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Pollianna Thomé

1. chega uma hora que enjoa contar a mesma hist ria pela d cima vez Al m de expor ao turista alguns causos que permitem que ele tenha uma maior inser o ao modo de vida no Pantanal a anfitri deve interessar se em ouvir os causos do turista por mais desinteressantes que pare am ser Conforme Marina esclarece na alta temporada um grupo atr s do outro e os turistas daqui adoram contar as viagens deles para outros lugares do mundo legal eu gosto aprende se muito s que na alta temporada todo dia as vezes a gente n o t a fim de saber do saf ri que ele fez na Africa do Sul eu quero mesmo acabar de jantar e ir ver se minhas filhas j foram dormir mas n o d tem que ficar l com cara de interessada sem parecer falso isso cansativo Marina propriet ria 36 anos O trabalho de anfitri exige conhecimento atualizado a respeito da geopol tica mundial al m de atitudes diplom ticas para que n o haja choque de opini es Isto porque durante as refei es s o debatidos assuntos diversos como a atual pol tica nos pa ses da Am rica do Sul a quest o fundi ria na frica e no Brasil a responsabilidade dos pa ses desenvolvidos perante o aquecimento global enfim temas variados que podem gerar pol mica e desarmonia dependendo de quem esteja envolvido na conversa Para ser anfitri necess rio ter o perfil para tal Por isso mesmo duas das propriet rias entrevistadas consideram esse
2. O artesanato uma das maiores necessidades de consumo do turista No Pantanal foi observado que os visitantes costumam ficar fascinados com a delicadeza e com o colorido das faixas paraguaias que os vaqueiros usam na cintura quando saem a cavalo Sabendo disso e com influ ncia do Projeto Sapicu muitas mulheres passaram a tecer faixas em menor tamanho para serem usadas como cinto por mulheres como marcador de p ginas de livro e pulseira dando outro uso ao produto tecido manualmente nos teares tradicionalmente usados para confec o da faixa masculina Isto foi questionado por alguns propriet rios rurais do Pantanal que consideram esta mudan a uma descaracteriza o cultural 81 Figura 9 Mulher pantaneira tecendo uma faixa paraguaia O fato que confeccionar a faixa masculina n o oferece vantagem para as artes s pois sai mais barato para os vaqueiros comprar faixas industrializadas na cidade que pagar pela confeccionada manualmente Por m a t cnica de tecer o ato de mesclar cores e linhas a ocupa o do tempo livre com o artesanato mesmo que realizado em frente televis o se mant m vivo neste grupo social e propicia o contato dos mais jovens com a pr tica cultural Por isso o marcador de livro vendido nas pousadas pode ser visto como um produto t o caracter stico da cultura pantaneira quento a faixa masculina Da mesma forma o la o de couro feito pelo pe o citado anteriormente n o deixa de ser uma man
3. cheia de 109 regalia e voc n o ter paz consigo mesmo sabe Por isso que a gente saiu da outra fazenda pra ter um pouco de paz de esp rito comigo Porque l eu trabalhava trabalhava e n o vivia Irene cozinheira 46 anos Eu moro na fazenda Eu tenho uma tima casa uma tima horta verduras leite fresco queijo carne fresca Quer coisa melhor que isso claro que eu vou cidade com certa frequ ncia pois tenho que ir ao banco atender minha fam lia mas por mim eu n o sairia daqui nunca Aqui eu tenho tudo que preciso e pra melhorar agora com o turismo o mundo vem at minha casa os h spedes me trazem as not cias do mundo Ficou mais perfeito Beatriz propriet ria 63 anos A rela o de identidade com a regi o e com o grupo social que a comp e resiste s mudan as no sistema de produ o porque ainda vivem ali muitas pessoas da mesma gera o que possuem um passado em comum que gostam das mesmas coisas e isso faz com que os s mbolos culturais resistam mesmo que apenas nas lembran as Eu gosto do Rio Negro me sinto bem aqui No momento que voc pega aquele arei o aquela areia branca eu que fui criada pra c prepar a matula a farofa ent o isso Eu gosto de viaj por causa da matula Pra mim tudo bom Com o turismo a gente viaja de avi o pega carona no avi o dos turista pra pra cidade Ai 4 n o tem mais que faz matula perdeu a gra a viaj Claudete
4. neste momento que fica sabendo quem est trabalhando onde se determinado casal est junto ou separado isto as novidades sobre as fam lias que moram no Pantanal pois o radialista conta os detalhes Ol Zuleide que t a na Fazenda S o Jo o estamos com saudades vem logo pra casa Quem manda esse recadinho s o seus filhos Gilson Nat li e Luciene Al al Seu Ram o que t na Fazenda S o Clemente a Dona Abigail t querendo saber quando que o senhor vai voltar pra casa n o demora n o heim Seu Ram o Eu se fosse o senhor n o facilitava Ela manda essa m sica pro senhor 105 Entre elas h conversa e risadas a respeito dos recados que o radialista l e comenta o que demonstra que conhecem as pessoas que se comunicam pelo r dio e que todos fazem parte de uma grande rede pantaneira de relacionamentos Enquanto isso os h spedes e a propriet ria chegam do passeio e v o para o banho Esta antes disto passa pela cozinha para ver se h recados e saber como v o as coisas na fazenda e para o jantar Depois do banho aperitivam na varanda da casa ouvindo m sica e conversando Paralelo a isso propriet ria e capataz se comunicam por r dio para acertar as atividades do outro dia Quando a propriet ria autoriza o servi o do jantar as mulheres na cozinha vibram pois quanto mais se espera para servir mais se demora em finalizar o servi o e mais tarde estar o liberadas para descansar
5. o nacionais e internacionais e t m gerado grande preocupa o da comunidade ambientalista Outra alternativa de alto impacto ambiental a produ o de cana de a car no Planalto Ocidental Brasileiro serra de Maracaju que margeia o Pantanal 2 Planalto este que comp e a Bacia Hidrogr fica do Alto Paraguai onde est o as nascentes dos rios que alimentam o Pantanal As terras que j estavam sendo utilizadas de maneira intensiva para o cultivo de gr os de soja desde a d cada de 1970 e geravam cr ticas de ambientalistas devido ao intenso uso de agrot xicos e constante desmatamento atualmente est o voltadas para a 2 In GERAQUE Eduardo Carv o vegetal para siderurgia amea a o Pantanal diz FGV Folha de S o Paulo Caderno Ci ncia Dispon vel em lt http www folha uol com br fsp ciencia fe0902200801 htm gt Acesso em 09 02 2008 25 In CORR A Hudson Deputados ampliam usinas no Pantanal Folha de S o Paulo Caderno Cotidiano Dispon vel em http www folha uol com br fsp cotidian ff2012200629 htm Acesso em 10 06 2007 51 produ o de cana de a car a fim de abastecer o mercado crescente de biodiesel O governo tem imposto regras e busca normatizar a produ o de cana e seu uso nas usinas de lcool por m se n o fiscalizar com periodicidade a tend ncia que haja aumento do desmatamento e contamina o na rea Segundo os ambientalistas uma das maiores amea as ao equil brio ambiental do Pantanal
6. Meus agradecimentos a todos aqueles que participaram desta produ o em especial s mulheres e seus familiares que me receberam prestando informa es valiosas sobre suas vidas e seu trabalho permitindo que neste conv vio eu pudesse aprender muito sobre elas e sobre mim mesma Ao meu orientador Prof Dr Alvaro Banducci J nior que com carinho e dedica o me lan ou neste desafio e me fez aprender a enxergar com outros olhos Aos professores do curso de p s gradua o em especial aos professores doutores Icl ia Albuquerque de Vargas Cleonice Gardin Tito Carlos Machado de Oliveira e Edvaldo Moretti que me auxiliaram a compreender o espa o geogr fico assim como contribu ram com o debate sobre a din mica do Pantanal Agradecimento especial aos pantaneiros Nilson de Barros Tia L ia Seu Orlando Rondon in memorian Bia Dona Ivone Lilique e Guilherme pelas preciosas informa es cedidas a respeito do rio Negro Ao colega Emerson Figueiredo pelo exerc cio de geografar e confeccionar mapas Funda o de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino Ci ncia e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul Fundect pelo apoio financeiro dispendido A todos os meus familiares agradecendo especialmente ao meu querido Dan pela paci ncia e est mulo e ao Fidel pela companhia em todas as horas em frente ao computador e nas viagens ao Pantanal RESUMO O turismo configura se como a atividade econ mica que m
7. Normalmente por volta das nove da noite as mulheres encerram as atividades na cozinha e seguem com lanterna na m o para suas casas Os h spedes e propriet ria permanecem na sala da casa bebendo vinho e conversando Em suas casas as funcion rias se encontram com o marido geralmente na sala e em frente televis o Assistir novela das oito e o que vier depois na programa o da TV Globo faz parte da programa o noturna dos homens e das mulheres H aqueles que aproveitam a noite para ir at o vizinho assistir televis o conversar mas N dia nesta noite incomodada com o cheiro de comida no cabelo prefere ir tomar banho antes de sentar se no sof e colocar as pernas para cima A refei o noturna em sua resid ncia varia muito Pode ser um pacote de bolacha um p o com queijo quente como tamb m s vezes cozinham um miojo macarr o instant neo que se tornou item indispens vel na lista de compras do m s dela ou esquentam alguma sobra da refei o dos h spedes Seu marido a estava esperando chegar para poderem jantar juntos Em frente televis o os dois comem e acabam cochilando no sof at que um deles acorde e leve o outro para o quarto Em paralelo a propriet ria aguarda os h spedes sinalizarem que v o dormir para poder apagar as luzes e trancar as portas de casa e finalmente poder ir para seu quarto descansar Observando o cotidiano de propriet ria e cozinheira conclui se que ambos os trabalhos s o in
8. s possibilidades oferecidas pelo meio ambiente e s dificuldades que da resultam 1980 p 105 No Pantanal o conhecimento emp rico a sensibilidade para as coisas naturais ainda mais necess ria haja vista o movimento das guas A deten o deste conhecimento um dos motivos que faz com que muitos homens e mulheres que prestam servi o a fazendas situadas s margens do rio Negro permane am nesta rea durante longos per odos de suas vidas comum entre os trabalhadores mudar de Pantanal ao longo da vida a fim de trocar de emprego de patr o viver em outra rede de relacionamentos Entretanto costumam retornar para suas regi es de origem em algum momento seja devido s rela es de parentesco casamento ou quest o natural no caso os recursos h dricos conforme explica um dos entrevistados 11 f s OENES Neste trabalho entende se como pantaneiro aquele que assim se define por possuir uma hist ria em comum redes e regras de sociabilidade tecidas atrav s dos anos pela conviv ncia com um ambiente diferenciado e pelas formas de express o do imagin rio caracter sticas de seu meio social e f sico BANDUCCI JR 2005 p 15 28 Eu gosto daqui Rio Negro porque um lugar aberto n o tem aquela sequid o muito mato voc n o se d bem porque pra l Abobral s a ude Aqui voc tem uma ba a uma salina um corixo e pra l n o s quando chove Cl udio 63 anos
9. um 48 Pens o a casa da fazenda onde ficam hospedados os funcion rios solteiros e onde normalmente trabalha uma cozinheira que serve refei es 95 bolo faz um p o essas coisa Dona Maria foi caseira da fazenda durante mais de 15 anos Atualmente ela prefere prestar servi os esporadicamente para a fazenda apesar de continuar morando na propriedade Seu trabalho solicitado quando h algum servi o de costura para a propriet ria ou quando h um movimento maior de turistas na fazenda em que ela chamada para ajudar na cozinha recebendo por isso como diarista As rela es de parentesco nas fazendas mobilizam uma rede de ajuda m tua de presta o de servi os alicer ada nas rela es hier rquicas e costumeiras os empregados devem ajudar ao patr o no momento de maior demanda de trabalho assim como a m e ajuda a filha na cozinha para atender aos turistas Esta rede que sempre existiu no passado permanece atuante mesmo com as mudan as ocorridas nas fazendas nas ltimas d cadas Isto refor a a exist ncia de uma regi o que integra lugares vividos e espa os sociais comuns a um grupo de pessoas neste caso os rionegranos Quando h turistas na fazenda N dia diz que sua responsabilidade cuidar das refei es e que o restante dos servi os fica por conta das diaristas uma ou duas dependendo da quantidade de quartos ocupados Apesar de ela dizer que sua fun o quando h turistas apenas cozinhar
10. 19 A Geografia se desenvolveu neste per odo porque as demais ci ncias econ mica e social se enriqueceram de novos conceitos permitindo que a Geografia repensasse o estudo do espa o considerando a estrutura das rela es sociais os fluxos econ micos os modos de produ o e ainda o fato cultural BONNEMAISON 2002 p 85 Fundamentalmente o territ rio um espa o quase sempre estabelecido e demarcado por e a partir de rela es de poder Entretanto o importante compreender quem domina ou influencia e como domina ou influencia esse espa o SOUZA 2006 p 79 isto que atores promovem e ou sofrem a territorializa o de cada espa o se que j n o estejam desterritorializados ou passando por um processo de re territorializa o A complexidade deste debate se deve ao fato de toda sociedade e espa o social serem indissoci veis na medida em que toda sociedade est espacializada e como tal territorializada Portanto n o h como definir o indiv duo o grupo a comunidade a 43 sociedade sem ao mesmo tempo inser los num determinado contexto geogr fico territorial HAESBAERT 20064 p 20 Muitas vezes se utiliza o termo territ rio como sin nimo de dimens o material da realidade Para os ge grafos da linha materialista dial tica que incorporam a dimens o s cio hist rica no debate sobre o territ rio RAFFESTIN 1993 SACK 1986 SOJA 1993 este n o se restringe a uma rela o de poder
11. 2007 realizou sua 10 edi o 61 fazendas t m o turismo como nica alternativa econ mica sendo a ltima tentativa de manuten o da propriedade da terra Estas sofrem com a manuten o da estrutura f sica e humana das fazendas nos meses em que o movimento cai medida que os custos permanecem os mesmos e a entrada de divisas baixa Pouco se tem trabalhado no mbito das pol ticas p blicas estaduais para minimizar a sazonalidade tur stica no Pantanal Apesar de o Pantanal ser considerado pelo Minist rio do Turismo desde 2006 atrav s do Programa de Regionaliza o do Turismo como destino com prioridade de investimentos no Estado do Mato Grosso do Sul as a es de promo o e divulga o para o mercado nacional e internacional n o t m a perspectiva de combate sazonalidade como foco E o que afirma o operador de turismo Daniel Marinho N s temos participado de feiras e eventos de turismo tanto aqui no Brasil como na Europa porque o Estado tem estimulado nossa participa o Nunca tivemos tanto apoio governamental na promo o do Pantanal Mas acho que ainda precisamos melhorar a linguagem a estrat gia de marketing porque precisamos aumentar a demanda de turistas sim mas precisamos mais que tudo melhor distribuir estes clientes ao longo do ano Chega m s de dezembro fevereiro t todo mundo parado As vans est o paradas os hot is n s operadores e em julho e agosto chegamos as vezes a recusa
12. Para N dia o Pantanal continua sendo um bom lugar para morar um ambiente tranquilo apesar das modernidades que deixaram a vida na fazenda similar a da cidade Esta similaridade se refere ao fato de as pessoas estarem cada vez mais reclusas em suas casas convivendo menos em comunidade como era habitual no passado Isso pode ocorrer por alguns motivos a televis o faz com que as pessoas interajam menos com o turismo 110 houve uma redu o no tempo livre nas fazendas e aboli o dos finais de semana e feriados em fun o da demanda de trabalho aumento da presen a de pessoas de h bitos urbanos no Pantanal em raz o do aumento da oferta de empregos com o turismo nas fazendas Portanto a chegada da energia el trica e da televis o assim como a mudan a no modo de produ o do espa o atrav s do turismo s o elementos que est o interferido nos costumes da sociedade pantaneira Entre as mulheres mais jovens abaixo de 35 anos de idade h algumas que est o pela primeira vez na Regi o do rio Negro por causa do emprego do marido e ou da maior oportunidade de trabalho em fun o da atividade tur stica Elas n o conheceram o Pantanal do passado a que N dia se refere mas afirmam que trabalhar em fazenda melhor que trabalhar na cidade O motivo que as leva a esta op o comum tamb m s mulheres a cima de 35 anos apesar de os sal rios nas fazendas de turismo serem similares aos pagos na cidade para os mesmos tipos de
13. Rio de Janeiro Eduerj 2005 p 173 189 SOJA E W Geografias p s modernas a reafirma o do espa o na teoria social cr tica Rio de Janeiro Jorge Zahar 1993 SOUZA Marcelo Jos Lopes de O terrist rio sobre espa o e poder autonomia e desenvolvimento In CASTRO LE de GOMES P C da C CORREA R L orgs Geografia conceitos e temas 8 ed Rio de Janeiro Editora Bertrand Brasil 2006 p 77 116 154 TUAN Y Topofilia Um estudo da percep o attitudes e valores do meio ambiente S o Paulo DIFEL 1980 URRY J amp ROJEK C Transformations of travel and theory In Urry J amp Rojek C Touring cultures transformations of travel and theory Londres e Nova Iorque Routledge 1997 p 1 19 VARGAS I A de Territ rio identidade paisagem e governan a no Pantanal mato grossense um caleidosc pio da sustentabilidade complexa UFPR Tese de doutorado Programa de Meio Ambiente e Desenvolvimento 2006 VEIGA J E A face territorial do desenvolvimento In Intera es revista internacional de desenvolvimento local Vol 3 N 5 p 5 19 Setembro 2002 VIEZZER M O Problema n o est na mulher S o Paulo Ed Cortez 1989 WOORTMANN E Da complementariedade depend ncia a mulher o tempo e o ambiente em comunidades pesqueiras do Rio Grande do Norte Bras lia UNB S ria Antropologia 1991
14. carga de trabalho continua intensa mesmo que modificada em seu conte do O trabalho no Pantanal continua rduo tanto quanto no passado importante salientar ainda que aquilo que supostamente faria com que elas perdessem as caracter sticas de pantaneiras conforme alguns depoimentos fatalistas n o est sendo influenciado direta ou exclusivamente pelo turismo mas sim pelo processo pelo qual toda a sociedade mundial est passando Um exemplo disso aquela esposa que foi definida pelo marido como meio pantaneira por investir em cosm ticos e fazer regime Ela age desta forma provavelmente porque faz parte do universo dela cuidar do corpo e da pele Trata se de um comportamento valorizado e esperado de uma mulher moderna O turismo um dos meios que ela encontrou para ter dinheiro mas a necessidade de consumo vem por diversos 133 caminhos a televis o e as revistas as idas para a cidade o contato com as outras mulheres que tamb m est o neste contexto bem como com as turistas A exig ncia do mercado tur stico por autenticidade uma constante e refor a o poder da territorialidade do turismo sobre a cultura Na Regi o do rio Negro as mulheres demonstram consci ncia sobre este aspecto e buscam na medida do poss vel servir pratos com caracter sticas regionais o que n o significa que n o possam introduzir um novo ingrediente para incrementar o paladar ou aproxim lo do padr o internacional Elas n o devem
15. devido frequente demanda de trabalho Durante os seis anos de conv vio com aqueles que habitam a rea de pesquisa foi poss vel constatar que h pessoas que nunca deixaram a regi o para trabalhar em outra somente para passar um tempo na cidade para descansar H outros que j experimentaram trabalhar em outro Pantanal mas n o se acostumaram e acabaram voltando para o local de origem o caso de Iracema cozinheira 56 anos Ela nasceu na Fazenda Rio Negro estudou na Fazenda Tup cyretan tamb m parte da aqui chamada Regi o do rio Negro 32 casou se na Rio Negro e continuou morando l Quando o casal conseguiu comprar uma casa na rea urbana do munic pio de Aquidauana MS mudou se para a cidade com os filhos mas logo voltou para a fazenda por achar o custo de vida muito alto Quando iniciou a atividade tur stica na fazenda ela passou a ter v nculo empregat cio sendo contratada para os servi os dom sticos da pousada Mesmo depois de a fazenda ter sido vendida permaneceu prestando servi os de cozinheira Quando o marido se aposentou passaram a trabalhar como diaristas em outras fazendas como a Fazendinha e Barra Mansa todas localizadas na regi o Hoje vi va segue intercalando per odos na cidade em sua casa e na fazenda trabalhando como cozinheira Outra hist ria interessante a de Claudete servi os gerais 49 anos Ela tamb m nasceu na Fazenda Rio Negro e estudou na Tup cyretan Quando casou mudou se
16. discuss o sobre o conceito de complexo do Pantanal In Anais do 32 Congresso Nacional da Sociedade Bot nica do Brasil Teresina Universidade Federal do Piau 1982 p 109 119 ALENCAR E F G nero e trabalho nas sociedades pesqueiras In FURTADO L G LEITAO W e MELLO A F Povos das guas Realidade e perspectivas na Amaz nia Bel m Museu Paraense Em lio Goeldi 1993 p 63 82 ALMEIDA N de P Breve hist rico do turismo em meio rural em Mato Grosso do Sul In NETTO A P e MARQUES H R Orgs Reflex es em turismo Mato Grosso do Sul Campo Grande Editora UCDB 2004 AMARAL V e SILVA M C da Orgs Fazenda rio Negro tradi o e conserva o no Pantanal Mato grossense Conserva o Internacional Brasil Campo Grande Ed Uniderp 2007 ARA JO S M de Artif cio e autenticidade o turismo como experi ncia antropol gica In BANDUCCI JR A e BARRETO M Orgs Turismo e identidade local uma vis o antropol gica 4 Edi o Campinas Papirus 2005 p 22 49 AZEVEDO J R da R A conserva o da paisagem como alternativa cria o de reas protegidas Um estudo de caso no Vale do Rio Negro na regi o do Pantanal MS Disserta o de Mestrado USP S o Paulo 2002 BANDUCCIJR A A natureza do pantaneiro rela es sociais representa es de mundo e o sobrenatural entre vaqueiros das fazendas de gado no Pantanal da Nhecol ndia Tese de mestrado USP defendida em mar o de 1996 Vers
17. es na percep o dos habitantes ou dos estranhos as imagens regionais p 167 A regi o vista como espa o vivido composta por uma rede de lugares que d o forma e vida regi o Os lugares s o carregados de significados que d o sentido exist ncia daqueles que os definem Estes significados podem estar relacionados a diferentes atributos ou objetos que fazem as pessoas definirem seus lugares de acordo como as mem rias da inf ncia os sentimentos de harmonia e liberdade ou mesmo a necessidade de sentir se em casa Tamb m podem ter uma conota o negativa como os lugares que remetem ao medo tristeza dor De acordo com Relph 1979 todos os lugares s o nicos e suas particularidades s o determinadas por suas paisagens e espa os individuais e por nosso cuidado e responsabilidade ou ainda pelo nosso desgosto por eles Se conhecemos lugares com afei o profunda e geneal gica ou como pontos de parada numa passagem atrav s do mundo eles s o colocados parte porque significam algo para n s e s o os centros a partir dos quais olhamos metaforicamente pelo menos atrav s dos espa os e para as paisagens p 18 z O lugar enquanto categoria de an lise em Geografia entendido neste trabalho como a por o do espa o onde se exprime a esp cie de rela o secreta e emocional que liga os homens a sua terra BONNEMAISON 2002 p 103 o espa o ao qual os seres expressam um sentiment
18. es no espa o pantaneiro entende se como oportuno investigar o modo como os grupos de mulheres que moram e ou trabalham nas fazendas de turismo entre propriet rias e n o propriet rias t m reagido e se adaptado s constantes interfer ncias sobre seu ambiente social e de trabalho considerando que a mulher que habita o Pantanal um elemento chave na estrutura o da sociedade pastoril pantaneira Esta investiga o com base em refer ncias emp ricas parte da constata o de que houve uma grande altera o no perfil estilo de vida e no papel das mulheres nas fazendas pantaneiras desde as d cadas de 1930 e 1940 at o per odo atutal Confrontando a realidade vivida pelas mulheres naquele per odo com a realidade atual verifica se que a estrutura familiar e social j n o mais a mesma assim como n o s o as fazendas e o Pantanal como um todo A din mica do processo s cio cultural pode ser observada em diferentes aspectos tais como a diminui o no n mero de crian as nas fazendas pois a maioria das mulheres casadas e solteiras mant m os filhos morando e estudando na cidade o fato de as mulheres ocuparem um n mero cade vez maior de postos de trabalho mantendo v nculo empregat cio com as fazendas e auxiliando na renda familiar e a crescente presen a de mulheres jovens provenientes da cidade em busca de trabalho nas fazendas de turismo Para investigar as verdadeiras causas e conseq encias destas altera es e verifica
19. ficas Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1997 COSGROVE D E Em dire o a uma geografia cultural radical problemas da teoria In ROSENDAHL Z E CORREA R L Introdu o geografia cultural Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003 p 103 134 EARTHWATCH INSITITUTE Relat rio Anual 2004 Centro de Pesquisa e Conserva o do Pantanal Dispon vel em http www earthwatch org site pp asp c dsJSK6PF InH amp b 1574583 Acesso em 02 set 2007 EMBRATUR IBAMA Diretrizes para uma pol tica nacional do ecoturismo Bras lia 1994 FR MONT A A regi o espa o vivido Coimbra Ed Almedina 1980 GEERTZ C A Interpreta o das culturas Rio de Janeiro LTC 2000 GERAQUE E Carv o vegetal para siderurgia amea a o Pantanal diz FGV Folha de S o Paulo Caderno Ci ncia Dispon vel em lt http www 1 folha uol com br fsp ciencia fe0902200801 htm gt Acesso em 09 02 2008 GOMES B C Retrato de mulheres pantaneiras na d cada de 20 a 40 molduras em educa o e g nero Disserta o de Mestrado em Psicologia UCDB defendida em 2001 Vers o da autora GRUNEWALD R de A Turismo e o resgate da cultura Patax In BANDUCCIJR A e BARRETO M Orgs Turismo e identidade local uma vis o antropol gica 4 Edi o Campinas Papirus 2005 p 127 148 HAESBAERT R O mito da desterritorializa o Do fim dos territ rios multiterritorialidade Rio de Janeiro Ed Bertrand Brasil 2006a 2
20. harmoniosa e por ser um dos ltimos redutos da cultura do vaqueiro ou pe o aquele que trabalha o gado com o la o usa botas e chap u Estas caracter sticas naturais e culturais do Pantanal s o vendidas como atrativos tur sticos e motivam o deslocamento de pessoas do mundo inteiro que t m o interesse de conhecer um ambiente r stico e de natureza selvagem na Am rica do Sul Pouco se sabe entretanto sobre as culturas dos povos que habitam esta por o do Brasil Dentre os pesquisadores que se dedicaram a esta tem tica destacam se Banducci Jr 2005 Nogueira 2002 Proen a 1997 entre outros Menos ainda se sabe sobre as mulheres que comp em este cen rio na atualidade H um trabalho que retrata o universo feminino de autoria de Belkisse Gomes 2001 por m ele se refere a tempos passados Pois justamente esse espa o ocupado pela mulher no contexto contempor neo das fazendas pantaneiras que despertou o interesse desta pesquisa Mais ainda porque o mesmo processo social e econ mico que tem atra do levas crescentes de visitantes ao Pantanal mobiliza um fluxo at ent o desconhecido de m o de obra feminina para trabalhar no empreendimento tur stico m nimo o conhecimento a respeito do papel que desempenham essas mulheres no atual contexto da sociedade pantaneira O que as leva a permanecer em uma regi o pouco habitada longe dos familiares e das facilidades dos centros urbanos como seu cotidiano est sendo afetado pelo tr
21. lio da tecnologia e o acesso cidade facilitado por estradas similar a ser mulher em qualquer outra rea rural do pa s Ela se considera parte integrante das ltimas pantaneiras de verdade mas ao observar seus h bitos e seu cotidiano verifica se que tamb m usa estas inova es e facilidades do mundo contempor neo Em seu conceito para ser considerada pantaneira a mulher tem que ter uma vida rdua de fazenda como era no passado quando n o se tinha acesso energia el trica e eletrodom sticos quando n o existia gua encanada e era necess rio banhar se e lavar roupas na ba a poca em que os beb s usavam fralda de pano que se conservava carne em latas com gordura que as idas cidade ocorriam a cada semestre Por isso ela define as mulheres que moram e trabalham no Pantanal contempor neo como mulheres do Pantanal porque as pantaneiras como ela concebe provavelmente n o devem mais existir pois o Pantanal n o mais o mesmo Esta vis o de que o Pantanal n o mais o mesmo est focada nas facilidades e confortos gerados pelo acesso das fazendas tecnologia e comunica o Entretanto n o considera o fato de que mesmo com todas estas facilidades as mulheres continuam trabalhando por aproximadamente 16 horas di rias quando tem turistas na pousada e que isto lhes exige tanta for a de trabalho e coragem quanto no passado Mesmo fora do contexto do turismo como demonstra Banducci Jr 2005 o trabalh
22. nio Natural RPPN Segundo o antigo propriet rio a venda foi motivada pelo desgaste da fam lia com a administra o do neg cio e n o devido a um poss vel insucesso do turismo A Fazenda Rio Negro considerada pelas fazendas vizinhas a principal formadora de m o de obra especializada em turismo na regi o At hoje s o reconhecidos e valorizados os funcion rios que trabalharam na antiga Fazenda Rio Negro Por ter a maior estrutura de hospedagem na regi o desenvolveu entre 2000 e 2005 o turismo cient fico recebendo turistas do Earthwatch Institute uma ONG que incentiva a pesquisa cient fica em reas naturais atrav s do recrutamento de volunt rios que estejam dispostos a ajudar na coleta de dados no campo e contribuir financeiramente com os projetos de pesquisa sobre biodiversidade A parceria com esta ONG terminou mas a fazenda permanece apoiando algumas pesquisas e disponibilizando a estrutura para a realiza o de workshops reuni es e eventos ligados conserva o do Pantanal J promoveu cursos de guarda parque e primeiros socorros para a comunidade A atividade tur stica foi continuada ap s a compra da fazenda mas foi encerrada em 2007 por inviabilidade financeira e dificuldade em administrar uma empresa tur stica uma vez que o foco da institui o a pesquisa cient fica e a conserva o In http www fazendarionegro com br 64 A fazenda n o possui mais gado apenas uma tropa de cavalos que s
23. nio de Nheco por isso o nome Nhecol ndia que segundo um dos entrevistados era compadre de Ciryaco Rondon citado no cap tulo anterior como pioneiro da ocupa o da Regi o Atualmente mais de 95 do Pantanal brasileiro consistem em fazendas de gado que suportam uma popula o de 4 5 milh es de cabe as A popula o humana de apenas 81 200 ou seja uma pessoa para 55 reses Esta baixa ocupa o humana reflexo da estrutura fundi ria do passado e ao mesmo tempo revela porque o Pantanal tem sido reconhecido pelo baixo ndice de a o antr pica em debates sobre meio ambiente conforme ser visto adiante 2 2 2 Os habitantes do Pantanal da pecu ria Atualmente uma grande quantidade de fazendas pantaneiras possui energia el trica e telefone o que tem facilitado o acesso informa o e a comunica o dos que est o na fazenda com os que ficaram na cidade Aparelhos eletr nicos como televis o DVD e telefone celular fazem parte do cotidiano das fam lias da regi o assim como o refrigeramento de insumos em geladeiras e o uso do ventilador e at mesmo ar condicionado utens lios que deram maior conforto aos que habitam as fazendas ao mesmo tempo que os aproximou ao modo de vida da cidade A composi o social nas fazendas de gado tradicionalmente engloba os propriet rios das terras seus funcion rios e familiares sendo estes subordinados queles Os empregados s o divididos por fun es de acordo com a ne
24. o da comunidade imaginada de qualquer na o ou regi o faz com que o indiv duo haja como pr prio daquele lugar porque se sente pertencente a esse recorte territorial VARGAS 2006 p 62 Como disse uma propriet ria n o precisa ter calcanhar rachado para ser pantaneira basta ela se identificar com o Pantanal Elas poderiam dizer que s o pantaneiras porque lhes foi repassado que isso bom ou porque isso que o turista quer ouvir Mas analisando seu modo de vida e suas rela es com o meio verifica se que esta identidade existe n o lhes foi imposta A mulher pantaneira atual assim como a do passado continua sendo uma pessoa forte pois chega a trabalhar 16 horas por dia e em p trabalhadeira pois entende que com o trabalho poder adquirir seu espa o pr prio no futuro e corajosa pois abdica da vida na cidade junto dos 134 familiares para viver num ambiente distante onde h mosquitos e perigo de cobras Uma diferen a que ela est mais vaidosa que no passado pois o cuidado com a sa de f sica e a beleza s o caracter sticas da maioria das mulheres modernas 3 3 ESTRUTURA FAMILIAR E QUALIDADE DE VIDA 3 3 1 Rela es familiares dist ncia Morar e trabalhar na Regi o do rio Negro oferece para as mulheres a vantagem de estarem em um lugar tranquilo num ambiente que oferece fartura de alimentos para que possam economizar mas com a grande desvantagem que estar longe dos filhos e ou netos Mui
25. para a Fazenda Centen rio Passou por diversas fazendas da regi o e fora dela porque segundo a entrevistada o marido tinha muito ci mes Trabalhou muitos anos em uma fazenda de turismo no munic pio de Miranda MS mas saiu de l por incompatibilidade com o novo patr o Voltou para a regi o e foi trabalhar na Fazenda Barra Mansa e em seguida na S o Jo o cujo propriet rio ingl s Segundo ela voltou para a regi o para fica mais pr xima da irm que trabalha na Fazenda Estrela tamb m localizada na regi o Neste caso a rela o com o patr o n o foi determinante na escolha do local de trabalho mas sim onde a fazenda est localizada e quem trabalha nela ou pr ximo dela Hist rias como esta s o comuns entre aqueles que moram na regi o e levam reflex o de que as rela es de parentesco e o v nculo com espa o s o os principais pilares que sustentam a exist ncia da Regi o do rio Negro desde sua origem em 1885 at os dias de hoje Cabe agora entender como esse sentimento se concretiza na rea de estudo 1 2 3 Elementos s cio culturais Segundo Bonnemaison 2002 o espa o vivido o espa o cotidiano ligado aos lugares e trajetos de uso comum de um grupo ou indiv duo Para o autor os ge grafos devem dedicar se ao estudo da organiza o social e hier rquica e s fun es pol ticas sociais e econ micas da sociedade Entretanto devem tamb m procurar reencontrar os lugares onde se exprime a cultura
26. principalmente das crian as O que tem diminu do o sentimento de aus ncia familiar e facilitado a comunica o entre mulheres e familiares na cidade o telefone celular Este j tido como um dos itens b sicos para se viver e trabalhar no Pantanal A maioria das fazendas prov a antena para que os funcion rios possam conectar seus pr prios aparelhos de telefonia e Z fazerem suas liga es E uma a o que a fazenda promove para evitar que os funcion rios 135 utilizem muito o telefone da casa sede onerando a conta mensal e para liberar os propriet rios da responsabilidade e do compromisso de dar recados chamar para atender liga es etc Conforme conta uma cozinheira a comunica o daqueles que moram nas fazendas com seus parentes na cidade ficou mais constante e de maior qualidade de informa es depois da chegada do telefone celular no Pantanal Hoje t muito modificado qualquer pe o tem celular Voc tem acesso a quem t na cidade se voc tem uma parente doente toda semana voc tem not cia n Irene cozinheira 46 anos Poucas mulheres que trabalham na regi o est o juntas de seus filhos exce o daquelas cujo filho a tamb m trabalha na fazenda As mulheres que moram com os filhos na fazenda n o conseguem acompanhar o ritmo de trabalho na pousada paralelamente ao de casa por isso optam por n o trabalhar com turismo e somente morar na fazenda junto da fam lia Mesmo com a presen
27. rio da novela o que contribui novamente com a divulga o do Pantanal e da regi o no restante do pa s Ainda n o poss vel medir o quanto a retransmiss o da novela est contribuindo com as vendas das pousadas mas propriet rios e operadores de turismo est o entusiasmados com a oportunidade comercial que a m dia est oferecendo Ap s a primeira exibi o da novela o Pantanal passou a ser tema freq ente em diferentes ve culos de comunica o Outras produ es c nicas foram realizadas nas fazendas pesquisadas como um Reallity Show sobre comitivas para uma televis o belga cenas para as novelas Am rica Rede Globo e Bicho do Mato Rede Record reportagens para programas de renome como os exibidos na National Geographic e na BBC sempre abordando quest es sobre conserva o biodiversidade e de maneira ainda acanhada o habitante do Pantanal Quando uma cozinheira foi questionada sobre a diferen a entre trabalhar em uma fazenda no Pantanal do rio Negro e uma fazenda em outro Pantanal ela respondeu que a chance de conhecer pessoas famosas Mostrou fotos com v rios artistas como Ana Maria Braga Tiago Lacerda Paulo Gorgulho Van Dame Eliane Luciano Huck isto artistas que foram a trabalho ao Pantanal demonstrando que esta regi o em particular vem sendo bastante utilizada pela m dia Al m dos meios de comunica o o turismo tamb m tem se valido das manifesta es culturais dos que habitam o Pantanal Uma
28. 3 1 3 A rela o das mulheres Com O meio acentetvesasaieanaes isa nasageaeaanaagaaa aco firte asa eae sui a 3 1 4 O sentido do trabalho e do lazer ononnnnnnonesossnseneoeesessssosoreoeessssssesereesssssseserereessssss 3 1 5 O destino d pagament uses ia ES a Ap E 3 1 6 As mulheres diante da mobilidade dos turistas ccciiiisiiieeeeerererreeerenress 3 17 Classificando oS t ristasS sia nice tis sanar via a A da e cabia eds EUA E 3 2 MULHER PANTANEIRA DO PANTANAL OU MEIO PANTANEIRA 3 3 ESTRUTURA FAMILIAR E QUALIDADE DE VIDA cs ie 3 3 1 Rela es familiares dist ncia suada ssa penso inseri a RS a aa 332 Casamentos e Naoto Ss e possa pitas O A E A dan Nei E sarada nani atacadas 3 3 3 Qualidade de vida e auto estima n ensosooosooeoeeetssssosooteeessssososereesessssoseoeeeesssssseree 3 4 CONSIDERA ES PRELIMINARES sossssiseeiseeeieseieserissriesrrrssrrssirsriesrressressrres CONCEUS O O REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS iiiieeniieee rear 14 18 23 25 28 32 36 39 44 45 47 49 52 59 63 68 71 82 85 88 89 95 106 112 117 119 123 126 134 134 137 139 142 145 150 1 INTRODU O Muito se l e se ouve a respeito do Pantanal A m dia divulga que um lugar de grande beleza onde se tem a chance de visualizar uma gama de animais silvestres Propala que o Pantanal se caracteriza pelo fato de homem e natureza manterem uma rela o
29. O fato de ser pantaneiro possui uma alta carga simb lica na atualidade devido ao fato de a cultura pantaneira ser destaque no cen rio internacional por sua singularidade VARGAS 2006 p 194 quest o que vem sendo ainda mais intensificada com o incremento do turismo O vai e vem de turistas na regi o imbu dos da consci ncia da necessidade de se estabelecer estrat gias de desenvolvimento que reduzam os impactos negativos da produ o capitalista como o uso intensivo dos recursos naturais a degrada o da qualidade de vida a subutiliza o do trabalho a exclus o social entre outros imprime no imagin rio coletivo a import ncia de o Pantanal conservar suas caracter sticas s cio culturais Aqueles que est o de fora os turistas reais ou potenciais imp em ao Pantanal a condi o de preservado para que possam usufruir seus atrativos naturais e culturais hoje e no futuro De acordo com as modalidades identit rias de HALL observadas por Vargas a identidade pantaneira difusa porque vem sendo apropriada e transformada Mais que uma identidade ser pantaneiro uma marca mercadol gica Ib p 196 197 O simbolismo de ser pantaneiro e o uso deste s mbolo pela m dia ser o tratados com maior nfase no pr ximo cap tulo O que se destaca neste momento o fato de existir uma identidade 36 pantaneira e essa identidade ser ainda mais intensa na Regi o do rio Negro ao dar uma dimens o te
30. a na regi o de uma escola em regime de semi internato em que as crian as passam a semana na escola e o fim de semana na fazenda n o h possibilidade da m e trabalhar pois no turismo n o h final de semana nem f rias escolares todo dia pode ser dia de trabalho Aquelas que optam por trabalhar com turismo e possuem filhos pequenos deixam nos na cidade normalmente junto av que a pessoa de maior confian a que uma m e pode contar As av s exercem papel fundamental nesta sociedade pantaneira pois sem elas n o seria poss vel para estas mulheres prestarem servi o nas fazendas Arlinda tem 27 anos tr s filhos e trabalha esporadicamente como camareira em uma fazenda na regi o Ela costuma ficar no Pantanal durante os tr s meses de alta temporada de julho a setembro sem ir para a cidade Comenta que n o se preocupa com as crian as por estarem sob os cuidados da av e que se sente bem desta forma porque pelo menos nesta poca do ano pode contribuir com o sustento dos filhos N o apenas as crian as mas tamb m os adolescentes s o assistidos pelas av s na cidade Estas mulheres passam duas vezes pelo processo da maternidade a primeira com seus pr prios filhos e a segunda com os netos Meu filho mais novo tem 14 anos e mora na minha casa l em Aquidauana a av dele por parte de pai mora l pr fic cuidando dele Quando ele pega f rias vai pra casa da outra av que mora em S o Paulo e quando d ve
31. a necessidade de consumo dos que est o de fora influenciados pela m dia Recentemente um restaurante localizado na capital de Mato Grosso do Sul que utiliza a marca pantaneiro no pr prio nome e serve pratos regionais em um ambiente tematizado passou a produzir alimentos pr cozidos e embalados a v cuo que podem ser armazenados por at 20 meses Os nomes carreteiro pantaneiro farofa pantaneira e galinhada pantaneira s o agora de propriedade desta empresa e somente ela pode us los O objetivo maior da empresa vender estes produtos para outros Estados e para o exterior uma vez que entende que seu produto de qualidade e exerce representatividade no mercado devido marca Pantanal Outro caso recente o de um m sico sul mato grossense que gravou um CD de composi es pr prias em sua fazenda no Pantanal Ao colocar o produto no mercado fonogr fico usou a frase o primeiro CD de m sica inteiramente produzido no Pantanal fi como estrat gia para promover seu trabalho In http www comitivapantaneira com br produtos html In http www guilhermerondon com br 78 Canclini 2003 alerta para o fato de que a intera o comercial das culturas populares rurais com a sociedade urbana pode ser extremamete positiva para a manuten o de suas caracter sticas culturais desde que as comunidades de beneficiem disso Estudos revelam que as culturas tradicionais medida que se transformam se desenvolvem pois
32. a organizar a rea social da pousada como explica tem que varr pra quando eles os turistas acord n o ter nada sujo tem que t varrido N dia continua preparando os itens do caf da manh Neste momento o praieiro j trouxe o leite que foi ordenhado das vacas leiteiras em torno das quatro horas da manh Ela separa a quantidade de leite que ser usada na casa sede para fazer queijo e outros produtos da quantidade que ser dividida entre os demais funcion rios da fazenda Usando um pano de algod o limpo ela c a o leite da casa sede ainda morno para retirar as impurezas maiores Em seguida coloca o coalho na panela onde est o leite destinado para a confec o de queijo e p e o restante para ferver em uma panela sobre o fog o a lenha e comenta Tem que ferv que pra n o faz mal indicando que necess rio esterilizar o leite para a ingest o humana Com o turismo aumentou o consumo de leite e derivados nas fazendas e consequentemente o n mero de vacas leiteiras para que se possa atender aos servi os de alimenta o dos turistas Ocorre em um determinado per odo do ano entre os meses de agosto e novembro quando as vacas s o apartadas de seus bezerros pois est o em fase de parir novamente e neste momento deixam de produzir leite at que o pr ximo bezerro nas a quando a quantidade de leite na fazenda fica bastante reduzida e a prioridade que atenda casa sede e portanto aos turist
33. a regi o Entretanto os filhos daqueles que habitam a regi o hoje n o est o junto dos pais compartilhando o mesmo espa o vivido A tend ncia que medida que se renovam as gera es de propriet rios e funcion rios a din mica das rela es interpessoais e com o meio se transformem o que pode levar desconfigura o da Regi o do rio Negro Paralelo a isso como ser abordado no pr ximo cap tulo o turismo com uma roupagem conservacionista desenvolve territorialidade em algumas fazendas da regi o e pode vir a frear esse processo A inten o dos propriet rios que apostam na atividade manter uma autenticidade de tal forma que o turista ao entrar em contato com a comunidade local 38 tenha um contato com o real e n o com uma representa o do real Para tal entendem que necess rio manter trabalhando nas fazendas as pessoas que possuem v nculo com a regi o A valoriza o da cultura indica o cuidado pela conserva o dos elementos identit rios que alicer am a Regi o do rio Negro mas n o significa que as pessoas envolvidas estejam isoladas de influ ncias externas ou alheias ao processo globalizante nem que estejam da mesma forma que os propriet rios engajadas no movimento conservacionista Este trabalho busca averiguar de que forma a introdu o do turismo influencia no cotidiano das fazendas nas rela es sociais e de trabalho entre propriet rios e empregados e se o v nculo afetivo com
34. atividade tur stica assim como comum a comercializa o de signos representativos de uma cultura Enquanto a popula o local conhece algumas caracter sticas dos estrangeiros estes conhecem e consomem a cultura local seja na compra de artesanato consumo de comida t pica ou no registro fotogr fico de pr ticas cotidianas O atendimento s demandas de consumo dos visitantes tem oportunizado que homens e mulheres pantaneiros dialoguem com o mercado e com a sociedade de maneira inovadora e em muitos aspectos mais democr tica e por eles valorizada Os funcion rios das pousadas deixam de ser simples prestadores de servi os assalariados das pousadas e passam em alguns casos a atores que representam o Pantanal Isto leva manuten o de suas refer ncias assim como ao aumento da renda atrav s da venda de artesanato ou recebimento de gorjetas Com um olhar sobre o universo feminino das pousadas o terceiro cap tulo mostrou que propriet rias e funcion rias das fazendas de turismo desempenham pap is 147 importantes no planejamento e operacionaliza o dos servi os das pousadas Ambas trabalham intensamente quando h turistas na fazenda dividindo seu tempo e aten o entre as quest es familiares e as demandas de trabalho Verificou se que o espa o de identidade das mulheres de idade superior a 35 anos aquelas que possuem refer ncia hist rica com a regi o vem sofrendo transforma es com o aumento do contato com o meio
