fundante e estruturante do psiquismo relacionada portanto ao funcionamento da vida ps quica relativa linguagem na sua dimens o simb lica somos seres de fala e a situa o de desamparo como concretiza o dessa condi o instalada na situa o traum tica relativa ao excesso pulsional que n o p de ser simbolizado MENEZES 2008 p 91 Todos os seres humanos s o constitu dos a partir de tal condi o que estrutura o psiquismo e a inser o do ser nas rela es que estabelecer no mundo J a situa o de desamparo posterior est relacionada a um trauma a um excesso pulsional que transborda que remete o indiv duo quela situa o original mas que exige dele novas maneiras de lidar com seus afetos O desamparo origin rio acompanhar o homem por toda a vida e possui amplo leque de consequ ncias e de possibilidades de discuss o Freud ao falar sobre a posi o do homem em rela o civiliza o destaca que essa situa o n o
512. ter um pensamento soberano porque manter um pensamento soberano leva situa es de sofrimento se algu m pensa que voa e se joga da janela cai mantive o impedimento dizendo que o estava protegendo para que o sab o n o causasse dor na sua barriga Como sinalizou Freud a nica forma de renunciar pela val ncia negativa tem que transformar o positivo em negativo o prazer em desprazer Em outro momento quando Igor estava desenhando disse um pouquinho de vitamina para as plantas usando o l pis vermelho que caiu no ch o e ele complementou dizendo caiu a vitamina demonstrando novamente que o fantasioso invade e compromete a realidade o elemento da fantasia real n o h uma discrimina o Em outra sess o circulou cada parte do corpo no desenho de um gato e deu um nome criado por ele para cada uma delas sem ter a percep o cr tica de que eram nomes dados por ele Igor reconhece as partes do corpo do gato mas desde o meu ponto de vista elas n o formam um corpo s o s partes faltando o sentido de uma totalidade englobante Para ele cada parte do gato em si maneira parcializada de perceber o objeto expressa em sua nomea o das partes inclusive estando o gato na categoria dessa parcialidade A falha na estrutura o do eu a falta da gestalt narcisista determina seu modo parcializado de rela es com o mundo E como podemos pensar sua percep o do outro analista Nesses casos n o h possibili
513. terminados casos necess ria N o deve ser evitada Uma passagem que produz uma pegada um tra o que ao ser lido se completa resolve a quest o No campo em que trabalha o psicanalista n o h o menor sentido em evitar a loucura em cur la uma vez que ela j traz no seu bojo a sua solu o uma solu o que consiste na leitura do tra o que essa passagem escreve Trata se ent o de criar condi es para que essa solu o seja alcan ada Uma ideia uma posi o que concerne a psican lise desde Freud F cil de dizer dif cil de concretizar isso que digo O projeto TECER nasce desta forma de ver a coisa Ele vai trabalhar naquele espa o que foi deixado vazio pela interven o do m dico psiquiatra pela escola que segue uma vis o medicalizada da crian a e pela sociedade sanitarista em que vivemos Neste projeto nos ocupamos do jogo er tico estabelecido entre m e e crian a tentando cultivar uma transfer ncia desviar a transfer ncia selvagem das m es que era a princ pio dirigida para a crian a Desvi la na dire o do analista que se ocupa do caso clinicamente E ainda criar com a crian a uma transfer ncia De nossa pesquisa anterior conclu da no ano de 2000 sabemos que quando esse trabalho consegue se realizar costuma ocorrer um efeito sobre a crian a Ela na maior parte das vezes passa espontaneamente para outra coisa engaja se no mundo apresentando aquilo que o meio vai acolher como uma melhora de
514. termos passado presente longe perto eu outro como aponta Hanns 1996 Marca uma transi o uma passagem entre um eu e um outro que acentua ao mesmo tempo uma proximidade e uma dist ncia Na Confer ncia XXVII Freud 1916 anuncia a no o transfer ncia como a ocasi o em que o paciente transfere para o m dico intensos sentimentos de afei o que nem se justificam pela conduta do m dico nem pela situa o que se criou durante o tratamento A forma pela qual essa afei o se expressa e os objetivos que ela tem em vista dependem do curso da rela o pessoal entre as duas pessoas em quest o e remetem hist ria infantil de cada paciente Esse novo fato que portanto admitimos com tanta relut ncia conhecemos como transfer ncia Com isso queremos dizer uma transfer ncia de sentimentos pessoa do m dico de vez que n o acreditamos poder a situa o no tratamento justificar o desenvolvimento de tais sentimentos Pelo contr rio suspeitamos que toda a presteza com que esses sentimentos se manifestam deriva de algum outro lugar que eles j estavam preparados no paciente e com a oportunidade ensejada pelo tratamento anal tico s o transferidos para a pessoa do m dico Algumas mulheres conseguem sublimar a transfer ncia e mold la at que atinja essa esp cie de viabilidade outras h o de express la em sua forma crua original e no geral imposs vel Mas no fundo sempre a mesma e jamais permite que haja e
515. til ligado ao Departamento de Psicobiologia da UNIFESP foi desenvolvida pesquisa que prop s uma possibilidade de interven o com crian as e adolescentes portadores de TDAH e seus familiares com embasamento psicanal tico principalmente fundamentado nas id ias de DW Winnicott A proposta deste trabalho foi apresentar um modelo n o comportamental de interven o com crian as diagnosticadas com TDAH ou que apresentam sintomas comportamentais que n o preenchem os crit rios do diagn stico para o transtorno utilizando um enfoque psicanal tico pois acreditamos assim como Winnicott 1975 que a brincadeira como express o da criatividade j em si terap utica pois facilita a express o e integra o de aspectos do Self O objetivo dessa pesquisa foi verificar os benef cios e limites de interven o junto a crian as e adolescentes com diagn stico ou sintomas t picos de TDAH atrav s de Oficinas de Brincar e est rias infantis bem como o atendimento realizado concomitantemente junto aos familiares A interven o foi realizada por meio de oficinas terap uticas Oficinas do Brincar com uso de est rias e de atividades l dicas Ao mesmo tempo foram oferecidos grupos de orienta o familiar Foram realizados grupos semanais com dura o de uma hora e meia num total de 11 encontros 110 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Durante os encontros os pesquisadores con
516. titu da a vida ps quica da crian a e seu processo de subjetiva o No processo de constru o da parentalidade est o envolvidos aspectos ps quicos inconscientes que s o transmitidos atrav s das gera es aspectos intergeracionais e transgeracionais 1 Psic loga e psicanalista Doutora em psicologia IPUSP SP docente da gradua o e p s gradua o do IPUSP SP membro associado da SBPSP membro efetivo do Departamento de Psican lise da Crian a do Sedes docente no Curso de Introdu o a Interven o Precoce na Rela o Pais Beb e Psican lise da Crian a Sedes asettonQuol com br 2 Psic loga e psicanalista Doutora em psicologia IPUSP SP membro efetivo no Depto Psican lise da Crian a Sedes e docente nos cursos Introdu o a Interven o Precoce na Rela o Pais Beb e Amamenta o e Psiguismo Reflex es membro filiado na SBPSP membro da Sociedade Brasileira de Pediatria SBP e membro do Depto de Sa de Mental da Sociedade de Pediatria de SP denisefelicianoQDuol com br 18 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as medida que essas viv ncias intraps quicas primordialmente maternas podem ser vivenciadas em sala de an lise na presen a das duas filhas do marido e das analistas poss vel perceber uma gradativa reconfigura o na din mica familiar e do casal parental a partir da elucida o das fantasias persecut r
