Home

baixar

1. amesesaisrranarolsasiemmesonoiasasesospET Aa ee Een E E EERE 1 4 2 3 Entrevistas interativas reflexivas de cunho coletivo 1 4 3 Terceiro percurso an lise dos dados rea 1 5 Olhares e artif cios do olhar a descri o etnogr fica iti CAP TULO II TESSITURAS HIST RICAS E REFLEXIVAS ACERCA DO LIVRO DID TICO inina sind Saia ae ann i a ake 2 1 Tecendo hist ria o livro did tico no mundo e no Brasil 2 2 A escolha do livro did tico aproxima es com a realidade 2 3 O livro did tico aos olhos das professoras eeseseeeeeeeeessersseesrssreeseseseeresee 2 3 1 Di logos e concep es raies e eE EA E R Ea eee 2 3 2 O livro did tico como potencializador de conhecimento seeseseeeeesesereeeereeee 15 25 26 30 31 34 40 42 42 44 44 46 50 51 53 58 63 69 75 76 19 CAP TULO III DESCORTINANDO OLHARES USOS QUE SE REVELAM NO COTIDIANO DA PR TICA PEDAG GICA DAS PROFESSORAS 86 3 1 As reinven es do cotidiano da pr tica pedag gica 90 3 1 1 Usos do livro did tico com instrumento complementar 91 3 1 2 Usos do livro did tico como instrumento da bricolagem docente 96 3 1 3 Usos do livro did tico como instrumento de media o nas entrelinhas a 107 media o did tica mec nica e
2. es Suas peles seus movimentos e seus desejos redesenhavam em cada entrada pelo port o da escola e nas salas um novo cap tulo da compreens o do ser professora Sempre que as olhava sabia que n o era capaz de ver e nem dizer tudo sobre elas O cotidiano das professoras foi uma importante refer ncia para adentrar nos seus universos e possibilitar que elas tamb m me olhassem como parte e n o parte de suas viv ncias no contexto da pesquisa Quanto mais me aproximava do cotidiano das professoras mais as percebia como professoras participantes da pesquisa Quando me encontrava nas observa es em sala de aula nos intervalos nas entrevistas e nas idas no carro era entre n s e sobre n s que convers vamos nesses momentos afinal todas n s comung vamos o of cio de mestre Mesmo havendo essa extrapola o da rela o para o campo pessoal em nenhum momento nem eu nem elas perdemos de vista o papel de cada uma na investiga o 1 4 Procedimentos da pesquisa Realizar o estudo investigativo em voga envolveu al m da ansiedade de querer estar no campo n o s como pesquisadora imparcial e passiva escolhas ren ncias op es 43 te ricas e metodol gicas Envolve um adentrar nas sensibilidades e habilidades pois n o s olhar fazer esse olhar mediante interpreta es de quem olha e olhado ser vis vel e tang vel LAPLANTINE 2004 Nessa nsia de fazer da a o acad mica bem mais do que um l cus de fabr
3. o did tica de natureza mec nica n o se d o conta da intencionalidade de suas a es que passam a operar transmiss es de conte do sem provocar nenhuma altera o modifica o no nimo dos alunos em rela o ao conte do trabalhado A media o did tica de natureza mec nica identificada quando as professoras seguem risca as prescri es do livro did tico Na media o did tica de natureza cr tica tamb m sustentada em D vila 2008 as professoras inauguram possibilidades criativas de resignifica o do pr prio livro e suas prescri es O livro sai da posi o de regulador para um instrumento auxiliar secund rio e as professoras acabam por reconceptualizar suas atividades de ensino passando a protagonizar a media o e fazendo do livro did tico um instrumento mediado Na media o did tica de 109 natureza cr tica a a o das professoras tem uma intencionalidade que provoca um decifrar do pr prio livro did tico produzindo situa es did ticas criativas despertando o aluno para o desejo de aprender Nos epis dios de ensino que destaco poss vel observar a presen a das duas formas de media o As professoras transitam entre a media o did tica de natureza mec nica e de natureza cr tica e essa a o justifica se segundo elas por conta do tempo para planejar estudar pesquisar e construir a aula como enfatiza a fala da professora Flor quando da entrevista interativa reflexiva
4. Grandes janelas de vasculhantes conectavam as salas aos outros espa os da escola ajudavam junto com os ventiladores no refrescamento da turma Mas as frestas da janela eram sempre motivo de dispers o pela curiosidade de ver o movimento l fora ou de ser visto por outros que de fora olhavam a sala Pelas janelas se via a merenda do dia os enviados para a secretaria os pais que visitavam a escola e at quem entrava ou sa a dos banheiros ou bebiam gua S o as janelas uma possibilidade de sair da sala permanecendo nela uma forma de escapulir das quatro paredes que por vezes pareciam enfadonhas e desinteressantes para todos que a habitavam Nas salas o olhar que observava tamb m era observado vez por outra olhares movimentos e falas me tiravam da posi o de observadora e mesmo sem nenhuma interven o me sentia tamb m pertencida quela sala e ao texto que ia se compondo no cotidiano Foi me sentindo parte da sala que a minha presen a de estranha passa a ser natural e sa da condi o da estrangeira para ser um deles parte da mesma comunidade de aprendizagem que constitu a a Escola Jos de Amorim 1 3 As professoras participantes da pesquisa Olho para elas e sou eu quem est ali Sou eu quem miro e sou mirada Seus cotidianos v o acontecendo em inven es e repeti es por vezes sorriem pelo conte do apreendido por outras se arrasam porque sabem que n o deu certo mas est o ali mulheres m es professora
5. Para as professoras Adriana Divaneide Luana Marinalva e Rosicleide por mergulharem nas minhas retinas e me permitirem um belo deslocamento de rigor e sensibilidade Para os meninos e meninas da Escola Jos de Amorim que me deram a poesia de suas m os impacientes pelo livro did tico Para as cores do verso que cabe no amor que tenho e recebo da fam lia e dos amigos Para o brilho dos meus olhos Cixto Filho e Aruana Anau AGRADECIMENTOS Quero compor uma poesia de agradecimento Poesia de monturo de fim de tarde de horas sem saber como povoar o papel em branco Poesia de abelha zunindo sob o sol Poesia de cachos de pitombas na mesa De espumas de sapo e vacas amarelas no c u Poesia de bola de sab o de doce roubado de banho de chuva Poesia de gente Que passa fica e vai mas o cheiro a cor a palavra o gesto e o sil ncio me cravam a vida e v o compondo meus tra os Agradecer s for as divinas e coloridas que habitam a minha vida de tanta muita e diferente gente que sem elas sei que trope aria Meus pais pela delicia da vida e pela etnografia do colo quando care o Cixto Bandeira Filho companheiro amigo amor pelas etnografias afetivas pelo olhar fotogr fico da capa e pela compreens o de compor junto a mim as aus ncias e as produ es N s dois sabemos que aqui est o bem mais do que palavras Aruana Anau pelos riscos coloridos nos livros e por mesmo sem compreender ter sido meu abri
6. a mesma coisa s que no texto aparecem outros nomes diferentes do que fizeram nas listas de voc s Fazer o nome das pessoas e lugares conhecidos escreve los eles fizeram r pido mas na hora de identificar no texto nomenclaturas dessa natureza alguns sentiram dificuldades A professora foi conduzindo orientando individualmente Naverdade pude perceber que a maior dificuldade residia naqueles alunos que ainda n o conseguem ler proficientemente A prop sito Professora diz que muitas vezes deixa de trabalhar as quest es do livro por conta das dificuldades que alguns alunos ainda t m mas sabe que preciso desafi los para n o s lidarem com as coisas que s o conhecidas por isso diz ela que quando tem mais tempo planeja o conte do relacionando o que est no livro com as viv ncias dos alunos porque assim eles interagem bem mais Na sequ ncia das atividades a Professora pede para lerem as listas dos nomes de pessoas e lugares conhecidos a lista que cada aluno organizou e dirigindo se para turma convida 113 Vamos quem vem ajudar a Pr a colocar os nomes identificados no livro aqui no quadro Eu eu eu eu n o Venha Z depois L depois C Eu quero ir tamb m Depois de C voc vem K Coisas pessoas e lugares A pr faz a leitura do texto e eles v o acompanhando Como seriam as coisas se n o tivessem nome Vamos imaginar Continuava a Professora seria dif cil sem gra a Eles f
7. dentro se apertam as turmas do vespertino para assistir o teatro sobre meio ambiente Algumas m es vendo o movimento se apertam junto aos filhos Quando a escola sai dos seus muros e o s cord es de alunos enfileirados seguem para a Igreja os moradores j sabem que dia de novidade J viu o muro do cemit rio Me perguntava o Presidente da Associa o bem ali E durante quase uma hora eu caminhei sob o sol de arrancar pele e a terra que ia se avermelhando e grudando no sapato No percurso os risos de boa tarde encurtavam caminho Enfim o cemit rio e logo na entrada do grande muro erguido coroas coloridas de metal Cheiro de vegeta o ao redor e as covas v o compondo uma ordem assim trica Noto 11 Vanderl a Andrade Pereira 173 A escola amanhecida abre o port o e silenciosamente convida a entrar Seu Bertinho Agente de portaria no cuidado com o jim astu MANI E MRI TER abrir e fechar do cadeado i i r 4 re ma espera por cada um Por nms ma a gt SURA ia atii E ns suas m os o port o fecha e guarda os meninos e meninas at a hora da correria po tica para os nibus Diuturnamente a fachada da escola resguardada pela grade creme vela pelos que entram e pelos que passam por ela O riso recebe a comunidade que chega Apesar do port o a escola da comunidade Pais e m es transitam a qualquer hora parecem querer cuidar dos filhos
8. e Luciana pelas amizades e os abrigos concretos e afetivos seja onde for Elmo pela amizade apoio cont nuo e pelas andan as epistemol gicas e f sicas em Teresina e companheira Ana C lia pelas boas conversas e encontros Val pela linda foto materna da capa Todas as j ias de A a Z da 18 turma do Mestrado em Educa o pelos risos abrigos e outras del cias em especial Sandra Suely pela parceria de todos os dias mesmo na dist ncia Aos Professores e Professoras do Mestrado pelas poesias risos e devires Shara Antonia Edna Bonfim Gl ria Moura Jos Augusto pelas contribui es valorosas na qualifica o B rbara e Carmem tamb m pela alegria de t las na banca de defesa Professora Iveuta pelas grandes contribui es na qualifica o do trabalho lamo Pimentel amigo poeta da vida e um lindo e competente professor que me d a alegria em meio s conturba es do seu of cio de fazer parte da banca de defesa Ele nem sabe que meu olhar etnogr fico tem muito do que vejo no olhar dele Todas as pessoas que comp em a Escola Jos de Amorim e a Comunidade de Lagoa do Salitre pelos sorrisos de todo dia e pela est tica colorida que conduziu o meu olhar UFPI Campus de Picos ao Colegiado de Pedagogia e os colegas de trabalho pela possibilidade de viver o mestrado Toda a fam lia que no tempo e no contra tempo cuidaram de Aruana e dos nossos afetos Isabela e Clarice pelo apoio duplo nos concert
9. o Nacional de P s Gradua o ANPED Rio de Janeiro Autores Associados Jan Fev Mar Abr de 2004 OLIVEIRA J B A etal A pol tica do livro did tico S o Paulo Unicamp 1980 OLIVEIRA JUNIOR W M As fotografias e o re conhecimento do lugar onde se vive notas sobre linguagem fotogr fica e atlas municipais escolares Rio Claro SP 2003 PENIN S T de S A aula espa o de conhecimento lugar de cultura Campinas SP Papirus 1994 PEREIRA V A A pr tica docente no mbito das novas narrativas e a produ o de saberes e sentidos na educa o contextualizada no semi rido brasileiro Caderno Multidisciplinar Educa o e contexto do Semi rido Brasileiro tecendo saberes em educa o cultura e forma o Juazeiro Selo Editorial RESAB 2007 PIMENTA S G Professor reflexivo construindo uma cr tica In Pimenta S G Ghedin E Org Professor reflexivo no Brasil g nese e cr tica de um conceito S o Paulo Cortez 2002 p 17 52 Org Saberes pedag gicos e atividade docente S o Paulo Cortez 1999 208 PIMENTEL A O elogio da conviv ncia e suas pedagogias subterr neas no semi rido brasileiro Tese Doutorado Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Educa o Porto Alegre UFRGS 2002 Considera es sobre a autoridade e o rigor nas etnografias da educa o In MACEDO R S Org Um rigor outro sobre a qualidade na pesquisa qualitativa educa o e ci ncias
10. o das informa es explicitadas pelos textos no livro did tico e o conhecimento pr vio dos alunos Essa constru o de significado envolve habilidades e ou potencialidades capazes de possibilitar o posicionamento cr tico dos alunos orientados pelas professoras com sua pr tica social que posso considerar que est sempre situada numa rela o hist rica e cultural O conhecimento ent o uma a o intelectual atrav s do qual os alunos em fun o de sua experi ncia conhecimentos pr vios e necessidades de aprender constroem suas representa es de mundo acrescentam informa es para compor um novo conhecimento Posso dizer ent o que o conhecimento do qual trato na pesquisa um posicionamento cr tico diante do mundo Como diz Lajolo 1996 p 05 s a partir do conhecimento que j t m do mundo em que vivem que os alunos poder o construir os conhecimentos nos quais livro did tico e escola devem inici los Alunos por exemplo que acreditam que o leite azeda porque o saci cuspiu nele dificilmente mudar o de opini o pela mera leitura de um texto que os informe sobre contamina o do leite como fruto da falta de higiene No caso preciso partir do saci e chegar aos bacilos e essa passagem s o professor pode fazer e o que ele precisa fazer de mais importante Esse posicionamento cr tico n o pertence s aprendizagem do aluno mas tamb m aprendizagem das professoras A produ o e potenc
11. voltarem alunos 7 40 da manh o bebedouro que at 07 20 estava formigando de meninos e meninas agora emborca os copos coloridos esperando a hora do recreio da sa da e as visitas espor dicas dos que fogem das salas Os copos s o os mesmos para todos antes de beber gua alguns alunos lavam o copo no pr prio bebedouro A m quina de gua um dos pontos de encontro na escola Os grandes formam a fila e os pequenos merendam na sala para n o correrem o risco de serem atropelados pelos maiores que normalmente t m rea es agressivas com os menores Antes de brincarem recebem a merenda que hoje mingau para encher o bucho e correr melhor como disse N que j estava merendando na sala do 4 ano 176 Na conzinha a simpatia das merendeiras como chamam os alunos Ao terminar a hora da merenda todos os utens lios s o lavados e o espa o fica numa ordem at o hor rio de cuidar da merenda do pr ximo turno 177 Na sala do 2 ano a espera dos colegas pelo t rmino da merenda para come ar a brincadeira Vamos come logo nem vai dar tempo brincar Em dias de sopa a afli o maior pelo tempo de y y lt o a F K j G esfriar que Amas OO diminu a o tempo TA More lt de brincar i r No balde grande os alunos v o depositando desorganizadame nte os pratos e q copos va
12. DESCORTINANDO OLHARES USOS QUE SE REVELAM NO COTIDIANO DA PR TICA PEDAG GICA DAS PROFESSORAS Meus olhos voam no emaranhado do c u Por aqui encontram cantos de parede e carteiras aparentes O livro se entreabre e v ali vozes ecoam como batidas em ferro querem ro ar a l ngua na l ngua do mundo E antes que se enclausurem no ret ngulo do livro vazam por entre as brechas despercebidas e caem no meio do tempo e bebem chuva e secam sol e assim permanecem porque o meio do tempo n o est no livro est na voz que transborda por n o mais caber nas p ginas Oh Aquele menininho que dizia Fessora eu posso ir l fora Mas apenas ficava um momento Bebendo o vento azul Agora n o preciso pedir licen a a ningu m Mesmo porque n o existe paisagem l fora Somente cimento O vento n o mais me fareja a face como um c o amigo Mas o azul irresist vel persiste em meus olhos Poema M rio Quintana CAP TULO III DESCORTINANDO OLHARES USOS QUE SE REVELAM NO COTIDIANO DA PR TICA PEDAG GICA DAS PROFESSORAS Adentrar no cotidiano das pr ticas pedag gicas das professoras exigiu um olhar de estranhamento pois ao tempo que tudo me era familiar me causava uma sensa o de constante descoberta da obviedade que aparente bifurcava o meu olhar O recorte de um peda o do cotidiano das professoras suas pr ticas pedag gicas n o significou um deslocamento do cotidiano geral mas sim
13. Martins 2004 2011 Mendes Sobrinho 2011 Morin 2001 2004 Pereira 2007 Pimentel 2002 Reis e Pereira 2006 23 Richaudeau 1979 Santom 1998 Santos 2011 Silva 2011 retorno ao ponto de partida que me provocou a investiga o e te o algumas reflex es acerca da educa o no Semi rido Brasileiro a partir dos diversos olhares e leituras revelados na investiga o Neste cap tulo ponho em evid ncia o texto e o contexto no livro did tico a educa o contextualizada e o espa o do Semi rido no livro did tico O quinto cap tulo tendo como fonte Laplantine 2004 Macedo 2004 Oliveira J nior 2003 Bogdan e Biklen 1999 traz uma leitura imag tica da pesquisa isto uma leitura que apresenta o cotidiano da pesquisa mesmo que em movimentos passados numa intensidade de presente traz a fotografia como outra escrita da pesquisa O cap tulo composto por uma linguagem n o verbal que s o as fotografias produzidas no percurso da pesquisa como outra forma de olhar etnograficamente al m do olho nu Na se o final denominada de considera es in conclusivas fa o uma tessitura sintetizadora da an lise desenvolvida ao longo do trabalho e um delineamento de provoca es surgidas a partir dos resultados e que sugerem uma reorganiza o dos processos educativos no Semi rido Brasileiro o que implica envolver aspectos relacionados especificamente ao livro did tico notadamente no que concerne prod
14. Talvez ainda um texto de palavras atentas vida ao dinamismo e seriedade do leitor Talvez os alunos ao rabiscarem o livro did tico colarem os adesivos e ocuparem os espa os em branco com desenhos pr prios dos seus cotidianos estejam sanando a indaga o de Alice para que serve um livro sem falas e gravuras Ou melhor devem estar perguntando para que serve um livro sem suas falas e suas gravuras ou seja sem suas vozes que ecoem tamb m suas vidas naquelas p ginas Nesse entorno as interven es dos alunos a possibilidade de entrar na toca do coelho de inventar aventuras que preencham o livro ou que os fa am penetrar nele As transgress es dos rabiscos desenhos e adesivos mesmo significando um poss vel castigo uma assinatura pr pria do aluno na obra did tica uma possibilidade de intera o com o livro de tornar fant stico o que por vezes parece sem cor cheiro e sabor O terceiro fragmento trago do livro Inf ncia de Graciliano Ramos 2010 p 109 111 Demorei a aten o nuns cadernos de capa enfeitada por tr s faixas verticais borr es n doas cobertas de riscos semelhantes aos dos jornais e dos livros Tive a id ia infeliz de abrir um desses folhetos percorri as p ginas amarelas de papel ordin rio A meu pai me perguntou se eu n o desejava inteirar me daquelas maravilhas tornar me um sujeito sabido como Padre Jo o In cio e o advogado Bento Am rico Respondi que n o a A
15. Terminado o texto a professora recome a solicitando a leitura de outros alunos K pede para ler e como ainda n o tem o dom nio da leitura ela faz uma outra leitura Em seguida outros s o solicitados Por conta da dificuldade de alguns a Professora orienta lerem do jeito que sabem afirmando que est certo Posso ler de novo Pr N o Z tem que dar a vez a outro que ainda n o leu A Professora agora faz a leitura e vai interagindo com eles 132 Coisas boas Pergunta em tom altivo Amizade Brincadeira Comer Falam um monte de coisas boas e nessa hora falaram alto Viram como existem muitas coisas boas Elogia a participa o deles Vamos dizer as coisas lindas A Professora fala indo para o fundo da sala Rio Cavalo Boneca M e Professora T nis Bicicleta Flor Brinquedo Coisas de todos A Professora chama as vozes dos alunos Rua rvore Escola Casas Tapioca Tapioca L em casa tem pra todo mundo Pr Ah ent o a tapioca uma coisa de todos da fam lia de K mas ainda n o de acesso de todas as pessoas Coisas de poucos o que poucas pessoas tem gua escova de dente hospital brinquedo As falas das crian as est o sem identifica o porque foi a primeira aula observada na turma e n o conhecia todos A professora pedindo coopera o com rela o ao barulho diz que agora vai ler o texto para que e
16. copiava seus desenhos para fazer outras hist rias e gostava de pens lo meu mesmo sabendo que no ano seguinte minha m e tentaria vender para ajudar a comprar os outros O livro did tico sempre representou para mim um amigo confidente e parceiro de inven es hoje eu percebo que sempre escrevi um livro al m do livro did tico Quando iniciei a minha doc ncia os livros j eram gratuitos para os alunos mesmo que fosse s por um ano Achava fascinante eles terem todos os livros portugu s matem tica ci ncias hist ria e Geografia Como eu desejei t los na minha inf ncia Hoje nas andan as etnogr ficas pela Escola Jos de Amorim volto a me fascinar por ver tantos livros e s o t o muitos que chegam a sobrar empilhados nos cantos das salas Minha primeira peraltice de pesquisadora foi pedir um exemplar de cada livro dos trabalhados nos anos iniciais do ensino fundamental Quando recebi fui tomada por uma alegria de crian a parecia que estava ocupando um vazio deixado pela minha vida escolar Tinha um livro de cada mat ria e de cada s rie Naquele momento senti me enriquecida pelo volume de papel e fui tomada por uma ansiedade de chegar em casa para folhe los e degusta los Nesse dia a manh foi custosa e o carro que levava as professoras para casa e no qual eu pegava carona parecia rodar a 10 por hora Acho que minha ansiedade alongou o tempo Ao chegar para o deleite dos volumes me vi envolta em tessituras de encan
17. de de Assinatura do pesquisador respons vel Observa es complementares Se voc tiver alguma considera o ou d vida sobre a tica da pesquisa entre em contato Comit de tica em Pesquisa UFPI Campus Universit rio Ministro Petr nio Portella Bairro Ininga Centro de Conviv ncia L09 e 10 CEP 64 049 550 Teresina PI tel 86 3215 5734 email cep ufpi Qufpi edu br web www ufpi br cep 214 AP NDICE B Orienta o para escritura do Di rio da Pr tica ORIENTA O PARA A ESCRITURA DO DI RIO DA PR TICA Prezada Professora Este di rio um importante instrumento de registro Nele voc vai escrever suas pr ticas referentes ao uso do livro did tico nos planejamentos das aulas e na intera o da sala de aula Como introdu o gostar amos que dissesse o que o livro did tico para voc e como voc participa do processo de escolha dos livros que voc trabalha A escrita do di rio livre pessoal e espont nea e s ser acessado al m de voc pelos pesquisadores importante datar seus registros para possibilitar uma leitura temporal do seu escrito Obrigada e bons registros 215 AP NDICE C Roteiro para entrevista interativa reflexiva ROTEIRO GUIA PARA A ENTREVISTA INTERATIVA REFLEXIVA 1 ENTREVISTA Leitura do texto de Mariza Lajolo LIVRO DID TICO um quase manual de usu rio 1996 1 Intera o O que l em no texto e como relacionam com suas pr ticas referente
18. ficaram mais empolgados para ler o texto que o seguia porque segundo a professora queriam descobrir mais coisas sobre o mar Nesse processo de leitura os alunos produziram e potencializaram conhecimento confirmando o que diz Bittencourt 2005 p 73 sobre o livro did tico Ele portador de textos que auxiliam ou podem auxiliar o dom nio da leitura escrita em todos os n veis de escolariza o serve para ampliar informa es veiculando e divulgando com uma linguagem mais acess vel o saber cient fico Possibilita igualmente a articula o em suas p ginas de outras linguagens al m da escrita que podem fornecer ao estudante uma maior autonomia frente ao conhecimento Por seu interm dio o conte do program tico da disciplina torna se expl cito e dessa forma tem condi es de auxiliar a aquisi o de conceitos b sicos do saber acumulado pelos m todos e pelo rigor cient fico E para produzir sentido preciso que esses conceitos a partir da leitura do aluno possibilitem no apreender produzir significados e estabelecer rela es com suas realidades interligando as ou digo melhor contextualizando as com as informa es cient ficas apreendidas alterar significados Lajolo 1996 p 05 ilustra metaforicamente essa produ o de sentidos quando fala Um livro de receitas por sua vez ao sugerir que o leitor cozinhe ab bora com feij o produz significados para os leitores que jamais cozinharam ou viram
19. nero Pergunta a Professora depois da leitura Lenda Inven o do povo Mentira A Professora faz as observa es sobre o g nero textual e a diferen a entre g nero e tipo textual Pede para pegarem o livro de Geografia E muitos reclamam que querem ouvir mais hist rias e a Professora diz que v o continuar contando hist rias s que de outra forma Abram na p gina 96 O munic pio tem hist ria Fa am a leitura silenciosa Quem n o trouxe o livro senta com quem trouxe Meu livro ta rasgado nessa p gina Nem podemos nem escrever no livro e os guri cortaram Fala A revoltado Ap s todos terem lido em sil ncio a Professora faz uma leitura em voz alta e com uma entona o que chama os olhos dos alunos Em seguida provoca uma intera o entre aluno e texto Como o munic pio de voc s Provoca a Professora Juazeiro Professora Fala B O que acham Juazeiro Juazeiro Todos falam ao mesmo tempo Observem as paisagens que est o no livro Indica a Professora Tem Juazeiro no livro Pr Pergunta M Nesse aqui n o mas deve ter em outros Aqui est falando de S o Paulo mas mesmo assim podemos fazer rela o com o nosso munic pio 117 Eles observam que as paisagens t m diferen as tem umas mais antigas do que outras Observam que se trata de um munic pio que era antigo e hoje mais novo O texto fala sobre desenvolvimento urbano A Professora mesmo falando do urb
20. o escolha e usos do livro did tico O Manual do Professor deve apresentar orienta es que explicitem os pressupostos te rico metodol gicos esclarecendo sua coer ncia com a apresenta o dos conte dos e com as prescri es de atividades do livro do aluno Al m disso o manual deve ser um reposit rio de id ias para que o professor mediante os textos atividades e propostas possa apropriar de acordo com a realidade da escola d Observ ncia aos seguintes preceitos legais e jur dicos Constitui o Federal Estatuto da Crian a e do Adolescente Lei de Diretrizes e Bases da Educa o Nacional Lei 10 639 2003 Diretrizes Nacionais do Ensino Fundamental Resolu es e Pareceres do Conselho Nacional de Educa o em especial o Parecer CEB 15 2000 de 04 07 2000 o Parecer CNE CP 003 2004 de 10 03 2004 Nesse entorno as obras n o poder o veicular preconceitos de regionalidade diferen a s cio econ mica g nero etnia e ra a 72 bem como quaisquer outros que denotem discrimina o ou desrespeite o car ter laico e aut nomo do ensino p blico ou veicule e fa a publicidade de servi os comerciais e Projeto gr fico editorial adequado aos fins a que se destinam as obras Al m de seguir as orienta es contidas no Edital do PNLD 2010 necess rio que as obras no que concerne ao desenho e tamanho da letra o espa o entre letras palavras e linhas bem como o formato e as dimens es e a disposi o dos textos na p gin
21. o foi definidor para a produ o dos dados e para a sua compreens o e interpreta o Os registros ou notas de campo sobre os diferentes momentos da pesquisa incluindo indaga es bem como gestos e olhares presentes na subjetividade observada nos atores sociais em trato com o artefato cultural o livro did tico foram registrados no di rio de campo O di rio de campo foi imprescind vel no percurso da pesquisa por ele passaram descri es de olhares que n o eram apenas meus mas outros tantos que se entrecruzavam no acontecimento do cotidiano escolar no acontecimento do livro did tico A cada releitura do di rio de campo mergulhava na vida cotidiana na escola o que possibilitou quando da an lise e interpreta o dos dados desvendar as redes de significados comunicados na rela o das professoras com o livro did tico As observa es e descri es foram realizadas em diferentes momentos como as aulas os movimentos de alunos e professoras com o livro al m das observa es nos demais contextos socioculturais nos quais as professoras e os livros did ticos est o circunscritos Em pesquisas etnogr ficas as observa es s o realizadas sem roteiros pr estabelecidos todavia a partir da leitura das observa es fui delineando roteiros para em casos espec ficos verificar e ou confirmar aspectos registrados em observa es anteriores Iniciei realizando as observa es das aulas um dia em cada sala mas no decorrer perc
22. o tempo do cansa o e do entusiasmo nutrem um potencial criativo e guerreiro de ensinar com significado enxergando cada aluno no seu ritmo no seu tempo de aprender Em todos os epis dios destacados analiso que as professoras fazem as media es do conte do do livro did tico de forma mec nica quando deixam o di logo acontecer s entre os alunos e o livro e de forma cr tica quando pela voz altiva e cria o de situa es favor veis aprendizagem prazerosa levam os alunos ao envolvimento com o conte do interligando o s suas formas de conhecer Outra considera o importante a fazer a constante presen a do di logo que as professoras estabelecem com os alunos e esse di logo garante muitas vezes a comunica o do conte do garante a aprendizagem Ratifico minhas considera es com Freire 1975 p 150 quando afirma que s h comunica o poss vel se houver o di logo O di logo n o pode ser uma s rie de mon logos consecutivos em que um n o transformado pelo outro No di logo h a incorpora o da fala do outro Ainda que para expressar uma opini o contr ria A presen a do di logo entre as professoras os alunos e o livro did tico principalmente em situa o de media o did tica de natureza cr tica garantiram uma comunica o dos conte dos que consequentemente produziram significado no ato da aprendizagem Nesse aspecto a sala de aula pela media o das professoras na interface com o uso
23. que ensinava de forma diferente aos 5 irm os Em sil ncio capturava suas letras e as siguras que enfeitavam o mar de letras Tudo era gigante o livro tinha dificuldade de se acomodar nas m os pequeninas A partir daquele livro quase um livro de tudo desejei ter um livro de escola que mais tarde conheci como livro did tico Na minha vida de escola n o tive o livro dado em meio a cinco irm os ia herdando os livros j orelhados e respondidos pelos irm os mais velhos Mesmo assim apagar todos os rabiscos e grafias dos irm os era para mim um prazer porque depois eu iria escrever os meus pr prios Normalmente s se tinha livro de portugu s e matem tica Meu primeiro livro de Comunica o e Express o Brincando com as palavras 1 Era uma escola improvisada na pr pria casa da Professora que tinha estudado na cidade O quadro era feito de cimento queimado as cadeiras de madeira com assento de couro de boi e os alunos eram meus irm os e primos Quando os irm os me levavam para a escola ia dentro do ca o uma esp cie de cesto que ficava preso no lombo do burro 8 Linguagem que segundo relato de minha m e eu usava para dizer a palavra figuras 59 me trouxe a poesia de Cec lia Meireles Ou isso ou aquilo e Leil o do Jardim essas poesias ensaiaram minhas primeiras leituras e minha rela o de amor pelo livro did tico Para mim eles n o me eram til somente nas tarefas escolares lia em casa
24. rias Os colegas concentrados na atividade pedem que saia para n o atrapalhar D continua sua itiner ncia pela sala e entrega a colega que est escrevendo bilhete em vez de fazer a atividade Pr pode fazer em dupla Tendo o aval da Professora as meninas se esparramam pelo ch o dividem as quest es e come am alegremente a responder Outros colegas tamb m formam duplas trios e ocupam tamb m o ch o Quando ficam vontade na hora das atividades parecem ter mais prazer em resolv las Nas quatro salas o ch o sempre foi um suporte de integra o entre alunos e livros O ch o e a parede viram suportes para facilitar o manejo do livro did tico e o caderno A atividade de matem tica que dura silenciossos 50 minutos Conclu da correm para a corre o No ch o restam os pap is dos borr es amassados e uma lixeira com pele de l pis que por in meras vezes se quebravam e se refaziam 190 Entre o livro did tico de Portugu s e o caderno o pensamento busca outras coisas l fora Enquanto a m o segura o l pis acaricia a orelha e desenha contornos de letras e her is na carteira Como a carteira tamb m n o para riscar logo a borracha apaga o pensamento e os olhos voltam se para o livro D percebeu o meu olhar para o livro did tico Sempre que me via com a c mera tratava de criar situa es com o livro que estava trabalhando Foi dela que ouv
25. rido Brasileiro 2012 214 f Disserta o Mestrado em Educa o Programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade Federal do Piau Teresina 2012 ABSTRACT The education in Brazil and especially the education in the semi arid region seen as aggregator of a vast array of subjects singulars and plurals has attempted throughout its history by means of dissemination of research on educational processes to break up hegemonic narratives which from the early colonial days on have been linked to the traces of a colonizing policy that until today reflect on curricular methods and mainly so on school books that are part of the teaching practice in public schools At attempting to break up with the narratives that place the history apart from the subjects the truth of few in the relation between teaching and learning research that targets the issue How is the school book used within the pedagogical practices of teachers in the Brazilian semi arid region offers a possibility to tell a different story in the educational scenario making sense of didactical artifacts and processes that are involved in the accomplishment of education especially in the Brazilian semi arid region With the proposition of knowing well and living closely to the empiric field of research that is the Jo o de Amorim school located in the Lagoa do Salitre community of Juazeiro in the state of Bahia the research of qualitative character uses the eth
26. 450 00 Quanto a empresa ainda lhe deve A quest o nem informa qual o sal rio de Josias para os alunos calcularem quanto lhe falta Diz a professora Trabalhei essa p gina na aula passada as outras quest es eles seguiram como est no livro mas essa eu intervi porque eles questionaram quando leram e juntos acordamos colocar o sal rio de R 1 000 00 Diz que o professor tem que criar uma situa o que complemente muitas quest es que est o no livro Os alunos d o sinal de que est o concluindo a tarefa Pr terminamos Fala A Todos terminaram Sim Em coro fala a turma Agora a quest o 8 da p gina 72 Alguns j se mostravam cansados de copiar mas mesmo assim se arrastavam com a caneta A professora ainda pr xima diz que eles reclamam de copiar mas o Jeito ou seguindo o livro ou copiando no quadro eles tem que copiar sempre porque n o podem responder no livro O que voc s compreenderam com as quest es Nada 111 Nada Tanto trabalho e n o compreenderam nada Aprendi dividir Diz um aluno e muitos repetem a mesma coisa Ent o vamos corrigir come ando pelas quest es que voc s acharam mais interessantes Na hora da corre o por partir do interesse deles fizeram um barulhinho bom de alegria e aprendizagem Na oportunidade da corre o a professora que vinha mediando mecanicamente as quest es foi atribuindo outros sentidos aos enunciados questionando como eles po
27. Em alguns momentos de conversas nas entrevistas interativas as professoras disseram que s vezes os livros adotados abusam na condu o dos exerc cios porque acabam conduzindo o aluno a responder mecanicamente sobre o texto trazendo as perguntas de interpreta es por exemplo de forma recortada que s o aluno recorrer ao texto e copiar a frase que responde a pergunta sem ao menos provocar um entendimento pr prio do aluno A quarta faceta abordada por Bittencourt 2005 de que o livro did tico um importante ve culo portador de um sistema de valores de uma ideologia de uma cultura que normalmente s o provindas das regi es onde os livros s o produzidos Nesse aspecto tamb m atenta se para as imagens e textos que podem trazer estere tipos e valores de grupos dominantes engessando conceitos e criando preconceitos Essa forma de transmiss o de outra cultura acaba por distanciar o livro adotado das realidades dos alunos e das professoras que mesmo reconhecendo a import ncia do livro reconhecem que cada vez est o mais alheios s necessidades dos aprendizes e isso est presente na narrativa da Professora D quando diz que Na minha concep o o livro did tico um elemento do processo de ensino e aprendizagem e que vai estar dialogando com o professor e com os alunos durante o ano letivo inteiro Por isso tenho a convic o que um bom livro did tico deve trazer 78 informa es e explana es sobre os conhecimento
28. a es presentes nas pr ticas escolares e na din mica de sala de aula A partir da aproxima o com os estudos de Lima 1996 e Andr 2008 entre outros a defini o pela investiga o etnogr fica concretizou se e mediante essa aproxima o foi poss vel visualizar concretamente o uso da etnografia na compreens o do sujeito social na viv ncia em comunidade e na experi ncia escolar e assim percebi a contribui o da etnografia nos processos educacionais Ao considerar e levar em conta que o universo de investiga o o trabalho docente na interface com a utiliza o do livro did tico tanto o livro did tico quanto as professoras habitam a realidade escolar social e cultural A investiga o etnogr fica no contexto da pesquisa em apre o implica a compreender a realidade escolar para agir sobre ela modificando a b revelar a complexa rede de intera es que constitui a experi ncia escolar di ria c mostrar como se estrutura o processo de produ o de conhecimento em sala de aula d buscar a inter rela o entre as dimens es cultural institucional e instrucional do cotidiano escolar Essas implica es me levaram a perceber que falar do cotidiano escolar de professoras livros e alunos preciso ver o que acontece entre as paredes e saber das satisfa es de alunos e professoras ou de suas insatisfa es de suas resist ncias ocultas para captar tudo o que de belo e de avesso pode haver na rela o professoras
29. a m o se estende agarra o azul copo o azul homem Quantos sentidos meus olhos captam O copo rosa ficou no canto do balc o talvez ningu m mais se interessaria por uma cor feminina O barulho que silenciou no meu olhar o copo j se esvazia no compasso gritante da sirene que anunciava um acomodar se s quatro paredes De volta sala a m o e o copo rosa penetravam ainda as minhas retinas e me indagavam quantos rosas teria o menino azul N o se via mais um p um corpo n o se ouvia mais um grito s as portas que se fechavam na captura das crian as hora de voltar para a sala para outras observa es mas antes ainda um olhar ltimo Parece que meus olhos se afei oaram ao rosa ao copo rosa que j n o mais habitava o balc o Di rio de campo 2011 grifo da pesquisadora 9 As professoras s o oriundas da sede do Munic pio apenas tr s professoras dentre estas duas foram interlocutoras da pesquisa s o da Comunidade Lagoa do Salitre 37 No fragmento da descri o podemos perceber o quanto de representa o est contido em um pequeno recorte da cultua escolar e como essas representa es no caso em voga a quest o de g nero s o constitu das pela interliga o da cultura escolar com a cultura familiar religiosa enfim por todas as culturas institucionais que constituem os sujeitos da escola O recreio um momento muito importante na escola muitas vezes por conta da correria dos maiores e do pou
30. a ordem do livro did tico fazem no funcionar em outro registro E mesmo com muitas restri es fazem do livro did tico um fiel companheiro ou seja modificam no sem deix lo Nesse contexto as professoras se encontram a meio caminho entre o que est prescrito no livro did tico e o que realiz vel pelas suas artes de fazer e nesse meio caminho se entrela am t ticas e estrat gias que delineiam e revelam a condu o pedag gica de cada aula As t ticas s o percept veis nos momentos em que o livro did tico assume o protagonismo do ato de ensinar em que as professoras enquanto outras s o eclipsadas pelas orienta es fielmente seguidas do livro As estrat gias percebidas no ato de transgress es inven es e artes trazem as professoras a um lugar pr prio no qual elas conduzem e vivificam suas vozes percept vel a constante transi o que as professoras fazem entre as t ticas e as estrat gias entre uma h bil utiliza o do tempo a um aproveitamento de espa o id ias e cria o para garantirem que os conte dos dos livros se aproximem das realidades dos alunos e possam ser apreendidos como significativos para suas viv ncias Os contextos de usos do livro did tico no cotidiano da pr tica pedag gica Reafirmam a acep o de Penin 1994 ao enfatizar que os conhecimentos sistematizados coexistem com saberes que apresentam n veis variados de elabora o nos diversos locus da cultura seja ela na dimens o esc
31. ada na batida das m os Outra brincadeira feita pelos menorezinhos era o carrinho como eles chamavam Passavam o tempo todo puxando uns aos outros Meninos e meninas brincavam juntos A sirene j tinha tocado as professoras j estavam na sala e a maioria dos alunos tamb m A brincadeira de galo de briga manteve os alunos entretidos alguns minutos a mais O que lhes rendeu uma bronca ao retornarem para a sala de aula 185 Depois do recreio as horas parecem n o passar Na sala os livros parecem congelar e os alunos esmorecem os nimos para as atividades O rendimento cai um pouco o que s quebrado quando a professora conduz atividades empolgantes que envolve os alunos e os tira da dorm ncia p s recreio Na sala do 2 ano H discute com V os riscos que um fez no livro do outro Depois dos acordos intermediados pela Professora resolvem apagar e dar por encerrado o assunto O restante da sala ignorando a discuss o dos dois continua concentrado no livro 186 Envolto ainda em pl sticos o livro did tico parece dormir Os exemplares s o de anos anteriores que sobraram e n o tem destino No desuso tornou se absoleto sem nunca sequer ser aberto amado ou odiado Esses livros velhos ocupam muito espa o mandar pra onde Nem a Secretaria quer As vozes bradavam enquanto o livro silenciosamente acolhia sua insignific ncia 187 Fora dos
32. aos olhos das professoras Esse olhar das professoras cont m suas concep es e di logos bem como as an lises do livro did tico como potencializador de conhecimento No terceiro cap tulo que traz como fundamenta o te rica autores como Assar 2001 Bakhtin 2002 Berry 2007 Bronckart e Machado 2005 Certeau 2008 Chevallard 1991 D vila 2008 Dietzsch 1996 Freire 1975 G mez P rez 2001 Heller 1989 Kincheloe 2007 Lajolo 1996 Loiola 1999 Meier e Garcia 2007 Netto e Carvalho 1994 Nunes Macedo et al 2004 Pimenta 1995 Ramos 2010 Santos e Mendes Sobrinho 2006 Souza 2009 Therrien e Damasceno 1993 apresento e analiso os Epis dios Etnogr ficos de Ensino revelando assim os usos do livro did tico no cotidiano da pr tica pedag gica Nas formas de usos s o reveladas as reinven es media es prescri es e autorias das professoras no di logo com esse artefato cultural Esse cap tulo considero o ponto axial deste estudo visto ser nele que analiso a quest o central a que propus a investiga o dos usos do livro did tico no cotidiano da pr tica pedag gica das professoras Ainda finalizando esse cap tulo trago um olhar especial parte mas dentro do contexto da pesquisa das crian as nas suas rela es com o livro did tico No quarto cap tulo teoricamente fundamentado por Faria 1984 Hern ndez 2000 Lima 2011 Lins Sousa e Pereira 2004 Lins 2010
33. apenas uma escola foi determinado em fun o da metodologia etnogr fica que preconiza observa o participante cont nua o que n o seria vi vel em um universo mais amplo A Escola Jos de Amorim fundada em 1986 teve como primeira professora a Senhora Gildete Ana da Silva que era professora leiga Posteriormente instalou se o regime de classes multisseriadas atendendo a mais alunos da comunidade Em 1992 com a amplia o da escola e o t rmino das classes multisseriadas e a implanta o das classes seriadas do pr 4 s rie o trabalho pedag gico come a a ser diferenciado e envolver a comunidade Em 2004 a 2005 s o implantadas o ensino fundamental de 5 a 8 s rie e o ensino m dio Hoje na escola funcionam os 5 anos do fundamental I e a 5 s rie no turno matutino da 6 8 e ensino m dio no turno vespertino EJA e ensino m dio no noturno A equipe gestora composta pelos professores Jos Uelson Diretor Franci Silva Vice Diretora Patroc nia Maria Coordenadora Pedag gica A escola atende 447 alunos pertencentes s comunidades de Lagoa Sabi I Sabi II Rodeadouro Curral Novo Alagadi o e Alto da Pedra 35 Adentrar no universo da escola cujo primeiro contato foi no dia 02 de fevereiro de 2011 me proporcionou uma sensa o de aproxima o e estranheza ao mesmo tempo Estava naquele momento rememorando um cen rio que fez parte da minha forma o uma escola rural No primeiro dia de contato
34. chapadas dos conte dos de matem tica No percurso da bricolagem com os diversos recursos percebi a intera o e coopera o dos alunos entre si Os que j apreendiam o conte do nos primeiros momentos de aproxima o j iam ajudando aos colegas nos pr ximos momentos e isso sob o olhar atento da professora que no final da aula me falou ter ficado contente porque percebeu que todos tinham compreendido o conte do mesmo que em momentos diferentes e que os recursos usados contribu ram para atender o n vel de cada aluno e o tempo de aprender o conte do Epis dio Etnogr fico de Ensino 3 Aula de Portugu s na Sala da Professora R Os alunos v o chegando e se acomodando e a Professora distribui os livros de 102 literatura para a leitura inicial interessante a rela o deles com os livros de literatura alguns assim que pegam j folheiam logo do come o ao fim antes de iniciar a leitura outros olham minuciosamente a capa pegando como se explorassem tatilmente a obra at abrir e come ar outros demoram a abrir outros j abrem e come am a ler Enquanto eles l em a Professora verifica o para casa nos cadernos Agora vamos recontar a hist ria que lemos da forma como entendemos Vamos Respondem todos Comece P Os alunos v o recontando ainda com voz baixa e a Professora faz observa o que eles precisam contar ou ler na mesma intensidade que falam quando est o com conversas paralelas F
35. como o passeio ecol gico pelo Rio S o Francisco e uma coleta coletiva do lixo espalhado pela comunidade 34 A comunidade apresenta se h brida constitu da por tantos povos que na circula o por conta da escola trazem os tra os ribeirinhos assentados quilombolas e outros aspectos da urbanidade que dialogam no acontecer de Lagoa do Salitre pois esta tamb m composta pelas comunidades do Sabi I e II Curral Novo Rodeadouro Alagadi o e Alto da Pedra Entre essas comunidades a vida se entrela a pelas rela es de parentesco de trabalho e de educa o No percurso da investiga o o meu olhar para a comunidade me ajudou a compreender a escola a sala de aula e suas composi es numa dimens o vis vel e tang vel em que o olho que via ao mesmo tempo tamb m palpava o que Laplantine 2004 define como o olhar carnal esse olhar que solicitado pela etnografia a partir do exato momento em que o pesquisador come a a viver e ver o seu objeto de estudo Olhar que olha tamb m com o corpo que torna o visto t til e permite no decorrer da pesquisa olhar por inteiro cada acontecimento manifestado no cen rio da investiga o 1 2 2 Descortinando olhares A Escola Jos de Amorim Tomo como campo da investiga o numa perspectiva macro social a Escola Jos de Amorim uma escola publica da rede municipal de ensino localizada na Zona Rural do Munic pio de Juazeiro ao Norte da Bahia na Regi o semi rida A op o por
36. comunidade de Lagoa Salitre Especificamente a investiga o pretende a Identificar os crit rios que orientam a sele o do livro did tico e como as professoras participam deste processo b Descrever as formas de usos do livro did tico na pr tica pedag gica das professoras do 1 ao 5 ano do ensino fundamental da Escola Jos de Amorim e 3 Perceber as potencialidades do livro did tico na produ o do conhecimento 21 Particularmente na condi o de professora cuja origem familiar e cujos estudos e pr ticas profissionais foram gestadas e desenvolvidas na realidade do Semi rido Brasileiro vivendo triplamente a experi ncia com o livro did tico seja como aluna professora seja como autora fen meno que me instiga e me motiva a desenvolver cientificamente estudos nesse mbito considero de fundamental import ncia trazer para o centro do di logo o livro did tico na pr tica pedag gica das professoras especificamente dos primeiros anos do ensino fundamental Investigar os usos dos livros did ticos adotados em escolas de ensino fundamental no Semi rido Brasileiro visualizando os enquanto elementos de produ o de conhecimento uma provoca o para refletirmos a pr tica pedag gica desenvolvida nesse segmento de ensino bem como reflex es acerca dos artefatos did ticos com os quais as professoras trabalham A partir dessas reflex es podem surgir provoca es que venham a revelar conhecimentos e pr ticas d
37. da avalia o a leitura e a resolu o de problemas No segundo ano o sistema de avalia o A Provinha Brasil que uma avalia o com inten o de oferecer aos professores e gestores escolares um instrumento que permita acompanhar avaliar e melhorar a qualidade da alfabetiza o e do letramento inicial oferecidos s crian as A partir das informa es obtidas pela avalia o os professores t m condi es de verificar as habilidades e defici ncias dos estudantes e interferir positivamente no processo de alfabetiza o para que todas as crian as saibam ler e escrever at os oito anos de idade uma das metas do Plano de Desenvolvimento da Educa o PDE Fonte http portal mec gov br index php option com content amp view article amp id 211 amp Itemid 328 29 94 contextos mais criativos possibilitando o uso da ludicidade para resolver situa es problemas Como fala a Professora D s o mais contextualizados Os livros que utilizo al m dos da escola s o A cole o A maneira L dica de ensinar que est o de acordo com os PCNs de Gra a Batituci e C lia M rcia de A Melo a Cole o Oficina de textos 6 7 8 9 e 10 anos de Regina V Lima a Cole o Tim do l l Gram tica de acordo com a nova reforma ortogr fica 4 e 5 ano de Waldirene Dias Mendon a A Cole o Fique Ligado em Portugu s Matem tica Ci ncias Hist ria e Geografia 4 ano j com a nova reforma ortogr fica de Patr cia Ester
38. da cultura material da escola instrumento did tico e fonte de pesquisa que norteia as atividades docentes e d suporte s professoras na sua pr tica di ria um difusor de cultura informa o e conhecimento CHOPPIN 2004 Nesse entorno o livro se constitui sim como um produto cultural e se configura como transmissor de determinada cultura saber e conhecimento o que se pode depreender das observa es de Apple 1995 p 82 S o os livros did ticos que estabelecem grande parte das condi es materiais para o ensino e a aprendizagem nas salas de aula de muitos pa ses atrav s do mundo e considerando que s o os textos destes livros que frequentemente definem qual a cultura leg tima a ser transmitida 2 A Hist ria dos livros e das edi es did ticas sobre o estado da arte 62 Ao estabelecer parte destas condi es materiais para o ensino e a aprendizagem nas salas de aula das escolas do Semi rido o livro did tico se constitui como importante elemento do contexto escolar guiando e apoiando as pr ticas docentes e contribuindo ao seu modo para as formas de constru o da educa o escolar que um processo n o limitado sele o entre os saberes e os materiais culturais dispon veis num dado momento Tal o papel por exemplo dos livros e de todos os materiais did ticos mas tamb m dos exerc cios escolares das li es dos deveres dos controles peri dicos dos sistemas de recompensas e san e
39. da base psicol gica que tem a media o como uma segii ncia de elos intermedi rios mediante est mulos e respostas numa cadeia de a es HOUAISS 2001 apud MEIER GARCIA 2007 p 37 Para melhor compreens o do termo media o na aplicabilidade da pesquisa amplio sua conceitua o do ponto de vista did tico subsidiada por D vila 2008 p 124 38 y TAS S 2 E 2 4 Pesquisando o significado de media o constata se que o voc bulo entrou para o dicion rio de l ngua portuguesa em 1670 sendo entendido como o ato ou efeito de mediar ato de servir de intermedi rio entre pessoas grupos partidos a fim de dirimir diverg ncias ou disputas o processo pelo qual o pensamento generaliza os dados apreendidos pelos sentidos MEIER GARCIA 2007 p 37 108 Refere se a um sistema regulador que na pr tica educativa procura dar sentido ao objeto de conhecimento tornando o desej vel ao sujeito cognoscente Constitui se assim como um meio de interven o de natureza did tica uma passagem nada linear que transforma uma totalidade em outra A media o did tica incide na rela o que o sujeito aluno estabelece com os objetos de conhecimento rela o essa tamb m mediada media o cognitiva pelos processos cognitivos do pr prio sujeito Nesse entorno a media o did tica a media o da media o opera a partir dos resultados da media o cognitiva organizando e concedendo forma ao di log
40. da contextualiza o envolve tecer uma rede de saberes em torno e dentro do conte do e isso exige tessituras poliss micas tendo como refer ncia os diversos campos do conhecimento seja filos fico antropol gico pedag gico teol gico hist rico cultural entre outros Nesse exerc cio h um movimento anam rfico das reas do conhecimento para dar conta de um objeto de estudo possibilitando que o sujeito cognoscente no caso o aluno transite de um campo mais bvio e emp rico para um campo mais complexo de articula o dos saberes Como refor a Pimentel 2002 p 191 A partir da sua epistemologia do pensamento complexo Edgar Morin prop e um repensar a ci ncia desde um movimento transdisciplinar atrav s do qual biologia f sica e antropossociologia possam se comunicar atrav s do movimento e da complementaridade dos seus conceitos e princ pios formando an is dial gicos no interior de uma raz o aberta Atrav s de um movimento interno de auto eco organiza o a ci ncia na perspectiva do pensamento complexo pode se configurar tamb m como um saber aberto que opera por contextualiza o interna de di logos e que se abre articula o com outros saberes para a promo o de novas contextualiza es No cotidiano das praticas pedag gicas das professoras nas mais diversas formas de uso do livro did tico o exerc cio de di logo entre elas o livro e os alunos vai criando experi ncias de leitura apropria o simb