35. buscou discutir o objeto da Geografia e sua identidade diante das demais ci ncias Estes conceitos caracterizaram a Geografia entre 1870 e 1950 quando uma revolu o teor tica quantitativa atingiu a ci ncia como um todo CORR A 1997 Neste per odo da hist ria o conceito de territ rio entrou em decl nio em fun o das cr ticas mundiais s pol ticas expansionistas alem s e a Geografia deu vaz o ao estudo do espa o este considerado a matriz do estudo geogr fico A partir de 1970 o m todo materialista hist rico e dial tico que fundamenta o marxismo propiciou a forma o da Geografia Cr tica que como o pr prio nome diz foi resultante de cr ticas aos conceitos geogr ficos anteriores A discuss o sobre o territ rio ganhou import ncia novamente ao ser desvinculado unicamente do espa o de a o do Estado mas tamb m considerado como espa o social onde ocorre a manifesta o de poder de cada um sobre uma rea A interdisciplinaridade do debate a respeito do territ rio na atualidade permite que sua defini o seja orientada atrav s de diferentes recortes tem ticos econ mico pol tico social e simb lico cultural HAESBAERT 2006b p 177 Na Geografia contempor nea o territ rio abordado de uma forma mais abrangente sem necessariamente vincul lo ao Estado recebendo na Geografia Humanista a associa o a outros conceitos desta ci ncia como lugar regi o e espa o vivido SILVA 2002 p
36. com a terra de tal forma que a id ia de regi o tal como identificada nesta pesquisa como espa o de identidade mem ria e sociabilidade possa se modificar ou mesmo desparecer o que alerta Fr mont 1980 ao afirmar que a introdu o de uma nova t cnica a adop o de uma nova planta no sistema de cultura ou de uma nova forma de energia no dom nio industrial podem pouco a pouco modificar sensivelmente as t cnicas as rela es de investimento as empresas os empregos o meio a paisagem a regi o p 107 108 Para Fr mont a regi o uma estrutura um conjunto uma combina o de rela es que caracteriza uma parte do espa o terrestre p 104 Segundo ele os componentes que formam a estrutura da combina o regional s o os elementos do meio f sico as atividades econ micas a composi o demogr fica os grupos sociais a organiza o pol tica as dimens es culturais etc Desta forma para melhor entender a conforma o e a conjuntura da Regi o do rio Negro no passado e no presente bem como diagnosticar as influ ncias da nova atividade econ mica na vida daqueles que comp em o ambiente pantaneiro prop e se analisar os componentes f sicos hist ricos e s cio culturais da regi o em quest o 25 1 2 1 Elementos f sicos O rio Negro leva este nome devido cor escura de suas guas Por m essa vis o de que a gua negra tida somente quando se observa o rio dist ncia Uma vez de
37. de um rem dio um funcion rio extra tudo de avi o Aproveitamos o per odo de seca para abastecer a fazenda com g s de cozinha e combust vel usando o transporte terrestre mas mesmo assim as vezes tem os imprevistos Daniel gerente operacional 27 anos A dificuldade na log stica das pousadas eleva o pre o de um pacote para esta regi o e acaba limitando o tipo de p blico normalmente composto por turistas que est o dispostos a pagar pela exclusividade que as fazendas oferecem A maioria formada por estrangeiros europeus que j estiveram na Am rica do Sul e neste momento est o em busca de destinos aut nticos brasileiros pouco explorados turisticamente Durante a pesquisa de campo identificou se que alguns estrangeiros gostariam de conhecer a Amaz nia mas optaram pelo Pantanal por estar mais pr ximo do Rio de Janeiro e Foz do Igua u outros destinos visitados na mesma viagem H pessoas que atravessam o oceano Atl ntico exclusivamente para visitar o Pantanal Foi o caso por exemplo de uma fam lia proveniente da B lgica que aproveitou as f rias escolares das crian as para fazer um saf ri na Am rica do Sul Permaneceram 11 dias em duas fazendas distintas segundo eles para ter maior chance de ver os animais selvagens Os brasileiros que visitam esta regi o s o em sua maioria provenientes da cidade de S o Paulo empres rios que viajam com a fam lia e possuem os mesmos objetivos dos estrangeiros Est
38. do Pantanal at construirmos a sede da fazenda demorou um tempo Fiquei sete anos com os presentes de casamento guardados em caixas Mas foi uma poca maravilhosa eu criei meus filhos na fazenda eu ouvia m sica e novela num radinho de pilha eu fazia jardim fazia manteiga lingiii a sab o eu tinha uma geladeirinha a g s que cabia duas garrafas de gua e s Eu n o lembro disso com m goa mas sim com alegria Mas n o sei se faria isso de novo risadas Ivone propriet ria 81 anos 91 Ela mora na cidade e vai fazenda em torno de tr s vezes ao ano sempre que se angustia com o movimento urbano Diz que gosta de estar no Pantanal apesar das mudan as ocorridas ao longo do tempo que mesmo tendo facilitado a vida da mulher pantaneira fez perder um pouco a gra a Para ela a gra a estava em desnatar o leite para fazer manteiga produzir lingui a em dia de carneada passar roupa com ferro brasa enfim atividades que deixaram de ser praticadas devido ao acesso energia el trica ao contexto urbano e mudan a no cotidiano das fazendas em fun o do turismo Afinal fazer ling i a requer dedica o de um dia que nem sempre poss vel com o movimento dos turistas a estas altera es que a propriet ria se refere quando diz que perdeu um pouco a gra a estar no Pantanal Na condi o de propriet ria ela se queixa da m o de obra feminina dispon vel nas fazendas Reclama da dificuldade
39. do rio Negro influencia no cotidiano das fazendas nas rela es sociais e de trabalho entre propriet rios e empregados com destaque para o entendimento das interfer ncias desta atividade nas rela es da mulher com o meio e com seus familiares Buscou se tamb m investigar se o v nculo afetivo com a regi o se conserva se transforma ou se extingue com a altera o do modo de vida e das rela es de trabalho No primeiro cap tulo identificou se como oportuno registrar a exist ncia da Regi o do rio Negro como uma subregi o geogr fica que n o consta nos mapas oficiais do Pantanal Formada pela uni o de elementos hist ricos e refor ada pelo sentimento de pertencimento rea a Regi o do rio Negro revelou se como um espa o vivido para um determinado grupo social com tamanha identidade que estas pessoas se auto definem como rionegranas Propriet rios de fazendas e funcion rios estabeleceram um relacionamento de cumplicidade e fidelidade assim como redes de rela es de parentesco e compadrio se formaram ao longo dos anos entre as fam lias de funcion rios compondo uma regi o carregada de significados que d o sentido aos que a definem Transforma es de ordem ambiental social e econ mica est o sendo vivenciadas pelas fazendas pantaneiras de maneira mais intensa nos ltimos 40 anos e desestabilizam a estrutura que deu formato regi o identificada A beleza do rio Negro e seu status de conserva o levaram ao uso tur sti
40. dois grupos de mulheres de propriet rias e de n o propriet rias estas subdividas em aquelas que moram e trabalham na fazenda e as que moram na cidade ou na fazenda e trabalham esporadicamente para a fazenda Essa divis o torna se apropriada na medida em que cada grupo tem uma rela o espec fica com o trabalho e com o Pantanal Entender essas diferen as importante para compreender o universo feminino e de sua fam lia bem como as transforma es na sociedade pantaneira neste in cio de s culo 89 3 1 1 Caracteriza o das mulheres que trabalham com turismo a Propriet rias Beatriz propriet ria rural tem 63 anos e recebeu a fazenda como heran a de seu pai na d cada de 1970 Morou em algumas cidades na inf ncia e na juventude Aquidauana S o Paulo Campo Grande quando estudou e casou se pela primeira vez Costumava ir para o Pantanal nas f rias quando se divertia tomando banho de rio ajudando no trabalho de gado e at mesmo na ca a de on as que predavam o rebanho Seu pai era propriet rio de um avi o mas Beatriz gostava de viajar para a fazenda em carro de boi porque isso tamb m fazia parte da divers o Ela n o cursou faculdade preferiu assumir a administra o da fazenda que herdou e auxiliar o marido que tamb m era fazendeiro Quando seu filho mais velho demonstrou interesse em auxili la na administra o da fazenda optou por trabalhar em uma fazenda vizinha cujo propriet rio seu amigo para de
41. dos indiv duos diante da natureza o sentido que eles d o s suas vidas e os horizontes futuros que eles constroem e que os guiam nas suas exist ncias CLAVAL 2003 p 163 A Geografia Cultural teve como precursor o americano Carl Sauer na primeira metade do s culo XX Sauer defendia que a Geografia deveria partir de uma descri o das caracter sticas da superf cie terrestre para chegar mediante uma an lise de sua g nese a uma classifica o comparada de regi es SAUER 2003 p 21 Para ele a Geografia deveria se 21 dedicar a entender a diferencia o da Terra atrav s de sua divis o em reas pois a Geografia se interessa pelas obras humanas que se inscrevem na superf cie terrestre e imprimem uma express o caracter stica Idem p 22 A vis o de Sauer era de que existe uma unidade entre natureza e cultura e que esta deveria servir de base ao estudo da Geografia Entretanto para Denis Cosgrove ge grafo que muito contribuiu com o desenvolvimento da abordagem cultural da Geografia a partir da d cada de 1970 a escola de Sauer defendia a unidade entre natureza e cultura como base do estudo da paisagem pela geografia mas n o foi capaz de demonstrar a origem da cultura COSGROVE 2003 p 107 Para ele a Geografia tem a tarefa de apreender e compreender a dimens o da intera o humana com a natureza e seu papel na ordena o do espa o Idem p 103 o que exige um entendimento de cultura T
42. e como ele prefere comer p o ele n o possui os quesitos que o permitiriam se auto denominar pantaneiro Este rapaz n o se reconhece como pantaneiro por n o compartilhar de valores que para ele s o essenciais na caracteriza o do ser pantaneiro pois tem como refer ncia de pantaneiridade os s mbolos que foram repassados por seus pais por colegas de trabalho mais velhos ou at mesmo pelo patr o J para quem o v de fora o v essencialmente pantaneiro pois sua realidade e seu modo de vida condizem com a espectativa do visitante que formou uma imagem pr via a respeito do lugar que iria visitar Esta imagem est ligada id ia de rusticidade autenticidade aquilo que muitos turistas buscam ao optar em viajar para o Pantanal e a que reside o conflito de identidade do rapaz Para o patr o aut ntico usar chap u de palha e n o bon para a turista aut ntico la ar um bezerro no campo com ou sem chap u Segundo Urry e Rojek 1997 a posi o predominante que o turismo deveria ser interpretado como uma busca pela autenticidade Entretanto consideram que n o h como manter uma cultura isolada de outras uma vez que a cultura assim como as pessoas e os objetos viaja e portanto dif cil definir o que aut ntico em um territ rio tur stico Os autores defendem que cultura e turismo se sobrep em e que isso se deve culturaliza o da sociedade que em raz o dos fluxos
43. e cozinheira de pens o 54 anos As mulheres mais jovens que trabalham esporadicamente na fazenda refor am o lado corajoso da pantaneira que opta por deixar o conforto e a fam lia na cidade para ir trabalhar no fim de mundo conforme descrevem a Regi o do rio Negro Ao mesmo tempo algumas identificam a pantaneira com a figura da propriet ria pois esta se assemelha ao estereotipo do pantaneiro isto o vaqueiro que acompanha o trabalho de campo veste se com cal a jeans botas e chap u al m de n o desempenhar trabalhos caseiros de limpeza e arruma o Eu falava que nunca viria morar nesse Pantanal fim de mundo mas t aqui Pelo que eu vi at gora eu t achando bom eu acho que a pantaneira tem que viver no Pantanal morar acho que isso Gost do Pantanal tem que gost de mor no Pantanal Tem que usar cal a jeans camiseta e botina Chap u camisa de manga comprida Acho que isso S que eu n o visto assim Gilda servi os gerais 24 anos Para este grupo de mulheres ser pantaneira uma coisa boa est ligado a id ia de tranq ilidade e de gostar do contato com a natureza Entretanto nem todas se reconhecem como tal porque n o foram criadas no Pantanal apesar de a maioria ser de origem rural Quando perguntado a uma delas se acha bom ser pantaneira ela responde Eu acho bom eu acho gostoso ser pantaneira E bom porque viver no Pantanal voc conhece a fazenda vem gen
44. economic activity grows in the Brazilian Pantanal where there is predominance for more than 200 years of land private property for bovine cattle creation In overlapping or substitution to the cattle industry the tourism acts on the farms dynamics valuing and appropriating the natural and cultural patrimony intervening on the interpersonal relations as well as on the people s perception of environment composing a scene in transformation In the observed changes prominence for the woman s paper in the Pantanal society whose work reached greater importance on the farms They develop essential activities for the tourism as the services of cleaning rooms and cooking for tourists The study object of this essay is to diagnosis the territoriality of tourism on a specific region of the Pantanal through the look of the women who live and work in the farms Called as Rio Negro Region this portion of the Pantanal exists from the space historical and cultural reference for the population that inhabits the farms of that place Using the cultural boarding of Geography whose approach is the construction of a knowledge of the social realities considering the material determination historical and geographic of the people that produce it this essay approaches the subject from a view of the anthropology of tourism because the aspects of the culture and the familiar relations are basic for understanding this object Through the participant observation the femi
45. ele inclui a pr pria natureza econ mica e simb lica do poder Um dos conceitos mais utilizados sobre territ rio o constru do por Claude Raffestin que afirma que o espa o anterior ao territ rio ele se forma a partir do espa o algo produzido sobre um espa o pr existente Para este ge grafo ao se apropriar de um espa o concreta ou abstratamente por exemplo pela representa o o ator territorializa o espa o RAFFESTIN 1993 p 143 Esta territorializa o fruto do trabalho da a o do Homem que direta ou indiretamente revela rela es marcadas pelo poder Raffestin defende que o territ rio um conjunto de rela es sociais de rela es de poder e de domina o o que leva cristaliza o de territorialidades no espa o Entre os materialistas dial ticos Robert Sack 1986 adverte para o fato de que nem toda rela o de poder territorial ou inclui uma territorialidade Tamb m contribui com o debate ao reconhecer a dimens o cultural da territorialidade isto o modo como as pessoas d o significado ao lugar HAESBAERT 20064 p 86 Em rela o aos limites do territ rio Sack afirma que o controle sobre o acesso ao territ rio pode ser f sico mas tamb m simb lico por aceita o ou nega o afetiva e ou existencial O territ rio n o precisa necessariamente ser demarcado por m implica a no o de limite seja este limite f sico ou simb lico Silva 2002 com base na
46. em encontrar mulheres que permane am na fazenda por per odos mais longos como era no passado quando se chegava a ficar seis meses at um ano direto na fazenda hoje elas mal chegam e j perguntam quando a pr xima condu o pr cidade Al m disso ela incomoda se com o alto consumo das funcion rias referente aos produtos de limpeza insumos aliment cios e g s de cozinha como pode ser visto em seu relato as cozinheiras de hoje preferem cozinhar no g s do que usar o fog o a lenha E olha que n o falta lenha boa na fazenda A gente corta angico que n o faz tanta fuma a Elas n o se organizam pra dedicar um tempo da semana pra fazer massa muito mais f cil abrir o pacote de macarr o para cozinhar as meninas da limpeza usam sab o em p para tudo lavar roupa limpar banheiro cal ada Voc sabe o pre o de um quilo de sab o em p Isso que tem sab o feito na fazenda com sebo de vaca mas elas dizem que corroe os dedos a como que eu vou proibir Ivone propriet ria 81 anos Quando est na fazenda gosta de acompanhar as atividades de suas funcion rias mas sem muita dedica o Gosta de planejar o card pio das refei es verificar o enxoval por m o restante das responsabilidades prefere n o se interar Ela comenta que est cansada de gerir funcion rios porque considera a parte mais desgastante na administra o da fazenda Tamb m prefere passar para seu filho e netos a
47. estudo n o havendo d vidas entre os maridos de que s o pantaneiras Para estes portanto a mulher pantaneira aquela que foi criada no Pantanal e que al m disso t m coragem e for a para trabalhar d A mulher pantaneira sob o olhar das n o propriet rias Para as mulheres n o propriet rias que moram e trabalham na fazenda a mulher pantaneira forte sabe e gosta de trabalhar Tem sa de n o se importa com o desconforto da fazenda e gosta do contato direto com a natureza Segundo uma delas uma mulher de fibra de coragem de trabalh sabe N o tem medo de nada n o tem medo de porco sabe enfrentar a vida como aqui no Pantanal Eu acho que assim Trabalh cuid uma horta plant uma mandioca plant uma ab bora pra com faz fartura n Eu acho N o pode ter frescura pra com tem que com carne com farinha farinha com leite Claudete servi os gerais 49 anos Tamb m ressaltam que a pantaneira diferente da mulher da cidade porque leva uma vida mais saud vel tem destreza ao lidar com animais e at mesmo com os seres sobrenaturais mas ressaltam que possuem um n vel mais baixo de educa o escolar que as mulheres urbanas 131 Eu acho que ser pantaneira boa eu acho que ser mais que uma mulher da cidade Aqui a gente tem mais sa de n o tem medo eu n o tenho medo de cobra de saci S no fal assim ela pantaneira n o fala chique assim Silvana lavadeira
48. fazer social uma atividade desgastante Mesmo aquela que tem esse perfil reconhece a dificuldade do of cio pois n o todo dia que se est disposto a receber as pessoas A fim de desfazer este car ter de sacrif cio do of cio e transform lo em prazer Marina conta com seu marido para atender aos turistas eles organizaram uma escala de trabalho para que n o se torne desgastante para nenhum dos dois No dia em que um est atendendo aos turistas o outro est respondendo s consultas por pre os e reservas na internet 93 e assistindo s filhas e as quest es da fazenda Isto permite que o fazer social deles com o turista seja segundo ela gostoso e n o exaustivo b Funcion rias em fazendas de turismo Como dito al m da mulher propriet ria h nas fazendas que trabalham com turismo na Regi o do rio Negro mulheres que moram e trabalham na fazenda e mulheres que trabalham esporadicamente na fazenda prestando servi os tempor rios O servi o prestado pelos dois grupos de mulheres o mesmo o que as diferencia o tipo de contrato de trabalho Entre as mulheres n o propriet rias entrevistadas para esta pesquisa coincide o fato de as de idade superior a 40 anos serem funcion rias contratadas da fazenda e aquelas abaixo de 40 anos trabalharem como diaristas Mas isto n o uma regra As primeiras s o em sua maioria casadas e moram com seus maridos no Pantanal Das seis mulheres entrevistadas deste grup
49. grandona Elas veio a cavalo pra c E da foram tomar banho de sol na praia elas ficaram tudo de biquini e s tava ele l Mas faz o que o trabalho dele N dia cozinheira 39 anos Uma propriet ria ressalta que atualmente ocorre uma invers o de pap is Antigamente eram as mulheres que sentiam ci mes do marido em rela o s mulheres solteiras da fazenda Eles passavam o dia trabalhando no campo e antes de voltar para casa passavam na pens o ou no galp o para tomar o bicho Muitas vezes demoravam em voltar para casa e isso era motivo de briga Hoje s o eles que ficam em casa aguardando elas voltarem do trabalho pois o servi o deles se encerra bem antes do delas Os mais precavidos v o at a pousada buscar as esposas ap s servirem o jantar aos turistas para acompanh las no caminho de volta para casa Figura 13 Casais de diferentes faixas et rias trabalhando juntos nas fazendas 60 O bicho o nome popular dado dose de cacha a que a fazenda costuma dar aos pe es ao final de um dia de trabalho de campo E tamb m uma medida de evitar que os funcion rios tenham bebida alco lica em casa e se excedam podendo gerar confus es na fazenda 138 A oferta de emprego para o casal em uma mesma fazenda tem oportunizado al m do aumento da renda familiar a proximidade dos casais que muitas vezes ficavam separados Isto porque algumas mulheres preferem ficar na cidade com os filhos a permanecer na faz
50. grau de educa o escolar que possuem Entretanto a forma como descrevem seu papel na fazenda depreciativo mesmo reconhecendo a import ncia do seu fazer para o andamento do turismo na fazenda A gente limpa arruma serve as coisa no restaurante torna a limp e arrum O trabalho aqui esse n o tem nada demais Os pe o n o eles v o pro campo levam os turista passe todo dia tem coisa nova pra cont Os turistas olham pra gente e v uma diarista simples igual da cidade n o tem diferen a nenhuma Arlinda camareira 27 anos Mulheres e homens reconhecem que o trabalho feminino tem uma jornada di ria mais intensa que o masculino destacando o trabalho da cozinheira que a primeira a chegar e a ltima a sair da pousada Entretanto houve entrevistadas que indicaram o servi o dos homens como o mais pesado da fazenda por ser realizado no campo com os animais sob sol J o trabalho das mulheres como dito tido entre elas como um of cio simples inerente figura feminina Estas funcion rias reconhecem que trabalham mais ao longo do dia mas consideram seu of cio menos rduo que o masculino Apesar de passarem a maior parte do dia em p limpando arrumando cozinhando e servindo os turistas elas tendem a valorizar o trabalho masculino perante o feminino quando a pergunta para saber quem fica mais cansado ao final do dia Segundo uma das entrevistadas isto ocorre pelo fato de as mulheres 114 ad
51. inteiro sem faz nada isso n o tem Ent o folga quando vai pra cidade Eu acho bom assim porque ficar aqui sem faz nada eu n o gosto melhor fic sem faz nada na cidade Porque aqui eu n o gosto de fic a toa Aqui lugar de trabalho se for pra fic sem faz nada eu n o acho bom Silvana lavadeira e cozinheira da pens o 54 anos Estes depoimentos refor am a exist ncia de uma rela o de trabalho com o Pantanal Estar na fazenda significa estar trabalhando disposi o do patr o e dos turistas O direito ao descanso lhes restrito a algumas horas do dia dificilmente a um dia inteiro importante ressaltar que isto n o imposto pelos patr es mas sim pelas pr prias mulheres que entendem que enquanto estiverem na fazenda devem estar na ativa produzindo trabalhando Ser mulher na fazenda desenvolver as atividades dom sticas e estas demandam trabalho todos os dias Por outro lado quanto mais dias de folga acumularem mais tempo poder o ficar junto de seus familiares na cidade Por mais que algumas mulheres se sintam em casa na fazenda relacionam o per odo de descanso sua perman ncia no centro urbano Na fazenda durante o descanso vespertino e as pausas para tomar terer elas aproveitam para descansar as pernas e conversar o momento de relacionar se com os colegas de trabalho contar as not cias que ouviram no r dio falar sobre o que aconteceu na novela na noite anterior ou sobre uma convers
52. judeu tamb m que n o come p xe de c ro n o adianta faz pintado que eles n o come Francisca governanta 47 anos 58 Quando n o se tinha acesso energia el trica nas fazendas a gua quente nos chuveiros e torneiras da cozinha era proveniente de um sistema de aquecimento artesanal em que uma serpentina de gua passa pelo fog o lenha sendo em seguida armazenada em um reservat rio mantendo se em temperatura morna Atualmente algumas pousadas disp em de chuveiro el trico outras de chuveiros com aquecimento solar mas h ainda as que mant m o sistema tradicional em caso de emerg ncia ou para potencializar o calor dos outros sistemas 122 A adapta o dos saberes e h bitos dom sticos de acordo com a proveni ncia dos turistas um sinal do processo de moderniza o do meio As atividades desenvolvidas nas fazendas passam por transforma es para que se mantenha uma rela o fluida com as demandas da atividade tur stica As funcion rias est o se inserindo habilmente nas regras estabelecidas pelos turistas e de maneira espont nea Trocar o sistema de serpentina por chuveiros el tricos para que haja maior satisfa o dos turistas japoneses n o deve ser visto como uma descaracteriza o do modo de vida no Pantanal mas sim como uma adapta o demanda de mercado N o s o banho dos japoneses ficou mais quente como o dos funcion rios da fazenda e do patr o A altera o levou melhoria na qualidade da
53. m a vers o de um pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu ria Embrapa Pantanal 16 OS VARIOS PANTANAIS SEGUNDO O BGE LEGEIDA Pantanal do Coris o Grande Jauu Podre Inacio Paraguai Pantanal do Cuiaba Berto Gomes Peraguaizinho 18 Pont anal do Riquira S o Lowen o Cuiaba ES Pantanal do Paogu E Pantanal do Taquari E Pantanal do llego E Pantanal do Tarum Jiboia E3 Part anal do Manda Aquidauana a Pantanal do Jacadigo Ilabieque og E Pantanal do quidab EE Pantanal do pa E Pantanal do Branco mongu a Si Regi o do Rio Negro BLA Figura 2 A Regi o do rio Negro em rela o subdivis o feita pelo IBGE De acordo com esta vers o o rio Negro nasce no munic pio de Corguinho Estado de Mato Grosso do Sul na Serra de Maracaju passa pelo munic pio de Rio Negro no mesmo Estado passando por n cleos urbanos e rurais at se transformar em um grande alagado ao se encontrar com a plan cie pantaneira O seu leito se dispersa na plan cie formando pequenos bra os de rio que se juntam um pouco mais frente e voltam a formar um nico leito Um destes bra os se diferencia dos demais por ter um fluxo maior de gua e recebe o nome de Correntoso Assim que as guas se encontram em um nico canal novamente o rio passa a ser margeado somente por fazendas sem a presen a de comunidades ribeirinhas ou n cleos urbanos O Negro segue seu curso em dire o ao rio Paraguai
54. maltratando toda a biota H resist ncia dos propriet rios mais antigos da regi o de estudo em alterar a composi o dos seus campos Primeiro porque isso tem um alto custo desmatar e plantar pasto ex tico possui um alto investimento Segundo porque uma pr tica ainda rent vel para pecuaristas o que eles chamam de cria e recria de bovinos Os animais nascem no Pantanal e permanecem junto das m es durante o per odo de amamenta o cria em seguida s o separados por sexo at que atinjam tr s ou quatro anos de idade recria quando os machos ser o transportados para uma fazenda fora do Pantanal onde dever o engordar e as f meas dever o ser fecundadas para aumentar a produ o da fazenda O propriet rio rural que possui fazenda em ambas as localidades planalto e plan cie tem conseguido lucrar com a In HUSZAR P et al Realidade ou Fic o Uma revis o dos estudos oficiais da Hidrovia Paraguai Paran Toronto WWF 1999 52 pecu ria J os pantaneiros que n o possuem terras no planalto optam por arrendar suas fazendas para propriet rios de fora que utilizar o o Pantanal como ber rio de sua produ o bovina O arrendamento da terra permite que os propriet rios mantenham a posse de suas fazendas enquanto a economia n o lhes rent vel Por m h muitos que desistiram de investir no Pantanal e venderam suas propriedades para vizinhos ou pessoas de fora Essa inclus o de n o pantaneiros
55. na fazenda O asseio de suas casas e da casa sede tido como refer ncia particular sendo a principal caracter stica observada entre elas Em outras palavras entende se que uma mulher deve ter a casa bem organizada e limpa incluindo o p tio ao redor que deve ser varrido constantemente Existe uma subjetividade naquilo que considerado individualmente como a limpeza ideal o que leva as mulheres a terem dificuldade de relacionamento no trabalho o caso da governanta acima citada que tem dificuldades em comandar sua pr pria equipe porque seu padr o de limpeza diferente do de suas funcion rias De volta cozinha de N dia observa se que com a chegada da patroa as duas funcion rias aceleram o preparo do almo o Apesar de ter hora certa para ser servido comum haver adiantamento principalmente se houver crian as no grupo Figura 11 Mulheres preparando a refei o dos h spedes 102 Enquanto a cozinheira arruma os alimentos nas vasilhas para servir Gilda organiza a mesa da refei o Ela fica nervosa quando esquece se a faca fica ao lado direito ou esquerdo do prato se as ta as est o de acordo com o que ser servido isto detalhes de etiqueta mesa que n o fazem parte de seu cotidiano mas que s o cobrados no ambiente de trabalho A patroa acompanha de perto a arruma o da mesa e orienta a funcion ria quando necess rio o que nem sempre visto como ajuda por parte de Gilda que se sente pression
56. no Pantanal As mulheres com mais de 35 anos que s o casadas relembram os tempos em que s havia a entrada do sal rio do marido na fam lia e que a elas era dado o direito de gastar somente com supermercado e roupas para crian as O restante do dinheiro elas nem imaginavam para onde ia Classificam os gastos demasiados que seus maridos costumavam e costumam ter com bebidas e festas quando v o para a cidade salientando a preocupa o referente alta incid ncia de alcoolismo entre os homens Com o turismo mudou bastante porque no tempo da fazenda eu morava na minha casa n Eu s vinha ajud quando precisava na fazenda A quando virou turismo n o a eu j passei a trabalhar como funcion ria do hotel ter meu sal rio todo m s ganhando aquilo eu todo m s eu t trabalhando e ganhando o meu dinheiro e quando eu morava pra c n o eu contava com o dinheiro do marido s E eu passei a me sentir depois que eu comecei a trabalh pro turismo que eu ganho o meu dinheiro que eu quero faz uma coisa eu pego e fa o dependendo do meu dinheiro E tudo mais por causa que a gente se soltou mais ser uma pessoa mais tipo assim voc quer comprar alguma coisa chega l e compra tem a seguran a 499 que vai pod pag Iracema cozinheira 57 anos Em rela o ao consumo de bebida alco lica a independ ncia financeira feminina tamb m tem trazido algumas transforma es neste aspecto da sociedade rionegrana Al
57. normalmente de parentes Outro custo fixo a compra de cart es de telefone celular para ter na fazenda e na cidade assim podem se comunicar com a fam lia com fregii ncia e t m a garantia de que as pessoas na cidade v o receber a liga o As mulheres casadas em sua maioria est o economizando para construir ou reformar suas casas na cidade Gastam muito pouco encomendando do supermercado somente o essencial para o m s As jovens que s o solteiras e ainda n o t m filhos por se alimentarem na pens o ou no hotel fazem pedidos de produtos mais sup rfulos do supermercado como chocolates balas biscoitos alimentos instant neos que no total pode sair mais caro que as compras de insumos b sicos das funcion rias que t m fam lia 5 O sal rio m nimo rural de R 404 00 Consulta feita no Minist rio do Trabalho em julho de 2008 118 Algumas mulheres chegam a receber sal rios maiores que o de seus companheiros o caso das cozinheiras e governantas que s o profissionais reconhecidas na regi o e que recebem propostas de trabalho com certa fregii ncia o que faz com que tenham maior poder de negocia o sobre seus sal rios H tamb m as cozinheiras de pens o que recebem sal rio fixo para tal mas prestam outros servi os extras para a pousada e colegas de trabalho como lavar e passar roupas confeccionar queijos e doces criar galinhas e vender os ovos fazer croch e vender os produtos o que faz com que sua r
58. o do autor 2003 Catadores de iscas e o turismo da pesca no Pantanal Mato Grossense 1 ed Campo Grande UFMS 2006 v 1 253 p BARROS D M R amp HARTENTHAL V S von Rela es interpessoais como diferencial na gest o da qualidade hoteleira Monografia de gradua o UFPR apresentada em mar o de 2003 BEZZI M L Regi o uma re vis o historiogr fica da g nese aos novos paradigmas Santa Maria Editora UFSM 2004 BONNEMAISON J Viagem em torno do territ rio In CORR A e ROSENDAHL Org Geografia cultural um s culo Rio de Janeiro EDUERJ 2002 p 83 131 BUTTIMER A Apreendendo o dinamismo do mundo vivido In CHRISTOFOLETTI A Perspectivas da geografia S o Paulo Difel 1985 p 165 194 151 CANCLINL N G Culturas h bridas 4 ed S o Paulo Edusp 2003 CLAVAL P A contribui o francesa ao desenvolvimento da abordagem cultural na geografia In ROSENDAHL Z E CORREA R L Introdu o geografia cultural Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003 p 147 166 CASTRO D Juiz nega liminar Globo contra Pantanal Folha de S o Paulo S o Paulo 12 jun 2008 Dispon vel em http www folha uol com br folha ilustrada ult90u411586 shtml Acesso em 13 jun 2008 CORR A H Deputados ampliam usinas no Pantanal Folha de S o Paulo Caderno Cotidiano Dispon vel em http www folha uol com br fsp cotidian ff2012200629 htm Acesso em 10 jun 2007 CORREA R L Trajet rias geogr
59. o mercado tem necessidade de incluir suas estruturas e bens simb licos nos meios de comunica o de massa assim como os sistemas pol ticos usam estes elementos para fortalecer sua hegemonia e legitimidade p 215 Apesar de alguns usos comerciais de bens simb licos do Pantanal serem abusivos no sentido de n o beneficiarem a comunidade local diretamente como o caso do restaurante acima citado preciso reconhecer que grande parte do crescimento e da difus o da cultura pantaneira bem como o fortalecimento da marca Pantanal se deve a sua divulga o nos meios massivos na produ o ficcional e fonogr fica e tamb m no turismo A intensa explora o da imagem Pantanal leva queles que ali habitam a tamb m incorporar a imagem de um Pantanal simb lico fortalecendo sua identidade territorial conforme elucida Vargas 2006 Considerando que a identidade encontra se profundamente envolvida no processo de representa o admite se que que a forte veicula o do Pantanal simb lico interfere na constru o identit ria do indiv duo pantaneiro a identidade socialterritorial pode ser interpretada como algo dado decorrente da naturalidade da viv ncia e da cultura e tamb m como algo constru do uma auto atribui o quando os indiv duos se reconhecem como pantaneiros p 61 62 Voc se considera pantaneiro a Essa foi uma das perguntas iniciais do roteiro de entrevistas elaborado para a realiza o de
60. por aproximadamente 140 km cruzando os munic pios de Aquidauana e Corumb Neste trecho a 2 6 7 n o recebe gua de nenhum outro rio somente de corixos vazantes e salinas nos per odos de 9 Corixos s o cursos d gua intermitentes que surgem no per odo da cheia e secam no per odo da seca S o normalmente cobertos por plantas aqu ticas Vazantes s o campos abertos compostos por terreno baixo e mido que ficam inundados durante a poca das cheias As salinas s o lagoas de gua salobra NOGUEIRA 2002 p 146 151 17 cheia e vaz o das guas Ao aproximar se do Rio Paraguai transforma se novamente em um alagado de propor o maior que o anterior Seu leito desaparece e suas guas se misturam s do rio Vermelho e do rio Miranda que logo em seguida desembocar o no rio Paraguai Para aqueles que comp em a popula o local das fazendas pesquisadas eles moram e trabalham na Regi o do rio Negro ou ainda no Pantanal do rio Negro ver figura 3 e 4 A rea que abrange esta regi o apontada pelos entrevistados n o equivale quelas definidas conforme as subdivis es apresentadas por Ad moli 1982 e pelo IBGE realizadas no intuito de regionalizar o Pantanal Para as pessoas que ali vivem no entanto a regi o por eles definida que serve de refer ncia espacial e hist rica pois al m de ser um espa o real delimitado por fronteiras concretas comp e se da mem ria e das representa es que as p
61. por homens Esta desvaloriza o do pr prio fazer demonstra a for a do modelo de organiza o do trabalho nas fazendas de gado constru do ao longo de 200 anos e sua influ ncia sobre o grupo social mesmo com a altera o nas rela es de trabalho e no modo de produ o das fazendas O trabalho realizado no campo pelos homens era o que gerava o sustento da fam lia e por isso sua superioridade sobre o trabalho exercido por suas esposas uma vez que a maioria delas n o possu a v nculo de emprego com a fazenda caracterizando o trabalho dom stico feminino como complementar ao masculino Situa o semelhante havia sido anteriormente apontada por Woortmann 1991 e Alencar 1993 em rela o divis o do espa o segundo categorias de g nero em comunidades pesqueiras do norte e nordeste brasileiros Os rios e mares comp em espa os masculinos pois a pesca atividade base da economia familiar nestas comunidades exercida por homens J a terra firme onde h a produ o agr cola de subsist ncia e onde est o localizadas as resid ncias constitui um espa o feminino de produ o Com as mudan as na produ o do espa o ocorridas ao longo do tempo nestas comunidades as mulheres ganharam outros pap is e oportunidades de trabalho remunerado assim como a pesca n o mais 117 necessariamente a principal atividade econ mica das fam lias Apesar de participantes destas transforma es os grupos sociais resistem em mescl
62. produ o de Sack salienta que os limites da mesma forma que podem excluir podem ser usados para dividir e subjulgar ou at para conquistar grupos diferentes SACK apud Silva 2002 p 23 Desta forma o territ rio pode ser controlado por aqueles que est o fora dos limites dele Por isso o limite f sico ou simb lico essencial para a exist ncia do territ rio como tamb m o s o o espa o e as rela es de poder Idem p 23 O territ rio surge ent o com o objetivo de gerar algum tipo de padroniza o e classifica o afinal aqueles que est o no interior do territ rio se diferenciam de alguma forma dos que est o fora dele Rog rio Haesbaert 2006a considera que toda rela o de poder espacialmente mediada tamb m produtora de identidade pois controla distingue separa e ao separar de alguma forma nomeia e classifica indiv duos e os grupos sociais p 89 44 A esta identidade territorial aos componentes naturais culturais hist ricos e econ micos que definem um territ rio os ge grafos t m chamado de territorialidade Apesar de ser um conceito ainda em constru o Sack define a territorialidade como a tentativa por um indiv duo ou grupo de atingir afetar influenciar ou controlar pessoas fen menos e relacionamentos pela delimita o e afirma o do controle sobre uma rea geogr fica SACK apud Haesbaert 2006a p 87 A territorialidade assim como as identidades t
63. que mora ao lado 4 O mate ou chimarr o uma bebida quente de influ ncia sul americana feita com a infus o de folhas secas e pisadas da erva mate Ilex Paraguayensis tomado ao amanhecer pela maioria dos pantaneiros Costumam colocar outras ervas junto erva mate para tratar de doen as NOGUEIRA 2002 p 148 96 No caminho aproveita para soltar os gansos e galinhas que dormiram presos no galinheiro A m e reclama n o agiiento esses ganso todo dia eu n o preciso acord t o cedo mas todo dia tem essa algazarra A N dia chega a pra me v e tenho que levant Neste encontro costumam ouvir as not cias no r dio comentar os acontecimentos da novela na noite anterior contar o que pretendem fazer no dia e comentar alguma not cia da fam lia ou da fazenda A m e aproveita o tempo para acender o fogo do fog o a lenha e colocar a gua para ferver que ser usada para passar o caf e escaldar a carne seca que ser usada para preparar o arroz carreteiro de seu marido O dia est come ando a clarear quando N dia pede b n o m e e vai embora para sua casa ver se o marido j levantou Em seguida segue no rumo da casa sede da fazenda para iniciar um novo dia de trabalho Observa se que sua m e ficou feliz com a visita apesar do hor rio Ao chegar cozinha da casa sede N dia liga o r dio em tom baixo para n o despertar ningu m Coloca a gua na chaleira e p e no fog o a g s para que o caf
64. regi o sob a tica humanista que para o autor o espa o vivido incorpora o objeto as rela es entre os indiv duos e a sociedade e entre os lugares fregiientados pelos grupos sociais e principalmente a dimens o afetiva Fr mont 1980 afirma que as rela es do homem com o espa o se formam se estruturam e desfazem no decorrer do tempo no decorrer de suas pr prias vidas Desta forma o espa o vivido uma experi ncia cont nua um espa o em movimento e um espa o tempo 22 vivido p 26 27 Uma vez que este espa o se forma desde a mais tenra idade tamb m um espa o social pois composto por outras pessoas al m do pr prio indiv duo Este ge grafo prop e um avan o no conhecimento das rela es dos homens com os lugares que constituem a regi o atrav s de uma mudan a na perspectiva de estudo Para ele a regi o deve ser estudada como um espa o vivido ela deve ser vista apreendida sentida anulada ou rejeitada modelada pelos homens projetando neles imagens que os modelam Redescobrir a regi o pois procurar capt la onde ela existe vista pelos homens Ibidem p 17 Desta forma entende se como regi o neste trabalho usando as palavras de Fr mont 1980 um espa o que integra lugares vividos e espa os sociais com um m nimo de coer ncia e de especificidade que fazem dela um conjunto com uma estrutura pr pria a combina o regional e que a distinguem por certas representa
65. responsabilidade e dedica o de fazer com que o visitante sinta se em casa e seja a ele dado um servi o personalizado Ela senta se mesa com os h spedes em algumas refei es mas prefere jantar no seu quarto para poder assistir novela sem ser incomodada Diz que prefere jantar sozinha a fazer social com os h spedes 47 3 x 2 2 2 P Angico Anadenanthera colubrine uma rvore de grande porte Sua madeira quando seca considerada pelas cozinheiras como a melhor para o feitio de fogo por n o fazer muita fuma a e formar brasa 92 Tanto ela como Beatriz reconhecem que fazer o social com os h spedes um esfor o extra mas entendem isso como necess rio pois consideram o atendimento personalizado um grande diferencial Para os turistas aparentemente este esfor o n o percebido pois sua estada na fazenda raramente ultrapassa cinco dias o que ressalta Krippendorf 1989 ao analisar a rela o entre turistas e comunidades receptoras Ele identifica que o turista n o toma consci ncia que aqueles momentos inesquec veis que est vivendo durante a viagem uma repeti o cont nua de atividades para quem est servindo Para os visitantes a experi ncia nica para os prestadores de servi o ela se repete grupo ap s grupo O mesmo foi ouvido de Marina outra propriet ria de fazenda de turismo na regi o Ela considera a intera o com os turistas a parte mais dif cil e cansativa conforme relata
66. tema a partir de um vi s da antropologia do turismo na medida em que os aspectos da cultura e das rela es familiares ser o fundamentais na compreens o de seu objeto 14 1 RIO NEGRO UMA REGI O DO PANTANAL O Pantanal uma imensa bacia sedimentar localizada ao centro da Am rica do Sul banhada por uma complexa rede hidrogr fica tendo como rio principal o rio Paraguai conhecido nacional e internacionalmente por sua diversidade e riqueza de vida selvagem vastas reas de cerrado e fisionomias de vegeta o aberta al m de uma das maiores reas inund veis do mundo Detentora de v rios t tulos entre eles o de Patrim nio Natural da Humanidade conferido pela Unesco no ano de 2000 esta plan cie inund vel tem em torno de 210 000 km Aproximadamente 70 est o localizados nos Estados brasileiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul Os 30 restantes ficam no Sudeste da Bol via e Nordeste do Paraguai Incluindo a plan cie e as serras que a margeiam o Pantanal cobre aproximadamente 490 000km uma rea equivalente Esc cia e Inglaterra juntas Mais de 95 de sua extens o composta por reas privadas S o fazendas que t m na pecu ria bovina sua principal atividade produtiva e que vem se instalando na plan cie desde o s culo XIX O restante do Pantanal brasileiro formado por unidades de conserva o federais e estaduais A presente pesquisa foi realizada em quatro fazendas que atuam com a atividade tur
67. urbano e tecnol gico assim como com a inser o do turismo no Pantanal Algumas atividades que compunham seu cotidiano no passado deixaram de fazer sentido com a chegada da energia el trica e das facilidades de transporte para a cidade Outras ficaram bastante limitadas pelo intenso compromisso com o trabalho gerado pela demanda das pousadas J a nova gera o de mulheres n o compartilha destes s mbolos porque possui h bitos bastante ligados cidade mesmo aquelas que s o de origem rural Elas n o demonstram interesse em criar galinhas e porcos ou em plantar uma horta e uma ro a porque lhes mais pr tico mandar comprar estes produtos na cidade Ao mesmo tempo querem e gostam de estar no Pantanal por causa da tranq ilidade da fartura da fazenda e principalmente por causa da possibilidade de economizar O turismo tem contribu do significativamente com a inser o de um novo grupo de mulheres no Pantanal Na regi o de estudo este grupo se mescla a outro composto por mulheres que possuem uma rela o identit ria com as fazendas e as pessoas do rio Negro constru da ao longo de anos de trabalho na regi o Ambas est o ali a trabalho e com o objetivo de ganhar dinheiro algumas com maior ansiedade em retornar para suas casas na cidade e investir a renda conquistada com o trabalho outras com mais trangiiilidade pois quanto mais tempo permanecerem no Pantanal mais elas poupam e menos se exp em aos perigos ou dificuldades