517. titucional Para n s se transferem expectativas de contin ncia de cuidado som tico e ps quico e aspectos de ambival ncia entre depend ncia e autonomia Ora somos vistas como modelos de identifica o e capacita o para elabora o via observa o experi ncia e toler ncia a aspectos emocionais ora como representantes de m gica idealiza o curativa Vamos costurando em rede de sentidos como num roteiro grupal as manifesta es e intera es vivenciadas interconectando e contando as est rias de cada um em linguagem emocional buscando compreender e significar a experi ncia que se transfere para o aqui e agora do Grupo al m da conduta concreta e operativa A filmagem realizada pelas pr prias terapeutas e autorizada pelos participantes para utiliza o cient fica tamb m tem a fun o de se converter em instrumento de expans o do olhar grupal e terap utico como material compartilh vel sendo posteriormente assistido e comentado conjuntamente em sess o do pr prio Grupo 99 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Vinhetas filmadas transfer ncias em cena Temos em sala 5 duplas de cuidadoras e beb s crian as pequenas Reinaldo Marcos Gabriel Miguel e Ana Laura A primeira vinheta corresponde a um momento pr ximo da chegada do Grupo As crian as exploram os brinquedos sob o olhar atento dos adultos l Dilemas da Autonomia M e do Reinaldo On
518. tituta n o implicando priva o de liberdade Art 101 Par grafo nico Desde ent o os termos provisoriedade e transitoriedade marcam a institui es abrigo buscando se contrapor ao modelo anterior Destacamos assim que sendo uma medida utiliz vel como forma de transi o para a 1 Psic loga formada pela PUC SP psicanalista pelo Curso de Psican lise do Instituto Sedes Sapientiae membro do De partamento de Psican lise de Crian as do Instituto Sedes Sapientiae e integrante do Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do Instituto Sedes Sapientiae cris seguimOterra com br 2 Psicanalista mestre em Psicologia Social pela PUC SP psic loga Membro do Departamento Forma o em Psican lise do Instituto Sedes Sapientiae e do Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do Instituto Sedes Sapientiae cris souzas yahoo com br 3 Mestre em psicologia social pela USP psic loga formada pela PUC SP psicanalista membro do Departamento de Psi can lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientiae e integrante do Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do Instituto Sedes Sapientiae flavialevisky gmail com 4 Psic loga formada pela USP psicanalista membro do Departamento de Psican lise da Crian a do Instituto Sedes Sa pientiae membro do Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do Instituto Sedes Sapientiae rlrudgeQuol com br 5 Psic loga formada pela PUC SP mestranda do Instituto de Psicologia da USP psicanali
519. tivo de ampliar essa reflex o apresentamos a seguir o caso de uma crian a atendida por uma psicanalista do Grupo Acesso Elias chegou para o atendimento aos oito anos de idade e agora est com 10 anos Mora no atual abrigo h dois anos e meio mas fora encaminhado ao acolhimento institucional pela primeira vez aos quatro anos Foi adotado e devolvido seis vezes por essas fam lias adotivas Logo no in cio da an lise de E a psicanalista ficou sabendo que um novo processo de ado o se iniciava A equipe do Grupo Acesso achou importante acessar os demais profissionais respons veis por E t cnica do f rum gestor e t cnica do abrigo a fim de instaurar novas formas de pensar que pudessem interromper o circuito ado o devolu o Essas interlocu es nos permitiram conhecer a composi o de for as que estavam em jogo nas decis es sobre o destino de Elias Seguramente todos no conjunto dessas rela es acreditavam estar agindo pelo bem da crian a mas o faziam de tal forma pressionados que n o conseguiam se interrogar sobre por exemplo o que levava essa crian a a ser devolvida por aqueles que a adotavam Tamb m foi poss vel entrever que no conjunto dessas rela es n o h de um lado um culpado ME e de outro a v tima Cada protagonista de seu lugar nessa din mica acaba por levar mesmo que revelia do que querem a este fim inclusive a pr pria crian a Constatamos que para a mai
520. tivos que precipitem o sujeito em uma capacidade elaborativa fora de contexto e por outro lado sem deixar de intervir e de propor direcionamentos para os sofrimentos que aparecem de modo a intervir antes que patologias graves se cronifiquem A seguir passemos a algumas vinhetas em que se pode observar a utiliza o do IRDI cujas aplica es tiveram desdobramentos para al m do contexto da pesquisa facilitadas pela rela o transferencial do pesquisador com os pais Caso 1 Caio foi acompanhado pelas pesquisadoras desde 1 m s de vida no Ambulat rio de Cl nica Pedi trica do Hospital Universit rio da USP Ele chegou consulta acompanhado apenas da m e Na aplica o das tr s primeiras faixas do IRDI at 12 meses Caio n o apresentou nenhum indicador ausente no entanto algumas situa es chamaram a aten o tanto do pediatra como da equipe de pesquisadoras Desde o in cio a m e de Caio apresentou v rias d vidas quanto alimenta o o que poderia oferecer que hor rio efeitos etc chegou a deix lo sozinho na maca enquanto buscava a fralda para troc lo tinha dificuldade em faz lo parar de chorar durante os primeiros exames a crian a chorava muito situa es estas que chamaram a aten o do pediatra porque a m e j tinha um filho de 4 anos ou seja estava tendo d vidas demais para uma m e que j tinha outro filho nas palavras do m dico Aos 5 meses Caio come ou a frequentar a creche o que m
521. to adotado por ele um aspecto vis vel dessa transposi o essencial para essa experimenta o do beb a continuidade de um ambiente bom externamente a presen a da m e e os fen menos transicionais e os objetos transicionais CARETA 2006 p 32 33 191 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as institucionalizados desenvolvam se de forma saud vel Tal considera o compreende a fun o preventiva para a sa de mental em abrigos Ressaltam Careta e Motta 2007 Otrabalho preventivo com beb s prematuros abrigados de m xima import ncia disponibilizando se cuidadoras espec ficas isto orientadas sobre a import ncia dos cuidados necess rios nesse in cio de vida quando as intrus es ambientais podem ser reduzidas e com isso o beb n o venha a reagir s diversas invas es do ambiente prematuramente Para o beb ser assistido durante o seu primeiro ano de vida fundamental para seu desenvolvimento ps quico e para a possibilidade de sua integra o O abrigo deve oferecer condi es ps quicas e n o somente condi es f sicas de assist ncia propiciando assim o holding Pensamos que dessa forma o abrigo facilitar a constru o do desenvolvimento emocional da crian a e ser uma das ferramentas contra o desenvolvimento da delinqu ncia p 57 Esta experi ncia revelou a import ncia da cl nica psicanal tica adaptada s necessidades do paciente con
522. to de trauma ps quico Iniciaremos a discuss o com as contribui es de Winnicott sobre o desenvolvimento da crian a e abarcaremos as elabora es te ricas a respeito das fun es anti traum ticas do objeto prim rio utilizando tamb m as teorias de Klein e Bion A partir do conceito de trauma ps quico faremos uma breve reflex o acerca da transfer ncia na pr tica cl nica e a fun o do analista considerando nossa experi ncia no Projeto CAVAS UFMG Donald Woods Winnicott um dos psicanalistas que mais valorizou o in cio da vida enquanto momento em que se organizam os pilares emocionais e ps quicos na tentativa de se constituir a subjetividade e singularidade de todo indiv duo Seguindo algumas das premissas de Klein ANDRADE 2010 de que o beb nasce clivado e seu ego se configura ao longo dos primeiros meses de vida ele tamb m sustentou que a m e emprestava provisoriamente seu pr prio ego como suporte para o beb garantindo lhe as condi es ideais para que suas partes fragmentadas se unissem propiciando assim o desenvolvimento ps quico da crian a Winnicott lembrava nos que se na vida intra uterina o beb depende completamente da provis o f sica da m e viva inclusive em termos biol gicos ap s o nascimento sua depend ncia permanecer por um per odo relativamente longo exigindo muitos cuidados O autor faz uma distin o entre a depend ncia absoluta e a depend ncia relativa na primeira o beb n o pos