41. do livro did tico torna se um espa o lugar aberto ao movimento perp tuo de representa es conhecimento desconhecimento autoconhecimento desejos afei es rejei es satisfa es insatisfa es PENIN 1994 3 1 4 Usos do livro did tico como constructo de autonomias legitima o e recria o das prescri es presentes no livro A rela o das professoras com o livro did tico um dado importante das pr ticas pedag gicas observadas O cotidiano docente das professoras revela que o trabalho docente complexo e envolve tomada constante de decis es o que leva o meu olhar etnogr fico trazer para o centro do di logo a atua o das professoras entre o prescrito no livro e o que se torna realiz vel Esse eixo categ rico tem como fundamenta o estudos de D vila 2008 e autores citados por ela tais como Loiola 1999 Bronckart e Machado 2005 As prescri es segundo Loiola 1999 apud D VILA 2008 p 170 assim se configuram 128 S o as regras que o ator professor deve seguir Essas regras podem ser oficiais e expl citas e n o oficiais ou mais ou menos expl citas S o expl citas as prescri es que prov m de textos reguladores oficiais mais ou menos ou n o expl citas as prescri es que emanam de normas sociais das tradi es etc O livro did tico enquanto instrumento oficial regulador traz essas prescri es expl citas que complementando a conceitua o s o orienta es sistematizad
42. entranhas do Rio Salitre e torna se lagoa por conta da lagoa de gua salgada cujo entorno ergueram se as primeiras moradias D Jesu na se lembra do muito mato e as poucas casas de barro h d cadas atr s A chegada da imagem de Nossa Senhora do Patroc nio por volta de 1914 inicia a pr tica religiosa na localidade Comunidade genuinamente agropastoril de agricultura familiar at a chegada do Projeto Salitre projeto de irriga o que trouxe junto com o progresso da agricultura outras problem ticas para as comunidades salitreiras como o grande fluxo de pessoas oriundas de outras localidades a incid ncia de drogas como o consumo de lcool pelos jovens e os conflitos por conta da gua que abastecendo os lotes irrigados falta nas terras dos pequenos produtores Com a implanta o do Projeto Salitre algumas pessoas deixaram de trabalhar na agricultura e come aram a trabalhar na constru o civil para as empresas que prestam servi os ao projeto Com a profissionaliza o muitas pessoas migram para outras cidades para dar continuidade profiss o caso que resulta em muitas fam lias serem constitu das s pela m e e os filhos Na regi o tem muito atrativo para a pr tica do lazer as festas de poca como o S o Jo o os jogos de futebol as belezas naturais das ilhas do Rio S o Francisco como a Ilha do Rodeadouro os passeios de barco pelas guas calorosas do S o Francisco Culturalmente Lagoa do Salitre e as comunidades c
43. escola e pouco representa as especificidades da localidade Para a escolha do livro eles nos enviam um monte de livros para que possamos escolher Depois escolhem o que eles querem Se fosse atrav s de nossa escolha certamente seria mais proveitoso Professora Flor O livro did tico deve ser escolhido criteriosamente e a escola especificamente o professor deve ter consci ncia de que esta escolha esteja concatenada com as necessidades de sua turma considerando o n vel cognitivo e linguistico dos alunos A sele o deve ser muito cuidadosa e refletir as necessidades dos aprendizes considerando se o que os alunos sabem e o que ser o capazes de aprender com a ajuda do livro did tico D VILA 2008 Ai entra tamb m uma preocupa o com a din mica que o munic pio utiliza para a escolha dos livros porque acaba desconsiderando a diversidade que se encontra em cada escola por fim os livros que chegam s escolas s o escolhas do munic pio e n o das escolas dentro das suas especificidades O livro que trabalhamos hoje n o o que escolhemos pois quando foi feita a sele o cada escola escolheu os seus e em seguida foram escolhidos os representantes de cada escola para fazer a escolha do livro que seria adotado pelo munic pio sendo escolhidos os que estamos trabalhando porque foram os mais cotados Professora R Percebo a import ncia da escolha do livro did tico e mesmo com a corrida mercen ria das editoras e das
44. fazer em casa com o aux lio dos pais Essa atividade faz parte de um projeto da Secretaria de Educa o que uma forma dos pais se empenharem e se envolverem na aprendizagem dos filhos A feitura ou n o acompanhada pelas professoras que fazem o registro na ficha afixada na parede 76 at os alunos e s o as leituras das professoras que tamb m v o orientar as leituras dos alunos Foi na constata o desse di logo das professoras com os livros trabalhados que identifiquei suas concep es acerca desse importante instrumento did tico e sua contribui o para a produ o de conhecimento dos alunos da Escola Jos de Amorim 2 3 1 Di logos e concep es conversa baixinho com o livro o que nos segredam aparentemente aquele sujeito livro lhe parece ntimo um confessor que talvez entre amor e dio trilham juntos os dias Na mesa parece chamar quando a palavra falta no pincel ao quadro o primeiro a ser tirado ao come ar a aula e o ltimo a silenciar parece que quer ficar ali aberto mesmo em dias que n o lhe coube a palavra Por dias comungam professora e livro a arte de decifrar Di rio de campo 2011 Come o revendo um trecho de uma descri o decorrente da observa o em uma sala de aula pois estas palavras precedidas do meu olhar d o a ver novamente o di logo das professoras com o livro did tico que nas suas narrativas teceram concep es acerca instrumento que considero prudente e proceden
45. fomentar sua reflex o seu esp rito cr tico e sua criatividade O texto e o contexto do uso dos livros did ticos nos processos de educa o do Semi rido compreendem que as pessoas se constroem e constroem seus conhecimentos a partir do seu contexto imbricado em rela es mais amplas Ou seja a constru o dos saberes se d na rela o das pessoas com o mundo consigo mesmo e com os outros numa rela o contextualizada que para Martins 2004 p 31 Ser sempre tecer o movimento de uma rede que concentre o esfor o em soerguer as quest es locais e outras tantas quest es silenciadas na narrativa oficial ao status de quest es pertinentes n o por serem elas locais ou marginais mas por serem elas pertinentes e por representarem a devolu o da devolu o da voz aos que a tiveram usurpada roubada negada historicamente Interligar o texto ao contexto no livro did tico implica estabelecer uma rela o din mica dial tica e dial gica entre contexto hist rico social pol tico e cultural considerando o aprender como um processo em constante constru o que se faz e se refaz dentro e fora do espa o escolar Um livro ou outro material did tico quando contextualizado pode ser um interlocutor dos saberes locais com os saberes globais para que crian as jovens adultos e idosos em situa o de aprendizagem possam se constituir enquanto sujeitos de frui o e cria o dos seus saberes const
46. ia a caneta e o papel ainda verdes com os quais cheguei neste momento em que abandono o campo de investiga o est o povoados de etnografias que agora n o residem mais s no campo da teoria A viv ncia e o vivido configuraram sensibilidades cartografadas em cada adentrar ret nico o que produziu em mim uma etnografia em movimento vivo A partir de um transitar no cotidiano que Heller diz que ao mesmo tempo espelho e ferramenta da hist ria fui impregnada de outras bonitezas que alem de me fornecer os dados para concretizar a pesquisa me comunicaram outras bonitezas Enquanto escrevo a comunidade vai acalentando um sil ncio de tombadilhos guardados e as vig lias est o dentro das casas se resguardando do sol O bode de brinco para e me olha percebo ent o que hora de fechar o di rio Di rio de campo 2011 N o caminhei sozinha Por meus olhos transitaram outros olhares Por vezes n o sabia se era eu ou outros que delineavam a vista O meu norte foram os diferentes ventos Por seus dizeres Pari minha linguagem REFER NCIAS ANGROSINO M FLICK U Coord Etnografia e observa o participante Porto Alegre Artmed 2009 ANDR M E D A de Etnografia da pr tica escolar Campinas Papirus 2008 Avan os no conhecimento etnogr fico da escola In FAZENDA Ivani Org A pesquisa em educa o e as transforma es do conhecimento 2 ed Campinas Papirus 1997a Tend ncias atuais da pesquisa na esco
47. inclus o da crian a de seis anos de idade A organiza o do trabalho pedag gico alfabetiza o e letramento como eixos orientadores Bras lia MEC SEB 2006 Dispon vel em lt http portal mec gov br seb arquivos pdf Ensfund ensifund9anobasefinal pdf gt Acesso em 02 set 2010 HELLER A O cotidiano e a hist ria 3 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1989 HERN NDEZ F Entrevista Revista Educa o e Trabalho Empregos Rio de Janeiro domingo 27 de agosto de 2000 JOSSO M C Experi ncias de vida e forma o Lisboa Educa 2002 KINCHELOE J L e BERRY K S Pesquisa em educa o conceituando a bricolagem Porto Alegre Artmed 2007 206 LAJOLO M Livro did tico um quase manual de usu rio Em Aberto Bras lia ano 16 n 69 p 3 9 Jan mar 1996 LAJOLO M ZILBERMAN R A forma o da leitura no Brasil S o Paulo tica 1999 LARROSA J Tecnologias do eu e educa o In SILVA T T O sujeito da educa o Petr polis Vozes 1994 p 35 86 LAPLANTINE F A descri o etnogr fica S o Paulo Terceira Margem 2004 LIMA E de S Forma o continuada de professores no semi rido ressignificando saberes e pr ticas Teresina EdUFPI 2011 LIMA M da G S B Os usos cotidianos de escrita e as implica es educacionais uma etnografia Teresina EdUFPI 1996 LINS C M A Conhecendo o semi rido 1 e 2 narrativas de uma experi ncia 243 f Disserta o Mestrado em Educa
48. leitura da classe Terminei Pr Levanta N Todos terminaram Fala a Professora reabrindo o livro N o Grita D Alguns j terminaram outros ainda parecem render a leitura e outros j est o comentando o texto com os colegas Duas alunas na frente folheiam o livro e v o comentando sobre outros textos e imagens que se seguem ao indicado pela Professora A professora pergunta de novo se todos terminaram para iniciar a socializa o da leitura Voc s j viram alguma coisa que algu m n o tenha visto J vi alma Nego d gua Anjo O texto fala de Pedro que viu uma sereia O que mais o texto fala Ele era rf o e pobre Era um um Depois de lido a Professora vai provocando a interpreta o por parte deles Ela vai criando quest es e perguntando para eles o que j viram mais e o que viram eles acham que existe E por que s eles viram Depois vai perguntando as quest es da pagina 116 De papo com a turma As perguntas s o feitas tal qual o livro prescreve Nesse caso a professora mesmo criando outras quest es que os ajudem a compreender o texto legitima as prescri es contidas no livro quando 135 segue risca a atividade de interpreta o na se o De papo com a turma Em seguida a professora segue a atividade da se o De papo com o texto orientando os a responderem s at a 4 quest o As quest es conforme prescri o para responder no caderno Peguem o
49. livro did tico Para tanto preciso saber olhar sem intermedi rios captar o fen meno como um olho grande angular pois era preciso falar do cotidiano da sala de aula que realmente existe de uma escola de uma comunidade reais nos seus sil ncios e barulhos por vezes naturalizados da tica pesquisadora n o julgar os acontecimentos observados mas compreend los luz das experi ncias e dos significados atribu dos pelos pr prios sujeitos investigados e do referencial te rico adotado Nesse aspecto Mattos 2004 chama aten o para a import ncia da tica do pesquisador etnogr fico que muitas vezes durante a an lise dos 30 dados enfatiza demasiadamente o produto e n o o entendimento do processo do que est acontecendo no contexto em estudo O contato direto do pesquisador e o l cus do estudo que traz consigo toda uma hist ria de vida permeada por valores permite que responda ativamente s circunst ncias que s o encontradas ao longo da pesquisa de campo Andr 2008 adverte que o pesquisador deve estar ciente de que suas viv ncias e seus pontos de vista podem afetar a constru o do objeto de pesquisa Por isso mesmo deve alimentar certos procedimentos para que sua capacidade de an lise n o saia prejudicada atentando para a permanente cr tica de seus pr prios pressupostos o que requer flexibilidade e sensibilidade Associada a essa considera o a autora acrescenta a toler ncia
50. livros o que favoreceu sua propaga o Todas os manuais escolares at o s culo XVII mesmo com a Reforma Protestante eram voltados aos ensinamentos crist os Ap s a Revolu o Francesa 1789 Jos Hamel escreve o livro intitulado Ensino M tuo m todo esse o qual foi utilizado no Brasil durante o Imp rio que tinha como ponto de partida fazer os alunos que sabiam mais ensinar aqueles que estavam iniciando a alfabetiza o o qual conhecemos como o M todo Lancaster Ainda nesse per odo a alfabetiza o introduzida nas escolas como mat ria escolar pois isso 64 significava a educa o dos ricos que n o tinham liga o com a nobreza e o estudo que passa a ser dividido em li es ganha o m todo ba b bi b b a silaba o ent o domina todos os manuais impressos No Brasil sempre influenciado pelo extrangeirismo chega o primeiro livro did tico a Cartilha Maternal que j se disseminava em Portugual e se estendia s col nias Esse foi o primeiro manual de alfabetiza o dos brasileiros Vale esclarecer que o material do livro exportado para o Brasil n o era o mesmo do utilizado em Portugal Enguanto na corte o livro tinha sua capa revestida na col nia era papel simples e um detalhe nada espantoso seu pre o chegava ao destino elevad ssimo A eletiza o ja se iniciava no trato edi o e a nossa heran a de colonializados se fazia presente at nos materiais did ticos da poca D vil
51. mesmo com o olhar ainda tentando conter a ansiedade por ainda n o saber ver procurei degustar retinicamente o estar ali entrando no port o creme de grades verticalizadas A escola Jos de Amorim parecia receber me no seu sil ncio de t rmino das f rias Professores e gestores reuniam se em uma das salas para o planejamento do retorno que seria no dia 07 de fevereiro Enquanto me dirigia sala de reuni o perdia me pelo corredor com 04 portas fechadas at avistar o p tio que recebia a luz do sol e aquecia os banheiros e mais portas agora abertas Eram mais salas a copa e a secretaria Ao olhar lhe a escola pareceu me grande gigante aos meus olhos assim como fora a primeira escola na inf ncia Senti me infinitamente pequena diante de tudo que desafiava meu olhar Nesse momento em que precisava aplacar o olho e tentar densamente descrever a escola resolvi s sentir o cheiro o pouco barulho suas paredes rec m pintadas por alunos e pais as carteiras ainda amontoadas e sentir enfim meu pr prio medo de n o saber olhar Foi s sentindo que meu olhar captou o concreto que como diz Laplantine 2004 indissoci vel dos sons das imagens das cores dos cheiros e v o chegando os carros fazendo riscos na estrada de ch o Deles saem as crian as que madrugam nos seus lugarejos e esperam nas beiras de estradas Correm e adentram pelo port o at as salas Livros e mochilas balan am entre m os e costas A escola a novidad
52. o Faculdade de Educa o Universidade Federal da Bahia Salvador 2010 LINS C M A SOUSA E F PEREIRA V A Conhecendo o semi rido 1 Juazeiro BA RESAB UNICEF 2005a Conhecendo o semi rido II Juazeiro BA RESAB UNICEF 2005b Educa o para a conviv ncia com o Semi rido a proposta de elabora o de um livro did tico Educa o para a conviv ncia com o Semi rido reflex es te rico pr ticas RESAB Juazeiro BA 2004 p 95 120 v 1 L DKE M ANDR M E D A Pesquisa em educa o abordagens qualitativas S o Paulo EPU 1986 MACEDO R S A etnopesquisa cr tica e multirreferencial nas ci ncias humanas e na educa o Salvador EdUFBA 2004 MARTINS J S Anota es em torno do conceito de educa o para a conviv ncia com o semi rido Educa o para a Conviv ncia com o Semi rido reflex es te rico pr ticas Juazeiro BA 2004 p 29 52 v 1 Educa o contextualizada da teoria pr tica In REIS E dos S CARVALHO L D Org Educa o contextualizada fundamentos e pr ticas Juazeiro BA UNEB 2011 MATOS C L G de A abordagem etnogr fica na investiga o cient fica UERJ 2004 Dispon vel em www ines org br acesso em 11 05 10 MATURANA H R VERDEN Z LLER G Amar e bincar fundamentos esquecidos do humano Tradu o Humberto Mariotii e Lia Diskin S o Paulo Pals Atenas 2004 MATURANA H R et al Ontologia da realidade Belo Horizon
53. o Sua origem est na cultura escolar mesmo antes da inven o da imprensa no final do s culo XV Na poca em que os livros eram raros os pr prios estudantes universit rios europeus produziam seus cadernos de textos Com a imprensa os livros tornaram se os primeiros produtos feitos em s rie e ao longo do tempo a concep o do livro como fiel deposit rio das verdades cient ficas universais foi se solidificando Nesse sentido o livro did tico fundamentalmente um objeto complexo Diante da complexidade desse objeto que n o apenas um livro para se ler sequencialmente nas suas divis es conteudistas preciso conceb lo como um instrumento de car ter pedag gico que a depender da rela o que o professor estabelece com ele pode ou n o ter como objetivo a reflex o ordena o sistematiza o e cr tica ao processo educativo Segundo Lajolo 1996 n o h livro que seja prova de professor pois a depender da condu o did tica o pior livro pode ficar bom na sala de um bom professor e o melhor livro desanda na sala de um mau professor pois o livro apenas um instrumento auxiliar da aprendizagem Entendemos esse elemento como um norteador relevante na constru o de aprendizagens significativas essencial sendo um importante recurso na pr tica docente cujo valor engloba aspectos pedag gicos econ micos pol ticos e culturais O Livro Did tico entendido na investiga o como um artefato cultural objeto
54. o dia a dia dessas rela es constitu das por mecanismos de domina o e de resist ncia de opress o e de contesta o ao mesmo tempo em que s o veiculados e reelaborados conhecimentos atitudes valores cren as modos de ver e de sentir a realidade e o mundo ANDR 1995 p 41 A etnografia me permitiu adentrar pelo olhar que v e capta a vis o no micro universo da sala de aula e nas intera es constru das nesse universo que por vezes saltam s quatro paredes da sala Na etnografia n o h apenas uma descri o do ambiente estudado mas tamb m uma reflex o mais ampla acerca da sociedade No percurso da investiga o tive o cuidado de localizar o objeto de estudo com o todo cultural que o circunda ou seja o meu foco foi para uma compreens o das microestruturas a sala o livro a pr tica situadas no meio das macroestruturas dimens o pol tica e sociocultural Nesta pesquisa a etnografia n o foi concebida como uma t cnica somente mas tamb m como uma op o te rico metodol gica no sentido de que todo m todo carrega em si uma teoria e um sentido de ser Pois os dados produzidos n o s o coisas isoladas acontecimentos fixos captados somente no ato da observa o mas se d o num contexto h brido de rela es e fen menos que se manifestam numa complexidade que exigiu cuidado agilidade e principalmente sensibilidade intelectual para que sua ess ncia ao ser captada seja justificada teor
55. o que vejo agora em instantes n o est mais no lugar do visto A necessidade do exerc cio etnogr fico de ver e estar sempre imprimindo um novo olhar sobre o fen meno como forma de voltar a olhar para descrev lo na sua ess ncia implica uma sensibilidade para al m do pragmatismo da descri o no ato Etnografar carece de uma mobiliza o de mem rias que v o se tecendo no percurso da observa o e estas mem rias carecem de artif cios de apoio que possibilitem olhar novamente uma realidade que j n o est mais do jeito que estava no momento captado Nesse sentido a imagem fotogr fica equivale a um pensamento visual a um movimento de mem rias de um espa o que nunca aparece evidente propor o que a todo instante modifica seus contornos A fotografia ajuda o olho a pensar ajuda a vis o virar gesto e principalmente ajuda as mem rias fazerem se linguagem para trazer os aspectos observ veis da realidade para o campo da dizibilidade considerando a ess ncia das vozes e gestos dos sujeitos dessa dada realidade enquanto veracidade imag tica Pela fotografia a realidade se ineditiza e pelo particular absoluto que capta dessa realidade sempre atribui um corpus necess rio ao corpo observado e descrito como diz Laplantine 2004 p 82 A fotografia realmente o modelo perfeito de descri o do que nico e que nunca se repete Ela capta o fugitivo o aleat rio o singular em sua nudez e em seu sil ncio sem induzir e
56. objetivos da pesquisa Que crit rios orientam a sele o do livro did tico e como se d a participa o das professoras no processo de escolha desse material Como se d o os usos do livro did tico na pr tica pedag gica de professoras do Semi rido Brasileiro e Como o livro did tico se apresenta enquanto recurso potencializador de produ o de conhecimento No que se refere aos crit rios de escolha os resultados apontam que al m dos estabelecidos pelo Programa Nacional do Livro Did tico mediante o Guia do Livro Did tico as professoras escolhem os livros considerando a adequa o com a proposta pedag gica do munic pio e da escola al m de estabelecerem rela o dos conte dos dispostos nos livros com os aspectos de proximidade com as realidades dos alunos bem como o n vel de desenvolvimento cognitivo que se encontram em cada s rie Quanto participa o das professoras no processo de escolha a pesquisa revela que as mesmas participam coletivamente no mbito da escola mediante an lise e discuss o das obras dispostas no Guia do Livro did tico por m na narrativa das professoras fica evidente que os livros que escolheram n o foram os adotados para trabalharem porque o Munic pio quando re ne todos os professores representantes das escolas usa como crit rio de ado o o maior n mero de votos Considerando a import ncia do processo de sele o e escolha dos livros did ticos as professoras ainda n o exercem uma aut
57. pertencimento ao ch o Semi rido que habitamos negamos nossa naturalidade e nos impomos outras formas de coloniza o Historicamente o livro did tico constitu se por uma metodologia pautada no congelamento e na fragmenta o dos conte dos de modo que o processo de ensino e aprendizagem se d atrav s de modelos a es repetitivas inviabilizando a capacidade de pensamento que professores e alunos t m al m de dissociar os conhecimentos que podem ser produzidos nos espa os educativos Acredito que a fragmenta o extrai um objeto de seu contexto rejeita o la o e as intercomunica es da multireferencialidade O recorte que muitas vezes s o feitos nos conte dos dispostos nos livros did ticos impossibilita aprender o que est tecido junto a supremacia do conhecimento fragmentado de acordo com as disciplinas al m de impedir frequentemente o v nculo entre as partes do texto e a totalidade do contexto impossibilita a apreens o dos objetos de conhecimento em seu contexto de viv ncia A partir dessa perspectiva do conhecimento fora do contexto visualizo o di logo necess rio na constru o de outras narrativas entre livros e professoras no mbito da pr tica pedag gica da Escola Jos de Amorim Esse di logo compreendo como integralizador e nesse sentido compartilho da vis o que diz que n o h como se produzir conhecimento correto isolando o objeto de conhecimento de seu ambiente MORIN 2004 p 30 Segundo Marti
58. presentes nos livros selecionei tr s epis dios etnogr ficos de ensino que propor o que v o sendo apresentados irei tecendo an lises das legitima es e recria es que s o exercidas pelas professoras Epis dio Etnogr fico de Ensino 1 Aula de Portugu s na sala da Professora Flor A professora pede para pegar o livro de Portugu s e abrir na pagina 51 O texto trata sobre coisas de autoria de Maria Dinorah Ela n o considera a ordem de unidades prescritas no livro estamos no in cio do ano letivo e o conte do trabalhado se encontra quase na metade do livro Na ocasi o das entrevistas interativas as professoras sempre colocavam que elegiam os conte dos do livro de acordo com o que elas consideravam mais oportuno para o momento de aprendizagem e que pudesse provocar mais curiosidade das crian as e interesse pela leitura Alguns ajudam os colegas a localizarem a p gina Quem n o tem livro se junta a quem tem Uns v o lendo outros soletram e outros j v o folheando as outras p ginas Hoje vou fazer diferente voc s v o iniciar a leitura Ent o vamos saber ouvir o coleguinha certo Solicita a Professora e continua a orienta o da leitura L leia a primeira estrofe Depois Z A professora pede para lerem mais alto J l tamb m e depois L que parece ser muito t mida e leva um tempo olhando as letras e lendo baixinho A sala silencia mas ela n o l alto ent o a professora pede para D fazer a leitura
59. que implica refletir c o fato de que se integre nele o expressivo e o referencial d o car ter puramente hist rico e longitudinal da narra o A feitura dos di rios possibilitou as professoras uma consci ncia dos seus atos uma an lise e aprofundamento da compreens o do significado das suas pr ticas com os livros did ticos e a partir da a possibilidade de mudan as nessa pr tica Dessa maneira destaca Zabalza 2004 p 44 O pr prio fato de escrever de escrever sobre a pr pria pr tica leva o professor a aprender por sua narra o Ao narrar sua experi ncia recente n o s a constr i linguisticamente como a reconstr i como discurso pr tico e como atividade profissional a descri o se v continuamente ultrapassada por proposi es reflexivas sobre os porqu s e as estruturas de racionalidade e justifica o que fundamentam os fatos narrados Quer dizer a narra o se transforma em reflex o O sujeito ao narrar se escrever a si e sobre si constr i se e no espa o ntimo da escrita do di rio ele se autoriza a relatar questionar segredar protagonizando tamb m a investiga o assumindo a sua autoria em todo o processo no qual o estudo se revela Mesmo poucos os escritos nos di rios vale ressaltar a riqueza de fala de expressividade das professoras S o narrativas que passam da dimens o do olhar para o corpo tornam se palp vel as fazem reconhecer seus limites e suas possibilidades a refletir sob
60. que possam causar algum tipo de constrangimento estas podem ser renegociadas com o pesquisador bem como est garantido o direito de retirar o seu consentimento em qualquer etapa da pesquisa A pesquisa acontecer no percurso de um ano e a ades o no decorrer do processo da pesquisa possibilitar al m de outros benef cios a compreens o e a reflex o acerca das pr ticas pedag gicas realizadas bem como a resignifica o do uso do livro did tico enquanto recurso pedag gico contribuindo assim para uma intera o entre professores gestores discentes e comunidade considerando que no cen rio da observa o estar sendo considerado o contexto escolar localizado A intera o entre pesquisadora e interlocutores constru da no desenvolvimento da investiga o etnogr fica permitir o compartilhamento das informa es veiculadas no decorrer do estudo dando oportunidade para que sejam inclu das ou retiradas informa es ao longo de toda pesquisa bem como garantir o sigilo dos dados fornecidos caso seja do interesse do pesquisado A divulga o das informa es produzida ser realizada apenas com a sua autoriza o O acesso aos dados brutos somente ser permitido ao pesquisado interessado ao pesquisador e sua equipe de estudo e ao Comit de tica Os sujeitos da pesquisa n o ser o identificados em nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados em qualquer forma CONSENTIMENTO DA PARTICIPA O D
61. sala e s assim se conformaram Nesse sentido olhei as salas como contextos de aprendizagens um livro sala que ao mesmo tempo em que comunica ensina e vai se compondo com os fazeres e saberes das professoras e alunos Por isso que as crian as do 2 ano resistiram para mudar de sala porque l na sala que estavam estavam tamb m partes suas suas formas de pertencer ao micro espa o onde diariamente passam as manh s de segunda sexta feira Tudo veste a sala tudo que nela est diz alguma coisa dela e do que nela se movimenta Os livros did ticos empilhados no canto da sala sobre cadeiras sem bra os por vezes foram movimentados pela curiosidade e dispers o de alguns alunos esses livros n o eram de seus cen rios pertenciam As fichas da Secretaria de Educa o como dizem as professoras s o 1 ficha para fazer o acompanhamento das atividades feitas em casa nesse caso quando o aluno faz a professora pinta o quadrinho de verde e quando n o faz pinta de vermelho 2 ficha para acompanhar os livros que cada aluno leu referente ao Projeto hora de Ler A cada livro lido a professora acrescenta o t tulo lido ao nome do aluno e 3 ficha para acompanhar o n vel desenvolvimento da leitura e escrita de cada aluno p sil bico sil bico alfab tico fluente entre outros 40 5 6 e 8 s ries mas estavam ali por sobrarem ou para serem abertos em outros turnos pelos alunos que n o os levavam para casa
62. sede do munic pio para trabalhar com educa o inclusiva que era a rea de sua especializa o o que ocasionou uma preocupa o com a continuidade da pesquisa considerando ainda o pouco contato com as participantes Iniciamos ent o a conversa com a professora que a substituiu O que facilitou a nossa aproxima o foi o fato de ela ser da comunidade podendo nos encontrar em momentos extraclasse Fico ent o com 5 participantes porque a Professora M disse que queria que as suas narrativas e a minhas observa es feitas de sua sala fossem consideradas na pesquisa As professoras depois de todos os esclarecimentos acerca da pesquisa decidiram com exce o de uma professora Flor que queriam ser identificadas pelos seus nomes mas para garantir a preserva o de suas identidades decidimos identifica las por letras Ent o trabalhamos com as professoras Flor R D e Le a Professora M que esteve conosco at o m s de mar o e que algumas contribui es de suas narrativas constam na escrita desse texto Compreendi no percurso da pesquisa que as professoras ocupam o lugar central no di logo com o livro did tico e esse lugar representado nas suas narrativas o que mostra que as professoras no exerc cio da doc ncia especificamente no que concerne ao trato com o livro did tico s o interpeladas pelas condi es s cio hist ricas e culturais que envolvem suas vidas pessoais e sua experi ncia docente Olhar compreender e interpretar o
63. seguindo a prescri o da leitura dos textos para responder as quest es que seguem a professora recria algumas quest es e descarta outras Nas quest es relativas ao texto da p gina 72 que trata da produ o do s tio a professora descarta as quest es e e f segue a quest o b e recria as quest es a c e d colocando os s tios dos alunos na situa o prescrita Nesse sentido as quest es que eram prescritas da seguinte forma a quais s o os alimentos produzidos para comercializa o no s tio de Mira e Miro Eles produzem caf com que finalidade c Por que voc acha que Miro e Mira decidiam morar num s tio d Quantos litros de leite s o produzidos diariamente no s tio Desse total qual porcentagem vendida para a usina Foram recriadas pela professora e indicadas da seguinte forma a Quais s o os alimentos produzidos nas suas comunidades Esses alimentos s o comercializados ou s para consumo da fam lia c Quais as vantagens e desvantagens de morar na zona rural d Quem de voc s os pais cria bovinos ou caprinos Produz leite Quantos litros por dia Desse total quantos litros s o vendidos No texto da p gina 73 que trata de unidades de medidas a professora s 137 considera a quest o 3 e conduz a sua resolu o conforme prescrito no livro Na justificativa de suprimir as demais quest es ela diz para os alunos que se eles conseguirem resolver s essa quest o j v o mostrar que
64. serem trabalhados na escola 7 Pedido a formaliza o do pedido via internet dos livros escolhidos 8 Aquisi o Negocia o do FNDE com as editoras obedecendo o processo de inexigibilidade de licita o prevista na Lei 8 666 9 9 Produ o Firma o do contrato entre FNDE e editoras para produzirem as respectivas quantidades dos livros escolhidos e entregar nas respectivas escolas A produ o conta com a supervis o dos t cnicos do FNDE 10 An lise de qualidade f sica Coleta de amostras e an lise das caracter sticas f sicas dos livros de acordo com as especifica es da ABN normas ISO e manuais de procedimentos de ensaio pr elaborados 11 Distribui o Mediante o acompanhamento de t cnicos do FNDE e das secretarias estaduais de educa o a distribui o dos livros feita por meio de um contrato entre o FNDE e a Empresa Brasileira de Correios e Tel grafos ECT que leva os livros diretamente da editora para as escolas 12 Recebimento Nas zonas urbanas os livros chegam s escolas entre outubro do ano anterior ao atendimento e o in cio do ano letivo Nas zonas rurais s o entregues nas secretarias municipais e esta se incumbe de entregas s escolas A an lise dos livros al m das prescri es pedag gicas cient ficas e metodol gicas compreende a estrutura f sica como a espessura da capa a qualidade da encaderna o etc considerando a vig ncia de utiliza o por tr s anos No per
65. te rica das an lises busquei refer ncia na an lise de conte do BARDIN 1977 A an lise de conte do possibilita pelo seu car ter do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade enunciar o dito e o n o dito escrever um texto al m do texto abrir leques de interpreta es e leituras pois por ser um instrumento polimorfo e polifuncional como diz a autora provoca compreender e interpretar al m das palavras o pensamento que as conduz enuncia o Seguindo a proposta da referida autora a an lise dos dados realizou se em tr s fases interligadas Na primeira fase que chamo de pr an lise foram organizados todos os dados produzidos realizado uma leitura densa e cuidadosa para que o conte do fosse rememorado aos meus olhares interpretativos Essa fase foi muito importante porque no ato das novas leituras dialogo com os objetivos para senti los dentro do que foi produzido Nessa fase estabeleci crit rios priorizei conte dos e os signifiquei dentro dos objetivos do estudo elaborando assim os indicadores que orientaram a interpreta o dos dados constru dos Na segunda fase agora mais f cil pela densidade e profundidade da primeira realizei a codifica o do conte do a identifica o de eixos categoriais enunciados nos dados produzidos mediante a observa o participante os di rios da pr tica e as entrevistas interativas reflexivas Nessa fase de certa forma j exercito o rigor da compreens o e inte
66. turmas evidenciam que ao tempo que as professoras seguem meios de 31 4 yi E a f s Usos na pesquisa tem o significado de manuseio did tico no sentido da atitude de cada professora frente ao livro did tico Procedimentos pedag gicos concernentes ao modo como cada professora dialoga com o livro did tico nas mais diversas reas do conhecimento Chamo de epis dios por se tratar de apenas uma tessitura da aula a que diz respeito ao uso do livro did tico Mesmo observando as aulas como um todo o filtro do meu olhar eram epis dios que envolviam a intera o direta com o livro did tico Os epis dios se constituem numa perspectiva microanal tica que possibilitou o enfoque e aprofundamento do olhar sobre situa es localizadas e definidas 32 91 controle e homogeneiza o estabelecidos pela pr pria cultura escolar inventam t ticas que acabam por reinventar o cotidiano da pr tica pedag gica Essas reinven es no encontro da sala de aula produzem sentidos do conte do escolar prescritos nos livros did ticos a partir da rela o com os saberes vivenciados pelos alunos O conhecimento sistematizado no livro did tico coexiste com os saberes provenientes das experi ncias dos alunos Na coexist ncia de saberes e conhecimentos as professoras ao meu olhar apresentam se como consumidoras inventivas do livro did tico ao criarem modos pr prios de fazer CERTEAU 2008 perante as prescri es do pr prio livro do projeto
67. um movimento que provocou a rela o do que est no livro com outros aspectos que os alunos j t m familiaridade Como ela pr pria diz o objetivo dela ensinar mas s tem certeza que est ensinando quando os alunos aprendem Refor ando sua fala capto a fala de Meier e Garcia 2007 p 128 quando dizem que o mediador precisa ter o objetivo de ensinar e por meio de suas a es garantir que o que est sendo ensinado realmente seja aprendido E isso 124 implica junto ao objetivo de ensino estar uma tomada de posi o por parte da professora para garantir que o objeto de conhecimento seja ensinado e aprendido Epis dio Etnogr fico de Ensino 5 Aula de Portugu s na Sala Professora R A Professora entrega os livros de literatura porque a hora de ler Eles se concentram na leitura L ao meu lado com dificuldades de leitura vai lendo algumas palavras e me chamando aten o para ver se ele est lendo certo um momento muito interessante da leitura alguns terminam logo e j querem outro livro O que vamos fazer agora Pr Sil ncio Fala diminuindo a voz a Professora ficar calado para ouvir o colega j sei Tamb m silencia E Muito bem Quem s o os leitores de hoje A Professora quebra o sil ncio A Professora chama quatro alunos que fazem a leitura do dia Cada dia tem leitores diferentes j existe uma rela o de acordo com o dia e a proposta que eles escolham um texto do li
68. uma ci ncia interpretativa procura de significado De posse dessa cultura como teia de significados fui ao campo encontrar sujeitos e hist rias olhares e falas e na busca de compreender e interpretar os significados dessas comunica es acabei tamb m por me encontrar como observante e observada concomitantemente A partir da compreens o cultural na qual se insere o campo emp rico da investiga o a etnografia me exigiu de in cio compreender tamb m a cultura escolar na qual as pr ticas e representa es das professoras se desenvolvem A cultura escolar da Escola Jos de Amorim em espec fico caracteriza se pelo processo e o resultado das experi ncias dos sujeitos dos sentidos constru dos e compartilhados e ou disputados confrontados pelos atores que fazem a escola FARIA FILHO 2007 Na pesquisa entendemos a cultura escolar como a 26 forma como em uma situa o hist rica concreta e particular s o articuladas e representadas pelos sujeitos escolares as dimens es espa o temporais do fen meno educativo escolar os conhecimentos as sensibilidades e os valores a serem transmitidos e a materialidade e os m todos escolares FARIA FILHO 2007 p 195 O meu olhar etnogr fico adentrou na escola procurando captar sua cultura e considerando no seu entorno a exist ncia de outras culturas institucionais a exemplo da cultura familiar religiosa etc que interligadas ao ambiente escolar atrav s dos sujeit
69. v o assimilando sem que se fa am sobre esses livros e seus conte dos quaisquer ju zos cr ticos sobre sua proposta comunicativa e sobre a forma o do aluno que se deseja aut nomo e construtor de seu pr prio conhecimento A partir dessas constata es tivemos a oportunidade tamb m de refletir sobre as pr ticas curriculares que orientam os caminhos do ensinar e aprender em muitas escolas do Semi rido Brasileiro o que nos levou a fazer muitas indaga es sobre essas pr ticas esses livros e suas rela es com o aprender indaga es estas que nos direcionaram durante o processo de produ o do referido livro did tico que no trajeto transformou se em dois livros Conhecendo o Semi rido 1 e Conhecendo o Semi rido 2 Estudos como de Faria 1984 Freitag et al 1993 Coracini 1999 Lajolo 1996 e textos do Programa Nacional do Livro Did tico PNLD e dos Par metros Curriculares Nacionais contemplam abordagens que focalizam o livro did tico como nico recurso adotado pelo professor analisam sua efici ncia ou inefici ncia processos de escolha dos livros e processos ideol gicos dos seus conte dos Outros estudos e pesquisas envolvendo o livro did tico direcionados para a discuss o da doc ncia e para a pr tica pedag gica t m se voltado para a import ncia da busca de novos olhares a fim de compreender os diferentes tipos de saberes docentes a rela o do professor com os saberes e a import ncia da experi nc
70. y E A Escapolir foi um termo muito usado pelos pr prios alunos quando inventavam estrat gias de driblar a professora para sair do universo da sala de aula Escapolir significa sair sensivelmente de uma cena n o mais desej vel sair do congelamento de uma a o did tica 145 A terceira e ltima forma de uso chamo de o livro esta l que assinala o n o uso do livro por parte dos alunos Por muitas aulas a fio nas quatro turmas mesmo todos tendo recebido os livros did ticos alguns alunos nunca traziam os livros ou mesmo trazendo nunca os tiravam da mochila O livro est l significa que ele est em algum lugar outro mas nunca nas m os do aluno Essa forma de n o uso revela uma total nega o do material impresso tornando o livro did tico desnecess rio para esses alunos que mesmo agrupados com os colegas que trazem o livro nas horas de leituras ou atividades prescritas e seguidas fidedignamente do livro divagam para al m do livro como se seus pensamentos tamb m estivessem l noutro lugar al m da sala de aula fundamental dizer que normalmente os alunos que nunca usam os livros s o os que t m dificuldades de leitura e escrita O livro did tico tornava se desinteressante talvez por conta da dificuldade de desvendar seus c digos pela incompreens o daquele emaranhado de letras e imagens que teciam o livro Deixar o livro l noutro lugar apenas uma estrat gia para estar livre do desafio de l lo sem compree
71. 07 Lajolo 1996 Laplantine 2004 Lima 1996 Lins Sousa e Pereira 2004 Martins 2004 2011 Meier e Garcia 2007 Oliveira J nior 2003 Pereira 2007 Pimenta 1995 Pimentel 2002 Souza 2009 Zabalza 2004 entre outros Partindo dos achados do estudo em di logo com os suportes te ricos adotados no percurso da pesquisa o que se revela a condi o do livro did tico enquanto potencializador de conhecimento e em contra palavra a alguns estudos j realizados a pesquisa aponta que as professoras n o utilizam o livro did tico como nico e absoluto instrumento did tico mas como artefato de apoio s suas pr ticas desenvolvendo no cotidiano de suas pr ticas pedag gicas diversas formas de uso que trazem o livro como instrumento de bricolagem docente como instrumento de media o na a o das professoras e como possibilidade construtiva de autonomia docente quando da legitima o ou transgress o das prescri es Os resultados da investiga o conduzem para algumas problematiza es acerca da educa o no Semi rido Brasileiro direcionando tamb m uma proposi o de reorganizar os processos de produ o escolha e avalia o do livro did tico que circulam nas escolas p blicas dessa regi o Palavras chave Livro Did tico Cotidiano Pr tica Pedag gica Educa o do Semi rido PEREIRA Vanderl a Andrade O livro did tico no cotidiano da pr tica pedag gica de professoras usos que se revelam no Semi
72. 8 2011 ensino e a aprendizagem 180 De carteira em carteira o acompanhamento individual pela Professora Na sala de aula em atividade com o livro de Portugu s os alunos se concentram sozinhos buscam ajuda dos colegas e as carteiras que est o ocupadas s com mochilas s o dos alunos que no momento da atividade procuram o ch o para se acomodar Depois da merenda Z sai na hora que os alunos grandes est o em correria no p tio e se machuca A Professora tentando evitar outros acidentes inventa brincadeiras dentro da pr pria sala no momento do recreio Os artistas do teatro que falam sobre a rela o das pessoas com o lixo no meio ambiente provocam os alunos do turno vespertino a refletirem sobre o lixo na comunidade Por meio do humor a mensagem captada Entre os alunos alguns membros da comunidade tamb m ouvem atentamente o recado e das 14 20 s 15 10 a Igreja habitada por alunos e comunidade que por interm dio da arte repensam suas pr prias rela es com a natureza 26 08 2011 nderl a Andrade Pereira 181 182 Ei tira foto deu E se aglomeraram no recreio frente m quina Meus olhos via lente captou caras risos caretas e corpos Pelos olhos dos meninos e meninas que de um em um veio ver a fotografia ganhou vida e q desenhou outras 131 08 2011 WMA y olhar etnografias no meu Parecem mais numeroso
73. A PESSOA COMO SUJEITO Eu RG CPF abaixo assinado concordo em participar do estudo etnogr fico intitulado Pr ticas que se revelam na utiliza o do livro did tico no cotidiano pedag gico de professores do Semi rido Brasileiro como sujeito Tive pleno conhecimento das informa es que li ou que foram lidas para mim descrevendo o estudo citado Eu discuti com a pesquisadora Vanderl a Andrade Pereira sobre a minha decis o em participar nesse estudo Ficaram claros para mim quais s o os prop sitos do estudo os procedimentos a serem realizados as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes Ficou claro tamb m que minha participa o isenta de despesas e que tenho garantia do acesso aos dados e resultados do estudo quando necess rio Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento antes ou durante o mesmo sem penalidades ou preju zos pessoais Juazeiro de de 213 Nome e Assinatura do sujeito ou respons vel Presenciamos a solicita o de consentimento esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar Testemunhas n o ligadas equipe de pesquisadores Nome RG Assinatura Nome RG Assinatura Declaro que obtive de forma apropriada e volunt ria o Consentimento Livre e Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participa o neste estudo Teresina
74. At sua beira a estrada mistura lixo gua e bichos mas mesmo assim meninos pulam sobre as pedras e os remos em movimento levam as barquetas com as pessoas de um lado para o outro da comunidade para algumas planta es que ficam do outro lado Os porcos cercados ou como dizem os moradores os chiqueiros de porcos trazem desagrado ao olfato e vis o Suas sujeiras tamb m acompanham os esgostos e v o dar na lagoa A Associa o de Moradores quer a presen a da Vigil ncia Sanit ria para interdi o dos chiqueiros Os criadores por sua vez insistem na manuten o do criat rio Em meio a esse dilema as madeiras seguradas por forquilhas mant m alguns porcos presos Na comunidade a religiosidade se apresenta diversa cat licos evang licos e ainda a manifesta o dos penitentes que s o fi is que rezam na poca da quaresma para as almas dos que morreram tragicamente Na escola essa diversidade abra ada e trabalhada porque por ela que os alunos professores e escola se fazem diversos Segundo os moradores tem p blico para todas as igrejas 31 08 2011 Foto 8 Vanderl a Andrade Pereira 171 No pino do meio dia o cachorro procura a sombra das paredes do clube O Lago o Clube que de segunda a quinta descansa as portas na sexta vira um dos lugares de entretenimento 172 Por traz do grande Cruzeiro a Igreja vira complemento da escola L
75. B 2011 SILVA E T da Livros did ticos do ritual de passagem a ultrapassagem Em Aberto Bras lia ano 16 n 69 p 8 11 Jan mar 1996 SILVA T T da Alien genas em sala de aula Petr polis RJ Vozes 1995 Documentos de identidade Uma introdu o s teorias do curr culo Belo Horizonte Aut ntica 2001 209 SOARES M B Letramento e alfabetiza o As muitas facetas Revista Brasileira de Educa o S o Paulo Campinas Autores Associados p 5 18 Jan fev mar abr n 25 2004 SOUZA E C de ABRAH O M H M B Org Tempos narrativas e fic es a inven o de si Porto Alegre Edipucrs Salvador EAUNEB 2006a SOUZA E O conhecimento de si est gio e narrativas de forma o de professores Rio de Janeiro DP amp A Salvador UNEB 2006b SOUZA E C MIGNOT A C V Org Hist ria de vida e forma o de professores Rio de Janeiro Quartet FAPERJ 2008 SOUZA J F de BATISTA NETO J SANTIAGO E Org Pr tica pedag gica e forma o de professores Recife EdUFPE 2009 TERRIEN J DAMASCENO M N Coord Educa o e escola no campo S o Paulo Papirus 1993 ZABALZA M A Di rios de aula um instrumento de pesquisa e desenvolvimento profissional Porto Alegre Artmed 2004 ZEICHNER K A forma o reflexiva de professores id ias e pr ticas Lisboa Educa 1993 ZILBERMAN R A forma o da leitura no Brasil 3 ed S o Paulo tica 1999 A
76. Os conte dos como ve culos de conhecimento trazidos em cada epis dio etnogr fico de ensino se configuraram enquanto texto como porta de entrada o que Berry 2007 p 128 chama de POETA o in cio de tudo O que provoca a povoa o de outros conhecimentos O POETA o texto como porta de entrada qualquer coisa que tenha ou possa produzir sentido uma imagem um livro uma fotografia uma hist ria uma teoria uma reportagem de jornal uma quest o social um prospecto de sa de do consult rio m dico uma sala de aula um filme Como disse um estudante tomando emprestado de Paulo Freire o mundo um POETA na bricolagem Nesse sentido a bricolagem um processo que permite que os alunos e tamb m as professoras ampliem e aprofundem sua compreens o dos m ltiplos sentidos de seu texto considerado como porta de entrada Assim as figuras geom tricas os c lculos das medidas das formas geom tricas o Mamoeiro de Tarcila do Amaral e o cartaz do mosquito da dengue foram os textos como porta de entradas que a partir do exerc cio das bricoleiras professoras produziram sentido e motivaram outras bricolagens e novas produ es de sentidos ao conte do ensinado e apreendido importante para vivificar essas considera es acerca da bricolagem das professoras destacar a fala da Professora D quando diz que A gente vai experimentando pega um jogo ali cria uma brincadeira acol pesquisa nas fontes que temos cesso
77. P NDICES 211 AP NDICE A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU UFPI CENTRO DE CI NCIAS DA EDUCA O CCE COORDENA O DO PROGRAMA DE P S GRADUA O EM EDUCA O PPGEd MESTRADO EM EDUCA O LINHA DE PESQUISA ENSINO FORMA O DE PROFESSORES E PRATICAS PEDAG GICAS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO TCLE PARA PARTICIPAR COMO INTERLOCUTOR A DA PESQUISA TITULO DO PROJETO Pr ticas que se revelam na utiliza o do livro did tico no cotidiano pedag gico de professores do Semi rido Brasileiro PESQUISADORES RESPONS VEIS Dr Maria da Gl ria Soares Barbosa Lima MESTRANDA Vanderl a Andrade Pereira TELEFONES PARA CONTATO 86 9982 0572 86 9978 53267 74 8801 0920 3611 0854 Prezado a Professor a Voc est sendo convidado a para participar como volunt rio a de uma pesquisa em educa o sobre as pr ticas que se revelam na utiliza o do livro did tico no cotidiano pedag gico de professores do Semi rido Brasileiro Antes de concordar em participar desta pesquisa importante que compreenda as informa es contidas neste documento Leia cuidadosamente o que se segue e pergunte respons vel pelo estudo sobre quaisquer d vidas caso as tenha Este estudo ser conduzido pela pesquisadora Vanderl a Andrade Pereira sob a orienta o da pesquisadora respons vel Prof Dr Maria da Gl ria Soares Barbosa Lima Ap s ser esclarecido sobre as informa es a segu
78. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU CENTRO DE CI NCIAS DA EDUCA O CCE Programa de Ps Cradu o em Educa o PPGEJ VANDERL A ANDRADE PEREIRA j WEA PEDAGOGICA Rd IDIR Nl Do mmen cho Semi rkia jo O ventre pu goarda a vida Vet que sopra palavras Pesquisar 6 perceber que precio ter me teena me far Oca ath aqu emne peneira como vulc es latentea de ec zigor demitido d mtu lb minha yoz a minka linguagem sho UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU CENTRO DE CI NCIAS DA EDUCA O Programa de P s Gradua o em Educa o PPGEd O LIVRO DID TICO NO COTIDIANO DA PR TICA PEDAGOGICA DE PROFESSORAS usos que se revelam no Semi rido Brasileiro VANDERL A ANDRADE PEREIRA Teresina Piau 2012 VANDERL A ANDRADE PEREIRA O LIVRO DID TICO NO COTIDIANO DA PR TICA PEDAGOGICA DE PROFESSORAS usos que se revelam no Semi rido Brasileiro Disserta o apresentada ao Programa de P s Gradua o em Educa o como requisito para a obten o do t tulo de Mestre em Educa o pelo Centro de Ci ncias da Educa o da Universidade Federal do Piau rea de Concentra o Educa o com Linha de Pesquisa Ensino Forma o de Professores e Pr ticas Pedag gicas Orientadora Prof Dr Maria da Gl ria Soares Barbosa Lima Teresina Piau 2012 Foto da capa Cixto de Assis Bandeira Filho Revis o do texto Maria da Gl ria Soares Barbosa Lima Salvador Alexandre Gonzag
79. a 2008 p 96 faz uma incurs o pela hist ria do livro enfatizando que Tudo come ou com o uso que se fazia em sala de aula da leitura de cartas manuscritas que professores e pais de alunos forneciam Foram essas cartinhas mais tarde cartilhas os instrumentos respons veis pelo ensino e aprendizagem da leitura e da escrita e usados para a transmiss o das no es de catecismo que marcaram o surgimento da literatura did tica no Brasil At o s culo XIX os livros utilizados aqui provinham de Portugal As cartilhas que aqui eram utilizadas eram importadas pois vale ressaltar que at a vinda da Fam lia Real ao Brasil era proibida a publica o de livros nacionais Como o valor dos livros era elevado havia alguns professores que confeccionavam seus pr prios materiais seguindo modelo de fichas em manuscritos e os denominavam como cartas do ABC T m se a um registro hist rico de resist ncia que mesmo subordinados a pr ticas colonizadoras os professores criavam artif cios para reinventar o cotidiano pedag gico As primeiras cartilhas nacionais foram acompanhadas do movimento sobre as quest es dos m todos de alfabetiza o que primeiramente eram sint ticos ou tradicionais passando ent o ao m todo anal tico Os livros com m todos sint tico baseado no b b bi b b estavam sendo ultrapassados pelo m todo que partia do todo para o m nimo na alfabetiza o No Rio de Janeiro em 1859 o brasilei
80. a es de afeto amores dios raivas entre seus sujeitos na condu o de uma pr tica epistemol gica ou gnosiol gica que garantiria a constru o de conhecimentos ou dos conte dos pedag gicos educativos instrumentais e operacionais de acordo com op es axiol gicas de determinados grupos culturais na busca de suas intencionalidades conformadas por meio da finalidade educativa e dos objetivos de educa es espec ficas Entendida nessa dimens o a pr tica pedag gica acontece em tr s contextos diferentes que interagem na revela o da doc ncia no cotidiano que s o o contexto propriamente pedag gico formado pelas pr ticas cotidianas da classe o que as professoras 30 y P Pn RES RR Os sentidos cognitivos te rico expressivo e factual que cada um atribui ao que conhece O significado que ganha legitimidade na representa o social do coletivo 89 praticam o contexto profissional das professoras que elaboram como grupo um modelo de comportamento onde se inserem as ideologias conhecimentos cren as rotinas produzindo um saber t cnico que legitima a sua pr tica e o contexto sociocultural que proporciona valores e conte dos considerados importantes para elas e para seus alunos Essa conceptualiza o traz a pr tica pedag gica como um processo historicamente situado no contexto de determinada cultura e organizada por seus praticantes de forma intencional implicando pr tica de todos e
81. a o um professor por escola Chegado o dia os professores das escolas da sede e do anterior se juntam no audit rio da SEDUC secretaria de Educa o separados por s rie para discutir as escolhas anteriores feitas nas escolas com alguns argumentos mas nem sempre os livros que a sua escola escolheu ser o os aprovados pela rede Para o tri nio 2010 a 2012 foram escolhidos os livros did ticos 2 ano Projeto Conviver de Matem tica e Ci ncias Naturais Hoje dia de Hist ria Hoje dia de Portugu s 3 ano A Grande Aventura Portugu s Projeto Conviver Matem tica Projeto Conviver Ci ncias Hoje dia de Hist ria e Aprendendo sobre geografia 4 ano A Grande Aventura 2 As informa es foram dadas pela Coordenadora Pedag gica da escola e pelas professoras 73 Portugu s Projeto Conviver Matem tica Projeto Conviver Ci ncias Hist ria nas trilhas da Bahia e Aprendendo sempre geografia 5 ano A Grande Aventura Portugu s Projeto Conviver Matem tica Ci ncias Naturais Hist ria nas trilhas da Bahia e Aprendendo sempre geografia Como o Munic pio adota o crit rio da maior quantidade de votos para a escolha dos livros did ticos acabam sendo escolhidos aqueles com caracter sticas mais urbanas porque o maior n mero de professores da sede do munic pio As professoras fazem uma cr tica com rela o a isso porque acabam trabalhando com livros que pouco atende proposta da