68. 2006 p 236 O modelo de parque natural regional pressup e a organiza o dos agentes locais principalmente os propriet rios rurais Segundo a pesquisadora esse foi um dos principais motivos de o parque n o ter prosperado pois observou um distanciamento dos fazendeiros dos ideais de participa o dedica o envolvimento inerentes forma o do parque O pr prio relat rio da Fed ration des Parcs Natureles R gionaux de France FPNRF entidade que avaliou o processo de implementa o do PRNP afirma que as caracter sticas da regi o tanto naturais dist ncias e dificuldades de acesso quanto patrimoniais 95 do territ rio constitui se em propriedades particulares ou administrativas os munic pios t m pouca compet ncia sobre o territ rio do Projeto fizeram com que fosse dif cil para n o dizer in til aplicar diretamente ao Brasil o modo de gest o de Parque Natural Regional franc s FPNRF 20002 p 13 apud VARGAS 2006 p 129 Atualmente o Instituto Parque Pantanal IPP rg o criado para a gest o do Parque Natural Regional do Pantanal est em processo de reestrutura o e em busca de financiamento para voltar a colocar as id ias do parque novamente em pr tica desta vez corrigindo os erros do passado O projeto de carne org nica est em andamento com o apoio da organiza o n o governamental Wild World Found WWF que abrange outras fazendas al m das que compunham o parque Os demais proje
69. A 264 p ginas R 79 com textos de Xavier Bartaburu uma obra imperdive Assim como as dicas que ele d pa c sobre os melhores lugares urismo na regi o 2 Hotel Porto Jofre P pousada no final da Rc uma viagem por si sabor de aventura Ho 126 pontes de madeira e das maiores atra es t O hotel atrai muitos pe partida para visitar O P Pantanal e a isolada Se Www portojofre com br Fazenda Barra Mansa Aquidauang A melhor poca para pous chegar de avi o vai de mai a plan cie n o est seca e ne cheia facilitando a avistagem de animais o melhor lugar para quem deseja ver numa nica viagem um pouco de tudo o que existe l www hotelbarramansa com Dr gt Fazenda Santa Sophia Aquidauana MS R spedagem guarda o esp rito das grandes cio do s culo passado A anfitri tem muita hist ria para contar je on a Os passeios s o feitos vel ver o dia a dia do pe o ompanhar uma fzenda em plena e www fazendasantasophia com br Figura 6 Regi o do rio Negro a mais bela do Pantanal In PANTANAL o ltimo den Revista Pr xima Viagem ano 9 n 977 nov 2007 p 26 As mulheres exercem um importante papel na percep o dos h spedes em rela o ao modo de vida no Pantanal pois s o elas que desempenham as atividades de manuten o das reas comuns e privativas e preparam as refei es fatores essenciais p
70. A inten o que os visitantes conhe am o Pantanal aut ntico mais pr ximo poss vel do real pois entendem que isto faz seu produto ter maior destaque no mercado A busca pelo aut ntico e a fuga da encena o fazem parte do universo do turismo Segundo MacCannell o turista n o se contenta apenas com o conhecimento superficial dos lugares ele tem a inten o de ir a lugares reais de conhecer os bastidores e transform los na atra o da viagem uma maneira de tornar sua experi ncia mais original diferente da viagem convencional que possa ter sido vivenciada pelos demais membros de sua sociedade Para o autor o turista est em constante movimento em busca de situa es diferentes dele mas acaba encontrando uma autenticidade encenada ou seja para que o real seja visto necess rio que esteja dispon vel em local e hora marcada oferecendo um determinado grau de conforto ao espectador o que acaba formando um produto n o t o pr ximo do real como se esperava 2 E o que se observa em alguns destinos de turismo rural que oferecem a ordenha como atividade para os visitantes Uma pr tica rural que feita antes do amanhecer para que o leite possa ser consumido no caf da manh executada em per odos diferenciados do dia para que o visitante tenha a oportunidade de vivenci la sem interferir nas suas horas de sono O acordar do trabalhador rural e os movimentos que antecedem a ordenha do leite como o recol
71. Ed S o Paulo Hucitec 1985 MORAES M L Q de Feminismo movimentos de mulheres e a re constru o da democracia em tr s pa ses da Am rica Latina Primeira Vers o N 121 S o Paulo Editora Unicamp 2003 MORETTI E C Pantanal para so vis vel e real oculto O espa o local e o global Tese Doutorado em Geografia Universidade Estadual Paulista Rio Claro 2000 NOGUEIRA A X O que Pantanal S o Paulo Ed Brasiliense 1990 Pantanal homem e cultura Campo Grande Ed UFMS 2002 ONDE a Mata foi Preservada Revista Veja edi o 1990 10 jan 2007 Dispon vel em http veja abril com br 100107 holofote html Acesso em 15 mai 2007 ORTIZ R A viagem o popular e o outro In Um outro territ rio S o Paulo Olho d gua 1996 PANTANAL o ltimo den Revista Pr xima Viagem ano 9 n 977 nov 2007 p 26 PROEN A A C Pantanal Gente tradi o e hist ria Campo Grande UFMS 1997 3 edi o 153 PROGRAMA DE REGIONALIZA O DO TURISMO ROTEIROS DO BRASIL Programa de apoio ao desenvolvimento regional do turismo Dispon vel em http www turismo gov br Acesso em 20 Jul 2008 PROGRAMA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE Plano de conserva o da bacia do Alto Paraguai PCBAP Projeto Pantanal PNMA 1997 RAFFESTIN C Por uma geografia do poder S o Paulo tica 1993 REVISTA VEJA S o Paulo SP 9 de maio de 1990 Mensal Dispon vel em http veja abril com br idade exclusivo 090703
72. Pantanal vem sendo tratado como santu rio ecol gico por aqueles que n o habitam ou se relacionam diretamente com ele Esta apropria o simb lica foi intensificada a partir da exibi o da novela Pantanal produzida na Fazenda Rio Negro pela rede Manchete de televis o entre 1989 e 1990 e transmitida ao p blico nacional e internacional Os s mbolos e imagens do Pantanal sa ram da fotografia e ganharam espa o na tela de milhares de resid ncias N o se mostrou apenas a natureza e a cultura pantaneiras como tamb m foi umas das primeiras ocasi es em que houve exibi o de mulheres semi nuas em hor rio nobre o que chamou mais ainda a aten o do p blico Esta produ o foi um marco na forma o da imagem do Pantanal e foi a alavanca para o turismo utilizando as palavras de uma das propriet rias entrevistadas Al m do p blico brasileiro a novela chamou a aten o de holandeses portugueses gregos russos americanos entre outras nacionalidades que passaram a conhecer o Pantanal a partir das imagens da televis o A novela foi reprisada por tr s vezes sempre com alto ndice de audi ncia e em junho de 2008 outra emissora de televis o que comprou os direitos de exibi o passou a REVISTA VEJA S o Paulo SP 9 de maio de 1990 Mensal Dispon vel em http veja abril com br idade exclusivo 090703 capa 090590 html Acesso em 02 set 2007 76 retransmiti la A audi ncia da emissora triplicou no hor
73. RRITORIALIDADE O conceito de territ rio bastante antigo e acompanha as transforma es que a Geografia tem experimentado ao longo do tempo Os ensaios para definir o territ rio variam da abordagem f sico natural at a s cio cultural podendo assimilar um car ter mais pol tico e ou econ mico oferecendo um leque de possibilidades de investiga o aos pesquisadores que buscam compreend lo O alem o Friederich Ratzel precursor na sobre o territ rio com base na antropogeografia essencialmente fixado no referencial pol tico do Estado SOUZA 2006 p 85 atrelava o territ rio ao conceito de poder pois este seria necess rio para o controle territorial O territ rio seria ainda um espa o concreto determinado pelo solo apropriado por um grupo e formador de sua identidade cultural RATZEL apud Silva 2000 p 18 Em Ratzel o conceito de territ rio n o se diferencia muito do de solo medida que desvincula do territ rio a sua hist ria a afetividade e a identifica o dando nfase materialidade SOUZA 2006 p 85 42 As reflex es deste ge grafo na formula o do conceito de territ rio influenciaram o pensamento dos ge grafos pol ticos at o per odo entre as grandes guerras mundiais Ratzel e seu conterr neo Richard Hartshorne dedicados ao estudo do espa o s o representantes da chamada Geografia Tradicional que desenvolveu com mais nfase os conceitos de paisagem e regi o atrav s dos quais se
74. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL POLLIANNA THOM A MULHER E O PANTANAL UMA RELA O DE TRABALHO E DE IDENTIDADE AQUIDAUANA 2008 POLLIANNA THOM A MULHER E O PANTANAL UMA RELA O DE TRABALHO E DE IDENTIDADE Disserta o apresentada ao Programa de P s Gradua o em Geografia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul como requisito parcial obten o do t tulo de Mestre em Geografia Orientador Prof Dr Alvaro Banducci Jr AQUIDAUANA 2008 Thom Pollianna A mulher e o Pantanal uma rela o de trabalho e de identidade Pollianna Thom Aquidauana 2008 154 f Orientador Alvaro Banducci Jr Disserta o Mestrado em Geografia Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Programa de P s gradua o em Geografia 1 Mulher 2 Pantanal 3 Turismo POLLIANNA THOM A MULHER E O PANTANAL UMA RELA O DE TRABALHO E DE IDENTIDADE Disserta o aprovada como requisito parcial para obten o do grau de Mestre no Curso de P s Gradua o em Geografia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul pela seguinte banca examinadora Orientador Prof Dr Alvaro Banducci Jr Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFMS Profa Dra Icl ia Albuquerque de Vargas Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFMS Prof Dr Tito Carlos Machado de Oliveira Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFMS Aquidauana 15 de setembro de 2008 AGRADECIMENTOS
75. a a fim de manter suas caracter sticas singulares para atender s necessidades dos turistas importante ressaltar que esta autenticidade s se mant m porque as manifesta es e estruturas culturais ainda possuem significado para o grupo Talvez este significado esteja ligado perspectiva de gerar renda mais do que perspectiva utilit ria do artesanato como a mulher que continua tecendo faixas na fazenda para poder vender aos turistas Neste sentido o turismo est valorizando o artesanato regional de maneira que passem a ser objetos de consumo ao inv s de simples manifesta es do tradicional 84 Entretanto uma das maiores caracter sticas da territorialidade do turismo na cultura pantaneira a oportunidade que as pessoas encontraram em dialogar com as demais culturas mantendo suas refer ncias ao mesmo tempo que atendendo s demandas do mercado Em outras palavras o turismo mais do que criar objetos de consumo est permitindo que estas pessoas que sempre estiveram margem do processo s cio cultural e econ mico global dialoguem com o mercado e a sociedade de forma minimamente democr tica ou seja reconhecidas e valorizadas 85 3 A MULHER PANTANEIRA Escrever sobre um grupo espec fico de mulheres leva o leitor a pensar que se trata de um trabalho espec fico sobre g nero Entretanto n o este o enfoque desta pesquisa Por se tratar de uma discuss o embasada na ci ncia geogr fica com um aporte
76. a Funda o Manoel de Barros com o apoio de diferentes parceiros e financiamento do Minist rio da Agricultura Pecu ria e Abastecimento O projeto tem o objetivo de oportunizar a inclus o digital atrav s da educa o dist ncia a localidades isoladas de fontes de tecnologia e informa o Al m de promover o contato dos trabalhadores rurais e seus familiares com a inform tica busca capacitar 58 produtores trabalhadores e empres rios rurais vinculados ao agroneg cio em diversas reas de produ o e gest o Na regi o de estudo as bases foram implantadas nas escolas pantaneiras que receberam equipamentos como televisor DVD filmadora computadores e acess rios todos com acesso via internet por sat lite plataforma de ensino a dist ncia do projeto Na regi o as bases foram instaladas em duas escolas pantaneiras N cleo Escolar Vale do rio Negro e Cyriaco da Costa Rondon a primeira localizada na Fazenda Campo Novo e a segunda na Fazenda Tupancyretan Com o Navega Pantanal as escolas passaram a atender aos pais e familiares dos alunos e demais interessados que trabalham em fazendas da regi o Os alunos est o tendo aulas de inform tica e a oportunidade de participar da evolu o tecnol gica no universo da comunica o assim como os alunos de escolas urbanas dos munic pios do Pantanal Ambas as escolas atendem s crian as da regi o dividas em turmas de primeira a quarta s rie num per odo letivo diferenciado da
77. a forma quando vier a mudar de fazenda j n o carregar seus pertences de casa consigo novamente pretende guard los na cidade Para ambas a vida na fazenda est relacionada ao desconforto Por m este desconforto se comparado ao estilo de vida das mulheres no Pantanal h 20 anos um grande avan o pois diferentemente daquele tempo hoje as casas nas fazendas possuem gua encanada eletricidade telefone e outras facilidades que fazem a morada no Pantanal e tamb m o trabalho ser muito mais confort vel que no passado mas ainda desconfort vel em rela o ao que possuem na cidade A maioria das mulheres entrevistadas que trabalham na Regi o do rio Negro afirmam gostar de morar no Pantanal Algumas est o em busca de uma vida mais tranq ila outras querem ficar pr ximas de familiares que moram na regi o h ainda aquelas que v m como uma oportunidade para economizar e poder comprar alguma coisa na cidade no futuro As motiva es s o variadas mas quando perguntadas se gostam da vida na fazenda s o un nimes em dizer que sim A busca pela tranquilidade mais presente no discurso das mulheres funcion rias maiores de 35 anos e das propriet rias como demonstram os relatos abaixo Eu estou trabalhando aqui Uma fazenda no fim do mundo Quando eu falei que vinha pra c me perguntaram o que eu ia fazer no fim do mundo Eu disse que eu quero paz Eu quero ter paz N o adianta voc viver numa fazenda que
78. a ir at o Pantanal ver de perto os animais selvagens em seu habitat natural Elementos culturais seriam secund rios conforme mostra o depoimento a seguir por m visto tamb m como um motivador da viagem tem gente que vem ver jacar que vem ver on a que vem ver passarinho tem muito passarinheiro Porque boi essas coisas eles v m por l Eles gostam de ir atr s dos bicho Conhecer a comida tamb m Mas o principal conhecer os bicho Irene cozinheira 46 anos 120 As mulheres que trabalham no servi o das refei es s o as nicas que mant m contato fregiiente com os h spedes Pelo fato de n o haver comunica o verbal direta entre elas e os turistas estrangeiros em fun o da l ngua o contato se d por interm dio de um tradutor o chamado guia bil ngiie ou na maioria das vezes por impress es visuais isto a l ngua dos gestos H h spedes que visitam a cozinha ao final da estada a fim de conhecer a respons vel pelos momentos de prazeres mesa assim como h outros menos inibidos que anotam receitas e m todos de preparo dos pratos ao longo da hospedagem Atrav s deste tipo de manifesta o cozinheiras e auxiliares entendem que seu trabalho e modo de vida s o apreciados pelos turistas Eu acho que eles gostam do servi o da gente de a gente ter coragem de morar aqui Que nem eles sempre pergunta ai voc mora aqui voc mora sozinha casada solteira Eu falo que eu mo
79. a mais preservado Amaz nia Caatinga Fonte Mist rio do Meio Ambiente Figura 7 Pantanal como ecossistema mais preservado do Brasil In ONDE a Mata foi Preservada Revista Veja edi o 1990 10 jan 2007 Dispon vel em http veja abril com br 100107 holofote html Acesso em 15 mai 2007 Como consegii ncia do desmatamento as fazendas est o aproveitando as rvores derrubadas para a instala o de carvoarias Esta pr tica vem sendo difundida entre os propriet rios rurais devido relativamente alta rentabilidade da produ o de carv o uma atividade que tem movimentado a economia do Pantanal nos ltimos anos Em muitos casos empresas especializadas na produ o de carv o com pessoal e equipamentos espec ficos para desmate realizam o trabalho gratuitamente em fazendas pantaneiras se em troca o propriet rio da terra entregar toda a madeira extra da Desta forma as carvoarias reduzem o custo para aquisi o da mat ria prima e os fazendeiros se livram dos entulhos de madeira gerados com desmatamento Esta situa o deve ser ainda mais agravada no futuro devido s licen as concedidas pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente a favor da instala o de um p lo sider rgico no munic pio de Corumb MS localizado dentro do Pantanal margem do Rio Paraguai Den ncias a respeito da extra o ilegal de madeira no Cerrado e no Pantanal para alimentar a produ o sider rgica s o manchetes nos ve culos de comunica
80. a no telefone com algu m da cidade Muitas vezes utilizam este tempo em atividades particulares como fazer as unhas limpar o quarto lavar a roupa isto continuam trabalhando por m para elas mesmas Eu gosto de sent fum convers Tom um terer bom n isso que eu fa o quando t descansando Mas tem dia que eu n o p ro porque tem que arrum minhas coisa tamb m sen o eu v dorm e tem uma boca de sapo no meu quarto eu v vesti uma ropa e t tudo sujo Silvana lavadeira e cozinheira de pens o 54 anos Entre as mulheres mais jovens principalmente as que prestam servi o esporadicamente s fazendas existe o desejo de exercer outras atividades no mercado de trabalho diferente de limpeza e conserva o das pousadas Eu queria sab fal ingl s que pra pod sa dessa vida de limpeza Acho que eu queria ser guia acho legal Mas tinha que ser guia tradutor porque os menino que s o daqui guias locais ganham o mesmo que n is na faxina A gente fica muito a n Viram a on a e eu n o vi risos Arlinda copeira e arrumadeira 27 anos 56 Treinta a Esta serpente Bothrops neuwiedii tida pela popula o local como a mais perigosa no Pantanal por seu veneno ser forte e por ocorrer com freq ncia em ambientes dom sticos 116 Assim como admiram o trabalho dos guias de campo elas tamb m admiram o trabalho dos guias bil ngiie e ou especialistas em alguma rea
81. a pelo fazendeiro para dizer que o gado retornou na sua trilha preferindo ficar nas terras da margem direita do rio devido abund ncia de pastos e salinas Ao observar a prefer ncia dos animais por essas terras em 1893 decidiu comprar mais 75 mil hectares do outro lado do rio e em poucos anos adquiriu outros 47 mil hectares vizinhos tamb m margem direita do rio Tom zia Rondon ficou vi va no in cio do s culo quando seu filho mais velho Luis Rondon pai de Orlando tinha apenas 14 anos Em companhia dos oito filhos naturais e outros sete fruto do primeiro casamento de seu marido esta mulher manteve bravamente o patrim nio conquistado por sua fam lia Segundo Beatriz Rondon tamb m neta de Dona Tom sia a propriedade da fam lia Rondon a chamada Fazenda Rio Negro chegou a abranger 280 mil hectares equivalente rea que se considera at os dias de hoje como Regi o do rio Negro Foi considerada a fazenda m e da regi o porque supria as demais fazendas de insumos para abastecer seus armaz ns era onde existia o maior n mero de fam lias morando e onde se realizavam as principais festas religiosas ao longo do ano Al m disso foi onde se instalou o primeiro tel grafo e constru da a primeira pista de pouso para aeronaves servindo de base para comunica o da regi o com o resto do mundo Sr Orlando relata que desde meados do s culo XX a fazenda j recebia visitantes com destaque para a presen a de ilustr
82. a regi o se conserva se transforma ou se extingue com a altera o do modo de vida e das rela es de trabalho Para atingir este objetivo cabe agora compreender as rela es que se d o neste espa o as for as que agem sobre ele e a percep o das pessoas em rela o ao espa o vivido 39 2 O TURISMO NO PANTANAL DO RIO NEGRO Apesar de ser ainda bastante isolado em compara o a outras reas rurais brasileiras o Pantanal sempre recebeu influ ncias externas e estas v m se intensificando medida que o acesso aos meios de comunica o e s cidades facilitado Os costumes e valores compartilhados pelos moradores das fazendas tendem a se transformar e alterar a forma das pessoas relacionarem se entre si e com o meio Pessoas e objetos est o em crescente mobilidade seja devido a fluxos migrat rios ou devido a viagens tur sticas Este fato vem sendo analisado como um dos elementos que tem contribu do com a crescente inser o das refer ncias globais no meio rural A globaliza o leva em geral dilui o dos limites e desterritorializa o das culturas de forma que os grupos sociais partilhem de um imagin rio coletivo comum ORTIZ 1996 p 14 estejam eles localizados em n cleos urbanos ou em lugares isolados Com o movimento do turismo inevit vel que turistas influenciem e sejam influenciados pelas comunidades locais receptoras afinal o interc mbio cultural um dos principais est mulos ao deslocame
83. a v rias tribos ind genas como os Guat Kadiw u Terena que ainda vivem no Pantanal ou no seu entorno e sobrevivem da agricultura coleta de recursos naturais e com rcio relacionado ao artesanato e produ o de produtos nativos Entretanto foi a partir do s culo XVIII com a decad ncia das minas de ouro de Cuiab e o interesse do governo em ocupar a regi o e demarcar a fronteira com o Paraguai que teve in cio o processo de ocupa o do Pantanal pelas fazendas de gado NOGUEIRA 2002 p 43 Neste per odo o governo efetivou um programa de concess o de sesmarias a posseiros que se comprometessem em defender o territ rio dos ataques de ndios e da invas o paraguaia Grandes extens es de terras foram apropriadas por esses posseiros atingindo tamanhos descomunais como o caso da fazenda Jacobina que chegou a abranger mais de um milh o de hectares Em 1850 a Lei de Terras instituiu a propriedade privada da terra legitimando as fazendas que possu ssem t tulos de posse Esta disposi o fez com que as reas habitadas por ind genas ou posseiros que n o tinham o poder de compra ou de fraudar a compra fossem destitu das pelo imp rio ou anexadas s fazendas vizinhas de acordo com os interesses da poca Esta medida agravou se no per odo republicano quando o direito concess o de terras foi transferido para os estados fortalecendo o poder da classe dominante sobre a terra e fundamentando as rela es sociais do campo n
84. abalho no turismo Conhecer esta mulher que habita o Pantanal no in cio do s ulo XXI e diagnosticar de que forma sua vida e sua rela o com o meio e com seus familiares est o sendo influenciadas pela atividade tur stica costiuiu o objetivo b sico deste trabalho O turismo apropria se da natureza do Pantanal da estrutura das fazendas e de elementos da cultura pantaneira como a hospitalidade o modo de vida os h bitos gastron micos as festas e demais express es culturais construindo uma territorialidade diferenciada dentro do universo de algumas fazendas de gado trazendo reflexos tamb m para A vers o publicada no ano de 2006 do guia franc s de viagens denominado Michelin um dos mais utilizados por viajantes europeus apresenta o Pantanal em destaque como um dos destino imperd veis da Am rica do Sul ao lado de Machu Pichu no Peru e Cataratas do Igua no Brasil Isto demonstra que esta regi o brasileira j se configura como um destino tur stico de mbito internacional e que a demanda de turistas para o Pantanal tende a crescer a cada ano 10 fazendas vizinhas A transforma o das fazendas em pousadas gera mudan as nas rela es de trabalho principalmente em rela o ao status de cada of cio desempenhado pelos funcion rios das fazendas e na renda m dia das fam lias de funcion rios que sofre um acr scimo sobreturo em fun o da mulher na presta o de servi os tur sticos Devido a estas transforma
85. ada e nervosa com a presen a da patroa preferindo que ela n o estivesse ali Durante as refei es a propriet ria costuma badalar um sino que fica sobre a mesa para chamar as funcion rias para tirar os pratos fazer um pedido de bebida ou sinalizar que podem ser servidos a sobremesa e o caf Por isso durante as refei es dos h spedes Gilda e N dia ficam atentas s badaladas do sino que podem soar do sal o Esperam ansiosas na cozinha que a refei o termine para que possam limpar a cozinha e ir para casa descansar As refei es s o mais longas quando h turistas na fazenda pois a propriet ria conduz a conversa com assuntos que envolvam os convidados fazendo daquele momento uma oportunidade de troca de experi ncias o que nem sempre poss vel durante o passeio quando os turistas est o mais focados na observa o da natureza Por isso para as funcion rias a espera parece longa apesar de a cozinheira aproveitar o tempo para dar encaminhamento ao jantar Somente quando tirada a mesa dos h spedes as duas sentam se para almo ar O marido da cozinheira lhes faz companhia pois tamb m seu hor rio de almo o J o marido de Gilda deve optar por cozinhar para si em casa ou pagar um almo o avulso na pens o dos funcion rios o que para ele mais pr tico Isso nos dias em que Gilda fica direto na pousada porque normalmente ela volta para casa no fim da manh para preparar o almo o para ele antes de retornar pa
86. ade do turismo na rea de estudo O objetivo conhecer os elementos que configuram o territ rio pantaneiro no presente as principais amea as ao equil brio ambiental e as rea es da sociedade diante destas press es bem como a estrutura f sica e humana das fazendas de turismo da Regi o do rio Negro a fim de compreender de que forma a atividade tur stica vem exercendo sua territorialidade e de que maneira as mulheres est o envolvidas neste processo Uma revis o te rica a respeito do conceito de territ rio e territorialidade fez se necess rio para aproximar o di logo entre teoria e realidade emp rica Por fim este estudo descreve o cotidiano das mulheres nas fazendas onde ocorre turismo no intuito de compreender sua rela o com o Pantanal e com o trabalho a maneira como se d o as rela es familiares bem como verificar o que elas entendem por In PROGRAMA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE Plano de conserva o da bacia do Alto Paraguai PCBAP Projeto Pantanal PNMA 1997 13 qualidade de vida e assim identificar de que forma o turismo e as demais interfer ncias do mundo contempor neo est o influenciando a sociedade pantaneira e consegiientemente a vida das mulheres Esta pesquisa est embasada na abordagem cultural da Geografia cujo enfoque a constru o de um conhecimento das realidades sociais considerando as determina es materiais hist ricas e geogr ficas das pessoas que o produzem Pretende abordar o
87. ais cresce no Pantanal brasileiro regi o onde h predomin ncia da propriedade privada da terra para cria o de gado bovino Em sobreposi o ou substitui o pecu ria a atividade tur stica atua sobre a din mica das fazendas valorizando e se apropriando do patrim nio natural e cultural interferindo nas rela es interpessoais assim como das pessoas com o meio compondo um cen rio em transforma o Entre as mudan as observadas est o papel da mulher na sociedade pantaneira cujo trabalho ganhou maior import ncia nas fazendas por desempehar atividades essenciais para o turismo como a limpeza e arruma o dos quartos e servi o de alimenta o dos turistas O objeto de estudo desta disserta o diagnosticar a territorialidade do turismo sobre uma regi o espec fica do Pantanal atrav s do olhar das mulheres que moram e trabalham nas fazendas Chamada de Regi o do rio Negro esta por o do Pantanal existe da refer ncia espacial hist rica e s cio cultural para a popula o que habita as fazendas daquele local Utilizando a abordagem cultural da Geografia cujo enfoque a constru o de um conhecimento das realidades sociais considerando as determina es materiais hist ricas e geogr ficas das pessoas que o produzem esta disserta o aborda o tema a partir de um vi s da antropologia do turismo na medida em que os aspectos da cultura e das rela es familiares s o fundamentais na compreens o de seu objeto Atrav
88. am a se denominar como rionegranos Al m disso a regi o conhecida por seu grau de conserva o ambiental tida como uma das reas mais preservadas do Pantanal Fatores f sicos e sociais permitiram que esta por o do Pantanal se mantivesse bastante conservada at os dias de hoje livre do desmatamento intensivo e da pesca predat ria tidos como amea as ao Pantanal Ali desde 1989 o turismo vem valorizando o patrim nio natural e cultural ao mesmo tempo que se apropria do ponto de vista mercadol gico destas inst ncias a fim de imprimir caracter sticas singulares a esta por o do Pantanal diferenciando a dos demais pantanais fortalecendo desta forma a regi o como destino tur stico perante a concorr ncia Tendo em vista as considera es sobre a Regi o do rio Negro escolhida para a realiza o deste estudo e a fim de abranger a problem tica apresentada por esta pesquisa o trabalho foi dividido em tr s partes A primeira dedicada descri o da regi o seus componentes f sicos e hist rico culturais que v m justificar sua identifica o como espa o de vida dos que ali vivem Para tanto fez se necess rio realizar uma investiga o te rica do conceito de regi o na Geografia considerando as diferentes correntes de pensamento que influenciaram esta ci ncia ao longo do tempo para ent o compreender o processo de forma o desta regi o e sua atual situa o Em seguida investiga se a territorialid
89. am usar um c digo para identificar cada grupo estabelecido de acordo com a motiva o da viagem do turista Os turistas de pesca esportiva s o os pescadores isto significa para as mulheres que o caf da manh deve ser servido mais cedo que de costume o que faz com que elas tenham que levantar mais cedo tamb m Significa que haver peixe fresco no hotel e que as refei es devem ocorrer em desacordo regras estabelecidas pela pousada pois s o os peixes que dizem a hora de come ar e de terminar a pescaria Os turistas que acompanham pesquisas cient ficas s o os botinudos apelido dado por usarem botas de trekking Ficaram assim conhecidos porque n o costumam tirar as botas para entrar nas reas sociais da pousada sujando de terra o ch o e os tapetes Eles costumam levar matula para o campo o que exige da cozinheira preparar uma refei o salgada logo ao amanhecer Quando n o levam matula chegam do campo com muita fome e tendem a devorar os pratos do buffet J sabido portanto que quando h botinudos a reposi o dos pratos nas refei es deve ser intensiva e que n o se deve colocar tapetes de cor clara nos quartos e banheiros Os turistas observadores de aves s o os passarinheiros que segundo as mulheres s o os mais tranquilos Tamb m exigem um caf da manh mais cedo que o habitual mas em geral costumam se adequar aos demais hor rios da pousada Um cuidado com os passarinheiros com os
90. amb m pela apar ncia f sica modo de se expressar e de vestir c A mulher pantaneira sob o olhar dos maridos Minha mulher uma guerreira agiienta o dia todo trabalhando Ela acostumada ao mosquito gua cobra Roberto guia de campo 32 anos Assim afirmou um dos entrevistados ao ser perguntado se considera sua esposa uma pantaneira A valoriza o da capacidade das mulheres em suportar as adversidades do Pantanal presente no depoimento de v rios maridos Por m nem todos definem suas esposas como pantaneiras sugerindo que elas se encaixariam na defini o de meio pantaneiras Um dos homens que utilizam este termo Sidney que tem 39 anos e guia de campo Ele diz que sua atual esposa meio pantaneira porque morena tem a pela curtida de sol n o reclama em viajar de trator mas tem muita vaidade Isto ela tem a resist ncia da mulher do campo mas deixa de ser pantaneira porque vaidosa Segundo diz ela faz regime para emagrecer compra produtos caros de beleza quer ir para a cidade alisar o cabelo tem atitudes que para ele s o de mulher urbana Al m disso para ser totalmente pantaneira preciso ter passado a inf ncia no Pantanal conforme esclarece A mulher pantaneira criada no Pantanal a minha mulher n o foi criada no Pantanal ela sempre mor em fazenda mas na serra A gente t junto trabalhando no Pantanal h dois anos ent o ela meio pantanei
91. amento a fim participar das ofertas de trabalho pois os propriet rios mant m a pr tica de privilegiar a contrata o de pessoas com refer ncias de proced ncia e de trabalho Em suma o turismo est promovendo elementos que tendem a contribuir com a conserva o da Regi o do rio Negro n o tanto no seu formato mas principalmente no estabelecimento de novas rela es identit rias do grupo com a rea No segundo cap tulo verificou se que a territorialidade tur stica na regi o est provocando mudan as no ambiente e na sociedade pantaneira Estas mudan as s o observadas em a es como a organiza o da sociedade em prol da conserva o do patrim nio natural e na promo o do Pantanal como destino tur stico Em menor escala s o desenvolvidas em escolas e fazendas da regi o iniciativas de valoriza o da sociedade e de perman ncia das pessoas no local com o qual mant m rela o afetiva Algumas a es s o concomitantes atividade tur stica como a legisla o de uso do rio Outras a es s o decorrentes do turismo como a produ o de artesanato para comercializa o nas pousadas e a preocupa o em ofertar produtos e servi os aut nticos A busca pelo aut ntico verificada na prefer ncia dos propriet rios por contrata o de pessoas que se identificam com a regi o e no estabelecimento de padr es de conduta e postura para atender s necessidades dos turistas O interc mbio cultural natural da
92. ando seca seca mesmo Juca pe o 62 anos O ciclo das guas do rio Negro diferencia se de forma sutil do ciclo dos demais rios do Pantanal seja quanto ao volume das guas pois estas dependem da quantidade de gua proveniente das chuvas na cabeceira seja quanto declividade da microbacia em rela o ao rio Paraguai Da mesma forma as fazendas que margeiam o rio Negro no interior do Pantanal possuem tempos diferentes de cheia vaz o e seca quanto mais pr ximo do rio Paraguai mais tardio o ciclo isto enquanto as guas da parte alta do rio est o vazando as da parte baixa ainda est o enchendo Trata se de uma observa o aparentemente l gica quando analisada com o foco na hidrologia entretanto o conhecimento sobre estas especificidades em cada trecho do rio essencial para o bom aproveitamento das pastagens para o manejo do gado para a navega o enfim para a vida dos seres que ali habitam Figura 5 Imagem a rea da Regi o do rio Negro riqueza em ambientes aqu ticos e cobertura florestal As condi es f sicas do Pantanal limitam as a es de transforma o do meio e ditam o ritmo de vida da fauna flora e das pessoas O per odo das cheias vari vel a cada ano 10 De acordo com o PCBAP 1997 o Pantanal do rio Negro destaca se entre os demais pantanais por apresentar grande parte das fitofisionomias que ocorrem no Pantanal grande concentra o de fauna e por apresentar baixos nd
93. ano das mulheres que trabalham com turismo foi feita com base na observa o de uma das fazendas de turismo na Regi o do rio Negro No entanto observou se que na rela o cotidiana das mulheres com o trabalho e com os turistas n o h muitas varia es entre as fazendas exce o do relacionamento dos funcion rios entre si e deles com os patr es conforme ser visto adiante 3 1 3 A rela o das mulheres com o meio Ao conviver com mulheres propriet rias e n o propriet rias de diferentes faixas et rias foi poss vel observar que h uma diferen a na forma de se relacionarem com o Pantanal mais especificamente com a Regi o do rio Negro Para algumas a regi o seu local de morada sua casa seu espa o de identidade mesmo com a inser o do turismo que veio a alterar a din mica das fazendas conforme visto no primeiro cap tulo Para outras mulheres um ambiente de trabalho com diversificada oferta de empregos principalmente na rea de turismo Neste sentido busca se investigar os elementos que levam a esta diferen a de percep o e verificar se a abertura para novos postos de trabalho e o consegiiente aumento do n mero de funcion rios nas fazendas tem influenciado na rela o de pertencimento ao espa o uma das caracter sticas que deram formato Regi o do rio Negro 107 Figura 12 Tr s gera es de mulheres trabalhando juntas na pousada Iracema tem 56 anos cozinheira e mora na regi o
94. anter as propriedades rurais rent veis tem levado os fazendeiros a abandonarem suas terras e junto com elas dois s culos de conv vio com a natureza e constru o de uma identidade Entretanto identifica se na regi o de estudo um movimento de resist ncia a esta crise Pode se afirmar que a for a da rela o existente entre rionegranos e a sua regi o promoveu rea es end genas de cunho conservacionista 2 2 4 As tentativas de conserva o do ambiente e valoriza o da cultura no Pantanal do rio Negro Conforme visto no cap tulo anterior os alagados que se formam no momento em que o rio Negro adentra a plan cie pantaneira e quando o mesmo est pr ximo de desembocar no rio Paraguai limitam a navega o impossibilitando que o rio seja usado por barcos vindos de outros rios Os barcos que navegam o rio Negro s o de propriedade das 53 fazendas que o margeiam n o havendo uso do rio por pessoas de fora da rea importante salientar que at o final da d cada de 1980 as fazendas estavam voltadas para a pecu ria e portanto para a explora o do campo deixando o uso do rio para atividades de lazer como banho e pesca artesanal nos finais de semana Com o advento do turismo no Pantanal em especial o turismo de pesca as fazendas passaram a usar o rio com mais frequ ncia gerando preocupa o e at mesmo irrita o nos propriet rios que n o queriam ter movimento de barcos e pescadores na porta de suas casas O q
95. anto Vidal de la Blache quanto Sauer defendiam que a cultura humana determinante na transforma o da natureza mas nenhum dos dois incorporou a sensibilidade e a compreens o do significado dos lugares na teoria marxista o que seria uma contribui o inestim vel geografia cultural Idem p 112 No desenvolvimento da ci ncia geogr fica a partir da segunda metade do s culo XX a Geografia Cultural busca ent o uma an lise epistemol gica com foco no estudo das atitudes e prefer ncias das pessoas Esta perspectiva humanista levou a Geografia a estudar o homem com seus valores culturais e sociais considerando que a interpreta o dos signos e a percep o dos fatos levam interpreta o do espa o onde a regi o vista como um conjunto de percep es vividas e estabelecidas a partir de apreens es valora es decis es e comportamentos coletivos BEZZI 2004 p 207 O espa o vivido passou ent o a ser a categoria referencial da Geografia Regional visto como revelador das pr ticas sociais e constru do socialmente atrav s da percep o das pessoas Sob o enfoque da identidade cultural como paradigma regional em que o espa o passa a ter a conota o de categoria cultural BEZZI 2004 p 210 o estudo da regi o leva o pesquisador a conhecer os signos de um determinado grupo social a fim de delimitar e diferenciar uma regi o das demais Lecioni 2003 observa na obra de Armand Fr mont precursor no estudo da
96. ar os espa os e desta forma quebrar o paradigma estabelecido historicamente de bipolarizar espacial e simbolicamente o universo do trabalho Na atual conjuntura das fazendas da Regi o do rio Negro permanece este modelo de divis o espacial do trabalho por g nero formado pela pr tica da pecu ria Por m o significado de cada of cio para o grupo se transforma medida que homens e mulheres v o se adequando ao novo modelo de produ o e s respectivas mudan as nas estruturas familiares que a nova atividade econ mica nas fazendas gera 3 1 5 O destino do pagamento Como dito o sal rio mensal ou a di ria recebida pelo trabalho nas pousadas considerado satisfat rio entre a maioria das mulheres Existe certa varia o no destino dado remunera o de acordo com a faixa et ria e estado civil de cada funcion ria por m o pagamento de presta es em lojas de roupas e eletrodom sticos comum a todas Muitas funcion rias que trabalham esporadicamente nas fazendas possuem d vidas com a fazenda pois t m a necessidade de pedir adiantamento de pagamento para quitar as presta es na cidade o que faz com que estejam sempre em d bito com a fazenda como uma delas disse trabalho para pagar e n o para ganhar As mulheres que possuem filhos ou netos em idade escolar arcam com as despesas de vestu rio medicamentos e material escolar al m de contribuir com as compras do m s na casa onde as crian as est o hospedadas
97. ara a 1 Cf RODRIGUES 1997 2 Cf BARROS e HARTENTHAL 2003 41 hospitalidade nesse tipo de servi o Devido presen a delas nas fazendas os viajantes t m uma viv ncia cultural mais completa pois al m de estarem no campo juntamente com os pe es os turistas podem desfrutar do ambiente aconchegante que as mulheres promovem nas pousadas experimentando o Pantanal atrav s da gastronomia e n o somente atrav s da visualiza o da natureza Para investigar o papel o lugar a realidade das mulheres pantaneiras que trabalham com o turismo no Pantanal do rio Negro preciso entender como se processa a territorialidade do turismo nesta rea de que forma ele influencia as rela es que se d o neste espa o e de que maneira as mulheres e o meio reagem a isso Para atingir este objetivo o presente cap tulo inicia com uma revis o te rica sobre o conceito de territ rio e territorialidade na Geografia procurando encontrar o poss vel di logo entre a teoria e a realidade que a pesquisa busca estabelecer Em seguida ser o apresentados os elementos que configuram o territ rio pantaneiro no presente as principais amea as ao equil brio ambiental e as rea es da sociedade diante destas press es Ser o descritas as estruturas f sica e humana das fazendas que trabalham com turismo na Regi o do rio Negro bem como a maneira como utilizam o patrim nio natural e cultural para obter lucro 2 1 TEORIAS DO TERRIT RIO E DA TE
98. arruma o da casa sede Sua capacidade para 10 pessoas desde que sejam todas do mesmo grupo H prefer ncia em receber grupos de cavalgadas isto pessoas que v o ao Pantanal para experienciar os cavalos A propriet ria costuma viajar em suas f rias para destinos que tamb m oferecem cavalgadas Aproveitando este nicho de mercado ela focou seu produto no turismo equestre oferecendo aos visitantes a experi ncia de conhecer o Pantanal sobre cavalos habituados rusticidade pantaneira usando selas australianas ao inv s dos arreios montarias tradicionalmente usadas pelos pantaneiros para o trabalho do gado Segundo a fazendeira estas selas s o mais pr ximas do que seus visitantes est o acostumados oferecenco maior conforto durante a cavalgada Em 2001 a sede da fazenda foi inteiramente reformada e decorada para o turismo As duas funcion rias fixas s o treinadas para prestar um servi o sofisticado usando as palavras da propriet ria para atender a um p blico ao qual estes servi os s o cotidianos guardanapos de In http www fazendasantasophia com br 66 pano lou as e talhares diferenciados em cada refei o uso de ta as de cristal troca dos pratos durante a refei o retirada da colcha das camas e disponibiliza o de uma jarra de gua ao anoitecer chamado de abre leito na hotelaria entre outros servi os que n o s o h bito em fam lias de vida simples como as que moram no Pantanal m
99. as Enquanto cuida das panelas sobre o fog o controla a temperatura do forno que est assando chipa assiste ao trabalho de Gilda e planeja o card pio do almo o ela acompanha os an ncios de recados na r dio bem como aguarda atenta se algu m a oferece 5 Quebra torto ou almocinho a primeira refei o do dia normalmente composta por arroz carreteiro mandioca aferventada farofa ch etc NOGUEIRA 2002 p 143 53 Chipa um biscoito salgado assado similar ao p o de queijo base de polvilho doce manteiga ovos e queijo curado Tradicionalmente modelado em forma de ferradura mas pode se encontrar em bast es ou bolinhas A mesma massa pode ser frita em gordura quente sendo assim chamada de chipa frita 98 alguma m sica naquela manh De repente N dia sai em disparada para fora da cozinha para tocar as galinhas que est o invadindo o espa o do caf da manh dos turistas e defecando no local A essa hora a patroa j levantou e passou pela cozinha dando as instru es do dia conferindo o card pio do almo o e do jantar e fazendo coment rios sobre o servi o do jantar na noite anterior Em torno das sete horas o marido de N dia aparece na cozinha da casa sede para fazer o desjejum Ao mesmo tempo a patroa e os turistas sentam se mesa do caf da manh e ela passa a atender os eventuais pedidos que possam surgir Aproximam se tamb m as outras mulheres que moram na fazenda para buscar o leite que lh
100. as atividades econ micas que ocupam o espa o pantaneiro e amea am sua integridade o caso de den ncias contra a pr tica de queimadas e desmatamento nas fazendas participa o em movimentos contra a execu o do projeto Hidrovia Paran Paraguai e licenciamento de sider rgicas no planalto pantaneiro bem como o est mulo e participa o em projetos como o Sapicu Pantaneiro e Corredores Ecol gicos A Regi o do rio Negro revelou se engajada na defesa dos interesses dos fazendeiros que a comp em quando lhes oportuno medida em que se mant m organizada em associa es seja de prote o ao rio de promo o da carne org nica ou de desenvolvimento da atividade tur stica 83 O turismo configura se como uma das atividades econ micas que tem contribu do com a manuten o da propriedade da terra aos fazendeiros que fazem parte da conforma o hist rica e social da regi o Tem tamb m destacado a regi o frente s demais reas do Pantanal pois revistas de viagens e turismo utilizam sua imagem para promover o Pantanal como um todo bem como fazendas da regi o e de fora dela utilizam a marca rio Negro para se destacar entre os demais destinos tur sticos do Pantanal Foi visto que a regionaliza o na corrente humanista tem como caracter stica a afirma o das diferen as frente homogeneiza o do processo globalizante A valoriza o da Regi o do rio Negro promovida pelo mercado tur stico pode vir a protege
101. as o s o na fam lia da propriet ria e seus visitantes A fazendeira a anfitri sem a presen a dela n o h atividade tur stica na fazenda Ela acompanha os h spedes em todos os passeios e durante as refei es buscando mostrar o Pantanal sob a tica do vaqueiro e do propriet rio Al m disso fala espanhol franc s e ingl s fluentemente dispensando a presen a de um tradutor durante a estada dos h spedes d Fazenda Barra Mansa Tamb m de propriedade de uma das netas de Ciryaco e Tom sia Rondon a fazenda recebe turistas desde 1996 Est aberta o ano todo e possui capacidade para 16 pessoas A casa sede foi adaptada para o turismo e outros tr s apartamentos foram constru dos ao lado al m de um espa o para o servi o das refei es Uma casa tamb m foi erguida para abrigar a fam lia da propriet ria Atualmente conta com cinco funcion rios fixos duas mulheres e tr s homens e contrata diaristas sempre que necess rio N o desenvolve mais a pecu ria tendo somente algumas cabe as de gado para produ o de carne e de leite Tamb m cria e vende cavalos da ra a pantaneira atrav s de uma parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul que desenvolveu os genes destes animais A propriet ria n o participa mais das atividades da fazenda a administra o foi delegada ao seu filho que mora parte do tempo na cidade parte na fazenda quando atende aos turistas Na presen a de grupos estrangeiros s