523. to e uma pequena de beb n o seria apenas pelo fato de que ele se utilizasse de um ursinho fetiche mas que ele ainda se oferecesse como um ursinho de brinquedo para sua m e e suas tias Parece me que Pedro deseja com a mesma intensidade ser grande forte ser um grande futebolista e ao mesmo tempo continuar sendo tocado pela m e da mesma forma como era tocado quando ele era um beb Era preocupante que a m e e as tias assim o tratassem Isso deveria ser cuidadosamente com ela tratado Para evitar parecer gozar como as mulheres de seu entorno busco cautelosamente por uma forma de lhe falar sobre esse seu modo de exerc cio da sexualidade Entendo que a oper ncia de intermedi rios simb licos mediadores para as diretas descargas pulsionais rebeldes s legalidades civilizat rias s o urgentemente necess rios para a constitui o ps quica desse menino Como vimos os adultos do entorno de Paulo atuam sem ren ncias ao tocar o corpo dessa 4 Silvia BLEICHMAR 1999 Cl nica psicoanal tica y neog nesis 137 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as crian a de forma t o direta e intrusiva sem culpa repugn ncia vergonha ou pudor Se no erotismo anal do neur tico obsessivo o tocar absolutamente censurado a manipula o do anus desse menino mostra se elevada ao estatuto da profana o do sagrado Se n o me decido por concluir que Paulo caminha para a constitui
524. tocar nas quest es do abandono e da ado o que surgem nas suas atua es Introduzir a rela o entre sua atua o ao expulsar ou provocar a sua expuls o e seu medo de ser expulsa abre uma possibilidade de narrar onde antes se colocava uma lista infind vel de amea as A psican lise aposta que os imperativos do destino e do trauma possam vir a ser em algum grau elaborados via um reposicionamento do sujeito frente hist ria numa rearticula o entre o passado e o presente que contemple desligamentos e novas e in ditas liga es O homem encontra se ent o numa intermin vel busca por palavras n o de qualquer natureza uma busca por palavras que mantenham contato com o infantil recalcado e simultaneamente com o pulsional O extempor neo aquilo que remete ao indestrut vel do pulsional e do traum tico que sempre irrompe o real Um processo de an lise segundo Figueiredo 1998 toma essas irrup es como mola propulsora para a temporaliza o temporaliza o esta nunca nuclear verdade mas que sempre recome a mas n o desde o mesmo in cio e permite uma condi o de fala que venha a acolher o extempor neo Um trabalho que se efetua pelas bordas uma narrativa que se constitui entre o pulsional e a signific ncia Penot 2005 Refer ncias Bibliogr ficas ANSERMET F 2003 Cl nica da origem a crian a entre a medicina e a psican lise Rio de Janeiro Contra Capa Livraria BENJAMIN W 1940 Sobre o co
525. tr s anos at ser transferida para uma institui o de acolhimento onde morou at os onze anos Numa sess o a analista pergunta a Nice o motivo de seu atraso Ela conta que antes de ir para o Sedes esteve num shopping e l se perdeu da m e Nice diz para a analista Pensei que eu n o fosse mais encontr la A quem Nice refere aqui o seu medo de n o encontrar Trata se do medo de n o encontrar sua m e adotiva sua m e biol gica ou a analista Ou ela est se referindo ao medo de n o ser encontrada Em O Semin rio livro XI Os quatro conceitos fundamentais da psican lise Lacan 1964 fala sobre o movimento de vaiv m da puls o olhar e se fazer ver ouvir e se fazer ouvir atormentar e se fazer atormentar etc Isto nos mostra o quanto a puls o implica sempre num apelo ao Outro Outro aqui entendido n o como um pequeno outro ou semelhante mas aquele atrav s do qual o sujeito pode se dizer e se escutar Podemos pensar portanto que neste ponto do tratamento a paciente j endere a um apelo ou uma demanda para a analista que se constitui por um lado como vimos anteriormente como um Me respeita e por outro como um Me encontra Apesar de fazer uma conex o entre o medo trazido por Nice de n o ser encontrada ou de n o encontrar e a hist ria que lhe foi narrada fora da an lise a analista n o fez nenhuma interpreta o nesta dire o pois naquele momento existia uma abertura transfer ncia
526. transform los em algo mais toler vel que possa ser pensado pelo paciente holding r verie contin ncia atrav s da introje o da experi ncia modificada RIESENBERG MALCOLM 2004 Ou seja entendemos como positiva uma condi o em que o analista possa ser emocionalmente afetado pelo paciente e possa transformar suas pr prias rea es em compreens o para o paciente RIESENBERG MALCOLM 2004 p 59 Esse somat rio das fun es percebido de maneira mais adequada quando estamos familiarizados com as teoriza es a respeito das fun es anti traum ticas do objeto prim rio No tocante ao encargo do objeto prim rio de atenuador do trauma percebemos que muito deste desempenho est diretamente ligado qualidade do ambiente proporcionado ao beb juntamente com as fun es anti traum ticas que lhe s o particulares Tais condi es tamb m s o fundamentais no contexto de um setting anal tico na tentativa de ofertar um ambiente suficientemente bom pass vel de atenuar efeitos traum ticos para o aparelho ps quico do paciente de maneira equilibrada Avan ando um pouco nas formula es de Melanie Klein Bion aponta que um dos objetivos da identifica o projetiva pode ser o de introduzir no objeto um estado mental como meio de comunicar lhe o referido estado CAMARGO 2002 p 133 sendo que s vezes esta a nica forma de comunica o que o paciente encontra Ainda segundo o autor a an lise pode ser u
527. tuto Sedes Sa pientiae membro do Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do Instituto Sedes Sapientiae rlrudgeQuol com br 2 Psic loga formada pela PUC SP mestranda do Instituto de Psicologia da USP psicanalista membro do Departamento de Psican lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientiae integrante do Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do Instituto Sedes Sapientiae sandra ungarettiogmail com 3 Psicanalista mestre em Psicologia Social pela PUC SP psic loga Membro do Departamento Forma o em Psican lise do Instituto Sedes Sapientiae 1 S S e do Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do 1 8 8 cris souza8G yahoo com br 4 Psic loga formada pela PUC SP psicanalista pelo Curso de Psican lise do Instituto Sedes Sapientiae membro do De partamento de Psican lise de Crian as do Instituto Sedes Sapientiae e integrante do Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do Instituto sedes Sapientiae cris seguimQterra com br 5 Mestre em psicologia social pela USP psic loga formada pela PUC SP psicanalista membro do Departamento de Psican lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientiae e membro do Grupo Acesso da Cl nica Psicol gica do Instituto Sedes Sapientiae flavialevisky gmail com 128 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as num momento onde a psican lise deixava de se caracterizar como uma arte da interpreta o e passava a se configurar como uma an lis
528. u do a partir de 4 eixos fundamentais em torno dos quais se organiza a subjetividade KUPFER 2009 MARIOTTO 2009 PESARO 2010 Segundo Mariotto 2009 tais eixos esclarecem de que forma o la o constitutivo se enoda e como isso pode ser verificado entre os beb s e seus cuidadores Desta forma as bases do IRDI j se constituem como uma contribui o do estudo pois at 2001 a maior parte das escalas e medidas de avalia o desconsiderava os operadores relacionados ao processo de subjetiva o e portanto o adulto cuidador 14 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Ao se colocar como pesquisador o psicanalista n o cessa de articular cl nica teoria e pesquisa Tais termos se tornam indissoci veis quando h uma investiga o corrente quando h quest es que precisam ser respondidas e sofrimentos ps quicos por serem tratados Ao nos voltarmos especificamente para o contexto te rico investigativo de uma pesquisa cujos referenciais te ricos partem da psican lise poss vel abrir espa o para uma escuta que acontece na transfer ncia e consequentemente apontar caminhos poss veis de tratamento Uma vez atravessado pelas rela es transferenciais cabe ao pesquisador sustentar se nessa posi o de reconhecer os problemas em quest o de apontar tratamentos poss veis de cuidado com o outro pautando se em uma dimens o tica do cuidado sem cometer excessos interpreta