82. a portanto tem cor polu da portanto tem cheiro e sabor Em outros apareciam imagens de crian as e jovens negras para tratar da marginalidade como exemplo a m sica de Chico Buarque Meu Guri que mostrava uma imagem de um pivete negro e maltrapilho roubando a bolsa de uma velhinha branca simp tica e bem vestida Bem ou mal os textos est o dispostos nos livros que circulam entre professores e alunos no cotidiano da pr tica pedag gica da escola e s as leituras acr ticas ou cr ticas delinear o as aprendizagens de mestres e aprendizes Todas as professoras em suas falas reconhecem a import ncia do livro did tico ao tempo que tamb m apontam suas lacunas seus v cuos existem livros que s o completos vem dentro da proposta e outros que ao l lo percebemos muitas faltas Professora Flor Nesse sentido ainda tomando como aporte as narrativas das professoras medida que Livro de autoria de Claudia Maisa A Lins Edneusa de Sousa e Vanderl a Andrade Pereira elaborado atrav s do Instituto da Agropecu ria Apropriada IRPAA Rede de Educa o do Semi rido Brasileiro RESAB e UNICEF Para a elabora o foi realizado um estudo dos livros did ticos que eram trabalhados nas escolas do Semi rido A proposta aqui tratada pela Professora Flor diz respeito Proposta Pedag gica do Munic pio e da Escola que trabalham com o indicativo de Descritores que s o conte dos e objetivos de aprendizag
83. a Magalh es FICHA CATALOGR FICA Universidade Federal do Piau Biblioteca Comunit ria Jornalista Carlos Castello Branco Servi o de Processamento t cnico P4361 Pereira Vanderl a Andrade O livro did tico no cotidiano da pr tica pedag gica de professoras usos que se revelam no semi rido brasileiro Vanderl a Andrade Pereira _ Teresina 2012 02 09 43f Disserta o Mestrado em educa o Universidade Federal Do Piaui Teresina 2012 Orienta o Prof Dr Maria da Gl ria Soares Barbosa Lima 1 Livro Did tico 2 Pr tica Pedag gica I T tulo CD D 371 320 VANDERLEA ANDRADE PEREIRA O LIVRO DID TICO NO COTIDIANO DA PR TICA PEDAG GICA DE PROFESSORAS usos que se revelam no Semi rido Brasileiro Disserta o apresentado a Programa de P s Cirudua o em Edhica o como requisito para n obten o do titulo de Mestre em Educa o pelo Centro de Ci ncias da Educa o da Universidade Federal do Piaui conforme avalia o da Banca Examinadora Aprovada em 27 de fevereiro de 2012 BANCA EXAMINADORA Praf Dr Alamo Pimentel da Silva Examinador Extermo UFBA Dra Carmem Licia de Oliveira Cabral Exuminadora Suplente UFPI Termina Pinni 2012 Meus olhos transv em O entorno n o cabe nesses livros Por vezes silenciam amontoados em cadeiras por outras passeiam entre as m os e os olhos atentos Ganham vida Para os que acreditam na necessidade de navegar e viver sempre
84. a atendam a crit rios de legibilidade e tamb m ao n vel de escolaridade a que o livro se destina Outro aspecto exigido que o texto principal esteja impresso em preto e que t tulos e subt tulos apresentem se numa estrutura hierarquizada evidenciada por recursos gr ficos As obras que n o observarem qualquer um desses crit rios ser o exclu das e no caso dos volumes que integram uma cole o s o exclu das as cole es que tiverem um ou mais volumes reprovados pela avalia o A partir dessa vis o mais geral do processo de escolha adentro ent o no olhar do processo de escolha dos livros did ticos na Escola Jos de Amorim Os procedimentos mais gerais s o feitos normalmente com a inscri o no programa Como a escola j est inscrita no programa recebe o guia do Livro Did tico para a partir da fazer a an lise dos livros A an lise feita com todas as professoras reunidas e as discuss es s o em torno do projeto da escola dos livros que mais podem contribuir para o desenvolvimento dos alunos das comunidades que a escola atende Esse processo melhor visualizado na narrativa da Professora D enviado para a escola as amostras dos livros did ticos para an lise da a coordenadora pedag gica re ne os professores para fazer uma an lise e preencher uma ficha dos livros escolhidos por s rie o momento tamb m aproveitado parasortear um professor para participar da escolha definitiva na Secretaria de Educ
85. a copia as quest es no quadro tal como est prescrito no livro did tico Nesse momento percebo uma queda de nimo dos alunos porque agora o di logo s entre eles e o livro o que significa a aus ncia de voz um diz e o outro repete Como eles estavam reclamando muito a Professora sugere para fazerem em grupo Muitos revidaram por que queriam fazer s A a Professora fala da import ncia de viver em grupo da solidariedade e que um sempre pode precisar do outro D que tinha ido ao banheiro volta dizendo que a merenda 118 arroz de leite e a turma toda reclamou por que disseram que esse ano foi prometido que a merenda ia ser iogurte sandu che cuscuz com ovos e at agora nada A Professora diz para eles n o reivindicar s na sala que importante cobrar de quem prometeu Eles dizem que v o cobrar mesmo do Diretor da Coordenadora e at do Prefeito Voltando atividade alguns se dirigem professora para orienta o Ela orienta como eles podem ler um gr fico e contextualiza o rural e o urbano no livro com o munic pio de Juazeiro a sede que urbana e a Comunidade de Lagoa que rural Alguns se afobam e a Professora diz que eles est o com dificuldade por que s querem ter as respostas prontas e n o est o acostumados a pensar E o gr fico est timo voc s sabem que eu procuro no livro os conte dos que voc s possam aprender que n o sejam t o diferentes de voc s Depois de alguns tumu
86. a e s o essas conversa es com a linguagem com a emo o que nos faz humanos 55 Descrever tornou se para mim a necessidade de compreender e interpretar o visto numa multiplicidade de sentidos sens veis como afirma Laplantine 2004 p 20 trata se de uma visibilidade n o apenas tica mas tamb m t til olfativa auditiva e gustativa que nos conduz a deixar de opor o diante e o atr s o fora e o dentro para compreender a natureza dos la os que ligam um diante que n s incorporamos em um atr s a partir do qual se efetua a atividade sensitiva assim como a intelectual A descri o mobiliza a totalidade da intelig ncia da sensibilidade e at da sensualidade da pessoa que pesquisa O olhar configura se como um olhar do corpo inteiro ele corp reo Nesse contexto na tentativa de trazer a descri o etnogr fica para o campo das an lises dos conte dos me aproximei das teorias da descri o discutidas por Laplantine Dentre tantas nos detivemos na teoria da Descri o Fenomenol gica que traz contribui es nos estudos de Husserl 1859 1938 e Merleau Ponty 1986 1994 e na teoria da Descri o Hermen utica que traz contribui es contempor neas nos estudos de Clifford Geertz Mesmo com especificidades diferenciadas ousei um di logo entre a fenomenologia e hermen utica Fiz da compreens o hermen utica uma inscri o no prolongamento da descri o fenomenol gica ou s
87. a estavam inclusas o valor em esp cie dos livros e tamb m a ideologia presente na aquisi o dos estudos BITTENCOURT 2005 Com a pretens o de monopolizar ideologicamente os aprendizes nesse per odo surge um dos primeiros manuais escolares que se tem not cia O ABC de Hus escrito pelo pensador e reformador religioso Jan Hus que mais tarde foi excomungado da Igreja e condenado pelo Concilio de Constan a vindo a ser queimado vivo por ser um dos precursores da reforma protestante A caracter stica principal do ABC de Hus que apresentava uma ortografia padr o com frases religiosas que iniciavam com letras diferentes Era uma obra voltada para alfabetiza o do povo e nas entrelinhas acabou servindo para refor ar a catequiza o e a dissemina o da barb rie da igreja Em 1525 na Alemanha editada a cartilha intitulada como Bokeschen vor leven ond kind que continha o alfabeto os Dez Mandamentos ora es e algarismos E em 1527 numa obra semelhante Valentin Ickelsamer inclui em sua cartilha as primeiras gravuras por exemplo a letra S com o desenho de uma cobra No ano de 1658 Com nius inspirado em Jan Hus edita a obra O mundo sens vel em gravuras que apresentava li es acompanhadas de ilustra es O autor dizia que a educa o deveria come ar pelos sentidos O pai da Did ctica Magna acreditava que era poss vel ensinar tudo a todos e foi o seu deslumbre com a imprensa que o levou a ilustrar seus
88. a leitura e depois uma releitura em forma de desenho da obra que acharem 108 mais interessantes Adverte que importante ler o que se diz da obra para compreenderem o sentido e conhecer mais sobre arte Nessa explora o as m ozinhas passeiam pelos livros os que n o tem todos os livros pedem por empr stimo aos colegas e assim v o compartilhando buscas achados e olhares Em meio busca nos livros os alunos j iam dando as devolutas para a professora e os colegas No de ci ncias s tem umas esculturas de lixo arte Pr Aluna A Claro Quando o lixo transformado em outra est tica passa a ser arte Fala se aproximando a Professora No de matem tica n o tem nada de arte s conta L fala desapontado e todos concordam com ele Achei foi muito em Geografia tem muita pintura At os mapas t o arte Pr E desenho tamb m Desenho pode Pr Fala V Desenho obra de arte Agora lembrem de ler para ver de quem a obra como foi feita etc Isso importante para voc s aprimorarem seus conhecimentos Tem um mapa bem bonito parece pintura Vou ver se arte e quem fez Expressa M indo de uma carteira para outra Com as leituras das obras encontradas pude etnografar a escassez de obras de arte nos livros did ticos Nas releituras eles desenharam e pintaram mesmo com pouco material obras interessantes e se identificaram como autores das obras A Professora faz um varal com as produ es
89. a media o did tica cr tica 3 1 4 Usos do livro did tico como constructo de autonomias legitima o e 128 recria o das prescri es presentes no livro 3 2 Professoras e livros did tcos a constru o dial gica da autoria 139 3 3 Prefiro escrever um livro que um caderno um olhar para o olhar das crian as sobre o livro did tico sosoran kision ennei a ReRe aSa 143 CAP TULO IV A EDUCA O NO SEMI RIDO BRASILEIRO LEITURAS ETNOGRAFICAS SOBRE O LIVRO DIDATICO NA ESCOLA JOSE DE AMORIM stnan a a a E E E EEE 150 4 1 O livro did tico no texto e no contexto da educa o no Semi rido Brasileiro 151 4 2 Descortinando nos achados da pesquisa a educa o contextualizada no Semi rido Brasileiro oneei hanane iiei e a a a E E e 156 4 3 O Semi rido entre o espa o do livro did tico e o contexto praticado 159 CAPITULO V O OLHAR ETNOGR FICO PELAS FALAS IMAG TICAS DA PESQUISA rn a a O a a ean 164 CONSIDERA ES IN JCONCLUSIVAS c ii ieeeemeeeeeeeereeeeeereereeeeeereens 194 REFERENCIAS loia feio nl dr ed TRAS 202 AP NDICE A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido memos 210 AP NDICE B Orienta o para escritura do di rio da pr tica 213 AP NDICE C Roteiro para entrevista interativa reflexiva emeeememees 214 INTRODU O Meus olhos abriram com a e
90. ais precisos j que em suas resenhas os especialistas n o especificam para que tipo de professor ou de comunidade escolar o livro indicado sendo o mesmo t tulo recomendado para o ensino de sudeste a nordeste do pa s do outro lado est o os professores n o aqueles gen ricos e abstratos aos quais o Guia dos livros did ticos se destina mas os reais e concretos que ficam muitas vezes alheios a todo o processo de execu o do PNLD necess rio insistir no fato de que o prop sito do PNLD ao avaliar os livros did ticos promover a melhoria da qualidade dos livros partindo do pressuposto de que a melhoria fundamental ao processo ensino aprendizagem Assim o livro did tico apresenta se como instrumento b sico do trabalho pedag gico desenvolvido pelo professor dentro e fora da sala de aula quando n o o nico Do final do s culo XX at os dias atuais a pol tica do LD foi ganhando mais for a e hoje mobiliza um grande n mero de editoras e institui es no processo que vai desde a escolha a avalia o e o recebimento do livro pelas escolas Com mais nfase o livro ocupa cada vez mais uma centralidade no processo educacional Atualmente estudos como de Lajolo 1996 Coracini 2011 e D vila 2008 contemplam a id ia de que os livros 69 cheguem sala de aula como um material auxiliar e n o como nico a ser trabalhado Os professores podem se utilizar de outros meios para que haja a aprendizagem do aluno co
91. alas do 2 e 3 ano eram mais coloridas alfabetos espalhados cantinho de leitura aniversariantes mural etc Todas as salas vivenciadas tinham textos em comum o nome de todos os alunos o acordo de conviv ncia e tr s grandes fichas fixadas na parede para fazer o acompanhamento das atividades desenvolvidas pelos alunos e o desenvolvimento dos mesmos Como todas as salas j disp em de quadro branco o quadro negro que verde ainda habitando a parede serve para afixar as produ es textuais que sempre acontecem nas quatro salas Normalmente as carteiras s o organizadas em fila para um maior controle das professoras mas a depender da proposta essa ordem se transforma em c rculo agrupamentos semic rculo e at v o totalmente para os cantos para liberarem o ch o para o desenvolvimento da atividade Uma dificuldade percebida na observa o nas salas e em algumas manifesta es das professoras o fato de n o poderem transformar a sala totalmente para melhor acomodar as crian as por conta de que nas mesmas salas em hor rios opostos funcionam turmas do fundamental II e os alunos desse segmento acabam arrancando os enfeites ou as produ es dos alunos que ficam nas paredes Por conta de espa o no percurso da pesquisa o 2 e o 5 ano trocaram de sala e teve uma resist ncia das crian as do 2 ano por conta de que a sala deles era mais colorida ent o no mesmo dia a professora trouxe toda a veste da sala anterior para a nova
92. am o livro e j come aram a ler explorar Z veio sentar perto de mim para dividir o livro pois eu n o tinha Ela deixou claro que ela era quem ia fazer e eu s ia ficar olhando Enquanto a professora agrupava os alunos para os que n o tinham livro sentarem junto com os que tinham alguns j estavam concentrados na leitura 112 diz que aqui na escola na hora do recreio depois do lanche eles saem para brincar Havia uma valoriza o da voz das crian as como tamb m j observado em outras aulas das outras professoras Uma preocupa o em trazer para dentro da atividade o sujeito que aprende Peguem os cadernos e extra am do texto nome de pessoas nome de coisas e organizem em listas Fa a no quadro pra eu ver Pr Diz K pr copia os indicativos no quadro Constru o de listas tem ticas PESSOAS e LUGARES O indicativo do livro extrair do texto nome de pessoas e coisas para organizar em listas pela rea o das crian as foi eclipsado pela media o da professora que opta por trazer os elementos das realidades dos alunos com o intuito de aproxima los do conte do facilitando a compreens o e aprendizagem As pessoas podem ser os nomes de seus amigos parentes conhecidos e os lugares os que voc s j andaram ou ouviram falar Quando terminarem de fazer as listas com nomes conhecidos identifiquem os nomes de pessoas e lugares no texto Vixe a eu n o sei n o Pr Como n o sabe
93. amb m mexeram comigo enquanto professora caatingueira otimista da escola p blica e poeticamente habitante do Semi rido Nesse sentido nutro em mim uma esperan a de um dia nos sistemas municipais de educa o serem potencializados recursos f sicos e humanos para a produ o de livros did ticos e tamb m paradidaticos Quando isso acontecer com certeza verei uma 201 otimiza o de recursos usos e aproveitamento das aprendizagens auxiliadas mediadas pelo livro did tico Quando adentrei no universo da escola ainda com uma etnografia te rica na cabe a um caderno e uma caneta na m o tinha como pressuposto inicial olhar o cotidiano da pr tica pedag gica das professoras para al m dos desmantelos que outros estudos apontam No percurso das incurs es te ricas para encontrar bases de sustenta o para a minha quest o de pesquisa foram raros os momentos de leitura que n o traziam uma imagem negativa da escola p blica e dos professores um jogo de culpas que temi ser impregnada de tanto pessimismo Por m foi pelas leituras da vida e da natureza que refiz em mim as mem rias das minhas escolas reais e inventadas das minhas professoras e atualmente dos meus alunos e n o via nessas mem rias tra os de desencantos de descompromisso de impossibilidades Via sim um encantamento que me levava a ver ao contr rio um olhar ao avesso e foi com esse olhar que fui nos tra ados etnogr ficos que penetravam minhas retinas bus
94. amb m para al m das p ginas impressas 3 3 Prefiro escrever um livro que um caderno um olhar para o olhar das crian as que usam o livro Ao meu lado E redesenha as imagens do livro e ela mesma fala eita n o pode riscar e vai apagando o que fez Meus olhos captam uma cerca imagin ria entre os alunos e os livros Aquelas m ozinhas que passeiam pelas p ginas n o podem compartilhar de seus escritos pois estes s o s para ler O livro s para ler tornando se vitr nico no percurso da aprendizagem Na fadiga entre o caderno e o livro D lan a sua voz aos meus ouvidos Prefiro escrever um livro que um caderno O que est nessa voz Est o as vozes de outros tantos alunos que cotidianamente se arrastam nos recopiarem as atividades do livro no caderno Na voz de D est a express o concreta do livro n o consum vel e se o aluno n o consome n o se sente parte dele n o estabelece uma rela o de pertencimento e de autoria com esse artefato cultural que permanece intoc vel por longos tr s anos Di rio de campo 2011 Diante de todos os achados descortinados pela pesquisa a voz do aluno n o poderia passar despercebida ao meu olhar etnogr fico Percebe se que nos estudos acerca do livro did tico aparecem as vozes do professor e do pr prio livro e a voz do aluno que pode ser considerado o consumidor final desse produto habita o entrelugar silenciado na rela o do livro did tico com o professor Mas su
95. ambigiiidade ou seja saber conviver com as d vidas e as incertezas destacando ainda as habilidades de express o oral e express o escrita Acerca deste ltimo a autora o considera fundamental pois muitas vezes o pesquisador faz um bom trabalho de campo os dados produzidos s o ricos e significativos mas ele n o consegue expressar pela escrita o que observou ouviu e sentiu e nem mesmo relacionar com o referencial te rico adotado importante salientar que ao optar por um estudo etnogr fico considerei em todos os percursos da pesquisa a subjetividade e as singularidades individuais sempre de maneira relacional isto a partir da intera o com uma coletividade uma cultura um dado contexto social As professoras e o livro did tico n o foram olhados como fragmentos de uma cultura escolar mas como partes integrantes dessa cultura que tamb m estabelece rela o com outras culturas que est o al m dos seus limites e esse fen meno do olhar pr prio da natureza etnogr fica 1 2 Primeiros rabiscos etnogr ficos o campo emp rico ou o que o olhar alcan a Quando abri pela primeira vez meus olhos e meu di rio de campo parecia que n o ia dar conta Parecia ensaiar uma cegueira que dilatava as pupilas e enrijecia minha m o Descia do nibus depois de quarenta minutos entre asfalto cascalho e areia e a escola bifurcava meninos e bodes num frenesi de come o de dia Estava l numa escola numa comunidade cheia de t
96. an lise surge a partir das pr prias narrativas das professoras quando se assumem como co autoras do livro did tico que usam e para compreender a rela o dial gica e de autoria que se constr i entre as professoras e o livro did tico foi necess rio analisar tanto os elementos relacionados cultura das professoras quanto os relacionados aos processos de regula o produ o e reprodu o da cultura escolar focalizando o olhar no livro did tico O livro did tico faz parte do ambiente de ensino e aprendizado e os conte dos exerc cios e atividades did ticas que sugere refletem uma cultura escolar estabelecendo rela es de media o que muitas vezes s o assumidas pelas professoras de forma pragm tica ou com resist ncias e inven es como vimos nas an lises anteriores O Livro Did tico quando usado passivamente acaba ditando regras e verdades no processo educativo eclipsando o trabalho pedag gico do professor no que tange ao planejamento de ensino e pr tica pedag gica contextualizada na cultura escolar A cultura escolar na medida em que imprime padr es e modelos de a o e pensamento veiculados nas normas determina es e no pr prio livro did tico aponta na situa o de uso ou n o uso do livro percep es de como as professoras criam seus pr prios dispositivos e crit rios de a o Falar de autoria no uso do livro did tico significa adentrar numa discuss o que envolve a potencializa o de todos os
97. angrando nas chuvaradas a espuma dos sapos que desenhavam as estradas e a vig lia dos caretas na semana santa Como quero iniciar este cap tulo falando de educa o e para minha estranheza agora no cerne da pesquisa essas mem rias tilintam em mim como f legos de contextualidades o meu habitar no espa o Semi rido come a com a educa o do olhar que me acompanha desde a inf ncia O Sert o da inf ncia agora na adulteza nomeado como Semi rido nunca foi lido em nenhum livro que passou por minhas m os em tempos de escola Por mais belos e encantados fossem os textos em cada s rie aquela tessitura de poesia poeira e sol nunca se acomodaram na est tica retangular do livro did tico e essa aus ncia me comp e at hoje e foi por essa aus ncia que me encontrei pela segunda vez com o Semi rido quando da feitura dos livros did ticos Conhecendo o Semi rido 1 e Conhecendo o Semi rido 2 n s autoras e institui es parceiras acredit vamos que ali nas p ginas coloridas e com letras esteticamente organizadas poder amos trazer o espa o Semi rido Este espa o mesmo ecoando nas vozes dos livros come a a vazar por entre brechas que s fomos ver quando os livros come aram a ser consumidos em trabalhos experimentais e eu mesmo j vendo meu ch o representado nas 151 p ginas de livros sabia que a poesia a poeira e o sol nunca iam ser imagens totalizantes por mais textual e contextual que um livro did tico possa parecer e a
98. ano sempre faz a rela o com a comunidade deles que situa se na zona rural campo Voc s acham que as mudan as fazem diferen a na vida das pessoas Volta a provocar a Professora sim Metade da sala se manifesta Nas fotos a mudan a ficou mais bonito Complementa C A professora tamb m trabalha a rela o de tempo entre uma paisagem e outra explica falando que em geografia tamb m tem matem tica Faz conta de subtra o no quadro e eles v o dando os resultados Pede para eles fazerem dos anos mostrados nas paisagens e o ano que eles nasceram Cada um foi dizendo a rela o de suas idades e as duas paisagens e a Professora ia registrando no quadro Na p gina 98 Cidades paisagens e hist ria a Professora faz a leitura em voz alta Diz que os munic pios surgem na rela o do homem com a natureza Mostra no livro paisagens do campo e da cidade e diz que ambas fazem parte de um munic pio Eles interagem dizendo que em Juazeiro existem os lugares do interior e a cidade oportunidade em que a Professora acrescenta lugares do interior ou Campo lugares da cidade ou urbano que compreendem o Munic pio de Juazeiro Convida os alunos a voltarem para o livro did tico Observem o gr fico e respondam as quest es no caderno Orienta a Professora com o livro sobre a mesa Meu livro ta todo lascado recortado Pr A fala j se juntando com o colega que est com um livro inteiro Para todos visualizarem a Professor
99. antas coisas e gentes e tudo parecia imenso para o meu tamanho Estava disposta a come ar e achei por instantes em que dava e recebia bom dia que meu olho n o ia alcan ar tamanha gama de coisas Tudo parecia gigante senti me Diego procura de algu m que me ajudasse a olhar Comecei ent o ainda em passos inseguros no dia 07 de 3 O livro dos abra os Eduardo Galeano A fun o da arte 1 Conto que trata de Diego que levado pelo pai para conhecer o mar quando se depara com a sua imensid o tr mulo pediu ao pai Me ajuda a olhar 31 fevereiro de 2011 depois das primeiras aproxima es e consentimentos a produzir as tessituras etnogr ficas da pesquisa O meu olhar etnogr fico produziu imagens ret nicas da comunidade descortinou olhares acerca da Escola Jos de Amorim e desvelou as professoras participantes da pesquisa 1 2 1 Imagens ret nicas da comunidade Abre se a estrada e logo aparecem as casas em linhas curvas Em fileira meio transgressora bodes e cabras encangados arrefecem o calor pelas guas que correm soltas nos esgotos desenhados nos quintais abertos Vai se aproximando o tilintar dos chocalhos que d o ritmo ao cord o caprino Pessoas sentadas nas cal adas reparam no movimento dos carros que levantam a poeira do ch o sem paralelep pedos Por esse peda o de ch o os meus olhos h o de ter muito o que olhar Di rio de campo 2011 Lagoa do Salitre comunidade que nasce nas
100. antropossociais Salvador EdUFBA 2009 RAMOS G Inf ncia Rio de Janeiro Record 2010 REIS E S PEREIRA V A Educar no semi rido brasileiro o desafio de uma constru o em rede RESAB Secretaria Executiva Educa o para conviv ncia com o semi rido Juazeiro Selo Editorial RESAB 2006 RICHAUDEAU F Concep o e produ o de manuais escolares guia pr tico Paris Unesco 1979 SANTOM J T Globaliza o e interdisciplinaridade o curr culo integrado Porto Alegre Artes M dicas 1998 SANTOS A R dos R MENDES SOBRINHO J A de C Contextualizando o ensino de ci ncias naturais nas s ries iniciais In MENDES SOBRINHO J A de C Org Pr ticas pedag gicas em ci ncias naturais abordagens na escola fundamental Teresina EdUFPI 2008 p 27 60 SANTOS C B dos Letramento e senso comum a populariza o da ling stica na forma o do professor Campinas SP Mercado de Letras 2011 SCH N D A The reflective practitioner how professionals think in action USA Basic Books 1983 SCHEFFER A M M et al Cartilhas das cartas ao livro de alfabetiza o Campinas 2007 Dispon vel em lt www alb com br anaisl 6 semlOpdf sm10ss20 40 pdf gt Acesso em 20 jul 2011 SILVA A P da Educa o contextualizada transposi o did tica e complexidade um come o de conversa In REIS E dos S CARVALHO L D Org Educa o contextualizada fundamentos e pr ticas Juazeiro BA UNE
101. ara contribuir com os alunos Sempre com seu perfil cr tico sabia o que cada material did tico tinha de positivo ou negativo D nativa da comunidade na hora do intervalo sempre que necess rio ia em casa dar o ar da gra a aos filhos Entusiasta da ludicidade sempre que podia oportunizava uma nova forma de conduzir as aulas Com timbre altivo abrandava os mais alvoro ados e sempre lan ava m o das novidades que os alunos traziam para a sala R sempre atenta com sua forma silenciosa e observadora regia com maestria o espa o da sala de aula Parecia conhecer cada aluno para al m da sala de aula Da sua maneira conduzia os alunos compreens o de cada momento Alegrava se ao descer do carro no retorno para casa e ver seus filhos correndo ao seu encontro Sempre era uma cena de encher os olhos L voz baixa e pausada tentava compreender na sala de aula tudo o que aprendera na universidade Rec m formada em pedagogia e com uma filha pequena parecia integrar no seu modo de ensinar todos os aspectos de sua vida dentro e fora da escola No intervalo aproveitava o tempo s vezes para ir r pido em casa e fazer um dengo na filha Essas mulheres m es professoras enchiam meus olhos de uma etnografia guerreira Suas jornadas n o se limitavam sala de aula em casa dividiam o cuidado da casa e fam lia com o planejamento e prepara o do material para a aula do dia seguinte engendrando ainda tempo para os prazos dos relat rios e as forma
102. ara um pouco do mutir o que tinha tido no final de semana com pais alunos e gestores para conserto das carteiras quebradas pintura das paredes e limpeza do espa o j fui sentindo me acolhida na escola Enfim fui anunciada e entrei Na sala a Coordenadora Pedag gica com quem tinha feito contato por telefone a Professora de Educa o Inclusiva que intermediou o meu contato com os gestores da escola e os professores do 1 ao 9 ano do ensino fundamental Como a reuni o j tinha iniciado acordamos que no final eu falaria sobre as inten es da pesquisa Encerradas as pautas da reuni o me foi concedida a fala me apresentei expus o projeto de pesquisa fazendo os esclarecimentos sobre as t cnicas e instrumentos que seriam utilizados para a constru o dos dados a din mica com rela o sistem tica das observa es em salas de aula e a import ncia da contribui o da escola como um todo para o feitio da 44 pesquisa As professoras olhavam com estranheza e curiosidade o que mais tarde no decorrer da pesquisa revelaram ter sido um olhar por sentirem se desafiadas principalmente por estarem sendo observadas em suas pr ticas Como ainda tinha tempo e acertei voltar no carro que transporta os professores enquanto a coordenadora pedag gica foi sistematizar e digitar os resultados da reuni o com os professores do fundamental II em uma sala parte sentei com as professoras do Fundamental I Nessa roda agora mais pr xima e
103. as de hoje como sendo basicamente o livro adotado na escola destinado ao ensino cuja resposta deve obedecer aos programas curriculares escolares A defini o desse termo se deu pela primeira vez no Decreto Lei n 1 006 de 30 de dezembro de 1938 Art 2 da seguinte maneira Comp ndios s o os livros que exp em total ou parcialmente a mat ria das disciplinas constantes dos programas escolares livros de leitura de classe s o os livros usados para leitura dos alunos em aula tais livros tamb m s o chamados de livro texto comp ndio escolar livro escolar livro de classe manual livro did tico OLIVEIRA 1984 p 12 Em 1937 o Estado Novo com incentivo do Ministro Gustavo Capanema cria um rg o espec fico para formular pol ticas do livro did tico o Instituto Nacional do Livro INL com uma coordena o voltada especificamente para o manual escolar Constitui se tamb m a Comiss o Nacional do Livro Did tico CNLD Nesse per odo tamb m criada a Comiss o do Livro T cnico e do Livro Did tico a COLTED contribuindo para dar maior legitima o ao livro did tico nacional e consegiientemente auxiliando no aumento de sua produ o Contudo mesmo havendo essa contribui o produ o editorial do livro did tico alguns autores teriam preconceitos quanto esse tipo de literatura Alguns pesquisadores como Lajolo e Zilberman 1999 j citaram o livro did tico como o primo pobre da literatura sendo text
104. as na sua rela o com o livro did tico considero que h uma exig ncia da constante atualiza o das professoras pois para instrumentaliz lo necess rio sabe lo por inteiro considerando que o livro did tico realmente uma dif cil proposta pedag gica que traz um conte do atualizado selecionado por crit rios e tem fins de forma o escolar dessa forma did tica precisa ser adequado aos processos cognitivos pr prios aos conte dos e e ainda pr prios etapa de desenvolvimento em que se encontre o aluno aos processos interativos que caracterizam a sala de aula e s 142 circunst ncias sociais e culturais em que se insere a escola Nesse sentido a fala da professora D refor a a minha tessitura Quando lemos o livro trabalhamos uma atividade n o por n s pelos alunos Temos que saber se o que vamos ensinar vai servir tem sentido para a vida do aluno e muitas vezes temos que saber transformar um assunto que parece n o ter nada de interessante em algo que eles v o gostar de aprender O professor pode inventar um monte de forma de ensinar mas se o conte do n o se tornar interessante n o tem jeito o aluno n o quer saber A narrativa da Professora D traz de forma bem objetiva a import ncia da transposi o did tica quando se fala de autoria das professoras frente aos usos do livro did tico Na constru o de autoria as professoras t m suas inventividades pr prias que as fazem apropriarem se
105. as que ao serem explicitadas direcionam a a o das professoras Nesse eixo de an lise mesmo o livro did tico apresentando implicitamente prescri es de ordem filos fica pedag gica as an lises se tecer o a partir da legitima o ou recria o das prescri es metodol gicas que est o mais aparentes na organiza o do livro did tico A percep o que se tem no adentrar ret nico nas p ginas dos livros e no direcionamento que as professoras tomam ao percorrer seus conte dos que as prescri es presentes ora s o legitimadas ora s o recriadas o que d uma conota o de di logo intencional das professoras com o que dizem os livros Para melhor compreender os epis dios etnogr ficos de ensino destacados e analisados nessa categoria fa o uma tessitura a priori das prescri es especificamente metodol gicas que norteiam os livros did ticos trabalhados na Escola Jos de Amorim Vale ressaltar que os livros adotados para o 2 3 4 e 5 ano s o dos mesmos autores e que as professoras chamam de cole o por ter as mesmas prescri es s diferindo os conte dos de acordo com cada s rie a exce o o livro Hoje dia de Portugu s que um livro de letramento e alfabetiza o ling stica adotado s para 2 ano De forma mais gen rica as prescri es nos livros did ticos se desvelam mediante os seguintes formatos a O livro A Grande Aventura de L ngua Portuguesa dividido em 4 unidades
106. as vozes gritaram aos meus olhos as diversas formas de uso por parte dos alunos saltavam para a minha sensibilidade etnogr fica e assim os registrei Nas reinven es do cotidiano das pr ticas pedag gicas das professoras os alunos 144 tamb m reinventavam seus cotidianos e reinventavam tamb m seus di logos de autoria com o livro did tico Nesse contexto observamos formas de uso por parte dos alunos A primeira o que eu chamo de escapolir do acontecimento presente Nesse caso os alunos usam o livro como recurso para permanecer na sala sem estar l Por muitas vezes quando as media es did ticas de natureza mec nica rendiam a aula os alunos passeavam pelo livro folheando e buscando outras cores para a monotonia do momento e isso foi registrado nas quatro turmas observadas Esse escapolir envolvia no folhear a descoberta de outros textos a c pia de desenhos e at um esmero ajeitado nas capas coloridas que envolviam os livros O que ficou percept vel que a arte de escapolir do acontecimento presente via livro did tico era uma estrat gia dos alunos que normalmente tinham os livros encapados e mais conservados e que provavelmente tinham uma rela o mais afetiva e dial gica com seus livros por isso o transformavam em instrumento de escape o espa o de respirar quando a linearidade lhes sufocavam Talvez por esse movimento de fuga pude perceber que os alunos que escapoliam pelos livros tinham mais facilidades de encontra
107. brindo e sabe que nem pode dizer tu sois e n s Eu aprendi com a pr tica ASSARE 2001 p 17 Compondo as tessituras da educa o contextualizada no Semi rido Brasileiro trago o livro did tico o escolarizado o adotado e trabalhado na Escola Jos de Amorim e parto da rela o de seus enunciados com a narrativa de Patativa do Assar que aprende a ler para al m dos livros aprende com a pr tica na natureza Costumo dizer que o maior e mais belo livro did tico o meio que circunda a escola Este livro o da natureza n o decalca regras gramaticais ou opera es matem ticas com f rmulas congeladas este livro no caso da Comunidade de Lagoa apresenta suas escritas pelas pegadas delineadas dos bodes que no entardecer v o para seus abrigos pelas poeiras levantadas no passar dos carros pelo conhecimento da festa no clube do bar que abre da filha que engravida do filho que virou alco latra do que passou no vestibular da que trabalha na cidade e pelo entreabrir das portas da escola Esse livro n o cabe dentro do outro que j vem encomendado e chega em caixas e quando aberto mesmo praticado muitas vezes permanece caixa retangular Dentro da oficialidade das prescri es dos livros did ticos trabalhados o Semi rido um sujeito oculto n o aprece nem na forma estereotipada como convencionalmente se via nos livros did ticos distribu dos nas escolas do sert o Se aprendemos a n o nos ver como o outro l do sert o por
108. cada professora tem sua particularidade suas cren as suas inten es que tem haver com sua cultura docente constitu da no mbito pessoal e profissional De acordo com G mez P rez 2001 p 164 Os professores desenvolvem elementos de uma cultura pr pria revelada nos m todos que se utilizam na classe na qualidade no sentido e na orienta o das rela es interpessoais na defini o de pap is e fun es que desempenham nos modos de gest o nas estruturas de participa o e nos processos de tomada de decis es A diversidade das professoras dos alunos bem como a diversidade de todo o universo f sico e humano escolar s o composi es elementares para a constitui o do agir e interagir pedag gico em torno do livro did tico nesse agir e interagir pedag gico que a pr tica docente situada na pr tica pedag gica constr i significados e ganha sentido no contexto de sua realiza o A constata o que as professoras na maior parte de suas aulas usam o livro did tico como um instrumento mediador na constru o dos saberes dos alunos e tamb m dos seus pr prios saberes Sendo o livro did tico um meio de auxiliar as professoras no processo cognitivo da aprendizagem dos alunos necess rio antes da sua utiliza o pr tica na sala de aula compreender o seu significado com o objetivo de entender a sua fun o a sua import ncia e valora o no processo educativo Na reflex o acerca da autoria das professor
109. cada unidade composta por li es No final de cada li o vem um gloss rio com os significado das palavras consideradas dif ceis A p s cada li o vem duas se es de interpreta o De papo com a turma que provoca a opini o dos alunos sobre o texto e De papo com o texto com quest es para explorar o texto E duas se es De olho na l ngua e De olho na ortografia que trazem conte dos e atividades da l ngua portuguesa As li es finalizam com mais tr s se es Esta o leitura que traz outros g neros textuais e mais l dicos para complementar as leituras De olho na cria o do texto que traz indica es para produ o textual verbal e n o verbal nas mais 129 diversas linguagens No fim do livro aparece a se o Para aumentar seus conhecimentos que traz dicas de livros filmes e m sicas de acordo com cada unidade b O livro Hoje dia de Portugu s dividido em 5 unidades e estas s o compostas por cap tulos Os cap tulos iniciam com a se o Lendo o texto seguido da se o Compreendendo o texto que s o quest es de interpreta o textual e no fim de cada cap tulo vem a se o Produzindo texto que traz enunciados para que os alunos produzam a partir do texto compreendido Nas atividades aparecem cones que v o indicar o procedimento de realiza o v rias carinhas para indicar atividade coletiva duas carinhas atividade em duplas tr s carinhas atividade em grupo um acarinha atividad
110. car a beleza das professoras com os livros did ticos no acontecimento vivo do cotidiano da pr tica pedag gica Se fosse para etnografar as mazelas teria muito mais a dizer mas estaria dizendo o que todos j dizem e sabem Preferi sem omitir cr ticas sobre o que vi comunicar beleza possibilidades e inven es que s foram notadas porque tiveram a oportunidade de sair de uma condi o an dina para ocupar a centralidade do meu olhar O olhar mesmo pelas minhas retinas foi totalmente hibridado dos olhares das professoras e dos alunos e at do livro que parecia ter vida ser a terceira pessoa com a qual dialoguei e me pus poesia do espanto O sentido de olhar e fazer desse olhar linguagem captando triscos de coisas para compor o meu papel em branco foi um exerc cio de me desfazer e refazer a cada movimento que me tocava nessa perspectiva que a etnografia consolidou o meu olhar e de fato exerceu seu papel quando me p s dentro do campo de pesquisa e fez me capturar do seu interior o que vi e vivi com intensidade sens vel e cientifica Escrever marcar um tra o e n o somente um tra o de grafia codificada mas um tra o de grafias que mesmo normatizadas t m a possibilidade de voar marcando outros tra os Ao grafar etnograficamente nos tra os marcados pela minha escrita o cotidiano da pr tica pedag gica povoei o papel de acontecimentos que tamb m s o grafados e marcados pelas vozes das professoras dos alunos do livro
111. co espa o externo as crian as fazem seu recreio dentro das pr prias salas muitas vezes acompanhamos algumas inven es de brincadeiras de m os amarelinha jogos de imagens pega pega que enriqueciam os 15 minutos entre a merenda e a volta para a aula No momento do recreio fica mais forte a presen a das regras sociais que culturalmente s o praticadas pelo coletivo porque na hora do recreio as crian as se despem do aluno para ser Fulana Beltrano assumindo suas nominalidades e consequentemente suas viv ncias em outras culturas A Escola mesmo n o tendo ainda sistematizado o seu Projeto Pedag gico desenvolve projetos que integram a escola com a comunidade 1 Teatralizando a aprendizagem orgulho de ser salitreiro que um projeto ambiental em parceria com universidades locais envolvendo a arte e a pesquisa bem como a es pr ticas que esse ano contou com a ida dos alunos ao lix o do munic pio uma passeada ecol gica pela comunidade realizando uma coleta de lixo pelas ruas e na proximidade da lagoa e passeio pelas guas do Rio S o Francisco 2 Sexualidade e Drogas que envolve um trabalho pedag gico com pais e alunos sobre as drogas e a sexualidade na comunidade Esse ano o projeto realizou palestras com diversos profissionais direcionadas para os pais e alunos aulas tem ticas com exibi o de v deos sobre o assunto produ es textuais e apresenta o de grupos de teatro na escola 3 Lagoa acontece que um projeto
112. coexist ncia Um lugar portanto uma configura o instant nea de posi es Implica uma indica o de estabilidade O espa o um cruzamento de m veis de certo modo animado pelo conjunto dos movimentos que a se desdobram Espa o o efeito produzido pelas opera es que o orientam o circunstanciam o temporalizam e o 143 levam a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais o espa o um lugar praticado Todo o tempo as professoras transformam o lugar em espa o Saem da estabilidade da linearidade do livro did tico e fazem desse livro um espa o praticado em movimento que enla a a voz do material impresso o livro e as vozes de quem d vida a esse material as professoras Pois s h efetua o da obra livro did tico quando existe um espa o leg vel e leg timo de autoria no espa o livro sala de aula escola praticado que as professoras podem dialogar com seus alunos Di logo este fundamental para haver a comunica o no ato de ensinar e aprender Freire 1975 p 107 conceitua esse di logo como sendo uma rela o horizontal de A com B que nasce de uma matriz cr tica e gera criticidade Nutre se do amor da humildade da esperan a da f da confian a Por isso s o di logo comunica E essa comunica o circunscrita numa rela o de simpatia entre professoras livro did tico e alunos produz autoria e autoriza as vozes que est o t
113. colorido que fica do lado direito da sala Ret ngulo Responde Flor se aproximando do arm rio como se quisesse puxar o olhar da turma para o objeto 99 O livro de Portugu s quadrado Grita J H com voz saltitante N o ret ngulo Z levanta com seu livro na m o e com voz de quem j apreendeu o assunto Falando em livro pesquisem nos livros did ticos de voc s o de portugu s matem tica ci ncias e geografia outras formas e vamos desenh las e colori las no nosso caderno A Professora inicia o terceiro modo de conhecer o conte do e agora em uma explora o que posso chamar uma interdisciplinaridade rasa s no sentido da mobiliza o das outras disciplinas mediante livros did ticos O livro de matem tica a partir da proposi o do conte do provocou a professora realizar um movimento de bricolagem integrando o meio real no caso a sala as diversas disciplinas representadas pelos respectivos livros e a pr pria representa o das formas identificadas a partir de desenho e cores O procedimento did tico da Professora traz a a o da bricolagem que conforme a acep o de Kincheloe 2007 p 27 desenvolver formas sutis de trabalho com o conhecimento e isso poss vel visualizar nesse epis dio etnogr fico de ensino quando a professora foi conduz sutilmente os alunos ao conhecimento das formas geom tricas mediante os instrumentos dispon veis na pr pria sala de aula q
114. como a fotografia entre outros as quais possibilitam uma pr tica descritiva densa compreensiva e interpretativa das a es e rela es dos atores sociais pertencentes ao grupo investigado LAPLANTINE 2004 Dois pilares caracterizam o m todo etnogr fico a intera o prolongada entre o pesquisador e o sujeito da pesquisa e a intera o cotidiana do pesquisador no universo do sujeito Assim a investiga o implica uma observa o densa criteriosa detalhada tendo como foco a fala e a interpreta o das professoras participantes da investiga o e considerando holisticamente todo o entorno s cio cultural no qual elas e suas a es 28 circunscrevem Complementando a discuss o metodol gica Liidke e Andr 1986 apontam tr s etapas para a realiza o da pesquisa etnogr fica a explora o que envolve as escolhas de campo e sujeitos bem como as primeiras observa es e aproxima es no e com o contexto da investiga o a decis o que implica nas escolhas dos dados relevantes das fontes e at dos instrumentos e a descoberta que consiste na explica o da realidade e na forma de situar as v rias descobertas num contexto mais amplo hol stico Como referencial te rico metodol gico a etnografia me permitiu descrever as rela es e processos configuradores da experi ncia cotidiana das professoras envolvidas no contexto investigado por meio da rela o direta com a pesquisadora Possibilitou tamb m entender
115. compreenderam o conte do porque ela traz um apanhado de todas as outras que aparecem na p gina A atividade termina j no hor rio de encerramento da aula percept vel o maior envolvimento dos alunos nas respostas das quest es recriadas pela professora Os alunos ao responderem a partir de suas viv ncias interagem entre si conhecem os modos de vida dos colegas e at iniciaram pequenas comercializa es como encomendar para o colega trazer leite no outro dia Outra percep o interessante que eles j se acostumam s recria es das prescri es que l em as quest es e logo perguntam se v o ficar desse jeito ou a professora vai refazer Trazendo esses tr s epis dios de ensino poss vel constatar que o livro did tico n o se constitui como regulador r gido da atividade docente pois mesmo fornecendo elementos b sicos para o planejamento e implementa o da atividade de ensino sem muitas vezes fornecer elementos para a compreens o anal tico reflexiva da pr tica pedag gica das professoras estas ao tempo que o seguem o transgridem legitimam e recriam suas prescri es desordenam uma ordena o prescrita e recriam outras ordens para segundo elas melhor ensinar e os alunos melhor aprenderem As reinven es do cotidiano da pr tica pedag gica das professoras na interface com o uso do livro did tico molduram ou desmolduram estampas did ticas que interrelacionam suas artes de fazer constitu das por suas o
116. conta das imagens propagadoras de conceitos preconceituosos e estereotipados veiculadas nos livros did ticos aprendemos agora a nem nos conhecermos enquanto n s aqui do sert o porque o lugar espa o est silenciado no corpo dos livros que vi e vivi na pesquisa As professoras chamam a aten o que o Nordeste o Semi rido talvez n o apare a porque o livro para os primeiros anos do ensino fundamental ent o a essa categoria de aluno negado o direito de saber de suas perten as S pelas vozes das professoras em situa o de media o o Semi rido chega at os alunos mas ainda numa limita o do Semi rido rural por conta dos contextos de viv ncias dos alunos ou at pelo n o reconhecimento da cidade como sendo o aqui Semi rido tamb m As narrativas curriculares presentes nas prescri es do livro did tico at o s culo XX trazem um distanciamento entre os conte dos e os contextos de viv ncias dos alunos O que se enuncia de t o alheio ao que se vive parece estar grafado em outra l ngua Nesse sentido o livro ora assume o lugar do estranho ora abobalha tanto o conte do como se n s tabar us e jecas tatus n o fossemos capazes de transler para al m do que dizem os livros Como alegoria trago um fragmento de Pimentel 2002 p 29 30 grifos do autor 161 O livro did tico de Marcelinho filho de uma lavradora da comunidade de Algod es exp e valores e id ias estranhos cultura local que prefiguram o
117. cozinhar aquele vegetal alaranjado de casca dura e cheio de sementes mas tamb m altera significados para aqueles leitores que at lerem a receita s sabiam que se utilizava ab bora como ingrediente de doce e que s tinham comido feij o cozido com ling i a Grifos da autora De volta ao mar a leitura da imagem produziu significados nos alunos que nunca viram o mar e alteraram significados medida que eles se apropriaram do mar no papel e o desejaram pessoalmente Continuando a prosear com a met fora de Lajolo e o mar da Professora D acredito que o livro did tico na potencializa o de conhecimento al m de produzir e alterar significados pode tamb m patrocinar envolvimento afetivo e experi ncia est tica Lajolo 1996 Nesse envolvimento afetivo e experi ncia est tica os significados que o aluno vai construir ou alterar v o estar pautados na aceita o ou contesta o dos conhecimentos 83 veiculados no livro did tico e esses significados precisam corresponder ao projeto de educa o da escola e consequentemente aos padr es de conhecimento da sociedade pois a escola n o est desvinculada do seu contexto social O livro produz conhecimento no aluno sim mesmo n o sendo muitas vezes aquele conhecimento que extrapole suas curiosidades Professora Flor A fala da professora revela tamb m nessa produ o de conhecimento as aus ncias que sutilmente s o percebidas nas rela es de aprendizagens
118. curso desses tr s anos s o feitas reposi es por extravio perdas ou complementa es por acr scimo de matr culas Os livros s o distribu dos tendo em conta as proje es do censo escolar referente aos dois anos anteriores no caso dos livros trabalhados na Escola Jos de Amorim a distribui o foi de acordo com o censo escolar de 2008 Como pode haver oscila es entre o n mero de livro e o n mero de alunos os ajustes s o feitos por remanejamento das escolas que a quantidade de livros excedeu o n mero de alunos e compartilham da mesma escolha Na compreens o do percurso pelo qual passa o livro did tico at fazer parte do PNLD e compor o Guia para chegar at a escola para a efetiva o da escolha necess rio visualizar os crit rios de avalia o para escolha e exclus o das obras did ticas para o tri nio 2010 2012 De acordo com o Guia do Livro Did tico 2010 os crit rios gerais e instrumentos de avalia o definidos para subsidiar a escolha elimina o dos livros did ticos nos diversos campos do conhecimento compreendem 71 a Corre o dos conceitos e das informa es b sicas A obra did tica n o poder descumprindo seus objetivos did tico pedag gicos aprsentar de forma equivocada conceitos imagens e informa es fundamentais das disciplinas cient ficas ou utilizar erroneamente esses conceitos e informa es nos exerc cios atividades ou imagens induzindo assim o aluno a uma apreens o equivoca
119. da janela e na encrenca com os colegas Not rio fica um correr lento das horas nas quais se arrastam professora e alunos trilhados pelo livro did tico mesmo o conte do sendo interessante molda se no espa o das quest es a ele reservadas apesar de vazar pela pequena discuss o de ser grande e pequeno Aproveitando a discuss o a professora pede para tirar as carteiras do centro da sala para fazerem uma atividade sobre ser grande e pequeno Era hora da aula de matem tica e nesse momento a professora captura o acontecimento a discuss o de ser grande pequeno e transforma numa 122 oportunidade de media o Os meus olhos captam o entusiasmo dos alunos em quebrar o gelo do primeiro momento para mergulhar nas guas correntes do segundo momento Oba vamos fazer uma coisa diferente Alguns falam tirando rapidamente as carteiras No quadro a Professora escreve Trabalhando com Cent metros sem falar que era hora de matem tica na media o do conte do a professora a partir da discuss o em Portugu s entra no conte do de matem tica unidades de medidas Solicita que todos fa am uma fila um ao lado do outro Vamos medir a sala por passos p a p E depois cada um diz quantos p s tem a sala Orienta a Professora 32 36 40 Todos v o falando depois que chagam ao outro lado da sala Pr t errado d diferente Reclama A Gente d diferente porque os p s de cada um tem tamanhos diferentes Ol
120. da de conceitos e procedimentos b Coer ncia e adequa o te rico metodol gicas Dentro das diversificadas pr ticas e concep es de ensino e aprendizagem a obra precisa ter uma op o de abordagem e ser coerente em rela o a ela contribuindo assim satisfatoriamente para a consecu o dos objetivos da educa o da escola e do ensino para o qual a obra est destinada fundamental que as obras explicitem a fundamenta o te rico metodol gica apresentem coer ncia e articula o entre a fundamenta o te rico metodol gica explicitada e a proposta metodol gica e apresentem articula o pedag gica e progress o do ensino aprendizagem entre os diferentes volumes que integram uma cole o did tica Nesse aspecto exigido tamb m que os pressuposto te rico metodol gicos contribuam para o desenvolvimento das capacidades b sicas do pensamento aut nomo e cr tico adequadas ao aprendizado de diferentes objetos de conhecimento c Respeito s especificidades do manual do professor Trazer orienta es b sicas e claras sobre o adequado uso do livro do aluno contribuindo com a forma o continuada do docente e contemplando os elementos b sicos que caracterizam esse tipo de impresso por meio da exposi o e discuss o sobre os saberes a rela o entre as disciplinas escolares e cient ficas os documento que orientam os componentes curriculares concep es de aprendizagens estrat gias de ensino avalia o e a produ