102. atra o do fluxo tur stico est atrelada no o de que participar destas iniciativas uma oportunidade de investir em infra estrutura nas fazendas Participar do projeto corredores ecol gicos e criar uma RPPN d o ao fazendeiro possibilidades de receber recursos para que georreferencie sua fazenda o que tem um custo bastante elevado construa vias de acesso torre de observa o de animais para incrementar a estrutura tur stica compre um trator para fazer o acero das cercas enfim realizar investimentos que n o seriam prioridade para a fazenda se o recurso fosse pr prio Isso mostra que participar destes projetos de conserva o tamb m uma estrat gia para aumentar os investimentos na fazenda Uma das quest es mais debatidas em rela o s iniciativas de conserva o do Pantanal a car ncia de projetos voltados para atender s necessidades das pessoas que habitam a regi o Os conservacionistas defendem que a rela o entre homem e natureza deve ser de respeito e conhecimento aos aspectos naturais Da mesma forma deve se dar pela afirma o de sua identidade sendo assim necess ria a promo o de a es que visem contribuir com o bem estar das pessoas na rea de sa de e educa o bem como na manuten o das pr ticas tradicionais e n o somente com a conserva o da biodiversidade Em 2007 a Regi o do rio Negro recebeu duas bases de inform tica que fazem parte do projeto Navega Pantanal de realiza o d
103. azendas que comp em a Regi o do rio Negro Entres as a es sustent veis para o desenvolvimento econ mico do parque estavam os projetos de produ o de carne org nica a partir do abate de vitelos de cria o de mel de abelhas nativas de estudo da possibilidade de comercializa o do porco monteiro e de promo o do ecoturismo 55 A aplica o do modelo franc s no Pantanal foi estudada pela ge grafa Icl ia Vargas Ela afirma que o modelo permite a dinamiza o de regi es pouco desenvolvidas o est mulo forma o de lideran as pol ticas al m da organiza o social Entretanto ap s avaliar todo o processo de planejamento e implanta o do Parque Natural Regional do Pantanal a autora questiona a validade da implanta o deste modelo no Brasil devido a pouca similaridade entre as realidades francesa e brasileira O fato de a experi ncia dos parques naturais regionais na Fran a ser bem sucedida n o significa que o seja no Pantanal pois os fazendeiros se demonstraram resistentes assimila o de novas propostas de gest o diferentes das constru das historicamente conforme observa Dificilmente um modelo franc s com toda sua carga de interesses se adapta realidade pantaneira N o alcan a as especificidades do Pantanal e nem os interesses dos propriet rios do territ rio Ver e sentir o lugar para os franceses n o corresponde maneira de ver e sentir dos pantaneiros VARGAS
104. balhar na pousada levou consigo todos os eletrodom sticos e m veis que couberam no barco que fez sua mudan a para a fazenda sem nem saber onde ficava a fazenda Chegando 108 l percebeu que a casa onde iria morar estava ilhada em fun o da cheia do rio e que no transporte alguns de seus pertences molharam quebraram ou deixaram de funcionar Incomodou se com os mosquitos e com a umidade na fazenda mas n o retornou para a cidade segundo ela para n o ter que carregar a mudan a novamente e correr o risco de estragar mais coisas Custou a se acostumar com a esta o da chuva mas assim que o Pantanal secou come ou a trabalhar esporadicamente na pousada e atualmente conta com gra a esta hist ria mas confessa que se arrepende de ter levado suas coisas para a fazenda at porque n o sabe por quanto tempo ficar l Observa se que a despeito do v nculo afetivo que as mulheres possam ter com o Pantanal preferem ter suas aquisi es intactas e sem uso na cidade a exp las a uma viagem para que lhes ofere am determinados confortos na fazenda O desejo de preservar seu patrim nio material est ligado ao fato de elas n o encontrarem seu lugar na fazenda pois n o s o donas de seu pr prio espa o e por maior estabilidade que possam ter no trabalho est o cientes de que podem vir a mudar de emprego Iracema afirma que prefere continuar lavando roupa na m o a levar seu tanque el trico para o Pantanal Gilda da mesm
105. bou se tornando ent o a principal atividade econ mica no Pantanal Para Nogueira 1990 o Pantanal constitui um dos maiores imp rios de fazendas do Brasil devido extens o das propriedades algumas delas com superf cies igual a de pequenos pa ses europeus p 43 A pecu ria bovina e mais recentemente a cria o do cavalo pantaneiro uma ra a formada pela adapta o gradativa de outras ra as aos campos inund veis do Pantanal s o as atividades que d o uso s extensas reas de propriedade particular administradas pelos donos das terras sob um regime tradicional ou na sua aus ncia por um gerente ou capataz N o h comprova o cient fica a respeito mas para muitos o sistema de latif ndio foi um dos respons veis pelo atual estado de conserva o da fauna e da flora do Pantanal pois como dito as terras de grandes extens es ricas em pasto nativo sempre atenderam s necessidades de alimenta o do gado tornando desnecess rio o desmatamento de florestas Da mesma forma os animais selvagens nunca ofereceram amea as ao E s 22 desenvolvimento da economia a exce o da on a pintada fazendo com que a ca a fosse Banducci Jr 2005 alerta para o fato de que os migrantes carregaram consigo para o Pantanal n o apenas os rebanhos bovinos mas tamb m os desequil brios inerentes ao regime pastoril e reproduziram na regi o as contradi es e desigualdades pr prias da estrutura fu
106. capa 090590 html Acesso em 02 Set 2007 RODRIGUES A B Desafios para os estudiosos do turismo In RODRIGUES A B Org Turismo e geografia reflex es te ricas e enfoques regionais S o Paulo Hucitec 2001 p 17 32 RODRIGUES A M Desenvolvimento sustent vel e atividade tur stica In RODRIGUES A B org Turismo e desenvolvimento local S o Paulo Hucitec 1997 p 83 101 RELPH E As bases fenomenol gicas da Geografia Revista Geografia n 4 abril de1979 SAUER C O Geografia Cultural In CORREA R L e ROSENDAHL Z Org Introdu o geografia cultural Rio de Janeiro Bertrand 2003 p 19 26 SANTOS M SOUZA M A A de SILVEIRA M L Territorio globaliza o e fragmenta o 4 ed S o Paulo Hucitec 1998 SACK R D Human territoriality its theory and history Cambridge Cambridge University Press 1986 SCHNEIDER S rgio A abordagem territorial do desenvolvimento rural e suas articula es externas Revista Sociologias Porto Alegre ano 6 n 11 jan jun 2004 p 88 125 SILVA J C da O conceito de territ rio na geografia e a territorialidade da prostitui o In RIBEIRO M A Territ rio e prostitui o na metr pole carioca Rio de Janeiro Editora Ecomuseu Fluminense 2002 p 16 33 SILVA J M An lise do espa o sob a perspectiva do g nero um desafio para a geografia cultural brasileira In CORREA R L e ROSENDAHL Z Geografia temas sobre cultura e espa o
107. ce e vazantes Ao entrevistar alguns funcion rios e propriet rios de fazendas da regi o observou se que entre a maioria deles a margem esquerda do rio caracteriza se como o melhor dos pantanais devido riqueza de recursos h dricos permanentes N o h nestas fazendas a necessidade de construir a udes ou outros tipos de reservat rios de gua ao longo do ano As ba as e salinas existem em grande quantidade e dificilmente secam por completo na esta o seca ver figura 4 conforme exemplifica um dos entrevistados 8 Em uma pesquisa virtual utilizando o site de busca na internet Google ao inserir a palavra pantanal observou se que entre os 20 links acessados nas duas primeiras p ginas nove eram relacionados atividade tur stica Destes cinco utilizavam fotos a reas do rio Negro para ilustrar a abund ncia de habitats aqu ticos do Pantanal como um todo Pesquisa feita em novembro de 2007 Cap es de matos s o pequenos aglomerados de esp cies vegetais em meio aos campos Matas de cordilheira s o unidades vegetacionais que margeiam os habitats aqu ticos lagos rios etc 26 O Pantanal daqui lado esquerdo do rio Negro melhor que o de l lado direito do rio Negro Aqui a gente pode coloc o gado com tranquilidade na seca que ele tem fartura de gua Ele sai pras salina fica nas berada de cordilhera J pra l os pe o tem que se vir quando vem a seca Ainda mais essas seca de agora que qu
108. cessidade da fazenda Os homens trabalham como pe es de campo tratoristas empreiteiros roceiros praieiros comandados 2 In EARTHWATCH INSITITUTE Relat rio Annual 2004 Centro de Pesquisa e Conserva o do Pantanal Dispon vel em http www earthwatch org site pp asp c dsJSK6PFJnH amp b 1574583 48 pelo propriet rio diretamente ou por um capataz o qual respons vel pela fazenda na aus ncia do patr o As mulheres s o esposas donas de casa que cuidam dos filhos e da cria o de animais dom sticos Algumas mant m uma rela o de trabalho com a fazenda quando s o contratadas para servi os dom sticos na casa sede ou cozinhar e lavar roupas para os pe es solteiros mas a maioria se ocupa exclusivamente das atividades do lar e para ajudar na renda familiar realizam trabalhos manuais produzem queijos e doces para vender O antrop logo Banducci Jr 1995 descreve as rela es sociais em fazendas tradicionais de pecu ria e ressalta o fato de que al m de trabalharem estas pessoas moram nas fazendas permanecem disposi o da propriedade sempre que necess rio p 77 Costumam ocupar seu tempo livre com atividades ligadas ao trabalho como fazer um la o de couro no universo masculino As op es de lazer nas fazendas s o variadas como jogar futebol passar o dia em outra fazenda ou na beira do rio pescando por m para a maioria das vezes s o atividades secund rias s atividades demandadas pela fazenda pois
109. co da rea visto como uma alternativa de complementa o ou substitui o de renda s fazendas Isto tem gerado mudan as nas estruturas f sicas e humanas das fazendas com destaque para o papel da mulher na sociedade pantaneira No mercado tur stico as pousadas do rio Negro fazem uso da peculiaridade do patrim nio natural e buscam valorizar o patrim nio cultural a fim de diferenciarem se da demais pousadas do Pantanal A Regi o do rio Negro est se transformando em uma marca formatando uma imagem conservacionista sobre os aspectos ambientais e culturais Com o fortalecimento desta marca a tend ncia que a id ia de regi o se mantenha por m n o est imune a transforma es Novas fazendas podem vir a se integrar regi o por encontrar vantagens na utiliza o da marca o que levar a altera o do seu formato inicial Paralelo a isso a rede de pessoas que possui v nculos com o espa o vem aproveitando o momento de alta oferta de trabalho nas fazendas e a busca dos propriet rios por aut nticos pantaneiros 146 Isto tem contribu do com a manuten o da presen a destas pessoas na rea assim como do pilar s cio cultural que sustenta a regi o medida que a regi o ganha espa o no mercado novas pessoas est o sendo introduzidas na rea para dar conta da demanda de trabalho e criando v nculos com a regi o que podem levar reformula o de sua identidade Elas est o se integrando s redes de relacion
110. cozinheira e arrumadeira retornam para a pousada enquanto os turistas permanecem no campo e s retornam por volta do anoitecer Antes disto Gilda enche garrafas t rmicas com gua filtrada e gelada e segue com as garrafas e copos para os quartos dos h spedes e da patroa para abastec los de gua para a noite e preparar as camas para dormir o chamado abre leito em que se retira a colcha da cama coloca se uma manta sobre o p da cama e dobra se levemente o sobre len ol numa posi o que indique que a cama est pronta para ser usada Ela deixa copos e a garrafa t rmica sobre a mesa dos quartos verifica se h velas nos casti ais e caixa de f sforos para ser usado em caso de haver falta de luz e arruma os pertences dos h spedes caso haja algo fora do lugar Enquanto isso a cozinheira d encaminhamento aos pratos frios e quentes do jantar bem como sobremesa daquela noite e ao bolo que ser servido no caf da manh do outro dia Tamb m aproveita para cortar em cubos pequenos a manta de carne seca que est na geladeira para que esteja pronta para iniciar o arroz carreteiro no amanhecer do outro dia Na cozinha sobre a geladeira h uma televis o que permite que elas acompanhem suas novelas Ao mesmo tempo o r dio permanece ligado pois por volta das sete horas da noite o radialista costuma fazer a locu o dos recados enviados ao longo do dia Ao ouvir a voz do radialista ela diminui o som da televis o e fica atenta
111. da antropologia do turismo o estudo aqui desenvolvido busca compreender a din mica do espa o pantaneiro sob a territorialidade do turismo atrav s do olhar da mulher Joseli Silva 2005 em seu artigo An lise do espa o sob a perspectiva do g nero um desafio para a geografia cultural brasileira discute a invisibilidade feminina como agente da produ o do espa o e a falha da ci ncia geogr fica ao n o contemplar a vis o feminina no instrumento te rico metodol gico A autora defende uma geografia feminina e retoma o trabalho de Bondi e Domosh 1992 em que afirmam que os ge grafos t m uma dificuldade em analisar o espa o sob a perspectiva feminina porque a produ o do conhecimento geogr fico est ligada ao androcentrismo SILVA 2005 p 174 Segundo ela a geografia feminina busca compreender como o sujeito feminino constru do nas estruturas de domina o espaciais uma vez que o espa o constitu do por diversos significados atribu dos pelos diferentes grupos que o usam e esses significados se acumulam no tempo e no espa o refletindo os esteri tipos de g nero e as for as do feminino e do masculino na produ o N o se deseja fazer desta pesquisa um trabalho da geografia feminina nem debater sobre a quest o de g nero na sociedade rural contempor nea mas alguns conceitos devem ser revisados para que haja um entendimento do leitor sobre os fundamentos te ricos da pesquisadora quando esta s
112. da biologia que acompanham os turistas estrangeiros A presen a cada vez mais constante destes profissionais nas fazendas da Regi o do rio Negro pois a demanda de estrangeiros em busca de uma experi ncia diferenciada tamb m crescente H guias especialistas em observa o de aves bot nica e plantas medicinais fotografia de vida selvagem turismo equestre e at mesmo em pesca esportiva S o profissionais de diferentes idades e de ambos os sexos que dominam alguma l ngua estrangeira e prestam servi o esporadicamente s fazendas As mulheres mais jovens que est o pela primeira vez trabalhando com turismo no Pantanal percebem o contato frequente destes profissionais com os turistas e o quanto mais rica a experi ncia deles por poderem se comunicar na mesma l ngua O interc mbio entre turistas e guias bil ngiie mais efetivo que entre turistas e mulheres n o propriet rias Por isso justifica se o desejo de algumas delas em voltar a estudar para poder trabalhar no campo e claro ter uma di ria mais alta que a de cozinheira ou arrumadeira ou talvez um status diferenciado dentro do organograma das pousadas O of cio dom stico portanto reconhecido por propriet rias e pelos funcion rios homens como o de maior demanda de trabalho em uma pousada figurando se como de grande import ncia entre os demais servi os na pousada ao passo que quem os executa valoriza mais o trabalho de campo realizado na maioria das vezes
113. da mulher na administra o da renda familiar na habilidade em lidar com as pessoas de fora t m contribu do segundo elas com a eleva o de sua auto estima e permitido que haja um aumento na qualidade de vida de seus familiares Uma entrevistada considera que estas conquistas t m grande representatividade na sociedade pantaneira pois nunca algu m imagin que filho de cozinheira pantaneira pudesse fal ingl s e mex com computador e tem gente que 142 atravessa o mundo pra vir aqui com nosso arroz carreteiro quem que ia imagin isso Francisca governanta 47 anos Para ela qualidade de vida poder exercer o mesmo trabalho que faria na cidade por m desfrutando da trangiiilidade do Pantanal Sabe se que por tr s disso h o grande esfor o em conviver com a ang stia de estar longe dos familiares mas isto elas mesmas preferem abstrair pois n o h conquistas sem sacrif cios Irene cozinheira de pens o 46 anos 3 4 CONSIDERA ES PRELIMINARES Um encontro de gera es marca o territ rio feminino nas fazendas da Regi o do rio Negro De um lado est o propriet rias e n o propriet rias que foram criadas em um Pantanal sem acesso energia el trica sem conex o com as cidades durante o per odo de cheia em que o ser humano era mais um entre as demais esp cies que conviviam harmonicamente junto natureza De outro lado est o propriet rias e n o propriet rias que foram criadas e
114. da vida urbana A partir dos relatos registrados na pesquisa constatou se que as mulheres em geral possuem uma rela o de identidade com a regi o umas com mais intensidade que as outras o que varia de acordo com o tempo de viv ncia no Pantanal Se reconhecem como pantaneiras por serem mulheres fortes trabalhadeiras e por estarem dispostas a ficar longe de seus familiares e das facilidades da cidade em prol do sonho de conquistar um espa o pr prio na cidade e de oferecer aos filhos e netos o acesso educa o continuada e a cursos que complementem seu aprendizado Os servi os de governan a e gastronomia demandados pelas pousadas geram um aumento na oferta de trabalho feminino nas fazendas Dependendo da realidade de cada fam lia isto contribui com o incremento da participa o da mulher na renda familiar promove sua independ ncia financeira e ou a fortalece como provedora familiar 148 Propriet rias maridos e as pr prias funcion rias reconhecem a import ncia de seu papel no turismo valorizando a participa o feminina na sociedade pantaneira Foi identificado que o fato de o turismo promover uma ascens o econ mica e social das mulheres n o interfere negativamente em seu relacionamento com os maridos Verificou se que para uma parte dos turistas elas s o invis veis pois desempenham fun es de bastidores que n o viabilizam momentos de intera o Para os mais curiosos e interessados em conhecer estes bastidores
115. dagem naturalista de regi o 1870 1920 com uma vis o darwinista e neo lamarkiana que considerava a homogeneidade dos aspectos f sicos clima hidrografia relevo etc como fator determinante na delimita o de uma regi o foi abandonada pelos ge grafos por n o servir de refer ncia e n o explicar o desenvolvimento econ mico e social que o mundo hoje experimenta Entre 1920 e 1950 per odo conhecido no campo dos estudos geogr ficos como Geografia Tradicional a regi o era vista pelos ge grafos sob a perspectiva da paisagem com destaque para as quest es culturais e os g neros de vida Paul Vidal de la Blache foi o ge grafo precursor dessa linha definindo a rela o homem natureza como objeto da Geografia Sob esta perspectiva a natureza representa possibilidades para a a o humana isto as necessidades humanas s o condicionadas pela natureza e o homem busca solu es para satisfaz las tanto nos materiais quanto nas condi es oferecidas pelo meio MORAES 1985 A obra de La Blache sugeriu a divis o do espa o atrav s de Regi es Naturais Para ele a regi o era a denomina o dada a uma unidade de an lise geogr fica que exprimiria a pr pria forma de os homens organizarem o espa o terrestre Assim a regi o n o seria apenas um instrumento te rico de pesquisa mas tamb m um dado da pr pria realidade As regi es existiriam de fato e caberia ao ge grafo delimit las descrev las e explic las
116. de estruturas conceituais complexas p 20 que comp em os s mbolos de uma cultura a fim de apreend los e em seguida interpret los procurando sempre resistir ao subjetivismo e ao cabalismo ou seja evitar a interfer ncia das refer ncias pr vias do pesquisador na observa o dos fatos assim como a severidade em suas interpreta es O papel do etn grafo observar e interpretar os fatos no dizer do antrop logo consiste numa adivinha o dos significados uma avalia o das conjecturas p 30 A proposta de observar registrar e interpretar a cultura pantaneira sob a tica da mulher como um recurso metodol gico e te rico para o desenvolvimento deste trabalho n o uma tarefa f cil Existe uma lacuna que separa o observador do observado e ao mesmo tempo os une para esta pesquisadora a inten o inicial de estudar esse universo surgiu de um sentimento de admira o e consequente curiosidade em conhecer e compreender a esfera feminina das fazendas pantaneiras Este sentimento aflorou com a conviv ncia cotidiana que a pesquisadora passou a ter com as mulheres locais ao trabalhar em uma fazenda de turismo na Regi o do rio Negro Esta lacuna de ordem s cio cultural passou a ser um elo entre as duas partes pois o interesse em conhecer a realidade do outro era rec proco o que permitiu a aproxima o e em alguns momentos a incorpora o da pesquisadora ao ambiente pesquisado Dessa forma o olhar do estrangei
117. de turismo do Pantanal Entre as atividades de lazer oferecem passeios a cavalo e em carro caminhada em trilhas passeio de barco e de canoa e observa o de aves Quando n o poss vel a presen a dos propriet rios nos passeios um dos guias que recebeu treinamento dos propriet rios atrav s de aulas sobre as aves do Pantanal e palavras chave em ingl s sai sozinho para o campo guiando os estrangeiros Quando h mais de um grupo que n o fala portugu s na pousada contratam um guia bil ng e para auxiliar no atendimento durante as atividades de lazer Segundo a propriet ria o turismo est crescendo bastante e j se confirgura como a principal atividade econ mica da fazenda seguida da pecu ria bovina Ela tem investido em a es de divulga o da pousada cuja inten o que a ocupa o ganhe maior estabilidade nos pr ximos anos a fim de que n o haja tanta sazonalidade entre os meses do ano c Fazenda Santa Sophia Neta dos desbravadores da regi o a propriet ria mora na fazenda e administra tanto a pecu ria quanto o turismo Recebe turistas somente entre os meses de junho e outubro porque diz ser imposs vel atender durante o ver o com o calor forte e a quantidade de mosquitos Afirma que o turismo em sua fazenda foi adaptado pecu ria medida que n o tem nenhum funcion rio espec fico para o turismo Quando h turistas contrata como diaristas as mulheres dos pe es casados para ajudar na limpeza cozinha e
118. desde crian a Quando lhe foi perguntado onde se sente em casa ela n o teve d vidas em dizer que na fazenda Ao mesmo tempo Iracema tem uma casa na cidade constru da por ela e pelo marido com economias acumuladas ao longo de 40 anos de trabalho em fazendas na regi o Esta casa fica fechada sob o cuidado de um vizinho pois o casal permanece a maior parte do ano no Pantanal Dentro dela tudo parece novo ou porque foi recentemente comprado ou porque tem pouco uso H geladeira freezer televis o tanque de lavar roupas jogo de sof e segundo ela a melhor cama do mundo Esta rela o com a cama se d pelo fato de que na maioria das vezes que vai cidade Iracema est de folga do trabalho o que faz com que sua estada na cidade seja sin nimo de descanso Ela afirma que a Regi o do rio Negro seu local de morada lugar onde se sente em casa pois foi onde passou a maior parte de sua vida Foi onde se casou criou os filhos mant m relacionamentos de compadrio Entretanto a casa em que mora na fazenda desprovida de v rios itens de conforto como a melhor cama do mundo e o tanque de bater roupas que ela possui na cidade Mesmo consciente de que passa a maior parte do ano na fazenda ela prefere deix los l pra que n o se desgastem na viagem ao Pantanal Foi o que aconteceu com a mudan a de Gilda que tem 24 anos e a primeira vez que mora no Pantanal Empolgada com o novo emprego do marido e a possibilidade de tra
119. desmatamento Por m atualmente devido ao crescente com rcio de terras e divis es feitas em fun o de heran as as fazendas sofreram redu es progressivas de tamanho A rentabilidade com a produ o de gado em propriedades cada vez menores passou a exigir mais da terra desencadeando um processo de aumento do desmatamento introdu o de esp cies ex ticas de pastagens e a busca por alternativas econ micas para o uso desta terra Al m do desmatamento gerado pela necessidade dos propriet rios em aumentar a produtividade da terra a pr tica de queimadas para a renova o do pasto ex tico um problema Se realizada por pessoas que n o conhecem as especificidades do Pantanal pode tomar propor es maiores que a esperada O manejo do fogo uma habilidade tradicional do homem pantaneiro sempre foi praticado para a limpeza dos campos e realizado com base no conhecimento emp rico sobre o per odo do ano ideal e o tipo de acero detalhes de extrema relev ncia para que se tenha controle sobre o fogo O perigo na atualidade que h pessoas sem conhecimento pr tico sobre manejo do fogo trabalhando nas fazendas e tamb m o fato de os campos das fazendas estarem cada vez maiores devido ao desmatamento o que faz com que a rea queimada seja maior 50 ONDE A MATA FOI PRESERVADA O govemo mediu o tamanho atual das vegeta es nativas do Brasil O levantamento concluido no fim de 2006 mostra que o Pantanal o ecossistem
120. do interesse deles Para ela o problema tende a aumentar devido a venda de fazendas para pessoas de fora paulistas ga chos estrangeiros entre outros que n o conhecem as adversidades do Pantanal Comenta o caso de um m dico carioca que comprou uma rea na margem esquerda do rio Negro dentro da regi o de estudo com o intuito de montar uma pousada Segundo ela o fato de ele n o ser pantaneiro foi o maior problema porque desconhecendo as caracter sticas do terreno construiu casas na beira do rio dando in cio a um processo irrevers vel de eros o O m dico foi multado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e 54 orientado a demolir as constru es Depois de tr s anos lutando contra a natureza e contra a associa o optou por vender a terra Casos como este tendem a ser frequentes na Regi o do rio Negro devido ao olhar empreendedor de pessoas de fora que reconhecem o valor tur stico da rea Segundo Azevedo 2002 essa uma das regi es mais preservadas do Pantanal Para este cientista ambiental isso se deve ao fato de a regi o dispor de um baixo ndice de tecnologia na pecu ria bovina e possuir um alto grau de isolamento conforme afirma A forma de ocupa o que ali se desenvolveu ajudou a moldar a fisionomia da regi o e constitui um exemplo de conserva o e adapta o ecol gica a ser levado em conta em iniciativas de conserva o AZEVEDO 2002 p 62 O olhar sobre a riqueza do patrim nio na
121. do turismo no rio Negro uma experi ncia cultural em que o turista vivencia os costumes ao mesmo tempo em que desfruta a natureza ele o pe o tem que mostrar pro turista que ele se orgulha de ser pantaneiro eu enfatizo todos os dias para eles voc s t m que mostrar o que voc s s o voc s n o t m que andar de um jeito que voc s n o s o nem se portar de uma maneira que voc s n o s o Voc chega no galp o arranca a botina porque ela est encharcada voc tem que fazer isso com o turista tamb m Mostra seu p cheio de frieira passa a pomada minancora e pronto Lava a m o antes de sentar na mesa tira o chap u para entrar em casa pede licen a para entrar na minha casa Voc s s o educados e t m que mostrar que s o n o tem que ser diferente isso que eu procuro mostrar para os turistas Beatriz propriet ria 62 anos Esta vis o de ecoturismo adotada pelos empres rios do turismo na Regi o vai ao encontro da proposta de ecoturismo estabelecida nas Diretrizes para uma Pol tica Nacional de Ecoturismo In EMBRATUR IBAMA 1994 que visa o uso tur stico do patrim nio natural e cultural de maneira sustent vel e como mecanismo de educa o ambiental 74 H entre os propriet rios o interesse em vender aos turistas os h bitos pantaneiros o espet culo da natureza fica ainda mais interessante se for vivenciado em companhia da popula o local dos que fazem parte daquela natureza
122. dos os dados coletados pode se afirmar que as fazendas que comp em a regi o atualmente s o Fazendinha Tup cyretan Santa Sophia S o Sebasti o S o Roque Centen rio Santa Terezinha Barra Mansa S o Pedro Rio Negro Central Barranco Alto Djacu S o Jo o Costa Rica Rancharia Nova Est ncia Para so Esperan a Vista Alegre Porto Ciryaco Entre Rios Estrela Calif rnia Itacaru Firmezinho Rancho Grande Maring S o Jos S o Jorge Cascavel Sereia Camalote Santa Ala de Todas estas s o consideradas filhas da fazenda Rio Negro pois faziam parte de uma nica propriedade no in cio do s culo XX A dificuldade em descrever corretamente as fazendas que est o na presente data dentro da Regi o do rio Negro est no fato de n o existir um mapa atualizado com o georreferenciamento das fazendas Nem mesmo no Instituto Nacional de Coloniza o e Reforma Agr ria Incra h um mapa que demonstre a rea com informa es atualizadas Foi atrav s do mapa realizado em 1952 pelo agr nomo Renato Rabelo Vaz que se demarcou a regi o de estudo no formato apresentado na Figura 3 Atualmente a gera o de netos e bisnetos de Dona Tom sia que se faz presente na regi o al m de sul mato grossenses paulistas e europeus que adquiriram terras no decorrer dos ltimos quarenta anos A sede constru da por Dona Tom sia beira do rio Negro passou por tr s reformas encontra se em bom estado de manuten o e perte
123. duzida sobre o Pantanal o que foi chamado de Pantanal espet culo no cap tulo anterior Elas o descrevem com um tom romanceado similar ao que se ouve e l sobre o Pantanal na m dia Pra mim Pantanal foi uma emo o tudo muito bonito muito diferente pra mim tudo novidade indescrit vel Arlinda servi os gerais 27 anos Tamb m valorizam a oportunidade de conhecer gente de fora isto os turistas estrangeiros bem como artistas e pessoas famosas as vezes eu falo pras menina na cidade que aqui mais que se voc mor em Aquidauana l voc vive naquele mundinho voc n o conhece ningu m novo aqui n o aqui voc v pessoas conversa convive com v rios tipos de pessoas que muito importante E as pessoa l aquela vidinha Tem pessoas que nunca viram um americano na vida n Fica bobo de v Tem pessoas por exemplo que nunca viu o Almir m sico e dono de fazenda na regi o que qu conhec o Almir e ficam encantado com a gente que t sempre junto o Almir vem aqui Francisca governanta 46 anos Em suma trabalhar com turismo na Regi o do rio Negro desfrutar da fartura da fazenda uma oportunidade de economizar e tamb m de conhecer pessoas de fora e famosas Mas afinal considerado um local de morada ou de trabalho pela maioria das mulheres Entre as maiores de 35 anos que trabalham nas fazendas da regi o e se consideram rionegranas como o ca
124. e As empresas que fazem venda por cat logos como Natura e Avon fazem sucesso entre as funcion rias das fazendas Algumas delas s o revendedoras de produtos destas empresas e divulgam seus servi os na regi o levando mulheres de outras fazendas a se deslocarem at elas para fazer compras H mulheres mais empreendedoras que possuem produtos a pronta entrega Se solicitado elas chegam a vender produtos como protetor solar e creme hidratante at mesmo para os turistas Jurema cozinheira 59 anos conta que administra muito bem seu sal rio e o do marido Como ambos fazem as refei es na pousada gastam muito pouco com supermercado comprando apenas produtos de higiene medicamentos erva mate e biscoitos al m do g s 119 para o fog o que s trocado a cada ano Encomendam tamb m umas latas de cerveja de vez em quando mas essa informa o se perguntado eles negam pois proibida a entrada de bebidas alco licas na maioria das fazendas Isto porque o uso abusivo de lcool um grande problema com o dinheiro das gorjetas que recebe que ela investe em cosm ticos pois acredita que esse dinheiro para ser gasto com itens pessoais e n o para a casa ou para o casal Eles t m casa pr pria na cidade onde mora a filha com sua fam lia As economias do casal s o guardadas em uma poupan a pois os dois t m o objetivo de investir na compra de um caminh o para fazer frete de mercadorias para o Pantanal quando ambos es
125. e n o us las pois tem medo de derrubar alguma coisa reflexo do medo de ter que pagar por aquilo que quebrar Enquanto limpa o vaso sanit rio desabafa Sabe eu queria termin meus estudos mud de trabalho porque a vida aqui s limp lav essas coisas Eu queria estud turismo n Acho legal trabalh em 54 Rage As death a Ea Creolina um produto qu mico de uso veterin rio de a o bactericida que atua como desinfetante quando usado na limpeza de casas 99 fazenda assim como guia mexendo com outra coisa n o com limpeza Gilda servi os gerais 24 anos Apesar de estar feliz por ter sido chamada para trabalhar como diarista no hotel e ganhar uns troquinhos Gilda n o se orgulha de seu of cio Entende que as mulheres que n o t m estudos trabalham com limpeza e as que puderam estudar t m oportunidade de outros tipos de trabalho Figura 10 Camareira arrumando quarto dos h spedes Depois de higienizar o banheiro Gilda segue arrumando as camas e organizando segundo ela a bagun a dos turista Nesta bagun a comum encontrar objetos que lhe despertam a curiosidade em saber para que servem e como se utiliza a partir desta curiosidade que conhece segundo ela novos cosm ticos no mercado roupas com tecidos modernos produtos tecnol gicos entre outras novidades Ela tem consci ncia que n o deve mexer nos pertences dos h spedes e demonstra respeito a esta regra mas confessa q
126. e depois a esp cie de rela o secreta e emocional que liga os homens a sua terra e no mesmo movimento funda sua identidade cultural Idem 2002 p 103 Foi a busca desta rela o secreta e emocional que orientou a an lise dos dados coletados durante a pesquisa de campo Observa se que a maioria dos entrevistados possui al m de uma rela o de trabalho com as fazendas um sentimento de posse da rea N o s o 33 propriet rios da terra mas compartilham uma refer ncia cultural um conhecimento sobre o ambiente uma intimidade com a natureza que os define como rionegranos o que Tuan 1974 chamou de topofilia Esta topofilia entre os rionegranos existe e repassada de gera o para gera o medida que as rela es sociais e de trabalho se mant m est veis na regi o Todavia o que existe atualmente uma intensa interfer ncia que contribui com a transforma o destas rela es o que pode vir a modificar o v nculo destas pessoas com a regi o Este tema ser tratado com maior profundidade mais adiante importante neste momento demonstrar que h ainda na regi o propriet rios e funcion rios que possuem essa rela o harmoniosa com o Pantanal O relato a seguir demonstra a percep o espacial de uma pantaneira rionegrana Para ela o rio Negro o pr prio Pantanal a impress o que d que para ela s a regi o de estudo Pantanal o restante formado por fazendas comuns Ela comenta ter t
127. e exploram a pecu ria extensiva inclu am atividades de turismo rural dentro das pr ticas de ecoturismo e que mais vantajoso para o mercado tur stico do Pantanal manter o segmento de ecoturismo como sua marca principal pelo menos em mbito comercial Isto porque o ecoturismo um dos segmentos que mais cresce no mundo e se enquadra de maneira geral nas pr ticas tur sticas que atualmente s o realizadas no espa o pantaneiro Outros segmentos como o turismo eq estre a pesca esportiva e a observa o de aves est o sendo trabalhados pela iniciativa privada como foco de seus produtos a fim de aproveitar demandas espec ficas de turistas para o Pantanal Estes nichos de mercado possuem caracter sticas pr prias representam menor volume de pessoas em compara o ao ecoturismo mas em compensa o s o compostos por pessoas dispostas a pagar o pre o necess rio para satisfazerem suas necessidades de consumo A di ria para pesca esportiva cobrada por uma das pousadas da Regi o por exemplo mais alta que a de ecoturismo pois h maiores custos com combust vel para os barcos Da mesma forma o custo de um guia especializado em aves ou em cavalgada mais elevado e isso se reflete no valor pago pelo turista Por isso muitos propriet rios est o segmentando seus servi os oferencendo desta forma um diferencial aos que visitam o Pantanal ao mesmo tempo que aumentando as divisas gastas pelos turistas na regi o Com a vis o de q
128. e prop e a interpretar a mulher pantaneira 1 Entende se que a divis o sexual do trabalho n o natural mas sim hist rica A subordina o da mulher ao homem sempre respondeu a interesses econ micos e pol ticos institucionalizados e transmitidos de gera o a gera o VIEZZER 1989 p 115 Nas fazendas de pecu ria do Pantanal o trabalho do campo base da atividade econ mica sempre foi executado pela figura masculina devido a sua for a e resist ncia f sica s mulheres coube a execu o das atividades dom sticas Por isso no trabalho do turismo os homens atuam no campo como guias locais e as mulheres na casa como cozinheiras arrumadeiras e lavadeiras 2 Acredita se que o patriarcalismo do modo de produ o gera desigualdade na remunera o entre homens e mulheres HUXLEY amp WINCHESTER apud SILVA 2005 p 184 Observa se que nas fazendas de gado o trabalho remunerado das mulheres est atrelado atividade dom stica de limpeza e manuten o da casa sede lavagem de roupas e ao ato de 86 cozinhar para os patr es e ou funcion rios Fazendo uma compara o de sal rios a remunera o da mulher quando contratada igual do vaqueiro entretanto para aqueles que exercem trabalhos tempor rios o valor pago pelo dia de trabalho s mulheres sempre foi inferior ao valor pago aos homens 3 Compreende se que a atua o profissional das mulheres embora seja uma conquista est principalmente em torn
129. e solte no rio Negro MS estabelecidas pela Delibera o n 002 do Conselho Estadual de Controle Ambiental CECA de 20 de junho de 1997 As demais pousadas de acordo com esta pesquisa feita na internet oferecem apenas a pesca recreativa Em entrevista s propriet rias identificou se que consideram esta pr tica uma atividade pouco conservacionista uma vez que n o h estudos conclusivos a respeito dos impactos do pesque e solte Entretanto constatou se na visita s fazendas que estas vendem esporadicamente pacotes de pesca esportiva no intuito de atender freq ente demanda de pescadores para aumentar os lucros da fazenda 13 Figura 8 Pantaneiro conduzindo turistas de pesca esportiva Para os propriet rios e empres rios do turismo na Regi o do rio Negro o Pantanal hoje reconhecido por sua riqueza de recursos naturais mas o patrim nio cultural que o diferencia dos demais destinos de ecoturismo do mundo A oportunidade de ver animais selvagens paisagens exuberantes matas de grande porte existe em diferentes partes do mundo O que faz do Pantanal um destino especial a riqueza do patrim nio cultural o fato de existirem pessoas interagindo com a natureza de uma maneira peculiar pr pria do local Essa vis o de que a cultura pantaneira o elemento chave para a promo o do turismo na Regi o do rio Negro pode ser reconhecida no discurso dos propriet rios de pousadas Existe entre eles a inten o de fazer
130. ec o de artefatos com a l de carneiro e o uso da tecelagem para o feitio da faixa lt 27 x gs i paraguaia Atrav s de oficinas semanais de artesanato realizadas semestralmente nas escolas 27 ar E f A faixa paraguaia ou faixa pantaneira uma faixa colorida feita em tear usada pelos vaqueiros que a amarram na cintura para dar sustenta o coluna durante o trabalho de campo Atualmente s o produzidas faixas de 59 pantaneiras o projeto buscou propiciar momentos de integra o entre os pais e alunos no ambiente escolar ao mesmo tempo em que reanimar a pr tica de artesanato e conseq ente gera o de renda para os habitantes da regi o Este projeto come ou suas atividades em 2003 com recursos de diferentes fontes no decorrer dos anos Instituto Parque Pantanal Instituto Junia Rabelo WWF e Lei Rouanet de Incentivo Cultura Em 2006 publicou um manual que registrou o passo a passo das oficinas de artes e permanece em busca de recursos para dar continuidade s atividades A partir da iniciativa do Projeto Sapicu alguns professores com o aux lio de pais e m es de alunos matriculados nas escolas pantaneiras iniciaram a produ o coletiva de artesanato a fim de contribuir com a manuten o da escola Os produtos s o vendidos s pessoas da regi o e a turistas que visitam a escola Em 2007 atrav s da renda obtida com a venda de artesanato o N cleo Escolar Vale do rio Negro fez aquisi o de uma impr
131. ec ficos que demandam outro tipo de sinergia nas fazendas Aos pe es dada a tarefa de guia de turismo cabe a eles mostrar a natureza e a cultura pantaneira seja montando a cavalo pilotando um barco dirigindo um carro ou remando uma canoa Em paralelo atendem s demandas da fazenda por m o dia planejado dando prioridade s atividades dos turistas Para as mulheres o trabalho que realizam nas fazendas n o mudou muito em termos de conte do lavar cozinhar e limpar continua sendo o seu of cio O que mudou foi o ritmo dado para a execu o das tarefas muito mais intenso quando tem turista na fazenda al m da rela o de trabalho efetiva com a fazenda pois muitas eram apenas donas de casa antes de trabalharem com turismo Aos propriet rios cabe a administra o de um novo neg cio adaptar se a outro ramo da economia o da presta o de servi os em que necess rio montar um produto buscar mercado para vend lo estabelecer parcerias para divulgar este produto preparar uma infra estrutura na fazenda capacitar seus funcion rios receber bem e com hospitalidade os turistas isto uma gama de a es que n o faziam parte do universo das fazendas de pecu ria As fazendas ou melhor as empresas pantaneiras de turismo atuam n o apenas como simples meios de hospedagem mas tamb m como operadoras de turismo pois al m de hospedar os turistas operam todos os demais servi os que eles necessitam durante a viagem com
132. edes Com o turismo acab tudo a gente costumava jog bola todo domingo As veis fazia torneio hoje a gente n o consegue mais nem montar um time Beto capataz de fazenda de pecu ria 45 anos Por isso que atualmente os casais de namorados se formam dentro da mesma fazenda s o colegas de trabalho o que restringe a possibilidade de escolha e tamb m de est mulo ao desejo de namorar Mais uma vez se constata que o turismo exerce territorialidade sobre a regi o de estudo como um todo e n o apenas nas fazendas tur sticas afinal a cultura a tradi o e a hist ria intermediam a mudan a econ mica e tamb m o modo como as pessoas e os lugares est o ligados Vive se um novo tempo em que as rela es entre os rionegranos dependem da mobilidade dos turistas 3 3 3 Qualidade de vida e auto estima Com a inser o do turismo como nova atividade econ mica na Regi o do rio Negro o papel da mulher nas fazendas ganhou outro status dentro da sociedade A depend ncia da atividade por profissionais que mantenham a qualidade nos servi os b sicos de alimenta o e limpeza fez com que o tradicional of cio feminino nas fazendas se transformasse em um requisito para que a pousada possa funcionar A personagem feminina em uma pousada tem import ncia reconhecida por todos propriet rios turistas maridos e por elas mesmas Para os turistas o fazer masculino se destaca sobre o feminino pois s o eles quem os conduzem s experi
133. edi o Desterritorializa o entre as redes e aglomerados de exclus o In CASTRO LE de GOMES P C da C CORREA R L orgs Geografia Conceitos e Temas 8 ed Rio de Janeiro Editora Bertrand Brasil 2006b p 165 205 152 HOLZER W Paisagem imagin rio identidade alternativas para o estudo geogr fico In ROSENDHAL Z e CORREA R L Manifesta es da Cultura no Espa o Rio de Janeiro Eduerj 1999 p 149 168 HUSZAR P PETERMAN P LEITE A RESENDE E SCHNACK E SCHNEIDER E FRANCESCO F RAST G SCHNACK J WASSON J GARCIA LOSANO L DANTAS M OBRDLIK P PEDRONI R Realidade ou fic o uma revis o dos estudos oficiais da Hidrovia Paraguai Paran Toronto WWF 1999 KRIPPENDDORF J Sociologia do turismo para uma nova compreens o do lazer e das viagens Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1989 LACOSTE Y A Geografia isso serve em primeiro lugar para fazer guerra 5 Ed Campinas Papirus 2001 LECIONI S Regi o e Geografia S o Paulo Editora da USP 2003 LUCHIARL M T D P Turismo e territ rio sustentabilidade para quem In BARRETO M TAMANINI E Redescobrindo a ecologia no turismo Caxias do Sul EDUCS 2002 p 111 125 MITTERMEIER R A MITTERMEIER C G GIL P R PILGRIM J FONSECA G BROOKS T KONSTANT W R Wilderness Earth s last wild places Cidade do M xico Cemex 2002 MORAES A C R Geografia pequena hist ria cr tica 4
134. eja porque os pais trabalham em pousadas Somado a isto considera se neste trabalho a experi ncia resultante de seis anos de conviv ncia da pesquisadora com o universo de pesquisa atrav s da presta o de servi os como guia bil ngiie para os turistas estrangeiros acompanhamento de pesquisas cient ficas referentes conserva o do Pantanal e atua o em oficinas de artesanato promovidas em fazendas e escolas da regi o A observa o participante do mundo feminino e do cotidiano da fazenda de turismo realizada pela pesquisadora possibilitou o acompanhamento das mais recentes altera es no ambiente e na sociedade pantaneira assim como estabelecer rela es de proximidade com a popula o local que levaram ao conhecimento de fatos passados e entendimento da realidade atual A rea de estudo foi escolhida com base na observa o sobre quais os destinos tur sticos do Pantanal mais visados pelo mercado consumidor Foi observado que as pousadas In FREMONT 1980 p 95 12 de maior renome est o localizadas em uma rea pr xima em uma subregi o do Pantanal denominada pelos habitantes locais como Regi o do rio Negro Apesar de n o constar nos mapas oficiais a regi o consiste em refer ncia espacial hist rica e s cio cultural para a popula o que habita as fazendas daquele local Estas propriedades constituem um espa o vivido ou um espa o social que confere identidade aos que ali residem de tal intensidade que cheg
135. ejado o card pio sofre constantes mudan as medida que as prefer ncias alimentares do grupo s o observadas h pessoas que comem mais saladas que outros mais carne que acompanhamentos uns comem sobremesa outros n o e assim por diante A dificuldade maior est em atender grupos com crian as ou pessoas com restri es alimentares como os vegetarianos Numa regi o que tem a carne como base da alimenta o fica dif cil servir refei es em que a prote na animal n o pode estar presente As crian as tamb m exigem aten o maior pois possuem hor rio certo de alimenta o bem 123 como preparos espec ficos que nem sempre comp em a proposta de refei o t pica oferecida aos adultos como batata frita fil de carne grelhado macarr o sem molho entre outros Algumas fazendas possuem pastas onde est o descritas sugest es de card pios semanais acompanhadas de caderno de receitas que facilitam a cria o da cozinheira Outras ainda n o est o organizadas desta forma e sentem maior dificuldade em criar card pios Nas fazendas onde h uma maior rotatividade de cozinheiras este material bastante eficiente pois auxilia na padroniza o das refei es Mas como diz a cozinheira Jurema de 59 anos n o tem nada como a pr tica cozinheira pantaneira mesmo cozinha pra quatro pra quarenta e t sempre bom 3 1 7 Classificando os turistas Para facilitar a comunica o e organiza o as mulheres costum