529. u se que os pais falassem de segredos e reconstitu ssem a hist ria das meninas estabelecendo novas redes de sentido Eles narraram a hist ria das gesta es das duas filhas e de uma anterior que fora interrompida devido a um feto mal formado Assim falaram sobre os medos de poss veis patologias acometerem seus beb s Com isso parece que Serena p de aceitar a chegada da irm zinha e os pais aceitaram que Carmem era uma menininha saud vel desfazendo fantasmas parentais Ao longo das consultas sua m e relatava como sentia que n o era capaz de dar conta das duas meninas N s v amos que ela de certa forma se sentia sem recursos emocionais para regredir e se identificar com as necessidades da beb e exercer sua fun o materna Ela estava transferindo essas fun es para o marido que embalava suas filhas e a ela pr pria como se fosse mais um beb Nosso trabalho fora o de restaurar essa fun o para que a m e pudesse maternar Filtrados os ru dos presentes na comunica o entre pais e filhas j na terceira consulta a m e nos contou que Carmem passou a dormir bem acordando somente duas vezes por noite para mamar e voltando logo a dormir Serena correu feliz pela casa alternando entre ser uma mocinha que j vai escola e a vontade de ser beb deitando por alguns minutos no ber o de Carmem A m e relatou que ap s as consultas surgira aquele encantamento entre m e e beb Assim a reclama o de Carmem encontrou o o
530. ua como A T com crian as em processo de inclus o escolar helenajuliorizzi yahoo com br 2 Psic loga pela UMESP 2009 Aprimoramento em Psicologia Hospitalar pelo HC FMUSP 2011 Psican lise funda mentos em Freud e Lacan pelo Clin a em curso Psic loga cl nica em consult rio e no Instituto de Hebiatria da FMABC vanessa rossaka gmail com 3 http pap fundap sp gov br amp sobre acessado em 16 de julho de 2012 s 15h 93 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Desde o 15 m s de Helo sa as investiga es e o tratamento impuseram interna es prolongadas totalizando aproximadamente 1 ano e meio no hospital com poucos dias em que puderam hospedar se na casa de apoio A m e foi a principal acompanhante durante todas as interna es o pai e a irm vinham raras vezes e por curtos per odos Helo sa recebeu um transplante de f gado aos 2 anos ap s 20 dias come ou a apresentar quadro de rejei o cr nica com melhora progressiva das fun es hep ticas mas com indica o de novo transplante No in cio dos atendimentos Paula demonstra se muito cuidadosa com a filha atenta s suas necessidades no entanto pouco direciona seu olhar ou fala ela que come a a apresentar atrasos no desenvolvimento da linguagem como a equipe nomeia como se ela tivesse um dialeto pr prio o que dificulta ou impossibilita seu relacionamento com os profissi
531. uadros cl nicos onde t o pouco parecem sinalizar uma estrutura o ps quica que caminhe na dire o da obsessividade ou da neurose obsessiva Esses ltimos apresentam mais comumente n o encoprese mas constipa o ou seja reten o de fezes que por vezes evolui para quadros severos de megacolo que exigem abordagens m dicas muito dram ticas para extrair as fezes endurecidas A ilustra o de um fragmento de caso cl nico poder melhor esclarecer aquilo que por vezes tenho observado assim como algumas contribui es de autores dedicados ao tema 1 Trabalho apresentado na disciplina coordenada pelo Prof Manoel Tosta Berlink do programa p s gradua o de Psicologia Cl nica da Pontif cia Universidade Cat lica em 2005 2 Psicanalista mestre no Programa de Psicologia Cl nica da Pontif cia Universidade Cat lica Professora e supervisora do Departamento de Psican lise da Crian a do Instituto Sedes Sapientiae mrpfosticom br 3 Enquanto aquela obsessividade voltada para o entendimento e controle do mundo hostil por meio do pensamento da pesquisa da linguagem e da criatividade t cnica manifesta o civilizadora a neurose obsessiva na repeti o empobrecida desses tra os uma trag dia Manoel BERLINK 2005 p 9 135 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Um pr adolescente beb Maria traz para consulta seu filho Paulo de onze anos d
532. ud escreve mais frente comparando nossas atitudes com as do homem primitivo O que chamamos de nosso inconsciente as camadas mais profundas de nossa alma constitu das de impulsos instintuais n o conhece em absoluto nada negativo nenhuma nega o nele os opostos coincidem e por isso n o conhece tampouco a pr pria morte a qual s podemos dotar de um conte do negativo p 241 242 Freud escreve que o homem civilizado evita falar sobre a morte e cuidadoso ao entrar nesse assunto quando est pr ximo de algu m muito doente As crian as parecem n o compartilhar desse mesmo cuidado s o capazes de falar inclusive para pessoas amadas sobre o que far o quando estas morrerem J os adultos sentem se culpados quando pensam na morte de quem amam especialmente quando tal morte parece estar ligada a algum ganho pessoal ou benef cio material Perante algu m que morreu nos comportamos de maneira elogiosa reconhecendo em seu estado a passagem por algo muito dif cil Essa postura cultural convencional diante da morte complementada pelo total colapso que sofremos quando morre algu m que nos pr ximo um genitor ou c njuge um irm o filho ou amigo precioso Enterramos com ele todas as nossas esperan as ambi es alegrias ficamos inconsol veis e nos recusamos a substituir aquele que perdemos escreve Freud 1915 p 231 232 Tal comportamento tem efeitos se pensarmos que ele gera um empobrecimento da vida q
533. udou radicalmente sua rotina hor rios e alimenta o Sua m e voltou a trabalhar e a assistir aulas no curso de Ci ncias Sociais da USP no come o ela contou que ele chorava muito ao se despedir dela ela chegou a dizer eu percebi que ele s gosta de mim s quer ficar comigo Pelas preocupa es j anunciadas pelo pediatra e pela dificuldade de separa o observada pelas pesquisadoras foi oferecida escuta para esta m e fora do dia da consulta pedi trica de Caio Ela aceitou e foi ao atendimento realizado por uma das pesquisadoras Nesta ocasi o ela p de falar sobre as dificuldades que enfrentou durante e ap s a gesta o do primeiro filho Ela contou que ele foi inesperado e que tanto ela como o marido faziam faculdade nesse per odo Durante os tr s primeiros anos se dividiram morando um tempo na casa de seus pais outro tempo na casa dos seus sogros E que s h cerca de um ano mudaram se para uma casa pr pria lugar em que nasceu Caio Ela contou que isso tem sido motivo de muitas preocupa es discuss es e negocia es pois era a primeira vez que estava morando sem os pais ela chegou a dizer que pensou e agora a primeira vez que vamos morar sem um adulto na casa Logo percebe se que h uma dificuldade dessa m e que p de ser observada durante as consultas e neste atendimento de se ver agora em uma nova fase de sua vida fase em que est construindo um novo espa o novas rela es com o marido
534. ue estava mais diretamente na conversa com os pais dirige se aos brinquedos e intuitivamente pega um cesto de bonecas colocando no centro da sala Bruna se dirige ao cesto pega um armarinho de boneca que estava trancado com um cadeado e pede que uma das analistas abra mas como ela n o consegue Bruna leva o at o pai o que talvez possa representar sua confian a no masculino Nesse momento ela estava inclu da na din mica e ao lado do pai no div havia brinquedos ao mesmo tempo em que Lara mamava e chorava Bruna volta para o lado da analista e pega na casinha de madeira um ber o e um beb o coloca dentro dele depois pega uma menina e pergunta se um beb tamb m como se ela se perguntasse se igual a irm e se precisar ser um beb para ter um lugar Por fim coloca o beb e a menina no mesmo espa o da casinha como se ensaiasse uma possibilidade de ela e a irm habitarem o mesmo espa o juntas mesmo tendo idades diferentes Na segunda sess o a m e vai dizendo enquanto chega que tudo estava magicamente melhor pois Lara surpreendentemente estava mamando nos dois peitos e at gostando mais do que antes rejeitava Diz tamb m que agora n o sentia ci mes do leite de f rmula e ficava aliviada em poder contar com ele Bruna quando entra vai diretamente para a mesa brincar de tintas e chama seu pai para acompanh la As analistas comentam que eles pareciam mais tranquilos o que confirmado por todos A m e diz que est podendo