121. da escola e do plano municipal O cotidiano da pr tica pedag gica das professoras que aparentemente parece repetitivo e linear me surpreende quando os acontecimentos corriqueiros s o transformados em ocasi es de aprendizagens No cotidiano pedag gico as professoras estavam por inteiras pois como diz Heller 1989 p 17 A vida cotidiana a vida do homem inteiro ou seja o homem participa na vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade de sua personalidade Nela colocam se em funcionamento todos os seus sentidos todas as suas capacidades intelectuais suas habilidades manipulativas seus sentimentos paix es id ias e ideologias Grifo da autora Todas essas capacidades estavam em funcionamento nas pr ticas pedag gicas das professoras estas enquanto praticantes do cotidiano vivido ao trazer o livro did tico ao meu olhar me fizeram linguagear com suas artes de fazer As tessituras apresentadas a partir de agora trazem os usos que as professoras fazem do livro did tico Usos no sentido de experimenta o utiliza o manuseio did tico nas dimens es pr ticas e epistemol gicas 3 1 1 Usos do livro did tico como instrumento complementar Nas minhas incurs es etnogr ficas pelas salas de aula percebi a presen a constante do livro did tico constatando assim que este constitui o centro do processo ensino aprendizagem nos primeiros anos do Ensino Fundamental Os livros de Matem tica e Portug
122. da n o sabiam sobre o mosquito Cada um vai ilustrar o seu texto A professora lembra que o texto n o pra ser pequeno n o Eles come am a contar o tanto de linha que j fizeram Em conjunto entra os outros livros did ticos e o caderno de produ o e ilustra o 105 como o terceiro instrumento de explora o e produ o do conte do estudado Folheiam os livros did ticos de geografia hist ria matem tica e alguns de literatura que est o na estante No livro de Portugu s na p gina 74 eles encontram um texto sobre a dengue Monstro faz mais uma v tima Fazem coment rios que acharam engra ado o texto porque o homem que foi picado foi denunciar o mosquito na delegacia A Professora fala que a proposi o da produ o textual partindo do que eles sabem e complementando com o que eles aprenderam com os textos para produzirem um jornal informativo sobre o mosquito A proposi o da atividade os deixou animados e foram logo anotando os materiais para na pr xima aula iniciar o jornal Encaminha para eles verem em outras fontes de pesquisa mais informa es sobre a dengue para compor o jornalzinho O movimento de bricolagem n o se encerrou no epis dio etnogr fico de ensino em destaque al m dos instrumentos utilizados em sala de aula entra a pesquisa em outras fontes como quarto instrumento e a produ o do jornalzinho informativo feito manualmente que se constitui como o quinto instrumento de c
123. de Desenvolvimento as Educa o PNLD Programa Nacional do livro Did tico RESAB Rede de Educa o do Semi rido Brasileiro SAB Semi rido Brasileiro SAEJ Sistema de Avalia o da educa o em Juazeiro SEB Secretaria de Educa o B sica SEDUC Secretaria de Educa o de Juazeiro SISCORT Sistema de Controle de Remanejamento e Reserva T cnica UNICEF Fundo das Na es Unidas para a Inf ncia SUM RIO INTRODUCA O assa A E A CAPITULO I O DESENHO DA PESQUISA A ETNOGRAFIA COMO OP O MELODOLOGIO Ass rins E EAEE 1 1 A op o pela etnografia como m todo da investiga o aproxima es com o termo em contextos hist rico cultural e de significa o 1 2 Os primeiros rabiscos etnogr ficos o campo emp rico ou o que o olhar alcan a cisco aromas tre sein Tra saaor EAE Foro paia een tan baidaa a 1 2 1 Imagens ret nicas da comunidade e cerreerereraanea 1 2 2 Descortinando olhares A Escola Jos de Amorim 1 3 As professoras participantes da pesquisa ren 1 4 Procedimentos da pesquisa re eerereeeneerererenereneaana 1 4 1 Primeiro percurso procedimentos preliminares c i iii 1 4 2 Segundo percurso a pesquisa de campo ra 1 4 2 1 Observa o participante o di rio de campo seseessseessesssssresresressessrssreeresre 1 422 Odio dapr tica
124. de cada um de seus sujeitos na constru o do conhecimento necess rio atua o social t cnica e tecnol gica SOUZA et al 2009 p 34 Trata se ent o de uma pr tica social coletiva realizada institucionalmente e que tem como um dos elementos fundamentais de seu processo a pr tica docente que esses autores definem como apenas uma das dimens es da pr tica pedag gica interconectada com a pr tica gestora a pr tica discente e a pr tica gnosiol gica e ou epistemol gica Idem p 24 A pr tica docente portanto est localizada no interior da pr tica pedag gica que interconecta os microprocessos da a o docente discente gestora contextualizados com os conhecimentos e conte dos necess rios aprendizagem e ao seu significado sociocultural A pr tica docente constitu da de teorias e pr ticas arraigadas de intencionalidades tomadas de decis o e op es te rico metodol gicas de acordo com as singularidades das professoras e suas refer ncias no contexto cultural mais amplo Para referendar e aprofundar a conceptualiza o de pr tica docente busco tamb m contribui o em Therrien e Damasceno 1993 p 97 que assim a concebem pr tica situada contextualizada fruto de processo que envolve m ltiplos saberes oriundos da forma o da rea disciplinar do curr culo e da cultura entre outros trata se de uma atividade regida por uma racionalidade pr tica que se ap ia em valores em te
125. de interc mbio esportivo no qual s o feitas competi es nas diversas modalidades entre estudantes de escolas da zona rural de Juazeiro Esse ano o Lagoa acontece ser realizado em novembro S o esses projetos que possibilitam o di logo da escola com a comunidade e o trazer essa comunidade ou comunidades como objeto de estudo de alunos e professores 7 No recreio apareciam os xingamentos as regras dos jogos lue traziam semelhan as s regras impostas pelos pais em casa e outras representa es que eram acordadas na condu o das brincadeiras como divis o de grupos mesclando mais fortes e mais fracos meninos e meninas 8 O Projeto Pol tico Pedag gico est em constru o No percurso da pesquisa acompanhamos tr s reuni es entre a coordena o pedag gica e os professores para a organiza o da escrita dos projetos que j desenvolvem h anos e que ir o constar no Projeto Pol tico Pedag gico A pretens o que at o final do ano letivo a escola encaminhe o texto final para aprecia o no Conselho municipal de Educa o 38 Para que pudesse apreender a Escola Jos de Amorim no dinamismo do seu cotidiano foi preciso compreend la nas dimens es institucional organizacional pedag gica ou instrucional e na dimens o sociopol tica cultural ANDR 2008 e compreender ainda que essas tr s dimens es est o intrinsecamente interligadas e se interrelacionam na constru o e constitui o do cotidiano escolar A esco
126. de texto deve se confrontar com outras partes que o comp em nesse caso o contexto Ao se fazer a leitura de um texto deve se sempre levar em conta o contexto hist rico e sociocultural que situa o texto e o leitor aluno ou professora Texto e contexto encontram se interligados na a o de tornar intelig vel o conhecimento veiculado e ou extrapolados a partir do livro did tico A palavra contexto origina se do Latim Contextus reuni o conjunto encadeamento partindo dessa observa o o contexto o ponto de partida para o entendimento para a ressignifica o dos saberes e dos conhecimentos diversos Reporto a Morin 2001 2004 e teoria da complexidade na qual o complexo ou a complexidade ao tecer juntos diversos e diferentes fios se transformam numa s coisa O contexto da educa o do Semi rido ent o o entrecruzamento o entrela amento de diversas partes para formar a unidade chamada de realidades do aluno Assim a educa o escolar bem como seus demais espa os sociais possui identidade que n o pode estar desvinculada da cultura das pr ticas produtivas e das condi es sociais que envolvem os sujeitos que ensinam e que aprendem Partindo da concep o de educa o que procura compreender o texto que comp e o livro did tico dentro da realidade dos sujeitos preciso refletir sobre a import ncia do livro did tico no cotidiano da pr tica pedag gica das professoras na Escola Jos de Amorim compreendendo ass
127. di logo das professoras com o livro did tico me exigiu tamb m recorrer s suas condi es de produ o entendida na pesquisa como os sujeitos e a situa o ou seja em nenhum momento desvinculamos as pessoas particulares das professoras Nunca o meu olhar enxergou professoras desvinculadas da mulher que compunha cada uma delas Nesse contexto que se imbricam o campo pessoal e profissional o meu olhar apreendeu as professoras mulheres nas intera es em sala de aula nos agrupamentos in formais como a hora da merenda os encontros antes e depois de iniciarem as aulas e a volta no carro para casa nos encontros de planejamento e atividades extra sala As observa es etnogr ficas e as intera es com as professoras me permitiram trazer um olhar sobre cada uma delas conforme o fragmento do Di rio de Campo 42 Flor voz firme e um sorriso disfar ado no rosto Tudo parecia lhe encantar Professora m e cuidava dos mais de 30 meninos e meninas enquanto sua filha pequena a aguardava em casa Sempre curiosa com vontade de ver e fazer coisas novas Nas idas e vindas no carro compartilha ang stias e renova o dia Por vezes na afoba o das teimosias dos alunos dizia n o dar conta por outras se via mestre a cada palavra nova que os seus pequenos alunos liam ou escreviam M nas atribula es da dist ncia do trabalho para casa e para o cuidado dos filhos mesmo com o desejo de voltar a trabalhar na sede dia a dia dava o seu melhor p
128. diam relacionar o que diziam a quest o com a vida deles ent o surgiram nomes de estradas nomes de pessoas amigas as idades deles mesmos Nessa metamorfose de a o os alunos parecem acordar despertar e fica percept vel a altera o no modo de compreens o do conte do que os leva a formularem suas pr prias formas de entendimento como diz Meier e Garcia 2007 p 71 a ess ncia do ato de aprender est em uma constru o pr pria de conceitos de teorias de conhecimento em oposi o a recep o passiva de informa es Quando a professora M inicia uma media o de natureza cr tica os alunos se envolvem mais com o conte do alguns que tinham feito os c lculos errados propor o que a professora ia mediando aproximando as quest es do que eles iam falando ficava evidente a express o alegre do entendimento de aprendizagem O livro que at a metade do epis dio de ensino era o instrumento regulador da situa o did tica passa a um instrumento de apoio numa cena que agora era protagonizada pela professora em intera o com os alunos Uma das caracter sticas principais das media es de natureza cr tica a possibilidade dos alunos enxergarem se dentro do conte do o que possibilita a sua recria o Epis dio Etnogr fico de Ensino 2 Aula de Portugu s na Sala da Professora Flor Vamos trabalhar com o livro de Portugu s na p gina 44 44 44 44 44 44 44 todos iam repetindo a p gina Eles abrir
129. did tico e de todo e qualquer movimento ef mero ou cont nuo que habitam a escola e a comunidade Acredito que essa grafia uma forma de deslocamento do cotidiano da pr tica pedag gica das professoras possibilitando a disponibilidade para novos olhares interven es e escritas com o intuito de que as formas de 202 usos do livro did tico sejam cada vez mais criadoras e abertas ao devir e a imagina o sob sobre e entre a viv ncia e o vivido Como tentativa de in concluir essas considera es necess rio lembrar que pesquisas de cunho etnogr fico nunca trazem conclus es definitivas mas espero que as inquieta es e quest es levantadas ao longo da tessitura desta disserta o possam produzir outros significados e contribuir de alguma forma com os estudos e pr ticas referentes ao livro did tico principalmente no Semi rido Brasileiro E como iniciei a introdu o com os primeiros rabiscos etnogr ficos quero encerrar esta se o com o ltimo rabisco que ao deixar o campo de pesquisa desvinculando me dos afetos e desejo de perman ncia finalizei meu di rio de campo E chega a hora de ir S o 14 30 do dia 28 de setembro e acomodo meus pap is na mochila Depois do dia de despedidas em que o meu olho percorreu as paredes carteiras copos corpos e livros deixo um peda o de mim e levo tantos outros Me vem uma sensa o de ainda haver algo novo pra descobrir nesse cen rio que fui parte por quase um ano A id
130. direcionada apresentei o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e conversamos informalmente sobre a pesquisa Foi um momento produtivo Na conversa j redefinimos as participantes da pesquisa por conta de estarmos pensando em trabalhar com as 5 professoras mas a 1 s rie n o tem livro did tico adotado dentro da pol tica municipal Assim o universo de 5 participantes planejado no projeto de pesquisa transformou se em 4 participantes Na conversa fui falando da import ncia de cada instrumento que usaria para a produ o dos dados o que mais gerou d vidas foi a escrita dos di rios porque elas relataram que mesmo planejando e estando todos os dias em sala praticando ainda n o t m o h bito do registro Diante dessa manifesta o esclareci que o di rio uma escrita espont nea e que elas s v o registrar o que sentirem vontade uma express o individual e de acesso apenas delas e da pesquisadora Nos dias 03 e 04 de fevereiro ainda nos encontramos para a entrega dos di rios e me aproximar mais das professoras participantes da pesquisa As aproxima es iniciais possibilitaram o in cio de uma rela o de confian a entre pesquisadora e participantes e contribuiu tamb m para os primeiros olhares para a comunidade e para a escola 1 4 2 Segundo percurso a pesquisa de campo O segundo percurso consistiu no trabalho de campo propriamente dito o estar l iniciando o desenho etnogr fico na pr tica Estive habi
131. do do sens vel que as agu as captaram a descri o hermen utica para ampliar a minha compreens o de que descrever os olhares na pr tica das professoras com os livros did ticos n o era apenas uma rela o significante mas tamb m uma rela o que mobiliza uma atividade que requer a interpreta o de sentido A hermen utica traz a preocupa o mais acentuada com a linguagem possibilitando as m ltiplas escritas de uma mesma descri o provocando uma pluralidade de interpreta es uma multiplica o de leituras poss veis Do mesmo fen meno social n o existe apenas uma mas sim uma pluralidade de descri es poss veis a etnografia podendo nesse caso ser considerada uma poligrafia assim como uma s rie de leituras poss veis dessa mesma descri o LAPLANTINE 2004 p 109 110 Captando o sentido e as diversas interpreta es desse sentido que pode ser apreendido constru do interpretado apenas num texto que subentende outros textos Ent o a descri o me foi uma experi ncia simultaneamente perceptiva e ling stica na qual os contextos observados e apreendidos sensivelmente tornaram se textos linguageares de visibilidades A descri o etnogr fica apurou o meu olhar tornou se ao longo do caminho investigativo uma forma de ineditizar o que o olho j naturalizou Uma forma incondicional de espanto e encanto pois a cada mergulho na linguagem percebia outras tantas linguagens impl ci
132. do livro e seus dizeres e no seu uso tecem um n de circunst ncias que s o insepar veis do contexto de todos os sujeitos envolvidos na rela o de ensino e aprendizagem Contr rio ao que muitos estudos revelam essa constru o de autoria mostra que as professoras n o fazem do livro did tico o senhor absoluto de suas pr ticas Mesmo em algumas circunst ncias estabelecendo um di logo de passividade com o livro a vis o cr tica das professoras frente s aus ncias e equ vocos trazidos pelo livro demonstra que existe uma leitura ativa cr tica e reflexiva acerca dos seus prescritos Pude em loco constatar em alguns epis dios etnogr ficos de ensino quest es que traziam enunciados confusos incompletos e at repetidos com os quais as professoras lidavam com maestria ao criticar negar e at descartar a possibilidade de inseri los no repert rio de ensino O contexto da pesquisa mostra que o livro did tico sob a instrumentaliza o das professoras n o absoluto em suas verdades um instrumento falho que precisa ser submetido a outras avalia es mais locais No entorno da constru o da autoria das professoras enquanto reescreventes do livro did tico usado existe uma constante proposi o de fazer do lugar de ensino um espa o de ensino Assumo aqui lugar e espa o na concep o de Certeau 2008 p 201 202 grifos do autor Um lugar a ordem seja qual for segundo a qual se distribuem elementos nas rela es de
133. dos Pensei em passear pelo livro mas meus p s n o souberam o caminho Tentei decifra lo Percebi ent o que meu mundo n o cabia naquelas p ginas Foi assim que reinventei o mesmo livro que n o me via CONSIDERA ES IN CONCLUSIVAS estranho chegar ao fechamento do trabalho quando tenho a impress o que mal comecei Por muitas vezes percorri a escrita e sempre tive a sensa o de que n o olhei e nem escrevi tudo e talvez penso eu que essa aus ncia de alguma coisa seja exatamente uma nova provoca o para uma futura continuidade afinal a conclus o do trabalho e n o do estudo Sempre achei que as ltimas palavras de qualquer escrito deveriam ser poesias vazadas para fazer com que o leitor se encantasse com toda a obra s pelo que leu no final E para escrever poesia de conclus o me alegorizo da experi ncia sens vel e cient fica que foi estar numa etnografia meio jato nos entrela ares da comunidade dos gestores das professoras e alunos da Escola Jos de Amorim Falo sens vel porque o meu olhar sempre esteve arraigado de sentidos corp reos espiritualistas e cient ficos porque experimentei a dor e a del cia de produzir ci ncia dentro do meu pr prio ch o o Semi rido nordestino Queria nessas in conclus es escrever palavras de formigas enfileiradas e interligadas umas s outras ou palavras de cigarras sem atento a invernos ou ver es ou palavras de olhos de professoras entusiasmados e cansa
134. dos ou ainda palavras de boca de aluno sem ponto final na hora do recreio mas como meu verbo n o pode linguagear com tantas palavras desejadas escrevo com o que restou das minhas mesmo arriscando n o dizer 45 y n g RE O qualificativo inclonclusivas usado para significar que os resultados apresentados com suas devidas an lises se referem ao atual movimento da pesquisa em voga e que n o devem ser recebidas como verdades conclu das mesmo sendo verdadeiras o cotidiano da pr tica das professoras na interface com o uso do livro did tico continua em movimento 196 tudo o que desejo mas sem perder de vista o tom da cientificidade como requer um estudo desse n vel Tecer as considera es finalizantes de um trabalho como realizar o ciclo de vida cheguei com uma inquieta o a responder andei olhei etnografei descrevi analisei e agora preciso retornar ao come o reolhar o in cio do caminho no qual est o meus objetivos e a quest o central da pesquisa para saber se valeu toda a caminhada se o que me inquietava teve resposta e provocou novas inquieta es Nas tessituras do que vi vivi ouvi experimentei e aprendi nesse curto por m intenso percurso da pesquisa imprimo agora algumas conclus es com o intuito de responder ao problema inicial Como se efetiva a utiliza o do livro did tico no cotidiano da pr tica pedag gica de professoras do Semi rido Brasileiro e tamb m as quest es que nortearam os
135. dos desenhos dos alunos Aos poucos o varal foi se compondo com os coloridos das releituras das obras Cada um desenhou elementos que acharam interessantes Todos visualizaram as obras antes de ir embora Os alunos interagiram com diversas linguagens a pintura o desenho a escultura e at a maquete A releitura atrav s do desenho e ou pintura feita por eles o terceiro instrumento de bricolagem para representa o do conte do O elemento art stico articulado pesquisa de obras em outros livros e pr pria imagem lida no livro did tico de Portugu s oportunizou o contato com a produ o textual imag tica como resultado de leituras est ticas em outros livros Nunca vemos um mapa como uma obra de arte ali s raro enxergar nas imagens dispostas no livro did tico independente da disciplina uma est tica que transcenda o conte do prescrito O movimento de bricolagem da Professora R n o ensinou s sobre arte mas oportunizou os alunos interligarem a arte 104 geografia matem tica ci ncias etc Meu olhar etnogr fico sinaliza que a partir desse reboli o de aprendizagem os alunos e alunas reaprenderam a olhar as imagens e suas est ticas nos livros outro olho que se desvela o olho que ao olhar ler e ao ler produz releitura Epis dio Etnogr fico de Ensino 4 Aula de Ci ncias na sala da Professora L A professora mostra um cartaz primeiro instrumento para aproxima o com o conte do q
136. dos nos livros did ticos aparecem como os nicos poss veis os nicos pens veis Outras quest es permeiam o texto e o contexto dos livros did ticos nas realidades do Semi rido como por exemplo a necessidade de pensar a proposi o de atividades abertas para al m do prescrito nos livros provocadoras de uma pesquisa busca para compreens o do local global em que se vive que torne enxerg vel o invis vel aos olhos da pr tica educativa Atividades mobilizadoras de um processo criativo de intera o escapulindo das atividades de 155 respostas prontas engessadas que atendem a enunciados imperativos fa a corresponda ligue efetue verdadeiro ou falso complete responda conforme texto e das continhas de c lculos isolados de contexto artificial com problemas que n o problematizam e mais complicam do que explicam O conhecimento e pr ticas contextualizadas nos livros did ticos possibilitam que as reas do conhecimento sirvam para compreens o do mundo em que vivemos E essa uma quest o que ao longo da hist ria da humanidade vem sendo discutida A essa perspectiva se alinha Faria 1984 para quem o livro did tico um ve culo de informa es que n o faz uma leitura integral da realidade sendo sua vis o ideol gica e por isso fragmentada e alienante A autora ressalta que o professor deve saber desenvolver os conte dos com uma linguagem adequada s capacidades cognitivas e lingu sticas dos estudantes al m de
137. e Ana Paula Anuncia o todos da Editora FAPI Utilizo dos recursos oferecidos nestas cole es na tentativa de inspirar uma aprendizagem contextualizada interdisciplinar e agrad vel Considero os pr ticos e din micos e priorizam a capacidade de cria o e reflex o do educando com atividades simples de f cil assimila o em que as crian as aprendem brincando com as atividades contidas nestas cole es E que tamb m me oferece subs dios na diversifica o da produ o de textos no uso da fun o social da escrita a fim de facilitar a aprendizagem dos conte dos por meio de recursos de interesse das crian as E assim vou tocando o barco pra frente no meu dia a dia na sala de aula A fala da professora D traduz muito o conte do das narrativas de todas as professoras participantes da pesquisa enfatizando a que o fato que as fazem adotar outros livros se d por consideram que as crian as precisam aprender com prazer e muitas vezes nas suas leituras constatam que os livros did ticos adotados pelo Munic pio s o muito s rios e estanques para provocar as aprendizagens das crian as Segundo minhas notas de campo decorrentes das observa es nas salas de aula sempre estavam sobre a mesa das professoras o livro did tico adotado pelo Munic pio da disciplina trabalhada e os livros adotados pelas professoras Por vezes observo o uso de mais de um livro did ticos ou n o e ainda o caderninho de planejamento das profes
138. e assim vamos montando nossa forma de dar a aula O importante conhecer porque se n o conhecemos o conte do e surge algum imprevisto n o vamos dar conta As atividades l dicas por serem criativas envolve mais eles a aprendem com prazer O professor tem que ser criativo sabido e criativo Retomando ao meu olhar interpretativo a fala da Professora D considero que nesse exerc cio da bricolagem tendo como centro o uso do livro did tico as professoras mesmo trabalhando com seus improvisos e imprevistos tecem sobre suas artes de fazer uma reflex o que movimento de ler e reler o que praticam Nesse caso tendo como suporte a fala de Kincheloe 2007 p 82 acredito que a vis o cr tica que as professoras tem da bricolagem que fazem no cotidiano da pr tica pedag gica no cen rio da sala de aula as levam refazerem a si pr prias suas disciplinas e o mundo em seu derredor 107 3 1 3 Usos do livro did tico como instrumento de media o nas entrelinhas a media o did tica mec nica e a media o did tica cr tica No centro da minha lente ret nica o livro did tico e as professoras no di logo cotidiano apresentam se em cena como protagonistas e ou personagens secund rios Na triangula o dos dados produzidos nas narrativas entrevistas interativas reflexivas e nas minhas observa es e notas de campo a media o aparece como mais um eixo categ rico que analiso Nas narrativas as professoras sempre se r
139. e da pr pria escola A escola a comunidade e a comunidade a escola do port o sala de aula tem um riso de algu m que mora ali e que num pulo vai e vem entre a casa e a escola anderl a Andrade Perei E A estrada cal a carros e nibus que esperam as 11 15 para capturar os alunos e levantar poeira at as comunidades N o se v um conforto uma seguran a mas s o essas latarias sobre quatro pneus como popularmente s o denominadas pelos alunos que no ranger das pedras e cascalhos carregam gente e duram os dias e as horas interligando meninos escola casas e removendo o ch o wh q 174 Quando alunos e professores entram na escola a rua adormece Os motoristas fecham as portas dos carros e v o transitar pela escola e em seu entorno Vida s se ver quando algum morador passa ou o nibus coletivo a cada hora Esse estado de dorm ncia s acaba s 09 15 quando a sirene grita para hora do recreio e os alunos saem para comprar guloseimas 175 Aos poucos os alunos se desprendem das salas encangam mochilas nas costas acomodam os pesados cadernos e livros e procuram seus carros Em mais uma manh 11 15 voltam para suas comunidades suas casas Se desnudam do aluno que foram durante as quatro horas e tornam se eles nos seus afazeres de trabalho e lazer para i amanh muito cedo 4 A Foto 16 Variada RR crer s
140. e de todo dia o lugar de encontro dos diversos de outros diversos lugares Conversas de intervalos no p tio e corredores menos apressados saem meninos e meninas de volta para os nibus e sob o sol quente voltam para suas casas para os seus diversos lugares com seus livros e mochilas cansados Di rio de campo 2011 Entre as imagens e sons meu olhar passeou pela escola no percurso da investiga o A escola entre o sil ncio do antes e depois das aulas e o barulho da chegada dos carros da correria dos alunos na chegada e na sa da abrigava uma alegria estampada nos coloridos dos pratos copos adere os dos cabelos das meninas mochilas no movimentar dos professores da merenda da portaria Mesmo com problemas e aus ncias de ainda muita coisa para torn la melhor a escola aos meus olhos parecia sempre sorrir 36 A maior parte das pessoas que trabalham na escola com exce o da maioria dos professores da comunidade A rela o de perten a entre comunidade e escola dar se tamb m nos processos educativos por conta da rela o de parentesco e de conhecimento com as fam lias dos alunos o que facilita quando se precisa fazer contato com os pais em caso de infringirem as normas da escola e em caso de algum acidente ou ocorr ncia de doen a Alem do cuidado e guarda que se estende para al m das horas trabalhadas No in cio no ano letivo a escola elaborou junto a alunos e professores o acordo de conviv ncia
141. e individual e uma carinha com um bal ozinho atividade oral No final do livro vem o gloss rio e sugest es de leituras com uma pequena s ntese de cada um c O livro Projeto Conviver Matem tica dividido em 4 unidades Cada cap tulo iniciado pela se o Primeiros Contatos com imagens e textos curtos seguido do indicativo Conversando com o texto As atividades aparecem intercalando os textos e apresentam cones que indicam o procedimento um bonequinho com o bal o atividade oral dois bonequinhos trabalho em dupla quatro bonequinhos trabalho em grupo o caderno com a letra C para registrar no caderno Intercalando as atividades vem a se o A o que prop e exerc cios mais pr ticos como jogos pesquisas montagens etc No final de cada unidade tem a se o Refletindo mais que traz texto e atividade de fixa o dos conte dos No final do livro tem o gloss rio com informa es resumidas sobre os conte dos de cada unidade e a se o De leitor para leitor que traz indicativos de outras obras para leitura complementar d O livro Aprendendo Sempre Geografia n o dividido por unidades e sim por cap tulos Os cap tulos iniciam por uma p gina com imagens e textos com inten o de despertar a curiosidade do aluno Seguido do texto vem a se o Bate papo que prop e discutir em grupo e contar o que j sabe sobre o conte do Os blocos de atividades s o constitu dos por textos para ler sozinho ou em gr
142. e isso importante para perceber que o conhecimento produzido at na sua aus ncia O que falta tamb m motivo de provocar uma quer ncia de conhecimento Com refer ncia experi ncia est tica falo da produ o de bonitezas de comunica o de beleza na produ o e ou altera o de sentidos Sentido referente quilo que nos toca que afetivamente produz em n s um significado que nos tira do lugar que estremece as nossas convic es e nos faz reolhar aquilo que j est vamos acostumados a ver Como diz Lins 2010 p 94 A produ o de conhecimento a possibilidade de enxergar os fen menos que acontecem no lugar em que vivemos consideramos lugar no sentido de pertencimento fazer parte mesmo que n o seja o lugar presente mas que a ele nos conectamos numa rede de acontecimento viv ncia conhecimento A potencializa o de conhecimento enquanto produ o e altera o de sentidos diante das narrativas das professoras apresenta se como um tra ado de acontecimento que perpassa a sensibilidade do fazer acontecer o conhecimento o que poss vel visualizar na fala da Professora L quando eles conhecem uma coisa nova parece que descobrem o mundo uma emo o a gente sente que eles sentem algo de bom Posso dizer que o conhecimento dar se no acontecer sentir LINS 2010 porque provoca um emocionar se com o estado de produzir ou alterar sentidos Conhecer um permanente estado de vida e como diz Matu
143. e morressem No p tio os mesmos passarinhos que outrora roubavam o olhar dos meninos ainda brincam ao sol De longe uma sintonia de vassoura e ch o Uma mosca das que minha v chamava de varejeira zunia nas proximidades da cozinha O barulhinho parece esticar o fim da manh O RENC da porta entreabrindo tem quer ncia do barulho O silencio da escola afina o barulho fisgado pelas paredes carteiras e quadros Nem parece que aqui teve gente Acariciando as telhas ordenadas o vento desce at o mural colorido fazendo os papeis dan arem uma dan a silenciosamente caliente O meu olhar procura palavras enquanto minhas m os arremedam letras s a conversa da poeira levantada pelo nibus estremece o silencio da Escola Jos de Amorim E tudo parece caber num instante em que olho e tamb m silencio Di rio de campo 2011 O sil ncio da escola foi a pausa para pens la afora o barulho e situar no seu desnudamento silencioso seu movimento humano carregado de muitas manifesta es nas salas e fora delas Porque mesmo estando vazia de tudo a escola permanecia em movimento Para perceber seu sil ncio foi preciso concentrar no seu barulho v lo atravessando o 39 sil ncio e sendo atravessado por este e perceber no texto escola que as paredes s t m cheiro e cor quando habitadas No percurso das observa es adentrei nas salas de aula do 2 ao 5 ano convivi e vivi com suas paredes vestidas de textos verbais e n o verbais as s
144. e paradid tico as professoras transformam o pr prio livro nas suas fragilidades e aus ncias num instrumento provocador de aprendizagem um elo que liga o que est sendo dito nas suas p ginas com outras formas de dizer que est o ao alcance de suas possibilidades did ticas No cotidiano da pr tica pedag gica as professoras apresentam se como mediadoras de suas a es did ticas e tamb m mediadas pelo livro Na triangula o dos dados produzidos 198 nas narrativas entrevistas interativas reflexivas e nas minhas observa es e notas de campo a media o aparece como mais um uso do livro did tico Nas aulas observadas sempre estavam presentes media es de natureza mec nica e media es de natureza cr tica A media o de natureza mec nica aparecia quando as professoras seguiam fidedignamente os ditos do livro did tico sem estabelecer uma dialogicidade com outros recursos e com as contextualidades dos alunos J a media o de natureza cr tica acontecia quando as professoras mesmo no uso do livro did tico extrapolavam seus dizeres e estabeleciam conex es com os saberes pr vios dos alunos utilizavam da ludicidade para explorar de outra forma o conte do trazido no livro e garantiam a legitimidade de suas vozes e das vozes dos alunos No momento da media o did tica de natureza mec nica o livro did tico assumia a condu o do processo de ensino e aprendizagem e pude observar na totalidade das aulas que os alunos
145. ebi que a sistem tica de um dia por sala interrompia o processo de continuidade do olhar ent o acordando com as professoras passei a realizar observa es semanais uma semana por sala A nova din mica possibilitou a vis o de uma totalidade da sala de aula e seus movimentos em torno do livro did tico pois semanalmente vivenciava todas as disciplinas e o que ficava por continuar as professoras registravam nos di rios da pr tica As observa es e registro no di rio de campo acerca dos usos do livro did tico na pr tica das professoras foram feitos durante seis semanas em cada sala no turno da manh pois as turmas observadas estudavam no turno matutino No turno vespertino fazia outros percursos etnogr ficos para compreender a paisagem s cio cultural na qual a escola est inserida No m s de julho a turma do 3 ano foi transferida para o turno vespertino por conta 47 da necessidade de uma sala pela manh para realiza o do refor o escolar ent o nos meses de julho agosto e in cio de setembro as observa es e os registros em situa o de aula passaram a ser nos dois turnos 1 4 2 2 O di rio da pr tica Optar por trabalhar com a narrativa como t cnica de constru o de dados me possibilitou a desconstru o e reconstru o das pr prias experi ncias tanto da pesquisadora como das participantes da pesquisa O narrar se das professoras e a interpreta o das narrativas exigem que a rela o dial gica se
146. edag gica e did tica da escola se apresenta como um processo dial tico que tenta situar os saberes informa es e conhecimentos no contexto dos alunos para assim adquirirem sentido e anunciar e ser anunciado pelo contexto enquanto lugar praticado espa o vivo As fragilidades que me refiro foram constatadas em algumas situa es did ticas quando as professoras por n o terem o conhecimento mais aprofundado do conte do faziam a contextualiza o da forma como muitos praticam pela l gica da substitui o a exemplo de e uma oliveira por um juazeiro um animal do sul por um bode ou outro animal do conhecimento dos alunos Nas narrativas as professoras reconhecem que as melhores aulas s o quando elas t m tempo para pesquisarem e se aprofundarem no conte do porque podem dar todas as ferramentas para o aluno conhecer o assunto de forma mais contextualizada e n o superficial A fala da Professora Flor traduz bem o que estou falando Quando a gente se prepara como se flu sse a aula Teve um assunto mesmo sobre os mam feros que eles trouxeram v rias d vidas e mesmo sabendo sobre o conte do percebi que poderia ter ido al m que o que eu sabia n o era suficiente para atender as curiosidades deles Quando cheguei em casa fui atr s de tudo quanto coisa para me aprofundar mesmo que a aula j tenha passado em uma nova oportunidade eu j vou estar mais preparada 159 A fala da Professora Flor refor a a id ia que o exerc cio
147. eja depois de compreendido o fen meno carece ser interpretado Acredito que ver mediante as duas teorias da descri o apreender o sentido e autorizar diversas escritas e consequentemente autorizar diversas leituras Na descri o fenomenol gica exercitei o sens vel olhar pensante em que ao tempo que descrevia pensava e compreendia o que via voltando ao meu olhar ou nas palavras dos fenomenologistas voltar s coisas em si Na fenomenologia a descri o tem uma atitude compreensiva da totalidade O pormenor parte ou o elemento nunca s o objeto de uma percep o fragment ria mas sim de uma apreens o global compreender implica compreender a totalidade irredut vel daquilo que vemos sempre de maneira diferente e singular A maneira de ver fenomenol gica permite adiantar um novo passo A compreens o bem entendida a compreens o de uma totalidade mas de uma totalidade significante Aquilo que percebemos n o s o unicamente objetos ou fatos n o apenas uma forma antes de mais e sempre sentir a reflex o sobre o ver torna se assim solid ria de uma reflex o sobre o sentir LAPLANTINE 2004 p 104 105 A descri o fenomenol gica um ato n o da ordem da reprografia mas do sentir sempre nico singular que eu no exerc cio do olhar elaborei em presen a daquilo que percebi Assim o sentido n o pode nunca ser separado do sens vel 56 a partir do senti
148. el e o lis vel A pr pria descri o no percurso da pesquisa se configurou tamb m como instrumento de an lise pois nela estava impl cita a qualidade de observa o de sensibilidade de intelig ncia e de imagina o cient fica da pesquisadora N o me bastava estar l com as professoras mas estar dentro no sentido de que tudo que ali estava na escola e nas salas habitava no meu interior e as descri es eram bem mais do que a express o escrita do meu olhar A descri o era uma miscel nea de representa es concretas e subjetivas dos olhares e do pensamento acerca desses olhares As constru es na etnografia a partir do ver e de uma escrita do ver s o indissoci veis e exigem a es que interliguem o tempo todo a vis o o olhar a mem ria a imagem e o imagin rio o sentido a forma a linguagem A descri o foi uma permiss o ao espanto percep o de que nem sempre o meu olhar encontra o que espero Descrever etnograficamente usufruir da experi ncia da descoberta sensorial que ao olho interrelacionam a audi o o olfato o tato e o paladar 16 b pii r Compreendemos a linguagem como um sistema de comunica o simb lica e s o esses s mbolos que nos permitem mover nos no espa o do discurso Ent o o linguagear tendo como base os estudos de Maturana no seu livro Amar e Brincar fundamentos esquecidos do humano 2004 uma rede de conversa o com os s mbolos da nossa cultur
149. em estabelecidos para o n vel de desenvolvimento de acordo com a s rie de cada aluno 27 79 reconhecem as aus ncias percebem que s o elas quem tem que preencher quem tem que ter o traquejo pedag gico para trazer o que falta nos livros para as aprendizagens dos alunos por isso reconhecem tamb m como diz a Professora L que com rela o ao livro did tico podemos utilizar para auxiliar no desenvolvimento do conhecimento e por isso mesmo n o pode e n o deve ser considerado como a nica fonte de aquisi o de saberes ou seja n o podem ser o nico instrumento de apoio pedag gico nas suas pr ticas Mesmo tradicionalmente o livro did tico tendo sido o principal instrumento de ensino provido pela institui o escola e embora em algumas realidades como no caso da Escola Jos de Amorim n o seja o nico material de que professores e alunos v o valer se no processo de ensino e aprendizagem ele pode ser decisivo para a qualidade do aprendizado resultante das atividades escolares O livro did tico na vida escolar pode assumir o papel de instrumento de reprodu o de ideologias do saber oficial imposto por uma cultura dominante FARIA 1984 ou de provocador de outras leituras diversas incluindo se a o contexto local A defini o do papel do livro did tico est nas m os do professor e as professoras participantes da pesquisa reconhecem que a sua a o que pode transformar o livro de um transmissor ideol
150. emandas pr prias da cultura escolar e da cultura comunit ria como requer a abrang ncia dessa pr tica Perceber ler apreender e interpretar o cotidiano da pr tica pedag gica das professoras na sua totalidade exigiu recorrer a muitos autores e entre estes Lefebvre 1981 apud NETTO CARVALHO 1994 e assim considerar tr s perspectivas convergentes A primeira que diz respeito busca do real e da realidade me possibilitou enxergar as pr ticas das professoras quando dos usos do livro did tico enquanto movimento sens vel e pr tico carregado de subjetividades emo es afetos comportamentos e h bitos Pr ticas enquanto movimentos abstratos compreendidos como as representa es e imagens que integram o real cotidiano mas sem perder se do imagin rio A busca do real e da realidade da pr tica cotidiana das professoras possibilitou localizar essa pr tica no campo din mico que envolve a es objetivas e subjetivas concomitantemente comportamentos que ao tempo que s o corriqueiros e habituais trazem representa es diversas manifestadas interiormente por cada professora no agir cotidiano com seus agentes de intera o os alunos e seus instrumentos de a o no caso o livro did tico em suas diversas reas do conhecimento A segunda perspectiva que diz respeito totalidade possibilitou situar o cotidiano da pr tica pedag gica das professoras em um cen rio mais amplo e considerando as prescri es da etnografia holi
151. enos atenuar as consegii ncias danosas de um instrumento pedag gico que mais grave do que n o favorecer a aprendizagem deseduca seus leitores LOAJOLO 1986 p 06 grifo da autora E not rio tamb m que as professoras estabelecem um di logo mais pr ximo com os 35 pr ER A S E Mesmo o significado da palavra sendo ludibriar e enganar aqui a uso no sentido de transgredir atravessar infringir uma regra posta como no caso a divis o do livro em unidades para serem seguidas ordenadamente O termo burlar foi usado em uma das narrativas das professoras como forma de transgress o ao livro did tico 96 livros adotados por elas talvez por al m do que elas j enfatizaram nas suas narrativas sobre as formas mais criativas de apresentar e sugerir os conte dos terem sido por uma escolha volunt ria e n o autoritariamente imposto s suas pr ticas Nessas an lises o livro did tico senhor absoluto da pr tica docente como apontam alguns estudos desce do pedestal pois as professoras assumindo o centro do di logo se colocam na posi o gepetiana sem suas m os e leituras o objeto livro n o ganha movimento Elas sim s o senhoras absolutas de suas pr ticas pelas suas artimanhas de Professoras Geppettas e Fadas Azuis criam d o movimento e vida aos livros did ticos 3 1 2 Usos do livro did tico como instrumento da bricolagem docente O componente da diversidade do sujeito professor do sujeito alu
152. entido do livro did tico 148 Como comecei com um fragmento do meu di rio de campo quero autorizar me a encerrar com outro fragmento e depois dele quanto a alunos e livros n o quero dizer mais nada s ecoar um sil ncio gritante que diz que preciso refazer esses livros colocar neles as vozes e as cores dos alunos deixar que a poesia a poeira e o sol do Semi rido caibam nas p ginas ou melhor caibam nos encantos das aprendizagens dos alunos que aqui habitam D explora o livro em um passar de folha brusco como que simbolicamente a oitasse aqueles textos que n o lhe interessavam Senti pelo livro e por ela ambos sujeitos de uma condi o que lhes negavam as vozes O livro tido como vil o talvez nem seja culpado da sua dorm ncia inocente D como vitima do livro nem sequer tem a liberdade de n o quere lo S o dois olhos que se olham e n o se v em portanto n o se l em Por muitas vezes fui acometida de uma vontade latente de rasgar o livro mas por outras tive o desejo de nin lo dar lhe outras polissemias de arco ris N o sei entre meu olhar e o que realmente vejo s queria que uma estrela cadente ca sse para eu pedir que D risse ao abrir o livro Di rio de campo 2011 CAP TULO IV f A EDUCA O NO SEMI RIDO BRASILEIRO LEITURAS ETNOGR FICAS SOBRE O LIVRO DID TICO NA ESCOLA JOS DE AMORIM E de repente vi o sol Mareando meu olhar como se penetrasse em minhas retinas o mesmo sol que bebi na
153. ento no qual o simples ato de provocar conhecimento n o estivesse presente Nesse sentido cabe ressaltar a for a do livro did tico como instrumento pedag gico de produ o de conhecimento escolar este entendido como o resultado da transforma o dos conhecimentos inseridos nas condi es escolares de tempo e espa o de produ o e intera o de saberes que tamb m dialogam no seu campo de produ o Se atrav s do livro did tico o aluno vai aprender e produzir conhecimento preciso atentar para que os significados com que o livro lida sejam pela pr pria leitura do aluno ou pela intermedia o das professoras adequados ao tipo de aprendizagem com que a escola se compromete com o que est em pauta no seu projeto de educa o e na viv ncia pedag gica desse projeto S se potencializa conhecimento quando produz significados e quando esses conhecimentos s o compreendidos pelo aluno e consequentemente interpretados porque s a interpreta o acusa a apreens o do conhecimento significado Mesmo reconhecendo que o livro did tico produz conhecimento as narrativas das professoras tamb m me fazem perceber que os livros da forma como est o organizados em vez de objetivar um conhecimento fazem confus o pelo longo percurso de leitura que conduzem o aluno os livros trazem textos muito longos tem tanta informa o que a ess ncia do que se deve conhecer se perde O aluno quando chega no meio de um texto com muita inf
154. eportavam s formas como adaptavam conte do modificavam prescri es e inventavam atividades e din micas para tornar o conte do do livro mais acess vel aos alunos exercitando assim no seu lugar cotidiano a sala de aula o livro e as prescri es da pr pria escola e da pol tica municipal uma arte de fazer que extrapola que vaza ao que enquadrado ou seja sem sair do lugar onde tem que habitar todos os dias e que lhes imp em uma lei as professoras instauram a pluralidade e criatividade Por uma arte de intermedia o elas tiram da efeitos imprevistos DICERTEAU 2008 p 93 Acr scimo da pesquisadora O primeiro desafio ao analisar essa categoria foi a identifica o de que media o estou falando que ela da aprendizagem fato porque mexe com as altera es dos processos cognitivos mas como o foco o uso do livro did tico e essa media o traz para o centro do di logo as professoras como mediadoras e o livro did tico como mediado e tamb m mediador defino por trabalhar com a media o did tica sendo esta uma interlocutora para a aprendizagem Para situar a media o did tica tomo como refer ncia os estudos de D vila 2008 e Meier e Garcia 2007 Como a defini o de media o varia conforme a especificidade de sua utiliza o e do sentido que se quer produzir parto da base filos fica para qual a media o um processo criativo mediante o qual se passa de um termo inicial e um termo final e
155. es socioculturais de professores e alunos Mesmo fazendo parte de pol ticas educacionais mais amplas os conte dos legitimados e veiculados nos livros did ticos como conhecimentos v lidos a serem aprendidos referem se na sua generalidade a caracter sticas da cultura das regi es brasileiras mais desenvolvidas economicamente como o Sul e Sudeste O livro did tico ao se apresentar dessa forma limita as possibilidades dos agentes educativos professores e alunos de se re conhecerem como sujeitos sociais do universo cultural em que se encontram inseridos funcionando como ve culo de valores ideol gicos e culturais pensados como homog neos e unificados Embora nos ltimos tempos tenham se intensificado no Brasil os debates e as a es oficiais no sentido de incentivar orientar coordenar e executar as atividades relacionadas com a produ o a edi o o aprimoramento e a distribui o de livros t cnicos e de livros did ticos nas suas rela es com as diversidades culturais das regi es brasileiras muito pouco ainda t m sido feito para mudar essa realidade nesse contexto que se fazem necess rias investiga es sobre o livro did tico no cotidiano da pr tica pedag gica dos professores a partir das formas que usam esse utens lio escolar e como este produz conhecimento no espa o do Semi rido Brasileiro Estudos a respeito do livro did tico a exemplo de Lajolo 1996 constatam que o livro did tico assume ou pode assumir
156. escrita ocupa realmente um espa o significativo na nossa cultura escolar principalmente na rede p blica de ensino e mesmo constatando que n o se constitui como nico material sistematizado e escrito acess vel a alunos e professoras na realidade da Escola Jos de Amorim percebo ser a maior fonte de acesso ao conhecimento Os processos educativos no Semi rido ficam cada vez mais dependente da a o e cria o pedag gica dos professores pois mediante o di logo que os professores estabelecem com os textos contidos nos livros did ticos que as pr ticas cotidianas da sala de aula poder o se construir como pr ticas repetitivas e reprodutoras ou pr ticas cr ticas e criadoras Como os livros adotados nas escolas p blicas da regi o semi rida s o oriundos da regi o Sudeste muitas vezes o contexto local vem com uma carga de esteri tipos uniformizados em imagens e textos que acabam distanciando os textos dos livros do contexto no qual vivem os alunos fazendo com que os estudantes n o se vejam e nem se reconhe am 152 no que estudam pois os conte dos muitas vezes se esvaziam de sentido e significado no processo de aprendizagem considerando que o ato de aprender s tem significado em qualquer realidade quando h um sentido entre o texto e o contexto Nesse entorno necess rio compreender o texto como uma total id ia e n o um aglomerado de palavras ou frases Isso me leva a refletir que para entender qualquer passagem
157. fun es diferenciadas dependendo das condi es do lugar do momento em que produzido e utilizado pelos professores nas diversas situa es de aprendizagens escolares pois seu formato acabado suas sequ ncias ordenadas n o impedem que professores os desmontem extraiam partes acrescentem outras recortem d em nortes diversos a suas propostas Implica dizer neste caso que o uso did tico que o professor faz do livro que define seu sentido nas mais diversas realidades A problem tica da pesquisa Desde o ano de 2000 quando da realiza o do Semin rio Regional de Educa o no Contexto do Semi rido Brasileiro em Juazeiro BA efervescem as discuss es em torno das pol ticas educacionais para conviv ncia com o Semi rido ECSA e na oportunidade com a cria o da Rede de Educa o do Semi rido Brasileiro RESAB discutiam se tamb m diretrizes para a forma o de professores e produ o de materiais did ticos contextualizados que contemplassem aspectos da regi o semi rida Diante do nosso envolvimento com a discuss o da educa o para a conviv ncia tomamos a luta por uma educa o contextualizada 18 como uma miss o pessoal na busca de dar sentido aos processos educativos que at ent o foram propagados na regi o poca pessoas e institui es educadoras mostram se esperan osas e animadas com a possibilidade da constru o de outras leituras que possibilitassem a compreens o e a valoriza o d
158. gico e mercadol gico em um instrumento de trabalho mais eficiente e adequado s necessidades de um ensino aut nomo BITTENCOURT 2005 p 73 Afetivamente ao meu olhar as professoras dialogam com o livro como um instrumento did tico que auxiliados por outros funciona como um filho que importante caducam com ele mas n o deixam de apontar os defeitos e tentar reparar as falhas como disse a professora D mesmo a ferro e fogo a gente vai ajeitando o livro importante perceber nas narrativas das professoras que elas se permitem dentro dos seus entendimentos e di logos com o livro did tico refletir sobre esse instrumento e ter acuidade para perceber suas pr ticas no trato did tico com os livros adotados 2 3 2 O livro did tico como potencializador de conhecimento Esse eixo categ rico de an lise surge mediante as narrativas das professoras especificamente nos di rios e nas entrevistas interativas reflexivas quando fazem reflex es sobre alguns recortes de aulas observadas Consideram que os livros trabalhados os adotados pelo munic pio e os outros que elas usam concomitantemente produzem de alguma forma conhecimento nos alunos Pelo livro se tem acesso a outros conhecimentos que acabam somando aos que o aluno j tem e assim vai gerando outros conhecimentos Professora Z R Conhecimento nessa investiga o concebido como um processo de constru o de 80 sentidos que acontece na rela
159. go minha luz e meu sorrido no percurso Meus irm os e irm s que foram e vieram com minhas malas e livros permitindo que eu prosseguisse e continuasse sorrindo Meus sobrinhos e sobrinhas pela ternura de t los e pela ben o dos seus afetos Em especial Val ria por dividir comigo um ano de aprendizagens e sensibilidades em Teresina Professora Gl ria Lima minha orientadora linda e querida pela liberdade da produ o pela del cia de me apresentar etnografia pelos ensinamentos cient ficos e partilhas de vida pelo cuidado e a gra a acad mica que me permitiram voar e saber onde pousar Um dia vamos escrever um livro juntas Meus amigos e amigas de Juazeiro pela partilha da palavra e dos encontros alegres Bibi Biquinha C cero Iramar Pinzoh Nice L cia que me conduziu e me aproximou do campo emp rico da pesquisa e sempre me regou com boas conversas e id ias Maisa Rafaela Cristiano Gis lia Ana Maria Edmerson Willany e Salvador Alexandre tamb m por sua bela vista na revis o textual A todos os amigos e amigas que mesmo n o estando mais pr ximos do meu afago sempre v o estar no meu cora o As Professoras Adriana Divaneide Luana Marinalva e Rosicleide por darem um desenho sens vel e provocador pesquisa Os gestores da Escola Jos de Amorim Jos Uelsom Franci e Patroc nia por me abrirem as portas e me abrigarem afetuosamente Gilvana a irm que Deus me deu fora da barriga de minha m e
160. gocia o e readapta o KINCHELOE 2007 p 17 A diversidade nas artes de fazer das professoras o que chamo de bricolagem funciona para envolver e possibilitar que os alunos aprendam a partir de v rios modos de produ o de conhecimento de v rios artif cios did ticos como os jogos a feitura pl stica e os pr prios livros did ticos mediante seus textos grafados e imag ticos Destaco quatro epis dios etnogr ficos de ensino do 2 3 4 e 5 ano nos quais as professoras exercitam a arte da bricolagem para dinamizar e facilitar a aprendizagem e o livro did tico aparece como instrumento provocador dessa arte de fazer mediante a bricolagem Epis dio Etnogr fico de Ensino 1 Aula de Matem tica na sala da Professora Flor Vamos aprender matem tica Vamos Responde a turma quase que em coral sincr nico Eu gosto de matem tica Diz Z j com o livro aberto aleatoriamente no livro fessora Grita J no fundo da sala Professora J Professora Na p gina 175 As formas geom tricas e seus contornos Acharam Flor fala virando o livro 98 aberto para a turma visualizar Enquanto alguns v o folheando o livro para achar a p gina a Professora pede que botem a data bem de leve na p gina do livro A data fica como registro do dia da atividade mas precisa ser leve para o pr ximo aluno que for utilizar o livro poder apagar Enquanto as crian as desenham a data Flor sai um pouco do