136. ela tamb m supervisiona o trabalho das diaristas porque afinal quem conhece o jeito que a patroa gosta Al m disso ela exerce outras atividades no seu dia conforme conta Eu cozinho limpo casa tudo Cuido dos cachorro crio galinha ganso papagaio porque eu gosto n o minha obriga o cuidar disso da mas eu cuido porque eu gosto de bicho n Quando tem turista eu s cozinho mas vira e mexe v v o trabalho das otras menina As vezes eu termino aqui sede chego l lavo um copo que t sujo limpo minha casa lavo ropa que t suja e s Eu tenho duas casas pra cuidar n risos Agora quando eu t muito apertada de servi o aqui como na poca de turismo a se n o d tempo de eu limpa uma casa meu marido limpa e d uma varredinha l e limpa os copo eu d minha ropa pra vizinha lav porque eu n o tenho tempo n N dia cozinheira 39 anos 3 1 2 O dia a dia das trabalhadoras de fazendas de turismo O cotidiano de N dia cheio de atividades Quando tem turista na fazenda acorda s tr s e meia da manh Vai ao banheiro que fica do lado de fora da casa toma banho e ao mesmo tempo escova os dentes para ganhar tempo Em seguida arruma a sala de sua casa d comida para o cachorro e passa caf para que esteja pronto quando o marido levantar Afirma que acorda cedo para poder antes de ir para a casa sede organizar a sua Aus 49 z 50 pr pria casa e tomar o mate com sua m e
137. enda mensal seja maior que a do esposo Esta diferen a salarial do casal n o se apresenta como uma problem tica nem representa competitividade pois ambos compartilham dos mesmos sonhos e juntam seus sal rios para alcan ar seus objetivos Eu n o acho o trabalho dela mais importante Cada um tem uma import ncia no servi o ela cozinha eu cuido das coisas ent o cada um faz seu servi o e t tudo certo Ela tem o trabalho dela eu tenho o meu cada um faz o seu servi o Ela acaba ganhando mais que eu mas tamb m trabalha mais Eu acho que n o tem nada de mal n Cl udio respons vel pela manuten o da pousada 63 anos Esta posi o de companheirismo e parceria adotada pelos maridos um dos reflexos positivos da atividade tur stica na regi o Al m de estar possibilitando o aumento da renda familiar quando d oportunidade de emprego para ambos os sexos contribui com o estabelecimento de uma rela o de igualdade entre os g neros ao contr rio do que se verifica em outras realidades Em in meras comunidades onde o turismo tem exercido territorialidade o fato de a mulher conquistar autonomia financeira tem levado viol ncia familiar pois os maridos n o admitem a perda do controle absoluto sobre a vida financeira da fam lia Seria interessante realizar um estudo mais aprofundado sobre o que leva a este cen rio positivo na Regi o do rio Negro Algo comum a todas s o os gastos com cosm ticos e produtos de higien
138. enda somente acompanhando o marido Isto varia de casal para casal mas o que se observa atualmente que as mulheres est o interessadas cada vez mais em ter sua pr pria renda e em caso de n o haver emprego para elas no campo junto do marido elas preferem ficar na cidade onde a oferta de trabalho tende a ser maior Por isso com o aumento das possibilidades de trabalho para mulheres nas fazendas de turismo as rela es conjugais e consequentemente a estrutura familiar tendem a se manter mais est veis Este um fato relevante ao se analisar a interfer ncia do turismo nas rela es familiares pois ao contr rio do que ocorre em comunidades pesqueiras do litoral nordestino registrado por Woortman 1991 o turismo tem contribu do com a aproxima o de casais e valoriza o do papel da mulher medida que oferece oportunidade de trabalho para ambos Nas comunidades pesqueiras analisadas as mudan as na produ o do espa o levaram a altera es na rela o entre casais As mulheres deixaram de complementar a renda familiar quando perderam seu espa o de produ o agr cola para fazendas de cana e passaram a depender do dinheiro do marido No Pantanal as vagas de trabalho para mulheres com prefer ncia para casais tem aumentado significativamente e isto contribui com a estabilidade financeira e emocional das fam lias pantaneiras Observa se que o contato com os turistas n o representa um potencial de interfer ncia nas rela
139. endas e refor ou na rela o patr o x empregado a l gica do contrato capitalista Antigamente as rela es de trabalho pautadas no direito costumeiro assentadas em par metros como o de confian a e lealdade poderiam resultar em retribui es 49 na forma de reses cavalos madeira para constru o da casa na cidade e at mesmo por es de terra no caso de empregados mais antigos A segunda quest o a constante divis o das terras atrav s de heran a ou venda que reduz o tamanho das propriedades e consequentemente a quantidade de empregados por fazenda Os empregados neste contexto precisam abdicar de algumas atividades que faziam parte da vida na fazenda principalmente aquelas ligadas ao conv vio social para atender a todas as demandas de trabalho Isso o que vem acontecendo ainda mais fortemente nas fazendas que atuam com turismo onde o ritmo de trabalho adquire outras propor es conforme ser visto adiante 2 2 3 Amea as conserva o do Pantanal Um estudo do Minist rio do Meio Ambiente realizado em 2006 Figura 7 revelou que o Pantanal o ecossistema que mant m as vegeta es nativas mais preservadas do pa s Isto se deve principalmente ocupa o latifundi ria da rea conforme visto anteriormente Entretanto esse quadro est mudando Acredita se que no passado quando a pecu ria era mais rent vel possuir grandes propriedades contribu a com a manuten o das reas naturais evitando o
140. ento a Fazenda Rio Negro como prestadora de servi os tur sticos na regi o de estudo e por isso permanece como parte da pesquisa aqui desenvolvida b Fazenda Barranco Alto De propriedade de uma fam lia de descend ncia su a desde o in cio da d cada de 1980 a mais recente no ramo tur stico na regi o Come ou a receber h spedes em 2003 quando uma herdeira optou por mudar se para a fazenda com a fam lia e melhorar a rentabilidade da terra O casal que passou a administrar a pecu ria e o turismo construiu uma nova casa na fazenda para receber os turistas O fato de falarem l nguas estrangeiras facilita na realiza o de vendas e no atendimento aos turistas Permanecem com a pecu ria bovina mas reconhecessem o turismo como a principal atividade econ mica atualmente Desde o in cio das atividades ampliaram o n mero de quartos aumentando a capacidade de ocupa o para 12 pessoas Em 2007 a fazenda tamb m aumentou sua rea comprando uma propriedade do outro lado do rio a qual est em processo para ser transformada em RPPN 33 In http www fazendabarrancoalto com br 65 A fazenda est aberta para o turismo o ano todo a exce o do m s de janeiro quando d o f rias para si e para os funcion rios Possui 10 funcion rios entre homens e mulheres dos quais apenas dois s o exclusivos do turismo N o costuma contratar diaristas para trabalhar durante a alta temporada uma pr tica comum nas fazendas
141. equipamentos que ficam nos quartos para que n o peguem poeira ou caiam no ch o Quando percebem que h um passarinheiro na pousada ficam Alimento constitu do normalmente de carne seca com farinha levada no sapicu bolsa por quem viaja percorrendo longas dist ncias NOGUEIRA 2002 124 atentas s aves ao redor da casa pois desta forma podem contribuir com a satisfa o dos turistas e mostrar que n o s o s os homens que t m olhos atentos para a natureza Os turistas s o os h spedes mais freq entes que est o no Pantanal para passear e fazer todas as atividades dispon veis Querem fotografar passear a cavalo de barco ver os animais Para os propriet rios s o os ecoturistas ou aqueles que compram o pacote de ecoturismo Os turistas seguem o padr o de h spedes a que a pousada e os funcion rios est o acostumados H tamb m as fam lias com crian as que acabam sendo chamadas de grupo das crian as Saber que h um grupo com crian as al m de exigir os preparos gastron micos acima citados significa que a copa deve estar sempre impec vel pois ser visitada com frequ ncia pelos h spedes principalmente a geladeira para guardar mamadeira doces etc H que verificar os colch es toda manh para coloc los no sol caso alguma crian a tenha urinado a noite manter disposi o da fam lia biscoitos bolos e sucos para lanche reservar sempre um litro de leite para a amamdeira dos mai
142. erritoriais um recurso estrat gico que pode ser mobilizado de acordo com o grupo social e seu contexto hist rico e geogr fico HAESBAERT 2006 p 87 Uma vez que a territorialidade formada por estrat gias que visam a delimita o e manuten o do territ rio a partir de iniciativas individuais ou de grupos SILVA 2002 p 17 poss vel afirmar que o turismo exerce uma territorialidade na Regi o do rio Negro afinal visto pelos propriet rios pantaneiros antes de tudo como uma alternativa econ mica uma busca pela manuten o da propriedade da terra Al m disso a cultura a tradi o e a hist ria intermediam a mudan a econ mica e tamb m o modo como as pessoas e os lugares est o ligados e o modo como elas valorizam a rea O turismo desenvolve uma territorialidade na regi o medida que imp e regras sociedade local Entre elas pode se citar a altera o no modo de trabalho dos empregados das fazendas como o caso do vaqueiro que passa a trabalhar como guia a altera o no calend rio de trabalho medida que feriados e domingos deixaram de ser dias em que os funcion rios tinham maior liberdade para dedicar se a atividades de lazer e passaram a ser dias normais de atendimento ao turista altera es nas caracter sticas valorizadas nos prestadores de servi o pois n o basta entender de pecu ria preciso saber pilotar barcos Estes exemplos sobre o universo do trabalho masculino nas fazendas e outro
143. errrcereaaanaaas 1 3 CONSIDERA ES PRELIMINARES e a e e aa 2 O TURISMO NO PANTANAL DO RIO NEGRO eeeeeeseesessrrsrerrsssrrserse 2 1 TEORIAS DO TERRIT RIO E DA TERRITORIALIDADE ees 2 2 A CONFORMA O TERRITORIAL DO PANTANAL 2 2 1 A pecu ria bovina no Pantanal mecacaserequassralocaateglosksniG esesa des ato bad aisaghess mesada ga s 2 2 2 Os habitantes do Pantanal da pecu ria eee rerrercereaanas 2 2 3 Amea as conserva o do Pantanal acaqastaiaiisasica raiosords iiscebasiadel asas uaasapapesalpass te 2 2 4 As tentativas de conserva o do ambiente e valoriza o da cultura no Pantanal do Rio Negro aisean tasaa a aea nai canta E EAEE USE AAA aaa ad engana aa Desa caga tato R A R 2 3 A TERRITORIALIDADE DO TURISMO NO PANTANAL DO RIO NEGRO 2 3 1 Caracteriza o das fazendas 2 sas assa and Ta 2 3 2 Caracteriza o do turismo na Regi o do rio Negro a 2 3 3 O uso do patrim nio natural e cultural na Regi o do rio Negro 2 4 CONSIDERA ES PRELIMINARES i it eeeemereeemeeereemeeereere eee 3 A MULHER PANTANEIRA o custas aiasassis isiissapatceas Guiahasiobabsas ia pdajhio Dsmeligada NU b hos datada 3 1 AS MULHERES QUE OS TURISTAS N O V EM eii 3 1 1 Caracteriza o das mulheres que trabalham com turismo ii 3 1 2 O dia a dia das trabalhadoras de fazendas de turismo iiirerremness
144. erviam para atender demanda tur stica e aos funcion rios Carne e leite passaram a ser comprados da cidade Devido a falta de animais nos campos o mato est crescendo e gerando preocupa es nos vizinhos que est o alerta aos riscos de inc ndio florestal Possui atualmente um casal de funcion rios que fazem a manuten o da estrutura Quando h pesquisadores no campo ou atividades maiores de manuten o a serem realizadas s o contratados diaristas para a realiza o dos trabalhos Esta situa o bastante recente e indefinida pois at final de 2007 e durante a pesquisa de campo realizada para esta pesquisa o turismo estava em pleno funcionamento apesar de n o gerar lucro Diferentes propostas est o sendo estudades pela ONG no intuito de dar uso estrutura mantida at o presente momento entre elas a venda da rea o que possui impasses legais por se tratar de uma institui o sem fins lucrativos o arrendamento da casa sede para uso tur stico a implanta o de um centro de assist ncia sociedade regional com oferta de diferentes servi os na rea da sa de e educa o entre outros projetos que viabilizem o uso e manuten o da principal fazenda da regi o Pela indefini o da situa o e devido ao fato de a fazenda continuar recebendo pesquisadores e isto se caraterizar por um uso tur stico da fazenda uma vez que exige servi os de hospedagem alimenta o e estrutura de transporte considera se no presente mom
145. es conjugais N o h ocorr ncia de rela es sexuais entre mulheres e turistas H entre os casais atitudes de ci mes frente ao relacionamento deles e delas com os demais funcion rios Os maridos reconhecem que n o gostam que suas mulheres fiquem conversando com os colegas de trabalho conforme esclarece um deles se o trabalho dela na casa n o t m que fic de conversa com os guia Jaime pe o 39 anos Entre as solteiras h aquelas que est o namorando um colega de trabalho na fazenda mas escondem o fato porque n o querem que a patroa fique sabendo Isto porque muitas vezes o pe o tem esposa e fam lia na cidade Apesar de todos na fazenda saberem do namoro pois n o h como manter segredos em uma sociedade t o pequena s o bastante discretos comentam o fato somente entre si Todos s o em geral solid rios em situa es como esta pois entendem que manter a fidelidade em um casamento dist ncia dif cil No passado o namoro entre moradores de fazendas vizinhas era comum pois havia maior relacionamento entre vizinhos que costumavam promover festas nos finais de semana e feriados competi es e jogos de futebol aos domingos Com o crescimento da 139 atividade tur stica na regi o este tipo de evento de confraterniza o n o ocorre mais com fregqii ncia e muitas vezes quando ocorre h a presen a de turistas o que faz com que alguns funcion rios estejam a trabalho na festa atendendo os h sp
146. es dados s o superficiais pois as fazendas n o registram o perfil dos h spedes de maneira sistematizada 2 3 3 O uso do patrim nio natural e cultural na Regi o do rio Negro Ricardo Abramovay ao analisar as novas dimens es da ruralidade neste in cio de mil nio afirma que o futuro do meio rural est na manuten o da integridade ambiental e paisag stica das regi es interioranas e na capacidade de organiza o para fazer destes atributos as bases da gera o de renda ABRAMOVAY 2000 p 380 O Pantanal passa por um processo de re territorializa o em que novas possibilidades de uso est o sendo engendradas Vem utilizando o seu patrim nio natural e cultural atrav s do turismo a fim de transformar estas especificidades rurais em atrativos tur sticos 36 Saf ri uma atividade tur stica desenvolvida na frica para facilitar a visualiza o dos grandes mam feros africanos Disp em de ve culos com carroceria aberta normalmente de tra o nas quatro rodas capazes de carregar v rias pessoas sentadas confortavelmente dando lhes uma vis o ampla do espa o O termo saf ri passou a ser usado tamb m no Pantanal e se refere aos passeios em caminhonetes caminh es ou em carreta puxadas por trator 12 O Pantanal possui uma diversidade de elementos naturais que o coloca entre os ecossistemas de maior interesse tur stico do mundo Entretanto a explora o tur stica pode gerar efeitos auto degradantes como foi o cas
147. es foi separado N dia fica dividida entre atender ao marido s colegas de trabalho patroa e aos turistas tendo que fazer tudo ao mesmo tempo Para ajud la Gilda deixa o que estava fazendo e se dedica a atender aos pedidos da patroa Quando os turistas e a patroa saem para o passeio as duas param para tomar caf e comer alguma coisa Aproveitam para planejar as atividades da manh sentar um pouco e como diz Gilda pitar um cigarrinho Ap s o descanso que dura em torno de 15 minutos Gilda come a a organizar os quartos e N dia inicia o almo o Come a pela sobremesa pois esta precisa de um tempo maior na geladeira para atingir o ponto ideal Al m de cuidar da cozinha ela deve atender ao telefone e anotar recados na aus ncia da patroa Gilda inicia a limpeza dos quartos dos h spedes pelos banheiros porque considera esta a parte mais chata conforme esclarece Eu tenho horror de limp banheiro com essa creolina o ch ro muito forte n o sei como que tem algu m que goste Mas o sistema aqui assim at que j t acostumando indicando que o uso do produto recomendado pela propriet ria como medida de preven o de acidentes contra o aparecimento de anf bios em especial pererecas e serpentes O manuseio de produtos qu micos feito sem luvas de borracha apesar de haver luvas dispon veis para uso Ela se defende dizendo que com as luvas perde a sensibilidade das m os e que por isso prefer
148. es militares que viajavam ao Pantanal a lazer Ele conta que aeronaves da FAB For a A rea Brasileira pousavam na fazenda e os visitantes satam para pescar e ca ar on a o que era bastante comum na poca O patrim nio com o passar dos anos foi dividido em partes iguais entre os herdeiros Alguns deles compraram as partes dos irm os outros venderam para terceiros e muita coisa mudou nas rela es entre os vizinhos e tamb m dos fazendeiros com o meio O primog nito Luis da Costa Rondon administrou a fazenda que herdou e algumas outras partes que comprou de irm os entre 1904 a 1951 quando passou para seus filhos e cuja administra o ficou sob os cuidados de Orlando Rondon Grande parte da rea H diverg ncias entre os entrevistados em rela o ao tamanho da rea Uma entrevistada afirmou que a fazenda rio Negro chegou a ter 360 mil hectares por m para a maioria o tamanho aproximado era de 280 mil dado confirmado em AMARAL e SILVA 2007 30 inicial da Fazenda Rio Negro permaneceu nas m os da fam lia Rondon at meados da d cada de 1970 Devido a essa constante divis o das terras delimitar em um mapa a rea inicial da Fazenda Rio Negro n o foi uma tarefa f cil Das entrevistas com os moradores mais antigos foi poss vel identificar os nomes das fazendas que compunham a rea entre as d cadas de 1970 e 1990 Entretanto houve entrevistado que citou oito nomes de fazendas outro que citou 33 Da uni o de to
149. essoas constru ram em torno de sua exist ncia naquele ambiente Estas representa es possuem elementos f sicos hist ricos e s cio culturais que d o unidade id ia de regi o constituindo se no espa o vivido daqueles que a habitam E 4 i Regi o do Rio Negro 0 60 km ESCALA Figura 3 A Regi o do rio Negro em rela o ao Estado de Mato Grosso do Sul 7 Como dito as descri es a respeito do curso final do rio Negro s o variadas pois dependendo do volume da enchente de cada ano o encontro das guas do rio Negro com os demais rios da Bacia do alto rio Paraguai tamb m pode variar H pessoas que afirmam que ele se encontra com as guas do rio Aquidauana outros dizem que com as guas do rio Taquari 18 A fim de compreender o que a popula o local entende por regi o e em que aspectos essa concep o local se contradiz ou se contrap e s representa es espaciais do Pantanal Ad moli e IBGE bem como s teorias da Geografia que regem este tipo de defini o espacial verifica se neste momento de que forma os defensores da teoria da Regi o na Geografia consideram as refer ncias emp ricas em seus argumentos REGI O DO RIO NEGRO N BP Regi o do Rio Negro A Cursos D gua 57 W 55 W e1 Faz Sta Sophia e2 Faz Rio Negro A e3 Faz Barranco Alto Ko e4 Faz Barra Mansa Rio Aquidau ana Fonte IPP IBGE 57 W f 55 W Figura 4 A Regi o do rio Negro e a
150. essora e um escaner para a sala de inform tica Com o aumento do fluxo tur stico na regi o a busca por produtos regionais tamb m cresceu Homens e mulheres desenvolvem o artesanato a fim de ganhar um dinheiro extra nas fazendas e em paralelo possibilitar que seus filhos e netos vivenciem as pr ticas tradicionais de uso dos recursos naturais 2 3 A TERRITORIALIDADE DO TURISMO NO PANTANAL DO RIO NEGRO A breve leitura sobre a historicidade do conceito de territ rio acima desenvolvida e o entendimento de como se d o as rela es que configuram o territ rio no Pantanal do Rio Negro ser o teis a partir deste momento para compreender como o turismo exerce uma territorialidade na Regi o do rio Negro Entre as pr ticas econ micas de car ter sustent vel apontadas para o desenvolvimento do Parque Natural Regional do Pantanal como a apicultura o manejo do porco monteiro e a produ o do vitelo pantaneiro o turismo foi a iniciativa que atingiu maiores resultados na Regi o do rio Negro As especificidades territoriais do Pantanal entre elas o patrim nio cultural e natural t m enorme import ncia para o turismo pois o que o fortalece como destino tur stico e o diferencia dos demais destinos no pa s diferentes larguras e comprimentos que podem ser usadas como faixa de chap u cinto feminino marcador de livro entre outros usos A pr tica da tecelagem foi revitalizada na regi o pelo Projeto Sapicu Pantaneiro que d
151. experi ncia do turista e de vida dos funcion rios A serpentina n o deixou de existir ela deixou de ser necess ria com a chegada da energia el trica nas fazendas Ela pode ser reativada quando os outros sistemas de aquecimento venham a falhar A ades o modernidade em determinados processos pode ser bem sucedida para as comunidades locais estando longe da id ia de descaracteriza o de culturas defendida por muitos autores que consideram o turismo como uma amea a s tradi es de comunidades receptoras Conforme afirma Canclini 2003 a reelabora o heterodoxa mas autogestiva das tradi es pode ser fonte simult nea de prosperidade econon mica e reafirma o simb lica Nem a moderniza o exige abolir as tradi es nem o destino fatal dos grupos tradicionais ficar de fora da modernidade p 239 As inser es do moderno na cultura local s o vis veis tamb m no universo da cozinha pantaneira No intuito de oferecer pratos tradicionais que incorporem as adapta es necess rias para atender a cada grupo de turistas existe nas fazendas uma preocupa o constante entre propriet rias e cozinheiras que a de planejar os card pios das refei es Objetiva se aproveitar os insumos do estoque e servir bem as refei es ao mesmo tempo em que respeitar as restri es alimentares de cada grupo com o cuidado para que haja variedade e fartura uma caracter stica marcante da gastronomia pantaneira Apesar de plan
152. fazendas na mesma viagem ao Pantanal As quatro fazendas de turismo na regi o pertencem ao munic pio de Aquiduana MS e utilizam os servi os e infra estrutura deste centro urbano para atender s demandas das fazendas Possuem energia el trica conduzida por fios e postes desde Aquidauana e acesso telefonia celular viabilizada por antenas particulares que cada fazenda teve que instalar Tr s delas possuem televis o via sat lite e pagam mensalmente pelo servi o de internet tamb m atrav s de sinal via sat tite A internet e o telefone facilitaram a comunica o com a fam lia em primeiro lugar assim como com os fornecedores prestadores de servi o agentes de turismo e turistas viabilizando a opera o de v rias atividades do turismo a partir da fazenda como a compra de suprimentos e agendamento de v os para h spedes sem depender totalmente do escrit rio na cidade Todas fazem parte da Associa o das Pousadas Pantaneiras do Mato Grosso do Sul APPAN que desde 2002 busca promover o ordenamento e estimular a atividade tur stica do Pantanal atrav s do fortalecimento das rela es entre os empres rios do turismo valoriza o dos produtos tur sticos e fomento cria o de uma pol tica espec fica para o turismo na regi o pantaneira Nos ltimos anos a associa o tem se dedicado divulga o do Pantanal atrav s da promo o de viagens de familiariza o com o produto Pantanal os chamados Famtours oferecido
153. fique pronto mais r pido Enquanto a gua n o ferve inicia o fogo no fog o lenha usando diesel e madeira Esta madeira cortada toda semana pelo praieiro que a armazena pr ximo da porta da cozinha Ela conta que prefere fazer fogo com angico porque n o esfumeia tanto Em seguida lava as m os e come a a cortar a carne de sol para fazer o carreteiro e explica quando tem turista assim tem que faz carreteiro ovo frito toda manh pra eles conhec nossos costume Passa o caf e com a gua que restou na chaleira escalda a carne de sol e a coloca para fritar em uma panela sobre o fog o lenha Enquanto isso Gilda sua colega de trabalho j est na copa cuidando da arruma o dos itens do caf da manh Ela tem 24 anos e a primeira vez que mora no Pantanal Se mudou para acompanhar o marido que arranjou emprego de pe o na fazenda Tem um filho de quatro anos que mora com a av em outra fazenda no munic pio de Tr s Lagoas distante 515 km de Aquidauana cidade mais pr xima da fazenda Ela preferiu deix lo com a av porque tinha a inten o de trabalhar na pousada e para isso n o teria com quem deixar a crian a E a primeira vez que Gilda trabalha com turismo 50 Nas fazendas as resid ncias de funcion rios s o separadas da casa sede por uma dist ncia que varia de 500m a 1 5Km As constru es s o distribu das entre as partes mais altas do terreno para que estejam protegidas da i
154. fortes os propriet rios rurais que continuam o processo de explora o dos elementos naturais e da m o de obra local a fim de acumular mais riqueza Este cap tulo tem o objetivo de evidenciar como o turismo ocorre no Pantanal do rio Negro Mostrar que para os que promovem o turismo na regi o a inten o a manuten o da propriedade da terra e para isso buscam valorizar os elementos hist ricos e s cio culturais que configuram a regi o a fim de incrementar seu produto para sobreviver sazonalidade da atividade e concorr ncia bem como diferenciar se dos demais destinos tur sticos do mundo e dos outros pantanais Como estrat gia mant m uma capacidade pequena de acomoda o e s o contra a melhoria das estradas de acesso oferecendo assim um produto acess vel somente a um p blico de maior poder aquisitivo que pode pagar pelo acesso em pequenas aeronaves e pela exclusividade dos servi os hoteleiros e de lazer A beleza natural sem d vida o maior diferencial das fazendas da regi o ver Figura 6 entretanto uma pesquisa realizada em 2002 demonstrou que o relacionamento interpessoal em uma fazenda da regi o isto o contato dos visitantes com os propriet rios e funcion rios da fazenda figura como import ncia t o grande quanto a natureza demonstrando que a satisfa o dos visitantes se deve tamb m ao relacionamento estabelecido com a popula o local Pantanal O Ultimo Eden Editora DB
155. gumas mulheres j possuem o h bito de comprar as desejadas latinhas geladas de cerveja e convidar os homens para beber mesmo isto sendo proibido na maioria das fazendas H casos de mulheres demitidas por aparecerem alcoolizadas para trabalhar ou terem brigado na fazenda por estarem b badas O que antes era visto como fato corriqueiro no universo masculino hoje parte do feminino tamb m Al m de viabilizar a conquista da casa pr pria as mulheres que t m conseguido administrar seu dinheiro est o oferecendo aos filhos e ou netos oportunidades de 141 participarem de cursos de inform tica aulas de ingl s escolas de dan a ou artes marciais al m do ensino tradicional Mesmo n o estando presentes na educa o como gostariam viabilizam o acesso a estes cursos que antes n o faziam parte do universo destas fam lias Eu vim parar aqui porque eu quero d muito estudo pra meus filho pra eles serem algu m na vida o que eu falo pra eles voc s tem que estud pra ser algu m na vida Principalmente pra minha filha que mulher Pra ela estud computa o essas coisa Ela qu ser professora o mais velho qu ser pe o mas mesmo pra ser pe o hoje em dia tem que ter estudo Arlinda camareira 27anos Como visto anteriormente o contato com outras culturas e com pessoas famosas tamb m conseq ncia do trabalho e visto como vantajoso Nas fazendas de turismo trabalha se mais que nas de pecu ria ma
156. himento das vacas em um curral n o s o vivenciados nem mesmo visualizados pelos visitantes que acabam por conhecer somente o ato em si e n o o contexto que levou quela pr tica rural Se vivencia um aut ntico encenado que n o deixa de ser uma a o real sendo apenas adaptada no espa o e no tempo para atender demanda dos turistas Urry e Rojek 1997 chamam a aten o para o fato de que a comercializa o do turismo est desabilitando as pessoas de sentirem os lugares A vis o se tornou o sentido predominante na experi ncia de viajar necess rio ver para poder sentir Isto foi estimulado pelas imagens e s mbolos gerados pela fotografia que democratizou as formas de experi ncia 38 No atual contexto do debate antropol gico sobre o conceito de cultura n o cabe falar em cultura ou manifesta o aut ntica ou inalt ntica pois sendo processos din micos est o sujeitos a mudan as constantes Ao empregar no entanto a express o cultura aut ntica neste trabalho t m se como base o debate sobre a autenticidade e inaltenticidade da experi ncia tur stica conforme ocorre no contexto da antropologia do turismo URRY amp ROJECK BANDUCCI JR em que a quest o da perda das refer ncias culturais nativas em fun o do contato com o outro que se coloca como par metro de discuss o Em outros termos mesmo que sofrendo influ ncias mundan as re elabora es a cultura nativa mant m sua estrutura de sign
157. ho que varia de acordo com o movimento dos turistas Em suma elas preferem economizar suas folgas para serem desfrutadas na cidade pois onde se permitem vivenciar momentos de lazer Isto porque mant m uma rela o de trabalho com o Pantanal apesar de muitas considerarem este seu lugar de morada Ap s conhecer o mundo do trabalho feminino nas pousadas de turismo busca se neste momento compreender as caracter sticas que d o identidade a este grupo de mulheres 3 2 MULHER PANTANEIRA DO PANTANAL OU MEIO PANTANEIRA Jurema tem 59 anos e trabalha h sete em uma pousada da regi o como cozinheira Ela afirma ser uma pantaneira leg tima Conta que j trabalhou tamb m em outras fazendas para variar um pouco porque muito tempo num lugar cansa n mas poucas vezes se aventurou a trabalhar em fazendas fora da Regi o do rio Negro Jurema se considera pantaneira segundo ela porque nasceu na Fazenda Rio Negro no tempo em que passava pelo rio boiada de dois mil boi todo dia tinha mais de vinte fam lias morando na fazenda Para ela pantaneira a pessoa que nasceu e viveu no Pantanal a maior parte de sua vida Mas nem todos entendem a mulher pantaneira da mesma forma como esta cozinheira Ao buscar elencar as caracter sticas que uma mulher deve ter para ser considerada pantaneira identificou se que a descri o varia de acordo com quem a define Houve um entrevistado de 71 anos que afirmou que a prese
158. ia o modo correto de agir para ser um pantaneiro em sua propriedade agora est sofrendo influ ncia dos turistas que munidos de id ias pr concebidas sobre o que esperar de um habitante no Pantanal estabelecidos com base nas informa es adquiridas em imagens determinam os elementos culturais que dar o refer ncia ao que se busca por cultura pantaneira Em decorr ncia destas novas exig ncias do mercado as pessoas est o se adaptando e reconstruindo sua cultura Vargas 2006 afirma que o indiv duo pantaneiro sofre interfer ncia permanente na constru o de sua identidade devido intensa veicula o do Pantanal espet culo Entende se que a m dia imp e valores e demanda a manuten o de caracter sticas que podem n o fazer mais tanto sentido na atualidade como o caso de salgar a came sendo que h refrigeradores para conserv la Entretanto como afirmou Urry e Rojek 1997 a cultura m vel din mica ela viaja junto com as pessoas e se transforma se reconstr i a ponto de poder se tornar h brida nica composta de diferentes conven es e s mbolos culturais que v o ao encontro do que os turistas desejam consumir A aproxima o das culturas s necesssidades de consumo do turismo uma oportunidade de as comunidades locais dialogarem com o mercado comercializando seus produtos e se inserindo nele de uma forma inovadora e at mesmo mais democr tica pois em alguns casos ocorrem sem intermedia es dos patr es
159. ices de a o antr pica 27 e atualmente estas mudan as s o ainda mais vis veis em fun o do que os cientistas t m chamado de aquecimento global que deixa o trabalhador do campo cada vez mais inseguro em rela o s condi es clim ticas no decorrer do ano Para alguns entrevistados nunca se viu temporadas de cheia do rio Negro t o curtas o que conseq entemente acentua a esta o de seca Para outros j houve secas maiores como observou um dos entrevistados ao citar a seca de 1930 quando foi poss vel visitar fazendas vizinhas fazendo o trajeto a cavalo pelo leito do rio Esta preocupa o com o movimento das guas est sempre presente nas conversas entre pantaneiros pois elemento vital na economia e na presen a do homem naquele meio Conforme comenta Nogueira o pantanerio aprendeu ao longo dos s culos a fazer suas pr prias previs es alicer adas na interpreta o dos fen menos naturais pode se dizer que ao mesmo tempo um bot nico um zo logo um astr nomo um ge grafo acostumado leitura semi tica da natureza com a qual aprendeu a conviver no dia a dia 2000 p 31 Administrar as atividades do campo em conson ncia com todas as condi es f sico naturais uma das habilidades principais que o trabalhador rural precisa ter Tal como diz Fr mont as inter rela es ecol gicas regulam as rela es entre os homens e os meios em que vivem traduzem as adapta es dos grupos
160. idades do rio e desfrutam da riqueza de ambientes aqu ticos outras est o um pouco mais distantes mas fazem uso do nome e das imagens da mesma forma No entanto nenhuma tem a for a do componente hist rico que d identidade regi o 1 3 CONSIDERA ES PRELIMINARES Buscou se sob o vi s da Geografia Humanista e Cultural definir e defender a exist ncia da Regi o do rio Negro Reconhec la no mbito da Geografia um grande passo no sentido de aproximar o conhecimento acad mico do emp rico O exerc cio de definir e delimitar esta regi o levou ao entendimento da import ncia dos elementos hist ricos e s cio culturais para a forma o da identidade rionegrana Seria dif cil conduzir a an lise sobre as transforma es no cotidiano das mulheres do Pantanal do rio Negro neste in cio de s culo 37 sem inicialmente compreender os elementos que caracterizam esta regi o e lhe conferem identidade Esta diferencia o geogr fica e hist rica que percebida transmitida e representada pelos rionegranos caracteriza uma regionalidade Muitos ge grafos acreditaram no fim da regi o devido ao processo de globaliza o defendendo que a expans o do capital mundial levaria anula o das diferencia es regionais J para outros a regionaliza o tem como caracter stica a afirma o das diferen as frente homogeneiza o do processo globalizante Isso justifica a import ncia de se compreender a regi o como uma
161. ifesta o cultural aut ntica s porque o turismo fez com que ele adaptasse o hor rio da produ o o tamanho e o pre o do produto para poder comercializ lo Uma pesquisa realizada sobre a influ ncia do turismo na cultura dos ndios Patax no litoral sul da Bahia mostra que a mudan a cultural n o deve necessariamente ser percebida apenas pelo ngulo do paradigma da acultura o pois o seu inverso pode se sobressair com o surgimento de v rios novos elementos culturais de car ter tradicional entre a popula o hospedeira GRUNEWALD 2005 p 127 No caso dos ndios h mais de tr s d cadas os elementos da cultura Patax est o sendo reinventados desde dan as at artesanato A demanda tur stica pelo consumo de artesanato ind gena cresce junto com o turismo e exige dos artes os a cria o de pe as em larga escala com usos diferenciados dos usos tradicionais A produ o artesanal deixou de ter um car ter utilit rio para gerar objetos inventados para o consumo dos turistas seguindo suas imposi es comerciais e est ticas 82 Para o autor esta pr tica n o deixa de ser aut ntica pois foi criada pelos ndios fazendo portanto parte de sua cultura Segundo ele a mercadoriza o cultural n o destr i necessariamente o significado dos produtos culturais que orientados para turistas adquirem novos significados para os seus produtores se os produtos transformados pela mercador
162. ificados In ARA JO 2005 15 humana dando um formato para as viagens p 9 As imagens antecipam o consumo do lugar e oferecem uma leitura semi tica sem contextualiza o que faz com que os turistas busquem determinados s mbolos e somente eles no lugar de destino o que ocorre no Pantanal a respeito da vida selvagem As imagens sobre o destino brasileiro de ecoturismo est o relacionadas a da on a pintada e de alagados Para o consumidor fica a certeza de que em sua estada no Pantanal ver o felino e andar por campos inundados que consequentemente s o cheios de mosquitos O fato que a on a pintada um animal de h bitos noturnos e bastante raro de ser visto em compara o a jacar s e capivaras assim como os alagados se formam e os mosquitos est o mais ativos na esta o da cheia sendo que a poca de maior visita o tur stica a seca As imagens vinculadas sobre o destino visam mostrar o que t pico mas n o s o necessariamente relativas real experi ncia que o visitante ter no Pantanal e isso pode gerar frusta es desilus es descontentamentos muito em raz o deste consumo antecipado da viagem Vargas 2006 afirma que aqueles que vivem no Pantanal t m uma rela o utilit ria com o ambiente que representa o seu meio social e que esta maneira de se relacionar com o meio vista pelos que v m de fora como um espet culo p 235 Por influ ncia das imagens produzidas e comercializadas o
163. inda ressaltar que a interpreta o sobre o papel da mulher na sociedade pantaneira ser feita atrav s de um olhar tamb m feminino apesar dos esfor os da pesquisadora em destituir se de g nero ra a e classe social no trabalho de campo Neste cap tulo pretende se demonstrar de que forma o turismo influencia a vida das mulheres pantaneiras sobretudo em rela o maneira como elas se relacionam com o Pantanal e com suas fam lias A proposta realizar uma etnografia das mulheres que habitam o Pantanal do Rio Negro investigando o universo feminino nas fazendas que trabalham com turismo a partir da observa o participante conduzida durante a pesquisa de 46 A respeito dos territ rios femininos e masculinos nas fazendas BANDUCCI 2005 ressalta que todos os ambientes dom sticos s o de dom nio feminino a casa e o terreiro que a circunda as beiras de ba a onde lavam roupas e abastecem de gua para servi o da casa e at mesmo a casa sede em caso de estarem empregadas na fazenda p 149 150 87 campo complementada pela experi ncia pessoal da autora constru da ao longo de seis anos de conviv ncia espor dica com essas pessoas Para atingir o objetivo proposto optou se por seguir pelo vi s da antropologia interpretativa utilizando a abordagem de Clifford Geertz 2000 como base para esta pr tica etnogr fica Para ele a etnografia uma descri o densa em que o pesquisador prop e se a enfrentar uma multiplicidade
164. io ao desenvolvimento regional do turismo Dispon vel em http www turismo gov br Acesso em 20 Jul 2008 Segundo as Diretrizes para uma Pol tica Nacional de Turismo proposta em 2004 pelos Minist rios do Meio Ambiente e da Ind stria Com rcio e Turismo ecoturismo um segmento da atividade tur stica que utiliza de forma sustent vel o patrim nio natural e cultural incentiva sua conserva o e busca a forma o de uma consci ncia ambientalista atrav s da interpreta o do ambiente promovendo o bem estar das popula es envolvidas EMBRATUR BAMA 1994 62 que outras modalidades de turismo no Estado Entretanto paralelo a isso h iniciativas de diversificar o mercado de turismo para outros segmentos Segundo ALMEIDA 2004 a Funda o de Turismo de Mato Grosso do Sul Fundtur tem fomentado o desenvolvimento do turismo rural no Pantanal Desde 1995 vem promovendo aos empres rios do setor e propriet rios rurais viagens t cnicas a outros destinos nacionais que trabalham o turismo rural a fim de somar valores e fortalecer o seu produto procura de uma nova demanda p 51 O turismo rural caracteriza se pela inclus o dos turistas nas atividades cotidianas de uma fazenda produtiva fazendo o participar das pr ticas rurais como a ordenha o plantio a alimenta o dos animais de acordo com a atividade agropecu ria de cada localidade Entretanto identificou se que as fazendas pantaneiras uma vez qu
165. ixar o filho vontade nos neg cios e para que ela pudesse conhecer um outro ramo empresarial o turismo Trabalhou como gerente de um hotel fazenda por tr s anos Da habilidade adquirida durante os nicos anos de sua vida em que teve emprego e n o foi empres ria da experi ncia de hospedar amigos e familiares na fazenda e no intuito de aumentar a renda da fazenda Beatriz resolveu transformar sua casa em uma pousada assim que o filho desistiu de trabalhar no Pantanal O mobili rio antigo da casa sede os cristais e lou as de fam lia os porta retratos que contam a hist ria da fazenda tudo passou a ser usado e observado pelo olhar curioso dos turistas At mesmo a aten o de seus cachorros dividida com os turistas Todos os c modos de sua casa se transformaram em rea social restando lhe apenas seu quarto como ref gio individual Ela acorda cedo em torno das 5h da manh e liga o r dio para ouvir as not cias do dia Aproveita a trangiiilidade desse hor rio para fazer suas ora es e praticar exerc cios de yoga Sai do quarto entre 6h e 6h30 dependendo se tem turista ou n o na fazenda Quando vai para a cozinha sua funcion ria j passou o caf e arrumou a mesa para a patroa No seu caf da manh n o pode faltar o cafezinho preto e sua farinha um misto de cereais que costuma comer com mam o Antigamente costumava comer arroz carreteiro no desjejum hoje para evitar o ganho de peso s serve carreteiro quando tem
166. iza o guardam tra os que satisfa am s expectativas dos turistas continuar o aut nticos aos olhos desses consumidores GRUNEWALD 2005 p 140 N o somente as manifesta es culturais mas tamb m os elementos da natureza s o capazes de transformar se em produtos de mercado Esta transforma o pode ser estimulada pelo turismo ou por quaisquer outras a es desenvolvidas a fim de dar uso ao patrim nio natural e cultural Esta mercantiliza o n o deve ser reduzida a espetaculariza o ou a uma a o de acultura o pois pode assumir novos significados para quem os compartilha Na Regi o do rio Negro esta transforma o tem gerado resultados positivos para os que ali habitam pois al m de propiciar a participa o destas pessoas no mercado e no processo s cio econ mico global fortalece sua identidade pois valoriza e reconhece a cultura regional 2 4 CONSIDERA ES PRELIMINARES Buscou se neste cap tulo demonstrar que a territorialidade do turismo no Pantanal do rio Negro se d a partir das novas rela es que ocorrem nas fazendas da regi o e sobretudo da nova forma de o nativo lidar interpretar e viver naquele territ rio Al m disso sua identidade est se re elaborando com o turismo sem deixar de ser no entanto pantaneiro Demonstrou se que medidas restritivas ao uso do rio e outras atitudes conservacionistas em rela o ao patrim nio v m sendo tomadas na regi o a fim de fortalec la frente s nov
167. l Tamb m foram entrevistados turistas propriet rios e gerentes das fazendas maridos e filhos dessas mulheres al m de mulheres que residem nas fazendas mas n o trabalham diretamente com turismo Para preservar a identidade dos informantes diferentes depoimentos s o transcritos usando nomes fict cios exce o do nome das propriet rias que autorizaram sua exposi o Para a realiza o da pesquisa de campo optou se pela conviv ncia com o ambiente de pesquisa por um per odo de 45 dias divididos em duas fases Na primeira fase a pesquisadora permaneceu por 30 dias em umas das fazendas em um per odo considerado de alto fluxo tur stico A op o pela realiza o desta fase nesta fazenda foi devido ao fato de a propriet ria ser uma mulher e a fazenda manter a atividade de pecu ria bovina em paralelo ao turismo Al m de acompanhar e observar o dia a dia de todos os moradores foram realizadas entrevistas gravadas seguindo um roteiro pr elaborado A segunda fase da pesquisa de campo teve dura o de 15 dias tamb m realizada em um per odo de alto fluxo tur stico que possibilitou a investiga o nas demais fazendas que comp em o universo desta pesquisa entrevistando propriet rios mulheres e seus familiares Tamb m foram desenvolvidas atividades de pesquisa durante um dia no N cleo Escolar Vale do Rio Negro onde estudam crian as que possuem contato fregiiente com o turismo seja atrav s de visitas de turistas escola s
168. localiza o das pousadas 1 1 TEORIA DA REGI O O conceito de regi o assim como as demais categorias de an lise da Geografia passa por constantes atualiza es Diferentes autores t m se dedicado ao pluralismo do conceito BEZZI 2004 LECIONI 2003 CORREA 1997 e outros t m criticado o uso da abordagem regional dentro da Geografia nos ltimos anos indicando o territ rio como categoria principal de an lise da ci ncia face din mica econ mica e social do mundo contempor neo SCHNEIDER 2004 HAESBAERT 2006a Para entender por que a Geografia passa por estas transforma es e d um novo enfoque categoria regi o necess rio recuperar o conceito de regi o dentro da hist ria da Geografia 19 S LOCALIZA O DAS POUSADAS 19 S 20 S 10km 20 S 19 Mery Lourdes Bezzi 2004 dedica se ao estudo deste tema e demonstra a import ncia da regi o como um dos conceitos integradores e centrais da Geografia p 242 Ao descrever a abordagem regional nos estudos geogr ficos ao longo do tempo considera o determinismo alem o e o possibilismo franc s como duas abordagens fundamentais dentro da Geografia Tradicional pois ambas convergiam para a regi o como um paradigma que muito contribuiu no desenvolvimento te rico metodol gico da Geografia p 244 A regi o era tida como abstrata usada para delimita es e classifica es de reas com uma perspectiva mais generalizadora e explicativa A antiga abor