535. ue passa a ser fr gil e n o permitir que sobre ela incidam muitos riscos A intensidade do luto que podemos experimentar faz com que se exclua do jogo da vida outras coisas ligadas diretamente morte Freud segue o texto argumentando que durante a guerra a morte se faz presente n o h como neg la da maneira habitual Talvez o mesmo ocorra em casos de doen as com progn stico de bito Nestes casos a presen a da morte n o se presta aos m todos convencionais de nega o Ent o como um sujeito acometido por uma doen a poderia lidar com ela com a morte Uma resposta talvez possa ser encontrada se pensarmos em Vitor e na maneira como ele se comporta no jogo n o mostrando rea es a n o ser quando ganha H aqui uma negativa da morte que envolve o desinvestimento comentado por Freud e consequentemente um empobrecimento do mundo interno diante do mundo externo Duas ideias importantes a sumarizar do que pude discutir at o momento sobre o ensaio freudiano de 1915 1 procuramos reduzir a morte ao sil ncio e 2 o inconsciente desconhece o negativo Transferencialmente ambas ideias trazem nos problemas O sil ncio de Vitor embora deva ser respeitado pede uma atitude do analista Contratransferencialmente n o posso me posicionar como uma simples testemunha vendo o deixar de investir libidinalmente o mundo e numa cumplicidade covarde agir como o fot grafo de guerra que ao presenciar um crime que poderia impedir preocupa se
536. ue dificulta a implica o dos pais N o existem trabalhos na escola para cuidar das rela es escola e fam lia durante a interven o houve um momento de recuo e fechamento para a participa o dos pais na escola A dimens o explorat ria toma conta do espa o todas as crian as brincam e os professores neste contexto estabelecem rela es mais amistosas com seus alunos A coexist ncia da pot ncia e dos conflitos marcam o contexto escolar como vemos com a mudan a do expositor de gibis que se encontrava num canto escuro da escola para o espa o l dico e ser acess vel a todos Ser a coordenadora nesse trabalho me levou a um lugar de transfer ncia criado pela situa o institucional e a uma escuta que procurou sustentar os conflitos e favorecer a circula o da palavra entre todos ocorrendo em alguns momentos impasses e limites Trabalho cl nico transdisciplinar atravessado por m ltiplas transfer ncias e pelas dimens es da tica e da pol tica olhar estrangeiro que tem como um dos efeitos diminuir o n mero de encaminhamentos para a unidade Conforme Vin r o ps quico e o social essa zona entre o mundo interior e os espa os compartilhados em uma cultura e suas institui es s o m ltiplas e decisivas para serem exploradas A prop sito do lugar do analista em uma interven o institucional educacional Maria Laurinda de Souza o situa no espa o do entre entre o interno e o externo o dentro e o fora entre a cl nica e a educ
537. ue n o pelos atos pela ingest o de lcool e consumo de drogas O caminho percorrido por Y confirmou a import ncia da pesquisa inicial pela possibilidade de confian a e quando esta foi adquirida as viv ncias necess rias de depend ncia que toda sua situa o real e ps quica requisitava Trabalho cl nico institucional em grupo No ano de 2007 realizamos uma pesquisa com um grupo de cinco crian as uma menina e quatro meninos diagnosticados com TDAH Transtorno de D ficit de Aten o Hiperatividade no per odo de abril a junho com sess es semanais com dura o de uma hora e meia A idade das crian as estava inserida na faixa de 9 a 12 anos Aliteratura sobre TDAH assinala que as fam lias dessas crian as e adolescentes apresentam altera es na din mica das rela es Os relacionamentos familiares s o caracterizados por ressentimento e hostilidade porque os pais avaliam que os comportamentos de desaten o e hiperatividade da crian a s o volunt rios Partindo dessas premissas desenvolvemos essa pesquisa na qual nos utilizamos do brincar e do uso de est rias infantis com crian as e de atendimento fam lia Em parceria entre o LAPECRI Universidade de S o Paulo Laborat rio de Pesquisa sobre o Desenvolvimento Ps quico e a Criatividade em Diferentes Abordagens Psicoter picas minha coordena o ligado ao Departamento de Psicologia Cl nica do IPUSP e o NANI UNIFESP N cleo de Atendimento Interdisciplinar Infan
538. ue possui sentimentos hostis Portanto Freud sustentava como ideal do tratamento a rememora o completa ou o preenchimento das lacunas do passado infantil tendo a transfer ncia como resist ncia a esta completa rememora o devido ao alto conte do emocional inconsciente que transferido das figuras originais ao analista 1 Apresentadora do trabalho Psic loga pela PUC S o Paulo Especializanda em Psican lise da Crian a pelo Instituto Sedes Sapientiae S o Paulo Integrante Volunt ria e Coordenadora de projetos da ONG HABITARE nadia prandoQhotmail com 2 Doutora pelo Instituto de Psicologia Cl nica USP S o Paulo Presidente e Coordenadora da ONG HABITARE Membro do Departamento de Psican lise da Crian a e do Espa o Potencial do Instituto Sedes Sapientiae S o Paulo tereza m oQhotmail com 165 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Em 1910 Freud introduz o termo da contratransfer ncia no trabalho As Perspectivas Futuras da Terapia Psicanal tica descrevendo que a terapia anal tica baseia se em tr s fatores o progresso interno o incremento da autoridade e a repercuss o geral do trabalho nos analista Deste modo a contratransfer ncia seria a influ ncia do doente sobre os sentimento inconscientes do analista de forma que a an lise pessoal do analista seria de extrema import ncia j que nenhum analista conseguiria ir al m de seus pr prios complexos e
539. ue se arrefe am as idealiza es e as persecutoriedades que nutrem em rela o aos profissionais Do ponto de vista tico a sensibiliza o para com o sofrimento dos pais fundamental na medida em que em nome deste sofrimento que qualquer orienta o referente a mudan as deles pode ser considerada no escopo deste sofrimento que devem ser aceitas as limita es do que podem mudar em rela o a seus filhos A m e de W n o conseguia fazer com que a filha seguisse regras em casa mas permitia que uma bab o fizesse Impor aos pais que mudem em nome do filho algo que n o conseguem significar dado o n vel de sofrimento a que eles pr prios est o expostos Nestas circunst ncias os pais se sentem exigidos e percebem a insensibilidade para com seu sofrimento o que pode fomentar as atitudes primitivas caracter sticas j mencionadas Monta se uma cena de rivalidade entre profissionais e pais como se os profissionais denunciassem os erros dos pais e fossem do alto da idealiza o de seu conhecimento consert los Subjaz a isto a cren a de que o quadro decorr ncia pura dos pais o que chamei em outro trabalho de parentoculpogenia atribui o da origem do quadro aos pais de forma a culpabiliz los por isto Freud formulou a no o de s ries complementares a fim de evidenciar que em toda patologia combinam se aspectos org nicos e relacionais O rodap ao primeiro par grafo do texto Din mica da Transfer ncia 1912 foi