161. grande quantidade para trabalharem individualmente Aos poucos as imagens da p gina 114 viram problemas e estes v o sendo resolvidos numa mistura cognitiva e motora que d o vida ao material dourado Vamos ler agora as p ginas 115 e 116 e vamos procurar a forma mais confort vel para fazermos uma atividade Nas respectivas p ginas aparecem diversos mosaicos em quadros mandalas e outras figuras geom tricas Os alunos se espalham Se agrupam os que n o trouxeram o livro com quem trouxe Alguns se acomodam no ch o para fazerem a atividade Abandonam as carteiras e criam outros espa os na sala Aos poucos a sala torna se habitada nos mais inusitados cantos o que Pr que vamos fazer Pergunta A Descobrir formas dessas que estamos estudando em outros materiais que costumamos usar mosaico Sim vamos explorar os livros did ticos de Portugu s Ci ncias e outras p ginas do de matem tica para descobrirmos outros mosaicos ou imagens que se assemelham a um mosaico A id ia de mexer com v rios livros parece animar os alunos Entra em cena o terceiro modo de conhecimento do conte do A Professora diz que quando descobrirem as imagens leiam os conte dos da p gina e tentem associar com o que eles viram no livro de matem tica Num nico epis dio de ensino s o tr s instrumentos entre did ticos e paradid ticos para ajudar na compreens o dos 101 conte dos Os alunos depois da explora o falara
162. gue a proposi o de Bardin 1977 intitulada an lise de conte do apoiando se tamb m 22 na an lise interpretativa baseada na descri o fenomenol gica e hermen utica na interpreta o de Laplantine 2004 No conjunto de an lises dos dados produzidos em di logo com os suportes te ricos adotados no percurso da pesquisa o texto constitu do por 5 cap tulos No primeiro cap tulo fundamentado em Andr 1995 1997 2008 Angosino 2009 Bardin 1977 Benjamim 1987 Cunha 2008 Faria 1984 Geertz 2011 Giroux e McLaren 1993 Josso 2002 Laplantine 2004 Larrosa 1994 Lima 2006 Liidke e Andr 1986 Mattos 2004 Souza 2006 Zabalza 2004 trago todo o desenho da pesquisa apresentando os olhares etnogr ficos onde situo o campo de pesquisa os sujeitos a op o pela etnografia como m todo de investiga o as t cnicas instrumentos de produ o e an lise dos dados Nesse cap tulo tamb m trago algumas considera es sobre a viv ncia da descri o etnogr fica O segundo cap tulo subsidiado teoricamente por Apple 1995 Barros 2008 Bittencourt 2005 BR COLTED 1970 Choppin 2004 Coracini 2011 D vila 2008 Freitag et al 1993 Lajolo 1996 Lins Souza e Pereira 2004 Lins 2010 Macedo 2004 Maturana 1997 Oliveira 1984 Soares 2004 Zilberman 1999 constitu do por tessituras sobre o livro did tico sua hist ria sua escolha e como este se apresenta
163. hem para os seus p s e comparem com os dos colegas Vejam quanto cada um cal a Provoca a Professora e vai anotando as medidas no quadro para eles visualizarem Fala dos cent metros e prop e medirem agora com a trena fita m trica Quando voc s v o medir come am a partir de que n mero Pergunta a Professora estendendo a trena Zero Diz A Um Rebate C Como pode se o zero n o tem nada Indaga F Se come ar do 1 vai perder 1cm Justifica E voltando se para F Isso mesmo a medida come a do zero vejam a fita m trica Novamente a Professora traz a trena para a visualiza o dos alunos A professora pede para passar de m o em m o e faz um desenho grande de uma trena no quadro para eles visualizarem de outra forma Aos poucos alunos e professora se tecem junto ao objeto de conhecimento Por vezes na media o n o se tinha uma distin o da professora o que me chegava aos olhos eram vozes que se faziam linguagem na mesma propor o Continuando a atividade a Professora vai explicando pelo desenho no quadro Os risquinhos em cada n mero representa os cent metros e os tracinhos entre um numero e outro um cent metro e outro s o os mil metros mm 123 A Professora vai fazendo a leitura da fita m trica no quadro Quantos mil metros existem em 1cm Pergunta classe 10 Pr Falam de vez Quantos cent metros t m o metro Continua 100 100 100 Falam numa euforia ao me
164. i a express o prefiro escrever um livro que um caderno E de fato ela viaja no livro did tico mas sempre reclama quanto a atividade requer o caderno Crian as risos e livro uma bela composi o de imagem 191 R desenha letras no caderno Com calma e delicadeza a atividade toma forma sob a r stia de sol que entra pelo telhado O livro de R um dos mais cuidados que observei o caderno mesmo j tendo passado um semestre inteiro ainda n o tem marcas de orelhas ou rasgos como comum ver R aprende silenciosamente mas com um contentamento colorido Foto 50 Vanderl a Andrade Pereira Penetra surdamente no reino das palavras L est o os poemas que esperam ser escritos Est o paralisados mas n o h desespero h calma e frescura na superf cie intata Ei los s s e mudos em estado de dicion rio Convive com teus poemas antes de escrev los Tem paci ncia se obscuros Calma se te provocam Espera que cada um se realize e consume com seu poder de palavra e seu poder de sil ncio N o forces o poema a desprender se do limbo N o colhas no ch o o poema que se perdeu N o adules o poema Aceita o como ele aceitar sua forma definitiva e concentrada no espa o Chega mais perto e contempla as palavras Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta sem interesse pela resposta pobre ou terr vel que lhe deres Trouxeste a chave Carlo
165. ia enquanto formadora do profissional educador Por essas discuss es ocuparem uma centralidade nos debates sobre pr ticas pedag gicas processo ensino aprendizagem e rela o teoria pr tica contextualizada no cotidiano escolar no Semi rido Brasileiro o que se observa que necess rio ampliar a discuss o nesse sentido revelando como o livro did tico usado pelos professores e quais suas potencialidades na produ o de conhecimento no Semi rido Brasileiro Subsidiando a id ia Freitag et al 1993 p 125 dizem que Os estudos at agora realizados sobre o livro did tico deveriam ser intensificados focalizando se antes de mais nada o como de sua utiliza o pelo professor no quotidiano da sala de aula Haveria in meras possibilidades de um bom professor usando um mau livro did tico desenvolver um excelente ensino e promover um extraordin rio 20 aprendizado Por enquanto o uso feito pelo professor somente foi estudado na perspectiva dos crit rios utilizados pelo professor para a escolha do livro Optamos por iniciar o tra ado da quest o de pesquisa partindo da prerrogativa legal que coloca como objeto centro da educa o escolar preparar o aluno para o exerc cio da cidadania qualificando o para o trabalho em linha geral o que normatiza a LDB 9394 96 Neste ordenamento legal est o sem d vidas implicadas quest es relativas ao livro did tico que entre outras demandas deve se prestar como instrumento orien
166. ializa o de conhecimento tamb m est o vinculadas forma como as professoras mediam didaticamente interrelacionando os conte dos tidos como cient fico do livro com os conhecimentos advindos das experi ncias dos alunos Em uma aula a professora R trabalhava uma imagem de uma obra de Tarcila do Amaral O mamoeiro Na leitura da imagem um aluno diz que v uma cidade s que redonda e ele estabelece um comparativo dizendo que seria engra ado se as arvores da Lagoa do Salitre fossem redondas Entre os risos dos colegas a professora fala sobre a obra e a t cnica que a artista usou para produzir a obra Automaticamente o aluno acrescenta ao seu discurso a possibilidade de cortar as rvores da Lagoa de forma cubista Talvez naquele momento Tarcila do Amaral o modernismo e a t cnica lisa de pintura j passaram a habitar suas representa es de mundo a nova informa o produziu e alterou sentidos na sua forma de conhecer O acesso a um conhecimento e a leitura deste sempre leva constru o de um novo conhecimento o conhecimento do aluno que nunca vai ser da mesma forma que o livro ou a professora lhe disse e nem t o pouco da forma como era o seu pr prio antes da leitura 81 Porque no processo produziu se significado quando o aluno pensa as rvores redondas e depois em forma cubista um significado est tico delineou o seu conhecimento Seria imposs vel conceber um livro did tico ou n o que n o produzisse conhecim
167. ica o de objetos de pesquisa me encontrei com a etnografia A luva e a m o no desafio da investiga o A escolha da etnografia e das t cnicas e instrumentos por ela necess rios deu se por visualizar neste m todo de investiga o o rumo para as possibilidades de conhecimento do objeto de pesquisa Para atingir os objetivos desta pesquisa segui os pressupostos descritos por Andr 1997 e dividi caminho investigativo em tr s percursos distintos mas interligados 1 4 1 Primeiro percurso procedimentos preliminares Neste percurso realizei as primeiras aproxima es com o ambiente sociocultural da investiga o Esta etapa foi fundamental para uma visualiza o do campo emp rico da pesquisa e a constru o do olhar que orientou o trabalho de campo Neste percurso tamb m foram feitos os primeiros contatos com a dire o e os professores para obtermos a autoriza o necess ria realiza o do estudo e sensibilizar as professoras para a participa o na investiga o Na quarta feira dia 02 de fevereiro dia de Yemanj rainha das guas deu se o primeiro contato presencial com as professoras na reuni o de planejamento do in cio do ano letivo Estava diante de outro tipo de mar mas com a mesma imensid o At entrar na reuni o mergulhava numa ansiedade curiosa e uma vontade de n o ter inventado nada disso Ao chegar ao p tio o Diretor e a Vice Diretora que estavam em uma reuni o parte me receberam e fal
168. icamente Andr 2008 a esse respeito defende que o reducionismo e a descontextualiza o poderiam vir a comprometer a credibilidade de toda uma linha de pesquisas educacionais com essa abordagem O reducionismo diz respeito nega o de determinados aspectos a exemplo do te rico em detrimento de outros ou valoriza o s dos aspectos te ricos desconsiderando as vozes dos sujeitos da pesquisa Geertz 2011 sinaliza este aspecto ao afirmar que as t cnicas n o definem o empreendimento etnogr fico mas sim o tipo de esfor o intelectual que ele representa por isso n o se pode bastar o estudo s na constru o dos dados sem que 29 esses sejam representados interpretados e at reconstru dos e para isso necess rio que os dados emp ricos dialoguem com as tessituras te ricas Andr 1997 registra que n o basta produzir o real preciso tentar reconstru lo aspecto que se configura quando o pesquisador se orienta por uma proposta te rica metodol gica que a priori carece ser bem definida A etnografia como referencial te rico metodol gico d voz aos sujeitos observados torna intelig vel os acontecimentos ou fen menos muitas vezes invis veis aos olhos do pesquisador Subsidiamente proporciona o contato direto do pesquisador com a situa o investigada o que no caso desta pesquisa sugere um maior entendimento das rela es e processos estabelecidos entre os sujeitos participantes e os significados das
169. icaram animados quando a Professora falou para pegarem o livro did tico de portugu s Observem a imagem na p gina 22 uma tela de Tarsila do Amaral Eles observam e v o falando o que v em aqui foram suprimidas partes utilizadas quando fiz a an lise do livro did tico como potencializador do conhecimento A Professora provoca os alunos para verem quem pintou a tela e o nome da tela Todos leram e disseram em alta voz Voc s dariam outro nome a tela p de banana Fala P H p de mam o Retruca A pintura Complementa em voz quase faltante L Que lugar esse Cidade ou interior A Professora continua provocando a express o das leituras dos alunos A pergunta causou uma euforia A maior parte respondeu interior somente C disse que uma cidade porque tem casas Foi um protesto geral porque do interior tamb m tem casas onde eles moram Interior porque na cidade n o tem areia Expressou A Em meio a contesta es e aprova es cidade e interior se hibridavam que chegaram a um consenso que era um lugar que poderia ser cidade ou a comunidade deles de outra forma de ver Houve uma intera o com a tela A imagem no livro de portugu s se constituiu como o primeiro instrumento de aproxima o com o conte do A Professora provoca os alunos para descobrirem em outros livros did ticos obras de arte Entra em cena o segundo instrumento de explora o do conte do os livros de outras disciplinas Fa am
170. iferenciadas e contextualizadas com as diversas realidades presentes nas culturas escolares do Semi rido Brasileiro Considerando a relev ncia da pesquisa acredito que por seu enfoque te rico e sua ancoragem no olhar etnogr fico que revela um campo emp rico a mesma possa contribuir para a reflex o e estudos sobre as potencialidades dos livros did ticos na produ o de conhecimento sobre os usos que as professoras fazem desse importante recurso Por sua vez a partir da tessitura etnogr fica e da an lise dessa realidade local espec fica ser poss vel abrir um di logo com outros estudos sobre o livro did tico provocando uma releitura dos processos pedag gicos e did ticos que orientam o fazer docente nas diversas institui es de educa o no Semi rido Brasileiro Apresenta o do estudo O estudo apresenta a etnografia enquanto m todo de investiga o enfatizando a narrativa autobiogr fica atrav s dos di rios da pr tica como t cnica de constru o de dados e como instrumento de autoria na investiga o Neste contexto seguindo as caracter sticas da pesquisa etnogr fica utilizei os seguintes procedimentos para produ o dos dados 1 observa o participante notas de campo 2 Di rios pedag gicos ou da pr tica 3 Entrevista interativa reflexiva de cunho coletivo Como suporte a esses tr s instrumentos empreguei ainda a fotografia e filmagem O m todo de interpreta o dos dados utilizado na pesquisa se
171. im sua fun o enquanto instrumento did tico de aprendizagem Richaudeau 1979 destaca que o livro did tico apresenta tr s grandes fun es A primeira a fun o de informa o e todas as implica es que dela adv m A segunda refere se a de estrutura o e organiza o da aprendizagem dos estudantes E a terceira considera que o livro did tico n o pode ser por si mesmo um fim pois seu objetivo guiar alunos e acrescento professores para a apreens o do mundo exterior em colabora o com outros conhecimentos adquiridos em outros contextos distintos do escolar Partindo dessas fun es descortinamos um olhar sobre os livros did ticos trabalhados nas escolas do Semi rido tendo como refer ncia estudos feitos por Lins Sousa e Pereira 153 2004 tais autoras que constatam que esses livros s o retalhos de conhecimentos fragmentados pela pr pria falta de sentido um pretendido retrato do Nordeste mas na verdade estuda da primeira a ltima unidade realidades do Sul e do Sudeste estampadas nas p ginas ilustra es e discuss es Imagens estereotipadas conceitos r gidos conhecimentos compartimentados que n o possibilitam as os alunas os e professoras es se verem a desenvolverem um pertencimento quilo que estudam v o se tecendo ao longo do livro que vai fazer parte da vida escolar de professores e alunos por tr s anos at um outro ser adotado por via do livro did tico que muitas vezes ignoramos o nosso
172. inf ncia E hoje banha esses meninos e meninas que se espalham ao vento o mesmo sol que cal ou meus p s dolentes de carrapixos Mas ali esse sol s quer aquecer os pezinhos inquietos que saltam cordas que arrastam as chinelas folgadas e brincam no cinza das horas Olhar para esse sol o mesmo que redondo e brilhante seguiu minhas meninices foi como estar ali naquele p tio no meio da crian ada e sendo elas Foi como escorregar em lembran as que se inquietavam na poesia traquina de seus p s Eu estive ali e fui aquela escola S devassamos o mist rio na medida em que o encontramos no cotidiano Walter Benjmin 3 CAP TULO IV f A EDUCA O NO SEMI RIDO BRASILEIRO LEITURAS ETNOGR FICAS SOBRE O LIVRO DID TICO NA ESCOLA JOS DE AMORIM Meus olhos v o seguindo a poeira po tica que levanta o ch o sob o sol No arrastado das chinelas do meu Av percorrendo a l gua que juntava e separava o campo e a cidade tive o meu primeiro encontro com o Semi rido Aquela poeira que subia e acentava nos galhos cinzas das juremas perfom ticas me fazia transver para al m das pegadas zambetas que estavam na minha frente Nesse mesmo encontro me fiz habitar entre os rabiscos no terreiro a descoberta dos livros que educava meus irm os e as rimas dos cord is de letras min sculas que os mais velhos liam em noites de ajuntamento familiar um sert o que n o era s sol e solo mas tamb m a poesia dos a udes s
173. instale criando uma cumplicidade da descoberta Ao mesmo tempo em que os narradores no uso da linguagem se descobrem em si descobrem se no outro e os fen menos revelam se em todos os envolvidos na investiga o O di rio constitui numa transposi o do eu para o papel a verbaliza o de detalhes que mesmo concretizados na pr tica residem nas configura es do interior das professoras Giroux e McLaren 1993 p 26 chamam a aten o para o aspecto da import ncia da linguagem que est no fato que atrav s dela simultaneamente nomeamos a experi ncia e agimos como resultado desta interpreta o nesse sentido afirmam Apenas quando podemos nomear nossas experi ncias dar voz a nosso pr prio mundo e afirmar a n s mesmos como agentes sociais ativos com vontade e um prop sito podemos come ar a transformar o significado daquelas experi ncias ao examinar criticamente os pressupostos sobre os quais elas est o constru das A narrativa como t cnica de investiga o pressup e um processo coletivo de m tua explica o no qual se imbricam pesquisadora e pesquisadas e isso implicou uma desenvoltura intelectual no intuito de garantir pesquisa o rigor sem deixar de perceber sensivelmente o entrela ado de rela es que se teciam no entorno dos usos do livro did tico Josso 2002 afirma que a abordagem biogr fica inscreve se numa perspectiva de investiga o forma o por evidenciar um caminhar para si onde se bu
174. ir e caso aceite fazer parte do estudo assine este documento impresso em duas vias Uma delas sua e a outra da pesquisadora respons vel Se tiver d vida voc pode procurar o Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal do Piau ou a pesquisadora respons vel por esta pesquisa O objetivo desta pesquisa investigar como se efetiva a utiliza o do livro did tico na pr tica pedag gica de professores do Semi rido Brasileiro Nessa perspectiva requisitamos que seja respondida a seguinte quest o Como se efetiva a utiliza o do livro did tico na pr tica pedag gica de professores do Semi rido Brasileiro Com base no exposto precisamos contar com a sua contribui o no processo de realiza o da pesquisa a partir da escrita de di rios da pr tica onde escrever o suas pr ticas referentes ao uso do livro did tico participa o em entrevistas interativas reflexivas coletivas que ser o gravas 212 nas quais ser o analisados os diversos usos do livro did tico a partir da visualiza o de aulas filmadas com a autoriza o pr via dos professores Al m das t cnicas j mencionadas por se tratar de uma pesquisa etnogr fica outros registros ser o feitos mediante observa o participante e descritos no di rio de campo do pesquisador As informa es produzidas ser o registradas analisadas e interpretadas com base no referencial te rico metodol gico da an lise descritiva Em caso de surgirem situa es
175. ircunvizinhas t m manifesta es muito ricas como a Roda de S o Gon alo mais praticada na comunidade de Sabi o Samba de V io do Rodeadouro que encanta pelo ritmo dos p s e dos bancos percursivos Essa imagem que 32 saltam aos olhos fazendo o p blico dan ar trago expresso abaixo em um fragmento de descri o do meu di rio de campo os p s levantam uma poeira po tica O cora o segue o batuque do couro de bode que d som s m os Saias rodam no colorido da chita e tudo se movimenta Professoras e crian as mesmo paradas parecem dan ar os olhos procuram o movimento de p s e m os O samba que vem do semba dos negros que significa umbigada inebria a roda Sai sai sai piranha saia da lagoa Bota a m o da cabe a outra na cintura d uma rodadinha e d uma umbigada no outro Assim a m sica que salta das gargantas das mulheres e homens felizes nos chama para a roda Agora somos um s corpo e tudo tudo samba Di rio de campo 2011 Grifo da pesquisadora Esse fragmento de uma descri o etnogr fica feita na semana do folclore ilustra como o aspecto cultural importante para a constitui o das aprendizagens principalmente quando as manifesta es ganham vida dentro dos muros da escola A comunidade de Lagoa muito rica culturalmente e hoje existe uma preocupa o de valoriza o da mem ria dessas manifesta es pelas gera es de jovens e crian as O Samba de Veio e o S o Go
176. istas interativas reflexivas os olhares coletivos de pesquisadora e professoras 1 4 2 1 Observa o participante o di rio de campo A investiga o teve como centro do di logo o cotidiano escolar considerando as dimens es pessoal e interacional institucional e sociocultural no ambiente escolar ANDR 2008 e buscando as representa es e as opini es dos atores escolares e tomando as como importantes elementos na investiga o E como a observa o um instrumento fundamental para a realiza o da investiga o etnogr fica optei por utilizar a observa o participante por ser uma investiga o que se caracteriza por um per odo de intera es sociais intensas entre a ora e as participantes e cujos dados s o constru dos de forma detalhada e hol stica Pude no contexto da observa o participar ativamente como membro em todas as atividades da escola sabendo ver e ouvir atentamente registrando o mais fielmente poss vel todas as informa es pertinentes todos os fen menos desde os mais an dinos at os mais vis veis mas sem perder o foco da investiga o Ao tempo que observava exercitava o Julgamento r pido para decidir o que era v lido e necess rio registrar nessa perspectiva que Angosino 2009 define a observa o como um ato de perceber as atividades e inter rela es das pessoas do cen rio de campo atrav s dos cinco sentidos do pesquisador que exige registro objetivo e uma busca de padr es que s
177. izados nessa disserta o para compor os sentidos apreendidos no cotidiano da pr tica pedag gica das professoras que est intrinsecamente entrela ado com alunos livro did tico e todos os aparatos da cultura escolar e extra escolar As imagens trazem o espa o desse cotidiano da pr tica pedag gica como linguagem percebendo a mediante os fragmentos de sua imagem sua tessitura em redes de rela es culturais pedag gicas e afetivas Nesse contexto trago a fotografia como meu terceiro olho que paralisa um movimento real para me permitir voltar a ele para contextualizar ou recontextualizar uma leitura do que vivenciei vendo Contribuindo com a minha fala Oliveira J nior 2003 p 11 faz a seguinte acep o Encontrar outros jeitos de olhar o mundo de modo a nos permitir encontrar outros entendimentos e outras poesias nas coisas expostas aos nossos olhares do dia a dia de nossas caminhadas pelas cal adas e nossas debru adas nas janelas importante tomar as fotografias n o apenas como interface entre o visual cotidiano e a linguagem que apresenta o estudo de maneira mais codificada pois o contexto da imagem torna se uma textualidade uma teia de acontecimentos reais que podem ser lidos tanto com os sujeitos da pesquisa como atrav s deles deixando aqui margem para outras interpreta es e abrindo nos limites da minha escrita etnogr fica possibilidades para outras leituras e retextualiza es do espa o e tempo pesquisa
178. izagem Romper com essas narrativas que trazem a hist ria fora dos sujeitos as verdades de poucos que n o traduzem as pessoas implicadas na rela o pedag gica uma possibilidade de contar outra hist ria no cen rio educacional de dar sentido aos artefatos e processos mobilizados na realiza o da educa o principalmente no Semi rido Brasileiro uma regi o composta por nove estados do Nordeste mais o norte de Minas Gerais e do Esp rito Santo e que apresenta uma peculiaridade clim tica na qual predominam dois tempos espec ficos o seco e o verde Essa regi o tem um dos biomas mais ricos e belos que a caatinga e mesmo com a veicula o de uma imagem de seca e mis ria a regi o apresenta uma diversidade de cultura popula es riquezas naturais e possibilidades de desenvolvimento As determina es curriculares que acabaram por homogeneizar uma vasta diversidade presente nos espa os do Semi rido geraram uma s rie de descompasso Essa descri o foi o primeiro rabisco etnogr fico no exato momento em que iniciamos a pesquisa Em todo o corpo da disserta o as cita es de autoria da pesquisadora e das professoras participantes da pesquisa aparecer o grifadas em it lico para diferenciar das demais cita es das refer ncias te ricas adotadas na pesquisa 17 na realidade educacional nessa regi o principalmente no que se refere aos conte dos dispostos nos livros did ticos e suas conex es com as realidad
179. izam e como se relacionam entre si Ent o o ir o ver e o viver com os nativos foram marco inicial do surgimento da antropologia cient fica Quando viajantes e fil sofos tornam se um s a observa o participante se tornou a principal t cnica para atingir esses objetivos 2 At o s culo XX a etnografia era feita por dois agentes o viajante que ia at os povos observava e trazia as observa es para os fil sofos ou investigador fazer as an lises e interpreta es das culturas observadas a partir dos estudos de Malinowski e Boas que o te rico e o observador ficam enfim reunidos inaugurando assim a realiza o de uma aut ntica etnografia LAPLANTINE 2004 p 66 27 Uma investiga o etnogr fica feita de dentro vivida junto aos sujeitos O pesquisador tamb m se torna um nativo um membro pertencente ao grupo que estar sob seu olhar por um tempo longitudinal At meados do s culo passado as pesquisas em educa o enfatizavam an lises macrossociol gicas de quest es como por exemplo o acesso escola e a origem social do aluno deixando de lado as diferentes dimens es do ambiente intra escolar Sob outra perspectiva as chamadas an lises de intera o focalizavam o estudo do contexto intra escolar para quest es curriculares e de avalia o sob a influ ncia da psicologia comportamental priorizando o comportamento de professores e alunos em sua intera o Esse tipo de an lise reduzia
180. l m das p ginas do livro did tico Em Aberto Bras lia ano 16 n 69 jan mar 1996 ISSN 0104 1037 147 Padre Jo o In cio me fazia medo e o advogado Bento Am rico not vel da opini o do j ri residia longe da vila e n o me interessava Foi assim que se exprimiu o Tentador humanizado naquela manh funesta Deixei me persuadir sem nenhum entusiasmo esperando que os garranchos do papel me dessem as qualidades necess rias para livrar me de pequenos deveres e pequenos castigos Decidi me E a aprendizagem come ou ali mesmo com a indica o de cinco letras j conhecidas de nome No dia seguinte surgiram outras depois outras e iniciou se a escravid o imposta ardilosamente Condenaram se tarefa odiosa e como n o me era poss vel realiza la convenientemente as horas se dobravam todo o tempo se consumia nela Nas suas narrativas da inf ncia Graciliano rememorando a sua alfabetiza o traz todo o percurso rduo da sua experimenta o de seus livros de leitura que por n o saber compreender o c digo da l ngua pareciam borr es sem sentido a incapacidade de ler as m seras letras dispostas nas cartas e cartilhas que provoca um dissabor pelos comp ndios escolares colocando os l noutro lugar assim como fazem alguns alunos quando do n o uso dos livros O livro passa a ser um instrumento n o grato e n o contribuidor para saberem de algo pois a aus ncia do dom nio da leitura e escrita o
181. la assim um ambiente circunscrito em pr ticas de organiza o que envolve sua gest o seu projeto pedag gico e todos os aspectos referentes ao contexto micro e macroestrutural da pr tica escolar Sua pr tica seus processos de ensinar e aprender n o se encontram no isolamento da sala de aula ou s por entre seus muros mas sim no entorno hol stico que est para al m do cadeado que permite a entrada e a sa da do espa o Compreendendo o di logo entre as tr s dimens es olho a escola como se cada peda o dela concreto ou simb lico fosse um livro que didaticamente me revelavam paisagens intertextuais e comunicadoras de saberes E a partir do que diz Laplantine 2004 p 52 ver tudo imposs vel e tudo dizer absurdo meu olhar muitas vezes desapercebido de coisas visivelmente maiores compreendeu a escola a partir de paisagens que pareciam an dinas mas ricas de significados e assim fui tornando o invis vel em intelig vel s minhas incurs es etnogr ficas Um exemplo disso a representa o do sil ncio na minha compreens o de escola foi viver seu sil ncio que me ajudou a tornar o seu barulho tang vel aos meus olhos e descri es Na descri o do recreio trago esse sil ncio em linguagem O vazio parece enlarguecer a escola nenhum p de gente e o barulho bvio parece entranhado no concreto A escola est nua de seus pertences humanos Parece que ou o a algazarra da meninada As salas emudecem como s
182. la Cadernos CEDES Campinas v 18 n 43 p 1 9 dez 1997b APPLE M W Cultura e com rcio do livro did tico In APPLE M W Trabalho docente e textos economia pol tica das rela es de classe e de g nero em educa o Porto Alegre Artes M dicas 1995 p 81 105 ASSAR P Digo e n o pe o segredo S o Paulo Escrituras 2001 BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem S o Paulo Hucitec 1992 BACHELARD G A forma o do esp rito cient fico Rio de Janeiro Contraponto 1996 BARDIN L An lise de conte do Lisboa Ed 70 1977 BARROS M de As inf ncias de Manoel de Barros S o Paulo Planeta do Brasil 2008 BEHRENS M A O paradigma emergente e a pr tica pedag gica 3 ed Curitiba Champagnat 2003 204 BENJAMIN W O narrador considera es sobre a obra de Nikolai Leskov In BENJAMIN W Magia e t cnica arte e pol tica obras escolhidas 7 ed S o Paulo Brasiliense 1987 v 1 BITTENCOURT C M F Autores e editores de comp ndios e livros de leitura 1810 1910 Dispon vel em lt http www scielo br pdf ep v30n3 a08v30n3 pdf gt Acesso em 20 ago 2010 O saber hist rico na salde aula S o Paulo Contexto 2005 BOGDAN R C BIKLEN S K Investiga o qualitativa em educa o Porto Porto Editora 1994 BRAIT B An lise do discurso In BRAIT B Org Bakhtin outros conceitos chave S o Paulo Contexto 2006 p 9 32 BRASIL Constitui o dos Estados U
183. le and absolute didactic instrument but as an artifact to support their practices developing within the quotidian of their pedagogic practice different forms of employment that include the book as a DIY teaching tool as a mediation instrument in teachers actions and as a possibility of constructing autonomous teaching regarding the legitimacy or transgression of directions The results of the investigation led to a certain problematization regarding education in the Brazilian semi arid region as well as to the proposition to reorganize the processes of production choice and evaluation of the school books that are used in the regional public schools Keywords School book Quotidian Pedagogic practice Education in the semi arid region LISTA DE SIGLAS ABNT Associa o Brasileira de Normas T cnicas CEB C mara de Educa o B sica CNE Conselho Nacional de Educa o CNLD Comiss o Nacional do Livro Did tico COLTED Comiss o do Livro T cnico e do Livro Did tico ECT Empresa Brasileira de Correios e Tel grafos ECSA Educa o para Conviv ncia com o Semi rido FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa o INL Instituto Nacional do Livro IPT Instituto de Pesquisas Tecnol gicas do Estado de S o Paulo LD Livro Did tico MEC Minist rio da Educa o e do Deporto PCN s Par metros Curriculares Nacionais PDE Plano
184. lem tica saber Como se efetiva a utiliza o do livro did tico na pr tica pedag gica de professoras do Semi rido Brasileiro traz a possibilidade de contar outra hist ria no cen rio educacional de dar sentido aos artefatos did ticos e processos mobilizados na realiza o da educa o principalmente no Semi rido Brasileiro Na proposi o de conhecer e viver de perto o campo emp rico da pesquisa que a Escola Jos de Amorim situada na Comunidade de Lagoa do Salitre Munic pio de Juazeiro BA a investiga o de car ter qualitativo traz a etnografia como m todo de investiga o Como caracter stica da etnografia a produ o dos dados deu se mediante a observa o participante a escritura de di rios da pr tica e entrevistas interativas reflexivas de cunho coletivo Em apoio a esses tr s instrumentos est o di rio de campo a fotografia e filmagem O m todo de interpreta o dos dados utilizado na pesquisa segue a an lise de conte do proposta por Bardin 1977 aliado an lise interpretativa fenomenol gica e hermen utica referenciada nos estudos de Laplantine 2004 Diante desse contexto esta disserta o traz as an lises feitas acerca dos usos do livro did tico por professoras do Ensino Fundamental I tendo como principais refer ncias te ricas autores como Andr 1995 1997 2008 Bittencourt 2005 Certeau 2008 D avila 2008 Dietzsch 1996 Geertz 2011 Heller 1989 Josso 2002 Kincheloe 20
185. les observem 133 que a autora diz comparando ao que eles disseram A propor o que foi lendo eles foram dizendo o que foi dito em comum A atividade que se segue ao texto muito complexa para as crian as um texto de interpreta o a Professora desconsidera a atividade e orienta no quadro as listas a coisas boas b coisas lindas para eles escreverem direto no caderno de produ es cadernos pessoais usados para produzirem textos e a professora acompanhar o n vel de produ o de cada um Eles perguntam se para tirar do livro ou fazer o que bom e lindo para eles Flor observa que eles j disseram oralmente e agora s v o tentar escrever o que disseram Alguns se concentram e outros ficam iguais formiga em poca de chuva zanzando de um canto para outro Alguns v o buscar ajuda e orienta o da professora Em um momento muitos recorrem ao mesmo tempo que ela fica agoniada A aluna E fez sua lista olhando nomes palavras que estavam dispostas nas paredes da sala Mesmo tendo dito outras palavras na hora de escrever existe a necessidade de uma refer ncia pra copiar Todos os livros de portugu s j est o fechados e muitos j guardados nas mochilas Gente cada pessoa tem sua pr pria refer ncia das coisas boas e lindas Em casa voc s v o perguntar para os pais ou av s e que s o coisas boas e coisas lindas J v o ajeitando o material na mochila para irem para os carros Um movimen
186. lha rep blica duvidoso O Livro did tico assume mais ainda o car ter ideol gico dominante Em 1892 foi publicado o Primeiro Livro de Leitura de Felisberto de Carvalho no qual defendia a silaba o mesmo havendo uma grande perspectiva a favor do m todo anal tico Essa cartilha deixa clara a perspectiva de que o m todo sint tico tem que se manter no ensino por n o favorecer uma aprendizagem mais reflexiva e anal tica do contexto social Em 1907 foi publicada a Cartilha Anal tica de Arnaldo Barreto que apesar do nome estava dividida em decifra o e compreens o Essa cartilha foi utilizada em muitos estados brasileiros Essa obra dava nfase ao sistema de ensino partindo das historietas que eram frases que se relacionavam por meio de id ias l gicas Podemos citar um exemplo extremamente lembrado dessa situa o Ivo viu a uva Livro este que perdurou por muitas gera es Muitos levantaram a bandeira do m todo anal tico mas poucos os seguiram de fato Isso ocorreu porque de um lado estavam os educadores tradicionais e de outro os que queriam mudan a na escola tais como An sio Teixeira Fernando Azevedo e Louren o Filho Era o movimento da Escola Nova que efervescia no Brasil for ando um repensar da educa o e consequentemente dos materiais did ticos que orientavam o ensino Com a reforma Sampaio D ria lei n 1750 de 8 de dezembro 1920 as institui es de ensino passaram a ter mais liberdade pa
187. lica dos c digos lingu sticos e pr ticas de transforma o da realidade mesmo que impercept vel a partir do enraizamento e do tr nsito pelos contextos de viv ncias seja no mbito do concreto real ou do distante aproximado pelo conhecimento Nesse sentido a contextualiza o vai se configurando como instala o e transi o dos alunos e professoras no interior dos seus contextos vividos medida que as suas pr ticas e apreens es cognitivas produzem e p em em circula o o conhecimento em congru ncia com as mais variadas dimens es do ambiente geogr fico e humano que habitam 4 3 O Semi rido entre o espa o do livro did tico e o contexto praticado Eu estudei s seis meses Agora fui me valer do livro Que n o era o livro did tico n o Eu n o queria saber de categorias gramaticais n o Queria saber de outras coisas Eu lia era revista era livros jornais Eu queria era satisfazer minha curiosidade n o era ler gramaticalmente como voc s por a n o JFoi a natureza mesmo Muito curioso para saber das coisas tudo o que eu lia eu gravava aqui na mente Eu queria era ler as hist rias a vida da p tria e isso e aquilo queria era saber das coisas n o queria saber de livro de concord ncia e isso e aquilo Agora com essa pr tica de ler eu pude obter tudo viu Como se eu tivesse estudado pegado livros did ticos livros l de colegas essas coisa viu Eu aprendi lendo Com a pr tica de ler a 160 gente vai desco
188. licizar meus olhares escritos e imag ticos despisse tamb m meus tra os sens veis sonoros visuais emocionais e intelectuais que comp em minhas palavras Mas como a palavra que n o dita n o se faz ouvida considero necess rio falar tamb m a imagem para que a diversidade de fala retrate e revele a diversidade do lugar espa o e tempos vividos na pesquisa A composi o fotogr fica produzida na pesquisa traz a exist ncia de cada peda o de realidades contidas nos olhares e reolhares que imprimi Olhares que s o pigmentos de exist ncias que me permitem mesmo n o estando mais presencialmente nessas realidades um mergulho no movimento vivido e expressado nas superf cies planas das fotografias O percurso das fotografias selecionadas para compor o cap tulo compreende dois conjuntos imag ticos que acredito representar cenas significativas tanto para o meu olhar etnogr fico quanto para as rela es dos sujeitos da escola com suas viv ncias cotidianas O primeiro conjunto constitu do da 1 11 foto e exposto das p ginas 167 a 172 traz um olhar mais amplo da comunidade desde a sua geografia f sica atrav s das casas os espa os de rela o produtiva religiosa e de lazer at outras rela es de conviv ncia que est o mais ligadas diretamente aos alunos como o cruzamento di rio com os bodes e a travessia de dos alunos de barco pela lagoa A inten o de iniciar com imagens da comunidade dar se pelo fato de que para c
189. lidade da Escola Jos de Amorim percebi que ainda falta muito para o processo de escolha ser realmente de autoria e autonomia das escolas e professoras H ent o nos macro e micro processos de escolha do livro did tico a necessidade de planejamento e de cria o e desenvolvimento de mecanismos de avalia o dos livros did ticos que est o dispon veis no mercado para consumo das escolas No tocante avalia o deveria contar com a participa o de um n mero cada vez mais significativo de educadores de diferentes graus do ensino A avalia o poderia al m das universidades e das institui es de pesquisas ser assumida por outras inst ncias como as Associa es de Professores rg os que congregam representantes da sociedade civil e pais de alunos Considerando a import ncia do processo de sele o e escolha dos livros did ticos e a evid ncia do protagonismo da escola e a voz dos professores a escolha precisa estar articulada a uma qualifica o profissional do professor e tamb m a uma pol tica de descentraliza o da produ o estendida s outras regi es que tamb m constituem o Pa s Esse processo de descentraliza o pode interferir numa transforma o substancial no livro did tico considerando que os olhares locais poder o ser mais exigentes buscando livros melhores e menos monol ticos Dessa forma at a interlocu o que o professor estabelece com o livro pode tornar se mais interativa porque o livro esta
190. lidades locais na composi o est tica conteudista do livro Se a realidade est presente possibilita ao aluno e at as professoras a sentir o local tocar e ser tocado por suas ambi ncias em sua natureza relacional com a especificidade cultural e ling stica da comunidade O que percept vel de forma mais generalizante que ocorrem aqui no Semi rido por interm dio ou n o do livro did tico trata de conceitos abstratos sem tocar na realidade concreta da vida dos sujeitos destinat rios dos processos educativos MARTINS 2011 p 50 Muitas vezes os livros que chagam s escolas do Semi rido s o alegorizados envoltos por conceitos talism que por si j se bastam sem que haja a necessidade de uma explica o a exemplo quando aparece logo na capa De acordo com os PCN s dentro da proposta de contextualiza o de acordo com as novas normas ortogr ficas uma proposta de letramento etc Esses termos talism nicos me remetem ao ditado popular que muitas vezes ouvi nas prosas familiares por fora bela viola por dentro p o borolento A impress o ao folhear os livros que o conte do n o condiz com a embalagem quando proferem ser numa proposta contextualizada posso at admitir que existe realmente uma contextualiza o com uma dada realidade mas n o com as realidades impressas no Semi rido Trazer a realidade vivida pelos sujeitos da aprendizagem do Semi rido no livro did tico implica em uma mexedura em out
191. livro e provoca eles para ver a forma que conhecem coloca algumas formas no quadro acr lico Registra se aqui um primeiro modo de aproxima o com o conte do Redondo ou C rculo Pergunta a professora apontando para a forma desenhada no quadro As crian as foram dizendo as coisas que conheciam com a forma redonda L mpadas Sol Ventilador Ventilador K Pergunta a Professora com um riso meio de canto de boca Sim Pr quando ele t ligado redondo Certo Vamos observar se K tem raz o Todos se voltam para os ventiladores espalmados nas quinas da sala e por instantes seus olhos tamb m se arredondam ao circular o olhar no aparelho c rculo Respondem eles numa algazarra de descoberta O que mais conhecemos de redondo ou c rculo cabe a dos alunos Diz C Todos riram com a cabe a dos alunos e muitos disseram que n o tem cabe a de c rculo As formas trabalhadas s o c rculo quadrado tri ngulo e ret ngulo A Professora prossegue perguntando algumas formas como a do quadro uma caixa uma bola um saco uma caixa de sapato at identificar todas as formas e em seguida pede para observarem a sala de aula utilizando um segundo modo de explorar aprofundar o conte do a sala de aula com suas geometrias Que formas voc s v em triangulo nos paus da telha quadrado no ch o ret ngulo no quadro O arm rio Pr qual Pergunta F apontando os cinco dedos para o arm rio
192. lizo outras bibliografias para pesquisar atividades como por exemplo Cole o Fique Ligado Editora FAPI Cole o Armaz m de Textos da mesma Editora Diversos livros de matem tica como A conquista da matem tica FTD com projeto interdisciplinar Convivendo com a Matem tica editora Atual e Materiais fornecidos pelos formadores da PROVA BRASIL Professora L Com refer ncia aos livros utilizados pelas professoras saliento de acordo com as leituras das narrativas das mesmas e minhas notas de campo que estes apresentam textos e Proposta Curricular Direito de Aprender S ries Iniciais A proposta traz os descritores que s o compreendidos como compet ncias ou habilidades que os alunos t m que desenvolver em cada unidade por disciplina Para alcan ar os descritores em cada disciplina por bimestre s o elencados os blocos de conhecimentos que s o os conte dos reas tem ticas que as professoras devem trabalhar A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avalia o da Educa o B sica Saeb s o avalia es para diagn stico em larga escala desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An sio Teixeira Inep MEC T m o objetivo de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a partir de testes padronizados e question rios socioecon micos A Prova Brasil s o testes aplicados no quinto e nono ano do Ensino Fundamental e na terceira s rie do ensino m dio O foco
193. ltos a Professora fala que eles precisam compreender o que uma atividade em grupo Solicita que prestem aten o para socializarem a atividade Fala que as avalia es do SAEJ Sistema de Avalia o da Educa o em Juazeiro t m muita coisa para pensar e se eles n o se interessam dif cil aprender A Professora vai falando e eles v o acompanhando no livro Ela faz a leitura da legenda Na primeira quest o alguns gritaram que acertaram Na segunda tamb m acertaram Na quest o c a opini o pessoal a Professora provoca pra que eles falem Fazendo uma rela o com a vida deles para que compreendam o porqu da popula o rural ter diminu do e a urbana ter crescido Alguns disseram que o trabalho e essa resposta est muito ligada ao fato que a maioria dos pais deixaram a localidade para trabalharem em outras cidades No quadro a Professora copia as respostas aproveitando o que eles tinham dito Como a ilustra o do xodo rural fala de algumas pessoas que sa ram da comunidade de Lagoa para morar na sede do munic pio de Juazeiro Na letra d mesmo provocando os alunos eles silenciaram disseram que n o entendiam muito A Professora fala do crescimento sem planejamento que gera a falta de estrutura f sica Ela copia a resposta de acordo com o texto mas diz que eles podem citar outros aspectos problemas que eles quiserem acrescentar A Socializa o foi conclu da 119 A fala da Professora no primeiro momen
194. m 4 E E E Esses dados foram fornecidos pela escola mediante uma pesquisa realizada pelos alunos da EJA e que resultou na produ o de um livreto que usado como material paradid tico tamb m em outras s ries 33 tarde para todos os alunos como tive a oportunidade de assistir uma apresenta o teatral sobre o meio ambiente que reuniu os alunos do turno vespertino Os corpinhos se apertavam nos bancos da igreja em cena o teatro sobre o meio ambiente Os olhos riam a cada gra a do profeta e da dom stica que teimava em jogar o lixo da patroa no meio da rua A escola foi ao teatro e este teatro foi igreja Aos poucos alguns moradores pr ximos se apertavam nas brechas ainda vazias arriscando um olhar Sustos e gritos a cada batida do cajado do profeta e os atores traziam os meninos e meninas para a cena Uma crian a segurava o livro de portugu s e apertava o a cada manifesta o de susto O que fazia aquele livro ali nico e s pressionado pelas m ozinhas apreensivas na sa da o colega pergunta por que ele trouxe o livro e sa apressado foi a resposta E eu que pensei ser uma rela o de amor Di rio de campo 2011 A lagoa que deu origem ao nome da comunidade transita entre uma paisagem bela e triste Quando o sol se p e parece cena de cinema mas os meus olhos captam tamb m o transitar dos porcos criados sua margem os pl sticos que bailam e se enterram nas suas guas e no se
195. m o livro na sua utiliza o cotidiana Na investiga o considero que o livro did tico n o se constitui um elemento de f cil trato exige atualiza o das professoras para instrumentaliz lo didaticamente considerando segundo Soares 2004 que nem sempre esse material did tico traz uma proposta pedag gica de um conte do correto e atualizado selecionado do vasto campo de conhecimento em que se insere com ado o de crit rios rigorosos para fins de forma o escolar apresentado sob forma did tica adequada aos processos cognitivos pr prios a esse conte do logo pr prios etapa de desenvolvimento em que se encontre o aluno aos processos interativos que caracterizam a sala de aula e s circunst ncias sociais e culturais em que se insere a escola 63 2 1 Tecendo hist ria o livro did tico no mundo e no Brasil no bojo da mudan a social que coloca de lado o teocentrismo e adquire a forma antropocentrista que o Renascimento ocupa o centro do debate Com uma mudan a de comportamento de novos vieses de informa o nasce a imprensa inven o de Gutemberg colocando um fim aos escribas da igreja que monopolizava a escrita e a transmiss o do conhecimento Com o Renascimento s c XV e XVI o uso da imprensa na Europa e a preocupa o com leitores aumentaram Neste per odo os candidatos educa o eram a elite e membros do clero e os custos e as possibilidades a essa qualifica o eram dispendiosos Nesta despes
196. m si o menor efeito de causalidade menor procura de uma ordem escondida por tr s das apar ncias O que visto auto suficiente e estritamente indiscut vel A fotografia n o o Mp 165 faladora al m disso uma superf cie plana Mas o que ela nos mostra sem nunca ter a pretens o de demonstrar um fato nico O imediato da realidade captada na fotografia desnudo aos meus olhos revela acontecimentos nicos que n o poderiam ser vistos no percurso imediato da pesquisa Quando da an lise dos dados produzidos pelo exerc cio etnogr fico na Escola Jos da Amorim a m quina fotogr fica foi um instrumento de apoio ao meu olhar e descri o deste As cenas do cotidiano da pr tica pedag gica das professoras eram t o ricas em detalhes que n o cabiam s no meu olhar mesmo com aten o e cuidado muitos movimentos escapavam pelas minhas mem rias ret nicas e s a imagem fotogr fica me ajudou a crer no visto ler e descrever o observado A inten o deste cap tulo trazer pela express o imag tica outra forma de ler a pesquisa pois acredito que a fotografia ensina nos a possibilidade de variar a profundidade do campo visual o que mostra que nunca existe uma nica vis o poss vel de um fen meno e o que a linguagem representada no que escrevi verbalmente n o conseguir dizer as imagens poder o expressar Considero que a fotografia n o representa em uma pesquisa apenas uma figura ou imagem ilustrativa e sim
197. m sobre cidades obras de arte mapas mandalas e at chegaram a conclus o que mesmo que a imagem seja parecida nos livros o conte do diferente em ci ncias n o fala em cubo mosaico fala de animais plantas e em Portugu s os mosaicos falam de leituras desenhos de cenas da vida poesia e hist rias A aula termina com muita empolga o e at o port o os alunos ainda falam do que acharam nos livros O movimento de bricolagem realizado pela professora na intera o com o conte do do livro did tico segundo Kincheloe 2007 p 54 funciona para reunir m ltiplos conhecimentos para formar novas intera es epistemol gicas e ontol gicas Nesse sentido o movimento da bricolagem docente possibilitou aos alunos mediante o contato com uma diversidade de recursos aprenderem outras textualidades o que contribuiu para agregar ao conte do dos c lculos das medidas em formas geom tricas j trabalhadas no livro de matem tica e com o material dourado a cadeia alimentar identificada no livro de ci ncias os g neros e tipos textuais identificados no livro de portugu s e que associaram cenas de seus cotidianos Esses m ltiplos conhecimentos que envolvem achados nas diversas disciplinas mediante o uso bricoleiro do livro did tico provocaram novas intera es e outras formas de representa o e apreens o do conte do que n o fosse o movimento de bricolagem da professora poderia ter se fadado s p ginas
198. mas com marcante repetitividade no cotidiano da Escola Jos de Amorim A minha proposi o de trazer como ltima fotografia dessa leitura de imagem o cadeado e a poesia de Carlos Drumonnd de Andrade justamente para dizer que o cadeado ao fechar o port o da escola no t rmino de cada turno n o encerra o que no espa o escolar habitou por mais de quatro horas e nem t o pouco se reserva s pr ximas habita es Ao contr rio o cadeado ao fechar e pendurar se na corrente chama para uma necessidade de chave Uma chave que ao abrir a tranca do olhar e da linguagem revela as faces que est o ali an dinas ou sobressaltadas compondo e descompondo o acontecimento por tr s do cadeado O cadeado que prop e que esta pesquisa seja uma chave como j falei que destranque as portas para as diversas narrativas que se movimentam no mbito das escolas do Semi rido Brasileiro As fotografias que come am pelo olhar da comunidade passam pela escola com todos os seus movimentos e terminam com o fechar da pesquisa mas a proposi o de que os achados sejam a chave para abrir novamente o port o para al m da sua g nese autom tica n o s o s uma representa o imag tica da realidade s o al m disso uma elabora o do vivido o resultado de um ato de investimento de sentido uma leitura do real realizada mediante o recurso que envolve al m do saber da t cnica de fotografar algumas habilidades 44 z A 3 f g 2 As fotografia
199. mesmo as professoras denunciando as confus es os equ vocos as aus ncias e as disson ncias com as realidades dos alunos Fico imaginando todas essas artes de fazer das professoras frente a um livro cujos textos refletissem os contextos do mundo vivido pelos alunos Creio que seria surpreendente o resultado da aprendizagem e essas realidades com certeza estariam em movimento de ir ver e viver o conhecimento no di logo do senso comum com o tido cient fico As an lises e interpreta es das vozes gestos e olhares das professoras frente ao uso do livro did tico no cotidiano de suas pr ticas apontam al m da necessidade de uma reorganiza o do processo de escolha produ o e avalia o do livro did tico a urg ncia de rever o livro did tico no seu formato est tico que compreende na minha vis o a qualidade dos conte dos uma ruptura com as prescri es r gidas que engessam a tomada de decis o no ato docente a contextualidade que interconecta o conhecimento sistematizado e disposto no livro com os saberes e fazeres movimentados no cotidiano dos alunos possibilitando que estes se vejam no que aprendem Enfim extremamente importante atentar para o cuidado de produzir livros did ticos cotextualizados com as culturas locais e inter relacionadas com outras culturas mais globais Diante dessas constata es a sensa o que me assalta por vezes que saio da pesquisa mais inquieta do que quando comecei porque seus resultados t
200. mo cen rio diversificadas fontes de investiga o disciplinas afins para estabelecer uma compreens o mais complexa do objeto de estudo em toda sua polissemia agregando a ele outras conex es de saberes e alterando a sua forma inicial Eis a o fen meno da contextualiza o que se pauta n o numa reprodu o ou repeti o fetichizada da realidade acontecente na comunidade mas numa tematiza o que n o traz uma vis o localista do contexto mas sim uma vis o que vaza e extravasa para al m do contexto de viv ncia dos alunos Ao percorrer etnograficamente um olhar pelos livros did ticos em situa o de uso na Escola Jos de Amorim percebo que o que as professoras trazem al m das p ginas do livro did tico v o constituindo la os de saberes que ao serem laborados estabelecem nexos culturais atrav s dos quais os conte dos prescritos e a realidade chegante se comunicam A palavra do livro e a contra palavra da realidade pela voz das professoras v o se transfigurando a partir de elementos presentes na imagina o dos alunos Ao trazer o Semi rido real para a sala de aula tudo que dito se penetra copulando e produzindo novos saberes pela interconectividade e troca m tua entre o conhecimento e a experi ncia vivida constituindo se a novas teias de significa o 162 O exerc cio da contextualiza o do livro did tico antes de tudo afetivo o que torna urgente e preciso a representa o e apresenta o das rea