169. m como uma pessoa discreta e eficiente A mulher ao que percebi a pessoa respons vel pelo asseio da casa pela manuten o da ordem e higiene e tamb m respons vel pela comida Que ali s o fazem muito bem Lavam uma roupa muito bem melhor que qualquer lavadeira na Espanha O que fazem fazem bem Antonio turista espanhol 62 anos 129 Eles diferenciam a mulher pantaneira daquela de origem urbana e o fazem com base na apar ncia f sica ou fun o que desempenham dentro da pousada A cozinheira uma mulher pantaneira eu fui at a cozinha conhec la para elogiar a cozinha Tamb m vi a mo a que limpa o quarto n o nos encontramos ela n o se identificou nem eu mas ela parecia pantaneira Elas s o bem discretas bem quietas possuem um timo tempero N o deu para conhecer muito A gente sabe que a gerente do Norte ela que disse a outra tamb m n o parece ser daqui tamb m ent o as pantaneiras ficam mais na cozinha mesmo Daniel turista brasileiro 41 anos Entre os turistas portanto a mulher pantaneira a propriet ria e as demais mulheres que fazem todo o servi o dom stico da pousada exce o das que ocupam outros cargos na pousada como guias bil ngiies e gerentes que n o podem ser consideradas pantaneiras porque possuem maior escolaridade e s o provenientes de um grande centro urbano Elas se diferenciam das demais n o apenas por desempenharem outras atividades na pousada mas t
170. m por terem uma identidade alicer ada na forma o hist rica da regi o em conson ncia com a rede de relacionamentos entre patr es e empregados estabelecidas ao longo do tempo e ainda expl cita na intimidade que estas pessoas possuem com a rea constituindo um espa o simb lico nico queles que ali habitam Mas essa identidade est suscept vel s influ ncias positivas e negativas do processo de globaliza o que o sistema capitalista alimenta ao impor sua l gica econ mica sobre as rela es sociais e culturais nos mais distantes contextos A necessidade das fazendas em serem mais produtivas e rent veis justifica para muitos propriet rios rurais a altera o no sistema de trabalho que como visto o alicerce das rela es sociais no Pantanal Desta forma os elementos da cultura se transformam e podem se distanciar de suas caracter sticas iniciais que serviram de base para a forma o identit ria A rea que deu origem regi o sempre existir mas a identidade que sustenta a regi o e a territorializa at os dias de hoje pode vir a desaparecer Ao mesmo tempo os rionegranos s o coadjuvantes do processo de revis o do sistema produtivo por que a sociedade passa atualmente haja vista a inconformidade do desenvolvimento praticado pelas sociedades humanas at o presente O Pantanal parte integrante do atual momento de valoriza o do campo de retorno ao meio rural e preocupa o com as quest es ambientais
171. m s a lista de compras de Gilda passou do or amento mensal gastando mais do que tinha em cr dito uma vez que mandou comprar uma antena parab lica para seu aparelho de televis o e cart o para o celular para poder manter contato telef nico com sua m e e com seu filho Por isso o escrit rio deixou de comprar o cigarro por dar prioridade aos produtos aliment cios Ela encara o corte de seu pacote de cigarros da lista de compras como um desaforo e est disposta a sair da fazenda se n o for atendido seu pedido Enraivecida ela se dirige propriet ria que pede desculpas pela atitude do escrit rio A propriet ria tamb m 104 fumante e entende a agonia da funcion ria mas aproveita a situa o para conscientiz la da import ncia de planejar a lista de compras Ela lhe entrega um pacote de fumo e folhas de caderno para que fume at que tenha uma nova condu o da cidade para trazer seu cigarro Nas fazendas o cigarro funciona como moeda de troca Quando os fumantes pedem favor aos colegas o pagamento se d em cigarros N dia n o fuma mas seu marido sim Nesta semana como est sem tempo para lavar roupa em fun o do movimento do turismo pediu que a vizinha que fuma o fizesse e a pagou com duas carteiras de cigarros em troca das tr s cal as jeans tr s camisas quatro camisetas duas toalhas de banho e um jogo de len is lavados limpos mas n o passados ressalta ela Em torno das cinco e meia da tarde
172. m meio s facilidades tecnol gicas e ao acesso mundializado da informa o que n o possuem tamanha afinidade com o ambiente pantaneiro como as anteriores mas que se disp em a nele morar devido s oportunidades de trabalho em um espa o tranquilo Todas convivem cada qual imbu da de valores e objetivos pr prios em fazendas que buscam a manuten o da propriedade atrav s do incremento da atividade tur stica como complementa o de renda ou em alguns casos como substitui o pecu ria bovina Mulheres pantaneiras meio pantaneiras ou do Pantanal de diferentes idades ganham prest gio no atual mercado de trabalho nas fazendas da regi o medida que s o tidas por propriet rios turistas e pelos pr prios pantaneiros como pe as chave na atividade tur stica A valoriza o de sua presen a na fazenda um dos reflexos que a nova atividade econ mica est levando regi o estudada Entretanto muitas se auto definem pantaneiras como forma de atender demanda das pousadas por autenticidade na presta o de servi os ou simplesmente por necessidade de auto afirma o sobre sua presen a no Pantanal Aquelas que j s o tidas na sociedade como pantaneiras reconhecem a import ncia de seu papel no cen rio tur stico e chegam a utilizar isto como poder de negocia o de sal rios e benef cios Trabalhar com turismo na regi o tem oportunizado maioria das mulheres a realiza o do sonho de construi
173. m pra c ficar comigo Francisca governanta 47 anos 136 Os filhos de muitas mulheres s o adultos e em sua maioria vivem com suas fam lias na cidade ou em outras fazendas As mulheres que possuem casa pr pria costumam disponibiliz la para que os filhos possam ir morar com suas fam lias e n o tenham que pagar aluguel Al m de ajudarem os filhos elas mant m a casa ocupada evitando riscos de furto por exemplo Na minha casa l mora a minha filha Eu tenho outra casa que mora minha outra filha As duas s o casadas moram com a fam lia delas Quando eu vou pra cidade fico na casa da mais velha que tem mais espa o Agora eu quero construir outra casa junto delas pra quando eu aposentar Irene cozinheira 54 anos Segundo as mulheres da regi o est cada vez menor o n mero de crian as morando nas fazendas pois o per odo letivo das escolas rurais do Pantanal diferenciado do da cidade fazendo com que muitas percam o ano caso os pais saiam da fazenda e se mudem para a cidade Para outras h menos crian as porque j n o se faz mais tantos filhos como antigamente Hoje tamb m tem menos crian a antigamente n o tinha televis o esse ditado muito verdadeiro hoje tem menos crian a porque tem televis o Pode ver Irene cozinheira 46 anos Esta redu o no n mero de crian as no Pantanal tamb m pode ser reflexo do cuidado que os pais est o tendo em manter os alunos matriculados regularmen
174. malmente tamb m trabalha como lavadeira e passadeira do enxoval da pousada len is toalhas redes etc e das roupas dos propriet rios sendo este servi o parte de suas responsabilidades di rias As fun es acumuladas pela cozinheira de pens o variam em cada fazenda Algumas ainda s o respons veis pela horta e cria o de galinhas A governanta da casa sede de uma das fazendas de turismo da regi o N dia de 39 anos respons vel pela manuten o limpeza e arruma o de todos os c modos da casa e pela cozinha Na aus ncia da patroa ela a mulher da casa uma pessoa de confian a pois tem acesso a todos os pertences pessoais da propriet ria Esta a apresenta aos turistas como Chef de cuisine uma forma de valorizar seu trabalho e por consider la uma cozinheira de m o cheia N dia mora com o segundo marido na fazenda Seu esposo trabalha como pe o e quando tem turistas trabalha como guia de campo o que ele define como sendo o trabalho de lev os turista pro campo passe a cavalo acompanh nosso trabalho de gado de cur bezerro recolh tropa mostr os bicho tamandu passarinho procur on a essas coisa Roberto guia de campo 32 anos Dona Maria m e de N dia esposa do capataz e tamb m mora na fazenda Quando perguntada se trabalha na fazenda ela conta J cozinhei e limpei muito pra patroa hoje eu s vou l casa sede quando tem uma costura pra faz ou pra ajud a prepar
175. meio rural e quer cuidar de perto do patrim nio Belkisse Correa Gomes em sua disserta o de mestrado na rea de educa o realizou um retrato das mulheres pantaneiras na d cada de 20 a 40 e afirma que tanto para as mulheres esposas dos pe es quanto para as propriet rias estas normalmente assessoradas por outras mulheres funcion rias o papel das mulheres nas fazendas esteve atrelado s atividades dom sticas que na maioria das vezes n o era remunerado exce o das contratadas pela fazenda Ap s a d cada de 1990 quando a atividade tur stica se instalou em fazendas no Pantanal a atividade feminina n o se alterou no entanto ganhou em intensidade Pautou se em novas regras e hor rios medida que passou a ser realizada atrav s de um contrato de trabalho Isto porque com o turismo cresceu a demanda por trabalho feminino O que antes as mulheres faziam em casa agora fazem tamb m na pousada mediante um sal rio A partir da inser o de um n mero maior de mulheres no universo do trabalho remunerado das fazendas elas n o ganharam apenas novas responsabilidades mas tamb m novas oportunidades A import ncia de seu of cio na presta o de servi os tur sticos aumentou sua visibilidade na sociedade pantaneira mas apesar de valorizada ainda n o percebida pelos turistas da mesma forma como s o seus colegas do sexo masculino Nas fazendas que trabalham com turismo na Regi o do rio Negro identificam se
176. mente 187 mil hectares ocupada entre 1889 e 1915 de propriedade de Tom sia Rondon e seu marido Cyriaco Rondon primo do Marechal C ndido Rondon Esse casal foi pioneiro na ocupa o da por o Sul da Nhecol ndia A hist ria da ocupa o dessa rea relatada pelo Sr Orlando Rondon neto de Cyriaco em entrevista para esta pesquisa De acordo com o Sr Orlando o casal mudou se de Pocon MT para as margens dos rios Aquidauana e Negro por volta de 1885 numa viagem de v rios dias em batel es e canoas descendo o rio Paraguai Ao chegar por o Sul da Nhecol ndia comprou Outra sub regi o do Pantanal 3 Militar e sertanista brasileiro que chefiou a Comiss o Rondon respons vel pela constru o da linha telegr fica que ligou Mato Grosso Goi s e consequentemente ao restante do pa s no in cio do s culo XX 14 Nhecol ndia uma das 10 sub regi es do Pantanal conforme Ad moli 1982 15 Segundo livro recentemente publicado a respeito da Fazenda rio Negro seu primeiro propriet rio foi Jos Pereira do Amaral de 1855 a 1889 quando ent o vendeu para o casal Rondon AMARAL e SILVA 2007 29 uma sesmaria de 65 mil hectares onde construiu um ranch o at hoje conhecido como Porto Cyriaco s margens do rio Aquidauana A tropa de cavalos e o gado bovino viajaram por terra e ao atravessar o rio Negro de sua margem direita para a margem esquerda voltaram no p de tr s express o usad
177. mento ocorre por exemplo quando h um h spede extremamente insatisfeito que exige que o trabalho seja refeito ou quando h uma crian a muito arteira cujos pais n o imp em limites prejudicando o trabalho das mulheres exce o de casos como estes os momentos de mau humor ou irrita o das mulheres se d o por motivos pessoais ou por dificuldade de relacionamento com colegas ou patr es demonstrando que preferem manter um relacionamento harm nico com os h spedes voltado para a satisfa o de suas necessidades Muitos turistas reconhecem o papel feminino na pousada mesmo n o mantendo contato f sico nem visual com a maioria delas Elas s o quase invis veis aos olhos dos turistas pois estes passam a maior parte do tempo com os guias de campo e t m neles a imagem do pantaneiro como membro representante da cultura local Por m o resultado de seu trabalho percebido facilmente pelos turistas Esta percep o demonstrada atrav s de elogios verbais e escritos do ato de deixar presentes de comentar que deseja voltar de chorar no momento da despedida e claro no valor das gorjetas deixadas no final da estada Nestes casos a auto estima das mulheres da regi o renovada devido valoriza o de seu trabalho e de seu modo de vida Como visto as mulheres que os turistas n o v em ou v em quando precisam de algum servi o espec fico possuem um cotidiano intenso formado por uma rotina de 126 trabal
178. migrat rios e tur sticos individual ou massivo gerou uma homogeneiza o das esferas sociais e culturais que antes eram distintas p 4 5 Essa homogeneiza o pode ser vista na op o do vaqueiro em usar bon ao inv s de chap u de palha Se no passado s se via pe es usando chap u de palha hoje pode se v los usando bon s tamb m e esta mudan a foi natural fruto do interc mbio entre os povos Seguindo o trabalho de Canclini 2003 necess rio entender que a cultura din mica e como tal est sujeita a sofrer transforma es seja em fun o de novos arranjos internos seja em decorr ncia de influ ncias externas Neste caso deve se atentar ao fato de que a assimila o do novo ocorre sempre a partir dos par metros da cultura receptora e desse modo objeto de resist ncia ou re elabora o de sentidos A cultura se transforma mas n o perde suas refer ncias estruturantes O fato de um vaqueiro vir a se tornar por exemplo um guia de turismo ou um piloteiro no contexto do turismo no Pantanal n o significa que tenha 80 perdido sua identidade que tenha deixado de ser pantaneiro No ambiente tur stico desde que as manifesta es culturais tenham significado para quem as pratica as refer ncias culturais se mant m pois a sua assimila o ocorre com base em par metros nativos O turismo est reconstruindo ou apliando a no o de identidade pantaneira O que antes era determinado pelo patr o quem diz
179. mirarem o trabalho dos homens bem como a liberdade que desfrutam uma vez que eles fazem exatamente aquilo que os turistas pagam para vivenciar a observa o da vida selvagem enquanto elas permanecem nas depend ncias da pousada fazendo o trabalho de casa Os homens quando est o guiando turistas no campo seguem o ritmo dos visitantes Se eles saem tarde para o passeio o trabalho do guia se inicia mais tarde se eles dormem ap s o almo o os guias disp em de tempo para fazer o mesmo Ao contr rio das mulheres que devem estar na ativa antes de os h spedes acordarem varrendo cal adas e preparando o caf da manh Da mesma forma quando os h spedes v o para os quartos descansar ap s as refei es elas permanecem limpando e organizando o ambiente de trabalho Em suma o dia de trabalho dos guias encerra ao final da tarde enquanto o das mulheres somente depois do jantar dos h spedes Apesar de liberados do trabalho mais cedo os maridos costumam retornar para a pousada depois do jantar para acompanharem as esposas no trajeto de volta para casa Eles afirmam que para a seguran a das mulheres mas sabe se que tamb m para garantir que elas sigam direto para casa Nas fazendas tradicionais de gado eram as mulheres que aguardavam os maridos chegarem do trabalho No turismo houve uma invers o de pap is Se a intensidade da rotina de trabalho vari vel de acordo com o movimento do turismo e dos turistas assim o a ocupa
180. muitos vaqueiros preferem passar o dia de folga domando um cavalo o que lhes dar uma renda extra a ir visitar um parente em uma fazenda vizinha Da mesma forma as mulheres que possuem contrato de trabalho com as fazendas tendem a investir seu tempo livre na cria o de galinhas ou produ o de artesanato mesmo durante a noite quando est o sentadas em frente televis o acompanhando novelas pois s o atividades que lhes dar um retorno financeiro De acordo com o autor a pecu ria mais que uma simples atividade econ mica no Pantanal a mantenedora de um conjunto de caracter sticas peculiares ao ambiente rural pantaneiro que garantem uma identidade pr pria aos que habitam a rea A estrutura f sica e humana das fazendas de gado as rela es sociais existentes e a representa o de mundo dos habitantes do Pantanal s o os elementos base da cultura pantaneira O pesquisador alerta para dois fatores que estariam modificando as rela es trabalhistas no Pantanal e portanto influenciando na forma como estas pessoas se relacionam com o meio a altera o na legisla o trabalhista em 1960 que trouxe normas capitalistas para o trabalho de campo estabelecendo o sal rio m nimo rural o recolhimento de imposto sobre a presta o de servi os e demais quest es que vieram a aumentar os custos das fazendas ao mesmo tempo que garantir direitos ao trabalhador rural Isso veio a refletir na redu o do n mero de empregados nas faz
181. nce atual Fazenda Rio Negro que foi reduzida a aproximadamente sete mil hectares Este breve levantamento hist rico foi focado na fam lia de propriet rios das terras Em paralelo h outras fam lias na regi o t o tradicionais quanto fam lia Rondon mas que comp em o n cleo de empregados das fazendas Durante a pesquisa de campo constataram se diferentes la os entre os entrevistados de amizade durante a inf ncia de compadrio de parentesco pr ximo ou distante de vizinhan a na cidade Esses diferentes la os comp em um complexo mapa de rela es que infelizmente at o presente momento ainda n o foi registrado Como dito anteriormente a mudan a de emprego um h bito comum entre os pantaneiros Afirmam estar cansados do trabalho naquela propriedade mas quando se mudam 31 para o novo emprego realizam as mesmas atividades por m em um ambiente diferenciado Essa mudan a pode ser motivada por diferentes fatores como a vontade de mudar de patr o ou para ficar mais pr ximo de um parente O que existe no Pantanal do rio Negro uma fregiiente rotatividade de funcion rios entre as fazendas vizinhas Isso se deve prefer ncia dada pelos propriet rios em contratar pessoas com refer ncias pertencentes a fam lias conhecidas na regi o e ou vontade dos funcion rios em permanecer em uma rea que lhes familiar Prova disto o fato que entre as 14 mulheres entrevistadas durante a pesquisa sete pa
182. ncias junto vida selvagem Entretanto reconhecem a import ncia de seu of cio nas pousadas Para algumas propriet rias a preocupa o maior com a equipe se d quando uma cozinheira ou governanta pede demiss o quando a base da pousada se desestrutura pois enquanto houver uma cozinheira de confian a e com autonomia para trabalhar os propriet rios e gerentes podem cuidar de outros detalhes operacionais Desta mesma forma considera o marido de uma cozinheira Os turista passa a maior parte do tempo comendo e dormindo Se essa parte n o tiv boa n o adianta nada eu lev eles conhec as beleza do Pantanal que eles n o v o t vontade Roberto guia de campo 32 anos 140 O trabalho com turismo n o tem apenas propiciado aumento na renda de algumas fam lias mas tamb m tem oferecido a oportunidade de consquistar o sonho de casa pr pria com mais rapidez Possuir uma casa pr pria o combust vel di rio que estimula muitas mulheres a acordarem cedo e a seguirem a intensa rotina de trabalho nas pousadas mesmo longe dos filhos Assim aqui talvez voc ganha at melhor se comparado com uma fazenda de pecu ria Que eu comprei casa comprei lote tudo trabalhando com turismo Claudete servi os gerais 49 anos Administrar o pr prio dinheiro e ter autonomia na decis o de onde investir apontado pelas mulheres que trabalham com turismo na regi o como a grande conquista social da classe feminina
183. ndi ria do Pa s p 25 referindo se ao fato de a troca de favores e o regime de patronato ser o fundamento das rela es sociais no Pantanal 22 A on a pintada o maior predador do Pantanal No passado era comum entre os fazendeiros a ca a deste felino sempre que fosse identificada uma amea a ao rebanho bovino Atualmente diferentes projetos de conserva o deste animal inibem a ca a predat ria como o caso do Pr carn voros que busca identificar os fatores que predisp em animais preda o e apresenta m todos preventivos que podem ser implementados visando minimizar os impactos da preda o In www procarnivoros org br 47 limitada subsist ncia e n o ao controle de pragas Ainda comum em algumas fazendas o consumo da carne do porco monteiro do jacar e do tatu al m da matan a de cobras que sempre s o exterminadas quando avistadas mas a consci ncia sobre a conserva o da vida selvagem est aumentando entre os propriet rios e funcion rios o que leva redu o progressiva da ca a no Pantanal Conforme esclarece o coment rio de um dos entrevistados para esta pesquisa pra que que n is vai mat capivara si tem vaca a vontade Cl udio 63 anos servi os gerais A hist ria da ocupa o da Regi o do rio Negro parte da hist ria contada por Jos de Barros Netto 1979 em seu livro dedicado Nhecol ndia sub regi o do Pantanal O autor descreve o processo de forma o do patrim
184. nine universe in four farms that act with tourism in the region was diagnosised as well as not directive interviews had been made with familiar proprietors its employees and their families As result of the research it is possible to say that the feminine work in the tourism farms is arduous therefore demands them physical force as well as courage to deal to the adversities of environment as snakes and mosquitos and for being far from its families that live in the city On the other hand tourism increases offers of feminine work in the farms what propitiates greater participation of the women in the familiar income and their autonomy to invest in quality of life and education to its children and grandsons Its work is valued by its husbands and the proprietors but for the majority of tourists it remains the figure of the cattle man as the expression of Pantanal culture The technological insertions and the tourism contribute with the women quality of life therefore facilitate the access and the communication with its familiar ones On the other hand tourism limits its familiar and social relations and also between neighboring farms therefore it imposes a rhythm of work and rest differentiated of the traditional pastoral regimen This work still offers some trends about the tourism territoriality in the Rio Negro Region Key words Woman Pantanal Tourism LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 A Regi o do rio Negro em rela o subdivis o feita po
185. no Pantanal pode ser vista de duas perspectivas positiva se a compra da terra se der pelo valor simb lico que ela representa quando o investidor est imbu do do ideal de conserva o e entende que adquirir um peda o do Pantanal poder contribuir com a preserva o do que considerado Reserva da Biosfera pela Unesco H alguns n o pantaneiros na regi o de estudo que buscam manter as pr ticas tradicionais de pecu ria mesmo n o obtendo lucro com a terra pois mant m com a fazenda um ideal simb lico que maior que o ideal econ mico O vi s negativo quando o investidor desprovido de la os afetivos com a terra e tende a praticar a es danosas ao ambiente como o desmatamento e plantio de pasto ex tico para aumento da rea past vel no intuito de transformar a pecu ria em um neg cio rent vel E justamente esta rentabilidade da terra a maior preocupa o dos fazendeiros do Pantanal no momento A pecu ria no Pantanal passa por uma crise que foi deflagrada pela intensiva redu o das fazendas em fun o da divis o por heran a o que diminuiu o volume de produ o das fazendas Al m disso a baixa no valor pago pelos animais devido dist ncia dos grandes centros e o alto custo na inclus o de algumas tecnologias no sistema produtivo como o rastreamento dos animais por sat lite no intuito de atender s demandas do mercado contribu ram com a redu o da lucratividade dos fazendeiros A dificuldade em m
186. ntaneira uma mulher forte que tem rela o com o ambiente J para a mais jovem basta que a mulher se identifique com o Pantanal para ser considerada pantaneira A percep o varia de acordo com a idade das propriet rias devido imagem que possuem do Pantanal relacionada ao trabalho rduo para aquelas que viveram no Pantanal de dif cil acesso e sem energia el trica ou vinculada ao Pantanal da biodiversidade para aquela que vive no Pantanal espet culo b A mulher pantaneira sob o olhar do turista O contato maior dos turistas na pousada com os homens que trabalham como guias As mulheres funcion rias s o vistas durante as refei es quando est o servindo a mesa ou quando s o solicitadas para algum servi o como o de lavanderia O contato maior dos visitantes com a figura da propriet ria sendo ela muitas vezes quem passa a ser identificada como pantaneira Para mim a pantaneira uma pessoa culta educada ent o ela tem uma outra forma de pensar comparada aos assentados daqui pois o pouco que conheci destas pessoas n o lhes interessa nada mais al m do gado Por isso ela diferente devido sua cultura Hern ndes turista espanhol 59 anos As funcion rias s o percebidas pelos turistas mais sens veis que apesar de n o verem as mulheres trabalhando sabem que s o elas que est o na cozinha preparando as refei es e executando os servi os de limpeza e arruma o dos quartos Eles as descreve
187. nte investiga o n o faz sentido porque mulher pantaneira n o existe mais Ao mesmo tempo houve uma funcion ria de 22 anos que se considera pantaneira apesar de estar morando e trabalhando no Pantanal h apenas dois No intuito de compreender como a sociedade que comp e o Pantanal do rio Negro define a mulher pantaneira optou se por dividi las em quatro grupos e identificar como cada grupo enxerga a pantaneira em seu contexto social a A mulher pantaneira sob o olhar dos patr es patroas Uma propriet ria comentou no in cio desta pesquisa que achava interessante pesquisar a mulher pantaneira porque ela a base da fam lia se n o for o trabalho dela junto fam lia e casa n o tem pe o que fique na fazenda Para ela ser mulher pantaneira gostar do Pantanal ter coragem saber viver no Pantanal conhecer as plantas para uso 127 medicinal saber tratar animais saber utilizar a carne e o leite que a fazenda oferece enfim ter uma rela o direta com a natureza Beatriz propriet ria 63 anos Outra propriet ria de fazenda na regi o ap s se definir como pantaneira afirmou que n o h mais mulher pantaneira no Pantanal o que h atualmente s o mulheres que est o no Pantanal as pantaneiras est o morrendo mulher pantaneira coisa do passado o que tem hoje mulher do Pantanal Ivone propriet ria 81 anos Para ela ser mulher no Pantanal de hoje com o aux
188. nto de pessoas pelo mundo Conforme afirma Ortiz 1996 o viajante est em cont nua busca por lugares e h bitos culturais que se diferenciam do seu usual pois deslocar se siginifica tomar conhecimento daqueles que se diferem de um n s p 5 Apesar deste car ter social presente no movimento de pessoas entre pontos heterog neos e desconexos do mundo o que mais se destaca no relacionamento entre visitantes e visitados no meio rural a diferen a de objetivos na pr tica tur stica os turistas que procuram o contato com o espa o natural se defrontam com aqueles que buscam atrav s do turismo participar do mercado e melhorar suas condi es de vida no campo Enquanto uns buscam liberdade e prazer os outros devem trabalhar para proporcionar essas sensa es ao cliente configurando assim a base da pr tica comercial do turismo no meio rural Muitas vezes a atividade tur stica entendida como uma atividade sustent vel para as comunidades rurais quando realizada de maneira end gena participativa valorizando e contribuindo com a manuten o dos elementos da cultura local Outras vezes vista como mais um mecanismo de explora o capitalista que visa a obten o de lucro e a manuten o do 17 Quando se refere a global neste trabalho tem se como refer ncia a obra de Urry amp Rojek 1997 que consideram o turista como parte dos fluxos constantes em escala global 8 Cf LUCHIARI 2002 40 poder dos mais
189. ntro d gua descobre se que a gua l mpida e transparente Esta apar ncia escura se deve ao fato de o rio carregar uma quantidade consider vel de mat ria org nica que se deposita no fundo de seu leito e que o transforma em um imenso espelho natural quando em contato com a luz do sol Outra caracter stica do rio Negro s o as praias de areia branca e grossa Por ser bastante sinuoso medida que o rio vai reduzindo seu fluxo de gua durante a esta o seca praias surgem a cada curva do rio oferecendo um cen rio ideal para a pr tica de atividades de lazer Tanto a gua quanto as praias s o elementos que diferenciam o Negro dos demais rios do Pantanal S o componentes de uma beleza que coloca o rio Negro entre os mais bonitos de toda a plan cie Prova disso o intenso uso de suas imagens em materiais promocionais do Pantanal como destino tur stico Em rela o s caracter sticas fisiomorfol gicas a margem direita do rio Negro caracteriza se por campos abertos e cerrados arborizados entremeados por cap es de matos e matas de cordilheira que surgem nas pequenas eleva es do terreno arenoso e ao longo dos rios AZEVEDO 2002 p 61 Diferencia se da margem esquerda do rio por possuir um terreno mais baixo argiloso que permanece inundado por mais tempo o que favorece a presen a de rvores de maior porte Al m do rio a rea possui outros recursos h dricos como corixos salinas ba as lagoas de gua do
190. nunda o no per odo das chuvas Normalmente as casas de funcion rios ficam pr ximas umas das outras e da pens o l Praieiro o funcion rio da fazenda normalmente do sexo masculino respons vel pela manuten o do p tio ao redor da casa o que inclui varrer as folhas secas plantar e molhar as plantas colher frutos bem como cortar a lenha e auxiliar na limpeza mais pesada da casa sede separar o lixo e dar o destino devido a cada res duo s lido al m de outras atividades de acordo com o organograma de cada fazenda Em muitas fazendas tamb m o respons vel pela ordenha das vacas Cf BANDUCCI JR 2005 97 Ela acordou t o cedo quando N dia porque teve que preparar o quebra torto do marido em casa Ela n o disfar a que est com sono pois comenta fui dormir tarde fiquei assistindo televis o at uma hora Ela trabalha com muita cautela lentamente com medo de quebrar a lou a da patroa pois a regra estabelece de quem quebrar alguma coisa deve pagar pelo conserto ou por uma pe a nova Esta penalidade nem sempre acontece conta a propriet ria que diz agir desta forma para evitar acidentes com seus objetos de decora o Por isso Gilda arruma a mesa aos poucos fazendo v rias viagens da copa para a mesa do caf da manh carregando jogos americanos x caras talheres ta as garrafas t rmicas sucos etc Assim que encerra a organiza o da mesa pega a vassoura e come a a varrer as cal adas e
191. o 2 grande que alagada e que eu n o posso utilizar nunca E depois com o tempo vieram surgindo mais vantagens com a RPPN Hoje acho que eu fiz muito bem de ter feito porque al m de preservar uma coisa que eu sempre batalhei acho que aquilo l um criat rio de peixes muito grande um ber rio milhares de esp cies aqu ticos tanto de plantas quanto de peixes eu acho que eu fiz bem al m de me livrar dos impostos eu fiz muito bem porque eu acho que daqui pra frente as RPPNs v o ser cada vez mais valorizadas mais incentivadas porque a nica maneira de voc realmente conseguir com que os propriet rios das fazendas se comprometam definitivamente a n o detonar uma rea Outras fazendas j criaram ou est o em processo de cria o de Reservas do Patrim nio Particular Natural em suas reas A ONG americana Conserva o Internacional CI em parceria com a Associa o das RPPNs do Mato Grosso do Sul Repams vem estimulando a cria o destas reas como parte do projeto Corredores Ecol gicos Quando a propriet ria afirma que est o aparecendo vantagens em possuir uma Reserva do Patrim nio Particular Natural refere se a este projeto As vantagens em quest o s o recursos financeiros liberados para os propriet rios com o objetivo de demarcar as reservas sinalizar executar o plano de manejo construir a infra estrutura necess ria e realizar a manuten o da rea O projeto Corredores Ecol gico
192. o aproximando as daquilo que antes s era visto na televis o e nas revistas Com o turismo as mulheres est o desenvolvendo habilidades de comunica o que contribuem com seu crescimento pessoal e eleva o de auto estima medida que os turistas buscam intera o com as mulheres a barreira que possa existir entre clientes e funcion rios quebrada Assim se viabiliza o interc mbio cultural em que os turistas t m a oportunidade de conhecer tamb m a mulher pantaneira al m do vaqueiro e dos animais silvestres da mesma forma que elas podem conhecer a realidade dos visitantes A visibilidade delas no interior das pousadas ainda pequena pois seu espa o de trabalho n o coincide com o espa o de viv ncia dos turistas Entretanto atrav s de diferentes formas de express o como relatos escritos e a entrega de presentes as mulheres entendem que seu trabalho reconhecido pelos h spedes apesar de pouco se verem Para muitas mulheres n o h como conciliar atendimento aos filhos e trabalho nas pousadas optando por deix los na cidade na casa dos av s ou outros parentes para poderem trabalhar Isto se transformou na maior preocupa o delas quando est o prestando servi os nas fazendas O relacionamento dist ncia foi facilitado nos ltimos anos pela comunica o via telefone celular que tem aproximado as m es e av s do cotidiano dos que est o na cidade reduzindo a ang stia de estar longe 144 Se n o estivessem t
193. o todas foram criadas em fazendas no Pantanal cinco delas nasceram na Regi o do rio Negro Elas j moraram muitas vezes na Regi o entre um emprego e outro e atualmente est o trabalhando com turismo As segundas s o chamadas de diaristas isto ganham por dia trabalhado pois prestam servi os tempor rios em fazendas de turismo principalmente nos per odos de alta temporada feriados e entre os meses de julho e setembro No restante do ano moram e trabalham na cidade como auxiliares de cozinha manicures faxineiras e trabalhos afins sendo chamadas esporadicamente para trabalhar na fazenda para atender algum grupo espec fico ou cobrir folgas das funcion rias fixas A maioria solteira de origem rural e possui filhos O fato de n o serem contratadas fixas da fazenda n o significa que n o tenham habilidades necess rias ou vontade para tal poss vel que por serem mais jovens e ou muitas vezes por n o terem relacionamentos est veis elas prefiram manter este tipo de rela o trabalhista com as fazendas para poder estar perto dos filhos e manter um conv vio social na cidade Por m h tamb m mulheres que moram na fazenda e trabalham esporadicamente na pousada tamb m com um contrato de diarista S o chamadas para prestar servi os r pidos como lavar roupa auxiliar na cozinha ou na limpeza da casa comum que os propriet rios da regi o d em prefer ncia pela contrata o de casais por estarem em busca de funci
194. o a alimenta o o transporte de acesso e os passeios As fazendas oferecem tr s refei es di rias caf da manh almo o e jantar os passeios no campo normalmente dois por dia e ainda organizam a chegada e a sa da dos turistas na fazenda S o respons veis por atender 69 desde uma emerg ncia m dica at organizar uma festa de comemora o de anivers rio Esta sobrecarga de fun es se deve segundo um dos propriet rios maneira como o produto no Pantanal do rio Negro teve de ser formatado conforme esclarece A fazenda como se fosse uma ilha N s temos que oferecer tudo ao turista porque a cidade mais pr xima fica a meia hora de avi o Daniel gerente operacional 27 anos As fazendas de uma maneira geral trabalham o segmento de ecoturismo Definem como atividades de ecoturismo os passeios de barco passeios de canoa passeios a cavalo pesca recreativa caminhadas e saf ris fotogr ficos que s o passeios em carro aberto Para eles o ecoturista a pessoa interessada em contemplar a natureza e conhecer as pessoas do local por isso os passeios s o sempre acompanhados por um guia local de pref ncia um pantaneiro Entretanto cada pousada na regi o de estudo tem se dedicado a um segmento espec fico dentro desta concep o de ecoturismo Na Fazenda Santa Sophia como dito o p blico alvo s o os cavaleiros isto ecoturistas que querem desfrutar do Pantanal a cavalo e conhecer os cavalos em si o t
195. o banheiro estar precisando de uma faxina de n o poder fazer a unha porque quando h turistas na fazenda n o h tempo para cuidar da pr pria casa nem de si mesma Por outro lado o dinheiro que ela ganha quando h turistas complementa sua renda e segundo ela o que permitiu que ela e o marido estejam construindo uma casa na cidade conforme explica N is dois ganhamo o sal rio m nimo rural quando tem turista a gente sempre ganha as gorjeta p ca coisa mais no fim do m s ajuda n D pra compr mais tijolo mais cimento faiz uma diferen a N dia cozinheira 39 anos O hor rio de descanso passa r pido Ela aproveita para passar na casa da m e para conversar antes de seguir para a pousada Neste dia a m e est entretida com a confec o de uma faixa paraguaia que pretende dar para seu marido Gilda tamb m est com um tear em sua casa mas por causa do trabalho na pousada est sem tempo para dar continuidade ao artesanato Ela est bastante nervosa porque o caminh o com as compras do m s chegou da cidade e seu pacote de cigarros n o veio Mensalmente os funcion rios fazem um pedido de compras de produtos aliment cios e farmac uticos que enviado para o escrit rio da fazenda na cidade que realiza as compras respeitando as marcas solicitadas quantidades etc A compra descontada do sal rio mensal o que dependendo do valor leva os funcion rios a ficarem em d bito com a fazenda Neste
196. o contratados os netos da propriet ria ou guias especializados para serem anfitri es dos h spedes A rea da fazenda j reduziu bastante ao longo dos anos Por dificuldades financeiras foram vendidas por es de terra em dois momentos distintos nestes 12 anos de opera o tur stica Segundo a propriet ria a tentativa cont nua em manter a propriedade nas m os da fam lia atrav s do turismo tem sido uma experi ncia rdua mas acredita que enquanto o filho e os netos estiverem engajados no turismo n o deve pensar em vender a fazenda Entre as fazendas visitadas a que tem o maior fluxo de turistas ao longo do ano S o os nicos na regi o que recebem oficialmente grupos de pesca esportiva Com um 35 In http www hotelbarramansa com br 67 olhar sobre este nicho de mercado oferecem barcos e guias especializados em diferentes modalidades de pesca para pescadores que viajam o mundo em busca dos peixes esportivos No rio Negro o principal deles o Dourado Salminus maxillosus que quando fisgado costuma pular para fora da gua tentado se soltar o que exige habilidade maior do pescador Como dito a legisla o espec fica do rio Negro permite apenas o pesque e solte por m alguns exemplares dentro da medida e peso estipulados pela legisla o podem ser retirados do rio para consumo na pousada Est o inovando ao oferecer op es de pacotes conjugados com outras fazendas em que o turista pode desfrutar de duas
197. o de perten a de familiaridade de cumplicidade Os lugares s o as experi ncias de topofilia isto o sentimento direcionado ao lar quilo que particular que n o requer esfor o est relacionado a qualquer coisa dos ambientes que remeta ao prazer sensa o de relaxamento e tamb m de seguran a TUAN 1980 23 Com base nesta perspectiva prop e se neste momento demonstrar que ao sul do Pantanal brasileiro no curso do rio Negro h uma regi o composta por uma rede de lugares formada por circunst ncias hist ricas e fortalecida por uma dimens o afetiva comum queles que a habitam 1 2 A REGI O DO RIO NEGRO Observando as rela es entre as pessoas que habitam a rea de estudo e as rela es que mant m com o Pantanal foi identificado durante a pesquisa que h uma rea espec fica que abrange um determinado trecho do rio Negro quando este j se encontra na plan cie pantaneira que abriga um conjunto de caracter sticas f sicas hist ricas e s cio culturais que o diferenciam de outras reas no Pantanal Estas caracter sticas s o em geral comuns s fazendas e s pessoas que habitam este ambiente Isto foi constatado quando se identificou que para a maioria dos entrevistados em especial os de idade superior a 40 anos quando perguntados sobre a localiza o das fazendas s quais se vinculam referiam se Regi o do rio Negro para indic la Para eles esta regi o configura se como um lugar
198. o do tempo livre nas fazendas Para as mulheres diaristas todo dia na fazenda dia de trabalho uma vez que ganham por dia trabalhado Quando h turistas desfrutam de alguns momentos de descanso durante as pausas para tomar terer e de algumas horas conforme dito anteriormente ap s a arruma o da cozinha no per odo da tarde Quando acontece de elas estarem na fazenda e n o haver turistas hospedados permanecem trabalhando na manuten o do hotel por m com um ritmo menos acelerado A folga na vis o delas est ligada ida para a cidade Uma vez que o pagamento por dia trabalhado n o lhes faz sentido tirar um dia de folga na fazenda pois esta lugar de trabalho Eu trabalho o dia inteiro acordo umas 4h30 da manh e vou at a hora de dormir Descansar eu descanso s nas f rias Aqui n o d pra folgar um dia porque todos dia voc tem que fazer caf almo o janta Isso ser pantaneira Quem cozinha n o tem folga De manh cedo tem quebra torto quem que vai levantar 7h pra fazer comida 7h tem que t servido Quando 9 10h j tem que preparar o almo o depois do meio dia j hora de preparar a janta Ent o voc n o tem folga Folga voc tira nas f rias Da eu fico com as minhas filhas mato a saudade dou amor Tomo mate toda tarde eu vou tomar mate com a minha m e Irene cozinheira da pens o 46 anos 115 A folga que tem na cidade Aqui n o tem folga assim de fic um dia
199. o do turismo de pesca nos rios da regi o A riqueza do recurso pesqueiro da Bacia do Alto Paraguai foi o primeiro despertar da ind stria do turismo no Pantanal Uma gama de hot is e barcos hot is foi instalada nos rios a fim de explorar o turismo de pesca Por m a falta de consci ncia dos empres rios e de planejamento e normatiza o do governo para regulamentar a pesca profissional e tamb m a pesca esportiva no Pantanal gerou um impacto ambiental que ainda n o p de ser totalmente dimensionado Esse fluxo tur stico contribuiu ainda com a intensifica o de problemas sociais como a explora o sexual e da m o de obra ribeirinha como o caso dos catadores de iscas pescadores artesanais que passaram a coletar iscas para os pescadores esportivos em condi es desfavor veis de trabalho BANDUCCI JR 2006 Esta explora o desordenada do turismo de pesca n o chegou a ocorrer na micro bacia do rio Negro mas influenciou diretamente na disponibilidade de recursos pesqueiros Como a atividade tur stica mais recente nesta regi o esta j surgiu com uma roupagem conservacionista em que o uso do rio feito atrav s de pesca recreativa e de pesca esportiva seguindo as normas vigentes Navegando pelos sites das fazendas que atuam com turismo na regi o constatou se que a Fazenda Barra Mansa a nica que promove oficialmente a pesca esportiva oferecendo barcos e equipamentos em concord ncia com as normas para a pr tica do pesque
200. o e carinho durante sua estada no Pantanal Quando h a possibilidade de intera o elas percebem que seu trabalho valorizado o que contribui com a manuten o da presen a delas no Pantanal hoje em dia t todo mundo muito encantado com esse neg cio de Pantanal ainda mais com o turismo voc v que vem todo mundo e diz ai que coisa boa que maravilha como bom se eu pudesse eu gostaria de morar aqui Ent o eu acho bom n o sei se pra minha vida toda mas eu gosto de morar em fazenda Francisca governanta 47 anos Nem todas as mulheres funcion rias t m no o geogr fica sobre a proveni ncia dos visitantes Dizer que v m da Holanda ou do Jap o significa para elas que v m de longe mas n o necessariamente que sabem identificar se s o de um pa s desenvolvido ou de um determinado continente Entretanto sabem descrever as caracter sticas dos viajantes de acordo com sua nacionalidade e desta forma podem se preparar para receb los Ah a gente tem experi ncia n Assim se voc diz que t vindo um grupo de japon s j tem que atent pros chuveiros porque eles gostam de tom banho bem quente Tem que acend a serpentina todo dia Tem os pescador argentino paulista que acorda antes da gente e j vai pro rio D pra limpar o quarto deles bem cedinho j adianta o servi o Tem os caval ro belga eles bebem at tarde toda noite tem que ter bastante vinho no estoque e assim vai Tem os
201. o feminino exige esfor o intenso pois as mulheres cuidam da casa dos filhos da cria o al m de realizarem trabalhos para outros pe es e para a casa sede Outra propriet ria de pousada na regi o conta que foi criada na fazenda mas que passou a adolesc ncia e juventude estudando fora Retornou para o Pantanal h seis anos com o marido e j t m dois filhos sendo criados da mesma forma que ela foi no passado A op o por ter os filhos no Pantanal para que sejam pantaneiros tamb m Ela se considera pantaneira mesmo tendo passado a maior parte da vida em cidade grande pois al m de conhecer e gostar de conviver com as adversidades do Pantanal tem um sentimento de pertencimento terra que segundo ela o principal requisito para ser pantaneira 128 tem que gostar de morar aqui saber apreciar o movimento de cheia e seca do Pantanal os animais as aves N o se importar com os mosquitos essas coisas de Pantanal N o precisa ter p rachado como uns falam isso qualquer mulher do campo tem Tem que ter sentimento por esse lugar A sim pode ser considerada pantaneira Marina propriet ria 36 anos N o h uniformidade na descri o das propriet rias da regi o em rela o s caracter sticas que fazem uma mulher ser pantaneira Com uma vis o fatalista a mais velha delas entende que n o h mais mulheres pantaneiras pois para ela a exig ncia de trabalho rduo nas fazendas acabou Na vis o da outra a pa
202. o paternalismo caracter sticas que comp em o cen rio pantaneiro at os dias de hoje BANDUCCI JR 2005 Ao longo dos s culos XVIII e XIX recursos naturais como min rios borracha e erva mate foram extra dos das propriedades pantaneiras mas foi a pecu ria extensiva de corte a economia que mais cresceu Rebanhos viajaram do interior de Minas Gerais S o Paulo e Rio Grande do Sul em dire o ao Mato Grosso adentrando ao Pantanal e 46 estabelecendo rotas comerciais Tamb m chegaram pelo lado oeste provenientes do Paraguai acompanhando os migrantes paraguaios que fugiam das dificuldades encontradas em seu pa s depois da guerra Al m de contribuir com o processo de ocupa o estas correntes migrat rias foram respons veis pela constitui o dos elementos base que comp em a cultura e a sociedade pantaneira A escolha em desenvolver a pecu ria na regi o deu se principalmente devido f cil adapta o dos animais ao clima permitindo que nos locais mais isolados do Pantanal fosse poss vel formar fazendas Al m disso a qualidade do pasto nativo era uma garantia de que os animais teriam comida o ano todo Durante todo o s culo XIX o homem que habitava o Pantanal aprendeu a conviver com o isolamento com as adversidades ambientais e a administrar seus neg cios atrav s da cria o e do com rcio de gado Isto lhe deu confian a para conquistar grandes latif ndios e possibilitou o modelo de pecu ria extensiva que aca