540. ui apresentadas partem de uma experi ncia espec fica adquirida no trabalho realizado no Projeto de pesquisa e atendimento a crian as e adolescentes v timas de abuso sexual CAVAS sediado no Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Atendemos no Projeto CAVAS algumas crian as provenientes de n cleos familiares nos quais a neglig ncia a viol ncia e os maus tratos perpassam as rela es entre os membros Nesses casos a necessidade de ser amado contrasta se com um ambiente de desaten o Quais as consequ ncias dessas viv ncias para a an lise e para o estabelecimento do la o transferencial com o terapeuta Ao se deparar com o estado de desamparo de uma crian a que sofreu viol ncia sexual o analista tem que lidar com quest es contratransferenciais j que seu pr prio psiquismo pode ser inundado por afetos relacionados aos traumas do paciente Como lidar com suas reminisc ncias e ao mesmo tempo com quest es pr ticas da realidade de seu paciente considerando seu papel tico perante quele ser que sofre ou sofreu abusos e neglig ncias Para refletir sobre essas quest es este trabalho se apoiar em alguns conceitos freudianos que podem subsidiar o estudo do desamparo e da contratransfer ncia Essas reflex es tamb m estar o pautadas em exemplos cl nicos Assim pretende se compreender melhor fen menos presentes na cl nica psicanal tica com crian as Esbo o sobre o conceito de desa
541. uilherme tinha 18 meses de idade e estava em avalia o diagn stica com suspeita de autismo Enquanto a psic loga que aplicava conversava com sua m e a respeito do IRDI 24 A crian a suporta bem as breves aus ncias da m e e reage s aus ncias prolongadas o menino estava no grupo terap utico A m e afirmava que o filho n o reagia a sua aus ncia mas neste momento o beb foi trazido at ela pois estava chorando inconsol vel no grupo Guilherme olhou para sua m e fez uma pausa em seu choro e lhe estendeu os bra os pedindo colo A m e acolheu o filho e ele parou de chorar A psic loga perguntou o que a m e achava que tinha acabado de acontecer e ela respondeu ah sei l acho que ele estava incomodado com alguma coisa e quando me viu ficou calmo mas n o acho que ele estava chorando porque estava sentindo minha falta Logo Guilherme foi para o ch o e come ou a andar pela sala Apontou para o arm rio e tentou abri lo mas estava trancado Imediatamente ele come ou a chorar e a m e colocou uma mamadeira em sua boca A psic loga perguntou por que ser que Guilherme come ou a chorar A m e sorriu e disse ele queria abrir o arm rio porque sabe que l tem brinquedo diante disso a psic loga perguntou por que ela havia dado a mamadeira ao filho ao que ela sorriu sem gra a e respondeu mesmo que t o dif cil para mim ouvi lo chorar que preferi cal lo mas assim ele n o vai falar n Aind
542. um espa o seu ficando assustado 84 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Assim configurou se o enquadre de nosso trabalho pouco classicamente tamb m exigindo de mim algum tempo ps quico e de elabora o Durante v rias semanas pensei nessa an lise como sendo de Tiago N o apropriei me de imediato da ideia de estar diante de uma an lise de dupla ou mais propriamente de um paciente que s o dois Em primeiro lugar precisei elaborar essa quebra na moldura anal tica padr o pois o que come ara como estrat gia para dar prosseguimento ao trabalho com Tiago tornara se definitivo alterando se a t cnica A an lise da dupla implicou repensar o trabalho n o mais como de Tiago mas como dos dois em rela o entre si e comigo Permitiu aparecer a competitividade entre os irm os principalmente sua competi o por minha aten o e a interven o em situ p de ir trabalhando sua rela o Os pais foram acompanhando esses desenvolvimentos em conversas comigo ao longo dos meses Fui observando a desinibi o gradual de Tiago o desespero de Marco ao sentir o irm o mais independente e a imin ncia vivida por ambos da possibilidade de perder o espa o comigo expressada principalmente pela competitividade entre si Outra quebra t cnica veio colada a esta Tiago n o sossegou imediatamente como disse quando convidei seu irm o a entrar na sala de an lise com ele Pelo co
543. umas crian as como a causa dos problemas da escola criando se um clima de animosidade em que o aprendizado e a conviv ncia tornam se muito dif ceis Enquanto psic logo do CAPS Il Cidade Ademar realizei matriciamento em Unidades B sicas de Sa de na periferia da zona sul de S o Paulo Nessa fun o fazia discuss o de casos e atendimentos compartilhados com os t cnicos da unidade Al m disso participava da TEIA reuni es multiprofissionais com as escolas justamente para dar algum suporte aos casos mais dif ceis sugerindo interven es que fomentassem um clima escolar minimamente saud vel Em contexto escolar conturbado com escassez de profissionais n o f cil ao professor ou diretor destinar um per odo do dia para uma reuni o fora da escola isso fazia com que os encontros fossem raros e geralmente com alta rotatividade de profissionais Estes via de regra encontravam se angustiados com o cotidiano de trabalho Al m disso deveriam ser capazes de replicar as ideias discutidas com outros profissionais tamb m angustiados e atarefados em um meio como dito bastante conturbado Neste quadro aprendi com a experi ncia e fa o desse ponto o eixo deste texto algo que pode ser resumido no seguinte pensamento quanto mais prec rio for o contexto mais simples deve ser a interven o Portanto organizo a seguir algumas interven es bastante simples quase bvias que podem melhorar o jogo transferencial relacion
544. utico e Observa o de Beb s Aprimoramento na cl nica de Casal e Fam lia pela PUC SP Especializa o em Psicologia da Inf ncia pelo Departamento de Pediatria da UNIFESP Mestranda do Programa de P s Gradua o em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de S o Paulo IPUSP nacampana gmail com 13 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as efeitos anal ticos que p em em evid ncia quest es ps quicas referentes ao la o pais beb s maternidade paternidade Ser o abordadas algumas vinhetas que mostram como a aplica o do IRDI em contextos de pesquisas do grupo inscrito no CNPq Transtornos do espectro de autismo detec o de sinais iniciais e interven o favoreceu interven es cl nicas A pesquisa de campo acontece nos seguintes locais Hospital Universit rio da USP 14 UBS s do Munic pio de Embu das Artes Centros de Aten o Psicossocial Instituto de Psiquiatria do Hospital das Cl nicas da FMUSP e Escola Terap utica LUMI Antes de passarmos ao material de pesquisa faremos algumas considera es de Freud a respeito da transfer ncia A transfer ncia preexiste psican lise manifestando se na vida cotidiana e por vezes sendo manejada por educadores professores e m dicos Freud 1912 1915 Mais do que certa repeti o do passado ela funcionaria como um entre como um escopo de liga o entre dois
545. utico no tratamento do autismo De que forma Tomemos a brincadeira do Cad Achou Esta brincadeira emblem tica por apresentar um formato simples est vel dentro do qual haver pequenas varia es Assim a crian a sabe que seu parceiro de brincadeira est escondido e que ele vai reaparecer no seu campo visual a qualquer momento No 115 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as W entanto o tempo em que o outro permanece escondido o tom do achou do retorno tudo isso varia O lado por onde o outro vai reaparecer tamb m pode variar Mas essas varia es n o comprometem a estrutura da brincadeira que mais ou menos est vel e previs vel no interior da qual pequenas varia es podem ocorrer Para a crian a pequena a brincadeira do Cad Achou oferece uma experi ncia de ciclos de prazer e de suspense na antecipa o da sua resolu o Em experi ncias desta natureza o adulto brinca atuando na regula o do afeto vivenciado pela crian a Atrav s da repeti o o formato de intera o se desenha Bruner 1983 permitindo crian a antecipar as a es os movimentos do seu parceiro o que facilita a intera o em si Ora sabe se a dificuldade de uma crian a isolada em seu transtorno aut stico de entrar em rela o com o outro com a dimens o de imprevisibilidade que a encontro com o outro comporta De fato situa es onde h uma cert