201. mo pr ticas coletivas produzidas historicamente entre sujeitos em intera o com a teia de cultura com suas diversas contextualidades numa an lise microsc pica enquanto caracter stica atribu da etnografia GEERTZ 2011 O microsc pio que v o que n o se enxerga a olho nu que se faz vis vel tang vel e intelig vel o concreto e o subjetivo que se ocultam nas rela es culturais cotidianas da pr tica escolar e v o produzindo as singularidades de todos que habitam a escola 1 5 Olhares e artif cios do olhar a descri o etnogr fica N o se aprende a ver se n o se sabe escrever ou n o se aprende a escrever se n o se permite olhar Eram essas palavras que habitavam o espa o tempo entre o que olhava e o pensamento da palavra Foi preciso desenvolver a calma para olhar para pensar esse olhar e transform lo em linguagem Exerc cio que me custou diuturnamente um sil ncio rasgado de n o ser capaz de n o dar conta de tanto olhar Ponha se diante de uma rvore e a descreva foi essa cita o de Flaubert para Maupassant epigrafada por Laplantine na introdu o do seu No livro a Interpreta o das culturas Geertz destaca tr s caracter sticas da descri o etnogr fica ela interpretativa o que ela interpreta fluxo do discurso social e a interpreta o envolvida consiste em tentar salvar o dito num tal discurso da sua impossibilidade de extinguir se e fixa lo em formas pesquis veis A essa
202. molduram ou desmolduram estampas did ticas que luz da pesquisa descortinam op es por outros materiais auxiliares a pr tica da bricolagenm a linearidade e o movimento criativo das media es a aceita o ou transgress o das prescri es Os achados da pesquisa possibilitaram uma visualiza o das s artes de fazer das professoras na interface com o uso do livro did tico como uma tessitura de outras perspectivas que rompem com 199 algumas narrativas que trazem as pr ticas docentes realizadas no Semi rido Brasileiro como lineares e principalmente condicionada ao livro did tico como nico instrumento de ensino No exerc cio da busca de outros materiais al m do livro da pr tica da bricolagem das media es did ticas fossem de natureza mec nica ou cr tica e da legitima o ou recria o das prescri es metodol gicas as professoras metaforizavam a ordem do livro did tico fazem no funcionar em outro registro E mesmo com muitas restri es fazem do livro did tico um fiel companheiro ou seja modificam no sem deix lo Os contextos de usos do livro did tico apontados na pesquisa colocam o cotidiano da pr tica pedag gica das professoras na sua rela o com as circunst ncias que se movimentam na cultura escolar e remetem polissemias que envolve no ato de criar e recriar um deslocamento docente uma voz que tamb m a do livro did tico mas ecoada sobre todas as coisas pela autoria das professoras e
203. mostravam desinteresse pelos conte dos e pela aula em si mas quando as professoras assumiam o protagonismo da aula mediando os conte dos do livro saltava entusiasmo e ficava evidente a participa o e o empenho dos alunos para a apreens o dos conte dos Outras formas de uso que a pesquisa traz referente constru o das autonomias docentes quando as professoras recriam as prescri es metodol gicas apresentadas pelo livro did tico Os resultados apontam que as professoras em situa o de uso do livro did tico ora legitimam as prescri es quando seguem tal qual as atividades aparecem ora recriam as atividades acrescentando modificando ignorando o que est escrito Nesse aspecto mediante as narrativas das professoras as autonomias de reiventar as prescri es decorrem da necessidade de adequar as atividades ao n vel de compreens o dos alunos e tornar as situa es problemas mais pr ximas das realidades locais Essa constata o traduz a exist ncia de di logo intencional das professoras com o que dizem os livros Nesse sentido o livro did tico n o se constitui como regulador r gido da atividade docente pois as professoras ao tempo que o seguem o transgridem legitimam e recriam suas prescri es desordenam uma ordena o prescrita e recriam outras ordens para garantir que o que ensinam seja aprendido e apreendido As diversas formas de usos do livro did tico no cotidiano das pr ticas pedag gicas das professoras
204. n alo j s o trabalhados com os mais novos para garantir que essas manifesta es sobrevivam a outras gera es Outro aspecto importante da cultura a pr tica de artesanato como a feitura de chap u e abanadores de palha chap us de couro flores e jarros coloridos Existem fam lias como a fam lia Aleluia que complementa a renda com a pintura m sica e artesanato Aos nossos olhos a comunidade se desvela diversa casas de barro se misturam s de alvenaria cavalos e bodes circulam em meio aos carros e o nibus coletivo que de hora em hora conecta a comunidade com outros lugares principalmente com a sede de Juazeiro que fica a 40 minutos Fica sempre mais bela quando as crian as est o espalhadas para entrar ou sair da escola Pela manh ou no final da tarde comum ver as fam lias sentadas nas cal adas nas sentadas de cal adas que os vizinhos botam a conversa em dia observam o movimento e fazem a vida passar A comunidade tem quatro clubes onde s o realizadas as festas de fim de semana alguns bares que na maioria das vezes est o povoados por jovens e duas igrejas uma Igreja Batista Mission ria e uma Igreja Cat lica de Nossa Senhora do Patroc nio que fica por traz do cruzeiro e na nica pra a que tem na comunidade na pra a que acontecem os grandes encontros como os festejos juninos e outras manifesta es comunit rias A Igreja de Nossa Senhora do Patroc nio tamb m abriga a escola quando dos eventos que acontece
205. n lises do ambiente observado no contexto da viv ncia pr tica registrada no di rio de campo A utiliza o da microan lise nas entrevistas interativas reflexivas possibilitou um olhar enf tico e significativo s formas de envolvimento entre as professoras e alunos com o livro did tico no contexto analisado Foram realizadas duas entrevistas a primeira no m s de junho quando trabalhamos com dois recortes de aulas um da Professora Flor e outro da Professora Ee interligando com a leitura de fragmentos do texto Livro did tico um quase manual de usu rio LAJOLO 1996 A segunda entrevista aconteceu em agosto e trabalhamos com textos de Eduardo Galeano e o filme Vida Maria Na segunda entrevistas n o trouxe recortes solicitei que as professoras a partir da leitura dos textos recortassem de suas experi ncias com os livros did ticos partes que elas pudessem associar s suas interpreta es das leituras Essa entrevista mexeu muito com a sensibilidade das professoras talvez por conta de textos mais l dicos poeticamente reflexivos Encerro a entrevista com o filme Vida Maria que provocou um sil ncio intenso seguido por belas narrativas sobre autoria e produ o do conhecimento O interessante que em todos os momentos mesmo n o se falando sobre o livro did tico as falas das professoras o trazia debaixo do bra o ou da palavra Elas queriam realmente falar sobre seus di logos com esse instrumento tornara se uma rela
206. nal Curitiba v 9 n 26 p 119 130 jan abr 2009 205 D VILA C M Decifra me ou te devorarei o que pode o professor frente ao livro did tico Salvador ELUNEB EdUFBA 2008 DEWEY J Como pensamos S o Paulo Companhia Editora Nacional 1909 DIETZSCH M J M Al m das p ginas do livro did tico Em Aberto Bras lia ano 16 n 69 p 39 52 Jan mar 1996 FARIA A L G de Ideologia no livro did tico 2 ed S o Paulo Cortez Autores Associados 1984 FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necess rios pr tica educativa S o Paulo Paz e Terra 1996 Pedagogia da indigna o cartas pedag gicas e outros escritos S o Paulo Ed UNESP 1999 Educa o como pr tica da liberdade 5 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1975 FREITAG B COSTA W F MOTA R V O livro did tico em quest o S o Paulo Cortez 1989 GATTIJ NIOR D A escrita escolar da hist ria livro did tico e ensino no Brasil Bauru SP EdUSC Uberl ndia MG EdUFU 2004 GEERTZ C A interpreta o das culturas Rio de Janeiro Guanabara 2011 GIROUX H MACLAREN P Linguagem escola e subjetividade elementos para um discurso pedag gico cr tico Educa o e Realidade Porto Alegre v 18 n 2 p 21 35 jul dez 1993 G MEZ A P A cultura escolar na sociedade neoliberal Porto Alegre Artmed 2001 GOULART C Brasil Minist rio da Educa o Ensino Fundamental de nove anos orienta es para a
207. nd lo livre do risco de ser devorado pelo livro por conta da n o apropria o da voz escrita e falada A percep o das formas de uso e di logo dos alunos com o livro did tico levou me a adentrar em outras inf ncias e livros dos quais trago fragmentos na tentativa de contextualiz los com os modos que os alunos da Escola Jos de Amorim se relacionam com o livro did tico O primeiro fragmento traz a rela o de Patativa do Assar com o seu estudo especificamente com o livro did tico Meus primeiros estudos foi nos dois livros de Felisberto de Carvalho Os dois livros eu tinha que estudar em dois anos n o era Agora eu estudei s seis meses e dentro desses seis meses eu li os dois livros sem ser em ordem de col gio Se fosse na escola p blica como n s temos por aqui eu tinha que passar dois anos ASSAR 2001 p 17 18 Mesmo n o expressando um encantamento pelos livros lidos Patativa fala dessa n o ordem de leitura do livro como instrumento de explora o do conhecimento em um tempo e espa o que n o segue a prescri o legal do uso com distribui o dos conte dos para durar o ano todo Em seis meses Patativa numa desordem de prescri es e numa ordem de sentido escapoliu da sala de aula e devorou os livros que durariam dois anos de acompanhamento Na narrativa de Patativa me encontro coma a primeira forma de uso dos alunos que pelas escapolidas acabam por dar conta do livro em um contra tempo que n o segue a
208. ndo do franc s proposto pela primeira vez por L vi Strauss 1976 para se referir a trabalho manual feito de improviso aproveitando toda a esp cie de materiais e objetos dispon veis Para esse autor o bricoleur ou como eu chamo na pesquisa bricoleiro trabalha com as m os usando meios indiretos se comparados com os do artista O bricoleur est apto para executar grande n mero de tarefas diferentes Ele subordina cada uma delas obten o de mat rias primas e de ferramentas concedidas e procuradas na medida do seu objetivo 37 97 mobilizados e dos outros sujeitos do conhecimento Nessa sentido abandono o termo franc s bricoleur usado por Levi Strauss e trago o abrasileirado bricoleiro ou no caso das professoras interlocutoras da pesquisa bricoleiras Mirar e ver pelas minhas andan as etnogr ficas do olhar as professoras como bricoleiras perceb las no seu movimento cotidiano em sala de aula como alimentadoras de fazeres inventivos e imaginativos Em diversos epis dios etnogr ficos de ensino as professoras lan avam m o das nicas ferramentas dispon veis para a realiza o da tarefa de ensinar Em muitos casos um nico conte do tinha subs dio de v rias t cnicas e instrumentos did ticos para atingir a compreens o do aluno S o atitudes de bricolagem que implica um improviso mas tamb m um processo cognitivo de alto n vel que envolve constru o e reconstru o diagn stico contextual ne
209. nidos do Brasil de 10 de novembro de 1937 Dispon vel em lt www planalto gov br ccivil 03 Constituicao ConstituiZoC3 A7ao37 htm gt Acesso em 06 agosto 2010 LDB As novas diretrizes da educa o b sica 4 edi o Bras lia 1997 Colted utiliza o do livro did tico material b sico dos cursos de treinamento para professores prim rios Bras lia MEC 1970 Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa o Programas Livro Did tico Dispon vel em lt http www fnde gov br index php pnld pnld e pnlem gt Acesso em 20 de setembro de 2011 CAGLIARI L C Alfabetiza o sem b b bi b b S o Paulo Scipione 1998 CERTEAU M de A inven o do cotidiano artes de fazer Petr polis RJ Vozes 2008 CHEVALLARD Y La transposici n did ctica del saber sabio al saber ense ado Argentina Aique 1991 CORACINL M J Org Interpreta o autoria e legitima o do livro did tico S o Paulo Pontes 2011 CORREA R L T O livro escolar como fonte de pesquisa em Hist ria da Educa o Dispon vel em lt http www scielo br pdf ccedes v20n52 a02v2052 pdf gt Acesso em 20 ago 2010 CUNHA M T S Do ontem para hoje pr ticas escolares em di rios ntimos de professoras In SOUZA E C de MIGNOT A C V Org Hist rias de vida e forma o de professores Rio de Janeiro Quartet FAPERJ 2008 CURY C R J O livro did tico como assist ncia ao estudante Di logo Educacio
210. nizar o curr culo na reconstru o das visibilidades e dizibilidades significativas que provoquem releituras e reescritas dos diversos atores da educa o mostrando que n o apenas o professor que se descobre como sujeito capaz de produzir conhecimentos mas os alunos tamb m passam a ganhar gosto por essa atividade de reaprender e reescrever o Semi rido a partir de novos olhares e novos ngulos LIMA 2011 p 201 Contextualizar o livro did tico na pr tica pedag gica pode ajudar professores e alunos a compreender os diversos aspectos das realidades complexas em que vivem e consequentemente significar suas pr ticas e suas aprendizagens Dessa forma compreendo que se produz um sentido que n o se trata da matem tica pela matem tica da ci ncia pela ci ncia da geografia pela geografia etc As disciplinas escolares devem estar a servi o do conhecimento configurando se em um meio e n o um fim em si Cumprir um programa curricular preestabelecido levando aos alunos aos professores uma quantidade de conte dos descontextualizados e que primeira vista n o t m utilidade ou aplica o vem se revelando pr tica ineficaz HERN NDEZ 2000 Nesse sentido Santom 1998 p 161 nos leva a refletir quando afirma que Em muitas ocasi es os conte dos s o contemplados pelo alunado como f rmulas vazias sem sequer a compreens o do seu sentido Ao mesmo tempo se criou uma tradi o na qual os conte dos apresenta
211. no bem como a diversidade de todo o universo f sico e humano escolar s o composi es elementares para a constitui o do agir e interagir pedag gico em torno do livro did tico nesse agir e interagir pedag gico que a pr tica docente situada na pr tica pedag gica constr i significados e ganha sentido no contexto de sua realiza o Labutar no exerc cio de ensinar e aprender em contextos de aus ncias de estruturas f sicas com as tecnologias ainda artesanais e com o escasso acesso aos bens de ordem cultural intelectual leva as professoras a inventarem e reinventarem outras artes de fazer que desencadeiam um constante movimento de bricolagem Concebo a bricolagem para alem do seu conceito inicial apresentado nos estudos de L vi Strauss A bricolagem no meu olhar e dizer etnogr fico tem como refer ncia Kincheloe 2007 p 30 quando diz que a bricolagem se dedica a uma forma de rigor que dialoga com in meros modos de produ o de sentido e de conhecimento que t m origem em diversos locais sociais Nesse sentido a bricolagem re ne o di logo do emp rico com o cient fico o improviso com o rigor em uma busca que tamb m epistemol gica A bricolagem tarefa dif cil e exige um conhecimento de si dos instrumentos did ticos a serem 36 RETE a Uso o termo como met fora de Pin quio boneco de madeira que ganha vida e movimento pelas m os e sabedoria de Geppetto Bricolagem um termo oriu
212. nographic method As it is a characteristic of ethnography the data production was carried out by means of participative observation practice diary keeping and interactive reflexive interviews of a collective nature Supporting these three instruments there are the field diary photography and film making The data interpretation method used in the research follows the contents analysis proposed by Bardin 1977 allied to hermeneutical and phenomenological interpretative analysis referenced in the studies of Laplantine 2004 Regarding this context the present dissertation presents analyses carried out on employments of the school book by elementary school teachers having as main theoretical references the following authors Andr 1995 1997 2008 Bittencourt 2005 Certeau 2008 D vila 2008 Dietzsch 1996 Geertz 2011 Heller 1989 Josso 2002 Kincheloe 2007 Lajolo 1996 Laplantine 2004 Lima 1996 Lins Sousa and Pereira 2004 Martins 2004 2011 Meier and Garcia 2007 Oliveira J nior 2003 Pereira 2007 Pimenta 1995 Pimentel 2002 Souza 2009 Zabalza 2004 among others Based on the findings of the study in a dialogue with the theoretical supports adopted in the course of the research the condition of the school book as an enhancer of knowledge was revealed being that to the contrary of results of several former studies the research pointed out that teachers do not employ the school book as a so
213. ns 2004 o contexto aparece como o conjunto de elementos ou entidades sejam elas coisas ou eventos que condicionam de um modo qualquer o significado de um enunciado permitindo aos sujeitos dotados de consci ncia construir um entendimento um sentido sobre os conhecimentos que entram em contato portanto uma forma de habitat um meio e implica uma ecologia que diz respeito cultura linguagem s 42 n A r P Pesquisa realizada pelas autoras em escolas dos estados nordestinos em sua maioria no campo quando da sistematiza o de dados para a produ o dos livros did ticos Conhecendo o Semiarido 1 e Conhecendo o Semiarido 2 financiado pela Rede de Educa o do Semiarido Brasileiro RESAB e UNICEF 154 formas de comunica o humanas e ao regime de signos que rege esta comunica o e n o apenas s coisas f sicas e palp veis ou seja um movimento concreto e subjetivo ao mesmo tempo Para o livro did tico se tornar um instrumento aliado educa o do Semi rido necess rio que nas suas p ginas estejam estampadas o cotidiano as povoa es as culturas os modos de vida as manifesta es religiosas e festivas as brincadeiras as produ es o clima as chuvas os animais a caatinga o campo a cidade os dialetos enfim elementos que provoquem a constru o de outras narrativas que t m ficado de fora do curr culo e dos materiais did ticos O contexto exige a inser o da pr tica para descolo
214. nsiderando os diversos recursos dispon veis pois o livro n o deve ser a muleta de sustenta o nica da pr tica do professor mas sim um auxiliar que somado aos outros instrumentos qualifica o processo do ensinar e aprender compreendendo a hist ria do livro did tico principalmente no mbito brasileiro que poss vel compreender esse instrumento did tico nas tessituras da investiga o 2 2 A escolha do livro did tico aproxima es com a realidade As atividades de compra da mat ria prima estoques reguladores de mercados e de distribui o dos manuais escolares s o centralizadas pelo Estado e s o feitas atrav s do Programa Nacional do Livro Did tico PNLD O processo de produ o e edi o ainda concentrado na regi o Sudeste do Pa s O programa executado em ciclos trienais alternados Assim a cada ano o FNDE adquire e distribui livros para todos os alunos de um segmento que pode ser anos iniciais do ensino fundamental anos finais do ensino fundamental ou ensino m dio exce o dos livros consum veis os livros distribu dos dever o ser conservados e devolvidos para utiliza o por outros alunos nos anos subseq entes Atrav s do Guia do Livro Did tico que uma esp cie de card pio as escolas levando em considera o seu planejamento pedag gico escolhem os livros que querem usar Mas antes de adentrar mais no processo de escolha por parte das escolas considero importante tecermos as eta
215. nsino 4 Aula de Portugu s e Matem tica na Sala da Professora L Peguem o livro de Portugu s e vamos ver a corre o da p gina 85 A aula inicia com coment rios sobre o dia anterior que n o teve aula por conta da c paraliza o dos professores A Professora conferia o Para casa de carteira em carteira Empolgados os alunos devolvem os livros de literatura que levaram para ler em casa alguns contavam rapidamente para os colegas sobre o livro 1 Na regi o em que voc vive as crian as se divertem com brincadeiras iguais ou diferentes das que s o citadas na reportagem Quais s o elas Vai lendo a Professora N o tem outras Fala E Bate m os El stico F fala em seguida Corda Bola e bale V deo gaime Celular Celular brincadeira A Professora provoca a turma que tem jogo Argumenta F Certo 2 Na sua opini o h motivos que justifiquem a separa o de brincadeiras de acordo com o sexo Continua a Professora Tem que as meninas n o sabem brincar Quem n o sabe voc E Replica C Se as regras da brincadeira forem ditas meninos e meninas podem brincar juntos certo Que brincadeiras voc s fazem aqui que s brincam meninos ou meninas A Professora vai seguindo as quest es prescritas no livro Futebol s menino El stico s menina Claro se o menino pula vira mulherzinha A fala em tom de riso Ser que uma brincadeira vai mudar o sex
216. o identificados nas viv ncias da cultura cotidiana do grupo participante da pesquisa Nessa ptica a observa o participante buscou descrever os significados de a es e intera es segundo o olhar de seus atores indo muito al m da descri o de situa es ambientes pessoas ou da mera reprodu o do seu discurso depoimentos e a es mas fazendo uma descri o compreensiva e interpretativa A observa o participante na realiza o da investiga o etnogr fica me exigiu um exerc cio cont nuo de sensibilidade e rigor 11 E E 2a 4 Usamos aqui as teorias da descri o etnogr fica a descri o fenomenol gica na qual descrever compreen der uma totalidade significante e a descri o hermen utica na qual descrever interpretar LAPLANTINE 2004 p 103 107 o que exploraremos com mais detalhe no item 1 5 deste cap tulo 46 A observa o direta e constante da realidade bem como a aproxima o com os atores nos contextos sociais investigados tem sido considerada uma importante t cnica para a pesquisa cient fica Na etnografia a observa o participante o principal instrumento de investiga o e tem no pesquisador o agente fundamental a quem cabe selecionar interpretar sentir e articular o conjunto de fen menos observados em campo Diz se participante porque o pesquisador sempre interage em maior ou menor grau com a realidade que se prop e a conhecer No nosso caso o grau de intera
217. o de a o envolve os alunos O livro um auxiliar para a busca dos alunos mas suas produ es em palavras ou hist rias s o pr prias Abram o livro did tico na p gina 99 L enquanto folheava o livro procurando a p gina encontrou um texto do Jo o de Barro l e depois prossegue a procura da p gina O conte do sobre a grafia LI e LH 126 A Professora faz refer ncia sobre a carta da Vov que ela leu no in cio da aula perguntando se eles lembram de alguma palavra com LI ou LH Faz a leitura da p gina 99 pedindo que eles acompanhem em sil ncio Agora vamos fazer a atividade da p gina 99 e100 A professora sai para procurar um livro de Portugu s para um aluno que veio da escola do Rodeadouro Alguns permanecem fazendo a atividade e outros dispersam aproveitando a aus ncia da professora Outros alunos que esqueceram o livro sentaram em dupla para compartilhar Tem que copiar Devia s fazer a resposta Reclama V Se fizerem s a resposta outra vez que forem ler n o v o saber do que se trata Justifica a Professora Alguns se dirigiam professora para tirar as d vidas C come a a ficar impaciente e com pregui a dizendo que j est cansado e quer ir para casa L copia e quando pronuncia algumas palavras maiores vibra Ele est come ando a desenvolver a leitura e cada palavra lida sem dificuldade para ele uma vit ria Alguns v o terminando de copiar e j come am a responder outr
218. o de afeto e parceria As entrevistas interativas reflexivas proporcionaram outra dinamicidade na produ o dos dados porque foram oportunidades na qual as professoras se encontravam entre si e consigo mesmas para olhar de fora seus fazeres pedag gicos Foram momentos de partilha de experi ncias ajuda m tua e conhecimento do trabalho das colegas Em muitos momentos a experi ncia narrada por uma professora servia de base para a outra professora tentar solucionar algum entrave enfrentado na sala de aula As entrevistas foram filmadas e transcritas para a an lise O interessante do registro visual a possibilidade de enxergar nos detalhes expressivos n o percebidos no ato da filmagem em comum acordo com as professoras resolvemos destacar por escrito recortes das aulas observadas Na microan lise a nossa inten o foi a observa o de um contexto espec fico a aula interrelacionado a com o contexto mais geral sala de aula cultura escolar a cultura em geral O recorte da aula da Professora Flor foi no confronto com uma atividade no livro de matem tica quando do trabalho com formas geom tricas que o livro na atividade trouxe duas quest es iguais Na aula da professora L a atividade trazia uma situa o problema que pedia para o aluno calcular o valor das horas de trabalho de um oper rio e em nenhum momento trazia um valor de refer ncia da hora trabalhada Mais detalhes no cap tulo 2 Optou se por textos menos densos ma
219. o de uma pessoa Fala a Professora se dirigindo a A N o Pr Um coro de vozes ecoa 121 3 Onde e quando foi publicada essa reportagem Na sua opini o as informa es que ela divulga s o verdadeiras ainda hoje Justifique sua resposta Vamos falar um de cada vez Fala E Eu acho que s o verdadeiras mas hoje n o tem mais essas brincadeiras Todos concordam sim sim A professora fechando a discuss o diz que as outras quest es sobre o texto eles n o v o trabalhar por conta de que j mudam de assunto e ela acha interessante falar mais sobre a inf ncia Faz a leitura de um poema Come a provocando sobre a inf ncia perguntando se eles j haviam ouvido termos como esse que saudade do meu tempo L ent o o poema de Cassemiro de Abreu aurora dos meus oito anos ou simplesmente oito anos Na leitura de algumas palavras diferentes eles iam perguntando o significado e a Professora foi pegar alguns dicion rios para descobrirem juntos Depois da leitura a professora fala que preciso aproveitar a inf ncia porque o tempo passa r pido bom ser pequeno Fala alegremente C Nada bom ser grande A argumenta se levantando nas pontas dos p s Tudo parece comportado na fala do livro did tico as quest es s o respondidas numa linearidade de caixa fechada O des nimo t o aparente que enquanto alguns se esparramam sobre os livros outros se distraem pelos vasculhantes
220. o desempenho da aula depende muito da situa o de conhecimento do professor Tem aula que por n o ter tido tempo de pesquisar e analisar fa o como est no livro mas tem outras aulas que me identifico mais com o conte do tenho tempo de planejar pesquisando e fazendo liga o com a realidade dos alunos nesse caso s uso o livro como apoio e de um texto do livro surgem v rias coisas boas que fazem a gente e eles pensarem Eu gosto quando consigo dar aula assim A proposi o que as professoras usem o livro did tico como um instrumento mediador na constru o dos saberes dos alunos e tamb m dos seus pr prios saberes mas sem que esse instrumento se torne o nico condutor da a o docente Em sendo o livro did tico um meio auxiliar no processo cognitivo da aprendizagem dos alunos necess rio antes da sua utiliza o pr tica na sala de aula que o professor compreenda o seu significado com o objetivo de entender a sua fun o a sua import ncia e valora o no processo educativo Nesse contexto passo a tecer an lises de cinco epis dios de ensino nos quais as media es did ticas de natureza mec nica e de natureza cr tica se movimentam no interior da pr tica pedag gica das professoras Epis dio Etnogr fico de Ensino 1 Aula de Matem tica na sala da professora M A professora tirou umas produ es do mural e entregou aos alunos que as fizeram Diz respeito a uma atividade de portugu s um texto em q
221. o do objeto de conhecimento no caso o livro e seus conte dos com os alunos que passam a desejar e ter prazer pelo que querem e passam a conhecer A media o did tica significa portanto a a o das professoras em possibilitar e potencializar a constru o do conhecimento pelo aluno significa uma intencionalidade entre as professoras o livro did tico e o aluno de forma a modificar alterar organizar enfatizar transformar os est mulos provenientes dos conte dos trabalhados a fim de que o aluno construa sua pr pria aprendizagem e desenvolva uma autonomia de aprender pro si s extrapolando o que apreende em sala de aula O cotidiano da pr tica pedag gica das professoras revela me mediante alguns epis dios de ensino situa es de media o did tica de natureza mec nica e situa es de media o did tica de natureza cr tica Para abordar os usos do livro did tico como mediador e mediado tendo como refer ncia o estudo de D vila 2008 considero a media o did tica de natureza mec nica a que conduzida pela professora reprodu o dos conte dos prescritos no livro did tico sem que o objeto de conhecimento seja modificado pela professora que media enquanto sujeito que ensina ou pelo aluno que est na condi o do sujeito que aprende Na media o did tica mec nica observo que o livro did tico quem d a dire o para o ensino nesse caso torna se mediador em lugar das professoras As professoras na media
222. o em situa o de n o uso e de intera o com os alunos Fotos 37 50 167 O movimento da escola nos espa os de habita o dos alunos funcion rios gestores e professoras expressa uma rica pol tica de conhecimento que se constr i no espa o geral da escola e na especificidade da sala de aula A ltima foto 51 do cadeado fecha os dois conjuntos de imagens como forma de comunicar que a escola quando silencia se fecha Representa tamb m a minha inten o de trazer a pesquisa como chave para abrir as trancas dos discursos que ainda homogene zam realidades de escolas e professoras que ainda cristalizam o livro como o senhor da pr tica docente Essa chave quer escancarar o port o da escola da comunidade da academia para dizer que nos usos do livro did tico nas escolas do Semi rido a partir do olhar etnogr fico da e na Escola Jos de Amorim as professoras s o as senhoras absolutas de suas pr ticas E que a imagem no contato com quem v e l pronuncie outras visibilidades e dizibilidades do cotidiano da pr tica pedag gica das professoras quando do uso do livro did tico no Semi rido Brasileiro Na rua por tr s da Escola as casas dialogam entre engenharias de taipa barro e alvenaria O ch o n o tem cal amento muito menos saneamento Uma casa ou outra tem pequenas cal adas improvisadas pelos moradores a Andrade Pereira 168 No tempo oposto ao da escola meninos jogam bola A r
223. o espa o que habit vamos como seres individuais e profissionais Questionava se o que a educa o tinha produzido em n s e o que n s enquanto educadores e educadoras produz amos em nossos alunos e consequentemente nos espa os educativos Em 2001 vimo nos diante de um importante desafio que nos colocaram a Rede de Educa o do Semi rido Brasileiro RESAB e o Fundo das Na es Unidas para a Inf ncia Unicef produzir um livro did tico no qual cada estudante do Semi rido pudesse se ver se sentir inclu do naquilo que estudava de modo que as familiaridades presentes no livro pudessem provocar outros conhecimentos das diversas realidades que integram a escola e seu entorno sentimo nos a partir dessa dif cil miss o provocados a conhecer mais profundamente os processos educativos atrav s dos quais se relacionavam professores e os livros did ticos no cotidiano de suas praticas pedag gicas Come amos assim um deslocamento por algumas regi es dos seguintes estados do Semi rido Brasileiro Bahia Pernambuco Piau Alagoas Sergipe e Para ba conhecendo e vivenciando experi ncias contextualizadas ou n o junto a professores que atuavam nos anos iniciais do ensino fundamental No percurso fomos colhendo e construindo tamb m informa es hist ricas culturais afetivas que tinham significado para cada regi o e que poderiam ser integradas no livro did tico solicitado Dentro desses percursos e conhecimentos das diversas
224. o professor s vezes eficaz outras vezes nem tanto pois na sua maioria os livros n o trazem a realidade dos nossos alunos principalmente os das disciplinas de geografia hist ria e ci ncias que muitas vezes ficam esquecidos nas casas do aluno Os de l ngua portuguesa e matem tica s o usados com mais freq ncia por m n o tanto quanto deveria porque trazem conte dos uniformizados e sua linguagem t o dif cil que n o permite que os alunos compreendam o que ele realmente quer transmitir N o traz uma linguagem diversificada Professora R tanto que as capas dos livros iniciam o an ncio de que o seu conte do est dentro das normas foi assim quando dos Par metros Curriculares que os livros traziam que aquele livro estava de acordo com os PCN s hoje com as novas regras ortogr ficas O livro ent o um agente de legitima o e dissemina o dos conte dos que se definem socialmente como escolares A terceira faceta que o livro did tico um instrumento pedag gico um manual que traz ao lado dos textos sugest es de trabalho exerc cios e as tarefas que o aluno deve desempenhar para apreens o ou reten o dos conte dos Os livros apresentam n o somente os conte dos mas a forma como esses conte dos devem ser ensinados como diz a Professora Flor O livro did tico deve ser um importante aliado para o professor pois vem facilitar a exposi o dos conte dos para os alunos como o aprendizado
225. o sobre si sobre os outros e sobre sua pr tica no cotidiano escolar e isso se revela mediante a subjetividade a singularidade as experi ncias e os saberes que foram se construindo no percurso espa o temporal da sua vida pessoal e profissional no caso da pesquisa em evid ncia no percurso espa o temporal da sua pr tica pedag gica A subjetividade na escrita narrativa de professoras configurou se como elemento constitutivo das representa es sobre o vivido no cotidiano escolar no tocante aos seus di logos com o livro did tico Larrosa 1994 p 54 complementa a id ia quando afirma que os sujeitos n o s o posicionados como objetos silenciosos mas como sujeitos confessantes em rela o a uma verdade sobre si mesmos que eles mesmos devem contribuir ativamente para produzir Nessa posi o n o silenciosa o sujeito exercita o papel de ator e autor de sua hist ria A escrita de si como possibilidade de autoria das professoras na investiga o me fez optar pelo uso do di rio da pr tica como um dos instrumentos de constru o dos dados na investiga o Ao escrever intimamente pensamentos e pr ticas com e sobre o livro did tico nos di rios olhei nas escritas o encontro entre a vida das professoras e sua inscri o numa hist ria social e cultural Para Cunha 2008 p 128 Os di rios s o l cus de subjetiva o no qual o indiv duo ao narrar seu cotidiano sua passagem pela vida no tempo hist rico e
226. obst culo que separa o aluno do livro did tico Os castigos e torturas recebidas pelo pai por n o decifrar as letras que dia ap s dia iam aumentando oportunizaram Graciliano desviar dos livros escolares e transformar se em um leitor da vida esta foi a forma de ler os livros e reescreve los com suas contra palavras A contra palavra dos alunos que deixam o livro l noutro lugar a rela o de desnecessidade do livro ou seja se eles n o conseguem decifra lo melhor deixa lo longe dos seus olhos e manuseios pois como eles n o conseguem dominar os pr requisitos ling sticos dispostos no livro did tico junto a este ficam mais vulner veis a uma puni o ou classifica o de fracasso O livro did tico em uma estrat gia para n o revelar que as letras aos seus olhos s o s borr es sem sentido As alunos ao estabelecerem formas de usos do livro did tico tamb m legitimam o livro como lugar praticado desfazendo suas superf cies leg veis provocando deslocamento e metaforizando textos e imagens Esse deslocamento metaf rico preenche as folhas em branco traceja as cores nas xilogravuras e acabam por tamb m determinar ou intervir nas media es das professoras Enfim nos modos de Patativa Alice ou Graciliano os alunos deixam evidente que preferem escrever um livro ou no livro como forma de perten a ao que estabelecido para aprenderem E essa voz que ainda falta ser ouvida quando se discute a legitimidade autoria e s
227. oduto cultural e uma mercadoria conforme indicado por Apple 1995 o livro did tico passa por um processo de produ o distribui o e consumo que envolve autores editoras e todo um segmento de mercado antes de chegar s m os dos professores e alunos Ao longo da hist ria o livro did tico p de ser focado como amostra dos interesses pol ticos e ideol gicos de uma na o da decorre uma corrida editorial que acaba tirando o foco da qualidade dos produtos que chegam s escolas Freitag et al 1993 p 127 nos trazem uma an lise cr tica sobre o sistema mercadol gico do livro e o peso da produ o nacional diagnosticando que O livro did tico insere se assim em uma grande maquinaria na qual ele parece exercer um papel insignificante que medida que vai sendo elucidado revela se de import ncia estrat gica para a exist ncia e o funcionamento do sistema educacional como um todo estendendo sua influ ncia a amplos setores do mercado editorial bem como a institui es estatais Funciona como um instrumento de ensino no processo pedag gico 61 em sala de aula como fonte de lucro e renda para editores e como cabide de empregos para os funcion rios e t cnicos dos organismos estatais O livro did tico uma forma de ter a mem ria impressa por ele que se tem o registro do momento curricular vivido da hist ria e at das concep es de ensino e aprendizagem que foram e s o praticadas na hist ria da educa
228. olar ou comunit ria no tocante a essa acep o que a partir das an lises da pesquisa coloco a pr tica pedag gica na sua rela o com as circunst ncias f sicas e humanas que se movimentam no cotidiano das professoras e remetem aos tra os que especificam o ato de criar um deslocamento docente uma voz que tamb m a do livro did tico mas impressa pela linguagem das professoras 39 Trabalho aqui com os conceitos de Certeau 2008 Chamo de estrat gia o c lculo ou a manipula o das rela es de for as que se torna poss vel a partir do momento em que um sujeito de querer e poder pode ser isolado A estrat gia postula um lugar suscet vel de ser circunscrito como algo pr prio e ser a base de onde se podem gerir as rela es com uma exterioridade de alvos ou amea a p 99 chamo de t tica a a o calculada que determinada pela aus ncia de um pr prio A t tica n o tem por lugar sen o o do outro a t tica movimento dentro do campo de vis o do inimigo e n espa o por ele controlado p 100 139 3 2 Professoras e livros did ticos a constru o dial gica da autoria A gente acaba reescrevendo os livros que usamos N o est registrado mas a cada mudan a de atividade a cada adapta o de um texto escrevemos um livro a partir do livro did tico porque s assim conseguimos trabalhar e ter melhores resultados Professora Flor Esse eixo de
229. oleta de dados A intera o com o sujeito pesquisado durante a entrevista essencial para que o mesmo se sinta seguro e a vontade para falar Em etnografia comumente se realizam entrevistas abertas que acontecem de maneira informal sem um roteiro r gido pr estabelecido permitindo assim o depoimento espont neo do entrevistado Na investiga o optei por fazer entrevistas interativas reflexivas envolvendo o coletivo das professoras e inicialmente foi previsto utiliza o de aulas filmadas anteriormente como elemento provocativo do olhar das professoras para suas pr prias pr ticas com o livro did tico Com as incurs es etnogr ficas fui percebendo que a filmagem tornara se invi vel por conta da total dispers o dos alunos quando estavam diante da m quina A primeira experi ncia me rendeu uma aula n o dada entre tumultos poses e a ansiedade dos alunos que queriam ser filmados e verem por tr s da c mera Em conversa e acordo com as professoras a filmagem das aulas foi descartada Passei ent o a planejar outros recortes que possibilitariam uma microan lise das suas pr ticas Os recortes foram das aulas observadas referente a 2 Especifica um evento ou parte dele e o contextualiza como um todo holisticamente No projeto previ a filmagem das aulas mas por conta de uma euforia por parte dos alunos na primeira experi ncia com 51 alguma forma de uso do livro did tico e isso me deu a possibilidade de realizar microa
230. ompreendermos a escola e suas rela es necess rio antes uma compreens o do seu entorno cultural As fotografias tiradas da comunidade foram feitas a partir dos aspectos que os moradores dentro e fora da escola traziam em suas falas nos momentos de conversas e andan as etnogr ficas A diferen a das casas e de como j melhorou a estrutura ultimamente a import ncia da constru o do muro do cemit rio as aquisi es que facilitam suas vidas como os orelh es os espa os de lazer e at suas falas de nega o ao descuido de muitos moradores com o espa o o que est expresso no criat rio dos porcos e no ac mulo de lixo na pequena parte de caatinga que liga a comunidade loagoa O segundo conjunto exposto das p ginas 172 193 comp e se da 12 51 foto Nesse conjunto de forma intencional trago o primeiro quadro de rela o que come a com o entreabrir da escola at o escancarar dela para alunos e seus acontecimentos com outros agentes fora da sala de aula 12 foto 21 foto O segundo quadro traz o movimento das professoras desde a chegada at suas din micas em sala de aula fotos 22 27 O terceiro quadro traz mediante o movimento pedag gico dos usos do livro did tico os alunos em intera o com situa es externas escola fotos 28 29 situa es externa sala como o recreio que constitui um dos momentos de maior expressividade dos alunos fotos 3 36 e o livro did tic
231. onhecimento e apresenta o do conte do trabalhado Em todos os epis dios os variados instrumentos s o utilizados como um percurso para a apropria o e compreens o dos conte dos por parte dos alunos O primeiro instrumento vem com o intuito de aproximar o aluno do conte do o segundo instrumento prop e a explora o para aprofundamento do conte do em outras reas do conhecimento e o terceiro quarto ou at o quinto agu am as formas de representa o releitura dos conte dos verificando assim de forma sutil o grau de apreens o e compreens o do conte do e de como este virou conhecimento ou seja enatuado no n vel do afeto e do intelecto dos alunos Em todos os epis dios analisados t m uma presen a grande do livro did tico das diversas reas do conhecimento A proposi o de explorar outros livros de outras disciplinas interessante para possibilitar uma interrela o daquilo que aprendido nas diversas contextualidades A bricolagem nesses epis dios o pr prio acontecimento que possibilita mediante a arte de fazer das professoras uma pr tica viva da sala de aula uma pr tica viva do livro did tico que pelo improviso ou planejamento pelo imprevisto ou controle se remodela encontra sentido no que est s m os Essa a alquimia das professoras no exerc cio da 106 bricolagem vivificar uma estrutura que funciona voltada para dentro l dica complexa e rigorosa BERRY 2007 p 123
232. onomia por conta das pr prias indica es gerais do PNLD FNDE que n o levam em conta as especificidades de cada lugar escola e regi o Essa constata o aponta como problematiza o dos resultados a necessidade de uma pol tica de descentraliza o da produ o avalia o e aquisi o estendida s outras regi es que tamb m constituem o Pa s A produ o a avalia o e a escolha dos livros did ticos ao ecoarem as diversas realidades que constituem o nosso Pa s indiretamente poder o estar qualificando 197 tamb m a rela o do professor com o livro e consegientemente a dos alunos com os professores os livros e a escola Tornar a escola e seus professores protagonistas de suas escolhas autoriza los a fazer e ser parte do projeto pedag gico e de vida dos alunos O livro did tico aparece nas narrativas das professoras como potencializador de conhecimento Conhecimento este enquanto produ o e altera o de sentidos que s o provocados quando mobilizam os saberes do cotidiano e as novas descobertas de um conhecimento mais sitematizado Mesmo considerando que muitos conte dos est o equivocados as professoras credibilizam o livro como instrumento potencializador de conhecimento observando que muitas vezes s o os nicos meios dos alunos terem acesso a outros conhecimentos por estarem distante da sede e a escola e comunidade ainda n o disporem de biblioteca ou outros espa os de pesquisa como as lan houses Os dive
233. oram interagindo Agora vamos ler a p gina 45 Do outro lado da que voc s est o lendo Falou isso porque algumas crian as estavam folheando no sentido contr rio da leitura 45 45 45 45 45 Novamente eles repetem como um exerc cio de fixa o Sempre que a professora lia uma palavra que era conhecida deles eles faziam coment rios em algumas palavras a professora seguia a leitura sem interrup es mas em outras palavras quando eles se manifestavam ela estabelecia uma liga o do que eles diziam com o que o texto estava a dizer JULINA Juliana MARISA PEL AFODTE Afrodite JOS Alguns nomes foram escritos faltando letras e a Professora pede que eles leiam o que est escrito no quadro V o lendo sem nenhuma sincronia o que provoca um ru do ensurdecedor A Professora conta de 1 at 3 para que a ordem se estabele a Esse um acordo de conviv ncia estabelecido entre eles especialmente que quando est o bagun ando muito de modo que o 3 o limite para se ordenarem Recuperada a ordem a professora retoma a cena Sentiram falta de alguma coisa nos nomes Engoliram letras Ta feio Ta errado N o n o est errado meninos apenas algumas letras faltaram mas algu m pode vir no quadro escrever o que faltou 114 Eu Vem D Z Pr ximo de mim Z diz que as casas tamb m t m nome a dela casa de tijolo 2 2 e a de alguns coleguinhas ca
234. ordem prescrita que tamb m alterada j pelas professoras O escapolir uma contra ordem que os 146 alunos encontram para descobrir o pr prio livro que ao tempo que parece denso e infinito no aspecto do sentido filtrado pelos olhos de Patativa e dos alunos da Escola Jos de Amorim cabe em seis meses ou em sens veis escapolidas cotidianas O segundo fragmento do texto de Mary Julia Martins Dietzsch 1996 p 41 42 Alice por exemplo a personagem de Lewis Carroll expressa sua opini o a respeito do que deveriam ser os livros infantis Em uma tarde sem ter o que fazer tenta vencer o t dio dando uma espiadela no livro que sua irm maior est lendo Logo desiste se perguntando What is the use of a book without pictures or conversations Para que serve um livro sem falas e sem gravuras Desiste do livro e embarca na toca de um coelho rumo ao Pa s das Maravilhas Carrol 1975 Livre para sonhar longe da certeza adulta faz da aventura um aprendizado Percorre caminhos fant sticos que se reinauguram cada dia na leitura daqueles que est o dispostos a brincar com palavras e a se divertir com o nonsense Ao sentir falta de falas no livro da irm Alice poderia estar pensando em um texto que expressasse as intera es cotidianas uma representa o da oralidade espont nea que explora e transfigura a palavra nos jogos da inf ncia Um livro interativo que falasse e ouvisse o outro que desse vozes e asas imagina o
235. orias em experi ncias e em elementos contextuais para justificar as tomadas de decis o na gest o em sala de aula Outra contribui o te rica importante para compreens o da pr tica das professoras decorre dos estudos de Pimenta 1995 que refere ao trabalho docente em sua natureza que ensinar como contribui o ao processo de humaniza o dos alunos historicamente situados A a o docente se afirma por um conjunto de comportamentos conhecimentos destrezas atitudes e valores que constituem a especificidade de cada professora A pr tica pedag gica que integra o campo desta investiga o constitui se como uma a o complexa que n o se limita apenas quest o da instru o mas envolve dimens es individuais e coletivas que contribuem para a forma o da personalidade do esp rito cr tico e 90 pol tico dos indiv duos Envolve pois um cont nuo movimento entre pensamento e a o sujeito e conhecimento objetividade e subjetividade entrela ados para a constru o da pr tica pedag gica coletiva para que esta no seu acontecer expresse sentido para professoras alunos gestores e para a pr pria comunidade no entorno da escola E nesse cen rio de di logos te ricos que possibilita a compreens o do cotidiano da pr tica pedag gica que o meu olhar atravessado pelos olhares das professoras dos primeiros anos do Ensino Fundamental da Escola Jos de Amorim se transmuta em linguagem para revelar os diversos u
236. orma o j n o sabe mais dar conta do que o texto trata e isso desestimula a leitura porque ele perde o interesse de conhecer o que est contido ali ou nem se quer percebe se o conhecimento que est vendo importante ou n o porque as muitas informa es acabam mascarando o que importante Professora M As professoras criticam esse formato dizendo que muitas vezes os textos em vez de explicar acabam complicando pelo vasto teor de informa o na tentativa de simplificarem quest es complexas com informa es sem sentido acabam por privar os alunos de uma intera o mais reflexiva e cr tica sobre o conhecimento cient fico Mas ao mesmo tempo tamb m dizem que muitas coisas os alunos principalmente os das escolas do interior campo conhecem via livro did tico como o exemplo da Professora D que trabalhou a leitura de 28 s EA z r Essa narrativa foi nos feita pela Professora M a professora que iniciou a pesquisa mas foi transferida para sede para trabalhar com Educa o Inclusiva mas realizamos algumas observa es de suas aulas e tivemos acesso alguns escritos do seu di rio 82 imagem do livro did tico de Portugu s A imagem era do mar Muitos n o todos os alunos estavam vendo o mar pela primeira vez ali no livro did tico Professora D Na hora de falarem de suas leituras muitos relataram a beleza do mar a vontade de conhecer o mar fora do papel tomar banho de mar Ap s lerem a imagem
237. ormes Depois do recreio vamos corrigir certo Fala a professora Certo Falam todos A sirene tocou e Z diz que essa sirene t dizendo que a merenda j est pronta e que j vai dar pra o prezinho e depois para eles Depois da merenda e das brincadeiras retornam euf ricos para a sala A Professora espera uns minutos at que o recreio saia deles Lembram que trabalhamos na aula passada a ortografia do LH 115 Sim Alguns respondem Hoje vamos trabalhar o NH E a lista n o vai corrigir Retruca Z j com o caderno em m os Vamos a partir dos nomes da lista que vamos relembrar o LH e conhecer o NH Ah sim Se conforma Z Os alunos v o dizendo os nomes que escreveram e a Professora vai escrevendo no quadro e pede para eles observarem se a escrita dela est igual a deles TAMPINHA VELEIRO ARM RIO PICARETA CARRINHO CASA BIGORNA BOLINHA FILHO Filho coisa Pergunta a Professora N o gente Diz F gente professora Pergunta L que escreveu filho como coisa crian a Diz K gente pode ser crian a ou adulto mas n o coisa normalmente o nome Filho atribu do a algu m que tem o mesmo nome do pai ou usado para chamar meu filho o filho de fulano A partir das palavras retiradas do texto que tinham a grafia com NH a Professora foi trabalhando as regras da escrita usando NH e pediu para eles verem se na escrita dos nomes deles tinha alguma palavra e
238. os superados ou pelo tempo ou pelo avan o educacional do estudante Na literatura encontramos autores que denunciam com quest es b sicas a produ o do livro did tico no Brasil em rela o aos seus escritores 67 Algumas indaga es s o inevit veis Estariam nossos primeiros autores motivados pelas vantagens financeiras que a empreitada poderia oferecer ou seriam outros os motivos que os levaram realiza o de um trabalho intelectual considerado inferior na hierarquia da produ o do conhecimento BITTENCOURT 2004 p 479 Nos estudos da autora averiguei que muitos intelectuais e autores de livros did ticos n o foram reconhecidos mesmo tendo capacita es devido a esse preconceito quanto a literatura destinada escolariza o At 1950 os livros davam nfase a conte dos voltados ao padr o social Com o Golpe Militar o Brasil se calava e os materiais did ticos proferiam e profanavam as conveni ncias da ditadura Nesse per odo constatam se os prim rdios da decad ncia do ensino p blico no pa s Na d cada de 70 foi lan ado pelo Minist rio da Educa o e Cultura e pela COLTED o livro intitulado Utiliza o do Livro Did tico o que ocasiona a pol tica de distribui o do livro did tico para todo o territ rio brasileiro Convencido o Governo Brasileiro da import ncia do livro e em especial do livro did tico como instrumento b sico para melhorar o rendimento escolar que fundamento de uma ve
239. os comportamentos dos sujeitos a unidades pass veis de tabula o e mensura o sem levar em considera o o contexto social mais amplo em que se situavam ou seja a teia cultural existente no contexto hol stico da escola De acordo com Andr 1997 essa abordagem contribuiu pouco para a compreens o dos fen menos envolvidos no processo de ensino aprendizagem propriamente dito Como alternativa metodol gica a etnografia nas investiga es qualitativas nas ci ncias humanas iniciou um crescente di logo com a antropologia o que possibilitou uma compreens o mais refinada das pr ticas pedag gicas realizadas dentro de determinada realidade social porque o fen meno pode ser visto de dentro de sua manifesta o Por seguir protocolos menos normatizados a etnografia se tornou um importante referencial metodol gico para pesquisas da realidade escolar preocupadas com a compreens o dos processos envolvidos no cotidiano dessas institui es ANDR 1995 1997 A etnografia tamb m conhecida como pesquisa social interpretativa ou anal tica e tem como maior preocupa o a descri o densa das a es e rela es dos atores sociais pertencentes ao grupo investigado GEERTZ 2011 A mesma comporta e combina diferentes t cnicas para a coleta de dados a saber a observa o participante a realiza o de entrevistas a an lise de documentos produ o do pr prio grupo pesquisado contando ainda com a sensibilidade da imagem
240. os dos nossos desconhecimentos tecnol gicos Suely e Fernanda pelo apoio quando preciso As colegas das outras turmas que passaram e ficaram no meu carinho e mem ria Mesmo sem rima essa poesia de gente escorrega por mim e traz enfeites de alegria para a minha alma caleidosc pica o resto de palavras de agradecer v o nas asas das borboletas e fazem se luz bal o s para alcan ar todos e todas que circulam pelas dimens es dos meus afetos Muito obrigada PEREIRA Vanderl a Andrade O livro did tico no cotidiano da pr tica pedag gica de professoras usos que se revelam no Semi rido Brasileiro 2012 214 f Disserta o Mestrado em Educa o Programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade Federal do Piau Teresina 2012 RESUMO A educa o brasileira e principalmente a educa o na regi o semi rida como agregadora de um conjunto vasto de sujeitos singulares e plurais vem ao longo da hist ria mediante a dissemina o de pesquisas acerca dos processos educacionais tentando romper as narrativas hegem nicas que desde a coloniza o est o vinculadas a resqu cios de uma pol tica colonizadora que ainda hoje reflete nos modos curriculares e principalmente nos livros did ticos que fazem parte da pr tica docente nas escolas p blicas Na tentativa de romper com as narrativas que trazem a hist ria fora dos sujeitos as verdades de poucos na rela o de ensino e aprendizagem a pesquisa que tem por prob