203. o projeto Hidrovia Paraguai Paran que pretende tornar o rio Paraguai naveg vel durante o ano todo viabilizando o escoamento da produ o de gr os min rios e agora biodiesel do interior do continente para o Oceano Atl ntico Para isto necess rio dragar o leito do rio Paraguai torn lo mais profundo desobstruindo o canal que atualmente possui grandes bancos de areia que impedem o tr fego hidrovi rio na esta o seca Esta obra de alto interesse econ mico pois levar redu o dos custos de transporte das mercadorias entretanto de alto custo ambiental medida que impactar negativamente o ciclo de enchentes do Pantanal as terras mais pr ximas das serras n o sofrer o mais a inunda o fazendo com que todo o ambiente seja alterado Empresas de capital nacional e internacional com apoio de representantes no legislativo federal s o as principais interessadas na obra Todas estas amea as fazem parte ou refletem no cotidiano das fazendas da Regi o do rio Negro Observa se que para os propriet rios que buscam alternativas para a manuten o do patrim nio o plantio de pastos ex ticos a alternativa mais usada O desmatamento das fazendas na plan cie em paralelo ao desmatamento ainda mais agressivo na cabeceira do rio Negro tem acelerado o processo de sedimenta o na rea Reflexo disto a dificuldade cada vez maior de navegar pelo rio e a constata o de que as secas est o cada vez mais intensas
204. ode atividades dom sticas o que demonstra a exist ncia de guetos profissionais femininos MORAES 2003 p 30 Territ rios femininos e masculinos s o tradicionais nas fazendas pe es n o entram na cozinha territ rio feminino e mulheres n o entram no galp o territ rio masculino a exce o de alguns vaqueiros que cozinham e esporadicamente preparam refei es especiais para os patr es bem como as propriet rias que acompanham o trabalho de campo junto dos pe es Dificilmente h homens trabalhando na limpeza da casa bem como mulheres trabalhando como vaqueiras ou guias de campo 4 Percebe se que todas as mulheres sofrem a mesma discrimina o sexual e t m neste sentido reivindica es comuns Mas a impossibilidade de transformar estas reivindica es numa plataforma nica de sensibilizar as mulheres em rela o a esta plataforma est dada pelas contradi es situadas no mbito da divis o de classes e de ra as MORAES 2003 p 32 A complexidade deste fato se manifesta nesta pesquisa pois quando se prop e a falar da mulher pantaneira agregam se patroas e funcion rias em um mesmo bloco exigindo uma classifica o do grupo para que haja uma descri o mais aproximada do real As necessidades das mulheres funcion rias n o s o necessariamente as mesmas das mulheres propriet rias sendo uma subordinada outra o que dificulta a constitui o de reivindica es femininas comuns Visto isto necess rio a
205. om situa es como esta no turismo mas tamb m da alta explora o do 125 tema realizada pelos ve culos de comunica o e maior visibilidade de homossexuais em conv vio social no meio urbano A mobilidade dos turistas estrangeiros e brasileiros de alto poder aquisitivo na Regi o do rio Negro pode parecer num primeiro momento uma amea a de interfer ncia cultural queles que trabalham nas fazendas Entretanto o contato com realidades diferentes sempre existiu entre os funcion rios uma vez que os familiares dos fazendeiros da regi o em maioria seguem padr o e estilo de vida similares ao dos turistas H com a intensifica o do fluxo tur stico um maior contato com tecnologia como o uso frequente de computadores port teis entre os turistas m quinas fotogr ficas e filmadoras digitais cal ados com design avan ado roupas com tecidos especiais para ambientes midos etc que extremamente positivo sobre o ponto de vista das mulheres entrevistadas uma vez que estes produtos permitem que elas mesmo trabalhando no meio rural acompanhem os avan os tecnol gicos do mundo contempor neo Entretanto isto pode ser visto como um ponto negativo se vier somente a estimular o consumo de quem tem dificuldade em estabelecer prioridades de investimento e n o conseguir ter um objetivo espec fico de compra Em poucos momentos se observam indiferen a ou sentimento negativo das mulheres em rela o aos h spedes Este descontenta
206. on rios com maior estabilidade no emprego Entretanto crescente a presen a nas fazendas de mulheres chefes de fam lia que t m sob sua tutela um grande n mero de crian as S o m es solteiras que possuem filhos de um ou mais homens e que raramente recebem pens o aliment cia como aux lio para a cria o dos filhos 94 Acumulam as responsabilidades de m es donas de casa e de provedoras familiar que s vezes dividida com os membros de suas fam lias principalmente as av s ao inv s de faz lo com os genitores A realidade deste grupo de mulheres tema de estudo de MORAES 2003 que revela um aumento da porcentagem de mulheres chefe de fam lia no Brasil de 20 1 para 25 4 entre os anos de 1990 e 1999 p 28 O crescimento da participa o feminina no mercado de trabalho em concomit ncia com a desestrutura o do paradigma tradicional familiar e com o processo de moderniza o levou ao aumento das responsabilidades da mulher como provedora familiar Entre as atividades profissionais mais comuns a este grupo de mulheres est o servi o dom stico uma atividade de baixo prest gio e remunera o E justamente este tipo de trabalho que tem sido ofertado para as mulheres nas fazendas de turismo no Pantanal Nestas propriedades h normalmente tr s mulheres trabalhando fixas uma cozinheira da pousada uma arrumadeira gar onete e outra cozinheira da pens o Esta ltima que mora e trabalha na fazenda nor
207. ontato com elas exce o dos visitantes que realmente querem conhec las como citado anteriormente e para isso visitam a cozinha sentam para conversar quando encontram elas descansando em outras palavras incorporam o espa o das mulheres ao seu pr prio espa o no interior da pousada propiciando momentos de interc mbio cultural e conhecimento da realidade da mulher pantaneira 121 H uma incid ncia ainda n o quantificada de turistas que retornam regi o e assim como s o capazes de lembrar os nomes dos funcion rios estes relembram as principais caracter sticas do grupo fazendo com que os h spedes se sintam mais vontade no lugar In cio paulista 57 anos pescador esportivo e esteve pela segunda vez na Fazenda Rio Negro no per odo da pesquisa de campo A cozinheira ao v lo chegar n o hesitou em dizer que nunca mais algu m havia trazido um peixe t o grande quanto o que ele pescou em sua ltima estada Este tipo de contato com os h spedes demonstra que poss vel existir proximidade entre turistas e funcion rias mesmo onde o vai e vem de turistas mais intenso mas esta uma a o que parte dos turistas e n o das funcion rias Muitos costumam deixar presentes para elas como roupas cal ados equipamentos de pesca de observa o de aves cosm ticos e revistas Algumas vezes o fazem para se livrar do excesso de bagagem outras mais fregiientemente para presentear aqueles que lhes deram aten
208. oou teares s fazendas e ensinou os interessados a tecer A produ o vendida para vaqueiros das fazendas e para os turistas como souvenir 60 O turismo considerado um mecanismo de desenvolvimento rural medida que estabelece uma sinergia entre conserva o e dinamismo econ mico pois necess rio manter a integridade dos elementos naturais para que o ambiente rural tenha atratividade e o uso destes elementos gere uma rentabilidade Conforme esclarece Veiga 2002 o desenvolvimento rural depende muito mais das poss veis maneiras de tornar rent vel a preserva o de peculiaridades naturais e culturais do que da explora o dos velhos trunfos baseados na explora o da fertilidade dos solos ou no aproveitamento de vantagens de localiza o industrial p 16 Sob o ponto de vista da Geografia o turismo tido como uma atividade de produ o e consumo do espa o que gera inevitavelmente preocupa es em rela o aos impactos ambientais em seu sentido amplo sobre as localidades e comunidades receptoras Atualmente com enfoque na dualidade natureza x sociedade a ci ncia geogr fica debate o conceito de sustentabilidade com o de produ o do espa o tur stico rural e caminha para a defesa de um turismo de base local Trata se de uma proposta de gest o territorial local que visa a satisfa o do visitiante benef cios econ micos sociais pol ticos e culturais para a popula o residente e a preserva o do pat
209. os propriet rios Isto reflexo da distante rela o existente entre patr o e empregado nas fazendas pois ao mesmo tempo em que elas s o conscientes da discri o que seu of cio exige demonstram se atentas cobran a do patr o sobre uma postura profissional pois t m medo de ser repreendidas Quando finaliza a limpeza dos quartos e da rea comum da pousada Gilda vai at a cozinha oferecer ajuda para o preparo do almo o Tem esta iniciativa porque segundo ela n o gosta de ficar parada enquanto tem outra pessoa trabalhando As duas aproveitam que est o juntas para descansar as pernas e tomar terer A conversa rende alguns minutos at que N dia ao olhar para o rel gio localizado ao lado da geladeira percebe que os turistas e a patroa logo voltar o do passeio Ela aproveita a tranquilidade daquele momento na pousada para ir at a horta colher folhas para a salada A horta mantida pelo praieiro e N dia pede permiss o a ele para entrar Ela comenta que gosta de plantar mas que n o o faz porque n o sobra tempo Quando volta cozinha pede para Gilda lav las e aproveita para passar pelos quartos para verificar o trabalho da colega Faz isso discretamente para que ela n o perceba que est sendo avaliada N dia percebe que a colega esqueceu um frasco de produto de limpeza no banheiro de um h spede Ela recolhe mas n o comenta nada e se justifica se eu fal ela vai se chati e da quem paga o pato s e
210. pela observa o seria poss vel estabelecer a dimens o territorial de uma regi o localiz la e tra ar seus limites MORAES 1985 p 75 Esta concep o de regi o possibilitou que a Geografia Regional tida por Moraes 1985 como o principal desdobramento da proposta vidalina se tornasse uma refer ncia de an lise no pensamento geogr fico Para a Geografia Regional a divis o do espa o em regi es tinha o objetivo de diferenci las atrav s da observa o direta da natureza das normas dos grupos das t cnicas de produ o da capacidade de saber do grupo e de dom nio da natureza La Blache sentia a 20 necessidade de explicar as diferen as de culturas e dos n veis de desenvolvimento dos homens a partir de uma dimens o material e permanente quando passa a teorizar sobre os g neros de vida isto a analisar a vida dos grupos humanos observando suas atividades o que resultava na descri o das paisagens e explica o das diferentes formas de organiza o do espa o La Blache vinculou os estudos geogr ficos Geografia Humana por m a desenvolveu com foco no estudo da paisagem Esta abordagem geogr fica considerava a popula o como objeto por m n o a relacionava sociedade considerava em sua an lise as t cnicas e os instrumentos de trabalho por m n o contemplava os processos de produ o discutia a rela o homem natureza mas n o atentava para as rela es entre os homens enfim sobrepunha o
211. pesquisa realizada junto ao livro de h spedes da Fazenda Barra Mansa uma esp cie de colet nea contendo relatos volunt rios sobre as experi ncias dos h spedes no Pantanal revelou que 74 dos turistas que deixaram suas impress es mencionavam satisfa o com a natureza e 72 mencionavam ter apreciado o contato com as pessoas da fazenda A partir desta pesquisa feita durante cinco anos de opera o da fazenda com turismo poss vel afirmar que nas impress es finais da hospedagem o relacionamento interpessoal figura como import ncia t o grande quanto a rela o com a natureza demonstrando que o alto grau de satisfa o se deve em grande parte s caracter sticas das pessoas do local BARROS e HARTENTHA UER 2003 A pesquisa apontou ainda que as manifesta es culturais mais marcantes para os h spedes foram a experi ncia gastron mica e o uso do la o un nime entre os estrangeiros a satisfa o com a cozinha pantaneira que se comp e basicamente de pratos que conjugam o uso da carne da carne seca da mandioca e do queijo fresco Entre os pratos mais conhecidos da gastronomia regional est o o arroz carreteiro arroz cozido com carne seca o CASTRO D Juiz nega liminar Globo contra Pantanal Folha de S o Paulo S o Paulo 12 jun 2008 Dispon vel em http www folha uol com br folha ilustrada ult90u41 1586 shtml Acesso em 13 jun 2008 117 carib u mandioca cozida com carne seca o surtum assado um cor
212. r Ad moli 1982 15 FIGURA 2 A Regi o do rio Negro em rela o subdivis o feita pelo IBGE 16 FIGURA 3 A Regi o do rio Negro em rela o ao Estado de Mato Grosso do Sul 17 FIGURA 4 A Regi o do rio Negro e a localiza o das pousadas 18 FIGURA 5 Imagem a rea da Regi o do rio Negro eres 26 FIGURA 6 Regi o do rio Negro a mais bela do Pantanal 40 FIGURA 7 Pantanal como ecossistema mais preservado do Brasil 50 FIGURA 8 Pantaneiro conduzindo turistas de pesca esportiva s 13 FIGURA 9 Mulher pantaneira tecendo uma faixa paraguaia 81 FIGURA 10 Camareira arrumando quarto dos h spedes s 99 FIGURA 11 Mulheres preparando a refei o dos h spedes 101 FIGURA 12 Tr s gera es de mulheres trabalhando juntas na pousada 107 FIGURA 13 Casais trabalhando juntos nas fazendas ren 137 SUM RIO INTRODU O sus ossos porosa espe A NEA 1 RIO NEGRO UMA REGI O DO PANTANAL LU TEORIA DA REGIA Ocarina a e a a a a a 1 2 A REGI O DO RIO NEGRO s sessssssssssiessississiissiessiessersttstissrestessttsttrrssiessressesrtn 1 2 Elementos T SICOS niis e a a E ER a E E 1 22 Elementos hist rIcoS a A A O GA 1 2 3 Elementos s cio culturais er erercreereaa erre er eerea rear
213. r a fazenda e atender aos turistas de forma que se sintam como convidados da casa afinal conforme foi dito oferecer um servi o personalizado uma das estrat gias do turismo na regi o Ivone tem 81 anos e faz parte do grupo de mulheres propriet rias de fazenda no Pantanal Apesar de ter passado para o filho a administra o da fazenda e n o coordenar diretamente a equipe de mulheres por contar com o aux lio de uma governanta acompanha dist ncia as atividades na fazenda o n mero de turistas o card pio da semana a reforma de roupas de cama a demiss o da cozinheira e etc Assim como Beatriz ela liberou sua casa para o uso dos turistas e isso lhe gera sentimentos conflitantes ao mesmo tempo em que fica feliz em saber que a casa est com movimento o que significa que est entrando dinheiro na fazenda fica incomodada em saber que seu quarto est sendo ocupado por pessoas estranhas Por isso ela evita ir para a fazenda quando h crian as pois fica nervosa ao v las colocando os p s sujos no sof derrubando comida nas toalhas de mesa furando com o dedo as telas protetoras das janelas entre outras travessuras t picas de crian as Ela passou a inf ncia e adolesc ncia no Rio de Janeiro e s abdicou do conforto da casa da m e quando se casou e foi morar no Pantanal conforme conta Sa de um apartamento na Prudente de Morais na praia de Ipanema chiqu rrimo para ir morar numa tapera no meio do aguaceiro
214. r a identidade do indiv duo pantaneiro e estimular a perman ncia destes no lugar a que possuem afeto Por m importante salientar que essa valoriza o tem origem no interesse dos propriet rios e do mercado tur stico pois se d em fun o de uma necessidade mercadol gica de garantir autenticidade ao produto tur stico com o objetivo de satisfazer os anseios de turistas que procuram experienciar um Pantanal exclusivo sem se preocupar com quanto a viagem possa custar Sob o ponto de vista mercadol gico medida que o turismo se apropria do rio Negro e o eleva a um status diferenciado dos demais fortalece a regi o perante a concorr ncia da oferta tur stica no Pantanal Os propriet rios da regi o ganham com essa proje o pois ao buscarem oferecer autenticidade e exclusividade colocam se em vantagem perante o mercado e com perspectivas de maiores lucros em compara o com a concorr ncia Os funcion rios tamb m ganham com esse avan o pois com o bom andamento da empresa t m seus trabalhos e sal rios garantidos Ao mesmo tempo podem permanecer no Pantanal e manter um contato com turistas que os valorizam e os v em como pantaneiros Sob o ponto de vista s cio cultural os funcion rios permanecem submetendo se demanda de trabalho delegada pelos patr es o que n o deixa de ser uma forma de manuten o das tradi es pantaneiras e estes submetidos demanda do mercado que estabelece padr es de conduta e postur
215. r a real influ ncia do turismo neste processo foi necess rio um levantamento minucioso da produ o sobre a sociedade pantaneira e o turismo no Pantanal A pesquisa bibliogr fica foi conduzida em torno de temas e conceitos como regi o territorialidade turismo identidade cultura Pantanal e mulher pantaneira O levantamento de dados e de informa es secund rias utilizados para compreender a din mica que envolve a rea de estudo foi realizado a partir de informa es contidas em documentos a respeito de pol ticas p blicas de desenvolvimento do Pantanal e a es de iniciativa privada em prol da conserva o da rea Por m mais do que a revis o te rica e a compreens o das a es externas que atuam sobre o universo de pesquisa foi essencial para esta pesquisa vivenciar o cotidiano das mulheres que trabalham em pousadas pantaneiras pois entende se que para revelar a estrutura Per odo retratado por Belkisse Correa Gomes em sua disserta o de mestrado de 2001 a respeito do modo de vida das mulheres pantaneiras 11 do espa o de vida assim como as imagens motiva es do grupo investigado o pesquisador deve ter um conhecimento ntimo do territ rio a fim de conhecer detalhes que uma simples entrevista dificilmente demonstraria Para tanto a amostra foi composta por 14 mulheres que trabalham em quatro fazendas de turismo localizadas no Pantanal do rio Negro no munic pio de Aquidauana Estado de Mato Grosso do Su
216. r clientes porque n o h espa o Daniel operador de turismo 28 anos Durante muitos anos o turismo no Mato Grosso do Sul em especial no Pantanal esteve voltado para a pesca esportiva Com a restri o do uso dos rios a diminui o do estoque pesqueiro na bacia do rio Paraguai e o aumento da consci ncia conservacionista entre visitantes e visitados o ecoturismo ou turismo ecol gico passou a ser a principal modalidade de turismo no Estado O reconhecimento dado pelo Minist rios do Turismo a Pantanal como destino de ecoturismo no Brasil fez este segmento crescer e se destacar mais O Programa de Regionaliza o do Turismo Roteiros do Brasil constitui um macroprograma do Plano Nacional de Turismo PNT 2007 2010 Prop e a estrutura o de roteiros tur sticos intermunicipais nas regi es tur sticas brasileiras com base nos princ pios da coopera o integra o e sustentabilidade ambiental econ mica sociocultural e pol tico institucional Em 2006 como resultado do Programa de Regionaliza o foram apresentados 396 roteiros tur sticos envolvendo 149 regi es tur sticas e 1 207 munic pios de todas as unidades da Federa o Desses roteiros 87 foram priorizados pelas unidades da Federa o sendo um deles o Pantanal para obten o de padr o de qualidade internacional e consegiientemente promo o do alcance das metas do PNT In PROGRAMA DE REGIONALIZA O DO TURISMO ROTEIROS DO BRASIL Programa de apo
217. r uma casa na cidade Al m do sal rio mensal que recebem da 143 fazenda que seria o mesmo na cidade para a realiza o do mesmo of cio recebem gorjetas prestam outros servi os s pousadas e colegas de trabalho o que incrementa sua renda mensal Elas t m a chance de poupar uma vez que a fazenda prov alguns benef cios como luz el trica gua leite e carne evitando estes e outros tipos de gastos na cidade A conquista da autonomia para administra o da renda familiar outra interfer ncia positiva que o turismo tem levado s mulheres que trabalham na regi o M es solteiras mulheres casadas e vi vas encontraram nas fazendas de turismo independ ncia financeira com ac mulo de renda a curto prazo que viabilizam o planejamento dos investimentos em educa o dos filhos e ou netos aquisi o de bens dur veis e at mesmo realiza o de alguns desejos de consumo como os ligados est tica O fato de algumas mulheres casadas terem seus empregos mais valorizados na fazenda e por isso ganharem mais que seus maridos n o visto por nenhuma das partes como um problema Isto n o tem interferido no relacionamento do casal uma vez que tudo considerado renda familiar Portanto para eles quanto mais elas ganharem melhor para a fam lia Al m da quest o econ mica o turismo coloca as mulheres em contato direto com pessoas ex genas ao Pantanal levando a elas uma id ia sobre a diversidade cultural que existe no mund
218. ra Sidney guia de campo 39 anos 130 Outro marido que chama sua companheira de meio pantaneira Luis Ele tem 32 anos e foi quem levou Gilda de 24 anos para o Pantanal Ele a chama de meio pantaneira porque apesar de ela n o ter nascido no Pantanal e estar morando h poucos meses l tem for a e coragem para suportar o trabalho na fazenda e as adversidades do ambiente Portanto para que pudesse ser considerada plenamente pantaneira teria que ter nascido no Pantanal ou pelo menos morado por mais tempo As mulheres consideradas meio pantaneiras por seus maridos s o em geral as mais jovens de 35 anos que n o possuem v nculo hist rico cultural com o Pantanal mas que t m origem rural e carregam para o campo alguns h bitos urbanos por isso o meio no nome No caso da esposa de Sidney o fato de ela cuidar do corpo e investir em cosm ticos para se sentir mais bonita e cheirosa n o interfere em sua identidade Influencia apenas o olhar do marido que a diferencia das outras mulheres normalmente das mais velhas que n o t m a mesma vaidade que as mais jovens nem as mesmas refer ncias de mundo pois s o de gera es diferentes A esposa de Sidney tamb m n o se considera pantaneira mas n o por causa do uso de cosm ticos e sim pelo fato de n o ter nascido no Pantanal As mulheres consideradas totalmente pantaneiras por seus maridos foram todas criadas em fazendas no Pantanal algumas na pr pria regi o de
219. ra a pousada e servir o almo o para os h spedes A siesta ou o ato de sestear isto descansar depois do almo o um h bito no Pantanal Os turistas aproveitam a oportunidade e compartilham o h bito o que n o uma tarefa dif cil haja vista o calor intenso neste per odo do dia e o fato de a comida ser bastante saborosa o que faz com que as pessoas cometam alguns exageros na refei o Somente quem n o siesta neste momento na fazenda s o aqueles que realmente n o gostam de cochilar no meio do dia e preferem dar andamento em algum trabalho ou as mulheres que trabalham na cozinha pois hora de lavar pratos e panelas jogar gua na cozinha tendo turistas ou n o na fazenda A diferen a o hor rio em que se finaliza o servi o mais cedo quando n o h h spedes 103 O passeio da tarde costuma iniciar a partir das 15h30 hora que os h spedes come am a sair dos quartos e circular na rea social da pousada normalmente em busca de caf preto e alguma iguaria doce Sabendo desse ritual N dia antes de fazer seu hor rio de descanso organiza uma bandeja com caf e doces na sala de refei es Ao chegar em casa a primeira coisa que ela faz deitar no sof e ligar a televis o Neste hor rio costuma assistir filmes na TV Globo a nica que tem bom sinal na fazenda Depois de um cochilo r pido fica incomodada com o fato de ter roupa acumulada para lavar de n o ter um bolo ou um queijo fresco na geladeira de
220. rabalhado em outras fazendas identificadas como fazendas localizadas no Pantanal mas possui uma rela o estreita de familiaridade somente com as fazendas do Rio Negro o que ela chama de fazendas do lado de c Eu nunca gostei de outra fazenda a n o ser Pantanal Eu fui depois que eu mudei pra l uns tempo umas fazenda que eu fui trabalh pro lado de l pr ximo do Rio Aquidauana e nunca acostumei mesmo pra mim o Pantanal O dia que eu n o for mais trabalh por exemplo assim vamo supor cheg a hora que eu aposentei que eu n o v mais trabalh eu vou trabalh s pra c mesmo Nunca gostei de trabalh pra l Acho tudo diferente trabalho tudo diferente Pra mim Pantanal diferente completamente do lado de l Iracema cozinheira 52 anos Para uma das propriet rias entrevistadas o pantaneiro rionegrano assim como o taboquiano da Regi o do Taboco e o nhecolandense da Regi o da Nhecol ndia costumam rodar as fazendas mas sem sair de sua regi o como se as ra zes deles estivessem ali Beatriz propriet ria 62 anos A Regi o do rio Negro o espa o de vida e de cultura destes pantaneiros tanto dos patr es quanto dos empregados onde acontecem as rela es sociais o espa o composto de s mbolos que lhes confere identidade uma identidade que regional Essa identidade vem sendo constru da ao longo dos anos atrav s da transmiss o de valores de pai para filho At
221. rabalhando nas fazendas da Regi o do rio Negro estas mulheres estariam trabalhando em outro lugar e da mesma forma precisariam de ajuda para atender os filhos mesmo que somente durante parte do dia A jornada vivenciada pelas mulheres que depois de criarem seus filhos t m que assumir a educa o dos netos para que seus filhos possam trabalhar um fato social que n o ocorre apenas no universo das prestadoras de servi o para as pousadas pantaneiras mas da maioria das mulheres que exerce atividades profissionais fora de casa O turismo tem interferido na din mica familiar das mulheres pantaneiras de diferentes maneiras algumas positivas como o aumento da renda familiar e da auto estima a conquista da autonomia financeira e a possibilidade de oferecer melhor qualidade de vida e de educa o aos filhos e netos Outras interfer ncias s o negativas como a aus ncia na cria o dos filhos a redu o no tempo de lazer e namoro e a dedica o por horas de trabalho pesado que levam ao esgotamento no final do dia O aumento da participa o da personagem feminina no universo das fazendas pantaneiras reflexo da territorialidade do turismo e as consegii ncias dos impactos s o analisadas por elas como positivas o que leva ao entendimento de que o turismo tem contribu do com a valoriza o do papel da mulher na sociedade pantaneira 145 CONCLUS O Este trabalho buscou averiguar de que forma a introdu o do turismo na Regi o
222. rabalho do cavalo na fazenda de gado a maneira como os pe es montam e como os cavalos se adaptam ao terreno mido J para a Fazenda Barranco Alto o p blico alvo s o os observadores de aves segundo a propriet ria estes s o os ecoturistas mais f ceis de satisfazer no Pantanal devido diversidade de esp cies existentes Para a Fazenda Barra Mansa o turismo que se pretende desenvolver na regi o o que chamam de turismo exclusivo em que o turista tem o privil gio de desfrutar da fazenda praticamente sozinho conforme esclarece o rio Negro d uma sensa o de exclusividade o turista sai passear no rio e n o encontra nada al m da natureza Tamb m queremos que ele se sinta nico na fazenda mais como um convidado um visitante do que como turista As aten es de todos na fazenda s o voltadas para ele Ele n o precisa dividir passeios com outros turistas ele faz o que ele quiser na hora que quiser Assim damos um atendimento personalizado a satisfa o certa porque a natureza j estonteante Daniel gerente operacional 27 anos Por ser uma regi o relativamente isolada de dif cil acesso o transporte a reo o mais utilizado Para chegar s fazendas os turistas costumam optar pelo frete de um avi o particular Este transporte pode ser feito a partir de Campo Grande em torno de uma hora de v o ou a partir de Aquidauana onde os turistas chegam de carro e de l seguem em avi o fretado E
223. re algo a melhorar Para outras esse sonho ainda est longe de ser concretizado por isso importante estar em um lugar que n o gere muitos gastos Para elas trabalhar na Regi o do rio Negro vantajoso pois quanto mais longe for a fazenda maiores as possibilidade de economia 111 Eu falava que nunca viria morar nesse Pantanal fim de mundo mas t aqui Pelo que eu vi at gora eu t achando bom Eu gosto da fartura daqui na cidade tem que comprar a carne o leite aqui a gente tem tudo Se eu quero fazer um ovo eu pego um ovo um leite na cidade j precisa ir comprar Assim o dinheiro que entra a gente guarda n o precisa ficar gastando igual na cidade Gilda servi os gerais 24 anos Eu acho que quem vive no Pantanal n o tem as dificuldade de quem vive na cidade As coisa s o muito cara Aqui mesmo eu comento com as guria a gente vive aqui t o bem e mesmo assim tem gente que reclama daqui Aqui muito bom aqui a gente tem sa de tem fartura que n o tem na cidade Arlinda servi os gerais 27 anos O fato de as fazendas da Regi o do rio Negro serem distantes visto como um ponto positivo para o trabalho feminino pois viabiliza o objetivo da maioria das mulheres economizar Mas apesar dessa rela o utilitarista com o Pantanal muitas demonstram orgulho em trabalhar em um lugar distante conhecido por sua riqueza de vida selvagem Observa se em sua fala uma influ ncia da imagem pro
224. rea maior que a investigada nesta pesquisa OS VARIOS E SEGUNDO PROF JORGE ADAMOU 14 58 56 LEGENDA E Pantanal de Caceres EB orana co rocone O Pantanal de Ba o de Melga o Pantanal de Paiagu s E Pantanal do Paraguai E Pantanal da Nhecolandia E Pantanal do Abobral Eal Pantanal de Aquidauana 20 E Pantanal do Miranda O Pantanal do hHableque C Regi o do Rio Negro Figura 1 A Regi o do rio Negro em rela o subdivis o feita por Ad moli 1982 Descrever o curso do rio Negro quando este se encontra na plan cie uma tarefa dif cil haja vista as varia es no fluxo de gua entre os per odos de cheia e seca do Pantanal Nos anos em que a seca muito forte o rio limita se a um curso mais estreito em compara o aos anos em que a seca mais amena e o rio joga suas guas por um leito mais largo podendo originar cursos paralelos conhecidos como bra os de rio ou unir se a c rregos menores aumentando sua rea de vas o O mesmo ocorre em rela o ao per odo da enchente quando o rio Negro se mistura ao leito de outros rios em alguns anos com mais vaz o que outros tornando invi vel a obten o de uma descri o exata do percurso das guas Entre os depoimentos colhidos h algumas diferen as principalmente em rela o ao trecho final quando o rio est pr ximo de desaguar no rio Paraguai A descri o abaixo foi a de maior ocorr ncia entre os entrevistados sendo tamb
225. reflex o pol tica de base territorial pois conforme elucida Lecioni 2003 a escala regional como escala intermedi ria de an lise como media o entre o singular e o universal pode permitir revelar a espacialidade particular dos processos sociais globais p 194 O mercado do turismo no Pantanal demonstra conhecer a import ncia da valoriza o do singular dentro do universal quando utiliza o rio Negro como uma marca As fazendas da regi o de estudo e outras localizadas na microbacia usufruem do status mercadol gico do rio para promover seus neg cios e diferenci lo do produto oferecido pelo restante do Pantanal Isso revela que a conserva o dos patrim nios natural e cultural da regi o tem um vi s mercadol gico mas essa vis o n o necessariamente compartilhada por todos os funcion rios e propriet rios das fazendas A percep o da exist ncia desta regi o s foi poss vel devido s redes de relacionamentos formadas pelos rionegranos A mobilidade dos pantaneiros entre as fazendas demonstra o v nculo que possuem com a rea O fato de as fazendas estarem sendo divididas e ou vendidas para pessoas de fora n o significa que esse sentimento de perten a esteja mudando O que se observa que mesmo com a introdu o de novos propriet rios as pessoas continuam trabalhando nas fazendas pois sua perman ncia na regi o est relacionada oferta de trabalho s rela es de parentesco e compadrio e o v nculo com
226. ria bovina no Pantanal O vaqueiro permanece como destaque na visita o enquanto as mulheres ora s o vis veis ora n o Por m para elas a valoriza o atrav s de melhores oportunidades de trabalho e sal rio mais importante que o reconhecimento de seu papel na sociedade por parte dos turistas Se Pantanal significa trabalho para elas ser pantaneira sin nimo de estar atuante na sociedade gerando renda e melhorando as condi es de vida de suas fam lias A condu o desta pesquisa n o se mostrou uma tarefa f cil pois destituir se do olhar feminino na observa o e interpreta o objetiva da luta destas mulheres pela manuten o da integridade de suas fam lias exige grande habilidade e experi ncia Momentos de emo o surpresas e orgulho de ser mulher marcaram esta pesquisa da mesma forma que a presen a da pesquisadora no campo procurando respostas gerou reflex o provocou saudades 149 e l grimas nas entrevistadas O que se espera que os resultados aqui apresentados sejam teis queles que procuram entender a din mica das rela es econ micas sociais e culturais que envolvem a participa o das mulheres no contexto contempor neo do Pantanal 150 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS ABRAMOVAY R O capital social dos territ rios repensando o desenvolvimento rural In Economia Aplicada Vol IV N 2 P 379 397 Abril junho 2000 AD MOLI J O Pantanal e suas rela esfitogeogr ficas com os cerrados
227. rim nio natural e cultural RODRIGUES 2001 p 26 A concilia o destes tr s segmentos seria o ideal de desenvolvimento do turismo em comunidades de alta diversidade de recursos naturais e culturais como o caso do Pantanal Com base em exemplos de desenvolvimento do turismo no mundo Rodrigues 2001 alerta para o fato de que o turismo n o deve ser visto como nica alternativa de valoriza o para regi es de economia deprimida mesmo onde a riqueza dos recursos potenciais justifiquem a priori sua explora o Como o turismo uma pr tica social sup rfula est muito sujeito a crises mesmo porque como atividade sazonal n o se auto sustenta o ano todo A pr tica tem demonstrado que h necessidade de projetos integrados de n vel local que envolvam outros setores da economia que d em sustenta o ao turismo e signifiquem realmente um dinamismo econ mico em escala local p 31 O turismo no Pantanal uma atividade fortemente sazonal de maior movimento nos meses de seca entre junho e outubro quando h maiores possibilidades de visualiza o dos animais selvagens o acesso por estradas facilitado e n o h ocorr ncia de muitos mosquitos Em boa parte das fazendas a atividade tem sido desenvolvida em complemento pecu ria o que tem driblado a sazonalidade do turismo Entretanto muitas 28 Z A s O Encontro Nacional de Turismo com Base Local organizado por ge grafos ocorre a cada dois anos e em
228. ro de turista da pesquisadora existente no primeiro momento do contato com as mulheres pantaneiras transformou se em olhar investigativo medida que essa curiosidade deu origem a uma pesquisa e esta ganhou objetivos e m todos Nesse sentido prop e se interpretar o significado das rela es que sustentam o cotidiano da mulher pantaneira nesse in cio de s culo no contexto das fazendas de turismo O cap tulo foi dividido em tr s momentos o primeiro diz respeito ao cotidiano das mulheres com foco no universo do trabalho o segundo est relacionado s caracter sticas identit rias destas mulheres e o terceiro trata das rela es familiares Ao fim desta an lise pretende se demonstrar de que forma o turismo est interferindo na din mica da fam lia pantaneira nas rela es interpessoais ao mesmo tempo em que esta afetada pelas inser es tecnol gicas e processo de globaliza o 88 3 1 AS MULHERES QUE OS TURISTAS N O V EM Quando se fala em mulher do campo em especial as que moram e ou trabalham em fazendas de pecu ria no Brasil a tend ncia descrever esposas e m es que assumem as atividades dom sticas de cuidar da casa e filhos prover a alimenta o da fam lia cuidar da cria o de animais para consumo pr prio e plantar algumas ervas e verduras no quintal Ou em outra esfera a da mulher propriet ria rural aquela que teve acesso aos estudos mora na cidade ou na fazenda porque gosta de viver no
229. ro aqui tenho minha casa na cidade minhas folga eu v pra cidade fico um poco na minha casa eles admira muito Eles acham que eu tenho muita coragem de mor aqui sem marido sem nada Mas eu falo que eu v pra cidade tenho meu namorado na cidade tem que n Tem que cort cabelo namor n Francisca governanta 47 anos J as mulheres que trabalham na arruma o dos quartos e lavanderia muitas vezes nem v em os h spedes apesar de manterem contato direto com a intimidade de seus quartos Algumas mais experientes j sabem dizer a nacionalidade do h spede s de olhar para as bagagens e sentir o cheiro do quarto conforme conta Os holandeis belga franceis t m tudo cheiro forte eles n o s o de tom muito banho n o Usam perfume que toma conta da roupa de cama do quarto Os ingleses s o mais certinho eles mesmo arruma a cama deles E brasileiro com crian a ent o qu que troque toalha de banho todo dia essas coisa Mas tem gente muito boa tamb m Claudete servi os gerais 49 anos As mulheres s o invis veis para alguns visitantes assim como alguns turistas o s o para algumas funcion rias pois elas n o est o envolvidas nas atividades de campo que s o os momentos em que ocorre intera o espont nea entre turistas e comunidade local Um sabe da exist ncia do outro mas n o necessariamente se encontram visualmente Al m das refei es poucos s o os outros momentos em que h c
230. rritorial e uma dimens o social regi o O que a faz uma regi o a for a de sua identidade Quando se prop s delimitar a regi o de estudo e reunir as fazendas com caracter sticas comuns em uma nica rea teve se como base a percep o dos moradores das fazendas Entretanto h outras fazendas localizadas na microbacia do rio Negro e que portanto pertencem regi o do rio Negro entendida aqui como uma das subdivis es oficiais do Pantanal O nome rio Negro j faz parte do inconsciente coletivo daqueles que trabalham com o produto Pantanal e est relacionado a superlativos como o mais preservado o mais belo o verdadeiro Pantanal No universo do consumo por que n o dizer o nome est relacionado ao mais caro e mais exclusivo devido a fatores como dist ncia das fazendas e custo com transporte entre outros que ser o apresentados adiante O rio Negro transformou se em uma marca um sub produto do Pantanal objeto de desejo de consumidores interessados em adquirir um produto distinto dos demais Estes consumidores n o s o apenas os turistas mas tamb m pesquisadores de diferentes reas investidores que desejam comprar terras no Pantanal fot grafos e representantes da m dia em geral As fazendas que est o localizadas na microbacia do rio Negro e n o necessariamente na regi o aqui apresentada utilizam esta marca para promover seus neg cios Algumas est o realmente nas proxim
231. s uma iniciativa que prop e unir as ilhas de floresta isto as reas de reserva legal das fazendas s unidades de conserva o no Pantanal de forma que se transformem num corredor de biodiversidade para que as esp cies da fauna e da flora possam ter uma maior variabilidade gen tica Uma das maneiras de fazer com que os corredores se formem e estejam protegidos a cria o de RPPNs 57 Sobre a Regi o do rio Negro pretende se formar o corredor ecol gico chamado Maracaju Negro ligando a Serra de Maracaju ao Parque Estadual do Rio Negro Este parque foi criado em 2005 e est localizado ao lado da fazenda Rio Negro que tamb m foi transformada em RPPN em 2000 quando foi vendida para a CI A compra foi feita no intuito de transformar a fazenda em um centro de conserva o e pesquisa no Pantanal A rea de aproximadamente sete mil hectares vem sendo usada para a pesquisa cient fica oferecendo aos pesquisadores uma infra estrutura de apoio composta por laborat rio alojamento refeit rio e meio de transporte terrestre e aqu tico A propriedade tamb m recebe turistas seguindo o trabalho que j era realizado pelos antigos propriet rios importante registrar que todas as fazendas que est o trabalhando com turismo na Regi o do Rio Negro criaram ou est o em processo de cria o de uma Reserva do Patrim nio Particular Natural A vis o de que ter uma rea de prote o integral e uso sustent vel na fazenda objeto de
232. s o mulheres fortes com habilidades para a cozinha e conserva o da casa Buscou se demonstrar que o turismo e a tecnologia propiciam melhor qualidade de vida s mulheres pantaneiras medida que podem manter contato frequente com seus familiares e com a cidade atrav s do telefone celular e de caronas freq entes nos transportes que levam os turistas Por outro lado o trabalho nas fazendas limita a presen a delas em momentos importantes da educa o e assist ncia sa de de seus filhos e netos da mesma forma que reduz seu tempo de lazer e dedica o s rela es sociais O turismo portanto interfere nas rela es das mulheres com o meio e com suas fam lias de diferentes maneiras positivas e negativas Ao mesmo tempo que eleva a auto estima promove a autonomia e o empoderamento gera cansa o e saudades dos que est o na cidade Da maneira e intensidade com que cresce na regi o a perspectiva que o turismo exer a territorialidades cada vez mais marcantes sobre o ambiente e a sociedade pantaneiros A pecu ria est perdendo espa o em algumas fazendas e com a chegada do turismo o foco da aten o dos propriet rios sobre os homens se reduz dando destaque para as cozinheiras e arrumadeiras que desempenham servi os dom sticos Para os turistas a imagem do Pantanal sempre estar ligada abund ncia e riqueza da vida selvagem e continuar por muito tempo vinculada lida com o gado pelo menos enquanto for vi vel a pecu
233. s referente s mulheres ser o melhores descritos neste cap tulo e demonstram as influ ncias da nova atividade econ mica sobre os h bitos de vida da popula o pantaneira Para melhor compreender a territorialidade do turismo na rea de estudo faz se necess rio antes descrever a conforma o territorial do Pantanal do rio Negro e revelar as pr ticas econ micas e a es ambientais que coexistem nesta regi o 2 2 A CONFORMA O TERRITORIAL DO PANTANAL Sobre a Regi o do rio Negro identificam se diferentes territ rios exercendo in meras territorialidades Como o objeto deste trabalho est relacionado territorialidade do 45 turismo as pr ximas p ginas est o dedicadas descri o da forma o e transforma o da estrutura das fazendas no Pantanal para compreender a op o dos atuais propriet rios rurais da Regi o do rio Negro em promover o turismo como alternativa econ mica pecu ria Apresentam se tamb m as principais amea as ao equil brio ambiental do Pantanal no presente decorrentes da altera o nas pr ticas de manejo do solo e de press es econ micas externas S o realtadas diferentes iniciativas p blicas e privadas que visam contribuir com a conserva o da Regi o do rio Negro para poder enfim compreender as rela es de poder que sustentam a territorialidade do turismo na rea de estudo 2 2 1 A pecu ria bovina no Pantanal O Pantanal foi uma regi o importante de ca a e pesca par
234. s a operadores de turismo internacionais e profissionais da comunica o Dos contatos realizados com alguns operadores internacionais a associa o passou a mediar o relacionamento entre operadores e fazendas atuando como uma operadora local atividade que lhe rende uma porcentagem sobre os pacotes fechados O incremento desta a o nas atribui es da associa o foi o mecanismo encontrado pelos associados para manter os custos fixos da APPAN 68 Em 2004 a associa o contava com 15 pousadas associadas Atualmente h apenas nove pois cinco pousadas fecharam por dificuldades financeiras e uma deixou de ser associada por acreditar n o ter retorno pol tico nem econ mico com a associa o pois afirma que a associa o n o tem conseguido participar do debate sobre turismo junto ao rg o estadual o que deveria ser uma de suas principais a es 2 3 2 Caracteriza o do turismo na Regi o do rio Negro Transformar uma fazenda de pecu ria em uma pousada pantaneira n o uma tarefa f cil e exige muitas mudan as tanto no sistema gerencial da fazenda quanto nos recursos f sicos e principalmente humanos Os pantaneiros que estavam habituados a trabalhar com a pecu ria na lida com os animais constru o e reparo de cercas conserto de trator entre outras atividades passaram a se dedicar a um neg cio que envolve pessoas os turistas que por sua vez possuem expectativas necessidades de consumo exigem servi os esp
235. s da observa o participante foi diagnosticado o universo feminino em quatro fazendas que atuam com turismo na regi o assim como entrevistas n o diretivas foram feitas com propriet rias suas funcion rias e familiares Como resultado da pesquisa verificou se que o trabalho feminino nas fazendas de turismo rduo pois lhes exige for a f sica bem como coragem para permanecer em meio s adversidades do meio como cobras e mosquitos e por estar longe de seus familiares que vivem na cidade Por outro lado medida que aumenta a oferta de trabalho feminino nas fazendas o turismo propicia maior participa o das mulheres na renda familiar e lhes d autonomia para investir em qualidade de vida e educa o de seus filhos e netos Seu trabalho valorizado por seus maridos e pelos propriet rios mas para a maioria dos turistas permanece a figura do homem vaqueiro como a express o da cultura pantaneira As inser es tecnol gicas e o turismo contribuem com a qualidade de vida das mulheres que vivem nas fazendas pois facilitam o acesso e a comunica o com seus familiares Por outro lado o turismo limita suas rela es familiares e sociais com pessoas de fazendas vizinhas pois imp e um ritmo de trabalho e descanso diferenciado do tradicional regime pastoril Este trabalho oferece ainda algumas tend ncias sobre a territorialidade do turismo na Regi o do rio Negro Palavras chave Mulher Pantanal Turismo ABSTRACT Tourism as an