546. utora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da USP Membro da equipe do Lugar de Vida Centro de Educa o Terap utica coordenador de projetos do Centro de Refer ncia do Institu to da Crian a do Hospital das Cl nicas maria pesaroOicr usp br 3 Psicanalista Professora Titular do Instituto de Psicologia da USP presidente do conselho de administra o do Lugar de Vida Centro de Educa o Terap utica mckupferduol com br 145 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Quest es sobre a transfer ncia na cl nica de crian as com gagueira Maria In s Tassinari Palavras chave Complexo De dipo Gagueira Transfer ncia A gagueira est fragilmente sustentada como patologia nos c nones da medicina cl ssica uma vez que lhe falta um dos pilares desse sistema de significa o e tratamento que a etiologia org nica Configurou se portanto em torno desse sintoma um campo de d vidas e certezas com desdobramentos diversos e divergentes no modo de trat lo No geral as crian as melhoram da gagueira quando os pais se d o conta do atravessamento dos seus ideais e proje es no modo como escutam o filho ou ainda quando percebem o peso desmesurado atribu do fala da crian a A condi o da crian a definida pelo vir a ser por estar em constitui o e por isso submetida a uma especularidade um ideal mas ao mesmo tem
547. utucar a configura o Marco no palanque Tiago na sombra Tiago passava sess es inteiras chateado na sala de espera ao lado da bab e eu inventava estrat gias para que permanecesse conosco para entret lo n o permitindo que ele perdesse seu lugar que o entregasse ao irm o Certa vez levei lhe um carrinho com que ele brincara nas primeiras sess es Gostou quase sorriu mas n o saiu do lado da bab Chamei o convidei o a entrar disse que havia muitos outros brinquedos na sala onde estava Marco Eu ia e voltava de uma sala para outra A certa altura quando o mesmo padr o de isolamento de Tiago foi se configurando at mais forte que em sess es recentes optei por uma quase maldade por uma maldade calculada digamos Entrei mais na brincadeira proposta por Marco e r amos juntos demonstrando a Thiago que estava divertida nossa brincadeira A estrat gia funcionou e Tiago como que desistiu de resistir e veio para a sala de an lise nunca mais voltando passar sess es inteiras na de espera Deixa eu ver deixa eu ver e entrou A moldura anal tica foi se reorganizando aos poucos de acordo com esse momento dos meninos Primeiro foi necess rio deixar a porta aberta e Tiago tinha a possibilidade de sair da sala de an lise e voltar conforme lhe fosse necess rio experimentando os dois lugares Semanas depois optou pela sala de an lise e a porta p de ser fechada e trancada N o mais era imprescind vel que a sala de espera fizesse
548. uzidas pelo menos n o diretamente nos pais ou na crian a o relacionamento a intera o que muda No enquadre de interven o conforme os pais ampliam o contato com a crian a observada eles podem vir a modificar sua tend ncia a projetar suas pr prias fantasias expectativas e confirma es narc sicas sobre a crian a Retomando os casos Caso Maria Clara Ao longo das 4 sess es com a fam lia de Maria Clara fomos descobrindo que o pai filho mais velho teve que crescer precocemente para tomar conta de 7 irm os mas precisava estar sempre rodeado de pessoas barulhos e movimentos para se sentir seguro e acompanhado Sentia medo de se ver sozinho com seus barulhos internos e sua filha de 11 anos declarou Eu acho que ele est com medo de dormir 140 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as sozinho ent o assinalei Ent o voc que p e seu pai para dormir A m e demonstrou entusiasmo e resson ncia com as conex es e completou isso mesmo ela p e o pai para dormir E quando eu acordo durante a noite e olho ela est agarradinha com ele e ele est agarradinho com ela Investigamos um pouco mais sobre os medos do pai medo de assombra o medo de coisas reais da vida como Ele ent o nos diz eu sempre tentei proteger minha filha do que eu tinha medo O medo era desse ritual ritual de passagem Falando da mor
549. vai sendo poss vel encontrar fios do enredamento ao qual estavam todos submetidos Em seu canto solit rio parece resignar se a cortar durex e a deix los com uma das pontas soltas express o de seu isolamento do grupo e desejo de liga o Depois do jogo com os peda os de durex abre a caixinha de jogo do mico e mostra os animais para a analista observando em cada um que havia dois referindo se ao casal de animais formado pelas cartas Essa percep o permite que a analista que est ao seu lado apreenda sua pr pria dificuldade em inserir se na conversa dos pais e da outra analista e com isso dirige m e a pergunta E como fica a Bruna nisso tudo Incluir Bruna no discurso parece quebrar o c rculo vicioso de ansiedade em que estavam e a surpresa na rea o da m e indica que movimentos de exclus o entre eles poderia ser um dos componentes que alimentavam a din mica encapsulada Flora parecendo um pouco confusa responde de imediato que Bruna estava bem porque agora sua m e estava mais em casa e que podia lev la ao parque e nata o mas pareceu ter respondido sem que tivesse pensado sobre ela A analista complementa sua hip tese colocando a ela a pergunta Como ter que cuidar de duas filhas quando uma delas j uma menininha e a outra um beb e t m interesses e necessidades t o diferentes Flora parece ser tocada por essa coloca o e descreve como que vai se dividindo entre as duas de modo a estar ou com uma ou com
550. ve um derrame e suspeita se de que ele esteja com Alzheimer Pudemos pensar como a alegria de ser pai convivia simultaneamente com o processo de elaborar a perda de seu pr prio pai Enquanto convers vamos sobre os fantasmas de morte do av Theo chorou Nesse momento vivo no aqui e agora da sess o pudemos constatar como o beb capaz de perceber a afli o do papai e assinalar que o papai estava bem forte para cuidar dele Ent o Theo come ou a balbuciar e contar suas hist rias Ap s esta consulta os fantasmas parentais que assombravam o quarto do beb puderam ser nomeados Theo passou a dormir mais durante o dia entre 2 a 3 horas e noite seu pai p de desfazer seus fantasmas de morte e Theo p de viver com sua m e o campo de ilus o ao sentir que seu pai poderia embalar esse momento fusional inicial da dupla m e beb Sua m e por sua vez desfez seus fantasmas de perder seu beb ampliou sua contin ncia ficando mais em casa e oferecendo uma rotina mais constante o que permitiu ao beb construir a confian a no objeto pois a const ncia como diz Winnicott 1990 fundamental Nosso papel no processo de parentaliza o torna se ent o n o aquele de dizer como preciso ser pai ou m e ou mesmo como preciso fazer mas sim o de permitir que as capacidades dos pais surjam e que n s as sustentemos dando sentido aos percal os cotidianos da rela o pais crian as e prevenindo a instala o e cristaliza
551. vez mais nos deparamos com dificuldades de comunica o entre pais e beb s Em tempos modernos os pais optam por terem filhos mais tarde e muitas vezes mais distantes de suas viv ncias infantis Ao lado disso as solicita es externas competem com a entrada no estado de preocupa o materna prim ria ou n o favorecem o desenvolvimento das capacidades de r verie e contin ncia maternas Ao lado da crian a fantasm tica imaginada e narc sica cujas representa es se constroem na mente dos futuros pais elas s o muito distintas de uma inf ncia aut ntica na medida em que as representa es coletivas atuais da inf ncia fazem dela uma crian a preciosa e relativamente tardia na vida dos casais e se demanda inconscientemente que seja perfeita e rapidamente aut noma Golse 2004 Parece n o fazer parte do repert rio das expectativas parentais que filhos t o pequenos possam ser capazes de reclamar ou mesmo de expressar alguma insatisfa o de forma incisiva e veemente o que faz com que transformem rapidamente essa forma de comunica o em um sintoma Por outro lado na luta para atender o desamparo do beb os pais experimentam emo es primitivas muito desconfort veis diante da efusiva reclama o de seus filhos tendo que conter a pr pria agressividade ou projetando a sobre o beb Quando encontramos esse tipo de ru do na comunica o entre a crian a e seus pais h fortes riscos de que se desenvolva alguma patologia no beb