241. os param para descansar a m o e outros v o lentamente copiando ainda as quest es Por conta do tempo a Professora j vai escrevendo no quadro o Para Casa Assim a aula termina no arrastado das horas No momento em que fazem a atividade diretamente do livro sem uma interven o mais direta da professora os alunos demonstram um desinteresse pela aula e pelo conte do criam estrat gias de dispersar e passar o tempo o que prova que a media o did tica s se concretiza quando a professora marca sua presen a entre os est mulos o objeto de conhecimento e os alunos A voz da professora no sentido da presen a criativa que foi identificada no primeiro momento quando da Media o de natureza cr tica fundamental para garantir o avan o cognitivo da classe Meier e Garcia 2007 j afirmam que n o basta estar mergulhado em contextos ricos de est mulos necess rio que entre os est mulos e os organismos dos indiv duos mediados surja um mediador que intencionalmente e n o arbitr ria ou esporadicamente atue nas estruturas cognitivas Nesse epis dio a Professora tamb m realiza as duas formas de media o did tica no primeiro momento a de Natureza cr tica e no segundo momento da aula a de natureza mec nica 127 No percurso da pesquisa constatei o compromisso das professoras no desempenho de suas fun es Mesmo com as necessidades referentes a materiais did ticos de apoio para o ensino as professoras no espa
242. os que habitam a escola acabam por ser naturalmente construidoras de pertencimentos e identidades 1 1 A op o pela etnografia como m todo da investiga o aproxima es com o termo em contextos hist rico cultural e de significa o A palavra etnografia foi cunhada no fim do s culo XIX para caracterizar cientificamente narrativas e relatos realizados por viajantes sobre os povos n o ocidentais O termo vem do grego graf o e significa escrever sobre um tipo social particular um etn o Pode ser definida portanto como a escrita sobre sujeitos seus comportamentos ou determinados grupos sociais com o objetivo de compreender a cultura as rela es simb licas e mat rias estabelecidas no interior de um grupo ou entre grupos sociais Os primeiros estudos etnogr ficos foram realizados por antrop logos preocupados em compreender sociedades desconhecidas e sua cultura h bitos valores linguagens representa es cren as a partir das intera es estabelecidas pelos sujeitos que a Z compunham E com os estudos etnogr ficos de Franz Boas 1858 1942 e Malinowski 1884 1942 que as pesquisas passaram buscar a compreens o da sociedade sob o ponto de vista das pessoas que nela vivem porque a partir da a cultura passa a ser vista de dentro de sua manifesta o LAPLANTINE 2004 N o suficiente fazer perguntas necess rio observar o que as pessoas fazem as ferramentas que util
243. p es por outros mat rias auxiliares pelas bricolagens media es aceita o ou transgress o das prescri es A triangula o dos dados constru dos pelas observa es entrevistas e narrativas nos di rios possibilita uma visualiza o dessas artes de fazer como uma tessitura de fios que v o se desencadeando propor o que as professoras v o tecendo suas pr ticas e seus di logos com o livro did tico Suas pr ticas mesmo em muitas vezes estancando em formas lineares de fazer s o reiventadas em um n o lugar que habita na aceita o e na nega o do livro did tico Chamo de n o lugar porque n o o lugar comum das narrativas oficiais orientadas pela pol tica educacional nas esferas nacional estadual e municipal N o lugar porque o l cus das inven es pr prias das professoras o v o entre o que a est posto e o que modificado a partir da a o Nesse sentido as professoras se desterritorializam oscilando em um n o lugar 138 entre o que inventam e o que modificam Ora efetivamente como o ca ador na floresta ele tem o escrito vista descobre uma pista ri faz golpes ou ent o como jogador deixa se prender a CERTEAU 2008 p 269 No exerc cio da busca de outros materiais alem do livro da pr tica da bricolagem das media es did ticas fossem de natureza mec nica ou cr tica e da legitima o ou recria o das prescri es metodol gicas as professoras metaforizavam
244. para o n vel de desenvolvimento dos alunos e para expressar suas realidades as professoras conforme suas falas adotam outros livros did ticos pois segundo elas estes livros s o mais condizentes com as realidades dos alunos E acrescentam que d o mais oportunidades de aprendizagens criativas e prazerosas As professoras fazem cr ticas aos livros adotados pelo sistema municipal mas consideram importante a ado o de livros porque facilita o contato dos alunos com os conte dos o que refor a a acep o de que dentre a variedade de livros existentes todos podem ter e efetivamente t m papel importante na escola LAJOLO 1996 p 03 A fala da Professora R explicita a ado o dos instrumentos did ticos como complemento ao livro did tico adotado oficialmente Sabendo que o livro did tico agora adotado n o se faz suficiente para realizarmos um bom trabalho usamos tamb m outras cole es No meu caso especificamente uso as seguintes cole es Escola em a o Para Casa ou para Sala Fazendo arte na escola Arte no Cotidiano escolar Comemorando com Projetos Teleco Teco Descobrindo a Inf ncia Feliz Al m desses uso outras que me s o emprestadas pelas colegas Estas cole es tem um pre o n o agrad vel por m s o indispens veis para o nosso trabalho sendo assim pensamos no xito daquilo que fazemos e gostamos de fazer ensinar 33 Du A s oera O termo adotado utilizado ao tratar da
245. para orientar o di logo interno e externo sala de aula Normalmente quando alguma parte do acordo infringida por algum aluno os pais ou respons veis s o convidados a comparecer na escola para conversar pois como sempre dizem o Diretor e a Coordenadora Pedag gica a fam lia n o pode se afastar da vida do aluno e preciso parceria entre a escola e fam lia para garantir o funcionamento dos processos educativos A escola um espa o social nela ocorrem movimentos que no dia a dia criam e recriam significados A escola Jos de Amorim traz aos meus olhos uma pluralidade de linguagens que produzem e s o produzidas pelos significados que v o se tecendo por isso ela a escola configura se como um terreno cultural numa dinamicidade que mesmo estando parada n o est tica repetitiva e acomodada Como ilustra o da escola enquanto terreno cultural de cria o e recria o de significados destacamos um trecho da descri o sobre o recreio P s se entrecuzam para chegar Parecem estar em liberdade das quatro paredes Gritos correria pega pega arrasta bate m os e as brincadeiras se misturam ao amarelo do cuscuz O menino empaca na fila n o quer o copo rosa a fila reclama para andar mas a m o direita do menino rejeita o copo rosa enquanto a esquerda espera o prato de cuscuz Um prato amarelo A merendeira insiste e a m o recua e a voz brada eu sou homem A fila reclama at que o copo azul aparece e
246. parecer Nesse sentido me v m um contentamento por saber que a poesia a poeira e o sol do Semi rido s s o composi es belas porque n o foram ainda enquadradas no livro did tico e isso provoca quem usa esse artefato cultural compor suas pr prias poesias poeiras e s is dos espa os que habitam Agora nas andan as etnogr ficas do olhar na pesquisa me encontro pela terceira vez com o Semi rido que habito Dessa vez esse espa o n o residia mais nas minhas subjetividades da inf ncia e nem nos contornos vazados do que eu queria ver nos livros estava ali aqui no espa o polimorfo de uma escola que n o era s livro era tamb m gentes Nesse encontro poesia poeira e sol ganharam outros contornos e sem nticas Agora o espa o n o se configurava t o somente como o da descoberta da inf ncia ou o da produ o de livros did ticos mas tamb m o espa o com outras vozes que me falavam professoras livro did tico e alunos numa configura o concreta de viv ncias Pelo olhar espanto e encantamento habitam outro Semi rido em mim Na interface dos meus encontros com o espa o Semi rido e a pesquisa este cap tulo traz tessituras acerca da educa o contextualizada a partir das leituras etnogr ficas da experi ncia das professoras e alunos com o livro did tico na Escola Jos de Amorim 4 1 O livro did tico no texto e no contexto da educa o no Semi rido Brasileiro O livro did tico LD como j dito no decorrer dessa
247. participa o da comunidade nos processos de gest o administrativa e pedag gica das escolas no aspecto da produ o avalia o e consumo de materiais paradid ticos e livros did ticos Contextualizar a educa o significa situa la em todas as inst ncias que se movimentam dentro e fora da escola dentro e fora dos sujeitos nas mais diversas polissemias que atribuem ao mundo ao se educarem Contextualizar construir sujeitos conectivos com o mundo com as coisas com as inven es tecnol gicas e com as humanidades na perspectiva de que educamo nos aprendendo a pronunciar o mundo a nome lo Aprendemos pelas cores e pelas formas pelas texturas pelos cheiros e sabores pela rudez de certas palavras pelo afago de outras MARTINS 2010 p 136 O contexto local deve se projetar como o ponto de partida de conectividade com outros contextos globais e como ponto de chegada para a constru o de saberes e conhecimentos vazados multidimensionalmente e n o mais s localizados e enclausurados nas realidades locais e formais como algumas vozes ainda ressoam no Semi rido Brasileiro O contexto local como ponto de partida conectividade e chegada para a contextualiza o dos saberes emp ricos e cient ficos uma forma de Assegurar que os saberes n o se restrinjam somente ao mbito dos conhecimentos escolares mas que esses se ampliem para os conhecimentos de natureza intelectual afetiva emocional pr tica est tica cultu
248. pas de execu o do PNLD A execu o do PNLD ensino fundamental regular e do PNLD ensino m dio regular e EJA segue 12 passos 22 1 Ades o que constitui num documento formal por parte dos sistemas de ensino manifestando o desejo de participar dos programas de material did tico 2 Editais trata da publica o em Di rio Oficial da Uni o das regras para inscri o do livro did tico 3 Inscri o das editoras Inscri o por parte das empresas detentoras de direitos autorais da obras 4 Triagem Avalia o Encaminhamento das obras para a Secretaria de Educa o B sica SEB MEC para serem submetidas a uma avalia o Livros de alfabetiza o 2 Chamamos de card pio por nele constar os t tulos aprovados pelo MEC contendo em cada obra uma sinopse de sua composi o que segundo as professoras n o d subs dios para conhecer o livro 2 As etapas est o escritas na ntegra conforme o texto do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa o dispon vel em http www fnde gov br index php pnld pnid e pnlem 70 pedag gica conforme os crit rios constantes no edital de inscri o Mediante essa avalia o os especialistas elaboram as resenhas dos livros aprovados que passam a compor o guia de livros did ticos 5 Guia do livro Traz as resenhas dos livros e orienta es para a escolha dos livros 6 Escolha Mediante a consulta do Guia professores e gestores analisam e escolhem os livros a
249. pelas vozes dos alunos que tamb m criam estrat gias de di logo e uso do livro did tico Considerando as adversidades das condi es pedag gicas circunscritas no contexto da pr tica das professoras como as defici ncias na forma o a inexist ncia de materiais did ticos e paradid ticos a pr pria estrutura f sica da escola a pesquisa mostra que no cotidiano da pr tica pedag gica as professoras reiventam contextualiza es entrela am o texto do livro com os diversos contextos dos alunos e produzem outras visibilidades e dizibilidades na feitura na concretiza o da aula e na implementa o da educa o do Semi rido Brasileiro Dizibilidades essas que trazem outras inquieta es que apontam para a necessidade da uma reorganiza o geral dos processos educativos praticados no Semi rido Para come ar de suma import ncia rever os curr culos de forma o dos professores das s ries iniciais e colocar no entremeio desses curr culos quest es referentes ao uso cr tico do livro did tico Todos os estudos no mbito do livro did tico apontam para a import ncia desse instrumento e como ele ocupa um lugar central na pr tica de professores diante disso a forma o inicial n o pode negar um lugar para essas reflex es Outro ponto de reorganiza o a proposi o de pol ticas de descentraliza o da produ o dos livros did ticos Diante das novas narrativas que trazem a busca da qualidade da educa o atrelada a uma
250. pl sticos na sala enquanto espera ser usado manipulado explorado o livro did tico fica poetizando sua in rcia at os alunos do pr ximo turno chegarem As fileiras da frente s o os livros dos alunos que n o levam para casa As fileiras que ficam atr s s o livros que nunca foram usados porque s o de anos anteriores Antes da professora entrar uma foto descontra da Essa foi uma das poucas vezes que retornam do recreio e se acomodam na sala de aula com alegria Passada a foto se organizam para a atividade com o livro did tico de Portugu s No final da aula olharam o resultado da foto e gostaram 188 O livro did tico n o consum vel sempre estava atrelado ao caderno nos momentos de usos A leitura era no livro mas as atividades tem que ser no caderno Ao abrir o livro did tico os alunos tamb m abriam os cadernos Essa j era uma a o autom tica quando pegavam o livro j estava junto o caderno Foto 42 Vanderl a Andrade Pereira Em grupo parece que a atividade no livro did tico de matem tica mais animada Cada um resolve duas e quando terminar faz junto as que faltar indicativo que no come o gerou pol mica para distribuir as quest es Na mesa da Professora entre zangas e acordos a atividade foi conclu da 189 D termina sua atividade primeiro e na visita s carteiras dos colegas que ainda concluem a atividade conta algumas hist
251. pol ticas generalizadas dos munic pios o papel das professoras nesse processo um fator de decis o porque medida que escolhem mesmo no processo mais interno da escola o olhar delas que a escolha representa s o suas pr prias convic es e conhecimentos de realidade que est o em voga Segundo a Professora D A 24 PS pel z n Esse aspecto foi identificado n o porque realizamos um aprofundamento nos conte dos dos livros visto que n o nosso objeto de estudo mas nas falas das professoras que os manuseiam 74 escolha do livro did tico muito importante e de extrema responsabilidade porque a gente vai estar decidindo sobre um interlocutor que estar conversando conosco durante o ano letivo e que vai permanecer na escola por mais tr s anos Na fala da professora D percebe se o valor da decis o para as professoras considerando que elas v o dialogar com o livro escolhido durante tr s anos Da a necessidade de ser realmente uma escolha respons vel cuidadosa e at diria sens vel para n o correr o risco de estar convivendo por longos dias com um artefato auxiliar indesej vel O que se precisa questionar justamente a generaliza o da escolha que ao designar uma predile o por munic pio acaba por desconsiderar os projetos de cada escola suas realidades urbanas e rurais e ainda as reais necessidades dos alunos dentro dos seus limites e potencialidades De fato quando me aproximei da rea
252. pr tica de contextualiza o torna se inadmiss vel que sejam ainda veiculados nas escolas do Semi rido livros produzidos com os olhos sudestinos Mesmo considerando que nunca vai ser poss vel trazer o Semi rido na sua totalidade em um livro did tico mas a produ o local pode ao menos proporcionar que algumas vozes at ent o silenciadas sejam propagadas e provoquem a entona o de outras tantas que povoam cada canto dessa regi o 200 Na reorganiza o proposta a partir dos resultados da pesquisa cabe uma an lise profunda sobre os custos dos livros did ticos e a potencializa o do seu uso Assim como na Escola pesquisada em outras tantas escolas livros se amontoam em carteiras por falta de uso e o n o uso atribu do pela desautoriza o da escolha dos professores e da escola porque a escolha acaba homogeneizando as diversidades que comp em cada cultura e projeto pedag gico das escolas Nesse contexto faz se necess rio pensar o n o consum vel por tri nio pois se o aluno diante de um livro novo j n o se sente apetecido para abri lo porque tem que transp lo para o caderno imagine o aluno que recebe esse livro com marcas de uso com marcas de maltratos orelhado esfacelado e ainda tendo que apagar algumas grafias N o obstante a presen a desses aspectos que em algum momento podem soar como negativos ou s apenas desencantadores os resultados da pesquisa assinalam praticas positivas com o livro did tico
253. pr ticas docentes uma curiosidade que a maior parte dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental tinha como nico e principal instrumento das suas pr ticas o livro did tico sendo este o elemento central de suas constru es di rias diante de sua realidade de ser professor com uma jornada ampla de trabalho muitas vezes em mais de uma escola Confirma se desse modo o que preconiza Faria 1984 p 41 o professor espera do livro did tico saber o que n o sabe transfere responsabilidades que at ent o s o suas porque o livro did tico n o serve como professor e os alunos n o aprendem por si s substitui sua falta de conhecimento atribuindo ao autor do livro o saber e com o livro did tico o professor economiza tempo no preparo das aulas pois na maioria dos casos os professores s o sobrecarregados de horas aula Diante dessas constata es nos detivemos a estudar os livros que orientavam a pr tica desses professores Em geral traziam conhecimentos fragmentados pela pr pria falta 19 de sentido um retrato do Nordeste que estudava da primeira ltima unidade realidades do Sul e do Sudeste estampadas nas p ginas dos livros did ticos Nessas incurs es detectamos por exemplo que os alunos aprendem conceitos via livro did tico que este em geral perpassa ideologias culturalmente impostas e que algumas se propagam de maneira a inculcar valores preconceitos que os alunos inconscientemente
254. r mais pr ximo das leituras de outras m dias que j fazem parte dos processos pedag gicos Na escola Jos da Amorim por exemplo existem v rios materiais paradid ticos como livretos document rios que foram produzidos a partir de projetos de pesquisas nas pr prias comunidades e esse tipo de texto n o encontra lugar nos livros adotados pelo Munic pio n o encontra espa o para as professoras estabelecerem o di logo entre os 75 materiais produzidos e os livros H sempre uma impress o que o livro did tico traz conhecimentos que descredibiliza os saberes constru dos localmente A escolha e a avalia o dos livros did ticos alcan ando olhares que se aproximam das diversas realidades que constituem o nosso Pa s indiretamente poder o estar qualificando tamb m a rela o do professor com o livro e conseq entemente a dos alunos com os professores os livros e a escola A escolha e uso dos livros did ticos carecem ser um exerc cio consciente que implica saber o que se quer e de que forma os livros postos no card pio guia contribuir o para se alcan ar o que se quer um exerc cio que envolve uma coletividade e posso arriscar a mexericar que est na hora das pol ticas do PNLD se preocuparem em descentralizar tamb m a distribui o em vez de ser um t tulo por munic pio garantir a autonomia das escolas principalmente as do interior campo em escolher e receber os livros que melhor dialogam com as neces
255. ra casa sim Agora vamos trabalhar Portugu s A Professora divide o quadro em tr s partes cada parte destinada a um grupo de acordo com o n vel de leitura e escrita O primeiro grupo a atividade foi de forma o de palavras com s labas o segundo grupo a forma o de frases com as palavras e o terceiro grupo a produ o de uma hist ria Passa um helic ptero vermelho e eles correm para a janela para ver Deduzem que um helic ptero do bombeiro Passado o helic ptero voltaram a atividade Alguns folheiam o livro procurando palavras A professora mediante o n vel de desenvolvimento de cada aluno vai mediando as atividades passando de um momento de produ o pessoal para sondar o que eles j fazem sozinhos sem o auxilio de livro did tico ou outro material e aumentando a intensidade da produ o a partir do auxilio do livro Complementando a atividade peguem o livro de Portugu s O terceiro grupo vai fazer uma pesquisa no livro de palavras com nh ch Lh o segundo grupo vai procurar uma hist ria e contar e o primeiro tamb m s que em tamanho menor Passado o tempo de feitura da atividade os grupos socializaram as palavras e as hist rias e a Professora comenta que eles est o melhorando na unidade passada uma atividade como essa levava quase duas horas e agora s levou 40 minutos Eles ficam empolgados e solicitam mais coisa para fazer A media o da professora mesmo n o apresentando uma diversifica
256. ra seguirem o m todo de alfabetiza o que achassem melhor Come a assim a difus o do m todo de alfabetiza o misto que unia o sint tico e o anal tico mais uma demanda para ser atendida pelos manuais did ticos Em 1928 Louren o Filho que foi um dos participantes do Movimento dos Pioneiros escreve a Cartilha do Povo baseada em m todos mistos e ecl ticos cuja 66 finalidade era medir o n vel de maturidade necess ria ao aprendizado da leitura e da escrita No ano de 1930 o Brasil entra na Segunda Rep blica e perdura at 1937 Os liberais amparados pela pedagogia da Escola Nova elaboraram o Manifesto dos Pioneiros da Educa o Nova defendendo uma escola laica gratuita e obrigat ria e de outro lado havia o anseio de unir liberais e cat licos tradicionais Come a ent o uma discuss o educacional entre aqueles que defendiam o ensino tradicional apoiados na aristocracia rural e na Igreja e os defensores da Escola Nova que trouxe reflex es sobre a educa o popular a partir desse momento que se cria no Estado brasileiro uma proposta de regulamenta o para a produ o e a distribui o de livros did ticos nas escolas Nessa poca se buscou desenvolver no Brasil uma pol tica educacional consciente progressista com pretens es democr ticas e aspirando a um embasamento cient fico FREITAG et al 1993 p 12 Foi nessa poca pois que se consagrou o termo livro did tico entendido at os di
257. ral etc transmitidos e constru dos nas rela es dos educandos e educandas com e 158 nas diversas rela es e institui es de suas viv ncias Respeitando o lugar da escola da fam lia do trabalho dos amigos dos amores dos desejos dos sonhos da comunidade entre outros REIS PEREIRA 2006 p 58 O Semi rido presente no cotidiano das pr ticas pedag gicas das professoras traz outras poeiras poesias e s is para a sala de aula em alguns epis dios etnogr ficos de ensino pude perceber como existia vibra o de entusiasmo quando aspectos das realidades dos alunos emergiam nas falas das professoras nas suas media es did ticas e assim tamb m vibravam quando algo novo lhes era apresentado Nesses momentos foi percept vel o importante papel das professoras enquanto mediadoras da constru o de momentos que favore am e express o dos saberes pr vios dos alunos para a partir deles chegarem a conhecimentos mais elaborados e circunscritos numa dimens o dial gica entre o local e o global Enfim conforme Silva 2011 p 24 contextualizar implica problematizar o objeto em estudo a partir dos conte dos dos componentes curriculares fazendo a vincula o com a realidade situando os no contexto e retornando com um novo olhar Nesse aspecto a partir das leituras etnogr ficas a pr tica da contextualiza o mesmo apresentando algumas fragilidades decorrentes da pr pria forma o das professoras da estrutura f sica p
258. rana 1997 p 21 conhecer viver e viver conhecer e envolve um exerc cio de conhecer e desconhecer o que j est habituado aos olhos Conhecer como diria poeticamente Manuel de Barros desaprender oito horas por dia Ainda poetizando Manoel de Barros 2008 p 58 A gente descobre que o tamanho das coisas h de ser medido pela intimidade que temos com as coisas dizemos que o conhecimento um ato de intimidade de afetividade com o fen meno a ser conhecido ou desconhecido para novamente ser reconhecido de uma outra forma S o os nossos olhos atravessados pela intimidade do nosso ser que nos d o a conhecer que aproximam a Achadouros do Livro A primeira Inf ncia 84 estranheza de n s e nos permitem tornar tang vel aquilo que nos era oculto Quando a Professora Flor fala que a gente precisa amar para poder conhecer e os alunos s se permitem conhecer algo novo quando eles gostam do conte do quando eles se interessam pelo desconhecido refor a a quest o de que conhecer um ato de voli o MACEDO 2004 e est intrinsecamente ligado ao sentir Conhecer sentir est envolvido numa rede de conversa es MATURANA 1997 constitu da por linguageares e emocionares que na atividade de conhecer os sentidos produzidos ou alterados podem conduzir os alunos a v rios lugares para al m do espa o onde eles fincam seus p s para al m at dos muros da Escola Jos de Amorim CAP TULO III
259. rdadeira integra o nacional tornou se imperativo que esse livro alcan asse os alunos em todo territ rio brasileiro e possu sse caracter sticas que por seu conte do e apresenta o atendesse ao desenvolvimento f sico e social BR COLTED 1970 p 11 A COLTED extinta em 1971 ainda faz um relato dos aspectos que um bom livro did tico deve apresentar Aspectos tais como possuir uma capa de papel dur vel para resistir ao manuseio e com ilustra es atraentes para despertar a curiosidade do aluno Declara ainda que as imagens no conte do em si do livro devem estar relacionadas com o texto refletir a realidade esclarecer id ias e refor ar informa es Nesse mbito d se um destaque especial ao trato do professor no manuseio do livro did tico O governo em 1985 com o decreto n 91 542 proporcionou aos professores a possibilidade de escolher os livros que iriam trabalhar deixando claro que tais livros n o seriam mais descart veis passando um tempo de utiliza o de no m nimo tr s anos Na d cada de 90 houve um apelo por parte dos educadores pela volta dos livros did ticos O Minist rio da Educa o e do Desporto MEC criou em 1997 o Programa Nacional do livro Did tico PNLD que teria por objetivos 68 a contribuir para socializa o e universaliza o do ensino bem como para a melhoria de sua qualidade por meio da sele o aquisi o e distribui o de livros did ticos para todos os alunos mat
260. re o que fazem porque o que fazem mesmo que timidamente conseguiram dar inteligibilidade e perceberem nas suas escritas as lacunas e os recheios de suas pr ticas com o livro did tico Assim suas 50 narra es transformaram se em reflex es no campo pessoal e profissional como bem coloca a Professora Flor n o f cil escrever e escrever sobre voc e o que voc faz mais dif cil ainda Normalmente fazemos mas n o fazemos a mem ria n o trazemos para a escrita Escrevendo o di rio vemos a import ncia do registro e quando lemos o que escrevemos parece que tudo passa pela nossa cabe a a refletimos se o que fizemos foi realmente bom se quando planejamos e realizamos a aula usamos o livro did tico da forma como fazemos fez sentido para os nossos alunos e at pra gente mesmo como pessoa Imergi pelos escritos dos di rios que foram uma forma mais concreta da interioriza o nas significa es das pr prias professoras que atribu ram fala express o olhares aos seus pr prios modos de conversar amar ou odiar o livro did tico A escrita nos di rios provocou as professoras para o gosto do registro de seus fazeres docentes e em acordo os di rios no t rmino do processo da investiga o ser o devolvidos para que as professoras continuem suas escritas 1 4 2 3 Entrevistas interativas reflexivas de cunho coletivo Na pesquisa etnogr fica as entrevistas representam um importante instrumento de c
261. reencher esse conjunto A matem tica poderia contribuir para calcularmos n meros significativos buscando lgebras e express es num ricas que nos ajudassem a diminuir a mis ria e a somar a fartura na mesa e as alegrias na vida das pessoas que tamb m nos ajudassem a encontrar f rmulas de melhor viver e conviver no nosso ambiente geogr fico e cultural E preciso que a partir das prescri es do livro did tico outras narrativas sejam provocadas e entrelacem as diversas reas do conhecimento para que na hist ria geografia ci ncias portugu s matem tica e artes estejam presentes a cultura local com suas personagens e acontecimentos com suas capacidades de deslocamentos que possibilitem o aluno apreender os contextos de sua comunidade os biomas os her is as tecnologias de produ o e as pr prias rela es humanas que se movimentam no seu entorno ou seja ocasionar um deslocamento relativo ao papel a ser desempenhado pelo material impresso no qual repousam propostas curriculares MENDES SOBRINHO 2011 p 89 Essas quest es nos ligam s nossas pr ticas curriculares e nos possibilitam problematizar o sentido de nossa perten a no texto e no contexto dos espa os e tempos do ensinar e aprender na educa o do Semi rido 4 2 Descortinando nos achados a educa o contextualizada no Semi rido Brasileiro A partir do car ter pedag gico do pensamento freireano que d corpo a exist ncia humana no tocante a p
262. rela o das professoras com outros livros did ticos por considerar a pr pria fala das professoras que sempre fazem refer ncia ao livros que adoto os livros adotados por mim Mesmo n o sendo na oficialidade o termo legitima suas escolhas por isso a manuten o do termo na escrita 93 Os livros utilizados pelas professoras s o comprados com recursos pr prios e segundo elas s o muito caros mas mesmo assim adquirem para garantir que os alunos cheguem ao n vel objetivado pelo projeto da escola e pelos descritores relacionados a cada n vel de desenvolvimento do aluno por s rie e de acordo com cada rea do conhecimento Os descritores s o indicativos orientados pelo Minist rio da Educa o e cada munic pio faz as adapta es necess rias de acordo com seu projeto pedag gico de educa o nos diversos segmentos de ensino A Proposta Curricular do Munic pio preconiza o desenvolvimento de atividades pr ticas que explorem a criatividade dos alunos Diante dessas inten es as professoras questionam pois os livros que o pr prio Munic pio adotou para o sistema de ensino n o condizem com a proposta curricular municipal que se prop e desenvolver esse um dos motivos que levam as professoras a lan arem m o de outros livros como complemento ao livro did tico Essa compreens o est expressa na narrativa da Professora L Para desenvolver a proposta do Munic pio trabalho com atividades pr ticas jogos Uti
263. rem as p ginas das atividades orientadas pelas professoras A segunda forma de uso chamo de exist ncia de autoria Essa forma assinala a transgress o dos alunos prescri o do n o consum vel carimbado na capa do livro Mesmo n o podendo riscar responder as atividades no livro did tico observo que alguns alunos nas quatro salas observadas aproveitavam os espa os em branco como no come o e final do livro para escreverem frases desenharem figuras e fixarem adesivos que vinham no caderno Alguns alunos colocavam os adesivos no corpo do livro indicando suas rela es afetivas com o que estudaram Os adesivos traziam express es como importante f cil estudar conclu do n o esquecer fazer etc A exist ncia de autoria na interven o por meio do rabisco ou dos adesivos imprime o desejo dos alunos em consumirem o livro torna lo deles dialogar com seus conte dos de forma mais direta sem que isso representasse uma a o passiva de puni o Nesse sentido Certeau 2008 p 94 diz que Uma crian a ainda rabisca e suja o livro escolar mesmo que receba um castigo por esse crime a crian a ganha um espa o assina a sua exist ncia de autor Na rela o de autoria dos alunos frente a um produto n o consum vel a escrita nas mais diversas formas no livro did tico ainda considerada sujeira porque durante tr s anos o livro carece permanecer higienicamente intacto e ileso s m os e olhos dos alunos 40 E E e O u
264. riculados nas escolas das redes p blicas do ensino fundamental de todo o Pa s cadastrados no Censo Escolar b diminuir as desigualdades educacionais existentes buscando estabelecer padr o m nimo de qualidade pedag gica para os livros did ticos utilizados nas diferentes regi es do Pa s c possibilitar a participa o ativa e democr tica do professor no processo de sele o dos livros did ticos fornecendo subs dios para uma cr tica consciente dos t tulos a serem adotados no Programa e d promover a crescente melhoria f sica e pedag gica dos livros garantindo a sua utiliza o reutiliza o por tr s anos consecutivos BRASIL 2001 Para a implementa o do PNLD o governo estabeleceu duas formas de a o uma centralizada isto todas as a es relativas ao PNLD s o desenvolvidas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa o FNDE e outra descentralizada cabendo s Secretarias Estaduais de Educa o tanto gerenciar os recursos repassados pelo FNDE como responsabilizar se por todo o processo de execu o do Programa Nesse estado de governo do livro did tico at os dias atuais observa se que de um lado est o os agentes do MEC que legitimam o livro did tico determinando os t tulos que poder o ser utilizados nas aulas a partir de concep es de ensino generalizantes que for am uniformidade onde n o existe isto os crit rios para avalia o dos livros n o partem de diagn sticos regionais m
265. ro Francisco Alvez da Silva Castilho escreve e dedica aos professores o Manual explicativo do m todo de leitura O escritor alfabetizou crian as pobres passando depois a t cnica para a educa o de adultos Seu m todo era sint tico partindo inicialmente do alfabeto Iniciava com leitura coletiva depois individual seguindo para exerc cios escritos Com esse m todo tem se registro da alfabetiza o de muitas gera es de brasileiros 65 Em 1880 foi produzida a Cartilha Nacional de Hil rio Ribeiro que propunha um trabalho simult neo da leitura e da escrita lan ada tamb m a Cartilha da Inf ncia de Thomaz Galhardo que foi usada at 1980 mas n o exclusivamente A partir da Proclama o da Rep blica em 1889 o Brasil se deslumbrou no sonho de formar cidad os republicanos formado pela necessidade de impor e atender uma nova ordem pol tica e social Se existisse ordem o progresso seria inevit vel Essas mudan as que eram esperadas n o alteraram em nada para a maioria da popula o principalmente os mais desfavorecidos Nesse per odo a maioria da popula o era analfabeta Dessa classe faziam parte al m dos oper rios e agricultores os negros que ganharam suas cartas de alforria A alfabetiza o do povo s estava em pauta por conta do voto e tamb m s se limitava ao assinar o nome para votar nos candidatos escolhidos pelos coron is Nesse sentido a ordem se mant m mas o progresso da nova ve
266. rodu o de significado como pr tica de leitura de mundo e 157 consequentemente um exerc cio pol tico que implica tomada de consci ncia e a o dos atores no acontecimento de suas realidades concebo a educa o como din mica das pessoas no mundo e com o mundo a partir das suas experi ncias de vida entrela adas com as experi ncias de outros diversos que tamb m comp em essas realidades A educa o contextualizada ent o a dialogicidade entre as pessoas professoras e alunos como lugar praticado de sensibiliza o e produ o de significados gerado num movimento de busca e reconstru o de sentidos para o contexto de suas experi ncias de vida PIMENTEL 2002 A educa o no Semi rido Brasileiro nem sempre esteve condizente viabiliza o da melhoria das condi es de vida da popula o e as pol ticas com caracter sticas assistencialistas e desintegradas ainda n o foram suficientes para reverter o ciclo de gera o de desigualdades o fluxo migrat rio a produ o de iletrados os bols es de pobreza e mis ria a desintegra o ambiental e a produ o de uma imagem homogeneizada de um povo t o diverso PEREIRA 2007 Nesse sentido quando falo de uma educa o contextualizada falo em um movimento capaz de redimensionar os processos educativos no mbito dos espa os f sicos das escolas da merenda escolar do di logo da gest o com toda a cultura escolar e seus agentes da forma o dos professores da
267. rofessoras burlam tamb m a ordem conteudista dos livros os adotados pelos munic pios e os adotados por elas Mesmo as professoras escolhendo e comprando seus pr prios livros sobre estes elas tamb m fazem seu ju zo de valor selecionam descartam e acrescentam o que acham conveniente para facilitar a aprendizagem dos alunos Com refer ncia ao facilitar a aprendizagem dos alunos a Professora M diz quando o professor n o compreende o que est no livro did tico tem por obriga o de buscar em outras fontes os conhecimentos necess rios para dominar aquele conte do para levar ao aluno porque se o aluno n o compreende fica dif cil recorrer principalmente como aqui na zona rural que o acesso mais f cil de pesquisa s o livro did tico mesmo Diante desse contexto as professoras acabam tornado se respons veis por oferecer aos alunos o maior leque de recursos did ticos e de prefer ncia que facilitem a compreens o considerando a dificuldade de acesso por parte dos alunos a outras fontes de pesquisa As professoras n o consideram os livros adotados ruins s criticam a falta de sentido de alguns textos e a aus ncia de conhecimentos que contribuam mais para formar o aluno que se deseja no projeto da escola e do Munic pio Considero o fato das professoras descartarem alguns livros did ticos ou alguns conte dos e usarem outros livros para dar conta da aprendizagem dos alunos uma forma de evitar ou pelo m
268. ros contextos mais estruturantes em termos oficiais como por exemplo a din mica de produ o e avalia o dos livros did ticos proposta no PNLD Mais do que nunca os estudos gritam que preciso descentralizar os processos de escolha e avalia o para as regi es que poderiam adotar como crit rios al m dos gerais especificidades mais locais discernindo as realidades do campo e da cidade e incluindo os aspectos hist ricos e culturais at ent o silenciados das localidades como conex o com os saberes que traduzem tamb m o estado como um todo o pa s e outros contextos mais gerais e isso n o s como indument ria conteudista mas sim como proposta de composi o epistemol gica da vida em movimento do e no Semi rido i CAP TULO V O OLHAR ETNOGR FICO E AS FALAS IMAG TICAS DA PESQUISA A realidade fugidia me toca Escapa dos meus olhos E se emoldura no instante captado pela m quina aquela realidade particular em toda sua singularidade e conting ncia p ra em um dado momento e a imagem expressada abre a fresta para um olhar e reolhar enquanto o presente e o passado se movimentam Tudo muda contudo se da fotografia como arte passa se arte como fotografia Walter Benjamin f CAP TULO V O OLHAR ETNOGR FICO PELAS FALAS IMAG TICAS DA PESQUISA O olhar como grande angular capta a realidade acontecente no cotidiano da pr ticas pedag gica das professoras por m nessa realidade que puro movimento
269. rpreta o segundo a teoria da descri o fenomenol gica e hermen utica que vou 53 aprofundar do item 1 5 deste cap tulo Durante o processo da primeira e segunda fase identifiquei os grupos tem ticos que originaram as categorias assim definidas 1 Os olhares das professoras sobre o livro did tico tendo como eixos de an lises os conceitos que elas trazem sobre o livro a ado o de outros livros paralelos e suas formas de ver o livro did tico enquanto potencializador de conhecimento 2 As pr ticas que se revelam no cotidiano pedag gico das professoras categoria esta que traz como eixos de an lises as reinven es do cotidiano pedag gico que compreende os usos do livros did tico como instrumento complementar mecanismo de bricolagem docente mediador e mediado e condutor ou conduzido pelas prescri es que s o legitimadas ou reinventadas pelas professoras Outro eixo que surge a constru o dial gica da autoria das professoras frente ao livro did tico Na terceira fase configurada pelas interpreta es e representa es das categorias definidas deu se a constru o est tica da escrita na qual foram feitas as tessituras te ricas relacionadas s falas das participantes e das minhas escritas de campo O referencial te rico vem como suporte de compreens o por uma literatura j expl cita do saber manifestado no campo emp rico da pesquisa Os dados foram analisados e entendidos n o como idiossincrasias pessoais mas co
270. rsos usos dos livros did ticos no cotidiano da pr tica pedag gica que comp em a quest o central da pesquisa revelam pelos resultados que as professoras constroem uma diversidade no uso do livro did tico Essa constata o produz uma contra palavra aos estudos que indicam ser o livro did tico o senhor absoluto da pr tica de professores principalmente no Semi rido Brasileiro Os achados da pesquisa revelam usos do livro como instrumento complementar quando nas pr ticas cotidianas as professoras adotam outros livros adquiridos por conta pr pria e transformam os livros oficiais como instrumentos de apoio e consultas espor dicas Com exce o dos livros de portugu s e matem tica que s o usados com mais frequ ncia os de hist ria geografia e ci ncias s o substitu dos por outros recursos como materiais pesquisados em outros livros e internet Nesse sentido as professoras n o usam o livro como nico instrumento de ensino e aprendizagem mas sim mais um instrumento de complemento did tico Nessa composi o de usos o livro did tico tamb m aparece como instrumento da bricolagem docente quando as professoras mesmo trabalhando com seus improvisos e imprevistos tecem sobre suas artes de fazer movimentos bricoleiros que recolhem peda os de conte dos que consideram importantes nos pr prios livros did ticos adotados e em outros artif cios e artefatos did ticos que a escola disp e Mesmo com as dificuldades de material did tico
271. ru dos nas rela es entre sujeitos conhecimentos e realidades importante reconhecer que contextualizar o texto uma arte e produzir essa contextualiza o no livro did tico materializar essa arte tomar a vida em um intertexto para que saibamos que o maior livro pode estar no nosso quintal E fato que n s enquanto 156 consumidores do livro did tico nos absorvemos por verdades absolutas e passamos a resolver na escola problemas existentes apenas nos livros did ticos e relacionamos muito pouco com nosso cotidiano com nossa hist ria com nossa cultura e pouco procuramos extrair de todos esses conte dos dispostos no livro um sentido que possa justificar o seu ensinamento Os conhecimentos geogr ficos por exemplo poderiam servir para compreendermos a nossa localiza o no planeta entre os tr picos regi o que recebe de forma mais intensa a energia e o calor do sol e que a forma o do nosso relevo interfere na quantidade de chuva que cai nas regi es e fatores como ventos e massas de ar quente frio interferem nesse aspecto tamb m Partindo da al m de desmistificar os mitos dos castigos de Deus produzir experi ncias que levem em conta esses aspectos planejarmos enquanto alunos e professores nossa vida diante de tal contexto e n o na l gica de outra cultura de um outro contexto LINS SOUSA PEREIRA 2004 E a matem tica Tem coisa mais intrigante que o conjunto vazio De que sentido podemos p
272. s com um grau de reflex o profundo Os textos foram A fun o da arte 1 A paix o de dizer 1 e A fun o do leitor 1 retirados de O livro dos Abra os GALEANO 2002 52 entrevista sutilezas de m os olhares e tempos que tamb m respondem algo dizem nas entrelinhas o que n o se apresenta de imediato t o intelig vel 1 4 3 Terceiro percurso an lise dos dados As t cnicas e instrumentos adotados potencializaram na an lise a triangula o dos dados recurso de an lise que permite comparar dados de diferentes tipos com o objetivo de confirmar ou desconfirmar uma asser o A an lise dos dados deu se na perspectiva de um olhar hermen utico em que esta interpreta o contextualizada historicizada privilegiando o discurso dos sujeitos subjetivos e para que tudo aconte a essencialmente necess rio garantir o rigor e n o perder de vista o exerc cio do olhar e da escuta sens vel Segundo Lima 1996 fazendo refer ncia a Ezpeleta e Rockwell 1986 na pesquisa etnogr fica na documenta o da realidade cotidiana a observa o a descri o e a an lise a estar o interrelacionadas como aspectos inerentes e indispens veis ao processo de investiga o Nesse entorno cada movimento observado e descrito cuidadosamente est sendo analisado buscando rigorosamente a compreens o dos dados significativos e pertinentes ao objeto da investiga o revelando o olhar dos seus sujeitos as professoras Para a base
273. s lavrando a palavra e cultivando os dias entre livros e crian as Di rio de campo 2011 Considera se sujeitos desta pesquisa as professoras dos primeiros anos do ensino fundamental compreendendo que essas est o localizadas em contextos sociocultural e interacional e estes contextos intra e extraescolar se configuram na investiga o como cen rios de intensa comunica o interativa Como o objeto da investiga o o livro did tico adotado nos primeiros anos do ensino fundamental a investiga o envolveu 5 professoras do 2 ao 5 ano O primeiro ano n o fez parte da pesquisa por n o trabalhar com livros did ticos As professoras participantes s o graduadas em Pedagogia t m entre 2 e 4 anos de doc ncia Todas elas sempre trabalharam com o ensino fundamental 1 variando de s rie durante esses anos de exerc cio de magist rio Uma das quatro participantes da pr pria 41 comunidade as outras tr s moram na sede de Juazeiro e madrugam para pegar o carro que as conduz diariamente at a escola As primeiras aproxima es me deram uma sensa o desconfort vel com as participantes pois estas se mostravam silenciosas resist ncia que foi se quebrando com outras conversas e esclarecimentos No caminho a rela o de confian a j estabelecida as professoras j compartilhavam ang stias id ias e sonhos com minhas observa es No decorrer da pesquisa em mar o a professora do 5 ano foi remanejada para a
274. s no recreio Meninos e meninas transpiram alegria nos corridos 15 Nesse dia E se machucou mas a dor s apareceu quando voltou para a sala O recreio um rem dio Os alunos que durante as aulas reclamavam de dor de cabe a est mago dente esquecem as dores se espoletavam pelo p tio na hora do recreio e de 25 08 2 volta para sala retomam o sofrimento 183 solta esse menino A Professora fala veemente Mas era percept vel que ali n o era um sofrimento era uma deliciosa brincadeira Ent o as meninas arrastavam D por toda a parte que tinha cer mica no ch o A brincadeira era de pega pega e quem era pego ficava detido at um colega ir salvar e recome ar tudo de novo Pequeninos olhares que de longe passeiam pelas brincadeiras do maiores e esperam sentadas nos 15 de intervalo o toque da sirene que finaliza o recreio e as p em de volta na sala My Ato En Sa spa des War ish oto 33 Vanderl a An rade Pereira at 184 Depois das correrias outras brincadeiras e brinquedos povoam o p tio pula corda em grupo que come ava lento e depois acelerava at a pessoa que est no meio cansar ou trope ar na corda Brincadeira de bater m os andol t lepeti peti p la nescaf com chocolate puxa o rabo do tatu quem saiu foi tu Essa brincadeira feita s por meninas trazia muitas m sicas que exigia cada vez mais uma performance avan
275. s propriamente escolares Analisando o papel que o livro did tico desempenha no processo escolar Choppin 2004 indica que os livros escolares s o utilit rios da sala de aula porque s o produzidos para auxiliar o ensino de determinada disciplina a partir da apresenta o gradual dos conte dos ordenados em unidades ou li es que favorecem o seu uso coletivo em sala de aula ou individual em casa ou em sala Aproximando se desta defini o e considerando a realidade brasileira principalmente do Semi rido Lins Souza e Pereira 2004 dizem que em geral h uma cristaliza o do uso do livro did tico se considerando que este muitas vezes o nico instrumento que o professor conta como apoio em sala de aula Ao ser assim concebido passa a ter como principal fun o estruturar o trabalho pedag gico do professor mediante a apresenta o de acordo com as disciplinas dos conte dos curriculares estereotipados e engessados por determinada cultura em detrimento de outras De acordo com Coracini 2011 o livro did tico j se encontra internalizado no professor que ainda continua no controle do conte do e da forma Os livros did ticos ainda em muitas realidades estabelecem grande parte das condi es materiais para o ensino e a aprendizagem nas salas de aula de modo que torn lo um aliado ou n o depende da rela o dos professores com seus saberes e pr ticas e da maneira como eles articulam seus di logos did ticos co
276. s s est o aqui expressadas porque foram consentidas pelas professoras e pela gest o da escola uma fala autorizada pelos sujeitos participantes da pesquisa com o nico objetivo de contribuir com a representa o dos resultados do estudo 194 dentre as quais est a sensibilidade pedag gica para selecionar ngulos claramente relacionados com o cotidiano pesquisado As imagens fotogr ficas aqui referentes fragmentos cotidianos da escola e do seu entorno cultural s o enfaticamente contextual que pelas formas volumes cores e movimentos apresentados tornam se estruturas fr sicas e significantes em composi es sem nticas n o verbais das realidades fotografadas Ferrara 1988 citado por Macedo 2004 p 184 185 diz que o texto n o verbal sup e uma recep o que ousa ultrapassar os limites da alfabetiza o verbal para acreditar na sua possibilidade de ver atrav s de fragmentos informacionais um texto que n o outra coisa sen o o reflexo de outros textos inclusive verbais j armazenado na mem ria e veiculados pelos sentidos antes de tudo a capacidade do c rebro humano de processar informa es atrav s da intera o sens vel do universo que o cerca As representa es do cotidiano da pr tica pedag gica da escola e da comunidade encontradas na pesquisa ganham intensidades de presente com o uso de imagens fotogr ficas A inten o que essas imagens reflitam os outros textos j verbal
277. s Drumonnd de Andrade 192 Pelos livros abertos passearam meus olhares Transitaram professoras alunos escola comunidade Transitaram epis dios do cotidiano da pr tica pedag gica que mesmo com os livros fechados reiventa aberturas e frestas por onde escapolem belezas did ticas Minhas palavras n o d o conta de tudo o que vivi e vi nas composi es das professoras alunos e livro did tico 193 salutar dizer que devido s inquieta es dos alunos sempre que me viam com a c mera na m o foi acordado com as professoras participantes que as fotos seriam feitas em meses que n o houvesse aplica o de provas Nesse caso precisei estar mais pr xima de todo o ambiente seja na sala de aula ou na comunidade para que todos j sabendo da pesquisa naturalizassem a minha pessoa e a m quina fotogr fica Como dizem Bogdan Biklen 1994 p 141 O investigador fotogr fico tem de passar a ser tanto quando poss vel invis vel Os autores apontam como forma de invisibilidade no ambiente de pesquisa a familiaridade e a distra o no meu caso a familiaridade foi o elo que me aproximou da realiza o das imagens As fotografias principalmente em situa o de aula e no espa o da escola como um todo antes de serem registradas foram cuidadosamente visualizadas e planejadas de acordo com o meu prop sito de estudo A maior parte das cenas registradas nas fotografias n o representam acontecimentos eventuais
278. s ao livro did tico adotado 2 intera o A partir dos epis dios de ensino destacados de suas aulas o que v em 2 ENTREVISTA Leitura dos textos de Eduardo Galeano 1 intera o como v em o livro enquanto produtor de conhecimento a partir da leitura do texto e comparando com as suas pr ticas de uso dos livros Proje o do filme Vida Maria 2 intera o Falar sobre a autoria de alunos e professoras no processo de uso do livro did tico
279. s cadernos e coloquem o nome da escola Respondam s at a 4 quest o Podemos copiar no livro ruim de mais escrever no caderno Alguns reclamam Todos est o envolvidos na feitura da atividade A Professora enquanto a sala est entretida faz o acompanhamento Juliana a aluna portadora de necessidades especiais A atividade para ela atividade de alfabetiza o Ela ainda est reconhecendo as letras N conversa com o livro dizendo quantos par grafos tem o texto como se ele tivesse fazendo do livro um colega que lhe ajudasse a ler e a responder as quest es A sirene tocou pra o lanche e o recreio Sa ram todos euf ricos De volta do recreio alguns ainda se recuperam das brincadeiras e demoram a retomar a atividade Vamos corrigir as quest es Vamos Pr escreve no quadro Pede E A Professora vai lendo as quest es e eles v o respondendo Vai escrevendo no quadro para eles visualizarem Mesmo seguindo as prescri es da atividade a professora vai trazendo outros elementos do cotidiano dos alunos para ajudar na compreens o possibilitando que coloquem no texto mais precisamente na letra b da primeira quest o outros seres fant sticos que eles conhecem como o Nego d gua e outros lend rios da regi o Nessa quest o a professora recria a quest o para buscar essas refer ncias mais locais Na letra c da segunda quest o indicada pela professora conforme prescrito no livro os al
280. s de maneira geral que est o em nosso cotidiano Este livro tamb m deve conter uma proposta pedag gica que leve em conta o conhecimento pr vio e o n vel de escolaridade do aluno e que ofere a uma diversidade de atividades que o incentivem a participar da sua aprendizagem e a interagir com seus colegas com suas realidades Quando o livro adotado n o traz isso o professor que vai ter que possibilitar para que isso aconte a Nesse aspecto estudo como de Faria 1984 aborda a ideologia presente no livro did tico os conceitos expressos nos textos acabam por cristalizar formas de viver e de ser o que foi constatado na produ o dos livros did tico Conhecendo o Semi rido I e II Nos livros did ticos que dos anos de 2001 e 2004 eram trabalhados nas escolas do Semi rido Brasileiro apareciam mediante imagens e textos concep es de fam lia moradia e at da regi o Nordeste de uma forma que n o condizia com as realidades vividas pelos alunos dessa regi o Os negros apareciam como escravos e n o como escravizados e os ndios eram figuras ainda de coc s e nus e os textos falavam que o ndio era fazia e em nenhum momento o texto trazia a leitura do povo ind gena no tempo presente que vivem outras formas de cultura como o uso de roupas e outras tecnologias por exemplo fazem universidade e muitos t m cabelos encaracolados A gua aparecia e ainda aparece incolor ins pida e inodora enquanto em muitas realidades a gua barrent