236. s escolas urbanas estabelecido de acordo com o regime das guas no Pantanal as aulas iniciam no come o da esta o seca e encerram antes da cheia Mantidas atrav s de uma parceria dos propriet rios da terra com a prefeitura municipal de Aquidauana as escolas funcionam em regime de semi internato onde os alunos permanecem os dias de semana na escola e os finais de semana junto aos pais Aos propriet rios das fazendas onde est o as escolas coube a constru o dos espa os did ticos de alojamento e alimenta o das crian as bem como a oferta de energia e gua A prefeitura paga professores merendeiras e fornece alimentos esporadicamente devido dificuldade de acesso regi o Muitas vezes os insumos para as refei es dos alunos principalmente a carne s o fornecidos pelas fazendas onde est o as escolas ou pelas localizadas no entorno cujos funcion rios possuem filhos matriculados H pouca participa o financeira na manuten o do espa o por parte dos outros fazendeiros da regi o entretanto as fazendas onde est o situadas as escolas t m conseguido mant las em funcionamento Outro projeto voltado para o habitante do Pantanal e realizado nas escolas pantaneiras foi o Sapicu Pantaneiro Criado por uma produtora cultural que reside em Campo Grande cujo marido possui fazenda na regi o de estudo o projeto iniciou um trabalho de est mulo s pr ticas artesanais nas fazendas como o curtume e uso do couro de gado a conf
237. s fatos mas n o os integrava MORAES 1985 p 72 A Geografia Tradicional a partir da d cada de 1970 sofreu v rias cr ticas por n o acompanhar o desenvolvimento das demais ci ncias devido ao processo de renova o cujas transforma es econ mico sociais o mundo passou a demandar Moraes 1985 afirma que a indefini o do objeto de an lise na Geografia e a generaliza o foram os principais pontos que levaram crise da Geografia Tradicional A Geografia passou ent o a buscar novos caminhos a desenvolver novas correntes em busca de uma renova o Deu espa o a novas abordagens geogr ficas entre elas a Geografia Cr tica fundamentada na materialidade hist rico dial tica marxista ao lado da Geografia Humanista e da Geografia Cultural Diversos s o os ge grafos que abordaram o estudo de regi o na Geografia pela perspectiva do materialismo hist rico e dial tico LACOSTE 2001 SANTOS 1998 Para a realiza o deste trabalho entretanto optou se pela leitura de regi o com foco na identidade cultural Conforme Anne Gilbert duas s o as fontes principais para essa abordagem de regi o A primeira a Geografia Humanista que se ap ia nas filosofias do significado e que em ltima inst ncia concebe a regi o como um espa o vivido GILBERT apud BEZZI 2004 p 205 aproximando se dos conceitos tradicionais de regi o da escola vidaliana A segunda a Geografia Cultural renovada que busca entender as atitudes
238. s h a oportunidade de trocar conhecimentos com pessoas de fora do Pantanal Tamb m bom porque voc conhece muita pessoa de longe que tr s coisa pra gente e tamb m leva da gente Isso muito importante voc conviv V pessoa de Portugal gente diferente tanta gente que passa Eu atendi o presidente uma vez Quando veio aquele cara que faz filme nos EUA ele veio com a gente E muda a rotina da gente eu n o gosto de fic parada quando tem turista a gente nem v o dia pass Claudete servi os gerais 49 anos Trabalhando para os turistas as mais t midas tamb m ganham desenvoltura social pois n o h como fazer o atendimento sem que tenham que tomar a iniciativa de comunicar se com os h spedes Muitas mulheres sofreram no passado com a opress o dos maridos ou pais que exigiam que elas permanecessem caladas na presen a de estranhos ou de pessoas tidas como mais importantes que elas Este tipo de comportamento n o mais observado entre as funcion rias havendo pouca dificuldade de adapta o delas ao atendimento dos h spedes como no caso deles abra las para tirar uma foto ou fazerem uma brincadeira conforme conta esta cozinheira E tamb m tem o atendimento que se eu tenho que l atend eu j s diferente daquela dos otros tempo n Eu v l pergunto se querem mais alguma coisa demonstrando menos timidez Iracema cozinheira 57 anos As melhorias alcan adas a partir da autonomia
239. s novos combater com maior rigidez as formigas no quintal pois as crian as n o percebem os formigueiros na grama isto estes grupos necessitam de aten o maior da equipe de governan a Por fim h os casais em lua de mel cujo quarto arrumado com maior riqueza em detalhes como roupa de cama e banho especiais arranjo de flores naturais aromatizador de ambientes especial entre outros que variam de pousada para pousada H tamb m o cuidado em escolher um quarto mais reservado a fim de dar maior privacidade ao casal As camareiras est o habituadas a arrumar quarto de casal para homossexuais Assim que percebem que se tratam de dois h spedes do mesmo sexo com maior intimidade normalmente este dado n o informado no momento da reserva arrumam quarto de casal para eles N o h surpresas em encontrar duas camas de solteiro juntas em um quarto onde est o dois homens hospedados ou ver duas mulheres sa rem de m os dadas para um passeio de barco Inclusive tomam a iniciativa de juntar as camas adequadamente ou at mesmo trocar por uma de casal ao sentirem que este o desejo dos h spedes Como dito h um cuidado em se referir a estes h spedes pois elas procuram tratar a situa o com naturalidade usando termos como os meninos ou as meninas quando precisam falar a respeito dos casais homossexuais Esta naturalidade em lidar com o homossexualismo n o consegii ncia nica do h bito de conviver c
240. s velhas possuem pois n o h um contexto hist rico que as torne rionegranas de uma hora para outra No momento trabalhar na Regi o do rio Negro ou em outra tem o mesmo significado Valorizam a vantagem de que ali h maior oportunidade de economizar e conhecer pessoas famosas Entretanto o espa o est em transforma o uma vez que din mico e pode vir a produzir atrav s do turismo outros significados para esta nova gera o que levem manuten o ou transforma o dos sentidos impressos na representa o social da Regi o do rio Negro tal como se apresenta hoje 3 1 4 O sentido do trabalho e do lazer O trabalho desenvolvido pelas mulheres bastante valorizado pelos patr es que reconhecem os servi os de limpeza arruma o e gastronomia como essenciais para atividade tur stica As atividades de campo realizadas pelos homens s o destaque na experi ncia do turista pois s o os momentos de lazer e observa o da natureza os maiores motivadores da viagem ao Pantanal Entretanto sem uma boa estrutura na rea de governan a e gastronomia na pousada a viagem pode n o atingir a expectativa esperada Em outras palavras de nada adianta o visitante ver todos os animais selvagens que gostaria se seu quarto ou a comida que for servida estiverem fora do padr o de qualidade esperado Contando com a responsabilidade e experi ncia das mulheres referente ao trabalho dom stico os propriet rios podem se dedicar a outras atividade
241. s vinculadas fazenda ou pousada Isto porque as funcion rias entendem o fazer dom stico como inerente 113 figura feminina e que por isso n o h dificuldades na realiza o das tarefas demandadas pelas pousadas Al m disso a maioria delas est satisfeita com o sal rio que ganha bem como com o cargo que ocupa A maior dificuldade no trabalho segundo elas est em atender ao jeito da patroa Isto est relacionado tanto s exig ncias sanit rias na organiza o e na limpeza na fregi ncia das faxinas no tempero das refei es quanto personalidade da patroa principalmente a maneira como ela lida com os funcion rios Al m disto as funcion rias apontam como dificuldade o relacionamento com os demais funcion rios da fazenda pois o conv vio intenso muitas vezes pode levar a conflitos entre eles Para as propriet rias a dificuldade maior est em encontrar mulheres que saibam atender bem e que permane am na fazenda por per odos longos sem que desejem ir para a cidade com muita fregii ncia Comentam que algumas mulheres chegam para trabalhar j perguntando a data de retorno e que isto n o o que se espera de algu m que se prop e a trabalhar no Pantanal principalmente numa regi o distante como a do rio Negro Nenhuma das funcion rias entrevistadas possui segundo grau completo a maioria parou os estudos no meio do primeiro grau e por isso consideram que o trabalho que executam condizente ao
242. ser vistas como meio pantaneiras s porque colocaram gengibre no doce de leite por exemplo Como afirma Griinewald 2005 o impacto do turismo sobre a cultura n o deve ser apenas analisado pela tica da acultura o uma vez que a cultura din mica e a atividade tur stica contribui com sua reinven o o que leva ao surgimento de novos elementos que ser o incorporados comunidade local podendo dar lhes novas refer ncias identit rias A pantaneiridade no grupo de mulheres que moram e trabalham no Pantanal presente mesmo com as inser es do mundo moderno Se a funcion ria que vive no Pantanal h um ano se considera pantaneira ela o Assim como o pe o que usa bon e come p o no desjejum pois estas pessoas que se identificam como pantaneiras est o mantendo ou gerando novas rela es com o meio que lhes garantem uma identidade Como visto no cap tulo anterior a identidade profundamente influenciada pelo processo de representa o sendo que o intenso uso do Pantanal simb lico interfere na constru o identit ria do indiv duo pantaneiro VARGAS 2006 p 61 O turismo est reconstruindo a no o de identidade pantaneira medida que indica os elementos que caracterizam o ser pantaneiro na atualidade Ao mesmo tempo estas pessoas se reconhecem como tal resultado naturalmente alcan ado pela viv ncia ou constru do pelo processo de auto atribui o Conforme esclarece Vargas a constru
243. servi os existe nas pousadas a possibilidade de haver um complemento de sal rio com as gorjetas ou caixinhas como costumam falar Al m disso as fazendas da Regi o do rio Negro ficam bastante distantes da cidade o que as localizadas na borda do Pantanal na regi o serrana de melhor acesso n o propiciam Este distanciamento n o est apenas relacionado tranq ilidade mas principalmente economia Estar longe da cidade por per odos longos significa deixar de consumir afinal n o se gasta dinheiro nas fazendas pois estas prov m luz gua carne e leite para os funcion rios e suas fam lias Algumas ainda fornecem verduras e rem dios o que permite que a vida no Pantanal seja mais rent vel do que se estivessem na cidade Bom pra mim morar aqui bom Quer ver Por exemplo voc fica aqui um temp o sem ir na cidade quando voc vai voc tem dinheiro N o compensa voc morar perto da cidade em fazenda beira de serra Se todo m s voc vai na cidade voc guarda dinheiro N o de que jeito E aqui n o quando voc vai l voc tem dinheiro guardado para mim vantagem Irene cozinheira 46 anos Observa se que muitas mulheres encaram o trabalho no Pantanal como um per odo para economizar e realizar seu sonho que praticamente un nime entre as entrevistadas a casa pr pria Algumas j conseguiram comprar suas casas na cidade mas lhes falta murar o terreno fazer uma reforma isto h semp
244. servi os gerais Na atividade tur stica essencial que o trabalhador possua o conhecimento referente ao tempo de vazante das guas a localiza o do canal do rio prop cio para navega o os pontos de pesca de observa o de animais selvagens do casqueamento dos cavalos para que resistam gua na esta o mida dentre outras quest es de cunho natural que regulam o ritmo e o tempo de trabalho no Pantanal No que tange ao universo feminino cada Pantanal tem sua especificidade sobretudo em rela o ao trabalho dom stico diretamente vinculado gua Aquelas que trabalham no Pantanal do rio Negro devido cor escura da gua sabem como lavar uma roupa branca sem que esta manche deixando a de molho em gua com bastante sab o porque pouco sab o ir manchar mais ainda como limpar a lou a do banheiro que fica escurecida esfregando a com areia e a folha da rvore lixeira Curatella americana enfim possuem uma riqueza de conhecimentos emp ricos que demonstram profunda intimidade com o meio 1 2 2 Elementos hist ricos Os entrevistados que afirmaram trabalhar na Regi o do rio Negro assim a denominam por considerar a Fazenda Rio Negro a fazenda m e das demais propriedades ao redor Para um dos entrevistados a Fazenda Rio Negro o tronco do Pantanal foi a partir dela que vieram as outras fazendas Cl udio 63 anos servi os gerais A Fazenda Rio Negro abrangia inicialmente uma rea de aproximada
245. servi os gerais 49 anos Mesmo com as mudan as ocorridas ao longo do tempo verifica se no relato das funcion rias maiores de 35 anos prazer em viver na fazenda e nostalgia do tempo sem eletricidade em que as pessoas eram mais pr ximas Eu moro aqui no Pantanal n o acho lindo n o Acho bonito bom de morar eu gosto isso que representa pra mim Eu gosto de morar Quando eu to na fazenda n o tem nada o que eu n o goste de fazer n o Tem gente que gosta de sentar e tomar um terer Eu gosto assim de se puder pegar um cavalo e sair assim ir pra beira do rio pescar Eu gosto muito de pescar assim Quando eu era menina o que mudou eu acho que hoje a fazenda t bem dizer que nem cidade n Porque n o era assim De primeiro a fazenda esse Pantanal todo n o tinha luz n o tinha o conforto que hoje nas fazenda tem Era tudo na vela lamparina hoje n o Eu lembro pra mim que quando eu era crian a mais nova era melhor que agora Hoje em dia j t tudo mais moderno eu acho Hoje em dia nas fazenda escureceu voc j liga uma televis o e fica assistindo e vai dormir Antes quem morava na fazenda saia de noite ia na casa de um vizinho tomava um mate conversava Hoje em dia n o tem mais assim Aquele jeito mesmo que era de fazenda Hoje em dia tudo mudou Aqui a gente pega um cavalo e vai na beira do rio pescar n Mas j n o mais como era naquela poca N dia cozinheira 39 anos
246. so de Iracema o Pantanal o local onde se sentem em casa Em seus discursos a rela o de pertencimento ao espa o mais expressiva que a rela o de trabalho Entretanto todas possuem o objetivo de conquistar um espa o pr prio na cidade para quando se aposentarem por isso tantos anos de dedica o e trabalho para economizar 112 construir uma casa e mobili la com este objetivo que moram e trabalham no Pantanal Portanto pode se afirmar que no presente a Regi o do rio Negro seu lugar de trabalho mas tamb m de morada e que no futuro seu lugar ser na cidade onde ser o donas de seu pr prio espa o Para este grupo de mulheres o Pantanal configura este sentimento de familiaridade sossego seguran a por causa da experi ncia de topofilia TUAN 1980 que estabeleceram com a regi o o que Relph 1979 considera como lugar isto o espa o nico e particular por que se tem afei o por possuir significado e por ser o centro a partir do qual se olha para o restante do mundo Essa rela o com a regi o sempre far parte da vida destas mulheres mesmo quando estiverem morando definitivamente na cidade pois ser presente em suas mem rias J para o grupo de mulheres mais jovens a rela o de trabalho com o Pantanal prevalece sobre a de morada o espa o que representa economia a ser desfrutada na cidade N o h como desenvolver a mesma rela o com a regi o da maneira como as mai
247. ssaram a inf ncia e adolesc ncia na regi o Para os patr es o fato de a funcion ria ter nascido na regi o positivo pois para estes contratar uma pessoa da regi o significa poder contar com uma pessoa que vai ag entar o ritmo de trabalho o desconforto que possa existir no per odo das chuvas e dos mosquitos e principalmente que permanecer na fazenda por um tempo maior se comparado ao tempo que ficaria uma pessoa de fora Tamb m est relacionado ao fato de existir la os de amizade e confian a entre as fam lias de patr es e funcion rios constru dos ao longo do tempo Foi o que identificou Banducci Jr 1995 nas fazendas da Nhecol ndia O vaqueiro pantaneiro tem tradi o de mobilidade e esta muitas vezes n o motivada por um sal rio melhor mas sim pela necessidade pessoal de mudan a que pode ser gerada por diferentes fatores como insatisfa o com o local de trabalho Para o antrop logo a mobilidade est relacionada seguran a de que h trabalho em outra fazenda e certeza de que continuar vivendo em seu contexto social p 72 As redes de relacionamentos parentesco e compadrio que se formam permitem que haja uma perman ncia maior de pessoas com v nculos afetivos com a regi o trabalhando nas fazendas mesmo neste momento de intensas transforma es na din mica do espa o No contexto das fazendas que trabalham com turismo na Regi o do rio Negro essa mobilidade ainda mais vis vel
248. sta pesquisa Observou se que para a maioria dos entrevistados responder a esta pergunta n o f cil pois ser pantaneiro tem uma carga simb lica que remete a um modo espec fico de ser de vestir de viver definidos com base nos significados que a sociedade como um todo estabelece para dizer o que ser ou deixar de ser pantaneiro Com 36 anos de idade Nilson trabalha como vaqueiro no Pantanal h 21 anos N o se considera pantaneiro porque nasceu e morou na cidade at os 15 anos porque gosta de usar bon ao inv s de chap u de palha e porque gosta de comer p o e bolo no desjejum ao inv s de arroz carreteiro diferentemente dos demais colegas de trabalho Para a turista 4 Canclini 2003 alerta para o fato de que se n o for a participa o e o interesse da popula o local na continuidade da produ o cultural determinada em manter sua heran a renovada os diferentes usos do patrim nio cultural seriam imposs veis p 215 4 Cf CANCLINI 2003 p 217 79 francesa Louise de 49 anos que o conheceu e com ele conviveu durante sua estada na fazenda este vaqueiro pantaneiro pois possui dom nio sobre os cavalos e o gado conhece bem a natureza e a respeita toma terer e sabe fazer churrasco de fogo de ch o Em algum momento foi repassado a esse vaqueiro o valor de que usar chap u de palha o faz ser pantaneiro e usar bon n o que comer comida salgada de manh o chamado quebra torto h bito de pantaneiro
249. ste transporte se transforma em uma op o cara porque cada grupo paga pelo v o de ida e de volta da aeronave 70 Por exemplo o turista paga quatro horas v o para fazer sua viagem ao Pantanal a partir de Campo Grande para levar o turista fazenda a aeronave gasta duas horas v o uma para lev los e outra para retornar cidade No momento de busc los na fazenda gasta mais duas horas v o uma para ir at a fazenda peg los e outra para lev los at Campo Grande Atualmente o custo da hora v o de R 1 000 00 o que significa que para chegar ao Pantanal do rio Negro em avi o fretado a partir de Campo Grande gasta se R 4 000 00 s em transporte As aeronaves maiores possuem capacidade para cinco pessoas assim o custo por pessoa fica em torno de R 800 00 Mas h aqueles que preferem a aventura de enfrentar seis horas de estrada de ch o e fretam ve culos com tra o nas quatro rodas com motorista para fazer o percurso terrestre Da mesma forma pagam o transporte de ida e de volta pois o carro viaja duas vezes ao Pantanal uma para levar os turistas e outra para busc los Em Land Rover ve culo preferido pelos turistas para fazer esse percurso o custo da viagem completa fica em torno de R 1 000 00 Entretanto essa viagem terrestre vi vel somente entre os meses de junho e novembro no restante do ano per odo de cheia e vaz o das guas o acesso se restringe ao transporte a reo A di ria de hospedagem nas fa
250. stica localizadas em um trecho de aproximadamente 56 km do rio Negro no sul do Pantanal brasileiro entre os munic pios de Aquidauana e Corumb no Estado de Mato Grosso do Sul quando o leito do rio corre entre os alagados citados acima De acordo com a subdivis o regional do Pantanal apresentada por Ad moli 1982 associada ao Estudo de Desenvolvimento Integrado da Bacia do Alto Paraguai EDIBAP a rea de estudo est localizada em uma por o da subregi o Nhecol ndia e outra das subregi es Abobral Aquidauana e Miranda ver figura 1 Esta subdivis o de Ad moli foi estabelecida com base em dados de estudos referente aos aspectos fisiomorfol gicos e geopol ticos do Pantanal e uma das mais aceitas entre a comunidade acad mica Outra subdivis o existente a realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisas Geogr ficas IBGE feita com base na rede de drenagem do Pantanal Nesta subdivis o o Pantanal foi repartido em diferentes reas entre eles o Pantanal do Negro Pantanal do Miranda Aquidauana e Pantanal do Taquari que abrangem a rea de estudo da presente In EARTHWATCH INSITITUTE Relat rio Anual 2004 Centro de Pesquisa e Conserva o do Pantanal Dispon vel em http www earthwatch org site pp asp c dsJSK6PFJnH amp b 1574583 Acesso em 02 set 2007 15 pesquisa ver figura 2 importante salientar que o Pantanal do Negro delimitado pelo IBGE abrange uma
251. tas vezes elas ficam privadas de acompanhar o desenvolvimento das crian as de estar presente nos momentos importantes da educa o infantil cuidarem deles quando est o doentes etc H unanimidade no depoimento das m es e av s pantaneiras que dos filhos e ou netos que mais sentem falta quando est o na fazenda Este o tema predominante nas conversas durante a roda de terer nas visitas aos vizinhos nos per odos de pouco movimento de turistas al m de ser o principal motivo que as leva a pedir folga no trabalho e ir para a cidade Este pedido s vezes surge mascarado por diferentes outros motivos como ir a uma consulta m dica atender um parente doente a necessidade de retirar um documento pois acreditam que sentir saudades dos familiares n o um motivo suficiente para tirar uma folga que n o estava prevista Isto o que conta a lavadeira Silvana de 54 anos quando afirma que n o se sente a vontade em pedir ao patr o para ir cidade simplesmente porque est com saudades do neto Ela confessa que por mais de uma vez inventou alguma desculpa para poder estar presente na festa de anivers rio dele ou na apresenta o de fim de ano na escola Preocupa o maior surge quando netos e filhos ficam doentes L ia ex propriet ria que hoje mora na cidade comenta que reza todos os dias pelas m es pantaneiras pois sabe a dificuldade que estar isolada no Pantanal sem poder atender s necessidades dos familiares na cidade
252. te com a cidade o que os donos das pousadas afirmam n o poder oferecer Se as mulheres que moram e trabalham com turismo na Regi o do rio Negro s o ou n o pantaneiras cada um tem uma opini o O fato que at mesmo aquelas mais jovens que est o a pouco tempo trabalhando no Pantanal se reconhecem como pantaneiras pelo fato de estarem dispostas a morar no fim de mundo Um leque de elementos aos quais elas cr em como diferencias faz com que se sintam diferentes de uma mulher n o pantaneira e isto visto de maneira positiva pois todas afirmam que ser pantaneira uma coisa boa Algumas se denominam um pouco pantaneiras por respeito quelas que consideram totalmente pantaneiras uma vez que o fato de terem nascido ou morado por longo per odo no Pantanal faz estas mulheres terem um grau maior de pantaneiridade que as outras Aqueles que afirmam que mulher pantaneira n o existe mais esquecem que o Pantanal n o mais o mesmo de 30 anos atr s e que portanto as pessoas que o habitam e sua cultura tamb m est o passando por modifica es acompanhando inevitavelmente o desenvolvimento da sociedade Eles afirmam que as mulheres de hoje n o sabem desnatar o leite criar galinhas reclamam em andar de trator s o muito vaidosas e que por isso n o podem ser consideradas pantaneiras Eles esquecem que estas mulheres nasceram em um momento hist rico em que outros valores est o sendo ressaltados em sua educa o mas que a
253. te de carne t pico pantaneiro localizado pr ximo ao lombo do boi o porco pururuca carne de porco monteiro assado o pucheiro carne com osso cozida a chipa bolinho assado preparado com queijo e polvilho e o doce de leite e doces de frutas em geral servidos como sobremesa No Pantanal do rio Negro a produ o e o consumo desses produtos se d o in loco A comercializa o de um la o de couro ou de um doce de leite ambos para viagem ou seja para serem consumidos fora do Pantanal ainda pequena mesmo ap s os est mulos dados pelo Projeto Sapicu Pantaneiro Entretanto h pessoas que conhecem o valor de seu artesanato e demonstram desenvoltura pra vender seus trabalhos o caso de um pe o que atualmente produz la os em couro com o objetivo de vender para os turistas Afirma que passou a trabalhar o couro em outro hor rio que o usual atividade tradicionalmente realizada antes do amanhecer ou aos domingos para que os turistas possam visualiz lo trabalhando e se interessem em comprar Quando perguntado sobre o valor do seu la o a resposta foi r pida e em d lares colocando o valor do produto a cima de U 50 00 A produ o artesanal est deixando de ter um car ter estritamente utilit rio para incorporar a quest o comercial Assim como outras manifesta es culturais est o sendo apropriadas pela nova economia do espa o n o apenas para serem expostas aos turistas mas tamb m para satisfazer a curiosidade e
254. te de fora voc conhece muitas pessoas de fora turistas A gente passa a conhecer Arlinda camareira 27 anos Observa se que para esta mulher ser pantaneira morar em fazenda que recebe visitantes isto uma fazenda de turismo Ela conheceu o Pantanal com a atividade tur stica e se considera um pouco pantaneira pois apesar de n o ter sido criada no Pantanal est morando na fazenda h tr s anos e portanto est habituada ao modo de vida local Os turistas n o convivem tempo suficiente com as mulheres para poderem diferenciar a mulher pantaneira da meio pantaneira por exemplo Eles sabem diferenciar a propriet ria das funcion rias e as funcion rias pantaneiras das n o pantaneiras estas ltimas sendo as que ocupam outros cargos na pousada como guia bil ngiie e ger ncia Entre 132 propriet rias esposos e funcion rias existe a figura da meio pantaneira ou mulher do Pantanal mas isto n o identificado pelos turistas Para os propriet rios de pousada que buscam manter as caracter sticas regionais na presta o de servi os contratar mulheres pantaneiras do Pantanal ou meio pantaneiras indiferente pois o importante que d em conta do trabalho Entretanto d o prefer ncia s que possuem algum tipo de v nculo com a regi o pois sabem que as demais encontram dificuldade de adapta o s adversidades do meio e necessitam de contato mais frequen
255. te em escolas na cidade a fim de lhes prover uma educa o continuada Uma das propriet rias de fazenda tem outra opini o Ela afirma que a prefer ncia por escolas da cidade se deve ao programa de governo federal chamado Bolsa Fam lia em que as fam lias brasileiras de baixa renda que comprovarem que est o mantendo os filhos na escola recebem aux lio econ mico mensal Para ela muitas vezes a preocupa o dos pais n o a de que o filho estude mas sim a de que a fam lia n o perca o benef cio do governo O que percebe que na Regi o do rio Negro vem aumentando a presen a de mulheres em fun o da demanda de trabalho com turismo e diminuindo o n mero de crian as matriculadas na escola o que faz com que as rela es familiares entre m es e filhos sejam cada vez mais mantidas dist ncia 137 3 3 2 Casamentos e namoros Entre as mulheres casadas que trabalham na regi o todas est o acompanhadas dos maridos nas fazendas Alguns deles trabalham como guias de campo outros prestam servi o de manuten o da pousada ou permanecem como pe es sem se envolver diretamente com a atividade tur stica Eles n o revelam sentir ci mes de suas esposas pelo fato de elas estarem em conv vio com os turistas Da mesma forma aquelas cujos maridos s o guias demonstram n o se importar com o contato que os maridos t m com as turistas porque entendem isso como trabalho Outro dia ele foi levar uma mulherada tudo loira
256. tensos e exigem aten o racioc nio r pido dedica o e paci ncia Ambos exigem habilidades em gest o de pessoas pois o tempo todo est o se relacionando e coordenando a es Enquanto uma passa a manh sobre um cavalo sob sol acompanhando os h spedes no campo a outra fica em p sob o calor do fog o a lenha preparando as refei es 106 e lavando vasilhas Da mesma forma enquanto a propriet ria est atenta administra o da fazenda aos problemas da fam lia que est na cidade organiza o da viagem do outro grupo que est por chegar a cozinheira est coordenando a limpeza da pousada o trabalho do praieiro planejando o card pio da semana pensando na filha que est na cidade Durante um dia de trabalho em que h turistas na fazenda ambas seguem a mesma jornada de 15 horas de trabalho contando o tempo destinado para atividades dedicadas fazenda e atividades particulares estas realizadas quando poss vel No per odo em que n o h turismo o tempo de trabalho em m dia reduzido para nove horas di rias pois na maioria das vezes as atividades cessam ao entardecer Comparando com a rotina de trabalho dos homens observa se que mesmo quando n o h turistas na fazenda as mulheres possuem uma jornada mais longa de trabalho pois o compromisso com a arruma o e limpeza da cozinha ap s as refei es estende a perman ncia delas na casa sede A descri o agui desenvolvida a respeito do cotidi
257. tiverem aposentados 3 1 6 As mulheres diante da mobilidade dos turistas Foi exposto que a rotina das fazendas e das mulheres sofre altera es quando h presen a de h spedes na pousada Em algumas fazendas o turismo t o freqiiente que a mudan a da rotina se d quando n o h h spedes na pousada e da forma como o turismo est crescendo na regi o a tend ncia que ganhe cada vez mais espa o no cotidiano das fazendas Na Regi o do rio Negro o n mero de turistas estrangeiros um pouco maior que o de turistas brasileiros sendo os estrangeiros em sua maioria provenientes da Europa e os brasileiros do Estado de S o Paulo A pesquisa feita por BARROS e HARTENTHAUER 2003 identificou que os elementos natureza e rela o interpessoal com a popula o local configuram o mesmo ndice de satisfa o dos turistas ao t rmino da viagem Entretanto os dados n o revelam qual era a expectativa deles antes de sua chegada As pousadas n o costumam registrar dados sobre o perfil do turista mas afirmam que em sua maioria s o pessoas com alto poder aquisitivo cujo motivo da viagem conhecer a natureza do Pantanal Esta a impress o que as mulheres funcion rias tamb m t m a respeito dos turistas Para elas s o pessoas ricas Afirmam isto por observarem a forma como se vestem como se sentam mesa pelo fato de terem condi es de fretar um avi o para chegar ao Pantanal Acreditam que o principal objetivo que os leva
258. tos est o aguardando recursos para sua continuidade Em paralelo ao Parque Natural Regional do Pantanal outras iniciativas de cria o de unidades de conserva o na Regi o do Rio Negro foram realizadas Em meados da 56 d cada de 1990 duas propriet rias rurais da regi o de estudo j haviam transformado parte de suas fazendas em unidade de conserva o classificada pelo Sistema Nacional de Unidades de Conserva o SNUC como Reserva do Patrim nio Particular Natural RPPN uma unidade de uso sustent vel que permite o uso p blico atrav s de atividades de pesquisa cient fica e turismo Segundo elas a atitude de doar parte de seu patrim nio Uni o se deve em primeira inst ncia perspectiva de redu o do Imposto Territorial Rural ITR afinal as reas doadas nunca foram e nunca ser o teis para o uso direto uma vez que s o praticamente inacess veis n o fazendo sentido pagar imposto sobre uma rea que n o tem uso nem perspectiva de uso Em segundo momento as reas possuem uma diversidade de ambientes aqu ticos que devem ser conservados O relato a seguir foi dado pela propriet ria da RPPN Santa Sophia Sra Beatriz Rondon e demonstra a vis o dos propriet rios da Regi o do rio Negro de que conservar pode ser uma estrat gia lucrativa A RPPN foi criada para eu ter uma redu o nos impostos de uma rea que eu n o conseguia eu n o consigo usar n o consigo nem chegar l E uma rea muit
259. tural desta regi o n o recente Na d cada de 1970 houve uma proposta do Minist rio do Meio Ambiente em transformar a regi o de estudo em um Parque Nacional Para tal seria necess rio desapropriar v rios fazendeiros alguns com uma grande for a pol tica na esfera federal Estes fazendeiros conseguiram despistar o governo e eleger a Serra do Amolar na fronteira com a Bol via como preferencial para a cria o do parque com a fundamenta o de que o rio Negro s encontrava se preservado devido forma como se deu a ocupa o na rea e que ela se manteria assim se fossem mantidas as pessoas que ali sempre habitaram No in cio da d cada de 1980 os governos brasileiro e franc s bem como as institui es econ micas e de meio ambiente dos dois pa ses debateram a inser o do modelo franc s de Parque Natural Regional no Pantanal PNRP como alternativa de desenvolvimento econ mico e sustent vel Este modelo na gest o tem como princ pio o envolvimento volunt rio de propriet rios rurais compreendendo exclusivamente terras privadas n o necessariamente cont guas Depois de alguns anos de debates e acordos foi criado em 2002 o Parque Natural Regional do Pantanal atrav s de um cons rcio entre propriet rios rurais e Estado pela gest o compartilhada dos territ rios de suas propriedades A rea escolhida para a implanta o do PNRP foi de aproximadamente cinco milh es de hectares na bacia do rio Negro abrangendo todas as f
260. u porque da tenho que cozinh e limp j sei disso ent o nem falo A cozinheira tem medo que a colega de trabalho n o goste de sua atitude e abandone o posto de trabalho o que faria com que ela acumulasse fun es at uma nova diarista ser chamada contato com a natureza e a cultura local inevit vel que estas tecnologias chamem a aten o dos funcion rios da fazenda e que possam gerar inten es de compra e consumo destes produtos Mas importante salientar que esta inser o tecnol gica promovida pelos turistas no ambiente rural pantaneiro bastante positiva medida que propicia a democratiza o da informa o 101 A mesma postura observada no trabalho de Francisca 47 anos governanta em outra pousada da regi o Ela respons vel por gerenciar um grupo de tr s mulheres e comenta a dificuldade que tem em delegar fun es Eu vejo que eu s muito cricri com as coisa tipo a limpeza tem pessoas que n o limpam igual eu limpo Porque n o todo mundo que faz igual a voc n Essa a maior dificuldade que eu tenho de arrumar uma pessoa certa que limpa igual eu limpo A eu acabo fazendo as coisa do meu jeito As vezes mando elas descans e v l e fa o tudo de novo Eu vejo que eu n o consigo mand faz do meu jeito e da acabo trabalhando mais que todo mundo Francisca governanta 47 anos A cobran a por um padr o de limpeza comum entre as mulheres que moram e trabalham
261. ualmente duas gera es convivem nas fazendas da regi o uma com pessoas acima de 45 anos os chamados rionegranos e outra com pessoas mais jovens provenientes da cidade que est o na fazenda devido oportunidade de emprego 34 por recomenda o de algum parente ou similar Os filhos e netos dos rionegranos n o compartilham o mesmo espa o vivido pois em sua maioria est o trabalhando e construindo suas vidas na cidade Ao mesmo tempo essa gera o mais nova que est no campo tem incorporado muitos destes valores mas n o carrega consigo o sentimento de perten a regi o pois n o possuem v nculo hist rico com ela As transforma es no espa o s o muito r pidas fazendo com que a regi o que poss vel visualizar hoje talvez n o o seja daqui 30 anos Entretanto no presente momento os rionegranos permanecem compondo o cen rio pantaneiro e se distinguem dos demais pantaneiros O que diferencia o pantaneiro do rio Negro do pantaneiro do Taquari por exemplo n o o seu modo de vestir ou de falar um conjunto de s mbolos que o faz ser parte daquele meio s o as rela es entre as pessoas que estabelecem v nculos de afetividade com aquele espa o H uma por o do Pantanal que confere identidade a um grupo espec fico de pessoas e estes la os com o espa o formam uma regi o o que ressalta Bezzi 2004 ao afirmar que a regi o materializa se medida que representa uma realidade vivida por uma coleti
262. ue o turismo a melhor alternativa de sobreviv ncia das fazendas pantaneiras em meio crise da pecu ria quatro fazendas da Regi o do rio Negro est o dedicadas a promover um novo sistema de trabalho uma nova forma de intera o com o ambiente um novo produto que lhes aumente a renda e as perspectivas de futuro 3 In EMBRATUR IBAMA 1994 63 2 3 1 Caracteriza o das fazendas a Fazenda Rio Negro Foi pioneira em trabalhar com turismo na regi o A voca o para o turismo foi despertada ap s a realiza o da novela Pantanal em 1989 que exigiu uma reestrutura o f sica e humana da fazenda para atender a um fluxo de aproximadamente 40 pessoas por dia envolvidas com as grava es da novela no decorrer de um ano Esta reestrutura o incluiu adaptar os quartos para h spedes existentes e construir novos quartos para abrigar esse contingente aumentar o refeit rio e a capacidade da cozinha para o preparo das refei es capacitar os vaqueiros e as mulheres da fazenda para atender s necessidades da equipe de filmagem adaptar o hor rio de trabalho com a pecu ria de acordo com o hor rio demandado pelos visitantes A refer ncia dada pela novela em mbito nacional facilitou a divulga o do turismo na fazenda que permaneceu recebendo turistas durante nove anos at que em 1999 foi vendida para a organiza o n o governamental ONG Conserva o Internacional e transformada em Reserva Particular do Patrim
263. ue quando se trata de cosm ticos n o resiste em sentir o cheiro ou ler o r tulo para entender qual o uso Foi o caso de um aparelho de Sistema de Posicionamento Global GPS que encontrou gt Muitos turistas apesar de terem optado por viajar para um ambiente distante do mundo urbano e suas tecnologias carregam consigo equipamentos como o GPS que serve justamente para saber sua localiza o geogr fica computador e v deo game port til aparelho de m sica digital e at mesmo aparelho de telefone celular afastando se da inten o inicial da viagem descansar desligar se do mundo do trabalho e estar em 100 ca do ao lado da cama Ela conta que ao tir lo do ch o observou os detalhes e na oportunidade que p de perguntou a um dos guias de campo o que era aquilo Gilda e as demais mulheres que prestam servi o como arrumadeiras s o as nicas pessoas da pousada que t m acesso intimidade de cada h spede Adriana que tamb m trabalha esporadicamente como camareira s que em outra fazenda comentou que j se surpreendeu ao observar que h h spedes homossexuais na fazenda como comenta Me mandaram preparar um quarto duplo pra dois homens No outro dia quando fui arrum o quarto as cama tavam junta eles tinha amarrado com cinto os p da cama Intimidades como esta s o observadas e comentadas somente entre elas pois n o costumam repassar para pessoas de fora do grupo de trabalho principalmente na presen a d
264. ue se observa que estes propriet rios buscam manter o car ter privativo do rio a sensa o de que o rio deles em desconformidade com a Constitui o Federal Art 20 II que diz que s o bens da Uni o os lagos rios e quaisquer correntes de gua em terreno de seu dom nio ou que banhem mais de um Estado sirvam de limites com outros pa ses ou se estendam a territ rio estrangeiro ou dele provenham bem como os terrenos marginais e as praias fluviais Isto significa que qualquer pessoa que tenha acesso ao rio por meio de estrada pode fazer uso particular do mesmo e tamb m de suas praias sem autoriza o pr via das fazendas que o margeiam A fim de regulamentar o uso do rio fazendeiros do planalto e da plan cie se uniram e criaram a Associa o Vale do Rio Negro AVRN em 1999 A primeira a o concreta foi a cria o e aprova o de uma lei estadual que pro be a retirada de peixes do rio Negro autorizando somente a pr tica do pesque e solte como atividade de pesca esportiva Outra conquista foi um acordo entre os propriet rios em limitar a quantidade de barcos por fazenda a velocidade de navega o a pot ncia dos motores e proibir o camping na beira do rio orientando a chamar a pol cia ambiental se houver algu m de fora acampando na barranca do rio Segundo a presidente da associa o Sra Beatriz Rondon o principal problema da AVRN que os propriet rios s participam e aderem s propostas quando
265. um espa o de topofilia Constatou se que existe uma dimens o de mem ria que comum aos entrevistados resultado da viv ncia destas pessoas nesta rea passada de gera o para gera o e talvez mantida mesmo com a altera o nos modos de produ o do espa o Estas pessoas possuem uma intimidade com a rea que as permite demarc la e denomin la como Regi o do rio Negro ou tamb m como Pantanal do rio Negro Conforme explica Lecioni 2003 a regi o definida pelo sentimento de perten a dos indiv duos a uma rede de lugares Esse sentimento de perten a resiste mesmo quando a din mica modifica os v nculos entre os lugares p 155 Ao observar as rela es que configuram a regi o de estudo pode se afirmar que as fazendas que a comp em s o ocupadas cada uma delas por pequenos grupos sociais que devido s rela es humanas articulam se em uma rede de relacionamentos sociais e afetivos orientados por rela es de parentesco ou quest es econ micas e de trabalho constituindo uma din mica pr pria de rela es bastante vinculada quele espa o f sico e social o que permite inferir seu car ter de Regi o Ao investigar a Regi o do rio Negro como um espa o vivido ou um espa o social onde tamb m se configuram as rela es de produ o necess rio considerar as 24 rela es econ micas como estruturas fundamentais deste espa o A pecu ria extensiva foi durante dois s culos a principal ati
266. vidade Para a autora a cultura o elo entre a materialidade do espa o e as caracter sticas da exist ncia e consci ncia social p 211 que fazem da regi o o espa o identit rio de um grupo A identidade debatida entre os ge grafos sob o aspecto do territ rio quando este entendido como espa o vivido como o v nculo afetivo e cultural com a terra que se materializa ao abranger um conjunto de lugares hierarquizados conectados a uma rede de itiner rios BONNEMAISON 2002 p 99 Seguindo esta abordagem a regi o que se procura configurar neste trabalho pode ser entendida como um territ rio para alguns ge grafos medida que se considera regi o como espa o vivido Sendo assim a identidade territorial debatida entre os ge grafos que abordam a categoria territ rio sob a tica cultural a identidade regional debatida entre os ge grafos que abordam a categoria regi o Ao final todos est o se referindo a um aspecto comum a identidade gerada em fun o da apropria o simb lico cultural de uma por o do espa o A identidade territorial no Pantanal um dos temas de estudo de Vargas 2006 Com base na obra de Haesbert 1999 a autora afirma que a identidade territorial est vinculada rela o de apropria o de id ias e material Para ela as identidades se situam frente ou num espa o simb lico social e historicamente produzido VARGAS 2006 p 60 35 Os rionegranos assim se reconhece
267. vidade econ mica das fazendas no Pantanal determinante da din mica local conforme ser discutido no pr ximo cap tulo Desde a d cada de 1990 o turismo vem sendo introduzido na rea de estudo como uma alternativa econ mica pecu ria A crise na produ o de gado bovino atingiu as fazendas pantaneiras em decorr ncia da diminui o no tamanho das terras reflexo da constante divis o entre herdeiros bem como da concorr ncia com outros mercados produtores que visam um consumidor cada vez mais exigente com tecnologia e bons pre os o que eleva os custos de produ o A mudan a no modo de produ o do espa o atrav s da inclus o da atividade tur stica tende a provocar altera es nas rela es de trabalho e nas rela es dos seres humanos com o meio Uma das propostas desta pesquisa verificar de que forma o turismo na rea de estudo enquanto uma das atividades que contribuem com certas transforma es na din mica local est influenciando a rela o dos indiv duos entre si e deles com o meio Do mesmo modo pretende investigar como a regi o formada por esta categoria social vinculada ao universo pastoril vem resistindo e ou se adaptando s mudan as no sistema produtivo sobretudo no que se refere s interfer ncias impostas pelo turismo medida que altera a din mica das fazendas alerta se para o fato de que o turismo pode vir a promover mudan as significativas no contexto do trabalho e nas rela es das pessoas
268. visitantes na casa O cuidado com o corpo vai al m da vaidade Beatriz apesar da idade continua ativa no trabalho de campo sobre o cavalo Ela precisa estar em forma para atender a demanda de trabalho na fazenda Costuma acompanhar seu gerente e pe es na rotina do trabalho do gado o que pode se traduzir num dia inteiro sobre o cavalo Al m disso costuma viajar com amigos uma vez ao ano para cavalgar J conheceu diferentes e ex ticas paisagens do mundo a cavalo 90 Mas n o s o trabalho com os animais que demanda uma boa sa de f sica e mental O contato di rio com os turistas exige bastante energia n o sobrando tempo para descanso Al m de estar presente nas refei es e entreter os visitantes com assuntos interessantes e agrad veis ela os acompanha nos passeios Quando eles est o descansando ap s o almo o ou ao amanhecer ela est em contato com a equipe de funcion rios organizando o trabalho do dia e negociando com os parceiros do turismo as reservas e organiza o das viagens de grupos de turistas que est o por vir Nestes momentos tamb m se dedica fam lia muitas vezes por telefone atendendo m e e aos filhos Assim como Beatriz as outras duas mulheres propriet rias de fazenda tur stica na regi o incorporaram a figura de anfitri s e administram seu dia entre as atividades dom sticas atender aos filhos e netos muitas vezes dist ncia coordenar a equipe de mulheres que cuidam da casa gerencia
269. zendas da regi o varia entre R 330 00 e R 450 00 incluso as tr s refei es e dois passeios por dia Os demais servi os oferecidos lavanderia bebidas uso de telefone e internet n o est o inclusos na di ria a exce o da fazenda Santa Sophia onde gua refrigerante e cerveja podem ser consumidos sem gerar custos extras ao turista Uma viagem convencional a uma fazenda na Regi o do rio Negro tem dura o de cinco dias e quatro noites e feita em transporte a reo Para uma fam lia de quatro pessoas que optam por viajar direto de Campo Grande o custo da viagem fica em aproximadamente R 11 000 00 ou R 2 750 00 por pessoa O alto custo da viagem se deve em grande parte ao pre o do transporte mas o valor da hospedagem tamb m se torna alto medida que a capacidade de acomoda o nas fazendas pequena e o custo para se manter a estrutura funcionando alto Para o gerente da Fazenda Barra Mansa h alguns servi os que possuem alto custo de manuten o mas s o detalhes que fazem a diferen a no atendimento como o caso do ar condicionado televis o e internet via sat lite H ainda a quest o da log stica para suprir a fazenda com insumos para consumo dos turistas que bastante complicada principalmente na poca da cheia em que o acesso ainda mais restrito 71 N s transportamos caixas de bebidas fardos de alimentos material de limpeza tudo de avi o As vezes quebra uma pe a do carro precisa

Pollianna Thomé

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