552. vida de uma crian a tornam se pessoais somente quando submetidas sua criatividade origin ria ou seja justamente ali onde a m e se coloca a servi o do objeto subjetivo necessitado proporcionando a experi ncia de ilus o Isto tamb m desejado nas rela es transferenciais em seus momentos iniciais Nas consultas terap uticas descritas por Winnicott 1984 um aspecto fundamental a adapta o ativa do terapeuta s necessidades e expectativas da crian a e consequentemente se necess ria a comunica o verbal desse entendimento no momento adequado O objetivo essencial o favorecimento da integra o de aspectos dissociados ou n o vividos pela crian a 89 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Sendo assim tratamos a transfer ncia como o movimento que inicia e possibilita reparar as falhas ambientais que teriam ocorrido no processo maturacional das crian as e da fam lia na medida em que as crian as e seus pais concebem encontrar o aux lio necess rio para isso Winnicott apresenta uma concep o de transfer ncia que n o se baseia apenas na repeti o presente de uma rela o do passado no acontecido mas inclui a esperan a de viver o que n o aconteceu e que portanto busca realiza o Por isso tamb m entendemos a necessidade do psic logo atuar a partir deste lugar de objeto subjetivo n o realizando um psicodiagn stico tradicional centrado
553. vidades da vida cotidiana sua capacidade motora e a constru o de seu pensamento Al m disso o brincar a forma de express o privilegiada da inf ncia o espa o do brincar utilizado como forma de express o atrav s de encena es utiliza o de imagens ou de a es Sendo o modo de express o privilegiado dessa poca da vida o brincar ocupa um lugar central nas psicoterapias de crian as desde o in cio da hist ria dessa pr tica Alguns pioneiros dessa cl nica consideram o brincar como suporte de uma rela o poss vel entre analista e crian a analisante Uma outra corrente utiliza o brincar como uma t cnica espec fica adaptada aos aspectos primitivos e particulares da vida ps quica da crian a Esta corrente pensa o brincar como uma maneira pela qual as crian as v o representar de modo simb lico os seus fantasmas desejos e experi ncias vividas por esta via que os terapeutas poder o ter acesso verdade ps quica de seus jovens pacientes Mas o brincar em si pode ter efeitos terap uticos Uma terceira vertente considera esta proposi o defendendo que o simples fato de brincar permite crian a representar para si mesma cenas vividas podendo as simbolizar integrar subjetivamente as experi ncias vividas e sendo nesse sentido terap utico A crian a ir repetir uma determinada brincadeira quantas vezes lhe forem necess rias para integrar uma experi ncia vivida Assim o brincar uma tentativa de elaborar al
554. volvimento 1 Psic loga e Psicoterapeuta com Mestrado pela Universidade Metodista de S o Paulo Docente e Supervisora parti cipante do Setor de Sa de Mental do Depto de Pediatria da Universidade Federal de S o Paulo UNIFESP durante a implanta o e desenvolvimento do N cleo de Atendimento a Pais e Beb s Terapeuta do Grupo de atendimento conjunto a Pais Beb s aqui relatado idabechelliduol com br 2 Psic loga e Psicoterapeuta com Mestrado pela Tavistock Clinic e University of East London Coordenadora do N cleo de Atendimento a Pais e Beb s e Supervisora no Setor de Sa de Mental do Depto de Pediatria da UNIFESP Terapeuta do Grupo de atendimento a Pais e Beb s Membro do Depto de Psican lise da Crian a e docente do Instituto Sedes Sapien tiae Membro Filiado ao Instituto da Sociedade Brasileira de Psican lise SP mamendesaQ hotmail com 98 ANAIS DO II COL QUIO DE PSICAN LISE COM CRIAN AS A Transfer ncia na cl nica com crian as Emocional de Beb s um acompanhamento peri dico regular para seguir passo a passo o desenvolvimento dos aspectos psicol gicos da crian a e do v nculo com os cuidadores ao longo dos tr s primeiros anos de vida Assim como o beb acompanhado em seus aspectos cl nicos no atendimento pedi trico convidam se os pais a trazerem no inicialmente semanalmente e depois com progressivo espa amento para que se acompanhe o desenvolvimento de aspectos emocionais relacionais e psicomotores
555. xto peculiar da cl nica com beb s Busca se relacionar no aqui e agora das sess es a linguagem l dica das crian as com as preocupa es expressas pelos pais desenvolvendo a capacidade parental dos cuidadores facilitando a comunica o pais beb e contribuindo para a promo o num n vel estrutural e fundante da sa de da crian a e da fam lia Contextualiza o hist rica o institucional m dico hospitalar como polo transferencial inicial O Setor de Higiene Mental hoje Sa de Mental foi criado no Depto de Pediatria da UNIFESP no in cio dos anos 60 para ampliar a assist ncia cl nica crian a favorecendo o desenvolvimento emocional e formando profissionais com uma vis o biopsicossocial Foi inclu do assim o atendimento psicol gico considerando os aspectos emocionais do desenvolvimento infantil e a din mica familiar da crian a possibilitando um trabalho embasado em concep es psicodin micas e no es psicanal ticas em que os primeiros anos de vida s o primordiais na constru o da subjetividade Tal atendimento insere se num contexto psicoprofil tico em que se prop e desde muito precocemente um acompanhamento do desenvolvimento emocional integrado ao acompanhamento pedi trico da crian a projeto idealizado pela Coordenadora do Setor de Higiene Sa de Mental por muitos anos a Psicanalista e Psiquiatra Dra Mary Lise Moyses Silveira Prop e se ent o neste projeto nomeado em 1973 como Ambulat rio do Desen
556. xual e correspondente crescimento subjetivo precisa estar exclu da de algo do contexto adulto Precisa haver uma assimetria onde possa construir um espa o a partir do desejo dos pais transformados em seus Do contr rio permanece numa posi o narc sica com um excesso de identifica o com os mesmos Ant nio o menino que protagoniza essas reflex es confunde se quanto a seu tamanho e espa o na rela o com seus pais Ao fantasiar ser igual a estes precisa dar conta de algo que o captura impedindo o de prosseguir com as viv ncias da inf ncia Por vezes ocupa lugares que n o seriam seus Para deixar o bico aos 4 anos ganha uma prancha de surf o que lhe faz maior do que de fato O espa o transferencial possui desafios e oferece novas possibilidades para a trama que Ant nio construiu Atrav s da transfer ncia nos intrometemos como um terceiro naquilo que a dupla pais e filhos vinha at ent o processando objetivamos a sedimenta o eg ica atrav s de ressignifica es do narcisismo e do dipo do sujeito que se constitui considerando a singularidade de cada um O psicanalista ocupa o lugar de quem prop e uma d vida um corte aos sentidos constru dos previamente Possibilita a cria o de um espa o em que a crian a possa ressignificar o sentido do que o captura quanto aos dos ideais dos pais Assim a psican lise desobstrui caminhos para que a crian a possa desejar crescer e de fato faz lo Trabalho original aprese
557. zados em outros espa os no entanto Paula n o conseguia afastar se de Helo sa Na segunda enfermaria hemato oncol gica cada paciente tem seu quarto assim h um espa o mais preservado De qualquer modo n o poss vel estabelecer um setting que garanta a frequ ncia ou tempo fixo para cada sess o ou ainda que seja isento de interpela es de outras pessoas durante o atendimento Outro aspecto importante o oferecimento de escuta em ambos os casos o analista que oferece sua escuta ao paciente sem que este tenha formulado uma demanda pr pria de atendimento Essa oferta possibilita a emers o de uma demanda latente pr existente mas que s pode ser nomeada expressa no momento em que se d a oferta da escuta anal tica como um espa o simb lico em que o sujeito pode dizer de si mesmo que o fa a a princ pio sem saber sobre o que diz Para que essa escuta opere necess rio que se estabele a uma rela o transferencial entre o paciente e o analista Freud apresenta a ideia de que a transfer ncia um fen meno natural da vida ps quica uma vez que diz respeito ao modo como o sujeito lida com as puls es e que se repete nas diversas rela es que estabelece Essa rela o transferencial entre o paciente e o analista no contexto hospitalar marcada pela transfer ncia anterior institui o de sa de e tamb m equipe de forma geral Nesse espectro d se a suposi o de um saber ao HC e na mes

arquivo em PDF - Instituto Sedes Sapientiae

Contents

Download Pdf Manuals

Related Search

Related Contents