281. s tr s caracter sticas Geertz acrescenta uma quarta caracter stica que a microsc pica considerando que capaz de captar o infinitamente pequeno dentro de uma totalidade 54 livro A Descri o Etnogr fica 2004 que me fez pensar a rvore Se poss vel percebe la e descreve la para al m de seus componentes biol gicos ent o olhar e dizer esse olhar sobre a escola em movimento tamb m poss vel Um dos artif cios que me ajudou a olhar foram as fotografias nelas os fen menos n o se repetiam mesmo congelando o momento as minhas descri es causavam um movimento que estava ali captado por um segundo olho a m quina O que est na foto jamais ser repetido As fotografias tamb m traziam o norte do meu olhar e traduziam outros olhares espont neos que s o clic foi capaz de revelar de traduzir de fazer sentir o sentido e interpret lo Foi no encontro prazeroso com Laplantine e com essa descri o etnogr fica que traz uma poesia est tica que adentrei na leitura e consequentemente nos meus olhares em campo Descrever significa impregnar se do outro compreendendo o como uma complexidade inaudita que se revela aos meus olhos Descrever implica linguagear os artif cios do olhar a transforma o do olhar em linguagem Deixar se aplacar pelo emocionar que compreende as interroga es e os di logos das rela es entre o vis vel e o diz vel ou como diz Laplantine 2004 mais exatamente entre o vis v
282. s trabalhos pedag gicos desenvolvidos pela escola desta comunidade Na li o 2 marcada no livro pela professora para o dia 21 de abril de 1998 os alunos iriam trabalhar com a fam lia sil bica do CA A ilustra o do texto trabalhado pelos alunos traz um tronco de cacau e ao lado da imagem o nome da rvore e tamb m do fruto Mais adiante o seguinte texto O Cacau caiu Bibi beb Bibi babou o cacau Al m do cacau ser um fruto totalmente desconhecido para Marcelinho sua aptid o para a leitura extrapola os limites do texto apresentado pelo livro O que acontece que os temas locais n o entram no curr culo escolarizado muitas vezes por serem desconsiderados enquanto temas geradores de complexidades como se fadassem ao simples empirismo por se tratar de um tempo real de uma realidade concreta Nos achados da pesquisa not rio a presen a de temas locais no contexto da sala de aula como complemento dos conte dos trazidos pelo livro did tico Ao enunciar um tema do contexto da viv ncia dos alunos as professoras pelas suas inventividades da arte de fazer trazem o car ter m ltiplo e complexo do tema local SANTOS 2011 Lins 2010 diz que muito mais do que a presen a desses elementos no curr culo e ou nos livros did ticos s o as possibilidades epistemol gicas com base na multirreferencialidade e na interdisciplinaridade onde o conhecimento de algo se tece em redes de conex es Conex es estas que mobilizam em um mes
283. sa de barro Pr o que est mais certo os nossos nomes ou os nomes do livro Tanto os nomes que voc s botaram de pessoas conhecidas quanto os que voc s retiraram do livro s o nomes de pessoas ent o todos est o certos Vamos fazer agora uma lista de coisas vou exemplificar lendo o texto Lembrem se que as coisas n o s o nem pessoas nem animais e nem lugares Ent o o resto do texto Pr O que n o for pessoa animal comida lugar coisa mas no texto existem outras palavras que aparecem para ligar complementar e falar das coisas e s lendo o texto vamos discernir essas palavras Vai lendo e questiona os alunos se sabem o que significa a palavra interessante o envolvimento dos alunos propor o que a professora ia fazendo a leitura em alguns nomes ela para e significado que eles v o atribuindo leit o eles disseram que um leite grande terremoto disseram que um jogo de controle Na media o a Professora fala o significado sem desconsiderar o que eles falavam No caso do leit o a Professora diz que no conhecimento deles o porco mas tem outros lugares que chamam de leit o assim ia exemplificando para eles entenderem Tecendo uma significa o que interligava o saber comum de suas culturas e o saber mais sistematizado da cultura convencional Pronto agora retirem do texto o nome das coisas Terminei Z Eu tamb m D To terminando Fala C que escrevia em letras en
284. sca sentido e conhecimento do real levando o indiv duo a um mergulho investigativo e formativo na interpreta o autobiogr fica das narrativas que a investiga o tamb m tem como intuito possibilitar um reolhar consciente do professor para suas pr ticas visualizando as como elementos de sua forma o Segundo Josso 2002 p 08 a consci ncia nasce quando interpretamos um objeto com o nosso sentido autobiogr fico a nossa identidade e a nossa 48 capacidade de anteciparmos o que h de vir Assim o narrar se implica um conhecimento de sie a interpreta o da narra o pelos pr prios narradores implica uma autoconsci ncia de si e do outro A escrita dos di rios a princ pio gerou uma apreens o nas professoras antes de come arem os primeiros registros por vezes me perguntavam o que queria que elas escrevessem e sempre respondia que me interessaria pelo que elas quisessem escrever Em momentos de conversas as professoras sempre se reportavam a experi ncia da escrita e s suas dificuldades em registrar o que faziam mesmo considerando de grande import ncia escrever suas mem rias e suas experi ncias Fiz duas leituras dos di rios antes da entrega final As leituras foram com o intuito de perceber o desvelamento das narrativas das professoras e a priori j orientar as an lises dos escritos Como possibilidade de autoconsci ncia e autoforma o a narrativa coloca o sujeito como produtor de um conheciment
285. scrita com NH Nos nomes n o tinha s nos apelidos a Professora aproveitou os apelidos para trabalhar o diminutivo das palavras que eles listaram do texto e enfatizar mais ainda a grafia do NH Nessa intera o a sirene toca e eles nem ouvem at que a Coordenadora Pedag gica vem avisar que os carros j est o esperando Nesse epis dio a professora n o repetiu fidedignamente o conte do que estava prescrito no livro permitiu pela sua media o que os alunos interagissem com o objeto de conhecimento desvendando sua estrutura interna e significando socioculturalmente o que aprendiam D VILA 2008 Nesse entorno a partir de uma media o de natureza cr tica a Professora possibilitou a recria o do conte do que convida os alunos a uma nova aprendizagem 116 Epis dio Etnogr fico de Ensino 3 Aula de Geografia na sala da Professora D A Professora inicia lendo enfaticamente o t tulo do texto De repente a turma que estava ainda interagindo com conversas paralelas silencia e ouve Um an o de cabelos vermelhos Curupira Fala em risos N Como o curupira chamado aqui na comunidade Provoca a Professora Caipora Muitos falam ao mesmo tempo A Professora continua a leitura e todos ouvem n o acompanham a leitura porque um texto que a Professora trouxe de outro livro Mesmo sendo aula de geografia nessa semana est o trabalhando a tem tica do folclore Esse texto que li qual g
286. scuss o as professoras assumem um papel importante na instrumentaliza o do livro did tico pois a escolha de conte dos em detrimento de outros a op o metodol gica e at os mecanismos de avalia o dos alunos referentes ao trato com o livro did tico implica uma decis o pol tica pela qual se priorizam id ias conceitos e valores que poder o ser perpetuados ecoados na pr tica pedag gica e na cultura escolar como um todo Pode se considerar que h uma interven o efetiva das professoras nos processos de utiliza o do livro did tico pois em muitos casos destacados pelos epis dios etnogr ficos de ensino observo que elas atuam enquanto autoras de seu processo de ensino com autonomia 141 rejeitando ou aceitando as vozes que s o circuladas nos livros Contemplando a discuss o das professoras enquanto autoras neste momento de uso do livro did tico Lajolo 1996 diz que h uma re escri o do livro did tico no dia a dia das professoras gesto que as reafirmam sujeitas de suas pr ticas pedag gicas e quase co autoras do livro A rela o de autoria das professoras com o livro did tico exige estrat gias de uso na a o pedag gica ou seja procedimentos did ticos que envolvem objetivos a serem alcan ados planejamento das a es e avalia o dos resultados Partindo da necessidade de estrat gias necess rio considerar os diferentes estilos e maneiras das professoras conduzirem suas a es docentes pois
287. sidades e potencialidades de seu alunado 2 3 O livro did tico aos olhos das professoras Nas observa es percebi que o livro did tico estava sempre presente na cena da sala de aula Na mesa das professoras fechados ou abertos l estavam eles por vezes abra ados contra o peito por outras silenciosos dentro das pastas Guias de uma atividade inteira ou 25 n amp Mesmo n o sendo o livro por elas ponta para uma consulta pesquisa ou para casa escolhidos acabam por criar uma rela o afetiva por esse instrumento sem tirar dele o m rito mas tamb m criticando quando necess rio d o a ele a fun o de did tico Dizemos did ticos no sentido dos livros serem usados nas aulas de forma sistem tica orientado pelas professoras com fins a um aprendizado coletivo ou seja torna se did tico por ser instrumentalizado na rela o de ensino e aprendizagem na situa o espec fica da Escola Jos de Amorim As professoras tamb m se tornam leitoras dos livros com os quais trabalham mesmo n o tendo o livro do professor acompanhando o livro dos alunos as professoras fazem de um exemplar o seu livro o que elas rabiscam interagem e estabelecem suas leituras passivas ou cr ticas E digo de passagem a leitura das professoras de grande import ncia na rela o de aprendizagem pois atrav s delas e dos seus ju zos textuais que o livro chega 25 4 Ro 2 7 A s Para casa a atividade di ria que para
288. smo tempo Certo Voc s sabiam que tudo pode ser medido A gente as plantas As folhas Pr C As folhas tamb m Em casa voc s vejam que plantas t m e me am as folhas ent o Anotem no caderno e amanh a gente ver L em casa tem mam o em casa tem uma das folhas bem miudinha eu vou medir com que Pr se n o tiver a trena mede com a r gua Indica a Professora Leiam tamb m para complementar na p gina 46 do livro de matem tica o conte do sobre cent metro Com o que j se aproximaram hoje do conte do vai ser mais tranquilo ler No livro did tico o conte do unidade de medidas aparece j com as defini es dos mil metros cent metros e metro e nas imagens n o se tem visualiza o de instrumentos usados para medir Nesse caso a professora na sua media o incrementou ao texto inicial os passos p s que s o instrumentos comuns e a fita m trica que o instrumento mais convencional de medida A intera o dos alunos com os instrumentos de medida a leitura e o uso em situa es concretas possibilitou uma altera o cognitiva que desencadeou na verbaliza o do conte do no final do epis dio etnogr fico de ensino compreender a medida em todos os elementos que os circundam a exemplo das plantas que tem em casa A media o did tica da Professora L nesse epis dio apresentou se mec nica no primeiro momento mas no segundo momento caracterizou se como de natureza cr tica por trazer
289. soras em uma mesma aula Essa variedade de recursos justificada por elas devido necessidade de apresentar diversas formas de ensinar um mesmo conte do que v o complementando pegando o que consideram mais importante de cada livro de cada instrumento pedag gico para compor o conte do e as atividades Desse modo dizem recorrer aos outros livros porque eles t m uma leitura mais prazerosa mesmo que conforme Lajolo 1996 p 03 pare a pouco provavel que um nvro qe Ci ncias provoque envolvimento est tico ou que um livro de poesia forne a informa es cient ficas preciso n o esquecer que no reino das linguagens e dos livros tudo poss vel Na verdade s o outras leituras que as professoras buscam quando didaticamente fazem essa miscel nea de recursos com o intuito de garantir a efici ncia da aprendizagem coletiva considerando o est gio de cada aluno e 95 compor com v rios livros o que seria fun o do que foi adotado pelo Munic pio Retomando de novo Lajolo 1996 p 05 Num livro did tico tudo precisa estar em fun o da situa o coletiva da sala de aula para com ele se aprenderem conte dos valores e atitudes espec ficos sendo que se espera que a aprendizagem n o se processe apenas pela leitura das informa es que o livro fornece mas tamb m pela realiza o das atividades que ele sugere No exerc cio de autonomia para adotar outros livros did ticos ou n o as p
290. sos do livro did tico que a partir das reinven es do cotidiano da pr tica pedag gica mostram se sob a an lise dos dados etnogr ficos em usos do livro did tico como instrumento complementar de bricolagem docente como instrumento de media o cr tica e mec nica e como instrumento de possibilidades de autonomia docente quanto s suas prescri es metodol gicas 3 1 As reinven es do cotidiano da pr tica pedag gica E o que parece igual se modifica se mexe expressando um dizer um fazer a mais No cotidiano da sala de aula em meio ao que parece est tico saltam pedacinhos de inven es A professora entra e a m sica do bom dia d lugar leitura de um pequeno texto que faz a algazarra da crian ada silenciar Existem outros bons dias diz a professora com um riso matinal E aquela aula de sexta feira que poderia ser igual a outras se reinventa em um bom dia de dez linhas Di rio de campo 2011 A partir da inven o do cotidiano CERTEAU 2008 foi poss vel compreender as artes do fazer das professoras nas suas pr ticas cotidianas Para al m de um cotidiano inventado as professoras reinventam e se reinventam na cotidianidade de suas pr ticas pedag gicas Esse cotidiano suscita acontecimentos mesmo que pequenos e a a o docente escapa ao controle e engendra novos espa os tempos na sala de aula No adentramento nas salas de aulas as observa es de epis dios de ensino no cotidiano das quatro
291. sticamente constitu do S a percep o dessa pr tica numa totalidade possibilitou o olhar etnogr fico apreender o conhecimento dos fatos cotidianos da sala de aula como conhecimento da realidade manifestada na pr tica pedag gica das professoras O cotidiano da pr tica global e como diz Lefebvre apud NETTO CARVALHO 1994 p 21 querer busc lo e defini lo em sua escala aparente as microdecis es os microefeitos deix lo fugir querer buscar o global sem ele tamb m deixar fugir a totalidade A terceira perspectiva que diz respeito s possibilidades da vida cotidiana enquanto motora de transforma es globais permitiu apreender a pr tica pedag gica como interventora nos processos mais gerais da cultura escolar e consequentemente na cultura local As media es pedag gicas a manuten o ou transgress o das prescri es dos livros did ticos desenvolvidas pelas professoras na sua cotidianidade n o interferem s no imediato da sala de aula mas as apreens es representa es e constru es dos saberes e conhecimentos 88 movimentados na pr tica pedag gica refletem para al m das quatro paredes da sala de aula pois tanto as professoras quanto os alunos habitam outros universos e os sentidos e significados que atribuem ao que ensinam e ao que aprendem se manifesta tamb m nas rela es culturais afetivas ecol gicas que constituem todos os espa os de viv ncias e conviv ncias desse gr
292. strada Um caderno uma c mera e uma id ia Era tudo que cabiam na mochila O olhar impaciente por ver rodopiava o entorno como se todas as coisas fossem escapolir Um salto da inquieta o escrita Para o campo vivo em movimento A partir daqui de onde finco agora meus p s A escrita outra Porque pelos olhos do outro vem meu olhar E suas vozes gestos e tra os Ser o agora a minha linguagem INTRODU O Tudo que me toca me faz ver E me pergunto o que vim fazer aqui Nesse exato momento em que o olho procura mira n o poderia me responder S chegando acalmando o olhar e vendo de perto e voltando a ver novamente com calma e cuidado observando as grandezas min sculas estranhando e me entregando ao espanto Tudo aqui de t o pr ximo se distancia de mim Ainda n o sei a que vim mas aqui meus olhos fincados no movimento da escola me respondem preciso ver de ouvir Di rio de campo 2011 A educa o brasileira na sua condi o de agregadora de um conjunto vasto de sujeitos singulares e plurais vem ao longo da hist ria tentando romper as narrativas hegem nicas que desde a coloniza o est o vinculadas a resqu cios de uma pol tica colonizadora que pelos modos de organizar a educa o escolar da Am rica Portuguesa decretou modelos pedag gicos euroc ntricos determinando curr culos utens lios escolares e especialmente livros did ticos a serem utilizados nos processos de ensino aprend
293. tador dos fazeres e saberes pedag gicos do professor bem como dos saberes necess rios aprendizagem escolar dos alunos orientando os para a constru o da tica necess ria ao conv vio social democr tico Mediante minha inten o de investigar o livro did tico no cotidiano pedag gico de professoras no SAB e mediante ainda a considera o de que o professor um profissional que aprende e constr i conhecimentos a partir da pr tica cotidiana e no confronto com as condi es da profiss o incluindo se a os recursos did ticos utilizados que o objeto da pesquisa foi saber Como se efetiva a utiliza o do livro did tico na pr tica pedag gica de professoras do Semi rido Brasileiro Como subs dio problem tica a busca dos objetivos teve como base as seguintes quest es norteadoras 1 Que crit rios orientam a sele o do livro did tico e como se d a participa o dos professores no processo de escolha desse material 2 Como se d o os usos do livro did tico na pr tica pedag gica de professores do Semi rido Brasileiro 3 Como o livro did tico se apresenta enquanto recurso potencializador de produ o de conhecimento Objeto de estudo objetivos e justificativa Partindo das inquieta es apresentadas este estudo tem por objetivo geral investigar os usos dos livros did ticos adotados no Munic pio de Juazeiro da Bahia pelas professoras do 1 ao 5 ano do ensino fundamental da Escola Jos de Amorim na
294. tando e observando o cotidiano da Escola Jos de Amorim especificamente as salas do 2 ao quinto ano do Ensino Fundamental I do dia 07 de fevereiro ao dia 13 de setembro de 2011 Para o alcance dos objetivos adotei como t cnicas de produ o de dados a observa o participante o di rio da pr tica e a entrevista interativa reflexiva de cunho coletivo e como instrumentos de apoio o di rio de 10 PEA P Para os di rios foram entregues cadernos pequenos de brochura capa dura com imagens e frases do livro O pequeno Pr ncipe de Antoine de Saint Exup ry Cada professora recebeu um caderno de cor diferente e a proposta de ser um caderno com imagem e frases do pequeno pr ncipe foi para j na capa houvesse uma comunica o de sensibilidade est tica com o prop sito de que o instrumento di rio n o fosse algo frio e sem cor e provocasse a escrita de outras belezas das experi ncias das professoras 45 campo a fotografia e a filmagem Quando planejei as t cnicas para produ o de dados de in cio achei que seriam muitas t cnicas e que talvez dificultaria o processo de produ o dos dados mas na condu o da investiga o avalio que as t cnicas utilizadas foram extremamente importantes por uma estar complementando a outra pois em cada uma se visualizava uma situa o diferenciada na observa o participante o olhar da pesquisadora nos di rios da pr tica os olhares e falas ntimas das professoras e nas entrev
295. tas solicitando uma dizibilidade interpretativa CAP TULO II f TESSITURAS HIST RICAS E REFLEXIVAS ACERCA DO LIVRO DID TICO Abrem se os livros Os olhos acompanham as letras guiados pelas pontas dos dedos Grandes pequenas bifurcam imagens em tirinhas animadas Quantas leituras franzem testas e caricaturam sentidos Momentaneamente um passeio entre p ginas e amarrados ret ngulos Se entrela am l pis e borrachas como um andar ziguezagueando por vielas de ch o n para perder se nas letras e achar se entre os dedos Quantos segredos guardam as orelhinhas do livro A dissimula o da textura pode em todo caso levar s culos para desfazer seu pano O pano envolvendo o pano S culos para desfazer o pano Reconstituindo o tamb m como um organismo Regenerando indefinidamente seu pr prio tecido por detr s do rastro cortante a decis o de cada leitura Jacques Derrida i CAP TULO II j TESSITURAS HIST RICAS E REFLEXIVAS ACERCA DO LIVRO DID TICO Aos meus olhos volta a inf ncia quando no terreiro rabiscava o ch o com o graveto de goiabeira branca que ficava ao lado do alpendre da casa de meu av Fazia se ali um primeiro livro did tico porque naquele ch o tinha bem mais do que a terra batida pelo meu Av tinha letras imaginadas hist rias fantasiadas e at atividades que memorizava quando os irm os me levavam para a escola deles O livro era raro vez por outra escondida roubava o nico livro
296. te EdUFMG 1997 207 MEIER M GARCIA S Media o da aprendizagem contribui es de Feuerstein e de Vygotsky Cutitiba Edi o do autor 2007 MENDES SOBRINHO J A de C A influ ncia de uma proposta did tico pedag gica na pr tica docente de ci ncias naturais e sua articula o com a forma o continuada In MENDES SOBRINHO J A de C LIMA M da G S B Org Forma o pr tica pedag gica e pesquisa em educa o retratos e relatos Teresina EDUFPI 2011 MOREIRA H CALEFFE L G Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador Rio de Janeiro DP amp A 2006 MORIN E Saberes globais e saberes locais o olhar transdisciplinar Rio de Janeiro Garamond 2004 Os setes saberes necess rios para a educa o do futuro 3 ed S o Paulo Cortez Bras lia DF UNESCO 2001 MUSIL R O jovem Torless Tradu o de Lya Luft Rio de Janeiro O Globo S o Paulo Folha de S Paulo 2003 NETTO J P CARVALHO M do C B de Cotidiano conhecimento e cr tica S o Paulo Cortez 1994 N BREGA T P MENDES M I B de S Corpo natureza e cultura contribui es para a educa o Revista Brasileira de Educa o Set Out Nov Dez de 2004 n 27 ANPED Rio de Janeiro Autores Associados NUNES MACEDO M et al A constitui o das intera es em sala de aula e o uso do livro did tico an lise de uma pr tica de letramento no primeiro ciclo Revista Brasileira de Educa o n 25 Associa
297. te textualiza las Reportando me a Bittencourt 2005 que traz o livro did tico nas suas m ltiplas facetas irei interagir as quatro facetas abordadas pela autora e as concep es das professoras acerca do livro did tico Uma das facetas que o livro did tico antes uma mercadoria um objeto da ind stria cultural que imp e uma forma de leitura organizada por al m do autor e pelos profissionais especializados dos processos gr ficos s o assim n o escritos mas manufaturados por escribas e m quinas Essa faceta identificada na fala da Professora Flor quando diz que no livro vem tanta coisa junta que parece que foi escrito por um monte de gente e cada um pensou numa coisa e organizaram em um canto s Apresenta se ordenado esteticamente mas s vezes pela forma como as professoras colocam parece n o ter conex o entre as id ias e os textos A segunda que o livro did tico tamb m um deposit rio dos conte dos escolares por seu interm dio que s o passados os conhecimentos e t cnicas considerados fundamentais socialmente por seus textos verbais e n o verbais transmitidos padr es lingu sticos e formas de comunica o espec ficas Na narrativa da Professora R podemos perceber a identifica o dessa linguagem padronizada que acaba dando uma linearidade s suas formas de comunica o n o permitindo que o aluno tamb m se veja no livro 77 O livro did tico um instrumento de trabalho para
298. to desse epis dio fundamental a voz altiva captura as vozes dos alunos e faz uma tessitura de significados ao conte do fica percept vel a aprendizagem Refor ando essa percep o dizem Meier e Garcia 2007 p 72 73 Quando o professor fala em sala de aula realiza sob o ponto de vista f sico altera es no meio ambiente por meio de ondas sonoras Essas ondas movimentam se pelo ar e causam perturba es nos t mpanos do sistema auditivo dos alunos de acordo com o que foi produzido pelo professor Uma vez havendo movimento do t mpano o sistema auditivo transforma essa altera o f sica em qu mico el trica A corrente el trica percorre os neur nios at a rea prim ria da audi o localizada no lobo temporal do c rebro A partir da decodifica o realizada na rea prim ria tem se a sensa o auditiva que em seguida encaminhada tamb m por meio de corrente el trica rea secund ria onde h uma nova decodifica o criando uma imagem auditiva Da rea secund ria da audi o essa imagem auditiva segue para a rea terci ria e associa se s imagens provenientes das outras sensa es visuais por exemplo Esse conjunto de associa es juntamente com imagens provenientes da mem ria e do c rtex frontal respons vel pela a o de pensar imaginar e raciocinar cria a consci ncia e a compreens o do conceito inicialmente explicado pelo professor Ocorre aprendizagem A apreens o do conte do
299. to e desencanto Meus olhos j n o eram mais os mesmos que olharam os livros na inf ncia O cheiro de letras e imagens que me tomavam cada vez que abria os meus livros j n o se achavam mais ali nas p ginas dos livros coloridos Pensei que talvez aqueles livros que vivi na escola j habitavam em mim de outra forma ou minha inf ncia j tinha crescido Poderia ser isso mas o fato que al m disso os livros tantos que estavam em minhas m os sob os meus olhos n o produziram em mim cor cheiro e sabor Foi a minha primeira estranheza com o meu objeto de estudo Come ar o cap tulo com uma narrativa pessoal tem como prop sito circunscrever o livro did tico tamb m numa hist ria pessoal para ent o visualizar que a hist ria dos livros se faz com gente e principalmente com rela es de afetos desafetos escrituras e apagamentos de rabiscos Essa talvez seja a parte que ningu m sabia e essa parte que precede o que todo mundo sabe e que vai estar nos pr ximos par grafos O livro did tico ocupa um espa o significativo na nossa cultura escolar p blica por ser hoje distribu do gratuitamente nas escolas e garantido pelo Programa Nacional do Livro 60 Did tico PNLD do que decorre que muitas vezes constitui se como o nico material sistematizado e escrito acess vel a alunos e professores em muitas realidades Neste sentido entendemos que o livro did tico al m de ser elemento parte da hist ria cultural da nossa civili
300. to muito presente em todas as quatro salas quando a professora diz que a atividade n o no livro automaticamente os alunos fecham o livro que estavam usando e guardam nas mochilas ou embaixo da carteira os alunos que n o t m mochila como se o livro s pudesse ficar em cima da carteira se for para ser usado Nesse epis dio etnogr fico de ensino na sala da Professora Flor aula de L ngua Portuguesa observa se uma recria o ou poderia dizer uma transgress o das prescri es metodol gicas dispostas no livro pois as duas primeiras prescri es que trazem quest es ordenadas por estrofe de interpreta o do texto s o totalmente desconsideradas pela professora e s o substitu das pelas provoca es das coisas do cotidiano deles 134 Epis dio Etnogr fico de Ensino 2 Aula de Portugu s na sala da Professora D Peguem o livro de portugu s na p gina 114 Todos abrem o livro na p gina certa Muitos j queriam fazer a atividade A professora solicita que fa am uma leitura silenciosa do texto das paginas 114 e 115 O texto sobre algo que voc v e ningu m mais pode enxergar de autoria de Samir Curi Meserani De repente fez se um silencio atrapalhado s pelo terminei de um aluno O silencio volta R o aluno novato com o livro aberto direciona seu olhar para a sala e para os colegas que l em depois de observar por longos minutos volta o olhar para o livro e alterna entre a leitura do livro e a
301. torna se aparente pelo entusiasmo dos alunos e as rela es que fazem de suas mem rias e acervos de conhecimento com o novo objeto aprendido Nesse aspecto elementos e conte dos de outras reas do conhecimento como a matem tica foram acionados como instrumentos de est mulo para a resposta dos alunos para a altera o de seus conceitos quando comparados com os verbalizados no in cio do epis dio medida que a professora compreende a dimens o da sua fala e da fala do aluno pode de forma consciente interagir com o aluno compreendendo suas idiossincrasias e suas particularidades na forma como aprende e constr i seu pr prio conhecimento Em an lise fica claro que quando a Professora sai de uma media o did tica de natureza cr tica e entra na media o de natureza mec nica com as quest es ditadas pelo livro os alunos sentem mais dificuldades e desinteresse pelo conte do E dif cil manter 4h dinamicamente ent o os rendimentos v o caindo e a media o mec nica em muitas ocasi es acaba sendo um intervalo de descanso para as professoras que n o param um s instante Mesmo com a oscila o das naturezas da media o ficou not rio que os alunos conseguiram apreender o conte do pois ainda na sa da alguns ainda falavam das discuss es que foram feitas na aula mesmo dando mais nfase aos conte dos vividos no primeiro momento quando da media o did tica de natureza cr tica 120 Epis dio Etnogr fico de E
302. u o distribui o e avalia o desse artefato cultural t o importante CAP TULO I i f O DESENHO DA PESQUISA A ETNOGRAFIA COMO OP O METODOL GICA O olho capta o sil ncio numa imensid o dos barulhos Tudo chega s minhas retinas O cheiro das coisas m os e livros escapolem pelo sens vel olhar pensante por ele observo e sou observada significo o aparente insignificante Pondero reflito te o e tudo um teia de sentidos que residem no espa o tempo entre o olho e a caneta Aprender a ver habituar o olho calma paci ncia a deixar que as coisas aproximem se de n s aprender a aplacar o ju zo a rodear e abarcar o caso particular a partir de todos os lados NIETZCHE CAP TULO I f O DESENHO DA PESQUISA A ETNOGRAFIA COMO OP O METODOL GICA Em uma investiga o qualitativa na qual se imbricam sujeitos e contextos escolares preciso olhar os sujeitos participantes da pesquisa como construtores da cultura Nesta acep o vista como uma teia que os atravessa atravessa suas viv ncias suas pertin ncias suas possibilidades suas mem rias e as suas interpreta es das experi ncias vividas cotidianamente no ambiente escolar como afirma Geertz 2011 p 04 o homem um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e a sua an lise portanto n o como uma ci ncia experimental em busca de leis mas como
303. u s por exemplo s o os mais usados por todas as professoras porque tamb m tiveram orienta o da Secretaria Municipal de Educa o sobre seus usos Raramente as professoras usam os livros did ticos de Geografia Hist ria e Ci ncias Destes apenas selecionam alguns conte dos que conforme elas dizem d para aproveitar de acordo com as necessidades de aprendizagens dos alunos 92 Em an lise das narrativas das professoras nos di rios da pr tica e nas entrevistas constato a import ncia da recorr ncia did tica a esse instrumento pedag gico mas recorrem com a mesma intensidade a outros livros e instrumentos como recursos did ticos Essa constata o problematiza estudos que constatam ser o livro did tico o nico recurso o senhor absoluto da pr tica docente Nas diversas falas as professoras revelam uma transgress o quando fazem a escolha silenciosa e coletiva entre elas dos seus pr prios livros Os livros que adoto al m dos livros adotados pelo Munic pio s o Dia a dia do Professor Editora FAPI Escola em A o Editora Bolsa Nacional do Livro Soletrando Editora iemar Pesquisa Interativa Editora Difus o cultural do livro Letramento divertido Editora FAPD Inf ncia Feliz Editora Exala Educacional e Cole o Conhecer e Crescer Editora Exala Educacional Professora Flor Como os livros que foram adotados pelo Munic pio n o oferecem segundo as professoras subs dios significativos
304. u entorno A beleza naturaliza um amontoado de lixo e bichos No momento da fotografia um menino se aproxima e diz que sua m e tem uma foto bonita na lagoa pensa silencia e fala que essa lagoa est fedorenta e feia Os representantes da Associa o de Moradores nos falam que j tem planos para recuperar a lagoa convencer os moradores a tirarem os porcos e trazer de volta a beleza de antes Em outras andan as a comunidade passa por meus olhos as ruas transcorrem sinuosamente os esgotos rasgam o ch o em terra e se acomodam nas valetas arquitetadas pelos pr prios moradores As valetas seguem sinuosas como as ruas compondo a aus ncia de cal amento e saneamento A associa o de Moradores fez o muro do cemit rio uma bela obra que arranca entusiasmo dos seus representantes Nosso olhar viu o cemit rio As paredes longas erguidas nos chamam os olhos Um quadrado fant stico protegendo o descanso eterno Tinha uma coroa ainda em cores circulando a cruz de ponta Do quadrado em constru o vemos a caatinga velando o nosso olhar Tudo sil ncio e nesse momento os olhos provocam a caneta e o papel Os mortos vivem aqui e ganharam um muro e os meus olhos viram o muro e os seus mortos acalentando o contentamento da conquista dos vivos o muro Di rio de campo 2011 5 i E 4 O teatro aconteceu por conta do Projeto de Meio ambiente na qual tamb m foram realizadas na semana do meio ambiente em junho algumas a es
305. ua vira campo enquanto os carros n o v m O orelh o os abriga do sol enquanto ensaiam uma pose para a m quina ou como disseram eles para a mulher que fica na sala da gente Fa a sol ou chuva os meninos povoam a rua com suas bolas at chegar a hora de fazer o Para casa que a t Am gt Mi mig van derisa Andrade Pereira professora passou a Os caprinos de variadas cores e tamanhos circulam entre as ruas O pedacinho de caatinga que fica entre as casas e a lagoa Param para a foto voltam a procurar comida entre o lixo e o verde e seguem sua rotina de ir e vir na comunidade 169 Os bodes encangados s o os danados que come as ro a dos outro Me diz J na fila de meninos e meninas ao passar pela fila de bodes No fim da tarde na volta de uma atividade extraescolar alunos se encontraram com os caprinos que retornavam dos pastos livres para o 26 08 2011 adormecer nos quintais cercados P s descal os e peito nu no entreabrir da porta G olha os colegas e os bodes que se distribuem pela rua que no momento fica empoeirada pelo rasgo de duas motos que passam O olhar de G acompanha a garotada at entrar na escola Quando o port o da escola se fecha G procura outros movimentos para olhar oto 5 Vanderl a Andrade Pereira 170 A gua acolhe o barco em fim de tarde A lagoa de guas salobras recebe o chorume dos esgostos das casas
306. uadrinhos Ao meu lado um aluno folheou o livro did tico de geografia procurando hist rias em quadrinhos e diz para a professora que gosta de textos em historinhas Abram na p gina 51 e respondam da 1 4 quest o Indica a professora j com o livro aberto 110 do assunto de ontem pr Fala E sim s o atividades de divis o Copiem no caderno para n o riscar os livros para ficar limpo para o pr ximo ano A Professora comenta comigo que alterna as p ginas porque alguns conte dos est o avan ados para eles e mesmo estando no in cio do livro ela s vai trabalhar no segundo semestre porque eles j v o estar mais desenvolvidos Falando isso espera que se acalmem para ler as quest es Entenderam Todos j abriram na p gina Fala M passando pelas carteiras dos alunos Entendemos Entoa o coro de diversas vozes Agora respondam do conte do que j trabalhamos vamos ver o que aprendemos A professora se aproxima e diz que essas quest es ela j leu previamente e verificou que todas estavam no n vel dos alunos compreenderem Mostra algumas atividades como da p gina 34 que a atividade requer o uso de calculadora e como trabalhar com uma realidade que oferece o m nimo Os alunos mal t m o livro enfatiza ela Mostra outra quest o na p gina 21 A quest o diz o seguinte Josias trabalha numa empresa que est com dificuldade para pagar seus funcion rios Esse m s ele s recebeu R
307. ue em dias normais pareciam impercept veis aos olhos das crian as Epis dio Etnogr fico de Ensino 2 Aula de Matem tica na sala da Professora D Todos peguem o livro de matem tica na p gina 114 Inicia a Professora abra ada ao livro aberto O que voc s v em A fala da Professora acompanha seu andar por entre as carteiras que pareciam desordenadas mas aconchegantes figuras Diz N ainda com o livro entreaberto contas Fala B levantando o livro acima da cabe a uma pilha de dados uns n meros no quadro Falam dois a mesmo tempo se entreolhando e rindo pela coincid ncia 100 Agora leiam al m das imagens O que mais comp e o texto Alguns j v o logo copiando devido o costume de copiar no caderno as atividades do livro A professora fala que n o v o copiar v o s fazer uma leitura interpretativa dos problemas O livro vem como primeiro elemento did tico de aproxima o do conte do Os alunos v o fazendo a leitura a Professora vai dando exemplo no quadro e ajudando a eles a compreenderem o que os problemas trazem Pede que peguem o material dourado que um jogo pedag gico que traz barras e cubinhos que representam unidade dezena centena e milhar Exploram o jogo e resolvem interpretam as quest es de outra forma O material dourado se configura como segundo instrumento did tico de explora o do conte do Os alunos se agrupam porque n o tem material dourado em
308. ue traz uma imagem grande do mosquito da dengue e algumas tirinhas verbalizando o que e como se pega a dengue O que voc s v em no cartaz Pergunta a Professora estendendo o papel para al m de sua altura A dengue Falas sincronizadas e em timbre agudo O que voc s sabem sobre o mosquito da dengue Provoca a Professora N o deixar gua parada Fala alto E ele listrado Complementa D Gosta de gua limpa Volta a falar E Quando o mosquito pica a pessoa fica bem mal Diz A com dor de cabe a Complementa N teatralizando uma dor enorme A professora abre outro cartaz parecendo um folheto em quadrinhos e mostra o ciclo de vida do mosquito Coloca em cena o segundo instrumento para explorar aprofundar o conte do Pergunta o que o mosquito precisa para se desenvolver e eles v o falando um monte de coisas gua parada caixa destampada pneus e garrafas com gua e etc Vamos pensar se na nossa casa n o est prop cia para o mosquito Questiona a Professora indo para o fundo da sala N o Esse n o foi coletivo a sala entoou numa s voz Ta tudo limpo V o justificando o n o Vamos pegar o caderno para fazer uma produ o sobre a dengue Pede a Professora afixando o cartaz e o folheto pr ximo ao quadro de acr lico A professora pede que eles escrevam o que sabem sobre a dengue e depois descubram em outros livros textos sobre o assunto e anotem o que acharem de diferente o que eles ain
309. uma composi o do corpo da investiga o Ela n o s um complemento da fala mas tamb m uma forma diferente de falar Nesse sentido as imagens apresentadas no corpo desse cap tulo s o provoca es para outras leituras das realidades acontecentes que observei e sem fugir do que as vozes gestos e olhares das professoras alunos e livros did ticos me diziam descrevi e interpretei A beleza da etnografia mostrar a exist ncia de sujeitos imbricados em realidades concretas sujeitos reais que no percurso do envolvimento investigativo tornam se os sujeitos que realmente s o de carne e osso mas o envolvimento do meu olhar de pesquisadora tamb m de carne e osso com as concretudes das professoras alunos e livro did tico me permitiu agregar ao estado real de ser e estar na pesquisa tessituras subjetivas que tamb m comp em as realidades do cotidiano da pr tica pedag gica e permitiram revelar me com espontaneidade e desprendimento para assim olhar e captar a riqueza de detalhes no movimento de cada dia de pesquisa Expor as fotografias como parte do meu olhar e tamb m fragmentos dos escritos a partir delas no di rio de campo como me desnudar diante do meu 43 M P amp i r SE We po O sujeito de carne e osso referente s pessoas reais autoras de suas viv ncias com autenticidade nas vozes gestos e movimentos subjetivos Sujeitos que est o ali vivos na pesquisa 166 cen rio de pesquisa como se ao pub
310. uma interliga o entre o cotidiano das pr ticas pedag gicas e o cotidiano hol stico circunscrito na cultura escolar e na comunidade na qual a escola e as professoras acontecem e que o livro did tico circula entre tantos outros artefatos escolares e entre alunos e professoras Falo de um cotidiano heterog neo e hier rquico HELLER 1989 o qual ao tempo que se manifesta no acontecimento simult neo de a es e rela es heterog neas cont m nesse acontecimento certa hierarquia que delineia uma ordena o orientadora das a es cotidianas Ao investigar o cotidiano da pr tica pedag gica importante perceber que as professoras vivem e participam desse cotidiano com todos os aspectos de suas individualidades suas singularidades e suas formas de significar seus pr prios fazeres docentes O cotidiano das pr ticas pedag gicas das professoras se manifesta como contexto de suas inven es contradi es e supera es do que decorre uma solicita o constante de dar sentido s pr ticas gestadas e realizadas no mbito do acontecimento escolar 8 Pesquisar o cotidiano das pr ticas pedag gicas tendo como foco os usos do livro did tico possibilitou a leitura das experi ncias de cada professora participante que na vida di ria da sala de aula na mais aparente repetitividade de a es transgride bricola e inventa seus fazeres pedag gicos suas percep es neste mbito o que comporta considerar a pr tica docente as d
311. unos chamam aten o para uma confus o no enunciado contam ai eles chegam a conclus o que n o est definido quem contou a hist ria A questiona como que o livro faz pergunta pra n s e n o tem resposta pra confundir n s disse N A pergunta era Quem contou a hist ria de Pedro ao narrador do texto No segundo par grafo cuja resposta est indicada aparece o seguinte contam que em Porto Seguro Pedro filho de um pescador 136 ent o eles questionaram como que o livro pergunta quem contou e diz que muitos contaram e ainda n o diz quem foi Diante dessa argumenta o a professora D recria a quest o que passa a ser No olhar de voc s quem contou a hist ria de Pedro ao narrador do texto Com essa recria o do prescrito todos eles tiveram uma resposta Epis dio Etnogr fico de Ensino 3 Aula de Matem tica na Sala da Professora M Vamos abrir o livro na p gina 70 do livro de matem tica O texto Vida Rural e Matem tica e apresenta imagens de um s tio Os alunos abrem os livros e j v o perguntando se para responder no caderno A professora diz que primeiro observem o texto Vamos conversar sobre o texto Respondam as quest es da p gina 71 Certo Os alunos v o respondendo todas as quest es Ao terminarem a professora diz que para ler os textos das p ginas 72 e 73 mas n o para responder as quest es que ela vai fazer algumas adapta es Mesmo
312. upo Ao compreender as nuances desse cotidiano como um ambiente complexo considera se tamb m que a pr tica pedag gica complexa e se localiza em um fazer docente na sala de aula na qual habitam alunos diversos em um espa o escolar permeado por complexas rela es f sicas e humanas e em um contexto cultural h brido de subjetividades e constru es concretas Assim investigar os usos do livro did tico no cotidiano da pr tica pedag gica de professoras do Semi rido Brasileiro exigiu tamb m o registro e a compreens o de alguns referenciais que fundamentam a pr tica pedag gica no corpo da presente investiga o A discuss o da pr tica pedag gica envolve uma vis o que digo ampliada neste mbito visto envolver aspectos relativos pr xis pedag gica que por seu termo compreende tanto a forma o das professoras como a pr tica docente ambas indissoci veis de um mesmo ato educativo Implica dessa forma considerar as professoras tamb m como interlocutoras de sua pr pria pr tica como agentes situadas em contextos h bridos em constru o nos quais permeiam complexidades subjetividades multidimensionalidades que d o sustenta o aos seus modos de agir pedagogicamente Nesse sentido Souza et al 2009 p 37 concebem a pr tica pedag gica como pr xis na seguinte acep o seria condensa o s ntese da realiza o interconectada da pr tica docente pr tica discente pr tica gestora permeadas por rel
313. upo exerc cios entrevistas pesquisas e projetos para fazer em sala ou em casa Em cada cap tulo tem a se o Painel que apresenta textos e imagens que estabelecem conex es entre o 130 que foi estudo e outras reas do conhecimento No final de cada cap tulo vem a se o o que voc aprendeu que traz o resumo dos conte dos do cap tulo Outra se o no final do cap tulo Sugest o de leitura que relacionam livros que complementam os conte dos dos cap tulos No final do livro vem o Gloss rio com as palavras que aparecem em vermelho no decorrer dos cap tulos e um anexo auxiliar que a depender da s rie diferencia o conte do e traz atividades para ampliar os temas estudados com atividades pr ticas e jogos e O livro Hoje Dia de Hist ria dividido em unidades que s o constitu das por cap tulos Os cap tulos iniciam com a se o Conversando sobre na qual s o propostas conversas coletivas sobre temas variados Nessa se o s o apresentados outros g neros textuais para relacionar o cotidiano ao conte do que ser trabalhado As atividades v o aparecendo no decorrer dos textos e trazem um indicativo de procedimento para sua realiza o muitas carinhas para atividade coletiva duas carinhas pata atividade em dupla tr s carinhas para atividade em grupo uma carinha com um bal ozinho para atividade oral A se o Aquelas palavras aparece em alguns cap tulos e auxilia na compreens o de importantes palavras ou e
314. usos do livro did tico feitos pelas professoras a transposi o did tica A transposi o did tica aqui entendida segundo Chevallard 1991 p 39 grifos do autor como Um conte do de saber que tenha sido definido como saber a ensinar sofre a partir de ent o um conjunto de transforma es adaptativas que ir o torn lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino O trabalho que faz de um objeto de saber a ensinar um objeto de ensino chamado de transposi o did tica A transposi o did tica nesse sentido o trabalho de fabricar um objeto de ensino ou seja fazer um objeto de saber produzido pelo s bio ser objeto do saber escolar o instrumento por meio do qual o saber cient fico transformado em saber escolar de modo 140 que o professor possibilita a aprendizagem de conte dos aos seus alunos no desempenho da pr tica docente SANTOS MENDES SOBRINHO 2006 A partir dessas refer ncias concebo a transposi o did tica na rela o dial gica de constru o de autoria das professoras com os usos do livro did tico anteriormente analisados como a transforma o de objetos de conhecimento em objetos de ensino e aprendizagem Essa transforma o do objeto de conhecimento cient fico em objeto de conhecimento escolar possibilita uma adequa o s possibilidades cognitivas dos alunos o que significa a realiza o de uma apreens o e significa o dos conte dos ensinados fazendo
315. valer as op es por outros materiais as a es de bricolagem as media es e as prescri es seguidas ou modificadas Nesse sentido a autoria se constr i na forma de utiliza o do livro did tico pelas professoras e nos processos interacionais constru dos por alunos e professoras em torno do livro did tico Para que haja uma rela o significativa preciso que haja uma intera o de natureza dial gica e social para que segundo Bakhtin 2002 possa mediante a teoria da enuncia o compreender as vozes que o livro did tico faz circular no espa o escolar Nesse sentido a intera o do conte do ensinado com os sujeitos da aprendizagem faz ecoar outras vozes que propor o que s o legitimadas tamb m podem circular com propriedade na cultura escolar Na intera o did tica o livro se constitui como elemento de intercomunica o verbal que apropriado ativamente pelas professoras e alunos enquanto autores do que anunciado nos livros ou apesar deles Nunes Macedo et e al 2004 p 181 afirma que o livro did tico considerando a perspectiva Bakhtiniana Jpode ser visto como um enunciado que constitui um elo na cadeia de comunica o verbal estabelecida por alunos e professora na sala de aula investigada A an lise das intera es face a face que constituem o uso do livro did tico pode ser fecunda para a compreens o dos processos de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita Concernente a essa di
316. vro did tico ou de outros livros leiam em casa e no dia seguinte leiam para os colegas Nesse dia os leitores leram textos do livro did tico de portugu s Terminada as leituras os colegas aplaudem Uma carta errante de uma v atrapalhada Ou am com aten o fala a Professora entonando a voz L a carta passeando por entre as carteiras Gostaram da carta Pergunta em seguida Sim sim Falam todos empolgados A V doida Diz G para a gargalhada de todos Voc s escrevem carta A Professora indaga mesmo tempo Na letra d 24 dividido por 6 alguns disseram 4 e outros 12 Como voc s chegaram ao resultado Porque eu botei 12 e a minha m e disse que era 4 e ela sabe mais que eu Vejam a conta aqui no quadro Entenderam porque 4 Sim Na quest o 3 todos acertaram A pr xima quest o a tabuada de adi o e multiplica o de 3 A 5 e ultima quest o de multiplica o 125 Todos tamb m responderam coletivamente Mesmo a atividade sendo do livro did tico percebo que a professora faz algumas altera es como colocar o nome deles nos problemas e acrescentou mais uma quest o de multiplica o para eles exercitarem mais O fato de estarem nos problemas parece ter envolvido mais os alunos com a atividade por isso a pressa de corrigir n o era s para saber se fizeram certo ou n o mas para se verem novamente no que estavam fazendo Pronto satisfeitos Corrigimos o pa
317. xplicita tamb m uma configura o de si mesmo a partir das m ltiplas tens es s cio culturais que designam o seu tempo Os di rios ntimos s o fontes importantes e potencialmente f rteis no esfor o de compreens o da constru o da hist ria de cada um assim como das variadas redes de significa o constru das na cultura da chamada contemporaneidade 49 O di rio foi um instrumento que possibilitou momentos particulares das professoras com seus pensamentos e pr ticas referentes ao uso do livro did tico Como a escrita ntima e sem observadores as professoras realizaram escritas mais vontade narraram se ligando se mat ria narrada numa rela o artesanal como diria Benjamim 1987 com o intuito de transform la Por vezes a escrita nos di rios trazem di logos das professoras com elas mesmas em situa es problemas que enfrentaram ao usar o livro did tico em situa o de aula A liberdade inerente feitura dos di rios se faz relevante for a recriadora de sentidos a partir da vis o de si e do que h em sua volta em Zabalza 2004 que encontro bases te ricas quando da op o pela a escrita de di rios O autor 2004 p 42 destaca quatro dimens es que tornam os di rios um recurso de grande potencialidade expressiva numa investiga o e que no delineio da pesquisa foram realmente comprovadas S o elas a o fato de que se trata de um recurso que requer escrever b o fato de que se trata de um recurso
318. xpress es dos textos Fechando cada cap tulo tem a se o Brincando e aprendendo que prop e brincadeiras diversas como jogo da mem ria ca a palavras telefone sem fio m micas brincadeiras coletivas para auxiliar na compreens o dos conte dos estudados no cap tulo f O livro Projeto Conviver Ci ncias Naturais ci ncias dividido em unidades Cada cap tulo inicia com a se o Primeiros contatos que traz a o conte do e sugere trocar id ias com os colegas a respeito do que sabem Em seguida aparece a se o Para ler e discutir que apresenta textos de diferentes autores e aparece no final de alguns cap tulos No decorrer dos conte dos aparece uma se o no final da p gina com dicas de leituras e apresenta refer ncia de outras obras para ampliar o conhecimento sobre o conte do estudado As atividades aparecem permeando os textos e trazem cones indicando o procedimento de resolu o um bonequinho com o bal o para atividade oral dois bonequinhos atividade em dupla quatro bonequinhos atividade em grupo um caderno aberto com um l pis indica anota es no caderno No final de cada cap tulo tem a se o Refletindo mais trazendo conte dos que ampliam o que foi visto acompanhado de uma atividade 131 coletiva No final do livro tem o Gloss rio com as palavras que aparecem com asteriscos no decorrer das unidades Ainda no final vem uma lista de livros p ginas da internet e filmes A partir das prescri es
319. za o um material impresso estruturado destinado ou adequado a ser utilizado num processo de aprendizagem ou forma o um instrumento que deve ser usado numa situa o de ensino e aprendizagem e envolve a rela o com v rios sujeitos o s autor es editor trabalhadores gestores e sobretudo professores e alunos Embora muitos autores prefiram chamar o livro de manual did tico na investiga o optei por conceb lo enquanto livro did tico por considerar mesmo apresentando caracter sticas de manual que um livro provocador de leituras que traz no seu interior a escritura de textos circunscritos em contextos que podem tamb m ser externos ao livro livro porque traz a possibilidade de leituras e viagens e comunica uma hist ria mesmo que fragmentada E livro did tico por ser artefato cultural e mesmo sendo um objeto sujeito de movimento O livro did tico um instrumento que historicamente est inserido num espa o interacional e se constitui como um produto cultural respons vel pela transmiss o de certa forma de cultura e pelo apoio did tico material para o ensino Ao assumir essas responsabilidades o livro did tico no contexto hist rico se imp e como elemento da cultura escolar organizando a sele o de conte dos interferindo e guiando as pr ticas docentes e contribuindo para as formas de constru o do conhecimento no mbito escolar a partir do cen rio da sala de aula Considerado um pr
320. zios Depois s o organizados para que empilhados possam chegar at a pia sem ocupar muito Foto 21 E a Andrade Pereira E A N espa o Os alunos em formigamento pelo corredor botam o papo em dia fazem brincadeiras de empurra peteleco nas orelhas dos colegas ou simplesmente ficam encostados nas paredes at a professora entrar na sala Depois que os professores entram n o se v mais um p de aluno pelo corredor Esse cen rio se repete antes do in cio das primeiras aulas e depois que encerra o recreio 178 s 6 40 da manh os professores chegam com seus aparatos de ensinar Na cidade ficam parte de suas vidas e por quatro horas em todos os dias a casa a sala e suas vidas s o compostas por outras cenas e por outros movimentos le Pereira 179 As professoras a partir das leituras no momento da entrevista interativa refletem sobre suas pr prias pr ticas Sempre gostavam de sentar na sala dos pequenininhos porque segundo elas as cadeiras eram coloridas e elas saiam um pouco do ambiente das salas que estavam todo dia 26 08 2011 As cadeiras pequenas Foto 24 Vanderl a Andrade Pereira abrigaram ricos olhares Os alunos enfileirados na horizontal abrem o livro did tico de Portugu s Entre a aten o fala da Professora e a conversa do colega se espregui am contorcem desanima e animam as horas E assim fluem o 3140

baixar

Contents

Download Pdf Manuals

Related Search

Related Contents